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29 de junho de 2021
Conteúdo
Prefácio iii
2 Flexão 12
2.1 Seções Retangulares Simplesmente Armadas . . . . . . . . . . . . 12
2.1.1 Diagrama Momento-Curvatura . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.1.2 Momento Último . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.2 Ductibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.2.1 Domı́nios de Ruptura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.2.2 Posição da Linha Neutra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.2.3 Pré-dimensionamento e verificação . . . . . . . . . . . . . 33
2.2.4 Considerações práticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.3 Seções Retangulares com Armadura Dupla . . . . . . . . . . . . . 37
2.3.1 Diagrama Momento-Curvatura . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.3.2 Deslocamento da linha neutra para cima . . . . . . . . . . 40
2.3.3 Seções balanceadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
2.4 Seções T . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.4.1 Armadura Simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.4.2 Ductibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.4.3 Considerações Adicionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.4.4 Armadura Duplas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.5 Seções Arbitrárias e Flexão Oblı́qua . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3 Flexão Composta 55
3.1 Flexão composta de seções retangulares . . . . . . . . . . . . . . 55
3.2 Diagramas adimensionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4 Força Cortante 65
4.1 Treliça de Morsch . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.1.1 Bielas de Concreto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.1.2 Tirantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
4.1.3 Inclinação das bielas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
4.2 Considerações práticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
i
CONTEÚDO ii
5 Torção 79
5.1 Torção de Equilı́brio e de Compatibilidade . . . . . . . . . . . . . 79
5.2 Espessura Efetiva de Seções Retangulares . . . . . . . . . . . . . 81
5.3 Treliça de Morsch . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
5.3.1 Bielas de concreto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
5.3.2 Estribos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
5.3.3 Barras longitudinais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
5.4 Considerações práticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
5.5 Interação com força cortante e momento fletor . . . . . . . . . . 90
5.6 Considerações Adicionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
iii
Capı́tulo 1
Comportamento Mecânico
dos Materiais
1.1 Concreto
1.1.1 Compressão uniaxial
A relação tensão-deformação do concreto convencional submetido à compressão
uniaxial é como mostrada na Figura 1.1. Percebe-se que a relação tensão-
deformação é bastante não-linear, principalmente próximo à resistência última
fc . Percebe-se também que concretos de resistências mais elevadas sustentam
menores deformações após atingir a resistência última fc . Assim, dizemos que
concretos de resistência mais elevada possuem ruptura frágil (pouco dúctil). Já
os concretos de resistência inferior a 50 MPa possuem certa capacidade de sus-
tentar deformações após atingir a resistência última fc . Por este motivo, dizemos
que concretos convencionais de classe até C50 possuem ruptura quase-frágil, ao
invés da ruptura frágil dos concretos de alta resistência.
Existem diversos modelos utilizados para representar a relação tensão-deformação
do concreto submetido à compressão. Os mais comuns são os modelos Bilinear
(EUROCODE 2, 2004), Parábola-Retângulo (de Araújo, 2014) e de Hognes-
tad (Wight and MacGregor, 2012). O modelo de Hognestad é mostrado na
Figura 1.2. Neste modelo a relação tensão-deformação é considerada parabólica
até o pico de resistência. Após o pico de resistência, a relação tensão-deformação
é modelada por uma reta decrescente até a deformação última = 0, 0038. Este
modelo é bastante preciso e muito utilizado em diversos paı́ses, mas não será
utilizado aqui.
O modelo parábola-retângulo é mostrado na Figura 1.3. O modelo é com-
posto de um primeiro trecho parabólico até o pico de resistência e um segundo
trecho constante até a deformação última. Neste caso a resistência última fc é
ponderada por um fator de 0, 85, uma vez que a resposta mecânica real do con-
creto após o pico de tensão não é constante (ver Figura 1.1). A ponderação por
0, 85 visa garantir que o patamar constante tenha o mesmo efeito estrutural do
1
CAPÍTULO 1. COMPORTAMENTO MECÂNICO DOS MATERIAIS 2
caracterı́stica fck . O valor de fck é obtido através de uma minoração do valor da resistência
última fc por motivações estatı́sticas relacionadas à segurança. O significado de tal minoração
será discutido em outro momento. Por enquanto utilizaremos o valor da resistência última fc
para nossos cálculos.
CAPÍTULO 1. COMPORTAMENTO MECÂNICO DOS MATERIAIS 3
C50 é adotado
2, 0
εc2 = (1.2)
1000
3, 5
εcu = (1.3)
1000
n = 2. (1.4)
O modelo bilinear é mostrado na Figura 1.4. Este modelo é recomendado
pelo EUROCODE 2 (2004) mas não é citado pela NBR-6118 (2014). Por este
motivo, utilizaremos este modelo apenas em algumas situações, devido a sua
simplicidade em comparação com os demais modelos. Segundo o EUROCODE
2 (2004), para concretos de classe até C50 podemos adotar
1, 75
εc3 = (1.5)
1000
3, 5
εcu3 = εcu = . (1.6)
1000
Módulo de Elasticidade
Como a relação tensão-deformação do concreto é não-linear, o módulo de elas-
ticidade não é constante. Mesmo assim, é conveniente definir e trabalhar com
dois valores de módulo de elasticidade. O primeiro é o Módulo de Elasti-
cidade Tangente inicial, representado por Eci . Este módulo de elasticidade
diz respeito à inclinação da reta tangente no trecho inicial do diagrama tensão-
deformação (ver Figura 1.5). O módulo Eci pode ser determinado por ensaio
de laboratório aos 28 dias, de acordo com normas pertinentes. Na ausência de
resultados de laboratório, pode-se utilizar a relação empı́rica recomendada pela
normativa brasileira, dada por
p
Eci = 5600 fc , (1.7)
com fc dado em MPa. Esta expressão é válida para concretos feitos com agre-
gados graúdos de granito e de classe C20 até C50. Mais detalhes podem ser
consultados na norma brasileira.
1.2 Aço
O comportamento mecânico do aço à compressão e a tração é semelhante. As-
sim, é suficiente estudar o comportamento à tração. A relação tensão-deformação
de diferentes tipos de aço é mostrada na Figura 1.10. Nesta figura, os aços do
tipo grade 40/60 são os aços com tensão de escoamento 400/600MPa. O aço
mais utilizado no concreto armado convencional possui tensão de escoamento de
500MPa. Note que os aços grade 40/60 possuem resposta mecânica semelhante,
com patamar de escoamento bastante definido. Estes aços possuem comporta-
mento dúctil, pois sustentam grandes deformações após o escoamento.
O modelo mais utilizado para modelar a resposta mecânica do aço para con-
CAPÍTULO 1. COMPORTAMENTO MECÂNICO DOS MATERIAIS 8
Flexão
12
CAPÍTULO 2. FLEXÃO 13
εc = yc tan θ. (2.2)
Já a deformação nas armaduras resulta
a)
b)
c)
εc3
y1 = yc − . (2.8)
tan θ
A força resultante é então dada por
CAPÍTULO 2. FLEXÃO 16
1
Fc = y1 bfc + (yc − y1 )bfc
2 (2.9)
1
= bfc (y1 + yc )
2
com
1 y1 1 yc − y1
xc = y1 bfc + (yc − y1 )bfc y1 +
Fc 2 2 3
2 2
(2.10)
1 y1 + y1 yc + yc
= .
3 y1 + yc
Para εc ≥ εcu (Caso c da Figura 2.3) a tensão na parte superior da seção
transversal será nula pois o material já terá se rompido. A posição y2 até onde
a tensão se anula pode ser determinada da condição
1
Fc = (y1 − y2 ) bfc + (yc − y1 )bfc
2 (2.12)
1
= bfc (y1 − 2y2 + yc )
2
com
1 y1 + y2 1 yc − y1
xc = (y1 − y2 ) bfc + (yc − y1 )bfc y1 +
Fc 2 2 3
2 2 2
(2.13)
1 y1 + y1 yc − 3y2 + yc
= .
3 y1 − 2y2 + yc
CAPÍTULO 2. FLEXÃO 17
εs = (d − yc ) tan θ, (2.23)
onde invertemos o sinal para trabalhar apenas com valores positivos. Já a
deformação de escoamento do aço é dada por
fy
εsy = , (2.24)
Es
onde Es = 200GPa é o módulo de elasticidade do aço. Adotando o modelo
bilinear para o aço, a tensão nas armaduras é então dada por
εs Es , εs ≤ εsy
σs = fy , εsy < εs ≤ εsu (2.25)
0, εs > εsu
Fs = σ s As . (2.26)
Diagrama Momento-Curvatura
A força resultante na seção transversal é dada por (ver Figura 2.4)
M (θ, yc ) = (yc − xc )Fc (θ, yc ) + (xt − yc )Ft (θ, yc ) + (d − yc )Fs (θ, yc ). (2.29)
a) b)
Nas células B19 a B34 são calculadas a força resultante na parte comprimida
de concreto Fc e a posição xc . Os valores de Fc e xc são calculados para os Casos
a, b e c separadamente. Na Célula B33 é verificado qual caso ocorre e então
definido o valor de Fc . O mesmo é feito na célula B34 para o valor de xc . O
CAPÍTULO 2. FLEXÃO 20
que as forças axiais resultantes são praticamente nulas. Isso quer dizer que o
procedimento encontrou os valores adequados para yc . Note que à medida que a
curvatura imposta na seção transversal aumenta, a linha neutra se desloca para
o topo da seção transversal (o valor de yc decresce). O diagrama momento-
curvatura da seção transversal pode ser construı́do plotando-se os valores de
momento e curvatura obtidos, conforme mostrado na Figura 2.10.
