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Universidade Federal do Acre – UFAC

Centro de Ciências Exatas e Tecnológicos – CCET


Curso de Bacharelado de Engenharia Civil
Fundações

Comparação entre a NBR 6122/2010 e NBR 6122/2019: Projeto e


Execução de Fundações – Uso do Coeficiente de Segurança
Beatrice Alaíde Mello de Souza Marques
Estudante de Engenharia Civil, UFAC, Rio Branco, Brasil

João Galileu Mendes Bezerra


Estudante de Engenharia Civil, UFAC, Rio Branco, Brasil

Luiz Carlos Paza Junior


Estudante de Engenharia Civil, UFAC, Rio Branco, Brasil

Marcos Antônio Nogueira


Estudante de Engenharia Civil, UFAC, Rio Branco, Brasil

Mayon Ricary Pontes Lisboa


Estudante de Engenharia Civil, UFAC, Rio Branco, Brasil

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo principal apontar as mudanças principais entre a versão de
2010 da NBR 6122 – Projeto e execução de fundações e a sua versão mais atual, do ano de 2019, no que tange
o uso do coeficiente de segurança. A metodologia utilizada para execução do artigo foi a de pesquisa
bibliográfica, através da consulta das normas e artigos de periódicos, com o objetivo de expor importantes
informações quanto as mudanças ocorridas nos últimos anos, de forma a garantir melhor conhecimento e
domínio dos requisitos normativos trazendo assim maior segurança e qualidade às futuras obras. A última
atualização estabeleceu novas definições e critérios para o dimensionamento das estruturas sob ação de cargas
de vento, fundações profundas, para análise da interação entre fundação e estrutura e ainda com relação ao
fator de segurança global. Estudar as atualizações das normas técnicas é de suma importância para o
engenheiro civil e para acadêmicos de engenharia, possibilitando a otimização do processo de construção.

PALAVRAS-CHAVE: NBR 6122, Fundações, Engenharia, Norma, Solos, Estruturas.

1 Introdução

A NBR 6122 é a norma regulamentadora de projetos e execução de fundações, criada em 1986, a norma
já passou por duas modificações, a sua versão de 2010 e a mais atual, a de 2019. Todas as normas técnicas que
englobam o meio da construção civil estão sujeitas a alterações que visam adapta-las para novas exigências do
mercado quanto a qualidade, segurança e economia.
As ações do ambiente e as cargas agem-nas construções, provocando tensões e deformações, de cada
parte componente do conjunto, o que gera às linhas de estado nas peças estruturais e nos elementos compõem
maciço de solos. A estrutura de um edifício pode ser subdividida em superestrutura e subestrutura e, o solo,
em várias camadas.
Quando se fala em carga admissível, refere-se a carga suportada por todo o conjunto de elementos da
obra de fundação. Define-se como elemento isolado de fundação o sistema composto por um elemento isolado
da subestrutura e o maciço de solo que o envolve. Logo, o coeficiente de segurança em fundações implica na
existência das funções solicitação e resistência, aplicadas ao conjunto de elementos da fundação (AOKI,
MENEGOTTO, & CINTRA, 2012).
Para garantir a segurança de uma obra é de suma importância que sejam seguidas as recomendações e
exigências normativas, por isso se faz-se mister a análise das mudanças apresentadas pela NBR 6122 de 2019,
quanto a aplicação do coeficiente de segurança.
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Curso de Bacharelado de Engenharia Civil
Fundações

2 Objetivo

O presente trabalho tem como objetivo revisar o conteúdo das versões da NBR 6122 do ano de 2010 e
2019 projeto e execução de fundações, destacando as alterações relacionadas ao uso do coeficiente de
segurança.

3 Metodologia

O artigo consiste de uma revisão bibliográfica da norma NBR 6122 em suas duas versões mais
recentes, a de 2010 e 2019, foram também consultados outros materiais como artigos de periódicos que
falavam sobre o conteúdo.

4 Justificativa

A atualização de uma norma técnica é fundamental para adequação as novas exigências que surgem no
mercado de trabalho. Portanto, é indispensável que o engenheiro civil conheça e se atualize sobre as mudanças
nas normas. O trabalho se faz importante para aprendizado e fornecimento de informação para os estudantes
de engenharia civil e profissionais atuantes na área.

5 Principais Diferenças Entre a NBR 6122/2010 e NBR 6122/2019

5.1 Análise De Interação Fundação – Estrutura

Segundo a NBR 6122:2010, nas estruturas cuja a deformabilidade das fundações pode influenciar na
distribuição dos esforços, é necessário estudar a interação entre solo e estrutura ou entre fundação e estrutura
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010).
Já segundo NBR 6122:2019 esse estudo só se faz obrigatório em casos de: estruturas nas quais a carga
variável é significativa, quando relacionada a carga total, tais como os silos e reservatórios; estruturas com
mais de 55 m de altura, medidas do térreo até a laje da cobertura do último piso habitável; relação altura/largura
(menor dimensão) superior a quatro; e quando forem fundações ou estruturas não convencionais
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2019).

