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Parasitologia
Veterinária

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R ESPEI TE o AUTOR
NÃO FAC A CóP IA
.abpdea.org.b
Parasito lo gia
Veterinária
Segunda Edição

G. M. U,rquhart
J. Armour
J. L. Duncan
A. M. Dunn
E W. Jennings
The Faculty of Veterinary Medicine
The University of Glasgow
Scotland

Revisores Técnicos

Maria Cecília Reale Vieira Bressan


Marcelo de Campos Pereira
Professores Doutores do Departamento
de Parasitologi a do Instituto de
Ciências 8iomédicas da Uni versidade
de São Paulo

Tradutora

Ana Maria Nogueira Pinto Quintanilha


Méd ica Veterinária

GUANABARA~KOOGAN
NOTA DA EDITORA: A área da saúde é um campo em constante mudança. As normas de
segurança padronizadas precisam ser obedecidas; contudo, à medida que as novas pesquisas
ampliam nossos conhecimentos, tomam-se necessárias e adequadas modificações terapêuti-
cas e medicamentosas. O ~ autores desta obra referiram-se às denominações químicas dos
medicamentos mencionados e não aos nomes comerciais. E evitaram estabelecer doses; neste
sentido, os leitores devem prestar atenção às infonnações forn ecidas pelos fabri cantes, a fim
de se certificare m de que as doses preconizadas ou as contra-ind icações não so freram modi-
ficações. Isso é importante, sobretudo em relação a substâncias novas ou prescritas com pouca
freq üência. Os autores e a editora não podem ser responsabilizados pelo uso impróprio ou
pela aplicação incorreta do produto apresentado nesta ohra .

No interesse de difusão da cultura e do conheci mento, os autores e os editores envidaram o


máximo esforço para localizar os detentores dos direitos autorais de qualquer mater.ial
utilizado, dispondo-se a poss íveis acertos posteriores caso, inadvertidamente, a identificação
de algum deles tenha sido omitida.

Título do original em ing lês


Veterinary Para.sitology

Second edition © 1996 by


Blackwell Science Ltd

"Thi s edition is publ ishcd by arrangement


with Blackwe ll Science Limiled, Oxford"

Direitos exclusivos para a língua portuguesa


Copyright © J998 by
EDITORA GUANABARA KOOGAN S.A.
Travessa do Ouvidor, 11
Rio de Janeiro, RJ - CEP 20040-040
TeL: 21 -222 J-9621
Fax: 2J - 2221 -3202
www .editoraguanabara.com.br

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ou reprodução deste volume, no todo ou em parte,
sob quaisquer formas ou por quaisquer meios
(eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia,
distribuição na Web ou outros),
sem permi ssão expressa da Editora.
CONTEÚDO

HELMINTOLOGIA VETERINÁRIA
Família CALLIPHORlDAE, 138
Filo ) Família SARCOPHAGlDAE, 140
NEMATELMINTOS, 3
Classe FamI1ia OESTRIDAE, 140
NEMATODA,3
Superfarrulia Família HIPPOBOSClDAE, 146
TRICHOSTRONGYLOlDEA, 9
Superfamília Ordem PHTHIRAPTERA, 147
STRONGYLOlDEA, 37
Superfanúlia Subordem ANOPLURA , 147
METASTRONGYLOIDEA,50
Superfarrulia Subordem MALLOPHAGA, 147
RHABDITOlDEA, 57
Superfarrulia Ordem SIPHONAPTERA, 153
ASCARlDOlDEA, 59
Superfamília Classe ARACHNlDA, 157
OXYUROIDEA, 68
Superfanúlia "' Ordem ACARINA, 157
SPfRUROIDEA, 69
Superfamília Família IXODIDAE, 158
FILARIOlDEA,75
Superfamília Família ARGASlDAE, 164
TRICHUROlDEA, 82
Superfamília Fanúlia SARCOPTlDAE, 166
DIOCTOPHYMATOlDEA , 86
Filo Família DEMODIClDAE, 169
ACANTHOCEPHALA,87
Filo Família LAMINOSIOPTlDAE, 17l
PLATYHELMINTHES,88
" Classe Família PSOROPTlDAE, 171
TREMATODA, 88
Subclasse DIGENEA,88
Família CHEYLETlDAE, 175
6' Pamília __ Família
FASCIOLIDAE, 89 DERMANYSSlDAE, 177
Família Classe PENT ASTOMIDA, 178
DICROCOELIlDAE, 98
Família PARAMPI-llSTOMATIDAE, 100
Farrulia TROGLOTREMATIDAE, 101 PROTOZOOLOGIA VETERINÁRIA
Farrulia OPISTHORCHIIDAE, 10 I
Fanúlia SCHISTOSOMA TIDAE, 10 I Filo õ> PROTOZOA, 183
Fanúlia DIPLôSTOMA TIDAE, 104 Subfilo SARCOMASTIGOPHORA, 184
~ Classe CESTODA, 104 Classe SARCODINA, 184
Ordem CYCLOPHYLLIDEA, 104 Classe ~ MASTIGOPHORA, @
{" Família TAENIIDAE, 106 Subfilo ~ SPOROZOA, ~
". Família ANOPLOCEPHALIDAE, 112 Classe ;;> COCCIDIA, 196
~ Família DILEPlDlDAE, 115 ~ ília ( EIMERIIDAE, 196)
c( Família DA v AINEIDAE, 117 Família SARCOCYSTlDAE, 204
ti Família HYMENOLEPlDIDAE, 117 Classe PIROPLASMIDIA, 210
Faml1ia MESOCESTOIDlDAE, I 18 Classe HAEMOSPORlDIA, 217
Fmm1ia THYSANOSOMlDAE, 118 Subfilo CILIOPHORA, 217
Ordem PSEUDOPHYLLIDEA, 118 Subfilo MrcROSPoRA, 217
Ordem RICKETTSIALES, 218
ENTOMOLOGIA VETERINÁRIA
Filo
TÓPICOS DE REVISÃO
ARTHROPODA, 123
Classe INSECTA, 124-
Ordem Epidemiologia de Doenças Parasitárias, 223
DIPTERA, 125
Subordem Resistência a Doenças Parasitárias, 229
NEMATOCERA, 125 Anti-helmfnticos, 233
Família CERA TOPOGONIDAE, 126
Família Ectoparasiticidas (lnseticidas/Acaricidas), 236
srMuLIIDAE, 127
Fanúlia Diagnóstico Laboratorial de Parasitismo, 239
PSYCHODlDAE, 128
Fanúlia CULIClDAE, 129
. Subordem BRACHYCERA, 131
RELAÇÕES HOSPEDEIRO/PARASITA, 249
7Família TABANlDAE, 131
i'-rSubordem Fontes de informações adicionais, 261
CYCLORRHAPHA, 133
Família MUSClDAE, 133 .,
Índice Alfabético, 262
PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDiÇÃO

L'-.e livro é destinado a estudantes de para~itologia veterinária, fabricantes. Entretanto, nas ocasiões em que se recomenda uma
:terinários em exercício e a todos aqueles que necessitem de droga em dose incomum, alertamos para isso no texto.
. . ormações sobre algum aspecto de doença parasitária. Nos capítulos finais do livro (nos Tópicos de Revisão); tenta-
PIanejado a princípio como uma versão modestamente am- mos rever cinco aspectos da parasitologia veterinária: epidemio-
ç~ das anotações impressas distribuídas aos nossos alunos do logia. imunidade, anti-helmínticos. ectoparasiticidas e diagnós-
~ ....eiro e quarto anos do curso, o texto, talvez inadvertidamen- tico laboratorial. Acreditamos que esta abordagem mais ampla
. expandiu-se. Isso em razão de três fatores: primeiro, a cons- seja útiJ aos estudantes e, e m especial, àqueles desestimulados
~o gradativa das deficiências em nossas anotações; segun- diante das muitas complexidades do assunto.
. a necessidade da inclusão de algu ns comentários feitos no[- Não existem referências, no texto, além daquelas inseridas no
m:llmen te durante as preleções; e, finalmente, por sugestão dos final do capítulo sobre diagnóstico. Isso foi decidido co m certo
editores, a inclusão de certos aspectos das infecções parasitárias pesar e muito alívio, porque, caso contrário, significaria a inclu-
"i não são discutidos em detalhes em nosso cu rso. são de centenas de referências num li vro basicamente destinado
Talvez seja melhor repetir que o livro se destina sobretudo a estudantes. Esperamos qu e os nossos colegas de todas as par-
~ueles diretamente e nvol vidos com diagnósti co, tratamento e tes do mundo reconheçam os resultados de seus trabalhos no texto
.:ooO"ole das doenças parasitárias dos animais domésticos. As e aceitem tal fato como ex plicação e elogio.
mais importantes dessas doenças, portanto, foram di scutidas com Gostaríamos, entretanto, de reconh ecer nossa dívida para com
3.lguns deta lhes; as menos importantes, descritas resumidamen- os autores de diversos livros de infonnações sobre parasitologia
~: e as incomuns, omitidas ou ape nas me ncionadas de modo veterinári a, cujos trabalhos consultamos com freqüência. Dentre
. reve. Além disso, como os detalhes de classificação tê m valor estes se incluem Medical and Veterinary Protozoology, de Adam,
limi tado para o veterinário, deliberadamente os mantivemos ao Paul e Zaman; Veterinaermedizinische Parasitalagie, de Bach e
mínimo necessário para indicar as relações entre as vári as espé- Supperer; Veterinary Helminthology, de Dunn; Les Maladies
ies. Por idêntica razão, os detalhes taxonômicos são apresenta- Vennineuses des Animaux Domestiques, de Euzéby; Parasitology
dos apenas em nível genérico e, ocasionalmente, para determi- for Veterinarians, de Georgi; Veterinary Helminthalogy, de
nados parasitas, e m nível de espécie. Incursionamo-nos também, Reinecke; A Cuide to Medical En tomology, de Service; e
ligeiramente, em algumas outras áreas, tais como, por exemplo, Helminths, Arthropods and Protozoa of DomesticatedAnimals, de
na identificação de espécies de carrapatos tropi cais e no signifi- Soulsby.
cado especial e epidemiológico de al gu ns parasitas de importân- Qualquer estudante interessado em maiores informações so-
cia regional. Nesses casos, achamos que os esclarecimentos se- bre tópicos específicos deve consul tar essas obras, ou, se prefe-
rão mais amplos se dados por um especialista conhecedor da im- rir, solicitar a seu orientador uma revisão adequada.
portância de espécies particulares na região considerada. O fastio associado à revisão repetida de provas pode. ocasio-
Em todo o texto, referimo-nos geralmente a drogas por suas nalmente (poucas vezes, esperamos), ter levado a alguns desli-
denominações químicas e não pelos nomes comerciais, devido à zes no texto. A notificação desses seria bem acolhida pelos au-
profusão dos últimos no mundo inteiro. Além disso, como as for- tores. Finalmente, esperamos que os esforços de cada um de nós
mulações costumam ser di fe rentes, evitamos estabelecer doses ; neste empreendimento conjunto venham a ser recompensados se
neste sentido, devem ser consultadas as bulas fornecidas pelos ti vere m algum valor para os leitores.
AGRADECIMENTOS DA PRIMEIRA EDiÇÃO

Gostaríamos de expressar nossa gratidão às seguintes pessoas las (Prancha XIla); Dra. Elaine Rose, Houghton Poultry Research
e organizações, que nos auxiliaram na elaboração deste li vro. Station, Huntingdon, Inglaterra (Figs. 160, 163b e 164a, b); Prof.
Primeiramente, aos Drs. R. Ashford e W. Beesley, de Liver- L Selman, Glasgow (prancha XII); Dr. D. Taylor, Glasgow (pran-
pool; Dr. J. Bogan, Glasgow; Dr. W. Campbell , Rahway, EUA; cha XIVc); Dr. M. Taylor, Londres (Fig. 85); Dr. S. Taylor, Belfast
Dr. R. Dalgleish, Brisbane; Dr. L. Joyner, Weybridge, Inglater- (prancha lIa); Dr. H. Thompson, Glasgow (Fig. 92 e Pranchas IVb,
ra; Dr. T. Miller, Flórida; Dr. M. Murray, Nairobi; Dr. R. Purnell, c e Vld); Dr. R. Titchener, Ayr, Escócia (Fig. 11 3b e Prancha
Sandwi ch, Inglaterra; Dr. S. M. Taylor, Belfas t; Professor K. VIIIa); Dr. A. Waddell, Brisbane, AustráJia(Fig. 66e Prancha IVe);
Vickerrnan, Glasgow. Cada um deles leu as seções do texto em Wellcome Research Laboratories, Berkharnsted, Inglaterra (pran-
que são especialistas. tecendo comentários peninentes. Quaisquer cha VI1Ic); Dr. A. Wright, Bristol (pranchas VIb, XIb, Xlld, 1).
erros nessas áreas, entretanto, são de exclusiva responsabilidade Neste contexto, também somos extremamente gratos à Srta.
dos autores. E. Urquhart, Wrexharn, País de Gales, que gentilmente prepa-
Em segundo lugar, às seguintes pessoas e companhias que gen- rou muitos de nossos desenhos gráficos. .
tilmente nos pennitiram usar suas fotografias ou material como Em terceiro lugar, às companhias farmacêuticas de Crown
ilustrações ou pranchas coloridas: Chemical, Kent, Inglaterra; Hoechsl do Reino Unido, Bucks;
Dr. E. AlIonby, Nairobi (Prancha Id, e, 1); Dr. K. Angus, Edim- Merck Sharp & Dohme, Herts; Pfizer, Kent; Schering, Nova
burgo (Fig. 167); Dr. J. Arbuckle, Guildford, Inglaterra (Fig. 61); Jersey; Syntex Agribusiness, Califórnia. Sua generosidade per-
D r. E. Batte, Carolina do Norte, EUA (Prancha IIII); Dr. l. mitiu-nos apresentar muitas das fotografias em cores, aumentan-
Carmichael, Johanesburgo, Áfri ca do Sul (Fig. 142); Dr. L. Cra- do assim seu valor.
mer, São Pau lo, Brasil (Fig. 126b); Crown Copyright, Reino Finalmente, aos membros da Faculdade de Medicina Veteri-
Unido (Prancha XIVb); Dr. J. Dunsmore, Murdoch, Austrália nária de Glasgow, cuja cooperação foi imprescindível para a ela-
Ocidental (Prancha TVd); Prof. J. Eckert, Zu riqu e (Fig. 96) ; boração deste livro. Gostaríamos, em especial, de agradecer a:
Glaxovet, Harefield, Inglaterra (Prancha III); Dr. l. Herbert, Kenneth Bairden, nosso técnico-chefe, que preparou grande parte
Bangor, País de Gales (Fig. 172); Dr. A. Heydom, Berlim Oci- do material para fotografia, quase sempre em cima da hora;
dental (Figs. 170 e 171); Prof. F. Hiiming, Berna (Fig. 82 e Pran- Archie Finnie e Allan May, da Photographi c Unit, os quais,
cha Ve); Dr. B. lovanitti, Balcarce, Argentina (Figs. 22 e 23); Dr. prestimosamente, fizeram o trabalho extra de fotografar muitos
D. Jacobs, Londres (Fig. 38); Drs. D. Kelly e A. Longstaffe, Bris- espécimes; nossas duas secretárias de departamenw, Elizabeth
tol (Figs. 156 e 157); o falecido Dr. T. Lauder, Glasgow (Fig. 65 e Millar e Julie Nybo, sem cuja perícia e atenção a detalhes certa-
Pranchas XIc, e, Xllb); Drs. B . Lindemann e J. McCall, Geórgia, mente este livro não teria sido escrito.
EUA (Fig. 67); Dr. N. McEwan, Glasgow (Pranchas XId eXIle); G. M. Urquhart
Dr. G. Mitchell, Ayr, Escócia (Prancha VIe); Prof. M. Murray, J. Armaur
Glasgow (Figs. 68, 84 e 152); Dr. A. Nash, Glasgow (Fig. 138b e J. L. Duncan
Prancha Xllc); Dra. Julia Nicholls, Adelaide, Austrália (Figs. 6 e A. M. Dunn
14c, d); Dr. R. Pumell, Sandwich, Inglaterra (Fig. 173 e Prancha F. W. Jennings
VIIId, e, 1); Prof. H. Pirie, Glasgow (Fig. 40); Dr. J. Reid, Bruxe- setembro, 1985

cc
PREFÁCIO E AGRADECIMENTOS DA SEGUNDA EDIÇÃO

A primeira edi ção deste liv ro foi publicada em 1987; agora, os que estão familiarizados há tempos com o e mprego de determi-
autores conside raram necessária uma seg unda edição por diver- nados termos para doenças parasitárias animais, nosso objetivo
sos motivos. foi o de tomar mais clara a comunicação científica pelo uso ge-
Em prime iro lugar, o uso di ssemin ado de determinadas dro- rai de uma terminologia uniforme. A longo prazo, esta medida
gas como as avermecti nas e milbenti ci nas, cujo efeito é signifi- deverá ser particularmente vantajosa para facilitar a recuperação
cati vo na profilaxia e no controle de anti-he lmínticos. Na época de dados computadori zados relacionados à parasitologia veteri -
da primeira edição. apenas uma, a ivermectina, era comercializa- nária.
da, ao passo que, no momento, há vários produtos suplementa- No fi nal do li vro, fo rnecemos uma lista de várias publicações
dos por um a série de dispositivos quimioprofiláticos de longa certamente úteis para que m desejar in tei rar-se de um ass unto
ação. específico co m mais detalhes. Encontram-se elas já disponíveis
Em segundo lugar, em muitos países a produção de vários dos na maioria das bibliotecas de universidades e institutos de pes-
anti-he lmínticos e inseticidas mais antigos foi amplamente de- quisas.
sati vada ou é muito difícil encontrá-los. Desejamos agradecer aos Drs. Ken Bairden, Quintin McKellar
Em terceiro lugar, diversas enfennidades parasitárias acham- e Jacqueline McKeand, pelos valiosos comentári os sobre o tex-
se descritas atua lmente, sobre as quais pouco se sabia por oca- to; também a Mr. Stu art Brown, que ajudou no preparo de algu-
sião da primeira edição. As e nfermidades são so bretudo a mas das novas ilustrações, e a Una B. Shanks, que preparou to-
neosporose e a doença de Lyme. Foi inc1uída também uma bre- dos os novos desenhos gráficos.
ve descrição do ácaro nasal de cães, Pneumonyssus caninum, for- Devemos mencionar, com grande pesar, a morte de nosso co-
nec ida gentilmente pelo Prof. Arvid Ugg la de The National autor, Dr. Angus M. Dunn, falecido em 199 1, antes do início desta
Veterinary Institute and Swedish Univers ity of Agri cultural revisão. Temos certeza de que ele teria aprovado, sem restrições,
Sciences, Uppsala, Suécia. todas as alterações a que procedemos.
Em quarto lugar, tivemos a oportunidade de reescrever a lgu- No início desta revisão, pretend íamos incluir novas seções
mas partes do texto, as quai s, depois de muita ponderação, esta- sobre doenças parasitárias de peixes e de animais de laboratório.
vam menos claras do que esperávamos. Em muitos casos, isso Entretanto uma posterior revisão da literatura atualmente viável
foi atenuado por novos diagramas ou fotografias. sobre estes do is temas demonstrou que ambos foram adequada-
Outra mudança nesta edição foi a adoção da nomenclatura pa- mente abordados nas publicações já existentes, parecendo-nos
dronizada de doenças parasitárias animais (SNOAP AD) proposta mais razoável incluir os títulos dessas obras na relação de leitu-
por uma comissão de especialistas nomeada pela World Asso- ras adicionais.
c ia ti on for the Adv à nceme nt of Veteri nary Parasito lo gy Finalmente, desejamos expressar nossa alegria pela recepção
(W AA VP), publicada em Veterinary Parasitology ( 1988) 29, da primeira edição por revisores, colegas e estudantes; espera-
299-326. Em bora isso possa ter um efeito desagradável junto aos mos que esta segunda edição seja igualme nte bem acolhida.
Parasitologia
Veterinária
ENCARTE COLORIDO
la)

Ib)

M2
le)" ,._ _ _ _ _ _ _ _ _--'

le)

If)

Prancha I
a Ostertagia ostertagi emergindo de uma glândula gástrica.
~ Lesões macroscópicas características de ostertagiose.
:; Necrose da mucosa em ostertagiose grave.
:: Hemorragias abomasais em hemoncose.
;; Expansão da medula vermelha na tíbia em hemoncose aguda.
Anemia e edema submandibular característicos de hemoncose.
(a) (d)

(b) (e)

(c)

(I)

Prancha II
(a) TrichostrongyJus vitrinus na mucosa do intestino delgado.
(b) Erosões características de tricostrongilose inlestinal.
(c) Placas salie ntes no abomaso decorrentes de infecção por Trichostrongy/us axei.
(d) Dictyocaulus viviparus adulto nos brônquios.
(e) Distribuição típica de lesões pneumônicas de bronquite parasitâria.
(I) Larvas de Dictyocaulus viviparus no fungo PHobolus.
(a)

(e)

(b)

(f)

(c)

~halll

- Arterite e trombose da artéria mesentérica cranial causadas por laNas de Strongyfus vulgaris .
.:: Stmngyfus edenfatus nutrindo-se da mucosa do intestino grosso.
Triodontophorus tenuicollis adultos nutrindo-se ao redor da periferia de uma úlcera no cólon ventral.
....arvas de pequenos estrõngilos em desenvolvimento na mucosa do ceco.
- 'õódulos intestinais associados a espécies de Oesophagostomum em desenvolvimento.
O -Verme do rim'· Stephanurus dentatus
(a) (d)

(b) (e)

(f)

(e)

Prancha IV
(a) Syngamus trachea adulto in situ (I).
(b) lesões de "mancha de leite" no fígado associadas a infecção por Ascaris suum.
(e) Infecção maciça por Toxocara canis no intestino delgado de um cãozinho.
(d) Granuloma ulcerado na comissura labial de eqüino causado por habronemose cutânea.
(e) Grande nódulo em estômago eq üino associado a infecção por Draschia megastoma.
(f) Nódulos típicos de oncocercose bovina.
(a)

(c) (d) (e)

(f)
~ v
-: ....esões hepáticas associadas a fasciolose ovina aguda.
~rragia subcapsular maciça observada freqüenlemente em fasciolose ovina aguda.
Jrrose extensa associada a fasciolose ovina crônica.
~o macroscópico do fígado na fasciolose bovina.
~ -SSÕeS hepáticas causadas por grave infecção por Dicrocoelium dendritícum.
"'c:Ianfistomos adultos fixados à parede do rúmen .
(a)' (d)

(e))

(e)

(f)

Prancha VI
(a) Cysticercus bovis em músculo esquelético.
(b) Cisto de Coenurus cerebralis de cérebro de ovino.
(c) Grande Cysticercus tenuicollis cheio de líquido lixado ao fígado.
(d) "Hepatite cisticercosa" causada por infecção maciça por Cysticercus tenuicollis.
(e) Fígado de camundongo inlectado por Cystic8rcus fascio/aris.
(I) Corte de fígado ovino apresentando cisto hidático.
la) lo)

Ib) (d)

Prancha VII
(a) Musca domestica.
(b) Stomoxys calcitrans.
(e) Haematobia (Lyperosia) spp.
(d ) Glossina spp .
(d)

Ib}~' (e)

(e) (f)

Prancha VIII
(a) Hydrotaea irritans ag lomerada ao redor da base dos chifres num ovino.
(b) Lesões características de ataque ao corpo em conseqüência de miíases causadas por varejeiras.
(e) O melofagídeo dos ovinos Melophagus ovinus.
(d) Ixodes ricínus fêmea; observar peças bucais alongadas.
(e) Haemaphysalis punctata fêmea; observar peças bucais curtas e l eslões.
(I) Dermacentor reticulatus macho e fêmea; é um carrapato ornamentado e possui leslões.
r

HELMINTOLOGIA VETERINARIA
PRINCíPIOS DE CLASSIFICAÇÃO Secundários
Acantocéfalos (vermes de cabeça espinhosa)
Todos os organismos ánimais relacionam-se entre si, íntima ou
remotamente, e o estudo do co mplexo sistema de jnter-relações
é denominado sistemática. É essencialmente um estudo do pro- Filo NEMATELMINTOS
cesso evolutivo.
Ao exame dos organi smos, observa-se que formam grupos Embora o filo Nematelmintos tenha seis classes, apenas uma
naturais com características, usualmente morfológicas, em co- delas, a nematoda, contém vermes de significância parasitária.
mum. Um grupo deste tipo chama-se taxoD, e o es tudo deste Os nematóides são denominados comumente vennes cilíndricos,
as pecto da biologia, taxonomia. por seu aspecto ao corte transversal.
Os taxons em que os organismos podem ser incluídos são
reconhecidos por regras internacionais, os principais são: reino,
ruo, classe, ordem, família, gênero e espécie. Os intervalos entre Classe NEMATODA
os taxons são grandes. e alguns organismos não podem ser en-
quadrados neles com preci são. de tal maneira que foram forma- No Quadro I é apresentado um sistema de classificação dos ne-
dos taxons intermediários, prefixados apropriadamente; a subor- matóides de importância veterinária.
dem e a superfamília constituem exemplos disto. Como ilus- Deve-se ressaltar que não é uma representação exata do sis-
tração, o estado taxonômico de um dos parasitas abomasais co- tema geral de nematóides parasitas, mas sim uma apresentação
muns de ruminantes pode ser expresso como se segue. simplificada para ser utilizada no estudo de parasitologia veteri-
nári a. Baseia-se nas dez superfamílias em que ocorrem nema-
Reino Animal tóides de importância veterinária e que se dividem conveni ente-
Filo Nematelmintos mente em grupos com bolsa copuladora e sem bolsa copula-
Classe Nematoda dora, como demonstra o Quadro I.
Ordem Strongylida
Subordem Strongylina ESTRUTURA E FUNÇÃO
Superfamília Trichostrongyloidea
FanúLia Trichostrongylidae A maioria dos nematóides te m forma cilíndrica, afi lando-se em
Subfamília Haernonchinae cada extremidade, sendo o corpo revestido por uma camada in-
Gênero Haemonchus color, algo translúcida, a cutícula.
Espécie conlOrlus A cu tícula é secretada pela hipodenne subjacente, que se pro-
jeta na cavidade corpórea formando dois cordões laterais, que
Os nomes dos taxons devem ser seguidos conforme as regras contêm os canais excretores, e um cordão dorsal e um ventral que
internacionais, mas é permitido vernaculizar as terminações, e, contêm os nervos (Fig. I). As células musc ulares, di spostas lon-
ass im sendo, os membros da superfamI1ia Trichostrongyloidea gitudinalmente, ficam entre a hipoderme e a cavidade corpórea.
no exemplo citado também podem ser denominados tricostrongi- Esta última contém líquido sob alta pressão que mantém a turgi-
lídeos. dez e a forma do corpo. A locomoção é efetuada por movimen-
Os nomes do gênero e da espécie são apresentados na forma tos ondul antes de contração e relaxamento muscular que se al-
latina, tendo o nome genérico inicial maiúscula, e deve haver ternam nas faces dorsal e ven tral do verme.
concordância gramatical. É com um a grafia de palavras estran- Os órgãos internos, em sua maioria, são filamentosos e ficam
geiras em itálico, de modo que o nome de um organismo geral- suspensos na cavidade corpórea cheia de líquido (Fig. 2)
mente é escrito em itálico ou sublinhado. Não são permitidos O sistema digestivo é tubul ar. A boca de muitos nematói-
acentos, razão pela qual, se a denominação ,de um organismo for des é um simples orifício, que pode ser rodeado por doi s ou três
homenagem a alguém, pode ser necessário correção; O nome de láb ios, indo diretamente ao esôfago.t Em outros, como nos
Mü Uer, por exemplo, foi alterado no gênero Muellerius. estrongilídeos, é grande e se abre numa cápsula bucal, que po-
Os principais taxons contendo helmintos de importância ve- de conter dentes; estes parasitas, ao se alimentar, remo vem um
terinária são: tampão de mucosa para a cápsula bucal (Fig. 3), onde é di -
gerido pela ação de enzimas secretadas para a cápsula pelas
Mais importantes glândulas adjacentes. Alguns destes vermes também podem
Nematelmintos (vermes cilíndricos) secretar anticoagulante, e pequenos vasos, rompidos na diges-
Platelmintos (vermes achatados) tão do pedaço de mucosa, podem continuar a sangrar por al-
4 Parasitologia Veterinária

,:"."~~~
Quadro 1 Nematóides parasitas de importância veterinária: classificação
simplificada

Superfamília Aspectos típicos

Nematóides com bolsa copuladora Cavidade


bucal
J~
excreto r Cordões nervosos
Trichostrongyloidea Cápsula bucal pequena.
TrichostrongyJus, Ostertagia, Ciclo evolutivo direto; infecção
Dictyocau/us, Haemonchus etc. porL 3 ·

Strongyloidea Cápsula bucal bem desenvolvida; (b) Ovário


Slrongyfus, Ancy/ostoma, coroas lamelares e dentes Útero Vulva Raio da bolsa

~
$yngamus etc. geralmente presentes.
Ciclo evolutivo direto; infecção
por L3.

Metastrongyloidea Cápsula bucal pequena.


Metastrongy/us, Muelferius,
Testículo Espículo Bolsa
Ciclo evolutivo Indireto; infecção
Protostrongylus etc. por l::3 no hospedeiro interme-
diário. Fig. 2 Cortes longitudinais de um nematóide ilustran do: (a) Sistema digestivo, ex-
cretor e nervoso; (b) Sistema reprodutor de nematóides fêmeas e machos.

Nematóides sem bolsa copuladora

Rhabditoidea Vermes muito pequenos;


Strongy/oides, Rhabditis etc. cápsula bucal pequena. guns minutos depois do verme ter se mo vido para um novo
Gerações de vida livre e local.
parasitas.
Ciclo evolutivo direto; infecção
Aqueles com cápsulas bucais muito pequenas, como os tri-
porLs· costrongilídeos. ou simples orifícios orais. como os ascarídeos,
geralmente se nutrem de líquido da mucosa, produtos de diges-
Ascaridoidea Grandes vermes brancos.
Ascaris, Toxocara, Ciclo evolutivo direto; infecção tão do hospedeiro e fragmentos celulares, enquanto outros, como
Parascaris etc. por L:. no ovo. os oxiurídeos, parecem alimentar-se do conteúdo do intestino
Oxyuroldea A fêmea tem cauda pontiaguda grosso. Os vermes que vivem na circulação sangüínea ou em
Oxyuris, Skrjabinema etc. e longa. espaços teciduais, como os fi larídeos, nutrem-se exch!sivamen-
Ciclo evolutivo direto; in'ecção te de líquidos corpóreos.
por ls no ovo.
O esôfago é usualmente muscular e impulsiona o alimento
Splruroidea Cauda espiralada no macho. para o intestino. Tem formato vari ável (Fig. 4) e constitui um
Spirocerca, Habronema, Ciclo evolutivo indireto; infecção
The/azia etc. por ls de inseto. aspecto preliminar útil para a identificação de grupos de vermes.
Pode ser filariforme, simples e levemente espessado na parte
Filarioidea Vermes delgados longos.
Dirofifaria, OnchocerC8., Ciclo evolutivo indireto ; infecção
posterior, como nos nematóides com bolsa copuladora; bulbi~
Parafilan·a elc. por ls de inseto. forme, com uma grande dilatação posterior, corno nos ascaríde-
os; ou bulbiforme duplo, como nos oxiurídeos. Em alguns gru-
Trichuroidea Vermes em forma de chicote
Trichuris, Capillaria, ou capiliformes. pos, não ocorre esta forma totalmente muscular: os filarídeos e
Trichinella etc. Ciclo evolutivo direto ou espi rurídeos possuem esófago muscular-glandular que é mus-
indirelo; infecção por LI.
cular anteriormente, sendo a parte posterior glandular; o esôfa-
Dioctophymatoidea Vermes muito grandes. go tricuróide tem fonnato .capilar, passando através de uma única
Dioctophyma etc. Ciclo evolutivo indirelo: infecção coluna de células, sendo o conjunto conhecido como esticoso-
por L3 em anelideos aquâticos.
ma. Um esôfago rabditiforme, com pequenas dilatações anteri-

:"<:"<--- Nervo dorsal


Cutícula
--\-\-- Ovârio

Intestino
Canal excretor
Útero
+'1-- Músculo
/-;1--- Hipoderme

'-7''-7'---- Nervo ventral

Fig. 3 Câpsula bucal grande de nematóide estrongilideo ingerindo tampão de mu-


Fig . 1 Corte transversal de um nematóide tipico. cosa.
Helmintologia Veterinária 5

Rabditiforme Filariforme Bulbiforme

~ ..

Bulbiforme duplo Muscular-glandular Tricuróide

Fig . 4 Formas básicas de esôfago encontradas em nematóides. Fig. 5 Micrografia eletrônica de varredura de um apêndice vulvar de um nematóide
tricostrongilideo.

or e posterior, é encontrado nas larvas pré-parasitári as de muitos ICoroas lamelares, constituídas de fileiras de papilas que se
nematóides e nos nematóides de vida li vre. I .. apresentam como fímbrias ao redor da abertura da cápsula bucal
O intestino é um tubo cuj a luz é envol ta por uma única ca- (coroas lamelares externas) ou exatamente no lado interno desta
mada de células ou por um sincício. Sua superfície luminal pos- abertura (coroas lamelares internas) . São particularmente salien-
sui microvilosidades que aumentam a capacidade de absorção das tes em determinados nematóides de eqüinos. Sua função não é
células. Nas fêmeas, O intestino termina num ânus, enquanto nos conhecida, mas supõe-se que possam ser usadas para manter em
machos há uma cloaca que func iona co mo ânus e na qual se abre posição um pedaço da mucosa durante a alimentação ou que
o canal deferente e através da qual podem projetar-se os espícu- possam impedir a entrada de material estranho na cápsula bucal
las copuladores. quando o verme se desprender da mucosa.
O chamado «sistema excretor" é muito primiti vo, constituí-
do de um canal em cada cordão lateral unindo-se no poro excre-
tor na região esofágica.
Os sistemas reprodutores consistem em tubos filamentosos.
Os órgãos femininos compreendem ovário, oviduto e útero, que
podem ser pares, terminando numa curta vagina comum que se
abre na vulva. Em algum as espécies, na junção do útero com a Espículas
vagina há um pequeno órgão muscular, o ovoejetor, que auxi-
lia a postura de ovos. Pode haver também um apêndice vulvar
(Fig. 5). Gubernáculo --+.-:..
Os órgãos masculinos são constituídos de um ún ico testícu-
lo contínuo e um canal deferente terminando num dueto ejacu-
lador na cloaca. Às vezes, órgãos masculinos acessórios são muito
úteis na identificação, especialmente dos tricostrongilídeos, os
dois mais importantes sendo os espículas e o gubernác ulo (Fig.
6). Os espículos são órgãos quitinosos, geralmente pares, que são
in trodu zidos no orifício genital feminino durante a cópula. O gu-
bernáculo, também quitinoso, é uma pequena estrutura que ser-
ve de guia para os espículos. Com os dois sexos em perfeita apo-
sição, o esperma amebóide é transferido da cloaca do macho Pê:a
o ·úte ro da fêmea.
A cutícula pode modificar-se, fo rmando várias estruturas, das Fig. 6 Espiculos, gubernáculo e bolsa copuladora de um nemalóide lricostrongilí-
guais as mais importantes (Fig. 7) são : deo.
6 Parasitologia Veterinária

bolsa. Consiste em dois lobos laterais e um único pequeno I


- -- - - Coroas lamelares
dorsaL
- - - - - Vesfcula cefâlica As placas e cordões são ornamentos semelhantes a lâl .
e cordões presentes na cutícula de muitos nematóides da su
farrul ia Spiruroidea.

~:r--- Vesfcula cervical -l?'CLO EVOLUTIVO BÁSICO

Na classe Nematoda, os sexos são separados e os machos em g


são menores que as fêmeas, que põem ovos ou larvas. Duran ...
desenvolvimento, um nematóide sofre mudas em interva
perdendo a cutícula. No ciclo evolutivo completo há qu
mudas, sendo os sucessivos estágios larvais designados L I'
L3 , Lo! e fi nalmente L5 , que é o adulto imaturo.
",,"- - - Asa cervical Uma caracteóstica do ciclo evolutivo básico dos nematói
é que raramente ocorre transmissão imediata de infecção de
hospedeiro definitivo para outro. Em geral, verifica-se um
to desenvolvimento ou no bolo fecal ou numa espécie an i
Papila cervical diferente, o hospedeiro intermediário, antes de ter lugar a
fecção.
Na forma comum de ciclo evolutivo direto, as larvas de \
livre sofrem duas mudas após a eclosão, e a infecção é por
gestão das LJ Jjvres. Há, entretanto, algumas importantes ex
ções, e a infecção ocorre, às vezes, por penetração larval da
ou por ingestão do ovo contendo uma larva.
Nos ciclos evolutivos indiretos, as duas primeiras mu
(al usualmente se dão num hospedeiro intermediário, e a infe
do hospedeiro definitivo dá-se ou por ingestão do hosped
intermediário ou por inoculação das LJ quando o hospedeiro
termediário, como um inseto hemat6fago, se aJjmenta.
Depois da infecção, ocorrem outras duas mudas, produzi
l"'.+I---Espículo a L5 ou parasita adu lto imaturo. Depois da cópula, inicia-se
tro ciclo evoluti vo.
No caso de parasitas gastrintestinais, o desenvolvimento
ter lugar inteiramente na luz intestinal ou apenas com res
movimento para a mucosa.
Em muitas espécies, contudo, as larvas percorrem distân
consideráveis através do corpo antes de se instalar em sua I
lização final (preferencial), sendo esta a forma migratória de
elo evolutivo. Uma das rotas mais importantes é a hepato
queal, que leva estágios em desenvolvimento do intestino,
vés do sistema parla, para o fígado, em seguida, através da ,
hepática e da veia cava posterior, para o coração, e daí, a ~
(b) Raio externo-dorsal Raio dorsal Raios laterais da artéria pulmonar, para os pulmões. As larvas seguem, en'-
através dos brônquios, da traq uéia e do esófago, para o int
Fig. 7 Modificações cuticulares de nematóides. (a) Anterior; (b) Posterior do macho.
no. Deve-se ressaltar que esta é uma descrição básica dos ci
evolutivos dos nematóides e que existem muitas vari ações.

