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PROBLEMAS TÍPICOS DE CONDUTOS FORÇADOS

Nesse tópico pretende-se discutir e aplicar os conteúdos do estudo do escoamento em condutos


sob pressão na solução de sistemas de condutos forçados. Definem-se sistemas de condutos forçados
como sendo a união de vários elementos de canalizações (trechos de condutos e singularidades) com a
função de, captando água (ou outro fluido) em um ou vários pontos, transportá-la também para um ou
mais pontos.

Inicialmente, desenvolver-se-á a solução de sistemas básicos simplificados, para posterior


generalização em sistemas um pouco mais complexos. O processo de solução dos sistemas
simplificados é feito através da escolha de seções convenientes, nelas aplicando a equação de energia e
expressando a perda de carga distribuída no trecho em função da fórmula universal, e para a perda
localizada pelo método dos coeficientes KS. A generalização da solução será feita desdobrando o
sistema complexo em seções simples.

Os sistemas básicos propostos são compostos por duas classes aqui consideradas:
a) Sistema único: aquele que contêm um único conduto, ao longo do qual se podem inserir
vários elementos (singularidades);
b) Sistema múltiplo: aquele que contêm múltiplos condutos, os quais poderão se dispor em
série ou em paralelo.

5.1. Sistema Único

A natureza do processo de resolução do escoamento num conduto único depende fortemente


dos parâmetros que são considerados como independentes (dados do problema) e daqueles que são
dependentes (valores a determinar).

Supondo que o sistema de condutos é definido em termos do comprimento dos trechos de


canalização, das singularidades que nele se encontram inseridas e das características do fluido em
transporte de um ponto a outro, os tipos de problemas a resolver acabam recaindo em um dos dez tipos
de problemas apresentados no capítulo 3. Para fixar idéias, vamos abordar quatro configurações
típicas:

a) Conduto único descarregando na atmosfera e alimentado por reservatório;


b) Conduto único ligando dois reservatórios de nível constante;
c) Derivação (sangria) em conduto único;
d) Reservatório de compensação.

a) Conduto único descarregando na atmosfera e alimentado por reservatório

Esta configuração típica, a mais simples de todas, é representada na figura 5.1 Para esta
configuração procura-se estabelecer a vazão no conduto. Para realizar tal cálculo é necessário, a priori,
o conhecimento das seguintes variáveis: as cotas da superfície livre do reservatório e da extremidade
do conduto (zA e zB), o diâmetro do conduto (D) e do jato de saída (D Jato), a rugosidade equivalente
(ε), o comprimento do conduto (L), o somatório dos coeficientes de perda de carga das singularidades
do sistema ( ΣK S ) e o coeficiente de viscosidade cinemática (ν) ou a temperatura do líquido (Θ), caso
seja conhecida uma lei que correlacione esta última com a viscosidade.
26/3/2008 Hidráulica - Problemas típicos de condutos forçados 5.2
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“Ladrão” ZA
Pressão atmosférica
ΣKS
Θ ou ν

D D JATO

(D,ε)

ZB

Figura 5.1 Reservatório simples com saída livre.


A equação da energia aplicada entre A e B fornece
2 2
V jato V jato
f .l .V 2 V2
zA + 0 + 0 = zB + 0 + + hp AB ou zA = zB + + + ∑ ks (5.1)
2g 2g 2gD 2g

onde V é velocidade no conduto e V jato é velocidade na saída do mesmo.

Considerando a relação de áreas entre o jato e o conduto como sendo expressa pela variável C,
tem-se, pela equação da continuidade aplicada entre os dois, a seguinte expressão:
A conduto
V.A conduto = Vjato .A jato ou Vjato = .V ou ainda V jato = C.V
A jato
Substituindo a equação da continuidade na equação de Bernoulli e isolando-se a velocidade
resulta em:

 2 fl 
V= [2g(z A − z B )] C + + ∑ ks  (5.2)
 D 
Na equação (5.2), a velocidade e o fator de perda de carga são as incógnitas do problema, pois f
é uma função da velocidade como mostra a equação de Colebrook-White:
−2
1  ε 2.51 ν 
f = log + 
 (5.3)
4   3.706D VD f 

