UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ

ENGENHARIA ELETRÔNICA

MÓDULO DE COMUNICAÇÃO PARA REDE LPWA OPERANDO EM LTE

CAT M1, CAT NB2 E GNSS

ORIENTADOR
José Alberto Ferreira Filho

CO-ORIENTADOR EXTERNO
Rodrigo Moreni

ALUNOS
Guilherme Henrique Vilela dos Santos
Wagner Luiz de Carvalho Junior

E-mails: guizus2000@unifei.edu.br, carvalho.wagnerlcj@hotmail.com,

jose.alb@unifei.edu.br, romoreni@gmail.com

ITAJUBÁ
2022
RESUMO
Este trabalho apresenta o desenvolvimento de uma placa de circuito impresso capaz de
comunicar nas redes LPWA via NB-IoT, LTE Cat-1, LTE Cat-M e fornecer informações de
seu posicionamento por meio do sistema de navegação por satélite que suporta GPS,
GLONASS, BeiDou, Galileo e QZSS. O módulo pretende ser compacto e de simples
funcionamento, de forma que possa operar sem dificuldades para o usuário.

Palavras-chave: LPWA, LTE, GPS, PCB.

ABSTRACT

This work presents the development of a printed circuit board capable of communicating in
LPWA networks via NB-IoT, LTE Cat-1, LTE Cat-M and providing positioning information
through the satellite navigation system that supports GPS, GLONASS, BeiDou, Galileo and
QZSS. The module intends to be compact and simple to operate, so that it can operate without
difficulties for the user.

Keywords: LPWA, LTE, GPS, PCB.

