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All content following this page was uploaded by Sérgio Campos Gonçalves on 25 April 2017.
Introdução
Professor Assistente na Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), Doutorando e Mestre em História e
Cultura Social pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), Bolsista CAPES.
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Marcelo de Mello Rangel; Marcelo Santos de Abreu; Rodrigo Machado
da Silva (Orgs.). Anais do 8º Seminário Brasileiro de História da
Historiografia - Variedades do discurso histórico: possibilidades para além
do texto. Ouro Preto: EDUFOP, 2014. (ISBN: 9788528803372)
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Para citar apenas alguns dos mais representativos: PORTO ALEGRE, 1841; COUTINHO, 1840; CASTILHO,
1848; PINHEIRO, 1839.
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Marcelo de Mello Rangel; Marcelo Santos de Abreu; Rodrigo Machado
da Silva (Orgs.). Anais do 8º Seminário Brasileiro de História da
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Marcelo de Mello Rangel; Marcelo Santos de Abreu; Rodrigo Machado
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do texto. Ouro Preto: EDUFOP, 2014. (ISBN: 9788528803372)
Além da reiterada referência a uma humanidade imaginada que se inicia na Grécia antiga
e que termina na sua época, posicionando o Brasil independente, nessa trajetória, como
resultado do progresso, a própria edificação da história é incluída na crônica épica do país. Na
explicação de Macedo, quando a composição da história não era possível, o motivo são os
empecilhos ao desenvolvimento, ao progresso e à civilização, sejam porque os índios são
incapazes, porque os colonos são aventureiros ou porque a metrópole asfixia a inteligência
local. Contudo, quando os impedimentos deixaram de existir com a chegada da independência,
a elaboração da história precisou esperar devido a motivos nobres e plenamente justificáveis;
os homens heróicos, para consolidar a independência, não puderam ocupar-se da escrita da
história do novo país, pois carregavam o fardo de confeccionar as leis fundamentais do seu
governo: “os Tacitos estavam pois no senado e não podiam ainda escrever a historia”
(MACEDO, 1854: 6). A própria instabilidade que se seguiu imediatamente ao rompimento com
Portugal, no raciocínio de Macedo, foi um agravante para fazer a história esperar. As
convulsões políticas que surgiram durante o período regencial teriam exigido tempo e atenção
dos homens que estavam à frente da consolidação do Brasil como país independente:
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Marcelo de Mello Rangel; Marcelo Santos de Abreu; Rodrigo Machado
da Silva (Orgs.). Anais do 8º Seminário Brasileiro de História da
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do texto. Ouro Preto: EDUFOP, 2014. (ISBN: 9788528803372)
Anos depois, o episódio da maioridade foi descrito por Manuel Duarte Moreira de
Azevedo como o momento em que a nação quebrou os últimos anéis da corrente que parecia
ainda prender o Brasil ao reino europeu: “a monarchia nacionalisou-se, os estadistas brasileiros
começaram a trabalhar, tendo só em vista os negocios do novo Imperio; despertou-se o interesse
publico, a nação entrou em nova phase de organisação...”. Enquanto o imperador ainda dormia
em berço dourado, esse momento teria sido marcado, de acordo com Azevedo (1879: 5), pelo
desenvolvimento do patriotismo, que inspirou “medidas salutares” e engrandeceram as virtudes
cívicas.
Na explicação da trajetória do Brasil, elaborada por Macedo, a Maioridade foi
determinante tanto para apaziguar a instabilidade que se seguiu à saída de D. Pedro I quanto
para o estabelecimento do próprio Instituto Histórico:
Dirigindo-se aos membros do IHGB, Macedo volta a fazer referência à maioridade de Pedro II
também no final de seu discurso:
Sim! Não é uma illusão: é immensa a grandeza do futuro, que nos espera, e nem
podia ser de outra sorte, porque elle será a obra magestosa do sr. dom Pedro II.
Com a declaração da maioridade de s. magestade o imperador uma época nova se
abriu para o Brazil: [...] nossa bella patria abatida pelas lutas civis durante dez
annos, ergueu-se enthusiasmada para saudar a hora solemne, em que s. magestade
imperial assumiu o governo do estado. O dia da maioridade marcou a regeneração
das letras e das artes, deu impulso ao commercio, e desatou as azas á industria.
O sr. dom Pedro II é a civilisação, é a riqueza, é a gloria da nossa patria: ao
impulso de seu genio começou o progresso moral, e material do Brazil, que cada
dia mais se desenvolve, e mais rapido caminha: o que ha dez annos com
difficuldade se fazia, hoje com promptidão se executa, e dentro em pouco de
improviso se fará: é que a causa actua! é que o genio vela! é que o imperador
inspira! (MACEDO, 1854: 50).
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da Silva (Orgs.). Anais do 8º Seminário Brasileiro de História da
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Haveria, também, duas condições para o florescimento dos “gênios” da humanidade, que,
segundo Macedo, precisam ser plenamente satisfeitas. A primeira condição é que o país deve
“ter sido ja por lonto tempo proveitosamente cultivado pela civilisação”, e a segunda é que
“deve o chefe do estado ardendo no amor da gloria, e no enthusiasmo pelo bello, ser o amigo,
o protector, e o inspirador dos gênios”. Tais condições fariam os “gênios” do IHGB serem ainda
mais dignos de reconhecimento e reverência, pois, conforme avalia, “o Brazil operou um
milagre, privado de ambas as condições” (MACEDO, 1854: 26).
