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SISTEMA DE LOCALIZAÇÃO DE FALTAS DA LINHA DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA DA

INTERLIGAÇÃO ELÉTRICA DO MADEIRA S.A.

Thiago Rodrigues Martins (*)


ENGEPRO ENGENHARIA LTDA

Diogo Totti Custódio Fabiano Ribeiro Faria


INTERLIGAÇÃO ELÉTRICA DO MADEIRA S.A. INTERLIGAÇÃO ELÉTRICA DO MADEIRA S.A.

Fernando Buzzo Fraissat Eduardo de Medeiros Brandi


INTERLIGAÇÃO ELÉTRICA DO MADEIRA S.A. BELO MONTE TRANSMISSORA DE ENERGIA

Jairo Jair Tavares Junior


ABB HVDC

RESUMO

A linha de transmissão em corrente continua ±600kVcc, sob regime de concessão da Transmissora Interligação
Elétrica do Madeira S.A, é a maior linha de transmissão em operação no Brasil, com 2375km. Para sua entrada em
operação, foi necessário a implementação de um sistema de localização de faltas eficiente, projetado com
sensibilidade para localizar qualquer falta, em qualquer ponto da linha, com precisão e rapidez. Dessa forma, foi
adotado o Line Fault Locator (LFL), de fabricação da ABB, sistema com sensibilidade para detectar faltas
temporárias ou permanentes na LT.

PALAVRAS-CHAVE

Transmissão, faltas, curto circuito, proteção, HVDC

1.0 - INTRODUÇÃO

O Sistema de transmissão em corrente contínua de alta tensão, da sigla em inglês HVDC, consiste em duas
estações conversoras, uma atuando como retificadora e a outra como inversora, que são conectadas a uma linha
de transmissão composta por dois polos. Recomendado para transmissão de grandes blocos de energia entre
localidades muito distantes, o sistema HVDC tem sido cada vez mais necessário no Brasil.
Seguindo esse princípio, foi concluida em 2013 a linha de transmissão em corrente continua ±600kVcc sob regime
de concessão da Transmissora Interligação Elétrica do Madeira S.A (IEM). Conectada ao Bipolo 1, sob regime de
concessão da Eletronorte, interliga as estações conversoras Coletora Porto Velho, no estado de Rondônia, e
Araraquara 2, no estado de São Paulo. A linha do IEM é atualmente a maior linha de transmissão em operação no
Brasil, com 2375km, e tem capacidade para transmitir 3150MW em regime permanente e 4200MW quando as
conversoras operarem em regime de sobrecarga de longa duração.

(*) Rua Buenos Aires, n˚ 68 – 8º andar – CEP 20070-900 Rio de Janeiro, RJ – Brasil
Tel: (+55 21) 3173-6539 – Fax: (+55 21) 3174-2786 – Email: thiago.martins@engeproengenharia.com.br
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Com dimensões continentais, a linha de transmissão exigiria um sistema de localização de faltas eficiente, que
possibilitasse uma atuação rápida da sua equipe de manutenção. Para isso, o sistema precisaria ser projetado com
sensibilidade para localizar qualquer falta, em qualquer ponto da linha, com precisão e rapidez, pois um erro de 1%
significaria 23km de faixa a ser percorrida. Dessa forma, foi adotado o equipamento deniminado de Line Fault
Locator (LFL), sistema de localização de faltas de fabricação da ABB. O sistema em questão tem sensibilidade
para detectar faltas temporárias ou permanentes em qualquer ponto da LT, contempla quatro capacitores de
acoplamento de 600kVcc instalados nas extremidades dos dois polos, que são interligados, através de fibras
ópticas, à circuitos eletrônicos de detecção localizados nas salas de controle da Eletronorte em ambas as estações
conversoras.

2.0 - PRINCÍPIO DE OPERAÇÃO

Quando ocorre uma falta na linha, ondas viajantes se propagam em ambas as direções, a partir do ponto da falha.
A oscilação da onda é sensibilizada pelos capacitores de acoplamento, localizados nas extremidades da LT, que
descarregam uma corrente para terra através de um condutor onde há um TC conectado a um circuito de detecção.
Os sinais gerados pelo circuito de detecção são enviados para o sistema de aquisição nas salas de controle do
Bipolo 1, onde relógios sincronizados por satélite (GPS - Global positioning system) registrarão o intervalo de
tempo de detecção da falta entre as duas extremidades, permitindo ao sistema de aquisição o cálculo da distância
da falta. A precisão depende de fatores, tais como, tipo de falta, característica da linha, resistência da terra, etc.

FIGURA 1 – Esquema simplificado de funcionamento do LFL


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2.1 Capacitor de acoplamento

Com mais de 10 metros de altura, os quatro Capacitores de acoplamento de


2900pF estão instalados nas extremidades de cada polo da LT, e são
utilizados exclusivamente para o sistema do Line Fault Locator.

