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AB/XXX/YY

Avaliação em RTDS do Desempenho da Proteção no Domínio do Tempo Aplicada em Linha de


Transmissão do SIN com Elevada Complexidade

Andrei F. Coelho (*) (1) Denise Borges de Oliveira (2) Tatiana Maria Tavares de Souza Alves (2)
Alex Castro (2) Antonio Carlos R. Duarte (3) Felipe V. Lopes (4) Tiago R. Honorato (4)

(1) Schweitzer Engineering Laboratories (2) ONS (3) Consultor Independente (4) UnB

RESUMO
Tem-se como objetivo apresentar os resultados da tecnologia de proteção no domínio do tempo quando
aplicada à linha de transmissão de 500 kV que interliga Xingu e Tucuruí, que possui elevada complexidade.
A linha é longa e de circuito duplo, com compensação reativa série e shunt, e com proximidade com elos
HVDC. Realizou-se a modelagem do sistema em RTDS e no software Alternative Transients Program
(ATP), de forma a reproduzir ocorrências com a maior fidelidade possível aos eventos reais. O artigo
também conta com resultados de eventos reais coletados de campo e reaplicados nos relés que trabalham
com os algoritmos no domínio do tempo.

PALAVRAS-CHAVE
Proteção no domínio do tempo, análise de desemprenho, ATP, RTDS

1.0 - INTRODUÇÃO E DESCRIÇÃO DO SISTEMA


A linha de transmissão de 500 kV Xingu -Tucuruí é composta por dois circuitos paralelos de 265 km com
capacitores série no terminal de Xingu, com grau de compensação de 70%. Em Xingu estão instalados dois
bipolos HVDC associados à UHE Belo Monte (± 800 kV) que chegam às estações inversoras de Estreito e
Terminal Rio. Além disso, essa linha encontra-se lançada pela região amazônica, onde a vegetação é
composta por árvores altas e de rápido crescimento, ocasionando faltas com altas resistências. Ademais,
apresenta também um forte acoplamento mútuo entre seus circuitos que compartilham a mesma torre, e
linhas adjacentes em 500 kV, também compensadas.
Considerando todos esses pontos, os sistemas de proteção fasoriais convencionais da referida linha são
susceptíveis a problemas de desempenho, resultado da presença de frequências subharmônicas e inversão
de tensão e corrente provocadas pela presença de bancos de capacitores série, além de fatores de
acoplamento mútuo e aterramento da rede elétrica.
Também influenciam no desempenho do sistema de proteção da linha o aparecimento de correntes e
tensões desequilibradas e com grande conteúdo de harmônicos, após a eliminação de curtos-circuitos
externos, que pode ser atribuído ao fenômeno de recovery inrush dos transformadores conversores da
estação de Xingu. A proximidade do elo HVDC também pode provocar atuações incorretas das proteções
da referida linha quando da ocorrência de falhas de comutação na estação inversora, para curtos-circuitos
na região Sudeste do país, próximas à estação de Estreito ou Terminal Rio [1]. Essas falhas de comutação
provocam grandes variações de corrente e tensão e consequentemente grandes excursões na impedância
medida pelos relés da linha em estudo, resultando em sobrealcances transitórios de unidades de proteção
de distância.
Desse modo, considerando a complexidade desse tronco e as condições severas para o desempenho das
proteções fasoriais convencionais, decidiu-se testar a proteção no domínio do tempo na linha de
transmissão de 500 kV Xingu -Tucuruí C1 em RTDS e também no ATP, para que fosse possível avaliar seu
desempenho face a todas as problemáticas citadas.

2.0 - MODELAGEM NO RTDS


O equipamento utilizado para simular esse sistema, em tempo real, foi o NOVACOR do RTDS. Devido à
complexidade do sistema e dos modelos representados, o menor passo de integração possível foi de 6 µs
para o bloco de small time step. A linha utilizada no teste possui transposição em 1/6, 1/3,1/3 e 1/6 e foi
modelada com parâmetros variantes na frequência no domínio de fases.
Foram modeladas as gerações em Belo Monte, Tucuruí 1 e Tucuruí 2, as barras de Oriximiná 500 kV,
Jurupari 500 kV, Jurupari 230 kV, Belo Monte 500 kV, Xingu 500 kV, Xingu 230 kV, Tucuruí 230 kV, Tucuruí
500 kV, Vila do Conde 500 kV, Itacaiúnas 500 kV, Marabá 500 kV, Colinas 500 kV, Imperatriz 500 kV e
Miracema 500 kV. O restante do sistema foi representado por equivalentes (EQV). O diagrama da área
modelada na simulação do RTDS é apresentado na Figura 1, na qual destaca-se em azul a linha sob
análise, a saber, o circuito 1 que conecta Xingu e Tucuruí.

