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ao desenvolvimento territorial:
experiências brasileiras e italianas
1ª edição
Outras Expressões
São Paulo – 2012
Revisão: Andriolli de B. da Costa; Adriano da S. Rozendo; Elisângela M. da Silva; Raul Pimenta e Sueli Baleeiro de
Lacerda.
Capa, Projeto gráfico e Diagramação: Krits Estúdio
Impressão: Graphium
Tiragem: 300 exemplares
G345 Geografia de E para A cooperação ao desenvolvimento territorial:
experiências brasileiras e italianas. / Marcos Aurélio Saquet,
Egidio Dansero, Luciano Zanetti Fernando Pessôa
Candiotto (organizadores).—1.ed.— São Paulo :
Outras Expressões, 2012.
416p. : il. tabs., grafs., mapas.
Apresentação | 7
Os organizadores
Francisco Beltrão, PR, janeiro de 2011.
Giuseppe Dematteis
Professor do Politécnico e da Universidade de Turim |
giuseppe.dematteis@dislivelli.eu
Um mito revelador
Inicio esta reflexão com um mito cuja interpretação tem a ver com
as bifurcações que pretendo trabalhar neste artigo. Contam que Prometeu,
querendo definir o que distingue os homens dos deuses, fez o seguinte:
depois de ter sacrificado um boi, Prometeu dividiu-o em duas partes, de
um lado, deixou os ossos cobertos de gordura branca, do outro lado, a car-
ne e as partes comestíveis, embrulhadas na pele do animal e cobertas com
os intestinos repulsivos. Depois, convidou Zeus para escolher para si e para
os outros deuses qual das duas parcelas preferiria; o resto, seria dado aos
homens. Zeus percebeu o engano de Prometeu a favor dos homens e deci-
diu puni-lo, através daqueles que eram protegidos por ele, negando-lhes o
fogo. Por sinal, em seguida Prometeu roubou esse fogo, porém, essa é ou-
tra história (ou talvez não; já veremos).
O que se deve captar neste conto, é que, além de ter percebido o en-
gano, Zeus prefere ficar com os ossos, que se tornaram a comida dos deu-
ses, pois achou que eles são a parcela mais duradoura, mais parecidos com
a essência eterna do divino. Privilégio que os homens vão reconhecer em
cada sacrifício, felizes de ter para eles a carne.
1
Texto original: DEMATTEIS, Giuseppe. Zeus, le ossa del bue e la verità degli aranci. Biforca-
zioni geografiche, Rivista dell’Associazione Italiana Insegnanti di Geografia, anno LIII, serie
VIII, n.3-4, 2008, p.3-13.
13
Entre as muitas coisas que este mito nos sugere, algumas interes-
sam à geografia pelo menos por três razões. Quero dizer, antes de tudo,
que irei falar da geografia no seu significado etimológico de “grafia”, da
terra (“geo”). Assim, quero falar sobre o que todos esperam desta disci-
plina: uma descrição das diversidades naturais, culturais, socioeconô-
micas e políticas que caracterizam as diferentes parcelas da superfície
terrestre.
A primeira razão é a seguinte: imaginemos que Prometeu em vez
de dividir um boi, tenha pensado em subdividir em duas grandes classes
as diferentes formas para conhecer e representar o mundo. Por um lado,
colocaria todos os conhecimentos que incorporam o tempo e, então, veem
nos objetos de estudo deles algo que se transforma, nasce, cresce, murcha
e morre, o que, no entanto, como as leis da física, serve para perceber a
eterna luta do mundo contra a entropia.
Por outro, teria tomado um conhecimento mais nobre, devido a algo
incorruptível, como os ossos do boi, tais como, por exemplo, a geometria
e teologia. A geografia estaria entre esses conhecimentos, porque, como
Saint-Exupéry diz depois das palavras do geógrafo do Pequeno Príncipe:
“As geografias são os livros mais valiosos de todos. Eles não envelhecem
nunca. É muito raro que uma montanha mude de lugar. Não acontece qua-
se nunca que um oceano seja esvaziado e continue sem água. Nós vamos
escrever coisas eternas”2.
Trata-se obviamente de uma caricatura da nossa disciplina, que não
põe em evidência a questão essencial. Naqueles anos, – estamos falando de
1943 – a característica principal da geografia era ocupar-se daquilo que,
mesmo não sendo propriamente eterno, pelo menos era muito estável. As-
sim, concebia-se como fixo aquilo que, por sua natureza, é mutável como
as paisagens, as construções, os tipos de vida, as relações entre a sociedade
e o meio ambiente etc.
Tomamos o caso de Vidal de la Blache, celebrado por Lucien Febvre,
da utilização não determinista, mas possibilista, do conceito de ambiente
(milieu). Isso não implica que mesmo assim ele caiu na tentação de escre-
ver “coisas eternas” quando afirma, por exemplo:
2
A. De Saint-Exupéry. O pequeno príncipe. Paris: Gallimard, 1943, cap. XV.
3
Atlas general Vidal de La Blache. Paris : Collin, 1895, “Preface”.
14
Além dos bem conhecidos méritos, o positivismo teve uma falha: analisar
o hábito de julgar os eventos da humanidade, as obras do homem, através
das regras e da analogia das manifestações naturais. Esse pensamento ficou
como uma herança, mais do que para outras disciplinas, para a geografia5.
15
6
Feltrinelli, F. Geografia. Una introduzione ai modelli del mondo. Rorio: Einaudi, 2003, parte II.
7
Gambi, L. Una geografia per la storia. Torino: Einaudi, 1973, p. 174.
16
8
Sestini, A. Il paesaggio. Milano: TCI, 1963, p.10.
17
9
Op. Cit. p.11.
18
preferia, por outro lado, imaginar o território como uma tela branca (faire
nappe blanche, recomendou Le Corbusier a quem começava projetar), so-
bre a qual projetavam as soluções dos grandes problemas da reconstrução
e do boom econômico. Este último puxava na mesma direção, guiado por
um padrão fordista que considerava o território um suporte indiferenciado
sobre o qual distribuem-se as fábricas, as casas e as infraestruturas e consi-
derava as diversidades não tanto como um valor, mas como um obstáculo
que deveria ser eliminado.
Por exemplo, é significativo que nenhum geógrafo foi chamado para
participar da grande obra do “Projeto 80,” quer dizer, da tentativa de de-
senhar de novo a geografia econômica, social e urbana da Itália, posta em
prática pelo Ministério do Orçamento e do Planejamento Econômico no
final dos anos sessenta, com o objetivo de traduzir tal programação em
uma nova disposição do território nacional, mais justa e eficaz. Nem os
distintos urbanistas e economistas que participaram desse projeto preo-
cuparam-se em utilizar a valiosa (talvez demais) quantidade de estudos
regionais compilada durante quase cem anos de geografia universitária.
De fato, as fontes geográficas citadas no “Projeto 80” são quase exclusiva-
mente as publicações de divulgação do Touring Club italiano. E tal insen-
sibilidade para com a geografia humana e econômica do país foi uma das
razões pelas quais o projeto, além dos ótimos objetivos, foi definido como
“livro dos sonhos” e o desenho do território nacional sugerido resultou tão
abstrato que parece lembrar a utopia de Tomas Morus.
Durante a década de sessenta, no entanto, foi delineada uma possí-
vel convergência entre geógrafos e planejadores através de novas bases. Es-
tas foram oferecidas, em ambas as disciplinas, pelo desenvolvimento na li-
teratura anglo-saxônica da já mencionada geografia analítico-quantitativa
que, por sua vez, contribuiu consideravelmente para o estabelecimento de
Ciência Regional, uma nova disciplina, que devia ser para os planejadores
o que a física era para os engenheiros.
De fato, muitos modelos analíticos dessa nova concepção – por exem-
plo, os modelos gravitacionais – foram baseados em analogias com as leis
da física. Outros, como os modelos dos “lugares centrais”, chegaram das
aplicações da teoria econômica neoclássica (que também é muito grata ao
paradigma newtoniano). Em ambos os casos, a geografia quantitativa vem
para enunciar as leis deterministas ou probabilísticas, eliminando tudo o
que tinha sido foco da geografia humana anterior, ou seja, a diversifica-
ção das áreas naturais e históricas. A nova geografia teórico-quantitativa
(de vaga matriz neopositivista) negou o determinismo ambiental inspirado
pelo antigo positivismo e, portanto, retirou a reivindicação de reduzir em
leis gerais a interação homem-ambiente. Portanto, ignorou-as totalmente
nos seus modelos. Os resultados históricos desses processos foram consi-
derados contingências que poderiam alterar a regularidade causada pela
19
20
10
Questioni di geografia, op. cit. , p. 43.
21
foram apresentados como relações entre “as coisas” e isso contribuiu para
reforçar – como temos dito – uma teoria da ordem existente como ordem na-
tural. Além disso, Marx contribuiu também para compreender como o espa-
ço geográfico, transformado em território, nomeadamente, numa máquina
gigantesca produtiva, poderia tornar-se algo natural, ou seja, uma estrutura
impessoal, capaz de restringir a vida dos seres humanos, de alienar sua es-
sência, para levar ao domínio da coisa sobre o homem. Foi fácil, em segui-
da, passar dessa teoria para a política, indicando na organização capitalista
do território um instrumento de exploração dos trabalhadores por parte de
quem possuía os meios de produção e o poder de decidir a gestão da terra
mais adequada para a realização de reformas e lucros. Essas ideias foram
desenvolvidas, naqueles anos, por quem estava envolvido, nas cidades e nos
territórios, do ponto de vista econômico, sociológico, urbanístico e, natu-
ralmente, também geográfico. Na sequência das análises de H. Lefebvre, A.
Lipietz, M. Castells, S. Holland, D. Harvey, M. Santos e de autores italianos
como F. Indovina, A. Becchi, Collidà, A. Magnaghi, B. Secchi, G. Garofoli e
outros, trabalharam também alguns jovens geógrafos italianos, incluindo
quem escreve, dando vida, entre 1976 e 1980, ao grupo informal da Geo-
grafia Democrática. Não se falou mais simplesmente de espaço geográfico,
mas de “território”, ou seja, do que D. Harvey tinha definido como “espaço
geográfico de relações” . Isso levou a uma reforma radical do nosso tema de
estudo. Para utilizar as palavras de A. Lipietz: “sendo a geografia humana
nada mais que a organização espacial das estruturas sociais (econômica,
política, ideológica), a diferenciação dos espaços concretos – regionais ou
nacionais – deve ser abordada a partir da articulação das estruturas sociais e
dos espaços que eles produzem”11. Na mesma linha de pensamento, H. Lefe-
bvre tinha definido a cidade como a sociedade estabelecida no terreno.
A própria geografia neomarxista avaliava, assim, o espaço sem ato-
res, mas com o risco de substituí-lo – especialmente em seus aspectos es-
truturalistas – por uma visão de território onde existiam apenas as rela-
ções entre os atores, enquanto o espaço concreto desaparecia ou se tornava
uma simples tela, sobre a qual se projetavam as formas do espaço social.
Ressalto que a Geografia Democrática evitou tal risco, tanto com a revista
Herodote Itália, tanto com a organização, em Florença, em 1979, de uma
conferência sobre “a pesquisa empírica na geografia” .
Nessa conferência foi reconsiderada e reavaliada uma prática glo-
riosa da geografia tradicional, mas que substituiu a simples observação da
paisagem e o reconhecimento dos componentes objetivos, por uma pes-
quisa sobre os sujeitos ativos das transformações, sobre as próprias condi-
ções de vida desses sujeitos e sobre as relações mútuas entre eles e com o
ambiente material.
11
Lipietz, A. Le capital et son espace. Paris: Maspero, 1977, p. 28.
22
Após essas orientações, foi possível abrir um novo caminho que to-
mou conta, seja das subjetividades, das relações sociais e dos valores, seja
das circunstâncias históricas e naturais dos territórios com que se relacio-
navam os agentes que operavam em diferentes escalas geográficas12. Tal
tipo de geografia recebeu forte influência da teoria dos sistemas complexos
que, naqueles anos, foi de grande interesse para todas as ciências incluin-
do as humanas. Em especial, os modelos da auto-organização, quando fo-
ram aplicados aos sistemas territoriais de diferentes níveis – tanto local
quanto supranacional – reconheciam, em cada um deles, princípios e for-
mas organizativas específicos, que não podiam reduzir-se a outros níveis
territoriais. As ações específicas de cada sistema regional – nos termos do
relacionamento com o ambiente material intermediado por específicas re-
lações sociais – deram origem às diversidades geográficas que poderiam
apenas ser conhecidas através de pesquisas sobre o interior dos sistemas
individuais. O fato de que o conhecimento do nível local não podia ser de-
duzido do conhecimento dos superiores (regional, nacional, global) deu
um grande impulso às investigações da geografia humana conduzida a este
nível, em paralelo com a mesma redescoberta dos sistemas locais pelas ci-
ências econômicas e sociais. São bem conhecidos, por exemplo, os estudos
sobre os distritos industriais realizados por economistas como G. Becattini
e sociólogos como A. Bagnasco.
Dessa forma a geografia humana desenvolveu uma maneira de cons-
truir novas relações com as ciências sociais. Também deve ser notado que,
entre os anos 1970 e 1980, a crise do modelo fordista de produção e o sur-
gimento da acumulação flexível, com o objetivo de explorar os diferenciais
competitivos de diferentes lugares, levou à reavaliação das diversidades
culturais e dos materiais locais, considerados como recursos potenciais
para o desenvolvimento. Tudo isso foi traduzido em seguida, a partir da
década de noventa, nas políticas de desenvolvimento local promovidas em
nível comunitário, nacional e regional, através de instrumentos (pactos,
projetos territoriais integrados etc.), cuja eficácia dependia muito da ca-
pacidade de compreender as especificidades locais como fatores de desen-
volvimento. Não só isso, mas a simétrica necessidade de proteger o meio
ambiente e a paisagem deu o valor correto para a velha tendência da geo-
grafia de identificar e descrever o que é mais estável ao longo do tempo e
que, nos novos planos, leva o nome de “invariantes estruturais”. Isso abriu
a oportunidade para os geógrafos participarem da projeção das transfor-
mações territoriais, recuperando parte do atraso acumulado nas três dé-
cadas anteriores. E isso realmente aconteceu desde os anos 1970, porque
12
Um exemplo: Geografia politica delle regioni italiane, coletânea organizada por P. Coppola,
Torino, Einaudi, 1997.
23
Engano ou metáfora?
Lucio Gambi não tem negado a importância das relações ecológi-
cas, porém afirmou com força que o estudo da geografia humana tem de
se ocupar principalmente dos valores que as diferentes sociedades, nas di-
ferentes épocas históricas, atribuíram ao ambiente e aos elementos que
o compõem. Ele mesmo dedicou importantes estudos às representações
geocartográficas como expressão não somente da realidade reproduzida,
mas propriamente dos valores que elas expressavam13. Ao mesmo tempo, a
partir de pressupostos completamente diferentes, alguns geógrafos ameri-
canos criticaram a geografia teórico-quantitativa com a motivação de que,
segundo essa teoria, os modelos de interação espacial estão baseados em
comportamentos uniformes, comuns a todos os sujeitos, enquanto os com-
portamentos espaciais dependem, conforme observou também, no começo
dos anos 1970, o geógrafo Yi-Fu Tuan, de aspectos subjetivos como a per-
cepção, a atribuição de valores, as diferentes atitudes e visões de mundo.
Daqui nasceu aquela corrente do pensamento geográfico focalizada nas fa-
ses da percepção-elaboração do conhecimento e da representação: que se
interpõe entre nós e o mundo exterior, como um filtro, entre a observação
e a ação que exercitamos sobre aquele.
Contudo, se nossas representações do mundo são diferentes entre
elas, quais serão as verdadeiras?
Na opinião de autores expoentes da corrente do pensamento geo-
gráfico contemporâneo, não há uma resposta e a pergunta é sem sentido,
pois, como também Nietsche já afirmou, não existem feitos, somente in-
terpretações. Portanto, um documento geográfico – uma cartografia, uma
descrição regional – deveria ser estudado tentando reconstruir o percurso
perceptivo-cognitivo-comunicativo do autor, quer dizer, a desconstrução
do discurso representa tudo o que este pode dar-nos em termos de conhe-
cimento. Tal posição tem sido desenvolvida pelo pensamento geográfico
pós-moderno, o qual se opõe à pretensão da ciência moderna de conseguir
representações objetivas e universais da realidade14.
13
Em particular, no vol. 6, Atlante, da Soria d’Italia,Torino, Enaudi,1997.
14
Minca, V. C. “Relativismo postmoderno e prassi geográficas”, Rivista geográficas Italiana,104
(1977), p. 277-303.
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25
15
Metafore della Terra. La geografia umana tra mito e scienza. Milão: Feltrinelli, 1985.
26
16
Em particular R.Boyd e T. Kuhn. La metafora nella scienza. Milano: Feltrinelli, 1983.
27
A carne do mundo
Dino Gribaudi não me passou só a cultura geográfica tradicional,
mas também uma forma de praticá-la, o que, em parte, resgata a tendên-
cia desta geografia para naturalizar o mundo. Pensei em especial na sua
forma de entender e fazer a geografia quando li estas palavras do filosofo
Michel Serres:
17
Serres, M. “Realitées”, no periodico Le Monde, 1.8.1982, p. 10.
28
A descrição regional não tem um vocabulário técnico. Ela fala a língua co-
mum, um pouco porque é dirigida a todos, mas também porque convida o
leitor à participação ativa, fazendo apelo à memória e à imaginação dele: ela
evoca mais do que descreve18.
18
Baulig, H. “La gèografie est-elle une science?”, Annales de Géographie, n. 305, 1948.
19
Reclus (1830-1906) e Dardel (1899-1967) foram dois geógrafos marginalizados pelo esta-
blishment acadêmico durante a vida deles e retomados em consideração nas últimas déca-
das, com a descoberta dos componentes subjetivos da descrição geográfica.
20
Merleau-Ponty, M. Il visibile e l’invisibile. Parigi, 1964 (publicação italiana organizada por
M. Carbone, Bompiani 1969), p. 57.
21
Ibidem, p. 63.
29
30
31
26
Em Terre des hommes, Paris, Gallimard, 1939, p. 190.
32
33
27
Dardel, E. L’uomo e la Terra. Natura della realtà geografica. Tradução italiana do texto origi-
nal de 1952, organizada por C. Copeta, Milano, Unicopli, 1986, p. 72.
34
Poliane de Souza
Unioeste – bolsista graduanda do USF | poliane_nardi@hotmail.com
Apresentação
Os processos de inovações industriais ocorridos no âmbito urbano
no século XIX tiveram uma fase de intensa expansão a partir da I Guerra
Mundial e, sobretudo, depois da década de 1940, quando se inicia a im-
plantação de novas técnicas e práticas no espaço rural. Estas possibilita-
ram um grande aumento da produção, provocando resultados mais ex-
pressivos durante as décadas de 1960 e 1970.
O novo modelo denominado “Revolução Verde” baseia-se no uso in-
tenso de sementes modificadas, fertilizantes, agrotóxicos, além do uso de
novas tecnologias em todas as fases da produção, desde o plantio até a co-
lheita e a comercialização. Com isso busca-se aumentar a produtividade,
reduzindo os custos e maximizando os lucros.
Nesse mesmo tempo, aumentam as manifestações decorrentes dos
problemas gerados pelo pacote tecnológico, em virtude de impactos como
a contaminação dos recursos hídricos e dos animais, erosão, contamina-
ção dos solos e redução da sua fertilidade natural, redução da biodiversi-
dade, dependência de insumos químicos, concentração fundiária, êxodo
rural, entre outros, cada vez mais presentes e visíveis no espaço.
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cia técnica, com a CRESOL que auxiliava com financiamentos para cons-
trução das estruturas e com a empresa Sucoeste de Santa Catarina, que
comprava a uva, beneficiava e comercializava.
A empresa Sucoeste abriu falência deixando os produtores desam-
parados, em 2008. Então com o apoio do CAPA, da CRESOL e da APROVI-
VE, instala-se a fábrica de sucos Viry, a qual, atualmente, faz o beneficia-
mento da produção de uvas agroecológicas de Verê e de Itapejara d’Oeste e
comercializa na APAV. Além do suco fabricado, os produtores fazem doces
de uva e vinho colonial para comercialização.
No município de Salto do Lontra, foram atendidos pelo projeto 8
produtores. Há uma variação bem significativa no tamanho das proprieda-
des, assim como nos outros dois municípios, variando de 0,5 ha, de Flávio
Perón, a 40 ha, de Gabriel Ferreira. Apesar de pequenas, as propriedades
possuem uma produção bem diversificada.
A gestão e a força de trabalho são familiares, com exceção da pro-
priedade de Gabriel Ferreira, pois este contrata empregados temporários
como podemos verificar no quadro 3.
45
Eduardo Ferreira 17 5 (casal e filhos) (1) milho, soja, trigo, hortaliças e frutas
4 (casal, filho e
Gabriel Ferreira 40 (1) milho, soja, trigo, hortaliças e fruta.
1 temporário)
Fonte: Trabalho de campo, 2009.
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Propriedades orgânicas
Em Itapejara d’Oeste, a propriedade orgânica é a do agricultor Raul
Dall’Agnol, assim cultivada desde 1994. São 13 ha, onde trabalham ele, a
esposa e um dos filhos. Suas principais produções são frutas, grãos (soja
e milho) e leite; a soja é certificada pelo Instituto Biodinâmico (IBD), co-
mercializada com a Agrorgânica, intermediária na certificação e instalada
em Campo Largo-PR desde 1998, comprando apenas soja orgânica que é
exportada para a Holanda.
Uma das exigências do IBD para a certificação é que toda a pro-
priedade seja orgânica. Dessa forma, Raul comercializa apenas a soja or-
gânica com a Agrorgânica. De acordo com o produtor, o preço é bom; na
safra 2008/2009, chegou a receber 70% a mais do que a soja convencional.
Já o milho, por exemplo, apesar de ser orgânico, é comercializado de for-
ma convencional com a Cooperativa Agropecuária Sudoeste Ltda (Coasul),
pois a Agrorgânica não o adquire.
Na produção animal, destaca-se o leite orgânico, comercializado
convencionalmente com a Cooperativa Latco de Francisco Beltrão. Além
do leite, possuem bovinos, aves caipiras, ovos, peixes e frutas apenas para
o consumo familiar. Em Salto do Lontra, a maioria das propriedades es-
tudadas são orgânicas, pois os agricultores produzem soja e milho para
exportação; há, nesse município, cinco produtores: José Ferreira, Eduardo
Ferreira, Gabriel Ferreira, Paulo Ferreira e Marino da Luz de Sousa.
