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Euclydes Lacerda de Almeida

COLETÂNEA
THELÊMICA
(NOVA VERSÃO)

Textos
de
Frater A.

EDITORA BHAVANI

2001
2
Paraentender otodo, é
precisoentenderas partes.

3
Introdução

Em junho de 1973, Frater Parsival enviou-me Patente da OTO


para trabalhos nos Três Primeiros Graus da Ordem no Brasil.
Nosso projeto inicial seria formar um grupo de onze pessoas
(entre homens e mulheres) interessadas em fundar uma Loja. Na
época também era nosso intuito publicar várias obras de Aleister
Crowley, destinadas a preencher a lacuna existente, em nosso
país, sobre o assunto. O projeto era uma aposta de sucesso.
Tínhamos como inspiração a Fôrça, a Beleza, a Liberdade e o
Amor de Thêlema. Entretanto, certos eventos mudaram o rumo de
nossos planos.
Antes de mergulharmos fundo no tema, necessitamos abordar
certas considerações.
Não sou nenhum Mestre, e tampouco um Mago, e muito menos
um Iniciado no estilo que muitos indivíduos se apresentam
publicamente. Não faço chover, não mostro o caminho do céu,
não mando ninguém para o inferno, e muito menos ensino a
ganhara dinheiro sem trabalho, ou a ganhar a mulher do
próximo. Sou apenas um homem como todos os outros que
caminham sobre a face do planeta em busca da auto-realização.
A noção de “Mestre” em nosso Sistema, apresenta-se
completamente diferente, e mesmo contrária, àquela de vários
outros, sendo, para nós, a mais clara demonstração do

4
desconhecimento da verdade – a noção de “Mestre” dos outros
sistemas representa a maior barreira erguida entre nós e a
Compreensão de Nós Mesmos. Portanto, guardem-se das
“hierarquias” a respeito do Saber. O verdadeiro Mestre está em
nós mesmos, e somente “aparece” quando realmente estamos
prontos, isto é, quando nós (os “eus”) desaparecemos. O Mestre
não é uma “pessoa” fora de nós. O Mestre deve ser procurado
“dentro” e não “fora” de nós próprios. O Mestre é o verdadeiro
Eu. A Real Estrela de Prata (Silver Star). Nosso próprio Sagrado
Anjo Guardião.
Tanto na OTO quanto na A.´.A.´. temos somente Instrutores,
isto é, aqueles nossos semelhantes que estão um pouco à nossa
frente na Caminhada. A idéia de um “Mestre” externo cria
dependência, e por isso está escrito que “Todo homem e toda
mulher é uma estrela”.
O Instrutor somente insiste junto a seus Irmãos menores para
seguirem suas próprias órbitas pessoais, como estrelas que são no
Céu de Nuit.

No conjunto dos assuntos que aqui serão abordados, destacamos


os seguintes principais tópícos:

1. As prováveis origens da Ordo Templi Orientis;


2. O desenvolvimento da Ordem em nosso país;
3. Uma análise dos Antigos Rituais;
4. A questão dos vários Ramos da Ordem, inclusive
aquele criado por Marcelo Ramos Motta em nosso
país;
5. A realidade a respeito dos atuais auto nomeados
OHOs (Cabeças Externas da Ordem)
6. Outros temas de interesse geral.

5
O primeiro tópico é, sem dúvida, o mais difícil de ser abordado.
Devido a complexidade e grande quantidade de dados
encontrados, mas em sua maioria inverídicos e conflitantes, não
será difícil nos perdermos em meio à puras especulações tão a
gosto de escritores sensacionalistas ou aqueles manipulando
inverdades e usando de má fé para poderem dar respaldo à suas
crendices cultivadas por seus “superiores hieráquicos” que usam
da OTO para seus interesses pessoais, sejam políticos ou
financeiros.

O segundo tópico torna-se mais acessível a todos, por existir


uma documentação confiável e, de certa forma, mais recente. Mas
assim mesmo é necessário o maior cuidado, pois aqui também
existem manipuladores de documentos em causa própria.

Com o terceiro não teremos problemas, pois os rituais a que nos


referimos (tanto os originais de Reuss quanto os reformulados) já
foram publicados na íntegra, resta-nos apenas analisa-los sob a
luzes da Nova Era.

O quarto tópico será uma consequência do segundo, estando a


ele indissoluvelmente ligado por motivos óbvios. Ele contém a
chave para maior entendimento dos eventos passados e,
consequentemente dos atuais. Eles se interligam e, queiram ou
não, fazem parte da dinâmica da história da OTO.

O quinto fecha o conjunto a que nos propusemos desenvolver.


Oferece ao leitor uma visão bastante ampla das razões de todos os
problemas ocorridos, e mal solucionados no âmbito da Ordem,
seja no exterior quanto em nosso país, e suas consequências
atuais, após os eventos ocorridos a partir de 1962.
Aqui já temos o bastante para todos quantos desejam refletir
sobre o assunto. Mas sendo este trabalho um simples ensaio, sem
maiores pretensões senão aquelas de informar corretamente –

6
uma tentativa sumarizada do estudo de todos estes temas, muito
lhe poderá ser, futuramente, acrescentado na medida em que
novos dados, ainda mantidos “sub-rosa”, venham à luz.
Como objetivo secundário, o trabalho prestar-se-á a demonstrar
como a OTO e o Sistema Thelêmico têm sido mal interpretados,
mesmo por “ocultistas” aí inseridos; e porque a OTO sofreu
tantas atribulações em nosso país, principalmente nos períodos
entre os anos de 1962 a 1975 e de 1976 a 1995 e além.
Todavia não dizemos eis a única verdade. Não! As lacunas
existentes neste ensaio são inúmeras para o tomarmos como uma
apresentação completa e definitiva do total assunto. Há de se levar
também em consideração as tendências pessoais do ensaísta. O
trabalho deveria ser visto como uma introdução – um grupo mais
ou menos conexo de sugestões e informações a serem estudadas e
que, esperamos, possam servir de alguma utilidade prática à
estudantes, não somente aqueles de Thêlema mas também aqueles
outros pertencentes à outras correntes de pensamento. A todos,
sem quaisquer restrições, fazemos o seguinte alvitre: tudo que não
possuir utilidade prática e não apresentar alguma coerência,
tornar-se-á descartável. Porém, que todos se aproximem do
trabalho com as mentes abertas, serenas e destituídas de
preconceitos, e com liberdade plena de julgamento, principalmente
para com os fatos ocorridos nos anos de 1974 e 1975, sobre os
quais tem havido tantas discussões, tantos melindres, tantos males
entendidos, mas poucos esforços no sentido de uma solução
definitivamente acabando com as barreiras separando os vários
Ramos da Ordem, surgidos aqui e ali ao sabor de preferências
pessoais. 1

1
- Nota de E.: Isto foi escrito há alguns anos atrás. Hoje consideramos a impossibilidade da união entre esses
“ramos da OTO”, porquanto esta como uma Ordem Thelêmica não mais existe.

7
Os últimos tempos foram profícuos nos fornecendo
oportunidades em observarmos, perplexos, até onde pode ir
a ignorância, a má- vontade, a confusão, nossos erros, e o
isolamento infértil gerado pelo império do ego. Não
bastasse isto, temos testemunhado agressões entre as
várias “clãs”formadas em torno de indivíduos ligados,
anteriormente, a este ou aquele líder; alguns dos quais já
falecidos. Com efeito, todo este tempo perdido em
infindáveis e infrutíferas arengas, em gratuito desgaste de
energia, poderia ser usado com mais inteligência, para
causas mais nobres a favor da correta divulgação de
Thêlema e o fortalecimento de uma OTO com um só
corpo.2

Ao apagar das luzes deste século moribundo, visualizamos a


necessidade em, urgentemente, estabelecer uma clara e precisa
reavaliação de nossa posição como Iniciados da OTO, em relação
ao Esoterismo e a Religião, como atualmente conhecemos,
acabando com a prática oportunista daqueles que, se utilizando
disso para ganhos pessoais, as têm profanado de maneira mais
ignóbil. Somente armados de grande coragem e determinação e de
profunda visão, podemos acabar com toda esta mistificação
irresponsável, criminosa, em que transformaram o Vinho
Sacramental.

Uma das funções da OTO é exatamente combater toda esta


ignorância.

Não posso inclinar-me ante aqueles cujas mentes provaram não


estar prontas para compreender a Luz e os Mistérios da Ordem e a
Real Condição Divina do Homem. Sim.! Pois o Homem é o Deus
Ultimal. Não posso inclinar-me ante aqueles que tentaram
transformar a Ordem dm “desordem”, aliando-se à outras
Correntes claramente antagônicas à Lei. De maneira incisiva a
2
Nota - Idem

8
verdade dos fatos deve ser dita abertamente, sem pejo ou
considerações pessoais ou de grupos, para que todos a vejam em
seus mínimos detalhes. Como dito por Blavatsky “o segredo é
inimigos da verdade”

Tanto Crowley quanto seus antecessores tiveram a visão desta


verdade, e muitos de seus escritos fundamentam-se nisto.

Por preguiça, ou por malícia ou por falta de visão, ou por


indiferença, ou por interesses pessoais colocados acima da Lei,
assistimos, sem nada fazer, à acontecimentos dos mais absurdos
solapando a integridade da Ordem – ofendendo a dignidade do
homem – em sua manifestação externa: alianças espúrias,
enxertos de doutrinas que nada têm a ver com Thêlema; falsos
líderes auto-denominando-se “ligados” à Ordem Maior; uniões
com as mais baixas práticas mágicas, espiritismo, feitiçara, etc.,
etc. – uma miscelânea digna de psicopatas.

Mesmo ante tal caótica situação, alguns “iniciados” na OTO


continuam defendendo tais misérias, como se fossem exemplos de
modernidade, de avanço e de mudança. Mudança sempre são
necessárias e bem-vindas à Corrente Evolutiva, mas não mudança
deste tipo. A mudança preconizada por Crowley não incluía a
tentativa de degeneração de Lei de Thêlema e nem alianças
espúrias. Isto não é mudança, mas sim caos, a bagunça, a des-
ordem, a submissão pura e simples de fracoides.

9
“ANTES DE PERDOAR UM INIMIGO
VOCÊ DEVE VENCE-LO”

Marcelo Ramos Motta

10
“O presente movimento de “abertura
esotérica, principalmente no referente
às Escolas Iniciáticas, tem sido quase
sem exceção, um requinte de má fé”

H á mais de meio século que o Mago, poeta, alpinista e escritor


Aleister Crowley
3
(também conhecido como Mestre
Therion ) vem exercendo profundo fascínio e grande influência
no campo do Moderno Ocultismo.4
Lamentavelmente este fascínio e influência não se fundamenta,
especificamente sobre a magnífica obra do Mago; mas sim nas notícias
sensacionalistas envolvendo a personalidade de Crowley5, e nas infâmias de

3
- Nota de E.: To Mega Therion (A Grande Besta). Era este o moto mágico de Crowley ao assumir o cargo de
Magus.
4
- Nota de E.: É interessante notar que mesmo os maiores oponentes de Crowley citam sua obras como jóias
da literatura oculta.
5
- Nota de E.: Uma personalidade forte, cheia de bom humor e um tanto “gozadora”, para usarmos um termo
moderno.

11
que foi vítima ao longo de sua vida, e que continuam até os dias de hoje,
quarenta e oito anos após sua morte física.
Crowley foi odiado e perseguido, tanto pela Igreja de Roma como por
suas sucursais, e outras tantas “organizações” (religiosas ou não) subjugadas
ao Aeon de Osíris6. Este ódio, evidentemente, derivou-se da posiçãode
Crowley contra todas as artimanhas e mentiras usadas pelas religiões e
políticos no sentido de manterem o poder espiritual e material sobre as
massas.
No Brasil, o panorama revela-se bem caótico neste sentido. O pouco
conhecimento que temos de Crowley e de sua vastíssima obra literária (entre
contos, poemas e práticas esotéricas), tem sido divulgado por pessoas e
organizações as mais incapazes para o trabalho. Há uma quase total ausência
de séria e bem fundamentada literatura esotérica7 merecendo ser lida,
particularmente no tangente aos recentes movimentos esotéricos revividos na
Europa e na América. Infelizmente,o próprio Sistema Thelêmico, iniciado por
Crowley em 1904, ao receber de AIWAZ8, Liber AL vel Legis, foi totalmente
deturpado em nosso meio por pseudos thelemitas.9

Desta forma, Crowley, tornou-se um grande enigma para nós, ou


melhor: Crowley é visto como uma distorcida e sinistra personagem, ao ponto
em que muitos o têm tomado como o Grande Mago Negro e Satanista da pior
6
- Nota de E.: Aeon de Osíris, ou Aeon do Deus Sacrificado. Aeon é um termo Gnóstico para Divindades,
também significa um Ciclo de Tempo (aproximadamente 2600 anos de duração), durante o qual uma Fórmula
Mágica é adotada como o “Caminho” a ser seguido pela humanidade para atingir a Divindade. O Aeon de
Osíris, ou seja, o Ciclo do Deus Sacrificado – Era de Virgo Piscis – foi substituído pelo Aeon de Horus, a
Criança Coroada e Conquistadora. Vários autores declaram esta Criança como Filho de Isis e Osiris. Mas aí
há um engano técnico, ele é Filho de Nuit e Hadit em seu Nome Ha-Hoor-Khuit. Anteriormente aos Aeons de
Horus e Osiris, houve aquele de Isis, a chamada Deusa Mãe, do qual muitos elementos reapareceram no
presente Aeon. O Aeon de Osíris baseava-se na Lenda do Deus Sacrificado. Uma lenda que se afirmava no
aparente (diário e anual) nascimento e morte do Sol.
7
- Nota de E.: Refiro-me aqui à uma séria literatura esotérica, e não este lixo sendo jogado sobre a população
brasileira interessada em Ocultismo, produto de autores que, sequer, sabem o que seja Ocultismo na real
acepção da palavra.
8
- Nota de E.: Aiwaz é a soletração variante de Aiwass (cada qual significando algo diferente em essência).
Aiwass (ou Aiwaz) é uma praeter-humana inteligência com a qual, Crowley, entrou em contato em vários
momentos de sua vida. Crowley considerava Aiwaz como sendo seu próprio Anjo Guardião, e Ministro de
Hoor-paar-kraat. Parte desta afirmativa está bem longe da verdade, o que demonstra o quanto certos
comentaristas e pseudos iniciados na OTO estão enganados.
9
- Nota de E.: Liber AL vel Legis (ou Liber Legis, ou Liber AL, ou o Livro da Lei) foi ditado a Crowley
(Frater Perdurabo) por Aiwass (Cairo – Egipto, 1904), inaugurando o Novo Aeon, que sucedeu ao Aeon de
Osíris (Hiran, Hércules, Adonis, Attys, Jesus, etc), cujos rituais estão calcados na “morte”, ou “sacrifício do
deus”. A frase Livro da Lei (L.L.) deriva-se da Maçonaria. Numa Loja Cristã o Livro da Lei é a Biblia; numa
Loja Judia será a Tora; em uma Loja Ecumênica, por assim dizer, vários livros sagrados estarão no altar.
Entretanto numa Loja da OTO, ou em outras organizações pautadas em Thêlema, somente Liber AL vel
Legis estará no Altar. Portanto é impossível ser Thelemita e estar ligado à religiões (ou crenças) baseadas no
Aeon de Osiris (Cristianismo, Catolicismo, Judaismo, etc.). Nas lojas e templos de fraternidades ou ordens ou
organizações thelêmicas não admite-se que outro livro a não ser Liber AL seja colocado no altar.

12
espécie 10, do mesmo modo que outrora o foram H.P Blavatsky, Eliphas Levi,
e aquele Adepto tornado conhecido pela fórmula sintetizada no nome
“YHESHUAH”.

Evidentemente, esta visão diabólica é um quadro pintado pelos inimigos


de Thêlema, e que tem sido adotado como verdade inquestionável por
ignorantes e maliciosos.

Referências às obras de Crowley, chegando até nós, são constituídas de


fragmentos (escolhidos especialmente) de seus trabalhos mal traduzidos,
deturpados e mal interpretados por pseudos-esoteristas formados, em sua
maioria, por elementos ligados à Corrente Osiriana que o antagonizam, ou por
egressos de Ordens Thelêmicas que dessas se afastaram por incompetência ou
falta evolução espiritual como, por exemplo, é o caso de um mui conhecido
“escritor” de obras esotéricas.

Quer dizer: conhecemos Crowley e o Sistema Thelêmcio apenas através


a deformada e unilateral visão (ou seria melhor dizer cegueira?) de seus
detratores. Não seria necessário, portanto, possuir grande inteligência para
perceber que a lacuna resultante deste desfigurado ponto-de-vista nos tem
levado a uma visão enceguecida do Sistema e de seu iniciador. Destarte, o
mesmo fenômeno ocorreu na divulgação da OTO, da qual, Crowley, foi o
grande reformador e Grão-Mestre (Baphometh XIº), durante anos, até sua
morte em 1947.11 Será principalmente sobre esta ordem e sua história (tanto
no Brasil quanto em outros países) que tratará o presente ensaio.

Muitos questionarão o trabalho, principalmente Irmãos de outros Ramos


da Ordem existentes no Brasil, ou espalhados pelo mundo. Dirão, entre outras
coisas, que estarei divulgando “segredos” (não disse Blavatsky que o segredo
é inimigo da verdade?) e “influenciando pessoas”, com as revelações aqui
contidas. Na verdade, isto não importa. Em primeiro, esclareço não existirem
os tais “segredos” tão badalados por ai, no senso entendido pelo vulgo. O que
existe são indivíduos incapazes de enxergarem um palmo diante de seus
10
- Nota de E.: Mas basta aprofundar´se nos livros deste homem para que esta impressão seja anulada. Disto a
grande campanha contra a tradução de seus livros para o Português por pessoas qualificadas, e não por
amadores como vemos por aí. Mas esta imagem distorcida está mudando a cada dia que passa. Hoje em dia
os adeptos da Lei de Thêlema crescem em todo mundo de modo assustador para seus inimigos,
principalmente fanáticos, mentirosos, ladrões, políticos corruptos e sacerdotes mentirosos.
11
- Nota de E.: Reformador por ela era originalmente osiriana. Muitos dizer ter sido ela a primeira Ordem
Maçônica a aceitar a lei de Thêlema. Existe um exagero na afirmativa. Antes dela, outras ordens maçônicas
aceitaram a Lei. E, diga-se de passagem, apenas uma minoria de Lojas (principalmente na Inglaterra)
aceitaram a Lei de Thêlema.

13
narizes. E por mais que se lhes diga certos fatos, evidentes por si mesmos, eles
jamais os compreenderão. Segundo: basta de embromação. Elas cada vez mais
complicam a vida dos embromados e dos embromadores, e as nossas de
lambuja. Terceiro: basta um pouco de reflexão e bom-senso para despertar
sérias dúvidas sobre essa “thelêmica regra” da “não influência” – um
preceito, o qual segundo sei, não faz, e jamais fez, parte de nosso
Ensinamentos, e que contém, em si mesmo, uma falácia, porque, na verdade, a
partir do momento em que nascemos, nossa influência pessoal se faz presente
sobre uma série de pessoas; a começar por nossos pais, parentes mais
próximos e a sociedade em nossa volta, etc., etc. Talvez, a única maneira de
acabar com uma tal influência (que funciona em dois sentidos opostos; você
influencia e é influenciado) seria nos retirarmos, enquanto vivos, ao total
isolamento em alguma caverna localizada alhures numa inacessível montanha
nos confins da terra, e terrivelmente difícil de ser escalada. Entretanto, assim
mesmo – e não duvidem disso – o truque não daria o resultado almejado, visto
que não faltariam imbecis a questionarem o motivo “oculto” de um tal retiro
do mundo. Na verdade, algumas “teorias esotéricas” ou “místicas” seriam
elaboradas por mentes super impressionáveis e dogmáticas 12, e é bem
provável que grande número desses imbecis fanatizados, desses possessos,
nos imitassem sem pestanejar, e partiriam para estas montanhas, o que criaria
um grande reboliço. Assim, portanto, direta ou indiretamente, estaríamos
influenciando, quando nosso intuito original era exatamente o oposto. Quarto:
fosse o pensamento de Crowley não influenciar seus semelhantes com suas
idéias, n o sentido de lhes mostrar verdades ou, pelo menos, dar-lhes subsídios
a encontra-las por si mesmos, ele, tenho absoluta certeza, jamais escreveria
livros ou dito alguma coisa e, muito menos, iniciaria um movimento místico-
mágico.
Pessoas citando constantemente um tal princípio (da não influência),
princípios pseudamente thelêmicos, ouviram o galo cantar mas não sabem
onde... O problema, analisando-o com cuidado, apresenta-se insolúvel, e se
reduz a dois tipos opostos de ação: ou influenciamos ou somos
influenciados. Não existe outra saída.

Paradoxalmente, muitos dos misticóides que, certamente, criticarão meu


trabalho, tráem, eles mesmos, o princípio que defendem... e publicam livros,
textos, dão palestras “esclarecedoras” a respeito de Thêlema, e expõem seus
pontos-de-vista do porque não influenciar... Mas se esta atitude não é

12
- Nota de E.: Da mesma forma que medidas profiláticas, como não comer carne de porco, circuncisar as
crianças em culturas situadas em regiões tórridas (Egipto, Judéia, etc.) tornaram-se um “mandamento de
deus”.

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influenciar, então, confesso, não sei o significado do termo. Como não
comungo com tal idiotice, a qual não consigo explicar, e nem conceber como
surgiu, prefiro influenciar com a verdade, do que ser influenciado pela
mentira. A única diferença entre o tipo de influência exercida por esta gente e
aquela por mim, é que eu influencio as pessoas a procurarem a verdade por si
mesmas, enquanto que os outros querem nos influenciar e mesmo incutir, à
força, em nossas mentes a s mentiras deles, fantasiadas de verdades.

Outro exemplo desta falta de conhecimento iniciático – e altamente


perigoso, mágicamente falando – é a utilização de meios subliminais para
condicionarmos pessoas à nossos preconceitos, sejam religiosos ou de
qualquer outra natureza.

Certa vez, um desses pseudos iniciados, dizendo-se thelemita, utilizou


(para impressionar incautos), parceiras não preparadas em rituais tântricos,
pois como todo real thelemita não desconhece, parceiras para tais ritos
(principalmente a Missa Gnóstica e, evidentemente, na consagração de lojas e
templos) têm que ser Virgo Intacta, ou Prostituta Consagrada. O resultado
desta demonstração de falta de conhecimento mágico não se fez esperar, e o
grupo liderado por aquele tolo desfez-se em menos de um mês de uma
maneira muito dolorosa para todos. O significado oculto nos dois
qualificativos é um acervo dos Membros do IX°.

Para efetivo avanço no Conhecimento da Ciência Real torna-se


necessário obter-se as “Chaves” desses códigos, sem as quais nenhuma porta
abrir-se-á, ou se abrir será uma porta errada. E evidentemente, é este o motivo
de ouvir-se falar tanta besteira a respeito do Sistema Thelêmico e de Crowley.

Desde as mais remotas eras, Iniciados e Magos de diversas culturas


servem deste código para comunicarem-se entre si. O fito disto sendo,
obviamente, proteger o profano de tentar manipular energias totalmente fora
de seu conhecimento e controle. Chamo de profanos à aqueles não preparados,
ou não devidamente “despertos” ou “maduros” para utilizarem-se, com
proveito e sem perigo (para si e para outros), de certos conhecimentos.

Ignorar esta Regra Áurea, ou tentar interpretar a linguagem codificada


da iniciação sob a luz de pretensos conhecimentos, transformam Ouro Potável
em Água Toffana; o que seguramente, levará ao ignorante e à seus seguidores
à penosas consequências. Portanto cuidem-se

15
Em 11 de janeiro de 1994, iniciei este ensaio. Durante sua redação
inúmeras lembranças vieram-me à mente. Recordações de eventos e
experiências sumamente importantes para uma clara compreensão histórica do
Movimento Thelêmico no Brasil. Durante algum tempo relutei em registrar
tais eventos e experiências. Entretanto, por outro lado, verifiquei que se não o
fizesse, meu trabalho ficaria incompleto. Muita coisa fugiria à compreensão
dos leitores fora dos Círculos da Ordem.