Estas duas hipóteses são geralmente adotadas quando fazemos o cálculo sim-
plificado do momento último da seção transversal. Note que desconsiderar a
resistência à tração do concreto é uma hipótese à favor da segurança, pois o
material de fato apresenta certa resistência à tração.
A distribuição uniforme de tensões mostrada na Figura 2.12 é chamado de
Stress Block e é largamente utilizada no mundo. Os parâmetros αc e λ podem
ser adotados como
αc = 0, 85 (2.30)
CAPÍTULO 2. FLEXÃO 27
λ = 0, 8 (2.31)
para concretos de classe até C50.
Fc = αc λbyc fc (2.32)
e é localizada na posição
λyc
xc = . (2.33)
2
Já a força na armadura resulta
Fs = fy As . (2.34)
Como a força resultante da parte tracionada do concreto é desconsiderada,
do equilı́brio de forças axiais temos Fc = Fs , de onde resulta
fy As
yc = . (2.35)
αc λbfc
Note que novamente é o equilı́brio de forças axiais que nos permite determinar a
posição da linha neutra. O momento fletor pode ser então calculado do momento
do binário dado por Fc e Fs , de onde resulta
Mu = zFs
(2.36)
= zfy As
z = d − xc
λyc (2.37)
=d−
2
CAPÍTULO 2. FLEXÃO 28
yc = 45, 22mm
z = 441, 9mm
Mu = 81, 53kN.m.
tan θ = 7, 74 × 10−5
εs = −0, 0321.
A deformação na armadura é superior à deformação de escoamento εsy = 0, 0025
e inferior à deformação última εsu = 0, 1, em módulo. Assim, a armadura de
fato escoa sem se romper quando o concreto atinge sua deformação última εcu
e as hipóteses do cálculo são válidas.
Considerações adicionais
Na prática, a imensa maioria dos casos de interesse se encaixa nas hipóteses de
escoamento da armadura com concreto atingindo a deformação última. Assim,
o procedimento descrito para estimativa do momento último será válido na
maioria dos casos de interesse. Como discutido anteriormente, caso isso não
ocorra pode ser porque a armadura não escoa ou porque o concreto não atinge
CAPÍTULO 2. FLEXÃO 30
2.2 Ductibilidade
Como discutido anteriormente, é muito importante que as estruturas de concreto
armado possuam colapso do tipo dúctil sempre que possı́vel. A importância
desta consideração é baseada principalmente em dois fatores.
Primeiro, estruturas com colapso do tipo frágil não apresentam grandes des-
locamentos antes do colapso. Assim, é difı́cil diagnosticar problemas estruturais
em elementos com ruptura frágil, pois as evidências que seriam decorrentes de
grandes deslocamentos não podem ser percebidas visualmente. Já o projeto de
elementos estruturais com colapso dúctil permite que eventuais problemas sejam
percebidos visualmente, por conta de deslocamentos excessivos ou fissuração ex-
cessiva. Isso só ocorre caso o elemento apresente grandes deslocamentos antes
do colapso, o que só é verdade para elementos estruturais com comportamento
dúctil.
Além disso, a utilização de elementos estruturas dúcteis confere mais segu-
rança para as estruturas. Isso por que elementos com comportamento dúctil,
que sofrem grandes deslocamentos antes de colapsar, são capazes de transferir
esforços para elementos adjacentes quando encontram-se próximos ao colapso.
Por este motivo é imprescindı́vel que o projetista garanta a ductibilidade da
estrutura sempre que possı́vel. No caso de elementos de concreto armado sujeitos
à flexão isso é possı́vel, como visto anteriormente. Assim, elementos sujeitos à
flexão, como vigas e lajes, devem sempre ser projetados para terem colapso
do tipo dúctil. O engenheiro pode se deparar com estruturas que possuam
elementos com ruptura frágil. Isso ocorre quando estruturas existentes, que
foram projetadas violando estes preceitos, devem ser analisadas.
Note que o Domı́nio 4 é aquele que deve ser evitado, pois corresponde a
um colapso do tipo frágil, dominado pelo colapso do concreto que atinge sua
deformação última. Assim, elementos sujeitos à flexão não devem ser projetados
para atingir o momento último na situação do Domı́nio 4.
Por muitos anos os engenheiros partiram deste preceito e projetaram os
elementos sujeitos à flexão no limite entre os domı́nio 3 e 4. Isso porque o projeto
no limite entre estes dois domı́nios faz com que área de armadura utilizada seja
reduzida, pois utiliza as propriedades mecânicas do material ao seu limite.
Porém, ao longo dos anos ficou evidente que projetar estruturas no limite
entre os domı́nios 3 e 4 não era seguro. Isso porque pequenas alterações nas pro-
priedades mecânicas dos materiais ou geométricas da seção podiam fazer com
que a estrutura passasse para o Domı́nio 4, que deve ser evitado. Em outras
palavras, grande parte dos elementos estruturais projetados no limite entre os
domı́nios 3 e 4 acabam for estar dentro do Domı́nio 4 ao longo de sua vida
útil, seja por variações das propriedades mecânicas dos materiais, imperfeições
CAPÍTULO 2. FLEXÃO 32
ξ = 0, 5833. (2.43)
Assim, seções transversais cuja posição relativa da linha neutra seja inferior a
este valor não estarão no Domı́nio 4. Note também que o limite é alterado
quando εcu é menor que 3,5/1000, o que ocorre para concretos de alto desem-
penho de classe superior a C50. Além disso, o limite também depende do tipo
de aço.
Como discutimos anteriormente, é importante garantir que o projeto seja
feito longe da fronteira entre os domı́nios 3 e 4. Assim, as normas de projeto
definem valores limites da posição da linha neutra e impõem a condição
ξ ≤ ξlim . (2.44)
CAPÍTULO 2. FLEXÃO 33
ξlim = 0, 45 (2.45)
para concretos de classe até C50. Já para concretos de classe entre C50 e C90
a norma prescreve
As ≤ As lim (2.47)
onde a área de aço limite é dada por
fc
As lim = ξlim αc λbd . (2.48)
fy
A equação acima demonstra que devemos respeitar uma quantidade máxima
de armadura As para garantir que o elemento possua comportamento dúctil. É
comum utilizarmos os termos:
CAPÍTULO 2. FLEXÃO 34
λξd
z =d−
2 (2.49)
2 − λξ
= d
2
onde substituı́mos yc = ξd. Assim, para ξlim temos
2 − λξlim
zlim = d. (2.50)
2
Substituindo zlim e As lim na Eq. (2.36) obtemos então o Momento Limite
Mlim que pode ser suportado por uma seção retangular simplesmente armada,
dado por
Mu = zlim fy As (2.54)
é à favor da segurança para seções que satisfaçam os critérios de ductibilidade.
Adotando os valores da NBR-6118 (2014) para concretos de classe até C50
podemos então estimar o momento último por
Mu = 0, 82dfy As , (2.55)
para As ≤ As lim , o que equivale a satisfazer a condição
Mu ≤ Mlim . (2.56)
Esta estimativa é muito útil para verificações simplificadas e pré-dimensionamento
de vigas e lajes.
CAPÍTULO 2. FLEXÃO 35
Mu = 69, 6kN.m.
Como Mu estimado é inferior ao momento limite Mlim a seção satisfaz o critério
de ductibilidade e a estimativa é válida.
Mu = 0, 9dfy As , (2.57)
que costuma prever bem o momento último de seções retangulares simplesmente
armadas que satisfaçam o critério de ductibilidade. Porém, vale lembrar que esta
expressão deve ser utilizada apenas como ferramenta de pré-dimensionamento e
estimativas preliminares, pois não é à favor da segurança em todas as situações.
Exemplo 2.7. Utilize a Eq. (2.55) para pré-dimensionar as armaduras de uma
seção retangular simplesmente armada com b = 150mm, h = 350mm, d =
310mm que deve suportar um Momento de Projeto igual a Md = 63kN.m.
Considere concreto convencional com resistência fc = 30MPa e aço CA50, com
fy = 500MPa.
Solução:
Inicialmente verificamos se o momento de projeto Md é inferior ao momento
limite, que resulta
As = 495, 7mm2 .
