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Geografia da e para a cooperação

ao desenvolvimento territorial:
experiências brasileiras e italianas

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Geografia da e para a cooperação
ao desenvolvimento territorial:
experiências brasileiras
e italianas

Marcos Aurelio Saquet,


Egidio Dansero,
Luciano Zanetti Pessôa Candiotto
[Organizadores]

1ª edição
Outras Expressões
São Paulo – 2012

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Copyright © 2012 Grupo de Estudos Territoriais – GETERR

Esta obra possui Conselho Editorial indicada pelo


Grupo de Estudos Territoriais – GETERR
Marcos Aurélio Saquet – Presidente
Adilson Francelino Alves
Edson Belo Clemente de Souza
Eliseu Savério Sposito
Luciano Zanetti Pêssoa Candiotto
Roseli Alves dos Santos
Sílvia Regina Pereira

Revisão: Andriolli de B. da Costa; Adriano da S. Rozendo; Elisângela M. da Silva; Raul Pimenta e Sueli Baleeiro de
Lacerda.
Capa, Projeto gráfico e Diagramação: Krits Estúdio

Impressão: Graphium
Tiragem: 300 exemplares

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)


G345 Geografia de E para A cooperação ao desenvolvimento territorial:
experiências brasileiras e italianas. / Marcos Aurélio Saquet,
Egidio Dansero, Luciano Zanetti Fernando Pessôa
Candiotto (organizadores).—1.ed.— São Paulo :
Outras Expressões, 2012.
416p. : il. tabs., grafs., mapas.

Indexado em GeoDados – http://www.geodados.uem.br


Textos em português e italiano.
ISBN 978-85-64421-21-9

1. Agricultura familiar. 2. Gestão ambienta. 3. produção


agroecológica. 4. Desenvolvimento territorial. 5. Reforma agrária
sustentável. I. Saquet, Marcos Aurélio, org. II. Dansero, Egidio,
org. III. Candiotto, Luciano Zanetti Fernando Pessôa. IV. Título.

CDD 21.ed. 910


CDU 910.1
Catalogação na Publicação: Eliane M. S. Jovanovich CRB 9/1250

Obs.: A responsabilidade dos conteúdos de cada texto é de seus respectivos autores.

1a edição: maio de 2012

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro


pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização da editora.

Editora Outras Expressões


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Sumário

Apresentação | 7

Zeus, os ossos do boi e a verdade das laranjas:


bifurcações geográficas | 13
Giuseppe Dematteis

Agricultura familiar agroecológica como alternativa de inclusão social e


desenvolvimento territorial em Itapejara d’Oeste, Salto do Lontra
e Verê – Sudoeste do Paraná | 35
Marcos Aurelio Saquet | Elaine Fabiane Gaiovicz |
Suzana Gotardo de Meira | Poliane de Souza

Diagnóstico ambiental das UPVFs beneficiárias do projeto “conservação


e uso sustentável de recursos hídricos como instrumento de gestão
ambiental em unidades rurais familiares com produção agroecológica
no município de Francisco Beltrão – PR” | 63
Luciano Zanetti Pessôa Candiotto | Felipe Fontoura Grisa |
Sandra R. da Silva Freisleben

Registro e reconhecimento da organização política das mulheres


agricultoras no Sudoeste do Paraná | 93
Roseli Alves dos Santos | Cecília Maria Ghedini |
Elis Marina Benatti Fedatto

Gestão para a sustentabilidade das cooperativas da agricultura familiar


e economia solidária | 109
Adilson Francelino Alves | Claudia Lais Reinehr |
Luiz Claudio Borille | Ivone Belon Lucas

Principiar do desenvolvimento territorial no Assentamento Rural 72,


em Ladário-MS, Brasil | 125
Edgar Aparecido da Costa | Suelen Soares Zarate |
Hudson de Azevedo Macedo

O papel da extensão universitária no desenvolvimento territorial:


as experiências no Programa Universidade Sem Fronteiras na
UNESPAR/FECILCAM | 147
Áurea Andrade Viana de Andrade | Dirce Bortotti Salvadori |
Nair Glória Massoquim

Moinho cultural: uma escola fronteiriça em movimento | 173


Márcia Raquel Rolon

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Por uma abordagem territorial do Cerrado Goiano | 191
Eguimar Felício Chaveiro e Manoel Calaça

Energie da contraddizione: innovazioni rurali e territorio. Riflessioni da


alcune esperienze in Italia e in Piemonte | 207
Egidio Dansero

Sviluppo rurale e globalizzazione: “opportunità” contradditorie tra crisi


alimentare, OGM e acquisizioni di terra su larga scala | 231
Nadia Tecco

Biocarburanti e territorio. Il biodiesel tra industria e sviluppo rurale: casi


empirici e modelli interpretativi | 251
Matteo Puttilli | Nadia Tecco

L’agricoltura biologica: fattore di sviluppo per le piccole aziende o di difesa


dell’ambiente? | 267
Alessandro Corsi

Cotone: geopolitica di una commodity agricola | 287


Alessandro Gallo

I progetti della Fondazione Slowfood per la biodiversita: un modello per


valorizzare cibi locali di qualita | 299
Cristiana Peano

Agroecologia e articolazione in rete: il lavoro della ong CISV in


Brasile | 321
José Marques de Sousa Neto | Federico Perotti

Gruppo di acquisto solidale: un’esperienza di sviluppo locale | 337


Patrizia dal Santo | Nevio Perna

Esperienze geografiche a confronto: interscambio universitario


Italia-Brasile | 355
Sarah Natoli | Laura Sinagra Brisca

Reti produttive solidali in Brasile: il caso di Justa Trama | 375


Eleonora Olivero

Agroecologia e economia solidária para um projeto de reforma agrária


sustentável | 389
Valentina Bianco | Carolina Bonelli

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Apresentação

O diálogo entre pesquisadores de países diferentes constitui-se


em um importante mecanismo de avanço científico e acadêmico em
qualquer área do conhecimento. Ao contrapor ideias, teorias, conceitos
e metodologias distintas é possível analisar o atual estágio de desenvol-
vimento bem como as tendências e perspectivas nos diversos campos
do conhecimento. De modo geral, os resultados das pesquisas e o diálo-
go entre os pesquisadores ocorrem a partir da publicação de trabalhos
em periódicos de nível internacional e, também, em eventos (congres-
sos, simpósios, seminários, encontros etc.), aonde os resultados e as
conclusões são apresentados e debatidos, podendo gerar consensos e
conflitos que, por sua vez, são fundamentais para a evolução do conhe-
cimento científico e para o surgimento de novas questões.
Na Geografia brasileira, o intercâmbio com pesquisadores es-
trangeiros ocorre há um bom tempo, porém, historicamente, nos fun-
damentamos em conhecimentos produzidos por geógrafos de outros
países, sobretudo europeus, pois a instituição da Geografia científica
no Brasil está intimamente vinculada à criação de universidades e dos
cursos de formação superior nessa área do conhecimento. Um exemplo
é a influência de professores franceses nos primeiros cursos de Geogra-
fia em universidades brasileiras, com destaque para a Universidade de
São Paulo (USP), que recebeu professores franceses. Assim, a Geografia
brasileira nasce a partir da docência e da influência da Geografia euro-

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péia, de modo que os primeiros geógrafos brasileiros formados no país
tiveram grande influência estrangeira.
Na história da Geografia científica brasileira, o intercâmbio com
profissionais de outros países foi de suma importância, através da vin-
da desses ao Brasil para ministrar aulas e conferências; da publicação
de artigos em periódicos nacionais; da realização de pesquisas bilate-
rais e da recepção de estudantes brasileiros de pós-graduação em seus
países. No entanto, nas últimas décadas, geógrafos brasileiros também
vêm sendo lidos e interpretados em países estrangeiros, demonstrando
o fortalecimento da Geografia brasileira no contexto internacional.
Apesar da já citada influência europeia na Geografia produzi-
da no Brasil, o diálogo com geógrafos italianos não tem sido muito
comum no país. Diferentemente do ocorrido com os franceses e ale-
mães, a Geografia italiana teve pouca influência na trajetória histórica
da Geo­grafia nacional, porém a produção dos geógrafos italianos pode
contribuir significativamente para a Geografia brasileira, em virtude do
seu longo período de existência e da influência de pesquisadores italia-
nos como Massimo Quaini e Giuseppe Dematteis para a ciência Geo-
gráfica em nível internacional.
Nas últimas décadas, os laços com geógrafos italianos vêm sen-
do estreitados, sobretudo a partir de professores e pesquisadores brasi-
leiros que foram orientados na Itália por mestres italianos. Tal relação
tende a se ampliar, em virtude dos vínculos já existentes e do próprio
avanço técnico-científico que hoje permite um contato maior com a li-
teratura geográfica de qualquer país.
Na tentativa de contribuir para a aproximação entre pesquisado-
res brasileiros e italianos, organizamos este livro, que é fruto de uma
parceria já existente entre os organizadores e outros autores presentes
no livro, e que procura apresentar um panorama de algumas pesquisas
realizadas por geógrafos (e outros profissionais) italianos e brasileiros.
A opção por um livro bilíngue pode parecer estranha, porém, o objeti-
vo, com a realização deste livro, composto por alguns textos escritos
em português e outros em italiano, é oferecer ao leitor a possibilidade
de ler artigos em ambos os idiomas, bem como de analisar diferenças
entre conceitos trabalhados por pesquisadores dos dois países e de co-
nhecer diferentes experiências de desenvolvimento local, tema cada vez
mais difundido no Brasil.
Além de uma contribuição para o fortalecimento da relação entre
a Geografia brasileira e italiana, tentamos, com este livro, apresentar
resultados de projetos de pesquisa e/ou extensão desenvolvidos pelos
autores e reflexões e apontamentos oriundos do plano teórico da Geo-
grafia. Optamos por estruturar o livro em duas partes, sendo a primeira
dedicada aos textos escritos por pesquisadores brasileiros (em língua

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portuguesa) e a segunda composta por textos escritos pelos colegas ita-
lianos (em língua italiana). Somente o texto do professor Giuseppe De-
matteis foi traduzido para a língua portuguesa, pois se trata de seu úl-
timo texto publicado antes da aposentadoria, resultado da aula magna
ministrada em Turim, em 2008.
Entre os trabalhos produzidos por pesquisadores brasileiros,
temos os quatro primeiros textos escritos por pesquisadores e bolsis-
tas do GETERR (Grupo de Estudos Territoriais), da UNIOESTE (Uni-
versidade Estadual do Oeste do Paraná), campus de Francisco Beltrão
(PR). Na sequência, o livro é composto por um texto de dois profes-
sores da Universidade Federal de Goiás, dois textos provenientes da
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e um escrito por três
professoras da Universidade Estadual do Paraná – Campus de Campo
Mourão (PR), conhecida também como FECILCAM. Já os pesquisado-
res italianos que participam deste livro são provenientes do Politécni-
co e da Universidade de Turim, com exceção do professor Alessandro
Gallo, da Universidade Ca’Foscari de Veneza.
O texto escrito por Marcos Saquet, Elaine Gaiovicz, Poliane de
Souza e Suzana de Meira apresenta os principais resultados de um
projeto de extensão, que também envolveu atividades de pesquisa, fi-
nanciado pela Secretaria de Ciência e Tecnologia (SETI) do Estado do
Paraná através do Programa Universidade Sem Fronteiras e pela Funda-
ção Araucária (Edital 14/2008). Com o mesmo título do projeto, o texto
“Agricultura familiar agroecológica como alternativa de inclusão social
e desenvolvimento territorial em Itapejara D’oeste, Salto do Lontra e
Verê - Sudoeste do Paraná” demonstra os objetivos, a metodologia e os
resultados deste projeto que procurou conhecer a configuração da agri-
cultura orgânica nos três municípios para, em seguida, propor e rea­
lizar atividades de extensão-cooperação que contribuíssem para a me-
lhoria da qualidade de vida das famílias agricultoras envolvidas.
Luciano Z. P. Candiotto, juntamente com seus bolsistas Felipe F.
Grisa e Sandra R. Freisleben discorrem sobre a metodologia e os resul-
tados obtidos na elaboração de um diagnóstico ambiental de onze Uni-
dades de Produção e Vida Familiares (UPVF´s) que também trabalham
com agricultura orgânica no município de Francisco Beltrão – Paraná.
Tal diagnóstico vem subsidiando outras ações dentro de um projeto de
pesquisa financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-
tífico e Tecnológico (CNPq), intitulado “Conservação e uso sustentável
de recursos hídricos como instrumento de gestão ambiental em uni-
dades rurais familiares com produção agroecológica no município de
Francisco Beltrão – PR”.
A equipe coordenada pela profa. Roseli Alves dos Santos discor-
re sobre a organização política das mulheres agricultoras do Sudoes-

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te do Paraná, projeto também financiado pelo Programa Universidade
Sem Fronteiras, da SETI – PR, revelando a metodologia utilizada, a
forma de organização política das mulheres agricultoras, bem como
suas conquistas históricas numa instigante descrição e reflexão até
então inédita.
Por sua vez, a equipe coordenada pelo prof. Adilson Francelino
Alves, brinda-nos com os resultados do projeto de extensão realizado
sobre a sustentabilidade das cooperativas da agricultura familiar vincu-
ladas à economia solidária, também financiado pelo Programa Univer-
sidade Sem Fronteiras, da SETI – PR. No texto, demonstram o referen-
cial teórico-metodológico adotado, relatos e desafios das experiências
cooperativistas estudadas.
Os professores Eguimar Felício Chaveiro e Manoel Calaça, am-
bos da Universidade Federal de Goiás, discutem em “Por uma abor-
dagem territorial do cerrado goiano”, as mudanças ocorridas na fun-
cionalidade do cerrado, bem como os desafios e perspectivas de uma
abordagem territorial para parte do território-bioma, tão degradado nas
últimas décadas pelos processos de modernização da agricultura. Com
base no conceito de território, os autores demonstram a pertinência da
abordagem territorial para refletir sobre as relações de poder que per-
passam o cerrado goiano.
No texto “Principiar do desenvolvimento territorial no Assenta-
mento rural 72, em Ladário-MS, Brasil”, os pesquisadores da Universi-
dade Federal do Mato Grosso do Sul, Edgar Aparecido da Costa, Suelen
S. Zarate e Hudson de Azevedo Macedo analisam as possibilidades do
desenvolvimento territorial em um assentamento rural localizado no
Estado do Mato Grosso do Sul, a partir de um levantamento das con-
dições sociais e econômicas e da busca por melhorias na qualidade de
vida da população local.
A professora Márcia Raquel Rolon, da Universidade Federal do
Mato Grosso do Sul, discute em seu texto os desdobramentos da pro-
posta de criação de uma escola fronteiriça entre Brasil e Bolívia, loca-
lizada no município de Corumbá (MS) e denominada Moinho cultural.
A Escola de Artes Moinho Cultural Sul-Americano possui 310 partici-
pantes do Brasil e da Bolívia, da faixa etária de 8 a 16 anos e foi criada
pelo Instituto Homem Pantaneiro, numa criativa e profícua experiência
de desenvolvimento local, foco do presente livro.
Ao fazerem uma avaliação dos projetos de extensão universitária
desenvolvidos na Universidade Estadual do Paraná - Campus de Campo
Mourão (PR) dentro do Programa Universidade Sem Fronteiras, Áurea
A. V. de Andrade, Dirce B. Salvadori e Nair G. Massoquim, apontam os
avanços ocorridos com os projetos apoiados pelo Governo do Estado do

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Paraná, sobretudo no que tange ao envolvimento de professores e alu-
nos bolsistas da FECILCAM.
No contexto dos textos escritos pelos pesquisadores italianos,
que compõem a segunda parte do livro, iniciamos com uma reflexão
teó­rica do professor Giuseppe Dematteis, na qual busca, através de uma
metáfora entre Zeus, os ossos do boi e a verdade das laranjas, discutir
as principais bifurcações ocorridas na história da Geografia como ciên-
cia. Trata-se de uma reflexão inédita com várias novidades sobre a epis-
temologia da Geografia, mostrando a importância desta ciência para
processos de desenvolvimento local.
Nos demais textos dos colegas italianos, todos demonstram dinâ-
micas de desenvolvimento local realizadas a partir da pesquisa acadê-
mica e do envolvimento de diferentes atores nos territórios estudados.
Os autores, de alguma forma, trabalham com a perspectiva de abor-
dagem territorial, valorizando, nas ações efetivadas, o patrimônio his-
tórico-cultural, o ambiente natural, as identidades e as organizações
políticas locais, ensinando-nos a trabalhar em experiências às vezes pe-
quenas, mas muito importantes no que se refere ao desenvolvimento
territorial participativo, temática e processo em plena expansão no Bra-
sil. Por isto, aumentam ainda mais a importância deste livro que terá
circulação no Brasil e na Itália.
Os textos da equipe de Turim são enriquecidos pelo do prof. Ales-
sandro Gallo, da Universidade de Veneza: ao fazer uma análise sobre a
geopolítica do algodão como commodity agrícola, aponta as principais
questões referentes à situação do algodão no contexto global, conside-
rando aspectos econômicos e ambientais, bem como tendências de ex-
pansão desse produto agrícola, numa instigante reflexão crítica de de-
núncia de questões que envolvem a problemática do desenvolvimento.
Por fim, aproveitamos para externar nossos agradecimentos aos
autores e, principalmente, à Editora Expressão Popular, que acreditou
na proposta apresentada pelos organizadores do livro viabilizando esta
parceria inédita no Brasil. A parceria realizada entre o GETERR­e a Ex-
pressão Popular permite divulgar a produção relacionada à temática da
abordagem geográfica frente às dificuldades, perspectivas e alternati-
vas do desenvolvimento territorial.

Os organizadores
Francisco Beltrão, PR, janeiro de 2011.

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Zeus, os ossos do boi e a verdade
das laranjas: bifurcações geográficas 1

Giuseppe Dematteis
Professor do Politécnico e da Universidade de Turim |
giuseppe.dematteis@dislivelli.eu

Um mito revelador
Inicio esta reflexão com um mito cuja interpretação tem a ver com
as bifurcações que pretendo trabalhar neste artigo. Contam que Prometeu,
querendo definir o que distingue os homens dos deuses, fez o seguinte:
depois­ de ter sacrificado um boi, Prometeu dividiu-o em duas partes, de
um lado, deixou os ossos cobertos de gordura branca, do outro lado, a car-
ne e as partes comestíveis, embrulhadas na pele do animal e cobertas com
os intestinos repulsivos. Depois, convidou Zeus para escolher para si e para
os outros deuses qual das duas parcelas preferiria; o resto, seria dado aos
homens. Zeus percebeu o engano de Prometeu a favor dos homens e deci-
diu puni-lo, através daqueles que eram protegidos por ele, negando-lhes o
fogo. Por sinal, em seguida Prometeu roubou esse fogo, porém, essa é ou-
tra história (ou talvez não; já veremos).
O que se deve captar neste conto, é que, além de ter percebido o en-
gano, Zeus prefere ficar com os ossos, que se tornaram a comida dos deu-
ses, pois achou que eles são a parcela mais duradoura, mais parecidos com
a essência eterna do divino. Privilégio que os homens vão reconhecer em
cada sacrifício, felizes de ter para eles a carne.

1
Texto original: DEMATTEIS, Giuseppe. Zeus, le ossa del bue e la verità degli aranci. Biforca-
zioni geografiche, Rivista dell’Associazione Italiana Insegnanti di Geografia, anno LIII, serie
VIII, n.3-4, 2008, p.3-13.

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Zeus, os ossos do boi e a verdade das laranjas: bifurcações geográficas

Entre as muitas coisas que este mito nos sugere, algumas interes-
sam à geografia pelo menos por três razões. Quero dizer, antes de tudo,
que irei falar da geografia no seu significado etimológico de “grafia”, da
terra (“geo”). Assim, quero falar sobre o que todos esperam desta disci-
plina: uma descrição das diversidades naturais, culturais, socioeconô-
micas e políticas que caracterizam as diferentes parcelas da superfície
terrestre.
A primeira razão é a seguinte: imaginemos que Prometeu em vez
de dividir um boi, tenha pensado em subdividir em duas grandes classes
as diferentes formas para conhecer e representar o mundo. Por um lado,
colocaria todos os conhecimentos que incorporam o tempo e, então, veem
nos objetos de estudo deles algo que se transforma, nasce, cresce, murcha
e morre, o que, no entanto, como as leis da física, serve para perceber a
eterna luta do mundo contra a entropia.
Por outro, teria tomado um conhecimento mais nobre, devido a algo
incorruptível, como os ossos do boi, tais como, por exemplo, a geometria
e teologia. A geografia estaria entre esses conhecimentos, porque, como
Saint-Exupéry diz depois das palavras do geógrafo do Pequeno Príncipe:
“As geografias são os livros mais valiosos de todos. Eles não envelhecem
nunca. É muito raro que uma montanha mude de lugar. Não acontece qua-
se nunca que um oceano seja esvaziado e continue sem água. Nós vamos
escrever coisas eternas”2.
Trata-se obviamente de uma caricatura da nossa disciplina, que não
põe em evidência a questão essencial. Naqueles anos, – estamos falando de
1943 – a característica principal da geografia era ocupar-se daquilo que,
mesmo não sendo propriamente eterno, pelo menos era muito estável. As-
sim, concebia-se como fixo aquilo que, por sua natureza, é mutável como
as paisagens, as construções, os tipos de vida, as relações entre a sociedade
e o meio ambiente etc.
Tomamos o caso de Vidal de la Blache, celebrado por Lucien Febvre,
da utilização não determinista, mas possibilista, do conceito de ambiente
(milieu). Isso não implica que mesmo assim ele caiu na tentação de escre-
ver “coisas eternas” quando afirma, por exemplo:

A geografia se enfrenta com um dos problemas mais lindos e difíceis, aquele


de encontrar, no conjunto dos caracteres que se combinam para formar a fi-
sionomia de um país, o enlace que os vincula e, neste enlace, uma expressão
das leis gerais do organismo terrestre3.

A seguir, podemos ver como Vidal de la Blache descreve uma região


segundo as palavras de seu fiel estudante J. Sion:

2
A. De Saint-Exupéry. O pequeno príncipe. Paris: Gallimard, 1943, cap. XV.
3
Atlas general Vidal de La Blache. Paris : Collin, 1895, “Preface”.

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Giuseppe Dematteis

Ele começa comparando a região em relação às regiões vizinhas, às uni-


dades estruturais, aos fluxos de relações. Depois, coloca os “volumes” do
quadro dela (tableu), as grandes massas que ocupam, e tenta explicá-los
através da teoria da evolução geológica. Esta abordagem é frequentemente
desenvolvida de maneira profunda para que se compreenda a disposição das
montanhas e dos vales, o valor dos terrenos cultiváveis. Daqui, passa-se com
facilidade para a utilização do solo, para o local dos lugares habitados e aqui
a história é invocada em qualquer momento4.”

Sim, é verdade que a historia é invocada, mas é reduzida a algo que


operou no passado para gerar, como ponto de chegada, o presente estático,
assim como a evolução geológica tem produzido a rigidez das montanhas
que hoje observamos.
Como afirmou Lucio Gambi, em 1956:

Além dos bem conhecidos méritos, o positivismo teve uma falha: analisar
o hábito de julgar os eventos da humanidade, as obras do homem, através
das regras e da analogia das manifestações naturais. Esse pensamento ficou
como uma herança, mais do que para outras disciplinas, para a geografia5.

A segunda razão de interesse do mito é que os deuses deixam aos


homens a carne. Qual pode ser o sentido dessa imagem? Com certeza o da
corruptibilidade e da caduquice humana contra a durabilidade da essên-
cia do divino. Mas eu acho que há mais do que isso: na hora em que Zeus
define o destino para os homens, ele assimila-os a tudo o que tem as ca-
racterísticas da carne, em outras palavras, ao mundo. Graças à escolha dos
ossos, ele se retira do mundo, afirma sua transcendência, enquanto com
a carne castiga os homens à imanência. Para evitar que os homens pos-
sam, de alguma forma, imitá-lo, priva-os do fogo e da possibilidade de sair
daquele mundo através do progresso técnico. Com a ajuda de Prometeu
(mesmo aquele Prometeus Unbound, com que o geógrafo Jean Gottmann
começava o livro Megalopolis), todavia, eles irão seguir um severo cami-
nho para uma esperada e nunca alcançada transcendência, da qual, acho,
faz parte também aquela geografia das “coisas eternas”. Porém esta não é
a única geografia possível, nem provavelmente, hoje em dia, a melhor. Na
continuação deste discurso isso ajudará a descobrir o conceito de “carne
do mundo” de Marleau-Ponty.
A terceira razão de interesse é o engano do que aparece na superfí-
cie: a parcela do boi que Prometeu julgava pior vem exibida como a melhor
e vice-versa. Este conceito deve alertar-nos, pois os geógrafos descrevem o
mundo observando e medindo a sua superfície. Dar uma ordem no espaço
4
Sion, J. “L’art de la description chez Vidal de la Blache”, em Melanges de philologie, d’histoire
et de littérature offerts à J.Vianey. Paris : PUF, 1934.
5
“Geografia fisica e geografia umana di fronte ai concetti di valore”, republicado em Questio-
ni di Geografia. Napoli: ESI, 1964, p.27.

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Zeus, os ossos do boi e a verdade das laranjas: bifurcações geográficas

ao que se vê (o que todavia pode ser objeto da nossa experiência sensorial)


é desde sempre a razão de ser da geografia. É isso o que justifica o fato
de examinar tantas coisas deferentes sem estudar nada em profundidade,
como, por outro lado, fazem as ciências analíticas.
Mesmo no entusiasmo do positivismo chegou-se a afirmar que a
geo­grafia é uma ciência de síntese; que a síntese é oferecida pela paisa-
gem, e que o que se pode cartografar é algo geográfico6.
A crítica à geografia positivista tem pontuado muito sobre a estrei-
teza das aparências, sobre o fato de que os conhecimentos geográficos não
podem limitar-se à superfície, mas hão de ir além do simplesmente visível.
Novamente L. Gambi, perguntando-se qual foi o valor que para a geogra-
fia humana podia ter a simples observação da paisagem ou de uma carta
topográfica, escreveu: “Nada mais do que a elementar pintura epidérmica
de fácil constatação (...): que é muito pouco por quem quer olhar a reali-
dade das estruturas humanas com uma mentalidade não de ecólogo, mas
de historiador”7.
Talvez o principal resultado obtido, ao representar as coisas de forma
mais simples com que todos possam vê-las, não é tanto para conhecê-las e
explicá-las cientificamente, quanto para afirmar, por trás desta máscara de
simplicidade e de inocência (isso mesmo, uma aparência!) – numa maneira
muitas vezes indireta – seja a necessidade dos ordenamentos existentes, seja,
pelo contrário, a utopia daqueles possíveis. Da mesma maneira, o mito nos
fala do boi não para que conheçamos a anatomia deste animal, mas para nos
iluminar sobre a condição humana. Portanto, o mito nos adverte que as apa-
rências enganam e que por isso uma geografia que nos apresenta as coisas
assim como parecem pode ser muito perigosa, quando, com tais aparências,
transmite-nos visões do mundo persuasivas e performativas.
Vou desenvolver agora as primeiras reflexões que o mito nos suge-
riu para argumentar alguns problemas relativos ao estatuto científico da
geografia humana que, nos últimos decênios, vem sendo explicitado atra-
vés de frequentes bifurcações. Sendo eu agora um professor aposentado,
permito-me também fazer referência a algumas experiências pessoais de
meu percurso.

Ossos sem carne


Quando ainda estudante universitário, comecei a me debruçar so-
bre a geografia humana e econômica, sob a orientação do professor Dino
Gribaudi; ele, antes de tudo, passou-me uma rica bagagem de sabedoria e
de métodos compilados através de cem anos, que vão desde a Erdkunde

6
Feltrinelli, F. Geografia. Una introduzione ai modelli del mondo. Rorio: Einaudi, 2003, parte II.
7
Gambi, L. Una geografia per la storia. Torino: Einaudi, 1973, p. 174.

16

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Giuseppe Dematteis

de Humboldt e de Ritter até os primeiros passos da geografia analítico-


quantitativa, já nascente nos países anglo-saxônicos. Por esta última, Gri-
baudi tinha um limitado interesse, mas, frequentando em profundidade
as conferências internacionais, sabia que era a grande novidade daqueles
anos e não desprezava a necessidade de enriquecer a nossa biblioteca uni-
versitária com as obras de autores como R. Chorley, P. Haggett, B. Berry, A.
Pred, W. Bunge, T, Hagerstrand, W. Isard, G. Olsson e outros, entre elas, as
do colega de trabalho Eliseo Bonetti, de Trieste, o único italiano que já se
ocupava da “revolução quantitativa”, sendo por isso, um pouco restrito ao
establishment acadêmico. Gribaudi estava ligado sobretudo à geografia do
possibilismo francês na forma de Vidal de la Blache e dos seus herdeiros,
como M. Sorre, R. Blanchard, A. Demageon, M. Le Lannou, até as anteci-
pações estruturalistas da escola de Pierre George (grande amigo dele, ape-
sar das diferentes visões políticas) que também quis ultrapassar a herança
vidaliana.
A geografia de Gribaudi, com importantes diferenças das quais fa-
larei mais à frente, era a mesma praticada naqueles anos, pelos melhores
mestres italianos, como Aldo Sestini, contra as quais Lucio Gambi enga-
java um rude combate de ideias. Ele definiu “ecológica” esta geografia hu-
mana, que com certeza recusa o bruto determinismo positivista, mas só
para praticar outro, justamente o das “coisas eternas”, da rigidez das estru-
turas, do mundo reduzido ao que é estável na longa duração histórica. Nes-
sa geografia, a observação imediata da paisagem era uma obrigação. Pare-
cia necessário interpretar os sinais oferecidos pelo visível como pistas que
permitiam – utilizando também os dados climáticos, demográficos, econô-
micos etc – descrever o ambiente geográfico de maneira científica. Era pre-
ciso individualizar cada lugar, com as palavras de A. Sestini: “a complexa
combinação de objetos e fenômenos ligados entre eles por mútuas­relações
funcionais (e também por posição), que assim possa constituir uma unida-
de orgânica”8. Aqui é óbvia a analogia com a ideia de ecossistema planeja-
da no campo das ciências naturais.
Tal geografia humana de forma ecológica tinha dentro de si elemen-
tos de força e outros de fraqueza. O ponto de força era o que ela descrevia,
ou seja, a diversidade física e cultural dos lugares, o que resultava realmen-
te de um processo coevolutivo de tipo ecológico: as populações locais no
curso da história, adaptaram-se aos ambientes geográficos naturalmente
diferenciados e, ao mesmo tempo, transformaram-nos (diferenciaram-nos
culturalmente) para adaptá-los às necessidades delas. Por isso, é possível
ler a paisagem geográfica como uma foto que fixa os resultados desse pro-
cesso num certo momento da própria evolução. Não só, mas passando de
uma marca visível até relações geográficas menos imediatamente perceptí-

8
Sestini, A. Il paesaggio. Milano: TCI, 1963, p.10.

17

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veis (passando então da “fotografia” à “radiografia”), tais relações podiam


ser descritas como um sistema capaz de explicar de forma lógica a paisa-
gem visível, obtendo, assim, aquilo que Sestini chama de “paisagem geo-
gráfica racional”.
A fraqueza desse conceito estava na imobilidade do sistema descri-
to pela análise da paisagem. Isso podia explicar o passado, mas não dizia
nada da própria dinâmica, das próprias potencialidades latentes e dos pos-
síveis desenvolvimentos. Tal geografia, que também se denominava huma-
na, era humana só parcialmente, pois descrevia um mundo sem sujeitos
humanos em ação. Não ignorava os componentes culturais, sociais, eco-
nômicos e políticos, mas os considerava como “coisas” que, no passado,
relacionaram-se com outras coisas (o ambiente físico) para produzir as
formas reveladas mesmo pela paisagem visível. Com outras palavras, tal
geografia ”ecológica” podia falar muito pouco, para não dizer nada, sobre
as mudanças possíveis. Não só, mas, ignorando a mudança, sugeria impli-
citamente a inalterabilidade do mundo e, então, quem a praticava acabava,
sem querer, por justificar o existente e a ordem estabelecida sobre a qual
“naturalmente” tudo isso era assegurado. Por exemplo, quando, em 1963,
A. Sestini publicou o livro sobre a paisagem italiana – sem dúvida, uma
obra magistral -, ao longo do território italiano, na onda do “milagre eco-
nômico”, continuavam as destruições ambientais e da paisagem que todos
conhecemos. Mas, pela mentalidade daquela época, não era papel da racio-
nalidade geográfica ocupar-se disso. De fato, Sestini acaba com tal questão
na introdução da obra dele utilizando estas palavras: “não vamos afrontar,
mas só citaremos, a questão da harmonia da marca humana na paisagem
(...) são bem conhecidos os frequentes lamentos da desfiguração de paisa-
gens especialmente características ou de especial beleza”9. Depois disso,
nas páginas seguintes ele não mencionará mais o problema.
Não temos de nos maravilhar, então, se os geógrafos daquela época
não souberam, a não ser em casos excepcionais, participar daquela que,
no segundo pós-guerra, podia ser a grande ocasião para aplicar os co-
nhecimentos geográficos à transformação do território. Sobre isso, hou-
ve também uma desconfiança recíproca entre a corporação dos geógrafos
e aquela dos urbanistas, que pouco souberam ultrapassar (feita exceção
para autores como U. Toschi, entre os geógrafos, e G. Astengo, entre os
urbanistas). Mas havia, sobretudo uma distância cultural entre os geógra-
fos, que descreviam as diversidades locais e regionais como invariáveis, e
os urbanistas, que as projetavam. Os primeiros não se perguntavam sobre
os valores e o futuro desejável daqueles territórios que eles também conhe-
ciam muito bem, e, então, não consideravam as potencialidades daque-
les territórios. O lance criativo e, frequentemente, utópico dos urbanistas

9
Op. Cit. p.11.

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preferia, por outro lado, imaginar o território como uma tela branca (faire
nappe blanche, recomendou Le Corbusier a quem começava projetar), so-
bre a qual projetavam as soluções dos grandes problemas da reconstrução
e do boom econômico. Este último puxava na mesma direção, guiado por
um padrão fordista que considerava o território um suporte indiferenciado
sobre o qual distribuem-se as fábricas, as casas e as infraestruturas e consi-
derava as diversidades não tanto como um valor, mas como um obstáculo
que deveria ser eliminado.
Por exemplo, é significativo que nenhum geógrafo foi chamado para
participar da grande obra do “Projeto 80,” quer dizer, da tentativa de de-
senhar de novo a geografia econômica, social e urbana da Itália, posta em
prática pelo Ministério do Orçamento e do Planejamento Econômico no
final dos anos sessenta, com o objetivo de traduzir tal programação em
uma nova disposição do território nacional, mais justa e eficaz. Nem os
distintos urbanistas e economistas que participaram desse projeto preo-
cuparam-se em utilizar a valiosa (talvez demais) quantidade de estudos
regionais compilada durante quase cem anos de geografia universitária.
De fato, as fontes geográficas citadas no “Projeto 80” são quase exclusiva-
mente as publicações de divulgação do Touring Club italiano. E tal insen-
sibilidade para com a geografia humana e econômica do país foi uma das
razões pelas quais o projeto, além dos ótimos objetivos, foi definido como
“livro dos sonhos” e o desenho do território nacional sugerido resultou tão
abstrato que parece lembrar a utopia de Tomas Morus.
Durante a década de sessenta, no entanto, foi delineada uma possí-
vel convergência entre geógrafos e planejadores através de novas bases. Es-
tas foram oferecidas, em ambas as disciplinas, pelo desenvolvimento na li-
teratura anglo-saxônica da já mencionada geografia analítico-quantitativa
que, por sua vez, contribuiu consideravelmente para o estabelecimento de
Ciência Regional, uma nova disciplina, que devia ser para os planejadores
o que a física era para os engenheiros.
De fato, muitos modelos analíticos dessa nova concepção – por exem-
plo, os modelos gravitacionais – foram baseados em analogias com as leis
da física. Outros, como os modelos dos “lugares centrais”, chegaram das
aplicações da teoria econômica neoclássica (que também é muito grata ao
paradigma newtoniano). Em ambos os casos, a geografia quantitativa vem
para enunciar as leis deterministas ou probabilísticas, eliminando tudo o
que tinha sido foco da geografia humana anterior, ou seja, a diversifica-
ção das áreas naturais e históricas. A nova geografia teórico-quantitativa
(de vaga matriz neopositivista) negou o determinismo ambiental inspirado
pelo antigo positivismo e, portanto, retirou a reivindicação de reduzir em
leis gerais a interação homem-ambiente. Portanto, ignorou-as totalmente
nos seus modelos. Os resultados históricos desses processos foram consi-
derados contingências que poderiam alterar a regularidade causada pela

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circulação e pelos intercâmbios. Nos modelos propostos pelos geógrafos


quantitativos, esses movimentos davam origem, em um espaço imaginado
como homogêneo, a configurações que se podiam deduzir a partir de teo-
rias gerais, tais como o balanço de oferta e procura: apenas foi introduzida
a variável da distância.
Tais regularidades deviam ser verificadas com métodos estatísti-
cos. Dessa forma, a geografia humana poderia, finalmente, tornar-se uma
“ciên­cia”, tomar o método hipotético-dedutivo e os procedimentos de veri-
ficação empírica das próprias ciências “duras”.
O modelo analítico encontrou, nas décadas de 60 e 70, uma grande –
embora nem sempre útil – utilização no planejamento urbano e territorial.
Neste planejamento participaram também alguns geógrafos que seguiram
a abordagem quantitativa. Por exemplo, uma aplicação que eu fiz em 1965
do modelo de lugares centrais em Turim e, em seguida (com R. Gambino),
na região do Piemonte, deu-me a oportunidade de trabalhar na área da
urbanística comercial e dos serviços. Nós usávamos cartões perfurados e
o computador da Faculdade de Física, quando estava livre, especialmente
no verão, quando o calor tornava-o menos confiável para os cálculos bem
mais longos e complexos dos colegas físicos.
É óbvio que a geografia teórico-quantitativa abriu o caminho para
as mesmas críticas que L.Gambi já tinha feito para a geografia humana
tradicional. De fato, com a necessidade de codificação e de cálculo mate-
mático – pelo menos na sua versão dos anos 50 e 60 – foi, mais do que nun-
ca, uma geografia sem atores, ou com atores reduzidos a engrenagens de
máquinas simples. Todavia, penso que se deveria atribuir-lhe um resultado
importante, embora muito abaixo dos objetivos iniciais: a introdução entre
os geógrafos – assim como em muitos outros campos do conhecimento –
de técnicas de pesquisa e cálculo estatístico, que, em seguida, ligando-se ao
cálculo automático, podiam produzir resultados extraordinários no campo
da cartografia temática computadorizada e dos sistemas informatizados
geográficos (SIG).
O fato é que a ideia de promover a geografia como “ciência real”,
desvalorizando as contingências históricas em favor de representações
abstratas, era extremamente simplista. Italo Calvino, no livro “Cidades In-
visíveis” (cap. VIII), tem sublinhado com maestria os limites dessa aborda-
gem, quando Kublai Khan acredita conhecer todas as terras e as cidades
do império dele, imaginando, em um tabuleiro de xadrez, a maneira des-
sas de se posicionar e uma ordem invisível que as mantém como “regras as
quais corresponde o surgir, o tomar forma e o desenvolver-se e adaptar-se
às estações do ano e ao entristecer e cair em ruínas.” Nesse ponto, ele “não
precisava enviar Marco Polo em expedições distantes: mantinha-o a jogar
xadrez em jogos sem fim.” Mas, então, o pedido para reduzir a complexida-
de dos seus territórios em regras abstratas torna-se ilusório, “a conquista

20

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definitiva, cujos multiformes tesouros do império foram apenas detalhes


ilusórios, reduzia-se a um pedaço de madeira plano: nada”. Nesse ponto,
Marco vem em sua ajuda, trazendo a variedade imprevisível do mundo,
desde os sinais que ele deixou sobre o “nada” de pedaços de madeira: as li-
nhas, os nós, os poros. Assim, “a quantidade de coisas que se podia ler em
um pedaço de madeira lisa e vazia oprimiam Kublai: Polo já tinha falado
das florestas de ébano, das jangadas de toras para descer os rios, dos por-
tos, das mulheres nas janelas (...)”. Uma operação semelhante na história
da geografia será feita pelos fundadores da geografia humanista de deri-
vação fenomenológica, mas antes de chegar a este ponto, temos que falar
como os atores entraram em cena no espaço a partir do momento em que
o positivismo e o neopositivismo geográfico os tinham rejeitado.

Dos ossos à carne


Já mencionei que, na segunda metade dos anos cinquenta, Lucio
Gambi começou sua crítica radical da geografia humana de origem positi-
vista em contraste com a ideia de uma geografia diferente que não é ape-
nas a ciência “dos lugares” (como a chamava Vidal), mas do significado e
dos valores atribuídos aos sítios. Em tal ideia, o espaço geográfico não é
mais algo inerte, isto é, utilizando as palavras de Gambi, “não é uma en-
tidade até mesmo pura e abstrata, nem uma área de terra ou mar, ou um
pedaço de crosta da Terra que recebe o próprio homem, mas uma entida-
de que tem uma dignidade histórica de poder, e que muda constantemente
porque o homem vive e trabalha lá e, então, o homem mesmo apropria-se
desse espaço e dá-lhe continuamente novos valores”10.
Encontramos posições menos radicais em outros geógrafos de
orientação política diferente – como G. Barbieri, F. Compagna, G. Corna
Pellegrini, E. Massi, G. Merlini, C. Muscarà – os quais contribuíram nesses
anos para desenvolver uma geografia cada vez mais atenta aos atores e en-
tão dirigida para fornecer elementos para a solução dos problemas sociais,
econômicos e políticos.
Entendo que um impulso decisivo nesse sentido foi dado pela desco-
berta e atualização do pensamento marxista, que acompanhou a turbulência
dos anos sessenta e setenta. Nesse momento, surgem elaborações conceituais­
e motivações político-ideológicas convergentes em recusar a geografia que
via os territórios como simples estados de coisas. O conceito de fetichismo
da mercadoria e de alienação, sobre o qual Marx fundou a própria crítica
da economia capitalista, poderia muito bem se aplicar a uma crítica da geo-
grafia dominante naquela altura. De fato, mesmo nessa crítica, os relaciona-
mentos dos seres humanos na área geográfica (entre eles e com o ambiente),

10
Questioni di geografia, op. cit. , p. 43.

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foram apresentados como relações entre “as coisas” e isso contribuiu para
reforçar – como temos dito – uma teoria da ordem existente como ordem na-
tural. Além disso, Marx contribuiu também para compreender como o espa-
ço geográfico, transformado em território, nomeadamente, numa máquina
gigantesca produtiva, poderia tornar-se algo natural, ou seja, uma estrutura
impessoal, capaz de restringir a vida dos seres humanos, de alienar sua es-
sência, para levar ao domínio da coisa sobre o homem. Foi fácil, em segui-
da, passar dessa teoria para a política, indicando na organização capitalista
do território um instrumento de exploração dos trabalhadores por parte de
quem possuía os meios de produção e o poder de decidir a gestão da terra
mais adequada para a realização de reformas e lucros. Essas ideias foram
desenvolvidas, naqueles anos, por quem estava envolvido, nas cidades e nos
territórios, do ponto de vista econômico, sociológico, urbanístico e, natu-
ralmente, também geográfico. Na sequência das análises de H. Lefebvre, A.
Lipietz, M. Castells, S. Holland, D. Harvey, M. Santos e de autores italianos
como F. Indovina, A. Becchi, Collidà, A. Magnaghi, B. Secchi, G. Garofoli e
outros, trabalharam também alguns jovens geógrafos italianos, incluindo
quem escreve, dando vida, entre 1976 e 1980, ao grupo informal da Geo-
grafia Democrática. Não se falou mais simplesmente de espaço geográfico,
mas de “território”, ou seja, do que D. Harvey tinha definido como “espaço
geográfico de relações” . Isso levou a uma reforma radical do nosso tema de
estudo. Para utilizar as palavras de A. Lipietz: “sendo a geografia humana
nada mais que a organização espacial das estruturas sociais (econômica,
política, ideológica), a diferenciação dos espaços concretos – regionais ou
nacionais – deve ser abordada a partir da articulação das estruturas sociais e
dos espaços que eles produzem”11. Na mesma linha de pensamento, H. Lefe-
bvre tinha definido a cidade como a sociedade estabelecida no terreno.
A própria geografia neomarxista avaliava, assim, o espaço sem ato-
res, mas com o risco de substituí-lo – especialmente em seus aspectos es-
truturalistas – por uma visão de território onde existiam apenas as rela-
ções entre os atores, enquanto o espaço concreto desaparecia ou se tornava
uma simples tela, sobre a qual se projetavam as formas do espaço social.
Ressalto que a Geografia Democrática evitou tal risco, tanto com a revista
Herodote Itália, tanto com a organização, em Florença, em 1979, de uma
conferência sobre “a pesquisa empírica na geografia” .
Nessa conferência foi reconsiderada e reavaliada uma prática glo-
riosa da geografia tradicional, mas que substituiu a simples observação da
paisagem e o reconhecimento dos componentes objetivos, por uma pes-
quisa sobre os sujeitos ativos das transformações, sobre as próprias condi-
ções de vida desses sujeitos e sobre as relações mútuas entre eles e com o
ambiente material.

11
Lipietz, A. Le capital et son espace. Paris: Maspero, 1977, p. 28.

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Após essas orientações, foi possível abrir um novo caminho que to-
mou conta, seja das subjetividades, das relações sociais e dos valores, seja
das circunstâncias históricas e naturais dos territórios com que se relacio-
navam os agentes que operavam em diferentes escalas geográficas12. Tal
tipo de geografia recebeu forte influência da teoria dos sistemas complexos
que, naqueles anos, foi de grande interesse para todas as ciências incluin-
do as humanas. Em especial, os modelos da auto-organização, quando fo-
ram aplicados aos sistemas territoriais de diferentes níveis – tanto local
quanto supranacional – reconheciam, em cada um deles, princípios e for-
mas organizativas específicos, que não podiam reduzir-se a outros níveis­
territoriais. As ações específicas de cada sistema regional – nos termos do
relacionamento com o ambiente material intermediado por específicas re-
lações sociais – deram origem às diversidades geográficas que poderiam
apenas ser conhecidas através de pesquisas sobre o interior dos sistemas
individuais­. O fato de que o conhecimento do nível local não podia ser de-
duzido do conhecimento dos superiores (regional, nacional, global) deu
um grande impulso às investigações da geografia humana conduzida a este
nível, em paralelo com a mesma redescoberta dos sistemas locais pelas ci-
ências econômicas e sociais. São bem conhecidos, por exemplo, os estudos
sobre os distritos industriais realizados por economistas como G. Becattini
e sociólogos como A. Bagnasco.
Dessa forma a geografia humana desenvolveu uma maneira de cons-
truir novas relações com as ciências sociais. Também deve ser notado que,
entre os anos 1970 e 1980, a crise do modelo fordista de produção e o sur-
gimento da acumulação flexível, com o objetivo de explorar os diferenciais
competitivos de diferentes lugares, levou à reavaliação das diversidades
culturais e dos materiais locais, considerados como recursos potenciais
para o desenvolvimento. Tudo isso foi traduzido em seguida, a partir da
década de noventa, nas políticas de desenvolvimento local promovidas em
nível comunitário, nacional e regional, através de instrumentos (pactos,
projetos territoriais integrados etc.), cuja eficácia dependia muito da ca-
pacidade de compreender as especificidades locais como fatores de desen-
volvimento. Não só isso, mas a simétrica necessidade de proteger o meio
ambiente e a paisagem deu o valor correto para a velha tendência da geo-
grafia de identificar e descrever o que é mais estável ao longo do tempo e
que, nos novos planos, leva o nome de “invariantes estruturais”. Isso abriu
a oportunidade para os geógrafos participarem da projeção das transfor-
mações territoriais, recuperando parte do atraso acumulado nas três dé-
cadas anteriores. E isso realmente aconteceu desde os anos 1970, porque

12
Um exemplo: Geografia politica delle regioni italiane, coletânea organizada por P. Coppola,
Torino, Einaudi, 1997.

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os geógrafos tinham, nessa altura, abandonado a pretensão de escrever as


alegadas “coisas eternas”.
Contudo, antes de falarmos sobre a nova geografia do agir territo-
rial, achamos pertinente abordar a controversa questão do significado e do
valor que podem ter as descrições e representações geográficas nos proces-
sos de transformação.

Engano ou metáfora?
Lucio Gambi não tem negado a importância das relações ecológi-
cas, porém afirmou com força que o estudo da geografia humana tem de
se ocupar principalmente dos valores que as diferentes sociedades, nas di-
ferentes épocas históricas, atribuíram ao ambiente e aos elementos que
o compõem. Ele mesmo dedicou importantes estudos às representações
geocartográficas como expressão não somente da realidade reproduzida,
mas propriamente dos valores que elas expressavam13. Ao mesmo tempo, a
partir de pressupostos completamente diferentes, alguns geógrafos ameri-
canos criticaram a geografia teórico-quantitativa com a motivação de que,
segundo essa teoria, os modelos de interação espacial estão baseados em
comportamentos uniformes, comuns a todos os sujeitos, enquanto os com-
portamentos espaciais dependem, conforme observou também, no começo
dos anos 1970, o geógrafo Yi-Fu Tuan, de aspectos subjetivos como a per-
cepção, a atribuição de valores, as diferentes atitudes e visões de mundo.
Daqui nasceu aquela corrente do pensamento geográfico focalizada nas fa-
ses da percepção-elaboração do conhecimento e da representação: que se
interpõe entre nós e o mundo exterior, como um filtro, entre a observação
e a ação que exercitamos sobre aquele.
Contudo, se nossas representações do mundo são diferentes entre
elas, quais serão as verdadeiras?
Na opinião de autores expoentes da corrente do pensamento geo-
gráfico contemporâneo, não há uma resposta e a pergunta é sem sentido,
pois, como também Nietsche já afirmou, não existem feitos, somente in-
terpretações. Portanto, um documento geográfico – uma cartografia, uma
descrição regional – deveria ser estudado tentando reconstruir o percurso
perceptivo-cognitivo-comunicativo do autor, quer dizer, a desconstrução
do discurso representa tudo o que este pode dar-nos em termos de conhe-
cimento. Tal posição tem sido desenvolvida pelo pensamento geográfico
pós-moderno, o qual se opõe à pretensão da ciência moderna de conseguir
representações objetivas e universais da realidade14.

13
Em particular, no vol. 6, Atlante, da Soria d’Italia,Torino, Enaudi,1997.
14
Minca, V. C. “Relativismo postmoderno e prassi geográficas”, Rivista geográficas Italiana,104
(1977), p. 277-303.

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Podemos recusar a esterilidade científica desse pensamento (e a se-


guir veremos como), porém não podemos negar que isso tenha alguma ra-
zão pelo que pertence à geografia, pelo menos por duas motivações. A pri-
meira é que a relação geográfica pode compreender tudo o que tem lugar
e forma estável na superfície da Terra. Os argumentos são muitos. Para
ser “verdadeira”, tal descrição deveria considerar todos, nas suas carac-
terísticas espaciais (localização, dimensões, extensão etc.) e nas relações
entre eles. Contudo, isso não parece possível, e, se caso for, a descrição de
apenas um lugar requereria muitos volumes. Ninguém estaria interessado
numa descrição, pois não é isso que se espera da geografia. Por exemplo,
uma descrição da região Valle D’aosta com certeza tem que mencionar os
montes Bianco e Cervino, porém não é preciso descrever todas as cente-
nas de cumes dessa porção dos Alpes, a não ser para satisfazer interesses
específicos, como os dos alpinistas. Pode-se, então, falar de uma descrição
geográfica verdadeira somente no sentido em que, entre os inumeráveis
objetos presentes, esta cumpra uma função relacionada com as finalida-
des a que se propõe. Isso tem sentido para todas as ciências, porém com
a diferença que os critérios de escolha da maioria delas são claramente
definidos e compartilhados dentro de um paradigma dominante na comu-
nidade científica. Na botânica, por exemplo, a descrição de uma espécie
vegetal corresponde a uma codificação bastante precisa e rígida, baseada
nos princípios de uma classificação universalmente aceita. Pelo contrá-
rio, nada disso encontramos numa descrição regional, em que a escolha
depende unicamente do autor, da interpretação dele, que, caso por caso,
relaciona suas escolhas com as finalidades da descrição. O autor então
apresenta fatos “verdadeiros” (no sentido de verificáveis no campo), mas
é sempre uma interpretação, se consideramos a realidade estudada. Por
exemplo, minha ideia sobre a cidade de Nápoles muda muito se eu falo ou
não da camorra. Posso até descrever a África como um continente extra-
ordinariamente variado e fascinante, falando de fatos verdadeiros e isso
pode ser perfeito para um material turístico, porém, se quero informar a
opinião pública mundial ou eventuais investidores sobre a realidade da
África, com certeza, tenho que incluir muitas outras coisas que darão uma
imagem bem diferente.
A segunda motivação pela qual o paradigma da geografia afasta-
se dos caracteres da modernidade é que, depois da quebra dos determi-
nismos positivistas e neopositivistas, a geografia não oferece mais expli-
cações “científicas”, no sentido de causais. A geografia pode – quer dizer
deve – descrever as relações espaciais entre os objetos que representa – as
posições recíprocas, as distâncias, as formas – até as dos fluxos materiais e
das relações funcionais e de poder. Isso é um conhecimento conectivo que
corta horizontalmente muitos dos fatos que outras ciências aprofundam,
digamos assim, verticalmente. Porém, mesmo porque não se pode ir em-

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baixo da superfície, não há como averiguar o porquê dessas conexões. De


fato, a simples ideia de que dois objetos estejam próximos ou haja entre
eles algum tipo de relação espacial não serve para explicar as característi-
cas nem o comportamento deles.
Pelo fato das ciências analíticas negligenciarem, muitas vezes, es-
sas conexões, a geografia pode sugerir provas interessantes e até novas
hipóteses, mas poderão ser validadas ou falsificadas apenas com a par-
ticipação de outras ciências. Por exemplo, as observações geográficas de
Darwin sobre o isolamento de algumas populações de animais deram hi-
póteses que só em seguida foram transformadas na atual teoria da evolu-
ção biológica por outras ciências como a paleontologia ou a genética. Do
mesmo modo, o conjunto de formas entre as costas atlânticas da África e
da América do Sul, observadas por Wegener, foram um indício bem pre-
cioso, mas não forneceram provas suficientes para explicar a teoria da
“deriva continental”. Outro exemplo, ainda, em tempos mais recentes, o
geógrafo Brian Berry, o primeiro que descreveu com a palavra “contraur-
banização”, palavra bem ambígua, uma transformação que, em seguida,
as ciências econômicas e sociais explicaram, não muito bem, como recusa
da cidade, quanto mais como efeito de uma nova divisão territorial do tra-
balho, da especialização e acumulação flexível, e, em geral, da utilização
pós-fordista do território.
Refletindo sobre esses assuntos, quando a teoria marxiana ainda
estava bem presente no meu pensamento, tentei interpretar o fetichismo
geográfico numa perspectiva não propriamente ideológica15. Como vimos
antes, essa forma de fetichismo expressa-se no representar das relações
entre sujeitos, como se fossem relações espaciais entre “coisas”. Por exem-
plo, pode-se apresentar relações espaciais baseadas nos movimentos diá-
rios casa-trabalho, fenômenos que, na realidade, são bem mais complexos,
por exemplo, as relações capital-trabalho, ou o acesso dos trabalhadores
ao mercado imobiliário, ou aos serviços etc.
Tal regionalização das relações é ideológica na medida em que um
fato político aparece como algo natural e, dessa forma, evita que isso se
coloque como problema aberto a soluções alternativas. Sabemos que, em
muitos casos, a geografia trabalha com a ideia de que a regionalização
dos fenômenos complexos e problemáticos, implicitamente, sugere que es-
tes sejam fixos. Assim, a ordem existente também seria invariável. Se, por
exemplo, eu entender, ao pé da letra, a expressão “sul do mundo”, estou
considerando que um fenômeno sóciopolítico coincide com um elemento
invariável geográfico, pois a mensagem que eu transmito é que mesmo o
subdesenvolvimento há de ser apresentado como uma das “coisas eternas”
mencionadas pelo geógrafo do Petit Prince.

15
Metafore della Terra. La geografia umana tra mito e scienza. Milão: Feltrinelli, 1985.

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Todavia o papel das relações espaciais é apenas este, o de solidificar


o futuro dentro do existente, ou poderia ser também o de abrir o existen-
te para novas interpretações, para novas ordens possíveis? Uma resposta
podia ser: tendo de descrever fenômenos complexos dos quais não se pode
aprofundar as causas, a geografia tem que representá-los sinteticamente, de
algum modo, nas formas materiais como eles se manifestam. Também por-
que, se é verdade que as relações sociais não são determinadas por certos
ambientes geográficos, estão sempre intermediadas por ele e, então, não há
uma correlação espacial entre as duas. Por exemplo, expressões como side-
rurgia costeira, vila de picos, periferias urbanas, sul do mundo, além de ou-
tras, resumem numa simples imagem espacial um grande número de fatos,
de relações, de processos, em parte pouco conhecidos e que, em qualquer
caso, nem sempre são passíveis de serem traduzidas literalmente, mas facil-
mente se pode evocá-las de forma sintética através das imagens dos lugares
aos quais eles são associados. Se tomarmos as imagens geográficas literal-
mente, confirmamos aquela redução do fetichismo do qual falamos antes,
porém se tivermos consciência de que elas são apenas o signo (o significan-
te, o símbolo) de significados mais complexos, muitas vezes problemáticos,
e que em parte ainda devem ser investigados, podemos considerá-los como
uma metáfora (uma metonímia ou outras figuras).
Por razões de conveniência prática, isso acontece também quando fa-
lamos diariamente. Por exemplo, quando afirmamos que a Emilia Romagna
é uma região vermelha (supondo que isso ainda seja assim) utilizamos um
assunto geográfico – e também uma cor – para denotar significados muitos
diferentes dos literais. Contudo, se considerarmos a forma como normal-
mente utilizam-se as metáforas, podemos ver que isso não é apenas um ex-
pediente comunicativo, mas também um meio para descobrir algo novo.
Os estudiosos da epistemologia têm observado, há muito tempo, o
papel heurístico que a metáfora desenvolve também nas ciências “duras”16.
Por exemplo, a imagem do átomo como um sistema solar em miniatura
permite uma compreensão intuitiva da concepção teórica fundamental de
Bohr; a teoria do cérebro como um computador gerou hipóteses importan-
tes para o desenvolvimento das ciências cognitivas; a teoria dinâmica dos
gases é proveniente de modelos que imaginavam as partículas em circula-
ção como mármores. Em todos esses casos estamos numa fase pré-teórica
em que o conhecimento de um fenômeno é limitado e parcial, pois ain-
da não estão disponíveis expressões literais apropriadas para descrevê-los
analiticamente; porém, é necessário falar sobre isso, mesmo para adquirir
melhor conhecimento. Para as ciências analíticas, é a fase de transição,
e parece ser agora o estado epistemológico normal de todas as imagens
conectivas – que a nossa disciplina introduz nas suas descrições sem ter

16
Em particular R.Boyd e T. Kuhn. La metafora nella scienza. Milano: Feltrinelli, 1983.

27

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Zeus, os ossos do boi e a verdade das laranjas: bifurcações geográficas

meios para explicá-las, defini-las e sistematizá-las. Voltando ao exemplo


das áreas de mobilidade dos trabalhadores, quando observamos que o de-
senho geográfico delas não é o mesmo daquilo que está na teoria do equilí-
brio entre a oferta e a procura de trabalho, evidenciamos fatos que falsifi-
cam em parte a teoria do equilíbrio do mercado, de forma que introduzem
fatores importantes que a teoria não considera, mas que são fundamentais
para explicar como funciona o mercado do trabalho. O papel dos serviços
públicos de transporte, escolares, dos horários, da condição feminina, da
agricultura em tempo parcial (meio período), das políticas públicas por
moradia, ou outro aspecto que, sendo diferente de lugar em lugar, é posto
em evidência pela análise geográfica. Se, depois, quisermos saber como
funcionam tais fatores, como já disse, será necessário recorrer às outras
ciên­cias. Mas, por enquanto, a geografia, embora não ofereça as explica-
ções, sugeriu um caminho útil para se chegar lá.
Além disso, se, tendo percebido como esses diversos fatores atuam
sobre o fenômeno estudado, teremos de pronunciar-nos sobre a dimensão
territorial deste, será a geografia que nos dirá se e quando existem, nos di-
versos locais, as condições mais necessárias e mais eficazes para a inter-
venção. Então, se por um lado, há uma geografia que ossifica o mundo por
acreditar que nada pode mudar, por outro, existe uma outra geografia que
nos ajuda a entender de que carne é vestido o esqueleto.

A carne do mundo
Dino Gribaudi não me passou só a cultura geográfica tradicional,
mas também uma forma de praticá-la, o que, em parte, resgata a tendên-
cia desta geografia para naturalizar o mundo. Pensei em especial na sua
forma de entender e fazer a geografia quando li estas palavras do filosofo
Michel Serres:

A geografia mostra e esconde a física. É literalmente verdadeiro que quanto


mais ela penetra nas entranhas obscuras do solo ela vira mais geofísica, quer
dizer ciência exata da Terra. Por outro lado, quanto mais ela remonta para
o que é visível, para o desigual, para o trabalhado, tanto mais ela depende
da possibilidade da proximidade da paisagem. Esta dá comodidade para a
necessidade, delicadeza para a geometria, e cobre com sorriso o esqueleto
da legislação. A própria geografia é o conhecimento da paisagem, designado
por um estado de coisas que reduz as ciências duras ao silêncio, e do qual
as ciências humanas nascentes não podem falar ainda. A paisagem é a tran-
sição entre as ciências duras e as ciências humanas, silencioso campo pre-
parado para a sementeira, onde as primeiras terminam sua fala e seu curso,
enquanto as segundas devem ainda começá-lo17.

17
Serres, M. “Realitées”, no periodico Le Monde, 1.8.1982, p. 10.

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Giuseppe Dematteis

Para dizer a verdade, a ideia de que as descrições geográficas expres-


sam algo mais do que poderia dizer a própria linguagem analítica das ciên-
cias não foi completamente deixada de lado por seguidores de Vidal de la
Blache. Por exemplo, Henry Bauling, há 60 anos, escreveu o seguinte:

A descrição regional não tem um vocabulário técnico. Ela fala a língua co-
mum, um pouco porque é dirigida a todos, mas também porque convida o
leitor à participação ativa, fazendo apelo à memória e à imaginação dele: ela
evoca mais do que descreve18.

Por isso, a geografia da primeira metade do século passado, mesmo


com os seus defeitos graves, não se havia esquecido completamente da li-
ção de Elisée Reclus e, mesmo se não tivesse sido capaz de aproveitar a
mensagem de Eric Dardel19, já tinha dentro de si o germe do que em 1970
e 1980, tornara-se a “geografia humanista”. Esse discurso merecia ser de-
senvolvido com mais profundidade do que é aqui possível. Se o mencionei
é porque leva-nos ao problema da “verdade” que deixei aberto antes.
Acho que, entre os pensadores aos quais se refere a geografia huma-
nística, seria bom lembrar Maurice Merleau-Ponty e, em particular, sua
ideia de um mundo como carne que, ao mesmo tempo cobre o que obser-
vo e as próprias coisas. Na opinião desse autor, isso tudo é possível porque
quem observa não é independente do mundo que ele olha: existe um subs-
trato no qual não há distinção nenhuma ente o sujeito e o objeto.
A carne é “o meio criador do sujeito e do objeto”. Nós mesmos somos
as duas coisas, pois há uma “ligação natural entre eu que percebo e o que
eu percebo”20. Há uma correlação originária entre nós e o mundo exterior,
como se tivéssemos com ele uma “relação de harmonia estabelecida”. A mes-
ma relação permite-nos a comunicação com os outros, graças à origem co-
mum que vem antes da inteligência, da linguagem, da comunicação.
Esse desvio de discurso, apesar de breve, e desculpo-me por isso,
permite, em primeiro lugar, interpretar a imagem que o autor M. Serres
tem da paisagem, como “terreno silencioso”, como superfície visível para
as ciências, que a geografia há de deixar falar assim que esta possa ex-
pressar-se – para utilizar as palavras de Merleau-Ponty- “o nosso contacto
mudo com as coisas, quando estas ainda não são coisas ditas”21.
Existe, porém, algo mais na ideia de um desenvolvimento comum
para o intelecto e para as coisas, algo que nos permite compreendê-las e

18
Baulig, H. “La gèografie est-elle une science?”, Annales de Géographie, n. 305, 1948.
19
Reclus (1830-1906) e Dardel (1899-1967) foram dois geógrafos marginalizados pelo esta-
blishment acadêmico durante a vida deles e retomados em consideração nas últimas déca-
das, com a descoberta dos componentes subjetivos da descrição geográfica.
20
Merleau-Ponty, M. Il visibile e l’invisibile. Parigi, 1964 (publicação italiana organizada por
M. Carbone, Bompiani 1969), p. 57.
21
Ibidem, p. 63.

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Zeus, os ossos do boi e a verdade das laranjas: bifurcações geográficas

transforma-nos em “carne do mundo” com estas22. Explica-nos, em ter-


mos mais próximos de nossa linguagem, o geógrafo francês Augustin
Berque com a ideia de proto-paisagem. Ele afirma que, no princípio de
todas as formas de paisagem, construídas e interpretadas por culturas
diferentes, existem:

Tratos fundamentais, os quais, em termos de percepção ambiental, são co-


muns a todos os seres humanos. Estes se formaram durante um largo pro-
cesso de co-evolução da nossa espécie com o ambiente terrestre, processo
que é ao mesmo tempo próprio da historia biológica e cultural23.

Ele continua ainda:

A paisagem evoca e ativa (…) a lembrança das nossas precedentes expe­


riências, não somente daquelas diretas, as da nossa vida individual, mas
também aquelas que a nossa cultura traz, quer dizer as experiências de uma
sociedade – assim como aquelas que, biologicamente, estão escritas nos nos-
sos sentidos – quer dizer a experiência da espécie humana.

O estudo da relação entre evolução biológica e evolução cultural foi


retomada nos últimos anos depois que as interpretações deterministas e
reducionistas, a partir de 1800 (como as do determinismo geográfico), fo-
ram desqualificadas no campo cientifico e, ao mesmo tempo, no campo
das ciências humanas. Como reação, foi teorizada a dicotomia natureza-
cultura. Nos últimos dez anos as coisas mudaram. Dois cientistas famosos
pelos estudos da evolução biológica, S. J. Gould e N. Eldredge, escreveram
que “a ciência contemporânea substituiu as convenções passadas sobre o
determinismo gradual, progressivo e previsível, com as noções de contin-
gência histórica, caos e pontuações”24. Outro notável cientista, M. Cini,
afirmou que “conhecimento científico e conhecimento histórico não são
mais duas formas fundamentalmente diferentes de explicação do mundo
incompatíveis entre elas”25. Então, abriu-se uma nova perspectiva, na qual
os processos históricos não se referem unicamente aos seres humanos,
mas operam, com modalidades similares, no maior contexto da vida em
que são inseridos.
Tal visão da história leva à superação das dicotomias – também não
se eliminam as diferenças- entre homem e natureza, matéria e intelecto,
transcendência da teoria e imanência da práxis. Ideias similares já foram
enunciadas de forma mais leve na tradição do pensamento ocidental a par-
tir de Lucrecio até Gregory Bateson, passando por Spinoza e outros. Está
22
Ibidem, p. 40 e 148.
23
Berque, A. Les raisons du paysage. Ed. Hazan, 1995, p. 32 e 39.
24
Num artigo do 1993, cit. em S. J. Gould, La struttura della teoria dell’evoluzione. Torino: Co-
dice Edizioni, 2003, p.1212.
25
Cini, M. Dialoghi di un cattivo maestro. Torino: Bollati Boringhieri, 2005, p.55.

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Giuseppe Dematteis

também conectada com concepções que se desenvolveram dentro de ou-


tras culturas, como a chinesa clássica, e permite distanciar-nos, de alguma
forma, do pensamento de Descartes, não para recusar nossa tradição, mas
para atuar em uma reelaboração que considere também os progressos do
pensamento científico produzidos pela tradição.
Vamos ver o que significa isso tudo para o nosso modesto papel de
geógrafos. Precisamente: o que é que a geografia há de descrever, se se
considera a evolução do mundo como um fluxo onde a ordem das coisas
e os princípios das transformações não respondem a teorias abstratas, a
leis previsíveis, enquanto são imanentes no desenvolvimento delas? Por
um lado a geografia está livre do papel impossível de explicar o que não é
explicável, de encontrar leis que expliquem como as coisas mais diferentes
coexistem no espaço terrestre e estão ligadas entre si. Por outro lado, a vi-
são evolutiva historicizada permite que as representações geográficas tam-
bém continuem tendo uma natureza sincrônica e, então, essencialmente
estática. Podemos fugir do perigo do fetichismo e da ideologia puramente
conservadora da qual falamos antes, se as considerarmos simples instru-
mentos para explorar as potencialidades dos contextos territoriais. De tal
forma, o espaço geográfico não será mais utilizado para mostrar estados
de coisas solidificadas; pelo contrário, será utilizado para descobrir as pro-
pensões que existem dentro dele, para passar da necessidade dos feitos às
possibilidades que estas contenham. Resumindo: para mostrar quais são,
hoje, as condições de um devir possível.
O problema da verdade geográfica move-se na direção do significa-
do desta última expressão. Em primeiro lugar, indica que a verdade geo-
gráfica tem mais a ver com o futuro do que com o passado ou o presente.
Contudo, ela não pode ignorar os processos atuais, breves ou longos. O
problema é que o mesmo papel performativo está desenvolvido por pro-
posições verdadeiras como por aquelas falsas: também estas últimas, de
fato, podem transformar-se em profecias que se autorrealizam. Por exem-
plo, quando os geopolíticos nazistas desenhavam mapas da densidade de
população nos quais se viam os altíssimos valores da Alemanha e os bai-
xíssimos da Polônia, não era mentira sobre os fatos, mas sobre o que eram
obrigados a dizer. A escolha deles tinha como objetivo a legitimação da
política do espaço vital, que deu início à Segunda Guerra Mundial. Então,
o problema é o de saber se os fatos e as relações espaciais que escolhemos
para a cena das nossas descrições são os mais justos e, ainda, temos de
compreender porque uma geografia é verdadeira quando é justa. Por um
lado, o verdadeiro aplica-se à existência real dos fatos e das relações es-
paciais destes e, por outro, neste caso, o justo está relacionado com a ação
que resulta da forma de escolher e combinar os componentes nas descri-
ções geográficas. Por exemplo, numa descrição geográfica orientada para
a localização industrial, as escolhas dependem de quanto são completos os

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Zeus, os ossos do boi e a verdade das laranjas: bifurcações geográficas

fatores em jogo: então, não somente os custos do solo, dos transportes e do


trabalho entram no cálculo econômico do empreendimento, mas também
tudo o que isso não considera e que é próprio de um cálculo socioambien-
tal da utilização dos bens comuns: quer dizer, consumo de terra e de água,
paisagem, ecossistemas etc.
Outro exemplo é o das periferias urbanas, cujas políticas de inter-
venção mudam segundo a forma como representamos os espaços, ou seja,
de forma puramente negativa, assim como os espaços com características
próprias, nos quais é possível organizar a vida local de uma forma relativa-
mente autônoma. Mudando de escala e de ordem de problemas, um outro
exemplo é oferecido pela atual política da China no Tibete: provavelmente
esta seria menos dura se, no quadro geopolítico da região, além do elemen-
to bem conhecido da posição estratégica, não tivesse surgido também o
problema dos enormes recursos minerais, recém descobertos na região, ca-
pazes de satisfazer a fome de ferro, cobre e outros metais dos quais precisa
desesperadamente a economia chinesa em expansão.
Em todos esses casos a ação depende das numerosas possibilida-
des oferecidas pelo quadro geográfico, o qual, por um lado, depende não
somente das informações disponíveis, mas também da forma de seleção
e organização destas, das ordens espaciais e dos significados que delas
derivam, quer dizer: dependem da nossa interpretação dos territórios. E
será mesmo aplicando “o justo” como critério das nossas descrições que
poderemos entender porque não é verdade que todas as interpretações
são equivalentes. Se quisermos distinguir as certas das erradas – as “ver-
dadeiras” das “falsas”- a maneira mais simples é perguntar-nos onde nos
levam as decisões individuais e coletivas, privadas e públicas que toma-
mos em relação a tais interpretações. Se considerarmos que estas melho-
ram consideravelmente o nosso ambiente de vida, sem piorar o de quem
mora em outras partes do planeta, podemos afirmar que são geografias
“verdadeiras”.
Com a palavra “verdadeiro” queremos dizer, então, uma “justa” e efi-
caz performativa. E “justo” não é só o que chega de uma demonstração teó­
rica, mas também, sobretudo, o que, através de conhecimentos cientifica-
mente fundados, revela-se sustentável, considerando todas as declinações
da sustentabilidade: ambiental, econômica, social, cultural.
Tal é a lógica pela qual A. de Saint-Exupéry escreveu: “a verdade não
é nunca o que demonstramos. Se neste terreno, e não noutro, as laranjeiras
possuem raízes tão sólidas e estão cheias de frutos, é este terreno a verdade
das laranjeiras”26.
Comecemos, então, com a lógica elementar das laranjeiras, lem-
brando porém que o problema da geografia humana não é só um proble-

26
Em Terre des hommes, Paris, Gallimard, 1939, p. 190.

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Giuseppe Dematteis

ma local. Isso implica uma concepção da Terra, na qual a biosfera e a es-


fera sociocultural (tecnosfera e semiosfera) interagem e coevoluem como
componentes de um único sistema complexo. Tal complexidade surge da
consideração de que o sistema natural Terra e o sistema socioeconômi-
cocultural humano, operam a cada segundo suas próprias modalidades,
não redutíveis reciprocamente, assim como não são redutíveis entre eles
os princípios organizativos dos subsistemas territoriais nos quais eles se
articulam. Isso significa que em todos os níveis territoriais podemos errar
nossas escolhas, que alteram as condições biológicas e sociais do planeta
e que antes ou depois irão contra as condições de vida dos sistemas locais
que são os responsáveis por tais escolhas.
É assim que eu penso que os geógrafos, hoje, não podem limitar-se
a descrever os territórios sem ter a responsabilidade de contribuir para
a melhoria dos sistemas e com eles do sistema planetário. Podem fazê-lo
individualizando e descrevendo, nas diferentes escalas, as condições fa-
voráveis ou contrárias para a criação de relações coevolutivas virtuosas
com a biosfera e, através delas, relações sociais que reduzem as enormes
desigualdades e as utilizações equivocadas dos recursos naturais e hu-
manos que existem hoje em dia. Isso, com certeza, utilizando as palavras
de Vidal de la Blache que citei no começo, é para a geografia “um proble-
ma bem difícil”. Porém, não é o único. A nossa disciplina provavelmente
terminou sua missão quando indicou aos especialistas, aos políticos e ao
grande público, as potencialidades e os vínculos territoriais que podem
ajudar-nos a viver bem com o ambiente exterior e com os outros? É só
esse tipo de cálculo que a geografia pode tirar fora daquele “terreno silen-
cioso” de M. Serres, ou daquele “ contato mudo” com as coisas quando
ainda não são ditas, que menciona Merleau-Ponty? É de verdade só isso
a compreensão geográfica se, como já vimos, compreender significa tra-
duzir nos significados disponíveis um sentido que antes estava preso na
coisa e no mesmo mundo?
Deixo a quem ouça, ou a quem ler estas páginas – especialmente aos
meus estudantes e aos meus colegas mais jovens – a tarefa de responder.
Eu lembro apenas, como bem sabe quem gosta de viajar e explorar, que a
geografia compreende também sentimentos, emoções, empatias... E fecho
aqui com um comentário que escreveu aquele geógrafo que foi Eric Dardel
sobre os descobrimentos geográficos:

As preocupações políticas e mercantis não explicam sozinhas tal mania de


descobrir, apesar de ter um papel que tem sido muitas vezes fundamental
nas atividades de pesquisa e descobertas. Podemos então falar de uma poé­
tica da descoberta geográfica, no sentido de que a descoberta tem sido a
realização de uma visão que abraça a totalidade do mundo, tem sido uma
criação , uma criação de espaço, abertura do mundo para um estender-se do

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Zeus, os ossos do boi e a verdade das laranjas: bifurcações geográficas

homem, impulso para um futuro e fundamento de uma nova relação entre


o homem e a terra27.
Atualmente, embora não existam novas terras para descobrir, a “poé­
tica” da descoberta geográfica pode e há de continuar.

27
Dardel, E. L’uomo e la Terra. Natura della realtà geografica. Tradução italiana do texto origi-
nal de 1952, organizada por C. Copeta, Milano, Unicopli, 1986, p. 72.

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Agricultura familiar agroecológica
como alternativa de inclusão social e
desenvolvimento territorial em itapejara
d’oeste, salto do lontra e verê – sudoeste
do paraná

Marcos Aurélio Saquet


Prof. Dr. da Unioeste – Geografia | saquetmarcos@hotmail.com

Elaine Fabiane Gaiovicz


Unioeste – Mestre em Geografia; bolsista do USF | elaine-fabiane@hotmail.com

Suzana Gotardo de Meira


Unioeste – bolsista recém-formada do USF | suzanagmeira@hotmail.com

Poliane de Souza
Unioeste – bolsista graduanda do USF | poliane_nardi@hotmail.com

Apresentação
Os processos de inovações industriais ocorridos no âmbito urbano
no século XIX tiveram uma fase de intensa expansão a partir da I Guerra
Mundial e, sobretudo, depois da década de 1940, quando se inicia a im-
plantação de novas técnicas e práticas no espaço rural. Estas possibilita-
ram um grande aumento da produção, provocando resultados mais ex-
pressivos durante as décadas de 1960 e 1970.
O novo modelo denominado “Revolução Verde” baseia-se no uso in-
tenso de sementes modificadas, fertilizantes, agrotóxicos, além do uso de
novas tecnologias em todas as fases da produção, desde o plantio até a co-
lheita e a comercialização. Com isso busca-se aumentar a produtividade,
reduzindo os custos e maximizando os lucros.
Nesse mesmo tempo, aumentam as manifestações decorrentes dos
problemas gerados pelo pacote tecnológico, em virtude de impactos como
a contaminação dos recursos hídricos e dos animais, erosão, contamina-
ção dos solos e redução da sua fertilidade natural, redução da biodiversi-
dade, dependência de insumos químicos, concentração fundiária, êxodo
rural, entre outros, cada vez mais presentes e visíveis no espaço.

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Agricultura familiar agroecológica como alternativa de inclusão social e desenvolvimento
territorial em itapejara d’oeste, salto do lontra e verê – sudoeste do paraná

A partir dos impactos gerados pela remodelagem da produção con-


vencional, procuram-se soluções alternativas que minimizem tais impac-
tos. Uma delas é a agroecologia. Segundo Gliessman (2001), nos anos
1930, alguns ecologistas propuseram o termo agroecologia para designar a
ecologia aplicada à agricultura. Assim, surgiam as bases de uma forma de
produção agrícola realizada em pequenas propriedades diversificadas ou
em estabelecimentos maiores com base na monocultura.
Desse modo, é importante diferenciar a agroecologia da produção
orgânica, pois, muitas vezes, elas são tratadas como análogas, porém, exis-
tem diferenças entre essas duas alternativas produtivas.
De acordo com Assis e Romeiro (2002), a agricultura orgânica é uma
prática agrícola que possui características técnicas adaptadas em função
do contexto social em que se insere, pois pode seguir uma lógica capitalis-
ta, enfatizando a produção para o mercado externo na perspectiva empre-
sarial, e uma lógica familiar, que produz alimentos para subsistência e para
o mercado local, com administração da própria família na produção.
Na agricultura orgânica, procura-se produzir alimentos livres de
qualquer tipo de insumos químicos e com sabor original que atenda às
expectativas do consumidor. A busca por produtos orgânicos leva a uma
pressão de mercado que favorece a produção com base em altas tecnolo-
gias, externas à propriedade e à monocultura, privilegiando o fator eco-
nômico. A prática eminentemente mercantil pode colocar em risco a sus-
tentabilidade do sistema, pois costuma desconsiderar o equilíbrio entre o
social, o econômico e o ecológico. Se depender do mercado, a produção or-
gânica tem futuro garantido, pois é a corrente alternativa que mais cresce
e é difundida atualmente, em virtude da aceitação do produto limpo, livre
de agrotóxicos (ASSIS e ROMEIRO, 2002).
Já a agroecologia, que surge no Brasil na década de 1970, é entendi-
da por Assis e Romeiro (2002) como uma ciência que busca compreender o
funcionamento de agroecossistemas (propriedades agrícolas compreendi-
das como ecossistemas, onde ocorrem diversas relações de troca entre ma-
téria e energia), com o princípio de sustentabilidade das atividades, através
da conservação dos recursos naturais e menor dependência de insumos
externos. Para esses autores, na agroecologia, procura-se relacionar conhe-
cimentos de várias áreas para propor orientações para a agricultura consi-
derando as condições ambientais que caracterizam a natureza.
Contudo, Candiotto, Carrijo e Oliveira (2008) afirmam que, além da
preocupação ambiental, a agroecologia diferencia-se da agricultura orgâ-
nica em virtude de considerar a dimensão social da agricultura familiar e
de procurar fortalecê-la frente à expansão de grandes empresas agrícolas,
sejam elas convencionais ou orgânicas.
Portanto, na perspectiva da agroecologia, o processo de produção
agrícola deve estar vinculado ao desenvolvimento ambiental, social e eco-

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Marcos Aurélio Saquet | Elaine Fabiane Gaiovicz |
Suzana Gotardo de Meira | Poliane de Souza

nômico das propriedades e famílias rurais, com base em práticas sustentá-


veis. Assim, é fundamental um profundo conhecimento do funcionamento
dos ecossistemas e agroecossistemas inseridos em uma propriedade rural
ou em uma microbacia hidrográfica, aliado a uma preocupação política e
social de manutenção e fortalecimento da agricultura familiar.
Na ciência agroecológica, tenta-se aprender com a dinâmica da na-
tureza melhores formas de intervir sobre ela e aplicar conhecimentos téc-
nicos e científicos adquiridos pela humanidade, resgatando conhecimentos
que a agricultura convencional despreza. A agroecologia utiliza inovações
tecnológicas para desenvolver agroecossistemas sustentáveis e de produti-
vidade, porém sempre sem agredir o meio ambiente (ASSIS e ROMEIRO,
2002).
Concordamos com Hespanhol (2008a), Candiotto, Carrijo e Oliveira
(2008), quando estes evidenciam a diferença da agroecologia em relação a
outros sistemas de produção denominados agriculturas alternativas, como
a agricultura orgânica, pois ainda que esta tenha um enfoque ecológico
para produzir, seu alcance é limitado, pois não questiona as relações con-
vencionais do mercado – pautadas no individualismo e na competitividade
– que, por sua vez, acabam contribuindo para intensificar as desigualdades
sociais. Já a agroecologia é mais ampla, levando em consideração relações
econômicas, culturais e processos biológicos, procurando compreender o
agroecossistema como um todo, ou seja, as relações entre animais, pes­
soas, plantas e solo.
De maneira simples, podemos afirmar que todas as práticas agro-
ecológicas estão inseridas na corrente da agricultura orgânica, que, por
sua vez, é uma das correntes da chamada agricultura alternativa. Por ou-
tro lado, as práticas agroecológicas, apesar de fazerem parte da agricultu-
ra orgânica, possuem peculiaridades que as tornam mais restritas que as
da agricultura orgânica, pois a agroecologia está intimamente vinculada à
agricultura familiar, sendo um tipo de agricultura de pequena escala, ca-
racterizada pela policultura, pela mão de obra familiar, por sistemas pro-
dutivos complexos e diversos, adaptados às condições locais, voltados para
o consumo familiar, o mercado local e a valorização das práticas agrícolas
e culturais dos agricultores familiares, como o saber fazer acumulado his-
toricamente.
Já na produção orgânica, não se utilizam produtos químicos sinté-
ticos ou alimentos geneticamente modificados; no entanto, a produção,
por ser orgânica, não está isenta de ser efetivada nos moldes da agricul-
tura convencional ou da monocultura; os produtores apenas não fazem
uso de insumos químicos. Normalmente, é uma produção de grãos para
exportação.
Nas últimas décadas, as áreas de terras geridas de forma agroecológica
e o número de produtores aumentaram consideravelmente em vários países

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Agricultura familiar agroecológica como alternativa de inclusão social e desenvolvimento
territorial em itapejara d’oeste, salto do lontra e verê – sudoeste do paraná

do mundo. Segundo dados de 2009, da Federação Internacional dos Movi-


mentos de Agricultura Orgânica (IFOAM), mais de 140 países possuem terras
geridas com manejos orgânicos. Em 2007, na América Latina, existiam apro-
ximadamente 220.000 produtores orgânicos cultivando cerca de 6,4 milhões
de hectares de terras. A maioria da produção orgânica na América Latina é
destinada à exportação, tais como as frutas tropicais, cereais, café, cacau,
açúcar e carnes, que correspondem aos carros-chefes da produção.
Em reconhecimento da crescente importância da produção orgâni-
ca para a economia agrícola, muitas instituições governamentais, na Amé-
rica Latina, começaram a desempenhar um papel central na promoção
dessa agricultura. No Brasil, por exemplo, entre algumas iniciativas, está
o apoio a programas e projetos para desenvolvimento da agricultura agro-
ecológica e orgânica, como ocorreu no Sudoeste do Paraná, com as ações
da Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural (ASSESOAR) e
do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA). Inseridos no contexto,
realizamos, entre abril de 2009 e dezembro de 2010, um projeto de pes-
quisa e extensão envolvendo a Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(UNIOESTE), campus de Francisco Beltrão, e alguns parceiros, como as
entidades mencionadas anteriormente.
O projeto “Agricultura familiar agroecológica nos municípios de Ita-
pejara d’Oeste, Salto do Lontra e Verê (Sudoeste do Paraná), como estratégia
de inclusão social e desenvolvimento territorial”, foi financiado com recur-
sos da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Pa-
raná (SETI) através do Programa Universidade Sem Fronteiras (USF) e pela
Fundação Araucária (Edital 14/2008). Neste texto, apresentamos os princi-
pais resultados obtidos nos três municípios do referido projeto.
Para efetivar as atividades de cooperação com os agricultores sele-
cionados e com as instituições de cada município, optamos pela metodo-
logia participativa desde a coleta dos dados, passando pela discussão da
metodologia até o planejamento e realização das ações voltadas para o
desenvolvimento. Nossos objetivos principais foram: compreender as ca-
racterísticas da produção agroecológica; participar através das atividades
de extensão e cooperação na qualificação dessa produção; contribuir com
a geração de empregos; identificar suas prioridades e viabilizar cursos de
capacitação e formação. Para atingir tais objetivos, trabalhamos com os
seguintes procedimentos: pesquisa bibliográfica, coleta e análise de dados
secundários (IBGE), realização de entrevistas a partir de um roteiro pre-
viamente definido, elaboração de quadros sínteses e mapeamento da pro-
dução agroecológica, reuniões com os representantes das instituições lo-
cais e com os agricultores agroecológicos.
Os conceitos que servem de orientação para a pesquisa e as ações
de extensão-cooperação são os seguintes: território, desenvolvimento, agri-
cultura familiar, agroecologia, redes, cooperação e inclusão social, confor-

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Marcos Aurélio Saquet | Elaine Fabiane Gaiovicz |
Suzana Gotardo de Meira | Poliane de Souza

me apresentamos inicialmente em Saquet et al. (2010). Acreditamos que,


para reorganizar a produção, a forma de vida e o território, é necessário
repensar e reorganizar as relações de poder, valorizando e reforçando pe-
quenas organizações políticas e produtivas.
A agroecologia, entendida como uma alternativa de desenvolvi-
mento vinculada à conquista de autonomia requer novas relações dos ho-
mens entre si e com a natureza; o manejo adequado do solo, das plantas
e das águas; relações de cooperação e participativas; eliminação de inter-
mediários e valorização dos produtos primários e do patrimônio identi-
tário, enfim, envolve um aspecto específico de produzir e viver num mo-
vimento de contraponto à racionalidade do capital, conforme indicamos
em Saquet (2007).
Tais passos exigem compreensão e atuação por parte do pesquisa-
dor – agente político, que considere os processos sociais (econômicos, po-
líticos e culturais) e naturais, tanto na abordagem (estudo) como no pla-
nejamento e nas ações a serem realizadas com os agricultores familiares.
Há destaque para o lugar, para a dinâmica ambiental e para a elaboração
de projetos de desenvolvimento com base em pequenas iniciativas. A sus-
tentabilidade é pensada para além da proteção da natureza, incorporando
o território, ou seja, a sustentabilidade do conjunto de seus componentes.
A natureza é um patrimônio territorial e precisa ser gerida pela sociedade
local articulada a outros grupos sociais, com capacidade de autogestão,
valorizando a ajuda mútua, o pequeno comércio, a autonomia, o trabalho
manual do agricultor, os saberes populares, a cooperação, o patrimônio
identitário, a biodiversidade, as microempresas, enfim, a vida em seus di-
ferentes ritmos.

A agroecologia nos municípios de Itapejara d’Oeste, Verê e Salto


do Lontra

A agroecologia desenvolveu-se e desenvolve-se de diferentes formas


nos municípios mencionados. Procuramos neste item fazer uma síntese da
trajetória da agroecologia em cada um desses municípios.
A agricultura agroecológica começou a se desenvolver no município
de Itapejara d’Oeste por volta de 2001-2002, por iniciativa da Secretaria
Municipal de Agricultura e Meio Ambiente, em parceria com o Centro de
Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA) e a EMATER. De acordo com o En-
genheiro agrônomo Joacir Citadim, da Secretaria de Agricultura e Meio
Ambiente de Itapejara, a instituição começou a atuar com a agroecologia
em parceria com o CAPA, núcleo de Verê, dando assistência aos produto-
res no processo de conversão das propriedades. Assim como em Verê, as
parcerias consistiam, principalmente, em visitas para divulgar a produção
agroecológica, sua importância e técnicas de cultivo.

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Agricultura familiar agroecológica como alternativa de inclusão social e desenvolvimento
territorial em itapejara d’oeste, salto do lontra e verê – sudoeste do paraná

Durante o período de parceria, em Itapejara d’Oeste, havia aproxi-


madamente 90 produtores que foram capacitados para produzir de forma
agroecológica. Porém, atualmente, o número não ultrapassa 8 produtores
que continuaram com a produção. O trabalho do CAPA permanece com
alguns viticultores que vendem uva para a fábrica de sucos orgânicos de
Verê, denominada Sucos Viry.
Atualmente, também há atuação da ATER (Assistência Técnica e Ex-
tensão Rural), entidade criada em 2009 por iniciativa da CRESOL, com o ob-
jetivo de terceirizar a preparação dos projetos e viabilizar aos agricultores o
acesso aos financiamentos como o Pronaf Investimento ou o Pronaf Custeio.
A CRESOL (Cooperativa de Crédito Rural com Interação Solidária)
é uma entidade presente em toda região Sul do Brasil; seus objetivos são
trabalhar em prol da agricultura familiar e do pequeno produtor agrícola,
auxiliando com financiamentos e outros benefícios. Em Itapejara d’Oeste,
ela está presente desde o ano de 2001 e atua indiretamente na agroecolo-
gia desde o início da sua fundação através de financiamentos de custeio e
investimento. As principais ações realizadas estão vinculadas aos financia-
mentos para a construção de estufas e outras estruturas, além de apoiar
tecnicamente atividades para a proteção de nascentes d’água.
Já em Salto do Lontra, as discussões relacionadas à agroecologia
tiveram início no ano de 1997, através do Conselho Municipal de Desen-
volvimento Rural, por iniciativa da EMATER e da Secretaria Municipal
de Agricultura, começando a organização pela capacitação, mobilização
e sensibilização dos agricultores através do grupo de agroecologia do Pro-
jeto Integrado dos Municípios do Reservatório da Usina de Salto Caxias
(Pró-Caxias), os quais realizaram todas as etapas: desenvolvimento técni-
co, repovoamento dos rios e lagos e apoio à cadeia produtiva da piscicultu-
ra, juntamente com outras organizações e envolvendo o Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE).
Inicialmente, identificamos apenas 8 produtores, dos quais, 6 rece-
beram certificação, um da Rede Ecovida, um do Instituto de Mercado Or-
gânico (IMO) e quatro do Instituto Biodinâmico (IBD). A organização des-
ses agricultores dá-se através do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR)
e do Mercado do Produtor da COOPAFI.
A produção agroecológica no município de Verê iniciou nos anos
1990. As primeiras manifestações surgiram por parte de agricultores que
começaram a produzir orgânicos em estufas e vender na pequena feira que
havia na cidade e diretamente aos consumidores. Com o surgimento do
CAPA, a organização, comercialização da produção e assistência técnica
foram fortalecidas.
O CAPA é uma organização não governamental ligada a Igreja Evan-
gélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) com sede na Alemanha.
Dos cinco núcleos da ONG no Brasil, dois estão no Paraná, um em Mare-

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chal Candido Rondon e outro no município de Verê. Os demais núcleos es-


tão localizados no Rio Grande do Sul: Erechim, Pelotas e Santa Cruz, onde
oferecem assistência aos municípios de cada região.
Além da assistência técnica que o CAPA oferece aos agricultores para
produção orgânica e agroecológica, uma das ações mais importantes para o
fortalecimento da agroecologia em Verê esteve ligada ao incentivo para a for-
mação da APAV (Associação dos Produtores Agroecológicos de Verê).
No ano de 2000, o CAPA atendia 5 famílias que produziam hortaliças
orgânicas, comercializadas diretamente com alguns consumidores da cida-
de, mas a produção foi intensificando-se e esses consumidores não deram
conta de absorver toda a produção, então, os produtores, sentiram a necessi-
dade de organização da produção e de um espaço para comercialização dos
produtos. A partir dessa necessidade, em parceria com o CAPA, foi fundada
a APAV, em agosto de 2001, com a finalidade de organizar a comercialização
dos produtos orgânicos num espaço diferenciado e, com o passar do tempo,
começaram a ter maior quantidade e regularidade na oferta de produtos.
Atualmente, a associação tem um mercado localizado na área urbana
do município, contando com aproximadamente 70 sócios. Porém, entre es-
ses agricultores, 25 entregam produtos com regularidade e os demais são só-
cios interessados em manter o mercado, pagando uma taxa no valor de uma
saca de milho por ano. Entre os produtos vendidos estão: hortaliças, frutas,
grãos, doces, conservas, embutidos e derivados de leite.

Aspectos da produção agroecológica


No município de Itapejara d’Oeste são 8 os produtores atendidos pelo
projeto. As propriedades apresentam área média de 17,14 ha (Quadro 1) sen-
do que a área média destinada à agroecologia é de 3,8 ha. As propriedades
são pequenas, mas possuem culturas diversificadas conforme verificamos
no trabalho de campo.
A gestão e a força de trabalho dos estabelecimentos são exclusivamen-
te familiares. A mão de obra utilizada, em algumas propriedades, é limita-
da apenas ao casal; em outras há participação direta dos filhos que residem
na propriedade; quando há excesso de tarefas e a família não consegue dar
conta, recebem ajuda dos vizinhos trabal hando em um regime de troca de
dias de serviço. Este sistema é muito comum nas pequenas propriedades de
Itapejara d’Oeste, pois o custo para contratar trabalhadores externos é mui-
to elevado e não compensa para o pequeno produtor agrícola mercantil. Al-
guns produtores, como Raul Dall’Agnol e Milton Moschen, contratam traba-
lhadores temporários, principalmente durante o período de safra.
Como observamos no quadro 1, a produção agroecológica de Itapejara é
diversificada, voltada principalmente para as culturas de frutíferas, hortaliças
e grãos, além de produtos transformados, como vinhos, doces e conservas.

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Agricultura familiar agroecológica como alternativa de inclusão social e desenvolvimento
territorial em itapejara d’oeste, salto do lontra e verê – sudoeste do paraná

Algumas frutas, como as cítricas (laranja, bergamota, limão) e os pês-


segos são produzidas em pequenas quantidades nos pomares; essas frutas
são destinadas primeiramente para consumo familiar e o excedente é co-
mercializado. A partir das frutas também são produzidas conservas, vendi-
das nas residências ou no comércio local pela Cooperativa de Comercializa-
ção da Agricultura Familiar Integrada (COOPAFI).
Além de frutas, também se cultivam hortaliças e grãos. Diferente-
mente dos grãos, o plantio das hortaliças não exige grandes áreas e pode
ser feito em diferentes épocas do ano, permitindo mais que uma colheita.
A alface e o repolho, por exemplo, após sessenta dias da semeadura estão
prontos para o consumo. Já na produção de grãos, o período do plantio à
colheita é mais extenso, permite geralmente só uma safra no ano e neces-
sita de maiores extensões de terras.

Quadro 1. Produtores de Itapejara d’Oeste


Tamanho da Produção agroecológica in natura
Produtor Nº de Trabalhadores
Prop. (ha) transformados
(1) uva, leite
Antonio Plucinski 4,8 04 (casal e 2 filhos)
(2) vinho, queijo
Osmar Franciscon 8,0 02 (casal) (1) hortaliças; mandioca; feijão; batata
(1) milho, soja, feijão, frutas, leite
Raul Dall’Agnol 13,0 03 (casal e filho)
(2) geléia, conservas
(1) uva
Nelson Savitski 13,3 03 (casal e filho)
(2) vinho
(1) uva
Nadir Antonioli 14,0 02 (casal)
(2) vinho
Arsindo C. Colla 22,0 04 (casal e filhos) (1) uva
07 (casal, filhos e 1
Filisbino C. dos Santos 31,7 (1) hortaliças e frutas
nora)
Milton Moschen 35,0 03 (casal e filho) (1) hortaliças e frutas
Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

A maior parte dos agricultores produz frutas, hortaliças e/ou grãos.


O agricultor de Itapejara d’Oeste, Filisbino Cirino dos Santos, produz de
forma agroecológica desde 2005, com a assistência técnica do CAPA e com
o retorno do filho à propriedade reforçando a mão de obra.
Na propriedade, a produção é bem diversificada, com hortaliças e
frutas diversas, comercializadas nos mercados convencionais do municí-
pio, no mercado do produtor e, através do PAA (Programa de Aquisição de
Alimentos), às escolas e hospitais. Atualmente, o produtor ampliou a pro-
dução de hortaliças construindo mais duas estufas e plantou novas mudas
de frutíferas cítricas.

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Suzana Gotardo de Meira | Poliane de Souza

Filisbino afirma que a principal vantagem em produzir agroecolo-


gicamente é a certeza de consumir alimentos saudáveis e de qualidade; a
desvantagem é a falta de financiamentos, o que dificulta os investimentos
nesse tipo de produção.
Na produção animal agroecológica no município de Itapejara
d’Oeste, os principais produtos são o leite e o queijo, que garantem uma
renda mensal para as famílias. Na região, não existe nenhum laticínio que
beneficie o leite produzido agroecologicamente, dessa forma, os produ-
tores acabam vendendo pelo preço do leite convencional, comercializado
com os laticínios da Latco (núcleo de Francisco Beltrão) e com o Laticínio
Alto Alegre (núcleo de Verê).
No município de Verê são 17 produtores agroecológicos; a maioria
das propriedades são pequenas, variando de 0,5ha a 28ha e possuem pou-
cos empregados, pois a gestão e a força de trabalho dos estabelecimentos
são familiares. Mesmo durante as épocas de colheita, plantio ou manejo de
ervas daninhas, 2 são as propriedades que apresentam os maiores números
de empregados (Quadro 2); a de Miguel Thomé: isso se explica pelo fato
de ele mesmo ter outras atividades fora da propriedade (é vice-prefeito de
Verê). A outra é a Associação Santo Antônio, formada por 6 sócios; estes
trabalham na propriedade de um dos sócios, que não exige diferenciação
na hora da divisão das despesas e do ganho.

Quadro 2. Produtores agroecológicos de Verê


Tamanho da Nº de Produção agroecológica in natura
Produtor
Prop. (ha) Trabalhadores transformados
Alcides Moreschi 7.2 2 (casal) (1) feijão,hortaliças e frutas
(1) hortaliças e frutas
Armindo Lang 19.9 2 (casal)
(2) queijo e conservas
Associação Santo (1) mandioca, hortaliças e frutas
14 6
Antônio (2) queijo
(1) milho, feijão, soja,
Baldoino Berns 26 4 (casal e filhos) mandioca e linhaça.
(2) queijo
(1) hortaliças, frutas.
Darci Cassol 2.4 1 (proprietário)
(2) conservas
3 (casal e 1 (1) feijão, hortaliças e frutas.
Décio Cagnini 13.6
temporário) (2) queijo, açúcar mascavo, doces e conservas.
Dirceu Moreschi 28 2 (casal) (1) uva
(1) mandioca, frutas.
Francisco Carniel 23.5 2 (casal)
(2) queijo e conservas

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Agricultura familiar agroecológica como alternativa de inclusão social e desenvolvimento
territorial em itapejara d’oeste, salto do lontra e verê – sudoeste do paraná

(1) milho, feijão, mandioca, hortaliças, frutas


3 (casal + 1
Iraci Zanin 21.8 (uva).
temporário)
(2) vinho, queijo, doce e conservas
3 (casal + 1 (1) hortaliças, frutas (uva)
Irinaldo Calgarotto 4.8
temporário) (2) vinho, queijo, doces.
3 (casal + 1 (1) feijão, mandioca hortaliça e frutas
Janete F. da Silva 0.5
temporário) (2) conservas
(1) milho, feijão, mandioca, hortaliças e frutas
Lídia Ferreira 0.5 2 (casal)
(2) conservas
(1) feijão, frutas (uva),
8 (casal + 6
Miguel Thomé 14.7 mandioca e hortaliças;
temporários)
(2) vinho e doces.
(1) uva
Nelson Moreschi 3 2 (casal)
(2) vinho
(1) frutas (uva) e aveia
Rudi Castagna 2.4 1 (proprietário)
(2) vinho
(1) feijão, mandioca, pipoca, amendoim, batata
Valdemar Bettiolo 12 2 (casal) doce e moranga;
(2) queijo
(1) feijão, mandioca,
Valmi Jang 7.3 4 (casal e filhos)
hortaliças e frutas;
Fonte: Trabalho de campo, 2009.

Como podemos observar no quadro 2, a produção principal in natu-


ra, no município, é substantivada por hortaliças, milho, soja, feijão, man-
dioca, leite e frutas. Entre estes, destaca-se a produção de uva pela pre-
sença da fábrica de sucos de uvas orgânicas que pertence a APROVIVE
(Associação dos Vitivinicultores de Verê). Apenas um produz linhaça e ou-
tro pipoca, amendoim, batata-doce e moranga. Já entre os produtos trans-
formados, destacam-se queijos, vinhos, doces, geléias, compotas, conser-
vas, açúcar-mascavo e embutidos. A maior parte das geléias, compotas e
conservas, para manter o padrão de qualidade e embalagem da produção,
é produzida na cozinha da APAV.
Alguns produtos citados são apenas para o consumo familiar, mas
grande parte é comercializada no mercado da APAV, existente no município
de Verê há 9 anos, com exceção da uva, da qual 80% é entregue na fábrica de
sucos orgânicos Viry. O restante é comercializado na APAV, na venda direta
ao consumidor, ou utilizado para consumo próprio e fabricação de vinho.
A uva é uma das principais frutíferas cultivadas tanto em Itapejara
d’Oeste como em Verê, ocupando uma área significativa das propriedades.
As primeiras mudas para a constituição dos parreirais foram fornecidas
pelas Prefeituras Municipais em parceria com o CAPA que presta assistên-

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cia técnica, com a CRESOL que auxiliava com financiamentos para cons-
trução das estruturas e com a empresa Sucoeste de Santa Catarina, que
comprava a uva, beneficiava e comercializava.
A empresa Sucoeste abriu falência deixando os produtores desam-
parados, em 2008. Então com o apoio do CAPA, da CRESOL e da APROVI-
VE, instala-se a fábrica de sucos Viry, a qual, atualmente, faz o beneficia-
mento da produção de uvas agroecológicas de Verê e de Itapejara d’Oeste e
comercializa na APAV. Além do suco fabricado, os produtores fazem doces
de uva e vinho colonial para comercialização.
No município de Salto do Lontra, foram atendidos pelo projeto 8
produtores. Há uma variação bem significativa no tamanho das proprieda-
des, assim como nos outros dois municípios, variando de 0,5 ha, de Flávio
Perón, a 40 ha, de Gabriel Ferreira. Apesar de pequenas, as propriedades
possuem uma produção bem diversificada.
A gestão e a força de trabalho são familiares, com exceção da pro-
priedade de Gabriel Ferreira, pois este contrata empregados temporários
como podemos verificar no quadro 3.

Quadro 3. Produtores agrícolas de Salto do Lontra


Tamanho da Nº de Produção agroecológica in natura
Produtor
Prop. (ha) Trabalhadores transformados
(1) Milho, feijão, mandioca, hortaliças e frutas
Zenaide e Tiburcio
6,5 3 (casal e filho) (2) Requeijão, geléia,
José dos Santos
Café, salame, conservas, ervas medicinais e mel
(1) Soja, milho, feijão, mandioca, hortaliças e
Marino da Luz de
23,7 3 (casal e filho) frutas
Sousa
(2) doces e conservas
(1) milho, hortaliças e
cana-de-açucar
Flavio Peron 0,5180 3 (casal e filho)
(2) queijo, açúcar mascavo, embutidos, doces
e conservas
(1) milho, soja, trigo, mandioca, hortaliças e
José Ferreira 13 3 (casal e filho) frutas
(2) queijo, doces, geléias, e sucos.
(1) milho, feijão, hortaliças, mandioca, aveia
e leite
Maximino Beal 9 2 (casal) Cana-de-açúcar, soja /trigo
(2) Queijo, açúcar mascavo, embutidos, doces
e conservas
(1) milho, soja, trigo, feijão, hortaliças,
Paulo Ferreira 16 4 (casal e filhos) mandioca.
(2) conservas, mel e doces

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Agricultura familiar agroecológica como alternativa de inclusão social e desenvolvimento
territorial em itapejara d’oeste, salto do lontra e verê – sudoeste do paraná

Eduardo Ferreira 17 5 (casal e filhos) (1) milho, soja, trigo, hortaliças e frutas
4 (casal, filho e
Gabriel Ferreira 40 (1) milho, soja, trigo, hortaliças e fruta.
1 temporário)
Fonte: Trabalho de campo, 2009.

Ao verificarmos o quadro 3, percebemos que a produção agroecoló-


gica e orgânica, no município, é diversificada, voltada principalmente para
culturas temporárias (soja e milho) certificadas pelo IBD (Instituto Biodi-
nâmico), pois produzem principalmente grãos para exportação como nas
propriedades de Gabriel Ferreira, Eduardo Ferreira, José Ferreira, Paulo
Ferreira e Marino da Luz de Souza. Este último, além de produzir grãos,
também produz hortaliças e frutas, juntamente com outros produtores
como Flávio Peron e Tibúrcio dos Santos, que produzem ervas medicinais
agroecológicas e artesanatos. No entanto, diferentemente dos outros pro-
dutores, Maximino Beal produz leite agroecológico, mas não recebe valor
diferenciado pelo produto. Outros destaques na produção agroecológica
de Salto do Lontra são os produtos transformados como queijos, vinhos,
geléias e conservas.
Assim, nem todas as propriedades dos três municípios são totalmen-
te agroecológicas: em Itapejara d’Oeste a única é a do agricultor Antonio
Plucinski; em Verê temos quatro: de Darci Cassol, Janete Ferreira, Lídia
Ferreira e Rudi Castagna; e em Salto do Lontra há duas, as propriedades
de Flávio Peron e Tiburcio dos Santos; as outras são parcialmente agroe-
cológicas ou orgânicas.

Propriedades totalmente agroecológicas


Antonio Plucinski é da comunidade de Palmeirinha, Itapejara
d’Oeste e trabalha com agroecologia desde 2004. Na propriedade de 4,8 ha,
trabalham principalmente ele e a esposa, pois os filhos estudam em outro
município. O agricultor possui um parreiral (Foto 1) composto por três
mil pés de uvas do tipo Concórdia. Na penúltima safra (2008/2009), foram
colhidos 3.319 kg de uva, dos quais, parte foi comercializada com a fábri-
ca de sucos Viry e parte transformada artesanalmente em vinho. O suco é
certificado pela Rede Ecovida, através do CAPA.
Antonio também possui áreas de pastagens temporárias e perma-
nentes, destinadas para o gado leiteiro, são 10 vacas de leite que produzem
aproximadamente 1.800 litros/mês, comercializados em média por R$0,67
ao litro, com o Laticínio Alto Alegre de Verê. Além das vacas de leite, pos-
sui algumas aves de granja para consumo próprio. Apesar de pequena, a
propriedade possui uma área preservada de mata nativa junto ao rio e ao
potreiro e benfeitorias.

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Foto 1 – Parreiral da propriedade de Antonio Plucinski – Itapejara d’Oeste/PR


Fonte: Trabalho de campo, 2009.

Das 4 propriedades totalmente agroecológicas de Verê, escolhemos


como exemplo a de Lídia Ferreira, devido ao seu tamanho, 0,5 ha, mas
com uma produção bem diversificada e organizada, pois 0,2 ha são de hor-
taliças com 1 horta e 1 estufa; 0,1 ha de pastagem permanente (pasto); 0,1
ha de mata nativa; 0,05 ha de capoeira; 0,05 ha de reflorestamento. A ges-
tão da propriedade é familiar e nela trabalham Lídia e o filho.
A família produz agroecológicos desde 2001, quando aprenderam a
cultivar com os técnicos do CAPA por meio de cursos e palestras. Entre os
principais produtos estão: milho, feijão, mandioca, hortaliças e, em uma hor-
ta produzem alface, vagem, repolhos, rabanetes, cenouras, beterrabas, pepi-
nos e tomates entregues para comercialização na APAV, assim como algumas
frutas que são transformadas em geléias e sucos. Na produção animal, desta-
cam-se aves caipiras e de granja para consumo próprio, bem como a produ-
ção de ovos para consumo da família e comercialização na associação.
Em Salto do Lontra, existem 2 propriedades totalmente agroecoló-
gicas, de Flávio Peron e Tibúrcio e Zenaide dos Santos, assim como a pro-
priedade de Lídia Ferreira, a propriedade de Flávio Peron possui apenas
0,5 ha, ambas são de Vilas Rurais. A gestão da propriedade é familiar e nela
trabalham o casal e o filho. Produzem agroecologicamente desde 2001,
quando aprenderam com cursos oferecidos pela EMATER e com a assis-
tência de técnicos da entidade.

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Agricultura familiar agroecológica como alternativa de inclusão social e desenvolvimento
territorial em itapejara d’oeste, salto do lontra e verê – sudoeste do paraná

A produção também é diversificada: 600 m² de estufas com culturas


temporárias, como hortaliças (cenoura, pepino, alface, rúcula e pão-de-
açúcar), produzem também, milho e mandioca; 550 m² de culturas perma-
nentes como a cana-de-açúcar; dois piquetes de 240 m² com pastagens per-
manentes. Na produção animal destacam-se o leite, as aves caipiras e de
granja, para autoconsumo. Há também os produtos transformados, como
queijo para autoconsumo da família.

Propriedades orgânicas
Em Itapejara d’Oeste, a propriedade orgânica é a do agricultor Raul
Dall’Agnol, assim cultivada desde 1994. São 13 ha, onde trabalham ele, a
esposa e um dos filhos. Suas principais produções são frutas, grãos (soja
e milho) e leite; a soja é certificada pelo Instituto Biodinâmico (IBD), co-
mercializada com a Agrorgânica, intermediária na certificação e instalada
em Campo Largo-PR desde 1998, comprando apenas soja orgânica que é
exportada para a Holanda.
Uma das exigências do IBD para a certificação é que toda a pro-
priedade seja orgânica. Dessa forma, Raul comercializa apenas a soja or-
gânica com a Agrorgânica. De acordo com o produtor, o preço é bom; na
safra 2008/2009, chegou a receber 70% a mais do que a soja convencional.
Já o milho, por exemplo, apesar de ser orgânico, é comercializado de for-
ma convencional com a Cooperativa Agropecuária Sudoeste Ltda (Coasul),
pois a Agrorgânica não o adquire.
Na produção animal, destaca-se o leite orgânico, comercializado
convencionalmente com a Cooperativa Latco de Francisco Beltrão. Além
do leite, possuem bovinos, aves caipiras, ovos, peixes e frutas apenas para
o consumo familiar. Em Salto do Lontra, a maioria das propriedades es-
tudadas são orgânicas, pois os agricultores produzem soja e milho para
exportação; há, nesse município, cinco produtores: José Ferreira, Eduardo
Ferreira, Gabriel Ferreira, Paulo Ferreira e Marino da Luz de Sousa.
Para descrever uma propriedade escolhemos a de Gabriel Ferreira,
a maior propriedade estudada, com 40 ha subdivididos em: 11 ha de cul-
turas temporárias (soja, trigo, milho), 0,42 ha de culturas permanentes
(eucalipto e parreiral); 7,26 ha de pastagens permanentes (piqueteamento
semanal) e 6 ha de área de capoeira, o restante de mata nativa e benfeito-
rias, conforme foto 2.
Além da produção de grãos, possui também um pomar e um parrei-
ral, onde produz frutas para consumo próprio; o excedente é comercializa-
do in loco e no mercado do produtor e, no caso da uva, vendem para pro-
dutores de vinho. Na propriedade, trabalham o casal, um filho e mais dois
empregados temporários; a gestão é familiar.

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Aprenderam a cultivar agroecologicamente através da empresa Geba-


na, da qual recebem assistência técnica. Em relação à produção, plantaram
na safra de 2009, 8,68 ha de soja que produziu 350 sacas, comercializadas
com a Gebana 70% a mais que o preço da soja convencional; na produção de
milho, plantaram 1,2 ha rendendo 125 sacas e, na de trigo, cultivaram 3,7 ha
produzindo 90 sacas também comercializadas com a mesma empresa, re-
cebendo de 50 a 60% a mais que a convencional. Além disso, plantam man-
dioca e hortaliças embaixo do parreiral e maracujá entre a safra da uva para
consumo da família. Na produção de origem animal, produzem leite, carne
de porco, de gado, galinhas caipiras e ovos, além de produtos transformados
(doces e a farinha de soja), tudo para consumo familiar.

Foto 2 – Propriedade de Gabriel Ferreira – Salto do Lontra/PR


Fonte: Trabalho de campo, 2009.

No município de Verê, das 17 propriedades estudadas apenas uma


é orgânica, a de Baldoino Berns, com 26 ha, na qual trabalham o casal e
dois filhos numa gestão familiar. Essas pessoas dedicam-se exclusivamente
à agricultura orgânica desde 2000, passaram a produzir por causa de duas
intoxicações na família, causadas por trabalharem com agrotóxicos em-
pregados no cultivo convencional.
Dos 26 ha da propriedade, 7,26 ha são utilizados para produção de
soja, 4,84 ha para mandioca, 7,26 ha para milho e feijão. A soja e o milho
são certificados, fiscalizados pelo IBD e comercializados com a Tozan. A
mandioca e o feijão são certificados pela Rede Ecovida, comercializados
por meio do Programa Fome Zero e na APAV; a família Berns é a única só-
cia da APAV que possui duas certificações.

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Agricultura familiar agroecológica como alternativa de inclusão social e desenvolvimento
territorial em itapejara d’oeste, salto do lontra e verê – sudoeste do paraná

Há também a produção de hortaliças para consumo e outros produ-


tos da criação de animais, tais como leite, em parte comercializado com o
laticínio Alto Alegre e parte transformado em queijos para consumo pró-
prio; porcos para carne, galinhas caipiras para consumo e uma mula utili-
zada para auxiliar na limpeza do campo.

Propriedades parcialmente agroecológicas


São parcialmente agroecológicas as propriedades que possuem par-
te das terras manejadas de forma agroecológica e parte cultivada de forma
convencional. Do leque de opções de cultivos, a agroecologia está presen-
te, na maioria das vezes, em apenas um deles. Por exemplo, numa deter-
minada propriedade, cultivam-se grãos, hortaliças e produz-se leite; as
hortaliças são manejadas e comercializadas nos moldes da agroecologia;
simultaneamente, a produção de grãos e leite é produzida nos moldes con-
vencionais, tornando a propriedade parcialmente agroecológica. Este é o
caso dos produtores: Osmar Franciscon, Nelson Savitski, Nadir Antonioli,
Arsindo C. Colla, Filisbino Cirino dos Santos e Milton Moschen de Itape-
jara d’Oeste.
Uma das propriedades parcialmente agroecológicas do município
de Itapejara d’Oeste é a de Nelson Savitski que, entre as culturas conven-
cionais, produz grãos como trigo, soja, milho e feijão, e na produção ani-
mal, destacam-se o leite e os frangos (criados no sistema de integração
com a empresa Anhambi, de Itapejara d’Oeste). A maior parte das áreas
cultiváveis da propriedade é utilizada para a produção convencional. A se-
paração da produção convencional da agroecológica é feita por barreiras
verdes, que impedem o contato entre as duas culturas, evitando a contami-
nação do ar pelos agrotóxicos.
A gestão da propriedade, de forma agroecológica, demanda muito
tempo e força de trabalho. Quando iniciam a produção, as famílias es-
peram retorno imediato, o que, muitas vezes, não ocorre. O período de
transição do cultivo convencional para a produção agroecológica demanda
pelo menos de três anos para gerar resultados; antes disso, alguns produto-
res desanimam e, gradativamente, vão abandonando a produção.
Diante das dificuldades vinculadas à produção agroecológica, Nel-
son acabou desmotivando-se, isso refletiu na safra de uva 2008-2009. Em
uma área de 1 ha de parreiral colheu 2 mil quilos de uva; já o produtor Ar-
sindo Colla, com a mesma área e na mesma safra, produziu 14 mil quilos
de uva, ou seja, 12 mil quilos a mais.
O desânimo levou Nelson a procurar alternativas. Atualmente, ele, a
esposa e o filho cuidam de aviários em outra propriedade. No seu estabele-
cimento, deixou o filho mais velho cuidando da plantação de uvas e arren-
dou para terceiros a pequena área de lavoura convencional que possui.

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Suzana Gotardo de Meira | Poliane de Souza

Em Salto do Lontra, a propriedade parcialmente agroecológica é a


de Maximino Beal, na qual trabalham o produtor e a esposa. A área total
da propriedade é de 9 ha, sendo divididos em: 2,40 ha área de culturas tem-
porárias convencionais; 0,3 ha de culturas permanentes (cana-de-açúcar);
2 ha área de pastagens permanentes; 3 ha área de mata nativa, 1,30 ha de
pastagens cultivadas (aveia), as demais áreas são de benfeitorias.
Na produção vegetal, há milho, mandioca e hortaliças apenas para
consumo; na produção animal, destaca-se o leite com 3 mil litros/mês, ar-
mazenado em um tanque de expansão e toda produção é comercializada
com o laticínio Progresso; carne suína, 2 cabeças/ano para consumo, aves
de granja, 12 cabeças/mês também para consumo familiar. E na transfor-
mação há somente o queijo que é consumido pela família.
Maximino afirmou que, no ano de 2006, tentou produzir pipoca
agroecológica, uma campanha da Gebana para a Copa de 2006, mas a pro-
dução foi bem abaixo do esperado e isso o desanimou; antes, já havia ten-
tado a produção de milho e soja, mas com os ataques de pragas e ervas
daninhas, a produção também foi muito baixa. Com tais dificuldades para
produzir agroecologicamente e a falta de tempo do agricultor, acabou de-
sistindo de parte da produção agroecológica, mantendo apenas o leite e a
produção para autoconsumo.
No município de Verê, a maioria dos produtores estudados são par-
cialmente agroecológicos: Alcides Moreschi, Aldair Alberton, Armindo
Lang, Associação Santo Antônio, Décio Cagnini, Dirceu Moreschi, Francis-
co Carniel, Iraci Zanin, Irinaldo Calgarotto, Miguel Thomé, Nelson Mores-
chi, Valmir Jahn e Valdemar Betiollo. A propriedade que escolhemos para
descrever é a de Miguel Thomé, que tem apenas o parreiral para comercia-
lização e a produção de hortaliças e feijão para consumo, todos cultivados
de forma agroecológica.
A família Thomé é proveniente do Rio Grande do Sul e reside em
Verê há 45 anos. A gestão da propriedade é familiar e trabalham 2 pessoas
da família; possui empregados temporários, 5 ou 6, no período da colheita
da uva. A área total da propriedade é de 14,7 ha: 7 ha para culturas tempo-
rárias convencionais (milho, soja, feijão); 1 ha para culturas permanentes,
parreiral (Foto 3); 3 ha de pastagem permanente; 3 ha de mata nativa e 500
pés de silvicultura e reflorestamento.
A família Thomé trabalha com agroecologia, há 5 anos, devido às ati-
vidades desenvolvidas pelo CAPA, aprendendo através de cursos, reuniões­
e intercâmbios com produtores do Rio Grande do Sul. A uva é agroecoló-
gica e comercializada para a produção de vinho. Inicialmente, essa uva era
transformada em suco pela empresa catarinense Sucoeste.
Parte da propriedade é voltada para produção convencional; em 7
ha, produzem soja, milho e feijão. Segundo Miguel Thomé, a intenção é
transformar toda propriedade em agroecológica, mas este é um projeto a

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Agricultura familiar agroecológica como alternativa de inclusão social e desenvolvimento
territorial em itapejara d’oeste, salto do lontra e verê – sudoeste do paraná

longo prazo, pois leva tempo para fazer a conversão da produção e neces-
sita de muita força de trabalho, justamente um dos principais limites que
os agricultores estudados dos três municípios têm. Este fato ocorre em
virtude da migração dos jovens para estudar. A maioria acaba inserindo-
se no mercado de trabalho em outros lugares, especialmente em cidades
grandes.

