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RJ/Outubro/20

APLICAÇÃO DA TELEPROTEÇÃO VIA GOOSE – ESTUDO DE CASO

Adilson Franco Kotryk (*) Marcelo Alves Bettega


COPEL DISTRIBUIÇÃO S.A. COPEL DISTRIBUIÇÃO S.A.

RESUMO

Aplicar a Norma IEC61850 ao esquema de teleproteção da linha de distribuição de alta tensão Água Verde
- Parolin 69kV, utilizando o protocolo de comunicação GOOSE, verificar as vantagens e desvantagens do
esquema proposto, atualizar o projeto elétrico padrão da Copel Distribuição para esta nova configuração,
topologia de rede e configuração dos switches para segregação de mensagens com protocolo IEEE 802.1Q.

PALAVRAS-CHAVE

Norma IEC61850, Teleproteção, canal de comunicação

1.0 - INTRODUÇÃO

Teleproteção é um esquema de proteção que utiliza canais de comunicação para enviar e receber
informações lógicas sobre o estado das unidades de partida de relés de proteção de todos os terminais da
Linha de Transmissão protegida. A teleproteção provê proteção sem termporização intencional para toda a
linha protegida, ainda mais ela acelera a atuação de zonas de proteção existentes.

Outra grande vantagem da teleproteção é que ela é imune a faltas externas,e necessita de requisitos
simples de telecomunicação para buscar a alta velocidade no isolamento do defeito e consequente rapidez
no restabelecimento do sistema (1). Na Figura 1 destacamos a diferença do esquema de teleproteção para
faltas internas e externas.

FIGURA 1 – Esquema de Teleproteção para faltas internas e externas

A Norma IEC 61850 que trata dos sistemas e redes de comunicação em subestações padronizou a
comunicação entre dispositivos de campo através de alguns protocolos entre eles o GOOSE- Generic
Object Oriented Substation Event (2), possui requisitos rígidos de velocidade e determinismo, necessidade
de configurar a rede, utiliza ferramentas de softwares para configurar arquivos SCL.
A padronização que a norma IEC 61850 trouxe a interoperabilidade entre relés de diferentes fabricantes
permitiu também a comunicação dos equipamentos de campo como os IEDs na subestação e também a
comunicação de IEDs com outros IEDs primeiramente dentro da subestação e como nós utilizamos entre
as subestações para o esquema de teleproteção.

(*) Endereço AV. República Argentina, n˚ 5030 – sala VPED - CEP 81.050-001 Curitiba, PR, – Brasil
Tel: (+55 41) 99133-1214 – Email: adilson.kotryk@copel.com
2.0 - SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO DE ALTA TENSÃO

O sistema de Distribuição de alta tensão no Brasil tabalha com tensões inferiores a 230kV e igual ou
superiores a 69kV, sendo que os níveis de tensão padronizados pelo Decreto 73.080, de 1973, são
13,8kV,34,5kV considerados Média Tensão 69kV e 138kV considerados Alta tensão,

Na Copel o sistema de distribuição de alta tensão ou sistema de subtransmissão esta representado na


Figura 2 , ele consta hoje com 7262,3 km de linhas e 175 subestações.

FIGURA 2 – SISTEMA ELÉTRICO DE DISTRIBUIÇÃO DA COPEL

Embora não seja obrigatório, pelos pocedimentos de rede, a Copel Distribuição costuma utilizar esquemas
de teleproteção nos sistemas de alta tensão, os esquemas podem ser do tipo direct tranfer-trip (DTT),
Permissive Underreach Transfer Trip (PUTT), Direct Underreach Transfer Trip (DUTT), Permissive
Overreach Transfer Trip (POTT) e Direcional Comparison Unblocking (DCUB) estes dois últimos os mais
usados na Copel.

Os serviços de telecomunicação para a Distribuição são providos pela Copel Telecom que dispõe de um
amplo backbone de 10mil quilometros de malhas de fibras óticas no estado do Paraná e atende 100% das
subestações da Copel.

3.0 - PRIMEIROS PASSOS

Em 2018 foram executados os levantamentos com a Copel Telecom para verificar se seria possível um
canal de comunicação com os requisitos para a teleproteção e que a norma IEC61850 exigia, não tivemos
uma resposta conclusiva apenas uma indicação de que poderíamos testar esta configuração e assim
iniciaram-se os estudos para aplicar a teleproteção via protocolo Goose na linha de Distribuição de Alta
Tensão Parolin – Hauer 69kV, linha que possui 6,16km, lingando 2 bairros centrais da cidade de Curitiba.

O projeto padrão da Copel para uma linha de 69kV ou 138kV consistia de dois IEDs iguais um considerado
proteção principal e outro alternada, e mais um equipamento de teleproteção conforme Figura 3 abaixo
vemos a configuração utilizada pela Copel, um equipamento de teleproteção atende aos dois relés de
proteção.
FIGURA 3 – Esquema do projeto padrão

Para o projeto padrão utilizavamos apenas o bloqueio da teleproteção por chave local, agora com a
Teleproteção por mensagens GOOSE implementamos o bloqueio remoto da teleproteção conforme figura
4 , sendo que nesta lógica consideramos que a falha de comunicação do GOOSE também bloqueia a
teleproteção.

