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X STPC SEMINÀRIO TECNICO

XSTPC-ST-13
DE PROTEÇÂO E CONTROLE 17 a 20 de outubro
de 2010
RECIFE – PERNAMBUCO - BRASIL

DETALHES DA APLICAÇÃO DA NORMA IEC 61850 NO ESQUEMA DE TELEPROTEÇÃO DAS LINHAS LT


IPU-MD 1 e LT IPU-MD 2 DA USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU – UTILIZAÇÃO DE MENSAGENS GOOSE

Alexandre Gonçalves Leite(*) Felipe Trevisan Artur da Silva Carrijo

ITAIPU BINACIONAL ITAIPU BINACIONAL ITAIPU BINACIONAL

PALAVRAS-CHAVE

Teleproteção, IED, IEC 61850, Mensagens GOOSE

RESUMO

A norma internacional IEC 61850, que padroniza as comunicações para automação e proteção de sistemas elétricos,
vem se consolidando nos últimos anos. Existem cada vez mais aplicações em diversas empresas do setor elétrico. A
expectativa por esta padronização, também nas instalações da Usina Hidrelétrica de Itaipu (UHI), foi o que motivou a
elaboração deste trabalho. O objetivo é modelar o sistema de teleproteção de duas linhas de transmissão de 525kV,
LT IPU-MD1 e LT IPU-MD2, do setor de 50Hz da usina, de acordo com a norma IEC 61850. Através de uma
pesquisa, foram levantados os nós lógicos e serviços de comunicação necessários, considerando as características
do sistema convencional atualmente instalado. Para isso, foram revisados conceitos fundamentais de proteção de
linhas de transmissão. O trabalho apresenta uma proposta de implementação do novo sistema de teleproteção e as
vantagens da aplicação da norma IEC 61850 para esse fim. O resultado foi um projeto simples cuja aplicação
depende somente da conclusão da modernização das proteções das linhas. As vantagens do projeto proposto estão
descritas neste trabalho.

1.0 - INTRODUÇÃO

Após a conclusão das duas últimas unidades geradoras, em 2007, a Usina Hidrelétrica de Itaipu (UHI) passou a
contar com uma potência instalada de 14.000MW, totalizando 20 unidades. Atualmente, a UHI é responsável por
aproximadamente 20% da energia elétrica consumida no Brasil e 90% da energia elétrica consumida no Paraguai.

De um total de 20 unidades geradoras, 10 unidades geram energia na freqüência de 60Hz e as outras 10 unidades
na freqüência de 50Hz. A transmissão desta energia gerada é realizada através de dez linhas de 525kV.

As quatro linhas de transmissão do sistema de 60Hz interligam a subestação blindada isolada à gás SF6 de Itaipu
(SE-IPU), que encontra-se no interior de sua barragem principal, à subestação de Furnas, situada na cidade de Foz
do Iguaçu.

Das seis linhas do sistema de transmissão do setor de 50Hz da UHI, duas estão interligadas diretamente com a
subestação conversora de Furnas (ST-FI), em Foz do Iguaçu, e outras duas vão para a subestação da margem
direita (SE-MD), LT IPU-MD1 e LT IPU-MD2, onde são seccionadas. Da SE-MD saem duas linhas de interligação
com a subestação conversora de Furnas em Foz do Iguaçu, ver Figura 1. No mesmo barramento de 525kV da
SE-MD estão conectados os quatro auto-transformadores, de 375 MVA cada, responsáveis pelo suprimento de 90%
da demanda do Sistema Interligado Nacional Paraguaio (SIN-PY).

A proteção das linhas de 525kV é feita por relés estáticos que trabalham em conjunto com um sistema de
teleproteção. Este sistema de proteção encontra-se em processo de modernização, por meio do qual os relés serão
substituídos por IEDs e o meio de transmissão do sistema de teleproteção será substituído por fibra ótica. A
especificação desta modernização, feita há mais de quatro anos, não contempla a utilização da norma IEC 61850 em
seus sistemas, apesar dos IEDs já contarem com esta tecnologia.