Verificam-se papilas cervicais anteri ormente na região eso- DESENVOLVIMENTO DO PARASITA


fágica e papilas caudais po,steriormente na cauda. São proces-
sos semelhantes a espinhos ou digitiformes, em geral situados ovo
diametricamente. Sua função pode ser sensorial ou de sustenta-
ção. Os ovos dos nematóides diferem bastante em tamanho e fo
As asas cervicais e caudais são prolongamentos cuticulares to, e a casca tem espessura variável , geralmente constituída
achatados, semelhantes a asas, nas regiões esofágica e caudal. três camadas.
As vesículas cefálicas ecervtcais são inntmescimentos cuti- A membrana interna, que é fina, tem caracleósticas lipí .
culares ao redor da abertura da ,boca e na região esofágica. e é impenneável. Uma camada média, rija e qu itinosa, CD
A bolsa copuladora, que envolve a fêmea durante a cópula, rigidez e, quando espessa, dá uma coloração amarelada ao
é importante na identificação de determinados nematóides ma- Em muitas espécies, essa camada é interromp ida em uma ou
chos e deriva-se de asas caudais muito prolongadas, que são sus- ambas as extremidades por um opérculo (tampa) ou tampão..
tentadas por papilas caudais alongadas denominadas raios da terceira camada externa, constituída de proteína; é muito d
Helmintologia Veterinária 7

e viscosa nos ascarídeos e importante na epidemiologia desta condições adversas, como congelamento ou dessecação; por
superfamília. outro lado, as L I e ~ são partic ularmente vulneráveis. Apesar
Por outro lado, em algumas espécies a casca é muito fina, da dessecação em geral ser considerada a influência mais letal
podendo estar presente simplesmente como uma cápsula em volta na sobrevivência larval, há evidência cada vez maior de que cer-
da larva. tas larvas podem sobreviver a grave dessecação entrando num
O potencial de sobrevjvência do ovo fora do corpo varia, mas estado de anidrobiose.
parece estar relacionado à espess ura da casca, que protege a lar- No solo, as larvas, em sua maioria, são ati vas; embora requei-
va de dessecação. Portanto, os parasitas cuja fonna infectante é ram uma película de água para se movimentar e sejam estimula-
o ovo larvado geralmente têm ovos de casca es pessa, que podem das pela luz e pela temperatura, sabe-se agora que o movimento
sobreviver durante anos no solo. larval é principalmente casual e o encontro com folhas de gra-
míneas acidental.
ECLOSÃO
INFECÇÃO ~
Dependendo da espécie, os ovos podem eclodir fora do corpo ou
após a ingestão. Como observado anteriormente, a infecção pode ser por inges-
Fora do corpo, a eclosão é controlada em parte por certos fa- tão de L3 de vida livre, e isto ocorre na maioria dos nematóides
tores co mo temperatura e umidade, em parte pela própria larva. tricostrongilídeos e estrongilídeos. Nestes. a L, perde a cápsula
No processo de eclosão, a membrana interna impenneável do ovo retida da L 2 dentro do trato digestivo do hospedeiro, sendo o es-
é digerida por enzimas secretadas pela larva e por seu próprio tímulo para o desencapsulamento fornecido pelo hospedeiro de
movimento. A larva é, então, capaz de absorver água do ambi- modo semelhante ao estímulo de eclosão requerido por nema-
ente e se dilata, rompendo as camadas restantes e saindo. tóides ovo-infectantes. Em resposta ao estímulo. a larva libera
Quando o ovo larvado é a forma infectante, o ho spedeiro ini- se u próprio líquido de desencapsulamento, contendo uma enzi-
cia a eclosão, fornecendo estím ulos para a larva, que completa ma leucina aminopeptidase, que dissolve a cápsula a partir de
então O processo. É importante para cada espécie de ne matóide dentro, ou num estreito anel anteriormente de modo a se soltar
que a eclosão ocorra em regiões apropriadas do intestino, e as- um tampão ou partindo a cáps ul a longitudinalmente. A larva
sim os estímulos serão diferentes, embora pareça que o dióxido pode, então, mover- se livre da cápsula.
de carbono dissolvido seja uma constante essencial. Como acontece no estágio pré-parasitário, o crescimento da
larva durante o desenvolvimento parasitário é interrompido por
DESENVOL VIMENTO E SOBREVIVÊNCIA duas mudas, cada uma delas ocorrendo durante um curto perío-
LARVAL do de letargia.
O tempo gasto para o desenvol vi mento desde a infecção até
Três das superfarníli as importantes, os tri costrongilídeos, os es- os parasitas adultos maduros estarem produzindo ovos ou larvas
trongi lídeos e os rabditídeos, têm uma fase pré-parasitária com- é denominado período pré-patente, tendo duração conhecida
pletamente de vida livre. Os doi s primeiros estágios larvais usu- para cada espécie de nematóide.
almente se nutrem de bactérias, mas a L3' isolada do meio ambi-
ente pela cutícula retida da ~, não pode alimentar-se e precisa
sobreviver dos nutri entes acumulados adquiridos nos estágios
METABOLISMO
iniciai s. O crescimento da larva é interrompido durante a muda
por períodos de letargia em que ela não se nutre nem se move. A principal reserva alimentar de larvas de nematóides pre-para-
A c utícula da L 2 fica retida como uma cápsula ao redor da ~ ; sitárias, se dentro da casca do ovo ou de vida li vre, é Iipídica,
isto é importante na sobrevivência da larva, com uma função podendo ser observada como gotículas na luz intestin al ~ a infec-
análoga à da casca do ovo nos grupos ovo-infectantes. ti vidade desses estágios está sempre relacionada à quantidade
O s doi s elementos mais importantes do ambiente ex terno são presente, visto que as larvas que esgotam suas reservas não são
a temperatura e a umidade. tão infectantes como as que ainda retêm quantidades de lipídios.
A temperautra ideal para O desenvol vimento da quantidade Além dessas reservas, as larvas de primeiro e segundo está-
máxima de larvas no menor tempo possível geralmente está na gio de vida livre da maioria dos nematóides nutrem-se de bacté-
faixa de 18 a 26°C. Em temperaturas mai s altas, o desenvolvi- rias. Entretanto, assim que atingem o terceiro estágio infectante,
t-
mento mais rápido e as larvas são hiperativas , esgotando as- ficam isoladas pela cutícula retida do segundo estágio, não po-
sim as suas reservas lipídicas. A taxa de mortalidade sobe então, dem alimentar-se e dependem totalmente das suas reservas acu-
de tal modo que poucas chegam a L3' Conforme cai a temperatu- muladas.
ra, o processo toma-se lento, e abaixo de 10°C geralmente não Por outro lado, o parasita adulto armazena sua energia sob a
pode ocorrer o desenvolvimento do ovo até L,. Abaixo de soe, o forma de g1icogênio, principalmente nos cordões laterais e nos
movimento e o metabolismo de L3 são ITÚnimos, o que em mui - mú sculos, e isto pode constituir 20% do peso seco do verme.
tas espécies favorece a sobrevivência. Os estágios de vida livre e em desenvolvimento geralmente
A umidade ideal é de 100%, embora possa ocorrer algum têm metabolismo aeróbio, enquanto os nematóides adultos po-
desenvolvimento com umidade relativa inferior a 80%. Deve-se dem metaboli zar carboidratos por gl icólise (anaeróbios) e por
observar que mesmo e m tempo seco, em que a umidade ambi- descarboxilação (aeróbios). Nesta última, entretanto, podem atuar
ente 6 baixa, o microclima nas fezes ou na superfície do solo pode vias que não estão presentes no hospedeiro. e é neste nível que
ser suficientemente úmido para permitir desenvolvimento larval agem algumas drogas antiparasitárias.
contínuo. A oxidação de carboidratos requer a presença de um sistema
Nos tricostrongilídeos e estrongilídeos, O ovo embrionado e transportador de elétrons que n~ maioria dos nematóides pode
a L3 encapsulada são mais bem protegidos para sobreviver em operar aerobiamente em tensões de oxigênio de 5 mm Hg ou
8 Parasitologia Veterinária

menos. Como a tensão de oxigênio na superfície mucosa é de co ndições muito secas nos subtrópicos ou trópicos. Por outro
aproximadamente 20 mm Hg, os nematóides em íntima proxi- lado, a maturação dessas larvas coincide com a volta de condi-
midade da mucosa normalme nte têm oxigênio suficiente para ções ambientais adequadas ao seu desenvolvimento de vida li-
°
metabolismo aeróbio. Por outro lado, se nematóide ficar tem- vre, apesar de não estar claro o que dispara o sinal para matura-
porária ou permanentemente a certa distância da superfície mu- ção e como é transmitido.
cosa, é pro vável que O metabolismo e nergético seja amplamente O grau de adaptação a estes estímulos sazonais, e portanto a
anaeróbio. proporção de larvas a tornar-se inibida, parece ser um caráter he-
Tal qual o sistema transportador convencional de elétrons de reditário e é afetado por di versos fatores, incluindo sistemas de
citocromo e flavoproteína, muitos nematóides têm "hemoglobina" pastejo e o grau de adversidade no meio ambiente. Por exemplo.
nos líquidos corpóreos, o que lhes confere pigmentação vermelha. no Canadá, onde os invernos são rigorosos, as larvas de tri cos-
Essa hemoglobina dos nematóides é quimicamente semelhan te à trongilídeos ingeridas no final do outono ou no inverno, em sua
mioglobina e apresenta a mais alta afinidade por oxigênio de qual- maioria, ficam inibidas, enquanto no sul da Grã-Bretanha, com
quer hemoglobina an imal conhecida. Supõe-se que a principal invernos moderados, cerca de 50 a 60% ficam inibidas. Nos tró-
função da hemoglobina dos nematóides seja o transporte de oxi- picos úmidos, onde é possível o desenvolvi mento larval de vida
gênio, adquirido por difusão através da cutícula ou do intestino, li vre durante quase todo o ano, relativamente poucas ficam iru-
para os tecidos; os vermes hematófagos provavel mente ingiram bidas.
uma quantidade considerável de nutrientes oxigenados na dieta. Contudo, pode ocorrer também de sen volvime nto in ibido
Qs produtos finai s do metabolismo de carboidratos, gorduras como resultado de imunidade tanto adquirida como etária no
ou proteínas são excretados através do ânus ou da cloaca ou por hospedeiro, e, embora as proporções de larvas inibidas em geral
difusão através da parede corpórea. A amônia, produto final do não sejam tão al tas como na hipobiose, elas podem desempenhar
metabolismo protéico, deve ser excretada rapidamente e di1uída um pape l importante na epidemiologia de infecções por nema-
a níveis atóxicos nos líquidos circundantes. Durante períodos de tóides. A maturação dessas larvas inibidas parece estar ligada ao
metabolismo anaeróbio de carboidratos, os vermes também po- ciclo reproduti vo do hospedeiro e ocorre no parto ou em suas
dem excretar ácido pirúvico em vez de retê-lo para futura oxida- proxi midades.
ção quando for possível metabolismo aeróbio. A importância epidemiológica do desenvolvimento larval
O "sistema excretor" que termina no poro excretor quase cer- inibido por quaJquer que seja a cau sa é que , em primeiro lugar.
tamente não está relacionado com excreção, mas sim com osmor- assegura a sobrevivência do nematóide durante períodos de ad·
regulação e equilíbri o de sais. versidade e, em segundo lugar, a subseqüente maturação de lar-
Dois fenômenos que acometem o ciclo evoluti vo parasitário vas inibidas aumenta a contami nação do meio ambiente, poden-
de nematóides e que têm considerável importância biológica e do, às vezes, resultar em doença clínica.
epidemiológica são o desenvolvimento larval inibido e o au-
mento peripuerperal nas contagens de ovos fecais. AUMENTO PERIPUERPERAL (APP) EM
CONTAGENS DE OVOS NAS FEZES
DESENVOL VIMENTO LARVAL INIBIDO
(S inô nimos: aumento pós-puerperal, aumento de primavera.)
(Sinônimos: desenvolvimento larval reprimido, hipobiose.) Trata-se de um aumento nas quantidades de ovos de nematói-
Este fenômeno pode ser definido como a inte rrupção tempo- des nas fezes de animais na época do parto. O fenômeno é mais
rária no desenvolvimento de um nematóide num exato momen- acentuado em ovelhas, porcas e cabras.
to de seu desenvolvimento parasitário. Geralmente é uma carac- A etiologia deste fenômeno tem sido estudada principalmen-
terística facultati va e acomete apenas uma proporção da popula- te em ovinos e parece resultar de uma queda temporária da imu-
ção de verme~ Em algumas lin hagens de nematóides, há alta nidade associada a alterações nos níveis circulantes do hormô-
propensão para desenvolvimento inibido, enquanto em outras nio lactogênico prolactina. Parece ocorrer diminuição nas respos-
essa tendência é baixa. tas i munes parasita-específicas simultaneamente à elevação dos
A evidência concl usiva da ocorrê nci a de desenvolvimento níve is séricos de prolactina. Esses níveis são rapidamente resta-
larval inibido pode ser obtida apenas por exame da população belecidos quando os níveis de prolactina cae m ao final da lacta-
de vermes no hospedeiro. É reconhecida comumente pela pre- ção ou, mais abruptamente, se os cordeiros forem desmamados
sença de grandes quantidades de larvas no mesmo estágio de precocemente e removido O estímu lo de sucção.
desenvolvimento em an imais impedidos de infectar-se por um A causa do APP é tripla:
período mais lon go que o necessário para atingir este estágio
(1) Maturação de larvas inibidas em conseqüência da imunida-
larval específico.
de do hospedeiro.
A natureza do estímulo para desenvolvimento inibido e sub-
(2) Aumento no estabe lecimento de infecções adquiridas d",
seqüente maturação das larvas é ainda um assunto de debates.
pastos e redução na renovação de infecções existentes pOl
Embora haja circunstâncias aparentemente d iferentes que inici-
vermes adul tos.
am desenvolvimento larval inibido, mais comumente o estímu-
(3) Aumento na fecundidade de populações existentes de vennes
lo é ambiental, recebido pelos estágios infectaJ;ltes de vida li vre
adultos.
antes da ingestão pelo hospedeiro. Pode ser encarado como um
artifício pelo parasita para evitar condições c limáticas adversas Concomitantemente, mas não em associação à queda da imu-
para sua progênie, permanecendo sex ualmente imaturo até que nidade do hospedeiro , o APP pode ser aumentado pela matura-
haja novamente condições mais favoráv e i ~ O nome comumen- ção de larvas hipobióticas.
te aplicado a esta interrupção sazonal é hipobiose. Assim, o acú- A importânci a do APP é a sua ocorrênci a numa época em
mulo de larvas inibidas freqüentemente coincide com o início das as quantidades de novos hospedeiros suscetíveis estão aumen-
condi ções frias de outono/inverno no hemisfério norte ou de tando, garantindo assim a sobrevivência e a propagação da e
Helmilllologia Veterinária 9

pécie do verme . Depende ndo da magnitude da infecção, e le pode


OSferfagia osterfagi
LaITlbérn causar queda de produção em animais lactantes e, por
oontami nação do meio ambiente, causar doença clínica em ani-
mais jovens suscetívei s. AO. ostertagi talvez seja a causa mais comum de gastrite para-
sitária em bovinos. A doença, muitas vezes conhecida simples-
mente como ostertagiose, caracteriza-se por perda de peso e di-
Superfamnia TRICHOSTRONGYLOIDEA arréia e acomete tipicamente bovinos jovens durante seu primeiro
período de pastejo, embora também sejam relatados surtos em
Os tricostrongilídeos são vermes pequenos, freqüentemente C3-
rebanhos e casos individuais esporádicos em bovinos adultos.
piliformes, do grupo com bolsa copuladora que, com exceção do
yenne pulmonar Dictyocaulus, parasitam o trato digestivo de ani - CICLO EVOLUTIVO
:nais e aves.
Estruturalmente, possuem poucos apêndices cuticulares e a A o. ostertagi tem ciclo evolutivo direto. Os ovos (Fig. 9), típi-
:;,ipsula bucal é vestigial. Os machos possuem uma bolsa bem cos dos tricostrongilídeos, são eliminados nas fe zes e em condi-
desenvolvida e dois espículas, cuja configuração é usada para ções ideais de senvo lvem-se no bolo fecal e m terceiro estágio
5ferenciação de espécies. O ciclo evol utivo é direto e em geral infectante dentro de duas semanas. Quando prevalecem condi-
-o-migratório, sendo a L) encapsulada o estágio infectante. ções úmidas, as ~ migram das fezes para a forragem.
Os tricostrongilídeos, incluindo Dictyocaulus, são responsáveis Após a ingestão, a L3desencapsula-se no rúmen e ocorre novo
por mortalidade considerável e morbidade difusa, especialmente desenvolvimento na luz de uma glândula abomasal. Verificam -
:!'Dl ruminantes. Os gêneros mais importantes do trato digestivo são se duas mudas parasitárias antes da L3 emergir da glândula, cer-
Osterlagia, Haemonchus, Trichostrongylus, Cooperia, Nemalo- ca de 18 dias depois da infecção, tomando- se sex ualmente ma-
oms, Hyoslrongylus, Marshallagia e Mecistocirrus. dura na superfície mucosa.
O ciclo evolutivo parasitário inteiro geralmente leva três se-
manas, mas em determinadas circunstâncias muitas das L] inge-
OSferfagia ridas têm o desenvolvimento inibido no início do quarto estágio
larval (EL4 ) por períodos de até seis meses.
Este gênero é a principal causa de gastrite parasitária em rumi-
.ilJlltes nas regiões temperadas do mundo. PATOGENIA

Hospedeiros: A presença de O. ostertagi no abomaso em quantidades sufici-


umi nantes. ente s dá origem a extensas alterações patológicas e bioquímicas
bem como a grave sintomatologia clínica. Essas alterações são
Localização: máximas quando os parasitas estão emergindo das g lândulas
-\bomaso. gástricas (Prancha I). Isto se dá por vol ta de 18 dias após a infec-
ção, mas pode retardar-se por vários meses quando ocorre de-
Espécies: senvolvimento larval inibido.
OSlertagia oSlerlagi bovinos Os parasitas em desenvol vimento causam redução na glândula
a. (Teladorsagia) circumcincta ovinos e caprinos gástri ca funcional responsável pela produção do suco gástrico
O. trifurcata ovinos e capri nos proteolítko fortemente ácido; em particu lar, as células parietais,
que produzem ácido clorídrico, são substituídas por célul as não-
As espécies menos importantes são O. (sin. Skrjabinagia) secretoras de ácido, indiferenciadas e de divisão rápida. Inicial-
rala e kolchida em bovinos e O. leplospicularis em bovinos, mente, estas alterações celulares ocorrem na glândula parasita-
inos e capri nos. da (Fig. 10), mas, conforme a glândul a se torna distendida pelo
nematóide em crescimento que aumenta 1,3 a 8,0 mm de com-
Distribuição: primento, tai s alterações se espa lh am pe las g lându las não-
_ lundia1; OSlerlagia é especialmente importante nos climas tem- parasitadas adjacentes, e o resu ltado fina l é uma espessa mucosa
:erados e em reg iões subtropicais com chuvas de inverno. gástrica hiperplásica (Prancha I).
Macroscopicamente, a lesão é um nódulo saliente com um
DENTlFICAÇÃO orifício central visível (Fig. II ); e m infecções maciças, esses
nódulos fundem- se, produzindo um efeito que lembra couro
Os adultos são vermes delgados castanho-avermelhados de até I marroquino. As pregas abomasai s freqüentemente são muito
:::n de comprimento, ocorrendo na superfície da mucosa aboma- edematosas e hiperêmicas, ocorrendo, às vezes, necrose e perda
;:aI e sendo visíveis apenas com rigoroso exame. Os estág ios lar- da superfície mucosa (Prancha I); os linfonodos regionais encon-
:ris ocorrem em glândulas gástricas e podem ser vistos apenas mi- tram-se dilatados e reativos.
.:roscopicamente após o processamento da mucosa gástrica. Nas infecções maciças de 40.000 ou mai s nematóides adul-
A diferenci ação entre espécies baseia-se na estrutura dos es- tos, os principais efeitos destas alterações são, primeiramente,
'culos que usualmente têm três ramos distais (Fig. 8) . uma redução na acidez do fluido abomasal, co m o pH elevando-
se de 2 a 7. Isto resulta em incapacidade de ativar pepsinogênio
OSTERTAGIOSE BOVINA e m peps ina e, portanto, desnaturar proteínas. Há também queda
do efeito bacteriostático no abomaso. Em segundo lugar, há au-
;lor ser a mais prevalente das espécies em bovinos, a O. ostertagi mento de permeabilidade do epitéli o abomasal a certas macro-
< considerada em detalhes. moléculas, como pepsinogênio e proteínas plasmáticas. Uma
10 Parasitologia Veterinária

(a) (e)

(b)
(d)

Fig. 8 Estrutura de espículas de cinco espécies de Ostertagia. (a) o. ostertagi; (b) o. /yrata; (c) o. circumcincta; (d) O. trifurcata; (e) o. leptospicularis.
HeLmintologia Vete rinária 11

Fig. 10 Infecção por Osterlagia oSlerlagi exibindo larva em glândula gástrica.

lei
Fig. 8 (continuação) Fig. 11 Nódulos umbilicados na superfície mucosa depois da emergência de lar-
vas de Ostertagia.

explicação é que as junções celulares entre as células indiferen-


ciadas e de di visão rápida que passam a revestir a mucosa minando em hipoalbuminemia. Ouu-a teoria mais recente é que,
parasitada parecem ser incompletamente formadas, e como re- em resposta à presença dos parasitas adultos, as células zimogê-
sultado podem entrar e sair macro molécul as na lâmina epitelial. nicas secretam mai ores quantidades de pepsina direlamente na
Os res ul tados dessas alterações são extravasamento de pep- circul ação_ C linicamente, as conseqüências refletem-se como
sinogênio na circulação com níveis plasmáticos elevados de pep- inapetência, perda de peso e diarréia, não se conhecendo a causa
sinogênio e perda de proteínas plas máticas na lu z intesti nal, cul - exata da diarré ia.
Nas infecções mais leves, os principais efeitos são ganhos de
peso ins uficientes.
Embora o co nsumo al imentar redu zido e a diarré ia afetem o
ganho de peso vivo, não são totalmente res ponsáveis pela queda
na produção. As evidênc ias aluais sugerem que isto se deve fun-
damen talmente ao substancial ex travasamento de proteína endó-
gena no trato gastrin testinal. Apesar de alguma reabsorção, isto
provoca di stúrbio no ni trogêni o pós-absorvente e no metabolis-
mo energéti co em virtude das maiores de mandas para a síntese
de proteínas vitais, como a albumina e as imunoglob ulinas, que
ocorrem à custa de proteína muscular e deposição de gordura.
Estes distúrbios são naturalmente infl uenciados pelo nível de
nutrição, sendo exacerbados por baixo consumo protéico e ali-
viados por dieta rica em proteínas.

SINTOMA TOLOGIA CLíNICA

Sabe-se que a ostertagiose bovina ocorre em duas fo nnas clíni-


cas. Nos climas temperados com in vernos frios, sua ocorrência
sazonal é como se segue:
A doença Tipo I é observada usualmente em bezerros em re-
gime de pasto intensi VQ durante seu primeiro período de paste-
jo, como conseq üência de larvas ingeridas três a qu atro semanas
antes; no hemisfério norte, isto ocorre nonnalmente de meados
de julho para a fren te.
Fig. 9 Ovo típico de tricostrongilídeo (mêdia de 60 a 105 11m de comprimento, 30- A doença Tipo II ocorre em ani mais de um ano de idade,
.
55 11m de largura) . geralmente no final do inverno ou na primavera, após o primei-
11 Parasiwlogia Veterinária

ro período de pastejo, resultando da maturação de larvas ingeri- depois de levados ao pasto na primavera. Entretanto, isto é
das d urante o outono anterior e subseqüentemente tendo o de- incomum e o papel das L} é mais o de infectar bezerros num
senvolvimento inibido no início do quarto estágio larval. nível que produza infecção subclínica patente e garanta a
O principal sinal clínico na doença tanto Tipo l como Tipo II contaminação do pasto pelo resto do período de pastejo.
é uma profusa diarréia aquosa. No Tipo l, em que os bezerros (2) Na primavera, verifica-se alta mortalidade das L3 que sobre-
estão no pasto, essa diarréia usualmente é persistente e tem co- viveram ao inverno no pasto e, em junho, usualmente po-
loração verde-brilhante característica. Por outro lado, na maio- dem ser detectadas apenas quantidades desprezíveis. Essa
ria dos animais com Tipo II, a diarréia quase sempre é intenni- mortalidade, combinada com o efeito de diluição da forra-
tente , em geral estando presentes anorexia e sede. A pelagem dos gem em rápido crescimento, toma a maior parte dos pastos,
animai s acometidos em ambas as síndromes é opaca e os quar- não utili zados na primavera, seguros para o pastejo após
tos posteriores encontram-se bem sujos de fezes. meados do verão.
Ia ostertagiose T ipo II, a hipoalbuminemia é mais acentua- Entretanto, apesar da mortalidade de LJ no paslo, parece
da. e se observa anemia moderada de etiologia desconhecida. agora que muitas sobrevivem no solo por no mínimo mais
Como conseqüência da hipoalbuminemia, com freqüência veri - um ano e, às vezes, parecem migrar para a pastagem. Não
fica-se edema submandibular. Em ambas as formas da doença, a se sabe exatamente se esta é uma ocorrência comum e se as
perda de peso corpóreo é considerável durante a fase clínica e larvas migram ou são transportadas por populações terres-
pode chegar a 20% em sete a dez dias. A qualidade da carcaça tres de minhocas ou besouros, mas a ocorrência desses apa-
também pode ser afetada, pois há redução nos sólidos corpóreos rentes reservatórios de larvas no solo pode ser importante
totais em relação à água corpórea total. em relação a determinados sistemas de controle baseados no
Na doença Tipo I, a rnorbidade usualmente é alta, muitas ve- manejo de pastos.
zes ultrapassando 75%, mas a mOlialidade é rara desde que se (3) Os ovos depositados na primavera desenvolvem-se lenta-
institua tratamento em dois a três dias. No Tipo II, a prevalência mente em L 3 ; esse ritmo de desenvolvimento torna-se mais
de doença clínica é relativamente baixa e quase sempre apenas rápido perto de meados do verão, quando a temperatura au-
uma proporção de animais no grupo é acometida; a mortalidade menta, e como resultado os ovos depositados durante abril,
nesses animais é muito alta, a menos que seja instituído tratamen- maio e junho, em sua maioria, atingem todos o estágio in-
to precoce com um anti-helmíntico eficaz contra estágios larv'ais fectante de meados de julho em diante. Se forem ingeridas
inibidos e em desenvolvimento. quantidades suficientes dessas L 3, ocorre a doença Tipo I em
qualquer ocasião de julho a outubro. O desenvolvimento de
ovo em L3 torna-se mais lento durante o outono, e há dúvi-
EPIDEMIOLOGIA
das sobre se muitos dos ovos depositados depois de setem-
bro se desenvolvem mesmo em L J .
A epidemiologia da ostertagiose em regiões temperadas do he-
(4) Conforme avança o outono e cai a temperatura, uma propor-
misfério norte pode ser convenientemente considerada nos sub-
ção crescente (até 80%) das LJ ingeridas não amadurece, mas
títulos de bovinos leiteiros e bovinos de corte; as diferenças im-
torna-se inibida no início do quarto estágio larval (EL4). No
portantes nos climas subtropicais serão resumidas mais tafile.
final do outono, portanto, os bezerros podem abrigar mui -
tos milhares desses EL4' mas poucas formas em desenvol-
Bovinos leiteiros vimento ou adultos. Tais infecções em geral são assintomá-
ticas até ocorrer a maturação dos EL4 durante o inverno , e,
Os importantes fatos a seguir resultaram de estudos epidemioló- se grandes quantidades deles se desenvolverem simultane-
gicos (Fig. 12): amente, ocorre doença Tipo II. Quando a maturação não é
(1) Um número considerável de L} pode sobreviver ao inverno simultânea, pode não se manifestar sintomatologia clínica,
no pasto e no solo. Às vezes, os números são suficientes para mas as cargas de vermes adultos que se desenvolvem po-
precipitar doença Tipo I em bezerros três a quatro semanas dem desempenhar um papel epidemiológico significativo ,
contribuindo para a contaminação dos pastos na primavera.
Dois fatores, um de manejo e um climático, parecem aumen-
tar a prevalência de ostertagiose Tipo U.
O primeiro consiste na prática de deixar os bezerros em pasto
permanente de maio até o final de julho, mudando-os em segui-
- Larvas no pasto
da para campos de restolhos de feno ou silagem antes de colocá-
- Ovos nas fezes
los novamente no pasto original no final do outono. Neste siste-
ma, o acúmulo de LJ no pasto original ocorre a partir de meados
de julho, isto é, depois dos bezerros passarem para os restolhos
Larvas que de feno . Essas L3ainda se encontram presentes nos pastos quan-
sobreviveram ao inverno do os bezerros retornam no final do outono, e quando ingeridas
a maioria torna-se inibida.
Em segundo lugar, em verões secos, as L3 ficarnretidas no bolo
fecal ressecado e não podem migrar para o pasto até que ocor-
ram chuvas suficientes para umedecer o bolo fecal. Se as chuvas
atrasarem até o final do outono, muitas larvas liberadas no pasto
abril junho agosto outubro tornam-se inibidas após a ingestão, aumentando assim a chance
Fig. 12 Epidemiologia da ostertagiose bovina em zonas temperadas do hemisfério de doença Tipo II. Aliás, as epidemias de ostertagiose Tipo II
norte demonstrando aumento de larvas infectantes no pasto em meados de verão. são precedidas tipicamente por verões secos.
;
Helmilltologia Veterinária 13

Embora basicamente uma doença de bovinos leiteiros jovens, EFEITO DA INFECÇÃO POROSTERTAGIA
a ostertagiose pode, contudo, acometer grupos de animais mais SOBRE A LACTAÇÃO DE VACAS NO PASTO
velhos do rebanho, particularmente se tiveram pouca exposição
prévia ao parasita, uma vez que não existe imunidade etária sig- Embora as cargas de espécies de Ostertagia adultas em vacas
nificante à infecção. leiteiras usualmente sejam baixas, existe alguma evidência de que
A imunidade adquirida na ostertagiose é de desenvolvimento um único tratamento anti-helmintico de tais vacas no parto ou
lento, e os bezerros não adquirem um nível significativo de imu- logo após o parto pode melhorar a produção de leite. Entretanto,
nidade até o final de seu primeiro período de pastejo. Se forem, a vantagem econôrnica obtida com este tratamento varia co nsi-
então, estabulados durante O inverno, a imunidade adquirida ao deravelJnente de propriedade para propriedade e também aparen-
final do período de pastejo estará baixa na primavera seguinte, e temente de região para regi ão, e as bases existentes ainda são
os animais de um ano de idade reconduzidos ao pasto nesta oca- insuficientes para defender O tratamento rotineiro de rebanhos
sião são parcialmente suscetíveis e contaminam, assim, o pasto com na época das parições.
pequenas quantidades de ovos. Entretanto, a imunidade é rapida- Foi sugerido também que uma queda na produção de leite
mente restabelecida, e quaisquer sinais clínicos que ocorram em durante a lactação poderia ser conseqüente a edema e aumento
geral são de natureza transitória. Durante o segundo e o terceiro de permeabilidade da mucosa abomasal, provavelme nte pela
anos de pastejo, desenvolve-se urna forte imunidade adquirida, e reação de hipers ensibilidade associada a ingestão contínua e
os animais adultos em áreas endêmicas são altamente imunes à destruição de grandes quantidades de 1.,.
reinfecção e de pouca importância na epidemiologia. Uma exce-
ção a esta regra ocorre próximo ao período peripuerperal, quando DIAGNÓSTICO
a imunidade cai, particularmente em novi lhas, e há relatos de do-
ença clínica após o parto. A razão não é conhecida, mas pode de- Em animais jovens, baseia-se em:
correr do crescimento de larvas injbidas em seu desenvolvimento
como resultado de imunidade do hospedeiro. (1) Sintomatologia clínica de inapetência, perda de peso e di-
arréia.
Rebanhos de corte (2) Estação. Por exemplo, na Europa, o Tipo I ocorre de julho
a setembro e o Tipo II de março a maio.
Embora a epidemiologia básica em rebanhos de corte seja seme- (3) História do pastejo. Na doença Tipo I, os bezerros geral-
lhante à de bovinos leite iros, deve-se considerar a influência de mente são mantidos numa área por vários meses; por outro
animais adultos imunes que pastam ao lado de bezerros suscetí- lado, a doença Tipo II freqüentemente tem hi stória típica de
veis. Assim, em rebanhos de corte em que as parições ocorrem bezerros num pasto da primavera até meados do verão, sen-
na primavera, a ostertagiose é rara, pois a produção de ovos por do em seguida removidos e levados novamente ao pasto ori-
adultos imunes é baixa e a mortalidade de primavera das L:, que ginai no outono. As propriedades acometidas usualmente
sobreviveram ao inverno ocorre antes que os bezerros lactentes também têm história de ostertagiose em anos anteriores.
(4) Contagens ge ovos nas fezes. Na doença Tipo I, em geral
ingiram quantidades significativas de capim. Conseqüentemen-
são mais de 1.000 ovos por grama (opg) e constituem um
te, apenas pequenas quantidades de L3 tornam-se viáveis no pas-
auxílio valioso para o dia g nó stico~ no Tipo II, a contagem é
to mais tarde durante O ano.
altamente variável, pode até mesmo ser negativa e tem va-
Entretanto, quando as parições têm lugar no outono ou na
lor limitado.
primavera, a ostertagiose pode ser um problema em bezerros
(5) Níveis plasmáticos de pepsinogênio. Nos animais clinica-
durante o período de pastejo logo em seguida ao desmame, e a
mente acometidos de até dois anos de idade, esses níveis ul-
epidemiologia é então semelhante à dos bezerros leiteiros. A
trapassam 3 UI de tirosina (os níveis normais são de I UI em
ocorrência subseqüente de doença Tipo I ou Tipo II depende do
bezerros não-parasitados). O teste é menos seguro em bovi-
manejo de pasto dos bezerros após o desmame.
nos mai s velhos, em que valores altos não estão necessaria-
Em regiões do hemisfério sul com clima temperado, como a
mente relacionados a grandes cargas de vermes adultos, mas,
Nova Zelândia, o tipo sazonal é semelhante ao descrito para a
em vez disso, podem refletir extravasamento de plasma de
Europa, com ocorrência de doença Tipo I no verão e acúmulo de
um a mucosa hipersensível sob intenso desafio larval.
cargas de larvas inibidas no outono.
(6) Exame pós-morte. Se isto for viável, o aspecto da mucosa
Nas regiões com clima subtropical e chuvas de inverno, como
anormal é característico. Há um odor pútrido de conteúdo
partes do sul da Austrália, África Ocidental do Sul e algumas re-
abomasal em virtude do acúmulo de bactérias e do pH alto.
giões da Argentina, Chile e Brasil, o aumento na população de L,
Os vennes adultos, de coloração avennelhada e de 1,0 c m
ocorre durante o in verno, verificando-se surtos de doença Tipo I à
de comprimento, podem ser vistos num exame minucioso
medida que se aproxima o final do inverno. As larvas inibidas
da superfície mucosa. As cargas de vermes adultos ultrapas-
acumulam-se durante a primavera e, onde foi descrita a doença
sam tipicamente 40.000, embora com freqüência sejam en-
Tipo 11, ocorreram no final do verão ou no inicio do outono.
contradas quantidades menores em animais qu e estavam
Observa-se um tipo basicamente semelhante de infecção em
diarréicos por vários dias antes da necropsia.
algumas regiões do sul dos Estados Unidos, com chuvas não-
sazonais, como a Louisiana e o Texas. Nessas regiões, as larvas Nos animais mais velhos, a sintomatologia clínica e a hi stó-
acumulam-se no pasto durante o inverno, e o desenvolvimento ri a são semelhantes, mas o diagnóstico laboratori al é mais difí-
inibido tem lugar no final do inverno e início da primavera, com cil, pois as con tagens de ovos nas fezes e os níveis plasmáticos
surtos de doença Tipo II ocorrendo no final do verão ou no iní- de pepsinogênio são menos confiáveis. Uma técnica útil a ser
cio do outono. empregada nestas situações é efetuar uma contagem larval de
Os fatores ambientais que produzem larvas inibidas em regi- pasto nas áreas onde os animais estiveram pastando. Onde o ní-
ões subtropicais ainda não são conhecidos. vel de infecção é mais de 1.000 larvas por quilo de capim seco,
14 Parasit%gia Veterinária