Caixas metálicas, instaladas no suporte das colunas capacitivas, abrigam um


TC, no qual é percorrida, através da bobina de Rogowski, a corrente
descarregada pelo Capacitor logo após sensibilizar uma oscilação da onda.
Esse TC é conectado a uma placa (QHLO275) de transmissão óptica. Seu
trigger foi ajustado para tensões de 3V, como o transformador de corrente
utilizado proporciona 0,1 V / A, será necessário, pelo menos, 30A para
disparar o detector de LFL.

Visando a segurança durante um procedimento de manutenção, a caixa


dispõe de um sistema de aterramento do capacitor no momento da abertura
de sua porta.

FIGURA 2 – Coluna capacitiva do LFL

FIGURA 3 – Diagrama unifilar do pátio 600kVCC indicando a posição do capacitor de cada Polo
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FIGURAS 4 E 5 – Arranjo eletromecânico parcial do pátio 600kVCC e 3D, indicando a posição da coluna capacitiva

FIGURA 6 – Caixa metálica instalada no suporte da coluna capacitiva


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2.2 Painel de controle

Instalado na sala de controle do Bipolo 1, em ambas as estações conversoras o


painel de controle do LFL contempla em seu interior, entre outros acessórios, um
GPS (Global Position System), um servidor, utilizado para armazenar a base de
dados, um notebook IHM (interface homem máquina) para supervisão e
configuração e o computador principal MACH2 (Modular Advanced Control System
for HVDC) com as lógicas do sistema composto para o LFL.

O painel está interligado às caixas dos capacitores no pátio por meio de cabos
dielétricos de fibra óptica. Quando o capacitor for sensibilizado por uma onda
viajante, a tensão de entrada irá exceder 3V, e um pulso óptico será transmitido
pela fibra da caixa até a unidade receptora do pulso ótico (cartão PS107),
localizado dentro do painel, o cartão converte o sinal ótico para um pulso de
disparo elétrico, para o GPS fazer o trigger do tempo de chegada da onda viajante
e enviar a estampa de tempo para o computador principal, que será responsável
por executar todas as lógicas envolvidas no cálculo da distância da falta.

O painel contempla dispositivos de comunicação para enviar a informação da


distância da falta ao centro de operação do IEM, além disso, também são enviados
alarmes internos do painel como perda de comunicação entre GPS e computador,
falha na fibra óptica, atuação da proteção do Polo 1 e Polo 2, falha de
comunicação entre os LFL’s e etc.

FIGURA 7 – Vista interna do painel de controle

FIGURA 8 – Esquema de implementação do LFL


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3.0 - CÁLCULO DA DISTÂNCIA DA FALTA

O capacitor de acoplamento mais próximo ao ponto da falta é sensibilizado pouco antes do capacitor da outra
extremidade. Os sinais gerados são registrados com data e hora no MACH2 e enviados para o painel de controle
na extremidade oposta através do sistema de telecomunicações entre as estações conversoras, que deve ter no
mínimo 10Mbps. Os painéis cruzam as informações da diferença de tempo entre a chegada da onda em cada
extremidade, na casa de nano segundos, e iniciam simultaneamente o cálculo da distancia da falta, visto que as
demais informações (comprimento da LT e velocidade da onda) já são conhecidas. No entanto, para que não
ocorra uma atuação indevida, o LFL só inicia o cálculo da distância da falta após receber a confirmação da atuação
da proteção do polo, proveniente do sistema de proteção do Bipolo 1, em um intervalo de até 2s.
Imediatamente após o cálculo, o equipamento de gerenciamento envia os dados (data, horário, circuito em falta e
distância aproximada) ao Centro de Operações, para que seja realizado o devido procedimento para restabelecer a
operação.

Onde:
• Length = Comprimento total do condutor;
• Trigtime 1 = Tempo de disparo até a estação local (ponta 1);
• Trigtime 2 = Tempo de disparo até a estação remota (ponta 2);
• Offset = Constante para a diferença de tempos;
• K = Fator de correção para o atraso do surto;
• C = Velocidade da onda viajante.

A velocidade da onda viajante é idealmente a mesma da luz “c”, entretanto uma correção é introduzida de modo a
compensar atrasos no surto direto e o offset, compensando assim uma diferença entre o tempo de disparo.

4.0 - COMISSIONAMENTO

Durante o comissionamento do LFL, foram realizados testes, em campo, de curto-circuito franco nos dois polos (C1
e C2), com tensão normal e reduzida, de forma a validar o equipamento e permitir que a LT entrasse em operação.

Foram selecionadas as seguintes locações de torres:

· Curto-circuito em torre próxima da SE Coletora Porto Velho;


· Curto-circuito em torre no meio da Linha – próximo à cidade de Cuiabá-MT;
· Curto-circuito em torre próxima da SE Araraquara-2.