Portanto, diante da possibilidade da utilização da IEC 61850 em seus sistemas de proteção e tendo em vista a
proximidade das subestações SE-IPU e SE-IPU, 2,2km, propôs-se utilizar o sistema de teleproteção das duas linhas
que interligam estas subestações, LT IPU-MD1 e LT IPU-MD2, como paradigma na utilização da IEC 61850 em
todos os sistemas de proteção das demais linhas de 525kV da UHI.

A seguir serão detalhadas as lógicas do sistema de teleproteção, além de aspectos importantes da IEC61850, para
enfim pormenorizar o projeto contemplando a modelagem das funções de proteção.

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Figura 1 – Sistema de 50Hz da UHI.

2.0 - PROTEÇÃO DAS LINHAS LT IPU-MD1 E LT IPU-MD2 DA UHI

As proteções utilizadas nas linhas LT IPU-MD1 e LT IPU-MD2 são idênticas. Elas são constituídas por dois
conjuntos de relés similares e independentes, chamados de Proteção Primária e Proteção Alternada em cada
terminal da linha.

Atualmente, cada conjunto de proteção é formado basicamente pelos seguintes relés estáticos:

♦ Relé de distância (21)

Trata-se de um relé trifásico que possui três zonas de atuação, cujas características encontram-se na Tabela 1.

Tabela 1 – Características das três zonas do relé de distância – 21.


RELÉ DE DISTÂNCIA – 21
ZONA TEMPORIZAÇÃO ALCANCE IMPEDÂNCIA
1 0 SUBALCANCE 30%
2 350ms SOBREALCANCE 150%
3 BLOQUEADA

A proteção de distância destas linhas utiliza-se de três curvas diferentes a depender da falta considerada. Para
curtos monofásicos, o relé utiliza-se de uma curva quadrilateral. Para curtos bifásicos o relé utiliza-se de uma
curva MHO. Já os curtos trifásicos são detectados por oscilação de potência (power swing) através de uma curva
poligonal.

♦ Relé de sobrecorrente direcional de neutro direto (67N) e reverso (67NR)

Cada sistema de proteção conta com um relé direcional de neutro polarizado diretamente (67N) e um relé
direcional de neutro polarizado reversamente (67NR).

♦ Relé contra falha de disjuntor (50 BF)

A proteção contra falha de disjuntor destas linhas possui unidades de medição de corrente que garantem a sua
correta atuação somente quando há circulação de corrente pelo disjuntor faltoso. A sua temporização (62BF) é de
100 ms.

3.0 - TELEPROTEÇÃO DAS LINHAS LT IPU-MD1 E LT IPU-MD2 DA UHI

Os sistemas de teleproteção das duas linhas também são similares. Os meios de comunicação utilizados são o
carrier – canais 1 e 3, e microondas – canais 2 e 4, os quais serão substituídos por dois circuitos de fibra ótica:
OPGW e subterrâneo.

♦ Sistema carrier de Itaipu – canais 1 e 3

Os sinais são transmitidos pelos próprios cabos condutores das fases e passam por capacitores de acoplamento e
sintonizadores de linha banda larga, antes de serem tratados no PLC (Power Line Carrier).

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♦ Sistema de microondas de Itaipu – canais 2 e 4

O meio utilizado por este sistema é o ar e seus sinais são transmitidos com uma freqüência de aproximadamente
6,7GHz. As antenas estão dispostas nas duas subestações e o recebimento e tratamento dos sinais são feitos
pelo equipamento Pró – Guard PTP-01 e PTP-02.

A função da teleproteção destas linhas é realizada através de duas lógicas, quais sejam:

♦ Transferência de desbloqueio permissivo por sobrealcance (P.O.U.)

Conforme ilustrado na Figura 2, esta lógica utiliza-se da partida em segunda zona do relé de distância, ajustada
em 150% da impedância da linha – sobrealcance, os relés de sobrecorrente direcional de neutro – direto e reverso,
além dos canais 1 (carrier) e 2 (microondas) para a comunicação. A lógica de teleproteção é a mesma para ambos
os terminais.

Na ocorrência de uma falha interna à linha, que ocasione a partida do relé de distância em segunda zona e/ou do
relé de sobrecorrente de neutro direto, haverá imediatamente envio do sinal de desbloqueio, através dos canais 1
e 2, para a proteção do terminal remoto. Caso as proteções de distância em segunda zona e/ou sobrecorrente de
neutro, do terminal remoto, tenham partido para tal falha, ao receber o sinal de transferência de desbloqueio,
ocorre o envio de sinal de disparo para abertura de seus disjuntores locais.