Foto 3 – Parreiral da propriedade de Miguel Thomé – Verê/PR


Fonte: Trabalho de campo, 2009.

A certificação da produção
O selo agroecológico de certificação é uma garantia que os consu-
midores têm de que o produto adquirido foi produzido em conformidade
com a lei, de forma ecológica, sustentável e, principalmente, livre de agro-
tóxicos. Para os produtores é um elemento que facilita a comercialização e
agrega valor aos produtos.
Entre os produtores pesquisados nos três municípios, alguns pos-
suem o selo, outros estão em processo de conversão/transição e há aque-
les que ainda não o possuem. Conforme observamos no quadro 4, o mu-
nicípio de Verê é o que tem o maior número de produtores com o selo;
em segundo, Salto do Lontra e, por fim, Itapejara d’Oeste; no entanto,
este ultimo é o único que possui produtores em transição. Em Itapeja-
ra d’Oeste, há dispersão e falta de uma associação dos produtores para
fortalecer a produção e comercialização dos produtos agroecológicos no
município.

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Quadro 4. Produtores que possuem certificação em Itapejara d’Oeste, Salto do Lontra e


Verê-PR
Município Em transição Possui certificação Não possui certificação

Itapejara d’Oeste 1 3 3

Salto do Lontra 2 6 ---

Verê --- 15 2
Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

No Brasil, existem duas formas de o produtor adquirir o selo de con-


formidade orgânica: através de organismos de avaliação de conformidade,
registrados no INMETRO, e credenciados junto ao Ministério da Agricul-
tura e Abastecimento (MAPA), chamado de Certificação por Auditagem, e
outra, através do Sistema de Certificação Participativa.
No primeiro, o organismo de avaliação faz a auditoria, avalia e for-
nece o selo de certificação para as unidades produtoras, como é o caso
do IBD. Dos três municípios, Itapejara d’Oeste possui um produtor, Raul
Dall’Agnol, que possui o selo IBD, certificado através da Agrorgânica as-
sim como, em Verê, Baldoino Berns, certificado por intermédio da Tozan.
Já em Salto do Lontra, sua presença é mais significativa, pois 4 dos 9 pro-
dutores, Marino da Luz de Sousa, José Ferreira, Eduardo Ferreira, Gabriel
Ferreira, são certificados através da empresa Tozan.
O sistema participativo é uma organização associativa ou coopera-
tiva que assume a responsabilidade pelas atividades de enquadramento e
avaliação da conformidade das unidades atendidas, num Sistema Partici-
pativo de Garantia, como é o caso da Rede Ecovida. Em Itapejara d’Oeste,
há dois produtores que possuem o selo: Arsindo Colla e Milton Moschen,
além de Nadir Antonioli que está em processo de conversão; em Salto do
Lontra, apenas um: Tiburcio e Zenaide dos Santos; já em Verê, a presen-
ça dessa certificação é mais significativa, pois dos 17 produtores, 15 são
certificados: Alcides Moreschi, Armindo Lang, Associação Santo Antonio,
Baldoino Berns, Darci Cassol, Décio Cagnini, Francisco Carniel, Iraci Za-
nin, Janete da Silva, Lídia Ferreira, Miguel Thomé, Nelson Moreschi, Rudi
Castagna, Valdemar Bettiolo e Valmir Jang.
A Rede Ecovida surgiu, na década de 1980, a partir da cooperação
de entidades, ONGs, produtores e consumidores, no Sul do Brasil, que
visavam favorecer a produção de alimentos de forma sustentável. Para o
fortalecimento dessas cooperações, criaram-se os núcleos regionais in-
terligados, formando a Rede com uma organização territorial. Atualmen-
te, esta possui 24 núcleos, todos na região Sul do Brasil, um deles está
no Sudoeste do Paraná e oferece apoio aos agricultores para a obtenção
do selo.

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Agricultura familiar agroecológica como alternativa de inclusão social e desenvolvimento
territorial em itapejara d’oeste, salto do lontra e verê – sudoeste do paraná

A comercialização da produção
Os agricultores dos três municípios atendidos pelo projeto não têm
dificuldades quanto à comercialização, tudo o que se produz é vendido e,
muitas vezes, a procura é maior que a oferta. Parte da produção é adquiri-
da pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) do Fome Zero de cada
município. Em Itapejara d’Oeste, comercializam, ainda, no Mercado do
Produtor; a soja, com a Agrorgânica; demais grãos, com a Coasul e a uva,
com a APROVIVE; em Salto do Lontra, no Mercado do Produtor, na Feira
da Agricultura Familiar, com a empresa Tozan e na propriedade; em Verê,
no mercado da APAV, a uva na APROVIVE, na Feira dos Sabores e no Mer-
cado Orgânico de Curitiba, nos mercados convencionais de Francisco Bel-
trão e Dois Vizinhos, nas propriedades e, ainda, um deles, Baldoino Berns,
comercializa com a Gebana, pois é a única propriedade do município que
produz grãos.
A Cooperativa de Comercialização da Agricultura Familiar Integrada
(Coopafi) e o Mercado do Produtor assim como o Sindicato dos Trabalha-
dores Rurais (STR) de Itapejara d’Oeste e Salto do Lontra buscam apoiar a
agricultura familiar de forma geral, não diferenciando agroecológicos ou
convencionais. Já, em Verê, as Associações (APAV e APROVIVE) apóiam so-
mente a agricultura familiar agroecológica, até porque, para tornar-se sócio
de uma das associações é necessário que o produtor realize alguma ativida-
de agroecológica na propriedade.
A COOPAFI está presente em mais de 25 municípios do Sudoeste, seu
objetivo é organizar a produção e a comercialização. Começou atuar em
Itapejara d’Oeste e Salto do Lontra organizando feiras municipais para es-
tabelecer um ponto fixo para a comercialização dos produtos, porém, com
o aumento da demanda dos consumidores, edificou-se o Mercado do Pro-
dutor. O objetivo do mercado é comercializar os produtos dos agricultores
familiares.

Vantagens e dificuldades da produção agroecológica


Para os agricultores pesquisados nos três municípios, consumir ali-
mentos saudáveis e livres de agrotóxicos é o principal motivo que os levou
à adesão ao sistema de produção agroecológica.
Percebe-se que eles optam por tal produção, em primeiro lugar, pen-
sando na família, tanto no consumo de alimentos saudáveis como na ge-
ração de renda complementar, além disso, apontam que os insumos, por
serem naturais, são mais baratos, não havendo riscos de contaminação dos
trabalhadores e a produção tem mercado garantido.
No entanto, falta orientação técnica, cooperação entre os produto-
res, incentivos públicos, financiamentos específicos, mão de obra (há en-

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velhecimento da população rural) e conhecimentos (técnicas e métodos)


agroecológicos. São fatores econômicos, políticos e culturais que condi-
cionam diretamente e limitam a produção agroecológica em Itapejara
d’Oeste, Salto do Lontra e Verê.
Durante a pesquisa de campo, buscamos conhecer as entidades par-
ceiras, ou seja, as instituições que, de alguma forma, atuam (ou atuaram)
incentivando e promovendo a agroecologia em Itapejara d’Oeste, Salto do
Lontra e Verê. Notamos, ao observar o quadro 5, que o CAPA, a CRESOL
e o STR são as entidades que mais se destacam no cenário agroecológico,
fornecendo assistência técnica e financeira aos agricultores.

Quadro 5. Motivos de adesão à prática agroecológica (n. de respostas)


Geração de emprego Agregação de valor ao Benefícios à saúde e
Município
e renda produto ao meio ambiente
Itapejara d’Oeste 1 2 5

Salto do Lontra - 4 8

Verê 1 10 17
Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

O CAPA, citado anteriormente, é indicado pelos produtores como


referência para a assistência técnica e como entidade que incentiva e orga-
niza os produtores, no entanto, o núcleo de Verê é responsável por toda a
região Sudoeste do Paraná e possui poucos técnicos, desse modo, não tem
capacidade para atender satisfatoriamente todos os produtores.
Cabe ressaltar que, em cada município, algumas entidades têm pa-
péis fundamentais, como EMATER, Coopafi, Claf, além da Tozan, empre-
sa privada, que compra a produção de grãos em Salto do Lontra; APAV,
APROVIVE e Prefeitura Municipal em Verê e em Itapejara d’Oeste; APRO-
VIVE e EMATER, que atuam de forma diferenciada em cada município,
atendendo as necessidades e particularidades da produção agroecológica
(quadro 6).
Além das dificuldades com assistência técnica, de acordo com os de-
poimentos dos produtores, eles carecem também de incentivos financeiros.
A CRESOL possui uma linha de crédito de investimento na produção orgâ-
nica ou agroecológica. Podem acessar essa linha de crédito os agricultores
familiares que possuem algum tipo de certificação de produção orgânica
ou agroecológica, ou que participam de algum programa (governamental
ou não) direcionado para esse tipo de produção, no entanto, embora exista
a linha de crédito, ela é pouco divulgada, fato agravado porque nem todos
se enquadram nas exigências para adquirir o financiamento.

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territorial em itapejara d’oeste, salto do lontra e verê – sudoeste do paraná

Quadro 6. Entidades parceiras na produção agroecológica em Itapejara d’Oeste, Salto


do Lontra e Verê (n. de respostas)
Entidades Itapejara d’Oeste Salto do Lontra Verê

APROVIVE 4 --- 2

APAV --- --- 5

CAPA 3 --- 17

CRESOL 7 7 7

EMATER 3 2 1

AGRORGÂNICA 1 --- ---

STR 4 6 3

PREF. MUNICIPAL 1 5

COOPAFI 1 2 ---

CLAF 1 4 ---

ASSINTRAF 1 --- ---

TOZAN --- 5 ---

ASSESOAR --- 1 ---


Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

As dificuldades para obter incentivos financeiros específicos não se


referem apenas à agroecologia, trata-se de uma questão mais ampla. Os
investimentos governamentais destinados à agricultura familiar são redu-
zidos quando comparados aos recursos direcionados para a agricultura
empresarial (quadro 7).

Quadro 7. Investimentos na agricultura 2008/2009 em milhões de reais


Fontes de recursos Programação Aplicação Desembolso
ou programas jul/08 a jun/09 jul/08 a mar/09 relativo (%)
  (a) (b) (b)/(a)

Agricultura empresarial 65.000,00 44.588,00 68,6

Agricultura Familiar (Pronaf) 13.000,00 7.343,40 56,5

Total 78.000,00 51.931,40 66,6


Fonte: RECOR/BACEN, BNDES, BB, BNB, BASA, BANCOOB e SICREDI.

A programação de investimentos para a agricultura familiar, na sa-


fra 2008-2009, foi cinco vezes menor, além disso, do total programado,

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aplicou-se apenas a metade dos recursos. Dos investimentos programa-


dos para a agricultura empresarial (agronegócio), também foi aplicado
pouco mais que a metade, mesmo assim, a disparidade de investimentos
é muito grande.
Se compararmos as vantagens e as dificuldades, quantitativamen-
te, na produção agroecológica de Itapejara d’Oeste, Salto do Lontra e
Verê, há mais dificuldades, porém, qualitativamente, os benefícios pro-
porcionados por ela são mais amplos, especialmente porque a quantida-
de sem qualidade não convém para a saúde das pessoas e proteção am-
biental, quando estes são os principais objetivos citados pela maioria dos
agricultores estudados.

Ações realizadas no projeto


Na primeira fase identificamos os produtores agroecológicos, a pro-
dução, as perspectivas e as dificuldades enfrentadas tanto pelos agriculto-
res como pelas entidades parceiras. Os trabalhos de campo nas proprie-
dades e os encontros com as instituições foram muito importantes nessa
etapa, pois, a partir deles, obtivemos um diagnóstico mais detalhado da
realidade dos produtores e da produção agroecológica dos três municípios.
Definimos as ações prioritárias em conjunto com os agricultores e com as
entidades parceiras.
Com a caracterização da produção agroecológica, elaboramos ma-
pas temáticos dos municípios onde atuamos. Tais mapas, que representam
a localização das propriedades e as respectivas produções, foram publica-
dos numa “cartilha” informativa elaborada pelos membros da equipe (Al-
ves et al., 2010). Por meio da “cartilha” intitulada Agroecologia e consumo
consciente, visamos informar o consumidor sobre a importância do consu-
mo de alimentos saudáveis e divulgar as produções dos municípios. Com a
“cartilha” e os mapas, os consumidores passam a ter informações precisas
sobre a localização e os produtos de cada propriedade.
Entre as atividades realizadas, destaca-se a participação na definição
dos objetivos no Plano de Desenvolvimento Municipal de Itapejara d’Oeste,
quando assumimos o compromisso de efetivar ações voltadas para o pro-
cesso produtivo agroecológico e auxiliar no levantamento do patrimônio
histórico cultural do município. Identificamos e caracterizamos as habita-
ções do município que poderiam ser consideradas patrimônio, em virtude
da arquitetura, do material utilizado e da época de construção.
O Plano de Desenvolvimento Municipal é um programa elaborado pe-
las entidades (ATER, CRESOL, CLAF, COOPAFI, STR, EMATER, Secretaria
Municipal da Agricultura). O programa possui uma série de projetos volta-
dos para o desenvolvimento do município nos mais diversos setores: agroe-
cologia, coleta de lixo, alimentação, saúde, administração, moradia etc.

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Agricultura familiar agroecológica como alternativa de inclusão social e desenvolvimento
territorial em itapejara d’oeste, salto do lontra e verê – sudoeste do paraná

Nas atividades do projeto voltadas para a agroecologia, organiza-


mos cursos de capacitação, tais como: Manejo de solo e água, em Salto do
Lontra; Manejo e cultivo de frutíferas, em Verê; Pós-colheita e rotulagem,
em Itapejara d’Oeste e Salto do Lontra, todos direcionados aos agriculto-
res, técnicos e lideranças das entidades parceiras dos municípios atendi-
dos pelo projeto.
Além disso, aplicamos, tabulamos e analisados questionários apli-
cados junto a consumidores de Verê, Itapejara, Salto do Lontra e Francis-
co Beltrão, consultando-os sobre como gostariam de adquirir os produtos
agroecológicos. Tal levantamento resultou em diagnóstico que foi entregue
aos agricultores de cada município para orientar mudanças na produção e
comercialização. Ofertamos um curso sobre rotulagens, em Salto do Lon-
tra, para um grupo de mulheres que fabricam bolachas e pães artesanal-
mente; participamos diretamente da reorganização da feira de comerciali-
zação neste último município.
Os membros da equipe também participaram de diferentes eventos
como o da 2ª ExpoVerê, realizando entrevistas com entidades e fazendo
registros fotográficos; da 1ª ExpoIta, em Itapejara d’Oeste, colaborando
com a organização do café colonial com produtos oriundos da agricultu-
ra familiar; e outros eventos como o IV SInGA (Simpósio Internacional de
Geografia Agrária) e V SINGA (Simpósio Nacional de Geografia Agrária),
que aconteceram simultaneamente em Niterói/RJ, em outubro de 2009,
socializando e debatendo os resultados obtidos no projeto até aquele mo-
mento; participação e organização da 8ª e 9ª Jornadas de Agroecologia que
aconteceram, respectivamente, em Francisco Beltrão, em 2009, e em Porto
Alegre, em 2010. Alguns membros da equipe realizaram intercâmbio de es-
tudos na Itália, por meio do Politécnico e Universidade de Turim, com as
seguintes finalidades: a) apresentar e discutir o projeto em questão (obje-
tivos, metodologia adotada, orientação teórica, coleta e análise dos dados,
mapeamentos); b) apresentar e debater os resultados obtidos; c) discutir
perspectivas de desenvolvimento local-territorial voltadas para os agricul-
tores familiares agroecológicos do Brasil e da Itália.
Outrossim, escrevemos um texto para apresentar no VIII Colóquio de
Transformações Territoriais – em Buenos Aires (agosto de 2010) – e partici-
pamos de 25 a 29 de outubro de 2010 do XX ENGA (Encontro Nacional de
Geografia Agrária), em Francisco Beltrão, organizando o evento, apresen-
tando, debatendo e publicando os resultados obtidos no projeto em questão.
Nessa ocasião, também realizamos trabalho de campo nos municípios de
Verê e Salto do Lontra com a participação de pessoas inscritas no ENGA e
do prof. Egídio Dansero do Politécnico e da Universidade de Turim, dando
continuidade ao intercâmbio firmado com aquela universidade.
A participação nos eventos dá-se, principalmente, através de apre-
sentação de trabalhos referentes ao projeto, não apenas para divulgá-lo,

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mas também como meio de ampliar as discussões e contribuir para a difu-


são da agroecologia, visto que a produção acadêmica é um importante ins-
trumento para fortalecer correntes e pressionar para a criação de políticas
públicas mais justas, que contribuam para aumentar a sustentabilidade e
a autonomia dos agricultores familiares.
Concluimos o projeto em 31 de dezembro de 2010, com a entrega da
“cartilha” para cada agricultor e com reuniões nos três municípios, com
representantes das entidades parceiras para distribuir a “cartilha” e incen-
tivá-los a continuarem as atividades vinculadas à prática agroecológica.
De forma geral, trabalhamos com aspectos e processos multidimensionais,
isto é, da produção, da comercialização, da conservação, da certificação e
da rotulagem; da organização política dos agricultores, do patrimônio his-
tórico e da problemática ambiental, em consonância com as orientações
teórico-metodológicas adotadas no projeto.

Considerações finais
Os resultados obtidos durante o processo de pesquisa e por meio da
efetivação das atividades de extensão-cooperação com as entidades par-
ceiras e com os agricultores dos municípios deixam claro que a produção
agroecológica é efetivamente uma das possibilidades para o desenvolvi-
mento local. Proporciona a produção de alimentos saudáveis, renda com-
plementar para as famílias e condições bastante favoráveis à preservação
do ambiente.
A produção orgânica também se substantiva, consoante pudemos
constatar, como uma alternativa peculiar para geração de renda e prote-
ção do ambiente, apesar de em Itapejara d’Oeste e Salto do Lontra, serem
direcionadas para o mercado externo. No entanto, verificamos que, tanto
em Salto do Lontra como em Itapejara d’Oeste, os agricultores têm sérias
dificuldades para implementar as produções, especialmente a agroecológi-
ca: a organização política é frágil em virtude da desmobilização diante das
dificuldades encontradas; há descontinuidade em ações já implementadas;
falta força de trabalho, orientação técnica continuada e há carência dos in-
centivos governamentais.
Percebemos também que os mercados consumidores locais, nos
dois municípios anteriormente citados, podem ser dinamizados em favor
da produção agroecológica. Porém, sua produção ainda é incipiente e tudo
que se produz é comercializado com facilidade: falta produção regular, di-
versificada e certificada bem como ações continuadas e mais focadas por
parte das entidades envolvidas no processo em questão.
No caso de Verê, essa realidade é um tanto diferenciada, pois a pro-
dução agroecológica do município é bem diversificada e organizada, mas
isso é facilitado pela presença do CAPA no município, que atua de forma

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Agricultura familiar agroecológica como alternativa de inclusão social e desenvolvimento
territorial em itapejara d’oeste, salto do lontra e verê – sudoeste do paraná

direta, com assistência técnica aos produtores locais, incentivando e cola-


borando para a continuidade desta produção.
Além disso, os produtores possuem duas associações que servem
também de espaços de comercialização, a APAV (Associação dos Produ-
tores Agroecológicos de Verê) e a APROVIVE (Associação do Produtores
Vitivinicultores de Verê). A primeira é um espaço de comercialização no
centro da cidade e tem uma cozinha, no parque industrial do município,
em que uma equipe especializada faz a transformação do que não foi co-
mercializado no mercado; a segunda atua através da indústria de sucos
Viry, a qual compra, transforma a uva em suco comercializando com o
PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) na Feira dos Sabores, no Mer-
cado Orgânico de Curitiba, na APAV, nos mercados convencionais e com
pessoas interessadas em consumir um produto saudável. Essas duas asso-
ciações (APAV e APROVIVE) dão garantia de permanência do agricultor na
produção agroecológica, estabelecendo redes de distribuição de hortaliças
e frutas agroecológicas e também produtos transformados como: queijos,
geléias e conservas.
Em Verê, há também alguns entraves que dificultam a continuida-
de do desenvolvimento da produção agroecológica como a falta de mão de
obra, de financiamentos, de apoio e incentivo governamental e de assis-
tência técnica, pois mesmo com a sede do CAPA no município, este não dá
conta de atender todas as necessidades dos produtores.
Isso indica que as perspectivas futuras, em curto prazo, não são
muito favoráveis aos agricultores familiares agroecológicos, porém, acre-
ditamos que há todo um conjunto de elementos territoriais que podem ser
dinamizados juntamente com essa produção, como o patrimônio histórico
e cultural, cachoeiras, pequenas feiras comerciais, festas típicas dos des-
cendentes de alemães, italianos e poloneses que podem ser analisadas e or-
ganizadas para valorizar e potencializar a geração de renda complementar,
considerando, evidentemente, sua preservação ambiental e territorial.
Todos são componentes e características do território, das pessoas,
revelando processos sociais e naturais mais amplos e inerentes à nossa
vida cotidiana e, assim, podem ser aproveitados sem a implementação de
grandes empreendimentos empresariais no espaço rural e na cidade. Isso
exige uma posição política firme e bem definida por parte dos governan-
tes locais.

Referências

ALVES, Clerry O.W.; ALVES Adilson F; CASIRAGHI, Camila G. A agroeco-


logia no município de Salto do Lontra, Anais do XX ENGA – Encon-
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60

Geografia da e para a cooperacao.indd 60 5/3/12 1:05:34 PM


Marcos Aurélio Saquet | Elaine Fabiane Gaiovicz |
Suzana Gotardo de Meira | Poliane de Souza

ALVES, Adilson et. al. Agroecologia e consumo consciente. Francisco Bel-


trão: USF/SETI, 2010.
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Experiências em agroecologia no município de Verê – Sudoeste do
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ção participativa de produtos ecológicos. Florianópolis: Rede Ecovi-
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Agricultura familiar agroecológica como alternativa de inclusão social e desenvolvimento
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TO, L.; CARRIJO, B.; ALVES, A. (Orgs.). Desenvolvimento territorial
e agroecologia. SP: Expressão Popular, 2008. p.137-153.
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SAQUET, Marcos. Abordagens e concepções de território. SP: Expressão Po-
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Entrevista concedida a Suzana Gotardo de Meira.
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sl.ufrp.br/ojs2/index.php/raega/article/view/4986/3776. Acesso em
05/04/2010.
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tistics and Emerging Trends 2009. FIBL-IFOAM Report. IFOAM,
Bonn; FiBL, Frick; ITC, Geneva Eds. 2009.

Entrevistas:
Entrevista realizada com Fábia Tonini e Janete Fabro, da ONG ASSESO-
AR, em 18 de maio de 2009.
Entrevista realizada com Décio Cagnini, técnico CAPA, em 15 de janeiro
de 2010.
Entrevistas realizadas com produtores agroecológicos de Verê, Salto do
Lontra e Itapejara d’Oeste, durante o ano de 2009.

62

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Diagnóstico ambiental das upvfs beneficiárias
do projeto “conservação e uso sustentável
de recursos hídricos como instrumento
de gestão ambiental em unidades rurais
familiares com produção agroecológica no
município de francisco beltrão – pr” 1

Luciano Zanetti Pessôa Candiotto


Professor do Curso de Geografia da UNIOESTE Francisco Beltrão-PR
e coordenador da pesquisa |
lucianocandiotto@yahoo.com.br

Felipe Fontoura Grisa


Engenheiro Agrônomo pela UTFPR e Bolsista da pesquisa |
felipegrisa@yahoo.com.br

Sandra R. da Silva Freisleben


Discente do Curso de Geografia da UNIOESTE Francisco Beltrão-PR
e bolsista da pesquisa |
sandra_freisleben@yahoo.com.br

Introdução
Esse texto apresenta informações sobre os aspectos ambientais de
11 Unidades de Produção e Vida Familiares (UPVFs) que desenvolvem a
agricultura orgânica no município de Francisco Beltrão, Sudoeste do Pa-
raná. A pesquisa, financiada pelo CNPq no edital n. 27/2008, busca contri-
buir para a conservação dos recursos hídricos nessas UPVFs, melhorando
a qualidade e a quantidade de água em cada estabelecimento rural. Nesse
sentido, a etapa inicial da pesquisa esteve ligada ao levantamento de in-
formações sociais, econômicas, produtivas e ambientais, que nos permiti-
ram traçar um diagnóstico da situação em cada UPVF. Apresentamos aqui,
os dados referentes ao diagnóstico ambiental, que estão nos auxiliando
1
A referida pesquisa, intitulada “Conservação e uso sustentável de recursos hídricos como
instrumento de gestão ambiental em unidades rurais familiares com produção agroecológica
no município de Francisco Beltrão – PR”, tem apoio financeiro do CNPq, através do edital n.
27/2008, e se encontra cadastrada com o número 574050/2008-6. A pesquisa também é cadas-
trada na Divisão de Pesquisa, da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação da UNIOESTE.

63

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Diagnóstico ambiental das upvfs beneficiárias do projeto “conservação e uso sustentável
de recursos hídricos como instrumento de gestão ambiental em unidades rurais…

na tomada de decisões a respeito dos investimentos prioritários em cada


UPVF.
Considerando que o projeto possui recursos financeiros para serem
aplicados diretamente nas unidades rurais, estabelecemos uma metodolo-
gia participativa, onde coletamos informações com os agricultores e suas
famílias e, posteriormente, decidimos com cada família quais as priorida-
des em termos de investimentos, que permitam melhorar a qualidade e a
quantidade de água, com ênfase para a água consumida pela família e uti-
lizada na produção agropecuária.
Desta forma, verificamos a situação das fontes de água utilizadas,
realizando análises microbiológicas dessas águas; levantamos a localiza-
ção e a forma de destinação dos efluentes domésticos (esgoto e resíduos de
pias e tanques); analisamos a situação legal das Áreas de Preservação Per-
manente (APP´s) e das Reservas Legais (RL´s); e outros elementos, como
a destinação do lixo, quantidade de nascentes, conservação/degradação do
solo; presença de rios e açudes nos estabelecimentos rurais, entre outros.
A questão do saneamento nas unidades rurais de base familiar é fun-
damental para a qualidade e conservação dos recursos hídricos, e métodos
simples de tratamento de efluentes podem ser eficazes na gestão ambiental
das propriedades. Técnicas direcionadas ao uso racional, a economia e a
reutilização de água ainda podem ser exploradas e implantadas de acordo
com as necessidades presenciadas em cada caso.
A recuperação e conservação florestal também são de suma impor-
tância para manter e melhorar a quantidade e a qualidade dos recursos
hídricos das UPVFs, pois a disponibilidade e presença de água estão rela-
cionadas à cobertura florestal existente, na propriedade e na bacia hidro-
gráfica. Portanto, a partir do conhecimento da situação ambiental de cada
UPVF teremos condições para refletir e definir os investimentos necessá-
rios em cada unidade rural familiar, buscando melhorar a gestão dos re-
cursos hídricos.

Metodologia da pesquisa
A partir de uma parceria técnico-científica com a ONG ASSESOAR
(Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural), sediada no mu-
nicípio de Francisco Beltrão e com atuação em todo o Sudoeste do Para-
ná, procuramos dialogar com os técnicos dessa ONG para definir os be-
neficiários do presente projeto. Após algumas reuniões, decidimos propor
um projeto que partisse de um amplo diagnóstico das UPVFs (Unidades
de Produção e Vida Familiar) para então, apontar conjuntamente com os
agricultores, as tecnologias mais adequadas para resolver ou minimizar os
problemas de qualidade ambiental, produção, processamento e/ou comer-
cialização de cada UPVF.

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Luciano Zanetti Pessôa Candiotto | Felipe Fontoura Grisa |
Sandra R. da Silva Freisleben

Ao invés de definir as tecnologias de conservação e aumento da pro-


dução de águas nas unidades familiares rurais, optamos por conhecer bem
cada UPVF e sua forma de gestão, para então levantar quais os maiores
problemas e as prioridades em termos de investimento. Desta forma, limi-
tamos nosso público beneficiário em onze UPVFs situadas no município
de Francisco Beltrão, sendo nove localizadas na bacia do rio Cotegipe.
Decidimos também, priorizar aquelas UPVFs que já estão converti-
das à agroecologia dentro do sistema de certificação da Rede ECOVIDA2.
Essa opção se justifica pela maior trajetória dessas UPVFs em experiências
de agroecologia e, conseqüentemente, pelo maior conhecimento em rela-
ção a questões ambientais, bem como pelo fato dessas UPVFs serem consi-
deradas referências em agroecologia no sudoeste do Paraná, seja por técni-
cos, agricultores e pesquisadores. Desta forma, selecionamos as seguintes
Unidades de Produção e Vida Familiares:

Tabela 1. Beneficiários da pesquisa


Proprietários Localização
Tobias Korb
Antonio Korb
Walfrido Korb
José Korb
Gilson Gurgel Comunidade de Jacutinga
Cleusa Araújo
Odila Zonta Galupo
Luis Antonio Schmitz
Vilmar do Rosário
Almir Calegari
Vila Rural Gralha Azul
Valdecir Tres

A partir da elaboração de um roteiro de entrevistas, a equipe foi a


campo para levantar as informações referentes aos aspectos ambientais e
à gestão ambiental em cada UPVF. Outra atividade importante foi a reali-
zação de três baterias de análises microbiológicas das fontes de água utili-
zadas para o consumo humano e para a produção agropecuária. As coletas
foram realizadas nos meses de novembro de 2009, abril e agosto de 2010.

2
A Rede Ecovida consiste em uma organização responsável por um processo de certificação
participativa de alimentos orgânicos/agroecológicos. Sua atuação se dá nos três estados do
Sul do Brasil, compreendendo núcleos regionais em alguns municípios desses estados. A Rede
Ecovida acredita que a relação de confiança entre produtores e consumidores é o principal
alicerce para a certificação e o fortalecimento da agroecologia, sendo contrária à certificação
por auditagem. Maiores informações podem ser obtidas em www.redeecovida.org.br.

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Diagnóstico ambiental das upvfs beneficiárias do projeto “conservação e uso sustentável
de recursos hídricos como instrumento de gestão ambiental em unidades rurais…

Os locais definidos para coleta foram aqueles referentes às águas


utilizadas pelas família, com prioridade para as fontes de consumo huma-
no, seguida de águas utilizadas para irrigação, dessedentação de animais e
outras fontes com potencial de utilização.
Após coletadas, as 25 amostras foram encaminhadas a um laborató-
rio particular do município, o qual realizou as primeiras análises. Nestas
análises microbiológicas, três parâmetros foram avaliados: NMP (Número
Médio Provável) de Coliformes Termotolerantes/ 100 ml; NMP de Colifor-
mes Totais/100 ml; e presença/ausência de Escherichia Coli. Neste método
de análises, valores <1,1 NMP/100 ml podem ser interpretados com ausên-
cia do microorganismo na amostra.
Após analisar os laudos das análises, a equipe divulgou os resultados
da primeira bateria para as famílias no mês de dezembro de 2009. Na en-
trega dos laudos das análises, buscou-se explicar os resultados, apontando
as contaminações, quando existentes, e as possíveis causas destas contami-
nações. Nesta mesma oportunidade, foram fornecidos às famílias frascos
contendo hipoclorito, para que passassem a fazer o tratamento da água an-
tes de consumi-la. Os frascos de hipoclorito foram doados pela 8ª Regional
de Saúde (Francisco Beltrão), não acarretando custos dentro do projeto.
Na segunda bateria, realizamos 23 análises3, sendo esta para verifica-
ção de parâmetros microbiológicos e também físico-químicos. Em relação
às análises físico-químicas não encontramos contaminantes preo­cupantes.
Já nas análises microbiológicas, verificamos mudanças significativas nos
parâmetros, se comparados com a primeira bateria. Nesse sentido, ques-
tionamos o laboratório responsável (o mesmo da primeira bateria). A téc-
nica informou que, como a maior parte das fontes de água não tinha ne-
nhuma proteção, os parâmetros poderiam ser modificados em virtude de
alguma chuva ou circulação de animais.
Considerando que as mudanças nos resultados foram significativas
em algumas amostras comparando a primeira bateria com a segunda, op-
tamos por realizar outra bateria de análises microbiológicas, porém com
outro laboratório e com outro método de análise, considerado mais preci-
so. Todavia, coletamos amostras de apenas 12 nascentes, ou seja, das fon-
tes em que já havíamos definido que a proteção seria feita e, daquelas que
apresentaram mudanças consideráveis entre as análises já realizadas. Nes-
te segundo laboratório dos laudos referentes a C. Totais, C. Termotoloran-
tes e E. Coli são dados em Unidade Formadora de Colônia – UFC/100 ml.
Este método é mais preciso que o realizado no laboratório anterior, uma
vez que aponta o número exato de microorganismos para cada 100 ml de
água, e não o NMP (Número Médio Provável) dos mesmos. Assim como no

3
Apenas não repetimos as análises no Rio Cotegipe e em uma fonte, porque as águas de am-
bos não vêm sendo utilizadas para consumo humano, animal ou irrigação.

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Luciano Zanetti Pessôa Candiotto | Felipe Fontoura Grisa |
Sandra R. da Silva Freisleben

método anterior, o valor inferior a 1,1 UFC/100 ml na análise é considerado


como ausência do microorganismo na amostragem.
Como para E. Coli o resultado do primeiro laboratório era dado ape-
nas como “presença” ou “ausência”, quando apontamos os resultados das
três análises em formas de tabelas, na terceira amostragem, para melhor
padronização, não informamos o valor numérico de UFC para E. Coli, mas
sim “presença” ou “ausência”. Entende-se que presença representa valores
maiores ou iguais 1 UFC/100 ml.
Utilizamos como referência os valores aceitáveis para os parâmetros
microbiológicos na água utilizada para consumo humano definidos pelo Mi-
nistério da Saúde na Portaria n. 518/2004, a qual aponta os seguintes valores:

• Coliformes Termotolerantes  Limite máximo <1,1/100 ml (ausência).


• Coliformes Totais  Limite máximo < 1,1/100 ml (ausência).
• Escherichia Coli  Ausência.

Já para irrigação, utilizamos como referência os valores aceitáveis


para contaminação microbiológica encontrados em material da Embrapa
Hortaliças, a qual aponta os seguintes valores:

Tabela 1: Possibilidade de uso da água para irrigação segundo o grau de contaminação


por C. fecais (E. Coli) e C. Totais.
Coliformes Fecais Coliformes Totais
Cultura
(nº/100 ml) (nº/100 ml)
Hortaliças consumidas cruas e frutas que
crescem próximo ao solo e são consumidas cruas
200 1.000
sem remoção da película.

Hortaliças e Frutas exceto as anteriores. 1.000 5.000

Arbóreas, Cerealíferas e forrageiras. 4.000 20.000

Fonte: Embrapa Hortaliças. Organização: Felipe F. Grisa.

A partir das informações coletadas nas entrevistas, observações e


dos resultados das análises das águas, organizamos o diagnóstico ambien-
tal dos estabelecimentos da pesquisa.

Resultados obtidos
Através das entrevistas aplicadas e dos resultados das análises de
água realizadas nas propriedades foi possível conhecer a realidade de cada
propriedade rural no que se refere às questões sociocultural, econômico-

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Diagnóstico ambiental das upvfs beneficiárias do projeto “conservação e uso sustentável
de recursos hídricos como instrumento de gestão ambiental em unidades rurais…

produtiva e ambiental. Utilizando tais informações sistematizamos os


diagnósticos de cada propriedade beneficiada pelo projeto.
A seguir serão apresentadas, de forma resumida, informações refe-
rentes a cada propriedade no tocante aos aspectos ambientais. Ressalta-
mos que o diagnóstico é uma das etapas do projeto, que visa, sobretudo,
realizar ações que possam melhorar a qualidade e a quantidade de água
nas propriedades rurais selecionadas.
Até o momento, priorizamos a proteção das nascentes de água uti-
lizadas para o consumo das famílias. Assim, com base no diagnóstico, de-
finimos – juntamente com as famílias – quais nascentes deveriam ser pro-
tegidas e realizamos as proteções entre agosto e setembro de 2010. Após
a proteção da fonte não realizamos análises para verificar mudanças nos
coliformes, porém estas serão realizadas posteriormente. A etapa seguinte
reside no cercamento de 50 metros de raio dessas nascentes, que será feito
em janeiro de 2011. Para o cercamento, também estamos dialogando com
as famílias e, como existem benfeitorias no raio de 50 metros em algumas
propriedades, estamos negociando com cada família a área a ser cercada.
Outras ações estão previstas, porém não serão abordadas aqui.

UPVF de Roseli Godinho e Almir Calegari


A UPVF possui uma área de 5.000 m² e localiza-se na Vila Rural Gra-
lha Azul no município de Francisco Beltrão. A área total da propriedade está
dividida da seguinte forma: 3.000² para lavoura, 700 m² de pomar e horta, e
1.300 m² com benfeitorias e jardim. A família trabalha com agricultura orgâ-
nica desde 2000, produzindo milho, mandioca, hortaliças e pêssego.
Na propriedade não há nenhum curso d’água ou nascente. Devido
ao tamanho pequeno dos lotes, as Áreas de Preservação Permanente (APP)
e de Reserva Legal (RL)4 são coletivas, ou seja, comum para toda as pro-
priedades. Logo, a área de 0,5 ha da propriedade é explorada em sua tota-
lidade pelos agricultores.
Um elemento de destaque na Vila Rural Gralha Azul reside no total
desmatamento que ocorreu na área antes da instalação da Vila. O projeto,
concebido no Governo Jaime Lerner, selecionou áreas para habitação de
4
APP – O conceito de Área de Preservação Permanente é dado pelo Código Florestal Federal em
seu art. 1º, § 2º, inciso II, com a redação dada pela MP n.º 2166-67/01, sendo : “área protegida nos
termos dos arts. 2º e 3º desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental
de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo
gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas.”
RL – O conceito de Reserva Legal é dado pelo Código Florestal, em seu art. 1°, §2°, III, inse-
rido pela MP n°. 2.166-67, de 24.08.2001, sendo: “área localizada no interior de uma proprie-
dade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável
dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação
da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas”.

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Luciano Zanetti Pessôa Candiotto | Felipe Fontoura Grisa |
Sandra R. da Silva Freisleben

pessoas com baixa renda, que foram totalmente desmatadas e fragmentadas


em lotes de 5.000 m². Apesar da instalação de energia elétrica, água enca-
nada e da construção de casas com 90 m², o projeto arquitetônico das Vilas
Rurais não se preocupou em garantir a conservação da vegetação existente,
resultando em áreas abertas e sem vegetação e sem sombreamento.
Os efluentes produzidos na residência da UPVF são destinados para
duas fossas: em uma, vai a água do tanque; e na outra, os resíduos da co-
zinha e do banheiro. O lixo orgânico produzido na propriedade é utilizado
como adubo juntamente com os dejetos dos animais. Já o lixo seco, é reco-
lhido quinzenalmente pela prefeitura.
A água utilizada para consumo da família vem de um poço artesiano
que fornece água para todas as propriedades da Vila Rural Gralha Azul. O
tratamento da água e o monitoramento do poço são de responsabilidade
da prefeitura municipal de Francisco Beltrão.
A água para irrigação das hortaliças é bombeada de um poço tem-
porário existente na propriedade durante o período do ano no qual o poço
tem água (março a novembro). Nas épocas em que o poço está seco ou com
baixa quantidade de água (dezembro a fevereiro) a água é bombeada do
Rio Santa Rosa, que passa pela Vila Rural. Os resultados as análises deste
rio serão apresentados na propriedade seguinte, a qual também faz uso da
água deste rio para irrigação.
Na propriedade foram coletadas amostras para análise microbioló-
gica em dois pontos: uma torneira da residência (antes de passar pela caixa
d’água) representando a água que vem do poço artesiano da comunidade;
e no poço existente na propriedade, que é utilizado temporariamente para
irrigação. Nestes locais o resultado das análises foram os seguintes:

Tabela 2: Resultados das análises de água dos pontos amostrados na propriedade de


Roseli Godinho e Almir Calegari.
Coliformes
Coliformes Totais
Termotolerantes Escherichia Coli
Local Data *Limite Máximo:
*Limite Máximo: *(ausência)
<1,1/100ml
<1,1/100 ml
Poço artesiano da Nov/2009 < 0,9 NMP/100 ml <0,9 NMP/100 ml Ausência
comunidade (torneira
da residência) Abr/2010 < 0,9 NMP/100 ml < 0,9 NMP/100 ml Ausência

Nov/2009 11 NMP/100 ml 49 NMP/100 ml Ausência


Poço da propriedade
Abr/2010 79 NMP/100 ml 240 NMP/100 ml Presença
*Valor Referência. PORTARIA 518/2004-MS. Estabelece os procedimentos e responsabilidades
relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão
de potabilidade.
Fonte: Arquivos do projeto.

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Diagnóstico ambiental das upvfs beneficiárias do projeto “conservação e uso sustentável
de recursos hídricos como instrumento de gestão ambiental em unidades rurais…

Através da tabela de resultados, pode-se verificar que apenas a água


proveniente do poço artesiano da comunidade apresentou resultados de
potabilidade para o consumo humano em ambas as análises, estando den-
tro dos parâmetros aceitáveis pela portaria n. 518/2004 do Ministério da
Saúde.
O poço da propriedade não apresenta revestimento interno e não
possui proteção superior para evitar a entrada de solo e de matéria orgâni-
ca para seu interior, e a própria declividade do terreno na proximidade do
poço colabora para que os detritos sejam levados pelas chuvas para o inte-
rior do mesmo. Neste caso os valores apresentados nos resultados de Co-
liformes Termotolerantes, Coliformes Totais (em ambas análises) e E. Coli
(análise de abr/2010) para o poço podem ser justificadas pela situação em
que o mesmo se encontra. Porém, os níveis de contaminação apresentados
nas análises permitem que a água do poço seja utilizada para irrigação, se-
guindo os valores recomendados pela Embrapa Hortaliças.
Outro ponto que vale ressaltar é que o poço está localizado próximo
à fossa séptica utilizada pela família (25 m), e a presença da E. coli na se-
gunda análise pode ser um indicativo de que a fossa pode estar contami-
nando o poço.
Quanto a conservação do solo, não identificamos processos erosivos
na UPVF.

UPVF de Valdecir Tres e Marli Tres


A propriedade possui uma área de 5.000 m² e também localiza-se na
Vila Rural Gralha Azul, no município de Francisco Beltrão – PR. Sua área
total está dividida da seguinte forma: 600 m² de pastagem, 3.000 m² de hor-
tas, 1.200 m² de pomar, e 200 m² de benfeitorias e jardim.
O agricultor nunca fez cultivo convencional em sua propriedade, ad-
quirida no ano 2000 e sua produção orgânica é certificada pela Rede Eco-
vida. Hoje a principal fonte de renda da propriedade é com a produção de
hortaliças, destinando-se a maior parte da área da propriedade para este
cultivo, em estufas e a céu aberto.
Quanto à produção animal, o agricultor cria suínos e frangos caipi-
ras. Os suínos são exclusivos para o consumo da família. Já os frangos, são
para consumo e venda para vizinhos e consumidores da área urbana do
município, bem como para produção de ovos, dos quais parte da produção
também é comercializada.
Quanto às questões ambientais, ressaltamos que, devido ao fato da
Vila Rural ser constituída por pequenas propriedades, existe uma Área de
Preservação Permanente e de Reserva Legal comuns, de modo que nas
propriedades não há exigência dessas áreas. Logo, a área de 0,5 ha da pro-
priedade é explorada em sua totalidade pelos agricultores. Os efluentes da

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Luciano Zanetti Pessôa Candiotto | Felipe Fontoura Grisa |
Sandra R. da Silva Freisleben

residência são destinados a uma fossa, e, em seguida, a um sumidouro.


Com o lixo orgânico produzido na propriedade juntamente com os dejetos
dos animais, o agricultor faz a compostagem, utilizando posteriormente o
composto como adubo em seus canteiros de hortaliças.
A água utilizada para consumo da família vem de um poço arte-
siano que fornece água para todas as propriedades da Vila Rural Gralha
Azul, cujo monitoramento da qualidade da água e realizado pela Vigilân-
cia Sanitária do município de Francisco Beltrão. A água para irrigação é
bombeada do Rio Santa Rosa, que passa próximo à propriedade. Antes do
agricultor passar a utilizar a água do Rio Santa Rosa para a irrigação, uti-
lizava a água de um poço de sua propriedade. Contudo, com as obras rea-
lizadas na estrada que passa em frente a sua propriedade, parte das águas
que escoam­ pela estrada em dias chuvosos vai para dentro do poço, que
está localizado a aproximadamente 5 metros da estrada, e abaixo do nível
da mesma. Em virtude da má qualidade da água das chuvas que atinge o
poço, devido ao transporte de agroquímicos de vizinhos e grande quantida-
de de matéria orgânica, o agricultor optou por parar de utilizar este poço
de sua propriedade e aterrar o mesmo.
Como na propriedade não existem fontes de água e a água consumida
pela família (poço artesiano da comunidade) já foi avaliada na propriedade
vizinha (Propriedade de Roseli Godinho e Almir Calegari), foi coletada ape-
nas amostras de água para análise microbiológica do Rio Santa Rosa (rio
que passa pela Vila Rural), uma vez que esta família assim como a de Roseli
Godinho e Almir Calegari , utiliza a água deste rio para irrigação das hortali-
ças, Os resultados das análises da água do rio foram os seguintes:

Tabela 3: Resultados das análises de água do Rio Santa Rosa (Vila Rural Gralha Azul).
Coliformes
Coliformes Totais
Termotolerantes Escherichia Coli
Local Data *Limite Máximo:
*Limite Máximo: *(ausência)
<1,1/100ml
<1,1/100 ml

Nov/2009 15 NMP/100 ml 79 NMP/100 ml Presença


Rio Santa Rosa
Abr/2010 14 NMP/100 ml 27 NMP/100 ml Presença
*Valor Referência. PORTARIA 518/2004-MS. Estabelece os procedimentos e responsabilidades
relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão
de potabilidade.
Fonte: Arquivos do projeto

No Rio Santa Rosa foram coletadas duas amostras e, uma vez que
não houve uma grande variância entre os resultados das amostras, não se-
rão feitas ações de melhorias na parte do rio que corta a Vila Rural e porque
se pretende que, com a instalação futura de uma cisterna na propriedade­, a

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Diagnóstico ambiental das upvfs beneficiárias do projeto “conservação e uso sustentável
de recursos hídricos como instrumento de gestão ambiental em unidades rurais…

família deixe de usar a água do rio para irrigação. Logo, não achamos ne-
cessário investir em novas análises.
O resultado da análise, pelas condições em que o Rio Santa Rosa se
encontra, ficou dentro do esperado. O Rio Santa Rosa é um rio que atual­
mente encontra-se sofrendo o efeito do mau manejo efetuado por proprie-
dades vizinhas à Vila Rural e também por propriedades localizadas na Vila.
Existem partes assoreadas e, devido ao fato de estar em uma área mais
baixa da Vila Rural, o rio tende a receber resíduos de agroquímicos e maté-
ria orgânica provenientes das propriedades. Devido principalmente a pos-
síveis contaminações químicas, é importante que a família deixe de usar
água deste rio para irrigação.

UPVF de Odila Galupo e Santo Galupo


A propriedade localiza-se na comunidade do Jacutinga, no municí-
pio de Francisco Beltrão e possui uma área de 3 hectares, distribuídas em
área de agrofloresta (em estagio inicial), horta, pasto e mata.
Desde 1999 plantam hortaliças de diversas variedades sem o uso de
agroquímicos, que são comercializadas em uma feira de produtos orgâ-
nicos realizada às sextas-feiras na cidade de Francisco Beltrão. Também
plantam pepino, mandioca e feijão e possuem frutas (laranja, abacate, ber-
gamota). Quanto a produção animal, na propriedade cria-se vacas leiteiras
que produzem mensalmente cerca de 300 litros de leite sendo parte trans-
formada em queijos. O excedente da produção de queijo e leite é comercia-
lizado na feira. Ainda referente à produção animal, os agricultores criam
frangos e suínos para o consumo da família, e recentemente foi ampliado
o açude da propriedade para que a família passe a produzir peixes.
Na propriedade, devido à área utilizada para cultivo ser muito peque-
na e os agricultores utilizarem práticas de conservação do solo como adubos
verdes e cobertura morta, não verificamos sinais de erosão nos solos.
No que se refere ao destino dos efluentes produzidos, há uma fossa
que recebe o esgoto sanitário e está localizada a menos de 40 metros das
fontes, fato que pode causar contaminações nos recursos hídricos. Já os
resíduos da cozinha e lavanderia são lançados diretamente no solo. Par-
te dos dejetos dos animais (suínos e frangos) é utilizada como adubo na
horta, assim como o lixo orgânico. Porém, além da pocilga localizar-se a
menos de 40 metros das fontes da propriedade, fica próxima do ponto de
saída da água excedente do açude. Logo, os dejetos dos animais podem ser
levados por essa água como também pela água da chuva para o interior do
córrego que passa próximo da propriedade, uma vez que o declive do ter-
reno favorece este processo. Seria importante construir uma nova pocilga
a uma distância maior das fontes e com esterqueiras para depósito dos de-
jetos dos suínos.

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Na propriedade há duas fontes de água. A fonte maior (Figura 1)


abastece a residência é era protegida apenas por algumas telhas de amian-
to. A fonte pequena (Figura 2) é utilizada para dessedentação animal, e era
totalmente desprotegida. A água utilizada para a irrigação das hortaliças
era do açude da propriedade, o qual é abastecido pelas duas fontes, mas
com a quebra da bomba, a família passou a utilizar a água da fonte maior
também para irrigação. As figuras 1 e 2 mostram a situação das duas fon-
tes antes da realização das proteções.

Figura 1: Nascente/fonte utilizada para abastecimento da residência (coberta com telhas de


amianto). Fonte: Arquivo do projeto.

Figura 2: Nascente/fonte utilizada para dessedentação animal. Fonte: Arquivo do projeto.

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Diagnóstico ambiental das upvfs beneficiárias do projeto “conservação e uso sustentável
de recursos hídricos como instrumento de gestão ambiental em unidades rurais…

Considerando que a família utiliza as duas fontes citadas para uso


doméstico, irrigação e para os animais, decidimos coletar amostras de
água para a realização de análises microbiológicas nas duas fontes utiliza-
das pelos agricultores. Os resultados foram os seguintes:

Tabela 4: Resultados de análises da água de fontes da propriedade de Odila e Santo


Galupo.
Coliformes
Coliformes Totais
Termotolerantes Escherichia Coli
Local Data *Limite Máximo:
*Limite Máximo: *(ausência)
<1,1/100ml
<1,1/100 ml

Nov/2009 22 NMP/100 ml 79 NMP/100 ml Presença


Fonte que abastece a
residência e utilizada Abr/2010 220 NMP/100 ml 280 NMP/100 ml Presença
para irrigação
Ago/2010 67 UFC/ 100 ml 67 UFC/100 ml Presença

Nov/2009 6,8 NMP/100 ml 24 NMP/100 ml Ausência


Fonte utilizada para
Abr/2010 69 NMP/100 ml 170 NMP/100 ml Presença
dessedentação animal
Ago/2010 < 1UFC/100 ml 47 UFC/100 ml Ausência
*Valor Referência. PORTARIA 518/2004-MS. Estabelece os procedimentos e responsabilidades
relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão
de potabilidade.
Fonte: Arquivos do projeto.

Como houve grande oscilação entre os resultados das primeiras aná-


lises com os resultados da segunda bateria e já havíamos definido que se-
riam feitas ações de melhorias (proteções e isolamento) em ambas nascen-
tes, nessa propriedade foi realizada a terceira amostragem das mesmas,
para uma melhor comparação e certeza dos resultados.
Pode ser observado na tabela, que os agricultores estavam utilizan-
do, para consumo da família e para irrigação das hortaliças, a água com
pior qualidade. Embora a fonte que é utilizada para abastecer a residência
tenha uma proteção “melhor” que a outra (cobertura com telhas de amian-
to), essa proteção não é suficiente para prevenir contaminações da água,
apresentando valores permissíveis apenas para uso na irrigação. Assim,
realizamos em setembro de 2010 a proteção das duas fontes com pedras
e tubos de concreto para isolar totalmente a fonte de possíveis contami-
nantes orgânicos. Ressaltamos que antes de ser feita a proteção das fontes
disponibilizamos como solução paliativa o hipoclorito para ser adiciona-
do na água consumida e instruímos a família sobre a forma de utilizar o
produto.

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Figura 3: Nascentes protegidas com pedras e tubos de cimento.


Fonte: Arquivo do projeto.

UPVF de Orlei Galupo do Rosário e Vilmar do Rosário


Localizada na comunidade Jacutinga, município de Francisco Bel-
trão, a propriedade tem uma área de 3 hectares os quais hoje estão dividi-
dos em áreas de pastagens (1 ha), hortas e lavouras (0,5 ha), mata (1,5 ha)
e benfeitorias.
Antes de a família produzir alimentos orgânicos, produzia milho e
feijão no sistema convencional. Outras culturas produzidas na proprieda-
de são apenas para consumo da família e para alimentar os animais, sendo
as principais produções: mandioca, milho e feijão. As criações de suínos,
frangos e produção de leite na propriedade também são apenas para o con-
sumo da família.
No tocante às questões ambientais, a propriedade possui problemas
relacionados principalmente à destinação de efluentes (da cozinha e do
tanque), os quais são liberados diretamente no solo ao lado da residên-
cia, produzindo mau cheiro. Já os efluentes do banheiro, são direcionados
para uma fossa. No entanto, a cobertura vegetal encontra-se bem conser-
vada, de modo que a propriedade tem quase sua totalidade coberta por ve-
getação arbórea e herbácea.
Quanto à utilização de água, na propriedade existe uma fonte, mas
esta tem uma vazão temporária, secando em épocas de estiagem mais pro-
longadas. Logo, até o início de 2010 a água utilizada na propriedade para
consumo humano e animal era de uma fonte desprotegida localizada em
uma propriedade vizinha. Desta fonte, a água era direcionada através de
mangueira até um reservatório escavado no solo e coberto por lona, cons-

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Diagnóstico ambiental das upvfs beneficiárias do projeto “conservação e uso sustentável
de recursos hídricos como instrumento de gestão ambiental em unidades rurais…

truído pelo Sr. Vilmar. Do reservatório, a água era bombeada para uma
caixa d´água e, desta caixa, encanada para a residência. Com a quebra da
bomba utilizada para bombear água do reservatório, a família passou a
utilizar a fonte localizada na propriedade, a qual era protegida apenas por
telhas de amianto.
Coletou-se também amostras de outra fonte (desprotegida) localiza-
da em outra propriedade vizinha (primo de Vilmar) avaliada inicialmente
com potencial de uso.
As amostras coletadas nas fontes de propriedades vizinhas e na fon-
te da propriedade beneficiária apresentaram os seguintes resultados:

Tabela 5: Resultados de análises da água de fonte da propriedade de Vilmar e Marlene


do Rosário e de fontes de propriedades vizinhas.
Coliformes
Coliformes Totais
Termotolerantes Escherichia Coli
Local Datas *Limite Máximo:
*Limite Máximo: *(ausência)
<1,1/100ml
<1,1/100 ml

Fonte de propriedade Nov/2009 17 NMP/100 ml 49 NMP/100 ml Presença


vizinha (primo) Abr/2010 6,8 NMP/100 ml 14 NMP/100 ml Ausência

Fonte de propriedade Nov/2009 2 NMP/100 ml 6,8 NMP/100 ml Ausência


vizinha (utilizada até
início de 2010) Abr/2010 11 NMP/100 ml 17NMP/100 ml Ausência

Nov/2009 13 NMP/100 ml 33 NMP/100 ml Presença

Fonte da propriedade Abr/2010 33 NMP/100 ml 220 NMP/100 ml Ausência

Ago/2010 13 UFC/100 ml 13 UFC/100 ml Presença


*Valor Referência. PORTARIA 518/2004-MS. Estabelece os procedimentos e responsabilidades
relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão
de potabilidade.
Fonte: Arquivo do projeto.

Conforme aponta a tabela, a fonte da propriedade vizinha utilizada


até o início do ano de 2010 foi a que apresentou os melhores resultados nas
duas primeiras baterias de análises. Porém, verificando que o custo para
realização da proteção das fontes localizadas nas propriedades vizinhas se-
ria alto; por estarem localizadas em propriedades convencionais, e por não
termos a certeza de acesso futuro da família beneficiária a água das fontes
vizinhas, foi decidido juntamente com a família, que seria melhor investir
apenas na fonte localizada na propriedade, embora a mesma não apresen-
te vazão permanente segundo os proprietários.

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Para melhor certeza dos resultados das análises anteriores foi então
coletada mais uma amostra da água da fonte da propriedade antes da rea-
lização da proteção com solo-cimento em agosto de 2010. Com a proteção
esperamos que a qualidade da água melhore e que a permanência da vazão
da fonte seja prolongada.
Quanto à destinação de efluentes da residência, os originados do ba-
nheiro são direcionados para um sumidouro. Os demais (cozinha e lavan-
deria) são liberados a céu aberto ao lado da residência. Já os dejetos dos
animais, juntamente com o lixo orgânico produzido na propriedade, são
utilizados como adubo na horta e pomar, enquanto o lixo seco é recolhido
mensalmente pela prefeitura municipal.
Outra ação que está sendo pensada para esta propriedade para ten-
tar solucionar o problema de escassez de água nas estiagens é a construção
de uma cisterna para armazenar água da chuva e também da fonte protegi-
da na propriedade. A água armazenada poderá ser utilizada para o consu-
mo da família e também irrigação da horta da propriedade.

UPVF de Minervino Schimitz e Luiza Schimitz


A propriedade possui uma área de 4,8 hectares e está dividida em
1,5 ha de lavoura, 1 ha de pastagem permanente, 2 ha mata nativa e re-
florestamento (incluindo uma área de agrofloresta), e 0,3 ha de estradas e
benfeitorias.
Minervino reside com sua esposa Luiza. A produção orgânica na
propriedade começou em 1996 e hoje é certificada pela Rede Ecovida. Os
principais cultivos são de milho, feijão, mandioca e hortaliças (couve, be-
terraba, repolho, alface, brócolis, entre outros). As frutas (abacaxi, bana-
na, abacate, pêssego, laranja e bergamota) são apenas para o consumo da
família e para alimentação animal. Quanto à produção animal, na proprie-
dade cria-se suínos, frangos caipiras, peixes e gado de leite.
No que se refere às questões ambientais, a propriedade apresenta-
se em uma boa situação. Possui metade de sua área coberta por vegetação
nativa, tem uma de suas duas fontes protegidas, e não utiliza produtos quí-
micos na produção.
Para o destino dos efluentes na propriedade, existe uma fossa para o
esgoto oriundo do vaso sanitário. Efluentes do chuveiro, tanque e da cozi-
nha são liberados a céu aberto.
O lixo orgânico, juntamente com os dejetos dos animais são utiliza-
dos como adubo na forma de composto, enquanto o lixo seco é recolhido
pela prefeitura municipal mensalmente.
A água utilizada para consumo da família vem de um poço artesiano
comunitário localizado da comunidade. A qualidade da água deste poço é
monitorada pela vigilância sanitária do município. Já a água utilizada para

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Diagnóstico ambiental das upvfs beneficiárias do projeto “conservação e uso sustentável
de recursos hídricos como instrumento de gestão ambiental em unidades rurais…

irrigação das culturas é bombeada de um açude, o qual é abastecido por


uma das duas fontes existentes.
Na propriedade foram coletadas amostras das duas fontes existentes
para análise microbiológica, apresentando os seguintes resultados:

Tabela 6: Resultados de análises da água de fontes da propriedade de Luisa e Minervino


Schimitz.
Coliformes
Coliformes Totais Escherichia
Termotolerantes
Local Data *Limite Máximo: Coli
*Limite Máximo:
<1,1/100ml *(ausência)
<1,1/100 ml

Nov/2009 < 0,9 NMP/100 ml <0,9 NMP/100 ml Ausência

Fonte protegida Abr/2010 7,8 NMP/100 ml 17 NMP/100 ml Ausência

Ago/2010 13 NMP/ 100 ml 13 NMP/100 ml Presença

Fonte Nov/2009 5,6 NMP/100 ml 17 NMP/100 ml Ausência


desprotegida Abr/2010 >2.300 NMP/100 ml >2.300 NMP/100 ml Presença
*Valor Referência. PORTARIA 518/2004-MS. Estabelece os procedimentos e responsabilidades
relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão
de potabilidade.
Fonte: Arquivo do projeto.

A nascente protegida foi a que apresentou melhor resultado, indi-


cando inclusive índices de potabilidade na primeira amostragem. Esta
fonte encontra-se em uma área de mata e sua proteção foi realizada a
mais de 20 anos pelo próprio agricultor, utilizando tijolos e cimento. Po-
rém, os dois últimos resultados indicam contaminação, que podem es-
tar relacionada a infiltrações no lençol e/ou problemas na proteção. En-
tão, sugerimos a família que se fizesse uma vistoria em busca de avarias
na proteção, e se necessário, que se fizessem os devidos reparos. Poste-
riormente realizaremos novas análises para verificação da qualidade da
água. Caso ainda ocorram contaminações poderemos realizar uma nova
proteção da fonte utilizando a técnica empregada nas outras proprieda-
des (solo-cimento).
Já na fonte desprotegida, foram realizadas apenas duas amostra-
gens, pois em acordo com a família, foi decidido que não iríamos realizar
a proteção da mesma em virtude do local onde está localizada. A fonte
localiza-se junto ao córrego da propriedade, sendo este local freqüente-
mente inundado, o que deterioraria a proteção e/ou diminuiria sua efi-
ciência.

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Sandra R. da Silva Freisleben

UPVF de Cleuza Araújo e Antonio Araújo


Antônio e Cleusa moram há três anos na Unidade de Produção e
Vida Familiar, que é de propriedade da família de Minervino Schimitz e
situa-se ao lado da residência dos Schimitz. A área foi emprestada para a
família, que não possui terra para viver e trabalhar. A UPVF onde vive a fa-
mília Araújo possui uma área de 3.100 m².
Em busca de uma melhor qualidade de vida e melhor retorno finan-
ceiro, na propriedade a família sempre produziu alimentos seguindo os
princípios agroecológicos. Hoje, o que é produzido na propriedade é para
o consumo da família e comercializado na feira orgânica de Francisco Bel-
trão.
A principal produção do estabelecimento é de hortaliças, porém a
família também planta milho, feijão, mandioca e frutas. Quanto à produ-
ção animal, são produzidos 240 litros de leite por mês, os quais são trans-
formados em 20 kg de queijo. Trinta litros de leite mensais são usados para
o sustento da família e fabricação de bolachas. Na propriedade também
há criação de frangos de postura e de corte, sendo a produção de carne so-
mente para o consumo da família já os ovos também utilizados para pro-
dução de panificações comercializadas pela família.
Quanto aos aspectos ambientais, mais especificamente quanto ao
destino de dejetos produzidos na propriedade, os efluentes sanitários são
destinados a uma fossa, enquanto os efluentes do tanque e da cozinha são
lançados diretamente no solo a céu aberto. O lixo seco produzido pela fa-
mília é coletado mensalmente pela prefeitura de Francisco Beltrão e o lixo
orgânico é reaproveitado para adubação da horta.
No estabelecimento existe uma fonte (desprotegida) a qual não é
utilizada pela família. A água consumida pela família e utilizada para ir-
rigação das hortaliças vem de um poço artesiano comunitário localizado
na comunidade. Já a água utilizada para lavar roupas, vem por gravidade
de uma fonte muito próxima, porém localizada em estabelecimento rural
vizinho.
As amostras de água para análise microbiológica foram coletadas
em três pontos: fonte de propriedade vizinha (utilizada para lavar roupa),
torneira da residência (poço artesiano da comunidade), Rio da Gruta (que
passa próximo da propriedade) e na fonte da propriedade (que não é utili-
zada pela família). Optamos por analisar a água do rio para conhecer sua
qualidade, haja vista que essas águas poderiam ser utilizadas para irriga-
ção e dessedentação de animais.
As análises apresentaram os seguintes resultados:

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Diagnóstico ambiental das upvfs beneficiárias do projeto “conservação e uso sustentável
de recursos hídricos como instrumento de gestão ambiental em unidades rurais…

Tabela 7: Resultados de análises da água do Rio Jacutinda do Poço tubular da


comunidade do Jacutinga, da fonte da propriedade de Cleusa e Antonio Araújo
e de uma fonte de propriedade vizinha.
Coliformes
Coliformes Totais Escherichia
Termotolerantes
Local Data *Limite Máximo: Coli
*Limite Máximo:
<1,1/100ml *(ausência)
<1,1/100 ml

Nov/2009 < 0,9 NMP/100 ml < 0,9 NMP/100 ml Ausência


Poço tubular
da comunidade Abr/2010 >2300 NMP/100 ml >2300 NMP/100 ml Presença
Jacutinga
Ago/2010 < 1 UFV/100 ml < 1 UFC/100 ml Ausência

Nov/2009 79 NMP/100 ml 170 NMP/100 ml Presença


Rio da Gruta
Abr/2010 700 NMP/100 ml 1600 NMP/100 Presença
Fonte prop. vizinha
Nov/2010 170 NMP/100 ml 540 NMP/100 ml Presença
(lavar roupa)
Fonte da propriedade Ago/2010 864000 UFC/100 ml 864000 NMP/100 ml Presença
*Valor Referência. PORTARIA 518/2004-MS. Estabelece os procedimentos e responsabilidades
relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão
de potabilidade.
Fonte: Arquivo do projeto.

Conforme já mencionado, a família utiliza para consumo apenas a


água do poço comunitário. Como os resultados apontaram uma alta conta-
minação na segunda análise, diferindo muito dos resultados da primeira onde
obteve-se índices de potabilidade, foi realizada uma terceira amostragem para
verificação dos resultados. Nesta terceira amostragem, os índices apontados
ficaram novamente dentro dos padrões de potabilidade. Este resultado indica
que pode ter acontecido contaminação na coleta ou erros laboratoriais.
Os resultados apontados para as amostras coletadas no Rio da Gru-
ta, ficaram dentro do esperado. Apontando maior contaminação na segun-
da amostragem. Devido à má qualidade da água do mesmo, foi descartada
a sua utilização.
Na fonte localizada na propriedade vizinha, da qual a família utiliza
a água para limpeza (tanque), foi realizada apenas uma amostragem para
a família conhecer a qualidade da água utilizada. Talvez, os principais fa-
tores que levam à alta contaminação apontada nesta fonte estejam ligados
à sua localização e à falta de proteção da mesma com vegetação. A fonte
localiza-se muito próxima a uma estrada rural, assim, quando ocorrem
chuvas, detritos são arrastados para o seu interior uma vez que a única
proteção existente na fonte são algumas madeiras cobrindo-a. Com base

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nos resultados alertamos para que a família evitasse o eventual consumo


da água, pois como está próxima de áreas onde é realizado o cultivo con-
vencional, além de alta contaminação microbiana podem haver contami-
nações químicas e conseqüentemente danos a saúde da família.
Na fonte localizada no estabelecimento, foi realizada apenas uma
análise, pois a família somente informou à equipe do projeto sobre sua
existência no segundo semestre deste ano. A fonte localiza-se próxima ao
galinheiro, em uma área onde a família costumava deixar os bezerros.
Quando foi feita a coleta para análise, verificamos que a fonte estava em
péssimas condições devido ao pisoteio animal e depósito de detritos, o que
inclusive dificultou a coleta. Logo, devido à situação em que a fonte encon-
trava-se, a altíssima contaminação ficou dentro do esperado.
Em agosto de 2010 foi realizada a proteção da fonte quando orien-
tamos a família a retirar os animais do local. Se houver melhoras na qua-
lidade da água com a proteção, pretende-se que a família passe a utilizar a
água desta fonte para irrigação.

UPVF de Tobias Korb e Josefina Korb


O estabelecimento possui uma área de 12,1 hectares, distribuída da
seguinte forma: 5,2 ha com áreas de pastagens permanentes, 2,4 ha com
pastagens cultivadas, 3,5 ha mata nativa, reflorestamento e capoeira, e 1
ha com benfeitorias e pomar. Residem na propriedade Tobias, sua espo-
sa Josefina e dois dos seus três filhos: Eder e Elizandra. Tobias chegou na
propriedade em 1987, e desde sua chegada, seguindo exemplo de outros
moradores da região, não utiliza agroquímicos.
A principal produção da UPVF é a de leite, e a maior parte é trans-
formada em queijo na agroindústria da família, localizada na própria
UPVF. Com as 19 vacas que possuem, produzem 4.500 litros por mês. Men-
salmente, a agroindústria de queijo produz 416 kg. Ainda referindo-se a
produção animal, a família cria frangos, porcos e peixes, apenas para o
consumo próprio. A produção de grãos (feijão, milho e arroz), de frutas e
hortaliças também é destinada apenas para o consumo familiar.
No que se refere ao destino dos dejetos produzidos na residência, os
oriundos do banheiro são destinados a uma fossa; os produzidos no tanque
são liberados diretamente na superfície do solo; e os da cozinha, são desti-
nados ao açude da UPVF.
Quanto aos dejetos animais, como o gado leiteiro é criado em sis-
tema de pastejo rotativo, grande parte dos dejetos fica nos locais das pas-
tagens, servindo como adubo para o solo. Os dejetos produzidos pelos
animais dentro das benfeitorias são usados pela família como adubo em
pomares e hortas, juntamente com o lixo orgânico produzido na residên-
cia. A água oriunda da pia da queijaria é destinada para o sumidouro. Já

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Diagnóstico ambiental das upvfs beneficiárias do projeto “conservação e uso sustentável
de recursos hídricos como instrumento de gestão ambiental em unidades rurais…

o soro originado da produção do queijo é direcionado para ser consumido


pelos bovinos.
Na UPVF existe apenas uma fonte de água já protegida pelo agri-
cultor, porém por ter uma vazão muito baixa, não supre as necessidades
da família. Toda a água consumida na propriedade vem de duas fontes
localizadas em propriedades vizinhas. Uma fonte abastece a queijaria e é
utilizada para consumo da família (cozinha), e a outra, fornece água para
a estrebaria, banheiro e tanque. Essas fontes encontram-se em locais com
boa proteção florestal e nelas o próprio agricultor fez proteções utilizando
canos de PVC e cimento.
Na propriedade as amostras foram coletadas nas duas fontes de es-
tabelecimentos vizinhos e no Rio Jacutinga, que passa pela UPVF. Os resul-
tados das amostras foram os seguintes:

Tabela 8: Resultados de análises da água do Rio Jacutinga e das fontes utilizadas pela
família de Josefina e Tobias Korb localizadas em propriedades vizinhas.
Coliformes
Coliformes Totais
Termotolerantes Escherichia Coli
Local Data *Limite Máximo:
*Limite Máximo: *(ausência)
<1,1/100ml
<1,1/100 ml
Nov/2009 < 0,9 NMP/100 ml < 0,9 NMP/100 ml Ausência
Fonte de prop. Vizinha
Abr/2010 1600 NMP/100 ml >2300 NMP/100 ml Presença
(cozinha e queijaria)
Ago/2010 < 1 UFC/100 ml < 1 UFC/100 ml Ausência

Fonte de prop. Vizinha Nov/2009 7,3 NMP/100 ml NMP/100 ml Ausência


(tanque, banheiro,
estrebaria) Abr/2010 700 NMP/100 ml > 2300 NMP/100 ml Presença

Nov/2009 15 NMP/100 ml 130 NMP/100 ml Ausência


Rio Jacutinga
Abr/2010 > 2300 NMP/100 ml > 2300 NMP/100 ml Presença
*Valor Referência. PORTARIA 518/2004-MS. Estabelece os procedimentos e responsabilidades
relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão
de potabilidade.
Fonte: Arquivos do Projeto.

Mesmo não sendo previsto realizar investimento na fonte utiliza-


da para consumo da família (cozinha), pois esta já se encontra protegida,
devido às mudanças significativas nos resultados entre a segunda análise
(que apontou alta contaminação) e a primeira (que apontou índices de po-
tabilidade), realizou-se uma nova amostragem para melhor comparação
dos resultados e conhecimento da qualidade da água consumida. Nesta
nova análise, os resultados voltaram a apresentar índices de potabilidade.

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Luciano Zanetti Pessôa Candiotto | Felipe Fontoura Grisa |
Sandra R. da Silva Freisleben

Embora contando com uma boa cobertura vegetal e com uma prote-
ção feita pelo agricultor, a fonte utilizada para lavagem da estrebaria, tan-
que e banheiro apresentou níveis de contaminação nas duas amostras. Es-
tes resultados indicam que, apesar de protegida, a fonte não tem água apta
ao consumo humano no momento. Talvez a simples melhoria da proteção
realizada na fonte poderá melhorar a sua qualidade. Neste caso, como não
será feito investimento, pois essa água não é utilizada para consumo (ape-
nas limpeza), embora os resultados entre a primeira análise e a segunda
tenham diferenciado muito, não realizamos uma terceira amostragem.
O Rio Jacutinga é utilizado na propriedade para dessedentação ani-
mais, os quais tem livre acesso ao rio. Comparando com o resultado da amos-
tra do Rio da Gruta apresentado na propriedade anterior, o Rio Jacutinga
apresentou um nível de contaminação inferior na primeira análise, mas um
grau de contaminação muito mais elevado na segunda análise. Em ambos
os rios a contaminação foi maior na segunda etapa, porém a diferença entre
a primeira e a segunda foi maior no Rio Jacutinga. Os resultados das aná-
lises destes rios poderiam ter sido melhores se as suas margens estivessem
com mais cobertura vegetal. Em ambos, ao longo dos cursos (não apenas
nas áreas­pertencentes às propriedades beneficiárias) existem locais onde as
áreas de mata ciliares são muito pequenas e outros onde não existem.

UPVF de Antonio Korb


A propriedade possui uma área de 10 alqueires, divididos em áreas de
lavoura, de mata nativa e reflorestamento, pastagens e benfeitorias. Na UPVF
residem juntamente com o Sr. Antonio, sua filha Albertina (a qual cuida do
pai idoso) e filho Paulo. Paulo é casado com Luciana e moram na mesma
propriedade, mas em outra residência, construída recentemente pelo casal.
A principal atividade da UPVF é a leiteira, da qual a maior parte da
produção é transformada em queijo, na queijaria da família Korb, localiza-
da na propriedade. As 15 vacas garantem 2.100 litros/mês, resultando em
240 kg de queijo por mês. A queijaria foi construída há dez anos em uma
sociedade entre Antonio e seu sobrinhos José Korb e Walfrido Korb (que
também são beneficiários do projeto). Ainda no que se refere à produção
animal, os agricultores criam porcos, e engordam bois apenas para o con-
sumo da família. Também criam frangos caipiras para consumir seus ovos
e a carne. Com aproximadamente 50 frangos, a produção média mensal é
de 40 dúzias de ovos, das quais 35 são comercializadas.
Quanto à produção vegetal, a produção de grãos é principalmente
de milho, feijão e arroz, apenas para consumo próprio, assim como a de
hortaliças e frutas. A produção de cana-de-açúcar além de ser utilizada
com alimento para o gado, também é transformada em açúcar, para o con-
sumo da família.

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Diagnóstico ambiental das upvfs beneficiárias do projeto “conservação e uso sustentável
de recursos hídricos como instrumento de gestão ambiental em unidades rurais…

Os efluentes produzidos na casa de Paulo são destinados a fossas,


sendo que uma recebe o esgoto e as águas residuais do banheiro, e outra,
os efluentes oriundos de cozinha e lavanderia. Na casa do Sr. Antonio, ape-
nas o esgoto sanitário é destinado para uma fossa. Os efluentes de cozinha
e lavanderia são liberados na superfície do solo. Quanto aos efluentes pro-
duzidos na queijaria, a água oriunda da pia é destinada para uma fossa e
o soro, assim como na propriedade do Sr. Tobias é direcionado para ser
consumido pelos bovinos.
Na UPVF existem duas fontes de água. Em uma delas, usada pela
família, foi feita a proteção, mas com o decorrer dos anos a fonte secou e
hoje possui uma vazão muito baixa, de modo que deixou de ser utilizada.
Atualmente, a família utiliza a água proveniente da mesma fonte que abas-
tece a queijaria. Essa localiza-se em uma área de mata fechada, e antes da
realização da proteção com solo-cimento (em agosto de 2010) era coberta
por alguns pedaços de tábuas. Além das fontes, passam pela propriedade
o Rio Cotegipe e um córrego, que é seu afluente. Este córrego é utilizado
para dessedentação animal durante a noite e abastece um açude existente
na propriedade.
Na propriedade foram coletadas amostras de água para análise mi-
crobiológica no Rio Cotegipe, no córrego afluente deste rio e na fonte que
abastece a queijaria e as residências (antes da proteção). Os resultados fo-
ram os seguintes:

Tabela 9: Resultados de análises da água do Rio Cotegipe, de fonte da propriedade da


Antonio Korb e do córrego afluente do Rio Cotegipe.
Coliformes
Coliformes Totais
Termotolerantes Escherichia Coli
Local Data *Limite Máximo:
*Limite Máximo: *(ausência)
<1,1/100ml
<1,1/100 ml
Nov/2009 < 0,9 NMP/100 ml < 0,9 NMP/100 ml Ausência

Fonte da propriedade Abr/2010 130 NMP/100 ml 170 NMP//100 ml Presença

Ago/2010 110 UFC/100 ml 110 UFC/110 Presença

Rio Cotegipe Nov/2009 140 NMP/100 ml 540 NMP/100 ml Presença

Córrego afluente do Rio Nov/2009 27 NMP/100 ml 130 NMP/100 ml Presença


Cotegipe Abr/2010 280 NMP/100 ml 1600 NMP/100 ml Presença
*Valor Referência. PORTARIA 518/2004-MS. Estabelece os procedimentos e responsabilidades
relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão
de potabilidade.
Fonte: Arquivo do projeto.

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Os resultados das análises apontam que a fonte utilizada pelos agri-


cultores para o abastecimento das residências e da queijaria apresentou
uma água com boas condições para consumo na primeira análise, apesar
da falta de proteção. Porém, as duas análises posteriores apontaram con-
taminações. Estes resultados demonstram que embora a fonte esteja em
local isolado das criações e dos manejos realizados pelo agricultor é impor-
tante que se faça a proteção para evitar as contaminações.
Do Rio Cotegipe, foi coletada apenas uma amostra para conheci-
mento do grau de contaminação, uma vez que o rio também passa em
outra propriedade beneficiária do projeto (propriedade de José Korb e
Noême­Korb) a qual será comentada posteriormente.
O resultado da análise do Rio Cotegipe e das duas amostras coleta-
das em seu afluente, que é utilizado para abastecimento do açude e para
dessedentação animal, foram negativos quanto à qualidade da água para
consumo humano, pois além dos altos valores de coliformes, houve pre-
sença de Escherichia Coli.
O Rio Cotegipe e o seu afluente encontram-se em situação seme-
lhante aos dois outros rios citados em propriedades anteriores. Ao logo de
seus cursos possuem pouca proteção de matas ciliares.

UPVF de Gilson Gurgel e Cleonice Gurgel


A UPVF localiza-se bem próxima à de José Korb. A área total da pro-
priedade é de 14,8 ha, divididos em áreas de pastagens, lavouras, agroflo-
restas, açude, horta e benfeitorias. Residem na propriedade o Sr. Gilson,
sua esposa Sra. Cleonice, os três filhos do casal: Lucas (14 anos), Mateus (8
anos) e Marcos (6 anos). Residiam também na propriedade, em outra resi-
dência, os pais de Cleonice, mas mudaram-se para Santa Catarina.
Alguns alimentos da UPVF (leite, ovos, mandioca, feijão e cana-de-
açúcar), além de serem produzidos para o consumo da família, são comer-
cializados e servem como fonte de renda. Boa parte da produção de leite
é comercializada na forma de requeijão e queijo (116 kg/mês). Além do
queijo e do requeijão, a família comercializa outros produtos beneficiados
como melado e açúcar.
Na UPVF são produzidas 60 dúzias de ovos por mês, 10 toneladas
de mandioca por ano e 1.800 kg de feijão. Além dos produtos comerciali-
zados, a família produz alguns alimentos somente para consumo e/ou para
alimentação animal, como o milho, o arroz, hortaliças e frutas. As criações
de suínos e peixes, também são apenas para o consumo da família. Embo-
ra já tenha uma produção diversificada em sua UPVF, a família tem como
perspectiva futura aumentar ainda mais a diversificação, principalmente
com agrofloresta, e com isso ter ainda mais fontes de renda.

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Diagnóstico ambiental das upvfs beneficiárias do projeto “conservação e uso sustentável
de recursos hídricos como instrumento de gestão ambiental em unidades rurais…

Quanto ao destino dos efluentes, na residência onde mora Gilson e


Cleonice, existem fossas: uma delas recebe apenas efluentes do banheiro, e,
segundo o casal, periodicamente apresenta sinais de extravasamento super-
ficial (o solo da superfície apresenta-se encharcado); e outra recebe efluen-
tes da cozinha e do tanque. Já na residência onde moravam os pais de Cleo-
nice, todos os efluentes são destinados para uma fossa. O material orgânico
produzido, juntamente com os dejetos de animais, são utilizados como adu-
bo, enquanto o lixo seco é recolhido pela prefeitura mensalmente.
Na UPVF existem duas fontes: uma abastece o açude e era utilizada
para dessedentação animal, e outra não é utilizada, pois possui uma vazão
muito baixa. Ambas estão desprotegidas.
A água utilizada para consumo vem de uma fonte localizada em
uma propriedade vizinha, a aproximadamente 800 metros de distância.
Esta fonte encontra-se no meio de uma área de mata fechada, e seu acesso
é difícil. A fonte foi protegida pelos próprios agricultores e abastece oito
famílias. Da fonte, a água é encaminhada através de mangueira para um
reservatório (caixa d´água) localizado na propriedade de Gilson e Cleonice,
e deste reservatório, é distribuída para as demais famílias.
Na UPVF, as amostras de água para análise foram coletadas da fonte
que abastece o açude, e no local do reservatório, coletou-se água da man-
gueira. Após as análises, as amostras apresentaram os seguintes resulta-
dos:

Tabela 10: Resultados de análises da água de fonte da propriedade de Cleonice e Gilson


Gurgel e de fonte localizada em propriedade vizinha.
Coliformes
Coliformes Totais
Termotolerantes Escherichia Coli
Local Data *Limite Máximo:
*Limite Máximo: *(ausência)
<1,1/100ml
<1,1/100 ml

Nov/2009 33 NMP/100 ml 350 NMP/100 ml Presença


Fonte da propriedade
(desprotegida) que Abr/2010 7,8 NMP/100 ml 14 NMP/100 ml Ausência
abastece açude.
Ago/2010 < 1 UFC/100 ml 4 UFC/100 ml Ausência

Água de fonte vizinha, Nov/2009 < 0,9 NMP/100 ml < 0,9 NMP/100 ml Ausência
coletada na mangueira
Abr/2010 11 NMP/100 ml 14 NMP/100 ml Ausência
antes de chegar ao
reservatório. Ago/2010 < 1 UFC/100 ml < 1 UFC/100 ml Ausência
*Valor Referência. PORTARIA 518/2004-MS. Estabelece os procedimentos e responsabilidades
relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão
de potabilidade.
Fonte: Arquivo do projeto.

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Conforme pode ser observado na tabela, a fonte da propriedade apre-


sentou alta contaminação na primeira análise. Contudo, a partir da primeira
coleta a família isolou a fonte com alguns fios de arame para evitar o acesso
dos animais e o resultado desta ação pode ser visto nas análises posteriores,
onde o grau de contaminação foi decaindo, chegando a ser quase nulo em
agosto de 2010.
Em setembro de 2010 foi feita a proteção da fonte utilizando-se a
técnica solo-cimento. Espera-se que com esta ação, juntamente com o iso-
lamento da área de entorno da fonte (que será realizado posteriormente),
a água passe a ter índices de potabilidade.
A amostra coletada da mangueira que conduz a água da fonte até o
reservatório apresentou resultados dentro do padrão de potabilidade para
os itens avaliados nas amostras coletadas em novembro de 2009 e agosto
de 2010. Na segunda análise, a água apresentou contaminações por C. To-
tais e C. Termotoletantes, porém não foi constatada a presença de E. Coli.

UPVF de José Korb e Noême Korb


A UPVF de José Korb é de usufruto da mãe, de 82 anos. Com 30,3 ha,
está dividida em 8 ha de culturas temporárias, 0,3 ha de culturas perma-
nentes, 7 ha de pastagens permanentes e 5,5 ha de mata nativa e reflores-
tamento. O restante são benfeitorias e áreas com capoeiras (vegetação em
fase de regeneração). Residem na propriedade José, sua esposa, sua mãe
e seu irmão. Há duas residências na propriedade, onde em uma residem a
mãe de José (Sra. Margarida) e seu irmão (Vonibaldo) e na outra, José e a
esposa Noême.
Os grãos produzidos na UPVF são milho, feijão e arroz, cultivados
para o consumo da família e comercializados para vizinhos, e para alguns
fregueses residentes na área urbana. Também há produção de mandioca,
sendo grande parte comercializada, além de frutas e verduras produzidas
apenas para a família. Com nove vacas, a produção mensal de leite é de
2.000 litros. Destes, 120 litros são consumidos pelas duas famílias os de-
mais resultam em 180 kg de queijo por mês. A produção de queijo é realiza-
da na queijaria localizada na propriedade do seu tio Antonio Korb, da qual
é sócio. Além das vacas de leite, na propriedade existem outras criações
como de suínos, boi gordo e frangos, sendo que apenas os frangos (20 kg/
mês) e os ovos (30 dúzias de ovos/mês) são comercializados.
José é um dos agricultores mais politizados e conscientes da impor-
tância da agroecologia e da autonomia na agricultura familiar. Ele afirma
que produz quase tudo o que precisa para sobreviver, e se orgulha disso.
Diz que não precisa ter muita renda, pois gasta pouco, inclusive no super-
mercado. Até o momento, percebemos que José é um dos agricultores com
maior autosuficiência e autonomia dentre os envolvidos na pesquisa.

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Diagnóstico ambiental das upvfs beneficiárias do projeto “conservação e uso sustentável
de recursos hídricos como instrumento de gestão ambiental em unidades rurais…

Quanto ao destino dos efluentes produzidos na residência de José,


apenas o sanitário é encaminhado para uma fossa, e o restante é liberado
na superfície do solo.
A família de José e Noême é uma das que utilizam a água da fonte
que abastece oito famílias, analisada e comentada na UPVF anterior, po-
rém chega na UPVF após a passagem pelo reservatório localizado na pro-
priedade de Gilson Gurgel.
Quanto aos recursos hídricos da UPVF, por ela passa o Rio Cotegipe
(cuja água foi analisada na propriedade de Antonio Korb) e existem várias
nascentes. A maioria delas foi protegida pelos agricultores, porém devido
à falta de proteção vegetal e ao fato da maioria estar localizada em área de
potreiro/pastagem, hoje encontram-se soterradas e com uma vazão inca-
paz de atender às necessidades da família.
As amostras para análise na propriedade foram coletadas de uma fonte
que havia sido protegida pelo agricultor situada em uma pequena área flores-
tada (em área de potreiro), uma fonte localizada na entrada da UFUP e em
uma mangueira que conduz a água do reservatório até a casa do agricultor.
A água coletada da mangueira ainda não havia passado pela caixa d´água da
residência, estando assim, livre de qualquer tipo de tratamento. Após análises
as amostras apresentaram os seguintes resultados:

Tabela 11: Resultados de análises da água de fontes da propriedade de Noême e José


Korb e da água de reservatório coletada em mangueira.
Coliformes
Coliformes Totais Escherichia
Termotolerantes
Local Data *Limite Máximo: Coli
*Limite Máximo:
<1,1/100ml *(ausência)
<1,1/100 ml

Nov/2009 15 NMP/100 ml 33 NMP/100 ml Ausência


Fonte da
propriedade (em Abr/2010 220 NMP/100 ml 540 NMP/100 ml Presença
área de potreiro)
Ago/2010 < 1 UFC/100 ml 3 UFC/100 ml Ausência

Água de fonte Nov/2009 < 0,9 NMP/100 ml < 0,9 NMP/100 ml Ausência
vizinha, após
Abr/2010 > 2300 NMP/100 ml > 2300 NMP/100 ml Presença
passar pelo
reservatório. Ago/2010 < 1 UFC/100 ml 4 UFC/100 ml Ausência
Fonte da entrada
Ago/2010 6 UFC/100 ml 19 UFC/100 ml Presença
da propriedade.
*Valor Referência. PORTARIA 518/2004-MS. Estabelece os procedimentos e responsabilidades
relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão
de potabilidade.
Fonte: Arquivo do projeto.

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A fonte localizada em área de potreiro/pastagem, embora com


uma proteção feita no passado pelos próprios agricultores, com um pou-
co de vegetação no entorno e com isolamento por cerca elétrica que evita
o acesso animal, apresentou níveis de contaminação em todas as análi-
ses realizadas, chegado a apresentar a presença de E. Coli em uma de-
las. Estes resultados mostram que, com o tempo, a proteção feita pelos
agricultores pode ter sofrido avarias e recebido matéria orgânica e ou-
tros elementos externos e/ou que infiltrações podem estar ocorrendo em
outro ponto para o próprio lençol freático. Buscando resolver esta situa-
ção, foi realizada a proteção desta fonte com solo-cimento em setembro
de 2010.
Analisando o resultado obtido na amostra coletada na mangueira
que conduz a água do reservatório até a residência do Sr. José, e compa-
rando com o resultado apresentado anteriormente (UPVF de Gilson Gur-
gel) da amostra coletada na mangueira antes de chegar ao reservatório, é
possível concluir com base nas duas últimas análises, que ocorre conta-
minação da água no reservatório e/ou durante o percurso deste até a casa
do Sr. José, pois a água piorou de qualidade (principalmente na segunda
análise). A contaminação durante o percurso pode ocorrer em emendas
na mangueira ou por pequenos furos na mesma.
Na fonte localizada na entrada da UPVF, foi realizada apenas uma
análise. Isto se deve à dificuldade que tivemos para encontrar a “veia” prin-
cipal da fonte durante o decorrer dos trabalhos. Devido ao grande número
de raízes no local, a água da fonte aflorava em vários pontos, o que dificul-
tava o trabalho de proteção. Durante um período de estiagem realizamos
escavações no local, e então tivemos sucesso. A análise desta fonte apontou
contaminações, inclusive de E. Coli. Após realizar a análise, a fonte foi pro-
tegida utilizando a técnica solo-cimento.

UPVF de Walfrido Korb e Maria Iolanda Korb


A UPVF possui uma área de 16,9 ha, distribuídos em áreas de pasta-
gens permanentes, lavouras, pastagens temporárias, mata nativa e benfei-
torias. Residem na propriedade um casal e três filhos jovens.
A principal atividade é a pecuária leiteira. Com 15 vacas, retiram
2.400 litros mensais de leite, usados para o consumo familiar e para a pro-
dução de queijo. O queijo é beneficiado na queijaria localizada na proprie-
dade do Sr. Antonio Korb, do qual Walfrido é sobrinho e sócio, assim como
seu irmão José Korb.
As principais produções vegetais da propriedade são milho, feijão,
arroz, mandioca e hortaliças, todos cultivados apenas para o consumo fa-
miliar. Também são criados suínos e frangos para o consumo.

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Diagnóstico ambiental das upvfs beneficiárias do projeto “conservação e uso sustentável
de recursos hídricos como instrumento de gestão ambiental em unidades rurais…

Na UPVF, os efluentes da cozinha, tanque e chuveiro são liberados


diretamente na superfície do solo. Já os do vaso sanitário são encaminha-
dos para uma fossa.
A única fonte de água existente na propriedade tem baixa vazão,
não suprindo as necessidades da família. Por este motivo, a água utilizada
é proveniente de nascentes localizadas em uma propriedade vizinha. Uma
das nascentes abastece a residência e se encontra desprotegida. A água
chega à UPVF através de uma mangueira ligada a um reservatório, e deste
vai para a residência. A outra nascente, protegida no início de 2010, é uti-
lizada para irrigação da horta.
Como a fonte que abastece a residência está mais distante da pro-
priedade, fato que dificulta manutenções, os agricultores fizeram a prote-
ção juntamente com técnicos do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, da
fonte que está localizada mais próxima (embora esta tenha menor vazão)
com a intenção de futuramente passar a utilizar apenas a fonte protegida.
Com a intenção de conhecer a qualidade de água consumida pelos
agricultores, foram coletadas amostras provenientes das duas fontes (uma
para o consumo e outra para irrigação), as quais após análise microbioló-
gica apresentaram os seguintes resultados:

Tabela 12: Resultados de análises da água de fontes utilizadas pela família de Walfrido
Korb e Maria Iolanda Korb, localizadas em propriedades vizinhas.
Coliformes
Coliformes Totais
Termotolerantes Escherichia Coli
Local Data *Limite Máximo:
*Limite Máximo: *(ausência)
<1,1/100ml
<1,1/100 ml

Fonte utilizada para Nov/2009 9,2 NMP/100 ml 33 NMP/100 ml Ausência


irrigação (protegida) Abr/2010 2 NMP/100 ml 3 NMP/100 ml Ausência

Fonte utilizada para Nov/2009 < 0,9 NMP/100 ml 2 NMP/100 ml Ausência


abastecimento da
residência Abr/2010 4,5 NMP/100 ml 13 NMP/100 ml Ausência
*Valor Referência. PORTARIA 518/2004-MS. Estabelece os procedimentos e responsabilidades
relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão
de potabilidade.
Fonte: Arquivos do projeto.

Os resultados das análises mostram que a fonte utilizada para irriga-


ção, hoje protegida, apresentou na primeira análise um resultado inferior
à água da fonte utilizada para consumo na residência. Porém, na segun-
da análise realizada após a proteção, já é possível observar o resultado da
ação. Houve uma grande melhora na água, passando esta a ter uma quali-
dade melhor que a consumida pela família. A pouca contaminação apon-

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Sandra R. da Silva Freisleben

tada na fonte protegida na segunda análise pode ser resultado de contami-


nantes provenientes dos materiais utilizados para proteção (como pedras
e solo).

Considerações finais
O diagnóstico ambiental apresentado foi elaborado a partir de infor-
mações coletadas com os proprietários das UPVFs e de observações reali-
zadas nas próprias UPVFs. Como o foco do projeto reside na conservação
e melhoria dos recursos hídricos, acabamos por priorizar informações re-
lativas à qualidade da água, sobretudo daquela consumida pelas famílias
beneficiárias do projeto. A ação de proteção das fontes, já realizada, pro-
curou melhorar a qualidade das águas que apresentaram problemas rela-
cionados à contaminação por E. Colli, considerada altamente prejudicial à
saúde humana e animal. Outras ações estão previstas, inclusive o monito-
ramento da qualidade das águas das nascentes que foram protegidas.
Sabemos que existem outras informações pertinentes para compor
um diagnóstico ambiental, porém, dentro dos objetivos do projeto, procu-
ramos levantar dados referentes ao manejo dos solos, cobertura vegetal,
ocupação dos solos, nascentes e outros recursos hídricos utilizados, ali-
mentos produzidos sem o uso de agrotóxicos, bem como os impactos am-
bientais identificáveis.
Apesar das famílias atuarem com agricultura orgânica, a gestão am-
biental de suas UPVFs apresenta deficiências significativas, haja vista as
contaminações identificadas nas análises de água. Portanto, conhecer a
gestão ambiental das UPVFs orgânicas e levantar os principais problemas
existentes é fundamental para verificarmos os avanços e entraves da agro-
ecologia. Acreditamos que o fortalecimento da agricultura orgânica e, so-
bretudo da agroecologia, estão intimamente ligados a melhorias na gestão
ambiental das UPVFs, que por sua vez, também beneficiarão a qualidade
de vida das famílias rurais envolvidas.

Referências

CANDIOTTO, Luciano Z. P.; GRISA, Felipe F.; FREISLEBEN, Sandra R. S.


Técnicas de saneamento básico e destino de efluentes em pequenas
unidades rurais. Encontro Nacional de Geógrafos, 16, 2010, Porto
Alegre. Anais: crise, práxis e autonomia: espaços de resistência e de
esperanças. Porto Alegre, RS, 2010. p. 1-11.
CANDIOTTO, Luciano Z. P.; GRISA, Felipe F. ; FREISLEBEN, Sandra
R. S. A proteção de nascentes e sua importância para a conserva-
ção da qualidade e quantidade de água na zona rural. Encontro de

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Diagnóstico ambiental das upvfs beneficiárias do projeto “conservação e uso sustentável
de recursos hídricos como instrumento de gestão ambiental em unidades rurais…

Geografia­da Unioeste, 15 e Encontro de Geografia do Sudoeste do Pa-


raná, 9, 2010, Francisco Beltrão. Anais: os desafios dos profissionais
em Geografia. Francisco Beltrão, PR, 2010 (CD-Rom).
EMBRAPA, Hortaliças. Aspectos sanitários da água para fins de irrigação.
Comunicado Técnico nº 5. Gama, 1998. Disponível em: http://www.
cnph.embrapa.br/paginas/bbeletronica/versaomodelo/html/1998/
cot/cot_5.shtml . Acessado em 05/12/2010.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria nº 518/2004. Disponível em: http://por-
tal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/portaria_518_2004.pdf . Acessa-
do em 07/12/2010.

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Registro e reconhecimento da organização
política das mulheres agricultoras no
sudoeste do paraná

Roselí Alves dos Santos


Cecília Maria Ghedini
Elis Marina Benatti Fedatto

Introdução
As organizações políticas do Sudoeste do Paraná têm sido objeto de
estudos de diferentes áreas do conhecimento, pois é neste espaço que se
constitui desde a década de 1940, um processo intenso de luta e resistên-
cia para ocupação, posse efetiva e permanência na terra. Neste processo
se institui uma agricultura familiar que compõe 84% dos estabelecimentos
embora ocupe cerca de 24% da área total, revelando, também, o processo
contraditório da sociedade brasileira de muita terra em poucas mãos. Des-
ta forma, os estudos realizados têm contribuído nas reflexões e na com-
preensão da dinâmica singular que possibilita a apreensão deste espaço a
partir de sua identidade principal: a agricultura familiar.
Porém uma lacuna existente na maioria desses estudos se refere à
participação das mulheres neste processo, conforme é constatado em ati-
vidades de pesquisa e extensão desenvolvidas em parceria com entidades
representativas da agricultura familiar1 em que, comumente, a demanda
pelo reconhecimento, estudo, registro e valorização do trabalho e da pre-

1
Entidades como: ASSESOAR – Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural;
CLAF – Cooperativa de Leite da Agricultura Familiar; COOPAFI – Cooperativa de Produção
e Comercialização da Agricultura Familiar Integrada; CRESOL – Cooperativa de Crédito
Rural com Interação Solidária, entre outras.

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Registro e reconhecimento da organização política
das mulheres agricultoras no sudoeste do paraná

sença das mulheres, neste caso das agricultoras, na organização da agri-


cultura familiar é ausente.
Assim, em 2008, se institui um grupo que propõe uma pesquisa e re-
gistro da participação político-organizativa das mulheres agricultoras no
Sudoeste do Paraná, o qual se transforma em 2009, em um projeto de pes-
quisa2 e extensão, financiado pelo Programa Universidade Sem Fronteiras.
As análises aqui apresentadas são fruto deste trabalho da universidade em
parceria com as entidades da agricultura familiar.

Um pouco do processo vivido


Do ponto de vista metodológico este projeto inicia-se com acordos
entre as entidades do Fórum da Agricultura Familiar, em seguida realizam-
se estudos coletivos, participação direta do trabalho das entidades parcei-
ras onde, ao mesmo tempo em que se compreendiam as atividades e ações
desenvolvidas pelas mulheres agricultoras, coletava-se materiais e infor-
mações, pois retomar um processo construído popularmente a partir de
parcerias, requer uma metodologia específica que dê conta de buscar in-
formações necessárias para obter os dados.
Opta-se então pela metodologia conhecida como Sistematização de
Experiências Populares que tem por base a Educação Popular, sendo uti-
lizada pelos Movimentos Sociais, em especial na América Latina pelo CE-
AAL – Consejo de Educación de Adultos de América Latina. Esta metodo-
logia é uma forma de produzir conhecimento através de práticas sociais
concretas sob a interferência de processos educativos, um processo inves-
tigativo que acontece principalmente com pessoas que estão vivendo a prá-
tica, numa dinâmica de cruzamento de informações e pontos de vista, de
argumentação e negociação, onde há aprendizagem, crescimento humano
e político a partir do vivido (JARA HOLLIDAY, 2006).
No Brasil a Sistematização tem origem nas experiências com Edu-
cação Popular dos anos 1960, no Nordeste e na região Centro-Sul, princi-
palmente em atividades de educação de adultos e formação de pequenos
agricultores. Na região Sul essas concepções amadurecem nos anos 1980
quando se cria o SPEP – Seminário Permanente de Educação Popular –
Departamento de Pedagogia da Universidade de Ijuí no Rio Grande do Sul
(SPEP/DEPE/UNIJUÍ). A primeira Oficina de Sistematização com abran-
gência para toda a América Latina realizada no Sul do Brasil ocorre em
1991, desencadeando um processo com várias experiências. No Sudoeste

2
O projeto Registrando a História Política-Organizativa das Mulheres Agricultoras do Sudo-
este do Paraná,o qual tem como resultado o registro em formato de um caderno de estudo e
um documentário videográfico do trabalho realizado.

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do Paraná podem-se destacar os trabalhos de Sistematização de Experiên-


cias Populares realizados pela ASSESOAR3.

A Sistematização apresenta-se como um instrumento que leva à recupera-


ção e à reflexão do viver compartilhado dos agentes da prática escolhida
para se tornar objeto de estudo. A sistematização faz desse viver objeto de
investigação, espaço de discussão e de aprendizagem. A experiência trans-
formada em objeto de estudo é aquela que está sendo vivenciada a partir de
um programa que vem sendo desenvolvido no campo da Educação Popular
ou da promoção social. Ao transformar uma prática desse campo de ação
em objeto de sistematização, deseja-se resgatar junto à mesma os processos
sociais que a constituem, sua dinâmica, sua complexidade e sua contradito-
riedade (VERONESE, s/d, p. 06).
Esta aproximação da experiência compreende os trabalhos popula-
res como processos sociais dinâmicos em permanente mudança e comple-
xos, ou seja, processos em que se relacionam vários fatores objetivos e sub-
jetivos, que estão ligados ao contexto, às situações particulares a enfrentar,
a ações dirigidas para determinado fim, às percepções, às interpretações e
às intenções dos diferentes sujeitos, aos resultados esperados e inespera-
dos, relações e reações.
Neste sentido é importante dar-se conta que as experiências analisa-
das fazem parte dum processo mais geral também contraditório e dinâmi-
co, que tem influência sobre a experiência vivida, por exemplo, no caso da
organização das mulheres agricultoras, a relevância de sua participação e
ação político-organizativa é limitada em decorrência do contexto da agri-
cultura familiar patriarcal.
Esta forma de análise fundamenta-se na Educação Popular que tem
como pressuposto a construção coletiva do conhecimento em que se re-
conceitua o processo vivido, percebendo necessidades de maior aprofun-
damento e registrando, de forma acadêmica os resultados do trabalho po-
pular a fim de que este conhecimento seja socializado.

A Educação Popular insiste muito na combinação dessas duas fontes: a ca-


pacidade do povo de gerar conhecimento, que dá base às práticas coletivas
e que se coloca, inclusive, como característica de um povo, de um grupo, de
uma cultura e o conhecimento científico que vem sendo desenvolvido nas
Universidades, nos Institutos de Pesquisa, e acumulado através dos tempos
(FALKEMBACH, 1991, p. 05).

3
ASSESOAR. Estratégias de Conhecimento para o Desenvolvimento Sustentável na Agricultu-
ra Familiar. Sistematização da Formação de Monitores para Associações – uma ação entre
Assesoar/Associativismo. ASSESSOAR: Sudoeste do Paraná, agosto de 1997; ASSESOAR: re-
ferências e impactos – um olhar sobre a década de 90 do século XX. Org. CALEGARI, Avelino;
DUARTE, Valdir. Sudoeste do Paraná, 2006; Desenvolvimento multidimensional do campo –
Concepção e Método – Referências a partir do Projeto Vida na Roça. ASSESSOAR: Sudoeste
do Paraná, 2009.

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Registro e reconhecimento da organização política
das mulheres agricultoras no sudoeste do paraná

A Sistematização de que falamos é, portanto, este processo de re-


flexão e investigação em torno de práticas sociais que têm essa caracte-
rística de serem práticas de Educação Popular ou que dela se aproximam.
Um processo investigativo de recuperação e reflexão da experiência deve
ser rea­lizado principalmente por pessoas que estão vivendo ou viveram a
prática social, pois é uma forma de fazer pesquisa dentro dos interesses da
prática de um grupo buscando recuperar os processos vivenciados, desve-
lar a teoria que embasou tais processos, compreendendo assim de forma
mais aprofundada o que se vive no momento atual. Pode ser definida tam-
bém como uma forma de pesquisa que resgata uma prática social popular
e que realimenta outra prática na mesma perspectiva.
A Sistematização de Experiências Populares pode também contri-
buir para levantar problemas, saber sua origem, por que existem, permi-
tindo que se identifiquem os conflitos num processo de “ida e volta” so-
bre o vivido, possibilitando também a revisão dos objetivos estratégicos do
processo. É uma recorrência à história, à possibilidade de produzir conhe-
cimento ao mesmo tempo em que se transforma a prática social.
Por outro lado a Sistematização constrói o objeto da reflexão e da
investigação no momento em que se vai fazendo o trabalho articulado à
reflexão sobre a ação, percebendo assim os conceitos, as relações, os con-
flitos, os avanços, os desafios. Este processo leva a formular novas ideias
no contexto das próprias experiências tendo por base as próprias questões
teóricas que a experiência apresenta para afirmá-las, apropriar-se delas ou
negá-las.
O início de um processo de Sistematização de Experiências Popu-
lares não precisa ser sempre da mesma forma, ou seja, pode-se iniciar
através da definição de um projeto de investigação, com eixos, objetivos
e outros aspectos planejados e politicamente assumidos ou também pela
construção de uma linha histórica num determinado processo. Chega-se
assim a construir um Projeto de Sistematização de Experiências Popula-
res ou ainda um trabalho de sistematização que se utilize apenas de parte
desta metodologia.
No caso deste Projeto: “Registrando a História e as Experiências Polí-
tico-Organizativas das Mulheres Agricultoras no Sudoeste Paranaense” op-
ta-se por iniciar pela Linha Histórica do vivido, utilizando apenas parte des-
ta metodologia para resgatar o processo histórico, uma vez que o projeto
parte de uma proposta da universidade e de entidades da agricultura fami-
liar e não propriamente da organização regional de mulheres agricultoras.
O processo de Sistematização neste caso, tendo em vista a intensa
vivência das mulheres agricultoras, constitui-se como espaço de observa-
ção e coleta de materiais, entrevistas individuais e coletivas, relatos do vi-
vido, debates para a compreensão das relações nos vários processos que
ocorrem ao mesmo tempo e em instâncias diferenciadas (local, municipal,

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regional, estadual) por ser uma história dinâmica com dados, informações
e fatos diversos no sentido das dimensões política, religiosa, econômica,
sócio-cultural, além de longos períodos em que se desenvolve a organiza-
ção do trabalho com as mulheres agricultoras.
A proposta de trabalho organiza-se então em dois momentos coleti-
vos com as mulheres e um terceiro momento de relato em pequenos gru-
pos, conforme a necessidade de aprofundamento de fatos e relações espe-
cíficas. O primeiro momento contou com cerca de 40 mulheres e a partir
destas primeiras transcrições dos relatos organiza-se um único texto cha-
mado de 1ª Narrativa. No segundo momento as mulheres coletivamente
analisam o escrito da 1ª Narrativa e reconstroem as partes consideradas in-
completas ou inconsistentes ao mesmo tempo em que se analisam os mo-
mentos e temas destacados. Busca-se, além de registrar o vivido, dar uma
base ao objetivo de fazer avançar a organização regional de mulheres.
Uma característica essencial nesta metodologia é a potencialidade
que tem para desvelar o interior da dinâmica das experiências, pois a ten-
dência de modo geral é permanecer no exterior e focalizar partes como se
fosse o todo, resultado de uma formação fragmentada e pontual que difi-
culta a percepção da totalidade. Assim, este processo de Sistematização
de Experiências Populares tem um componente político e ético ao mesmo
tempo. Político na medida em que permite à experiência ou prática social
ter clareza dos objetivos estratégicos e um componente ético na medida
em que respeita os sujeitos que vivem experiências populares, levando-os a
refletir sobre eles próprios, suas vivências, sua inserção no social e no po-
lítico, compreendendo a forma que os integra ao social (FALKEMBACHK,
1995; VERONESE, 1998; JARA HOLLIDAY, 2006).
No caso deste material a 1ª Narrativa é reestruturada à medida que
se adensam outros fatos, documentos, bem como dados encontrados em
registros escritos. Contudo nesta 1ª Narrativa verifica-se a falta de aprofun-
damento nas questões polêmicas e nos conflitos, mostrando a necessidade
de buscar maiores esclarecimentos e informações sobre alguns períodos
da história, o que levaria à constituição de uma 2ª Narrativa com a “Aná-
lise” onde se confrontariam a conjuntura, os conceitos, os objetivos, as es-
tratégias, construindo uma reflexão e um novo texto com um referencial de
história, concepções e apontamentos para o futuro. Porém, como o tempo
e o contexto não permitiam este aprofundamento, partiu-se para relatos
com pequenos grupos de mulheres nas cidades onde vivem atualmente, as-
sim foi possível resolver as dúvidas e preencher as lacunas da história.
Mesmo com muitas informações observa-se a falta de alguns “fios
condutores” desta história e das diferentes relações político-organizativas
que ocorrem na região em momentos específicos. Para isto realizam-se
algumas entrevistas com pessoas que articulam e coordenam ao longo do
processo entidades da agricultura familiar e a organização de mulheres,

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Registro e reconhecimento da organização política
das mulheres agricultoras no sudoeste do paraná

ampliando a compreensão dos momentos e as relações nas diferentes en-


tidades e espaços.
Como prevê a Metodologia da Sistematização de Experiências Po-
pulares depois de chegar ao consenso de que a Narrativa está “pronta”
para uma primeira leitura, no final do ano de 2009, destacam-se algu-
mas mulheres que, por terem vivido mais intensamente períodos espe-
cíficos, lêem individualmente possibilitando uma fidelidade maior nos
relatos. Os destaques e observações das mulheres que lêem a 1ª Narra-
tiva trazem contribuições, bem como desvelam outras necessidades de
aprofundamento, pois há períodos na história em que se sobrepõem vá-
rios acontecimentos e perspectivas políticas. Realizam-se então outras
conversas com mulheres que vivenciam estes momentos específicos da
história, permitindo uma “Narrativa Final” que proporciona a continui-
dade do trabalho da equipe.
É importante destacar que na concepção da Sistematização de
Experiências Populares o “Relato Final” nunca fica pronto, sempre está
em construção no sentido de que se pode continuar a reflexão e o apro-
fundamento, porém, deve-se ter o cuidado de realizar alguns recortes
para se atingir os objetivos do projeto maior em que se insere a Siste-
matização.
No caso deste projeto sobre a organização política das mulheres
agricultoras esta 1ª Narrativa “finaliza-se” tornando-se um documento que
subsidia outra etapa do projeto: a Oficina de Análise da Narrativa, tendo
em vista não o aprofundamento para a construção da 2ª Narrativa, mas
os objetivos do próprio projeto de construir um Caderno de Estudos e um
Vídeo Documentário, visando registrar a história, realimentar o trabalho
regional com as Mulheres Agricultoras e subsidiar a prática político-orga-
nizativa das novas gerações.

O processo de organização política das mulheres agricultoras no


sudoeste do paraná

Quando criança questionei meu pai porque as notas estavam somente no


nome dele, sendo que a mãe trabalhava muito também. Apanhei... e toda vez
que tocava no assunto apanhava. Sempre me perguntei porque que minha
mãe trabalhou tanto, teve 12 filhos, e não podia ter nenhuma nota no nome
dela? (UNIOESTE/SETI, 2010, Gema Garbozza – Francisco Beltrão – PR).

A linha do tempo é marcada por acontecimentos históricos que pos-


suem como principal característica a mudança, seja ela total ou parcial.
Essas mudanças é que constroem a História de um país, de um Estado, de
um município, de uma organização. No Sudoeste do Paraná o processo de
organização política é intenso, desde a sua ocupação efetiva na década de

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1940 por descendentes, principalmente de italianos e alemães, vindos do


Rio Grande do Sul e de Santa Catarina para construir neste espaço uma
organização territorial que segue o processo de ocupação desenhado pe-
los seus descendentes, ou seja, a pequena unidade de produção agrícola,
basea­da no patriarcado e no trabalho familiar, produzindo para o consu-
mo da família, com comercialização de excedentes.
Uma vez estabelecidos no Sudoeste do Paraná, tem-se início uma or-
ganização territorial de resistência e de luta pela terra, não somente como
uma forma de propriedade privada, mas como fonte de renda e modo de
vida para muitos homens e mulheres, os quais enfrentam, no processo de
efetivação e estruturação do território, as disputas das terras contra a ex-
torsão das Companhias de Terras, além do enfrentamento contra o Estado
para regulamentação das terras, contra um modelo de agricultura implan-
tado na década de 1960 baseado no pacote tecnológico e seus agentes eco-
nômicos, entre outras lutas.
A construção do território do Sudoeste do Paraná exige um esforço
político e de articulação local e nacional que resulta no reconhecimento
deste como um território da agricultura familiar e pelas diferentes entida-
des de classe que a representa, principalmente em torno da organização
cooperativa, baseada em princípios solidários.
Neste contexto, o destaque apontado é para a participação das mu-
lheres e as formas como organizam-se para se posicionar de forma mais
autônoma em uma agricultura familiar patriarcal, a qual submete, prin-
cipalmente, jovens e mulheres à lógica imposta pela sociedade capitalis-
ta machista. A Sistematização das experiências das mulheres agricultoras
permite observar alguns elementos centrais na organização territorial do
Sudoeste que interferem diretamente na vida das mulheres, são eles: o tra-
balho da Igreja com base na Teologia da Libertação e a constituição de sin-
dicatos combativos. Conforme destacam as entrevistadas, a inserção nos
trabalhos nessas duas frentes de organização, refletem na participação efe-
tiva das mulheres nos diferentes espaços.
Segundo Fedato (2010), seguindo esta linha do tempo, pode-se per-
ceber que a mulher desempenha os mais variados papéis dentro e fora de
casa, luta por sua família, por seus direitos e busca uma sociedade onde
possa viver com mais dignidade, onde os direitos e deveres sejam “dados e
cobrados” igualmente entre os gêneros.

As transformações sociais ocorridas na sociedade brasileira, especialmente


a partir dos anos 60, criaram as condições mais gerais para a efetiva cons-
tituição da mulher como sujeito político. Não se trata apenas da conquista
de espaços significativos no mercado de trabalho e na universidade; é um
processo marcado pela crescente conscientização e participação política da
mulher (KOLLING, 1997, p. 48).

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Registro e reconhecimento da organização política
das mulheres agricultoras no sudoeste do paraná

O trabalho da Igreja, em especial a Católica, a partir da década


de 1970, procura envolver as mulheres nas suas atividades cotidianas e
também naquelas que buscam a inclusão da mulher no espaço público-
político, representado pelas ações desenvolvidas por um grupo que de-
senvolve o trabalho de estruturação da organização política das mulhe-
res para a vida comunitária familiar. É a partir deste trabalho específico
que se organiza em Capanema, no final da década de 1970, o Movimento
Popular de Mulheres e expande-se para outros municípios do Sudoeste
do Paraná, congregando-se a outras organizações populares de mulheres
no Sul do país.
Paulatinamente a organização dessas mulheres agricultoras toma
vulto na perspectiva de garantir os direitos da família, de sair do espaço
privado de suas casas, de ocupar cargos políticos, de ser valorizada, enfim,
de mudar esta realidade. Assim, deixa sua marca na linha do tempo através
de movimentos populares.
Este movimento configura-se no Sudoeste do Paraná na década de
1970, sob influência da ala progressista da Igreja Católica, incentivada pe-
los padres belgas que chegam na região (POSSAMAI, 2007). Este movi-
mento é um marco histórico importante, a partir do qual as mulheres agri-
cultoras passam a se organizar e lutar por direitos e pelo reconhecimento
de sua importância na sociedade.
Segundo Teixeira (2006), nesse período (final de 1960 e início de
1970) a Igreja Católica está permeada pela Teologia da Libertação que
nasce marcada pela participação ativa dos pobres, dos excluídos e das
pessoas leigas além de estar intimamente vinculada aos movimentos so-
ciais. “A reflexão da Teologia da Libertação estará intimamente articula-
da com a afirmação e crescimento dos movimentos sociais e populares de
libertação dos anos de 1960, de majoritária inspiração socialista” (TEI-
XEIRA, 2006, p. 32).
Assim como os movimentos sociais oferecem a sustentação para que
a Teologia da Libertação se afirme, esta, “[...] uma vez afirmada, pontuou,
evidenciou e aprofundou traços essenciais presentes na vida e afirmação
desses movimentos” (TEIXEIRA, 2006, p. 40).
Ainda, segundo Teixeira (2006), dentre os vários desafios da Teolo-
gia da Libertação está o da Teologia Feminista:

A discussão sobre a teologia e a questão da mulher começou a se irradiar no


Brasil e na América Latina a partir da década de 1970. Num primeiro mo-
mento deu-se a descoberta da mulher como sujeito histórico oprimido. Em
seguida veio o trabalho teológico, com forte ênfase na Bíblia, de delinear uma
teologia “com rosto de mulher”, com desdobramentos posteriores na linha de
um forte questionamento do discurso patriarcal e racionalista presente na re-
flexão teológica, também latino-americana (p. 58-59).

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O Movimento Popular de Mulheres (MPM) é marcado por este tra-


balho teológico e tem muito forte o propósito de formação. Os grupos se
reúnem, estudam e debatem temáticas com questões específicas como mu-
lher e política, mulher e sindicato, mulher e bíblia, direitos da mulher, Saú-
de da mulher, formação religiosa a partir da Bíblia, formação para a vida.
Toda essa formação instiga a organização e a luta por direitos da família,
da sociedade e também pelos direitos da mulher como ser humano.
Apesar desta organização se iniciar em pleno momento da ditadura
militar no país, ocorre de forma livre, sem a ameaça direta do regime, no
entanto, algumas das mulheres relatam receio na participação, mas para a
maioria, a ditadura militar não exerce nenhuma forma de pressão. Talvez
isso ocorra pela proximidade com a Igreja, o que transparece, para muitas,
ser uma organização que contribui na organização familiar e na inclusão
da mulher, sem interferir em outras formas estruturais da sociedade.
Segundo relatos das mulheres há no Movimento Popular de Mulhe-
res um planejamento municipal que se organiza pelos setores da paróquia,
sendo seguido por todas as comunidades. A luta é feita em todo o Estado
do Paraná e os municípios se ajudam e se articulam. O planejamento esta-
dual é mais voltado para a comemoração do dia oito de março com lutas
conjuntas em todo o Estado (UNIOESTE/SETI, 2010).
Dentre as contribuições desta organização destaca-se a luta pelo sin-
dicalismo combativo, desenvolvendo um trabalho forte na região e no Es-
tado; as mobilizações em prol da melhoria dos preços dos produtos agríco-
las; o acesso ao crédito; a documentação das mulheres; o reconhecimento
da profissão de agricultora; a valorização e o reconhecimento por parte
dos maridos, irmãos e filhos no que diz respeito às decisões na proprie-
dade; a luta pelo direito da mulher ser também sócia do sindicato que,
até por volta de 1982, era reservado somente ao homem.
Outro destaque é a conquista do espaço nas entidades representati-
vas da agricultura familiar, que no período anterior à organização do MPM
(1975), até os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais – STR restringem a par-
ticipação das mulheres, mesmo em ações voltadas para o público femini-
no, como a organização de um oito de março (UNIOESTE/SETI, 2010).
No final da década de 1980, embalado pelo retraimento da ala pro-
gressista da Igreja Católica que se reflete nas pastorais e movimentos, que
têm nesta tendência seu apoio e base, o MPM, após cerca de 20 anos de
atuação na região, vai enfraquecendo.
A proximidade entre MPM e a Pastoral da Igreja Católica é um fator
que contribui de forma contundente tanto para sua organização e fortale-
cimento, quanto para o retraimento do movimento. No município de Ca-
panema que era como um centro que articulava no Sudoeste do Paraná, as
alterações na Pastoral da Igreja refletem na organização e em 1997 o mo-
vimento acaba na região.