(*) Avenida Pierre Simon de Laplace, nº 633, Condomínio Techno Park


Campinas/SP - CEP: 13069-320 – Brasil. Tel: (+55 19) 35152021 E-mail: andrei_coelho@selinc.com
Figura 1. Sistema modelado em RTDS. Linha em estudo com detalhe em azul

3.0 - ANÁLISE DE CASOS DO RTDS


Essa sessão apresenta os resultados obtidos durante os ensaios em RTDS. A Tabela 1 resume todos os
casos ensaiados.
Tabela I. Casos ensaiados em RTDS
Número
Descrição
do caso
01 Falta Interna. AG. 16.67% da subestação Xingu
02 Falta Interna. AG. 50% da subestação Xingu
03 Falta Interna. AG. 84.33% da subestação Xingu
04 Falta Externa. AG. Circuito paralelo. 16.67% da subestação Xingu
05 Falta Externa. AG. Circuito paralelo. 50% da subestação Xingu
06 Falta Externa. AG. Circuito paralelo. 84.33% da subestação Xingu
07 Falta Externa. AG. Barra Xingu
08 Falta Externa. AG. Barra Tucuruí
09 Falta Externa. AG. Barra Belo Monte
10 Falta Externa. AG. Barra Marabá
11 Falta Externa. AG. Barra Jurupari
12 Falta Externa que evolui para Falta Interna. 50% da subestação Xingu
13 Falta Interna. ABC. 16.67% da subestação Xingu
14 Falta Interna. ABC. 50% da subestação Xingu
15 Falta Interna. ABC. 84.33% da subestação Xingu
16 Falta Externa. ABC. Circuito paralelo. 16.67% da subestação Xingu
17 Falta Externa. ABC. Circuito paralelo. 50% da subestação Xingu
18 Falta Externa. ABC. Circuito paralelo. 84.33% da subestação Xingu
19 Falta Externa. ABC. Barra Xingu
20 Falta Externa. ABC. Barra Tucuruí
21 Falta Externa. ABC. Barra Belo Monte
22 Falta Externa. ABC. Barra Marabá
23 Falta Externa. ABC. Barra Jurupari
24 Falta Interna. AG. 83.33% da subestação Xingu com resistência de falta
25 By-pass do banco de capacitor série
26 Energização dos transformadores conversores
27 Playback – Falta na Barra Belo Monde
28 Playback – Falha de comutação do HVDC
3.1 Faltas internas
Essa linha conta com transposição, e esses pontos foram utilizados para aplicar as faltas internas. Os
pontos em falta estão a 16,67%, 50% e 83,33% da subestação Xingu. Faltas monofásicas e trifásicas
internas foram aplicadas nesses pontos com variação do ângulo de incidência: 0º e 90º. Para todas as
simulações, a proteção atuou conforme esperado e em alta velocidade. A Tabela II sumariza a média dos
tempos de atuação obtidos para cada função, assim como o tempo médio de trip – desconsiderando
latências de canal. Todas as funções de proteção são detalhadas em [2][3].

Tabela II – Tempos de atuação médios para faltas internas


Função de Proteção Tempo de atuação médio [ms]
TD32 1,8
TD21 2,6
TW32 0,1
TW87 1,2
Trip 1,7
A Figura 2 apresenta um dos testes realizados: falta monofásica franca, a 83.33% da subestação Xingu –
caso 3.

Figura 2. Resultado obtido para falta interna próxima a subestação de Tucuruí. Relé da subestação Xingu
(esquerda) e da subestação Tucuruí (direita).

