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TREINADORES - ARTIGOS

1x1

O ENSINO DAS FORMAS REDUZIDAS – 3X3


O ENSINO DAS FORMAS REDUZIDAS – 1X1
António Paulo Ferreira
FC Barreirense

INTRODUÇÃO

Todos reconhecemos a obra de Adelino (1992), designada de ”As Coisas Simples do Basquetebol”,
como um instrumento de vital importância para os que se dedicam a pensar no essencial do ensino e
treino desta modalidade. Não só pela clareza da linguagem com que os diversos temas da técnica e da
táctica são tratados, mas também porque nela, somos confrontados com propostas de trabalho que
concluímos serem de extrema utilidade face às necessidades pedagógicas que o ensino e o treino do
jogo requerem. Utilizando a expressão do livro apontado, diria que o que aqui vos deixo são um
conjunto de “Coisas Bem Mais Simples” do Basquetebol. Ironizando com as palavras, talvez aquelas
que por ventura, se encontram na base do vasto complexo de coisas simples que Adelino (1992)
propõe no seu livro. O objectivo fundamental deste artigo é o de abordar um conjunto de princípios,
regras e formas de exercício, reforço muito simples, dirigidos para o ensino e treino do 3 contra 3 e do
1 contra 1.

O entendimento dos aspectos que se descrevem a seguir tem como base prévia as seguintes ideias
iniciais:

1. O reforço da capacidade técnica e táctica individual de cada um dos jogadores é um


pressuposto para a formação de uma equipa com qualidade – afinal não somos nós treinadores
que tantas vezes fazemos referência à relação íntima entre OVOS e OMOLETAS?

2. A abordagem das formas reduzidas do jogo, 1 contra 1 e 3 contra 3, deve ter na base um
modelo de jogo que tenhamos definido para a nossa equipa. Não nos podemos esquecer que é
na relação de 5 contra 5 que o Jogo de Basquetebol existe.

3. Cabe ao treinador o papel fundamental de observar, intervir, corrigir, controlar e motivar os


jogadores na perseguição dos comportamentos que nós desejamos ver em jogo - devemos ser
nós os primeiros a assumir que, não apenas as conquistas mas também as lacunas que os
nossos jogadores apresentam, são em primeira instância da responsabilidade do treinador.

Do que atrás se expõe, emerge com uma clareza evidente que os fundamentos da técnica e da táctica
individuais dos respectivos atacantes com bola e sem bola, constituem o substrato no qual assenta a
qualidade do jogo de 3x3 proposto. A análise do 1x1 que deixamos reporta-se apenas ao jogador com
bola, não devendo contudo ser relegado para segundo plano o trabalho técnico-táctico do atacante
sem bola.

Como afirma Adelino (1992) a Eficácia e a Variedade de soluções, distinguem a capacidade individual
de cada um dos jogadores em ataque. Por Eficácia não se deve entender apenas a mera concretização
de lançamentos, que sem dúvida culmina na expressão de eficácia ofensiva. Mas fundamentalmente,
esta noção de eficácia deve estar associada à concretização dos objectivos a que cada uma das
intenções que o jogador se propõe quando realiza uma qualquer acção, isto é quando toma uma
determinada decisão. Muda a bola entre pernas, porquê?; penetra para o cesto, com que
objectivo?..etc. A Variedade de soluções diz respeito ao leque de respostas que os jogadores podem
ter face à leitura de uma mesma situação. Está ligado ao pluralismo que deve caracterizar o reportório
motor dos jogadores. Face à penetração na linha final o jogador tem soluções para finalizar na
passada, para parar e lançar, para parar/fintar e colocar um apoio cruzado, etc...

A Eficácia e a Variedade devem ser entendidas como dois aspectos treináveis. Por um lado, através de
uma adequação e um estímulo permanente entre a leitura de defesa e a resposta ofensiva a oferecer,

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por outro lado, através da criação de condições em treino para alargar o repertório de soluções em
1x0 que se reportem a diversas soluções reais de 1x1.

Fundamentos Básicos do 1x1

Quem tem espaço e chega ao cesto – LANÇA SEM HESITAR!

É na posição básica ofensiva que tudo começa (o lançamento, o arranque, as fintas);

Atacar o pé mais adiantado do defensor e fazê-lo com explosividade;

Procurar ganhar a linha de penetração face ao defensor;

Perceber que o contacto é normalmente inevitável e preparar o lançamento (dentro da área) sob
pressão sem perder o equilíbrio corporal.