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Registro e reconhecimento da organização política
das mulheres agricultoras no sudoeste do paraná

Neste momento o sindicato está fortalecido e organiza o movimento


sindical assumindo o trabalho de organização das mulheres, porém, com
bandeiras de luta mais voltadas para questões trabalhistas.
Fedato (2010) ressalta ainda que o Movimento Popular de Mulheres
e a Comissão Sindical de Mulheres têm uma certa discordância no proces-
so de organização. Segundo as entrevistas realizadas e a narrativa, cria-se
um campo de disputa entre os dois movimentos, pois agem sobre a mesma
base territorial. Apesar das divergências, algumas atividades são realizadas
conjuntamente.
Durante o período da ditadura militar a organização sindical, sob
ampla influência e pressão dos militares, se volta para uma estrutura as-
sistencialista e as questões de classe são secundarizadas. Neste contexto,
no Sudoeste do Paraná como em outros estados, a organização dos traba-
lhadores rurais se articula para a construção de um sindicalismo que foge
das amarras do Estado.
Nesta perspectiva os agricultores começam, em 1980, a se articular
para conquistar os sindicatos de trabalhadores rurais e um grupo constituí­
do em sua maioria por homens, mas com apoio de um grupo de mulheres
as quais são fundamentais para realizar um trabalho de convencimento
dos agricultores nas comunidades rurais, conseguem assumir as direções
de sindicatos como em Capanema e em Francisco Beltrão.
Com a conquista desses sindicatos e a instauração de uma nova fase,
as mulheres que desde a organização do Movimento Popular já discutem a
sua participação no sindicalismo começam um processo de convencimen-
to de homens e mulheres para que estas tenham o direito à filiação, o que
no período só ocorria a partir da morte do cônjuge.
Como destaca Deere (2004), a exclusão das mulheres da organiza-
ção sindical, mesmo em sua fase assistencialista, significa uma desvanta-
gem para elas, uma vez que os sindicatos são a principal forma de acesso à
assistência ao tratamento de saúde nas áreas rurais. Em 1985 as mulheres
iniciam sua participação nos congressos da Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura(CONTAG), criada em 1963, na qual, naquele
momento, estão filiados os Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STR).

Embora as mulheres representassem somente 1% dos participantes nesse


congresso nacional, a CONTAG adotou o objetivo de incorporar as mulheres
dentro da estrutura do sindicato e reconheceu que elas passam por proble-
mas específicos de discriminação, principalmente a discriminação nos salá-
rios. Os sindicatos municipais foram instruídos a encorajar a participação
de mulheres e treiná-las para ocuparem posições de liderança. Elas também
foram encorajadas a eleger mulheres como delegadas para congressos esta-
duais e nacionais. A necessidade de mulheres rurais, especialmente aquelas
em regime de agricultura familiar, declararem que sua profissão era de mu-
lher trabalhadora rural também foi discutida, tanto como meio de levantar

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sua consciência, como para facilitar sua incorporação nos sindicatos e ter
acesso a benefícios de previdência social (DEERE, 2004).
A motivação para a participação das mulheres se formula a partir das
lutas por direitos da família, tendo como centralidade a questão da previdên-
cia social. Naquele período, somente os homens agricultores tinham direito à
aposentadoria a partir dos 65 anos, recebendo apenas meio salário mínimo.
Assim pauta-se uma questão emergencial sobre os rumos dos trabalhadores
na agricultura e se apresenta um contexto que exige a organização política. A
criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em 1983 acirra a disputa
política, em especial ao se constituir oposição ao trabalho assistencialista de-
sempenhado pela maior parte dos sindicatos ligados a Federação de Trabalha-
dores na Agricultura do Estado do Paraná (FETAEP), filiados à Confederação
Nacional de Trabalhadores na Agricultura (CONTAG).
Assim, as mulheres agricultoras se organizam e se articulam territo-
rialmente, em âmbito nacional, para serem reconhecidas como profissio-
nais do campo, com direito sociais efetivados. Este contexto possibilita que
as mulheres agricultoras se insiram no movimento sindical bem como em
movimentos populares, o que exige um processo de formação destas para
atua­rem nos diversos espaços públicos em busca de seus direitos. Ao mes-
mo tempo, a saída do espaço privado, representado pela sua casa, para os
espaços públicos, até então dominados pelos homens, representa um emba-
te contra formas preconceituosas que essas mulheres tem que assumir seja
no âmbito da família, comunidade ou sindicato. Trata-se de uma luta contra
uma estrutura de sociedade que ao remunerar a mulher agricultora, força o
seu reconhecimento como coautora na organização das unidades de produ-
ção agropecuária, além de representar uma vitória frente ao patriarcado.
A inserção política das mulheres agricultoras, à medida que amplia
sua escala territorial de ação, ganha notoriedade e aumenta a participação
das mulheres, embora o contexto de adversidades permaneça.
Apesar de um número pequeno, as mulheres agricultoras, começam
a assumir as direções do sindicato, inicialmente ocupando cargos como
secretárias, conselho fiscal, porém mais tarde passam a fazer parte das di-
retorias executivas.
Cabe destacar que a política de cotas, que estabelece um percentual
mínimo de 30% de mulheres nas direções, definido pela CUT aos seus sin-
dicatos em 1993, contribui para aumentar tal participação. No entanto, esta
política também foi fruto da organização das mulheres e de homens que en-
tendem esta como uma forma de estabelecer condições mais eqüitativas.
Apesar da ampliação da participação no movimento sindical a cen-
tralidade das lutas tem por base a organização da classe trabalhadora. As
questões específicas das mulheres são tratadas de forma secundarizada, o
que impõe uma disputa muitas vezes velada de poder entre homens e mu-
lheres no sindicato.

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Registro e reconhecimento da organização política
das mulheres agricultoras no sudoeste do paraná

As conquistas das agricultoras familiares no sudoeste do paraná


Me sinto muito bem por ter participado das lutas, pelo reconhecimento de
minha profissão como trabalhadora rural ter o bloco de produtora rural, a im-
portância do reconhecimento de não ser ajudante, mas trabalhadora por igual
ao homem. Para hoje as bandeiras de lutas são muitas, na saúde, na educação,
hoje tem muitos cursos que as mulheres se destacam, em qualquer profissão,
mas muitas mulheres também esqueceram de ser mulher, perderam muita
sensibilidade de ser mãe, mais mulher, por estar no mesmo espaço tem que
ser de igual pra igual. Acho que esta seria uma das lutas das mulheres, esta
luta de não perder o que se é ‘mulher’, tem também os programas sociais, mui-
tos não estão regulamentados e que também seriam bandeira das mulheres
(UNIOESTE/SETI, 2010, Margarete Preilipper – Verê – PR).

Organizadas no Movimento Popular de Mulheres ou no Movimento


Sindical, as mulheres agricultoras, em especial as familiares, elegem suas
bandeiras de luta, as quais congregam com outras organizações em âmbito
de Brasil. Dentre elas, como já destacado, está a luta previdenciária, assim
como outras de cunho organizativo das unidades de produção agropecuá­
ria em relação a melhores condições de comercialização, contra juros e
práticas financeiras abusivas, pela defesa de preços e para a constituição
de práticas mais solidárias.

Quadro 01- Cronologia das principais lutas da organização das mulheres agricultoras no
Sudoeste do Paraná a partir da década de 1970
Lutas pela melhoria dos preços dos produtos agrícolas (fechamento da balsa,
1974 – 1978 fechamento da ponte de Capitão Leônidas Marques, luta pelo preço do leite,
fechamento dos bancos pela baixa dos juros e acesso ao crédito)

1988 Lutas constituintes (documentação, direitos trabalhistas, aposentadoria, etc.)

Fundação do Sistema Único de Saúde – SUS pela Lei Orgânica nº 8.080 de 19 de


1990
setembro de 1990.
Projeto da Comissão Sindical de Mulheres financiado pela entidade alemã Pão para o
1991
Mundo
Fevereiro de Depósito do dinheiro da primeira parcela do projeto financiado da Comissão Sindical
1996 de Mulheres na CRESOL – Marmeleiro.
Criação da Cooperativa de Profissionalização Artesanal da Agricultura Familiar –
1998
COPAAF
A COOPAF passa a ser Cooperativa de Produção e Comercialização da Agricultura
2003
Familiar Integrada – COOPAFI
Conclusão do Hospital Regional. A luta tem início em 1987, se intensifica em 1996 e
2010
as obras iniciam-se em janeiro de 2006.

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Roselí Alves dos Santos | Cecília Maria Ghedini | Elis Marina Benatti Fedatto

Da organização das mulheres e homens nos diferentes movimen-


tos sociais no Sudoeste do Paraná emergem diversas entidades repre-
sentativas da agricultura familiar, as quais contam com a contribuição
das mulheres, no entanto, são poucas as que assumem os cargos direti-
vos destas, revelando as dificuldades que as mulheres tem para assumir
estes cargos, seja pela falta de preparo, pelas dificuldades encontradas
na conciliação de múltiplas jornadas ou ainda pelo preconceito que per-
siste na estrutura patriarcal da agricultura familiar assumido por ho-
mens e mulheres.

Ainda é fraca a participação das mulheres na linha de frente: como presi-


dentes de STRs ainda temos poucas mulheres, nas cooperativas de crédito...
As mulheres ainda encontram algumas barreiras para assumir os cargos,
talvez por uma questão cultural: a mulher é muito perfeccionista e antes
de assumir um cargo ela pensa muito se vai dar conta das expectativas que
este cargo gera. Se ela se sentir preparada, assume, se não fica em dúvida
e deixa de lado por medo, ao contrário do homem que quando é chamado
nem pensa se está preparado e aceita, se não der conta, ninguém fala nada.
A mulher tem medo de desapontar, de se desafiar em coisas novas, carrega o
sentimento de culpa. Com relação à participação das mulheres jovens, hoje
nas entidades falta um pouco de estímulo, de chamar mais ...(UNIOESTE/
SETI, 2010, Luciana Rafagnin – Francisco Beltrão – PR).

As dificuldades para se constituírem como agricultoras e a perma-


nência de condições desiguais existentes na agricultura familiar impelem
as mulheres a se inserirem de forma efetiva em seus processos organiza-
tivos ao longo da história do Sudoeste do Paraná. No entanto, contradi-
toriamente, o fortalecimento da agricultura familiar traz a sensação de
conquistas efetivadas e problemas solucionados, situação que atrelada ao
trabalho nas unidades de produção familiar, à estrutura patriarcal, à baixa
escolaridade entre outros, conduzem ao retorno de muitas mulheres do es-
paço público para o espaço privado.
Este recuo reflete no pequeno número de mulheres que participam
nos quadros efetivos das diferentes entidades representativas da agricul-
tura familiar, algumas das quais construídas com a intensa participação
feminina.
A pouca participação por sua vez, faz com que as mulheres que as-
sumem as direções não consigam ou não queiram pautar o debate sobre o
preconceito em relação à participação das mulheres, com vista a sua supe-
ração e na busca de relações de maior equidade. As lutas políticas efetiva-
das pelas mulheres pesquisadas são desconhecidas das gerações mais jo-
vens que adotam uma atitude, muitas vezes, de apatia diante das questões
que na atualidade afligem a organização da agricultura familiar.

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Registro e reconhecimento da organização política
das mulheres agricultoras no sudoeste do paraná

Considerações finais
A luta precisa continuar, pois mesmo na agricultura as mulheres ainda não
conseguiram ter uma ‘abertura total’, uma divisão mais igualitária das ati-
vidades domésticas. Já avançaram bastante, mas ainda precisam avançar
mais. Considero importante que a mulher saiu do anonimato, hoje ela senta
com o marido para conversar, discutir questões da propriedade o que antes
não se fazia. As bandeiras de luta que as mulheres poderiam levantar em pri-
meiro lugar é a questão da violência, da igualdade salarial que já melhorou,
mas ainda existem diferenças para homens e mulheres que exercem a mes-
ma função, aumentar na agricultura o debate da divisão do trabalho, perder
e timidez e ocupar mais os espaços políticos, romper com o preconceito com
relação à mulher (UNIOESTE/SETI, 2010, Luciana Rafagnin – Francisco
Beltrão – PR).

As conquistas das mulheres agricultoras são importantes e represen-


tam sua capacidade organizativa. As mulheres agricultoras na atualidade
possuem certa autonomia, dirigem, dialogam sobre os processos produti-
vos, possuem documentação, podem realizar transações financeiras, divi-
dem as tarefas domésticas, são filiadas a sindicato e cooperativas, no en-
tanto, as conquistas não são suficientes para que todos os envolvidos com
a agricultura familiar obtenham a compreensão da singularidade da parti-
cipação feminina e a trate de forma eqüitativa.
O estudo que o grupo de pesquisa/extensão realiza busca resgatar
e registrar esse processo histórico de organização política das mulheres
agricultoras do Sudoeste do Paraná, valorizando a importância da partici-
pação destas na organização da agricultura familiar.
O resgate além da valorização objetiva subsidiar uma reflexão so-
bre a atuação das mulheres no passado e no presente, buscando elementos
para compreender a pouca, porém não ineficiente, participação das mu-
lheres nos espaços públicos do Sudoeste do Paraná, em especial, das enti-
dades da agricultura familiar.
É assim que durante o processo de Sistematização das Experiências
ressurge a necessidade das mulheres se encontrarem e estabelecerem pau-
tas específicas que contribuam com a superação das relações preconceituo­
sas que tornam homens e mulheres seres sociais desiguais e que permitem
a submissão das mulheres a uma estrutura de dominação patriarcal, exer-
cida por ambos os sexos.
A forma encontrada consiste na constituição, em julho de 2009, de
um Coletivo Regional de Mulheres, formado por representantes de enti-
dades representativas de organizações populares, mandatos parlamen-
tares e da Universidade que buscam uma estrutura capaz de subsidiar e
pautar nas diversas instituições governamentais e não governamentais
a participação das mulheres nos processos político-organizativos, bem

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Roselí Alves dos Santos | Cecília Maria Ghedini | Elis Marina Benatti Fedatto

como compreender e superar os motivos que levam à diminuição da par-


ticipação das mulheres nos espaços coletivos da agricultura familiar, bus-
cando novas bandeiras de luta, capazes de fomentar a organização ora
existente.
O Coletivo Regional de Mulheres está em fase de constituição e apre-
senta as dificuldades de organização diante de uma realidade multifaceta-
da, na qual a compreensão da importância da participação das mulheres
tem sido motivada, pois é uma forma socialmente correta. No entanto, as
dificuldades concretas enfrentadas pelas mulheres ainda limitam a com-
preensão da necessidade de superação das desigualdades sociais construí-
das entre homens e mulheres.

Referências

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ção de Henrique Aguiar. Porto: Editora Livraria Civilização, 1968.
BATISTTI, Elir. As disputas pela terra no sudoeste do Paraná: os conflitos
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res do Sudoeste do Paraná e a Construção da Identidade Política. Tra-
balho monográfico apresentado curso de Pós-Graduação em Educa-
ção do Campo da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2007.

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Registro e reconhecimento da organização política
das mulheres agricultoras no sudoeste do paraná

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tización/Programa Latinoamericano de Apoyo a la Sistematización
de CEAAL, www.alforja.or.cr/sistem/biblio.html. Acesso em dezem-
bro de 2010.

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Gestão para a sustentabilidade das
cooperativas da agricultura familiar e
economia solidária

Adilson Francelino Alves


Sociólogo, Professor Adjunto da UNIOESTE – Francisco Beltrão, membro do Gru-
po de estudos Territoriais GETERR. | adilsonfalves@gmail.com

Claudia Lais Reinehr


Administradora, Bolsista do Projeto Universidade Sem Fronteira “Desenvolvimen-
to das cooperativas de agricultura familiar e economia solidária do Estado do Pa-
raná”.

Luiz Claudio Borille


Advogado, Bolsista do Projeto Universidade Sem Fronteira “Desenvolvimento das
cooperativas de agricultura familiar e economia solidária do Estado do Paraná”.

Ivone Belon Lucas


Graduanda de Direito, Bolsista do Projeto Universidade Sem Fronteira “Desenvol-
vimento das cooperativas de agricultura familiar e economia solidária do Estado
do Paraná”.

Introdução
Em 2008, a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior – SETI elaborou um amplo programa de Extensão denominado
Universidade Sem Fronteiras – USF. O objetivo do programa era intensifi-
car a interação entre estudantes, recém-formados e professores das insti-
tuições estaduais e federais públicas de ensino superior com as comunida-
des paranaenses que apresentassem baixo IDH e onde a universidade não
atuava diretamente. Para isso, o programa oferecia uma estrutura básica
de atuação e intervenção como: custeio do projeto para compra de equipa-
mentos, combustível, passagens, estadia, automóveis para os trabalhos de
campo, livros e outros equipamentos e utensílios demandados pelo proje-
to, além de bolsas para estudantes recém-formados, estudantes de gradua-
ção e coordenadores. A estrutura para o trabalho era complementada pelas
universidades e, se possível pelos parceiros.

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Gestão para a sustentabilidade das cooperativas
da agricultura familiar e economia solidária

Em 2009 a SETI lançou um edital específico, para atuação junto a


entidades da agricultura familiar, o que motivou a elaboração do projeto
desenvolvimento das cooperativas de agricultura familiar e economia so-
lidária do Estado do Paraná, cuja elaboração e confecção contou com a
atua­ção integral da direção e assessorias da União Nacional da Cooperati-
vas de Agricultura Familiar e Economia Solidária – Unicafes – Paraná. Em
resumo, o projeto surgiu da necessidade de qualificar e melhorar as ges-
tões e direções de cooperativas da agricultura familiar do Paraná que pas-
savam por uma forte expansão. Porém, por serem pequenas estas coopera-
tivas não tinham condições de remunerar profissionais para a organização
financeira interna e acompanhamento destas instituições. Diante disso, o
projeto estabeleceu parceria entre a Universidade Estadual do Oeste do Pa-
raná – UNIOESTE e a UNICAFES/Paraná na tentativa de disponibilizar e
treinar profissionais para cooperativas de agricultura familiar e economia
solidária para que estas continuem crescendo de forma ordenada. Além
dos problemas relativos à organização dos agricultores, as cooperativas
demandam planejamento estratégico e acompanhamento nas áreas: con-
tábil, administrativa, jurídica, comunicação e marketing. A estratégia a ser
adotada e a reflexões que levaram ao desenho final do projeto serão discu-
tidos e apresentaremos em linhas gerais a seguir.

Reflexões teóricas e metodológicas

O atual debate em torno dos impactos econômico-produtivos e so-


ciais da agricultura familiar tem movimentado pesquisadores em diversas
universidades nacionais e internacionais. Estes estudos procuram eviden-
ciar os aspectos positivos dessa forma de organização da produção agríco-
la destacando sua capacidade de resposta frente às política públicas, cujo
caso de maior evidência é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agri-
cultura Familiar (PRONAF) iniciado em 1996 e que conta com diferentes
modalidades de acesso ao crédito. Contudo, mesmo com o PRONAF, quan-
do se observa mais atentamente os processos produtivos, os mecanismos
de comercialização, ou mesmo de industrialização da produção, percebe-
se um atrelamento dos agricultores a grandes empresas vinculadas ao pro-
cesso da Revolução Verde.
Este processo embora tenha efetivamente aumentado a produtivida-
de agrícola, trouxe como um dos desdobramentos sociais a redução da ca-
pacidade dos agricultores de organizarem e administrarem sua produção
provocando a marginalização de suas iniciativas. Obviamente, o fenômeno
da Revolução Verde não foi absorvido de forma pacífica pelos agricultores,
diversos processos de resistência e construção de alternativas foram cons-
truídos ao longo do tempo. Alguns, mais ou menos eficazes que os outros
em todos, no entanto, o que se observa é a menor ou maior capacidade das

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Adilson Francelino Alves | Claudia Lais Reinehr |
Luiz Claudio Borille | Ivone Belon Lucas

lideranças e agricultores em analisar a realidade e construir respostas ade-


quadas ao modelo de desenvolvimento vigente.
As especificidades da agricultura familiar, sua fragmentação em di-
versas tipologias e sua irregular organização política e produtiva são desa-
fios a serem enfrentados pelos próprios agricultores, pelas políticas públi-
cas e também pela Universidade, que precisa se aproximar desta realidade
para poder colaborar na construção de práticas sustentáveis. A universi-
dade tem produzido excelentes reflexões sobre as diversas modalidades de
agricultura familiar com enfoque na sua constituição e nas suas especifi-
cidades, adotando um tom bastante crítico para o fenômeno da Revolução
Verde, focando suas análises sobre os aspectos negativos desta, tais como:
a tecnicização da produção, contaminação dos recursos naturais, depen-
dência de insumos químicos e máquinas agrícolas; concentração fundiária
e êxodo rural, entre outros aspectos. Contudo, ela tem se mantido longe
das experiências sustentáveis (ou potencialmente sustentáveis) desenvolvi-
das pelos agricultores em muitas localidades.
Um exemplo desses elementos de resistência e construção de alter-
nativas, está no número de pequenas cooperativas da agricultura familiar,
em criação hoje em todo o Brasil e, no Estado do Paraná em particular. Os
números são expressivos atualmente: mais de 140 cooperativas compõem o
quadro da UNICAFES. Observamos que o que movimenta os agricultores
para a constituição dessas cooperativas, é que elas são concebidas como
uma boa forma de organização para o fortalecimento da agricultura fami-
liar bem como, e principalmente, uma alternativa para a agregação de valor
às mercadorias produzidas em suas propriedades. Porém, por serem, na sua
maioria, cooperativas de pequeno porte, elas não têm condições de contra-
tar profissionais qualificados para a organização interna e acompanhamen-
to dos trabalhos o que dificulta ainda mais os processos de sustentabilidade
das experiências dos agricultores familiares.
Desse modo, a percepção do projeto era de que a simples constru-
ção de cooperativas não se constitui em garantias para os agricultores, ao
contrário, no geral elas representam um desafio a mais, pois com elas os
agricultores precisam lidar com a complexa legislação brasileira, além dis-
so, há os desafios administrativos e contábeis decorrentes de uma organi-
zação deste porte, as relações pessoais com os sócios, as expectativas, etc.
Diante desta constatação empírica, o projeto propôs disponibilizar
e treinar profissionais para atuarem junto às inciativas de organização dos
agricultores familiares e empreendedores da solidária para que estas pu-
dessem crescer e se organizar de forma ordenada. Para isso o projeto con-
tratou um advogado, uma administradora de empresas e uma jornalista
além de duas estudantes de graduação sendo uma de Direito e uma de con-
tabilidade. Havia também o desafio de formação dos profissionais que es-
tariam atuando junto aos agricultores pois estes profissionais e estudantes

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Gestão para a sustentabilidade das cooperativas
da agricultura familiar e economia solidária

nunca haviam trabalhado com as entidades da agricultura familiar. Para


sanar este problema foram realizados treinamentos, leituras e estudos re-
lativos aos problemas e desafios a serem enfrentados.
Para a construção do projeto era necessário considerar também as
dificuldades e os limites existentes nas organizações dos agricultores no
Brasil, como os aspectos legais e organizacionais das cooperativas bem
como sua capacidade de articulação regional e nacional na construção de
redes eficazes de apoio mútuo. Em outras palavras, era importante anali-
sar entraves históricos das organizações dos agricultores em suas coope-
rativas para verificar se o projeto era necessário e quais ações deveriam
ser tomadas. Diante deste desafio, e frente à rara produção bibliográfi-
ca disponível o desafio do projeto estava centrado nos seguintes pontos:
a) carências na geração de conhecimentos para a organização das coo-
perativas; b) falta de assistência qualificada e sistemática na organização
coope­rada; c) crescimento desordenado e não planejado que se traduzia
no mero atendimento a demandas ou resposta a problemas externos; e)
dificuldades na formação de lideranças; f) fragilidade na organização polí-
tica dos agricultores; g) falta de investimentos públicos em pesquisas para
desenvolvimento de mecanismos de organização e métodos adequados à
especificidade das organizações dos agricultores; h) dificuldade encontrar
técnicos e profissionais formados para o trabalho com as especificidades
destas organizações.
Deste modo, os fatores que justificavam o projeto estavam centrados
na proposta de um trabalho de formação e organização das lideranças das
diversas pequenas cooperativas de agricultores familiares do Estado do Pa-
raná localizadas em municípios com baixo IDH.
No debate para a escolha das cooperativas dos municípios a serem
trabalhados ficou definido que se deveria obedecer à regra de pertencerem,
em sua maioria, a lugares com limitantes econômicos ou, cooperativas que
se encontrassem em dificuldades organizativas e se constituíssem em me-
canismos de desenvolvimento e inclusão social para as populações locais.
Diante desse critério, em discussão com o setor estratégico da UNICAFES
foram identificadas nove cooperativas em quatro regiões do Estado do Pa-
raná que seriam atendidos pelo projeto, caso os agricultores aceitassem os
termos propostos.
Como a adesão ao projeto era voluntária e dependia de acertos com
as diretorias e com os associados, nem todas as cooperativas listadas pelo
planejamento inicial do projeto aceitaram a pareceria. Esta etapa exigiu
uma longa e delicada negociação com as entidades. Ao final foram ne-
cessários ajustes para que o projeto se iniciasse. Desse processo as coope-
rativas que aceitaram participar das atividades foram: a) região Centro:
Coorlaf­ Candoi; b) região Oeste; Cooplaf Três Barras; c) região sudoeste­:
Claf Itapejara D´Oeste; Claf Realeza; Claf Francisco Beltrão; Claf Renas-

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Luiz Claudio Borille | Ivone Belon Lucas

cença; Cooperçu Nova Prata do Iguaçu. Depois, o projeto se expandiu tam-


bém para as outras cooperativas filiadas à UNICAFES-Paraná. Assim os
resultados apresentados aqui não espelham o diagnóstico de nenhuma
dessas cooperativas de forma específica, mas do conjunto das cooperativas
em que o projeto atuou.
Em linhas gerais o objetivo do projeto era promover desenvolvimen-
to e inserção de serviços qualificados nas diversas cooperativas da agri-
cultura familiar e economia solidária do Estado do Paraná. Em termos
mais específicos o projeto propunha trabalhar em quatro frentes: A) For-
necer serviços qualificados na assessoraria e orientação de cooperativas
da agricultura familiar e economia solidária; B) Orientar o planejamento
estratégico das cooperativas; C) Contratar um assessor jurídico, contábil,
administrativo e jornalístico para prestar serviços de orientação às coope-
rativas; D) Facilitar o desenvolvimento de vários municípios onde existem
cooperativas.
Diante da impossibilidade de intervir em todas as questões vincula-
das à agricultura familiar e ao cooperativismo, no âmbito do projeto nosso
desafio foi o de focar o trabalho na construção de modelos de intervenção
e treinamento que procurassem colaborar na construção do conhecimento
junto com os agricultores e líderes de cooperativas. Para esse fim, o eixo
estruturador do projeto consistiu inicialmente na análise das experiências
em curso com um mapeamento dos processos adotados pelas cooperativas
para sua gestão e solução de problemas.
Também foi necessário observar que a dinâmica proposta pela
UNICAFES­ e suas cooperativas associadas implicaria intervir em um
mundo altamente complexo e competitivo composto por diversas arenas
e esferas de embate, na tentativa de romper com o ciclo vicioso do mau
planejamento. A proposta metodológica visava empoderar e ampliar a
compreensão dos agricultores sobre a sua própria realidade estabelecen-
do mecanismos de participação direta de envolvimento no processo. Va-
lorizando o conjunto das experiências desenvolvidas sem propor soluções
descontextualizadas dos diversos problemas, mas procurando formas de
incorporar os aspectos positivos das novas técnicas e recusar e criticar os
negativos. Para esse fim o projeto desenvolveu-se em oito fases:
1a. fase: pesquisa bibliográfica sobre cooperativas de agricultores, espe-
cificidades, limites e possibilidades com foco nas metodologias de
inclusão social, desenvolvimento, organização política e autonomia;
planejamento da operacionalização das demais atividades pela equi-
pe de trabalho; reunião com as diretorias das cooperativas;
2a. fase: coleta, tratamento e análise dos dados secundários (estrutura
fundiária, produção, máquinas, técnicas de manejo, instrumentos,
relações de trabalho) dos municípios em estudo;

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Gestão para a sustentabilidade das cooperativas
da agricultura familiar e economia solidária

3a. Analisar a atuação de cada cooperativa, suas estratégias de ação e


organização. Levantar o número de associados ativos e nominais,
produção de cada associação e mecanismos de comercialização
(propaganda/divulgação, venda direta ao consumidor e mediada por
supermercados);
4a. fase: pesquisa de campo. Variáveis a serem consideradas: i) organi-
zação das cooperativas; ii) gestão; iii) nível técnico dos dirigentes;
iv) grau de compreensão de seu papel no processo, dentre outros fa-
tores;
5a. fase: discussão e definição, com base na metodologia participativa,
das estratégias a serem adotadas na fase de assessoria e treinamen-
to;
6a fase: implementação, de forma participativa, das ações de extensão
definidas com os dirigentes e UNICAFES;
7a. fase: Produção do material (apostilas) para o treinamento;
8a. fase: acompanhamento e avaliação das ações realizadas.

Dentre os resultados esperados estavam: a) facilitar o desempenho e


crescimento continuado das cooperativas da agricultura familiar e econo-
mia solidária do Estado do Paraná, através de planejamentos estratégicos
e acompanhamento das ações desenvolvidas; b) assessorar as cooperativas
em questões estratégicas para que estas continuem promovendo desenvol-
vimento e inclusão social e c) gerar outras formas de agregação de valor
aos produtos da agricultura familiar.

Relatos e Desafios das Experiências Cooperativistas


A seguir relataremos as principais experiências e alguns resultados
alcançados nos trabalhos de orientação dada às cooperativas.
Dentro das atividades desenvolvidas foram realizadas pesquisas
de campo para a construção de uma base de dados que possibilitassem
um diagnóstico das cooperativas da agricultura familiar, das regiões
Oeste, Sudoeste e Centro do Estado do Paraná. A metodologia da pes-
quisa se processou em duas etapas. Na primeira um conjunto de cinco
perguntas síntese eram respondida pelas diretorias. Procuramos veri-
ficar em linhas gerais os problemas e as soluções encontradas pelas
administrações das cooperativas, a situação da organização, a relação
com os associados, os parceiros e os concorrentes e as formas organi-
zativas internas.
Na segunda etapa, da coleta desses dados gerais e das conversas com
as diretorias foi elaborado um questionário que visava elaborar o diagnós-

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Adilson Francelino Alves | Claudia Lais Reinehr |
Luiz Claudio Borille | Ivone Belon Lucas

tico da cooperativa e a posterior entrega dos resultados. Nessa fase, foram


realizadas também análises de documentos fiscais, contratos, estatutos e
outros documentos. Cada uma das áreas eram tratadas e abordadas de
modo interdisciplinar com o diálogo de todos os membros da equipe e
com as diretorias. Dentro da área administrativa o diagnóstico focou ques-
tões ligadas a: fatores tecnológicos; socioambientais; parcerias; controle de
produtos (estoques); geração de relatórios utilizáveis em análise; controles
financeiros; controles do funcionamento da cooperativa; controle e defini-
ção de papéis e funções; formação de preço; fluxo de caixa; atividades de
compra e venda / receitas e despesas.
Com o estudo de campo, reuniões e entrevistas criou-se base para o
desenvolvimento de ações corretivas, onde foram observados vários pon-
tos em comum na organização das cooperativas. Em geral as cooperati-
vas da agricultura familiar filiadas a UNICAFES Paraná não possuem ne-
nhuma política direta, que trabalhe com a questão ambiental. Em relação
aos aspectos tecnológicos algumas cooperativas trabalham com sistema
de gerenciamento informatizado. A tecnologia representa um dos aspectos
ambientais mais críticos, tem profundas influências na gestão. Ela envolve
a soma total dos conhecimentos acumulados, o modo de fazer as coisas,
desde a inovação, invenção até a aplicação e desenvolvimento.
Em relação às parcerias pode-se concluir que as cooperativas têm
boas relações e convênios com as Prefeituras, Emater, SEBRAE, Capa, Itai-
pu, Amocentro, Assessoar, Sindicatos, entre outros. Este é um ponto muito
positivo, pois através destas parcerias são viabilizados projetos, seminários
e diversos outros benefícios aos associados.
O setor de finanças é de responsabilidade, em grande parte, das coo-
perativas: um de seus diretores, juntamente com a secretária, fazem o con-
trole das contas a pagar e a receber. Em alguns casos possuem o auxilio de
um software, em outros de uma planilha do Excel. Contudo, esse controle
nem sempre é real, ou realizado de forma adequada a facilitar auditorias,
em grande parte, pela cultura trazida pelos agricultores na administração
de suas propriedades, modelo muitas vezes reproduzido no âmbito das
coo­perativas o que dificulta o controle gerencial, mas é parte integrante da
cultura geral dos agricultores e deve ser levado em consideração na consti-
tuição de novas cooperativas.
Em relação ao controle de estoques, a maioria as cooperativas não
o possuem. As compras são realizadas conforme a baixa de estoque, ou
a falta do produto. Para as cooperativas que possuem o sistema informa-
tizado, se as vendas e compras foram lançadas corretamente, fica mais
fácil manter o controle, caso contrário não.
No que se refere à organização interna, as cooperativas são for-
madas por um conselho de administração composto por sete membros,
todos associados eleitos pela assembleia geral ordinária, sendo estes: um

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Gestão para a sustentabilidade das cooperativas
da agricultura familiar e economia solidária

presidente, um vice-presidente, um secretario e quatro conselheiros; e


um conselho fiscal constituído de seis membros, sendo três efetivos e três
suplentes.
Geralmente as atividades organizacionais da cooperativa são cen-
tralizadas em um ou dois diretores e na secretária, o restante do conselho
tem uma participação distante, há comunicação no momento de tomada
de decisões mais criticas, no entanto não existe um acompanhamento
efetivo.
Em qualquer entidade, vamos encontrar duas organizações: a for-
mal e a informal. No caso das cooperativas da agricultura familiar a que
prevalece é a informal, onde o relacionamento se estabelece por relações
pessoais, sem a linha hierárquica mesmo tendo uma estrutura organiza-
cional definida (conselho administrativo, conselho fiscal e assembleia).
Nos quesitos, missão, visão, objetivos, na grande maioria das coo­
perativas não estão definidos. E, os que possuem, geralmente, essas in-
formações não são do conhecimento de seus associados, em alguns casos
nem dos próprios diretores.
Dentre as sugestões levadas às cooperativas foi citada a possibilida-
de de discutir nas reuniões realizadas com seus sócios e repassar quais os
objetivos da cooperativa bem como a missão e a visão, visto a importância
dos mesmos, uma vez que é da missão que decorrem os objetivos da coope-
rativa. Já a visão é a definição de onde a cooperativa quer chegar.
Quando a contabilidade da cooperativa é feita por uma central de
cooperativas (o Sisclaf por exemplo), os documentos e demais informa-
ções necessárias, são entregues no tempo adequado, no entanto, a coo-
perativa não dispõe de nenhum relatório de desempenho financeiro em
mãos. Segundo o constatado nas entrevistas não há uma boa comunica-
ção entre a contabilidade e as cooperativas, uma vez que as estas dificil-
mente solicitam documentos, balancetes, e a contabilidade, por sua vez,
geralmente não envia relatórios de desempenho, ficando as cooperativas
sem os pareceres e relatórios. Em resumo, as visitas diagnosticadas na
área administrativa, mostraram que as maiores dificuldades são encon-
tradas na gestão administrativa das cooperativas, além de outros entra-
ves que estas cooperativas sofrem por falta de uma orientação específica
ou assessoria nas situações gerais.
Partindo para análise jurídica, o diagnóstico focou questões liga-
das a: estatuto social, contratos, contratação de funcionários e assesso-
rias nas situações gerais. Observou-se que na maioria das cooperativas
os membros cooperados não conhecem o estatuto social, bem como seus
objetivos e finalidades. Para uma possível solução deste problema, as so-
ciedades teriam que repassar esses conhecimentos através de reuniões
ou até mesmo de cursos e palestras que possam transmitir essas informa-
ções integralmente.

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Luiz Claudio Borille | Ivone Belon Lucas

O conhecimento do estatuto social é essencial para os cooperados,


pois é através dele que os associados saberão dos direitos, obrigações e
responsabilidades que cada membro tem com a cooperativa. Tendo essas
informações, os mesmos farão com que as metas sejam alcançadas, pois
se a cooperativa está com sua gestão em dia, consequentemente o asso-
ciado tende a crescer junto com ela.
Com relação aos contratos de prestação de serviços com tercei-
ros que as cooperativas possuem, foi observado que estes estão precários
quanto a sua eficácia e em algumas cooperativas eles inexistem, ou seja,
essas sociedades correm o risco de lograrem grandes prejuízos. Para a
legalidade dessas instituições deveriam ser firmados os contratos com as
empresas prestadoras de serviços, pois em qualquer negociação é neces-
sário que tenha todas as documentações corretas, por duas questões sim-
ples: primeiro pela transparência na gestão da cooperativa, bem como
para com seus associados e segundo, para evitar problemas futuros com
os órgãos de fiscalizações estaduais e federais.
Os contratos de prestação de serviços precisam ser elaborados so-
mente com pessoas jurídicas devidamente legalizadas e não com pesso-
as físicas: estas não poderão fornecer, por exemplo, comprovação deste
serviço através de nota fiscal. Sendo assim, toda forma de contratação
deverá ser de acordo com as sugestões citadas, para evitar possíveis en-
traves, indenizações, fiscalizações e multas seja qual área for, dos órgãos
de fiscalizações. A maioria das cooperativas não possui funcionários, po-
rém, ao contratar estes deverá seguir os critérios da legislação trabalhista
(CLT) e, verificar junto ao contador da mesma, a maneira pela qual serão
efetivadas as admissões desses futuros empregados.
Por fim, através das visitas, percebe-se que as maiores dificulda-
des são encontradas na área jurídica, além de outros percalços que estas
coope­rativas sofrem, por falta de uma orientação específica ou assesso-
rias especializadas nas situações legais de modo geral. Como a atuação do
projeto era um espaço negociado, a aplicação e a utilização das sugestões
eram muitas vezes desconsideradas: isso ocorria por diversos motivos, a
maioria deles vinculados a custo de implementação e outros à cultura da
agricultura familiar onde ainda dominam as relações de confiança e acor-
dos informais incompatíveis com a correta gestão das cooperativas.

Resultados
Como resultado prático das assessorias administrativa e jurídica,
nos vinte e um meses de atuação do projeto, de um total de 144 filiadas
à UNICAFES-Paraná, foram atendidas direta ou indiretamente um neu-
mero aproximado de 80 cooperativas incluindo as definidas no início do
Projeto, bem como, todo procedimento das áreas citadas internamente

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Gestão para a sustentabilidade das cooperativas
da agricultura familiar e economia solidária

na UNICAFES. Depois da parceria com o USF foram constituídas outras


12 cooperativas, e outras seis estão em processo de constituição.
Houve apoio jurídico nas negociações de dívidas, regularizações
de estatutos sociais e contratos de diferentes espécies, bem como, orien-
tações nas legislações sanitárias e certificações, adequações de atas em
assembleias, eleições e recomposições de diretorias.
Houve, também, apoio pedagógico referente ao projeto – Plano
Setorial de Qualificação Social e Profissional em Economia Solidária –
PLASEQ, cujo objetivo é a capacitação de lideranças do cooperativismo
solidário no Estado do Paraná, uma parceria das instituições Unicafes
Paraná/Infocos; apoio contábil, com relação às transações financeiras
internas à Unicafes Paraná (Boletos, controle de entradas e saídas, pro-
jeções financeiras entre outros), e apoio administrativo referente à ela-
boração, negociação, execução e prestação de contas de projetos gover-
namentais, sendo todos esses voltados para assistência às cooperativas
da agricultura familiar dos diversos ramos cooperativos (leite, comer-
cialização, produção e assistência técnica e extensão rural – ATER), bem
como apoio em questões administrativas diversas.
Esses atendimentos beneficiaram aproximadamente 5.500 sócios
das cooperativas, na elaboração, negociação, execução e prestação de
contas dos projetos, executados pelas cooperativas, sendo que no perío­do
trabalhado com a elaboração de dez projetos, atingindo um total aproxi-
mado de R$ 3.500.000,00. Foi prestado apoio jurídico na negociação de
divida de empresa terceira compradora do produto leite com as coope-
rativas singulares filiadas ao Sisclaf; regularizados dez estatutos sociais,
42 contratos de diferentes espécies das cooperativas; 19 assessorias nas
questões trabalhistas; 13 orientações nas legislações sanitárias; certifi-
cações e demais assessorias nas assembleias gerais de 52 cooperativas;
diversas adequações de atas em assembleias, eleição e recomposição das
diretorias e dez assessorias nas relações tributárias. Para orientar os as-
pectos gerais o projeto publicou um manual de boas práticas cooperati-
vas traduzindo para uma linguagem mais acessível os principais garga-
los e problemas identificados durante a execução do projeto.

Conclusão
Diante desse quadro e dada a complexidade de agentes e proces-
sos envolvidos, a implementação da metodologia de análise do processo
e sua intervenção exigiu um enfoque que evitasse a redução do mundo
rural a apenas algumas questões macroestruturais ou a questões ideo-
lógicas que polarizam as discussões sem conhecer os atores reais. Nas
duas últimas décadas o desafio epistemológico de analisar o rural sob
este prisma tem sido enfrentado por pesquisas bastante fecundas, que

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Luiz Claudio Borille | Ivone Belon Lucas

apontam para um conjunto de questões que precisam ser respondidas


dentre elas: 1) a análise dos processos em si; 2) o arcabouço conceitual
e metodológico adotados para sua análise; 3) a diversidade de interesses
e enfoques preocupados com as questões ligadas ao desenvolvimento ru-
ral; 4) os resultados efetivamente alcançados por esses processos; 5) os
diversos tipos de conhecimentos em embate nas arenas dos projetos; e 6)
as relações conflitantes e potencialmente complementares entre o desen-
volvimento exógeno e endógeno. A síntese proposta por Ward et al (2005)
(Quadro 1) aponta a distinção entre os modelos de desenvolvimento exó-
geno e endógeno.

Quadro 1- Modelos de desenvolvimento rural

Características Desenvolvimento exógeno Desenvolvimento endógeno

Arranjos locais (naturais, humanos


& culturais).
Princípio-chave Economia de escala e concentração
Recursos para o desenvolvimento
sustentável.
Polos de crescimento urbano. As áreas
rurais são concebidas como fonte de
Força dinâmica Empresas e iniciativas locais.
alimentos e de produtos primários para
a expansão das economias urbanas.
Produção de alimentos e de produtos
Diversificação das economias e
Função das áreas rurais primários para a expansão da
dos serviços.
economia urbana.
Limitada capacidade de áreas /
Maiores problemas de
Baixa produtividade e marginalização. grupos sociais de participar das
desenvolvimento
atividades econômicas.
Construção de capacidades
Foco do desenvolvimento Modernização agrícola: estímulo à (habilidades, instituições e
rural mobilidade de capital e trabalho. infraestrutura).
Superação da exclusão social.
Fonte: Adaptado de Ward et al (2005) Apud. Alves, 2008.

Para além da dicotomização, é necessário pensar o desenvolvimen-


to rural por outras perspectivas menos reducionistas dos diversos papéis
e atores envolvidos nas discussões e processos acerca do desenvolvimento
rural. No cenário internacional, no que se refere às questões teórico-meto-
dológicas, Mior (2003) aponta quatro enfoques preocupados com as ques-
tões ligadas ao desenvolvimento rural: a) teorias que abordam as dinâmica
do desenvolvimento rural em geral e, da agricultura, em particular. Com
pressões vindas da globalização econômica e do sistema alimentar, nesse
cenário existem também teorias que enfatizam persistência da diversidade

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Gestão para a sustentabilidade das cooperativas
da agricultura familiar e economia solidária

da agricultura com suas especificidades; b) teorias que procuram ressal-


tar a importância da diversidade territorial para entender as dinâmicas do
processo de desenvolvimento; c) o debate acerca da abordagem endógena
versus exógena e, d) a integração da agricultura nas noções de cadeia pro-
dutiva, distrito industrial ou cluster (Mior, 2003 p. 25). Desse modo, o
desenvolvimento rural aparece em um amplo arco de teorias e ou posições
políticas, entretanto, podem-se observar dois grandes polos em que osci-
lam tais teorias, um vinculado à “(...) concepção de que o desenvolvimen-
to rural podia ser alcançado através de uma forte intervenção externa a
uma outra concepção que valoriza a mobilização endógena” (Mior, 2003,
p.74). Para esse autor, diferentemente do debate internacional, o debate
brasileiro tem sido objeto de outras discussões sobretudo acerca da cons-
trução de mecanismos e estratégias de reinserção da agricultura familiar e
de seus territórios no contexto da globalização econômica e integração ao
Mercosul. Para esse fim no debate brasileiro identificam-se três enfoques
distintos na discussão do redesenho do espaço rural: a) o rural não agríco-
la; b) a agricultura familiar e a reforma agrária e c) o enfoque agroindus-
trial. Assim, o desafio é captar os aspectos objetivos e subjetivos, os con-
flitos, os interesses e as articulações de poder inerentes a um projeto de
desenvolvimento local.
Segundo Long (2002), é necessário olhar as intervenções de desen-
volvimento (como são as cooperativas da agricultura familiar) como espa-
ços formados por uma grande cadeia ou fluxo de eventos, localizados em
uma estrutura bem mais ampla, onde atuam organismos internacionais,
instituições nacionais, teorias, atividades estatais para a qual confluem
também diversos atores da sociedade civil. Criam-se, assim, complexas re-
lações interinstitucionais, onde os limites, recursos alocados, competên-
cias e gerências administrativas, crenças, dentre outros fatores constituem
elementos essenciais das experiências.
Ou seja, a definição de metas passa por um complexo estágio de re-
lações interinstitucionais. Sendo que os limites, recursos alocados, com-
petências gerenciais e administrativas e ou crenças, dentre outros fato-
res, disputam o privilégio de ver a realidade focada sob a sua ótica. Ou
seja, os processos de desenvolvimento não podem ser observados apenas
circunscritos aos seus espaços geográficos ou pelos objetivos almejados.
É necessário minimamente, por um lado, olhar um cenário mais amplo,
observar o meta discurso existente no nível global, seja o discurso sobre
o ambientalismo, sejam os direcionamentos para investimentos defini-
dos pelos órgãos de fomento. Por outro lado, as “experiências da comu-
nidade” devem ser observadas, uma vez que, segundo Long (2002), elas
também possuem um acervo de memória construído a partir de outras
experiências de intervenção, das quais, o mundo vivido tem um espaço
fundamental.

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Luiz Claudio Borille | Ivone Belon Lucas

Assim, tendo em vista o pressuposto de que todos os atores agem so-


cialmente e, na maioria das vezes, o fazem implicitamente ao invés de ex-
plicitamente, onde sua motivação e compreensão escapam de uma análise
metódica e calculada, oriunda de esquemas construídos apenas por uma
matriz de pensamento, é necessária a utilização de instrumentos metodo-
lógicos que possibilitem o acesso aos espaços restritos das concepções de
mundo para, a partir daí, negociar espaços de diálogo para a melhoria das
cooperativas.

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Principiar do desenvolvimento territorial
no assentamento rural 72, em Ladário-MS,
Brasil
Edgar Aparecido da Costa
UFMS | edgarac10@gmail.com

Suelen Soares Zarate


Hudson de Azevedo Macedo

Introdução
O processo de modernização da agricultura brasileira, em especial
para a realidade do assentamento rural 72, no município de Ladário-MS,
apresenta-se fortemente excludente, provocando a criação de diversas ter-
ritorialidades alternativas por parte dos moradores locais. A ausência do
apoio governamental estimulando modernas técnicas de cultivo e a dificul-
dade de acesso à tecnologia e conhecimento econômico agrário/agrícola
são, igualmente, produtoras de exclusão nessa realidade.
Este trabalho procura analisar as possibilidades do desenvolvimen-
to territorial no assentamento rural 72, em Ladário-MS, partindo do le-
vantamento de suas condições socioeconômicas e estabelecendo diálogo
com a melhoria de vida da população local. Portanto, o objetivo central é
mostrar a realidade desse assentamento, construída em seus dez anos de
existência, e as iniciativas que estão sendo adotadas para o desenvolvimen-
to territorial rural.
Durante todo o seu tempo de vida a localidade apresentou uma sé-
rie de deficiências e uma incapacidade de “andar com as próprias pernas”.
Tal fato nos chamou atenção e despertou o desejo de tentar ajudar a co-
munidade a mudar de condição, nascendo, assim, uma pesquisa-ação por
meio da qual, ao mesmo tempo em que tentamos induzir o desenvolvimen-
to territorial local, levantamos informações empíricas para nosso arranjo
teórico-metodológico.

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Principiar do desenvolvimento territorial no
assentamento rural 72, em Ladário-MS, Brasil

Partimos da concepção de que a academia de ciências (a Universida-


de) não deve permanecer fechada em seus próprios muros, mas ao contrá-
rio: que o conhecimento produzido ou organizado nela deve voltar-se para
ajudar as comunidades, especialmente as mais necessitadas. A ideia que
norteia este trabalho é reconhecer as capacidades locais instaladas para
buscar parcerias a fim de atender às necessidades identificadas tanto em
termos de produção quanto de comercialização dos assentados. A noção
de desenvolvimento está alicerçada na potencialização de liberdades, em
conformidade com Sen (2000) e a forma analítica na abordagem territo-
rial relacional da E-P-C-N (Economia-política-cultura-natureza), em con-
formidade com Saquet (2007; 2008).
O recorte temporal da pesquisa começou no segundo semestre de
2008 estendendo até setembro de 2010. Podemos dividir esse período em
duas etapas: a primeira que vai de 2008 até julho de 2010, correspondente
ao levantamento de informações, leitura técnica e comunitária da reali-
dade local e identificação das potencialidades e fragilidades; a segunda,
que ora se inicia, remete para as iniciativas de desenvolvimento territo-
rial rural da localidade.
Em 2008 foi realizada uma oficina do Plano Diretor para verificar
quais os maiores problemas e quais as sugestões para resolvê-los. Depois,
foi realizada pesquisa bibliográfica buscando entender as questões trata-
das em torno do desenvolvimento territorial com enfoque na agricultura,
em especial dos assentamentos rurais. Em novembro de 2009, participa-
mos das reuniões feitas pelo Projeto Prefeito Cidadão que consistia em
discutir com a presença do prefeito municipal de Ladário no assentamen-
to, as principais necessidades dos assentados.
Em seguida, buscamos informações sobre a existência de informa-
ções secundárias do assentamento 72. Foi identificado um estudo sobre
o local com fins de emancipação, encomendado pelo INCRA (Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária) à AGRAER/MS (Agência
de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), mas que não foi divul-
gado (somente em julho de 2010 acessamos esse estudo ainda de caráter
inédito). Sem poder acessar essas informações foi elaborado um roteiro
de entrevista semiestruturado a ser aplicado em 100% do universo local.
Para tanto, buscou-se parceria com a Associação dos Pequenos Produ-
tores Rurais do Assentamento 72. Foi explicado todo o projeto e os in-
teresses dos pesquisadores em estabelecer parceria para ajudar a buscar
recursos através de projetos para o enfrentamento de suas principais di-
ficuldades.
Os procedimentos do trabalho de campo se deram no contexto das
aulas de Geografia Agrária, contando com a colaboração de vinte e qua-
tro acadêmico(a)s do quinto semestre (terceiro ano) do curso de Geogra-
fia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, campus do Pantanal.

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Edgar Aparecido da Costa | Suelen Soares Zarate | Hudson de Azevedo Macedo

A maioria das entrevistas ocorreu num sábado pela manhã, no final do


mês de março de 2010. Entretanto, foi percebido que alguns assentados
participavam durante todas as manhãs de sábado da feira que ocorre na
cidade de Ladário. Sendo assim, voltamos mais duas vezes, desta vez no
período vespertino durante a segunda semana (terça e quinta-feira) do
mês de abril e ainda assim não foram concluídas as entrevistas em sua to-
talidade. Dos 85 lotes existentes foram entrevistados 70, ou seja, 82,35%
do universo da pesquisa.
Buscou-se através do trabalho de campo levantar o histórico do as-
sentamento (quando se formou e quando foi criado), perfil da população
(gênero e faixa etária), escolaridade, acesso a benefícios do Governo, ori-
gem das famílias, atividades desenvolvidas e problemas enfrentados no
local. Além disso, outras questões foram postas visando analisar as voca-
ções produtivas, interesse no cultivo de hortaliças e realização de exames
médicos para diagnosticar hipertensão arterial e diabetes.
Os resultados foram tabulados no programa Excel, construindo
gráficos para facilitar a leitura do perfil humano e produtivo do assenta-
mento. O histórico foi elaborado a partir de entrevistas com o presiden-
te da associação local, com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Ladário e com os assentados mais antigos (que estão no assen-
tamento desde os tempos de acampamento).
Após essas condições preliminares passamos a estabelecer con-
tato mais efetivo e a buscar possíveis parceiros. Discutimos os resulta-
dos preliminares com os representantes locais e apontamos, em comum
acordo, os pontos a serem prioritariamente atacados. Dessa forma, or-
ganizamos esse trabalho de modo a apresentar, primeiramente, as con-
dições em que se encontra o assentamento, seguido pela opção de desen-
volvimento territorial rural assumida e por fim os primeiros resultados
desta experiência.

Caracterização do assentamento rural 72


O Projeto de Assentamento (PA) 72 foi criado em 1999, impulsiona-
do pela pressão do Sindicato dos Trabalhadores Rurais para que o Insti-
tuto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA desapropriasse
a Fazenda Primavera. Assim, foram assentadas as famílias que estavam
acampadas há quase dois anos na região da Codrasa (área que fica à mar-
gem direita do Rio Paraguai – cerca de 4 km do local) e depois de quatro
meses na própria fazenda. A ocupação foi pacífica e não houve conflitos
com os proprietários rurais da vizinhança. O Assentamento 72 possui
uma área total de 2.341,2996 ha, onde foram assentadas 85 famílias, per-
fazendo uma média de 18,5 ha por lote, estando localizado, aproximada-
mente, entre as coordenadas 19°03’ a 19°07’ de Latitude Sul e entre 57°33’

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Principiar do desenvolvimento territorial no
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a 57°36’ de Longitude Oeste de Greenwich (Figura 1). Os agricultores que


participaram do acampamento inicial afirmam que a denominação de 72
remete à forma de organização da antiga fazenda que possuía 72 inverna-
das e tinha como base a produção agropecuária.
A geologia local é formada por rochas muito antigas: a) do Grupo
Corumbá com duas Formações Bocaína e Tamengo e; b) do Grupo Ja-
cadigo, com igualmente duas Formações Urucum e Santa Cruz, todas,
de acordo com Almeida (1945) e confirmadas por Anjos e Okida (2000)
como sendo do Pré-Cambriano Superior. Dessas condições iniciais foram
originadas formações detríticas pleistocênicas que dominam a área do
assentamento. O relevo, em geral é plano, com declives inferiores a 3° e
altitude média de 100 metros em relação ao nível médio do mar.

Figura 1 – Localização do Assentamento 72, Ladário-MS.


Autor: MACEDO, H.A., 2010.

De acordo com o Plano de Reestruturação do Assentamento 72 – PRA


72 (ainda não publicado), os solos pertencem a três classes distintas: Cher-
nossolos, Gleissolos e Vertissolos. O tipo Chernossolo Háplico Órtico é pre-
dominante, representando mais de 60% da área total. São solos pouco pro-
fundos (espessura máxima de 1 m), escuros, originados de rochas calcárias,
com argila de atividade alta, podendo expandir ou contrair de acordo com
a variação da umidade, tornando-se muito duros nos períodos secos. Esse
tipo de solo possui boa aptidão para práticas agrícolas, considerando o tipo

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de manejo A (baixo uso tecnológico) e regular no tipo de manejo B (para


médio uso de tecnologia). Os vertissolos representam a segunda maior con-
centração, com duas subclasses: Ebânico e Hidromórfico Órtico chernossó-
lico textura média argilosa, com aptidão restrita para lavouras e pastagens
plantadas, respectivamente (MATO GROSSO DO SUL, 2008).
Observa-se, ao mesmo tempo, uma potencialidade e uma limitação:
o solo permite práticas agrícolas, mas se o manejo não for adequado pode
resultar no seu endurecimento. Comprovamos essa realidade no assenta-
mento, com a forte presença de laterização e da aromita, uma espécie ar-
bustiva espinhenta comum no Pantanal, que cresce rapidamente nesses
ambientes “abandonados” pela agricultura.
Os recursos hídricos superficiais são representados sazonalmente
por dois elementos, localizados a noroeste do 72: o córrego Banda Alta
que só corre durante e pouco tempo após as chuvas, e a Baía Branca, que
é um prolongamento da Baía Negra, cujo alagamento é mais prolongado
(2 a 3 anos intercalados). O grande problema local é a carência de água.
Isso parece estranho, pois quando se fala em Pantanal imediatamente re-
mete-se a grandes quantidades de água. Contudo, na imensa maioria dos
assentamentos de Corumbá e Ladário, a água é a principal carência e fator
de limitação produtiva. O abastecimento de água é realizado por um poço
semiartesiano localizado próximo ao córrego Banda Alta, fora da área do
assentamento, o que é motivo de severas críticas pelos assentados quanto
ao desvio da água que chega para sua utilização. Esse poço está ativo des-
de 2002 e atende à maioria dos lotes, incluindo pessoas e uma pequena
quantidade de animais. O outro poço está no lote 37, com menor capaci-
dade, que atende cerca de 25 lotes. Vale ressaltar que essa água não é sufi-
ciente para tocar as atividades produtivas ligadas à agricultura, e sem ela
fica muito difícil utilizar adequadamente o solo, pelos motivos já expostos.
Logo, a natureza incita limitações às liberdades econômica dos grupos so-
ciais presentes no assentamento.
O assentamento possui uma reserva legal coletiva e não individuali-
zada por lote, já definida pelo INCRA no momento da partilha da fazenda.
Nas parcelas existe apenas a obrigação de cuidar das Áreas de Preserva-
ção Permanente (APP) representadas pelas extensões marginais do córre-
go Banda Alta e das grotas de curso intermitente. A Reserva Legal ainda
não foi averbada, mas corresponde a 20,85% do assentamento, ou seja,
490,4207 hectares, estando, portanto, em conformidade com a legislação
ambiental (Código Florestal art. 1º, III) em vigor. As Áreas de Preserva-
ção Permanente (APP) somam 236,7661 ha, sendo 110,0321 ha de várzea,
12,5412 ha confrontante a Reserva Legal e 122,4771 no interior dos lotes.
Apenas 15 lotes não possuem APP.
A partir das 70 entrevistas com responsáveis por lotes do assenta-
mento, constatou-se uma população residente de 226 pessoas, perfazen-

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do uma média de 3,23 pessoas por moradia. Em relação ao gênero, são


57,52% do sexo masculino e 42,48% do sexo feminino. A maioria masculi-
na é explicada pela quantidade de lotes com uma só pessoa, muitas vezes
um caseiro (19 lotes, totalizando 27% das entrevistas realizadas). Quanto à
origem, a maioria das pessoas sempre morou na zona rural (64,29%) sendo
mais da metade oriundos da própria região: Corumbá e Ladário, incluin-
do os pantanais da Nhecolândia, do Paiaguás e os ribeirinhos em geral. Ao
completar 11 anos de existência, o assentamento conserva somente 60%
dos primeiros assentados, demonstrando uma lógica de T-D-R (Territoria-
lização-Desterritorialização-Reterritorialização) até certo ponto acentua-
da, pois o mesmo ainda não foi emancipado – os proprietários ainda não
foram titulados. Predomina a população adulta (entre 20 e 60 anos) e a
população jovem representa somente 37%, sendo que a idosa (mais de 60
anos) não chega a compor 13% da população residente (Figura 2).

Figura 2 – População residente por classes de idade no Assentamento 72.


Fonte: Trabalho de campo, março/abril de 2010.

Em relação ao nível de escolaridade, observa-se uma população di-


versa. A maioria (45,50%) possui apenas o nível das séries iniciais (1ª a 5ª
série da Educação Básica) completa ou incompleta. Vale ressaltar a presen-
ça de 13,50% de pessoas analfabetas, correspondendo a percentuais acima
da média brasileira, sul-mato-grossense e ladarense. Na outra direção, me-
nos de 5% possuem nível superior completo ou incompleto (Figura 3).
Se excluirmos as crianças que não estão em idade escolar, cerca de
40% das pessoas freqüentam a escola. São dados significativos para o pro-
cesso de planejamento territorial, cuja quantidade de analfabetos precisa
ser diminuída radicalmente ou eliminada na sua totalidade, pois em con-
formidade com Sen (2000), o cerceamento de liberdades sociais e culturais
pode inibir outras liberdades individuais e/ou do grupo.

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Os assentados moram em casas de alvenaria, construídas com re-


cursos vindos do INCRA, mas que foram mal aplicados na visão dos entre-
vistados mais antigos do local. Foi um técnico do governo estadual quem
comprou os materiais e deixou no local da construção, cabendo ao assen-
tado providenciar os trabalhos de levantamento da obra. Pelos relatos po-
demos observar que o dinheiro era liberado atrelado à determinada quali-
dade e quantidade de material e com fornecedores previamente indicados.
Dessa forma os assentados não puderam escolher o tipo de material, nem
mesmo o quantitativo, resultando em desperdício de alguns e falta de ou-
tros, como foi possível constatar em vários lotes.

Figura 3 – População residente, por nível de escolaridade, no Assentamento 72.


Fonte: Trabalho de campo, março/abril de 2010.

Perguntamos aos assentados qual seria a renda familiar e obtive-


mos uma média de 760 reais, portanto o equivalente a aproximadamente
1,5 salários mínimos (9 pessoas não quiseram responder). As diferenças
de rendimentos informadas são, até certo ponto, elevadas. O maior valor
informado foi de 5.000 reais e o menor de 150 reais. No primeiro caso,
trata-se de um aposentado que comprou os direitos do lote para viver no
campo, não tirando sua renda da própria terra. No segundo, uma famí-
lia que sobrevive apenas com o que produz. Duas outras famílias infor-
maram uma renda de 2.000 reais e oito entrevistados disseram possuir
renda entre 200 e 300 reais. Observou-se que cerca de 20% das proprie-
dades sobrevive com algum tipo de ajuda governamental: bolsa família
ou bolsa escola.
Os principais cultivos agrícolas não apresentam um caráter pro-
priamente comercial e a escala produtiva está ligada diretamente à ca-
rência de água para irrigação, pois os níveis e a sazonalidade das chuvas

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são fortes limitadores. Os mais cultivados são abóbora e milho, seguidos


por mandioca e cana. Laranja, acerola, hortaliças, banana, romã, man-
ga, batata doce, feijão, ata, quiabo, vassourinha e melão foram mencio-
nados apenas uma vez.
A principal atividade produtiva está relacionada à pecuária bovina,
presente na maioria dos lotes (82%). Contudo, não é possível a criação de
um rebanho volumoso, pois existe o fator água como limitante. A maioria
é de corte, mas existem alguns assentados que produzem leite para comer-
cialização. Não estão associados a nenhum laticínio e a venda na cidade de
Ladário ocorre de forma clandestina. O leite é embalado em garrafas pet e
depois congelado, sendo entregue nas residências com uso de motos ou em
carroças puxadas por cavalos.
A venda de produtos diretamente na cidade é a principal forma de
comercialização do assentamento (50%), seguido da venda no próprio
local (22%) e outros arranjos comerciais (28%, envolvendo atravessado-
res, busca direta do comprador e outros). Não podemos esquecer que
a produção excedente é escassa induzindo a acreditar que a realização
do trabalho acessório ou a pluriatividade fossem significativos. Contudo
isso não se confirmou. Cerca de 30% dos entrevistados informaram que
pelo menos um membro da família trabalha fora da propriedade para
ajudar na composição da renda, sendo freqüente em mais de 75% desses.
Entendemos que esse índice poderia ser maior não fosse a pressão que
o INCRA executa sobre eles para que não realizem o trabalho acessório
ou não-agrícola. Somos contrários a essa posição do Órgão, desde que o
trabalho acessório ou não-agrícola não inviabilize a produção na parcela
do assentamento.

Figura 4 – Principais problemas na percepção dos moradores do Assentamento 72.


Fonte: Trabalho de campo, março/abril de 2010.

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A ajuda mútua não é muito presente no local. Apenas 20% dos en-
trevistados afirmaram praticar a troca de dias ou mutirões entre os assen-
tados, denotando uma forte individualização, a ponto de 10% das pessoas
não admitirem o trabalho em grupo. Trata-se de uma condição preocupan-
te para o desenvolvimento territorial nos moldes que estamos propondo
que tem força na solidariedade entre os assentados.
Em termos de equipamentos sociais o assentamento possui um Cen-
tro de Atendimento Múltiplo construído em 2005, com duas salas, um sa-
lão de múltiplo uso, dois banheiros, copa/cozinha e uma dispensa em boas
condições de conservação. No local são realizadas reuniões e quinzenal-
mente deveria ocorrer atendimento médico, que não tem sido efetuado
pela falta de profissionais no quadro da Prefeitura. O assentamento é ser-
vido por uma escola comunitária, construída pelo Governo do Estado, com
dois prédios. O menor possui duas salas de aula e o maior conforma-se
como um amplo salão onde são realizadas reuniões da Associação dos Pe-
quenos Produtores além de atividades educacionais. A escola atende so-
mente alunos do assentamento nas séries iniciais e finais do ensino funda-
mental. O acesso é facilitado pelo transporte escolar municipal que passa
pelas principais vias que cortam o assentamento.
Os assentados se organizaram economicamente, desde o início,
numa entidade denominada Associação dos Pequenos Produtores Rurais
do Assentamento 72, visando o fortalecimento do grupo, que deveria rea-
lizar reuniões ordinárias mensais com pauta variada para apreciação e to-
mada de decisões. Nos últimos tempos as reuniões têm ocorrido de forma
irregular em função das disputas por poder e descrença da situação dos as-
sentados. Essas condições mostram o assentamento como palco de dispu-
tas pelo poder estabelecido pelas relações sociais. Ilustram ainda o caráter
uno e múltiplo da apropriação do espaço individual e coletivo.
A associação possui bens de uso coletivo como um trator para auxi-
liá-los nas atividades do campo. Contudo, é preciso pagar uma taxa para
alugá-lo e arcar com o custo do combustível e deste modo, poucos o utili-
zam. Também contam com implementos agrícolas, como arado, grade, re-
boque (carreta puxada pelo trator) e roçadeira.
As estradas internas se mostram em regular estado de conservação.
Alguns locais apresentam pontos de alagamento na época das chuvas (ve-
rão), notadamente nos pequenos leitos de cursos fluviais intermitentes
(grotas) que passam nas terras do assentamento. Em alguns casos, obser-
va-se forma erosiva, prejudicando o tráfego de veículos e até dos morado-
res, inviabilizando o escoamento da produção.
Outro grande problema é a carência de assistência técnica. Em 2007
e 2008, a AGRAER começou um trabalho no assentamento através de uma
parceria com a Prefeitura Municipal de Ladário, porém o contrato encer-
rou e não foi renovado. Essa ausência implica na impossibilidade de ela-

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borar projetos de custeio agrícola, de reforma das pastagens e de captação


de recursos para o assentamento, haja vista a inexistência de pessoal qua-
lificado para tal empreitada entre os assentados.
Impressiona a “revolta” frente à ausência de apoio governamental.
Quando perguntados sobre o que Estado e/ou a Prefeitura Municipal ofere-
ce como apoio à sua produção, a grande maioria (87,14%) afirma: “nada”.
Evidentemente a prefeitura municipal e o Estado, de alguma forma, aju-
dam na manutenção do assentamento. O que chama atenção é essa de-
monstração de negação. Isso certamente está ligado à intensidade do apoio
desejado, ao descompasso entre o oferecido e o necessitado pelos assenta-
dos. Apenas sete assentados reconheceram a ajuda da Prefeitura Munici-
pal no oferecimento de óleo para o trator da associação para o preparo do
solo, um lembrou-se da infraestrutura com manutenção das estradas e ou-
tro do apoio na elaboração de projetos.
Em nossa pesquisa (2010), confirmamos outras informações já le-
vantadas no assentamento. Quando perguntamos quais os dois maiores
problemas enfrentados no local, mais de 90% dos entrevistados apontaram
a água e quase 50% indicou a carência relacionada à qualidade e manuten-
ção das estradas (Figura 4). Também foram mencionadas outras necessi-
dades como saúde, falta de apoio governamental e efetividade do sistema
de transportes (ligação do assentamento à cidade).
Na oficina de trabalhos para elaboração do Plano Diretor Munici-
pal, realizada em Julho de 2008, as principais reclamações foram relativas
à falta de água e do atendimento de saúde. Também foram mencionados:
saneamento básico (falta de água tratada e canalizada); micro-indústria
para pasteurizar e embalar o leite; escola de ensino fundamental e médio
com biblioteca e área de lazer; manutenção de estradas; telefone público
em local estratégico; alvará para abertura de comércios (açougue); melho-
ria do meio de transporte para os alunos; salas de informática; posto poli-
cial; transporte coletivo diário; horta comunitária; parceria com a prefeitu-
ra para a produção agrícola; veterinário que ofereça assistência (pecuária);
equipamento agrícola; curral coletivo com brete e embarcador e balança.
Em novembro de 2009, na reunião do Projeto Prefeito Cidadão, as
reivindicações foram conduzidas em diferentes grupos. O grupo em torno
da produção de ovinos indicou que não tem onde abater e vender a produ-
ção, não possuindo certificado da vigilância sanitária, selo de qualidade, e
sequer um técnico agrícola. O grupo da apicultura apontou a falta de pro-
jetos, de assistência técnica e capacitação da mão de obra para essa ativi-
dade. Os funcionários e alunos da escola destacaram a necessidade de cria-
ção de espaços para lazer e atividades de educação física, a necessidade de
piso (a escola está no contrapiso), geladeira, refeitório, horta comunitária,
telefone público e os vários equipamentos de aula, além da carência de
abrigos para os alunos nos pontos de ônibus escolar. O sindicato rural soli-

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citou espaço físico para seu funcionamento, pois não estava fazendo aten-
dimento ao público devido a esta carência. O conjunto maior de reivindi-
cações foi apresentado pela Associação dos Produtores Rurais, levantando
uma série de necessidades: água para consumo e produção; cobertura no
pátio da escola – pois as crianças fazem educação física no sol; cobertura
nos pontos de ônibus; áreas de lazer; salas de aula e escola para adultos;
segurança na associação, na escola e na pedreira; policiamento nas estra-
das; cuidados com a reserva e com os poços; sinalização; agentes comuni-
tários de saúde, médico e dentista; ambulância; escoamento da produção,
selo de qualidade e um conselho da área rural; assistência para o desenvol-
vimento da apicultura, avicultura, caprinocultura, horticultura, ovinocul-
tura, suinocultura, bem como para a pecuária de corte e leiteira; incentivo
agropecuário (afirmaram estar cansados de iniciar cursos que não tiveram
continuidade) e dificuldades de deslocamento para a cidade.
Essas condições demonstram os limites do assentamento ao desen-
volvimento rural sustentável, mas também apontam os caminhos de en-
frentamento a serem trilhados. O desenvolvimento territorial local parte
dessas problemáticas, mas precisa carrear e ser carreado pela comunida-
de, a partir de uma coesão socioterritorial que ainda não está presente. As
instituições de pesquisa e de governo precisam apoiar e incentivar essa ne-
cessidade de convivência em grupo, já que foi vislumbrada uma série de
carências promotoras de privação de liberdades que precisam ser elimina-
das em favor da qualidade de vida. É preciso que o assentado entenda que
atuando em grupo será mais forte política, social e economicamente. Terá
condições de negociar sua produção com a garantia do grupo. Esse empo-
deramento conduz ao desenvolvimento rural sustentável.

A concepção de desenvolvimento territorial assumida


O território rural não é um simples espaço físico, mas fundamental-
mente um espaço complexo, com variadas formas, diversificados arranjos
e ilimitada interatividade escalar. É preciso superar a compreensão de que
as atividades nele desenvolvidas sejam limitadas a ele mesmo. Nesse perío-
do técnico científico-informacional tanto as atividades rurais são desenvol-
vidas parcialmente por citadinos como os rurais se empregam, nos tempos
livres, nas atividades urbanas. A pluriatividade não significa o abandono
da vida rural, ao contrário, muitas vezes representa uma condição para
que as famílias rurais permaneçam no campo. Como a atividade agrícola
possui elevados riscos (causas naturais, econômicas, ideológicas etc.), a as-
sociação com atividades não-agrícolas oportuniza um ganho a mais para
a família rural. Isso não deve ser entendido como uma defesa ou endeusa-
mento da pluriatividade como uma espécie de panacéia para os agriculto-
res familiares, senão como mais uma oportunidade.

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Balsadi (2001, p.157) afirma que “O meio rural deixou de ser sinô-
nimo de agrícola e passou a ser o local de atividades que eram tipicamente
urbanas”. Há, sem dúvida, um exagero nessa afirmativa, apesar da ine-
gável coexistência de atividades econômicas múltiplas. Já alertamos em
Costa (2004) que atividades urbanas quando realizadas no espaço rural se
revestem de especificidades, assumindo feições/manifestações próprias da-
quele ambiente. É fato, porém, que a unidade de análise do rural não pode
mais se restringir somente a agricultura, mas também a outras atividades
econômicas; não apenas em escala local e regional, mas também nacional
e mesmo internacional. O território rural possui um conjunto de relações
sociais que dão origem e ao mesmo tempo expressam uma identidade lo-
cal e regional compartilhados por múltiplos atores – é um espaço dinâmico
que reflete relações sociais de interdependência, afetando no processo de
gestão de políticas públicas e prioridades de investimento.
A abordagem territorial para o desenvolvimento rural no Brasil ini-
ciou, conforme Tartaruga (2008), somente no principiar do século XXI,
com a criação da Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT), no âm-
bito do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), com a criação do
Programa de Territórios Rurais, inspirado nos modelos europeus do pro-
grama LEADER (Liaisons Entre Actions de Développement de l’Economie
Rurale). Já criticamos essa proposta de suposta autogestão em Costa (2006)
por entender, dentre outros elementos, que a proposta conceitual de terri-
tório estava sendo empregada de forma equivocada. Neste momento refor-
çamos nossas proposições naquele trabalho e passamos a defender que o
maior problema estava na escala considerada para o território. Creditamos
a eficácia de políticas de baixo para cima em pequenas escalas geográficas
e na presença constante de um “animador territorial” que tanto pode ser
um agente do governo, da universidade ou de uma ONG.
A escala pequena se justifica pela relativa diminuição dos conflitos
pelo poder. Serão menos intensas as tensões produzidas pelas relações de
poder de um assentamento rural que de um conjunto desses numa escala
regional. O “animador territorial” é um agente que apóia nas ações terri-
toriais, que ajuda nas articulações, que elabora projetos, avalia e discu-
te avanços e retrocessos. É, ao mesmo tempo, conselheiro e conciliador,
tendo o respeito de todos ou pelo menos da maioria dos locais. É essa fi-
gura quem incentiva o empoderamento do grupo e, talvez por participar
das etapas fundamentais de desenvolvimento local, sua ausência ou retira-
da constantemente inibe a segurança dos grupos sociais envolvidos. Per-
cebemos essas condições em outros assentamentos rurais estudados (no
municípios­ de Terenos, Dois Irmãos do Buriti e em Nioaque, Estado de
Mato Grosso do Sul).
Portanto, a visão de planejamento do desenvolvimento rural voltada
para o território resulta na necessidade de articulação com as prefeituras/

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universidades/Ongs, contemplando a formação de parcerias, de modo a


viabilizar o alcance de objetivos maiores das políticas públicas para o meio
rural, potencializando resultados e reduzindo desperdícios vinculados à
superposição e à dispersão de esforços. A abordagem territorial pela E-P-
C-N permite uma análise integral do espaço tornado território/territórios
de modo a atacar as fragilidades constituídas e estimular as liberdades ca-
pazes de alavancar outras liberdades.
O desenvolvimento rural precisa superar as dicotomias entre o mo-
derno e o atrasado, circular dinâmica e solidariamente através de redes so-
ciais e vínculos institucionais que operem com flexibilidade e transparên-
cia, enriquecidas com normas e valores de confiança cidadã, que facilitem a
construção de parcerias entre os diferentes atores. Isso possibilita a constru-
ção de um consenso dialógico (comunicativo), na medida em que mobiliza
os atores em torno de objetivos comuns ao processamento dos conflitos, me-
lhorando a qualidade da participação social (ACSELRAD; LEROY, 1999).
Para estabelecer o desenvolvimento num assentamento rural é ne-
cessário um conjunto de diretrizes, estratégias e compromissos referentes
às ações que deverão ser implantadas no território, resultante de consen-
sos compartilhados/compartidos entre os atores sociais e o Estado, nas to-
madas de decisões no processo de planejamento participativo. Contudo, as
negociações precisam ser conduzidas pelos assentados na estruturação de
suas vontades e potencialização de suas virtudes. O desenvolvimento deve
ser proposto de baixo para cima, ou seja, a partir da localidade e pelos lo-
cais. Daí a importância da participação.
O desenvolvimento territorial (por natureza sustentável) pensado na
escala de um assentamento rural deve ser a expressão do processo de em-
poderamento da comunidade local, materializando formas que denotem a
melhoria da qualidade de suas vidas. É, pois, o resultado – a expressão – do
planejamento coletivo, compartilhado entre os atores sociais locais torna-
dos protagonistas do seu futuro e os agentes da produção do espaço – ins-
tituições, empresas.
Partindo do pressuposto de que o objetivo do planejamento para
o desenvolvimento é o ambiente vivido, compartilhado/compartido pelas
pessoas, as motivações e características dos planos precisam partir daque-
les diretamente interessados. A vida ocorre no local e para lá é que devem
ser canalizados os esforços de planejamento. Acontece que, na maioria das
vezes, o local não dispõe de pessoal qualificado para elaborar projetos a
fim de buscar recursos. Dessa forma, é preciso estabelecer parcerias para
se elaborar caminhos para o desenvolvimento.
Para Martins (2002) o desenvolvimento é, antes de tudo, uma postura
atrelada à sentimentalidade, implicando, pois, pensá-lo na escala humana.
Concebemos em Costa (2004) o desenvolvimento local como uma derivação
do desenvolvimento sustentável, já que o próprio termo desenvolvimento

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contém a sustentabilidade cuja acepção é mais possível no local. Por isso,


assumimos definitivamente a concepção de Sen (2000) entendendo o desen-
volvimento como a potencialização de liberdades indivi­duais e coletivas.
Assim, não é possível pensar o desenvolvimento sem que exista par-
ticipação do grupo em todas as etapas do processo: concepção, estrutura-
ção, experimentação, ajustamento e conquista dos objetivos. Couto Rosa
(1999, p.10) aponta que

O desenvolvimento local sustentável, compreendido como um espaço di-


nâmico de ações locais, bem sucedidas, determinadas por metodologias de
descentralização e pela participação comunitária, é que constroi as bases
para o desenvolvimento rural efetivo, constituindo-se como uma estratégia
de redefinição do desenvolvimento local.

A participação popular não significa comparecer nas reuniões con-


vocadas para discutir o planejamento. Vários planos de desenvolvimento
rural foram postos em funcionamento a partir da exposição de argumentos
técnicos de funcionários das várias escalas governamentais e do debate em
oficinas, com participação dos agricultores (vide as proposições dos terri-
tórios rurais do Mato Grosso do Sul). O suposto debate não significou par-
ticipação popular. Para Tavares (2004) a legítima participação é verificada

[...] quando a população contribui, influi e usufrui de formações efetivas e di-


retas na construção e transformação de sua realidade através de ações organi-
zadas. Isto indica que não podemos discutir o meio ambiente e o desenvolvi-
mento sem discutirmos a ação política e a distribuição do poder de decisão.

Em suma, Tavares (2004) aponta que a democracia participativa


deve ser encarada como um complemento das políticas públicas tecnica-
mente bem elaboradas. Verdadeiramente, uma condição para o desenvol-
vimento rural sustentável. Talvez a principal questão por trás dos planos
de desenvolvimento rural instituídos tenha sido o forte apego ideológico
por trás dos mesmos: uma forte carga de concepções político-ideológicas é
inibidora das vontades locais.
As propostas de desenvolvimento não podem ser empurradas de
“cima para baixo”, ou seja, das esferas governamentais para as popula-
ções locais. Evidentemente é salutar, numa perfeita engrenagem territo-
rial, que o local esteja articulado com as demais escalas territoriais. Contu-
do, não se pode exigir do local aquilo que não lhe é específico. Nos dizeres
de Callou (2006, p.3):

[...] é preciso que cada território descubra as suas potencialidades econômi-


cas para, de per si, desenvolver-se. Condição que exige um esforço coletivo dos
diversos atores sociais presentes nesses territórios. Evidentemente que o Es-
tado, diante das frágeis condições de organização social, particularmente nos
contextos populares rurais, não se afastará de imediato desses processos.

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A formação profissional é um dos principais componentes estraté-


gicos para a implementação de uma política de desenvolvimento local efi-
ciente. Para isso o Estado deve assumir o papel de animador do desenvol-
vimento local, de maneira a mobilizar os atores sociais a desenvolverem
as habilidades e competências necessárias para a implementação de me-
lhorias no campo. Acreditamos que na ausência do Estado ou em parceria
com o mesmo, esse terreno é um campo fértil para as pesquisas acadêmi-
cas apoiarem as iniciativas locais a descobrirem suas reais vocações e con-
quista de liberdades estratégicas.

Primeiros resultados e perspectivas futuras


Identificamos seguramente que a grande dificuldade técnica de pro-
dução no assentamento 72 é a carência de água. Mas certamente não é a
única, nem tampouco a mais significativa. O fato de muitos dos assentados
estarem há dez anos nessas condições de dependência das políticas públi-
cas, sem protagonismo social – apesar da existência de uma associação
– indica que as maiores dificuldades estão na articulação territorial, com
reflexos na identidade com o território, somadas a uma expressiva baixa
na autoestima do grupo.
Dessa forma, precisamos entender o assentamento como um siste-
ma complexo com múltiplas identificações políticas e culturais, com diver-
sas formas de arranjo sócioespacial e a singularidade da relativa estagnação
produtiva. Um espaço dotado de vários territórios que tensionam a unidade
territorial sem uma clareza de objetivos, de ideais. Um território multitem-
poral, com predomínio de tempos lentos e territorialidades enfraquecidas
do ponto de vista do alcance geográfico. Território pressupõe limites e re-
lações de poder. Sua formação se dá por e a partir destas relações (Souza,
1995). São as territorialidades que formam o território a partir dos embates
dos componentes do sistema territorial resultando numa paisagem que é o
arranjo vislumbrado pelas tensões num dado espaço tornado território.
Assim entendido – e sabendo das dificuldades de articulação territo-
rial, de desânimo em torno do coletivo, de descrença na associação e nas
várias esferas de governo – é que nos propusemos a ajudar o assentamento
a desenvolver liberdades criativas, partindo de suas potencialidades e dos
saberes tradicionais adquiridos para atacar diretamente as fragilidades re-
conhecidas, estimulando sua superação.
Outro ponto a ser mencionado é o fato de não acreditarmos que a
agricultura familiar tenha nas facilidades para obtenção de créditos condi-
ção sine qua non de desenvolvimento. Na prática tem sido o contrário: a con-
cessão de créditos tem funcionado como potente força desterritorializante.
Logicamente que existem exceções, mas grande parte desses agricultores, ao
contraírem crédito, não têm condições de pagar por eles e como consequên­

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Principiar do desenvolvimento territorial no
assentamento rural 72, em Ladário-MS, Brasil

cia acabam perdendo a terra. Além disso, a destinação de parte da produ-


ção para pagar os juros tira desse produtor importante fatia para ajudar na
melhoria de sua qualidade de vida. Logo, a busca de créditos para apoiar o
assentamento foi imediatamente descartada nesta experiência.
Contudo, isso não significa abrir mão da busca por recursos, que
são extremamente necessários, especialmente para criar equipamentos es-
truturantes, como é o caso de poços artesianos. Mas é preciso que seja re-
curso a fundo perdido, isto é, que o assentado não tenha que devolver o
dinheiro, mas ofereça em contrapartida um comprometimento ambiental.
No caso específico do assentamento 72, a contrapartida sugerida foi que
os agricultores apoiassem na proteção da baía Negra – importante exten-
são de água, de marcante característica pantaneira que tem contato com o
rio Paraguai e que margeia os lotes da borda meridional do assentamento.
Acreditamos que dotar o local de infraestrutura produtiva, tendo os agri-
cultores como parceiros é mais econômico e eficaz que lançar mão de um
complexo sistema de policiamento ambiental.
Por isso, entendemos que a principal liberdade a ser buscada é a
econômica, pela capacidade de refletir muito rapidamente sobre as demais
liberdades. Dessa forma procuramos possíveis parceiros comerciais e per-
cebemos que a Marinha do Brasil (através do 6º Distrito Naval, sediado na
cidade de Ladário-MS) tem imensa necessidade de hortaliças que são com-
pradas de produtores localizados fora do estado do Mato Grosso do Sul
(São Paulo e Paraná). Se existirem alternativas comerciais próximas, a Ma-
rinha assume o compromisso de compra. Outros parceiros próximos po-
dem ser a Prefeitura Municipal e o governo estadual, que devido ao Progra-
ma Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), tem a obrigação de adquirir
30% dos alimentos destinados à merenda escolar da agricultura familiar.
Essa possibilidade vai de encontro com a intencionalidade produtiva
de 40% dos entrevistados que afirmaram, espontaneamente, o interesse em
produzir hortaliças para comercialização. Quando estimulados e questiona-
dos sobre a possibilidade de fornecer toda a produção para a Marinha e a
Prefeitura Municipal no caso de um acordo estabelecido, a resposta veio po-
sitivamente em quase 95% dos entrevistados. Partindo do princípio que uma
das principais dificuldades para o desenvolvimento rural é a comercialização
da produção, e acrescido o fato dos produtores estarem trabalhando com o
que desejam, acreditamos que o cultivo de hortaliças pode ser uma das alter-
nativas para alavancar o desenvolvimento territorial do assentamento. Exis-
tem ainda outras pequenas produções a serem impulsionadas para diversifi-
cação e complementaridade da renda, como o caso da criação de carneiros,
apicultura (ainda bastante modesta) e doces. A grande questão é: como resol-
ver a falta de água para as atividades produtivas do assentamento 72?
Essa pergunta é certamente uma das grandes dificuldades a ser su-
perada. Acreditando na impraticabilidade dos financiamentos ao peque-

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Edgar Aparecido da Costa | Suelen Soares Zarate | Hudson de Azevedo Macedo

no agricultor e constatando que a Prefeitura Municipal não tem recursos


suficientes para atender tal demanda, entendemos que a elaboração de
projetos para captação de recurso a fundo perdido é a única possibilidade
para a realidade local. Sendo assim, partindo do mapeamento do interesse
imediato no cultivo de hortaliças, considerando ainda a declividade (ape-
sar de baixa), a presença de grotas e o saber local (moradores mais antigos
do assentamento), elaboramos um mapa temático indicando possíveis lo-
cais mais apropriados para a instalação de poços artesianos (Figura 5). O
mapa é, portanto o carro chefe da elaboração do projeto visando recursos
para construção dos poços artesianos ilustrando a espacialização do aten-
dimento e otimização dos recursos.
O projeto que estamos elaborando de forma participativa para uso
da associação (em fase de finalização) contém, além do mapa, a indicação
da contrapartida dos assentados em apoiar e desenvolver iniciativas de
conservação da baia Negra e de tentativa de recuperação das antigas dre-
nagens das grotas. Além disso, assume-se um compromisso com a agroe-
cologia entendida não apenas como uma forma de agricultura que faz bem
ao ser humano e ao ambiente, mas sim uma ciência, uma prática, uma
opção por uma vida mais saudável, livre dos agrotóxicos e das multinacio-
nais controladoras do agromundial. Vale destacar que são comuns as inter-
pretações que vinculam a agroecologia a “uma produção agrícola”, “uma
vida mais saudável”, “uma forma de trabalhar preservando o ambiente”,
“tirar alimentos da terra sem esgotar os recursos naturais”, “uma agricul-
tura que não destrói o meio ambiente” (ALTIERI, 2001; CAPORAL e COS-
TABEBER, 2001; GLIESSMAN, 2000).
Outra questão surgiu em sequência à primeira: como e para quem
“vender” o projeto? Assim, tínhamos que identificar possíveis investidores
e uma maneira para “oferecer” o projeto. A primeira parte foi mais fácil,
bastando listar os grandes empreendimentos com atuação global/local (as
mineradoras Vale, Grupo Votorantim, MMX e Vetorial; de armazenamento
e transporte, como a Granel Química e outras), ONGs com perfil de apoia-
doras dessas iniciativas (WWF e ECOA – Ecologia e Ação), o SEBRAE, a
Prefeitura Municipal, o governo do Estado, Marinha do Brasil (6º Distrito
Naval). A outra e mais importante parte demanda forte estratégia de sedu-
ção. Durante conversa com o presidente do sindicato rural local e alguns
professores da UFMS participantes do projeto surgiu a ideia de uma festa.
A finalidade dela será identificar quais saberes locais possuem potenciali-
dade para se transformarem num produto culinário associado à imagem
do assentamento – num produto da identidade territorial do 72 de modo
a ser traduzido em futura(s) festa(s). Assim, os convidados para avaliação
serão as pessoas ligadas ao poder decisório dessas empresas/instituições e
nessa ocasião será “vendido” o projeto. Ou seja, na festa para identificação
de possíveis festas se “venderá” o projeto.

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Principiar do desenvolvimento territorial no
assentamento rural 72, em Ladário-MS, Brasil

Figura 5 – Indicação de poços artesianos para o assentamento 72, Ladário-MS.


Autor: MACEDO, H.A., 2010.

A festa servirá também como elemento de reaproximação dos as-


sentados frente a sua associação. Acredita-se que as motivações dali ad-
vindas poderão canalizar novos elementos de solidariedade, caminhando
na direção de uma coesão territorial. Também, está sendo considerada a
primeira etapa da realização dos cursos de capacitação em associativismo/
cooperativismo e de liderança oferecidos pelo SEBRAE, necessários para
a formulação de um pacto territorial de atendimento à demanda pela pro-
dução de hortaliças.
Enfim, são as primeiras reflexões sobre os impulsos ao desenvolvi-
mento territorial rural a partir de um grupo de pesquisadores da Universi-
dade Federal de Mato Grosso do Sul, num espaço delimitado, de pequena
escala geográfica, em condições de grandes dificuldades de sobrevivência
no campo. Como se trata de uma pesquisa-ação, as condições geradas a
partir das tentativas listadas serão posteriormente divulgadas, indicando
os erros e acertos, além da crítica sobre os possíveis equívocos cometidos.
Ademais, a experiência de “animador territorial” tem sido profícua e per-

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Edgar Aparecido da Costa | Suelen Soares Zarate | Hudson de Azevedo Macedo

mitida incorporação de novos conhecimentos para o pesquisador e novas


perspectivas para o grupo de assentados do 72.

Conclusões
O desenvolvimento rural sustentável não pode ser visto somente na
teoria. Uma vez assumido por uma comunidade deve se tornar uma pos-
tura, uma condição de permanente busca pela melhoria da qualidade de
vida. A pesquisa apontou a existência de grandes carências no Assenta-
mento 72, uma ausência continuada de assistência técnica, falta de água
para abastecer os sistemas produtivos e ausência de coesão social do gru-
po de moradores locais. Das famílias assentadas inicialmente, algumas já
venderam ou transferiram os lotes para terceiros, sendo que os novos re-
assentados aguardam o cadastramento pelo INCRA para a regularização
de sua situação.
Finalmente, cabe observar que os assentamentos não podem ser
deixados à própria sorte, devendo as instituições de pesquisa e/ou go-
vernamentais estimularem iniciativas locais para empoderamento e au-
togestão pelos assentados dos seus territórios. Acreditamos que a pro-
posição do desenvolvimento rural é mais efetiva em pequenas escalas
geográficas (como as dos assentamentos rurais) e que carecem de um
“animador territorial” como estímulo e apoio nas mais diversas neces-
sidades. A experimentação do desenvolvimento deve ser permeada das
peculiaridades locais, de modo a ser constantemente avaliada, modifi-
cada, renovada, objetivando melhorar as condições de vida das pessoas
do grupo.

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O papel da extensão universitária no
desenvolvimento territorial: as experiências
no programa universidade sem fronteiras na
unespar/fecilcam

Áurea Andrade Viana de Andrade


Universidade Estadual do Paraná – Campus de Campo Mourão /Fecilcam –
Programa de Pós-graduação em Geografia UEM – Bolsista da Fundação Araucária
| aureavgeo@yahoo.com.br

Dirce Bortotti Salvadori


Universidade Estadual do Paraná – Campus de Campo Mourão /Fecilcam |
dbsalvadori@hotmail.com

Nair Glória Massoquim


Universidade Estadual do Paraná – Campus de Campo Mourão /Fecilcam |
nmassoquim@usp.br

Introdução
As céleres transformações que ocorrem no mundo e no Brasil nos
últimos anos têm contribuído para repensar o caminhar do Ensino Supe-
rior e da Ciência e Tecnologia. Essas transformações são resultantes da
mundialização, que Santos (2008) denomina de “perversa”, pois estaria
provocando constante “concentração e centralização da economia e do po-
der público, cultura de massa, cientifização da burocracia, centralização
agravada das decisões e da informação”, o que, por sua vez, estaria levando
ao acirramento das desigualdades entre países, regiões, bem como entre as
classes sociais. Neste sentido, fica evidente a relação entre sociedade glo-
bal e crise global. Assim, é “compreensível, mas lamentável, que esse movi-
mento geral tenha atingido a própria atividade científica”, neste caso, em
especial, as pesquisas realizadas nas universidades. Estas, por outro lado,
mesmo atingidas pela crise, não deixaram de desempenhar um importante
papel no desenvolvimento territorial, por meio da produção de conheci-
mento e transferência de tecnologia para a sociedade brasileira.
Esse desenvolvimento se dá a partir do ensino, da pesquisa e da ex-
tensão, e, embora esta última tenha ficado à margem por algum tempo,
hoje se encontra mais em evidência. Consideramos que as universidades
servem para prestar serviços à sociedade, mas também desempenham um

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O papel da extensão universitária no desenvolvimento territorial:
as experiências no programa universidade sem fronteiras na UNESPAR/fecilcam

papel importante nas relações produtivas, especialmente num momento


em que as inovações assumem papel fundamental no desenvolvimento dos
territórios e são cruciais para o desenvolvimento regional. Contudo, isso só
é possível com a articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão.
Esse tripé que dá sustentação ao Ensino Superior é muito citado
em praticamente todos os projetos de universidade no Brasil, Embora seja
comum haver uma maior compreensão da função do ensino e da pesqui-
sa, a da extensão já não é tão clara e, muitas vezes, é confundida com a
simples prestação de serviços ou mesmo com as práticas sociais de cará-
ter compensatório e/ou assistencialista. Também é comum entender que
quem deve ter ensino, pesquisa e extensão são as instituições de ensino
superior organizadas na forma de Universidade, cabendo às faculdades
isoladas apenas o ensino.
Nos últimos dez anos este paradigma vem lentamente se modifican-
do, pois já não se compreende o ensino sem a pesquisa e a extensão, mes-
mo nas faculdades isoladas. Exemplo disso tem se verificado no Estado
do Paraná com o programa Universidade Sem Fronteiras – USF, que tem
como objetivo a reafirmação do compromisso social e ação humanista da
universidade.
Este capítulo tece algumas considerações sobre a extensão universi-
tária no contexto territorial brasileiro e o Programa Universidade Sem Fron-
teiras como política pública de desenvolvimento territorial, como também
abordaremos algumas de nossas experiências na Universidade Estadual do
Paraná – UNESPAR, Campus de Campo Mourão. Salientamos especialmen-
te as experiências do projeto “Educação como Prática Social”, o qual foi im-
plantado no município de Corumbataí do Sul – PR, tendo início no ano de
2007 e término em 2009. Para o encaminhamento metodológico do Proje-
to aplicou-se o método da pesquisa-ação, tomando como referência Michel
Thiollent, e a coleta de dados empíricos foi feita em trabalhos de campo e
em órgãos públicos (Emater, IBGE, IPARDES e Prefeitura Municipal). Do
mesmo modo trataremos do Projeto “Educação, Formação Técnico/Pedagó-
gico da Fruticultura nos Assentamentos da Microrregião de Campo Mourão
– EDUFRUTI” no município de Barbosa Ferraz – PR (conforme mapa 1).
Este projeto está em andamento com ações mais efetivas nos pré-assenta-
mentos Irmã Dorothy e Nossa Senhora do Carmo. Para o procedimento des-
se projeto utilizamos o método adaptado de Paulo Freire para a mediação
nas territorialidades, e para as orientações do Zoneamento da fruticultura
utilizamos a metodologia do IAPAR e da tese de Massoquim (2010).
Resultados preliminares indicam que os trabalhos de extensão,
quando conduzidos a partir de uma relação integrada com a comunidade,
com respeito a seus valores, identidades e individualidades e na perspec-
tiva de interatividade e liberdade de ações, promovem efeitos expressivos
nas relações sociais.

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Áurea Andrade Viana de Andrade | Dirce Bortotti Salvadori |
Nair Glória Massoquim

Mapa 1 – Localização Geográfica da Mesorregião Centro-Ocidental Paranaense e os Municípios


de Corumbataí do Sul e Barbosa Ferraz
Fonte: IBGE, 2010 – Org. Andrade e Massoquim.

A extensão universitária no contexto territorial brasileiro


É comum ouvir no espaço acadêmico que o ensino, a pesquisa e a
extensão constituem os pilares da Educação Superior. Sobre o ensino e a
pesquisa tem-se consciência do que sejam e do que signifiquem no espaço
universitário, já sobre a extensão este conhecimento é escasso.
Vem de longe, na história da universidade brasileira, a confusão que
se faz entre extensão e as atividades de prestação de serviços à comunidade,
talvez porque, como foi a última atividade regulamentada na universidade
brasileira, a extensão teve que lutar para conquistar seu espaço de media-
ção entre o ensino e a pesquisa. Outro motivo para isso pode ser o fato de
que a universidade brasileira, quando surgiu, não trouxe como referência
as antigas universidades, as quais foram organizadas exclusivamente em
função do estudo e do saber. Ao contrário disso, como já existiam no país
faculdades voltadas à profissionalização e formação de intelectuais para
a administração pública, a universidade brasileira teve como referência o
modelo francês, formado pela reunião de grandes escolas de ensino supe-
rior, com nuanças do modelo ibérico, e posteriormente, com reformas pon-
tuais, assumirá semelhanças com o modelo germânico de universidade.
Isso ocorreu porque no Brasil a existência das universidades é um
fenômeno tardio em relação à constituição da sociedade, pois só se deu,
sistematicamente, no século XX, embora já existisse ensino superior no

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O papel da extensão universitária no desenvolvimento territorial:
as experiências no programa universidade sem fronteiras na UNESPAR/fecilcam

país em séculos anteriores. Assim, numa sociedade de maioria da popula-


ção analfabeta, a universidade nasce para atender às elites socioeconômi-
cas e políticas e, num primeiro momento, terá como eixos básicos o ensino
e a pesquisa.
A tradição universitária que no futuro se formará no Brasil será
marcada pelos traços de outras propostas de universidade do mundo. A
primeira influência foi a do ideário pombalino de ensino superior, utilita-
rista e profissionalizante, preservado ao longo do Império e da Primeira
República. O culto da ciência como instância competente em todas as es-
feras da vida social nos levou ao modelo francês de universidade como reu-
nião de grandes escolas que deviam cumprir com a finalidade de formar as
“elites que a nação necessitava no setor industrial, na direção administra-
tiva, e na formação de professores e intelectuais” (CAPALBO, 1984, p. 282
apud Fagundes, 1986.). Este modelo perdurou até data bem recente, daí
a dificuldade em se tratar da extensão como tal. Posteriormente, por perto
de 1920, a influência germânica no Brasil surgiu na Escola Politécnica do
Rio de Janeiro, e se deu como reação ao Positivismo, tendo como elemento
fundamental de difusão o que se denominou de germanismo pedagógico.
Amadurecido no seio da Associação Brasileira de Educação (ABE), o ger-
manismo pedagógico possibilitou o surgimento, na cultura brasileira, de
outra forma de pensar a universidade, atribuindo-lhe a função de cultivar
as ciências, independentemente de sua aplicação.
Prota (1987, p. 25) esclarece que o germanismo se manifestou sob
duas vertentes: uma mais de conteúdo que de forma e a outra mais de for-
ma que de conteúdo. No primeiro caso tem-se um grupo de seguidores
mais interessado na filosofia, nas ciências naturais e históricas e na crí-
tica religiosa, e no outro se tem a maior parte dos intelectuais e políticos
da época, ansiosos na busca dos caminhos para a solução dos problemas
educacionais brasileiros.
As discussões acerca do germanismo pedagógico se devem a um
processo de transformações que ocorria no país em decorrência das efer-
vescentes buscas de alternativas para os diversos setores da sociedade,
que vivenciavam um período de incertezas ante a agudização, em 1929,
da crise que se engendrava desde a década anterior e que atingiu a lavou-
ra cafeeira, base econômica do país, expulsando para as cidades enormes
contingentes de trabalhadores do campo sem qualquer preparação para o
trabalho urbano.
A crise de 1929 e a grande recessão econômica mundial que se se-
guiu colocaram em xeque o antigo modelo econômico agrário-exportador
brasileiro, que até então impulsionara o desenvolvimento do país para
fora, e evidenciaram a necessidade de buscar outros caminhos, o que se
deu após a Revolução de 1930. Assumindo o poder Getúlio Vargas rede-
finiu o antigo modelo econômico, implantando o que foi denominado de

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Áurea Andrade Viana de Andrade | Dirce Bortotti Salvadori |
Nair Glória Massoquim

Modelo Nacional-Desenvolvimentista Autônomo, tendo por base a indus-


trialização do país e por meta impulsionar o desenvolvimento para dentro,
com a substituição de importações de bens não duráveis.
A industrialização provocou o fenômeno do crescimento e do desen-
volvimento de cidades, da burguesia industrial e do proletariado urbano,
mas também levou ao surgimento de novos problemas sociais, como o de-
semprego, a falta de moradias e a miséria, pois, dada a sua incipiência, a
indústria era ainda incapaz de absorver os grandes contingentes de traba-
lhadores que deixaram o campo.
A importância do processo de urbanização também se manifestou
na possibilidade de uma maior articulação social entre os trabalhadores
brasileiros e os imigrantes estrangeiros, principalmente os anarquistas, o
que permitiu aos primeiros o conhecimento das experiências de organiza-
ção política e sindical destes últimos, conduzindo ao surgimento de uma
progressiva consciência da necessidade de participação política da classe
trabalhadora.
As transformações na organização da sociedade provocaram a emer-
gência de uma demanda por educação culminando naquilo que Nagle (1974)
denominou de “entusiasmo pela educação e otimismo pedagógico”.
Estes dois movimentos são distintos. O “entusiasmo pela educação”
é disseminado por políticos, burgueses e intelectuais que, ao clamar por
educação alavancou-a a questão política, principal problema nacional; no
entanto, seus partidários logo constataram as dificuldades em conquistar
a hegemonia política, “que demandava muito tempo, o que fez com que os
políticos abandonassem este campo de luta e se entregassem às conspira-
ções de revolta armada” (PAIVA, 1973, p. 98).
Assim, a década de 1920 viu surgirem e desenvolverem-se inúmeros
movimentos armados de caráter revolucionário, entre eles: a revolta do
Forte de Copacabana, em 1922; a Revolução Paulista, em 1924; a marcha
da Coluna Prestes, que percorreu o país entre os anos de 1924 e 1927; e, fi-
nalmente, a Revolução de 1930, que levou ao poder outra facção da classe
dominante (NAGLE, 1974, apud FAGUNDES, 1986).
O resultado destas lutas e revoltas produziu o declínio do “entusias-
mo pela educação”, mas, ainda na década de 1920, em oposição a ele sur-
girá um movimento dos educadores, cuja principal característica foi “o
otimismo pedagógico”. Este movimento dos educadores deslocou a ênfase
no debate do quantitativo de escolas para o qualitativo da educação, da di-
mensão política da educação para a sua dimensão técnica, nos moldes pro-
postos pela Escola Nova (movimento escolanovista) (NAGLE, 1974, apud
FAGUNDES, 1986).
O movimento Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932,
provocou aberto conflito com os educadores católicos, até então os deten-
tores do monopólio da educação brasileira. Cury (1978) entende que, en-

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O papel da extensão universitária no desenvolvimento territorial:
as experiências no programa universidade sem fronteiras na UNESPAR/fecilcam

quanto os Pioneiros representavam a ideologia liberal da burguesia e da


classe média urbana, os educadores católicos representavam a oligarquia
rural e sua ideologia tradicional-conservadora. A luta entre estes dois gru-
pos era uma manifestação da luta de classes no país pela manutenção da
hegemonia, e acabou por desviar a questão do seu foco principal, a educa-
ção, cujos problemas permaneceram intocáveis.
A retomada destas questões históricas permite que se perceba o bru-
tal jogo de interesses que se coloca em campo quando se trata de discutir a
educação brasileira e sua função e distribuição social. A referência ao movi-
mento dos Pioneiros da Educação Brasileira também se faz importante por-
que foi a partir dele que se constituiu o Estatuto da Universidade Brasileira,
já que este era parte da ampla reforma proposta, em 1931, por Francisco
Campos, o primeiro titular do Ministério de Educação e Saúde Pública.
O objetivo do Estatuto da Universidade Brasileira, que faz a pri-
meira menção à Extensão, era estabelecer “o regime universitário como
forma de organização da Educação Superior, realçando as duas funções
da universidade moderna – ensino e pesquisa” (FAGUNDES, 1986. p. 47);
no entanto o Estatuto não conseguiu provocar transformações na tradição
universitária brasileira, para quem a pesquisa científica e a preparação
profissional prosseguiram como os princípios máximos, apesar de Fran-
cisco Campos mencionar a importância da extensão como dilatadora dos
benefícios do ensino superior e como elemento de elevação da cultura do
povo (Reforma do Ensino Superior de Francisco Campos, apud Fávero,
1980, p.130).
Apesar de este Estatuto das Universidades Brasileiras ter sido pro-
mulgado através do Decreto n. 19.851, de 11 de abril de 1931, e de ter ex-
plicitado a extensão universitária como portadora da capacidade de enca-
minhar soluções para os problemas sociais do país mediante a difusão de
ideias e princípios, a ideologia que o fundamentava situava estas ideias e
princípios como aqueles pautados “nos altos interesses nacionais” e propu-
nha uma visão de sociedade subordinada a estes interesses. Isso colocava a
extensão como um aparelho de difusão da cultura hegemônica no contexto
social do Estado Novo, resultante da Revolução de 1930. Não se pode es-
quecer que Francisco Campos, apesar de pleitear uma função social para
a extensão, foi um dos ideólogos do Estado Novo, e que, diante do regime
forte e autoritário por ele defendido, a função da extensão que propôs de-
veria corresponder ao adestramento do povo, para facilitar a aceitação dos
valores e princípios que sustentavam tal ideologia.
O segmento político paulista que perdeu a Revolução de 1930, in-
conformado, insurgiu-se novamente em 1932, dando origem à Revolução
Constitucionalista. Perdida também esta revolução, um grupo de jorna-
listas, de políticos e de intelectuais viu na fundação de uma universidade
uma estratégia para retomar o poder, mesmo que em médio prazo. Assim,

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Áurea Andrade Viana de Andrade | Dirce Bortotti Salvadori |
Nair Glória Massoquim

a Universidade de São Paulo (USP) nasceu com o objetivo explícito de,


através do exercício da ciência e da formação da elite dirigente, possibilitar
a difusão da ideologia liberal, para promover a volta desta ideologia como
sustentáculo da hegemonia de uma classe política e social inconformada
por perdê-la (FAGUNDES, 1986).
Essa intencionalidade foi evidenciada por Fernando Azevedo, um dos
expoentes intelectuais do grupo, quando disse: “[...] a preparação das elites
intelectuais precedeu sempre, em toda parte, a instrução das massas. A mar-
ca das civilizações não é dada, segundo ele, pela ampliação da educação po-
pular, mas pela força das elites dirigentes” (CARDOSO, 1982, p. 28-30).
Para Azevedo, a cada segmento da sociedade deveria corresponder
um grau de ensino, com o ensino primário destinado às massas, o ensino
secundário destinado as classes médias e o ensino superior destinado às
classes dominantes. Para ele e seu grupo esta proposta nada tinha de anti-
democrática, uma vez que entendia a classe dominante como uma “classe
aberta que se renova e se recruta em todas as camadas sociais”. Para ele,
a mobilidade social estaria garantida, pois a educação e a extensão uni-
versitária estenderiam a influência da educação para provocar o despertar
de vocações e descobrir grandes homens nas camadas mais obscuras da
sociedade, selecionando-os e elevando-os segundo seu valor e capacidade
(CARDOSO, 1982, p. 30-31).
Desta compreensão decorria a proposta de extensão como divulga-
ção da ciência, letras e artes mediante cursos sintéticos, palestras, confe-
rências, difusão pelo rádio, filmes e outros, meios que, mesmo não sendo
capazes de transmitir às classes populares os mesmos conteúdos utilizados
na educação da classe hegemônica, ainda assim poderiam permitir a mo-
bilidade social, possibilitando que membros destas classes ascendessem às
elites por seus próprios esforços, o que deixava bem claras as bases liberais
que sustentavam seu projeto.
Como fruto dos debates e das reformas efetuadas nas décadas de
1920 e 1930, em 1961 foi criada a Lei 4.024, de 20 de dezembro de 1961, a
primeira lei de diretrizes e bases da educação brasileira, que tramitou des-
de 1948 até 1961, ano em que foi promulgada. Pensada para ser um avanço
na educação do país, esta LDB significou o fim do impasse no debate entre
conservadores e progressistas e a solução de compromisso entre os dois
grupos. Não obstante, quando foi promulgada, esta LDB já estava defasada
em relação às necessidades do país e pouca serventia teve como elemento
de transformação social.
Como nada promoveu de acréscimo qualitativo em relação à exten-
são, a Lei 4.024 teve curta duração. Fagundes (1986, p. 54) observa que
“em sua curta vigência (1961-1968) deu-se uma intensa mobilização do
meio universitário, preocupado com os grandes problemas da sociedade,
em que a extensão foi pensada como mecanismo capaz de contribuir para

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as experiências no programa universidade sem fronteiras na UNESPAR/fecilcam

as transformações que se tinha em vista”; no entanto, esta intensa mobili-


zação tinha mais a ver com a radicalização das ideologias entre as forças
progressistas de esquerda e os conservadores. Enquanto as forças progres-
sistas propunham e defendiam uma maior participação nacional na econo-
mia e pregavam reformas de base para diferentes setores da vida nacional,
os conservadores debatiam-se na defesa de seus interesses, vendo nos pro-
gressistas um perigo para a quebra da ordem capitalista.
Foi no contexto deste clima de mobilização política e social que nos
anos de 1961 e 1962 a UNE (União Nacional dos Estudantes) realizou en-
contros nacionais para o debate da reforma universitária. Os documentos
produzidos nestes encontros denominaram-se Carta da Bahia e Carta do
Paraná. Entre as pretensões dos estudantes constavam a democratização
e a ampliação do ensino no Brasil, com o objetivo de tirar da educação o
caráter de instrumento de privilégio de classe e transformá-la em instru-
mento de cultura popular, ao alcance de todos. Eles também defendiam
um movimento de educação de base para alfabetização de adultos, visando
integrá-los na construção da nacionalidade.
Os estudantes propugnavam ainda uma aliança com as classes tra-
balhadoras, junto às quais pretendiam atuar fornecendo os subsídios ne-
cessários à sua emancipação, pois viam a universidade como um instru-
mento ideológico da luta de classes, e pretendiam que ela atuasse em favor
das massas e das reivindicações populares, convertendo-se num campo da
ação prática que permitisse a aniquilação da ideologia de dominação.
Não obstante, apesar das boas intenções, os estudantes não se da-
vam conta de que sua proposta era contraditória, pois, ao propor a tutela
das camadas populares pelos progressistas a partir da universidade, eles
estavam apenas substituindo o agente da dominação e a forma de atua-
ção sobre os dominados e utilizando-se de um paternalismo ainda elitista.
Para Fagundes (1986, p. 61), “Essa movimentação estudantil, com todos os
percalços, teve o mérito de trazer à discussão o caráter elitista da univer-
sidade brasileira, lembrando-lhe os seus compromissos para com aqueles
segmentos da sociedade que dela não se beneficiam diretamente”.
Ao discutir os acordos MEC-USAID, Alves (1968) menciona que a
juventude brasileira há muitos anos “reclama a reforma da sua Universi-
dade” e os pedagogos “exigem que a estrutura do ensino primário, médio
e superior seja no Brasil transformada de alto a baixo, para que atenda a
duas exigências nacionais: oferecimento de possibi1idades educacionais às
grandes massas e adaptação do que se ensina às necessidades do desenvol-
vimento do País” (ALVES, 1968, p. 22).
Em 1964 aconteceu o golpe civil-militar e o país foi colocado sob
uma ditadura militar que perdurou até 1985. Neste contexto, os planos
de uma reforma universitária progressista colocados e pretendidos pelos
estudantes foram deixados de lado, apesar da continuidade das reivindi-

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cações e dos protestos. Como meio de debelar estas forças opositoras o


governo militar utilizou-se de instrumentos legais, como medidas conten-
toras, racionalizantes e repressivas, para intervir na universidade, visando
amoldá-la à nova ordem.
A partir daí até que se findou a ditadura militar, a universidade per-
deu sua liberdade de ação e viu-se submetida aos instrumentos de repres-
são política e à tutelagem conservadora do poder central, que lhe atribuiu
uma função técnica, racionalizada e ajustada, sob influência do pensamen-
to norte-americano, notadamente de Rudolf Atcon. Este sugeriu, para a
administração da universidade brasileira, um sistema administrativo se-
melhante ao das empresas privadas, propondo que para isso era necessário
desvincular a universidade dos controles administrativos e financeiros do
Estado, organizando a ideia de privatização do ensino superior (ATCON,
1966, p. 116; ALVES, 1968).
Assim, apesar de todos os planos e reformas da universidade brasilei-
ra, o seu compromisso educacional continuou restrito a uma pequena par-
cela da sociedade, chegando até a década de 1970 sem efetivar a prática
regular da extensão, apesar de a ela se referir o Decreto-Lei 252, de 28 de
fevereiro de 1967, cuja formulação, no artigo 10 diz o seguinte: “A universi-
dade, em sua missão educativa, deverá estender à comunidade, sob a forma
de cursos e serviços especiais, as atividades de ensino e pesquisa que lhe são
inerentes”. Do mesmo modo, a lei 5.540/68 da Reforma Universitária, traz
em seu Art. 40, letra “a” que “as instituições de ensino superior, por meio de
suas atividades de extensão, propiciarão aos corpos discentes oportunidades
de participação em programas de melhoria das condições de vida da comu-
nidade e no processo geral de desenvolvimento” (FAGUNDES, 1986, p. 73).
A avaliação da implantação da Reforma Universitária desenvolvida
pelo MEC junto a 24 universidades federais demonstrou que as práticas
extensionistas mais contempladas foram: “cursos e/ou seminários, presta-
ção de serviços à comunidade e programas de ação comunitária em campi
avançados, Projeto Rondon e CRUTAC (Centro Rural Universitário de Trei-
namento e Ação Comunitária)” (FAGUNDES, 1986, p. 73-74).
O mesmo autor menciona que a avaliação do MEC apontou algumas
dificuldades da extensão universitária, entre elas, “a vinculação da exten-
são aos mais diversos órgãos”[...] da estrutura universitária “estaria, talvez,
a refletir a pouca ênfase que a legislação da reforma universitária empres-
tou à organização das atividades de extensão”. Assim, ainda em 1975 foi
elaborado o Plano de Trabalho e Extensão Universitária, cuja execução
ficou vinculada ao Departamento de Assuntos Universitários (DAU), por
meio de sua Coordenação de Atividades de Extensão (CODAE), criada nes-
se mesmo ano (FAGUNDES, 1986, p. 74).
De qualquer forma, não se pode esquecer que o Plano de Trabalho do
MEC foi criado e se desenvolveu no contexto de uma ditadura militar, com

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O papel da extensão universitária no desenvolvimento territorial:
as experiências no programa universidade sem fronteiras na UNESPAR/fecilcam

fortes organismos de repressão às manifestações políticas, o que limitou


seus objetivos às razões de Estado, entre elas o exercício do controle sobre
as atividades extensionistas da universidade e o enquadramento destas ati-
vidades na política de desenvolvimento nacional, subordinando-as aos pro-
gramas e projetos considerados estratégicos pelo Governo. Como o MEC
reservou a si a tarefa de programar, supervisionar e avaliar as experiên­cias
extensionistas, restou às universidades a tarefa de cumpri-las.
Na Coletânea de Documentos sobre Extensão Universitária, organi-
zada pelo MEC em 1976, com o objetivo de embasar uma política exten-
sionista global e integrada, já é possível sentir algum avanço conceitual em
relação à extensão, que é então apresentada como “uma das funções bási-
cas da universidade, sem a qual não haveria uma verdadeira universidade”,
e como uma atividade relacionada à pesquisa e às “preocupações práticas
em prol da melhoria das condições de vida do povo e do desenvolvimento
econômico do País” (FAGUNDES, 1986, p. 76).
Finalmente, no III Plano Setorial da Educação, Cultura e Desporto
para o período 1980-1985 – última etapa do governo ditatorial – pode-se en-
contrar uma avaliação que, à primeira vista, parece ser algo próximo a uma
tomada de consciência quanto à função social da universidade, na consta-
tação de que há um distanciamento e um desconhecimento entre ela e a
realidade social da população brasileira. Esta constatação levou este Plano
Setorial a depositar na educação a esperança de que ela se tornasse a solu-
ção de alguns males sociais, relacionados principalmente às populações de
baixa renda, atribuindo-lhe características redentoras. O III Plano Setorial
considerou ainda que a educação pudesse atuar como fomentadora da par-
ticipação política, objetivando a obtenção de uma sociedade democrática
“na qual o acesso às oportunidades não seja função da posse econômica ou
da força de grupos dominantes” (BRASIL/MEC, 1983, p. 12).
Em que pese a isso, quando melhor analisado o discurso presente
no III Plano Setorial reflete apenas uma tentativa do Estado de imputar à
universidade a responsabilidade pelas mazelas sociais geradas a partir de
um modelo de desenvolvimento baseado na acumulação de capital e na
concentração de renda, modelo que ele próprio adotou e sobre o qual não
aceitou discussões. Embora seja inegável a necessidade de a universidade
engajar-se socialmente com os grupos que dela não se beneficiaram, uma
vez que sua manutenção se deu e se dá pela sociedade como um todo, ela
não poderia ser culpabilizada, sendo-lhe transferidas responsabilidades
por problemas cujas soluções demandam não apenas mudança de men-
talidade ou mudanças de ordem técnica, mas, acima de tudo, uma ordem
estrutural baseada em princípios extremamente conservadores.
Fagundes (1986) também atenta para esta questão, pois a análise do
III Plano Setorial permite ainda constatar que, se o processo de construção
da universidade não deu à extensão o papel que lhe era devido, preterin-

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do-a em benefício do ensino e da pesquisa, agora os elaboradores do refe-


rido Plano pareciam querer imputar-lhe uma gigantesca responsabilidade,
atribuindo-lhe papéis e funções relacionadas tanto às questões metodoló-
gicas, quanto às questões sociais, culturais e políticas, ao mesmo tempo
em que não lhe permitiam autonomia e não lhe possibilitavam os recursos
necessários para desempenhá-las.
Como se pode perceber, à educação como um todo e à universidade
de modo especial, tem sido atribuída a função de mediadoras nas situa-
ções de crise do país. Assim foi na Primeira República, no período Vargas,
na Segunda República, na ditadura militar e prosseguiu do processo de
redemocratização do país até esta data; no entanto, apesar da importân-
cia que lhe é reservada, a universidade foi submetida, já que o Estado, nas
diversas ocasiões já mencionadas, assumiu o papel de interventor, legisla-
dor, fiscalizador e controlador, aparelhando-se para estes objetivos, como
é possível constatar com os exemplos da Reforma Francisco Campos, da
Reforma Capanema, da LDB 4.024/61, as Reforma Universitária de 1968 e,
numa época mais próxima de nós, com a Constituição Brasileira de 1988
e a LDB 9.394/96.
Em que pese a todas estas dificuldades, pelo menos duas grandes
propostas extensionistas podem ser mencionadas como razoavelmente
bem-sucedidas: os casos da CRUTAC e do PROJETO RONDON.
O CRUTAC – Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação Co-
munitária – nasceu em 1965/66, por interesse da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte em tornar-se extensionista. Visando atingir este obje-
tivo, a UFRN vinculou a prática extensionista à obrigatoriedade curricular
do estágio rural. Estes estágios atingiam diversos cursos, como medicina,
odontologia, farmácia, educação, engenharia, direito, serviço social etc.
O CRUTAC foi tão bem-sucedido como unidade de treinamento e
ação comunitária, que teve incentivo do governo para estender-se a todas
as Universidades Federais do Nordeste, a partir do Decreto-Lei n. 916, de
07 de outubro de 1969, que criou a CINCRUTAC (Comissão Incentivadora
dos Centros Rurais Universitários de Treinamento e Ação Comunitária),
órgão vinculado ao MEC. O objetivo central do CINCRUTAC era fornecer
educação básica e assistência às comunidades tradicionalmente abando-
nadas e à margem do sistema.
O PROJETO RONDON surgiu em 1967, a partir de uma ideia apre-
sentada pelo professor Wilson Choeri, no Seminário “Educação e Segu-
rança”, ocorrido em 1966, do qual participaram todas as universidades do
então Estado da Guanabara. O principal objetivo a partir do qual nasceu o
projeto era levar a juventude universitária a conhecer a realidade brasileira
e participar do processo de desenvolvimento do país.
Fagundes (1986, p. 87) narra que a primeira experiência deste projeto
ocorreu em julho de 1967, quando um grupo de 30 estudantes de diversas

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as experiências no programa universidade sem fronteiras na UNESPAR/fecilcam

áreas, orientado por um professor do Rio de Janeiro, permaneceu 28 dias


prestando serviços à comunidade em Rondônia. Ao retornarem, entusias-
mados com o sucesso da empreitada, estes estudantes cunharam o lema “In-
tegrar para não Entregar”, que se tornou o lema do Projeto Rondon.
Incentivado pela experiência, o Governo federal institui o Projeto
Rondon a partir do Decreto 62.927, de 23 de junho de 1968. A partir de
1969, para conferir ao Projeto caráter mais abrangente e permanente, fo-
ram instalados os campi avançados no interior do país. Em 1986 eram 22
os campi avançados e envolviam mais de 30 instituições de Ensino Supe-
rior, cuja atuação se estendia por mais de 100 municípios, nas áreas de saú-
de, educação e no setor agropecuário.
Na pós-redemocratização do Brasil, estas experiências extensionis-
tas que abrangeram o período da ditadura militar foram vistas como estra-
tégias de integração do país para conseguir o respaldo à série de mudanças
de ordem econômica, política, social e cultural em ação no período. En-
tendeu-se também que, ao lado de medidas de maior contundência, como
a dissuasão e a repressão dos opositores, os projetos de integração foram
pensados visando à cooptação e ao assentimento daqueles que divergiam
da orientação política do regime.
Constata-se, destarte, que a divisão de classes sociais no Brasil per-
meou as reformas educacionais, mesmo quando se propunha uma educação
para todos. Isso se deu principalmente porque a educação era pensada pelas
classes socialmente hegemônicas e para as classes socialmente hegemônicas.
Nos anos que compõem a década de 1990 o ideário liberal, sob a for-
ma do neoliberalismo, tornou-se politicamente hegemônico no Brasil e as
universidades públicas correram o risco de ser privatizadas, numa tenta-
tiva de enxugamento da máquina do Estado, numa falácia então denomi-
nada de “educação pública não estatal”. Isso só não ocorreu por causa da
reação das entidades sociais de classe e de setores progressistas da classe
estudantil e dos professores das instituições públicas e dos setores mais
politizados da sociedade brasileira.
No início da década seguinte, inaugurando o século XXI, as políticas
progressistas ganharam força tanto no Governo Federal quanto em alguns
Estados, e assim novamente o Estado tomou a si, através de suas institui-
ções, a responsabilidade de atuar junto às universidades, mas agora sob
esta visão progressista de sociedade e educação e com o intuito de valori-
zar a extensão como uma forma de possibilitar a ruptura destas barreiras
que a separam da sociedade, incentivando e dando sustentação e legiti-
midade às práticas extensionistas, notadamente àquelas com capacidade
para transformar a realidade dos grupos sociais.
Nesta perspectiva encontram-se as políticas públicas de Estado do
Paraná, com o Programa Universidade Sem Fronteiras, que é direciona-
do a desenvolver projetos para as classes menos favorecidas da sociedade,

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neste caso moradores de regiões periféricas, tanto por meio de projetos


educacionais no âmbito urbano como pelo desenvolvimento de ações em
áreas rurais.