Podemos então pre-dimensionar a seção transversal com 4 barras de diâmetro
12,5mm, que fornecem uma área As = 491mm2 . A área pré-dimensionada é um
pouco menor do que aquela estimada. Porém, a área pré-dimensionada deve
ser suficiente, uma vez que a expressão utilizada para o pré-dimensionamento
possui uma grande margem à favor da segurança (da ordem de 10% a 15%,
como visto anteriormente). Além disso, o momento último será verificado de
maneira mais precisa no próximo exemplo.
Exemplo 2.8. Verifique se a seção pré-dimensionada no Exemplo 2.7 é capaz
de resistir o momento de projeto solicitante.
Solução:
Neste caso o momento último resulta
Mu = 68, 2kN.m.
Assim, concluı́mos que a seção pré-dimensionada de fato atende ao momento
solicitante de projeto.
0
εs Es , ε0s ≤ εsy
0
σs = fy , εsy < ε0s ≤ εsu (2.60)
0, ε0s > εsu
M (θ, yc ) = (yc −xc )Fc (θ, yc )+(yc −d0 )Fs0 (θ, yc )+(xt −yc )Ft (θ, yc )+(d−yc )Fs (θ, yc ).
(2.63)
CAPÍTULO 2. FLEXÃO 39
a)
b)
Fc = αc λbyc fc (2.64)
Fs = fy As . (2.65)
A tensão na armadura comprimida resulta
As fy − A0s σs0
yc = . (2.67)
αc λbfc
Comparando a Eq. (2.35) com a Eq. (2.67) vemos que a linha neutra será
deslocada para cima (yc terá seu valor reduzido) quando armadura comprimida
é adicionada, por conta do termo negativo que agora aparece no numerador. Ou
seja, a inclusão de armadura de compressão aumenta a ductibilidade da seção
transversal.
Porém, não podemos estimar yc diretamente, pois σs0 depende do campo
de deformações e, portanto, do próprio valor de yc . Assim, seria necessário
resolver uma equação não-linear para determinar o valor correto de yc , o que
não é eficiente do ponto de vista computacional. Por este motivo, é recomendada
a utilização do diagrama momento-curvatura para a determinação do momento
último de seções transversais retangulares com armadura dupla.
Exemplo 2.10. Considere uma seção retangular com armadura dupla com
b = 250mm, h = 600mm, d = 550mm, d0 = 50mm, As = 2.500mm2 e A0s =
820mm2 . É utilizado concreto convencional com resistência fc = 20MPa e aço
com fy = 500MPa. Estime o momento último da seção transversal.
Solução:
Considerando apenas a armadura tracionada temos
yc = 367, 6mm
Mu = 503, 7kN.m
CAPÍTULO 2. FLEXÃO 43
Mlim = 380kN.m
Assim, percebemos que a seção considerando apenas a armadura tracionada
está no Domı́nio 4.
Temos então
As lim = 1.683mm2
Mlim = 456kN.m
Assim, não é possı́vel prescrever armadura simples para atingirmos a resistência
de 650kN.m garantindo adequada ductibilidade. Prescrevemos então, inicial-
mente, armadura tracionada igual a
As lim = 2.020mm2 ,
CAPÍTULO 2. FLEXÃO 44
que sozinha nos garante uma resistência igual a Mlim = 456kN.m. O momento
adicional até 650kN.m será resistido pela armadura adicional ∆As . Adotando
Mu = Md e rearranjando a Eq. (2.70) obtemos
Md − Mlim
∆As = , (2.71)
(d − d0 )fy
que nos permite avaliar a armadura adicional para atingirmos o momento soli-
citante de projeto. Resulta então
∆As = 778mm2 .
Assim, para termos uma seção balanceada que tenha resistência de 650kN.m
devemos prescrever armadura tracionada
2.4 Seções T
Outro tipo de seção transversal muito importante na prática são as seções T,
como aquela mostrada na Figura 2.19. A parte mais larga no topo da seção é
conhecida como Mesa (flange em inglês). Já a parte mais estreita é chamada de
Alma (web em inglês). Aqui veremos apenas como estimar o momento último
destas seções.
Fc = αc λbf yc fc , (2.72)
de onde resulta
fy As
yc = . (2.73)
αc λbf fc
Caso parte do stress block esteja fora da mesa (λyc > hf ), como ocorre no
segundo caso da Figura 2.20, então devemos avaliar a contribuição individual
da alma e da mesa para a força resultante na parte comprimida de concreto.
A situação pode ser analisada dividindo a região comprimida como mostrado
1 Note estamos considerando se o stress block está dentro da mesa pois é o modelo utilizado
para avaliar a força resultante no concreto. Isso não quer dizer, necessariamente, que a linha
neutra encontra-se dentro da mesa.
CAPÍTULO 2. FLEXÃO 46
fy As − αc (bf − b)hf fc
yc = . (2.76)
αc λbfc
Uma vez calculada a posição da linha neutra o momento último resulta
λyc
z =d− (2.77)
2
z = 452, 8mm
Mu = 83, 54kN.m.
A verificação das hipóteses de cálculo é igual ao caso de seções retangulares.
Neste caso resulta
εcu
tan θ = = 0, 00019
yc
yc = 149, 15mm.
Como λyc = 119, 3mm > hf concluı́mos que o stress block não está dentro da
mesa. Assim, o valor correto é dado por
fy As − αc (bf − b)hf fc
yc = = 173, 3mm.
αc λbfc
Temos então
CAPÍTULO 2. FLEXÃO 48
z = 490, 7mm
Mu = 418, 0kN.m.
A verificação das hipóteses de cálculo é igual ao caso de seções retangulares.
Neste caso resulta
tan θ = 0, 0000202
εs = −0, 0078.
Verificamos então que para uma deformação igual a εcu no topo da seção a
armadura escoa sem se romper, o que valida as hipóteses de cálculo
2.4.2 Ductibilidade
A verificação da ductibilidade de seções T pode ser avaliando-se o momento
limite. Porém, novamente devemos verificar se o stress block está dentro ou fora
da mesa da seção transversal. Caso o stress block esteja dentro da mesa, então
o momento limite pode ser avaliado com as mesmas expressões utilizadas para
seções retangulares, apenas considerando b = bf . Para concretos de classe até
C50 resulta então, das Eqs.( 2.48) e (2.52),
fc
As lim = ξlim αc λbf d (2.79)
fy
yc fy As − αc (bf − b)hf fc
ξ= = .
d αc λbdfc
Assim, devemos satisfazer a condição
fy As − αc (bf − b)hf fc
≤ ξlim ,
αc λbdfc
de onde resulta
fc
As ≤ ξlim αc λbd + αc (bf − b)hf fc .
fy
Portanto, a área de aço limite é dada por
fc fc
As lim = ξlim αc λbd + αc (bf − b)hf , (2.81)
fy fy
Substituindo As lim e zlim (Eq. (2.50)) na Eq. (2.36) obtemos então
2 − λξlim
zlim = d. (2.82)
2
CAPÍTULO 2. FLEXÃO 49
para 796,7 kN.m). Isso demonstra que o momento limite pode ser aumentado
drasticamente quando a mesa é considerada, o que é benéfico do ponto de vista
projetual, pois possibilita que momentos mais elevados possam ser resistidos
sem a necessidade de inclusão de armadura dupla. Além disso, a consideração
da mesa nem sempre aumentará significativamente o momento último da seção,
como foi o caso desses dois exemplos. Isso ocorre quando o momento último é
muito distante do momento limite da seção.
Por estes motivos, alguns engenheiros verificam se o momento atuante em
uma dada seção transversal T é próximo ou não do momento limite. Caso o mo-
mento atuante seja distante do momento limite, então é uma boa aproximação a
favor da segurança dimensionar a seção transversal desconsiderando-se a mesa.
Isso garantirá um projeto à favor da segurança e muito próximo daquele que seria
obtido considerando-se a mesa. Porém, caso o momento atuante seja próximo
do momento limite, este procedimento irá resultar em um projeto excessiva-
mente conservador. De toda forma desconsiderar a aba da seção transversal
é uma aproximação razoável quando contas aproximadas são feitas, como em
verificações in loco e pré-dimensionamento.
Exemplo 2.16. Pré-dimensione as armaduras de uma seção T simplesmente
armada com b = 150mm, h = 350mm, bf = 500, hf = 100, d = 310mm que deve
suportar um Momento de Projeto igual a Md = 63kN.m. Considere concreto
convencional com resistência fc = 25MPa e aço CA50, com fy = 500MPa.
Verifique se o dimensionamento atende ao momento solicitante.
Solução:
Inicialmente não-sabemos se o stress block está dento da mesa ou não. Assim,
vamos adotar a hipótese de que o stress block está dentro da mesa e posterior-
mente verificar esta hipótese. Neste caso temos
yc = 20, 63.
Temos assim λyc ≤ hf e o stress block de fato encontra-se dentro da mesa,
validando a hipótese feita no inı́cio do pré-dimensionamento. O momento último
resulta então
Mu = 74, 08kN.m.
Assim, a seção dimensionada atende o momento solicitante. Como Mu é sig-
nificativamente superior ao momento solicitante, seria ainda possı́vel obter um
dimensionamento mais econômico reduzindo um pouco a área de aço, mas isso
não será feito aqui.
