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DE 

PALESTRA A CRUZEIRO

EDIÇÃO 
EDIÇÃO
DE PALESTRA A CRUZEIRO
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DE PALESTRA A CRUZEIRO

BELO HORIZONTE  

2022 

EDIÇÃO  
2
_ D E PA L E S T R A A C R U Z E I R O _

A P R E S E N TA Ç Ã O
Superação.  Se  fosse  preciso  escolher  uma  palavra  
para  resumir  os  100  anos  desse  Clube,  essa  seria  a  
mais apropriada. Desde 1921, quando fomos fundados  
por  imigrantes  italianos  e  defendíamos  a  camisa  
tricolor do Palestra Itália, nossa trajetória foi marcada  
pela resiliência, por conseguir superar toda sorte de  
obstáculos e seguir em frente, dentro e fora de campo. 

Nos corredores do Barro Preto, em décadas passadas,  
alguns  dirigentes  cogitaram  acabar  com  o  futebol  
profissional. Em épocas recentes, apostaram que o
Cruzeiro não teria como seguir em frente. Em todas
elas, o Clube azul celeste se reinventou. 

No Centenário, uma realidade muito delicada estava  
posta.  Porém,  com  muito  empenho  de  grandes  
cruzeirenses,  conseguimos,  novamente,  mudar  o  
rumo dessa instituição, criando a primeira Sociedade  
Anônima  do  Futebol  do  Brasil.  Renascemos,  mais  
uma vez. E um dos nossos maiores ídolos e cria da
Toca  ­  Ronado  Nazário,  o  Fenômeno  ­  aceitou  o  
desafio de assumir a SAF.

Este livro é um registro definitivo de todo esse


legado,  de  todas  as  lutas  e  glórias  que  nesses  100 
anos nos trouxeram até aqui. De Palestra a Cruzeiro 
traz fatos, relatos, curiosidades e imagens preciosas 
sobre  o  maior  vencedor  de  Minas  Gerais  e  um  dos 
maiores clubes do Brasil e do mundo. 

É um orgulho enorme ter nascido Cruzeirense e ter 
me  tornado  presidente  do  clube.  Maior  ainda  ter 
sido  testemunha  de  tantos  títulos  inesquecíveis  e 
presenciado dezenas de craques e ídolos em campo. 
Este livro nos lembra desse privilégio. Agradeço a
todos os jornalistas e profissionais que fizeram o
resgate,  reunindo  e  contando  esta  linda  história. 
Que nossas cinco estrelas brilhem cada vez mais! 

SÉRGIO SANTOS RODRIGUES 
Presidente
junho­2020 | dezembro­2023 
HOMENAGEM
De Palestra a Cruzeiro: 
exposição  aos  cruzeirenses  do  futuro  sobre  a  grandeza  de  um 
um duplo centenário  clube  que  nasceu  dos  braços  e  dos  pés  de  imigrantes  italianos 
e de seus filhos, pessoas que atravessaram o Oceano Atlântico
O  Cruzeiro  acabara  de  se  tornar  bicampeão  da  Copa  Liberta­ para viver uma terra prometida. Foram os operários da constru­
dores, em 1997. Plínio Barreto, meu pai, foi intimado a escrever   ção  civil,  os  policiais,  os  motoristas  e  motorneiros  de  bonde,  os 
a história do clube e me fez o convite para ajudá­lo nessa mis­ artesãos  dos  macarrões  e  das  padarias,  que,  aqui  chegando,  se 
são.  Foram  mais  de  dois  anos  de  entrevistas  com  dirigentes  e   transformaram na principal mão de obra da então jovem capital 
ex­atletas;  uma  vasta  pesquisa  em  arquivos  de  Minas  Gerais  e   de Minas Gerais. 
viagens a Gênova e a Roma, na Itália, para mostrar a realidade  
dos fatos que envolviam o Cruzeiro e seu nascedouro, como So­ O livro “De Palestra a  O torcedor do século XXI, ao se deparar com a história do Cruzei­
Cruzeiro”  na sua primeira 
cietà Sportiva Palestra Italia. O livro “De Palestra a Cruzeiro” foi   edição, em 2000,  escrito  ro, vai entrar no túnel do tempo e poderá comprovar que o seu 
por Plínio Barreto e 
lançado no ano de 2000.   Luiz Otávio Tropia Barreto. 
time  sempre  dividiu  as  preferências  dos  apaixonados  pelo  fute­
bol,  em  igualdade  de  condições  até  a  década  de  1970,  quando, 
Desde então, continuamos como um papa­títulos. Por isso mes­ O jornalista, cronista e escritor  enfim, nós, palestrinos/cruzeirenses, nos tornamos a maior tor­
Plínio Barreto foi o maior 
mo,  havia  muito  para  se  contar  de  uma  história  que  nunca  terá  pesquisador da história do  cida de Minas Gerais, bem à frente da segunda força do Estado.
um final. Veio o convite do Instituto Palestra Italia e do Cruzeiro Palestra/Cruzeiro. 

Esporte Clube para nos debruçarmos em uma segunda edição, na O Cruzeiro é gigante. Nasceu de uma manifestação de jovens que 


releitura da obra.  queriam  um  time  que  representasse  a  colônia  italiana  de  Belo 
Horizonte,  cresceu  no  Barro  Preto,  bairro  operário  da  capital,  e 
A tarefa colocada se tornava de peso, já que estaríamos homena­ se  converteu  em  uma  marca  reconhecida  internacionalmente  e 
geando não somente a passagem dos 100 anos de existência de  que,  agora,  partindo  para  escrever  outros  100  anos  de  história, 
um gigante do futebol brasileiro, como também o centenário de  se transforma em uma sociedade anônima do futebol, cuja maior 
Plínio Barreto, o maior jornalista, cronista e pesquisador do fute­ força é a paixão do seu torcedor. 
bol palestrino/cruzeirense. 
O grande idealizador dessa obra não está mais conosco, mas, bem 
A empreitada de agora não teria mais a presença física, a orienta­ sabemos, está feliz, com aquele sorriso que sempre o caracteri­
ção e o conhecimento de meu pai, que fez sua viagem derradeira  zou,  torcendo  para  que  os  novos rumos do Cruzeiro continuem 
em outubro de 2015. Mas pude contar com as letras, as memórias  engrandecendo  essa  história  escrita  com  lágrimas,  com  suor,  e, 
e a paixão cruzeirense dos jornalistas Gustavo Nolasco e Marco  também, com alegria, certo de que mais glórias virão, colecionan­
Antônio Astoni.  do títulos e, principalmente, mostrando, dentro de campo, um fu­
tebol arte rápido, rasteiro e fenomenal. “De Palestra a Cruzeiro”, 
A cada capítulo reescrito, sentia o calor na pele, provocado – te­ nessa sua edição do Centenário, novamente o livro oficial dessa
nho absoluta certeza – pela presença do meu pai. A história que  instituição, é, acima de tudo, uma homenagem ao maior divulga­
contamos agora, nessa homenagem aos 100 anos de vida, é uma  dor da história cruzeirense, o inesquecível Plínio Barreto. 

 LUIZ OTÁVIO TROPIA BARRETO 
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MARCUS VINÍCIUS TROPIA BARRETO e LUIZ OTÁVIO TROPIA BARRETO, 
filhos de Plínio Barreto.
P R E FÁ C I O
“O  Palestra  era  a  agremiação  dos  que  arrega­ Ao legado deixado por Plínio Barreto e por seu 
Plínio Barreto,  Na  adolescência,  tornou­se  um  dos  primeiros 
gandulas do estadinho do Barro Preto, ficando çavam as mangas nas indústrias da panificação, filho Luiz Otávio – também coautor desta nova

um patrimônio  atrás da meta defendida pelos arqueiros Geraldo 
Cantini e Catalano durante os treinamentos. De 
nos andaimes das construções civis, nas oficinas
de calçados, nas serrarias, nas marcenarias e nas
edição,  pudemos  acrescentar  outros  detalhes, 
como, por exemplo, o registro do primeiro esta­

palestrino e  moleque, Plínio foi a rapazote. O Palestra passou 
a  dividir  seu  coração  com  uma  moça  chamada 
serralherias, na condução de carroças. Onde hou­
vesse um setor cuja mão de obra – especializada
tuto do Palestra Italia, de 28 de janeiro de 1921, 
que  já  se  colocava  como  uma  agremiação  des­

cruzeirense  Elim. Enamoram-se e, um dia, ao vê-la no balcão


da oficina de Antônio, o moço descobriu: o amor
ou não – fazia-se necessária, lá estava um pales­
trino – italianos e brasileiros – colaborando com
tinada  ao  “cultivo do espírito associativo entre
italianos, brasileiros e outras nacionalidades”, 
da sua vida era a filha do sapateiro. o seu trabalho para o progresso da nova capital. referindo­se  às  atividades  físicas  e  ao  futebol. 
  Lado a lado, clube e cidade caminhavam rumo ao Ao contrário de outros clubes da elite belo­hori­
Chapéu na cabeça. Malas e ferramentas nas mãos.   progresso. Lado a lado, arregaçavam as mangas”. zontina, o time fundado por imigrantes italianos, 
Nesse  mesmo  tempo,  não  se  sabe  se  por  con­
Vindo de Ouro Preto, Antônio Tropia chegou a por operários, por jogadores e pela sua torcida 
fiança ou pelo jeito palestrino de pedir e ofere­
Belo Horizonte. Era 1919. Parou na esquina da rua Não existe uma obra literária, cinematográfica nascia para ser de todas e de todos. 
cer ajuda, coube a Plínio a função de estender a 
da Bahia com a avenida Paraopeba (hoje, Augus­ ou  jornalística  –  de  boa­fé  ­  sobre  os  primór­
mão. Em dia de treino ou de jogo, Dona Rosa, “a
to de Lima), no Barro Preto, um dos bairros popu­ dios do Palestra/Cruzeiro que não tenha bebido  Também visitamos novos acervos fotográficos
senhora do macarrão”, vivia a ansiedade de seu 
lares e periféricos para onde a oligarquia da nova   nesse  clássico  da  literatura  do  futebol  brasilei­ particulares e de veículos de imprensa, como os 
pequeno filho Felício por descer correndo até o
capital empurrava imigrantes e operários.  ro. Assim como também nas fichas técnicas de Diários  Associados.  Buscamos  crônicas  escritas 
campo do Barro Preto. Ela, então, mandava cha­
  partidas cuidadosamente catalogadas em livros  pelo  próprio  Plínio  Barreto.  Introduzimos  tre­
mar Plínio. Só confiava a ele a tutoria da marcha
A  pequena  casa  geminada  abrigou  a  família  e  e deixadas pelo amigo de Plínio e ex­zagueiro do  chos de obras cinematográficas e/ou jornalísti­
ao estadinho. 
a oficina. Por entre moldes e tiras de couro, o Palestra Italia e do Cruzeiro, Azevedo. Ou mes­ cas por meio das novas tecnologias da informa­
sapateiro participava ativamente do burburinho  mo no acervo histórico do próprio clube, por dé­ ção, como os QR Codes. Mesmo com esse longo 
A diferença de seis anos não impedia a resenha 
que tomava conta da comunidade italiana na ci­ cadas sob a tutela da guardiã de nossas histórias  e meticuloso trabalho, lacunas surgirão e, com o 
entre os dois jovens pelo caminho. A defesa do 
dade. Crescia o desejo de se criar um clube para  e taças, a arquivista Joanita Silva.  tempo, uma nova edição precisará ser construí­
jogar futebol e torcer por ele. Dois anos depois,  goleiro Geraldo II, o gol de Niginho, o drible de 
da, pois muitos dramas e conquistas do Cruzeiro 
em 2 de janeiro de 1921, Antônio celebrava a fun­ Alcides...  Na  companhia  de  Plínio,  os  olhos  de 
Por tudo isso, “De Palestra a Cruzeiro”, publica­ ainda estão por vir. 
dação da Società Sportiva Palestra Italia.  Felício brilhavam como estrelas, de tanta paixão 
do no ano 2000, tornou­se o livro sagrado desse 
por um time. 
time fundado por sua torcida, da qual Plínio Bar­ Ao  passar  pelas  próximas  páginas  desta  obra,  
Tornou­se palestrino fervoroso. Um dos primei­ reto fez parte até falecer, no dia 25 de outubro  a leitora e o leitor farão uma viagem no tempo;  
ros sócios do clube. Doava­lhe tudo. De dinheiro  Foi  assim,  do  simples  ato  de  fazer  o  bem  pelo 
de 2015. Por seu significado, a obra carecia ser um  mergulho  nos  episódios  de  superações  do  
a trabalho. Nos treinos, compunha o time reserva  time do coração, que o sapateiro Antônio Tropia 
atualizada  e  sistematicamente  entregue  a  cada  único grande clube de origem operária de Belo  
para dar tarimba ao escrete titular. Na sua posi­ ajudou a forjar o maior jornalista, cronista e pes­
novo atleta, funcionário ou torcedor, dando­lhes  Horizonte;  um  voo  às  estrelas  e  aos  títulos  de  
ção, o Palestra contava com Ricardo Pieri Chiari,  quisador da história do Palestra/Cruzeiro, Plínio 
a  obrigação  primeira  de  conhecer  a  história  do  um multicampeão, e tomará um banho de poe­
o genial Piorra. Barreto. Esse, por sua vez, foi o companheiro do
mais popular e amado clube de Minas Gerais, o  sia nas mais lindas páginas heroicas e imortais  
fervilhar do coração estrelado de Felício Brandi, 
Time do Povo Mineiro.  traçadas por um time de futebol no mundo.  
Anos depois, o estadinho do Barro Preto ficava o maior presidente do clube.
lotado  em  todas  as  pelejas.  Já  se  praticava  fu­ Essa releitura do “De  Palestra  a  Cruzeiro”,   na  Ao sapateiro palestrino Antônio Tropia, ao mes­
tebol  e  o  hábito  ítalo­brasileiro  de  estender  as  Um sapateiro, um cronista e um dirigente. Hom­
sua edição de Centenário (do clube e do nasci­ tre imortal Plínio Barreto e aos outros milhões de 
mãos. Os sócios tinham o direito de entrar com  bridade  para  oferecer  ajuda  e  dignidade  para 
mento de Plínio Barreto), é uma iniciativa do Ins­ cruzeirenses espalhados pelo mundo e pelas es­
duas crianças vindas de famílias sem condições  pedi­la. Na sua obra prima e livro sagrado para 
tituto Palestra Itália e do Cruzeiro Esporte Clube. trelas, como a maior torcedora do mundo, Maria 
de  pagar  os  ingressos.  Antônio  sempre  dava  a  qualquer cruzeirense ou amante do futebol, “De 
Do  sonho  à  realidade,  materializada  aqui,  fruto  Salomé da Silva, dedicamos esta obra. 
sua oportunidade a um garotinho chamado Plí­ Palestra a Cruzeiro”, escrita em parceria com o 
do trabalho de um grande time de profissionais
nio. O menino não perdia nenhum treino do Pa­ filho Luiz Otávio Tropia Barreto (jornalista, pes­
e de voluntários, cuja máxima criada pela própria 
lestra e, aos domingos, seu coração disparava na  quisador e ex­gandula, assim como o pai), Plínio 
torcida  cruzeirense  foi  a  regra  da  concepção  à 
beira do campo, ao chegar pertinho de seu pri­ descreveu, assim, esse tipo de gente: destinação dos exemplares: “Para o Cruzeiro,
meiro ídolo, o atacante Niginho Fantoni.  tudo. Do Cruzeiro, nada”. 

GUSTAVO NOLASCO 
SUMÁRIO 1
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1

O NTEM, HOJE, SEMPRE GIGANTE. CRUZEIRO


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0
2
1

CENTENÁRIO.

1893_1920 _ 1921_1930 _ 1931_1940 _ 1941_1950 _ 1951_1960 _ 1961_1970 1971_1980 _ 1981_1990 _ 1991_2000 _ 2001_2010 _ 2011_2022

12 26 50 70 100 122 162 184 196 222 240


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Nasce uma cidade, um povo, 
um esporte e a paixão que  As primeiras partidas no Rio de Janeiro foram entre o time de Oscar Cox e outro formado 
por jogadores do Rio Cricket. Cox foi, também, um dos líderes no trabalho de fundação do 
iria unir todos eles  Fluminense Futebol Clube, o tricolor das Laranjeiras (1902). 

A última década do século XIX foi o palco de uma confluência extraordinária entre uma Belo Horizonte teria o seu Charles Muller, o seu Oscar Cox, na pessoa do desportista ca­
cidade a nascer, um povo a se formar e um esporte a se importar da Europa. Desse en­ rioca Victor Serpa. Em 1904, ele chegou à então jovem capital mineira para ingressar na
contro, cresceu um desejo. Esse, por sua vez, gerou uma paixão, que se transformaria Escola Livre de Direito. Filho de uma família bem situada economicamente, Victor Serpa
em um dos maiores patrimônios históricos, culturais e sociais de Minas Gerais: o Cruzeiro estudara na Suíça, onde aprendera a gostar do futebol. A paixão dele pelo esporte conta­
Esporte Clube. giou alguns jovens da elite de Belo Horizonte - acadêmicos, filhos de comerciantes e de
altos funcionários públicos. O resultado foi a criação do Sport Club, o primeiro time de fu­
Tudo começa em 1893, quando o então presidente de Minas Gerais, Afonso Pena, encomen­ tebol da capital das Alterosas. 
da um estudo técnico para a construção de uma nova capital para o Estado, substituindo
a cidade de Ouro Preto. Após relatórios da equipe do engenheiro Aarão Reis e votações  Os treinos iniciais do Sport Club aconteceram em um campo improvisado, localizado entre 
entre políticos, em 17 de dezembro daquele ano um decreto foi baixado, determinando a  a Rua Sapucaí e a Estação da Central do Brasil, no Bairro da Floresta. Ali, no dia 3 de outu­
localidade de Curral Del Rei como o território onde seria erguida a nova sede do governo.  bro de 1904, foi realizado o primeiro jogo oficial do Sport Club.

O início das obras da nova capital de Minas Gerais provocou um fluxo de trabalhadores,
principalmente de negros ex-escravizados e de italianos. Esses últimos, vindos como imi­
grantes diretamente da Europa, chegaram após passarem por outros estados do país ou Praça da Estação
por lavouras de outras cidades mineiras. Foram dos negros e dos italianos os braços que  Por ela chegaram os imigrantes italianos, que se juntaram aos ex­escravizados, para construir Belo Horizonte. 

construíram Belo Horizonte, inaugurada em 1897, de forma inacabada. 

Pouco antes disso, um fato: pesquisadores citam 1894 como sendo o ano da introdução oficial
do futebol no Brasil. O responsável por esse feito foi Charles Muller, filho de pai inglês e de
mãe brasileira - natural de São Paulo, nascido no bairro do Brás, em 1874. Depois de concluir
o ensino primário, foi estudar em Southampton, na Inglaterra. Ali, ficou até 1894, onde conhe­
ceu de perto a prática do futebol. Jogava como centroavante e chegou a comandar o ataque  
de uma seleção do condado de Hampshire contra o então já famoso Corinthians de Londres.  

De volta ao Brasil naquele mesmo ano, Charles Muller trouxe consigo duas bolas. Estava
disposto a introduzir, no Brasil, de forma oficial, a prática do foot-ball association. 

Ainda de acordo com historiadores, o resultado da novidade apresentada pelo 
moço do Brás surtiu efeito em 1900. Naquele ano, surgiram vários clubes pau­
listas dispostos a adotar as regras futebolísticas introduzidas por Muller. 

Outro registro histórico esclarece que o futebol surgiu no Rio de Janeiro, então  
capital da República, no início da primeira década do século XX. O Charles Muller  
carioca foi Oscar Cox. Ele também passou por uma temporada de estudos na Eu­
ropa, mais precisamente na Suíça, e trouxe material esportivo para jogar futebol.  
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O adversário foi um time formado por Oscar Americano. A partida terminou  A febre pelo futebol havia se espalhado pela cidade. 
com a vitória do Sport Club, por 2 a 1, com gols de José Mariano de Sales e  Surgiram  outros  times  no  mesmo  ano  da  morte  de 
Victor Serpa, contra um gol de Joaquim Brasil para os desafiantes. Arthur Haas Victor Serpa: o Estrada, o Brasil, o Yale, o Juvenil e
foi o árbitro da partida.  o Viserpa, em homenagem ao introdutor do futebol
em Belo Horizonte. Todos eles tiveram vida curta (a 
O novo esporte começou a fazer sucesso em Belo Horizonte, e logo surgiram  não ser o Yale, que sobreviveu até 1925, no bairro
outros times. O Plínio ­ fundado por estudantes de Direito – e o Club Athletico  operário  e  fabril  do  Barro  Preto).  Nesse  período,  a 
Mineiro (não o atual), formado por estudantes do Ginásio Mineiro.  elite rica, a oligarquia e o alto escalão do funcionalis­
mo público da nova capital também formaram seus 
Os três clubes resolveram criar uma associação para organizar campeonatos.  clubes em bairros mais abastados da cidade, como 
Tudo isso em 1904. Os jogadores do Sport, como eram muitos, dividiram-se o de Santa Efigênia e o de Lourdes. Dessas castas,
em dois times: o Vespúcio e o Colombo. O Athletico se desmembrou também: nasceram o América e o Atlético ­ que, anos depois, 
o primeiro time ficou com o mesmo nome, e o segundo com o de Mineiro. O se fundiria ao Hygienicos. 
Plínio resolveu disputar o campeonato com apenas uma equipe. 
Somente  em  1921  surgiria,  entre  operários,  jogado­
res,  pequenos  comerciantes  e  imigrantes  italianos, 
no Barro Preto, o clube mineiro de futebol que hoje 
detém os mais expressivos títulos nacionais e inter­
nacionais. Uma glória esportiva das Minas Gerais. Ele,
que nasceu Palestra, hoje é Cruzeiro. 

*** 

Para  conhecer  melhor  a  história  do  Palestra,  é  ne­


cessário acionar a máquina do tempo, voltar aos pri­
meiros anos de Belo Horizonte e falar da colonização 
italiana em nossas terras. 

Um  registro  que  vale  ressaltar  é  o  da  propaganda 


mantida pelo governo de Minas para incentivar a imi­
gração, juntamente com o agente Alessandro D’Atri, 
nos jornais Il Secolo, de Milão; Caffaro e Il Secolo XIX, 
de Genova; Il Paese, La Discussione e Mattino de Na­
poli, de Nápoles, na divulgação da oferta de trabalho 
em Belo Horizonte e na doação de terras. O sucesso 
não  se  fez  esperar,  e  a  nova  capital  chegou  a  con­
tar, em certa época, com a maioria de peninsulares 
Essa competição teve disputa efêmera. Logo que chegaram as férias, todos no seu contexto populacional. Houve casos ­ como o 
os estudantes viajaram e não houve decisão do campeonato. Victor Serpa foi exemplo colhido no jornal Il Secolo XIX, informando 
para o Rio de Janeiro com a família e nunca mais voltou a Belo Horizonte. Ele que todo um povoado (paeso) de Campignano tro­
faleceu, prematuramente, em 1905.  cou a província de Lucca por Belo Horizonte. Cento e 
dez pessoas, entre elas um padre de nome Marchetti. 
Acima: O Sport Club, primeiro time de futebol de Belo Horizonte.

Ao lado: Cartaz e notícia de jornal relatando e incentivando a imigração italiana para o Brasil.
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Eram os Miraglia, os Costa, Savassi, Ranieri, Falci, Gaetani, Ferreti, Magnavacca, Peluso, Pe­
razzo Nocchi, Spitalli, Martini, Moterani, Bossi, Lambertucci, Rossi, Tropia, Volpini, Volponi,
Lodi, Vanucci, Trota, Scalabrini, Terlizi, Mancini, Sachetto, Calicchio, Marquesotti, Marcheti,
Impronta, Marota, Purri, Baroni, Brandi, Tamieto, Grecco, Triginelli, Viola, Marteletti, Cantini,
Rizzo, Fantoni, Fantini, Pieri, Fratezzi, Riccio, Ruffolo, Piancastelli, Morandi, Ceschiatti, Gros­
so, Luciola, Gallo, Pianetti, Vone, Perrella, Vanni, Pelegrini, Gasparini, Protta, Zolini, Armanelli,
Morici,  Pampolini,  Izoni,  De  Paoli,  Perozzi,  Abramo,  Amantea,  Belizario,  Bagno,  Boscarejo,  
Chiarei, Ferri, Granida, Garimpei, Gatona, Plantei, Bonomia, Silvestrini, Saco, Taranto, Tena­
glia, Prosdocimi e tantos outros ítalos natos e oriundi. Citar todos seria um nunca acabar. 

Acima: Cartaz de companhia de navegação que fazia o traslado de imigrantes italianos para o Brasil.

Ao lado: Anúncios de lojas da comunidade italiana em jornais e revistas de Belo Horizonte.


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Até hoje, podemos sentir a contribuição dada pelo povo da península à cidade. As marcas 
estão nas padarias, nas velhas construções, no comércio, na indústria e nos grandes pré­
dios públicos do final do século XIX e do início do século XX. Os italianos trouxeram a de­
dicação à agricultura, a exaltação da nonna e da mamma, os prazeres por uma mesa farta, 
a alegria de viver, o jeito característico de falar e de discutir, sempre em bom som e repleto 
de gestos com as mãos – o italiano interpreta o que fala. Eles ajudaram no surgimento de
Belo Horizonte com os braços dos operários da construção civil, com as mãos dos arte­
sãos, com a inteligência dos arquitetos e com o bom gosto pela música. 

Tão identificados ficaram os italianos com Belo Horizonte e, por extensão, com o Estado,
que  até  mesmo  o  hino  popular  Oh!  Minas  Gerais!  originou­se  de  uma  conhecida  música 
napolitana composta por Aniello Califano: Vieni Sul Mare. 

Praça da Liberdade em 1921 e em 2021. Construída para ser o centro do Governo de Minas 
Gerais, teve seus prédios construídos pelas mãos dos imigrantes italianos. 

Acima:
Casamento de Joana Chiari e Piorra 
Pieri, no Barro Preto, bairro operário 
de Belo Horizonte, que seria a futura 
casa do Palestra/Cruzeiro. 

Ao lado:
Jogadores de bocha, entre eles, 
fundadores do Palestra Italia, nos 
primórdios da cidade de Belo 
Horizonte. Esporte muito popular
dentro da comunidade italiana que é 
praticado, até os tempos atuais, no 
Cruzeiro Esporte Clube.
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Em Belo Horizonte, a primeira colônia a se mobilizar para criar
um clube que a representasse foi, justamente, a italiana. Em 1907,
fundou  o  Americano  Foot  Ball  Club.  O  acesso  ao  novo  time  não 
estava restrito aos italianos ­ os brasileiros também podiam jogar, 
desde  que  demonstrassem  habilidade  com  a  bola.  O  campo  do 
Americano se localizava onde hoje está o Edifício JK. Sua existên­
cia, porém, foi curta, desaparecendo em pouco menos de um ano. 

Em 1908, em Nova Lima, foi a vez de os ingleses criarem dois clu­


bes: o Villa Nova e o Morro Velho. Seus jogadores eram formados,
principalmente, pelos operários da mina existente na cidade vizi­
nha de Belo Horizonte. 

Em 24 de agosto de 1914, a colônia italiana de São Paulo apresen­


tava  a  Società  Sportiva  Palestra  Italia.  Isso  causou  sensação  nos 
italianos da capital mineira. No mesmo ano, a prefeitura inaugurou 
o primeiro estádio de futebol de Belo Horizonte: era o Hipódromo
do Prado Mineiro, onde, atualmente, estão instaladas diversas divi­
sões da Polícia Militar de Minas Gerais ­ inclusive o seu Regimento  Acima:
Hipódromo do Prado Mineiro, estádio onde o Palestra Italia fez seu primeiro jogo, em 1921. 
de Cavalaria. 
Abaixo:
Atualmente, o espaço pertence à Polícia Militar de Minas Gerais. 
O futebol ganhava impulso e, em janeiro de 1915, foi criada a Liga 
Mineira  de  Sports  Athleticos  (LMSA).  Anos  depois,  ela  se  trans­
formaria na Liga Mineira de Desportos Terrestres (LMDT). Quase 
dois anos mais tarde, em dezembro de 1916, os italianos de Belo 
Horizonte pediram licença à Liga e formaram uma seleção somen­
te com jogadores de origem italiana. A seleção levou o nome de 
Scratch Italiano e venceu vários amistosos. Foi a segunda tentati­
va da colônia na criação de um clube próprio na cidade. 

Em 1917, os portugueses da capital mineira fundaram o Lusitano


Foot Ball Club, e passaram a disputar o campeonato da cidade. O 
momento para a criação de um clube próprio da colônia italiana 
não podia mais esperar. A insatisfação era grande e, em 1918, anun­
ciava­se a fundação do Palestra Brazil, mas a ideia não foi adiante. 
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A presença de filhos de famílias italianas era marcante em quase todos os clu­
bes de Belo Horizonte. Mas era, sobretudo, no Yale que estava a preferência da
colônia naquele instante. O campo do Yale localizava-se no Barro Preto, onde
1 8 9 3 _ 1 9 2 0 > FAT O S M A R C A N T E S
hoje está o Fórum Lafayette (na Avenida Augusto de Lima, então chamada de  
Paraopeba). Essa região periférica, ligada aos bairros Carlos Prates e Lagoinha,
formava o principal núcleo da colônia italiana na nova capital mineira. 
1904 
• Chega a Belo Horizonte o carioca Victor Serpa, que havia estudado na Suíça. De família
rica, Serpa tinha aprendido a jogar futebol na Europa e era um entusiasta do esporte. Ao
lado de outros jovens da capital mineira, criou o Sport Club, primeiro time da cidade. O 
Sport realizou sua primeira partida no dia 3 de outubro, em um campo improvisado no 
bairro da Floresta. 

1910 
• Fundação do Yale, primeiro clube de origem operária da cidade. O Yale tinha em seu qua­
dro vários jogadores italianos. Dele, 11 anos depois, saíram 16 atletas que fizeram parte do
primeiro plantel palestrino. 

1914 
 
 É construído o estádio do Prado Mineiro, onde também funcionava o hipódromo de Belo 
Horizonte. 

Balsamo, Nani Lazzarotti 
e Ricardoni, trio dianteiro  1916 
do Yale Club em 1920,
no campo do clube,   
 Um grupo de jogadores de origem italiana organizou uma equipe, que foi chamada de 
no Barro Preto. Nani  Scratch Italiano, para disputar dois amistosos em Belo Horizonte: empate em 2 a 2 com o
se transferiria para o 
Palestra Italia. Além de  Villa Nova e, já em março de 1917, derrota por 2 a 1 para o América.
marcar o primeiro gol 
da história do clube, 
também participou da 
construção do Estadinho
do Barro Preto. 
1920 
Apesar de os jovens da colônia italiana estarem espalhados por diversos clu­  
 No  mês  de  dezembro,  o  Consulado  da  Itália  em  Belo  Horizonte  apoia  a  criação  de  um 
bes, fossem eles os das periferias de Belo Horizonte, como o próprio Yale, e clube para representar a colônia italiana da cidade. Alguns jogadores do Scratch Italiano 
outros tantos de regiões como a da Lagoinha, e até mesmo nos das elites,  que costumavam se reunir na loja da família Ranieri, na rua dos Caetés, unem­se aos ir­
o primeiro título do Palestra de São Paulo, em 1920, acelerou o incendiar de  mãos Aurélio e Aureliano Noce. O encontro, na véspera do Natal, contou com mais de 100 
uma fagulha: a colônia italiana e os operários, ou seja, a maioria do povo da participantes. Ficou acordado que uma reunião para a fundação definitiva do clube seria
capital mineira iria criar um clube para chamar de seu.  realizada no dia 2 de janeiro do ano seguinte. 

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1921 _ 1930
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Società Sportiva Palestra Italia: uma 
escola elevada, por nós, consagrada 
A  Società Sportiva Palestra Italia nasceu  no  dia  2  de  ja­
neiro de 1921, como um clube do povo. Enquanto espor­
tistas ligados às tradicionais famílias mineiras se reuniam  
em torno dos dois grandes rivais regionais, o Palestra foi  
a  agremiação  daqueles  que  arregaçavam  as  mangas  na  
construção civil, nas indústrias da panificação, nas oficinas
de calçados, nas serrarias, no comércio de peças e na con­
dução do transporte, enfim, onde qualquer mão de obra
– especializada ou não – fosse exigida. Eram os italianos
que haviam deixado a Itália para construir a nova Capital  
de Minas Gerais, Belo Horizonte, e seus descendentes. 

O clube vestiu-se tricolor: verde, branco e vermelho.


Como  não  poderia  deixar  de  ser,  as  cores  da  Itália.  O 
escudo,  costurado  pelas  próprias  famílias  de  imigran­
tes, levava as iniciais do clube em verde sobre um fundo 
branco dentro de um losango - a figura do equilíbrio: 4
ângulos retos, 4 lados iguais, 4 pontos cardeais). A cami­
sa verde, anos depois, inspiraria o primeiro mascote do 
clube: o periquito.

No  dia  28  de  janeiro  de  1921,  foi  dada  a  entrada  do 
estatuto do Palestra no Cartório de Registro Civil de 
Pessoas Jurídicas de Belo Horizonte. Ele já anuncia­
va a chegada de um clube do povo: a agremiação
se destinava ao “cultivo do espírito associativo entre
italianos, brasileiros e outras nacionalidades”, referin­
do­se  às  atividades  físicas  e  ao  futebol.  Ao  contrá­
rio de outros clubes da elite belo­horizontina, o time 
fundado  por  imigrantes  italianos  nascia  para  ser  de 
todas e de todos. 

Ao lado: time da Società Sportiva Palestra Italia em sua primeira partida:


vitória por 2 a 0 sobre o Combinado Villa Nova/Palmeiras, em 1921.
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Com apenas um ano de vida, o Palestra já tinha o seu hino, composto em 
maio de 1922 por Arrigo Buzzachi e por Tolentino Miraglia. A letra mostrava 
o espírito olímpico do novo clube:
 
No campo da luta/ entramos contentes/ 
Escaneie para
sentindo frementes/as almas vibrar/  escutar uma 
e deste entusiasmo/ nos nasce a pujança/  versão do hino. >> 
na firme esperança/de sempre ganhar/
 
REFRÃO 
Que seja o Palestra/escola elevada por nós consagrada/
À força e ao valar (bis) 
 
Saindo do campo da nossa vitória/sabemos a glória no peito guardar/
Não vá nosso orgulho ferir, quem contente conosco valente soubera jogar
 
REFRÃO 
Que seja o Palestra escola elevada por nós consagrada à força e ao valor (bis)
Porque se de fato na luta renhida tão bela partida soubermos ganhar/
Não temos conosco razão que nos há de cortar a amizade e os ódios gerar.
 
(refrão com bis) 
 
E se, porventura, na luta perdermos é justo sabermos sorrindo calar/
Fazendo desporto não temos em mira nem ódio, nem ira/
Mas sim prosperar 
 
(Refrão com bis) 
 
E sejam as iras no peito guardadas, tremendas, sagradas se a pátria chamar/
E com a pujança do força educada, a pátria adorada  saibamos honrar. 

No mesmo ano, o clube já tinha comprado, da Prefeitura, um quarteirão in­
teiro, por cerca de 50 mil réis. A ideia era erguer o próprio estádio, no Barro 
Preto, que ficaria pronto naquele ano mesmo, depois que outros investi­
mentos totalizaram a marca de 28 mil réis. 
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A presença de diversos italianos com as habilidades da construção civil e da arquitetura 
marcou o sonho do estádio. Vários projetos foram doados por associados do clube, mas
os recursos escassos definiram por uma construção um pouco mais modesta - o que não
apagou a sua beleza e importância.

Time do Palestra Italia na inauguração do Estadinho


do Barro Preto, em 1945. Empate em 3 a 3 com o Flamengo.

O  Palestra  entrou  para  a  disputa  do  Campeonato  da  


Cidade  mostrando  sua  força  em  campo,  provocando  
embates memoráveis contra o América, até então so­
berano nas conquistas, e, ao mesmo tempo, registran­
A construção do Estadinho do Barro Preto, como ficaria carinhosamente conhecido, acon­ do a paixão de sua torcida. O Estadinho do Barro Preto
teceu graças às doações e ao trabalho de torcedores associados e até mesmo de jogado­ ficava sempre lotado para as partidas do time do povo.
res, como o mestre de obras e atacante Nani Lazzarotti. 
No campeonato de 1922, o Palestra conquista um feito 
Na inauguração do estádio, o adversário foi o Flamengo, que havia sido bicampeão carioca  inédito no futebol de Belo Horizonte. Ao chegar empa­
de 1920 e 1921. A partida foi marcada para o dia 23 de setembro, próximo à comemoração  tado em número de pontos com o América na última 
do dia nacional da Itália (20 de setembro). O time mineiro, que tinha sua linha de frente for­ rodada, o time provocou a disputa da primeira final
mada por Piorra, Nani, Heitor, Ninão e Armandinho (a sua grande arma), foi reforçado por  desde  1915.  O  clube  foi  derrotado  por  2  a  1,  mas  sua 
três atletas do Palestra Itália de São Paulo: o zagueiro Gasparini, o meio-campista Severino pujança se fazia sentir pelos adversários. 
e o atacante Heitor. O jogo foi equilibrado e terminou com o empate em 3 a 3, o que valeu   
Horizontina Miraglia, a primeira Rainha do Palestra. 
ao visitante a Taça XX de Settembre. Os gols da equipe mineira foram de Ninão (2) e Heitor, 
enquanto Benevenuto, Agenor e Mário anotaram para os cariocas. 
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Nesses primeiros anos de existência do Palestra Itália, além de América e Atlético, o Yale No retorno a Belo Horizonte, a Liga suspendeu o Palestra por 
também foi um dos seus principais rivais por diversas razões: por estarem no mesmo bair­ seis meses ­ o que excluía o time tricolor do campeonato da ci­
ro da cidade ­ o Barro Preto ­, pela migração de jogadores para o plantel palestrino e por  dade. A resposta dos dirigentes do Palestra foi imediata. Numa 
terem a mesma origem operária. O Yale acabou encerrando suas atividades em 1925, mas manobra  política,  o  clube  reuniu  outras  equipes  insatisfeitas 
os dois clubes promoveram grandes embates durante quase quatro anos.  com  a  entidade  e  criou  uma  nova  Liga  de  futebol  ­  a  Asso­
ciação Mineira de Esportes Terrestres – AMET. A organização
O destaque precoce do time nascido da colônia italiana e dos operários da cidade incomo­ surgiu com sete times: Palestra, Minas Gerais, Avante, Olimpic,
dou os poderosos. Fato marcante no início das atividades do Palestra foi a má vontade dos  Fluminense, Grêmio Ludopédio e Santa Cruz. Já a LMDT ficou
dirigentes da Liga Mineira para com o clube. Em abril de 1926, uma equipe de Caçapava, com seis clubes: América, Atlético, Sete de Setembro, Gua­
interior de São Paulo, de nome Caçapavense, excursionou a Belo Horizonte e venceu amis­ rany, Sírio Horizontino e Calafate. 
tosos contra os três grandes da capital mineira. Dirigentes do Palestra e do clube paulista 
fizeram contato e acertaram jogos em Caçapava. A atitude do Palestra surpreendeu a Liga Mineira, que endure­
ceu e ameaçou o Palestra de expulsão. A diretoria palestrina 
O convite do clube paulista ao Palestra deixou dirigentes rivais com ciúme e, como eles  não se intimidou e filiou a AMET à Confederação Brasileira de
dominavam a Liga, vetaram a viagem do Palestra, alegando que a ausência do time do Bar­ Desportos (CBD). Belo Horizonte passou a ter duas entidades 
ro Preto iria atrasar o início do campeonato. Os palestrinos não aceitaram a interferência  oficiais responsáveis pela organização de competições do fu­
autoritária da Liga, e o time viajou para São Paulo.  tebol. O dissídio perdurou e, em agosto de 1926, a LMTD cas­
sou o registro do Palestra. 

A AMET contra-atacou e organizou um calendário próprio para o ano: Torneio Início, Tor­
neio da Boa­Imprensa e o Campeonato da Cidade. O Palestra venceria todos eles. 

A base do Palestra no seu primeiro ano de multicampeão foi formada por Carvalho, Rizzo e 
Para­raios; Cicarelli, Porfírio e Nininho; Piorra, Bidim, Ninão, Bengala e Armandinho. 

Ao final de 1926, Belo Horizonte conheceria então dois campeões: pela AMET, o Palestra,
e pela LMDT, o Atlético. As duas competições foram tratadas como oficiais pela imprensa
da capital. A entidade máxima do futebol brasileiro – a CBD – também reconheceu as duas 
equipes como campeãs daquele ano. 

A situação das duas entidades oficiais dirigindo o futebol de Belo Horizonte só foi definida
em 1927. As divisões no futebol brasileiro se acirraram. A AMET recebeu a adesão de outros
clubes da capital e de cidades vizinhas. Os jogos dos seus times começaram a ganhar mais  
público e interesse de cobertura da imprensa. Isso causou um furacão entre os dirigentes da  
LMDT. Por ironia do destino, exatamente os grandes rivais do Palestra, que haviam articulado  
para a sua expulsão em 1926, foram os mesmos a pressionarem a Liga Mineira a reintegrá­lo,  
assim como os demais clubes da AMET. A paz foi selada, com os direitos de todos os clubes
da AMET assegurados.

Ao lado: Jogos festivos no Estadinho do Barro Preto,


que contaram com a participação do Palestra Italia e do Yale Club.
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Uma das primeiras formações do Palestra Italia. O clube viria a conquistar o seu primeiro título em 1926. 
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Em 1927, o Palestra era considerado o conjunto mais


forte  da  capital.  América  e  Atlético  passaram  para 
a contraofensiva e usaram a influência que tinham
dentro dos poderes públicos da cidade e do Estado
para contratar jogadores. Jornais da época registra­
vam  o  oferecimento  de  empregos  na  rede  pública 
e residência em Belo Horizonte como contrapartida 
aos atletas almejados pelas duas equipes. 

Os  palestrinos  entenderam  que  precisavam  tomar 


uma atitude em relação a esses fatos. Quatro joga­
dores  do  Palestra  de  São  Paulo  foram  contratados 
em troca de empregos oferecidos no comércio e na 
indústria de sócios do Palestra. Chegaram Morganti,  Uma das formações do Palestra Italia, que viria a ser tricampeão de 1928/1929/1930. 

Morgantinho, Carazzo e Osti. Para treinar o time, foi 
contratado  Matturio  Fabbi,  um  técnico  experiente, 
com passagens pelas seleções paulista e nacional. 

O  resultado  da  iniciativa  foi  a  formação  de  uma 


máquina de jogar futebol, uma academia. O triênio 
1928-29-30 ficaria marcado na história por um time
praticamente imbatível.  Matturio Fabbi foi o primeiro técnico 
contratado pelo Palestra Italia e esteve à 
frente do time tricampeão de 1928/1929/1930. 

O Palestra passou o campeonato de 1928 distribuindo goleadas: 14 a 0 e 8 a 1 sobre o Al­


ves Nogueira; 9 a 1 contra o Sete de Setembro; 6 a 4 em cima do América; 11 a 1 contra o
Palmeiras. Chegou a última rodada, disputada em janeiro de 1929: 6 a 1 sobre o Villa Nova.
Um empate do Atlético fez explodir a festa no Barro Preto. 

O título foi marcado por um recorde que perdura imbatível até os dias atuais. Ninão Fanto­
ni, primeiro ídolo da história do Palestra, foi o artilheiro do certame com 43 gols.