Programa Universidade Sem Fronteiras – USF


No contexto político, social e econômico a educação brasileira foi
pensada pelas e para as classes dominantes, fato que ainda se reflete na so-
ciedade, haja vista que mais de 25 milhões de brasileiros vivem em estado
de pobreza e privação do acesso a bens e serviços mais elementares para a
existência humana. Embora, nos últimos anos, tenham-se efetivado algu-
mas políticas públicas pensando nesses atores sociais, muito há que fazer
para que as condições de pobreza e privação sejam superadas. Neste senti-
do, Furtado, referindo-se ao Brasil, coloca a questão “[...] Cabe a pergunta:
houve desenvolvimento? Não: o Brasil não se desenvolveu: modernizou-se.
O desenvolvimento verdadeiro só existe quando a população em seu con-
junto é beneficiada” (FURTADO, 2000. p. 21).
O Estado do Paraná, por via de regra, modernizou-se, mas, embora seja
considerado o “celeiro do Brasil” em produção de grãos, alavancando o com-
plexo agroindustrial, tem em seu contexto regiões extremamente pobres, as
quais precisam ser assistidas e mitigadas por meio de políticas públicas.

Figura 1 – Mapa da pobreza do Estado do Paraná


Fonte: IPARDES, 2000

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O papel da extensão universitária no desenvolvimento territorial:
as experiências no programa universidade sem fronteiras na UNESPAR/fecilcam

É nesta perspectiva que se centraram as discussões sobre extensão


universitária e a importância de implementação de políticas públicas de in-
tegração e desenvolvimento territorial no Estado do Paraná. Assim, coube
às instituições de ensino superior desempenhar o papel de ator na consti-
tuição de parte dessas políticas, assumindo o compromisso com a comuni-
dade por meio da construção de conhecimentos científicos e tecnológicos
e da ampliação de conhecimento acadêmico, para fins de promoção do de-
senvolvimento das regiões em que estão inseridas.
Várias ações progressistas foram idealizadas, uma das quais foi a
criação, em 2007, do Programa Universidade Sem Fronteiras, considera-
do o maior programa de extensão universitária em curso no Brasil. Para
a efetivação dos projetos, foram constituídas equipes multidisciplinares
compostas por professores universitários, profissionais recém-formados e
estudantes do Ensino Superior das universidades e faculdades públicas do
Estado do Paraná. Essas equipes são também bolsistas do Programa, uma
vez que os professores das IES e institutos de pesquisas recebem bolsas
para orientação nos projetos, o que se dá também com os recém-formados
e estudantes (SETI, 2007).

Figura 2: Municípios atendidos pelo Programa Universidade Sem Fronteiras.


Fonte: SETI, 2008.

Nos documentos orientadores do Programa, o critério fundamental


para seleção dos projetos é o seu desenvolvimento nos municípios social-
mente mais críticos, identificados a partir da mensuração do seu índice de

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desenvolvimento humano (IDH). Do mesmo modo, o programa prioriza


financiamentos de projetos implantados em grandes cidades paranaenses
voltados à população de risco.

O Programa de Extensão Universidade Sem Fronteiras, da Secretaria de Es-


tado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, articulando as dimensões
econômicas e sociais, sendo executado desde 2007, constituindo-se numa
política de extensão para as Instituições de Ensino Superior do Estado do
Paraná, priorizando o financiamento de áreas estratégicas para o desenvol-
vimento das populações socialmente vulneráveis, que moram nas periferias
das grandes cidades paranaenses e nos municípios que apresentem indica-
dores sociais baseados em IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Mu-
nicipal) insatisfatórios, identificados pelo IPARDES (SETI, 2010).

Estas proposições permitem compreender que as políticas públicas


devem ser realizadas de forma integrada, com vista a aumentar sua abran-
gência, atingindo especialmente as áreas de maior pobreza do Paraná.
De acordo com as informações contidas na figura 1, que é o mapa
representativo do grau de pobreza no Estado do Paraná, observa-se que
os municípios que apresentam tonalidade mais forte possuem elevada
proporção de pobreza, ou seja, 40% das famílias vivem com renda fami-
liar per capita de meio salário mínimo, o equivalente a aproximadamente
U$120, 00 (cento e vinte dólares) (IPARDES, 2000).
O USF se divide em oito subprogramas, totalizando, em 2009, 451
projetos, que atingem praticamente todas as áreas de estudo das faculda-
des e universidades públicas do Estado do Paraná, com um investimento
de mais de 46 milhões de reais nos subprogramas Incubadora dos Direitos
Sociais, Diálogos Culturais, Apoio à Agricultura Familiar, Apoio à Produ-
ção Agroecológica Familiar, Apoio à Pecuária Leiteira, Apoio às Licencia-
turas, Extensão Tecnológica Empresarial e Ações de Apoio à Saúde, con-
forme o quadro 01.

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O papel da extensão universitária no desenvolvimento territorial:
as experiências no programa universidade sem fronteiras na UNESPAR/fecilcam

QUADRO – 01 Subprogramas, Caracterização, Número de Projetos e Investimentos


Nº de Investimentos
Subprogramas/Caracterização
Projetos em R$
Incubadora dos Direitos Sociais: São ações por meio de projetos em disseminar,
esclarecer e aplicar, no dia a dia das populações em situação de vulnerabilidade
social, a legislação brasileira pertinente, considerada textualmente avançada, porém
com limitações quanto ao seu acesso e aplicação. Em parceria com a sociedade civil,
30 4,2 milhões
trabalhar frente às questões relacionadas ao combate à exploração sexual infanto-
juvenil, à violência contra as mulheres, ao consumo ilícito ou abusivo das drogas, à
prevenção do trabalho infantil, ao monitoramento das penas alternativas e ao combate
contra a invisibilidade social a que estão submetidos os povos tradicionais do território.
Diálogos Culturais: Reconhecer e trabalhar a diversidade das expressões artísticas
articuladas aos demais campos do conhecimento junto a grupos ou comunidades que
40 5,2 milhões
se encontram ainda na invisibilidade, silenciadas por pressões econômicas, fundiárias,
processos discriminatórios e excluídos socialmente.
Apoio à Agricultura Familiar, Apoio à Produção Agroecológica Familiar e Apoio
à Pecuária Leiteira: Ações para a geração de renda e ocupação no meio rural
através de processos sustentáveis, que incentivam o uso de sistemas de
produção baseados nos princípios da agroecologia, tendo no horizonte, sempre,
159 16,2 milhões
processos participativos, que estimulam a organização e o protagonismo dos
agricultores nas ações, está provocando importantes mudanças na formação
humana dos profissionais participantes bem como a melhoria da qualidade de
vida dos agricultores familiares.
Apoio às Licenciaturas: Promover a interação e o aprofundamento das relações
entre a educação básica e o ensino superior, bem como o enfrentamento, em
parceria com os educadores em mais de 200 escolas municipais ou estaduais, 100 9,0 milhões
das questões que interferem na relação ensino/aprendizagem. Através de uma
abordagem prática dos temas que compõem os conteúdos das diversas disciplinas.
Extensão Tecnológica Empresarial: Inovações tecnológicas sociais e/ou
empresariais, possibilitadas pelo encontro entre os conhecimentos científicos e
os populares, ampliar esses conhecimentos e disseminá-los aos diversos grupos
sociais e seus respectivos micro e pequenos empreendimentos, cooperativados 122 6,0 milhões
ou associativistas, contribuindo para a aplicação sustentável dessas propostas no
intuito de através de soluções efetivas de transformação sócio-econômica, mudar
a vida das pessoas.
Ações de Apoio à Saúde: Ações para enfrentar os problemas sociais que incidem
sobre a saúde das populações, de forma intersetorial e interdisciplinar. Fomentando
projetos de extensão orientados à integralidade da atenção, à garantia de acesso
aos serviços de saúde e ao desenvolvimento de ações que visem a promoção da
saúde. Organizando e fortalecendo os setores populares, governamentais e da
sociedade civil, bem como a relação participativa da comunidade com o serviço
de saúde. Além de disseminar à comunidade as tecnologias desenvolvidas nas
instituições de ensino e pesquisa que promovam a melhoria das condições
higiênico-sanitárias da população
TOTAL 451 40,6 milhões
Fonte: SETI e UNESPAR/FECILCAM, 2010 – Org. Andrade, Áurea V.

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Áurea Andrade Viana de Andrade | Dirce Bortotti Salvadori |
Nair Glória Massoquim

Recentemente este programa tornou-se lei estadual, por meio do


Projeto N.° 110/2010, em razão da dimensão que tem alcançado, sobretudo
nos dois últimos anos. Atualmente há em funcionamento 610 projetos, nos
subprogramas nominados, espalhados em todo o território paranaense.
A disposição da organização permite que a atuação, conduzida de
forma integrada, leve à consecução dos objetivos do Programa, contribuin-
do para a geração de empregos e renda, a educação e a efetividades dos di-
reitos sociais, já que a integração colabora para que ocorram transforma-
ções tanto no interior das instituições participantes quanto nas respectivas
localidades de trabalho dos projetos.
O USF, embora tenha tido como proposta original alavancar a ex-
tensão universitária, tem um formato que se aproxima das discussões de
desenvolvimento territorial que persistiram durante as décadas de 1960
e 1970 em países europeus, sobretudo na Itália e na França, e que se des-
tacaram pelo forte movimento de desenvolvimento local e regional, valo-
rizando o lugar e o território para pensar o desenvolvimento (SAQUET,
2008).
Ao considerar-se o desenvolvimento territorial atrelado ao conceito
de território na perspectiva relacional de Claude Raffestin, é preciso pen-
sar as dimensões política, econômica, cultural e ambiental. Desse modo, a
territorialidade, para Raffestin é, segundo Saquet (2008) “vista como uma
possibilidade de mediação para a construção de novos projetos de desen-
volvimento e a conquista de melhores condições de vida”.
Apesar de os projetos do Programa Universidade Sem Fronteiras
possibilitarem a mediação entre a universidade e a comunidade, para me-
lhoria das condições de vida da população, estes ainda se constituem em
políticas públicas condicionadas ao sistema econômico vigente do país.

Experiências do Usf na Unespar/Fecilcam: “Educação como


Prática Social” e Edufruti
Atendendo aos propósitos do Programa Universidade Sem Frontei-
ras, os docentes das diferentes áreas de conhecimento da Universidade
Estadual do Paraná – UNESPAR campus de Campo Mourão/FECILCAM
elaboraram seus projetos a partir da realidade socioeconômica regional,
elegendo os municípios com maior grau de pobreza da Mesorregião Cen-
tro-Ocidental Paranaense, uma vez que esta é considerada, dentre as dez
mesorregiões, a segunda com o menor índice de desenvolvimento hu-
mano (IDH) do Estado do Paraná, como mostra a tabela 01. A referida
mesorregião é composta por 25 municípios, tendo Campo Mourão como
pólo regional.
Para atender à região em questão, foram realizados 27 projetos no
período de 2007 a 2010, para cuja efetivação foram repassados à UNESPAR­/

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O papel da extensão universitária no desenvolvimento territorial:
as experiências no programa universidade sem fronteiras na UNESPAR/fecilcam

FECILCAM R$ 2.233.164,00 (dois milhões, duzentos e trinta e três reais),


envolvendo 212 bolsistas, dos quais 60 orientadores, 49 recém-formados e
103 estudantes de graduação que atuaram efetivamente nos municípios.

TABELA 1 Indicadores socioeconômicos da mesorregião Centro Ocidental Paranaense

salário Min. por pessoa)

(concentração de renda)
Economicamente Ativa

Taxa Analfabetismo %
Moradores No campo
Taxa de Pobreza (1/2
Total de População

Grau Urbanização
Mesorregião de

Índice de Gini
Capta (reais)
Campo Mourão

População

PIB Per
IDH-M
Altamira do Paraná 6.999 52,37 3.050 0,677 04.178 30,28 4.879 23,3 0.62
Boa Esperança 5.162 35,83 2.155 0.722 19.387 49,96 2.583 14,9 0.54
Campina da Lagoa 17.018 37,20 7.630 0.710 8.342 74,58 4.325 18,3 0.62
Goioerê 29.750 27,69 14.168 0,746 09.431 82,47 5.215 13,8 0.58
Janiópolis 8.084 39,09 3.543 0.692 7.396 54,30 3.694 21,1 0.54
Juranda 8.134 35,76 3.571 0.731 14.554 70,86 2.370 14,7 0.59
Moreira Sales 13.395 32,79 6.335 0,703 12.603 70,50 3.951 19,7 0.55
Nova Cantu 9.914 46,53 4.367 0.698 6.144 39,50 5.997 19,2 0.63
Quarto Centenário 5.333 42,07 2.232 0.700 11.447 50,35 2.647 20,0 0.54
Rancho Al. D’Oeste 3.117 35,44 1.375 0,698 13.747 66,28 1.051 17,7 0.51
Ubiratã 22.593 33,16 10.113 0.734 11.147 78,50 4.857 15,1 0.55
Araruna 13.081 27,61 6.414 0,732 9.112 69,83 3.946 13,8 0.52
Barbosa Ferraz 14.110 41,87 5.938 0.700 6.572 68,99 4.375 22,9 0.60
Campo Mourão 82.530 20,74 38.566 0.774 14.599 92,89 7.324 10,7 0.57
Corumbataí do Sul 4.946 48,60 2.315 0.678 6.158 40,40 2.947 23,3 0.52
Engenheiro Beltrão 14.082 24,18 6.579 0.762 10.541 79,02 2.957 14,0 0.59
Farol 3.394 45,30 1.717 0,701 9.225 49,05 21,8 0.60
Fênix 4.942 30,10 2.000 0.736 12.670 77,62 1.106 19,1 0.54
Iretama 11.335 43,50 4.877 0.699 6.867 54,31 5.178 22,2 0.62
Luiziana 13.632 46,25 5.860 0.701 8.724 50,07 6.806 18,6 0.59
Mamborê 15.156 38,26 6.364 0.745 13.140 59,47 6.142 13,8 0.58
Peabiru 13.487 31,90 6.287 0.736 8.323 77,79 2.697 15,3 0,55
Quinta do Sol 5.759 35,49 2.143 0.712 10.102 59,98 2.304 21,6 0.56
Roncador 13.632 46,25 5.860 0.701 8.724 50,07 6.806 18,6 0.59
Terra Boa 14.640 18,75 7.167 0,744 6.565 76,35 3.462 15,0 0.47
FONTE: IPARDES, 2010 – Org. Andrade, Áurea A.V de.

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Nair Glória Massoquim

Analisando-se os dados mostrados na tabela 1 referentes aos indi-


cadores socioeconômicos da mesorregião, entre eles, população, taxa de
pobreza, IDH e taxa de analfabetismo, verifica-se que nela há nove muni-
cípios com taxa de pobreza acima de 45% (com ganhos de menos de meio
salário mínimo), dos quais 6 possuem IDH abaixo de 0,700, a exemplo do
município de Corumbataí do Sul, que registra um IDH de 0, 678, com uma
taxa de pobreza de 48,60%, e taxa de analfabetismo de 23,3%. Outro mu-
nicípio com dados semelhantes é Altamira do Paraná, com IDH de 0.677
e registro de 52,37% de taxa de pobreza e a mesma taxa de analfabetismo.
Esses dados são extremamente baixos se comparados ao IDH do Estado
do Paraná, que é de 0,787, com taxa de analfabetismo de 9,5% e taxa de
pobreza de 20,87%.
Os baixos indicadores desses municípios são atribuídos, em parte,
à falta de infraestrutura nas áreas territoriais periféricas, que passaram da
condição de distritos à de unidades administrativas municipais sem que se
elaborasse um plano de desenvolvimento, especialmente para as áreas de
produção agrícola (MASSOQUIM, 2010).
Outro aspecto importante para o entendimento das desigualdades
territoriais é o novo modelo de produção e reprodução ampliada do ca-
pital no campo, o qual nas últimas décadas tem apresentado um cresci-
mento significativo na economia brasileira, porém não foi acompanhado
do pleno desenvolvimento social, uma vez que milhões de brasileiros ain-
da vivem em estado de pobreza, em suma, de insuficiência de renda para
satisfazer suas necessidades básicas de alimentação, moradia, vestuário,
saúde e educação.
É neste contexto que se tomou como parâmetro a análise das condi-
ções de vida dos moradores de Corumbataí do Sul e Barbosa Ferraz, uma
vez que esses municípios estão inseridos na região de bolsão de pobreza
(conforme figura 1), razão pela qual foram propostos os projetos de exten-
são “Educação como Prática Social” e “EDUFRUTI”.
O suporte teórico que fundamentou a metodologia do projeto “Edu-
cação como Prática Social” parte do entendimento de que o homem é um
ser social, de relações. O aspecto primordial das relações sociais é a huma-
nização, a promoção do homem. Do ponto de vista da educação, promover
o homem significa torná-lo “cada vez mais capaz de conhecer os elemen-
tos da sua situação para intervir nela transformando-a” (SAVIANI, 1982,
p. 41).
A partir dessa concepção foram efetivadas as ações na comunida-
de e em dois estabelecimentos escolares: Escola Municipal Cecília Meire-
les e Colégio Estadual Corumbataí do Sul. Tendo-se em vista os objetivos
do USF, organizou-se o projeto de “Formação Continuada de Educadores”
como uma das metas do projeto Educação como Prática Social, após uma
análise do contexto socioeconômico de Corumbataí do Sul e das relações

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O papel da extensão universitária no desenvolvimento territorial:
as experiências no programa universidade sem fronteiras na UNESPAR/fecilcam

estabelecidas entre as escolas e a sociedade. As questões colocadas para


a elaboração do projeto foram as seguintes: 1) Qual é função das escolas
de Corumbataí do Sul diante dos problemas vivenciados pela sociedade?
2) Quando mencionamos a palavra “escolas”, de quem estamos falando?
3) Como os professores de Corumbataí do Sul se situam perante a função
social da educação? 4) Há compreensão entre os professores de C. do Sul
de que a educação tem uma função social? 5) Há compreensão entre os
professores de C. do Sul de que o exercício da função social da escola está
intrinsecamente vinculado à prática pedagógica?
Durante o período de coleta de dados foi possível observar que o es-
paço educativo formal (escola) se organiza como representação da socie-
dade, pois seus membros são também membros da sociedade mais ampla
que se organiza, vive e se relaciona fora do espaço educativo, o que signi-
fica que é possível transformar a sociedade transformando a escola, em-
bora este processo seja um tanto longo. Assim, esta reflexão possibilitou o
entendimento da importância de que a escola olhasse para si mesma e que
todos procurassem responder, juntos, às questões levantadas.
Como a escola é toda a comunidade educacional – professores, estu-
dantes, auxiliares de serviços gerais, diretor, pedagogas – que se organiza
num determinado espaço especificamente organizado para a realização
de ações planejadas, caso se queira realmente provocar transformações
na sociedade é necessário voltar o olhar para analisar o trabalho aí desen-
volvido e identificar qual é o reflexo deste trabalho na totalidade social na
qual se insere a escola. Em vista desta compreensão, optou-se por adotar
a Metodologia da Pesquisa-ação, conforme já mencionado, já que esta me-
todologia permite a problematização do ambiente pesquisado por todos os
componentes do grupo de trabalho. Isso significa que a prática educativa
da escola foi problematizada e pensada por cada um e por todos os compo-
nentes do grupo, com o objetivo de ser elevada à condição de práxis.
Para atingir os objetivos propostos iniciou-se o trabalho discutin-
do-se com os professores, em diversos encontros de quatro horas cada, a
metodologia adotada. O objetivo inicialmente de trabalho era estabelecer
a compreensão da função da própria metodologia e da necessidade de pro-
blematização do trabalho da escola e do professor.
Após alguns meses de estudos e discussões o grupo foi organiza-
do para o exercício de problematização propriamente dita, do trabalho de
cada um e de todos no ambiente escolar. Durante este processo de discus-
são da metodologia também se inseriram subsídios teórico-metodológicos
para a prática pedagógica destes professores, discutindo-se as ações do
cotidiano escolar.
Assim, após um ano de trabalho efetivo junto aos professores, à gui-
sa de resultados, cumpre destacar que se compreende que o homem se
constrói nas múltiplas relações sociais e que seu fazer é a manifestação do

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seu ser. A pesquisa com os professores permitiu ao grupo de pesquisadores


constatar que a relação discurso-ação nem sempre é coerente e consciente-
mente refletida, pois no plano do discurso há manifestação de compreen­
são do real concreto em que os homens se situam, mas quando se trata
de pensar a prática e situar aí os elementos de contradição em relação ao
discurso, os próprios limites históricos referentes ao ser-fazer do homem
também limitam a compreensão do alcance da ação como construção da
realidade. É a questão das múltiplas determinações.
Nesse contexto, a resistência se instala não como reação contrária,
ou de oposição, mas como contradição na relação discurso-ação, já que não
estão presentes os elementos de compreensão deste processo. Compreen­
dida esta dificuldade, cumpre repensar a ação no seu prosseguimento, in-
serindo aí novos elementos que dêem conta de subsidiar a continuidade
de processo.
Conhecendo-se a realidade dos estudantes do Ensino Médio de Co-
rumbataí do Sul, sobretudo a falta de interesse em continuar os estudos,
somada à pouca informação sobre ensino superior em instituição pública,
propôs-se um curso “Revendo os Conteúdos” seguindo o programa do En-
sino Médio.
Para realização do curso contou-se com a parceria de vários profes-
sores da Instituição e da Rede Estadual de Educação. O curso foi ofereci-
do aos estudantes com total gratuidade, por se tratar de jovens da camada
social econômica e culturalmente carente do município de Corumbataí do
Sul, que necessitavam continuar os seus estudos e ingressar no Ensino Su-
perior, como forma de melhorar a qualidade de vida e garantir autonomia
para sua sustentabilidade na sociedade.
Com o curso foi possível trabalhar os conteúdos, mas isso não ga-
rantia que esses estudantes fossem prestar vestibular, uma vez que a ins­
crição já era um obstáculo. Ante essa constatação, eles foram orientados a
solicitar a isenção das taxas à Universidade.
Foram concedidas isenções de taxas para 12 estudantes, no vestibu-
lar de inverno de 2008. Destes, quatro passaram no vestibular nos cursos
de Ciências Econômicas, Geografia e Ciências Contábeis da UNESPAR/
Fecilcam. A aprovação foi fundamental, pois demonstrou que eles estão
aptos a concorrer com os demais estudantes e serviu como incentivo aos
demais, para os próximos vestibulares.
Essa iniciativa demonstra que a população pode se organizar e dire-
cionar algumas políticas públicas. A isenção dessas taxas provocou no âm-
bito da Instituição discussões e reflexões. Tal proposta poderia ser levada
aos outros municípios com baixo índice de desenvolvimento humano.
A “Escola de Pais”, conforme proposta tem suas origens no traba­
lho de pesquisa-ação desenvolvido pela professora Sonia Maria Yassue
Okido Rodrigues em Campo Mourão e região há mais de dez anos. O

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O papel da extensão universitária no desenvolvimento territorial:
as experiências no programa universidade sem fronteiras na UNESPAR/fecilcam

objetivo da escola de pais é conclamar os pais e ou cuidadores a se envol-


verem efetivamente com a escola, acompanhando e cooperando na edu-
cação das crianças e jovens.
É comum ouvirem-se reclamações das escolas sobre o pequeno ín-
dice de participação dos pais e ou cuidadores na vida escolar das crianças
e jovens. Assim, optou-se por desenvolver a Escola de Pais em Corumba-
taí do Sul como atividade de reflexão com os pais e/ou cuidadores, e nes-
ses encontros se ressaltava a importância da ação familiar nos cuidados
e apoio às crianças e jovens.
A ação com os pais foi desenvolvida em paralelo à ação com os pro-
fessores, pedagogos e direção da escola, objetivando a aproximação destes
com a escola, subsidiando-os em suas dificuldades e dúvidas quanto ao
tratamento/relacionamento com os filhos. Estas atividades com os pais e
ou cuidadores foram aproveitadas para a discussão da função da família
em relação à educação escolarizada das crianças e jovens.
Como resultado do primeiro ano destas atividades se pode constatar
a ação histórica das múltiplas relações sociais na organização das comu-
nidades, pois os pais/cuidadores de Corumbataí do Sul, sujeitos ao desem-
prego ou à sobrevivência nas pequenas propriedades rurais, de onde nem
todos conseguem retirar o necessário a uma vivência digna, têm como ob-
jetivo principal a sobrevivência material da família, e, embora a maior par-
te dos participantes opte por ter as crianças e jovens estudando, ao invés
de tê-los no trabalho, a realidade econômica local os leva a questionar o
futuro de suas crianças e jovens, caso permaneçam no município.
Constatou-se também que, conquanto em sua maior parte os pais/
cuidadores compreendam que os estudos podem provocar transforma-
ções na realidade de suas crianças e jovens, acabam repetindo com elas a
maioria­das ações que vivenciaram com seus pais, principalmente porque
se sentem incapazes de encontrar, sozinhos, o alento necessário para dar
novos rumos à própria existência e à de suas famílias e porque têm dificul-
dades em compreender a complexidade, as necessidades e apelos da reali-
dade na qual as crianças e jovens estão inseridos.
As orientações para estudantes agricultores e seus familiares sobre
a potencialidade agrícola do município de Corumbataí do Sul é uma das
ações do projeto, e tem como propósito promover na escola e na comuni-
dade espaços de debates sobre as questões socioeconômicas daquele mu-
nicípio, sobretudo as relativas à agricultura familiar. Esses debates visam
fortalecer o engajamento dos pais e filhos agricultores, bem como desper-
tá-los para a importância da diversificação de culturas para viabilizar no-
vas possibilidades de trabalho e renda. Um dos resultados dessa ação foi a
parceria entre o grupo do Projeto e a Emater local. Dessa parceria resultou
o planejamento do Primeiro Fórum dos Produtores Rurais do município
de Corumbataí do Sul. Neste se contou com a presença dos agricultores,

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estudantes das escolas do município, bem como estudantes e professores


da UNESPAR/FECILCAM.
No Fórum foram discutidos e debatidos temas sobre a diversifica-
ção de culturas, a fruticultura e a recuperação das matas ciliares. Nesta
última houve maior excitação por parte dos agricultores com os técnicos
do Instituto Ambiental do Paraná – IAP. Os participantes declararam que
são vítimas não mais do progresso econômico, mas das leis ambientais
do país, cujas exigências atingem sempre as classes menos favorecidas.
Pela primeira vez eles estavam organizados e puderam expressar suas
opiniões.
Outra experiência ainda em desenvolvimento é o projeto de Extensão,
Educação, Formação Técnico-Pedagógica da Fruticultura nos Assenta-
mentos da Microrregião de Campo Mourão – EDUFRUTI. Este, no que se
refere à educação e formação para aplicação de técnicas, perpassa por um
estudo de avaliação e aplicação de novas alternativas para a agricultura
familiar dos assentamentos, com a orientação para implantação de frutí-
feras. Nos municípios em questão se desenvolvem culturas mistas e varia-
das como frutíferas, granjas, pecuária e cereais (os três últimos servem ao
agronegócio). Em razão do próprio meio físico (geomorfologia e solos), na
porção sudoeste a leste da área de estudo o espaço territorial rural é com-
preendido por pequenas propriedades. O trabalho ali se desenvolveu, pra-
ticamente, nos territórios dos assentamentos rurais (16 deles) localizados
na microrregião de Campo Mourão, os quais compõem a diversificação da
paisagem agrícola. Em alguns assentamentos estão sendo elaborados es-
tudos de agroclimatologia, visando analisar as áreas mais propícias para o
desenvolvimento dessas frutíferas.
Alguns projetos de frutíferas já existentes na região são o da melan-
cia e o do maracujá. Nessas áreas os estudos se dão no sentido de amplia-
ção do cultivar e da possibilidade de implantação de outros tipos, como,
por exemplo, o pêssego, cultivo que, ao contrário da melancia, temporá-
ria, é uma cultura permanente. Para a implantação dessas frutíferas nos
assentamentos, estão sendo elaborados estudos de mapeamento, visando
analisar as áreas mais propícias para o desenvolvimento de culturas mis-
tas, análise que só é possível mediante a elaboração do zoneamento agro-
climático.
O zoneamento está sendo elaborado a partir de um banco de dados
da série de 35 anos, coletado em órgãos como o Iapar e o ECPCM, com
base na metodologia adaptada da tese de Massoquim (2010). Quanto ao
trabalho de campo com base nesses levantamentos de dados climáticos,
resultados preliminares indicam que a melancia de período sazonal pode
ser cultivada a partir da primavera/verão e se adapta bem em determina-
das áreas dos assentamentos, embora com restrição a períodos de estia-
gem prolongada especialmente nos meses de novembro, sob a influência

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de fenômenos La Niña. Por sua vez, o pêssego, cultura anual, pode sofrer
influência nos período de frio mais intenso, quando a planta encontra-
se fora da fase de dormência, principalmente na florada ou frutificação
(MASSOQUIM, 2010, p. 271).

Considerações finais
Considera-se que a inserção das instituições públicas de ensino su-
perior nas atividades desenvolvidas nos municípios de baixo IDH tem
se mostrado um caminho importante para a transformação da realidade
destes municípios pelo menos é isto o que se pode sentir com os resulta-
dos do Projeto  “Educação como Prática Social” e Educação, Formação
Técnico-Pedagógica da Fruticultura nos Assentamentos da Microrregião
de Campo Mourão – EDUFRUTI. Durante os meses de atividades contí-
nuas, mesmo que tateando em busca de pontos de apoio para conseguir
desenvolver as propostas previstas no projeto, foi possível perceber que o
fato de o município precisar olhar para si mesmo já foi um avanço. Para
isso tem sido significativa a contribuição da Escola de Pais, especialmen-
te por levá-los a se interessar, ouvir e entender melhor as questões da
educação de seus filhos. O cumprimento desta meta é de fundamental
importância para o projeto, porque aí se dá a articulação entre a escola
e a comunidade.
Descobriu-se que, apesar da proximidade com Campo Mourão, a
maior parte dos estudantes de Corumbataí do Sul não sabia que uma facul-
dade pública não cobra mensalidades. Também foi possível constatar que
o fato de poucos estudantes se aventurarem a prestar vestibular se deve à
ideia da maioria de que não têm condições de ser aprovados, e nesse as-
pecto o projeto “Revendo Conteúdos” foi de fundamental importância para
demonstrar que eles estão aptos a concorrer com os demais estudantes e
conseguir a aprovação, como ficou demonstrado. Quanto ao trabalho com
os educadores das redes públicas municipal e estadual, foi possível obser-
var que a dificuldade em rever a própria prática pode ser rompida com a
sistemática apresentação da função social da escola. Ideias preconcebidas
podem ser rompidas se desveladas para os sujeitos. O descaso da popula-
ção para com o próprio município e suas possibilidades econômicas tam-
bém é um círculo que pode ser rompido, e o projeto da Associação dos
Produtores de Corumbataí do Sul – APROCOR, desenvolvido com os agri-
cultores, é uma demonstração disso. Hoje há interesses que desde muito
não estavam presentes no município.
Assim, o projeto Educação como Prática Social demonstrou que os
problemas socioeconômicos do município devem ser discutidos também
no âmbito escolar, e, sobretudo, mostrou que a escola desempenha um im-
portante papel nesta comunidade.

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Nair Glória Massoquim

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Moinho cultural:
Uma escola fronteiriça em movimento 1

Márcia Raquel Rolon


Universidade Federal do Mato Grosso do Sul |
rolon.marcia@gmail.com

Caminho traçado por passos concretos


História leva a pensar em passado, fatos, acontecimentos, persona-
gens, presente, movimento. Assim como,

Deus não é dos mortos, mas dos vivos, porque, para ele, todos são vivos. A his-
tória também não é dos mortos, mas dos vivos, pois ela é a realidade presente,
obrigatória para a consciência, frutífera para a experiência. A vida e a realida-
de são história, gerando passado e futuro (RODRIGUES, 1969, p. 27)

Sendo assim, torna–se necessário refletir sobre o fazer história. Par-


ticipar e perceber cada indivíduo como responsável pela história porque
história se faz cotidianamente. Como bem coloca Canevacci (1981), “o de-
senvolvimento histórico-cultural da humanidade é – ou pelo menos foi até
a fase atual – também um contraditório processo de individualização”. In-
dividualização – individuum – tradução latina do grego atomon – ressalta
um conceito de átomo social conforme Canevacci (1981), pulso, o início
do todo. Indivíduo que cria sua própria história, intérprete de si mesmo,
que devolve ao mundo cultural sua história e sua construção, seu brilho,
sua luz que reflete no meio em que está submerso. “Há uma geografia do
próprio homem: ela resulta da cultura que lhe foi transmitida bem mais
do que de sua herança biológica” (CLAVAL, 2007). Indivíduos que tem au-
tonomia para interpretar o mundo e – participando cultural, econômica e

1
Texto derivado da nossa dissertação de mestrado defendida em 2010.

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Moinho cultural: Uma escola fronteiriça em movimento

politicamente – reinventá-lo e transmiti-lo de acordo com a experiência vi-


vida. Nesse mesmo sentido, o autor ainda afirma que:

O indivíduo reage às condições de vida, tira partido de sua experiência e


transmite àqueles que o circundam aquisições que diferem daquelas com as
quais foi beneficiado na infância. A cultura não é uma realidade de essência
superior e que ficaria congelada fora dos golpes da história. Ela muda mes-
mo quando as populações que a pertencem acreditam que esteja congelada
(CLAVAL, 2007, p. 107).

Considerando a história desenvolvida, transmitida e vivida, até o sé-


culo atual, iniciada no século passado, marcado, como se sabe, por pro-
fundas transformações que se iniciaram com a Primeira Guerra Mundial e
a Revolução Russa, e se intensificaram com a queda do Muro de Berlim e
com a dissolução da União Soviética. Cultura desenvolvida a partir de uma
economia industrial, de uma cultura moderna e de um ambiente político
de Guerra Fria. Como resultado, a educação do século XXI veio marcada
pela economia da criatividade, do conhecimento e em um ambiente políti-
co modificado e complexo.
Esse seria o desafio do recomeço. Pensar em como a Revolução Fran-
cesa, no século XVIII, impulsionou o sentimento de liberdade, igualdade
e fraternidade, ainda aguardada e desejada. A democracia que se coloca-
va como protetora do povo que, como forma de governo, segundo Platão,
teria originado a tirania, é, sobretudo, questionável (TRINDADE, 2007, p.
59). É possível perceber o quão longe dos ideais­defendidos pela Revolução
Francesa se encontra o atual panorama mundial.
Observando o quadro crescente de desigualdade social e educa-
cional, pobreza e fragilidade institucional na América Latina, é notória a
crescente democratização das relações sociais, porém, a desigualdade se
mantém nas interações e práticas sociais cotidianas, assim como na cultu-
ra política, em especial na sociedade andina. Estudo realizado por SORJ
(2008) dá uma interpretação justa desta afirmação:

A revolução nacional na Bolívia e os governos nacional-populares no Peru e


no Equador, na segunda metade do século passado, impulsionaram um mo-
delo econômico desenvolvimentista que incorporou politicamente amplos
setores da população até então carentes de direitos de cidadania e estende-
ram seus direitos sociais. Essas políticas favoreceram em particular os seto-
res camponeses que eram também indígenas. No entanto, a categoria identi-
tária foi submetida à de classe e, portanto, se subestimou a heterogeneidade
cultural em função da unidade nacional. Além do mais, e apesar do valor
que esses regimes tiveram em termos de avanço da igualdade social e cultu-
ral, eles foram reproduzindo mecanismos de exclusão através da rejeição de
quem pensava diferente e de quem se distanciava de uma lógica clientelar

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Márcia Raquel Rolon

com a qual os partidos governistas ganhavam aliados em troca de postos e


prebendas (SORJ; MARTUCCELLI, 2008, p. 54).

A América Latina vive o desafio da democracia e da coesão social.


O continente sul-americano esta cheio de ecos de lutas passadas e a nova
onda de líderes e ativistas evidencia essa tentativa de retorno ao passado.
A história, como movimento, não deve ser ignorada. Ela deve ser assimi-
lada e compreendida (ALI, 2008). Voltando-se ao meio do caminho entre
a Revolução Francesa e a declaração da independência dos EUA, tem-se
o nascimento de um “velho pirata do Caribe”, assim chamado por Ali, Si-
món Bolívar, que teve sua vida, atitudes e idéias comprometidas por estes
acontecimentos. O próprio Bolívar sempre alertou para o risco de cair no
desespero ou na capitulação política. Se necessário, dizia, se apaga tudo
e começa novamente do início (ALI, 2008). Será que é preciso recomeçar
essa história compreendendo os ideais dos antecessores ou ainda se luta
por uma liberdade onde há necessidade de um desbravador, um líder polí-
tico, um grande gestor, um rei, ou um ídolo que saiu do povo e que agora
o faz sobreviver? Como descreve Garcia Marquez (1990) em seu livro O ge-
neral em seu labirinto:

Naquele tempo (...) ele (Bolívar) tinha a estranha aparência de um guer-


reiro exótico vagabundo. Usava o elmo de um soldado de cavalaria russo,
espadrilles­de um condutor de mulas, uma túnica azul com ornamentos ver-
melhos e botões dourados, e levava a bandeira negra de um pirata içada
na lança de um habitante das campinas, a caveira e os ossos cruzados so-
brepostos em um lema escrito em letras de sangue: “Liberdade ou morte”
(MARQUEZ, 1990, p. 54).

Reiniciar essa história conquistando espaço, conquistando liberdades


com autonomia, tendo consciência do papel de cada um, respeitando e lou-
vando a diferença ou seria continuar a espera de uma mudança exógena?
Se fechar o foco para a situação do Brasil, verifica-se outros confli-
tos: explosão das taxas de violência urbana armada; a taxa de homicídios
por arma de fogo foi multiplicada por três em duas décadas; de sete mortes
por arma de fogo em cada 100 mil habitantes, em 1982, passou-se a 21 em
2002 (PHEBO, 2005, p. 81); insegurança; desigualdade social; limitadas
oportunidades de um trabalho decente; incivilidade usada como recurso
para combater a invisibilidade de adolescentes e jovens dos setores popu-
lares; ausência de cidadania, não com a nação, mas com as instituições
políticas.
A cultura da colonização ibérica, baseada no catolicismo, marcou o
relacionamento entre o Estado e a sociedade no Brasil. Não houve um de-
senvolvimento endógeno e sim uma gênese decrescente da sociedade civil
onde foi desenvolvido um padrão centralizador, burocrático e hostil à orga-

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Moinho cultural: Uma escola fronteiriça em movimento

nização autônoma e à participação da sociedade. Segundo Sorj (2008, p. 54),


devido à sua força evocativa e a seu potencial para expressar a esperança em
um mundo melhor, a ideia da sociedade civil exerce uma ampla influência
na estrutura de percepção dos cidadãos e na função que conferem a si mes-
mos os diversos atores sociais. No Brasil, somente a partir do início da déca-
da de 1970, é que começa a se construir um amplo e diversificado campo de
organizações da sociedade civil autônomas, e o principal ator da sociedade
civil contemporânea são as ONGs (organizações não governamentais). Mas
é nos anos 1980 que as ONGs ganham legitimidade e se tornam parceiras na
execução de políticas publicas, passam a exercer um papel de representação
que anteriormente não possuíam, a partir da Constituição Federal de 1988.
As entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm
legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente
(CF, art. 5o, XXI)

Estas sociedades sem fins lucrativos se apresentam de múltiplas formas e


nomes, como iniciativas assistenciais, mobilizações populares, entidades de
apoio e assessoria e ONGs. São também, em principio, sociedades civis sem
fins lucrativos os sindicatos, as fundações e as organizações sociais (OS): as
associações são sociedades sem fins lucrativos, portanto, são geralmente de
natureza assistencial, ou, senão, se dedicam a atividades recreativas, cultu-
rais, pias ou religiosas, cientificas e beneficentes. Por serem sem fins lucra-
tivos elas não podem conceder ganhos ou vantagens patrimoniais aos seus
associados (VEIGA, 2001, p. 19).

Para abordar esse movimento próprio da contemporaneidade, será


necessário aproximar mais o foco para um mote onde o Brasil faz fronteira
com um país da América Latina, a Bolívia. E para entrar nesse campo de
visão chega-se ao estado de Mato Grosso do Sul, fronteira com a Provín-
cia Gérman Bush, especificamente na cidade de Corumbá, fronteira com
Puerto Quijarro.

O ser fronteiriço
Indivíduos protagonistas da história do tempo presente. Indivíduos
que vivem em uma fronteira simbólica, viva, na qual interagem diferentes
tradições culturais. No espaço onde Brasil e Bolívia se encontram os idio-
mas, as comidas, as danças e outras manifestações culturais se encontram no
dia a dia, reelaborando essas mesmas manifestações, criando mestiçagens e,
logo, criando identidades fronteiriças nesta fronteira que resume colorações
e emoções possibilitando novos olhares para a sua funcionalização.
Corumbá, fundada em 1778 pelo Capitão-General Luiz de Albuquer-
que de Melo Pereira e Cáceres, foi planejada, segundo os planos geopolí-
ticos lusitanos, como forte protegido por muralhas. Na atualidade ainda

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Márcia Raquel Rolon

carrega a história dos tempos áureos em seus casarões denominados, pelo


Ministério da Cultura, como “Conjunto Histórico Arquitetônico e Paisagís-
tico”. Cidade quente e úmida, Corumbá exala cultura, tem um aroma que
acaricia as rochas calcárias, as quais acomodam em suas bordas inúme-
ras personagens vindas de diferentes cantos do mundo. Como artérias que
alimentam o pulso vital, os rios cumpriram papel marcante na história,
fizeram chegar diferentes manifestações culturais e ligaram Corumbá cul-
turalmente ao mundo.
De acordo com Corrêa (1985), depois da Guerra com o Paraguai a
reocupação e reorganização da então Província vieram acompanhadas de
estímulos do Governo provincial e da Corte. Conforme o autor:

(...) um conjunto de medidas estimulou o restabelecimento da vida urbana em


Corumbá e a reorganização de toda a região de fronteira. Dessa forma, a inter-
nacionalização das águas do Rio Paraguai ate Corumbá, como uma das pro-
vidências adotadas no pós-guerra, abriu novas perspectivas para o até então
acanhado comércio fronteiriço. (...) Corumbá tomou novos rumos, sediando
um entreposto de comércio internacional (...) pelo Rio Paraguai subiam então
navios com as mais diversas mercadorias, entre elas, sal, ferragens, tecidos e,
em contrapartida, desciam com ipecacuanha, couros (CORRÊA, 1985, p. 11),

Indivíduos locais, nascidos à margem do Rio Paraguai e transeuntes


dos Rios Taquari, São Lourenço, Piquiri, Abobral, Miranda, ouviram e sen-
tiram o misterioso e agradável prazer das peças eruditas abarcadas dos dis-
tantes centros urbanos, trocaram noticias, sonoridades, modos de se vestir
e se alimentar. Afetada durante décadas por diferentes crises econômicas,
essa riqueza cultural e artística ficou adormecida. Há apenas uma década as
luzes se reacenderam no cenário cultural local, quando o povo corumbaense
redescobriu e voltou a respeitar o lugar onde tudo começou, o Porto Geral.
Às margens do Rio Paraguai é possível contemplar o sol poente aver-
melhando a baía do Tamengo e, dali, visualiza-se a cidade de Puerto Qui-
jarro, Bolívia. Quijarro está a 4,5 Km de Corumbá, e a 660 km da cidade de
Santa Cruz, conectada a esta por uma via férrea e uma estrada ainda ina-
cabada; 15 km a noroeste encontra-se a cidade de Puerto Suárez. A passa-
gem pela fronteira é emoldurada por um portal que dá passagem a Arroyo
Concepción e composta por aromas exóticos que exalam e se misturam ao
trânsito de mercadorias, ao espanhol, ao “portuñol”, aos dialetos dos ayo-
réus e aos “brasiguaios” envoltos pelo godê matiz das saias das “sholas”.
Parafraseando Zizek (1996) pode-se afirmar que, identificamo-nos
com o outro exatamente no ponto em que se esquiva da semelhança. Os
homens são semelhantes e distintos nesse cenário fronteiriço, estando tão
perto e tão longe dessa cultura fronteiriça. Segundo Bourdieu (2007), o
mundo social é também representação e vontade, e existir socialmente é
também ser percebido como distinto.

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Moinho cultural: Uma escola fronteiriça em movimento

As relações sociais fronteiriças por muitas vezes se dão de forma ar-


rogante e preconceituosa, o brasileiro passa pela fronteira, entra no país
vizinho para comprar mercadorias importadas muitas vezes portando seu
cartão de crédito ou efetivo americano. O boliviano deixa a sua fronteira
para vender mercadorias, verduras, leguminosas na feira brasileira, onde
a relação entre estes dois povos é mais uma vez mediada pelo processo de
compra e venda, sobre a dominação tupiniquim.
Pode-se aplicar neste caso, uma definição apresentada por Darcy Ri-
beiro (2008) em sua obra “O Povo Brasileiro”:

(...) O espantoso é que os brasileiros, orgulhosos de sua tão proclamada, como


falsa, “democracia racial”, raramente percebem os profundos abismos que
aqui separam os estratos sociais. O mais grave é que esse abismo não conduz
a conflitos tendentes a transpô-lo, porque se cristalizam num modus vivendi
que aparta os ricos dos pobres, como se fossem castas e guetos. Os privilegia-
dos simplesmente se isolam numa barreira de indiferença para com a sina dos
pobres, cuja miséria repugnante procuram ignorar ou ocultar numa espécie
de miopia social, que perpetua a alteridade (...). O grande desafio que o Bra-
sil enfrenta é alcançar a necessária lucidez para concatenar essas energias e
orientá-las politicamente, com clara consciência dos riscos de recessos e das
possibilidades de liberação que elas ensejam (RIBEIRO, 2008, p. 25).

Alcançar a lucidez, orientar politicamente nossas energias, conscien-


tizarmo-nos de que não existimos sem o outro, de que o outro é diferente,
é único e é imprescindível. Faz-se mister aceitar as diferenças e aprender a
dialogar, reconhecer, celebrar a diferença! E então, interpretar e criar uma
América Latina unida na diversidade. Conhecer e compreender aumenta a
capacidade de interpretação e de criação.
O contato com a diferença faz encontrar o novo, destroi as verdades
absolutas e permite que a mudança aconteça e desperte a sensibilidade
na diferença. Despertar a sensibilidade, compartilhar sentimentos e sentir.
Que sentido é partilhado na fronteira entre Corumbá e Puerto Quijarro?
Existe uma porosidade entre a ilegalidade e a legalidade no meio dos ato-
res comuns e estatais encarregados pela ordem. Um e outro desgastam a
confiança que deve ser pautada aos homens da Lei criando um clima de
receio, insolência e frustração. Conforme Oliveira defende

A fronteira não pode ser entendida, apenas como uma linha pontilhada so-
bre o mapa, ditada pela fria cartografia, mas sim, como um elemento de di-
ferenciação, comunhão, e comunicação que, muitas vezes, interpõe a ordem
e a desordem, o formal e o funcional, como equilíbrio dinâmico das regras e
dos ritos (Oliveira, 2009, p. 20)

Esta zona de fronteira é dissonante e ambígua em sua essência, mas


sua aparência exala um aroma agradável, pacífico, resultado da delimita-

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ção implantada por nós e por eles, nosotros – otros, para resistir e existir
nesse contexto fronteiriço. O Ministério da Integração Nacional, em sua
Proposta de Reestruturação do Programa de Desenvolvimento da Faixa de
Fronteira, conceitua a zona de fronteira como:

(...) um espaço de integração, uma paisagem específica, com espaço social


transitivo, composto por diferenças oriundas da presença do limite inter-
nacional, e por fluxos e interações transfronteiriças, cuja territorialização
mais evoluída é das cidades-gêmeas. Produto de processos e interações eco-
nômicas, culturais e políticas, tanto espontâneas como promovidas, a zona
de fronteira é o espaço-teste de políticas publicas de integração e coopera-
ção, espaço-exemplo das diferenças de expectativas e transações do local e
do internacional, e espaço-limite do desejo de homogeneizar a geografia dos
Estados nacionais (BRASIL, 2005, p. 21).

Se a zona de fronteira é um espaço propício às trocas culturais, en-


tende-se que há uma identidade fronteiriça singular nesta região emer-
gindo de um processo de construção através de experiências de convivên-
cia entre brasileiros e bolivianos. A identidade é uma construção que se
narra (CANCLINI, 1997). Há uma identidade fronteiriça e dentro dela há
particularidades podendo ser definida como a própria fronteira, mestiça,
dúctil, flexível e multicultural. Apresentá-la em forma de esquema gráfico
seria um emaranhado de fios unidos por nós incapazes de se romperem,
onde várias tangentes apareceriam conforme seu movimento e novas for-
mas e caminhos seriam desenhados e registrados.
Reforçar essa identidade, reforçar o local e as particularidades são
essenciais para o desenvolvimento dessa região. Quando se pensa em de-
senvolvimento, sente-se a necessidade de aumentar a articulação com o
local e promover a relação local com o mundo, isso irá ditar a dinâmica
fronteiriça como diz Cataia (2007):

Ordens e normas globais atingem os lugares reorganizando a vida de rela-


ções a partir de parâmetros sem referencia com o meio local. Mas, em seu
processo de difusão, a dinâmica espacial da globalização não se reduz à inte-
gração passiva das partes, pois os fluxos não são só financeiros – tendentes à
homogeneização –, mas também migratórios (inclusive turísticos), informa-
cionais e culturais – tendentes à diferenciação, o que promove a valorização
da diferença e a descoberta de que a organização interna das sociedades se
revela decisiva nas dinâmicas globais (CATAIA, 2007, p. 1).

É necessário aumentar a horizontalidade entre os fronteiriços, in-


corporar a cultura do outro para que haja intercâmbio e possibilidade de
construir e reconstruir com os outros, mesmo quando há assimetria co-
mercial, social e política, mesmo quando os conflitos de coexistência apa-
recem no cenário, é preciso pensar uma identidade fronteiriça como um

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Moinho cultural: Uma escola fronteiriça em movimento

processo contínuo de acordos e negociações. Conforme sublinha Canclini


(1997):

(...) a identidade é uma construção, mas o relato artístico, folclórico e comu-


nicacional que a constitui se realiza e se transforma em relação a condições
sócio-históricas não redutíveis à encenação. A identidade é teatro e é políti-
ca, é representação e ação (CANCLINI, 1997, p. 142).

Como complementar e facilitar o cotidiano entre brasileiros e bo-


livianos? A fronteira entre Corumbá e Puerto Quijarro configura-se como
um espaço paradigmático das questões críticas contemporâneas (conflito
intercultural, fragilidade ambiental, violência, tráfego de drogas, prostitui-
ção, desigualdades sócio-econômicas) e se estabelece como campo de ação e
pesquisa de interesse global. Neste ponto, a cultura complementa e possibi-
lita encontros além do capital, do trabalho, dos serviços, das trocas de mer-
cadoria. A sua propulsão é intangível, porém suas ações desenvolvidas por
organizações, governamentais ou não, são possíveis de mensurar e avaliar, a
exemplo das ações desenvolvidas pelo Instituto Homem Pantaneiro, gestor
da Escola de Artes Moinho Cultural Sul-Americano, em Corumbá/MS.

Instituto homem pantaneiro


O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) é uma organização de direi-
to privado, sem fins lucrativos, criada em 2002 e idealizada pelo Ten.Cel.
Angelo Rabelo, oriundo da Polícia Militar Ambiental. Após vinte anos de
trabalho em região fronteiriça, preocupado com as ameaças ao pantanal,
o tenente convidou amigos que já haviam exercido projetos reconhecidos
internacionalmente em prol da defesa do meio ambiente, com o intuito de
somar esforços e criar uma instituição que realizasse ações para promover
o desenvolvimento sustentável do Pantanal. Os conflitos sociais envolvi-
dos no esforço de conservação levaram a instituição a ampliar suas ações
atuando na área socioeducativa, artística, treinamento e geração de renda,
histórico-cultural e articulação territorial.
O modelo de gestão do IHP é representado em círculo, para que fi-
que evidente a não existência hierárquica entre as quatro áreas de atuação,
onde os programas e projetos se interatuam proporcionando sustentabili-
dade a cada ação da instituição.
O Instituto Homem Pantaneiro visa reconhecer e valorizar os patri-
mônios natural, social, cultural e histórico no território pantaneiro e neles
enxerga os desafios e oportunidades para o trabalho. Possui a missão de
promover o desenvolvimento sustentável do pantanal por meio de ações
que conservem os capitais natural, social, cultural e histórico.
O organograma da instituição é formado pelo conselho diretor que é
composto pelo presidente da instituição e seis conselheiros consultivos, se-

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Márcia Raquel Rolon

cretário executivo, equipe administrativa financeira e um gestor para cada


área os quais fazem a gestão de programas e projetos desenvolvidos por
área. Em 2008 o IHP transpôs fronteiras e fundou a Fundacion Hombre­
Pantaneiro, uma Organização Não Governamental – ONG, na cidade de
Puerto Quijarro/Bolívia. O principal objetivo do IHP nesta empreitada foi
ampliar suas ações de intercâmbio com este país fronteiriço. Vale aqui res-
saltar, que até o presente momento a referida Fundação ainda não está em
funcionamento por questões burocráticas encontradas na sistematização
de documentos brasileiros.
A área de Desenvolvimento Sócio-Cultural tem como ideal utilizar
as diversas linguagens de dança, música e tecnológicas para qualificar ci-
dadãos, polivalentes e colaborativos. A área Histórico-Cultural tem como
ideal promover atividades que protejam e valorizem os patrimônios arqui-
tetônico e cultural da região e de suas comunidades tradicionais. A área
de Meio Ambiente tem como ideal promover atividades que reconheçam,
valorizem e fortaleçam aspectos da conservação do Patrimônio Natural
do Pantanal. O ramo de Articulação Territorial tem como ideal promover
ações que contribuam com a melhoria da qualidade de vida da comunida-
de preservando requisitos de ordem natural, social, cultural e histórica.
Os objetivos da organização são: promover atividades que reconhe-
çam, valorizem e fortaleçam aspectos da conservação do Patrimônio na-
tural do Pantanal; promover atividades que protejam e valorizem o patri-
mônio artístico, arquitetônico e cultural da região de fronteira e de suas
comunidades tradicionais; promover ações que contribuam com a melho-
ria da qualidade de vida da comunidade.
Em seus programas e projetos o IHP – Instituto Homem Pantanei-
ro atendeu, em 2008, 8.600 pessoas e em 2009 assistiu 10.400 pessoas da
comunidade de Corumbá, Ladário e cidades fronteiriças, segundo dados
apresentados em relatórios anuais da Instituição. Um dos programas de
maior relevância da organização é a Escola de Artes Moinho Cultural Sul-
Americano que atualmente possui 310 participantes do Brasil e Bolívia na
faixa etária de oito a 16 anos. O IHP criou o Moinho com o diferencial de
proporcionar um diálogo fronteiriço, onde as culturas presentes nas fron-
teiras se relacionem com a diferença do outro utilizando a arte como ins-
trumento de linguagem comum.

A escola de artes moinho cultural sul-americano, uma escola em


movimento

A Escola de Artes Moinho Cultural Sul-Americano é um projeto de


desenvolvimento sóciocultural do Instituto Homem Pantaneiro, localizada
no Porto Geral da cidade de Corumbá, no Estado de Mato Grosso do Sul. A
escola visa atender crianças e jovens em idade de oito a 18 anos, oriundos

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Moinho cultural: Uma escola fronteiriça em movimento

de famílias de baixa renda familiar dos municípios de Corumbá e Ladário,


bem como da Bolívia, país que faz fronteira com a cidade.
Localiza-se no prédio onde até 1976 funcionava um Moinho de Trigo
de conceituada organização. Com o decorrer do tempo essa atividade foi
desativada e o prédio tornou-se então um patrimônio histórico recebendo
o nome de Moinho Cultural Sul-Americano e tem como objetivo ser o por-
tal de integração cultural da América do Sul. Este local abriga a escola com
o mesmo nome. As forças do Moinho são:
• Prospectar, articular e transmitir conhecimento;
• Transformar-se e transformar a sociedade;
• Compreender e expressar;
• Proteger e enriquecer o ambiente simbólico.
Assim, tendo uma identificação cultural e histórica, este local serve
de referência perfeita para a integração entre a dança e a música. Daí, o
nascer da escola.
Apresentar o universo da dança e da música às crianças e jovens é
o ideal primeiro desta escola que tem por objetivo promover o desenvol-
vimento integral do ser humano nos diversos campos do conhecimento.
Harmoniza a educação integral com a educação básica, propiciando a in-
corporação de inovações que con­tribuam para o desenvolvimento e a me-
lhoria da aprendizagem, e ainda interage com a sociedade em um sistema
aberto, participativo e cooperativo, catalisador, transformador, facilitador
e distribuidor do uso da ciência e da cultura, tendo no Homem o ponto de
partida e seu objetivo último.
Para alcançar este objetivo, a Escola de Artes Moinho Cultural Sul-
Americano, propõe-se a oferecer atividades que possam transformar seus
alunos em intérpretes-criadores, ou seja, artistas que se orientam pela
atua­ção baseada não somente na reprodução da partitura de um terceiro,
mas principalmente na construção de uma sintaxe autoral.
O ideal proposto, uma democracia de intérpretes-criadores, identificado
a partir da análise das motivações humanas que configuram esta proposta, re-
mete a um aspecto de fundo, muito presente em toda a trajetória e atitude des-
ta escola. Este aspecto é acreditar na premissa de que, ao tomar contato com a
práxis artística, os jovens atendidos, além de conquistar sua própria autonomia,
promovem uma cadeia de efeitos emancipatórios em seus círculos sociais.
A associação com a ideia de democracia amplia o sentido político da
noção de intérprete-criador para abranger o cidadão que tem autonomia
para interpretar o mundo e – participando cultural, econômica e politica-
mente – reinventá-lo.
Por outro lado, o ideal apresenta-se integralmente alinhado com os
princípios e conceitos que regem a pauta das políticas humanitárias avan-

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çadas das Nações Unidas, voltadas principalmente à consolidação de demo-


cracias multiculturais e à redução das desigualdades sócioeconômicas.
A escola trabalha o equilíbrio social e o respeito às diferenças cul-
turais numa região de fronteira. Para ingressar no projeto, o aluno passa
por um processo de seleção. As aulas são ministradas de segunda a sexta
no período matutino e vespertino. Além disso, os profissionais acompa-
nham a vida escolar dos alunos em parceria com a escola formal. A escola
contempla projetos de interlocução cultural com idiomas. São ministra-
das aulas de português, francês, inglês e espanhol. O Moinho Cultural Sul-
Americano trabalha ainda com oficinas e workshops, nas quais as crianças
aprendem técnicas artísticas diversificadas associadas a atividades socio-
educativas. Realizam a arte do brincar por meio da confecção de pipas,
manuseiam o barro para produzir peças em cerâmica, criam acessórios de
moda e criam histórias em quadrinhos. Para completar, as aulas de infor-
mática promovem a inclusão digital dos alunos e seus familiares, e o apoio
escolar auxilia nas dificuldades de aprendizado. Além disso, são oferecidos
acompanhamento psicológico, social, médico e odontológico, por meio de
setores específicos da escola e parcerias institucionais. Neste ano de 2010,
a Escola de Artes possui uma Companhia de Dança Juvenil, uma Orques-
tra Sinfônica Juvenil, um Grupo de Percussão, uma Orquestra de Violões,
uma Camerata, Canto Coral e um Grupo Regional de viola-de-cocho.
Cultura, movimento, liberdade e responsabilidade são palavras que
vêm ao encontro do cotidiano observado na Escola de Artes Moinho Cul-
tural Sul-Americano. Cultura em latim significa colore, cultivar, habitar,
proteger. Podemos comparar o ciclo pedagógico, que é finalizado em oito
anos, do Moinho Cultural às fases do cultivo, o plantar a semente da sen-
sibilidade utilizando a arte como ferramenta, preparar a terra, semear,
acompanhar o crescimento, cuidar para que dê frutos, irrigar e depois co-
lher. E após a colheita, a seleção das sementes, a preparação da terra, o cui-
dado, a irrigação e depois a colheita. Depois, tudo igualmente, produzindo
um movimento circular onde o resultado final é a conquista de liberdade
por parte dos participantes.
Este movimento está presente no logotipo da Escola de Artes Moi-
nho Cultural, que remete às pás de um moinho de vento. Segundo do-
cumento desenvolvido pelo publicitário René Machado, apresentado ao
gestor IHP, em 2004, ano em que foi desenvolvido o conceito da Escola:
DEFESA DA MARCA MOINHO CULTURAL – as pás representam o mo-
vimento constante de transformação que é convertido em transmissão de
conhecimento transcendendo o continente sul-americano através de uma
energia contínua impulsionada pelos ventos da prosperidade. As cores es-
colhidas: AZUL: representa o infinito. VERDE: a cor do conhecimento.
AMARELO: simboliza a juventude e a audácia. VERMELHO: aguça a co-
ragem e a força de vontade.

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Moinho cultural: Uma escola fronteiriça em movimento

Figura 1: Logomarca da Escola


de Artes Moinho Cultural Sul-
Americano, Corumbá, MS, 2004.
Fonte: Arquivo do Instituto
Homem Pantaneiro, 2004.

Cada pá representada na logomarca do Moinho Cultural ainda re-


presenta uma vertente. A pá verde representa o Núcleo de Pesquisa e Siste-
matização, que tem como objetivo gerar, sistematizar, agregar, processar e
difundir conhecimento técnico especializado acerca da ação multidiscipli-
nar do Moinho e instituições articuladas. A pá azul simboliza o núcleo de
Produção e Expressão Artística, que tem como objetivo a pesquisa estética,
produção de repertórios e democratização do acesso à arte. A pá vermelha
é vista como o Centro de Formação de Intérpretes-Criadores que tem como
objetivo a formação integral de intérpretes-criadores com competências e
habilidades avançadas e flexíveis, senso crítico e capazes de pensar e agir
com autonomia. A pá amarela representa o Núcleo de Articulação Territo-
rial que tem como objetivo potencializar e articular os efeitos decorrentes
da ampliação da práxis de interpretação-criação no território.
As pás do Moinho Cultural se movimentam em diferentes sentidos
fazendo com que as cores se componham e, cada núcleo representado por
elas, se interatua criando novas oportunidades para os participantes deste
círculo criativo, ampliando suas escolhas, dando razão a esse movimento,
colocando-os como peça central, a gênese do movimento das pás do Moi-
nho, fazendo com que o movimento os encaminhe para o processo de con-
quista de liberdades, mas também fazendo com que esses participantes se
tornem a finalidade de todo o processo que visa semear o que há por vir.
O movimento do Moinho Cultural apresenta efeitos concretos, con-
forme se pode observar em alguns resultados da Escola fronteiriça, segun-
do relatório publicado em 2009 pelo gestor IHP:
1. Foram envolvidos 2290 alunos de escolas públicas em Concertos
didáticos da Orquestra Vale Música; 2. Formação de 15 multiplicadores na
área da dança, e cinco na área da música. Sete desses multiplicadores atu-
am em Puerto Quijarro e Puerto Suárez, Bolívia, ministrando aulas de dan-
ça e música em seus municípios; 3. Transferência de tecnologia e práxis

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Márcia Raquel Rolon

social para o ambiente formal, atingindo 500 alunos; 4. Aumento da média


de aprendizado de alunos da rede municipal de ensino. Em nível nacional
a média é de 27,9%; estadual é de 30,6%; no município de Corumbá é de
15%; os alunos do Moinho Cultural alcançaram a média de aprendizado de
55,8%; 5. Foram recuperadas 100% das crianças que se encontravam em
situação de exploração sexual; 6. Em cinco anos atuando no território, vin-
te mil pessoas foram atendidas pelo IHP no Moinho Cultural; 7. Em 2009,
foram quatro mil beneficiados diretamente, e destes, 73% tiveram aumen-
to da qualidade de vida.
O intercâmbio com as cidades fronteiriças vizinhas são como o adu-
bo deste cultivo, onde sujeitos fronteiriços se encontram a fim de que ge-
rem novos resultados, novas sementes, novos frutos e aromas, novos sons,
recriem movimentos, sabores e saberes, pois como bem coloca Turino:

Importar cultura. Exportar cultura. Esse é o motor da mudança: pelo inter-


cambio e a troca nos desenvolvemos. A cultura forma consciências, oferece
alternativas, amplia o repertório cultural do povo; informa, democratiza o
conhecimento, respeita as diferenças, fomenta a produção criativa. Convi-
da as pessoas a refletirem sobre sua realidade. Cria. Transforma (TURINO,
2009, p. 202).

O intercâmbio consciente, entre crianças e jovens brasileiros e boli-


vianos cria um ambiente harmônico no Moinho onde percebemos a cultura
destes países permeada de distinções e igualdade. Leonardo Brant define a
cultura como algo que identifica o indivíduo em seu espaço, lugar, época,
tornando-o capaz de socializar e formar espírito crítico (BRANT, 2009). A
arte desenvolve esse espírito critico quando apresenta o próprio individuo
como grande obstáculo a transpor. Para tornar-se um profissional da arte o
individuo deve superar-se dia após dia, o rendimento e performance artísti-
ca dependem do empenho empregado pelo próprio a sua arte. Para tanto, o
condutor da arte, o artista profissional, o professor, ou o monitor que cum-
pre o papel de conduzir o aprendiz e apresentar-lhe o caminho artístico, deve
dominar a técnica e repassá-la como algo imprescindível para que o apren-
diz sinta o prazer da colheita. Como afirma Soucy, não existe expressão sem
conteúdo. O papel do condutor da arte da pós-modernidade é utilizar a arte
conjugada à educação, para encontrar a inteligibilidade, é acordar o desejo,
despertar o prazer de estar e ser envolvido pelas sensações que a arte propor-
ciona e desenvolve no aprendiz. Conforme Ana Mae Barbosa defende,

A arte como linguagem aguçadora dos sentidos transmite significados que


não podem ser transmitidos por meio de nenhum outro tipo de linguagem,
tal como a discursiva ou a científica. Dentre as artes, as visuais, tendo a ima-
gem como matéria-prima, tornam possível a visualização de quem somos,
de onde estamos e de como sentimos. (...) A arte na educação, como expres-

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Moinho cultural: Uma escola fronteiriça em movimento

são pessoal e como cultura, é um importante instrumento para a identifica-


ção cultural e o desenvolvimento individual (BARBOSA, 2008, p. 99).

Arte como cultura! Arte como expressão pessoal! Tal reflexão alerta
para a importância da arte e da educação estar unas em prol do desenvolvi-
mento humano, e é neste sentido que também é percebido o movimento no
Moinho Cultural, onde a arte, a educação, “as culturas”, a diversidade de
conteúdos, diversidades de ações e atuações no campo artístico, educacio-
nal, tecnológico, pessoal, coletivo, apresentam um movimento que celebra
a diferença, a diversidade cultural presente no território fronteiriço Brasil/
Bolívia, proporcionando uma interlocução cultural através dos idiomas,
movimentos, sons, sorrisos, lágrimas... Destacando a possibilidade de dia-
logar na interculturalidade através da arte, pois esta é a ponte que une bra-
sileiros e bolivianos, levando-os a criar e recriar possibilidades inovadoras
que permitem uma convivência social natural.
E neste campo da convivência está presente a liberdade, ou as distin-
tas liberdades, liberdade para a expansão das “capacidades” (capabilities­)
das pessoas de levar o tipo de vida que elas valorizam (SEM, 2000). Liber-
dade de ser bailarino em uma sociedade ainda muito preconceituosa, liber-
dade de viver de e para a arte, liberdade de influenciar o meio em que vivo,
liberdade de trazer minha família e de despertar nela, o respeito pelo meu
desejo e ainda ensiná-la a compartilhar o meu movimento artístico único
e singular. Ser valorizado e fazer o que valorizo está presente nos sorrisos
encontrados e compartilhados no espaço do Moinho Cultural, e é concreto
nos resultados artísticos apresentados pela Escola de Artes, pois:

Ter mais liberdade para fazer as coisas que são justamente valorizadas é (1)
importante por si mesmo para a liberdade global da pessoa e (2) importante
porque favorece a oportunidade de a pessoa ter resultados valiosos. Ambas
as coisas são relevantes para a avaliação da liberdade dos membros da socie-
dade e, portanto, cruciais para a avaliação do desenvolvimento da sociedade
(SEM, 2000, p. 33)

A liberdade de escolha. Música ou dança? Dança ou música? Música


e dança? Produção de música? Produção coreográfica? Composição? Ser
artista ou ser plateia? Ser plateia com conhecimento artístico e ser futu-
ro profissional, independente da área escolhida, autônomo, competente,
participativo e realizado, por ter conquistado a liberdade individual como
comprometimento social. O Moinho Cultural, alinhado à teoria de Amar-
tya Sem, aprecia a força da ideia de que as próprias pessoas devem ter a
responsabilidade de desenvolver e mudar o mundo em que vivem (SEM,
2000), pois apresenta diferentes caminhos e oportunidades para o partici-
pante e só depende do partícipe a opção da escolha, a lenta conquista diá-
ria, o esforço pessoal, e o despertar para a luz cênica e social.

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Márcia Raquel Rolon

A arte desenvolve aspectos individuais importantes como motiva-


ção, envolvimento e autoconhecimento. Em uma peça, quando os violinos
conversam com os violoncelos, a percussão interage entrando no diálogo
trazendo consigo som de outros instrumentos, o bailarino é estimulado a
seguir cada compasso de acordo com o andamento desse diálogo orques-
tral. Corpo de baile, solistas, luz, se unem em movimentos espaciais, expri-
mindo gestos que os entrelaçam à platéia que, respeitosamente, assiste e
dialoga com aplausos.
Neste desenvolvimento espetacular há, acima de tudo, liberdade e
responsabilidade. Cada participante é responsável pela execução conscien-
te de que, se falhar, estará atingindo o outro e o todo do espetáculo. Neste
momento, todos são unos, não há fronteiras. Todos falam o mesmo idio-
ma, o idioma estético, plástico, excêntrico, utilitário, intenso e muito com-
plexo que só a arte sabe discorrer. O apoio social utilizando a arte amplia a
responsabilidade individual e com isso, o individuo conquista liberdades.
Mais uma vez, como bem apresenta Sem:

Responsabilidade requer liberdade. (...). O caminho entre liberdade e res-


ponsabilidade é de mão dupla. Sem liberdade substantiva e a capacidade
para realizar alguma coisa, a pessoa não pode ser responsável por fazê-la.
Mas ter efetivamente a liberdade e a capacidade para fazer alguma coisa im-
põe à pessoa o dever de refletir sobre fazê-la ou não, e isso envolve responsa-
bilidade individual. Nesse sentido, a liberdade é necessária e suficiente para
a responsabilidade (SEM, 2000, p. 322).

O Moinho Cultural realiza esse caminho de mão dupla não só em


seus valores e conceitos, mas concretamente quando atravessa a fronteira
geográfica e política entre Brasil e Bolívia. Esta escola é um modelo para
o diálogo social e de cidadania por meio da arte na região de fronteira.
Para muitos pode parecer utopia, em uma região onde atos ilícitos são
comuns no cotidiano e onde o ballet clássico ainda é visto como profissão
improvável tanto para homens como para mulheres, conduzir o clássico, o
violino, a orquestra, o ballet e a viola-de-cocho (viola típica da região pan-
taneira, fabricada manualmente). Nesta escola originou-se a possibilidade
da conversa contemporânea com o erudito, do local com o global. Dentro
do Moinho, bailarinos, musicistas, colaboradores, voluntários, brasileiros
e bolivianos, falam a mesma língua, fazem arte.
Na concepção de Nietzsche (1993), a arte tem o poder de produzir
novas representações na existência. Através da arte é possível imaginar,
criar e reinventar um viver por meio dessas novas representações produ-
zidas pelo artista. A arte só é se for compartilhada com o outro, ela só é,
se nela for pousado o olhar do outro. A participação das crianças e ado-
lescentes nas atividades artísticas no Moinho Cultural possibilita, não só a
eles, como para seus familiares e profissionais ligados à instituição, a difí-

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Moinho cultural: Uma escola fronteiriça em movimento

cil aprendizagem e o constante exercício de reconhecimento e de convívio


com a diferença e a diversidade.
Neste sentido o Moinho Cultural, tanto por sua concepção teórica e
conceitual de dialogar na fronteira, quanto pelos seus componentes de ação,
dispõe do bastante para se constituir em uma inovadora ferramenta da polí-
tica publica para o equacionamento da complexa convivência fronteiriça.
A Escola de Artes Moinho Cultural Sul-Americano tem como com-
promisso a transformação social, o desafio de ser um vetor de transforma-
ção fronteiriço e o sonho de que no futuro os direitos humanos sejam uma
realidade vivida por todos. Para que isso se solidifique, é necessário que
suas pás continuem em constante movimento, emanando talentos, criando
e recriando saberes. Que o fazer artístico e cultural não se transforme em
entretenimento, por mais que isso seja desejável. E que o diálogo orques-
tral continue e transforme a fronteira em membrana permeável, onde tro-
cas culturais sejam como alimento para os dois fluxos da fronteira entre o
Brasil e a Bolívia.

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trad. Silvia de Souza Costa
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Márcia Raquel Rolon

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Por uma abordagem territorial
do cerrado goiano

Eguimar Felício Chaveiro


Instituto de Estudos Sócio-Ambientais – IESA |
Universidade Federal de Goiás – UFG | eguimar@homail.com

Manoel Calaça
Instituto de Estudos Sócio-Ambientais – IESA |
Universidade Federal de Goiás – UFG | manoelcalaca@yahoo.com.br

Introdução
De repente a geografia brasileira, num processo de profunda hori-
zontalidade, além de povoar quase todas as universidades das regiões do
país, vem se afirmando como um saber que ganha força no campo da pes-
quisa da realidade espacial em diversas escalas e, especialmente, na par-
ceria com movimentos sociais e organizações. Mas a solidez da produção
geográfica, a nosso ver, não é feita sem conflitos: de um lado cresce a via
institucional que submete a pesquisa aos comandos das redes de patrocí-
nio. De maneira sutil, a lei da pressa, a ânsia para apresentar resultados e
a adesão ao marketing penetram o campo do saber geográfico.
Noutro campo, antagônico a esse, há um amadurecimento de uma
geografia que recoloca as grandes questões abertas pelo Movimento de Re-
novação Crítica no começo da década de 1980. Com maiores possibilida-
des de interpretar os problemas do mundo, sem a ortodoxia daquele perío­
do e sem o desvario que o seguiu posteriormente no que foi alcunhado de
“pensamento pós-moderno”, o amadurecimento não é uníssono, pois efeti-
vado também em conflito de fins e objetivos.
Desse conflito uma síntese é reluzente: o fracasso social do modelo de
desenvolvimento capitalista que emergiu do século XVIII e se estendeu até o
período atual – e o enquadramento de todos os lugares em sua lógica – deu
ao território uma importância política, econômica, social e existencial.

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Por uma abordagem territorial do cerrado goiano

A instabilidade econômica em escala mundial e a conseqüente difi-


culdade de os lugares se contraporem à lógica da dinâmica mundial; a fe-
rocidade do modelo de acumulação manietada por técnicas e tecnologias
cada vez mais evoluídas aumentado a produtividade e criando, igualmen-
te, grandes problemas ambientais; o alargamento da divisão internacio-
nal do trabalho imputando a concentração de capitais das grandes corpo-
rações e o aumento da desigualdade social; a concentração da população
em constelações urbanas, macrocefalias, regiões metropolitanas, cintu-
rões urbanos e o adoecimento do sujeito urbano por meio de estresse,
medo, ansiedade, depressão etc; a elaboração de estratégias de marketing
territorial e urbano e a precarização da vida pública; o incremento das re-
des de informação e a desterritorialização global do trabalho juntamente
com o desemprego estrutural são problemas que advém de um conflito: a
sociedade contemporânea lança os seus conflitos no território e ao atra-
vessá-lo de suas contradições o coloca como componente central para a
resistência, para a existência e para as transformações sociais.
Mas um problema se coloca: à medida que o território é transfor-
mado numa categoria de grande projeção, o seu uso exagerado pode lhe
fazer perder o que é mais proeminente, a sua capacidade de clarear as
forças, as intencionalidades, o arco de poder, os estratagemas e as ideolo-
gias que fazem um uso economicista do território. Ou seja: o uso desen-
freado de um conceito pode arrefecer a sua capacidade interpretativa e,
então, esmaecer a sua vitalidade. Ao se transformar num lugar comum,
além de se valer como uma panacéia que a tudo explica pode se tornar
uma metáfora e, logo, deixar de ser um conceito.
Todavia, o diálogo fecundo entre pesquisadores do Laboratório de
Estudos e Pesquisas das Dinâmicas Territoriais – LABOTER, do Instituto
de Estudos Socioambientais – IESA, da Universidade Federal de Goiás;
a interlocução com pesquisadores nacionais como Bernardo Mançano
Fernandes, Marcos Aurélio Saquet, Marcelo Rodrigues Mendonça, Ario-
valdo Umbelino de Oliveira, Dimas Peixinho, Valéria de Marcos, Elaine
Barbosa Silva, Denis Castilho e tantos outros; os trabalhos de pesquisas
em parceria com pesquisadores do Instituto de Pesquisa para o Desenvol-
vimento – IRD, França; as orientações de pesquisadores do Timor Leste
e de Moçambique e, especialmente, o rebuliço acadêmico suscitado pelo
programa de Pós-graduação em Geografia – IESA/UFG, nos têm convo-
cado a elaborar uma abordagem do Cerrado goiano, imerso no jogo da
economia mundial.
Ao cabo desse diálogo, motivado pelos parceiros e desafiado pelo
que ocorre no território cerradeiro nas últimas três décadas, essa análise
denominamos de ABORDAGEM TERRITORIAL DO CERRADO. Com o
objetivo de expô-la e se apresentar à crítica pública é que edificamos as
reflexões que seguem.

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Eguimar Felício Chaveiro | Manoel Calaça

De bioma ao território ao território-bioma: princípios de uma


análise integrada

A importação do conceito de Bioma utilizado pela geografia para


analisar o Cerrado, além de supor, invisivelmente, um determinismo am-
biental, isto é, a natureza como determinante das condições sociais, recai
numa característica que é nuclear do pensamento positivista: separar so-
ciedade das condições naturais. Todavia, para não inverter o erro na dire-
ção oposta – criar um determinismo sociológico – torna-se necessário criar
uma interpretação integrada.
A imensa extensão do Cerrado repercute em forma de grandeza:
pelo critério do tamanho, o domínio do Cerrado é o segundo maior do Bra-
sil. Sua área original era de 2 milhões de quilômetros quadrados. Abrange
a grande área da região Centro-Oeste brasileira como também partes do
Norte, Nordeste e Sudeste e se junta a uma pequena área na região Sul, no
Estado do Paraná (Figura 1).

Figura 1: Domínio do Cerrado


Fonte: www.wwf.org.br

Além da grandeza o tema se tornou notório a partir do conceito de


Bioma.

O termo bioma (do grego Bio = vida mais OMA = grupo ou massa), segundo
Colinvaux (1993), foi proposto por Shelford. Segundo Fonte Quer (1953),

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Por uma abordagem territorial do cerrado goiano

este termo teria sido criado por Clements. Em ambos os casos, a diferença
fundamental entre formação e bioma foi a inclusão da fauna neste novo ter-
mo. Enquanto formação se referia apenas à vegetação, bioma referia-se ao
conjunto de vegetação e fauna associada. Talvez por isto certos autores te-
nham sido levados a considerar bioma e biota como sinônimos. No glossário
do livro de Clements (1949) encontra-se a seguinte definição para bioma:”
Biome – A community of plants and animals, usually of the rank of a forma-
tion: a biotic community”. Ele se caracteriza pela uniformidade fisionômica
do climax vegetal e pelos animais de maior relevância, possuindo uma cons-
tituição biótica característica (COUTINHO, 1996, p.5).

De acordo com que expressa o autor, essa imensa mancha de vida,


organizada conforme diferentes fitofisionomias, além de ser uma consti-
tuição biótica, se caracteriza por apresentar uma rica biodiversidade. Essa
biodiversidade que precisa ser melhor – e mais conhecida – apresenta nú-
meros exuberantes. Assim, Pinto e Diniz-Filho (2005) apresentam como
informações aproximativas, a existência de 10 mil espécies de plantas. Des-
sas 4.400 são classificadas como endêmicas. Acrescenta-se uma fauna que
apresenta 837 espécies de aves, das quais 29 são endêmicas; 194 espécies
de mamíferos com 19 endêmicos; 185 répteis com 24 endêmicos e 150 an-
fíbios com 45 endêmicos.
A riqueza da biodiversidade que se insere no conceito de Bioma é
objeto de uma disputa de sentido, e é reveladora do limite desse conceito:
ora, à medida que a modernização do território e da agricultura pressiona
todos os componentes naturais para lançá-los no jogo da economia inter-
nacional, há, igualmente, a extinção de várias espécies e a destruição de
sua diversidade genética. Sair da noção de Bioma exige, então, que se vin-
cule na interpretação, primeiramente, uma dimensão histórica.
Especialmente a partir de 1970 o Cerrado era visto como um bioma
pobre, quase descartável mediante o critério economicista que amparava o
imaginário nacional que o identificava. A sua pouca eficiência econômica
teria que justificar a adoção de pactos de poder, em escala local, nacional e
internacional, para inseri-lo nas demandas da economia internacional.
Um conjunto de políticas públicas nacionais consorciadas com ins-
tituições do mundo desenvolvido, a partir do incremento de ciência, tecno-
logia e saber importados e por meio de subsídios e organização de logística
pelo Estado brasileiro, foram tecidas como estratégias geopolíticas, ideo-
lógicas e econômicas para transformar o Bioma num território produtivo
(Inocêncio, 2010).
Esse projeto denominado criticamente de “modernização conser-
vadora”, “modernização desigual” e substantivado pelo “pacote verde” in-
cluiu, decisivamente, além dos recursos naturais como o solo e o relevo
juntamente com tecnologia mecânica, todo um diagrama de variáveis e
componentes ativos.

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Eguimar Felício Chaveiro | Manoel Calaça

A edificação de uma abordagem territorial do Cerrado, ao tomar


como cerne, o seu uso e a sua ocupação, coloca como necessidade a com-
preensão de um jogo de mediações entre os atores e os sujeitos que agem
nessa dinâmica; as suas intencionalidades e as estratégias ideológicas que
lhes dão suporte; os pactos entre os atores e a participação do Estado; a
relação entre as classes sociais e as diferentes estratégias de absorções de
cada lugar no mundo dos negócios. E ainda: o papel da infraestrutura, e
da cultura bem ao modo como Almeida (2005) denomina de “natureza cul-
turalizada”.
Por esse viés, a ação do capital sobre o Cerrado ou o que Calaça
(2010) chama “territorialização do capital” impacta o mundo dos sujeitos
que aqui viviam – e vivem – criando modos de desenraizá-los, alterando
seus modos de vida, interferindo em seus valores e em sua cultura. Isso
tudo se resume num dado: altera-se a significação da natureza do Cerrado.
Se antes pensava-o como natureza pobre de povo rude, agora, pela vertente
economicista, é lugar de prosperidade. Se antes as espécies eram preserva-
das agora são destruídas.
Mas o processo não ocorre da mesma maneira em todos os luga-
res. Além da posição territorial, especialmente a aproximação com os
centros de economia hegemônica como o Sul e o Sudeste do país, os
contextos históricos de cada lugar, ou os espaços herdados, participam
direta – e decisivamente – da escolha estratégica para a territorialização
do capital.
As escolhas dependem, também, do momento histórico em que
ocorrem. Isso quer dizer que a inserção dos diferentes lugares no processo
de modernização – e por sua racionalidade economicista – não ocorre da
mesma forma e ao mesmo tempo em todos os lugares. Da mesma maneira
que os impactos são também diferenciados. Essa diferenciação – do uso e
da ocupação – e dos impactos podem ser vistos mediante relações de esca-
las em nível temporal e qualitativo.
A ordem de ações, relações e desdobramentos ou impactos que ins-
tauram, de fato, uma “reinvenção do Cerrado”, conta com vários quesitos
de diferentes ordens: a participação do Estado nacional, dos governos e
das elites locais pactuando-se com o capital internacional; a localização
centralizada no país e a importância das fronteiras como norte do país se
servindo de zona de passagem para a colonização amazônica; a relação
entre solo e relevo em determinados lugares facilitando a atividade mecâ-
nica; a sua rica potencialidade hídrica e hidrográfica que serve água para
a moderna economia etc.
A inserção do Cerrado na economia internacional, a um só tempo,
substitui a economia de subsistência baseada no modelo fazenda e roça
para o da monocultura de soja e de pastagem. Vários pesquisadores entre
os quais Silva (2008) ao estudarem o processo, esclarecem que:

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Por uma abordagem territorial do cerrado goiano

Dentre os danos ambientais destaca-se a expansão da monocultura, que é


considerada como uma prática que tem maior potencial de redução de bio-
diversidade (Queiroz, 2008). As características topográficas do Cerrado, so-
madas às referidas políticas governamentais favoreceram a rápida expan-
são da agricultura, sendo os principais produtos cultivados a soja, o milho,
o arroz, o café, o feijão e a mandioca. No entanto, a monocultura de grãos
prevaleceu e a soja foi a cultura que teve maior destaque. Estes fatores con-
tribuíram para a rápida conversão da vegetação, resultando na aniquilação
do Cerrado nas áreas de expansão da monocultura (SILVA, 2008, p. 31).

A demonstração de que a análise lúcida do Cerrado não pode sepa-


rar território de bioma e, ao estabelecer uma intersecção desses conceitos,
exige que se pense em outras variáveis e componentes que entremeiam a
ligação de ambos, nos colocando para averiguar como a categoria territó-
rio pode ser compreendida.
Um autor muito referendado é Raffestin (1993). Ele ensina que o
território é um espaço em que se projeta a ação do trabalho, isto é, formas
de energia e informação que expressam e testemunham relações marcadas
pelo poder. A explicação torna-se mais esclarecida: quando os atores se
apropriam de um espaço, concreta ou abstratamente, os diferentes sujeitos
sociais “territorializam” o espaço.
Esses atores, por sua vez, são lastreados no mundo objetivo em que
se situam: o Estado e as empresas, no logro da modernidade capitalista,
se constituem como instituições produtoras de territórios, especialmente
a partir do século XX.
Subsídios, projetos, programas, acertos, pactos ou o que chamam de
políticas públicas e também ideologias e imaginários desenvolvidos pelo
Estado permitem que se instaurem uma lógica hegemônica no Cerrado,
um modelo de economia ou de desenvolvimento como se fosse o único
possível.
Haesbaert (1997, p. 44), ao avaliar a importância do Estado escla-
rece que ele não atua só ao modo como Mendonça (2004) aprecia, a resis-
tência dos povos cerradeiros, destaca que “o mundo moderno das territo-
rialidades contínuas regidas pelo princípio da exclusividade (cada Estado
com seu espaço e suas fronteiras bem delimitadas frente ao território do
outro)” faz elo com múltiplas territorialidades que, em cada lugar ou re-
gião, estabelece ações em conformidade com intenções e possibilidades de
atores e do espaço.
Cabe, pois, perguntar: que tipos de pactos, dissidências e redire-
cionamentos ocorrem, atualmente, no território cerradeiro. Melo (2005)
avalia que as lógicas da economia globalizada dão novos sentidos ao es-
paço, alterando o seu conteúdo, e criando diferentes formas e arranjos es-
paciais.

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Ao averiguar, com profundidade, o modo como a categoria território se


desenvolve no interior da produção geográfica, Saquet (2004), além de narrar
as diferentes frentes de ação interpretativa do conceito, considera que,

As forças econômicas, políticas, e culturais, reciprocamente, relacionadas,


efetivam um território, um processo social, no (e com o) espaço geográfico
centrado e emanado na e da territorialidade cotidiana dos indivíduos, em
diferentes centralidades/ temporalidades/territorialidades. A apropriação é
econômica, política e cultural, formando territórios hegemônicos e sobre-
postos fundados nas contradições sociais (SAQUET, 2004, p. 28).

De acordo com o que foi explicado, o marketing, a publicidade, a


propaganda – como linguagens ideológicas de um processo total e con-
traditório, mas que visa esconder as contradições – operam justificativas
para os programas desenvolvidos em nome da construção de um territó-
rio hegemônico. Inclui-se também como peça fundamental do modelo a
incrementação de novas técnicas que possibilitam maior produtividade
acelerando o tempo ao que antes era dominado pelo tempo lento. Resulta
disso um espaço mais instável, complexo e contraditório: o tempo rápido
se contrai e transborda ao mesmo tempo. Ou seja, insere alguns atores
em sua lógica direta exigindo mais ação; e exime e exclui outros, levando-
os a proclamarem a resistência ou linhas de fuga em forma de migração,
em todas as suas dimensões, inclusive a internacional, participação no
terceiro setor etc.
Para sintetizar o nível e o impacto desse tipo de territorialização
do capital e a ação de resistência das diferentes territorialidades, o mé-
todo proposto certifica que deve se compreender que o processo de mo-
dernização não é total em todos os lugares. Sendo assim, outros modelos
de produção resistem, adaptam-se, convertem ou pactuam com o modelo
moderno. Embora haja outros modelos, a hegemonia é da modernização
do território. Dessa feita, a hibridação de tempos, os conflitos sociais e a
diferenciação espacial marcam o estatuto territorial do território-bioma
Cerrado em seus diferentes lugares.
Deve-se salientar que nas últimas décadas o que ocorreu com algu-
mas regiões de Goiás e Minas Gerais, inicialmente, vêm ocorrendo com
outros Estados e regiões de outros lugares. Especialmente em Rondônia,
Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul os conflitos entre a territo-
rialização do capital em escala global e as territorialidades locais dão si-
nais de fortes impactos.
O mesmo tem ocorrido com faixas das regiões Sudeste e Sul em di-
reção ao Norte incluindo Rondônia. O processo chega com ênfase no oeste
baiano por meio de planos e programas que envolvem a criação de novas
cidades e modernas, como exemplo o projeto de Treviso-BA. Os ímpetos
dessas mudanças atingem a estrutura espacial do campo e da cidade.

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Por uma abordagem territorial do cerrado goiano

O campo vazio de gente e produtivo: a dinâmica do espaço agrário


no cerrado

Os estudos e as pesquisas que miram a estrutura territorial do Cer-


rado têm apontado uma síntese: o campo esvaziou-se de gente e se encheu
de bois e grãos; a cidade encheu-se de gente e se tornou desigual. Os vários
trabalhos que desenvolvemos apontam que o espaço agrário no Cerrado
sofreu profundas transformações.
Até 1960-70 o uso da terra prodominante em Goiás e Mato Grosso
era pela economia de subsistência e da pecuária extensiva com o amparo
da cultura e dos saberes locais. De 1970-2005 as imensas lavouras mono-
culturas produtoras de grãos, algodão e cana-de-açúcar tomam conta do
território. Por outro lado, houve também a expansão de assentamentos ru-
rais destinados à agricultura camponesa, mostrando que a força do capital
faz acender a ação do trabalho e da luta pela terra.
Inicialmente as superfícies levemente onduladas dos tabuleiros pla-
nos foram ocupadas por projetos patrocinados pelo PRODECER. Poste-
riormente, verificou-se a expansão da agroindústria juntamente com o
plantio de eucaliptos. Em 2006, segundo o Instituto Sociedade, População
e Natureza – ISPN (2007), cerca de 142.000 ha de Cerrado que, até então,
eram marcados como áreas prioritárias para conservação foram converti-
dos em canaviais­.
Fora os impactos e as mudanças que o processo gera na estrutura
geral do território e no conteúdo do espaço agrário, ele implica na subs-
tituição da biodiversidade biológica pela agrobiodiversidade. Essa subs-
tituição decorre da compensação financeira nos lugares em que ocorre e
garante uma espécie de reserva de lucro deixando as áreas tidas como ina-
dequadas para o uso agrícola, como as serranas do Norte e do Nordeste
goianos, como lugares de preservação.
A redução e simplificação da biodiversidade em decorrência das
atividades agrícolas ocorrem em diferentes escalas. Isso diferencia os pa-
tamares de incorporação dos conhecimentos tecnológicos, tais como as
técnicas de agricultura de precisão, equipamentos de plantio, manejo e co-
lheitas de última geração, produtos gerados pelas pesquisas genéticas na
vida econômica do espaço agrário. E cria uma situação conflituosa e con-
traditória: os lugares dinamizados economicamente sofrem as reduções
das espécies; os lugares que se mantém mais preservados não possuem
dinamismo econômico.
Além disso, a adoção de ciência, informação, trabalho calculado e
preciso lança nos lugares novos tipos de conhecimento desvalorizando, em
conseqüência, os saberes e as práticas tradicionais. As práticas campone-
sas perdem o seu lugar, juntamente com o seu sujeito: o camponês.

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Eguimar Felício Chaveiro | Manoel Calaça

A força das commodities agrícolas comandada pelo agronegócio não


apenas desarticula as práticas e as táticas de vida camponesas, mas cria
níveis de desterritorialização total do sujeito. Sem lugar no campo não
possui um lugar também nas cidades. Resulta disso uma proletarização
que se estende espacialmente nos confins das periferias proletárias das
metrópoles.
Mas o agronegócio, ao abarcar a produção de insumos, as novas téc-
nicas, os saberes científicos, até o produto final, abarca um arco maior de
funcionalidades. Atividades como armazenamento, processamento e dis-
tribuição de produtos são garantias de um monopólio de todo o processo.
A logística espacial participa do aspecto diferenciador da renda obtida en-
tre os atores sociais.
Segundo Barroso (2009, s/p) “a devastação do Cerrado é da ordem
de 1% a 1,5% ao ano, por isso o agronegócio é a força de devastação do
bioma. Soja, cana, milho, algodão fazem parte de uma dinâmica avançan-
do um sobre o outro”. E se junta à essas culturas a construção de usinas
hidrelétricas. Elas refazem a lógica locacional da modernização capitalista
mantendo a estrutura social: agora o interesse passa a ser a água. Assim,
os lugares em que os relevos são movimentados servem a esse negócio de
última instância. Da mesma maneira que ocorre com as atividades minero-
industriais, como o ouro de Crixás de Goiás que dá outra vertente à explo-
ração do Cerrado, agora incorporando também a geologia.
As últimas pesquisas demonstram que a pecuária tem sido uma ati-
vidade igualmente impactante. Na maioria dos casos, essa atividade em-
prega as mesmas técnicas de cultivo das lavouras, incluindo o modo de
preparar o solo, o plantio de sementes geneticamente tratadas, o uso de
adubos, defensivos e produtos agroquímicos para controle de pragas.
A abordagem territorial do Cerrado vertida ao espaço agrário pode,
de fato, evidenciar que está em curso um conflito: a monocultura e suas
intenções economicistas e seu salto degradante – e a agricultura campo-
nesa, submersa no mar da monocultura, tentando reaver sua história, sua
cultura, suas táticas de vida e a sua sobrevivência. A perda de autonomia
do camponês e o pacto do agronegócio às grandes corporações multinacio-
nais dependem da aliança entre Estado e capital internacional. Mais que
um pacto, está em tensão a necessidade do Estado alterar a sua substância
política ou se apresentar apenas como força que facilita a territorialização
do capital e age para amortecer os conflitos sociais gerados por ela.
Convém salientar, também, que a interpretação da estrutura e da di-
nâmica do espaço agrário pela via ambientalista tende a transformar o que
é conseqüência em causa; e a congelar as causas como se fossem um pro-
blema apenas da gestão do Estado. A abordagem territorial integrada não
pode abandonar a força dos atores locais, mas não pode ignorar o processo
de escala em que essas forças se situam.

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Por uma abordagem territorial do cerrado goiano

A urbanização acelerada e a rede desigual


A maioria dos autores que se dedica a compreender territorialmente
o Cerrado afirma: trata-se de uma região ou um território profundamente
urbanizado. Isso nos leva a perguntar: que tipo de urbanização emerge do
uso e da ocupação do Cerrado de 1970 até os dias de hoje? E ainda: que
conflitos e desafios essa urbanização sugere ao planejamento, às gestões e
aos movimentos sociais?
Uma leitura panorâmica nos dados e nas informações oficiais que
identificam a situação e os conflitos das cidades inseridas no Cerrado reve-
la que, aqui, manietado pela modernização conservadora, instituiu-se uma
urbanização acelerada. O ritmo de mudança na estrutura das cidades que,
no modelo de acumulação anterior, serviam de complemento ao modelo da
fazenda-roça, expressa o sentido liberal para qual foi criada.
Deve-se ainda perceber que a transferência rápida, violenta e contí-
nua da população rural para os espaços urbanos, nas últimas três décadas,
mostra que o processo que gerou as transformações implicou no conteúdo
e na forma da rede urbana que se formou por ele.
Denominada de “região do pau torto”, o Centro-oeste possui um ín-
dice de urbanização maior que a do país. Averigua-se também que, entre
as unidades federativas, Goiás é o território que apresenta maior índice de
urbanização (Figura 2), atestando o ritmo acelerado. A urbanização ace-
lerada, impulsionada por processos espúrios e economicistas, gerou uma
rede urbana concentrada e desigual. Esse desenho não se atém apenas nas
formas, no tamanho e nos vínculos e nas relações das cidades, mas em seus
conteúdos e em suas funções.
Contraditória no modo de distribuir-se no espaço, a rede concentra-
da e dispersa implica também nos desafios das gestões. Como tendência os
grandes centros urbanos tornam-se atraentes a mais população e, portan-
to, tendem a sofrer o aumento das desigualdades; e as pequenas cidades,
ao perderem população, transformam-se em forças de retração.
Os centros que crescem vertiginosamente sofrem os problemas
oriundos do crescimento acelerado, como os sociais, os ambientais até os
existenciais. Esse tipo de espaço torna-se espaço indomável. E as pequenas
cidades, ao perderem população, pelo balanço migratório negativo, dei-
xam de ter uma vitalidade social e econômica. Aos poucos vão se tornando
espaços deprimidos.
A leitura territorial desse tipo de urbanização nos leva a ver que ela
resulta de ações em escalas macroeconômicas que dizem respeito ao mo-
delo de acumulação em que o Cerrado se insere. Como temos evidenciado,
à medida que ela resulta da modernização do território, consolidada na
modernização da agricultura e da pecuária comerciais, a função das gran-

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des cidades passa a ser a de organizar um terciário para abastecer as de-


mandas dessa economia agrária moderna.
No que toca às pequenas cidades, a sua função é apenas abastecer
as relações em escala local ou num entorno imediato. Ao mesmo tempo as
cidades médias geram uma “urbanização extensiva e mirada ao circuito
econômico agrícola”. Como “cidades do campo” que ajudam a organizar o
agronegócio, são espaços que concentram a renda territorial gerada pelos
comoditties da agricultura comercial.

Figura 2: Goiás – População rural e urbana – 1950-2007 (%)


Fonte: Censo demográfico / Contagem da população – IBGE.

Em decorrência disso, os seus tempos, espaços e lugares são hibri-


dados por símbolos e ações dos novos ricos e de sujeitos com práticas tra-
dicionais, porém, ligadas às bolsas internacionais podem, paradoxalmen-
te, possuir uma vida local lenta e amena. E como se fossem “a expressão do
mundo” não deixam de apresentar as figuras do local como uma espécie de
rugosidade forçada ou resistente.
No caso do território goiano, a eleição desse tipo de cidade pelas po-
líticas públicas para serem lugares do desenvolvimento econômico ocorre
por meio de sua posição diante das regiões hegemônicas do país, como
em relação à região Sudeste. A posição ou a localização, situada na faixa
meridional do território goiano, se junta à capacidade de aglutinar logísti-
ca espacial com um solo passível de ser tratado e corrigido pela ciência e
com um relevo que permite a ação da produção mecânica. De fato, Santos
(1996) tem razão quando baliza a sua análise apregoando que ciência, in-
formação, técnica economia e ambiente se entrelaçam.
E cabe a essas cidades polarizar os pequenos municípios do seu en-
torno formando auréolas manchadas de pequenos pontos em que oferecem

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Por uma abordagem territorial do cerrado goiano

universidades, serviços médicos e odontológicos, empregos e outros tipos de


materiais para a agricultura moderna. Esse terciário anima fluxos diários de
sujeitos das pequenas às médias cidades. Desenham-se, então, legendas ur-
banas de uma rede dispersa em que pouca relação há entre uma cidade que
comanda a rede e a outra. Em muitos casos, o imaginário de cada localidade
entra em disputa, como é o caso de Rio Verde e Jataí-GO.
Ao observar a totalidade dessa urbanização verifica-se que o campo
também participa dela ativamente. De fato há uma nova relação cidade/
campo no território cerradeiro. Os conflitos, os desafios e o grau complexo
dos variados problemas que originam da urbanização desafiam a ação de
pesquisadores, movimento social, de gestores e de planejadores.

A trama da vida: os territórios existenciais do Cerrado


modernizado

De repente um conjunto de eventos e de simbolizações coloca o Cer-


rado no centro de uma ação enunciativa. São nomes de bares com a pala-
vra Cerrado, como de feiras, cemitérios, escolas, eventos, festivais, exposi-
ção fotográfica, fabricação de camisetas etc. Nessa disputa ideológica do
nome ocorre também as disputas de universidades para serem identifica-
das como “Universidades do Cerrado”. Isso indica que a palavra Cerrado, é
aceita e negociada. Mais que aceita o que ocorre é: o termo – e a sua repre-
sentação – se torna objeto de diferentes interesses.
Um paradoxo ressalta desse agenciamento ideológico: o Cerrado tor-
na-se marca no momento em que é marcado por grandes desigualdades so-
ciais e por grandes problemas ambientais. Mais que um paradoxo, de fato,
é uma contradição essencial: o mesmo modelo econômico que transformou
o Cerrado numa ponte de riqueza para alguns atores, destruiu componentes
de seu Bioma e de seus ecossistemas. E repercutiu decisivamente nos sabe-
res, nos modos de vida, nas atividades festivas e na subjetividade do sujeito.
A transformação do Cerrado, desse modo, marca também a estrutu-
ra dos sujeitos e sua ligação com os lugares. Camponeses, povos indígenas,
lavadeiras, quebradores de coco, vazanteiros, veredeiros, migrantes e toda
sorte de identidades sociais são atingidas pelos ímpetos da modernização.
Isso quer dizer que o processo não ocorre apenas no nível material
da macroeconomia, no uso e na ocupação do solo, na significação do rele-
vo, da água e da geologia mas nas tramas da vida de sujeitos que, de repen-
te, são desterritorializados da terra, do saber e do modo de vida.
A perda de lugares, tal como aconteceu com os povos indígenas Ka-
rajá, em Aruanã-Go, que viram o seu principal território – o Rio Araguaia
– ser tomado pelas grandes pastagens e pelo turismo urbano; a disputa
pela terra dos povos indígenas Tapuia, em Rubiataba-Go, rodeados de la-
tifúndios grilados; ou os camponeses do Assentamento Canudos-Go que,

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circulados por frigoríficos e no sopé da metrópole goianiense (Melo, 2005),


tentam criar meios de sobrevivência econômica e cultural são expressões
dessa ideia: o mesmo processo que moderniza o território pela via de um
economicismo atinge o sujeito e o dilacera.
Surge disso um vislumbre: o Cerrado é ideologizado pelos diferen-
tes discursos. Se é assim, a elaboração de uma consciência de Cerrado não
pode eximir-se de uma consciência histórica. E para que essa consciência
alce a sua força deve-se entender que a disputa territorial do Cerrado in-
clui a “guerrilha de intenções” e de ideologias. Ou seja: a briga entre o eco-
nomicismo que acaba com a vida – e da vida que não pode abandonar os
quesitos econômicos.

Considerações finais
A elaboração em parceria e coletiva de um modo geográfico de abor-
dar o Cerrado evidenciando a centralidade da categoria território, além de
nos requisitar uma atenção sensível à vasta e às múltiplas formas de uso
do conceito, nos exige que apontemos pressupostos capazes de costurar
as análises de maneira coesa e coerente. Sendo assim, temos julgado que,
de fato, vive-se a emergência de uma nova consciência de Cerrado. Mas
lograda num território disputado, essa consciência é também atravessada
de conflitos.
Há visões e discursos que tentam escomotear a concepção econo-
micista do Cerrado que guiam os interesses dos atores hegemônicos; e há
visões que extraviam os estudos de fundamentos dos sentidos dos usos
dos recursos naturais, da cultura e do trabalho dos povos cerradeiros co-
locando como centralidade uma espécie de bairrismo ambiental. Por essa
perspectiva, fazem uma defesa-sem-nome. Isto é, defendem o Cerrado sem
apontar quem o dilacera.
A visão ambientalista do Cerrado corre sempre o risco de trabalhar
com os resultados do processo ao invés das causas. Os problemas ambien-
tais como a erosão, o assoreamento, a redução da biodiversidade, a conta-
minação dos lençóis, a mudança climática, a extinção de espécies da fauna
e da flora, o desmatamento ou qualquer outro, sob a abordagem territorial,
não se separa dos componentes econômicos, sociais, políticos e culturais.
Todavia, o acelerado movimento de incorporação capitalista impe-
trado pela modernização do Cerrado atinge de maneira diferente campo-
neses, fazendeiros tradicionais, povos indígenas, banqueiros, empresários
agrícolas. Essa diferença torna-se fonte de descoberta do Cerrado ao ob-
servar os diferentes lugares e a escala de poder das forças locais.
O arco de poder, o feixe de escalas, o conflito entre atores – peças
fundamentais numa abordagem territorial do Cerrado – não podem desfa-
zer da importância dos estudos e das pesquisas do Bioma e dos ecossiste-

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Por uma abordagem territorial do cerrado goiano

mas. Do mesmo modo que não se pode ignorar os avanços das pesquisas
que trataram o Cerrado pela abordagem de região.
Ao propormos pensar o Cerrado pelo prisma de um território-bio-
ma, a tentativa é preservar o sentido de disputa territorial entre atores que
usam e ocupam o Cerrado e envolver, numa única perspectiva, as dimen-
sões físico-territoriais, as socioeconômicas e as culturais e simbólicas.
Nasce aqui uma abertura para se compreender os territórios exis-
tenciais de diferentes sujeitos que tramam a vida no Cerrado. E isso exige
uma atenção teórica com a apropriação da cultura, com a efetivação da
subjetividade, com as táticas de vida, com os saberes, os sons e, especial-
mente, com a construção de lugares de resistência, de insurgência e de
transformação que suscitam desse “invisível que age”.
A denominada internacionalização do Cerrado nos obriga a pergun-
tar por que esse território-bioma antes desprezado agora se tornou tão
interessante para diferentes grupos de pesquisadores dos mais variados
campos de saber? Por que a universidade, fundada em seus conflitos, se
interessa por eventos de matizes culturais como Feira do Cerrado, Festa
do Pequi, festivais gastronômicos, festas populares, encontro de parteiras,
raizeiras, benzedeiros e benzendeiras?
Mais que isso, é preciso deslindar o que revelam os eventos econô-
micos como feiras agropecuárias, festas da soja, rallys etc. E há que se ver
a força de insurgência de eventos políticos como o Encontro de Povos Cer-
radeiros; caminhadas pelo Cerrado; organização de agentes da economia
solidária. E interpretar as saídas esotéricas que propõem salvar o corpo
doente com a luz do Cerrado, assim como os eventos religiosos que aproxi-
mam do turismo; os bucólicos que transformam sítios ecológicos, cachoei-
ras, serras em lugares de uma tentativa de descontaminação urbana.
O Cerrado por ocupar importante lugar na economia do país conti-
nua sendo uma promessa de riqueza, especialmente com os novos ditames
econômicos baseados na transgenia e na indústria farmacoquímica. Deve-
se considerar que a riqueza de suas águas e de sua diversidade genética,
bem como o seu rico acervo cultural de povos indígenas, camponeses, qui-
lombolas possuem, ainda, um manancial de símbolos que podem ser res-
significados para diferentes fins.
E nunca se deve esquecer que a localização centralizada num país
que corta norte e sul, litoral e sertão foi, desde o final do século passado – e
se consolidou nos meados do século XX – como um importante território
para uma estratégia geopolítica. Edificar a integração mercantil do país
exige inserir o Cerrado na trama territorial.
Por fim, pode-se constatar que, de fato, a redundância é coerente: o
Cerrado é um mundo no mundo da mundialização – objeto da sanha dos
homens de negócio –; pode ser a seiva que ensina que a vida é diversa, dis-
putada e, por isso, requer um pensamento com consciência política.

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Eguimar Felício Chaveiro | Manoel Calaça

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Energie da contraddizione: innovazioni
rurali e territorio. Riflessioni da alcune
esperienze in italia e in piemonte

Egidio Dansero
Università degli Studi di Torino, Facoltà di Scienze Politiche | Dipartimento
Interateneo Territorio, Politecnico e Università di Torino | egidio.dansero@unito.it

Premessa: occasioni e ragioni di un confronto tra Brasile e


Italia
Questo articolo presenta alcune riflessioni sul piano teorico-meto-
dologico per un approccio territoriale nella lettura di processi di trasfor-
mazione degli spazi rurali confrontando esperienze e percorsi di ricerca
in Brasile e in Italia. Si tratta di un dialogo scientifico che è stato avviato
all’interno di relazioni di cooperazione interuniversitaria tra l’Unioeste do
Paranà e l’Università degli Studi di Torino1 e che ha avuto un momento
fondamentale in un seminario svoltosi a Torino nel giugno 2010. Il con-
fronto riguarda in particolare la porzione sud-occidentale dello stato del
Paranà, dove ha svolto diverse ricerche l’equipe2 dell’Unioeste e il Piemon-
te – regione molto più piccola se confrontata con lo stato brasiliano che ha
una superficie territoriale quasi paragonabile all’intera Italia – ma che al
suo interno presenta un’ampia casistica e varietà di situazioni territoriali
quanto a dinamiche di sviluppo e trasformazioni degli spazi rurali.

1
Nel giugno 2009 è stata formalizzata la cooperazione interuniversitaria tra Unioeste e Uni-
versità degli Studi di Torino attraverso un accordo quadro tra i due atenei e due accordi spe-
cifici per lo scambio di docenti e studenti riguardante in particolare la Facoltà di Scienze
Politiche dell’Università degli Studi di Torino.
2
Si tratta di un gruppo ricerca composto da geografi e sociologi e in particolare da Marcos
Saquet (coordinatore), Roseli Alves dos Santos, Adilson Francelino Alves, Luciano Pessoa
Candiotto.

207

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Energie da contraddizione: innovazioni rurali e territorio.
Riflessioni da alcune esperienze in italia e in piemonte

L’equipe brasiliana ha condotto nel 2009-10 un’ampia ricerca sulla


trasformazione degli spazi rurali e in particolare su “Agricultura familiar
agroecológica nos municípios de Verê, Itapejara d’Oeste e Salto do Lontra
(Sudoeste do Paraná), como estratégia de inclusão social e desenvolvimen-
to territorial”. A tale ricerca hanno collaborato due giovani in formazione3
dell’Università di Torino sotto la supervisione scientifica del Prof. Marcos
Saquet e dello scrivente.
Sul territorio piemontese non abbiamo avuto la possibilità di con-
durre un’analoga sistematica ricerca sulla trasformazione degli spazi rura-
li. Essi tuttavia sono stati studiati all’interno di più generali ricerche sulle
trasformazioni del territorio piemontese condotte negli ultimi anni dal Di-
partimento Interateneo Territorio del Politecnico e dell’Università di Tori-
no o attraverso più circoscritte ricerche (alcune di esse ancora in corso)
condotte su aspetti più specifici: farmers’ markets a Torino, promozione
di biomasse e biocombustibili sul territorio piemontese, esperienze di eco-
nomia solidale e alternativa e reti di cooperazione internazionale, appog-
gio all’agricoltura familiare in progetti di cooperazione decentrata in Sahel
promossi da vari soggetti del territorio piemontese (enti locali, Ong, orga-
nizzazioni di categoria e la stessa Università), analisi di presidi internazio-
nali di Slow Food e dell’evento Terra Madre 2010.
Il seminario di giugno ha rappresentato altresì un importante stimo-
lo e occasione per stabilire contatti e relazioni scientifiche con vari soggetti
che svolgono ricerche e azioni sugli spazi rurali piemontesi, i cui contributi
sono raccolti in questo volume e a cui si farà riferimento nel corso dell’ar-
ticolo.
Il rapporto con l’Unioeste ha preso avvio già da alcuni anni con una
riflessione teorica promossa da Marcos Saquet sulla concettualizzazione
del territorio e della territorialità nella geografia brasiliana e italiana (Sa-
quet, 2007), attraverso un dialogo che ha via via coinvolto diversi impor-
tanti geografi e studiosi del territorio italiani e internazionali e in partico-
lare Giuseppe Dematteis, Massimo Quaini, Claude Raffestin (che da tempo
vive a Torino collaborando e stimolando varie ricerche del Dipartimento
Interateneo Territorio) (Raffestin, 2009, 2010, Dematteis, 2008; Dansero,
Giaccaria, Governa, 2009). Il confronto ha coinvolto in particolare la scuo-
la torinese, coordinata da Giuseppe Dematteis, che all’interno del dibattito
italiano ha fornito in questi anni un importante contributo teorico-meto-
dologico all’affermazione di un approccio territorialista4 allo sviluppo lo-

3
Si tratta della Dott.ssa Carolina Bonelli (iscritta alla laurea magistrale interfacoltà in Geo-
grafia presso l’Università degli Studi di Torino) e della Dott.ssa Valentina Bianco (laureata
magistrale in presso la Facoltà di Scienze Politiche dell’Università degli Studi di Torino).
4
L’approccio territorialista allo sviluppo locale fa riferimento a diversi gruppi e percorsi di ri-
cerca. Oltre alla scuola di Torino, e ai fondamentali lavori sulla territorializzazione di Raffes-
tin (1981) e Turco (1988, 2010) si fa riferimento in particolare ai lavori di Magnaghi (2000) e

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Egidio Dansero

cale e più in generale alle trasformazioni sociali e ambientali, in particola-


re attraverso la messa a punto del modello dei “sistemi locali territoriali”
(SLoT) per l’analisi di processi e politiche di sviluppo locale (Dematteis,
Governa, 2005; Conti, Giaccaria, 2001; Dematteis, 2008).
In questo articolo verranno dunque presentate alcune “rilevanti” tra-
sformazioni, innovazioni e dinamiche che interessano gli spazi rurali nel
contesto piemontese, cercando di leggere il ruolo del territorio all’interno
di tali processi. Mi riferisco alla diffusione dell’agricoltura biologica e di
qualità nel territorio piemontese (e ai limiti e criticità che ne bloccano l’ul-
teriore affermazione), all’affermarsi di una cultura capace di legare cibo e
qualità agro-alimentare a qualità ambientale e territoriale e sostenibilità
sul piano politico e sociale in una prospettiva translocale, all’affermarsi di
alternative food networks quali relazioni di filiera corta e solidale tra pro-
duttori e consumatori in innovative relazioni tra consumo e produzione e
tra città e campagna e infine alla necessità di ripensare il rapporto ener-
gia e territorio a partire dall’opportunità/necessità di stimolare forme di
energia alternativa e rinnovabili. Su questi temi si soffermano le relazioni
di Alessandro Corsi (l’agricoltura biologica in Italia), di Cristiana Peano
(l’esperienza di Slow Food in Italia e all’estero), di Nadia Tecco e Matteo
Puttilli (energie rinnovabili e biocombustibili) di Patrizia Del Santo e Ne-
vio Perna (esperienze di Gruppi di acquisto solidale in Provincia di To-
rino), che affiancano nel volume i saggi dei colleghi brasiliani ed alcuni
articoli su esperienze innovative di promozione dello sviluppo territoriale
e solidale in Brasile (articoli di Eleonora Olivero sulla rete Justa Trama e
di José Marques e Federico Perotti sulla promozione dell’agroecologia da
parte dell’Ong Cisv di Torino).
Tutti questi processi sono variamente collegati tra di loro, per
quanto non sovrapponibili, nelle forme, razionalità, attori e dinamiche.
Come si è detto, nella nostra prospettiva tali processi si configurano
come delle esperienze “rilevanti”, il che richiede tuttavia delle spiegazio-
ni. Non lo sarebbero infatti da un punto di vista quantitativo se messe a
confronto con i sempre più pervasivi processi che dominano il sistema
agro-alimentare tanto nella produzione che nel consumo, sia in Italia
che in Brasile, come testimoniato dall’articolo di Nadia Tecco. Credo,
è questa è l’ipotesi forte che sorregge tutta la riflessione e il dialogo tra
equipe brasiliana e italiana, che possano essere considerati “rilevanti”
in quanto processi rivelatori di quelle “energie da contraddizione” come
definite da Alberto Magnaghi (2000) poiché sperimentano, saggiano e
ripropongono in forma inedita potenzialità di forme alternative di colle-

della sua scuola e a vari altri gruppi di ricerca in ambito geografico, urbanistico economico e
sociologico. Di particolare interesse è la recente costituzione della “società dei territorialisti”
(http://www.societadeiterritorialisti.it).