É interessante comparar o Exemplo 2.16 com o Exemplo 2.7, que não possui
mesa. Novamente note que a consideração da mesa aumentou drasticamente
CAPÍTULO 2. FLEXÃO 51
o momento limite (de 108,5 kN.m para 422 kN.m). O momento último com
As 491mm2 também aumentou, porém de maneira menos significativa (de 68,2
kN.m para 74,08 kN.m). Por este motivo o pré-dimensionamento de seções T é
frequentemente realizado desconsiderando a mesa da seção.
Atividade 2.14. Considere uma seção T simplesmente armada com b = 150mm,
h = 450mm, d = 420mm, hf = 120mm, bf = 500mm que deve suportar um
Momento de Projeto igual a Md = 110kN.m. Considere concreto convencio-
nal com resistência fc = 32MPa e aço com fy = 434MPa. Verifique o momento
limite, pré-dimensione a armadura necessária e verifique se ela é de fato sufi-
ciente. Caso necessário, altere as dimensões da seção transversal para garantir
ductibilidade da seção transversal.
Atividade 2.15. Considere uma seção T simplesmente armada com b = 250mm,
h = 750mm, d = 710mm, hf = 150mm, bf = 900mm que deve suportar um
Momento de Projeto igual a Md = 690kN.m. Considere concreto convencio-
nal com resistência fc = 36MPa e aço com fy = 434MPa. Verifique o momento
limite, pré-dimensione a armadura necessária e verifique se ela é de fato sufi-
ciente. Caso necessário, altere as dimensões da seção transversal para garantir
ductibilidade da seção transversal.
Outro caso de interesse que pode ser analisado com programas computacio-
nais é o caso da flexão oblı́qua. Esta situação ocorre quando a seção transversal
sofre flexão em relação ao eixos vertical e horizontal simultaneamente, como
mostrado na Figura 2.23. Neste caso não é trivial avaliar o momento último
diretamente, pois as forças resultantes levam à expressões complexas mesmo
para seções retangulares. Existem ainda algumas expressões aproximadas para
esta situação, mas que são de aplicação limitada e geralmente não permitem a
avaliação da ductibilidade da seção. Por este motivo, no caso da flexão oblı́qua é
recomendado que seja avaliado o diagrama momento-curvatura da seção trans-
versal.
Na flexão oblı́qua o momento resultante é inclinado em relação ao eixo ho-
rizontal. Assim, a seção pode ser analisada rotacionando-se a seção transversal
de maneira que o momento resultante esteja alinhado com o eixo horizontal. O
diagrama momento-curvatura pode ser então avaliado com programas compu-
tacionais, considerando a seção resultante rotacionada. Por fim, vale salientar
que a flexão oblı́qua não é comum em projetos usuais, uma vez que a maioria
dos elementos estruturais estará sujeito a esforços predominantes em uma ou
outra direção.
CAPÍTULO 2. FLEXÃO 53
Flexão Composta
εc εs1
=
yc yc − d1
εc εs2
= .
yc yc − d2
1 Aqui optamos por numerar as camadas de armaduras para que seja possı́vel generalizar
os resultados para um número qualquer de camadas posteriormente.
55
CAPÍTULO 3. FLEXÃO COMPOSTA 56
Logo
d1
εs1 = 1− εc
yc
d2
εs2 = 1− εc .
yc
Com as deformações, é então possı́vel determinar as tensões nas armaduras
através do modelo bilinear
Es εsi , |εsi | ≤ εsy
σsi = fy |εεsi
si |
, εsy < |εsi | ≤ εsu
0, |εsi | > εsu
Note que a relação εsi /|εsi | é utilizada apenas para definir o sinal da tensão caso
a deformação seja superior, em módulo, à tensão de escoamento. A força nas
armaduras resulta, finalmente,
σc = αc fc
distribuı́da ao longo de uma altura
yb = λyc ≤ h,
como mostrado na Figura 2.12. Note que yc representa a posição da linha
neutra, enquanto yb representa a posição do stress block. Além disso, a altura
do stress block yb não pode ser maior do que a altura da seção h. A força na
parte comprimida de concreto resulta então
Fc = byb αc fc .
Considerando deformações/tensões de compressão com valores positivos, do
equilı́brio de forças axiais temos então
N = Fc + Fs1 + Fs2 .
Do equilı́brio de momentos em relação ao centróide da seção temos
1 h h
M = (h − yb ) Fc + − d1 Fs1 + − d2 Fs2 .
2 2 2
Das equações acima, notamos que para uma dada profundidade da linha
neutra yc podemos determinar o momento e a força axial resultantes. Assim,
variando-se a posição da linha neutra podemos obter um diagrama que deter-
mina a resistência da seção em relação ao momento e força axial de projeto.
CAPÍTULO 3. FLEXÃO COMPOSTA 57
yb = λyc ≤ h (3.3)
Fc = byb αc fc (3.4)
di
εsi = 1 − εc (3.5)
yc
Es εsi , |εsi | ≤ εsy
σsi = fy |εεsi
si |
, εsy < |εsi | ≤ εsu , (3.6)
0, |εsi | > εsu
fy
εsy = , (3.8)
Es
a)
b)
deste ponto, aumentar a força axial aplicada reduz o momento resistente. Esse
comportamento ocorre porque até certo ponto o aumento da força axial reduz a
tensão nas armaduras tracionadas, permitindo uma maior resistência à flexão.
Porém, a partir de certo ponto o aumento da força axial causa compressão ex-
cessiva na seção transversal, reduzindo o momento resistente. Este formato do
diagrama é bastante caracterı́stico e ocorre para todos os tipos de seção trans-
versal.
ω = 0, 194
ν = 0, 356,
µ = 0, 152.
Do ábaco da Figura 3.8 notamos que o esforço adimensional ν = 0, 356,
µ = 0, 152 está dentro da envoltória para a taxa de armadura ω = 0, 2. Portanto,
a seção transversal é capaz de resistir aos esforços aplicados.
0,5
h
1,2
0,4
1,0
0,3
0,8
μ
CA-50
CAPÍTULO 3. FLEXÃO COMPOSTA
0,6 fck<50MPa
0,2 d1/h = 0,1
0,4
0,1 0,2
ν
63
0,6
0,5
h
0,4
1,2
1,0
0,3
μ
0,8 CA-50
CAPÍTULO 3. FLEXÃO COMPOSTA
fck<50MPa
0,2
0,6 d1/h = 0,1
0,4
0,1 0,2
ν
64
Capı́tulo 4
Força Cortante
65
CAPÍTULO 4. FORÇA CORTANTE 66
a = cot(θ)Z.
Assim, a força Fc atua em uma área igual a (ver Figura 4.5)
Ac = bw a sin(θ),
onde bw é a largura da alma da viga.
αv = 0, 86
4.1.2 Tirantes
Supondo armadura transversal (estribos) com inclinação de 90 graus (estribos
verticais), a força nos estribos resulta
Fs = V d .
Considere, inicialmente, que estribos com área Asw são colocados com espaçamento
igual ao espaçamento a entre as bielas. Neste caso a resistência do tirante resulta
0
Vsw = Asw fy .
Porém, na prática raramente o espaçamento entre os estribos será exatamente
igual ao espaçamento a. Assim, considerando que o espaçamento entre os estri-
bos seja igual a s, a resistência do tirante será
a
Vsw = Asw fy ,
s
que é uma ponderação da resistência considerando s 6= a. Note também que
esta expressão é igual à expressão anterior para s = a.
Adotando novamente a aproximação Z = 0, 9d concluı́mos que a força cor-
tante resistida pelos estribos é
Asw
Vsw = 0, 9 dfy cot(θ), (4.4)
s
onde Asw /s é a taxa de armadura transversal por unidade de comprimento.
Exemplo 4.2. Considere a seção do Exemplo 4.1. Suponha que sejam pres-
critos estribos de 2 ramos, espaçamento s = 15cm, bitola φ =6,3mm e fy =
522MPa. Determine a força cortante resistida pelos estribos para θ = 30, 45 e
60 graus.
Solução:
A área de uma barra de bitola φ =6,3mm é igual a 31mm2 . Assim, os
estribos de 2 ramos fornecem uma área
Asw = 62mm2 .
Temos então a taxa de armadura por unidade de comprimento
Asw 62
= = 0, 41mm.
s 150
Logo
Note que quanto menor o valor de θ maior é o valor de Vsw . Isso ocorre
porque cot(θ) → ∞ quando θ → 0. Ou seja, considerar uma inclinação θ menor
resulta em uma estimativa maior para a força resistida pelos estribos.
CAPÍTULO 4. FORÇA CORTANTE 70
Contribuição do concreto
Ao longo dos anos observou-se que a resistência dos tirantes é na realidade supe-
rior a Vsw . Isso porque a força Vsw foi obtida desconsiderando-se a contribuição
do concreto tracionado. Mesmo que esta resistência seja pequena, experimentos
indicaram que vigas de concreto armado sem estribos possuem uma resistência
ao cisalhamento bastante considerável.