Para descrever uma propriedade escolhemos a de Gabriel Ferreira,
a maior propriedade estudada, com 40 ha subdivididos em: 11 ha de cul-
turas temporárias (soja, trigo, milho), 0,42 ha de culturas permanentes
(eucalipto e parreiral); 7,26 ha de pastagens permanentes (piqueteamento
semanal) e 6 ha de área de capoeira, o restante de mata nativa e benfeito-
rias, conforme foto 2.
Além da produção de grãos, possui também um pomar e um parrei-
ral, onde produz frutas para consumo próprio; o excedente é comercializa-
do in loco e no mercado do produtor e, no caso da uva, vendem para pro-
dutores de vinho. Na propriedade, trabalham o casal, um filho e mais dois
empregados temporários; a gestão é familiar.
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longo prazo, pois leva tempo para fazer a conversão da produção e neces-
sita de muita força de trabalho, justamente um dos principais limites que
os agricultores estudados dos três municípios têm. Este fato ocorre em
virtude da migração dos jovens para estudar. A maioria acaba inserindo-
se no mercado de trabalho em outros lugares, especialmente em cidades
grandes.
A certificação da produção
O selo agroecológico de certificação é uma garantia que os consu-
midores têm de que o produto adquirido foi produzido em conformidade
com a lei, de forma ecológica, sustentável e, principalmente, livre de agro-
tóxicos. Para os produtores é um elemento que facilita a comercialização e
agrega valor aos produtos.
Entre os produtores pesquisados nos três municípios, alguns pos-
suem o selo, outros estão em processo de conversão/transição e há aque-
les que ainda não o possuem. Conforme observamos no quadro 4, o mu-
nicípio de Verê é o que tem o maior número de produtores com o selo;
em segundo, Salto do Lontra e, por fim, Itapejara d’Oeste; no entanto,
este ultimo é o único que possui produtores em transição. Em Itapeja-
ra d’Oeste, há dispersão e falta de uma associação dos produtores para
fortalecer a produção e comercialização dos produtos agroecológicos no
município.
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Itapejara d’Oeste 1 3 3
Verê --- 15 2
Fonte: Pesquisa de campo, 2009.
53
A comercialização da produção
Os agricultores dos três municípios atendidos pelo projeto não têm
dificuldades quanto à comercialização, tudo o que se produz é vendido e,
muitas vezes, a procura é maior que a oferta. Parte da produção é adquiri-
da pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) do Fome Zero de cada
município. Em Itapejara d’Oeste, comercializam, ainda, no Mercado do
Produtor; a soja, com a Agrorgânica; demais grãos, com a Coasul e a uva,
com a APROVIVE; em Salto do Lontra, no Mercado do Produtor, na Feira
da Agricultura Familiar, com a empresa Tozan e na propriedade; em Verê,
no mercado da APAV, a uva na APROVIVE, na Feira dos Sabores e no Mer-
cado Orgânico de Curitiba, nos mercados convencionais de Francisco Bel-
trão e Dois Vizinhos, nas propriedades e, ainda, um deles, Baldoino Berns,
comercializa com a Gebana, pois é a única propriedade do município que
produz grãos.
A Cooperativa de Comercialização da Agricultura Familiar Integrada
(Coopafi) e o Mercado do Produtor assim como o Sindicato dos Trabalha-
dores Rurais (STR) de Itapejara d’Oeste e Salto do Lontra buscam apoiar a
agricultura familiar de forma geral, não diferenciando agroecológicos ou
convencionais. Já, em Verê, as Associações (APAV e APROVIVE) apóiam so-
mente a agricultura familiar agroecológica, até porque, para tornar-se sócio
de uma das associações é necessário que o produtor realize alguma ativida-
de agroecológica na propriedade.
A COOPAFI está presente em mais de 25 municípios do Sudoeste, seu
objetivo é organizar a produção e a comercialização. Começou atuar em
Itapejara d’Oeste e Salto do Lontra organizando feiras municipais para es-
tabelecer um ponto fixo para a comercialização dos produtos, porém, com
o aumento da demanda dos consumidores, edificou-se o Mercado do Pro-
dutor. O objetivo do mercado é comercializar os produtos dos agricultores
familiares.
54
Salto do Lontra - 4 8
Verê 1 10 17
Fonte: Pesquisa de campo, 2009.
55
APROVIVE 4 --- 2
CAPA 3 --- 17
CRESOL 7 7 7
EMATER 3 2 1
STR 4 6 3
PREF. MUNICIPAL 1 5
COOPAFI 1 2 ---
CLAF 1 4 ---
56
57
58
Considerações finais
Os resultados obtidos durante o processo de pesquisa e por meio da
efetivação das atividades de extensão-cooperação com as entidades par-
ceiras e com os agricultores dos municípios deixam claro que a produção
agroecológica é efetivamente uma das possibilidades para o desenvolvi-
mento local. Proporciona a produção de alimentos saudáveis, renda com-
plementar para as famílias e condições bastante favoráveis à preservação
do ambiente.
A produção orgânica também se substantiva, consoante pudemos
constatar, como uma alternativa peculiar para geração de renda e prote-
ção do ambiente, apesar de em Itapejara d’Oeste e Salto do Lontra, serem
direcionadas para o mercado externo. No entanto, verificamos que, tanto
em Salto do Lontra como em Itapejara d’Oeste, os agricultores têm sérias
dificuldades para implementar as produções, especialmente a agroecológi-
ca: a organização política é frágil em virtude da desmobilização diante das
dificuldades encontradas; há descontinuidade em ações já implementadas;
falta força de trabalho, orientação técnica continuada e há carência dos in-
centivos governamentais.
Percebemos também que os mercados consumidores locais, nos
dois municípios anteriormente citados, podem ser dinamizados em favor
da produção agroecológica. Porém, sua produção ainda é incipiente e tudo
que se produz é comercializado com facilidade: falta produção regular, di-
versificada e certificada bem como ações continuadas e mais focadas por
parte das entidades envolvidas no processo em questão.
No caso de Verê, essa realidade é um tanto diferenciada, pois a pro-
dução agroecológica do município é bem diversificada e organizada, mas
isso é facilitado pela presença do CAPA no município, que atua de forma
59
Referências
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61
Entrevistas:
Entrevista realizada com Fábia Tonini e Janete Fabro, da ONG ASSESO-
AR, em 18 de maio de 2009.
Entrevista realizada com Décio Cagnini, técnico CAPA, em 15 de janeiro
de 2010.
Entrevistas realizadas com produtores agroecológicos de Verê, Salto do
Lontra e Itapejara d’Oeste, durante o ano de 2009.
62
Introdução
Esse texto apresenta informações sobre os aspectos ambientais de
11 Unidades de Produção e Vida Familiares (UPVFs) que desenvolvem a
agricultura orgânica no município de Francisco Beltrão, Sudoeste do Pa-
raná. A pesquisa, financiada pelo CNPq no edital n. 27/2008, busca contri-
buir para a conservação dos recursos hídricos nessas UPVFs, melhorando
a qualidade e a quantidade de água em cada estabelecimento rural. Nesse
sentido, a etapa inicial da pesquisa esteve ligada ao levantamento de in-
formações sociais, econômicas, produtivas e ambientais, que nos permiti-
ram traçar um diagnóstico da situação em cada UPVF. Apresentamos aqui,
os dados referentes ao diagnóstico ambiental, que estão nos auxiliando
1
A referida pesquisa, intitulada “Conservação e uso sustentável de recursos hídricos como
instrumento de gestão ambiental em unidades rurais familiares com produção agroecológica
no município de Francisco Beltrão – PR”, tem apoio financeiro do CNPq, através do edital n.
27/2008, e se encontra cadastrada com o número 574050/2008-6. A pesquisa também é cadas-
trada na Divisão de Pesquisa, da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação da UNIOESTE.
63
Metodologia da pesquisa
A partir de uma parceria técnico-científica com a ONG ASSESOAR
(Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural), sediada no mu-
nicípio de Francisco Beltrão e com atuação em todo o Sudoeste do Para-
ná, procuramos dialogar com os técnicos dessa ONG para definir os be-
neficiários do presente projeto. Após algumas reuniões, decidimos propor
um projeto que partisse de um amplo diagnóstico das UPVFs (Unidades
de Produção e Vida Familiar) para então, apontar conjuntamente com os
agricultores, as tecnologias mais adequadas para resolver ou minimizar os
problemas de qualidade ambiental, produção, processamento e/ou comer-
cialização de cada UPVF.
64
2
A Rede Ecovida consiste em uma organização responsável por um processo de certificação
participativa de alimentos orgânicos/agroecológicos. Sua atuação se dá nos três estados do
Sul do Brasil, compreendendo núcleos regionais em alguns municípios desses estados. A Rede
Ecovida acredita que a relação de confiança entre produtores e consumidores é o principal
alicerce para a certificação e o fortalecimento da agroecologia, sendo contrária à certificação
por auditagem. Maiores informações podem ser obtidas em www.redeecovida.org.br.
65
3
Apenas não repetimos as análises no Rio Cotegipe e em uma fonte, porque as águas de am-
bos não vêm sendo utilizadas para consumo humano, animal ou irrigação.
66
Resultados obtidos
Através das entrevistas aplicadas e dos resultados das análises de
água realizadas nas propriedades foi possível conhecer a realidade de cada
propriedade rural no que se refere às questões sociocultural, econômico-
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Tabela 3: Resultados das análises de água do Rio Santa Rosa (Vila Rural Gralha Azul).
Coliformes
Coliformes Totais
Termotolerantes Escherichia Coli
Local Data *Limite Máximo:
*Limite Máximo: *(ausência)
<1,1/100ml
<1,1/100 ml
No Rio Santa Rosa foram coletadas duas amostras e, uma vez que
não houve uma grande variância entre os resultados das amostras, não se-
rão feitas ações de melhorias na parte do rio que corta a Vila Rural e porque
se pretende que, com a instalação futura de uma cisterna na propriedade, a
71
família deixe de usar a água do rio para irrigação. Logo, não achamos ne-
cessário investir em novas análises.
O resultado da análise, pelas condições em que o Rio Santa Rosa se
encontra, ficou dentro do esperado. O Rio Santa Rosa é um rio que atual
mente encontra-se sofrendo o efeito do mau manejo efetuado por proprie-
dades vizinhas à Vila Rural e também por propriedades localizadas na Vila.
Existem partes assoreadas e, devido ao fato de estar em uma área mais
baixa da Vila Rural, o rio tende a receber resíduos de agroquímicos e maté-
ria orgânica provenientes das propriedades. Devido principalmente a pos-
síveis contaminações químicas, é importante que a família deixe de usar
água deste rio para irrigação.
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truído pelo Sr. Vilmar. Do reservatório, a água era bombeada para uma
caixa d´água e, desta caixa, encanada para a residência. Com a quebra da
bomba utilizada para bombear água do reservatório, a família passou a
utilizar a fonte localizada na propriedade, a qual era protegida apenas por
telhas de amianto.
Coletou-se também amostras de outra fonte (desprotegida) localiza-
da em outra propriedade vizinha (primo de Vilmar) avaliada inicialmente
com potencial de uso.
As amostras coletadas nas fontes de propriedades vizinhas e na fon-
te da propriedade beneficiária apresentaram os seguintes resultados:
76
Para melhor certeza dos resultados das análises anteriores foi então
coletada mais uma amostra da água da fonte da propriedade antes da rea-
lização da proteção com solo-cimento em agosto de 2010. Com a proteção
esperamos que a qualidade da água melhore e que a permanência da vazão
da fonte seja prolongada.
Quanto à destinação de efluentes da residência, os originados do ba-
nheiro são direcionados para um sumidouro. Os demais (cozinha e lavan-
deria) são liberados a céu aberto ao lado da residência. Já os dejetos dos
animais, juntamente com o lixo orgânico produzido na propriedade, são
utilizados como adubo na horta e pomar, enquanto o lixo seco é recolhido
mensalmente pela prefeitura municipal.
Outra ação que está sendo pensada para esta propriedade para ten-
tar solucionar o problema de escassez de água nas estiagens é a construção
de uma cisterna para armazenar água da chuva e também da fonte protegi-
da na propriedade. A água armazenada poderá ser utilizada para o consu-
mo da família e também irrigação da horta da propriedade.
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Tabela 8: Resultados de análises da água do Rio Jacutinga e das fontes utilizadas pela
família de Josefina e Tobias Korb localizadas em propriedades vizinhas.
Coliformes
Coliformes Totais
Termotolerantes Escherichia Coli
Local Data *Limite Máximo:
*Limite Máximo: *(ausência)
<1,1/100ml
<1,1/100 ml
Nov/2009 < 0,9 NMP/100 ml < 0,9 NMP/100 ml Ausência
Fonte de prop. Vizinha
Abr/2010 1600 NMP/100 ml >2300 NMP/100 ml Presença
(cozinha e queijaria)
Ago/2010 < 1 UFC/100 ml < 1 UFC/100 ml Ausência
82
Embora contando com uma boa cobertura vegetal e com uma prote-
ção feita pelo agricultor, a fonte utilizada para lavagem da estrebaria, tan-
que e banheiro apresentou níveis de contaminação nas duas amostras. Es-
tes resultados indicam que, apesar de protegida, a fonte não tem água apta
ao consumo humano no momento. Talvez a simples melhoria da proteção
realizada na fonte poderá melhorar a sua qualidade. Neste caso, como não
será feito investimento, pois essa água não é utilizada para consumo (ape-
nas limpeza), embora os resultados entre a primeira análise e a segunda
tenham diferenciado muito, não realizamos uma terceira amostragem.
O Rio Jacutinga é utilizado na propriedade para dessedentação ani-
mais, os quais tem livre acesso ao rio. Comparando com o resultado da amos-
tra do Rio da Gruta apresentado na propriedade anterior, o Rio Jacutinga
apresentou um nível de contaminação inferior na primeira análise, mas um
grau de contaminação muito mais elevado na segunda análise. Em ambos
os rios a contaminação foi maior na segunda etapa, porém a diferença entre
a primeira e a segunda foi maior no Rio Jacutinga. Os resultados das aná-
lises destes rios poderiam ter sido melhores se as suas margens estivessem
com mais cobertura vegetal. Em ambos, ao longo dos cursos (não apenas
nas áreaspertencentes às propriedades beneficiárias) existem locais onde as
áreas de mata ciliares são muito pequenas e outros onde não existem.
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Água de fonte vizinha, Nov/2009 < 0,9 NMP/100 ml < 0,9 NMP/100 ml Ausência
coletada na mangueira
Abr/2010 11 NMP/100 ml 14 NMP/100 ml Ausência
antes de chegar ao
reservatório. Ago/2010 < 1 UFC/100 ml < 1 UFC/100 ml Ausência
*Valor Referência. PORTARIA 518/2004-MS. Estabelece os procedimentos e responsabilidades
relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão
de potabilidade.
Fonte: Arquivo do projeto.
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Água de fonte Nov/2009 < 0,9 NMP/100 ml < 0,9 NMP/100 ml Ausência
vizinha, após
Abr/2010 > 2300 NMP/100 ml > 2300 NMP/100 ml Presença
passar pelo
reservatório. Ago/2010 < 1 UFC/100 ml 4 UFC/100 ml Ausência
Fonte da entrada
Ago/2010 6 UFC/100 ml 19 UFC/100 ml Presença
da propriedade.
*Valor Referência. PORTARIA 518/2004-MS. Estabelece os procedimentos e responsabilidades
relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão
de potabilidade.
Fonte: Arquivo do projeto.
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Tabela 12: Resultados de análises da água de fontes utilizadas pela família de Walfrido
Korb e Maria Iolanda Korb, localizadas em propriedades vizinhas.
Coliformes
Coliformes Totais
Termotolerantes Escherichia Coli
Local Data *Limite Máximo:
*Limite Máximo: *(ausência)
<1,1/100ml
<1,1/100 ml
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Considerações finais
O diagnóstico ambiental apresentado foi elaborado a partir de infor-
mações coletadas com os proprietários das UPVFs e de observações reali-
zadas nas próprias UPVFs. Como o foco do projeto reside na conservação
e melhoria dos recursos hídricos, acabamos por priorizar informações re-
lativas à qualidade da água, sobretudo daquela consumida pelas famílias
beneficiárias do projeto. A ação de proteção das fontes, já realizada, pro-
curou melhorar a qualidade das águas que apresentaram problemas rela-
cionados à contaminação por E. Colli, considerada altamente prejudicial à
saúde humana e animal. Outras ações estão previstas, inclusive o monito-
ramento da qualidade das águas das nascentes que foram protegidas.
Sabemos que existem outras informações pertinentes para compor
um diagnóstico ambiental, porém, dentro dos objetivos do projeto, procu-
ramos levantar dados referentes ao manejo dos solos, cobertura vegetal,
ocupação dos solos, nascentes e outros recursos hídricos utilizados, ali-
mentos produzidos sem o uso de agrotóxicos, bem como os impactos am-
bientais identificáveis.
Apesar das famílias atuarem com agricultura orgânica, a gestão am-
biental de suas UPVFs apresenta deficiências significativas, haja vista as
contaminações identificadas nas análises de água. Portanto, conhecer a
gestão ambiental das UPVFs orgânicas e levantar os principais problemas
existentes é fundamental para verificarmos os avanços e entraves da agro-
ecologia. Acreditamos que o fortalecimento da agricultura orgânica e, so-
bretudo da agroecologia, estão intimamente ligados a melhorias na gestão
ambiental das UPVFs, que por sua vez, também beneficiarão a qualidade
de vida das famílias rurais envolvidas.
Referências
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Introdução
As organizações políticas do Sudoeste do Paraná têm sido objeto de
estudos de diferentes áreas do conhecimento, pois é neste espaço que se
constitui desde a década de 1940, um processo intenso de luta e resistên-
cia para ocupação, posse efetiva e permanência na terra. Neste processo
se institui uma agricultura familiar que compõe 84% dos estabelecimentos
embora ocupe cerca de 24% da área total, revelando, também, o processo
contraditório da sociedade brasileira de muita terra em poucas mãos. Des-
ta forma, os estudos realizados têm contribuído nas reflexões e na com-
preensão da dinâmica singular que possibilita a apreensão deste espaço a
partir de sua identidade principal: a agricultura familiar.
Porém uma lacuna existente na maioria desses estudos se refere à
participação das mulheres neste processo, conforme é constatado em ati-
vidades de pesquisa e extensão desenvolvidas em parceria com entidades
representativas da agricultura familiar1 em que, comumente, a demanda
pelo reconhecimento, estudo, registro e valorização do trabalho e da pre-
1
Entidades como: ASSESOAR – Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural;
CLAF – Cooperativa de Leite da Agricultura Familiar; COOPAFI – Cooperativa de Produção
e Comercialização da Agricultura Familiar Integrada; CRESOL – Cooperativa de Crédito
Rural com Interação Solidária, entre outras.
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2
O projeto Registrando a História Política-Organizativa das Mulheres Agricultoras do Sudo-
este do Paraná,o qual tem como resultado o registro em formato de um caderno de estudo e
um documentário videográfico do trabalho realizado.
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3
ASSESOAR. Estratégias de Conhecimento para o Desenvolvimento Sustentável na Agricultu-
ra Familiar. Sistematização da Formação de Monitores para Associações – uma ação entre
Assesoar/Associativismo. ASSESSOAR: Sudoeste do Paraná, agosto de 1997; ASSESOAR: re-
ferências e impactos – um olhar sobre a década de 90 do século XX. Org. CALEGARI, Avelino;
DUARTE, Valdir. Sudoeste do Paraná, 2006; Desenvolvimento multidimensional do campo –
Concepção e Método – Referências a partir do Projeto Vida na Roça. ASSESSOAR: Sudoeste
do Paraná, 2009.
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regional, estadual) por ser uma história dinâmica com dados, informações
e fatos diversos no sentido das dimensões política, religiosa, econômica,
sócio-cultural, além de longos períodos em que se desenvolve a organiza-
ção do trabalho com as mulheres agricultoras.
A proposta de trabalho organiza-se então em dois momentos coleti-
vos com as mulheres e um terceiro momento de relato em pequenos gru-
pos, conforme a necessidade de aprofundamento de fatos e relações espe-
cíficas. O primeiro momento contou com cerca de 40 mulheres e a partir
destas primeiras transcrições dos relatos organiza-se um único texto cha-
mado de 1ª Narrativa. No segundo momento as mulheres coletivamente
analisam o escrito da 1ª Narrativa e reconstroem as partes consideradas in-
completas ou inconsistentes ao mesmo tempo em que se analisam os mo-
mentos e temas destacados. Busca-se, além de registrar o vivido, dar uma
base ao objetivo de fazer avançar a organização regional de mulheres.
Uma característica essencial nesta metodologia é a potencialidade
que tem para desvelar o interior da dinâmica das experiências, pois a ten-
dência de modo geral é permanecer no exterior e focalizar partes como se
fosse o todo, resultado de uma formação fragmentada e pontual que difi-
culta a percepção da totalidade. Assim, este processo de Sistematização
de Experiências Populares tem um componente político e ético ao mesmo
tempo. Político na medida em que permite à experiência ou prática social
ter clareza dos objetivos estratégicos e um componente ético na medida
em que respeita os sujeitos que vivem experiências populares, levando-os a
refletir sobre eles próprios, suas vivências, sua inserção no social e no po-
lítico, compreendendo a forma que os integra ao social (FALKEMBACHK,
1995; VERONESE, 1998; JARA HOLLIDAY, 2006).
No caso deste material a 1ª Narrativa é reestruturada à medida que
se adensam outros fatos, documentos, bem como dados encontrados em
registros escritos. Contudo nesta 1ª Narrativa verifica-se a falta de aprofun-
damento nas questões polêmicas e nos conflitos, mostrando a necessidade
de buscar maiores esclarecimentos e informações sobre alguns períodos
da história, o que levaria à constituição de uma 2ª Narrativa com a “Aná-
lise” onde se confrontariam a conjuntura, os conceitos, os objetivos, as es-
tratégias, construindo uma reflexão e um novo texto com um referencial de
história, concepções e apontamentos para o futuro. Porém, como o tempo
e o contexto não permitiam este aprofundamento, partiu-se para relatos
com pequenos grupos de mulheres nas cidades onde vivem atualmente, as-
sim foi possível resolver as dúvidas e preencher as lacunas da história.