O sistema de equações formado pela equação (5.2) e pela equação de Colebrook-White (5.3),
permite a determinação da velocidade média e o cálculo da vazão. Há inúmeros processos iterativos
para a solução. O processo mais rápido nos parece ser o seguinte:
i) Determina-se um limite superior para a perda de carga unitária, desprezando-se o termo de
taquicarga na equação da energia (equação 5.1), de onde
J <(z A − z B ) l (5.4)
ii) Com as grandezas Θ ou ν , D, ε , J é possível calcular um limite superior para a velocidade
média (Vs) pois recai-se num problema do tipo 7 (ver Capítulo 3).
iii) Escolhe-se um limite inferior razoável para a velocidade média, igual a (Vi).
iv) Ajusta-se, para Vi ≤ V ≤ Vs , uma expressão do tipo:

f = aV b (5.5)
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onde a e b são constantes a serem determinadas.
v) Substitui-se a expressão (5.5) na expressão (5.2), obtém-se a seguinte equação de
recorrência:
2g (z A − z B )
Vn +1 = (5.6)
L
C 2 + ∑ k s + a Vnb
D
( )
vi) Inicia-se o processo iterativo de resolução da expressão (5.6) fazendo Vo=Vs (velocidade
estimada no início do processo iterativo), até que o erro relativo nas velocidades seja
inferior a um valor preestabelecido:
Vn +1 − Vn
εv = (5.7)
Vn
vii) Determinada a velocidade média do escoamento (V), verifica-se se Vi ≤ V ≤ Vs e calcula-se
Q
viii) Verifica-se a equação da energia calculando-se hp através das grandezas agora conhecidas:
Θ , D, L e Q (problema do tipo 5).

b) Conduto único ligando dois reservatórios de nível constante

A única diferença de abordagem desse caso para o caso anterior ocorre na equação de energia,
a qual não contêm o termo isolado de taquicarga, ficando a energia na saída da canalização
praticamente perdida, caso não seja colocado, neste ponto, um difusor que a recupere parcial ou
totalmente.

A figura 5.2 representa o caso de dois reservatórios interligados por um único conduto simples.
O movimento da água é provocado pela diferença de nível entre duas superfícies e não mais pela
diferença de nível entre o reservatório superior e a saída do conduto. Note-se que, na equação (5.8), na
parcela do somatório de coeficientes de perda de carga singulares, deverá ser introduzida a perda de
carga na saída da canalização (ou na entrada do reservatório inferior).
ZA

ZB

Figura 5.2 Dois reservatórios interligados por um conduto simples.


2g(z A − z B )
Vn +1 = (5.8)
L
∑ k s + a Vnb
D
( )
A vazão que escoará entre os reservatórios será obtida pelo produto entre a velocidade final (obtida no
momento em que a relação 5.7 for satisfeita) e a área da canalização, sendo dada pela equação da
continuidade.
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c) Derivação (sangria) em conduto único

Considere-se uma derivação feita em conduto único, descarregando na atmosfera, contendo


singularidades e alimentada por um reservatório de nível constante. Suponhamos que a derivação da
vazão q é feita numa seção C situada a x metros do extremo de montante do conduto único. Os dados
conhecidos são: zA , zB , Θ ou ν ,D, ε , LAB x .
zA

x
C
A zB
q

L
AB

Figura 5.3 Esquema de reservatório com sangria.

Quando a vazão derivada for nula, as vazões nos trechos AC e BC são iguais e o problema se
resolve como no caso (b), sendo a velocidade estimada pela equação (5.8) e a vazão estimada pela
equação da continuidade.

Quando a vazão derivada não for nula, a vazão no trecho de montante aumenta e no de jusante
diminui, não sendo possível estabelecer uma relação direta entre o problema anterior e este problema,
pois geralmente as seguintes inequações é que estão presentes QAC≠Q+q/2 e QBC≠Q−q/2 , exceto para
um determinado valor de x , sendo Q a vazão que circula no conduto AB sem derivação.

As vazões QBC e QAC podem ser calculadas pelas seguintes expressões aproximadas:

Q BC = Q − q
x (5.9)
L

e
Q AC = Q BC + q (5.10)

onde Q é obtido através de (5.8) e da equação da continuidade.

Após o cálculo de QAC e QBC verifica-se se a perda iguala-se a ∆z , testando-se a equação da


energia, reaproximando-se posteriormente o cálculo.

d) Reservatório de compensação

O reservatório de compensação é, em muitos casos, empregado na distribuição de água das


cidades para diminuir o diâmetro empregado nas canalizações. Uma rede é alimentada por dois
reservatórios: um reservatório principal, de cota mais elevada e outro secundário, de cota inferior,
interligado ao primeiro por um conduto ACB (Figura 5.4). No ponto C faz-se uma derivação para a
rede que será suprida com uma vazão Q nesse ponto. Para atender mais rapidamente à demanda,
interliga-se, neste ponto através de um conduto mais curto, um reservatório de menor capacidade,
denominado reservatório de compensação.
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ZA
ZB
ZD

A
D B
L AC
L CB

Q
C
A

1
B
2

C
Q
Figura 5.4 Esquema do funcionamento de dois reservatórios mais um de compensação.