Percebe-se na lógica que a atuação do relé de sobrecorrente direcional de neutro reverso inibe a atuação do relé
de distância em segunda zona. Esta ação previne a atuação incorreta da proteção de distância para faltas
externas à linha, ou seja, à montante do relé de distância.

Existe também uma lógica adicional que habilita o disparo da proteção por aceleração de segunda zona do relé de
distância e/ou sobrecorrente direcional de neutro direto, na ocorrência da perda do canal 1 (carrier). Este sinal fica
selado por 300ms. Esta lógica não será considerada na modelagem dos nós lógicos, de acordo com a IEC 61850.

Figura 2 – Lógica de desbloqueio permissivo por sobrealcance utilizada na teleproteção das linhas LT IPU-MD1 e
LT IPU-MD2 - Fonte: IOPI 06 de Itaipu.

♦ Transferência de disparo direto por subalcance (D.U.T.T.)

Conforme ilustrado na Figura 3, esta lógica utiliza a primeira zona do relé de distância, ajustada em 30% da
impedância da linha – subalcance, o relé de sobrecorrente direcional de neutro reverso, além dos canais 1 e 3
(carrier) e 2 e 4 (microondas) para a comunicação.

Ocorrendo uma falta interna à linha que provoque a atuação da primeira zona do relé de distância, haverá a
transferência do sinal de disparo direto para a proteção do terminal remoto, acarretando na abertura imediata dos
disjuntores daquele terminal, independente da atuação do relé de distância em primeira zona do próprio terminal
remoto. Logicamente haverá também a abertura dos disjuntores do terminal local. Similar a lógica anterior, a
atuação do relé de sobrecorrente direcional de neutro reverso inibe o envio do sinal de disparo direto bem como a
abertura do disjuntor do terminal local, mesmo com a atuação do relé de distância em primeira zona. Esta ação
previne a atuação incorreta da proteção de distância para faltas externas à linha.
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Figura 3 – Lógica de disparo direto por subalcance utilizada na teleproteção das linhas LT IPU-MD1 e LT IPU-MD2
Fonte: IOPI 06 de Itaipu.

4.0 - PROPOSTA DE PROJETO PARA APLICAÇÃO DA IEC 61850 NO ESQUEMA DE TELEPROTEÇÃO DAS
LINHAS LT IPU-MD1 E LT IPU-MD2 DA UHI

A proposta de aplicação da IEC 61850 no esquema de teleproteção das linhas LT IPU-MD1 e LT IPU-MD2 da UHI
baseia-se na utilização de mensagens GOOSE via sistema de comunicação por fibra ótica e switches. Foi
elaborado uma modelagem das duas funções utilizadas no sistema de teleproteção das linhas com base nos
conceitos teóricos da norma. Na elaboração desta proposta foram considerados aspectos relevantes da norma,
como velocidade e desempenho de mensagens GOOSE prioritárias e a segurança da rede de comunicação entre
as subestações. É importante ressaltar que a parte da IEC 61850 que trata de sua utilização entre subestações, é
recente. Portanto, para a realização deste trabalho, foi utilizado como referência o draft da norma IEC 61850-90-1.

4.1. Conceitos da Norma IEC 61850

A norma IEC 61850 foi concebida por um grupo de especialistas, de vários países, representantes da International
Electrotechnical Commission (IEC) e sua principal motivação foi a padronização dos diversos protocolos para
automação e proteção de subestações existentes, em um único protocolo que contemplasse todas as
comunicações, visando a interoperabilidade entre os IEDs.

Fato é que a interoperabilidade entre os IEDs de fabricantes diferentes, através da IEC 61850, já é uma realidade.
Interoperabilidade, segundo a própria norma IEC 61850-5, é a capacidade de dois ou mais IEDs, independente do
fabricante, trocarem informações e utilizá-las. A interoperabilidade deve seguir os seguintes aspectos:

− Os IEDs devem ser ligados a um barramento comum com um protocolo comum;


− Os IEDs devem interpretar e compreender as informações enviadas por outros IEDs.