Como acontece com a grande maioria das organizações esotéricas, das


quais não se conhece, ou, pelo menos, de maneira suficientemente clara,
acurados e consistentes dados históricos, o mesmo verifica-se com a OTO, ou
M.M.M.. Porque a existência de inúmeras “estórias” e lendas conflitantes
entre si, torna impossível a garimpagem da verdade.

Por outro lado, é fato, encontra-se à disposição do público um enorme


volume de referências e citações à Ordem; mas a maioria delas sendo
distorções, especulações fantasiosas, em nada esclarecendo as principais
dúvidas existentes sobre o assunto – muito pelo contrário, levando-nos à
maiores confusões.

Posso garantir que todo este emaranhado de citações e lendas são


propositais. Envolvem a história da Ordem como uma camada de sujidade,
somente servindo para desviar os genuínos buscadores de temas mais
importantes. Evidentemente, não desconheço haverem também “véus” sobre

16
específicos pontos da história da Ordem. Este véus, diferentemente da
sujidade acima citada, não foram criados por maldosos membros da Loja
Negra, e vinculam-se ao profundo e real significado Dela no contexto
iniciático atual e que não devem ser expostos, de maneira clara, ao profano.
Alguns destes véus ligam-se diretamente aos “Nomes” pelos quais a Ordo
Templi Orientis passou a ser conhecida no mundo externo.

É conhecido de iniciados que nenhuma legítima ordem iniciática


desvela o seu “Real Nome” publicamente. Assim, Ela usa salvaguardas
automáticas contra aqueles que Dela aproximam-se possuídos por más
intenções, ou puramente movidos pela curiosidade. Isto baseia-se na tradição
mágica de que se você conhece o Verdadeiro Nome de um ser (seja qual for)
você terá poder mágico sobre ele.

Em nosso específico caso, tanto o nome Ordo Templi Orientis quanto


Mysteria Mystica Maxima, ou simplesmente as iniciais destes “nomes”,
possuem profundo significado oculto, somente revelado a, ou compreendido
por, Iniciados a partir de determinado grau em nossa hierarquia. Este
significado evolui à medida em que o Iniciado galga degraus mais elevados
em sua “carreira iniciática”.

Compreendam os leitores que os nomes de Ordens ligadas à legítimas


correntes espirituais, tal como o nomes de “deuses”, “anjos”, “demônios”, etc.,
exprimem fórmulas qabalísticas definindo as veras naturezas delas e deles, e
que óbviamente estas “naturezas” somente serão compreendidas (ou melhor
dizendo, “vivenciadas”) por Iniciados na devida estação. No particular caso
das “entidades angélicas” ou “demoníacas”, seus “nomes” também ocultam as
fórmulas ou os ritos para invocá-los corretamente. Somente depois de muita
prática e consequente vivência interna, ao longo de seu aprendizado, é que o
Estudante torna-se ápto a usa-las corretamente. Disto pode-se concluir que os
verdadeiros segredos são segredos pelo simples fato de não poderem ser
apreendidos por profanos.

As origens da OTO, o processo de seu aparecimento e consequente


evolução na externa, permanece, em v´rios níveis, confuso e indeterminado à
superficiais estudantes e á todos quantos Dela aproximam-se num primeiro
contato. No Brasil o problema tornou-se ainda mais complexo devido a
inúmeros fatores. Na minha opinião um desses fatores teria sido causado, em
parte, ao exarcebado caráter super autoritário do Iniciador do Movimento
Thelêmico no Brasil. Seu extremo cuidado em apresentar Thêlema, de

17
maneira imaculada, terminou por causar sérios problemas de relacionamento
com os interessados que apresentaram-se na época. Infelizmente para a OTO,
e para o movimento Thelêmico, tanto as idiossincrasias do Iniciador quanto a
falta de tato dele no manuseio da divulgação da Ordem foram, após seu
prematuro falecimento (1987), herdados e cultivados por seus mais obstinados
seguidores, como preceitos indiscutíveis e imutáveis a serem seguidos – como
se fossem verdadeiros dogmas. Não obstante, e apesar destas características, o
mérito dele ter sido o Iniciador do Movimento no Brasil não lhe pode ser
negado. Porém, o método por ele usado para este fim (talvez
inconscientemente, ou por problemas outros que não serão aqui discutidos),
apresentou-se, no decorrer dos anos, antiquado e ineficaz – fora da realidade
brasileira; e em alguns casos voltando-se contra ele, como qualquer pessoa de
bom-senso e capacidade iniciática pode verificar, principalmente através de
uma análise dos eventos acontecidos entre 1962 e 1993. Eventos que
atingiram profundamente a estrutura da Ordem, de seus Membros iniciais e,
principalmente, da própria pessoa dele.

Os cismas ocorridos na organização, respectivamente em 1975 e 1087,


evidenciam a ineficácia do método usado por ele.

Tendo eu sido formalmente iniciado na Ordem em 1973 por Frater P.


XIº e, posteriormente, ao desligar-me dele, (1975), no Ramo Ingles (1975-
1989), e tendo ascendido, nos anos subsequentes, a um certo grau elevado na
Hierarquia da Ordem, vejo-se capacitado em poder esclarecer certos aspéctos,
ainda um tanto obscuros, das origens, métodos e fins da OTO – uma Ordem
que tanto tem despertado atenção, críticas, ódios e curiosidade de grande e
variados tipos de pessoas voltadas para o estudo do Ocultismo em nosso país.
Sendo a OTO uma organização viva e, evidentemente, dirigida no sentido da
evolução do ser humano (material e espiritual) – uma característica que tanto a
M.M. e outros falharam em perceber devidamente – Ela tem passado, e ainda
passará, por necessárias transformações em sua atuação visível no mundo.
Entretanto, as fundamentais bases Thelêmicas que a suportam permanecem as
mesmas, e permanecerão as mesmas até o próximo Equinócio dos Deuses.

Grande parte do material, utilizado na elaboração do presente ensaio,


fazem parte do acervo particular de Euclydes Lacerda de Almeida e da
Sociedade Novo Aeon, acumulados durante os anos de 1962 e 1995. Todo este
material está à disposição de todos quantos, sem quaisquer tipos de restrições,
desejarem analisa-los – A Lei é pra todos.

18
Desta maneira, para conforto dos leitores, posso garantir que as
doutrinas e práticas e eventos aqui descritos são autênticos. Está é, talvez, a
primeira tentativa, jamais ousada, em linguajar coloquial portuguesa,
apresentando uma síntese inteligível à todos, da História, Organização
Externa, Doutrinas, Rituais e Práticas da mais discutida e misteriosa Ordem
Templária existente no mundo Ocidental, trabalhando sob os ditames de Lei
de Thêlema.13

Escrever-se algo, por mais superficial que seja, sobre a história de


qualquer Ordem Secreta ou Semi-Secreta Iniciática, torna-se tarefa exaustante
e quase impossível de ser realizada contendo informações corretas. Deve-se
isto tanto à falta de dados fidedignos a nosso dispor, provenientes uma
documentação confiável, quanto aos emaranhados e confusos eventos
envolvendo o evoluir da história destas Ordens.

As Ordens Secretas de Iniciação, tal como as próprias civilizações, nas


quais elas se desenvolvem, não apresentam-se estáticas como muitos julgam,
mas dinâmicas, num perene evoluir. Elas evoluem segundo a trajetória destas
civilizações nas quais estão inseridas, para a realização de algum trabalho ali
necessário no momento. Além disso, deve-se levar em conta a existência de
outras Ordens e Sistema antagônicos (ou de outros similares, remanescentes
de outras épocas, mas já em decomposição) se degladiando sob o impulso de
interesses religiosos e políticos, tudo fazendo no sentido de detrair,
desmoralizar e enfraquecer a influência de suas rivais dentro da sociedade em
que atuam simultaneamente, e em âmbito geral. Consequentemente, o sincero
pesquisador ver-se-á diante de caótica e contraditória massa de informações e
dados diversos, deliberada e sistematicamente mutilados a favor (ou contra)
essa ou aquela organização. A maior parte deste material, pretendendo ter
surgido de alguma fonte privilegiada e altamente oculta.14

13
- Nota de E.: Isto é:presume-se que tal seja assim.
14
- Nota de E.: Como exemplo do problema, podemos citar aqui o caso da origem da Golden Danw; quando,
até hoje, discute-se da real existência de Fraulen Sprengel, a suposta Adepta que deu origem a Ordem.

19
A OTO é um exemplo disto. Até hoje sua verdadeira história ainda não
foi devidamente definida.15 Ante esta incerteza, o pesquisador mais atento,
perceberá estar sendo manipulado no sentido de inclinar suas conclusões a
favor de uma ou outra corrente, geralmente sem qualquer base histórica que se
possa verificar. Perceberá, também, que grande parte do material lhe chegará
às mãos de maneira “milagrosa”, e contendo insinuações que seu autor sabe
mais do que diz. É este um antigo e muito usado estratagema para esconder
uma realidade exatamente contrária – isto é: de que ele não sabe tanto quanto
pretende.

Eventualmente, determinado grupo sobressai-se aos demais, e inicia um


meticuloso processo de detratação contra seus rivais, fazendo com que
tenhamos somente conhecimento dos outros através as informações partidárias
fabricadas por seus inimigos.Tal processo, entretanto, apresenta-se como uma
espada de dois gumes, e as vezes desperta nosso interesse e simpatia pelo
grupo ou sistema atacado (seja político, religioso ou iniciático). O fenômeno
aconteceu comigo pessoalmente em referência à Maçonaria. Após ler e ouvir
tanta coisa contra aquela organização, terminei por tornar-me um mação.
Posteriormente, o mesmo ocorreu em relação à OTO.

As vezes uma corrente toma características de sua rival e, assim,


disfarçada, mina as reais bases de sua oponente. Relativo ao Sistema
Thelêmico, iniciado por Crowley, isto tem sido usado com bastante
frequencia; daí surgindo “ordens” espúrias disfarçadas como se thelemitas
fossem. Mas nada mais são que grotescos arremedos da Real Corrente.

Pode-se afirmar que no concernente à notícias sensacionalistas, a OTO


tem sido uma perene fonte de material para especuladores.

Ante estes fatos, o que resta, afinal, ao sincero pesquisador? Eu diria


bom-senso, paciência, atenção e extremo cuidado para não tomar gato por
lebre. A separação do jôio do trigo tem que ser realizada manuseando-se estas
ferramentas, porque sem elas o pesquisador jámais atingirá seu fito, qual seja:
uma conclusão inteiramente destituída de erros grosseiros e preconceituosos.
Nesta afâ, ele terá à sua frente uma enorme quantidade de documentos,
anotações, citações e informações necessitando passar por sério e rigoroso
crivo, e interpretado em seu real significado, selecionando tudo que apresentar
coerência, e que não ofenda o bom-senso e nossa inteligência como, por
15
- Nota de E.: Alguns afirmam ter sido Karl Kellner o fundador da Ordem; outros apontam Theodor Reuss.

20
exemplo aceitar “estórias” afirmando categoricamente que talou qual
“ordem”, “fraternidade”, ou qualquer outro tipo de organização mística
originou-se no Antigo Egípto, ou na Atlântida, ou que nos chegou através uma
Tradição Estelar, trazida não sabemos por quem, ou como, para a Terra há
milhares de anos atrás. Tudo isto, sob nosso ponto-de-vista são bêcos-sem
saída, contos de fadas para mimar (ou assustar) crianças – neles acreditam de
imediato os que desejam ser enganados.

Únicamente com o espírito armado contra essas arapucas “esotéricas”


(agradáveis às nossas fantasias), e não de outra forma, o pesquisador irá
garimpar gemas raras, isolando-as da escória das informações dispersas,
facciosas, lendárias e mentirosas. Esta garimpagem será, inicialmente, o único
trabalho dele.

Aqui abrimos um parêntesis:


O dito acima não quer afirmar que não possa haver civilizações em
planetas pertencentes a outros sistema estelares, ou que mesmo já as tenha
havido em nosso particular sistema. Vejam bem: a tradição esotérica pode ter
surgido há milhares de anos. E mesmo poder ter vindo de outros cantos do
Universo. Isto é perfeitamente crível. Mas nenhuma ordem atual, tal como
conhecemos hoje originou-se naqueles tempos. Isto é que combatemos. Dizer-
se que a Maçonaria foi fundada por Salomão é uma mentira deslavada. A
Maçonaria surgiu na Idade Média, através a Confraria de Pedreiros. Mas o
Conhecimento que Ela possui, pode ter-se derivado de Conhecimentos
originários do Antigo Egipto, tal como grande parte dos Conhecimentos
Geométricos veio d Grécia Antiga, através os estudos de Pitágoras, Euclydes,
e outros mais. Porém, nem a Maçonaria e nem as pretensas Ordem Rosa
Cruzes que pululam em nosso meio, teve origem naqueles tempos remotos.
Afirmar isto é enganar ou estar enganado...
Fim do parêntesis.

Com bastante frequencia encontramos comentaristas e críticos de


“ordens” que têm aumentado desmensuravelmente suas histórias e atuação no
mundo no sentido do imaginário, enquanto outros, movidos pelo fanatismo
religioso as têm transformado em suas próprias imagens pessoais, sito é, as
convertem em verdadeira “Sinagogas de Satã” (o termo Satã está sendo usado
aqui em seu sentido pejorativo, não em seu real significado que é outro bem
diferente); enquanto outros tantos, na ilusão de as estarem protegendo,
transformaram-nas em assunto de uso exclusivo deles. A OTO é uma das
ordens que mais intensivamente sofre este último tipo de problema, criado

21
por alguns patetas pertencentes a certos Ramos da Ordem. Fugiremos de todas
estas infelizes tendências.

Thêlema tem sido criticada constantemente. Estas críticas nos chegam


através cartas enviadas por pessoas que, parece, sentiram-se melindradas em
suas crenças pessoais num primeiro contato com thelemitas. Evidentemente,
tais pessoas sentiram-se “incomodadas” com as atitudes espontâneas de
liberdade de pensamento e ação demonstradas por aqueles que abraçam a Lei.

Para estes correspondentes enviamos, de início, op básico aviso que, a


priori, simplesmente não acreditem em nós, mas a pesquisarem
cuidadosamente nossas teorias, atos e práticas, libertos de quaisquer
constrangimento e preconceitos. Cada um de nós necessita, sempre, tomar
suas próprias decisões e a ouvir atentamente “A VOZ INTERNA”.

Devemos tentar manter sempre nossos olhos e mentes abertos à


quaisquer informações vindas de outros pontos de vista. E todos nós estamos
presos a um ponto de vista, naturalmente. Mas não temos o direito de exigir
que qualquer outra pessoa endosse aquilo que é somente uma opinião
particular nossa. Não estamos em guerra com ninguém, a não ser com a
ignorância e com a mentira. O que outros estão fazendo não é problema
nosso, e sim deles. Mas na medida em que as ações deles passem a interferir
direta, ou indiretamente, em nossas vidas, temos o sagrado direito em
defender-nos de acordo com o nível desta interferência. Nós exigimos o
direito à executar nossas vontades, de não sermos coagidos por qualquer idéia
política, social ou religiosa, ou sermos escravizados a quaisquer programas
externos ou vícios internos. Não podemos, evidentemente, dizer a alguém o
que deva pensar. Mas em Thêlema podemos encorajar outros a pensarem por
si mesmos, a mudarem suas tendências, a questionarem teorias e a explorarem
todas as suas capacidades e possibilidades, tanto espirituais quanto materiais.

22
O único elitismo tolerado por Thêlema é liderar a si mesmo. Claro que
existem libertos e escravos no mundo. Ou temos a força e a inteligência para
fazer nossa vontade, ou estamos no rol dos escravos. Muitos de nós estamos,
atualmente, entre estas duas condições.

O Autor em seu estúdio de trabalho

23
O esquema de graus como usado por Thelema (A.´.A.´.) e o seu sistema
de Iniciação grandemente ajuda isto. Porém, é necessário dize-lo, nem todos
encontram-se preparadas para ele. O processo iniciático atinge os níveis mais
profundos da alma estimulando-os. Se alguém não está devidamente pronta à
este processo, este será perdido ou será destruído. Espero não assustar futuros
candidatos com a afirmativa, mas a verdade deve ser dita. É por esta razão que
encontramos ao longo de nossas vidas pessoas de características tão
desequilibradas; elas não estavam preparadas e temerariamente tomaram
juramentos além de suas forças. Nada podemos fazer quanto a isto, a não ser
dizer que reflitam antes de assumirem tais juramentos e colocarem o pé no
Caminho. Será de bom senso não sermos levados pela precipitação nestes
assuntos.16

16
- Nota de E.: Quando o Juramento do Candidato é aceito pelos Senhores do Carma, não há como desligar-se
do elo formado. O Processo Iniciático não é certamente um jogo que termina quando achamos que deva
terminar.

24
II

A função de um historiador não é somente escrever sobre


acontecimentos transcorridos no tempo, mas investigar e tentar descobrir as
causas, os motivos, e os fatores determinantes dos eventos evoluindo através a
saga de uma civilização, de um país, de uma religião, etc.

Na História das Sociedades ou Ordens Ocultas de Iniciação, um elo, real


ou imaginário, sempre pode ser encontrado “ligando-as” a alguns dos
Sistemas existentes, ou que existiram, no Oriente. Isto tem dado ensejo à
várias interpretações especulativas no tangente as origens destas
organizações. Se analisarmos corretamente o fenômeno, veremos não existir
qualquer mistério envolvendo estes “elos”; pois é fato conhecido de que
realmente religiões e cultos orientais têm influenciado (e continuam a
influenciar) o pensamentos místico-mágico-religioso ocidental. Mas a
recíproca também é verdadeira. Nenhuma civilização vive isoladamente por
muito tempo. Sempre haverá contatos entre elas; sejam através de guerras de
conquista, imigrações, emigrações, ou por viajantes isolados como, por
exemplo, no caso de Marco Polo e outros. A complexidade do assunto torna

25
impossível um detalhado estudo no presente ensaio, e deveria ser estudado em
livros específicos, onde estudantes poderão obter maiores dados a respeito, e
um quadro mais detalhado das influências exercidas mutuamente entre as
civilizações existentes no passado e no presente, em várias épocas de nossa
história. Exceções são raríssimas neste intercâmbio.

A O.T.O.

Nota – Quando aqui nomeamos a OTO, não estamos nos referindo a


qualquer das organizações existentes no Brasil sob este Nome, inclusive o,
assim chamado Califado.
Infelizmente, desde os tempos de Theodor Reuss já não existe uma
única OTO, mas várias, muitas das quais defendendo ideologia
totalmente opostas.

A OTO (Uma ordem mágica, baseada em técnicas ocidentais eroto-


gnósticas, algumas delas originárias do Tantrismo, existia bem antes de
Crowley aparecer em cena, mas depois tornou-se o principal veículo para seu
trabalho mágico”)
surgiu na última metade do Século XIX, na Alemanha – não no Antigo
Egipto, ou em algum hipotético planeta girando em torno da Estrela Sírius, ou
mesmo na própria estrela – desenvolvendo-se em linhas derivadas do
Tantrismo Oriental, com características árabe-persas (sufismo) e hindús,
adaptadas ao modus viventi Ocidental, através da Tradição Templária-
Maçônica que, por sua vez foi influenciada pela Tradição Qabalistica
Habraica, pelo Ritual Mágico Egípcio, Mitraico, religiões greco-romanas e
algumas pitadas religiosas da Índia. Porém, isto não quer significar que a
Ordem teve sua origem diretamente ligada a uma das Tradições acima citadas.
De cada uma delas veio um pouco e amalgamando-se pelo gênio do fundador,

26
(tenha sido ele quem foi) Theodor Reus ou Carl Kellner.17 Não podemos aqui
deixar de acrescentar que algumas figuras obscuras, lendárias ou não,
aparecem no cenário coetano à origem dessas ordens, como , por exemplo,
Christian Rozenkreutz, na famosa e mal conhecida ROSA-CRUZ, ou o Conde
de Cagliostro na Maçonaria.

Atualmente, não existe qualquer dúvida quanto ao caráter mítico de


Christian Rozenkreutz, um “nome” usado para velar algum propósito até
agora não declarado publicamente.

Certamente, como qualquer outra Ordem seguindo os Caminhos do


Novo Aeon, a OTO deveria fugir dos “padrões cristãos” (mas isto não
acontece com inúmeras ordens existentes usando este nome). Mas a Real
OTO jamais abandonou os reais ideais do Verdadeiros Cristianismo, e jamais
contemporiza-se com correntes contrárias a isto, sejam quais forem.

Tivesse eu tempo disponível para dialogar com esta gente tão mal
informada, eu lhes daria, de início, o básico conselho para que simplesmente
pesquisassem cuidadosamente as doutrinas, os atos e as práticas thelêmicas,
libertos de seus constrangimentos e preconceitos condicionados em suas
mentes por doutrinas mentirosas, inventadas por sacerdotes e iniciados ligados
à Corrente dos Irmãos Negros, atuando no mundo há milhares de anos.
Entretanto, a OTO não é uma democracia, mas sim uma autocracia. A
afirmativa deve causar repulsa em muitos. Mas estes estão mal informados
quanto ao que seja uma Ordem. Numa verdadeira Ordem não pode existir isto
que chamamos democracia. O Poder tem que emanar de um só foco, e tem que
ser obedecido. Se a Ordem Templária tivesse adotado a democracia como
regime a ser seguido, ela não teria existido durante mais de duzentos anos. Na
própria definição da palavra Ordem tudo isto está implícito. O líder espiritual
de qualquer Ordem é quem dá a última palavra. Mas para que isto seja assim é
necessário que o líder seja um Verdadeiro Iniciado, pois somente assim ele
saberá o que deve ser feito para o bem geral da Ordem. O discípulo que não
obedece cegamente as instruções de seu Mestre está fadado ao fracasso. Toda
17
- Nota de E.: É a convicção de muitos de que Carl Kellner teve tanto há ver com a OTO quanto Rudolf
Steiner. Nada. Nas palavras de um perito no assunto ,“ Kellner não pertencia a ordem nenhuma, tinha apenas
alguns amigos com os quais trabalhava em magia sexual e com quase toda certeza, Kellner nem nunca ouviu e
muito menos usou o termo OTO. Depois de entrar em cena Reuss considerou ser boa idéia introduzir a magia
sexual numa ordem e escolheu o rito de Menphis-Mizrain. Depois da morte de Kellner (1905), Reuss
inventou um novo termo para um grupo interno que trabalharia com esta orientação: a Ordem dos Templários
do Oriente. Como resultado, a OTO de Reuss era constituída de membros de MM., mas isto apenas no
princípio. Reuss e seu auto proclamado herdeiro, Aleister Crowley (1975-1947), sempre consideraram a OTO,
e MM. ligadas

27
Ordem que siga o verdadeiro ideal iniciático é uma organização regida por
princípios para-militares.

Sob a liderança de Theodor Reuss18 a OTO obteve grande


desenvolvimento, tomando sua forma definitiva. Desta época são as patentes
de Papus, H.S.Lewis, e outros. Com respeito ao segundo citado vide
documento anexo e comentários pertinentes.19

Somente em 1904 é que o nome da Ordem veio à público, e referida


como possuindo um “grande segredo”. Em 1912, a Edição de Aniversário de
“Oriflamme”, um periódico maçônico, anuncia o segredo:

“Nossa Ordem possui a chave que abre todos


segredos maçônicos e herméticos, nomeadamente
os ensinos da magia sexual, e estes explicam,
sem exceção, todos os segredos da natureza, todos
os símbolos da Maçonaria e de todos os
sistemas religiosos”

Bem antes destes eventos, Reuss estivera associado a W.W.Westcoat,


conhecido líder da Golden Dawn, que o apresentou a John Yarker. Através
deste último, Reuss, fora patenteado para iniciar, na Alemanha, uma Grande
Loja trabalhando no Antigo e Primitivo Rito de Menphis e Mizrain e no
Antigo e Aceito Rito de Cerneau. Isto foi realizado. Foi também nesta mesma
época que eles iniciaram a publicação da Oriflamme.