a ingestão larval diária de vacas no pasto é superior a 10,000 veis à O. oSlertagi, até a maioria das ~ existentes no pasto ter
larvas. Este nível é provavelmente suficiente para causar doen- morrido.
ça clínica em animais adultos suscetíveis ou para perturbar o Às vezes, utiliza-se uma combinação des tes métodos, A épo-
funcionamento normal da mucosa gástri ca em vacas imunes. ca dos eventos nos sistemas descritos adiante aplica-se ao calen-
dário do hemisfério norte.
TRATAMENTO
Medicação anti-helmíntica profilática
A doença Tipo I responde bem ao tratamento nas doses padrões
com qualquer um dos modernos benzimidazóis (albendazol, fem- Como o período crucial de contami nação do s pastos co m ovos
bendazol ou oxfendazol), os pró-benzimidazóis (febantel, netobi- de o. ostertagi é o que vai até meados de julho, pode ser dado
mi n e ti ofanato), o levamisol ou as avennectinas/milbemicinas um dos eficazes anti-helllÚnticos modernos em duas ou três oca-
como a ivermectina. Todas estas drogas são eficazes contra larvas siões entre a ida para o pasto na primavera e julho a fim de redu-
em desenvolvimento e estágios adultos. Após o tratamento, os zir as quantidades de ovos depositados no pasto, Para os bezer-
bezerros devem ser transferidos para pastos que ainda não tenham ros que vão para o pasto no início de maio, são usado s dois trata-
sidos utilizados no mesmo ano. mentos três e seis semanas mais tarde, e nquanto os bezerros que
Para o tratamento bem-sucedido da doença Tipo II, é neces- vão para o pasto em abril requerem três tratamentos em interva-
sário usar drogas que sejam eficazes contras larvas inibidas e los de três semanas. Quando são utili zadas avermectin as paren-
também contra larvas em desenvolvimento e estágios adultos. terais, o intervalo após o primeiro tratamento pode ser prolonga-
Apenas os be nzimidazó is mod ernos ou as avermec tin asl do para cinco semanas em face da ati vidade residual co ntra lar-
milbemi cinas relacionados anteriormente são eficazes no trata- vas ingeridas.
mento da doença Tipo II quando utili zados em doses padrões, Atualmente, são disponíveis di versos bolus ruminais que pro-
embora os pró-ben zimidazóis também sejam eficazes em doses porcionam ou a liberação contínua de drogas anti-helITÚnticas
mais altas. Às vezes, com a administração oral do s benzimida- durante períodos de três a cinco meses ou a liberação por pulso
zóis, a droga ultrapassa o rúmem e entra diretamente no aboma- de doses terapêuticas de um anti -helmíntico em in tervalos de três
so, o que parece diminuir a eficácia, por causa da absorção e ex- semanas durante todo o período de pastejo. Estes são adminis-
creção m ais rápidas. trados a bezerros em primeiro período de pastejo ao irem para o
A área onde o surto teve origem pode ser utili zada por ovinos pasto e evitam eficazmente a contamin ação dos pastos e o sub-
ou ficar descansando até o mês de junho seguinte. Onde há in- seqüente ácúmulo de larvas infectantes. Embora proporcionan-
fecção simultânea por trematóides hepáticos, recomenda-se tra- do alto grau de controle de nematóides gastrintestinais, há algu-
tamento adicional com uma preparação trematoidicida. ma evidência sugerindo que os bovinos j ovens protegidos por
esses bolus ou outros esquemas eficazes de drogas profiláticas
CONTROLE são mais suscetíveis à infecção no segundo ano de pastejo. Isto
pode requerer tratamento anti-helmíntico adicional ou durante o
Tradicionalmente, a prevenção da ostertagiose é feita pelo trata- período de pastejo ou no estabulamento subseqüente.
mento rotineiro de bovinos jovens com anti-helmínticos durante A profilaxia anti-hel míntica tem a vantagem dos animais po-
o período em que os níveis larvais de pasto estão aumentando. derem ficar no mesmo pasto durante o ano todo e é particular-
Por exemplo, na Europa, isto envolvia um ou dois tratamentos mente vantajosa para a pequena propriedade com grande lota-
usualmente em julho e setembro, e em muitas propriedades esta ção de animais onde o pasto é restrito.
prática evitou doença e produziu índices de crescimento aceitá-
veis. Contudo, tem a desvantagem de que, como os bezerros es-
Tratamento anti-helmíntico e transferência para
tão sob desafio larval contínuo, seu desempenho pode ser preju-
dicado. Co m este sistema, também é necessário tratamen to anti-
pasto seguro em meados de julho
helmínti co dos animais es tabulados com uma droga eficaz con-
Este sistema, conhecido usualm ente co mo "tratar e transferir" ,
tra larvas hipobióticas para prevenir doença Tipo II.
Hoje. admite-se que a prevenção da ostertagiose por limita- baseia-se no conhecimento de que o aumento anual de L3 ocorre
ção de exposição à infecção seja um método de controle mais após meados de julho. Portanto, se os bezerros em campo desde
eficaz, o início da primavera receberem um tratamento anti-helmíntico
Isto pode ser feito deixando-se os bezerros em pastos de ca- no início de julho e forem transferidos imediatamente para um
pim novo , embora não se sai ba se deve ser recomendado para segundo pasto tal como restolhos de feno ou silagem. o nível de
novilhas leiteiras de reposição, pois poderia resultar num grupo infecção que se desenvolve no segundo pasto é baixo,
de anima is adu ltos suscetíveis. Uma medida melhor é permitir A única restrição a esta técnica é que, em determinados anos,
aos bo vinos jovens uma exposição à infecção larval suficie nte os números de LJ que sobrevivem ao inverno são suficientes para
para estimular a imun idade, mas não suficiente para causar que- causar infecções maciças na primavera, podendo ocorrer oster-
da na produção. O fornecimento deste "pasto seguro" pode ser tagiose clínica em bezerros em abri l e maio, Entretanto, uma vez
obtido de duas maneiras: posto em ação o sistema " tratar e tran sferir" por alg uns anos , é
Primeiramente, usando-se anti-helmínticos para limi tar acon- improvável que surja este problema.
taminação do pasto com ovos durante períodos em que o clima é Em alguns países europeus, como a Ho landa, obtém-se o
ideal para o desenvolvimento dos estágios larvais de vida livre, mesmo efeito retardando-se a ida de bezerros para o pasto até
isto é, a primavera e o verão nos climas temperados ou o outono meados do verão. Este método proporciona bom controle da os~
e o inverno nos subtrópicos. tertagiose, porém muitos pec uari stas não querem continuar es-
Alternativamente, de ixando o pasto descansar ou ocupando- tabulando e dando ração aos bezerros onde há grande disponibi-
o com outros hospedeiros, como os ovinos, que não são suscetí- lidade de pasto.
Helminlologia Veterinária 15

Pastejo alternado de bovinos e ovinos subclínicas, foi demonstrado em condições experimentais e na-
turais que a O. circumcincta causa acentuada diminuição do ape-
Este sistema utiliza idealmente uma rotação de três anos de bo- tite, e isto, juntamente com perdas de proteínas plasmáticas no
vinos, ovinos e culturas. Como o período de vida efetiva da trato gastrintestinal, resulta em interferência no metabolismo
maioria das L3de O. ostertagi tem menos de um ano e a infec- protéico pós-absorção e em menor grau na utilização de energia
ção cruzada entre bovinos e ovinos se limita amplamente a O. metabolizável. Em cordeiros com infecções moderadas por es-
leplOspicularis, Trichostrongylus axei e ocasionaJmente a C. pécies de Osterwgia, a avaliação da carcaça revela deposição
oncophora, teoricamente é possível obter-se bom controle da deficiente de proteínas, gordura e cálcio.
ostertagiose bovina. É particularmente apUcável em proprieda-
des com alta proporção de terra disponível para culturas e refor- SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA
ma de pastagens, mas não tanto para áreas de e ncosta ou monta-
nhosas. Contudo, nas últimas, há relatos de razoável controle com
O si nal clínico mais freqüente é perda de peso acentuada. A di -
rotação anual de bovinos de corte e ovinos. arréia é intermitente, e, embora sejam comuns quartos posterio-
A desvantagem dos sistemas de pastejo alternado é que obri -
res sujos, as fezes líquidas que caracterizam a ostertagiose bovi-
gam a um regime rigoroso e inflexível na utilização da terra, o
na são observadas com menos freqüência.
que pode ser considerado impraticável pelo pecuarista. Além
disso, em climas mai s quentes onde prevalecem espécie!) ut::
Haemonchus, tal sistema pode vir a ser perigoso, uma vez que EPIDEMIOLOGIA
este gênero é muito patogênico e se estabelece tanto em ovinos
como e m bovinos. Na Europa, as quantidades de L, de espécies de Os/er/agia na
pastagem aumentam de modo acentuado a partir de meados do
Pastejo rotativo de bovinos adultos e jovens verão, ocasião em que aparece a doença.
Essas larvas origi nam-se principalmente de ovos eliminados
Este sistema envolve rotação contínua de piquetes, em que os be- nas fezes das ovelhas durante o período peripuerperal, de apro-
zerros mais jovens suscetíveis pastam antes dos adultos imunes e ximadamente duas semanas antes do parto até seis semanas pós-
pennanecem em cada piquete apenas o tempo suficiente para re- parto (Fig. 13). Os ovos eliminados por cordeiros, de cargas de
mover o capim mais alto folhudo antes de serem transferidos para ovos resultantes da ingestão de larvas que sobreviveram ao in-
o piquete seguinte. Os adultos imunes que chegam consomem, verno, também contribuem para a contaminação do pasto.
então, as partes inferiores mais fibrosas das granúneas, que con- É importante compreender que são esses ovos, depositados
têm a maioria das~. Como as fezes produzidas pelos adultos imu- na primeira metade do período de pastejo de abril a junho, que
nes contêm poucos ovos de o. oSTerlugi ou não contêm, a contami- dão origem às populações potencialmente perigosas de LJ de
nação do pasto é bastante reduzida. O sucesso deste método depende julho a outubro.
da di sponibilidade de piquetes cercados suficientes para evitar Se ingeridas antes de outubro, tais larvas, em sua maioria,
superlotação, e os adultos devem ter boa imunidade adquirida. amadurecem em três semanas; a partir daí, muitas têm o desen-
Ao mesmo tempo que este sistema apresenta muitos atrativos, volv imento inibido por vários meses e podem precipitar doença
sua principal desvantagem é o fato de ser dispendioso em rela- Tipo II quando amadurecem.
ção à construção de cercas, exigi ndo também cuidadosa super- A imunidade é adquirida lentamente e requer ex{X)sição du-
visão. Seus pontos mais favoráveis são a excelente utilização de rante dois períodos de pastejo antes que se desenvoh'a resi stên-
pasto permanente e o controle de parasitismo interno sem ter que cia sign ificativa à infecção. Subseqüentemente, as ovelhas adul-
recorrer à terapia. tas abrigam apenas populações muito pequenas de espécies de
OSlertagia, exceto durante o APP.
OSTERTAGIOSE OVINA
Nos ovinos, a o. circumcincta e a o. trifurcata são responsávei s
por surtos de ostertagiose clínica, particularmente em cordeiros. - Eliminação de ovos nas fezes
de ovelho
Na Europa, ocorre uma síndrome clínica análoga à osterlagiose _.- Eliminação de ovos nas lezes
de cordeiro
bovina Tipo I de agosto a outubro; em seguida, há desenvolvi - _ Larvas no pasto
mento inibido de muitas larvas ingeridas, e ocasionalmente re-
lata-se uma síndrome Tipo II no final do inverno e início da pri-
mavera, especial mente em adultos jovens.
Parto
Nas regiões subtropicais com chuvas de in verno, a ostertagi-
ase ocorre principalmente no final do inverno. I

CICLO EVOLUTIVO
Tanto as fases de vida livre como as parasitárias do ciclo evolu-
tivo são semelhantes às da espécie bovina.

PATOGENIA
Fig. 13 Epidemiologia da gastrenterite parasitária ovina em zonas temperadas do
Nas infecções clínicas, é semelhante à situação nos bovinos, e hemisfério norte demonstrando aumento peripuerperal nas contagens de ovos em
as mesmas lesões estão presentes à necropsia. Nas infecções fezes de ovelhas e o aumento em meados do verão de larvas infectantes no pasto.
16 ParasilOlogia Veterillária

A epidemiologia nas regiões subtropicais é bas icamente seme- les recomendados para ovinos e bovinos não são registrados para
lhante à das regiões temperadas, exceto pelo fato da época sazo- uso em caprinos. Onde se utiliza leite de cabra ou seus deriva-
nal dos eventos ser diferente. Em muitas dessas áreas, o parto co- dos para consumo humano, devem ser observados os períodos
incide com um aumento do crescimento do pasto que ocorre com de carência para as diferentes drogas. O tiabendazol possui pro-
o início das chuvas no final do outono ou no inverno. Isto, por sua priedades an tifúngicas e não deve ser utilizado quando O leite for
vez, coincide com condições favoráveis ao desenvolvimento dos processado para queijos.
estágios de vida li vre de espécies de Ostertagia, e, assim, acumu-
lam-se larvas infectantes durante o inverno, causando problemas
clínicos ou queda de produção na segunda metade do inverno; Marslwl/agia marsl1al/i
ocorre desenvolvimento larval inibido no final do inverno ou no
início da primavera. Mais uma vez, as fontes de contaminação dos Encontrada no abomaso de pequenos ruminantes nos trópicos e
pastos são as ovelhas durante o APP e os cordeiros após a inges- subtrópicos, incluindo o sul da Europa, os Estados Unidos, a
tão de larvas que sobreviveram ao verão. América do Sul, a Índia e a Rússia. É semelhante às espécies de
A importância relativa dessas fontes em qualquer região va- OsterIagia , podendo ser diferenciada por seu maior comprimento
ria de acordo com as condições durante o período adverso para (até 2 cm). Os ovos são muito maiores e lembram os de NemalOdi-
sobrevivência larval. Onde o verão é muito qu ente e seco, a lon- nlS battus.

gevidade das L3 é reduzida, exceto nas áreas sombreadas, que O cicio evolutivo é semelhante ao de Ostertagia e há pene-
podem atuar como reservatórios de infecção até o inverno seguin- tração nas glândulas gástricas, com conseqüente fonnação no-
te. Embora as L, possam persistir em fe zes de ovinos durante dular. Cada nódulo contém três ou quatro parasitas em desen-
condições climáticas adversas, a proteção é provavelmente me- volvimento e mede 2 a 4 mm de diâmetro.
nor que a proporcionada pelo bolo fecal bovino mai s abundante. Não se conhece a patogenicidade da M. marshalli.

DIAGNÓSTICO
Haemol1chus
Baseia-se na sintomatologia clínica, na sazonaUdade da infecção,
nas contagens de ovos nas fezes e, se possível, no exame pós- Este nematóide abomasal hematófago pode ser respon sável por
morte, quando podem ser observadas as lesões características no extensas perdas em ovinos e bovinos, especialmente em regiões
abomaso. Os níveis plasmáticos de pepsinogênio estão acima do tropicais.
normal de I UI de tirosina e usualmente ultrapassam 2 UI e m
Hospedeiros:
ovinos com infecções maciças. Bovinos, ovinos e caprinos.

TRATAMENTO Localização:
Abomaso.
A ostertagiose ovina responde bem ao tratamento com qualquer um
dos benzimidazóis ou pró-benzimidazóis, o levamisol, que é efi- . Espécies:
caz contra larvas inibidas e m ovinos, ou as avermectinasl Haemonchus contortus
milbemicinas. De preferência, os cordeiros tratados devem ser trans- H. plaeei
feridos para pastos descontaminados, e, se isto não for possível, pode H. similis.
ser necessário repetir o tratmnento em intervalos mensais, até os
Até recentemente, a espécie ovina e ra denominada H.
níveis larvais do pasto diminuírem no início do inverno.
conlOrIus e a espécie bovi na H. p/aeei. Entretanto, existe agora
evidência cada vez maior de que es tas são a espécie úni ca H.
CONTROLE contor/us, apenas com adaptações de linhagens para bovinos e
ovinos.
Ver Tratamento e controle da gastrenterite parasitária (GEP) em
ovinos, adiante. Distribuição:
Mundial. Mais importante em regiões tropicais e subtropicais.
OSTERTAGIOSE CAPRINA
IDENTIFICAÇÃO
A caprinocultura vem aumentando no mundo inteiro e geralmente
os animais são criados em regime de pasto permanente. Foi de~ Macroscópica:
monstrado que os caprinos são muito suscetíveis às espécies de Os adultos são facilmente identificados por sua localização es-
Ostertagia ctUe predominam nos ovinos, O. circumcincta e o. pecífica no abomaso e seu grande tamanho (2 a 3 cm). Em exem-
trifurcata, e também à o. leptospicularis que se instala igualmen- plares frescos, os ovários brancos enrolando-se em espiral em
te bem em ovinos e bovinos. Há também alguma evidência de volta do intestino cheio de sangue produzem um aspecto de «bas-
que a o. osterlagi pode estabelecer-se em caprinos. tão de barbeiro".
Como nos ovinos, há um APP acentuado nas cabras; esses ovos
são a principal fo nte de contaminação dos pastos e, finalmente, as Microscópica:
L3que podem infectar então cabritos em irúcio de pastejo. O macho te m um lobo dorsal assimétrico e espículos com gan-
A patogenia, o diagnóstico, o tratamento e as medidas de con- chos; a fê mea geralmente tcm um apêndice vulvar. Em ambos
trole são como para os outros ruminantes, mas deve-se tomarcui- os sexos, há papilas cervicais e uma lanceta minúscula no interi-
dado na escolha do anti-helminlico, uma vez que muitos daque- or da cápsula bucal (Fig. 14).
Helmintologia Veterinária 17

(a)
(e)

l
I'
I'

i'

I
1&

r
I


(d)
(b)

Fig. 14 Haemonchus contortu$. (a) Macho - bolsa copuladora e espículos; (b) Fêmea - apêndice vulvar; (c) Papilas cervicais; (d) Lanceia bucal.
18 Parasitologia Veterinária

CICLO EVOLUTIVO identificadas mais facilmente (Prancha 1), letargia, fezes de co-
loração escura e queda de lã. A diarréia geralmente não é uma
É direto, e a fase pré-parasitária é tipicamente de tricostrongilí- característica.
deo. As fêmeas são ovíparas prolíferas. A eclosão dos ovos em A hemoncose crónica está associada a progressiva perda de
LI aCOITe no pasto que podem desenvolver-se em L3 num perío- peso e fraqueza, não se observando anemia grave ou edema vi-
do muito curto de cinco dias, mas o desenvolvimento pode ser sível.
retardado por semanas ou meses em condições frias. Após a in-
gestão e o desencapsulamento no rúmen, as larvas sofrem duas EPIDEMIOLOGIA
mudas, em íntima aposição às glândulas gástricas. Exatamente
antes da muda final, desenvolvem a lanceta perfurante, que lhes A epidemiologia do H. contorlus é mais bem considerada sepa-
permite obter sangue dos vasos da mucosa. Como adultos, mo- radamente, dependendo de sua ocorrência em regiões tropicais
vem-se livremente na superfície da mucosa. O período pré-pa- e subtropicais ou em regiões temperadas.
tente é de duas a três semanas em ovinos e quatro semanas em
bovinos. Regiões tropicais e subtropicais
HEMONCOSE OVINA Como o desenvolvimento larval do H. contortus ocorre de modo
ideal em temperaturas relativamente altas, a hemoncose é basi-
PATOGENIA camente uma doença de ovinos em climas quentes. Contudo,
como a umidade alta, pelo menos no microclima das fezes e da for-
A patogenia da hemoncose é essencialmente a de uma anemia ragem' também é essencial para o desenvolvimento e a sobrevivên-
hemorrágica aguda, provocada pelos hábitos de hematofagia dos cia das larvas, a freqüência e a gravidade dos surtos de doença
vermes. Cada verme remove cerca de 0,05 mI de sangue ao dia dependem amplamente das chuvas em qualquer área em parti-
por ingestão e por perdas pelas lesões, de tal modo que um ovi- cular.
no com 5.000 H. contortus pode perder cerca de 250 ml ao dia. Havendo tais condições climáticas, a súbita ocorrência de
Na hemoncose aguda, a anemia torna-se evidente cerca de hemoncose clínica aguda parece depender de outros dois fato-
duas semanas após a infecção e se caracteriza por diminuição res. Primeiramente, a alta produção de ovos de vermes nas fezes
dramática e progressiva no volume globular. Durante as sema- entre 2.000 e 20.000 opg, mesmo em infecções moderadas, sig-
nas subseqUentes, o hematócrito em geral se estabiliza num ní- nifica que podem aparecer muito rapidamente populações maci-
vel baixo, mas apenas à custa de um aumento compensador de ças de L] no pasto. Em segundo lugar, ao contrário de muitas
duas a três vezes da erirropoese. Contudo, em face da contínua infecções por helmintos, há pouca evidência de que os ovinos
perda de ferro e proteína no trato gastrintestinal e da inapetência em áreas endêmicas desenvolvam imunidade adquirida eficaz
crescente, a medula acaba por se esgotar, eo hematócrito cai mais contra Haemonchus, de tal modo que há contaminação contínua
ainda antes de ocorrer a morte. do pasto.
Quando as ovelhas são acometidas, a conseqüente falta de leite Em determinadas áreas dos trópicos e subtrópicos, como a
pode resultar na morte dos cordeiros lactentes. Austrália, o Brasil, o Oriente Médio e a Nigéria, a sobrevivência
À necropsia, podem estar presentes entre 2.000 e 20.000 ver- do parasita também está associada à capacidade das larvas de H.
mes na mucosa abomasal, que exibe numerosas pequenas lesões contortus de sofrer hipobiose. Embora não se conheça o dispa-
hemorrágicas (Prancha 1). O conteúdo abomasal é líquido e cas- rador deste fenómeno, a hipobiose ocorre no início de uma esta-
tanho-escuro por causa da presença de sangue alterado. A carca- ção seca prolongada e permite que o parasita sobreviva no hos-
ça é pálida e edematosa, e a medula óssea vermelha expande-se pedeiro como L4 inibida em vez de amadurecer e produzir ovos
das epífises para a cavidade medular (Prancha I). que inevitavelmente não se desenvolveriam no pasto árido. A
Menos comumente, em infecções maciças de até 30.000 ver- retomada do desenvolvimento verifica-se exatamente antes do
mes, ovinos aparentemente sadios podem ter morte súbita por início das chuvas sazonais. Em outras regiões tropicais, como a
grave gastrite hemorrágica intensa. É a denominada hemoncose África Oriental, não se observa um grau significativo de hipobi-
hiperaguda. ose talvez por causa das chuvas mais freqUentes nestas áreas, tor-
Talvez tão importante quanto a hemoncose aguda em regiões nando desnecessário tal processo evolutivo.
tropicais seja a síndrome menos conhecida de hemoncose crô- A sobrevivência de infecção por H. contortus nos pastos tro-
nica. Esta síndrome desenvolve-se durante uma estação seca picais é variável, dependendo do clima e do grau de sombrea-
prolongada, quando a reinfecyão é illsigH i ricante lIlas o pasto se menta, mas as larvas infectantes são relativamente resistentes à
torna deficiente em nutrientes. Num período desses, a contínua dessecação e algumas podem sobreviver por um a três meses no
perda de sangue por pequenas cargas persistentes de várias cen- pasto ou nas fezes.
tenas de vermes é suficiente para produzir sintomatologia clíni-
ca assoc iada principalmente mais a perda de peso, fraqueza e Áreas temperadas
inapetência do que a anemia acentuada.
Nas Ilhas Britânicas, nos Países Baixos e provavel mente em
SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA outras partes do norte da Europa e no Canadá, que estão entre as
áreas menos favoráveis para a sobrevivência do H. contor/us, a
Nos casos hiperagudos, os ovinos morrem subitamente por gastrite epidemiologia é diferente da que se observa nas zonas tropicais.
hemorrágica. Pejas informações disponíveis, as infecções parecem desenvol-
A hemoncose aguda caracteriza-se por anemia, graus variá- ver-se de duas maneiras. Talvez a mais comum seja o ciclo anu-
veis de edema, dos quais a forma submandibular e a ascite são al único. As larvas infectantes que se desenvolveram de ovos
Helmintologia Veterinária L9

depositados por ovelhas na primavera são ingeridas por ovelhas Além de profIlaxia anti-helrnintica, alguns estudos, especial-
e cordeiros no início do verão. A maiori a delas fIca inibida no me nte no Quênia, indicaram o valor potenc ial de algumas raças
abomaso como EL4 e não completa o desenvolvimento até a pri- o vinas indígenas que parecem ter al ta resistência natural à infec-
mavera seguinte. Durante o período de maturação dessas larvas ção por H. contortus. Provavelmente essas raças poderiam ser
hipobióticas, pode ocorrer sintomatologia clínica de hemoncose de valor em regiões em desenvolvi mento onde a vigilância vete-
aguda, e nas ovelhas isto freqüentemente coincide co m o parto. rinária é deficiente.
Em alguns anos, entretanto, observa-se hemoncose clínica em Nas zonas temperadas, as medidas indicadas para o controle
cordeiros no campo no final do verão. Não se conhece a epide- de gastrenterite em ovi nos usualmente são suficientes para pre-
miologia básica, mas talvez estej a associada à contaminação do venir surtos de hemoncose.
pasto por aque la proporção de larvas ingeridas que não sofreram Ex istem atualmente pesqu isas em andamento para determi-
hipobiose no início do verão. nar a eficácia de uma vacina recombinante baseada numa g lico-
proteína da membrana de microvilosidades intestinais de estági-
DIAGNÓSTICO os parasitários de H. contortus.

A história e a sintomatologia clínica com freq üência são sufici- HEMONCOSE CAPRINA
entes para o diagnósti co da síndrome aguda, especialmente se
confirmada por contagens de ovos de vermes nas fezes. Os caprinos são altamente suscetíveis ao H. conlortus, particu-
À necropsia, também é útil prestar atenção às alterações do larmente quando são impedidos de comer brotos e todo o seu
abomaso e da medula nos ossos longos. As alterações em geral consumo alimentar se origina de pastos.
são evidentes em alllbos, embora nos ovinos que acabaram de so-
frer "autocura" (ver adiante) ou se encontram numa fase terminal
da doença a maior parte da carga de vermes possa ter desapareci- HEMONCOSE BOVINA
do do abomaso.
Na hemoncose hiperaguda, apenas o abomaso pode apresen- A doença causada por H. placei o UH. similis, o último possuin-
tar alterações, uma vez que a morte pode ter sido tão rápida que do um apêndice vul var característico (Fig. IS), é semelhante em
as alterações medulares são mínimas. muitos aspectos à hemo ncose em ovinos e é importante nos tró-
O diagnósti co de hemoncose crônica é mais difíci l, por causa picos e subtrópicos durante as chuvas sazonais, quando podem
da presença simultânea de subnutrição, e a confirmação pode ter ocorrer surtos graves. Entretanto, a doença é registrada também
que depender do desaparecimento gradativo da síndrome depois ao final de uma longa estação seca, por causa da maturação de
do tratamento anti -helmíntico. larvas hipobióticas.

TRATAMENTO

Quando ocorre um surto agudo, os ovinos devem ser tratados com


um dos benzimidazóis, levamisol, uma avermectinalmilbemicina
ou sali cilanilida e transferidos imediatamente para pasto não
ocupado recentemente por ovinos. Quando o pasto ori ginal é
utilizado novamente, devem ser tomadas medidas profiláticas,
uma vez que podem ter sobrevivido larvas suficien tes para insti -
tuir novo ciclo de infecção. A hemoncose crónica é tratada de
modo semelhante. Se poss ível, os novos pastos devem ter bom
valor nutritivo; alternativamente, pode ser oferecida alguma ali-
mentação suplementar.

CONTROLE

Nos trópicos e subtrópicos, o controle varia, dependendo da du -


ração e do número de períodos no ano em que as c huvas e a tem-
peratura permitem o desenvolvimento de altos nívei s de larvas
de H. contortus no pasto. Nestas ocasiões, pode ser necessário
usar um anti -helmíntico em intervalos de duas a quatro semanas,
dependendo do grau de desafio. Os ovinos também devem ser
tratados pelo menos uma vez no início das chu vas prolongadas,
para remover as larvas hipobióti cas persistentes cuj o desenvol-
vimento poderia criar um risco futuro. Para este fim, recomen-
da-se um dos modernos benzimidazóis ou uma avermectina/
mil bemicin a.
Em algumas áreas produtoras de lã onde o Haemonchus é
endêmico, pode-se util izar disofenol, closantel ou rafoxanida, que
têm efei to profilático residual. Em razão do lo ngo período de
.
carência, são de uso limitado em animais produtores de carne. Fig. 15 Haemonchus similismostrando a vulva situada na ponta do apendicevulvar.

.1
20 Parasitologia Veterinária

Ao contrário da hemoncose em ovinos, os bovinos no campo Localização:


com mais de dois anos de idade são relativamente imunes, embo- Intestino delgado, exceto T. axei e T. tenuis.
ra isto possa ser alterado por condições secas que resultam em
subnutrição e intenso desafio por congregação de animais em vol- Espécies:
ta de fontes de água. O tratamento e o controle são semelhantes Trichostrongylus axei abomaso de ruminantes e estômago de
aos descritos para H. contortus em ovinos. eqüinos e suínos
T. colubriformis ruminantes
o FENÔMENO DE AUTOCURA T. vitrinus ) ovinos e caprinos
T. capricola
Em regiões de hemoncose endêmica, freqüentemente se obser- T. retortaeformis coelhos
va que após o advento de um período de chuvas intensas as con- T. tenuÍS intestino delgado e cecos de aves de
tagens de ovos de vermes nas fezes de ovinos infectados por H. caça.
contortus caem para níveis próximos a zero, em virtude da eli-
minação da maior parte da carga de vermes adu ltos. Este evento Há uma série de outras espécies de ruminantes com distribui-
é denominado comumente fenômeno de autocura e é reprodu- ção e importância mais locais, como T. rugatus, T.falculatus, T.
zido experimentalmente por sobreposição de uma infecção por probolurus e T. longispicularis.
larvas de H. contortus em uma infecção adulta existente no abo-
maso. A eliminação da população de vermes adultos é conside- Distribuição:
rada a conseqüência de uma reação de hipersensibilidade do tipo Mundial.
imediata a antígenos derivados das larvas em desenvolvimento.
Supõe-se que um mecanismo semelhante atue na autocura de IDENTIFICAÇÃO
ocorrência natural, quando grandes quantidades de larvas atin-
gem o estágio infectante no pasto após as chu vas. Macroscópica:
Embora este fenômeno tenha um mecanismo imunológico, não tOs adultos são pequenos e capiliformes, usualmente com menos
está necessariamente associado a proteção contra reinfecção, uma de 7 mm de comprimentô, sendo difícil vê- los a olho nu.
vez que o desafio larval com freqüência atinge a maturidade.
Outra explicação do fenômeno de autocura que ocorre no Microscópica:
campo baseia-se na observação de que pode acontecer em cor- Os vermes não têm cápsula bucal aparente. Um caráter genérico
deiros e adultos si multaneamente e no pasto com números des- mais útil é o sulco excretor distinto na região esofágica (Fig. 16).
prezíveis de larvas infectantes. Isto sugere que o fenômeno tam- Os espículos são espessos e não-ramificados e no caso do T. axei
bém pode ser causado, de algum modo inespecífico, pela inges- também têm comprimentos diferentes; na fêmea, a cauda afi la-
tão de capim recém-brotado. se abruptamente (Fig. 16) e não há apêndice vu lvar. No T. axei,
Qualquer que seja a causa, a autocura provavelmente é de valor os ovos dispõem-se longitudinalmente enfileirados.
mútuo para o hospedei ro e para o parasita. O primeiro ganha um
descanso temporário da perda de sangue persistente, enquanto a CICLO EVOLUTI VO
população de parasitas que estão envelhecendo é finalmente subs-
tituída por uma vigorosa geração nova. É direto e a fase pré-parasitária 6 li picamente de tricostrongi-
lídeos, exceto que o desencapsu lamento da ~ das espécies in-
Mecistocirrus digita/tis testinais ocorre no abomaso. Em condições ótimas, o desen~ol ­
vimento de ovo até o estágio infectante ocorre em uma a duas
semanas.
Este parasita abomasal hematófago, que a olho nu é indistinguí-
A fase parasitária é não-migratória e o período pré-patente em
vel do H. conlOrtus, é comum em bubalinos e bovinos em de-
ruminantes é de duas a três semanas. Nos eqüinos, o T. axei tem
terminadas regiões da Ásia. Microscopicamente, é de mai s fácil
um período pré-patente de 25 dias, enquanto em aves de caça
distinção do último por ter longos espículas estreitos. O período
infectadas por T. tenu;" é de apenas I O dias.
pré-patente também é mai s longo, se ndo de 60 a 80 dias.
A patogenia é semelhante à do H. contortus em ovinos e tem
a mesma importância econômica. PATOGENIA

Após a ingestão, as ~ das espécies intestinais penetram entre as


Trichosl rollgy/ tiS glândulas epiteliais da mucosa, com formação de túneis sob o
epitélio, mas acima da lâmina própria (Prancha II). Quando os
O Trichoslrongylus raramente é um patógeno primário em regi- túneis subepiteliais contendo os vennes em desenvolvimento se
ões temperadas, mas em geral é um componente de gastrenterite rompem e liberam os vermes jovens cerca de 10 a 12 dias após a
parasitária em ruminantes. Ao contrário, nos subtrópicos é uma infecção, há hemorragia e edema consideráveis, com perda de
das causas mais importantes de gastrenterite parasitária. Uma es- proteínas plasmáticas na luz intestinaL Macroscopicamente, há
pécie, o T. axei, também é responsável por gastrite em eqüinos, enterite, sobretudo no duodeno; as vilosidades tomam-se defor-
enquanto o T. tenuis tem sido incriminado em surtos de enterite madas e achatadas, reduzindo a área viável para absorção de nu-
grave em aves de caça. trientes e líquidos. Muitas destas áreas, entretanto, parecem nor-
mais. Onde os parasitas se agrupam numa pequena área, é eviden-
Hospedeiros: te a erosão da superfície mucosa (Prancha II). Nas infestações ma-
Ruminantes, eqüinos, suínos, coelhos e aves. ciças, ocorre diarréia que,juntamente com a perda de proteínas na
Helmintologia Veterinária 21

(a)
(c)

(b) (d)

Fig. 16 Algumas características de espécies de Trichostrongylus. (a) Sulco excretor na região esofágica (i); (b) Aspecto da cauda da fêmea; (c) Espículas desiguais de
T. axei; (d) Espículos semelhantes a folhas de T. vitrinus; (e) Ponta "de arpão" de espículas de T. colubriformis.
22 Parasit% gia Veterinária

Até recentemente, a hipobiose não era considerada uma ca-


racterística deste gênero. Contudo, agora há ampla evidência em
regiões temperadas de que a hipobiose desempenha um papel
importante na epidemiologia, sendo a ocorrênci a sazonal seme-
lhante à de espécies de Ostertagia. Ao contrário de outros tri-
costrongilídeos, ocorre hipobiose no estágio de ~, embora ain-
da não esteja determinado o seu papel em surtos da doença.
A imunidade a Trichostrongylus, como em Ostertagia, é ad-
quirida lentamente e, nos ovinos e provavelmente nos caprinos,
declina durante o período peripuerperal.

DIAGNÓSTICO

Baseia-se na sintomatologia clínica, na ocorrência sazonal e, se


possível, nas lesões ao exame pós-morte. As contagens de ovos
nas fezes também constitu em um auxílio útil para o diagnóstico.
e mbora sejam necessárias culturas de fezes para a ide ntificação
genérica das larvas.

TRATAMENTO E CONTROLE
(e) Dependendo do hospedeiro, são co mo os descritos para osterta-
giose bovina, gastrenterite parasitária em ovinos e estrongilose
Fig. 16 (continuação) nos eqüinos.

INFECÇÃO POR T. TENUlS


luz intestinal, resulta em redução de peso. Há regi stro também de
Nas aves de caça, as infecções maciças produze m uma tiflite
deposição diminuída de proteína, cálcio e fósforo.
he morrágica aguda e fatal. As infecções mais leves resultam
No caso de T. axei, as alterações provocadas na mucosa gás-
numa síndrome crônica caracterizada por anemia e emagrecimen-
trica são semelhantes às de OSlertagia com alteração no pH e
to. Nas criações de aves de caça, a terapia com levamisol na água
aumento de permeabilidade da mucosa. Uma diferença é que os
de beber demonstra ser útil, porém mais importante é remover
vermes penetram entre as glândulas, e não nas glândulas como
as instalações regularmente, para evi tar o acúmu lo de larvas. Se
em Os/er/agia. A fusão das lesões nodulares subseqüentes mui-
possível, os viveiros não devem ser colocados nas mesmas áreas
tas vezes resulta em placas ou lesões anulares (Prancha II).
em anos sucessivos.
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA
Cooperia
Os principais sinais clínicos em infecções maciças são perda de
peso rápida e diarréia. Em níveis mais baixos de infecção, inape- Nas áreas temperadas. membros do gênero Cooperia desempe-
tência e baixos índi ces de crescimento, acompanhados às vezes nha m usualmente papel secundário na patogeni a da gastrenteri-
por fezes amolecidas, são os sinais comuns. Freqüentemente é te parasitária de ruminantes, embora os tricostrongilídeos pos-
difícil distinguir os efeitos de infecções baixas por subnulTi ção. sam estar presentes em maior número. Em algumas áreas tropi-
cais e subtropicais, entretanto, algumas espécies são responsá-
EPIDEMIOLOGIA veis por grave enterite em bezerros.

