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Capı́tulo 4

Linhas de Transmissão

4.1 Introdução
Até o capı́tulo anterior foram estudados fenômenos referentes às ondas eletroma-
gnéticas propagando-se em meios abertos. Neste capı́tulo é feita uma análise do
comportamento de ondas eletromagnéticas guiadas por linhas de transmissão, assim
como as caracterı́sticas destas linhas e as técnicas de casamento de impedância
aplicadas para a máxima transferência de energia eletromagnética.
Uma Linha de Transmissão (L.T.) é um dispositivo empregado para guiar uma
onda eletromagnética de um ponto a outro do espaço. Na prática, uma L.T. pode
ser utilizada, por exemplo, para ligar um transceptor a uma antena, um conjunto de
computadores em rede, uma difusora de sinais de TV aos seus assinantes ou, então,
conectar os diversos componentes e circuitos de um sistema de alta freqüência. Ex-
istem diversas geometrias de linha de transmissão em aplicações de alta frequência.
As mais comuns são: coaxial, par de fios, par de fios trançados, fita, microfita, etc..
A Figura 4.1 mostra algumas destas estruturas. Além disso, as linhas de transmissão
podem ser classificadas como uniforme e não uniforme, com perdas e sem perdas.
As linhas uniformes mantêm a geometria da seção transversal e as caracterı́sticas
elétricas e magnéticas ao longo do seu comprimento. Enquanto as linhas sem perdas
são aquelas onde as ondas eletromagnéticas não sofrem qualquer tipo de atenuação
ao longo da direção de propagação.

4.2 Equação de uma Linha de Transmissão


Nesta seção são apresentadas duas abordagens que descrevem o comportamento das
ondas de tensão e corrente, que estão associadas às ondas eletromagnéticas guiadas

63
CAPı́TULO 4. Linhas de Transmissão 64

2a
(a)
condutores dielétrico

2a
(b)
l w
condutores

(c)
dielétrico

Figura 4.1: Alguns tipos de linha de transmissão: (a) coaxial; (b) fita de fios par-
alelos; (c) microfita.

por linhas de transmissão uniformes.

4.2.1 Abordagem Eletromagnética


Considerando um sistema constituı́do de uma linha coaxial que liga um gerador
a uma impedância de carga, como mostrado na Figura 4.2, pode-se obter as ex-
pressões dos campos eletromagnéticos da onda no material dielétrico entre condu-
tores utilizando-se as equações de Maxwell, ou então, as equações de onda. Sendo
assim, o campo elétrico no dielétrico do cabo coaxial obedece a equação

1 ∂2E
∇2 E − =0 (4.1)
vf2 ∂t2
enquanto o campo magnético é obtido a partir de

1 ∂2H
∇2 H − =0 (4.2)
vf2 ∂t2
As ondas são do tipo TEM (no caso dos condutores serem perfeitos), propagando-se
no sentido z + ou z − com velocidade de fase
65 4.2. Equação de uma Linha de Transmissão

Zg

ZL

Figura 4.2: Gerador de RF acoplado a uma impedância de carga através de uma


L.T. coaxial.

1
vf = √ (4.3)
µ
Se o gerador fornece uma tensão que varia harmonicamente no tempo, isto é,

Vg (t) = Vo e jωt (4.4)


então, os campos seguem o mesmo tipo de variação temporal, ou seja,

E(r, z, t) = E(r, z) e jωt

H(r, z, t) = H(r, z) e jωt (4.5)


sendo E(r, z) e H(r, z) dados pelas equações de Helmholtz
∂ 2 E(r, z)
2
− γ 2 E(r, z) = 0 (4.6)
∂z
e
∂ 2 H(r, z)
− γ 2 H(r, z) = 0 (4.7)
∂ z2
onde γ é a constante de propagação.
Sabe-se pela teoria eletromagnética que a tensão entre os condutores de um cabo
coaxial, medidos num plano z qualquer, está relacionada com o campo elétrico no
dielétrico deste através de
CAPı́TULO 4. Linhas de Transmissão 66

b b
V (z) = − E(r, z)·dr = E(r, z) dr (4.8)
a a

Enquanto a magnitude das correntes nos condutores pode ser obtida a partir de

 2π
I(z) = H(r, z)·dl = H(r, z) r dϕ = 2πrH(r, z) (4.9)
C 0

Integrando-se a equação (4.6) em relação a r, de a a b, obtém-se

d2 V (z)
− γ 2 V (z) = 0 (4.10)
d z2
Assim como, multiplicando-se (4.7) por 2πr, tem-se

d2 I(z)
2
− γ 2 I(z) = 0 (4.11)
dz
Apesar das equações acima, denominadas de Equações de uma Linha de Trans-
missão, terem sido deduzidas para uma linha coaxial, elas são válidas para qualquer
tipo de linha de transmissão.

4.2.2 Abordagem de Circuitos


Sabe-se que um cabo coaxial, assim como qualquer linha de transmissão, apresenta
uma certa capacitância e indutância dependendo de sua geometria e caracterı́sticas
elétricas e magnéticas dos materiais que os compõe. A capacitância medida entre
os condutores de uma L.T. depende: do comprimento, dos raios de seus condutores
e da permissividade do material dielétrico. Enquanto a indutância depende, além
das dimensões da L.T., da permeabilidade. O circuito equivalente de uma linha
uniforme sem perdas é mostrado na Figura 4.3a, enquanto a Figura 4.3b apresenta
o circuito equivalente de uma L.T. com perdas. A tensão num trecho infinitesimal
de um dos condutores, de uma L.T. com perdas, é dada por

dV = ZI dz (4.12)
ou
dV
= ZI (4.13)
dz
67 4.2. Equação de uma Linha de Transmissão

L L L

C C C

(a)

L R L R

C G C G

(b)

Figura 4.3: Circuito equivalente de uma L.T.: (a) sem perdas; (b) com perdas.