Nos mesmo ano de 1912, deu-se o histórico, e ainda não muito bem
esclarecido, encontro entre Theodor Reuss e Aleister Crowley. A versão mais
18
- Nota de E.:Muitos comentadores da OTO afirmam que Theodor Reuss vivia com o dinheiro da venda de
diplomas e autorizações de franquias da OTO.
19
- Nota de E.: Segundo Marcelo Motta, em “Chamando os Filhos do Sol”, Lewis pertencia aos Círculos
Externos da Ordem. Mas a informação não é exata. A Patente de Lewis, dada por Frater Peregrinus (Theodor
Reuss) é do VIIº OTO Honorário. Portanto, ele pertencia, como Membro Honorário do VIIº, ao Soberano
Santuário da Gnosis. E assim, com direito a fundar uma Ordem particular sob administração da OTO. O erro
de Lewis foi dar à sua Organização o Nome Rosa-Cruz. É necessário aqui explicar o motivo desta proibição,
isto é, de usar abertamente o Nome Rosa-Cruz. Isto é devido que o equilíbrio das forças não permite; se o
Nome é vocalizado para fins públicos, como no caso da AMORC e de outras “Ordens Rosa-Cruz”, legiões de
forças das mais sinistras vêm imediatamente, porque o Graal é Sagrado dos Píncaros das Montanhas às
Profundezas do Mar. E ai daquele que invoca se não possui o Equilíbrio. Observe-se que a Patente dada a
Lewis lhe conferia um grau honorário. Ao desobedecer as ordens de seus superiores ele traiu o seu Mestre,
perdendo os Elos com a Corrente Original.

28
confiável deste encontro entre os dois proeminentes ocultistas é a seguinte:
Em 1911, Crowley, fora iniciado nos Três Primeiros Graus da OTO. Uma
Ordem que ele julgara, na época, ser mais uma entre tantas outras em que
havia sido convidado a ingressar. No ano seguinte, foi visitado por Theodor
Reuss, na Inglaterra, que o acusou de ter revelado publicamente o Segredo
Central da Ordem em um de seus livros. Evidentemente, Crowley, rebateu
veementemente a acusação; “Como poderia ele ter revelado um tal segredo se
não havia ainda atingido o IXº OTO?”. Então, Reuss, abriu “O Livro das
Mentiras”, recentemente publicado por Crowley, na página 46, onde se lia:
“Que o Adepto esteja armado com sua Baqueta Mágica e provido de sua Rosa
Mística”. Vários autores debatem a veracidade desta narrativa, mas existe
pouca disputa de que esta cerimônia possa ser facilmente interpretada como
um ritual mágico sexual. Eu creio que todos e quaisquer rituais de Crowley
foram elaborados véus para uma variedade de atos sexuais exóticos. Toda
Magick é sexual. Na verdade, toda a vida é sexual. A própria Missa Romana é
uma pantomima do ato sexual tanto quanto o Grande Rito das Feiticeiras. A
real questão é: “O que o sexo simboliza?”
Ante a acusação de Reuss, Crowley, imediatamente compreendeu a
natureza do segredo do IXº OTO. Como consequência do encontro entre os
20
dois ocultistas, Crowley foi nomeado, por Reuss, líder da Ordem para a
Inglaterra e todos países de língua inglesa. Na Inglaterra a OTO tinha por
nome Mysteria Mystica Maxima (M.M.M.).

Segundo certos comentaristas Crowley não era , na época, membro da


OTO. Caso isto fosse verdade, o que então autoriza a Reuss censurar
pessoalmente a Crowley pela publicação do referido livro? Crowley havia
descoberto intuitivamente o segredo da ordem, por suas próprias pesquisas
ocultas, e não por intrujices tão comuns a certos tipos de “esoteristas” tanto no
âmbito thelemita quanto no mundo externo.

Muito pouco restou da correspondência entre Crowley e Reuss. Mas em


uma das cartas de Crowley, datada de 1921, após Reuss, aparentemente, ter
executado um tático retiro, devido as objeções de alguns membros de Lojas
Alemães contra sua (aparente) aceitação da Lei de Thêlema, existem
evidências de que Reuss abdicara o posto de OHO em 1921, e que Crowley
propôs a Reuss substituí-lo na liderança da Ordem.

20
- Nota de E.: OHO significa Outer Head of the Order, ou seja: “Cabeça Externa da Ordem”. Porém, o meis
interessante em tudo isto é que pessoas não percebem que se existe uma Cabeça Externa, haverá uma Cabeça
Interna.

29
No diário de Crowley deste período, encontramos registrado: “Eu
proclamei-me a mim mesmo OHO; Frater Superior da Ordem Templária
Oriental”21

A resposta de Reuss infelizmente perdeu-se, embora Crowley refira-se a


ela em uma carta dirigida a Tranker, e esta dá a entender que Reuss aceitara a
proposta de Crowley.22

Se Reuss respondera em 1922, ao que parece, então esta carta perdida


foi, provavelmente, a base de Crowley para declarar que Reuss renunciara em
seu favor neste ano.

Após a morte de Reuss, existiam três remanescentes e ativos Grão-


Mestres apontados por ele: Heinrich Tranker, na Alemanha; C. Stansfeld
Jones na América do Norte; e Crowley, na Inglaterra.23

Jones indicara Crowley como o OHO, e Tranker, ao que parece, o


confirmou, embora a Constituição da Ordem explicitamente determinasse que
um OHO nomeava seu sucessor (homem ou mulher).

Para todos os efeitos Crowley assumira a liderança da Ordem em 1922.


Entretanto, as rédeas da liderança não foram mudadas de mãos de maneira
fácil e calma. Grande número de Lojas existentes na Alemanha, e de outros
lugares, levantaram forte oposição ao novo líder. Algumas dessas Lojas
desejavam simplesmente trilhar seus próprios caminhos (no que estavam em
seus direitos). Outras romperam definitivamente com Crowley, devido ao
Livro da Lei (Liber AL vel Legis), principalmente pelo conteúdo do Terceiro
Capítulo. Crowley estava ativamente promulgando a Lei de Thêlema via
OTO. Isto já houvera, anteriormente, causado atritos com Reuss. Segundo é
dito, Crowley havia anteriormente revisado os Rituais a pedido de Reuss (o
que não nos parece ser a verdadeira história), infundindo neles as Doutrinas do
Novo Aeon. Assim, a Ordem sofreu sua primeira divisão. Os Antigos Rituais
estavam, como era de se esperar, baseados na Antigo Aeon (Aeon de Osiris), e
muitas Lojas consideraram intolerante a mudança. Peter Koenig afirma que
Reuss jamais usou os rituais revisados por Crowley.

21
- Nota de E.: Uma declaração bem presunçosa, devemos convir.
22
- Nota de E.: Isto pode estar errado, pois em uma carta de Reuss dirigida a líderes da AMORC, Reuss da a
entender que expulsara Crowley da OTO.
23
- Nota de E.: Em 10 de maio de 1921, Reuss patenteou Jones como Cabeça da OTO para os USA.

30
O Aeon de Osiris, ou a Fórmula Mágica do Deus Sacrificado (Hiran,
Osiris, Mitra, “Jesus”, Oannes, etc) começou quando os homens tornaram-se
cientes do Sol, e reconheceram que a fertilidade da terra (e consequentemente
suas vidas) dependiam diretamente do poder vitalizante da luz solar. Também
foi percebido, como um fato incontestável, que o Sol, a Fonte de Vida,
“Nascia” diariamente no Oriente e viajava através do céu distribuindo calor,
vida e luz sobre a terra. Mas também foi observado que este distribuidor de
vida “Morria” cada dia no Ocidente, mergulhando o mundo em trevas e frio –
uma escuridão que invocava introspecção e medo. Para onde fora o Sol?
Cada noite, após a “morte” do sol, nossos ancestrais “rezavam”
(“imploravam”, e executavam rituais para que o Sol nascesse). Eles também
perceberam a sucessão das Estações, e novos rituais foram elaborados para a
comemoração destes Estações. Infundados como eram estes “medos”, eles
fora baseados solidamente sobre uma “realidade” percebida (esta realidade,
claro, era ilusória), e o trauma foi impresso na psique humana. Esta
“realidade”, por sua vez, formou o fundamento da Fórmula do Aeon de Osiris,
ou a Fórmula do Deus Morto e Ressucitado. MAS ACONTECE QUE ESTA
ERA UMA PERCEPÇÃO ILUSÓRIA. O Sol, como todos sabemos, não
“nasce” e nem “morre” diariamente, ou perde e recupera seu poder durante a
sucessão das Estações. A Terra é que gira em torno Dele, que está sempre
radiando Luz, Calor e Vida. Esta é a Fórmula atual, a Fórmula do Aeon de
Horus. Um Sol que não nasce nem morre, que está sempre fulgindo. E nós
somos este Filho Horus, o Deus Menino, cônscios da continuidade da
existência – pois somos fagulhas do Sol cristalizadas em carne. Agora nós
podemos perceber o Universo não como uma tragédia, mas como um processo
de contínuo crescimento, e que, como o Sol, não nascemos e nem morremos.

31

Os O.H.Os.
A maior resistência a Crowley, e às mudanças, partira dos membros
alemães, cujo Ramo, aparentemente, caíra sob controle de Heinrich Tranker.
Em 1925, Crowley, Lea Hirsig, Dorothy Olsen e Normann Mudd,
reuniram-se com Heinrich Tranker 24, Helena Grau (esposa de Tranker),
Eugene Grosch, Karl Germer, Martha Kuntzel, Hopfer, Birven, e outros
líderes ocultistas da época.O propósito da reunião – conhecida como a
Conferência de Weida – era discutir a aceitação, ou rejeição da Lei de
Thêlema e a discussão da possibilidade de unirem-se várias facções ocultas
sob a liderança maior de THERION (Crowley).

O resultado foi que grosch, Kuntzel, Mudd, Lea Hirsig, Germer e


Dorothy Olsen colocaram-se ao lado de Crowley. Grau, Hopfer, Birven e
outros mais ficaram com Tranker. Mais uma vez a Ordem se dividia.

Crowley permaneceu como Terceiro Grão Mestre de um Ramo da OTO


na Inglaterra, Estados Unidos da América , Canadá e parte de países
Germânicos, até sua morte em 1947, sendo sucedido por Karl Germer (Frater
Saturnus). Alguns comentaristas afirmam haver certas dúvidas na
autenticidade desta sucessão, já que o documento de Germer não era mais que
uma autorização administrativa para gerir os bens da OTO e ser agente
literário de Crowley. Germer, é certo, herdara os direitos autorais de Crowley,
o que tem sido ignorado através todos estes anos, pois julga-se correntemente
que estes direitos teriam sido herdados por Louis Wilkinson e John Symons.
Isto não corresponde à verdade. Symons e Louis somente são os executores
literários de Crowley. Outro detalhe, desconhecido da maioria, é que Germer
24
- Nota de E.: “Após a morte de Reuss em 1923, Tranker tomou posse de arquivos da Ordem via a viúva de
Reuss, ..... ; entretanto, logo após isto, a Sra. Reuss afastou-se dele. Tranker informou a C.S.Jones (Frater
Arctaeon – também Frater Achad) Xº para os USA, a respeito de suas aspirações esotéricas, acrescentando
que a OTO não tinha particular valor para ele; tudo que desejava era ser líder de todas as organizações por
trás dos bastidores.” (Peter Koenig)

32
jamais fora regularmente iniciado na OTO, ele era Membro da A.´.A.´., e de
altíssimo grau.

Germer nasceu na Alemanha em 1885. Distinguiu-se como militar na


Primeira Guerra Mundial e foi uma ativa influência na Pansofia Germânica
em 1920. Anos mais tarde, quando os nazistas assumiram o governo alemão,
Germer, foi feito prisioneiro por causa de suas ligações maçônicas e com
Crowley. Quando prisioneiro na famosa Prisão Alexander-Platz 25, e mais
tarde no campo de concentração belga, ele suportou todos os maus tratos e
torturas da Gestapo, recitando de cor os Sagrados Livros de Thêlema, da
frente para traz e de traz para a frente, até atingir o trance do Conhecimento e
Conversação do Sagrado Anjo Guardião. Germer permaneceu fiél a Thêlema
até sua morte em 1962. Foi Instrutor de meu Instrutor até esta data.

Existem vários outros motivos para se por em dúvida a autenticidade da


nomeação de Germer como líder da Ordem. Mas são motivos de ordem
pessoal do próprio Germer.

Em carta dirigida a kenneth Grant (antigo discípulo de Crowley), datada


de 24 de setembro de 1948, Germer diz:

“... você deveria estudar tudo que foi publicado a respeito da


Constituição etc. da Ordem e digerir isto. Você deveria saber que eu não
sou o O.H.O.. Eu mesmo não sei se aceitaria o trabalho se ele me fosse
imposto”.

Em outra carta (18 de janeiro de 1952) declara:

“... como você sabe, eu jamais avancei através dos graus da OTO;
eu não conheço o ritual ou os rituais. Mas A.C. me nomeou Grande
Tesoureiro Geral com a carga financeira em meus ombros...
Eu jamais passei sistematicamente através dos graus, etc. Eu,
portanto, não posso aconselhar neste lado do trabalho. Eu tenho chegado
à convicção que você está sendo treinado para isto, e estou certo que você
tem a paixão, capacidade para trabalho intensivo, e a vontade para
alcançar o Mestrado neste departamento ou campo”.

25
- Nota de E.: Preciso notar que existem muitas “estórias” a respeito da OTO e o Nazismo. Existem
publicações oficiais da OTO, editadas na década de 3o, que saúda Hitler como o Messias, enquanto outras,
anos mais tarde, afirmam que o mundo acabaria pelas mãos do mesmo Hitler.

33
A total posição de Germer está bem sumarizada nas seguintes palavras
em sua carta a Grant de 18 de janeiro de 1952:

“Nem eu sou contra o sistema da OTO, ou o Sistema de graus.


Somente, paradoxalmente, tenho pouco interesse nele”.

E mais adiante num desabafo:

“Eu desejaria que alguém pudesse tomar o total trabalho, e


responsabilidade para o cargo que A.C. jogou em meus incompetentes
ombros. O que mais odeio de todas as coisas é desfraldar falsas
pretensões. Eu repito que disse antes: eu jamais passei através a iniciação
da OTO ou graduações. Jamais estive presente em uma celebração da
Missa Gnóstica... Eu não sei a palavra de passe, sinais, etc., mesmo dos
graus mais baixos da OTO. Sumarizando: A.C. me apontou ao mais alto
grau e responsabilidade sem me instruir para o trabalho. Se desejamos
que a OTO vá em frente nós precisamos um competente líder, não
somente para a Inglaterra mas para o mundo.”

Que leitores tirem sua conclusões.

Uma coisa é inegável: Germer foi um homem de poucas palavras,


extremamente honesto e firme em suas convicções – um caráter difícil de ser
encontrado atualmente.

Também meditem os leitores sobre o modo pelo qual ele atingiu o


Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião. Demonstra não
haver nenhum formal e determinado rito para esta Consecução, a não ser na
cabeça de mentirosos escrevendo sobre o assunto no intuito de angariar
“admiradores”. Alguns destes enganadores chegam a fazer “turismo” em
desertos para “encontrarem” com seus “anjos da guarda”, como se isto fosse
necessário e indispensável. Meu Instrutor passou pelo trance em um
apartamento de só quarto e cozinha em plena e barulhenta Nova Yorke.

Ao atingir o Conhecimento e Conversação do S.A.G., o Adepto é


admitido ao Templo de Deus. Daí em diante é o Anjo que “dita as ordens”:
“não sou eu que vivo, mas Ele que vive em mim, ou como dito “Faze o que tu
queres”.

34
Após os término da Segunda Guerra Mundial, Germer, migrou para os
Estados Unidos da América do Norte, onde veio a falecer em 1962, no mesmo
ano em que conheci meu saudoso Instrutor na A.´.A.´.

III

Em plena Segunda Guerra Mundial, Herr Metzger foi iniciado no Ramo


Suiço da OTO (Mysteria Mystica Veritas).

Hermann Metzger (Frater Paragranus), residiu durante muitos anos em


Stein, e mais recentemente em Zurich, faleceu em 1990. Metzger foi um
estudante de um sobrevivente grupo da OTO Suiça, liderada por Theodor
Reuss. Em 1940, contatou Karl Germer, que o iniciou nas Doutrinas
Thelêmicas (vejam bem: não na OTO, mas nas Doutrinas Thelêmicas)
Metzger trabalhou por muitos anos sob a supervisão de Frederic Mellinger,

35
um alto graduado da OTO. É sabido que Germer acalentou muita esperança
em Paragranus. Entretanto, muito dessas esperanças não foi realizado senão
após a morte de Germer.

Ao passar dos anos, Metzger, recebeu outras nomeações: Grão Mestre


da Ordo Illuminarum, Grão Mestre da Fraternitas Antiqua (fundada por
Krumm-Heller e Patriarca da Igreja Católica Gnóstica. Após a morte de
Germer, primeiramente sua esposa S.Germer declarou que Marcelo Motta era
o substituto de seu marido, mas depois voltou-se para Metzger (?).

A Ordo Illuminarum fora fundada por Theodor Reuss e Engel em 1883;


mas separaram-se em 1902. O primeiro uniu-se a Hartmann e Klein, o outro
permanesceu na Ordo Illuminarum até sua morte em 1931, sendo substituído
por Mier.

Krumm-Heller morreu em 1949, deixando como seu sucessor na FRA


seu filho Parzival Krumm-Heller que, anos mais tarde apresentou ao meu
falecido Instrutor na A.´.A.´., e meu Iniciador na OTO, a Carl Germer.

Existe uma corrente afirmando que ao morrer, Krumm-Heller, deixara


como seu sucessor na FRA Suiça o Dr. Herbert Fritche, que por sua vez
deixou o cargo para Fra. Paragranus. Entretanto, esta liderança de Paragranus
é bastante discutível, já que existiam outros Adeptos que receberam a
Sucessão diretamente de Krumm-Heller, a nível nacional, e fora da obediência
de Metzger. O importante é que a FRA, originalmente de alta qualidade
maçônica e ligada à OTO, separou-se desta perdendo, assim, is elos com a
Corrente que a havia iniciado. No Brasil a FRA, como era de se esperar, após
ter-se desligado de Parzival Krumm-Heller, retornou às Correntes ligadas ao
Antigo Aeon.

FRATER ACHAD

Na América do Norte, a OTO teve por iniciador Charles Stansfeld


Jones, ao ligar-se com doze sinceros interessados associados em Vancouver,
Colúmbia (Canadá), todos sendo iniciados ao IIIº. Crowley, em
“Confessions”, comenta com veemência sobre o trabalho executado por eles.

Charles Jones (como Frater Parzival Xº) continuou, durante vários anos,
as atividades da OTO, tanto nos USA quanto no Canadá. Entrementes, foi

36
permitido a um dos patenteados de Vancouver, Wilfred T. Smith, a fundar a
primeira Loja nos USA, Los Angeles, Califórnia (1930). Wilfred fundou a
Loja Agapé. Infelizmente, Wilfred, não soube separar sua vida privada de sua
vida mágica, e seduziu a esposa de um dos membros da Loja, Jack Parsons.
Apesar disto, Wilfred, permaneceu dirigindo os trabalhos da Loja até 1942,
quando foi retirado por Crowley, nomeando Jack Parsons o novo Líder.

Charles Stansfeld Jones nasceu em 2 de abril 1886 em Londres, seus


pais eram canadenses. Viveu em Columbia o maior tempo de sua vida. Em 24
de dezembro de 1909, tornou-se um Probacionista sob a tutela de Crowley. O
Moto Mágico escolhido foi “Unis in Omnibus (Um no Todo)”. Em 1913
atingiu o grau de Neófito da A.´.A.´., sob o Moto Mágico “Achad”,
significando “Um”. O que ele foi antes de ser reconhecido como o Filho
Mágico de Crowley (O Filho prometido em Liber AL) não é de muita
importância. Estamos mais interessados no que ele tornou-se após uma série
de trabalhos mágicos realizados por Soror Hilarion (Jane Foster, “The Cat” –
O Gato) e a Grande Besta 666 (Aleister Crowley) em 1915.

Jones, mais conhecido como Frater Achad, Parzival Xº, e V.I.O.O.I.V.,


descobriu a Chave do Livro da Lei em 1917, mudando o título deste livro de
Liber L. vel Legis, para Liber AL vel Legis, e, em consequência, causando
com que várias obscuras passagens no Livro fossem entendidas por Crowley.
Por isto, e talvez por mais algumas idéias, Thelema deve muito a Jones, mas
não como um grande homem – mas precisamente como um temporário
veículo para Aquele que era maior que ele.

Jones foi ativo na OTO durante muitos anos, mas aparentemente, era
indiferente aos ensinos desta ordem no relativo à magia sexual.. Suas buscas
eram puramente espirituais, e ele usou os métodos de cerimônia mágica da
Golden Dawn e da A.´.A.´., mais do que aqueles da OTO.

ADENDO AO CAPÍTULO C. STANSFELD JONES

Somente no sentido de ilustração apresentamos aqui uma muito sintética


descrição das idéias de Achad, pois o assunto é vasto e exige que leitores
tenham, no mínimo, bastante intimidade com as reais doutrinas esotéricas
thelêmicas.
A primeira função de um Mago (não confundir com Magista) é a
proclamação ou “pronúncia” da PALAVRA DO AEON que ele inaugura. Por
exemplo: a Palavra do Magus do Aeon de Osiris era INRI. Esta é uma Palavra

37
que contém, em si mesma, a inteira Fórmula Mágica do Aeon. Achad manteve
a opinão que THELEMA não era tal Palavra no presente Aeon, mas sim,
como dito em AL, a PALAVRA DA LEI, não do Aeon; e que
ABRAHADABRA também não era a Palavra, mas sim a Chave dos rituais.
Assim sendo, nem Thêlema e nem Abrahadabra preenchiam os requisitos
exigidos pela Tradição Mágica.
Frater Achad defendia a tese de que quanto Liber AL foi recebido por
Crowley em 1904, este não houvera, na época, atingido o Grau de
MAGUS. De fato, o Grau somente foi alcançado por Crowley
“Onze anos” depois, isto é, em 1915. Por isto, não constitui
surpresa alguma que Crowley não tenha pronunciado a Palavra do
Aeon.
Crowley atingiu o Grau de Mestre de Templo em 1906, tornando-se
aquilo que é conhecido, na terminologia mágica, “Um Habitante da Cidade
das Pirâmides”. Isto está representado na A.´.A.´. pela Terceira Sephira,
Binah, Compreensão.
Na ordem que depende de sua existência na Externa sobre uma estrita
hierarquia , nenhum grau pode ser atingido por um Adepto, a não ser que o
grau imediatamente precedente ao dele tenha sido alcançado por seu discípulo.
Em outras palavras: enquanto Achad não estivesse qualificado para tomar o
lugar de Therion na Cidade das Pirâmides, Aleister Crowley não estaria na
posição de clamar o grau e pronunciar a Palavra do Aeon. No sentido de
Crowley poder fazer isto, Achad, assumiu a mais séria responsabilidade que é
possível para qualquer mortal tomar no Caminho da Consecução Mágica, isto
é, ele teve que tomar “O Juramento do Abismo” e atravessá-lo com sucesso.
Isto ele fez, e esta foi sua retidão e integridade espiritual que ele clamou não
somente ter tomado o Mergulho para capacitar Crowley no avance ao Grau de
Magus, como também declarar que permaneceu no Abismo – com todo
horror que isto significa – por um inteiro Ciclo de Saturno, isto é, 29 anos –
1916 a 1945.
Mesmo assim, Crowlet, permaneceu silencioso; nenhuma Palavra veio a
ele. Achad escreve em uma carta datada de 1916: “Após ele (Crowley)
perceber que eu havia pulado no Abismo em seu interesse, então ele pode
obter o 9º=2, e então me escreveu “permaneço ainda in profundis”. Escrevi
um ensaio sobre deus sendo um sadista dois dias atrás, e ontem passei por uma
cerimônia mágica; mas nada parece me reviver. Não consigo aprender a
esperar pela Palavra propriamente. Acredito que se pudesse fazer isto por dez
minutos a Palavra viria.”
Porém, de acordo com Achad, a Palavra não veio a Crowley e, em 1926,
durante uma série de provas (isto continuou até 1945), Achad a recebeu.