INTRODUÇÃO
As redes Low Power Wide Area
(LPWA) representam hoje uma importante
opção tecnológica para conexão de
dispositivos eletrônicos formando o que
chamamos de uma solução IoT. A
comunicação entre os dispositivos em uma
rede LPWA apresentam as seguintes
características (KLAINA et al., 2022): longo
alcance, baixo consumo de bateria, baixa
taxa de dados, número elevado de
dispositivos e baixo custo.
No Brasil, as principais opções para a
implantação de uma LPWA são (GARCIA et
al., 2020):
 LoRaWan, que utiliza frequências
não licenciadas na faixa dos 915
Mhz, adequada para sensores que não
demandam uma alta taxa de
transmissão de dados;
 NB-IoT, que utiliza frequências
licenciadas a partir do padrão de
comunicação LTE;
 LTE Cat-1, LTE Cat-M e o EC -
GSM.
O acesso às tecnologias NB-IoT, LTE
Cat-1, LTE Cat-M, embora oferecida pelas
operadoras de telefonia celular, é de difícil
acesso para estudantes e entusiastas que
criam seus próprios projetos, ficando
restritas às grandes empresas. Aspirando a
tornar esse tipo de tecnologia mais acessível
e livre para mais usuários, falta no mercado
um módulo homologado pela ANATEL que
possa ser utilizado por esse importante
público.
PROPOSTA
A proposta desse trabalho foi o
desenvolvimento de um módulo para redes
LPWA utilizando as tecnologias NB-IoT,
LTE Cat-1 e LTE Cat-M. Incluiu-se no
projeto uma solução de sistema global de
navegação por satélite que suporta GPS,
GLONASS, BeiDou, Galileo e QZSS. Além
disso, o desenvolvimento de sequência de
comando AT para operar nas tecnologias
propostas por meio de um controlador, como
arduino ou ESP32, que efetue a comunicação
com o módulo via serial pelo protocolo
UART.
É de interesse planejar, projetar e
desenvolver fisicamente a placa, para que
seja possível disseminar o uso da tecnologia
principalmente em projetos DIY (faça você
mesmo). Isso faz crescer o ambiente
tecnológico do Brasil, algo fundamental para
a visão de um país melhor e mais próspero.
DESENVOLVIMENTO
Para o desenvolvimento do módulo
foi escolhido o chip BG95 da empresa
Quectel devido à disponibilidade de 10
unidades na UNIFEI. Outro ponto
importante para sua escolha foi o suporte
oferecido pelo fabricante aos projetistas. Ao
término das etapas de captura do
esquemático e desenvolvimento do layout,
foram enviados para o suporte técnico
realizar revisões necessárias para o correto
funcionamento da PCB. Ao todo, foram
obtidas duas revisões em todo o projeto por
parte da Quectel.
A partir do Reference Design da
Quectel (QUECTEL WIRELESS
SOLUTIONS CO., 2021), foi elaborado o
projeto da placa seguido pela fabricação,
montagem dos componentes e testes de
validação utilizando o programa com
comandos AT.
Um problema enfrentado durante o
desenvolvimento do projeto foi a
disponibilidade dos componentes no
mercado. Até a fabricação da placa, foi
necessário elaborar três diferentes listas de
materiais devido ao atraso no fornecimento
dos fabricantes e a rápida absorção por parte
do mercado. Desta forma, foi necessário
adequar o projeto com os materiais
disponíveis mantendo sua integridade.
ESQUEMÁTICO A conexão à rede LTE será feita por
meio do cartão SIM com conector nano de 6
Como o modem BG95 (QUECTEL pinos. O circuito de interface seguiu o
WIRELESS SOLUTIONS CO., 2021) Hardware Design (QUECTEL WIRELESS
requer alimentação de 3,3 V a 4,3 V, foi SOLUTIONS CO., 2021) para garantir a
utilizado um regulador buck-boost regulável correta recepção e transmissão dos sinais.
que forneça 2 A para o BG95 e para o Com o objetivo de mitigar possíveis
regulador de 3,3 V. De acordo com o manual perdas e proteger o circuito em relação à
do regulador (ANALOG DEVICES, 2014), a compatibilidade eletromagnética, foram
tensão de saída é dada pela equação: inseridos capacitores de desacoplamento
conforme manual dos CI’s, ferrite bead a fim
𝑅 1,1 𝑀Ω de filtrar altas frequências (ECO; LIMJOCO,
𝑉𝑜𝑢𝑡 = 0,8 (1 + 𝑅1 ) = 0,8 (1 + 270 𝐾Ω) (1)
2 2015) devido ao chaveamento de 2,5 MHz do
𝑉𝑜𝑢𝑡 = 4,0592 𝑉 (2) regulador buck-boost, e varistores contra
descargas eletrostáticas (ESD)
Como o modem fornece 1,8 V nos
principalmente no circuito de alimentação do
pinos de comunicação UART, faz-se
BG95 (VASHCHENKO; SCHOLZ, 2014).
necessário a implementação de um conversor
de nível lógico para 3,3 V utilizados em
microcontroladores. Além do protocolo LAYOUT PCB
UART, foi utilizado o micro USB 2.0 como
Para o desenvolvimento da PCB,
suporte para programação e comunicação.
considerando a quantidade de componentes,
Foram utilizados dois conectores do
optou-se por utilizar 4 camadas a fim de
tipo IPEX com impedância de 50 Ω para
minimizar o tamanho do módulo. A primeira
ambas as antenas. Em relação ao GNSS,
camada (superior) é responsável pelos sinais,
implementou-se um circuito para a utilização
incluindo modem, antenas, USB e o conector
de antenas passivas ou ativas. Para a segunda