Já a corrente que atravessa numa fatia de espessura infinitesimal de dielétrico é


fornecida por
dI = Y V dz (4.14)
ou
dI
=YV (4.15)
dz
onde
Z = R + jωL (4.16)
é a impedância por comprimento de linha e

Y = G + jωC (4.17)

a admitância, sendo L, C, R e G, respectivamente, a indutância, capacitância,


resistência do condutor e condutância do dielétrico por unidade de comprimento.
Derivando-se (4.13) e (4.15) em relação a z têm-se, respectivamente,

d2 V dZ dI
2
= I +Z (4.18)
dz dz dz
e
CAPı́TULO 4. Linhas de Transmissão 68

d2 I dY dV
2
= V +Y (4.19)
dz dz dz
Para linhas uniformes, Z e Y não variam com z, logo

d2 V dI
2
=Z (4.20)
dz dz
ou

d2 V
=ZYV (4.21)
dz 2
e

d2 I dV
2
=Y (4.22)
dz dz
ou

d2 I
= ZY I (4.23)
dz 2
Reescrevendo-se (4.21) e (4.23), têm-se

d2 V
− ZY V = 0 (4.24)
d z2
e

d2 I
− ZY I = 0 (4.25)
d z2
Uma comparação entre as equações (4.10) e (4.24), assim como (4.11) e (4.25),
mostra que a constante de propagação numa L.T. pode ser obtida a partir de

γ = α + jβ = ZY (4.26)
A velocidade de fase, neste caso, é obtida de
ω
vf = (4.27)
Im[γ]
Para uma linha sem perdas têm-se

γ = jβ = jω LC (4.28)
e
69 4.3. Solução da Equação de uma L.T.

ω 1
vf = =√ (4.29)
β LC

4.3 Solução da Equação de uma L.T.


A solução das equações (4.10) e (4.24) é da forma

V (z) = V1 eγ z + V2 e−γ z (4.30)


enquanto para (4.11) e (4.25), têm-se

I(z) = I1 eγ z + I2 e−γ z (4.31)


ou

1 dV γ  γz
I(z) = = V1 e − V2 e−γ z (4.32)
Z dz Z
ou ainda

Y  γz
I(z) = V1 e − V2 e−γ z (4.33)
Z
As soluções são combinações lineares de um par de funções ortogonais, uma vez que
as equações diferenciais são lineares ordinárias de segunda ordem. Fisicamente, as
soluções (4.30) e (4.31) representam, respectivamente, ondas de corrente e tensão
propagando-se no sentido z − (primeiros termos das equações) e z + (segundos termos),
sendo as constantes V1 , V2 , I1 e I2 fasores associados às ondas.
As soluções completas, incluindo a variação temporal harmônica, são

V (z, t) = V − + V + = V1 eα z e jωt+β z + V2 e−α z e jωt−β z (4.34)


e

I(z, t) = I − + I + = I1 eα z e jωt+β z + I2 e−α z e jωt−β z (4.35)

4.4 Impedância Caracterı́stica


A impedância caracterı́stica de uma linha de transmissão é a razão entre a tensão e
a corrente obtida num determinado plano z, isto é,
CAPı́TULO 4. Linhas de Transmissão 70

 
V− V+ Z R + jωL
Zo = − = − + = = (4.36)
I I Y G + jωC
Para linhas uniformes, a impedância caracterı́stica não varia ao longo do seu compri-
mento. Se houver perdas, a impedância é complexa, com valor fornecido por (4.36).
Para perdas desprezı́veis, tem-se R = G  0, o que leva a

L
Zo  (4.37)
C
Neste caso, a impedância é real, sendo a indutância por unidade de comprimento
determinada pela expressão [19]

Λ µ S H · ds
L= =  (4.38)
Il l C H · dl
e a capacitância por unidade de comprimento

Q  S E · ds
C= = − b (4.39)
Vl l E · dl
a

sendo Λ o fluxo magnético produzido pelo indutor e Q a carga elétrica no capacitor.

4.4.1 Coaxial
A impedância caracterı́stica de um cabo coaxial sem perdas, como aquele mostrado
na Figura 4.1a, é obtida a partir da equação (4.37), utilizando-se a expressão
da indutância obtida de (4.38) e a da capacitância através de (4.39). Portanto,
resolvendo-se (4.38), obtém-se
 
µo b
L= ln (4.40)
2π a
e de (4.39)
2π
C=   (4.41)
ln ab
Substituindo (4.40) e (4.41) em (4.37), tem-se
    
1 µo b ηo b
Zo = ln = √ ln (4.42)
2π  a 2π r a
71 4.4. Impedância Caracterı́stica

ou
 
60 b
Zo = √ ln (4.43)
r a

Exemplo 4.1 Qual deve ser a razão entre o condutor interno e externo para que
uma linha coaxial tenha impedância de 75Ω? Considere como dielétrico um plástico
de permissividade relativa igual a 4.

Solução: Pela equação (4.43), pode-se obter facilmente esta relação, ou seja,
  √
b 75 4 b
ln = = 2, 5 =⇒ = e2,5 = 12, 2
a 60 a

Portanto, se o condutor interno tiver, por exemplo, 1mm de raio, o externo deverá
ter 12,2mm.

4.4.2 Par de Fios Paralelos


No caso de dois fios paralelos separados por uma fita dielétrica espaçadora (vide
Figura 4.1b), têm-se
 
µo d−a
L= ln (4.44)
π a
e
π
C=  d−a  (4.45)
ln a

Substituindo (4.44) e (4.45) em (4.37), tem-se


 
120 d−a
Zo = √ ln (4.46)
r a
Se d  a, então
 
120 d
Zo  √ ln (4.47)
r a
CAPı́TULO 4. Linhas de Transmissão 72

4.4.3 Microfita
A determinação da expressão de impedância caracterı́stica para microfitas, como
aquela mostrada na Figura 4.1c, não é feita de forma totalmente analı́tica, devido
a geometria da mesma. Vários trabalhos sobre o assunto podem ser encontrados
na literatura cientı́fica [24][12]. Um destes trabalhos é o de Hammerstadt (1975)
[15] que fornece expressões para a análise e sı́ntese de linhas de microfitas. Os
valores obtidos destas expressões apresentam erros inferiores a 1% quando r  16
e 0, 05  w/h  20, sendo w a largura da fita e h a espessura do substrato.
Para a análise de fitas com w/h < 1, utiliza-se
 