Entre os diversos aspectos tratados pela norma, como modelagem de dados e transferência de dados amostrados
(SVCB), está a rápida transferência de eventos – GSE (Generic Substation Event) que é definida por transferência
rápida de dados de evento através de uma comunicação ponto a ponto. Ela é subdividida em: GOOSE (Generic
Object Oriented Substation Events) – Eventos Genéricos de Subestações Orientados a Objetos e GSSE (Generic
Substation Status Event).

Basicamente, para mensagens que necessitam de rapidez e confiabilidade, como disparos e partidas das
proteções e sinais de transferência da teleproteção, utiliza-se o serviço GOOSE. Entretanto, como a qualidade e
rapidez destas mensagens costumam ser determinantes para a integridade dos equipamentos e principalmente
das pessoas, dois aspectos tornam-se relevantes:

− Tempo e qualidade do sinal transmitido pelas mensagens GOOSE.

O serviço de mensagens GOOSE é mapeado diretamente sobre a camada Ethernet (enlace de dados - 2ª camada
do modelo OSI), e é especificado na parte 8-1 da norma IEC 61850. A principal atribuição do serviço de
mensagens GOOSE é realizar a troca de informações entre as lógicas de proteção, substituindo a tradicional
fiação rígida de cobre entre os relés.

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A questão que surge com o emprego das mensagens GOOSE é quanto ao impacto na velocidade de transferência
dos dados entre IEDs, e, a conseqüente qualidade da mensagem para o caso com múltiplas transferências de um
determinado dispositivo. Neste ponto, a utilização de switches industriais possibilitam um isolamento do tráfego da
rede, transformando o meio físico (Ethernet) quase em um barramento dedicado.

Entretanto, como a transmissão de pacotes de dados do tipo GOOSE emprega o endereçamento de destino no
formato multicast, o emprego do switch torna-se pouco eficaz, uma vez que os pacotes devem ser ecoados para
todas as portas, aumentando assim a probabilidade de colisão e consequentemente o retardo na transmissão.

Para melhorar o seu desempenho, a IEC 61850 considera a utilização dos seguintes padrões adicionais:

− Prioridade (Ethernet) IEEE802.1p Priority tags – A norma contempla um tratamento prioritário pelos switches e
roteadores para as mensagens GOOSE;
− Virtual LAN (Ethernet) IEEE802.1Q VLAN - Permite a separação virtual de uma rede onde os dispositivos
estão interligados fisicamente, diminuindo o fluxo de dados que trafegam sem uma maior necessidade;

Além disso, para aumentar a confiabilidade do sistema, a IEC 61850 utiliza um esquema de repetição do envio das
mensagens GOOSE a taxas elevadas na ocorrência de eventos, com objetivo de garantir a sua transferência
mesmo em casos de perda de pacotes.

Outro fator importante é o tempo de transmissão das mensagens. Este tempo de transmissão é a composição do
tempo gasto no trajeto do canal mais os tempos de manipulação dos dados pelos IEDs de ambos terminais. A
contagem de tempo inicia-se no momento em que o transmissor coloca os dados na pilha de transmissão e
termina no momento em que o receptor retira os dados na pilha de recepção. Neste tempo ainda estão inclusos os
tempos de execução de switches e roteadores. A inclusão de algoritmos de segurança com o intuito de proteger as
mensagens, aumenta o tempo de manipulação de dados o que compromete o requisito de tempo de quatro
milissegundos exigidos pelos SAS (Substation Automation Systems). A Figura 4 ilustra os tempos de
transferências de dados no protocolo IEC 61850.

Figura 4 – Definição do tempo de transferência das mensagens GOOSE. Fonte: IEC 61850 – 5.

Mesmo com estes recursos para garantir a eficiência do GOOSE, na tentativa de comprovar a sua eficácia, vários
testes de bancada já foram realizados e seus resultados, na sua maioria satisfatórios, apresentados em seminários
técnicos.

Um destes ensaios foi realizado durante a cadeira do curso de especialização da UNIOESTE - Prática em
IEC 61850. Foram realizadas simulações com um cenário hipotético com cinco IEDs de quatro fabricantes
diferentes. Dentre os diversos cenários, foi simulado o de uma lógica de transferência de atuação e bloqueio,
bastante similar ao utilizado no sistema de teleproteção das linhas de transmissão entre as subestações SE-IPU e
SE-MD da UHI.