Ao longo do dia, durante o funcionamento normal da rede de distribuição de água, nas horas de
maior demanda (maiores Q), o reservatório de compensação, por estar mais próximo a ponto de
consumo, satisfará esta demanda sem que haja necessidade de aumentar os diâmetros de AC ou BC.

As situações possíveis de funcionamento do sistema dependerão da vazão Q necessária ao


sistema e da relação entre a linha de energia e o nível do reservatório, sendo descritas como segue:

a) Quando a demanda Q (na derivação) é nula e o reservatório de compensação está cheio, o


reservatório superior alimenta o inferior, sem interferência do reservatório de compensação. Esta
situação é representada (figura 5.4) pela linha de energia A1B, sendo que, para ela existir, as
pressões na linha que liga o reservatório de compensação e a da linha principal deverão ser
exatamente as mesmas no ponto de encontro C. Assim, ou o nível do reservatório está no mesmo
nível da linha de energia no ponto C, ou o nível do reservatório de compensação é menor do que o
nível da linha de energia no ponto C (ZD < HC) e o mesmo está cheio;

b) Quando a demanda Q for diferente de zero ou o reservatório de compensação não estiver cheio, a
vazão entre o reservatório de compensação e a linha principal será diferente de zero, passando a
linha de energia a ter uma a forma quebrada, neste caso poderemos ter três situações distintas:

i) nível do reservatório de compensação menor do que o nível da linha de energia no ponto C


(ZD < HC)
ii) nível do reservatório de compensação igual ao nível da linha de energia no ponto
C (ZD = HC) e
iii) nível do reservatório de compensação maior do que o nível da linha de energia no ponto C
(ZD > HC).
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Nestes três casos tem-se, (situação i) o reservatório de compensação sendo alimentado pelo
sistema, (situação ii): caso indiferente, não há movimento de líquido entre o sistema e reservatório de
compensação e (situação iii): reservatório de compensação alimentando o sistema. Estas três situações
devem ser consideradas independentemente da posição absoluta da linha de energia no ponto C, pois a
posição relativa entre a linha de energia no ponto C e reservatório inferior dirá apenas se este último
está ou não sendo abastecido pelo reservatório superior, havendo mais três situações possíveis:

iv) carga total em C maior do que o nível do reservatório inferior (linhas A1B);
v) carga total em C igual ao do reservatório inferior (linha A2B) e
vi) carga total em C menor do que o nível do reservatório inferior (linha A3B).

Na situação (iv) o reservatório superior estará alimentando tanto o reservatório inferior como
satisfazendo parte da necessidade da demanda, já na situação (v) não haverá escoamento entre o ponto
C e o reservatório inferior enquanto na situação (vi) tanto o reservatório superior como o inferior
alimentará o ponto C. Deve-se combinar as situações (i) (ii) e (iii) com as situações (iv), (v) e (vi) para
se resolver o problema. Pode-se resumir a combinação destes casos na tabela 5.1:

Caso i ii iii
QCD<0 QCD=0 QCD>0
iv QBC<0 QBC<0 QBC<0
Q=QAC-QCD-QBC Q=QAC-QBC Q=QAC+QCD-QBC
QCD<0 QCD=0 QCD>0
v QBC=0 QBC=0 QBC=0
Q=QAC-QCD Q=QAC Q=QAC+QCD
QCD<0 QCD=0 QCD>0
vi QBC>0 QBC>0 QBC>0
Q=QAC-QCD+QBC Q=QAC+QBC Q=QAC+QCD+QBC
Tabela 5.1 Combinações de vazões no caso de reservatório de compensação.

O problema mostra que o resultado da combinação de sistemas simples vai aumentando de


complexidade exponencialmente com o número de componentes que se introduz no sistema, pois as
combinações não são excludentes entre si, fazendo com que o cálculo de sistemas complexos deva ser,
necessariamente, feito com cálculo automatizado.