Os ovos embrionados e as ~ infectantes de Trichostrongylus pos- Hospedeiros:


suem alta capacidade de sobreviver em condições adversas, sejam Ruminantes.
de frio extremo ou dessecação. Em áreas temperadas, corno na Grã-
Bretanha, as L3resistem bem ao inverno, às vezes em números su- Localização:
ficientes para desencadear problemas clínicos na primavera ..Mais Intestino delgado.
comumente, as quantidades de larvas aumentam no pasto no verão e
no outono, dando origem a problemas clínicos durante estas estações. Espécies:
No hemisfério sul , as larvas acumulam-se no final do inver- Cooperia oncophora }
no e em geral se observam surtos na primavera. Na Austrália, C. ptmctata bovinos
após um período de seca, a chegada das chu vas demonstra rei- C. pectinata
dratar grandes quantidades de L3 aparentemente dessecadas (ani- C. surnabada (sin. C. mcmasteri) bovinos e ovinos
drobiose) que se tornam, então, ativas e rapidamente viáveis para C. curticei ovinos e caprinos.
animais no campo. Em circunstâncias semelhantes no sul do
Brasil em 1958,20% de uma população total de ovinos de 12 Distribuição:
milhões morreram por tricostrongilose intestinal. Mundial.
Helmintoiogia Veterinária 23

IDENTIFICAÇÃO DIAGNÓSTICO, TRA TAMENTO E CONTROLE

Macroscópica: Os princípios são semelhantes aos aplicados na ostertagiose bo-


Em tamanho, as Cooperia são semelhantes às OSlerlagia. As vina e na GEP em ovinos.
características mais notáveis são o "aspecto semelhante a corda
de relógio" da C. curticei e as bol sas copuladoras muito grandes
em todas as espécies. Hyostrongy/us

Microscópica: Este parasita é responsável por uma gastrite crôn ica em suínos,
As principais características genéricas (Fig. 17) são a pequena particularmente fêmeas jovens e porcas.
vesícula cefálica e as estrias cuticulares transversais na região
esofágica. Os espículos em geral têm um prolongamento seme- Hospedeiro:
lhante a asa na região central e freq üentemente apresentam sul- Suíno.
cos; não ex iste gubernáculo. As fêmeas usualmente possuem um
pequeno apêndice vulvar e uma longa cauda pontiaguda. Localização:
Estômago.
CICLO EVOLUTIVO
Espécie:
É difeto e típico da superfamília. As exigências bionômicas dos Hyostrongylus rubidus.
estágios de vida livre variam de acordo com a espécie. Assim,
por exemplo, as da C. ollcophora e C. curticei, encontradas prin- Distribuição:
c ipalmente em áreas temperadas, são semelhantes às de Mundial.
Osterlag;a~ a C. punCIata e a C. pectinata, mais comuns em áre-
as mais quentes, têm exigências semelhantes às de Haemonchus. IDENTIFICAÇÃO
Na fase parasitária, as duas espécies comuns de regiões tempe-
radas desenvolvem-se na superfície da mucosa intestinal, enquan- Macroscópica:
to com as outras ocorre alguma penetração do epitélio. O perío- Vermes avermelhados delgados de 5 a 8 mm de comprimento.
do pré-patente varia de 15 a 18 dias.
Microscópica:
PATOGENIA Há uma pequena vesícu la cefálica, e os espículos lembram
OSlertagia, embora tenham apenas dois ramos distais.
A C. oncophora e a C. curticei geralmente são consideradas pa-
tógenos moderados em bezerros e cordeiros, respecti vamente, CICLO EVOLUTIVO
embora em alguns estudos tenham sido associadas a inapetência
e baixos ganhos de peso. Desenvolve-se forte imunidade à rein- Típico da superfanulia. Os estágios de vida li vre e parasitários
fecção depois de um ano. são semelhantes aos de Ostertagia. O período pré-patente é de
A C. punctata, a C. peclinara e provavelmente a C. três semanas.
surnabada são mais patogênicas, pois penetram na superfície
epitelial do intestino delgado e causam ruptura semelhante à da PATOGENIA
tricostrongilose intestinal, que resulta em atrofia vilosa e em
redução na área viável para absorção. Há relatos de diarréia em Semelhante à da ostertagiose, com penetração das glând ulas
infecções maciças. gástricas pelas LJ e substituição das células parietais por células
indiferenciadas de divi são rápida que se proliferam, dando ori-
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA gem a nódulos na superfície mucosa. O pH toma-se elevado nas
infecções maciças. As vezes, há ulceração e hemorragia das le-
Consiste em perda de apetite, baixos ganhos de peso e, no caso sões nodulares, porém mais comumente ocorrem infecções le-
de C. pUllClata e C. pectinata, diarréia, perda de peso intensa e ves associadas a apetite diminuído e baixos índices de conver-
edema submandibular. são al imentar.

EPIDEMIOLOGIA SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA

Nas áreas temperadas, é idêntica à de OSlerlagia. A hipobiose"no Consiste em inapetência, anemia e perda de condições físicas.
EL4 é uma característica durante o final do outono e no inverno tio
hemisfério norte e na primavera e no verão no hemisfério sul. EPIDEMIOLOGIA
Nos subtrópicos, a epidemiologia é semelhante à de Haemon-
chus, embora a Cooperia não tenha o mesmo potencial biótico Em face das exigências larvais pré-parasitárias, a infecção res-
alto e as L3 sobrevivam bem melhor em condições áridas. A hi- tringe-se a suínos com acesso a pastos ou àqueles mantidos em
pobiose é uma característica durante estações secas prolongadas. baias com palha. É, portanto, mais comum em animais reprodu-
Um parasita intimamente relacionado, a Paracooperia nodu- tores, particularmente porcas novas. A epidemiologia, pelo me-
[osa, é responsável por grave enterite nodular em bubalinos na nos em zonas temperadas, é semelhante à de Ostertagia em"ru-
Ásia, na África e na América do SuL minantes, com hipobiose sazonal como característica.
24 Parasitologia Veterinária

)
/

(ai (el

(bl (di

Fig. 17 Algumas características de espécies de Cooperia. (a) Vesícula cefálica e estrias cuticulares ; (b) Cauda alongada da fêmea; (c) Espículos de C. oncophora; (d)
Espículos de C. punctata; (e) Espículos de C. pectinata; (f) Espículos de C. curticei. .
HeJmintoJogia Veterinária 25

como um moderno benzimidazol ou uma avennectina/milbemici-


na que removem as larvas hi pobi6ticas.

CONTROLE

Aplicam-se os mesmos princípios para o co ntrole de gastrente-


fite parasitária em ruminantes. Por exemplo. em regiões tempe-
radas, deve haver rotação anual de pasto com outros animais ou
culturas. A ocasião da transferência para outros pastos pode de-
pender de outras atividades agrícolas, mas, se puder ser retarda-
da até outubro ou mais tarde e acompanhada por um tratamento
anti-helmíntico, então é improvável o desenvolvimento dos ovos
de quaisquer vermes, por causa das temperaturas desfavoráveis
de inverno. Recomenda-se um segundo tratamento, novamente
, . 'JI! u sando um mod e rno benzimidazol ou uma a vermectina/
milbemicina, três a quatro semanas mai s tarde para remover
iI qualquer infecção re sidual.
ii
• '" I "-

O
O Nematodirus
O \ ~

~ o Nematodirus tem especial importância como parasita de cor-


(el deiros em regiões temperadas.

I
Hospedeiros:
Ruminantes.
j
Localização:
Intestino delgado.

Espécit!s:
Nematodirus battus ovinos, ocasionalmente bezerros
N. filicollis ovinos e caprinos
N. spathiger ovinos e caprinos, ocasionalmente
bovinos
N. helvetianus bovinos.

o N. abnormalis e o N. oiralianus também foram regi strados


em ovinos e caprinos no sul da Europa, na Ásia, na América e na
Austrália.
"~~- ',
\. .: .\ ít ',' Distribuição:
" ~':'..
.:::.:.~,
~$\-~' Mundial, mais comumente em zonas temperadas. O N. batlus é
mais importante nas Ilhas Britânicas, mas ocorre também na
(fi Noruega e nos Países Baixos.
Fig. 17 (continuação)

IDENTIFICAÇÃO

DIAGNÓSTICO Macroscópica:
Os adultos são vermes de1gauos, de cerca de 2 cm de compri-
mento. O entrelaçamento dos vermes finos enrolados dá um as-
Baseia-se numa história de acesso a pastos permanentes de suí-
pecto semelhante ao de algodão em rama.
nos e na si ntomatologia clínica. A confirmação do diagnóstico é
por exame de fezes para ovos; para diferenciação de outros ne-
Microscópica:
matóides, pode ser necessária a identificação larval de pois da
Há uma vesícula cefálica pequena mas di stinta (Fig. 18). Os es-
cultura de fezes .
pículos são longos e finos . com extremidades fundidas. Em to-
dos, exceto o N. batlus, o macho tem dois conjuntos de raios
TRATAMENTO paralelos em cada um dos principais lobos bursais; a fêmea pos-
su i a cauda truncada com um pequeno espinho, e o ovo é gran-
Quando se diagnostica infecção por HyostrongyLus, particular- de, ovóide e incolor (Fig. 18) e com o dobro do tamanho do ovo
mente em animais reprodutores, é importante usar urna droga de tricostrongilídeo típico.
-- Parasit% gia Veterinária

(e)

(d)

(b)

Fig. 18 Características da maioria das espécies de Nematodirus (a-d). (a) Vesícula cefálica; (b) Espículas finos longos e dois conjuntos de raios paralelos em cada lobo
da bolsa (i); (e) Cauda da fêmea apresentando espinha; (d) Grande ovo oval (150-212 ~m x 75-108 ~m). Aspectos excepcionais de N. baltus (e-9); (e) Um conjunto de
raios paralelos em cada lobo da bolsa (i); (I) Cauda pontiaguda e longa da fêmea; (9) Ovo grande com lados paralelos (164 ~m x 70 j.Lm).
Helmintologia Veterinária 27

(9)

(e)

qüentemente há um período latente antes de ocorrer a eclosão, e


a duração varia de acordo com a espécie.

Nematodirus battus
No caso do N battus, espécie mais importante na Grã-Bretrinha,
a eclosão da maioria dos ovos requer um período prolongado de
resfriamento seguido por uma temperatura média diurnaJnotur-
na maior do que IOoe, condições que ocorrem no final da pri-
mavera. Portanto, a maior parte dos ovos de um período de pas-
tejo deve pennanecer no solo, sem eclodir, durante o inverno,
sendo possível apenas uma geração a cada ano para a manuten-
ção desta espécie. Não obstante, alguns ovos de N. battus depo-
sitados na primavera são capazes de eclodir no outono do mes-
mo ano, resultando em quantidades significativas de L3 no pasto
nesta época.
A fase parasitária é não-migratória e o período pré-patente é
de 15 dias.

Outras espécies de Nematodirus


(f)
As outras espécies não apresentam as mesmas exigências/críti-
Fig. 18 (continuação) cas de eclosão do N. baftus~ e as L3 aparecem, então, no pasto
dentro de dois a três meses depois dos ovos serem excretados nas
fezes. É possível, portanto, mais de uma geração anual.

o N. battus caracteriza-se por possuir apenas um conjunto de PATOGENIA


raios paralelos em cada lobo da bolsa, enquanto a fêmea tem
cauda longa pontiaguda, e o ovo grande é acastanhado, com la-
dos paralelos (Fig. 18). A nematodirose, causada pela infecção por N. battus, é um exem-
plo de doença parasitária em que o principal efeito patogênico é
atribuível aos estágios larvais. Após a ingestão de grandes quan-
CICLO EVOLUTIVO tidades de L3' há ruptura da mucosa intestinal, particularmente
no íleo, embora a maioria dos estágios em desenvolvimento seja
A fase pré-parasitária é quase única nos tricostrongilídeos,já que encontrada na superfície mucosa. O desenvolvimento de L4 em
o desenvolvimento em L3tem lugar dentro da casca do ovo. Esse Ls está completo por volta de 10 a 12 dias após a infecção e co-
desenvolvimento geralmente é muito lento e em climas tempe- incide com grave lesão das vilosidades e erosão'da mucosa, evo-
rados leva no mínimo dois meses. Uma vez presente a L 3 , fre- luindo para atrofia da vilosidade (Fig. 19). A capacidade do in-
28 Parasit% gia Veterinária

de N. battllS nas fezes, mas esses ovos são insufi cientes para
desencadear flu xo larval suficiente para garantir a persistên-
cia de infecção nos pastos. A epidemiologia é ilustrada na
Fig. 20.
Co mo as outras espécies de Nematodirus não têm tais exigên-
cias críticas de eclosão, não ocorre fluxo repentino de ~, e,
embora N. filicollis, N. sparhiger e N. helvetianus tenham sido
todos associados a surtos de nematodirose em ovinos e bovinos,
é mais comum encontrá-los em conjunto com outros tricostron-
gil ídeos.
Embora à necropsia ten ham sido registradas L.j. de espécies
Fig. 19 Atrofia vilosa no intestino delgado por infecção por Nematodirus battus. de Nematodirus aparentemente inibidas no desenvolvimento, não
existe um padrão sazonal evidente para sua ocorrência e parece
mais provável que se tenham acumulado como conseqüência de
resistência do hospedeiro, e não por hipobiose.
testino de trocar líquidos e nutrientes é bastante reduzida, e com
o aparecimento de diarré ia o cordeiro torna- se rapidamente de-
sidratado. À necrepsia, a carcaça revela aspecto desidratado e há DIAGNÓSTICO
enterite no íleo.
Como a sintomatologia clínica se manifesta du rante o período
Ainda que a patogenia de infecções por outras espécies de
Nematodirus provavelmente sej a semelhante. há certa controvér- pré-patente, as contagens de ovos nas fezes têm pouco valor no
diagnóstico, que é mais bem feito pela história de pastejo, si nto-
sia sobre a extensão de seu efeito patogênico. Por exemplo, ape-
sar do N. helvetianus ter sido incriminado em surtos de gastren- matologia clínica e, se possível, um exame pós- morte.
terite parasitári a bovina, as tentati vas experimentais de reprodu-
zir a doença são infrutíferas . TRATAMENTO
Várias drogas são altamente eficazes contra infecções por Ne-
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA matodi ru s, em parti cu lar o levam isol, um a aver mec tinal
mi lbemicina ou um dos modernos benzimidazóis - fembenda-
Nas infecções graves, a dialTéia é o sinal clín ico mais proemi- zol, oxfend azol ou albendazol. A resposta ao tratamento é usu-
nente. Conforme avança a desidratação, os animais acometidos almente rápida, e se a diarréia persistir a coccidiose deve ser
tornam-se sedentos, e nos grupos infectados as ovelhas contin u- considerada como um fator complicador.
am a pastar, aparentemente não afetadas pelo desafio larval, en-
quanto os cordeiros inapetentes e diarréicos agrupam-se ao re-
CONTROLE
dor de bebedouros.
Com exceção do N. battlls, que requer consideração es pecial,
EPIDEMIOLOGIA raramente se observa doença decolTente de infecções monoespe-

É melhor considerá- la separadamente para N. bartus e outras


espécies de Nematodirus.
Os três aspectos mais importantes da epidemiologia das in-
__ LalVas no pasto
fecções por N. batrus são:
Eliminação de ovos nas fezes
( I) A capacidade dos estágios de vida livre, particulannente o de cordeiro
ovo contendo a Lj , de sobreviver no pasto, alguns por até
dois anos.
(2) As exigências críticas de eclosão da maioria dos ovos, o que
assegura o aparecimento simultâneo de uma grande quanti-
dad e de ~ no pasto, usualmente em maio e junho. Embora
o fluxo de larvas no pasto possa ser um evento anual, o apa-
reci mento de nematodirose clínica não é; portanto, se o flu -
xo de Lj for precoce, os cordeiros lactentes podem não estar
consumindo capim suficiente para adquirir grandes quanti-
dades de L3e, se for tardio, os cordeiros podem ter idade su-
ficiente para resistir ao desafio larval. Há alguma evidência
de que existe resistência etária ao N. battus, que se inicia
q4-fl.ndo os cordeiros estão com cerca de três meses de ida-
de. Entretanto, os cordei.res de seis a sete meses podem ter
cargas consideráveis de N. battus, duvidando-se, então, de
que esta imunidade etári a sej a absoluta. março abril maio junho julho
(3) O papeJ desprezível desempenbado pela ovefha no ciclo anu-
al de N. battus, que se pode então considerar um a doença de Fig. 20.Aspectos epidemiológicos de infecção por Nematodirus battus ilustrando o
aparecimento repentino de larvas infectantes na primavera após eclosão em mas-
cordeiro-para-cordeiro. Os ovinos adu ltos têm alguns ovos _sa de ovos que resistiram ao inverno.
Helmintologia Veterinária 29

cíficas por Nematodirus. Por outro lado, eles costumam fazer (2) A GEP em ovinos geralmente está associada a uma varie-
parte da carga de vermes de espécies de tricostrongiüdeos, res- dade de gêneros de nematóides com característi cas epide-
ponsáveis pela síndrome de gastrenterite parasitária em ovinos miológicas diferentes.
e, como tal, podem ser controlados pejas medidas apresentadas (3) A maioria dos ovinos pasta durante toda a vida, de tal modo
adiante. que a contaminação do pasto com ovos de nematóides e a
Corno a infecção de cordeiros por N. battus tem epidemiolo- ingestão de larvas infectantes são quase contínuas e modifi -
gia ún.i ca, seu controle é mais bem considerado separadamente. cadas apenas por restrições climáticas.
Como há eclosão anual de ovos de N. batlus na primavera, a do- Na escolha do melhor método de profilaxia, muito depende
ença pode ser controlada evitando-se o pastejo de lotes sucessivos da propriedade ser constituída principalmente de pasto perma-
de cordeiros no mesmo pasto. Onde esse pastejo alternativo não nente ou de pastos alternados com culturas, de maneira tal que
fo r viável por todo o ano, o controle pode ser obtido pJí'profila- todo ano haja disponibilidade de pastos novos ou restolhos de
xia anti-helmíntica, sendo a época do tratament~aseada no feno ou silagem.
conhecimento de que o período máximo de aparecimento de L3
de N. battus é de maio até início de junho. O ideal é efetuar as PROPRIEDADES CONSTITUíDAS
apli cações em intervalos de três semanas durante maio e junho,
PRINCIPALMENTE DE PASTO PERMANENTE
não se aconselhando aguardar O aparecimento de sinais clínicos
de diarréia antes de administrar as drogas. Nestas propriedades, pode obter-se o controle ou por profilaxia
Na Grã-Bretanha, o Ministério da Agri cultura desenvolveu um anti-helmíntica ou por pastejo alternado anua lmente com bovi-
sistema planejado com base principalmente na temperatura do nos e ovinos. A primeira a lternati va é o único método viável em
solo no início da pri mavera, que pode prever a provável gravi- que o rebanho da propriedade é principalmente ovino, enquanto
dade de nemat<XIirose. Nos anos em que o sistema prevê doença a outra pode ser utilizada onde estão presentes bovinos e ovinos
grave, recomendam-se três tratamentos durante maio e junho~ nos em proporções razoáveis.
outros anos, devem bastar doi s tratamentos em maio. São várias
as drogas recomendadas, incluindo levamisol ou qualquer um dos Profilaxia por anti-helmínticos
modernos benzimidazóis ou ivermectina.
Ovinos adultos:
TRATAMENTO E CONTROLE DA A fon te de infecção mai s importante para os cordeiros é sem dú -
vida o aumento nos ovos de nematóides em fezes de ovelhas du-
GASTRENTERITE PARASITÁRIA
rante o APP, e a profilaxia será eficaz apenas se este for mantido
(GEP) EM OVINOS num mínimo. A terapia anti-helmíntica eficaz de ovelh as durante
o quarto mês de gestação deve eliminar a maior parte das cargas
As recomendações adiante aplicam-se às áreas temperadas do de vennes existentes nesta época, incluindo estágios larvais inibi-
hemisfério norte, mas os princípios podem ser adaptados a con- dos, e no caso de ovelhas sob pastejo intensivo, em que o estado
dições locais em qualq uer região. nutricional é freqüe ntemente baixo, este tratamento quase sempre
resulta em melhores condições físicas gerais. Durante a prenhez e
TRATAMENTO o início da lactação, entretanto, essas ovel has tratadas logo se
reinfectam pela ingestão de larvas que sobreviveram ao inverno
Em virtude do curto período entre o nascimento e a comerciali- no pasto. Recomenda-se, então, para uma profilaxia ideal outro
zação, o tratamento da GEP em cordeiros é uma medida inferior tratamento quatro a seis semanas após o parto. Os adultos jovens
se comparada às medidas preventi vas di scutidas a seguir. Quan- e os carneiros também devem ser tratados nestas ocasiões.
do necessário, entretanto, o tratamento com qualquer um dos Uma alternativa ao agrupamento de ovelhas para tais trata-
benzimidazóis, levamisol o u uma avermectinalmilbemicina re- mentos é fornecer anti-helmín tico incorporado à ração ou a blo-
mo ve vermes adu ltos e estágios em desenvolvimento. Após o cos energéticos durante o período peripuerperal. Os resu ltados
tratamento, os corde iros devem ser transferidos para pastos não obtidos com o último sistema parecem ser os melhores qu ando
ocupados por ovinos naquele ano, pois do contrário imediatamen- as ovelhas são mantidas em pequenos piquetes ou campos, uma
te serão reinfectados. vez que a ingestão de droga é menos consistente em sistemas de
Os surtos ocasionais de ostertagiose Tipo II em ovinos adul - criação extensiva.
tos jovens na primavera podem ser tratados com os mesmos anti- Os bo/us ruminais destinados à liberação lenta de anti-hel-
helmínticos. Ao contrário de O. osterragi em bezerros, os está- mínticos durante um período prolongado são agora viáveis para
gios inibidos dos nematóides comuns de ovinos são suscetíveis ovinos e são recomendados para uso em ovelhas durante O perío-
ao tiabendazol e ao levami sol. do peripuerperal para reduzir a produção de ovos de vermes.

Cordeiros:
CONTROLE Além do tratamento específico para infecção por N. battus, os cor-
deiros devem ser tratados ao desmame e, se possível, transferidos para
Embora o controle de GEP em ovinos se baseie nos mesmos
pastos descontaminados, isto é, aqueles não ocupados por ovinos
princípios descritos para O. oSferragi em bovinos, sua prática é
desde o ano anterior. No local onde tal pastejo não for viável, os tra-
algo diferente pelos seguintes motivos:
tamentos profiláticos devem ser repetidos até O outono ou a comer-
(I) O APP (aumento peripuerperal nas contagens de ovos nas cialização. O número de tratamentos varia, dependendo da densida-
fezes) é muito acentuado nas ovelhas e constitui a causa mais de do rebanho, sendo um tratamento em setembro suficiente para
importante de contaminação dos pastos com ovos de nema- cordeiros sob pastejo extensivo e dois entre o desmame e a comerci-
tóides na primavera. alização para aqueles sob condições mais intensivas.
30 Parasitologia Veterinária

Para tratamentos profiláticos, podem ser utilizados o levami- era revezar ovinos através dos piq uetes, mas, como isto envol-
·sol, os benzimidazóis, os pr6-benzimidazóis e as avermectinas/ via a volta dos animais aos seus piquetes já ocupados na mesma
milbemicinas. estação, era de pouco valor. Dois outros métodos, que não envol-
Para administração em baixo nível em blocos de ração, o viam o retomo ao pasto original, eram o pastejo em faixa, no qual
tiofanato ou o fembendazol demonstram ser úteis. os o vinos ficavam confinados a uma faixa estreita no pasLO por
Os programas proflláticos apresentados anteriormente são rela- meio de cercas mudadas a cada poucos dias, e o pastejo restrito,
ti vamente dispendiosos em tennos de drogas e de mão-de-obra, mas no qual uma única cerca confinava as ovelhas, mas por possuir
atualmente são os únicos métodos viáveis em propriedades onde o uma pequena abertura permitia aos cordeiros pastar mais adian-
empreendimento depende muito de uma espécie animal. te. Os sistemas podem ter sido altamente efi cazes na prevenção
da GEP, mas eram dispendiosos em termos de construções de
Profilaxia por pastejo alternado de ovinos e bovinos cercas e mão-de-obra, sendo pouco utilizados atualmente.

Em propriedades onde tanto ovinos como caprinos estão presen-


tes em números significativos, teoricamente é possível bom con- DictyoCQulllS
trole, alternando-se anualmente o pastejo de campos com cada
hospedeiro, por causa da relativa refratariedade de bovinos a ne- Este gênero que vive nos brônquios de bovinos, ovinos, eqüinos
matóides de ovinos e vice-versa. e asininos, é a principal causa de bronquite parasitária nestes
Na prática, o controle é conseg uido com mais sucesso trocan- hospedeiros.
do-se, na primavera, pastos ocupados por ovinos e bovinos de
corte durante o ano anterior, de preferência junto com tratamen- Hospedeiros:
to anti-hellTÚntico na época da troca. Rumi nantes, eqüinos e asininos.

PROPRIEDADES COM PASTEJO AL TERNA TlVO Localização:


Traquéia e brônquios, particulannente dos lobos diafragmáticos.
Nessas propriedades, em sua maior parte com criações intensi-
Espécies:
vas, freqüentemente a rotação de culturas e gramíneas é uma
Dictyocaulus viviparus bovinos e cervos
característica e, portanto, todo ano há disponibilidade de novos
D. fila ria ovinos e caprinos
piquetes e restolhos de feno e silagem como pastos descontami-
D. arnfieldi asi ninos e eqüinos.
nados, podendo ser reservados para animais suscetíveis. Numa
situação destas, o controle deve basear-se nu ma combinação de
Distribuição:
manejo de pasto e profilaxia anti-helmíntica.
M u.nd ial, porém especialmente importante em climas tempera-
dos.
Profilaxia por manejo de pasto e anti-helmínticos
IDENTIFICAÇÃO
É possível bom controle co m apenas um trata mento anti -
he lmíntico anual de ovelhas ao deixarem o local do parto. Isto Os adu ltos são vermes finos filifonnes, de até 8 cm de compri-
elimina o APP nas contagens de ovos nas fezes antes da transfe- mento. Sua localização na traquéia e nos brônqui os e seu tama-
rência das ovelhas e cordeiros para um 'pasto descontaminado. nho são diagnósticos.
Ao des mame, os cordeiros devem ser removidos para outro pas- Por ser a mais patogênica das três espécies, o D. viviparus é
LO descontaminado, e nesta ocasião um tratamento dos cordeiros apresentado em detalhes. Para as outras duas espécies, são dis-
constitui boa medida. cutidas apenas as características que diferem das do D. viviparus.
Um seg undo sistema, não dispendioso em mão-de-obra ou
drogas, é indicado para propriedades onde culturas aráveis, ovi-
nos e bovinos são componentes importantes e envolve rotação DiclyoCQulus viviparus
de três anos de bovinos, ovinos e culturas. Com este sistema,
pode-se utili zar o pastejo de restolhos de feno disponíveis após O Dictyocaulus viviparus é a causa de bronqui te parasitária em
a colheita para bezerros desmamados e cordeiros desmamados. bovinos. também conhecida como tosse, pneumonia vermi nótica
Sugere-se que neste sistema a profilaxia anti -helmintica possa ou dicti ocaulose. A doença caracteriza-se por bronquite e pneu-
ser totalmente dispensada, mas às vezes ocorre OEP clínica quan- monia e acomete tipicamente bovinos j ovens em primeiro perí-
do o tratamento é omitido. Vale a pena lembrar que mesmo as dro- odo de pastejo em pastos permanentes ou semipermanentes. A
gas altamente eficazes disponíveis hoje em dia não removem to- doença preva1ece em regiões temperadas com altos índices plu-
dos os vermes presentes; que alguns nematóides de bovinos podem viais.
infectar ovinos e vice-versa; e que algumas larvas infectantes no
pasto podem sobreviver por mais de dois anos. É recomendável,
CICLO EVOLUTIVO
portanto, fazer pelo menos um tratamento anual na primavera para
todos os animais antes da transferência para novos pastos. As fêmeas são ovovivíparas, produzindo ovos que contêm lar-
vas totalmente desenvolvidas que eclodem quase imediatamen-
Profilaxia por manejo de pasto te. As L! mjgram até a traquéia, são deglu~idas e são eliminadas
nas fezes. As larvas são as únicas a estar presentes em fezes fres-
Fomm planejados muitos esquemas para controlar a aquisição cas, são caracteristicamente lentas e suas células intestinais es-
de k com base apenas em manejo de pasLO. Uma recomendação tão cheias de grânulos alimentares castanho-esc uros (Fig. 21).
i

Helmintologia Veterinária 31

Fig. 22 Micrografia eletrônica de varredura de muco e tampão celular (p) em pe-


queno bronquíolo após infecção por Dictyocaufus viviparus.

véolos. Esta lesão (Fig. 22) é amplamente responsável pelos pri-


meiros sinais clínicos.
Próx imo ao final desta fase, desenvolve-se bronquite, ca-
racterizada por muco contendo vermes pulmonares imaturos nas
vias aéreas, que podem ser vistos apenas com o auxn io de um
microscópio de pequena intensidade e por infiltração celular do
epitélio.
Os animais maciçamente infectados, cujos pulmões contêm
vários milhares de vermes em de senvolvimento, podem morrer
do 15 11 dia em diante de insuficiência respiratória seg uida pelo
desenvolvimento de grave e nfisema intersticial e edema pulmo-
nar.
Fig. 21 Larvas de primeiro estâgio de Dictyocaulus viviparus.

(3) Fase patente: 262 ao 6()o dia

Como conseqüência, os estágios pré-parasitários não precisam Está associada a duas lesões principais.
aLimentar-se. Em condições ideais, o estágio L:i é ati ngido dentro Primeiramente, uma bronquite parasitária caracterizada pela
de cinco dias, mas geralmente leva mais tempo no campo. As L3 presença de centenas ou mesmu milhares de vermes adultos no
deixam o bolo fecal e alcançam a forragem ou por sua própria muco branco espumoso nas luzes dos brônquios (Prancha II). O
motilidade ou através da intervenção do fungo Pilobofus. epitélio brônquico é hiperplásico e intensamente infiltrado por
Após a ingestão, as ~ penetram na mucosa intestinal e passam células inflamatórias, particularmente eosinófilos.
para os linfonodos mesentéricos, onde sofrem muda. Em seguida, Em seg undo lugar, a presença de áreas colapsadas vermelho-
as ~ seguem via linfa e sangue para os pulmões e irrompem dos escuras ao redor dos brônquios infectados. Esta é uma penumonia
capilares para os alvéolos cerca de uma semana após a infecção. parasitária (Prancha II) causada pela aspiração de ovos e LI nos
A muda fmal ocorre nos bronquíolos alguns dias depois e os adul- alvéolos. Tais "corpos estranhos" rapidamente provocam den-
tos jovens movem-se, então, até os brônquios e amadurecem. O sos infiltrados de polimorfas, macrófagos e células gigantes
período pré-patente é de cerca de três a quatro semanas. multinucleadas ao seu redor (Fig. 23).
Dependendo da extensão da infecção, pode haver graus vari -
PATOGENIA áveis de enfisema intersticial e edema.

Pode ser dividida em quatro fases:

(1) Fase de penetração: 1º ao 7" dia


Durante este período, as larvas estão percorrendo o caminho para
o pulmão. não sendo ainda aparentes lesões pulmonares.

(2) Fase pré-patente: ao ao 29 dia


Esta fase começa com o aparecimento de larvas nos alvéolos,
onde causam alveolite. Isto é seguido por bronquiolite e final-
mente bronquite à medida que as larvas se tornam adultos ima-
turos e se movem até os brônquios. Infiltrados celulares de ne u-
trófilos, eosinófilos e macrófagos tamponam temporariamente as
luzes dos bronquíolos e causam colapso de outros grupos de al- Fig. 23 L, de Diclyocaulus viviparusaspirado circundada por células inflamatórias.
32 ParasitoJogia Veterinária

(4) Fase pós-patente: 61" ao 9rY dia quase sempre adotando a clássica postura de "falta de ar" e res-
pirando com a cabeça e o pescoço distendidos. Há geralmente
Nos bezerros' não tratados, esta é normalmente a fase de recupe- tosse profunda intensa, chiados e crepitações sobre os lobos pulmo-
ração depois dos vermes pulmonares adultos terem sido expeli- nares posteriores, salivação, anorexia e, às vezes, discreta pire-
dos. Embora a sintomatologia clínica esteja diminuindo, os brôn- xia. Com freqüência, os bezerros menores são mais gravemente
quios ainda se encontram inflamados, e lesões residuais, como acometidos.
fibrose peribrônquica e brônquica, podem persistir por várias Os bezerros podem apresentar sintomatologia cl.ínica duran-
semanas ou meses. Por fim, o sistema broncopulmonar torna-se te o período pré-patente, e ocasionalmente uma infecção maciça
completamente normal e a tosse cessa. Entretanto, em cerca de pode causar grave dispnéia de início repentino, quase sempre
25% dos animais que foram intensamente infectados, há uma seguida por morte em 24 a 48 horas.
súbita manifestação de sinais clínicos durante esta fase que qua- A maioria dos animais recupera-se gradativamente, embora
se sempre é fatal. Isto é causaQ.o por uma de duas entidades. o completo retorno à normalidade possa levar semanas ou me-
Mais comumente, há uma lesão proliferativa, de modo que ses. Contudo, uma proporção de bezerros convalescentes desen-
grande parte do pulmão é rósea e semelhante a borracha, não volve subitamente sintomatologia respiratória grave, não asso-
colapsando quando o tórax é aberto. Isto, freqüentemente des- ciada a pirexia, que em geral tennina de modo fatal um a quatro
crito como "epitelização", deve-se à proliferação de pneumóci- dias depois. Esta síndrome de bronquite parasitária pós-patente
tos Tipo 2 nos alvéolos, dando o aspecto de um órgão glandular foi descrita anteriormente.
(Fig. 24). As trocas gasosas na superfície alveolar ficam grave-
mente' impedidas, e a lesão com freqüência é acompanhada por EPIDEMIOLOGIA
enfisema intersticial e edema pulmonar. A etiologia é desconhe-
cida, mas supõe-se que os fato res responsáveis sejam a dissolu- De modo geral, apenas os bezerros em primeiro período de pas-
ção e a aspiração de substâncias do verme morto ou que está tejo são clinicamente acometidos, uma vez que nas proprieda-
morrendo nos alvéolos. A síndrome clínica é freqüememente des onde a doença é endêmica os animais mais velhos têm forte
denominada bronquite parasitária pós-patente. . imunidade adquirida.
A outra causa, usualmente em animais que estão convalescen- Nas áreas endêmicas no hemisfério norte, as infecções podem
do em recintos fechados, é uma infecção bacteriana sobreposta persistir de ano para ano de duas maneiras:
dos pulmões ainda não perfeitamente cicatrizados, que resulta em
pneumonia intersticial aguda. (1) Larvas que sobreviveram ao inverno: as L3 podem sobrevi-
ver no pasto do outono até o final da primavera em números
suficientes para iniciar a infecção ou ocasionalmente para
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA
causar doença. Pode resultar um efeito semelhante quando
se espalhan1 esterco ou adubo nos pastos na primavera.
Em qualquer grupo acometido, em geral são evidentes graus vari-
(2) Animais portadores: pequenas quantidades de vermes adul-
áveis de gravidade clínica; de modo típico, alguns animais estão
tos podem sobreviver nos brônquios de animais infectados,
discretamente acometidos, a maioria se encontra moderadamente
particularmente aqueles com um ano de idade, até o próxi-
acometida e alguns estão gravemente acometidos.
mo período de pastejo. Até recentemente, supunha-se qUt:
Os animais discretamente acometidos tossem de maneira in-
todos persistiam como adultos, mas agora está demonstra-
termitente, sobretudo quando fazem esforços.
do que o resfriamento de larvas infectantes antes da admi-
Os arümais moderadamente acometidos têm ataques freqüen-
nistração a bezerros produz L5 inibidas; foi observada tam-
tes de tosse em repouso, taquipnéia (> 60 movimentos respiratóri-
bém hipobiose neste estágio em bezerros naturalmente in-
os por minuto) e hiperpnéia. Freqüentemente, à auscultação ouvem-
fectados na Suíça, na Áustria e no Canadá, embora ainda não
se chiados e crepitações sobre os lobos pulmonares posteriores.
esteja completamente estabelecida a extensão em que isto
Os animais gravemente acometidos apresentam taquipnéia
ocorre após a ingestão de larvas no final do outono e sua im-
grave (> 80 movimentos respiratórios por minuto) e dispnéia,
portância na transmissão da infecção.
A dispersão de larvas do bolo fecal durante o período de paste-
jo parece ser efetuada mais por um fungo que por simples migra-
ção. Este fungo, o Pilabalus, é encontrado comumente crescendo
na superfície de bolos fecais bovinos cerca de uma semana depois
de terem sido depositados. As larvas de D. viviparus, arrastando-
se na superfície dos bolos, migram em grandes quantidades até os
caules dos fungos, sobre e até mesmo dentro do esporângio ou da
cápsula da semente (Prancha II). Quando o esporãngio é elimina-
do, é lançado a uma distância de até três metros, sem vento, pou-
sando na pastagem adjacente. É possível que este método muito
eficaz de disseminação de larvas ainda possa ser intensificado se
houver vento moderado. Talvez também os raros surtos de bron-
quite parasitária em bezerros estabulados estejam associados à
dispersão de L3 por Pilabolus que crescem no esterco de bovinos
infectados nas proximidades.
A bronquite parasitária é predominantemente um problema
Fig. 24 "Epitelização alveolar" que pode ocorrer durante bronquite parasitaria pós- em certas áreas, como o norte da Europa, que têm clima mode-
patente. rado, índices pluviais altos e pastos permanentes abundantes. Os
s;
HelmintoJogia Veterinária 33