5.2 Cálculo De Fundações Profundas Através De Métodos Estáticos

Conforme a NBR 6122:2010, em casos específicos de estacas escavadas, a carga admissível pode ser
no máx. 1,25 vezes a resistência do atrito lateral calculado na ruptura, em outras palavras, um limite de 20%
da carga admissível pode ser suportado pela ponta da estaca. Se superior a esse valor, o processo de limpeza
da ponta deverá ser especificado pelo projetista. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,
2010).
𝑃𝑎𝑑𝑚 ≤ 1,25 ∗ 𝑃𝑎𝑡−𝑙𝑎𝑡
𝑃𝑎𝑑𝑚 : carga admissível da estaca;
𝑃𝑎𝑡−𝑙𝑎𝑡 : carga devida exclusivamente o atrito lateral na ruptura.
A NBR 6122:2019 recomenda que no projeto de estacas escavadas com estabilização das paredes
auxiliadas por fluido estabilizante, e também o de estacas hélice contínuas deve-se sempre que considerar a
resistência de ponta ser feito a menção a esse item. Na execução deve ser assegurado precisamente que serão
cumpridos os procedimentos executivos mínimos, de maneira que se obtenha o contato efetivo da ponta da
estaca com o solo ou rocha. Nessas condições, quando for realizada a verificação do ELU a resistência da
ponta deverá ter como limite superior o valor da resistência de atrito lateral:
𝑅𝑃 < 𝑅𝑙 e 𝑃𝑎𝑑𝑚 = (𝑅𝑝 + 𝑅𝑙 )/2.
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Em casos que o contato entre o concreto e o solo firme não possa ser assegurado pelo responsável da
execução, o projeto deve ser revisto quanto: ao comprimento das estacas e à condição de resistência nula na
ponta (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2019):
𝑅𝑃 = 0 e 𝑃𝑎𝑑𝑚 = 𝑅𝑙 /2
𝑅𝐿 : carga devida ao atrito lateral na ruptura;
𝑅𝑃 : Resistência de ponta.
Esta alteração na norma se deve principalmente à queda de qualidade executiva, principalmente devido
a ampliação da concorrência e a falta de mão de obra qualificada para manuseio dos equipamentos, pois muitas
das obras onde foram executadas este tipo de estaca, ao serem realizados testes de prova de carga, observou-
se que haviam deficiência na carga de ponta (ALONSO, 2019).

5.3 Excentricidades De Estacas Isoladas E Estacas Dispostas Segundo Um Alinhamento

De acordo com a NBR 6122:2010, é vetado o uso de estaca de diâmetro ou bitolas inferiores a 30cm,
sem travamento. Tratando-se de estacas metálicas, o diâmetro considerado seria aquele do círculo circunscrito
na seção da estaca.
A NBR 6122:2019, no entanto, não contém a restrição imposta pela versão de 2010, não havendo
determinação de valor mínimo para dimensão da estaca. Porém, especifica-se que estacas isoladas e estacas
dispostas segundo um único alinhamento devam ser projetadas de modo que resistam aos momentos
introduzidos por excentricidades executivas consideradas pelo projetista, conforme especificado no item 8.4.2,
considerando o comportamento gerado por esforços horizontais ou momentos no dimensionamento das
fundações, pois estes podem gerar em estacas e tubulões a plastificação do solo ou do elemento estrutural.

5.4 Efeito do Vento nas Fundações

Na NBR 6122:2010, referente ao cálculo em termos de valores característicos para o efeito do vento em
fundações é especificado que quando a verificação das solicitações for feita considerando-se as ações nas quais
o vento não é a ação principal, os valores de tensão admissível de sapatas e tubulões e cargas admissíveis em
estacas podem ser majorados em até 30%.
Segundo a NBR 6122:2019, quando se tratar de solicitações obtidas de combinações de ações nas quais
o vento é a ação variável principal, os valores de tensão admissível de sapatas e tubulões e as cargas admissíveis
em estacas podem ser majorados em até 15 %, ou seja, uma redução pela metade do coeficiente de majoração.
No entanto, no caso de galpões industriais, torres de linhas de transmissão, reservatórios elevados, silos
graneleiros, torres eólicas, torres de telecomunicações e tanques de produtos químicos, nos quais o vento é a
ação variável principal, a majoração dos valores de tensão admissível de sapatas e tubulões e de cargas
admissíveis em estacas podem ainda ser de até 30%.