Percebe-se que em ambos terminais de linha, houve a atuação do elemento direcional por ondas viajantes
para faltas diretas TW32F, assim como os elementos direcionais por grandezas incrementais TD32F.O
elemento de distância TD21G atuou para a subestação mais próxima da falta, como esperado. A função
diferencial de linhas TW87 também detectou essa falta, em ambos terminais. Percebe-se que todos
elementos atuaram em alta velocidade, assim como o trip.
A Figura 3 apresenta o caso 24, falta com resistência igual a 150 ohms para uma falta a 83,33% da
subestação Xingu. Nesse cenário, o elemento TD32F foi sensibilizado em ambas as subestações,
permitindo uma atuação correta do esquema POTT.

Figura 3. Resultado obtido para falta interna com resistência de 150 ohms. Relé da subestação Xingu
(esquerda) e da subestação Tucuruí (direita).

A sensibilidade para detectar faltas de alta impedância é dependente dos ajustes selecionados. Optar por
ajustes mais sensíveis permite detectar faltas de maior impedância, mas compromete a segurança.
Normalmente, impedâncias de 100 ohms são consideradas para cálculo de faltas monofásicas, adicionando
ainda uma margem, e esse foi o critério utilizado neste trabalho.
3.2 Faltas externas
A Tabela I expressa a vasta quantidade de faltas externas aplicadas, devido a grande preocupação com a
segurança contra trips incorretos nesse sistema, atualmente frequentes com a proteção fasorial. Para todas
as faltas externas ensaiadas nos relés que trabalham no domínio do tempo, esses se mantiveram seguros.
A Figura 4 apresenta um exemplo de falta na metade do circuito paralelo, caso 5, para o qual os relés se
comportaram como esperado.

Figura 4. Resultado obtido para falta no circuito paralelo, mantendo o sistema seguro. Relé da subestação
Xingu (esquerda) e da subestação Tucuruí (direita).

Percebe-se que todos elementos foram seguros para o evento. O elemento direcional TD32 detectou falta
à frente no terminal da fonte forte – subestação Xingu, e o terminal de fonte fraca – subestação Tucuruí
detectou a falta como reversa, mantendo o esquema POTT seguro.

3.3 Falta evolutiva de externa para interna


A proteção no domínio do tempo calcula grandezas incrementais, e para isso, necessita medir grandezas
elétricas estáveis. Durante uma falta externa, o relé executa seus algoritmos e toma as devidas decisões
objetivando manter o sistema seguro. Caso a falta evolua para uma falta interna, o relé precisa calcular
novas grandezas incrementais. Assim, no caso de uma segunda falta – a interna, a pré-falta é um estado
de falta do sistema – a falta externa. Nesse caso, é necessário aguardar um tempo de acomodação
sistêmico até que a falta externa atinja o regime permanente de curto circuito. O tempo que o relé aguarda
para se habilitar novamente é determinado por um tempo mínimo fixo e um tempo variável, de acordo com
as constantes de tempo de estabilização do sistema. A Figura 5 apresenta uma falta externa, na metade
do circuito paralelo, que evolui para falta interna, resultando no caso 12.

Figura 5. Resultado obtido para falta no circuito paralelo que evolui pra falta interna, mantendo o sistema
seguro. Relé da subestação Xingu (esquerda) e da subestação Tucuruí (direita).

A Figura 5 apresenta o comportamento das variáveis TD32. O relé da subestação Xingu calculou as duas
faltas – tanto interna quanto externa, como faltas diretas. Já o relé da subestação Tucuruí calculou a
primeira falta como reversa, corretamente, e a segunda falta como direta, também corretamente. A variável
ALPARM representada na Figura 5 simboliza os momentos em que o relé está apto a realizar proteção e
calculando as grandezas incrementais.
Percebe-se que a falta da Figura 5 foi sustentada por quase 600 ms, o que é uma condição atípica. Ensaios
semelhantes foram realizados com a falta da linha paralela sendo eliminada e o comportamento é o mesmo,
ou seja, os relés se tornam disponíveis para realizar proteção depois do tempo de estabilização dos sinais
elétricos. Para a falta apresentada, o tempo de estabilização foi de 175 ms.
3.4 By-pass do banco de capacitores
Além de faltas, simulou-se também a inserção e remoção do banco de capacitores, que está dentro da zona
de proteção. Esses eventos de chaveamento não podem ativar o trip da proteção, porque não são faltas,
mas geram grandezas incrementais e ondas viajantes dentro da linha. O relé deve ter segurança para um
caso como esse.
A Figura 6 apresenta o resultado para o by-pass do banco de capacitores, que é o caso 25.