No ano seguinte, o Palestra se reforçou ainda mais. Formou­se o lendário “time­poesia”. 
Os Tricampeões em traje de gala. Em pé: Piorra, Ninão, Carazo, Bangala e Armandinho (ataque).
Sem perder ou empatar sequer uma partida, o time sagrou­se bicampeão, aplicando um 5  Meio: Nininho, Pires, Bento. Sentados: Rizzo, Geraldo Cantini e Nereu.
a 2 sobre o Atlético.   
A taça deveria ter ido para o Barro Preto de forma definitiva, mas isso não aconteceu. Ne­
O esquadrão comandado por Matturio Fabbi continuou jogando com arte. O Palestra não es­ garam ao Palestra o que lhe era de direito. Para compensar tamanho recalque dos rivais, 
banjava somente categoria. Era também um time vigoroso. No campeonato de 1930, foi der­ um sócio teve a feliz ideia de expor, na vitrine da sede do clube, a bola do último jogo da 
rubando seus oponentes um a um. O título do tricampeonato também veio de forma invicta.  campanha de 1929, com o placar assinalado: Palestra 5 x 2 Athletico. Pura poesia. 
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Belo Horizonte teve, a partir da década de 1920, o Abrigo de Bondes como o  
seu cartão-postal. Era o único na cidade, satisfazendo plenamente às exigên­
cias do progresso que chegava. Naquela mesma década, nascia o Palestra Itália. 

Situado  em  pleno  coração  da  cidade,  junto  ao  Parque  Municipal  e  à  Rua  da 
Bahia ­ já então sua principal artéria, o Abrigo de Bondes era o local preferido 
pela população. 

Durante todo o dia e grande parte da noite, ali fervilhava a gente belo­hori­
zontina. Eram políticos comentando os resquícios da Primeira Grande Guerra,
poetas discutindo rimas, meninas dos colégios e da Escola Normal chamando
a atenção de jovens conquistadores, esportistas procurando saber das últimas 
envolvendo o Atlético, o América e, notadamente, o Palestra, o mais novo e já 
o mais consagrado, partindo para um tricampeonato. 

Firme em seus alicerces, o Abrigo de Bondes parecia se orgulhar de ser o tea­
tro das manifestações políticas, culturais e esportivas. 

O Abrigo de Bondes já não existe mais, mas justiça seja feita: não houve car­
tão­postal mais sugestivo para uma cidade que vivia o seu primeiro quarto  
de século. 
 
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1 9 2 1 _ 1 9 3 0 > FAT O S M A R C A N T E S 1922 
 
 O clube compra, da prefeitura de Belo Horizonte, por 50 mil réis, um terreno na Avenida 
Paraopeba (hoje Augusto de Lima), no Barro Preto. No dia 2 de janeiro, data do primeiro 
aniversário do Palestra Itália, foi lançada a pedra fundamental de construção do estádio. 
1921  Jogadores, sócios do clube e torcedores foram os responsáveis pela obra do Estadinho  
• Fundação da Società Sportiva Palestra Italia, no dia 2 de janeiro. O evento oficial foi rea­ do Barro Preto. Antes da inauguração oficial, ele foi usado para jogos da Série B do Cam­
lizado na Casa de Itália, localizada na Rua Tamoios, centro de Belo Horizonte, e teve a  peonato  da  Cidade.  Para  essas  partidas,  não  era  preciso  ter  muros  nem  bilheterias.  O 
participação de 95 desportistas de origem italiana.  Palestra não constrói um estádio só para si, mas também para todo o futebol mineiro ­ o 
Estadinho passou a ser um dos campos de disputas oficiais da Liga Mineira.
 O estatuto do Palestra Itália de São Paulo, que havia sido solicitado pelos criadores do 
   
Palestra Mineiro, foi apresentado e aprovado como o estatuto do novo clube. Traduzido   
 Criação do Hino do Palestra Itália, em maio, de autoria de Arrigo Buzzacchi e Tolentino 
do italiano para o português, ele foi registrado no dia 28 de janeiro.  Miraglia. 

• A primeira diretoria do clube foi eleita no dia 23 de maio, com a seguinte formação:    
 No dia 12 de setembro, nasce Plínio Bossi Barreto, jornalista palestrino e cruzeirense, maior 
Aurélio Noce (presidente), Tolentino Miraglia (vice­presidente), Giuseppe Perona (pri­ cronista esportivo de Minas Gerais e mais importante pesquisador da história do Cruzeiro.  
meiro-secretário), J. B. Zolini (segundo-secretário), Hamleto Magnavacca (tesourei­
ro),  Aristóteles  Lodi  (segundo­tesoureiro)  e  Antônio  Falci  (administrador).  Fizeram    
 Pela primeira vez na história do Campeonato da Cidade, um time provoca a disputa de 
parte da primeira comissão de esportes do clube João Ranieri, Domingos Spagnuolo   uma partida final de desempate. Era o Palestra Itália. O jogo, que aconteceu no dia 5 de
e Antônio Pace.  novembro, terminou em 2 a 1 para o América. Time mais novo da cidade, o Palestra ficou
com o vice­campeonato estadual. 
• Primeiro jogo da história do Palestra Itália, no dia 3 de abril. Vitória por 2 a 0 sobre um
combinado do Villa Nova e do Palmeiras, no estádio Prado Mineiro. Nani (João Lazzarotti)
fez os dois primeiros gols do clube. O time jogou na formação WM, a mais usada na épo­
ca, e teve a seguinte escalação: Nullo, Polenta e Ciccio; Checchino, Américo e Bassi; Lino,
1923 
 
 Inauguração do Estadinho do Barro Preto. O primeiro jogo do novo palco palestrino foi 
Spartaco, Nani, Henriqueto e Armandinho. 
um pomposo amistoso contra o Flamengo, então bicampeão do Rio de Janeiro. O jogo 
 
terminou empatado por 3 a 3. O time carioca ficou com a Taça XX de Setembro, por ser
 No dia 17 de abril, também no Prado Mineiro, acontece o primeiro clássico contra o Atléti­
 
visitante (20 de setembro é o dia nacional da Itália). Nenhuma autoridade compareceu 
co ­ o Palestra venceu por 3 a 0, com dois gols de Atílio e um de Nani. O clube conquistou 
à inauguração do estádio ­ havia grande tensão entre imigrantes italianos e o governo 
o primeiro prêmio de sua história: a Medalha de Ouro da Associação Mineira de Cronistas
brasileiro, devido à organização de greves e de sindicatos. 
Desportivos (AMCD). 

• Vitória palestrina sobre o Morro Velho, time formado por ingleses que trabalhavam na
mina de Nova Lima, por 2 a 0, em 29 de maio. Mesmo sem disputar campeonatos oficiais, 1924 
a equipe do Morro Velho era considerada a mais forte de Minas Gerais. Tinha esse respei­  
 O Campeonato da Cidade foi esvaziado. Devido às exigências da Liga Mineira, Atlético, 
to por ser formada, em sua totalidade, por jogadores que já haviam atuado em clubes da  Guarany, Progresso, Sport Calafate, Lusitano, Ipanema e Cristóvão Colombo não dispu­
Inglaterra (que na época tinha o melhor futebol do mundo). Até então, a Grã­Bretanha  taram  a  competição.  Com  isso,  o  certame  contou  apenas  com  Palestra  Itália,  América, 
havia  conquistado  três  medalhas  de  ouro  em  cinco  edições  dos  Jogos  Olímpicos  (que  Yale, Sete de Setembro e Palmeiras. O título ficou com o América. O Palestra sagrou-se
tiveram o futebol dentre as modalidades disputadas). Nas Olimpíadas, a Inglaterra com­ vice­campeão. 
pete como Grã-Bretanha, ao lado de Escócia, do País de Gales e da Irlanda do Norte.
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1925   
 No dia 17 de junho, durante o Campeonato da Cidade, o Palestra Itália goleou o Alves No­
• Mais uma vez, o Campeonato da Cidade foi esvaziado. Dois clubes importantes, Yale e gueira por 14 a 0, na maior goleada da história do clube e da competição. Ninão Fantoni
Cristóvão Colombo, foram extintos antes do início da competição. Pouco depois, o Lusi­ fez 10 gols, outro recorde do clube e do futebol nacional. A marca de Ninão seria igualada 
tano também anunciou o fim de suas atividades. Além dessas dificuldades, a convocação em 1976, por Dadá Maravilha, em uma partida do Sport contra o Santo Amaro, pelo Cam­
da Seleção Mineira fez com que o campeonato fosse parado para a disputa do Brasileiro  peonato Pernambucano. 
de Seleções. 

• Em junho, após uma vitória por 2 a 1 sobre o Sport, de Juiz de Fora, o Palestra Itália ficou 1929 
com a Taça Aurélio Noce.  • A confirmação do título do campeonato do ano anterior veio no dia 6 de janeiro, com a
goleada de 6 a 1 sobre o Villa Nova e o empate por 3 a 3 do Atlético com o Alves Nogueira.
• O Palestra Itália, ao bater o Atlético por 5 a 3, ficou com a Taça XX de Setembro.
• Com 43 gols no certame de 1928, Ninão Fantoni é, até hoje, o maior artilheiro de uma só
edição do Campeonato Mineiro. Bengala, outro ídolo do clube, marcou 27 gols. 
1926 
   
 No dia 2 de maio, o Palestra Itália disputa a primeira partida de sua história fora de Minas   
 No dia 11 de outubro, o Palestra Itália disputou sua primeira partida no Rio de Janeiro, que 
Gerais: derrota por 2 a 1 para o Caçapavense, em Caçapava/SP. No dia seguinte, empa­ também foi seu primeiro jogo noturno. Derrota por 3 a 1 para o Vasco, em São Januário.
taria por 1 a 1 com a seleção da cidade paulista. As duas partidas foram usadas pela Liga 
Mineira de Desportos Terrestres (LMDT) para suspender o clube por seis meses, já que a   
 No dia 17 de novembro, o Palestra Itália goleia o Atlético por 5 a 2 e conquista o bicampeonato. 
viagem ao interior paulista não foi autorizada. 
• No dia 24 de novembro, o Palestra Itália vence o Sete de Setembro por 5 a 0, confirman­
• O Palestra Itália e outros seis clubes fundaram a Associação Mineira de Esportes Ter­ do a conquista de forma invicta. A campanha teve momentos marcantes e um festival de 
restres (AMET) e realizam diversos campeonatos - entre eles o Campeonato da Cidade. gols, como os 12 a 0 sobre o Alves Nogueira no turno e os 11 a 0 no returno; os 10 a 2 sobre 
O  Palestra  venceu  a  competição  de  forma  invicta.  É  o  primeiro  título  de  Campeonato   o Santa Cruz; os 8 a 0 sobre o Palmeiras e os 8 a 1 sobre o Guarany. 
Mineiro do clube. 
 

1930 
1927   
 No dia 10 de agosto, o Palestra vence o Sete de Setembro, por 8 a 0, e conquista o tri­
 
 Em maio, o Palestra é convidado a se reintegrar aos quadros da LMDT e tem todos os seus campeonato. 
feitos de 1926 reconhecidos. A Liga reconheceu o esforço do Palestra na organização de 
outra liga e de outro campeonato.  • A segunda conquista consecutiva de forma invicta foi confirmada no dia 31 de agosto,
com a vitória por 2 a 0 sobre o América. Mais uma vez, várias e implacáveis goleadas fo­
• O Palestra Itália contratou seu primeiro jogador: o meio-campista Osti, que pertencia ao ram aplicadas durante toda a competição. As vítimas foram o Palmeiras (11 a 0 no turno e  
Palestra Itália de São Paulo, hoje Palmeiras.  12 a 0 no returno), o Sete de Setembro (8 a 0), o Guarany (8 a 0) e o Sport Calafate (6 a 0). 
 

1928 
• O Palestra traz outros três jogadores do seu homônimo de São Paulo: Morganti, Morgan­
tinho e o espanhol Carazzo. 

 
 Matturio  Fabbi  foi  contratado  como  primeiro  treinador  do  Palestra  Itália.  Até  então,  as 
escalações da equipe eram decididas por uma comissão formada pelo capitão do time e 
pela diretoria do clube. 
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Da “fila” à glória: a academia
palestrina das superações 
Superar dificuldades sempre esteve no espírito dos imigrantes, dos
operários, do Palestra e se manteria, mais à frente, no do Cruzeiro. 
O período de 1931 a 1940 foi um desses longos calvários, para que,
transposto, levasse à merecida glória. 

A idade avançada de alguns atletas, a debandada dos ídolos para 
outros clubes do além montanhas de Minas Gerais e a chegada ­
em 1933 - do profissionalismo ao futebol brasileiro, com seus altos
custos, provocaram o desmonte da máquina palestrina, tricampeã 
de 1928, de 1929 e de 1930. 

Os primos Otávio Fantoni, o Nininho, e João Fantoni, o Ninão, fo­
ram as primeiras baixas. Gênios da bola e ídolos da torcida pales­
trina,  eles  foram  os  primeiros  atletas  nascidos  no  Brasil  a  serem  
cooptados pelas liras italianas. Logo no início de 1931, saíram da  
Academia do Barro Preto para jogar na Lazio, clube de Roma. Em
MELANCOLIA 
conversa com Plínio Barreto, o próprio Ninão relatou como se deu   Na tarde de Quinta­feira Santa a cidade   [...] A cada instante, mais gente. Parecia até
a  considerada  primeira  transação  internacional  de  um  clube  do   despediu­se de Nininho, o melhor  embarque do próprio Palestra.
futebol brasileiro: jogador brasileiro de sua posição.  ­ Nininho! Nininho! Nininho! 
Quinta-feira Santa. Quasi seis horas da tarde.
[...] Nininho! Os jogos da victória em que
Os torcedores do Palestra encheram a Esta­
ele nos deslumbrou. Os dias em que subiu
“No final de 1930, um Italiano de origem portuguesa, Raul Cam­ ção Central. Principalmente as torcedoras [...]
Escaneie para  de campo nos braços dos torcedores. Os
pos, assistiu a alguns jogos do Palestra e gostou do futebol do A resposta que a moça de vestido vermelho  
saber mais sobre  domingos em que o povo, dividido pela ri­
os Fantoni. >>  Nininho e do meu. Como nós éramos filhos de italianos, a entra­ deu ao namorado que a proibhiu ante-hon­
validade, aplaudiu e temeu a energia mara­
da no futebol de lá não seria difícil. Ele nos procurou e foi logo tem de ir à Estação Central foi esta: Nem que
vilhosa de Nininho.
perguntando se nós aceitaríamos uma proposta para ir jogar na  você pedisse hoje em casamento.
Itália. Fiquei assustado e respondi que dependia do financeiro. A Palmas. Hurras. Vivas. Nininho e Ninão, os
A Estação da Central enchendo-se. O dr. Lo­
dois cracks do Palestra, agradecem o último
princípio, desconfiei. A conversa do homem era de que ele era re­ renzo Nicolai, o nosso grande amigo Antônio
alvoroço da grande torcida de seu club. E o
presentante do filho do ditador Benito Mussolini e que, também, Falci, Antônio Scarpelli [...] A princípio eram
sorriso de cada um deles é um sorriso força­
era dirigente da Lazio. Eu e Nininho discutimos muito e fizemos realmente os sócios do Palestra que rodea­
do, o sorriso que todos usam para esconder
nossas exigências. Três meses depois, no início de 1931, já estáva­ vam Nininho na Estação. Mas os athleticanos
os nossos pesares principaes.
mos desembarcando no porto de Gênova com mulher e filhos”. foram chegando. Os americanos. Jogadores
e torcedores de todos os nossos clubs, gran­ O trem de bitola larga corria levando parte
des e pequenos. das glórias do Palestra.
Ao lado:
Time da Lazio já com os ex­palestrinos Ninão (segundo em pé) e Nininho (terceiro ajoelhado).  (Trecho, em grafia original, de reportagem do Jornal Diário da Tarde, de 4 de abril de 1931).
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Ninão foi o maior artilheiro da história do Palestra, mantendo um re­
corde difícil de ser igualado. No campeonato mineiro de 1928, marcou 
43 gols. Em 127 jogos com a camisa verde, venceu os goleiros 160 ve­
zes ­ média 1,2 gols a cada partida. Na passagem pelo futebol italiano, 
em cinco temporadas, marcou 39 gols. 

Ninão voltaria ao Palestra. Ao final da década de 1930, já aposentado,


se tornaria personagem central em um dos episódios mais dolorosos 
e importantes da história do Palestra/Cruzeiro – que será relatado no 
próximo capítulo. 

Nininho, considerado o primeiro grande craque da história do futebol 
mineiro, já não teve a sorte de voltar a Belo Horizonte. No auge de sua 
carreira, teve um fim trágico na Itália. Assim conta Plínio Barreto:

“Logo no primeiro treino na Lazio, Nininho ganhou a condição de ti­


tular da ala esquerda. E em três temporadas foi considerado o melhor
da posição, chegando à titularidade na Seleção Italiana. Não jogou a 
fase final da Copa do Mundo de 1934 por estar afastado devido a uma
contusão. No inverno do mesmo ano, metade da temporada, durante
um jogo contra o Torino, em um choque casual, teve o osso do nariz
rompido. A princípio, a contusão foi considerada de baixa gravidade e
o jogador teve alta. A situação se agravou e o jogador precisou ser in­

ternado e, durante 20 dias, lutou contra uma infecção. Em 8 de fe­


vereiro de 1935, faleceu e causou comoção no mundo do futebol
italiano e palestrino. Na sede do clube foram feitas homenagens
ao jogador, virando um nome eternizado na história cruzeirense.”

No Brasil, o desmonte do time tricampeão continuava. Os com­
panheiros de Nininho no meio-campo também se foram: Bento
faleceu e Pires voltou para a sua cidade, Nova Lima. O espanhol 
Carazo e Armandinho também deixaram o time do Barro Preto. A 
dupla de zaga, Nereu e Rizzo, se aposentou. O lendário treinador 
Matturio Fabbi, o Cappuccino Rosso, também trocou o Palestra 
Ninão, Niginho e Nininho durante suas passagens  
para treinar os aspirantes da Lazio.  pela Lazio, na Itália. Os dois primeiros retornaram  
ao Palestra Italia. 

A esperança de recomposição do escrete foi dilacerada em 1932,  Já Nininho faleceu após uma partida. Ele não


regressou ao ex­clube, como havia demonstrado 
quando a principal joia do plantel também foi levada para a Lazio: interesse em cartão postal enviado, dias antes, 
aos ex­companheiros do Palestra. Seu mausoléu 
o jovem atacante Niginho Fantoni, predestinado a se tornar um  está em Roma. 
dos maiores ídolos de todos os tempos do Palestra/Cruzeiro. 
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Alguns remanescentes ainda seguraram o pavilhão palestrino, como o goleiro Geraldo Can­
tini e o atacante Piorra, até que se tentasse a montagem de um novo time titular. Mas um  
deles foi o símbolo maior da resistência nos anos difíceis vindouros: Ítalo Fratezzi, o Bengala.

Não é exagero dizer que, durante dez anos, o Palestra se aguentou esportivamente graças  
à liderança, à experiência, ao comando e ao amor de Bengala pelo clube. Titular absoluto do  
primeiro tricampeonato, ele ficou. Acabou por dedicar uma vida inteira ao Palestra/Cruzeiro.
Novamente, é Plínio Barreto quem nos apresenta mais um gênio do Barro Preto:
 
“Ítalo Fratezzi, conhecido como Bengala, foi uma legenda do Palestra nos primeiros
vinte anos do clube, peça essencial no tricampeonato de 1928-29-30. Antes de vestir
a camisa verde, brincava na ponta-esquerda do Yale. Com a formação do time, a Ben­
gala bastou atravessar a rua Ouro Preto, já que o campo do Yale ficava ao lado. No
estadinho cercado por eucaliptos, o jovem canhoto foi aprimorando as qualidades na
meia-esquerda. Com Alcides, formou a ala esquerda do Palestra, famosa na década de
1930. A dupla ganhou o apelido de ‘a ala do amor e do barulho’. Do amor, pelo enten­
dimento e harmonia das ações com que os dois mestres se aproximavam e se reuniam
nas tardes dos jogos contra os grandes rivais. Do barulho, quando atacavam e levavam
com eles uma trepidante algazarra da torcida palestrina. Foi titular de todas as sele­
ções mineiras até 1939. Encostou as chuteiras quando surgiu no Barro Preto, vindo do
bairro Santa Efigênia, um certo atleta que jogava com os militares do quinto batalhão
da PM. Era ele, Efigênio de Freitas Baiense, o Geninho. Era o que Bengala esperava e,
para não abandonar o futebol, assumiu o comando técnico em 1940, armando uma
equipe que encantava o torcedor: Geraldo II, Caieira e Bibi; Souza, Juca e Caieirinha;
Nogueirinha, Geraldino, Niginho, Geninho e Alcides. Na época, a imprensa dizia que
o esquadrão jogava por música, compacto e regular. Foi o campeão da temporada.” Geraldo I, Souza, Chiquito, Juca, Caieira e Montovani. Carlos Alberto, Geninho, Laerte, Zezé Papatela e Alcides.
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A caminhada espinhosa de 1931 até a glória de 1940, “A circunstância de ter eu nascido no bairro da Lagoinha fez de mim um tor­
como dito, iniciou­se dolorosamente com o desmon­ cedor do Guarany, clube conhecido como ‘alvinegro lacustre’ e, também, ‘bu­
te do time tricampeão. Mas a “fila” de dez anos teve gre’. Acompanhei a carreira do então jovem Souza na época – 1932. Jogava
também outro ingrediente recorrente na história do  no meio-de-campo, meia-direita. Em 1933, desapareceram os chamados times
Palestra/Cruzeiro, assim como são as superações: pequenos. Não tinham como manter os melhores valores, perdendo-os para os
trata-se das dificuldades financeiras. chamados clubes grandes. Para o Palestra e os outros grandes, bandearam-se
os jogadores do Fluminense e do Guarany.
Em 1933, surge o profissionalismo no futebol. Se hoje
esse fato soa como algo positivo, à época essa novi­ Souza foi para o Palestra e lá deixou de ser meia-direita. O técnico Matturio
dade fez desaparecer diversos times e colocou todos   Fabbi viu nele talento para jogar na ala direita. Se deu tão bem que virou titular
em  apuros.  Não  havia  muitas  formas  de  arrecadar   absoluto até encerrar a carreira, vestindo sempre a camisa palestrina. Nunca
recursos para arcar com salários e outras despesas.   deixou o clube, por lá trabalhando mais de 30 anos. Ao encostar as chuteiras,
No Palestra, clube da periferia, dos imigrantes e dos   foi treinador e dirigiu o time principal várias vezes. Quando se aposentou, pas­
operários, isso tornou tudo ainda mais difícil.  sou a treinar o Raposão, antiga equipe de veteranos que vestia o manto tricolor
e azul e branco.”
Como montar um novo time sem dinheiro? Enquanto
os clubes da elite e da oligarquia de Belo Horizonte  
eram socorridos com recursos públicos, ao Palestra  
restou os préstimos da torcida, dos sócios e de imi­
grantes  Italianos  que  prosperavam  em  seus  negó­
cios. No entanto, tudo isso ainda era insuficiente para
trazer peças de reposição à altura dos tricampeões.  

A solução teria que ser “caseira”. A primeira foi por  
sorte: o velho comandante Matturio Fabbi retornou
de duas temporadas na Itália. Para o plantel, restou  
apostar  na  promoção  de  jovens  promessas  do  se­
gundo  quadro  do  próprio  Palestra,  como  Orlando  
Fantoni, Zezé Papatela e Alcides. Também vieram
atletas de destaque em clubes de bairros de Belo Ho­
rizonte - como Souza, outra legenda. Em uma crônica
publicada no jornal O Estado de Minas, em 2010, o
jornalista Plínio Barreto homenageou o amigo:

Ao lado: Na década de 1930, o Palestra Italia amargou um período sem


títulos, mas contou com a presença de jogadores importantes tanto em 
seu elenco quanto cedendo para seleções e combinados regionais. 
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_ 1931_1940
Em 1935, os vespertinos de Belo Horizonte trouxeram uma notícia que encheu as casas, as Mesmo tornando­se ídolo do time carioca e chegando a disputar a Copa do Mundo de 1938, 
fábricas e as ruas do Barro Preto de profunda alegria. Convocado para a guerra da Itália  o coração de Niginho falou mais alto. No ano seguinte, anunciou o “retorno para casa”. Em
na Abissínia, região da África, Niginho resolve deixar a Lazio e retornar ao Brasil. Na sua  Belo Horizonte, dos remanescentes do primeiro tricampeonato, encontrou apenas Carazo 
chegada, foi questionado sobre  os  interesses  de  clubes  do  Rio  de  Janeiro  e  também  do  - que havia também regressado - e Bengala. Esse último não mais como companheiro de
Peñarol, do Uruguai, em contratá­lo. Anunciou estar a caminho de Belo Horizonte, pois “o  ataque, mas como treinador de um time finalmente renovado e pronto para ser campeão.
Palestra era a extensão dos Fantoni”. 
Plínio Barreto, palestrino fervoroso, tinha em Niginho o seu grande ídolo. Assim ele o descreveu:
Uma multidão foi receber Niginho na estação ferroviária da capital mineira. Carregado nos 
braços dos torcedores, voltou para tentar ajudar a reerguer o Palestra Itália.  “Foi, sem dúvida, o grande ídolo do Palestra e do Cruzeiro nos anos 1940. Antes dos 20 anos,
surgira como um fenômeno e, em 1931, seguiu para a Lazio, a exemplo do irmão e do primo.
Nesse período, Niginho foi convocado para a Seleção Brasileira, sendo o primeiro jogador de   Jogou três temporadas no clube de Roma, e, em 1935, retornou ao Palestra. A saída intempes­
um clube mineiro a conquistar tal feito. Um fantasma, porém, continuava a rondar o Barro Pre­ tiva do clube italiano traria consequências na carreira do jogador, o que não o impediria de
to: a penúria financeira. Segurar um dos maiores craques do futebol brasileiro, em contraponto brilhar novamente nos estádios brasileiros não só com a camisa tricolor do Palestra e a azul
ao assédio dos times dos grandes centros sobre ele, tornou­se impraticável. Niginho já havia   do Cruzeiro. Seria destaque também na Seleção Brasileira, no Palmeiras e no Vasco da Gama.
jogado por empréstimo no Palestra Itália de São Paulo e acabou negociado com o Vasco.
Niginho deixou a Lazio em represália a uma convocação para servir ao exército italiano na
Guerra da Abissínia. O jogador não aceitou a convocação por ser brasileiro nato, não reno­
vou o contrato com a Lazio e deixou a Itália. Por isso mesmo, foi considerado um desertor
Niginho na Seleção Brasileira (abaixo, último à direita); na página ao lado, primeiro agachado.  do exército fascista. Na época, a situação não impediu que o jogador continuasse a jogar
no Brasil, sendo contratado pelo Palestra em 1936. No ano seguinte, o Palestra de São Pau­
lo contratou o atacante por empréstimo para disputar as finais do campeonato paulista.
No mesmo ano, foi para o Vasco da Gama e fez parte da seleção brasileira que disputou a
Copa do Mundo de 1938. Retornou em 1939 ao Palestra em definitivo. A partir daí, durante
10 anos, foi o maior ídolo da torcida cruzeirense, quando encerrou a carreira para se tornar
treinador. Nessa função, participou do tricampeonato de 1959-60-61.”
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_ 1931_1940
1 9 3 1 _ 1 9 4 0 > FAT O S M A R C A N T E S

1931 
 Resultado do Concurso
  Viscardi para eleger “o mais sympatico de Bello Horizonte”, publi­
cado no Jornal Estado de Minas, mostra que o Palestra, com apenas dez anos de existên­
cia, já tinha a segunda maior torcida da cidade, com 38% dos votos. O primeiro colocado 
ficou com 44%. O América, terceiro colocado, teve apenas 10%.

 Transferência de dois jogadores palestrinos para a Lazio, da Itália. Otávio Fantoni, o Nini­
 
nho, e João Fantoni, o Ninão, foram os primeiros mineiros a jogarem fora do país. 

 Goleada
  histórica sobre o América pelo Campeonato da Cidade: 8 a 1, com quatro gols de
Niginho. Um dia após a partida, o América abandonou a competição. 
 

1932 
• O Palestra não conquistou títulos oficiais na temporada, mas aplicou algumas goleadas
históricas, como os 7 a 2 sobre o América (15 de abril), os 8 a 1 sobre o Sete de Setem­
bro (5 de junho), os 10 a 1 sobre o Grêmio (10 de julho) e os 8 a 2 sobre o Vespasiano
(16 de outubro). 

Niginho  Acima: da esquerda para a direita - Carlos Alberto, Alcides, Souza,  


 Saída do craque Niginho para a Lazio, da Itália, assim como do técnico Matturio Fabbi, o 
Caieira, Geraldo II, Bibi, Nogueirinha, Niginho, Juca, Caieirinha e Orlando Fantoni. 
Capuccino Rosso, que foi comandar os aspirantes do time italiano. 
Abaixo: de pé - Souza, Bibi, Caieira, Caieirinha e Juca.
Agachados ­ Nogueirinha, Geraldino, Geraldo II, Niginho, Carlos Alberto e Alcides. 
• Mais um problema com a Liga Mineira: em março, o presidente do Palestra, Lídio Lunardi,
que havia sido eleito presidente da entidade, defendeu a anistia e a reinclusão do América 
na Liga, juntamente com o Villa Nova e o Sete de Setembro. Os três haviam se retirado no
ano anterior. Os outros clubes, liderados pelo Atlético, foram contra. Com isso, o Palestra 
Se na sua saída, em 1932, Niginho era da ala dos mais jovens, em 1940 ele iniciou a dispu­
criou uma Liga Alternativa, a Associação Mineira de Esportes Gerais (AMEG). A paz e a
ta do Campeonato Mineiro como ídolo de um time novo. Pôde ver surgir futuros ídolos,  
reintegração só vieram em novembro. 
como Geraldo II, um dos maiores goleiros da história do Palestra/Cruzeiro. 

 
No dia 29 de dezembro de 1940, foi disputada a primeira partida da decisão do campeo­
nato. Belo Horizonte, literalmente, parou para acompanhar o embate entre o Palestra Itá­ 1933 
lia e o Atlético de Belo Horizonte, local onde aconteceu o jogo. Seria o primeiro de uma   • O profissionalismo passa a ser adotado no futebol brasileiro. No primeiro jogo após a
“melhor de três”.  decisão, o clássico com o Atlético de Belo Horizonte terminou com a vitória do Palestra 
Itália por 2 a 1. A conquista valeu ao clube a Taça Cronistas Esportivos.
Alcides abriu o placar. Niginho marcou mais dois. O gol de honra do Atlético não incomo­
dou a torcida palestrina. A vitória era um prenúncio. A superação da dolorosa década sem  • Com o profissionalismo, foram unificados alguns torneios tradicionais. O Campeonato da
títulos estava por vir.  Cidade passou a ser denominado Campeonato Mineiro. 
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_ 1931_1940
1934  1937 
 O Palestra montou uma equipe jovem para a disputa do Campeonato Mineiro. Os mais 
  • Vários amistosos interestaduais foram disputados na temporada. A Confederação Brasi­
experientes do elenco eram Geraldo Cantini, Piorra e Bengala. O time era composto, em  leira de Desportos (CBD) não se entendia com a Federação Mineira, o que fez com que 
sua maioria, por atletas franzinos e de baixa estatura.  o Campeonato Mineiro só começasse em novembro. Os adversários foram Palmeiras (à 
época, Palestra Itália de São Paulo), Madureira e São Cristóvão (ambos do Rio de Janeiro). 
 Pela primeira vez, uma partida do futebol mineiro recebe a alcunha de “clássico”. Foi o 
 
jogo entre Palestra e Atlético, em novembro. O time do Barro Preto venceu por 4 a 3.   dificuldades financeiras extremas do Palestra fazem com que a diretoria palestrina
 As
aceite negociar o craque Niginho com o Vasco. O valor arrecadado salvou a vida do clube
na temporada. 

1935   
• Otávio Fantoni, o Nininho, morre na Itália por septicemia, no dia 8 de fevereiro. Ele havia
sofrido um choque com um adversário durante um jogo da Lazio contra o Torino e fratu­ 1938 
rado o nariz, 20 dias antes. Milhares de pessoas acompanharam o velório de Nininho, no  • Ao longo do ano, amistosos disputados em cidades como São João del Rei, Varginha e
Cemitério de Verano, em Roma. Três Corações fazem a popularidade do Palestra Itália crescer também no interior do Es­
tado de Minas Gerais. 
• Volta de Niginho, após três anos na Itália. O craque havia sido convocado pelo exército
Italiano para a Guerra da Abissínia, mas desertou e retornou ao Brasil. Quando chegou,   
 Fim da era Matturio Fabbi no Palestra Itália. No dia 28 de agosto, no empate por 2 a 2 
recebeu vários convites do futebol italiano, mas preferiu voltar para o Palestra Itália. Na  com o Sete de Setembro, o técnico, que foi o primeiro contratado da história palestrina, 
partida de regresso – 3 a 0 sobre o Siderúrgica ­, teve a oportunidade de atuar ao lado do  comandou o time pela última vez em uma partida oficial. O Capuccino Rosso estava com 
irmão Orlando pela primeira vez.  problemas de saúde. Em fevereiro do ano seguinte, Fabbi dirigiria o Palestra na goleada
por 4 a 0 sobre o Atlético de Belo Horizonte em um amistoso.
 
 Ninão também deixa a Lazio e  volta  ao  Palestra.  Num  amistoso  contra  o  Atlético,  pela 
primeira vez atua ao lado dos irmãos Niginho e Orlando. 

 
 Apesar da década sem títulos dos campeonatos da Cidade e Mineiro, o Palestra disputa a 
1939 
 
 Primeira grande divisão política da história do clube. A chamada “Ala Renovadora” que­
Taça Securitas, numa disputa de três jogos contra o América, e sagra­se campeão. 
ria nacionalizar o clube e passar a chamá­lo de Palestra Mineiro, como já era informal­
mente chamado fora de Minas (pela existência do Palestra Paulista, hoje Palmeiras). A  
justificativa era de que mais de 90% das pessoas ligadas ao clube eram brasileiras. Por
1936  outro lado, o “Conselho dos Natos”, formado por fundadores do clube, não considerava  
 
 Após uma série de desentendimentos com a Federação, o Palestra abandonou o Cam­ tais mudanças necessárias. Os italianos tinham mais peso na votação, mesmo com me­
peonato Mineiro durante o segundo turno. Prova de que o clube estava certo é que Amé­ nor número de integrantes. A reforma dos estatutos, no entanto, fez com que o peso dos  
rica e Villa Nova também tomaram a mesma decisão. O certame continuou apenas com votos ficasse mais equilibrado.
Atlético, Siderúrgica e Retiro. 
• No dia 8 de setembro, Palestra e Vasco se enfrentam em um amistoso em Belo Horizonte.
 
 Niginho foi convocado para a Seleção Brasileira, o que fez dele o primeiro jogador de um  Niginho defendeu o time carioca. A partida terminou em 2 a 1 para os palestrinos. Dias 
clube mineiro a defender as cores nacionais. Ele também foi o primeiro jogador mineiro a depois, o ídolo retornaria para o time do Barro Preto. 
marcar com a camisa da Seleção. 
 
 A campanha no Campeonato Mineiro não foi boa. O Palestra terminou em quinto lugar, 
 
 Num amistoso contra o Botafogo, terminado em 3 a 3, o Palestra bate o recorde de público e    entre seis times. O time que dominaria o Estado, entretanto, começava a ser montado ali,
de bilheteria do futebol mineiro, com cerca de 10 mil presentes no estadinho do Barro Preto.  tendo Bengala como treinador e Niginho como líder do grupo. 

• Niginho é emprestado ao Palestra Itália de São Paulo para a disputa das finais do Cam­
peonato Paulista. Torna­se campeão. 
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_ 1893_1920
1940 
 O Palestra disputou amistosos contra tradicionais clubes do país, como Flamengo, Bota­
 
fogo e Corinthians ­ prova de que, já nesta época, era um dos maiores times brasileiros. 

 Substituição da tradicional camisa verde por uma com listras horizontais verdes, verme­
 
lhas e brancas. 

 Geraldo Cantini e Piorra, os últimos remanescentes do primeiro tricampeonato, na dé­
 
cada de 1920, se aposentam. Apesar da volta de Niginho e Carazo, novos candidatos a  
ídolos começam a despontar: Geraldo II, Caieira, Bibi, Juca, Caieirinha, Souza, Nogueiri­
nha e Alcides.  

 Na primeira partida da “melhor de três” da decisão do Campeonato Mineiro, em 29 de de­
 
zembro, vitória por 3 a 1. O jogo foi anunciado como “o clássico das multidões”. No início 
do ano seguinte, o Palestra confirmaria o título de 1940.

Escaneie para 
saber mais sobre 
Niginho. >> 
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_ 1941_1950
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_ D
1 9 4 1 _ 1 9 5 0

1 9É4C1 A_ D1 9A5 01 9 2 1 _ 1 9 3 0
De Palestra a Cruzeiro: a resistência 
palestrina de uma raposa 
O período de 1941 a 1950 ficou marcado pela entrada do
Brasil na Segunda Guerra Mundial. O ingresso no conflito
ao lado dos Aliados (Inglaterra, França, Estados Unidos
e,  posteriormente,  União  Soviética)  no  enfrentamento 
aos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) provocou
reflexos por todos os cantos. O país - que recebera imi­
grantes vindos de todas as partes do mundo ­ via­se, en­
tão, envolvido em uma guerra que acirraria o ódio e a ira 
entre nacionalidades. 

Casas  comerciais  ligadas  a  descendentes  de  italianos, 


alemães e japoneses foram apedrejadas e saqueadas em 
muitas cidades brasileiras. Vandalismo em nome de um
patriotismo  selvagem  e  ignorante.  Belo  Horizonte  não 
escapou  da  sanha  e  do  terror.  O  Palestra  Itália  e  a  sua 
torcida,  vinda  do  povo  e  dos  operários,  principalmente 
imigrantes italianos, também não. 

Porém, os anos 1940 figuram entre os mais importantes da his­


tória  do  Palestra/Cruzeiro  não  apenas  pelas  barbáries  da  Se­
gunda Guerra. Essa década também marcou o clube com novos
simbolismos,  situações  dramáticas  de  sobrevivência  e,  princi­
palmente, por conquistas esportivas e patrimoniais. 

Do perigo de morte e de extinção à resistência por amor. Da pe­
núria de títulos ao segundo tricampeonato. Das arquibancadas 
de madeira ao estádio de concreto. Do periquito à raposa. Do 
tricolor ao azul celeste. De Palestra a Cruzeiro. Tão magnífica
em  fatos,  a  década  vindoura  ainda  teve  a  missão  de  coroar  a 
anterior. O ano de 1941 teve início sob a expectativa das duas
partidas finais do Campeonato Mineiro de 1940, entre o Palestra
Itália e o Atlético de Belo Horizonte. 

Acima: Carlos Alberto, Souza, Carazo, Alcides, Nogueirinha,


Caieirinha, Juca, Niginho, Caieira, Bibi, Orlando Fantoni e Geraldo II. 

Abaixo: Azevedo, Celado, Niginho, Ismael e Alcides.


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Os palestrinos passaram o réveillon otimistas. Afinal de contas, a
vitória por 3 a 1 sobre o Atlético, no primeiro jogo da final, dispu­
tado em dezembro de 1940, era o assunto mais comentado nas
macarronadas de Ano Novo. 

A euforia logo se transformou em apreensão. No dia 5 de janeiro, 
três dias após o aniversário do clube, o Palestra foi derrotado em 
pleno estádio do Barro Preto, por 2 a 1. O resultado provocou a 
disputa do terceiro jogo, em campo neutro. 

Uma semana depois, o estádio da Alameda pulsava. Palestrinos, 
atleticanos e amantes do futebol em geral lotaram as dependên­
cias para assistir ao embate no clássico das multidões, que teria 
arbitragem do carioca Mário Vianna.

No  banco  de  reservas  do  Palestra  estava  Bengala,  o  ídolo  que 
segurou o comando do clube durante toda a “fila” da década de
1931 a 1940. Seu time entrou em campo sob aplausos. Entre os jo­
Niginho, Nogueirinha e os demais jogadores do Pales­
gadores, o fenômeno Niginho estava pronto para desequilibrar e 
tra foram carregados pela torcida do bairro Santa Efi­
se tornar protagonista em mais uma partida a lhe cacifar o apelido 
gênia, onde ficava o estádio da Alameda, até a sede do
pelo qual ficou conhecido: Menino Metralha.
clube, no Barro Preto. 

Alcides abriu o placar para o tricolor do Barro Preto. Festa na Ala­
Um  ano  depois  da  conquista,  o  Palestra  viu­se  mer­
meda, coroada ainda com um segundo gol, anotado exatamente 
gulhado em polêmicas internas. Boa parte de seus as­
pelo Menino Metralha. O Palestra Itália era o campeão de 1940,
sociados e torcedores também estavam apreensivos  
com Geraldo II, Caieira e Bibi; Souza, Juca e Caierinha; Nogueiri­
por  conta  da  Segunda  Guerra  Mundial.  No  início  de 
nha, Orlando, Niginho, Carazo e Alcides (depois Djardes). 
1942, um decreto-lei do governo federal estabeleceu
a nacionalização dos nomes, e o Palestra trocou o Itá­
A cada jogo, a imprensa da época saudava essa formação como 
lia por Mineiro.  
uma orquestra afinadíssima em um concerto. Não poderia ter ou­
tro  destino  senão  o  de  campeão  estadual,  naquele  que  seria  o 
Em agosto, submarinos alemães afundaram navios bra­
último título na era Palestra Itália. 
sileiros. Getúlio Vargas, então presidente da República,
anunciou a entrada do Brasil na guerra. Entre as medi­
O  ponta  direita  Nogueirinha  era  o  mais  novo  do  time.  Jogador 
das adotadas, estava a proibição do uso de quaisquer
aplicado e intelectualmente desenvolvido, foi o último jogador do 
símbolos (idioma, cores e bandeiras) que remetessem
Palestra Itália a falecer, em 2019. Nunca foi expulso em toda a sua 
à Alemanha, à Itália ou ao Japão. Essa decisão acabou
carreira. Quando criança, tinha Niginho como ídolo e sonhava em 
incentivando uma onda sanguinária de xenofobia con­
jogar ao seu lado um dia. Naquele dia 12 de janeiro de 1941, não só
tra imigrantes que viviam no país e não tinham absolu­
jogou como foi campeão. 
tamente nenhuma ligação com a guerra. 
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_ 1941_1950
“Aos sete dias do mês de outubro de 1942, às 20h30, em nossa sede social, à
rua Rio de Janeiro, presentes dez conselheiros, foi pelo sr. Presidente aberta
a sessão.

A ignorância de alguns extremistas e arruaceiros


Como a presente reunião foi convocada para a aprovação do nosso Estatuto,
chegou a promover apedrejamentos e saques a ca­
foi o mesmo aprovado, depois de muito desentendido, passando a Sociedade
sas comerciais com nomes de italianos e alemães.  
Esportiva Palestra Mineiro a denominar-se ‘Cruzeiro Esporte Clube’.
Filhos  e  netos  de  italianos,  alemães,  austríacos  e  
suíços, já estabelecidos no Brasil há muito tempo,  
Em virtude da situação angustiosa de nosso club, foi nomeada uma junta go­
sofreram perseguições, agressões e foram levados  
vernativa, composta dos senhores João Fantoni, Wilson Saliba e Mario Tornelli,
às delegacias de polícia para responder a inquéri­
sob a presidência do senhor João Fantoni que dirigirá os destinos do club até
tos. A paranoia via, em cada descendente, um es­
que sejam aprovados pela Federação Mineira de Futebol os novos estatutos.”
pião em potencial.  

O clima criado pela guerra na Europa foi aproveita­


do por pessoas oportunistas e desordeiras. Um es­
tado de terror foi criado em Belo Horizonte durante 
48 horas. Lojas e casas foram saqueadas, queimadas
e  destruídas.  Pessoas  foram  perseguidas  e  agredi­
das.  O  estádio  do  Palestra  sofreu  a  ameaça  de  ser 
incendiado e, não fosse a pronta intervenção de um 
tenente da Polícia Militar, chamado Houri, e a cora­ << Escaneie para 
gem  de  alguns  palestrinos,  a  horda  de  arruaceiros  saber mais sobre 
a Resistência
– oculta sob o nome de patrióticos – teria levado a 
Palestrina. 
barbaridade ao fim.