38
Em certo senso, Achad, estava certo, mas talvez não no Caminho que
supunha. O reflexo mágico do Aeon de Horus é Hoor-Paar-Kraat, o Deus do
Silêncio, ou Falar Em Silêncio. O Ministro deste Deus é Aiwass. Harpocrates
é uma particular fórmula de Seth, e sua Palavra é vibrada em silêncio.

JACK PARSONS

Jack Parsons, jovem cientista norte americano, contribuíra grandemente


na fundação da “Jet Propulsion Laboratory”, em Arroyo Seco. Após sua
morte, uma das crateras da Lua recebeu seu nome como homenagem ao
desenvolvimento de seu trabalho na pesquisa do combustível que colocou os
foguetes americanos no espaço. A trágica morte de Parsons está envolvida em
grande mistério, onde surgem intrigas políticas e espionagem. Jack Parsons
faleceu em 17 de junho de 1952, ao “deixar caír” um frasco contendo
fulminato de mercúrio, um explosivo altamente instável.

Em 1948, Parsons, tomara o Juramento do Abismo e o Moto Mágico


Belarion.

Antes disto, em 1945, L.Ron Hubbard iniciou-se na Loja Agapé.


Parsons viu que Hubbard tinha um grande potencial mágico. Parsons escreveu
a Crowley a respeito de Ron Hubbard: “Ele é a mais thelêmica pessoa que ja
conheci e está em completo acordo com nossos princípios. Está também
interessado em estabelecer o Novo Aeon”.

Não demorou muito e Hubbard foge com a mulher de Parsons.


Perdendo Betty, Parsons empenha-se em magicamente atrair outra
companheira. Obteve êxito em fevereiro de 1946, quando escreve a Crowley a
respeito de uma jovem de nome Marjorie Cameron
Parsons escreveu vários livros e textos, entre os quais se detacam
“Freedom Is A Two-Edged Sword” e “Liber 49” (O Livro de Babalon) a base
fundamental dos seguidores de Parsons.

Após suas “andanças” no mundo thelêmica Ron Hubbard funda, nos


Estados Unidos da América, a Cientologia, tornando-se rapidamente uma rica
organização religiosa à qual pertencem várias estrelas do cinema americano,
entre eles J.Travolta.

39
Germer morreu em 1962, e a OTO sofreu uma nova fragmentação,
dando ensejo a que vários Ramos autônomos surgissem no mundo. A principal
causa desta fragmentação pode ser localizada no dúbio testamento deixado por
Germer, onde textualmente está determinado:

‘Com referência a propriedade da Ordo Templi Orientis, da qual


eu sou o Cabeça, eu ordeno que seja passada ao Cabeças da Ordem, mas
que minha mulher, Mrs. Dasha E. Andrea-Germer, seja o executor desta
parte de minha vontade juntamente com Frederic Mellinger Xº ‘ (os
grifos são meus)

No texto, em Inglês, (vide documento) a palavra HEAD (cabeça) está


escrita na forma plural (HEADS).
Mas o problema é o seguinte: QUEM ERAM ESTAS CABEÇAS?
Germer não cita nomes. Na verdade, nem poderia citá-los, porque a Ordem
possui somente Uma Cabeça e não várias. É totalmente improvável ter ele
confundido o cargo da Cabeça com aquele do Rei. Reis são vários; cada país
possui um Rei, e estes Reis prestam obediência à Cabeça Externa, que é uma.
Reis seriam, em outras palavras, os Líderes Nacionais de cada Ramo da
Ordem. Mas isto é, como já dito, totalmente improvável, porque a maioria dos
Reis estava desligada da OTO liderada por Germer, isto é, aquela OTYO
liderada por Crowley. A que atribuir esta falha? Germer, é sabido por todos,
mostrava-se zeloso, disciplinado, meticuloso e cioso de seus deveres,
principalmente no relativo à OTO. Até hoje não sabemos ao certo o porque
Germer agiu assim. Claro existirem várias opiniões a respeito. Mas nenhuma
delas convence. Atualmente a mais aceita é aquela de que Germer, realmente
queria destruir a Ordem, pois percebera que ela não teria nenhum futuro como
uma organização genuinamente thelêmica. Isto já poderia ser percebido por
suas cartas a K. Grant. Isto estava implicito quando ele não seguiu o conselho
de Crowley em fazer uma mudança geral na Ordem e em seus Rituais. Outra
falha de Germer foi nomear sua esposa como executora de sua vontade em
relação à Ordem. A Sra Germer sequer pertencia ao Quadro de Membros da
Ordem. De qualquer modo, a confusão daí derivada foi total e, em
consequência, apareceram várias “Cabeças”; cada qual puxando a sardinha
para sua brasa.

40
KENNETH GRANT

Na Inglaterra, Kenneth Grant (Frater Aossic Aiwass) assume o título de


OHO, e dissolve a estrutura maçônica da Ordem.
Kenneth Grant foi patenteado em 1951 ou 1952 para trabalhar com os Três
Primeiros Graus da Ordem. Tudo ia bem entre ele e Germer até 1955, quando
Grant fundou uma Loja (Nova Isis) com Onze Graus, cujos rituais foram
elaborados por ele próprio. Publicou um Manifesto, enviando uma cópia a
Germer, mas recusou-se a enviar os Rituais, alegando que poderiam ser
manuseados por mãos indevidas. Ante isto, Germer, imediatamente (20 de
julho de 1955) enviou-lhe uma carta registrada expulsando-o da OTO. Grant
ignorou a carta e continuou seu trabalho desligando-se de Germer. Alguns
autores afirmam que este não foi o motivo principal para a reação de Germer,
mas sim algumas conexões, iniciadas por Grant, com outros Ramos da Ordem.

A idéia de Grant seria dar à OTO uma estrutura semelhante à A.´.A.´.


Mas acontece que as duas Ordens são totalmente diferentes em seus fins e
organização. Para evitar um fracasso, Grant, cometeu um erro ainda maior,
unindo sua organização à Correntes que nada têm a ver com Thêlema.26

No sentido de esclarecer a diferença entre a A.´.A.´. e a OTO, Germer,


em 1940, escxreveu a Crowley solicitando uma definitiva instrução sobre as
diferenças entre a OTO e a A.´.A.´. – Crowley respondeu:

“A diferença entre a A.´.A.´. e OTO é muito clara e simples. A A.´.A.´. é


uma sempiterna instituição, e inteiramente secreta. Não existe qualquer
comunicação entre seus membros. Teoricamente, um membro somente
conhece seu superior que o iniciou, e qualquer outra pessoa introduzida por
ele próprio. A Ordem caminha em linhas puramente espirituais.O objetivo
de ser tornar membro é inteiramente simples. O primeiro objetivo é o
Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião. O próximo
objetivo, omitindo considerações relativas aos Graus 4º=5, e 7º=4, é o
Cruzamento do Abismo, e a consecução do Graus de Mestre do Templo. Isto
está descrito em detalhes, especialmente em Liber 418.
Muito pouco está escrito a respeito do graus 5º=6, isto é, o
Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião, porque é

26
- Nota de E.: Devemos aqui sublinhar o fato de que Kenneth Grant pertencia apenas ao grau de Neófito na
A.´.A.´.

41
profundamente secreto e tortalmente individual. É impossível enunciar
condições, ou escrever as experiências detalhadas envolvendo o assunto.
A OTO nada tem a ver com isto, excepto que o Livro da Lei e a
Palavra do Aeon são princípios essenciais dos membros”

GRADY MACMURTRY

Nos Estados Unidos da América, outro Ramo foi estabelecido por


Grady MacMurtry (Hymenaeus Alpha).

MacMurtry fora iniciado na Loja Agapé. Sendo um oficial do Exército


Americano, embarcou para a Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial.
Encontrou-se com Crowley, e este o iniciou diretamente ao IXº (1946).
Portanto MacMurtry não foi regularmente iniciado na, e não passou
medianamente pelos graus da, Ordem. O mesmo aconteceu com Germer,
Marcelo Mota e Euclydes Lacerda. Somente que este último recebeu
primeiramente os Três Primeiro Graus, antes de receber o IXº.

Existe uma carta de Crowley autorizando MacMurtry a tomar o encargo


de organizar o Ramo Norte Americano quando de seu retorno à América após
a Guerra, Em uma outra carta, Crowley, o neomeia seu representante, e o
autoriza a usar a carta caso ele viesse a sentir que a Ordem tendia a fechar suas
portas. Contudo, as duas nomeações ficavam sujeitas à ratificação de Germer.
Germer nunca ratificou os dois documentos, mas, também, nunca os anulou.

Germer foi um homem quieto, dado ao isolamento. Sob sua


administração a OTO cessou iniciações de novos membros. A atenção dele
resumia-se em concentrar-se única e exclusivamente num programa de
publicações dos livros Crowley. Nesta época, meu Instrutor, participou
intensamente neste programa. Liber Aleph foi impresso no Brasil por ele. Pelo
que podemos perceber, Germer, não dava a mínima para a evolução da OTO.

Hymenaeus Alpha tentou, por várias vezes, entrar em contato com


outros Ramos da Ordem, no sentido de manter laços fraternais entre eles.
Jamais sua iniciativa foi aceita.

HYMENAEUS BETA (W****B*****)

42
Com a morte de MacMurtry, foi “eleito”, em setembro de 1985,
Hymenaeus Beta como o novo “Calipha”. Mas Hymenaus Beta é líder apenas
do Ramo da OTO conhecido como “Caliphado”, um nome inventado após a
morte de Germer.

De início parecia que este novo líder do Ramo da OTO nos Estados
Unidos da América (Caliphado), tornaria a organização naquilo que deveria
ser, ou o que clama ser. Entretanto, isto não aconteceu. O desequilíbrio
mágico de vários dirigentes da organização tornou-se um empecilho a esta
consecução.

METZGER

Um ano após a morte de Germer, Metzger foi eleito o OHO por seus
seguidores na Suissa. Seu superior imediato na OTO, Mellinger, não foi
notificado disto a não ser tardia e indiretamente. Como executor, juntamente
com Sasha Germer, da vontade de Germer para assuntos da Ordem tentou
anular tal procedimento. Tudo em vão. A indisciplina era geral. Entretanto, a
ação de Metzger isolou seu grupo, e ele mesmo, do restante da OTO até sua
morte.

OTOA

Em 1960 morria, em Madrid, Lucien-François, deixando o governo do


Ramo da OTO Espanhola, e da Igreja Gnóstica de Menphis e Mizrain, ao Dr.
Ortier, o qual, devido sua idade avançada, solicitou ajuda a Hector François.
Estge Ramo passou a ser conhecido como OTOA (Ordo Templi Orientis
Antiqua)
No ano de 1963, Jean-Maine encontrou-se, no Haiti com Michael
Bertieux e o introduz na OTO, encarregando-o organizar aquele Ramo da
Ordem nos Estados Unidos e América do Sul. Neste mesmo ano, e devido ao
estado de Ortier, Jean-Maine é consagrado Patriarca e Chefe da OTOA, e em
1970 passa o cargo a Bertieux. A este grupo aliou-se Kenneth Grant.

AEON DE MAAT

No Canadá, o mais expressivo discípulo de Crowley, C. Jones (Frater


Achad), o descobridor da “Chave” de Liber AL, e considerado, por Crowley,
seu Filho Mágico, já havia iniciado um Ramo da Ordem, como visto

43
anteriormente, Em 2 de abril de 1948, um ano após a morte de Crowley,
Jones, baseando-se no desenvolvimento de suas próprias pesquisas do Livro
da Lei, anuncia o início da Era de Maat – precisamente 40 anos depois do
Equinócio dos Deuses em 1904, quando Aiwass anunciou o início do Novo
Aeon, que deveria durar, aproximadamente, dois mil anos. Frater Achad
denominou a Nova Era de MA-ION, o Aeon de Verdade e Justiça.

Achad baseou seu Culto de Ma-Ion sobre uma “revelação” que, segundo
ele, descobriu no próprio texto de Liber AL, exatamente no último Verso do
Capítulo I: “The Manifestation of Nuit is at a end” (“A Manifestação de
Nuit está em um fim”). Tomando isto literalmente, como Achad o fez, isto é,
ambos os fins da palavra MAnifestatION, da MA-ION, que ele declarou ser o
verdadeiro Nome do Aeon de Maat ou Ma, a Deusa Egípcia da Justiça.

Mas nos parece que Achad estava obsecado pela idéia de ser um Novo
Messias, potente o bastante para redimir o homem de suas calamidades do
Aeon de Horus, as quais, a julgar por sua correspondência particular, atribuía
às maquinações de Aiwass. Para ele Aiwass tornara-se um demônio com o
claro propósito de destruir a humanidade.

É sabido que Achad tentara a Atravessia do Abismo, e que depois disto


apresentou-se com fortes características de loucura. Mas esta é uma outra
história que relataremos em outro ensaio.

BRASIL

MARCELO MOTTA (FATER PARZIVAL XIº)

No Brasil, Marcelo Motta, a seguir a morte de Germer e após sérios


atritos com Kenneth Grant (a quem considerava como o OHO, durante anos)
separa-se do Ramo Inglês, funda uma Loja e auto-intitula-se o OHO Mundial,
baseando-se na declaração (por escrito) de Sascha Germer de que seu marido,
Germer, nomeara Marcelo Motta “O Continuador” (The Follower) em uma
carta. Esta “carta patente” jamais foi encontrada. 27 Marcelo Motta alegava que
27
- Nota de E. A não ser anos depois nos arquivos “guardados” pelo Caliphado. Claro que o achado aconteceu
anos após o falecimento d Marcelo Ramos Motta.

44
o documentos fora destruído pelo Serviço Secreto Americano, ou pelos
Sionistas, pelo Serviço de Informação Brasileiro (1961).

Ao tentar fazer prevalecer sua posição de OHO, vai aos Estados Unidos
da América, entra em litígio judicial com MacMurtry e vários outros
personagens do cenário ocultista americano, alegando ser o verdadeiro
herdeiro dos direitos autorais das obras de Crowley. Perde a causa na Suprema
Corte da Califórnia. Após isto, retorna ao Brasil. Ao que parece, isola-se do
trabalho que iniciara anos antes.28

Marcelo Motta falece em 1987 na Cidade de Teresópolis,


totalmente só em sua residência. Seu corpo somente foi encontrado, pela
faxineira, um dia após o desenlace. Seus restos mortais jazem no cemitério
daquela cidade

FRATER ASTER IXº

Também no Brasil, após desligar-se do Ramo iniciado por Marcelo


Motta, o então Frater Zaratustra IIIº (1975), liga-se ao Ramo Inglês (Kenneth
Grant) e filia-se ao Ramo Americano. Mais tarde, não concordando com as
doutrinas anti-thelêmicas de K.Grant, assume a posição de Frater Superior
para o Brasil, sob o Moto Mágico de Aster IXº, mantendo laços de amizade
com o Ramo Americano. Adota algumas idéias de Frater Achad e Jack
Parsons por julga-las de grande interesse para o desenvolvimento da Ordem e
estando dentro das diretrizes thelêmicas, e funda três Lojas independentes.
Paralelamente à estas atividades, Frater Aster, funda a SOCIEDADE
NOVO AEON (1975) para dar seguimento à divulgação de Thêlema
idependentemente de qualquer laços com os diversos Ramos da OTO
existentes no mundo. Este ato é apoiado por vários esoteristas brasileiros.
Devido aos complexos eventos, dando origem à fundação da Sociedade
Novo Aeon, sob liderança de Frater A., o assunto será tratado em outro lugar,
onde os detalhes serão apresentados e muita coisa ainda inédita ao público
brasileiro será revelado, pois fazem parte da história de Thelema no Brasil.

Não trataremos aqui, evidentemente, de “ordens” ou organizações


dizendo-se thelêmicas, mas que na realidade fogem claramente às Doutrinas
do Sistema. Entre estas organizações citamos a OTOA, o Caliphado, o
Sistema Typhoniano, e a FRA Brasileira e aquela liderada por Tau Baphomet.

28
- Nota de E. A partir do ano de 1975, perdi meu contato com Motta até sua morte em 1987.

45
Antes de terminar esta parte do ensaio, necessitamos fazer algumas
observações a respeito de quatro novas “ramificações” surgidas nos últimos
cinco anos.

A primeira originária do Ramo Inglês. Duas do Ramo liderado por


Marcelo Motta (uma no Brasil e outra na Austrália); e a quarta do Ramo
Brasileiro liderado por Frater A.

Quando meu Instrutor morreu, ele deixou como fiduciário um tal Mr. B.
Stone que, segundo soube através correspondência mantida com o próprio,
prosseguiu o trabalho de Marcelo Motta nos Estados Unidos. Mas uma facção
não concordando com o estabelecido por Motta, migrou para a Austrália
criando a “Fundação Parzival XIº”. Nesta nova divisão é de se supor que a
Loja Nuit (Brasil) tenha ficado isolada nestes movimentos.

Do Ramo inglês, um tal Frank Ripel fundou uma ordem chamada Ordo
Rosae Mysticae, a qual pretende ser uma evolução da OTO. Ripel usa para
justificar sua ordem a sugestão feita, por Crowley, a Germer, da necessidade
de uma reestruturação da OTO. Mas, meu antigo Instrutor sempre me alertou:
“é válida uma mudança, mas sempre mantendo os princípios básicos
originais”. Em sua pretensa mudança, Ripel, vai ao extremo de criar uma
Árvore da Vida com quatorze Sephiroth; o que, para dizer o mínimo, é uma
loucura – algo parecido com o acontecido a Fra Schad que inverteu a posição
da Serpente da Sabedoria na Árvore da Vida.
Tmabém do Ramo Brasileiro, surgiu um grupo totalmente acéfalo, que
nada tem a ver com a OTO e muito menos com Thêlema. Felizmente este
grupo durou pouco tempo, como previsto por Frater A.

46
IV

OS RITUAIS

Inicialmente os Rituais da OTO eram essencialmente maçônicos no


sentido mais estrito do termo. Posteriormente, ao aceitar a Lei de Thêlema,
estes Rituais foram, em parte, modificados por Crowley, que deu-lhes um
profundo significado “mágico” de acordo com a Nova Lei. É dito que estes
Rituais foram modificados a pedido de Reuss. Esta é uma “estória” que não

47
coaduna com a realidade, pois Reuss não aceitava que Crowley misturasse a
OTO com Thelema e jamais usou tais rituais modificados.

Agora, como todos devem compreender, torna-se inevitável que durante


a evolução de qualquer Corrente, certos aspectos ultrapassados, ou mesmo
errados, sejam substituídos por outros mais atualizados.

No Sistema Original da OTO, da qual Crowley foi líder da facção


aceitando a Lei de Thêlema como base para trabalho, apoiava-se sobre uma
estrutura inteiramente maçônica. Crowley não alterou tal estrutura, muito
embora tenha refeito os Rituais dos Graus mais baixos.

No Antigo Aeon, a Morte era o ponto crucial do Sistema; daí as lendas


de Osiris, Hiran, “Jesus”, Atthis, etc. – A lenda está perfeitamente apresentada
na Câmara do Meio (Maçonaria Osiriana), quando Hiran é assassinado por
Três Companheiros. Atualmente, sabemos ser a Morte uma ilusão criada pelo
ego. Portanto, no Novo Sistema, Vida e Morte são encaradas como um
fenômeno contínuo. Este novo ponto de vista deve ser estudado e meditado
nos escritos de Crowley e outros autores que conseguiram apreender o
problema (Ver especificamente “ Pequenos Ensaios Em Direção A Verdade”).
Porém, segundo alguns autores a personalidade de Crowley falhou em
perceber um Sistema Iniciático (maçônico) fora do perfil postulado pelas
Antigas Ordens Iniciáticas; motivo pelo qual ele perpetuou o Antido Sistema
descrito em “O EQUINÓCIO” – Vol. III N.1. É também importante
verificarmos que Crowley também não conseguiu mudar a “lenda do Terceiro
Grau”, que continua girando em torno de um assassinato, só mudando o nome
do personagem morto.
Karl Germer, também, por sua vez, manteve o Antigo Sistema. Aliás
Germer praticamente “esqueceu-se” da OTO em todos os sentidos.

Em 1975, Marcelo Motta, tal como Kenneth Grant, tentou mudar as


características dos Rituais, tornando-os mais condizentes com o Novo Aeon
(principalmente o Grau IIIº). Mas, estes novos rituais somente modificaram
nuances maçônicas osirianas como, por exemplo, as “provas” dos Quatro
Elementos. E mesmo estas modificações apenas deram aos “Quatro
Elementos” uma versão um tanto forçada, baseando-se na percepção dos
Quatro Príncipes do Mundo. Entretanto, no Grau IIIº tornou-se extremamente
difícil mudar o contexto. Assim, Marcelo Motta, levou para o Grau Iº a “visão
do Enforcado” que é, como dito por Crowley “uma idéia de sacrifício e,
portanto, uma falsa idéia”. “Toda idéia de sacrifício é uma incompreensão da

48
natureza”. Mas, não podemos tirar o mérito de Marcelo Motta em tentar
melhorar estes rituais.

Até onde posso agora saber, o Ramo Americano segue os Rituais


originais corrigidos por Crowley, e infelizmente publicados, o que, na minha
opinião, tira-lhes todo valor. Claro! Todo Ritual iniciático que é publicado
torna-se sem valor mágico. É o mesmo que um estudante saber os gabaritos de
um vestibular com antecedência.

Quando por imperativas circunstâncias, tão bem conhecidas pelos


Membros da Sociedade Novo Aeon, Frater A. viu-se na contigência de
assumir o Décimo Grau da OTO (um grau puramente administrativo) no
Brasil, surgiu a necessidade de elaborar novos rituais para o Trabalho nos Três
Primeiros Graus com explícitas bases thelêmicas, e que preenchessem as
lacunas existentes conforme os preceitos de Thêlema para os Trabalhos dos
Círculos Externos.

Efetivamente, não foi fácil compor estes Rituais, adaptando-os, ao mesmo


tempo, às condições brasileiras, às características estabelecidas nos Estatutos
da S.N.Ae. e ás diretrizes fundamentais thelêmicas. Era preciso parar com a
tendência de contemporizar, mesmo que minimamente, com as correntes
existentes por aí, as quais, seguramente, estariam incutidas nas mentes de
novos Aspirantes. A OTO não foi feita para agradar ninguém, mas sim para
fomentar um novo pensamento. Um pensamento destruidor de todas as
tendências já existentes. E para conhecimento de um certo escritor: “Os
Suplicantes não têm lugar neste mundo.

Após muita pesquisa, ficou finalmente estabelecido em reunião dos


Diretores da S.N.Ae., que a organização brasileira obedeceria, em seus Três
Primeiros Graus uma estrutura maçônica (mas não osiriana), seguindo uma
tradição mantida desde o tempo do Fundador original. Entretanto, no Terceiro
Grau, o problema da “Morte” tomou outra face, obedecendo a Lei.

Os demais graus seguem linhas totalmente diversas daquelas seguidas


anteriormente, com exceção, está claro, do Grau IXº, no qual está contido o
Segredo Central da Ordem. Por razões obvias não podemos, aqui, oferecer
maiores detalhes a respeito da estrutura desses Graus.
.

49
Alguns (autores, membros da ordem, etc) afirmam existirem Rituais
para todos os graus. Este tem sido sempre uma grande equívoco.
Acima do Grau VIº não existem rituais específicos para
“Iniciação”, como na Maçonaria Osiriana, embora hajam outros
tipos de rituais a serem executados individualmente ou em
grupos.