Figura 6. Resultado obtido para by-pass do banco de capacitores, mantendo o sistema seguro. Relé da
subestação Xingu (esquerda) e da subestação Tucuruí (direita).

Percebe-se que a subestação Xingu calcula esse evento como reverso, uma vez que o banco está atrás de
seu TP. A subestação Tucuruí poderia calcular esse evento com direção à frente, porém, seus ajustes são
calculados de forma que os transitórios gerados pelo by-pass do banco não são suficientes para ativar o
algoritmo direcional. Em resumo, verifica-se atuação segura e correta dos relés.

3.5 Falha de comutação de HVDC


Este caso trata de uma falha de comutação de um elo HVDC e é um registro real de campo reaplicado nos
relés que trabalham no domínio do tempo. Houve uma falta no sistema AC próximo à subestação inversora
(região sudeste do país) que resultou na falha de comutação do bipolo. Essa falha de comutação cessa a
potência ativa transferida no elo, e esse efeito momentâneo gerou a atuação indevida da proteção fasorial
instalada na linha sob estudo. Percebe-se que a atuação indevida foi causada por uma falta que está a
mais do que 2000 quilômetros de distância. A Figura 7 apresenta a resposta dos relés que trabalham no
domínio do tempo, nos dois terminais de linha.

Figura 7. Resultado obtido para falha de comutação do elo HVDC. Subestação Xingu (esquerda) e
subestação Tucuruí (direita).

É possível perceber que os relés com operação no domínio do tempo não ativaram o trip e manteriam essa
linha em operação com segurança, uma vez que o evento é calculado com direção à frente (TD32F) por
um terminal e reversa (TD32R) pelo outro. Percebe-se que as oscilografias da Figura 7 apresentam
interrupção da corrente, fato justificado pela abertura dos disjuntores no evento real, comandados por relés
fasoriais.

4.0 - TESTES EXTENSIVOS EM ATP


No intuito de analisar de forma mais abrangente o desempenho das funções de proteção no domínio do
tempo, testes extensivos foram realizados a partir de simulações computacionais de faltas no mesmo
sistema teste avaliado nas seções anteriores. Para tanto, utilizou-se o ATP para modelagem detalhada da
rede elétrica monitorada. Por meio das simulações no ATP, foram geradas oscilografias com taxa de
amostragem de 1 MHz compatível com a funcionalidade de playback dos relés que trabalham no domínio
do tempo [4], sendo a automação dos testes realizada por meio da metodologia reportada em [5].
Três grupos de testes foram considerados, a saber: Grupo #1: 256 simulações de faltas internas à linha
protegida; Grupo #2: 128 simulações de faltas externas aplicadas na linha paralela; e Grupo #3: 76
simulações de faltas externas na linha 500 kV Tucuruí - Jurupari. Ressalta-se que em todos os casos, o
modelo de linha a parâmetros distribuídos variantes na frequência foi considerado. Ademais, a transposição
da linha em estudo foi representada tal como verificada em campo, enquanto a linha 500 kV Tucuruí -
Jurupari foi modelada como perfeitamente transposta. Assim, nos grupos de testes #1 e #2, a posição das
faltas aplicadas foi variada em termos percentuais do comprimento de cada seção de transposição,
enquanto que no grupo de testes #3, a posição da falta foi variada percentualmente considerando o
comprimento total. Na Tabela III, apresentam-se os parâmetros de falta simulados em cada grupo de testes,
os quais foram escolhidos de modo a avaliar a confiabilidade do relé em situações de faltas internas, e
analisar a segurança das funções para faltas externas.

Tabela III – Parâmetros de falta simulados


Grupos de Tipo de Distância % de falta do Resistência de Resistência de Ângulo de
testes Falta terminal de referência* falta fase-terra falta fase-fase incidência**
AT, AB, 20% a 80%, ∆ = 20%
Grupo #1 ≈ 0 Ω e 50 Ω ≈ 0 Ω e 20 Ω 0o e 90o
ABT e ABC (por trecho de transposição)
AT, AB, 20% a 80%, ∆ = 20%
Grupo #2 ≈0Ω ≈0Ω 90o
ABT e ABC (por trecho de transposição)
AT, AB, 5% a 95%, ∆ = 5%
Grupo #3 ≈0Ω ≈0Ω 90o
ABT e ABC (ao longo de toda a LT)
*∆ = passo de variação do local da falta; **Referência de ângulo senoidal, na fase A.