O debate interno tomou conta do Barro Preto. Era necessário nacionalizar


ainda  mais  o  nome  Palestra  Mineiro.  Por  decisão  unilateral,  no  dia  2  de 
outubro de 1942, o então presidente, Ennes Poni, tentou alterar o nome
do clube para Ipiranga. Não conseguiu. A escolha monocrática jamais foi 
oficializada. Não passou de um esboço de ata, assinado por apenas duas
pessoas,  imediatamente  anulado  pelo  Conselho  Deliberativo  do  clube. 
Cinco dias mais tarde, houve uma reunião definitiva entre os associados.

O presidente ­ que propusera o nome desprezado ­ renunciou ao cargo e  
a decisão sobre a mudança ficou sob a responsabilidade do Conselho, pre­
sidido por Oswaldo Pinto Coelho. Este sugeriu o nome de Cruzeiro, home­
nageando a principal constelação do hemisfério sul e presente na bandeira  
nacional. A sugestão foi aceita por unanimidade no Conselho Deliberativo e  
Ata da reunião do Conselho Deliberativo do Palestra Mineiro 
foi, assim, oficializada em ata: quando aconteceu a mudança do nome para Cruzeiro Esporte Clube.
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Coube ao então presidente, João Fantoni (o Ninão), conduzir as mu­
danças que, na verdade, só se concretizaram totalmente em 1943.
Era preciso ir além do nome Cruzeiro: o escudo, as cores e o unifor­
me, tricolores como a bandeira da Itália, também seriam alterados.  

Para as autoridades brasileiras foi apresentada a história fantasio­
sa de que o azul era a cor do céu, “onde estavam as cinco estrelas 
do  Cruzeiro  do  Sul”.  No  fundo,  o  azul  representava  a  resistência 
palestrina, o amor incondicional de uma torcida pelo time criado 
por ela própria em 1921. O azul, em tom celeste, era exatamente o 
mesmo da camisa da Seleção Italiana. Essa era a verdade não dita.
O escudo teria as cinco estrelas “presas” num círculo. 

A primeira vitória com o novo nome foi contra o América de Belo 
Horizonte: 1 a 0, gol de Ismael. O time jogou com Rui, Gerson e
Azevedo;  Rizão,  Juca  e  Caieirinha;  Nogueirinha,  Orlando  Fantoni, 
Niginho, Ismael e Zezé Papatela.

O uniforme usado continuou sendo o antigo. Montar um jogo de camisas era 
caro  e  demandou  doações  de  sócios  e  de  torcedores.  Somente  no  início  de 
1943, em um amistoso contra o São Cristóvão, do Rio de Janeiro, as novas
cores foram mostradas à torcida. Era uma camisa azul com gola branca e as
cinco estrelas dentro do círculo. As meias, por falta de recursos financeiros e
de tempo, ainda foram as antigas, com as cores do Palestra. 

Fato natural e cíclico na história do Cruzeiro, nascido do povo e não da elite,  
como é o caso dos demais grandes clubes de Minas Gerais, a falta de dinheiro  
já tinha provocado o desmonte do time campeão de 1940. Quase meio qua­
dro celeste se transferiu para o Botafogo. A renovação foi buscada no fute­
bol de várzea de Belo Horizonte e nos times do interior do Estado. Bengala
passou a batuta para Ninão. Esse, por sua vez, tornou-se o único na história
do Palestra/Cruzeiro a desempenhar os papéis de jogador, ídolo, artilheiro,  
presidente e treinador.  

A campanha de 1943 foi marcada por jogos duros. O time ainda se entrosava.
América,  Atlético  e  Siderúrgica,  valente  time  da  cidade  histórica  de  Sabará, 
eram os principais adversários. Mas o Cruzeiro tinha Niginho. 

Na penúltima rodada, o Menino Metralha anotou o gol da vitória no clássico 
contra o time do bairro de Lourdes. Bastava apenas um triunfo simples na úl­
tima rodada para a conquista do título. 

Acima: Nogueirinha, Lazzarotti, Niginho, Ismael e Alcides.

Abaixo: CRUZEIRO X AMÉRICA - Niginho e Ismael


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A  partida  não  teria  nada  de  fácil.  Seria  em  Sabará, 


contra o Siderúrgica. O estadinho da Praia do Ó e a 
torcida adversária sempre foram temidos. Vencer ali
era quase impossível. Quando isso acontecia, muitas 
vezes jogadores e torcedores visitantes terminavam 
tendo que correr em disparada pela ponte ou mes­
mo  pular  no  rio  para  escapar  da  fúria  ­  como  fez, 
certa vez, Fulvio Fantoni, pai de Ninão e de Niginho. 

Porém,  a  superioridade  técnica  daquele  time  do 


Cruzeiro em relação ao Siderúrgica – que já não al­
mejava  nada  no  campeonato  –  era  muito  grande. 
Um verdadeiro mar azul de torcedores tomou trens 
e ônibus em Belo Horizonte, rumo a Sabará. 

O ponteiro Alcides foi o grande nome da partida. Ele


abriu  o  placar  logo  aos  vinte  minutos.  Niginho  não  
passaria em branco. Fez o segundo gol e abriu a por­
teira para a goleada. Final de jogo, 5 a 1. Em 19 de de­
zembro de 1943, o clube nascido dos operários e imi­
grantes era campeão pela primeira vez sob a alcunha   Ao lado: Na infância, Nogueirinha (esquerda)
tinha Niginho (meio) como ídolo. Anos depois, 
de Cruzeiro Esporte Clube, o time do povo mineiro. os dois jogaram juntos no Palestra/Cruzeiro. 

As dificuldades financeiras continuavam a atormentar a vida do clube. Torcedores chega­


ram a criar uma campanha para arrecadar recursos como forma de auxiliar no pagamento 
dos salários dos jogadores. Numa delas, a cada gol marcado, um cruzeiro (moeda da épo­
ca) era doado. 

O campeonato de 1944 foi ainda mais competitivo. O Cruzeiro viveu uma troca intensa de
treinadores: Ninão, Bengala, Ari Martini, até se firmar com Chico Trindade. Mesmo assim,
chegou à penúltima rodada podendo ser campeão de forma invicta. 

O jogo, novamente contra o Siderúrgica, ficou para o final de janeiro de 1945. Dessa vez,
no campo da Alameda, em Belo Horizonte. Ismael e Alcides fizeram os gols da vitória por
2 a 1. O Cruzeiro sagrava­se bicampeão, e a esperança por um segundo tricampeonato em 
sua história passou a povoar os sonhos da torcida, o que se tornaria realidade nos meses 
seguintes. Mas, antes disso, outro sonho, ainda mais épico, foi concretizado. 
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O estadinho de madeira do Barro Preto já não com­
portava  a  torcida  gigante  do  clube.  O  desejo  por 
modernizá­lo  precisava  de  dinheiro  para  sair  do 
campo da ideia. Uma nova campanha de arrecada­
ção de recursos foi feita pela diretoria do Cruzeiro. 

O projeto era caro. Foi criada uma espécie de pro­
grama  de  sócio­torcedor.  Foram  abertas  cotas  de 
“sócio  remido”.  Quem  doasse  mil  cruzeiros  para  a 
construção do novo estádio teria uma cota vitalícia. 

Em quatro meses, associados, diretores, jogadores e


um punhado de cruzeirenses anônimos removeram 
um campo e construíram um estádio moderno para 
a época. Sob o comando do presidente Mário Grosso 
e de Wilson Saliba, encarregado das obras de cons­
trução, foi erguido o estádio com novos vestiários, 
arquibancadas  e  gerais,  tribunas  de  honra,  tribuna  Acima: Flâmula autografada pelo
de  imprensa  e  túnel  para  acesso  dos  jogadores  ao  cruzeirense Juscelino Kubitschek,
que também deu nome ao novo 
campo sem interferência do público.  estádio do Cruzeiro, inaugurado em 1945.

Geraldo II foi um dos maiores goleiros da história do Palestra/Cruzeiro. 
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Essa foi a realização de um sonho de muitos anos dos velhos palestrinos e novos cruzei­
renses. Uma filosofia dominava os dirigentes: o gramado teria que ser o melhor de Belo
Horizonte, com uma drenagem perfeita. Era uma maneira de não deixar a chuva interferir
na prática do futebol rápido e rasteiro do Cruzeiro. 

Os jogadores tiveram participação destacada na construção do novo estádio. Bibi e Caieiri­
nha, dois craques dentro de campo, eram hábeis na marcenaria. O goleiro­pedreiro Geraldo  
II levantava paredes. Hermetério cuidava do gramado. Com a boa vontade de todos, em ape­
nas quatro meses foi possível derrubar as velhas arquibancadas de madeira do estadinho do  
Barro Preto e levantar as novas dependências de cimento, além de uma praça de esportes.  

No  dia  1º  de julho de 1945, um clássico nacional inaugurou o novo Estádio Juscelino Ku­
bitschek, então prefeito de Belo Horizonte. O Cruzeiro de Niginho recebia o Botafogo de 
Heleno de Freitas, considerado o maior jogador brasileiro daquela época. 

O confronto levou uma multidão ao Barro Preto. Todo o espaço do estádio foi ocupado. Era
um confronto entre o melhor futebol jogado em Minas Gerais contra a sensação carioca. 
O equilíbrio marcou toda a partida. O Botafogo jogou melhor no primeiro tempo, dando 
trabalho para Geraldo II, Azevedo, Bituca, Adelino, Hemetério e Juvenal, mas foi o ataque 
cruzeirense que levou vantagem. Niginho, na sua característica, fez 1 a 0. 

A partida inaugural do novo estádio do Cruzeiro foi contra o Botafogo. Empate em 1 a 1.


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No segundo tempo, a história seria outra. O time mi­
neiro voltou melhor e exigiu que o goleiro Oswaldo 
se transformasse numa barreira, impedindo um pla­
car maior. Mas foi a habilidade de Heleno de Freitas 
que falou mais alto, e o Botafogo conseguiu o empa­
te.  O  jogo  seria  considerado  pela  imprensa  mineira 
como o melhor daquele ano. 

No  seu  discurso,  o  presidente  do  Cruzeiro,  Mário 


Grosso, já adiantava que o estádio era mais do que 
o futebol. Ele daria início a outro movimento forte
dentro do clube, o dos esportes especializados: “A 
este se juntarão outros; a natação, o basquetebol, o
remo e todos outros esportes especializados, com­
pletando-se, finalmente, com o atletismo”. 

Juscelino Kubitschek, presente na inauguração, sob


apupos, fez um discurso inflamado por seu coração
cruzeirense: “Seja tal circunstância um augúrio de
prosperidade, por confraternizar, num teste inau­
gural de vosso imponente estádio, forças esportivas
cariocas e mineiras. Tudo aqui, e agora, respira os
ares do futuro na atmosfera eletrizada do presente.
Sois grandes, e sereis maiores, triunfastes e triunfa­
reis. O futuro é vosso, cruzeirenses, e, na comunhão
que sustenta a glória esportiva de Minas, sois, como
sempre fostes, esperança de que a nossa mocidade
não faltará, pela intrepidez e pelo apuro sistemático
de suas energias, ao futuro do Brasil”. 

Em 1991, numa de suas crônicas em formato de documento histórico, Plínio Barreto relem­
brou a partida entre Cruzeiro e Botafogo, em 1945, época da inauguração do estádio JK.
Fez isso para celebrar sua amizade com o ex­zagueiro Azevedo, que, por sua vez, dedicou 
mais de 50 anos de sua vida ao clube ­ fosse como jogador do período do Palestra Itália, 
depois envergando a camisa azul e branca, e, por fim, como funcionário de diversos depar­
tamentos administrativos do Cruzeiro. 

Entre os legados deixados por Azevedo, estão dezenas de livros onde anotava as fichas
técnicas de todas as partidas do Cruzeiro, com comentários e curiosidades sobre cada uma 
delas. Essa sua obra serviu de base para jornalistas, pesquisadores e escritores produzirem
diversos livros, documentários e reportagens sobre a história do clube. 
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Por outro lado, o esforço financeiro para reformar o estádio pesou no futebol, e as difi­
culdades econômicas falaram forte. Em busca de reformulação, a saída encontrada foi
aproveitar uma política do governo federal de incentivo ao esporte especializado. Os clu­
bes que formassem equipes de vôlei, basquete, natação e ginástica ganhariam incentivo 
financeiro para bancar a formação de atletas, pagar técnicos, uniformes e equipamentos. 

A situação financeira melhorou e o empreendedorismo cruzeirense se atiçou. A ideia sur­


gida e abraçada com entusiasmo foi a de construir uma sede social para atender melhor o 
associado - mas ela só ficaria pronta em 1954. 

Os anos finais da década de 1940 também foram marcados por muita turbulência por con­
ta do futebol: renúncia e afastamentos de presidentes; revolta de jogadores e de técnicos
contra a diretoria. De 1945 a 1956, a torcida cruzeirense passaria pelo mais longo jejum de
títulos de toda a história do clube. 

Já na década de 1940, a torcida do Cruzeiro lotava o


Estádio JK em quase todas as partidas do clube.

Em meio à euforia do novo estádio e à convocação do se­


gundo jogador da história do clube para a Seleção Brasilei­
ra, o ala Juvenal, o Cruzeiro ainda lutava por mais um sonho. 
O time liderava o certame de 1945 e queria o segundo tri­
campeonato. 

A três rodadas do fim, era dele a liderança. Pelo terceiro ano


consecutivo,  o  Siderúrgica  seria  o  coadjuvante.  A  partida 
em Sabará foi a mais dura de todo o campeonato. Por duas 
vezes, o Cruzeiro pulou à frente, mas cedeu o empate. Pre­
cisava vencer para garantir o título antecipadamente. 

Faltando dez minutos para o fim do jogo, o 2 a 2 refletia a


batalha de um bom futebol em campo. Mas, ali, brilhou a es­
trela de Ismael. O Cruzeiro conquistava seu segundo tricam­
peonato perto de completar apenas 25 anos de existência. 
Legenda: Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit, sed do
O Brasil virava os olhos para Minas Gerais.  eiusmod tempor incididunt ut labore et dolore magna aliqua. >> 
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 A primeira vitória com o nome Cruzeiro foi em um clássico com o América, no dia 11 de 
 

1 9 4 1 _ 1 9 5 0 > FAT O S M A R C A N T E S outubro. Vitória do Cruzeiro por 1 a 0, gol de Ismael. O time ainda usava o uniforme do
Palestra Mineiro. 

• Mário Grosso foi eleito o primeiro presidente do Cruzeiro Esporte Clube. Sua posse acon­
1941  teceu no ano seguinte. 
• No dia 12 de janeiro, Palestra Itália e Atlético disputaram a terceira partida da final do
campeonato de 1940. Vitória palestrina por 2 a 0. Aquela foi a última conquista sob o
nome de Società Sportiva Palestra Italia. 
1943  
• Acontecem as primeiras partidas com o nome Cruzeiro Esporte Clube - registrado oficial­
• Gol histórico de Niginho. Em um jogo contra o Siderúrgica, no estadinho da Praia do Ó,
mente ­ e o novo uniforme – azul e branco ­ em dois amistosos com o São Cristóvão­RJ, 
em Sabará, o Palestra venceu por 3 a 2, com três gols do craque. O terceiro foi marcado 
no Barro Preto. 
no último lance da partida e ficou conhecido como ‘o gol da campainha’. Isso porque uma
campainha tocava no estádio quando faltavam 30 segundos para o fim do jogo. Ao ouvir
• O time vinha sendo renovado desde o desmonte do escrete campeão de 1940. Isso se
o tilintar, Niginho pegou a bola, passou por quatro adversários e pelo goleiro do Siderúr­
consolidou em 1943. Nesse período, o Cruzeiro buscou jogadores no Villa Nova (Bituca),
gica antes de concluir para as redes. 
no Pedro Leopoldo (Adelino) e no Bonsucesso­RJ (Selado). Além deles, chegaram vários 
 
jogadores oriundos do futebol de várzea de Belo Horizonte (Gérson dos Santos, Lazza­
• Primeiro jogo contra um time nordestino na história. Empate em 0 a 0 com o Sport Recife,
rotti e Remídio), de Nova Lima (Fuinha e Ismael) e de Santa Luzia (Gabriche). 
no estádio do Barro Preto, em Belo Horizonte. 

 Para o último jogo do campeonato ­ contra o Siderúrgica, em Sabará ­ um trem especial 
 
 As competições no Brasil passaram a ser disputadas com as regras da Fifa. Os jogos pas­
 
levou a torcida do Cruzeiro até a cidade vizinha de Belo Horizonte, além de caminhões 
saram de 80 para 90 minutos; deixaram de contar com árbitros de fundo e as substitui­
fretados e centenas de automóveis. 
ções foram extintas. 

 No dia 19 de dezembro, o Cruzeiro venceu o Siderúrgica por 5 a 1, em Sabará, sagrando­se 
 
campeão mineiro pela sexta vez. 
1942  
• Em fevereiro, o Conselho Deliberativo mudou o nome do time de Palestra Itália para  
Palestra Mineiro, numa tentativa de “nacionalizar” o clube publicamente, já que o Brasil 
havia rompido relações com os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) por conta da
1944  
• O clube continuava com dificuldades financeiras. Por isso, a torcida criou a ‘Campanha do
Segunda Guerra Mundial. 
Gol’. Cada participante doava ao clube a quantia de Cr$ 1,00 a cada gol marcado. 

• Em setembro, o Brasil declara guerra aos países do Eixo. Um decreto-lei de Getúlio Var­
• O Campeonato Mineiro de 1944 foi disputado em três turnos e só terminou em janeiro de
gas proíbe todas as organizações e entidades de usarem nomes ligados à Itália, à Alema­
1945. Por isso, o último jogo de 1944 foi um empate com o América, em 3 a 3. As duas
nha e ao Japão. 
rodadas finais seriam disputadas no ano seguinte.

• No dia 2 de outubro, de forma unilateral, o então presidente, Ennes Poni, tenta mudar o
nome do clube ­ de Palestra Mineiro para Ipiranga. O esboço de ata, assinado por apenas 
duas pessoas, foi anulado pelo Conselho Deliberativo e esse nome nunca foi oficializado. 1945  
 No dia 21 de janeiro, numa partida no estádio Alameda, em Belo Horizonte, na penúltima 
 
• O dia 7 de outubro de 1942 ficaria marcado com o Dia da Resistência Palestrina. Nele, por rodada, o Cruzeiro venceu por 5 a 1 o Siderúrgica e tornou­se bicampeão mineiro. 
sugestão de Oswaldo Pinto Coelho, presidente do Conselho Deliberativo, o clube passou 
a se chamar Cruzeiro Esporte Clube.  Uma
  curiosidade interessante sobre o tricampeonato: a confirmação do título veio pela
terceira vez seguida após uma vitória sobre o Siderúrgica. O jogo, disputado em Sabará, 
 No mesmo dia, o clube passou a ser dirigido por uma junta governativa ­ uma espécie de con­
  foi vencido pelo Cruzeiro por 3 a 2 (com o terceiro gol, marcado por Ismael, saindo ape­
selho gestor. Ela foi presidida por João Fantoni, o Ninão, primeiro ídolo do Palestra/Cruzeiro. nas aos 40 minutos do segundo tempo).
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º 
 No dia 1
  de julho, após quatro meses de esforços de jogadores, dirigentes, sócios e tor­  O 
  Cruzeiro  teve  três  presidentes  no  ano.  Uma  crise  política  e  econômica  fez  com  que 
cedores, foi inaugurado o Estádio JK, no Barro Preto, em Belo Horizonte. O estádio tinha Mário Grosso e Fernando Tamietti renunciassem. 
novos  vestiários,  arquibancadas,  gerais,  tribuna  de  honra,  tribuna  de  imprensa  e  túnel 
para os jogadores irem do vestiário para o gramado sem contato com a torcida. Alguns 
jogadores também participaram da obra, como Bibi, Caieirinha, Hemetério e Geraldo II. 
1948  
 Apesar da turbulência nos bastidores do clube, o time fez bom papel dentro de campo, 
 
 A primeira partida no novo estádio foi contra o Botafogo, de Heleno de Freitas, e termi­
 
terminando  o  Campeonato  Mineiro  na  terceira  colocação,  apenas  três  pontos  atrás  do 
nou empatada em 1 a 1 (gols de Niginho e de Heleno). 
campeão América e a dois pontos do vice­campeão Atlético de Belo Horizonte. 

• No dia 4 de novembro, em partida contra o Siderúrgica, em Sabará, o Cruzeiro venceu por


• A crise política permaneceu no clube durante todo o ano de 1948. Três abaixo-assinados
3 a 2 e sagrou­se novamente campeão. Foi o segundo tricampeonato do clube, repetindo 
foram feitos para que o presidente Antônio Cunha Lobo renunciasse. Os dois primeiros 
a façanha de 1928, de 1929 e de 1930. 
foram feitos por sócios e torcedores. O terceiro foi feito por jogadores e pelo treinador, 
Niginho. 
 No dia 21 de novembro, foi inaugurado o sistema de iluminação do estádio do Barro Preto 
 
(considerado então um dos melhores do Brasil), em um amistoso com o América­RJ. O 
 
Cruzeiro venceu a partida por 4 a 0, com três gols de Braguinha e um de Niginho.
1949  
 O 
  cartunista  Fernando  Pierucetti,  o  Mangabeira,  cria  mascotes  para  os  grandes  clubes  • Os resultados dentro de campo continuaram ruins. O time, mais uma vez, ficou atrás dos
de Minas Gerais. Para o Cruzeiro foi escolhida a Raposa, que, segundo ele, simbolizava a  rivais Atlético de Belo Horizonte e América no Campeonato Mineiro. 
astúcia do então presidente do clube, Mário Grosso.   
 A temporada registrou apenas duas partidas contra adversários de fora de Minas Gerais. 
 
Dois amistosos: contra o América-RJ (1 a 1) e contra o Rio Branco-ES (2 a 0).

1946  
 O Cruzeiro disputou seus dois primeiros jogos internacionais no mês de janeiro, ambos no 
 
Estádio JK. No dia 3, empatou em 2 a 2 com o Libertad, do Paraguai, e, no dia 17, venceu 1950  
o Rosário Central, da Argentina, por 1 a 0.   Pela 
  primeira  vez,  o  Cruzeiro  jogou  uma  partida  todo  vestido  de  branco.  O  uniforme  
“dois” teve sua estreia em um amistoso com o Sete de Setembro, vencido pelo Cruzei­
• Em julho, acontece a primeira excursão para o Nordeste, com três jogos em Salvador. Amis­ ro por 4 a 1, no Estádio JK. O time do “uniforme branco” jogou com Geraldo II, Duque,
tosos contra Guarani, Vitória e Bahia. Um incidente marcou o jogo com o Vitória. O presidente Bené, Adelino, Vicente, Ceci, Nonô II, Guerino, Bororó (Áureo), Paulo Florêncio e Sabu.
da Federação Baiana, Carlos Alberto Godinho, impugnou o árbitro da partida e se ofereceu   O treinador era o ex­jogador Souza. Guerino marcou o primeiro gol do Cruzeiro com a  
para apitar. O Cruzeiro se recusou e ficou no vestiário do estádio da Graça, em Salvador. A PM camisa branca. 
baiana invadiu o espaço e fez o time ir para o campo à força. Após a partida, Bibi, Ismael e o    
técnico Chico Trindade foram detidos e passaram a noite em uma delegacia da capital baiana.  • Primeira partida no Estádio Independência, construído para a Copa do Mundo de 1950.
No dia 15 de outubro, o Cruzeiro venceu o Sete de Setembro por 2 a 0 (gols de Nonô e  
 Pela primeira vez na história, os jogadores deixaram de se concentrar nos dormitórios do 
  de Guerino). 
Barro Preto e passaram a dormir em um hotel no Centro de Belo Horizonte. 
• As dificuldades financeiras obrigavam o Cruzeiro a ser criativo. O clube passou a inves­
tir em esportes olímpicos ­ como vôlei, basquete e atletismo. Ainda assim, com a falta  
de  repasse  de  verbas  da  Loteria  Mineira,  a  existências  dessas  modalidades  no  clube  
1947   estava comprometida. 
 Após vários anos como protagonista do Campeonato Mineiro, o Cruzeiro fez campanha muito 
   
 
ruim na temporada, terminando em quinto lugar na competição que tinha sete participantes. 
 Pela primeira vez na história, o Cruzeiro entrou em campo com camisas numeradas. Foi 
 
na abertura do Campeonato Mineiro, no dia 28 de maio, na vitória por 2 a 1 sobre o Meta­
 O elenco tricampeão havia sofrido muitas baixas. Para compensar, o Cruzeiro fez a maior 
 
lusina, de Barão de Cocais. O time jogou com Geraldo II, Duque, Bené, Adelino, Vicente,
contratação do futebol mineiro até então. Comprou, junto ao Villa Nova, o passe do vo­
Ceci, Nonô II, Paulo Florêncio, Bororó, Guerino e Sabu. 
lante Ceci, por Cr$ 45 mil.
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_ 1893_1920
Houve vários projetos arquitetônicos para a construção do novo estádio do Cruzeiro, na década de 1940. Diversos
jogadores e dirigentes participaram das obras. Após sua inauguração, ele foi palco não só de jogos de futebol, mas 
também de solenidades do clube, como a entrega de um barco para a equipe de remo. 
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1 9 5 1 _ 1 9 6 0 As obras se iniciaram. Com a perspectiva da 
inauguração  de  um  parque  esportivo  onde 
haveria  possibilidade  de  se  ampliar  a  prá­
No  campo  de  jogo,  tanto  as  discórdias  in­
ternas quanto a prioridade de investimentos 
nas obras patrimoniais geraram reflexos di­
tica  de  esportes  especializados  e  do  lazer,  retos. O time de futebol continuou a amar­
o número de sócios crescia. Porém, não em  gar  desilusões.  Nos  três  primeiros  anos  da 
Contra tudo e contra todos, as cinco  velocidade e volume suficientes para trazer década, a melhor colocação obtida foi o ter­
calmaria. O reforço nos cofres era insufi­ ceiro lugar no Campeonato Mineiro de 1951. 
estrelas se soltam por Minas Gerais  ciente para cobrir os altos custos ­ tanto da 
obra quanto da razão principal do Cruzeiro  Apesar  dos  resultados  negativos  e  de  uma 
O ano de 1951 iniciou-se em clima de velório sem fim para os amantes do fu­
Esporte Clube existir desde a sua fundação, “fila” que iria se mostrar ainda mais doloro­
tebol. O Maracanazo, como ficou marcado o fatídico jogo no qual a Seleção
em 1921: o futebol. sa do que a vivida na década de 1930, havia 
Brasileira perdeu a Copa do Mundo por 2 a 1 para o Uruguai, no Rio de Janeiro, 
uma  chama  acesa.  Assim  como  a  turma  li­
ainda provocava desalento, mesmo seis meses depois. 
Anos mais tarde, uma ala chegou ao dispa­ derada por Bengala naquele período, o time 
rate de sugerir a extinção do futebol profis­ dos primeiros anos da década de 1950 con­
Em Belo Horizonte não era diferente. O estádio Independência, construído
sional. Tal proposta foi rechaçada veemen­ tou com outro ex­jogador do Palestra Itália 
exatamente para abrigar três partidas da Copa do Mundo no Brasil, marcaria 
te, para a sorte do destino de Minas Gerais e  para evitar o pior: o valente Souza. Coube
uma nova era no futebol das Alterosas. No entanto, o clima na capital também 
do Brasil, pois poderia ter aniquilado o sur­ a  ele montar um time modesto, mas reple­
era de tristeza, pois o time querido pelo povo, o Cruzeiro, já amargava cinco 
gimento de um multicampeão.  to de atletas que tinham como característi­
anos sem conquistar o título do Campeonato Mineiro. 
ca principal jogar com a mesma paixão de­
O conflito foi se amainando à medida que a monstrada pela torcida cruzeirense. Se não 
conclusão da obra da sede social se aproxi­ figurou em academias campeãs, essa gera­
mava, o que ocorreu oficialmente em 1956. O ção entrou para a galeria de outros escretes 
número de sócios saltou de 200 para 2.000.  dignos de reverências: aqueles dedicados à

Nos bastidores, a política do clube fervia. Por alguns anos, o embate entre duas  
alas tornou tudo ainda mais difícil. As discussões iniciadas na década anterior so­
bre a construção de uma sede social, no Barro Preto, adentraram 1951 reforçando  
as diferenças internas. De um lado, os que defendiam a prioridade para os espor­
tes especializados. De outro, o grupo fervorosamente apaixonado pelo futebol.  

Na década de 1950, com as dificuldades financeiras do Cruzeiro,


A partir da década de 1950, o Estádio Independência passou a ser o palco dos clássicos do futebol mineiro. muitos ex­atletas, como Souza, se revezaram no comando do time.
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superação. Nesse período, consagraram­se jogadores como Pampolini, Gue­
rino,  Gesuíno,  Paulo  Florêncio,  Gérson  dos  Santos,  Nilo,  Nívio,  Sabu  e  Rai­
mundinho, dentre outros. Plínio Barreto eternizou em palavras a trajetória do  
seu amigo Pampolini:

“Como um predestinado, ele veio ao mundo em meio a festas natalinas em de­


zembro de 1932. E, sem que seus pais e irmãos atinassem, uma estrela passaria
a acompanhá-lo onde estivesse presente. Entre seus companheiros do Barro
Preto, sua estrela particular iria brilhar junto a outras cinco, lá no início dos anos
50. Na mesma década, foi para o Botafogo do Rio e se uniu à Estrela Solitária
de General Severiano. Os cruzeirenses dele se lembram no velho Independên­
cia, ao lado de Guerino, Lazzaroti, Raimundinho, Sabu [...]. Os botafoguenses o
viram brilhar ao lado de Didi, Nilton Santos, Garrincha, Rossi. Pampolini esteve
entre os convocados por Vicente Feola para disputar a Copa do Mundo de
1958. Uma contusão na reta final o tirou da viagem para a Suécia, tendo parti­
cipado de jogos da eliminatória.”

Guerino Isoni é outro nome que merece destaque nos anos de 1950 no clube do Barro 
Preto. Nascido no bairro, começou a jogar no juvenil estrelado. Durante treze anos, 
defendeu a camisa cruzeirense, atuando no meio­campo e no ataque. Foi titular da 
Seleção Mineira até se transferir para o futebol venezuelano, em 1959. 

Plínio Barreto também celebrou Guerino, a quem deu a alcunha de o “Craque Galã”, 
enfatizando não só sua habilidade e amor ao Cruzeiro, mas também sua desenvoltura 
como exímio dançarino e amante da boemia:

“Um dos mais admirados atletas do futebol mineiro, que só conheceu uma cami­


sa clubística: a azul com cinco estrelas. [...] Primava pela elegância, dentro e fora
das quatro linhas. Entrava em campo como se fosse participar de uma soleni­
dade cívica, uma cerimônia religiosa, um baile de gala. Cabelos impecavelmente
penteados, chuteiras engraxadas luzindo ao sol da tarde ou à luz dos refletores,
calção e camisa que pareciam ter chegado há pouco da lavanderia. Seu estilo
era o clássico. Uma pena que o Mineirão houvesse surgido após o dependurar
de suas chancas.”

O  momento  era  de  transição  entre  craques  como  Adelino,  “O  Pracinha”,  Abelardo 
“Flecha Azul” e uma nova geração. Nesse ínterim, uma lenda sagrada do Barro Pre­
to, tanto do período de Palestra Itália quanto do Cruzeiro Esporte Clube, deixaria os
gramados: Geraldo II, o goleiro-pedreiro.

O início da década de 1950 foi marcada pela despedida de velhos ídolos e pela 
formação de um time modesto, mas aguerrido, que muito honrou a camisa cruzeirense. 
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O regulamento estabelecia que a disputa seria dada em 3 turnos distintos, com 
pontos corridos e uma inusitada contagem geral da pontuação. Os campeões 
dos dois primeiros turnos decidiriam uma final. O terceiro turno, denomina­
do “neutro”, contou com as seis melhores equipes nos dois turnos anteriores. 
A vida toda, ele se dedicou à dupla jornada entre os can­ Os campeões ganhariam 10 pontos por turno conquistado, pontos esses que 
teiros de obra (inclusive do próprio estádio JK, em 1945) seriam levados para a final. Nesta, a cada vitória conseguida seriam somados
e o campo de jogo. Assumiu a meta na segunda metade  mais 5 pontos. O empate valia 2,5 pontos. 
da  década  de  1930  e  permaneceu  por  lá  até  o  início  dos 
anos de 1950. Deixou­a pouquíssimas vezes. Foi campeão  O Cruzeiro venceu o segundo turno e o neutro, que se arrastou até meados de 
como Palestra Itália e tricampeão como Cruzeiro. Sempre  1955. O primeiro turno ficara com o Atlético de Belo Horizonte. Os rivais foram
alegre antes das partidas, bastava o início das pelejas para  para a disputa do título, com o time do Barro Preto tendo larga vantagem e 
se  transformar  num  paredão,  capaz  de  defesas  incríveis.  necessitando apenas de uma vitória e de um empate em quatro partidas. 
Muitas delas perigosíssimas para sua integridade física, o 
que lhe rendeu o apelido de “louco”.  O grito de “campeão” estava pronto para ser ecoado por todos os cantos peri­
féricos de Belo Horizonte, mas ficou preso após duas derrotas seguidas. No ter­
Como se sabe, no início do século XX não havia transmis­ ceiro jogo, empate. Era vencer o último confronto e sair da “fila”. Não foi o que
Escaneie para 
são de jogos pela TV, tampouco publicidade, internet  e  conhecer mais sobre  aconteceu. Nova derrota e o sonho de retomar o trilho dos títulos estava adiado. 
redes sociais. Caso contrário, certamente, hoje Geraldo II  o goleiro­pedreiro 
seria  reconhecido  como  o  maior  goleiro  do  Cruzeiro  por  Geraldo II. >>

um período mais extenso do seu primeiro centenário. 

Mesmo sem Geraldo II e com um time ­ no máximo ­ me­
diano  (mas  com  jogadores  acima  da  média,  como  Adeli­
no, Raimundinho, Guerino e Sabu), em 1954, tendo o ídolo
Niginho  como  treinador,  o  impossível  esteve  próximo  de 
acontecer. Iniciava­se um novo período de superação do 
Cruzeiro Esporte Clube.

O ano de 1954 marcaria a volta da Seleção Brasileira à Copa do Mundo após o (SUGESTÃO DE FOTO:
desastre da final de 1950. Os traumas e os medos ainda estavam presentes, mas, - IMAGEM DO TIME DE 1954
como é natural aos filhos dessa terra, a esperança de voltar a sorrir era maior.

O mesmo acontecia em meio à fanática torcida cruzeirense. Ela sabia o quanto


o momento era do amor na ponta da chuteira. A grave crise financeira – mais
uma vez – dizia aos atletas para procurarem outro clube para jogar, mas eles re­
solveram ficar. Ficar, em grande parte, devido ao carisma do treinador Niginho
e pela honra de defender a camisa azul e branca. 

As dificuldades não foram só fora de campo. Nos campeonatos estaduais, ao


Cruzeiro nunca bastou somente montar um time competitivo e revelar craques. 
Sempre foi preciso competir contra a má vontade e a imparcialidade dos diri­
gentes da Federação Mineira de Futebol (FMF) ­ como aconteceu no campeo­
nato de 1954, um dos mais confusos da história da competição.
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No campeonato seguinte, o desempenho foi um fiasco. O time ficou fora das
fases decisivas e penava para pagar os salários dos atletas. Porém, o “quase” 
de 1954 manteve aceso o ímpeto por superar mais um longo período de di­
ficuldades. Afinal de contas, infelizmente, o time já tinha até batido um triste
recorde ao completar uma sequência de dez anos sem o título mineiro. 

Em meados de 1956, ainda era cedo para imaginar que o Cruzeiro se tornaria,
definitivamente, o maior amor do interior de Minas Gerais, com a Academia
Celeste de 1966. Mas já havia um desejo muito grande em assistir ao time de 
perto, para além das notícias do rádio e dos jornais. O clube iniciou uma série 
de amistosos por cidades das regiões Sul, Centro-Oeste, Vale do Rio Doce e
Zona da Mata. Era uma forma de conseguir recursos para manter o time e, ao
mesmo tempo, entrosá­lo para a disputa do Campeonato Mineiro. Deu certo. 

O clima de otimismo aumentou com a inauguração da sede social. Mesmo per­
dendo a final do primeiro turno, torcida e jogadores estavam obstinados pela
glória. Foi assim que entraram, em 1957, para a disputa do segundo turno do 
certame do ano anterior. A conquista veio e, com ela, o direito de disputar a 
grande finalíssima numa melhor de três partidas. Foi quando um velho adver­
sário do Cruzeiro entrou em ação: a FMF e seus apadrinhados, os clubes das
famílias da oligarquia de Belo Horizonte. 

Logo na disputa da primeira partida da final, foi descoberta uma


fraude por parte do Atlético de Belo Horizonte. Um de seus prin­
cipais jogadores foi escalado de forma irregular. O lateral­direito 
Laércio não havia prestado o serviço militar, e isso o impedia de 
ter qualquer contrato de trabalho válido. 

O  Cruzeiro  protestou,  mas  a  FMF  fez  vistas  grossas,  para  não 


incomodar os poderosos senhores do dinheiro ligados ao clube 
do bairro de Lourdes. Na segunda partida, o atleta irregular foi 
escalado novamente. Mesmo com tudo comprovado, o tribunal 
da Federação decidiu não punir o Atlético, e o resultado das pri­
meiras partidas – dois empates – foram mantidos. 

No terceiro jogo, como prova de culpa, o time de Lourdes não esca­
lou o atleta irregular. Venceu a partida, mas, no Rio de Janeiro, lon­
ge da influência dos coronéis de Belo Horizonte, o Superior Tribunal
de Justiça Desportiva (STJD) arbitrou sobre o caso: houve “má fé”
por parte do Atlético, e os pontos das duas primeiras partidas de­
veriam ser dados para o Cruzeiro. Isso confirmaria o título do clube
estrelado, mas a FMF não deixou seus protegidos na mão. 
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Uma quarta partida decisiva foi marcada em meados de 1958, mas, aí, quem correu da dispu­
ta foi o Atlético de Belo Horizonte, que se negou a comparecer ao campo de jogo. O imbró­
glio se arrastou por dois anos e, somente em 1959, o Cruzeiro foi reconhecido oficialmente
pelo STJD como campeão mineiro de 1956. Porém, para beneficiar os seus protegidos, a FMF
não aceitou a decisão superior e resolveu dividir o título também com o Atlético. 

Não houve grito de campeão nas arquibancadas nem no Barro Preto. No entanto, parte da 
justiça foi feita a uma geração marcada por suportar as adversidades e carregar o Cruzeiro 
a um novo momento histórico de superação: Genivaldo (Mussula e Rossi), Vavá, Gérson
(Nozinho), Adelino, Lazzarotti, Pireco, Chiquinho, Nilo, Pelau, Guerino e Raimundinho (Sabu 
e Cabelinho). Graças a eles, a redenção estava próxima. 

(SUGESTÃO DE FOTO:

Na temporada seguinte, o time deu demonstrações de que necessitava de uma reformu­
lação. O avanço da idade de alguns atletas pedia a chegada de outros. Isso foi ocorrendo 
gradativamente, mas não em tempo suficiente para impedir um desempenho pífio em 1957.
No ano seguinte, o time começou a ser mesclado com caras novas, garimpadas na catego­
ria juvenil e no interior de Minas Gerais. 

Por excesso de clubes, o campeonato de 1958 precisou de um torneio inicial eliminatório. O 
Cruzeiro viveu um martírio, e só conseguiu a oitava e última vaga para a fase de disputa em 
turnos após uma partida extra com o Renascença. 

Fora  de  campo,  a  paz  voltava  a  reinar  entre  as  alas  políticas  divergentes  do  clube.  Isso 
também teve reflexo em campo, pois o “quase eliminado” acabou por engrenar. Como de
praxe, na primeira metade do século XX, o campeonato se estendeu para o ano seguinte. 

Na última rodada do segundo turno, o Cruzeiro venceu o Atlético e, com um empate entre 
América e Uberaba, classificou-se para a finalíssima contra o clube do bairro de Lourdes.
Mas, novamente, a FMF se tornou o décimo segundo jogador de clubes adversários do es­
crete estrelado do povo, dessa vez acatando uma das manobras mais surreais da história 
do futebol mineiro. 
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América e Uberaba entraram com recurso para anu­
lar  o  próprio  jogo,  sob  a  alegação  de  diferença  de 
tamanho  nas  traves.  O  Tribunal  de  Justiça  mineiro 
acatou o absurdo. Novo jogo foi marcado, e o Amé­ (SUGESTÃO DE FOTO:
rica venceu, provocando, assim, uma final do turno - IMAGEM DO TIME CAMPEÃO DE 1959, EXISTE UMA NA PÁGI­
contra o Cruzeiro, tirando do time estrelado a chan­ NA 87 DO DE PALESTRA A CRUZEIRO, MAS TAMBÉM EXISTEM
ce de ir à final do certame de 1958. DIVERSAS OUTRAS NO ACERVO DO CRUZEIRO E DO DIRCEU
PANTERA, QUE PODE SER EXCLUSIVO
Nos bastidores, em 1959, o então presidente, Anto­
nino  Pontes,  abriu  oportunidade  para  a  renovação 
dentro  do  clube.  Uma  dupla  de  diretores  –  Felício 
Brandi  e  Carmine  Furletti  ­  surgiu  para  iniciar  uma 
fase em que o Cruzeiro Esporte Clube conquistaria
um novo tricampeonato e, mais à frente, apresenta­
ria o futebol mineiro ao Brasil e ao mundo. 

Coube a Felício e a Furletti comandarem um grupo 
de olheiros de confiança para observar e fazer con­
tatos  com  jogadores,  tanto  no  futebol  do  interior 
quanto da várzea. Era um caminho que havia dado
certo em 1940, quando o clube ainda era Palestra.

O processo de renovação do time, iniciado em 1957 e  
1958, se concretizou em 1959. Para comandar o time,  
um ídolo estava de volta: Niginho, contestado por
parte  da  diretoria,  mas  bancado  por  Felício  Brandi,  
então diretor de futebol. Afinal de contas, nos dois
primeiros tricampeonatos (28/29/30 e 43/44/45)
havia  representantes  da  família  Fantoni  no  grupo  
campeão. Por que não daria certo mais uma vez? 
O título de 1959 garantiu ao Cruzeiro a disputa da Taça Brasil de 1960, recen­
Repleto de jogadores jovens e talentosos, o time do   temente criada. Depois de passar pelo Rio Branco, do Espírito Santo, o time
Cruzeiro voava em campo. Na última rodada, disputa­ enfrentou o forte Fluminense e acabou desclassificado.
da já no início de 1960, uma multidão lotou o estádio  
JK. Bastaria vencer o Democrata de Sete Lagoas para Esse fato não abalaria o clube. No Campeonato Mineiro de 1960, as cinco es­
soltar o grito preso na garganta há mais de uma déca­ trelas continuavam a brilhar, soltas na camisa azul. Na última partida do ano, 
da. O jovem ponteiro Hilton Oliveira abriu o placar, e o   vitória por 2 a 1 sobre o Pedro Leopoldo. A torcida cruzeirense passaria o ré­
craque da geração, Emerson, anotou mais dois. A vi­ veillon à espera das três rodadas finais, marcadas para janeiro de 1961. O grito
tória por 3 a 1 pintou Belo Horizonte de azul e branco.  de bicampeão estava bem próximo de ecoar pelas montanhas de Minas Gerais. 