Os ensaios foram realizados no Laboratório de Automação e Simulação do Sistema Elétrico (LASSE) do Parque
Tecnológico de Itaipu (PTI). A simulação do curto-circuito ficou à cargo de uma caixa de testes. Foram simulados
cenários sem carregamento, com 8% e 80% de carregamento da rede Ethernet de 100 Mbps. Os resultados foram
satisfatórios para os cenários sem carregamento e com 8% de carregamento. Já para o carregamento de 80%, em
alguns casos o tempo de transmissão superou o tempo limite previsto pela SAS que é de 4ms para mensagens
GOOSE. Entretanto, esta diferença não foi linear. Isto sugere que os carregamentos utilizados não deveriam
comprometer o desempenho dos IEDs. O tempo de envio das mensagens dependem mais das características dos
IEDs e dos equipamentos da rede (principalmente switches) do que especificamente do seu carregamento ou da
ferramenta utilizada nos ensaios.

− Segurança da rede Ethernet utilizada para a transmissão das mensagens GOOSE.

A outra grande preocupação dos profissionais de proteção é quanto a segurança da rede Ethernet utilizada como
meio de transmissão das mensagens GOOSE, principalmente entre duas ou mais subestações. O fato é que uma
possível falha no sistema de segurança, de caráter acidental ou intencional, poderia ocasionar danos
consideráveis às instalações e a integridade física de profissionais e usuários. A implementação de técnica de
segurança nos protocolos requer uma maior capacidade computacional, o que pode prejudicar no sistema de
comunicação de mensagens prioritárias.
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O IEC está elaborando a norma IEC 62351 que trata a questão da segurança para protocolos de comunicação de
automação. Em sua parte seis há a tratativa da segurança no protocolo IEC 61850 utilizando técnica de assinatura
digital das mensagens. Este assunto esbarra sempre na capacidade computacional dos processadores dos IEDs.

Entretanto, empresas que já utilizam, com sucesso, as redes corporativas para o acesso remoto de seus IEDs,
para fins como a disponibilização de registros oscilográficos e parametrização de relés, encontraram algumas
soluções paliativas como o aumento da segurança inerente às redes operativas, implementação de chaves de
hardware e restrições de acesso a áreas críticas, através do sistema operacional. Estas soluções têm garantido,
até então, a perfeita segurança destes sistemas.

4.2. Proposta do sistema de comunicação

A elaboração de uma proposta para a utilização da IEC 61850, através de mensagens GOOSE, na teleproteção
das linhas LT-IPU-MD1 e LT-IPU-MD2 da UHI, passa pela modernização de seus sistemas de comunicação.
Portanto, o projeto proposto levou em consideração os seguintes critérios:

− Troca dos sistemas de transmissão dos sinais da teleproteção de microondas e carrier por fibra ótica. Isto
implicará na substituição dos PLCs (carrier) e dos equipamentos de tom da teleproteção Pró – Guard
(microondas) por dispositivos multiplex de fibra ótica. Esta troca já está prevista na especificação ESP 025/05,
o que isenta o projeto de qualquer custo;
− A redundância perdida com a inutilização dos dois sistemas, carrier e microondas, seria suprida pela utilização
de dois circuitos de fibra ótica, subterrâneo e através do cabo pára–raios (OPGW). A norma ainda não
determina como a redundância dos sistemas deve ser implementada. Uma referência que provavelmente será
adotada na próxima revisão da IEC 61850 será a IEC 62439 - High Availability Automation Networks);
− Utilização de um switch industrial de alta velocidade, compatível com a norma IEC 61850 em cada
extremidade das linhas.

Com isto, a proposta do novo esquema de comunicação da teleproteção das linhas LT-IPU-MD1 e LT-IPU-MD2 da
UHI, contempla a utilização de dois IEDs para a proteção principal e dois para a proteção alternada, um para cada
extremidade das linhas, de acordo com a configuração apresentada na Figura 5.

LPPIPU LPPMD

IED IED

LAPIPU LAPMD

IED IED

Figura 5 – Configuração do sistema de comunicação com fibra ótica e switch.