Mesmo com muitas informações observa-se a falta de alguns “fios
condutores” desta história e das diferentes relações político-organizativas
que ocorrem na região em momentos específicos. Para isto realizam-se
algumas entrevistas com pessoas que articulam e coordenam ao longo do
processo entidades da agricultura familiar e a organização de mulheres,
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sua consciência, como para facilitar sua incorporação nos sindicatos e ter
acesso a benefícios de previdência social (DEERE, 2004).
A motivação para a participação das mulheres se formula a partir das
lutas por direitos da família, tendo como centralidade a questão da previdên-
cia social. Naquele período, somente os homens agricultores tinham direito à
aposentadoria a partir dos 65 anos, recebendo apenas meio salário mínimo.
Assim pauta-se uma questão emergencial sobre os rumos dos trabalhadores
na agricultura e se apresenta um contexto que exige a organização política. A
criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em 1983 acirra a disputa
política, em especial ao se constituir oposição ao trabalho assistencialista de-
sempenhado pela maior parte dos sindicatos ligados a Federação de Trabalha-
dores na Agricultura do Estado do Paraná (FETAEP), filiados à Confederação
Nacional de Trabalhadores na Agricultura (CONTAG).
Assim, as mulheres agricultoras se organizam e se articulam territo-
rialmente, em âmbito nacional, para serem reconhecidas como profissio-
nais do campo, com direito sociais efetivados. Este contexto possibilita que
as mulheres agricultoras se insiram no movimento sindical bem como em
movimentos populares, o que exige um processo de formação destas para
atuarem nos diversos espaços públicos em busca de seus direitos. Ao mes-
mo tempo, a saída do espaço privado, representado pela sua casa, para os
espaços públicos, até então dominados pelos homens, representa um emba-
te contra formas preconceituosas que essas mulheres tem que assumir seja
no âmbito da família, comunidade ou sindicato. Trata-se de uma luta contra
uma estrutura de sociedade que ao remunerar a mulher agricultora, força o
seu reconhecimento como coautora na organização das unidades de produ-
ção agropecuária, além de representar uma vitória frente ao patriarcado.
A inserção política das mulheres agricultoras, à medida que amplia
sua escala territorial de ação, ganha notoriedade e aumenta a participação
das mulheres, embora o contexto de adversidades permaneça.
Apesar de um número pequeno, as mulheres agricultoras, começam
a assumir as direções do sindicato, inicialmente ocupando cargos como
secretárias, conselho fiscal, porém mais tarde passam a fazer parte das di-
retorias executivas.
Cabe destacar que a política de cotas, que estabelece um percentual
mínimo de 30% de mulheres nas direções, definido pela CUT aos seus sin-
dicatos em 1993, contribui para aumentar tal participação. No entanto, esta
política também foi fruto da organização das mulheres e de homens que en-
tendem esta como uma forma de estabelecer condições mais eqüitativas.
Apesar da ampliação da participação no movimento sindical a cen-
tralidade das lutas tem por base a organização da classe trabalhadora. As
questões específicas das mulheres são tratadas de forma secundarizada, o
que impõe uma disputa muitas vezes velada de poder entre homens e mu-
lheres no sindicato.
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Quadro 01- Cronologia das principais lutas da organização das mulheres agricultoras no
Sudoeste do Paraná a partir da década de 1970
Lutas pela melhoria dos preços dos produtos agrícolas (fechamento da balsa,
1974 – 1978 fechamento da ponte de Capitão Leônidas Marques, luta pelo preço do leite,
fechamento dos bancos pela baixa dos juros e acesso ao crédito)
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Considerações finais
A luta precisa continuar, pois mesmo na agricultura as mulheres ainda não
conseguiram ter uma ‘abertura total’, uma divisão mais igualitária das ati-
vidades domésticas. Já avançaram bastante, mas ainda precisam avançar
mais. Considero importante que a mulher saiu do anonimato, hoje ela senta
com o marido para conversar, discutir questões da propriedade o que antes
não se fazia. As bandeiras de luta que as mulheres poderiam levantar em pri-
meiro lugar é a questão da violência, da igualdade salarial que já melhorou,
mas ainda existem diferenças para homens e mulheres que exercem a mes-
ma função, aumentar na agricultura o debate da divisão do trabalho, perder
e timidez e ocupar mais os espaços políticos, romper com o preconceito com
relação à mulher (UNIOESTE/SETI, 2010, Luciana Rafagnin – Francisco
Beltrão – PR).
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Referências
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Introdução
Em 2008, a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior – SETI elaborou um amplo programa de Extensão denominado
Universidade Sem Fronteiras – USF. O objetivo do programa era intensifi-
car a interação entre estudantes, recém-formados e professores das insti-
tuições estaduais e federais públicas de ensino superior com as comunida-
des paranaenses que apresentassem baixo IDH e onde a universidade não
atuava diretamente. Para isso, o programa oferecia uma estrutura básica
de atuação e intervenção como: custeio do projeto para compra de equipa-
mentos, combustível, passagens, estadia, automóveis para os trabalhos de
campo, livros e outros equipamentos e utensílios demandados pelo proje-
to, além de bolsas para estudantes recém-formados, estudantes de gradua-
ção e coordenadores. A estrutura para o trabalho era complementada pelas
universidades e, se possível pelos parceiros.
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Resultados
Como resultado prático das assessorias administrativa e jurídica,
nos vinte e um meses de atuação do projeto, de um total de 144 filiadas
à UNICAFES-Paraná, foram atendidas direta ou indiretamente um neu-
mero aproximado de 80 cooperativas incluindo as definidas no início do
Projeto, bem como, todo procedimento das áreas citadas internamente
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Conclusão
Diante desse quadro e dada a complexidade de agentes e proces-
sos envolvidos, a implementação da metodologia de análise do processo
e sua intervenção exigiu um enfoque que evitasse a redução do mundo
rural a apenas algumas questões macroestruturais ou a questões ideo-
lógicas que polarizam as discussões sem conhecer os atores reais. Nas
duas últimas décadas o desafio epistemológico de analisar o rural sob
este prisma tem sido enfrentado por pesquisas bastante fecundas, que
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Referências
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Introdução
O processo de modernização da agricultura brasileira, em especial
para a realidade do assentamento rural 72, no município de Ladário-MS,
apresenta-se fortemente excludente, provocando a criação de diversas ter-
ritorialidades alternativas por parte dos moradores locais. A ausência do
apoio governamental estimulando modernas técnicas de cultivo e a dificul-
dade de acesso à tecnologia e conhecimento econômico agrário/agrícola
são, igualmente, produtoras de exclusão nessa realidade.
Este trabalho procura analisar as possibilidades do desenvolvimen-
to territorial no assentamento rural 72, em Ladário-MS, partindo do le-
vantamento de suas condições socioeconômicas e estabelecendo diálogo
com a melhoria de vida da população local. Portanto, o objetivo central é
mostrar a realidade desse assentamento, construída em seus dez anos de
existência, e as iniciativas que estão sendo adotadas para o desenvolvimen-
to territorial rural.
Durante todo o seu tempo de vida a localidade apresentou uma sé-
rie de deficiências e uma incapacidade de “andar com as próprias pernas”.
Tal fato nos chamou atenção e despertou o desejo de tentar ajudar a co-
munidade a mudar de condição, nascendo, assim, uma pesquisa-ação por
meio da qual, ao mesmo tempo em que tentamos induzir o desenvolvimen-
to territorial local, levantamos informações empíricas para nosso arranjo
teórico-metodológico.
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A ajuda mútua não é muito presente no local. Apenas 20% dos en-
trevistados afirmaram praticar a troca de dias ou mutirões entre os assen-
tados, denotando uma forte individualização, a ponto de 10% das pessoas
não admitirem o trabalho em grupo. Trata-se de uma condição preocupan-
te para o desenvolvimento territorial nos moldes que estamos propondo
que tem força na solidariedade entre os assentados.
Em termos de equipamentos sociais o assentamento possui um Cen-
tro de Atendimento Múltiplo construído em 2005, com duas salas, um sa-
lão de múltiplo uso, dois banheiros, copa/cozinha e uma dispensa em boas
condições de conservação. No local são realizadas reuniões e quinzenal-
mente deveria ocorrer atendimento médico, que não tem sido efetuado
pela falta de profissionais no quadro da Prefeitura. O assentamento é ser-
vido por uma escola comunitária, construída pelo Governo do Estado, com
dois prédios. O menor possui duas salas de aula e o maior conforma-se
como um amplo salão onde são realizadas reuniões da Associação dos Pe-
quenos Produtores além de atividades educacionais. A escola atende so-
mente alunos do assentamento nas séries iniciais e finais do ensino funda-
mental. O acesso é facilitado pelo transporte escolar municipal que passa
pelas principais vias que cortam o assentamento.
Os assentados se organizaram economicamente, desde o início,
numa entidade denominada Associação dos Pequenos Produtores Rurais
do Assentamento 72, visando o fortalecimento do grupo, que deveria rea-
lizar reuniões ordinárias mensais com pauta variada para apreciação e to-
mada de decisões. Nos últimos tempos as reuniões têm ocorrido de forma
irregular em função das disputas por poder e descrença da situação dos as-
sentados. Essas condições mostram o assentamento como palco de dispu-
tas pelo poder estabelecido pelas relações sociais. Ilustram ainda o caráter
uno e múltiplo da apropriação do espaço individual e coletivo.
A associação possui bens de uso coletivo como um trator para auxi-
liá-los nas atividades do campo. Contudo, é preciso pagar uma taxa para
alugá-lo e arcar com o custo do combustível e deste modo, poucos o utili-
zam. Também contam com implementos agrícolas, como arado, grade, re-
boque (carreta puxada pelo trator) e roçadeira.
As estradas internas se mostram em regular estado de conservação.
Alguns locais apresentam pontos de alagamento na época das chuvas (ve-
rão), notadamente nos pequenos leitos de cursos fluviais intermitentes
(grotas) que passam nas terras do assentamento. Em alguns casos, obser-
va-se forma erosiva, prejudicando o tráfego de veículos e até dos morado-
res, inviabilizando o escoamento da produção.
Outro grande problema é a carência de assistência técnica. Em 2007
e 2008, a AGRAER começou um trabalho no assentamento através de uma
parceria com a Prefeitura Municipal de Ladário, porém o contrato encer-
rou e não foi renovado. Essa ausência implica na impossibilidade de ela-
133
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citou espaço físico para seu funcionamento, pois não estava fazendo aten-
dimento ao público devido a esta carência. O conjunto maior de reivindi-
cações foi apresentado pela Associação dos Produtores Rurais, levantando
uma série de necessidades: água para consumo e produção; cobertura no
pátio da escola – pois as crianças fazem educação física no sol; cobertura
nos pontos de ônibus; áreas de lazer; salas de aula e escola para adultos;
segurança na associação, na escola e na pedreira; policiamento nas estra-
das; cuidados com a reserva e com os poços; sinalização; agentes comuni-
tários de saúde, médico e dentista; ambulância; escoamento da produção,
selo de qualidade e um conselho da área rural; assistência para o desenvol-
vimento da apicultura, avicultura, caprinocultura, horticultura, ovinocul-
tura, suinocultura, bem como para a pecuária de corte e leiteira; incentivo
agropecuário (afirmaram estar cansados de iniciar cursos que não tiveram
continuidade) e dificuldades de deslocamento para a cidade.
Essas condições demonstram os limites do assentamento ao desen-
volvimento rural sustentável, mas também apontam os caminhos de en-
frentamento a serem trilhados. O desenvolvimento territorial local parte
dessas problemáticas, mas precisa carrear e ser carreado pela comunida-
de, a partir de uma coesão socioterritorial que ainda não está presente. As
instituições de pesquisa e de governo precisam apoiar e incentivar essa ne-
cessidade de convivência em grupo, já que foi vislumbrada uma série de
carências promotoras de privação de liberdades que precisam ser elimina-
das em favor da qualidade de vida. É preciso que o assentado entenda que
atuando em grupo será mais forte política, social e economicamente. Terá
condições de negociar sua produção com a garantia do grupo. Esse empo-
deramento conduz ao desenvolvimento rural sustentável.
135
Balsadi (2001, p.157) afirma que “O meio rural deixou de ser sinô-
nimo de agrícola e passou a ser o local de atividades que eram tipicamente
urbanas”. Há, sem dúvida, um exagero nessa afirmativa, apesar da ine-
gável coexistência de atividades econômicas múltiplas. Já alertamos em
Costa (2004) que atividades urbanas quando realizadas no espaço rural se
revestem de especificidades, assumindo feições/manifestações próprias da-
quele ambiente. É fato, porém, que a unidade de análise do rural não pode
mais se restringir somente a agricultura, mas também a outras atividades
econômicas; não apenas em escala local e regional, mas também nacional
e mesmo internacional. O território rural possui um conjunto de relações
sociais que dão origem e ao mesmo tempo expressam uma identidade lo-
cal e regional compartilhados por múltiplos atores – é um espaço dinâmico
que reflete relações sociais de interdependência, afetando no processo de
gestão de políticas públicas e prioridades de investimento.
A abordagem territorial para o desenvolvimento rural no Brasil ini-
ciou, conforme Tartaruga (2008), somente no principiar do século XXI,
com a criação da Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT), no âm-
bito do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), com a criação do
Programa de Territórios Rurais, inspirado nos modelos europeus do pro-
grama LEADER (Liaisons Entre Actions de Développement de l’Economie
Rurale). Já criticamos essa proposta de suposta autogestão em Costa (2006)
por entender, dentre outros elementos, que a proposta conceitual de terri-
tório estava sendo empregada de forma equivocada. Neste momento refor-
çamos nossas proposições naquele trabalho e passamos a defender que o
maior problema estava na escala considerada para o território. Creditamos
a eficácia de políticas de baixo para cima em pequenas escalas geográficas
e na presença constante de um “animador territorial” que tanto pode ser
um agente do governo, da universidade ou de uma ONG.
A escala pequena se justifica pela relativa diminuição dos conflitos
pelo poder. Serão menos intensas as tensões produzidas pelas relações de
poder de um assentamento rural que de um conjunto desses numa escala
regional. O “animador territorial” é um agente que apóia nas ações terri-
toriais, que ajuda nas articulações, que elabora projetos, avalia e discu-
te avanços e retrocessos. É, ao mesmo tempo, conselheiro e conciliador,
tendo o respeito de todos ou pelo menos da maioria dos locais. É essa fi-
gura quem incentiva o empoderamento do grupo e, talvez por participar
das etapas fundamentais de desenvolvimento local, sua ausência ou retira-
da constantemente inibe a segurança dos grupos sociais envolvidos. Per-
cebemos essas condições em outros assentamentos rurais estudados (no
municípios de Terenos, Dois Irmãos do Buriti e em Nioaque, Estado de
Mato Grosso do Sul).
Portanto, a visão de planejamento do desenvolvimento rural voltada
para o território resulta na necessidade de articulação com as prefeituras/
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Conclusões
O desenvolvimento rural sustentável não pode ser visto somente na
teoria. Uma vez assumido por uma comunidade deve se tornar uma pos-
tura, uma condição de permanente busca pela melhoria da qualidade de
vida. A pesquisa apontou a existência de grandes carências no Assenta-
mento 72, uma ausência continuada de assistência técnica, falta de água
para abastecer os sistemas produtivos e ausência de coesão social do gru-
po de moradores locais. Das famílias assentadas inicialmente, algumas já
venderam ou transferiram os lotes para terceiros, sendo que os novos re-
assentados aguardam o cadastramento pelo INCRA para a regularização
de sua situação.
Finalmente, cabe observar que os assentamentos não podem ser
deixados à própria sorte, devendo as instituições de pesquisa e/ou go-
vernamentais estimularem iniciativas locais para empoderamento e au-
togestão pelos assentados dos seus territórios. Acreditamos que a pro-
posição do desenvolvimento rural é mais efetiva em pequenas escalas
geográficas (como as dos assentamentos rurais) e que carecem de um
“animador territorial” como estímulo e apoio nas mais diversas neces-
sidades. A experimentação do desenvolvimento deve ser permeada das
peculiaridades locais, de modo a ser constantemente avaliada, modifi-
cada, renovada, objetivando melhorar as condições de vida das pessoas
do grupo.
Referências
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Introdução
As céleres transformações que ocorrem no mundo e no Brasil nos
últimos anos têm contribuído para repensar o caminhar do Ensino Supe-
rior e da Ciência e Tecnologia. Essas transformações são resultantes da
mundialização, que Santos (2008) denomina de “perversa”, pois estaria
provocando constante “concentração e centralização da economia e do po-
der público, cultura de massa, cientifização da burocracia, centralização
agravada das decisões e da informação”, o que, por sua vez, estaria levando
ao acirramento das desigualdades entre países, regiões, bem como entre as
classes sociais. Neste sentido, fica evidente a relação entre sociedade glo-
bal e crise global. Assim, é “compreensível, mas lamentável, que esse movi-
mento geral tenha atingido a própria atividade científica”, neste caso, em
especial, as pesquisas realizadas nas universidades. Estas, por outro lado,
mesmo atingidas pela crise, não deixaram de desempenhar um importante
papel no desenvolvimento territorial, por meio da produção de conheci-
mento e transferência de tecnologia para a sociedade brasileira.
Esse desenvolvimento se dá a partir do ensino, da pesquisa e da ex-
tensão, e, embora esta última tenha ficado à margem por algum tempo,
hoje se encontra mais em evidência. Consideramos que as universidades
servem para prestar serviços à sociedade, mas também desempenham um
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(concentração de renda)
Economicamente Ativa
Taxa Analfabetismo %
Moradores No campo
Taxa de Pobreza (1/2
Total de População
Grau Urbanização
Mesorregião de
Índice de Gini
Capta (reais)
Campo Mourão
População
PIB Per
IDH-M
Altamira do Paraná 6.999 52,37 3.050 0,677 04.178 30,28 4.879 23,3 0.62
Boa Esperança 5.162 35,83 2.155 0.722 19.387 49,96 2.583 14,9 0.54
Campina da Lagoa 17.018 37,20 7.630 0.710 8.342 74,58 4.325 18,3 0.62
Goioerê 29.750 27,69 14.168 0,746 09.431 82,47 5.215 13,8 0.58
Janiópolis 8.084 39,09 3.543 0.692 7.396 54,30 3.694 21,1 0.54
Juranda 8.134 35,76 3.571 0.731 14.554 70,86 2.370 14,7 0.59
Moreira Sales 13.395 32,79 6.335 0,703 12.603 70,50 3.951 19,7 0.55
Nova Cantu 9.914 46,53 4.367 0.698 6.144 39,50 5.997 19,2 0.63
Quarto Centenário 5.333 42,07 2.232 0.700 11.447 50,35 2.647 20,0 0.54
Rancho Al. D’Oeste 3.117 35,44 1.375 0,698 13.747 66,28 1.051 17,7 0.51
Ubiratã 22.593 33,16 10.113 0.734 11.147 78,50 4.857 15,1 0.55
Araruna 13.081 27,61 6.414 0,732 9.112 69,83 3.946 13,8 0.52
Barbosa Ferraz 14.110 41,87 5.938 0.700 6.572 68,99 4.375 22,9 0.60
Campo Mourão 82.530 20,74 38.566 0.774 14.599 92,89 7.324 10,7 0.57
Corumbataí do Sul 4.946 48,60 2.315 0.678 6.158 40,40 2.947 23,3 0.52
Engenheiro Beltrão 14.082 24,18 6.579 0.762 10.541 79,02 2.957 14,0 0.59
Farol 3.394 45,30 1.717 0,701 9.225 49,05 21,8 0.60
Fênix 4.942 30,10 2.000 0.736 12.670 77,62 1.106 19,1 0.54
Iretama 11.335 43,50 4.877 0.699 6.867 54,31 5.178 22,2 0.62
Luiziana 13.632 46,25 5.860 0.701 8.724 50,07 6.806 18,6 0.59
Mamborê 15.156 38,26 6.364 0.745 13.140 59,47 6.142 13,8 0.58
Peabiru 13.487 31,90 6.287 0.736 8.323 77,79 2.697 15,3 0,55
Quinta do Sol 5.759 35,49 2.143 0.712 10.102 59,98 2.304 21,6 0.56
Roncador 13.632 46,25 5.860 0.701 8.724 50,07 6.806 18,6 0.59
Terra Boa 14.640 18,75 7.167 0,744 6.565 76,35 3.462 15,0 0.47
FONTE: IPARDES, 2010 – Org. Andrade, Áurea A.V de.
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de fenômenos La Niña. Por sua vez, o pêssego, cultura anual, pode sofrer
influência nos período de frio mais intenso, quando a planta encontra-
se fora da fase de dormência, principalmente na florada ou frutificação
(MASSOQUIM, 2010, p. 271).
Considerações finais
Considera-se que a inserção das instituições públicas de ensino su-
perior nas atividades desenvolvidas nos municípios de baixo IDH tem
se mostrado um caminho importante para a transformação da realidade
destes municípios pelo menos é isto o que se pode sentir com os resulta-
dos do Projeto “Educação como Prática Social” e Educação, Formação
Técnico-Pedagógica da Fruticultura nos Assentamentos da Microrregião
de Campo Mourão – EDUFRUTI. Durante os meses de atividades contí-
nuas, mesmo que tateando em busca de pontos de apoio para conseguir
desenvolver as propostas previstas no projeto, foi possível perceber que o
fato de o município precisar olhar para si mesmo já foi um avanço. Para
isso tem sido significativa a contribuição da Escola de Pais, especialmen-
te por levá-los a se interessar, ouvir e entender melhor as questões da
educação de seus filhos. O cumprimento desta meta é de fundamental
importância para o projeto, porque aí se dá a articulação entre a escola
e a comunidade.
Descobriu-se que, apesar da proximidade com Campo Mourão, a
maior parte dos estudantes de Corumbataí do Sul não sabia que uma facul-
dade pública não cobra mensalidades. Também foi possível constatar que
o fato de poucos estudantes se aventurarem a prestar vestibular se deve à
ideia da maioria de que não têm condições de ser aprovados, e nesse as-
pecto o projeto “Revendo Conteúdos” foi de fundamental importância para
demonstrar que eles estão aptos a concorrer com os demais estudantes e
conseguir a aprovação, como ficou demonstrado. Quanto ao trabalho com
os educadores das redes públicas municipal e estadual, foi possível obser-
var que a dificuldade em rever a própria prática pode ser rompida com a
sistemática apresentação da função social da escola. Ideias preconcebidas
podem ser rompidas se desveladas para os sujeitos. O descaso da popula-
ção para com o próprio município e suas possibilidades econômicas tam-
bém é um círculo que pode ser rompido, e o projeto da Associação dos
Produtores de Corumbataí do Sul – APROCOR, desenvolvido com os agri-
cultores, é uma demonstração disso. Hoje há interesses que desde muito
não estavam presentes no município.
