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Andrei F. Coelho (*) (1) Denise Borges de Oliveira (2) Tatiana Maria Tavares de Souza Alves (2)
Alex Castro (2) Antonio Carlos R. Duarte (3) Felipe V. Lopes (4) Tiago R. Honorato (4)
(1) Schweitzer Engineering Laboratories (2) ONS (3) Consultor Independente (4) UnB
RESUMO
Tem-se como objetivo apresentar os resultados da tecnologia de proteção no domínio do tempo quando
aplicada à linha de transmissão de 500 kV que interliga Xingu e Tucuruí, que possui elevada complexidade.
A linha é longa e de circuito duplo, com compensação reativa série e shunt, e com proximidade com elos
HVDC. Realizou-se a modelagem do sistema em RTDS e no software Alternative Transients Program
(ATP), de forma a reproduzir ocorrências com a maior fidelidade possível aos eventos reais. O artigo
também conta com resultados de eventos reais coletados de campo e reaplicados nos relés que trabalham
com os algoritmos no domínio do tempo.
PALAVRAS-CHAVE
Proteção no domínio do tempo, análise de desemprenho, ATP, RTDS
Figura 2. Resultado obtido para falta interna próxima a subestação de Tucuruí. Relé da subestação Xingu
(esquerda) e da subestação Tucuruí (direita).
Percebe-se que em ambos terminais de linha, houve a atuação do elemento direcional por ondas viajantes
para faltas diretas TW32F, assim como os elementos direcionais por grandezas incrementais TD32F.O
elemento de distância TD21G atuou para a subestação mais próxima da falta, como esperado. A função
diferencial de linhas TW87 também detectou essa falta, em ambos terminais. Percebe-se que todos
elementos atuaram em alta velocidade, assim como o trip.
A Figura 3 apresenta o caso 24, falta com resistência igual a 150 ohms para uma falta a 83,33% da
subestação Xingu. Nesse cenário, o elemento TD32F foi sensibilizado em ambas as subestações,
permitindo uma atuação correta do esquema POTT.
Figura 3. Resultado obtido para falta interna com resistência de 150 ohms. Relé da subestação Xingu
(esquerda) e da subestação Tucuruí (direita).
A sensibilidade para detectar faltas de alta impedância é dependente dos ajustes selecionados. Optar por
ajustes mais sensíveis permite detectar faltas de maior impedância, mas compromete a segurança.
Normalmente, impedâncias de 100 ohms são consideradas para cálculo de faltas monofásicas, adicionando
ainda uma margem, e esse foi o critério utilizado neste trabalho.
3.2 Faltas externas
A Tabela I expressa a vasta quantidade de faltas externas aplicadas, devido a grande preocupação com a
segurança contra trips incorretos nesse sistema, atualmente frequentes com a proteção fasorial. Para todas
as faltas externas ensaiadas nos relés que trabalham no domínio do tempo, esses se mantiveram seguros.
A Figura 4 apresenta um exemplo de falta na metade do circuito paralelo, caso 5, para o qual os relés se
comportaram como esperado.
Figura 4. Resultado obtido para falta no circuito paralelo, mantendo o sistema seguro. Relé da subestação
Xingu (esquerda) e da subestação Tucuruí (direita).
Percebe-se que todos elementos foram seguros para o evento. O elemento direcional TD32 detectou falta
à frente no terminal da fonte forte – subestação Xingu, e o terminal de fonte fraca – subestação Tucuruí
detectou a falta como reversa, mantendo o esquema POTT seguro.
Figura 5. Resultado obtido para falta no circuito paralelo que evolui pra falta interna, mantendo o sistema
seguro. Relé da subestação Xingu (esquerda) e da subestação Tucuruí (direita).
A Figura 5 apresenta o comportamento das variáveis TD32. O relé da subestação Xingu calculou as duas
faltas – tanto interna quanto externa, como faltas diretas. Já o relé da subestação Tucuruí calculou a
primeira falta como reversa, corretamente, e a segunda falta como direta, também corretamente. A variável
ALPARM representada na Figura 5 simboliza os momentos em que o relé está apto a realizar proteção e
calculando as grandezas incrementais.
Percebe-se que a falta da Figura 5 foi sustentada por quase 600 ms, o que é uma condição atípica. Ensaios
semelhantes foram realizados com a falta da linha paralela sendo eliminada e o comportamento é o mesmo,
ou seja, os relés se tornam disponíveis para realizar proteção depois do tempo de estabilização dos sinais
elétricos. Para a falta apresentada, o tempo de estabilização foi de 175 ms.
3.4 By-pass do banco de capacitores
Além de faltas, simulou-se também a inserção e remoção do banco de capacitores, que está dentro da zona
de proteção. Esses eventos de chaveamento não podem ativar o trip da proteção, porque não são faltas,
mas geram grandezas incrementais e ondas viajantes dentro da linha. O relé deve ter segurança para um
caso como esse.
A Figura 6 apresenta o resultado para o by-pass do banco de capacitores, que é o caso 25.
Figura 6. Resultado obtido para by-pass do banco de capacitores, mantendo o sistema seguro. Relé da
subestação Xingu (esquerda) e da subestação Tucuruí (direita).