de 6 pinos para pontos de teste e debug. A
opção, basta ativar o pino “GPS_EN” que
segunda camada é exclusiva para plano de
controlará o MOSFET enviando 3,3 V para a
terra, enquanto a terceira corresponde ao
antena ativa.
plano de alimentação. A quarta camada
Como sugestão do suporte técnico da
(inferior) conta com os componentes de
Quectel, foi implementado pontos testes (J5)
alimentação, pinos de comunicação com
contendo pinos de alimentação, debug e
Arduino e o cartão SIM.
recuperação do módulo. O BG95
A ideia inicial para o projeto consistia
disponibiliza dois sinais de debug da
no emprego de casteletes nas bordas laterais
interface UART para RX e TX que foram
da placa. Porém, devido ao custo elevado de
conectados diretamente no ponto teste. A fim
fabricação comparado a vias comuns para
de recuperar o módulo via USB em caso de
pinos do tipo headers, decidiu-se pela
emergência e em problemas de atualização
segunda opção em virtude da inviabilidade
ou versão, incluiu-se o circuito para sinal
financeira dos casteletes.
“USB_BOOT” conforme o manual do
Por ser o componente principal do
fabricante.
módulo, o BG95 foi posicionado no centro da
A alimentação do modem e os sinais
placa de modo que os outros componentes se
que fazem a interface com um controlador
posicionassem o mais próximo possível dos
foram inseridos nos conectores J3 e J4. Além
seus respectivos pinos no modem, facilitando
disso, o modem BG95 fornece um pino de
assim o layout da PCB. A fim de otimizar o
indicação do status da rede que foi conectado
espaço útil da placa com o intuito de
a um LED utilizando um TBJ polarizado.
minimizar a dimensão final, o conector do
cartão SIM foi inserido na camada inferior,
destinado à alimentação, devido ao pouco
espaço disponível na camada superior no
qual se encontra os componentes principais.
O roteamento da placa seguiu as
especificações mínimas do fabricante em
relação à capabilidade: largura de trilhas,
diâmetro de vias, espaçamento entre trilhas e
vias e folga entre zonas. Para as trilhas de
comunicação USB e serial, garantiu-se que
possuíssem comprimentos semelhantes com
o objetivo de evitar problemas de atraso na
chegada dos dados em trilhas de sinais
diferenciais. Foi utilizado a ferramenta do
Kicad para auxiliar o roteamento.
Figura 1 – Trilha de par diferencial.
Fonte: Os autores.
As trilhas das antenas foram traçadas
seguindo o RF Design da Quectel
(QUECTEL WIRELESS SOLUTIONS CO.,
2021), no qual recomenda que o sinal seja
desenhado em linha reta até o conector da
antena, sem pontos de teste e com vias GND
ao redor da trilha. Isso porque as vias
reduzem a indutância série equivalente e
facilita o fluxo de corrente para o GND,
criando assim uma blindagem para o sinal RF
(BAILEY, 2011). Desta forma, as trilhas das
antenas foram traçadas como guia de onda
coplanar com plano de terra (ZHANG,
2007), conforme figura 2.
Figura 2 – Guia de onda coplanar com plano
de terra.
Fonte: Zhang (2007).
Considerando a alta frequência de
operação das antenas, cerca de 2 GHz, faz-se
necessário considerar suas trilhas como
linhas de transmissão com o objetivo de casar
a impedância entre o BG95 e as antenas para
minimizar reflexões e maximizar a
transferência de potência (PAUL, 2006). Ao
levar em conta que tanto os pinos do modem
quanto as antenas possuem impedância de 50
Ω, basta desenhar as trilhas com impedância
característica de mesmo valor para o correto
casamento de impedância.
Com o auxílio da calculadora do
próprio Kicad, foram obtidos valores para a
espessura das trilhas e isolação que resultam
na impedância característica mais próxima
de 50 Ω, como pode ser visto nos apêndices
A e B. Desta forma, tem-se:
𝑍𝑜,𝐿𝑇𝐸 = (49,934∠0,490 rad) Ω (3)
𝑍𝑜,𝐺𝑃𝑆 = (49,935 ∠0,396 rad) Ω (4)
Ao analisar os resultados, devido ao
recurso computacional do software e a
utilização de mais variáveis para realizar o
cálculo de impedância característica,
aumentando a confiabilidade, pode-se
concluir que as trilhas estão casadas com as
antenas e o BG95.
Por fim, a placa desenvolvida possui
a dimensão de 46 mm de comprimento, 28
mm de altura e 1,2 mm de espessura. Na
secção Anexo foram incluídas imagens das
quatro camadas da PCB e sua representação
3D.
SOFTWARE
A comunicação com o modem
funciona por meio dos comandos AT,
introduzidos inicialmente pela Hayes
Communications Company em 1977. Esses
comandos são cadeias de caracteres
utilizados para programação de um módulo
de comunicação. Resumidamente, trata-se de
linhas de texto curtas utilizadas para alterar
parâmetros e ligar e/ou desligar certas
conexões (GERIGAN; OGRUTAN, 2011).
 A grande vantagem da utilização de Figura 3 – Comando AT+CPIN e suas
comandos AT é a baixa taxa de dados variações.
necessária para seu funcionamento,
tornando-a ideal para aplicações LPWA,
como é o caso do atual projeto.
Para conectar-se à rede, foi utilizado
