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“As Instituições Sociais e sua possível reconstituição pelo Teatro do Oprimido” por
Beatriz de Castro Damini (BT33A)
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Introdução
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Objetivo
Visa-se com esta pesquisa executar uma investigação acerca das teorizações
do “Teatro do Oprimido” e, a partir disso, pretende-se analisar a possibilidade de
reconstituição das Instituições Sociais – entende-se por Instituições Sociais quaisquer
organizações da sociedade que existem para que haja coesão social, como por
exemplo Escola, Igreja, Presídio e Hospital – de uma maneira mais empática e
humanizada, dando, na medida do possível, mais poder de ação e de mudança ao
oprimido.
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Desenvolvimento
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presídios – podemos perceber grande potencialidade de reestruturação por um viés
mais empata, na medida em que o Sistema Coringa permite ao indivíduo vivenciar
outras posições sociais que não a que ele ocupa naquele momento. Como seria, por
exemplo, ter um prisioneiro encenando um carcereiro? No documentário “Augusto
Boal e o Teatro do Oprimido” isso foi possível, ainda que numa amostragem pequena,
pois isso aconteceu dentro de apenas um presídio. Mas numa escala maior, trazer o
Teatro do Oprimido e o Sistema Coringa para dentro dessas Instituições pode se
mostrar de grande efeito quanto à humanização dos presídios brasileiros.
Dentro de escolas, a possibilidade de reestruturação não é diferente, pois o
Sistema Coringa permite o contato com símbolos e signos que talvez precisem ser
revistos dentro da estrutura pedagógica atual das escolas brasileiras. O recente
crescimento do conceito de “escola construtivista” – surgido no século XX, a partir,
principalmente, das experiências dos filósofos e pensadores da educação Jean Piaget
e Lev Vygotsky – e também o baixo desempenho dos estudantes no Exame Nacional
do Ensino Médio (ENEM) evidencia – além de muitas outras questões – a
necessidade de revisão e reestruturação da base educacional pedagógica brasileira.
Voltando à história de Boal no Teatro, em fevereiro de 1971 ele é preso e torturado
pelo regime militar. Após isso é então exilado.
Foi durante o exílio que ele desenvolveu as bases conceituais do Teatro do
Oprimido – método teatral inspirado em Bertolt Brecht e ligado ao teatro de resistência
e aos movimentos de vanguarda surgidos na Rússia e na Alemanha na década de
1930. O objetivo do Teatro do Oprimido é despertar a consciência e a mobilização
política. Como citado por Boal no documentário “Augusto Boal e o Teatro do
Oprimido”: “(...) O Teatro do Oprimido abre caminhos. (...) O Teatro do Oprimido não
pertence a nenhuma organização. Apenas ao oprimido. (...) Expressar a arte a fim de
compreender a sua realidade. Assim nasce a democracia.” (BOAL, 2010)
Na Argentina, primeiro país que Boal vai quando exilado, começa a
desenvolver o que posteriormente se chamaria Teatro Invisível, cuja ideia principal
era não saber se o que se apresentava era de fato teatro ou uma casualidade – ou
causalidade – cotidiana.
Quando pensamos na reestruturação das Instituições Sociais, ter em mãos a
possibilidade de fazer um teatro que não se sabe se é teatro, é infinitamente potente.
E se, no meio de um culto ou missa surgisse um ator interpretando um morador de
rua e pedisse parte do dízimo da noite para comer? Qual seria a reverberação disso
nos fiéis e na cúpula religiosa daquele espaço? É preciso acreditar na potência do
Teatro Invisível como grande escancaro da posição do oprimido. Ainda, é preciso
acreditar que a partir deste escancaro desperte-se uma consciência coletiva e empata
sobre o oprimido. Como comenta Boal ainda no documentário citado anteriormente:
“É uma contra-catarse. (...) Uma purificação pela piedade.” (BOAL, 2010). É preciso
acreditar.
Após o trabalho com Teatro Invisível na Argentina, Boal desenvolve o chamado
Teatro-Fórum no Peru.
O Teatro-Fórum é uma técnica em que os atores representam uma cena até a
apresentação do problema ou da opressão propriamente dita, em seguida cabe aos
espectadores que coloquem, por meio da ação cênica, soluções para o então
problema apresentado. Como mencionado anteriormente nas explicações do Sistema
Coringa, no documentário “Augusto Boal e o Teatro do Oprimido” há um momento em
que presidiários tem a oportunidade de participar de um “Teatro-Fórum”,
apresentando soluções para situações de opressão que vivenciam no dia a dia.