5.2. Sistema Múltiplo

Os mecanismos que governam o escoamento em sistemas de condutos múltiplos são os


mesmos mecanismos envolvidos no cálculo de condutos únicos, apenas, devido ao número de
incógnitas, a solução dos problemas é um pouco mais complexa. O sistema de condutos múltiplos mais
simples é dado pelos condutos em série, em seguida aparecem os condutos em paralelo e a interligação
de condutos.

5.2.1. Condutos em série ou mistos

Diz-se que um conduto é misto, quando o mesmo é formado por diversos trechos de condutos
que diferem pelo diâmetro, pela rugosidade equivalente ou por ambos (figura 5.5). O extremo de
jusante de um trecho é conectado ao extremo de montante do trecho seguinte, de modo que a vazão é
constante em cada trecho e, logicamente, no conduto misto, pode-se escrever:
Q = Qi (5.11)

sendo Q a vazão no conduto e Qi a vazão num trecho qualquer.


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A perda de carga no conduto misto é igual à soma das perdas de carga de cada trecho, o que se
traduz na expressão:
n
hp = ∑ hp i (5.12)
i =1

sendo hp a perda de carga no conduto misto, hpi a perda de carga em um trecho i qualquer do conduto
e n o número de trechos do conduto em série. Cada trecho do conduto misto pode comportar
singularidades, cujas perdas de carga são incluídas no cálculo de hpi.

A figura 5.5 mostra um exemplo de conduto misto com três diâmetros diferentes e as posições
das linhas de energia e piezométrica, bem como as perdas localizadas nas mudanças de diâmetro
J1,2.L1,2
J2,3.L2,3 J3,4.L3,4
Linha de energia

Linha piezométrica
hp1

(D2,ε2) (D3,ε3)
(D1,ε1)

Q1 Q2 Q3 Figura
5.5 Conduto em série.

Um problema típico desse caso é um conduto misto alimentado por reservatório de nível
constante e descarregando na atmosfera (figura 5. 6), cuja abordagem permitirá entender a solução de
problemas mais complexos de sistemas de condutos em série. A solução deste problema pode ser
descrita como segue:
2
V1,2
ZA 2g
hp 1,2 =J1,2 .L1,2
hp 2,3 =J2,3 .L2,3

hp
S2 hp 3,4 =J3,4 .L3,4
hp
S3
1 2 hp
V 2,3 S4
2g
2 2
V3,4 V jato
2 2g 2g
z jato

3 4 jato

Figura 5.6 Exemplo de reservatório com conduto misto descarregando ao ar livre.


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Aplica-se a equação de energia entre o reservatório e o extremo do conduto, incluindo-se todas


as perdas de carga lineares e as singularidades. Tomando como exemplo o esquema da figura 5.6, tem-
se:
H A = H jato + hp S1 + hp1, 2 + hp S2 + hp 2,3 + hp S3 + hp 3, 4 + hp S4

onde HA é a energia no ponto A, superfície livre do reservatório, e Hjato é a energia no jato, as quais
podem ser descritas por,
2
Vjato
H A = ZA e H jato = + Z jato
2.g

que substituídas na equação anterior resulta em,


2
Vjato
ZA = + Z jato + hp S1 + hp1, 2 + hp S2 + hp 2,3 + hp S3 + hp 3, 4 + hp S4 (5.13)
2.g

Sendo as perdas de carga expressas pelas leis de perda distribuída e localizada como segue:
f i .L i Vi2 Vi2
hp i = J i .L i = e hp Si = k Si (5.14)
D i 2.g 2.g

e, para a expressão do coeficiente de perda de carga de cada trecho (fi) supõe-se uma lei quadrática
(escoamento turbulento rugoso) do tipo:
−2
1   εi 
f i = log  (5.15)
4   3,7.D i 

Substituindo-se as expressões (5.15) em (5.14) e o resultado dessa substituição em (5.13), se


obtêm uma equação que permite o cálculo da velocidade média inicial.
2
Vjato 3
f i .L i Vi2 3
V2
Z A − Z jato = +∑ + ∑ k Si i (5.16)
2.g i =1 D i 2.g i =1 2.g

Fazendo-se ZA-Zjato=h, a equação (5.16) transforma-se em


2
Vjato 3
f i .L i Vi2 3
V2
h= +∑ + ∑ k Si i (5.17)
2.g i =1 D i 2.g i =1 2.g

Da equação da continuidade tem-se


Vi = (Vjato .A jato ) A i (5.18)

que substituída em (5.17) permite expressa-la em função da velocidade do jato Vjato, ou seja,
2 2 2
Vjatof .L 1  Vjato .A jato
3
 3
1  Vjato .A jato 
h= +∑ i i   + ∑ k Si  
2.g i =1 D i 2.g  Ai  i =1 2.g  Ai 
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Colocando-se em evidência a velocidade do jato (V jato):