Os motivos de não haverem tais rituais tornam-se óbvios a qualquer


Iniciado, e é o quanto basta saber.

Outro ponto a ser esclarecido relaciona-se com a adaptação dos Rituais


à presença de Membros Femininos.Os rituais anteriores não possuíam a
preocupação deste detalhe, porque procediam de uma Sistema ainda calcado
no Antigo Aeon (Patriarcal) onde a mulher não tinha qualquer status. Falando
mais claro: os rituais anteriores estavam eivados da idéia de um Criador
Masculino, etc. Isto foi levado em conta, e a estrutura dos graus passou a
atender este específico detalhe.

No capítulo seguinte os leitores tomrão conhecimento de um resumo


dos Graus da OTO, como elaborados por Crowley. Não seria necessário dizer
que estes rituais já foram, anteriormente, e porvárias vezes, e em diversos
livros, publicados abertamente. Seguimos aqui “OS RITUAIS
SECRETOS DA OTO”, de Francis King. Mas de qualquer maneira usarei
alguns véus, pois não concordo com a iniciativa daquele senhor e daqueles
que facilitaram tal publicação. Quem desejar satisafaze a curiosidade que
adquira o livro de Francis King. Com relação aos graus superiores usaremos o
disposto por Kenneth Grant em vários de seus livros.

Sob a “liderança” anterior a Theodor Reuss, a OTO parece não ter


possuído uma Constituição Oficial. É impossível, para nós, saber detalhes da
estrutura de seus Rituais. Pelo que parece desapareceram. Muito
provavelmente foram destruídos pelos nazistas durante a Segunda Guerra
Mundial. Mas tudo indica ter existido uma Constituição semelhante àquela
promulgada em 22 de janeiro de 1906, por Theodor Reuss.

Os Membros da Ordem eram, então, assim classificados:

Probacionistas (incluindo Teosofistas)


Estudantes ou Irmãos Leigos (Membros Mações)

50
Iniciados ou Membros Oficiais.

Estrutura Oficial

Iº Probacionistas
IIº Minerval
IIIº Artesão Mação
IVº Mação Escocês
Vº Rosa Cruz
VIº Templário
VIIº Templário Místico
VIIIº Templário Oriental
IXº Iluminado Perfeito

Após 1917, radicais modificações foram feitas. Ao que tudo indica por
sugestão de Crowley. Um Novo Grau numerado 0º (Zero), foi incluido,
tomando o nome do segundo (Minerval)

A Nova Estrutura

Oº Minerval
Iº Homem (Man)
IIº Magista
IIIº Mestre Magista
IVº Companheiro da Sagrada Arca Real de Enoch
Vº Príncipe Rosa Cruz

VIº Cavaleiro Templário da Ordem de Kadosh


VIIº Inspetor Geral
VIIIº Perfeito Pontífice
IXº Iniciado no Santuário da Gnosis
Xº Frater Superior

Com esta estrutura a OTO ficou organizada em Nove Graus,com um


Décimo puramente administrativo.
Do Primeiro Grau ao Sexto, os trabalhos são ritualísticos, referindo-se a
uma interpretação não ortodoxa do Simbolismo Maçônico.

51
O Sétimo, Oitavo e Nono Graus não possuem rituais, no sendo em que
se dá a palavra em maçonaria. Os Membros destes graus são instruídos
“oralmente” e são iniciados em práticas Tântricas.
Mais tarde Crowley criou um Décimo Primeiro Grau, cuja natureza é
bem difícil de ser compreendida por não iniciados. Isto tem ligações com
aquilo que se denomina “Elixir Vermelho”, e com práticas Sufis.

“Muita gente não compreende bem o que seja um ritual. Crowley nos
explica:”

“ É uma celebração das aventuras do Deus que pretendemos ‘invocar’.


Agora, na OTO, sendo o objeto da cerimônia a iniciação do Candidato, é ele
cujo Caminho na Eternidade é mostrado em forma dramática. Qual é o
Caminho?”

1 O Ego é atraído ao Sistema Solar


2 A Criança vivencia o Nascimento
3 O Homem vivencia a Vida
4 O Homem vivencia a Morte
5 O Homem vivencia o Mundo além da Morte
6 Este inteiro Ciclo de eventos é absorvido em Aniquilação.

Na OTO estes sucessivos estágios são representados da seguinte


maneira:

Minerval ------------------------- 0º
Iniciação-------------------------- Iº
Consagração ---------------------IIº
Devoção -------------------------- IIIº
Perfeição ou Exaltação --------- IVº
Perfeito Iniciado ----------------- Vº

52
De acordo com as teorias de K.Grant, temos o seguinte:

“A Cerimônia mágica descrita em “Moonchild”, estaria baseada em um


“Antigo Grimoire” referente à criação de um “homunculus”.

“Este Ritual tem sido incorporado em uma instrução Secreta oferecida


no Xº. Embora o Grau Xº seja um grau considerado puramente administrativo
e de “governo”, sua real aplicação não se refere a qualquer administração
puramente terrestre, mas a um Centro de Poder relacionando-se a um plano de
Seres: “um plano do qual, entidades tais como Aiwaz transmitem sua
influência através canais altamente receptivos, como no caso de Crowley”
(Vide K. Grant).

“O Xº representa o Portal do Infinito. Ele abre-se a uma completa nova


série, situada em uma “desconhecida” consciência dimensional. Com
referencia ao Tetragrammaton os Graus do Soberano Santuário poderiam ser
classificados do seguinte modo:

O VIIIº relaciona-se com Yod


O IXº relaciona-se com He
O Xº relaciona-se com Vau
O XIº relaciona-se com o segundo He

O Soberano Santuário é composto de três “degraus”.


Cruamente falando, o VIIIº é de natureza masturbatória, o IXº envolve o
coito propriamente dito, e o XIº comporta o uso da Corrente Lunar.”

VIIIº - Sacerdote (solitário) – Sacerdotisa (solitária)


VIIIº - da Sacerdotisa pelo Sacerdote, via .... ou via .....
VIIIº - do Sacerdote pela Sacerdotisa, via .... ou via .....

IXº - Sacerdote e Sacerdotisa – Forma Natural


IXº - Sacerdote e Sacerdotisa – Não “natural”

XIº Operações da Lua – Sacerdote e Sacerdotisa.”

(Condensado da Obra de Kenneth Grant)

53
Até aqui é permitido falar, e portanto encerro esta Primeira Parte. Devo,
porém, alertar que tudo até agora escrito pode ser encontrado (pelo Estudante
atencioso) em vários livros vendidos em livrarias especializadas em
esoterismo. Portanto, não estou revelando nenhum “segredo” e,
consequentemente, não estou traindo meus Juramentos.

54
V

A O.T.O. NO BRASIL

Nós de Thêlema temos um sério compromisso com a verdade. E isto


nos tem metido em encrencas, tal como mexer numa casa de marimbondos.
Entretanto, como diz o ditado popular, são ossos do ofício.

55
Que o presente momento testemunha um fenômeno de extraordinárias
características e significados está fora de cogitação. Está sendo agora
mostrado que sérias pesquisas e questionamentos no campo das religiões e do
esoterismo estão, finalmente, passando pelo crivo da verdadeira pesquisa
científica. E é publico notório que tal fato está virando “nosso meio social” de
pernas para o ar. Isto deve-se, naturalmente, a vários pensadores e
pesquisadores, entre os quais destacamos Aleister Crowley, Charles S. Jones,
Anton Wilson, Ken Wilber, etc.

A recente descoberta e divulgação das obras destes gigantes no terreno


da Religião e do Ocultismo, tem proporcionado a força, a atração e a liberdade
de um novo rumo no pensamento humano.

O fenômeno também nos tem oferecido uma nova interpretação, mais


consciente, dos importantes e cruciais problemas penalizando a raça humana
neste fim de século. Portanto, torna-se uma feliz circunstância podermos
atualmente nos expressar com maior liberdade, do que em anos passados, e
publicar relevantes temas até bem pouco tempo considerados “tabús” –
acentuadamente durante o período em que vários países sul-americanos
estiveram sob um regime de exceção, incluindo o Brasil, cuja ditadura militar
atrasou nosso avanço em vários anos. Temas, muitos dos quais desconhecidos
em nossa terra, que é um país, cuja população sofre uma verdadeira falta de
informação (política, científica e filosófica) por vários motivos que não é
nosso trabalho discutir agora. Isto incontestavelmente nos deixou um tanto
alienados em vários setores. Esperamos que isto não se repita em nosso país.
Entretanto outro perigo está surgindo em nosso meio. Este perigo está
representado por seitas criadas pelos, assim chamados, evangélicos, que
querem converter, mesmo à força, homens e mulheres de outras crenças e,
para isto, perseguem, difamam, e procuram desmoralizar estas outras crenças,
demonstrando o doentio fanatismo oculto por detrás das pregações “em nome
do senhor”.

Esperamos que isto seja superado de uma maneira inteligente. Pois um


Novo Alvorecer, uma radiante manhã na consciência humana – durante tantos
séculos tolida em suas legítimas aspirações e limitada pelos grilhões forjados
pelo falso cristianismo – nos é anunciada.

A mais notável manifestação desta Nova Manhã encontramos na rápida


e súbita mudança ocorrida no pensamento de vários estudiosos, pesquisadores

56
e místicos em relação à interpretação de vários textos sagrados, liberando
grande número de indivíduos das algemas de um histórico brutal dogmatismo
escravisador.

Como afirmado por um sério pensador, “o poder eclesiástico aliado ao


poder político-financeiro colocou um torniquete na mente do Ocidente durante
quinze centenas de anos”. Agora, para nosso alívio, este torniquete começa a
ser removido, e isto graças ao surgimento do Novo Aeon, cujas energias
tendem na direção de uma total e plena liberdade de pesquisa, de expressão e
de vida. “Vós sois livres” – anuncia a Nova Lei.

Por séculos sem conta ecoam em nosso ouvidos os gritos de dor,


angustia e desespero daqueles que, de uma forma ou de outra, ousaram
enfrentar a mentira institucionalizada dos seguidores do “Deus Sacrificado”.

Pelo menos, parte da verdade começa a ser revelada a despeito das


forças contrárias; aquelas mesmas forças que queimaram Giordano Bruno,
Joanna D`Arc, Jacques de Molay, e milhares de homens e mulheres baluartes
da Liberdade e da Verdade.

Agora, os Livros Sagrados das várias religiões existentes no mundo,


têm sido vasculhados e pesquisados sob uma nova luz no próprio mecanismo
de suas estruturas. Este trabalho de pesquisa, progredindo a largos passos, nos
leva ao ponto onde ela coloca em xeque a básica (pseuda) “historicidade” das,
assim chamadas, “Santas Escrituras”, das quais constituía crime duvidar-se,
sequer, de uma letra. Estudiosos dos textos desses livros e da “vida”de
fundadores das religiões, começam a declarar, abertamente, que as narrativas
contidas nestes textos não podem mais ser aceitas como acontecimentos reais,
ou históricos. Ou consistem numa forma alegórica para transmitir certos
conhecimentos, ou encobrem acontecimentos e conhecimentos não bem
compreendidos por nossos antepassados – acontecimentos e conhecimentos
que, agora, começas a ser pesquisados sob outros nomes e pontos de vista: ou
são, em sua maioria, pura invencionice. Para nós o “Novo Testamento” é uma
fusão deliberada de várias religiões antigas, crenças populares e fábulas
mescladas com palavras de passe de ordens secretas atuantes em épocas
distantes.

Neste contexto, a própria Igreja de Roma, ante várias dessas


descobertas, e temerosa em perder as rédeas do poder temporal (pois o
espiritual ela não mais possui) exercido sobre a massa, começa a “rever”

57
alguns de seus dogmas e algumas de suas “estórias”. Veja-se, por exemplo, o
caso do suposto “Santo Sudário”, que a Igreja , não faz muito tempo,
reconheceu publicamente como falso (vide anexo).

Sob o golpe destas críticas textuais desferidas com o implacável poder


dos fatos, o edifício super protegido dos dogmas tem, agora, seus alicerces
abalados. Este abalo parece ter sido recentemente acentuado pelas
publicações (finalmente chegando ao Brasil) divulgndo traduções e
comentários eruditos de vários textos, tais como OS MANUSCRITOS DO
MAR MORTO”, “A BIBLIOTECA DE NAG HAMMADI”, etc., no
específico caso do cristianismo. Estas traduções e comentários trazem à luz
inúmeros fatos históricos até então mantidos em absoluto sigilo pelas
autoridades eclesiásticas; e estão fadados a causarem um verdadeira
reviravolta na “estória” e evolução (será mesmo evolução?) da Igreja de
Roma.

É difícil, muito difícil, e bastante cansativo, escrever-se sobre qualquer


assunto quando a maioria das pessoas pretendem conhece-lo perfeitamente
bem através a leitura de superficiais artigos – quer dizer, de maneira
superficial, truncada, condensada, limitada, apressada, jornalística e,
sobretudo, escritos conforme a tendência político-religiosa de seus “reportes”.
Tal é o caso da religião e do esoterismo, principalmente no campo Thelêmico.

O esoterismo que vem sendo divulgado no meio profano atual, é


tendenciosa e, o que é pior, ERRADA. Não é Esoterismo, mas sim grosseiro
arremedo Dele. Como exemplo disto, diríamos que a distância entre o
‘esoterismo’, do qual tanto alarde se faz, comenta-se e divulga-se nas rodas
dos bares e escreve-se em várias revistas ‘especializadas’, e se vende como
panacéia para todos os males humanos, é o Verdadeiro Esoterismo, é a mesma
distância existente entre o “conhecimento” de um humilde eletricista, e a
Ciência e Técnica de um Engenheiro Elétrico. Apenas existe uma diferenças
fundamental: o humilde eletricista possui sua vera função no contexto social,
enquanto que o ‘esoterista’ nenhuma, a não ser aquela da confusão, da má
informação, da embromação dirigida para propósitos pessoais e de grupos, no
sentido do enriquecimento fácil. Tal é a dura realidade, em que pese aos
“divulgadores” do ‘esoterismo’ em nosso país e no resto do mundo.

O povo, como sempre, dentro da credibilidade inocente, vem sendo


ludibriado em prol de uma escória de “magos”, “gurus”, “tarólogos”,
“qabalistas, etc., se beneficiando às custas da ignorância, e nisto são

58
auxiliados por uma mídia ignóbil. Este é um crime imperdoável – doa a quem
doer esta minha afirmativa.

O mesmo criminoso panorama acima exibido é constatado em relação


às religiões organizadas (oficiais, como dito por alguns autores), aquelas
“evangélicas”, e às ‘ordens’ (que são verdadeiras des-ordens), ‘fraternidades
secretas de inciação (que de secretas só têm o nome) e, mais acentuadamente,
as, assim ditas, “escolas de magia”, como se a Magia pudesse ser aprendida
em salas de aula como qualquer matéria escolar, como fantasiado nos filmes
de Harry Potter. Todos estes temas, os quais comenta-se sem o mínimo
conhecimento, por elementos inteiramente desequilibrados espiritualmente,
são meandros nos quais estudantes certamente se perderão.

Neste ponto seria de grande utilidade que leitores meditassem sobre as


palavras “Pelos frutos os conhecereis”. A frase deveria ser suficientemente
esclarecedora ao bom entendedor sobre nosso ponto de vista. Pouco ou nada
posso fazer pelos surdos. Lembrem-se também que PODERES MÁGICOS
JAMAIS FORAM INDICADORES DE EVOLUÇÃO ESPÍRITUAL. Uma
coisa não implica a outra..... pois, caso contrário, não haveriam Magos
Negros.

Atitudes do passado para com o Esoterismo em geral e para com a


Magia em particular – principalmente durante a Idade Média, quando a Igreja
de Roma imperava absoluta e mandava para a fogueira quem dela descordasse
(entre os quais alguns de seus atuais “Santos”)— chegaram até nós quase
intátos sob a força de séculos de puro condicionamento, e sempre tenderam
para dois extremos: por uma lado haviam aqueles condenando a Magia como
sendo “uma arte do Diabo” (Coitado do Diabo. Leva a culpa em tudo), e um
perigo para a alma humana; enquanto outros a colocavam num pedestal e ao
elevado nível de algo extraordinariamente sacrossanto. Ambas estas
tendências são, obvimente, desequilibradas. Em ambos os casos o efeito sobre
os mais impressionáveis, e sobre aqueles interessados em Magia, tem sido
devastador. As pessoas permanecem, por assim dizer, “entre a cruz e a
espada”. Ou a Magia nos polui e nos destrói espiritualmente, sendo uma arte
diabólica, ou nós, “impuros” (como nos querem fazer crer os padrecos e
‘bispos’) a poluímos. Não será difícil ao homem inteligente compreender que
as duas falácias têm por fito nos afastar a todos da Real Ciência Esotérica.

A Magia (mais corretamente Magick), como ensinada e praticada nos


Reais Centros Iniciáticos (que não têm sede que possa-se localizar em

59
qualquer cidade do mundo), foge a tudo quanto cheira a superstição,
faniatismo, “religiosismo”, dogmatismo e, claro, do assim chamado,
“satanismo”.

Magia não produz milagres e nem promete ‘salvação’. A Magia também


não funciona para ajuda-lo a conquistar a mulher do próximo, ou fazer chover,
ou dar demonstrações circenses, como quebrar copos à distância ou dominar
pessoas mentalmente. Nós nada temos a ver com aqueles que querem
conquistar a mulher do próximo, ou o marido da próxima. Existem outros
meios bem mais eficazes para estas coisas mundanas do que o uso da Sagrada
Magia – meios muito mais eficientes e não “ocultos”. Tudo isto, para nós, está
classificado como Magia Negra, e da pior espécie, diga-se de passagem....

Como nos informa Crowley: “Todo ato mágico, não direcionado ao


Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião, é Magia
Negra”

A magia é, como toda Ciência e Arte, totalmente avessa à considerações


“misticoides”, “religiosas”, “pessoais”, e “teológicas”. Ela nem é demoníaca e,
muito menos pode ser vista como intocável pela “impureza humana”. Primeiro
porque nós não somos tão impuros como nos querem fazer crer que o somos;
segundo, ela é tão demoníaca quanto o é a psicologia, ou a química, ou a
medicina. Magia é simplesmente Ciência e Arte através da qual o homem
atinge certos níveis de consciência e percepção de Si Mesmo e do Universo
em que tem Seu Ser. Ou, como diz Aleister Crowley: “a Ciência e Arte de
causar Mudança de acôrdo com a Vontade”. Entender esta frase em toda
sua extensão e profundidade é obter a Chave da Magia.

Poucos serão aqueles sobre os quais minhas palavras não despertarão


ódio, indignação e repulsa. Também sei que aqueles “outros”, contra os quais
nada tenho pessoalmente, jamais me perdoarão a irreverência e o tom livre de
minhas críticas a Marcelo Motta. Isto pouco importa. Não escrevo para
agradar, mas sim para informar. Ao iniciar este trabalho, não ignorava que
tentar acordar aos que dormem e sonham é sempre tarefa difícil e perigosa,
principalmente quando eles gostam de dormir e sonhar suas ilusões.

Por mais que o trabalho não desperte simpatias e aprovações, mesmo


assim cumpro minha função. Certo estou que prestarei um serviço a todos,
dentro dos limites permitidos por minha inteligência e nível iniciático (que

60
não é muito), mas o suficiente para combater a mentira existente em torno dos
tópicos que aqui são abordados.

61
VI
A primeira fase de minha Iniciação terminara. Refiro-me aqui à meu
treinamento mágico no período de 1970 a 1973, quando de minha nomeação
ao Grau de Neófito da A.´.A.´., adotando o Moto Mágico T.´.. Meu Diário
Mágico da época descreve, com detalhes, todas minhas ações e reações do
período. No livro “MEU VERDADEIRO NOME” (vide também “A DEUSA
NEGRA”), interessados encontrarão uma descrição poética do mesmo.
Durante longo tempo, que parece agora tão curto, fui duramente testado por
ordálias29 sucedendo-se no dia a dia.

O doloroso processo de desligar-se dos velhos hábitos


(condicionamentos atávicos), de sofrer o cáos existente entre duas posições
atraindo fortemente o Aspirante, e de lançar-se no desconhecido, aumentava,
cada vez mais, à medida em que prosseguiam as práticas. O processo parecia
não ter fim. Até que certo dia, finalmente, terminou a tortura. Até onde podia
sentir, eu vencera o período inicial básico no Caminho que pretendia trilhar, e
engendrava o “menino” em mim mesmo.

A fase terminou com o vislumbre terrivelmente magnífico e


magnificamente terrível visão (certas consecuções místicas não têm nenhum
chance de ser descritas no linguajar comum) do homem e de suas relações
com o Universo (Ele vê o Maquinismo deste Universo). Também me fora
dado perceber a futilidade das ambições humanas, comparadas com a Visão, e
a total impermanência das coisas. Toda vivência foi relatada à meu Instrutor
em um poema. Imediatamente após isto, ele confirmou o grau alcançado,
através viva voz numa gravação e, posteriormente, através uma carta. Eu
houvera apreciado um Universo dinâmico, mutável. Nada nele sendo
permanente. Tudo mudando a cada instante, fluindo sem cessar, como as
imagens de um caleidoscópio colossal.

29
- Nota de E.: Estas ordálias (provas) não são simbólicas como aquelas da Maçonaria Ortodoxa, ou de
“outras ordens” congêneres; mas desenvolvendo-se em vários planos e afetando todos os níveis da vida do
Aspirante. No Diário que cobre este período, encontram-se passagens caracterizando perfeitamente de como
agem estas ordálias no homem que procura a Real Iniciação. Ali será percebido que este homem estará
“equilibrando-se numa estreita e perigosa linha entre o “angélico” e “o demoníaco”, e que qualquer fraqueza
nesta ou naquela direção, desequilibrará o Sistema, e ele será presa fácil de obsessão para “baixo” ou para
“cima” – se não acontecer coisa pior.

62
Mas não fora ainda uma percepção total, uma vivência meta-cósmica
integral. Estive apenas abordei, e em diminuto lapso de tempo – mas
longamente eterno – o limiar da Visão do Maquinismo do Mundo, e a Visão
impregnou-me com o desejo pelo retiro silencioso. Entretanto, Aquele que
deve ser destruído (o Ego) ainda permanecera. O “diabo da presunção”
plantou sua semente em meu coração, e tolamente aceitei os “poderes” e os
“cargos”, aos quais seria investido devido ao grau alcançado. Hoje percebo o
quanto foi grande minha tolice. Deveria ter-me retirado ao Trabalho
Silencioso de uma vida dedicada à Grande Obra, divorciando-me de estruturas
e sistemas de organizações saturadas de títulos hierárquicos, puramente
baseados na vaidade humana.

Pouco tempo depois aconteceu o desastre. Lutas internas e a


conseqüente cisão da organização da qual eu era membro, encarnou aquele
fator infinito e desconhecido, indicando-me o Caminho a tomar, a minha
decisão final.

Na época, eu preparava-me intensamente para práticas no intuiro de


alcançar o grau seguinte, referente a Yesod, através do Caminho da Flecha
(que vai de Malkuth a Kheter, e cujo valor na cabalá é 26), para dali,
futuramente, ser lançado além do Arco de Qesheth, o “Arco Iris da Promessa”
– Qesheth é formado pelos Caminhos que partem de Malkuth – em direção ao
Véu de Paroketh, que tem que ser “rasgado” pelo Aspirante ao “Cruzar” o
Caminho da Torre em sua subida até o Sol. Este é o Caminho rápido e direto,
evitando as tentações das Forças Desequilibradas dos outros Pilares. A única
objeção é que ele evita o embate salutar e, talvez, necessário e póde também
fazer que o Estudante identifique-se com as ilusões criadas pela mente.