Os resultados obtidos são apresentados em termos do percentual de operações das funções de proteção
em relação ao número de casos simulados, bem como da distribuição de probabilidade dos tempos de
operação em relação ao local da falta. Em todas as análises, resultados obtidos em ambos os terminais da
linha protegida são apresentados. Ressalta-se ainda que, durante os testes laboratoriais, a comunicação
entre os relés foi implementada por meio de fibra óptica com aproximadamente dois metros de
comprimento, de modo que se pode considerar desprezível a latência do canal.
1.1 Resultados Obtidos para Faltas Internas (Grupo de Testes #1)
Da Figura 8, nota-se que a variável trip ativou em 100% dos casos. Igualmente, a TD32F operou em todos
os cenários avaliados em ambos os terminais da linha, garantindo operações do esquema POTT. As
funções TW32F e TW87 operaram em mais de 80% dos casos em Tucuruí e Xingu, não sendo
sensibilizadas apenas em situações de transitórios muito amortecidos. Em relação à função TD21,
verificaram-se operações em aproximadamente 49% e 32% dos casos em Tucuruí e Xingu,
respectivamente. Tais percentuais eram esperados em virtude da TD21 consistir em elemento de
subalcance, cuja sensibilidade reduz para faltas com resistências elevadas. Ainda assim, nos casos em
que operou, a TD21 resultou em alcances máximos de 70% e 43% em relação aos terminais Tucuruí e
Xingu, respectivamente.

(a) (b)
Figura 8. Percentual de operações para faltas internas (Grupo de Testes #1): (a) Tucuruí; (b) Xingu.

Na Figura 9, apresentam-se as distribuições de probabilidade dos tempos de operação dos elementos


TD21, TD32F, TW32F e TW87 em relação ao local da falta. Do exposto, confirma-se a característica de
subalcance da função TD21, a qual apresentou maior probabilidade de operações em tempos menores
que 6 ms em Tucuruí e 4,5 ms em Xingu. Sobre as funções TD32, TW32 e TW87, verifica-se que todas
são capazes de identificar curtos-circuitos em toda a extensão da LT. Em termos de tempos de operação,
ao considerar as maiores probabilidades obtidas para o sistema avaliado, constatam-se tempos menores
que 2,7 ms e 3,5 ms para a TD32F em Tucuruí e Xingu, respectivamente, bem como 1 ms e 3,0 ms para
a TW32F e TW87, respectivamente, em ambos os terminais da linha (considerando desprezível a latência
do canal de comunicação). Diante do exposto, comprova-se que as funções avaliadas são capazes de
promover atuações rápidas e confiáveis, mesmo quando aplicadas em sistemas de maior complexidade.
(a) (b) (c) (d)

(e) (f) (g) (h)

Figura 9. Distribuição de probabilidade dos tempos de operação em relação ao local da falta:


(a) TD21 em Tucuruí; (b) TD21 em Xingu; (c) TD32F em Tucuruí; (d) TD32F em Xingu; (e) TW32F em
Tucuruí; (f) TW32F em Xingu; (g) TW87 em Tucuruí; (h) TW87 em Xingu.

1.2 Resultados Obtidos para Faltas Externas (Grupos de Testes #2 e #3)


Os resultados obtidos da análise de faltas externas dos grupos de testes #2 e #3 são apresentados
conjuntamente na Figura 10. Uma vez que não são esperadas atuações das proteções avaliadas, os
resultados são ilustrados apenas em termos de percentual de operações. Conforme demonstrado, apenas
o elemento TD32F foi sensibilizado em alguns cenários, comportamento este esperado a depender da
posição do curto-circuito simulado. Ainda assim, nesses casos, não foram verificados sinais permissivos
remotos indevidos, restringindo em todos os casos o comando de trip por meio do esquema POTT. Sendo
assim, a variável TRIP permaneceu com 0% de operações (tal como a TD21, TW32F e TW87),
demonstrando que não ocorreram comandos indevidos de trip e, principalmente, evidenciando a
segurança das funções avaliadas para todos os cenários.