2
Vjato  3
f .L  A jato 
2
3
A 
2

h= 1 + ∑ i i   + ∑ k Si  jato  
2.g  i =1 D i  Ai  i =1  A i  

ou, em termos de diâmetros:


2
Vjato  3
f .L  D jato 
4
3
D 
4

h= 1 + ∑ i i   + ∑ k Si  jato  
2.g  i =1 D i  Di   Di  
 i =1

o que permite, diretamente, a obtenção da velocidade do jato, ou seja:


1/ 2
 
 
 2.g.h 
Vjato = 4 4 
(5.19)
1 + f i .L i
3
 D jato  3
D 
∑   + ∑ k Si  jato  
 i =1 D i  Di   D i  
 i =1

Obtido o valor de Vjato, com a equação (5.18) determinam-se os valores das velocidades em
cada trecho (Vi). Com estes valores e com a equação de Colebrook-White (5.3), determinam-se as
perdas reais em cada trecho do conduto misto, que somadas conduzem a:
2
Vjato
h' = + ∑ perdas distribuidas + ∑ perdas localizadas
2.g

A não ser que o regime seja turbulento rugoso em todos os trechos, h’ diferirá de h, havendo
um erro relativo igual a:
h '−h
εh =
h

Se o erro relativo ficar abaixo de um valor preestabelecido, pára-se o cálculo. Em caso


contrário, com a velocidade média calculada anteriormente e empregando a expressão de Colebrook-
White, recalculam-se os fatores de resistência e se repete o processo anterior até que o erro relativo
fique abaixo de um valor admissível.
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5.2.2. Condutos em Paralelo

Um sistema de condutos em paralelo é formado por dois ou mais que partem de um nó comum,
seguindo com diâmetros, rugosidades e comprimentos diferentes até outro nó comum (figura 5.7). A
figura mostra um conjunto de condutos que partindo de um ponto A se reúnem novamente no ponto B.
A carga no ponto de partida é HA e no ponto de chegada é HB, resultando numa perda de energia única
para todos os condutos, esta perda entre os nós é igual a hpAB. Cada trecho terá sua linha de energia
obrigatoriamente iniciando no ponto a e terminando no ponto b e energias HA e HB, respectivamente.

a
P lano horizontal
P lano d e carga inicial
HA
Q hp AB
1 b
A 2
HB
3 B
Q
P lano de referencia

Figura 5.7 Esquema de condutos em paralelo

Em função da configuração do sistema, a vazão total é resultante da soma da vazão de cada


conduto em paralelo e esta soma será igual à vazão de montante que alimenta o nó no ponto A, o
mesmo ocorre com a vazão de jusante do ponto B, isto é:
n
Q = ∑ Qi (5.20)
i =1
onde n é o número de trechos de condutos em paralelo.

Também, em função da configuração dos condutos em paralelo, depreende-se que a


distribuição de vazões entre os trechos deverá ser de tal que conduza a perdas de carga iguais entre as
canalizações em paralelo (figura 5.7), pois a perda hpAB é única. Desconsiderando-se as perdas de
carga singulares nos nós, pode-se escrever:
hp = hp i (5.21)

Em resumo, as perdas de carga em trechos em paralelo são iguais entre si e a vazão é resultante
da soma das vazões em cada trecho da canalização.

Dois tipos de problemas surgem no cálculo de condutos em paralelo, são eles:

O cálculo da distribuição de vazões entre os diversos trechos, e a substituição dos trechos por um
conduto único a eles equivalente.
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a) Cálculo da distribuição da vazão entre os trechos

Quando se tem um sistema composto por condutos em paralelo, um primeiro problema a


resolver é a determinação da distribuição da vazão total entre diversos trechos em paralelo. Para tanto,
seria necessário, a priori, o conhecimento da perda do trecho em paralelo. Este impasse é resolvido por
um artifício de cálculo que se verá a seguir.

Para se resolver o impasse utiliza-se um método iterativo, no qual parte-se de uma perda
arbitrária (fictícia) e determinam-se vazões entre os condutos em paralelo (qi). Como as características
físicas do sistema (temperatura da água, comprimento, diâmetro e rugosidade dos condutos) não
variam, e o único fator que pode variar é o fator de perda de carga f, supõe-se que a distribuição de
vazões entre os condutos permanecerá, grosso modo, constante.