Assim, o projeto Educação como Prática Social demonstrou que os
problemas socioeconômicos do município devem ser discutidos também
no âmbito escolar, e, sobretudo, mostrou que a escola desempenha um im-
portante papel nesta comunidade.
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Referências
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Deus não é dos mortos, mas dos vivos, porque, para ele, todos são vivos. A his-
tória também não é dos mortos, mas dos vivos, pois ela é a realidade presente,
obrigatória para a consciência, frutífera para a experiência. A vida e a realida-
de são história, gerando passado e futuro (RODRIGUES, 1969, p. 27)
1
Texto derivado da nossa dissertação de mestrado defendida em 2010.
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O ser fronteiriço
Indivíduos protagonistas da história do tempo presente. Indivíduos
que vivem em uma fronteira simbólica, viva, na qual interagem diferentes
tradições culturais. No espaço onde Brasil e Bolívia se encontram os idio-
mas, as comidas, as danças e outras manifestações culturais se encontram no
dia a dia, reelaborando essas mesmas manifestações, criando mestiçagens e,
logo, criando identidades fronteiriças nesta fronteira que resume colorações
e emoções possibilitando novos olhares para a sua funcionalização.
Corumbá, fundada em 1778 pelo Capitão-General Luiz de Albuquer-
que de Melo Pereira e Cáceres, foi planejada, segundo os planos geopolí-
ticos lusitanos, como forte protegido por muralhas. Na atualidade ainda
176
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A fronteira não pode ser entendida, apenas como uma linha pontilhada so-
bre o mapa, ditada pela fria cartografia, mas sim, como um elemento de di-
ferenciação, comunhão, e comunicação que, muitas vezes, interpõe a ordem
e a desordem, o formal e o funcional, como equilíbrio dinâmico das regras e
dos ritos (Oliveira, 2009, p. 20)
178
ção implantada por nós e por eles, nosotros – otros, para resistir e existir
nesse contexto fronteiriço. O Ministério da Integração Nacional, em sua
Proposta de Reestruturação do Programa de Desenvolvimento da Faixa de
Fronteira, conceitua a zona de fronteira como:
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Arte como cultura! Arte como expressão pessoal! Tal reflexão alerta
para a importância da arte e da educação estar unas em prol do desenvolvi-
mento humano, e é neste sentido que também é percebido o movimento no
Moinho Cultural, onde a arte, a educação, “as culturas”, a diversidade de
conteúdos, diversidades de ações e atuações no campo artístico, educacio-
nal, tecnológico, pessoal, coletivo, apresentam um movimento que celebra
a diferença, a diversidade cultural presente no território fronteiriço Brasil/
Bolívia, proporcionando uma interlocução cultural através dos idiomas,
movimentos, sons, sorrisos, lágrimas... Destacando a possibilidade de dia-
logar na interculturalidade através da arte, pois esta é a ponte que une bra-
sileiros e bolivianos, levando-os a criar e recriar possibilidades inovadoras
que permitem uma convivência social natural.
E neste campo da convivência está presente a liberdade, ou as distin-
tas liberdades, liberdade para a expansão das “capacidades” (capabilities)
das pessoas de levar o tipo de vida que elas valorizam (SEM, 2000). Liber-
dade de ser bailarino em uma sociedade ainda muito preconceituosa, liber-
dade de viver de e para a arte, liberdade de influenciar o meio em que vivo,
liberdade de trazer minha família e de despertar nela, o respeito pelo meu
desejo e ainda ensiná-la a compartilhar o meu movimento artístico único
e singular. Ser valorizado e fazer o que valorizo está presente nos sorrisos
encontrados e compartilhados no espaço do Moinho Cultural, e é concreto
nos resultados artísticos apresentados pela Escola de Artes, pois:
Ter mais liberdade para fazer as coisas que são justamente valorizadas é (1)
importante por si mesmo para a liberdade global da pessoa e (2) importante
porque favorece a oportunidade de a pessoa ter resultados valiosos. Ambas
as coisas são relevantes para a avaliação da liberdade dos membros da socie-
dade e, portanto, cruciais para a avaliação do desenvolvimento da sociedade
(SEM, 2000, p. 33)
186
187
Referências:
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189
Manoel Calaça
Instituto de Estudos Sócio-Ambientais – IESA |
Universidade Federal de Goiás – UFG | manoelcalaca@yahoo.com.br
Introdução
De repente a geografia brasileira, num processo de profunda hori-
zontalidade, além de povoar quase todas as universidades das regiões do
país, vem se afirmando como um saber que ganha força no campo da pes-
quisa da realidade espacial em diversas escalas e, especialmente, na par-
ceria com movimentos sociais e organizações. Mas a solidez da produção
geográfica, a nosso ver, não é feita sem conflitos: de um lado cresce a via
institucional que submete a pesquisa aos comandos das redes de patrocí-
nio. De maneira sutil, a lei da pressa, a ânsia para apresentar resultados e
a adesão ao marketing penetram o campo do saber geográfico.
Noutro campo, antagônico a esse, há um amadurecimento de uma
geografia que recoloca as grandes questões abertas pelo Movimento de Re-
novação Crítica no começo da década de 1980. Com maiores possibilida-
des de interpretar os problemas do mundo, sem a ortodoxia daquele perío
do e sem o desvario que o seguiu posteriormente no que foi alcunhado de
“pensamento pós-moderno”, o amadurecimento não é uníssono, pois efeti-
vado também em conflito de fins e objetivos.
Desse conflito uma síntese é reluzente: o fracasso social do modelo de
desenvolvimento capitalista que emergiu do século XVIII e se estendeu até o
período atual – e o enquadramento de todos os lugares em sua lógica – deu
ao território uma importância política, econômica, social e existencial.
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O termo bioma (do grego Bio = vida mais OMA = grupo ou massa), segundo
Colinvaux (1993), foi proposto por Shelford. Segundo Fonte Quer (1953),
193
este termo teria sido criado por Clements. Em ambos os casos, a diferença
fundamental entre formação e bioma foi a inclusão da fauna neste novo ter-
mo. Enquanto formação se referia apenas à vegetação, bioma referia-se ao
conjunto de vegetação e fauna associada. Talvez por isto certos autores te-
nham sido levados a considerar bioma e biota como sinônimos. No glossário
do livro de Clements (1949) encontra-se a seguinte definição para bioma:”
Biome – A community of plants and animals, usually of the rank of a forma-
tion: a biotic community”. Ele se caracteriza pela uniformidade fisionômica
do climax vegetal e pelos animais de maior relevância, possuindo uma cons-
tituição biótica característica (COUTINHO, 1996, p.5).
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Considerações finais
A elaboração em parceria e coletiva de um modo geográfico de abor-
dar o Cerrado evidenciando a centralidade da categoria território, além de
nos requisitar uma atenção sensível à vasta e às múltiplas formas de uso
do conceito, nos exige que apontemos pressupostos capazes de costurar
as análises de maneira coesa e coerente. Sendo assim, temos julgado que,
de fato, vive-se a emergência de uma nova consciência de Cerrado. Mas
lograda num território disputado, essa consciência é também atravessada
de conflitos.
Há visões e discursos que tentam escomotear a concepção econo-
micista do Cerrado que guiam os interesses dos atores hegemônicos; e há
visões que extraviam os estudos de fundamentos dos sentidos dos usos
dos recursos naturais, da cultura e do trabalho dos povos cerradeiros co-
locando como centralidade uma espécie de bairrismo ambiental. Por essa
perspectiva, fazem uma defesa-sem-nome. Isto é, defendem o Cerrado sem
apontar quem o dilacera.
A visão ambientalista do Cerrado corre sempre o risco de trabalhar
com os resultados do processo ao invés das causas. Os problemas ambien-
tais como a erosão, o assoreamento, a redução da biodiversidade, a conta-
minação dos lençóis, a mudança climática, a extinção de espécies da fauna
e da flora, o desmatamento ou qualquer outro, sob a abordagem territorial,
não se separa dos componentes econômicos, sociais, políticos e culturais.
Todavia, o acelerado movimento de incorporação capitalista impe-
trado pela modernização do Cerrado atinge de maneira diferente campo-
neses, fazendeiros tradicionais, povos indígenas, banqueiros, empresários
agrícolas. Essa diferença torna-se fonte de descoberta do Cerrado ao ob-
servar os diferentes lugares e a escala de poder das forças locais.
O arco de poder, o feixe de escalas, o conflito entre atores – peças
fundamentais numa abordagem territorial do Cerrado – não podem desfa-
zer da importância dos estudos e das pesquisas do Bioma e dos ecossiste-
203
mas. Do mesmo modo que não se pode ignorar os avanços das pesquisas
que trataram o Cerrado pela abordagem de região.
Ao propormos pensar o Cerrado pelo prisma de um território-bio-
ma, a tentativa é preservar o sentido de disputa territorial entre atores que
usam e ocupam o Cerrado e envolver, numa única perspectiva, as dimen-
sões físico-territoriais, as socioeconômicas e as culturais e simbólicas.
Nasce aqui uma abertura para se compreender os territórios exis-
tenciais de diferentes sujeitos que tramam a vida no Cerrado. E isso exige
uma atenção teórica com a apropriação da cultura, com a efetivação da
subjetividade, com as táticas de vida, com os saberes, os sons e, especial-
mente, com a construção de lugares de resistência, de insurgência e de
transformação que suscitam desse “invisível que age”.
A denominada internacionalização do Cerrado nos obriga a pergun-
tar por que esse território-bioma antes desprezado agora se tornou tão
interessante para diferentes grupos de pesquisadores dos mais variados
campos de saber? Por que a universidade, fundada em seus conflitos, se
interessa por eventos de matizes culturais como Feira do Cerrado, Festa
do Pequi, festivais gastronômicos, festas populares, encontro de parteiras,
raizeiras, benzedeiros e benzendeiras?
Mais que isso, é preciso deslindar o que revelam os eventos econô-
micos como feiras agropecuárias, festas da soja, rallys etc. E há que se ver
a força de insurgência de eventos políticos como o Encontro de Povos Cer-
radeiros; caminhadas pelo Cerrado; organização de agentes da economia
solidária. E interpretar as saídas esotéricas que propõem salvar o corpo
doente com a luz do Cerrado, assim como os eventos religiosos que aproxi-
mam do turismo; os bucólicos que transformam sítios ecológicos, cachoei-
ras, serras em lugares de uma tentativa de descontaminação urbana.
O Cerrado por ocupar importante lugar na economia do país conti-
nua sendo uma promessa de riqueza, especialmente com os novos ditames
econômicos baseados na transgenia e na indústria farmacoquímica. Deve-
se considerar que a riqueza de suas águas e de sua diversidade genética,
bem como o seu rico acervo cultural de povos indígenas, camponeses, qui-
lombolas possuem, ainda, um manancial de símbolos que podem ser res-
significados para diferentes fins.
E nunca se deve esquecer que a localização centralizada num país
que corta norte e sul, litoral e sertão foi, desde o final do século passado – e
se consolidou nos meados do século XX – como um importante território
para uma estratégia geopolítica. Edificar a integração mercantil do país
exige inserir o Cerrado na trama territorial.
Por fim, pode-se constatar que, de fato, a redundância é coerente: o
Cerrado é um mundo no mundo da mundialização – objeto da sanha dos
homens de negócio –; pode ser a seiva que ensina que a vida é diversa, dis-
putada e, por isso, requer um pensamento com consciência política.
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Referências
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206
Egidio Dansero
Università degli Studi di Torino, Facoltà di Scienze Politiche | Dipartimento
Interateneo Territorio, Politecnico e Università di Torino | egidio.dansero@unito.it
1
Nel giugno 2009 è stata formalizzata la cooperazione interuniversitaria tra Unioeste e Uni-
versità degli Studi di Torino attraverso un accordo quadro tra i due atenei e due accordi spe-
cifici per lo scambio di docenti e studenti riguardante in particolare la Facoltà di Scienze
Politiche dell’Università degli Studi di Torino.
2
Si tratta di un gruppo ricerca composto da geografi e sociologi e in particolare da Marcos
Saquet (coordinatore), Roseli Alves dos Santos, Adilson Francelino Alves, Luciano Pessoa
Candiotto.
207
3
Si tratta della Dott.ssa Carolina Bonelli (iscritta alla laurea magistrale interfacoltà in Geo-
grafia presso l’Università degli Studi di Torino) e della Dott.ssa Valentina Bianco (laureata
magistrale in presso la Facoltà di Scienze Politiche dell’Università degli Studi di Torino).
4
L’approccio territorialista allo sviluppo locale fa riferimento a diversi gruppi e percorsi di ri-
cerca. Oltre alla scuola di Torino, e ai fondamentali lavori sulla territorializzazione di Raffes-
tin (1981) e Turco (1988, 2010) si fa riferimento in particolare ai lavori di Magnaghi (2000) e
208
della sua scuola e a vari altri gruppi di ricerca in ambito geografico, urbanistico economico e
sociologico. Di particolare interesse è la recente costituzione della “società dei territorialisti”
(http://www.societadeiterritorialisti.it).
209
5
http://www.agribionotizie.it/
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L’approccio SLOT
L’idea di territorio come attore collettivo locale è al centro di un ap-
proccio territorialista allo sviluppo locale elaborato nel corso degli anni
Novanta da alcuni geografi torinesi (Dematteis, 2001; Dematteis e Gover-
na, 2005; Dematteis, 2008).
L’approccio in questione, noto come modello dei sistemi locali terri-
toriali (SLoT), si propone di descrivere e interpretare la realtà esaminando
i modi specifici in cui il livello locale e il livello globale interagiscono tra
loro (Turco, 1988; Dematteis 1991, Conti e Giaccaria, 2001). Il nodo cen-
trale del modello, che considera ciascun luogo come un sistema dinamico
di relazioni intersoggettive, capaci di sedimentare risorse relazionali, co-
gnitive e organizzative specifiche, sta nella ricerca di un livello locale attivo
nei processi di sviluppo (Dematteis, 1991). Si tratta, come scrive l’econo-
mista italiano Giacomo Becattini, uno dei padri della concettualizzazione
dei moderni distretti industriali, di “individuare delle entità intermedie fra
il sistema nel suo insieme e il soggetto singolo” (Becattini, 1989, p. 9), tra
il sistema economico in generale e i singoli soggetti economici. In questo
senso, nella riflessione italiana sviluppatasi attorno alla scoperta della Ter-
za Italia e dei distretti industriali, si è utilizzato il concetto di sistema loca-
le, riferendosi ad un aggregato di soggetti che nel trasformare il territorio
in cui opera, può comportarsi in determinate circostanze come un sogget-
to collettivo, pur non essendo formalmente riconosciuto come tale (non è
un’impresa, un ente territoriale o altra istituzione).
Nell’approccio della scuola geografica torinese l’interazione tra sog-
getti, risorse e potenzialità del territorio locale7 e sviluppo viene studiata
l’esteriorità e l’alterità per soddisfare i propri bisogni con l’aiuto di mediatori nella prospet-
tiva di ottenere la maggior autonomia possibile, tenendo conto delle risorse del sistema”.
La territorialità fa quindi riferimento sia ai rapporti con gli altri individui e gruppi sociali
(l’alterità) sia alle relazioni con l’ambiente naturale e gli ecosistemi (l’esteriorità).
7
Nel modello per “locale” s’intende la scala geografica che permette le interazioni tipiche
della prossimità fisica: relazioni basate sulla conoscenza e sulla comunicazione diretta, sulla
fiducia, sulla reciprocità, sulla comune esperienza e pratica di un certo contesto territoriale
ecc. Si pensi ad esempio ad un quartiere, ad una città, ad un insieme di comuni limitrofi.
213
214
215
Le nicchie verdi
Delineato il quadro degli strumenti teorici con cui leggere il ruolo
del territorio nei processi di sviluppo locale, tratteggiamo in questo para-
grafo in modo sintetico e non esaustivo alcune tendenze nel sistema agro-
alimentare italiano, e piemontese in particolare, che appaiono rilevanti in
quanto esprimono delle energie da contraddizione rispetto a dei modelli
dominanti nella produzione e nel consumo agro-alimentare e più in ge-
nerale nell’organizzazione del territorio rurale. Come si è detto si tratta di
una rilevanza sul piano qualitativo e non certamente quantitativo. Forse è
anche discutibile ricomprendere in un discorso unitario processi e dinami-
che che hanno caratteristiche anche diverse e contraddittorie, così come
non pochi limiti e criticità. Tuttavia esse ci appaiono riconducibili ad una
più generale ridefinizione dei rapporti tra le potenzialità di sviluppo rura-
le e il territorio, inteso come prodotto sociale ad alta complessità, ripen-
sando completamente la relazione cibo-cultura-territorio. Esse si presen-
tano come delle innovazioni di nicchia, di cui occorre in molti casi ancora
esplorare potenzialità e limiti. Il concetto di “nicchia verde”, così come
formulato da alcuni autori nel dibattito internazionale sulla diffusione di
agricoltura biologica (Smith, 2006, 2007) presenta degli spunti di grande
interesse e si colloca in un più ampio dibattito sui regimi socio-tecnici che
favoriscono i processi innovativi.
In una prospettiva socio-tecnica, gli elementi tecnici che riguardano
un regime come la fornitura di cibo (input fisici, tecniche colturali, pesti-
cidi, tecniche di raccolto e allevamento, trasporti, lavorazioni alimentari
…) sono studiati in stretta relazione con elementi sociali che riguardano
l’orientamento rispetto alla produzione agricoltura, alle produzioni alimen-
tari, alla qualità del cibo, così come politiche e trend rispetto al sistema
agro-alimentare, nei consumi e in altri comparti sociali (Smith, 2006). In
questo contesto le iniziative di nicchia sono fonti di potenziale cambiamen-
to radicale che possono, se gestite in modo strategico, alimentare trasfor-
mazioni sostenibili nel regime dominante. Le nicchie verdi forniscono spa-
zio per nuove idee, artefatti e pratiche senza essere sottoposti alle pressioni
che caratterizzano il regime dominante (modello agro-alimentare prevalen-
216
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8
Nel contesto italiano possiamo individuare diverse definizioni all’interno delle politiche re-
gionali:
distretti rurali – i sistemi produttivi locali caratterizzati da identità storica e territoriale omo-
genea derivante dall’integrazione fra attività agricole e altre attività locali, nonché dalla pro-
duzione di beni o servizi di particolare specificità, coerenti con le tradizioni e le vocazioni
naturali e territoriali;
distretti agro-alimentari di qualità – i sistemi produttivi locali, anche a carattere interregiona-
le, caratterizzati da significativa presenza economica e da interrelazione e interdipendenza
produttiva delle imprese agricole e agroalimentari, nonché da una o più produzioni certifi-
cate e tutelate ai sensi della vigente normativa comunitaria o nazionale, oppure da produ-
zioni tradizionali o tipiche;
distretti biologici – i sistemi produttivi locali. a spiccata vocazione agricola in cui siano asso-
lutamente preponderanti: a) la coltivazione, l’allevamento, la trasformazione e la prepara-
zione alimentare e industriale di prodotti con il metodo biologico.; b) la tutela delle produ-
zioni e delle metodologie colturali, d’allevamento e di trasformazione tipiche locali.
218
219
9
Esistono varie definizioni di tracciabilità. In base al regolamento comunitario (Reg. CE n°
178 / 2002 del 28.01.02, art. 3) essa può essere definita come la possibilità di ricostruire e
seguire il percorso di un alimento, di un mangime, di un animale destinato alla produzio-
ne animale o di una sostanza destinata o atta ad entrare a far parte di un alimento o di un
mangime attraverso tutte le fasi della produzione, della trasformazione e della distribuzione.
La ricerca della tracciabilità è una tendenza forte presso i produttori europei, anche come
strategia di difesa nella crescente e sempre più aperta competizione internazionale, con un
sistema agroalimentare europeo sempre più orientato ad una produzione di qualità come
vantaggio competitivo (e ciò vale specialmente per molte produzioni italiane).
10
Denominazione origine protetta (DOP): Il marchio designa un prodotto originario di una
regione e di un paese le cui qualità e caratteristiche siano essenzialmente, o esclusivamen-
te, dovute all’ambiente geografico (termine che comprende i fattori naturali e quelli uma-
ni). Tutta la produzione, la trasformazione e l’elaborazione del prodotto devono avveni-
re nell’area delimitata. Indicazione geografia protetta (IGP): un prodotto originario di una
regione e di un paese le cui qualità, reputazione e caratteristiche si possono ricondurre
all’origine geografica, e di cui almeno una fase della produzione, trasformazione ed elabora-
zione avvenga nell’area delimitata. Specialità tradizionale garantita (STG): è un’attestazione
che non fa riferimento all’origine del prodotto, ma ha per oggetto quello di valorizzare una
composizione tradizionale del prodotto o un metodo di produzione tradizionale.
220
221
La filiera corta viene tuttavia sempre più intesa e/o anche in senso
spaziale, riferendosi cioè a prodotti locali, utilizzando altresì l’espressione
che in Italia si è affermata di prodotti a “km zero” (Aguglia, 2009). Si fa
qui riferimento al più generale concetto di food miles (Smith et al., 2005),
Si tratta di un indicatore dell’impatto ambientale del cibo, in base ai km
percorsi dal luogo di produzione a quello di consumo, che vuole eviden-
ziare l’impatto energetico e ambientale legato ai trasporti dei prodotti ali-
mentari. Ad es. un vino australiano per giungere sulle tavole italiane deve
percorrere oltre 16mila chilometri con un consumo di 9,4 kg di petrolio e
l’emissione di 29,3 kg di anidride carbonica. La preferenza per i prodotti
a km zero sarebbe dunque legata a ragioni di vario tipo: economiche (le-
gate ai minori costi di trasporto), ambientali (minore impatto ambientale
legato ai trasporti), preferenze dei consumatori (legate all’importanza di
relazioni di conoscenza e fiducia come garanzia di qualità e possibilità di
controllo su ciò che si consuma), territoriali (sostegno a economie locali,
nel loro complesso legame tra territorio, produzione agricola e prodotti
alimentari).
In tal senso il concetto più neutrale di food miles si avvicina a quel-
lo di fair miles e a tutti i vantaggi e le caratteristiche di un’economia della
prossimità (Martin, 2008; Pecqueur, Zimmermann, 2004), quali l’orientare
la scelta dei consumatori (e in particolare di ristoranti e mense) verso pro-
dotti locali con distanze contenute (menù a km zero); ridurre i consumi
di energia, gli impatti ambientali e i costi della logistica, favorendo altresì
l’agricoltura locale e la sua funzione sociale di presidio del territorio. In
questa direzione si segnalano diverse esperienze e movimenti negli Stati
Uniti (come i cosiddetti locavores 11) e in Europa, con la proliferazione an-
che in Italia di diverse esperienze di filiere corte a km zero.