A avaliação da resistência ao cisalhamento de vigas sem estribos é feita com
expressões semi-empı́ricas, ajustadas para reproduzir o comportamento obser-
vado em extensivos experimentos de laboratório. Na Figura 4.6 são mostrados
resultados de experimentos relacionando a resistência à força cortante com a
taxa de armadura longitudinal As /bw d em vigas sem estribos. Percebe-se que
a resistência ao cisalhamento aumenta quando a taxa armadura longitudinal
(aquela dimensionada para resistir ao momento fletor) aumenta.
Vc = 0, 6fct bw d, (4.5)
◦
desde que seja adotado θ = 45 .
O importante é você perceber que em todos os casos, incluindo a norma
europeia EUROCODE 2 (2004), a resistência à força cortante de vigas sem
estribos é determinada com base em expressões semi-empı́ricas. Além disso, esta
resistência depende principalmente da resistência do concreto e das dimensões
1 Note
√
que na Figura 4.6 temos Vc = 2 fc bw d pois neste caso fc é dado em psi.
CAPÍTULO 4. FORÇA CORTANTE 71
fct = 3, 2M P a
Vc = 139kN.
Assim, a resistência total dos tirantes é
Vc = 71kN
Vc = 71kN
Asw
VR3 = Vc + Vsw = 71 + 0, 9 dfy cot(θ)
s
A resistência à força cortante é dado pelo menor valor entre VR2 e VR3 . Para
θ < 15◦ notamos que VR2 é inferior a VR3 e portanto a resistência da seção
é dominada pela resistência das bielas comprimidas. Já para θ > 20◦ , vemos
que VR3 é inferior a VR2 e a resistência é dominada pela resistência dos tirantes.
Concluı́mos então que a resistência máxima é aproximadamente 300kN e decorre
de uma inclinação θ de aproximadamente 15 graus.
Concluı́mos então que o valor de θ que maximiza a resistência
das bielas comprimidas é diferente do valore de θ que maximiza a
resistência dos tirantes. Além disso, é possı́vel determinar para cada caso
qual seria o valor de θ que maximiza a resistência da seção transversal.
Atividade 4.1. Considere uma viga de seção retangular com h = 500mm, d =
450mm bw = 230mm, fc = 30MPa. Suponha que sejam prescritos estribos de 2
ramos, espaçamento s = 10cm, bitola φ =6,3mm e fy = 522MPa. Determine a
resistência máxima e a inclinação θ. Utilize a estimativa conservadora da norma
americana para Vc .
Atividade 4.2. Considere uma viga de seção retangular com h = 600mm, d =
550mm bw = 200mm, fc = 35MPa. Suponha que sejam prescritos estribos de 4
ramos, espaçamento s = 12cm, bitola φ =6,3mm e fy = 522MPa. Determine a
resistência máxima e a inclinação θ. Utilize a estimativa conservadora da norma
americana para Vc .
É muito importante salientar que experimentos indicam que o modelo de
Treliça de Morsch torna-se impreciso para valores de θ muito distantes de 45
graus. Isso ocorre porque a fissuração decorrente da força cortante geralmente se
forma em ângulos próximos a 45 graus. Isso reduz a força nas bielas comprimidas
para θ muito diferente de 45 graus, afetando a precisão do modelo.
Além disso, percebe-se que a resistência das bielas comprimidas é reduzida
quando θ se afasta de 45 graus. Assim, elementos projetados adotando-se valores
de θ muito distantes de 45 podem sofrer fissuração excessiva, comprometendo a
durabilidade da estrutura.
Por conta destas duas considerações, as normas de projeto prescrevem limites
para o ângulo θ a ser adotado durante o projeto. A norma EUROCODE 2
(2004), por exemplo, impõe os limites 1 ≤ cot(θ) ≤ 2, 5, o que equivale a limitar
θ entre aproximadamente 22 e 45 graus. Outras normas prescrevem inclinações
entre 35 e 65 graus.
A norma brasileira impõe os limites
θ = 45◦ , (4.8)
que corresponde o Modelo I da norma brasileira. Neste caso resulta
Vc = 0, 6fct bw d (4.11)
Asw
Vsw = 0, 9 dfy . (4.12)
s
Além de simplificar os cálculos, adotar θ = 45◦ contribui para que a re-
sistência das bielas comprimidas seja elevada e a fissuração na peça seja redu-
zida.
Vd ≤ VR2 (4.13)
Vd ≤ VR3 . (4.14)
Na prática, a força das bielas comprimidas é geralmente bastante elevada.
Por este motivo, verificamos inicialmente se Vd ≤ VR2 . Caso a condição seja
atendida, então as bielas comprimidas resistem à força cortante e procedemos
para o dimensionamento da armadura. Caso Vd > VR2 devemos redefinir as
dimensões da seção transversal.
Considerando que a resistência dos tirantes deve ser ao menos igual à força
cortante adotamos VR3 = Vd , a força a ser resistida pelas armaduras transversais
resulta
Vsw = Vd − Vc . (4.15)
Da Eq. (4.5) temos então
Asw Vd − Vc
= 1, 1 . (4.16)
s dfy
Exemplo 4.5. Considere uma viga de seção retangular com h = 450mm, d =
400mm bw = 150mm, fc = 30MPa. Dimensione os estribos para resistir a uma
força cortante Vd = 300kN, caso possı́vel. Considere fy = 522MPa.
Solução:
Adotando θ = 45◦ (Modelo I da norma brasileira) a resistência das bielas
comprimidas resulta
VR2 = 428kN.
Portanto, as bielas comprimidas suportam a força cortante e podemos determi-
nar a quantidade necessária de estribos.
Temos então
CAPÍTULO 4. FORÇA CORTANTE 75
Vc = 104kN
e a força a ser resistida pelos estribos é igual a
Vsw = Vd − Vc = 196kN.
A taxa de armadura por unidade de comprimento é então igual a
Asw Vd − Vc
= 1, 1 = 1, 03mm2 /mm = 10, 3cm2 /m. (4.17)
s dfy
Para atendermos a taxa de armadura 10, 3cm2 /m podemos utilizar estribos de
2 ramos com bitola φ = 8mm e espaçamento s = 9, 5cm, que resulta na taxa de
armadura 10, 58cm2 /m (ver tabelas com bitolas e espaçamentos de estribos de
2 ramos).
VR2 = 319kN.
Portanto, as bielas comprimidas não suportam a força cortante. Assim, é ne-
cessário alterar as dimensões da seção transversal. Para bw = 200mm resulta
VR2 = 425kN,
que é suficiente para garantir a segurança das bielas comprimidas. Assim, ado-
taremos bw = 200mm.
Temos então
Vc = 108kN
Asw
= 16, 1cm2 /m. (4.18)
s
Esta taxa de armadura é bastante elevada. Por este motivo, adotaremos estribos
de 4 ramos. A bitola e o espaçamento podem ser determinados da tabela para
estribos de 2 ramos, considerando que neste caso a taxa de armadura será o
dobro daquela da tabela. Assim, percebemos que estribos de 4 ramos com bitola
φ = 6, 3mm e espaçamento s = 7, 5cm providenciam uma taxa de armadura
Asw /s = 2×8, 31 = 16, 62cm2 /m, que é suficiente para a força cortante atuante.
CAPÍTULO 4. FORÇA CORTANTE 76
Caso a força cortante de projeto seja superior à resistência das bielas com-
primidas VR2 é necessário alterar as propriedades da seção transversal. Note
que VR2 pode ser aumentado alterando a resistência do concreto utilizado (fcr )
ou as dimensões da seção transversal (bw , d). Alterar a resistência do concreto
utilizado costuma ser uma medida pouco utilizada, pois não é eficiente utilizar
concretos de diferentes classes para os diversos elementos estruturais do projeto.
Assim, geralmente procede-se aumentando-se as dimensões da seção transversal.
Como a altura útil d afeta a altura da viga muitas vezes é impraticável alterar d
por motivos arquitetônicos. Assim, na maior parte dos casos opta-se por alterar
a espessura bw .
Atividade 4.3. Considere uma viga de seção retangular com h = 350mm,
d = 320mm bw = 150mm, fc = 22MPa. Dimensione os estribos para resistir
a uma força cortante Vd = 150kN. Altere as propriedades da seção transversal
caso necessário. Considere fy = 522MPa.