A sistemática sugerida mostra-se eficiente na medida em que os fatores de perda de carga,


dentro de limites razoáveis, não varie significativamente1. Caso a hipótese primeira de perda de carga
se afaste muito da situação real, o cálculo das vazões qi, e conseqüente da distribuição de vazões,
deverá ser refeito.

Denominando a primeira aproximação da vazão total por q, de acordo com a equação 5.20, ela
será dada por:
n
q = ∑ qi (5.22)
i =1

Com a hipótese de constância na relação de distribuição de vazões entre os trechos, a vazão


total real Q e as vazões reais de cada conduto serão dadas por:
Q Q1 Q 2 Q
= = = ........ = n (5.23)
q q1 q 2 qn

Através das relações 5.23, calculam-se as vazões Q1, Q2, ..... Qn, da distribuição de vazões nos
trechos. Feito o cálculo de Q1 , Q2, ..... Qn convêm calcular a verdadeira perda de carga que cada vazão
induz no sistema. Se as diferenças entre as perdas dos diferentes condutos ultrapassarem um limite de
erro tolerável, com o valor da média dessas perdas, recomeça-se o problema até que se atinja um erro
aceitável.

A validade da suposição de proporcionalidade de vazões para diferentes perdas de carga pode


ser demonstrada escrevendo-se a perda de carga de um conduto j conduzindo uma vazão qji, conforme
a equação que segue:
8.f ji .L j
hp ji = .q 2ji (5.24)
g.π 2 D 5j

considerando fji constante, ou seja, somente em função do diâmetro e rugosidade do conduto (caso do
escoamento turbulento rugoso), o termo (8.fji.Lj)/(g.π²Dj5), torna-se independente de Q ou V e
constante, e a expressão pode ser reescrita:

1 Isto supõe uma aproximação quadrática da perda de carga em relação à vazão; hipótese correta para o caso de escoamento
turbulento rugoso.
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hp ji = C j .q 2ji ou q ji = hp ji C j (5.25)

Para a vazão real do conduto j, a vazão Qj segue o mesmo tipo de lei, ou seja:

hp i = C j .Q 2j ou Q j = hp ji C j (5.26)

dividindo-se (5.25) por (5.26), obtém-se


q ji hp ji hp i
= ou Q j = q ji (5.27)
Qj hp ji hp ji

Para i=1 as equações 5.27, resultam em:


hp1 hp1
Q1 = q11 ; e Q 2 = q 21 ;....
hp11 hp 21

que, somadas membro a membro, resultam em:

∑Q =
hp j
∑q e
hp i
=
∑Q j
=
Q
(5.28)
∑q
j ji
hp ji hp ji ji qi

Substituindo-se (5.28) em (5.27) obtém-se


q ji qi
=
Qj Q

ou, finalmente,
Q
Q j = q ji (5.29)
qi

Fazendo-se j = 1, 2, 3, ...n, pode-se calcular a vazão real (Qj) em qualquer trecho, em função da
primeira vazão estimada por trecho (qj1) da vazão real total Q e da vazão total fictícia (qi).

b) Substituição dos trechos por um conduto único a eles equivalente

Define-se um conduto como sendo equivalente a um sistema de condutos, quando este


transportando a mesma vazão que o sistema possui a mesma perda de carga. Dessa forma condutos em
paralelo podem ser substituídos por um conduto que satisfaça as seguintes condições:
n
Q = ∑ Qi (5.20)
i =1

hp = hp i (5.21)

onde Q é a vazão total do sistema e hp a perda entre os nós (início e fim do conduto em paralelo).
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Se o comprimento (Lequiv)e a rugosidade do conduto equivalente (εequiv) do conduto são


estabelecidas, o diâmetro pode ser determinado através do seguinte processo:

Conhecida a perda de carga, calculam-se as vazões Qi e a vazão total Q. Com as varáveis


conhecidas θ, ε, hp, L e Q, calcula-se o diâmetro do conduto através da formulação estabelecida para
problemas do tipo 1.