surtos da doençà ocorrem de junho até novembro, porém são mais rapidamente por simples remoção de vermes pulmonares adul -
comuns de julho até setembro. Não está claro por que a doença tos.
em geral não é evidente até que os bezerros, levados ao campo Onde a doença for grave e estiver bem instalada numa série
na primavera, tenham ficado no pasto durante dois a cinco me- de bezerros, deve-se infonnar O proprietário de que o tratamento
ses. Uma explicação é que a infecção inicial, adquirida pela in- anti-heIITÚntico, ainda que sendo a única saída viável, pode exa-
gestão em maio de larvas que sobreviveram ao inverno, envolve cerbar a sintomatologia clínica em um ou mais animais. com
tão poucos vermes que não é produzida nem sintomatologia clí- possível fim fatal. As razões subjacentes ainda estão sendo estu-
nica nem imunid ade~ entretanto, números suficientes de larvas · dadas, mas provavelmente sejam semelhantes às que produzem
são lançados no pasto, de tal modo que por volta de julho as bronquite parasitária pós-patente.
quantidades de Ll no pasto são suficientes para produzir doença Qualquer que seja o tratamento escolhido, é aconselhável di -
clínica. Os bezerros jovens, incluídos em julho em tal rebanho, vidir os bezerros acometidos em dois grupos, pois o prognóstico
podem desenvolver doença clínica em duas a três semanas. varia de acordo com a gravidade da doença. Os bezerros que esti-
Uma explicação alternativa é que as L1sobrevivem ao inver- verem apenas tossindo e/ou taquipnéicos geralmente se encon-
no mais no solo que no capim e migram para O pasto apenas em tram no estágio pré-patente da doença ou têm pequena carga de
algum ponto entre junho e outubro como resultado de algum fa- vermes adultos, e o tratamento desses animais deve resultar em
tor, ainda desconhecido, talvez envolvendo minhocas ou besou- rápida recuperação. Os bezerros desta categoria podem não ter
ros coprófagos. No momento, há apenas evidência circunstanci- desenvolvido forte imunidade e após o tratamento não devem vol -
aI para confirmar esta teoria. tar ao campo que foi a fonte de infecção; se isto for impossível,
Apesar dos bezerros de raças leiteiras ou mestiças leiteiras pode-se utilizar ivermectina parenteral, pois seu efeito residual
serem mais comumente acometidos, deve-se admitir que os be- impede a reinfecção por mais umas três seman as.
zerros não-desmamados de raças de corte nascidos no outono são Quaisquer bezerros que esti verem di spnéicos, anoréticos e
mesmo assim suscetíveis quando vão para o pasto no início do possivelmente piréticos devem ser mantidos em recintos fecha-
verão. Os bezerros lactentes de raças de corte nascidos na pri- dos para tratamento e posterior observação. O prognóstico deve
mavera que pastam ao lado da mãe até serem estabulados ou ser reservado e o proprietário informado de que uma proporção
vendidos em geral não desenvolvem sintomatologia clínica, desses animais pode não se recuperar, enquanto outros podem
embora tosse seja comum por discreta infecção. Entretanto, pode permanecer permanentemente raquíticos. Além do tratamento
ocorrer doença típica em bezerros desmamados que ficam no com um anti-helmíntico, os animais gravemente acometidos
pasto até O final do outono. podem requerer antibióticos se piréticos e hidratação se não es-
Este quadro epidemiológico, típico de regiões temperadas, tiverem ingerindo água. No caso de animais valiosos, pode ser
pode ser modificado em algumas áreas por certos fatores, como considerado tratamento com oxigênio.
o clima ou o manejo. Nas regiões tropicais, onde pode ocorrer
intermitentemente a doença pelo D. viviparus, a epidemiologia CONTROLE
provavelmente seja bem diferente e talvez dependa mais da con-
taminação de pastos por animais portadores - tal como pode O melhor método de prevenir bronquite parasitária é imunizar
ocorrer durante inundações, quando os bovinos se agrupam em todos os bezerros jovens com vacina de vem1e pulmonar. Esta
áreas altas e úmidas - do que da sobrevivência prolongada de vacina viva, constituída de larvas atenuadas por irradiação, atu-
larvas infectantes. almente é viável apenas na Europa e em geral é administrada por
via oral a bezerros de oito semanas de idade ou mais. São dadas
DIAGNÓSTICO duas doses de vacina num intervalo de quatro se manas, e, a fim
de permitir que se desenvolva alto nível de imunidade, os bezer-
De modo geral, a sintomatologia clínica, a época do ano e uma ros vacinados devem ser protegidos do desafio até duas sema-
história de pastejo em pastos permanentes ou semipermanentes nas depois da segu nda dose.
são suficientes para permitir que se chegue a um diagnóstico. Apesar da vacinação ser eficaz na prevenção de doença clíni-
As larvas são encontradas (50-l.000/g) apenas nas fezes de ca, ela não impede completamente a instalação de pequenas quan -
casos patentes, de tal modo que devem ser obtidas amostras de tidades de vermes pulmonares. Conseqüe ntemente, os pastos
fezes de uma série de animais acometidos. Para evitar con tami - podem permanecer contaminados, ainda que num nível muito
baixo. Por este motivo, é importante que todos os bezerros de
nação com nematóides do solo, as amostras devem ser obtidas
do reta. qualquer propriedade sejam vacinados se forem para o pasto na
primavera ou mais para o final do ano. Além disso, uma vez
adotado um programa de vacinação, deve ser seguido anualmente
TRATAMENTO para cada lote de bezerros. Embora a limitada contaminação lar-
val do pasto sirva para estimular a imunidade dos bezerros vaci-
Os anti-helmínticos viáveis para o tratamento de bronquite para- nados, ela pode causar doença clínica em animais suscetíveis.
sitária bovina são os modernos benzimidaz6is, o levamisol ou as O programa de vacinação para bezerros de raças leiteiras, se
avern1ectinas/milbernicinas. Estas drogas demonstram eficácia possível, deve ser completado antes deles irem para O campo na
contra todos os estágios de vermes pulmonares, com conseqüente primavera ou no início do verão. Entretanto, estes ou os bezerros
melhora da sintomatologia clínica. Antigamente, a dietilcarbamazi- em aleitamento podem ser vacinados com sucesso, desde que a
na era amplamente utilizada, mas tem sido substituída em grande vacina seja administrada na primavera ou no início do verão, isto
parte pelas drogas mencionadas anteriormente. é, antes de se defrontarem com um desafio larval significativo.
Para máxima eficiência, todas estas drogas devem ser usadas O controle de bronquite parasitária nos bezerros em pastejo
o mais cedo possível no tratamento da doença, visto que os si- de primeiro ano tem sido co nseguido pelo uso de regimes anti-
nais clínicos associados à patologia pulmonar não desaparecem helmfnticos profiláticos, seja por tratamentos estratég icos no
"""- Parasuologia \ -elerinária

iní ia do período ou pela administração de bolus ruminais, con-


fo rme é recomendado no controle da osten agiose bovina (ver
anterionnente). O perigo destas medidas, entretanto, é que atra-
vés do controle ri goroso no primeiro período de pastejo a expo-
sição a larvas de vermes pulmonares é tão red uzida que os bovi-
nos permanecem suscetíveis à tosse durante o segundo período
de pastejo; nestas situações, pode ser aconselhável considerar
uma vacinação antes do segundo ano no campo_
Vale a pena observar também que, por causa da epidemiolo-
gia imprevisível, a técnica com umente utilizada de "tratar e trans-
ferir" em meados do verão não evita bronquite parasitária.

BRONQUITE PARASITÁRIA EM
BOVINOS ADUL TOS

A bronqui te parasitária é observada apenas em bovinos adultos em


duas circunstâncias. Em primeiro lugar, como fenômeno de reba-
nho ou em determinado grupo etário num rebanho se não conse-
guiram adquirir imunidade por desafio natural em anos anterio-
res. Estes animais podem desenvolver a doença se forem expos-
tos a intenso desafio larval, como pode ocorrer em pasto recente-
mente desocupado por bezerros que apresentam tosse clínica. Em
segundo lugar, às vezes se observa a doença individualmente num
adulto mantido num piquete de bezerros altamente contaminado Fig. 25 Pequenos nódulos linfóides na superticie pulmonar, uma seqüela de rein-
por exigir cuidados diários por algum outro motivo. fecção com Dictyocaulus viviparus (i).
A doença é mais comumente encontrada na fase patente, em-
bora as outras fo rmas sejam identificadas. Alé m de tosse e taquip-
néia, a queda na produção de leite em vacas constitui um sinal
comum. ria. Nestes casos, a única medida a ser tomada é o tratamento com
O tratamento é seme lhante ao discutido para bezerros, mas um dos anti-helmínticos já descritos e a mudança de pasto.
ao escolher uma droga deve-se considerar o período de carência
do leite para consumo humano. Se possível, deve-se iniciar um
programa anu al de vacinação de bezerros. Diclyocaulus amjieldi
Este parasita ubíquo de asininos raramente está associado a si-
SíNDROME DE REINFECÇÃO EM nais de doença clínica. Nos eqüinos, é difícil detenn inar sua pre-
BRONQUITE PARASITÁRIA valência, uma vez que raramente as infecções se tornam paten-
tes, embo ra freqüentemente ele seja apontado como causa de
Normalmente, o desafi o natural de bovinos ad ultos, de um ano tosse crônica.
de idade ou bezerros qu e adqu iriram imunidade contra D.
viviparus, por ex posição natural ou por vacinação, não está as-
sociado à si ntomatologia clínica. CICLO EVOLUTIVO
Às vezes, entretanto, ocorre m sinais clínicos e produzem a
"síndrome de reinfecção", que em geral é moderada mas ocasio- Não se conhece totalmente o ciclo evolutivo detalhado, mas é
nalmente grave. Aparece quando um animal é subitamente ex- considerado se melhante ao do verme pulmona r bovino D.
posto a intenso desafio larval, usualmente num campo altamen- viviparus, exceto nos seguintes aspectos.
te contaminado. Números significativos de larvas atingem os Os vermes adultos são encontrados com maior freqüência nos
pulmões e mi gram para os bronquíolos, onde são destruídos pela pequenos brônquios, e os ovos contendo as larvas de primeiro
resposta imune do animal. A resultante proliferação de células estágio eclodem logo após ser eli minados nas fezes (Fig. 26).
linforreticulares em volta de cada larva morta provoca obstru- O período pré-patente é entre dois e quatro meses. As infec-
ção bronquiolar e, por fim , a fo rmação de um nódulo Iinfóide ções patentes são comuns em asininos de todas as idades, mas
verde-acin zentado, de cerca de 5 mm de diâmetro, macroscopi- nos eqüinos em geral ocorrem apenas em potros e animais de um
camente visível (Fig. 25). Além disso, ocorre densa infiltração ano de idade. Nos eqüinos mais velhos, os vermes pulmonares
adultos raramente atingem a maturidade sexual.
do pulmão por eosinófilos, em cuj o local dos pequenos brônquios
onde se acumulam em grandes quantidades podem ser vistos à
necropsia como tampões esverdeados. PATOGENIA
Esta síndrome usualmente está associada a tosse freqüen te e
leve taquipnéia por um período de alguns dias; menos freqüen- A lesão característica é semelhante tanto em eqüi nos como em
temente, há taquipnéia acentuada, hiperpnéia e, em vacas leitei- asin inos, sendo algo diferente da bronquite parasitária bovina.
ras, queda na produção de leite. Raramente ocorrem mortes. Nos lobos pulmonares caudais particularmente, há áreas cir-
Na ausência de boa anarnnese, pode ser impossível diferenci- cunscritas elevadas de tecido pulmonar superinsutl ado de 3 a 5
ar esta síndrome das fases iniciais de uma grave infecção primá- mm de diâmetro (Fig. 27). Ao corte, no centro de cada lesão há
.,
Helmintologia Veterinária 35

clínica significativa pode ser em parte reflexo do fato dos asininos


raramente serem forçados a exercícios prolongados.
A infecção é muito menos prevalente em eqüinos. Entretan-
to, podem desenvolver-se infecções patentes em potros e em geral
não estão associadas a si ntomatologia clínica. Nos eqüinos mais
velhos, raramente as infecções se tornam patentes, mas quase
sempre estão associadas a tosse persistente e a aumento na fre-
qüência respiratória.

EPIDEMIOLOGIA
Os asininos adquirem infecção como potros e com um ano de
idade e tendem a permanecer infectados, provavelmente através
de reex posição, durante toda a vida. Supõe-se que os eqüinos
adquiram infecção principalmente de pastos contaminados por
asininos durante os meses de verão. Mais cornumente, isto ocor-
re quando asininos pastam ao lado de eqüinos. O fungo Pi/obolus
pode desempenhar um papel na disseminação de larvas de D.
arnfieldi a partir de fezes, como em D. vivipa rus.

DIAGNÓSTICO
Nos asininos, são comuns infecções patentes, e facilmente são
Fig. 26 A larva de primeiro estágio de Dictyocaulus arnfieldilembra a de D. viviparus. recuperadas LI de fezes frescas. Nos eqüinos, embora uma histó-
mas possui uma pequena lanceta terminal. ria de contato com asininos' e a sintomatologia clínica possam
ser sugestivas de infecção por D. arnfieldi, freqüentemente não
é possível confirmar um diagnóstico por demonstração de lar-
vas nas fezes. Pode-se tentar empregando-se uma técnica de
um pequeno brônquio contendo vermes pulmonares e exsudato Baerman modificada, com o uso de 50 g de fezes do reto. Recen-
mucopurulento. Microscopicamente, o epitélio é hiperplásico, temente, a detecção de eosinófilos no muco traqueal foi descrita
com aumento no tamanho e no número de células mucossecre- como meio auxi liar para o diagnóstico.
toras, enquanto a lâmina própria encontra-se intensamente infil- Na prática. um diagnóstico provável de infecção por vermes
trada e com freqüência circundada por células inflamatórias. pulmonares em eqüinos costuma ser possível apenas em retros-
predominantemente linfócitos. pectiv a, quando se observa resolução da sintomatologia clínica
após o tratamento.
SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA
TRATAMENTO
Apesar da prevalência de infecção patente por D. arnfieldi em
asininos, raramente se observam sinais clínicos manifestos; en- Tem-se descrito O tratamento bem-sucedido de eqüinos e asininos
tretanto, num exame minucioso, podem-se detectar leve hiperp- com o uso de vários esquemas de dieti1carbamazina, levam.isol,
néia e sons pulmonares ásperos. Essa ausência de anormalidade fembendazol ou mebendazol. Há relatos de alia eficác ia em ex-
perimentos com ivermectina oral em doses normais.

CONTROLE
o ideal é que eqüinos e asin inos não pastem juntos, mas se isto
acontecer recomenda-se tratar os asininos, de preferência na pri-
mavera, com um anti-heLmíntico adequado. Deve-se adotar um
esquema semelhante em haras de as ininos, fi cando os animais
visitantes isolados em piquetes separados.

Dictyocaulus filaria
Esta espécie, o verme pulmonar mais importante de ovinos e
caprinos, comumente está associada a uma síndome crônica de
tosse e definhamento que em geral acomete cordeiros e cabritos.

CICLO EVOLUTIVO

Fig. 27 Lesões pulmonares circunscritas típicas de infecção por Dic/yocaulus Semelhante ao do D. viviparus, exceto que o período pré-paten-
amfieldi. te é de cinco semanas .

36 Parasitologia Veterinária

PATOGENIA
Semelhante à da infecção por D. viviparus. Entretanto, como o
número de vermes pulmonares em animais individuais é geral-
mente baixo, não são comuns as lesões di sseminadas associadas
à infecção bovina. Em casos graves, contudo, podem ocorrer
edema pulmonar e enfisema e a superfície pulmonar pode apre-
sentar-se com áreas purulentas de infecção sec undária.

SINTOMA TOLOGIA CLíNICA


Os sinai s mais comuns são tosse e definhamento que, nas regiões
endêmicas, usualmente se re stringem a animais jovens. Nos ca-
sos mais graves, verificam-se também di spnéia e um corrimento
nasal persistente. Esta sintomatologia pode ser acompanhada de
diarréia ou anemia decorrente de tricostron gilose gastrintestinal
ou fasciolose concomitantes.

EPIDEMIOLOGIA
Embora este parasita seja prevalente em todo o mundo, é responsá-
vel apenas por surtos esporádicos de doença em regiões temperadas,
como a Grã-Bretanha e a América do Norte. Entretanto, ocorre mais
freqüentemente como problema clínico em a1gumas regiões mais
quentes, como os países mediterrâneos, o Oriente Médio e a Índia. Fig. 28 Cabeça de larva infectante de Dictyocaulus filaria exibindo saliência cuticular
Nas áreas temperadas, a epidemiologia é algo semelhante à do na primeira bainha larval retida.
D. viviparus, uma vez que tanto a sobrevivência de larvas que resis-
tiram ao inverno no pasto quanto o papel da ovelha como portador
são fatores significativos na persistência de infecção no pasto de
ano para ano nas áreas endêmicas. Nas ovelhas, parece provável dos para um pasto fresco. É provável que os esquemas proftláti-
que os parasitas se apresentem amplamente como larvas hipobióti- cos atualmente recomendados para o con trole de nematóides
cas nos pulmões durante cada inverno e amadureçam na primavera. gastrintestinais em ovinos, em anos normais, sejam bem efica-
O desenvolvimento em ~ ocorre somente durante o penodo da zes na e liminação de infecção por D. filaria.
primavera ao outono. Nos cordeiros, as infecções patentes ocorrem Onde for necessário aplicar medidas de controle específicas,
primeiramente no início do verão, mas as infecções mais maciças sugere-se o tratamento anual do rebanho com um anti-helmíntico
em geral são observadas no outono. Nas ovelhas, a prevalência de adequado no final da prenhez. As ovelhas e os cordeiros devem,
infecção é mais baixa, e sua produção de larvas é menor. Como acon- então, ser colocados em pastos que, pelo menos em áreas tempe-
tece com os outros tricostrongilídeos, parece provável a ocorrência radas, não tenham sido usados por ovinos durante o ano anterior.
de apenas dois ciclos do parasita durante cada período de pastejo. Três gêneros de tricostron gilídeos de importância secundária
Nos climas mais quentes, onde as condições com freq üência são são Amidoslomum, Ollulanus e Omithostrongylus.
inadequadas para a sobrevivência larval, o anima1 portador prova-
vehnente é uma fonte mais importante de contaminação do pasto, e
Amidostomum al1seris
os surtos de doença em cordeiros e cabritos ocorrem mais provavel-
mente depois de um período de chuvas prolongadas próximo ao Este parasita encontrado no trato digestivo superior, particular-
desmame. Os caprinos parecem ser mais suscetíveis a infecção que mente a moela, pode causar alta mortalidade em gansos e patos
os ovinos e supõe-se que desempenhem um papel importante na jovens e outras aves aquáticas jovens.
disseminação de infecção onde ambos ficam no campo juntos. Os vermes adultos, de coloração vermelho-viva e com até 2,5
c m de comprimento, são facilme nte identificados pela necrop-
DIAGNÓSTICO sia predominando no revestimento córneo da moela. Microsco-
picamente, caracterizam-se pela cápsula bucal rasa com três den-
Baseia-se na ananmese e na sintomatologia clínica, mas deve ser tes. Os ovos eliminados nas fezes já estão embrionados e, como
confirmado por exames de fezes de uma grande amostra do re- O Nematodirus, desenvolvem-se em LJ no ovo.
banho. A L 1 é semelhante à de D. viviparus, mas apresenta uma O tratamento com um dos benzimidazóis ou o levamisol é
saliência cuticular característica na extremidade·anterior (Fig. 28). eficaz, e pode-se preven ir a condição assegurando que as aves
Diferencia-se. de outros vermes pulmonares ovinos por seu ta- não permaneçam no mesmo solo todos os anos.
manho maior e pela cauda reta.

TRATAMENTO E CONTROLE OllulallllS triclIspis


O nde ocorrem surtos esporádicos, os animais acometidos ~ ou Este tricoslrongilideo muito pequeno (0,7 a 1 mm de comprimen-
de preferência o rebanho inteiro - devem ser reunidos, tratados to) ocorre no estômago de gatos, suínos, felídeos silvestres, rapo-
com um anti-hernintico adeq uado e então, se possível, transferi - sas e ocasionalmente cães domésticos. É identificado microsco-
I.
I.
Helmintologia Veterinária 37

picamente pela forma espiralada da cabeça e pelo falO da fêmea Distribuição:


vivípara ter a cauda com três ou quatro pontas curtas. Mundial.
O ciclo evoluti vo inteiro pode completar-se de modo endóge-
no, e a transmissão, pelo menos no gato, supostamente é através IDENTIFICAÇÃO
da ingestão de vómitos contendo as L)"Os vennes vivem sob uma
camada de muco na parede gástrica. Macroscópica:
Pouco se conhece da sua patogenicidade, embora tenha sido Vennes vennelho-escuros robustos que são facilmente vi stos jun-
relatada uma gastrite crónica nos suínos. O tratamento com ben- to à mucosa in testinal. A cápsula bucal bem desenvolvida do pa-
zimidazóis é eficaz. rasita adulto é proemi nente, assim como a bolsa copuladora do
macho.
Ornithostrongylus quadriradiatus
Microscópica:
A diferenciação entre espécies baseia-se no tamanho e na pre-
Este trico strongilídeo, encontrado no in testin o delgado e no papo
de pombos, causa enterite e anemia que, em infecções maciças, sença e formato dos dentes na base da cápsula bucal (Fig. 29).
podem resultar em grave mortalidade em pombos domésticos.
Os vermes adultos, que medem até 2,5 cm, são hematófagos, S. vulgaris 1,5-2,5 cm Dois dentes arredondados em forma
de orelh a.
têm cor avermelhada e podem sef vistos a olho nu.
S. edentatus 2,5-4,5 cm Sem dentes.
S. equinus 2,5-5,0 cm Três dentes cônicos. Um situa-se
SuperfamOia STRONGYLOlDEA dorsalmentc e é maior que os
outros e bífido.
Há diversos parasitas importantes de mamíferos domés ticos e
aves nesta superfamíli a de nematóides com bolsa copul adora. CICLO EVOLUTIVO
Caracteri zam-se, em sua maioria, por grande cápsula bucal que
freqüentemente contém dentes ou lâminas cortantes e em alguns Os parasitas adultos vivem no ceco e no cólon. Os ovos, que lem-
há coroas lamelares proeminentes circ undando a abertura bucal. bram os dos tricostrôngilos (Fig. 30), são eliminados nas fezes, e
Os adultos ocorre m nas superfícies mucosas dos tratos gastrin- o desenvolv imento do ovo em ~ em condições de verão em cli-
testi nal e res pirató rio , sendo a alimen tação em geral pela in ges- mas temperados requer aproximadamente duas semanas. A infec-
tão de tampões de mucosa. ção é por ingestão das L3' A partir daí, o desenvolvimento larval
Com exceção de três gêneros, Syngamus e Maml'tlomonogamus, parasitário das três espécies difere e será tratado separadamente.
qu e são pa ra sitas da traquéia e de g randes brônquios, e
Stephanu/'Us, encontrado na região perirrenal, todos os outros
gêneros de importânci a veterinári a nesta superfamília são encon-
S. vulgaris
trados no intestino e podem ser convenientemente divididos em
doi s grupos, os estrôngilos e os ancilóstomos. As L3 pene tram na mucosa intestinal e se transformam em L4 na
Os estrôngilos são parasitas do intestino grosso, e os gêneros submucosa. Estas entram, então, em pequenas artérias e migram
importantes são Strongylus, Triodontophorus, Trichonema no endotélio para seu local de predileção na artéria mesentéri-
(ciatostomíneos), Chabertia e Oesophagostomwn. ca cranial e seus ramos principais. Após um período de vários
Os ancilóstomos são parasitas do intestino del gado, e os três meses, as larvas transformam-se em L5 e retomam à parede in-
gêneros de importância veterinária são AncyLostoma, Uncinaria testinal via luzes arteriais. Formam-se nódulos ao redor das lar-
e BUllostomum. vas principalmente na parede do ceco e do cólon, quando, em
vi rtude do seu tamanho, não podem mais seguir dentro das arté-
rias, e a subseqüe nle ruptura desses nódulos libera os parasitas
ESTRÔNGILOS DE EQÜINOS adultos jovens na luz do intestino.
O período pré-patente é de seis a sete meses.
Strongylus
S. edentatus
O s membros deste gênero vivem no intestino grosso de eqüinos
e asininos e, com o Triodonlophorus, são comumente conheci- Após a penetração na mucosa intestinal, as L3 seguem via siste-
dos como grandes estrôngilos. ma porta, atingindo o parênquima hepático em poucos dias. Cerca
de duas se manas mai s tarde, ocorre a muda para Lá, verificando-
Hospedeiros: se, en tão , posterior mi gração no fígado, e por volta de seis a oito
Eqüinos e asininos. semanas pós-infecção podem ser encontradas larvas sob o peri-
tônio ao redor do ligamento hepatorrenal. As Jarvas seguem,
Localização: então, sob o peritônio para muitos locais, com predileção pelos
Ceco e cólon. flancos e ligamentos hepáticos (Fig. 31). A muda final tem lu-
gar depoi s de quatro meses, e cada Ls migra então, ainda sob o
Espécies: peritônio, para a parede do intestino grosso, onde se forma um
SlrongyLus vulgaris grande nódulo purulento, que subseqüe ntemente se rompe com
S. edentalus liberação do parasita adulto jovem na luz.
S. equinus. O período pré-patente é de 10 a 12 meses.

----------------------)
38 Parasit%gia Veterinária

S. equinus ca de febre, inapetência e apatia, às vezes acompanhada por có-


lica. À necropsia, estes si nais estão associados a arterite e trom-
Das três espécies de Strongylus, muito pouco se conhece da mi- bose de vasos sangüíneos intestinais, com subseqüente infarto e
gração larval de S. equinus. Parece que as L3 perdem as cápsulas necrose de áreas do intestino. Emretanto, uma síndrome desta
enquanto penetram na parede do ceco e do cólon ventral e dentro gravidade não é comumente relatada em potros em condições
de uma semana provocam a formação de nódulos nas camadas naturais, provavelmente porque a ingestão de larvas é contínua
mucosa e subserosa do intestino. A muda para L4 ocorre nesses
nódulos, e as larvas seguem então, através da cavidade peritoneal,
para o fígado, onde migram no parênquima por seis semanas ou
mais. Depois deste período, as L4 e L5 são encontradas no pân-
creas e ao seu redor an tes do seu aparecimento na luz do intestino
grosso.
O período pré-patente é de oito a nove meses.

PATOGENIA

Larvas

Apesar do comportamento invas ivo dos estágios larvais parasi-


tas, pouco efeito patogênico específico pode ser atribuído aeles;
a exceção é o S. vulgaris, e muitos eqüinos na Grã-Bretanha têm
lesões no sistema arterial do intestino causadas por esta espécie.
As lesões são mais comuns na artéria mesentérica crani al e seus
ramos principais e consistem na formação de trombo provocada
por lesão larval do epité lio junto com acentuada inflamação e
espessamento da parede arterial (Prancha IIl). Embora incomuns,
podem ser encontrados verdadeiros aneurismas com dilatação e
afinamento da parede arterial , especialme nte em animais que
sofreram infecção repetida.
Muitas das informações referentes ao S. vulgaris resultaram
de infecção experimental de potros. Algumas semanas depoi s da
infecção com vári as centenas de LJ, ocorre uma síndrome c1 íni-
(b)

(a) (e)

Fig. 29 Cápsulas bucais de espécies de Strongylus. (a) S. vulgaris; (b) S. edentatus; (c) S. equinus.
..
Helmintologia Veterinária 39

nas cicatrizes circulares. Os efeitos da infecção por vermes adul-


tos não foram quantificados, mas a lesão macroscópica e a sub-
seqüente perda de sangue e de líquidos tissulares certamente são
responsáveis em parte pelo definhamento e pela anemia associ-
ados a helmintose intestinal nos eqüinos.
Como os membros deste gênero formam apenas um compo-
nente das cargas parasitárias totais do intestino grosso, os outros
aspetos de infecção serão considerados após uma descrição dos
ciclos evolutivos e da patogenia dos outros gêneros.

Triodontophorus

Os membros deste gênero comum de grandes estrôngilos não-


Fig. 30 Ovos de estrõngilos em fezes de eqüinos. migratórios ocorrem freqüentemente em grandes quantidades no
cólon e contribuem para os efeitos prejudiciais da infecção mis-
ta por estrôngilos.

durante o pastejo; foi demonstrado experimentalmente que os Hospedeiros:


potros podem tolerar grandes quantidades de larvas administra- Eqüinos e asininos.
das em pequenas doses durante um longo pelÍodo.
Na infecção por S. edentatus, há alterações macroscópicas no Localização:
fígado associadas à migração larval inicial, mas raramente essas Cólon e ceco.
alterações resultam em sintomatologia clínica. De modo seme-
lhante, as hemorragias e os nódulos repletos de líquido que acom- Espécies:
panham o desenvolvimento posterior das larvas nos tecidos Triodontophorus serratus
subperitoneais raramente resultam em sinais clínicos. T. tenuicollis
Há poucos trabalhos sobre a patogenia das larvas migrante·s T. brevicauda
de S. equinus. T. minor.

Adultos Distribuição:
Mundial.
A patogenia da infecção por espécies adultas de Strongylus está
associada a lesão da mucosa do intestino grosso em virtude dos
hábitos alimentares dos vermes (Prancha III) e, até certo pon-
IDENTIFICAÇÃO
to, a ruptura causada pela emergência de adultos jovens no in-
testino após o término de seu desenvolvimento larval parasitá- Macroscópica:
no. Vermes avermelhados robustos, com 1 a 2,5 cm de comprimen-
Estes vem1es possuem grandes cápsulas bucais e se nutrem to, facilmente visíveis na mucosa do cólon. Numa das espécies,
por ingestão de tampões de mucosa ao se moverem pela superfí- T. tenuicollis, são encontrados caracteristicamente grupos de
cie do intestino. Embora os vennes pareçam alimentar-se total- vermes adultos alimentando-se em grupos.
mente de substância mucosa, a lesão acidental dos vasos sangüí-
neos pode causar considerável hemorragia. As úlceras resultan- Microscópica:
tes dessas mordidas eventuamente se fecham, deixando peque- A diferenciação entre espécies baseia-se nas características da
cápsula bucal, especialmente o número e o formato dos dentes
presentes em todas as espécies.

CICLO EVOLUTIVO

Há poucas informações disponíveis sobre o ciclo evolutivo deste


gênero, mas supõe-se que seja semelhante ao do gênero Tricho-
nema.

PATOGENIA

Como os outros estrôngilos dos eqüinos, o efeito patogênico des-


tes vennes é a lesão da mucosa do intestino grosso pelos hábitos
alimentares dos parasitas adultos; em particular, T tenuicollis,
cujos adultos se nutrem em grupos e provocam a formação de
grandes úlceras profundas que podem ter vários centímetros de
Fig. 31 Larvas de Strongy/us edentatus, 2 a 3 cm, do peritõnio parietal do flanco. diâmetro (Prancha III).
40 Parasit%gia Veterinária

tubu lares em geral provoca resposta inflamatónajuntamente com


TrichonellU/ICyathostomes acentuada hipertrofia de células globosas. A emergência das L4
vermelho-vivas na luz intestinal parece estar associada a infil-
Este gê nero compreende mais de 40 espécies, popularmente co- tração maciça da mucosa intestinal por eosinófilos. Podem estar
nhecidas como triconemas, ciatostomíneos ou pequenos presentes muitos milhares de L4' mas o seu significado patogêni-
estrôngilos. Estes parasitas são encontrados no intestino grosso co foi pouco estudado. Há, entretanto, relatos de infecções natu-
de eqüi nos, e seus efeitos sobre o hospedeiro variam de desem- rais intensas por vermes adultos e larvas associadas a enterite ca-
penho deficiente a sintomatologia clínica de entente grave. tarral e hemorrágica, com espessamento e edema da mucosa, es-
pecialmente em animais de seis meses a três anos de idade.
Hospedeiros: Com freqüência, estão presentes parasitas maduros em gran-
Eqüinos e asi ninos. des quantidades na luz do intestino grosso, e, durante a alimenta-
ção, as espécies com pequenas cápsulas bucais absorvem apenas
Localização: epitélio glandular, enquanto as espécies grandes podem lesar ca-
Ceco e cólon. madas mais profundas da mucosa. Embora as erosões causadas
indi vidualmente por parasitas possam ser leves, quando existem
Espécies: . grandes quantidades pode resultar uma enterite descamativa.
Durante muitos anos, houve grande confusão na classificação
deste grupo de parasitas, e numa recente revisão foi proposta a
eliminação do gênero Trichonema e a sua substituição por qua-
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA, EPIDEMIOLOGIA,
tro gêneros, a saber, Cyathostomum, Cylicocyclus, Cylicodonto- DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO E CONTROLE
phorus e Cylicostephanus, coletivamente designados ciatostomí- DA ESTRONGILOSE EQÜINA
neos. Como as espécies envolvidas, em sua maioria, são seme-
lhantes tanto morfologicamente como no comportamento, serão SINTOMA TOLOGIA CLíNICA
referidas neste texto como tri conemas, ciatostonúneos ou peque-
nos estrôngilos. Quin ze destas espécies estão presentes comu- Os eqüinos em campo abrigam uma carga mista de estrôngilos
mente em grandes quantidades. grandes e pequenos, e os principais sinais clínicos associados a
infecções maciças em animais de até dois a três anos de idade
Distribuição: são definhamento, anemia e, às vezes, diarréia. Em animais mais
Mundial. velhos, é menos comum uma sintomatologia clínica acentuada, ,
embora o desempenho geral possa estar prejudicado.
IDENTIFICAÇÃO Nas regiões temperadas, foi descrita uma síndrome aguda de
diarréia grave e morte em cavalos e pôneis na primavera associ-
Macroscópica: ada a simultânea emergência maciça de L4de ciatostomíneos da
Nematóides com bolsa copuladora de tamanho pequeno a mé- mucosa e submucosa intestinal. Esta síndrome pode ter semelhan-
dio « 1,5 cm de comprimento), coloração variando de branca a ças etiológicas e epidemiológicas com a ostertagiose Tipo II em
vermelho-escura, a ma~ria sendo visível ao exame minucioso bovinos jovens, sendo freqüentemente designada ciatostomose
da mucosa ou do conteúdo do intestino grosso. larval.
É difícil determinar a importância de larvas migratórias de S.
Microscópica: vulgaris em casos naturais de cólica, mas geralmente se admite que,
A cápsula bucal bem desenvolvida é cilíndrica e a diferenciação onde as infecções de eqüinos por estrôngilos são eficazmente con-
entre espécies baseia-se em características da cápsula bucal e das troladas, a incidência de cólicas diminui de modo acentuado.
coroas lamelares interna e externa.
EPIDEMIOLOGIA
CICLO EVOLUTIVO
A estrongilose é mais freqüentemente um problema em eqüinos
A eclosão dos ovos e o desen volvimento em LJ estão completos jovens criados em pastos permanentes para eqüinos, embora
em duas semanas durante o verão em regiões temperadas, após o possam ocorrer casos de doença grave em animais adultos man-
que as larvas migram das fezes para a pastagem adjacente. Depois tidos em piquetes urbanos e submetidos a superlotação e mane-
da ingestão, as LJ se desencapsulam e invadem a parede do intes- jo deficiente.
tino grosso, onde se desenvolvem em L4 (Prancha III) antes de Apesar das exigências larvais pré-parasitárias de estrôngilos
emergir na luz intestinal e se transformar em vermes adultos jo- de eqüinos serem semelhantes às dos tricostrongilídeos de rumi-
vens. nantes, os eqüinos adultos, ao contrário dos bovinos, podem abri-
Os períodos pré-patentes deste gênero em geral são entre dois gar cargas substanciais de vermes e. portanto, ter considerável
e três meses, embora isto possa ser ampliado por causa da hipo- influência sobre a epidemiologia da infecção. Há, portanto, duas
biose em algumas espécies. fontes de infecção durante a estação de pastejo em regiões tem-
peradas. Primeiramente, há larvas infectantes que se desenvol-
PATOGENIA veram durante o período de pastejo anterior e sobreviveram no
pasto durante o inverno. A segunda e provavelmente mais im-
o desenvolvimento larval parasitário da maiori a das espécies tem portante fonte de larvas infectantes são os ovos eliminados no
lugar inteiramente na mucosa do ceco e do cólon, mas algumas presente período de pastejo por eqüinos, incluindo éguas lactan-
penetram na camada muscular e se desenvolvem na submucosa. tes, compartilhando a mesma área de pastagem. Os níveis lar-
A entrada de larvas de ciatostollÚneos nas luzes das glândul as vais do pasto aumentam de modo marcante durante os meses de

l
He/mifltologia Veterinária 41

verão, quando as condições são ótimas para o rápido desenvol- CONTROLE


vimento de ovos e m L, (Fig. 32).
Atualmente, há pouca evidência de um aumento peripuerpe- Como eqüinos de qualquer idade podem infectar-se e excretar ovos,
ral na produção de ovos em fezes de éguas reprodutoras em vir- todos os animais com mais de dois anos de idade em campo devem
tude de queda de imunidade, uma vez que o aumento de ovos na ser tratados a cad a quatro a oito semanas com um eficaz anti-
primavera ocorre tanto em animais reprodutores como em não- helITÚnüco de amplo espectro. Este esquema também controla in-
reprodutores e freqüentemente não está relacionado ao parto. fecções por outros parasitas intestinais, corno Parascaris equorum
Há evidência cada vez maior de que muitas L3de ciatostomí- e Oxyuris equi.
neos ingeridas durante o outono apresentam um grau de hipobi - Quaisquer novos animais que se juntem a um grupo tratado
ase e permanecem na mucosa do intesti no grosso até a primave- devem receber um anti-helmíntico e ser isolados durante 48 a 72
ra seguinte. A emergência maciça dessas larvas resulta na grave horas antes de ser introduzidos.
sintomatologia clínica descrita previamente. Se possível, deve-se adotar um sistema de rotação de pique-
tes para que as éguas lactantes e seus potros não pastem na mes-
DIAGNÓSTICO ma área em anos sucessivos.
Se os eqüinos forem estabulados no inverno, o tratamento nes-
Baseia-se na história de pastejo e na sintomatologia clínica de perda ta época com um anti-helmíntico eficaz contra ciatostomíneos
de condições físicas e anemia. Embora o achado de ovos de larvais irá redu zir o ri sco de doença por causa de sua emergên-
estrôngilos, de casca-fina, ovais, típicos, ao exame de fezes, possa cia maciça na primavera.
ser um auxí1io útil ao diagnóstico, é importante lembrar que car- Há evidência de que algumas espécies de ciatostomíneos po-
gas substanciais de vem1es podem estar associadas a contagens de dem tornar-se resistentes a compostos de benzimidazóis, e para
ovos nas fezes de apenas algumas centenas de opg, em razão da evitar isto sugere-se que estes sejam alternados com anti-helmín-
baixa fecundidade de vermes adultos ou da presença de muitos ticos quimicamente não-relacionados em base anual ou se mes-
parasitas imaturos. Em algumas ocasiões em que maciças infec- tral. Devem ser examinadas amostras fecai s de grupos de eqüi-
ções por ciatostomíneos na primavera causam diarréia grave, po- nos em intervalos regulares, para controlar a eficácia da droga.
de m estar presentes nas fezes milhares de L4 de ciatostoITÚneos,
aparentemente incapazes de se instalar . ESTRONGILíDEOS DE OUTROS ANIMAIS

. TRATAMENTO
Chabertia
Se as medidas profiláticas forem adequadas, não deve ser neces-
A Chabertia ovis está presente, usualmente em baixas qu antida-
sário o tratamento da estrongilose clínica.
des, na maioria dos ovi nos e caprinos. Contri bui para a síndro-
Há uma série de anti-helITÚnticos de largo espectro, incluin-
me de gastrenterite parasitária e apenas ocasionalmente ocorre
do benzimidazóis, pirantel e avermectinas/milbemicinas, que são
em números suficientes para causar doença clínica por si só.
eficazes na remoção de estrôngilos adu ltos e larvais da luz intes-
tinal, geralmente sendo comerciãITzados como preparações orais Hospedeiros:
ou para a ração. As avennectinas/milbe micinas tê m ainda a van- Ovinos, caprinos e ocasionalmente bovinos.
tagem de agir contra larvas de moscas (espécies de Gasterophilus)
que se desenvo lve m no estômago. Localização:
Alguns modernos benzimidaz6is e as avennectinaslmilbemici- Cólon.
nas também são eficazes tanto contra larvas de ciatostomíneos em
desenvolvimento na parede intestinal como contra alguns estági- Espécie:
os migratórios dos grandes estrôngilos. Chabertia ovina.