60 8h w
Zo = √ ln + (4.48)
ef w 4h
Como parte da onda se propaga no dielétrico e parte se propaga no ar, então, torna-
se necessário se obter uma permissividade relativa efetiva, representada na equação
(4.48) por ef . Para este caso, a permissividade efetiva é dada por
 −1/2 
r + 1 r − 1 12h  w 2
ef = + 1+ + 0, 04 1 − (4.49)
2 2 w h

Para a análise de fitas com w/h  1, utiliza-se

120π  w  w −1
Zo = √ + 1, 393 + 0, 667 ln 1, 444 + (4.50)
ef h h
com
 −1/2
r + 1 r − 1 12h
ef = + 1+ (4.51)
2 2 w
No caso de sı́ntese, tem-se, para Zo > 44 − 2r ,

w 8
= A (4.52)
h e − 2 e−A
e para Zo < 44 − 2r ,

  
w 2 r − 1 0, 517
= B − 1 − ln(2B − 1) + ln(B − 1) + 0, 293 − (4.53)
h π 2r r

sendo
73 4.5. Perdas numa L.T.

  
Zo r + 1 r − 1 0, 121
A= + 0, 226 + (4.54)
60 2 r + 1 r
e

60π 2
B= √ (4.55)
Zo  r

Exemplo 4.2 Calcule a largura de uma microfita para que ela tenha uma impedância
caracterı́stica de 50 Ω. A linha será impressa numa placa de circuito impresso de
dupla face com espessura de 2mm e permissividade relativa 3.

Solução: Como se quer projetar uma linha de microfita, deve-se então verificar
qual é a equação mais apropriada para a sı́ntese, (4.52) ou (4.53). Neste caso, como
Zo > 44−2r = 38Ω, deve-se utilizar a primeira equação. Sendo assim, calculando-se
  
50 3 + 1 3 − 1 0, 121
A= + 0, 226 +  1, 312
60 2 3+1 3

e substituindo este valor na equação (4.52), obtém-se

w 8
= 1,312  2, 52
h e − 2 e−1,312
A largura da fita é então w = 2, 52 h = 5, 04mm.

4.5 Perdas numa L.T.


Na prática, as perdas, obtidas a partir do fator de atenuação α = Re[γ], são peque-
nas. A atenuação de uma L.T. é função da freqüência e das caracterı́sticas elétricas e
magnéticas dos materiais que a constitui. Em geral, os valores do fator de atenuação
são fornecidos em dB/m, utilizando-se a relação

αdB = −20 log e−α = 8, 686 α (4.56)


A Tabela 4.1 apresenta alguns valores tı́picos de fator de atenuação para cabos
coaxiais comerciais em três freqüências distintas.
CAPı́TULO 4. Linhas de Transmissão 74

Tabela 4.1: Impedância e atenuação para alguns cabos comerciais. Valores obtidos
do catálogo da Times Microwaves Systems.
Cabo Zo αdB (100MHz) αdB (400MHz) αdB (1GHz)
Coxial (Ω) dB/m dB/m dB/m
RG-6 75 0,089 0,184 0,308
RG-11 75 0,072 0,151 0,253
RG-59 75 0,108 0,226 0,374
RG-58 50 0,151 0,308 0,502
RG-213 50 0,066 0,141 0,24

Exemplo 4.3 Um cabo coaxial é utilizado para ligar uma antena parabólica de
impedância igual a 75Ω ao receptor de mesma impedância. A distância entre eles
é de 10m e a freqüência de operação 1GHz. Qual a melhor opção de cabo? Qual a
atenuação total no cabo?

Solução: Para manter o sistema casado, a melhor opção é utilizar cabos de impedância
caracterı́stica de mesmo valor dos dispositivos, como será estudado nas próximas
seções deste capı́tulo. Além disso, pela Tabela 4.1, o cabo com menor atenuação,
e impedância igual a 75Ω, é o RG-11. A atenuação total introduzida pelos 10m de
cabo é fornecida por

Acb = αdB l = 0, 253 × 10 = 2, 53 dB

4.6 Linhas com Terminação


A Figura 4.4 mostra uma linha de transmissão com impedância caracterı́stica Zo ,
terminada por uma impedância de carga ZL . A equação de uma L.T. fornece como
solução geral um par de ondas de tensão ou corrente, propagando-se ao longo da linha
em sentidos contrários. Identificando-se a onda que se propaga no sentido gerador-
carga como onda incidente V − (ou I − ) e no sentido inverso como onda refletida
V + (ou I + ), pode-se escrever para o plano z = 0,

V (0) = V − + V + = V1 + V2 (4.57)
onde V1 e V2 são fasores que estão relacionados um com o outro através do coeficiente
de reflexão de tensão
V2
ρv (0) = |ρv (0)| ejφv = (4.58)
V1
75 4.6. Linhas com Terminação

l
Zg V- , I -

V+ , I +
Zo ZL

z 0

Figura 4.4: Linha de transmissão terminada por uma impedância de carga.

portanto,

V (0) = V1 [1 + ρv (0)] (4.59)


Para um plano z qualquer tem

V (z) = V1 [1 + ρv (z)] (4.60)


sendo

V+
ρv (z) = = |ρv (0)| e jφv −2γ z (4.61)
V−
Da mesma forma pode-se obter

I(z) = I1 [1 + ρi (z)] (4.62)


sendo

I+ jφi −2γ z V+
ρi (z) = − = |ρi (0)| e = − − = −ρv (z) (4.63)
I V
A impedância de carga está relacionada com as ondas de tensão e corrente como
segue:
V (0) V1 [1 + ρv (0)] 1 + ρv (0)
ZL = = = Zo (4.64)
I(0) I1 [1 + ρi (0)] 1 − ρv (0)
logo,
ZL − Zo
ρv (0) = |ρv (0)| ejφv = (4.65)
ZL + Z o
CAPı́TULO 4. Linhas de Transmissão 76