5.3. Cálculo de redes.

5.3.1. Introdução

Para levar água a grupos de consumidores individuais através de uma rede pública, pode-se
empregar duas formas de distribuição: as redes ramificadas (palmilhadas) ou as redes malhadas. Para a
distribuição da água a consumidores individuais, dispostos numa série quadras conforme a figura 5.8,
pode-se adotar uma distribuição em forma de linhas com bifurcações (ramificadas) que sigam mais ou
menos a topografia do terreno, de maneira a atender primeiro os pontos mais elevados e, no fim da
linha, os pontos de cotas inferiores, compensando de alguma forma, a perda de carga no trajeto pelo
ganho de energia potencial. A outra forma de suprir os mesmos consumidores, é através de redes de
condutos em forma de anéis, os quais admitem mais de um trajeto para a chegada da água, permitindo
a interrupção de um trecho sem prejudicar o conjunto.
88 90 92 94

Reservatório
elevado

92

90
88

86

Anel externo Aneis internos

Figura 5.8 Esquemas de distribuição de água: redes ramificadas e redes malhadas.

O uso do primeiro sistema tem como única vantagem a facilidade de cálculo. Já uma rede
malhada propicia melhor equilíbrio de vazões e melhores condições de operação do sistema, pois
quando há necessidade de promover manutenções em um trecho da rede, isola-se o mesmo e o
abastecimento é garantido de forma emergencial em todos os outros trechos. Os únicos inconvenientes
do uso de redes malhadas residem na necessidade da colocação de válvulas em cada extremo dos
trechos, nos nós, permitindo o isolamento dos trechos quando necessário. O outro problema está no
aumento da dificuldade de cálculo (dificuldade hoje em dia totalmente superada através do cálculo
automático).

Modernamente, a distribuição de água nas cidades, por questões de operação, faz-se, em geral,
em rede malhada. Também se utilizam redes malhadas em instalações industriais para circulação de
fluidos diversos e ainda em redes de hidrantes para irrigação por aspersão.
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O dimensionamento de redes ramificadas é simples. Parte-se do ponto mais a jusante em
direção da alimentação da rede, tendo-se como um dos critérios de dimensionamento a pressão mínima
neste ponto mais afastado. A partir desse valor determina-se a pressão em cada nó e se verifica se para
outros ramos ela é suficiente. Caso o seja, segue-se pelo trajeto adotado até atingir o ponto mais a
montante. A única dificuldade do dimensionamento de redes ramificadas está no caso de redes de
irrigação por aspersão ou redes de "sprinklers" para combate a incêndio, pois a vazão em cada aspersor
(caso não tenha um regulador de pressão) ou em cada "sprinkler" é proporcional à pressão. Assim, os
trechos mais curtos deverão não só ser verificados, mas também ter a vazão dimensionada em função
da pressão de serviço para ser acrescida no nó.

5.3.2. Método de Cross (1936)

Pretende-se aqui, dentro de certas condições, mostrar um dos métodos de dimensionamento de


redes malhadas - o Método de Cross - que permite a determinação do valor e o sentido do fluxo em
cada trecho da rede. Mais rigorosamente falando, o Método de Cross é um método de verificação pois
ele calcula as pressões e vazões a partir de diâmetros previamente escolhidos, sendo que esta escolha
deverá ser feita por métodos de otimização, no caso de redes mais complexas.

A figura 5.9 representa, em perspectiva, um anel de distribuição de água com quatro nós
(ABCD). Este anel poderá estar ao longo de uma quadra de rua ou de uma instalação industrial
qualquer. Das canalizações AB, BC, CD e DE saem alimentações para diversos pontos de distribuição
de água. O método de Cross, a partir das vazões consumidas nestas canalizações, das características
físicas das mesmas e das vazões impostas nos nós, calcula a distribuição de vazões e as pressões nos
nós.
B

A C

Figura 5.9 Anel de distribuição de água.

As condições sob as quais o cálculo será realizado são:

i) Diâmetros, comprimentos e rugosidades das paredes dos condutos são previamente


conhecidos;
ii) As vazões só entram ou saem da rede malhada através dos nós;
iii) As perdas de carga singulares nos nós são desprezadas,
iv) As perdas de carga singulares nos trechos podem ser consideradas.

Em linhas gerais, a aplicação do método de Cross consiste, em primeiro lugar, na escolha de


um sinal para as vazões afluentes a cada nó (sinal contrário para as vazões efluentes). Verifica-se,
então, em cada nó a seguinte condição;

∑ Q =0 (5.30)
e, em segundo lugar, dadas as características dos escoamentos nos trechos (viscosidade ou temperatura
do líquido, diâmetro, rugosidade equivalente, comprimento e singularidades do conduto), calcula-se a
perda de carga no trecho em função da vazão. Com o cálculo da perda (conservando o sentido do
escoamento) verifica-se a segunda condição;

∑ hp = 0 (5.31)
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Após a realização de sucessivas iterações numéricas através de um algoritmo que será definido
a seguir, obtém-se a solução do problema quando se verificarem simultaneamente as condições (5.30)
e (5.31), resultando uma única distribuição de vazões em todos os trechos das malhas.