Distribuição:
Mundial.
- Eliminação de ovos nas fezes de égua
_.- Eliminação de ovos nas fezes de potro
- Larvas no pasto
IDENTIFICAÇÃO
Macroscópica:
Os adu ltos têm cerca de 1,5 a 2 cm de comprimento e são os
maiores nematóides encontrados no cólon de rumin antes. São
brancos, com uma extremidade anterior acentuadamente truncada
e dilatada por causa da presença da cápsula bucal muito grande.

Microscópica:
A enOIme cápsula bucal, em forma de sino, tem uma fileira dupla
de pequenas papilas ao redor da borda. Não há dentes (Fig. 33).

primavera verão outono inverno


CICLO EVOLUTIVO

Fig. 32 O modelo de infecção por estrôngilos em éguas e potros no pasto em regi- É direto, e a fase pré-parasitária é semelhante à dos tricostrongili-
ões temperadas. deos de ruminantes.
42 Parasitolagia Veterinária

Fig . 34 Edema e espessamento de oolon associados a infecção por Chabertia ovina.

DIAGNÓSTICO
Urna vez que muito do efeito patogênico ocorre no período pré~
patente, a contagem de ovos nas fezes pode ser muito baixa.
Entretanto, durante a fase diarréica, os vermes podem ser expe-
lidos e são facilmente identificados. À necropsia, o diagnóstico
em gera] se baseia nas lesões, pois a carga de vermes pode ser
desprezível após a eliminação de vennes nas fezes.

TRA TAMENTO E CONTROLE


Corno a epidemiologia de C. ovina é a mesma que a dos tricos-
Fig. 33 Grande cabeça em forma de sino de Chabertia ovina. trongilídeos. o controle e o tratamento são semelhantes.

Oesophagostollllll11
Na fase parasitária, as LJ entram na mucosa do intestino delga-
do e ocasionalmente na mucosa do ceco e do cólon; depois de uma As espécies de Oesophagostomum são respo nsáveis por uma
semana, sofr em muda, as L J emergem na superfície da mucosa e enterite em ruminantes e suínos. As espécies mais patogênicas
migram, agrupando-se no ceco, onde se completa o desenvolvi- em ruminantes ocorrem nos subtrópicos e trópicos. estando as-
mento em Ls cerca de 25 dias após a infecção. Os adultos jovens sociadas à formação de nódulos no intestino.
seguem, enlão, para o cólon. O período pré-patente é de 42 dias. Hospedeiros:
Ruminantes, suínos.
PATOGENIA
Localização:
O principal efeito patQgên ico é causado pelas Ls e por adultos Ceco e cólon.
maduros que se nutrem I ngeri ndo grandes tampões de mucosa,
resultando em hemorragia local e perda de proteína através da Espécies:
mucosa lesada. Oesophagostomum colurnbianum ovinos e caprinos
Uma carga de 250 a 300 vermes é considerada patogênica, e Oe. venulosum ovinos e caprinos
em surtos graves os efeitos tomam-se evidentes durante o fi nal Oe. radiatwn bovinos e bubalinos
do período pré-patente. A parede do cólon torn a-se edematosa, Oe. dentalum suínos
congesta e espessada, com pequenas hemorragias nos locais onde Oe. quadrispinulatum suínos.
se fixam os vermes (Fig. 34).
Outras espécies encontradas nos suínos são Oe. longicauda-
SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA tum, Oe. granatensis e Oe. brevicaudum e, em ovinos e caprinos,
Oe. asperwn.
Nas infecções graves, a diarréia, que contém ' muito sangue e na
Distribuição:
qual podem ser encontrados vermes, é o sinal clínico mais co-
Mundial; mais importante em áreas tropicais e subtropicais.
mum. Os ovinos ficam anêmicos e hipoalbuminêrnicos, poden-
do sofrer grave perda de peso.
IDENTIFICAÇÃO
EPIDEMIOLOGIA Macroscópica:
Velme branco espesso de 1 a 2 cm de comprimento. Facilmente
Em regiões temperadas, as LJ são capazes de sobreviver ao in- diferenciado de Chabertia pela cabeça afilada.
verno. O parasita também pode passar o inverno no hospedeiro
como L" hipobiótica na parede do intestino, e mergindo no final Microscópica:
do inverno e início da primavera. A cápsul a bucal é pequena. Em muitas espécies, é circundada por
Embora tenham sido registrados surtos de chabertiose em ca- coroas lamelares. A coroa externa, se presente, é comprimida e,
prinos e ovinos na Europa, a doença é mais importante nas regi- portanto, há apenas uma estreita abertura na cápsula bucal. Ao
ões da Austrália e da África do Sul com as chuvas de inverno. redor do esôfago anterior, há uma vesíc ul a cefálica cuticular in-
1
HelmillToJogia Veterinária 43

No intestino, as LJ de Oe. columbianum migram profundamen-


te na mucosa, provocando resposta inflamatóri a co m formação
de nódulos visíveis aolho nu. Na reinfecção, esta resposta é mais
marcante, e os nódulos atingem 2 cm de diâmetro e contêm pus
eosi nofílico esverdeado e uma L4' Quando as L4 emergem, pode
haver ukt!nu;ãu da mucosa. A ocorrência de diarrêia coincide
com a emergência cerca de uma semana após a infecção primá-
ria e de vários meses a um ano após a rei nfecção. Nas infestações
maciças, pode haver colite ulcerati va, e a doença seg ue um cur-
so debilitante crônico, com efeitos sobre a produção de lã e car-
ne. Os nódul os na parede intestinal também deixam os intesti-
nos impróprios para processamento co mo peles de lingüiça e
material de sutura cirúrgica.
Nas infecções por Oe. radiatum em bovinos, o efeito patogê-
nico também é atribuído aos nódulos (até 5 mm de diâmetro) no
intes tino, e parece que 500 larvas já são suficientes para produ-
zir sintomatologia clíni ca. A necropsia revela a mucosa grave-
mente inflamada e cheia de nódulos purulentos verde-amarela-
dos. Nas fases finais da doença, desenvolvem-se anemia e hipoal-
buminernia, por causa do efeito combinado de perda protéica e
extravasamento de sangue através da mucosa lesada.
As infecções por Oesophagos/ornum nos suínos são menos
freqüentemente associadas a doença clínica, mas são responsá-
veis por baixa produtividade.

SINTOMA TOLOGIA CLíNICA

Nas infecções agudas de ruminantes, uma grave diarréia verde-


escura constitui o principal sinal clínico e há geralmente rápida
perda de peso e, às vezes, edema submandibular. Nas infecções
cróni cas, que ocorrem principalmente em ovinos, a inapetência
e o emagrecimento com diarréia intermitente e anemia são os
Fig. 35 Cabeça de Oesophsgostomum venulosum mostrando vesícula cefálica (i)
pri ncipais sinais de esofagostomose.
característica do gênero. As porcas prenhes demonstram inapetência, ficam muito
magras e depois do parto a produção de leite cai, com efeitos sobre
o desempenho da ninhada.

flada (Fig. 35). Esta termina num sulco cervical, que é acompa- EPIDEMIOLOGIA
nhado em algumas espécies por largas asas cervicais. A posição
das papilas cervicais e as disposições da coroa lamelar são usa- Em áreas temperadas, há evidência de que o Oe. venulosum so-
das para iden tificar as espécies. fre hipobiose no estágio L4 em ovinos durante O outono e O in-
verno e que esta é a principal maneira pela qual tal espécie so-
CICLO EVOLUTIVO brevive até a primavera seg uinte. Ainda não se sabe se ocolTe
hipobiose em Oe. radialwn. Ambas as espécies também são ca v

A fase pré-parasitária é tipicamente de estrongilídeos, e a infecção pazes de passar o inverno no pasto como ~.
se dá por ingestão de LJ, embora haja evidência limitada de que é Nas espécies suínas, Oe. denralwn e Oe. quadrispinulalum, a
possível penetração cutânea, pelo menos em suínos. As LJ entram sobrevivência tanto de LJ de vida livre no pasto como de L4
na mucosa de qualquer parte do intestino delgado ou grosso e em hi po biótica no hospedeiro ocorre durante o outono e o inverno;
algumas espécies (Oe. colwnbiallum, Oe. radia/um, Oe. quadrispi- as Larvas hipobióticas completam o desenvolvimento na prima v

nulatum) ficam inclusas em nódulos evidentes, nos quais tem lu- vera, freqüentemente coincidindo com o parto. Há também al-
gar a muda em L4 (Prancha ill). Essas L4 emergem, então, na su- guma evidência de que se desenvolvem larvas em fezes na pele
perfície mucosa, migram para o cólon e se transfonnam no estágio de suínos, e parece pro vável que, em anjmais estabulados, a trans-
adulto. O período pré-patente é de aproximadamente 45 dias. missão sej a por contato entre as porcas e suas ninhadas, e a in-
Na reinfecção com a maioria das espécies, as larvas podem fecção ocorre ou por via oral ou por via percutânea. Pode ocor-
permanecer inibidas como L4 em nódulos por até um ano; con- rer também transmissão de pocilga a pocilga através de moscas
tudo, com Oe. venulosw n, os nódulos estão ausentes, enquanto que podem transportar LJ nas patas.
em Oe. de{liatwn são pouco visíveis. Em áreas tropicais e subtropicais, são especialmente impor-
tantes Oe. colwnbianum e Oe. radiarwn em ovinos e bovinos
PATOGENIA respectivamente. Nas infecções por Oe. columbianum, a sobre-
vivência prolongada das L4 em nódulos na parede do intestino e
Todas as espécies são capazes de c,\usar grave enterite, incluin- a falta de imunidade eficaz tomaram difícil o controle até o ad-
do Oe. venuloswn, que não provoca formação de nódulos. vento de anti-helmínticos eficientes. Por outro lado, os bovinos
44 Parasitologia Veterinária

desenvolvem boa imunidade a Oe. radiatum, em parte graças à hospedeiro e completam o desenvol vimento. O cisto comunica-
idade e e m parte à prév ia exposição, sendo assim basicamente se com O ureter ou diretamente ou, se es tiver mais di stante, por
um problema em bezerros desmamados. um fino canal conectante, pennitindo a excreção de ovos de ver-
mes na urina.
DIAGNÓSTICO Embora a locali zação preferencial sej a na gordura perirrenal,
algun s vermes ocorrem no próprio rim, nos cálices e na pelve.
Baseia-se na sintomatologia clínica e no exame pós-morte. Como Foi descrita infecção pré-natal.
a doença aguda ocorre no período pré-patente, os ovos de espé- É comum a migração errática em infecções por Slephanurus,
cies de Oesophagostomum em geral não estão presentes nas fe- e são encontradas larvas na maioria dos órgãos e em tecido mus-
zes . Na doença crônica, observam-se ovos e podem ser identifi- cular. Nesses locais, ficam retidas por encapsulamento e jamais
cadas L, após a cultura de fezes. atingem a área perirrenal.
O período pré-patente varia de seis a dezenove meses, e os
TRA TAMENTO E CONTROLE vermes têm longevidade de cerca de dois anos.

o tratamento e o controle de infecções de ruminantes por espé- PATOGENIA


cies de Oesophagostol1lum são semelhantes aos dos tricostron-
gilídeos, enquanto as infecções em suínos em recintos abertos o principal efeito patogênico deve-se às larvas que, no final do
podem ser co ntrol adas pelos métodos desc ritos para Hyostron- estágio L ... possuem cápsulas bucais muito rijas capazes de lacerar
gyLus. As infecções em suínos em ambientes fechados podem ser tecidos, causando grande lesão no fígado e ocasionalmente ou-
controladas por esquemas de tratamento recomendados para o tros órgãos em suas migrações. Nas infestações maciças, pode
controle de Asea/"is SUWlI. haver cirrose grave c aseite e, cm casos raros, insuficiência he-
pática e morte. Na maioria das infecções, entretanto, os efeitos
são observados apenas após o abate como ci rrose em manchas,
Slephmwrus e a maior importância do verme é econômica, por condenação
do fígado.
Este é o "verme do rim" de suínos, que tem importância econô- Usualmente, os vermes adultos, logo após chegar à localiza-
mica em suas regiões endêmicas. ção perirrenal, são encapsulados em cistos, que podem conter pus
esverdeado. Em casos raros, os ureteres podem estar espessados
Hospedeiros: e estenosados, com conseqüente hidronefrose.
Suínos. O Slephanurus pode ocasionalmente causar grave lesão he-
pática em bezerros no pasto em solo contaminado.
Localização:
Rins e tecidos perirrenais. SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA

Espécie: Na maioria das infecções, o único sinal é a incapacidade para


Stephanurus dentatus. ganhar peso ou, em casos mais graves, perda de peso. Onde há
lesão hepática mais extensa pode observar-se ascite, mas é ape-
Distribuição: nas quando há invasão maciça, comparável à fasciolose aguda
Principalmente regiõe s quentes a tropicais de todos os c'o ntinen- em ovinos, que ocorre morte.
teso Não ocorre na Europa Ocidental.
EPIDEMIOLOGIA
IDENTIFICAÇÃO
Apesar dos vermes adultos jamais serem numerosos, são muito
Um grande verme robusto de até 4,5 cm de comprimento, com fecundos, e um suíno infectado eliminil~um milhão de ovos por
cápsula bucal proeminente e c utícula transparente através da qual dia.
podem ser vistos os órgãos internos (Prancha III). A cor é usual- A L, é suscetível à deslecação, de tal modo que a estefanurose
mente rosada. O tamanho e a localização são diagnósticos. está associada principalmente a solo levemente úmido. Como ela
infecta rapidamente por penetração cutânea, o hábito que os su-
CICLO EVOLUTIVO ínos têm de deitar em volta da área de alimentação quando man-
tidos em piquetes representa um risco, como também as instala-
O desenvolvimento do ovo até L3 é tipicamente de estrongilíde- ções sem higiene e úmidas para animais em pocilgas. Tais con-
os, embora minhocas possam intervir como hospedeiros trans- dições, somadas à infecção pré-natal e à longevidade do venne,
portadores. Há três modos de infecção: por ingestão das L, li- garantem a continuidade da infecção através de muitas gerações
vres, por ingestão de minhocas transportando as L3 e por via per- de suínos.
cutânea. Depois de entrar no corpo, há uma muda imediata, e as
L4 seguem para o fígado pe la circulação sangüínea, seja do in- DIAGNÓSTICO
testino pela circulação porta ou da pele para os pulmões e circu-
lação sistêmica. A muda final tem lugar no fígado, e os adultos Os sinais clínicos provavelmente são poucos, e, como a maior
jovens ficam vagando no parênquima durante três meses ou mais parte da lesão ocorre durante a fase pré-patente, podem não ser
antes de pelfurar a cápsula e migrar na cavidade peritoneal para encollu'UUUS uvus na urina. Entretanto, em áreas endêmicas, onde
a região perirrenal. Aí, ficam inclusos num cisto por reação do os animai s não estão conseguindo de senvolver-se e onde os aba-
He/mintologia Veterinária 45

tedouras locais registram números consideráveis de fígados ci r- mato de Y: são os únicos parasitas encontrados na traq uéia de
róLicos. pode ser feito um di agnóstico provável. aves domésticas (Prancha IV).

TRATAMENTO Microscópica:
Os vermes possuem cápsulas bucais grandes e rasas com até dez
o levam isol. os modernos benzimidazóis e a ivermectina são dentes em sua base. O ovo elipsóide de S. trachea tem um opér-
eficazes. culo em ambas as extremidades (Fig. 36).

CONTROLE CICLO E VOLUTIVO

Uma tentativa de controle baseia-se na suscetibilidade das ~ à Os ovos escapam sob a bolsa copuladora do macho e são leva-
dessecação e no fato de que uma importante via de infecção é a dos até a traquéia no muco em excesso produzido em resposta à
percutânea. Segue-se que a manutenção de superfícies lisas em infecção; são então deglutidos e eliminados nas fezes. Ao con-
volta das áreas de alimentação para SUúlOS criados extensivamen- tráfio de outros estrongilídeos, a LJ desenvolve-se no ovo.
te e a simples higiene. assegurando pisos secos e limpos em insta- Pode ocorrer infecção por uma de três maneiras - primeira-
lações para suínos, ajudaru a 1inútar a infecção. Esta abordagem mente por ingestão da LJ no ovo; em segundo lugar, por inges-
pode ser suplementada separando-se os suínos jovens dos que têm tão da L3eclodida; ou finalmente por ingestão de um hospedeiro
mais de nove meses de idade, que estarão excretrando ovos. transportador contendo a LJ'
O esquema de "apenas rnarrãs", preconizado por pesquisado- O hospedeiro transportador mais comum é a minhoca, mas
res nos Estados Unidos, consiste basicamente no uso apenas de vários outros invertebrados, incluindo lesmas, caramuj os e be-
marrãs para reprodução. As marrãs são criadas em solo seco e so uros, podem atuar como hospedeiros de transporte. Depoi s de
ex posto ao sol. Uma única ninhada é retirada delas, e tão logo os penetrar no intestino do hospedeiro defini tivo, as LJ seguem para
lei tões possam ser desmamados as marrãs são comercializadas. os pulmões, provavelmente pelo sangue, uma vez que são encon-
O esquema tem a vantagem do período pré-patente extremamente tradas nos alvéolos quatro a seis horas após infecção experime n-
longo, permitindo que um único ciclo reproduti vo pelas marrãs tal. As du as mudas parasitárias ocorrem nos pulmões dentro de
se complete antes do ínicio da oviposição e, portanto, eliminan- cincoidias, ocasião em que os parasitas têm 1 a 2 mm de co mpri-
do progressivamente a infecção. Os varrões utiJj zados no esque- mento~ A copulação dá-se por volta do sétimo dia na traquéia ou
ma são confinados em piso de conc reto. nos brônquios, depois do que a fêmea se desenvolve rapidamen·
Os esquemas que incorporam controle anti-helmintico reco- te. O período pré-patente é de 18 a 20 di as.
mendam tratamento de porcas e marrãs uma a duas semanas antes
de colocá-Ias com o macho reprodutor e novamen te uma a duas PATOGENIA
semanas antes do parto.
No planejamento de um sistema de controle, deve-se ter em Os efeitos do S. trachea são mais graves em aves jovens, especi-
mente que as minhocas, hospedeiros transportadores, represen- almente em filhotes de aves de caça e em peruzinhos. Nestes, a
tam um reservatório contínuo de infecção. migração através dos pulmões em infestações maciças pode re-

Svngamus
Apenas um membro deste gênero, o Syngamus trachea, tem im-
portância veterinária e parasita o trato respiratório superior de
aves não-aquáticas; é conhecido comurnente como "verme do
bocejo" e pode ser responsável por dificuldade res piratória e
morte.

Hospedeiros:
A ves domésticas e aves de caça. como faisões e perdizes.

Localização:
Traquéia.

Espécie:
Syngamus trachea.

Distribuição:
Mundial.

IDENTIFICAÇÃO
Macroscópica:
A fêmea grande (até 2 cm) e o macho peque no (até 0,5 cm), Fig. 36 Ovo de Syngamus trachea mostrando um opérCulO em cada extremidade
avermelhados, estão permanentemente in copula , dando o for- (78-1oo jim x 43·60 "",m).
46 Parasitologia Veterinária

sultar em pneumonia e morte. Em infecções menos graves, os membros deste gênero, mas não são considerados patógenos gra-
vennes adultos causam uma traqueíte hemorrágica, com produ- ves.
ção excessiva de muco, O que provoca oclusão parcial das vias
aéreas e dificuldade respiratória. ANCILÓSTOM~S DE CÃES E GA TOS

SINTOMA TOLOGIA CLíNICA A farnJlia cujos membros são comumente de-


nominados causa da disposição característica
A pneumonia durante a fase pré-patente pode causar sinais de em gancho de suas anteriores, são responsáveis por
dispnéia e depressão, enquanto a presença de vermes adultos e o ampla morbidade e animais, principalmente em
excesso de muco na traquéia resultam em sinais de asfixia ou razão das suas atividades no intestino.
sufocação, com a ave ofegando; freqüentemente, há muita osci-
lação da cabeça e tosse ao tentar livrar-se da obstrução. O qua-
dro clínico de "catarro" pode, portanto, variar de respiração di-
fícil, dispnéia e morte a fraqueza, anemia e emagrecimento em
animais menos gravemente acometidos. Hospedeiros:
Cão, gato e raposa.
EPIDEMIOLOGIA
Localização:
A infecção pe19 "verme do bocejo" acomete principalmente aves Intestino delgado.
jovens, mas perus de todas as idades são suscetíveis, e os adul-
tos com freqüência atuam como portadores. Os ovos podem so- Espécies:
breviver por até oito meses no solo e as L3 durante anos na mi- Ancylostoma caninum cão e raposa
nhoca ou em outros hospedeiros transportadores. A enfennida- A. tubaeforme gato
de é observada mais freqüentemente em granjas de reprodução A. braziliense cão e gato.
e criação onde estão sendo utilizados cercados ao ar livre, como
os usados para faisões reprodutores. A infecção pode ser inicia- Distribuição:
da por ovos, eliminados por aves silvestres, como gralhas-cal- Ampla nos trópicos e regiões temperadas quentes. Nas outras re-
vas e melros; estes também podem infectar minhocas. giões, é observado às vezes em cães importados de regiões en-
dêmicas. .-
DIAGNÓSTICO
IDENTIFICAÇÃO
Baseia-se na sintomatologia clínica e no encontro de ovos nas
fezes. A doença provavelmente seja mais bem confinnada por Macroscópica:
exame pós-morte de casos escolhidos, quando serão encontra- São facilmente identificados pelo tamanho (1 a 2 cm), sendo
dos vennes fixados à mucosa traqueal. muito menores que os nematóides ascarídeos comutls que tam-
bém são encontrados no intestino delgado e pela postura carac-
TRATAMENTO terística "em gancho".

o tiabendazol e o fembendazol adicionados à ração são efica- Microscópica :


zes, administrados usualmente por períodos de três a 14 dias. O A cápsula bucal é grande com dentes marginais (Fig. 37), haven-
nitroxinil e o levamisol também são muito eficazes quando ad- do três pares em A. caninum e A. tubaeforme e dois pares em A.
ministrados na água. braziliense.
Por ser a espécie mais importante, o A. caninum será djscuti-
CONTROLE do em detalhes.

As aves jovens não devem ser criadas com adultos, especialmente


perus, e para evitar a instalação de infecção os viveiros ou cer-
Ancy/ostoma caninum
cados devem ser mantidos secos e o cantata com aves silvestres
impedido. CICLO EVOLUTIVO
A profilaxia com drogas pode ser efetuada durante o período
em que normalmente são previstos surtos. O ciclo evolutivo é direto, e se houver condições ideais os ovos
podem eclodir e desenvolver-se em L3 em apenas cinco dias.
A infecção dá-se por penetração cutânea ou por ingestão,
Mammomonogamus ambos os métodos sendo igualmente bem-sucedidos. Na infec-
ção percutânea, as larvas migram via circulação sangüínea para
Este gênero, intimamente relacionado ao Syngamus, é parasita das os pulmões, onde se transformam em L4 nos brônquios e na tra-
vias respiratórias de marrúferos. Duas espécies, M. laryngeus e quéia, e em seguida são deglutidas e vão para o intestino delga-
M. nasicola, são parâsitas de bovinos, bubalinos e caprinos no do, onde ocorre a muda final. Se a infecção for por ingestão. as
Extremo Oriente, na África e na América Central e do Sul. Outra larvas podem ou penetrar na mucosa bucal e sofrer migração
espécie, M. ierei, nas cavidades nasais de gatos" foi descrita no pulmonar já descrita ou ir diretamenLe para o intestino e tomar-
Canbe. Pouco se sabe sobre o ciclo evolutivo ou os efeitos de se patentes. Qualquer que seja a via adotada, o período pré-pa-
Helmintologia Veterinária 47

de um ano de idade, e os .filhotes novinhos, infec tados pela via


transmamária, são particularmente suscetíveis em razão de suas
baixas reservas de ferro . A perda de sangue começa aproxima-
damente no oitavo dia de infecção, quando o adulto imaturo já
desenvo lveu a cápsul a bucal com dentes qu e lhe permite pren-
der tampões de mucosa contendo arteríolas. Cada verme remo-
ve cerca de 0, I mi de sangue ao dia, e em infecções maciças de
várias centenas de vermes os cãezinhos logo se tornam profun-
damente anêm icos.
Em infecções m ais leves, comuns em cães mais velhos, a
anemi a não é tão grave, pois a resposta medular é capaz de com-
pensar durante um período variável. Finalmente, entretanto, o cão
pode tomar-se deficiente em ferro e desenvolver uma anemia
hipocrômica microcítica.
Em cães previamente sensibilizados, ocorre m reações cutâ-
neas, como eczema úmido e ulceração nos locais de infecção
percutânea, acometendo principalmente a pele interdigital.

SINTOMA TOLOGIA CLíNICA . , J


Nas infecções agudas, há anemia, lassidão e ocasionalmente di-
ficuldade respiratóri a. Nos cãezinhos lactentes, a anemi a é qua-
se sempre grave e acompanhada de diarréia que pode conter san-
gue e muco. A sintomatol ogia respiratória pode ser oriunda da
lesão larval nos pulmões ou dos efeitos anóxicos da anemia.
Fig. 37 Cápsula bucal de Ancy/ostoma caninum mostrando três pares de dentes Nas infecções mais crônicas, o animal usu almente está com
marginais.
peso abaixo do normal, a pelagem é escassa e há perda de apeti-
te e talvez pica. Inconsistentemente, há sinais de dificuldade res-
piratória, lesões cutâneas e claudicação.
tente é de 14 a 21 dias. Os vermes são ovipositores prolíferos, e
um cão infectado pode eliminar milhões de ovos ao dia durante EPIDEMIOLOGIA
várias semanas.
CUm aspecto importante da infecção por A. caninum é que, em Nas áreas endêrnicas, a doença é mais comum nos cães com me-
cadelas suscetíveis, uma proporção das L) que ati ngem os pul- nos de um ano de idade. Nos animais mais velhos, o desenvolvi-
mões mi gram para os músculos esqueléticos, onde permanecem mento gradual de resistência etária toma menos provável a do-
latentes até a cadela ficar prenhe. São, então, reativadas e, ai nda ença clínica, particul armen te em cães criados em áreas endêrni-
como L), são eli minadas no leite da cadela durante um período cas cuja resistência etári a é reforçada pela imunidade adquirida.
de aproximadamente três semanas após o partó) Esta infecção A epidemiologia está sobretudo associada com as duas prin-
transmamária freqüentemente é responsável por anemia grave em cipais fontes de infecção, a transmamári a e m cãezinhos lacten-
ninhadas de cãezinhos na seg unda ou terceira semana de vida. A tes e a percutânea ou oral a partir do ambie nte.
infecção da cadela numa única ocasião produziu infecções Um importante aspecto da infecção tran smamári a é que a
transmamárias em pelo menos três ninhadas consecutivas. doença pode ocorrer em filhotes lactentes criados num ambiente
Parece também que 1-, latentes nos músculos tanto de cadelas limpo e amamentados por uma cadela recentemente tratada com
co mo de cães podem recomeçar a migração meses ou anos mais um anti-helmíntico e com contagem negativa de ovos nas fezes.
tarde, amadurecendo no intestino do hospedeiro. Estresse, doença A contaminação do meio ambiente é mais provável quando os
grave ou grandes doses repetidas de corticosteróides podem todos cães são exercitados em gramados ou áreas de terra que retêm
precipitar essas infecções aparenteme nte novas em cães, que tal- umidade e também protegem as larvas da luz solar. Nessas super-
vez possam residir num ambiente li vre de ancilóstomos. fícies, as larvas podem sobreviver durante algumas semanas. Por
Um ponto conclusivo é ·que, experime ntalmente, L, de algu- outro lado, as superfícies lisas secas, particularmente se expostas
mas linhagens de A. canin.wn expostas a resfriamento antes da ao sol, são letais para larvas em um dia ou mais. O alojamento
administração oral demonstraram permanecer em de senvo lvi- também é importante, e a não-remoção de camas sujas, especial-
mento inibido na mucosa intestin al durante semanas ou meses. mente se os canis forem úmidos ou tiverem pisos porosos oú com
O significado desta observação ainda é desconhecido, mas su- fendas, pode resultar e m instalação maciça de contaminação.
põe-se que tais larvas retomem o desenvolvimento se a popula-
ção de ancilóstomos adultos for removida por um anti-helrrúntico DIAGNÓSTICO
ou em ocasiões de estresse, com o a lactação.
Depende da sintomatologia clínica e da história, complementadas
PATOGENIA por exames hematológico e de fezes. As altas contagens de ovos
de vermes nas fezes constituem valiosa confirmação de diagnós-
-É essencialmente a de uma anemia hemorrágica aguda ou crôni - tico, mas deve-se observar que os cãezinhos lactentes podem de-
ca. A doença é mais comumente observada em cães com menos monstrar sintomatologia clínica grave antes da detecção de ovos
48 ParasilO/ogia Veterinária

nas fezes. Além disso, alguns ovos de ancilóstomos nas fezes, netrando na pele e vagando na derme. Essas larvas não se desen-
embora co nfirmando a evidência de infecção, não indicam ne- volvem, mas as lesões cutâneas usualmente persistem durante se-
cessariamente que um cão adoentado seja portador de ancilosto- manas.
míase. Lesões semelhan tes, embora apenas transitórias e minúscu-
las, podem ser causadas por larvas de A. caninum.
TRATAMENTO

Os cães acometidos devem ser tratados com um anti-helmintico, Uncino ria


como mebendazol, fembe ndazol e nitroscanato, todos os quais
destroem estágios intestinai s adultos e em de se nvolvimento ; Hospedeiros:
várias das avermectinas apresentam atividade se melhante. Se a Cão, gato e raposa.
doença for grave, recomenda-se a administração de ferro paren-
teral e o fornecimento de uma dieta rica em proteínas ao cão. Os Localização:
cãezinhos mu ito novos podem requerer transfusão de sangue. Intestino delgado.

CONTROLE Espécie:
Uncinaria stenocephaLa.
Deve-se adotar um sistema de terapia anti-helmíntica e higiene
regular. 9s cães desmamados e os adultos devem ser tratados a Distribuição:
cada três meses. Áreas temperadas e subárticas; o "ancilóstomo do norte".
As cadelas prenhes devem ser tratadas pelo menos uma vez
durante a prenhez, e as ninhadas lactentes pelo menos duas ve- IDENTIFICAÇÃO
zes, com uma a duas semanas de idade e novamente duas sema-
nas depois , com uma droga especificamente recomendada para Um verme pequeno, de até I cm de comprimento, possui duas
uso em cãezinhos. Isto ajuda também a controlar as infecções por lâminas cortantes na borda da cápsula bucal (Fig. 38) e na base
ascarídeos. um pequeno par de dentes.
A transmissão perinataJ de larvas deAncylostomae de Toxocara
pode ser reduzida pela administração oral diária de fembendazol CICLO EVOLUTIVO
durante três semanas antes a dois dias depoi s do parto.
Os pisos dos canis não devem ter frestas, devem ser secos e as Semelhante ao do A. caninum, exceto que a infecção oral, sem
camas devem ser descartadas diariamente. As áreas livres devem migração pulmonar, é a via usual . Apesar das larvas infectantes
ser de cimento ou concreto e mantidas tão limpas e secas quanto
possível; as fezes devem ser removidas com uma pá antes de se
aplicar um j ato de água com mangueira. Se tiver ocorrido surto,
as áreas de terra devem ser tratadas com barato de sódio, que é
letal para larvas de ancilóstomos, mas também destrói a grama.
Uma segunda possibilidade freqüe ntemente usada em criações de
raposa é a manutenção de pisos de tela de arame nos cercados.

A. lubaeforme

o ciclo evolutivo e o tratamento deste ancilóstomo de gatos são


semelhantes aos do A. caninum. no cão, mas não há evidência de
infecção transmamária.

A. braziliense

Este ancilóstomo ocorre tanto em cães como em gatos. Seu c i-


clo evoluti vo é semelhante aq do A. caninum, embora não haja
evidência de infecção transmamária. Ainda que possa causar certo
grau de hipoalbuminemia através de extravasamento intestinal
de plasma, nãu é ht!lllalú[ago t!, conseqüentemente, tem pouca
importância patogênica em cães, provocando apenas discretos
distúrbios digestivos e ocasional diarréia. O tratamento é seme-
lhante ao do A. caninum.
A maior importância do A. braziliense é o fato de ser conside-
rado como a principal causa de larva migrans cutânea no homem.
Esta lesão, caracterizada por tratos inflamatórios eritematosos si-
nuosos na derme e por plUrido intenso, é causada por larvas infec- Fig. 38 Cápsula bucal de Uncinaria stenocephala mostrando lâminas cortantes na
tantes de A. braziliense, e menos freqüentemente Uncinaria, pe- borda.
HelmillfOlogia Veterinária 49

poderem penetrar na pele, a infecção raramente amadurece, e racteristicamente em forma de gancho na extrernjdade ante-
ainda não há evidência de infecção transmamária. O período pré- rior.
patente é de aproximadamente 15 dias.
Microscópica:
PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLíNICA A grande cápsula bucal apresenta na margem um par de lâminas
cortantes e internamente um grande cone dorsal (Fig. 39).
A infecção não é rara em grupos de cães de esporte e de lida. O
verme não é um hematófago voraz como o A. caninwn, mas em CICLO EVOLUTIVO
cãezinhos maciçamente infectados foram regi stradas hipoalbu-
minemia e anemia de baixo grau , aco mpanhadas de diarré ia, A infecção pelas L3 pode ser percutânea ou oral, apenas a pri-
anorexia e letargia. Provavelmente, a lesão mais comum em cães meira sendo acompanhada por migração pulmonar. O período
que se tornaram hipersensíveis por exposição prévia seja a der- pré-patente varia de um a dois ~eses.
matite podálica, acometendo particulannente a pele interdigital.
PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLíNICA
EPIDEMIOLOGIA
Os vermes adu ltos são hematófagos, e as infecções por 100 a 500
Na Inglaterra. num piquete usado continuamente durante o ano vermes produz anemia, hipoalbuminemia, perda de peso e oca-
todo por galgos, o padrão sazonal das larvas infectantes no pas- sionalmente diarréia. Nos bezerros, a penetração cutânea das
to seguiu perfeitamente o descrito para tricostrongilídeos gastrin- larvas pode ser acompanhada pelo ato de bater os pés e prurido.
restinais em ruminantes, com acentuado aumento emjulho e um
pico em setembro; isto sugere que o desenvol vimento até L3 é
altamente dependente da temperatura.
EPIDEMIOLOGIA

Em regiões temperadas, são incC)muns altas cargas de vermes, e


DIAGNÓSTICO na Grã-Bretanha, por exemplo, foi registrado apenas um surto,
ocorrido em bovinos jovens esta bulados num c urral úmido; em
Nas regiões onde não há A. caninum, a sintomatologia clínica da ovinos, é incomum encontrar mais de 50 vennes adultos. Por
infecção patente juntamente com a demonstração de ovos de es-
outro lado, as infecções patogênicas são mai s comuns nos trópi-
trongilídeo s nas feze s é indicativa de un c inariose. Onde
Ancylostoma também é endêmico, o diagnóstico diferencial pode
requerer cu1h!ra de larvas, embora o tratamento seja semelhante.