6 Uso do Coeficiente de Segurança

6.1 Fator de Segurança Global

Para o caso de estacas ou tubulões em que ocorre ação do atrito negativo, a carga admissível deve ser
determinada pela fórmula (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010):
(𝑃𝑝 + 𝑃𝑙 )
𝑃𝑎𝑑𝑚 = [ ] − 𝑃𝑎𝑛
𝐹𝑆𝑔
𝑃𝑎𝑑𝑚 : carga admissível;
𝑃𝑝 : parcela correspondente à resistência de ponta na ruptura;
𝑃𝑙 : parcela correspondente à resistência por atrito lateral positivo, na ruptura;
𝑃𝑎𝑛 : parcela correspondente ao atrito lateral negativo na ruptura. O ponto onde ocorre a mudança de
atrito negativo para positivo é chamado de ponto neutro;
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𝐹𝑆𝑔 : fator de segurança global.

O cálculo do fator de segurança global sofreu uma alteração na versão de 2019 da norma
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2019):
𝑃𝑎𝑑𝑚 = (𝑅𝑝 + 𝑅𝑙𝑝 ) − 𝐹𝑆𝑔
𝑃𝑎𝑑𝑚 : carga admissível;
𝑅𝑙𝑝 : parcela de força resistente característica de atrito lateral positivo, na ruptura;
𝑅𝑃 : parcela de força resistente característica de ponta, na ruptura;
𝐹𝑆𝑔 : fator de segurança global.
O critério de segurança é expresso por:
𝑃ú𝑡𝑖𝑙 ≤ 𝑃𝑎𝑑𝑚 + 𝑃𝑎𝑛
𝑃ú𝑡𝑖𝑙 : carga admissível sobre o elemento de fundação, excluídas, para esta verificação, as cargas
admissíveis efêmeras (carga proveniente do atrito negativo).

O conceito de coeficiente de segurança global baseia-se na crença, muito difundida no meio técnico, de
que o valor esperado mais provável de ocorrência é o valor médio da variável em estudo. A carga admissível
𝑃𝑎𝑑𝑚 , trata-se da máxima solicitação que pode ser aplicada com segurança à uma fundação, para um dado
coeficiente de segurança global em relação à ruptura. A NBR 6122 prescreve um coeficiente de segurança
global de 2,0 para obras sem provas de carga e 1,6 para obras com provas de carga (AOKI, MENEGOTTO, &
CINTRA, 2012).

6.2 Estacas de Concreto Moldadas In Loco e Tubulões

Segundo a NBR 6122 de 2010 a resistência característica do concreto 𝑓𝑐𝑘 usado nas estacas deve ser
aplicado um coeficiente de redução de 0,85, que considera a diferença entre os resultados de ensaios rápidos
de laboratório e a resistência sob a ação de cargas de longa duração. Os parâmetros para dimensionamento
devem seguir o disposto na Figura 1. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2010).

Figura 1. Tabela 4 - NBR 6122:2010


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A norma de 2019 afirma que a resistência de cálculo do concreto 𝑓𝑐𝑑 , deve ser calculada segundo a
fórmula:

𝑓𝑐𝑘
𝑓𝑐𝑑 =
𝑦𝑐

𝑓𝑐𝑑 : resistência de cálculo do concreto à compressão;


𝑓𝑐𝑘 : resistência característica do concreto à compressão;
𝑦𝑐 : coeficiente de ponderação da resistência à compressão do concreto.

O coeficiente de ponderação das ações, a ser adotado para todos os tipos de estacas moldadas in loco, é
𝑦𝑓 = 1,4. Aplicado quando disponível apenas o valor característico das ações, contudo, se fornecido o valor de
cálculo, não se aplica nenhum coeficiente. Os parâmetros para dimensionamento devem seguir o disposto na
Figura 2 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2019).

Figura 2. Tabela 4 - NBR 6122:2019


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALONSO, U. R. (30 de Setembro de 2019). COMPARAÇÃO ENTRE AS NORMAS DE FUNDAÇÃO NBR


6122:2010 e NBR 6122:2019. Portal da Geotecnia.
AOKI, N., MENEGOTTO, M. L., & CINTRA, J. C. (Janeiro de 2012). PROBABILIDADE DE RUÍNA
COMO CRITÉRIO PARA DEFINIR O COEFICIENTE DE SEGURANÇA A SER USADO NA
PREVISÃO DA CARGA ADMISSÍVEL DE FUNDAÇÕES POR ESTACAS.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (2010). NBR 6122 Projeto e execução de
fundações. Rio de Janeiro.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (2019). NBR 6122 Projeto e execução de
fundações. Rio de Janeiro.

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