4.6.1 Impedância Equivalente


A impedância, “vista” em direção à carga, num plano z qualquer da linha de trans-
missão, é fornecida por

V (z) 1 + ρv (z)
Zeq (z) = = Zo (4.66)
I(z) 1 − ρv (z)

onde

ρv (z) = ρv (0) e− 2γ z (4.67)


Portanto, substituindo (4.67) em (4.66) e levando-se em consideração (4.65), tem-se
ZL −Zo
1+ ZL +Zo
e− 2γ z ZL + Zo tgh γ z
Zeq (z) = Zo ZL −Zo
= Zo (4.68)
1− ZL +Zo
e− 2γ z Zo + ZL tgh γ z
Esta é a impedância equivalente à impedância de carga mais o trecho de linha com
comprimneto z. Se não existem perdas na linha, então α = 0, tgh γ z = j tg β z e
ZL + jZo tg β z
Zeq (z) = Zo (4.69)
Zo + jZL tg β z

4.6.2 Toco em Aberto


A impedância “vista” nos terminais de um trecho (ou toco) de linha com terminação
em aberto é obtida pela equação (4.68) fazendo-se ZL → ∞, ou seja,
Zo
ZT A = = Zo cotgh γ z (4.70)
tgh γ z
Para o caso sem perdas tem-se
Zo
ZT A = = −j Zo cotg β z (4.71)
j tg β z

4.6.3 Toco em Curto


A impedância “vista” nos terminais de um trecho (ou toco) de linha com terminação
em curto é obtida pela equação (4.68) fazendo-se ZL = 0, ou seja,

ZT C = Zo tgh γ z (4.72)
Para o caso sem perdas tem-se
77 4.7. Coeficientes de Reflexão para Zg Complexo

ZT C = j Zo tg β z (4.73)

4.7 Coeficientes de Reflexão para Zg Complexo


Na seção anterior, tanto a impedância do gerador quanto a impedância caracterı́stica
da linha foram consideradas reais. Entretanto, em alguns problemas de casamento
ou otimização de circuitos, estas impedâncias podem assumir valores complexos.
Nesta condição, as equações que fornecem os coeficientes de reflexão são definidas
em sua forma mais geral, como será visto a seguir.

Zg I+ Zg I+

I-
Vg V+ Z*g Vg V + +V - ZL

(a) (b)

Figura 4.5: Gerador com impedância complexa ligado a uma impedância: (a) Zg∗ ;
(b) ZL qualquer.

Considere uma impedância de carga ligada diretamente aos terminais de um


gerador de impedância complexa, como mostrado na Figura 4.5. Na condição de
casamento, situação onde ocorre a máxima transferência de energia, ZL = Zg∗ (o
asterisco denota complexo conjugado). Logo, não existe ondas refletidas e

Vg Vg
I = I+ = = ∗ (4.74)
ZL + Z g Zg + Zg
enquanto

+ +
Zg∗ Vg
V =V = ZL I = ∗ (4.75)
Zg + Zg
como apresentado na Figura 4.5a. Entrentanto, quando ZL = Zg∗ , estas ondas
refletidas estão presentes no circuito (vide Figura 4.5b) e o coeficiente de reflexão
de tensão, neste caso, é dado por
CAPı́TULO 4. Linhas de Transmissão 78

 
V− V ZL Vg Zg∗ + Zg Zg ZL − Zg∗
ρv = + = + − 1 = −1= ∗ (4.76)
V V ZL + Zg Zg∗ Vg Zg (ZL + Zg )

e o de corrente

I− I Vg Zg∗ + Zg Zg∗ − ZL
ρi = + = + − 1 = −1= (4.77)
I I ZL + Z g Vg ZL + Z g
ou

Zg∗
ρi = − ρv (4.78)
Zg
Note que, para Zg real, a equação (4.78) é idêntica à (4.63).

4.8 Coeficiente de Onda Estacionária


4.8.1 Coeficientes de Reflexão e Transmissão
Como foi visto anteriormente, os coeficientes de reflexão dependem do plano onde
se mede as correntes e tensões da linha. Os coeficientes de reflexão de tensão e cor-
rente, num plano z qualquer, são dados respectivamente por (4.67) e (4.63). Assim
como, no caso de ondas TEM planas incidindo normalmente sobre uma interface, os
coeficientes de transmissão no plano z = 0 são fornecidos por

2ZL
τv (0) = 1 + ρv (0) = (4.79)
ZL + Z o
e

2Zo
τi (0) = 1 + ρi (0) = (4.80)
ZL + Z o

4.8.2 Coeficiente de Onda de Tensão Estacionária


O coeficiente de onda de tensão estacionária, conhecido como VSWR (Voltage Stand-
ing Wave Ratio), é a razão entre a tensão máxima e a mı́nima medidas ao longo da
linha transmissão, isto é,

Vmax |V1 | + |V2 | 1 + |ρv |


VSWR = = = (4.81)
Vmin |V1 | − |V2 | 1 − |ρv |
79 4.9. Técnicas de Casamento de Impedância

Desta forma, medindo-se o VSWR da linha, pode-se obter o módulo do coeficiente


de reflexão de tensão através de
VSWR − 1
|ρv | = (4.82)
VSWR + 1
Como o módulo do coeficiente de reflexão varia entre 0 e 1, o VSWR tem valor
mı́nimo igual a 1 e máximo ∞.

Exemplo 4.4 Suponha agora, para o exemplo anterior, que você só tem disponı́vel
cabos de 50 Ω. Qual deve ser o VSWR nos terminais do receptor? Considere a
permissividade relativa do cabo igual a 4.