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Energie da contraddizione: innovazioni rurali e territorio.
Riflessioni da alcune esperienze in italia e in piemonte

gamento tra produzione, consumo alimentare e uso e riproduzione della


terra e del territorio, come chiave per rapporti più giusti ed equi sia con
la società sia con l’ambiente, ossia con quella che potremmo definire una
“territorialità sostenibile” (Bagliani, Dansero, 2005). Si tratta di dinami-
che e processi che sono quantitativamente e qualitativamente in cresci-
ta, per quanto rimangano di nicchia e presentino non pochi problemi,
criticità e contraddizioni.
In questa prospettiva lo sguardo a confronto tra esperienze brasilia-
ne e italiane appare di grande interesse. Come ho potuto verificare più vol-
te nel corso di questi ultimi anni avvicinandomi al tema della cooperazione
internazionale nel campo dello sviluppo rurale, e come ha ribadito durante
il convegno di giugno 2010 Ivo Bertaina (presidente di Agribio Piemonte5)
i contadini di tutto il mondo possono capirsi pur parlando lingue differen-
ti, e magari essendo analfabeti, perché hanno in comune il rapporto con
la Madre Terra. Forse ripartire da questo rapporto, ripensarlo e verificare
modalità innovative di sperimentazione nella relazione agricoltura, consu-
mo e benessere dell’individuo e della società ci può far intravedere e prati-
care vie alternative di uno sviluppo capitalistico che sembra procedere per
deterritorializzazione e disumanizzazione (qui intese come collegate nel
senso loro attribuito da Deleuze e Guattari (1972).
Tali occasioni e ragioni di dialogo non solo scientifico, ma anche
civile e politico, sono dunque la premessa di una riflessione che procede
dapprima con il presentare le chiavi di lettura del territorio, e dello SLoT
nell’analisi e promozione di processi di sviluppo per poi verificarne l’ap-
plicabilità, capacità e limiti interpretavi rispetto ai processi innovativi che
interessano gli spazi rurali cui si è fatto riferimento.

Il ruolo del territorio nei processi di sviluppo locale


Il territorio nell’approccio territorialista
Negli ultimi due decenni, il tema dello sviluppo locale ha progressi-
vamente assunto un’importanza centrale nel dibattito sullo sviluppo, non
solo dal punto di vista teorico e della ricerca, ma anche dal punto di vista
politico, operativo e delle pratiche.
Si è cioè affermata una visione critica dello sviluppo economico che
ha evidenziato l’importanza della scala locale nei processi di sviluppo. A
partire da un variegato insieme di evidenze empiriche e di riflessioni teori-
che, quali le dinamiche socio-economiche delle aree di concentrazione di
piccole e medie imprese che hanno dato vita al filone di studi sui distretti
industriali e sulla Terza Italia, in Italia, come più in generale nel dibattito
internazionale, lo sviluppo locale si è diffuso ed imposto come un paradig-

5
http://www.agribionotizie.it/

210

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Egidio Dansero

ma di riferimento, se non addirittura come nuova “ortodossia” nelle politi-


che di sviluppo (Dansero, Governa, 2005).
Dall’analisi dell’ampia letteratura non emerge una definizione uni-
voca e condivisa quanto piuttosto una grande varietà di approcci e propo-
ste che convergono nel riconoscere l’importanza delle specificità locali per
il ruolo che possono giocare nei processi di sviluppo. Al di là delle differen-
ti interpretazioni, rinvenibili nella riflessione teorica italiana (Dematteis,
1995, Trigilia, 2001; Becattini, Sforzi, 2002) sia in documenti di orienta-
mento di politiche e strumenti operativi, in termini generali lo sviluppo
locale può essere descritto come un processo di interazione tra soggetti
locali (pubblici, privati e loro variegate partnership) che condividono in
modo implicito o esplicito alcune visioni di sviluppo per la messa in valore
di risorse e “ricchezze” territoriali di vario tipo (materiali e non) di cui di-
spongono. Questi attori, proprio per la loro prossimità spaziale e la cono-
scenza del territorio, per il coinvolgimento e i legami (di fiducia, identitari
ecc.) che hanno con esso, riescono ad avviare e gestire dinamiche positive
di cambiamento in modo relativamente autonomo e localmente specifico.
In approcci di questo tipo, la società locale e le risorse territoriali riescono
ad essere messe in movimento in modo più efficace e duraturo di quanto
non avverrebbe con interventi maggiormente eterodiretti rispetto al conte-
sto locale. In questa prospettiva lo sviluppo locale si salda fortemente con
le tematiche del decentramento territoriale e della partecipazione e con-
sente di interpretare il frequente fallimento dei modelli e delle politiche di
sviluppo “calate dall’alto”. Il successo del tema ha consolidato nel dibattito
internazionale alcune parole chiave: l’approccio bottom-up allo sviluppo,
la centralità del territorio, la concezione multidimensionale, integrata e in-
tersettoriale delle politiche, la negoziazione fra gli attori e la contrattualiz-
zazione formale dei diversi interessi presenti.
In particolare il territorio assume una valenza centrale, almeno sul
piano retorico, nella definizione degli approcci di sviluppo locale. Tutta-
via nelle pratiche esso è ridotto non di rado a categoria opaca assunta in
maniera parziale e strumentale, costantemente citata ma raramente ap-
profondita e dibattuta (Dansero, Governa, 2005). Il territorio passa in que-
sto modo dall’essere considerato un semplice supporto passivo dell’azione
all’essere ridotto a uno spazio d’esercizio di competenze politico-ammini-
strative definite; dall’essere assunto come mero insieme di relazioni favo-
rite dalla prossimità dei soggetti a rappresentare un coagulo di valori e di
risorse conoscibili in modo oggettivo, indipendentemente dagli usi e dalle
rappresentazioni che ne hanno gli attori.
Magnaghi (2000) ci ricorda che in natura non esiste il territorio, ma
esso deriva da successivi cicli di civilizzazione in un processo dinamico e
di accumulazione selettiva. Come afferma Raffestin (1981), il territorio è
uno spazio nel quale sono stati proiettati lavoro, energia e informazione;

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Energie da contraddizione: innovazioni rurali e territorio.
Riflessioni da alcune esperienze in italia e in piemonte

uno spazio quindi che è stato ed è utilizzato, abitato, sfruttato, conosciu-


to e curato dagli abitanti; in questo senso il territorio è caratterizzato da
relazioni segnate dal potere. Il territorio, seguendo le riflessioni di Turco
(1988), Dematteis (1995) e Magnaghi (2000), non è semplicemente un’area
geografica ma un insieme di relazioni fra le comunità insediate, con le loro
culture, e l’ambiente.
In quanto sistema di relazioni, il territorio chiama in gioco com-
ponenti sociali e economiche (residenti, imprenditori, associazioni, indu-
strie, istituzioni, ecc.), aspetti ambientali (infrastrutture, monumenti, di-
sposizione dei centri, delle vie di comunicazione, del parcellare agrario,
ecc.), aspetti naturali (orografia, idrografia, clima, ecosistemi locali, ecc.) e
anche aspetti culturali (tradizioni locali, identità locale, ecc.). In tale visio-
ne il territorio è inteso quindi come una categoria di ricomposizione che
non pone la salvaguardia degli ecosistemi in antitesi a quella della società
e di un suo sviluppo (anche economico) locale, ma vede componente natu-
rale e socioeconomica come due inestricabili aspetti di una dinamica che
deve essere considerata nella sua interezza e che, solo all’interno di tale in-
terezza, può arrivare a equilibri veramente sostenibili (Bagliani, Dansero,
2005).
In termini generali, possiamo dunque dire che il territorio è un arte-
fatto sociale che comprende la fisicità della superficie terrestre come “ma-
teria prima” sulla quale opera l’agire collettivo. Il passaggio da terra a ter-
ritorio (la prima territorializzazione) avviene attraverso una stratificazione
progressiva e incoerente (Dematteis, 1985).

Il territorio nelle politiche di sviluppo locale


Nel cosiddetto approccio territorialista allo sviluppo si propone dun-
que una visione di territorio come prodotto complesso in un rapporto co-
evolutivo società-ambiente. Ai fini del nostro ragionamento è tuttavia utile,
seguendo Dematteis (2007), distinguere concettualmente differenti signifi-
cati di territorio, a crescente complessità, che generalmente si intrecciano
nei discorsi sullo sviluppo locale. In questo ambito, il territorio può infatti
essere pensato come:
1. “semplice supporto, cioè ambito spaziale delle interazioni tra i sog-
getti attori delle previste azioni di sviluppo;
2. contenitore di risorse potenziali “immobili” (materiali e immateriali),
definibili oggettivamente da esperti esterni in termini di vocazioni;
3. luogo di possibile esercizio e governance della territorialità6 at-
tiva, cioè come combinazione dei significati 1 e 2 suddetti, in cui
6
Tra le diverse definizioni di territorialità (Governa, 2007), in questa sede facciamo riferi-
mento alla definizione proposta da Raffestin (2003), secondo cui la territorialità è l’“insieme
delle relazioni che una società, e perciò gli individui che ne fanno parte, intrattengono con

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Egidio Dansero

l’interazione degli attori (locali e non) si lega alle valorizzazioni delle


risorse locali, trasformandole da potenziali in fruibili ed eventual-
mente esportabili;
4. attore collettivo locale: rete di soggetti pubblici e privati, capace di
autoorganizzarsi al fine di autoprogettare e autogestire il proprio
sviluppo (quindi anche quella parte “attiva” del capitale territoriale
che sfugge all’ottica esogena del punto 2 e che è in grado di produrre
risorse aggiuntive attivando giochi a somma positiva)”.

L’approccio SLOT
L’idea di territorio come attore collettivo locale è al centro di un ap-
proccio territorialista allo sviluppo locale elaborato nel corso degli anni
Novanta da alcuni geografi torinesi (Dematteis, 2001; Dematteis e Gover-
na, 2005; Dematteis, 2008).
L’approccio in questione, noto come modello dei sistemi locali terri-
toriali (SLoT), si propone di descrivere e interpretare la realtà esaminando
i modi specifici in cui il livello locale e il livello globale interagiscono tra
loro (Turco, 1988; Dematteis 1991, Conti e Giaccaria, 2001). Il nodo cen-
trale del modello, che considera ciascun luogo come un sistema dinamico
di relazioni intersoggettive, capaci di sedimentare risorse relazionali, co-
gnitive e organizzative specifiche, sta nella ricerca di un livello locale attivo
nei processi di sviluppo (Dematteis, 1991). Si tratta, come scrive l’econo-
mista italiano Giacomo Becattini, uno dei padri della concettualizzazione
dei moderni distretti industriali, di “individuare delle entità intermedie fra
il sistema nel suo insieme e il soggetto singolo” (Becattini, 1989, p. 9), tra
il sistema economico in generale e i singoli soggetti economici. In questo
senso, nella riflessione italiana sviluppatasi attorno alla scoperta della Ter-
za Italia e dei distretti industriali, si è utilizzato il concetto di sistema loca-
le, riferendosi ad un aggregato di soggetti che nel trasformare il territorio
in cui opera, può comportarsi in determinate circostanze come un sogget-
to collettivo, pur non essendo formalmente riconosciuto come tale (non è
un’impresa, un ente territoriale o altra istituzione).
Nell’approccio della scuola geografica torinese l’interazione tra sog-
getti, risorse e potenzialità del territorio locale7 e sviluppo viene studiata

l’esteriorità e l’alterità per soddisfare i propri bisogni con l’aiuto di mediatori nella prospet-
tiva di ottenere la maggior autonomia possibile, tenendo conto delle risorse del sistema”.
La territorialità fa quindi riferimento sia ai rapporti con gli altri individui e gruppi sociali
(l’alterità) sia alle relazioni con l’ambiente naturale e gli ecosistemi (l’esteriorità).
7
Nel modello per “locale” s’intende la scala geografica che permette le interazioni tipiche
della prossimità fisica: relazioni basate sulla conoscenza e sulla comunicazione diretta, sulla
fiducia, sulla reciprocità, sulla comune esperienza e pratica di un certo contesto territoriale
ecc. Si pensi ad esempio ad un quartiere, ad una città, ad un insieme di comuni limitrofi.

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Energie da contraddizione: innovazioni rurali e territorio.
Riflessioni da alcune esperienze in italia e in piemonte

ricercando la presenza di una serie di indizi e condizioni che favoriscano,


opportunamente sostenute da interventi di governance, la costruzione di
un sistema locale territoriale (SLoT) in grado di dare impulso a un proprio
sentiero di sviluppo (Dematteis, 2003).
In quanto strumento analitico il modello concettuale SLoT è forma-
to da degli elementi e dalle interazioni tra questi e l’ambiente esterno. Una
prima componente del modello è la rete locale, formata dall’insieme delle
relazioni e interazioni tra soggetti (individuali e collettivi, pubblici, privati,
misti, locali e sovralocali) presenti in un luogo. Il trait d’union tra questi
attori è rappresentato dall’impegno nella programmazione e realizzazione
di progetti di trasformazione, sviluppo e riqualificazione del proprio ter-
ritorio.
Una seconda componente è il milieu locale, ossia l’insieme di risorse
territoriali materiali e immateriali (dotazioni infrastrutturali, specializza-
zioni produttive, saper fare locali, intensità e caratteri del capitale sociale,
ecc.) specifiche del contesto territoriale in cui opera una certa rete locale
dei soggetti, così come da questi percepite. Riguarda cioè quell’insieme di
proprietà che la rete locale dei soggetti riconosce e considera come poten-
zialità per trasformare e migliorare il proprio ambiente di vita.
Queste due componenti (rete locale e milieu) interagiscono fra loro
e con l’ecosistema in cui sono inserite, traducendo in questo modo le
potenzialità del milieu in valori – di tipo ambientale, culturale, estetico,
sociale ed economico – e trasformando a livello simbolico e materiale
l’ambiente (Dansero, Bagliani, 2005). La rete locale, inoltre, entra in re-
lazione con reti e istituzioni di livello sovralocale (provinciale, regiona-
le, nazionale, europeo, mondiale). Tale rapporto si esplica in azioni che
modificano sia la sua composizione, sia il milieu territoriale: attraverso
il confronto e lo scambio con l’esterno muta il rapporto con l’ambiente
locale in quanto vengono “importati” valori esogeni (cognitivi, culturali,
sociali, economici) ed esportati analoghi valori prodotti dal sistema loca-
le. Questi valori a loro volta modificano le reti e gli ambienti sovralocali
in cui circolano.
Il punto di partenza per individuare uno SLoT è rappresentato dalla
ricerca di dinamiche che riflettano un ruolo attivo dei soggetti territoriali,
assumendo come indizi la presenza di aggregazioni territoriali di soggetti
pubblici e privati che hanno prodotto progetti e azioni di trasformazione
e sviluppo territoriale nei diversi settori (produttivo, ambientale, turistico,
etc.). Si tratta in altri termini di tracciare una prima geografia dell’azio-
ne territoriale sulla base della presenza e delle geometrie disegnate da di-
namismi progettuali locali, come indicatore di auto-organizzazione locale
(Dematteis, 2003). Utilizzando apposite griglie di analisi della progettua-
lità è possibile ricostruire le relazioni di interazione tra soggetti locali, il
rapporto di questi ultimi con le risorse territoriali, le relazioni con i livelli

214

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Egidio Dansero

sovralocali e gli obiettivi ed esiti delle azioni promosse. In questa direzio-


ne, particolare attenzione è prestata all’analisi:
• delle tipologie di progetti attivati (settori più dinamici, estensione
dell’ambito di ricaduta dei progetti, tipologia di strumenti normativi
ricorrenti);
• dei soggetti coinvolti (natura dei soggetti, tipologie di partnership,
ricorrenza delle relazioni nel tempo, modalità di organizzazione dei
rapporti);
• delle risorse territoriali (caratteri e tipologia, settore di riferimento,
modalità di utilizzo delle risorse mobilitate dai progetti);
• delle immagini del territorio attuale e alle visioni al futuro che emer-
gono, esplicitamente o implicitamente, dall’analisi dei progetti.
Queste dinamiche relazionali vengono poi raffrontate con altri ele-
menti dell’organizzazione territoriale (analisi del decoupage politico-am-
ministrativo, delle partizioni economico-funzionali, offerta dei servizi,
ecc.) al fine di ricostruire un quadro territoriale il più completo possibile
delle dinamiche in atto a livello locale. La fisionomia del sistema locale vie-
ne così ricostruita integrando la ricomposizione delle reti locali di soggetti
emergenti dall’analisi della progettualità con le geometrie e i confini terri-
toriali disegnati da altre forme di interazione, tra cui la presenza di omo-
geneità culturali, specializzazioni produttive, autocontenimento dei flussi
pendolari per lavoro e servizi in grado di favorire aggregazioni territoriali
di lunga durata. In questo modo l’approccio tenta di valutare la sosteni-
bilità dei processi in atto nel sistema locale esaminando la coerenza tra
competenze dei soggetti, progetti in corso e potenzialità del milieu locale.
L’identità dello SLoT viene definita pertanto non solo in termini di senso di
appartenenza, cioè di qualcosa che si basa sulla memoria del passato, ma
anche e soprattutto in termini di organizzazione del sistema, cioè di senso
di coesione e di continuità proiettata nel futuro.
Quello che nel complesso questo approccio intende evidenziare è
come lo sviluppo locale sia un fenomeno territoriale, non settoriale, in
quanto parte dalla presa d’atto che in uno spazio le varie componenti sono
legate le une alle altre, e che proprio la trasversalità e l’integrazione sono
fonti di creazione di nuovo sviluppo. Non si tratta dunque semplicemente
di una procedura, riproducibile ed esportabile in maniera automatica in
altri contesti, ma di un processo, che non nasce ovunque e in qualunque
condizione, ma che per innescarsi ha bisogno della costituzione e mobilita-
zione di una rete locale di attori (locali e non) che “guarda” al territorio, ne
individua potenzialità e limiti e definisce un suo sentiero evolutivo, fatto di
obiettivi, priorità, volontà talvolta conflittuali, spesso difficili da accostare,
ma che proprio per questo consentono il mantenimento, la preservazione,
la trasformazione di un unicum territoriale.

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Energie da contraddizione: innovazioni rurali e territorio.
Riflessioni da alcune esperienze in italia e in piemonte

Come vedremo, con riferimento alle trasformazioni e processi in


atto che coinvolgono gli spazi rurali e l’operare di “energie da contrad-
dizione”, non si tratta tanto di ricercare e stabilire se si sia in presenza o
meno di uno SLoT, ma di verificare l’esistenza di indizi, di precondizioni,
di dinamiche, di reti di attori e risorse attivate o attivabili con il sostegno
di opportune politiche territoriali.

Innovazioni nel sistema agro-alimentare e ridefinizione degli


spazi rurali

Le nicchie verdi
Delineato il quadro degli strumenti teorici con cui leggere il ruolo
del territorio nei processi di sviluppo locale, tratteggiamo in questo para-
grafo in modo sintetico e non esaustivo alcune tendenze nel sistema agro-
alimentare italiano, e piemontese in particolare, che appaiono rilevanti in
quanto esprimono delle energie da contraddizione rispetto a dei modelli
dominanti nella produzione e nel consumo agro-alimentare e più in ge-
nerale nell’organizzazione del territorio rurale. Come si è detto si tratta di
una rilevanza sul piano qualitativo e non certamente quantitativo. Forse è
anche discutibile ricomprendere in un discorso unitario processi e dinami-
che che hanno caratteristiche anche diverse e contraddittorie, così come
non pochi limiti e criticità. Tuttavia esse ci appaiono riconducibili ad una
più generale ridefinizione dei rapporti tra le potenzialità di sviluppo rura-
le e il territorio, inteso come prodotto sociale ad alta complessità, ripen-
sando completamente la relazione cibo-cultura-territorio. Esse si presen-
tano come delle innovazioni di nicchia, di cui occorre in molti casi ancora
esplorare potenzialità e limiti. Il concetto di “nicchia verde”, così come
formulato da alcuni autori nel dibattito internazionale sulla diffusione di
agricoltura biologica (Smith, 2006, 2007) presenta degli spunti di grande
interesse e si colloca in un più ampio dibattito sui regimi socio-tecnici che
favoriscono i processi innovativi.
In una prospettiva socio-tecnica, gli elementi tecnici che riguardano
un regime come la fornitura di cibo (input fisici, tecniche colturali, pesti-
cidi, tecniche di raccolto e allevamento, trasporti, lavorazioni alimentari
…) sono studiati in stretta relazione con elementi sociali che riguardano
l’orientamento rispetto alla produzione agricoltura, alle produzioni alimen-
tari, alla qualità del cibo, così come politiche e trend rispetto al sistema
agro-alimentare, nei consumi e in altri comparti sociali (Smith, 2006). In
questo contesto le iniziative di nicchia sono fonti di potenziale cambiamen-
to radicale che possono, se gestite in modo strategico, alimentare trasfor-
mazioni sostenibili nel regime dominante. Le nicchie verdi forniscono spa-
zio per nuove idee, artefatti e pratiche senza essere sottoposti alle pressioni
che caratterizzano il regime dominante (modello agro-alimentare prevalen-

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Egidio Dansero

te). Le nicchie alternative possono, in caso di successo, raggiungere dimen-


sioni minime per aprire nuovi mercati, attirare più ampi interessi.
In questo senso richiedono un approccio di policy particolare. Prese
singolarmente queste tendenze (agricoltura biologica, filiere corte, qualità
ambientale e territoriale, …) non possono essere ricondotte ad una gestio-
ne strategica di nicchia, ma nel loro insieme compongono una visione che
può orientare un cambio di regime socio-tecnico di lungo periodo (Smith,
2006). La prospettiva del regime socio-tecnico consente di avere uno sguar-
do complessivo all’insieme di relazioni funzionali e territoriali che si svi-
luppano a partire ed attorno a queste innovazioni nel modo di vivere e ren-
dere economicamente e socialmente produttivi gli spazi rurali.

Energie da contraddizione: un quadro di sintesi


Nel presentare sinteticamente le tendenze di nicchia nel sistema
agro-alimentare e in particolare nella relazione produzione di cibo-con-
sumo-territorio che lasciano intravedere possibili alternative nella ridefi-
nizione degli spazi rurali, faremo riferimento come si è detto al contesto
italiano e in particolare piemontese, per quanto queste tendenze, varia-
mente configurandosi, accomunino molti territori in diversi paesi. Oltre a
questa contestualizzazione geografica è importante una contestualizzazio-
ne temporale. Alcuni di questi processi non sono recentissimi. Ad esempio
l’agricoltura biologica è un approccio che si è affermato già a partire dalla
secondo metà del secolo scorso in alcuni paesi europei, tra cui l’Italia, seb-
bene stia conoscendo una notevole evoluzione, con segnali contrastanti
di diffusione in alcuni contesti e arretramento in altri. Altri processi sono
molto recenti, come ad esempio i gruppi di acquisto solidale, ma anch’essi
ripropongono in forme diverse approcci, quali quelli del mutuo soccorso,
che non sono affatto una novità. Ciò vale ancor di più se pensiamo alla filo-
sofia dei km zero, che ci riporta a forme consolidate di agricoltura tradizio-
nale – in cui luoghi di produzione e luoghi di consumo erano strettamente
legati funzionalmente e spazialmente – e che sono state poi trasformate dai
progressi nei trasporti e nelle tecniche di refrigerazione, conservazione e
trasformazione agro-alimentare, dall’apertura a mercati sempre più locali
e dalla globalizzazione dei consumi.
Il contesto produttivo piemontese è sostanzialmente caratterizzato
da tre tipologie di agricolture insediate: l’agricoltura delle produzioni di
massa o commodity (cereali, ecc.) facenti parte di filiere più o meno strut-
turate; l’agricoltura delle produzioni tipiche di qualità (vino, frutta, riso,
ecc.), caratteristica di sistemi produttivi locali specializzati (distretti agro-
alimentari di qualità) più o meno consolidati (come ad esempio il distretto
eno-gastronomico delle Langhe, o la regione risicola del Vercellese-Nova-
rese) ed infine diverse altre forme di agricoltura che fanno parte costitutiva
di economie rurali.

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Energie da contraddizione: innovazioni rurali e territorio.
Riflessioni da alcune esperienze in italia e in piemonte

In questo quadro regionale le innovazioni che consideriamo riguar-


dano sia il piano del prodotto sia quello del processo (Capineri, 2009) e
possono essere rinvenibili a diversi livelli:
• nella produzione: agricoltura di qualità (biologica, integrata, biodi-
namica);
• nelle preferenze dei consumatori: prodotti di qualità e prodotti tipici
regionali-locali che ripropongono uno stretto legame culturale con il
territorio;
• nel legame commercializzazione-consumo, proprio per consentire la
diffusione di prodotti di qualità e tipici, attraverso strumenti come
la vendita diretta, la filiera corta e i km zero, i gruppi di acquisto. Si
tratta di un insieme di pratiche che possono essere ricondotte alla
più generale prospettiva degli alternative food networks (Goodman,
Dupuis, Goodman, 2011);
• nell’organizzazione delle politiche e delle esperienze su base distret-
tuale. Per quanto non sia possibile in questa sede approfondire tale
argomento, appare particolarmente interessante, nella prospettiva
qui adottata, la tendenza alla distrettualizzazione della produzione
agricola (Bignante, 2005), adottando un approccio di sviluppo loca-
le, con il riconoscimento sul piano empirico e l’istituzionalizzazione
di distretti rurali e distretti biologici8.
Rinviando ai capitoli specifici presenti in questo volume presentia-
mo qui di seguito gli elementi salienti dei diversi ambiti di innovazione nel
rapporto produzione-consumo-territorio.

Per una produzione e consumo di qualità


Sul piano della produzione un interesse preminente riveste l’agri-
coltura biologica, che riguarda un sistema globale di gestione dell’azien-

8
Nel contesto italiano possiamo individuare diverse definizioni all’interno delle politiche re-
gionali:
distretti rurali – i sistemi produttivi locali caratterizzati da identità storica e territoriale omo-
genea derivante dall’integrazione fra attività agricole e altre attività locali, nonché dalla pro-
duzione di beni o servizi di particolare specificità, coerenti con le tradizioni e le vocazioni
naturali e territoriali;
distretti agro-alimentari di qualità – i sistemi produttivi locali, anche a carattere interregiona-
le, caratterizzati da significativa presenza economica e da interrelazione e interdipendenza
produttiva delle imprese agricole e agroalimentari, nonché da una o più produzioni certifi-
cate e tutelate ai sensi della vigente normativa comunitaria o nazionale, oppure da produ-
zioni tradizionali o tipiche;
distretti biologici – i sistemi produttivi locali. a spiccata vocazione agricola in cui siano asso-
lutamente preponderanti: a) la coltivazione, l’allevamento, la trasformazione e la prepara-
zione alimentare e industriale di prodotti con il metodo biologico.; b) la tutela delle produ-
zioni e delle metodologie colturali, d’allevamento e di trasformazione tipiche locali.

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Egidio Dansero

da agricola e di produzione agroalimentare, basato sull’interazione tra le


migliori pratiche ambientali, un alto livello di biodiversità, la salvaguar-
dia delle risorse naturali, l’applicazione di criteri rigorosi in materia di be-
nessere degli animali. Esso è finalizzato ad una produzione orientata alle
preferenze di una fascia crescente di consumatori per prodotti ottenuti
con sostanze e procedimenti naturali. In tal senso il metodo di produzione
biologico esplica una duplice funzione sociale. Da un lato provvede a un
mercato specifico costituito dalla domanda di prodotti biologici dei consu-
matori. Dall’altro fornisce beni che, contribuendo alla tutela dell’ambiente,
al benessere degli animali e allo sviluppo rurale acquisiscono la natura di
beni pubblici.
In Italia, grazie anche ai notevoli incentivi pubblici (comunitari, na-
zionali e regionali) l’agricoltura biologica ha acquisito nel tempo un peso
crescente, in particolare in alcuni contesti regionali e locali e per alcuni
prodotti, come quelli frutticoli. La prova evidente è costituita dalla cre-
scente attenzione che la grande distribuzione sta dedicando ai prodotti
biologici, con varie forme, spesso contraddittorie, come vedremo.
Sul piano delle preferenze dei consumatori, in termini generali, pur
con notevoli differenze a livello nazionale e regionale, si è in presenza di
in un contesto caratterizzato da nuove tendenze nei consumi alimentari,
con una sempre più forte ricerca della qualità presso tutti i consumatori.
Tuttavia diventa necessario definire la qualità stessa in relazione alla ge-
rarchia di priorità del consumatore stesso, a fronte di esigenze contrad-
dittorie quali (Belletti, Marescotti, 1996) la ricerca di elevato contenuto
di servizio time-saving; la destrutturazione dei pasti (tempi e modi appa-
iono sempre più diversificati in relazione ad esigenze di flessibilizzazione
dovute alla gestione di lavoro e tempo libero); la rinnovata attenzione al
prezzo; la maggiore attenzione agli equilibri socio-ambientali e culturali;
la ricerca del benessere soggettivo (visto nelle sue dimensioni materiali e
immateriali).
Le esigenze contraddittorie del consumatore si possono in partico-
lare rintracciare in due tendenze opposte nella produzione e nel consu-
mo agro-alimentare. Al momento si registra infatti la compresenza da un
lato di una dimensione commerciale all’interno della quale l’offerta ali-
mentare è molto ampia, di qualità standardizzata, appiattita su marche
più o meno note all’interno di una grande centro commerciale o ipermer-
cato, e dall’altra della dimensione basata su rapporti personali e prodotti
di elevata qualità (mercato contadino, negozi biologici e di prodotti tipici,
gruppi di acquisto solidale). La prima tendenza è chiaramente dominan-
te; in Italia come sempre più nel resto del mondo, la grande distribuzione
commerciale estende il suo controllo sul mercato, arrivando a influenzare
fortemente se non a controllare direttamente la produzione di generi ali-
mentari, e ristrutturando altresì i propri spazi, gamme di offerta e stili di

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Energie da contraddizione: innovazioni rurali e territorio.
Riflessioni da alcune esperienze in italia e in piemonte

vendita per inseguire altresì la seconda tendenza orientata alla diversifica-


zione, ai prodotti di qualità e alle relazioni personali. Tuttavia tale seconda
tendenza alimenta una nicchia crescente, che localmente può raggiungere
anche dimensioni di mercato meritevoli di considerazione.
Elemento che contraddistingue entrambe le tendenze è tuttavia la
ricerca di qualità che caratterizza tutto il sistema agro-alimentare, sulla
base di una forte spinta da parte dei consumatori, come si è visto. Essa
può essere vista sotto diversi profili, dalla qualità organolettica specifica
del prodotto, a quella ambientale (relativa agli impatti ambientali in termi-
ni di consumo di risorse naturali e di rilascio di sostanze inquinanti), alla
qualità sociale (relativa alla ricerca di una maggiore equità sociale nelle
forme organizzative e nei mercati agro-alimentari), alla qualità territoriale
(estendendo questo concetto alla capacità di un prodotto agro-alimentare
di riprodurre la diversità e la complessità territoriale da cui esso deriva).
Tali forme di qualità vengono oggi perseguite con strategie differen-
ziate quali:
• la tracciabilità dei prodotti agro-alimentari, ricostruendo e seguen-
do il percorso di un prodotto in tutte le fasi dalla produzione alla
distribuzione9;
• la certificazione e autocertificazione che avviene sulla basi di di-
versi marchi di origine, biologici, collettivi, di qualità superiore,
d’impresa). Nel contesto italiano, in particolare, la valorizzazione
della qualità basata su iniziative collettive si è realizzata attraver-
so strumenti europei per la valorizzazione della tipicità denominati
DOP, IGP, STG (reg. CEE 2081/92, 501/2006)10. Per la produzione

9
Esistono varie definizioni di tracciabilità. In base al regolamento comunitario (Reg. CE n°
178 / 2002 del 28.01.02, art. 3) essa può essere definita come la possibilità di ricostruire e
seguire il percorso di un alimento, di un mangime, di un animale destinato alla produzio-
ne animale o di una sostanza destinata o atta ad entrare a far parte di un alimento o di un
mangime attraverso tutte le fasi della produzione, della trasformazione e della distribuzione.
La ricerca della tracciabilità è una tendenza forte presso i produttori europei, anche come
strategia di difesa nella crescente e sempre più aperta competizione internazionale, con un
sistema agroalimentare europeo sempre più orientato ad una produzione di qualità come
vantaggio competitivo (e ciò vale specialmente per molte produzioni italiane).
10
Denominazione origine protetta (DOP): Il marchio designa un prodotto originario di una
regione e di un paese le cui qualità e caratteristiche siano essenzialmente, o esclusivamen-
te, dovute all’ambiente geografico (termine che comprende i fattori naturali e quelli uma-
ni). Tutta la produzione, la trasformazione e l’elaborazione del prodotto devono avveni-
re nell’area delimitata. Indicazione geografia protetta (IGP): un prodotto originario di una
regione e di un paese le cui qualità, reputazione e caratteristiche si possono ricondurre
all’origine geografica, e di cui almeno una fase della produzione, trasformazione ed elabora-
zione avvenga nell’area delimitata. Specialità tradizionale garantita (STG): è un’attestazione
che non fa riferimento all’origine del prodotto, ma ha per oggetto quello di valorizzare una
composizione tradizionale del prodotto o un metodo di produzione tradizionale.

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Egidio Dansero

biologica esistono sia marchi pubblici, come il marchio comunitario


sia vari marchi privati come quello dell’Associazione italiana di agri-
coltura biologica (AIAB).

Nuovi rapporti tra produzione, commercializzazione e consumo


Sul piano dei rapporti tra commercializzazione e consumo diverse
pratiche e riflessioni teoriche che ho definito come “energie da contraddi-
zione” possono essere ricomprese in quelli che la letteratura anglosassone
definisce come alternative food networks (AFN) (Goodman, DuPuis, Go-
odman, 2011). Ci si riferisce a forme di vendita alternativa a quelle con-
solidate definite in base a criteri prioritari tra i quali: la minore distanza
tra produzione consumo, la dimensione ridotta delle aziende e dei volumi
prodotti i metodi di produzione (preferibilmente il biologico), l’esistenza
di luoghi di vendita come le cooperative, i farmers’ markets e i “Gruppi di
acquisto solidale”. In estrema sintesi gli obiettivi degli AFN sono quelli di
promuovere e favorire pratiche produttive sostenibili finalizzate alla pro-
duzione e alla riproduzione delle risorse naturali come terra, acqua e aria;
sostenere il cambiamento dei modelli di consumo, sottraendoli dal condi-
zionamento, dalla pressione e dalle logiche imposte dalle grandi imprese di
trasformazione e commercializzazione; riuscire a determinare un cambia-
mento delle politiche locali, nazionali e sovra-nazionali rompendo con la
logica che le vuole subordinate agli interessi del complesso agroindustriale
e orientandole, invece, verso il sostegno allo sviluppo rurale e sostenibile.
Più in particolare con il termine farmers’ markets (mercati dei pro-
duttori) ci si riferisce ad una tendenza già affermata negli Usa e in Gran
Bretagna, in forte espansione in Italia (soprattutto per i prodotti biologici
e i prodotti tipici), e sostenuta in varie forme dalle politiche regionali e lo-
cali. Essi si inseriscono in un processo per cui si riduce la distanza fisica e
culturale tra area urbana e area rurale, arricchendosi di relazioni, soggetti
e tematiche. Sono caratterizzati da una vendita diretta dei produttori alla
cui base vi sono ragioni di ordine strettamente economico (quali la possibi-
lità di ridurre i costi e di spuntare un margine più alto per il produttore non
pesando sul consumatore) ed economico-sociale (quali la possibilità di ave-
re dei momenti di incontro tra produttori e consumatori con fondamentali
scambi di informazioni, costruendo relazioni di conoscenza e fiducia).
I farmers’ markets si appoggiano sul principio della filiera corta, a
cui ci si può riferire in senso funzionale o spaziale, con incroci ma anche
divergenze possibili tra le due definizioni. In senso funzionale con filiera
corta si fa riferimento alla minima distanza tra produttore e consumatore
in termini di numero di intermediari. In questo senso può assumere del-
le forme diverse che vanno dalla vendita diretta in azienda, la vendita per
corrispondenza, l’e-commerce, la consegna a domicilio a singoli o a gruppi
organizzati di consumatori e gli stessi farmers’ markets.

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Energie da contraddizione: innovazioni rurali e territorio.
Riflessioni da alcune esperienze in italia e in piemonte

La filiera corta viene tuttavia sempre più intesa e/o anche in senso
spaziale, riferendosi cioè a prodotti locali, utilizzando altresì l’espressione
che in Italia si è affermata di prodotti a “km zero” (Aguglia, 2009). Si fa
qui riferimento al più generale concetto di food miles (Smith et al., 2005),
Si tratta di un indicatore dell’impatto ambientale del cibo, in base ai km
percorsi dal luogo di produzione a quello di consumo, che vuole eviden-
ziare l’impatto energetico e ambientale legato ai trasporti dei prodotti ali-
mentari. Ad es. un vino australiano per giungere sulle tavole italiane deve
percorrere oltre 16mila chilometri con un consumo di 9,4 kg di petrolio e
l’emissione di 29,3 kg di anidride carbonica. La preferenza per i prodotti
a km zero sarebbe dunque legata a ragioni di vario tipo: economiche (le-
gate ai minori costi di trasporto), ambientali (minore impatto ambientale
legato ai trasporti), preferenze dei consumatori (legate all’importanza di
relazioni di conoscenza e fiducia come garanzia di qualità e possibilità di
controllo su ciò che si consuma), territoriali (sostegno a economie locali,
nel loro complesso legame tra territorio, produzione agricola e prodotti
alimentari).
In tal senso il concetto più neutrale di food miles si avvicina a quel-
lo di fair miles e a tutti i vantaggi e le caratteristiche di un’economia della
prossimità (Martin, 2008; Pecqueur, Zimmermann, 2004), quali l’orientare
la scelta dei consumatori (e in particolare di ristoranti e mense) verso pro-
dotti locali con distanze contenute (menù a km zero); ridurre i consumi
di energia, gli impatti ambientali e i costi della logistica, favorendo altresì
l’agricoltura locale e la sua funzione sociale di presidio del territorio. In
questa direzione si segnalano diverse esperienze e movimenti negli Stati
Uniti (come i cosiddetti locavores 11) e in Europa, con la proliferazione an-
che in Italia di diverse esperienze di filiere corte a km zero.
Filiere corte in senso funzionale e in senso spaziale possono coinci-
dere ma anche divergere: possiamo anche avere filiere corte in senso spa-
ziale con diversi intermediari tra il produttore e il consumatore, così come
avere filiere lunghe in senso spaziale ma corte in senso funzionale. È il
caso del commercio equo e solidale, che accorcia la catena in senso funzio-

11
Sul sito del movimento locavores si possono visionare le interessanti linee guida del movi-
mento: “If not LOCALLY PRODUCED, then Organic. This is one of the most readily avai-
lable alternatives in the market and making this choice protects the environment and your
body from harsh chemicals and hormones.If not ORGANIC, then Family farm. When faced
with Kraft or Cabot cheeses, Cabot, a dairy co-op in Vermont, is the better choice. Suppor-
ting family farms helps to keep food processing decisions out of the hands of corporate
conglomeration. If not FAMILY FARM, then Local business. Basics like coffee and bread
make buying local difficult. Try a local coffee shop or bakery to keep your food dollar close
to home. If not a LOCAL BUSINESS, then Terroir, which means ‘taste of the Earth’. Purcha-
se foods famous for the region they are grown in and support the agriculture that produces
your favorite non-local foods such as Brie cheese from Brie, France or parmesan cheese
from Parma, Italy (www.locavores.com).

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Egidio Dansero

nale ma alimenta mercati internazionali basandosi giustamente perlopiù


su produzioni agricole non possibili alle nostre latitudini (banane, cacao,
caffè) e tipicamente oggetto di monocolture di piantagione dominate da
poche imprese del settore agro-industriale.
Un fenomeno particolarmente interessante, che si intreccia varia-
mente con quanto sopra, è quello dei Gruppi di acquisto solidale (GAS),
presenti in diversi paesi, che stanno conoscendo un grande successo anche
in Italia. Si fa risalire al 1994 il primo GAS in Italia ed oggi si contano ol-
tre 600 gruppi12. Ispirati ad una logica di consumo critico e responsabile,
sono costituiti da gruppi di consumatori che collettivamente gestiscono
direttamente l’acquisto di prodotti alimentari e non (e anche servizi), con
una dimensione che può andare da una decina a più di un centinaio di
membri. Ogni gruppo è autonomo nel selezionare i produttori sulla base
della loro aderenza a principi di consumo e produzione etica e sostenibile,
e nell’organizzare ordini e distribuzione.
Sul fronte della commercializzazione, su una scala molto diversa,
nel contesto italiano appaiono inoltre di particolare interesse dal punto di
vista territoriale varie esperienze di Associazione di produttori (quali stra-
de del vino, del pane, associazioni di comuni …) che si inseriscono in più
complesse strategie di marketing territoriale. È un insieme di iniziative
piuttosto articolato e caratterizzato da una notevole complessità che deriva
dalla presenza di più ordini di obiettivi e dalla pluralità di soggetti che vi
sono coinvolti, ma accomunato da un fulcro sul territorio come elemento
strategico e risorsa da valorizzare nella costruzione di identità produttive e
di mercato (Belletti, Marescotti, 1996).
Non si può non ricordare, infine, l’esperienza di Slow Food (rinvian-
do all’articolo di Cristiana Peano in questo volume), nata nel 1989 proprio
in Piemonte, a Bra, e che ha oggi raggiunto le caratteristiche e le dimensio-
ni di un movimento transnazionale, con oltre 100.000 associati, che pro-
pone modalità di globalizzazione dal basso o incroci glocali, come rappre-
sentato dal progetto Terra Madre, avviato nel 2004 a Torino con un grande
evento a cadenza biennale. Slow Food nasce come risposta alla dominan-
te cultura del fast food, ai ritmi sempre più frenetici della vita attuale,
alla perdita di molte tradizioni culinarie regionali, al crescente disinteres-
se della maggior parte della popolazione ai problemi dell’alimentazione,
alla preparazione e ai sapori degli alimenti. Nella filosofia Slow Food, una
migliore cultura alimentare ha un ruolo fondamentale nella promozione
umana e sociale e nella salvaguardia del pianeta, attraverso azioni di dife-
sa della biodiversità per la salvaguardia del patrimonio gastronomico, di
educazione del gusto, e di messa in rete dei produttori agricoli e dei consu-
matori (Petrini, 2001).

12
www.retegas.org

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Energie da contraddizione: innovazioni rurali e territorio.
Riflessioni da alcune esperienze in italia e in piemonte

Conclusioni. Il ruolo del territorio nelle “energie da


contraddizione”

L’insieme articolato di pratiche, esperienze e tendenze sinteticamen-


te presentato in termini molto generali riveste un particolare interesse dal
punto di vista geografico.
Esse sono accomunate dal mettere in primo piano il territorio sia
come ambito operativo che come categoria analitica, per quanto spesso le
considerazioni e le consapevolezze degli stessi attori implicati rivelino una
non piena considerazione delle valenze che un approccio territoriale può
apportare proprio per favorire il collegamento, la valorizzazione e il poten-
ziamento di queste iniziative sempre meno di nicchia.
Riprendendo le quattro definizioni di territorio presentate in prece-
denza e riprese da Dematteis, in un crescendo di complessità, non possia-
mo che partire dalla riscoperta dell’importanza della prossimità spaziale
(significato 1) e dalle dotazioni di risorse materiali e immateriali di ciascun
territorio (significato 2). Diverse di queste iniziative nascono proprio a par-
tire e/o con l’obiettivo di valorizzare le potenzialità della prossimità fisica
che favorisce le interazioni sociali, la diffusione di conoscenza e le relazio-
ni di fiducia che si rivelano elementi particolarmente cruciali per queste
attività. Ritroviamo qui la prima delle definizioni proposte da Dematteis,
territorio come ambito spaziale di interazione tra soggetti in dinamiche di
sviluppo rurale.
Un primo elemento di interesse emerge dal riprendere la questione
del rapporto tra filiere corte e lunghe in senso spaziale e funzionale. La
figura 1 propone una schematizzazione dei possibili incroci tra le due di-
mensioni e consente di collocare alcune esperienze. I prodotti a km zero si
presentano esplicitamente come legati ad una prossimità fisica, e tenden-
zialmente il rapporto produzione-consumo si articola su filiere corte anche
in senso funzionale, attraverso la vendita diretta, o i farmers’ markets, an-
che se non necessariamente. Già l’esperienza dei GAS – per quanto proprio
l’aggregazione dei consumatori nel gruppo di acquisto consenta anche di
raggiungere economie di scala e dialogare direttamente con il produttore –
si configura come una filiera più lunga, determinata dall’esistenza del GAS
stesso, che si pone come un intermediario che potremmo definire “legge-
ro”, nel senso che non aggiunge valore economico, ma potremmo dire va-
lore sociale, derivante proprio dall’interazione all’interno del GAS.
Prendiamo ora in esame l’agricoltura biologica considerata nel suo
insieme, per quanto nella sua evoluzione si comincino a notare differenzia-
zioni tra piccoli produttori e produttori medio-grandi. Nella sua stessa fi-
losofia, l’agricoltura biologica tende a privilegiare uno stretto rapporto sia
ecologico che culturale con il territorio locale, avvicinandosi in tal senso
alla definizione di “agroecologia” utilizzata dai nostri colleghi brasiliani.

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Egidio Dansero

Tuttavia proprio nel suo uscire dalla nicchia e diventare oggetto di inte-
resse da parte della grande distribuzione organizzata, che insegue prefe-
renze del consumatore più articolate e esigenti, sembra passare sempre di
più a filiere lunghe sia in senso funzionale sia in senso spaziale. Possiamo
trovare presso la grande distribuzione prodotti biologici che hanno molte
food miles incorporate. Ciò richiede una attenta riflessione, in quanto fa
venir meno i vantaggi dell’agricoltura biologica in una prospettiva che ne
consideri le relazioni ambientali in modo allargato. Nella progressiva af-
fermazione del mercato del biologico a livello internazionale scompaiono
cioè sempre di più il legame tra il prodotto alimentare e i territori di pro-
duzione. Per quanto questa tendenza in Italia al momento sia meno accen-
tuata che in altri paesi europei, si nota un marcato distacco tra i territori
che percepiscono i sussidi e incentivi pubblici a sostegno della produzio-
ne biologica e che quindi, almeno in teoria, dovrebbero produrre derrate
biologiche, e quelli in cui operano i trasformatori e i consumatori. Questa
tendenza all’allentamento del rapporto tra prodotto e territorio di consu-
mo potrebbe essere colta come un segnale positivo per una maggiore af-
fermazione del mercato biologico. Appare irrealistico e forse limitante per
l’uscita dalla nicchia dell’agricoltura biologica, pensare che GAS, famers’
market o altre reti a “km zero” possano assorbire la capacità di produzio-
ne biologica (Santucci, 2009). Tuttavia, occorre considerare che i consumi
energetici e ambientali legati alla produzione agricola solo in parte minore
sono legati al momento della produzione, anzi l’agricoltura biologica uti-
lizza più mezzi meccanici, e quindi più energia fossile, rispetto a quella
convenzionale in quanto le tecniche di coltivazione, non usando prodotti
chimici come antiparassitari, necessitano più passaggi nel rivoltare il ter-
reno. Per la maggior parte i consumi energetici dell’agricoltura sono legati
al trasporto e alla commercializzazione, per cui si riduce la convenienza
della produzione biologica se essa si allontana da uno stretto rapporto con
il territorio (Franco, 2007).
Se, come, si è visto, il territorio entra decisamente nella costruzione
di queste energie di contraddizione nei significati di prossimità spaziali e
dotazioni territoriali, di maggior interesse appaiono le altre due prospet-
tive, cioè l’incrocio tra attori e risorse ed in particolare i processi di auto-
organizzazione locale che si avvicinano maggiormente alla prospettiva de-
gli SLoT.
La costruzione di reti di attori, consapevoli delle profonde connes-
sioni e implicazioni che legano qualità ambientale, alimentare e territoria-
le, appare anzi l’elemento chiave che connette queste diverse esperienze e
consente di ricomprenderle in una visione e in una potenziale strategia di
nicchia. Reti di produttori, attive sia nella fase di produzione sia soprat-
tutto in quella di commercializzazione e reti di consumatori, variamente
strutturate e formalizzate, compongono il quadro di un variegato insieme

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Energie da contraddizione: innovazioni rurali e territorio.
Riflessioni da alcune esperienze in italia e in piemonte

di relazioni che configura nuovo capitale sociale e territoriale (Berti, Capi-


neri, Nasi, 2004). Molte di queste reti, soprattutto nella prospettiva dei km
zero e delle filiere corte in senso spaziale hanno una base territoriale forte
e si configurano come sistemi di attori più o meno aperti al loro interno e
nei rapporti con altre reti. Particolarmente importante appare, in questo
contesto, il ruolo delle istituzioni pubbliche che possono contribuire a raf-
forzare queste reti, a creare connessioni e salti di scala, con azioni di gover-
nance “leggera”. Un esempio interessante è costituito dall’esperienza del
“paniere dei prodotti tipici” della Provincia di Torino, un marchio creato
dalla Provincia per accogliere tutti i prodotti agroalimentari ed agricoli del
territorio provinciale, che in base a verifiche tecnico-scientifiche: sono pro-
dotti in maniera artigianale da produttori locali, con materie prime locali,
appartengono alla tradizione storica locale, costituiscono una potenzialità
per lo sviluppo locale13.
In particolare le esperienze di filiera corta e di gruppi di acquisto so-
lidale appaiono tipicamente come iniziative di autorganizzazione di con-
sumatori, che nel tempo strutturano altresì relazioni con produttori. Nel
raccordo alle diverse scale con analoghe esperienze di gruppi di acquisto,
e più ancora nel rapportarsi con altre esperienze su base locale, esse con-
corrono alla produzione di nuove territorialità che possono assumere un
peso crescente per incidere sulla trasformazione del territorio, in contro-
tendenza rispetto alle tendenze dominanti. Non bisogna tuttavia pensare
ad un’antitesi tra tali piccole esperienze locali e il ruolo di imprese, coo-
perative e consorzi agricoli che operano su scale di mercato sempre più
ampie, riuscendo a coniugare positivamente competizione, innovazione e
valorizzazioni territoriali.
Un elemento che accomuna queste esperienze infine è il fatto di pro-
porre un differente rapporto tra aree urbani e aree rurali, considerando
l’insieme delle relazioni di scambio che l’impresa agricola può avere con
il sistema socio-economico. Si riduce infatti la distanza fisica e culturale
nella relazione tra città e campagna, che si arricchisce di relazioni, sogget-
ti, tematiche e che diventa in vari modi l’orizzonte di politiche (Pascucci
2007).
Per concludere, vi sono certamente molti aspetti da approfondire che
riguardano il rapporto tra le diverse dimensioni della qualità e in ultima ana-
lisi della sostenibilità (ambientale, sociale, economica) delle produzioni ali-
mentari e il territorio. Questo scritto, dal taglio essenzialmente esplorativo,
si è limitato ad accennarne alcune, mettendo in relazione differenti aspetti e
proponendo un approccio territoriale proprio come chiave di lettura per evi-
denziare nessi, coerenze e contraddizioni tra tali dimensioni.

13
https://www.provincia.torino.it/agrimont/progetti/paniere

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Egidio Dansero

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Sviluppo rurale e globalizzazione:
“Opportunità” contradditorie
Tra crisi alimentare, ogm e acquisizioni
Di terra su larga scala
Nadia Tecco
Dipartimento Interateneo Territorio | Politecnico e Università di Torino |
nadia.tecco@virgilio.it

Premessa
Questo articolo nasce all’interno di un percorso di ricerca, che par-
te dal lavoro condotto nel periodo di dottorato in Analisi e Governance
dello Sviluppo Sostenibile presso l’Università Ca’ Foscari di Venezia sulla
diffusione degli organismi geneticamente modificati nel comparto agri-
colo in America Latina e prosegue durante il periodo di post-dottorato
presso il Dipartimento Interateneo Territorio dell’Università e del Poli-
tecnico di Torino sui temi della crisi alimentare e della successiva onda-
ta di acquisizioni di terra su larga scala che ha coinvolto in prima linea i
paesi in via di sviluppo. Il filo rosso che accomuna questi temi scaturisce
dall’interesse di comprendere in quali termini il fenomeno della globa-
lizzazione possa rappresentare un’opportunità per lo sviluppo rurale dei
paesi in via di sviluppo o quanto questo discorso non sia lo specchio di
una rappresentazione che ripropone vecchie asimmetrie e/o pone nuove
relazioni e strutture di potere.
A partire da una riflessione maturata sulle cause che avevano por-
tato al manifestarsi della crisi alimentare del 2007/2008 (Tecco, 2008a) e
dalle opportunità che essa aveva rappresentato in termini di ristrutturazio-
ne di un mercato in cui i rapporti di forza apparivano ormai fossilizzati,
l’intervento si propone di analizzare due fenomeni ad essa strettamente
correlati e che sono stati presentati come possibili soluzioni al dilemma

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Sviluppo rurale e globalizzazione: “Opportunità” contradditorie
Tra crisi alimentare, ogm e acquisizioni Di terra su larga scala

rappresentato dalla necessità di assicurarsi dai rischi di natura fisica ed


economica presenti sul mercato agricolo. La prima parte affronta quindi il
tema della diffusione degli organismi geneticamente modificati ed in par-
ticolar modo della soia resistente al glifosate in America Latina, mentre la
seconda sezione sviluppa una riflessione sul recente fenomeno delle acqui-
sizioni di terreni su larga scala.

Organismi geneticamente modificati: un’analisi di sostenibilità


a partire dalle esperienze di argentina, brasile, paraguay ed
uruguay

A proposito di quanto confermato dalla crisi alimentare in termi-


ni dell’esigenza di una maggiore ricerca della sostenibilità nelle pratiche
agricole, intesa come un sistema di produzione più attento dal punto di
vista ambientale, più competitivo ed equo sul versante economico e con
maggiori responsabilità di fronte alle implicazioni sociali strettamente
connesse al settore dell’agro-industria (Schaller, 1993), questa parte del
capitolo, si soffermerà sull’utilizzo degli organismi geneticamente modi-
ficati (OGM), quali possibile risposta a tale esigenza.
L’impiego di queste varietà grazie alle quali si prospettano miglio-
ramenti in termini di efficienza produttiva accanto ad una concomitante
riduzione dell’impatto ambientale, rappresentano secondo parte della let-
teratura e parte considerevole delle organizzazioni internazionali attiva-
mente coinvolte sui temi della sicurezza alimentare, uno strumento per
fronteggiare le sfide poste dalla crescita del fabbisogno alimentare globa-
le, permettendo di massimizzare i benefici economici e di mantenere al
contempo un’elevata qualità ambientale.
La recente crisi alimentare ha sicuramente rappresentato un’ulte-
riore occasione per rilanciare il tema, ma potrebbe anche essere letta
come un’occasione per riflettere sulla sostenibilità legata all’utilizzo di
queste sementi e su come la diffusione di questa tecnologia non sia altro
che l’espressione di quella lobby agricola internazionale che proprio nel
corso della crisi ha mostrato (ma non subito) parte delle sue contraddi-
zioni. Il momento di crisi, non deve infatti indurre alla tentazione di cer-
care scappatoie rapide di fronte agli evidenti limiti del sistema agro-ali-
mentare, ma va pensato come un momento per analizzare le sue criticità
con una prospettiva di futuro miglioramento e proprio per questo va a
collocarsi all’interno dell’acceso e piuttosto demarcato dibattito tra i so-
stenitori i potenziali benefici ambientale delle varietà transgeniche (Car-
penter and Gianessi, 2001; Carpenter et al, 2002; Andow and Zwahlen,
2006) e chi invece manifesta una certa preoccupazione in merito alla loro
adozione (Altieri, 2005; Garcia and Altieri, 2005).

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Nadia Tecco

In particolare, ci si soffermerà sulla varietà transgenica al momen-


to più diffusa e da più lungo tempo in commercio, la soia resistente al
glifosate (o meglio nota come soia Round-up Ready RR, dal nome dell’er-
bicida prodotto dalla Monsanto per cui l’oleaginosa è stata progettata
per esserne resistente). L’esperienza ormai decennale di utilizzo di questa
varietà è decisamente controversa, soprattutto quando dal livello teorico
(paragrafo 2.1 e 2.2) si passa al livello degli effetti empirici derivanti dalla
sua estesa adozione (come vedremo successivamente nel corso del capi-
tolo attraverso l’esperienza dei paesi dell’area latino-americana, a parti-
re dall’Argentina, Uruguay, Brasile e Paraguay nel paragrafo 2.3), in un
trade-off che sembra offrire vantaggi soprattutto nel breve termine ma
minare nel più lungo periodo il possibile raggiungimento di un’agricol-
tura sostenibile.

Potenziali benefici ambientali derivanti dall’introduzione della soia RR


La motivazione alla base della creazione di questo tipo di varietà
transgenica è legata, come poc’anzi accennato alla resistenza al glifosate.
Questo diserbante permette di diminuire la diffusione delle erbe infestan-
ti che danneggiano la coltivazione della soia senza intaccare la pianta e
porre delle restrizioni dal punto di vista della rotazione delle colture. I be-
nefici ambientali riconosciuti dalla letteratura scientifica a questa varietà
riguardano la riduzione dell’impatto ambientale grazie ad un aumento
nei tassi di produttività, il minor uso nei quantitativi di erbicidi utilizzati
ed il miglioramento che consente di ottenere nelle pratiche di conserva-
zione del suolo.
Le erbe infestanti sono considerate infatti il problema principale
rispetto alla coltivazione di soia per la loro capacità di entrare in compe-
tizione con la pianta stessa nell’utilizzo di risorse quali acqua, umidità,
elementi nutritivi, energia solare fino a ridurre il raccolto di una percen-
tuale che arriva in alcuni casi al 50% (Oerke, 1994).
La maggior produttività legata all’utilizzo della soia resistente
al glifosate riguarda per l’appunto questo aspetto, con la diminuzione
dell’incidenza negativa delle erbe infestanti in termini di raccolto fina-
le della pianta coltivata. Inoltre l’utilizzo del glifosate si caratterizza per
l’assenza di effetti collaterali per la pianta stessa ed una rapida degrada-
zione del diserbante nel suolo che evita il verificarsi di restrizioni/danni
legati agli effetti di trascinamento (carry-over) che in genere accompa-
gnano l’utilizzo degli erbicidi (Tharp et al., 1999), quando permangono
residui di questi nel terreno con effetti negativi che si perpetuano nel cor-
so delle successive stagioni di semina e di raccolto.
Il glifosate permetterebbe di diminuire i quantitativi di erbicidi uti-
lizzati, da un lato perché più efficace (a parità di risultato i trattamen-
ti con il Round-up risultano inferiori) e dall’altro lato perché capace di

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Sviluppo rurale e globalizzazione: “Opportunità” contradditorie
Tra crisi alimentare, ogm e acquisizioni Di terra su larga scala

sintetizzare nei suoi effetti diverse tipologie di erbicidi precedentemente


utilizzati.
Inoltre il passaggio da una forma di trattamento pre-emergenziale
(prima dell’insorgere delle piante infestanti) a post-emergenziale (quan-
do le piante infestanti si sono ormai diffuse nell’area coltivata) permette-
rebbe l’utilizzo di un quantitativo di erbicida più adatto rispetto al quan-
titativo di erbe infestanti da debellare. Non trattandosi più di un utilizzo
del diserbante come forma di assicurazione preventiva da un danno ipo-
tetico, si ridurrebbe in tal modo il quantitativo totale di erbicida utiliz-
zato o per lo meno non sarebbe mai superfluo, ma sempre proporzionale
alla rilevanza del problema riscontrato (Krimsky and Wrubel, 1996). Il
trattamento di tipo post-emergeziale permetterebbe inoltre di eliminare
o quantomeno di ridurre il processo di aratura prima della semina, il che
rappresenterebbe un beneficio per la conservazione dello strato superio-
re del terreno, mantenendo che in questo modo maggiormente l’umidità
ed essendo allo stesso tempo meno sottoposto all’effetto di erosione del
suolo (Cannell and Hawes, 1994).
In questo modo, grazie all’utilizzo della semente geneticamente
modificata aumenterebbe la produttività, si minimizzerebbero gli effetti
residuali derivanti dall’utilizzo dell’erbicida, i suoi quantitativi di utilizzo
e diminuirebbe la spinta a convertire nuove terre per la produzione agri-
cola evitando problemi quali la deforestazione, l’erosione del suolo, la de-
sertificazione e promuovendo al contempo una maggiore conservazione
degli ecosistemi agricoli. I paesi in via di sviluppo, a causa delle ampie
possibilità di miglioramento derivante dall’utilizzo di queste varietà sono
considerati tra i principali beneficiari di questa tecnologia agricola (Wol-
fenbarger and Phifer, 2000).

Potenziali rischi ambientali derivanti dall’introduzione della soia RR


I potenziali benefici che derivano dall’utilizzo della soia transgeni-
ca non sono tuttavia del tutto condivisi tra gli scienziati, soprattutto alla
luce delle analisi che sono state condotte nel corso degli ultimi anni e che
sono via via diventate più scrupolose nel valutare possibili ricadute nega-
tive per l’ambiente dovute all’introduzione di tali sementi. Va ricordato
come la valutazione di questi effetti debba tuttavia essere perseguita at-
traverso un approccio che tenga conto delle specificità del caso analizza-
to, a partire dalla scala dell’area interessata, della frequenza dell’utilizzo
di tale sementi, degli agro-ecosistemi in cui si va a collocare la cultura per
evitare facili generalizzazioni, di cui nell’ambito del tema trattato spesso
si abusa (Andow and Zwahlen, 2006).
Tre sono tendenzialmente gli aspetti che vengono citati quando si
affronta il versante delle ricadute negative dall’introduzione delle varietà
transgeniche.

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Nadia Tecco

Il primo riguarda il rischio che la mutazione genetica si trasmetta


ad altre specie, nel caso in cui la varietà ibrida mostri una maggiore ro-
bustezza rispetto alle piante circostanti e siano presenti varietà sessual-
mente compatibili. Questo potrebbe tradursi in un processo di assimila-
zione/contaminazione genetica con conseguenze riguardanti la qualità
delle sementi, la riduzione della diversità genetica e possibili danni alle
coltivazioni biologiche (Tiedje et al., 1989; Altieri, 1998). Nonostante la
variazione genetica riguardi unicamente una piccola sequenza di DNA
se comparata all’intero genoma della pianta, il fenotipo risultante dalla
mutazione, potrebbe produrre un organismo nuovo ed allo stesso tempo
estraneo rispetto a quelle che sono le preesistenti relazioni ecologiche
del sistema in cui viene inserito (Wolfenbarger and Phifer, 2000), e com-
portare effetti paragonali all’introduzione di varietà esotiche, che prive
di nemici naturali e di competitori diretti possono rapidamente crescere
in termini di popolazione e danneggiare le specie originarie dell’ecosiste-
ma (Snow and Mora´n-Palma, 1997; Ellstrand, 2001). Ricerche condotte
dalla Royal Society sembrerebbero tuttavia attenuare la probabilità del-
la trasmissione della mutazione genetica, considerato il breve periodo
intercorso dall’introduzione delle sementi transgeniche, che non avreb-
be permesso loro di superare processi di selezione ed adattamento tan-
to da renderli più robusti rispetto alle altre varietà (The Royal Society,
1998). Questo aspetto non garantisce tuttavia una garanzia, soprattutto
alla luce dell’elevato tasso di diffusione di tali sementi in alcuni contesti
geografici.
Il secondo elemento di preoccupazione, legato intrinsecamente a
quanto sopra affermato, concerne il rischio che le piante infestanti ini-
zino a sviluppare forme di resistenza agli erbicidi, in seguito al trasferi-
mento incrociato del tratto di codice genetico in cui è sviluppata la resi-
stenza all’erbicida dalla soia transgenica alla pianta infestante.
In alternativa, questo potrebbe anche avvenire come conseguenza
dell’incremento dell’ uso di glifosate a cui le piante infestanti iniziereb-
bero progressivamente ad adattarsi, eliminando in tal modo parte consi-
stente dei benefici derivanti dall’adozione di varietà tolleranti gli erbicidi
e rendendo necessario un ritorno all’utilizzo di una gamma maggiore di
erbicidi caratterizzati da maggiori livelli di tossicità (Stix, 1998).
Il terzo motivo di allerta nei confronti dell’adozione di organismi
geneticamente modificati riguarda gli effetti di più ampio raggio che tali
varietà possono apportare nei confronti dell’ecosistema circostante. Ad
esempio alcune erbe considerate dannose per la soia, sono componen-
ti essenziali per la sopravvivenza di alcune specie chiave nell’ecosistema
agricolo ed una loro scomparsa potrebbe avere effetti sul livello di resi-
lienza degli agro-sistemi (Altieri and Letourneau, 1982).

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Sviluppo rurale e globalizzazione: “Opportunità” contradditorie
Tra crisi alimentare, ogm e acquisizioni Di terra su larga scala

Un primo bilancio di sostenibilità della soia RR nel contesto latinoamericano


Provare a vedere come effettivamente si declinino nella realtà i be-
nefici ed i rischi derivanti dall’adozione degli ogm, e nel nostro caso più
specifico della soia transgenica, mostra come l’applicazione di una tecno-
logia e gli effetti che da essa derivanti, vadano al di là di quelli che sono
gli aspetti considerati dalla prospettiva meramente teorica, ma debbano
essere considerati alla luce delle loro interazioni con il contesto specifico
con cui interagiscono.
Nel caso dei paesi dell’area latino americana, una valutazione sulla
sostenibilità della soia RR, non può prescindere da considerazioni legate
alla scala di adozione di questa varietà. I paesi dell’area latinoamericana
hanno infatti registrato un elevato tasso di diffusione della soia RR a par-
tire dall’introduzione della semente in Argentina, che progressivamente
e piuttosto rapidamente si è poi diffusa tra gli agricoltori di Brasile, Pa-
raguay ed Uruguay, tanto da rappresentare l’esperienza più rilevante di
adozione di una varietà transgenica su una scala così ampia ed un mo-
dello agricolo non solo altamente intensivo ma che rischia addirittura di
essere estensivamente dominato dalla coltura della soia. In questi paesi l
’adozione della soia RR, a differenza di altre realtà che hanno intrapreso
la coltivazioni delle varietà transgeniche, non ha seguito un iter legisla-
tivo tradizionale, ma si è piuttosto manifestata attraverso un processo di
progressiva accettazione di una realtà che ormai appariva al di fuori del
controllo dei governi. Esemplare in questo contesto è stata la posizione
del Brasile, che da stato propositore di una politica agricola “OGM free”,
attraverso un travagliato percorso politico che ha avuto inizio con la re-
golarizzazione delle coltivazioni illegali di soia RR (allargatesi a macchia
d’olio dalla frontiera con l’Argentina), ne è diventato oggi il suo terzo pro-
duttore mondiale (USDA, 2007).
Nonostante sembrino emergere alcuni benefici dal punto di vista
ambientale riconducibili ad un orizzonte di breve-medio termine, uno
sguardo con una maggior prospettiva sembra portare alla luce alcune
contraddizioni di questo modello che allo stato attuale non solo non pro-
spetta alternative, ma che bensì rischia nel suo proseguire di limitare le
possibilità di uno sviluppo agricolo sostenibile di tali aree.

Più soia sì, ma anche…


Nel contesto latino-americano, la mancanza di effetti residuali del
glifosate sul terreno unitamente all’eliminazione della fase di aratura ha
ridotto la durata del ciclo della soia, permettendo di effettuare un secon-
do raccolto nell’arco della stagione agricola. Nel Nord dell’Argentina ad
esempio, da un’unica stagione agricola media di 270 giorni, con l’avven-
to della soia transgenica si è riusciti ad ottenere un doppio ciclo (USDA,
2006). In genere la soia è stata sostituita a rotazione con la coltivazione

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Nadia Tecco

del mais o del grano; raddoppiando la stagione agricola gli agricoltori


hanno ottenuto in questo modo una doppia fonte di reddito (Penna and
Lema, 2002). Nonostante questo miglioramento dal punto di vista eco-
nomico, se si osservano i dati sulla produttività della soia nell’area latino
americana a partire dall’introduzione della varietà transgenica, essi non
mostrano un significativo incremento. In Argentina la produttività è ri-
masta pressoché stabile, mentre si è registrata una flessione nel caso di
Brasile, Uruguay e Paraguay (Tecco, 2008b, p. 46). Alcuni studi mostrano
infatti come nell’area, l’incidenza dell’introduzione della soia transgeni-
ca sulla produttività totale della coltura sia da considerare neutra (Qaim
and Traxler, 2002; Brookes and Barfoot, 2005). L’incremento significativo
che ha portato la produzione di soia da circa 40 milioni di tonnellate nel
1997 a 94 milioni nel 2005, calcolato come sommatoria delle produzio-
ni nazionali di Argentina, Brasile, Uruguay e Paraguay, non apparirebbe
quindi tanto come il risultato dovuto ad un aumento di produttività, ma
sarebbe dato dalla crescita dell’area destinata a questa coltivazione (Tec-
co, 2008b, p. 47). L’ introduzione della soia RR non ha diminuito la pres-
sione alla conversione di nuovi terreni da destinare all’agricoltura. Anzi,
i vantaggi economici che gli agricoltori hanno tratto dalla sua coltivazio-
ne, ne hanno favorito l’espansione, non solo in sostituzione a terreni già
coltivati con altre varietà quali girasole, grano, miglio, cotone (Pengue,
2004), ma anche verso aree di foresta o terreni precedentemente dedica-
ti all’allevamento (Trigo and Cap, 2006, Grau et al., 2005, Montenegro et
al., 2003, Fearnside, 2001; Hecht, 2005), seguendo una traiettoria che si
avvicina sempre di più ad una realtà monocolturale (USDA, 2007; Della
Valle and Begenesic, 2002). In Argentina, nel 2007 la copertura della soia
comprendeva un’area pari al 55% dell’intera superficie agricola ed in Pa-
raguay l’area coltivata a soia sempre nello stesso anno rappresentava cir-
ca un terzo dei terreni agricoli.
Per quanto riguarda il glifosate, se da un lato un suo utilizzo ha
rappresentato una scelta più sostenibile da un punto di vista ambientale,
dato il minor livello di tossicità e l’assenza di effetti residuali per le col-
ture che seguono, dall’altro lato va riscontrato come nell’area latino ame-
ricana, l’auspicata diminuzione relativa ai quantitativi totali di erbicidi
utilizzati che sarebbe dovuta derivare dalla sua introduzione non sia in
realtà avvenuta (Qaim and Traxler, 2002). Dal 1991 al 1999 in Argentina il
consumo di glifosate è passato da 1000 metri cubi a ben 58000 metri cubi
(Traxler, 2004). La sua efficacia nel debellare le piante infestanti, accanto
ad un costo decisamente più accessibile rispetto ad altri erbicidi sarebbe-
ro gli elementi alla base della sua larga diffusione. Tuttavia l’uso esclusivo
del glifosato ed il concomitante abbandono di tutta una serie di modalità
alternative nella gestione delle piante infestanti, avrebbero favorito lo svi-
luppo di forme di resistenza al glifosate in alcune di esse (DuPont, 2007).

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Sviluppo rurale e globalizzazione: “Opportunità” contradditorie
Tra crisi alimentare, ogm e acquisizioni Di terra su larga scala

Il fenomeno al momento interessa già significative aree di Argentina e


Brasile (Valverde, 2006; Cline, 2007; Robertson, 2006).
L’eliminazione della fase di aratura, oltre ad aver permesso l’am-
pliamento della frontiera dei territori coltivabili anche a quelli conside-
rati in precedenza come marginali, ha comportato un miglioramento per
quanto riguarda i tassi di erosione del suolo, accanto alla diminuzione
dell’inquinamento delle falde dovuto all’utilizzo di un erbicida a ridotta
tossicità. Tuttavia, l’introduzione massiccia della coltivazione della soia,
ripetuta con rotazione annuale su una parte considerevole delle superfici
agricole di questi paesi ha già iniziato a compromettere in maniera irre-
versibile l’equilibrio degli elementi nutritivi del suolo, come per esempio
il fosforo, il che rischia di ritorcersi sui futuri livelli di produttività. Uno
studio condotto in Argentina stima che per compensare il fosforo sottrat-
to al terreno dalla coltivazione della soia dal 1996 al 2006 sarebbero ne-
cessari più di 2 milioni di dollari (Cruzade and Casas, 2003).
Il carattere estensivo, oltrechè intensivo dell’adozione della soia
RR nell’area sudamericana, pur mostrando dei benefici nel breve perio-
do, oltre a compromettere in modo negativo il bilancio fra le potenzialità
e gli effetti collaterali di questa tecnologia, ne presagisce un modello di
sviluppo a senso unico e non sostenibile soprattutto se si guarda al lun-
go periodo, in cui il carattere irreversibile determinato dalla perdità di
biodiversità e di fertilità del suolo si ritorceranno non solo sui chi coltiva
soia, ma sull’intero sistema agro-ecologico.

Il fenomeno della corsa alle terre


La natura estensiva dell’espansione degli ogm ed i rischi ad essa
correlati, evidenziano il nesso con il recente fenomeno dell’acquisizione di
terreni su larga scala. Con l’espressione s’intende definire un atto di acqui-
sto o di presa in concessione da parte di uno Stato o di un’ impresa avente
sede in un determinato Stato di una superficie di terra appartenente ad
un altro Stato, in cui i diritti d’uso sono stabiliti in genere nel contratto
che accompagna la transizione. Queste operazioni hanno il fine principale
di garantire al soggetto investitore il controllo continuativo e diretto del
terreno acquisito, sui beni e sulle risorse che esso produce per una durata
di tempo che può variare in genere dai venti ai novantanove anni e posso-
no essere considerate come una particolare forma di investimenti diretti
esteri (IDE) .
Tale fenomeno di per sé, non rappresenta dunque una nuova tipolo-
gia nel panorama dei rapporti economici e politici tra entità che operano a
livello transnazionale. Tuttavia, l’aumento dei prezzi delle derrate alimen-
tari verificatosi a cavallo del 2007 e 2008, contestualmente allo scoppio di
alcuni casi emblematici, quali ad esempio il processo di acquisizione di un

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Nadia Tecco

considerevole quantitativo di ettari da parte della Daewoo in Madagascar


per la produzione di mais e olio di palma, hanno fatto sì che venisse richia-
mata l’attenzione su questo fenomeno, non solo come se si trattasse di una
nuova forma di investimento, ma di una modalità di capitalismo agrario
per ridefinire o rafforzare poteri di tipo geopolitico, fino a parlare di “nuo-
vo colonialismo”, “land grabbing”, o “tratta della terra”, o più neutralmente
di acquisizioni di terra su larga scala, senza tuttavia giungere all’elabora-
zione di una definizione concordata e precisa del fenomeno (Gorgen et al.,
2009).
Una prima analisi del fenomeno mostra effettivamente alcuni ca-
ratteri di trasformazione/innovazione rispetto a quanto finora riscontrato
sul tema, soprattutto per quello che riguarda gli attori e le motivazioni alla
base di questa tipologia d’investimento.
Tra le spinte alla base del fenomeno, se ne individuano principal-
mente tre, intorno alle quali gli Stati hanno iniziato a costruire vere e pro-
prie strategie di investimento.
• La prima riguarda l’esigenza da parte dei paesi importatori di ga-
rantire la sicurezza alimentare del proprio paese attraverso un pro-
cesso di delocalizzazione della produzione agricola, al riparo dalle
fluttuazioni di mercato dettate dagli squilibri dell’equilibrio fra do-
manda e offerta e dalle operazioni di speculazione finanziaria. Tale
esigenza emerge in modo particolare nei paesi dell’area mediorien-
tale quali Arabia Saudita, Kuwait, Qatar, Emirati Arabi Uniti, che
hanno scontato ancor di più nel corso della crisi alimentare, la cro-
nica carenza di risorse naturali dovuta al clima arido che caratteri-
zza i loro territori.
• La seconda motivazione sembra invece essere piuttosto legata alla
necessità sentita da alcuni Stati emergenti o già industrializzati tra
cui Cina, Malesia, Corea del Sud e Giappone di assicurarsi a basso
costo le risorse necessarie a soddisfare la crescente domanda inter-
na di risorse volta al sostegno del loro sviluppo industriale ed eco-
nomico.
• La volontà di allentare la dipendenza dai combustibili acquisendo
terreni per la coltivazione di biocombustibili sembrerebbe essere la
terza spinta del fenomeno, interessando in modo particolare i paesi
dell’Europa occidentale, tra cui Francia, Germania, Italia, Gran Bre-
tagna, Norvegia e Danimarca.
Per quanto riguarda il ruolo del settore privato all’interno di questo
fenomeno, piuttosto che essere relazionato ai temi della sicurezza energe-
tica e/o alimentare, esso sembra essere stato guidato da motivazioni legate
alla destinazione piuttosto “sicura” rappresentata dalla terra in un contesto
di crisi finanziaria. L’aumento del prezzo dei prodotti agricoli ha gradual-

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Sviluppo rurale e globalizzazione: “Opportunità” contradditorie
Tra crisi alimentare, ogm e acquisizioni Di terra su larga scala

mente ricollocato le possibilità di profitto lungo i vari segmenti del proces-


so produttivo dei beni alimentari, che tradizionalmente si concentravano
nella fase di lavorazione e distribuzione e che vanno ora ricollocandosi ver-
so attività upstream (Cotula et al., 2009). Inoltre alcune imprese impegnate
nei settori downstream stanno attuando strategie di verticalizzazione con
il preciso scopo di accedere direttamente alla produzione agricola, onde
garantirsi la costante offerta di risorse primarie grazie al commercio intra-
aziendale per evitare di subire gli andamenti oscillanti del mercato.
Più difficile sembra invece ricostruire la strategie delle aree di de-
stinazione degli investimenti, che vedono tra i paesi oggetto delle acqui-
sizioni un vasto numero di Stati africani, asiatici e dell’America Latina.
Tra alcuni di questi Stati tuttavia sembrerebbe emergere anche lo svilup-
po di una logica di investimenti Sud-Sud promossi da alcuni stati quali
Egitto, Libia, Mauritius e Gibuti nel loro stesso continente d’appartenenza.
La possibilità di attrarre IDE destinati al potenziamento dell’agricoltura, è
stata considerata come un’opportunità di sviluppo e di crescita economica
dai governi di molti paesi del Sud del mondo dotati di terreni coltivabili e
di manodopera disponibile, ma caratterizzati da uno sviluppo ridotto del
mercato e delle infrastrutture e da un livello di integrazione con il mercato
internazionale molto basso.
La motivazione che in primis sembra essere l’asse portante del fe-
nomeno è legata all’ampia disponibilità di terre di cui sono dotati alcuni
continenti e che al momento o sono inutilizzate o utilizzate al di sotto del
loro potenziale (WB, 2010). In seconda istanza compare la necessità di in-
vestire nel settore agricolo come strumento per contrastare la lotta alla po-
vertà, cercando soprattutto di migliorare la produttività agricola dei picco-
li produttori, la creazione di nuovi posti di lavoro, l’introduzione di nuove
tecnologie e lo sviluppo di un potenziale produttivo ancora sottoutilizzato,
permettendo inoltre al paese di attenuare il problema della sicurezza ali-
mentare nazionale attraverso l’implementazione di una strategia di diver-
sificazione della produzione interna.
Nonostante sia ormai noto il coinvolgimento e le responsabilità dei
governi e delle elites locali come “facilitatori” di questa forma di accordi,
incerti appaiono al momento i dati che riguardano la partecipazione del
capitale di origine nazionale, che sembrano far propendere per un approc-
cio contestuale alle situazione paese
Secondo i dati forniti dalla Banca Mondiale il capitale locale rappre-
senta un attore di rilievo ed in alcuni casi predominante in questa tipologia
di investimenti in paesi come la Cambogia (70%), l’Etiopia (49%), il Mo-
zambico (53%), la Nigeria (97%) e il Sudan (78%) (WB, 2010, p. xiv), men-
tre secondo l’analisi della FAO, in paesi come Etiopia, Ghana, Madagascar
e Mali, il ruolo del capitale locale è subalterno e di poco conto rispetto a

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quello straniero sia come quantitativo di denaro investito che come quan-
titativo di ettari interessati (Cotula et al., 2009, p. 48).

I costi-opportunità del fenomeno


A causa della difficoltà di analizzare empiricamente gli effetti di que-
sti contratti (poiché in molti casi gli accordi sono stati solamente annun-
ciati e non sono ancora diventati operativo ed in ogni caso sarebbe ancora
prematuro effettuare una valutazione su quelle che sono le conseguenze
da essi derivanti) e data la difficoltà di accesso alle informazioni, trattan-
dosi molto spesso di trattative riservate finora il fenomeno sembra esse-
re stato analizzato prevalentemente, con riferimento al binomio “rischio-
opportunità”che scaturisce da questa tipologia di investimenti.

Mappa dei paesi e superfici oggetto investimenti di natura agricola nel periodo
2006-2010.

Fonte: Castelnovi, 2010.

A seconda del soggetto proponente, l’analisi sembra protendere a vol-


te più sul rischio che sull’opportunità e viceversa, da cui è derivata necessa-
riamente la diversa connotazione della denominazione del fenomeno.
I soggetti istituzionali coinvolti nell’analisi del fenomeno quali le or-
ganizzazioni internazionali (FAO, Banca Mondiale, OECD, UNCTAD) e i
centri internazionali di ricerca specializzati sui temi dell’agroalimentare
(IFPRI, IIED) hanno mantenuto una posizione più possibilista in merito,
presentando le potenzialità del fenomeno da un lato, senza però tralasciare

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Sviluppo rurale e globalizzazione: “Opportunità” contradditorie
Tra crisi alimentare, ogm e acquisizioni Di terra su larga scala

la considerazione degli eventuali rischi che possono derivare da questa for-


ma di investimenti per le popolazioni locali. La trasparenza e una maggior
simmetria di potere contrattuale, garantita dal rispetto di eventuali codici
di condotta istituiti ad hoc, potrebbero garantire una logica win-win, in
cui paese investitore e beneficiario potrebbero entrambe trarre dall’inve-
stimento consistenti benefici (Von Braun et al., 2009).
Organizzazioni non governative quali GRAIN o associazioni conta-
dine e le loro piattaforme come ROPPA o VIA CAMPESINA hanno assunto
nei confronti del fenomeno una posizione nettamente più critica, intrave-
dendo nell’asimmetria di potere e nella scarsa trasparenza che si registra
non solo tra i paesi contraenti, ma anche fra i rappresentanti e la società
civile nei paesi in via di sviluppo e l’ancora incompiuta riforma agraria la
possibilità di facili soprusi da parte dei paesi investitori, ottenuti attraverso
l’appoggio di alcune elites o gruppi di potere nazionali o negli spazi creatisi
all’interno dei vuoti di potere legislativo.
Sinteticamente qui di seguito si cercano di far emergere le principali
polarità della discussione:

Opportunità Rischio
Investimenti aggiuntivi nelle aree rurali, finora Perdita di accesso e controllo della terra da parte delle
penalizzate popolazioni locali
Esclusione della popolazione locali nel processo di
Creazione di nuovi posti di lavoro
contrattazione
Costruzione di infrastrutture e servizi, accesso Insostenibilità ambientale, presenza di forti esternalità
al mercato negative
Mancanza di equità nella spartizione dei benefici,
soprattutto in contesti in cui i titoli di proprietà si
Miglioramento tecnologia agricola
basano su sistemi di legittimità e non di legalità (diritto
consuetudinario o proprietà comune).
Messa a produzione di terreni precedentemente
Estromissione forzata senza equa compensazioni
improduttivi o sotto-utilizzati
Possibilità di diversificazione della produzione Perdita di servizi forniti dai terreni non adibiti alla
agricola produzione agricola (medicinali, pascolo)
Perdita controllo sicurezza alimentare paese
Riequilibrio della bilancia dei pagamenti
destinatario dell’investimento

La piattaforma di GRAIN ha inoltre cercato di effettuare un primo


censimento della situazione cercando di raccogliere tutte le informazioni,
che sono prevalentemente di carattere giornalistico, per effettuare una pri-
ma valutazione sulle dimensioni del fenomeno, che al momento sembra
attestarsi intorno ai 45-50 milioni di ettari.
A partire dal 2009, hanno iniziato a comparire i primi casi studio pa-
ese, che tuttavia, per le motivazioni sopra esposte non sono ancora in gra-

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do di valutare gli effetti di tali investimenti, ma hanno contribuito al dibat-


tito presentando in maggior dettaglio la situazione dei contratti effettuati
nel paese selezionato e il contesto di governance fondiaria di riferimento.

Il fenomeno nel continente africano: il rischio di perdere un’opportunità


Secondo le stime effettuate da Fisher and Shah (2010), più della
metà della terra che potenzialmente potrebbe essere utilizzata per amplia-
re la superficie coltivabile si trova in 10 paesi, di cui 5 in Africa (Sudan,
Repubblica Demo ed ammonterebbe a 445 milioni di ettari (pari a un ter-
zo della superficie attualmente coltivabile). Sempre secondo queste stime
nessun paese africano è in grado di raggiungere più del 30% della produtti-
vità potenziale sulle aree attualmente coltivate (WB, 2010, p.8).
La disponibilità di terre quindi e la possibilità di aumento del loro
potenziale di resa rende molti dei paesi africani, i candidati naturali dei
nuovi investimenti di terreni, specialmente quelli che racchiudono al pro-
prio interno entrambe le potenzialità. Ed effettivamente il fatto che al mo-
mento il continente africano appaia come quello maggiormente interessa-
to dal fenomeno sembrerebbe confermare questa tendenza; dei 45 milioni
di ettari oggetto di concessioni/acquisizioni, più del 70% si trova in Africa
in particolar modo in paesi come l’Etiopia, il Sudan e il Mozambico (WB,
2010).
Tuttavia l’utilizzo della motivazione legata alla disponibilità e all’ab-
bondanza di terreni, oltre a suscitare dei dubbi in merito alle procedure
con le quali è stata stimata mostra alcune debolezze e rischi nell’utilizzo
sia sul fronte della spiegazione della concentrazione degli investimenti in
Africa, sia per quella che riguarda la legittimazione del fenomeno.
Da un lato infatti la variabile che sembra aver innescato la molla
dell’interesse nei confronti del continente africano più che la disponibilità
di terreni, peraltro già presente precedentemente sembra piuttosto essere
riconducibile alla convenienza maturata grazie alla congiuntura interna-
zionale del rincaro dei prezzi e della corsa ai biocombustibili che hanno
reso profittevole coltivare i terreni a basso costo del continente, tradizio-
nalmente esclusi dal circuito degli investimenti.
Dall’altra rappresenta una categoria che va trattata con estrema cau-
tela, in quanto non è affatto dato per scontato che nei terreni considerati
marginali o disponibili non vi siano prassi di utilizzo da parte di soggetti
che fanno capo a forme di diritto tradizionale o che sono loro stessi mar-
ginalizzati rispetto all’accesso legale alla terra (pastori vs agricoltori, mi-
noranze etniche).
L’altro fatto degno di nota è la direzionalità preferenziale degli inve-
stimenti in paesi considerati da un basso livello di governance nella terra.
Se il basso livello di governance ha tradizionalmente posto un freno all’in-
vestimento, in questo caso sembra costituirne quasi un incentivo. Questo

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Sviluppo rurale e globalizzazione: “Opportunità” contradditorie
Tra crisi alimentare, ogm e acquisizioni Di terra su larga scala

fattore aumenta il fattore rischiosità per il continente, rendendo evidente


come il fenomeno delle concessioni di terreni rappresenti una nuova tipo-
logia di investimento, che più che un’opportunità per il continente, rischia
di far perdere le opportunità che si erano per esso prospettate in segui-
to alla crisi alimentare quando la produzione locale africana era diventa-
ta competitiva rispetto alle importazioni ed era diventata fattibile l’ipotesi
della creazione di un mercato agricolo interno, permettendo di ristruttu-
rare un mercato in cui i rapporti di forza apparivano ormai fossilizzati da
decenni e in cui le logiche globali prevalevano, ma soprattutto prevarica-
vano quelle locali. La riappropriazione del mercato interno può significa-
re moltissimo per il continente a partire dalla crescita dei redditi dei con-
tadini che rappresentano la quota più significativa della popolazione, allo
sviluppo di industrie nazionali capaci di vendere sul mercato interno gra-
zie alla creazione di potere d’acquisto e di una nuova domanda per beni di
consumo e servizi, alla maggior stabilità degli equilibri politici perché più
indipendenti nel perseguimento dell’obiettivo della sovranità alimentare. Il
continente si trova di fronte ad un bivio. Nonostante gli obiettivi da perse-
guire mostrino in apparenza molte similitudini (sviluppo della piccola im-
presa, lotta alla povertà, accesso alla tecnologia), le due strade porteranno
a destinazioni molto diverse. Quando si parla quindi del fenomeno delle
acquisizioni di terra, è necessario oltre alla valutazione dei rischi e delle
opportunità che da esso derivano, pensare alle contraddizioni implicite in
ciò che viene mostrato esplicitamente come un’opportunità.

La contraddittorietà di soluzioni “facili” e “immediate”


L’analisi degli effetti della soia transgenica nel contesto latinoame-
ricano e delle possibili ricadute del recente fenomeno delle acquisizioni di
terra su larga scala in quello africano ci mostra in un certo qual senso il
paradosso che nasce dalla volontà di ricercare soluzioni facili ed immedia-
te nella gestione del rischio (nel primo caso dettato dalla presenza di pian-
te infestanti, nel secondo dal contenere la volatilità dei prezzi del mercato
delle commodities agricole assicurandosi direttamente gli appezzamenti
per la produzione delle stesse) e che rischia a sua volta di tradursi in altre
forme di rischio (monocultura, sviluppo di forme di resistenza agli erbi-
cidi, perdita di nutrienti da parte del suolo, perdita di accesso alla terra,
perdita di biodiversità), soprattutto sul fronte di vista della sostenibilità
ambientale e sociale.
Non solo, ma se allarghiamo la nostra prospettiva e collochiamo
questi due temi all’interno del recente dibattito scaturito in concomitanza
alla recente crisi alimentare, questo appare ancora più paradossale per il
semplice fatto, ma non scontato, che il trasferimento dei modelli sottostan-
ti all’adozione degli ogm e alle coltivazioni di tipo estensivo, presagiscono

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quando già non ripropongono alcune delle distorsioni che sono considera-
te alla stessa radice dell’incremento dei prezzi delle derrate alimentari. La
soia RR, o meglio la modalità attraverso la quale è dapprima penetrata e
poi diffusa con un effetto domino a partire dall’Argentina, in Brasile, Uru-
guay e Paraguay accanto alla crescita esponenziale del fenomeno della cor-
sa alle terre, richiamano esplicitamente un modello economico, che sta via
via progredendo verso la specializzazione agricola volta all’esportazione e
con una sempre maggiore dipendenza non solo dalle importazioni agrico-
le, ma dagli stessi input agricoli. Di nuovo siamo infatti in presenza di una
logica di sviluppo non solo orientata all’esterno, ma dettata da priorità eso-
gene alle realtà locali dei paesi in via di sviluppo.
Fintanto che si cercherà di risolvere la crisi alimentare, che erro-
neamente si ritiene superata, con le ricette preconfezionate di chi al mo-
mento tiene o terrà in scacco il sistema agro-alimentare mondiale, altro
non si otterrà che un’ulteriore complessificazione e peggioramento della
situazione.
Finora, non solo la mano invisibile del mercato è rimasta impigliata
in distorsioni, concentrazioni di potere, speculazioni, ma ha dovuto riceve-
re una mano per uscire dalle sue stesse contraddizioni e avvitarsi nel suo
circolo vizioso della priorità data alla ricerca del profitto.
Il caso della soia RR in America Latina e dell’acquisizione su larga
scala di terreni fra continenti forse dovrebbe aiutarci a riflettere in tal sen-
so per continuare a parlare di crisi.
Sarebbe quindi necessario ripartire da una riappropriazione di col-
ture e culture locali nella direzione di un utilizzo sostenibile delle risorse
e nella rivalutazione del ruolo dell’agricoltura nella società, il che non può
tuttavia prescindere da una cooperazione a scala globale per promuovere un
mercato agricolo più equo, che solo allora forse potrà dirsi competitivo.

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Biocarburanti e territorio.
Il biodiesel tra industria e sviluppo rurale:
casi empirici e modelli interpretativi

Matteo Puttilli
Dipartimento Interateneo Territorio | Politecnico e Università di Torino |
matteo.puttilli@polito.it

Nadia Tecco
Dipartimento Interateneo Territorio | Politecnico e Università di Torino |
nadia.tecco@virgilio.it

Premessa
Questo articolo nasce all’interno di uno start-up per nuove linee di
ricerca del Dipartimento Interateneo Territorio del Politecnico e dell’Uni-
versità di Torino. La ricerca, che si collega a precedenti studi sul rapporto
tra sistemi territoriali e fonti energetiche rinnovabili, sulla questione ali-
mentare e la diffusione degli OGM, si propone di indagare i processi di
restrutturazione del territorio rurale indotti dalla produzione di biocarbu-
ranti. L’obiettivo è di presentare alcuni spunti di riflessione per la regola-
mentazione del rapporto tra bio-energie e territorio nell’ambito delle poli-
tiche territoriali e rurali.
Nonostante la problematica della produzione dei biocarburanti ab-
bia una rilevanza mondiale e interessi trasversalmente i mercati energe-
tici e alimentari alle diverse scale territoriali, questo contributo si con-
centra principalmente sulla realtà europea e in particolare italiana. In
questi contesti, grande rilevanza assume la produzione di biodiesel, ed è
pertanto su questa specifica fonte di energia che si concentra l’attenzione
all’interno dell’articolo. Nondimeno, il contributo intende offrire alcuni
spunti più generali sul rapporto tra biocarburanti, industria energetica e
sviluppo rurale che possano trovare significative valenze e riscontri an-
che in contesti extra-europei così come per altre fonti energetiche rinno-
vabili e non.

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Biocarburanti e territorio. Il biodiesel tra industria
e sviluppo rurale: casi empirici e modelli interpretativi

L’elaborato è organizzato come segue: la prima parte introduce il di-


battito sui biocarburanti in Europa, evidenziando la carenza di approcci
che mettano in risalto la dimensione spaziale e territoriale della loro pro-
duzione; la seconda parte presenta due casi di studio antitetici analizzati
nell’ambito della ricerca, uno organizzato su una filiera “lunga” di approv-
vigionamento e distribuzione dei biocarburanti, l’altro con una dimensione
prettamente locale e di filiera “corta”; la terza parte introduce due possibili
approcci teorici di sistematizzazione delle relazioni tra biodiesel e terri-
torio, delineando due modelli tra loro differenti: industriale e territoriale;
infine, la quarta parte presenta le specificità del caso italiano, mettendo in
risalto la miopia delle politiche energetiche nel sostenere lo sviluppo di en-
trambi i modelli di produzione individuati nel modello.

Biocarburanti, spazio e territorio: il dibattito mancante


Il biodiesel appartiene alla famiglia dei biocombustibili (cioè quei
combustibili prodotti principalmente a partire dalla biomassa vegetale) e
si ottiene dagli oli vegetali principalmente di colza, soia e girasole. L’etano-
lo invece nasce dal processo di fermentazione delle biomasse ricche di car-
boidrati e zuccheri quali ad esempio frumento, mais, canna da zucchero
e bietola. Entrambi fanno parte dei biocombustibili di prima generazione,
in quanto il loro processo di produzione nasce dall’utilizzo di colture ali-
mentari, da cui scaturisce inevitabilmente una competizione tra l’utilizzo
dei suoli agricoli per la produzione energetica e per il consumo alimentare.
Nella letteratura si riconoscono altre due successive generazioni di biocom-
bustibili. La seconda generazione fa riferimento ai combustibili originati a
partire da processi di idrolisi e fermentazione di materiali ligneo-cellulosi-
ci (residui agro-industriali e forestali) mentre la terza generazione riguar-
da invece l’ottenimento del combustibile da colture microalgali.
Nonostante i grandi sforzi compiuti dalla ricerca per lo sviluppo del-
le nuove generazioni di biocombustibili da colture non alimentari, attual-
mente la prima generazione è ancora la tipologia che trova la maggior
diffusione, in quanto trova largo impiego come combustibile per gli au-
toveicoli data la compatibilità con i processi di combustione dei motori a
diesel e benzina e l’utilizzo dello stesso canale di infrastrutture di distribu-
zione (Randelli, 2008).
Dal punto di vista di una prospettiva spaziale, il bioetanolo e il bio-
diesel vedono una marcata differenziazione per quello che riguarda la lo-
calizzazione geografica dei processi di produzione e consumo: il primo è
un prodotto prevalentemente di origine americana (Nord e Sud) che vede
la crescente partecipazione di paesi come Cina e India. Il secondo ha un
carattere marcatamente europeo tanto per la produzione, che per il con-
sumo. Motivo per cui nell’analisi che condurremo riguardante il caso eu-

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Matteo Puttilli | Nadia Tecco

ropeo e più in particolare italiano ci concentreremo prevalentemente sulla


filiera produttiva del biodisel.
Gli studi in materia convivono con il limite dato dalla mancanza di
informazioni statistiche e di dati condivisi: al momento non è possibile sa-
pere con certezza quanti ettari in Europa siano dedicati alla produzione di
colture destinate alla produzione di biodiesel, né tantomeno quante ton-
nellate di materia prima o di olio siano importante dall’estero per sostene-
re la domanda europea. Non si conosce ancora molto inoltre sulle intera-
zioni fra la produzione di biodiesel e le altre attività economiche del settore
agro-alimentare e agri-energetico: Von Wissel (Von Wissel, 2006) stima che
la crescita del settore del biodiesel determinerà un progressivo spostamen-
to della produzione olearia dal mercato alimentare a quello energetico.
Nonostante la mancanza di un quadro di informazioni chiaro sugli effetti
del sistema di produzione dei biocombustibili, l’Europa ne promuove un
ulteriore sviluppo e diffusione, principalmente per due motivazioni.
La prima, fa riferimento al ruolo chiave che queste fonti alternative
rappresentano all’interno della più ampia strategia europea in merito al
tema dell’energia e del cambiamento climatico (essi possono infatti ridur-
re la dipendenza europea dai combustibili fossili e favorire un sistema di
trasporti ritenuto più sostenibile in quanto capace di ridurre le emissioni
di gas serra). L’ormai noto “pacchetto energia” dell’Unione Europea sta-
bilisce che entro il 2020, il 10% dei trasporti dovrà basarsi sull’utilizzo di
biocombustibili (in particolare, si fa riferimento alla Direttiva 2003/30 sul-
la “promozione del biodiesel e di altri combustibili rinnovabili per il tra-
sporto e alla Direttiva 2003/96 che riguarda la riconfigurazione del quadro
di tassazione dei prodotti del settore energetico e elettrico). L’ambizioso
obiettivo dovrà essere raggiunto attraverso la realizzazione di specifiche
policies a livello degli Stati membri che stabiliranno delle quote progressi-
ve anno per anno. Il secondo motivo è rappresentato dal contributo che il
biodiesel può offrire nel raggiungimento di una agricoltura europea mag-
giormente multifunzionale. Le diverse riforme della PAC (per esempio nel
1996, 1999, 2003) mirano alla diffusione del concetto che “un’agricoltura
multifunzionale possa promuovere lo sviluppo di fonti alternative di reddi-
to per il settore salvaguardando nello stesso tempo l’ambiente” (Simonci-
ni, De Groot, 2009). Soprattutto la riforma del 2003 si propone di aiutare
gli agricoltori a diventare più competitivi e più attenti alla domanda del
mercato nell’orientare le loro scelte e decisioni produttive. In questo con-
testo, il biofuel diventa una promettente fonte di reddito e di differenzia-
zione del portafoglio di produzione agricola. Nonostante il forte appoggio
politico, l’effettivo contributo del biodiesel in termini di sostenibilità e di
sviluppo rurale è oggetto di un controverso dibattito. In particolare, si trat-
ta tuttavia di una discussione che parzialmente ignora le interazioni fra il
biodiesel (inteso in tutta la sua filiera) e l’organizzazione territoriale degli

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Biocarburanti e territorio. Il biodiesel tra industria
e sviluppo rurale: casi empirici e modelli interpretativi

spazi rurali. Finora infatti, ci sembra di poter affermare che il dibattito


inerente i biocombustibili (e il biodiesel in particolare) si sia sviluppato
seguendo tre principali filoni di ricerca. Il primo filone appartiene all’am-
bito più strettamente tecnico e tecnologico della questione; un’ampia fetta
della letteratura si è focalizzata nel cercare di comprendere come l’inno-
vazione tecnologica possa contribuire a migliorare l’efficienza e l’equili-
brio ambientale dei biocombustibili (Sheehan, Camobreco, et al., 1998;
Pimentel, Patzek, 2005; Hill, Nelson, et al., 2006). Vengono così analizzate
le proprietà chimico-fisiche delle differenti generazioni di biocombustibili
e poste a confronto rispetto a variabili quali il livello delle emissioni pro-
dotte, il bilancio energetico, l’efficienza tra gli input e gli output e i costi di
produzione. Una sezione considerevole di questa fetta della discussione si
occupa degli impatti dal punto di vista della sostenibilità ambientale che
deriva dall’adozione dei biocarburanti. Anche qui le conclusioni non tro-
vano l’unanimità dei consensi. I bilanci energetici, economici e ambientali
differiscono da contesto a contesto e in base alle variabili considerate nei
casi studio analizzati (Randelli, 2008). Sembra quindi impossibile stabi-
lire a priori l’effettiva sostenibilità dei biocombustibili. Un’altra parte del
dibattito fa riferimento alle conseguenze socio-economiche derivanti dalla
produzione di biodiesel e alle ripercussioni di queste con i mercati delle
derrate agricole su scala mondiale e regionale (Cassman, Liska, 2007; Du-
que, 2008; Escobar, Lora, et al., 2009). Si tratta tuttavia di una discussione
prevalentemente informale e di carattere divulgativo, profondamente se-
gnato dall’interesse suscitato nei mass media nei confronti dello scoppio
della crisi alimentare del 2007-2008. In questo contesto la produzione dei
biocarburanti è considerata una delle principali concause dell’aumento dei
prezzi delle commodities agricole (World Bank, 2008).
Inoltre alcuni articoli denunciano le condizioni sociali dei lavorato-
ri che operano nell’industria dei biocaburanti nei paesi in via di sviluppo
e il pericolo dell’incorrere in una forma di nuovo colonialismo che derive-
rebbe dal fenomeno di acquisizioni su larga scala di terreni da adibire alla
loro produzione da parte di grandi colossi dell’agribusiness o del comparto
energetico.
Il terzo ambito di discussione riguarda la natura spaziale del feno-
meno. Le questioni a cui si cerca di rispondere riguardano il quantitativo
di terreni necessario a soddisfare il consumo attuale e futuro di biocombu-
stibili, il potenziale produttivo di alcune macro-regioni globali quali il Bra-
sile, il Nord America e l’Europa. Le risposte cercano di considerare tutta
una serie di fattori che spaziano dalla disponibilità di superfici coltivabili,
la produttività delle differenti regioni e la sostituzione fra coltivazioni per
uso alimentare e/o energetico. In un importante studio pubblicato dall’EEA
(EEA, 2007) vengono proposti cinque principi per ottenere una produzione
sostenibile di biocombustibili in Europa, rispettando nel soddisfacimento

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della crescente domanda di energia rinnovabile, le necessità di un’agricol-


tura attenta all’ambiente e garante del livello attuale di copertura vegeta-
le. In Francia il tema è stato affrontato da Salmon (Salmon, 2008) e Poux
(Poux, 2008), mentre in Italia uno studio parziale di tali aspetti è stato
condotto dalla Fondazione per l’Ambiente (2009), che segnala le opportu-
nità offerte dai biocombustibili soprattutto per il comparto industriale più
che per quello rurale. Tra questi significativi filoni di discussione tuttavia
ci appare che non sia stata sufficientemente affrontata la questione delle
relazioni che intercorrono tra la filiera di produzione del biodiesel e l’or-
ganizzazione territoriale degli spazi coinvolti, il che significa approfondi-
re quali siano gli attori e le reti che fanno parte della filiera, quali siano le
loro rispettive motivazioni, quali i profitti per i produttori e per i contesti
territoriali coinvolti da tale processo. Questa mancanza diventa ancora più
evidente se si considera che solo una piccola parte degli studi si pongono
la domanda di quale sia la profittabilità e la sostenibilità dei biocarburan-
ti per il mondo agricolo, il loro contributo in termini di sviluppo rurale?
Siamo di fronte a un ‘innovazione? Di quale tipo? L’obiettivo dei prossimi
paragrafi è di presentare, a partire dal riferimento a casi studio differen-
ti, due possibili approcci per sistematizzare le relazioni intercorrenti fra il
territorio rurale e le filiere del biodiesel.

Due esempi antitetici: filiere lunghe vs filiere corte?


Il presente paragrafo introduce due casi studio, che esemplificano il
contesto italiano che riguarda le filiere di produzione del biodiesel. Il pri-
mo caso presenta la Oxem, un impianto di una certa rilevanza nel contesto
italiano, anello centrale di una filiera lunga di produzione del biodiesel,
che importa materie prime dall’estero per poi trasformarle in combustibile
per il mercato italiano e europeo. Dall’altro lato viene presentata l’esperien-
za pilota della filiera corta di Confagricoltura, che nasce e conclude il suo
ciclo localmente.
L’impianto produttivo della OXEM S.p.A è operativo dal gennaio
2009, con una capacità produttiva iniziale di 100,000 tonnellate, ma con
previsioni di raddoppio nell’immediato futuro (l’impianto possiede inoltre
la capacità produttiva di 20000 tonnellate di glicerina e 10000 tonnellate
di gomma fosfolipidica.) È localizzato a Mezzana Bigli, in prossimità di
un preesistente impianto chimico della Oxon-Sipcam Group. L’impianto
con un investimento di oltre 50 milioni di Euro nasce come spin-off del
gruppo Oxom, con la partecipazione nel capitale societario di imprese
proventi dal settore degli oli, dello zucchero e della logistica. L’impianto
è connesso con un oleodotto alla vicina raffineria dell’ENI di Sannazzaro
de’ Burgondi, che rappresenta il principale acquirente del biodiesel pro-
dotto dalla OXEM. La localizzazione dell’impianto, oltre alle motivazioni

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Biocarburanti e territorio. Il biodiesel tra industria
e sviluppo rurale: casi empirici e modelli interpretativi

di natura logistica (la connessione con il sito chimico della OXOM e la vi-
cinanza alla raffineria dell’ENI) non sembra possedere legami con il terri-
torio limitrofo ( ad eccezione delle 14 persone che lavorano nell’impianto).
L’olio vegetale per la produzione (65% da olio di colza e la rimanente parte
da olio di soia e palma) di biodiesel proviene principalmente dall’estero,
trasportato in Italia prima via cargo e poi con trasporto su treno o gomma.
L’olio di colza proviene da Francia, Germania e Europa dell’Est, quello
di soia prevalentemente dall’Italia, mentre quello di palma dalla Malesia
e dall’Indonesia. Per lo stoccaggio dell’olio importato viene utilizzato un
terminal a Savona, a 112 Km dall’impianto. Oltre ad essere una produttri-
ce di biodiesel, la Oxem si occupa anche della sua commercializzazione e
della vendita diretta di olii. Le fluttuazioni che caratterizzano i prezzi del-
le materie prime e del petrolio accanto alla limitata competitività presente
nel mercato oligopolistico dell’energia, a volte fanno sì che per la Oxem
sia più conveniente l’acquisto diretto del biodiesel anziché la sua trasfor-
mazione a partire dall’olio vegetale. Generalmente i contratti di fornitura
sono spot, con una durata massima di un paio di mesi. Oltre alle aperture
nei confronti del mercato internazionale (con l’obiettivo specifico di fa-
vorire l’acquisto di olio di palma), Oxem ha costituito una joint-venture
con Wilmar Oleo, parte del gruppo internazionale Wilmar, tra i princi-
pali produttori e trasformatori di olio di palma nel continente asiatico.
Per quello che riguarda la distribuzione, la maggior parte del biodiesel è
trasportata tramite un oledotto alla raffineria dell’ENI di Sannazzaro de
Burgundi. Il resto viene venduto nel mercato italiano, austriaco e sloveno.
Nel 2006 mentre il gruppo Oxem stava crescendo, in un’area di circa 150
km2 area compresa fra Bologna, Verona, Vicenza e Ferrara – nel centro
della Pianura Padana nel Nord dell’Italia, stava prendendo forma un’altra
iniziativa legata alla produzione del biodiesel, promossa da Confagricol-
tura (una delle associazioni più rilevanti tra gli agricoltori italiani) con il
coinvolgimento di più di 200 produttori locali, con l’obiettivo di sviluppa-
re una filiera corta, dove la soia prodotta localmente venisse utilizzata per
la produzione di biodiesel. Attraverso la destinazione di circa 1.000 ettari
di terreno destinati alla produzione di soia e con una produttività di cir-
ca 1.000 tonnellate di olio annuali (che corrispondono a 1000 tonnellate
di biodiesel), la soia prodotta viene prima stoccata in un’area nei pressi
di Bologna (messa a disposizione dal consorzio locale) e successivamente
sottoposta al processo di spremitura, effettuato dalla holding della Cere-
al Docks. Ottenuto l’olio dalla soia, viene trasformato in biodiesel in un
impianto di medie dimensioni dalla capacità di circa 200.000 tonnellate
annue della Oil-B S.p.A.
L’iniziativa rappresenta il primo tentativo di costituire a livello lo-
cale una filiera del biodiesel in Italia. La motivazione del progetto nasce
dalla frustrazione comune delle associazioni contadine di fronte agli in-

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centivi per la produzione di biodiesel in Italia, che vengono considerati


insufficienti per supportare una crescita locale ed endogena della produ-
zione agricola per scopi energetico/industriali. È stato così formalizzato
un contratto fra i produttori coinvolti che garantisce un prezzo superiore
del 20% a quello di mercato a chi vende la soia all’interno della filiera. Il
progetto nasce come progetto pilota, con l’obiettivo di produrre e consu-
mare localmente biodiesel, internamente ad una filiera denotata territo-
rialmente. Tuttavia, la mancanza di un quadro preciso di norme per l’au-
to-produzione di biodiesel come combustibile agricolo e l’assenza di un
produttore di olio nell’area, hanno costretto il progetto a coinvolgere un
frantoio industriale per la produzione dell’olio e a produrre biodiesel per
il mercato. L’interesse di questo progetto pilota non risiede esclusivamente
nei profitto che riusciva a garantire agli agricoltori. La produzione locale
di biodiesel era considerata come uno strumento capace di contribuire alla
multifunzionalità dell’agricoltura, all’acquisizione di nuove competenza e
know-how, alla diffusione di una modalità di lavoro all’interno di filiera
controllata e alla possibilità di creare nuovi interessi produttivi per le fu-
ture generazioni di agricoltori. Nonostante il progetto abbia suscitato una
certa attenzione all’interno del mondo rurale, la sua attività è stata inter-
rotta dopo un paio di anni. Le ragioni dell’insuccesso dell’iniziativa sono
da ricercarsi nell’inadeguatezza delle politiche pubbliche nel sostenere la
produzione locale e nella convenienza nel coltivare prodotti per l’alimen-
tazione o altre tipologie di biomassa per la produzione di energia elettrica
(poiché più supportata da incentivi nazionali rispetto alla produzione di
biocombustibili).

Biodiesel e territorio: un modello di riferimento


In una prospettiva geografica, spazio e territorio sono due concetti
distinti che non ci è possibile approfondire in questa sede (Mitchell, 1979;
Raffestin, 2003; Dematteis, Governa, 2005; Governa, 2005). Con il concet-
to di spazio si farà qui riferimento a un supporto per le attività umane, un
contenitore di risorse potenziali (tangibili e intangibili) che gli attori pos-
sono riconoscere e valorizzare; per territorio, invece, si intende una rete
complessa di relazioni (materiali e immateriali) tra gli attori e tra questi e
le risorse locali. “Territorio” è pertanto un concetto “relazionale”, in quanto
descrive un sistema di relazioni tra la società e il suo ambiente: relazioni
che possono essere, allo stesso tempo, orizzontali (tra attori) e verticali (tra
attori e risorse territoriali e tra scala locale e scale sovralocali). Spazio e
territorio interagiscono, nel senso che qualsiasi organizzazione territoriale
(vale a dire, il modo in cui risorse e relazioni tra attori sono sviluppate e
organizzate) ha una propria dimensione spaziale (cioè, necessita di spazio
disponibile e lo modifica e organizza secondo le proprie esigenze).

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Biocarburanti e territorio. Il biodiesel tra industria
e sviluppo rurale: casi empirici e modelli interpretativi

La produzione di biocarburanti necessita contemporaneamente di


spazio e territorio (figura 1). Necessita di spazio nei termini di quantità di
terra disponibile da convertire a produzioni agro-energetiche. Tale spazio
può essere ricavato secondo diverse modalità: attraverso la sostituzione di
produzioni agricole alimentari con produzioni destinate all’industria dei
bio-carburanti; in alternativa, attraverso la colonizzazione di nuova ter-
ra disponibile (anche all’estero, attraverso la pratica dell’acquisto di terra
in altri Paesi – altresì definita come land grab). Le nuove configurazioni
spaziali generate dall’introduzione delle colture energetiche devono esse-
re considerate sotto diversi punti di vista: quali sono gli impatti ecologici
delle nuove colture? Quali le conseguenze sul paesaggio rurale tradizionale
pre-esistente? Quale il consumo di suolo dovuto all’insediamento di nuove
colture? Quali colture vengono sostituite?
La dimensione spaziale non è tuttavia sufficiente a comprendere
pienamente le forme e gli impatti dei bio-carburanti. Una struttura spa-
ziale è infatti il risultato di una organizzazione territoriale che la produce:
pertanto, nel valutare gli impatti territoriali degli agro-combustibili è ne-
cessario interrogarsi sulle diverse reti di relazione che interessano gli attori
locali, le risorse e le scale sovra-locali. Quali attori partecipano della catena
produttiva? Quali sono gli obiettivi per i quali la produzione viene avviata
(auto-sufficienza? Esportazione della materia prima?). Chi ottiene i princi-
pali vantaggi e benefici economici dalla produzione? Qual è il ruolo della
scala locale e dei produttori locali? In altri termini, chi decide come lo spa-
zio viene organizzato e utilizzato? E, ancora, quali sono gli impatti di una
simile catena produttiva sui mercati agricoli locali e sovra-locali?
A partire dalla distinzione tra spazio e territorio, si propone di segui-
to un duplice approccio alla produzione di bio-carburanti.
Il primo approccio è definito industriale. Costituisce il modello pro-
duttivo ampiamente più diffuso globalmente. In tale approccio, gli impian-
ti produttivi sono il risultato di iniziative private (solitamente promosse da
grandi compagnie multinazionali già attive nei mercati petroliferi o del-
la agro-industria). Una combinazione di tre caratteristiche definisce nei
dettagli un simile approccio: la produzione su larga scala; l’indifferenza
rispetto alla provenienza della biomassa e della materia prima e lo scar-
so coinvolgimento della filiera agricola locale. Gli impianti sono dotati di
ampie capacità produttive (centinaia di migliaia di tonnellate di biodiesel)
e il loro approvvigionamento è costantemente garantito da traders e inter-
mediari che importano grandi quantitativi di biomassa dall’esterno, solita-
mente via nave, ad una scala globale e sovra-nazionale. Gli investimenti ne-
gli impianti sono motivati da obiettivi di business: espansione delle attività
aziendali in settori innovativi, sviluppo di know-how e presenza di elevati
incentivi alla produzione (fissati alla scala nazionale o sovra-nazionale).
Simili caratteristiche generano una sostanziale indifferenza localizzativa:

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Matteo Puttilli | Nadia Tecco

non viene considerato il contesto rurale in cui l’impianto viene inserito né,
tantomeno, la concreta possibilità di approvvigionare l’impianto con una
produzione agro-energetica locale. Le relazioni tra imprese di biocarburan-
ti e agricoltori locali sono pressoché assenti: le prime sono spesso connesse
in rete con le compagnie petrolifere (sovente, anche fisicamente attraverso
oleodotti che distribuiscono biodiesel alle raffinerie che lo mescolano al
diesel normale) e talvolta operano come semplici intermediari importando
dall’esterno biodiesel già raffinato ed esportandolo nuovamente.
Il secondo approccio è definito territoriale, ed è radicalmente diffe-
rente quanto meno diffuso, almeno in Europa. Vede la presenza di filiere
produttive integrate alla scala locale (anche se la dimensione “locale” è qui
quanto mai ambigua). La caratteristica peculiare di un simile approccio è
che la biomassa non è importata, ma prodotta localmente da agricoltori che
decidono di destinare parte della propria produzione a fini energetici. Solita-
mente, gli attori locali sono in rete tra loro attraverso cooperative, consorzi e
associazioni che organizzano la produzione. La filiera produttiva è integrata
con impianti per la spremitura e la raffinazione del biodiesel.

Spazio • La produzione di biodiesel


è il risultato di filiere corte
• Gli impianti sono originati • Dove viene ricavata terra
intergrate.
da iniziative private di agricola disponibile?
singole imprese • La produzione e il
• Vi sono interazioni conflittuali
consume vedono il
• Non vi è il coinvolgimento tra utilizzi energetici e
coinvolgimento di diverse
di attori locali nelle fasi alimentari della terra?
reti di attori quali consorzi,
di approvvigionamento, • La biomassa viene importata
associazioni di agricoltori,
produzione e consumo. dall’esterno?
produttori, spremitori, e
• La biomassa è importata
così via.
Modello industriale

Modello territoriale

totalmente dall’esterno
• I biocarburanti sono
(non vi è produzione
prodotti sia per il mercato
locale) ed è garantita Biodiesel
sia, in altri casi, per l’auto-
da grandi multinazionali
consumo (ad esempio,
agro-industriali.
per utilizzi agricoli o per il
• Il prodotto finale è venduto
trasporto pubblico locale).
alle compagnie petrolifere Territorio
• La competizione tra
o esportato. • Quali sono le reti di attori
colture alimentari ed
• Le pratiche di trading e che partecipano alla filiera
energetiche è controllata
di import-export sono produttiva?
alla scala locale
diffuse. • Quali sono le interazioni tra
• La produzione di
• Non vi sono legami attori rurali e produttori di bio-
biocarburanti è uno
tra agricoltori locali e carburanti?
strumento per la
industria dei biocarburanti • Quale contributo viene offerto
promozione di pratiche
dalla produzione di biodiesel in
di innocazione e sviluppo
termini di sviluppo rurale?
locale

Figura 1. Due modelli territoriali per la produzione di biocarburanti

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Biocarburanti e territorio. Il biodiesel tra industria
e sviluppo rurale: casi empirici e modelli interpretativi

Un simile modello è fortemente variabile a seconda della destina-


zione finale del biodiesel prodotto: in alcuni casi (diffusi ad esempio in
Francia e in Germania), il biodiesel prodotto localmente attraverso piccoli
impianti è destinato all’auto-consumo, per la trazione delle macchine agri-
cole e in alcuni casi per alimentare piccole reti di trasporto pubblico. Altri
casi vedono le fasi di spremitura e di produzione del biodiesel ad opera di
grandi impianti industriali, ai quali viene destinata la material prima pro-
dotta localmente. Il biodiesel non è più destinato all’auto-consumo, ma
viene venduto sui mercati energetici come parte del biodiesel derivante da
biomassa importata dall’esterno. In ogni caso, un certo ritorno economico
viene garantito agli agricoltori che partecipano alla filiera.
Anche se questi due modelli mostrano significative differenze, è im-
portante rimarcare come non siano in competizione l’uno con l’altro, così
come non rappresentano gli unici due modelli possibili di produzione di
biodiesel o di biocarburanti. Incarnano piuttosto due polarità di riferimen-
to: al loro interno molte possibili prospettive possono essere sviluppate.
Allo stesso modo, tali modelli non dovrebbero essere opposti in termini di
sostenibilità ambientale: nessuno dei due è sostenibile a priori così come
non sostenibile. Entrambi, devono essere declinati nei diversi impatti am-
bientali, economici e sociali che generano sia alla scala internazionale, sia
regionale, sia locale.
I due modelli non sono direttamente comparabili, in quanto diffe-
riscono profondamente sia dal punto di vista quantitativo sia qualitativo.
Il modello industriale è guidato da obiettivi di business; quello territoriale
da obiettivi di sviluppo rurale e incremento dei vantaggi territoriali per i
produttori locali. Pertanto, i due modelli possono persino coesistere in uno
stesso contesto territoriale. Il primo non produce significativi ritorni per il
contesto rurale; al limite, genera impatti e conseguenze nei territori rurali
laddove la biomassa è prodotta. Il secondo, invece, può utilizzare impianti
produttivi già esistenti: ma il fine ultimo non è l’incremento della capacità
produttiva, bensì il supporto alla filiera agricola locale.
Sebbene i due modelli non possano essere messi direttamente a con-
fronto, vi sono alcuni imprescindibili nodi critici (che in questa sede non
si ha lo spazio di trattare approfonditamente) rispetto ai quali entram-
bi dovrebbero essere valutati, seppur separatamente. Questi fanno riferi-
mento alle dimensioni dello sviluppo locale, della sostenibilità ambientale
e dell’equilibrio sui mercati agricoli e alimentari (sostenibilità sociale ed
economica). Infatti, come messo in risalto dalla letteratura (EEA, 2007;
Markevicius et al., 2010), i criteri per valutare la sostenibilità dei biocar-
buranti devono considerare sia gli impatti sull’ambiente fisico e sugli eco-
sistemi in senso stretto (utilizzo dell’acqua, alterazione della biodiversità,
fenomeni di deforestazione, e così via) sia le conseguenze sui mercati. Con
queste si intendono per lo più l’incidenza che un incremento globale della

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Matteo Puttilli | Nadia Tecco

domanda di biomassa agricola ai fini energetici può comportare sull’an-


damento dei prezzi anche dei prodotti alimentari che utilizzano le stesse
materie prime. Meno considerate nel dibattito sono le conseguenze sul pia-
no dello sviluppo locale: se, da un lato, entrambi i modelli possono essere
vettori positivi, a determinate condizioni, di sviluppo rurale (portando in-
novazione tecnologica, occupazione, auto-consumo energetico, e cosi via),
dall’altro lato possono rappresentare un fattore di pressione nel momento
in cui monocolture energetiche sostituiscono modelli agricoli e produttivi
consolidati localmente.
Al di là della questione degli impatti, la differenza qualitativa tra i
due modelli suggerisce il fatto che anche le politiche atte a sostenerli do-
vrebbero essere differenziate. Gli incentivi che sostengono la produzione
industriale di biodiesel non sono adeguati per lo sviluppo di un approccio
territoriale, e viceversa. Nella prossima sezione si descriveranno, pertanto,
le inadeguatezze della politica di supporto ai bio-carburanti nel cogliere
tali differenze tra molteplici modelli territoriali in riferimento al caso ita-
liano.