um cartão SIM da TIM (Telecom Italia
Mobile), próprio para NB-IoT. O devido SIM
foi utilizado com um plano de dados ativo,
para que fosse possível o envio e
recebimento de dados do projeto. É possível
conferir a cobertura da operadora por meio
do seguinte site:
https://tim.img.com.br/mapa-cobertura/.
Por conta da falta de tempo hábil para
a chegada dos componentes, os testes foram
realizados em outro módulo, comprado Fonte: QUECTEL WIRELESS SOLUTIONS CO.,
previamente, que utiliza dos mesmos LTD.
componentes principais que o projeto se
propõe a ter, sendo eles o modem BG95 e Para o funcionamento do projeto, a
conexão via USB Serial. primeira parte dos comandos envolvem a
O objetivo dos comandos a seguir inicialização correta do módulo e a conexão
consiste em duas partes principais: do mesmo com a rede operadora. Os
1. Inicializar e conectar o módulo à seguintes comandos foram utilizados:
rede NB-IoT;
2. Inscrever-se e publicar, em MQTT. Figura 4 – Sequência de comandos AT para
O MQTT (Message Queuing inicialização e conexão à rede.
Telemetry Transport) mencionado acima é
um protocolo utilizado para a comunicação
de um ambiente IoT de máquina para
máquina através de uma comunicação de
método leve (DINCULEANĂ; CHENG, Fonte: Os autores.
2019). Trata-se de um caractere que no
presente trabalho foi utilizado através de uma Com essa sequência é possível
plataforma online. verificar que o modem está funcionando de
Neste trabalho optou-se pela forma correta e já se encontra conectado à
utilização do QCOM, programa da própria rede NB-IoT da TIM.
Quectel, para a realização dos comandos, O próximo passo consiste em
mas cabe ressaltar que qualquer terminal conectar o módulo a uma plataforma MQTT
serial pode ser utilizado desde que se online, subscrever-se a um tópico e publicar
comunique com a USB. um caractere. Para esse fim, foi criada uma
A sintaxe de um comando AT conta na plataforma Tago.io, gratuita para
consiste em ter o prefixo “AT+” e logo após nossos testes, mas que é paga quando se
o comando que se deseja enviar ao modem. deseja armazenar os dados.
Cada comando possui três variações, sendo Com um device MQTT pronto na
para testar, ler ou escrever informações ou plataforma, cria-se um token para que este
parâmetros. Um exemplo é mostrado na seja colocado no comando AT e a subscrição
figura abaixo: seja feita.
 Essa série de comandos é vista
abaixo:
Figura 5 – Sequência de comandos AT para
publicação em MQTT.
Fonte: Os autores.
Com esses comandos, pode-se
observar a comunicação bem-sucedida entre
o módulo LPWA e uma plataforma online
via MQTT, por meio da rede NB-IoT.
RESULTADOS
De início, foi observada uma grande
dificuldade em conectar o módulo à rede,
primeiro por conta da grande quantidade de
comandos e depois por certos comandos que
faziam com que o modem travasse e não
precisasse ser resetado.
Após um domínio maior dos
comandos e o auxílio dos técnicos da Quectel
em trocas de e-mails, foi possível chegar a
essa sequência final apresentada, que em
vários testes se mostrou validada.
Um problema que também foi
solucionado é a questão de que o cartão SIM
se comunicava automaticamente por meio da
rede 2G, o que fio resolvido com o parâmetro
que força o SM a comunicar via NB-IoT:
>> AT+COPS= 0,0,"TIM TIM",9
Com a sequência descrita
implementada, a seguinte tela pôde ser
observada na plataforma Tago.io:
Figura 6 – Tela da Tago.io após correção de
comunicação do SIM.
Fonte: Os autores.
O payload descrito é o caractere “A”
publicado que comprova toda a comunicação
bem-feita entre o módulo e a plataforma via
MQTT, por meio da rede NB-IoT.
CONCLUSÃO
Embora os testes não foram efetuados
na placa desenvolvida e, para tanto, foi
utilizado outra com as mesmas
características, a sequência de comandos AT
foi capaz de realizar o envio e recebimento
de dados através da rede NB-IoT via MQTT,
além de enviar informações a respeito da
localização devido à antena GPS.
Desta forma, considerou-se efetiva a
implementação de um módulo que
comunique em LPWA e GPS via comandos
AT. Apesar dos comandos apresentarem
certa dificuldade a um primeiro momento,
sua sequência pode ser de grande valia para
quem deseja criar projetos visando as redes
LPWA devido ao baixo consumo de dados.
Como trabalho futuro é sugerida a
confecção, montagem dos componentes e a
realização de testes na PCB projetada a fim
de comparar e reafirmar os resultados
utilizando o código desenvolvido.
REFERÊNCIAS
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APÊNDICE
Apêndice A – Impedância característica trilha LTE.

Apêndice B – Impedância característica trilha GPS.

Apêndice C – Camada superior PCB.

Apêndice D – Camada inferior PCB.

 Apêndice E – Camada interna plano de terra.

Apêndice F – Camada interna plano de alimentação.

Apêndice G – Visualização 3D camada superior.

Apêndice H – Visualização 3D camada inferior.