A aplicação do método de CROSS pode ser desdobrada nos seguintes passos:

a) Preliminarmente, ajusta-se, para cada trecho, uma lei de variação da perda de carga em
função da vazão empregando-se as fórmulas universal e de Colebrook-White. A lei a ser ajustada
deverá ser uma lei exponencial do tipo:
hp = RQ N (5.32)
onde R e N são coeficientes de ajuste entre as perdas de carga calculadas para diferentes vazões
circulando nos trechos da malha.

Esta lei deve ser ajustada para um intervalo de velocidades que cubra todos os valores de
velocidades usualmente utilizados no problema a resolver. Como um primeiro parâmetro para redes de
abastecimento público, ajusta-se para as velocidades de 0,50m/s e 2,0m/s.

b) Arbitra-se uma vazão em um trecho (ou em mais de um trecho dependendo da complexidade


da malha), deduzindo-se as vazões nos demais trechos de modo que se verifique em todos os nós o
equilíbrio de vazões,

∑Q=0 (5.33)

Verificada a primeira condição (5.30) nada obriga que a segunda condição (5.31) seja satisfeita,
ou melhor, para a primeira iteração, geralmente Σ hp≠0 em cada anel. Desta forma torna-se necessária
a modificação, passo a passo, das vazões nas malhas sem que a condição Σ Q=0 seja alterada. A
modificação da vazão deverá ser feita até que Σ hp=0 também se verifique em todas as malhas.

A figura 5.10 mostra, esquematicamente, as linhas de energia, o eixo dos condutos e as perdas
de carga dos trechos de um circuito hipotético, em funcionamento, com vazões e perdas de carga
compatíveis.
Plano horizontal

ΣhpAD ΣhpAB

ΣhpBC

ΣhpCD
QA=QAD+QAB
QAD QAB
A
B
D QDC
+ QBC QB=QBC+QAB

C
QD=QAD+QDC
QC=QBD+QDC

Figura 5.10 Anel de distribuição de água com equilíbrio de perdas.


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c) A cada passo, determina-se uma correção ∆ Q, igual para todas as vazões de uma malha,
através da hipótese de equilíbrio de pressões em todos os nós, o qual é obtido da seguinte maneira:

Supor que Q é a vazão correta em um trecho e Qo uma aproximação deste valor, então:
Q = Q 0 + ∆Q (5.34)

A perda de carga correta no trecho será:


hp = RQ N = R (Q 0 + ∆Q )N (5.35)
N
Desenvolvendo-se em série de Taylor o binômio (Qo+ ∆ Q) , vem:

(
hp = RQ N = R Q 0 N + NQ 0 ∆Q + ...... ) (5.36)

que podemos limitar a dois termos se ∆ Q for pequeno em relação a Qo

Considerando-se que o somatório das perdas é nulo (equação 5.31), associando-a à equação
(5.36), para toda a malha e desprezando-se os termos de mais alta ordem, tem-se:

∑ hp = ∑ RQ N = ∆RQ 0 N + ∆Q∑ NRQ 0 N−1 = 0 ,


de onde é possível explicitar a correção ∆ Q,
− ∑ RQ 0N
∆Q = (5.37.a)
∑ RNQ 0N−1
O numerador terá o sinal de Q (o mesmo da velocidade) conforme a convenção já estabelecida
e o somatório será algébrico. No denominador não se considerará sinal: o somatório será aritmético.

A expressão (5.37a) pode ser escrita sob a forma:


− ∑ hp
∆Q = (5.37.b)
Nhp
∑Q
0

d) Uma vez corrigidas as vazões em uma malha, passa-se à malha seguinte, mantendo-se o
módulo da vazão do trecho comum, dando-lhe o sinal conveniente para cada malha (que
necessariamente não é o mesmo da malha anterior) e corrigindo-se a vazão para esta malha.

e) Após um ciclo completo de ajustes, efetuado em todas as malhas da rede, poderá se dar por
concluído o processo ou se retomará a primeira malha refazendo-se todos os cálculos. O processo
estará concluído quando o erro relativo nas vazões for inferior a um determinado limite
preestabelecido ou quando a correção ∆ Q for inferior a um valor pré-determinado ou ainda quando o
erro relativo da perda de carga mais desfavorável for inferior a um valor preestabelecido.

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