Solução: Considere a Figura 4.4 como referência, sendo ZL a impedância da antena


e Zg a impedância do receptor. Para se obter o VSWR nos terminais do receptor, é
necessário determinar a impedância equivalente do conjunto cabo-antena. Portanto,
desprezando-se as perdas, esta impedância pode ser calculada a partir de (4.69), ou
seja,
75 + j50 tg (10 β )
Zeq (10m) = 50 = 38, 7 − j14Ω
50 + j75 tg (10 β)

pois β = 2π r /λo = 4π/0, 3  42 rd/m. O coeficiente de reflexão nos terminais do
receptor é dado por
Zeq (10m) − Zg 38, 7 − j14 − 75
ρv (10m) = = = 0, 34 ∠ − 152◦
Zeq (10m) + Zg 38, 7 − j14 + 75
e o VSWR
1 + 0, 33
VSWR = 2
1 − 0, 33
Na prática, valores acima de 1,5 são considerados altos.

4.9 Técnicas de Casamento de Impedância


Foi visto nas seções anteriores que o coeficiente de reflexão numa L.T. depende de sua
impedância caracterı́stica e da impedância da carga. Só não existirá onda refletida na
linha quando ZL = Zo , caso contrário, o coeficiente de reflexão será diferente de zero.
Acontece que nem sempre se tem cabos ou linhas com impedância caracterı́stica
igual à impedância de carga, como foi visto no Exemplo 4.3. Imagine que o sistema
representado na Figura 4.4 fosse o circuito equivalente de um transmissor de TV,
com impedância de saı́da de 50Ω, ligado a uma antena dipolo de meio comprimento
CAPı́TULO 4. Linhas de Transmissão 80

de onda através de uma linha cuja impedância Zo = 50Ω. Neste situação, certamente
existirá onda refletida, uma vez que a impedância de um dipolo de λ/2 é complexa
e igual a 73 + j42Ω.
Nesta seção serão abordadas algumas técnicas que utilizam tocos em aberto ou
em curto posicionados em paralelo em determinados pontos (planos) da linha de
transmissão. A introdução destes tocos possibilitam a redução ou eliminação por
completo das ondas refletidas, devido a descasamentos de impedância entre linha-
carga e/ou gerador-linha.

4.10 Carta de Smith


Na sı́ntese de circuitos de casamento de impedância, muitas operações envolvendo
números complexos têm que ser efetuadas, uma vez que as impedâncias dos tocos
e trechos de linhas são em geral complexas. Antes do advento dos computadores
e calculadoras cientı́ficas, estes cálculos demandavam um certo tempo. Para min-
imizar este tempo de cálculo, Philip H. Smith introduziu, em 1939, um ábaco de
impedâncias e admitâncias que ficou conhecido posteriormente como Carta de Smith.
Atualmente todas as técnicas de casamento podem ser programadas em computa-
dores ou calculadoras programáveis. Entretanto, a Carta de Smith tem a vantagem
de mostrar de uma forma gráfica as impedâncias e o processo de casamento, sendo
até hoje utilizada para fins didáticos e em equipamentos de medição.
A Figura 4.12 mostra uma versão da Carta de Smith com indicação de impedâncias
e admitâncias em português. A Carta pode ser empregada para representar impedâncias
ou admitâncias normalizadas. Em geral, se utiliza a impedância (ou admitância)
caracterı́stica da linha de transmissão como referência para normalização. Sendo
assim, o centro da carta representa uma impedância (ou admitância) normalizada
igual a 1 e todos os pontos da circunferência, que passa pelo centro da Carta, rep-
resentam impedâncias (ou admitância) normalizadas cuja parte real é igual a um.
As circunferências de diâmetros menores representam impedâncias (ou admitância)
com parte real maior que 1 e, as de diâmetros maiores, as impedâncias com parte real
menor que 1. As impedâncias (ou admitância) sobre o eixo horizontal que passa pelo
centro da Carta têm valores puramente reais e podem variar de 0 (ponto extremo à
esquerda) a ∞ (ponto extremo à direita). Os pontos sobre as curvas, que na real-
idade são partes de circunferências cujos centros estão fora da Carta, representam
as impedâncias (ou admitância) com mesma parte imaginária. Os valores normal-
izados das reatâncias (susceptâncias) para cada curva estão identificados próximos
à borda da Carta. As curvas do semicı́rculo superior representam reatâncias induti-
vas (susceptâncias capacitivas), enquanto as do semicı́rculo inferior representam as
81 4.10. Carta de Smith

reatâncias capacitivas (susceptâncias indutivas). Na borda da Carta estão represen-


tados os valores puramente imaginários.

0,8 1
C 1,4
0,6

0,4 73,3 o

0,2
B
P1
VSWR=1.81

8
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,4
P2

P3
-0,2

-0,4

-0,6
-0,8 -1,4
-1

Figura 4.6: Circunferência de VSWR = 1, 81 e impedâncias normalizadas no plano:


z = 0 (P1), z = λ/8 (P2) e z = λ/4 (P3).

Tomando-se como exemplo o sistema mostrado na Figura 4.4, com os valores de


Zo = 50Ω e ZL = 50+j 30Ω, pode-se representar a impedância de carga normalizada
por
ZL
zL =
= 1, 0 + j 0, 6 (4.83)
Zo
indicada na Carta como ponto P1. Esta é também a representação da impedância
equivalente da linha, “vista” em direção à carga, no plano z = 0. Para outros
planos sobre a linha, pode-se verificar que os valores obtidos a partir de (4.69)
correspondem aos pontos de uma circunferência cujo centro coincide com o centro
da Carta. Esta circunferência é denominada de circunferência de VSWR constante.
À proporção que o plano de medição se afasta da carga, indo em direção ao gerador,
os pontos correspondentes às impedâncias medidas se afastam do ponto P1, no
sentido horário. Assim, um ponto de impedância, medido no plano z = λ/8, é
um ponto sobre a circunferência, com raio medido do centro da Carta até o ponto
CAPı́TULO 4. Linhas de Transmissão 82