La predominanza del modello industriale nel caso italiano


L’Italia è il quarto maggiore produttore europeo di biodiesel dopo
Germania, Francia e Spagna. Nel 2009, la produzione italiana è ammonta-
ta a poco più di 700.000 tonnellate (contro i 2,5 milioni di tonnellate del-
la Germania, i quasi 2 milioni della Francia e le 800.000 tonnellate della
Spagna) (EBB, 2010). Nonostante questa buona posizione nel panorama
europeo, l’Italia non ha ancora sviluppato una filiera agro-energetica vera
e propria. Attualmente, lo sviluppo del settore è ristretto alla sola fase di
raffinazione del biodiesel, mentre la produzione di materia prima (olio di
soia, girasole, colza, sorgo, e così via) e il consumo interno risultano essere
assai limitati.
Sul territorio risultano essere attivi circa venti impianti di trasfor-
mazione e produzione di biodiesel, di cui quattro sono in fase di costruzio-
ne, per una capacità complessiva di circa due milioni e mezzo di tonnellate
(Assocostieri, 2010). Gli impianti sono localizzati prevalentemente lungo le
coste, nei pressi di aree portuali e logistiche di grande rilevanza (ad esem-
pio, nei retro-porti di Genova e Savona) e nella pianura Padana nell’Italia
del Nord (specialmente nelle regioni Lombardia e Veneto).
Lo sviluppo della filiera del biodiesel in Italia è supportato dall’ob-
bligatorietà, per legge, di miscelare petrolio e diesel con una quota di bio-
carburanti, definite annualmente da una normativa nazionale apposita
(che a sua volta segue la Direttiva Europea 30/2003). La quota percentua-
le di biocarburanti immessa nella miscela cresce di anno in anno. Per il
2010, la legge italiana si prefiggeva l’obiettivo di raggiungere il 5,75% di

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Biocarburanti e territorio. Il biodiesel tra industria
e sviluppo rurale: casi empirici e modelli interpretativi

biocombustibili sul totale dei carburanti consumati, e la quota obbligato-


ria di miscelazione per ogni produttore era fissata al 3,5%. Nonostante tali
provvedimenti, l’Italia è ancora lontana dal perseguire gli obiettivi europei
imposti dalla normative. I dati forniti dalla Commissione Europea regi-
stravano, nel 2005, una quota di biocarburanti sul totale dei consumi nel
settore dei trasporti inferiore all’1%, ampiamente al di sotto delle attese.
Ciò conferma che, nonostante gli sforzi della normativa, la filiera presenta
delle difficoltà notevoli a svilupparsi pienamente.
Per quanto concerne la materia prima, la grande maggioranza del
biodiesel prodotto in Italia (più del 60%) proviene da semi di colza, soia
e palma importati dall’estero, sia da Paesi europei (Francia, Spagna, Ger-
mania), sia extra-europei (Argentina, Brasile, Canada, Malesia) (Vanni-
ni, 2006; Scrosta, Cerrioni, 2008). I vincoli per lo sviluppo di una filiera
“italiana” di biodiesel (che veda anche una fase di produzione della ma-
teria prima) sono molteplici: il più importante è dato dalla disponibilità
di terra per le colture oleaginose (al momento, circa 20.000 ettari sono
dedicati a queste produzioni in tutto il Paese) (Vannini, 2006); un limite
allo sviluppo della capacità produttiva è poi dato dalla stretta connessio-
ne tra il costo finale del biodiesel prodotto e quello della materia prima:
non solo il mercato agricolo italiano non è competitivo sul piano dei co-
sti per le grandi produzioni rispetto ad altri mercati internazionali, ma
anche i singoli agricoltori non hanno convenienza ad investire in colti-
vazioni oleaginose, ma preferiscono altre colture più redditizie sotto un
profilo economico.
Un altro limite importante è costituito dalla scarsa consapevolezza
da parte della normativa, rispetto alle caratteristiche di un approccio terri-
toriale alla produzione di biodiesel. In Italia manca, ad esempio, una nor-
mativa che supporti distintamente lo sviluppo di filiere locali in alternativa
al modello industriale dominante. Similmente, mancano strutture organiz-
zative (ad esempio, associazioni e consorzi tra produttori) che siano in gra-
do di avviare un simile settore e sperimentazioni significative in tal senso.
Anche per questa ragione, la filiera del biodiesel è fortemente disconnessa
dal settore rurale. Gli agricoltori italiani che producono semi per il biodie-
sel non sono inquadrati forme associative e reti in grado di valorizzarne i
prodotti in una prospettiva di filiera corta, ma rientrano a tutti gli effetti
all’interno del modello industriale, al quale vendono i propri prodotti, con
una bassa incidenza sul volume complessivo di biodiesel prodotto.
Modelli alternativi, ispirati ad un più solido e ampio coinvolgimen-
to del territorio rurale e sulla generazione di un valore aggiunto per il ter-
ritorio (e non limitato solamente alle imprese produttrici) derivante dalla
filiera del biodiesel, ad esempio per la generazione di energia, l’utilizzo in
agricoltura o nel trasporto pubblico locale, sono a tutt’oggi ferme ad uno
stadio sperimentale.

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Matteo Puttilli | Nadia Tecco

Anche il modello industriale italiano, ad ogni modo, sconta diver-


se difficoltà nonostante la maggiore attenzione ricevuta dallo Stato. La
maggior parte delle imprese mostra una serie importante di debolezze,
legate principalmente alla scarsa competività nei confronti di grandi pro-
duttori internazionali che possono produrre biocarburanti a prezzi in-
feriori (addirittura, minore del costo della materia prima per le imprese
italiane). In particolare, il biodiesel proveniente da alcuni Paesi come
Stati Uniti e Argentina è fortemente competitivo in quanto supportato
da importanti sussidi alle esportazioni. Dal 2005, la produzione italiana
di biodiesel è superiore rispetto al consumo interno: circa due terzi del
totale è pertanto esportato verso altri Paesi europei (Germania, Austria,
Francia e Spagna). L’Italia ricopre, quindi, nel mercato dei biocarburanti,
un ruolo da intermediario: importa grandi quantitativi di materia prima
dall’esterno ed esporta verso l’esterno il prodotto finito, con bassissimi
ritorni sul territorio.

Riflessioni conclusive
Se si adotta il modello interpretativo sopra proposto per analizza-
re il caso della produzione italiana di biodiesel, è possibile osservare l’as-
soluta predominanza di un modello di stampo industriale. Questo sbilan-
ciamento ha cause proprie che possono essere ricercate nell’equilibrio dei
mercati agricoli interni e nella scarsa competitività della produzione di
piante oleaginose nel panorama agricolo italiano rispetto ad altri Paesi.
Tuttavia, una causa importante che determina una difficoltà nello svilup-
po e nella diffusione delle filiere corte è determinata dalla miopia, da parte
delle politiche pubbliche, nel proporre strumenti di supporto a modelli di
produzione e consumo di marca territoriale. La filiera dei biocarburanti in
Italia è completamente disconnessa dal territorio agricolo, che in misura
assolutamente marginale contribuisce a fornire biomassa alla produzione
di biodiesel.
L’ipotesi che emerge da queste considerazioni, così come dagli esem-
pi riportati in questo articolo, è che lo sviluppo di filiere agro-energetiche
locali, fondate su un approccio territoriale, necessiti di espliciti strumenti
di promozione qualitativamente differenti rispetto a quelli atti a promuo-
vere le forme di matrice industriale. Necessita, cioè, di politiche che so-
stengano la cooperazione tra gli agricoltori e i produttori, incentivando
equamente tutte le diverse fasi della filiera produttiva: dalla materia prima,
alla raccolta, alla spremitura sino alla trasformazione e al consumo finale.
La diffusione di strumenti di certificazione esplicitamente rivolti ad atte-
stare e sostenere le filiere corte potrebbero svolgere un ruolo importante
in tal senso.

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Biocarburanti e territorio. Il biodiesel tra industria
e sviluppo rurale: casi empirici e modelli interpretativi

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L’agricoltura biologica: fattore di
sviluppo per le piccole aziende o di difesa
dell’ambiente?

Alessandro Corsi
Università di Torino | alessandro.corsi@unito.it

Introduzione
L’agricoltura biologica, anche se rappresenta tuttora una parte ri-
dotta dell’agricoltura complessiva, sta globalmente crescendo. A livello
mondiale, la stima della superficie coperta era di circa 30,4 milioni di
ettari nel 2006, pari allo 0,65% della superficie agricola, e si valutava che
interessasse 700.000 aziende (Willer et al., 2008). Due terzi della super-
ficie era costituita da pascoli permanenti, un terzo da seminativi. I paesi
con le maggiori superfici a biologico erano l’Australia (12,3 mio ha), la
Cina (2,3 mio ha), l’Argentina (2,2 mio ha), gli USA (1,6 mio ha); ma in
termini di incidenza sul totale della superficie i paesi europei erano in
testa. Le vendite totali di prodotti biologici, sempre nel 2006, erano va-
lutate a 38,6 miliardi di dollari, contro i 18 miliardi nel 2000. Tuttavia
la domanda di prodotti biologici è fortemente concentrata nel mondo
sviluppato: Nord America ed Europa coprivano il 97% della domanda di
consumo (Willer et al., 2008).
Anche nell’Unione Europea l’agricoltura biologica è in crescita: fra i
paesi UE-15, la superficie a biologico certificata ed in conversione è cresciu-
ta dai 0,7 milioni di ha nel 1993 ai 5,1 nel 2003 (Commission Européenne,
2005). Nell’UE-25, nel 2003 la superficie a biologico certificata ed in con-
versione era di 5,7 milioni di ettari, pari al 3,6% della SAU, una percentuale
ulteriormente cresciuta al 4% nel 2005 (Llorens Abando e Rohner-Thielen,

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L’agricoltura biologica: fattore di sviluppo
per le piccole aziende o di difesa dell’ambiente?

2007). Nel 2008, nella Ue-27 la superficie era arrivata a 7,8 milioni di ha,
con un’incidenza del 4,1% della SAU (Rohner-Thielen, 2010).
L’Italia nel 2005 era il primo paese europeo in termini di superficie
complessiva, con il 18% del totale europeo, seguita da Germania e Spagna
con il 14%; ma nel 2008 aveva perso il primato a favore della Spagna (ri-
spettivamente 12,9% e 17%). Tuttavia, in termini di incidenza sulla super-
ficie totale nazionale, il primo posto era occupato dall’Austria (15,7% nel
2007), mentre l’Italia era poco sopra l’8,1%, e le percentuali erano forte-
mente differenziate da paese a paese, ed ancor più a livello regionale.
In termini di numero di produttori, quelli biologici erano 196.000
nel 2008 nell’UE-27, pari all’1,3% delle aziende; anche in questo caso la
percentuale varia da paese a paese, con Austria, Danimarca, e Finlandia
che presentano le percentuali maggiori.
Per quanto riguarda l’Italia, sia la superficie a biologico sia il nu-
mero degli operatori sono cresciuti molto velocemente a partire dall’ini-
zio degli anni ’90, ma hanno avuto un andamento discontinuo nell’ultimo
decennio. Complessivamente si è passati dai 1500 operatori biologici del
1990 ai 48.500 del 2009 (di cui 40.500 produttori); la superficie biologica è
cresciuta dai 13.000 ha del 1990 ai 1.106.000 ha del 2009.
Anche in Italia, quindi, l’agricoltura biologica rappresenta una parte,
minoritaria ma importante, dell’agricoltura nazionale. Ci si possono quin-
di porre alcune domande relative a questo sviluppo e alle sue prospettive.
Una prima domanda riguarda il peso effettivo che l’agricoltura bio-
logica ricopre nel complesso del settore, perché questo permette di valu-
tarne la prospettiva. A questo sarà dedicato il paragrafo seguente. Un se-
condo interrogativo concerne invece la natura dell’agricoltura biologica e
la sua eventuale capacità di indicare un percorso di sviluppo qualitativa-
mente differente dall’agricoltura convenzionale, in particolare rispetto alla
capacità di offrire prospettive di reddito e di crescita alle piccole aziende.
Per contribuire a rispondere a questa domanda, nel paragrafo 3 si con-
fronteranno le strutture delle aziende biologiche e di quelle convenzionali,
mentre nel paragrafo 4 verranno prese in esame le forme di commercia-
lizzazione dei prodotti biologici per cercare di capire se essi si prestano a
forme di contatto diretto con i consumatori. Nel paragrafo 5 verranno poi
discusse le criticità dell’agricoltura biologica ed i suoi punti di forza e di
debolezza.

Quanto pesa l’agricoltura biologica?


A livello nazionale italiano, secondo i dati SINAB, a fine 2009 esiste-
vano circa 43.000 aziende che esercitavano l’agricoltura biologica; rispet-
to al numero di aziende rilevate dall’indagine sulle strutture agricole con
riferimento al 2007, rappresentavano il 2,6%. La superficie interessata co-

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Alessandro Corsi

priva 1.107.000 ha; se rapportata alla superficie agricola utilizzata (SAU)


rilevata dall’indagine strutture essa dava un peso superiore, pari all’8,7%, il
che indica una superficie media delle aziende biologiche superiore a quella
generale. L’incidenza della superficie a biologico rispetto a quella comples-
siva era però differenziata a seconda del tipo di coltivazioni: i cereali, che
rappresentano la principale coltura biologica, pesavano solo per il 6,4%
sul totale nazionale, i prati e pascoli per l’8%, la vite ed i fruttiferi per il
5,7 ed il 5,8% rispettivamente; all’estremo opposto, la maggiore incidenza
si aveva per gli agrumi (28,3%), ma valori alti si riscontravano anche per
l’olivo (13,7%) e le ortive (13,1%). Per quanto riguarda gli allevamenti, il
confronto, questa volta riferito al 2007, vedeva i bovini allevati biologica-
mente rappresentare circa il 3% del totale nazionale, mentre per i suini la
percentuale era molto più bassa, intorno allo 0.5%, e al contrario molto più
alta per gli ovi-caprini (circa l’11%).
Questi dati, riferiti a parametri fisici, non danno però conto del peso
economico dell’agricoltura biologica; la stessa maggiore superficie media
non indica necessariamente una maggiore dimensione economica delle
aziende biologiche, in quanto queste potrebbero essere meno intensive.
Purtroppo non esistono dati nazionali sul valore della produzione delle
aziende biologiche. Una possibile fonte di informazione deriva da una ri-
cerca condotta in una Regione, il Piemonte (Corsi, 2007), cui si farà anche
riferimento rispetto all’analisi delle strutture. Rimandando alla pubblica-
zione per le note tecniche sulla comparazione del valore della produzione
rilevata dall’indagine rispetto a quella pubblicata dalle statistiche regiona-
li, e con tutte le approssimazioni di questi confronti, il risultato indicava
comunque che il valore delle produzioni biologiche era pari all’1,5% del
totale regionale1. Se si esclude dal confronto il valore delle produzioni de-
gli allevamenti, per i quali la comparabilità è più problematica, il peso del
biologico sale al 2%. Se poi si considerano le sole produzioni biologiche
commercializzate come tali, le percentuali calano rispettivamente all’1,1
ed all’1,6%.
Ovviamente, il peso delle produzioni biologiche è molto diverso a
seconda dei settori. Il valore maggiore si riscontra nelle piante industriali
(5,6%), ma valori superiori alla media si trovano anche per le colture ar-
boree a frutto annuo (3,5%), in particolare alcuni frutti (pere, col 9,9%,
pesche col 2,6%, actinidia col 3,1%). I cereali biologici non hanno un peso
rilevante sul totale piemontese (1,2%), anche se i cereali minori (4,2%) ed il
riso (2,3%) si collocano su livelli superiori alla media. Fra le numerose col-
ture comprese nella categoria patate e ortaggi (1,3%) spiccano i pomodori
(5%). Infine, fra i prodotti degli allevamenti, il latte biologico contribuisce

1
E’ qui considerato solo il valore delle produzioni biologiche delle aziende rilevate, escluden-
do quindi quella derivante da produzioni convenzionali presenti in azienda.

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L’agricoltura biologica: fattore di sviluppo
per le piccole aziende o di difesa dell’ambiente?

per 0,7% al valore della produzione regionale, e le uova biologiche per il


2,9%; fra gli animali vivi, la percentuale maggiore si ha per gli ovi-caprini
(3,1%), mentre è limitata per i bovini (0,4%) ed i suini (0,3%), e trascura-
bile per gli avicoli.
Se poi viene conteggiato non il valore totale delle produzioni biolo-
giche, ma solo quello delle produzioni biologiche vendute sul circuito bio-
logico, il quadro non cambia sostanzialmente, ma le percentuali sul totale
regionale sono ancora minori: un segno delle difficoltà che alcune produ-
zioni ed alcune aziende incontrano nel trovare gli opportuni sbocchi com-
merciali per le proprie produzioni biologiche, che sono di conseguenza
vendute come convenzionali.
Questi dati si riferiscono ad una regione settentrionale, il Piemonte.
Nelle regioni meridionali che comprendono le maggiori superfici investite a
biologico, il peso dell’agricoltura biologica è probabilmente maggiore, anche
se non disponiamo dei dati relativi. Tuttavia, queste regioni spesso incontra-
no difficoltà a valorizzare pienamente la qualità biologica attraverso diffe-
renziali di prezzo, a causa della distanza dai mercati di consumo del biologi-
co, che sono collocati prevalentemente in nord Italia e nel centro Europa, e a
causa di una scarsa organizzazione dei circuiti commerciali biologici.
Nel complesso è quindi evidente che l’agricoltura biologica costitui-
sce una parte limitata del totale del settore primario e, anche se la tendenza
è alla crescita, non costituisce nel momento attuale una realtà che possa
condizionare il complesso del settore agricolo.

Le aziende biologiche sono diverse dalle convenzionali?


A una domanda di questo tipo è ovviamente difficile rispondere in
termini netti, se non altro per la ragione che le stesse aziende biologiche
(come tutte le aziende in generale) sono diverse fra di loro. Piuttosto, ci
si può chiedere se le aziende biologiche presentano, in media, caratteri-
stiche strutturali che in qualche misura le differenzino da quelle conven-
zionali. Non si hanno molti dati disponibili per effettuare il confronto fra
aziende biologiche ed il complesso delle aziende: a parte i dati censuari,
che risalgono al 2000, sono disponibili quelli della rete contabile RICA, la
cui rappresentatività è tuttavia disegnata con riferimento alle aziende nel
complesso, e non di quelle biologiche (Doria, 2008). Con i dati RICA del
2003 è stato condotto un esercizio di confronto costruendo un campione
di aziende convenzionali corrispondenti alle principali caratteristiche di
quelle biologiche presenti nella RICA (Cisilino, 2008)2. Le conclusioni del
confronto sono:

2
Il campione delle aziende convenzionali corrispondenti è stato creato scegliendo azien-
de convenzionali che avessero lo stesso ordinamento tecnico-economico (OTE), la stessa

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Alessandro Corsi

• la superficie media è maggiore fra le aziende biologiche che fra quel-


le convenzionali, mentre il numero medio di capi di allevamento è
minore;
• fra le aziende biologiche si ha un minor peso degli ordinamenti a se-
minativi e a ortofloricoltura, mentre è maggiore il peso delle colture
permanenti e degli erbivori.

Confrontata con il complesso delle aziende convenzionali della


RICA, poi, la percentuale di aziende biologiche appartenenti alle classi di
dimensione economica più bassa è minore, mentre ovviamente vale il con-
trario per le classi di dimensione economica maggiore.
Altri dati sono si possono trarre dalla già citata indagine sulle azien-
de biologiche piemontesi (Corsi, 2007). Da quest’ultima, che riguardava
tutte le aziende biologiche iscritte nei registri regionali nel 2006, è possibi-
le trarre alcune indicazioni, con l’avvertenza che non necessariamente val-
gono anche per le altre regioni.
Le aziende biologiche rilevate e operanti erano 1655, pari all’1,4%
del numero totale delle aziende regionali piemontesi rilevate dal Censi-
mento dell’Agricoltura del 2000. Quelle che effettuavano coltivazioni erano
1610, quelle con allevamenti (compresi gli apicoli) 611, e quelle che effet-
tuavano trasformazioni 389; ovviamente, la stessa azienda poteva ricadere
in più di una di queste categorie. La Superficie Agricola Utilizzata (SAU)
delle aziende biologiche era di 36.927,11 ha, pari al 3,44% della SAU regio-
nale rilevata dal Censimento dell’Agricoltura del 2000. Una parte della su-
perficie delle aziende biologiche, tuttavia, era destinata a colture conven-
zionali: la SAU delle colture biologiche e in conversione era l’81,2% della
SAU delle aziende biologiche, e ammontava a 29.836,55 ha (2,79% della
SAU piemontese).
Un primo dato riguarda l’utilizzo dei terreni: il riparto della superfi-
cie delle aziende biologiche mostra, rispetto al totale regionale, una mag-
gior percentuale delle superfici a prati e pascoli ed a colture permanenti, ed
una minore a cereali, foraggere e colture industriali (Tabella 1); si ha quin-
di in generale una minore intensità di coltivazione, anche per via dell’inte-
grazione fra colture ed allevamento richiesta dall’impostazione biologica.
Per quanto riguarda la dimensione delle aziende, i dati piemontesi
confermano quelli nazionali: se si considerano le dimensioni in termini di
superficie, esiste una grossa percentuale di aziende biologiche di ampiez-
za limitata, come peraltro nel complesso delle aziende (Tabella 2). Tutta-
via questa non è una caratteristica solo delle aziende biologiche, perché
questa distribuzione caratterizza anche il complesso delle aziende. Inoltre,

dimensione economica (UDE) e appartenessero alla stessa circoscrizione geografica delle


aziende biologiche presenti nella RICA.

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L’agricoltura biologica: fattore di sviluppo
per le piccole aziende o di difesa dell’ambiente?

esiste una percentuale non trascurabile di aziende biologiche di dimensio-


ni medie e grandi, che sono sicuramente presenti attivamente sul mercato.
Questi dati mostrano che il settore biologico non è formato solo da piccole
aziende, il che contraddice una visione diffusa secondo la quale si tratta
di aziende piccole, poco avanzate tecnicamente, condotte da persone con
esclusive motivazioni ideologiche. La dimensione media delle aziende bio-
logiche è addirittura superiore a quella regionale, risultando pari a 22,3 ha
di SAU, contro una media regionale di 8,8.
Anche per gli allevamenti valgono considerazioni analoghe (Tabel-
le 3, 4, e 5). I dati indicano una distribuzione degli allevamenti che nelle
aziende biologiche è più spostata verso le dimensioni medio-grandi che
non per il complesso delle aziende, anche se in generale è invece minore il
peso degli allevamenti grandissimi. Complessivamente, il numero medio
di capi bovini per allevamento nelle aziende biologiche (50,6) risulta supe-
riore a quello regionale (44,2); per i suini i dati corrispondenti sono 412,0
nelle aziende biologiche rispetto a 260,6 nella Regione nel suo complesso;
anche per gli ovini il numero medio di capi per allevamento è maggiore fra
le aziende biologiche (69,2) che nel complesso della Regione (39,8).
Anche per quanto riguarda la distribuzione delle aziende per dimen-
sione economica i dati regionali confermano quelli della rete RICA, nel
senso che la distribuzione non è molto differente da quella del complesso
delle aziende: le aziende con volumi di Produzione Lorda Vendibile (PLV)
più modesti sono la maggioranza, ma la parte preponderante del valore
della produzione è concentrata nelle aziende di dimensione economica
maggiore, come d’altronde vale per l’insieme delle aziende. Come si può
vedere dalla Tabella 6, più della metà delle aziende è concentrata nelle di-
mensioni economiche minori, con vendite fino a 10.000 euro, e addirittura
110 aziende non effettuano alcuna vendita; quelle che arrivano a 50.000
euro sono l’84,7%. Solo una percentuale ridotta di aziende quindi ha di-
mensioni economiche medie e grandi, ma queste coprono una parte pre-
ponderante del valore della produzione: il 77% di essa è realizzato in azien-
de che superano i 50.000 euro di vendite.
Infine, un argomento spesso sostenuto è che le aziende biologiche
presentano un ordinamento produttivo meno specializzato di quelle con-
venzionali, favorendo quindi la diversità colturale. Se misurata in termini
di composizione della PLV3, fra le aziende biologiche quelle specializzate
sono una percentuale minore del complesso delle aziende, ma non di mol-
to (77% contro 83%).

3
Considerando cioè, analogamente alla metodologia utilizzata dalla RICA, specializzate le
aziende nelle quali un prodotto costituisce la parte preponderante del valore totale della pro-
duzione.

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Alessandro Corsi

In sintesi, il quadro che deriva da questa analisi è che il settore bio-


logico, pur avendo le sue specificità, non si differenzia in modo sostanziale
dall’agricoltura nel suo complesso. Come nel settore agricolo in generale,
il maggior numero di aziende è di piccole dimensioni, ma comprende la
parte minore della produzione, mentre le aziende più grandi costituiscono
una piccola parte del numero delle aziende, ma coprono gran parte della
produzione. Esistono anche fra le biologiche le aziende marginali, e quel-
le hobbystiche, ma non sono la maggioranza; e accanto a piccole aziende,
esistono aziende biologiche di dimensioni medio-grandi, ben inserite nei
circuiti commerciali.

I circuiti di commercializzazione
I prodotti della aziende biologiche possono avere differenti destina-
zioni: il reimpiego all’interno dell’azienda, l’autoconsumo da parte della
famiglia dell’agricoltore, ed infine la vendita, che può avvenire come pro-
dotto biologico e certificato, o come convenzionale.
La vendita come prodotto biologico o convenzionale è importante
per le prospettive di sviluppo del settore, perché solo se il prodotto biolo-
gico viene venduto come tale può godere di un premio di prezzo che com-
pensa i maggiori costi normalmente associati a questa tecnica (Carillo et
al.). Secondo l’indagine piemontese, la percentuale di “commercializzazio-
ne” come biologico (includendo in questo termine anche i reimpieghi e
l’autoconsumo) varia dal 7,4 al 100% della quantità a seconda dei prodotti,
ma in generale è alta. Tuttavia alcuni prodotti mostrano qualche problema
relativo alla capacità di valorizzare adeguatamente la caratteristica bio-
logica. La Tab. 7 mostra le percentuali calcolate sul valore per i principa-
li raggruppamenti di colture e di prodotti animali: da essa si può vedere
che fra i prodotti vegetali le colture arboree hanno qualche problema, così
come, fra i prodotti animali, il latte e gli animali vivi, con l’eccezione degli
ovini.
Il secondo elemento interessante rispetto alla commercializzazione
riguarda il tipo di canale commerciale. In particolare, ci si può chiedere
se l’agricoltura biologica è in grado di attivare circuiti corti e di instaurare
relazioni di prossimità coi consumatori. Il tipo di canale di commercializ-
zazione può inoltre influire sulla redditività della produzione biologica, in
quanto alcuni canali permettono una remunerazione maggiore.
L’indagine piemontese aveva rilevato diverse tipologie di canale
commerciale utilizzate dalle aziende biologiche: le vendite in azienda, in
mercati contadini, su Internet, a domicilio, attraverso i grossisti, le coope-
rative, la grande distribuzione, i negozi specializzati ed i ristoranti. I ca-
nali utilizzati si differenziano per grandi categorie, ma anche per singolo
prodotto. Per rendere l’analisi più semplice, una prima possibilità è rag-

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L’agricoltura biologica: fattore di sviluppo
per le piccole aziende o di difesa dell’ambiente?

gruppare i canali commerciali in tre categorie: 1) filiera corta (in azienda,


in mercati contadini, su Internet, a domicilio); filiera tradizionale (i gros-
sisti, le cooperative, la grande distribuzione); filiera specializzata (i nego-
zi specializzati ed i ristoranti). Come si può vedere dalla Tab. 8, i prodotti
trasformati sono in larga misura venduti sulla filiera corta e specializzata
(34 e 27%), mentre questi due canali raggiungono insieme solo il 18,5%
per i prodotti animali e l’11% per quelli vegetali. Tuttavia, fra questi ultimi
si hanno situazioni molto diverse: i cereali vengono commercializzati in
misura minima sui due canali, mentre per gli ortaggi le percentuali sono
notevoli. E’ chiaro che la scelta del canale è determinata in molti casi da
questioni tecniche: ad esempio, è difficile commercializzare direttamente
i cereali, che normalmente passano attraverso una fase di trasformazione;
la concentrazione stagionale della frutta crea probabilmente problemi a
mantenere rapporti diretti costanti con i consumatori.
Esistono però anche altri fattori che determinano l’utilizzo dei diver-
si canali di vendita, fattori legati alla localizzazione ed al capitale umano
degli agricoltori. In un recente lavoro, basato sugli stessi dati piemontesi
(Corsi et al., 2009) vengono analizzati con un modello probit i fattori de-
terminanti dell’utilizzo dei canali, che sono raggruppati in questo caso in
quello diretto (in azienda), corto (mercati contadini, negozi specializzati,
domicilio, ristoranti) e tradizionale (cooperative, grossisti, supermarket).
I risultati mostrano che effettivamente i fattori tecnici hanno un’influen-
za, perché gli ordinamenti produttivi a cereali, a colture a pieno campo e
a frutta fresca scoraggiano l’utilizzo dei canali corto e diretto (che invece
sono influenzati positivamente dalle colture ortive e dalla vite) e favorisco-
no quello tradizionale; ma accanto ai fattori tecnici ne esistono altri, infatti
l’uso dei canali diretto e corto è più frequente nelle aree di montagna e col-
lina, ed è più probabile con più alti livelli di scolarizzazione dei conduttori.
Infine un dato interessante è che l’uso dei canali diretto e corto è favorito
da ridotte dimensioni economiche aziendali: una possibile spiegazione è
che essi comportano un uso intensivo di lavoro, che probabilmente nelle
piccole aziende ha un costo-opportunità minore. In ogni caso, questo risul-
tato indica che le piccole aziende si prestano meglio delle grandi ad utiliz-
zare questo tipo di canali.

Problemi e prospettive
Un primo problema rispetto alle prospettive dell’agricoltura biolo-
gica riguarda la sua redditività. Molto spesso sono state condotte analisi
dei risultati economici delle aziende biologiche, ma molto spesso si tratta
di casi di studio isolati. A partire dai dati RICA sono state condotte alcune
analisi, che soffrono però del fatto che la rete RICA non è specificamente
progettata per la rilevazione di aziende biologiche (Doria, 2008), e ha un

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Alessandro Corsi

Campo di osservazione che esclude quelle sotto una soglia di reddito4. Una
rilevazione basata su un campionamento statistico delle aziende biologi-
che è quella condotta da Corsi (2009), che riguarda nuovamente le aziende
del Piemonte.
I risultati dell’indagine mostrano che la redditività delle aziende bio-
logiche è fortemente differenziata. Come si può vedere dalla Tabella 9 (i
dati sono riportati all’universo delle aziende), circa il 40% delle aziende re-
gistra profitti positivi, dopo aver remunerato ai valori di mercato i fattori
propri (terra, capitale, lavoro). Un altro 28% delle aziende riesce a coprire i
costi espliciti e gli ammortamenti, ma la remunerazione dei fattori propri è
inferiore a quella di mercato; infine quasi un terzo delle aziende non riesce
a coprire i costi espliciti e gli ammortamenti.
L’analisi dei dati mostra che per una parte questa situazione è dovu-
ta ad un eccesso di mezzi meccanici e di dotazioni di capitali fissi in azien-
da, che incidono sui costi fissi di ammortamento; ma, anche tenendo conto
che una parte delle aziende biologiche possa essere hobbystica, una per-
centuale di questa dimensione è preoccupante. Tuttavia va anche rimarca-
to che, se si considera l’incidenza sul valore della produzione biologica di
queste categorie di aziende, il quadro diventa molto più positivo: le azien-
de che realizzano profitti coprono infatti più del 70% della PLV, e quelle
in perdita netta solo l’8%. Non si hanno confronti possibili con l’insieme
delle aziende, ma anche per questa via si conferma che l’agricoltura biolo-
gica è variamente composta, e comprende sia aziende piccole e marginali
sia aziende medio-grandi e ben collocate sul mercato. La scarsa redditivi-
tà di una parte delle aziende è probabilmente alla base della diminuzione
del numero delle aziende biologiche registrata negli ultimi anni a livello
nazionale, anche in anni in cui la superficie aumentava: si assiste con ogni
probabilità ad un processo di ristrutturazione del settore, con un aumento
delle superfici medie e con l’eliminazione delle aziende meno efficienti, in
particolare le piccole.
Le difficoltà delle piccole aziende trovano probabilmente una spie-
gazione, oltre che nella impossibilità di sfruttare le economie di scala (pe-
raltro in alcuni casi le limitate dimensioni non impediscono a queste azien-
de di conseguire profitti), anche nel problema degli sbocchi di mercato.
In effetti, nella indagine del 2006 era stato chiesto agli agricoltori quali
pensavano che fossero le principali criticità per l’agricoltura biologica. La
risposta prevalente era il problema degli sbocchi (28%), mentre un altro
25% indicava i prezzi non remunerativi, un problema chiaramente legato
al primo. Difficoltà tecniche (15%) e costi eccessivi (13%) erano presenti
fra le risposte, ma risultavano meno importanti, come pure le complica-

4
La dimensione economica minima è di 4 UDE (Unità di dimensione economica) pari a 4800
euro di reddito lordo standard (RLS) annuale.

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L’agricoltura biologica: fattore di sviluppo
per le piccole aziende o di difesa dell’ambiente?

zioni ed il carico burocratico creato dal sistema di certificazione (16%).


La mancanza di sbocchi era anche indicata come la principale ragione per
l’abbandono fra gli agricoltori che avevano cessato la produzione biologica
al momento delle rilevazioni, mentre un altro 7,5% indicava come causa la
scarsa convenienza, sia per costi di certificazione alti, sia per prezzi poco
remunerativi.
Un altro punto critico era anche evidente: la dipendenza, per molti
agricoltori, della scelta del biologico dai sussidi pubblici. Occorre premet-
tere che l’azione dell’Unione Europea a favore del biologico si è esplicitata
attraverso due canali: da una parte, la creazione di un sistema europeo di
definizione e di certificazione dell’agricoltura biologica; dall’altro, la pos-
sibilità di offrire sussidi agli agricoltori che la praticano. Il sistema di cer-
tificazione pubblico europeo è stato creato attraverso i Regolamenti CE
2092/91 (riguardante le produzioni vegetali) e CE 1804/1999 (produzioni
animali), recentemente modificati dal regolamento CE 834/2007. Secondo
questi regolamenti, non hanno diritto di definirsi biologici i prodotti che
non hanno seguito le norme di produzione previste, ed è in vigore un siste-
ma di controllo e certificazione delle aziende che le rispettano, che sono
le uniche a poter chiamare biologici i loro prodotti. Lo scopo della regola-
zione pubblica è superare il problema di asimmetria informativa presente
nel biologico: il produttore sa come è stato prodotto il bene in questione,
il consumatore no, e non è in grado di saperlo neppure dopo l’acquisto,
e questa situazione può creare un fallimento del mercato. In effetti, se si
riflette sul perché l’operatore pubblico potrebbe essere interessato a fa-
vorire l’agricoltura biologica, la ragione fondamentale è che il biologico
può ridurre le esternalità negative prodotte dall’agricoltura, con l’ulteriore
vantaggio che una parte di questa azione è pagata dai consumatori e non
dall’ente pubblico. Di conseguenza, è interesse dell’operatore pubblico aiu-
tare il più possibile l’incontro della domanda e dell’offerta di prodotti bio-
logici; inoltre potrebbe sussidiare l’agricoltura biologica per ottenere una
riduzione delle esternalità negative dell’agricoltura maggiore di quella cre-
ata dal mercato. Come noto, ad esempio negli USA non sono finora pre-
senti sussidi all’agricoltura biologica, anche se è stato creato recentemente
un sistema di certificazione pubblico; nell’Unione Europea, i sussidi sono
stati resi possibili all’interno delle misure agro-ambientali previste dalla
riforma Mc Sharry del 1993 (Regolamento (CE) 2078/1992) e successiva-
mente all’interno dei Piani di Sviluppo Regionali. In Italia, la competenza
in materia agricola è demandata alle Regioni, che hanno stabilito incentivi
per l’agricoltura biologica in misura differente.
Non c’è alcun dubbio che la introduzione dei sussidi sia stata una
ragione importante per indurre molti agricoltori ad adottare le tecniche
biologiche. Tuttavia, il problema è che non sempre questo aiuto ha pro-
dotto un inserimento stabile sul mercato delle aziende interessate, per cui

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Alessandro Corsi

quando i sussidi cessano, questi agricoltori abbandonano il biologico. Ad


esempio, fra le aziende che prevedevano che avrebbero smesso nel futuro
di produrre biologicamente (Corsi, 2007), la ragione principale (31% del-
le risposte) indicata per questa scelta era la cessazione del sussidio; fra
le aziende che al momento dell’indagine avevano già smesso di produrre
biologico, addirittura il 57% indicava come ragione la cessazione dei sus-
sidi. E’ quindi possibile che una parte non trascurabile di aziende biolo-
giche produca con queste tecniche soprattutto per avere i sussidi, e che
per questa ragione non venda i propri prodotti come biologici. Dal punto
di vista dell’operatore pubblico, questo non sarebbe un problema, visto
che lo scopo del sussidio è esattamente quello di spingere aziende a pro-
durre biologico in misura maggiore di quanto farebbero spontaneamente.
Tuttavia, sembrerebbe dai dati che in molti casi la ragione della mancata
vendita sia la mancanza di sbocchi, e questo fatto segnala problemi nella
catena commerciale. In parte questo sembra dovuto alle piccole dimen-
sioni delle produzioni, che non si prestano ad essere commercializzate su
alcuni canali, come quello della grande distribuzione. In parte, si tratta
di scarsa organizzazione dei produttori, che potrebbero trovare forme di
concentrazione dell’offerta per potere valorizzare maggiormente la pro-
pria produzione.

Alcune considerazioni finali


Il settore biologico si è mostrato in sviluppo in Italia, come nel resto
del mondo. Nell’ultimo decennio, ed in particolare negli ultimi anni, gli an-
damenti sono stati più incerti, soprattutto per quanto riguarda il numero
degli operatori. Questo andamento va attribuito in parte alla situazione del
finanziamento pubblico dell’agricoltura biologica, e quindi alla disponibi-
lità di fondi a questo scopo, ma in parte ad un processo di ristrutturazio-
ne e di consolidamento del settore. Passata da tempo la fase pioneristica,
durante la quale la motivazione principale degli agricoltori biologici era la
convinzione ideologica ed etica, il settore è oggi sottoposto prevalentemen-
te agli andamenti del mercato ed ai processi economici che ne derivano,
oltre che agli stimoli dell’intervento pubblico. La domanda di prodotti bio-
logici è in crescita, ma è prevalentemente localizzata nelle aree di maggio-
re reddito, in particolare il centro Europa e, per quanto riguarda l’Italia, le
aree settentrionali. I cambiamenti più importanti sul lato della domanda
sono stati da una parte la chiarezza introdotta dal regolamento europeo,
che ha permesso di superare le perplessità dei consumatori sull’effettiva
qualità dei prodotti biologici, dall’altro la loro introduzione nella grande
distribuzione, che ha allargato il consumo a settori della popolazione più
ampi di quelli che precedentemente si rifornivano nei circuiti specializzati,
e probabilmente anche caratterizzati da un consumo più saltuario.

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L’agricoltura biologica: fattore di sviluppo
per le piccole aziende o di difesa dell’ambiente?

Dal punto di vista della sua incidenza sulla produzione complessi-


va, l’agricoltura biologica rappresenta comunque un peso limitato. Appare
inoltre chiaro in questo contesto, anche considerando i dati prima presen-
tati, che non è un settore qualitativamente diverso dal resto dell’agricoltu-
ra, né può dare origine per sue caratteristiche particolari a rapporti diversi
fra produttori e consumatori. Indubbiamente, come tutte le produzioni di
qualità, offre in alcuni casi spazi di sviluppo ad aziende di dimensioni limi-
tate che non possono sfruttare le economie di scala; e altrettanto indubbia-
mente si presta meglio dell’agricoltura convenzionale a rapporti diretti coi
consumatori. Ma questi vantaggi sono limitati e l’importanza dell’agricol-
tura biologica si colloca quindi prevalentemente nei suoi effetti ambientali:
a parità di altre condizioni, il suo impatto ambientale è minore di quello
dell’agricoltura convenzionale. Tuttavia non si può negare che, mentre alle
sue origini l’agricoltura biologica invocava un diverso modo di fare agri-
coltura, ponendo l’enfasi sulla conservazione della fertilità del suolo, sulla
policoltura, sul riciclo all’interno dell’azienda delle deiezioni animali e così
via, l’espansione dei consumi e la definizione di uno standard ufficiale per
i prodotti biologici ha anche dato origine alla tendenza da parte di aziende
commerciali al semplice rispetto delle regole previste, al di fuori della con-
cezione originale, portando così in alcuni casi ad una forte specializzazio-
ne aziendale e all’intensificazione della produzione; si parla quindi di una
possibile “convenzionalizzazione” dell’agricoltura biologica (Fonte e Ago-
stino, 2008). Questo può anche mettere in questione il suo minore impatto
ambientale: in effetti, un prodotto biologico importato da un paese lonta-
no potrebbe essere più inquinante, per effetto del trasporto, di un prodotto
convenzionale proveniente da vicino al luogo di consumo.
Una soluzione a questo problema viene spesso indicata nella ricerca
di rapporti più diretti fra consumatori e produttori, attraverso varie pro-
poste che riguardano i prodotti “a chilometro zero”, i Gruppi di Acquisto
Solidale, le varie forme di community supported agriculture, i mercati degli
agricoltori, ecc. Si tratta in generale di approcci che possono effettivamen-
te fornire prospettive di sviluppo per alcune aziende, e per una parte della
produzione biologica, e che si prestano bene in particolare per le piccole
aziende. Tuttavia non possono risolvere il problema in generale, soprat-
tutto per la diversità di localizzazione della produzione e del consumo: ad
esempio, in Italia la maggior concentrazione delle produzioni biologiche
si trova al Sud, mentre il grosso del consumo è localizzato nelle aree set-
tentrionali. Inoltre, anche le diverse forme di filiera corta vanno verifica-
te rispetto alla convenienza economica ed all’impatto ambientale. Attuare
forme di rapporto diretto coi consumatori, infatti, molto spesso permette
di aumentare i ricavi, ma comporta anche costi, in particolare quelli del
lavoro, trattandosi di attività intensive di lavoro, e richiede competenze
commerciali spesso non possedute dagli agricoltori. Anche l’impatto am-

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Alessandro Corsi

bientale va verificato tenendo conto delle economie di scala ambientali


del trasporto: ad esempio, una recente analisi dell’impatto ambientale di
diversi tipi di distribuzione del latte fresco (Torquati e Taglioni, 2010) ha
mostrato che la catena distributiva di una latteria regionale aveva un im-
patto ambientale minore di quella di grandi marchi nazionali, ma anche
di quella di distributori automatici di latte fresco creati da singole aziende,
nonostante che questi costituissero una catena più corta. Infine va consi-
derato che nelle organizzazioni di filiera corta la certificazione ufficiale,
sia a causa del costo sia a causa delle complicazioni burocratiche, costitu-
isce spesso un ostacolo piuttosto che un aiuto alla commercializzazione;
per cui sarebbe necessario sviluppare forme di certificazione più agili, ma
altrettanto rigorose di quelle ordinarie, per i prodotti commercializzati su
questa catena.
Infine un accenno va fatto alle problematiche relative all’intervento
pubblico. La logica dell’intervento pubblico dovrebbe teoricamente preve-
dere che il sussidio compensi il beneficio ambientale generato dall’agricol-
tura biologica, per rimediare al fallimento del mercato derivante dall’ester-
nalità prodotta. Nella realtà, i sussidi vengono assegnati in base a valori
standard ad ettaro per tipo di coltura e, nella migliore delle ipotesi, dovreb-
bero compensare la differenza fra i costi di produzione della tecnica bio-
logica e quelli dell’agricoltura convenzionale (Franco e Pancino). Questo è
anche quanto prevede il Reg. Ce 1698/05, contraddicendo quindi il princi-
pio che il sussidio pubblico debba compensare non la differenza di reddito,
ma l’esternalità positiva prodotta. Questo porta a sovra- e sotto-compen-
sazioni dei benefici generati dalla tecnica biologica, e sarebbe necessario
un ripensamento dell’insieme dei sussidi, anche in relazione agli incentivi
concessi ad altre forme di agricoltura a ridotto impatto ambientale, come
quella della lotta guidata, che talvolta fanno concorrenza alle produzioni
biologiche.
In secondo luogo, l’intervento pubblico appare sbilanciato verso in-
centivi alla produzione, mentre sono quasi assenti interventi che aiutino
il settore a sviluppare la commercializzazione delle produzioni su canali
che permettano la loro valorizzazione. Come si è detto, uno dei vantaggi
dell’agricoltura biologica è che un miglioramento ambientale è ottenuto at-
traverso il mercato, grazie al fatto che i consumatori sono disposti a pagare
per i prodotti biologici. Da questo punto di vista, è indifferente se le loro
motivazioni sono di tipo personale (prodotti più sani e più gustosi) o di tipo
altruistico (preoccupazione per l’ambiente): l’aspetto rilevante è che questo
tipo di consumo in generale comporta un miglioramento ambientale. Allo-
ra l’operatore pubblico dovrebbe avere fra i suoi obiettivi anche quello di
allargare questa fascia di consumo. Come si è visto, alcuni problemi di or-
ganizzazione della catena commerciale impediscono alle produzioni bio-
logiche di essere vendute come tali, e quindi ad un prezzo maggiore rispet-

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L’agricoltura biologica: fattore di sviluppo
per le piccole aziende o di difesa dell’ambiente?

to al convenzionale; il problema riguarda soprattutto i piccoli agricoltori,


perché i grandi hanno spesso rapporti diretti con la grande distribuzione.
Gli operatori pubblici potrebbero allora svolgere una azione per aiutare gli
agricoltori nell’organizzazione della catena, in particolare della catena cor-
ta. Ovviamente, la prima spinta in questa direzione dovrebbe però venire
dagli agricoltori stessi, in particolare quelli di piccole dimensioni azienda-
li: sarebbero necessarie forme di concentrazione dell’offerta per superare
il problema della limitata dimensione media delle produzioni dei singoli,
e possibilmente forme di vendita collettiva della produzione, per evitare di
gravare sugli agricoltori con un carico di lavoro di vendita eccessivo rispet-
to alle quantità vendute singolarmente.

Riferimenti

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Geografia da e para a cooperacao.indd 280 5/3/12 1:05:59 PM


Alessandro Corsi

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281

Geografia da e para a cooperacao.indd 281 5/3/12 1:05:59 PM


L’agricoltura biologica: fattore di sviluppo
per le piccole aziende o di difesa dell’ambiente?

Tab. 1 – R
 iparto della superficie delle aziende biologiche e confronto col totale
piemontese
Coltivazioni Aziende biologiche Totale Piemonte

Cereali 31.6 39.0

Leguminose da granella 0.7 0.2

Patate e ortaggi 0.7 1.2

Piante industriali 4.6 5.0

Piante ornamentali 0 0.1

Foraggere 6.1 7.4

A riposo o ritirato 0.2

Coltivazioni legnose agrarie 13.6 9.3

Prati e pascoli 42.6 37.9

SAU 100.0 100.0

Tab. 2 – D
 istribuzione per classi di SAU del n° e della SAU delle aziende biologiche e del
complesso delle aziende in Piemonte
Classi di SAU Az. Biol. % N° Piemonte % N° Az. Biol. % SAU Piemonte % SAU

Senza SAU 2,9 6,8

0 <=1 5,6 30,5 0,2 1,4

1 <=2 11,4 13,8 0,8 2,2

2 <=5 23,0 19,6 3,6 7,2

5 <=10 22,4 12,0 7,3 9,6

10 <=20 16,0 8,5 9,9 13,4

20 <=30 5,2 3,4 5,8 9,5

30 <=50 5,0 2,8 8,6 11,8

50 <=100 4,7 1,7 14,4 13,5

> 100 3,9 0,9 49,4 31,4

TOTALE 100,0 100,0 100,0 100,0


Fonte: Corsi (2007)

282

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Alessandro Corsi

Tab. 3 – D
 istribuzione per dimensioni degli allevamenti bovini: n° delle aziende e dei
capi delle aziende biologiche e del complesso delle aziende in Piemonte
N° az. Piemonte N° capi nelle az. N° capi Piemonte
N° capi N° az. biol. (%)
(%) biol. (%) (%)
1-2 5,3 10,3 0,2 0,4

3-5 6,0 13,2 0,5 1,2

6-9 7,3 11,5 1,0 1,9

10-19 15,0 16,1 4,1 5,0

20-49 29,1 21,5 18,6 15,5

50-99 22,8 14,9 31,1 23,5

100-499 14,5 12,0 44,5 45,1

500 e oltre 0,0 0,4 0,0 7,4

Totale 100,0 100,0 100,0 100,0


Fonte: Corsi (2007)

Tab. 4 – D
 istribuzione per dimensioni degli allevamenti suini: n° delle aziende e dei capi
delle aziende biologiche e del complesso delle aziende in Piemonte
N° az. Piemonte N° capi nelle az. N° capi Piemonte
N° capi N° az. biol. (%)
(%) biol. (%) (%)
1-2 12,5 56,2 0,1 0,3

3-5 10,0 11,4 0,1 0,2

6-9 2,5 2,6 0,0 0,1

10-19 10,0 2,3 0,4 0,1

20-49 22,5 2,5 1,4 0,3

50-99 10,0 2,9 1,8 0,7

100-499 15,0 7,6 10,1 7,9

500 e oltre 17,5 14.5 11,5 15,4

Totale 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: Corsi (2007)

283

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L’agricoltura biologica: fattore di sviluppo
per le piccole aziende o di difesa dell’ambiente?

Tab. 5 – D
 istribuzione per dimensioni degli allevamenti ovini: n° delle aziende e dei capi
delle aziende biologiche e del complesso delle aziende in Piemonte
N° az. Piemonte N° capi nelle az. N° capi Piemonte
N° capi N° az. biol. (%)
(%) biol. (%) (%)
1-2 0,9 9,2 0,0 0,4

3-9 8,4 33,3 0,7 4,4

10-19 20,6 22,0 4,3 7,4

20-49 31,8 19,1 13,9 13,9

50-99 17,8 7,0 16,9 11,7

100-499 19,6 8,4 54,7 40,7

500-999 0,9 0,7 9,5 10,9

1000 e oltre - 0,2 0,0 10,7

Totale 100,0 100,0 100,0 100,0


Fonte: Corsi (2007)

Tab. 6 – Distribuzione delle aziende biologiche in Piemonte e della PLV per classi di PLV
Classi di PLV % aziende % PLV

0-5.000 41,0 2,1

5.000-10.000 16,9 3,5

10.000-20.000 13,5 5,6

20.000-50.000 13,2 11,8

50.000-100.000 6,0 12,0

100.000-200.000 5,2 21,8

> 200.000 4,1 43,1

Totale 100,0 100,0


Fonte: Corsi (2007)
Nota: escluse vendite di bestiame

284

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Alessandro Corsi

Tab. 7 – P ercentuali delle produzioni biologiche commercializzate come biologiche


PRODUZ. VEGETALI 77%

Cereali 95%

Piante industriali 94%

Leguminose da granella 92%

Patate e ortaggi 84%

Colture arboree 62%

Altro 35%

PRODOTTI ANIMALI 73%

Bovini (animali vivi) 71%

Suini (animali vivi) 15%

Ovini e caprini (animali vivi) 92%

Avicoli (animali vivi) 60%

Latte 52%

Uova 99%

Miele 87%

Tab. 8. – D
 istribuzione della PLV da prodotti delle colture biologiche venduti come tali
secondo il canale
Filiera Filiera Filiera
corta specializzata tradizionale

Cereali 1.7% 0.4% 98.0%

Patate e ortaggi 39.1% 4.8% 56.1%

Colture arboree 8.6% 1.2% 90.3%

PROD.VEGETALE 9.0% 2.0% 89.0%

PROD. ANIMALE 7.1% 11.4% 81.5%

PROD. TRASFORMATI 33.7% 26.8% 39.5%

Fonte: Corsi (2007)

285

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L’agricoltura biologica: fattore di sviluppo
per le piccole aziende o di difesa dell’ambiente?

Tab. 9. Aziende biologiche piemontesi secondo i risultati economici


% AZ % PLV

Profitti positivi 40,3 72,1

Remunerazione fattori propri < valori mercato 27,8 19,8

Non coprono i costi e gli ammortamenti 31,9 8,1

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Cotone: geopolitica di una commodity
agricola1

Prof. Alessandro Gallo


Universidade Ca’Foscari de Veneza | Departamento de Estudos Históricos |
alekos@tin.it

Introduzione
Il cotone è stato, e in larga misura continua ad essere una delle com-
modity2 agricole più importanti. La sua importanza è di tale spessore che la
sua coltivazione e il suo commercio rappresentano elementi fondamentali
nella storia economica e sociale di grandi Stati quali gli Stati Uniti, l’India,
la Cina, il Regno Unito solo per citare i più rilevanti. L’organizzazione econo-
mica basata sulla coltivazione e l’utilizzo del cotone costituiscono – o hanno
costituito – elementi portanti non solo di una struttura economico-commer-

1
Texto publicado originalmente na Revista Geotema., n.35-36, AGI, 2009.
2
Commodity è un termine anglosassone che non trova esatta traduzione in italiano. La sua
traduzione più comune, “materia prima”, risulta, ad un esame del suo effettivo uso, riduttiva.
Nel linguaggio tecnico finanziario, infatti, un commodity trader è un soggetto che opera anche
nel mercato delle valute straniere e dei derivati. In alcuni ambiti accademici si è proposto di
considerare la varietà del patrimonio genetico delle specie viventi (biodiversity) al pari di una
commodity. Si può, quindi, ritenere che, anche se nel linguaggio comune e commerciale per
commodity si intende ogni merce o materiale tangibile ed essenziale nel processo produttivo,
nel linguaggio tecnico-finanziario la definizione di commodity si applica ad un bene quando
ricorrono due condizioni: il possesso di un suo valore economico intrinseco e di scambio e la
negoziazione in una Borsa o in un mercato organizzato. L’aumento della complessità del sis-
tema delle relazioni internazionali e l’accresciuta importanza del loro lato economico fanno si
che il commercio delle commodity agricole e non assume via via una rilevanza strategica che,
ai nostri giorni, sembra aver raggiunto uno dei suoi momenti più rilevanti.

287

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Cotone: geopolitica di una commodity agricola

ciale ma hanno rappresentato aspetti fondamentali di realtà sociali che han-


no contraddistinto un’epoca. La coltivazione del cotone ha, quindi, avuto
una duplice valenza. La prima, consistente nell’aver rappresentato la com-
modity che ha permesso la nascita e lo sviluppo dell’industria tessile, la se-
conda, sul piano sociale, di aver rappresentato un esempio di come i sistemi
e le tecniche culturali possono modellare i rapporti socioeconomici influen-
do, in modo evidente, sulla strutturazione sociale di alcune realtà statuali.
Si rileva, poi, come il cotone rappresenti una delle più importanti
materie prime nel processo storico della nascita e dello sviluppo della rivo-
luzione industriale e, successivamente, dell’estendersi spaziale dei proces-
si di modernizzazione ad essa legati. Le fasi iniziali di questi ultimi sono
legati, infatti, all’industria tessile. Sia il caso della prima rivoluzione indu-
striale in Inghilterra che il successivo decollo nordamericano sono segnati
dal largo utilizzo del cotone. Altri casi temporalmente a noi più prossimi
confermano tale asserzione. Lo stesso decollo industriale italiano si conno-
ta per un forte contributo dell’industria tessile nell’ambito della quale l’in-
dustria cotoniera è stata – fino agli anni successivi al Secondo dopoguerra
e del boom economico egli anni ‘60 – una presenza di rilievo. Nella odierna
contemporaneità non è casuale che l’esplosione economica di Cina e India
veda la crescita dell’industria tessile – e di quella cotoniera in particolare –
tra gli elementi che più di altri consentono l’affermarsi economico di que-
ste nuove potenze industriali e commerciali.
Anche se il consumo del cotone nell’industria tessile sul totale delle
fibre utilizzate è in diminuzione, da ormai più di quarant’anni, la sua quo-
ta rimane sempre molto elevata in termini quantitativi assoluti passando
da poco più del 60,0% nel 1965 a meno del 40,0% nel 2005(Icac, 2006)3.
L’importanza del cotone è anche sottolineata dalle stime della Fao
secondo cui all’inizio del 21° secolo sono circa 100 milioni il numero di
persone che in qualche modo dipendono per la loro esistenza da questa
commodity (www.fao.org)4.
Oltre a porsi come materia prima fondamentale per l’avvio di pro-
cessi di industrializzazione in Stati molto popolosi quali Cina, India e Pa-
kistan la coltivazione del cotone influenza direttamente e in modo assai
sensibile il livello di vita in Nigeria, Benin, Togo, Mali e Zimbabwe (Baffes,
Badiane, Nash, 2004)5. In queste realtà una elevata percentuale di fami-
glie sono fortemente dipendenti dalla coltivazione di questo prodotto con
le prevedibili conseguenze di esporre tali realtà all’altalenante andamento
dei prezzi internazionali. Per dare un’idea dell’impatto delle variazioni dei

3
Icac (International Cotton Advisory Committee), Cotton World Statistics.
4
www.fao.org
5
Baffes, J., Badiane, O., Nash, J. Cotton: market, policies and development issues, Paper pre-
sentato al Wto African Regional Workshop on Cotton, Cotonou, Benin, 23-24 marzo, 2004.

288

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Alessandro Gallo

prezzi sulla vita dei coltivatori di questi Paesi si possono ricordare i dati di
alcune ricerche che evidenziano come una caduta del 40% (come realmen-
te avvenuto nel 2000-2002) dei prezzi pagati alla produzione possa deter-
minare una contemporanea caduta del 7% del reddito agricolo pro capite
a breve termine e del 5-6% a lungo termine. Al contrario si rileva, nel caso
di alcuni Stati dell’Africa francofona, che un aumento del 30% dei prezzi
mondiali potrebbe tradursi in un aumento del 7% del loro Pnl.

Produzione e commercio
Il cotone viene prodotto in molti Paesi ma la gran parte della sua
coltivazione è concentrata nell’emisfero boreale che rappresenta circa il
90,0% del totale. Se osserviamo i dati relativi alla superficie (Tab. I) interes-
sata da tale cultura è possibile notare che questa è fortemente concentrata
in pochi Stati. La Cina da sola ospita ¼ della superficie totale mondiale e,
insieme all’India, supera il 40,0%. I primi cinque Paesi, India, Cina, Usa e
Pakistan raccolgono in totale oltre i 2/3 del totale mondiale.
Se prendiamo in considerazione la produzione (Tab. II) si può no-
tare una similare, ed anzi leggermente più marcata, condizione di forte
concentrazione produttiva. I dati relativi alle rese per ha mostrano (Tab.
III) come l’Australia, la Cina, i Paesi del Vicino e Media Oriente e del conti-
nente americano presentino dei valori nettamente più alti rispetto a quelli
africani e dell’Asia centrale disegnando un chiaro dualismo. Nella struttura
del commercio mondiale del cotone si può innanzitutto notare che circa ¼
della produzione viene (2006/2007) esportata, quota che subisce, nel corso
degli ultimi anni una sensibile contrazione a causa della crisi economica
internazionale6 che ha colpito anche l’industria tessile.
A proposito della struttura del commercio internazionale si possono
fare le seguenti osservazioni:
a) alcuni Paesi, pur essendo grandi produttori, hanno sviluppato
un’industria tessile di dimensioni enormi e quindi oltre a spiccare
nella classifica dei produttori hanno posizioni rilevanti anche come
importatori (ad esempio la Cina);
b) tra i Paesi esportatori è di assoluto rilievo la posizione degli Stati
Uniti in termini assoluti mentre per altri, che presentano valori in
assoluto inferiori, l’esportazione di cotone rappresenta, comunque,
un ricavo indispensabile per il loro sviluppo;
c) oltre alla Cina altri Paesi come Indonesia e Malesia, importano dis-
crete quantità di cotone per la loro industria tessile principalmente
dagli Stati Uniti.

6
Icac (International Cotton Advisory Committee), Cotton World Statistics.

289

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Cotone: geopolitica di una commodity agricola

Le principali questioni che, in generale, riguardano il mercato coto-


niero (Baffes, 2005)7 possono esser raggruppate nei seguenti punti:

• l’avanzamento tecnologico e nuove politiche commerciali implementate


a partire dal 1994 nell’ambito WTO hanno portato, a livello mondiale,
ad una crescita molto marcata sia della produzione che delle rese per
ettaro;
• negli ultimi anni tale quadro positivo è stato colpito dall’aumento del
prezzo dei fertilizzanti, da una imprevedibile volatilità del mercato dei
futures legati al cotone (Baffes, 2005)8, da una sensibile diminuzione
di richiesta di cotone sia per cause contingenti (la profonda crisi eco-
nomica che ha colpito le economie mondiali) che strutturali (dagli anni
’60 del secolo scorso ad oggi la richiesta di cotone da parte dell’indu-
stria tessile sul totale delle fibre utilizzate dall’industria tessile è sceso –
come ricordato nel paragrafo introduttivo – da oltre il 60,0% a meno del
40,0% del totale a causa della diffusione delle fibre artificiali).
• l’industria cotoniera è colpita sia dalla crescita dell’uso di fibre artificiali
che dalla sempre maggiore importanza che ha assunto nell’ambito delle
politiche industriali la necessità di attuare misure che garantiscano la
sostenibilità ambientale delle stesse;
• un elemento di grande importanza è rappresentato dai sussidi alla pro-
duzione e da forme protezionistiche messe in atto da Stati Uniti, Unione
Europea, Cina nonché da altri importanti produttori, come ad esempio
l’India, a scapito, principalmente, dei Paesi dell’Africa centrale;
• il prezzo e la redditività del cotone sono legati al più generale andamen-
to del mercato delle commodity all’interno del quale il cotone registra,
da anni, una tendenza tra le meno brillanti (Baffes, 2005)9.

La questione “cotone” ha, senza dubbio, rappresentato – e tutto-


ra rappresenta – uno dei temi centrali all’interno delle trattative condotte
nell’ambito del Wto (www.wto.org)10 – nel cui interno è presente un Cotton
Panel – riguardante i temi relativi all’agricoltura.
Il fatto che oltre al Wto anche altri organismi, come la Banca Mon-
diale (www.worlbank.org)11, prestino un grande interesse e producano
molti documenti sul cotone indica come si tratti di una coltivazione che
riveste una grande importanza specialmente per i Paesi in via di sviluppo.

7
Baffes, J. The “Cotton Problem”, The World Bank Research Observer, 20 (2005), pp. 109-
144.
8
Baffes, J. Cotton futures exchanges: Their past, their present, and their future, Quarterly
Journal of International Agriculture, 243 (2005) pp. 153-176.
9
Beghin, J. C., Aksoy, A. Agricultural trade and the Doha Round: Lessons from commodity
studies, Center for Agricultural and Rural Studies, Iowa State University, Briefing paper 03-
BP 42, 2003.
10
https://www.to.org/english/tratop_e/agric_e/cotton_subcommittee_e.htm
11
worldbank.org.

290

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Alessandro Gallo

La questione dei sussidi e delle tariffe doganali


Gli Stati Uniti, l’Unione Europea e altri importanti Paesi produttori
hanno, da sempre, perseguito una chiara finalità nella loro politica economi-
ca e commerciale in campo agricolo: sostenere i redditi dei propri produtto-
ri. Per raggiungere tale obbiettivo è necessario o fornire sussidi ai produttori
per far si che il cotone prodotto sia meno caro di quello importato o rendere
meno conveniente il cotone di importazione attraverso l’istituzione di tariffe
doganali. Alcune volte si nota un utilizzo combinato delle due opzioni.
Il mercato cotoniero è tradizionalmente soggetto a forti interventi e
sovvenzioni sia negli Stati Uniti12 che nell’Unione Europea mentre la Cina
applica una particolare forma di protezione doganale chiamato TRQ13. La
ragione di questo tipo di politica presenta risvolti sia di carattere econo-
mico che politico. Da un lato, infatti, l’importanza sociale ed economica di
una produzione agricola va oltre il mero aspetto commerciale. La produ-
zione di cotone statunitense rappresenta, infatti, una piccola frazione del
Pil degli Stati Uniti, così come il valore delle esportazioni è una piccolis-
sima percentuale del valore delle esportazioni di quel Paese. Ma esistono,
sia nel caso degli Stati Uniti che della UE e di altri Paesi, implicazioni di
carattere più vasto sia dal punto di vista politico che economico.
Se consideriamo, ad esempio, gli Stati Uniti possiamo osservare che
in questo caso, come nel caso di altre produzioni agricole, la forte concen-
trazione della produzione in una ristretta fascia, in questo caso chiamata
Cotton Belt (che comprende Alabama, Arkansas, Carolina del nord e del
sud, Georgia, Louisiana, Mississipi, Oklahoma, Tennessee, Texas), deter-
mina un forte potere contrattuale dei coltivatori stessi sui senatori che ven-
gono eletti in un sistema federale ove i rappresentanti dei singoli Stati sono
fortemente vincolati al voto degli elettori.
Tuttavia non appare giustificata l’enfasi posta sul grado di protezio-
ne statunitense considerando che – come abbiamo visto – molti Paesi o
blocchi economici, Cina e Ue in primis, attuano politiche protezionistiche
similari – o che comunque si propongono i medesimi obiettivi sia pure con
strumenti differenti – a quelle dello stato nordamericano.
A partire dal 2003 i Paesi del così detto C4 (Benin, Burkina Faso,
Ciad e Mali) hanno richiesto l’eliminazione in tutto il mondo dei sussidi
alla coltivazione del cotone. La ragione di questa richiesta risiede nel fatto
che il cotone è ritenuto essere una coltivazione strategica nell’ambito degli
sforzi per combattere il sottosviluppo anche se, proprio negli anni – consi-
12
Per dare un’idea dell’entità dei sussidi questi ammontavano, sempre nei primi anni del 21°
secolo ad una cifra intorno ai 6 miliardi di dollari all’anno che rappresenta circa ¼ dell’intero
valore della produzione.
13
TRQ è l’acronimo per tariff rate quota ed indica un sistema che prevede una tassazione pari all’1%
fino ad 890.000 t di prodotto importato e del 40% per le quantità che eccedono tale quantitativo

291

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Cotone: geopolitica di una commodity agricola

derate le difficoltà incontrate nella coltivazione e commercializzazione di


questo prodotto sembra che si stia guardando in altre direzioni.
Di altro significato è stata l’opposizione del Brasile (www.wto.org)14
contro i sussidi statunitensi materializzatasi nella causa – vittoriosa – intra-
presa presso il Wto. In questo caso, infatti, si configura più una posizione
dai risvolti non solo economici di un produttore evoluto e nei cui intendi-
menti si mescolano sia motivazioni di carattere puramente economico che
di ricerca di una posizione di leadership nel contesto latino-americano.
Ma quale scenario potrebbe verificarsi nel caso di una abolizione o
sostanziale abbattimento di tariffe e sussidi?
Come avviene di solito quando si tratta di formulare previsioni fu-
ture non vi è unanimità nel descrivere ciò che si potrà verificare ma una
gran parte degli studi su questo argomento evidenziano alcune concordan-
ze. In sintesi si può affermare che (Pan, Fadiga, Mohanty, Welch, 2007)15
mentre le quantità prodotte e utilizzate non dovrebbero subire grandi sco-
stamenti rispetto alla realtà esistente, al contrario, prezzi e flussi commer-
ciali potrebbero subire significative modificazioni. In concreto si avrebbe
un’espansione dell’export da parte dei Paesi che presentano caratteristiche
ambientali favorevoli alla coltivazione e con bassi – o inesistenti- aiuti alla
produzione (Brasile e Australia ad esempio), e una contemporanea dimi-
nuzione dei flussi provenienti da quei Paesi – come gli Stati Uniti – che pre-
sentano un situazione di aiuti alla produzione sia diretti che indiretti.

Le coltivazioni cotoniere e la loro sostenibilità ambientale


Come ormai appare chiaro le risorse idriche mondiali stanno diven-
tando via via più scarse. Tale affermazione di carattere generale e appli-
cabile, quindi, ad una molteplicità di situazioni, assume in determinati e
particolari ambienti una valenza ancora più profonda.
Il consumo di acqua e il suo impatto viene da qualche anno misura-
to utilizzando i concetti di water footprint (Hoekstra, Qung, 2005)16 defi-
nito come la quantità totale di acqua dolce utilizzata da un certo determi-
nato Paese per produrre l’insieme dei prodotti e dei servizi consumati dai
suoi abitanti e virtual water, il volume di acqua necessario per produrre
una commodity (Chapagain, Hoekstra, Savenije, Gautam , 2006)17.

14
http://docsonline.wto.org/imrd/gen_searchResult.asp?RN=0&searchtype=browse&q1=%28
%40meta%5FSymbol+WT%FCDS267%FC%2A%29&language=1.
15
Pan, S., Fadiga, M., Mohanty, S., Welch, M. Cotton in a free trade world, Economic Inquiry,
45 (2007), pp. 188-197.
16
Hoekstra, A. Y., Hung, P. Q. Globalisation of water resources: International virtual water
flows in relation to crop trade, Global Environmental Change, 15 (2005), pp. 45-56.
17
Chapagain, A. K., Hoekstra, A.Y., Savenije, H. H., Gautam, R. The water footprint of cotton con-
sumption: An assessment of the impact of worldwide consumption of cotton products on the

292

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Alessandro Gallo

Una delle questioni che da poco tempo è stata affrontata nel consi-
derare il consumo di acqua nel settore cotoniero è relativa al fatto che solo
in tempi recenti si è deciso di considerare il consumo di acqua non solo
nella fase della lavorazione del cotone nei suoi vari stadi industriali ma an-
che per quanto concerne la coltivazione della pianta (Chapagain, Hoekstra,
Savenije, Gautam , 2006)18.
Si è già ricordato come il cotone sia la più importante fibra naturale
utilizzata dall’industria tessile e per la sua evidente importanza non pos-
siamo evitare di considerare gli impatti che, specie in alcuni casi, la sua
coltivazione determina.
Come si può ben capire la quantità di acqua utilizzata dipende dal
tipo di irrigazione implementata che, a sua volta, è in relazione sia con le
caratteristiche climatiche dell’area in oggetto che al grado di evoluzione
tecnologica.
Di tutta la superficie mondiale destinata a cotone il 53% – nella qua-
le si registra il 73% della produzione – è irrigata (Chapagain, Hoekstra, Sa-
venije, Gautam , 2006)19.
La quantità di acqua necessaria per la coltivazione del cotone non è
uguale in tutte le parti del globo. È evidente che le condizioni climatiche
influiscono in modo molto sensibile su necessità e tipologia di un’eventua-
le irrigazione. In particolare, l’indice di evaporazione costituisce un fattore
determinante nel rendere necessario un apporto di acqua irrigua È ovvio
che le aree a cotone con il più rilevante uso di irrigazione siano quelle nelle
quali il clima è più secco e con alto indice di evaporazione ( Egitto, Siria,
Turchia, Turkmenistan e Uzbekistan). Le condizioni ottimali per la colti-
vazione cotoniera si registrano sia negli Stati Uniti che in Brasile. Una si-
tuazione del tutto particolare riguarda India e Mali. In questi casi le zone
coltivate sono localizzate tra gli 800 e i 1000 metri, in aree con precipita-
zioni abbastanza scarse e, contemporaneamente, poco irrigate. Tutto ciò
determina una resa per ettaro al di sotto dei valori mondiali. Cina e India
necessitano di un tipo di irrigazione che sia di complemento a quella for-
nita dalle precipitazioni atmosferiche.
In sintesi possiamo notare come il cotone proveniente da Argenti-
na, Egitto, India, Mali, Pakistan, Turkmenistan, Uzbekistan possa essere

water resources in the cotton producing countries, Ecological Economics, 60 ( 2006 ), p. 188.
18
Chapagain, A. K., Hoekstra, A. Y., Savenije, H. H., Gautam, R. The water footprint of cotton
consumption: An assessment of the impact of worldwide consumption of cotton products on
the water resources in the cotton producing countries, Ecological Economics, 60 (2006), pp.
186 – 203.
19
Chapagain, A. K., Hoekstra, A. Y., Savenije, H. H., Gautam, R. The water footprint of cotton
consumption: An assessment of the impact of worldwide consumption of cotton products on
the water resources in the cotton producing countries, Ecological Economics, 60 (2006), pp.
186 – 203.

293

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Cotone: geopolitica di una commodity agricola

definito come water-intensive mentre quello proveniente da Brasile, Cina e


Stati Uniti water-extensive.
Il problema di stabilire il water footprint concerne, ovviamente, non solo
i Paesi produttori ma anche quei Paesi che oltre a produrre cotone ne importa-
no in grande quantità per alimentare la propria industria tessile e che, quindi,
sono ancor più consumatori, direttamente o indirettamente, di acqua.
Secondo alcune ricerche il contenuto medio di quest’ultimo elemen-
to per tonnellata di prodotto tessile finito è pari, a livello mondiale, a m3
9.359. Ovviamente tale media risulta da valori assai diversi che oscillano
tra i 21.563 e i 19.225 m3 rispettivamente dell’India e dell’Argentina e i
5.404 e 5.967 di Cina e Stati Uniti. Non solo, poi, esistono situazioni assai
differenti di consumo totale ma anche la tipologia di acqua, green (la quan-
tità di acqua piovana che il suolo assorbe direttamente) o blue water (la
quantità di acqua proveniente dai sistemi irrigui) (Chapagain, Hoekstra,
Savenije, Gautam, 2006)20, ha effetti molto importanti sull’ambiente e sui
costi del prodotto finito. In particolare si nota che Uzbekistan, Turkmeni-
stan ed Egitto devono ricorrere alla blue water in quantità più che doppie
rispetto alla media mondiale.

Un caso emblematico: l’Uzbekistan


Particolarmente significativa è, tra i Paesi produttori di cotone, la vi-
cenda dell’Uzbekistan entità statuale nata dalla dissoluzione dell’Unione So-
vietica. L’attuale monocultura del cotone è una eredità storica che prende
avvio dall’epoca zarista e si sviluppa durante gli anni dell’economia centra-
lizzata e pianificata sovietica. L’obbiettivo era di assegnare a questa Repub-
blica un importante compito: rendere la Russia autosufficiente per l’approv-
vigionamento di questa importante commodity. Questa finalità strategica
risulta chiaramente delineata già a partire dal 1860 e viene successivamente
confermata sino alla caduta dell’Unione Sovietica per continuare, poi, nella
nostra contemporaneità.
A tal fine, considerate la scarsità di acqua e di manodopera, sono state
realizzate una serie di canalizzazioni – come il Great Ferghana Canal – e vie-
ne utilizzata una grande quantità di lavoro coatto.
Il risultato complessivo è che viene o distrutta o non sviluppata qual-
siasi altra forma di attività economica e si localizza una cultura che ri-
chiede una grande quantità di acqua in un territorio che non ne ha a suf-
ficienza. La conseguenza in campo economico è che una volta scomparsa

20
Chapagain, A. K., Hoekstra, A. Y., Savenije, H. H., Gautam, R. The water footprint of cotton
consumption: An assessment of the impact of worldwide consumption of cotton products on
the water resources in the cotton producing countries, Ecological Economics, 6 (2006), pp.
187-188.

294

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Alessandro Gallo

l’Unione Sovietica e divenuto Stato indipendente, l’Uzbekistan si è ritrova-


to con una struttura economica basata esclusivamente su un prodotto con
tutte le conseguenze che si accompagnano ad una monocultura. Tuttavia
ormai si deve riconoscere che il cotone rappresenta una vera e propria spi-
na dorsale dell’economia uzbeka (Rudenko, Grote, Lamers, 2008)21 cui
è difficile rinunciare. Di uguale gravità, e per certi aspetti maggiore, è lo
stravolgimento della rete idrica con il noto caso del quasi totale prosciu-
gamento del Lago d’Aral. Per irrigare aree desertiche o semidesertiche si
sono, infatti, effettuati importanti lavori di canalizzazione – con la conti-
nua estrazione di acqua dai due immissari Amu Darya e Syr Daria, – a cau-
sa dei quali si è registrata una drammatica riduzione dell’area e del volume
d’acqua. In questo caso è stato possibile quantificare che in quarant’anni,
dal 1960 al 2000, la riduzione della superficie lacuale è stata del 60% e, per
quanto riguarda il volume complessivo dell’acqua, dell’80%. (Vedi tre ta-
belle annesse).

Conclusioni
In complesso le maggiori sfide che il cotone si accinge ad affronta-
re possono essere sintetizzate in quattro punti. Prima di tutto, considerata
la tendenza degli ultimi anni ad un calo del prezzo delle commodity – e tra
queste il cotone si evidenzia per un andamento assai negativo e quindi, per
una diminuzione del ricavato per ha assai marcato, – dobbiamo ricordare un
problema di tipo finanziario particolarmente grave per i Paesi meno svilup-
pati che non possono far conto su industrie chimiche produttrici di fertiliz-
zanti di livello ragguardevole come gli Stati Uniti.
Un secondo aspetto è relativo alle possibili evoluzioni del mercato del
cotone nel caso in cui si riuscisse a modificare l’attuale regime dei sussidi e
delle regolamentazioni doganali che presenta varie incognite.
Un terzo aspetto che si è posto prepotentemente alla ribalta è la soste-
nibilità ambientale (utilizzo di prodotti chimici e consumo di acqua su tutti)
che si manifesta in modi differenti nei Paesi con condizioni ottimali dal punto
di vista naturale (Brasile, India) e quelli costretti a realizzare reti di irrigazione
ad alto impatto sull’ambiente (Paesi dell’Africa occidentale, Uzbekistan).
Un quarto, ed ultimo, aspetto può essere identificato nel concetto
di sostenibilità sociale che si manifesta negli stridenti contrasti tra siste-
mi agricoli moderni e meccanizzati – come l’Australia e gli Stati Uniti che
possono praticare con una certa facilità la strada del cotone transgenico

21
Rudenko, I., Grote, U., Lamers, J. «Using a value chain approach for economic and environ-
mental impact assessment of cotton production in Uzbekistan. In: J. Qi, K. T. Evered (Org.).
Environmental Problems of Central Asia and their Economc, Social and Security Impacts,
(Springer Netherlands, 2008), pp 361-380.

295

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Cotone: geopolitica di una commodity agricola

(Elbehri, Macdonald)22 e in cui la manodopera rappresenta un fattore di


modesta entità rispetto al totale di quelli impiegati – e altri sistemi – come i
Paesi dell’Asia centrale e dell’Africa occidentale – ove forme di sfruttamen-
to economico e di condizioni che potrebbero essere definite semischiavisti-
che sono largamente praticate.

TABELLE ANNESSE:
Tabella I – Superficie a cotone 2007-2008
000 ha %
INDIA 9139 25,5
CINA 5600 15,6
USA 5500 15,3
PAKISTAN 3283 9,2
UZBEKISTAN 1429 4,0
BRASILE 1100 3,1
TURCHIA 735 2,1
BURKINA FASO 706 2,0
TURKMENISTAN 630 1,8
MALI 541 1,5
TANZANIA 525 1,5
ARGENTINA 440 1,2
ZIMBABWE 347 1,0
GRECIA 323 0,9
AUSTRALIA 300 0,8
EGITTO 280 0,8
TAJIKISTAN 273 0,8
BENIN 242 0,7
COSTA D’AVORIO 234 0,7
SIRIA 229 0,6
CAMERUN 226 0,6
KAZAKHSTAN 204 0,6
IRAN 152 0,4
MEXICO 117 0,3
ALTRI 3202 9,0
TOTALE 35757 100,0
Fonte: elaborazione su dati ICAC.

22
Elbehri, S. Macdonald. Estimating the impact of transgenic Bt cotton on west and central
Africa: A general equilibrium approach, World Development, 32 (2004), pp. 2049-2064.

296

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Alessandro Gallo

Tabella II – Produzione di cotone 2007-2008


000 t %
CINA 6459 24,4
USA 4950 18,7
INDIA 4582 17,3
PAKISTAN 2406 9,1
BRASILE 1288 4,9
UZBEKISTAN 1099 4,2
TURCHIA 960 3,6
AUSTRALIA 568 2,1
ARGENTINA 400 1,5
GRECIA 343 1,3
SIRIA 336 1,3
BURKINA FASO 325 1,2
EGITTO 258 1,0
MALI 238 0,9
TURKMENISTAN 222 0,8
TAJIKISTAN 154 0,7
KAZAKHSTAN 147 0,7
MEXICO 138 0,5
IRAN 120 0,5
TANZANIA 117 0,4
ZIMBABWE 112 0,4
CAMERUN 111 0,4
COSTA D’AVORIO 111 0,4
BENIN 107 0,4
ALTRI 871 3,3
TOTALE 26422 100,0
Fonte: elaborazione su dati ICAC.

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Cotone: geopolitica di una commodity agricola

Tabella III – Rese per ettaro


kg/ha
AUSTRALIA 1893,3
SIRIA 1467,2
TURCHIA 1306,1
MEXICO 1179,5
BRASILE 1170,9
CINA 1153,4
GRECIA 1061,9
EGITTO 921,4
ARGENTINA 909,1
USA 900,0
IRAN 789,5
UZBEKISTAN 769,1
PAKISTAN 732,9
KAZAKHSTAN 720,6
TAJIKISTAN 564,1
INDIA 501,4
CAMERUN 491,2
COSTA D’AVORIO 474,4
BURKINA FASO 460,3
BENIN 442,1
MALI 439,9
TURKMENISTAN 352,4
ZIMBABWE 322,8
ALTRI 271,9
TANZANIA 222,9
TOTALE 739,0
Fonte: elaborazione su dati ICAC.

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I progetti della fondazione slow food per la
biodiversita: un modello per valorizzare cibi
locali di qualita

Cristiana Peano
Dipartimento Colture Arboree | Università di Torino | Via Leonardo da Vinci 44 |
cristiana.peano@unito.it

Riassunto
Nell’ ultimo ventennio in Italia si è sviluppata una forte atten-
zione per i prodotti tipici, tradizionali e locali e diversi sono stati e
sono gli Enti pubblici e privati e le associazioni che si occupano di
tali argomenti con approcci diversi tra loro. Tra questi l’Associazione
Slow Food, un movimento internazionale che opera per difendere la
biodiversità in campo alimentare. Attraverso percorsi di educazione
al gusto e valorizzazione delle piccole produzioni di qualità, Slow
Food ha voluto mettere in atto una strategia di valorizzazione delle
tipicità attraverso l’incontro tra produttori di cibi eccellenti e con-
sumatori che in tal modo assumono lo status di co-produttori. Uno
dei progetti che opera a livello di ‘terroir’ è quello dei Presìdi, nato a
livello italiano e oggi sviluppatosi a livello internazionale. Il modello
dei Presìdi Slow Food può essere visto come l’esempio di un siste-
ma alimentare alternativo che coinvolge attivamente tutta la società:
agricoltori, trasformatori, consumatori, ristoratori e istituzioni pub-
bliche a livello locale. Tale modello è incentrato sui temi della soste-

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I progetti della fondazione slowfood per la biodiversita: un modello per
valorizzare cibi locali di qualita

nibilità che si sviluppa in 4 direzioni: ambientale, economica, sociale


e culturale. A questo progetto negli ultimi anni Slow Food ha voluto
affiancare quello dei Mercati della Terra, mercati gestiti collettiva-
mente, che sono luoghi di incontro dove gli agricoltori locali presen-
tano prodotti di qualità direttamente ai consumatori, a prezzi giusti e
garantendo metodi di produzione sostenibili per l’ambiente.
E’ possibile affermare che entrambe i progetti hanno rappre-
sentato delle ottime intuizioni da parte dell’Associazione in quanto
i risultati sui territori sono stati e sono positivi per tutti gli aspetti
e in particolare per lo sviluppo socio-economico. La caratteristica
principale di tali modelli è, infatti, la continua evoluzione che può
portare a futuri ulteriori miglioramenti per ciò che riguarda la so-
stenibilità ambientale delle pratiche agricole e il rafforzamento del-
la base sociale.

Le abitudini di consumo in campo alimentare si sono rapidamen-


te evolute negli ultimi anni. Da un lato, la rete della grande distribuzio-
ne organizzata ha portato verso il consumo di prodotti standardizzati,
creando gusti omogenei per milioni di persone. Dall’ altro in Italia,e non
solo, si è assistito ad un aumento di interesse per la ricerca di tutto ciò
che è collegato con i valori locali, tradizionali e genuini, provenienti da
tecniche di produzione artigianali che sono l’espressione di uno specifi-
co territorio. In pratica la ‘svolta di qualità’ che si è verificata nel settore
degli alimenti ha visto come protagonisti i concetti di “fiducia”, “radica-
mento” e “territorio” (Goodman, 2003) e hanno rappresentato l’ inizio di
‘reti alternative’.
Il primo strumento politico comune che ha creato una struttura
logica per le riflessioni sul cibo locale in Europa, è stato il regolamento
UE n. 2081/92, dal 14 luglio 1992 che si è occupato di denominazioni di
origine protetta per i prodotti alimentari. Il ruolo economico detenuto da
tali prodotti in Italia è molto importante. Negli ultimi anni, infatti, le va-
rie Indicazioni Geografiche (IGP,DOP,DOC) hanno permesso ai prodotti
tipici di diventare una risorsa importante per l’ agricoltura e stanno gua-
dagnando una buona popolarità presso i consumatori europei. Tuttavia,
parlare di cibo locale e prodotti tipici è tutt’ora complesso e, non è sem-
plice trovare una definizione unica ed efficace, sia a livello nazionale sia
comunitario.
Slow Food ha affrontato tali tematiche cercando un’ approccio alter-
nativo al cibo avviando sistemi sostenibili sia per il mondo agricolo sia per
quello dei consumatori (co-produttori).

300

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Cristiana Peano

I Progetti Slow Food


L’ Associazione Slow Food è un’organizzazione no-profit, eco-ga-
stronomica che è stata fondata nel 1986 per contrastare il fast food e la
fast life, in pratica la scomparsa delle tradizioni alimentari locali. Oggi,
ha oltre 100.000 membri in 150 paesi, 1.300 convivium e svariati proget-
ti in giro per il mondo (www.slowfood.it). La sua mission può essere così
sintetizzata:”agire per difendere la biodiversità nel mondo alimentare, per
educare al gusto, per promuovere i produttori di qualità, per diffondere
cibi eccellenti, e coinvolgere i consumatori (co-produttori) nel sistema pro-
duttivo attraverso eventi ed iniziative”.
Per attuare tali programmi l’ Associazione Slow Food ha diversifica-
to le sue attività.
In particolare sul tema della salvaguardia della Biodiversità e sulla
realizzazione e gestione di progetti sui prodotti tipici di eccellenza, è nata
nel 2003, in collaborazione con la Regione Toscana, la Fondazione Slow
Food per la Biodiversità Onlus, che sostiene i progetti dei Presìdi e dei
Mercati della Terra e collabora attivamente alla realizzazione di Terra Ma-
dre, l’ incontro tra “comunità del cibo”, evento biennale che attira a Tori-
no più di 5000 agricoltori, artigiani, studenti, professori,tecnici, ristorato-
ri provenienti da oltre 130 paesi. http://www.fondazioneslowfood.it; http://
www.presidislowfood.it; /http://www.terramadre.info
All’ inizio del percorso di Slow Food sul tema della salvaguardia del-
le produzioni locali ( fine anni ’90) è stato ideato il progetto dell’ Arca del
Gusto che ha catalogato centinaia di prodotti a rischio reale o potenziale di
estinzione e che comprende attualmente più di 1000 prodotti provenienti
da 30 paesi. Con l’Arca si riconosce la rilevanza culturale di un prodotto,
ma l’ azione di Slow Food è mirata unicamente alla diffusione delle infor-
mazioni sul prodotto. Il progetto dei Presidi,che da quello dell’ Arca ha pre-
so spunto, ha, invece, un profilo molto più operativo.
I Presìdi, infatti, sono progetti che si focalizzano su uno specifico
prodotto e uno specifico territorio in cui vive un gruppo di piccoli produt-
tori interessati al recupero delle tradizioni locali, al miglioramento delle
tecniche di produzione e al coinvolgimento dei consumatori in reti di com-
mercializzazione alternativa (Mercati, Gruppi di acquisto, fiere …). Fin dai
primi passi (Salone del Gusto-Torino-2000) il progetto ha riscosso notevole
interesse da parte dei media e dei consumatori ed è andato crescendo fino
ad arrivare ai numeri attuali: 200 Presìdi in Italia, e 130 Presìdi interna-
zionali. I progetti, tutt’ora numericamente in crescita, coinvolgono ecotipi,
varietà, razze, salumi, formaggi, dolci, preparazioni alimentari tradiziona-
li e sono diventati, negli anni, non solo un riconoscimento per prodotti di
eccellenza, ma anche un’ importante risorsa per i territori grazie alla rivi-
talizzazione economica delle aree rurali e degli ecosistemi storici. Dal 2008

301

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I progetti della fondazione slowfood per la biodiversita: un modello per
valorizzare cibi locali di qualita

i Prodotti dei Presidi Italiani possono avvalersi nella comunicazione di un


marchio registrato “Presidio Slow Food ®” che consente ai consumatori di
identificare i prodotti.
La crescita della consapevolezza che il consumatore è sempre di più
interessato a conoscere la storia dei prodotti dalla viva voce di chi li pro-
duce ha portato alla nascita di un altro ambizioso progetto, che affianca e
si integra con quello dei Presidi: i Mercati della Terra. Questi sono mercati
contadini creati secondo linee guida che seguono la filosofia Slow Food,
luoghi di incontro dove i produttori locali presentano prodotti di qualità
direttamente ai consumatori, a prezzi giusti e garantendo metodi di produ-
zione sostenibili per l’ambiente. Inoltre, preservano la cultura alimentare
delle comunità locali e contribuiscono a difendere la biodiversità (http://
www.mercatidellaterra.it)
I criteri generali di selezione per un prodotto per diventare un Pre-
sidio sono:
1. Il prodotto deve essere minacciato di estinzione, reale o potenziale.
2. Il prodotto deve essere legato alla memoria e l’identità di un grup-
po, e può essere una specie, varietà, ecotipo vegetale o popolazione
animale che è ben ambientata in un periodo medio-lungo in un de-
terminato territorio. Nel caso dei trasformati gli ingredienti devono
essere di provenienza locale.
3. Il prodotto deve avere un collegamento ambientale, socio-economi-
co e storico ad una zona specifica.
4. La produzione deve essere presente in quantità limitata, in aziende
agricole o di trasformazione di piccole dimensioni.
5. Il prodotto deve essere di elevata qualità in termini di gusto (organo-
lettica), ma anche in senso ambientale e sociale.

Al termine del percorso di selezione di un prodotto, fatto di concerto


con i soggetti proponenti, Slow Food coinvolge i produttori interessati, i
tecnici,le istituzioni locali, per definire gli obiettivi del Presìdio e creare un
gruppo di lavoro che partecipi allo sviluppo di approfondimenti sul territo-
rio e si confronti sulle norme che disciplinano la produzione.
I produttori sono in tal modo accompagnati lungo un percorso che
permette di affrontare insieme gli eventuali problemi inerenti la produ-
zione (ad es.le autorizzazioni mancanti, strutture inadeguate, ecc), e sono
aiutati e consigliati sui temi della caratterizzazione dei prodotti e la loro
valorizzazione (ad es. packaging, etichetta) ed infine sono supportati nella
creazione di forme associative e nella redazione di un disciplinare di pro-
duzione, strumento importante per la protezione delle produzioni e per ga-
rantirne la tracciabilità.

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Cristiana Peano

Firmando il disciplinare, agricoltori e trasformatori si impegnano a


mantenere l’integrità del loro prodotto e a produrre secondo i principi di
un’agricoltura sostenibile.
Infine Slow Food si impegna a promuovere i prodotti dei Presìdi at-
traverso i suoi strumenti di comunicazione (sito web, riviste, guide pubbli-
cate da Slow Food Editore), altri media (radio, giornali) l’ organizzazione
di eventi locali e internazionali (Salone del Gusto – Torino, Cheese – Bra,
Slow Fish – Genova e Terra Madre – Torino), la partecipazione a fiere e
mercati in modo da comunicare ai consumatori di tutto il mondo che si
tratta di prodotti di eccellenza e che la loro scoperta, l’acquisto e la degu-
stazione significa imparare la storia e le tradizioni di un territorio e salva-
guardare il suo patrimonio culturale (la narrazione della qualità).
Le linee principali dei Presidi prendono avvio da quella che è la fi-
losofia generale di Slow Food, che ovviamente si ripercuote su tutte le sue
azioni. I modelli da seguire sono quelli dell’ agricoltura e dell’ allevamento
non intensivo, l’ utilizzo nei formaggi di latte crudo, l’ attenzione per l’ ali-
mentazione animale OGM-free, le tecniche di trasformazione artigianale
(in assenza di aromi, addensanti e coadiuvanti), la pesca sostenibile.
Normalmente il numero di produttori di un Presidio è limitato (in
Italia mediamente 7/8 produttori) così come le superfici e/o il numero di
capi animali interessati. Tale modello assicura un sistema di garanzia per
il consumatore basato principalmente sull’ autocontrollo (non esiste un
controllo formale da parte di terzi) esercitato dalla stessa comunità di pro-
duttori. Inoltre è presente una sorta di controllo partecipativo in cui i pro-
duttori insieme a Slow Food, i tecnici, i consumatori e le istituzioni locali
si confrontano sulle norme di produzione e la loro applicazione da parte
dei produttori.

I sistemi alimentari sostenibili secondo Slow Food


La crescente consapevolezza sui temi del cibo da parte del movi-
mento Slow Food ha permesso l’ elaborazione del suo slogan più cono-
sciuto: ‘Buono, Pulito e Giusto’. Ad un’ attenzione iniziale da parte dell’
Associazione essenzialmente a percorsi legati al piacere del cibo e alle sue
caratteristiche gustative si affiancano, oggi, sia i temi della conservazione
delle risorse naturali sia gli aspetti economici, sociali e culturali che porta-
no alla creazione di sistemi agro-alimentari sostenibili. In effetti non esiste
una definizione univoca di sistema agro-alimentare sostenibile in lettera-
tura, né si incontrano criteri unici per valutare se un sistema alimentare è
sostenibile o meno nella sua totalità. Esistono infatti valutazioni differenti
a seconda degli ambiti di applicazione ad esempio la valutazione d’impatto
dei sistemi agricoli sostenibili, della gestione del territorio e del paesaggio,
della gestione delle risorse naturali (Pacini et al 2009;. Van der Werf e Petit,

303

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I progetti della fondazione slowfood per la biodiversita: un modello per
valorizzare cibi locali di qualita

2002; Smith e Dumanski, 1994; Vereijken, 1999; Van Mansvelt e Van der
Lubbe, 1999; Weersink et al 2002;.. Lopez-Ridaura et al 2002), dei principi
dell’agricoltura biologica (IFOAM) e della politica alimentare e dell’etica
(Lang et al., 2009).

Più in generale è però possibile affermare che un sistema agro-ali-


mentare sostenibile deve produrre prodotti di qualità, essere economica-
mente sostenibile, ecologicamente realizzabile, socialmente giusto e cultu-
ralmente accettabile.
L’ ambizione dei progetti dei Presìdi e dei Mercati della Terra è pro-
prio quella di andare in questa direzione sostenendo produzioni di qualità
spesso a rischio di estinzione, proteggendo i territori e gli ecosistemi unici,
recuperando i metodi di lavorazione tradizionale, salvaguardando le razze
autoctone e varietà vegetali locali. Percorriamo ora gli aspetti salienti dei
modelli proposti da Slow Food.
L’ aspetto che sicuramente più caratterizza i modelli Slow Food ri-
spetto ad altre organizzazioni che si occupano di cibo ed agricoltura, è il
concetto complesso ed innovativo della qualità secondo Slow Food, matu-
rato nell’arco di vent’anni di esperienza sul campo grazie al lavoro svolto a
diretto contatto con centinaia di comunità di piccoli produttori. La qualità
è infatti spesso identificata unicamente con analisi chimico-fisiche, panel
di degustazione o, comunque, parametri misurabili e definiti. Si tratta di
un approccio tecnico che, se è valido in un contesto comparativo ed ogget-
tivo, non tiene tuttavia conto di tutto ciò che sta alle spalle di un prodotto
locale, e che si è sviluppato in secoli di storia. Nell’accezione Slow Food
la qualità è invece il frutto di una narrazione. Prende le mosse dall’origi-
ne del prodotto (a seconda dei casi può essere il luogo di domesticazione
o diversificazione di una specie; il luogo di adattamento e naturale evolu-
zione di una varietà o di una razza; il luogo di sviluppo di una tecnica di
coltivazione, di trasformazione) e poi considera le caratteristiche dell’am-
biente, le conoscenze sul territorio (nella comunità), la reputazione locale
di cui il prodotto gode, le tecniche di trasformazione, le ricette, i metodi di
conservazione e di commercializzazione, la sostenibilità ambientale e, na-
turalmente, le caratteristiche organolettiche e nutrizionali. Inoltre è inte-
ressante sottolineare come spesso, nel caso dei Presidi, si tratta di prodotti
consumati nel momento ottimale nello stesso territorio di produzione (li-
mitazione delle problematiche legate alle foodmiles.
Per quello che riguarda gli aspetti economici questi sono stretta-
mente correlati con il lavoro svolto dall’ Associazione relativo all’ aumento
della visibilità per i piccoli produttori.
Gli obiettivi finali sono infatti legati alla possibilità di aumentare le
vendite, a una migliore remunerazione dei produttori ma anche ad uno svi-
luppo dell’ occupazione diretta o in settori complementari come ad esem-

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Cristiana Peano

pio il turismo. Gli aspetti economici del progetto dei Presidi sui territori
sono stati oggetto, nel 2002 di una ricerca dell’Università Bocconi di Mila-
no (Antonioli Corigliano e Viganò, 2002). Lo studio, su 54 Presidi italiani
di diversi settori, ha evidenziato un notevole impatto economico che ha
coinvolto sia un cambiamento in termini di quantità e qualità delle produ-
zioni sia il prezzo di vendita. Un’ analoga esperienza è poi stata ripetuta
nel 2006 (Baggi, 2007) con un nuovo questionario proposto a 31 Presìdi
(18 Presìdi italiani, 6 dal resto d’Europa, 3 dal Centro e Sud America, due
in Asia e Africa).
I risultati sono stati sorprendenti se si pensa che nel caso dei Presi-
di italiani in alcuni casi (legumi ad esempio) i prezzi di vendita sono più
che duplicati. Se da un lato è possibile vedere tali evoluzioni come un suc-
cesso del progetto è innegabile dall’ altro che ciò non può che essere visto
come un punto critico di un sistema che , per essere sostenibile, ambisce a
raggiungere un prezzo giusto per i produttori ma anche per i consumatori
(co-produttori). Tali aspetti devono essere ridiscussi dagli agricoltori stessi
che, soprattutto attraverso i Mercati della Terra ed altre forme di vendita
diretta, hanno la possibilità di confronto non con la lunga catena degli in-
termediari della distribuzione, ma direttamente con il consumatore con
cui sarebbe bene aprire un dialogo costruttivo.
Se il rapporto tra il progetto dei Presìdi e la sostenibilità economi-
ca è abbastanza evidente, l’aspetto sociale di un Presidio è meno facile da
evidenziare. Tuttavia, le azioni intraprese negli ultimi anni nei Paesi meno
sviluppati hanno chiaramente sottolineato l’importanza di questo specifico
aspetto, che non è meramente economico. E ‘ovvio che un miglioramento
del reddito dei produttori può significare una migliore qualità della vita
e l’accesso a servizi (assistenza medica, istruzione, mezzi pubblici) . Per i
Presìdi italiani, questi aspetti sono meno evidenti e gli obiettivi sociali pos-
sono essere individuati come un modo per migliorare il ruolo sociale dei
produttori e rafforzare la loro volontà di organizzarsi.
L’ aspetto ambientale è sicuramente il ‘cuore’ del progetto dei Presidi
nato per salvaguardare la biodiversità e migliorare la produzione alimenta-
re sostenibile. L’approccio è legato ai principi della vocazionalità ambien-
tale e della sostenibilità. Si basa infatti sulla conoscenza dell’agricoltura
locale, sull’applicazione di tecniche (tradizionali e moderne) adatte alle di-
verse condizioni agro-pedo-climatiche sulla corretta gestione delle risorse
naturali (biodiversità, suolo, acqua) Là dove percorsi precedenti o cono-
scenze locali hanno permesso lo sviluppo di un’agricoltura biologica (in-
tesa non esclusivamente come certificazione ma come tecniche agronomi-
che ) lo sviluppo del Presidio è stato incentrato verso un rafforzamento dei
concetti di controllo biologico delle colture e diffusione di questa filosofia.
Là dove, invece, l’ agricoltura convenzione ha ancora un ruolo importante
nella gestione delle colture, il progetto dei Presisi ha avuto ed ha l’ obietti-

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I progetti della fondazione slowfood per la biodiversita: un modello per
valorizzare cibi locali di qualita

vo di accompagnare i gruppi verso un percorso volto ad una maggiore so-


stenibilità ambientale, passando, attraverso la formazione e l’ esempio da
un’ agricoltura convenzionale ad una sostenibile. Naturalmente legati agli
aspetti ambientali vi è anche il tema del benessere animale, del risparmio
energetico e del packaging ecologico,
Infine gli aspetti culturali sono fortemente legati alla capacità delle
persone che partecipano al presidio di ripercorrere la cultura locale coin-
volgendo anche soggetti diversi del territori (studenti, ristoratori, enti lo-
cali, associazioni) al fine di ‘reimpossessarsi’ delle proprie origini e della
propria storia ed essere in grado di comunicarla all’ esterno. Naturalmente
ciò può creare delle ricadute positive sul territorio come ad esempio recu-
pero di manifestazioni storiche, interventi architettonici e più in generale
turismo sostenibile.

Conclusione
Il Progetto dei Presidi e quello dei Mercati della Terra hanno una
forte connotazione locale in quanto insistono su specifici territori dove
sono stati individuati sistemi agro-alimentari di pregio. Nonostante le dif-
ferenze che a volte si evidenziano nei vari percorsi è indubbia l’ attivazione
in tutti i progetti di un processo territoriale dinamico che contribuisce non
solo alla promozione di prodotti locali tradizionali ma anche alla ri-costru-
zione di percorsi socio-culturali.
Nella realtà il progetto dei Presìdi e quello dei Mercati della Terra for-
niscono una strategia per gli agricoltori che vogliono rimanere o ritornare su
territori complessi, non solo da un punto di vista produttivo ma spesso an-
che socio-culturale. Inoltre, in tali modelli gli obiettivi ambientali sono rag-
giunti attraverso la formazione e l’assistenza tecnica che deve continuare ad
essere un elemento di ricerca, innovazione e sviluppo. Infine per quello che
riguarda l’aspetto culturale, la promozione e la vendita dei prodotti tradizio-
nali di pregio può contribuire a rafforzare la base sociale creando processi
collettivi volti a promuovere una regione nel suo complesso.

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I progetti della fondazione slowfood per la biodiversita: un modello per
valorizzare cibi locali di qualita

http://www.ifoam.com
http://www.fondazioneslowfood.it/ita/presidi/
http://www.slowfoodbrasil.com/
http://www.mercatidellaterra.it/
http://www.presidislowfood.it/ita/
http://www.terramadre.info/

I Presidi Brasiliani (tratto da http://www.fondazioneslowfood.it/ – http://


www.slowfoodbrasil.com/)

ARATU
Perché un presidio? Le acque delle lagune costiere presen-
ti nello Stato di Sergipe, nel nord-est brasiliano, sono sempre state
ricche di granchi di specie diverse. In particolare, nelle lagune della
zona di Santa Luzia do Itanhy, si trova un granchio dalle piccole di-
mensioni e dalla carne saporita e delicata: l’aratù (Goniopsis cruenta-
ta). Questo crostaceo appartenente alla famiglia delle Grapsidae vive
abitualmente tra le mangrovie, creando la propria tana in buche nel-
la sabbia delle rive o dentro i rami della fitta vegetazione. La pesca
dell’aratù è sempre stata un’attività femminile: le donne delle comu-
nità si recavano alla laguna di mattina e, una volta in acqua, intona-
vano canzoni tradizionali per attirare i crostacei dentro alle trappole
preparate per l’occasione con legno e una canna. Le donne tornavano
quindi al villaggio la sera per dividere il bottino con la famiglia. Negli
ultimi anni però, con l’arrivo dell’elettricità nelle piccole comunità,
la situazione è cambiata: le donne puliscono l’aratù appena raccolto
e ne conservano la carne in congelatore per gli intermediari, che la
acquistano ad un prezzo irrisorio per rivenderla a più del doppio ai
ristoratori delle aree più turistiche dello Stato. Inoltre, i raccoglitori
dell’area di Santa Luzia do Itanhy assistono di anno in anno alla ri-
duzione del numero di esemplari di aratù nelle proprie acque. Questo
fenomeno in parte è dovuto all’allevamento di gamberi presente nelle
lagune i cui mangimi, che regolarmente fuoriescono dalle vasche di
allevamento, uccidono l’aratù. Ma in parte è dovuto a uno sfrutta-
mento non sostenibile delle risorse da parte di alcuni raccoglitori del-
la zona, che non si curano di pescare e consumare anche esemplari
di piccola taglia o femmine gravide. Secondo l’Ibama (Istituto Brasi-

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liano dell’Ambiente e delle Risorse Naturali Rinnovabili) dal 2000 al


2004 la mortalità di granchio nella zona, dovuta a un fungo, ha fatto
calare il numero di esemplari di caranguejo catturati giornalmente
da 180 a circa 20. Questo naturalmente ha fatto sì che aumentasse
notevolmente la pressione di pesca sull’aratù, che oggi è a rischio di
estinzione.
Il Presidio: dell’aratù è stato avviato nella comunità di Caja-
zeiras, all’interno del Municipio di Santa Luzia do Itanhy, in un’area
ad alto tasso di povertà e analfabetismo. Cajazeiras è un piccolo nu-
cleo quilombola, i cui abitanti cioè sono discendenti diretti di una
comunità di schiavi di origine africana fuggiti o liberatisi con la fine
della schiavitù. Il nucleo è formato da 250 famiglie, la cui piccola eco-
nomia ruota attorno alla pesca dell’aratù. Se fino ad alcuni anni fa,
la raccolta media in un giorno era di 4 kg di aratù, oggi questo valore
si è ridotto a mezzo chilo. Urge quindi intervenire, in collaborazione
con le istituzioni locali, per creare aree dedicate al ripopolamento de-
gli esemplari di aratù e per ridurre la pressione sulla pesca di questo
crostaceo, differenziando lo sfruttamento delle risorse peschiere. Allo
stesso tempo è importante agire con i produttori di questa comunità
(identificata per avviare un progetto pilota replicabile in tutta l’area)
in tre direzioni: educare i raccoglitori a uno sfruttamento sostenibile
delle acque, riducendo quindi la quantità di aratù pescato, migliora-
re la fase di lavorazione per aumentarne il valore aggiunto e trovare
nuove alternative commerciali.
Area di produzione: Comunità di Cajazeiras, Municipio di
Santa Luzia do Itanhy, Sergipe.

CUORE DI PALMA JUÇARA


Perché un presidio? Il Brasile possiede una straordinaria bio-
diversità agricola, gastronomica e culturale: sono addirittura 210 le
etnie indigene che lo abitano e 18 le lingue ancora vive. Uno dei grup-
pi più importanti è quello dei Guaraní, distribuiti sul territorio di
numerosi stati brasiliani.Il loro paese di origine è il Paraguay (che
in base alla cosmogonia di questa etnia sarebbe il centro del mon-
do), dove il Guaraní è ancora la seconda lingua. Non esiste uno stato
o una nazione Guaraní: la loro identità si fonda su lingua, religione
e cultura (la musica e il canto, in particolare, considerati manifesta-
zioni divine, sono elementi di coesione potentissimi). I prodotti di

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I progetti della fondazione slowfood per la biodiversita: un modello per
valorizzare cibi locali di qualita

base della loro agricoltura sono patate dolci, manioca, mais e palmito
(cuore di palma), che viene estratto dal tronco della palma.La varie-
tà di palma più tradizionale, e quella che offre il cuore migliore dal
punto di vista organolettico, è la juçara (Eutherpes edulis), che cre-
sce naturalmente nelle aree sopravvissute di foresta atlantica del Sud
del Brasile. Ma è anche la più a rischio: soltanto in piccoli territori
l’estrazione del palmito è realizzata secondo tecniche sostenibili. Esi-
ste invece un’estrazione intensiva e clandestina, particolarmente ag-
gressiva nella valle del Ribeira, regione tra le più povere dello stato di
San Paolo, a opera di palmiteiros non indios.Da alcuni anni il villag-
gio Guaraní Silveira ha iniziato a realizzare piccoli vivai nella foresta
per ricostruire la popolazione delle loro palme tradizionali: la juçara,
ma anche la jerivà e la pindo ovy (o palma azzurra).La juçara cresce
nel cuore della foresta, non ama il sole e non richiede né trattamen-
ti, né fertilizzanti. L’albero ha tronco diritto, chiaro (grigio-bianco) e
sottile e raggiunge un’altezza di circa quindici metri. Prima di rica-
vare il cuore (tagliando la parte più alta del tronco ed eliminando la
corteccia con il machete) bisogna attendere almeno otto, dieci anni.
Due volte l’anno si raccolgono i semi (di solito i bambini riescono ad
arrampicarsi più agilmente, raggiungendo la cima delle palme e stac-
cando i grandi grappoli di frutti violacei).della juçara si usa tutto: le
foglie servono per preparare letti e sedie, il legno per le case, le bacche
sono trasformate in succhi. Il cuore si mangia crudo (condito con il
miele: nella cucina Guaraní non ci sono né sale né zucchero), bollito,
arrostito sulla brace oppure fritto.
Il Presidio: La palma juçara si taglia al momento della vendita
e il cuore si commercializza fresco: sul posto o a qualche ristoratore
della zona. Così un prodotto raro e prezioso (pronto solo dopo otto,
dieci anni) se ne va per soli cinque, massimo dieci reali (equivalenti
a 1,5-3 Euro). Il Presidio intende individuare un trasformato di alta
qualità che dia valore aggiunto al cuore di palma. Ma, prima di ar-
rivare alla fase della commercializzazione, è necessario diffondere e
replicare l’esperienza delle riserve Boa Vista e Silveira (948 ettari, 300
persone circa) e con l’appoggio dell’organizzazione indigena Institu-
to Teko Arandù, dove si lavora sotto la guida del capovillaggio Adolfo
Timótio (in guaraní il suo nome è Verá Mirim Miri) per incrementare
la presenza della palma juçara, creando vivai nella foresta e coltivan-
do almeno due palme nuove per ogni palma tagliata. Prima di questa
esperienza la riproduzione della palma era affidata esclusivamente
agli animali selvatici: roditori e tucani che rosicchiano e trasportano
i semi. La prima tappa del progetto è stata la stesura di un disciplina-

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re di coltivazione e raccolta della palma e adesso si intende realizza-


re la formazione delle famiglie dei villaggi circostanti per diffondere
l’esperienza della Riserva Silveira.
Area di produzione: Riserve Guaraní Silveira (municipio di
São Sebastião) e Boa Vista (Ubatuba), São Paulo, Sudeste

NETTARE DI CANUDO DEI SATERÉ MAWÉ


Perché un presidio? Il mito narra che quando Anumaré Hit
salì in cielo, trasformato in sole, invitò la sorella Uniawamoni a se-
guirlo. La donna inizialmente tentennò, ma alla fine scelse di restare
sulla terra sotto forma di ape per prendersi cura, con i Sateré-Mawé,
delle foreste sacre del guaranà. Mito che sta lì a testimoniare, di ge-
nerazione in generazione, quel che gli antichi Mawé già sapevano e
che oggi riscopriamo: cioé che le api selvatiche senza pungiglione
(melliponidi appartenenti a decine e decine di specie, raggruppate
in due grandi famiglie: le mellipone e le trigonie) sono responsabi-
li dell’impollinazione di almeno un’80% delle specie vegetali della
foresta amazzonica. Senza il paziente lavoro di queste operaie del-
la natura, la foresta rischierebbe di scomparire. E il rischio esiste,
perché da sempre le loro colonie sono oggetto di predazione per il
miele pregiatissimo (la sua liquidità, oltre a renderne l’uso più fles-
sibile, gli permette di trattenere meglio la grande gamma di aromi
e sapori legati alla varietà delle specie vegetali e alla diversa meta-
bolizzazione propria di ciascuna specie di ape), raro (molte specie
di queste api non arrivano a produrne un litro all’anno) e molto
usato anche nella medicina popolare. È importante sottolineare che
mezzo litro di miele selvatico ottenuto in modo predatorio signifi-
ca la distruzione di un’intera colonia.I Sateré-Mawé, ormai da mol-
ti anni, hanno deciso di seguire, con tecniche un po’ più moderne,
l’antica tradizione in melliponicultura dei Maya: questi ultimi pro-
teggevano le api allevandole nei tronchi d’albero, i Sateré-Mawé,
invece, le ospitano in arnie di cassetti rustici impilati, costruite con
legname locale. Nel loro territorio esiste una varietà di ape canudo
(scientificamente una Scaptotrigona, non ancora ufficialmente ca-
talogata) molto resistente e, relativamente, molto produttiva: può
arrivare fino a 8 litri l’anno di uno straordinario miele dal gusto po-
tente e selvatico; produce un polline acido particolarmente digeribi-

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I progetti della fondazione slowfood per la biodiversita: un modello per
valorizzare cibi locali di qualita

le, e infine (qualità abbastanza rara tra i melliponidi), accumula una


notevole quantità di propoli ricavata dalle resine di decine di alberi
della foresta vergine, un prodotto dalle numerose proprietà terapeu-
tiche, molto importante in aree senza assistenza medica.
Il Presidio: Il miele di ape canudo (detto in Europa “netta-
re” per ragioni legislative) è prodotto dagli indios Sateré-Mawé, con
i quali la Fondazione Slow Food per la Biodiversità ha già avviato da
alcuni anni il Presidio del waraná. Il legame tra i due progetti è mol-
to stretto, poiché il miele è ottenuto dai fiori di waranà. La domesti-
cazione delle api canudo è diffusa presso una ventina di villaggi, ma
l’obiettivo è di espanderla in tutti gli 80 villaggi Sateré-Mawé. La pro-
duzione attuale, inoltre, è ancora quasi esclusivamente destinata al
consumo familiare e comunitario. Il Presidio è nato per preservare le
api canudo e la foresta amazzonica, ma anche per dare ai Sateré una
nuova risorsa economica. Il primo problema del nettare è l’elevato
tasso di umidità, che ne rende difficile la conservazione. La Fondazio-
ne Slow Food ha mobilitato esperti, come Remy Vandame, che hanno
promosso soluzioni per la conservazione del prodotto. Ora il princi-
pale problema è promuovere una legislazione, brasiliana ed europea,
che riconosca questo prodotto per agevolarne la regolare produzione
e commercializzazione.
Area di produzione: Terra indigena Andirá-Marau, nel baci-
no dei due fiumi omonimi, a cavallo tra gli stati brasiliani di Ama-
zonas e Pará.