Na década de 1950, o ídolo Niginho voltou ao clube e assumiu o posto 
de treinador. Era o início de uma nova superação na história do Cruzeiro.
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_ 1951_1960
1 9 5 1 _ 1 9 6 0 > FAT O S M A R C A N T E S 1955 
• Conquista do terceiro turno e classificação para a final do campeonato do ano anterior.
Bastava ao clube uma vitória e um empate em quatro jogos para conquistar o título, mas 
isso não aconteceu. 
1951 
• Mesmo com poucos investimentos e com a crise financeira que ainda tomava conta do
 
 A saída do técnico Niginho, durante o Campeonato Mineiro, fez com que alguns treinado­
clube, o Cruzeiro fez um bom Campeonato Mineiro, ficando apenas um ponto atrás do
res se oferecessem para treinar o time. Foi o caso do argentino Filpo Nuñes, que traba­
campeão, Villa Nova, e do vice, Atlético.
lhou de graça, apenas para mostrar seu valor no Brasil. 

 O 
  clube  investiu  praticamente  todos  os  recursos  do  ano  na  construção  da  sede  social, 
• Cruzeiro e Atlético fizeram um acordo e passaram a disputar os clássicos no estádio
que tinha como objetivo principal aumentar o número de sócios do clube. Anos depois, a 
Independência. 
estratégia se revelaria correta. 

 
 A campanha no Campeonato Mineiro de 1955 foi melancólica, com o Cruzeiro eliminado 
 
do turno final.
1952 
 
 Sem condições de arcar com os salários dos jogadores, o Cruzeiro dispensou o elenco  • Com a crise financeira ainda presente no clube, uma solução inusitada foi encontrada
profissional. Dessa forma, montou o time para a disputa do Campeonato Mineiro com para pagar os salários dos jogadores Nilo e Pelau. Uma sala na sede social era alugada 
jogadores  do  time  de  juniores.  A  imprensa  apelidou  a  equipe  de  “Time  dos  Brotos”.  O  para sócios jogarem baralho. O dinheiro arrecadado era suficiente para quitar os venci­
desempenho do jovem time foi apenas mediano.  mentos mensais dos dois. 

 
 Primeira excursão do Cruzeiro ao Sul do Brasil. No dia 15 de agosto, a Raposa empatou  • Em maio, foram disputados os jogos finais do campeonato do ano anterior. A federação
com o Lavoura, em 2 a 2, em Arapongas, interior do Paraná. Dois dias depois, nova parti­ puniu o goleiro Chico e o tirou do jogo final, contra o Atlético. Com isso, Geraldo II, que
da, com vitória cruzeirense por 5 a 1.  havia encerrado a carreira há dois anos, foi chamado às pressas para entrar em campo. 

1953  1956 
 
 Uma vez mais, o time faz campanha ruim no Campeonato Mineiro, terminando na quinta   
 No dia 8 de abril, em um amistoso com o América, no estádio Alameda, o Cruzeiro usou 
colocação entre 10 participantes.  um uniforme com listras horizontais azuis e brancas, que não caiu no gosto da torcida e 
  acabou em desuso. 
 
 Para tentar arrecadar algum dinheiro, o time fez vários jogos no interior, o que acabou 
aumentando a popularidade do Cruzeiro em toda Minas Gerais.  • Em novembro, foi inaugurada a sede social do Barro Preto. Com isso, o clube passou de
200 para 2 mil sócios. As festividades contaram com a participação do então presidente 
• Agravamento da crise financeira. A situação era tão precária que o Conselho Deliberativo da República, o cruzeirense Juscelino Kubitschek.
se reunia no vestiário do time de futebol. Não havia sequer uma sala para reuniões. 
• O Cruzeiro foi o campeão mineiro de 1956, mas o título só foi reconhecido oficialmente
em 1959. 
1954 
• A crise financeira chegou ao seu ápice. Os salários dos jogadores eram tão baixos que
o clube praticamente voltava ao amadorismo. No começo do ano, os jogadores iam aos  1957 
treinos motivados pela amizade com o técnico Niginho, um dos maiores ídolos do clube.   
 O Campeonato Mineiro de 1957 talvez tenha sido o mais surpreendente da história. Amé­
rica,  Democrata  de  Sete  Lagoas  e  Siderúrgica  foram  os  protagonistas,  com  Cruzeiro  e 
• Conquista do segundo turno do Campeonato Mineiro - o Cruzeiro se aproximou da final. Atlético fazendo papel de coadjuvantes. O título ficou com o América.
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_ 1951_1960
• Nesta temporada, a grande novidade foi a transmissão dos jogos pela TV. A responsável 1960 
foi a extinta TV Itacolomi. Os clubes não ganhavam um centavo pelas transmissões. Pelo • Em junho, Cruzeiro e Atlético reataram as relações esportivas dois anos após o rompi­
contrário, a renda dos jogos ficava menor, já que muitos torcedores preferiam ver os jo­ mento. Para celebrar o ato, disputaram um amistoso em Brasília, recém­inaugurada ca­
gos de casa a ir aos estádios.  pital federal. O jogo, que teve a presença do presidente Juscelino Kubitschek, terminou
empatado em 2 a 2. Foi a primeira partida do Cruzeiro no Distrito Federal. 
• Primeiras partidas do Cruzeiro no Espírito Santo, onde tem grande número de torcedores.
Foram três partidas, em dezembro, contra Desportiva, Rio Branco e um combinado entre   
 Primeira participação do Cruzeiro em uma competição nacional. O jogo inaugural foi con­
os dois times capixabas.  tra o Rio Branco, do Espírito Santo, no dia 23 de agosto, no estádio JK, com vitória dos
capixabas por 1 a 0. Dois triunfos cruzeirenses no Espírito Santo garantiram a Raposa na
  segunda fase do torneio, quando encarou o Fluminense. O Cruzeiro foi eliminado com um 
empate no Independência e uma derrota no Rio de Janeiro. 
1958 
 
 Para a disputa do Campeonato Mineiro, 16 clubes se inscreveram, número considerado 
alto para a época. Com isso, a Federação organizou o Torneio Classificatório, que definiria
os oito classificados para o certame. O Cruzeiro terminou na oitava colocação, empatado
com o Renascença de forma surpreendente. Esse resultado obrigou a realização de um
jogo­desempate, vencido pela Raposa por 5 a 0. 

• Apesar do susto no Torneio Classificatório, o Cruzeiro fez boa campanha no Campeona­


to Mineiro, terminando na terceira colocação ­ mas com mais pontos ganhos que o rival 
Atlético, que ficou com a taça.

 
 Uma reunião do Conselho Deliberativo, no dia 28 de outubro, determinou o rompimento 
das relações esportivas com o Atlético, devido ao clube ter se negado a acatar a decisão 
do STJD para uma partida decisiva em relação ao campeonato de 1956. Vários dirigentes
que haviam se afastado do clube nos últimos meses somaram forças, e todas as correntes 
políticas do clube se uniram. 

1959 
 
 O título estadual, décimo da história cruzeirense, só foi comemorado no ano seguinte, já 
que a competição se estendeu até março de 1960. 

 
 A conquista do Campeonato Mineiro valeu a participação na Taça Brasil do ano seguinte. 
A competição era o Campeonato Brasileiro da época. 

 
 No jogo contra o Renascença, no dia 19 de setembro, o Cruzeiro usou, pela primeira vez, 
as “estrelas soltas” na camisa, sem o círculo que antes as limitava. O uniforme fez sucesso 
imediato com a torcida, e a camisa é uma das mais bonitas do mundo até hoje. 
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A imagem do Cruzeiro resplandece 
Os anos de 1960 vieram para sacudir o Brasil e o mundo. Os jovens ocuparam  Mas ainda existiam muitas esquinas para o clube dobrar antes de atingir esse status de re­
as  ruas,  motivados  pela  rebeldia  contra  o  conservadorismo  sociocultural  da  presentante máximo de um estado perante o mundo do futebol brasileiro, principalmente 
primeira metade do século XX e, também, pela luta por mais direitos e contra  no eixo RJ­SP. A primeira delas seria se consolidar como o maior clube e de maior torcida 
governos autoritários e sanguinários.  dentro de Minas Gerais, o que não seria difícil, pois o clube já era adorado no seio do seu 
nascedouro – as zonas periféricas de Belo Horizonte –, por uma parcela dos mais abasta­
O acirramento político e bélico trazia novamente os temores da violência, da  dos e, principalmente, nos quatro cantos deste estado gigantesco. 
opressão e dos conflitos entre nações. O xadrez pela maior influência no mun­
do, iniciado pós Segunda Guerra Mundial, entrou em uma fase de extrema ten­ *** 
são. O Muro de Berlim, erguido  em  agosto  de  1961  para  separar  a  Alemanha 
Oriental da Ocidental, foi o símbolo máximo da chamada Guerra Fria entre os  O título mineiro de 1959 devolveu a confiança à torcida do Cruzeiro, e, principalmente, aos
Estados Unidos e a União Soviética. Ela se acirraria a partir dali, com reflexos jogadores. O time foi mantido e o desempenho do ano seguinte reforçou o clima de am­
intensos no resto do mundo, inclusive no Brasil, que mergulharia – após o Gol­ bição por mais conquistas. 
pe de 1964 – num período sombrio e longo de ditadura militar.
O prenúncio de um voo sem precedentes, simbolicamente, já vinha estampado na camisa. 
Definitivamente, o período de 1961 a 1970 foi de profunda transformação e, no O azul celeste, em homenagem disfarçada às suas origens italianas, já possuía um tom mais 
meio dela, o futebol se equilibrava. A recente conquista da Copa do Mundo de 
forte. As estrelas no peito, antes presas numa redoma, como uma cidade em meio a um 
1958, disputada na Suécia, e a devoção planetária por um menino­gênio cha­
belo horizonte de montanhas a lhe cercar, passaram a ser costuradas soltas na imensidão. 
mado Pelé viraram os olhos do mundo para o Brasil. Mas nem todo o Brasil. 
Sob esse manto sagrado, o mês de janeiro de 1961 chegou para sacramentar o novo ciclo 
de conquistas do Cruzeiro. 
Minas Gerais ainda era um distante e inexpressivo centro exportador de joga­
dores para os clubes de São Paulo e do Rio de Janeiro. Tinha seus lampejos 
Líder do campeonato do ano anterior, para conquistar o bicampeonato, o time precisava 
de despontar na crônica esportiva nacional, com desempenhos medianos no 
apenas manter a distância de pontos para o Siderúrgica, segundo colocado. Poderia ter
Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais. Viria a conquistar seu único títu­
sido campeão contra o Sete de Setembro, mas o empate adiou a possibilidade exatamente 
lo no certame de 1962, mas seus clubes não tinham qualquer força para romper 
para o clássico contra o Atlético de Belo Horizonte, na penúltima rodada. O estádio Inde­
as montanhas e fazer o nome do Estado brilhar no cenário nacional.
pendência estava completamente lotado ­ a imensa torcida cruzeirense ocupava a maior 
parte. Nada de gols, mas um novo empate garantiu o título antecipado. 
Por tudo isso, a história escrita pelo Cruzeiro no período de 1961 a 1970 vai mui­
to além de um capítulo da sua própria trajetória centenária. A era de vitórias  Fogos de artifício estouraram por toda a cidade. Essa foi a primeira volta olímpica azul e
esportivas, de ampliação de patrimônios e de modernização de gestão levaria  branca no estádio Independência. O gramado foi se enchendo de homens e crianças vesti­
o time do povo mineiro, dos imigrantes e dos operários de Belo Horizonte a  dos de azul e branco. Exaustos, jogadores como o zagueiro Procópio, o maestro Amauri de
se tornar o embaixador de Minas Gerais no futebol brasileiro e no mundial. A  Castro e o ídolo Rossi foram carregados nos braços e envoltos em bandeiras do Cruzeiro. 
camisa azul com cinco estrelas se tornaria referência simbólica da mineiridade.  A alegria do povo vencia mais uma vez. 
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As  constantes  vendas  de  passes  de  jogadores,  com a dupla Fe­
lício  e  Furletti,  não  se  resumiam  mais  a  estancar  a  sangria  dos 
Era o primeiro título do novo presidente do clube. Felício Brandi sucedeu Antonino Pontes, cofres do clube. Passou a ser uma arte digna de honrar a astúcia 
de quem foi diretor de futebol. Para essa função, trouxe seu companheiro Carmine Furletti.  da mascote, a raposa. Em uma de suas crônicas, Plínio Barreto re­
A razão e a emoção. O diálogo e a rigidez. A astúcia e a malemolência. As gestões financei­ velou um episódio do qual ele próprio foi personagem: a inusitada
ra e de boleiros. A sintonia fina da maior dupla de dirigentes de toda a história do futebol tentativa do Flamengo de contratar Procópio por meio do com­
brasileiro se formava ali.  positor Ary Barroso, torcedor fanático do time carioca, que foi até 
Belo Horizonte para se reunir com Felício Brandi. 
Nesse período, o palestrino­cruzeirense Plínio Barreto já não era apenas um dos maiores cro­
nistas esportivos do Brasil. Ele estava diariamente no Barro Preto, assistindo a treinos e a jo­ Se havia astúcia para não deixar os destaques se transferirem por 
gos, conversando com jogadores, estudando os métodos de cada técnico e, corriqueiramen­ valores baixos, o Cruzeiro também mantinha a estratégia de sem­
te, acompanhando Felício e Furletti na busca por novos talentos para o futebol. Era comum pre buscar reforços para manter o padrão de jogo ­ esse que tam­
consultá­lo nos bastidores das negociações de idas e vindas de nomes do elenco cruzeirense.  bém teve, nos anos de 1960, uma profunda transformação simbó­
lica. O “Cruzeiro Duro” ­ como era chamado o time pela imprensa 
Tanto brilho do time bicampeão de 1959/1960 chamou a atenção dos grandes clubes brasi­ e pela torcida, devido ao seu jogo de força física ­ aos poucos iria 
leiros. Seria difícil manter alguns jogadores ­ o clube, como sempre, equilibrava­se na corda  migrando para o futebol­arte, fato que lhe renderia a nova alcu­
bamba das dificuldades financeiras. Procópio partiu para o futebol paulista. Hilton Oliveira, nha de “Academia Celeste”. 
para o carioca. 
O campeonato de 1961 estava se iniciando. Novos jogadores chega­
ram do juvenil do próprio clube e de outras equipes do interior e da  
capital ­ como Geraldino, que o próprio Plínio Barreto chamava de  
“um dos melhores laterais esquerdos já surgidos no futebol mineiro”. 

O início da disputa foi confuso para o Cruzeiro. Aconteceram diver­
sos tropeços que custaram, ao fim, a saída do técnico Niginho. O
diretor Carmine Furletti dirigiu o time por um bom período até ser  
substituído por Geninho. A equipe engrenou e partiu para se recu­
perar na tabela, ao ponto de não desistir de mais um tricampeonato. 

O  campeonato  se  arrastou  para  os  primeiros  meses  de  1962,  com  
Cruzeiro e América rivalizando na ponta da tabela. A três rodadas do  
fim, os dois se encontraram, e o time alviverde da elite venceu. Res­
tava ao clube estrelado ganhar o clássico contra o Atlético de Belo  
Horizonte na penúltima rodada para seguir sem novos sobressaltos:
2 a 0, com gols de uma dupla adorada pela torcida: Elmo e Orlando.

Já era abril de 1962 quando os times entraram em campo para a 
última rodada do torneio do ano anterior. No estádio Independên­
cia, o Cruzeiro receberia o Bela Vista, de Sete Lagoas. Com novo
show de Elmo e Orlando, o time venceu por 3 a 0. As cinco es­
trelas brilhavam novamente. O terceiro tricampeonato da história 
do clube estava garantido. Dessa alegria viria a semeadura para o 
brotar de um gigante. 
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A  essa  altura,  os  feitos  extrapolavam  as  quatro  li­
nhas.  Um  sonho  antigo  e  adormecido  há  duas  dé­
cadas se concretizou. O terreno do clube na região 
da Pampulha finalmente foi transformado na Sede
Campestre. O número de sócios explodiu, chegando 
a 4.000 naquela época.

Em campo, a busca pelo primeiro tetracampeona­


to esbarrou no “quase” de 1962 e nos desempenhos 
ruins dos dois anos seguintes. Mas, para quem vivia 
o clube por dentro, como Plínio Barreto, era factível 
entender que algo grandioso estava sendo estrate­
gicamente preparado para vir. 

Sem  tanto  alarde,  dois  gênios  do  futebol  mundial, 


Tostão e Dirceu Lopes, ainda garotos, foram contra­
tados  pelo  Cruzeiro  em  1963.  Plínio  Barreto  escre­
veu sobre a chegada dos dois. 

(SUGESTÃO DE FOTO: USAR E ABUSAR DE FOTOS

A sede campestre do Cruzeiro é erguida em terreno 
doado pelo ex­prefeito Américo Renné Giannetti. 
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O genial Tostão 
Sobre a ida de Tostão para o Barro Preto, sempre houve 
uma polêmica de como isso teria ocorrido. O jogador, atle­
ta do futebol de salão cruzeirense, aos 15 anos despontava 
como craque. A diretoria do América o levou para o fute­
bol de campo juvenil e aí criou­se a confusão. É o próprio 
Tostão quem revela como tudo aconteceu:

‘Eu era juvenil do América, amador; sem contrato de


gaveta, e o Cruzeiro me ofereceu um contrato profis­
sional. Era bom para um iniciante, quase no mesmo
nível das estrelas de  Minas Gerais, mas muito longe
de um bom jogador do Rio ou de São Paulo. Comuni­
quei ao América o interesse do Cruzeiro e disse que
preferia continuar no clube. O América não acreditou.
O diretor, Raimundo de Magalhães, pensou que era
“golpe para
  ganhar dinheiro”, assim me transferi para
o Cruzeiro. O contrato foi assinado no dia  do casa­
mento do presidente do Cruzeiro, Felício Brandi, que
correu para chegar à igreja.’

Dos 16 aos 18 anos, Tostão se firmou como craque, jogando sempre pelo time
azul estrelado. Foi convocado para a seleção brasileira e disputou a Copa do 
Mundo  de  1966.  Jogador  de  rara  habilidade,  canhoto,  frio  nos  momentos  de 
decisão e técnica apurada no toque de bola, ele foi considerado o novo Pelé do 
futebol brasileiro. Com Tostão, o Cruzeiro tinha uma jogada mortal: ele, o late­
ral Neco e Hilton Oliveira faziam a triangulação pela esquerda e o lançamento 
sempre saía para a exploração da velocidade do ponta, que chegava à linha de 
fundo e batia cruzado. Essa jogada quase sempre resultava em gols, pegando o
ataque cruzeirense de frente. 

Tostão foi cinco vezes campeão da artilharia do campeonato mineiro, nos anos 
de 65, 66, 67, 68 e 70. Presença garantida em todas as seleções brasileiras que 
se  formaram  a  partir  de  1966,  foi  tricampeão  do  Mundo,  na  Copa  do  México. 
Em 1972, transferiu-se para o Vasco, onde encerrou prematuramente a carreira
devido a um descolamento da retina. Divide com Dirceu Lopes a condição de 
maior jogador dos tempos modernos do Cruzeiro. 
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O incomparável Dirceu Lopes 
O baixinho de Pedro Leopoldo ­ o mais célebre camisa 10 do clube ­ era um gigante no 
meio de campo. Elogios a ele foram feitos por alguns dos maiores craques do futebol bra­
sileiro, como Rivellino, tricampeão mundial em 70, e o incomparável Garrincha. O goleiro 
Raul disse uma vez que, numa excursão do Cruzeiro pela América Central, houve um en­
contro com o time do Corinthians, clube onde Garrincha jogava na época. Hospedados no 
mesmo hotel, Dirceu Lopes foi procurado pelo maior ponta­direita de todos os tempos. 

Ele bateu à porta do quarto onde estávamos eu e o Dirceu. Quando abri, Garrincha se dirigiu
ao Dirceu, apertou-lhe a mão, enquanto dizia: Tenho o prazer de conhecer o maior jogador
brasileiro da atualidade. O famoso Mané saiu logo em seguida, e o Dirceu, boquiaberto, fi­
cou sem reação.

O então garoto de Pedro Leopoldo tinha uma habilidade incrível para driblar em velocida­
de e chutar forte e colocado tanto com a perna direita quanto com a esquerda. Suas arran­
cadas levantavam a torcida cruzeirense e faziam tremer as adversárias. 

Durante toda sua carreira, foi dito que ele não jogava bem em seleções, o que é uma in­
justiça. Na realidade, ele só teve chances com o técnico João Saldanha, em 1969, quando 
preparava a equipe para o Mundial de 70. O inferno astral vivido pelo “Príncipe” começou 
quando Saldanha foi substituído por Zagalo na direção técnica da seleção brasileira. O
novo treinador não assimilava a grandeza do futebol de Dirceu Lopes mostrado no Cru­
zeiro e, embora tivesse o pedro­leopoldense feito uma grande exibição no último jogo da 
seleção, o treinador preferiu convocar o centroavante Roberto, do Botafogo. 

Sobre Dirceu Lopes, o meia Rivelino, especialista na posição, disse um dia, em 
um programa de TV: ‘Na minha época, foi um dos maiores, e poucos faziam
como ele a ligação do meio de campo com o ataque’.

Quis o destino que a estreia de Tostão como titular no time profissional do Cru­
zeiro acontecesse pelas mãos do primeiro grande ídolo da história do Cruzeiro/ 
Palestra, Niginho Fantoni, num amistoso contra o Siderúrgica, em 1963. Rapida­
mente, por sua habilidade e inteligência tática, tornou­se absoluto na equipe. 

Já a história de Dirceu Lopes também tem o dedo de outro ex­jogador da Rapo­
sa. Juca, seu parente longínquo, foi o responsável por convencer Felício Brandi 
a contratá­lo e Furletti a ir até a sua cidade fazer o convite para o garoto e para 
os seus pais. Dirceu Lopes foi se firmar no time principal somente um ano de­
pois de Tostão, após uma temporada no juvenil e nos aspirantes. 
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Eles estavam nervosos, e o problema era encontrar um nome. Entrei na
No  mesmo  período,  outro  jovem  promissor  chegava  ao  conversa e disse: ‘o técnico que vocês querem está lá em cima. Acabei de
Cruzeiro,  vindo  do  Renascença.  Wilson  Piazza,  o  eterno  conversar com o Airton Moreira agora e ele apontou um problema que
capitão de uma camisa só, já que, depois de vestir o man­ eu acho pertinente. O posicionamento do Tostão e do Dirceu’. Os dois
to sagrado pela primeira vez, até o fim de sua carreira só ficaram me olhando como se eu estivesse perdendo a razão. Tive que
defendeu o time do Barro Preto e a Seleção Brasileira.  apresentar argumentos.”

Apesar de ter sido o responsável por lançar o tripé Piazza/  Na rodada seguinte, Airton Moreira já estava treinando o time que se tor­
Tostão/Dirceu  Lopes  durante  o  campeonato  mineiro  da­ naria a Academia Celeste sob seu comando. A equipe ainda contaria com 
quele ano, o técnico Mário Celso, o Marão, não conseguia  a chegada paulatina de uma nova leva de reforços entre 1964 e 1966 - en­
dar  um  padrão  de  jogo  à  equipe.  Após  uma  derrota  em  tre eles o goleiro Raul; os zagueiros William, Cláudio e Procópio; os volan­
Sabará, para o Siderúrgica, que viria a ser o campeão do  tes Hilton Chaves e Zé Carlos; o lateral Neco; os atacantes Marco Antônio
ano, ele foi dispensado.  e Evaldo, além do surgimento de jovens como Pedro Paulo e Natal.

Em 1964, o então presidente Felício Brandi dedicava parte


do  tempo  a  assistir,  da  varanda  da  sede  social  no  Barro 
Preto, aos treinos e aos jogos da Academia que ia forman­
do. Fazia isso muitas vezes ao lado de Carmine Furletti e 
de seus conselheiros pessoais, como o era Plínio Barreto. 
O próprio Plínio contou a forma como participou inusita­
damente da escolha do novo técnico:

“O time do Marão não convencia. O Felício e o Furletti não se aguen­
tavam de tanta ansiedade e decepção com os investimentos e os re­
sultados dentro de campo. A saída do Marão estava definida, só não se
chegavam a uma decisão sobre o nome do substituto. Eu, há um tempo, 
só assistia aos treinamentos do time da janela da sede social, ao lado 
do Airton Moreira, então gerente administrativo do Cruzeiro. No bate 
papo  sobre  o  desempenho  do  conjunto,  o  Airton  fez  um  comentário 
que eu achei muito pertinente. Ele dizia que ‘o time parecia jogar en­
tortado. O Tostão, canhoto, jogava como um meia direita, e o Dirceu 
Lopes, destro, atuava como meia esquerda. Eu inverteria a posição dos
dois’.  Por  uns  minutos, fiquei olhando para o Airton e concordei com
ele. Bom, terminou o treino e eu desci para fazer uma matéria com o Fe­
lício e o Furletti sobre o futuro do time. A queixa maior era sobre o bai­
xo rendimento de Tostão e de Dirceu, considerados como promessas. 

Evaldo (esquerda) e Natal (direita, abaixo) também se juntaram a Tostão e a Dirceu Lopes para o
início da formação de um dos maiores times da história do futebol mundial, assim como Zé Carlos
(direita, acima), ídolo e segundo jogador que mais vestiu a camisa do Cruzeiro (633 jogos). 
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Ainda em 1964, Felício Brandi iniciou uma rotina de visitas à lon­


gínqua  região  da  Pampulha.  Fazia  questão  de  acompanhar  de 
perto o nascimento de um gigante. A construção do estádio Mi­
neirão estava em ritmo acelerado. Paralelamente, iam se forman­
do o maior time da história do futebol mineiro e também o palco 
capaz de receber 120.000 pessoas para assisti­lo jogar. 

Plínio Barreto escreveu sobre esse casamento: “Parecia que Cru­


zeiro e Mineirão estavam sendo trabalhados um para o outro.
Quando, na histórica tarde de 5 de setembro de 1965, o estádio
José Magalhães Pinto era entregue ao Brasil futebolístico, o time
do Cruzeiro já era também uma realidade. E, até hoje, os dois –
clube e estádio – continuam plenamente identificados. Nenhum
outro time conseguiu superar o Cruzeiro em títulos conquistados
no segundo maior estádio de futebol do mundo.”

O  campeonato  de  1965  começou  no  início  de  julho,  dois  meses 
antes de o Mineirão abrir as portas ao público. Bastou o estádio 
ser entregue ao futebol que a máquina azul se fez presente. No 
primeiro clássico do Gigante da Pampulha, jogo contra o Atlético 
de Belo Horizonte. Vitória por 1 a 0, gol de Tostão. A partida não
terminou devido à agressão dos jogadores alvinegros ao árbitro. 
Foi  a  primeira  confusão  dentro  de  campo  no  Mineirão  –  e  mais 
uma vez na história que o Atlético recorria ao extracampo para 
não aceitar a superioridade do Cruzeiro. 

As goleadas tornaram­se frequentes. Tostão, seguidamente arti­
lheiro do time, já era cogitado para a Seleção Brasileira. O título  
de campeão mineiro de 1965, o primeiro no Mineirão, veio com so­
bras, com os últimos jogos sendo disputados já no ano seguinte.  

O Cruzeiro não encontrou dificuldades em chegar ao bicampeo­


nato em 1966. Faltando duas rodadas para o final da competição,
havia conseguido o título com apenas uma derrota, um empate 
e a impressionante marca de 3,5 gols por partida. Tostão, Dirceu 
Lopes, Natal, Evaldo e Hilton Oliveira comandavam o ataque “rá­
pido  e  rasteiro”  de  um  time  que  já  deixava  o  Brasil  inteiro  per­
plexo,  pois  havia  também  colocado  de  joelhos  o  maior  time  de 
futebol do mundo: o Santos de Pelé.

A construção do Estádio Mineirão, na década de 1960, foi o grande acontecimento do esporte nacional.
O então presidente do Cruzeiro, Felício Brandi, acompanhou tudo de perto, com o intuito de transformá­lo no palco 
para o grande time que estava sendo formado no clube. Na inauguração, ele mandou colocar uma enorme bandeira com a 
mascote do Cruzeiro – a raposa – do lado da arquibancada onde queria ver sua torcida (página seguinte). 
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Tudo  isso  ocorreu  paralelamente  ao  Campeonato  Mineiro  de 


1966. O Cruzeiro iniciou a disputa da Taça Brasil ­ nome dado ao 
campeonato brasileiro naquela época e que classificava os repre­
sentantes do país para a Taça Libertadores da América. A equipe 
mineira tinha como grande destaque o garoto Tostão, que havia 
disputado a Copa do Mundo da Inglaterra pelo Brasil. 

Vencendo seguidamente a Taça Brasil, a Libertadores e, conse­


quentemente, os Mundiais de clubes, o Santos de Pelé tornou­se  
conhecido no mundo inteiro. O time era o franco favorito para le­
var a edição de 1966 da Taça Brasil, o que faria dele hexacampeão. 

A estreia do Cruzeiro seria contra o campeão do Rio de Janeiro,  
o  Americano,  da  cidade  de  Campos,  em  setembro.  A  primeira  
partida foi suficiente para mostrar como o time mineiro havia se
tornado uma verdadeira Academia de futebol­arte. Uma golea­
da por 4 a 0. Na partida de volta, no Mineirão, outro espetáculo:
6 a 1, mesmo sem o “menino passarinho”, Dirceu Lopes, que es­
tava contundido. 

Chegava o Cruzeiro às quartas-de-final, e o adversário era o po­


deroso Grêmio, de Porto Alegre. A primeira partida foi na capital 
gaúcha. Vale o registro de um fato pitoresco ocorrido minutos an­
tes do jogo. No vestiário determinado ao time visitante, enquanto 
os  atletas  azuis  se  aprontavam,  em  um  canto,  o  lateral  direito 
Pedro Paulo, místico por natureza e dado a crendices, notando a 
presença do repórter do jornal Estado de Minas, chamou-o e, em
caráter sigiloso, pediu a ele que escrevesse em pedaços de papel 
os nomes dos jogadores gremistas que iriam atuar naquela tarde. 

A solicitação, feita em tom apelativo, foi imediatamente atendida. Para surpresa do repór­
ter, Pedro Paulo dividiu os papeluchos, colocou­os no fundo de suas chuteiras, abriu um 
sorriso e exclamou: “Pronto, tá tudo preso!”. Mesmo com uma pressão ininterrupta do tri­
color, o jogo terminou em 0 a 0; uma vitória, devido às circunstâncias.

Jogo de volta, no Mineirão. Dentro de campo, um verdadeiro clássico. O gol do Grêmio no 
segundo tempo acordou o Cruzeiro. Apoiado por uma arquibancada repleta de torcedores 
fanáticos, o time lutou até virar o placar. O público comemorou e vibrou naquele que foi um 
dos mais emocionantes jogos acontecidos no Mineirão até então. 

A Academia Celeste de 1966: Neco, Pedro Paulo, William, Procópio, Piazza e


Raul (em pé). Natal, Tostão, Evaldo, Dirceu Lopes e Hilton Oliveira (agachados).
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O adversário nas semifinais seria o poderoso Fluminense. Novamente, o Mineirão estava 30 de novembro de 1966. Cabia ao Cruzeiro dar ao Mineirão e a Belo 
cheio para assistir à Academia Celeste. Mais de 60.000 pessoas estavam presentes na vi­ Horizonte o presente de sediarem ao primeiro jogo da finalíssima do
tória por 1 a 0. A torcida estrelada reafirmava a condição de que era a que mais crescia em campeonato nacional de futebol pela primeira vez. As filas nas bilhe­
Minas Gerais e no Brasil. O Cruzeiro já levava multidões para assistir aos espetáculos por ele  terias eram quilométricas. Ingressos esgotados. A bilheteria registrou 
propiciados.  um recorde nacional: 223 milhões, 314 mil e 600 cruzeiros.

O time das cinco estrelas atingia um nível absurdo de entrosamento entre os seus jogado­ Cerca de 100.000 pessoas entraram no Gigante da Pampulha, soman­
res. O Maracanã, palco da partida de volta das semifinais, assistiu a mais uma exibição de do-se os 77.325 pagantes, os convidados, os profissionais de imprensa
gala. Vitória por 3 a 1 sobre o tricolor carioca. O Cruzeiro estava na final da Taça Brasil. Do de todo o país e os outros milhares de cruzeirenses, que, sem dinheiro 
outro lado, o Santos, à espera do adversário para – como toda a mídia esportiva cravava –  para o ingresso, pularam as roletas e os muros do estádio ­ como um 
sacramentar o sexto título consecutivo na competição nacional.  garoto  chamado  Joãozinho,  que,  dez  anos  depois,  seria  coroado  ali 
mesmo, no gramado do Mineirão, como o “Bailarino da Toca”. 

Os times alinhados. O Cruzeiro defenderia o chamado gol da Lagoa 
da  Pampulha,  formando  com  Raul,  Pedro  Paulo,  William,  Procópio  e 
Neco; Piazza e Dirceu Lopes; Natal, Tostão, Evaldo e Hilton Oliveira. O
Santos veio com Gilmar, Carlos Alberto, Mauro, Oberdan e Zé Carlos;
Zito e Lima; Doval, Toninho, Pelé e Pepe.

Em cada torcedor presente, a dúvida: O Cruzeiro aguenta?  Ninguém


poderia ter imaginado o que aconteceria naquela noite em especial. 

A surpresa começou com um minuto de jogo. Hilton Oliveira deixara 
Carlos Alberto para trás, indo até a linha de fundo e cruzando forte. 
O lateral santista Zé Carlos, na tentativa de defesa, marcou contra.
Cruzeiro 1 a 0. Quatro minutos depois, quando a torcida ainda festeja­
va, Piazza desarmou Pelé e passou para Dirceu Lopes. Contra­ataque 
fulminante. Dirceu Lopes tabelou com Evaldo, a bola chegou a Natal,
o chute do ponteiro foi indefensável. Gilmar nada poderia fazer. 2 a 0. 

Aos 20 minutos, o terceiro gol. Obra do inconfundível Dirceu Lopes. O 
Mineirão era todo uma festa. 

Dezenove minutos haviam se passado e Dirceu Lopes levava o Santos 
ao desespero. Um corte rápido em Zito para a direita, outro à esquer­
da. O chute certeiro no ângulo de Gilmar. Na tentativa de defesa, o
goleiro bicampeão do mundo não teve outra opção senão abraçar a 
trave: 4 a 0. O quinto gol seria do genial Tostão. O time do Santos,
abatido, não acreditava no que estava acontecendo. Nem o público, 
diante daquele placar elástico de 5 a 0. 
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Paulista de Futebol, ganha o interior do vestiário, convocando a presença do então presi­
dente Felício Brandi. Prontamente atendido, o emissário paulista faz ver ao dirigente estre­
Na descida para o vestiário, Dirceu Lopes olhou para o  lado a necessidade de comparecer à presença de Mendonça Falcão e de Athié Jorge Cury, 
placar, atônito. Chamou Natal antes de descer o túnel  então dirigente máximo santista. A providência era tratar da realização da terceira partida. 
para o vestiário e, com voz baixa, perguntou ao compa­
nheiro: “É isso mesmo?” Nem os jogadores do Cruzeiro  Talvez para levantar o ânimo de seus jogadores, o presidente rechaçou a proposta e, a al­
estavam acreditando no que acontecia no Mineirão.  tos brados, para melhor ser ouvido pelos craques, deu o recado curto e grosso, mandando 
dizer a Mendonça Falcão que aquele placar de 2 a 0 nada representava, as passagens aé­
Veio o segundo tempo, e o time de Pelé esboçou rea­ reas de volta a Belo Horizonte já estavam adquiridas e que, na pior das hipóteses, o placar 
ção. Toninho fez dois gols em três minutos. Mas ficou final seria o empate de 2 a 2.
só nisso. Com o placar em 5 a 2, o Cruzeiro passou a 
tocar a bola, colocando o Santos na roda. A noite seria  Não se sabe o quanto a reação de Felício Brandi possa ter influenciado no ânimo dos jogado­
mesmo de Dirceu Lopes.  res, mas o time voltou bem diferente para o tempo final. Piazza colou em Pelé; Tostão e Dir­
ceu Lopes inverteram seus lados de jogo e a chuva parou. Logo, aos 12 minutos, Evaldo é der­
Evaldo, lançado em profundidade, partira para o gol rubado dentro da área. Pênalti. Mas Tostão não aproveitou, propiciando a defesa de Cláudio. 
de  Gilmar,  chocando­se  com  o  goleiro.  Dirceu  Lopes  
estava lá para encerrar o placar: 6 a 2. Foguetes, is­ Sete minutos depois, Natal é derrubado fora da área. Tostão se prepara e, mesmo sem ângulo
queiros acesos, bandeiras e os gritos da vitória tomam   favorável, de curva, coloca a bola no canto direito do goleiro santista, diminuindo o marcador. 
conta do cenário. 
Nove minutos depois, Dirceu Lopes, que havia sido a sensação nos 6 a 2 no Mineirão, aplica  
Uma semana se passou. A torcida do Cruzeiro come­ finta desconcertante em Joel e o chute sai certeiro: 2 a 2. O Cruzeiro já era ali o detentor da
morou o resultado, mas a quarta­feira, dia 7 de dezem­ Taça Brasil. Quando restava apenas um minuto para o término do grande jogo, Natal, apro­
bro, chegara. Era o dia do segundo jogo. O respeito veitando  uma  jogada  magistral  de  Tostão,  estabeleceu  3  a  2.  O  Cruzeiro  era  o  legítimo  e  
pelo time de Pelé era grande, e muitos perguntavam se  incontestável campeão brasileiro. 
a  equipe  comandada  por  Airton  Moreira,  aquele  time 
de garotos, aguentaria a pressão dentro do Pacaembu. 

Tudo conspirava contra o time mineiro. Noite chuvosa, gramado pesado ­ o pior 
para um time leve como o Cruzeiro. O Santos entrou em campo para decidir 
logo. Caso vencesse, seria necessária uma terceira partida. A goleada por 6 a 2 
não dizia muito. Bastava ao time praiano uma vitória simples para que houvesse 
um terceiro jogo extra. 

Com o uniforme branco, o Cruzeiro entrou em campo. A defesa resistiu até os 
23 minutos, quando Pelé passou por William e chutou no canto de Raul. Dois 
minutos depois, Toninho tabela com Pelé, recebe na frente e faz 2 a 0. Os san­
tistas  tinham  sede  de  vingança.  Queriam  devolver  a  goleada  do  Mineirão.  Na 
primeira metade do jogo, só deu Santos. Ao final do primeiro tempo, o resulta­
do de 2 a 0 era o que mostrava o placar do Pacaembu. 

No intervalo, enquanto os atletas cruzeirenses se refaziam dos 45 minutos ini­


ciais,  um  representante  de  Mendonça  Falcão,  então  presidente  da  Federação 
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Em Belo Horizonte, a festa durou uma semana. A chegada dos jogadores no aeroporto O  mundo  inteiro  queria  ver  a  Academia  
da Pampulha foi uma apoteose. A massa, vestida de azul, acompanhou o desfile dos cam­ Celeste,  o  time  da  torcida  mineira  que  
peões feito em carro aberto do Corpo de Bombeiros, desde a Pampulha até a Praça Sete,  havia  desbancado  o  Santos  de  Pelé.  Os  
no centro da capital, dali rumando para a sede social da Rua Guajajaras, no Barro Preto.  primeiros  a  terem  essa  oportunidade  fo­
ram  os  venezuelanos  e  os  peruanos,  pois  
o Cruzeiro estreou contra eles na sua pri­
meira  participação  da  Taça  Libertadores  
da América, em 1967.  

Na  sequência,  contra  os  poderosos  uru­


guaios Nacional e Peñarol, na fase semifi­
nal, o Cruzeiro não tomou conhecimento e  
venceu  as  duas  partidas  no  Mineirão.  Sua  
superioridade técnica era inquestionável e  
se mostrava na prática. Nos dois jogos de  
volta, em Montevidéu, bastava conquistar  
um ponto para chegar à final.

Eram tempos de “Libertadores raiz”. O fu­


tebol­arte não conseguia superar a violên­
cia  uruguaia.  O  Cruzeiro  acabou  derrota­
do por Peñarol e Nacional e precisou adiar,  
por  uma  década,  sua  missão  de  colocar  
Minas Gerais no mapa dos vencedores da  
Libertadores.  

Na  volta  à  realidade  do  Campeonato  Mi­


neiro,  uma  das  maiores  superações  em  
campo  da  equipe  do  Cruzeiro  motivou  
o time a rumar até o tricampeonato. Ela
aconteceu no clássico contra o Atlético de  
Belo Horizonte, ainda pelo returno. Mesmo  
perdendo por 3 a 0, com um jogador a me­
nos – Procópio foi expulso – e a contusão  
do craque Tostão, o time foi buscar o em­
pate em 3 a 3. Dois meses depois, a imba­
tível Academia era tricampeã. 

Definitivamente, Minas Gerais passou a ser respeitada no cenário do futebol brasileiro. As


cinco  estrelas  foram  responsáveis  por  isso.  A  imagem  do  Cruzeiro  resplandeceria  para 
sempre depois daquela conquista.  Em 1967, o Cruzeiro disputou pela primeira vez a Copa Libertadores da América.
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Mas um tabu também parecia ser intransponível: romper a sequên­
cia  de  três  títulos  mineiros  consecutivos.  O  campeonato  de  1968 
passou a ser uma questão de honra para o time. E ele fez por onde.
Atropelou todos os adversários, e, de forma invicta, finalmente
pôde dar ao torcedor o direito de colocar a faixa de tetracampeão 
no peito. Nessa campanha se destacou outro gênio da história do 
Cruzeiro - o meio-campo Zé Carlos, a quem Plínio Barreto descre­
via como “um jogador para ser inscrito na galeria do futebol-arte.
Batia na bola como se usasse chuteiras de pelica, tal era o carinho
com que a tratava”. 

Novamente  invicto,  o  time  chegou  ao  primeiro  pentacampeona­


to  de  sua  história,  em  1969.  Foram  30  jogos,  26  vitórias  e  quatro 
empates. Memorável conquista, que marcou a maior sequência de 
títulos do Cruzeiro numa mesma competição. 

A torcida do Cruzeiro batia recordes de média de público no cam­
peonato  brasileiro,  que  tinha  o  nome  de  Roberto  Gomes  Pedro­
sa, popularmente chamado de “Robertão”. Em campo, o time en­
trou para a última rodada do quadrangular final com a chance de
conquistar o bicampeonato nacional. Mais de 60.000 cruzeirenses 
presentes no Mineirão vibraram com a vitória por 2 a 1 sobre o Co­
rinthians, mas o grito não saiu. O Palmeiras também vencera o Bo­
tafogo por 3 a 1, e, por um gol a mais de saldo, sagrou­se campeão. 

O  Cruzeiro  e  todo  o  futebol  brasileiro  adentraram  o  ano  de  1970  em  clima 
de  amistosos  e  expectativas.  Atenções  e  esforços  estavam  voltados  para  a 
Copa do Mundo no México. Do elenco estrelado era esperada a convocação de 
quatro atletas para o escrete brasileiro: o zagueiro Fontana, Piazza, Tostão e
Dirceu Lopes, apelidado de “Príncipe”, por jogar ao lado do “Rei” Pelé. No en­
tanto, com a saída de João Saldanha do comando da Seleção Brasileira, Dirceu 
perdeu espaço. O novo treinador, Zagallo, não o levou para o México.

Enquanto o Brasil inteiro festejava o tricampeonato mundial, dentro do Barro


Preto um desejo começava a se tornar obsessão. Se o mundo inteiro queria ver 
Tostão, Dirceu Lopes e a toda a Academia Celeste, por que não conquistá­lo 
também? Atingir esse objetivo passava por se tornar um libertador da América. 

