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AOS MEUS COMPATRIOTAS

“TEMPLÁRIOS”

C reio que me cumpre dar algumas explicações quanto ao assunto aqui abordado, cujo
conteúdo poderá, talvez, surpreender grande parte dos leitores devido certas declarações e a
franqueza com que um tema, sempre velado ao público e apenas discutido em círculos de
“altos iniciados”, é aqui exposto aberta e claramente.
Nada será revelado ou oculto a favor ou contra este ou aquele grupo se apresentando como a Ordem
Templária Oriental. Esta será a política básica de todo trabalho agora oferecido ao público. Falo de
uma maneira geral, sem particularizar este ou aquele Ramo da organização denominando-se a si
próprio O.T.O.
O título do trabalho não comporta qualquer tendência em afirmar ser a Ordem como originária dos
“Pobres Cavaleiros de Cristo” ou simplesmente a “Ordem Templária”, como popularmente aquela
Ordem tornou-se conhecida através dos séculos. O título foi escolhido porque o texto indica e
procura desmistificar alguns dos mitos aceitos como verdades a respeito de inúmeras “ordens
templárias” surgidas a partir do Século XIX.

“Confusa, muito confusa” – assim se expressou certa vez um estudante a respeito da História e da
atual situação da Ordem dos Templários Orientais. Eu, talvez, usasse termos mais rudes, mas penso
não ser necessário. Pessoas arguciosas, e de bom senso sabem do que, e sobre que, aquele estudante
se referia. Entretanto, existem aquelas outras pessoas que, por puro comodismo ou por outras razões

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pessoais, não querem ver o obvio, e continuam tentando tapar o sol com uma peneira, ou adotando a
atitude da avestruz : “O que não vejo não existe”, e enfia a cabeça na terra para não ver o perigo que
se aproxima.
Realmente, esta é uma posição enganosa e mas muito perigosa.
Por que, me pergunto constantemente, chegou aquela ordem a uma tão decadente situação?
Entretanto, pensando bem, chegaremos à conclusão que sempre foi assim. Não encontro nenhuma
época, desde sua fundação, em que a unidade dela não esteve à mercê dos atritos e contradições de
seus “inúmeros líderes” e mesmo de membros menores.
A quebra da unidade orgânica em facções antagônicas sempre mostrou-se uma constante, malgrado
muita gente julgue que, nos anos iniciais da ordem, esta sombra não existisse. Grande ilusão. Basta
uma rápida leitura nos vários livros e escritos a respeito da ordem para verificarmos esta ilusão.
A que poderíamos atribuir a causa desta intrigante situação? Por que a unidade dos irmãos e irmãs
deva sempre sucumbir ante o “monstro ego”, quando todos os caminhos da filosofia aceita pela
ordem aponta na direção contrária, isto é, ao extermínio do “monstro”?
Mas será que isto é verdade? Será mesmo que os irmãos e irmãs se dedicam seriamente à destruição
do ego?
Bem, pode ser que seja verdade para Thelemitas, mas o será para membros da ordem?
Julgo que a resposta seja não. E penso estar aí uma das causas da questão.
Vejamos, com redobrada atenção, se estou correto neste pensamento. Pode ser que ele esteja um
pouco enevoado devido a algum motivo que me foge à consciência. Afinal sou um ser humano
como outro qualquer, propenso a erros de julgamento.
Ninguém desconhece que a ordem apareceu muito tempo antes de Thelema ser oferecida ao
mundo.
Qual o significado disto?
Entre outras coisa significa que a ordem nasceu sob o signo do Aeon Passado e, portanto,
profundamente embebida na egregora do Deus Sacrificado: fadada a durar pouco tempo, já que toda
sua estrutura original ( rituais, filosofia, direcionamento, etc.) não poderia sobreviver no futuro, a
não ser acalentando a ilusão de um ponto-de-vista ultrapassado, como aconteceu à Igreja Romana.
Crowley, é verdade, tentou mudar este quadro ao adaptar os velhos rituais à Nova Realidade.
Porém, esta louvável tentativa não surtiu efeito. Não foi suficientemente radical e profunda. Ele
revisou os rituais originais, sem muda-los muito. E o resultado do uso desses rituais nos últimos
setenta anos foi catastrófico. surgiu uma ordem indisciplinada, dividida contra si mesma, eivada de
confusão e anarquia. Alguns pontos negros permaneceram teimosamente grudados na nova
roupagem, como todos podem constatar não somente nos graus mais baixos como também nos
superiores, principalmente no discurso do IXº, onde se encontra o segredo central da ordem
juntamente com referências a “Nosso Senhor Jesus Cristo”. A tentativa foi o mesmo que colocar
vinho novo em odres velhos. Infelizmente, Crowley, como ser humano, também estava envolvido
pelas vibrações do Velho Aeon. Lembrem-se que ele nasceu muito antes de 1904, quando
vibrações osirianas começavam a ser substituídas por aquelas do Novo Aeon. Somente crianças
nascidas após 1904 é que despertaram para a vida sob a influência das vibrações de Horus, o
“vingador de Osiris”.
Em seguida poderemos observar que líderes e membros da ordem original, todos, sem quaisquer
exceções, encontravam-se profundamente magnetizados (ou glamourizados) pelo egregora do
“Sacrificado na Cruz” e, dificilmente, libertar-se-iam deste envolvimento até suas mortes físicas.
Tanto isto é verdade que o próprio Theodor Reuss (o segundo líder da ordem) repudiou Thelema
em todas suas nuances e, consequentemente, afastou-se de Crowley e do Ramo liderado por este.
Nisto o seguiram inúmeras Lojas alemães e suíças.