TRATAMENTO E CONTROLE

O tratamento anti-helnúntico regular e uma boa higiene, como foi


indicado para Ancylostoma, controlam a infecção por Uncinaria.
A delmatite podálica responde mal ao tratamento sintomático, mas
regride gradativamente na ausência de reinfecção.

ANCILÓSTOMOS DE RUMINANTES

BWlOstOIllUIII

Hospedeiros:
Rumin antes.

Localização:
lntestino delgado.

Espécies:
Bunostomum trigol1ocephalwn ovinos e caprinos
B. phlebotomum bovinos.

Distribuição:
Mund ial.

IDENTIFICAÇÃO

Macroscópica:
Fig. 39 Cabeça de Bunostomum mostrando as lãminas cortantes marginais . A
O Bunostomum é um dos maiores nematóides do intestino del- estrutura cónica na cápsula bucal não ê um dente, mas contém o dueto da glãndu-
gado de ruminautes, tendo I a 3 cm de comprimento e sendo ca- la esofágica.
50 Parasitologia Veterinária

cos, e em algumas áreas, como a Nigéria, as mais altas cargas de METASTRONGILíDEOS DE SUíNOS
vennes são observadas no final da estação seca, aparentemente
por causa da maturação de larvas hipobióticas. Ocorre apenas um gênero em suínos, Metastrongylus, sendo
excepcional por ter minhocas, e não moluscos, como hospedei-
DIAGNÓSTICO ros intennediários.

A sintomatologia clínica de anemia e talvez diarréia em be-


zerros ou ovinos jovens por si só não é patognomônica de bunos- Metastrongylus
tomose. Entretanto, em regiões temperadas, o conhecimento epi-
demiológico pode ser útil para eliminar a possibilidade de infec- Hospedeiro:
ção por Fasciola hepatica. Nos trópicos, deve-se considerar he- Suíno.
moncose, possivelmente originando-se de larvas hipobióticas.
As contagens de ovos de vermes nas fezes são úteis, uma vez Hospedeiros intermediários: .
que são mais baixas que na infecção por Haemonchus, enquanto Minhocas.
os ovos são mais abruptamente arredondados, com cascas visco-
sas relativamente espessas às quais freqüentemente aderem frag- Localização:
mentos. Para diferenciação precisa, devem ser preparadas cultu- Pequenos brônquios e bronquíolos, especialmente os dos lobos
ras larvais. posteriores dos pulmões.

Espécies:
TRATAMENTO E CONTROLE Metastrongylus apri (sin. elongatus)
M. salmi
Os esquemas anti-helmínticos profiláticos adotados para Oster- M. pudendolectlls.
tagia ou Haemonchus em geral são suficientes para o controle
deste parasita. Por outro lado, o tratamento de surtos deve ser Distribuição:
acompanhado por medidas para melhorar a higiene, particular- Mundial.
mente em relação à disposição das fezes, e pela manutenção de
camas secas para animais estabulados ou confinados.
IDENTIFICAÇÃO

Vermes brancos delgados, com até 6 cm de comprimento; o hos-


Gaigeria
pedeiro, a localização e o fOlmato delgado longo são suficientes
para a iden t.ificação genérica.
A Gaigeria pachyscel'is, muito semelhante ao Bunoslomum em
Os ovos têm cascas espessas, irregulares e são larvados quando
muitos aspectos, é encontrada em ovinos e caprinos na América
postos.
do Sul, na África e na Ásia. É um hematófago voraz, e mesmo
100 a 200 vermes já são suficientes para causar a morte em ovi-
nos em poucas semanas de infecção. CICLO EVOLUTIVO

Nas temperaturas frias, os ovos são muito resistentes e podem


Ag riostotnutn sobreviver por mais de um ano no solo. Nonnalmente, entretan-
to, sua eclosão é quase imediata, o hospedeiro intennediário in-
O Agriostomum vryburgi é um ancilóstomo comum do intestino gerindo a LI. Na minhoca, o desenvolvimento em L 3 leva cerca
grosso de bovinos e bubalinos na Ásia e na América do Sul. Seu de dez dias em temperaturas ideais de 22 a 26°C. A longevidade
ciclo evolutivo provavelmente é direto, e sua patogenicidade, ape- das LJ na minhoca é semelhante à do próprio hospedeiro inter-
sar de desconhecida, provavelmente depende de seus hábitos he- mediário, podendo ser de até sete anos.
matófagos. Os suínos infectam-se por ingestão de minhocas, e as L J • libe-
radas por digestão seguem para os linfonodos mesentéricos, so-
[Ancilóstomos no homem: Dois ancilóstomos, Ancylostoma frem muda e as L4 atingem, então, os pulmões através da via Unfá-
duodenale e Necatoramericanus, ocorrem no homem nos trópi- tico-vascular, ocorrendo a muda final aRós a chegada nas vias
cos. Sua patogenicidade é semelhante à do A. caninum, mas não aéreas.
se observa infecção transmarnária.] O período pré-patente é de aproximadamente 4 semanas.

PATOGENIA
SuperfamOia METASTRONGYLOlDEA
Durante o período pré-patente, desenvolvem-se áreas de conso-
Os vermes desta superfamília, em sua maioria, habitam os pulmões lidação pulmonar, hipertrofia muscular brônquica e hiperplasia
ou os vasos sangüíneos adjacentes aos pulmões. O ciclo evolutivo linfóide peribrônquica (Fig. 40), freqüentemente acompanhadas
típico é indireto, e o hospedeiro intennediário usualmente é um por áreas de grande infiltrado inflamatório.
molusco. Quando os vennes estão maduros e são aspirados ovos nas me-
Podem ser convenientemente divididos em três grupos segun- nores vias aéreas e no parênquima, a consolidação aumenta e o
doo hospedeiro; os que ocorrem em suínos; em ovinos ecaprinos; enfisema é mais acentuado. Nesta fase, ocorre também hiperse-
e nos carnívoros domésticos. creção de muco bronquiolar.
Helmintologia Veterinária 51

CONTROLE
Q uando a criação de suínos se baseia em pasto, o controle é ex-
tremamente difícil, por causa da ubiqüidade e longev idade do
ho spedeiro intenuediário TIÚnhoca. Em propriedades onde ocor-
rem surtos graves, os suínos devem ser confinados, medicados e
o pasto infectado cultivado ou utilizado por outros animais.

METASTRONGILíDEOS DE
OVINOS E CAPRINOS
Todos estes vermes hab itam os pulmões, mas nenhum deles é
um patógeno significativo e, embora comuns, têm pouca impor-
tância econômica se comparados com os outros helmintos para-
sitas de ovinos e caprinos. Apesar da existência de sete gêneros
Fig. 40 Hipertrofia muscular brônquica e hiperplasia linfóide peribrônquica associ-
adas a infecção de pulmão suíno por Metastrongy/us.
diferentes, têm o comportamento suficientemente se melhan te
para ser considerados em conjunto.

Hospedeiros:
Cerca de seis semanas após a infecção, instalam-se bronquite Ovinos e caprinos.
crônica e enfisema, sendo encontrados pequenos nódulos acinzen-
tados na parte posterior dos lobos diafragmáticos; esses nódulos Hospedeiros intermediários:
podem juntar-se e formar áreas maiores, sendo a sua resolução Moluscos: Muellerius em caramujos e lesmas; ProtostrongyLus
lenta. Em muitos casos de metastrongilose, observa-se infecção em caramujos.
es tafilocócica purulenta nos pulmões.
Gêneros e localizações:
O MueLlerius capilLaris é encontrado nos alvéolos; o Protostrongy-
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA lus, muitas espécies, é encontrado em pequenos bronquíolos. Os
gêneros menos importantes relacionados são CystocauLus, Spicu-
A maioria das infecções é leve e as si ntomática. Entretanto, e m locaulus e Neostrongylus.
infecções maciças, a tosse é acentu ada e acompanhada por disp-
néia e corrimento nasal. Uma infecção bacteriana secundária pode Distribuição:
complicar a sintomatologia. Mundi al, exceto nas regiões árti cas e subárticas.

EPIDEMIOLOGIA IDENTIFICAÇÃO

A metastrongilose apresenta distribuição etária característica, sendo São vermes capilares castanhos com 1 a 3 cm de comprimento e
mais prevalente em suínos de quatro a seis meses de idade. O pa- difíceis de ser discernidos a olho nu, pois ficam enterrados no
rasita é comum na maior parte dos países, embora não ocorram tecido pulmonar.
surtos de doença com freqüência, provavelmente graças ao fato
da maioria dos sistemas de criação de suínos não permitir o aces- CICLO EVOLUTIVO
so dos animais a m inhocas. Embora muitas vezes sugerido que o
Metastrongylus possa transmitir alguns dos vírus suínos e que possa Os vermes são ovovivíparos, sendo as LI eli minadas nas fezes;
aumentar o efeito de patógenos já presentes nos pulmões, o papel essas LI penetram na reg ião podálica do hospedeiro intermediário
do venne ainda não está defi nitivamente demonstrado. molusco e se desenvolvem em ~ num período minimo de duas a
três semanas. Os ovinos infectam-se por ingestão do molusco, e
DIAGNÓSTICO as L3' liberadas por digestão, seguem para os pulmões pela via lin-
fático-vascular, ocorrendo as mudas parasitárias nos Iinfonodos
Para exame de fezes, deve-se utilizar sulfato de magnésio satura- mesentéricos e nos pulmões.
do como a solução de flutuação, em face da alta densidade dos ovos. O período pré-patente de MaeUerius é de seis a 10 semanas e
Os pequenos ovos larvados de cascas irregulares são característi- o de ProtostrongyLus é de cinco a seis semanas. O período de
cos, mas é preciso lembrar que freqüentemente há Metastrongylus patência é muito longo, ultrapassando dois anos em todos os
em su.ínos normais e a sintomatologia pulmonar pode ser atribuí- gêneros examinados.
vel à infecção pulmonar, e não a vennes pulmonares. A doença
costuma ser encontrada mais em suínos no campo, embora ocor- PATOGENIA
ram surtos ocasionais em animais confinados.
O MueLlerius está associado a pequenas lesões nodul ares, esféri-
TRATAMENTO cas, que ocorrem mais comumente perto da ou sobre a superfície
pulmonar e, à palpação, têm a consistência e O tamanho de um
Muitos anti-helmínticos, incl uindo os modernos benzirnidazóis, chumbinho (Fig. 41). Os nódulos contendo venues isolados são
o levamisol e as avermectinas/milbemicinas, são altamente efi- quase imperceptíveis e os visíveis incluem vários dos minúsculos
cazes. vermes bem como ovos e larvas.
52 Parasit%gia Veterin6ria

pecto são os longos períodos de patência e a aparente incapaci-


dade do hospedeiro definiti vo de desenvolver imunidade adqui-
rida, de tal modo que os ovinos adultos tê m as infecções mais
maci ças e a prevalência mais alta.

DIAGNÓSTICO
A presença de infecção usualmente é observada apenas durante
exames rotineiros de fezes. As L I são diferenciadas das L I de
Dictyocaulus filaria primeiramente pela ausência de uma sali-
ência protoplasmática anterior e, depois, pelos aspectos indivi-
duais da cauda larval (Fig. 42).

TRATAMENTO
Os modernos benzimidazóis, o levamisol e a ivermectina de-
monstram se r eficazes.

CONTROLE
Em virtude da ubiqüidade dos hospedeiros intennediários molus-
cos e do fato de as LJ poderem sobreviver tanto quanto os molus-
cos, o controle específico é difícil, mas felizmente poucas vezes
necessário.
O EÚlphostrongy/us cervi é um metastrongilideo que ocorre
em cervídeos criados em propriedades rurais, incluindo a rena,
na Europa, na Ásia e na Nova Zelândia. É encontrado no tecido
Fig. 41 Lesões nodulares caracterfsticas associadas a infecção por Muellerius em
conjuntivo intennuscular do tórax e do dorso, sendo os ovos le-
pulmão de ovino. vados pela circulação sangü ínea aos pulmões, onde eclodem e
são ex pelidos pela tosse e deglutidos. Às vezes, entretanto, os
vermes in vadem o SNC e causam meningoencefalite, co m para-
lisia e morte ocasional. Nos músculos, os parasitas são inofensi-
Na infecção por Protoslrongylus, há um a área um pouco mai - vos, porém a sua presença pode exigir limpeza da carcaça.
or de comprometimento pulmonar, c a oclusão de um pequeno Uma espécie afim, Pare/aphoslrongylus tenuis, cujo hospe-
brônquio por vermes resulta no enchimento dos seus menores ra- deiro natural é o veado de cauda branca na América do Norte,
mos, que se dirigem à superfície pulmonar, por ovos, larvas e frag- ocasionalmente invade o SNC de ovinos e causa paralisia.
mentos celulares; a lesão inteira tem fonnato levemente cônico,
com a base na superfície do pulmão.
METASTRONGILÍDEOS DE CÃES E GATOS
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA Tal como a maioria dos membros desta superfarrulia, tais vennes
vivem nos pulmões ou em suas adjacências. Os poucos gêneros
Raramente se observam sinais pneumômicos, e as infecções
quase sempre são inaparentes, sendo identificadas somente à
necropsia.

EPIDEMIOLOGIA
o Muellerius é certamente o gênero mais co mum, e em muitas
regiões temperadas, como a Grã-B retanha, os estados do leste dos
Estados Unidos e as reg iões da Austrália com chuvas de inver-
no, quase todos os ovinos têm infecção; a extensa distribuição e
a alta prevalênc ia são parcialmente atribuíveis à sua ampla vari-
edade de hospedeiros intermediários.
O Prolostrongylus, cuj a vari edade de hospedeiros intermedi-
ários se restringe a certas espécies de caram ujos, tem prevalên-
cia mais baixa, embora sua amplitude geográfica seja igualmen-
te tão ampla.
Fatores adicionais que desempen ham um papel na manuten- Muellerius
ção da endemicidade desses vermes são, primeiramente, a capa- Cystocaulus
ProtostrongyJus
cidade das LI de sobrevi ver durante meses no bolo fecal e, em
segundo lugar, a persistência das L3 no hospedeiro intem1ediá- Fig. 42 Aspectos diferenciais de larvas de três gêneros de metastrongi!ídeos de
rio por toda a vida do molusco. Também importantes neste as- ovinos.
Helmintologia Veterinária 53

de interesse veterinário são co nsiderados por ordem de impor-


tância.

Oslerus (sin. Filaroides)


Até recentemente, este gênero fazia parte do gênero maior Fila-
roides, mas agora está separado, em base morfológica, dos ou-
tros membros. Apesar da distinção ser feita pela morfol ogia, tam-
bém é útil do ponto de vista veterinálio, pois separa a única espé-
cie noci va, Oslerus osleri, que vive nas vias aéreas superiores,
das espécies rel ativamente inofensivas contidas no gênero Fila-
roides e que vivem no parênquima pulmonar.

Hospedeiros:
Cães domésticos e silvestres.

Localização:
Os vermes ficam inclusos em nódulos fibrosos na traq uéia, na
região da bifurcação e nos brônquios adjacentes .

Espécie:
Oslerus osleri.
Fig. 43 Nooulos na bilurcaçào traqueal causados por inlecçào por Osferus osleri.
Distribuição:
Mundial.

IDENTIFICAÇÃO Os principais sinais de infecção por Oslerus são dificuldade


respiratória e tosse irritante, especialmente depois de exercícios.
Pequenos vermes, delgados e pálidos, de até 1,5 cm de compri- Os casos mais graves em geral são observados em cães de seis a
mento; a localização e as lesões são diagnósticas. 12 meses de idade, e obviamente a infecção tem maior importân-
cia em cães de Uda. Nos cães de estimação domésticos, cujo exer-
CICLO EVOLUTIVO cício é Limitado, a presença dos nódul os traqueai s é bem tolerada,
e os animais apresentam pouca dificuldade respiratória.
o Osleras, e seu gênero intimamente relacionado, Filaroides, são
excepcionais na supenamilia por terem cicIos evolutivos diretos. EPIDEMIOLOGIA
As fêmeas são ovovivíparas, e os ovos, em sua maioria, eclodem
na traquéia. Muitas larvas são tossidas e deglutidas e eliminadas Embora haj a rel atos de Oslerus em vário s países, são poucos os
nas fezes, podendo a infecção ocorrer por sua ingestão; mais co- dados sobre sua prevalência local. No sul da Inglaterra, um le-
mumente, ocorre transmissão quando uma cadela infectada lambe vantamento deu um valor de 6% para todos os tipos de cão. Em
o [!lhote e transmite as LI recém-eclodidas presentes na saliva. outros levantamentos naquela área, os galgos demonstraram taxa
Após a ingestão, a primeira muda ocorre no intestino delga- de prevalência de 18%, mas não existe evidência de suscetibili-
do e as L 2 seguem para os pulmões pela via linfático-vascular. O dade racial. Em geral, o foco de infecção parece ser a cadela lac-
desenvolvimento até Lj tem lugar nos alvéolos e brônquios, e os tante.
adultos mi gram para a traquéia.
O período pré-patente varia de 10 a 18 semanas.
DIAGNÓSTICO
PATOGENIA Os esfregaços de muco faríngeo dão resultados variáveis, poden-
do ser necessário repetir as amostras. Entretanto, na tosse paro-
Os nódulos onde vivem os vermes aparecem a primeira vez cer- xísti ca, freq üentemente são expelidas grandes quantidades de
ca de dois meses após a infecção. São cinza-rosados, e os peque- muco brônquico, contendo grandes números de larvas. Técnicas
nos vermes podem ser vistos projetando-se parcialmente de suas menos eficazes são as que se baseiam em exame de fezes, ou por
superfícies. Esses nódulos são de natureza fibrosa e ficam fir- flutuação ou pelo método de Baerman .
memente adelidos à mucosa; podem ler até 2 cm de diâmetro. Embora requerendo anestesia geral, a broncoscopia é o mé-
Embora a maioria ocorra junto à bifurcação traqueal, alguns todo mais seguro, uma vez que indica não só a presenç a, o tam ~­
podem ser encontrados a vários centímetros desta área (Fig. 43). nho e a localização de mu itos dos nódulos como também permI-
te a colhei ta de muco traqueal para exame confirmatório da pre-
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA sença de ovos e larvas; estas últimas são invariavelmente espi-
raladas, lentas e têm a cauda em forma de S (Fig. 44).
Muitas infecções são clinicamente inaparentes e os nódulos carac- O s nódulos grandes podem ser detectados por radiografia
terísticos são descobertos apen~ de modo acidental à necropsia. torácica lateral.
54 ParasitoLogia Veterinária

IDENTIFICAÇÃO

" ~. Os vermes são muito peque nos, fi nos, capilares e cinzemos, não
sendo difícil vê-los a olho nu no parênq ui ma pulmonar, mas é
improvável que sejam recuperados intactos do tecido. A com-
pressão de um corte pulmonar demons tra fragmen tos de vennes.
ovos e larvas, e isto, com o hospedeiro e a localização, é sufj ci-
e nte para diagnóstico genéri co.

CICLO EVOLUTIVO

Os vermes são ovovivíparos e as L 1 eclodidas são eliminadas nas


fezes ou expelidas na sali va. Embora a infecção possa ser adq ui-
rida por ingestão de larvas fecais, supõe-se que a via importante,
como em infecção por Oslerus, seja por transferência de LI na
saliva da cadela ao lamber o filhote. O período pré-patente de F.
hirthi é de cinco semanas; o de F. milksi é descon hecido.

PATOGENIA

As principais lesões são pequenos nódulos miliares acinzenta-


dos, moles, associados à presença de vermes e que se distribuem
sob a pleura e por todo o parênq uima pulmonar; nas infecções
mac iças, observadas às vezes em cães de ex peri ência submeti -
dos a drogas imunoss upressoras, os nódul os podem fundir-se em
massas acinzentadas.
Fig . 44 Larvas de primeiro estagio de o. oslerimostrando aspecto enrolado e pon-
ta da cauda em forma de S.
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA

A infecção é quase invariavelmente ass intomática e descoberta


TRATAMENTO apenas ao exame pós-morte. Na rara infecção maciça, entretan -
to, pode ocorrer hiperpné ia.
Há relatos de alívio da sintomatologia c línica, aparentemente em
face de redução no tamanho dos nódul os após tratamento pro- EPIDEMIOLOGIA
longado com a lguns benzimidazóis. O fembendazol e o alben-
dazol em doses maiores são agora aprovados para o tratamento Pouco se sabe sobre a epidemiologia. O F. hirthi fo i observado
de infecção por Oslerus em cães. pela primei ra vez numa colônia de beagles experimentais, sen~
do razoável sugerir, em vista de seu modo de transmissão, que
CONTROLE se poderi a esperar alta prevalênc ia em cães de cani s.

É difícil , a menos q ue as cadelas infectadas possam ser identifi- DIAGNÓSTICO


cadas e tratadas antes do parto e durante a lactação. Antigamen-
te, o úni co método certo de controle era a remoção dos fil hotes Apenas o F. hirthi foi di agnosti cado no animal vi vo, e isto acon-
de cadelas infec tadas ao nasci mento e aleitamento arti ficial ou teceu em cães experimentai s. A L 1• presente nas fe zes e no ca-
aleitamento em cadelas não-contaminadas. tarro, é espiralada e a cauda tem um sulco, seguido por constri-
ção, e uma ponta tenni nal e m forma de lança.

Filaroides TRATAMENTO

Hospedeiros: o al bendazol foi descrito como eficaz, embora raramente seja


Cães domésticos e carnívoros silvestres. necessário tratamento.

Localização: CONTROLE
Parênq uima pu lmonar.
É improvável que seja necessári o.
Espécies:
Filaroides l1lilksi
F. hirlhi. Aelurostrongylus

Distribuição: Uma espécie, Aelurostrongylus abslrusus, é comum nos pulmões


América do No rte, E uropa e Japão. dos gatos domésticos.
Helmintologia Veterinária 55

Hospedeiros:
Gatos.

Hospedeiros intermediários:
Muitos moluscos.

Localização:
Parênquima pulmonar e pequenos bronquíolos.

E spécie:
Aelurostrongylus abstrusus.

Distr ibuição:
Mundi al.
Fig. 45 Corte de pulmão de gato infectado por Aefurostrongyfus abstrusus.
IDENTIFICAÇÃO

Aglomerados de vermes, ovos e larvas estão presentes por todo o


tecido pulmonar. Os vennes, com cerca de 1 cm de comprimento, tosse e espirros. com leve dispnéia e produção de catarro mucói-
são muito finos e delicados, e é di fícil recuperá-los intactos para de. Nas infecções experimentais maciças, os si nais mais graves
exame; um corte pulmonar comprimido demonstra partes do ver- aparecem em seis a doze semanas após a infecção, quando a pos-
me, incluindo a LI característica. tura de ovos é máxima.

CICLO EVOLUTIVO EPIDEMIOLOGIA

Os vermes são ovovivíparos, e as LI são eliminadas nas fezes. A infecção por Aelurostrongylus é di sseminada, em parte por ser
Estas pe netram na região podálica do hospede iro intennedi ário quase indiscri mi nada em sua capacidade de desenvolvimento em
mo lusco e se desenvolvem nas LJ infectantes, e durante esta fase les mas e caramujos e em parte por sua ampla variedade de hos-
o molusco pode sef ingerido por hospedeiros paratênicos, como pedeiros paratênicos. Até agora, lodos os levantamentos demons-
aves e roedores. O gato infec ta-se por ingestão desses hospedei- tram prevalências superiores a 5%.
ros, e as L), liberadas no trato digestivo, seguem para os pulmões
pe la c irculação linfática ou san güínea. DIAGNÓSTICO
O período pré-patente é entre quatro e seis semanas e a dura-
ção da patência é de aproxim adamente qu atro meses, embora Podem ser necessários exames repetidos de fezes por esfregaço.
algun s vermes possam sobreviver nos pulmões durante vários fl utuação ou técnica de Baerman para encontrar a L I caracterís-
anos apesar da ausência de larvas nas fezes. tica, que apresenta uma es pinh a subtermin al na cauda em forma
de S. O exame de esfregaços da faringe pode ser um a conduta
PATOGENIA adic ional útil. As radiografi as revelam aumentos das densidades
vasc ular e parenq uimatosa focal, o que se poderia esperar pelas
o verme em geral tem baixa patogenicidade e as infecções, em alterações descritas anteriormente.
sua maioria, são descobertas apenas acidentalmente no exame pós-
morte. Na maior parte dos casos, os pulmões apresentam apenas TRATAMENTO
múltiplos pequenos focos com centros acinzentados contendo os
vermes e fragmentos tissulares, mas nas raras infecções graves há O fe mbendazol, na dose de 50 mglkg ao d ia, durante três di as,
nódulos mai ores, de a té I cm de diâmetro, com centros caseosos demonstra ser eficaz.
projetando-se da superfície pulmonar; esses nódu los podem fun-
dir-se e formar áreas de consolidação. M.icroscopicamente, obser-
CONTROLE
va-se que os alvéolos estão bloq ueados com vennes, ovos, larvas
e aglomerados celulares que podem evoluir para formação de gra-
Em cães de estimação e especialmente naqueles com tendência
nuloma (Fig. 45). Uma alteração característica é hipertrofia e hi-
nôm ade, é difícil evitar o acesso aos hospedeiros intermediários
perplasia muscular, acometendo não somente os bronquíolos e
e paratênicos.
duetos alveolares, mas também a média das artérias pulmonares.
Com exceção das alterações musculares, que parecem ser ir-
reversíveis, a resolução é rápida e os pulm ões se apresentam Angioslrollgylus
quase comp letamente normais em seis meses de infecção expe-
ri mental, embora ainda possam estar presentes alguns vennes.
A única espécie de importância veterinária não é encontrada em
tecido pul monar, mas sim no coração e em vasos pulmonares
SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA associados.

Os efeitos clínicos são leves e, no gato em repouso, limitam-se a Hospedeiros:


discreta tosse crônica; após exercício ou manipulação. pode haver Cães .
56 Parasito/agia Veterinária

Hospedeiros intermediários: rente. Como conseqüência da capacidade reduzida de coagula-


Caramujos da terra e lesmas. ção sangüínea, pode m aparecer intumescimentos indolores de
desenvolvimento lento em áreas dependentes, como a parte in-
Localização: ferior do abdome e o espaço intermandibular, e nos membros
Ven..trículo direito e artéria pulmonar. onde ocorreu o hematoma.
A rara infecção aguda demonstra di sp néia e tosse violenta,
Espécie: com escarro branco-amarelo, ocasionalmente sangüinolento.
Angiostrongylus vasorum.
EPIDEMIOLOGIA
Distribuição:
Mundi al, exceto nas Améri cas. Apesar da distribuição geral mundial, o A. vasorum prevalece
apenas em determinadas localidades, que invariavelmente são
IDENTIFICAÇÃO rurais. Na Europa, foram identificados focos endêmicos na Fran-
ça, Espanha, Irlanda e Inglaterra.
Vermes delgados, de até 2,5 cm de comprimento. Na fê mea, os
ovários brancos enrolam-se em volta do intestino vennelho como DIAGNÓSTICO
nas espécies de Haenwnchus.
A L J, que pode estar presente nas fezes e no escarro, tem um
CICLO EVOLUTIVO pequeno botão cefálico e uma cauda ondulante com um chanfro
subtenninal, e sua presença associada a sintomatologia respira-
o gênero é ovovivíparo. Os vennes adultos nos vasos pulmonares tória e circulatória é aceita como confirmatória.
maiores põem ovos que são transportado s aos capilares, onde
eclodem. As L I entram nos alvéolos, migram para a traquéia e em TRATAMENTO
seguida para o trato digestivo, sendo eliminadas nas fezes. Ocorre
ainda desenvol vimento após a entrada no hospedeiro intermediá- o mebendazol e o fenbendazol em doses crescentes são eficazes.
rio, e o estágio infectante é atingido em 17 dias.
Depois do molusco ter sido ingerido pelo cão, as ~ infectan- CONTROLE
tes, li beradas por di gestão, seguem para os linfonodos adjacentes
ao trato digestivo, onde tê m lugar ambas as mudas parasitárias, e o controle é impraticável na maioria do s casos, em razão da
em seguida para o local vascular de predileção; são encontradas
ubiqüidade dos hospedeiros intermediários moluscos.
também Ls no fígado.
O período pré-patente é de sete semanas, e os vermes podem
[O Angiostrongy/us cantonensis , que nopnalmente é parasita da
viver no cão por mais de doi s anos.
artéria pulmonar de ratos no Extremo Oriente, pode causar do-
ença no homem se fo rem ingeridos os hospedeiros moluscos ou
PATOGENIA paratênicos crustáceos infectados. As L3vão para o cérebro, onde
causam uma .m eningoencefalite eosinofílica, que pode ser fatal.]
A angiostrongi lose canina é usualmente uma condição crônica,
estendendo-se por meses ou até anos.
Grande parte do efeito patogênico é atribuível à presença dos Crenosollla
vermes adultos no s vasos maiores e de ovos e larvas nas arterío-
las e capilares pulmonares. O bloqueio desses Vasos res ulta em Este gênero contém várias espécies parasitas de carnívoros e
impedimento circulatório que pode culminar em insuficiência insetívoros, mas apenas uma de interesse veterinário.
cardíaca congestiva.
Nos vasos maiores, há endarterite e periarteri te que evoluem Hospedeiros:
para fibrose, e à necropsia os vasos dão a impressão de tubo de Cães e raposas de propriedades rurais.
cachimbo à palpação. As alterações vasc ul ares podem estender-
se ao ventrícul o direito, com endocardite envolvendo a vávul a Hospedeiros intermediários:
tricúspide. Principalmente caramujos de terra.
A superfície de corte do pulmão é salpicada e púrpura-avenne-
lhada. Um efeito sistêmico relatado usual em infecções por hel- Localização:
mintos é a interferência no mecanismo de coagulação sangüínea, Traquéia, brônquios e bronquíolos.
de tal modo que podem estar presentes hematomas subcutâneos.
Espécie:
Crenosoma vu/pis.
SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA
Distribuição:
Nas infecções recém-instaladas, o cão em repouso geralmente não Mundial.
apresenta sintomatologia clínica, mas se houver uma substanci -
al carga de vermes o animal demonstra taquipnéia, com forte tosse IDENTIFICAÇÃO
produtiva, o escarro às vezes exibindo sangue.
Nas infecções graves instaladas há mais tempo, estão presen- Vermes brancos de lgados, de até 1,5 cm de comprimento. O
:.es sinais mesmo no cão em repouso. Pode haver síncope recor- hospedeiro e a localização são suficientes para diagnóstico ge-
Helmin/ologia Veterinária 57

nérico. A confirmação microscópica baseia-se na presença de silvestres nos Estados Unidos, Anafilaroides nos gatos domésti-
pregas anulares da cutícula, que apresentam em suas bordas pe- cos nos Estados Unidos, no Sri Lanka e em Israel, e Gurltia em
quenas espinhas voltadas para trás. gatos na América do Sul. Metathelazia e Anafilaroides habitam
o parênquima pulmonar, enquanto Gllrltia é e ncontrado nas vei-
CICLO EVOLUTIVO as da parte superior do membro posterior e é uma causa ocasio-
nal de paralisia.
o C. vulpis é ovovivíparo, e as LI são eliminadas nas fezes. De-
pois da ingestão do hospedeiro intermediário molusco pelo hos-
pedeiro definitivo, as LJ são liberadas por digestão e seguem para SuperfamOia RHABDlTOIDEA
os pulmões, onde têm lugar ambas as mudas parasitárias. O pe-
ríodo pré-patente é de 19 dias. É um grupo primitivo de nematóides, principalmente de vida li-
vre ou parasitas de vertebrados inferiores e invertebrados.
PATOGENIA Embora alguns gêneros normalmente de vida livre, como
Micronema e Rhabditis, ocasionalmente provoquem problemas
em animais, o único gênero importante do ponto de vista veteri-
As pregas cuticulares espinhosas lesam a mucosa das vias aére-
as, com conseqüente broncopneumonia e oclusão dos menores nário é o Strongyloides.
brônquios e bronquíolos.
Strollgyloides
SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA
Os membros deste gênero são parasitas comuns do intestino del-
Os sintomas são os de uma infecção respiratória crônica, com gado de animais muito jovens e, embora geralmente de pouca
tosse, espirros e corrimento nasal associados a taquipnéia. As significância patogênica, em determinadas circunstâncias podem
raposas podem ficar emaciadas, com pele de baixa qualidade. dar origem a grave enterite.
Nas raras infecções agudas, pode haver mortalidade alta.
Hospedeiros:
EPIDEMIOLOGIA A maioria dos an imais.

o C. vulpis é mais comum na raposa que no cão e pode ser um Localização:


problema em criações de raposas. A infecção tem sazonalidade Intestino delgado; também o ceco em aves.
que corresponde a flutuações na população de seus veto re s
caramujos, de tal modo que, embora os filhotes de raposa pos- Espécies:
sam começar a adq uirir L3 no início do verão, a incidência mais Strongyloides wesleri Eqüinos e asininos
a lta da crenosomose clínica é observada no outono. S. papillosus Ruminantes
S. ransomi Suínos
DIAGNÓSTICO S. stercoralis Cães e gatos; o homem
S. aVill1t1 Aves.
o exame de feze s por esfregaços, flutuação ou técnica de
Baennan, revela a LI com uma cauda reta, o que a diferenc ia em Distribuição:
/
fezes caninas frescas da s larvas de Oslerus, Filaroides e Mundial.
Angiostrongylus. A L I é um pouco semelhante à de espécies de
Strongyloides. IDENTIFICAÇÃO

TRATAMENTO Macroscópica:
Vennes capilifonnes, delgados, geralmente com menos de I cm
de comprimento.
A dietilcarbamazina foi descrita como eficaz, porém não é mais
amplamente viável. É provável que alguns dos mais modernos
Microscópica:
anti -helllÚnticos sejam eficazes.
Apenas as fêmeas são parasitas. O longo esôfago pode ocupar
até um terço do comprimento do corpo, e O útero fica entrelaça-
CONTROLE do com o intestino, dando o aspecto de fio retorcido. Ao contrá-
rio de outros parasitas intestinais de mesmo tamanho, a cauda
Os vetores caramujos podem ser eliminados pulverizando-se os tem ponla obtusa (Fig. 46).
viveiros de raposas com molusquicida e pintando o madeiramento t Os ovos de Strongyloides são ovais, de casca fina e peque-
com creosoto até a uma altura de 20 cm do solQ. As fezes devem nos, tendo a metade do tamanho dos ovos típicos de estrongilí-
ser descartadas de modo a impedir o acesso de moluscos. deos (Fig. 47). Em herbívoros, é o ovo larvado que é e liminado
nas fezes, mas em outros animais é a LI eclodida)
OUTROS METASTRONGILÍDEOS
CICLO EVOLUTIVO
Vários outros gêneros de metastrongilídeos ocorrem nos carní-
voros domésticos, mas têm distribuição limitada. Inc1uemMela- o Strongyloides é único entre os nematóides de importância vete-
lhelazia, encontrado em gatos domésticos na Rú ssia e em gatos rinária, sendo capaz de ciclos reprodutivos tanto parasitário como
58 ParasilOlogia Veterinária

Cabeça e traquéia, desenvolvendo-se em fêmeas adultas no intestino


delgado.
Os potros, cordeiros e leitões podem adqu irir infecção imedi-
atamente após o nascimento, pela mobili zação de larvas inibi-
das nos tecidos da parede abdominal ventral da mãe que subse-
qüentemente são excretadas no leite. Além di sso, pode-se de-
monstrar infecção pré-natal experimental em su-Ínos e bovinos.
!} período pré-patente é de oito a 14 dia~

PATOGENIA

fj\ penetração cutânea por larvas infectantes pode provocar uma


reação eritematos~, que em ovinos pode permitir a entrada dos
microrganismos causadores de podridão do casco. Demonstrou-
se experimentalmente que a passagem de larvas através dos pul-
mões resulta em pequenas hemorragias múltiplas visíveis sobre
a maior parte das superfícies pulmonares.
Os parasitas maduros são encontrados no duodeno e no j eju-
no proximal e, se presentes em grandes quantidades, podem cau-
Cauda
sar inflamação com edema e erosão do epitélio. Isto resulta numa
Fig. 46 Fêmea adulta de Strongyloides. enterite catarral com diminuição da digestão e da absorção.
'-

SINTOMA TOLOGIA CLíNICA


de vida li vre. A fase parasitária é inteiramente composta de fê- Os sinais clínicos comuns observados usualmente apenas em
meas no intestino delgado, que produzem ovos larvados por animais muito jovens são diarréia, anorexia, apatia, perda de peso
partenogênese, isto é, desenvolvimento a partir de um ovo não- ou taxa de crescimento reduzida.
ferti lizado. Após a eclosão, as larvas podem desenvolver-se, atra-
vés de quatro estágios larvais, em machos e fêmeas adultos de
EPIDEMIOLOGIA
vida livre, e isto pode ser acompanhado por uma sucessão de
gerações de vida livre. Entretanto, em determinadas condições,
As larvas infectantes de Strongyloides não são encapsuladas e são
possivelmente relacionadas a temperatura e umidade, as L3 po-
suscetíveis a condições climáticas extremas. Entretanto, o calor
dem tomar-se parasitas, infectando o hospedeiro por penetração
moderado e a umidade favorecem o desenvolvimento e pennitem
Ç.utânea ou por ingestão e migração via sistema venoso, pulmões
O acúmulo de grandes quantidades de estágios infectantes. Por este
motivo, pode ser um problema importante em bezerros estabula-
dos de até seis meses de idade em algumas regiões mediterrâneas.
Uma segunda fonte importante de infecção do animal muito
jovem é o reservatório de larvas nos tecidos da mãe, o que pode
resultar em estrongiloidose clínica em potros e leitões nas pri-
meiras semanas de vida. A progé nie sucessiva da mesma mãe
freqüentemente apresenta infecções maciças .