Por fim, outro tipo de armadura que é utilizado em alguns casos são as
barras dobradas inclinadas, como mostrado na Figura 4.11. As barras dobra-
das inclinadas funcionam de maneira semelhante aos estribos inclinados, mas
são compostas de barras de diâmetro maior e geralmente dispostas apenas em
pontos especı́ficos (ao contrário dos estribos, que são espalhados ao longo de
CAPÍTULO 4. FORÇA CORTANTE 78
Torção
79
CAPÍTULO 5. TORÇÃO 80
Por fim, vale salientar que o termo Torção de Compatibilidade está re-
lacionado com o fato de que nestes casos a torção ocorre por compatibilidade
de deformações, sem ser estritamente necessário para o equilı́brio estático.
como mostrado na Figura 5.7. Ou seja, a espessura equivalente não deve ser
inferior a 2C1 . Esta aproximação é recomenda pela norma brasileira e pela
norma europeia. Já a norma americana recomenda t = (3/4)(A/µ). Daqui
por diante iremos nos ater aos valores recomendados pela norma europeia, pois
o procedimento da norma europeia é mais apropriado para fins didáticos e o
procedimento adotado pelas demais normas é muito semelhante.
q = τ t. (5.2)
O fluxo de cisalhamento é a força resultante de cisalhamento que se desenvolve
ao longo da linha média da seção vazada (ver Figura 5.7).
Para uma seção retangular, o momento torçor total Td pode ser calculado
do equilı́brio de momentos em relação a um dos vértices da área Ae delimitada
pela linha média, de onde obtemos
CAPÍTULO 5. TORÇÃO 83
Td = 2qAe .
Apesar da equação acima ter sido obtida para uma seção retangular, pode-se
demonstrar que ela é válida para seções vazadas de qualquer formato. Temos
então
Td
q= . (5.4)
2Ae
Da Figura 5.8 notamos que a força Fc0 em uma biela comprimida de concreto
(barra diagonal da face lateral) satisfaz
qh
Fc0 = . (5.5)
sin θ
Esta é a força que deverá ser resistida por cada biela de concreto.
A força total a ser resistida pelas bielas diagonais é dada por1
Fc sin θ = qu,
onde u é o perı́metro da área Ae delimitada pela linha média, dado por (ver
Figura 5.7)
b = h cos θ.
Assim, a força resultante na biela é dada por
calculando a força resultante total, não apenas aquela resultante em uma das faces laterais.
CAPÍTULO 5. TORÇÃO 85
Td
σc = , (5.9)
Ae t sin 2θ
que nos permite calcular a tensão nas bielas comprimidas causada pelo momento
torçor.
A tensão σc deve ser inferior à resistência do concreto. Denotando a re-
sistência das bielas comprimidas por TR2 e adotando σc igual a resistência ao
cisalhamento fcr na expressão acima temos finalmente
5.3.2 Estribos
0
A força Fsw deverá ser resistida pelos estribos de cada face lateral. Temos então
0 h
Fsw = qh = Td .
2Ae
Da Figura 5.8 notamos que o espaçamento entre as barras transversais da
Treliça de Morsch é igual a h cot θ. Caso o espaçamento dos estribo seja igual
ao espaçamento das barras transversais da Treliça de Morsch a força resultante
nos estribos no momento do escoamento é dado por
0
Fsw = A0sw fy ,
onde A0sw é a área dos estribos de uma das faces laterais. Porém, como o
espaçamento s dos estribos é de forma geral diferente do espaçamento das barras
transversais da treliça, a força resultante nos estribos resulta
0 h cot θ
Fsw = A0sw fy ,
s
obtida da ponderação da força anterior pela relação entre o espaçamento real
dos estribos s e o espaçamento teórico das barras transversais h cot θ.
Temos assim
0 h h cot θ
Fsw = Td = A0sw fy ,
2Ae s
de onde resulta
CAPÍTULO 5. TORÇÃO 86
cot θ
Td = 2Ae A0sw fy .
s
Denotando a resistência dos estribos por TR3 temos então
A0sw
TR3 = 2Ae fy cot θ. (5.11)
s
É importante salientar que na expressão acima não é considerada a área
total dos ramos do estribos Asw , mas apenas a área de estribos na face lateral
da peça A0sw . Isso porque a força resultante foi calculada considerando apenas
uma face lateral. Porém, para estribos de 2 ramos temos
Asw
A0sw = , (5.12)
2
de onde resulta
Asw
TR3 = Ae fy cot θ (2 ramos). (5.13)
s
Fs = As fy
temos
u
Fs = Td cot θ = As fy ,
2Ae
de onde resulta
Ae
Td = 2 tan θAs fy .
u
Denotando a resistência das armaduras longitudinais à torção por TR4 temos
então
Ae
TR4 = 2 As fy tan θ, (5.14)
u
onde As é a área total de armaduras longitudinais.
Exemplo 5.1. Considere uma seção retangular com b = 200mm, h = 450mm,
C1 = 30mm, estribos fechados de 2 ramos com bitola φ = 6, 3mm e espaçamento
s = 80mm, quatro barras longitudinais de bitola φ = 12, 5mm dispostas nos
cantos da seção, fy = 522MPa, fc = 25MPa. Determine o momento torçor
máximo que a seção pode resistir. Considere θ igual a 30, 45 e 60 graus.
Solução:
Neste caso temos
Asw
= 0, 779mm2 /mm
s
CAPÍTULO 5. TORÇÃO 87
As = 491mm2
fcr = 13, 5M P a
A = 90, 000mm2
µ = 1, 300mm
90, 000
t= = 69, 2mm
1, 300
Como 69, 2mm > 2C1 adotamos t = 69, 2mm. Temos então
Ae = 49, 793mm2
u = 1, 023mm.
Para θ = 30◦ temos
A0sw
TR3 = 2Ae fy , (5.16)
s
Ae
TR4 = 2As f y . (5.17)
u
Considerando que o momento torçor de projeto seja Td , devemos então ga-
rantir que
Td ≤ TR2 , (5.18)
Td ≤ TR3 , (5.19)
Td ≤ TR4 , (5.20)
ou seja, devemos projetar a seção para que o momento atuante Td seja menor do
que a resistências das bielas comprimidas, dos estribos e das barras longitudinais
à torção.
De forma geral, verificamos inicialmente se Td ≤ TR2 . Caso isso não ocorra
devemos ajustar as dimensões da seção transversal para atender este requisito.
Caso as bielas comprimidas sejam capazes de resistir ao esforço, procedemos
então com o dimensionamento das armaduras
Para dimensionar as armaduras transversais adotamos a situação limite
TR3 = Td , de onde resulta
CAPÍTULO 5. TORÇÃO 89
A0sw Td
= . (5.21)
s 2Ae fy
Deve-se ficar atendo pois esta área A0sw é a armadura transversal necessária em
cada face da viga. Para estribos fechados de 2 ramos temos
Asw Td
= . (5.22)
s Ae fy
Para dimensionar as armaduras longitudinais adotamos a situação limite
TR4 = Td , de onde resulta
Td u
As = . (5.23)
2Ae fy
Exemplo 5.2. Considere uma seção retangular com b = 150mm, h = 350mm,
C1 = 40mm, fc = 30MPa, fy = 500MPa. Verifique as bielas comprimidas e
dimensione as armaduras para um momento torçor Td = 10kN.m. Considere
θ = 45◦ .
Solução:
Neste caso temos
fcr = 15, 8M P a
A = 52, 500mm2
µ = 1, 000mm.
Como 2C1 > A/µ temos
t = 2C1 = 80mm
Ae = 18, 900mm2
u = 680mm.
A resistência das bielas resulta
TR2 = 24kN.m,
que é suficiente para resistir ao esforço aplicado. Temos então
Asw
= 1, 06mm2 /mm = 10, 6cm2 /m
s
Figura 5.11: Interação da força cortante e momento torçor em vigas sem estribos
Fonte: Wight and MacGregor (2012)
Deve-se salientar que esta diferença entre as normas não têm grandes im-
plicações práticas, uma vez que as bielas comprimidas raramente são o fator
CAPÍTULO 5. TORÇÃO 91
VR2 = 331kN
Vc = 80, 8kN
Asw
= 0, 49mm2 /mm = 4, 9cm2 /m.
s
Para o momento torçor Td = 10kN.m temos, do exemplo 5.2,
TR2 = 24kN.m
Asw
= 1, 06mm2 /mm = 10, 6cm2 /m
s
93
CAPÍTULO 6. ANCORAGEM DAS ARMADURAS 94
Rb = τb φπlb ,
onde τb é a tensão de aderência desenvolvida na superfı́cie de contato entre a
barra e o concreto, φπ é o perı́metro da circunferência de uma barra de diâmetro
φ e lb o comprimento de ancoragem.
CAPÍTULO 6. ANCORAGEM DAS ARMADURAS 95
Rb = τb φπlb = As fy .
Como As = πφ2 /4 temos então
φ2
Rb = τb φπlb = πfy ,
4
de onde resulta o comprimento básico de ancoragem
φ fy
lb = ,
4 τb
sendo τb é a tensão de aderência desenvolvida entre o concreto e o aço.
Denotando como fb a tensão última de aderência (resistência de aderência)
temos então
φ fy
lb = . (6.1)
4 fb
A tensão de aderência fb pode ser adotada como (NBR-6118, 2014)
fb = η1 η2 η3 fct . (6.2)
expressões semelhantes são utilizadas por outras normas.