EXERCÍCIOS

Exercício 1 – 1x1 dentro da área

Objectivo: fomentar a agressividade na luta pela bola e a necessidade


de lançar sob pressão; competição com objectivo de marcação de 1 2

cestos

Descrição: dois jogadores colocam-se dentro da área esperando pela T


que o lançamento. Quem ganha ressalto ataca que não o ganha
defende. Cada cesto vale um ponto, a cada cesto convertido a bola
volta ao lançador para reinício do jogo. Que faz três cestos ganha;
quem perde sai.

Figura 1
3 1 2

Exercício 2 – 3 atacantes, 2 bolas


Objectivo: fomentar a agressividade na luta pela bola; tempo de reacção
e velocidade de execução

Descrição: duas bolas em cima da linha de três pontos, grupos de 3


jogadores dispostos na linha final. Ao sinal devem disputar a posse de
bola; que ganha a posse ataca o cesto; quem fica sem bola escolhe um
alvo para defender.

Figura 2

Exercício 3 – 1x1 no círculo da área

Objectivo: leitura da defesa, finalização em vantagem de 1x1

Descrição: grupos de 2 jogadores, um atacante outro defensor. Ao 1

sinal o atacante sai contornando o círculo da área restritiva e


escolhendo o caminho mais perto para o cesto. Com a mesma
obrigação o defensor procura dificultar o lançamento.
Figura 3

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Exercício 4 – 1x1 escolhe a bola

Objectivo: tempo de reacção para o atacante e defensor; tomada de decisão no 1x1 e explosividade
no ataque ao cesto

Descrição: grupos de 2 jogadores, um atacante outro defensor. Ao sinal o atacante escolhe uma das
três bolas que tem pela frente. Escolhe e decide arrancar. O defensor prepara para contestar a
penetração.

Exercício 5 – 1x1 puxa pela bola

Objectivo: fomentar a agressividade na luta pela bola; finalização em


vantagem por parte do atacante

Descrição: grupos de 2 jogadores, ambos agarram a bola. Ao sinal


puxam a bola até que um fique na sua posse. Quem fica com a bola
ataca o cesto, o outro defende.

Figura 4

Exercício 6 – 1x1 exterior

Objectivo: trabalho de desequilíbrio de defesa com combinação das


fintas de arranque, saída e decidida para o cesto; preparação do 1x1 1x1
lançamento com contacto.

Descrição: grupos de 2 jogadores; quem marca ataca na posição 1x1


seguinte. Cada atacante só pode penetrar nelas áreas marcadas.
Limitar o número de dribles.

Figura 5

Exercício 7 – 1x1 na posição de extremo

Objectivo: 1x1 após recepção com o aparecimento da ajuda


2
defensiva 3

Descrição: três colunas nas posições indicadas. Bolas situadas na


1
coluna de 2. 2 passa a 1 que passa a 3. Após o passe 2 sai em
direcção de 3, que ao receber ataca o cesto e joga 1x1 com 2 que
recupera.
Rotação: 2-1-3-2
Figura 6

Exercício 8 – 1x1 após passe e corte


1x1
2
3
Objectivo: 1x1 após tema táctico de referência

Descrição: três colunas nas posições indicadas. Bolas situadas na 1

coluna de 1. 2 faz trabalho de recepção directo, recebe e assiste o


corte de 1. 1 depois de marcar, entrega à mão de 3, que ataca
enquanto 1 defende. Rotação: 1-2-3-1
Figura 7

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Exercício 9 – 1x1 depois de “assaltar o castelo”

Objectivo: 1x1 após tema táctico de referência

Descrição: três colunas nas posições indicadas como no exercício anterior. Passe, corte e reposição
até que 1 chegue à posição inicial. Depois de finalizar, quem ressalta no lado contrário da bola entrega
à mão para defender. Rotação: 1-2-3-1

Exercício 10 – 1x1 a contornar os circulos

Objectivo: progressão em velocidade na direcção do cesto,


finalização com oposição

Descrição: grupos de 2 jogadores (atacante e defensor);


alinhados na linha final. Ao sinal contornam os círculos até que
consigam opor-se mutuamente (princípio do exercício 3
estendido no campo todo).
Figura 8

Exercício 11 – 1x1 com obstáculos móveis

Objectivo: ofensividade do drible, finalizar em velocidade

Descrição: três defensores colocam-se dentro dos círculos e só


podem deslocar-se lateralmente, evitando que os atacantes
avancem. Estes devem escolher o momento e local para
ofensivamente seguirem na direcção do cesto.