A Academia Celeste de 1966 teve seus representantes na Seleção Brasileira. O próprio 
time do Cruzeiro chegou a representar o selecionado nacional no final daquela década.
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 9 de julho. Pela primeira vez o meio­campo cruzeirense foi formado por Piazza, Dirceu 
Lopes e Tostão, três dos maiores craques da história do clube. Foi na partida contra o 
Uberaba, no estádio JK, pelo Campeonato Mineiro. O Cruzeiro venceu por 3 a 0.

1961   
 30 de agosto. O jogo contra o América, pelo Campeonato Mineiro, marcou a estreia do 
 22 de janeiro, estádio Independência. O Cruzeiro empata com o Atlético e conquista an­
  técnico Airton Moreira, que comandaria a Academia Celeste. 
tecipadamente o Campeonato Mineiro de 1960, tornando­se bicampeão. 
 
 O Campeonato Mineiro daquele ano foi o último da história com o Cruzeiro e Atlético­MG 
• 2 de fevereiro. Primeiro jogo contra um time europeu. Empate com o Dínamo Bucareste, simultaneamente fora dos dois primeiros lugares. O título ficou com o Siderúrgica e o vice
da Romênia, por 1 a 1, no estádio Alameda, em Belo Horizonte.  com o América. O Cruzeiro, com uma campanha que alternou bons e maus momentos, 
ficou em terceiro lugar.
• Cerca de 300 sócios do clube que contribuíam financeiramente, inclusive pagando salá­
rios de atletas, promoveram a maior contratação do futebol mineiro até então. O lateral­
­esquerdo Geraldinho deixou o Siderúrgica e foi para o Cruzeiro.  1965 
 
 O maestro Jadir Ambrósio, palestrino e cruzeirense de coração, ao participar de um con­
 Na Taça Brasil, o campeonato brasileiro daquela época, o Cruzeiro eliminou o Santo An­
  curso da Rádio Inconfidência, compõe o hino do Cruzeiro Esporte Clube.
tônio-ES na primeira fase, mas deixou a competição na etapa seguinte, ao ser eliminado
pelo América­RJ, campeão carioca.   
 5 de setembro. Foi inaugurado o estádio José Magalhães Pinto, o Mineirão, com capaci­
dade para 120.000 pessoas, tornando­se o segundo maior do mundo. 
 
• 15 de setembro. Primeiro jogo do Cruzeiro no Mineirão. Vitória por 3 a 1 contra o Villa
1962  Nova. Dalmar marcou o primeiro gol cruzeirense no Gigante da Pampulha. Um público 
• Em abril, o Cruzeiro conquista o terceiro tricampeonato de sua história. A partida que presente de 105 mil pessoas acompanhou o amistoso, que teve como preliminar um jogo 
confirmou o troféu foi diante do Bela Vista, de Sete Lagoas, no Independência. entre Seleção Brasileira e Santos. 

 
 O Cruzeiro foi eliminado da Taça Brasil pelo Internacional, no dia 17 de outubro, após uma  • No dia 24 de outubro, Cruzeiro e Atlético disputaram o primeiro clássico no Mineirão. Vi­
derrota por 2 a 1, em Porto Alegre, uma partida em que a própria imprensa gaúcha admi­ tória cruzeirense por 1 a 0, gol de Tostão, aos 35 minutos do primeiro tempo. 
tiu que a arbitragem teve influência decisiva.
 
1966 
• 26 de janeiro. O Cruzeiro vence um amistoso contra o Rapid Viena, da Áustria, por 5 a 4.
1963   
Essa partida é considerada uma das mais fantásticas da história do Mineirão.
• 4 de abril. Primeira partida de Tostão com a camisa do Cruzeiro. Um amistoso contra o
Siderúrgica, no estádio JK, vencido por 2 a 1. Ele se tornaria o maior artilheiro da história
• 12 de fevereiro. A vitória por 6 a 0 sobre o Uberlândia garantiu ao Cruzeiro o título do
do clube. 
Campeonato Mineiro de 1965. O clube se tornava o primeiro campeão do Mineirão. 

 
 20 de outubro. Primeira partida de Dirceu Lopes pelo Cruzeiro. Um amistoso contra o Pa­
• 29 de março. O Cruzeiro vence o Santos de Pelé por 4 a 3, no Mineirão. Um prenúncio do
raense, em Pará de Minas. Ele entrou no lugar de Tostão, aos cinco minutos do segundo
que iria acontecer ao final daquele ano.
tempo, e, 18 minutos depois, marcou seu primeiro gol com a camisa azul estrelada. 

• Feriado de 7 de setembro. O Cruzeiro estreia na Taça Brasil com uma vitória por 4 a 0
sobre o Americano, campeão do Rio de Janeiro. 
1964   
 
 Além de Tostão e Dirceu Lopes, um grande time começou a ser formado de maneira si­  30 de novembro. O Cruzeiro vence o Santos, bicampeão mundial e da Libertadores e pen­
 
lenciosa, com jogadores das categorias de base, de clubes do interior e alguns craques já  tacampeão brasileiro, na primeira partida da final da Taça Brasil, por 6 a 2, no Mineirão. A
consagrados que voltavam ao Cruzeiro, como Procópio Cardoso e Hilton Oliveira.  goleada é uma das maiores exibições de um time de futebol na história mundial do esporte. 
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 Antecipadamente, o Cruzeiro conquista o Campeonato Mineiro, chegando ao 
  bicam­ 1969 
peonato.  • 4 de maio. O Cruzeiro venceu o Atlético por 1 a 0, gol de Natal, pelo Campeonato Mi­
neiro, quando foi estabelecido o recorde de público pagante da história do Mineirão:
 7 de dezembro. Com uma virada épica, quando perdia por 2 a 0 para o Santos ­ no pri­
  123.351 torcedores. 
meiro tempo ­ e tendo desperdiçado um pênalti, o Cruzeiro venceu a partida por 3 a 2, 
no  Pacaembu,  em  São  Paulo.  A  equipe  mineira  conquistou  a  Taça  Brasil,  seu  primeiro   
 Novamente, o título mineiro foi conquistado de forma invicta (30 jogos) e com três roda­
campeonato brasileiro.  das de antecedência, na vitória por 1 a 0 sobre o Uberaba, em 25 de junho, no Mineirão. O 
goleiro Raul chegou a ficar 1.016 minutos sem levar gol durante a competição. A novidade
na escalação foi o quadrado no meio­campo criado pelo técnico Gérson dos Santos para 
1967  abrigar os craques Piazza, Zé Carlos, Dirceu Lopes e Tostão.
 
 19 de fevereiro. O Cruzeiro iniciou sua bela trajetória na história da Copa Libertadores, ao   
derrotar o Galícia, da Venezuela, por 1 a 0, em Caracas - esse também foi o primeiro jogo • 24 de setembro. No jogo contra o Corinthians, pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, no
do clube no exterior. O gol foi de Evaldo. Naquela edição, que ainda se chamava Taça Pacaembu, Tostão levou uma bolada no olho esquerdo. O impacto provocou um desco­
Libertadores, a equipe foi até a fase semifinal, sendo eliminada por apenas um ponto.  lamento de retina, problema que viria a causar o encerramento prematuro da carreira  
do craque. 
 
 5 de março. A estreia no Torneio Roberto Gomes Pedrosa marcou a primeira vez que os 
jogadores se concentraram no sítio adquirido por Felício Brandi, na Pampulha, que viria   
 7 de dezembro. O Cruzeiro vence o Corinthians por 2 a 1, no Mineirão, pela última rodada 
a se tornar a Toca da Raposa. O local deu sorte: o Cruzeiro goleou o Atlético por 4 a 0. do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o campeonato brasileiro da época. Com o mesmo 
número de pontos na tabela geral, mas com um gol a menos de saldo que o Palmeiras, o 
• A torcida celeste já mostrava sua força, ao atingir a média de 34 mil pagantes nos sete time perdeu a chance de ser bicampeão brasileiro. 
jogos disputados pelo Cruzeiro no Mineirão, no Torneio Roberto Gomes Pedrosa. 

• Com um time misto, reforçado por Tostão, o Cruzeiro jogou pela primeira vez nos Estados 1970 
Unidos, perdendo um amistoso para o Eintracht Frankfurt, da Alemanha, em Washington.  • Pela primeira vez na Era Mineirão, o Cruzeiro não foi campeão mineiro. Terminou em se­
gundo lugar na competição. Uma derrota para o América interrompeu a série invicta de 
70 partidas pelo Estadual. Também foi a primeira vez que a equipe perdeu para o Atlético
1968  pelo Campeonato Mineiro no Mineirão. 
• Em janeiro, com duas vitórias incontestáveis sobre o Atlético (3 a 1 e 3 a 0), o Cruzeiro
conquistou o tricampeonato mineiro. Mas o destaque da campanha foi o empate por 3 a   
 O Cruzeiro cedeu três jogadores para a Seleção Brasileira que conquistaria o tricampeo­
3 no clássico, em novembro do ano anterior, depois de estar perdendo por 3 a 0 ­ mesmo  nato mundial no México: Tostão, Piazza e Fontana. Ainda em 1970, o clube contratou o
com  Tostão  saindo  machucado  logo  no  começo  da  partida  e  Procópio  Cardoso  sendo  zagueiro Brito, outro tricampeão mundial. 
expulso ainda no primeiro tempo. O resultado foi o início de uma reação que levou à de­
cisão do título. 

 
 O primeiro tetracampeonato da história do clube foi conquistado com muita facilidade. O 
Cruzeiro liderou a competição desde o início, não perdeu nenhum dos 22 jogos e garantiu 
o título por antecipação ao derrotar o Villa Nova por 1 a 0, em 1º de setembro. Outro des­
taque foi a goleada por 10 a 0 sobre o Independente, de Uberaba ­ a primeira com dois 
dígitos no Mineirão. 

• Em dezembro, o Cruzeiro disputou três amistosos em Manaus, no Amazonas. Era a pri­ Assista a íntegra do filme Assista a íntegra do filme “Em
meira  vez  que  o  clube  atuava  no  norte  do  país,  completando,  assim,  sua  presença  em  “Em busca da História do  Busca da História do Cruzeiro”  
Cruzeiro”. >>  em versão com Libras. >> 
todas as regiões brasileiras.  
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Soy loco por ti, Cruzeiro 
Existia um grande clube na cidade. A torcida do Cruzeiro
crescia junto com Belo Horizonte. O êxodo para a capital  
de Minas trazia milhares de famílias do interior do estado,  
que iam ocupando suas áreas periféricas e as outras cida­
des do seu entorno metropolitano. Gente como os imigran­
tes italianos do final do século XIX e do início do século XX.
Operários,  trabalhadores  e  sonhadores  de  dias  melhores.  
Esse povo carregava também o desejo de estar perto do
time capaz de gerar tanta vaidade, pois se reconheciam na  
história de lutas, de superações e na arte de vencer com as  
próprias pernas todas as dificuldades e obstáculos da vida.

No interior de Minas Gerais, as cidades, aos poucos, iam se 
pintando  de  azul  e  branco.  A  preferência  pelos  times  de 
São Paulo e do Rio de Janeiro, provocada pela influência
das ondas do rádio, perdia força, pois interioranos, agora, 
também tinham um time mineiro para chamar de seu. 

Ir ao encontro desses cruzeirenses pelas cidades do interior ou nas escolas de  
Belo Horizonte também se tornou uma missão implantada pelo então presidente  
Felício Brandi. Ao lado da relações públicas Inês Helena de Abreu, uma das per­
sonagens  mais  importantes  da  centenária  história  do  Cruzeiro,  ele  colocou  em  
prática um projeto para aproximar os ídolos dos times das crianças e dos jovens.  

Foi também a época de o clube se transformar em fenômeno de massa. A Chi­
na Azul tomara o Mineirão, transformando o maior estádio do futebol de Minas 
Gerais no quintal exclusivo do time estrelado. Foram anos que consagraram o 
futebol­arte  jogado  pelos  brasileiros,  assim  reconhecido  por  um  dos  grandes 
historiadores do século XX, Eric Hobsbawm, no livro A Era dos Extremos. E den­
tro desse futebol­arte estava a equipe do Cruzeiro. 

Além de cuidar para que a sua torcida fosse se tornando a maior força do eixo 
RJ­SP, presencialmente no Mineirão ou mesmo na paixão espalhada pelas “vá­
rias Minas”, a diretoria do clube tinha outra obrigação quase cívica: os brasi­
leiros de estados longínquos e os amantes do futebol espalhados pelo mundo 
também queriam ver de perto o time do Cruzeiro. 

Por tradição, o Cruzeiro teve grandes mulheres à frente de ações revolucionárias junto à sua torcida. 
Na décadas de 1960 e de 1970, Inês Helena de Abreu coordenava os projetos educativos, sociais 
e de divulgação do clube, criados pelo então presidente Felício Brandi. 
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A partir de 1971, o Cruzeiro intensifica a agenda de
amistosos pelo interior de Minas Gerais e por outros 
estados brasileiros. Também vai em busca de dóla­
res para aliviar o alto custo para manter o time cheio 
de jogadores cobiçados por outros grandes clubes. 
Então, parte para uma série de excursões pelo exte­
rior. Por isso, passou a ser carinhosamente chamado 
de “Cruzeiro Exportação”.

Alguns titulares da conquista de 1966 já não estavam 
no clube no início dos anos de 1970. Outros meda­
lhões chegaram, como os zagueiros Brito – tricam­
peão  no  México  ­  e  o  argentino  Roberto  Perfumo, 
considerado o melhor do mundo na sua posição. Do 
juvenil  também  surgiram  jovens  promessas,  como 
Palhinha, Eduardo “Rabo de Vaca” e Roberto Bata­
ta. Pouco tempo depois, para as laterais, chegaram 
Nelinho e Vanderlei. Eram apenas apostas da direto­
ria, mas logo teriam seus nomes escritos na história 
do Cruzeiro como soberanos de suas posições. 

O Cruzeiro praticamente abandonou o Campeonato 
Mineiro de 1971, relegando a ele uma equipe reserva 
ou mista. Mas até mesmo seus rivais – como a Fede­
ração Mineira de Futebol – o queria por perto. Após 
uma notificação feita pelo Conselho Nacional do
Desporto (CND) exigindo a volta do time ao Brasil, 
a diretoria resolveu acatar e ordenou que o Cruzeiro 
Exportação regressasse a Belo Horizonte.

Em 1972, durante nova excursão, dando uma volta ao mundo por mais de dois
meses, a diretoria tomou uma decisão com um efeito colateral bombástico den­
tro do elenco. Ao anunciar a contratação do treinador Yustrich – conhecido por
seus métodos enérgicos e agressivos com os jogadores, Tostão, a estrela máxi­
ma da companhia, afirmou que, ao voltar ao Brasil, não jogaria sob o comando
do  novo  técnico.  Pouco  tempo  depois,  o  atleta  teve  o  passe  comprado  pelo 
Vasco, em uma transação de cifras fantásticas para o futebol brasileiro à época.

O início da década de 1970 foi marcado pela transição do elenco do Cruzeiro. Grandes ídolos, como Tostão, deixaram o 
clube. Outros, como os zagueiros Brito (Seleção Brasileira) e Roberto Perfumo (Seleção Argentina), chegaram. 
Novas promessas também vieram de times de outros estados, como Nelinho, e das categorias de base, como Joãozinho. 
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Dentro  das  cercanias  de  Minas  Gerais,  o  Cruzeiro  continuava  soberano.  De 
1972 a 1975, o clube conquistou o tetracampeonato mineiro, quebrando recor­
des de bilheteria e de público, revelando craques que, imediatamente, iam se 
transformando em ídolos, como foi o caso de Joãozinho. 

Fã de Dirceu Lopes e de Tostão, Joãozinho chegou a realizar o sonho de trei­
nar com os dois. Destro, jogava pela ponta direita, mas, orientado a buscar um 
espaço no time, passou a jogar pela esquerda, pois Hilton Oliveira estava pró­
ximo de se aposentar. Foi assim que o craque se tornou o “Bailarino da Toca”, 
um dos maiores ponteiros esquerdos do mundo. 

Parte do apelido de Joãozinho – a Toca da Raposa ­ também surgiu em 1973. 
A Toca é fruto do sonho do então presidente, Felício Brandi, em aumentar o 
patrimônio do clube e, mais uma vez, revolucionar o futebol brasileiro, cons­
truindo o mais moderno centro de treinamentos do país. 

Nesse período, já sem Tostão, Dirceu Lopes passou a liderar a renovação do 
elenco ao lado de Piazza, Raul e Zé Carlos, remanescentes da Academia de
1966. Com Minas Gerais pintada de azul e branco, os objetivos já eram outros, 
como voltar a vencer o campeonato nacional. 

Nas temporadas de 1970 e 1971, o time não foi bem no Campeonato Brasilei­
ro, exatamente por priorizar os amistosos, que lhes rendiam bons resultados  Em 1973, a Toca da Raposa era inaugurada. Era o centro de treinamento mais moderno do futebol
brasileiro e foi casa da Seleção Brasileira nas preparações para as Copas do mundo de 1982 e 1986. 
financeiros. Já em 1973, o Cruzeiro mostrou novamente a sua força. Chegou
em  terceiro  lugar,  empatado  em  pontos  com  o  São  Paulo.  No  ano  seguinte, 
aconteceria o maior escândalo da história dos torneios nacionais de futebol.  Apesar do absurdo contra o Vasco, dias de­ à  praia.  Mesmo  em  menor  número  entre  os  
pois, como era esperado, o Cruzeiro venceu  mais  de  112.000  pagantes,  os  cruzeirenses  
Em 1974, o time já estava entrosado. Voava em campo. Ia passando com faci­ a  última  rodada  contra  o  Santos  e,  por  um  faziam  a  festa  nas  arquibancadas  do  maior  
lidade por todos os adversários até chegar ao quadrangular final contra Inter­ empate em pontos, disputaria o título numa  estádio do mundo. O Vasco não seria capaz
nacional, Santos e Vasco. Na penúltima rodada, enfrentaria o time carioca no partida extra, novamente contra o Vasco. de parar uma linha ofensiva formada por Dir­
Mineirão. Vencendo, dependeria apenas de si – na rodada final contra o Santos Alegando uma brecha no regulamento con­ ceu Lopes, Roberto Batata, Palhinha e Eduar­
– para sagrar­se campeão.  fuso  da  competição,  o  time  carioca  entrou  do. Mas o árbitro Armando Marques, sim.  
na Justiça pedindo a transferência da parti­
Bater o Vasco não seria o maior problema, pois a superioridade técnica do da do Mineirão para o Maracanã. Após dias  Surpreendentemente, o time carioca se des­
Cruzeiro era incontestável, mas, nesse caso, não era só futebol. Existia uma de disputa nos bastidores, o Cruzeiro entrou  dobrou em campo e ia levando o título em 
força oculta contra os mineiros.  em acordo com os cariocas, e a final foi para uma vitória parcial por 2 a 1, mas o Cruzeiro 
o Rio de Janeiro.  passou a amassar o Vasco no campo de de­
Mais de 80.000 estavam no Mineirão. O jogo caminhava para terminar empa­ fesa. O gol de empate era questão de tempo. 
tado em 1 a 1, mas o endiabrado Palhinha partiu para fazer o gol da vitória. Foi  A  rodovia  que  liga  Belo  Horizonte  à  capital   E ele veio em um cruzamento quase da linha
claramente derrubado dentro da área. Pênalti! Mas não para o juiz Sebastião  fluminense se pintou de azul e branco. Os de fundo para dentro da área, que Zé Carlos
Rufino, deixando atônitos todos os presentes. Até mesmo os jogadores do carros  e  os  ônibus  com  as  bandeiras  estre­ cabeceou para o fundo das redes. Armando 
Vasco. Uma enorme confusão se formou no gramado, tamanha era a indigna­ ladas desceram a Serra de Petrópolis, como   Marques anulou, de forma incompreensível, 
ção pela atitude do juiz.  se  a  constelação  do  Cruzeiro  do  Sul  fosse   dando o título para os cariocas. 
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O sonho estava adiado para 1975. Novamente, o Cruzeiro foi atropelando os 
adversários no Campeonato Brasileiro. Na semifinal, contra o Santa Cruz, em
Recife, um jogo duríssimo, decidido no último minuto, com o gol de Palhinha 
decretando 3 a 2. O time estava na final contra o Internacional, que, por melhor
campanha, teria o direito de mandar o jogo em Porto Alegre. 

O estádio Beira Rio e os mais de 82.000 torcedores assistiram a um espetáculo 
de futebol, em que brilhou Manga, o goleiro colorado, ao impedir as bombas 
mortíferas do lateral Nelinho. Esse, por sua vez, tentou de todas as formas co­
locar o Cruzeiro em vantagem. Chutou de direita, de esquerda, bolas no ângu­
lo, rasteiras, meia altura, todas em curvas mirabolantes. Mas lá estava Manga, 
com as mãos e os dedos tortos, a desviar todas para escanteio. 

Porém, nos primeiros minutos do segundo tempo, o castigo. Falta na entrada 
da área e Raul não consegue segurar a cabeçada fulminante do zagueiro Fi­
gueroa. 1 a 0, Internacional campeão. Anos depois, o árbitro do jogo, Dulcídio 
Boschilla,  teria  confessado  ao  eterno  capitão  Piazza  que  errou  ao  marcar  a 
falta originária do gol anotado pelos gaúchos. 

A queda em duas finais de Brasileiro consecutivas poderia ter tirado


as esperanças do Cruzeiro, mas a história mostrava o quanto supe­
rar dificuldades era sua sina. Uma gana incrível aflorou no grupo de
jogadores,  de  dirigentes  e  da  torcida.  O  Internacional,  culpado  ou  
não pelo insucesso de 1975, haveria de pagar a conta. O encontro já  
estava marcado para a primeira fase da Taça Libertadores de 1976. 

No  ano  anterior,  assim  como  na  sua  estreia  no  torneio  sul­ameri­
cano, em 1967, o Cruzeiro deixou de chegar à final por um ponto.
Dentro da Toca da Raposa, esse novo “quase” fez o foco de 1976 
ficar todo na terceira participação cruzeirense na Libertadores.
 
Para  evitar  um  novo  revés  por  pequenos  detalhes,  o  caminho  era   A competição começou em março de 1976. Em campo, Cruzeiro e Inter­
tentar dar mais tarimba e malícia àquela equipe. Numa reunião entre   nacional revivendo a final do Brasileirão, naquele que é lembrado como o
os dirigentes Brandi e Furletti com o técnico Zezé Moreira, a solução maior jogo de todos os tempos do Mineirão. Era um domingo à tarde, dia 7,
foi encontrada – a contratação de Jairzinho, o “Furacão da Copa”. A   fim de verão no hemisfério sul. Os números oficiais divulgaram a venda de
sugestão do treinador assustara os dirigentes devido à fama do joga­ mais de 65.000 ingressos, mas a lotação superava os 100.000 presentes. 
dor, mas Zezé garantiu que Jairzinho era o que o Cruzeiro precisava. 
Foi um jogo eletrizante, duas equipes jogando para a frente, um espetáculo  
Feito  isso,  já  no  início  de  1976,  Jairzinho  chegou  e  participou  da  do futebol, disputado do primeiro ao último minuto, proporcionando um pla­
final do Campeonato Mineiro de 1975. A conquista do tetra foi o car raro: 5 a 4. Nove gols, uma média de um gol a cada 10 minutos de jogo.
cartão de visitas do atacante, que se mostrou em forma para iniciar 
a Libertadores.  O Cruzeiro entrara em campo para provar que era melhor que o campeão 
brasileiro, e cumpriu. Joãozinho fez uma de suas maiores apresentações. 
Ao lado: Jairzinho, o “Furacão da Copa”, foi a aposta da diretoria para
completar o elenco que viria a conquistar a Copa Libertadores de 1976.  Bailou, serviu aos companheiros e fez gols. 
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O  clima  na  volta  a  Belo  Horizonte  era  de  festa.  Bastaria  um  ponto  nas  duas 
partidas contra os mesmos adversários, no Mineirão, para o Cruzeiro chegar à 
final. Por outro lado, esse “quase” era um fantasma sul-americano na trajetória
dos mineiros, por isso toda concentração seria pouca. 
(SUGESTÃO DE FOTO:
- IMAGEM DE CRUZEIRO E INTER, 5 A 4 No Aeroporto da Pampulha, a torcida não se continha. Foi abraçar seus ídolos 
mesmo com a madrugada fria. Um deles, pela última vez. 

Logo  depois  do  desembarque,  o  ponteiro  Roberto  Batata  correu  para  casa. 
Bateu à porta do seu vizinho, Dirceu Lopes, e o chamou para uma viagem. Ele
iria para Três Corações, onde estavam a mulher e o filho de apenas 11 meses.
Dirceu tentou demovê­lo da ideia, por conta do avançado da hora e do cansa­
ço. Não conseguiu. O querido “Batatinha” não chegou ao destino. No quilôme­
tro 182, da rodovia Fernão Dias, o carro saiu da pista e o atleta perdeu a vida. A 
emoção tomou conta da nação azul-estrelada. O velório, um dia depois, 14 de
maio, foi na sede do clube, na rua Guajajaras. Milhares de cruzeirenses acom­
panharam o cortejo, que seguiu da sede ao cemitério do Bonfim.

O pontapé inicial na competição, da forma como aconteceu, criou a sintonia fina entre os
comandados por Zezé Moreira. A equipe mostrava uma força ofensiva e uma variação de
jogadas fora do comum. O experiente Jairzinho cumpria a função imaginada pelo treinador. 
Além  de  marcar  muitos  gols,  tornou­se  fundamental  como  ponto  de  respeito  frente  aos 
adversários, ainda mais com a ausência de Dirceu Lopes, contundido. 

O  Cruzeiro  passou  com  facilidade  e  maestria  pelo  Internacional  e  pelos  paraguaios  Lu­
queño e Olimpia na primeira fase. Teria a LDU, do Equador, e o Alianza, do Peru, como os
adversários nas semifinais.

Maio de 1976, dia 9. O Cruzeiro entra no estádio Atahualpa e vence a LDU sem dificuldade,
ao abrir 3 a 0. Palhinha (2) e Joãozinho marcaram. O time peruano descontou aos 30 mi­
nutos do segundo tempo. Três dias depois, em Lima, a equipe azul celeste goleia o Alianza 
no estádio El Mamute. Gols de Roberto Batata, Joãozinho (2) e Jairzinho.

Ao lado: O jovem ponta direita Roberto Batata faleceu em 1976, após disputar uma partida
da Copa Libertadores. Seu cortejo fúnebre reuniu milhares de pessoas em Belo Horizonte. 
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A perda, que poderia afetar o Cruzeiro, deu mais força ao time para conquistar  Aos 29 minutos, Joãozinho rouba a bola de JJ Lopes e tabela com Palhinha. Deixa Perfumo 
o título. Não houve muito tempo para as lamentações e, no dia 20 de maio, o  para trás e cruza. Palhinha só consegue raspar na bola e ela chega a Eduardo. O atacante
Alianza entrou no Mineirão e sofreu uma goleada, de 7 a 1. Para o cruzeirense,  dribla Hector López e cruza na cabeça de Palhinha. 2 a 0. 
simbolizou a presença de Batata, originalmente um ponta direita, o camisa 7. A 
homenagem ao companheiro saudoso estava completa por ora.  O jogo ficou complicado para o River depois que Fillol teve que ser substituído, após um
choque com Palhinha. Aos 40 minutos, com os argentinos dominados, o centroavante re­
cebeu lançamento livre e ampliou a festa azul e branca nas arquibancadas. Os argentinos 
ainda diminuíram com um pênalti, mas Valdo voltou a marcar para o Cruzeiro e deu núme­
ros finais à partida: 4 a 1.

Novamente, o fantasma do “um ponto” rondava o caminho cruzeirense na América do Sul. 
No jogo de volta em Buenos Aires, ele precisaria apenas de um empate para, finalmente,
conquistar o continente. O estádio Monumental de Nuñez recebia 90.000 pessoas. O pla­
car em 1 a 1 até os 30 minutos do segundo tempo dava o título ao Cruzeiro, mas veio o 
“quase”: em lance polêmico na área estrelada, González desempatou.

Apenas dois dias separaram o segundo jogo na Argentina da decisão, em partida extra, no 
estádio Nacional, em Santiago, no Chile. Centenas de cruzeirenses que haviam percorrido 
dias de viagem entre Belo Horizonte e Buenos Aires, por falta de recursos financeiros ou
de tempo, não conseguiram seguir para o país andino. Por outro lado, foram representados 
pelos chilenos. Do público de 40.000 pessoas, a maioria apoiava o Cruzeiro.

Dentro de campo, o time mostrava que estava mais confiante e dominou o jogo no toque
de bola. Nelinho, aos 24 minutos de jogo, colocou o Cruzeiro na frente. Na segunda etapa,
No final de maio, dia 30, já classificado para fazer a final, o Cruzeiro recebeu a
logo aos 10 minutos, Eduardo ampliou: 2 a 0.
LDU e aplicou outra goleada: 4 a 1. A decisão seria contra os argentinos do River
Plate, time em que atuava um craque muito conhecido do elenco e da torcida 
O que parecia fácil começou a se complicar. Aos 14 minutos, o River diminuiu com Más
cruzeirense: Roberto Perfumo.
cobrando pênalti. Cinco minutos depois, o empate veio da malícia argentina na cobrança 
de uma falta na entrada da área do Cruzeiro, antes do apito do árbitro. O time cruzeirense 
Cruzeiro e River começaram a decisão no dia 21 de julho, no Mineirão. Pelo Cru­
zeiro, Raul, Nelinho, Moraes, Darci e Vanderlei; Piazza, Eduardo e Zé Carlos; Jair­ ameaçou uma reclamação, mas, naqueles tempos, a manobra não era – de toda maneira ­
zinho, Palhinha e Joãozinho. Do outro lado, uma formação que seria a base da   proibida. Isso custaria caro aos próprios argentinos. 
seleção argentina campeã mundial de 1978: Fillol, Comelles, Perfumo, Lonardi e
Hector Lopez; JJ López, Merlo e Sabella; Pedro González, Luque e Oscar Más.  O jogo seguiu disputado e, quando tudo indicava que a decisão iria para os pênaltis, uma 
falta  na  meia­lua  do  River.  Os  olhares  dos  torcedores,  dos  jogadores  argentinos  e  dos 
O Cruzeiro começou como sempre fazia com os adversários: partiu para cima, a próprios cruzeirenses recaíram sobre Nelinho. Afinal, o lateral direito era um dos maiores
fim de resolver o jogo nos primeiros minutos. O River, desfalcado de Daniel Pas­ cobradores de falta do mundo. 
sarella e de Beto Alonso, apelava para as faltas. Na primeira delas, Fillol não quis 
barreira e teve que se esticar para evitar o gol de Nelinho. Aos 20 minutos, num  O capitão Piazza se aproximou da bola, como forma de protegê­la de uma possível catimba ar­
lançamento magistral de Zé Carlos, Palhinha ganhou de Perfumo na velocidade gentina. Nelinho estudava a formação da barreira pelo goleiro Landaburu. Virou-se para tomar
e foi derrubado na entrada da área. Fillol colocou seis jogadores na barreira. A  distância. Era a última chance do jogo. O artilheiro Palhinha foi quem contou o que aconteceu
bomba de Nelinho saiu indefensável e estufou a rede.  depois disso, antes que o juiz apitasse para a cobrança – como os argentinos também haviam  
feito: “Os jogadores do River estavam montando a barreira, a bola no chão. O Piazza estava per­
to e Nelinho se aproximando. Eu pedi ao Piazza para tocar rápido para mim. Foi quando o João­
Por mais de uma década, Felício Brandi e Carmine Furletti formaram 
a maior dupla de dirigentes de um clube do futebol brasileiro.  zinho entrou na frente dos dois e bateu a falta. Uma irresponsabilidade que virou a salvação”. 
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O gol da molecagem deu números finais à partida: 3 a 2. No vestiário em festa, o técnico
Zezé Moreira, atônito, ainda xingava Joãozinho. Ameaçava não deixá-lo voltar ao Brasil.
Mas tudo não passava de um jeito enérgico do comandante dizer “obrigado”. Se, em San­
tiago, os jogadores não puderam comemorar até muito tarde por causa das leis marciais da 
ditadura sanguinária de Augusto Pinochet, em Belo Horizonte não havia um canto da cida­
de sem um cruzeirense – ou mesmo torcedores de clubes rivais – celebrando a conquista 
nas ruas. O Cruzeiro apresentava Minas Gerais à América Latina. 

Depois da conquista sul­americana, aumentaram os convites para excursões no exterior. 

O mundo queria conhecer o campeão da América do Sul. O Cru­
zeiro Exportação seguiu para uma série de jogos na França e na
Espanha, contra clubes como o Real Madrid, o PSV e o Sevilha.
Era o preparativo para o time representar Minas Gerais e o Brasil
num embate histórico. Ter vencido a Libertadores levava o Cru­
zeiro à disputa do Mundial de Clubes contra o campeão europeu, 
o Bayern de Munique. 

O primeiro jogo aconteceu no dia 23 de novembro, com um frio 
abaixo  de  zero.  O  campo  estava  coberto  de  neve  e  de  gelo.  O 
Cruzeiro mal tinha roupas adequadas para jogar sob aquelas con­
dições climáticas. Para complicar ainda mais, o time alemão era 
a base da seleção campeã mundial em 1974, com craques como
Beckenbauer, Sepp Maier, Rummenigge, Muller e Breitner. 

Mas o Cruzeiro não temia nenhum adversário. Fosse ele um rival 
regional ou mundial. Encarou o Bayern e, até meados do segundo
tempo, levava o empate para o jogo de volta em Belo Horizonte. 
Foi quando, na sequência de duas boas jogadas dos alemães, veio 
o castigo: 2 a 0.
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Em Belo Horizonte, não se falava em outro assunto, senão a partida de volta
entre Cruzeiro e Bayern. A quatro dias do Natal, todo o povo mineiro pedia o 
mesmo presente: uma vitória sobre os europeus e o título mundial.

Do lado de fora do Mineirão, as filas da bilheteria formavam quilômetros de


distância, estendendo-se até as avenidas do seu entorno. Oficialmente, 113.715
pessoas  pagaram  ingressos  para  assistir  ao  embate  entre  os  melhores  times 
das Américas e da Europa.

O Cruzeiro tentou, de todas as formas, abrir o placar, mas esbarrava num muro 
alemão. O goleiro Maier foi um gigante em campo. Apesar de uma apresenta­
ção digna de um dos maiores times do futebol mundial, o Cruzeiro não conse­
guiu tirar o 0 a 0 do placar. 

Depois do Mundial, Zezé Moreira entregou o cargo e se aposentou. Já no início


de 1977, 0 time campeão da América começou a ser desfeito, mas sem perder  
qualidade. Novamente, chegou à final da Libertadores, dessa vez contra o Boca
Juniors.  Teve  um  gosto  amargo,  fruto  de  mais  um  absurdo  da  arbitragem.  Na  
partida extra de desempate – após cada um dos dois times ter vencido por 1 a 0  
em seus domínios, o 0 a 0 levou a disputa para as cobranças dos pênaltis. Na pri­
meira batida, o Boca errou, mas o árbitro mandou repetir até sair o gol argentino. 

Um suspiro de alegria ainda viria dias depois, na disputa da final do Campeo­


nato  Mineiro,  numa  melhor  de  três  contra  o  Atlético  de  Belo  Horizonte.  No 
primeiro jogo, 1 a 0 para o adversário. Na segunda partida, bastava um empate 
ao rival, mas brilhou a estrela do uruguaio Revetria. Ele marcou os três gols da
vitória por 3 a 2. 

No terceiro e decisivo jogo, a torcida do clube da elite belo­horizontina estava 
sedenta por vencer o campeão da América. Cerca de 122.000 pessoas foram 
ao Mineirão. Assistiram a mais um show de Revetria e ao Cruzeiro ser campeão, 
ao vencer por 3 a 1. 

No ano seguinte, uma disputa política interna do clube foi o primeiro sinal do 
fim de um ciclo de bonança. Dívidas, resultados ruins e a despedida de ídolos
eternos, como Piazza e Dirceu Lopes, se sucederam. Vinha aí mais um período
de dificuldades para o time mais querido de Minas Gerais. Levaria tempo para
superá­lo, mas era o Cruzeiro. 

Em 1976, o Cruzeiro apresentava o futebol de Minas Gerais ao mundo. O clube disputava a final do Mundial
Interclubes com o Bayern de Munique, base da Seleção da Alemanha, campeã do mundo dois anos antes. 
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1 9 7 1 _ 1 9 8 0 > FAT O S M A R C A N T E S extra em casa. No entanto, após pressão da CBD, os dirigentes celestes aceitaram jogar 
no Maracanã, acreditando na força da equipe. Com ajuda do árbitro Armando Marques, o 
Vasco venceu por 2 a 1.
1971 
 A 
  temporada  começou  com  uma  longa  excursão  pela  América  do  Sul  e  pela  América   15 de dezembro. O tricampeonato mineiro foi conquistado na última partida do ano, após 
 
Central. Era o surgimento do “Cruzeiro Exportação”. O clube ainda viajaria para a Ásia, a vitória por 2 a 1 sobre o Atlético, com show do ponta esquerda Joãozinho.  
mas o CND (Conselho Nacional do Desporto) exigiu que a equipe voltasse para disputar 
o Campeonato Mineiro com os titulares.   

1975 
• Ílton Chaves foi o técnico que mais dirigiu a equipe do Cruzeiro: 362 partidas. Em junho,
1972  ele foi demitido, depois de mais de três anos seguidos no cargo, após a eliminação na 
 
 O Cruzeiro voltou a conquistar a hegemonia estadual, numa vitória por 2 a 1 sobre o Atlé­ Copa Libertadores, com duas derrotas na Argentina, quando bastava um empate para o 
tico, com destaque para o jovem Palhinha, autor dos dois gols. Era o início da renovação time chegar à final da competição. 
do elenco, que atingiria o auge com a conquista da Copa Libertadores, em 1976. 
 9 de agosto. O Cruzeiro jogou pela primeira vez em gramados europeus, quando estreou 
 
 
 Novamente, a temporada começou com jogos no exterior. Durante 70 dias, o Cruzeiro disputou    no famoso Torneio Teresa Herrera, derrotando o Stoke City, da Inglaterra, por 3 a 0, em 
18 jogos em três continentes: América, Oceania e Ásia, estreando nesses dois últimos. Numa La Coruña, na Espanha.
partida em Jacarta (Indonésia), o público foi de 102 mil pessoas. Durante a excursão, Tostão  
tomou conhecimento da contratação do técnico Yustrich e anunciou que deixaria o clube. • 14 de dezembro. O título brasileiro escapou por pouco. Na decisão contra o Internacional,
no Beira­Rio, o Cruzeiro parou no goleiro Manga, que fez defesas incríveis em chutes de 
 
 9 de abril. Tostão disputou sua última partida com a camisa celeste no amistoso contra o  Nelinho. O time gaúcho venceu por 1 a 0. 
Goiás (0 a 0), no Serra Dourada. O craque foi vendido ao Vasco.

 
 27 de agosto. Ao vencer o Atlético de Três Corações, o Cruzeiro estabelece sua maior 
série invicta num ano: 43 partidas. Essa série só foi interrompida no jogo seguinte, contra
1976 
 22 de fevereiro. O Cruzeiro venceu o Atlético por 1 a 0, gol de Palhinha, conquistando o 
 
o América, quando perdeu por 1 a 0. 
Campeonato Mineiro do ano anterior, sagrando­se tetracampeão. 

 7 de março. Pela primeira rodada da Taça Libertadores, o Cruzeiro venceu o Internacional 
 
1973  por 5 a 4, jogo considerado o melhor de todos os tempos do Mineirão.
• 3 de fevereiro. Inauguração oficial da Toca da Raposa. A concentração, que já vinha sen­
do utilizada pelo clube, era uma das mais modernas do futebol mundial. De 1982 a 1986, a   13 de maio. O ponta direita Roberto Batata morre em um acidente automobilístico. Seu 
 
Seleção Brasileira usou a Toca como base para se preparar para a Copa do Mundo.  velório foi realizado na sede social do clube, no Barro Preto. 

 
 19 de agosto. O bicampeonato mineiro foi conquistado com vitória por 1 a 0 sobre o Atlé­  20 
  de  maio.  O  Cruzeiro  volta  a  disputar  uma  partida  após  a  morte  de  Roberto  Batata. 
tico, na última rodada da fase final. O gol foi de Dirceu Lopes. Vence o Alianza, do Peru, por 7 a 1, no Mineirão.

• Em novembro, no jogo contra o Vasco, no Maracanã, pelo Campeonato Brasileiro, o za­


 30 de julho. O Cruzeiro conquista a Taça Libertadores ao vencer o River Plate por 3 a 2, em 
   
gueiro Procópio voltou a jogar depois de cinco anos afastado por causa de uma contusão 
Santiago, no Chile. Sua campanha (11 vitórias, um empate, uma derrota e 46 gols, média de
sofrida numa dividida com Pelé. 
3,53) é, até hoje, o melhor desempenho de um campeão: 88,46% de aproveitamento.
 
 Dezembro. O Cruzeiro disputou o Mundial Interclubes contra o poderoso Bayern de Muni­
 
1974  que. O jogo na Alemanha foi disputado sob neve, e os alemães venceram por 2 a 0, com 
• O Cruzeiro foi o vice-campeão brasileiro, em uma decisão polêmica com o Vasco. As duas gols no fim da partida. No Mineirão, a torcida celeste estabeleceu o recorde de público
equipes terminaram empatadas na fase final, e a Raposa tinha o direito de fazer o jogo pagante, fora os clássicos: 113.715 torcedores. O placar ficou em branco.
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1977 
• O Cruzeiro Exportação voltou a entrar em ação. No início da temporada, a equipe jogou
em vários países das Américas do Sul, Central e do Norte. Foram 17 jogos em 60 dias. 

 
 29 de junho. O eterno capitão Wilson Piazza disputou a última de suas 556 partidas com 
a camisa celeste, na vitória por 2 a 0 sobre o Esab, no Mineirão, pelo Campeonato Mineiro.

• 14 de setembro. O Cruzeiro perdeu a chance de ser bicampeão da Libertadores. A terceira


partida decisiva contra o Boca Juniors, em Montevidéu, terminou sem gols. Na disputa 
de pênaltis, o juiz mandou voltar um pênalti não convertido pelos argentinos e, do lado 
cruzeirense, o lateral Vanderlei desperdiçou sua cobrança.

 
 9 de outubro. O Cruzeiro voltou a ser campeão mineiro. O herói da conquista foi o uru­
guaio Revetria, autor de quatro dos seis gols marcados contra o Atlético nas três par­
tidas decisivas.  

1978 
• No meio da temporada, a equipe viajou para a Europa e para as Américas do Norte e Cen­
tral. Jogou pela primeira vez na Itália (1 x 1 contra o Torino). 

1979 
• 16 de dezembro. A última partida do ano foi a despedida do craque Dirceu Lopes. Em
amistoso em Uberlândia, ele jogou com a camisa celeste no primeiro tempo e, por 25 mi­
nutos, pelo Verdão, então sua equipe. O Cruzeiro venceu por 2 a 1. 

1980 
 
 30 de janeiro. A África foi o último continente a ver o Cruzeiro jogar. A convite da Fifa, 
que promovia um intercâmbio com o futebol africano, a equipe disputou quatro jogos na
Nigéria, no início da temporada. 

 
 6 de abril. ­ Na vitória por 3 a 1 sobre o Fluminense, no Mineirão, pelo Campeonato Brasi­
leiro, o ponta esquerda Joãozinho marcou um dos mais belos gols do estádio, ao arrancar 
do meio­campo e driblar três adversários, incluindo o goleiro, antes de empurrar a bola 
para o gol vazio. 