FIGURA 4 – Lógica de Bloqueio da Teleproteção

Fazemos com que o relé envie dois sinais para o terminal remoto o sinal permissivo e o guarda utilizando
as Variavéis Lógicas do relé conforme figura 5.

FIGURA 5 – Lógica de Envio de Sinais


Consideramos na lógica que a Virtual Bit VB001 será o nosso sinal Permissivo e a Virtual Bit VB002 o sinal
de Guarda e a Virtual Bit VB003 o sinal de Falha do Canal- QL, assim podermos desenhar a nossa lógica
de trip para a teleproteção na figura 6, utilzamos a zona 4 para a teleproteção normalmente ajustada em
200% da impedância da linha de transmissão protegida.

FIGURA 6 – Lógica de Trip da Teleproteção

Com as lógicas prontas o teste inicial foi realizado em 2018 pelo Engenheiro Marcelo Bettega, primeiro em
laboratório com dois relés de proteção de distância modelo SEL 311C da Schweitzer e o software
Acselerator Architect para linkar as mensagens GOOSE e utilizando a mala de testes da Conprove CE-
7012 para geração do valores de corrente e tensão e também os sinas de GOOSE, na sequencia em
campo na LDAT PRO-HUR 69kV, foram encontradas algumas dificuldades para a configuração do canal
de comunicação mas por fim a equipe da Copel Telecom conseguiu configurar um canal de comunicação
com os requisitos necessários, como utilizar a mesma Vlan nas duas subestações e criar um caminho
lógico com esta Vlan. Atendendo os requisitos de desempenho de rede da norma IEC61850-5.
Um ponto importante da norma é o tempo de latência da rede que deve ser inferior a 10ms para a
Distribuição, para medir o tempo de latência mandamos um sinal para o terminal remoto e que pela lógica
imediatamente retorna para o terminal local, assim medimos a latência subtraindo os tempos e dividindo
por dois (ida e volta) e descontando o tempo de processamento total dos relés. Nas nossas aplicações a
latência de rede medida foi inferior a 1ms.

(𝑡 −𝑡 )
𝐿𝑎𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 = −𝑡
2

4.0 - ANÁLISE DE OCORRÊNCIA

Em 2019 implementamos na segunda linha a teleproteção via GOOSE, a linha PRO- AGV 69kV, e em 03
de março de 2020 tivemos um rompimento de cabo guarda nesta linha figura 7 e curto-circuito na fase C e
a atuação correta do esquema de teleproteção visto pela oscilografia terminal de AGV figura 8, em que se
percebe que o trip foi com o recebimento do sinal permissivo VB001 e temos o Guarda VB002 indo para o
nível lógico zero.
FIGURA 7 – Rompimento de cabo na LDAT AGV-PRO 69kV

FIGURA 8 – Oscilografia do evento de 03/03/20 no terminal de AGV.


5.0 - CONCLUSÃO

Conseguimos implementar, até o momento, em duas linhas de distribuição de alta tensão a teleproteção via Goose, mas já
adotamos como padrão este esquema de teleproteção pois tem como grande vantagem a eliminação dos relés de teleproteção
(85) diminuindo o número de equipamentos do esquema de proteção o que diminui a exposição a falha.
Comprovado na prática a eficiência do esquema de teleproteção através de real da abertura da linha de alta tensão Água Verde
- Parolin 69kV em 03/03/20 e sem atuações indevidas desde a implementação até o momento atual.
Como principal desvantagem anotamos que o esquema de teleproteção fica com sua implementação um pouco mais complexa,
exigindo mais das equipes técnicas e de engenharia, que passam a ter necessidade de conhecimento em redes.

6.0 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) ORDACGI FILHO, JORGE MIGUEL – Curso de proteção de linhas. Brasil

(2) INTERNATIONAL ELECTROTECHNICAL COMMISSION - IEC 61850 Communication networks and


systems for power utility automation. Switzerland

7.0 - DADOS BIOGRÁFICOS

ADILSON FRANCO KOTRYK

Nascimento: Curitiba, 20 de janeiro de 1977.


Especialista em Proteção de Sistemas Elétricos de Potência pela Universidade
Federal de Itajubá (2010-2012)
Especialista em Segurança do Trabalho – CEFET-PR (2001-2003)
Engenheiro Eletricista Sênior na Copel Distribuição (2013-2020)

Engenheiro Eletricista Pleno na Copel Transmissão (2002-2012)

MARCELO ALVES BETTEGA

Nascimento: Curitiba, 03 de maio de 1980


Engenheiro Eletricista Pleno na Copel Distribuição (2010-2020)

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