Após tratar da construção do Brasil no passado, é o presente sobre o qual Macedo passa
a se debruçar. Nesse continuum, os grandes feitos da história devem também ser celebrados no
tempo do agora. O IHGB, através do discurso de Macedo, se propõe a trabalhar pela
perpetuação da memória dos feitos gloriosos, para expor aos olhos do povo os “troféus da
vitória”, isto é, os triunfos do Brasil diante da expectativa de progresso, desenvolvimento e
civilização.
É em função de tal propósito que nesse período o Instituto Histórico, de acordo com
Macedo, designou um de seus membros para acompanhar a solenidade da inauguração da
estrada de ferro construída por Mauá, para solicitar ao barão o acesso aos trabalhos da ferrovia
“a fim de serem depositados no museu do instituto esses instrumentos, a que por certo se ligarão
no futuro a respeitosa e veneranda recordação do comêço de uma época toda de progresso,
prosperidade e civilisação para o imperio diamantino”.2 Relata Macedo:
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“A resposta do digno sr. Barão de Mauá foi a única que se poderia esperar d’elle. Esses eloqüentes instrumentos
pertencem hoje ao nosso instituto” (MACEDO, 1854: 46).
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O discurso de Macedo busca mostrar que, naquele momento, o Brasil cada vez mais se
contextualizava dentro da evolução da humanidade, na mesma direção e sentido do vetor do
progresso:
A obra se adianta..... vede o quadro que ja o Brazil apresenta hoje a nossos olhos:
a corte ja tem na luz do gaz um sol para as noites, e no fluido electrico o
mensageiro de encantada rapidez; o Amazonas saúda os vapores que o sulcão, e
suas margens se preparam para pagar com abundancia os esforços das industrias
e da civilisação; a breve estrada de ferro de Mauá accendeu a esperança do Valle
do Parahyba, que espera uma extensa linha férrea, e o orgulho nos valles do Rio
de S. Francisco, que exige não menos de duas; de Nictheroy a Campos se projecta
ainda uma outra promissoda de brilhantes resultados; ao norte e ao sul criam-se
colônias, estendem-se estradas, cavam-se canaes; os desertos das províncias do
Espirito Sancto e de Minas vão entornar suas riquezas pela veia do Mucury, e ao
mesmo tempo a statistica estabelece uma academia; Colombo vê honrada sua
memoria, aos cegos prepara-se uma luz artificial, o cinzel do estatuario dá vida ao
marmore bruto, um grande poeta deixando a formosa Parthenope vem como
Camões, trazendo um poema de presente á patria atravéz do oceano, e um outro
poeta não menos grande descansa a Penna com que cantava o descubridor do
mono mundo, sómente para votar-se á regeneração das artes.
Sim! O Brazil progride, o futuro não póde desmentir nossas esperanças, a obra irá
avante; porque a causa actua! o genio vela, o imperador inspira! (MACEDO,
1854: 50-51).
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A referência se deve provavelmente ao político, historiador e literato francês Hippolyte Nicolas Honoré Fortoul
(1811-1856).
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O povo que não exalta seus heróes é indigno de os possuir: uma estatua eqüestre
ao sr. dom Pedro I é um pedaço de marmore por um prodigio de gloria
(MACEDO, 1854: 49).
Diante dessa demanda monumental, comentava Macedo que a missão do Instituto Histórico se
tornava cada vez mais importante, notadamente, porque a história possuía o poder de esclarecer
o futuro à medida que vai revolvendo o passado, determinando que no futuro o Brasil se
constituísse como “um mundo novo creado pela civilisação e pelo progresso” (MACEDO,
1854: 50).
Em seu discurso comemorativo, Macedo entusiasmou-se com a expectativa de o IHGB
ter seu maior propósito realizado, finalmente, através da publicação de uma obra de história do
Brasil, em razão do sócio Francisco Adolpho Varnhagen ter oferecido ao Instituto a leitura do
índice de sua história geral ainda em preparação, fazendo despertar a “viva esperança de ser em
breve consummada uma obra que fará honra ao Brazil” (MACEDO, 1854: 44).
Considerações Finais
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Referências Bibliográficas
CARVALHO, J. M. de. D. Pedro II. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
CEZAR, T. Lição sobre a escrita da história. Historiografia e nação no Brasil do século XIX.
Diálogos (Maringá), Maringá - Paraná, v. 8, p. 11-29, 2004.
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Marcelo de Mello Rangel; Marcelo Santos de Abreu; Rodrigo Machado
da Silva (Orgs.). Anais do 8º Seminário Brasileiro de História da
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DIEHL, A. A. A cultura historiográfica brasileira: do IHGB aos anos 1930. Passo Fundo:
Ediupf, 1998.
MACEDO, Joaquim Manoel de. Relatorio do primeiro secretario. Sessão pública aniversária...
RIHGB. 17:563-600, 1853. Supl.
MACEDO, Joaquim Manoel de. Relatorio do primeiro secretario. SESSÃO pública aniversária
do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil no dia 15 de dezembro de 1854. RIHGB. 17:3-
51, 1854. Supl.
PORTO ALEGRE, Manuel de Araújo. Memória sobre a antiga Escola de Pintura Fluminense.
RIHGB. 3:547-557, 1841; supl. 33-43; 2.ed. 547-557; 3.ed. 451-458.
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