 
 Julho e agosto. O Cruzeiro disputa uma série de amistosos pelas Américas do Sul, Central 
e do Norte, inclusive contra as seleções nacionais do Chile, do Peru, do Equador, da Co­
lômbia, da Guatemala e do México. 
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A  falta  de  dinheiro  e  os  seguidos  revezes  com  os  times  monta­
dos com jogadores medianos vindos de outros estados deram ao  
Cruzeiro uma única saída. As categorias de base deveriam voltar  

A retomada da autoestima  a ser a fonte de bons jogadores. Aos poucos, esses talentos foram  
ganhando espaço, e a esperança voltou a brilhar no céu estrelado. 
para alicerçar um novo 
caminho de glórias  O Cruzeiro iniciou a temporada de 1984 com a marca de seis anos
sem um título, mas, dentro da Toca da Raposa, as lições com os  
erros de formação do elenco surtiram efeito. Um time foi montado  
As duas décadas (1960­1970) de sucesso inscreveram o Cruzeiro entre os gran­ com jogadores experientes e talentosos, como Joãozinho, Palhi­
des do futebol internacional e garantiram a conquista de títulos e o crescimento   nha, Tostão II e Carlos Alberto Seixas, e uma enxurrada de jovens  
constante de torcedores. Contudo, houve um custo, e a conta foi cobrada nos   bons de bola vindos dos juniores, como os zagueiros Geraldão e  
anos 1980. Para alguns, eles ficaram registrados na história como “a década per­ Eugênio, o volante Douglas, o meia Eduardo “Lobinho” e os pon­
dida”. No período entre 1981 e 1986, Cruzeiro e cruzeirenses padeceram diante   teiros Carlinhos Sabiá e Edu Lima. O time encaixou e encantou.
de mais um pico da falta de dinheiro e de investimentos, provocando, inclusive,  
a  fuga  dos  principais  talentos.  Os  dois  últimos  remanescentes  do  timaço  de   Com 11 vitórias, o Cruzeiro conquistou com facilidade o primeiro 
1976 se ausentaram: Joãozinho quebrou a perna e Nelinho deixou o clube. turno. A imprensa esportiva mineira considerava o time do Atlé­
tico como franco favorito, mas os gols de Carlos Alberto Seixas 
A desorganização na busca por novos jogadores desaguou no que ficou co­ e de Tostão e a genialidade do volante Douglas, um dos maiores 
nhecido  como  “tempos  do  Bendelack  e  do  Tobi”.  O  primeiro  foi  um  lateral­ “camisas 5” de toda a história cruzeirense, já começavam a des­
­direito  sem  destaque;  o  segundo,  um  misto  de  volante  e  armador  mediano.  pertar a curiosidade dos cronistas e a atenção dos rivais. 
Pejorativamente e injustamente, os dois atletas representaram uma época de 
contratações equivocadas que resultaram em equipes muito aquém do futebol  A disputa pelo título foi antecipada, na decisão do returno contra 
jogado pelo Cruzeiro. Até parecia que o fantasma das longas filas sem títulos, o Atlético, então poderoso time da elite de Belo Horizonte e, à 
como nos anos de 1930 e 1950, voltara. Nunca o Cruzeiro havia sofrido tantos  época, hexacampeão mineiro. O regulamento previa a vantagem 
revezes, até goleadas, para times sem nenhuma expressão.  de dois resultados iguais para o Atlético, por ter feito mais pon­
tos, mas aquele Cruzeiro estava determinado a mudar o rumo da 
O ponto alto do clube continuou sendo a torcida cruzeirense. Seu crescimen­ história recente do Campeonato Mineiro. 
to exponencial, tanto em Belo Horizonte quanto por todo o interior de Minas 
Gerais,  era  um  fenômeno  de  alegria.  Mas  também  irritava  os  clubes  da  elite  Na primeira partida, um verdadeiro massacre esportivo. O Cru­
econômica e seus aliados do poder político.  zeiro venceu por 4 a 0. Um Mineirão perplexo. De um lado, a
China Azul, em uma explosão de alegria. Do outro, os atleticanos, 
No primeiro clássico da fase final do Estadual de 1981, contra o Atlético de Belo que não acreditavam no que assistiam: o regresso triunfante do
Horizonte, disputado no dia 8 de novembro, a Administração dos Estádios do seu maior terror. 
Estado de Minas Gerais (Ademg) decidiu lançar uma campanha para apurar
qual era a maior e a mais apaixonada torcida da capital mineira. Mandou con­ Foi quando, novamente, o Cruzeiro voltou à realidade de que, em  
feccionar  ingressos  com  layout  diferenciados  para  os  cruzeirenses  e  para  os  Minas  Gerais,  contra  ele  nem  sempre  é  só  o  futebol.  O  Atlético  
atleticanos. O jogo terminou empatado em 1 a 1. O público total foi de 112.919  alegava  que  bastaria  uma  vitória  simples  na  segunda  partida,  e  
pagantes,  sendo  que  a  “China  Azul”  (apelido  criado  pelo  cronista  Roberto  não devolver o 4 a 0. Ele até venceu por 1 a 0, e, rancorosamen­
Drummond para a gigante torcida do Cruzeiro) foi a maior, vitória alcançada  te, conseguiu impedir a cessão do carro do Corpo de Bombeiros  
exatamente por sua superioridade no setor da geral. O episódio foi classificado para a festa azul e branca. Os jogadores estrelados, no entanto,  
como a vitória do povão cruzeirense, que teve maior presença justamente no  subiram na caçamba de um caminhão e foram abraçar o povão  
setor onde os ingressos tinham preços mais populares.  cruzeirense. O título só foi reconhecido pela FMF seis anos depois. 
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Mesmo com a conquista genuína de 1984 - mas não reconhecida de prontidão, a situação
financeira do Cruzeiro continuava crítica. Tecnicamente, o time sobrevivia graças aos jovens
das  categorias  de  base,  que  já  tinham  se  tornado  realidade.  Se  alguns  precisaram  ter  seus  
passes vendidos para conseguir pagar até as contas administrativas básicas em atraso, como  
o zagueiro Geraldão para o futebol português, outros foram surgindo, entre eles, Careca, um  
meia atacante explosivo e de uma habilidade encantadora, que soube honrar a camisa 10 cru­
zeirense com gols e seguidas convocações para a Seleção Brasileira. Ele e Douglas se torna­
riam os símbolos de uma geração responsável pela maior conquista dos anos de 1980, que foi  
a retomada da autoestima por parte da Nação Azul. 

As campanhas que se seguiram mostraram um time determinado a afastar o fantasma da  
crise. O ano de 1987 foi o ponto de virada. Ainda em fevereiro, Cruzeiro e Atlético se enfren­
taram pelas quartas de final do Campeonato Brasileiro do ano anterior. Comandado por uma
exibição magistral de Douglas, o time estrelado esteve próximo de se classificar, o que não
ocorreu, pois o adversário tinha a vantagem dos dois empates. Mesmo desclassificado, o
Cruzeiro deixou o gramado do Mineirão ovacionado por sua torcida.  

A luta serviu de estímulo para o Campeonato Mineiro  
vindouro. O Cruzeiro chegou à final contra o mesmo
Atlético. Primeiro jogo, 0 a 0. No segundo, ainda   no  
primeiro tempo, numa entrada criminosa de um ad­
versário, o atacante Wanderley, a joia do time, teve 
o  tornozelo  quebrado.  A  revolta  pelo  lance  não  ter 
rendido ao menos um cartão amarelo ao agressor in­
cendiou o time cruzeirense. No segundo tempo, mar­
cado por brigas e pontapés dos atleticanos, o craque 
Careca e o ponteiro Róbson marcaram os gols do tí­
tulo. O campeão estava de volta. 

Para Plínio Barreto, a conquista passou pela força do 
trabalho  de  base  desenvolvido  pelo  clube.  “O  time 
estrelado era praticamente construído nas categorias
de base. Fruto de um trabalho de pés no chão inicia­
do pelo presidente Benito Masci. O goleiro Gomes, o
zagueiro Eugênio, o meia Careca e o atacante Wan­
derley eram pratas da casa. O lateral direito Balu fora
descoberto no interior paulista. Na lateral esquerda,
Genilson, trazido do Valério. No meio de campo, a ex­
periência de Ademir, volante revelado no Internacio­
nal, e Heriberto, comprado do São Paulo. No ataque,
Róbson, um mineiro que se revelara no futebol baia­
no, Hamilton e Édson, tarimbado ponta com passa­
gens pelo Flamengo e pelo futebol do Sul do Brasil.”

Ao lado: Times campeões mineiros de 1984, 1987 e 1990.

Acima: Douglas, ídolo e símbolo da resiliência da geração da década que recuperou a autoestima da torcida cruzeirense.
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O ano de 1987 ainda traria de volta o respeito nacional ao   Ainda  nesse  ano,  veio  a  primeira  conquista  de  uma  série  incrível.  
Cruzeiro. Na Copa União, nome daquela edição do campeo­ O Cruzeiro passeou pelo Campeonato Mineiro. Venceu o primeiro
nato brasileiro, o time se classificou para as semifinais e com­ turno com um baile sobre o Atlético de Belo Horizonte. Deixou a  
pletou uma sequência invicta de 15 jogos.  Só não disputou   conquista antecipada escapar na última rodada do segundo turno e  
o título contra o Flamengo pela infelicidade de uma derrota   foi à disputa numa final contra o time alvinegro da elite econômica.
por 1 a 0 para o Internacional, sofrendo o gol na prorroga­
ção, dentro do Mineirão.  Cerca  de  100.000  pessoas  foram  ao  Mineirão.  O  time  estrelado 
já era um misto da geração de reconquista da autoestima, com o 
Se a autoestima estava de volta, restava ainda ao Cruzeiro  embrião do multicampeão prestes a nascer. Paulo César Borges, 
se reposicionar no cenário mundial. Em 1988, a Confede­ Balu, Gilson Jader, Adílson e Paulo César Carioca; Ademir, Paulo 
ração  Sul­Americana  de  Futebol  (Conmebol)  anunciou  a  Isidoro e Careca; Heyder, Hamilton e Édson entraram em campo. 
criação da Supercopa dos Campeões da Libertadores. Só  Se Careca representava a primeira turma, a segunda tinha no co­
13 times tinham o direito de disputá­la; destes, quatro bra­ mando da equipe o seu ponto alto, o lendário treinador Ênio An­
sileiros: Santos, Cruzeiro, Grêmio e Flamengo. drade, um dos maiores da história do Cruzeiro. 

A primeira edição da Supercopa pegou o Cruzeiro em fran­ O jogo começou tenso. Várias chances para ambos os lados no pri­
ca  recuperação  econômica  e  técnica.  Sua  estreia  aconte­ meiro tempo. Mas a explosão veio no início da etapa final. Ela con­
ceu  contra  o  Indepiendente,  da  Argentina.  Duas  vitórias.   sagraria definitivamente o maior ídolo cruzeirense desse período
Nas quartas-de-final, passou pelo Argentinos Juniors, com de retomada da autoestima e eterno carrasco do Atlético de Belo  
mais dois triunfos em 1 a 0.  A semifinal, contra o Nacional, Horizonte. Após um escanteio, Careca cabeceou para marcar o gol  
do Uruguai, mostrou o maior público já registrado em um   do título. Minas Gerais voltava a ser pequena para o Cruzeiro.  
jogo do Cruzeiro em competições sul-americanas: 90.900
Ao lado: Ademir e Careca, ídolos da década de 1980.
pessoas  pagaram  ingresso  (o  público  geral  foi  superior  a  
Acima: Careca se emociona ao comemorar o gol do título mineiro de 1990.
100.000). Eles viram a classificação celeste para a finalís­
sima chegar com um gol antológico do ponteiro Róbson.   Abaixo: Time vice-campeão da Supercopa Libertadores de 1988.

Depois  de  onze  anos,  o  Cruzeiro  voltava  a  disputar  uma  


final internacional. O adversário foi o Racing, da Argentina.
Em Buenos Aires, derrota por 2 a 1 e, no Mineirão, um empa­
te por 1 a 1. A frustração pela perda do título não desanimou  
os cruzeirenses. Pelo contrário, colocou a Supercopa entre  
os maiores desejos de conquista a serem perseguidos pelo  
clube e pela sua torcida nos anos seguintes.  

O  clima  de  desesperança  do  início  dos  anos  1980  estava  


no  passado.  A  década  seguinte  chegaria  com  jogadores  
formados no clube, convocados para a Seleção Brasileira,  
como os ídolos Careca, Geraldão e Douglas, além de outro  
jogador­símbolo que viria para comandar a nova transição  
do elenco, o volante Ademir. O ano de 1990 chegou com  
o Cruzeiro sendo colocado pela  crônica  esportiva,  nova­
mente,  entre  os  favoritos  aos  títulos  subsequentes.  Um 
pressentimento de que um gigante estava renascendo. 
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1 9 8 1 _ 1 9 9 0 > FAT O S M A R C A N T E S O elenco formado por jogadores como Balu, Gilmar Francisco, Ademir, Hamilton e Édson,  
sob o comando do técnico Carlos Alberto Silva, chegou às quartas de final do torneio.

1987 
1981   
 O técnico Carlos Alberto Silva foi anunciado como técnico da Seleção Brasileira. Foi o pri­
• 25 de janeiro. Em grande fase, o ponta esquerda Joãozinho fraturou a perna num lance meiro treinador do Cruzeiro a assumir esse posto. O preparador físico Odilon Guimarães, 
com o zagueiro Darci Munique, do Sampaio Corrêa, no empate por 1 a 1, no Mineirão, pelo  o médico Ronaldo Nazaré e o enfermeiro Teotônio também fizeram parte da comissão
Campeonato Brasileiro. Foram nove meses longe dos gramados.  técnica brasileira. O zagueiro Geraldão e o volante Douglas foram convocados. 

• 8 de novembro. A Ademg promoveu o concurso “Desafio das torcidas” no jogo entre o Cruzeiro  
 2 de agosto. O Cruzeiro conquista o Campeonato Mineiro com uma vitória por 2 a 0 sobre 
e o Atlético, vendendo ingressos em cores diferentes para os cruzeirenses e para os atleticanos.   o Atlético. O herói foi o jovem Careca, de 18 anos, que abriu o placar com um belo chute 
A China Azul foi a maioria, em um público de 112.919 pagantes. A vitória do povão cruzeirense   de fora da área. As categorias de base, de novo, revelavam ídolos para a torcida celeste. 
veio graças à sua maioria esmagadora nos setores mais populares do estádio, como a geral.    Nos acréscimos, Róbson marcou o segundo gol cruzeirense. 

 
 No reformulado Campeonato Brasileiro, que levou o nome de Copa União, com apenas 
16 equipes, o Cruzeiro chegou às semifinais, sendo eliminado pelo Internacional, numa
1982 
prorrogação no Mineirão. 
• Com a contratação do técnico Yustrich, o lateral-direito Nelinho, assim como Tostão em
1972, anunciou que não continuaria no clube. Ele já havia sido emprestado ao Grêmio em
1980 e disputou sua última partida na derrota por 1 a 0 para o Anapolina, em 20 de março. 
1988   
  primeira  edição  da  Supercopa  dos  Campeões  da  Libertadores,  o  Cruzeiro  terminou 
 Na 
como vice-campeão. Na final, perdeu para o Racing por 2 a 1, na Argentina, e empatou em
1984  1 a 1, no Mineirão. Quem também deu show na competição foi a China Azul. Na semifinal
• 05 de dezembro. Na primeira partida da final do Campeonato Mineiro, o Cruzeiro aplica contra o Nacional, do Uruguai, foram mais de 90.000 pagantes. 
uma goleada memorável sobre o Atlético, por 4 a 0.

 09 de dezembro. Mesmo com a derrota por 1 a 0, o Cruzeiro sagrava­se campeão dentro de 
    1989   
campo. Fora dele, o Atlético alegou que o termo “resultados iguais” escrito no regulamento    
 Na primeira edição da Copa do Brasil, que viria a conquistar por seis vezes, o Cruzeiro 
não envolvia saldo de gols. A decisão definitiva nos tribunais saiu somente em 1990. Nesse parou nas oitavas de final, eliminado pelo Bahia.
dia, após ter sido impedido de desfilar no carro do Corpo de Bombeiros, os jogadores do
Cruzeiro subiram na caçamba de um caminhão para festejar com a China Azul.   
 Surge “La Bestia Negra”. Com a obrigação de reverter a desvantagem de dois gols diante 
do Olímpia, do Paraguai. Nas oitavas de final da Supercopa, o Cruzeiro venceu por 3 a 0,
no Mineirão, e passou a criar a fama de algoz de adversários sul-americanos. 
1985 
 O Cruzeiro conquistou o torneio comemorativo dos 20 anos do Mineirão. Derrotou o Boca 
 
Juniors por 2 a 0, e o River Plate por 1 a 0, em setembro.  1990 
• 3 de junho. O Cruzeiro conquista o título do Campeonato Mineiro sobre o Atlético: 1 a 0.
• O clube se despediu definitivamente do Estádio JK, que serviu à equipe desde os seus Mais uma vez, o atacante Careca foi o herói da conquista, marcando o gol de cabeça. Logo  
primeiros  anos  de  vida.  Parte  das  arquibancadas  foi  demolida,  e  o  espaço  se  tornou  o  em seguida, seu passe foi negociado com o Sporting, de Portugal. A conquista do campeo­
Parque Esportivo do Barro Preto. nato marcou o início de uma sequência de 15 anos consecutivos com títulos do clube. 

• 26 de setembro. Na partida contra o Santos, pelo Campeonato Brasileiro, finalmente o


1986  Cruzeiro recebeu a taça pela conquista do Campeonato Mineiro de 1984, após seis anos
 Depois de muitos anos, o Cruzeiro voltou a fazer boa campanha no Campeonato Brasileiro. 
    de tentativa do Atlético para reverter, nos tribunais, a sua derrota nos gramados. 
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Não por menos, o Cruzeiro foi eleito “O Melhor Clube 
Brasileiro do Século XX” pela Federação Internacional 
de História e Estatística do Futebol (IFFHS). Esse feito
Uma nova  teve milhares de responsáveis. Das arquibancadas aos 
época de ouro  gramados. Dos bastidores do clube ao campo de trei­
namento na Toca da Raposa. E, nesse último, esteve
A  sequência  de  conquistas,  iniciada   uma das figuras centrais para o começo da caminhada
com  o  Campeonato  Mineiro  de  1990   gloriosa do início da década de 1990: o treinador gaú­
e  construída  de  1991  a  2000,  trans­ cho Ênio Andrade. 
formou  o  Cruzeiro  no  maior  vence­
dor  de  competições  desse  período.   “Seu Ênio”, como era carinhosamente chamado o se­
Cinco títulos do Campeonato Mineiro   nhor  de  cabelos  brancos,  semblante  turrão,  mas  ex­
(1992/1994/1996/1997/1998), dois da tremamente educado e agradável com os jogadores, 
Supercopa  dos  Campeões  da  Améri­ jornalistas  e  torcedores.  Muitos  de  seus  atletas  o  ti­
ca (1991/1992), dois da Copa do Brasil   nham  como  um  segundo  pai.  Alguns  deles  lembram 
(1993/1996) e a Libertadores de 1997.   de suas preleções na Toca da Raposa, quando usava 
O Campeonato Brasileiro de 1998 fi­ um  tamborete  para  montar  uma  espécie  de  quadro 
cou no quase ou, no melhor estilo fu­ tático para mostrar como queria o time atuando. 
Ênio Andrade foi um dos maiores técnicos  
tebolês,  bateu  na  trave,  na  decisão   da história do Cruzeiro e, entre seus títulos  
contra o Corinthians.   A  chegada  do  treinador  foi  o  reencontro  do  Cruzeiro   à frente do clube, o levou à conquista da  
Supercopa Libertadores de 1991. 
com o futebol competitivo campeão sul­americano de  
Quinze conquistas e seis disputas de  1976. A sua filosofia de jogo foi decisiva dentro de cam­
finais. Um período marcado por gran­ po para iniciar a década de ouro. Ênio Andrade foi um  
des nomes, como os de Marco Antô­ colecionador de títulos. Comandou o time nas conquis­
nio Boiadeiro, Renato Gaúcho, Luizi­ tas de dois campeonatos mineiros (1990/1994), uma
nho,  Nonato,  Dida,  Marcelo  Ramos,  Copa dos Campeões Mineiros (1991), a Supercopa da Li­
Palhinha,  Ricardinho,  Fábio  Júnior,  bertadores (1991), a Copa Ouro (1995) e uma Copa Mas­
Sorín  e  a  maior  revelação  já  surgida  ter da Supercopa (1995). 
no clube no final do século XX: Ronal­
do Nazário, o Fenômeno.  Tudo começou com uma mexida geral no elenco, pro­
movida pela diretoria sob orientação de Ênio Andrade.  
A crônica de Plínio Barreto, publicada   Com muita estratégia e cuidado, a partir de 1991 foi ini­
no jornal Estado de Minas no dia 19 de ciada uma renovação gradativa, em que se mesclou a  
março de 1994, revela o estado de es­ manutenção  de  alguns  líderes,  como  o  goleiro  Paulo  
pírito de todo o cruzeirense na época: César Borges, o volante Ademir e o ponteiro Édson; o  
olhar atento nos destaques de clubes de menor expres­
são,  de  onde  vieram  futuros  ídolos,  como  o  defensor  
Adílson  e  o  lateral  esquerdo  Nonato;  a  promoção  de  
“pratas da casa”, como o zagueiro Paulão; e a aposta  
em jogadores tarimbados e ídolos em outros grandes  
clubes, como os meias Marco Antônio Boiadeiro e Luís  
Fernando Flores e os atacantes Charles e Mário Tilico. 
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Com Ênio Andrade, o Cruzeiro virou especialista em disputas de  véspera, fomos reconhecer o gramado do jogo e não deixaram. Então, antes do jogo, o ‘seu
torneios mata­mata, o que valeria ao clube a condição de colecio­ Ênio’ abriu as portas do campo e soltou um monte de bola no gramado. Mandou a gente sentir
nador de títulos, fazendo do torcedor cruzeirense o maior festeiro  as condições que iríamos enfrentar. Serviu muito para encarar o clima do jogo e segurarmos a
e soltador de foguetes das noites de Minas Gerais nos anos 1990.  nossa vantagem até o final”.
Numa delas, após uma partida épica no Mineirão, em 1991, o Cru­
zeiro coroou o seu regresso ao posto de embaixador do futebol  As semifinais contra o Olimpia, do Paraguai, foram dramáticas. Um empate no Mineirão, em
mineiro no mundo. A Supercopa dos Campeões da Libertadores  1 a 1, e outro em Assunção, 0 a 0, levaram a decisão para os pênaltis. Brilhou a estrela do 
daquele ano teve esse papel na história do clube.  goleiro Paulo César Borges. Cruzeiro 5 a 3 nas cobranças. 

O  início  da  temporada  de  1991,  que  voltaria  a  colocar  o  Cruzei­ A finalíssima contra o River Plate trouxe a lembrança da campanha vitoriosa na Libertadores de
ro  como  o  maior  gigante  das  Américas,  teve  semelhanças  com  1976.  As duas equipes eram, agora, grandes rivais internacionais. Quinze confrontos, sete de­
1976, quando da conquista da sua primeira Copa Libertadores. Lá  les decisivos. Os portenhos eram comandados pelo ex­capitão da Seleção Argentina e um dos  
atrás, o clube ainda sofria com a perda de Tostão e a contusão  maiores zagueiros da história do futebol, Daniel Passarella. Tinham no time jogadores do nível de  
de Dirceu Lopes. Em 1991, as saídas dos ídolos Douglas e Care­ Ramón Diaz, Comizzo, Hernan Diaz, Ramon Medina Bello e Leonardo Astrada em início de carrei­
ca também refletiram no elenco. Mas uma solução se repetiu: a ra. Uma equipe competitiva, campeã argentina de 1990 e campeã do Torneio Apertura, de 1991. 
aposta em jogadores já consagrados. Na primeira, veio o tricam­
peão mundial Jairzinho e, na segunda, o ponta direita Mário Tilico  Considerado favorito, o River Plate pressionou o Cruzeiro em Buenos Aires durante toda a parti­
e o centroavante Charles, ambos ídolos de seus clubes anteriores,  da. Um caldeirão nas arquibancadas do estádio Monumental de Nuñez. O time argentino venceu  
São Paulo e Bahia, respectivamente.  por 2 a 0 e, assim, garantiu uma enorme vantagem para a partida de volta, em Belo Horizonte.  

A prova de fogo para o novo time seria na competição que já havia caído nas   Toda a imprensa latina dava como certa a conquista do título pelo River Plate, tanto pela 
graças da Nação Azul: a Supercopa dos Campeões da América. Os quatro qualidade  do  elenco  quanto  pelo  resultado  obtido  no  primeiro  jogo.  Mas  “seu  Ênio”  não 
vencedores brasileiros da Libertadores até então ­ Cruzeiro, Santos, Flamen­ deixou o desânimo contaminar seus jogadores nem os torcedores. Ainda na Argentina, ele
go e Grêmio ­ disputaram a edição do torneio de 1991. Os três últimos foram   deu uma declaração surpreendente: “É lógico que as coisas ficaram difíceis, mas, com o
eliminados, sendo que o time paulista saiu nas semifinais para o Peñarol, do apoio da nossa torcida, temos condições de conseguir o mesmo em Belo Horizonte. Fazer 
Uruguai, que, por sua vez, foi eliminado pelo River Plate, da Argentina, que   o resultado de 2 a 0 ou 3 não vai ser nenhum absurdo”. 
chegou à final.
Em 20 de novembro, cerca de 70 mil torcedores foram ao Mineirão empurrar o time para igua­
Na  outra  ponta,  o  Cruzeiro  iniciou  sua  trajetória  contra  o  Colo  Colo,  que  lar a situação com o campeão argentino. E ela, a torcida, literalmente “entrou em campo” junto
ganhara a Libertadores quatro meses antes. Dois empates em 0 a 0 marca­ com o Cruzeiro.  Na busca pelo gol inicial, o torcedor embalou o time e a pressão foi total... até
ram o confronto, e a decisão foi para a cobrança de pênaltis, vencida pelo  aos 33 minutos, quando Ademir fez o Mineirão explodir pela primeira vez. 
Cruzeiro por 4 a 3. Em seguida, o adversário foi o já velho conhecido Na­
cional de Montevideo. No primeiro jogo, no Mineirão, o time fez 4 a 0, com Na volta para o segundo tempo, a pressão continuou e, logo aos seis minutos, o rápido Mário  
três gols de Charles e um de Boiadeiro. O time voava nas decisões e impunha 
        Tilico aumentava para 2 a 0, igualando tudo e levando a decisão para os pênaltis. Só que a torci­
o ritmo para fazer o máximo de gols possíveis no primeiro jogo. Na volta, na   da, ensandecida, de pé, não parou de cantar. Queria o terceiro gol. Aos 29 minutos, Charles, que  
capital uruguaia, o resultado foi administrado e, até o final do jogo, o time se­ normalmente atuava centralizado no ataque, em jogada individual, arrancou pela ponta direita  
gurou uma derrota de 3 a 0, sendo que o terceiro gol veio aos 45 do segundo e, da linha de fundo, tocou para Mário Tilico marcar o seu segundo gol, o terceiro do Cruzeiro. 
tempo. A vantagem alcançada no Mineirão fora decisiva. O zagueiro Adílson  
Batista, na época com 23 anos, foi peça importante na conquista. Um relato,   O que se seguiu até o apito final da partida nunca havia acontecido no Mineirão. Milhares
anos depois, mostrou como aquele jogo deixou o elenco com a “casca gros­ de torcedores invadiram o campo para comemorar com os jogadores. Dezenas deles cru­
sa” para uma competição sul-americana: “A gente achou que a vaga já estava zaram todo o gramado de joelhos. Eufóricos, os cruzeirenses romperam a madrugada afora
assegurada. No Uruguai, desde a chegada do ônibus, uma pressão tremenda. nas ruas de Belo Horizonte e nas estradas que ligam a capital ao interior do estado, para 
Empurra-empurra, bombas, morteiros, foguetes. Aquilo tudo nos assustou. Na onde uma multidão retornava após o jogo. Era a reafirmação continental do Cruzeiro.
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Ao conquistar a Supercopa Libertadores de 1991, o Cruzeiro iniciava uma trajetória 
vitoriosa na década que o levaria a se tornar o único multicampeão de Minas Gerais. 
Aquela conquista fechou o ano de 1991. Não houve acerto para a permanência de Mário 
Tilico – que, em pouco tempo, conquistou a admiração da torcida ­ e o time sentiu a falta 
dele no Brasileirão de 1992. A competição teve início em janeiro para terminar antes da rea­
lização das Olimpíadas de Barcelona. O Cruzeiro disputou a fase semifinal do campeonato
e foi eliminado, o que valeu a saída precipitada de Ênio Andrade. 

A chegada do novo treinador, Jair Pereira, trazia também jogadores com muita história e 
que inscreveriam o nome na relação dos grandes campeões. As contratações sacudiram o 
torcedor cruzeirense. Luizinho, zagueiro que se destacara no rival Atlético nos anos 1980, 
na Seleção Brasileira de 1982 e no Sporting, de Portugal; Douglas, que retornava do mesmo 
clube português; o meia­atacante Betinho, consagrado no Palmeiras e na Portuguesa, e os 
atacantes Renato Gaúcho e Roberto Gaúcho. 

Jair Pereira deu liberdade para aos três jogadores do ataque não guardarem posições defini­
das, e esse estilo não encontrou adversário na disputa do Campeonato Mineiro. A campanha  
do Cruzeiro foi marcada por goleadas incríveis, como um 8 a 1 sobre o Rio Branco e um 7 a 0  
sobre o Uberlândia. Sem perder um único jogo, o time decidiu o título em dois jogos contra o
América. Duas vitórias (3 a 2 e 2 a 0), com um show particular da dupla Renato e Roberto, os  
gaúchos. Tudo isso foi um ensaio para o que viria na disputa da Supercopa da Libertadores. 
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O entrosamento dentro de campo era perfeito. Boia­ Nas semifinais, um embate duríssimo contra na torcida que já antevia o bi, incrementado 
deiro, Luís Fernando e Betinho armavam um arsenal  o Olímpia. Vitória por 1 a 0 no Paraguai e um aos 25 minutos, quando Luís Fernando fez o 
de  jogadas.  Roberto  Gaúcho,  além  do  faro  de  gol,  empate por 2 a 2 no Mineirão, com mais de  terceiro gol. 
era  um  verdadeiro  garçom  para  o  oportunismo  de  90.000 torcedores presentes. Na finalíssi­
Renato Gaúcho. Jair Pereira contava com um elenco  ma, o Cruzeiro enfrentou o Racing, em uma  O resultado tranquilizava para o jogo de vol­
tarimbado  não  só  dentro  de  campo,  mas  também  revanche  da  primeira  Supercopa  em  1988,  ta, mas o torcedor queria mais e pedia mais  
no banco de substituições. A base tinha Paulo César  quando os argentinos foram campeões den­ um ao ídolo Marco Antônio Boiadeiro. O gol  
Borges,  Paulo  Roberto,  Luizinho,  Célio  Lúcio  e  No­ tro do Gigante da Pampulha.  veio em uma pintura. Um corte para a perna  
nato;  Douglas,  Boiadeiro,  Luís  Fernando  e  Betinho;  esquerda e a bola entrou no ângulo. Ao Ra­
Renato Gaúcho e Roberto Gaúcho.  O sorteio marcou o primeiro jogo da decisão  cing, caberia vencer em Avellaneda por 5 gols  
para Belo Horizonte, e a massa cruzeirense  de  diferença.  Para  o  torcedor  cruzeirense,  o  
Dessa vez, o Cruzeiro entrou para a disputa da Su­ ocupou  o  Mineirão  com  mais  de  100.000  impossível, e, por isso, já se sentia bicampeão.  
percopa  como  um  dos  favoritos  e  defendendo  o  presentes,  que  cantaram  e  pularam  do  iní­
título  de  1991.  A  estreia  foi  na  Colômbia,  contra  o  cio ao fim do jogo, debaixo de muita chuva. E foi o que ocorreu na Argentina. O Racing
Nacional de Medelín: empate em 1 a 1. No jogo de A primeira explosão veio aos 31 minutos, no  venceu por 1 a 0, insuficiente para impedir
volta, com mais de 70.000 pessoas presentes no Mi­ chute  de  Roberto  Gaúcho,  que  desviou  no  mais  um  título  internacional  do  maior  clu­
neirão,  uma  goleada  histórica  de  8  a  0,  com  cinco  zagueiro e entrou no gol. Emoções maiores be de Minas Gerais, La Bestia Negra para os 
gols de Renato Gaúcho. Nas arquibancadas, a torci­ estavam reservadas para o segundo tempo  adversários sul­americanos. A conquista al­
da proporcionou um espetáculo inesquecível, quan­ e,  aos  12  minutos,  Roberto  Gaúcho  subiu  e  cançada de forma magistral valeu ao clube 
do ficou quase o segundo tempo inteiro fazendo o marcou de cabeça. Carnaval em novembro  a alcunha de “time copeiro”. 
movimento da “ola”, que só se interrompia para os 
cruzeirenses comemorarem os gols. 

Nas quartas de finais, um velho conhecido, mordido com a perda do título da mesma Su­
percopa no ano anterior e da Libertadores de 1976. O River Plate foi a Belo Horizonte dis­
posto a despachar o Cruzeiro, mas voltou a perder: 2 a 0. A partida de volta, em Buenos
Aires, foi dos jogos mais difíceis e sangrentos da história do clube mineiro. 

Antes mesmo da partida, o ônibus da delegação foi apedrejado e alguns jogadores foram 
atingidos por estilhaços. Estranhamente, a transmissão do jogo pela TV para o Brasil foi
proibida. No entanto, tão logo o juiz apitou o início da partida, pôde­se perceber o motivo 
de tanto desejo em esconder algo. 

Na bola, os argentinos não conseguiam furar a defesa do Cruzeiro, até que o árbitro iniciou 
os trabalhos quando faltavam dez minutos para o fim do jogo. Em menos de cinco minutos,
expulsou Luizinho e Boiadeiro. O jovem Adílson, que entrara no decorrer da partida, após 
seis meses se recuperando de uma fratura na perna, foi agredido covardemente e quebrou 
a tíbia novamente. 

Aos 42 minutos do segundo tempo, o árbitro marca um pênalti inexistente. Já nos acrésci­
mos, outra penalidade favorecendo o River Plate. Com o 2 a 0, a decisão da vaga foi para 
as cobranças de pênaltis. Heroicamente, o Cruzeiro se classificou ali, enquanto a torcida
argentina destruía o estádio. 
A conquista da Supercopa Libertadores de 1992 foi marcada por goleadas e 
pelo recorde mundial de média de público numa mesma competição. 
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A comprovação veio no primeiro semestre de 1993, na disputa da Copa do Brasil. O time  Vindo para o lugar de Paulo César Borges, Dida logo se tornou unani­
não contava com Renato Gaúcho e Betinho. A contrapartida foi apostar na volta do ídolo  midade da torcida. Com 1,96m de altura, o gigante se destacava nas 
Ademir – que estava emprestado ao Racing ­ e na contratação dos atacantes Éder Aleixo e  cobranças  de  pênalti,  e  mostrou  isso  nas  duas  competições  do  pri­
Cleisson, então uma jovem promessa do modesto clube Santa Tereza.  meiro semestre de 1994 – o Campeonato Mineiro e a Supercopa dos
Campeões  da  Libertadores.  Nas  duas  grandes  conquistas  de  1996  e 
O Cruzeiro eliminou a Desportiva, do Espírito Santo, o Náutico, o São Paulo e o Vasco antes 1997, a Copa do Brasil e a Libertadores, Dida seria a segurança do time 
da final contra o Grêmio. No primeiro jogo da decisão, em Porto Alegre, empate em 0 a 0. para chegar aos títulos. Mas, antes disso, outro fenômeno surgiria no 
No Mineirão, no dia 3 de junho, mais de 70.000 cruzeirenses foram ao estádio com o obje­ Cruzeiro: um menino chamado Ronaldo Nazário.
tivo de levar o time à conquista de mais um título nacional. Comandando o time estava o 
técnico Pinheiro. Roberto Gaúcho abriu o placar e Pingo empatou para o Grêmio. O gol do  O garoto chegou ao Cruzeiro ainda em 1993, vindo do São Cristóvão, do  
título saiu depois de um cruzamento de Paulo Roberto e a subida de Cleisson para testar  Rio de Janeiro. Tinha 16 anos e foi para a equipe de base. A qualidade do  
e marcar o gol da comemoração. O jovem garoto, definitivamente, iniciava sua trajetória atacante chamou a atenção, e, quando o técnico Pinheiro precisou colo­
de ídolo da torcida, e o Cruzeiro conquistava a sua Copa do Brasil, torneio que, décadas  car uma equipe reserva para jogar contra a Caldense pelo Campeonato  
depois, o teria como hexacampeão.  Mineiro, escalou Ronaldo. Dois meses depois, o garoto foi levado em uma  
excursão a Portugal, já com o treinador Carlos Alberto Silva, e participou  
de três jogos. No primeiro, entrou no segundo tempo; no segundo jogo,  
contra o Belenenses, marcou um dos gols na vitória celeste por 2 a 0. No  
jogo seguinte, contra o Peñarol, Ronaldo conquistou a posição em defini­
tivo. O Cruzeiro venceu por 3 a 0. Ele marcou um gol que deixou o está­
dio em pé, aplaudindo, depois de passar por cinco defensores uruguaios. 

O tempo de Ronaldo no Cruzeiro foi curto – entre o segundo semes­
tre de 1993 e o primeiro de 1994. Em 58 jogos, atuando em 55 como
titular, marcou 56 gols. Foi artilheiro da Supercopa da Libertadores e 
do Campeonato Mineiro de 1993 e convocado para disputar a Copa 
do Mundo de 1994. Em tão pouco tempo, alcançou marcas difíceis de
serem alcançadas. Foi o atacante com a melhor média de gols no Mi­
neirão: 32 em 27 jogos – 1,19 por partida.

Sua rapidez e sua habilidade encantavam o mundo. A maestria com a qual  
jogava fez com que ele marcasse gols épicos com a camisa azul e branca.  
No Brasileirão de 1993, o Cruzeiro goleou o Bahia por 6 a 0. Ronaldo mar­
cou cinco gols. Num deles, o goleiro uruguaio Rodolfo Rodríguez, depois  
Em 1993, ao vencer o Grêmio na final, o Cruzeiro conquistava sua primeira de praticar uma defesa difícil e reclamar da marcação, deixou escapar a  
Copa do Brasil, competição da qual se tornou hexacampeão. 
bola perto de Ronaldo, que não titubeou e a empurrou para as redes.  
O  Brasileirão  de  1993  revelou  um  jovem  e  gigante 
goleiro que defendia o Vitória, da Bahia, vice-cam­ No Campeonato Mineiro de 1994, o garoto marcou os três gols na
peão da competição. Com defesas milagrosas, Dida  vitória por 3 a 1 sobre o Atlético, com dribles desconcertantes. Ronal­
foi  um  dos  principais  fatores  pelo  time  baiano  ter  do também deixou a sua marca em gramados sul­americanos contra 
chegado à disputa do título. Ao final do campeona­ adversários tradicionais, como o Boca Juniors. Inesquecível foi o gol 
to, os dirigentes do Cruzeiro surpreendiam a máxi­ marcado na vitória de virada, por 2 a 1, na Libertadores de 1994. Ro­
ma do futebol que sempre desvalorizava a posição  naldo partiu com a bola do meio de campo, driblou quatro adversários 
de goleiro e anunciavam a troca do meia Ramon Me­ e o goleiro Navarro Montoya antes de marcar. Ele próprio considera
nezes, revelado na base do clube, pelo goleiro Dida.  esse gol um dos mais bonitos de toda a sua carreira. 
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_ D E PA L E S T R A A C R U Z E I R O _ 209

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nacional contra o poderoso Corinthians, que contava com craques como Edmundo e Marceli­
nho Carioca. Eles não impediram outra goleada mineira: 4 a 0 no estádio Independência. Com
tarimba e prudência, o time segurou a derrota magra de 3 a 2 e se classificou para as semifinais
contra outro gigante, o Flamengo. Dois empates, sendo um por 1 a 1 no Maracanã, levaram o  
Cruzeiro à sua segunda decisão na Copa do Brasil. Dessa vez, contra o mais temido time do  
Brasil naquela época: o poderoso e rico Palmeiras, patrocinado pela multinacional Parmalat.

O time paulista contava com uma verdadeira Seleção Brasileira, com jogadores de qualida­
de reconhecida no mundo do futebol: Rivaldo, Djalminha, Luizão, Cafu, Cléber, Júnior, Flá­
vio Conceição. O favoritismo do Palmeiras aumentou ainda mais depois do primeiro jogo 
das finais. No Mineirão, um empate por 1 a 1 dava aos paulistas o direito de serem campeões
até com um 0 a 0 no jogo da volta, em São Paulo. 

Mas, nos vestiários, um líder tratou de deixar os companheiros de cabeça erguida. O lateral  
esquerdo Nonato, um dos maiores jogadores da história centenária do Cruzeiro e capitão  
daquele time, dirigiu­se a cada um dos jogadores e começou a questioná­los em relação aos  
jogadores do Palmeiras: “Perguntei a todos os jogadores: Dida, você é pior que o Veloso?
Vitor, o Cafu joga mais que você? E assim foi. Não nos desesperamos”.

Logo após a Copa do Mundo de 1994, foi anunciada a transferência de Ronaldo para o PSV,
da Holanda. Uma transação envolvendo 6 milhões de dólares. Sobre ele, o comentarista e 
ex-jogador Tostão, ícone da história centenária do clube, disse certa vez: “Foi, com certeza
absoluta, o maior jogador que passou pelo Cruzeiro, pois ficou pouco tempo, mas deixou
sua marca, como eu, o Dirceu Lopes e outros que brilharam com a camisa do clube”. 

Terminada a temporada de 1994, o Cruzeiro entraria em uma fase de negociações milio­


nárias no Mercado da Bola. Numa delas, o clube cedeu os jogadores Belletti, então com 19 
anos, e o lateral esquerdo Serginho para o São Paulo, e recebeu em troca o zagueiro Gilmar, 
o lateral direito Vítor, o volante Donizete, o atacante Aílton, o lateral esquerdo Ronaldo
Luiz e o passe definitivo do meia Palhinha – revelado pelo América de Belo Horizonte e
então ídolo no time paulista. Com esses jogadores e mais Fabinho e Gelson Baresi, vindos 
de graça do Flamengo, a manutenção de seis ídolos – Dida, o capitão Nonato, Ricardinho, 
Cleisson, Marcelo Ramos e Roberto Gaúcho ­ foi formada a base de um time inesquecível, 
que seria campeão da Copa do Brasil e da Libertadores. 

A Copa do Brasil de 1996 foi uma das mais disputadas de toda a história dessa competição. 
O Cruzeiro se preparou para vencê­la, e tinha no comando o técnico Levir Culpi e Palhinha 
como maestro. 

Após passar pelo Juventus, do Acre, na primeira fase, o Cruzeiro goleou o Vasco por 6 a 2,
no Rio de Janeiro, e se classificou com um empate no Mineirão. Na sequência, outro clássico

Acima: Ronaldo Fenômeno é revelado ao mundo pelo Cruzeiro.

Ao lado: Numa virada histórica, o Cruzeiro vence o Palmeiras e conquista a sua segunda Copa do Brasil, em 1996.

Legenda: Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit, sed do 
eiusmod tempor incididunt ut labore et dolore magna aliqua. 
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_ 1991_2000
No dia 19 de junho, 30.000 palmeirenses foram ao Parque Antártica certos de 
comemorar a conquista da Copa. Antes do jogo, no salão nobre do clube, uma 
festa já estava sendo preparada, e as faixas de campeão já estavam prontas. 
Tudo ficou ainda mais real para os paulistas, quando, logo aos 5 minutos de
jogo, o Palmeiras marcou 1 a 0. Mas o que eles não esperavam era uma atuação 
divina do goleiro Dida e um entrosamento impecável do Cruzeiro. 