Muito comenta-se sobre a renuncia de Theodor Reuss ao cargo de líder em favor de Crowley. Seja
isto verdade ou uma meia verdade, ninguém explica claramente porque a relação amistosa entre os
dois homens subitamente terminou. E confirmando isto, temos aquela insólita declaração de

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Crowley em seu diário mágico de 1921: “Eu proclamei a mim mesmo O.H.O.” E em carta dirigida
a Heinrich Tranker (1924), Ele admite que Reuss, em tempo algum, o houvera escolhido como
sucessor na ordem.
Vemos também que todos preceitos iniciais da ordem eram, obviamente, osirianos, elitistas,
machistas, etc.
A ordem, como inicialmente idealizada, pertencia a uma época na qual os preconceitos crististas
imperavam. O carater patriarcal apresenta-se claramente ao considerarmos que o segredo central da
ordem (a feitura do Elixir, por assim dizer) refere-se somente aos homens (o macho). É impossível a
uma mulher “fabricar” e tomar o Elixir sem o concurso do homem. Mas o homem pode “fabricar”
e ‘tomar” do Elixir sem o concurso da mulher. E digo mais: nenhuma mulher pode atingir o XIº. E
tem mais, enquanto a idade do homem não apresenta empecilho ao seu Trabalho no Nono Grau, a
mulher, após a menopausa, é posta de lado. Desafio a qualquer um contestar as afirmativas acima.
A ordem esta eivada do elitismo germânico do Século XIX. Aqueles que a idealizaram, ou que a ela
se uniram nos anos subsequentes podiam – e acredito nisto – ser pessoas bem intencionadas, mas
elas estavam inconscientemente sob influencia direta deste elitismo. Encontravam-se tão imersas
no ambiente da época que nem de longe percebiam a condição.
Analisem os títulos pertencentes aos graus, principalmente daqueles mais elevados. Observem as
fotografias dos ilustres fundadores e subsequentes líderes da ordem. O que vemos? Homens em
poses bombásticas, pomposas, cobertos de adornos ridículos, como que exibindo superioridade
sobre os “inferiores do mundo”. Não parecem homens, mas sim estátuas suportadas nos pedestais
da vaidade egoica.

É dito por Alex Constantine (The OTO & the CIA – Ordis Templis Intelligentis) : “A OTO foi
fundada entre 1895 e 1900 por uma dupla de poderosos mações, Karl Kellner e Theodor Reuss.
Politicamente, a ordem identificava-se com a extrema direita, propondo a criação de um mundo
pan-Germânico ( o antigo princípio de uma raça superior, destinada a segurar as rédeas do mundo)
baseado em crenças espirituais pagãs. Kellner morreu em 1905, e Reuss, um antigo espião do
Serviço Secreto Prussiano, assumiu o cargo de califa. Quando residindo em Londres, Reuss,
espionava socialistas exilados. Em 1912 ele contatou Aleister Crowley, apontando-o cabeça do
capítulo Britânico da OT.O. Mas a lealdade política da Besta sempre foi uma questão aberta.”