CAPÍTULO 6. ANCORAGEM DAS ARMADURAS 96
c ≥ φ. (6.3)
CAPÍTULO 6. ANCORAGEM DAS ARMADURAS 97
Fissuração em vigas
Neste capı́tulo veremos como estimar a abertura das fissuras em vigas de con-
creto armado. O procedimento pode ser estendido para a estimativa em lajes.
Veremos apenas o caso da fissuração causada pelo momento fletor. Os desenvol-
vimentos mostrados aqui são baseados naqueles descritos por de Araújo (2014)
e Häussler-Combe (2015).
103
CAPÍTULO 7. FISSURAÇÃO EM VIGAS 104
Caso a força aplicada no tirante seja aumentada uma nova fissura tenderá
a se formar no meio das duas fissuras já existentes. Isso porque a tensão no
concreto é máxima nesta posição (ver Figura 7.1). A formação desta nova
fissura irá anular a tensão no concreto nesta posição. A situação resultante é
como mostrado na Figura 7.2, onde cada nova fissura formada controla a tensão
máxima que ocorre no concreto.
Z lt
1
εcm = εc (x)dx (7.3)
lt 0
podemos escrever então
βt = 0, 4. (7.8)
Note que ∆σs é a queda de tensão na armadura ao longo do comprimento lt .
Já a tensão média é σsm é avaliada em função da tensão inicial na barra e da
queda de tensão, considerando ainda a aderência entre o concreto e o aço por
meio do coeficiente empı́rico βt .
Já a deformação média no concreto é dada por
σcm
εcm = , (7.9)
Ec
onde Ec é o módulo de elasticidade do concreto e σcm a tensão média no con-
creto. Do equilı́brio temos
Z lt
1
σcm = σc (x)dx
lt 0
Z lt
1 As As 1
= σs (0)lt − σs (x)dx
l t Ac Ac lt 0
As As
= σs (0) − σsm
Ac Ac
As
= (σs (0) − σsm )
Ac
Da Eq. (7.6) temos então
As
σcm = βt ∆σs . (7.11)
Ac
Definindo a taxa de armadura
As
ρs = , (7.12)
Ac
a abertura da fissura resulta, da Eq. (7.37),
1 1
w = 2lt (σs (0) − βt ∆σs ) − ρs βt ∆σs
Es Ec
lt Es
=2 σs (0) − βt ∆σs − ρs βt ∆σs
Es Ec
lt Es
=2 σs (0) − 1 + ρs βt ∆σs
Es Ec
∆σs As = lt τb φπ,
onde φ é o diâmetro da armadura e τb é a tensão média de aderência entre o
concreto e a armadura. Rearranjando a equação acima e substituindo As =
πφ2 /4 temos então
∆σs φ
lt = (7.15)
4τb
CAPÍTULO 7. FISSURAÇÃO EM VIGAS 107
∆σs As = fct Ac .
de onde resulta (considerando ρs = As /Ac )
fct
∆σs = . (7.17)
ρs
Esta é a variação de tensão na armadura necessária para que se forme uma nova
fissura.
Adotando τb igual à resistência última de aderência fb na Eq. (7.15) e
rearranjando temos
4fb lt
∆σs = .
φ
Esta é a varição de tensão que pode ser desenvolver ao longo do comprimento
de transferência lt considerando uma resistência de aderência fb .
Note que uma nova fissura pode se formar apenas quando a variação de
tensão que pode se desenvolver ao longo do comprimento lt superar a variação
necessária para a formação de uma nova fissura. Ou seja, só é possı́vel que uma
nova fissura se forme quando
4τb lt fct
≥ ,
φ ρs
CAPÍTULO 7. FISSURAÇÃO EM VIGAS 108
diâmetro da armadura φ;
tensão última de aderência fb ;
resistência do concreto à tração fct ;
taxa de armadura ρs = As /Ac ;
tensão inicial na armadura σs (0);
relação entre rigidez α = Es /Ec .
diâmetro da armadura φ;
σs (0) fct
= ,
1 + αρs ρs
de onde resulta
1 + αρs
σs (0) = fct .
ρs
Definindo o limite
1 + αρs
σsr = fct , (7.21)
ρs
o tirante estará então na situação não-estabilizada quando
σs (0) ≤ σsr .
Caso contrário estará na situação estabilizada.
Na situação não-estabilizada a deformação no concreto e na armadura ao
fim do comprimento de transferência lt devem ser iguais, como mostrado na
Figura 7.2a. Isto decorre da hipótese de perfeita aderência à uma distância
suficientemente grande da fissura. Temos então a condição
εc (lt ) = εs (lt ),
de onde resulta
1 As 1
(σs (0) − σs (lt )) = (σs (0) − ∆σs )
E c Ac Es
σs (0)
∆σs = . (7.22)
1 + αρs
Assim, a abertura da fissura na situação não-estabilizada pode ser estimada
substituindo a Eq. (7.22) na Eq. (7.16).
CAPÍTULO 7. FISSURAÇÃO EM VIGAS 110
Ac = bh = 37.500mm2
fct = 0, 3fc2/3 = 2, 9M P a
η1 η2 η3 = 2, 25
fb = η1 η2 η3 fct = 6, 52M P a
p
Eci = 5600 fc = 30672, 5M P a
As
ρs = = 0, 021
Ac
Es
α= = 8, 05
Ec
Note que utilizaremos o módulo de elasticidade secante Ecs para o concreto pois
este módulo é mais representativo do que o módulo inicial Eci .
O espaçamento máximo entre fissuras resulta
1 fct φ
sr,max = = 82, 9mm.
4 fb ρs
A tensão limite entre fissuração estabilizada e não-estabilizada é dada por
1 + αρs
σsr = fct = 158, 4M P a.
ρs
Assim, para σs (0) = 250MPa estamos na situação de Fissuração Estabili-
zada. Portanto, calculamos ∆σs com a Eq. (7.17), de onde resulta
fct
∆σs = = 135, 1M P a
ρs
Substituindo na Eq. (7.16) obtemos
w = 0, 147mm.
CAPÍTULO 7. FISSURAÇÃO EM VIGAS 111
Note que o valor correto para ∆σs é o menor entre os valores das Eq. (7.17)
e (7.22). Isso porque o valor da Eq. (7.22) será inferior ao da Eq. (7.17) na
situação não-estabilizada e vice-versa. Esta é uma forma alternativa de verificar
se a fissuração encontra-se na situação estabilizada ou não.
Atividade 7.1. Considere o caso do Exemplo 7.1. Avalie a abertura das fissuras
caso a tensão aplicada seja σs (0) = 120MPa. Discuta os resultados.
Atividade 7.2. Considere o caso do Exemplo 7.1. Avalie o espaçamento
máximo e a abertura das fissuras caso as 4 barras de bitola φ = 16mm se-
jam trocadas por 16 barras de bitola φ = 8mm (a área total de aço seja mantida
mas o diâmetro das barras seja reduzido). Discuta os resultados.
Atividade 7.3. Considere o caso do Exemplo 7.1. Avalie o espaçamento
máximo e a abertura das fissuras caso seja utilizado concreto com resistência
fc = 45MPa. Discuta os resultados.
Atividade 7.4. Considere o caso do Exemplo 7.1. Avalie o espaçamento
máximo e a abertura das fissuras caso a seção tenha dimensões b = 250mm,
h = 300mm. Discuta os resultados.
Atividade 7.5. Considere o caso do Exemplo 7.1. Faça uma figura da abertura
da fissura w em função da tensão σs (0) para valores entre 0MPa e 500MPa.
Discuta os resultados.
Estádio I
No Estádio I toda a seção transversal contribui com o equilı́brio. Assim, o
momento de inércia da seção transversal é aquele da seção bruta, dado por
bh3
Ic = . (7.25)
12
CAPÍTULO 7. FISSURAÇÃO EM VIGAS 113
Estádio II
No Estádio II devemos desconsiderar a contribuição do concreto tracionado para
o equilı́brio. Assim, o momento de inércia é avaliado conforme ilustrado na Fi-
gura 5.8, através de uma seção equivalente onde a região de concreto tracionada
é descartada. Aqui vamos desconsiderar a armadura na parte comprimida.
A1 = by, (7.26)
onde y é a posição da linha neutra. A área de aço é substituı́da por uma área
equivalente de concreto, posicionada na altura das armaduras, com valor
Es
A2 = As = αAs (7.27)
Ecs
A ponderação da área de aço pelo fator α amplifica a área de aço pelo fato deste
material ter maior módulo de elasticidade do que o concreto.
Considerando
As
ρ= , (7.28)
bh
e
d
δ= , (7.29)
h
do equilı́brio de momento em relação ao eixo da linha neutra temos
y
A1 = A2 (d − y),
2
de onde resulta
1 2
by − αρbh(δh − y) = 0
2
1 2
y − αρh(δh − y) = 0
2
1 2
y + αρhy − αρδh2 = 0.