Filiere corte in senso funzionale e in senso spaziale possono coinci-
dere ma anche divergere: possiamo anche avere filiere corte in senso spa-
ziale con diversi intermediari tra il produttore e il consumatore, così come
avere filiere lunghe in senso spaziale ma corte in senso funzionale. È il
caso del commercio equo e solidale, che accorcia la catena in senso funzio-
11
Sul sito del movimento locavores si possono visionare le interessanti linee guida del movi-
mento: “If not LOCALLY PRODUCED, then Organic. This is one of the most readily avai-
lable alternatives in the market and making this choice protects the environment and your
body from harsh chemicals and hormones.If not ORGANIC, then Family farm. When faced
with Kraft or Cabot cheeses, Cabot, a dairy co-op in Vermont, is the better choice. Suppor-
ting family farms helps to keep food processing decisions out of the hands of corporate
conglomeration. If not FAMILY FARM, then Local business. Basics like coffee and bread
make buying local difficult. Try a local coffee shop or bakery to keep your food dollar close
to home. If not a LOCAL BUSINESS, then Terroir, which means ‘taste of the Earth’. Purcha-
se foods famous for the region they are grown in and support the agriculture that produces
your favorite non-local foods such as Brie cheese from Brie, France or parmesan cheese
from Parma, Italy (www.locavores.com).
222
12
www.retegas.org
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Tuttavia proprio nel suo uscire dalla nicchia e diventare oggetto di inte-
resse da parte della grande distribuzione organizzata, che insegue prefe-
renze del consumatore più articolate e esigenti, sembra passare sempre di
più a filiere lunghe sia in senso funzionale sia in senso spaziale. Possiamo
trovare presso la grande distribuzione prodotti biologici che hanno molte
food miles incorporate. Ciò richiede una attenta riflessione, in quanto fa
venir meno i vantaggi dell’agricoltura biologica in una prospettiva che ne
consideri le relazioni ambientali in modo allargato. Nella progressiva af-
fermazione del mercato del biologico a livello internazionale scompaiono
cioè sempre di più il legame tra il prodotto alimentare e i territori di pro-
duzione. Per quanto questa tendenza in Italia al momento sia meno accen-
tuata che in altri paesi europei, si nota un marcato distacco tra i territori
che percepiscono i sussidi e incentivi pubblici a sostegno della produzio-
ne biologica e che quindi, almeno in teoria, dovrebbero produrre derrate
biologiche, e quelli in cui operano i trasformatori e i consumatori. Questa
tendenza all’allentamento del rapporto tra prodotto e territorio di consu-
mo potrebbe essere colta come un segnale positivo per una maggiore af-
fermazione del mercato biologico. Appare irrealistico e forse limitante per
l’uscita dalla nicchia dell’agricoltura biologica, pensare che GAS, famers’
market o altre reti a “km zero” possano assorbire la capacità di produzio-
ne biologica (Santucci, 2009). Tuttavia, occorre considerare che i consumi
energetici e ambientali legati alla produzione agricola solo in parte minore
sono legati al momento della produzione, anzi l’agricoltura biologica uti-
lizza più mezzi meccanici, e quindi più energia fossile, rispetto a quella
convenzionale in quanto le tecniche di coltivazione, non usando prodotti
chimici come antiparassitari, necessitano più passaggi nel rivoltare il ter-
reno. Per la maggior parte i consumi energetici dell’agricoltura sono legati
al trasporto e alla commercializzazione, per cui si riduce la convenienza
della produzione biologica se essa si allontana da uno stretto rapporto con
il territorio (Franco, 2007).
Se, come, si è visto, il territorio entra decisamente nella costruzione
di queste energie di contraddizione nei significati di prossimità spaziali e
dotazioni territoriali, di maggior interesse appaiono le altre due prospet-
tive, cioè l’incrocio tra attori e risorse ed in particolare i processi di auto-
organizzazione locale che si avvicinano maggiormente alla prospettiva de-
gli SLoT.
La costruzione di reti di attori, consapevoli delle profonde connes-
sioni e implicazioni che legano qualità ambientale, alimentare e territoria-
le, appare anzi l’elemento chiave che connette queste diverse esperienze e
consente di ricomprenderle in una visione e in una potenziale strategia di
nicchia. Reti di produttori, attive sia nella fase di produzione sia soprat-
tutto in quella di commercializzazione e reti di consumatori, variamente
strutturate e formalizzate, compongono il quadro di un variegato insieme
225
13
https://www.provincia.torino.it/agrimont/progetti/paniere
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229
Premessa
Questo articolo nasce all’interno di un percorso di ricerca, che par-
te dal lavoro condotto nel periodo di dottorato in Analisi e Governance
dello Sviluppo Sostenibile presso l’Università Ca’ Foscari di Venezia sulla
diffusione degli organismi geneticamente modificati nel comparto agri-
colo in America Latina e prosegue durante il periodo di post-dottorato
presso il Dipartimento Interateneo Territorio dell’Università e del Poli-
tecnico di Torino sui temi della crisi alimentare e della successiva onda-
ta di acquisizioni di terra su larga scala che ha coinvolto in prima linea i
paesi in via di sviluppo. Il filo rosso che accomuna questi temi scaturisce
dall’interesse di comprendere in quali termini il fenomeno della globa-
lizzazione possa rappresentare un’opportunità per lo sviluppo rurale dei
paesi in via di sviluppo o quanto questo discorso non sia lo specchio di
una rappresentazione che ripropone vecchie asimmetrie e/o pone nuove
relazioni e strutture di potere.
A partire da una riflessione maturata sulle cause che avevano por-
tato al manifestarsi della crisi alimentare del 2007/2008 (Tecco, 2008a) e
dalle opportunità che essa aveva rappresentato in termini di ristrutturazio-
ne di un mercato in cui i rapporti di forza apparivano ormai fossilizzati,
l’intervento si propone di analizzare due fenomeni ad essa strettamente
correlati e che sono stati presentati come possibili soluzioni al dilemma
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quello straniero sia come quantitativo di denaro investito che come quan-
titativo di ettari interessati (Cotula et al., 2009, p. 48).
Mappa dei paesi e superfici oggetto investimenti di natura agricola nel periodo
2006-2010.
241
Opportunità Rischio
Investimenti aggiuntivi nelle aree rurali, finora Perdita di accesso e controllo della terra da parte delle
penalizzate popolazioni locali
Esclusione della popolazione locali nel processo di
Creazione di nuovi posti di lavoro
contrattazione
Costruzione di infrastrutture e servizi, accesso Insostenibilità ambientale, presenza di forti esternalità
al mercato negative
Mancanza di equità nella spartizione dei benefici,
soprattutto in contesti in cui i titoli di proprietà si
Miglioramento tecnologia agricola
basano su sistemi di legittimità e non di legalità (diritto
consuetudinario o proprietà comune).
Messa a produzione di terreni precedentemente
Estromissione forzata senza equa compensazioni
improduttivi o sotto-utilizzati
Possibilità di diversificazione della produzione Perdita di servizi forniti dai terreni non adibiti alla
agricola produzione agricola (medicinali, pascolo)
Perdita controllo sicurezza alimentare paese
Riequilibrio della bilancia dei pagamenti
destinatario dell’investimento
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quando già non ripropongono alcune delle distorsioni che sono considera-
te alla stessa radice dell’incremento dei prezzi delle derrate alimentari. La
soia RR, o meglio la modalità attraverso la quale è dapprima penetrata e
poi diffusa con un effetto domino a partire dall’Argentina, in Brasile, Uru-
guay e Paraguay accanto alla crescita esponenziale del fenomeno della cor-
sa alle terre, richiamano esplicitamente un modello economico, che sta via
via progredendo verso la specializzazione agricola volta all’esportazione e
con una sempre maggiore dipendenza non solo dalle importazioni agrico-
le, ma dagli stessi input agricoli. Di nuovo siamo infatti in presenza di una
logica di sviluppo non solo orientata all’esterno, ma dettata da priorità eso-
gene alle realtà locali dei paesi in via di sviluppo.
Fintanto che si cercherà di risolvere la crisi alimentare, che erro-
neamente si ritiene superata, con le ricette preconfezionate di chi al mo-
mento tiene o terrà in scacco il sistema agro-alimentare mondiale, altro
non si otterrà che un’ulteriore complessificazione e peggioramento della
situazione.
Finora, non solo la mano invisibile del mercato è rimasta impigliata
in distorsioni, concentrazioni di potere, speculazioni, ma ha dovuto riceve-
re una mano per uscire dalle sue stesse contraddizioni e avvitarsi nel suo
circolo vizioso della priorità data alla ricerca del profitto.
Il caso della soia RR in America Latina e dell’acquisizione su larga
scala di terreni fra continenti forse dovrebbe aiutarci a riflettere in tal sen-
so per continuare a parlare di crisi.
Sarebbe quindi necessario ripartire da una riappropriazione di col-
ture e culture locali nella direzione di un utilizzo sostenibile delle risorse
e nella rivalutazione del ruolo dell’agricoltura nella società, il che non può
tuttavia prescindere da una cooperazione a scala globale per promuovere un
mercato agricolo più equo, che solo allora forse potrà dirsi competitivo.
Bibliografia
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Matteo Puttilli
Dipartimento Interateneo Territorio | Politecnico e Università di Torino |
matteo.puttilli@polito.it
Nadia Tecco
Dipartimento Interateneo Territorio | Politecnico e Università di Torino |
nadia.tecco@virgilio.it
Premessa
Questo articolo nasce all’interno di uno start-up per nuove linee di
ricerca del Dipartimento Interateneo Territorio del Politecnico e dell’Uni-
versità di Torino. La ricerca, che si collega a precedenti studi sul rapporto
tra sistemi territoriali e fonti energetiche rinnovabili, sulla questione ali-
mentare e la diffusione degli OGM, si propone di indagare i processi di
restrutturazione del territorio rurale indotti dalla produzione di biocarbu-
ranti. L’obiettivo è di presentare alcuni spunti di riflessione per la regola-
mentazione del rapporto tra bio-energie e territorio nell’ambito delle poli-
tiche territoriali e rurali.
Nonostante la problematica della produzione dei biocarburanti ab-
bia una rilevanza mondiale e interessi trasversalmente i mercati energe-
tici e alimentari alle diverse scale territoriali, questo contributo si con-
centra principalmente sulla realtà europea e in particolare italiana. In
questi contesti, grande rilevanza assume la produzione di biodiesel, ed è
pertanto su questa specifica fonte di energia che si concentra l’attenzione
all’interno dell’articolo. Nondimeno, il contributo intende offrire alcuni
spunti più generali sul rapporto tra biocarburanti, industria energetica e
sviluppo rurale che possano trovare significative valenze e riscontri an-
che in contesti extra-europei così come per altre fonti energetiche rinno-
vabili e non.
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255
di natura logistica (la connessione con il sito chimico della OXOM e la vi-
cinanza alla raffineria dell’ENI) non sembra possedere legami con il terri-
torio limitrofo ( ad eccezione delle 14 persone che lavorano nell’impianto).
L’olio vegetale per la produzione (65% da olio di colza e la rimanente parte
da olio di soia e palma) di biodiesel proviene principalmente dall’estero,
trasportato in Italia prima via cargo e poi con trasporto su treno o gomma.
L’olio di colza proviene da Francia, Germania e Europa dell’Est, quello
di soia prevalentemente dall’Italia, mentre quello di palma dalla Malesia
e dall’Indonesia. Per lo stoccaggio dell’olio importato viene utilizzato un
terminal a Savona, a 112 Km dall’impianto. Oltre ad essere una produttri-
ce di biodiesel, la Oxem si occupa anche della sua commercializzazione e
della vendita diretta di olii. Le fluttuazioni che caratterizzano i prezzi del-
le materie prime e del petrolio accanto alla limitata competitività presente
nel mercato oligopolistico dell’energia, a volte fanno sì che per la Oxem
sia più conveniente l’acquisto diretto del biodiesel anziché la sua trasfor-
mazione a partire dall’olio vegetale. Generalmente i contratti di fornitura
sono spot, con una durata massima di un paio di mesi. Oltre alle aperture
nei confronti del mercato internazionale (con l’obiettivo specifico di fa-
vorire l’acquisto di olio di palma), Oxem ha costituito una joint-venture
con Wilmar Oleo, parte del gruppo internazionale Wilmar, tra i princi-
pali produttori e trasformatori di olio di palma nel continente asiatico.
Per quello che riguarda la distribuzione, la maggior parte del biodiesel è
trasportata tramite un oledotto alla raffineria dell’ENI di Sannazzaro de
Burgundi. Il resto viene venduto nel mercato italiano, austriaco e sloveno.
Nel 2006 mentre il gruppo Oxem stava crescendo, in un’area di circa 150
km2 area compresa fra Bologna, Verona, Vicenza e Ferrara – nel centro
della Pianura Padana nel Nord dell’Italia, stava prendendo forma un’altra
iniziativa legata alla produzione del biodiesel, promossa da Confagricol-
tura (una delle associazioni più rilevanti tra gli agricoltori italiani) con il
coinvolgimento di più di 200 produttori locali, con l’obiettivo di sviluppa-
re una filiera corta, dove la soia prodotta localmente venisse utilizzata per
la produzione di biodiesel. Attraverso la destinazione di circa 1.000 ettari
di terreno destinati alla produzione di soia e con una produttività di cir-
ca 1.000 tonnellate di olio annuali (che corrispondono a 1000 tonnellate
di biodiesel), la soia prodotta viene prima stoccata in un’area nei pressi
di Bologna (messa a disposizione dal consorzio locale) e successivamente
sottoposta al processo di spremitura, effettuato dalla holding della Cere-
al Docks. Ottenuto l’olio dalla soia, viene trasformato in biodiesel in un
impianto di medie dimensioni dalla capacità di circa 200.000 tonnellate
annue della Oil-B S.p.A.
L’iniziativa rappresenta il primo tentativo di costituire a livello lo-
cale una filiera del biodiesel in Italia. La motivazione del progetto nasce
dalla frustrazione comune delle associazioni contadine di fronte agli in-
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non viene considerato il contesto rurale in cui l’impianto viene inserito né,
tantomeno, la concreta possibilità di approvvigionare l’impianto con una
produzione agro-energetica locale. Le relazioni tra imprese di biocarburan-
ti e agricoltori locali sono pressoché assenti: le prime sono spesso connesse
in rete con le compagnie petrolifere (sovente, anche fisicamente attraverso
oleodotti che distribuiscono biodiesel alle raffinerie che lo mescolano al
diesel normale) e talvolta operano come semplici intermediari importando
dall’esterno biodiesel già raffinato ed esportandolo nuovamente.
Il secondo approccio è definito territoriale, ed è radicalmente diffe-
rente quanto meno diffuso, almeno in Europa. Vede la presenza di filiere
produttive integrate alla scala locale (anche se la dimensione “locale” è qui
quanto mai ambigua). La caratteristica peculiare di un simile approccio è
che la biomassa non è importata, ma prodotta localmente da agricoltori che
decidono di destinare parte della propria produzione a fini energetici. Solita-
mente, gli attori locali sono in rete tra loro attraverso cooperative, consorzi e
associazioni che organizzano la produzione. La filiera produttiva è integrata
con impianti per la spremitura e la raffinazione del biodiesel.
Modello territoriale
totalmente dall’esterno
• I biocarburanti sono
(non vi è produzione
prodotti sia per il mercato
locale) ed è garantita Biodiesel
sia, in altri casi, per l’auto-
da grandi multinazionali
consumo (ad esempio,
agro-industriali.
per utilizzi agricoli o per il
• Il prodotto finale è venduto
trasporto pubblico locale).
alle compagnie petrolifere Territorio
• La competizione tra
o esportato. • Quali sono le reti di attori
colture alimentari ed
• Le pratiche di trading e che partecipano alla filiera
energetiche è controllata
di import-export sono produttiva?
alla scala locale
diffuse. • Quali sono le interazioni tra
• La produzione di
• Non vi sono legami attori rurali e produttori di bio-
biocarburanti è uno
tra agricoltori locali e carburanti?
strumento per la
industria dei biocarburanti • Quale contributo viene offerto
promozione di pratiche
dalla produzione di biodiesel in
di innocazione e sviluppo
termini di sviluppo rurale?
locale
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262
Riflessioni conclusive
Se si adotta il modello interpretativo sopra proposto per analizza-
re il caso della produzione italiana di biodiesel, è possibile osservare l’as-
soluta predominanza di un modello di stampo industriale. Questo sbilan-
ciamento ha cause proprie che possono essere ricercate nell’equilibrio dei
mercati agricoli interni e nella scarsa competitività della produzione di
piante oleaginose nel panorama agricolo italiano rispetto ad altri Paesi.
Tuttavia, una causa importante che determina una difficoltà nello svilup-
po e nella diffusione delle filiere corte è determinata dalla miopia, da parte
delle politiche pubbliche, nel proporre strumenti di supporto a modelli di
produzione e consumo di marca territoriale. La filiera dei biocarburanti in
Italia è completamente disconnessa dal territorio agricolo, che in misura
assolutamente marginale contribuisce a fornire biomassa alla produzione
di biodiesel.
L’ipotesi che emerge da queste considerazioni, così come dagli esem-
pi riportati in questo articolo, è che lo sviluppo di filiere agro-energetiche
locali, fondate su un approccio territoriale, necessiti di espliciti strumenti
di promozione qualitativamente differenti rispetto a quelli atti a promuo-
vere le forme di matrice industriale. Necessita, cioè, di politiche che so-
stengano la cooperazione tra gli agricoltori e i produttori, incentivando
equamente tutte le diverse fasi della filiera produttiva: dalla materia prima,
alla raccolta, alla spremitura sino alla trasformazione e al consumo finale.
La diffusione di strumenti di certificazione esplicitamente rivolti ad atte-
stare e sostenere le filiere corte potrebbero svolgere un ruolo importante
in tal senso.
263
Bibliografia
264
265
Alessandro Corsi
Università di Torino | alessandro.corsi@unito.it
Introduzione
L’agricoltura biologica, anche se rappresenta tuttora una parte ri-
dotta dell’agricoltura complessiva, sta globalmente crescendo. A livello
mondiale, la stima della superficie coperta era di circa 30,4 milioni di
ettari nel 2006, pari allo 0,65% della superficie agricola, e si valutava che
interessasse 700.000 aziende (Willer et al., 2008). Due terzi della super-
ficie era costituita da pascoli permanenti, un terzo da seminativi. I paesi
con le maggiori superfici a biologico erano l’Australia (12,3 mio ha), la
Cina (2,3 mio ha), l’Argentina (2,2 mio ha), gli USA (1,6 mio ha); ma in
termini di incidenza sul totale della superficie i paesi europei erano in
testa. Le vendite totali di prodotti biologici, sempre nel 2006, erano va-
lutate a 38,6 miliardi di dollari, contro i 18 miliardi nel 2000. Tuttavia
la domanda di prodotti biologici è fortemente concentrata nel mondo
sviluppato: Nord America ed Europa coprivano il 97% della domanda di
consumo (Willer et al., 2008).
Anche nell’Unione Europea l’agricoltura biologica è in crescita: fra i
paesi UE-15, la superficie a biologico certificata ed in conversione è cresciu-
ta dai 0,7 milioni di ha nel 1993 ai 5,1 nel 2003 (Commission Européenne,
2005). Nell’UE-25, nel 2003 la superficie a biologico certificata ed in con-
versione era di 5,7 milioni di ettari, pari al 3,6% della SAU, una percentuale
ulteriormente cresciuta al 4% nel 2005 (Llorens Abando e Rohner-Thielen,
267
2007). Nel 2008, nella Ue-27 la superficie era arrivata a 7,8 milioni di ha,
con un’incidenza del 4,1% della SAU (Rohner-Thielen, 2010).
L’Italia nel 2005 era il primo paese europeo in termini di superficie
complessiva, con il 18% del totale europeo, seguita da Germania e Spagna
con il 14%; ma nel 2008 aveva perso il primato a favore della Spagna (ri-
spettivamente 12,9% e 17%). Tuttavia, in termini di incidenza sulla super-
ficie totale nazionale, il primo posto era occupato dall’Austria (15,7% nel
2007), mentre l’Italia era poco sopra l’8,1%, e le percentuali erano forte-
mente differenziate da paese a paese, ed ancor più a livello regionale.
In termini di numero di produttori, quelli biologici erano 196.000
nel 2008 nell’UE-27, pari all’1,3% delle aziende; anche in questo caso la
percentuale varia da paese a paese, con Austria, Danimarca, e Finlandia
che presentano le percentuali maggiori.
Per quanto riguarda l’Italia, sia la superficie a biologico sia il nu-
mero degli operatori sono cresciuti molto velocemente a partire dall’ini-
zio degli anni ’90, ma hanno avuto un andamento discontinuo nell’ultimo
decennio. Complessivamente si è passati dai 1500 operatori biologici del
1990 ai 48.500 del 2009 (di cui 40.500 produttori); la superficie biologica è
cresciuta dai 13.000 ha del 1990 ai 1.106.000 ha del 2009.
Anche in Italia, quindi, l’agricoltura biologica rappresenta una parte,
minoritaria ma importante, dell’agricoltura nazionale. Ci si possono quin-
di porre alcune domande relative a questo sviluppo e alle sue prospettive.
Una prima domanda riguarda il peso effettivo che l’agricoltura bio-
logica ricopre nel complesso del settore, perché questo permette di valu-
tarne la prospettiva. A questo sarà dedicato il paragrafo seguente. Un se-
condo interrogativo concerne invece la natura dell’agricoltura biologica e
la sua eventuale capacità di indicare un percorso di sviluppo qualitativa-
mente differente dall’agricoltura convenzionale, in particolare rispetto alla
capacità di offrire prospettive di reddito e di crescita alle piccole aziende.
Per contribuire a rispondere a questa domanda, nel paragrafo 3 si con-
fronteranno le strutture delle aziende biologiche e di quelle convenzionali,
mentre nel paragrafo 4 verranno prese in esame le forme di commercia-
lizzazione dei prodotti biologici per cercare di capire se essi si prestano a
forme di contatto diretto con i consumatori. Nel paragrafo 5 verranno poi
discusse le criticità dell’agricoltura biologica ed i suoi punti di forza e di
debolezza.
268
1
E’ qui considerato solo il valore delle produzioni biologiche delle aziende rilevate, escluden-
do quindi quella derivante da produzioni convenzionali presenti in azienda.