Estava tão absorto na preparação deste novo passo que não consegui
ver claramente a trama tecida e desenvolvida à minha volta, exatamente por
aquelas pessoas, às quais eu mais dedicara-me meu carinho e atenção30. Nisto
o grande culpado fui eu mesmo. Deveria ter levado em conta, e a sério, as
palavras de meu Instrutor; “Não confies em ninguém, nem mesmo em mim.”
Portanto não os culpo.
Somente mais tarde é que percebi que o “demônio do ciúmes e da
ambição”, havia tomado a personalidade daquelas pessoas. Afinal, eles não
haviam tido qualquer vivência no sentido iniciático. Seus graus na OTO eram
formais e não reais. Foram-lhes outorgados somente para constituir o quadro

30
- Nota de E.: Refiro-me aqui à membros da OTO na época.

63
inicial de nossa organização (posteriormente, é claro, eles passariam pelas
práticas e rituais necessários às suas verdadeiras iniciações.).

Após aqueles acontecimentos (1975), que na realidade foram a


verdadeira ordália do período, eu, praticamente afastado da organizações que
ajudara a erguer, retirei-me ao silêncio (como deveria ter feito antes) para,
sozinho, ouvindo apenas a Voz “Daquele que está acima de mim mesmo”,
preparar-me para a próxima e dura escalada se apresentando à minha frente.

Nesta época, infelizmente para todos nós, meu Instrutor, ao que parece,
tentou a “Atravessia do Abismo” e, em vista dos acontecimentos
subsequentes, ele falhou nesta tentativa.

Os fatos e eventos envolvendo toda esta aventura, são os pontos a serem


discutidos no desenrolar deste ensaio.

64
Dezessete anos são passados desde a publicação de “O Equinócio dos
Deuses” - Sendo o Equinócio no Brasil – Vol I N.1. E quanto mais releio a
“Nota Final” (pag.154), mais assombro-me ante uma tal “Nota” aparecer num
publicação de caráter estritamente esotérico; sobretudo de pois de ter notícias,
ao longo destes últimos anos, do triste curso e dos lamentáveis eventos
ocorridos no âmago da, assim chamada OTO Brasileira (SOTO). E por mais
parecer-me assombroso e grave é que, em todos esses anos, aquela
“organização” nada realizou no sentida do divulgação e do engrandecimento
da OTO em nosso país -- muito pelo contrário. Pelo constatado, a
“organização marceliana com sede em São Paulo, tornou-se um fator de
desagregação e má informação no tocante à OTO e Thêlema. E isto em todos
os sentidos imagináveis.

Estou mais do que certo da reação que esta minha afirmativa causará
aos “brios thelêmicos” dos membros e dos atuais dirigentes da SOTO. Porém,
isto é problema deles. As duas únicas opções deles sendo, evidentemente,
tirarem as calças pela cabeça ou tentarem provar que estou errado.

Pergunto: a favor de quem ou do que a Loja Nuit funciona? (se é que


ainda funciona). Acaso funciona a favor de Thêlema? Funciona, por acaso, no
reto escopo de melhorar , um pouquinho que seja, as condições vigentes de
seus membros, espiritual e materialmente falando? Ou em favor de nosso
país?

Infelizmente, penso ser um NÃO a resposta à estas questões. E por mais


que esforce-me, não consigo mudar de opinião, sem sentir-me um mentiroso.
E por mais que esforce-me, não consigo afastar o pensamento de que a citada
Loja Nuit está afastando-se progressivamente da idéia original de Nosso
Fundador.

Em certo sentido, devo admiti-lo, a SOTO tem “trabalhado” para a


divulgação da OTO, exatamente mostrando o que Ela não é. Sem dúvida
um trabalho. Entretanto, diametralmente oposto àquele desejado e
originalmente intuído por Nosso Grande Organizador, quando dizia:

“A primaria condição de membro não é uma grande familiaridade


com livros, mas um coração ansioso em promover o bem estar da
humanidade, que é capáz de vivenciar amor, isto é, de realizar a unidade
de Deus em todas as criaturas”

65
Aqui podemos encontrar, em poucas palavras, mas de maneira clara, o
Vigor, a Liberdade, o Amor e a Profundidade Espiritual de Nossa Ordem,
esquecidos por nosso irmãos da SOTO. E neste esquecimento, aos invés de
granjear sérios estudantes á uma evolução espiritual, seguida de melhora
material, os tem afastado, substituindo-os por elementos totalmente
incompatíveis com este propósito original: elementos inadequados ao sério
estudo e práticas da Magick, e que confundem “Faze o que tu queres” com
“Faze o que quizeres”. Dito em outras palavras: indivíduos confundindo
Liberdade e Amor com baderna e licenciosidade.

Infelizmente, isto não é tudo. As discrepâncias, as visíveis


intransigentes posições e o dogmatismo adotados pelos Membros da Loja
Nuit, ante àqueles que a procuram em busca do Conhecimento e da Sabedoria
Iniciática, já se tornaram sobejamente conhecidas como focos de repulsão e de
afastamento, provando mais uma vez ser aquela organização um fracasso total
no processo iniciático, isto é, um fracasso em se tornar uma Real Célula da
OTO em nosso país. Assim sendo, evidentemente, também falhou em
compreender, no seu real e profundo significado Nosso Lema. “Faze o que tu
queres jamais significou qualquer vulgaridade como “faze o que quiseres”.
Significa, entre outras coisas, “encontre a tua Real Vontade”. “Faze o que
tu queres” comanda a água a procurar seu nível, o carneiro a comer grama e
os lobos comerem carneiros, e o Leão rugir irado contra aqueles que
queriam que ele mugisse. Faze o que tu queres jamais significou baderna,
muito pelo contrário: é pura disciplina – a total entrega pessoal a um Poder
acima de Nós Mesmos, sem deixar de ser Nós Mesmos, simbolizado por
“Aquele tu que és eu mesmo além de tudo meu”. (Vide no Ritual do Grau
Minerval o primeiro paradoxo). Faze o que tu queres significa ser livre e
permitir que os outros também o sejam.

Parece-me também, que os atuais membros da Loja Nuit fazem questão


em demonstrarem má educação, agressividade gratuita, grosseria para com as
pessoas, falta de tato e um crescente afastamento daquele Equilíbrio
caracterizando Iniciados na Arte Real. Aquele Equilíbrio estabelecido em
Liber Librae – o primeiro ensaio que todo Neófito recebe ao ingressar no
mundo de Thêlema.

“Aprenda primeiro – ó tu que aspiras ingresso em nossa Antiga


Ordem! – Que Equilíbrio é a base de todo trabalho.”

66
Sem este Equilíbrio como poderá o Estudante estabilizar-se no Centro
da Cruz dos Elementos? “Desta Cruz de cujo Centro A Palavra Criadora
surgiu no alvorecer do Universo?”

Entretanto, para não haver males entendidos e interpretações truncadas,


preciso tornar bem claro, que não nego e jamais neguei a notável contribuição
do Sr. Marcelo Motta como pioneiro na divulgação de Thêlema no Brasil, e na
fundação da Loja Nuit. Negar isto seria demonstrar uma cegueira sepulcral. E
ninguém mais do que eu sabe dos ideais que animavam o coração daquele
homem. Nos anos em que estivemos juntos, jamais o vi medir esforços para
levar à frente os ideais thelêmicos, os quais colocava acima de quaisquer
considerações pessoais, ou para auxiliar àqueles procurando o Caminho e,
obviamente, àqueles alinhados a seu lado no início de sua carreira. É inegável,
do mesmo modo, que estes camaradas iniciais deram muito de suas vidas em
prol da correta divulgação de Thêlema e no lançamento das Bases da primeira
Loja da OTO no Brasil.

Evidentemente, também não negarei os méritos dos fundadores da Loja


Nuit, os quais, pelo conhecido, sacrificaram alegremente suas posses pessoais
e suas vidas particulares no erguimento da Loja como, por exemplo, Frater K.,
Frater S., Soror S., Soror K.A., e outros mais.

Entretanto, como dito acima, Marcelo Motta mudou seu comportamento


para com seus “seguidores” iniciais. Houve um “desvio” em seu caminho.

Especificamente o ano de 1974 nos foi bastante adverso, com vários


desastrosos acontecimentos sucedendo-se rapidamente. Instalou-se a discórdia
na organização original, e a desconfiança não demorou a fazer o seu trabalho
destruidor. Veio o cisma. O primeiro deles. Muitos dos originais seguidroes de
Marcelo Motta foram seguidamente “expulsos” da organização em
nascimento, por razões as mais injustificadas. Marcelo Motta tornara-se
irreconhecível. Não era, evidentemente, o mesmo homem que conheceramos:
tornara-se áspero, contraditório em suas mínimas ações e decisões. Iniciou
uma campanha de ataques indiscriminados à todos quantos haviam-no ajudado
em seu trabalho inicial. Membros de outros Ramos da Ordem, em diversos
países tornaram-se vítimas de sua hostilidade inexplicável. Ele havia
alucinado. Em uma magalomania crescente, Marcelo Motta, a todos acusava
de usurpadores, traidores, ladrões, etc. E, alterando editorialmente obras de
Crowley, usou-as para espalhar seu triste complexo de perseguição. Nisto foi

67
instigado e apoiado por vários “vampiros” que, incidiosamente, penetraram
em nosso círculo. As pessoas, difamadas por ele, não tiveram, sequer, o
mínimo direito de defesa. Ele ou “outro”) justificava tal comportamento
declarando que sendo o Líder Mundial da OTO era um autocrata. Muitos dos
difamados, já eram falecidos, e outros residentes em países distantes. Á
aqueles do Brasil, também negava este direito de defesa. Afastava-se de todos.
Mesmo de seus mais próximos seguidores ele se afastava, evitando um contato
pessoal. Segundo ouvi dizer, justificava seu comportamento como sendo uma
defesa áurica contra os “poluídos”, e vieram a mim, solicitando ajuda. Eu nada
podia fazer, a não ser recomendar paciência e calma, pois tinha certeza que
aquele homem não era mais Marcelo Motta... Assim, o primeiro grupo foi
desmantelado.
Em seguida a estes acontecimentos, Marcelo Motta, conseguiu
organizar um outro grupo. Mas, em pouco tempo, uma nova onda de
desentendimentos alastrou-se entre estes novos “Estudantes”. A maioria de
seus elementos foram igualmente alijados e injustamente denunciados como
máus irmão, etc. Fui procurado pelo líder deles. Mas, da mesma forma, nada
podia fazer – também tinha meus problemas e também fora envolvido nos rol
dos máus irmãos. Além do mais, que direito tinha eu para intrometer-me na
órbita de outras estrelas? Ali repetia a história de sempre.. O mesmo filme
repetido por mais duas vezes. Entre esses indivíduos, os que mais sofrerem
foram: Frater Lancelot(a quem conheci pessoalmente tornando-nos amigos),
Frater S. (que morreu de tristeza) e Frater K. (com o qual mantive
correspondência durante longo tempo). Não estou me compadecendo dessas
pessoas, não. Tiveram eles o que mereceram; pois somente “escravos”
poderiam suportar os mandos e desmandos de Marcelo Motta daquela época.

Poucos foram os que não intuiram o antagonismo entre Thêlema e os


tos desmedidos de Marcelo Motta, e de sua companheira. Mas o temor a que
foram condicionados impedia-os em assumir a realidade e , assim, de lutarem
contra ela.

Mas estes “estudantes” vieram depois. E nada sabem de nossas vidas e


lutas anteriores. Do tempo em que nós, os do grupo inicial, conscientemente
integrados nos propósitos e significados da OTO, enfrentamos o “status quo”
vigente: um cenário imposto por uma ditadura militar, desconfiada que em
todo movimento libertário escondia-se um dedo comunista. Muitos de nós
foram presos, ou perseguidos, e alguns se exilaram. Alguns outros não
suportando a pressão, enlouqueceram e passaram para o outro lado,
entregando-se às malhas da “Grande Feitiçaria” que, claramente, movia os

68
cordões por detrás da ditadura. Um desses “vira-casaca” sobressaiu-se na
sociedade com suas intrujices, e hoje é muito louvado por seus livros e
entrevistas “ocultistas” na televisão31.

Como um legítimo Membro da A.´.A.´., Marcelo Motta, treinara sérios


Estudantes. Fui um deles até 1975. Mas mesmo Iniciados naquela Ordem não
escaparam da “insana ira” de Marcelo, e não demorou muito a também serem
acusados de falhas em ordálias só existentes na mente atormentada de nosso
antigo Instrutor. O maior erro dele em relação à A.´.A.´. foi tentar acumular
todos os Cargos Oficiais da Ordem ( Preamonstrator, Imperator, Cancellarius)
alijando continuamente candidatos capacitados para os mesmos.

A paranóia de Marcelo Motta crescia e, aproximadamente em 1980,


tornou-se um homem perigoso. Muitos de seus estudantes retiraram-se de um
ativo envolvimento com ele; outros retiraram-se ao silêncio, enquanto outros
perduraram em vã esperança de poderem reverter o quadro. Tudo inútil. Era
tarde. Tempos depois seguiram os passos dos anteriores.

Nesta época, a polêmica figura de Marcelo Motta somente conseguia


angariar inadequados candidatos à Iniciação – tanto na OTO quanto na A.´.A.
´. – indivíduos visivelmente inclinados a uma personalidade fanática. Tal
comportamento chegou a tal ponto que, na Inglaterra, um desses estudantes
tramou explodir a livraria de antigos e conhecidos editores britânicos
(Routledge & Kegan Paul), simplesmente porque Marcelo Motta estava
“aborrecido” com eles. (Este estudante, erradamente, quase destruiu uma
outra livraria. Tempos depois faleceu na prisão.)

Todo este caótico quadro representa uma deplorável parte da herança


deixada por Marcelo Motta à vários grupos (atualmente degladiando-se) os
quais formaram-se a partir da auto-proclamada “!única e verdadeira OTO”, e
que vem, felizmente, desaparecendo após a morte de seu idealizador. Essas
facções restantes são lideradas por fanáticos e por incapazes mentais que
somente conheceram Marcelo Motta em seus piores dias.

Em certa época ele teve em evidência o seu melhor lado. Eu e outros


sabemos disso, e lamentamos sua mudança e, em consideração ao fato,
ajudamos alguns remanescentes estudantes que permaneceram fiéis à
Thêlema, libertando-se da influência do Antigo Instrutor.

31
- Recentemente ele tornou-se um “imortal”.

69
Mas nem a OTO, nem a A.´.A.´., nem a Ordem de Thelema, e nem o
Ocultismo em geral podem ser responsabilizados por tais eventos, ou por estes
desvarios. E nem mesmo Marcelo Motta pode ser apontado como culpado. É
da natureza humana o erro. Principalmente nesta fase de sua evolução, a
existência do engano, ou de se deixar levar pela ilusão de um ego inflamado é
difícil de ser evitada. Eu mesmo me encontro nesta situação e venho lutando
contra a tendência. Pode parecer paradoxal ao leitor superficial de como,
Marcelo Motta, um legítimo Membro da A.´.A.´., tenha chegado a uma tal
situação.

Parece-me fácil explicar. Basta que estudemos os pontos cruciais da


Carreira Iniciática. Já adicionei algures alguns esclarecimentos quanto ao,
assim chamado, Juramento do Abismo.

Qualquer homem tem o direito sagrado de tomar o Juramento, que é o


mais sério dentro de uma carreira iniciática. Julgando-se pronto, qualquer um
pode tentar aquela Atravessia sem que, na realidade, esteja “no ponto” devido.
Isto acontece e continuará a acontecer a todos que, em um momento de suas
vidas iniciáticas, perdem a noção perspectiva. O fenômeno é ativado por
alguma visão ou evento místico-mágico que lhe dá a falsa impressão de ter
atingido um certo grau elevado dentro da Hierarquia e, inadivertidamente,
assume o Juramento. Não podemos condenar a ninguém por este engano.
Enquanto que, por um lado, assumir o Juramento do Abismo revela um ato de
coragem, por outro, e em muitas ocasiões revela um ato de temeridade mal
controlado. O problema torna-se, obvimente, bastante complexo para ser aqui
estudado em detalhes. Mas como escrito em LIBER LIBRAE : “Não te
apresses a condenar os outros; como saber se tu no lugar deles, resistirias
as tentações? E mesmo que tu fosses mais forte do que eles, porque
desprezar àqueles que são mais fracos do que tu?” (este ensinamento
deveria ser seguido ao pé da letra, se desejamos realmente seguir a correta
senda iniciática).

O grande problema contido no Juramento do Abismo está explicito em


LIBER SAMEKH: “... se restar inabsorvido um só átomo que seja do falso
ego, aquele átomo mancharia a virgindade do Verdadeiro Ente, e
profanaria o Juramento; então aquele átomo seria inflamado de tal forma
pela aproximaidade do Anjo que venceria o resto da mente, tiraniza-la-ia,
e se tornaria um déspota louco”.

70
Não podemos perder de vista a correta divulgação de Thêlema,
encobrindo o que realmente ocorreu no Brasil. Mesmo que a causa da
desvirtuação de Thelelma tenha tido sua origem em Marcelo Ramos Motta, ou
em Euclydes Lacerda de Almeida, ou em qualquer outro. Esconder os fatos
como realmente ocorreram seria injusto para com aqueles que tanto deram de
si mesmos nos anos iniciais, e mesmo atualmente, em prol de um
conhecimento mais amplo do homem, e do seu real lugar no contexto
Universal. Não será através de mentiras e encobrimentos que encontraremos a
verdade. Também seria iníquo para com a memória de Marcelo Motta que,
durante o período em que estivemos juntos, sempre mostrou-se um verdadeiro
homem.

Infelizmente para todos nós, os atuais membros da Loja Nuit persistem


na execrável e maliciosa campanha difamatória iniciadas há anos atrás pelo
falecido “Supervisor Geral” – um homem que em seus últimos anos de vida
apresentava evidente desequilíbrio emocional, etc. – não somente contra
pessoas pertencentes à outros sistemas nada tendo a ver com o nosso, mas
também contra thelemitas.

Discordar de outros Sistema de Consecução Espiritual e das pessoas o


adotando é uma coisa bem diferentes de injuria-las, persegui-las e condena-las
por este motivo. Verdadeiros thelemitas jámais tomariam semelhante posição.
Muito pelo contrário. Thelemitas lutam pela liberdade de cada um seguir o
caminho que a Vontade comanda. Mas vejam bem: esta Vontade está escrita
com “V” maiúsculo. Não é qualquer “vontade”. Lembre-se constantemente do
Lema Thelêmico.

O processo usado pela Loja Nuit contra outras pessoas e contra outras
organizações não é thelêmico, jamais o será, como comprova os atos e
pensamentos daqueles que, no passado, mantinham o Cetro e a Coroa da
Liderança de Nossa Ordem.

Não faz muito tempo, alguns desses indivíduos questionaram a


autenticidade de Nossa Fraternidade (refiro-me aqui à S.N.Ae.) como um
genuína representante do Soberano Santuário da Gnosis. Sem nenhuma
dúvida este questionamento é um direito deles. Apenas discordamos (que é
um direito nosso) da maneira de como ele colocam o assunto; da sórdida
campanha usada contra os fundadores da S.N.Ae... E nisso vamos encontrar a
idéia fixa de ter sido eu o único e principal fator no fracasso de Marcelo
Motta, em sua frustada tentativa de concretizar sua ambição pessoal de tornar-

71
se o OHO da OTO, e de ser aceito como tal por todos os Ramos da Ordem; e
de apresentar sua “organização” sob indiscutível credibilidade como única e
verdadeira OTO no mundo.

Este é um engano que eles, membros da Loj Nuit, ainda não


conseguiram superar. Eu nada tive a ver com aquele fracasso. Marcelo Motta
simplesmente caiu na rede armada pela Sra. Germer e por seus próprios erros
(como muitos outros estão caindo agora), por sua magalomania, e por sua
ilusão em ser “o único e verdadeiro thelemita no mundo)

Existem aqueles inconformados com o pseudo fracasso de Marcelo.Na


verdade, Marcelo não falhou. Ele conseguiu divulgar Thêlema entre nós,
brasileiros. Não fosse sua luta, seu arrojo, nós não saberíamos de Thelema, ou
saberíamos de maneira errada através da FRA. Marcelo apenas errou eu sua
perspectivas pessoais nos últimos anos de sua vida. E este erro todos nós
estamos propensos a cair.

Quanto à minha interferência em todo esse processo, existem muitas


coisas a serem esclarecidas. Por exemplo: expliquem-me, por favor, como eu,
um iniciado de grau muito mais baixo (ou mesmo de grau nenhum como
afirmado por muitos) do aquele de Marcelo Motta, poderia “derrubar” um
iniciado de Altíssimo Grau como ele era? Muito incoerente a idéia, não é
verdade?

Muito tem sido dito (e escrito) a respeito da minha “expulsão” da OTO


(criada por Marcelo Motta em 1975), à qual ele, enfaticamente, chamava de “
a minha OTO”. Entretanto, poucos dedicaram-se, mesmo entre os “iniciados
da Loja Nuit”, a um sério e imparcial exame e análise dos eventos e dos fatos
acontecidos na época; como também das fontes das quais emanou a notícia
que, me parece, está tornando-se uma lenda nos diversos círculos esotéricos
do país.

Embora esta lenda tenha apresentado-se como um fator positivo no


aumento de pessoas interessadas na SNAe, isto é, o seu efeito foi contrário
àquele desejado pelos criadores da lenda. E nossos Membros jamais desejaram
tal tipo de publicidade, e muito menos eu em me tornar o foco desta lenda
juntamente com Marcelo Motta, ou de assumir o status de líder da OTO no
Brasil. Durante todos esses anos meu único objetivo não tem sido outro além

72
de dedicar-me inteiramente à correta divulgação de Thêlema, através do
particular sistema da OTO, e de ter a necessária força para suportar nos
ombros a responsabilidade de meus erros e acertos – a maldição inerente à
toda carreira iniciática. E neste caminho, não aceito contemporização e
combato firmemente qualquer tipo de desvirtuamento de Thêlema ou qualquer
tipo de mentira, mínima que seja, venha de onde vier.

Tenho observado, ao longo da vida, o quanto é fácil e cômodo reprovar


pessoas a nós antipáticas, ou que se apresentam como adversárias às nossas
idéias. Isto observo constantemente nos noticiários: um acumulo de
reprovações, acusações e xingamentos mútuos entre indivíduos e grupos,
sejam políticos, ou religiosos, ou filosóficos. Todos querem ser os donos da
verdade. O difícil é encontrar retratações e pedidos de desculpa na mesma
proporção, quando tais acusações são comprovadas inteiramente falsas. Até
hoje a SNAe tem sido estigmatizada e combatida sem qualquer base que
justifique uma tal posição e ação; principalmente em relação a seu Trabalho
junto a OTO. Dentro deste contexto, eu particularmente, ja fui até mesmo
acusado de “mago negro” por diversas correntes “esotéricas”, e mesmo por
alguns de ex-discípulos da Marcelo Motta. O mais hilário é que pessoas,
sequer, sabem o correto significado do epíteto (para você tornar-se um Mago
Negro, tem que, no mínimo, atingir o Grau de Adeptus Exempto. Um Grau
dificílimo de ser atingido. Eu sou apenas um Neófito).

Talvez, criticar e recriminar pessoas seja o direito de cada um. Mas


criticar e recriminar pessoas pelo que se “ouviu dizer”, ou o que se leu em
publicações espúrias, ou que disseram nos bares da esquina, sem dar a estas
pessoas a mínima chance de defesa ou de contar o seu lado da história, torna-
se um ato ignóbil devendo ser combatido por todos reais thelemitas ou, no
mínimo verdadeiros homens e mulheres.

Críticas, acusações e condenações, a priori, e de cunho pessoal, somente


devem ser feitas após termos plena ed absoluta certeza da veracidade delas, e
assumido a responsabilidade de tais acusações. Esta deveria ser, no mínimo, a
atitude correta de verdadeiros homens e mulheres.