Figura 9

Exercício 12 – 1x1 em velocidade

Objectivo: progredir na direcção do cesto; manutenção da


vantagem face ao defensor; manter o equilíbrio do lançamento
em elevada velocidade de deslocamento.

Descrição: duas colunas no prolongamento da linha de lance-


livre. Recepção do 1º passe saída para finalização. Quem finaliza
recupera defensivamente e procura contrariar o lançamento
seguinte. Quem lança – defende; quem defende – passa e fica na
Figura 10
fila.

Exercício 13 – 1x1 com recuperação defensiva

Objectivo: leitura do 1x1; ligação do ataque com a recuperação 1x1

defensiva

Descrição: três colunas: no meio campo (num dos lados do


campo), na linha final com bolas, no prolongamento da linha de
lance-livre do lado contrário. Quem tem bola, passa ao primeiro
jogador da coluna que está à sua frente e defende. Depois de
estar resolvido o 1x1 o defensor solta o 1º passe, enquanto que
quem acabou de atacar deve recuperar defensivamente. Figura 11
Rotação: 1-3-2-1.

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Exercício 14 – 1x1 após passe e recepção


1x1

Objectivo: 1x1 com resolução veloz; ligação do 1c1 com passe e


recepção em velocidade.

Descrição: duas colunas num dos lados do campo, situadas na 2


linha final. Após três passes em velocidade, 1 finaliza na passada
e defende 2 que fica com posse de bola. Rotação: 1-2-1 1
Figura 12

Exercício 15 – 1x1 após saída para o contra-ataque

1x1
Objectivo: 1x1 com resolução veloz; ligação do contra-ataque
com tarefas defensivas e ofensivas

Descrição: duas colunas: uma dentro da área outra no 1


prolongamento da linha de lance-livre. 1 lança à tabela e solta o 1º
passe. 2 recebe e progride no corredor central, passando a 1 para
que este finalize. Quem finaliza defende, quem passa ataca. 2
Rotação: 1-2-1
Figura 13

CONCLUSÃO

Em jeito de conclusão, reforçamos a ideia de que as formas reduzidas são um meio por excelência que
o treinador tem ao seu dispor, para o ensino e treino dos diversos temas específicos do jogo de
Basquetebol. Constituindo-se formas simplificadas do jogo formal de 5x5, no nosso entendimento, as
formas reduzidas possuem três grandes vantagens que importa ressaltar:

Permitem ao treinador concentrar a sua atenção para os pontos chave dos temas técnico-tácticos
seleccionados e dessa forma aumentar a sua capacidade de observação e correcção do erro, facto que
se reflecte numa maior competência para controlar o treino;

Oferece aos jogadores maiores condições para se tornarem protagonistas do e no jogo. Significa isto
afirmar que o jogo reduzido oferece mais tempo de posse de bola a cada um dos jogadores e ao
mesmo tempo cada um deles está mais próximo da bola – daqui resulta uma maior necessidade de
tomarem decisões que directamente influenciam o decorrer do jogo;

Está de acordo com o que se entende, por metodologia genérica do ensino do jogo de Basquetebol –
Whole – Part – Whole. Deve estar de acordo com um modelo de jogo (Whole) previamente
estabelecido para a equipa e ser estudadas as respectivas responsabilidades de cada um dos jogadores
em cada uma das situações específicas (Part), para mais tarde serem integradas na globalidade e
dinâmica em que o jogo consiste (Whole).

BIBLIOGRAFIA

Adelino, J. (1992). As Coisas Simples do Basquetebol. Lisboa. Associação Nacional de Treinadores de Basquetebol.
Alderete, J.; Osma, J. (1998). Baloncesto. Técnica Individual de Ataque. Madrid. Gymnos Ed.
Araújo, J. (1992). Basquetebol. Preparação Técnica e Táctica. Lisboa. Federação Portuguesa de Basquetebol.
Monleón, R. (2001). Ejercicios de 1 contra 1. La Base del Baloncesto. Valência. Promolibro

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