269
2
Il campione delle aziende convenzionali corrispondenti è stato creato scegliendo azien-
de convenzionali che avessero lo stesso ordinamento tecnico-economico (OTE), la stessa
270
271
3
Considerando cioè, analogamente alla metodologia utilizzata dalla RICA, specializzate le
aziende nelle quali un prodotto costituisce la parte preponderante del valore totale della pro-
duzione.
272
I circuiti di commercializzazione
I prodotti della aziende biologiche possono avere differenti destina-
zioni: il reimpiego all’interno dell’azienda, l’autoconsumo da parte della
famiglia dell’agricoltore, ed infine la vendita, che può avvenire come pro-
dotto biologico e certificato, o come convenzionale.
La vendita come prodotto biologico o convenzionale è importante
per le prospettive di sviluppo del settore, perché solo se il prodotto biolo-
gico viene venduto come tale può godere di un premio di prezzo che com-
pensa i maggiori costi normalmente associati a questa tecnica (Carillo et
al.). Secondo l’indagine piemontese, la percentuale di “commercializzazio-
ne” come biologico (includendo in questo termine anche i reimpieghi e
l’autoconsumo) varia dal 7,4 al 100% della quantità a seconda dei prodotti,
ma in generale è alta. Tuttavia alcuni prodotti mostrano qualche problema
relativo alla capacità di valorizzare adeguatamente la caratteristica bio-
logica. La Tab. 7 mostra le percentuali calcolate sul valore per i principa-
li raggruppamenti di colture e di prodotti animali: da essa si può vedere
che fra i prodotti vegetali le colture arboree hanno qualche problema, così
come, fra i prodotti animali, il latte e gli animali vivi, con l’eccezione degli
ovini.
Il secondo elemento interessante rispetto alla commercializzazione
riguarda il tipo di canale commerciale. In particolare, ci si può chiedere
se l’agricoltura biologica è in grado di attivare circuiti corti e di instaurare
relazioni di prossimità coi consumatori. Il tipo di canale di commercializ-
zazione può inoltre influire sulla redditività della produzione biologica, in
quanto alcuni canali permettono una remunerazione maggiore.
L’indagine piemontese aveva rilevato diverse tipologie di canale
commerciale utilizzate dalle aziende biologiche: le vendite in azienda, in
mercati contadini, su Internet, a domicilio, attraverso i grossisti, le coope-
rative, la grande distribuzione, i negozi specializzati ed i ristoranti. I ca-
nali utilizzati si differenziano per grandi categorie, ma anche per singolo
prodotto. Per rendere l’analisi più semplice, una prima possibilità è rag-
273
Problemi e prospettive
Un primo problema rispetto alle prospettive dell’agricoltura biolo-
gica riguarda la sua redditività. Molto spesso sono state condotte analisi
dei risultati economici delle aziende biologiche, ma molto spesso si tratta
di casi di studio isolati. A partire dai dati RICA sono state condotte alcune
analisi, che soffrono però del fatto che la rete RICA non è specificamente
progettata per la rilevazione di aziende biologiche (Doria, 2008), e ha un
274
Campo di osservazione che esclude quelle sotto una soglia di reddito4. Una
rilevazione basata su un campionamento statistico delle aziende biologi-
che è quella condotta da Corsi (2009), che riguarda nuovamente le aziende
del Piemonte.
I risultati dell’indagine mostrano che la redditività delle aziende bio-
logiche è fortemente differenziata. Come si può vedere dalla Tabella 9 (i
dati sono riportati all’universo delle aziende), circa il 40% delle aziende re-
gistra profitti positivi, dopo aver remunerato ai valori di mercato i fattori
propri (terra, capitale, lavoro). Un altro 28% delle aziende riesce a coprire i
costi espliciti e gli ammortamenti, ma la remunerazione dei fattori propri è
inferiore a quella di mercato; infine quasi un terzo delle aziende non riesce
a coprire i costi espliciti e gli ammortamenti.
L’analisi dei dati mostra che per una parte questa situazione è dovu-
ta ad un eccesso di mezzi meccanici e di dotazioni di capitali fissi in azien-
da, che incidono sui costi fissi di ammortamento; ma, anche tenendo conto
che una parte delle aziende biologiche possa essere hobbystica, una per-
centuale di questa dimensione è preoccupante. Tuttavia va anche rimarca-
to che, se si considera l’incidenza sul valore della produzione biologica di
queste categorie di aziende, il quadro diventa molto più positivo: le azien-
de che realizzano profitti coprono infatti più del 70% della PLV, e quelle
in perdita netta solo l’8%. Non si hanno confronti possibili con l’insieme
delle aziende, ma anche per questa via si conferma che l’agricoltura biolo-
gica è variamente composta, e comprende sia aziende piccole e marginali
sia aziende medio-grandi e ben collocate sul mercato. La scarsa redditivi-
tà di una parte delle aziende è probabilmente alla base della diminuzione
del numero delle aziende biologiche registrata negli ultimi anni a livello
nazionale, anche in anni in cui la superficie aumentava: si assiste con ogni
probabilità ad un processo di ristrutturazione del settore, con un aumento
delle superfici medie e con l’eliminazione delle aziende meno efficienti, in
particolare le piccole.
Le difficoltà delle piccole aziende trovano probabilmente una spie-
gazione, oltre che nella impossibilità di sfruttare le economie di scala (pe-
raltro in alcuni casi le limitate dimensioni non impediscono a queste azien-
de di conseguire profitti), anche nel problema degli sbocchi di mercato.
In effetti, nella indagine del 2006 era stato chiesto agli agricoltori quali
pensavano che fossero le principali criticità per l’agricoltura biologica. La
risposta prevalente era il problema degli sbocchi (28%), mentre un altro
25% indicava i prezzi non remunerativi, un problema chiaramente legato
al primo. Difficoltà tecniche (15%) e costi eccessivi (13%) erano presenti
fra le risposte, ma risultavano meno importanti, come pure le complica-
4
La dimensione economica minima è di 4 UDE (Unità di dimensione economica) pari a 4800
euro di reddito lordo standard (RLS) annuale.
275
276
277
278
279
Riferimenti
280
281
Tab. 1 – R
iparto della superficie delle aziende biologiche e confronto col totale
piemontese
Coltivazioni Aziende biologiche Totale Piemonte
Tab. 2 – D
istribuzione per classi di SAU del n° e della SAU delle aziende biologiche e del
complesso delle aziende in Piemonte
Classi di SAU Az. Biol. % N° Piemonte % N° Az. Biol. % SAU Piemonte % SAU
282
Tab. 3 – D
istribuzione per dimensioni degli allevamenti bovini: n° delle aziende e dei
capi delle aziende biologiche e del complesso delle aziende in Piemonte
N° az. Piemonte N° capi nelle az. N° capi Piemonte
N° capi N° az. biol. (%)
(%) biol. (%) (%)
1-2 5,3 10,3 0,2 0,4
Tab. 4 – D
istribuzione per dimensioni degli allevamenti suini: n° delle aziende e dei capi
delle aziende biologiche e del complesso delle aziende in Piemonte
N° az. Piemonte N° capi nelle az. N° capi Piemonte
N° capi N° az. biol. (%)
(%) biol. (%) (%)
1-2 12,5 56,2 0,1 0,3
283
Tab. 5 – D
istribuzione per dimensioni degli allevamenti ovini: n° delle aziende e dei capi
delle aziende biologiche e del complesso delle aziende in Piemonte
N° az. Piemonte N° capi nelle az. N° capi Piemonte
N° capi N° az. biol. (%)
(%) biol. (%) (%)
1-2 0,9 9,2 0,0 0,4
Tab. 6 – Distribuzione delle aziende biologiche in Piemonte e della PLV per classi di PLV
Classi di PLV % aziende % PLV
284
Cereali 95%
Altro 35%
Latte 52%
Uova 99%
Miele 87%
Tab. 8. – D
istribuzione della PLV da prodotti delle colture biologiche venduti come tali
secondo il canale
Filiera Filiera Filiera
corta specializzata tradizionale
285
286
Introduzione
Il cotone è stato, e in larga misura continua ad essere una delle com-
modity2 agricole più importanti. La sua importanza è di tale spessore che la
sua coltivazione e il suo commercio rappresentano elementi fondamentali
nella storia economica e sociale di grandi Stati quali gli Stati Uniti, l’India,
la Cina, il Regno Unito solo per citare i più rilevanti. L’organizzazione econo-
mica basata sulla coltivazione e l’utilizzo del cotone costituiscono – o hanno
costituito – elementi portanti non solo di una struttura economico-commer-
1
Texto publicado originalmente na Revista Geotema., n.35-36, AGI, 2009.
2
Commodity è un termine anglosassone che non trova esatta traduzione in italiano. La sua
traduzione più comune, “materia prima”, risulta, ad un esame del suo effettivo uso, riduttiva.
Nel linguaggio tecnico finanziario, infatti, un commodity trader è un soggetto che opera anche
nel mercato delle valute straniere e dei derivati. In alcuni ambiti accademici si è proposto di
considerare la varietà del patrimonio genetico delle specie viventi (biodiversity) al pari di una
commodity. Si può, quindi, ritenere che, anche se nel linguaggio comune e commerciale per
commodity si intende ogni merce o materiale tangibile ed essenziale nel processo produttivo,
nel linguaggio tecnico-finanziario la definizione di commodity si applica ad un bene quando
ricorrono due condizioni: il possesso di un suo valore economico intrinseco e di scambio e la
negoziazione in una Borsa o in un mercato organizzato. L’aumento della complessità del sis-
tema delle relazioni internazionali e l’accresciuta importanza del loro lato economico fanno si
che il commercio delle commodity agricole e non assume via via una rilevanza strategica che,
ai nostri giorni, sembra aver raggiunto uno dei suoi momenti più rilevanti.
287
3
Icac (International Cotton Advisory Committee), Cotton World Statistics.
4
www.fao.org
5
Baffes, J., Badiane, O., Nash, J. Cotton: market, policies and development issues, Paper pre-
sentato al Wto African Regional Workshop on Cotton, Cotonou, Benin, 23-24 marzo, 2004.
288
prezzi sulla vita dei coltivatori di questi Paesi si possono ricordare i dati di
alcune ricerche che evidenziano come una caduta del 40% (come realmen-
te avvenuto nel 2000-2002) dei prezzi pagati alla produzione possa deter-
minare una contemporanea caduta del 7% del reddito agricolo pro capite
a breve termine e del 5-6% a lungo termine. Al contrario si rileva, nel caso
di alcuni Stati dell’Africa francofona, che un aumento del 30% dei prezzi
mondiali potrebbe tradursi in un aumento del 7% del loro Pnl.
Produzione e commercio
Il cotone viene prodotto in molti Paesi ma la gran parte della sua
coltivazione è concentrata nell’emisfero boreale che rappresenta circa il
90,0% del totale. Se osserviamo i dati relativi alla superficie (Tab. I) interes-
sata da tale cultura è possibile notare che questa è fortemente concentrata
in pochi Stati. La Cina da sola ospita ¼ della superficie totale mondiale e,
insieme all’India, supera il 40,0%. I primi cinque Paesi, India, Cina, Usa e
Pakistan raccolgono in totale oltre i 2/3 del totale mondiale.
Se prendiamo in considerazione la produzione (Tab. II) si può no-
tare una similare, ed anzi leggermente più marcata, condizione di forte
concentrazione produttiva. I dati relativi alle rese per ha mostrano (Tab.
III) come l’Australia, la Cina, i Paesi del Vicino e Media Oriente e del conti-
nente americano presentino dei valori nettamente più alti rispetto a quelli
africani e dell’Asia centrale disegnando un chiaro dualismo. Nella struttura
del commercio mondiale del cotone si può innanzitutto notare che circa ¼
della produzione viene (2006/2007) esportata, quota che subisce, nel corso
degli ultimi anni una sensibile contrazione a causa della crisi economica
internazionale6 che ha colpito anche l’industria tessile.
A proposito della struttura del commercio internazionale si possono
fare le seguenti osservazioni:
a) alcuni Paesi, pur essendo grandi produttori, hanno sviluppato
un’industria tessile di dimensioni enormi e quindi oltre a spiccare
nella classifica dei produttori hanno posizioni rilevanti anche come
importatori (ad esempio la Cina);
b) tra i Paesi esportatori è di assoluto rilievo la posizione degli Stati
Uniti in termini assoluti mentre per altri, che presentano valori in
assoluto inferiori, l’esportazione di cotone rappresenta, comunque,
un ricavo indispensabile per il loro sviluppo;
c) oltre alla Cina altri Paesi come Indonesia e Malesia, importano dis-
crete quantità di cotone per la loro industria tessile principalmente
dagli Stati Uniti.
6
Icac (International Cotton Advisory Committee), Cotton World Statistics.
289
7
Baffes, J. The “Cotton Problem”, The World Bank Research Observer, 20 (2005), pp. 109-
144.
8
Baffes, J. Cotton futures exchanges: Their past, their present, and their future, Quarterly
Journal of International Agriculture, 243 (2005) pp. 153-176.
9
Beghin, J. C., Aksoy, A. Agricultural trade and the Doha Round: Lessons from commodity
studies, Center for Agricultural and Rural Studies, Iowa State University, Briefing paper 03-
BP 42, 2003.
10
https://www.to.org/english/tratop_e/agric_e/cotton_subcommittee_e.htm
11
worldbank.org.
290
291
14
http://docsonline.wto.org/imrd/gen_searchResult.asp?RN=0&searchtype=browse&q1=%28
%40meta%5FSymbol+WT%FCDS267%FC%2A%29&language=1.
15
Pan, S., Fadiga, M., Mohanty, S., Welch, M. Cotton in a free trade world, Economic Inquiry,
45 (2007), pp. 188-197.
16
Hoekstra, A. Y., Hung, P. Q. Globalisation of water resources: International virtual water
flows in relation to crop trade, Global Environmental Change, 15 (2005), pp. 45-56.
17
Chapagain, A. K., Hoekstra, A.Y., Savenije, H. H., Gautam, R. The water footprint of cotton con-
sumption: An assessment of the impact of worldwide consumption of cotton products on the
292
Una delle questioni che da poco tempo è stata affrontata nel consi-
derare il consumo di acqua nel settore cotoniero è relativa al fatto che solo
in tempi recenti si è deciso di considerare il consumo di acqua non solo
nella fase della lavorazione del cotone nei suoi vari stadi industriali ma an-
che per quanto concerne la coltivazione della pianta (Chapagain, Hoekstra,
Savenije, Gautam , 2006)18.
Si è già ricordato come il cotone sia la più importante fibra naturale
utilizzata dall’industria tessile e per la sua evidente importanza non pos-
siamo evitare di considerare gli impatti che, specie in alcuni casi, la sua
coltivazione determina.
Come si può ben capire la quantità di acqua utilizzata dipende dal
tipo di irrigazione implementata che, a sua volta, è in relazione sia con le
caratteristiche climatiche dell’area in oggetto che al grado di evoluzione
tecnologica.
Di tutta la superficie mondiale destinata a cotone il 53% – nella qua-
le si registra il 73% della produzione – è irrigata (Chapagain, Hoekstra, Sa-
venije, Gautam , 2006)19.
La quantità di acqua necessaria per la coltivazione del cotone non è
uguale in tutte le parti del globo. È evidente che le condizioni climatiche
influiscono in modo molto sensibile su necessità e tipologia di un’eventua-
le irrigazione. In particolare, l’indice di evaporazione costituisce un fattore
determinante nel rendere necessario un apporto di acqua irrigua È ovvio
che le aree a cotone con il più rilevante uso di irrigazione siano quelle nelle
quali il clima è più secco e con alto indice di evaporazione ( Egitto, Siria,
Turchia, Turkmenistan e Uzbekistan). Le condizioni ottimali per la colti-
vazione cotoniera si registrano sia negli Stati Uniti che in Brasile. Una si-
tuazione del tutto particolare riguarda India e Mali. In questi casi le zone
coltivate sono localizzate tra gli 800 e i 1000 metri, in aree con precipita-
zioni abbastanza scarse e, contemporaneamente, poco irrigate. Tutto ciò
determina una resa per ettaro al di sotto dei valori mondiali. Cina e India
necessitano di un tipo di irrigazione che sia di complemento a quella for-
nita dalle precipitazioni atmosferiche.
In sintesi possiamo notare come il cotone proveniente da Argenti-
na, Egitto, India, Mali, Pakistan, Turkmenistan, Uzbekistan possa essere
water resources in the cotton producing countries, Ecological Economics, 60 ( 2006 ), p. 188.
18
Chapagain, A. K., Hoekstra, A. Y., Savenije, H. H., Gautam, R. The water footprint of cotton
consumption: An assessment of the impact of worldwide consumption of cotton products on
the water resources in the cotton producing countries, Ecological Economics, 60 (2006), pp.
186 – 203.
19
Chapagain, A. K., Hoekstra, A. Y., Savenije, H. H., Gautam, R. The water footprint of cotton
consumption: An assessment of the impact of worldwide consumption of cotton products on
the water resources in the cotton producing countries, Ecological Economics, 60 (2006), pp.
186 – 203.
293
20
Chapagain, A. K., Hoekstra, A. Y., Savenije, H. H., Gautam, R. The water footprint of cotton
consumption: An assessment of the impact of worldwide consumption of cotton products on
the water resources in the cotton producing countries, Ecological Economics, 6 (2006), pp.
187-188.
294
Conclusioni
In complesso le maggiori sfide che il cotone si accinge ad affronta-
re possono essere sintetizzate in quattro punti. Prima di tutto, considerata
la tendenza degli ultimi anni ad un calo del prezzo delle commodity – e tra
queste il cotone si evidenzia per un andamento assai negativo e quindi, per
una diminuzione del ricavato per ha assai marcato, – dobbiamo ricordare un
problema di tipo finanziario particolarmente grave per i Paesi meno svilup-
pati che non possono far conto su industrie chimiche produttrici di fertiliz-
zanti di livello ragguardevole come gli Stati Uniti.
Un secondo aspetto è relativo alle possibili evoluzioni del mercato del
cotone nel caso in cui si riuscisse a modificare l’attuale regime dei sussidi e
delle regolamentazioni doganali che presenta varie incognite.
Un terzo aspetto che si è posto prepotentemente alla ribalta è la soste-
nibilità ambientale (utilizzo di prodotti chimici e consumo di acqua su tutti)
che si manifesta in modi differenti nei Paesi con condizioni ottimali dal punto
di vista naturale (Brasile, India) e quelli costretti a realizzare reti di irrigazione
ad alto impatto sull’ambiente (Paesi dell’Africa occidentale, Uzbekistan).
Un quarto, ed ultimo, aspetto può essere identificato nel concetto
di sostenibilità sociale che si manifesta negli stridenti contrasti tra siste-
mi agricoli moderni e meccanizzati – come l’Australia e gli Stati Uniti che
possono praticare con una certa facilità la strada del cotone transgenico
21
Rudenko, I., Grote, U., Lamers, J. «Using a value chain approach for economic and environ-
mental impact assessment of cotton production in Uzbekistan. In: J. Qi, K. T. Evered (Org.).
Environmental Problems of Central Asia and their Economc, Social and Security Impacts,
(Springer Netherlands, 2008), pp 361-380.
295
TABELLE ANNESSE:
Tabella I – Superficie a cotone 2007-2008
000 ha %
INDIA 9139 25,5
CINA 5600 15,6
USA 5500 15,3
PAKISTAN 3283 9,2
UZBEKISTAN 1429 4,0
BRASILE 1100 3,1
TURCHIA 735 2,1
BURKINA FASO 706 2,0
TURKMENISTAN 630 1,8
MALI 541 1,5
TANZANIA 525 1,5
ARGENTINA 440 1,2
ZIMBABWE 347 1,0
GRECIA 323 0,9
AUSTRALIA 300 0,8
EGITTO 280 0,8
TAJIKISTAN 273 0,8
BENIN 242 0,7
COSTA D’AVORIO 234 0,7
SIRIA 229 0,6
CAMERUN 226 0,6
KAZAKHSTAN 204 0,6
IRAN 152 0,4
MEXICO 117 0,3
ALTRI 3202 9,0
TOTALE 35757 100,0
Fonte: elaborazione su dati ICAC.
22
Elbehri, S. Macdonald. Estimating the impact of transgenic Bt cotton on west and central
Africa: A general equilibrium approach, World Development, 32 (2004), pp. 2049-2064.
296
297
298
Cristiana Peano
Dipartimento Colture Arboree | Università di Torino | Via Leonardo da Vinci 44 |
cristiana.peano@unito.it
Riassunto
Nell’ ultimo ventennio in Italia si è sviluppata una forte atten-
zione per i prodotti tipici, tradizionali e locali e diversi sono stati e
sono gli Enti pubblici e privati e le associazioni che si occupano di
tali argomenti con approcci diversi tra loro. Tra questi l’Associazione
Slow Food, un movimento internazionale che opera per difendere la
biodiversità in campo alimentare. Attraverso percorsi di educazione
al gusto e valorizzazione delle piccole produzioni di qualità, Slow
Food ha voluto mettere in atto una strategia di valorizzazione delle
tipicità attraverso l’incontro tra produttori di cibi eccellenti e con-
sumatori che in tal modo assumono lo status di co-produttori. Uno
dei progetti che opera a livello di ‘terroir’ è quello dei Presìdi, nato a
livello italiano e oggi sviluppatosi a livello internazionale. Il modello
dei Presìdi Slow Food può essere visto come l’esempio di un siste-
ma alimentare alternativo che coinvolge attivamente tutta la società:
agricoltori, trasformatori, consumatori, ristoratori e istituzioni pub-
bliche a livello locale. Tale modello è incentrato sui temi della soste-
299
300
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302
303
2002; Smith e Dumanski, 1994; Vereijken, 1999; Van Mansvelt e Van der
Lubbe, 1999; Weersink et al 2002;.. Lopez-Ridaura et al 2002), dei principi
dell’agricoltura biologica (IFOAM) e della politica alimentare e dell’etica
(Lang et al., 2009).
304
pio il turismo. Gli aspetti economici del progetto dei Presidi sui territori
sono stati oggetto, nel 2002 di una ricerca dell’Università Bocconi di Mila-
no (Antonioli Corigliano e Viganò, 2002). Lo studio, su 54 Presidi italiani
di diversi settori, ha evidenziato un notevole impatto economico che ha
coinvolto sia un cambiamento in termini di quantità e qualità delle produ-
zioni sia il prezzo di vendita. Un’ analoga esperienza è poi stata ripetuta
nel 2006 (Baggi, 2007) con un nuovo questionario proposto a 31 Presìdi
(18 Presìdi italiani, 6 dal resto d’Europa, 3 dal Centro e Sud America, due
in Asia e Africa).