P2, que está deslocado 90◦ no sentido horário do ponto P1. No plano z = λ/4,
o deslocamento é de 180◦ (meia volta na Carta) e em z = λ/2 tem-se uma volta
inteira sobre a circunferência (vide Figura 4.6). Se o deslocamento fosse no sentido
contrário, isto é, anti-horário, o plano de medição estaria sendo deslocado ao longo
da linha no sentido gerador-carga. Estes sentidos estão indicados na borda da Carta
(Figura 4.12).
Uma outra grandeza que se pode medir diretamente na Carta é o coeficiente de
onda estacionária. Ele é o resultado da interseção entre a circunferência de VSWR
constante e o eixo das impedâncias (ou admitância) puramente reais, medido entre
1 e ∞ (vide Figura 4.6). Para se obter o coeficiente de reflexão no plano z = 0, por
exemplo, traça-se uma reta partindo-se do centro da Carta e passando pelo ponto
P1 até atingir a borda. Denominando-se o trecho da reta que vai até o ponto P1 de
AB e o trecho do centro à borda de AC, pode-se obter o módulo do coeficiente de
reflexão fazendo

AB
|ρv (0)| = = 0, 287 (4.84)
AC
enquanto o ângulo é obtido diretamente da leitura na escala de ângulos localizada
na borda da Carta (veja escala na Figura 4.12), neste caso, φv = 73, 3◦ . Algumas
Cartas, como aquela da Figura 4.12, apresentam uma escala linear para obtenção
do módulo do coeficiente de reflexão, eliminando assim o cálculo em (4.84).

4.11 Casamento com Toco e Trecho de Linha


Os circuitos de casamento com um toco e trecho de linha podem ser de dois tipos:
toco e trecho, como mostrado na Figura 4.7a; trecho e toco, como mostrado na
Figura 4.7b. A escolha do circuito mais adequado depende da impedância de carga
e da impedância caracterı́stica da linha. A seguir são apresentados dois exemplos,
um para cada tipo de esquema toco-linha.

4.11.1 Trecho de linha e toco


Suponha que se quer casar um transmissor de impedância de saı́da igual a 50Ω
com uma carga ZL = 50 + j 30Ω, através de uma linha e toco com impedância
caracterı́stica Zo = 50Ω . A tarefa então é determinar os comprimentos do toco e do
trecho de linha, sendo que o primeiro passo consiste em normalizar a impedância de
carga pela impedância caracterı́stica da linha de transmissão. Este valor é fornecido
por (4.83).
83 4.11. Casamento com Toco e Trecho de Linha

l
t

Zg

Zo ZL

(a)

l t

Zg

Zo ZL

(b)

Figura 4.7: Casamento com um toco e trecho de linha: (a) toco em curto próximo
à carga; (b) toco em aberto próximo ao gerador.

Como o casamento será feito através de um toco em paralelo posicionado num


dado ponto da linha, é interessante se trabalhar com admitâncias normalizadas.
Portanto, o próximo passo é a conversão da impedância normalizada zL para ad-
mitância normalizada yL . Isso pode ser feito através da própria Carta de Smith
(vide Figura 4.8), partindo-se do ponto P1, caminhando-se sobre a circunferência de
VSWR constante até o ponto P2 , o que equivale a meia volta na Carta (l = λ/4).
Por quê? A justificativa matemática vem de (4.69) considerando-se o comprimento
z = λ/4, isto é,

Zo2
Zeq (λ/4) = (4.85)
ZL
ou

1
zeq = = yL (4.86)
zL
Uma vez obtido yL = 0, 735 − j 0, 441 (ponto P3), é necessário caminhar na cir-
cunferência de VSWR constante, no sentido horário (carga-gerador), para se obter
a parte real de yL igual a 1. Neste caso, por coincidência, o valor de admitância
CAPı́TULO 4. Linhas de Transmissão 84

normalizada é aquele fornecido por (4.83), ou seja, y3 = zL = 1 + j 0, 6 (ponto P1).


O comprimento do trecho de linha percorrido é de λ/4. Sendo assim, para casar
o circuito, resta apenas introduzir um toco em aberto ou em curto neste ponto da
linha, de forma a eliminar a susceptância normalizada de valor igual a 0,6.

y4 = y3 + yT = 1 (4.87)
onde yT = −j 0, 6. O toco que oferece esta susceptância com o menor comprimento
deve ter uma das suas terminações em curto. O comprimento normalizado deste
toco é indicado na Carta da Figura 4.8.

0,8 1 1,4
0,6

0,4

0,2
P1

8
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,4

P2
-0,2

-0,4

-0,6
-0,8 -1,4
-1 l T = 0,164 λ

Figura 4.8: Casamento utilizando-se um trecho de linha e toco. O ponto P1 repre-


senta zL e y3 , enquanto P2 indica yL .

4.11.2 Toco e trecho de linha


Considerando-se agora a mesma carga acoplada, através de uma linha de 50Ω, a um
gerador de 125Ω, tem-se como impedância equivalente normalizada, necessária para
casar o sistema, zeq = 2, 5. Conseqüentemente, a admitância normalizada que se
deve obter nos terminais do gerador é igual a 0,4. Observe na Carta (Figura 4.9) que
85 4.11. Casamento com Toco e Trecho de Linha

a circunferência de VSWR = 1,81 não tem ponto de interseção com a circunferência


de 0,4, sendo assim, não é possivel casar o sistema com o circuito trecho-toco (Figura
4.7b). É necessário primeiro aumentar o VSWR na linha através da introdução de
um toco no plano z = 0 e, em seguida, determinar o trecho de linha necessário para
casar o circuito. Neste caso, o VSWR tem que ser maior ou igual a 2,5. Traçando-se,
por exemplo, uma circunferência de VSWR = 2,5, observa-se que a interseção ocorre
no ponto 0,4 da Carta. Para atingir este valor de coeficiente de onda estacionária de
linha é necessário a introdução de um toco cuja susceptância normalizada tem valor
igual a − 0, 325. Dessa forma, a admitância da carga fica com valor normalizado
igual a 0, 735 − j 0, 766 (ponto P3). O menor comprimento de toco é obtido com
um toco em curto, pois a susceptância é negativa. O valor lT = 0, 2λ é indicado
na Carta da Figura 4.9. Finalmente, para se obter o casamento, parte-se do ponto
P3 e caminha-se na circunferência de VSWR = 2,5 no sentido horário até atingir o
ponto P4. Isso equivale a um trecho de linha l = 0, 132λ.