NOCE DI BARÙ
Perché un presidio? Il Cerrado, tipica macchia di vege-
tazione che ricopre gran parte del Brasile centrale, ha caratteri-
stiche simili alle savane africane e australiane, seppure con una
maggiore biodiversità e rigogliosità. Tra le sue numerose varietà
vegetali, si trova il barù (Dipterys alata Vox), leguminosa arborea
di grandi dimensioni, il cui frutto matura tra settembre e ottobre
e contiene una mandorla dal sapore delicato: la castanha de baru.
La castanha può essere tostata, acquisendo così un sapore simile
alle arachidi o alle noci di anacardio, o usata al naturale in dolci
tipici a base di zucchero di canna e latte, come il pé-de-moleque e
la paçoquinha. Dalla noce di barù, inoltre, si può estrarre un olio
alimentare e medicamentoso, ottimo sia come aromatizzante dei

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piatti locali sia come antireumatico.Di alto valore nutritivo e dal


ricco contenuto proteico, la noce di barù può conservarsi per cir-
ca tre mesi.L’albero è anche usato nei programmi di riforestazio-
ne grazie alla rapidità della crescita, alla resistenza a climi molto
secchi e all’ottima qualità del legno.Proprio questa ultima carat-
teristica è una delle cause della graduale scomparsa del Baruzei-
ro dal Cerrado (gli alberi sono tagliati a fini commerciali), insie-
me alla diffusione di monocolture intensive di cereali. 
Il Presidio
è stato avviato nello stato di Goiás, nei pressi di Brasilia e del
Distrito Federal, dove alcune comunità si dedicano alla raccol-
ta, tostatura e commercializzazione della noce di barù, alimento
tradizionale della dieta della popolazione rurale e amato partico-
larmente dai bambini, che si riparano dal caldo all’ombra del Ba-
ruzeiro. In particolare, nell’area circostante la città di Pirenópo-
lis, due associazioni lavorano per la tutela e valorizzazione del
barù: la ADCC (Associação de Desenvolvimento Comunitário do
Caxambu) e il CENESC (Centro de Estudos e Exploração Susten-
tável do Cerrado).La prima opera nella regione di Caxambu, a
circa 30 Km da Pirenópolis, coinvolgendo cinque famiglie nel-
la raccolta, trasformazione e vendita della castanha. Formato da
gruppi di agricoltori, ricercatori, ambientalisti, il CENESC riuni-
sce invece tutti i soggetti interessati all’introduzione di tecniche
sostenibili per la gestione e l’utilizzo delle risorse del Cerrado.
Il Presidio: Il Presidio della noce di barù è in fase di svi-
luppo in 3 comunità del municipio di Pirenopolis – Caxambu,
Bom Jesus e Santo Antonio – in collaborazione con ADCC e CE-
NESC. L’obiettivo iniziale del Presidio è stato quello di dare alla
popolazione locale la consapevolezza che questo prodotto povero
del Cerrado può diventare una risorsa economica e che, al tempo
stesso, il suo utilizzo sostenibile ha un ruolo fondamentale per
preservare l’integrità del territorio.Insieme ad altri frutti nativi
del Cerrado, il Baruzeiro è inoltre oggetto di studi, ricerche e spe-
rimentazioni da parte dell’EMBRAPA Cerrado (ente di ricerca del
Ministero dell’Agricoltura brasiliano). Il Presidio si propone di
migliorare la gestione delle comunità e le tecniche di trasforma-
zione e conservazione della castanha – potenziando le infrastrut-
ture per la lavorazione del prodotto – e di affiancare le tre comu-
nità nella promozione del barù a livello locale e internazionale.
Area di produzione: Comunità di Caxambu, Santo Anto-
nio e Bom Jesus, Municipio di Pirenópolis, Goiás, Centro-Ovest

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I progetti della fondazione slowfood per la biodiversita: un modello per
valorizzare cibi locali di qualita

PINOLO DI ARAUCARIA DELLA SERRA CATARINENSE


Perché un presidio? La Serra Catarinense è una zona mon-
tuosa e boschiva parte dello Stato del Santa Catarina la cui econo-
mia è tradizionalmente basata sullo sfruttamento delle risorse fore-
stali e sull’allevamento. Il sistema alimentare umano e animale degli
abitanti di questa zona si è sempre basato sull’Araucaria angustifo-
lia, un albero nativo simbolo della regione meridionale del Brasile.
Si tratta di un albero secolare che può raggiungere i 40 m in altezza
e che vive in media 200/300 anni, ma può arrivare fino a 500 anni
di vita. Se diversi secoli fa la Serra Catarinense era completamente
coperta di araucaria, da decenni nella zona si sta verificando una
sistematica sostituzione di questi alberi con quelli di pino canadese
(Pinus elliottii), estremamente più redditizio a causa dell’alta richie-
sta sul mercato del suo legname. Così, si stima che non rimanga più
dell’1% delle sconfinate foreste di araucaria del Brasile meridionale.
Chi acquista un terreno e abbatte gli alberi di araucaria incorre in
una sanzione minima, che viene presto ripagata dai proventi della
vendita del legname di pino canadese. I Parchi Nazionali Apara-
dos da Serra e Iguaçu hanno aree destinate all’araucaria, ma la loro
estensione non va oltre i 3.000 ettari. Il pinolo di araucaria, o pin-
hão, è il seme dell’Araucaria angustifolia. Si tratta di un seme lun-
go circa 4 cm, dalla forma allungata e dal color avorio, avvolto da
una scorza coriacea e raccolto in pigne di grosse dimensioni. Ricer-
che storiche e ritrovamenti archeologici mostrano come gli indigeni
Kaingang e Xokleng vivessero di caccia e della raccolta del pinolo.
Questo frutto ha poi rappresentato un nutrimento fondamentale nel
corso dei secoli anche per altri popoli indigeni e per i coloni italia-
ni e tedeschi che giunsero in quest’area. 
Considerato da sempre un
alimento povero, un mata fome (ammazza-fame), è presente in mol-
te preparazioni della cucina tradizionale, ma il suo valore non è mai
stato ufficialmente riconosciuto a livello nazionale. Normalmente è
bollito per l’utilizzo in numerose preparazioni o cotto direttamente
sulla stufa nelle abitazioni dei raccoglitori. Le due ricette tradizio-
nali a base di pinoli sono la paçoca de pinhão (pinoli bolliti e affet-
tati mescolati con carne essiccata) e l’entrevero (diversi tipi di carne
bollita con verdure e pinoli). I popoli indigeni lo consumavano tra-
dizionalmente nella sapecada: i pinoli venivano coperti con le foglie
dell’araucaria e il tutto era dato alle fiamme, quindi il pinolo così
abbrustolito veniva pelato e consumato nella foresta stessa. Anco-

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ra oggi i raccoglitori sono soliti consumare il pinolo cotto in questa


maniera nelle giornate passate al lavoro nella foresta.
Il Presidio: Buona parte dei raccoglitori di pinolo di arauca-
ria della Regione Serrana sono consociati nella Cooperativa Ecoser-
ra, realtà che lavora per preservare le foreste di araucaria e aiutare
i produttori a ottenere un guadagno più adeguato. La Fondazione
Slow Food intende collaborare con Ecoserra per la difesa dell’eco-
sistema tradizionale attraverso campagne di sensibilizzazione
dell’opinione pubblica, in modo da rivalutare il consumo del pinolo
di araucaria e sottolineare l’importanza di questa pianta. Allo stesso
tempo sarà sviluppato un progetto pilota legato alla trasformazio-
ne del pinolo con il Grupo Ecológico Renascer de Urubici (Asso-
ciazione di raccoglitrici e trasformatrici nata nel 1996 e associata a
Ecoserra).La Fondazione Slow Food affiancherà le produttrici nella
creazione di un laboratorio e nella realizzazione di trasformati tra-
dizionali a base di pinolo di araucaria da promuovere sul mercato
locale e nazionale. Un piccolo progetto che potrebbe essere replica-
bile in altri centri della Serra Catarinense.
Area di produzione: Municipi di Urubici e Lages, Santa Ca-
tarina

UMBÚ
Perché un presidio? L’umbù (conosciuto anche con il nome
di imbù) è un frutto nativo del Nord-est che cresce nella Caatinga,
la macchia tipica della regione semiarida brasiliana (il Sertão). Il
nome deriva dalla parola degli indios tupi-guarani y-mb-u, che si-
gnifica “albero che dà da bere”. Il ciclo produttivo inizia a partire
dai dieci anni e continua fino all’età di duecento anni e oltre. Que-
sto albero spontaneo dalla chioma a ombrello, fruttifica una volta
l’anno, arrivando a produrre, nella fase adulta, 300 chilogrammi di
umbù. Grazie a un particolare apparato radicale, che forma grandi
tuberi capaci di immagazzinare – nella stagione delle piogge – an-
che due o tre mila litri d’acqua, riesce a resistere alle epoche più
siccitose. Una risorsa importante per una delle aree più povere e
aride del Brasile; dove l’agricoltura a base di mais, fagioli, manioca
e l’allevamento brado di pecore e capre sono soggetti a severe sicci-
tà cicliche. L’umbù si raccoglie a mano, delicatamente, e si ripone

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I progetti della fondazione slowfood per la biodiversita: un modello per
valorizzare cibi locali di qualita

in borse e secchi (in questi ultimi anni è stata fortunatamente ab-


bandonata la tecnica rovinosa di battere i rami con lunghi bastoni).
I frutti sono tondi: possono essere piccoli come una ciliegia o rag-
giungere il peso di un limone. La buccia è liscia, verde o gialla quan-
do I frutti sono ben maturi, la polpa è succosa, aromatica, agrodolce
e all’interno nasconde un grande nocciolo. L’umbù si consuma fre-
sco oppure trasformato in numerosi tipi di conserve. Tradizional-
mente si cuoce fino a che la polpa e la buccia si separano. Quindi si
cola il liquido, lo si mescola con zucchero di canna e si prosegue la
cottura per altre due ore fino a ottenere un’ottima gelatina (geléia).
La polpa, liberata dai noccioli e cotta a lungo con lo zucchero, di-
venta invece una crema densa a lievemente asprigna, una sorta di
cotognata (doce). Dall’umbù si ricavano inoltre il succo, il vinagre
(risultato della cottura della polpa dei frutti raccolti sovramaturi),
la marmelada (ottenuta sovrapponendo più strati di polpa essiccata
al sole) o ancora una semplice composta fatta mettendo nei baratto-
li frutti interi e zucchero (umbu em calda). La polpa fresca, oppure
il vinagre (se non è stagione di raccolta), mescolati con latte e zuc-
chero, sono ingredienti della tradizionale umbuzada, una bevanda
energetica che può sostituire il pasto serale.
Il Presidio: Per dimostrare l’importanza e le potenzialità di
questo frutto straordinario – cui fino a pochi anni fa nessuno dava va-
lore – è stato fondamentale il lavoro dell’IRPAA/PROCUC, con l’aiuto
della Commissione Europea, della KMB (diocesi di Lins) e del gover-
no austriaco, tramite l’Ong austriaca Horizon 3000. Questi soggetti
– impegnati in loco da molti anni per la valorizzazione dei prodotti
della Caatinga – hanno accompagnato nel 2003 la nascita della coo-
perativa COOPERCUC, che produce trasformati di umbù artigiana-
li senza aromi, né conservanti. Grazie alla Fondazione Slow Food e
all’ong Horizon 3000, nei primi mesi del 2006, sono nati dieci picco-
li laboratori, che consentono una prima lavorazione dei frutti, con-
segnati poi alla cooperativa. Il Presidio ha stilato un disciplinare di
produzione per garantire l’artigianalità e l’alta qualità dei trasformati
e si impegnerà per valorizzarli e promuoverli sul mercato locale, na-
zionale e internazionale.
Area di produzione: Municipi di Canudos, Curaça e Uauá,
Stato di Bahia, Nordeste

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Cristiana Peano

RISO ROSSO DELLA VALLE DEL PIANCÒ


Perché un presidio? Il riso rosso fu introdotto in Brasile dai
portoghesi nel XVI secolo, nell’attuale Stato di Bahia. Qui, però, la
coltivazione non riuscì a prosperare, affermandosi invece nel più
settentrionale Stato del Maranhão nei due secoli seguenti. Nel 1772
la corona portoghese, interessata per rifornire le aree metropolita-
ne unicamente al riso bianco, ben più produttivo, proibì la coltiva-
zione del riso rosso. Per questo motivo la produzione migrò nella
regione semi-arida del Paese, stabilendosi principalmente nel Paraí-
ba. In questo stato il riso rosso della varietà Oriza Sativa costituì da
quel periodo in poi l’ingrediente principale delle tradizioni alimentari
regionali, diffondendosi nei territori circostanti. Nel Paraíba questo
prodotto è conosciuto anche come arroz da terra (riso della terra) e
arroz de Venezia (riso di Venezia), poiché erroneamente si pensava
che fosse giunto per la prima volta in terra brasiliana su navi sbarcate
dal porto della Repubblica Marinara. L’area di maggiore produzione
è quella della valle del fiume Piancó, un bacino idrografico dal suolo
molto fertile dove l’isolamento geografico e la completa inesistenza di
tecnologie avanzate non hanno favorito l’introduzione degli altri risi.
Con un’area coltivata di circa 5.000 ettari, la Valle del Piancó costi-
tuisce tuttora il vero rifugio del riso rosso: qui infatti si coltiva circa
la metà di tutto il riso rosso prodotto in Brasile. E tuttavia, la super-
ficie dedicata a questo cereale si è ridotta a circa un terzo rispetto al
passato: anche se la domanda dei consumatori non sembra essere
calata, i produttori locali – a causa di periodi di siccità ed alla scarsa
produttività – vedono calare la propria produzione. Il riso rosso della
Valle del Piancó è prodotto in maniera tradizionale, secondo le rudi-
mentali tecniche originarie, senza l’ausilio di nessun trattamento chi-
mico. Su questo cereale si basa la sussistenza dei contadini di tutta
la regione. I risicoltori arano manualmente i loro campi, seminano
nel mese di gennaio, concimando con lo sterco dei propri buoi. Non
esiste sistema di irrigazione nella zona, i produttori si affidano uni-
camente alle rare piogge che bagnano il terreno da gennaio a marzo.
La raccolta avviene manualmente a giugno: ogni produttore conserva
parte del raccolto come semente per l’anno successivo, quindi il riso
viene pilato grazie ad alcune piccole macchine in dotazione nelle di-
verse comunità. Una parte è conservata per il consumo della famiglia
e il resto è venduto ai grossisti, che lo acquistano a un prezzo spesso
inferiore al costo di produzione.

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I progetti della fondazione slowfood per la biodiversita: un modello per
valorizzare cibi locali di qualita

Il Presidio: Da due secoli il riso rosso è la componente sul-


la quale poggia la dieta di gran parte delle popolazioni dell’area se-
mi-arida del nordest brasiliano ma, nonostante la domanda da parte
dei ristoranti attenti alle tradizioni alimentari localizzati nelle gran-
di aree urbane brasiliane sia crescente, la produzione sta calando. Il
Presidio è nato su segnalazione di Embrapa Meio-Norte, sede di Tere-
sina (Piauí) della Impresa Brasiliana di Ricerca Agro-zootecnica del
Ministero dell’Agricoltura brasiliano, e coinvolge i risicoltori associa-
ti all’Associazione dei Piccoli Produttori di Riso Rosso di Santana dos
Garrotes, centro tra i principali nella Valle del Piancó per la coltiva-
zione di riso rosso. Il fine dell’associazione è valorizzare il prodotto
e venderlo a condizioni migliori, sfuggendo alle intermediazioni dei
grossisti. Il Presidio lavora su tre fronti: in primo luogo opera per so-
stenere l’Associazione dei risicoltori, ampliando il bacino di aderenti
e rafforzando il suo rapporto con le autorità locali. Quindi offre assi-
stenza per la lavorazione del riso in fase di pilatura e conservazione,
grazie all’aiuto di tecnici italiani e locali e con l’acquisto di macchina-
ri adatti all’uso. Infine, perfeziona il packaging del prodotto e lo pro-
muove presso il mercato nazionale: sia presso la rete di chef di Terra
Madre, sia presso la distribuzione al dettaglio.
Area di produzione: Municipio di Santana dos Garrotes, Vale
do Piancó, Stato del Paraíba

WARANÀ NATIVO DEI SATERÉ MAWÉ


Perché un presidio? Il guaranà – waraná in lingua indigena, che
significa “l’inizio di ogni conoscenza” – è coltivato da secoli nell’Amaz-
zonia brasiliana, nell’area tra il rio Tapajós e il rio Madeira, che corri-
sponde alle foreste ancestrali dove gli indios Mawé si spostavano dis-
seminando una specie vegetale con la quale vivevano in simbiosi, una
liana classificata poi nel secolo XVIII, dal botanico Christian Franz
Paullini, come Paullinia cupana, varietà Sorbilis. Parlare di coltivazio-
ne, nel caso dei Mawé, non è corretto: si tratta di semi-domesticazione.
Nella foresta, i Mawé onorano le Madri del Waranà, liane selvatiche
alte fino a 12 metri, raccogliendo le piantine nate dai semi caduti ai
loro piedi, trapiantandole in radure nella foresta, crescendole a cespu-
glio e rendendole produttive.Il waranà ha fiori bianchi a pannocchie
e frutti rossi riuniti in grappoli. La fioritura avviene nella stagione più
secca, poi il frutto si apre e mostra parte del seme e della polpa bianca,

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Cristiana Peano

richiamando l’immagine di un occhio umano. Il mito infatti insegna


che i Mawé discendono da un bambino ucciso e risorto, il cui occhio,
sepolto come un seme, rinacque nella prima pianta di waranà. I frutti,
se destinati alla produzione dei bastoni tradizionali, vanno raccolti un
po’ prima della maturazione, quindi sono spolpati e lavati in appositi
recipienti. I semi, cotti lentamente in forni di terracotta, sono poi se-
parati dalla pellicola esterna, pilati in mortaio, modellati in bastoni di
varie dimensioni (da 150 g ad oltre 2 kg), detti pani di waranà, e posti
su stuoie appese, dove ricevono il fumo di legni aromatici (prevalen-
temente il muruci). I pani, al momento del consumo, sono grattugiati
con una pietra di basalto.Il seme, secco e privato della pellicola ester-
na, contiene mediamente un 3-4% di guaranina ed è ricco di fosfo-
ro, potassio, vitamine e tannino. Grazie all’azione combinata di queste
componenti, combatte la fatica e stimola le funzioni cognitive e la me-
moria. La polvere dei semi macinati nell’uso rituale indigeno è sciolta
in acqua ma può anche essere diluita in succhi di frutta fresca e secca.
Con l’estratto si ottengono sciroppi e bevande. Il waranà è la base della
cultura religiosa dei Mawé, con una funzione analoga a quella del vino
nella società e nella liturgia cristiana.
Il Presidio: I produttori del Presidio sono organizzati in consor-
zio sotto l’egida del Conselho Geral da Tribo Sateré Mawé (CGTSM),
organo rappresentativo degli indios Sateré-Mawé (etnia di dieci mila
persone circa, distribuite in un’ottantina di villaggi). L’obiettivo del Pre-
sidio è la tutela del waranà dei Sateré-Mawé autentico, prodotto nel-
la sua terra d’elezione, dagli antichi scopritori delle virtù del waranà,
nonché inventori delle tecniche più appropriate per la coltivazione e la
trasformazione. Il chè equivale a garantire non solo la sopravvivenza di
una specie che rischia un radicale impoverimento genetico, ma anche
la cultura del popolo dei “figli del waranà”, entrambe minacciate dalla
pressione delle multinazionali. È stato realizzato in forma partecipati-
va un disciplinare di produzione in portoghese e in Sateré che è stato
distribuito a tutti i produttori ed è stato oggetto di studio nelle scuole
dei villaggi. Attualmente, si lavora per ottenere un riconoscimento di
origine a livello internazionale.
Area di produzione: Terra indigena Andirá Marau, Amazonas-
Pará, Nord.

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Agroecologia e articolazione in rete:
Il lavoro della ong cisv in brasile
José Marques de Sousa Neto
CISV | cisvbrasile@yahoo.com.br

Federico Perotti
CISV | progetti@cisvto.org

Riassunto
Con l’obiettivo di tracciare un quadro generale delle attività relative
all’agricoltura agroecologica e all’articolazione in rete condotte dalla ONG
italiana CISV (Comunità Impegno Servizio Volontariato) e dai suoi partner
in Brasile, questo testo presenta i processi e progetti sviluppati nel corso dei
14 anni di presenza nel paese, in particolare nella regione metropolitana di
Rio de Janeiro (Baixada Fluminense), rivolti all’agricoltura familiare con-
tadina, all’agroecologia ed alla messa in rete di gruppi di base. Evidenzia
inoltre i fondamenti concettuali che sono alla base delle metodologie pro-
poste, ed illustra le prospettive di continuità delle azioni intraprese.

Premessa
La CISV (www.cisvto.org) è un’organizzazione non governativa italia-
na di cooperazione internazionale a base associativa e comunitaria. Nata ne-
gli anni ’70, oggi lavora in Italia ed in 11 paesi di Africa ed America Latina.
La mission dell’organizzazione si basa sull’idea di sostenere proces-
si di medio-lungo periodo in appoggio ad espressioni della società civile
popolari / contadine. I progetti di cooperazione sono dunque funzionali a
rinforzare processi di partecipazione popolare e auto-promozione del mi-
glioramento delle condizioni di vita in un’ottica di sviluppo umano inte-
grale. Il lavoro nei paesi terzi non è fine a se stesso, ma attraverso scambi
ed esperienze retroalimenta la presenza della Ong sul territorio italiano,

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Agroecologia e articolazione in rete: Il lavoro della ong cisv in brasile

dedicata alla sensibilizzazione ed informazione sulle tematiche di mondia-


lità, interculturalità ed interdipendenza nelle relazioni tra i continenti, le
nazioni ed i popoli del mondo.

L’ong cisv in brasile


La CISV è presente in Brasile da circa 14 anni, ed opera a fianco
di gruppi popolari e ed Ong brasiliane, a partire da uno sforzo di dialogo
interculturale orizzontale tra Nord e Sud del Mondo, e di partecipazione
diretta ai processi che cercano di superare le situazioni di oppressione ed
emarginazione degli ‘ultimi sociali’. Con questo approccio, accompagna
processi e realizza progetti legati a due temi principali: 1) i giovani: educa-
zione e lavoro, e, 2) promozione di stili di vita più sostenibili: mobilitazio-
ne popolare, agroecologia e messa in rete di gruppi di base.

3
Zone di
2 intervento

Figura mapa zone di intervento.


Fonte: internet

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José Marques de Sousa Neto | Federico Perotti

I luoghi di presenza dell’organizzazione sono tre regioni brasiliane:


il Sud-Est, il Centro-Ovest e il Nord-Est. I territori specifici sono: la Baixa-
da Fluminense nella regione metropolitana di Rio de Janeiro, (comuni di
Magè, Duque de Caxias e Nova Iguaçu, oltre alla città di Rio); il Pantanal
del Mato Grosso do Sul (comune di Corumbá); e la regione dei Sertões di
Crateús nel semiarido dello stato del Cearà, (in specifico 5 comuni: Catun-
da, Crateús, Indipendência, Ipaporanga e Tamboril).
Nonostante l’importanza storica del lavoro svolto dalla CISV sul
tema della gioventù, il presente documento tratta solo quanto realizzato ed
in previsione sul tema della promozione di stili di vita più sostenibili. Per
quanto riguarda questo argomento, i processi ed i progetti realizzati sono
legati ai temi dell’agricoltura familiare contadina agroecologica, alla mobi-
litazione ed al coordinamento popolare in rete.
Di seguito vengono presentati: le basi concettuali delle proposte me-
todologiche sperimentate; la strategia, i percorsi e i progetti in corso, e le
prospettive che caratterizzano la presenza dell’organizzazione in Brasile.

Basi concettuali
Innanzitutto, per quanto concerne il lavoro svolto da CISV in Bra-
sile, il dibattito intorno al concetto di agroecologia abbraccia aspetti im-
portanti che vanno oltre i limiti della semplice produzione di alimenti più
sani. Tratta quindi, oltre a questo, delle riflessioni sulla questione della ter-
ra e della struttura agraria in Brasile, del modello di sviluppo egemonico,
e dei processi di costruzione di una coscienza popolare sempre più critica,
di fronte alla realtà che la riguarda.
Così, oltre all’ambito di produzione e commercializzazione di pro-
dotti, si intende l’agroecologia come strumento ed occasione per la mobi-
lizzazione, l’organizzazione politica e la messa in rete di gruppi popolari
di agricoltori familiari campesini, pescatori artigianali e comunità tradi-
zionali. Esiste quindi una differenziazione rispetto all’agricoltura organi-
ca (biologica), più legata alla imprenditorialità di chi detiene i capitali e
disciplinata dal concetto di marketing, mentre l’agroecologia è più legata
agli agro-eco-sistemi gestiti da collettivi umano-sociali popolari, ed alle
sue implicazioni sociali, culturali, politiche ed economiche nel macro-
sistema.
Quattro idee chiave sono sempre citate nella costruzione delle stra-
tegie operative del lavoro svolto da CISV in Brasile, e cioè: 1) progetti,
programmi e processi, 2) sviluppo comunitario sostenibile, 3) educazione
comunicativa e, 4) partecipazione popolare ed il suo apprendimento attra-
verso il dialogo orizzontale. Per scoprire e chiarire questi concetti si pre-
senta la seguente interpretazione, sulla base del pensiero di Paulo Freire
e Juan Enrico Diaz Bordenave, teorici legati alla Scuola Latinoamericana

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Agroecologia e articolazione in rete: Il lavoro della ong cisv in brasile

di Comunicazione, e di Javier Schunk, esperto e formatore sui progetti di


sviluppo nell’ambito della cooperazione internazionale.

Progetti, programmi e processi


Per progetto, si assume la definizione indicata da Schunk (2008, p. 8,
sottolineatura dell’autore):

Apporto coordinato da parte di un gruppo di attori, durante un intervallo di


tempo, durante il quale viene utilizzata una quantità definita di risorse che,
convertite in attività attraverso un metodo, servono a raggiungere determinati
obiettivi allo scopo di migliorare le condizioni di un sistema determinato.

Per gruppo di attori si intende chi realizza; per tempo si intende


quando si realizza; per risorse si intende con cosa si realizza; per attività si
intende cosa si realizza; per metodo si intende come si realizza; e per obiet-
tivo si intende perché si realizza.
Ancora in Schunk (2008, p. 8, sottolineatura dell’autore), si trova la
definizione di programma:

Insieme di progetti operanti con la stessa finalità o obiettivo generale in una


stessa zona d’intervento. I programmi possono essere: settoriali o plurisetto-
riali secondo il settore dello sviluppo interessato e contemporaneo o diluito
se i progetti in esso contenuti vengono fatti in contemporanea o appunto
diluiti nel tempo.

Per processo Schunk (2008, p. 8) definisce:

Si tratta di un percorso di sviluppo a lungo termine, generalmente non li-


neare, che prevede una serie di passaggi successivi da una condizione di
sviluppo a una migliore, definita e controllata dagli stessi beneficiari del
cambiamento.

Nell’ambito di queste tre definizioni, i progetti sono visti come ‘cata-


lizzatori’ di processi all’interno di programmi di sviluppo a lungo termine.

Sviluppo comunitario sostenibile


Si intende per sviluppo comunitario sostenibile ciò che Toledo
(1996) definisce, a partire da un concetto etno-ecologico.

Se puede definir un desarrollo comunitario sustentable como aquel proceso


de carácter endógeno por medio del cual una comunidad toma (o recupera)
el control de los procesos que la determinan y la afectan.

Questa definizione deriva da un principio generale che stabilisce che


la perdita del controllo della società umana sulla natura e su se stessa è

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José Marques de Sousa Neto | Federico Perotti

la ragione fondamentale per cui la società contemporanea e la natura su-


biscono il processo generalizzato di sfruttamento, decadenza e deteriora-
mento. In questa prospettiva, la storia umana è stata un movimento verso
la perdita, in misura crescente, del controllo sui processi che interessano
l’uomo e l’ambiente circostante. Così, l’autodeterminazione o l’autogestio-
ne, concepita come una ‘presa di controllo’ è l’obiettivo centrale di tutto lo
sviluppo comunitario.
Successivamente, Toledo (1996, traduzione nostra) definisce i sei pi-
lastri delle azioni necessarie che ogni comunità deve fare nel promuovere
il suo sviluppo sostenibile:
1) “Presa di controllo del territorio, che presuppone la creazione dei
suoi limiti e, il riconoscimento del territorio da parte dello Stato e
delle comunità o dei proprietari vicini.”
2) “L’uso appropriato o non distruttivo delle risorse naturali (flora, fau-
na, suolo, risorse idriche ecc) che formano il suo territorio, attra-
verso la progettazione e l’attuazione di un piano di gestione delle
risorse naturali, in grado di legislare e regolamentare le attività di
agricoltura, allevamento, silvicoltura e pesca”.
3) “Il controllo culturale secondo decisioni che proteggano i propri va-
lori culturali (lingua, abbigliamento, costumi, conoscenze, creden-
ze, abitudini, ecc), con la creazione di meccanismi che garantisca-
no la memoria culturale e la consapevolezza da parte degli abitanti
dell’esistenza della propria cultura (l’orgoglio etnico).”
4) “Il controllo sociale, con l’aumento della qualità della vita dei mem-
bri della comunità, compresi gli aspetti come alimentazione, salute,
alloggio, istruzione, sanità, informazione, ecc.”
5) “La regolamentazione degli scambi economici, che la comunità e i
suoi membri realizzano con il resto della società e con i mercati lo-
cali, regionali, nazionali ed internazionali, in modo da affrontare in
modo comunitario i fenomeni economici esterni che influenzano la
vita produttiva della comunità.”
6) “La presa di controllo politico, cioè la capacità della comunità di
creare una propria organizzazione sociale e produttiva, nonché
di ratificare e diffondere norme, regole e principi che reggono la
vita politica della comunità; questa dimensione dovrebbe assicu-
rare la partecipazione dei membri alla democrazia della comuni-
tà, all’autonomia politica e all’applicazione di un diritto consue-
tudinario “.

Il recupero del controllo deve essere integrale e completo con l’inclu-


sione di queste sei dimensioni, e articolandole a sistema. Questi processi
sono raggiungibili solo nella misura in cui i membri della comunità richie-

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Agroecologia e articolazione in rete: Il lavoro della ong cisv in brasile

dano, espandano e consolidino una coscienza comunitaria, partendo dalla


situazione iniziale di ciascuna comunità.

Educazione comunicativa
Anche se i progetti consistono nella realizzazione di azioni concrete
legate alla produzione, la commercializzazione, le infrastrutture e la micro-
finanza, nel contesto del lavoro in Brasile questi elementi si trasformano in
elementi di mediazione di un processo educativo che diventa comunicativo,
dinamico e orizzontale, con i beneficiari e gli agenti esterni come attori pro-
tagonisti nella costruzione collettiva dei saperi socialmente significativi.
Per educazione comunicativa si intende l’educazione che, lungi
dall’essere frontale a dal prevedere enunciati, comunica e si comunica.

Conoscere, nella dimensione umana, [...], qualsiasi sia il livello in cui si svol-
ge, non è l’atto con cui un soggetto, trasformato in oggetto, riceve, docile e
passivo, i contenuti che l’altro gli impone.
La conoscenza, al contrario, richiede una presenza curiosa del soggetto di
fronte al mondo. Richiede la sua azione di trasformazione della realtà. Do-
manda una ricerca costante. Implica invenzione e re-invenzione. Chiede una
riflessione critica su ogni atto di conoscenza, attraverso cui si riconosce co-
noscendo, e riconoscendosi in tal modo, percepisce il “come” del suo cono-
scere e i vincoli cui è sottoposto il suo agire.
Il conoscere è compito dei soggetti, non di oggetti. Ed è solo come soggetto
e in quanto soggetto, che l’uomo può veramente conoscere. (Freire, 2001,
pag.27, traduzione nostra)
[...] Solo nella comunicazione ha senso la vita umana. [...] Il pensare del
maestro ottiene autenticità solo nell’autenticità del pensiero degli studenti’,
mediati entrambi dalla realtà, quindi nell’intercomunicazione. Quindi, il suo
pensiero non può essere un pensiero per loro né a loro imposto. Quindi non
dovrebbe essere un pensare in isolamento, in una torre d’avorio, ma un pen-
sare dentro e attraverso la comunicazione, in giro, [...], di una realtà. (Freire,
1987, p. 64, traduzione nostra).
L’educazione è comunicazione, è dialogo, nella misura in cui non è di cono-
scenze, ma un incontro di soggetti interlocutori che cercano la significanza
del significato. (Freire, 2001, p. 67, traduzione nostra).

Partecipazione popolare e apprendistato per una partecipazione


dialogica

Considerando la problematica dell’utilizzo del termine partecipa-


zione, la CISV in Brasile si avvicina al pensiero di Diaz Bordenave (2002,
p. 22) che chiarisce che il partecipare implica un esercizio continuo di far
parte, prendere parte e avere parte nei processi di produzione, gestione e
consumo di beni materiali e immateriali dell’umanità. Sottolinea, inoltre,

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José Marques de Sousa Neto | Federico Perotti

che ci sono diversi tipi, livelli e gradi di partecipazione che individui di-
versi possono esercitare in modo diverso nelle varie fasi del processo.
Per Freire (2008) la vocazione ontologica dell’uomo è di Essere Più,
essere soggetto sempre più libero, sempre più critico e sempre più creatore
e ri-creatore della propria realtà, in comunione con gli altri. In questo sen-
so, si colloca accanto a questo principio la convinzione che ‘partecipare’ è
un bisogno umano fondamentale come conclude Diaz Bordenave (2002, p.
76 e p. 77, sottolineatura dell’autore, traduzione nostra):

L’essere umano ha certe esigenze ovvie, come il cibo, il sonno e la salute. Ma


ha anche bisogno di cose non ovvie, come il pensiero riflessivo, la stima di
sé, l’auto-espressione e la partecipazione, che comprende quanto sopra. Pri-
vare gli uomini della possibilità di soddisfare queste esigenze equivale a pa-
ralizzare lo sviluppo armonioso della sua personalità integrale.
Essendo la necessità un diritto, la partecipazione non è solo un’opzione me-
todologica per raggiungere in modo efficiente determinati obiettivi, ma deve
essere promossa anche quando ne consegue il fallimento di obiettivi fissati
dal promotore o una perdita di efficienza operativa.

In questo senso, i progetti realizzati si configurano come un proces-


so unico di apprendistato per la partecipazione popolare.

In gruppi sociali non abituati alla partecipazione, può essere necessario in-
durli in questa direzione. Naturalmente, così facendo, ci possono essere di
tanto in tanto intenzioni di manipolazione, ma ci può anche essere un desi-
derio sincero di contribuire all’avvio di un processo che continuerà in modo
sempre più autonomo. (Bordenave DIAZ, 2002, p. 78, traduzione nostra).

Oltre alla prospettiva educativa fondata sulla pedagogia di liberazione,


i progetti riguardano anche un processo di induzione alla partecipazione, il
cui intento ha il carattere di innescare processi che andranno avanti condotti
dallo stesso ‘popolo’ assumendo caratteristiche sempre più autonome.

Come tutti i processi sociali e umani, la partecipazione è suscettibile di


crescita di tipo biologico. Può essere appresa e perfezionata attraverso la
pratica e la riflessione. La qualità della partecipazione aumenta quando le
persone imparano a conoscere la loro realtà, a riflettere, a superare contrad-
dizioni reali o apparenti, a individuare premesse sottointese, ad anticipare
le conseguenze e a capire nuovi significati di parole; a distinguere gli effetti
dalle cause, le osservazioni dalle interferenze e i fatti dai giudizi. La qualità
della partecipazione aumenta anche quando le persone imparano a gestire
i conflitti, chiarire i sentimenti e i comportamenti, tollerare le differenze,
rispettare le opinioni, posticipare le gratificazioni. La qualità è maggiore
quando le persone imparano a organizzare e coordinare incontri, assemblee
e riunioni, a formare commissioni di lavoro, ricercare problemi, elaborare
relazioni, usare media e tecniche di comunicazione.

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Agroecologia e articolazione in rete: Il lavoro della ong cisv in brasile

Evidentemente, il tipo di educazione che può favorire questo tipo di ap-


prendimento non può essere l’educazione tradizionale, sia che consista nella
pura e semplice trasmissione di contenuti, sia nel plasmare il comportamen-
to umano verso predeterminati obiettivi. La partecipazione non è un conte-
nuto che può essere trasmesso, ma una mentalità e comportamento coerenti
con essa. Non è un’abilità che si può acquisire solo attraverso l’allenamento.
La partecipazione è un’esperienza collettiva e non individuale, in modo che
si può solo imparare con la prassi di gruppo. Sembra che si apprende a par-
tecipare solamente partecipando. (Diaz Bordenave, 2002, p. 72 e p. 74, sotto-
lineatura dell’autore, traduzione nostra).

Strategia, percorsi e progetti


Strategia
La strategia generale di intervento si fonda nella compartecipa-
zione di CISV in processi portati avanti dagli stessi gruppi popolari. La
CISV non inizia processi a partire da se stessa, ma si colloca accanto
ad organizzazioni popolari (associazioni, cooperative, sindacati, asso-
ciazioni di pescatori), seguendo un approccio di sviluppo istituzionale
e di rafforzamento organizzativo e operando su due dimensioni: la vita
quotidiana delle organizzazioni popolari partner e l’inserimento/appog-
gio a queste organizzazioni in reti di coordinamento con altre organiz-
zazioni di base.
In generale, la CISV in Brasile instaura rapporti e collaborazio-
ni con le organizzazioni popolari significative e legittime che affronta-
no problemi istituzionali, organizzativi e strutturali, ma che manifesta-
no volontà e sforzi in vista della costruzione di un mondo migliore. In
questo lavoro, combina elementi progettuali concreti che comprendono
programmi di corsi di formazione (tecnica, organizzativa e politica),
appoggio tecnico (con professionisti che prendono come riferimento la
educazione di base comunicativa), azioni di micro-finanziamento (or-
ganizzazione di gruppi attraverso fondi di rotazione) e infrastrutture
(realizzazione e funzionamento di piccole industrie agro-alimentari).
Il coinvolgimento avviene a livello del processo, ed i progetti co-
stituiscono le basi materiali necessarie per rafforzare l’azione popolare
in questione. In questo senso, i progetti concreti e le loro componenti
sono mediazione di un processo educativo comunicativo stabilito con
le organizzazioni popolari. Pertanto, la gestione dei progetti avviene nel
contesto del partenariato diretto della CISV con l’organizzazione popo-
lare, che è denotata come “partner obiettivo”, cioè nello stesso tempo
partner locale protagonista e beneficiaria del progetto (CISV, 2008). In
alcuni casi, di solito in fase iniziale e in nuovi territori, il processo ini-
zia con un progetto in partnership con una Ong locale che abbia qual-

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José Marques de Sousa Neto | Federico Perotti

che coinvolgimento con l’organizzazione popolare in questione. Poi in


una seconda fase, l’asse centrale della partnership è spostato verso il
coinvolgimento orizzontale e diretto dell’organizzazione popolare coin-
volta.
Le azioni intraprese su aspetti della vita quotidiana delle organiz-
zazioni popolari – oltre ad avere un significato in sé – sono preliminari
e integrate nella prospettiva di coinvolgimento in reti di coordinamento
di gruppi di base locali, regionali, statali e nazionali. In questa dimen-
sione di coordinamento in rete, la CISV si posiziona a lato di altre Ong
locali, con la finalità di compartecipare ai processi di sostegno e di ra-
zionalizzazione delle reti stesse.
Così, il lavoro svolto nell’ambito dell’agroecologia e del coordina-
mento in rete si svolge in modo circolare a spirale ascendente e discen-
dente, dalla vita quotidiana delle organizzazioni di base coinvolte fino
ad un contesto di forum e spazi di discussione che articolano in rete una
serie di esperienze popolari affini, che a loro volta rialimentano e fanno
crescere le singole realtà.
In sintesi, i processi appoggiati attraverso i progetti della CISV
in Brasile con i suoi partners costituiscono azioni che mirano a realiz-
zare esperienze di sviluppo comunitario solidale e sostenibile, mediati
attraverso un processo educativo comunicativo che contempli la parte-
cipazione popolare e l’apprendimento della partecipazione dialogica da
parte dei beneficiari e degli agenti esterni.

Percorsi e progetti
Nel campo dell’agroecologia e del coordinamento in rete, il pro-
cesso in cui la CISV ha il grado maggiore di maturazione si sviluppa
nella Baixada Fluminense, Regione Metropolitana di Rio de Janeiro. Le
azioni realizzate in questo contesto sono costituite dalla compartecipa-
zione della realtà quotidiana di un’organizzazione popolare e dall’ap-
poggio alla sua messa in rete a livello statale di organizzazioni popolari
e non popolari affini.
Nell’ambito della vita quotidiana di un’organizzazione popolare,
la CISV porta avanti, da circa 6 anni, un percorso insieme ad un nume-
ro significativo di famiglie di agricoltori nel Distretto Agricolo Rio do
Ouro nel comune di Magé, attualmente organizzati nella Coopagé (Co-
operativa de Pequenos Produtores dos Agricultores Familiares do Mu-
nicípio de Magé/RJ). Questo processo è stato sostenuto da due progetti
successivi: il progetto “Dasara” (Progetto di sviluppo Agricolo Sosteni-
bile nelle Aree Rur-urbane della Baixada Fluminense – Magé/RJ – Brasi-
le -Progetto MAE 7737/CISV/BRA), finanziato dal Ministero degli Affari
Esteri italiano (MAE), realizzato dal 2004 al 2007 in collaborazione con
l’Ong locale SEOP (Serviço de Educação e Organização Popular) e la

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Agroecologia e articolazione in rete: Il lavoro della ong cisv in brasile

UFRuralRJ (Università Federale Rurale di Rio de Janeiro); ed in seguito


il progetto “Circoli agroculturali” (Progetto Circoli Agroculturali: una
piattaforma di comunicazione e educazione popolare per i lavoratori
rurale del Distretto Agricolo Rio do Ouro di Magé – Baixada Fluminen-
se – Rio de Janeiro – Brasile – Progetto CEI 898/2007/CISV/COOPAGÉ),
finanziato dalla Conferenza Episcopale Italiana (CEI), realizzato nel pe-
riodo da gennaio 2008 a dicembre 2010 in collaborazione con l’organiz-
zazione popolare Coopagé.

Cooperativa dei piccoli agricoltori di Magé (COOPAGÉ); Comune di Magé, Regione


Metropolitana di Rio de Janeiro, Baixada Fluminense, Stato di Rio de Janeiro, Sud Est, Brasile.
Fonte: archivi CISV in Brasile.

La metodologia sperimentata e sistematizzata nel corso del progetto


Dasara, chiamata Circoli Agroculturali, è descritta e analizzata in dettaglio
in SOUSA NETO (2010, http://www.ia.ufrrj.br/ppgea/dissertacao/Jose%20
Marques%20de%20Sousa%20Neto.pdf), ed è oggi il punto di riferimento
per tutte le azioni della CISV in Brasile nel settore dell’agroecologia e del
coordinamento popolare in rete.
Il percorso metodologico dei circoli agro-culturali, svolto con stru-
menti tecnici progressivi e conseguenti come corsi di formazione, gruppi
di produzione e incontri intercomunitari, ha portato alla ricostituzione en-
dogena di una organizzazione formale di agricoltori (la Coopagé), attivan-

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José Marques de Sousa Neto | Federico Perotti

do e rinforzando un processo circolare in cui la progressiva conoscenza, la


riflessione e la discussione hanno portato alla decisione ed all’azione col-
lettiva nelle diverse fasi.
In questo processo, i circoli agro-culturali comprendono due dimen-
sioni fondamentali che si completano. Da un lato, essi consistono in una
modalità di organizzare le attività previste da un progetto a partire dalla
prospettiva del coinvolgimento diretto dei beneficiari nella presa di deci-
sione, con lo scopo di promuovere processi di empowerment e di emanci-
pazione popolare. D’altro lato, essi si costituiscono anche in un processo di
apprendimento alla partecipazione dialogica orizzontale, a partire da un
sistema strutturato limitato nel tempo (come il progetto), in modo che la
sua realizzazione pratica da parte delle persone possa produrre ed irradia-
re effetti costruttivi nell’ambito della vita ed azione quotidiana delle orga-
nizzazioni popolari dei beneficiari (associazioni e cooperative).
Nel percorso insieme a Coopagé, le azioni realizzate dai progetti
sono: un programma di corsi di formazione (tecnica, organizzativa e poli-
tica), la costruzione e installazione di una piccola fabbrica di dolci artigia-
nali e una piccola sala lavorazione per prodotti dell’apicoltura; il sostegno
alla gestione popolare di un fondo di rotazione; la consulenza amministra-
tiva e copertura delle spese di funzionamento della cooperativa; il soste-
gno ad un processo di acquisti collettivi; il sostegno alla transizione verso
l’agroecologia degli agricoltori interessati e dei loro agro-eco-sistemi; il so-
stegno alla partecipazione attiva nella AARJ (Articulação de Agroecologia
do Rio de Janeiro); e la facilitazione dell’accesso a fiere e mercati diversi.
Nell’ambito del coordinamento in rete delle organizzazioni di base affi-
ni, da circa due anni, CISV sta costruendo un percorso in collaborazione con
la Ong locale AS-PTA (Consulenza e Servizi per Progetti di Agricoltura Alter-
nativa – Agricoltura Familiare e Agroecologia) a sostegno della partecipazione
ad esperienze popolari, sui territori dei comuni di Magé (esperienza della Co-
opagé, appoggiata dalla CISV), Nova Iguaçu (esperienze della Feira da Roça
e Escolinha de Agroecologia, appoggiata dalla CPT – Nova Iguaçu e Emater/
Rio; e esperienza della UNIVERDE) e Rio de Janeiro (esperienze di Agricultu-
ra Urbana e della Rede Fitovida, appoggiata dalla AS-PTA), all’interno del qua-
dro più ampio della AARJ. Questo processo utilizza gli strumenti concreti del
progetto “Una rete di agricoltori biologici per promuovere stili di vita soste-
nibili nella regione metropolitana di Rio de Janeiro”, finanziato dalla Tavola
Valdese in realizzazione nel periodo da febbraio/2010 a febbraio/2011.
Nel percorso con AS-PTA, le azioni concrete prevedono: il suppor-
to logistico alle organizzazioni di base per una partecipazione attiva nella
AARJ; l facilitazione di incontri e visite di scambio tra le esperienze popo-
lari; la consulenza alla costruzione di un piano di sviluppo delle esperienze
in questione, che comprenda ed articoli tra loro le tematiche specifiche di
ogni esperienza e le questioni comuni di tutte le esperienze.

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Agroecologia e articolazione in rete: Il lavoro della ong cisv in brasile

Articolazione de Agroecologia do Rio de Janeiro (AARJ); Assentamento São Bernardino;


Comune di Nova Iguaçu, Regione Metropolitana di Rio de Janeiro, Baixada Fluminense, Stato
di Rio de Janeiro, Sud Est, Brasile. Fonte: archivi CISV in Brasile.

Prospettive
A partire dall’esperienza accumulata nei processi condotti a Rio de
Janeiro, la CISV è impegnata oggi in altre due sfide: il consolidamento del
lavoro con gli agricoltori degli assentamentos di riforma agraria a Corum-
bá / Mato Grosso do Sul, e l’apertura di un nuovo processo con pescatori
artigianali dei bacini idrici nella regione dei Sertões di Crateús / Ceará.

1) A Corumbá/MS, nell’ambito del partenariato con la parrocchia


San Giovanni Bosco, la CISV sostiene da circa 6 anni un’associazione di
esperti in agricoltura, figli delle famiglie insediate nella regione e diplo-
mati alla Scuola Famiglia Agricola di Campo Grande/MS. Questi giovani
professionisti, organizzati nella ATAAC (Associação dos Técnicos em Agro-
pecuária dos Assentamentos de Corumbá/MS), sono responsabili della ge-
stione di un fondo di rotazione e della fornitura di supporto tecnico per le
famiglie coinvolte: idea che si avvicina al punto di vista dell’agricoltura fa-
miliare su basi agroecologiche.
D’altro canto, l’ATAAC sta espandendo sempre più la propria per-
cezione del territorio in cui agisce, dagli insediamenti della riforma agra-
ria del municipio alle altre realtà significative. Se fino a poco tempo fa il

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José Marques de Sousa Neto | Federico Perotti

gruppo d’interesse delle azioni era solo quello degli agricoltori della rifor-
ma agraria, appaiono ora all’attenzione altre due realtà specifiche: le fami-
glie degli agricoltori che vivono nelle Colonie del Pantanal profondo (spazi
“distanti” dal modo di vivere “dominante”, occupato da collettivi umano-
sociali con un’altra forma di vedere il Mondo e di concepire la Vita.), e le
famiglie nei quartieri periferici della città di Corumbá.
Così, i collettivi umano-sociali coinvolti nel lavoro CISV nel territo-
rio di Corumbá sono: I – Il Popolo della Terra, composto da gruppi di agri-
coltori e di alcuni insediamenti della riforma agraria nel municipio; II – Il
Popolo del Pantanal, costituito dalle famiglie di agricoltori delle Colonie si-
tuate nel Pantanal profondo e, III – Il Popolo della città, composto da fami-
glie della periferia povera della città di Corumbá con figli assistiti dal CAIJ
(Centro di Atenzione Infanto Giovanile). Per ognuna di queste popolazioni
saranno stabilite le dimensioni e le caratteristiche che ATAAC, CISV e le
organizzazioni partner sono in grado di sostenere nel tempo.
Con tutti i popoli coinvolti, l’attività chiave è il micro-credito portato
avanti su basi popolari, dove i benficiari hanno un ruolo attivo e decisio-
nale. Col popolo della città verranno realizzate anche azioni di agricoltura
urbana e di produzione di erbe medicinali. Nel futuro ci si immagina di
mettere in articolazione comunicativa i tre popoli con la finalità di uno
scambio tra le esperienze svolte.

Comunità tradizionale del Pantanal do Paiaguás, Comunità Cedrinho; Comune di Corumbá,


Stato di Mato Grosso do Sul, Centro Ovest, Brasile. Fonte: archivi CISV in Brasile.

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Agroecologia e articolazione in rete: Il lavoro della ong cisv in brasile

2) Nella regione dei Sertões di Crateús/CE, le azioni CISV coin-


volgeranno i comuni di Catunda, Crateús, Independência, Ipaporanga e
Tamboril, nell’ambito della partnership con la Colonia di Pescatori e Aqua-
coltori Z-39 di Crateús, e con la Caritas Diocesana di Crateús: sarà presen-
tato un progetto alla CEI (Conferenza Episcopale Italiana) per lo sviluppo
istituzionale e il rafforzamento organizzativo della Colonia Z39. Questo
progetto, che è l’inizio del processo di partenariato, prevede azioni connes-
se direttamente all’istituzione Colonia Z39, ai pescatori, all’attività di pesca
su basi ecologiche e alla messa in rete con altri gruppi popolari organizzati
e rappresentativi della regione, che coinvolgono agricoltori, artigiani, qui-
lombolas e indigeni.

Colonia di Pescatori Artigianali Z39; Açude Carnaubal; Comune di Crateús, Stato di Ceará,
Nord Est, Brasile. Fonte: archivi CISV in Brasile.

Il principio metodologico è l’approccio partecipativo dialogico come


catalizzatore di processi di coscienza e di mobilitazione popolare in conte-
sti socio-ambientali caratterizzati dal controllo di pochi gruppi dominanti.
A partire dai presupposti di un’educazione che suscita problematizzazione,
la pianificazione e l’esecuzione di tutte le attività si caratterizzano, di per sé,
come momenti di apprendimento per una partecipazione popolare dialogi-
ca. I beneficiari, al coinvolgersi attivamente nella realizzazione delle azioni
del loro progetto, avranno l’opportunità di “testare” la loro partecipazione

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José Marques de Sousa Neto | Federico Perotti

nell’ambito dei processi decisionali volti a risultati collettivi. Questo si dovrà


riflettere direttamente nel contesto politico-organizzativo interno alla colo-
nia, che è, al tempo stesso, partner e beneficiaria delle azioni previste. Inol-
tre, dall’istituzione di una politica esterna della colonia e dalla sua articola-
zione con gli altri gruppi popolari, questo esercizio influirà direttamente su
processi più ampi di decisioni politiche a livello locale e regionale. Ciò signi-
fica che mentre il progetto svolge le sue attività, educa anche il personale e
i beneficiari a costruire relazioni più umanizzate e umanizzanti in grado di
dare la priorità all’auto-gestione e all’auto-sviluppo comunitario sostenibile
dei più poveri, storicamente esclusi dai processi decisionali.
Sarà preso come elemento centrale la prospettiva dell’educazione
contestuale, che si avvale della lettura/interpretazione della realtà socio-
ambientale in oggetto, a partire dal dialogo tra il sapere popolare ed il
sapere scientifico, creando un nuovo sapere ibrido in cui tutti educano e
sono educati. Tenendo conto del contesto specifico di questo progetto, os-
sia il semiarido brasiliano dei Sertões di Crateús nello Stato del Ceará, gli
sforzi progettuali saranno diretti verso l’elaborazione e la sperimentazione
di soluzioni creative, in grado di affrontare la problematica sociale ed am-
bientale nella zona di intervento. Quindi l’educazione contestuale sarà vol-
ta alla convivenza ‘con’ il semiarido, per costruire una proposta che cerca
un equilibrio sostenibile tra l’esistenza umana e la capacità di apporto del
pianeta a seconda delle condizioni ambientali specifiche.
Così la partecipazione popolare dialogica, l’educazione contestuale e
la convivenza con il semi-arido sono le idee chiave che caratterizzeranno non
solo le attività di formazione, ma anche, in maniera continuativa, la natura
dell’organizzazione e la realizzazione ordinaria di tutte le azioni previste.
Sulla base di tale riferimento teorico/metodologico, la proposta articolerà,
lungo gli assi progettuali delle attività, le dimensioni strutturali, educative,
materiali e politiche, indispensabili per le azioni a favore dell’emancipazione
dei gruppi popolari in una prospettiva critica socio-ambientale.
Il progetto previsto è composto da tre assi principali di attività inter-
dipendenti e connessi tra loro, e cioè: I) programma di educazione popola-
re contestuale (dimensione educativa) e costruzione collettiva delle strut-
ture popolari (dimensione strutturale); II), programma di micro-finanza
(dimensione economica) e III) coordinamento in rete & macro-partecipa-
zione (dimensione politica).
Così in questi tre contesti (la Baixada Fluminense di Rio de Janeiro,
la zona di Corumbà ed il semi-arido del Cearà) la CISV intende sviluppare
la sua azione in Brasile, realizzando esperienze di promozione di modelli
di vita sostenibili, appoggiando e camminando insieme alle organizzazio-
ni popolari in un percorso di liberazione dai meccanismi di oppressione e
creazione di alternative di vita socialmente ed economicamente più giuste
ed ecologicamente più compatibili con le risorse del pianeta.

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Agroecologia e articolazione in rete: Il lavoro della ong cisv in brasile

Bibliografia

CISV. Documento di strategia sul partenariato ed il sostegno alle organiz-


zazioni di base e contadine – con riferimento agli aspetti comunitari
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Marzo 2008.
DIAZ BORDENAVE, Juan E. O que é participação. 8. ed. 3. reimpressão.
São Paulo: Brasiliense, 2002. (Coleção primeiros passos; 95).
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 31. ed. Rio de Janei-
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______. Extensão ou comunicação?. Tradução: Rosisca Darcy de Oliveira.
11. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2001.
______. Pedagogia do oprimido. 17. ed. 23. reimpressão. Rio de Janeiro: Paz
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SCHUNK, Javier. Il ciclo del progetto. Agosto 2008.
SOUSA NETO, José Marques de. Os Círculos Agroculturais: parâmetros e
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Disponível em: <http://www.ambiental.net/temasclave/TC04Toledo-
EtnoecologiaPrincipios.htm>. Acesso em 10.dez.2009.

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Gruppo di acquisto solidale: un’esperienza di
sviluppo locale

Patrizia Dal Santo


Associazione Ecoredia

Nevio Perna
Associazione Ecoredia | Circolo Legambiente Dora Baltea

Caratteristiche ed evoluzione del fenomeno in Italia


I Gruppi d’Acquisto, più o meno organizzati esistono da quando esi-
ste il consumo di massa così come noi lo conosciamo: si tratta di cittadi-
ni che, in qualità di consumatori, cercano di ottenere vantaggi e rispar-
mio pianificando collettivamente le loro spese. Così facendo questi gruppi
adottano un comportamento consapevole e attivo, che dimostra una con-
cezione del consumo come atto altamente significativo del nostro vivere
quotidiano, ma che tuttavia non mette in discussione il modello di svilup-
po che sul consumo si regge.
Al contrario, i Gruppi d’Acquisto Solidale (G.A.S.) si caratterizzano
proprio per questa fondamentale scelta di campo: il loro interesse princi-
pale è quello di contestare un modello di produzione, distribuzione e con-
sumo che produce nel mondo ingiustizie sociali e danni ambientali gra-
vissimi. La Solidarietà che essi assumono come elemento caratterizzante
a partire dal loro stesso nome, inizia ad esprimersi all’interno del gruppo,
tra i membri che lo costituiscono, si estende ai piccoli produttori che sono
gli interlocutori privilegiati delle loro scelte di acquisto, per allargarsi ai
popoli del Sud del mondo e a tutti coloro che, a causa dell’iniqua riparti-
zione della ricchezza, di tale modello di sviluppo subiscono solo gli oneri
pesantissimi.

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Gruppo di acquisto solidale: un’esperienza di sviluppo locale

In questo senso i G.A.S. sono l’espressione attualmente più avanzata


e condivisa, delle riflessioni e delle pratiche di Consumo Critico che si sono
sviluppate in Italia a partire dagli anni ottanta, stimolate da analoghe espe-
rienze del mondo anglosassone, ad opera in particolare del Centro Nuovo
Modello di Sviluppo, autore della prima “Guida al Consumo Critico” italia-
na, e della Campagna “Bilanci di Giustizia”. Secondo il punto di vista del
consumatore critico, non si tratta di demonizzare il consumo in sè, quanto
di trasformarlo in un’arma potentissima di “controllo democratico”, che
rovescia il suo ruolo tipicamente passivo e condizionato: il gesto di fare
la spesa non è in realtà un atto privato che riguarda solo il consumatore, i
suoi gusti, i suoi desideri, il suo portafoglio. Esso può assumere una forte
e chiara valenza sociale, economica e politica: prendere consapevolezza
di questo potere permette di elaborare una strategia di condizionamento
della politica di approvvigionamento, produzione e distribuzione delle im-
prese. Il consumatore che si pone obiettivi di cambiamento sociale, orien-
terà dunque la scelta dei prodotti sulla base di criteri legati non solo alla
qualità merceologica, al prezzo, o peggio all’immagine, al valore evocativo
di status symbol del prodotto, ma piuttosto alla valutazione delle politiche
compiute dalle imprese in termini di impatto sociale (rispetto delle norme
di sicurezza e dei diritti dei lavoratori, tipo di rapporti adottati con i regimi
oppressivi, forme di presenza nei Paesi del Sud del Mondo, ...) e di impat-
to ambientale (rispetto della natura e dei suoi ritmi, rispetto delle norme e
convenzioni internazionali, scelte in materia di imballaggi e di riciclaggio,
test sugli animali, ....). Diventerà essenziale la conoscenza di tutti i passag-
gi della filiera di produzione di un determinato bene di consumo: quali e
quante risorse naturali e quale e quanta energia sono state consumate du-
rante il processo di produzione, quali sono state le condizioni di lavoro di
coloro che le hanno trasformate; quanta parte del costo finale è servita a
pagare il lavoro e quanta invece, la pubblicità e la distribuzione; quale im-
patto hanno avuto sull’ambiente le fasi di produzione, di imballaggio, di
trasporto e di smaltimento finale...
Tale orientamento critico dei consumi individuali può essere socia-
lizzato e di conseguenza significativamente rinforzato, dall’organizzazione
in G.A.S.: i gruppi servono da un lato, ad aumentare il potere decisionale
e critico dei consumatori attraverso una forma di socializzazione che in-
terrompe la loro solitudine e consente di condividere scelte e progetti, e
dall’altro, ad attivare un ruolo di confronto con il mondo del commercio
e dell’economia, che assume valore politico nel momento in cui i principi
etici che guidano i consumi vengono testimoniati nella comunità. Agendo
collettivamente e ponendosi obbiettivi strategici condivisi, è possibile su-
perare la sensazione di impotenza ed isolamento e condizionare il compor-
tamento delle grandi società di produzione e distribuzione. Infatti è stato
provato statisticamente che la diminuzione di almeno un due per cento

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Patrizia Dal Santo | Nevio Perna

delle vendite è sufficiente ad allarmare le imprese. A tal fine, i G.AS. svol-


gono un ruolo importante come trampolini di lancio di campagne di infor-
mazione, boicottaggio, orientamento, generando un “effetto contagio” nel
tessuto sociale nel quale sono inseriti. Potenzialmente, i G.A.S. possono
costituire un primo piccolo cantiere di nuova economia, capace di inne-
scare circoli virtuosi, facendo convergere gli interessi di molti soggetti di-
versi, agricoltori, allevatori, consumatori, imprese artigianali, ristoratori,
gruppi ambientalisti ed enti locali, creando alleanze in grado di sviluppare
esperienze di economia locale, normalmente marginalizzata dall’economia
globalizzata. Gradatamente spazi di mercato, e quindi di potere, possono
essere erosi dalla creazione di spazi per un’economia maggiormente equa
e sostenibile.
A queste considerazioni si aggiunge il bisogno di confronto, di scam-
bio di informazioni, di condivisione di esperienze, di verifica delle scelte
individuali. In particolare i G. A. S. sono promettenti perché teorizzano e
praticano un’economia di relazione, ovvero una concezione dell’economia
in cui gli scambi commerciali sono occasioni di rapporto, di ampliamento
di conoscenze e idee. Le relazioni sono fondamentali per la vita dell’uomo,
e si potrebbe dire che ogni tipo di economia si è caratterizzato e si carat-
terizza per il tipo di rapporti che favorisce. In un’economia che considera
sempre più i rapporti umani come merce, appropriandosi del nostro tem-
po e invadendo i nostri pensieri, i G. A. S. praticano relazioni improntate
alla solidarietà, alla condivisione e al piacere di fare cose insieme. Le rela-
zioni diventano così portatrici di senso e di arricchimento reciproco.
Gli obiettivi di cambiamento sociale che i G. A. S. si pongono, pur
nella diversità delle singole storie ed esperienze e delle specifiche forme di
organizzazione, vengono perseguiti osservando alcuni principi fondamen-
tali nella scelta dei prodotti da acquistare. In particolare quattro sono i cri-
teri di fondo generalmente seguiti: 1) la piccola dimensione, 2) la vicinan-
za, 3) il rispetto dell’uomo,4) il rispetto dell’ambiente.
La scelta del piccolo produttore garantisce di non concentrare il
potere economico nelle mani di grosse aziende. Inoltre, le piccole produ-
zioni sono in generale ad elevata intensità di mano d’opera (ore di lavoro
utilizzate per un prodotto), rispetto alle aziende grandi che sono per lo più
ad elevata intensità di capitale (quota di finanziamenti utilizzata per un
prodotto). La scelta delle prime rispetto alle seconde è quindi uno stru-
mento importante per creare occupazione, e per fare in modo che i soldi
spesi negli acquisti servano a pagare in misura maggiore i lavoratori rispet-
to alle banche o agli azionisti.
I piccoli produttori sono inoltre, quelli potenzialmente più interes-
sati a fornire un gruppo di acquisto, in quanto esso fornisce uno sbocco di
vendita alternativo alla grande distribuzione, che per sua natura, preferi-

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Gruppo di acquisto solidale: un’esperienza di sviluppo locale

sce rapportarsi con aziende di medie o grandi dimensioni che possono ga-
rantire con continuità un certo volume di produzione.
La scelta di produttori locali permette di ridurre l’impatto e il co-
sto ambientale legato al trasporto: tali costi comprendono l’inquinamento
dell’aria, il consumo di suolo per sempre nuove strade, l’impiego di energia
fossile, gli incidenti stradali, la congestione delle nostre città dovuta al traf-
fico. Se tali costi venissero attribuiti direttamente a chi li genera, sarebbe
chiara l’incidenza del costo del trasporto su un prodotto e la convenienza
di scegliere prodotti locali. Inoltre, se i prodotti compiono un breve viaggio
sul territorio, non solo il loro impatto ambientale è ridotto rispetto a quelli
che arrivano da migliaia di chilometri di distanza, ma, viaggiando meno,
arrivano più freschi e non richiedono conservanti.
La vicinanza permette, con maggiore facilità, di stabilire un “canale
fiduciario” tra produttori e consumatori, alimentato dal comune interes-
se e definito da parametri condivisi. Il contatto diretto con il produttore
permette di conoscere meglio i suoi metodi di produzione e di operare un
controllo efficace; permette di concordare alcune scelte di gestione dell’at-
tività, sia per quanto riguarda il tipo di prodotti che il loro imballaggio. Ne
consegue un aumento del livello di soddisfazione per ambedue le parti. La
merce termina di essere solo prodotto e diventa anche strumento di rela-
zione tra soggetti che, oltre ai ruoli di produttori e consumatori, mettono
in gioco i propri “volti” e le proprie storie. E quando conosciamo la storia
di un prodotto che mangiamo o utilizziamo, cambia anche il nostro rap-
porto verso di esso.
Infine, i prodotti locali spesso si accompagnano a colture e culture
tradizionali di un territorio, che rischiano di scomparire sotto le spinte di
uniformità del mercato globale. Mangiare prodotti tradizionali è un modo
per allungare la loro vita e proteggere la biodiversità, oltre che conservare
un mondo di sapori, ricette e tradizioni, che costituiscono la vera ricchez-
za del territorio.
Proporre risposte di giustizia e di rispetto dei diritti dell’uomo nel
campo del consumo significa in primo luogo porre attenzione alle condi-
zioni di lavoro nel ciclo di produzione. Nell’era della globalizzazione le
multinazionali spostano le produzioni dove i costi sono più bassi, la ma-
nodopera è sottopagata e i lavoratori non hanno diritti. L’unico modo per
uscire da questa corsa verso il fondo che danneggia tutti, è richiedere un li-
vello minimo accettabile nelle condizioni di lavoro che debba essere rispet-
tato in qualsiasi parte del mondo. Preferire i prodotti senza sfruttamento
significa aiutare a regolare il mercato del lavoro. I prodotti acquistati attra-
verso i G. A. S., non devono essere coinvolti nel circolo dell’ingiustizia, che
caratterizza, salvo rare eccezioni, i prodotti delle imprese che comunemen-
te si trovano sul mercato, al contrario devono “attivare” le risorse umane,
consentire a molti che sono esclusi dai circuiti economici e da un mercato

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del lavoro iper-competitivo (i disabili, i piccolissimi produttori, gli immi-


grati) di lavorare e partecipare ad uno sviluppo sociale sostenibile. Proprio
in quest’ottica, i G.A.S. scelgono di appoggiare piccole aziende o coopera-
tive di lavoro, con particolare attenzione a quelle sociali.
L’attenzione all’impatto sulla natura che la produzione ed il con-
sumo possono avere, implica, per quanto riguarda i prodotti alimentari,
scegliere prodotti biologici e biodinamici, ottenuti nel profondo rispetto
della natura e delle sue leggi, e consumare prevalentemente prodotti sta-
gionali, che non “forzano” la naturale produttività dei terreni, richiedono
meno energia e meno interventi in fase di coltivazione e conservazione.
Implica preferire prodotti che nel loro ciclo di vita utilizzano meno risorse
ed emettono meno rifiuti, ponendo attenzione alla quantità e alla qualità
degli imballaggi che devono essere limitatati all’essenziale e riciclabili, alla
loro realizzazione in materiali naturali o ecologici, al consumo energetico
richiesto, che deve essere il più basso possibile, alla loro durata, alla faci-
lità di riparazione, riciclo o riuso. Come principio generale i gruppi si pro-
pongono di non depauperare la ricchezza naturale del pianeta, adottando
uno stile di consumo sostenibile.
Oltre a questi criteri principali che riguardano il loro agire politico,
i G.A.S. si pongono alcuni obiettivi di base diretti al benessere e alla tutela
dei propri soci: a) la ricerca di un risparmio economico, b) l’attenzione alla
salute, c) la convivialità.
Pur non considerandolo il criterio più importante per la determina-
zione dei propri acquisti, i G.A.S. sono attenti al costo dei prodotti, con
l’obiettivo di consentire a tutti, anche alle famiglie a basso reddito, l’acces-
so a beni e cibi di qualità, che diversamente rimarrebbero prodotti di nic-
chia. Quest’attenzione al prezzo però, non deve penalizzare o soffocare il
produttore, come succede nell’attuale economia di libero mercato, ma, in
un’ottica di alleanza tra produttore e consumatore, deve essere perseguita
soprattutto attraverso l’accorciamento della filiera di distribuzione con la
conseguente eliminazione dell’intermediazione, con acquisti all’ingrosso,
con forme di prepagamento dei prodotti che garantendo al produttore la
vendita della merce, gli consentono di operare minimi sconti.
I G. A. S. sono ovviamente interessati a prodotti di assoluta qualità,
garantita dalla massima trasparenza in tutte le fasi della produzione e del-
la distribuzione, per tutelare la salute dei propri soci. La genuinità e la sa-
lubrità degli alimenti è dovuta soprattutto alla scelta di prodotti biologici,
privi di conservanti perché freschi, di stagione e distribuiti in tempi rapidi,
ma anche alla scelta di prodotti tipici locali, spesso vecchie varietà, più ric-
chi dal punto di vista nutrizionale e organolettico.
I G.A.S. come si è detto, mettono al centro delle loro attività la re-
lazione, e sono quindi attenti a creare occasioni di incontro e di scam-
bio, ma anche di convivialità e di festa, attraverso cene condivise, gite

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Gruppo di acquisto solidale: un’esperienza di sviluppo locale

di conoscenza presso i produttori, appuntamenti per la distribuzione dei


prodotti. Molti gruppi si orientano anche verso un uso comunitario di
alcuni beni (automobili, attrezzature,…) e verso forme di baratto, che li
aiutano a rispondere a un’esigenza di maggiore sobrietà, ma che fanno
emergere contemporaneamente il piacere della condivisione e della par-
tecipazione.
Per condurre le loro attività i G.A.S. hanno bisogno solo di una mi-
nima organizzazione e di una struttura molto leggera. Generalmente sono
caratterizzati dalla ridotta dimensione del gruppo che aiuta a conservare
l’autogestione e meglio organizzare la scelta dei prodotti e il sistema di di-
stribuzione. In alcuni casi si tratta di gruppi che già si incontravano per al-
tri motivi e che hanno inserito acquisti collettivi tra le loro attività, in altri
si tratta di gruppi nati appositamente con questa finalità. I modelli orga-
nizzativi dei G.A.S. sono essenzialmente tre: 1)gruppo spontaneo informa-
le, 2) associazione, 3) organizzazione d’appoggio.
Quella del gruppo spontaneo è di solito la forma organizzativa pre-
ferita da un gruppo nelle sue prime fasi di sviluppo, in quanto richiede
poca o nulla formalizzazione dei rapporti e si caratterizza per la sua snel-
lezza e flessibilità. In questo caso il G.A.S. si qualifica come un gruppo in-
formale di soggetti privati che affida a uno o più degli aderenti il compito
di effettuare l’acquisto collettivo presso il fornitore prescelto. Numerosi
gruppi, soprattutto se piccoli, preferiscono mantenere questa organizza-
zione leggera che non ha connotazione giuridica e non svolge attività con
rilievo fiscale.
Quando il gruppo si ingrandisce o allarga il suo ventaglio di attività,
le sue esigenze organizzative possono richiedere la costituzione di un’as-
sociazione senza scopo di lucro che favorisca le dinamiche del gruppo e
formalizzi la struttura organizzativa necessaria alla coordinazione degli
ordini, la turnazione dei compiti, le attività di sensibilizzazione e di for-
mazione. In questo caso l’associazione acquista una propria valenza giu-
ridica che le permette di rapportarsi su specifiche attività o iniziative, con
enti pubblici diversi. L’attività di acquisto e successiva redistribuzione dei
prodotti deve essere menzionata all’interno dello statuto costituivo tra gli
scopi istituzionali dell’associazione e come tale non è soggetto a obbligo di
fiscalità, in quanto, con la legge finanziaria del 2008, i G.A.S. sono stati uf-
ficialmente riconosciuti e la loro attività rivolta ai soci è stata definita non
commerciale ai fini fiscali.
Alcuni gruppi infine, decidono di appoggiarsi ad una realtà già
esistente come una bottega del commercio equo o una cooperativa, che
già gestisce un negozio o uno spaccio aperto al pubblico. In questo caso
la parte organizzativa di raccolta e smistamento degli ordini e gli obbli-
ghi amministrativi sono completamente gestiti da questa stessa realtà, già
attrezzata allo scopo, e le persone che acquistano sono a tutti gli effetti,

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“clienti” dell’organizzazione a cui si appoggiano. Questo tipo di scelta è


spesso determinato dalla difficoltà di trovare una sede adatta alla distribu-
zione dei prodotti e ovvia alle difficoltà di immagazzinamento che spesso
affligge molti gruppi.
In Italia i G. A. S. nascono come evoluzione delle pratiche di Con-
sumo Critico e soprattutto all’inizio, rappresentano un ampliamento
delle attività dei gruppi di famiglie aderenti all’operazione “Bilanci di
giustizia”. Questa campagna, lanciata a Verona alla fine del 1993, dal
Movimento “Beati i costruttori di pace”, chiede alle famiglie di verifica-
re sul bilancio familiare l’incidenza economica delle loro modifiche allo
stile di vita. Dove possibile, le famiglie si ritrovano in gruppo nel quale
affrontano temi di interesse comune e si organizzano per praticare com-
portamenti equi nella loro zona, tra i quali appunto i consumi sostenibili.
Il primo G.A.S. formalmente riconosciuto è quello di Fidenza che si co-
stituisce nel 1994, come Associazione, con una cinquantina di famiglie
aderenti. Da allora lo crescita dei G.A.S., prima nel centro-nord, adesso
in tutta Italia, è stata vertiginosa: attualmente sono censiti 742 gruppi e
molti altri sicuramente funzionano in modo informale, senza registrarsi
ufficialmente. Il fenomeno ha assunto rilevanza nazionale tanto da ri-
chiedere un’apposita normativa (legge finanziaria 2008), da diventare og-
getto di specifiche iniziative di sostegno da parte di numerose Ammini-
strazioni regionali e provinciali, come quello della Regione Piemonte e
della Provincia di Roma, e da trovare una forte eco sugli organi di stam-
pa, in particolare in relazione alla capacità dei gruppi di sostenere l’ac-
cesso a prodotti di qualità per tutte le famiglie, anche in un periodo di
crisi economica quale è quello che stiamo vivendo.
Nel 1997, per meglio coordinare l’attività dei gruppi e diffonderne
le motivazioni, si è costituita una rete dei G.A.S., la ReteGas (www.rete-
gas.org). La cosa è molto importante perché, pur salvaguardando la piena
autonomia dei gruppi, consente di fare un ulteriore salto in avanti in quel
processo di “socializzazione del consumo critico” di cui si è detto. La rete
si pone le seguenti finalità:
• favorire la diffusione del consumo critico attraverso l’acquisto da
piccoli produttori locali rispettosi delle persone e dell’ambiente;
• facilitare lo scambio di esperienze e di informazioni tra i gruppi sul-
le modalità organizzative dei G.A.S.;
• favorire l’elaborazione di migliori e sempre più precisi criteri di scel-
ta dei prodotti;
• realizzare uno scambio di informazioni sui prodotti e sui rispettivi
produttori;
• promuovere lo sviluppo e la diffusione dei G.A.S.

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Gruppo di acquisto solidale: un’esperienza di sviluppo locale

Le informazioni circolano tra i diversi gruppi attraverso un bolletti-


no che esce ogni tre mesi e che si chiama Bogar, sigla che sta per Bollettino
dei Gruppi d’Acquisto Regionali, organizzato in tre parti principali:
• notizie dai gruppi, idee e soluzioni su come far funzionare un grup-
po d’acquisto;
• criteri guida per la scelta dei prodotti e dei produttori;
• produttori, richieste e segnalazioni di produttori.
Ogni anno viene organizzato un Convegno Nazionale dei G.A.S. per
approfondire tematiche comuni ai gruppi e lanciare nuove iniziative.
Recentemente, i G.A.S. si stanno ponendo la questione dei “grandi
numeri”, cioè delle nuove pratiche da sviluppare per poter accedere a beni
e servizi che richiedono un elevato numero di consumatori, come ener-
gia, telefonia e tessile. In questo ambito si stanno cominciando ad elabo-
rare alcune proposte: per la telefonia il mondo dei G.A.S. fa riferimento
ad una Cooperativa Sociale “Livecom” (www.livecom.coop), per l’energia
è nata l’associazione di gruppi “GASEnergia” che ha l’obiettivo di definire
un accordo per l’economia solidale con un soggetto distributore di energia
esclusivamente da fonti rinnovabili, con lo scopo di passare da subito ad
una bolletta elettrica più verde, sostenibile e solidale, e per il tessile ci si
rivolge per ora ad una filiera di aziende nella provincia di Novara (www.
made-in-no.com) o alla rete di aziende che si sta organizzando sotto la si-
gla “Xigas”.

Associazione Ecoredia
Gruppi d’Acquisto Solidale dell’Anfiteatro Morenico di Ivrea
Il Gruppo d’Acquisto Solidale “Ecoredia” nasce ad Ivrea all’inizio
del 2003, in modo informale, da una decina di famiglia aderenti per lo più
all’Operazione “Bilanci di Giustizia”. La pratica degli acquisti diretti pres-
so produttori biologici ed ecologici era già parte integrante delle attività
del gruppo “bilancista”, ma la spinta a costituire un vero e proprio gruppo
d’acquisto solidale viene dalla partecipazione all’esperienza del Social Fo-
rum eporediese che intravede in questo una possibilità concreta di elabo-
rare un progetto di economia solidale per il territorio. Già dal nome che
il gruppo sceglie di darsi, “Ecoredia”, dall’antico nome della città di Ivrea,
Eporedia, si può intuire la volontà di coniugare l’attenzione allo stile di
vita e al cambiamento individuale con le pratiche di politica dal basso e di
lavoro sul territorio per renderlo sempre più un luogo della sostenibilità e
della solidarietà.
Inizialmente il Gruppo sceglie di mantenere una dimensione molto
contenuta e si rivolge solo al mondo dell’associazionismo e dei movimenti
locali, per sperimentare con piccoli numeri, l’organizzazione degli acquisti

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collettivi. Tra i soci fondatori è presente anche un’azienda agricola locale,


che diventa fornitore dei prodotti freschi, mentre per gli altri prodotti ali-
mentari (inizialmente solo pasta, riso, olio, vino, formaggi e parmigiano)
si fa riferimento ai contatti delle famiglie bilanciste con alcuni produttori
biologici “storici” che riforniscono diversi G.A.S. del Nord Italia. La strut-
tura organizzativa è volutamente molto leggera: per ciascun prodotto viene
individuato un referente che raccoglie per posta elettronica o telefonica-
mente gli ordini e li trasmette al produttore e che si occupa della distri-
buzione ai soci nella data prefissata. La sede di appoggio per le riunioni
mensili e per le distribuzioni dei prodotti, viene offerta dalla locale Chiesa
Valdese, che sostiene il progetto vi aderisce con alcuni membri di chiesa.
Alla fine del 2003, il gruppo “Ecoredia”, che conta ormai una trenti-
na di soci, decide di presentarsi pubblicamente alla cittadinanza attraver-
so un incontro intitolato “Liberi da questo mercato”, durante il quale viene
presentato un progetto articolato di lavoro sul territorio per lo sviluppo di
un’economia sostenibile e solidale e vengono intessuti i primi contatti con
le altre realtà locali interessate, come la Bottega del Commercio equosoli-
dale ”TamTam”, il punto vendita locale delle cooperative di “Libera”, “L’Al-
bero della Speranza”, la Coldiretti provinciale, i rappresentati della finanza
etica locale,”Mag4” e “Banca Etica”, alcuni G.A.S. vicini, con l’intento di-
chiarato di lavorare fin da subito in rete.
Pochi mesi più tardi, nel marzo 2004, il gruppo decide di strutturarsi
in Associazione per potersi confrontare con le istituzioni locali con le quali
inizia subito a collaborare per progetti di formazione al consumo critico
nelle scuole e alla cittadinanza, e già alla fine dello stesso anno si fa promo-
tore dell’evento “Sana Terra”, fiera dell’economia solidale e sostenibile del
Canavese, che coinvolge una settantina di realtà, tra produttori, associazio-
ni e istituzioni locali. Da allora Sana Terra, che si da’ una cadenza biennale
ed è arrivata alla quarta edizione, diventa uno dei momenti fondamentali
per discutere di questo tema sul territorio, fare il punto sui progetti in cor-
so e lanciare nuove iniziative.
Attualmente l’Associazione Ecoredia conta una novantina di fami-
glie aderenti, provenienti dalla città di Ivrea e dal territorio afferente, iden-
tificabile geograficamente nell’Anfiteatro Morenico di Ivrea. L’intenzione
iniziale di creare gruppi “figli” per mantenere più contenuto il numero dei
soci, non si è dimostrata praticabile, mentre si è attuata la politica di ag-
gregare altri piccoli gruppi vicini, per ora uno, che fa riferimento a un’asso-
ciazione preesistente in un comune limitrofo, che rimangono indipendenti
per gli incontri e le attività, ma si associano per alcuni ordini, soprattutto
a produttori esterni al territorio.
I criteri di scelta dei produttori sono fondamentalmente quelli che
orientano tutti i G.A.S.: si da’ sempre la preferenza ai piccoli produttori,
soprattutto ai giovani che si lanciano in questa attività o che si convertono

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Gruppo di acquisto solidale: un’esperienza di sviluppo locale

a forme di produzione più ecologiche, e prioritariamente si cerca di so-


stenere attività locali, con un grande sforzo di ricerca e di conoscenza del
territorio. Quando un prodotto non è reperibile localmente ci si orienta
su soggetti che dimostrano nel loro lavoro il massimo rispetto per i diritti
dell’uomo e dell’ambiente, preferendo le esperienze che faticano a trovare
uno sbocco nella normale distribuzione e quindi necessitano dell’appoggio
di consumatori critici per consolidarsi, o che presentano caratteristiche di
particolare interesse paradigmatico per il tipo di economia che si vorrebbe
costruire. Come gruppo, l’Associazione Ecoredia ha deciso di non rivolger-
si solo a soggetti in possesso di certificazione biologica, preferendo stabili-
re rapporti di conoscenza e di fiducia con i produttori, tali da sostituire le
forme ufficiali di garanzia dei prodotti. Questa scelta presenta a volte delle
criticità e implica un maggiore coinvolgimento nel rapporto con i produt-
tori, ma ci permette una maggiore flessibilità nel contattare e sostenere
realtà in conversione o in fase di sperimentazione per aiutarle a avviarsi e
consolidarsi, o realtà che, pur non osservando in tutte le fasi della produ-
zione le regole dell’agricoltura e dell’allevamento biologico, realizzano pro-
getti importanti in campo sociale ed ambientale sul territorio. E’ il caso ad
esempio, di una cooperativa agricola locale, la “Fraternità”, fondata da un
nucleo di religiosi carmelitani, che si occupa ormai da anni dell’inserimen-
to lavorativo di persone disagiate, in particolare detenuti ed ex detenuti
della struttura carceraria locale: l’impegno verso l’agricoltura biologica di
questa azienda si è sviluppato gradatamente, ma il sostegno dell’Associa-
zione Ecoredia alle sue attività, ha tenuto conto soprattutto dell’importan-
te ruolo sociale da essa svolto. E’ il caso anche di alcuni produttori locali
di formaggi e di vino, che pur non possedendo una certificazione biologi-
ca, con il loro lavoro svolgono un importante azione di presidio sul terri-
torio, recuperando terreni pedemontani semiabbandonati e impegnandosi
ad evitare un ulteriore spopolamento della montagna, attraverso la rivalu-
tazione di piccole produzioni tipiche montane.
La gamma di prodotti offerta dal G.A.S. “Ecoredia” si è notevolmen-
te ampliata e comprende una serie di prodotti freschi reperiti localmente
(con il coinvolgimento di circa 7/8 aziende) e distribuiti con cadenza set-
timanale, e precisamente: prodotti ortofrutticoli, prodotti caseari freschi,
pane, carne. E una serie di prodotti alimentari a lunga conservazione, pro-
dotti per l’igiene e articoli di abbigliamento, reperiti anche al di fuori del
territorio e distribuiti con cadenze più lunghe, e precisamente:
1. pasta (un’azienda del nord Italia)- ordine bimensile
2. riso e cereali (un’azienda piemontese)- ordine bimensile
3. farina di mais (un’azienda locale) – ordine trimestrale
4. legumi (un’azienda piemontese)- ordine trimestrale

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5. olio (un’azienda del Nord Italia e due aziende del sud Italia)- ordine
semestrale
6. parmigiano (un’azienda del centro-nord Italia)- ordine bimensile
7. vino (un’azienda locale e una piemontese)- ordine semestrale
8. caffè (commercio equosolidale)-ordine trimestrale
9. zucchero (commercio equosolidale)-ordine trimestrale
10. miele (due aziende locali)
11. arance (un’azienda del sud italia)- ordine mensile
12. vestiario (un’azienda piemontese e una del Nord Italia)- ordine se-
mestrale
13. scarpe (un’azienda del Nord Italia)- ordine semestrale
14. detersivi e prodotti per l’igiene (un’azienda del centro Italia)- ordine
quadrimestrale
15. filtri per l’acqua (un’azienda locale)- ordine annuale.

L’organizzazione iniziale, molto leggera e condivisa; si mantiene an-


che attualmente, malgrado la crescita del gruppo e l’aumento del numero
dei prodotti trattati, grazie ad una buona disponibilità dei soci a parteci-
pare alla vita del gruppo e ad assumere una parte dell’impegno necessario
a farlo funzionare.
L’adesione al gruppo è libera, e viene formalizzata durante una delle
riunioni mensili: con il pagamento di una minima quota annuale, si ottie-
ne l’iscrizione alla mailing list e la possibilità di accedere all’area riservata
ai soci del sito.
Tutti i soci sono invitati a partecipare almeno alla riunione plenaria
mensile che si svolge il secondo lunedì di ogni mese ed è la sede in cui ven-
gono decise le linee guida di tutta l’attività del gruppo (successivamente
sviluppate in piccoli sottogruppi di lavoro) e in cui vengono valutati e scelti
prodotti e produttori da inserire nei listini.
Gli ordini vengono raccolti attraverso un apposito programma in-
stallato sul sito, che funziona ormai da circa cinque anni ed è gestito e cu-
rato da un socio dell’associazione. I listini vengono inviati tramite posta
elettronica ai soci, gli ordini vengono raccolti ed elaborati automaticamen-
te, e infine vengono trasmessi al produttore dal socio referente per ciascun
prodotto che si occupa anche della sua distribuzione. A causa dell’aumento
della quantità di prodotto trattata, si è deciso di assegnare due persone alla
gestione di ciascun prodotto, in modo da alleggerire l’impegno richiesto.
Per la consegna dei prodotti freschi si è stabilito un appuntamento
settimanale, serale, presso un locale appartenente al Comune di Ivrea, in
un quartiere periferico della città: sono gli stessi produttori a effettuare la
consegna dei prodotti ordinati, cosa che facilita la comunicazione e la co-

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Gruppo di acquisto solidale: un’esperienza di sviluppo locale

noscenza reciproca e permette di organizzare il recupero degli imballaggi


(cassette, contenitori, vasi, bottiglie), che vengono restituiti alla consegna
successiva.
Per la distribuzione degli altri prodotti, l’appuntamento è mensile,
la mattina dell’ultimo sabato di ogni mese, attualmente presso una comu-
nità di famiglie di un paese limitrofo. Non viene fatto immagazzinamento
dei prodotti, che vengono consegnati, normalmente tramite corriere, nei
giorni immediatamente precedenti al giorno di consegna, e distribuiti al
momento ai soci. I prodotti non vengono prepagati, per non creare proble-
mi di gestione di cassa, ma le quote vengono raccolte dal referente al mo-
mento della consegna, grazie ad un accordo con i produttori che consente
un pagamento posticipato.
Un aspetto critico per il gruppo resta quello della sede: l’iniziale col-
locazione presso la Chiesa Valdese si è rivelata inadeguata con la graduale
crescita del gruppo. Successivamente altre sistemazioni sono state speri-
mentate, ma nessuna ha soddisfatto per tutti i requisiti richiesti: relativa
centralità e visibilità, facilità di accesso per i fornitori e per i soci, possibi-
lità di custodire i materiali del gruppo, libertà di utilizzo e ovviamente…
costi limitati. L’obiettivo attualmente è quello di individuare una sede che
abbia queste caratteristiche, da condividere con altri soggetti impegnati su
temi analoghi, una sorta di “Casa dell’economia solidale”.

Lo sviluppo del progetto locale


La filiera corta e il rilancio dell’agricoltura
Al punto 4 dello statuto dell’associazione Ecoredia si legge: I grup-
pi d’acquisto intendono contribuire allo sviluppo di una economia solidale,
a partire da una riflessione sui consumi, stabilendo un rapporto diretto con i
produttori e considerando il territorio come soggetto vivente di lunga durata,
fatto di storia, stratificazione, memoria, che può produrre futuro se interpreta-
to correttamente. Questo processo è un modo per contrapporsi concretamen-
te all’economia globale e quindi per limitarne gli effetti speculativi e distrutti-
vi. I gruppi di acquisto costituiscono quindi anche una pratica di alternativa
economica. [..] L’Associazione svilupperà la collaborazione con tutti i soggetti
presenti sul territorio interessati a far crescere il progetto locale. Promuoverà
inoltre corsi di formazione, incontri, campagne con lo scopo di far crescere la
tutela della salute, dell’ambiente, dei diritti, del consumo critico.
E’ un impegno che il GAS assume verso la comunità in cui vive, ma è
anche la logica conseguenza dei principi di riferimento che guidano gli ac-
quisti. L’azione dei GAS si sviluppa lungo la filiera che va dal consumatore
fino al produttore. Dall’attenzione agli stili di vita fino alle metodologie di
produzione e di distribuzione.

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Richiamiamo brevemente le principali azioni sviluppate dal nostro


GAS, all’interno del progetto locale.
Ridurre gli sprechi ed i rifiuti: il progetto”Plastic Free”. La limitazione
degli sprechi e dei rifiuti è un obiettivo implicito nei criteri che orientano le
scelte dei prodotti già evidenziati all’inizio. Assenza o limitazione degli im-
ballaggi, riuso dei contenitori, filiera corta. Ma il GAS ha cercato di sensibi-
lizzare tutti i cittadini, le diverse associazioni, le amministrazioni locali, sul
tema della riduzione dei rifiuti e del recupero dei materiali post consumo. E’
così nata la campagna “Plastic free” condotta in collaborazione con l’Asso-
ciazione Serra Morena.
Ogni anno nel nostro territorio si tengono centinaia di feste, sagre,
manifestazioni, fiere e convegni: in un tentativo di rilancio economico del
nostro territorio attraverso la valorizzazione dei prodotti tipici e delle tra-
dizioni locali, di apertura ad un turismo di qualità fatto di scoperta di sa-
pori, suoni, paesaggi, questa ampia offerta rappresenta indubbiamente
una risorsa non trascurabile.
Nella consapevolezza della necessità di fornire un “valore aggiunto”
sempre più spesso si propongono prodotti con marchio biologico o co-
munque provenienti da una filiera tracciabile. Tale accresciuta attenzio-
ne alla qualità ed alla genuinità dei prodotti sembra però in contrasto con
l’elevato impatto ambientale che questi eventi possono avere: ogni manife-
stazione implica infatti, ingenti quantità di rifiuti indifferenziati da confe-
rire in discarica, di cui una percentuale consistente è costituita dalle sto-
viglie usa e getta utilizzate nelle diverse occasioni enogastronomiche che
questi eventi prevedono.
Le stoviglie usa e getta infatti, non possono essere unite alla plastica
riciclabile perché le società di raccolta e smaltimento dei rifiuti possono
effettuare raccolte differenziate solo per la plastica che costituisce imbal-
laggio e più precisamente che contiene un bene. In considerazione di que-
sti fatti, come azione circoscritta, ma significativa, di riduzione a monte
dei rifiuti, il Polo Territoriale di Educazione Ambientale di Ivrea in colla-
borazione con l’Associazione Ecoredia, l’Associazione Serra Morena, il Li-
ceo Scientifica “Gramsci” e la Società Canavesana Servizi, ha elaborato un
piccolo progetto di monitoraggio e riduzione dei rifiuti prodotti durante le
manifestazioni, proponendo ai soggetti organizzatori (Enti , Pro Loco, As-
sociazioni, Comuni) alcune “buone pratiche”da seguire, e in particolare la
sostituzione delle stoviglie usa e getta in materiali non riciclabili con altre
biodegradabili e compostabili.
Il progetto si concretizza nella definizione di una serie di requisiti
minimi per la gestione ecosostenibile delle manifestazioni e nella creazio-
ne di un logo di cui gli organizzatori potranno fregiarsi aderendo all’inizia-
tiva e attenendosi ai requisiti proposti.

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Gruppo di acquisto solidale: un’esperienza di sviluppo locale

Oggi, a tre anni dal lancio del progetto, quasi tutti i principali eventi
enogastronomici realizzati nel territorio, hanno aderito alla campagna. Si
evitano in questo modo di produrre diverse decine di tonnellate all’anno di
rifiuti indifferenziati.

Favorire il risparmio energetico e l’uso delle fonti rinnovabili.


Il GAS non solo promuove la diffusione delle informazioni sui mate-
riali utilizzati per ridurre lo spreco energetico delle nostre abitazioni e sui
vantaggi economici che tali interventi producono sia per il consumatore
che per l’economia locale, ma ha anche avviato la costituzione di gruppi di
acquisto finalizzati all’installazione di pannelli fotovoltaici. Un gruppo di
famiglie si è organizzato per valutare insieme la scelta del fornitore e in-
stallatore in modo da ottenere prezzi favorevoli, risolvere insieme i dubbi,
condividere le informazioni.

Il rilancio del ruolo dell’agricoltura: sviluppo della filiera corta.


Fin dalla sua nascita il GAS di Ivrea ha incontrato delle difficoltà nel
reperire i prodotti orto-frutticoli da coltivazione biologica provenienti dal
Canavese. Nonostante negli ultimi anni sia cresciuto il numero dei produt-
tori, resta tuttora limitata l’offerta di prodotti biologici.
Oltre al GAS di Ivrea, dal maggio del 2009 è partito un nuovo pro-
getto di filiera corta, Cascina Praie, promosso dal Consorzio Copernico che
prevede la consegna a domicilio di prodotti orto frutticoli provenienti dal
territorio da coltivazione biologica o a lotta integrata.
Ci troviamo dunque di fronte ad un dilemma: per poter soddisfare la
domanda attuale di prodotti orto-frutticoli biologici locali e, in futuro, una
sua auspicabile crescita, dovremmo rivolgerci all’esterno del nostro terri-
torio, venendo così meno al principio della prossimità.
E’ necessario a questo punto dare una breve descrizione delle carat-
teristiche principali del territorio di cui stiamo parlando, ossia l’Anfiteatro
Morenico di Ivrea (AMI), in cui sono presenti circa 20.000 ettari di super-
ficie agricola utile.
Il territorio dell’AMI è caratterizzato da diversi contesti. Un’area di
pianura agricola tradizionale che, nonostante l’urbanizzazione crescente
rappresenta ancora il 50% della superficie territoriale con attività agricole
e zootecniche a forte specializzazione (in particolare maidicoltura). Pro-
blemi: impatto ambientale per consumo di acqua e uso di pesticidi; tenuta
dei prezzi e degli incentivi; uso distorto verso la trasformazione energetica.
Una collina residenziale costituita da aree di natura semi urbana e con in-
sediamenti crescenti, con un’agricoltura collinare rappresentata dalla pre-
senza di piccole aziende e orientamenti produttivi più variegati rispetto
alla pianura, in particolare la viticoltura di pregio. Anche in queste aree
occorre tenere in conto i rischi ambientali legati al dissesto idrogeologico

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Patrizia Dal Santo | Nevio Perna

e alla continua espansione edilizia abitativa. Una montagna con un ruolo


importante giocato da zootecnia, alpeggi, foreste. E’ la zona che più sta
soffrendo dell’abbandono con le ovvie conseguenze sulla crescita dei rischi
idrogeologici.
L’ipotesi che abbiamo avanzato è che dovevamo verificare la possi-
bilità di far crescere la produzione biologica e di qualità dell’AMI. Ci siamo
chiesti insomma se l’azione dei consumatori consapevoli poteva contribu-
ire alla trasformazione delle produzioni attuali, e, in modo più ambizioso,
attraverso questa strada contribuire al rilancio dell’agricoltura. Pensiamo
che dall’agricoltura sostenibile può venire un contributo determinante al
miglioramento dell’ecosistema e alla crescita del benessere e della salute
dei cittadini. E’ però necessario avviare anche una trasformazione dell’at-
tuale modello che punti alla riduzione del ricorso ai fertilizzanti chimi-
ci, all’autosufficienza alimentare in modo da ridurre i trasporti e l’uso dei
conservanti. Da una tale trasformazione può venire un contributo impor-
tante alla creazione di posti di lavoro, alla cura del territorio e alla valo-
rizzazione del paesaggio. L’anfiteatro morenico di Ivrea (AMI) contiene un
patrimonio morfologico e paesaggistico straordinario che rischia di essere
sacrificato alla logica speculativa della globalizzazione basata sulla compe-
tizione tra i territori. Il recupero delle produzioni, della cultura delle genti
di pianura, della collina e della montagna è l’unica strada per valorizzare e
tutelare questo patrimonio.
Abbiamo pertanto sentito la necessità di verificare questa convin-
zione attraverso un’analisi della realtà dell’agricoltura attuale, della sua
struttura, delle sue produzioni e delle potenzialità di una sua riconversio-
ne in senso ecologico. Per questa ragione, con la collaborazione dell’Uni-
versità di Torino, si è avviata una ricerca sulla situazione dell’agricoltura
nell’AMI.
Inoltre, un tale percorso di analisi richiede la cooperazione di più
soggetti: gli amministratori, le associazioni degli agricoltori, le associazio-
ni dei consumatori, le cooperative sociali; si è perciò dato vita ad un primo
coordinamento di tali entità presso il Comune di Ivrea che ha monitorato
la prima fase della ricerca.
Il primo obiettivo della ricerca è stato quindi quello di rilevare con
esattezza le tipologie produttive sia tradizionali che biologiche in ciascu-
na di queste aree. In secondo luogo si è indagato il mondo delle imprese
agricole: quante e con che occupazione, quali i redditi. Attraverso un que-
stionario si sono raccolti i punti di vista, le preoccupazioni, i progetti dei
produttori. La prima fase di ricerca ha messo in evidenza alcune caratteri-
stiche di primaria importanza per quanto riguarda le produzioni agricole
del territorio e la loro commercializzazione. Si può riassumere sintetica-
mente la situazione nei seguenti punti:

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Gruppo di acquisto solidale: un’esperienza di sviluppo locale

• Produzioni convenzionali (specialmente cerealicole) impostate su


un modello industriale, caratterizzate da un alto grado di meccani-
zzazione, dalla presenza di filiere commerciali slegate dal territorio
con un peso importante riferito al ruolo dell’intermediazione. In tal
contesto le aziende agricole spesso soffrono di bassa redditività e
sono soggette a problemi di continuità intergenerazionale.
• Produzioni convenzionali (ortofrutticole e vitivinicole) in difficol-
tà rispetto alle dinamiche della distribuzione commerciale su larga
scala e che hanno bisogno del contatto con il mercato locale sotto
varie forme, principalmente la vendita diretta in azienda e i mercati
locali. Queste tipologie di commercializzazione sono spesso la chia-
ve per la sostenibilità economica dell’impresa.
• Produzioni biologiche o di lotta integrata (ortofrutticole): sono le
produzioni che intrinsecamente si dimostrano indissolubilmente
legate alla commercializzazione dei prodotti sul territorio. Queste
aziende nascono e si sviluppano grazie a un sistema di valori impor-
tante e significativo, che vede nella vendita diretta dei propri pro-
dotti un punto cardine del processo produttivo. Le forme di vendita
maggiormente utilizzate sono la vendita diretta in azienda, i merca-
ti locali ma soprattutto i progetti di filiera corta (Cascina Praie) e i
G.A.S. (Ecoredia).
• Frammentazione sia della proprietà fondiaria che delle imprese
agricole che determina, insieme ad altri fattori, una forte fragilità
economica, di continuità di impresa, commerciale.

Il lavoro di ricerca proseguirà: è in discussione la seconda parte in


cui si vorrebbero indagare le diverse esperienze di filiera esistenti e racco-
gliere le progettualità dei diversi soggetti (istituzioni, produttori, associa-
zioni). Inoltre vorremmo indagare come sta evolvendo l’uso dei suoli e le
loro potenzialità produttive. Vorremmo capire come è possibile strutturare
un modello di agricoltura di qualità che risponda alla domanda di prodotti
che viene in primo luogo dal territorio dell’AMI.

Un modello per la sostenibilità


L’Associazione Ecoredia, infine, promuove Sana Terra, la fiera
dell’economia solidale che si tiene ogni due anni. La fiera costituisce l’oc-
casione per l’incontro di tutti i soggetti che il GAS coinvolge nella propria
attività: dai produttori di beni e servizi, alle associazioni, alle istituzioni
locali, ai cittadini. La fiera, attraverso la rete dei soggetti coinvolti e la
presentazione di esperienze di economia solidale, è anche l’occasione per
la verifica dei progetti vecchi e nuovi, per fare avanzare la riflessione su

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Patrizia Dal Santo | Nevio Perna

un nuovo modello di economia basato sulla sostenibilità ambientale, sulla


giustizia sociale e sulla cooperazione nord-sud.
Per approfondire e diffondere la conoscenza di tutti i soggetti attivi
nel nostro territorio si è predisposta un Guida dell’economia solidale e so-
stenibile dell’AMI. In un anno di lavoro si sono cercate tutte le esperienze
ed i soggetti che contribuiscono allo sviluppo e alla crescita del nuovo mo-
dello di sviluppo, individuando circa 170 realtà, soggetti economici, asso-
ciazioni ed istituzioni che lavorano nell’ambito dell’agricoltura biologica
e tipica, nella commercializzazione di prodotti bio ed equo-solidali, nel
turismo responsabile, nella finanza etica, nel risparmio energetico e nelle
fonti rinnovabili.
In conclusione di questa presentazione dell’esperienza del nostro
GAS vorremmo evidenziare quelle pratiche che ci sembrano possano deli-
neare un modello più generale di economia solidale e sostenibile.
Autorganizzazione, intesa sia come famiglie organizzate, sia come
rete di soggetti plurali (reti sociali).
Consapevolezza, ossia sviluppo della capacità di critica sia verso la
società consumista, che verso la gerarchia di potere che ci impone un mo-
dello di società ingiusto, non democratico e insostenibile.
Modifica stili di vita, ossia la convinzione che ciascuno possa, qui e
ora, modificando i propri comportamenti incidere sulle scelte dell’econo-
mia (etica dei comportamenti).
Promozione di reti di produttori, ossia dare forza alle esperienze in
embrione.
Rivalutazione dell’agricoltura, rilanciare l’agricoltura attenta alla salu-
te, all’ambiente, al paesaggio e alla cultura dei nostri territori per l’autono-
mia alimentare ed energetica, per la salvaguardia dei beni comuni.
Modelli di economia solidale sono presenti in molte parti del mondo
ed in particolare nel Sud del mondo. I tempi sono maturi, anzi ci impon-
gono, un confronto tra le diverse esperienze che ci permetta di ridefinire,
insieme, il concetto di sviluppo.
“Lentamente, silenziosamente, surrettiziamente ci hanno tolto la terra
e ci hanno dato in cambio del denaro. Ma la terra è piena, il denaro è vuoto.
La terra è ferma, il denaro è mobile. La terra ha un contenuto, il denaro no”.

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Esperienze geografiche a confronto:
Interscambio universitario italia-brasile
Sarah Natoli
Laurea Magistrale Interfacoltà in Geografia – Università degli Studi di Torino |
Laurea triennale in Lingue e Culture Moderne – Università degli Studi di Napoli
L’Orientale | sarah.natoli@libero.it

Laura Sinagra Brisca


Laurea Magistrale Interfacoltà in Geografia (laureanda) – Università degli
Studi di Torino | Laurea Triennale Interfacoltà in Cooperazione allo sviluppo
internazionale­– Università degli Studi di Padova | laura.sinagra.brisca@gmail.com

Introduzione
Nel dibattito attuale sullo sviluppo, il territorio è posto al centro di
numerose riflessioni teoriche in quanto entità complessa e differenziata
che svolge un ruolo cruciale nel processo di sviluppo locale. Tale proces-
so mira alla valorizzazione delle specificità dei singoli contesti attraverso
l’azione collettiva di soggetti che agiscono localmente e in sinergia con la
scala globale.
Come teorizzato da Giuseppe Dematteis, ciascun Sistema Territoria-
le presenta componenti analitiche quali:
a) la rete locale di soggetti, ossia le interazioni tra individui all’inter-
no di un territorio dove si riscontrano relazioni di prossimità fisica e tra i
soggetti del locale e soggetti di altri luoghi;
b) il milieu territoriale, inteso come un insieme di condizioni am-
bientali e materiali di un territorio all’interno del quale i soggetti intera-
giscono;
c) la relazione simbolica e materiale tra la rete locale, milieu territo-
riale e l’ecosistema;
d) la relazione interattiva tra rete locale e reti extra locali a diverse
scale: regionale, nazionale e globale.
La conoscenza di un territorio non si può limitare a dati oggettivi,
occorre conoscerne le soggettività locali, la loro articolazione geografica, i

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Esperienze geografiche a confronto: Interscambio universitario italia-brasile

loro rapporti con i milieu locali e i principi dell’organizzazione locale del-


lo spazio. Ogni contesto territoriale è un sistema che reagisce agli stimo-
li globali secondo proprie regole interne e pur non essendo determinato
dall’esterno ha con esso scambi continui. In un mondo in cui ogni contesto
territoriale entra sempre più facilmente in rapporto con contesti lontani
si rende indispensabile l’attivazione di flussi di interscambio che rendano
possibile il confronto tra realtà diverse attraverso la creazione di reti che
permettano la diffusione e lo scambio libero del sapere.
L’idea che la prospettiva geografica, nei suoi diversi approcci, possa
dare un grande apporto alla costruzione di una riflessione critica sulla va-
lorizzazione territoriale, spinge il mondo accademico mondiale a promuo-
vere percorsi e temi di ricerca comuni per contribuire a stimolare un dibat-
tito che abbia l’obiettivo di migliorare l’efficienza delle politiche in materia
di agricoltura e tutela del territorio. In un’ottica in cui l’accento viene posto
sulla necessità di cooperare in rete attraverso la promozione di partenaria-
ti tra territori, ci sembra di fondamentale importanza che tale cooperazio-
ne avvenga anche per il mondo accademico e della ricerca.
A nostro avviso, al pari della produzione di territorio anche la pro-
duzione di conoscenza si inserisce in un continuo processo di costruzione,
decostruzione e ricostruzione del sapere. Tale processo, seppur generato
dall’ interno, è influenzato da logiche globali che stimolano un interscam-
bio di conoscenze tra soggetti locali ed extralocali. Ci sembra dunque im-
portante giungere ad una visione d’insieme, cioè connettiva (e in questo
senso orizzontale) del territorio, dei suoi attori e delle sue risorse. Questo
tipo di conoscenza è la premessa necessaria per un agire territoriale collet-
tivo che promuova lo sviluppo sostenibile, accresca la coesione economica
e sociale, produca “valore aggiunto territoriale” ed incrementi il “capitale
sociale” attraverso modelli di “buone pratiche” replicabili anche in altre
situazioni (Dematteis,1994). A nostro avviso, pertanto, appare utile che la
costruzione di una “geografia dell’agire collettivo” avvenga non solo at-
traverso uno scambio interno di conoscenze territoriali ma anche tramite
uno scambio tra contesti territoriali talvolta molto distanti, per evidenziare
analogie e divergenze di ciascun contesto territoriale specifico.
Con questo scopo, il programma Universidade Sem Fronteiras, pro-
mosso dal Governo dello Stato brasiliano del Paranà ha favorito la nascita
di un progetto di cooperazione inter-universitaria che ha visto coinvolti nu-
merosi soggetti del mondo accademico e agricolo, con l’obiettivo di incen-
tivare lo sviluppo agricolo locale, inteso come patrimonio territoriale – am-
bientale e non solo come attività economica. Il fine è quello di valorizzare
il territorio studiando e analizzando esperienze di nicchia che possano for-
nire alternative sostenibili al modello di sviluppo dominante, attraverso un
diverso utilizzo delle risorse naturali in Italia come in Brasile.

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Sarah Natoli | Laura Sinagra Brisca

Il presente articolo vuole essere un reportage del periodo di inter-


scambio avvenuto tra il 13 e il 28 giugno 2010, durante il quale l’Univer-
sità di Torino ha ospitato una delegazione di geografi e sociologi dell’Uni-
versità del Paranà. Tale iniziativa ha stimolato un intenso confronto e
un dibattito sulla valorizzazione e gestione del territorio con particolare
attenzione alle pratiche di agricoltura biologica tanto in Italia come in
Brasile.
Per favorire il dibattito, il Dipartimento Interateneo e Territorio in
cooperazione con i colleghi brasiliani ha organizzato, in data 16 Giugno
2010, il seminario pubblico “Agricoltura e sviluppo rurale” durante il quale
ricercatori ed esponenti del mondo agricolo e associativo si sono confron-
tati sulle principali tematiche d’interesse quali: l’agricoltura biologica; il
turismo rurale e il sistema di filiera corta. Ciascun partecipante ha presen-
tato il proprio progetto di ricerca dando luogo ad un dibattito sulle pro-
spettive di sviluppo locale e territoriale comuni ai due paesi.
Inoltre, sono emerse le peculiarità concettuali della ricerca in cam-
po geografico evidenziandone le similitudini e le divergenze.
E’ ormai noto che accanto alle tendenze omologanti della globaliz-
zazione, emergano strategie di sviluppo economico e territoriale basate
sulla salvaguardia di tradizioni produttive regionali e locali.
Ad esempio, pensiamo alla grande diffusione che in Europa stanno
avendo le produzioni biologiche dei prodotti tradizionali di qualità, favori-
te dalle politiche nazionali e comunitarie. Allo stesso modo esiste una “vi-
sione agroecologica” in Brasile, e in Sud America in generale, che si con-
centra sull’utilizzo sostenibile del terreno considerato come ecosistema e
si focalizza sulle relazioni ecologiche che si creano nell’area per indagarne
la forma, la dinamica e le funzioni.
In questo contesto il settore agroalimentare si trova ad affrontare
una domanda crescente di prodotti di qualità per i quali si richiede una
sempre più rigida tutela. La competitività di questo settore non dipende
più soltanto dalle tecniche produttive ma dalle stesse politiche di valoriz-
zazione delle identità territoriali, dalla diffusione di informazioni e dalla
produzione che contribuiscono all’affermarsi dei prodotti di qualità.
Lo sviluppo di un’agricoltura ecocompatibile o integrata e in par-
ticolare l’affermarsi delle produzioni biologiche, certificate e tutelate da
marchi comunitari e nazionali (dop, doc, igp, igt, docg) in Europa, va con-
siderato in un’ottica che vede l’ambiente come opportunità sopratutto per
attività particolarmente flessibili, pronte a sfruttare nuove occasioni di svi-
luppo con una gestione impostata su principi eco-responsabili.
I prodotti di qualità presentano un legame con il territorio che si
traduce nell’origine geografica delle materie prime e/o nella localizzazione
delle attività di trasformazione. Tale rapporto di condizionamento recipro-
co si estende oltre il processo produttivo e si accumula nel tempo, arric-

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Esperienze geografiche a confronto: Interscambio universitario italia-brasile

chendo il patrimonio del prodotto e del territorio. Le produzioni biologi-


che, basate su tecniche produttive rispettose dell’ambiente, contribuiscono
anche al mantenimento di elementi caratterizzanti i paesaggi agrari e alla
conservazione della biodiversità. Un’agricoltura che privilegia produzioni
di qualità può svolgere un ruolo trainante anche per altri settori: turistico,
commerciale, artigianale; risulta così evidente la rilevanza che le produzio-
ni di qualità stanno acquistando, non tanto in relazione alle quantità, ma
alle esternalità prodotte e al valore aggiunto territoriale (Capineri, Cresti,
2004).
Se pensiamo al il concetto brasiliano di Agroecologia, che sta svilup-
pandosi di recente, dobbiamo sottolineare che esso promuove una agricol-
tura non solo meno aggressiva nei confronti dell’ambiente ma comprende
anche una sorta di inclusione sociale, volta a migliorare le condizioni eco-
nomiche degli agricoltori e a garantire loro la sicurezza alimentare, respon-
sabilizzandoli sull’importanza di attuare uno stile di vita più sostenibile. È
una pratica produttiva che incentiva un uso ecocompatibile delle risorse
naturali e rafforza l’autonomia e l’identità dell’agricoltura familiare. Oltre
al potenziale naturale, l’agricoltura familiare può infatti contribuire alla
creazione di nuovo impiego e nuove fonti reddituali (Saquet et al, 2010).
L’agroecologia in Brasile è un fenomeno che è andato sviluppandosi
negli anni 1970 in seguito alla crisi della rivoluzione verde e alle contrad-
dizioni emerse dal processo di modernizazzione dell’attività agricola. Tale
concetto pone l’accento sulla sostenibilità sia ambientale che sociale: l’en-
fasi non è solo sulla produzione biologica ma anche sulla sostenibilità eco-
logica del sistema di produzione. Tale termine indica, dunque, una serie di
caratteristiche proprie della società e della produzione che vanno oltre i
limiti del campo agricolo.
Al fine di comprendere maggiormente e confrontare le pratiche agri-
cole italiane che più si avvicinano al concetto brasiliano di agroecologia
sono state effettuate delle visite sul campo per mostrare ai colleghi brasi-
liani le principali realtà ed esperienze pratiche di agricoltura biologica nel
territorio piemontese.
Nei seguenti paragrafi tenteremo di definire sinteticamente i con-
cetti di agricoltura biologica, sistema di filiera corta e turismo rurale, che
hanno accompagnato trasversalmente il dibattito del progetto di inter-
scambio internazionale.
Ci si è resi conto che è difficile dare una definizione univoca e condi-
visa a livello internazionale di tali concetti, in quanto esistono diverse sfu-
mature delle stesse pratiche nei diversi contesti territoriali. Ad ogni modo,
ci appare utile tentare di esplicitare una prima, seppur limitata, definizio-
ne, in quanto essa aiuta a stimolare un confronto che faccia risaltare le
analogie e differenze tra le varie pratiche di gestione e valorizzazione del
territorio.

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Sarah Natoli | Laura Sinagra Brisca

L’agricoltura biologica: un quadro introduttivo con riferimento


alla situazione italiana

L’agricoltura biologica si fonda su obiettivi e principi, oltre che su


pratiche comuni, ideati per minimizzare l’impatto umano nell’ambiente e
allo stesso tempo permettere al sistema agricolo di operare nel modo più
naturale possibile. Tale tipo di agricoltura, considera l’intero ecosistema
agricolo, sfrutta la naturale fertilità del suolo favorendola con interventi
limitati, promuove la biodiversità dell’ambiente in cui opera.
Le pratiche agricole biologiche generalmente includono:
• la rotazione delle colture per un uso efficiente delle risorse locali;
• limiti molto ristretti nell’uso di pesticidi e fertilizzanti sintetici, an-
tibiotici nell’allevamento degli animali, additivi negli alimenti e coa-
diuvanti, e altri fattori produttivi;
• il divieto dell’uso di organismi geneticamente modificati (OGM);
• l’uso efficace delle risorse del luogo, come per esempio l’utilizzo del
letame per fertilizzare la terra o la coltivazione dei foraggi per il bes-
tiame all’interno dell’azienda agricola;
• la scelta di piante e animali che resistono alle malattie e si adattano
alle condizioni del luogo;
• allevamento di animali a stabulazione libera, all’aperto e nutrendoli
con foraggio biologico;
• utilizzare pratiche di allevamento appropriate per le differenti spe-
cie di bestiame.
Ma l’agricoltura biologica è anche parte di una lunga catena di di-
stribuzione che comprende la trasformazione degli alimenti, la distribu-
zione e la vendita, ed infine il consumatore. Ogni anello di questa catena
gioca un ruolo importante nell’apportare benefici (UE, 2010).
L’etica dell’agricoltura biologica consiste in un patto fra i produtto-
ri, che operano in ciascuna filiera produttiva, e i consumatori; patto che si
sostanzia in un dovere di correttezza nello svolgimento delle attività pro-
duttive, di trasformazione e di mercato e nella informazione dei consu-
matori che permette loro di riconoscere il prodotto biologico. Dal punto
di vista occupazionale, l’agricoltura biologica richiede un impiego elevato
di manodopera, minor impiego di mezzi meccanici e l’applicazione di di
tecniche di lavorazione anche tradizionali. Inoltre, l’agricoltore biologico
deve sviluppare relazioni con altri attori quali gli enti di certificazione, i
consorzi e le associazioni e altri intermediari per poter posizionare i propri
prodotti sul mercato. Dal punto di vista sociale invece, l’agricoltura biolo-
gica come del resto gran parte delle attività del settore agricolo, viene pra-
ticata utilizzando un know how prodotto localmente e che si trasmette da

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Esperienze geografiche a confronto: Interscambio universitario italia-brasile

un operatore ad un altro attraverso canali non codificati e informali (Berti


Capineri, 2004).
Oggi, in Italia, ci sono forti motivazioni economiche per pratica-
re l’agricoltura biologica. Infatti, in seguito alla recente crisi economica
mondiale si è accentuata la domanda di prodotti biologici, poiché sia la
domanda di pesticidi (troppo costosi), che la domanda di sementi ibridi si
è ridotta.
In conseguenza di ciò, si registra un graduale ritorno alla selezione
naturale delle sementi più produttive considerando la convenienza, in ter-
mini di sostenibilità sia economica che ambientale, di utilizzare sementi
locali, prodotti autoctoni e promuovere la conservazione delle varietà più
antiche.
Ma è soprattutto grazie ai sussidi dell’Unione Europea per la pro-
duzione Bio che molti agricoltori convenzionali si sono convertiti al bio-
logico. Tuttavia, il Bio deve essere conveniente economicamente sia per i
produttori che per i consumatori e, se ci si affida solo ai sussidi, si corre il
rischio che al termine degli incentivi una parte degli agricoltori smettano
di produrre Bio.
Risulta quindi necessario organizzare in modo più efficiente la fi-
liera del biologico e coordinare meglio la produzione, aumentando gli
sbocchi specifici per la commercializzazione di tali prodotti, dato che una
gran parte della produzione biologica attualmente viene venduta nei canali
commerciali già attivati per l’agricoltura convenzionale (il 22% della pro-
duzione bio di vegetali viene venduta come convenzionale). Non appare
ancora sufficiente, inoltre, il supporto pratico nonché l’assistenza tecnica
specifica per l’agricoltura biologica. È indispensabile collaborare tra pro-
duttori e creare una rete per la trasmissione di nozioni tecnico pratiche
specifiche. Infine risulta necessario concentrare l’attenzione sulla concor-
renza tra scale diverse, in modo da promuovere la creazione di una filiera
biologica dei piccoli produttori che possano rifornire le grandi distribuzio-
ni alimentari.
L’agricoltura biologica non è solo un metodo produttivo ma è an-
che un modello di sviluppo rurale che si propone di tutelare e valorizzare,
senza l’uso di pesticidi e concimi di sintesi chimica e tecniche inquinan-
ti, l’ambiente e le risorse naturali. L’agricoltura biologica viene presentata
come lo strumento migliore per rispondere alle esigenze di cibo buono,
pulito e giusto.
Non a caso, per la Commissione Europea è ” uno strumento tra i più
importanti per ottenere prodotti di qualità compatibili con l’ambiente (dal
piano di azione Europeo 2004)”. L’agricoltura biologica è normata dal Reg.
CE 834/2007 che prevede regole precise per la coltivazione, l’allevamento e
per l’utilizzo di mezzi tecnici necessari. I prodotti biologici sono sicuri per-
ché controllati lungo tutta la filiera di produzione, trasformazione e com-

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Sarah Natoli | Laura Sinagra Brisca

mercializzazione, secondo regole omogenee in tutta Europa, da parte di


Organismi di Controllo appositamente autorizzati dagli stati membri.

Il concetto di filiera corta nell’esperienza italiana


La filiera corta consiste nella possibilità di comprare i prodotti or-
tofrutticoli e  simili direttamente dal produttore, invece che al negozio o
sulle bancarelle del mercato. La filiera corta nasce dalla consapevolezza
che produttori e consumatori finali hanno obiettivi comuni, raggiungibili
attraverso nuove forme d’incontro e scambio, praticabili grazie al rapporto
di vendita diretta.
I vantaggi della filiera corta sono svariati: minor costo dei prodotti
per il consumatore grazie all’abbattimento della spesa legata alla distri-
buzione; giusto compenso per i produttori; riduzione dei costi ambientali
dovuti alla distribuzione; maggiore tracciabilità dei prodotti; sensibilizza-
zione e rivalutazione del proprio territorio e di ciò che esso è in grado di
offrire; consumo di prodotti sani e biologici di provenienza certa.
Ci sembra opportuno accennare alla differenza che sta emergendo
tra due accezioni di filiera corta:
• filiera corta in senso spaziale: distanza chilometrica tra produttore e
consumatore (km0);
• filiera corta in senso funzionale: rapporto diretto tra produttore e
consumatore (non necessariamente a distanza ravvicinata).
Esistono varie tipologie di filiera corta:
1. a Chilometro zero: per Km 0 si intende un indicatore di impatto am-
bientale del cibo, definito in base ai km percorsi dall’alimento dal
luogo di produzione fino a quello di consumo (le cosiddette food
miles). Ha come scopo quello di orientare la scelta dei consumatori
(e di ristoranti e mense) verso prodotti locali che compiano distan-
ze contenute (menù a km zero) in modo da stimolare l’agricoltura
locale ed i piccoli produttori. Si vuole inoltre evidenziare con ques-
to concetto l’impatto energetico e ambientale legato ai trasporti dei
prodotti alimentari per favorire la riduzione dei consumi di energia,
degli impatti ambientali e dei costi della logistica.
2. Vendita diretta in azienda: il produttore apre, in genere nella stessa
azienda, uno spaccio per la vendita dei prodotti propri. Fino al 2001
in Italia tale attività era disciplinata dalla Legge 59 del 1963, poi
modificata con la legge di orientamento (il Decreto Lg.vo 228/2001)
che ha aumentato le possibilità di vendita diretta e le agevolazioni
per i produttori che organizzano la vendita delle proprie produzioni
presso la propria azienda o anche in luogo fisso fuori dall’azienda.