4.3. Proposta de modelagem das lógicas da teleproteção, de acordo com a norma de IEC 61850

Segundo a IEC 618550, as funções (F) e os dispositivos físicos (PD) de um sistema devem ser representados por
nós lógicos (LNs), os quais são interligados por conexões lógicas (LC), a dispositivos através de conexões físicas
(PC). Todo LN é parte de um PD e toda LC é parte de uma PC. A Figura 6 ilustra este conceito.

Figura 6 – Conceito de ligação nós lógicos. Fonte: IEC 61850 – 5.

Uma vez que não existe a definição para todas as funções, em alguns casos utilizam-se de nós lógicos genéricos,
conforme a norma, para que nenhuma função deixe de ser representada. Os LNs fornecem as seguintes
informações:

− Agrupamento de acordo com sua área de aplicação mais comum;


− Descrição textual curta da funcionalidade;
− Número da função IEEE;
− Sigla/abreviatura utilizadas na IEC 61850.
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Com base nos conceitos discutidos na norma IEC 61850-90-1, foi proposta a modelagem do sistema de
teleproteção das linhas LT-IPU-MD1 e LT-IPU-MD2 de acordo com o diagrama mostrado na Figura 7. Nela, estão
representadas as duas lógicas de proteção do esquema, quais sejam: transferência de trip direta e desbloqueio
permissivo por subalcance. Vale lembrar que ambas as lógicas devem ser implementadas de maneira redundante
(proteção principal e alternada). No diagrama apresenta-se a modelagem de um dos IEDs da proteção principal de
uma das linhas, neste caso, representada pelo dispositivo lógico LPPIPU1.

Figura 7 – Diagrama de modelagem dos nós lógicos LN referentes às funções do esquema de teleproteção.

De acordo com a figura, as funções de proteção de distância (21) de primeira e segunda zona são mapeados para
os nós lógicos PDIS_Z1 e PDIS_Z2, enquanto as funções de proteção de sobrecorrente direcionais de neutro e
zona reversa (67N e 67NR) são representadas pelos nós lógicos PTOC_N e PTOC_NR, respectivamente. O nó
lógico PSCH (Protection Scheme), estendido e modificado pela parte 90-1 da IEC 61850, é utilizado para definição
da coordenação da proteção além de ser responsável pelo envio e recebimento de sinais de transferência direta
de trip (objeto de dados TxTr) e desbloqueio permissivo (objeto TxPrm).

Como comentado anteriormente, a comunicação entre os IEDs das extremidades das linhas é realizada por meio
de troca de mensagens GOOSE. O dispositivo lógico LPPIPU1 publica na rede uma mensagem denominada
GOOSE_LPPIPU1, cujo DataSet referencia os dois objetos de dados supracitados. Da mesma forma, o IED
responsável pela proteção alternada envia uma mensagem denominada GOOSE_LAPIPU1, contendo os mesmos
dados enviados pela proteção principal, promovendo redundância do sistema de proteção.

Para comunicação no sentido contrário, os IEDs da proteção principal e alternada na extremidade IPU assinam
mensagens provenientes da proteção principal e alternada da outra extremidade da linha, quais sejam:
GOOSE_LPPMD1 e GOOSE_LAPMD1, ambas contendo os mesmos DataItems (TxTr e TxPrm).

A Tabela 2 lista as mensagens GOOSE publicadas pelos IEDs especificando os assinantes de cada mensagem.

Tabela 2 - Lista de mensagens GOOSE.


Assinantes
Msg GOOSE
LPPMD1 LAPMD1 LPPIPU1 LAPIPU1
GOOSE_LPPIPU1 X X
GOOSE_LAPIPU1 X X
GOOSE_LPPMD1 X X
GOOSE_LAPMD1 X X

Por fim, o nó lógico PTRC (Protection Trip Conditioning) é utilizado para combinar saídas de trip (Operate) de
outras funções de proteção e disponibilizar um sinal comum de trip a ser transmitido ao nó lógico XCBR para
operação local.

A Figura 8 ilustra a representação das partes que compõem o caminho completo do endereçamento de uma
informação no contexto da norma IEC 61850. A identificação do nó lógico compreende uma sigla de 4 caracteres
juntamente com dois campos: prefixo e instância.
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Figura 8 - Referência do Modelo de Informação (sintaxe).