A estrutura utilizou “gatilhos” montados junto às torres selecionadas para os testes, a uma distância de segurança
de aproximadamente 50 (cinquenta) metros. Os “gatilhos” compreendiam fios de Nylon que seguravam um pêndulo
metálico, evitando que o mesmo entrasse em contato com a LT.
Toda a estrutura foi montada durante o dia e os testes foram realizados na madrugada seguinte, evitando assim o
horário de “pico” do consumo de energia, conforme programações e autorizações formais do ONS.
Foram previamente preparadas infraestruturas para realização de 03 (três) testes por circuito (polo) em uma dada
torre em cada noite de testes.
Estando a Linha de Transmissão energizada à tensão nominal e com transmissão de potência reduzida, foi dada
autorização para início do primeiro teste.
A equipe de campo realizou o corte do primeiro fio de nylon que ancora o primeiro peso metálico instalado no alto
da torre, que por gravidade faz o movimento pendular, dando meios para o fechamento do curto-circuito entre a LT
e a estrutura da torre.
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Caso as distâncias apontadas estivessem dentro da faixa de tolerância esperada, o teste era, então, validado.
Caso contrário, seriam realizados ajustes nos dispositivos eletrônicos de controle dos LFL´s e executado novo
teste, ordenando-se aos técnicos de campo o início da segunda bateria de teste desta localidade, cortando-se o
segundo fio de nylon, previamente montado. Estes procedimentos se repetem para os testes de curto-circuito dos
dois polos (C1 e C2) da torre sob teste.

FIGURA 9 – Esquema de ligações na torre para os testes de curto-circuito

5.0 - CONCLUSÃO

O LFL obteve o resultado esperado durante os testes de campo com aplicação de curto-circuito franco, entre polos
e terra, com tensão plena (600kVCC), bem como em tensão reduzida (420kVCC). O equipamento localizou as
faltas com precisão inferior a 1000 metros (erro inferior a 0,04%) em todos os pontos de curto, conforme
especificado.

A precisão do sistema LFL, quanto ao cálculo da distância da falta, é de extrema importância para orientar as
equipes de manutenção de forma rápida e eficaz em inspeções e manutenções corretivas pós faltas, em face da
longa distância da linha de transmissão, com uma extensão de 2375km, atravessando vários estados do Brasil e
condições adversas de solo, vegetação e rios.

Faltas de extrema alta impedância na Linha ainda serão testadas, pois este tipo de falta, devido a longa distância
da linha e seus efeitos capacitivos, gera uma baixa oscilação transitória, da onda viajante, para sensibilizar os
capacitores nas extremidades da linha de transmissão.
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6.0 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) Nota Técnica - Testes de Comissionamento dos Localizadores de Falta da Linha Porto Velho / Araraquara-2
±600kVCC – 2.385km – BIPOLO-1

(2) Line Fault Locator Study - 1JNL100164-733 (ABB HVDC)

(3) DC Line Fault Locator - 1JNL100155-092 (ABB HVDC)

7.0 - DADOS BIOGRÁFICOS

- Thiago Rodrigues Martins;


- Nascido no Rio de janeiro - RJ em 1981;
- Graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal Fluminense (2010);
- Supervisor de Projetos de Controle e Proteção na Engepro Engenharia LTDA.

- Diogo Totti Custódio;


- Nascido em São Gonçalo do Sapucaí - MG em 1982;
- Graduação em Engenharia Elétrica pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2005) e Mestrado em
Sistemas Elétricos de Potência pela UNICAMP (2009);
- Engenheiro de Controle e Proteção na Interligação Elétrica do Madeira S.A.

- Fabiano Ribeiro Faria;


- Nascido em Itapeva - SP em 1972;
- Graduação em Engenharia Elétrica pela UNIP BAURU (2011);
- Gerente de Linha de Transmissão da Interligação Elétrica do Madeira S.A.

- Fernando Buzzo Fraissat;


- Nascido em Mococa - SP em 1969;
- Graduação em Engenharia Elétrica/Telecomunicações pela UNIP BAURU (2006) e Mestrado em Qualidade de
Energia pela UNESP BAURU (2011);
- Engenheiro especialista em telecomunicações da Interligação Elétrica do Madeira S.A.

- Eduardo de Medeiros Brandi;


- Nascido em Belo Horizonte - MG em 1957;
- Graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Gama Filho (1980), Mestrado em Planejamento Energético
e Engenharia Nuclear pela COPPE/Universidade Federal do Rio de Janeiro (1986) e Mestrado em Sistema de
Controle no Instituto Militar de Engenharia (2005);
- Engenheiro de Controle e Proteção na Belo Monte Transmissora de Energia S.A.

- Jairo Jair Tavares Junior;


- Nascido em Santo Ângelo – RS em 1986;
- Graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade de Uberaba (2014);
- Engenheiro de Controle e Proteção da ABB HVDC.

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