Impressiona-nos a quantidade de energia perdida, a cada momento, com


acusações, noticias maliciosas, explicações mal-formuladas, ocultando
interesses pessoais e conversações mal-encaminhadas. Tudo isto trazendo
sérios prejuízos (mentais e morais) tanto para acusados como para acusadores.
Melhor seria que tais indivíduos meditassem um pouco mais e, ao invéz de

73
perderem valioso tempo e energia em discussões de nenhuma interêsse para a
Ordem como um todo, canalizassem esta energia e este tempo em trabalhos
efetivamente dirigidos para maior e melhor divulgação de Thêlema, nosso
único fito.

Os parágrafos a seguir têm como propósito maior contestar,


demonstrando com extrema transparência as provas e fatos, e esmiuçar com
ampla análise, as notícias explorando e deformando fatos e eventos, ocorridos
há alguns anos atrás. O fito não é, evidentemente, uma publicação literária,
visando amplo e público aplauso. Diria estar mais especificamente dirigido
aos Irmãos e Irmãs da Ordem, e a outros eventuais interessados.

Afastando-me, por iniciativa própria, da OTO, vejo-me mais à vontade


para escrever este trabalho, excluindo a OTO, a A.´.A.´. e a SNAe de
qualquer responsabilidade.

“Por mais paradoxal que possa parecer, todo ser espiritualmente


livre, só é escravo do testemunho devido à humanidade, principalmente
àqueles que o cercam, sem o que é indigno de ter existido; este dever nos
impele a dar testemunho àqueles poucos que em nós acreditam, nos
acompanharam nos momentos difíceis, e quando fomos atacados com
inverdade as mais cruéis”

74
Em 1976, Marcelo Motta publicou no Brasil o seu "EQUIONÒCIO
DOS DEUSES", Vol. I N.1. Em "Nota Final" do referido livro (pag.154),
aparece uma informaçomm a respeito de Euclydes Lacerda de Almeida
(Documento nos arquivos da S.N.Ae). Assim, iniciaram as atribulações dele
até hoje. E nenhuma voz levantou-se em sua defesa. Jamais, em tempo algum,
Marcelo Motta e seus seguidores lhe deram o sagrado direito de defesa contra
as acusações ali escritas.
Agora, passados 11 anos, é o momento da resposta.32
Tornou-se crença geral que Euclydes foi expulso da O.T.O., isto é, do Ramo
criado por Marcelo Motta. Todavia, para surpresa de muitos na "Nota Final"
inserida em "O EQUINÒCIO DOS DEUSES" jamais esteve escrita a palavra
expulso, mas sim suspenso. E mais à frente é dito que "ante a suspensão,
Euclydes, obcecado pelo ego pediu demissão da Ordem" (que Ordem?). Nós
desafiamos qualquer pessoa a mostrar publicamente a prova deste pedido de
demissão, seja da O.T.O., seja da A.'.A.'., ou seja mesmo da S.N.Ae. -
simplesmente porque não houve este pedido de demissão. E jamais existiu.
Mesmo não sendo um estudioso e profundo conhecedor da língua Portuguesa,
dá para saber que suspensão não é o mesmo que expulsão. Suspensão significa
uma punição disciplinar, constituindo-se em afastamento temporário do
infrator assim penalizado. Por esta razão o próprio Marcelo afirma, em sua
carta, acima citada, que Euclydes estaria 'banido' da O.T.O. por cinco anos.
Por expulsão compreende-se o afastamento compulsório e definitivo, sem
chance de retorno, causado por grave delito. Por outro lado, demitir-se, traduz
um ato livre e de espontânea vontade. Classificar-se este ato como indício de
obsessão egoica é, segundo pensamos, ir superficial e demasiadamente longe
numa análise psicológica e mesmo mágica - sobretudo quando não houve tal
pedido.
De qualquer maneira, pelo deduzido do texto, Euclydes jamais foi expulso da
Ordem, mas sim suspenso.É o que está escrito e "Nota Final", pagina 154, de
"O EQUINÒCIO DOS DEUSES", Vol. I N.1. Nesta mesma "Nota Final",
várias questões permanecem "no ar".
Primeira: Qual o motivo da suspensão? Muito vagamente é ali declarado ter
sido por "má conduta", sem determinar que tipo de má conduta foi este.

32
- Nota de E.: Isto foi escrito em 1987

75
Segundo: É revelado crua e cinicamente que, após pedir demissão, Euclydes,
procurou ligar-se à Kenneth Grant (gravem bem esta afirmativa. Será de
grande importância para compreensão de toda trama armada pelo Sr. Marcelo
Motta), "cujo endereço lhe fora dado ( a Euclydes, naturalmente - Documento
nos arquivos da S.N.Ae) como parte de uma ordália". Isto foi escrito em 1976.
Terceiro: A Notificação termina com grave acusação à Kenneth Grant, e que
Euclydes se utilizara de "documentos nem de sua propriedade e nem de sua
autoria". Isto, em bom Português quer dizer simplesmente que Euclydes
plagiou escritos de Marcelo Motta. A determinação de quais documentos
foram estes, como, e para que, foram plagiados não é dito. No devido tempo,
tanto esta questão, quanto as anteriores serão devidamente analisadas e
esclarecidas, e todos poderão decidir da falsidade ou não das afirmativas.
Observando-se detidamente a "Nota Final", encontramos outras inacuridades.
A mais gritante sendo aquela, induzida no texto, da existência de uma Loja da
O.T.O. devidamente formada e funcionando no Brasil. Marcelo Motta induz
esta inverdade aos leitores. A verdade sendo outra: Na época (1975), não
existia uma Loja da O.T.O. funcionando no Brasil, nem mesmo o suposto
Ramo criado posteriormente por Marcelo, e muito menos aquela que surgiria
muito depois sob o nome de S.O.T.O. - sigla pela qual a "organização
marceliana” tornou-se conhecida após os eventos desenvolvidos nos Estados
Unidos da América (Corte Californiana). Esta sigla, S.O.T.O., constituiu um
artifício usado na Corte da Califórnia para distinguir a O.T.O. McMurtryana
daquela de Marcelo Motta. Quanto a esta sigla fazemos em seguida uma série
de observações sob exclusivo caráter mágico.
Torna-se evidente a qualquer iniciado, mesmo nos graus mais humildes, que a
"mudança" do NOME da Ordem, e consequentemente de sua sigla, altera
profundamente o sentido oculto do Nome Original. A sigla O.T.O. possui um
significado secreto para quem sabe ler nas entrelinhas, e não será qualquer
iniciado, mesmo aqueles de graus elevados, que poderá mudá-lo ao impulso
de seus interesses particulares. Torna-se evidente que qualquer acréscimo ou
supressão de uma simples letra altera significativamente o valor numérico
( qabalistico, por assim dizer ) e o sentido mágico correspondente. O mais
conhecido exemplo desta chave qabalistica encontramos no Antigo
Testamento, quando "Deus" muda o nome de ABRM (Pai de Elevação) para
ABRHM (Pai de Multidão) e de SRI (Nobilidade) para SRH (Princesa) - veja-
se Gênesis 17. 5 -15. Foi um grande erro mágico de Marcelo Motta ter aceito a
"mudança" do nome de sua Organização. Assim, ele aceitou magicamente a
pseuda autenticidade da O.T.O. McMurtryana. Em outra parte deste livro
daremos mais alguns esclarecimentos quanto ao assunto.

76
Ante o exposto no capítulo anterior, poderíamos dar por encerrado a análise
quanto a "Notificação" contida em "O EQUINÓCIO DOS DEUSES" . A
conclusão sendo que Euclydes JAMAIS FOI EXPULSO DA O.T.O ., mas sim
SUSPENSO, QUE Ò COISA BEM DIFERENTE . Entretanto, vimos que nem
mesmo suspenso poderia ele ser, pois é impossível alguém ser suspenso, ou
expulso, ou mesmo demitir-se de uma organização inexistente. Este simples e
claro fato derruba a "Notificação" em "NOTA FINAL" do, assim chamado,
EQUINÒCIO DOS DEUSES - Vol. I N.1. Porém, devemos ir mais adiante em
busca de mais provas das inverdades contidas em NOTA FINAL. Urge uma
resposta ampla e clara. Afinal foram longos anos, durante os quais, uma
mentira foi oferecida ao público, como se verdade fosse. Foram longos anos
de acusações e difamações as mais descabidas, dirigidas não somente contra
Euclydes, mas também contra muitos outros, entre vivos e mortos. Nós
comemos a amarga fruta da árvore plantada por Marcelo Motta. Chegou a
hora dos que a regaram engolirem o bagaço caroço. Que se cuide aquele que
tiver garganta estreita.. Isto é dirigido à todos aqueles, que conhecedores da
verdade, a mantiveram escondida. Sejam eles, agora, membros de quaisquer
Ramos da O.T.O., ou de outras organizações surgidas no mundo, e se dizendo
Thelêmicas. Constitui um ato de Justiça, não de vingança, uma ampla e
definitiva resposta às acusações lançadas contra nós, reais iniciadores da
O.T.O. no Brasil. Urge uma satisfação a todos os Irmãos e Irmãs. Ò direito
deles, e nosso, que todos saibam exatamente o ocorrido, e o que ocorre com a
O.T.O. no Brasil. Necessitamos ir fundo e desenterrar os reais motivos das
"expulsões sacramentadas" aqui em nossa terra. Devemos ( e isto deveria ter
sido feito há muito tempo ) analisar o assunto com toda seriedade e atenção
que merece, nada permitindo passar em branco. Retirar as mínimas dúvidas, as
quais ainda possam permanecer nas mentes e corações de todos os
interessados em Thelema em geral e na O.T.O. em particular - mesmo que em
certos momentos desta análise tenhamos que expor nossas fraquezas e erros.
Infelizmente para os Membros da S.O.T.O., e para membros de outras tantas
organizações, ditas Thelêmicas, existe uma vasta documentação mostrando a
realidade dos fatos, dos ardis, das inverdades e das profanações que vêm
sendo perpetuadas ao longo desses anos. Perdidos em uma megalomania
monstruosa, membros de várias O.T.Os. não consideraram o fato de que nós, e
outros mais, pudéssemos nos erguer do charco ao qual fomos lançados e, nos
limpando, surgirmos como a Phoenix da lenda.
Também servirá de aviso àqueles, que futuramente, tentarem outro tipo de
trama contra Reais Thelemitas. Ò necessário que todos compreendam até onde
vai a irresponsabilidade e o atrevimento daqueles, que se dizendo Frati

77
Superiores, O.H.Os., Caliphas, etc., tentam ludibriar a todos quantos procuram
uma Verdadeira Ordem Iniciática.
Considerem, agora, o dito em "NOTA FINAL": que ao "pedir demissão da
Ordem" (de qual Ordem?), Euclydes "procurou ligação com Kenneth Grant,
cujo endereço... etc., etc." Euclydes não procurou ligar-se à Kenneth Grant
( não era necessário : ele já ligara-se ao inglês através Marcelo Motta, quando
este, em carta datada de 10 de dezembro de 1971, diz textualmente: "O Rei
Mundial (ou Cabeça Externa) da O.T.O. chama- se Kenneth Grant e seu
endereço é..." Em 1973, ao conferir a Patente de Grão Mestre dos Três
Primeiros Graus da Ordem no Brasil, Marcelo confirma o dito anterior e, neste
mesmo ano (19 de maio) reafirma categoricamente o "status" do inglês: "Eu
reconheci a autoridade de Mr. Grant".
A "estória" da ordália é uma mentira deslavada. Uma forma de justificar a
'suspensão" de Euclydes da Ordem. Aqui surge uma questão importante: Qual
o motivo desta obsessão de Marcelo ver-se livre de Euclydes ( e de outros,
futuramente?) A resposta tornar-se-á evidente no transcorrer das páginas
seguintes. Observe-se também que a carta de 1971 dirige-se a Euclydes
Lacerda, não a Frater Zaratustra. Euclydes era, na época, um simples
interessado em Thelema e na O.T.O.. O que vem a ser isto? Ò bastante
simples: Você não pode impor uma ordália sobre alguém que, sequer, assinou
Juramento. Isto é, nenhum profano, que não haja feito o formal pedido de
ingresso na Ordem ( em qualquer ordem), e que não tenha assinado o
Juramento, pode ser posto em prova.
Esta era a posição de Euclydes em 1971. Ele, como qualquer outro cidadão,
estava tão somente trocando correspondência com Marcelo Motta. E, como
este último havia declarado, em 1964, não possuir Patente (ou permissão) para
trabalhar com a O.T.O., evidentemente enviou seu correspondente à Kenneth
Grant. Agora, se por outro lado, Marcelo Motta, sabia que Kenneth Grant
NÒO ERA o Cabeça Externa, e que havia sido expulso da Ordem em 1955,
então, Marcelo Motta cometeu uma grande blasfêmia contra a Ordem e
manteve esta blasfêmia durante todo tempo até 1975, coisa que preferimos não
acreditar. Mas caso isto seja afirmativo - que ele sabia da situação do inglês
perante a Ordem - demonstrou uma monstruosa falta de ética e moral
iniciática. As inacuridades daquele homem não ficaram só nisto. Verifiquem
que a carta, datada de 1975, dirige-se à Frater T., não à Frater Z.
Isto é importante porque Frater T. nada tinha a ver com a O.T.O., ou com a
S.N.Ae. Frater T. era um Irmão da A.'.A.'. e, como tal, completamente alheio

78
ao Trabalho da outra Ordem. Outra interessante falha de Marcelo Motta está
em que ele, na página 153 da "Nota Final" (Equinócio dos Deuses) declara
que "é responsável pelo trabalho da O.T.O. no Brasil, com PATENTE de
SATURNUS X".
Mas que Patente?
Não afirmara ele mesmo que tal Patente jamais lhe chegou às mãos? Se ele a
tinha em seu poder, então porque afirmou ao contrário? Por que ele jamais a
apresentou??? Nesta mesma página (Nota Final) ele confirma que nos Estados
Unidos da América "Mr. Grady McMurtry é "Chefe de Loja e recebeu o IX
O.T.O. diretamente de BAPHOMET XI, tendo sido confirmado por
SATURNUS X. E que também Mrs. Helen Smith..." Está mais do que claro
que isto foi escrito em 1976, antes de Marcelo Motta se indispor com estas
pessoas. Tão logo aconteceu o rompimento entre elas, imediatamente ele
ordenou suprimir as página do livro onde apareciam estas afirmativas que, no
mínimo, dariam respaldo aos seus, antes aliados, agora inimigos. E, por um
desses "acasos" da vida, a página 153 é a outra face da folha contendo a
página 154, onde noticiava-se a "suspensão" de Euclydes.
Conclusão: nas edições mais recentes de "O EQUINÒCIO DOS DEUSES" a
tão falada "expulsão" desapareceu juntamente com as informações da
expulsão de Kenneth Grant e suspensão (1963) do Rei Suíço, Joseph Metzger.
Se leitores tiverem a oportunidade de adquirir "THE EQUINOX" Vol. V No.4
(editado por Marcelo Motta nos Estados Unidos da América em 1981) leiam o
EDITORIAL. Ali encontrarão novamente o nome de Euclydes Lacerda:
"Euclydes de Almeida: once a neophyte under Marcelo
Motta. Charged with registering the O.T.O. in Brasil, tried to
register it under his own name. Expelled from the O.T.O.. got
in touch with Kenneth Grant and tried to set himself up as
representing the same.
A court order was issued: did I not try to appeal. Cut contact
with the A.'.A.'."
Jamais, em tempo algum, Marcelo Motta, foi tão infeliz em suas declarações.
Nada do ali escrito corresponde à verdade.É pena que um livro (693 páginas)
tão bem elaborado, tenha sido usado para tamanhas inverdades.
1. Jamais, em tempo algum, Euclydes tentou contato com Kenneth Grant.
Ele já estava em contato com o mesmo através o próprio Marcelo Motta.

79
2. Euclydes jamais tentou registrar a O.T.O. em seu nome. Ele registrou a
S.N.Ae. da qual é o Supervisor Geral até os dias de hoje (Documento nos
arquivos da S.N.Ae). Se ele quisesse registrar a O.T.O., isto teria sido fácil.
Marcelo é quem a registrou.
3. Euclydes jamais tentou colocar-se como representante de Kenneth Grant.
Ele o representou, no Brasil, durante 15 anos (Documento nos arquivos da
S.N.Ae).
4. Jamais Euclydes pediu desligamento da A.'.A.'.. Tanto isto é verdade que
recentemente, em contato com Mr. Starr, este confirmou que o nome de
Euclydes constava na Chancelaria da Ordem.
Neste Editorial, finalmente, aparece a palavra "expulsão" (expelled) da O.T.O.
Isto porque, na época, Marcelo Motta havia registrado a Ordem no Brasil.
Agora sim, ele podia expulsar quem quisesse. Entretanto, assim o fazendo caíu
em outro paradoxo. Como expulsar Euclydes de S.O.T.O. se Euclydes jamais
pertencera a uma tal organização?
Marcelo Motta: Algumas Apreciações
Como legítimo membro da A.'.A.'., Marcelo Motta treinou vários estudantes.
Frater Aster estava entre estes até o ano de 1975. Mas mesmo os iniciados
naquela Ordem não escaparam da ira injustificada de Marcelo, e não demorou
muito a serem também acusados de falhas em ordálias so existentes na mente
do Instrutor. Uma mente antes brilhante, agora atormentada. Seu maior erro no
que toca à A.'.A.'. foi tentar acumular todos os Cargos Oficiais da Ordem
(Preamonstrator, Cancellarius, Imperator ), aliando continuam ente candidatos
capacitados para os mesmos.
O processo da bizarra transformação de Marcelo Motta crescia e,
aproximadamente em 1980, tornou-se um homem perigoso. Muitos de seus
estudantes retiraram-se de um ativo envolvimento com ele; outros retiraram-se
ao silêncio, enquanto outros perduraram na vã esperança de uma mudança do
quadro.
Tudo inútil: viriam depois seguir os passos dos anteriores.
Nesta época a polêmica figura dele somente conseguia angariar inadequados
candidatos à iniciação tanto na O.T.O. quanto na A.'.A.'.. Indivíduos
visivelmente inclinados a uma personalidade fanática. Desvio este chegando a
tal ponto que, na Inglaterra, um deles tramou explodir a livraria de antigos e
conhecidos editores britânicos (Routledge & Kegan), simplesmente porque

80
Marcelo estava "aborrecido" com eles. (Este estudante, erradamente, quase
destruiu uma outra livraria. Preso, veio a falecer pouco tempo depois).
Todo este caótico quadro representa uma deplorável parte da herança que
Marcelo Motta deixou para vários grupos (atualmente se digladiando)
formados a partir da auto proclamada "única e verdadeira O.T.O.", e que vem
recrudescendo após a morte de seu idealizador, liderados por incapazes que
somente conheceram Marcelo Motta em seus piores dias.
Mas nem a O.T.O. nem a Grande Ordem, nem o Ocultismo em geral podem
ser responsabilizados por estes desvios. Nem mesmo Motta pode ser
apresentado como culpado. Ò da natureza humana o erro. Principalmente
nesta fase de sua evolução a existência do engano, ou de se deixar levar pela
ilusão de um inflamado ego, é difícil de ser evitada. Não há iniciado que não
corra tal risco. Em nenhuma ordem ou Sistema ele estará protegido de tal
perigo intrínseco à natureza da Iniciação. Pode parecer paradoxal ao leitor
como Marcelo Motta, um legítimo membro da A.'.A.'., tenha chegado a uma
situação deste tipo.
Existem duas explicações plausíveis.
Basta que se estude os pontos cruciais da Carreira Iniciática, particularmente o
Juramento do Abismo.
Qualquer homem ou mulher tem o direito sagrado de tomar este Juramento, o
qual é o mais sério de toda carreira iniciática. O Estudante, julgando-se
pronto, pode tentar aquela travessia sem que na realidade esteja no "ponto"
devido. Ò uma ilusão que toma de assalto o ego. Isto acontece e continuará a
acontecer a todos que, em um momento de suas vidas iniciáticas, perdem a
noção de perspectiva. O fenômeno é ativado por alguma "visão" ou "evento"
místico-mágico que dá ao estudante a falsa impressão de ter atingido um certo
grau elevado dentro da Hierarquia. Assim, ele assume inadvertidamente o
Juramento. Não se pode condena-lo por tal equívoco. Enquanto que por um
lado a assunção do Juramento do Abismo revela um ato de coragem, por
outro, em muitas ocasiões, revela um ato de temeridade. O problema torna-se
por demais complexo para ser aqui explorado a contento. Mas, como escrito
em Liber Librae:
"Não te apresses a condenar os outros; como saber se tu no lugar deles
resistirias às tentações? E mesmo que fosse tu mais forte que eles, porque
desprezar àqueles que são mais fracos que ti? "

81
Este ensinamento deve ser observado à risca por quem deseja seguir
corretamente a Senda da Iniciação. O grande problema contido no Juramento
do Abismo está explícito em LIBER SAMECH:
"... se restar inabsorvido um só átomo que seja do falso ego, aquele átomo
mancharia a virgindade do Verdadeiro Ente, e profanaria o Juramento;
então aquele átomo seria inflamado de tal forma pela aproximidade do Anjo
que venceria o resto da mente, tiranizando-a, e se tornaria um déspota
louco"
Não se pode perder de vista a correta divulgação de Thêlema, encobrindo o
que se passou de fato no Brasil. Mesmo que a causa desta desvirtuação tenha
tido sua origem em Marcelo Motta, ou em Frater A., ou em qualquer outro.
Esconder a verdade dos fatos como realmente aconteceram seria injusto com
aqueles que tanto deram de si mesmos nos primeiros anos, ou mesmo
atualmente, em prol de um conhecimento mais amplo da natureza do homem,
e do seu lugar no contexto universal.
Discordar dos outros Sistemas de Consecução Espiritual e das pessoas que os
adotam é uma coisa bem diferente de injuria-las e condena-las por este
motivo. Verdadeiros Thelemitas jamais tomariam uma tal posição... a não ser
que estejam loucos ou iludidos pelo ego inflamado. Thelemitas lutam pela
liberdade de cada um seguir o caminho que sua Vontade comandar. Mas
percebam que esta Vontade se escreve com "V" maiúsculo.
Lembrem-se do Lema Thelêmico. Mas nós também nos reservamos o direito
de combater qualquer tipo de velhacaria, engano, malícia, etc., pois não são
coisas que uma Verdadeira Vontade deseja. Frater A. tem sido questionado,
particularmente por estes tardios discípulos de Marcelo Motta transformado,
quanto à autenticidade da S.N.Ae. como uma genuína representante do
Soberano Santuário da Gnosis. Sem dúvida é um direito deles assim
questionarem. Contudo, baseiam-se eles na idéia de ter sido Frater A. o
responsável direto e único do fracasso de Motta em sua tentativa frustrada em
concretizar sua ambição pessoal de tonar-se O.H.O. da Ordem. Agora
perguntamos: como poderia Frater A. prejudica-lo se Frater A. pertencia a um
grau muitíssimo mais baixo daquele de Marcelo Motta? Finalizando, é nosso
dever alertar aos menos esclarecidos da existência de dois tipos de Abismo.
E é muito fácil confundir-se um com o outro.
O que vocês pensam ser o Véu de Paroketh?