0,8 1 1,4
0,6

0,4

0,2
P1
VSWR=2.5
VSWR=1.81
P4
8

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,4

P2
-0,2
P3

-0,4

l=0,132λ
-0,6
-0,8 -1,4
-1

lT =0,2λ

Figura 4.9: Casamento utilizando-se um toco lT e um trecho de linha l. Os pontos


P1, P2, P3 e P4 representam respectivamente zL = 1 + j 0, 6, yL = 0, 735 − j 0, 441,
y3 = 0, 735 − j 0, 766 e y4 = 0, 4.
CAPı́TULO 4. Linhas de Transmissão 86

4.12 Casamento com Dois Tocos e Trechos de Linha


O casamento de impedância de um sistema composto de linhas de transmissão pode
também ser feito fixando o comprimento de um ou mais trechos de linha e variando-
se o comprimento de dois tocos posicionados em pontos distintos da L.T.. A Figura
4.10a mostra um circuito de casamento deste tipo.

Zg

A B
Zo Zo ZL

l1 l2

(a)

t2l t3l

Zg

Zo Zo ZL

l1 l2

(b)

Figura 4.10: Circuito de casamento com: (a) dois tocos; (b) três tocos.

Tomando-se mais uma vez como exemplo uma carga com ZL = 50+j 30Ω, ligada
a um gerador 50Ω, através de uma L.T. de Zo = 50Ω, e considerando que o compri-
mento elétrico total do sistema de casamento tem que ser igual a 135◦ , pergunta-se:
qual deve ser os comprimentos dos tocos e trechos de linha para casar o sistema?
O primeiro passo é normalizar a impedância de carga em função da impedância
caracterı́stica e, em seguida, encontrar a admitância normalizada, completando-se
meia volta na Carta de Smith a partir do ponto referente a zL (Figura 4.11). Como
é exigido um comprimento elétrico θ = 3π/4, então o comprimento total da linha
tem que ser

θ 3λ
l = l1 + l2 = λ= (4.88)
2π 8
87 4.13. Casamento com Três Tocos e Trechos de Linha

Escolhendo-se, por exemplo, l1 = λ/8 e l2 = λ/4, tem-se no plano z = l2 (plano B


na Figura 4.10a) a admitância normalizada igual à impedância zL (Ponto P1), uma
vez que se caminhou λ/4 na linha de transmissão em direção ao gerador. O obje-
tivo é chegar aos terminais do gerador (plano A na Figura 4.10a) com impedância
equivalente igual à impedância de saı́da deste, no caso 50Ω (zg = 1). Observe que a
admitância normalizada no plano A, antes da introdução do toco 1, tem que ter parte
real igual a 1, uma vez que o toco 1 só eliminará a parte imaginária desta admitância.
Isso equivale a dizer que a admitância no plano A, antes da introdução do toco 1,
pode ser qualquer ponto sobre a circunferência que passa pelo ponto de admitância
normalizada igual a 1. Esta condição pode ser levada para o plano B, bastando para
isso girar a circunferência de 90◦ no sentido anti-horário, como mostrado na Figura
4.11. O giro, neste caso, é de 90◦ no sentido anti-horário porque se caminhou sobre
um trecho de linha de λ/8 em direção à carga. Através do toco 2, pode-se deslocar
a admitância normalizada do ponto P1 para o ponto P3 ou P4, alterando-se apenas
a parte imaginária desta admitância. Tomando-se como exemplo o deslocamento
para o ponto P3, verifica-se que o valor da susceptância normalizada necessária é de
+1,4. Sendo assim, é interessante se utilizar um toco em aberto com comprimento
lt2 = 0, 152λ. A admitância equivalente normalizada no plano A, sem a introdução
do toco 1, é obtida girando-se 1/4 de volta (90◦ ) no sentido horário, isto equivale ao
ponto P5. Finalmente, o casamento é alcançado introduzindo-se o toco 1 em aberto
com comprimento lt1 = 0, 176λ, cuja a susceptância normalizada é +2.
Observe que, se fosse escolhido o ponto P4, não haveria necessidade de um se-
gundo toco no plano A, pois o sistema já estaria casado apenas com o trecho de
linha l2 e toco 2.

4.13 Casamento com Três Tocos e Trechos de Linha

Se no exemplo anterior a impedância normalizada da carga tivesse parte real maior


que 2, o ponto marcado na Carta estaria dentro da circunferência de parte real igual
a 2. Isto significa dizer que a introdução de um toco no plano B nunca levaria
a admitância à circunferência de casamento (a 90◦ ) indicada na Carta. Portanto,
torna-se necessário a introdução de um terceiro toco no plano z = 0, como mostrado
na Figura 4.10b, de forma a alterar a admitância da carga. Tente, por exemplo,
determinar os comprimentos dos tocos para uma impedância de carga ZL = 150 +
j 50Ω. Considere os mesmos comprimentos de linha l1 = λ/8 e l2 = λ/4 e impedância
caracterı́stica Zo = 50Ω.
CAPı́TULO 4. Linhas de Transmissão 88

lT1 =0,176 λ 0,8 1 1,4


0,6

0,4

P3

0,2
P1
l T2 =0,152 λ

P4

8
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,4

P2
-0,2

P5

-0,4

-0,6
possíveis valores de admitância -0,8 -1,4 possíveis valores de admitância
-1
no plano B antes da introdução no plano A antes da introdução
do toco 2 do toco 1

Figura 4.11: Casamento com dois tocos e trechos de linha l1 = λ/8 e l2 = λ/4, onde
P1, P2, P3, P4 e P5 são respectivamente zL = y1 = 1 + j0, 6, y2 = 0, 73 − j 0, 44,
y3 = 1 + j2, y4 = 1 e y5 = 1 − j2.