(a) (b)
Figura 10. Percentual de operações para casos dos Grupos de Testes #2 e #3: (a) TUCURUÍ; (b) XINGU.

5.0 - CONCLUSÕES
Esse trabalho apresentou o desempenho das proteções no domínio do tempo para uma região complexa
do Sistema Interliga Nacional – SIN. A região, descrita na introdução do trabalho, foi escolhida justamente
por conter uma abundância de eventos sistêmicos que podem comprometer o desempenho das proteções
fasoriais aplicadas. Um cenário desafiador como esse pode ser considerado como o ideal para testar uma
tecnologia que busca prover maior segurança e confiabilidade para o sistema elétrico.
Os testes consideraram simulações em RTDS e em ATP. O foco das simulações em ATP foi produzir
resultados para um grande volume de casos, buscando testar todos os tipos de faltas, diversas localizações
de falta e variações de impedâncias de faltas. Em paralelo, o RTDS buscou testar casos cuidadosamente
selecionados, com análise mais detalhada dos resultados. Percebe-se que a grande maioria dos cenários
ensaiados em RTDS se referem às situações de faltas externas ou transitórios sistêmicos, que geram
problemas de segurança para a proteção fasorial.
Para todos os casos ensaiados tanto em RTDS quanto em ATP, a proteção no domínio do tempo se
comportou como esperado. Atuou com nível elevado de confiabilidade para as faltas internas, inclusive nas
faltas com alta impedância, sendo sensível a defeitos de até 150 Ω, valor este maior do que o esperado de
acordo com a parametrização. Ainda, a proteção manteve-se segura para todas as situações de faltas
externas ou eventos de chaveamento, conforme esperado.
Para eventos onde a proteção no domínio do tempo não está armada e há falta interna, como por exemplo
uma falta evolutiva com tempo menor do que tempo de estabilização das grandezas incrementais, a
proteção fasorial companheira será a responsável pela atuação.
Para faltas internas, percebe-se a alta velocidade de atuação dos sistemas de proteção ensaiados – o que
é muito benéfico. Os valores médios obtidos para tempo de trip foram menores do que 2 ms. Além dos
diversos ganhos obtidos em um trip rápido, como ganhos de estabilidade sistêmicos, atuar rapidamente em
sistemas complexos como esse proporciona ganhos para segurança e confiabilidade da rede elétrica.
Durante os curtos-circuitos, ocorrem inversões de tensão, de corrente, by-pass assimétrico de bancos,
saturações de TC e etc e todas essas condições dificultam as decisões dos relés de proteção. Tomar a
decisão rapidamente, antes desses efeitos, aprimora o desempenho.
Considerando os resultados obtidos, conclui-se que a proteção no domínio do tempo demonstrou ser uma
ótima maneira de prover segurança e confiabilidade no sistema avaliado, sendo uma tecnologia promissora
para sistemas com topologias de elevada complexidade.,

6.0 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


[1] R. T. Conceição, “Avaliação de desempenho da operação conjunta de múltiplos conversores
considerando falhas de comutação sucessivas”, Trabalho final de graduação da UFRJ, 2018.
[2] B. Kasztenny, A. Guzmán, N. Fischer, M. V. Mynam, D. Taylor, “Practical Setting Considerations for
Protective Relays That Use Incremental Quantities and Traveling Waves”, presented at the Southern African
Power System Protection & Automation Conference, November 2017.
[3] SEL-T400L Time-Domain Line Protection Instruction Manual. Available: https://selinc.com
[4] A. Guzmán, G. Smelich, Z. Sheffield and Taylor, D. Testing traveling-wave line protection and fault
locators., Belfast, UK: 14th International Conference on Developments in Power System Protection, 2018.
[5] T. R. Honorato, J. P. G. Ribeiro, E. A. Custódio, K. M. Silva and F. V. Lopes, Automated Testing
Application for a Novel Playback Functionality on a Real Time-Domain Relay, Liverpool, UK: 15th
International Conference on Developments in Power System Protection, 2020.