O time não se assustou e, ainda no primeiro tempo, Roberto Gaúcho deixou 
tudo igual. No segundo tempo, a pressão paulista foi total, mas insuficiente
para vencer Dida. Por três vezes, o goleiro fez defesas inacreditáveis de chutes 
próximos à pequena área. Certamente, foi uma das maiores atuações de um 
goleiro na história do futebol mundial. 

Se  Dida  operava  milagres  na  defesa,  no  ataque,  Palhinha  e  Roberto  Gaúcho 
deixavam o poderoso Palmeiras em estado de alerta. Mas não o suficiente para
impedir o gol da virada, marcado por Marcelo Ramos. O Cruzeiro conquistava 
a sua segunda Copa do Brasil, e o centroavante baiano iniciava sua idolatria 
como jogador celeste. Na volta do time a Belo Horizonte, milhares de torce­
dores acompanharam o desfile do Aeroporto da Pampulha até o centro da ci­
dade, na maior festa já vista na capital mineira proporcionada por uma torcida  Parou a cidade: Chegada do time do Cruzeiro a Belo Horizonte, após a conquista da Copa do Brasil de 1996.

de futebol. 

No ano seguinte, Dida iria se inscrever para sempre na memória dos cruzeiren­ Nas semifinais, o Colo Colo, do Chile. No Mineirão, Cruzeiro 1 a 0;


ses, durante a disputa da Copa Libertadores da América. Certamente, o torce­ em Santiago, 3 a 2 para os chilenos. A decisão foi para os pênaltis 
dor, quando pensa na conquista da Libertadores, imediatamente se lembra do  e, novamente, Dida foi o nome do jogo, defendendo duas cobran­
gol de Elivélton, mas, com segurança, nunca irá se esquecer das atuações de ças. O Time do Povo Mineiro reforçava seu papel de La Bestia Ne­
Dida nessa conquista. Ele não fez um gol sequer, mas evitou que muitos fos­ gra e se classificava para a final contra o Sporting Cristal, do Peru.
sem feitos no Cruzeiro. Defesas de pênaltis, intervenções milagrosas, Dida foi 
o paredão, a barreira instransponível quando tudo já era dado como perdido.  Na capital peruana, o empate em 0 a 0 não refletiu a superiorida­
de mostrada pelo Cruzeiro em campo, e a decisão ficou para Belo
A  frieza  do  goleiro  foi  testada  durante  toda  a  disputa  da  Libertadores.  De­ Horizonte. Quase 110.000 pessoas presentes no Mineirão, mas o 
pois de uma primeira fase difícil, quando o time se classificou heroicamente jogo, que se desenhava como fácil, foi dramático. O Sportig Cris­
após perder os três primeiros jogos – com a troca de treinadores, vindo Paulo  tal entrou determinado a ser uma zebra, e quase conseguiu, numa 
Autuori, e o retorno do ídolo Marcelo Ramos –, o Cruzeiro jogou contra o El cobrança de falta, quando Dida, novamente, fez a defesa do chu­
Nacional, de Quito. No jogo de ida, 1 a 0 para os equatorianos, mas o Cruzeiro  te de rebote à queima roupa. O Mineirão ficou em silêncio de alí­
venceu no Mineirão por 2 a 1, e a decisão foi para os pênaltis. Uma defesa de  vio por alguns segundos. 
Dida garantiu a classificação.
A explosão de felicidade veio aos 30 minutos do segundo tempo, 
Em seguida, veio o Grêmio. Em dois jogos muito disputados, a presença de quando Nonato cobrou um escanteio pela esquerda e, no rebote, 
Dida foi novamente definitiva. No Mineirão, vitória do Cruzeiro por 2 a 0, e o o ponta esquerda Elivélton chutou mascado com a perna direita,
time não sofreu gols nesse jogo devido a duas defesas espetaculares do go­ e a bola, caprichosamente, entrou: 1 a 0. O capitão Wilson Gottar­
leiro. No estádio Olímpico, os gaúchos venceram por 2 a 1 e, novamente, Dida  do repetiu o gesto de Piazza, em 1976, erguendo a taça da Liber­
evitou por três vezes que o Grêmio ampliasse.  tadores. A América era azul e branca novamente. 
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A  preocupação  e  a  ansiedade  em  disputar  o  Mundial  Interclubes  contra  o  campeão  da  No Campeonato Brasileiro, os rivais disputaram palmo a palmo em toda a competição e fo­
Champions  Ligue,  o  Borussia,  por  pouco  não  levaram  o  time  para  a  segunda  divisão  do  ram às finais para definirem o título, em uma das disputas mais equilibradas da competição.
Campeonato Brasileiro de 1997. A diretoria do clube resolveu acreditar em jogadores com  Se o Cruzeiro apresentava um time preparado para vencer qualquer torneio, o adversário 
boas passagens por times europeus, caso do lateral direito Alberto, do zagueiro Gonçalves  não era diferente: o elenco paulista contava com Marcelinho Carioca, Rincón, Ricardinho,
e dos atacantes Bebeto e Donizete Pantera. A derrota por 2 a 0 acabou mostrando o deses­ Vampeta, Dinei e Edilson Capetinha, treinado por Vanderlei Luxemburgo.
pero da manobra, que, inclusive, foi marcada pela injustiça com alguns heróis da conquista 
da Libertadores, que sequer jogaram contra o time alemão, como Gottardo e Nonato.  No primeiro jogo da decisão, um resultado amargo no Mineirão. O Cruzeiro vencia por 2 a  
0, mas cedeu o empate. Em São Paulo, as duas equipes ficaram igualadas novamente, dessa
Para a temporada seguinte, reformulação geral no elenco. O time campeão da Libertadores  vez em 1 a 1. Houve a necessidade do terceiro jogo, marcado também para a capital paulista.  
foi desfeito e chegaram nomes consagrados do futebol, como o meia Valdo, o atacante Vitória do Corinthians e, novamente, o Cruzeiro via o sonho de ganhar o Campeonato Brasi­
Müller, o zagueiro Marcelo Djian, o volante Djair, o lateral esquerdo Gilberto e as revelações  leiro escapar no último jogo, como em 1974 e 1976.
Marcos Paulo e Fábio Júnior. O técnico Levir Culpi assumiu o comando técnico com o ob­
jetivo de levar o time novamente às alturas.  Depois de uma temporada muito irregular em 1999, o time entrou o ano de 2000 sob des­
confiança. Até mesmo a contratação mais cara da história do Cruzeiro, a do lateral esquerdo
A temporada foi marcada pelos confrontos entre Cruzeiro e Corinthians. No campo regio­ argentino Juan Pablo Sorín, vindo do River Plate por 5 milhões de dólares, não era unanimidade  
nal, o Cruzeiro conquistou mais um tricampeonato mineiro, sequência de 1996/1997/1998,  entre os torcedores e nem mesmo para o novo técnico, Marco Aurélio. Apesar disso, o elenco  
e revelava o atacante Fábio Júnior. Na Copa do Brasil, as duas equipes se enfrentaram na  contava com um misto de jogadores extremamente experientes, como os zagueiros Cléber e  
semifinal e o Cruzeiro levou a melhor, se classificando para enfrentar o Palmeiras na final, Cris e os atacantes Oséas e Müller, além de jovens talentosos como Ricardinho, Fábio Júnior e a  
em decisão vencida pelos paulistas.  revelação Geovanni. Assim, o Cruzeiro foi se firmando na temporada inaugural da nova década.

Em 1997, o Cruzeiro conquistava a sua segunda Copa Libertadores. Marcelo Ramos


(penúltimo agachado) se consagrava como grande artilheiro e ídolo dessa geração. 
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O ponto alto estava por vir na disputa da Copa do Brasil. A campanha começou com a eli­
minação do Gama, do Distrito Federal, e de três adversários da região Sul: Paraná, Caxias e
Athletico Paranaense. Nas quartas de final, o Botafogo. No primeiro jogo, em Belo Horizon­
te, o que parecia uma goleada tranquila – 3 a 0 ainda no primeiro tempo – se transformou 
em drama. O time carioca fez dois gols e quase arrancou o empate. No jogo de volta, no 
Rio de Janeiro, bastava uma vitória simples ao Botafogo, mas o goleiro cruzeirense, André, 
se destacou e segurou o empate em 0 a 0. 

Nas semifinais, o adversário foi o Santos. Vitória por 2 a 0 no Mineirão e um empate em 2 a 2,


na cidade praiana. Até ali, Oséas se transformava no grande destaque do Cruzeiro, anotan­
do 10 gols na competição. A esperança recaía sobre o artilheiro baiano para a final contra o
poderoso São Paulo, que contava com um time de estrelas, como Raí, Rogério Ceni, Beletti,  
Edmílson, Maldonado, França, Marcelinho Paraíba e Carlo Miguel.

No primeiro jogo, empate por 0 a 0, no Morumbi. Para o jogo de volta, a torcida do Cruzeiro  
promoveu um mar azul e branco pelas esquinas de Belo Horizonte. As filas para a compra de
ingressos davam voltas nos quarteirões do Barro Preto e do centro da cidade.  

Como esperado, o jogo foi duríssimo, e se tornou dramático aos 20 minutos do segundo 
tempo, quando Marcelinho Paraíba marcou 1 a 0 para o São Paulo, após uma cobrança de 
falta pela ponta direita. Um empate daria o título ao time paulista. Estava praticamente
acabado para o Cruzeiro. 

Em desespero, o técnico Marco Aurélio sacou os dois laterais – Rodrigo e Sorín – e o meia
Jackson para a entrada do colombiano Viveros e mais dois atacantes – Müller e Fábio Jú­
nior. E foi do jovem centroavante o gol do empate aos 34 minutos. O Mineirão se transfor­
mou em um caldeirão. 

O jogo caminhava para o fim, e o São Paulo prendia a bola no ataque para
gastar o tempo e segurar o empate. Foi quando, nos minutos finais, Gio­
vanni rouba a bola e arranca em disparada rumo à área dos paulistas. Foi 
parado com falta pelo zagueiro Rogério Pinheiro. Seria a última chance, 
e ela se transformou em um momento épico, que jamais será esquecido 
pelos 85.841 pagantes daquela noite.

Próximo à meia­lua, o próprio Geovanni ajeitou a bola, se ajoelhou e a to­
cou com as mãos. O experiente Müller correu até ele e, ao pé do ouvido, 
lhe  indicou  a  forma  de  bater.  Quando  todos  esperavam  uma  cobrança 
clássica, por sobre a barreira, Geovanni bateu rasteiro, no meio dos joga­
dores da parede do São Paulo. Um gol inesquecível. Um tricampeonato 
da Copa do Brasil que fechou com chave do ouro um dos períodos mais 
importantes da gloriosa história cruzeirense. 

Com gols de Fábio Júnio e Geovanni, no Mineirão, Cruzeiro virou contra 
o São Paulo e conquistou sua terceira Copa do Brasil no ano 2000. 
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1 9 9 1 _ 2 0 0 0 > FAT O S M A R C A N T E S 1994 
 
 O Cruzeiro voltou a disputar a Copa Libertadores depois de 17 anos. Apesar de ter sido 
eliminado nas oitavas de final pelo Unión Española, do Chile, a equipe obteve duas vitó­
rias marcantes sobre o Boca Juniors, por 2 a 1. A primeira em La Bombonera, com grande 
1991  atuação do goleiro Dida. A segunda, no Mineirão, com um golaço de Ronaldo. 
 16 de junho. O clube ganhou a Copa dos Campeões Mineiros, disputada no Independência, 
 
no meio da temporada. Derrotou o Villa Nova e o América, ambos nos pênaltis.  
 6 de março. No clássico contra o Atlético, pelo turno do Mineiro, Ronaldo se tornou um 
dos poucos jogadores a marcar três gols na história do confronto. Em um deles, deixou
• 20 de novembro. O Cruzeiro retomou as conquistas internacionais. Enfrentou o River Pla­ o zagueiro uruguaio Kanapkis caído no chão. O volante Toninho Cerezo estreou com a
te na decisão da Supercopa da Libertadores. Perdeu o primeiro jogo por 2 a 0, em Buenos  camisa celeste nesse clássico. 
Aires. Com uma atuação brilhante e fundamental apoio da torcida, fez 3 a 0 no jogo da 
volta, no Mineirão, em 20 de novembro. O atacante Mário Tilico foi o destaque, com dois    de  maio.  O  Cruzeiro  venceu  com  extrema  facilidade  o  Campeonato  Mineiro,  com  10 
 11 
gols. Era o início da fama de time copeiro. pontos de vantagem sobre o vice. E de forma invicta. O título por antecipação veio na
vitória por 5 a 3 sobre a Caldense, em Poços de Caldas. 

• 7 de agosto. Após sagrar-se campeão mundial com a Seleção Brasileira nos Estados Uni­
1992 
dos, Ronaldo, vendido ao PSV Eindhoven, da Holanda, por US$ 6 milhões, despediu-se do
   de  outubro.  O  Cruzeiro  venceu  o  Nacional  de  Medellín  por  8  a  0  pela  Supercopa.  A 
 15 
Cruzeiro no amistoso com o Botafogo, no Mineirão. Ele fez o gol do empate por 1 a 1, o
maior goleada da história do clube em competições internacionais. 
último de seus 56 com a camisa celeste. 

  Cruzeiro  conquista  o  bi  da  Supercopa  da  Libertadores  de  forma  épica.  Passou  por 
 O 
Nacional de Medellín, River Plate, Olimpia e o Racing. A média de público da torcida cru­
zeirense nos jogos em casa foi de 73.000 mil torcedores por jogo, um recorde mundial.  1995 
 
 O Cruzeiro conquistou dois torneios promovidos pela Conmebol neste ano. O primeiro 
• 20 de dezembro. A final do Campeonato Mineiro foi contra o América, algo inédito no foi a Copa Master. Cruzeiro e Olimpia disputaram o título em duas partidas. No Paraguai, 
Mineirão. Campeão invicto, o clube voltava a ficar à frente no número de títulos estaduais houve empate em 0 a 0. No Mineirão, o time celeste venceu por 1 a 0, gol de Marcelo 
na era Mineirão.  Ramos. 

• A segunda conquista foi a Copa Ouro. Cruzeiro e São Paulo fizeram a disputa. No Minei­
rão, o tricolor paulista venceu por 1 a 0, jogo encerrado no início do segundo tempo, após 
1993 
quatro jogadores celestes terem sido expulsos, e Luiz Fernando Gomes ter se contundido 
 
 25 de maio. O jogo pouco valia, tanto que o técnico Pinheiro escalou um time reserva para 
depois das três alterações permitidas. No Pacaembu, o Cruzeiro ganhou por 1 a 0 e levou 
enfrentar a Caldense, em Poços de Caldas, pelo Campeonato Mineiro. Entre os titulares,
a melhor nos pênaltis, graças ao goleiro Dida. 
estava o garoto Ronaldo, atacante de apenas 16 anos, que vinha se destacando entre os 
juniores. Foi a estreia do Fenômeno pelo Cruzeiro. 
 
 27 de agosto. Na vitória por 2 a 0 sobre o Corinthians, no Mineirão, pelo Brasileiro, o ata­
cante Marcelo Ramos marcou o gol mais rápido do clube na história da competição: aos
  de  junho.  O  Cruzeiro  conquistou  a  primeira  de  suas  seis  Copas  do  Brasil.  Depois  de 
 3 
12 segundos. 
eliminar Desportiva/ES, Náutico, São Paulo e Vasco, enfrentou o Grêmio na final. Sob o
comando do técnico Pinheiro, o time segurou o 0 a 0 no Olímpico e venceu por 2 a 1, no 
Mineirão. 
1996 
• 5 de agosto. Em excursão pela Europa, o Cruzeiro venceu o Belenenses, de Portugal, por  
 7 de abril. Com a reforma no gramado do Mineirão, o clássico contra o Atlético, pelo turno 
2 a 0. Gols de Roberto Gaúcho e de Ronaldo, o primeiro dele pelo time profissional do do Campeonato Mineiro, aconteceu no Ipatingão. Foi o primeiro confronto disputado no 
Cruzeiro.  interior do estado. O Cruzeiro perdeu por 2 a 1. 
218
_ D E PA L E S T R A A C R U Z E I R O _ 219

_ 1991_2000
 A conquista do segundo título da Copa do Brasil foi espetacular. O Cruzeiro eliminou Ju­
  • 12 de maio. Com o título da Copa dos Campeões Mineiros, o Cruzeiro se classificou para
ventus (na primeira vez em que jogou no Acre), Vasco, Corinthians e Flamengo para che­ disputar a Copa Centro-Oeste contra o Vila Nova, de Goiás. Depois de ganhar o primeiro
gar à final contra o supertime do Palmeiras. Depois do empate por 1 a 1 no Mineirão, todos jogo no Mineirão, por 3 a 0, veio a derrota no Serra Dourada, por 2 a 1. Na terceira partida, 
davam como certo o título palmeirense. Porém, a equipe de Levir Culpi surpreendeu no  também em Goiânia, o empate por 0 a 0 garantiu o título para o time celeste.
Parque Antártica, vencendo por 2 a 1, de virada. Marcelo Ramos e Roberto Gaúcho, auto­
res dos gols, e Dida, com defesas espetaculares, foram os destaques.    de  setembro.  Campeão  da  Libertadores  de  1997,  o  Cruzeiro  disputou  com  o  River 
 23 
Plate, campeão da Supercopa, a Recopa Sul­Americana de 1998. Por falta de datas, os 
 21 
  de  julho.  O  título  mineiro  também  veio  de  forma  surpreendente.  O  Cruzeiro  contou  jogos ficaram para 1999. A equipe celeste venceu os dois: 2 a 0 no Mineirão e 3 a 0 no
com tropeços do Atlético contra o Uberlândia, na última rodada, para levantar o caneco Monumental de Nuñez. Era o 17º título conquistado nos anos 1990, o que fez do clube o 
com uma vitória por 1 a 0 sobre o América, no Mineirão. A expectativa da torcida era tão  maior campeão da década. 
pequena que apenas 5.215 torcedores assistiram à volta olímpica dos campeões. 

 3 de novembro. Pelo Campeonato Brasileiro, o atacante Paulinho McLaren marcou o gol 
 
da vitória, por 2 a 1, contra o Atlético. Na comemoração, ele imitou um frango batendo 
2000 
• 4 de março.  Em um amistoso no sábado de Carnaval, no Mineirão, com o time misto,
asas, para delírio da torcida cruzeirense. 
contra o Universal (RJ), equipe mantida pela Igreja Universal do Reino de Deus, o goleiro 
Fábio iniciou sua longa e vitoriosa trajetória que o tornaria o jogador que mais vezes usou 
a camisa celeste. 
1997 
   
 22 de junho. A torcida celeste, mais uma vez, provou sua força. Na decisão do Campeo­ • 9 de julho. O terceiro título da Copa do Brasil foi conquistado de forma magnífica sobre
nato Mineiro contra o Villa Nova, o público foi de 132.834 torcedores, sendo 52.950 mu­ o São Paulo. No Mineirão, o tricolor paulista saiu na frente. Fábio Júnior, com passe de 
lheres e crianças. Graças às mulheres e seus filhos, o Cruzeiro tem o eterno e imbatível re­ Müller, empatou. Os dois haviam entrado na equipe no decorrer da partida. Nos minutos 
corde de público da história do estádio Mineirão. O time venceu por 1 a 0, gol de Marcelo  finais, em cobrança de falta orientada por Müller, Geovanni virou, para delírio da torcida
Ramos, e sagrou­se campeão mineiro.  cruzeirense. Ainda houve tempo para o goleiro André e o zagueiro Cléber evitarem o gol 
de empate do São Paulo. O técnico Marco Aurélio comandou o time sabendo que seria 
 
 13 de agosto. O bicampeonato da Libertadores foi conquistado de forma épica. Depois de    substituído por Luiz Felipe Scolari. 
perder os três primeiros jogos na primeira fase, o Cruzeiro iniciou uma reação sensacional, que  
culminou na vitória sobre o Sporting Cristal, com gol de Elivélton e milagres do goleiro Dida.   
 30 de setembro. O clássico contra o Atlético, pela Copa João Havelange, o Brasileiro de 
2000, registrou uma virada sensacional. Depois de estar perdendo por 2 a 0, o Cruzeiro 
 
 2 de dezembro. O Cruzeiro voltou a disputar o Mundial Interclubes, em dezembro, contra  venceu por 4 a 2, com apoio maciço da torcida celeste. O argentino Sorín, contratação
o Borussia Dortmund, em Tóquio. Os reforços Bebeto, Donizete e Gonçalves não deram  mais cara da história do clube, até então questionado pela torcida, marcou o gol da virada 
certo, e a equipe perdeu por 2 a 0.  e, ali, conquistou de vez a Nação Azul. 

1998 
• 7 de junho. Mais um tricampeonato mineiro. A final foi contra o Atlético, tendo como herói
o jovem atacante Fábio Júnior. Na primeira partida, ele marcou, em meia hora de jogo, os 
três gols da vitória por 3 a 2. O empate por 0 a 0 na segunda partida garantiu o tri. 

1999 
• 4 de abril. O Cruzeiro conquistou a Copa dos Campeões Mineiros. O destaque foram as
duas goleadas sobre o Atlético: por 3 a 0, na primeira fase, e por 5 a 1 na decisão. Até
então, esse foi o maior placar da história dos clássicos no Mineirão. 
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_ 1991_2000
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A primeira e a mais brilhante 
tríplice coroa do futebol brasileiro 
(SUGESTÃO DE FOTO:
Ao melhor clube do século XX, lamentar os infortúnios sempre foi apenas com­ - IMAGEM DO TIME CAM­
bustível para ir em busca de superações e de títulos. Com as próprias pernas  PEÃO DA COPA SUL MI­
e contra tudo e contra todos. Por isso, a tristeza pela derrota improvável para  NAS DE 2001
o Vasco, na última partida da semifinal do torneio nacional de 2000, foi rapi­
damente superada com a virada do ano, e dela sobrou uma nova obsessão en­
tre jogadores, diretoria e torcida: vencer o Campeonato Brasileiro. Até então,
como  a  CBF  ainda  não  havia  reconhecido  os  vencedores  dos  campeonatos 
nacionais anteriores a 1971 como “campeões brasileiros” (isso só ocorreria em 
2010), em 2001 ainda se tinha o Cruzeiro como o único clube – dos considera­
dos “grandes” ­ ainda sem um título de Campeonato Brasileiro. 

Felipão,  mesmo  com  a  proximidade  cada  vez  maior  da  Copa  do  Mundo  de 
2002, foi mantido no comando do time. O garoto Geovanni, destaque abso­
luto da temporada anterior, também. O argentino Sorín se firmou como novo
ídolo da torcida e, em pouco tempo, entrou para o hall dos melhores laterais/ 
alas esquerdos da história do Cruzeiro, onde já figuravam Nininho Fantoni,
Vanderlei e Nonato. Se o time terminou forte a temporada passada, era assim
que se manteria para o novo certame. 

A alegria voltou rapidamente às arquibancadas. O Cruzeiro chegou à final


da Copa Sul­Minas (disputada entre equipes do Rio Grande do Sul, Santa 
Catarina,  Paraná  e  Minas  Gerais)  após  eliminar  o  Atlético  de  Belo  Hori­
zonte nas semifinais. Na finalíssima, duas vitórias incontestáveis contra o
Coritiba garantiram o título de forma invicta. 

O Campeonato Brasileiro de 2001 ainda demoraria alguns meses para ini­
ciar, e o Cruzeiro já mostrava muita força coletiva, tanto na defesa, com 
a dupla Cris e Luisão, quanto no ataque, com Geovanni, Oséas e Marcelo 
Ramos, tendo ainda um tripé rápido no meio­campo – Ricardinho, Jack­
son e Jorge Wagner ­ a conectar esses setores. Isso levou o time a sonhar 
Os dois Palestras eram os favoritos ao título. A imprensa tratava o embate como uma final
novamente  com  voos  mais  altos.  O  time  avançava  com  folga  na  Copa 
antecipada. O primeiro jogo, em São Paulo, foi alucinante. O Cruzeiro vencia até o último 
Libertadores. Após sete vitórias e um empate, ele viveria – nas quartas de 
minuto da partida, mas os paulistas conseguiram igualar em 3 a 3. 
final – a reedição de um clássico dos anos de 1990: Cruzeiro e Palmeiras
se cruzaram. 
Uma semana depois, mais de 80.000 cruzeirenses transformaram o Mineirão em um mar 
de ondas azuis. Em campo, o time respondia ao balanço das arquibancadas e, assim como
no primeiro jogo, ia garantindo a vitória - e a classificação - até os minutos finais. Mas levou
No início da década de 2000, o Cruzeiro conquistou – por duas vezes – a Copa 
Sul Minas e travou épicos embates contra o Palmeiras no cenário continental.  o empate em 2 a 2. Nos pênaltis, o Palmeiras se classificaria.
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_ 2001_2010
O  jogo  marcou  o  início  de  uma  mudança.  O  técnico  Felipão  se 
despediu. O passe de Giovanni foi negociado com o Barcelona por 
US$ 18 milhões, a maior venda da história do Cruzeiro. A diretoria, 
na tentativa de recompor o elenco, cometeu erros na montagem 
do  time,  e  passou  o  resto  do  ano  com  grandes  decepções.  Até 
mesmo o badalado meia Alex, quando de sua primeira passagem 
pelo clube, não correspondeu em campo e deixou o Cruzeiro sem 
despertar nenhuma saudade na torcida. 

Em 2002, a Copa Sul-Minas foi o trampolim para o Cruzeiro sacudir


novamente a poeira. Para o campeonato, chegou o atacante Edílson
“Capetinha”, que, mais à frente, seria o jogador do clube convocado  
para a disputa da Copa do Mundo. Na primeira fase, disputada por 16   Acima: com três passagens pelo clube, na década de 2000,
times em turno único, a equipe celeste terminou seis pontos à frente   o argentino Sorín se tornou ídolo de uma geração inteira. 

do Athletico Paranaense. Os dois clubes foram para as finais. Abaixo: A Toca da Raposa II foi inaugurada em 2002.

Já em clima de pré­Copa e com a iminente despedida de seus sele­
cionáveis – Edílson e Sorín, o Cruzeiro se preparou para mais uma
conquista. Vitória nas duas partidas, com direito a uma apoteótica
atuação do argentino no jogo do título. Ainda no primeiro tempo,  
em uma jogada dividida, Sorín cortou a cabeça e, ensanguentado,  
precisou usar uma faixa nos longos cabelos. Ficou em campo e, ao  
receber um passe do lateral Ruy, marcou o gol do título. Ao fim do
jogo, no centro do gramado, ele se despediu, emocionado, prome­
tendo voltar um dia ao clube – o que cumpriu alguns anos depois.  

Nesse  mesmo  período,  enquanto  dentro  do  campo  o  clube  se 


mantinha  na  rota  dos  títulos,  fora  dele,  o  Cruzeiro  voltava  a  in­
vestir no aumento de seu patrimônio, com a construção da Toca 
da Raposa II, um dos centros de treinamentos mais completos e 
mais bem equipados do mundo. A Toca da Raposa I, inaugurada 
nos anos 1970, que ainda era referência nacional, ficou dedicada
exclusivamente para a base celeste. 

O ano de 2002 ainda foi coroado com o título do Supercampeo­
nato Mineiro sobre a Caldense. Essa conquista marcou um gran­
de feito para um dos maiores jogadores da história do clube: o
volante Ricardinho chegaria a 15 títulos com a camisa estrelada,  
um recorde.  
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Em 2003, o time a ser batido no Brasil era cas  tinham  a  certeza  de  que  iriam  conquis­
o Santos. De lá, Luxemburgo fez a diretoria  tar uma vitória e abrir vantagem para o títu­
buscar o lateral direito Maurinho, reforçando  lo, mas o que se viu foi um jogo parelho. O  
a  Raposa  e  enfraquecendo  o  Peixe.  Nesse  empate em 1 a 1 consolidou nacionalmente e  
meio­tempo, outras estrelas foram chegan­ dentro da torcida do Cruzeiro a genialidade  
do, como os atacantes Deivid e Aristizábal e  do  meia  Alex,  logo  apelidado  pelo  lendário  
o volante Maldonado.  narrador  Alberto  Rodrigues  de  “Alex,  o  Ta­
lento”. Ele anotou para o Cruzeiro de forma
O time respondeu rapidamente em campo à   magistral, num “gol de letra” indefensável.  
filosofia de Luxemburgo, muito afeita à tra­
dição do próprio Cruzeiro. O treinador pedia   O  jogo  de  volta  foi  um  passeio  de  futebol 
a  seus  atletas  para  jogarem  com  habilidade   ao estilo de Luxemburgo, decidido logo no 
e intensidade, num ritmo capaz de resolver a   início da partida. Com 28 minutos jogados, o 
vitória  ainda  nos  primeiros  minutos  de  jogo.   Cruzeiro já vencia por 3 a 0. O gol de honra 
Atuando assim, chegou à primeira conquista   dos cariocas saiu quando já se soltava o gri­
em 2003: campeão invicto do Campeonato to  de  tetracampeão  da  Copa  do  Brasil  nas 
Mineiro, após uma vitória sobre o rival regio­ arquibancadas. 
nal por 4 a 2 e uma goleada por 4 a 0 na URT,
O volante Ricardinho é o recordista  em Patos de Minas.  O Cruzeiro jogava por música, e Alex era o 
Por  outro  lado,  após  perder  a  Copa  dos  de títulos com a camisa do Cruzeiro. 
regente. Com essa intensidade, o time tam­
Campeões  para  o  Paysandu  e  uma  estreia 
Em paralelo, o time ia avançando na Copa do bém  disputava  o  Campeonato  Brasileiro, 
catastrófica no Campeonato Brasileiro dian­
Brasil. Do Rio Branco, do Espírito Santo, ao que trazia uma novidade em 2003. Pela pri­
te do Fluminense, a diretoria anunciou uma 
Goiás, o Cruzeiro derrubou todos os adver­ meira  vez,  seria  disputado  por  pontos  cor­
contratação  que  fez  a  mídia  nacional  vol­
sários até chegar à final contra o Flamengo. ridos, aos moldes dos torneios nacionais da 
tar a se surpreender com a ousadia cruzei­
A primeira partida foi no Maracanã. Os cario­ Europa e do restante da América do Sul.
rense. Vanderlei Luxemburgo, considerado
o  maior  treinador  do  Brasil  à  época,  era  o 
novo técnico do Cruzeiro. 

Ao aceitar o desafio, Luxemburgo deu um


aviso à diretoria: não viria para disputar
com os rivais regionais. Queria a montagem 
de um time para ser campeão de tudo. 

Os reforços começaram a chegar. Em parale­


lo, jovens da base do Cruzeiro ganhavam for­
ça com o novo treinador. Os volantes Augusto  
Recife e Wendel se juntariam ao goleiro Go­
mes, primeira grande aposta de Luxemburgo.  

Depois de muita desconfiança e resistência


da diretoria, o treinador a convenceu a repa­ O fantasma da não conquista do Campeonato Brasileiro rondava a Toca da Raposa II. O 
triar o meia Alex. Se ele não correspondesse,   início foi de desconfiança, com um empate em 2 a 2 com o São Caetano, no Mineirão. Mas
Luxemburgo pagaria o salário do craque com   Comandado pelo técnico Vanderlei Luxemburgo e pelo
a promessa feita por Luxemburgo era o norte para o elenco, que estava entrosado e nas 
dinheiro  dos  próprios  bolsos.  Foi  assim  que   meia Alex, o Cruzeiro foi o primeiro clube brasileiro a  mãos do treinador. O objetivo era ser campeão de tudo, e eles não diminuiriam a intensida­
conquistar a Tríplice Coroa, em 2003. 
garantiu o maestro para afinar sua orquestra. de de jogo enquanto não conseguissem. As vitórias começaram a vir, rodada após rodada. 
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O Brasileirão foi marcado pela quebra de recordes. O Cruzeiro terminou com 100 pontos 
ganhos, 31 vitórias e 102 gols. Na última rodada, aplicou uma goleada histórica de 7 a 0 so­
bre o Bahia, em Salvador, com cinco gols de Alex, o Talento. Além disso, a Raposa liderou 
a competição em 39 das 46 rodadas disputadas. 

O ano de 2004 prometia a continuidade de um amplo domínio nacional e internacional. O


time chegou a vencer o Campeonato Mineiro, mas uma confusão entre a diretoria e Luxem­
burgo provocou a saída do treinador e do principal reforço para a temporada, o pentacam­
peão Rivaldo. O time sucumbiu na Copa Libertadores. Isso marcou também o fim da Era
Alex. O jogador deixou o Cruzeiro, mas entrou para a história do clube. 

Veio 2005, trazendo um marco negativo. Sem conquistar nenhum campeonato, o Cruzeiro
quebrou uma série incrível de 15 anos seguidos ganhando ao menos um título. 
Para voltar a trilhar o caminho das conquistas, o time teria que voltar a vencer no seu ter­
reiro. A aposta foi em um ex­jogador da década de 1990, que até então não havia treinado 
nenhum clube: o zagueiro Adílson, campeão das Supercopas de 1991 e 1992.

Deu certo, e o Cruzeiro conquistou os campeonatos regionais de 2008 e 2009, com vitó­
rias de 5 a 0 sobre o Atlético de Belo Horizonte, numa humilhação jamais vista na história 
do maior jogo de Minas Gerais. 

Página ao lado:
O campeonato foi avançando, e uma disputa se desenhava. Cruzei­ Alex marca um gol de placa, contra o Flamengo, na final da Copa do Brasil de 2003.

ro e Santos, como previsto por Luxemburgo ainda no início da tem­ Abaixo:
Elenco do Cruzeiro campeão brasileiro de 2003.
porada, passaram a brigar pela liderança. Eles se enfrentariam na 31a  
rodada do retorno, empatados na liderança. Quase 70.000 cruzei­
renses foram ao Mineirão para aquela decisão antecipada. Um show  
do colombiano Aristizábal e uma vitória contundente por 3 a 0.  

O Cruzeiro era avassalador. Definitivamente, o Brasil conhecia um


dos maiores times da história do futebol nacional. A quatro roda­
das do fim do campeonato, contra o Paraná Clube, em Curitiba, o
time teve a chance de conquistar o título antecipadamente pela  
primeira vez. A vitória por 3 a 1 veio, mas o Santos também venceu  
pelo mesmo placar sobre o Fluminense, e esse fato adiou a festa  
para a antepenúltima rodada. 

Uma baixa. Alex estava suspenso pelo terceiro cartão amarelo. O  
destino reservou a condução da orquestra azul ao veterano Zi­
nho,  tetracampeão  do  mundo  e  um  reserva  de  luxo  do  time  de  
Luxemburgo. Com um Mineirão lotado por quase 80.000 pessoas,  
foi de Zinho o gol que abriu a vitória para o título. Mota, reserva
xodó da torcida, faria o segundo, e o Paysandu ainda descontaria:
2 a 1. Quando o juiz apitou o final do jogo, Alex corria em volta
do gramado segurando uma enorme estrela dourada. O Cruzeiro,  
finalmente, era campeão brasileiro.
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_ 2001_2010
Nesse período, aconteceu a maior série invicta contra o rival regional (12 jogos), só que­
brada por uma derrota por 1 a 0, pelo Campeonato Mineiro, quando, sem nenhum apoio  
da Federação Mineira de Futebol, o Cruzeiro foi obrigado a jogar com o time reserva no  
intervalo entre as partidas finais de uma disputa infinitamente mais importante, a Copa
Libertadores, contra o Estudiantes.

O Cruzeiro foi para a Argentina como favorito. O jogo foi tenso para o time mineiro, que 
segurou o placar em 0 a 0 após uma atuação magistral do goleiro Fábio. A decisão ficaria
para Belo Horizonte, e a esperança do tricampeonato era real. 

Novamente,  a  maior  torcida  de  Minas  Gerais  fez  o  seu  papel.  Lotou  o  Mineirão  e  vibrou 
com o gol do volante Henrique logo no início do segundo tempo. Porém, por um apagão 
geral do time, o Estudiantes conquistou a virada e o título. Essa foi uma das derrotas mais
amargas da história do clube. 

Em 2010, o casamento mais duradouro e feliz da história do futebol mineiro precisou dar um
tempo. Cruzeiro e Mineirão se separaram temporariamente. O estádio foi fechado para uma  
reforma, visando à Copa do Mundo de 2014, que seria disputada no Brasil. A nova casa estre­
lada foi a Arena do Jacaré, na cidade de Sete Lagoas. Nela, o Cruzeiro chegou ao vice­cam­
peonato brasileiro e conquistou sua quarta participação consecutiva na Copa Libertadores,  
mas a saudade do estádio construído para ser palco da Academia Celeste batia mais forte. 

Após a Tríplice Coroa, o elenco passou por reformulação. O boliviano Marcelo Moreno se tornou um dos ídolos dessa transição. 
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2 0 0 1 _ 2 0 1 0 > FAT O S M A R C A N T E S 2003 


 
 16 de março. O ano inesquecível começou com a conquista do título mineiro, de forma 
invicta. Foram 10 vitórias e apenas dois empates, em uma competição de turno único por 
pontos corridos. O caneco foi erguido na vitória por 4 a 0 sobre a URT, em Patos de Mi­
nas. Os gols foram de Deivid, Alex, Aristizábal e Maurinho. 
2001   
• O Cruzeiro conquistou mais um troféu inédito para a sua galeria: a Copa Sul-Minas. Elimi­ • O segundo título do ano veio em junho: a quarta conquista da Copa do Brasil. Rio Bran­
nou o Atlético de Belo Horizonte nas semifinais e venceu os dois jogos decisivos contra o co (ES), Corintians (RN) (com goleada recorde de 7 a 0), Vila Nova (GO), Vasco e Goiás
Coritiba, por 2 a 0 no Couto Pereira e por 3 a 0 no Mineirão.  ficaram pelo caminho até a final contra o Flamengo. No primeiro jogo, no Maracanã, Alex
marcou de letra o gol do empate por 1 a 1. No Mineirão, com menos de 30 minutos, o Cru­
• O investimento da diretoria em craques consagrados, como Alex, Rincón e Edmundo, não zeiro já vencia por 3 a 0, com gols de Deivid, Aristizábal e Luisão. O Flamengo diminuiu, 
deu certo, e o clube passou o restante do ano sem disputar finais. mas a taça já tinha dono. 

 
 Na primeira edição do Campeonato Brasileiro por pontos corridos, o domínio celeste foi 
2002  total. Recorde de pontos ganhos (100), vitórias (31), gols marcados (102) e rodadas na 
 
 A Toca da Raposa II foi inaugurada em março, oferecendo aos jogadores modernas ins­ liderança (38). A festa da torcida celeste explodiu na vitória por 2 a 1 sobre o Paysandu 
talações para treinamento e para concentração. A parceria com o fundo de investimento  (gols de Zinho e Mota), no Mineirão, em 30 de novembro, mesma data da goleada por 6
dos Estados Unidos Hicks, Muse, Tate and Furst, que foi fundamental para a construção a 2 sobre o Santos, na final de 1966.
do novo centro de treinamento e da Sede Administrativa no Barro Preto, foi encerrada 
em abril, depois de 27 meses.   
 Para fechar o ano com chave de ouro, a goleada por 7 a 0 sobre o Bahia, na Fonte Nova, 
com cinco gols de Alex, que passou a ser o maior artilheiro do clube numa edição de Bra­
• A temporada começou com mais um título: o bicampeonato da Copa Sul-Minas. Ainda sileiro, com 23 gols. 
na primeira fase, o Cruzeiro goleou o América por 7 a 0, com uma atuação brilhante do 
atacante Edílson. Na semifinal, mais uma vez eliminou o Atlético. Na final, novamente
duas vitórias contra um time paranaense, agora o Athletico: 2 a 1 em Curitiba e 1 a 0 no 2004 
Mineirão, com gol de Sorín, que se despedia do clube pela primeira vez.    contratação  de  Rivaldo,  pentacampeão  mundial  com  a  Seleção  Brasileira  dois  anos 
 A 
antes, agitou a torcida cruzeirense no início da temporada. O jogador, no entanto, não 
 
 O Cruzeiro não disputou o Campeonato Mineiro, e, sim, o Supercampeonato, com Atléti­ conseguiu engrenar e deixou o clube no dia seguinte à demissão do técnico Vanderlei
co, América, Mamoré e Caldense. O título foi conquistado com a goleada por 4 a 0 sobre Luxemburgo. Foram apenas 11 partidas e um único gol. 
o time de Poços de Caldas. Era o 15º título do volante Ricardinho, o jogador que mais ve­
zes foi campeão pelo Cruzeiro.  • 18 de abril. O Atlético chegou à final com a vantagem de dois resultados iguais, mas, logo
no primeiro jogo, a equipe celeste fez 3 a 1 e, mesmo perdendo por 1 a 0 na segunda par­
• O atacante Edílson “Capetinha” foi o sétimo jogador da história do Cruzeiro convocado tida, ficou com o título, sob o comando do técnico Paulo César Gusmão.
para disputar uma Copa do Mundo pela Seleção Brasileira. Os demais foram Tostão (1966 
e 1970), Piazza (1970 e 1974), Fontana (1970), Nelinho (1974 e 1978), Ronaldo (1994) e
Dida (1998). A lista se completaria com o lateral Gilberto (2002). 
2005 
• O técnico Vanderlei Luxemburgo estreou na terceira rodada do Campeonato Brasileiro.  
 O caso de manipulação de resultados por um árbitro manchou o Campeonato Brasileiro. 
Por causa do saldo de gols, não classificou o Cruzeiro para as fases decisivas da compe­ Onze jogos foram remarcados, entre eles as vitórias do Cruzeiro sobre o Paysandu e so­
tição, mas iniciou o trabalho que levaria à conquista da Tríplice Coroa em 2003, inclusive  bre o Botafogo. Nas novas partidas, o time empatou com os cariocas e perdeu para os 
com o respaldo para a recontratação do meia Alex.  paraenses. 
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• Contra o Vélez Sarsfield, nas oitavas de final da Copa Sul-Americana, o Cruzeiro disputou  
 O ano terminou com mais uma “vitória” sobre o rival. Na última rodada do Brasileiro, o 
sua 200ª partida internacional oficial. A equipe venceu por 2 a 1, no Mineirão.  Cruzeiro derrotou o Santos por 2 a 1, na Vila Belmiro, e garantiu classificação para a Liber­
tadores, ocupando a vaga que vinha sendo mantida pelo Atlético. A torcida não perdeu 
 Depois de 15 temporadas consecutivas conquistando títulos, o Cruzeiro encerrou o ano 
  a chance de agradecer ao “flanelinha” no primeiro clássico de 2010, fazendo um mosaico
sem ser campeão de nenhuma competição.  nas arquibancadas do Mineirão. 

2006  2010 
 
 No Campeonato Mineiro, o Cruzeiro deu o troco no Ipatinga, que havia vencido o torneio  • 3 de fevereiro. O Cruzeiro aplicou a maior goleada de suas participações em Libertadores:
em 2005. Após eliminar, novamente, o Atlético nas semifinais, a Raposa enfrentou o time 7 a 0 sobre o Real Potosí, no Mineirão. Os gols foram de Marquinhos Paraná, Thiago Ribei­
do Vale do Aço na decisão, em desvantagem. O primeiro jogo, no Mineirão, terminou em­ ro, Kléber, Jonathan, Eliandro, Bernardo e Guerrón. Era uma resposta à maior goleada so­
patado por 1 a 1. No Ipatingão, o Cruzeiro venceu por 1 a 0, gol de Wagner.  frida pela equipe na competição: para o mesmo Real Potosí, por 5 a 1, em 2008, na Bolívia.