4.14 Casamento com Transformador


Nas seções anteriores foram abordadas técnicas de casamento de impedância onde o
casamento entre um gerador e uma impedância de carga é alcançado ajustando-se
os comprimentos de tocos e trechos de linha. Em alguns casos, o casamento pode ser
obtido fixando o comprimento do trecho e variando-se a impedância caracterı́stica.
Um exemplo muito comum deste tipo de técnica é o transformador de λ/4. Esse
transformador é na realidade um trecho de linha de comprimento l = λ/4 onde a
impedância equivalente no plano z = l é dada por (4.85). Sendo assim, a impedância
caracterı́stica é obtida de

Zo = ZL Zeq (4.89)
Note que os valores da impedância do gerador e da carga têm que ser reais para que
a impedância caracterı́stica também seja.

Exemplo 4.5 Utilize a placa de circuito impresso do Exemplo 4.2 para confeccionar
uma linha de microfita que atue como um transformador de λ/4. O transformador
89 4.14. Casamento com Transformador

deve ser usado para casar a impedância de uma antena de 300 Ω com a equivalente
de 50 Ω do conjunto cabo-receptor que opera em 200MHz.

Solução: A impedância da linha deve ser, neste caso,



Zo = 300 × 50 = 122, 5 Ω

e sua largura,
 
8
w h = 0, 39 × 2 mm = 0, 785 mm
e − 2 e−3A
A

pois   
50 3+1 3−1 0, 11
A= + 0, 23 +  3, 02
122, 5 2 3+1 3
O comprimento da linha de microfita é dado por
λo 1, 5
l= √ = √ = 241mm
4 ef 4 2, 43

sendo ef obtido pela equação (4.49), ou seja,

ef = 2 + (1 + 12 × 0, 39)−1/2 + 0, 04 × (1 − 0, 39)2  2, 43


CAPı́TULO 4. Linhas de Transmissão 90

0.12 0.13
0.11 0.14
0.38 0.37 0.15
0.1 0.39 0.36
90
0.4 100 80 0.35 0.1
9
0.0 6

45
50
1 110 40 70 0.3

1.0
0.4 4

0.9

1.2
0.1

55
8

0.8
0.0 35
7

1.4
2 0.3

0.7
0.4 0 60 3
12

0.6 60

1.6
0.1
0 .07 o) 30 8
/Y 0.3
3 +jB
0.4 A(

1.8
0.2 2
0 65 TIV 50
13 ACI

2.0
0.5 P
06

0.
CA 25

19
0.

A
CI
44

0.
31
0.

N
TA
70

EP 0.4
SC
0

40
14

4
5

0.

0.2
0.0

SU
5

20

0.3
U
0.4

,O

3.0
o)
75

/Z

0.6
jX
(+
4

0.2
0.0

VA

0.3
0
6

0.2

1
30
15
0.4
—>

9
TI

0.8 15
DU
OR

4.0
80

IN
AD

IA
GER

1.0

0.22
NC
0.47

0.28
5.0
TA

1.0
AO

0.2
60

20
85

REA
1
AO

0.
8 10
REC

0.23
ANG
0.48

0.27
M DI

ANG
90

0.6

ULO
NDA E

ULO D
10
170

DO CO
0.1
0.4
—> COMP. DE O

0.24
O
0.49

0.26
COEFICIENTE DE REFLEXAO
EFICIENTE DE TRANSMISSAO E
20
0.2
50
0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

1.2

1.4

1.6

1.8

2.0

3.0

4.0

5.0

10

20

50

0.25

0.25
180
0.0

RGA<—0.0

50
RESISTENCIA (R/Zo) OU CONDUTANCIA (G/Yo)
0.2
AO A CA

20

0.2
0.49

0.26
4
0.4
-170

E
0.1

M
DIREC

M GR
10

GRAU
0.6
-90
A EM

AUS

0.23
0.48

0.27
S
OND

8
0. -10
)
/Yo
-160
-85

-20
. DE

0.2
1.0
(-jB

5.0

0.22
MP
0.47

0.28
A

1.0
TIV
CO

DU
<—

-80

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IN

0.8 -15
4

0.2
IA
0

-30
0.0

0.3
-15
6

0.2
NC

1
0.4

9
TA

0.6
EP
-75

3.0
SC
U
.05

-20

0.2
S
U
0
5

0.3
4
O
0.4

0.
40

-4

),
-1

Zo 0.4
X/
-70

(-j
06

0.

VA
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0.

TI -25
44

0.

CI
0.5

31
0.

PA
2.0

-5
30 CA 0
-6 5

-1 A
7 CI 0.2 0.1
1.8

0.0 AN 8
AT
0.6

RE 0.3
3
0.4 -30 2
1.6
-60

0 -60 0.1
8 -12
0.7

0.0 7
1.4

2 -35 0.3
0.8

0.4 3
1.2
-55

0.9

0.1
1.0

9 -70
0.0 -110 -4
0 6
0
-5

0.3
-4

1
0.4 0.1 -100 -80 0.15 4
-90
0.11 0.14 0.35
0.4 0.12 0.13
0.39 0.36
0.38 0.37
P) B] .
P ST. . [d .W
N FL S S

PARAMETROS MEDIDOS RADIALMENTE


N (C E R DA ]
RA W. S D ER dB
. T S. A . P . [
PE

EF CO RD EF EN

EM DIRECAO A CARGA —> <— EM DIRECAO AO GERADOR


RD

SW d . [d FL , E o

O T

100 40 20 10 5 4 3 2.5 2 1.8 1.6 1.4 1.2 1.1 1 15 10 7 5 4 3 2 1


A CO EF.

PI PE C A
R BS B] ., P r I
S
RT EF RF

SM O

40 30 20 15 10 8 6 5 4 3 2 1 1 1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.6 1.8 2 3 4 5 10 20


N . R L.
C

.,
O

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 12 14 20 30 0 0.1 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.5 2 3 4 5 6 10 15


I
or
E

1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0.05 0.01 0 0 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 2 2.5 3 4 5 10
.,
SM
O

1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 1 0.99 0.95 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0
N
C

RA
.T

CENTRO
EF
O

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 2
C

ORIGEM

Figura 4.12: Carta de Smith.

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