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Resenha 2 – Capítulo: “Capitalismo Sustentável” In: ELKINGTON, J.

Cannibals with
forks: the triple bottom line of the 21th century business: Gabriola Island, BC: New
Society Publisher, 2012.
Aluna: Cristina Lopes da Silva – PRODER Matrícula: 2021100585

“O canibalismo corporativo, embora não seja fácil de ser suportado e não seja uma
experiência agradável, vai se manter como uma parte intrínseca de qualquer economia
competitiva”.

Escrito em 1997, “Canibais com garfo e faca” é um marco no debate sobre


sustentabilidade no mundo corporativo, e responsável por introduzir o conceito triple
bottom line que em Português ficou conhecido como tripé da sustentabilidade, ou seja, a
leitura dos resultados da empresa a partir dos três pilares: prosperidade econômica,
qualidade ambienta e justiça social. Ou segundo a analogia de Elkington, os três dentes
do garfo que transformaria o canibalismo corporativo em capitalismo sustentável.

O segundo capítulo do livro de Elkington trata dos desafios enfrentados por empresas
que desejavam se manter perenes em um mundo em transformação onde o capitalismo
triunfara após a derrocada do comunismo e a as discussões sobre desenvolvimento
sustentável suscitadas pela Conferência do Meio Ambiente Humano, realizada em 1972
pela Organização das Nações Unidas, fomentam uma revolução ambiental que na
década seguinte ganharia proporções inéditas impactando o mundo corporativo ao
descortinar o poder predatório das indústrias e chamando atenção para a importância da
conservação ambiental, também para mercados e indústrias. Em outras palavras,
tratava-se de uma nova cultura empresarial que surgia para adaptação aos novos tempos.
Nas palavras de Robert Shapiro, CEO da Monsanto: “Estamos vendo uma das grandes
descontinuidades da história econômica e social, que criam oportunidades incríveis. Em
momentos como esse tudo está para ser alcançado”. A questão era, como e por quem.
Que tipos de atividades financeiras, industriais seriam necessárias e promovidas no
mundo sustentável.

Retomando a importância do desenvolvimento sustentável como caminho para a


solução de um leque amplo de problemas sejam ambientais ou sociais, que geram
impactos econômicos positivos, o autor conecta diretamente essa ambiência positiva,
que inclui pessoas e meio ambiente, com a necessidade que os negócios têm de
mercados estáveis. O ajuste aos três pilares tornaria uma empresa não só possível, mas
competitiva no século XXI, entre outros fatores ao se aproximar das diversas partes
interessadas do negócio.
No entanto, essa convergência entre a sustentabilidade e o capitalismo não é simples,
especialmente no cenário que se desenhava onde os governos se enfraquecem, as
corporações internacionais ganham mais poder e a globalização se expandia, levando a
todas as nações industrializadas a instabilidade gerada pela autofagia capitalista. A saída
apontada é, novamente a incorporação dos elementos chave da sustentabilidade nos
negócios como ilustra com o caso do setor de seguradoras que passou a investir na
moldagem do clima a fim de reduzir pedidos de indenização.

Outros atores também têm importância no cenário como governos, administradores,


líderes de empresas. Entre os primeiros, apesar dos discursos voltados ao meio
ambiente, poucos de fato tem uma atuação contundente, como o secretário de estado dos
Estados Unidos, Warren Christopher da primeira administração Clinton, que acionou o
Departamento de Estado para produzir um relatório sobre desafios ambientais globais,
que por sua vez gerou um relatório sobre direitos humanos. Embaixadas estratégicas,
nessa gestão, criaram centros ambientais para levantar um perfil dos recursos naturais e
da agenda de sustentabilidade. A sensibilidade que levou o secretário a fomentar
mudanças que contribuíram para a legitimação da sustentabilidade na agenda política do
século XXI foi construída a partir de experiências com problemas políticos que geraram
impactos ambientais desastrosos como Chernobyl, Haiti e Ruanda.
Os consultores, de forma geral, dizem muito pouco, ou falam uma coisa e aplicam outra.
Poucos como Michael Porter, dão atenção à questão do meio ambiente ou da
sustentabilidade. Os novos conceitos que surgiram na época, mesmo que incipientes, de
alguma forma dialogavam com os três pilares e compunham os relatórios das
consultorias amplamente consumidas pelas empresas informando seus administradores
sobre a nova agenda. Já os líderes de grandes empresas como a Microsoft e a Intel,
vistas como defensoras do meio ambiente, se comparadas a outras indústrias também
apresentaram deslizes como no caso da Dreamwork.

O que o autor nos coloca é que a sustentabilidade ainda está longe de ser alcançada uma
vez que o campo como um todo precisa mudar e não só uma empresa ou uma indústria.
Segundo Paul Hawken, “para se aproximar de uma sociedade sustentável, precisamos
descrever um sistema de comércio e de produção no qual cada envolvido e cada ato seja
inerentemente sustentável e renovável.” Ou seja, o desafio é estrutural e demanda uma
mudança de cultura que desafia o capitalismo a novamente se reinventar, porém em
outra direção diferente da guiada exclusivamente pela prosperidade econômica.

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