Percebe-se que a subestação Xingu calcula esse evento como reverso, uma vez que o banco está atrás de
seu TP. A subestação Tucuruí poderia calcular esse evento com direção à frente, porém, seus ajustes são
calculados de forma que os transitórios gerados pelo by-pass do banco não são suficientes para ativar o
algoritmo direcional. Em resumo, verifica-se atuação segura e correta dos relés.
Figura 7. Resultado obtido para falha de comutação do elo HVDC. Subestação Xingu (esquerda) e
subestação Tucuruí (direita).
É possível perceber que os relés com operação no domínio do tempo não ativaram o trip e manteriam essa
linha em operação com segurança, uma vez que o evento é calculado com direção à frente (TD32F) por
um terminal e reversa (TD32R) pelo outro. Percebe-se que as oscilografias da Figura 7 apresentam
interrupção da corrente, fato justificado pela abertura dos disjuntores no evento real, comandados por relés
fasoriais.
Os resultados obtidos são apresentados em termos do percentual de operações das funções de proteção
em relação ao número de casos simulados, bem como da distribuição de probabilidade dos tempos de
operação em relação ao local da falta. Em todas as análises, resultados obtidos em ambos os terminais da
linha protegida são apresentados. Ressalta-se ainda que, durante os testes laboratoriais, a comunicação
entre os relés foi implementada por meio de fibra óptica com aproximadamente dois metros de
comprimento, de modo que se pode considerar desprezível a latência do canal.
1.1 Resultados Obtidos para Faltas Internas (Grupo de Testes #1)
Da Figura 8, nota-se que a variável trip ativou em 100% dos casos. Igualmente, a TD32F operou em todos
os cenários avaliados em ambos os terminais da linha, garantindo operações do esquema POTT. As
funções TW32F e TW87 operaram em mais de 80% dos casos em Tucuruí e Xingu, não sendo
sensibilizadas apenas em situações de transitórios muito amortecidos. Em relação à função TD21,
verificaram-se operações em aproximadamente 49% e 32% dos casos em Tucuruí e Xingu,
respectivamente. Tais percentuais eram esperados em virtude da TD21 consistir em elemento de
subalcance, cuja sensibilidade reduz para faltas com resistências elevadas. Ainda assim, nos casos em
que operou, a TD21 resultou em alcances máximos de 70% e 43% em relação aos terminais Tucuruí e
Xingu, respectivamente.
(a) (b)
Figura 8. Percentual de operações para faltas internas (Grupo de Testes #1): (a) Tucuruí; (b) Xingu.
(a) (b)
Figura 10. Percentual de operações para casos dos Grupos de Testes #2 e #3: (a) TUCURUÍ; (b) XINGU.
5.0 - CONCLUSÕES
Esse trabalho apresentou o desempenho das proteções no domínio do tempo para uma região complexa
do Sistema Interliga Nacional – SIN. A região, descrita na introdução do trabalho, foi escolhida justamente
por conter uma abundância de eventos sistêmicos que podem comprometer o desempenho das proteções
fasoriais aplicadas. Um cenário desafiador como esse pode ser considerado como o ideal para testar uma
tecnologia que busca prover maior segurança e confiabilidade para o sistema elétrico.
Os testes consideraram simulações em RTDS e em ATP. O foco das simulações em ATP foi produzir
resultados para um grande volume de casos, buscando testar todos os tipos de faltas, diversas localizações
de falta e variações de impedâncias de faltas. Em paralelo, o RTDS buscou testar casos cuidadosamente
selecionados, com análise mais detalhada dos resultados. Percebe-se que a grande maioria dos cenários
ensaiados em RTDS se referem às situações de faltas externas ou transitórios sistêmicos, que geram
problemas de segurança para a proteção fasorial.
Para todos os casos ensaiados tanto em RTDS quanto em ATP, a proteção no domínio do tempo se
comportou como esperado. Atuou com nível elevado de confiabilidade para as faltas internas, inclusive nas
faltas com alta impedância, sendo sensível a defeitos de até 150 Ω, valor este maior do que o esperado de
acordo com a parametrização. Ainda, a proteção manteve-se segura para todas as situações de faltas
externas ou eventos de chaveamento, conforme esperado.
Para eventos onde a proteção no domínio do tempo não está armada e há falta interna, como por exemplo
uma falta evolutiva com tempo menor do que tempo de estabilização das grandezas incrementais, a
proteção fasorial companheira será a responsável pela atuação.
Para faltas internas, percebe-se a alta velocidade de atuação dos sistemas de proteção ensaiados – o que
é muito benéfico. Os valores médios obtidos para tempo de trip foram menores do que 2 ms. Além dos
diversos ganhos obtidos em um trip rápido, como ganhos de estabilidade sistêmicos, atuar rapidamente em
sistemas complexos como esse proporciona ganhos para segurança e confiabilidade da rede elétrica.
Durante os curtos-circuitos, ocorrem inversões de tensão, de corrente, by-pass assimétrico de bancos,
saturações de TC e etc e todas essas condições dificultam as decisões dos relés de proteção. Tomar a
decisão rapidamente, antes desses efeitos, aprimora o desempenho.
Considerando os resultados obtidos, conclui-se que a proteção no domínio do tempo demonstrou ser uma
ótima maneira de prover segurança e confiabilidade no sistema avaliado, sendo uma tecnologia promissora
para sistemas com topologias de elevada complexidade.,