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Esperienze geografiche a confronto: Interscambio universitario italia-brasile

L’obbligo per il produttore è che metta in vendita produzioni della


sua azienda in misura prevalente rispetto al totale delle produzioni
offerte ai consumatori, con la possibilità di integrare anche con pro-
dotti di altri contadini ed allevatori.
3. I mercati contadini : I mercati dei contadini iniziano ad operare negli
Stati Uniti e da li si diffondono in Europa, acquisendo una dimen-
sione globale. Questo nuovo modello di di mercato rurale coniuga le
variegate esigenze del settore e in particolare conserva e promuove
l’identità locale, assolvendo attraverso i prodotti anche ad una vali-
da operazione di marketing dei luoghi.(Di Blasi, 2009). Oggi in Ita-
lia, i mercatini del biologico sono diffusi in tutte le regioni italiane e
spesso in alcune regioni sono organizzati con frequenza settimanale
o almeno mensile. La normativa legislativa di riferimento è il D.L.vo
228/2001 da un lato, e il Decreto del Ministero delle Politiche Agri-
cole MIPAAF del 27.11.2007 “Regolamento dei mercati di vendita
diretta degli imprenditori agricoli” dall’altro. Non necessariamente
un banco di frutta e verdura di un mercato ortofrutticolo è gestito da
un produttore, più di una volta chi lo gestisce è un commerciante.
I mercati contadini, invece, per essere definiti tali, sono aperti solo
ai produttori agricoli. Il mercato dei produttori deve/può prevedere
il coinvolgimento delle associazioni di consumatori per verificare la
politica dei prezzi, per esempio, ma anche per organizzare, insieme ai
produttori, attività di informazione e cultura in genere. Il mercato dei
produttori deve possedere un proprio regolamento a garanzia sia dei
produttori che dei consumatori e viene autorizzato dal Comune in cui
lo si vuole istituire, nel rispetto delle normative che lo stesso Comune
ha adottato in armonia con il Decreto MIPAAF del 20.11.2007.
4. Gruppi di acquisto: Sono quelle organizzazioni di consumatori, in-
formali o dotate di un proprio statuto, che decidono di riunirsi per
acquistare i prodotti biologici direttamente dal produttore o da gru-
ppi di produttori organizzati con piccole/medie piattaforme, be-
neficiando di una riduzione importante sul prezzo finale dovuto,
appunto, all’accorciamento della filiera di vendita. La filosofia di un
gruppo d’acquisto va anche oltre al calo del prezzo; di fatto gli aspet-
ti etici e sociali sono sempre in primo piano e attentamente valutati,
come ad esempio la tutela e la salvaguardia ambientale, la valorizza-
zione delle culture e colture tradizionali e delle aree di produzione,
lo stretto legame prodotto/ territorio e, non ultimo, il rispetto delle
condizioni di lavoro agricolo.
I partecipanti al gruppo definiscono i prodotti su cui intendono ese-
guire gli acquisti collettivi; in base a questa lista i diversi soci compila-
no un ordine che verrà poi trasmesso, in genere via e-mail, ad un capo

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Sarah Natoli | Laura Sinagra Brisca

gruppo o coordinatore il quale, trasmetterà a sua volta l’ordine o ai


singoli produttori o ai gruppi organizzati di produttori. Nella fase suc-
cessiva il produttore e/o l’organizzazione tra produttori provvederà
a rendere disponibile le merci o a consegnarle direttamente al capo-
gruppo che smisterà alle singole famiglie. Alcuni gruppi d’acquisto
hanno assunto come obiettivo prioritario la sensibilizzazione del con-
sumatore alle problematiche dello sviluppo sostenibile e l’educazione
al consumo critico; per questo hanno assunto la denominazione di
GAS (Gruppo di Acquisto Solidale). La dimensione può andare da
una decina a più di un centinaio di membri. Ogni gruppo è autono-
mo nel selezionare i produttori sulla base della loro aderenza a prin-
cipi di consumo e produzione etica e sostenibile, e nell’organizzare
ordini e distribuzione. I GAS in Italia nascono nel 1994. Attualmente
sono censiti oltre 600 gruppi. Con la denominazione di GAS si inten-
de porre l’accento sul concetto multiforme di solidarietà: solidarietà
tra consumatori; solidarietà tra consumatori e ambiente; solidarietà
tra consumatori e produttori. Se è giusto ed utile che i consumatori si
organizzino, altrettanto lo è per i piccoli produttori. Infatti, per dare
maggiori garanzie ai consumatori in ordine alla continuità delle for-
niture, ma anche alla verifica della qualità e della salubrità dei prodot-
ti, è necessario aggregare l’offerta dei prodotti. Un piccolo produttore
da solo non può fornire questi requisiti. Ecco perché i piccoli produt-
tori si aggregano costituendo gruppi di offerta solidale.

Il turismo rurale nel contesto italiano


Per turismo rurale si intende una specifica articolazione dell’offerta
turistica regionale composta da un complesso di attività che può compren-
dere ospitalità, ristorazione, attività sportive, del tempo libero e di servizio,
finalizzate alla corretta fruizione dei beni naturali e culturali e compatibil-
mente con le risorse ambientali, naturalistiche e culturali del territorio rura-
le, inteso come spazio non urbanizzato, attraverso il recupero e l’utilizzazio-
ne del patrimonio edilizio rurale esistente (Bollettino ufficiale della regione
Emilia Romagna n. 61 del 30-06-94). Il termine “turismo rurale” viene utiliz-
zato correntemente senza peraltro che su tale concetto si sia convenuta una
definizione univoca ed universalmente accettata, così come addirittura non
esiste univocità rispetto al concetto base di “ruralità”. Il dibattito sulle forme
“alternative” di turismo risale alla metà degli anni ’80, con la crescente atten-
zione sul turismo “naturale”, “ecologico”, vale a dire con quelle modalità di
fruizione turistica strettamente legate alla conoscenza (ed al rispetto) del ter-
ritorio ospitante, in tutte le sue valenze e componenti. Spesso nella categoria
“turismo alternativo” sono finite forme di turismo molto diverse tra di loro,
accomunate da una sorta di contrapposizione con il turismo di massa.

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Esperienze geografiche a confronto: Interscambio universitario italia-brasile

Da questo insieme un po’ magmatico, si differenzia con chiarezza, ad


un certo punto, quello che va sotto il nome di “ecoturismo”. Una delle prime
definizioni venne data dall’International Ecotourism Society nel 1991 “l’eco-
turismo è la visita responsabile alle aree naturali, che consente di conservare
l’ambiente e sostiene il benessere delle popolazioni locali”. Successivamente
(1996) la World Conservation Union ne ha dato una definizione più articola-
ta, come “quella forma di viaggi e soggiorni ambientalmente responsabili in
aree relativamente incontaminate, allo scopo di svago e di godimento della
natura e di ogni altro elemento culturale collegato, forma di turismo che fa-
vorisce la conservazione dell’ambiente, esercita bassi impatti negativi e fa-
vorisce lo sviluppo delle popolazioni locali”. Da un punto di vista funzionale
poi, l’ecoturismo si svolge per lo più a scala individuale e a piccoli gruppi,
ed è pertanto servito da strutture ricettive ed organizzative di taglia medio-
piccola, operanti soprattutto nelle aree protette.

Appunti di viaggio dalle visite sul territorio


All’interno del periodo di interscambio sono state effettuate delle
escursioni sul territorio al fine di mostrare ai colleghi brasiliani quelle che
sono alcune delle diverse realtà locali di produzione biologica, agriturismo
e gruppi di acquisto solidale nel contesto piemontese.
Le escursioni sul campo hanno permesso di conoscere diversi ter-
ritori e di entrare in contatto diretto con esempi pratici di forme alterna-
tive di gestione sostenibile delle risorse naturali. L’osservazione diretta è
risultata utile per comprendere meglio le specificità del contesto italiano e
in particolare piemontese in relazione alla conformazione del territorio e
all’evoluzione storica di tali fenomeni ambientali e sociali.
A tal proposito, per evidenziare le differenze territoriali e le espe-
rienze che tali differenze hanno generato nei diversi Municipi, le visite
hanno avuto come scenario i più caratteristici paesaggi del Piemonte (fi-
gura 1): le Langhe, il Canavese, l’Anfiteatro morenico di Ivrea e la realtà
industriale dell’ Olivetti. In particolare, sono state visitate alcune comunità
agricole nate a scopi socio culturali ed in seguito convertite in cooperati-
ve agricole. Tali comunità si fondano sul principio cardine che “l’uomo è
parte dell’ecosistema”: quando si danneggia l’ecosistema i primi a pagarne
le conseguenze siamo noi esseri umani. Secondo tale principio la solida-
rietà, sia nei confronti delle persone sia nei confronti dell’ambiente risulta
quindi di primaria importanza. Tali comunità si prefiggono di valorizzare
e conservare le peculiarità del territorio.
Infatti, modificare il paesaggio senza le dovute conoscenze speci-
fiche crea effetti negativi imprevedibili Ecco perché la trasmissione e lo
scambio di informazione e conoscenze, in campo agricolo e zootecnico, di

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Sarah Natoli | Laura Sinagra Brisca

coloro che hanno da sempre vissuto nel territorio è stata indispensabile per
mantenere intatte le proprietà specifiche di ciascun terreno agricolo.
Un discorso analogo viene portato avanti dagli agriturismi visitati.
Essi promuovendo i prodotti tipici e favorendo il turismo rurale hanno
come obiettivo quello di preservare le ricchezze paesaggistiche e le risorse
locali. Non a caso, tali realtà aderiscono a progetti di filiera corta e distri-
buzione a km zero partecipando attivamente ad associazioni locali che mi-
rano ad avvicinare il produttore al consumatore. Un esempio di queste è
l’associazione di filiera corta “Ecoredia” di Ivrea.
Si è avuto anche modo di entrare in contatto con alcune realtà asso-
ciative locali che promuovono il recupero di colture tradizionali che negli
ultimi decenni si stanno perdendo, come l’associazione Assocanapa che,
fondata nel 1998 a Carmagnola (Torino), sostiene gli agricoltori nell’avvio
della coltivazione della canapa, fornisce informazioni agronomiche e col-
turali, colloca il prodotto finale, ricerca e tutela le varietà di canapa italia-
na, coordinando a livello nazionale l’attività di tale coltivazione.

Figura 1 – Il Piemonte – Italia: visite sul territorio.

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Esperienze geografiche a confronto: Interscambio universitario italia-brasile

Analogamente opera sul territorio anche l’associazione Slow Food1


che, nata in Piemonte (e in particolare a Bra) nel 1989, si articola come
rete mondiale che aggrega soggetti molto diversi tra loro. È un movimen-
to di consumatori responsabili che adottano diversi approcci: promuovere
la collaborazione tra produttori e consumatori (co-produttori) tentando
di stabilire un collegamento, una rete e allo stesso tempo creare luoghi e
spazi di contatto diretto, incontro e scambio; sviluppare percorsi di edu-
cazione sia per agricoltori che consumatori; salvaguardare la biodiversità,
soprattutto con attenzione alle varietà locali; creare diversi eventi per co-
municare ai consumatori, come ad esempio il Salone del Gusto o la confe-
renza mondiale di Terra Madre.
Collegare la produzione ad un territorio significa, di conseguenza, an-
che recuperare le conoscenze tradizionali relative ai prodotti specifici. Infat-
ti per Slow Food è molto importante la componente territoriale: le sementi;
le varie specie/razze; le persone, come detentori del “saper fare”; i territori.
L’anima di Slow Food risiede nell’eccellenza gastronomica, intesa come pro-
duzione di eccellenza gustativa anche dal punto di vista del marketing.
Qui di seguito, infine, verranno brevemente descritte le caratteristi-
che di alcune delle realtà imprenditoriali e associazioni visitate durante la
visita sul terreno.

Cooperativa agricola “Terra e Gente”*.


Canavese, Comunità Emmaus, Cascina Penseglio.
Nasce a Torino nel ‘64 un collettivo di persone che (sull’onda
delle idee che sbocceranno poi nel ‘68) si occupava di dare assistenza
agli emarginati, in particolare immigrati (dall’Italia del Sud) e pros-
titute. Nel 1972 la Comunità sceglie di dedicarsi all’agricoltura, “si
lavora per vivere e non per morire”. Il momento storico vedeva nella
chimica la nuova frontiera della agricoltura ma, dato l’aumento di
malattie quali i tumori e il cancro, si diffonde la volontà di lavorare
in modo diverso. Nasce, in questi anni, l’associazione Agribio in ris-
posta alla tendenza internazionale della rivoluzione verde che, come
si poteva già notare, non dava guadagno ma creava solo dipendenza
dalle multinazionali.
Le idee di base si fondavano sul :

*
Fraternità Emmaus, Cascina Penseglio, 14020 ALBUGNANO (AT), Italia, terraegente@
libero.it

1
www.slowfood.it www.slowfood.com

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Sarah Natoli | Laura Sinagra Brisca

• comprare meno possibile (minor dipendenza dall’esterno);


• avvicinare i consumatori ai produttori in un ottica di conve-
nienza economica.

Gli obiettivi fondamentali da perseguire erano la salvaguar-


dia della salute e l’avvicinamento del produttore al consumatore.
La cascina attuale (antica proprietà dell’Abbazia di Vezzolano che
risale al 1500-1600) della comunità Emmaus, è stata acquistata nel
1984 grazie alla solidarietà economica di tutti coloro che condivi-
devano gli stessi principi. La proprietà si estende su 24 ettari di ter-
reno comprensivi di una vasta superficie boschiva che viene mante-
nuta tale nel completo rispetto dei ritmi di naturale rigenerazione.
Vengono utilizzate tecniche d’avanguardia come un sistema di fi-
todepurazione e le produzioni sono accorpate (tecnica ideale per il
biologico), infatti le vigne e l’orto sono in prossimità della cascina.
Il bosco limitrofo viene periodicamente pulito e curato senza ap-
portare modifiche sostanziali ma lasciando il più possibile intat-
ta la naturale biodiversità. Viene praticata la zootecnia biologica,
producendo carne bovina conservata in un impianto abbattitore di
calore (100 kg in 2 h). La produzione agricola e zootecnica serve al
sostentamento della comunità e, per l’attività di agriturismo, la co-
munità è atta ad ospitare chiunque voglia trascorrere un periodo
nella natura.

Cooperativa agricoltura biologica e comunità di recupero*


Cooperativa nata nel 1986 dalla necessità di creare una forma
istituzionale per consentire il recupero di ex detenuti del carcere di
Ivrea, il direttore del carcere è socio fondatore della comunità. La
cooperativa possiede 17 ettari di proprietà di cui un ettaro coltivato
ai fini della sussistenza della comunità e alla fornitura di ortaggi per
la rete di acquisto solidale di Ivrea. Si pratica agricoltura e zootec-
nia biologica. La cooperativa adotta un sistema a ciclo chiuso grazie
all’uso di energia rinnovabile (sistema di riscaldamento con colletto-
re e pannelli solari). La cooperativa è ospitata all’interno d un con-
vento di frati carmelitani.

*
Fraternità Carmelitana, Vico Canavese -10010 LESSOLO (TO) (http://www.ilcarmelo.
it/conventi/lessolo.html)

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Esperienze geografiche a confronto: Interscambio universitario italia-brasile

Agri.Bio*
Agri.Bio è una Associazione ONLUS di produttori e consuma-
tori che operano nel settore dell’agricoltura biologica e biodinamica.
Nasce ufficialmente nel maggio del 1991 come Agri.Bio Piemonte.
L’Associazione nasce riunendo le esperienze e le realtà di alcune as-
sociazioni che già operavano nel campo dell’agricoltura biologica a
livello locale (come ad esempio la Cooperativa Terra e Gente) per
dare loro un risvolto, un’operatività e una rappresentanza a livello
regionale e per dare vita a servizi di sostegno e promozione all’intero
settore.
La strategia dell’associazione si articola in cinque punti fon-
damentali:
• Tecnico : assistenza tecnica specializzata alle aziende agricole
biologiche, biodinamiche e nuove aziende, ricerca e sperimen-
tazione in ambito agrario, ambientale e igienico sanitario in
collaborazione con la Regione Piemonte, Enti locali e territo-
riali, Università e Istituti di Ricerca.
• Formativo : formazione professionale per i produttori piemon-
tesi; informazione ai soci su tutto il territorio attraverso corsi,
stage e convegni su tematiche legate all’agricoltura, alla salute
e all’alimentazione
• Commerciale : commercializzazione di prodotti biologici e
biodinamici, assistenza alla vendita dei prodotti dei soci pro-
duttori, fornitura di mezzi tecnici, sementi certificate.
• Certificazione : assistenza alla certificazione biologica tramite
una convenzione con BIOS srl, organismo di controllo e certi-
ficazione privata con il marchio AgriBioDinamica.
• Editoria : stampa, libri, cd audio e video e rivendita di libri di
agricoltura biodinamica, biologica, alimentazione, medicine
alternative, bioarchitettura ecc.

*
http://www.agribionotizie.it/.

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Sarah Natoli | Laura Sinagra Brisca

Ecoredia*
Ad Ivrea il progetto di filiera corta nasce come rete logistica,
attraverso il passaparola tra amici e piccoli produttori della zona. Nel
piccolo centro urbano la domanda di prodotti biologici ha superato
l’offerta ponendo una grande sfida per chi sostiene questo progetto.
Oggi si lavora con neo agricoltori che tornano all’agricoltura
con un nuovo spirito, dettato dalla voglia di vivere in modo più sano
e compatibile con l’ecosistema naturale. Sono famiglie giovani che
tentano di allargare la loro produzione nonostante il reddito agricolo
sia molto aleatorio. Per questo motivo è utile avere diverse forme di
reddito, l’agricoltura da sola ad Ivrea non dà sicurezze. Un limite che
colpisce questo sistema di produzione e distribuzione è il cosiddetto
problema della stagionalità, tipico dell’agricoltura biologica, cioè ca-
pita a volte che non si sia in grado di fornire al consumatore una va-
rietà minima di prodotti che permettano di mangiare cibi di stagione
ma variegati.

*
http://www.ecoredia.it.

Cooperativa agricola “Ortoamico”1


La visita ha riguardato una delle aziende facenti capo alla co-
operativa Ortoamico, l’azienda agricola Biagio Bergesio. L’azienda
si trova nel Comune di Pocapaglia, nell’area del Parco delle Rocche
in Provincia di Cuneo. Si eseguono studi, monitoraggio e verifica
dell’effettiva efficienza di sistemi energetici singoli ed integrati su im-
pianti serricoli estesi per circa 7500 m2 destinate alla produzione di
ortaggi biologici. Il progetto prevede il monitoraggio di serre suppor-
tate da fonti energetiche alternative di tipo attivo e passivo, in parti-
colar modo dall’utilizzo dell’energia solare prodotta da celle fotovol-
taiche ed energia geotermica, e materiale riciclato per la costruzione
degli impianti. Per quanto riguarda le tecnologie energetiche passi-
ve vengono utilizzate: pareti “trombe” per l’utilizzo del calore accu-
mulato durante il giorno sulle pareti delle serre; teli reirraggianti in
alluminio per la coibentazione e l’ombreggio delle serre; impianti a
geotermia fredda per l’utilizzo dell’energia del sottosuolo per clima-

1
http://www.ortoamico.com

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Esperienze geografiche a confronto: Interscambio universitario italia-brasile

tizzare gli ambienti sia in inverno che in estate. Mentre per quanto
riguarda le tecnologie energetiche attive il sistema è dotato di un im-
pianto di riscaldamento basale ed aereo in serra alimentato con cal-
daie a biomasse e di un impianto di produzione di energia elettrica
mediante l’utilizzo di pannelli fotovoltaici.
Esiste la possibilità di integrazione tra ENEL, gruppo elet-
trogeno e impianto fotovoltaico per simulare situazioni con o senza
l’ausilio della rete elettrica. A tal proposito è stato possibile osservare
un progetto sperimentale in atto che prevedeva la coltivazione bio-
logica di piante di mais in un clima sub tropicale riprodotto artifi-
cialmente attraverso l’utilizzo esclusivo di impianti geotermici; tale
esperimento mirava a riprodurre tale coltura in ambienti caldi come
quelli del continente africano.
L’intero progetto dell’”isola energetica” è finanziato dal Setto-
re Agrienergia dell’Assessorato Agricoltura della Regione Piemonte
(patrocinatore, divulgatore e finanziatore della ricerca), in partena-
riato con Associazione interregionale Nord-Ovest di Legacoop Agro-
alimentare (promotore), Azienda Agricola Agrinaturaroero di Poca-
paglia (operatore ed utilizzatore) e DEIAFA, Università degli Studi di
Torino (coordinamento tecnico).

Conclusioni
Lo scambio universitario che è avvenuto durante il mese di giugno
2010, ha permesso ai vari partecipanti di Torino e del Paranà di incon-
trarsi, di confrontare le proprie “intelligenze” attraverso uno scambio di
ricerche per produrre una nuova crescita culturale. Lo scambio ha prodot-
to nuove riflessioni, ha arricchito, ampliato ed integrato le ricerche locali
di entrambi i dipartimenti, ha promosso un modo di far ricerca “aperto”,
che non si chiude tra i confini nazionali ma si fa promotore di incontri tra
territori inter-nazionali per approfondire nuovi temi d’indagine condivisi.
Attraverso il confronto è stato possibile contestualizzare ogni tipo di ri-
cerca: capire come temi simili, quali sviluppo locale, agricoltura biologica
e ancora turismo rurale, trovano campi e terreni di indagine diversi a se-
conda del contesto, e, allo stesso tempo, contesti diversi sviluppano temi
di ricerca simili.
Ad esempio, un filone di ricerca che si sta diffondendo sia in Italia
che in Brasile è quello della produzione di cibi di qualità, tradizionali, che
recupera colture antiche e si oppone all’accelerazione e omologazione dei
sistemi di produzione agricoli. Non solo si sono sviluppate diverse tipolo-
gie di certificazione per definire la qualità dei prodotti, ma si è creata una

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Sarah Natoli | Laura Sinagra Brisca

crescente domanda di cibi di qualità. Si nota un progressivo “nuovo ritor-


no alla terra”, alle produzioni biologiche, all’unione di tutti coloro che si
fanno portavoce di tali tendenze.
In Europa si osserva un crescente antagonismo tra la piccola-scala
della produzione “locale” di cibi e prodotti biologici, e la grande-scala del-
la produzione di massa della moderna agricoltura intensiva ed estensiva.
E’ vero anche che se ci fosse una crescita esponenziale della domanda di
prodotti biologici, tale produzione diverrebbe una produzione biologica
industriale su grande scala, dunque appare inappropriato ridurre il discor-
so sulla qualità del cibo all’opposizione tra ”alternativo“ e “industriale”.
Sarebbe opportuno considerare le interrelazioni che si creano tra consu-
matori, produttori e vari intermediari nel contesto della relazione produ-
zione-consumo (Atkinson, Gibbs, Reimer, 2007).
In Brasile la modernizzazione dell’agricoltura, l’accelerazione del-
le produzioni, lo sfruttamento intensivo del terreno, la cosiddetta “Rivo-
luzione Verde”, e gli incentivi in massa per la produzione di biocombu-
stibili, hanno ben presto mostrato tutte le contraddizioni di un sistema
che aumenta i problemi nel tentativo di risolverli. Tali problematiche stan-
no emergendo con sempre maggior intensità e spingono verso la ricerca
di nuove soluzioni, nuove politiche, nuovi tipi di ricerca-azione, affinché
l’umanità possa giungere a uno scambio globale di conoscenze che valoriz-
zi e consideri le specificità locali.
L’esperienza di interscambio ha dato vita a un percorso congiunto
di ricerca che vede nella realizzazione del presente volume il primo passo
per creare una conoscenza comune e condivisa su quelle che sono le nuove
prospettive della ricerca geografica in campo territoriale e locale.
Per concludere, ci sembra opportuno riprendere il concetto di biodi-
versità culturale e sviluppo locale, espresso da Dematteis durante il semi-
nario d’interscambio.
Quando si parla di biodiversità si è soliti distinguere tra biodiversità
naturale e culturale. La prima nasce da un processo di selezione biologica:
l’ambiente geografico locale seleziona gli adattamenti, le mutazioni natu-
rali mentre tramite la riproduzione si trasmette il patrimonio genetico. La
biodiversità culturale nasce e si esprime attraverso un rapporto di tipo co-
evolutivo e coadattivo e le caratteristiche ambientali interagiscono con le
comunità umane insediate, indirizzandole verso alcune direzioni piuttosto
che altre.
In realtà, esistono analogie e relazioni tra biodiversità naturale e
culturale poiché entrambe si fondano su una base geografica comune, me-
diante un rapporto coevolutivo e coadattivo con un ambiente geografico
locale unico. L’ambiente offre delle opportunità, la società insediata ne uti-
lizza alcune per definire il proprio territorio. Grazie a tale interazione con
l’ambiente, mediata dalle territorialità attive, si genera la differenzazione

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Esperienze geografiche a confronto: Interscambio universitario italia-brasile

umana geografica; il mondo può essere quindi rappresentato come un mo-


saico culturale.
La territorialità attiva delle popolazioni non è intesa solo come un
rapporto coevolutivo ma anche costruttivo ed educativo. Una comunità
esprime la propria territorialità, definendo la sua specificità culturale at-
traverso modalità di trasmissione dei propri caratteri (trasmissioni verti-
cali/ereditarie e orizzontali/incontro con culture altre) che si esplicano nel
paesaggio da essa prodotto.
La sopravvivenza di culture specifiche dipende da queste trasmis-
sioni: non solo, cioè, dalla salvaguardia delle espressioni culturali proprie
della comunità, ma anche da un meccanismo d’ibridazione con l’esterno
necessario alla sopravvivenza della cultura locale.
Se consideriamo il concetto di biodiversità culturale, citando l’Une-
sco che parla di “diversità come patrimonio dell’umanità”, osserviamo che
tale definizione appare una visione alquanto limitata, poiché contempla
il concetto di biodiversità come un prodotto. Infatti tutela le espressioni
culturali date, considerandole come statiche, in tal modo però, potrebbe
sembrare che si vogliano conservare solo come “fossili”. È importante, in-
vece, pensare al concetto di biodiversità culturale non come un prodotto
ma come processo di produzione e riproduzione delle diversità.
D’altro canto, le differenze culturali attualmente stanno scomparen-
do anche più in fretta delle differenze naturali, ci si domanda allora, fino
a che punto la territorialità oggi produca realmente differenzazioni cultu-
rali, e fino a che punto queste siano gestite dal locale e non siano un mo-
dello importato dall’esterno. Risulta necessario far sopravvivere rapporti
di territorialità attivi: le popolazioni devono continuare ad interagire con il
milieu territoriale specifico e allo stesso tempo confrontarsi con scale so-
vra locali con cui attuano processi d’ibridazione (come il suddetto progetto
interscambio universitario Italia-Brasile).
Come sostiene Raffestin, senza una salvaguardia e una valorizzazione
delle socio diversità non può esserci una biodiversità (Raffestein, 1995).
Le istituzioni pubbliche, per Dematteis, sono gli attori ideali per fa-
vorire tale riproduzione delle diversità culturali. A tal proposito riteniamo
di fondamentale importanza il ruolo che l’Università, in quanto istituzione
pubblica, svolge nell’attuare progetti di ricerca-azione che favoriscano l’in-
terscambio tra soggetti di culture diverse. Tali progetti possono incentiva-
re la valorizzazione e conservazione del patrimonio locale, sia ambientale
che culturale, attraverso una costante relazione e integrazione reciproca
tra territori.
Ci auguriamo che questa esperienza abbia aperto la strada ad un
lungo cammino, intrapreso per avvicinarci a luoghi e popoli tanto remoti,
nel tentativo di creare percorsi che valorizzino le specificità locali e diano
vita a nuove conoscenze globali.

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Sarah Natoli | Laura Sinagra Brisca

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Esperienze geografiche a confronto: Interscambio universitario italia-brasile

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Reti produttive solidali in brasile:
il caso di justa trama

Eleonora Olivero
Dott.ssa in Cooperazione, Sviluppo, Mercati Transnazionali |
Facoltà di Scienze Politiche, Università degli Studi di Torino |
eleonora.olivero@gmail.com

Introduzione
In un contesto mondiale di crisi, determinata dalle contraddizione
del sistema economico dominante – l’illusione di una crescita illimitata, lo
sfruttamento massiccio delle risorse naturali e l’acuirsi delle diseguaglian-
ze sociali – l’economia solidale rappresenta un modo alternativo di inten-
dere il lavoro e l’economia, basato sui principi di promozione umana, in-
clusione sociale e rispetto dell’ambiente.
In America Latina, in particolare in Brasile, gli effetti negativi del si-
stema neo-liberista sono evidenti: pesanti squilibri nella distribuzione del-
la ricchezza, minacce alla sopravvivenza degli ecosistemi naturali, culture
tradizionali minate. L’economia solidale si sviluppa in risposta a queste
contraddizioni, concretizzandosi attraverso una molteplicità di iniziative.
Ciò che le accomuna è la ricerca di nuovi modi di organizzare la produzio-
ne, la distribuzione ed il consumo in vista del miglioramento della qualità
della vita delle persone. Molte di queste esperienze vanno consolidando-
si sempre più, attraverso la costruzione di reti di collaborazione solidale,
come nel caso di Justa Trama, filiera di produzione di abbigliamento in
tessuto di cotone biologico.

Metodologia
Il presente lavoro si basa sulla ricerca finalizzata all’elaborazione
della tesi di laurea specialistica in Cooperazione, Sviluppo, Mercati Tran-

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Reti produttive solidali in brasile: il caso di justa trama

snazionali, dal titolo “Reti produttive solidali in Brasile e collegamenti con


le esperienze italiane: il caso di Justa Trama”, discussa presso la Facoltà
di Scienze Politiche dell’Università degli Studi di Torino nel mese di luglio
2009. La tesi ha avuto come relatore il professor Roberto Burlando e come
correlatore Luigi Eusebi.
La metodologia di lavoro ha previsto un’iniziale revisione bibliogra-
fica sul tema dell’economia solidale, con particolare riferimento ad auto-
ri latinoamericani. Successivamente è stata svolta una ricerca sul campo
attraverso la realizzazione di un tirocinio presso la Cooperativa Centrale
Justa Trama nei mesi di ottobre e novembre 2008. Durante lo studio sono
stati raccolti dati quantitativi e qualitativi attraverso interviste orali con i
lavoratori e con alcuni membri del Coordinamento Centrale della rete.
Un ulteriore contributo è stato offerto dal confronto con il Gruppo
di Ricerca sull’Economia Solidale ECOSOL, presso la UNISINOS (Univer-
sidade do Vale do Rio Sinos) con sede a São Leopoldo (RS), coordinato dal
professor Luiz Inácio Gaiger e dalla professoressa Marília Veríssimo Vero-
nese e con l’Incubadora social dell’UNIVALI, Universidade do Vale do Itajaí
(SC), coordinata dalla professoressa Leila Andresia Severo Martins.

Justa Trama: storia, principi ed obiettivi


Il progetto di Justa Trama nasce nel contesto del Forum Brasiliano
di Economia Solidale (FBES), all’interno del quale alcune imprese solida-
li decidono di collaborare per produrre 60.000 borse in cotone biologico
destinate ai partecipanti del Forum Sociale Mondiale di Porto Alegre del
2005. In seguito a questa esperienza, i contatti tra alcune di queste impre-
se si consolidano e l’idea di creare una rete del cotone biologico viene svi-
luppata nell’ambito della ADS/CUT, uno dei principali movimenti sindacali
brasiliani e della UNISOL, organizzazione di rappresentanza delle imprese
solidali in Brasile. Nel 2005 viene ufficialmente lanciato il marchio Justa
Trama, anche grazie all’appoggio della SENAES, la Segreteria Brasiliana
per l’Economia Solidale.
Justa Trama si configura come una filiera produttiva formata da im-
prese solidali che si occupano della produzione di abbigliamento e acces-
sori realizzati con tessuto di cotone biologico. Le varie imprese di Justa
Trama sono integrate verticalmente e ognuna di esse cura una fase della
lavorazione del cotone, a partire dalla coltivazione fino al confezionamen-
to del prodotto finito, coinvolgendo oltre 800 lavoratori nella filiera pro-
duttiva.
Attualmente le imprese che compongono la rete sono sei, localizza-
te in altrettanti stati brasiliani, caratterizzati da contesti sociali ed econo-
mici molto diversi tra loro. L’esperienza di Justa Trama è all’avanguardia
ed è ritenuta un modello a livello nazionale ed internazionale per la crea-

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zione di reti produttive solidali, anche grazie alla sua capacità di mettere in
relazione realtà così variegate dal punto di vista geografico e sociale.
Justa Trama opera tenendo in considerazione i principi fondanti
delle imprese solidali (MTE 2006).
Attività economica: l’impresa solidale non è una semplice attività a
scopo assistenzialista, seppure il fine ultimo dell’attività economica sia la
persona umana e il suo bem-viver (Mance 2003). Cruciale, in questo sen-
so, è la riflessione sul ruolo del lavoro secondo l’approccio dell’economia
solidale. Come analizza il sociologo cileno Luis Razeto (2003, p. 63), il
consolidamento del lavoro salariato ha portato ad un tipo di divisione so-
ciale del lavoro che indebolisce notevolmente i legami comunitari e di so-
lidarietà, dal momento che i lavoratori sono spinti a relazionarsi “in ter-
mini competitivi, conflittuali, dando luogo a rapporti di forza e di lotta”.
Al contrario, l’obiettivo di Justa Trama – e dell’economia solidale in senso
più ampio – è quello di recuperare il senso del lavoro come mezzo di rea-
lizzazione personale e promozione umana. In altre parole “si tratta di far
sì che il lavoratore torni ad acquisire la capacità di prendere decisioni,
sviluppi conoscenze relative al come fare le cose, recuperi il controllo e la
proprietà dei mezzi di produzione” (Razeto 2003, p. 63). Per questo Justa
Trama considera l’economia solidale non semplicemente come un’alter-
nativa alla disoccupazione bensì come un modo alternativo di intendere
il lavoro.
Autogestione: i lavoratori sono proprietari dei mezzi di produzione
e gestiscono in modo partecipativo l’intero ciclo produttivo, senza dipen-
dere da intermediari esterni alla rete. I lavoratori creano il prodotto finito
secondo la loro creatività e ne curano la commercializzazione, non limi-
tandosi ad un’operazione di assemblaggio per conto terzi né riproducendo
semplicemente i modelli dominanti.
Cooperazione: l’attività dell’impresa solidale si basa su interessi ed
obiettivi comuni e sulla condivisione dei risultati e delle responsabilità.
Solidarietà: intesa come giusta distribuzione dei risultati e sforzo
comune in vista del miglioramento delle condizioni di vita dei partecipan-
ti. Allo stesso tempo la solidarietà presuppone un impegno costante per la
salvaguardia dell’ambiente, per le comunità locali e per il benessere dei la-
voratori e consumatori.
La strategia di Justa Trama consiste nel migliorare la vita delle per-
sone coinvolte senza basarsi su intermediari esterni che possano sfruttar-
ne il lavoro e nell’utilizzare a proprio favore alcuni strumenti del mercato
in un’ottica di solidarietà, attuando in tal modo pratiche trasformatrici ri-
spetto al modello economico dominante.
Un ulteriore aspetto che aggiunge valore all’esperienza di Justa Tra-
ma è la sua visione rispetto alla questione ambientale e ai modelli di svilup-
po. Justa Trama, infatti, promuove la coscientizzazione del consumatore

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Reti produttive solidali in brasile: il caso di justa trama

riguardo all’urgenza di stili di vita improntati alla sobrietà ed alla sosteni-


bilità, come spiega Nelsa Nespolo, Presidente di Justa Trama: “Se riuscia-
mo a crescere e a strutturarci sempre di più, possiamo dimostrare che è
possibile lavorare in modo differente e anche proporre un modo di vestire
differente, facendo sì che le persone riflettano sul proprio stile di consu-
mo. Se pensiamo che ogni maglietta disponibile sul mercato contiene 190
g di pesticidi e che il 25% dei veleni usati nell’agricoltura a livello mondiale
sono applicati alle piantagioni di cotone, allora Justa Trama può far sì che
le persone si interroghino su quali prodotti stanno utilizzando. È giusto
che io compri questo tipo di abbigliamento? O meglio ancora: sarà che ho
davvero bisogno di comprarmi più di due o tre vestiti? Non sarà che quello
che ho già è sufficiente? Non sono solo questioni che riguardano il futuro,
ma anche il presente” (intervista realizzata nell’ottobre 2008 durante la ri-
cerca sul campo).

Le fasi della produzione


tabella 1: fasi della filiera produttiva e numero di lavoratori coinvolti

Fase produttiva Impresa N°lavoratori


- ADEC, Ceará
Coltivazione del cotone 300 famiglie di agricoltori
- Gruppo informale di agricoltori, Paraná
Filatura e tessitura Coopertextil, MG 290 soci

Confezionamento e crochê FIO NOBRE, SC 20 soci

Confezionamento Coop. UNIVENS, RS 28 soci

Abbigliamento infanzia Coop. ESTILO, SP 20 soci


25 artigiani /6 famiglie di
Produzione accessori Coop. Açaí, Rondônia
ribeirinhos

La prima tappa del processo produttivo, cioè la coltivazione del co-


tone biologico, avviene nel Nord-Est del Brasile ad opera della ADEC (As-
sociação Desenvolvimento Educacional e Cultural de Tauá), un’associazio-
ne che riunisce oltre 300 piccoli agricoltori familiari nello stato del Ceará.
Dal punto di vista geografico e climatico, il Ceará è caratterizzato da
un ambiente semiarido con distribuzione delle piogge non omogenea sia
dal punto di vista territoriale che temporale. Oltre al deficit idrico si riscon-
tra un notevole degrado del suolo dovuto a sistemi di agricoltura basati
sull’agrobusiness che non hanno saputo tener conto del delicato equilibrio
ambientale di quest’area. Il risultato è un notevole livello di inquinamento
con progressiva desertificazione dei suoli.

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Per quanto riguarda la coltivazione del cotone, fino a qualche decen-


nio fa era diffusa nel sertão del Cearà la coltivazione del cotone arboreo,
che avveniva all’interno di un sistema di risparmio dell’acqua e di colti-
vazione congiunta di piante per l’alimentazione dell’uomo (fagioli, mais,
mandioca) in un’ottica di sostenibilità ambientale e sociale. Il cotone ar-
boreo, di per sé resistente al clima del semiarido, se piantato insieme ad
altre colture alimentari, svolgeva l’importante funzione di mitigare l’azione
del vento, riducendo l’evapotraspirazione del terreno e permettendo così di
ottimizzare l’uso dell’acqua. Gli scarti della pianta del cotone, le foglie e i
rami potevano essere usati come foraggio per animali da latte (Justa Tra-
ma 2009).
Successivamente, con il processo di modernizzazione agricola, il co-
tone arboreo è stato sostituito in modo sempre più massiccio da quello
erbaceo nell’ottica di un’agricoltura industriale che non tiene conto dei
delicati equilibri ambientali e sociali presenti sul territorio ma che cerca
al contrario di sfruttare al massimo il terreno, anche attraverso l’uso inten-
sivo di pesticidi. Le pratiche di agricoltura tradizionale sono così state a
poco a poco abbandonate.
L’agricoltura organica si diffonde in risposta a questa situazione, pro-
ponendo metodi di coltivazione che non prevedono l’uso di alcun tipo di pe-
sticida e, al contrario, reintroducono pratiche come il “plantio consorciado”,
la preparazione di concimi naturali e l’uso di antiparassitari naturali.
In questo contesto si inserisce l’attività dell’ADEC, che riunisce picco-
li coltivatori di alcuni municipi della regione interna del Ceará: Tauá, Mas-
sapê, Choró, Quixadá, Canindé, Sobral, Forquilha, Santana do Acaraú e Pa-
rambu (Justa Trama 2009), per un totale di circa 300 lavoratori coinvolti.
L’associazione nasce nel 1986 a partire da un gruppo di donne che si
dedicavano ad attività di artigianato nella città di Tauá. Successivamente,
l’ADEC si trasforma in associazione di agricoltori, ampliando la sua area
di azione sul territorio (Metello, 2007).
L’ADEC è supportata dalla Esplar, una ONG cearense particolar-
mente attiva nella promozione dell’agricoltura familiare e organica e nello
sviluppo di reti di piccoli produttori, a cui offre accompagnamento tecnico
e formazione sui vari metodi di agricoltura biologica. La Esplar si occupa
inoltre di attività legate alle tematiche della discriminazione di genere, al
diritto alla terra, all’acqua e alla biodiversità; fornisce supporto nella lavo-
razione e commercializzazione dei prodotti dell’agricoltura organica del
semi-arido attraverso le reti di economia solidale.

Tecniche di coltivazione del cotone “agroecológico”


In ognuno dei municipi coinvolti, gli agricoltori piantano le sementi
di cotone organico dopo le prime piogge, normalmente a cavallo tra i mesi

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di gennaio e marzo. Il cotone viene quindi raccolto nei mesi di giugno e


luglio. La particolarità del cotone organico usato da Justa Trama è che na-
sce naturalmente colorato, senza alcun tipo di intervento di modificazione
genetica; esistono tre sfumature di colore: bianca, verde e marrone. Questo
permette di ottenere una certa varietà di colori nei tessuti, senza dover ri-
correre alla tintura artificiale, che si rivelerebbe estremamente inquinante,
contraddicendo così uno dei principi chiave di Justa Trama, ossia il rispet-
to dell’ambiente.
La frequenza delle malattie e la presenza di numerosi parassiti che
insidiano la pianta, insieme al contesto climatico difficile, costituiscono le
difficoltà maggiori che rendono la coltivazione del cotone organico parti-
colarmente impegnativa. Per fronteggiare le varie infestazioni che colpi-
scono la pianta di cotone, i contadini hanno appreso ad usare la pianta del
Nim (Azadirachta indica) o l’urina di vacca come “pesticidi naturali” e bio-
fertilizzanti (Metello, 2007).
Un terzo aspetto interessante nella tecnica di coltivazione del coto-
ne organico è il plantio consorciado. Come già accennato, i contadini della
ADEC seminano insieme al cotone altre piante destinate all’alimentazione
dell’uomo o degli animali, tra cui fagiolo, sesamo e mais. Questo consente
di minimizzare i rischi di perdita dell’intero raccolto in caso di piaghe che
colpiscono una delle colture. In un contesto caratterizzato da una grande
irregolarità nella distribuzione delle precipitazioni, questa tecnica permette
di migliorare la produttività del terreno: mediamente i coltivatori che se-
guono le tecniche biologiche ottengono tra i 400 e gli 800 Kg di cereali ad et-
taro, oltre a 100-200 kg/ha di cotone organico (Lima 2008). Grazie alla pro-
duzione di colture per l’alimentazione, i piccoli agricoltori sono in grado di
soddisfare almeno parzialmente le necessità alimentari delle loro famiglie.
Il cotone organico viene venduto al prezzo di circa 0.90 U$/ Kg, qua-
si il doppio rispetto al prezzo del cotone tradizionale (Lima 2008). Termi-
nato il raccolto, i produttori consegnano il cotone grezzo alla ADEC, che
lo pesa e segue la fase di sgranatura e prima pulizia, fino ad arrivare alla
cosiddetta “piuma di cotone”.
L’acquisto del cotone organico è garantito da parte di Justa Trama,
che paga gli agricoltori nel momento stesso in cui consegnano il cotone
grezzo alla ADEC. Uno degli obiettivi che Justa Trama vorrebbe raggiunge-
re in futuro è quello di pagare i contadini ancora prima che essi raccolgano
il cotone, in modo da tutelarli rispetto al rischio di perdita del raccolto a
causa di piaghe o siccità.
Parallelamente rispetto alla ADEC, la coltivazione del cotone biolo-
gico è stata seguita anche da un gruppo informale di una decina di agricol-
tori di Moreira Sales nel Nord dello stato del Paraná; essi hanno realizzato
nel 2007 un primo esperimento di coltivazione collettiva del cotone biolo-
gico per Justa Trama, raccogliendone circa 900 Kg.

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Dalla piuma di cotone al prodotto finito


La fasi della filatura e della tessitura del cotone sono affidate alla Co-
opertextil, una cooperativa di Pará do Minas (Minas Gerais), composta da
290 soci (di cui la maggior parte donne) che un tempo erano dipendenti di
un’impresa tessile locale, recuperata dai lavoratori stessi quando alla fine de-
gli anni ‘80 era ormai sull’orlo del fallimento.
Il quarto passaggio, quello del confezionamento dei capi finiti, è affi-
dato a tre cooperative.
La Stilus Coop di Santo Andrè (SP) riunisce 23 socie che si sono spe-
cializzate nella creazione di abbigliamento per l’infanzia.
Ad Itajaí, nello stato di Santa Caterina, troviamo la Fio Nobre, im-
presa fondata all’inizio degli anni ’90 da un gruppo di giovani provenien-
ti da vari ambiti di impegno sociale: movimenti per i diritti degli indios e
degli afrodiscendenti, gruppi ecclesiali di base, movimenti sindacali. Oggi
conta circa 20 soci e lavora alla fabbricazione di corde e fili per crochet e
alla realizzazione artigianale di capi di maglieria. La Fio Nobre partecipa
attivamente ai forum di economia solidale a livello municipale, regionale
e statale.
A Porto Alegre ha sede la cooperativa UNIVENS (Unidas Vencere-
mos), fondata negli anni ’90 da un gruppo di donne – molte delle quali di-
soccupate a causa della crisi industriale – che cercavano di sperimentare un
modo alternativo di organizzare il lavoro in maniera collettiva e partecipa-
tiva. La UNIVENS è un’impresa con un forte radicamento territoriale: sin
dall’origine, uno dei punti di forza che hanno caratterizzato la sua attività è
stata la forte partecipazione dei membri alla vita sociale e politica del bairro
e della città. Oggi l’esperienza della UNIVENS è conosciuta non solo a Porto
Alegre ma anche a livello nazionale. Come emerge dall’analisi di Sarria Ica-
za, la UNIVENS svolge un ruolo decisivo nello sviluppo locale, dal momento
che è legata a “spazi locali di vita” (Sarria Icaza 2004, p.52), ma allo stesso
tempo promuove l’articolazione di reti solidali (es. forum di economia soli-
dale, reti di commercializzazione, catene produttive) e supporta la nascita di
progetti comunitari di sviluppo del territorio. In questo senso la UNIVENS
rappresenta un esempio di impresa solidale immersa nel tessuto comunita-
rio e fautrice di sviluppo locale, allo stesso tempo capace di tessere relazioni
significative con altre realtà di economia solidale a livello nazionale e inter-
nazionale attraverso Justa Trama.

Lavorazione delle sementi dell’Amazzonia


L’ultimo nodo della rete si trova in Rondônia, Amazzonia: qui la
Cooperativa Açaí si occupa della raccolta e della lavorazione di semen-
ti di alberi della foresta quali açaí, batoá, paxiubão, babaçu, e di pezzi di

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legno di cocco. La cooperativa include alcuni gruppi di raccoglitori di


semi (ribeirinhos) che vivono ai margini dei fiumi della regione e di arti-
giani che trasformano i semi e il cocco in bottoni e perline per decorare
gli abiti di Justa Trama. I semi vengono lavati, essiccati e talvolta tinti.
Successivamente vengono inviati alla sede centrale della cooperativa, da
cui vengono spediti a Porto Alegre o ad Itajaí, dove le cucitrici li appli-
cano sui capi di abbigliamento e sulle borse. I semi, insieme a pezzi di
metallo, legno e pietre, vengono anche usati dagli artigiani per produrre
collane, orecchini (bio-jóias) ed altri accessori abbinati alle collezioni di
Justa Trama e venduti congiuntamente a questi durante le fiere di econo-
mia solidale.
I principi cardine su cui si basa il lavoro della cooperativa sono la
preservazione della natura, in particolare della foresta amazzonica, la va-
lorizzazione dei saperi locali (soprattutto nell’ambito delle tecniche di ar-
tigianato) e l’inclusione sociale. In questo senso la cooperativa ha avviato
un interessante progetto che prevede il coinvolgimento di un gruppo di
detenute del carcere di Porto Velho nei corsi di formazione e nelle attività
di artigianato.
La Açaí sta inoltre cercando di sviluppare un progetto di elaborazio-
ne di coloranti naturali da usare eventualmente per tingere i tessuti di Ju-
sta Trama senza ricorrere a sostanze chimiche inquinanti.

Gestione della rete e commercializzazione dei prodotti


Dal punto di vista giuridico, Justa Trama si configura come una Co-
operativa Central, ossia un consorzio di cooperative, basato sul principio
della collaborazione reciproca tra le imprese solidali che la compongono.
È amministrata in modo partecipativo e democratico dall’Assemblea Ge-
nerale, dal Coordinamento Esecutivo (Diretoria) e dal Consiglio Fiscale,
formati da rappresentanti delle varie imprese.
Justa Trama ha fatto la scelta “politica” di commercializzare i suoi
prodotti privilegiando innanzitutto il commercio Sud-Sud, nell’ottica di
creare reti di collaborazione solidale all’interno del Brasile, senza dipende-
re dall’esportazione dei suoi prodotti nei paesi del Nord del mondo. Questo
comporta precise implicazioni soprattutto per quanto riguarda il prezzo di
vendita al pubblico che, secondo Justa Trama, deve esser accessibile anche
ai lavoratori più poveri della filiera (e quindi alle classi meno abbienti),
ma allo stesso tempo deve poter valorizzare adeguatamente il lavoro svolto
in ogni fase della produzione evitando la logica di ricerca del prezzo più
basso ad ogni costo. I canali principali attraverso cui vengono commercia-
lizzati i prodotti Justa Trama in Brasile sono rappresentati dalle fiere di
economia solidale e da alcuni punti vendita fissi, localizzati ad Itajaí, For-
taleza e Porto Velho.

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Impatto dell’attività di Justa Trama


Il lavoro in una rete solidale ha determinato benefici sia a livello di
imprese coinvolte nel processo produttivo, sia in termini di miglioramento
della qualità della vita dei singoli lavoratori.
La partecipazione a Justa Trama ha significato innanzitutto un au-
mento del reddito per le imprese partecipanti, a partire dai piccoli agricol-
tori familiari, a cui viene pagato un prezzo quasi doppio per il cotone bio-
logico, rispetto a quello del cotone convenzionale. Questo vale anche per le
altre fasi della produzione: all’interno della rete, infatti, non si punta tanto
a ridurre al minimo i costi per ottenere maggiore competitività, quanto
piuttosto a valorizzare il lavoro legato ad ogni fase produttiva attraverso la
pratica di un prezzo giusto.
Le varie imprese godono inoltre di una maggiore visibilità per il fat-
to di partecipare al progetto Justa Trama e al tempo stesso hanno benefi-
ciato di occasioni di formazione ed aggiornamento professionale (es. par-
tecipazione al PlanSeQ, Piano Settoriale di Qualificazione, promosso dal
Ministero del Lavoro brasiliano) grazie all’appartenenza alla rete.
Il lavoro all’interno di Justa Trama ha un impatto significativo anche
sulle condizioni di vita delle persone coinvolte nel processo produttivo, che
possono lavorare in un ambiente sano, senza venire a contatto con sostan-
za pericolose per la salute.
Inoltre l’impresa solidale offre opportunità di emancipazione attra-
verso il lavoro, valorizzando la creatività personale dei lavoratori, la par-
tecipazione, le dimensioni della relazionalità, della cooperazione e dell’in-
clusione sociale. Infine i lavoratori migliorano la loro autostima e la loro
consapevolezza sulle questioni ambientali e sugli stili di vita sostenibili,
diventando a loro volta promotori di queste tematiche tra i consumatori.

Legami con reti solidali italiane


Justa Trama ha stabilito significative relazioni di collaborazione con
alcune esperienze di economia solidale a livello internazionale.
Particolarmente interessante in questo senso è il legame con il pro-
getto italiano “Made in NO”, che coinvolge alcune piccole imprese tessili
del novarese che producono abbigliamento intimo con il filato di cotone
organico acquistato da Justa Trama. I prodotti vengono commercializza-
ti soprattutto attraverso la rete delle Botteghe del Mondo del commercio
equo e solidale e i Gruppi di Acquisto Solidale (GAS) in tutta Italia.
Il progetto Made in NO nasce nel 2006 con il sostegno della Provin-
cia di Novara e grazie all’appoggio decisivo di Fair, un’organizzazione di
servizi e importazione del fair trade italiano.

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Reti produttive solidali in brasile: il caso di justa trama

I principi su cui si basa l’iniziativa sono quelli dell’economia solida-


le, in particolare la valorizzazione dei saperi e delle competenze degli ar-
tigiani in un’ottica di sviluppo locale, in un territorio in cui la produzione
tessile artigianale ha una tradizione consolidata.
Made in NO promuove la creazione di relazioni tra i lavoratori coin-
volti, rafforzando anche la collaborazione con reti di economia solidale at-
tive in altri contesti, come nel caso di Justa Trama. Un ulteriore principio
su cui si basa il progetto è quello dello sviluppo dell’agricoltura biologica
e quindi di modi di produrre e di stili di vita sostenibili dal punto di vista
ambientale e sociale.

Conclusioni
Come evidenzia Carvalho da França (2003, p.126) il valore aggiun-
to delle iniziative di economia solidale consiste nell’attuare una strategia a
due livelli: da una parte esse promuovono attività economiche in grado di
generare occupazione e reddito, dall’altra superano “le dinamiche comuni-
tarie che limitano i benefici dell’azione alla scala del piccolo gruppo locale”
e puntano ad agire nello spazio pubblico per sostenere un cambiamento
della società in senso più solidale e includente.
Il successo di questo progetto dipende in larga misura dalla capacità
di organizzarsi in reti di collaborazione solidale. Justa Trama, in quanto rete
produttiva solidale, sta mettendo in atto proprio questa strategia: da un lato
svolge un’azione socio-economica di generazione di reddito, dall’altro condu-
ce un’azione politica importante basata sui principi di partecipazione, demo-
cratizzazione dell’economia, promozione dei diritti dei lavoratori, emancipa-
zione, rispetto dell’ambiente. Il legame tra Justa Trama e Made in NO mostra
come lo sviluppo dell’economia solidale passi attraverso il rafforzamento del-
le relazioni tra reti di lavoratori che si organizzano dal basso privilegiando la
relazionalità, puntando alla solidarietà non come carità Nord-Sud ma come
scambio e rafforzamento reciproco, consapevoli che è possibile sperimentare
forme alternative di organizzazione economica che generino dinamiche più
ampie di trasformazione dell’economia e della società.

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Agroecologia e economia solidária
para um projeto de reforma agrária
sustentável

Valentina bianco
Geógrafa pela Universidade de Turim | Slow Food Italia | v.bianco@slowfood.it |
Carolina bonelli
Geógrafa pela Universidade de Turim | ladypoikila@hotmail.com

Introdução
Apesar da existência de 1 milhão de assentamentos agrários instituí­
dos no Brasil desde a criação do Instituto Nacional de Colonização e Re-
forma Agrária (INCRA), em 1970, e de mais da metade destes assentamen-
tos terem sido criados a partir de 2003, os dados do Censo Agropecuário
2006, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
reafirmam o velho quadro da concentração fundiária no Brasil.
As pequenas propriedades (com menos de 10 hectares) ocupam ape-
nas 2,7% da área ocupada por estabelecimentos rurais, enquanto as gran-
des propriedades (com mais de mil hectares) ocupam 43% da área total. O
quadro de desigualdade é ressaltado pelo fato de as pequenas propriedades
representarem 47% do total de estabelecimentos rurais, enquanto os lati-
fúndios correspondem a apenas 0,9% desse total.
A concentração e a desigualdade podem ser comprovadas pelo Índi-
ce de Gini1 da estrutura agrária do país. Quanto mais perto esse índice está

1
O Coeficinte de Gini é uma medida de desigualdade desenvolvida pelo estatístico italiano Corra-
do Gini. É comumente utilizada para calcular a desigualdade de distribuição de renda mas pode
ser usada para qualquer distribuição. Ele consiste em um número entre 0 e 1, onde 0 correspon-
de à completa igualdade de renda (onde todos têm a mesma renda) e 1 corresponde à completa
desigualdade (onde uma pessoa tem toda a renda, e as demais nada têm). O índice de Gini é o
coeficiente expresso em pontos percentuais (é igual ao coeficiente multiplicado por 100).

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Agroecologia e economia solidária para um projeto de reforma agrária sustentável

de 1, maior é a concentração fundiária. Em 2006, o censo mostra um Gini


de 0,872 para a estrutura agrária brasileira, superior aos índices apurados
nos anos de 1985 (0,857) e 1995 (0,856).
Essa desigualdade social e econômica no meio rural brasileiro, além
de ser o produto histórico de uma economia colonialista baseada nas gran-
des propriedades (plantation) que produziam para exportação utilizando o
modelo da monocultura, é também o resultado mais recente das linhas polí-
ticas dos governos militares e civis pós-ditadura – e mesmo do governo Lula
– adotadas para a agricultura: apoio a um processo de modernização agríco-
la seletiva e concentradora de renda, entre os anos 1950 e 1970 (Revolução
Verde); apoio ao agronegócio, com consequente aumento da dependência
do capital financeiro e das empresas transnacionais que controlam os insu-
mos, o mercado e os preços, a partir da década 1990.
Estas políticas públicas apoiaram a instauração de relações capita-
listas no campo, a subordinação do rural aos interesses urbanos e, benefi-
ciaram as grandes propriedades voltadas a uma produção de grande escala
para abastecer o mercado nacional e internacional. Enquanto isso, boa par-
te dos camponeses e suas pequenas propriedades se mantiveram dedicados
a uma agricultura de subsistência voltada ao autoconsumo e à comercializa-
ção de alimentos básicos.
O meio rural transformou-se numa engrenagem do sistema indus­
trial, pois os agricultores passaram da produção de alimentos à produção
de commodities para a exportação, isto é, transformaram a produção de ali-
mentos em produção de mercadorias. A indústria aos poucos se apropriou –
desapropriando os agricultores – de atividades relacionadas à produção e ao
processamento, proporcionando um pacote baseado num padrão agrícola
químico, motomecânico e genético que previa: a produção de adubos quími-
cos para substituir o emprego da matéria orgânica; a motorização e meca-
nização na substituição da tração animal e trabalho braçal e a produção de
sementes melhoradas geneticamente, na substituição da seleção e produção
de sementes pelo agricultor.
A modernização agrícola enfraqueceu significativamente a autono-
mia do campo, seja a jusante, seja a montante. Os agricultores não tiveram
mais a função de produção e seleção das sementes, nem implementaram
formas de manejo conservacionistas do solo e da água. Tornaram-se com-
pradores de sementes melhoradas, insumos químicos e máquinas.
A substituição da mão de obra rural com máquinas e insumos quí-
micos teve como efeito a expulsão e o empobrecimento dos camponeses:
muitos, não tendo o capital para enfrentar a modernização, foram obriga-
dos a vender ou arrendar a própria terra, acabando assim por inchar as pe-
riferias das cidades. Outros, no esforço de acessar as tecnologias da Revo-
lução Verde e se beneficiar com as políticas de crédito agrícola, acabaram
endividados e dependentes dos bancos e dos juros sobre os empréstimos.

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Valentina bianco | Carolina bonelli

A modernização da agricultura teve como efeito colateral a perda


das relações sociais e culturais nas comunidades rurais: em lugar da soli-
dariedade, da reciprocidade, do mutualismo e da diferenciação das produ-
ções voltadas ao autoconsumo, os valores capitalistas da competição, do
individualismo, da produtividade de monocultura em grande escala, do
imediatismo, entraram no campo, reduzindo os agricultores a sua dimen-
são produtiva, ou seja, meros produtores de mercadorias.
Além dos claros efeitos sociais, a adoção do pacote da Revolução
Verde desencadeou diversos impactos ambientais, que se manifestam até
hoje, sobretudo nos seguintes aspectos: exploração extensiva das áreas de
mata nativa para a ampliação da fronteira agrícola levando consequen-
temente à extinção de várias espécies de plantas e animais, redução da
biodiversidade e transformações no clima mundial; o maciço emprego de
fertilizantes, herbicidas e fungicidas causou uma perda na fertilidade na-
tural do solo e um aumento do número de pragas e doenças nas plantas
cultivadas; a utilização destes insumos químicos também teve como efeito
uma grave poluição da água, do solo, do ar, plantas e animais e do próprio
homem, pela alta incidência de envenenamento; o uso de agrotóxicos pro-
vocou uma substancial redução da qualidade nutricional dos alimentos e
níveis intoleráveis de resíduos químicos nos mesmos.
A adoção do aparato tecnológico da Revolução Verde não ocorreu
somente em virtude das lógicas de mercado e do apoio das políticas pú-
blicas, mas significou também a imposição de um “modo social de produ-
ção”, de uma cultura e de um mundo: afirmou-se, através da propaganda
da mídia e da insistência sistemática dos agentes das empresas fornecedo-
ras de insumos, a ideologia da superioridade das formas modernas de pro-
duzir, frente às tradicionais, dominadas pelo campesinato, causando uma
forma de expropriação do saber e da cultura rural.
Os conhecimentos tradicionais, transmitidos de pai para filho du-
rante várias gerações, acabaram sendo etiquetados como atrasados, impro-
dutivos, ineficientes e incapazes de acompanhar as inovações tecnológicas
e os objetivos de progresso econômico do país. Um exército de agrônomos
se espalhou pelos campos, substituindo os saberes tradicionais por saberes
científicos, com pacotes e receitas direcionados para obtenção de resulta-
dos imediatos e eficientes na produção.
A tecnologia e a nova racionalidade produtiva se transformaram num
instrumento de controle e dominação, que continua a influenciar os agri-
cultores até hoje. Isso reduziu sua autonomia e levou muitos camponeses à
busca por produtividade, de modo que estes passaram a ignorar os impactos
ambientais sobre a própria terra e os efeitos perigosos sobre a própria saúde,
decorrentes da aplicação das técnicas e métodos da Revolução Verde.
Está claro então, a partir dos dados do censo agropecuário de 2006
(IBGE), que esse processo de modernização, hoje personificado pelo “agro-

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Agroecologia e economia solidária para um projeto de reforma agrária sustentável

negócio”, desenvolvido em grande escala e em grandes extensões de terra


e pelos complexos agroindustriais, não conseguiu e continua não conse-
guindo cumprir aquele objetivo, preconizado no começo, de favorecer um
desenvolvimento rural e econômico do país, isto é, da sociedade como um
todo, sem exclusões e desigualdade.
Os efeitos sociais, ambientais, culturais e econômicos provocados
aos pequenos agricultores estão fundamentados em uma trajetória de de-
senvolvimento bem distante dos objetivos de sustentabilidade econômica e
ambiental e de justiça social. Contudo, nem todos os agricultores foram e
continuam sendo espectadores passivos e vítimas desse processo de desin-
tegração da própria identidade e da própria dignidade como grupo social.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CON-
TAG), a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (FETRAF)
e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) são as três maiores
representações do movimento social no campo brasileiro, em termos de
capilaridade nacional e de expressão política. Nos últimos anos, as três
organizações vêm articulando crescentemente suas pautas de luta e suas
intervenções em diferentes espaços públicos em defesa de um novo proje-
to para o mundo rural, fundado na agricultura familiar e camponesa e na
sustentabilidade socioambiental.
Nesse trabalho, optamos por enfocar no MST e seu processo de ela-
boração de uma alternativa viável ao agronegócio e ao modelo da Revolu-
ção Verde, de um projeto de Reforma Agrária mais abrangente e de qua-
lidade, que não se limite só à luta pela terra, mas vise à incubação de um
novo modelo agrícola e de desenvolvimento humano.
A escolha do MST justifica-se pela presença e importância social
e política dos acampamentos e assentamentos que, além de serem luga-
res dedicados à produção agropecuária, se constituem em espaço de re-
sistência camponesa e de debate político, e também como possíveis labo-
ratórios de alternativas concretas aos modelos capitalistas de produção
agrícola. De fato, a conquista de cada latifúndio pode representar uma der-
rota desse modelo. No entanto, se nas terras conquistadas pelo movimento
as famílias assentadas seguirem aplicando o mesmo modelo que tentam
combater, com base na monocultura, química, mecanização, transgênicos,
comercialização em grande escala e produção para exportação, estarão re-
colocando o agronegócio e a Revolução Verde naquele meio, fomentando a
decomposição gradual dos assentamentos conquistados em novos “micro-
latifúndios”.
Nesse trabalho analisaremos e aprofundaremos duas propostas que,
apesar das dificuldades, estão começando a se espalhar pelos assentamen-
tos, pois têm por objetivo se apresentar como uma alternativa autossus-
tentável de produção, processamento e comercialização, isto é de desen-
volvimento humano e de valorização da agricultura familiar e camponesa.

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Valentina bianco | Carolina bonelli

Assim, os temas a serem trabalhados no texto são: a agroecologia e a eco-


nomia solidária.
Na primeira parte será aprofundado o aspecto do modelo de pro-
dução, das relações sociais e os desafios lançados na agroecologia. Tenta-
remos analisar a seguinte questão: como a agroecologia pode contribuir
para a elaboração de um projeto político de Reforma Agrária sustentável?
Depois de uma apresentação do paradigma da agroecologia e de um breve
histórico da sua inserção na pauta de luta do movimento, analisaremos as
dificuldades de implementação da agroecologia nos assentamentos, bem
como exemplos de boas práticas. Nosso objetivo é refletir sobre o caminho
de uma ação de reterritorialização do espaço camponês, requalificação das
relações sociais e revalorização do saber popular com o apoio de um saber
científico ao serviço dos agricultores.
Na segunda parte, nosso enfoque será no papel da economia solidá-
ria para a realização de uma política de reforma agrária eficaz e sustentá-
vel. Partindo do questionamento do sistema econômico dominante, anali-
saremos o processo de crescente conscientização em relação à necessidade
de outra economia.
Após ter definido o conceito de economia solidária e descrito bre-
vemente o caminho histórico-político de sua afirmação no Brasil, mostra-
remos alguns dados do SIES (Sistema de Informações em Economia Soli-
dária) representativos do desenvolvimento de iniciativas inspiradas nessa
concepção, durante o último decênio.
Apesar do reconhecimento do papel fundamental da ação pública,
promovida pelas instituições, na inclusão dos princípios e da lógica da
economia solidária na política de reforma agrária, nesse artigo atribuiu-se
particular atenção à função da luta do MST na divulgação do modelo coo-
perativo nos assentamentos rurais. Desde o começo das lutas e das ocupa-
ções do movimento, as tentativas de afirmação do cooperativismo agrário
entre os assentados encontraram numerosos obstáculos e desafios, sobre-
tudo em relação à conscientização dos sem terra sobre a importância de
uma ação coletiva e um trabalho conjunto.
Porém, além das considerações e críticas que podem ser levantadas,
através de uma apresentação sintética de iniciativas solidárias nos assenta-
mentos estudados, tentar-se-á demonstrar como os processos de afirmação
dos princípios de cooperação e solidariedade já se encontram presentes em
assentamentos da reforma agrária, e como podem apontar para novas e
justas relações.

Agroecologia para um projeto de reforma agrária sustentável


Discutir o tema da agroecologia nas pautas de luta do MST atende a
uma necessidade de contribuir na direção de uma qualificação do projeto

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Agroecologia e economia solidária para um projeto de reforma agrária sustentável

popular de reforma agrária e, de dar coerência aos anseios de uma mudan-


ça radical nos modelos de produção dentro dos assentamentos, bem como
das relações políticas e sociais entre os assentados.
A agroecologia, como procuraremos demonstrar ao longo desse tex-
to, apresenta todas as características que podem tornar possível um novo
papel social e econômico da pequena propriedade, reduzindo sua depen-
dência em relação ao capitalismo, contribuindo para a organização social
dos pequenos agricultores e resgatando relações camponesas desapareci-
das com a imposição das relações capitalistas.
Como veremos em seguida, a agroecologia está, de fato, fazendo
parte da agenda de prioridades, objetivos e ações do MST, seja em nível
nacional ou internacional (dentro da Via Campesina). Porém, como verifi-
caremos através de alguns estudos de caso em assentamentos que apresen-
tam (ou, melhor, afirmam apresentar) grupos de produtores agroecológi-
cos, a realidade nos assentamentos está ainda bem longe da viabilização e
da concretização de uma produção agroecológica. Os obstáculos são mui-
tos, e têm origem externa aos assentamentos (sistemas de assessoria e de
extensão rural, sistemas de crédito e seguro) ou mesmo no interior do as-
sentamento (mentalidade e objetivos dos assentados, escassa vontade de
elaborar projetos coletivos, escassa formação e valores culturais rurais).
Buscamos, nessa primeira parte do texto, aprofundar a contribuição
determinante que a perspectiva agroecológica pode oferecer na reconsti-
tuição das bases camponesas da agricultura familiar (PETERSEN, 2009)
e analisar as dificuldades do Movimento dos Trabalhadores Sem terra
(MST) em colocar em prática a alternativa agroecológica, tentando enten-
der quais poderiam ser as soluções mais coerentes e eficazes para realizar,
nos assentamentos, um autêntico desenvolvimento humano autossusten-
tável e ecológico.

Agroecologia, um paradigma tradicional e revolucionário


O termo agroecologia foi utilizado pela primeira vez na década de
1930, para significar a aproximação da ecologia à agricultura, passando
a se tornar uma espécie de sinônimo de “ecologia aplicada”. Até então, o
campo de conhecimento científico disciplinar ecológico tratava do estudo
de sistemas naturais, ao mesmo tempo em que a ciência agronômica volta-
va-se para a introdução de métodos de investigação científica em torno da
agricultura. De acordo com estudos sobre o tema, somente nos anos 1950,
com o amadurecimento do conceito de ecossistema, foi criada uma estru-
tura básica geral para o exame da agricultura com base em uma perspecti-
va ecológica (GLIESSMAN, 2000).
O interesse na aplicação da ecologia à agricultura expandiu-se nas
décadas de 1960 e 1970, devido à intensificação da pesquisa de ecologia de

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Valentina bianco | Carolina bonelli

populações e comunidades, à influência crescente de abordagens em nível


de sistemas e à ampliação da chamada “consciência ambiental”. A análise
de agroecossistemas permitiu a estruturação, no início dos anos 1980, da
ciência agroecológica, dotada de metodologia e de estrutura básica concei-
tual, apropriadas para o acompanhamento de agroecossistemas (COSTA
NETO, CANAVESI, 2002).
Nesse período, a ciência agroecológica passou a ser influenciada por
sistemas tradicionais de cultivo de países em desenvolvimento, que passa-
ram a constituir “exemplos importantes de manejo de agroecossistemas,
ecologicamente fundamentados” (GLIESSMAN, 2000, p. 52).
A agroecologia é definida como um manejo ecológico dos recursos
naturais que, incorporando uma ação social coletiva de caráter participati-
vo, um enfoque holístico e uma estratégia sistêmica. Ela pretende recondu-
zir o curso alterado da coevolução social e ecológica mediante um controle
das forças produtivas, que minimize as consequencias degradantes e espo-
liativas para a natureza e a sociedade, causadoras da atual crise ecológica
(GUZMAN e MOLINA, 1996).
O conceito de agroecologia busca sistematizar conhecimentos para
o desenvolvimento de uma proposta de agricultura abrangente, que seja
socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável.
Um modelo que seja o embrião de uma nova forma de relação com a natu-
reza, onde se protege todas as formas de vida. Nesta concepção, é estabele-
cida uma ética ecológica que implica no abandono de uma moral utilitaris-
ta e individualista e que postula a promoção da justiça e da solidariedade
como valores indispensáveis.
A agroecologia permite que se realize um ciclo construtivo virtuoso:
partindo de um manejo e de uma renovação natural do solo, tem-se o au-
mento da biodiversidade e da fertilidade dos solos, obtêm-se uma produ-
ção de alimentos saudáveis com métodos que valorizam a cultura local e
procuram restabelecer o equilíbrio ecológico. Esses alimentos, se inseridos
num circuito de comércio justo (como será aprofundado na segunda parte
desse texto) acabam gerando uma boa renda para os agricultores, devido
aos custos reduzidos com insumos químicos e a um maior valor pago pela
sociedade aos alimentos orgânicos.
A geração de renda da agroecologia permite também enfrentar ou-
tro grande problema atual do rural, isto é o êxodo dos jovens. Através da
agroecologia é possível fortalecer a juventude rural e a participação das
mulheres, promovendo a igualdade de gênero. Resumindo, a agroecologia
pode gerar uma concreta melhoria da qualidade da vida e fortalecer pro-
cessos políticos coletivos e participativos.
Quando Guzman e Molina (1996) se refere a um enfoque holísti-
co, quer dizer que na agroecologia a agricultura é vista como um sistema
vivo e complexo, inserido na natureza rica em diversidade, vários tipos de

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Agroecologia e economia solidária para um projeto de reforma agrária sustentável

plantas, animais, microorganismos, minerais e infinitas formas de relação


entre estes e outros habitantes do planeta Terra. Neste sentido, a agroe-
cologia precisa de uma abordagem sistêmica, e não linear, no manejo das
propriedades agrícolas, buscando perceber de forma integrada todos os
elementos (bióticos e abióticos) presentes no ciclo de produção.
A agronomia moderna que, na América Latina como em todo o mun-
do, é influenciada pelas teorias do alemão Justus Von Liebig, que objetivou
ultrapassar os fatores limitantes ao desenvolvimento dos cultivos através
do uso maciço de substâncias químicas. Assim, predomina uma visão li-
near. Se num parreiral aparece um inseto não desejado (considerado uma
praga), o agricultor linearmente aplicaria um inseticida para afastá-lo.
A agroecologia tenta entender a causa da presença desses fatores li-
mitantes, sem pretender resolvê-los, mas tentando perceber os fatores bio-
lógicos e as relações dialéticas que estão implícitas e atuando no manejo
ecológico e orgânico do solo (ALTIERI, 2000). Portanto, na agroecologia
não existem pragas, mas sim sinais de um errado manejo do solo. A na-
tureza não se pode dar ao luxo de manter alguma planta que não está em
plena saúde. Então, no momento em que a planta apresenta deficiências
de algum nutriente, esta fica fragilizada e susceptível ao ataque de algum
inseto. A doença é para que a vida não se degenere e não para eliminar
uma cultura.
As implicações desta imposição, em relação às receitas espalhadas
por décadas pela Revolução Verde, são, no mínimo, revolucionárias. Atra-
vés da abordagem agroecológica, os agricultores, além de produzir num
contexto saudável, livre de agrotóxicos, podem alcançar um estado de au-
tonomia das empresas a montante, ou seja, das empresas que produzem
máquinas, insumos e outras técnicas para a produção agropecuária e, que
se apresentam como baluartes do agronegócio e da Revolução Verde. O
modelo produtivo agroecológico, diversificado e poupador de insumos, se
coloca claramente em oposição a esse modelo dominante. A agroecologia
se baseia no aprendizado com a natureza, de forma a debater as relações
presentes na tecnologia, a fim de potencializar os efeitos naturais de ferti-
lidade, complexidade e produtividade ecossistêmicas.
Nesse sentido, parece claro que é fundamental para o agricultor que
deseja produzir de forma agroecológica, o acesso ao conhecimento sobre
as relações dialéticas entre todos os atores (indivíduos, empresas, organi-
zações, representantes políticos) presentes no ciclo de produção.
Como aprofundaremos em seguida, o desafio maior para os pe-
quenos agricultores, sobretudo para os assentados da reforma agrária,
frequentemente de origem urbana, é, por um lado, recuperar e acreditar
nesses conhecimentos tradicionais, e por outro, ter acesso a uma asses-
soria técnica e a um saber cientifico pautados nos fundamentos da agro-
ecologia.

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Valentina bianco | Carolina bonelli

As técnicas agroecológicas são compatíveis com a cultura campo-


nesa, visto que não questionam sua lógica, mas baseiam-se no saber cam-
ponês tradicional, combinado com elementos da ciência e da agricultura
moderna (ALTIERI, 1996).
A agroecologia nada mais é do que a agronomia dos anos 1940/1950
do século passado, com a óbvia incorporação dos avanços científicos e so-
ciais dos últimos 60 anos (MACHADO PINHEIRO, 2009).
A questão é que de um lado esse saber camponês tradicional se en-
fraqueceu com o predomínio das políticas de modernização agrícola, da
Revolução Verde e da urbanização de muitos agricultores que, mesmo re-
assentados pelas políticas do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária), não tem os conhecimentos sobre a dinâmica de funcio-
namento dos ecossistemas e agroecossistemas. Mesmo permanecendo no
campo, a influência de valores capitalistas como o individualismo, imedia-
tismo, aumento de produtividade e dos lucros, é muito significativa. Por
outro lado, apesar da presença de um acompanhamento aos assentamen-
tos por institutos como a EMATER no caso do Paraná, faltam funcioná-
rios, a assessoria na temática da agroecologia é incipiente, levando ao de-
sânimo e até ao abandono da agroecologia.
Altieri (1996) enfatiza que a verdadeira sustentabilidade será obtida
quando os camponeses incrementarem seu acesso à terra, aos recursos e a
uma tecnologia apropriada para manejá-los.
O desafio é viabilizar a concretização deste acesso, para evitar que o
modelo agrícola convencional, considerado insustentável, seja reproduzi-
do em parte significativa pelos assentamentos. Em poucas palavras, como
mesclar saber popular e saber cientifico para criar um paradigma agro-
ecológico que possa de verdade gerar autonomia e auto-sustentabilidade
para os agricultores dos assentamentos? Como construir socialmente um
projeto concreto de desenvolvimento alternativo ao modelo produtivista e
economicista? É possível utilizar a agroecologia como ferramenta para um
novo campesinato no mundo rural?
Para responder a essa pergunta, analisaremos o processo históri-
co de adoção dos conceitos de sustentabilidade e agroecologia dentro das
pautas de luta do MST, considerando algumas experiências para avaliar
as dificuldades existentes e para fundamentar a busca por soluções pos-
síveis.

O mst rumo a uma reforma agrária agroecológica no brasil?


Nos 25 anos de luta, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
(MST) tem como objetivo principal a realização da reforma agrária no
Brasil. Entre os diversos temas que permeiam a luta pela terra, o MST
vem incorporando de forma crescente, preocupações com a sustentabi-

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Agroecologia e economia solidária para um projeto de reforma agrária sustentável

lidade nos assentamentos sob a sua responsabilidade (COSTA NETO,


CANAVESI, 2002).
Desde seu primeiro congresso nacional, realizado no 1985, iniciou-
se um direcionamento favorável aos temas da preservação ambiental. Foi
deliberado, dentre diversas outras resoluções, que o governo federal deve-
ria garantir que a produção nos assentamentos respeitasse a preservação
do meio ambiente e que o MST acataria a indicação, pelo governo, de téc-
nicos agrícolas nas áreas do assentamento, “desde que eles se comprome-
tessem com uma agricultura de pequena propriedade e não com a do mo-
delo capitalista” (COSTA NETO, 1999, p. 317).
No ponto 14 dos princípios práticos do Programa de Reforma Agrá-
ria do MST de 1984, é declarado: “Em todas as conquistas de terra, deve-se
discutir formas alternativas de posse e cultivo da terra” (STÉDILE, 2005,
p. 179).
No Primeiro Encontro Nacional de Agricultores Assentados, ainda
no ano de 1985, estes exigiam que o governo estimulasse, com recursos,
as comunidades dos assentamentos. Os assentados solicitavam ao gover-
no “que fornecesse sementes para adubação verde; que os técnicos fossem
escolhidos pelos reassentados e que residissem nos assentamentos; que a
assistência técnica estimulasse formas alternativas de produção menos de-
pendentes do capital”. (COSTA NETO, 1999, p. 318).
Dez anos mais tarde, em seu terceiro congresso nacional, o MST
divulgou a visão de um novo tipo de reforma agrária, na qual se percebe
uma forte preocupação com as questões do desenvolvimento, mais nota-
damente o rural agrícola, a ser implementado de forma autossustentável,
levando em conta o desenvolvimento de tecnologias adequadas à realida-
de brasileira, preservando e recuperando os recursos naturais. A reforma
agrária significa um conjunto de medidas necessárias para alcançar os
objetivos de luta para a criação de um novo modelo agrário que garanta
um novo modelo de desenvolvimento econômico, político e cultural para
toda a população do campo e beneficie a população urbana (STÉDILE,
2005).
Com relação ao meio ambiente, a proposta de Reforma Agrária do
MST de 1995 prevê a necessidade de se estabelecer um programa ambien-
tal para as áreas de assentamento, buscando a reeducação dos assentados
em sua relação com o ambiente (STÉDILE, 2005). “A educação é conside-
rada uma das áreas fundamentais em que o governo deve investir visando
elevar o nível cultural dos trabalhadores rurais através da escola de quali-
dade” (STÉDILE, 2005, p. 200). “O objetivo é levar a ciência para o campo
e evitar o êxodo juvenil para os grandes centros urbanos” (p. 201).
A proposta de 1995, volta a dar importância estratégica à questão
da assistência técnica, enfatizando a urgência de se criar um programa de
assistência técnica pública e gratuita, específico para os assentamentos. As

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equipes técnicas devem ser multidisciplinares, contemplando todas as di-


mensões da vida humana e não apenas o econômico.
Foi, porém, no Congresso Nacional do MST de 2000, que lideran-
ças nacionais do Movimento denunciaram “as linhas políticas do gover-
no adotadas para a agricultura” (STÉDILE, 2000, p. 17). Segundo Costa
Neto e Canavesi (2002), o direcionamento do governo foi o seguinte: es-
tímulo à implantação de grandes fazendas de grãos, sobretudo na região
Centro-Oeste, destinadas à exportação; estímulo à oligopolização do con-
trole do mercado interno agrícola, por parte de grandes empresas agroin-
dustriais, em sua maioria multinacionais; implantação de um processo
de seletividade dos pequenos agricultores integrados à agroindústria,
reduzindo drasticamente seu número, aumentando a tecnologia e sele-
cionando regiões mais propícias para cada produto; desaparecimento da
agricultura de subsistência, especialmente nas regiões Norte e Nordeste;
desmantelamento do chamado setor público agrícola, representado pela
atuação do Estado, no controle dos estoques, na assistência técnica, na
pesquisa agropecuária e no destino de recursos públicos para o crédito
rural; transferência do controle da biotecnologia para os grandes grupos
multinacionais e sucateamento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agro-
pecuária (Embrapa); redução do emprego agrícola em aproximadamente
5% ao ano.
Na Carta do 5º Congresso Nacional do MST, em 2007, é declarado
o compromisso em defender as sementes nativas e crioulas; lutar contra
as sementes transgênicas; difundir as práticas de agroecologia e técnicas
agrícolas em equilíbrio com o meio ambiente; os assentamentos e comuni-
dades rurais devem produzir prioritariamente alimentos sem agrotóxicos
para o mercado interno.
Os princípios da agroecologia vêm ao encontro da busca do MST
pela modificação das relações sociais na agricultura, marcadas pela de-
pendência, exploração e degradação social e ambiental, por práticas que se
direcionem para uma agricultura mais sustentável. Pobreza, degradação
ambiental, crise climática, dependência dos insumos químicos e dos paco-
tes da Revolução Verde: a estes problemas a agroecologia busca fortalecer
a agricultura camponesa, sua ligação com o território e a natureza e, sua
autonomia em relação aos insumos químicos.
A agroecologia é uma conduta capaz de, não só se confrontar com
o agronegócio, mas recompor o ambiente, produzir alimentos limpos para
a humanidade, outorgar cidadania, especialmente aos pequenos agriculto-
res (PINHEIRO MACHADO, 2009).
Buscaremos, a seguir, verificar como o MST tenta implementar os
princípios assumidos nas suas deliberações, através da análise de um caso
problemático em um assentamento: o de Palmital, situado no município
de Quedas de Iguaçu (Oeste do Paraná).

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Agroecologia e economia solidária para um projeto de reforma agrária sustentável

A agroecologia nos assentamentos palmital (pr) e alvorada (rs)


Os três assentamentos, Celso Furtado, Palmital e Rio Perdido, situa-
dos em Quedas de Iguaçu-PR, estão entres os maiores do país, envolvendo
quase 1.100 famílias.
Em virtude da mobilização social do MST, existe na esfera estadual,
um convênio com a EMATER (Empresa Paranaense de Assistência Técnica
e Extensão Rural) para que esta forneça assessoria técnica para os assen-
tamentos. Trata-se de dez funcionários, técnicos agrícolas e engenheiros
florestais, divididos para atender todas as famílias.
As atividades da EMATER têm como linhas principais: cursos de
capacitação, com o objetivo de fortalecer os conhecimentos tradicionais e
trazer novas tecnologias (em parceria com o Serviço Nacional de Apren-
dizagem Rural – SENAR); organizar excursões para conhecer outras pro-
priedades e assentamentos para o intercâmbio de experiências; realizar a
preparação para receber o PRONAF2 A, ou seja, um programa de crédito
específico para os assentados.
Os três eixos temáticos que caracterizam a ação da EMATER nos as-
sentamentos são: sustentabilidade e segurança alimentar, geração de renda
e agroecologia.
A produção principal nos assentamentos é o leite, mas a EMATER
está insistindo na direção de uma maior produção de hortaliças, para dar
suporte ao autoconsumo das famílias assentadas. No entanto, os assenta-
dos vêm demonstrando resistência à aceitação desse direcionamento. Na
visão da EMATER, a comercialização deveria ser secundária, enquanto a
prioridade seria a segurança alimentar. De fato, segundo as palavras de um
técnico do EMATER, os assentados produzem, mas compram os alimen-
tos na cidade.
Quando foi iniciada a assistência técnica sobre agroecologia, só 76
famílias do assentamento quiseram trabalhar para realizar a transição da
agricultura convencional para a orgânica. Hoje, persistem apenas 40 famí-
lias, que, segundo o técnico da EMATER, são aquelas com comportamen-
tos mais politizados. Quem desistiu, o fez por causa da falta de recursos e
incentivos para cultivar, investir, comprar sementes, voltando à agricultura
convencional.
Os produtores agroecológicos são os menos endividados dentro do
assentamento, pois não têm débito com as empresas que vendem sementes
e insumos químicos.

2
O PRONAF é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, instituído
pelo Governo Federal em 1996. Ele apresenta diferentes linhas de crédito para a agricultura
familiar.

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As dificuldades encontradas no processo de extensão entre a EMA-


TER e os assentados na fase da transição e de produção agroecológica são
ligadas a uma falta de conhecimentos atualizados a respeito de um mane-
jo ecológico do solo mais adequado, à necessidade de muita mão de obra
para cuidar dos cultivos sem insumos químicos e à desconfiança e recusa
de um processo de diversificação das produções.
Na opinião do técnico, essas dificuldades dependem principalmente
da cultura das famílias, que na maioria vêm da cidade e são portadoras da
cultura da monocultura, do imediatismo, e não tem interesse em um pro-
jeto voltado à autossustentação. O mesmo vereador e membro da coorde-
nação do assentamento Celso Furtado, denuncia a presença nos assenta-
mentos de pouca consciência, de uma ideologia capitalista que empurra os
agricultores só na direção de objetivos de renda.
São muitos os paradoxos presentes nessa situação e que decepcio-
nam quem procura encontrar uma alternativa, não necessariamente revo-
lucionária, mas ao menos coerente com os objetivos oficiais proclamados
nas cartas e nas propostas do MST.
Acredita-se que houve uma perda da cultura do agricultor, a partir
do momento em que essa é substituída pelo padrão químico-mecânico. A
ótica do produtivismo foi incorporada e hoje, mesmo tendo noção de seus
problemas, há resistência à mudança (GOMES, 2003).
A falta de recursos e incentivos econômicos, como de uma assistên-
cia técnica de qualidade, constitui um problema percebido por todos os
atores envolvidos na transição e permanência de uma agricultura agroeco-
lógica. Mas a reivindicação por mais recursos entra em contradição com
o enfoque agroecológico que, segundo Altieri (1998), é uma proposta que
se destina a agricultores com pouca disponibilidade de recursos, menor
acesso aos insumos tecnológicos e pouca relação com o mercado (GOMES,
2003).
A necessidade de assistência técnica ameaça recolocar na mesa a
questão da dependência de pacotes e receitas típica do modelo da Revolu-
ção Verde, ou seja, dependência de atores externos ao assentamento. Mes-
mo evidenciando a importância de que o técnico deveria ser comprome-
tido com a transformação social, respeitar a realidade e o conhecimento
do assentado, não restringir sua ação à difusão de tecnologia, assumindo
um caráter de agente de desenvolvimento envolvido com toda a dinâmica
do assentamento, conforme a uma crônica incapacidade de atender com
qualidade os anseios de todos os assentados, busca-se encontrar novas so-
luções que partam do campo e de uma valorização e coletivização dos sa-
beres já existentes no assentamento.
O agricultor precisa, antes de tudo, ter convicção. E convicção se
adquire por meio do saber, do conhecimento, do estudo. Na agroecologia
não existem receitas, nem fórmulas. Existe o saber fundamental e, a partir

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Agroecologia e economia solidária para um projeto de reforma agrária sustentável

dele, é o cérebro o principal insumo que movimenta os processos da natu-


reza (PINHEIRO MACHADO, 2009).
Fazer agroecologia é apenas uma fase posterior ao processo de sen-
tir agroecologia e viver agroecologia. Não é suficiente tirar o agrotóxico do
processo de produção. Não é uma questão só ambiental, mas uma ques-
tão que incorpora uma dimensão social e cultural. Percebemos que a ten-
dência em andamento nos assentamentos é a de produzir organicamente,
mais que organizar e estruturar a produção agroecológica. Isto é, tentar
gerar uma renda, poupando os gastos dos insumos e aproveitando do valor
maior o qual consegue-se ao colocar os produtos orgânicos no mercado e
nos programas sociais nacionais.
Quando ocorre qualquer obstáculo, como a falta do Sistema de Ins-
peção Municipal que permita a comercialização dos produtos ou uma difi-
culdade no manejo do solo ou a manifestação de uma praga que retarda a
produção e reduz a produtividade, como aconteceu em Quedas, os agricul-
tores desistem e voltam à produção convencional.
Há ainda muito preconceito e uma influência muito grande da he-
gemonia do capital sobre a agricultura, o que faz com que muitos campo-
neses ideologicamente pensem apenas em imitar os fazendeiros, como se
isso fosse garantir o aumento da produção, do lucro e da melhoria das con-
dições de vida. Então, há um trabalho político-ideológico também, para
que os pequenos agricultores camponeses se dêem conta dos interesses de
classe que estão por trás de cada modelo (STÉDILE, 2009).
Como deveria se articular esse trabalho político e ideológico? Pelo
que foi evidenciado até agora conhecendo o exemplo dos assentamentos
de Quedas de Iguaçu, os eixos fundamentais desse trabalho parecem ser:
um novo modelo de assistência técnica, uma educação e revalorização da
cultura e do saber rural, a construção de ações coletivas e de uma organi-
zação política mais forte.

Troca de saberes, educação e organização política


Caporal (2000) refere-se ao conceito do que seria uma extensão agro-
ecológica, definindo-a como um processo de intervenção de caráter educa-
tivo e transformador, baseado em metodologias de investigação-ação par-
ticipante que permitam o desenvolvimento de uma prática social mediante
a qual os sujeitos do processo buscam a construção e sistematização de co-
nhecimentos que os leve a incidir conscientemente sobre a realidade.
Os modelos clássicos de assistência técnica podem ser considera-
dos top-down, do alto para baixo, dependendo de um técnico que vai às
propriedades trazendo a ciência. Esse modelo foi adotado para promover
os agrotóxicos, mas não pode ser um modelo politicamente e socialmente
adequado para a agroecologia e sobretudo nos assentamentos.

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Onde achar os conhecimentos? Jesús Leon Santos, cofundador do


Centro de Desenvolvimento Integral Camponês da Mixteca (México) e
coorde­nador do Programa de Agricultura Sustentável, proporciona dife-
rentes rumos: a construção de escolas técnicas nos e dos assentamentos;
a atuação de processos territoriais de aprendizagem e cooperação entre
atores envolvidos na produção, na pesquisa e na extensão; a metodologia
entre pares (camponês-camponês). Essa última metodologia parece muito
interessante rumo a um fortalecimento da autonomia, da identidade e da
consciência coletiva dos assentados, com o objetivo também de reconsti-
tuir um tecido compartilhado de ações e lutas políticas.
A metodologia camponês-camponês consiste numa troca de experiên­
cias e saberes a nível horizontal entre organizações camponesas que visa a
um processo de construção horizontal dos conhecimentos, valorizando e
deixando circular entre os agricultores os conhecimentos e os saberes tra-
dicionais, como patrimônio de todos. Os camponeses experimentam e in-
ventam cada dia novas soluções, ao contrário da pesquisa e da assistência
que é descontínua e de curto prazo. Apostando em uma metodologia desse
tipo, se fortalece a soberania tecnológica dos agricultores, maximizando a
própria autonomia. Essa metodologia permite também amenizar espíritos
individualistas e competitivos, típicos do capitalismo, visando a uma so-
cialização dos saberes e das práticas.
A construção de escolas técnicas é também um elemento fundamen-
tal, atuando com os jovens de hoje para educar os agricultores de ama-
nhã.
O MST tem trabalhado muito nos últimos anos no sentido de uma
luta pela apropriação dos conhecimentos científicos e técnicos, em conti-
nuo diálogo com os conhecimentos dos camponeses. Essa perspectiva tem
orientado a formação desenvolvida nos centros de formação e nas escolas
de agroecologia do MST e da Via Campesina, espaços que contribuem no
processo de luta e organização do sujeito camponês. No Paraná a esco-
larização é feita em parceria com o Instituto Federal do Paraná (IFPR) e
o INCRA. Já foram concluídas sete turmas, cujas práticas educativas em
agroecologia proporcionaram a formação de 185 militantes-técnicos, ha-
bilitados profissionalmente para intervir na organização e construção das
práticas agroecológicas nas áreas de reforma agrária e comunidades do
campo. O método de formação, que alterna atividades teóricas e praticas,
prevê que cada educando acompanhe, desde o inicio do curso, aproxima-
damente 50 famílias, contribuindo tecnicamente e também na organiza-
ção dos assentamentos.
Entre essas escolas, a Escola Latino Americana de Agroecologia do
município de Lapa – PR constitui um exemplo de excelência. Contudo, to-
das as escolas de agroecologia do Paraná têm o objetivo de atender à ne-
cessidade de um saber agroecológico autônomo e auxiliar na criação de

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Agroecologia e economia solidária para um projeto de reforma agrária sustentável

agentes de promoção de transformações na produção no sentido da agro-


ecologia, atuados pelos mesmos filhos dos assentados, contribuindo para
reduzir o processo de êxodo rural.
A educação é então uma importante ferramenta para promover um
desenvolvimento na consciência coletiva e social nas comunidades dos as-
sentamentos, construindo valores que se contrapõem ao consumismo, iso-
lamento, passividade política, falta de comunicação e insegurança.

Economia solidária para um projeto de reforma agrária


sustentável

Pela afirmação de outra economia


Abordando a questão da reforma agrária, como instrumento de po-
lítica pública orientada à distribuição da terra e geração de renda, é essen-
cial chamar a atenção sobre a necessidade de uma revisão e análise crítica
do modelo econômico dominante.
O reconhecimento dos limites das políticas econômicas neoliberais
e, especificamente, do modelo do agronegócio na geração de um bem-estar
coletivo encontrou, nas últimas décadas, apoio crescente entre os movi-
mentos sociais e as instituições.
A crescente consciência sobre os termos de troca, as condições de
trabalho e o impacto ambiental das atividades humanas levaram, gradual-
mente, a uma maior sensibilidade a respeito dos critérios éticos e de res-
ponsabilidade social nas atividades de produção, troca e consumo, sobre-
tudo em relação à questão agrária e ao campesinato.
Ao mesmo tempo, a crescente conscientização sobre as caracterís-
ticas éticas e biológicas dos processos produtivos agrícolas, sobretudo em
relação às questões de saúde das pessoas e do meio ambiente, encontrou
amplo apoio entre os moradores do campo e da cidade. É nesse contexto
que se afirma a necessidade de contrapor o modelo de desenvolvimento
que se estabeleceu no último século, através da revisão dos conceitos de
desenvolvimento e sustentabilidade.
Frente a isso, a agroecologia e a economia solidária apresentam-se
como propostas práticas de implementação e divulgação de um modelo
alternativo ao “pacote” vendido pelo agronegócio. O papel da agroecolo-
gia foi debatido anteriormente, de modo que a seguir procuraremos enfo-
car a questão da economia solidária como “ferramenta” para conseguir a
afirmação de outra economia. Para que isso aconteça, precisamos que se
constitua uma massa crítica entre os atores rumo ao mesmo objetivo, ou
seja, a criação de redes e sinergias que questionem o sistema de produção,
troca e consumo.
Apesar de atuar em dois campos de ação diferentes, a agroecologia e
a economia solidária visam à contestação social e à construção de práticas

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alternativas, através da instituição de núcleos e redes de articulação social


e política, caracterizados nas maiorias dos casos pela solidariedade interna
(MELUCCI, 2001).
Tais ações de relação e resistência da economia solidária com o
modo capitalista dominante, segundo Singer, crescem em função das cri-
ses sociais produzidas pela “competição cega dos capitais privados” (2002,
p. 86) e da conscientização da sociedade em relação à importância da rea-
propriação dos meios de produção, primeiro entre todos da terra.
Na concepção de Santos (2002), o sucesso de tal resistência depen-
de, essencialmente, da capacidade de provocar processos de transforma-
ção além da dimensão puramente econômica. Por isso, mudanças cul-
turais, sociais e políticas, junto com a construção de redes com e entre
movimentos sociais, constituem o enfoque na busca do estabelecimento
de uma alternativa.
A economia solidária afirma-se, no Brasil, no principio dos 1980,
a partir da difusão de numerosas experiências associativas dentro da so-
ciedade civil, através das quais tenta-se recuperar empresas falidas ou em
crise, criar grupos, associações e cooperativas comunitárias, rurais ou ur-
banas, e grupos de finanças solidárias.
Todavia, foi somente a partir dos anos 1990 que a economia solidá-
ria ganhou maior expansão e conseguiu os primeiros benefícios, que Gai-
ger (2004, p.377-378) descreve com as palavras seguintes:

[...] sobrevivência imediata, subsistência material, aumento da renda fami-


liar, reinserção social, reativação da vida comunitária, qualificação técnica
e profissional, desenvolvimento da autogestão, desenvolvimento do espírito
democrático, participação na sociedade e consciência social e política.

Atualmente, o termo “economia solidária” é principalmente utiliza-


do para indicar formas específicas de organização das atividades econômi-
cas (baseadas na valorização do trabalho, do saber e da criatividade), em-
preendimentos econômicos geridos pelos trabalhadores (autogestão) com
base em práticas associativas e solidárias, mas também um movimento po-
lítico de articulação em rede de colaboração dos agentes (integração) que
atuam na outra economia (SCHMITT e TYGEL, 2009).
Segundo a definição da Secretaria Nacional de Economia Solidária
(SENAES) em 2005, a economia solidária seria o conjunto das atividades eco-
nômicas de produção, distribuição, consumo, crédito e poupança, organiza-
das de forma solidária pelos trabalhadores sob uma forma coletiva e de auto-
gestão. De acordo com esta abordagem, a economia solidária caracterizaria-se
pela cooperação, autonomia, viabilidade econômica e solidariedade.
A preocupação da SENAES com a introdução da noção de solidarie-
dade na economia, pode se encaixar no conceito de Polanyi (1944) de ação
econômica socialmente “enraizada” (social embedded).

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Agroecologia e economia solidária para um projeto de reforma agrária sustentável

Além das diversas definições, o acontecimento do I Fórum Social


Mundial (FSM), em 2001, gerou um efeito multiplicador das iniciativas e
proposições de um modelo alternativo de organização social e produtiva,
as quais receberam crescente atenção e apoio das instituições governa-
mentais e não governamentais atuantes nos diferentes níveis, desde o local
até internacional.
De acordo com os dados do Sistema de Informações em Economia
Solidária (SIES), atualizados em 2007, de um total de 21.578 experiências
solidárias difundidas recentemente no Brasil, 34% nasceram no período
entre 1990 e 2000, enquanto 56,6% surgiram entre 2000 e 2007. Desse to-
tal, segundo um mapa realizado pelo mesmo SIES, 48% (10.513 casos) tem
como espaço de atuação o meio rural, com particular enfoque nas ativida-
des agrícolas de cultivo ou serviços. Processamento de produtos agrícolas,
tecelagem, artesanato e comercialização de alimentos, por outro lado, es-
tão em segundo lugar.
Com base neste mapeamento, parece inevitável reconhecer o papel
da economia solidária no contexto do desenvolvimento do campo e, es-
pecificamente, as possíveis ligações com projetos de reforma agrária. Em
relação a esta constatação, o SIES revelou a seguinte subdivisão na parti-
cipação em movimentos sociais: 5.680 entrevistados participam do movi-
mento sindical, 4.646 do movimento de luta pela terra e agricultura fami-
liar e 2.812 do movimento ambientalista.
Quanto às intersecções já existentes com a agroecologia, segundo
uma estimativa aproximada, no mínimo 30% dos participantes do II ENA
(Encontro Nacional de Agroecologia) poderiam ser identificados como
atores de economia solidária, sem considerar as outras entidades que, pelo
menos parcialmente, atuam nesse campo (ex. ONG, movimentos sociais,
incubadoras universitárias, entidades pastorais ou eclesiásticas etc.).
Esse dado também suporta a “tese” de uma possível interação entre
agroecologia e economia solidária dentro do mais abrangente programa
da reforma agrária, através do qual tentam-se incluir e integrar as seguin-
tes questões: produção, processamento, comercialização e consumo, abas-
tecimento do mercado e, portanto, segurança alimentar; e meio ambiente.
A mudança que esse processo de reforma requer é tanto no nível
econômico, quanto no eixo das relações sócio-culturais, nas ações indivi-
duais e nas políticas públicas. Em relação a essas últimas, desde 2003 o go-
verno Lula decidiu dar continuidade e apoiar os esforços sustentados pelos
movimentos sociais e a sociedade civil nessa direção, aprovando políticas
públicas de economia solidária nos três níveis do Estado (União, Estados
federados e municípios).
Além da promoção de dispositivos coletivos de reciprocidade (como
ajuda mútua, trabalho compartido, manejo coletivo de recursos comuns),
por meio do reconhecimento público, apoio técnico, pedagógico e finan-

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ceiro, o Governo pode, por um lado, ampliar as políticas sociais de apoio


ao associativismo ou cooperativismo e, por outro, oferecer aos agriculto-
res marginalizados o acesso a preços garantidos no mercado institucional
livre da concorrência capitalista (por exemplo, o Programa de Aquisição
de Alimentos). A mesma política de redistribuição da terra, enfim, poderia
também ser considerada parte dessas políticas públicas de promoção da
economia solidária (SABOURIN, 2009).
Reconhecendo todo isso, não se pode desconsiderar que a sustenta-
bilidade da política de reforma agrária depende amplamente das modali-
dades de atuação das políticas públicas.

O papel do cooperativismo na reforma agrária


Entre todas as iniciativas solidárias que surgiram durante as últimas
décadas no Brasil, neste trabalho colocamos precisamente nosso enfoque
naquelas que se encaixam na questão da reforma agrária, as quais, como
afirma Gaiger (2004), enfrentam o desafio de conciliar eficiência econômi-
ca com inclusão social e com o processo de gestão democrática, participa-
tiva, transparente e solidária.
Apesar do MST e da Confederação das Cooperativas de Reforma
Agrária do Brasil (CONCRAB) terem promovido a difusão de diferentes
tipos de associativismo agrícola – grupos coletivos e de ajuda mutua, asso-
ciações, núcleos de produção etc. – dentro do projeto de luta pela terra e
reforma agrária, as cooperativas foram a principal forma de organização
socioeconômica e política que se afirmou nos assentamentos de trabalha-
dores sem terra.
Tal forma de organização social e de produção, além de caracterizar-
se pela propriedade, gestão e repartição cooperativa, destaca-se por outros
tipos de ação coletiva enquanto tem um compromisso com o desenvolvi-
mento sustentado da comunidade (FABRINI, 2003).
Embora as primeiras tentativas de envolver a economia solidária
dentro do programa da reforma agrária tenham falhado, o MST não desis-
tiu, mas mudou progressivamente parte da própria concepção.
Frente aos escassos resultados e às radicais oposições que os assen-
tados sublevaram contra a tentativa de introdução nos assentamentos de
um modelo cooperativo fortemente coletivo (as CPAs – Cooperativas de
Produção Agropecuárias), o MST acabou propondo outro tipo de coopera-
tivas (as CPSs – Cooperativas de Prestação de Serviços), caracterizadas pe-
los objetivos de comercialização e prestação de serviço, a permanência de
um nível maior de individualidade do camponês e a organização de com-
pras e vendas coletivas (SINGER, 2002).
Procurando analisar as razões da generalizada recusa da proposta
de cooperação e solidariedade entre os assentados da Reforma Agrária,
não obstante o significativo esforço do MST na divulgação deste modelo

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Agroecologia e economia solidária para um projeto de reforma agrária sustentável

de organização interna – como testemunham numerosas pesquisas e com-


provam os trabalhos de campo –, é preciso também ter em consideração
o significado que o cooperativismo foi assumindo durante o processo de
modernização agrícola.
Destarte, surgem algumas perguntas: será, talvez, o uso que se fez
das cooperativas para a administração do pacote da “Revolução Verde” e
aproximação do capitalismo à vida camponesa que permite, pelo menos
parcialmente, explicar a resistência generalizada que enfrenta-se hoje con-
tra o modelo cooperativo? Por que registra-se uma preferência por aquelas
cooperativas que são funcionais ao capitalismo, quer dizer, cooperativas de
comercialização, prestação de serviços e consumo?
Essas últimas são as cooperativas que Fabrini define “empresariais”
(2003), as quais de fato acabam fortalecendo as dinâmicas capitalistas,
com particular enfoque na dominação e subordinação dos trabalhadores
ao capital, na geração de renda, lucro e na acumulação capitalista.
Contemporaneamente a esses acontecimentos, ocorre considerar
também o recente surgimento de experiências de cooperativas que o mes-
mo autor define como “progressistas” (FABRINI, 2003), motivadas pelos
objetivos da resistência organizada, afirmação e defesa dos direitos da
classe dos trabalhadores.
É dentro desse quadro que há um terreno fértil para as iniciativas
de economia solidária, as quais visam à priorização da cooperação e so-
lidariedade, e questionamento da ordem social, com o intuito de evitar a
redução das cooperativas a simples instrumentos de comercialização dos
produtos para a eliminação da intermediação capitalista.
A economia solidária considera a cooperativa como instrumento de
afirmação de outra economia, contemplando não somente a dimensão pu-
ramente econômica, mas dando atenção aos aspectos políticos (autoges-
tão, democracia e transparência), sociais (qualidade da vida, igualdade,
participação) e ambientais (preservação e conservação).
Em relação a isso, na esfera econômica valorizam-se as vantagens
propriamente econômicas (produtividade e produção, uso racional da ter-
ra, preço, renda e crédito) ou não econômicas (autossuficiência, susten-
tabilidade, consumo de produtos locais, agroecologia, comercialização e
obtenção de crédito através canais alternativos).
Em referência ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, a im-
portância reconhecida à ação coletiva, e de forma geral, aos aspectos não-
econômicos durante a fase de acampamento, infelizmente muitas vezes
não tem continuidade na condição posterior, ou seja, de assentamento.
Isso acontece apesar da relevância que o MST – por meio do SCA (Sistema
Cooperativista dos Assentados) – atribui à criação de estruturas democrá-
ticas, baseadas na economia solidária e na cooperação.

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Tal constatação legitima, ao menos em parte, a hipótese de que após


ter-se alcançado o objetivo de conquista da terra, a questão econômica – e
principalmente produtiva – adquire maior relevância entre os assentados.
Essa dinâmica, por exemplo, resulta evidente no caso do assenta-
mento de Quedas do Iguaçu, onde depois da conquista do lote – recebido
pelo INCRA – cada família optou pelo autoisolamento, individualismo e
imediatismo, segundo uma característica que Fabrini (2003) considera tí-
pica do camponês assentado e que o MST acha “desviante” para o alcance
de formas superiores de produção.
Neste cenário surge, inevitavelmente, uma disputa de responsabili-
dade: será que o processo de desmantelamento das cooperativas dos assen-
tamentos, que aconteceu no final da década de 1990 por mão do Estado,
rendeu o espírito cooperativo dos recém-assentados mais fraco que o dos
pioneiros dos primeiros assentamentos, ou foram as políticas macroeco-
nômicas que produziram tais efeitos?
Se por um lado não se pode negar o papel que o governo federal de-
senvolveu no desincentivo à cooperação, ao mesmo tempo, também não se
pode esquecer a influência que os processos de modernização da agricul-
tura e liberalização do comércio internacional desempenharam no enfra-
quecimento do modelo cooperativo e solidário.
Contemporaneamente a tudo isso, não podemos considerar o MST
totalmente livre de falhas. Através dos laboratórios organizacionais, o mes-
mo MST também favoreceu de certa forma a expansão do modelo de ra-
cionalidade econômica, acumulação e crescimento contínuo, divulgando a
lógica da organização empresarial e especialização nos assentamentos da
reforma agrária, rendendo-se, portanto, cúmplice de um processo de mu-
danças estruturais na organização produtiva e social dos assentados.
Ao contrário, como afirma Oliveira (1994), a agricultura camponesa
deveria representar e procurar uma alternativa, onde valoriza-se a diferen-
ciação da produção e a policultura, ao invés de minimizar a dependência
do mercado externo e fortalecer o autoabastecimento dentro do assenta-
mento. Isso, como nos lembra também a economia solidária, poderia con-
tribuir para a criação das condições para a afirmação de outro mercado,
ou ainda melhor, de outras relações de troca.
O fato é que durante a época do acampamento em Quedas do Igua-
çu houve um mercado interno com produtos das terras cultivadas coleti-
vamente, enquanto hoje, após a subdivisão em lotes, não se consegue mais
abastecer tal mercado. A mesma dependência do mercado externo para
a maioria dos produtos consumidos pelos assentados e a relevância que
as compras dos assentados reveste em relação ao comércio total da cida-
de, são fatores muito significativos da progressiva escolha de um caminho
desviado a despeito da ideologia inicial do movimento de luta pela terra e
reforma agrária.

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Agroecologia e economia solidária para um projeto de reforma agrária sustentável

Se por um lado, como aponta Fabrini (2003), é difícil conciliar a


proposta de coletivização e cooperação avançada pelo MST com os desejos
de autonomia, autossuficiência, controle do trabalho, da produção e hie-
rarquia dos camponeses, isso não significa que tal situação não possa ser
superada. Muito pelo contrário, é preciso um trabalho de resgate acerca
dos conteúdos ideológico-políticos do movimento que nasceu para repre-
sentar os camponeses e subverter a ordem – ou talvez a desordem – afir-
mando-se no campo.
Contudo, enquanto não se discutir a teoria de que é necessário pas-
sar por relações de produção capitalista para depois poder encaminhar o
processo revolucionário, o risco que se corre é de não conseguir ir além
do capitalismo, vendo, portanto, uma situação teoricamente temporária
transformar-se em definitiva e inalterável. Assim, o MST deveria conside-
rar que, no desenvolvimento do próprio papel, o questionamento da ordem
social regida pelo capitalismo não necessariamente tem que passar através
da parcial aceitação dessa mesma ordem.

Diferentes experiências no projeto de reforma agrária


Para esclarecer o que foi afirmado até esse momento, gostaríamos
de fazer uma breve apresentação das diferentes experiências e caracteriza-
ções que podem surgir dentro do mesmo projeto de reforma agrária, atra-
vés da utilização de alguns estudos de caso.
A colocação em prática dos princípios do movimento de luta e re-
forma pela terra produz níveis maiores ou menores de cooperação e soli-
dariedade e, junto com isso, um afastamento ou aproximação do modelo
capitalista dominante.
Se por um lado existem iniciativas em relação às quais algumas con-
siderações e críticas parecem inevitáveis, por outro, todavia, não se pode
esquecer ou desvalorizar aquelas experiências de assentamentos de sem
terra que, apesar das dificuldades inegáveis que encontram-se no caminho,
conseguiram produzir um significativo nível de conscientização entre os
assentados e, consequentemente, organizar-se segundo uma lógica alter-
nativa àquela do capitalismo.
O caso da Cooperativa de Trabalhadores Rurais e Reforma Agrária
do Centro-Oeste do Paraná Ltda (COAGRI), apresentado por Fabrini atra-
vés de um estudo de caso, representa uma experiência de cooperação agrí-
cola nos assentamentos do Centro-Oeste do Paraná, a qual sintetiza bem
como o favorecimento da modernização técnica, do investimento de capi-
tal e, enfim, do desenvolvimento econômico para a superação do “atraso”
de muitos assentamentos pode incentivar uma forma de organização pa-
recida com aquela da indústria, onde valoriza-se a padronização dos pro-
cessos produtivos, o aumento do rendimento e a acumulação do capital
(Fabrini, 2003).

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Tudo isso parece contraditório, se comparado aos objetivos decla-


rados pelo MST de resgate dos valores da cultura e do ser “camponês”, do
autoconsumo e da prática de uma agricultura alternativa.
O resultado esperado de uma cooperativa da reforma agrária, de
fato, seria a proposta de um mercado ou de uma feira própria, onde comer-
cializam-se diretamente os produtos do assentamento e tenta-se garantir o
autoabastecimento e alcance de uma maior autonomia possível, por meio
do trabalho conjunto.
No caso da divisão tradicional do trabalho prevalecer, será possível
encontrar maiores desvantagens na comercialização dos produtos. Esta,
por exemplo, é uma das experiências apresentadas por Singer (2002) a
partir de um estudo de caso realizado por Maria Antônia de Souza (1999).
Trata-se de um assentamento que surgiu no Paraná em 1985, em Abapan,
onde inicialmente o trabalho era de fato realizado em nível familiar, com-
portando uma certa dificuldade para conseguir créditos e adquirir equi-
pamentos. Além disso, a insuficiente colaboração implicava falta de poder
na definição do preço de venda e, mais em geral, obstáculos na comercia-
lização.
Se por um lado essas desvantagens podiam constituir uma boa mo-
tivação para se reunir numa associação, ao mesmo tempo, os assentados
não estavam dispostos a renunciar à própria autonomia em relação ao
trabalho e produção. A tentativa de criar, em 1997, uma cooperativa de
comercialização (COTRAMIC) falhou por causa da mesma dificuldade em
relação ao comprometimento para o desenvolvimento de atividades cole-
tivas.
Entretanto, como antecipado no começo desse parágrafo, além de
todas as dificuldades e dos desafios que o MST encontrou durante esses
vinte anos de lutas, também se registraram muitas conquistas e sucessos.
A Feira da Reforma Agrária de Rio de Janeiro, por exemplo, repre-
senta um desses casos de sucesso devido à forte motivação dos assenta-
dos. Trata-se de uma iniciativa recente (agosto de 2009) de reabilitação de
uma organização já existente, mas proibida pela Prefeitura Municipal há
dois anos. A reativação da Feira constitui o resultado de uma significati-
va luta dos trabalhadores sem terra, os quais durante a Jornada de Lutas
(março de 2009) ocuparam a Prefeitura de Campos dos Goytacazes, para
reivindicar acordos não cumpridos ligados às áreas da saúde, educação e
produção.
A Feira, além de constituir um canal de venda direta, que valori-
za proximidade e especificidade territorial, representa também um instru-
mento de comunicação e divulgação sobre a importância da política de
reforma agrária no fornecimento de moradia, emprego, saúde e instrução
para os sujeitos marginalizados da sociedade brasileira. Mas isso não é
tudo. A Feira, de fato, representa também uma ferramenta para o fortale-

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Agroecologia e economia solidária para um projeto de reforma agrária sustentável

cimento do trabalho conjunto entre os assentados, através da mobilização


política e participação num projeto comum.
Enfim, queremos destacar uma última iniciativa que bem sintetiza o
objetivo desse trabalho, quer dizer, a busca de um projeto de reforma agrá-
ria sustentável, seja em termos ecológicos ou de solidariedade. É o exem-
plo que nos oferece um grupo de 196 assentados do MST no Rio Grande
do Sul, que apostaram contemporaneamente na produção agroecológica
e na cooperação agrícola, conseguindo progressivamente garantir a recu-
peração da biodiversidade, a redução drástica dos custos de produção, a
aquisição de equipamentos coletivos e a comercialização conjunta através
da cooperativa regional.
A respeito desse último ponto, a comercialização acontece na Loja
da Reforma Agrária, no Mercado Público de Porto Alegre, mas principal-
mente é destinada ao abastecimento da demanda do Programa de Aquisi-
ção dos Alimentos (municípios, escolas etc.). Por isso, é preciso remarcar
novamente o papel que as instituições podem desempenhar na realização
de uma reforma agrária efetiva.
Concluindo, é interessante ver o que aponta um assentado e inte-
grante da Coordenação Nacional do MST, numa entrevista feita pelo Setor
de Comunicação do MST-RS, “(...) não somente produzimos orgânico, mas
produzimos em cooperação. Se estivéssemos individualmente, não tería-
mos como estar hoje com esta mesma produção”.

Conclusões
O futuro da agricultura camponesa no Brasil depende em grande
parte das opções do Movimento e da sua capacidade de traduzir em pro-
jeto político coletivo as estratégias de resistência e de inovação que estão
sendo construídas em todo o país pela iniciativa dos agricultores. A agro-
ecologia, como demonstramos amplamente nesse texto, pode contribuir
para a mudança do modelo de produção e das relações sociais dentro do
campo. Ela permite aumentar a autonomia dos agricultores, liberando-os
da dependência das empresas multinacionais de insumos químicos e das
dívidas e gastos a essa relacionados.
Permite valorizar a cultura camponesa tradicional, enfraquecida
nos últimos 50 anos como efeito da Revolução Verde, envolvendo também
as novas gerações num trabalho de síntese entre inovações científicas e sa-
beres antigos; fortalecer processos políticos de organização e compartilha-
mento de objetivos de luta; e realizar um processo de produção em harmo-
nia com a natureza, e que seja sustentável em longo prazo.
Enfim, a agroecologia possibilita dar vida a um processo cultural de
reconstrução de uma identidade e de uma função social dos agricultores,
produtores de soberania alimentar. Muitas são as dificuldades ainda no

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caminho, mas muitas, como demonstrado, são as ferramentas em experi-


mentação para fortalecer um rumo coerente de luta contra o capitalismo.
Negar a existência de milhões de pessoas que vivem em extrema po-
breza e que, normalmente não têm garantido nem o direito a uma renda
justa frente à atividade desenvolvida nem a condições de vida e trabalho
dignas, é de fato uma missão que diante dos fatos acaba sendo cada dia
mais difícil.
O agravamento da crise do modelo atual de desenvolvimento, como
releva Sabourin (2007), alimenta entre os movimentos sociais rurais um
questionamento em relação às condições de vida e trabalho, e à segurança
atual e futura das famílias.
A mesma escolha da agricultura familiar (autônoma ou em rede), se
por um lado testemunha uma tentativa de suprir as necessidades das pró-
prias famílias, próximos e aliados locais, por outro pode representar uma
opção ética onde se valorizam relações de troca e reciprocidade.
Voltando nosso olhar para o tema central desse trabalho, para que se
realize uma reforma agrária sustentável é preciso que, nos assentamentos,
se revalorize o conceito de capital social, quer dizer – referindo-se a Put-
nam (1996, p.177), “o conjunto das características da organização social
tais como confiança, normas e sistema de rede, as quais facilitando ações
coordenadas podem contribuir significativamente à cooperação e eficiên-
cia na sociedade, e mais especificamente, na comunidade rural”.
Para que isso aconteça, é importante enfatizar a necessidade de um
trabalho de formação e educação nos assentamentos, para a divulgação de
uma consciência política e o fortalecimento da mobilização social, frente
ao resgate de valores como confiança, reputação, responsabilidade, e nor-
mas de solidariedade, reciprocidade e interdependência.
A difusão de uma consciência desse tipo entre um maior número
de assentados, além de evitar que movimentos ideológico-políticos e pro-
cessos sociais eticamente fundados sejam “utilizados” para a afirmação de
uma lógica utilitarista típica do capitalismo, favorece ao mesmo tempo a
coesão social e a viabilização de uma produção agrícola cooperativa e eco-
logicamente sustentável nos assentamentos da reforma agrária.
Tanto a economia solidária como a agroecologia representam movi-
mentos sociais voltados para o questionamento dos princípios do sistema
político-econômico dominante e a proposta de uma alternativa ao capita-
lismo. Como a afirmação de outro modelo depende significativamente do
maior ou menor nível de conscientização da sociedade, ambos os movimen-
tos reconhecem a importância da divulgação de um estilo de vida diferente.
Uma concepção original de outra economia, que confirma, relança
e sintetiza o que tentamos exprimir nesse trabalho, foi colocada durante
o Fórum Social Mundial de Belém (janeiro 2009) através da ênfase e va-
lorização do conceito de bem viver. Tal conceito reivindica a necessidade

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Agroecologia e economia solidária para um projeto de reforma agrária sustentável

de mudança do modelo econômico baseado no crescimento, no lucro, na


especulação e na acumulação, reconhecendo uma maior importância à di-
mensão comunitária e à preservação do meio ambiente.
A crescente atenção a respeito da economia solidária e da agroecolo-
gia, seja entre os movimentos sociais ou a nível institucional, deixa espaço
para margens de esperança: será talvez o bem viver uma das possíveis vias
de saída das crises que se reproduzem ciclicamente? Será esse conceito,
enfim, capaz de promover circuitos virtuosos para a afirmação de uma re-
forma agrária social e ecologicamente sustentável, respeito à qual pesqui-
samos, refletimos e discutimos nesse artigo?

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