82
Existe uma "passagem" entre as quatro Sephiroth inferiores (Malkuth, Hod,
Netzach e Yesod) chamada "Véu de Paroketh" (O Véu do Templo). Esse hiato
"separa" estas quatro Sephiroth de Tiphareth (Beleza). Este Véu também
representa um "Abismo". Só que em escala 'inferior'. Muitos iniciados
confundiram este "Abismo" com o ABISMO DE DAATH . Nossa Irmã Helen
conta no número desses. A SOCIEDADE NOVO AEON E A LOJA NUIT A
pós a separação de Marcelo Motta e Euclydes, este último resolveu,
juntamente com sua mulher e os membros que permaneceram fiéis à seu lado,
registrar a SOCIEDADE NOVO AEON. Em seguida dedicaram-se à
elaboração de um trabalho de divulgação de Thêlema. Mas, um trabalho
bastante distanciado do sistema hiper ortodoxo do antigo instrutor. No
contexto deste novo sistema - e consequentemente a O.T.O. - não se
estruturalizou em uma hierarquia opressiva e de poder do "macho". Isto seria
um retrocesso . E aqueles que, de uma forma ou de outra, procurando
apresentar a ordem com uma estrutura de poder organizado e obcecado com o
controle total e absoluto do corpo, mente e alma de seus membros ( sejam
masculinos ou femininos ), estão conduzindo a Ordem, e a si mesmos, para o
caminho oposto à Thêlema. A O.T.O. nada tem a ver com este monstro criado
pelos líderes da Loja Nuit, e nem com a não menos thelêmica política adotada
por outros Ramos espalhados pelo mundo. Porque se a O.T.O. enveredar por
tal caminho estará francamente retornando ao mesmo processo que deu
origem ao nazismo. A O.T.O. é (ou deveria ser, em todos os seus Ramos) um
Centro Iniciático, no qual a Liberdade de expressão considera-se sagrada, e
sua principal função é despertar nos indivíduos a consciência de que eles são
divinos.
Thêlema é afirmação da Vida, do Amor, da Terra Mãe e da Liberdade - não da
Morte. Assim, os esforços do grupo recém- formado dirigiu-se no sentido de
apresentar uma ordem dentro dos parâmetros de Liber OZ , mas com extremo
cuidado de não caír nos exageros daqueles que mal compreendem os ditames
ali descritos. Liber Oz é um livro que deve ser entendido e compreendido
"iniciaticamente", não profanamente como o tem sido até hoje. Num curto
período apareceram colaboradores entusiasmados pela alegria de trabalharem
em prol de Thêlema, isto é, em prol da Vontade, Liberdade e Amor - que são
as Três Pilastras Sustentando a Vida. Agora, estavam apoiados numa
organização bem fundamentada e, sob o ponto de vista material, legalmente
registrada no país. Uma organização genuinamente brasileira. O Lema deste
grupo, somado àquele emanado diretamente de Thêlema, era o aparente
paradoxo do Conde Fenix:

83
"A autoridade absoluta do Estado deve ser a função da liberdade
absoluta de cada vontade individual".
Ouçam aqueles que tiverem ouvidos de ouvir... Num passo seguinte
contataram Kenneth Grant que, afinal, era o único membro da O.T.O.
conhecido por eles além da Marcelo Motta . Uma longa carta foi escrita ao
inglês relatando, com mínimos detalhes, as últimas ocorrências no Brasil.
Em 26 de junho de 1975 (Documento nos arquivos da S.N.Ae) veio a resposta.
A carta de Kenneth Grant, entre outras coisas, trazia comentários sobre as
acusações de Marcelo Motta em "Equinócio dos Deuses" - uma cópia lhe fora
enviada. Depois de um período relativamente curto de constante troca de
correspondência com a Inglaterra, acordaram em formalizar um elo entre a
S.N.Ae. e o Supremo Santuário da Gnosis para a Inglaterra.
Na concretização desta aliança, Kenneth Grant, enviou Patente de Membro
Honorário do VII para Euclydes Lacerda de Almeida (Documento nos
arquivos da S.N.Ae) e publicou em "MEZLA" (Órgão Oficial de Divulgação
da O.T.O. Inglesa) Vol. I N.11 - 1977 --- Notificação da união entre as duas
organizações (Documento nos arquivos da S.N.Ae).
O grupo inicial era constituído por dezoito indivíduos, entre os quais três
maçomns de grau elevado e dois membros do grupo anterior, que decidiram
ficar com Euclydes. Ajustados os pontos necessários, Kenneth Grant, colocou
Euclydes diretamente sob a hierarquia iniciática de SOROR TANITH (J.R.
Ayers), líder da O.T.O. Inglesa nos Estados Unidos da América.
É com muito carinho e respeito que Euclydes fala sobre esta Instrutora.
Durante dez anos seguidos, ele se correspondeu com Soro Tanith, absorvendo
todo ensino daquela Iniciada. Em 1987 recebeu Notificação de que aquela
Instrutora havia se afastado do Trabalho Externo da Ordem. Substituiu-a
SOROR MAIAT. Sob a direção desta nova orientadora, e após suplantar uma
dificílima e dolorosa ordália - sobre a qual não lhe agrada comentar, atingiu o
IXº O.T.O. - muito embora, Marcelo Motta, já lhe houvera transmitido o
Segredo central da Ordem via ensinos orais e "EMBLEMAS E MANEIRA
DE USAR", Liber que constitui um dos mais importantes mms. da O.T.O.
relacionados com o IXº Grau.
Ainda em 1987 recebeu de Kenneth Grant, com aprovação do Supremo
Santuário, permissão para uso do Lamen da Ordem. Porém, jamais o usou em

84
conexão com a S.N.Ae., para a qual foi elaborado um Lamen próprio
(Documento nos arquivos da S.N.Ae).
Anteriormente, a esses eventos, recebera uma carta deveras intrigante e
surpreendente vinda de Oséas de Almeida, um dos que ficaram ao lado de
Marcelo Motta durante o cisma. Marcelo e Oséas haviam iniciado um núcleo
da O.T.O. na Cidade de São Paulo. Oséas assumira a cargo de Mestre de Loja,
supervisionado por Marcelo Motta. Nesta primeira carta, Oséas pedia ajuda,
pura e simplesmente. Sondava a possibilidade de aliar-se a Euclydes em
evidente confronto à Marcelo Motta (Documento nos arquivos da S.N.A).
Euclydes respondeu-lhe não estar interessado. Nada tinha a ver com o grupo
de São Paulo. Não alimentava qualquer sentimento de desforra. Entretanto, a
união dos dois grupos, isto é, a S.N.Ae. e a F.A.A.O.T.O. (nome dado à
organização de São Paulo) era inviável por razões óbvias.
Numa segunda carta, datada de 24 de julho de 1977, Oséas resume os
desagradáveis atritos entre ele e o Supervisor Geral. O texto desta carta será
mais eloqüente do que mil palavras nossas (vide documentação).
Pacientemente, Euclydes explicou a Oséas, mais uma vez, da inviabilidade
desta união: nada tinha a ver com o sistema desenvolvido por Marcelo Motta
na divulgação de Thêlema no Brasil - um sistema altamente questionável,
inadequado, agressivo, com tend6encias claramente nazistas - impossível de
se seguido por qualquer pessoa equilibrada. Lamentava muito, mas nada podia
fazer para ajudar Oséas. Mais tarde, Euclydes, soube do processo aberto por
Marcelo contra Oséas. Neste processo sobressaía o problema de "direitos
autorais" sobre o Nome O.T.O. Depois deste incidente, Euclydes, nunca mais
teve qualquer contato com Oséas, ou com qualquer outro membro da
F.A.A.O.T.O. Recentemente (1997), por intermédio do Sr. Antônio Walter
Sena Júnior (Toninho Buda), soube do falecimento de Oséas. Muito antes
destas ocorrências (1976) Marcelo Motta reunira em Ribeirão Preto (S.P.), e à
revelia de Oséas, um ro grupo. Com este novos auxiliares, e afastando Oséas,
finalmente fundou uma Loja em 1979, sob o nome de Loja Nuit, a qual,
infelizmente, tornou-se bastante conhecida nos meios thelêmicos pelas
atitudes intransigentes, agressivas e não educadas de seus componentes. "A
Loja Nuit continua... A loja é composta por viciados, desocupados, e todo tipo
de jovem que na liberdade (em termos) que lhes dão saem por aí, aprontando
tudo.. Só lamento que minha cidade, ainda abrigue esta escória.” (Frater
Kephra.)
O processo de perda com McMurtry, e outros documentos, o hábil Supervisor
levou consigo. Apagou todas as pistas. E aqui e ali, seus discípulos espionam e

85
perseguem a todos que citarem um dos nomes de um de nós expulsos" Estas
são as palavras do Sr. Marcos Lagamba (Frater Kephra), o homem que ajudou
e financiou a fundação da Loja Nuit em Ribeirão Preto. (Documento nos
arquivos da S.N.A., carta datada de 12 de abril de 1988, dirigida a Euclydes)
Referências identicamente péssimas obtivemos de várias outras pessoas
interessadas em Thêlema. Segundo estas, as cartas respostas à seus pedidos de
maiores detalhes sobre a Loja ou sobre Thêlema eram verdadeiros amontoados
de asneiras, agressividade, etc. Estas cartas jamais vinham assinadas. Sempre
acusavam os solicitantes de "agentes" da CIA, FBI, Vaticano e, pasmem, de
Euclydes Lacerda, como se este fosse capaz de manter uma agência de
inteligência. Toda esta situação causava bastante tristeza em Euclydes.
Seu antigo Instrutor tornara-se um homem sem qualquer tipo de equilíbrio.
Perigoso, no dizer de alguns. Ele tentava defender Marcelo, mas as evidências
eram por demais claras. Ao que lhe parecia, Marcelo, caíra sob domínio de
alguma entidade maligna, talvez, quem sabe, por Samael (O Falso Acusador),
o Qlipha de Hod, ou por Ogiel (Arbitrariedade) o Qlipha de Chokmah . Todas
as notícias que lhe chegavam a respeito de seu Instrutor eram do mesmo teor.
Este política incompreensível da Loja Nuit afugentava interessados em
Thêlema em geral e na O.T.O. em particular, ao invés de atraí-los. Mais tarde
verificou um fato interessante: sem quaisquer exceções todos aqueles, que
ligados à Marcelo, ocuparam o cargo de Mestre de Loja, foram execrados e
expulsos da "ordem" pelos mesmos motivos, a começar por Frater Kephra,
fundador e financiador da Loja Nuit. Frater Saladin, da mesma forma, vindo a
morrer de desgosto pouco tempo depois de sua expulsão. Frater Libra,
também expulso sob as mais vis acusações. E assim por diante.
O mesmo ocorrendo nos Estados Unidos da América e na Inglaterra, onde
haviam outras Lojas ligadas à Marcelo.
Em 1988 (12 de abril), Euclydes, soube da morte de Marcelo Motta.
A priori não acreditando na notícia. Solicitou informações ao Sr. Alceu. Este
lhe enviou cópia xerox do aviso oficial da Sociedade Ordo Templi Orientis
Internacional. Surpreendeu-lhe o detalhe de que o aviso vinha dos Estados
Unidos da América. (Box 18318 Washington, D.C. 20036 USA) e era
assinado por um tal de Daniel B. Stone (Documento nos arquivos da S.N.Ae).
Intrigado, pediu ao Sr. Eduardo Lemos (um de seus correspondentes) que
escrevesse ao tal "fiduciário". Recebeu resposta em 05 de julho de 1988.
Escreveu uma segunda carta. A resposta veio em 08 de agosto de 1988. E mais

86
uma em 1991, quando solicitado informações a respeito da Loja Nuit no Brasil
e a Fundação Parzival XI na Austrália.
Através esta terceira missiva tomou conhecimento que os grupos formados por
Marcelo, tanto nos USA quanto no Brasil haviam se dividido. Como podemos
ver, as lutas pelo poder continuavam em todos os Ramos da O.T.O. Porém
devemos agora retornar há alguns anos atrás. Mais precisamente 1978. Neste
ano, Euclydes, foi residir na Cidade de Linhares (Estado do Espírito Santo),
para acompanhar a construção de um terminal marítimo na região. Ali
permaneceu até 1985, retornando ao Rio de janeiro. Esta fase comporta fatos
muito importantes, porque durante ela afastou-se de qualquer atividade na
S.N.Ae. Os componentes do grupo inicial tomaram cada qual seu próprio
caminho, e a S.N.Ae. entrou em fase de dormência.
Foi nesta época que Euclydes atingiu o mais importante trance de suas práticas
mágicas e místicas no currículo da A.'.A.'., com exceção daquele ocorrido em
1973.
O resultado deste trance foi o nascimento de dois livros: "MEU
VERDADEIRO NOME" e a "DEUSA NEGRA" (Ed. Bhavani).
De retorno ao Rio de Janeiro, ainda trabalhou até 1985, quando se aposentou.
Agora tinha todo seu tempo disponível para dedicar-se inteiramente ao
trabalho de divulgação de Thêlema. Só necessitava reerguer a S.N.Ae.. O que
foi feito com auxílio do Sr. Carlos Raposo; o mais dedicado companheiro e
irmão de todos os outros.
O tempo passou. Certo dia foi informado pelo Sr. Lassue que Marcelo Motta
havia estado em sua livraria (Livraria Lassue), e que parecia, segundo aquele
livreiro, estar mal de saúde. Falando com o Sr. Geraldo dos Santos (Frater
Lancelot) a respeito, este confirmou a notícia. Marcelo ao retornar ao Brasil
após os incidentes nos Estados Unidos da América, adoecera. Sinceramente
preocupado com o estado de saúde de seu ex-instrutor, ele prontificou-se ir até
Ribeirão Preto no intuito de ajudar Marcelo naquilo que fosse necessário.
Geraldo alertou-o que poderia ser mal recebido pelo pessoal da Loja Nuit que,
praticamente, odiavam a Euclydes.
"Isto não importa" - foi sua resposta.
"O importante era rever seu antigo instrutor e ajudá-lo naquela crise." Em
Ribeirão Preto foram recebidos por Frater Libra, o qual informou ser
impossível contatar Marcelo. Ele havia viajado, etc. Percebendo mentiras e
desculpas esfarrapadas nas palavras do homem, Euclydes, decidiu tomar uma

87
atitude mágica para testar o nível iniciático do tal Frater Libra. Ele havia
levado consigo suas Patentes do VIIº e IXº da O.T.O. Inglesa. E numa
característica voz de comando ordenou peremptoriamente àquele Frater que
tirasse cópias xerox dos documentos e as entregasse a Marcelo. O homem que
se dizia Mestre de Loja aceitou o comando sem pestanejar. Então, Euclydes,
compreendeu que à sua frente não se encontrava iniciado algum, mas sim um
escravo. Olhou significativamente para Frater Lancelot e recebendo de volta
as Patentes originais dali se retirou, voltando no primeiro ônibus para o Rio.
Nada tinha a fazer naquele antro de pestilência e escravidão.
Continuou seu trabalho, agora auxiliado por vários outros interessados.
Procedeu algumas iniciações utilizando-se de rituais por ele elaborados.
Dividiu responsabilidades com Frater B. e transmitiu-lhe o Segredo do IXº.
Existe grande curiosidade em torno deste "segredo". Mas saibam todos que ele
é tão simples como uma conta de somar. Custa a acreditar, quando o
descobrimos, que seja assim. Na própria cerimônia da Missa Católica está ele
contido. Nela está velado o Mistério que pouquíssimos conhecem. Mesmo
pelos padres. Sequer as pessoas compreendem que o Mistério da Missa, do
Real Segredo dos Antigos e Aceitos Mações, dos Templários, e dos
verdadeiros Rosa- Cruzes, é um e o mesmo. Este Mistério da Missa, dos
Templários, e dos Reais Neo-Cristãos, jaz na Comunhão com Deus cujo Fogo
simbólico a Missa descreve em seu drama. As declarações e explicações que a
Igreja Romana oferece, no concernente a essência do Mistério da Missa são
intencionalmente incorretos, pois as autoridades eclesiásticas no Vaticano
sabem a real natureza dele e seu verdadeiro significado.
Os padres de níveis mais baixos, dentro da hierarquia do Vaticano, são
entretanto, por razões oficiais, deixados completamente no escuro com
respeito à esta real natureza. Mas aquele quem tiver olhos de ver,
compreenderão o misterioso Segredo Central da O.T.O. que é, como já dito, o
mesmo dos mações, dos Rosa-Cruzes e dos Templários.

88
- Encontro com Thelema -

Em 26 de agosto de 1987, morria, na Cidade de Teresópolis, Estado do


Rio de Janeiro, aos 53 anos de idade, Marcelo Ramos Motta, mais conhecido
como Frater Parzival XI. Seu falecimento*1 foi "festejado" por discípulos, ex-
discípulos e inimigos.... cada qual a sua maneira.
Quem foi Marcelo Ramos Motta?
Por que este homem tornou-se tão polêmico nos círculos do mundo ocultista
em geral e do mundo thelêmico em particular?
Por que foi tão comentado, odiado, amado e, acima de tudo, temido?
Tentaremos responder todas estas questões dentro da mais imparcial visão
possível. Mas fique prevenido o leitor de que nada é tão difícil como falar
deste homem, e muito menos dizer de suas consecuções misticas, mágicas e de
suas metas..
Marcelo Motta nasceu em 27 de junho de 1931, na Cidade do Rio de Janeiro.
Seu interesse pelo ocultismo começou cedo. Aos 11 anos de idade já estudara
os livros de Eliphas Levi, Papus, Blavatsky, Edward Bulwer-Lynton,
Patanjali, Paracelso e as obras de Arnold Krumm- Heller, por quem
alimentava grande admiração. Por isso, sua atenção voltava-se,
constantemente, para os misteriosos "Rosacruzes", na pesquiza dos quais
dedicou-se profundamente. Mais tarde, entrou em contato com os livros de
Max Heindel, R.S. Clymer e, eventualmente, com a organização chamada
AMORC, em relação a qual, diga-se de passagem, desenvolveu verdadeira
aversão*2.
Acalentava a esperança de ser admitido numa escola iniciática, nos moldes
daquela descrita por Arnold Krumm-Heller na novela "ROSA- CRUZ", e por
Bulwer-Lynton, em "ZANONI". Ao mesmo tempo desenvolvia marcante
aversão ao cristianismo católico romano, que ele definia como "a própria

89
personificação da negação da vontade de viver", pois quando Marcelo Motta
vislumbrou o real significado do cristianismo romano no mundo, o espírito do
"anti-cristo" manifestou-se com surpreendente força no decorrer de toda sua
vida e obra*3.
Sua "CARTA A UM MAÇOM" tornou-se clássica neste sentido e deveria ser
estudada por todos iniciantes ao SISTEMA THELËMICO e, naturalmente,
por mações.
Naquela época, segundo suas palavras, percebera que os "conhecimentos"
contidos nas obras esotéricas (as mais sérias) que estudara, escondiam algo
muito mais profundo do que normalmente se acredita existir. E na procura
deste conhecimento "oculto" por detrás do Ocultismo, transformou-se num
foco de força de vontade quase sobre-humano. Dia a dia, durante sua
juventude, Marcelo Motta, concentrara toda sua energia, inteligência e poder
de meditação na procura deste conhecimento "Rosacruciano". A procura o
levou aos mais altos graus da Grande Ordem. Ingressando no Colégio Militar
do Rio de Janeiro*4, desenvolveu seu intelecto, adquiriu disciplina e um
grande amor pelo Brasil. Por esta época revelava grande interesse pela
Astrologia, Taro e assuntos afins. Por isto sendo foco de muitas discussões
entre seus colegas de colégio e professores. Suas discussões com o professor
de Filosofia, M.H., foram comentadas por vários anos entre os alunos do C.M.
Uma miopia crescente impediu seu ingresso na Escola de Aeronáutica. Isto o
fez desistir da carreira militar, mesmo nas outras armas, o que causou-lhe
grande desgosto.*5 Aos treze anos de idade dedicou-se espontaneamente ao
Serviço da Humanidade.
Pelo decorrer de sua vida temos que considerar que o voto foi aceito pelos
Senhores do Karma. Completando 17 anos de idade, soube, por intermédio de
sua mãe, da existência da FRA, uma ordem de alto nível maçônico fundada
por Arnold Krumm-Heller. Iniciou-se na FRA em 19 de agosto de 1948.*6
Após frequentar a FRA por algum tempo, e rapidamente galgar os três graus
da Ordem, Marcelo, afastou-se dos trabalhos em Loja. Ao completar 20 anos
de idade, seus atritos familiares cresciam assustadoramente*7. Ele lutava
contra a dominação de sua mãe, que se opunha à sua vontade violentamente.
Atingindo um ponto cruciante, resolveu deixar o Brasil indo para a Europa e
de lá para os Estados Unidos da América (1952) onde terminaria seus estudos
da língua inglesa em uma faculdade norte americana. Nesta viagem levava
consigo, a pedido do Comendador da FRA Brasileira, a missão de intermediar
entre este e PARZIVAL KRUMM- HELLER (filho de Arnold Krumm-

90
Heller), substituto legal do falecido Krumm-Heller na FRA.*8 Na Europa
(Portugal), ele, pela primeira vez toma conhecimento de Thêlema, através o
livro 'THE GREAT BEAST" , uma parcial biografia de Aleister Crowley
escrita por J.Symonds.
Lembra-se, então, que no Primeiro Grau da FRA o "Faze o que tu queres há de
ser tudo da Lei" fazia parte do Ritual de Iniciação. Isto muito o intriga, pois na
FRA jamais ouvira falar de Crowley ou mesmo do Mestre THERION. Mas ao
mesmo tempo, ao ler o livro, desperta dúvidas quanto as condições iniciáticas
de Crowley que, à primeira vista, lhe parecera ser um satanista da pior espécie.
Encontrando-se com Parzival Krumm-Heller, seguindo sua missão de
Embaixador da FRA Brasileira, indaga sobre o tal de Aleister Crowley.
Parzival, mui gentilmente, lhe fornece os necessários e básicos conhecimentos
a respeito do assunto, modificando inteiramente o pensamento prioriístico e
apressado de Marcelo Motta sobre Crowley. Foi nesta ocasião que Parzival lhe
mostra uma carta da "Cabeça Externa da O.T.O.", dirigida a Arnold Krumm-
Heller, avisando-o que Clymer, a quem o Dr. Arnold Krumm-Heller esta a se
ligando na época da carta, era instrumento de forças as mais sinistras.
Naquele tempo, Marcelo Motta, sequer sabia o que significava O.T.O.. Para
melhor entendimento do leitor quanto ao assunto, abrimos aqui um parêntesis,
para rápida explicação: (Segundo a versão do líder da FRA Brasileira, o Dr.
Krumm- Heller, antes de morrer, tentara unir a FRA e a ROSICRUCIAN
FRATERNITY IN AMERICA"*9, cujo líder era o então R.S.Clymer. Mas a
primeira providência de Parzival Krumm-Heller, ao assumir a liderança da
FRA, foi ordenar o desligamento de sua Ordem daquela de Clymer. E uma
carta neste sentido fora enviada ao Líder da FRA Brasileira. Este, considerou
a carta de Parzival Krumm-Heller demasiada autoritária e peremptória. Com
isto ficou estabelecido o rompimento entre Parzival Krumm-Heller e o
Comendador da FRA no Brasil.)
Agora que observamos os fatos "de longe", vemos como "a mão do destino",
ou aquela dos "Mestres Secretos", tecem as vias levando o Estudante ao
encontro de suas reais aspirações. Não fosse a solicitação do líder da FRA
Brasileira, Marcelo Motta jamais teria contatado o Sistema Thelêmico. Pelo
menos na época. Parzival Krumm-Heller, após ouvir a mensagem que Marcelo
lhe trazia do líder da FRA no Brasil, deu seu ponto de vista sobre o assunto:
Segundo ele, Clymer (o "pivot" de todo problema) entrara em contato com
Arnold Krumm-Heller quando este já estava doente, envelhecido e
desgostoso, abatido pelas perseguições políticas, tanto dos nazistas quanto,
posteriormente, dos aliados ao fim da Segunda Guerra Mundial. Foi nesta

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época que Clymer tentara então o Dr. Arnold Krumm-Heller com aquela isca
eternamente apetitosa para profanos e iniciados de graus mais baixos: a idéia
da unificação de todas as ordens iniciáticas sob uma só ordem poderosa e
bem-fazeja.
Infelizmente, Arnold Krumm-Heller caíra no engodo. Por isto, o líder da FRA
no Brasil recebera instruções para ligar-se a Clymer. Nesta época Parzival
Krumm-Heller encontrava-se no Egipto, conduzindo pesquisas pessoais sobre
certas fórmulas mágicas. Não muito mais tarde, o próprio Arnoldo Krumm-
Heller admitiu que os propósitos de Clymer não eram os que ele pensara.*10
Foi Parzival Krumm-Heller quem formou o elo entre Marcelo Motta e Karl
Germer (Frater Saturnus), o então O.H.O. da O.T.O.

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