2
A posição da linha neutra é raı́z da equação de segundo grau acima e resulta
CAPÍTULO 7. FISSURAÇÃO EM VIGAS 114
p
y= α2 ρ2 + 2αρδ − αρ h
k = αρ. (7.31)
Aplicando o Teorema dos eixos paralelos em relação à linha neutra, o mo-
mento de inércia no Estádio II resulta finalmente
by 3
III = + (d − y)2 A2
3 (7.32)
by 3
= + (d − y)2 αAs .
3
O mesmo procedimento pode ser adotado para seções T, levando em consi-
deração se a linha neutra encontra-se dentro ou fora da mesa. Quando a linha
neutra se encontrar dentro da mesa, o resultado é igual ao anterior porém ado-
tando b = bf . Além disso, o procedimento pode ser adaptado para vigas com
armadura comprimida. Porém, a armadura comprimida não altera significati-
vamente o resultado, pois na parte comprimida já é considerada a contribuição
do concreto, que é significativamente maior.
Exemplo 7.2. Considere a seção dimensionada no Exemplo 2.7. Avalie o
espaçamento máximo entre fissuras e a abertura das fissuras caso o momento
aplicado seja M = 55kN.m
Solução:
Iniciamos calculando os parâmetros
Ac = 52.500mm2
As = 491mm2
Eci = 30672, 5M P a
Ecs = 26071, 6M P a
fct = 2, 90M P a
fb = 6, 52M P a.
A tensão σs (0) deve ser avaliada considerando a seção no Estádio II. Devemos
então calcular III , de onde resulta
ρ = 0, 009
CAPÍTULO 7. FISSURAÇÃO EM VIGAS 115
α = 8, 05
δ = 0, 89
k = 0, 08
y = 104, 18mm
c=d−y (7.34)
c = 205, 82mm
σ = 50, 52M P a.
Porém, esta tensão é aquela calculada considerando uma área A2 = αAs , ampli-
ficada para levar em conta o fato de que o aço é mais rı́gido do que o concreto.
Assim, para obtermos a tensão real nas armaduras devemos ponderar o resulta
pelo fator α, de onde resulta
he = 2, 5(h − d) = 100mm.
Porém, o valor é superior ao limite (h − y)/3 = 81, 94mm. Portanto, adotamos
he = 81, 94mm.
Temos então
As
ρse = = 0, 04.
Ace
CAPÍTULO 7. FISSURAÇÃO EM VIGAS 116
w = 0, 122mm.
Atividade 7.6. Avalie a abertura das fissuras para a seção dimensionada na
Atividade 2.5 quando o momento fletor é igual a M = 200kN.m.
Atividade 7.7. Avalie a abertura das fissuras para a seção dimensionada na
Atividade 2.6 quando o momento fletor é igual a M = 130kN.m.
he = 100mm
w = 0, 189mm.
CAPÍTULO 7. FISSURAÇÃO EM VIGAS 117
Flechas em vigas
dM (θ)
EIt (θ) = ,
dθ
ou seja, como a taxa de variação pontual da curvatura em relação ao momento
aplicado. Graficamente identificamos a rigidez tangente como sendo a inclinação
do diagrama momento-curvatura em um dado ponto de interesse. Como a rigi-
dez EIt depende do valor da curvatura θ a análise estrutural adotando a rigidez
tangente torna-se não-linear.
O procedimento mais geral para avaliar flechas em vigas de concreto armado
é aplicar Análise Estrutural Não-Linear, que consiste em resolver o pro-
blema adotando a rigidez como função da curvatura (ou seja, adotando a relação
não-linear entre o momento e a curvatura). Esta abordagem permite uma
modelagem precisa do comportamento estrutural. Porém, a adoção das não-
linearidades dificulta a análise estrutural, pois não existem soluções analı́ticas
mesmo em casos simples. Além disso, caso sejam utilizados métodos compu-
tacionais, o problema resultante envolve a solução de um sistema de equações
não-lineares. Este é um procedimento complexo em comparação com a solução
dos sistemas lineares, decorrentes de uma análise estrutural linear.
Por estes motivos, a avaliação de flechas em vigas e lajes é geralmente feita
adotando-se um modelo linear equivalente. No caso de vigas de concreto armado
utilizamos como rigidez equivalente a Rigidez Secante, definida como
M (θ)
EIs (θ) = .
θ
A rigidez secante é a taxa de variação média entre a origem do diagrama
momento-curvatura e a curvatura de interesse θ. Além disso, a rigidez secante
120
CAPÍTULO 8. FLECHAS EM VIGAS 121
p
Eci = 5600 fc , (8.2)
onde fc é dado em MPA.
Além disso, o cálculo da rigidez à flexão deve levar em conta a fissuração da
seção transversal. Como visto anteriormente, a fissuração causa uma redução
do momento de inércia efetivo da seção transversal.
Para estimar o momento de inércia da seção transversal devemos primeira-
mente determinar o Momento de Fissuração, para saber se a seção encontra-
se no Estádio I ou II (não-fissurada ou fissurada). Diversas normas de projeto
estimam o momento de fissuração com a expressão
fct Ic
Mr = α , (8.3)
yt
onde yt é a distância do centro de gravidade da seção transversal até a fibra
mais tracionada e α é um fator de forma da seção transversal. Para seções
retangulares podemos adotar α = 1, 5.
Ic = 2, 08 × 109 mm4
yt = 250mm
fct = 2, 9M P a
Mr = 36, 2kN.m.
CAPÍTULO 8. FLECHAS EM VIGAS 122
y = 100, 8mm
M 60 × 106
EIs = = = 1, 05 × 1013 kN.mm2 .
θ 5, 7 × 10−6
Note que a estimativa analı́tica da rigidez efetiva da seção transversal é precisa
o suficiente para a maior parte dos casos de interesse prático.
fct = 2, 2M P a
Ic = 3, 38 × 108 mm4
y = 89, 4mm
Mr = 7, 5kN.m
γ = 0, 25
P L3
v= ,
48EI
CAPÍTULO 8. FLECHAS EM VIGAS 125
de onde resulta
v = 7, 4mm.
Na Figura 8.3 é mostrada a relação carga-deslocamento desta viga obtida
com software de Análise Estrutural Não-Linear. Note que para P = 40kN o
deslocamento estimado é semelhante àquele obtido com análise não-linear.
A0s
ρ0 = , (8.8)
bd
e ∆ξ é um fator que depende da duração do carregamento aplicado, dado por
Exemplo 8.4. Considere uma viga com taxa de armadura ρ = 0, 3/100 sujeita
ao seu peso próprio, ao peso próprio da construção (paredes) e a uma sobrecarga
de utilização. Os deslocamentos imediatos decorrentes de cada carregamento
são respectivamente 4mm, 7mm e 5mm. Considerando que o peso próprio da
construção atua a partir de 15 dias e que a sobrecarga de utilização atua a partir
de 5 meses, determine a flecha diferida no tempo após 70 meses.
Solução:
Neste caso temos
∆ξ = 2, 0 − 1, 12 = 0, 88 (sobrecarga de utilização),
αf i = 0, 77 (sobrecarga de utilização),
α = 8, 0. (8.13)
Os valores ρs = 0, 6/100 e α = 8, 0 são representativos do que ocorre na maior
parte dos casos usuais. Substituindo estes valores na Eq. (7.32) e utilizando os
valores de δ da Eq. (8.12) temos
0, 017bh3 , lajes
III =
0, 025bh3 , vigas
Estes valores podem ser aproximados por
0, 20Ic , lajes
III = (8.14)
0, 30Ic , vigas
Estas estimativas demonstram que o momento de inércia das seções transversais
fissuradas é significativamente inferior ao momento de inércia da seção bruta.
Isso ocorre principalmente para as lajes, uma vez que a relação d/h costuma ser
inferior nestes casos.
Em situações usuais, o momento atuante nas seções costuma ser da ordem
de 2 vezes o momento de fissuração Mr . Assim, podemos adotar a aproximação
CAPÍTULO 8. FLECHAS EM VIGAS 130
1
γ= ,
2
de onde resulta
αf = 2, 0
para todos os carregamentos da estrutura. A flecha assim estimada resulta
os deslocamentos à longo prazo são da ordem de 2,5 a 3,0 vezes o valor dos
deslocamentos imediatos. Esta informação é importante durante a concepção
estrutural e o pré-dimensionamento.
5wl4
v= .
384EI
Consideraremos aqui o momento de inércia
bh3
I = 0, 85Ic = 0, 85
.
12
Adotando b = 15cm e usando uma planilha eletrônica determinamos, por
tentativa e erro, que para uma altura h = 60cm resulta
w = 20, 7kN/m
CAPÍTULO 8. FLECHAS EM VIGAS 132
I = 0, 00230m4
v = 0, 0028m,
que é inferior ao deslocamento imediato admissı́vel. Assim, podemos adotar
inicialmente a seção transversal retangular de dimensões 15x60 cm. Isto nos
possibilita analisarmos a estrutura e procedermos com o dimensionamento de-
talhado da viga. Além disso, note que é necessário verificar a flecha novamente
ao final do processo de dimensionamento, pois os valores reais dos parâmetros
podem ser distintos daqueles adotados aqui.
Bibliografia
133