5.0 - CONCLUSÃO

O trabalho mostrou, de uma forma geral, a proposta de um projeto de modernização do sistema de teleproteção
das linhas LT-IPU-MD1 e LT-IPU-MD2, descrevendo desde a troca de seus sistemas de comunicação até a
modelagem das lógicas utilizadas, através de LNs. Este trabalho servirá de base para a utilização da norma
IEC 61850 nos sistemas de proteção das linhas de transmissão da UHI, cuja implementação está condicionada a
troca de todo o sistema de proteção, que está prevista para o início de 2011. Apesar da falta de exemplos práticos
da utilização da IEC 61850 entre subestações, o trabalho mostrou a viabilidade de sua aplicação nas linhas
LT-IPU-MD1 e LT-IPU-MD2.

Diante disso, pode-se elencar algumas vantagens da padronização, por meio da norma IEC 61850, aplicada ao
sistema de teleproteção:

− Padronização dos protocolos;


− Simplificação do sistema de comunicação com a utilização de apenas um meio;
− Inutilização de PLCs e dispositivos de tom de teleproteção;
− Isenção de interferências eletromagnéticas (carrier) e intempéries (microondas);
− Redução do tempo de manutenção e consequentemente menores custos.

6.0 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) Leite, A.G..“Proposta de aplicação da norma IEC 61850 no esquema de teleproteção das linhas LT IPU-
MD1 e LT IPU-MD2 da UHI”, Trabalho de Conclusão de Curso da epecialização em automação, controle e
supervisão do processo elétrico baseado na norma IEC 61850IEC 61850 da UNIOESTE - 2010.
(2) Carrijo, A.S..”Proposta de uma rede de acesso entre subestações para automação dos IEDs de proteção
primária e alternada das linhas de transmissão de Itaipu baseado na Norma IEC 61850”. Trabalho de
Conclusão de Curso da epecialização em automação, controle e supervisão do processo elétrico baseado na
norma IEC 61850IEC 61850 da UNIOESTE - 2010.
(3) Trevisan, F..”GOOSE SCOPE – Software para captura, visualização e análise gráfica de mensagens
GOOSE IEC 61850”. Trabalho de Conclusão de Curso da epecialização em automação, controle e supervisão
do processo elétrico baseado na norma IEC 61850IEC 61850 da UNIOESTE - 2010.
(4) Norma IEC 61850-5, Edition 1.0 2003-07 - Communication networks and systems for power utility
automation – Part 5: Communication requirements for functions and device models.
(5) Norma IEC 61850-7-2, Edition 1.0 2003-05 - Communication networks and systems for power utility
automation – Part 7-4: Basic communication structure for substation and feeder equipment – Abstract
communication service interface (ACSI).
(6) Norma IEC 61850-7-4, Edition 1.0 2003-05 - Communication networks and systems for power utility
automation – Part 7-4: Basic communication structure for substation and feeder equipment – Compatible
logical node classes and data classes.
(7) Draft Technical Report IEC 61850-90-1: Communication networks and systems for power utility
automation – Part 90-1: Use of IEC 61850 for the communication between substations, 2009.

7.0 - DADOS BIOGRÁFICOS

Alexandre Gonçalves Leite, engenheiro eletricista graduado pela PUC – MG em 2001, especialista em Sistema
Elétrico de Potência pela UNIFEI – MG em 2005, especialista em Automação, controle e supervisão do processo
elétrico baseado na norma IEC 61850 pela UNIOESTE em 2010, trabalha desde 2002 em Itaipu na Divisão de
Estudos Elétricos e Normas da Operação.

Felipe Trevisan, engenheiro eletricista graduado pela UFSC – SC em 2007, especialista em Automação, controle e
supervisão do processo elétrico baseado na norma IEC 61850 pela UNIOESTE em 2010, trabalha desde 2008 em
Itaipu no Laboratório da Manutenção.

Artur da Silva Carrijo, engenheiro eletricista graduado pela Universidade Federal de Uberlândia – MG em 2005,
especialista em automação, controle e supervisão do processo elétrico baseado na norma IEC 61850 pela
UNIOESTE em 2010, trabalha desde 2007 em Itaipu na Divisão de Engenharia de Manutenção Eletrônica.

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