I risultati sono stati sorprendenti se si pensa che nel caso dei Presi-
di italiani in alcuni casi (legumi ad esempio) i prezzi di vendita sono più
che duplicati. Se da un lato è possibile vedere tali evoluzioni come un suc-
cesso del progetto è innegabile dall’ altro che ciò non può che essere visto
come un punto critico di un sistema che , per essere sostenibile, ambisce a
raggiungere un prezzo giusto per i produttori ma anche per i consumatori
(co-produttori). Tali aspetti devono essere ridiscussi dagli agricoltori stessi
che, soprattutto attraverso i Mercati della Terra ed altre forme di vendita
diretta, hanno la possibilità di confronto non con la lunga catena degli in-
termediari della distribuzione, ma direttamente con il consumatore con
cui sarebbe bene aprire un dialogo costruttivo.
Se il rapporto tra il progetto dei Presìdi e la sostenibilità economi-
ca è abbastanza evidente, l’aspetto sociale di un Presidio è meno facile da
evidenziare. Tuttavia, le azioni intraprese negli ultimi anni nei Paesi meno
sviluppati hanno chiaramente sottolineato l’importanza di questo specifico
aspetto, che non è meramente economico. E ‘ovvio che un miglioramento
del reddito dei produttori può significare una migliore qualità della vita
e l’accesso a servizi (assistenza medica, istruzione, mezzi pubblici) . Per i
Presìdi italiani, questi aspetti sono meno evidenti e gli obiettivi sociali pos-
sono essere individuati come un modo per migliorare il ruolo sociale dei
produttori e rafforzare la loro volontà di organizzarsi.
L’ aspetto ambientale è sicuramente il ‘cuore’ del progetto dei Presidi
nato per salvaguardare la biodiversità e migliorare la produzione alimenta-
re sostenibile. L’approccio è legato ai principi della vocazionalità ambien-
tale e della sostenibilità. Si basa infatti sulla conoscenza dell’agricoltura
locale, sull’applicazione di tecniche (tradizionali e moderne) adatte alle di-
verse condizioni agro-pedo-climatiche sulla corretta gestione delle risorse
naturali (biodiversità, suolo, acqua) Là dove percorsi precedenti o cono-
scenze locali hanno permesso lo sviluppo di un’agricoltura biologica (in-
tesa non esclusivamente come certificazione ma come tecniche agronomi-
che ) lo sviluppo del Presidio è stato incentrato verso un rafforzamento dei
concetti di controllo biologico delle colture e diffusione di questa filosofia.
Là dove, invece, l’ agricoltura convenzione ha ancora un ruolo importante
nella gestione delle colture, il progetto dei Presisi ha avuto ed ha l’ obietti-
305
Conclusione
Il Progetto dei Presidi e quello dei Mercati della Terra hanno una
forte connotazione locale in quanto insistono su specifici territori dove
sono stati individuati sistemi agro-alimentari di pregio. Nonostante le dif-
ferenze che a volte si evidenziano nei vari percorsi è indubbia l’ attivazione
in tutti i progetti di un processo territoriale dinamico che contribuisce non
solo alla promozione di prodotti locali tradizionali ma anche alla ri-costru-
zione di percorsi socio-culturali.
Nella realtà il progetto dei Presìdi e quello dei Mercati della Terra for-
niscono una strategia per gli agricoltori che vogliono rimanere o ritornare su
territori complessi, non solo da un punto di vista produttivo ma spesso an-
che socio-culturale. Inoltre, in tali modelli gli obiettivi ambientali sono rag-
giunti attraverso la formazione e l’assistenza tecnica che deve continuare ad
essere un elemento di ricerca, innovazione e sviluppo. Infine per quello che
riguarda l’aspetto culturale, la promozione e la vendita dei prodotti tradizio-
nali di pregio può contribuire a rafforzare la base sociale creando processi
collettivi volti a promuovere una regione nel suo complesso.
References
306
307
http://www.ifoam.com
http://www.fondazioneslowfood.it/ita/presidi/
http://www.slowfoodbrasil.com/
http://www.mercatidellaterra.it/
http://www.presidislowfood.it/ita/
http://www.terramadre.info/
ARATU
Perché un presidio? Le acque delle lagune costiere presen-
ti nello Stato di Sergipe, nel nord-est brasiliano, sono sempre state
ricche di granchi di specie diverse. In particolare, nelle lagune della
zona di Santa Luzia do Itanhy, si trova un granchio dalle piccole di-
mensioni e dalla carne saporita e delicata: l’aratù (Goniopsis cruenta-
ta). Questo crostaceo appartenente alla famiglia delle Grapsidae vive
abitualmente tra le mangrovie, creando la propria tana in buche nel-
la sabbia delle rive o dentro i rami della fitta vegetazione. La pesca
dell’aratù è sempre stata un’attività femminile: le donne delle comu-
nità si recavano alla laguna di mattina e, una volta in acqua, intona-
vano canzoni tradizionali per attirare i crostacei dentro alle trappole
preparate per l’occasione con legno e una canna. Le donne tornavano
quindi al villaggio la sera per dividere il bottino con la famiglia. Negli
ultimi anni però, con l’arrivo dell’elettricità nelle piccole comunità,
la situazione è cambiata: le donne puliscono l’aratù appena raccolto
e ne conservano la carne in congelatore per gli intermediari, che la
acquistano ad un prezzo irrisorio per rivenderla a più del doppio ai
ristoratori delle aree più turistiche dello Stato. Inoltre, i raccoglitori
dell’area di Santa Luzia do Itanhy assistono di anno in anno alla ri-
duzione del numero di esemplari di aratù nelle proprie acque. Questo
fenomeno in parte è dovuto all’allevamento di gamberi presente nelle
lagune i cui mangimi, che regolarmente fuoriescono dalle vasche di
allevamento, uccidono l’aratù. Ma in parte è dovuto a uno sfrutta-
mento non sostenibile delle risorse da parte di alcuni raccoglitori del-
la zona, che non si curano di pescare e consumare anche esemplari
di piccola taglia o femmine gravide. Secondo l’Ibama (Istituto Brasi-
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base della loro agricoltura sono patate dolci, manioca, mais e palmito
(cuore di palma), che viene estratto dal tronco della palma.La varie-
tà di palma più tradizionale, e quella che offre il cuore migliore dal
punto di vista organolettico, è la juçara (Eutherpes edulis), che cre-
sce naturalmente nelle aree sopravvissute di foresta atlantica del Sud
del Brasile. Ma è anche la più a rischio: soltanto in piccoli territori
l’estrazione del palmito è realizzata secondo tecniche sostenibili. Esi-
ste invece un’estrazione intensiva e clandestina, particolarmente ag-
gressiva nella valle del Ribeira, regione tra le più povere dello stato di
San Paolo, a opera di palmiteiros non indios.Da alcuni anni il villag-
gio Guaraní Silveira ha iniziato a realizzare piccoli vivai nella foresta
per ricostruire la popolazione delle loro palme tradizionali: la juçara,
ma anche la jerivà e la pindo ovy (o palma azzurra).La juçara cresce
nel cuore della foresta, non ama il sole e non richiede né trattamen-
ti, né fertilizzanti. L’albero ha tronco diritto, chiaro (grigio-bianco) e
sottile e raggiunge un’altezza di circa quindici metri. Prima di rica-
vare il cuore (tagliando la parte più alta del tronco ed eliminando la
corteccia con il machete) bisogna attendere almeno otto, dieci anni.
Due volte l’anno si raccolgono i semi (di solito i bambini riescono ad
arrampicarsi più agilmente, raggiungendo la cima delle palme e stac-
cando i grandi grappoli di frutti violacei).della juçara si usa tutto: le
foglie servono per preparare letti e sedie, il legno per le case, le bacche
sono trasformate in succhi. Il cuore si mangia crudo (condito con il
miele: nella cucina Guaraní non ci sono né sale né zucchero), bollito,
arrostito sulla brace oppure fritto.
Il Presidio: La palma juçara si taglia al momento della vendita
e il cuore si commercializza fresco: sul posto o a qualche ristoratore
della zona. Così un prodotto raro e prezioso (pronto solo dopo otto,
dieci anni) se ne va per soli cinque, massimo dieci reali (equivalenti
a 1,5-3 Euro). Il Presidio intende individuare un trasformato di alta
qualità che dia valore aggiunto al cuore di palma. Ma, prima di ar-
rivare alla fase della commercializzazione, è necessario diffondere e
replicare l’esperienza delle riserve Boa Vista e Silveira (948 ettari, 300
persone circa) e con l’appoggio dell’organizzazione indigena Institu-
to Teko Arandù, dove si lavora sotto la guida del capovillaggio Adolfo
Timótio (in guaraní il suo nome è Verá Mirim Miri) per incrementare
la presenza della palma juçara, creando vivai nella foresta e coltivan-
do almeno due palme nuove per ogni palma tagliata. Prima di questa
esperienza la riproduzione della palma era affidata esclusivamente
agli animali selvatici: roditori e tucani che rosicchiano e trasportano
i semi. La prima tappa del progetto è stata la stesura di un disciplina-
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NOCE DI BARÙ
Perché un presidio? Il Cerrado, tipica macchia di vege-
tazione che ricopre gran parte del Brasile centrale, ha caratteri-
stiche simili alle savane africane e australiane, seppure con una
maggiore biodiversità e rigogliosità. Tra le sue numerose varietà
vegetali, si trova il barù (Dipterys alata Vox), leguminosa arborea
di grandi dimensioni, il cui frutto matura tra settembre e ottobre
e contiene una mandorla dal sapore delicato: la castanha de baru.
La castanha può essere tostata, acquisendo così un sapore simile
alle arachidi o alle noci di anacardio, o usata al naturale in dolci
tipici a base di zucchero di canna e latte, come il pé-de-moleque e
la paçoquinha. Dalla noce di barù, inoltre, si può estrarre un olio
alimentare e medicamentoso, ottimo sia come aromatizzante dei
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UMBÚ
Perché un presidio? L’umbù (conosciuto anche con il nome
di imbù) è un frutto nativo del Nord-est che cresce nella Caatinga,
la macchia tipica della regione semiarida brasiliana (il Sertão). Il
nome deriva dalla parola degli indios tupi-guarani y-mb-u, che si-
gnifica “albero che dà da bere”. Il ciclo produttivo inizia a partire
dai dieci anni e continua fino all’età di duecento anni e oltre. Que-
sto albero spontaneo dalla chioma a ombrello, fruttifica una volta
l’anno, arrivando a produrre, nella fase adulta, 300 chilogrammi di
umbù. Grazie a un particolare apparato radicale, che forma grandi
tuberi capaci di immagazzinare – nella stagione delle piogge – an-
che due o tre mila litri d’acqua, riesce a resistere alle epoche più
siccitose. Una risorsa importante per una delle aree più povere e
aride del Brasile; dove l’agricoltura a base di mais, fagioli, manioca
e l’allevamento brado di pecore e capre sono soggetti a severe sicci-
tà cicliche. L’umbù si raccoglie a mano, delicatamente, e si ripone
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Federico Perotti
CISV | progetti@cisvto.org
Riassunto
Con l’obiettivo di tracciare un quadro generale delle attività relative
all’agricoltura agroecologica e all’articolazione in rete condotte dalla ONG
italiana CISV (Comunità Impegno Servizio Volontariato) e dai suoi partner
in Brasile, questo testo presenta i processi e progetti sviluppati nel corso dei
14 anni di presenza nel paese, in particolare nella regione metropolitana di
Rio de Janeiro (Baixada Fluminense), rivolti all’agricoltura familiare con-
tadina, all’agroecologia ed alla messa in rete di gruppi di base. Evidenzia
inoltre i fondamenti concettuali che sono alla base delle metodologie pro-
poste, ed illustra le prospettive di continuità delle azioni intraprese.
Premessa
La CISV (www.cisvto.org) è un’organizzazione non governativa italia-
na di cooperazione internazionale a base associativa e comunitaria. Nata ne-
gli anni ’70, oggi lavora in Italia ed in 11 paesi di Africa ed America Latina.
La mission dell’organizzazione si basa sull’idea di sostenere proces-
si di medio-lungo periodo in appoggio ad espressioni della società civile
popolari / contadine. I progetti di cooperazione sono dunque funzionali a
rinforzare processi di partecipazione popolare e auto-promozione del mi-
glioramento delle condizioni di vita in un’ottica di sviluppo umano inte-
grale. Il lavoro nei paesi terzi non è fine a se stesso, ma attraverso scambi
ed esperienze retroalimenta la presenza della Ong sul territorio italiano,
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Zone di
2 intervento
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Basi concettuali
Innanzitutto, per quanto concerne il lavoro svolto da CISV in Bra-
sile, il dibattito intorno al concetto di agroecologia abbraccia aspetti im-
portanti che vanno oltre i limiti della semplice produzione di alimenti più
sani. Tratta quindi, oltre a questo, delle riflessioni sulla questione della ter-
ra e della struttura agraria in Brasile, del modello di sviluppo egemonico,
e dei processi di costruzione di una coscienza popolare sempre più critica,
di fronte alla realtà che la riguarda.
Così, oltre all’ambito di produzione e commercializzazione di pro-
dotti, si intende l’agroecologia come strumento ed occasione per la mobi-
lizzazione, l’organizzazione politica e la messa in rete di gruppi popolari
di agricoltori familiari campesini, pescatori artigianali e comunità tradi-
zionali. Esiste quindi una differenziazione rispetto all’agricoltura organi-
ca (biologica), più legata alla imprenditorialità di chi detiene i capitali e
disciplinata dal concetto di marketing, mentre l’agroecologia è più legata
agli agro-eco-sistemi gestiti da collettivi umano-sociali popolari, ed alle
sue implicazioni sociali, culturali, politiche ed economiche nel macro-
sistema.
Quattro idee chiave sono sempre citate nella costruzione delle stra-
tegie operative del lavoro svolto da CISV in Brasile, e cioè: 1) progetti,
programmi e processi, 2) sviluppo comunitario sostenibile, 3) educazione
comunicativa e, 4) partecipazione popolare ed il suo apprendimento attra-
verso il dialogo orizzontale. Per scoprire e chiarire questi concetti si pre-
senta la seguente interpretazione, sulla base del pensiero di Paulo Freire
e Juan Enrico Diaz Bordenave, teorici legati alla Scuola Latinoamericana
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Educazione comunicativa
Anche se i progetti consistono nella realizzazione di azioni concrete
legate alla produzione, la commercializzazione, le infrastrutture e la micro-
finanza, nel contesto del lavoro in Brasile questi elementi si trasformano in
elementi di mediazione di un processo educativo che diventa comunicativo,
dinamico e orizzontale, con i beneficiari e gli agenti esterni come attori pro-
tagonisti nella costruzione collettiva dei saperi socialmente significativi.
Per educazione comunicativa si intende l’educazione che, lungi
dall’essere frontale a dal prevedere enunciati, comunica e si comunica.
Conoscere, nella dimensione umana, [...], qualsiasi sia il livello in cui si svol-
ge, non è l’atto con cui un soggetto, trasformato in oggetto, riceve, docile e
passivo, i contenuti che l’altro gli impone.
La conoscenza, al contrario, richiede una presenza curiosa del soggetto di
fronte al mondo. Richiede la sua azione di trasformazione della realtà. Do-
manda una ricerca costante. Implica invenzione e re-invenzione. Chiede una
riflessione critica su ogni atto di conoscenza, attraverso cui si riconosce co-
noscendo, e riconoscendosi in tal modo, percepisce il “come” del suo cono-
scere e i vincoli cui è sottoposto il suo agire.
Il conoscere è compito dei soggetti, non di oggetti. Ed è solo come soggetto
e in quanto soggetto, che l’uomo può veramente conoscere. (Freire, 2001,
pag.27, traduzione nostra)
[...] Solo nella comunicazione ha senso la vita umana. [...] Il pensare del
maestro ottiene autenticità solo nell’autenticità del pensiero degli studenti’,
mediati entrambi dalla realtà, quindi nell’intercomunicazione. Quindi, il suo
pensiero non può essere un pensiero per loro né a loro imposto. Quindi non
dovrebbe essere un pensare in isolamento, in una torre d’avorio, ma un pen-
sare dentro e attraverso la comunicazione, in giro, [...], di una realtà. (Freire,
1987, p. 64, traduzione nostra).
L’educazione è comunicazione, è dialogo, nella misura in cui non è di cono-
scenze, ma un incontro di soggetti interlocutori che cercano la significanza
del significato. (Freire, 2001, p. 67, traduzione nostra).
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che ci sono diversi tipi, livelli e gradi di partecipazione che individui di-
versi possono esercitare in modo diverso nelle varie fasi del processo.
Per Freire (2008) la vocazione ontologica dell’uomo è di Essere Più,
essere soggetto sempre più libero, sempre più critico e sempre più creatore
e ri-creatore della propria realtà, in comunione con gli altri. In questo sen-
so, si colloca accanto a questo principio la convinzione che ‘partecipare’ è
un bisogno umano fondamentale come conclude Diaz Bordenave (2002, p.
76 e p. 77, sottolineatura dell’autore, traduzione nostra):
In gruppi sociali non abituati alla partecipazione, può essere necessario in-
durli in questa direzione. Naturalmente, così facendo, ci possono essere di
tanto in tanto intenzioni di manipolazione, ma ci può anche essere un desi-
derio sincero di contribuire all’avvio di un processo che continuerà in modo
sempre più autonomo. (Bordenave DIAZ, 2002, p. 78, traduzione nostra).
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Percorsi e progetti
Nel campo dell’agroecologia e del coordinamento in rete, il pro-
cesso in cui la CISV ha il grado maggiore di maturazione si sviluppa
nella Baixada Fluminense, Regione Metropolitana di Rio de Janeiro. Le
azioni realizzate in questo contesto sono costituite dalla compartecipa-
zione della realtà quotidiana di un’organizzazione popolare e dall’ap-
poggio alla sua messa in rete a livello statale di organizzazioni popolari
e non popolari affini.
Nell’ambito della vita quotidiana di un’organizzazione popolare,
la CISV porta avanti, da circa 6 anni, un percorso insieme ad un nume-
ro significativo di famiglie di agricoltori nel Distretto Agricolo Rio do
Ouro nel comune di Magé, attualmente organizzati nella Coopagé (Co-
operativa de Pequenos Produtores dos Agricultores Familiares do Mu-
nicípio de Magé/RJ). Questo processo è stato sostenuto da due progetti
successivi: il progetto “Dasara” (Progetto di sviluppo Agricolo Sosteni-
bile nelle Aree Rur-urbane della Baixada Fluminense – Magé/RJ – Brasi-
le -Progetto MAE 7737/CISV/BRA), finanziato dal Ministero degli Affari
Esteri italiano (MAE), realizzato dal 2004 al 2007 in collaborazione con
l’Ong locale SEOP (Serviço de Educação e Organização Popular) e la
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Prospettive
A partire dall’esperienza accumulata nei processi condotti a Rio de
Janeiro, la CISV è impegnata oggi in altre due sfide: il consolidamento del
lavoro con gli agricoltori degli assentamentos di riforma agraria a Corum-
bá / Mato Grosso do Sul, e l’apertura di un nuovo processo con pescatori
artigianali dei bacini idrici nella regione dei Sertões di Crateús / Ceará.
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gruppo d’interesse delle azioni era solo quello degli agricoltori della rifor-
ma agraria, appaiono ora all’attenzione altre due realtà specifiche: le fami-
glie degli agricoltori che vivono nelle Colonie del Pantanal profondo (spazi
“distanti” dal modo di vivere “dominante”, occupato da collettivi umano-
sociali con un’altra forma di vedere il Mondo e di concepire la Vita.), e le
famiglie nei quartieri periferici della città di Corumbá.
Così, i collettivi umano-sociali coinvolti nel lavoro CISV nel territo-
rio di Corumbá sono: I – Il Popolo della Terra, composto da gruppi di agri-
coltori e di alcuni insediamenti della riforma agraria nel municipio; II – Il
Popolo del Pantanal, costituito dalle famiglie di agricoltori delle Colonie si-
tuate nel Pantanal profondo e, III – Il Popolo della città, composto da fami-
glie della periferia povera della città di Corumbá con figli assistiti dal CAIJ
(Centro di Atenzione Infanto Giovanile). Per ognuna di queste popolazioni
saranno stabilite le dimensioni e le caratteristiche che ATAAC, CISV e le
organizzazioni partner sono in grado di sostenere nel tempo.
Con tutti i popoli coinvolti, l’attività chiave è il micro-credito portato
avanti su basi popolari, dove i benficiari hanno un ruolo attivo e decisio-
nale. Col popolo della città verranno realizzate anche azioni di agricoltura
urbana e di produzione di erbe medicinali. Nel futuro ci si immagina di
mettere in articolazione comunicativa i tre popoli con la finalità di uno
scambio tra le esperienze svolte.
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Colonia di Pescatori Artigianali Z39; Açude Carnaubal; Comune di Crateús, Stato di Ceará,
Nord Est, Brasile. Fonte: archivi CISV in Brasile.
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Bibliografia
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Nevio Perna
Associazione Ecoredia | Circolo Legambiente Dora Baltea
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sce rapportarsi con aziende di medie o grandi dimensioni che possono ga-
rantire con continuità un certo volume di produzione.
La scelta di produttori locali permette di ridurre l’impatto e il co-
sto ambientale legato al trasporto: tali costi comprendono l’inquinamento
dell’aria, il consumo di suolo per sempre nuove strade, l’impiego di energia
fossile, gli incidenti stradali, la congestione delle nostre città dovuta al traf-
fico. Se tali costi venissero attribuiti direttamente a chi li genera, sarebbe
chiara l’incidenza del costo del trasporto su un prodotto e la convenienza
di scegliere prodotti locali. Inoltre, se i prodotti compiono un breve viaggio
sul territorio, non solo il loro impatto ambientale è ridotto rispetto a quelli
che arrivano da migliaia di chilometri di distanza, ma, viaggiando meno,
arrivano più freschi e non richiedono conservanti.
La vicinanza permette, con maggiore facilità, di stabilire un “canale
fiduciario” tra produttori e consumatori, alimentato dal comune interes-
se e definito da parametri condivisi. Il contatto diretto con il produttore
permette di conoscere meglio i suoi metodi di produzione e di operare un
controllo efficace; permette di concordare alcune scelte di gestione dell’at-
tività, sia per quanto riguarda il tipo di prodotti che il loro imballaggio. Ne
consegue un aumento del livello di soddisfazione per ambedue le parti. La
merce termina di essere solo prodotto e diventa anche strumento di rela-
zione tra soggetti che, oltre ai ruoli di produttori e consumatori, mettono
in gioco i propri “volti” e le proprie storie. E quando conosciamo la storia
di un prodotto che mangiamo o utilizziamo, cambia anche il nostro rap-
porto verso di esso.