7.0 - DADOS BIOGRÁFICOS


Andrei Coelho é formado em engenharia elétrica com ênfase em sistemas elétricos de potência na Universidade Federal de Itajubá -
UNIFEI em 2014 e especialista em automação de sistemas elétricos pelo Instituto Nacional de Telecomunicações - INATEL em 2019.
Trabalha na engenharia de aplicação e suporte técnico da SEL desde 2014, especialmente com aplicações em transmissão e distribuição
de energia, além de diversos ramos industriais, nas áreas de proteção, controle e automação. Contribui com o desenvolvimento de artigos
e apresentações técnicas em seminários do setor, além de ser instrutor de cursos da Universidade SEL.
Denise Borges de Oliveira, natural da cidade do Rio de Janeiro - RJ. Diplomou-se em Engenharia Elétrica pela Universidade do Estado
do Rio de Janeiro em 1981, e efetuou Pós-Graduação/Especialização em Proteção de Sistemas Elétricos pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro em 2003. Trabalhou em Furnas Centrais Elétricas S.A. de 1981 à 2013 na área de análises e estudos de proteção. Em
2014 passou a trabalhar na Gerência de Proteção e Controle do Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS, atuando em análise de
perturbações e ajustes de proteção. Participa do Grupo de Estudos de Proteção (GE03) da Comissão Mista de Operação
ANDE/ITAIPU/ELETROBRAS – CMO. Participa como membro ativo do Comitê de Proteção e Automação (CE B5) do CIGRE Brasil.
Tatiana Maria Tavares de Souza Alves, Engenheira Eletricista formada pelo Centro Federal de Educação Tecnológica - CEFET-RJ em
2003. Em 2005, especializou-se em Proteção de Sistemas Elétricos pela Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro -
Poli/UFRJ. Obteve grau de Mestre em Ciências em Engenharia Elétrica pela COPPE/UFRJ, no ano de 2011. Trabalha no ONS desde
2004 onde é Engenheira da Gerência de Proteção e Controle, com atuação na área de estudos de proteção e análise de perturbações.
Participa como membro ativo do Comitê de Proteção e Automação (CE B5) do CIGRE Brasil.
Alex de Castro, graduado em Engenharia Elétrica com ênfase em Eletrônica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994). Atuou
como engenheiro eletrônico do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica nos seguintes temas: model reduction, modal analysis, small-
signal stability, graphical user interface. Atualmente atua no simulador de sistemas de corrente contínua (HVDC) do Operador Nacional
do Sistema (ONS) utilizando as ferramentas do RTDS (RSCAD), simulação off-line PSCAD e operando as réplicas dos seguintes
fabricantes: ABB, ALSTOM, SIEMENS e NARI.
Antônio Carlos da Rocha Duarte, Engenheiro Eletricista, formado pela UERJ em 1973. Possui Pós-Graduação em Engenharia de
Sistemas Elétricos (CESE) na EFEI – MG, especialização em Proteção de Sistemas Elétricos na Universidade Autônoma de Nuevo Leon
– México, Instrutor do Curso de Especialização em Proteção da UFRJ, desde 2002. Trabalhou no ONS de 1999 a 2019, atuando na área
de análise de perturbações. No período de 1982-1998, trabalhou na Itaipu Binacional, como engenheiro e como gerente das Divisões
Eletroeletrônica do Departamento de Engenharia de Manutenção e Divisão de estudos e Normas da Operação. No período de 1973-1982
trabalhou em Furnas, no Departamento de Engenharia.
Felipe V. Lopes nasceu em Campina Grande-PB, 1985. Recebeu os títulos de B.Sc., M.Sc. e D.Sc. e pós-doutorado no domínio da
Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) em 2009, 2011, 2014 e 2018, respectivamente. Atualmente
é Professor Adjunto no Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do grupo espelho B5.55
do Cigré-Brasil. Tem atuado em pesquisas relacionadas às áreas de transitórios eletromagnéticos, proteção de sistemas elétricos e
localização de faltas.
Tiago R. Honorato nasceu em Brasília-DF, 1992. Recebeu o título de B.Sc. no domínio da Engenharia Elétrica pela Universidade de
Brasília (UnB), em Brasília-DF, Brasil, em 2016. Atualmente é aluno de mestrado na UnB. Têm participado de pesquisas relacionadas à
proteção de sistemas elétricos e automação de testes em relés de proteção numéricos.

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