 
 O Cruzeiro foi vice­campeão brasileiro em 2010. Um erro do árbitro Sandro Meira Ricci, na 
2007  partida contra o Corinthians, no Pacaembu, foi decisivo. Ele marcou um pênalti inexisten­
 
 2 de dezembro. Com a vitória  por  2  a  0  sobre  o  América,  do  Rio  Grande  do  Norte,  na  te do zagueiro Gil no atacante Ronaldo, que converteu e deu a vitória ao Timão por 1 a 0. 
última rodada do Campeonato Brasileiro, o Cruzeiro conquistou uma vaga para a Copa  Na última rodada, o time, sob o comando do técnico Cuca, ainda tinha chance de título, 
Libertadores do ano seguinte. Seria a primeira participação de uma sequência de quatro.  mas dependia de um tropeço do Fluminense, que não ocorreu. 

• 02 de junho. O Cruzeiro empatou em 0 a 0 com o Santos. Esse foi o último jogo do clube
no Mineirão antes do fechamento do estádio para reformas, visando à Copa do Mundo  
2008  de 2014.
 
 No Campeonato Mineiro, o Cruzeiro se vingou da goleada sofrida no ano anterior para 
o Atlético. Na primeira partida decisiva, venceu por 5 a 0, até então a maior goleada na 
 1  º  de  agosto.  Por  causa  do  fechamento  do  Mineirão  e  do  Independência  para  reformas 
história dos clássicos na era Mineirão. Os gols foram de Marcelo Moreno, Guilherme, Wag­
devido à Copa do Mundo, o clássico Cruzeiro e Atlético passou a ser disputado no inte­
ner, Ramires e um contra. No segundo jogo, nova vitória: 1 a 0, gol de Marcelo Moreno. O
rior do estado, com torcida única. O primeiro foi na Arena Jacaré, em Sete Lagoas, pelo 
técnico Adilson Batista começava a mostrar sua estrela no principal confronto estadual. 
turno do Brasileiro, apenas com torcedores adversários, e a Raposa venceu por 1 a 0, gol 
de Wellington Paulista. 

2009 
 
 17 de janeiro. O clássico Cruzeiro e Atlético foi disputado pela primeira vez no exterior. 
As duas equipes foram convidadas para um torneio em Montevidéu e fizeram o primeiro
confronto da competição. A equipe de Adilson Batista venceu por 4 a 2 e, na sequência,
foi campeã, com a vitória por 4 a 1 sobre o Nacional.

• No Campeonato Mineiro, uma cena repetida: nova goleada por 5 a 0 sobre o Atlético no
primeiro jogo da final. Era a sétima vitória seguida de Adilson Batista nos clássicos. Os gols
foram de Jonathan (2), Leonardo Silva (2) e Kléber. O empate por 1 a 1 na segunda partida
apenas confirmou o bicampeonato mineiro para o Cruzeiro. E sem perder nenhum jogo.

 
 O tricampeonato da Copa Libertadores escapou por pouco. O Cruzeiro eliminou São Pau­
lo e Grêmio, respectivamente, nas quartas de final e nas semifinais. Na primeira partida
decisiva, arrancou empate por 0 a 0 com o Estudiantes, em La Plata. Mas, no Mineirão,
perdeu por 2 a 1, de virada. 
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Nas boas e nas más,  No Campeonato Mineiro, o time chegou fa­
cilmente à final, também com muitas golea­
No  Campeonato  Brasileiro,  a  campanha  
foi medíocre. O Cruzeiro flertou perigosa­
sempre Cruzeiro  das. Numa delas, aplicou 8 a 1 sobre o Amé­ mente  com  a  segunda  divisão.  Tanto  que  
rica, de Teófilo Otoni, em uma apresentação chegou à última rodada seriamente amea­
Esse foi o período em que o Cruzeiro viveu a maior magistral  de  Montillo.  Mas  o  fantasma  da  çado pelo rebaixamento. Para escapar, pre­
montanha  russa  de  sua  história.  Dentro  de  campo,  zebra da Libertadores ainda perambulava a  cisaria vencer o rival citadino, no dia 4 de
o  time  se  consolidou  como  o  único  multicampeão  Toca da Raposa. No primeiro jogo da fina­ dezembro, novamente na Arena do Jacaré,  
de  Minas  Gerais,  ao  conquistar  quatro  torneios  na­ líssima, o Atlético venceu por 2 a 1, por isso  em Sete Lagoas. 
cionais, dois Brasileiros (2013/2014) e duas Copas jogaria  a  última  partida  podendo  empatar 
do Brasil (2017/2018), além de quatro Campeonatos  (SUGESTÃO DE FOTO: para ficar com o título. Como  cumprir  essa  missão  nunca  foi  pro­
Mineiros (2011/2014/2018/2019). Mas terminou so­ ­ MONTILLO  blema para o Cruzeiro, a torcida manteve o 
frendo  o  inédito  rebaixamento  no  Brasileirão.  Fora  COMEMORANDO GOL Sem Montillo, expulso no primeiro jogo, cou­ otimismo e lotou o estádio. Por sua peque­
de campo, o clube amargou denúncias de má admi­ PELO CRUZEIRO be  à  torcida  do  Cruzeiro  ser  o  reforço  para   nez,  a  diretoria  do  Atlético  tratava  o  jogo 
nistração e acúmulo de dívidas, mas se reorganizou  reverter a desvantagem. A Nação Azul lotou   como  “o  mais  importante  da  história”  da­
para se manter gigante.  a Arena do Jacaré e empurrou o time o tem­ quele clube fundado pela elite econômica e 
po todo. Apesar disso, até os minutos finais, o pela  oligarquia  de  Belo  Horizonte.  O  então 
O  ano  de  2011,  por  si  só,  foi  marcado  pelos  altos  e   Atlético administrava o empate sem gols, mas   presidente, Alexandre Kalil, foi à imprensa
baixos. O elenco era forte. Contava com grandes jo­ tudo mudou quando o goleiro Fábio fez uma   dizer que o seu sonho de vida era “destruir 
gadores,  como  o  goleiro  Fábio,  o  lateral  esquerdo   defesa incrível, tirando o gol dos pés do ata­ o  Cruzeiro”.  O  ódio  escorria  pelo  canto  da 
Gilberto, uma trinca de volantes polivalentes – Mar­ cante Magno Alves. Na sequência, Wallyson e   boca dos atleticanos, que se espalharam pe­
quinhos  Paraná,  Fabrício  e  Henrique,  o  meia  Roger   Gilberto marcaram os gols do título. 2 a 0, e o   los bairros nobres de Belo Horizonte à espe­
Flores, os atacantes Wellington Paulista e Thiago Ri­ grito de campeão ecoou nas arquibancadas.   ra de uma queda do Time do Povo Mineiro. 
beiro  e  o  craque  argentino  Montillo  como  maestro.  
Praticamente o mesmo time que havia chegado ao  
vice­campeonato  brasileiro  no  ano  anterior.  Assim,  
o Cruzeiro iniciou a disputa da Copa Libertadores de  
Acima: O argentino Montillo foi ídolo do clube no
maneira  fulminante.  Passou  pela  primeira  fase  com  
início da década de 2010. 
cinco vitórias, sendo duas delas por sonoras golea­
Ao lado: Com a reforma do Mineirão para a Copa
das: 5 a 0 contra o Estudiantes e 6 a 1 sobre o Tolima. do Mundo de 2014, a Arena do Jacaré, em Sete
Lagoas, foi a casa do Cruzeiro entre 2010 e 2012. 

Tudo caminhava para uma campanha consagradora. 
Na fase seguinte, jogando na Colômbia, o time ven­
ceu o Once Caldas por 2 a 1, e bastava um empate 
na partida de volta para avançar. Mas o time acabou 
desclassificado ao perder por 2 a 0 na Arena do Ja­
caré, em Sete Lagoas. 
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Antes mesmo de começar, a partida já tinha contornos dramáticos  
para o Cruzeiro. Assim como na final do Campeonato Mineiro, o
craque Montillo estava suspenso e desfalcaria o time, que também  
não contaria com o goleiro Fábio. Mas, novamente, o povão cru­
zeirense fez a sua parte nas arquibancadas. Os 18.850 cruzeirenses  
presentes no jogo tiveram a dádiva de assistir a um dos episódios  
mais  bonitos  de  uma  vitória  do  amor  sobre  o  ódio.  O  resultado  
está gravado eternamente na história do clube: uma sonora golea­
da por 6 a 1, que não só livrou o time da degola, mas causou uma  
humilhação inesquecível para o rival regional. 

Em 2013, a diretoria reformulou o elenco e apostou em jovens promessas do futebol brasileiro, como
Ricardo Goulart e Éverton Ribeiro. Eles comandaram o time bicampeão brasileiro de 2013/2014.

O Cruzeiro venceu o  volta do Gigante da Pampulha. Vitória celeste por 2 a 1. Era o prenúncio de


Atlético por 6 a 1, na 
No  ano  seguinte,  o  Cruzeiro  colheu  mais  fracassos  em  campo,  Arena do Jacaré, em 2011.  uma sequência incrível que estava por vir. No Brasileirão de 2013, o Cruzeiro 
com  campanhas  medianas  no  estadual  e  nas  duas  competições  foi derrubando todos os 19 adversários com um futebol envolvente e rápido. A 
nacionais  que  disputou.  O  mais  importante  da  temporada  2012  sintonia do time era incrível, e dois jogadores, em especial, passaram da des­
foi a revelação e a afirmação de nomes da base que seriam muito confiança para a idolatria. Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart imprimiam uma
importantes nos anos seguintes, como Mayke, Alisson, Lucas Silva  velocidade  espantosa  nas  jogadas  de  ataque.  Marcaram  gols  memoráveis  e 
e Élber.  foram  responsáveis,  também,  por  assistir  os  atacantes  Borges,  Dagoberto  e 
William, que também se destacavam. Na defesa, Fábio já era tido como o me­
Para a temporada de 2013, a diretoria do Cruzeiro apostou na re­ lhor goleiro do país. Os zagueiros Dedé e Leo também davam segurança para 
formulação geral do elenco, fazendo apostas em nomes até então  os avanços dos laterais Ceará e Egídio. O Cruzeiro era uma máquina de vencer.
questionáveis, como o técnico Marcelo Oliveira. Vieram jogadores
experientes, como o lateral Ceará, o volante Tinga e os atacantes  Na 33a rodada do campeonato, o confronto contra o Grêmio poderia dar o títu­
Dagoberto, Borges e Júlio Baptista. Mas também outros que eram  lo antecipado ao time. Era um adversário duríssimo, que contava com craques
tidos apenas como promessas, como o meia Éverton Ribeiro e o  como o goleiro Dida. Mas os gaúchos não suportaram a pressão. 3 a 0 para o  
atacante Ricardo Goulart.  Cruzeiro e, mesmo sem estar matematicamente garantido, torcida e jogadores  
soltaram o grito de tricampeão brasileiro, quando, já nos minutos finais do jogo, o
Para um novo time, a volta do principal palco. No dia 3 de feve­ atacante Dagoberto, substituído, iniciou uma volta olímpica. Nas arquibancadas,  
reiro, o Mineirão foi reaberto, após a reforma visando à Copa do  rodando as camisas sobre as cabeças, os torcedores ditavam o ritmo e entoa­
Mundo de 2014. Um clássico entre Cruzeiro e Atlético marcou a vam o cântico que marcou a temporada: “Nós somos loucos, somos Cruzeiro.”
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Três dias depois, em Salvador, o Cruzeiro ganhou do Vitória por Com os títulos de 2013 e 2014, o Cruzeiro fez o que apenas um clube fora do eixo
3 a 1 e confirmou o título com quatro rodadas de antecipação. A Rio-São Paulo havia feito na história: conquistou o Brasileirão por duas vezes con­
recepção ao time, na volta a Belo Horizonte, foi apoteótica. Os  secutivas, façanha que só o Internacional havia conseguido, em 1975 e 1976. A dife­
jogadores percorreram as avenidas centrais da cidade arrastan­ rença é que a proeza azul foi no formato de pontos corridos, ou seja, o Cruzeiro teve  
do uma multidão de pessoas vestidas de azul e branco a cantar: que enfrentar e superar todos os rivais nacionais para ficar com as taças.
“Nós somos Cruzeiro. Tricampeão Brasileiro. Nada mais interes­
sa. Nós somos a festa.” Após um breve hiato, em 2015 e 2016, sem conquistas e campanhas relevantes, 
o  Cruzeiro  voltou  a  ser  protagonista  do  futebol  brasileiro  em  2017.  Dessa  vez,  
Em 2013, o Cruzeiro terminou com 11 pontos à frente do vice­ não com um estilo de jogo rápido e vistoso. O técnico Mano Menezes imprimiu 
-campeão, o Grêmio. Em 2014, a tranquilidade se repetiu. O uma característica nova ao clube, até mesmo criticada por muitos. O seu time era 
elenco foi praticamente o mesmo, tendo o reforço de um outro  pragmático e tinha no jogo defensivo a sua principal força. Vieram novos títulos
grande ídolo, o boliviano Marcelo Moreno. A equipe encerrou sua  nacionais e a consagração de um dos maiores jogadores da história do clube: o
participação com 10 pontos de distância do São Paulo, segundo goleiro Fábio, que brilhava em campo e quebrava todos os recordes de partidas 
colocado.  O  Cruzeiro  assumiu  a  liderança  na  sexta  rodada  do  disputadas com o manto sagrado do Cruzeiro. 
Brasileirão  e  não  saiu  mais  da  primeira  colocação.  O  tetracam­
peonato foi confirmado com uma vitória por 2 a 1 sobre o Goiás, Reformulado, o time iniciou a temporada de 2017 tendo no zagueiro Leo, no meia  
com três rodadas de antecipação. Nem um dilúvio que caía sobre  uruguaio Arrascaeta e no atacante Rafael Sóbis suas principais referências. Ma­
Belo Horizonte naquele dia impediu a festa da torcida pelas ar­ chucado, Fábio, o Paredão Azul, desfalcou o time nos primeiros jogos, inclusive da  
quibancadas, pelas ruas e pelas avenidas.  Copa do Brasil, que seria a grande vitrine para o estilo de jogo de Mano Menezes.  
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A campanha na competição nacional teve início com uma vitória magra e pouco convin­
cente contra o Volta Redonda, por 2 a 1, na casa do adversário. Na fase seguinte, também
em jogo único, o Cruzeiro enfrentou o São Francisco, do Pará. Dessa vez, a goleada por 6 a 
0 encantou a torcida, tendo Sóbis  como o grande nome da partida, ao marcar quatro gols. 

Na terceira fase, o adversário foi o Murici, de Alagoas. No primeiro jogo, o resultado de 2 a 
0 para o Cruzeiro não foi o grande destaque, mas sim a campanha feita pelo clube naquele 
8 de março, Dia Internacional da Mulher. Os jogadores entraram em campo vestindo cami­
sas que estampavam dados tristes e revoltantes da violência contra as mulheres no Brasil. 

Na partida de volta, em Belo Horizonte, nova vitória sobre os alagoanos – 3 a 0 – e a clas­
sificação para a disputa contra o São Paulo na fase seguinte. No primeiro jogo, na capital
paulista, um resultado surpreendente: vitória azul e branca por 2 a 0. Começava a surgir
um novo campeão. 

O jogo de volta, em Belo Horizonte, foi dramático, mesmo com a vantagem de dois gols 
conquistada em São Paulo. O Tricolor Paulista começou a partida com pressão total e abriu 
o placar logo aos 15 minutos de partida. O alívio só veio no segundo tempo, com o empate. 
O adversário ainda marcou mais um, mas a derrota por apenas 2 a 1 garantiu ao Cruzeiro a 
passagem para as oitavas de final da Copa do Brasil. O goleiro Fábio, ídolo e jogador que mais vestiu a camisa do Cruzeiro em toda a história do clube, 
levou o time a vencer o Flamengo nos pênaltis e a conquistar a quinta Copa do Brasil, em 2017. 

O adversário da fase seguinte foi a Chapecoense, time catarinense que ainda se recuperava 
do desastre do ano anterior, quando o avião que levava o elenco para a final da Copa Sul­ Em Porto Alegre, o Grêmio partiu para cima do Cruzeiro. Que­
­Americana caiu na Colômbia, deixando 71 mortos.  ria abrir logo uma vantagem. Fábio começava a fazer a dife­
rença no gol, com defesas incríveis, mas, numa delas, acabou 
Para ter um time para a temporada de 2017, a Chapecoense contou com a solidariedade de  soltando  a  bola  nos  pés  do  atacante  Barrios.  O  time  gaúcho 
vários clubes brasileiros, que cederam atletas por empréstimo. Do Cruzeiro mesmo saíram  venceu por 1 a 0, e foi para Belo Horizonte com a intenção de 
os zagueiros Fabrício Bruno e Douglas Grolli para a equipe de Chapecó.  segurar um empate. 

Os confrontos entre Cruzeiro e Chapecoense pela Copa do Brasil foram duríssimos. Na pri­ A  torcida  cruzeirense  lotou  o  Mineirão.  Quase  60.000  pessoas  


meira partida, em Belo Horizonte, apenas uma vitória por 1 a 0. Na volta, a força defensiva  foram empurrar o time. Nada seria fácil. Do outro lado, uma equi­
garantiu o empate por 0 a 0, após muita pressão dos catarinenses.  O jogo também foi o  pe muito bem treinada por Renato Gaúcho, que segurou o em­
primeiro do goleiro Fábio na competição.  pate até o início do segundo tempo. Muita apreensão, até que o  
volante Hudson, numa cabeceada, colocou o Cruzeiro à frente.  
Nas quartas de final, o Cruzeiro teria pela frente o poderoso Palmeiras, campeão brasileiro do
ano anterior. Assim como contra o São Paulo, o primeiro jogo foi surpreendente e fundamental   A decisão da vaga para a final foi para as cobranças de pênaltis e,
no embate. Os mineiros abriram 3 a 0 no primeiro tempo, deixando a torcida palmeirense per­ nesse momento, despontou a estrela do Paredão Azul, Fábio. Ele
plexa. Apesar disso, o time da casa voltou melhor e conseguiu ao menos o empate em 3 a 3.  defendeu a batida de Luan, o craque do time do Grêmio. O Cru­
zeiro estava classificado para decidir o título contra o Flamengo.
Na volta, outro capítulo dramático. A vantagem do empate sem gols era do Cruzeiro, mas, 
aos 26 minutos do segundo tempo, o Palmeiras abriu o placar e ia se classificando. A ex­ O primeiro jogo, no Rio de Janeiro, ficará marcado para sempre,
plosão de alívio nas arquibancadas e no gramado só veio a seis minutos do fim do jogo. devido  ao  espetáculo  promovido  pela  torcida  do  Cruzeiro  no  
O lateral esquerdo Diogo Barbosa se lançou ao ataque, trocou de posição com o garoto  Maracanã. Cerca de 5.000 torcedores cantaram durante toda a  
Alisson, que lhe cruzou a bola para a cabeceada salvadora: 1 a 1. O Cruzeiro estava nas se­ partida de forma emocionante. Em campo, um empate por 1 a 1
mifinais contra o Grêmio, campeão da Copa do Brasil de 2016. contra um Flamengo repleto de grandes nomes do futebol. 
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rompeu a marca de 1.000 jogos. Conquistou dois Brasileiros (2013/2014), três Copas do Brasil
(2000/2017/2018) e sete Mineiros (2006/2008/2009/2011/2014/2018/2019), além de influen­
ciar milhares de torcedores a se apaixonarem ainda mais pelo maior clube de Minas Gerais.  

Nas semifinais da Copa do Brasil, o Cruzeiro enfrentaria um velho conhecido, o Palmeiras, mor­
dido pela desclassificação da edição do ano anterior. No primeiro jogo, em São Paulo, brilhou
a estrela do argentino Barcos, contratado para a temporada de 2018. Foi dele o gol da vitória. 

Na volta, em Belo Horizonte, empate em 1 a 1 – novamente gol de Barcos. O Cruzeiro estava 
classificado para a segunda final consecutiva da Copa do Brasil. Teria pela frente o Corin­
thians, campeão brasileiro. 

Na volta, no Mineirão, novo show da Nação Azul nas arquibancadas e outro empate, dessa  
vez em 0 a 0. O título seria decidido na cobrança de pênaltis, e o Cruzeiro tinha Fábio. Diego,  
o craque do Flamengo, foi para a batida, mas parou nas mãos do arqueiro celeste. Ao final, 5
a 3 para o time da casa, pentacampeão da Copa do Brasil.  

Em 2018, o caminho foi complicado novamente, apesar de mais curto. O Cruzeiro entrou na
Copa do Brasil já nas oitavas de final, por ter sido o campeão de 2017. O primeiro adversá­
rio foi o Athletico Paranaense. Vitória de virada na Arena da Baixada por 2 a 1 e um empate
O Cruzeiro conquista a sua sexta Copa do Brasil, em 2018, ao vencer o Corinthians, em São Paulo. 
em 1 a 1, no Mineirão. Brilhava a estrela de dois atacantes, que se tornariam protagonistas 
ao longo da competição: o jovem Raniel e o uruguaio Arrascaeta. A primeira partida aconteceu no Mineirão. Era preciso abrir uma boa vantagem para con­
seguir ir a São Paulo enfrentar o caldeirão de Itaquera. Porém, a vitória foi magra – 1 a 0. 
Nas oitavas de final, o adversário foi o Santos, que tinha no ataque Bruno Henrique, Rodry­ Apesar de derrotado, o Corinthians deixou o campo satisfeito com o resultado e certo de 
go e Gabriel “Gabigol”. Mas o gol na Vila Belmiro foi mesmo de Raniel: 1 a 0 para o Cruzeiro. que reverteria a vantagem no jogo de volta. 

Na partida de volta, um dia histórico para o goleiro Fábio. Depois de tomar uma virada e  No dia 17 de outubro, Cruzeiro e Corinthians decidiram a Copa do Brasil no Itaquerão. O time mi­
perder por 2 a 1, o Cruzeiro precisou decidir as vagas nas cobranças de pênaltis. Fábio foi  neiro faria uma grande operação de logística para conseguir ter o uruguaio Arrascaeta na parti­
implacável. Defendeu três, e o time mineiro avançou.  da, já que ele havia defendido a seleção do seu país num amistoso contra o Japão. Valeu a pena.

Não só por esse jogo, mas por toda a sua trajetória grandiosa, Fábio está entre os maiores   Logo no início da partida, quando a torcida do Corinthians ensaiava pressionar nas arqui­
goleiros  da  história  do  Cruzeiro.  Além  disso,  é  o  jogador  que  mais  vestiu  a  camisa  do  clu­ bancadas, o Cruzeiro abriu o placar com um gol do meia Robinho, após grande jogada de 
be. De 4 de março de 2000, quando estreou pelo time, até 2022, quando se transferiu para Barcos. Como o gol fora de casa era fator de desempate, àquela altura, ao time paulista só 
o Fluminense, ele jogou 976 partidas pelo Cruzeiro. Somadas às que esteve como suplente,   restava marcar três gols para conseguir o título. 
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Aquela decisão foi a primeira no Brasil a contar com o VAR (Video Aos 24 minutos, o estádio explodiu em vibração. De fora da área,
Assistant Referee; em português, Árbitro Assistente de Vídeo), e  Pedrinho marcava o segundo gol corintiano. A pressão seria imensa  
ele  foi  acionado.  Logo  aos  sete  minutos  do  segundo  tempo,  o  e, dificilmente, o Cruzeiro conseguiria segurar o placar de 2 a 1, que
árbitro foi chamado para revisar um lance de falta dentro da área  lhe daria o título. Foi quando o VAR voltou a ser acionado e o árbi­
do Cruzeiro. Ao rever pelo monitor, marcou pênalti. O Corinthians  tro pôde ver o lance irregular no gol, que foi prontamente anulado.  
converteu e empatou o jogo. 
O Corinthians não desistia e continuava em busca de mais dois gols,  
mas a estrela de Arrascaeta brilhou. Num contra­ataque, Raniel, que  
Abaixo: O capitão Henrique ergue a taça da sexta Copa do Brasil conquistada pelo Cruzeiro. havia acabado de entrar, lançou para o uruguaio. Ele disparou pela
Ao lado: A torcida do Cruzeiro parou Belo Horizonte para receber os hexacampeões da Copa do Brasil. ponta esquerda e, na saída do goleiro Cássio, deu um toque leve e  
saiu para festejar o gol do título com a imensa torcida do Cruzeiro,  
que estava logo à sua frente, no canto da arquibancada do Itaquerão.  

O capitão Henrique foi o responsável por erguer a taça da Copa 
do Brasil de 2018. Ali, com o sexto título, o Cruzeiro passou a ser 
o maior campeão de todos os tempos. Belo Horizonte parou para 
receber os campeões no dia seguinte. 

No ano seguinte, após escândalos administrativos e mais uma cri­


se financeira, o Cruzeiro teve o mais triste episódio de sua histó­
ria. Ele se tornou o terceiro clube de Belo Horizonte a amargar um
rebaixamento nacional, fato que, até então, só tinha ocorrido com 
o América e com o Atlético.  
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Maior torcedora do mundo: Maria Salomé da Silva, a Dona Salomé,
torcedora­símbolo do Cruzeiro, faleceu em 2019. 

O  episódio  deixou  toda  a  Nação  Azul  de  luto.  Dois  dias  após  a 
queda, Maria Salomé da Silva, a Dona Salomé, torcedora­símbolo 
do Cruzeiro, faleceu, aos 86 anos. 

Os dois anos seguintes foram de reconstrução. Sem receitas e com  
uma dívida bilionária, o clube amargou resultados medíocres dentro  
de campo. Fora dele, a busca era pela sobrevivência da instituição.  

Em 2 de janeiro de 2021, o Time do Povo Mineiro, o Cruzeiro, com­


pletou 100 anos. Mesmo vivendo o pior período de sua história, se 
manteve com um gigante do futebol. Um time de origem popular 
que se tornou multicampeão, amado pela maior torcida entre os 
clubes de fora do eixo Rio­São Paulo. Uma Nação Azul com cerca 
de 10 milhões de apaixonadas e de apaixonados. 

Ao final daquele ano, no Congresso Nacional, foi aprovado o pro­


jeto de criação das Sociedades Anônimas do Futebol (SAF). Por 
meio  delas,  os  clubes  brasileiros  poderiam  vender  suas  ações 
como uma “sociedade anônima” – figura jurídica de uma empresa
­ e não mais só como associações. 
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O Cruzeiro foi pioneiro ao criar a sua SAF ao final de 2021. Alguns dias
depois, uma notícia sacudiria o futebol mundial. Vinte e oito anos após
vestir,  pela  primeira  vez,  a  camisa  do  Cruzeiro  como  atleta,  Ronaldo 
Nazário,  um  dos  maiores  jogadores  do  futebol  mundial  de  todos  os 
tempos, se cobria com o manto sagrado novamente. Ali, anunciava o 
acordo para encaminhar a sua volta ao Cruzeiro, dessa vez como sócio 
majoritário da SAF: “Tenho muito a retribuir ao Cruzeiro.”

O Cruzeiro é a primeira Sociedade Anônima do Futebol do Brasil. Na foto, a diretoria celeste com 
o novo mandatário do futebol, Ronaldo Nazário de Lima, o Fenômeno, uma das crias da Toca. 

A oficialização da negociação entre Cruzeiro e Ronaldo aconteceu no


dia 14 de abril de 2022. Duas semanas antes, na final do Campeonato
Mineiro,  a  torcida  do  Cruzeiro  fez  história  novamente  e  proporcionou  
ao mundo do futebol um dos mais lindos e emocionantes espetáculos.  
Mesmo com a derrota do time por 3 a 1, milhares de torcedores cruzei­
renses cantaram durante toda a partida e, ao final dela, permaneceram
nas arquibancadas do Mineirão entoando o seu amor pelo clube. Novos  
“Temos muito trabalho pela frente e eu tenho muito
tempos, e superações e conquistas estão por vir. 
entusiasmo, muita confiança. Só existe um Cruzeiro. Não
existe SAF, Associação. Só existe um Cruzeiro e vamos pra
Não  por  menos,  ser  cruzeirense  é  muito  mais  do  que  torcer  por  um 
cima dos nossos objetivos. Vamos voltar à elite e seremos
clube. É o amor de um povo simples que um dia quis ter um time para 
gigantes novamente. Vocês têm o meu compromisso.”
chamar de seu. De Palestra a Cruzeiro. Esta é a mais linda história do
mundo vivida por um time de futebol.  Ronaldo Nazário 
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2 0 1 1 _ 2 0 2 2 > FAT O S M A R C A N T E S  
 O quarto título brasileiro foi conquistado de maneira ainda mais incontestável que o ante­
rior. Com outra bela campanha, o Cruzeiro teve aproveitamento de 70%, ganhou 24 dos
38 jogos, somou 80 pontos e marcou 67. A liderança foi alcançada ainda na sexta rodada 
e não foi mais perdida. A confirmação matemática da conquista veio com duas rodadas
2011  de antecedência, na vitória por 2 a 1 sobre o Goiás. 
 15 de maio. O Cruzeiro voltou a ser campeão mineiro ao derrotar o Atlético por 2 a 0. Foi 
 
o único título do Cruzeiro na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas.  • O atacante boliviano Marcelo Moreno terminou a temporada totalizando 45 gols com a
camisa celeste e tornou­se o maior artilheiro estrangeiro da história do clube, superando 
• 4 de dezembro. Após uma campanha desastrosa, o Cruzeiro chegou à última rodada do Carazzo e Montillo. 
Brasileiro ameaçado por um inédito rebaixamento. Por sorte, o adversário era um freguês.  
Com uma atuação exuberante, principalmente do meia Roger, a Raposa goleou o Atlético  
por 6 a 1 ­ maior placar de uma vitória celeste na história do clássico. Os gols foram de Roger,   2015 
Leandro Guerreiro, Anselmo Ramon, Fabrício, Wellington Paulista e Éverton. A inesquecível   • 13 de junho. Na vitória por 3 a 1 sobre o Vasco, em São Januário, pelo Campeonato Bra­
escalação foi esta: Rafael, Leo, Naldo, Victorino e Diego Renan; Fabrício, Leandro Guerreiro, sileiro,  o  goleiro  Fábio  passou  a  ser  o  jogador  que  mais  vezes  atuou  pelo  clube,  com  
Charles (Farías) e Roger (Ortigoza); Wellington Paulista e Anselmo Ramon (Everton). O 634 partidas.
técnico era Vágner Mancini. O goleiro Fábio e o meia Montillo estavam suspensos.
• 24 de outubro. Após lutar contra uma longa doença, o jornalista Plínio Barreto faleceu.
De torcedor e gandula do Palestra Italia, ele se tornou conselheiro do clube e um de seus 
maiores ícones. 
2013 
 
 3 de fevereiro. Depois de passar por uma ampla reforma, o estádio Mineirão foi reaberto 
com um clássico entre Cruzeiro e Atlético, pelo Campeonato Mineiro. Vitória celeste por
2 a 1. Dagoberto fez um dos gols. O outro foi contra.  2017 
• 27 de setembro. Depois de 14 anos, o Cruzeiro volta a conquistar a Copa do Brasil, ao ven­
 
 Uma campanha memorável levou o Cruzeiro ao seu terceiro título brasileiro. Nenhum ad­ cer o Flamengo nos pênaltis, após um empate em 0 a 0, no Mineirão. Além disso, a China 
versário escapou de ser derrotado pela equipe celeste, que obteve uma sequência de oito  Azul voltou a mostrar a sua grandeza, ao estabelecer o recorde de público presente no 
vitórias seguidas ainda no turno e foi líder desde a 16a rodada. A campanha terminou com  novo Mineirão: 61.017 pessoas.
23 vitórias, sete empates e oito derrotas. Foram 77 gols marcados e apenas 37 sofridos. 
A  conquista  foi  garantida  matematicamente,  com  quatro  rodadas  de  antecedência,  no 
intervalo do triunfo sobre o Vitória por 3 a 1, na Bahia, em 13 de novembro, com o tropeço 2018 
do principal concorrente, o Athletico Paranaense.  • 8 de abril. O título mineiro foi conquistado de forma espetacular numa final contra o Atlé­
tico. Depois de perder o primeiro jogo por 3 a 1, no Independência, o Cruzeiro venceu a 
segunda partida, no Mineirão, por 2 a 0. Como tinha melhor campanha, ficou com a taça.
2014  Foi a conquista sobre a arrogância dos atletas adversários, que haviam provocado de
• O título mineiro foi conquistado numa final contra o Atlético. Os dois jogos, no Indepen­ forma covarde os cruzeirenses na partida anterior. 
dência  e  no  Mineirão,  terminaram  sem  gols,  e  o  Cruzeiro  foi  campeão  (invicto)  por  ter 
feito melhor campanha na primeira fase.   
 26 de abril. Pela fase de grupos da Copa Libertadores, o Cruzeiro goleou o Universidad de 
Chile por 7 a 0, no Mineirão. Assim, igualou o maior placar que conseguiu na competição 
• 7 de julho. Numa excursão aos Estados Unidos, durante a Copa do Mundo do Brasil, o ao da vitória sobre o Real Potosí, em 2010. 
meia Ricardo Goulart fez um gol do meio de campo, antes da linha divisória, na vitória por 
2 a 0 sobre o Chivas Guadalajara, do México.   
 17 de outubro. O Cruzeiro se tornou o maior ganhador da Copa do Brasil. O sexto título 
veio com a vitória sobre o Corinthians, por 2 a 1, gols de Robinho e de Arrascaeta. Foi a 
• 27 de agosto. A goleada por 5 a 0 sobre o Santa Rita, de Alagoas, pelas oitavas de final primeira final nacional com o uso do VAR.
da Copa do Brasil, foi a milésima vitória do Cruzeiro no Mineirão. 
260
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 Com os 15 gols que fez na temporada, o uruguaio Arrascaeta passou a ser o estrangeiro 
 
que mais marcou com a camisa celeste: 50 vezes, superando o boliviano Marcelo Moreno.
Um dos gols, inclusive, foi indicado ao prêmio Puskas da Fifa, na categoria de gol mais bo­
nito do ano. Ele marcou de voleio na vitória por 1 a 0 sobre o América, em 4 de fevereiro.

2019 
• 3 de abril. O gol de Rodriguinho, na vitória por 1 a 0 sobre o Emelec, em Guayaquil, no
Equador, pela fase de grupos, foi o 300º do Cruzeiro em Copas Libertadores.

  de  abril.  O  Cruzeiro  conquista  o  bicampeonato  mineiro  ao  empatar  em  1  a  1  com  o 
 20 
Atlético, no Independência. O gol do título foi marcado por Fred. 

 
 11 de julho. Com dois gols contra o Botafogo, Marcelo Moreno chegou à marca de 51 gols 
pelo Cruzeiro, voltando a ser o maior artilheiro estrangeiro do clube. 

 
 10 de dezembro. Dois dias após o rebaixamento do clube, Maria Salomé da Silva, torcedo­
ra­símbolo do Cruzeiro, faleceu. 

2021 
 
 11 de abril. No único clássico disputado na temporada, o Cruzeiro venceu o Atlético por 1 
a 0, gol do atacante Airton. A partida foi válida pelo Campeonato Mineiro. 

 
 2 de janeiro. O único grande clube de Belo Horizonte de origem popular, o Cruzeiro, com­
pletou 100 anos de existência. 

• 30 de julho. O Instituto Palestra Italia lança o filme “Em busca da história do Cruzeiro”,
obra oficial do clube em comemoração ao seu primeiro centenário.
 
 
 6 de dezembro. O Cruzeiro tornou­se a primeira Sociedade Anônima do Futebol (SAF) 
do Brasil. 

2022 
• 14 de abril. Ronaldo Nazário, ex-jogador do clube e um dos maiores jogadores de todos
os tempos do futebol mundial, oficializa a sua entrada como sócio majoritário da SAF
Cruzeiro. 

• Em homenagem ao centenário de nascimento do maior pesquisador, jornalista e cronista


da história do Cruzeiro, Plínio Barreto, o clube lança a segunda edição de sua obra­prima 
De Palestra a Cruzeiro. 
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IMAGENS | CRÉDITOS  FICHA TÉCNICA  INSTITUTO PALESTRA ITALIA 
PROJETO GRÁFICO E 
Acervo Cruzeiro Esporte Clube Acervo Diários Associados – Estado de Acervo Família Miraglia  REALIZAÇÃO:  DIAGRAMAÇÃO:  CONSELHO CURADOR: 
(guarda, páginas 3, 12­13, 15­16, 21, 23,  Minas/Jorge Gontijo (páginas 191, 215,  (páginas 33 e 34). Instituto Palestra Itália e Instituto Vivas Nemer Fornaciari Design  Anísio Ciscotto Filho, Gilson de 
26-27, 32, 35-39, 42, 43, 48-51, 56-57, 220 e 244). Oliveira Carvalho, Guilherme Caldeira 
59, 62, 67­69, 75, 77, 79­83, 90­91, 96­ Acervo Família Nani Lazzarotti  COORDENAÇÃO GERAL:  REVISÃO:  Brant, Luca Medioli, Mauro Silva Reis, 
102, 105, 107, 109­111, 113, 118­123, 128,  Acervo Diários Associados – Estado de (páginas 24, 29 e 33). Alexandre Horta e Deis Chaves  Érica Aniceto  Nilson Luiz Labruna, Roberto Dias de 
130-131, 149, 156-163, 165, 167, 169, 171, Minas/Marcos Michelin (página 225).  Andrade, Sandro de Castro Gonzalez e 
173, 176-177, 179, 183, 188-189, 194-197, Acervo Família Pieri (página 21).  COORDENAÇÃO EDITORIAL:  PRODUÇÃO EXECUTIVA:  Umberto Casarotti. 
202­203, 205­206, 212­213, 215, 220­ Acervo Diários Associados –  André Amparo  Jeane Júlia 
223, 225, 229 e 231­233).  Estado de Minas/Mauro Zallio Acervo Lúcio Souza  SUPLENTES: 
(página 188).  (páginas 57, 59, 67, 73, 96­97, 103).  EDIÇÃO:  ASSISTENTE DE PRODUÇÃO:  Celso Fernandes Tolentino Filho e 
Acervo Cruzeiro Esporte Clube – Gustavo Nolasco  Gabriela Gomes de Aquino  Sérgio Murilo Diniz Braga 
Equipe Assessoria de Comunicação/ Acervo Diários Associados – Estado de Acervo Rede Globo (página 179). 
Vinnicius Silva/Bruno Haddad/Igor Minas/Paulo de Deus (páginas 190­191).  TEXTOS:  IMPRESSÃO:  PRESIDENTE:  
Sales/Gustavo Aleixo (páginas 249- Coleção Linhares – Cruzeiro em Foco  Gustavo Nolasco, Luiz Otávio Tropia  Rona Editora Lidson Faria Potsch Magalhães 
254, 256-257, 262-263, 268-269, Acervo Diários Associados –   (página 105).  Barreto, Marco Antônio Astoni e 
guarda).  Estado de Minas/Paulo Filgueiras Alexandre Horta  ***  DIRETORES: 
(páginas 202 e 215).   Coleção Linhares – Folha da Tarde  Deis Emilia Chaves Jardim (Diretoria
Acervo Cruzeiro Esporte Clube – Osmar (página 67).  PESQUISA:  PATROCINADORES PESSOA FÍSICA  Executiva), Daniel Jardim Pardini
Ladeia (páginas 228­229, 232­233 e  Acervo Dirceu Lopes  Joanita Silva, Luiz Otávio Tropia  ­ LEI FEDERAL DE INCENTIVO À  (Diretoria Administrativa) e Tiago 
238­239).  (páginas 131, 135, 137, 151 e 167).  Coleção Linhares – O Diário Esportivo Barreto e Marco Antônio Astoni  CULTURA:  Fantini Magalhães (Diretoria Jurídica) 
(página 82).  Alexandre Corsino, Arli Parreira de 
Acervo Cruzeiro Esporte Clube – Acervo Dirceu Pantera  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E  Morais, Edimar Antônio Nunes Júnior, COMITÊ DE COMPLIANCE E 
Vipcomm/Washington Alves (páginas (páginas 113 e 118­121).  Cruzeiro/Hamilton Flores  AUDIOVISUAIS:   Fabiano Parreira de Morais, Fabrizia  AUDITORIA: 
238-241 e 245-247). (página 227).  Almanaque do Cruzeiro (Henrique  de Pinho Nicolai, Jacques Simão de  Gil Guilherme Tadeu de Paiva, Luciano  
Acervo Evaldo (página 137). Ribeiro); De Palestra a Cruzeiro (Plínio  Siqueira, João Evangelista Cruz, Paulo Santos Lopes e Hudson Fernando Couto 
Acervo Diários Associados – Estado de Filme “Em busca da história do Barreto e Luiz Otávio Tropia Barreto);  Henrique Tadeu Coelho e Rubiane 
Minas (páginas 0, 83­85, 110­112, 118­121,  Acervo Evandro Oliveira Cruzeiro”/Marcelo Araújo  Em busca da história do Cruzeiro  Aparecida Pires.  COMITÊ CULTURAL E DESPORTIVO: 
126-127, 131, 133, 139-141, 143-144, 147- (páginas 98 e 176).  (páginas 20 e 23).  (André Amparo e Gustavo Nolasco);  Antônio Gonzaga Almeida, Demétrius 
148, 158-161, 167, 169, 172-174, 176, 179, Futebol no embalo da Nostalgia (Plínio  PATROCINADORES ­ LEI FEDERAL DE  Granata Pereira, Jacques Simão 
183-185, 188, 190-191, 194, 199, 202-204, Acervo Família Azevedo  Filme “Em busca da história do Barreto);  Jornal Estado de Minas  INCENTIVO À CULTURA:  de Siqueira, Luís Gustavo Vieira de
206, 208, 211­213, 215, 220­221, 227­ (páginas 48, 73, 82, 88-89 e 96-97). Cruzeiro”/Marcelo Borja  (crônicas de Plínio Barreto); Nossa Sala  Cemig Distribuição S.A., Construtora  Almeida, Rafael Sanzio da Silva Brandi 
230, 233, 238-239, 242-247, 249, 255, (páginas 28, 40 e 41). de Troféus (Alexandre Horta, Gustavo  Uni Ltda. e Extrativa Mineral Ltda. e Túlio Márcio Furletti 
261­263).  Acervo Família Bengala  Nolasco e Sérgio Santos Rodrigues); 
(páginas 48 e 55). Hemeroteca – Folha de Minas  O Palestra e os Palestrinos (Alexandre  CONSELHO FISCAL: 
Acervo Diários Associados – Estado de (páginas 48, 67 e 75). Horta e Sérgio Santos Rodrigues); O  Herones Márcio Amaral Lima, Jarbas  
Minas/Alexandre Guzanshe (páginas  Acervo Família de Plínio Barreto  time do povo mineiro (org. Gladstone  Matias dos Reis e Matheus Damasceno  
244 e 255). (páginas 4 e 79). NITRO/Leo Drumond (páginas 6 e 7).  Leonel Júnior e autores diversos);  Rocha 
Páginas Heroicas (Jorge Santana) e 
Acervo Diários Associados – Estado de Acervo Família Fantoni  Pedro Vale Revista do Cruzeiro (coleção completa)  ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO:  
Minas/Auremar de Castro (página 230).  (páginas 50­51, 53, 55, 57, 60­62, 70­71).  (páginas 252, 262 e 268­269).  Andreia Santos 

ASSISTENTE DE PROJETOS:  
O Cruzeiro Esporte Clube agradece especialmente aos Diários Associados, pela parceria no resgate desta história e por não medir
Gabriela Gomes de Aquino 
esforços em ceder parte de seu riquíssimo acervo para compor esta obra. 
_ D E PA L E S T R A A C R U Z E I R O _ 268
269

_ 1893_1920
271

_ 1893_1920
Para composição deste livro foram utilizadas as famílias 
tipográficas Gotham e Apex MK3. O papel utilizado na
impressão do miolo foi o Couché Fosco 150g/m2. Impresso 
na gráfica Rona, com uma tiragem de 650 exemplares.
Belo Horizonte, junho de 2022. 
_ D E PA L E S T R A A C R U Z E I R O _ 8
9

_ 1893_1920
DE PALESTRA A CRUZEIRO

EDIÇÃO
EDIÇÃO
DE PALESTRA A CRUZEIRO
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