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Existem vários grupos internacionais de Teatro do Oprimido. A maioria deles
foca no Teatro-Fórum, acredito que pelo poder prático de solução da opressão e
internalização dessa solução. Um grupo africano, por exemplo, fez uma grande
campanha de conscientização sobre HIV a partir do Teatro-Fórum, o que já nos
levanta a ideia de poder trazer o Teatro-Fórum também para a área da saúde –
Instituições Hospitalares também são Instituições Sociais –, visto que hoje em dia as
campanhas de conscientização são pouco acessíveis a população, muito porque o
índice de analfabetismo no Brasil ainda é elevado, então trocar campanhas escritas
por campanhas performáticas pode surtir mais efeito na conscientização e prevenção
de doenças ou infecções.
Algumas das outras teorizações de Boal – que não são o enfoque desta
pesquisa mas também são muito singulares e importantes – foram o Teatro Imagem
– que consistia em se representar uma situação de opressão por meio de uma
imagem ou partitura corporal –, o Teatro Jornal – transformação de qualquer notícia
de jornal, ou qualquer outro material sem propósito dramático, em cenas ou ações
teatrais –, o Teatro Legislativo – cenas de Teatro-Fórum apresentadas em sessões
legislativas – e por fim o Arco-Íris do Desejo – espécie de teatro-terapia que se
assemelha ao psicodrama e traz a possibilidade de investigação subjetiva de
situações de opressão –.
Boal volta ao Brasil em 1984, depois da anistia. E em 1986, funda o Centro de
Teatro do Oprimido. Nesse período desenvolve também a chamada “Árvore do Teatro
do Oprimido”, que é de grande valia para visualizar a potência dessa possível
reconstituição das Instituições Sociais a partir do Teatro do Oprimido.
Vê-se abaixo:
SÉRIE: Teatro do Oprimido | AUTORIA: Augusto Boal | DATA: 19-- | ANO: 19-- | LOCAL: s/l
Para Boal, “A árvore representa o Teatro do Oprimido. Esse solo tem que ser
carregado de ética e solidariedade que é a base do teatro do oprimido. (...) O tronco
são jogos e exercícios, o básico. E nos galhos, as técnicas” (BOAL, 2010)
Se pensarmos na árvore como representação simbólica de toda e qualquer
Instituição Social – afinal, para Boal, tudo é teatro –, com seu solo, raízes, tronco e
folhas, podemos pensar também em uma possível associação com a “Árvore do
Teatro do Oprimido”.
Como na árvore de Boal, ética é também a grande regente das Instituições. A
solidariedade deveria estar junto, porém a humanidade ainda não conseguiu
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incorporar a solidariedade nessas Instituições, muito porque são Instituições
dependentes de um sistema econômico, que sendo capitalista, não visa priorizar as
questões humanas.
O maior desafio, portanto, nesta possível reconstituição das Instituições
Sociais a partir do Teatro do Oprimido, é incorporar a solidariedade juntamente com
a ética. Dessa maneira, Instituições podem se tornar mais empatas, humanas, e
efetivas.
Augusto Boal foi indicado ao Nobel da Paz em 2008 e foi consagrado
Embaixador Mundial do Teatro pela UNESCO em 2009, o ano em que falece,
deixando um legado atemporal tanto para o Brasil, quanto para o mundo.
“A natureza permite a vida mas exige a morte, então tudo é transitório. O início da
vida é sensível e não simbólico.” – (BOAL, 2010)
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Bibliografia
AUGUSTO Boal e o Teatro do Oprimido. Direção: Zelito Viana. [S. l.: s. n.], 2010.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lL3-Wc305Gg. Acesso em: 13
jun. 2020.
BOAL, Augusto. Hamlet e o Filho do Padeiro: Memórias Imaginadas. 1. ed. [S. l.]:
Cosac & Naify, 2014. 416 p.
INSTITUTO AUGUSTO BOAL (Brasil). Vida e Obra. In: Vida e Obra de Augusto
Boal. [S. l.], 2010. Disponível em: http://augustoboal.com.br/. Acesso em: 13 jun.
2020.
INSTITUTO AUGUSTO BOAL (Brasil). Acervo. In: Acervo. [S. l.], 2010. Disponível
em: http://augustoboal.com.br/. Acesso em: 13 jun. 2020.
BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido: Outras Poéticas Políticas. [S. l.]: Civilização
Brasileira, 2005. 288 p.