Infine, i prodotti locali spesso si accompagnano a colture e culture
tradizionali di un territorio, che rischiano di scomparire sotto le spinte di
uniformità del mercato globale. Mangiare prodotti tradizionali è un modo
per allungare la loro vita e proteggere la biodiversità, oltre che conservare
un mondo di sapori, ricette e tradizioni, che costituiscono la vera ricchez-
za del territorio.
Proporre risposte di giustizia e di rispetto dei diritti dell’uomo nel
campo del consumo significa in primo luogo porre attenzione alle condi-
zioni di lavoro nel ciclo di produzione. Nell’era della globalizzazione le
multinazionali spostano le produzioni dove i costi sono più bassi, la ma-
nodopera è sottopagata e i lavoratori non hanno diritti. L’unico modo per
uscire da questa corsa verso il fondo che danneggia tutti, è richiedere un li-
vello minimo accettabile nelle condizioni di lavoro che debba essere rispet-
tato in qualsiasi parte del mondo. Preferire i prodotti senza sfruttamento
significa aiutare a regolare il mercato del lavoro. I prodotti acquistati attra-
verso i G. A. S., non devono essere coinvolti nel circolo dell’ingiustizia, che
caratterizza, salvo rare eccezioni, i prodotti delle imprese che comunemen-
te si trovano sul mercato, al contrario devono “attivare” le risorse umane,
consentire a molti che sono esclusi dai circuiti economici e da un mercato
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Associazione Ecoredia
Gruppi d’Acquisto Solidale dell’Anfiteatro Morenico di Ivrea
Il Gruppo d’Acquisto Solidale “Ecoredia” nasce ad Ivrea all’inizio
del 2003, in modo informale, da una decina di famiglia aderenti per lo più
all’Operazione “Bilanci di Giustizia”. La pratica degli acquisti diretti pres-
so produttori biologici ed ecologici era già parte integrante delle attività
del gruppo “bilancista”, ma la spinta a costituire un vero e proprio gruppo
d’acquisto solidale viene dalla partecipazione all’esperienza del Social Fo-
rum eporediese che intravede in questo una possibilità concreta di elabo-
rare un progetto di economia solidale per il territorio. Già dal nome che
il gruppo sceglie di darsi, “Ecoredia”, dall’antico nome della città di Ivrea,
Eporedia, si può intuire la volontà di coniugare l’attenzione allo stile di
vita e al cambiamento individuale con le pratiche di politica dal basso e di
lavoro sul territorio per renderlo sempre più un luogo della sostenibilità e
della solidarietà.
Inizialmente il Gruppo sceglie di mantenere una dimensione molto
contenuta e si rivolge solo al mondo dell’associazionismo e dei movimenti
locali, per sperimentare con piccoli numeri, l’organizzazione degli acquisti
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5. olio (un’azienda del Nord Italia e due aziende del sud Italia)- ordine
semestrale
6. parmigiano (un’azienda del centro-nord Italia)- ordine bimensile
7. vino (un’azienda locale e una piemontese)- ordine semestrale
8. caffè (commercio equosolidale)-ordine trimestrale
9. zucchero (commercio equosolidale)-ordine trimestrale
10. miele (due aziende locali)
11. arance (un’azienda del sud italia)- ordine mensile
12. vestiario (un’azienda piemontese e una del Nord Italia)- ordine se-
mestrale
13. scarpe (un’azienda del Nord Italia)- ordine semestrale
14. detersivi e prodotti per l’igiene (un’azienda del centro Italia)- ordine
quadrimestrale
15. filtri per l’acqua (un’azienda locale)- ordine annuale.
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Oggi, a tre anni dal lancio del progetto, quasi tutti i principali eventi
enogastronomici realizzati nel territorio, hanno aderito alla campagna. Si
evitano in questo modo di produrre diverse decine di tonnellate all’anno di
rifiuti indifferenziati.
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Introduzione
Nel dibattito attuale sullo sviluppo, il territorio è posto al centro di
numerose riflessioni teoriche in quanto entità complessa e differenziata
che svolge un ruolo cruciale nel processo di sviluppo locale. Tale proces-
so mira alla valorizzazione delle specificità dei singoli contesti attraverso
l’azione collettiva di soggetti che agiscono localmente e in sinergia con la
scala globale.
Come teorizzato da Giuseppe Dematteis, ciascun Sistema Territoria-
le presenta componenti analitiche quali:
a) la rete locale di soggetti, ossia le interazioni tra individui all’inter-
no di un territorio dove si riscontrano relazioni di prossimità fisica e tra i
soggetti del locale e soggetti di altri luoghi;
b) il milieu territoriale, inteso come un insieme di condizioni am-
bientali e materiali di un territorio all’interno del quale i soggetti intera-
giscono;
c) la relazione simbolica e materiale tra la rete locale, milieu territo-
riale e l’ecosistema;
d) la relazione interattiva tra rete locale e reti extra locali a diverse
scale: regionale, nazionale e globale.
La conoscenza di un territorio non si può limitare a dati oggettivi,
occorre conoscerne le soggettività locali, la loro articolazione geografica, i
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coloro che hanno da sempre vissuto nel territorio è stata indispensabile per
mantenere intatte le proprietà specifiche di ciascun terreno agricolo.
Un discorso analogo viene portato avanti dagli agriturismi visitati.
Essi promuovendo i prodotti tipici e favorendo il turismo rurale hanno
come obiettivo quello di preservare le ricchezze paesaggistiche e le risorse
locali. Non a caso, tali realtà aderiscono a progetti di filiera corta e distri-
buzione a km zero partecipando attivamente ad associazioni locali che mi-
rano ad avvicinare il produttore al consumatore. Un esempio di queste è
l’associazione di filiera corta “Ecoredia” di Ivrea.
Si è avuto anche modo di entrare in contatto con alcune realtà asso-
ciative locali che promuovono il recupero di colture tradizionali che negli
ultimi decenni si stanno perdendo, come l’associazione Assocanapa che,
fondata nel 1998 a Carmagnola (Torino), sostiene gli agricoltori nell’avvio
della coltivazione della canapa, fornisce informazioni agronomiche e col-
turali, colloca il prodotto finale, ricerca e tutela le varietà di canapa italia-
na, coordinando a livello nazionale l’attività di tale coltivazione.
365
*
Fraternità Emmaus, Cascina Penseglio, 14020 ALBUGNANO (AT), Italia, terraegente@
libero.it
1
www.slowfood.it www.slowfood.com
366
*
Fraternità Carmelitana, Vico Canavese -10010 LESSOLO (TO) (http://www.ilcarmelo.
it/conventi/lessolo.html)
367
Agri.Bio*
Agri.Bio è una Associazione ONLUS di produttori e consuma-
tori che operano nel settore dell’agricoltura biologica e biodinamica.
Nasce ufficialmente nel maggio del 1991 come Agri.Bio Piemonte.
L’Associazione nasce riunendo le esperienze e le realtà di alcune as-
sociazioni che già operavano nel campo dell’agricoltura biologica a
livello locale (come ad esempio la Cooperativa Terra e Gente) per
dare loro un risvolto, un’operatività e una rappresentanza a livello
regionale e per dare vita a servizi di sostegno e promozione all’intero
settore.
La strategia dell’associazione si articola in cinque punti fon-
damentali:
• Tecnico : assistenza tecnica specializzata alle aziende agricole
biologiche, biodinamiche e nuove aziende, ricerca e sperimen-
tazione in ambito agrario, ambientale e igienico sanitario in
collaborazione con la Regione Piemonte, Enti locali e territo-
riali, Università e Istituti di Ricerca.
• Formativo : formazione professionale per i produttori piemon-
tesi; informazione ai soci su tutto il territorio attraverso corsi,
stage e convegni su tematiche legate all’agricoltura, alla salute
e all’alimentazione
• Commerciale : commercializzazione di prodotti biologici e
biodinamici, assistenza alla vendita dei prodotti dei soci pro-
duttori, fornitura di mezzi tecnici, sementi certificate.
• Certificazione : assistenza alla certificazione biologica tramite
una convenzione con BIOS srl, organismo di controllo e certi-
ficazione privata con il marchio AgriBioDinamica.
• Editoria : stampa, libri, cd audio e video e rivendita di libri di
agricoltura biodinamica, biologica, alimentazione, medicine
alternative, bioarchitettura ecc.
*
http://www.agribionotizie.it/.
368
Ecoredia*
Ad Ivrea il progetto di filiera corta nasce come rete logistica,
attraverso il passaparola tra amici e piccoli produttori della zona. Nel
piccolo centro urbano la domanda di prodotti biologici ha superato
l’offerta ponendo una grande sfida per chi sostiene questo progetto.
Oggi si lavora con neo agricoltori che tornano all’agricoltura
con un nuovo spirito, dettato dalla voglia di vivere in modo più sano
e compatibile con l’ecosistema naturale. Sono famiglie giovani che
tentano di allargare la loro produzione nonostante il reddito agricolo
sia molto aleatorio. Per questo motivo è utile avere diverse forme di
reddito, l’agricoltura da sola ad Ivrea non dà sicurezze. Un limite che
colpisce questo sistema di produzione e distribuzione è il cosiddetto
problema della stagionalità, tipico dell’agricoltura biologica, cioè ca-
pita a volte che non si sia in grado di fornire al consumatore una va-
rietà minima di prodotti che permettano di mangiare cibi di stagione
ma variegati.
*
http://www.ecoredia.it.
1
http://www.ortoamico.com
369
tizzare gli ambienti sia in inverno che in estate. Mentre per quanto
riguarda le tecnologie energetiche attive il sistema è dotato di un im-
pianto di riscaldamento basale ed aereo in serra alimentato con cal-
daie a biomasse e di un impianto di produzione di energia elettrica
mediante l’utilizzo di pannelli fotovoltaici.
Esiste la possibilità di integrazione tra ENEL, gruppo elet-
trogeno e impianto fotovoltaico per simulare situazioni con o senza
l’ausilio della rete elettrica. A tal proposito è stato possibile osservare
un progetto sperimentale in atto che prevedeva la coltivazione bio-
logica di piante di mais in un clima sub tropicale riprodotto artifi-
cialmente attraverso l’utilizzo esclusivo di impianti geotermici; tale
esperimento mirava a riprodurre tale coltura in ambienti caldi come
quelli del continente africano.
L’intero progetto dell’”isola energetica” è finanziato dal Setto-
re Agrienergia dell’Assessorato Agricoltura della Regione Piemonte
(patrocinatore, divulgatore e finanziatore della ricerca), in partena-
riato con Associazione interregionale Nord-Ovest di Legacoop Agro-
alimentare (promotore), Azienda Agricola Agrinaturaroero di Poca-
paglia (operatore ed utilizzatore) e DEIAFA, Università degli Studi di
Torino (coordinamento tecnico).
Conclusioni
Lo scambio universitario che è avvenuto durante il mese di giugno
2010, ha permesso ai vari partecipanti di Torino e del Paranà di incon-
trarsi, di confrontare le proprie “intelligenze” attraverso uno scambio di
ricerche per produrre una nuova crescita culturale. Lo scambio ha prodot-
to nuove riflessioni, ha arricchito, ampliato ed integrato le ricerche locali
di entrambi i dipartimenti, ha promosso un modo di far ricerca “aperto”,
che non si chiude tra i confini nazionali ma si fa promotore di incontri tra
territori inter-nazionali per approfondire nuovi temi d’indagine condivisi.
Attraverso il confronto è stato possibile contestualizzare ogni tipo di ri-
cerca: capire come temi simili, quali sviluppo locale, agricoltura biologica
e ancora turismo rurale, trovano campi e terreni di indagine diversi a se-
conda del contesto, e, allo stesso tempo, contesti diversi sviluppano temi
di ricerca simili.
Ad esempio, un filone di ricerca che si sta diffondendo sia in Italia
che in Brasile è quello della produzione di cibi di qualità, tradizionali, che
recupera colture antiche e si oppone all’accelerazione e omologazione dei
sistemi di produzione agricoli. Non solo si sono sviluppate diverse tipolo-
gie di certificazione per definire la qualità dei prodotti, ma si è creata una
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Bibliografia
Sitografia
• http://ec.europa.eu/agriculture/organic/home_it
• http://www.economia-solidale.org/
• http://www.agribionotizie.it/
• http://www.economia-solidale.org/
• http://www.retegas.org/
• http://www.filieracortabio.it
• http://www.nextville.it/scenari/7
• http://www.ordinedeimedici.cb.it/sito/moligal.nsf/905c993ca108cc9
6c1256c590032916f/5aad8442c88af7cac1256cc600342a0d?OpenDo
cument
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• http://www.corintea.it/Trasformare1/TRASF_1_%20DEFINITIVO.htm
• http://www.unesco.it/_filesDIVERSITAculturale/dichiarazione_diver-
sita.pdf
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Eleonora Olivero
Dott.ssa in Cooperazione, Sviluppo, Mercati Transnazionali |
Facoltà di Scienze Politiche, Università degli Studi di Torino |
eleonora.olivero@gmail.com
Introduzione
In un contesto mondiale di crisi, determinata dalle contraddizione
del sistema economico dominante – l’illusione di una crescita illimitata, lo
sfruttamento massiccio delle risorse naturali e l’acuirsi delle diseguaglian-
ze sociali – l’economia solidale rappresenta un modo alternativo di inten-
dere il lavoro e l’economia, basato sui principi di promozione umana, in-
clusione sociale e rispetto dell’ambiente.
In America Latina, in particolare in Brasile, gli effetti negativi del si-
stema neo-liberista sono evidenti: pesanti squilibri nella distribuzione del-
la ricchezza, minacce alla sopravvivenza degli ecosistemi naturali, culture
tradizionali minate. L’economia solidale si sviluppa in risposta a queste
contraddizioni, concretizzandosi attraverso una molteplicità di iniziative.
Ciò che le accomuna è la ricerca di nuovi modi di organizzare la produzio-
ne, la distribuzione ed il consumo in vista del miglioramento della qualità
della vita delle persone. Molte di queste esperienze vanno consolidando-
si sempre più, attraverso la costruzione di reti di collaborazione solidale,
come nel caso di Justa Trama, filiera di produzione di abbigliamento in
tessuto di cotone biologico.
Metodologia
Il presente lavoro si basa sulla ricerca finalizzata all’elaborazione
della tesi di laurea specialistica in Cooperazione, Sviluppo, Mercati Tran-
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zione di reti produttive solidali, anche grazie alla sua capacità di mettere in
relazione realtà così variegate dal punto di vista geografico e sociale.
Justa Trama opera tenendo in considerazione i principi fondanti
delle imprese solidali (MTE 2006).
Attività economica: l’impresa solidale non è una semplice attività a
scopo assistenzialista, seppure il fine ultimo dell’attività economica sia la
persona umana e il suo bem-viver (Mance 2003). Cruciale, in questo sen-
so, è la riflessione sul ruolo del lavoro secondo l’approccio dell’economia
solidale. Come analizza il sociologo cileno Luis Razeto (2003, p. 63), il
consolidamento del lavoro salariato ha portato ad un tipo di divisione so-
ciale del lavoro che indebolisce notevolmente i legami comunitari e di so-
lidarietà, dal momento che i lavoratori sono spinti a relazionarsi “in ter-
mini competitivi, conflittuali, dando luogo a rapporti di forza e di lotta”.
Al contrario, l’obiettivo di Justa Trama – e dell’economia solidale in senso
più ampio – è quello di recuperare il senso del lavoro come mezzo di rea-
lizzazione personale e promozione umana. In altre parole “si tratta di far
sì che il lavoratore torni ad acquisire la capacità di prendere decisioni,
sviluppi conoscenze relative al come fare le cose, recuperi il controllo e la
proprietà dei mezzi di produzione” (Razeto 2003, p. 63). Per questo Justa
Trama considera l’economia solidale non semplicemente come un’alter-
nativa alla disoccupazione bensì come un modo alternativo di intendere
il lavoro.
Autogestione: i lavoratori sono proprietari dei mezzi di produzione
e gestiscono in modo partecipativo l’intero ciclo produttivo, senza dipen-
dere da intermediari esterni alla rete. I lavoratori creano il prodotto finito
secondo la loro creatività e ne curano la commercializzazione, non limi-
tandosi ad un’operazione di assemblaggio per conto terzi né riproducendo
semplicemente i modelli dominanti.
Cooperazione: l’attività dell’impresa solidale si basa su interessi ed
obiettivi comuni e sulla condivisione dei risultati e delle responsabilità.
Solidarietà: intesa come giusta distribuzione dei risultati e sforzo
comune in vista del miglioramento delle condizioni di vita dei partecipan-
ti. Allo stesso tempo la solidarietà presuppone un impegno costante per la
salvaguardia dell’ambiente, per le comunità locali e per il benessere dei la-
voratori e consumatori.
La strategia di Justa Trama consiste nel migliorare la vita delle per-
sone coinvolte senza basarsi su intermediari esterni che possano sfruttar-
ne il lavoro e nell’utilizzare a proprio favore alcuni strumenti del mercato
in un’ottica di solidarietà, attuando in tal modo pratiche trasformatrici ri-
spetto al modello economico dominante.
Un ulteriore aspetto che aggiunge valore all’esperienza di Justa Tra-
ma è la sua visione rispetto alla questione ambientale e ai modelli di svilup-
po. Justa Trama, infatti, promuove la coscientizzazione del consumatore
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Conclusioni
Come evidenzia Carvalho da França (2003, p.126) il valore aggiun-
to delle iniziative di economia solidale consiste nell’attuare una strategia a
due livelli: da una parte esse promuovono attività economiche in grado di
generare occupazione e reddito, dall’altra superano “le dinamiche comuni-
tarie che limitano i benefici dell’azione alla scala del piccolo gruppo locale”
e puntano ad agire nello spazio pubblico per sostenere un cambiamento
della società in senso più solidale e includente.
Il successo di questo progetto dipende in larga misura dalla capacità
di organizzarsi in reti di collaborazione solidale. Justa Trama, in quanto rete
produttiva solidale, sta mettendo in atto proprio questa strategia: da un lato
svolge un’azione socio-economica di generazione di reddito, dall’altro condu-
ce un’azione politica importante basata sui principi di partecipazione, demo-
cratizzazione dell’economia, promozione dei diritti dei lavoratori, emancipa-
zione, rispetto dell’ambiente. Il legame tra Justa Trama e Made in NO mostra
come lo sviluppo dell’economia solidale passi attraverso il rafforzamento del-
le relazioni tra reti di lavoratori che si organizzano dal basso privilegiando la
relazionalità, puntando alla solidarietà non come carità Nord-Sud ma come
scambio e rafforzamento reciproco, consapevoli che è possibile sperimentare
forme alternative di organizzazione economica che generino dinamiche più
ampie di trasformazione dell’economia e della società.
Bibliografia
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Siti web
• www.emes.net – European Research Network
• www.fbes.org.br – Forum Brasiliano di Economia Solidale
• www.ibge.gov.br – Istituto Brasiliano di Geografia e Statistica
• www.justatrama.com.br – Sito di Justa Trama
• www.made-in-no.com – Progetto Made in NO
• www.mte.gov.br – Ministerio do Trabalho e Emprego
• www.riless.org – Red de Investigadores Latinoamericanos de Eco-
nomia Social y Solidaria
• www.unisolbrasil.org.br – Sito della UNISOL Brasil
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Valentina bianco
Geógrafa pela Universidade de Turim | Slow Food Italia | v.bianco@slowfood.it |
Carolina bonelli
Geógrafa pela Universidade de Turim | ladypoikila@hotmail.com
Introdução
Apesar da existência de 1 milhão de assentamentos agrários instituí
dos no Brasil desde a criação do Instituto Nacional de Colonização e Re-
forma Agrária (INCRA), em 1970, e de mais da metade destes assentamen-
tos terem sido criados a partir de 2003, os dados do Censo Agropecuário
2006, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
reafirmam o velho quadro da concentração fundiária no Brasil.
As pequenas propriedades (com menos de 10 hectares) ocupam ape-
nas 2,7% da área ocupada por estabelecimentos rurais, enquanto as gran-
des propriedades (com mais de mil hectares) ocupam 43% da área total. O
quadro de desigualdade é ressaltado pelo fato de as pequenas propriedades
representarem 47% do total de estabelecimentos rurais, enquanto os lati-
fúndios correspondem a apenas 0,9% desse total.
A concentração e a desigualdade podem ser comprovadas pelo Índi-
ce de Gini1 da estrutura agrária do país. Quanto mais perto esse índice está
1
O Coeficinte de Gini é uma medida de desigualdade desenvolvida pelo estatístico italiano Corra-
do Gini. É comumente utilizada para calcular a desigualdade de distribuição de renda mas pode
ser usada para qualquer distribuição. Ele consiste em um número entre 0 e 1, onde 0 correspon-
de à completa igualdade de renda (onde todos têm a mesma renda) e 1 corresponde à completa
desigualdade (onde uma pessoa tem toda a renda, e as demais nada têm). O índice de Gini é o
coeficiente expresso em pontos percentuais (é igual ao coeficiente multiplicado por 100).
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O PRONAF é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, instituído
pelo Governo Federal em 1996. Ele apresenta diferentes linhas de crédito para a agricultura
familiar.
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Conclusões
O futuro da agricultura camponesa no Brasil depende em grande
parte das opções do Movimento e da sua capacidade de traduzir em pro-
jeto político coletivo as estratégias de resistência e de inovação que estão
sendo construídas em todo o país pela iniciativa dos agricultores. A agro-
ecologia, como demonstramos amplamente nesse texto, pode contribuir
para a mudança do modelo de produção e das relações sociais dentro do
campo. Ela permite aumentar a autonomia dos agricultores, liberando-os
da dependência das empresas multinacionais de insumos químicos e das
dívidas e gastos a essa relacionados.
Permite valorizar a cultura camponesa tradicional, enfraquecida
nos últimos 50 anos como efeito da Revolução Verde, envolvendo também
as novas gerações num trabalho de síntese entre inovações científicas e sa-
beres antigos; fortalecer processos políticos de organização e compartilha-
mento de objetivos de luta; e realizar um processo de produção em harmo-
nia com a natureza, e que seja sustentável em longo prazo.
Enfim, a agroecologia possibilita dar vida a um processo cultural de
reconstrução de uma identidade e de uma função social dos agricultores,
produtores de soberania alimentar. Muitas são as dificuldades ainda no
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