O trabalho do Sr. Alex Constantine, contendo alguns erros e exageros, chama nossa atenção porque
mostra o quanto a ordem está envolvida em política e sempre mantendo em seus principais cargos
homens que, de uma maneira ou de outra, estiveram, ou estão, envolvidos em atividades de
espionagem, incluindo-se o próprio Crowley, como é dito no trabalho do Sr. Alex Constantine.

Não posso de maneira alguma me abster de criticar a política ordem, quando vejo a economia de
meu país se esvair num sangradouro sem fim, e seu povo se empobrecer cada vez mais, enquanto os
vetustos membros do ramo da ordem, que se diz brasileiro (embora seu líder não o seja) perdem
precioso tempo discutindo temas que em nada criam soluções para minimizar esta situação.
Responder: “isto não é problema nosso”, é querer esquivar-se da responsabilidade que todos nós,
nacionais brasileiros, temos com nosso país e, principalmente, com as gerações futuras.
Saiba-se que a evolução de um país, seja em ambos terrenos – espiritual e material – está na razão
direta da evolução espiritual de suas ordens iniciáticas, ou melhor dito, de seus iniciados. Quanto
mais forte, espiritualmente falando, são as ordens iniciáticas de um país, mais espiritualizado será
este país, mais rápida será sua evolução. Atenção para o que estou dizendo: um país espiritualizado,
um país harmonizado com o Universo, não quer significar seja este país militarmente poderoso.
Força bruta não quer significar Poder Espiritual. Entenda-se isto.
Evidentemente, se todos nós (a humanidade) somos Um Só, como poderia um grupo isolado atingir
a plenitude da Sabedoria, enquanto outros ainda se encontram nos baixos níveis da ignorância.
Existem certos Buddhas que renunciam a entrada definitiva no Nirvana para esperar aqueles que

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ficaram para trás, porque eles sabem que jamais poderão usufruir da Luz Total enquanto existirem
outros ainda na escuridão.

A ordem jamais poderá ser popularizada enquanto se mantiver atada a um elitismo constituindo sua
própria coluna vertebral. E caso esta coluna seja quebrada, a ordem desaparece. Assim sendo, nós
nos deparamos com um grande dilema: ou servimos à ordem ou servimos ao nosso povo (reconheço
que o ideal seria ambos). Se o universo nos fez nascer brasileiros é porque nossa responsabilidade é
trabalhar por nosso país que é constituído por seu povo. Sem os brasileiros não existe o Brasil. E se
o povo brasileiro continuar ignorante, o que será do Brasil? Reconheço que estas idéias surgem
ridículas a estrangeiros e a certos brasileiros destituídos do sentimento patriótico. Por isto eles nos
chamam de “tupiniquins”. Para estes descontentes em serem brasileiros existe a solução da
emigração. Observem o que a dita internacionalização está causando à maioria dos países no
mundo.
Se optarmos pela ordem, como agora se apresenta, o resto dos nosso irmãos brasileiros permanecerá
apartada de nós. Jamais neste caminho poderemos atingir a plenitude da Luz. Faltar-nos-ia a
Unidade. Levando o conceito para o corpo humano, nós seríamos como um homem desenvolvendo
mais seu braço direito do que o esquerdo, ou a perna direita mais que a esquerda. Seriamos como
aleijões. Qualquer grupo de células que se desenvolvem fora da harmonia, necessária à nosso
metabolismo, criam um câncer.
O ideal seria uma Ordem harmonizada e dedicada a evolução espiritual (o material virá depois) do
país a que pertence. Duvido muito que a O.T.O. , como atualmente se apresenta, seja esta ordem.
Primeiro os teus, Mateus.
Nada existe de errado com o patriotismo. O que existe de errado, de deprimente é aceitarmos de
cabeças baixas e subservientes a ameaças de sermos inspecionados por ‘inspetores gerais’ enviados
por um “líder” que não possui a mínima consideração por nosso país.
Se temos realmente vocação iniciática devemos nos esforçar por ver as coisas tal qual elas são, em
vez de como a esperteza das elites, ou a inércia e a covardia internas, ou as palavras viciosas dos
que não amam seu país, gostariam de nos forçar vê-las.

Aster

P.S. Complementando minhas observações a respeito da situação da mulher na ordem, indico aos
interessados a leitura de Liber Aleph, Epístolas 82 e 133.

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