>i- DIAGNÓSTICO

A sintomatologia clínica em animais muito jovens, geralmente


nas primeiras semanas de vida, e o achado de grandes quantida-
des dos ovos ou larvas característicos nas fezes são sugestivos
de estrongiloidose. Deve-se ressaltar, entretanto, que podem ser
encontradas altas contagens de ovos nas fezes em animais apa-
rentemente sadios.

TRATAMENTO E CONTROLE

Raramente são necessárias medidas específicas de controle para


infecção por Strongyloides. Os benzimidazóis e as avermectinas/
milbemicinas podem ser utili zados para o tratamento de casos
clínicos, e uma única dose de ivermectina quatro a 16 dias antes
do parto suprime a excreção larval no leite de porcas. Em haras
de reprodução, os potros freqüentemente recebem tratamento
anti-helmintico, com uma a duas semanas de idade, contra S.
Fig. 47 Ovo de Strongy/oides west~ri (45 t1m x 35 IJ.m). westeri.
Helmintologia Veterinária 59

Distribuição:
Rhabditis Mundial.
Vários membros deste gênero de nematóides de vida livre podem
IDENTIFICAÇÃO
tomar-se parasitas casuais, invadindo a pele e causando prurido
intenso. Os casos são registrados com mais freqüência em cães de
O A. suum é certamente o maior nematóide dos suínos; as fême-
canis com camas de feno ou palha úmida, e as lesões, geralmente
as têm até 40 cm de comprimento e podem ser confundidas ape-
restritas a áreas do corpo em contato com o solo, apresentam que-
nas com Macracanthorhyncus onde este ocorre.
da de pêlos, eritema e fonnação de pústulas se contaminadas com
O ovo é oval e amarelado, com casca espessa, cuja camada
bactérias. Os vermes muito pequenos, de 1 a 2,8 mm de compri-
externa é irregularmente mamilada (Fig. 48).
mento, com esôfago rabditiforme, podem ser recuperados de ras-
pados de pele. O tratamento é sintomático, e a condição pode ser
evitada alojando-se os animais em camas limpas e secas. CICLO EVOLUTIVO
Nos trópicos, há relatos de otite externa em bovinos associa-
da à infecção por Rhabditis. O ciclo evolutivo é direto. Apesar da única muda pré-parasitária
ocorrer em aproximadamente três semanas depois do ovo ter sido
eliminado, é necessário um período de maturação, e não é infec-
Halicephalobus (sin. Micronema) tante até um mínimo de quatro semanas após a eliminação, mes-
mo na faixa ideal de temperatura de 22 a 26°C. O ovo é muito
Foram descritos casos de infecção em eqüinos pelo nematóide resistente a temperaturas extremas e viável por mais de quatro anos.
de vida livre saprófita Halicephalobus deletrix em várias partes Após a infecção, o ovo eclode no intestino delgado e a L 2 se-
do mundo. Nos animais acometidos, os vermes muito pequenos, gue para o fígado, onde tem lugar a primeira muda parasitária. A
com menos de 0,5 mm de comprimento, foram encontrados em L3 então, através da circulação sangüínea, vai para os pulmões e
granulomas nasais e maxilares e nó cérebro e no rim. Sintoma- daí para o intestino delgado via traquéia. No intestino, ocorrem
tologia nervosa grave e morte podem acompanhar a infecção do as duas últimas mudas parasitárias.
sistema nervoso central. Se os ovos forem ingeridos por minhocas ou besouros copró-
fagos, eles eclodem, e as L 2 seguem para os tecidos destes hos-
[Estrongiloidose no homem: Os. stercoralis ocorre no homem pedeiros paratênicos, onde podem permanecer totalmente infec-
em climàs quentes. Produz diarré ia, especialmente em crianças tantes para suínos durante longo período.
novas, e em adultos imunologicamente comprometidos pode
multiplicar-se no hospedeiro, com conseqüências fatais. O cão
pode atuar como hospedeiro natural desta espécie.]

Superfamília ASCARIDOIDEA
Os ascarídeos estão entre os maiores nematóides e ocorrem na
maioria dos animais domésticos, sendo de importância veterinária
tanto os estágios larvais como os adultos. Ainda que os adultos
no intestino possam causar definhamento em animais jovens e
ocasional obstrução, uma característica importante do grupo são
as conseqüências patológicas do comportamento migratório dos
estágios larvais.
Com poucas exceções, o gênero tem as seguintes caracterís-
ticas em comum.
São vermes opacos brancos, grandes, que habitam o intestino
delgado. Não há cápsula bucal, e a boca consiste simplesmente
numa pequena abertura circundada por três lábios. O modo co-
mum de infecção é por ingestão do ovo de casca espessa conten-
do a L 2 • Entretanto, o ciclo pode envolver hospedeiros de trans-
porte e paratênicos.

Ascaris
Hospedeiros:
Suínos.

Localização:
Intestino delgado.

Espécie:
Ascaris suum. Fig. 48 Ovos de Ascaris suum (60 J.l.m x 50 I-l-m).
60 Parasito/agia Veterinária

o período pré-patente é entre seis e oito semanas, cada fêmea aração e cultivo. Ocasionalmente, são encontrados adultos jovens
podendo produzir mais de 200.000 ovos por dia. de A. SUllm no intestino delgado de ovinos.
Há algu ns casos registrados de infecção patente por A. suum
PATOGENIA no homem.

Os estágios larvais migratórios em grandes quantidades podem DIAGNÓSTICO


causar uma pneumonia transitória, mas sabe-se agora que mui-
tos casos da chamada "pneumonia por Asearis" podem ser atri- Baseia-se na sintomatologia clínica e, em infecções com o ver-
buíveis a outras infecções ou à anemia dos leitões. me adulto, na presença nas fezes dos ovos ovais castanho-ama-
No fígado, as L 2 e L3migratórias podem causar "mancha de relados, com espessas cascas mamiladas. Sendo denso s, os ovos
leite", que aparece como manchas esbranquiçadas turvas de até flutuam mais facilmente em soluções saturadas de sulfato de zin-
1 cm de diâmelTo e representa O reparo fibroso de reações infla- co ou sulfato de magnésio que em solução saturada de cloreto
matórias à passagem de larvas no fígado de suínos previamente de sódio usada na maioria das técnicas de exame de fezes.
sensibilizados (Prancha IV).
Os vermes adultos no intestino causam pouca lesão aparente TRATAMENTO
na mucosa, mas ocasionalmente, se estiverem presentes grandes
quantidades, pode haver obstrução, e raramente um verme pode Os estágios intestinais são sensíveis a muitos dos anti-heloúnticos
°
migrar para dueto biliar, causando icterícia obstrutiva e con- em uso corrente em suínos, e a maioria deles, como os benzimi-
denação da carcaça. dazóis, são administrados na ração. Nos casos de suspeita de
As infecções experimentais demonstram que, em suínos jo- pneumonia por Asem'is, o levamisol e a ivermectina injetáveis
vens, o efeito importante da ascaridíase digesti va é econômico, podem ser mais convenientes.
com baixa conversão de alimentos e ganhos de peso mais len-
tos, resultando num prolongamento do período de engorda de seis CONTROLE
a oito semanas.
No passado, foram criados sistemas elaborados de controle de
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA ascaridíase em su ínos, mas, co m o aparecimento de anti -
helmínticos altamente eficazes, esses sistemas, que exigem muita
o principal efeito dos vermes adultos é causar queda de produ- mãowde-obra, estão caindo em desuso.
ção em termos de menor ganho de peso. Por outro lado, não se O principal problema no controle é a grande capacidade de
observa sintomatologia clínica, exceto no esporádico caso de sobrevivência dos ovos, mas em suínos confinados a higiene ri-
obstrução intestinal ou biliar. Em leitões com menos de quatro gorosa na alimentação e na cama, com limpeza freqüente de
meses de idade, a atividade larval durante a fase pulmonar pode paredes e pisos com mangueira, limita o ri sco de infecção. Em
causar uma pneumonia clinicamente evidente, que em geral é suíno s em regim e de pasto, o problema é maior, e onde há
transitória e de rápida resolução. ascaridíase grave pode ser necessário interromper o uso de pi-
quetes por vários anos, uma vez que os ovos podem sobreviver
ao cultivo.
EPIDEMIOLOGIA
É boa medida tratar as porcas prenhes ao entrar nas instala-
ções de parto, e os suínos jovens devem receber tratamento anti-
Uma imunidade etária parcial atua em suínos de aproximadamen-
helmíntico quando comprados ou quando vão para as instalações
te quatro meses de idade em diante, e isto, somado ao fato dos
de acabamento e oito semanas mais tarde; os varrões devem ser
próprios vermes terem um período de vida limitado de vários
tratados a cada três a seis meses.
meses, sugere que a principal fonte de infecção é o ovo altamen-
te resistente no solo, uma característica comum dos ascarídeos. [Ascaridíase no homem: A espécie típica,Asearis lwnbricoides,
Portanto, a "mancha de leite", que é economicamente muito ocorre no homem, e antigamente não era diferenciada de A. suum,
importante, uma vez que é causa de muito fígado condenado, de tal modo que os suínos eram considerados um risco de zoonose
representa um problema contínuo em algumas granjas suínas. para o homem . Com a distinção morfológica agora possível, o
Observa-se amplamente que esta condição tem uma distinta sa- A. lumbrieoides é aceito como específico do homem, sendo irre-
zonalidade de ocorrência, aparecendo em incidência máxima nas levante para a clínica veterinária.]
áreas temperadas durante os meses quentes de verão e quase
desaparecendo quando as temperaturas de outono, inverno e pri-
mavera são baixas demais pará permitir o desenvolvimento dos Toxocara
ovos até o estágio infectante.
O A. suum pode ocasionalmente infectar bovinos, causando Embora os membros deste gênero sejam, em muitos aspectos,
uma pneumonia intersticial atípica aguda que pode ser fatal. Na ascarídeos típicos, sua biologia é suficientemente variada para
maioria dos casos relatados, os bovinos haviam tido acesso a que seja necessário considerar cada espécie separadamente.
instalações anterionnente ocupadas por suínos, às vezes vários
anos antes, ou à terra adubada com esterco suíno. Em cordeiros,
o A. suwn também pode ser causa de pneumonia clínica, bem Toxocara canis
como de lesões de "mancha de leite", resultando na condenação
do fígado. Na maior parte dos casos, os cordeiros haviam pasta- Além de sua importância veterinária, esta espécie é responsável
do em terra adubada com esterco ou fe zes líquidas de suínos, tal pela forma mais amplamente identificada de larva migrans vis-
pasto permanecendo infectante para cordeiros, mesmo após ceral no homem.
HeLmintologia Veterinária 61

Hospedeiros: recém-nascido, o ciclo completa-se quando as larvas seguem para


Cães. o intestino via traquéia, e ocorrem as mudas finai s. A cadela, uma
vez infectada, usualmente abriga larvas suficientes para infectar
Localização: todas as ninhadas subseqüentes, mesmo que nunca mais entre em
Intestino delgado. cantata com uma infecção. Algumas dessas larvas mobilizadas,
em vez de ir para o útero, completam a migração normal na ca-
Distribuição: dela, e os vermes adultos resultantes produzem aumento transi-
Mundial. tório, mas acentuado, na produção de ovos de Toxocara nas fe-
zes nas semanas que se seguem ao parto.
IDENTIFICAÇÃO O cãozinho lactente também pode infectar-se por ingestão de
LJ no leite durante as três primeiras semanas de lactação. Não
o Toxocara canis é um grande venne branco de até 10 cm de com- existe migração no cãozinho após a infecção por esta via.
primento e no cão pode ser confundido apenas com Toxascaris Os hospedeiros paratênicos, como roedores ou aves, podem
leonina. A diferenciação destas duas espécies é difícil, pois a úni- ingerir os ovos infectantes, e as ~ seguem para seus tecidos, onde
ca característica útil, visível com uma Lupa, é a presença de um permanecem até ser ingeridas por um cão, quando o desenvol vi-
pequeno processo digitifonne na cauda do T. canis macho. mento subseqüente aparentemente se restringe ao trato gastrin-
O ovo é castanho-escuro e subglobular, com uma casca es- testinaL
pessa e com escavações (Fig. 49). Uma complicação final é a evidê ncia recente de que as cade-
Ias podem reinfectar-se durante o final da prenhez ou da lacta-
CICLO EVOLUTIVO ção, resultando diretamente em infecção transmamária dos
cãezinhos lactentes e, uma vez estabelecida a patência, em con-
Esta espécie tem o ciclo evolutivo mais complexo na superfamí- taminação do ambiente com ovos.
lia, com quatro modos possíveis de infecção. Os períodos pré-patentes mínimos conhecidos são:
A forma básica é tipicamente a de um ascarídeo, e o ovo con- Infecção direta após
tendo a L 2 é infectante em temperaturas ideais quatro semanas a ingestão de ovos ou larvas
depois de ter sido el iminado. Após a ingestão e eclosão no num hospedeiro paratênico: 4 a 5 semanas
intesino delgado, as L 2 seguem pela circulação sangüínea via Infecção pré-natal: 3 semanas.
fígado para os pulmões, onde tem lugar a segunda muda, e as LJ
retornam via traquéia ao intestino, onde se dão as duas mudas
finais. Esta forma de infecção ocorre regularmente apenas em PATOGENIA
cães de até três meses de idade.
Nas infecções moderadas, a fase migratória larval ocorre sem
Nos cães com mai s de três meses de idade, a migração
lesão aparente dos tecidos, e os vermes adu ltos provocam pouca
hepatotraqueaJ ocorre menos freqüentemente e, aos seis meses,
reação no intesti no.
quase cessa. Em vez disso, as L, seguem tlara utna ampla varie-
Nas infecções maciças, a fase pulmonar de migração larval
dade de tecidos, inclujndo- fígado, pulmões, cérebro, coração,
está associada a pneumonia, que às vezes é acompanhada por
musculatura esquelética e paredes do trato digestivo. Na cadela
edema pulmonar; os vermes adultos causam uma enterite mu-
prenhe, ocorre infecção pré-natal, as larvas mobilizando-se cerca
cóide, pode haver oclusão parcial ou completa do intestino (Pran-
de três semanas antes do pruto e migran'do para os pulmões do
cha IV) e, em raros casos, perfuração com peritonite ou em al-
feto, onde mudam para ~ exatamente antes do parto. No cãozinho
guns casos bloqueio do dueto biliar.

SINTOMA TOLOGIA CLíNICA


Nas infecções discretas a moderadas, não há sintomatologia clí-
ni ca durante a fase pulmonar de migração larval. Os adultos no
intestino podem causar aumento de volume abdominal, com in-
capacidade de desenvolver-se, e diarréia ocasional. Às vezes,
vermes inteiros são vomitados ou eliminados nas fezes.
Nas infecções maciças, os sinais durante a migração larval
resultam de lesão pulmonar e incluem tosse, aumento da freqüên-
eia respiratória e corrimento nasal espumoso. A maior parte das
fatalidades da infecção por T. canis ocorre durante a fase pul-
monar, e os cãezinhos maciçamente infectados por via transpla-
centária podem morrer poucos dias após o nascimento.
Convulsões nervosas são atribuídas por alguns clínicos à
toxocariose, mas ainda existe certa polêmica sobre se o parasita
pode ser incriminado como causa desses sinais.

EPIDEMIOLOGIA

Fig . 49 Ovo de Toxocara canis (75 fLm x 90 fLm) mostrando espessa casca com Foram efetuados levantamentos de prevalênci a de T. canis em
escavações. Compara c com o de Toxascaris na Fig, 51. muitos países que demonstraram ampla variação de taxas de in-
62 Parasitologia Veterinária

fecção, de 5% a mais de 80 %. As prevalências mais altas foram naturais fossem outros animais, atualmente, em uso generaliza-
registradas em cães com menos de seis meses de idade, com as do, ele representa es te tipo de invasão apenas no homem e, em
menores quantidades de vermes nos animais adultos. particular, pelas larvas de Toxocara canis. Seu termo comple-
A ampla di stribuição e a alta intensidade de infecção por T. me ntar é larva m.igrans cutânea, para infecções por larvas "es-
canis dependem fundamentalmente de três fatores. tran has" que se restrin gem à pele.
Primeiramente, as fêmeas são extremamente fecundas, um A condição ocorre mais comume nte em crianças com muito
verme podendo contribui r com cerca de 700 ovos para cada gra- cantata com cães de estimação ou que freqüentam locais como
ma de fezes por dia, não sendo incomuns contagens de ovos de parq ues públicos, onde há contamin ação do solo por fezes cani-
15.000 opg em cãezinhos. nas. Os levantamentos desses locais e m muitos países demons-
Em seg undo lugar, os ovos são altamente resistentes a extre- tram, quase invariave lmente, a presença de ovos viá veis de T.
mos climáticos, podendo sob reviver durante anos no solo. canis em cerca de 10% das amostras de solo.
Em terceiro lugar, há um reservatóri o constante de infecção Apesar deste alto risco de exposição à infecção, a incidência
nos tecidos somáticos da cadela, sendo as larvas nestes locais relatada de casos clínicos é pequena. Por exemplo, em 1979, um
insensíveis à maioria dos anti-helmínticos. levantamento francês da literatura mundial revelou que haviam
sido relatados apenas 430 casos de larva migrans ocular e 350
DIAGNÓSTICO de larva migrans visceral. Entretanto, sugere-se a ocorrência de
50 a 60 casos clínicos por ano na Grã-Bretanha, j á que muitos
É possível apenas um diagnóstico presuntivo durante a fase pul- não são registrados.
monar de infecções maciças, quando as larvas estão migrando, Em muitos casos, a invasão larval limita-se ao fígado e pode
baseando-se no aparecimento simultâneo de si nais pneumônicos dar origem a hepatomegalia e eosinofitia, mas em algumas ocasi-
numa ninhada, quase sempre dentro de duas semanas depois do ões uma larva escapa para a circulação geral e atinge outro órgão,
nascimento. sendo o olho o mais freqüentemente observado. Ai, foona-se um
Os ovos nas fezes, subglobulares e castanhos com espessas granuloma ao redor da larva na retina, muitas vezes semelhante a
cascas escavadas, são espécies-diagnósticos. A produção de ovos um retinoblastoma, e há casos de remoção precipitada do globo
dos vermes é tão alta que não é necessário utilizar métodos de ocular em crianças após um falso diagnóstico. Apenas em casos
flutuação, sendo facilmente encontrados em simples esfregaços raros O granuloma envo lve o disco óptico, com perda total de vi-
de fezes aos quais se adiciona uma gota de água. são, e muitos dos relatos são de diminui ção parcial da visão, com
endoftalmia ou retini te granulosa. Atualmente, esses casos são tra-
tados com o uso de terapia com laser. Em alguns casos de epilep-
TRATAMENTO E CONTROLE sia, foi identificada sorologicamente infecção por T canis, mas
ainda não foi determinada a importância da associação.
Os vermes adultos são facilmente removidos por tratamento anti- O controle de larva migrans visceral baseia-se no esquema
helmíntico. A droga utilizada mais popular é a piperazina, em- anti-helmíntico já descri to, no descarte seguro de fezes caninas
bora esteja sendo sub stituída pelos benzimidazóis fenbendazol
em casas e jardins e na limitação do acesso de cães a áreas onde
e mebendazol e por nitroscanato. brincam crianças, como os parques públicos.
Um esquema simples e freqüe ntemente recomendado para
controle de toxocariose e m cães jovens é como se segue:
Todos os cãezinhos devem ser tratados com duas semanas de Toxocara cali
idade e novamente duas a três semanas mais tarde para eliminar
infecção.adquirida no período pré-natal. Recomenda-se também Hospedeiro:
o tratamento simultâneo das cadelas. Gato.
Uma outra dose deve ser admi nistrada aos cãezinhos aos doi s
meses de idade para eliminar qualquer infecção adquirida atra- Localização:
vés do leite matemo ou por algum aumento na contagem de ovos Intestino delgado.
nas fezes maternas nas semanas posteriores ao parto.
Os cãezinhos recém-adquiridos devem ser tratados duas ve- Distribuição:
zes num intervalo de 14 dias. Mundial.
Como é provável a presença de alguns vennes mesmo em cães
adultos apesar da migração da maioria das larvas para os tecidos
somáticos, recomenda-se o tratamento dos cães adu ltos a cada
IDENTIFICAÇÃO
três a seis meses durante a vida toda.
Tipicamente da superfamI1ia, o Toxocara cati é um grande ver-
Foi demonstrado que a administração diária de altas doses de
me branco, quase sempre ocorrendo como uma infecção mista
fembe ndazol à cadela de três semanas pré-parto a dois dias pós- com o outro ascarídeo de carnívoros, Toxascaris leonina. A dife-
parto elimina amplamente a infecção pré-natal e transmamária
renciação (Fig. 50) entre os dois é feita facilmente ao exame ma-
dos cãezinhos, embora possa persistir uma infecção residu al nos
croscópico ou com uma lupa, quando se observa que as asas cer-
tecidos da cadela. Este esq uema pode ser útil em canis de repro- vicais de T cati têm a forma de ponta de flecha, com as bordas
dução. posteriores quase e m ângulo reta com o corpo, enquanto as de
Toxascaris se afilam gradativamente no corpo. O macho, como o
LARVA MIGRANS VISCERAL de T. CatÚS, possui um pequeno processo digitifol111e na extremi-
dade da cauda.
Embora este termo originalmente fosse aplicado à invasão dos O ovo, subglobular e com casca espessa, escavada e quase
tecidos viscerais de um animal por parasitas cujos hospedeiros incolor, é característico e m fezes de gatos.
He1mintologia Veterinária 63

CONTROLE

Como a primeira infecção é adquirida durante o aleitamento, o


controle completo base ia-se na remoção dos gatinhos da mãe e
no aleitamento artificial. Na maioria dos casos, consegue-se o con-
trole pela administração precoce e repetida de anti-helmfnticos
aos gatinho s no esquema recomendado para T. canis em cãe-
zinhos.
O T. cati é descrito como uma causa rara de larva migrans
visceral no homem.

Toxocara (sin. Neoascaris) vitulorum

Hospedeiros:
Bovinos e bubalinos.

Localização:
Intestino delgado.
Toxascaris leonina

Distribuição:
Principalmente em regiões tropicais e quentes.

IDENTIFICAÇÃO
-.....~- EVOLUTIVO
o T. vitulorum é o maior parasita intestinal de bovinos, as fême-
T. canis, o ciclo evolutivo de T. cati é migratório, quan- as tendo até 30 cm de comprimento. É um verme espesso, rosa-
""k"'=por ingestão das ~ no ovo, e não-migratório após a in- do quando fresco, e a cutícula é bem transparente, de tal modo
:::msmamária por L3 ou após a ingestão de um hospedeiro que os órgãos internos podem ser vistos.
. ...,;,.,."'. Entretanto, ao contrário do T canis, não ocorre infec- O ovo é subglobular, com uma espessa casca escavada e qua-
_-=1. se incolor.
~o pré-patente desde a infecção pelo ovo é de aproxi-
_","=:rte oito semanas. CICLO EVOLUTIVO
" ' --:X;:ENIA E SINTOMA TOLOGIA CLíNICA O ciclo evol utivo desta espécie lembra o de T. cati pelo fato da
mais importante fonte de infecção ser o leite matemo, em que se
da maioria das infecções ser adquirida ou no leite ma- observa a presença de larvas por até 30 dias após o parto. Não há
por ingestão de hospedeiros paratênicos, não há fase migração teciduaJ no bezerro após a infecção e o penado pré-

:~::~~:~:~a:t~~~~:.:a~llterações usualmente restringem-se ao patente é de três a quatro semanas.


como aumento de volume abdominal, A ingestão de ovos larvados por bezerros com mais de seis
_='"'- pelagem feia e desenvolvimento insuficiente. meses de idade raramente resulta em patência, as larvas migran-
do para os tecidos, onde ficam armazenadas; nas fêmeas, a reto-
mada do desenvol vimento no final da prenhez permite posterior
transmissão transmamária.
":lb",,:aü)lo'gia de T. cari depende amplamente de um reserva-
.x :...if"as nos tecidos da mãe, as quais são mobilizadas no PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA
e excretadas no leite durante toda a lactação. O CLíNICA
paratênico também tem considerável importância, por
fone instinto de caça nos gatos. Não ocorre exposição Os principais efeitos desta irúecção parecem ser causados pelos
.-.iima via de infecção, a menos que os gatinhos comecem vermes adultos nos intestinos de bezerros de até seis meses de
sozinhos ou a compartilhar a presa da mãe. idade. As infecções maciças estão associadas a desenvolvimen-
to deficiente e diarréia intermitente, e nos bezerros bubalinos.
particularmente, podem ocorrer fatalidades.

: subglobulares, com cascas espessas, escavadas , são fa- EPIDEMIOLOGIA


""","",identi ficados nas fezes.
o aspecto mais importante é o reservatório de larvas nos teci-
4MENTO dos da vaca, com sub seqüente transmissão pelo leite, assegu-
rando a exposição dos bezerros à infecção desde o prime iro dia
_ _,"""mIe ao descrito para T. canis em cães. de vida.
6.! Parasitologia Veterinária

DIAGNÓSTICO
Os O\ 'OS subglobulares, com es pessas cascas escavadas, são ca-
ractensticos nas fezes bovinas.

TRA TAMENTO
Os vem1es adultos são suscetíveis a uma ampla variedade de anti-
helmfnticos, incluindo piperazina, levamisol e os benzimidazóis.
Todas estas drogas também são eficazes contra estágios em de-
senvolvimento no in testino.

CONTROLE
A prevalência de infecção pode ser drasticamente reduzida por
tratamento dos bezerros às três e seis semanas de idade, impe-
dindo que os vermes em desenvolvimento atinjam a patência.
Fig. 51 Ovo de Toxascan"s leonina (75 /-Lm x 85 /-Lm) mostrando a casca lisa.

Toxascaris
menta de infecção por vermes nos animais hospedeiros e em
Este gênero ocorre nos carnívoros domésticos e, apesar de co- higiene adequada para limitar a possibilidade de aquisição de
mum, é menos importante que Toxocara, pois sua fase parasitá- infecção por ingestão de ovos.
ria é não-migratória.

Hospedeiros: Parascaris
Cães e gatos.
A infecção por Parascar;s equorum é comum em todo o mundo
Localização: e uma importante causa de definhamento em potros jovens.
Intesti no delgado.
Hospedeiros:
Espécie: Eqüinos e asininos.
Toxascaris leonina.
Localização:
Distribuição: Intestino delgado.
Mundial.
Espécie:
IDENTIFICAÇÃO Parascaris equorUJJ'l.

o Toxascaris é qu ase macroscop icamente indi stinguível do Distribuição:


Toxocara canis, sendo o único aspecto diferente a presença de Mundial.
um processo digitiforme na ponta da cauda do macho no último.
No gato, a diferenciação do T. cati baseia-se no formato das asas
cervicais, lanceoladas no Toxascaris mas em forma de ponta de IDENTIFICAÇÃO
flecha no T. cati (Fig. 50).
O ovo é levemente ovóide, com casca espessa lisa, sendo ca- Macroscópica:
racterístico nas fezes de cães e gatos (Fig. 51). Este nematóide esbranquiçado muito grande, de até 40 em de
comprimento, não pode ser confund ido com nenhum outro pa-
CICLO EVOLUTIVO rasita intestinal de eqüinos (Fig. 52).

A infecção é por ingestão da L 2 no ovo ou como larvas nos teci- Microscópica:


dos de camundongos, e o desenvolvimento subseqüente ocorre Os parasitas adultos têm um a simples abertura bucal circundada
inteiramente na parede e na luz do intestino, não havendo fase por três grandes lábios e, nos machos, a cauda tem pequenas asas
migratória. O período pré-patente é de cerca de II se manas. caudais .
O ovo de P. equorum é quase esférico, acastanhado e de cas-
TRA TAMENTO E CONTROLE ca espessa, com uma camada ex terna escavada.

Como as infecções por ascarídeos nos carnívoros domésticos CICLO EVOLUTIVO


incluem invariavelmente Toxocara, as medidas recomendadas
para o controle deste último também têm efeito sobre Toxascaris. o ciclo evolutivo é direto. Os ovos produ zidos pelas fêmeas
Já que os dois principais reservatórios de infecção são larvas adultas são eliminados nas fezes e podem atingir o estágio in-
na presa ou ovos no solo, o controle tem que se basear no trata- fectante contendo a L, (Fig. 53) já em 10 a 14 dias, embora o
Helmillfolog ia Veterinária 65

cos verde-acinzentados subpleurais ao redor de larvas mortas ou


que estão morrendo; esses nódulos são mais numerosos após
reinfecção.
Embora a presença de vermes no intestino delgado não esteja
associada a lesões específicas, ocasionalmente são descritas in-
fecções maciças como causa de compressão e perfuração evolu-
indo para peritonite. Entretanto, em condições experimentais. o
definhamento é um si nal importante, e, apesar de manter bom
apetite , os potros infectados perdem peso e podem ficar
emaciados. A competição por nutrientes, entre uma grande mas-
sa de parasitas e o hospedeiro, pode ser a causa básica desta per-
da de peso.

SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA

Durante a fase migratória de infecções experimentais, até qua-


Fig. 52 Parascaris equorum adulto em conteúdo de intestino delgado. tro semanas após a infecção, os principais sinais são tosse fre-
qüente acompanhada em alguns casos por corrimento nasal
acinzentado, embora os potros permaneçam vivos e alertas. As
desenvolvimento possa ser retardado em baixas temperaturas. infecções intestinais leves são bem toleradas, mas as infecções
Após a ingestão e a eclosão, as larvas penetram na parede intes- moderadas a maciças causam definhamento em animais jovens
tinal e em 48 horas terão atingido o fígado. Por volta de duas com baixos índices de crescimento, pelagens opacas e lassidão.
semanas, terão chegado aos pulmões, onde migram para os brôn- Uma ampla variedade de outros sinais c línicos, incluindo fe-
quios e a traquéia, são deglutidas e retornam ao intestino delga- bre, distúrb ios nervosos e cólica, é atribuíd a a casos de parasca-
do. O local de ocorrência e a época das mudas larvais parasitári- riose no campo, mas essa sin tomatologia não é observada em
as do P. equorum não são conhecidos com exatidão, mas parece estudos experimentais.
que a muda de ~ para L3 ocorre entre a mucosa intestinal e o
fígado e as duas mudas subseqüentes no intestino delgado. EPIDEMIOLOGIA
O período pré-patente mínimo do P. equorum é de 10 sema-
nas. Não há evidência de infecção pré-natal. Há dois fatores importantes. Primeiramente, a alta fecundidade
da fêmea ad ul ta faz com que alguns potros infectados eliminem
PATOGENIA milhões de ovos nas fezes ao dia. Em segundo lugar, a extrema
resistência do ovo no meio ambiente garante a sua persistência
São produzidas alterações macroscópicas no fígado e nos pul- durante vários anos. A natureza viscosa da casca externa tam-
mões pelas larvas migratórias de P. equorunt. No fígado, as lar- bém pode facilitar a disseminação passiva dos ovos.
vas causam hemorragias focai s e trajetos eosinofOicos, que de- No hemisfério norte, as temperaturas de verão são tais que
saparecem deixando áreas esbranquiçadas de fibrose. A migra- muitos ovos se tornam infec tantes numa época em que está pre-
ção larval nos pulmões também resulta em hemOlTagia e infil- sente uma população de potros suscetíveis. As infecções adqui-
tração por eosinófilos, que mais tarde são substituídos por acú- ridas por esses potros resultam em posterior contaminação dos
mujo de linfócitos, enquanto se desenvo lvem nódulos linfocíti- pastos com ovos, que podem sobreviver durante vários períodos
subseqüentes de pastejo. Embora os eqü inos adultos possam
abrigar alguns vermes adultos, as cargas maciças usualmente se
restringem a animais de um ano de idade e a potros, que se in-
fec tam a partir do primeiro mês de vida aproximadamente, com
a infecção mantendo-se amplamente por transmissão sazonal
entre esse~ grupos de ani mais jovens.

DIAGNÓSTICO

Depende da sintomatologia clínica e da presença de ovos esféri-


cos de casca espessa ao exame fecal. No caso de suspeita de
doença por infecção pré-patente e o exame de fezes for negati-
vo, o diagnóstico pode ser confirmado pela administração de um
anti-helmíntico, quando podem ser observadas grandes quanti-
dades de vermes imaturos nas fezes.

CONTROLE

A profilaxia anti-helmíntica para os estrôngilos de eqüinos con-


trola eficazmente a infecção por P. equorU11l. Como a transmis-
Fig. 53 Ovo de P. equorum (100 v--m x 90 ).lm) que atingiu o estágio infectante. são é amplamente na base de potro para potro, é boa medida evitar
o uso dos mesmos piquetes para éguas lactantes e seus potros em relati vamen te não-acometidos. O principal efeito é observado
anos sucessivos. durante a fase pré-patente, quando as larvas estão na mucosa. Aí,
causam uma enterite que usualmente é catarral, mas nas infecções
muito maciças pode ser hemorrágica. Nas infecções moderadas,
Ascaridia os vennes adultos são tolerados sem sintomatologia clínica, mas,
quando estão presentes grandes quantidades, o grande tamanho
É um ascarídeo não-migratório com aspecto e biologia típicos desses vernles pode provocar oclusão intestinal e morte.
da Superfamnia.
EPIDEMIOLOGIA
Hospedeiros:
Aves domésticas e silvestres. As aves adultas são portadoras assintomáticas, e o reservatório
de infecção fica no solo, ou como ovos livres ou nos hospedei-
Localização:
ros transportadores minhocas.
Intestino delgado.

Espécies: DIAGNÓSTICO
Ascaridia gal/i. Duas outras espécies são A. dissimilis em perus
e A. columbae em pombos. Nas infecções com vermes adultos, os ovos são encontrados nas
fezes, mas, como é difícil distingui-los dos ovos de Heterakis, a
Distribuição: confirnlação de ve ser feita por exame pós-morte de uma ave,
Mundial. quando são encontrados os grandes vermes brancos. No período
pré-patente, as larvas são encontradas no conteúdo intestinal e
IDENTIFICAÇÃO em raspados da mucosa.

Estes vermes são robustos e densamente brancos, tendo as fê- TRA TAMENTO E CONTROLE
meas até 12 cm de comprimento. O Ascaridia é certamente o
maior nematóide de aves domésticas. Quando as aves são criadas num sistema extensivo e a ascaridiose
O ovo é distintamente oval, com casca lisa (Fig. 54), não po- constitui um problema, as aves jovens devem, se possível, ser
dendo ser facilmente distinguido do ovo do outro ascarídeo co- agrupadas e criadas em solo previamente não ocupado por aves.
mum das aves, Heterakis. Como o nematóide também pode ser um problema em aloja-
mentos com camas densas, devem ser utilizados sistemas de ali -
CICLO EVOLUTIVO mentação e fornecimento de água que limitem a contaminação
dos alimentos e da água por fezes.
O ovo torna-se infectante em temperaturas ideais num mínimo Em qualquer caso, o tratamento com sais de piperazina,
de três semanas e a fase parasitária é não-migratória. Às vezes, o levarnisol ou um benzimidazol, como O flubendazol, pode ser
ovo é ingerido por minhocas, que podem atuar corno hospedei- administrado ou na águ a de beber ou na ração. As cápsulas con-
ros transportadores. tendo fembendazol para uso em pombos também são altamente
O período pré-patente varia de cinco a seis semanas em pin- eficazes.
tinhos a oito semanas ou mais em aves adultas. Os vermes vi-
vem por aproximadamente um ano.
Heterakis
PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLÍNICA
Este gênero é excepcional por seu tamanho pequeno e sua loca-
Ascaridia não é um verme altamente patogénico, e quaisquer efei-
lização no intestino grosso, ao contrário deAscaridia , que é gran-
tos são observados em aves jovens, os adultos apresentando-se
de e habita o intestino delgado (Fig. 55).

Hospedeiros:
Aves domésticas e silvestres.

Localização:
Cecos .

Espécies:
Heterakis gal/inarum. Outra espécie, H. isolonche, ocorre em
aves de caça, notavelmente faisões.

Distribuição:
Mundial.

IDENTIFICAÇÃO

Vermes esbranquiçados de até 1,5 cm de comprimento, com


Fig. 54 Ovo de casca lisa de Ascaridia galli (80 /Lm x 50/Lm) . cauda pontiaguda alongada. O exame macroscópico indica fa-
Helmimologia Vererindria 67

rum, todas as três mudas parasitárias parecem ocorrer na luz cecal,


mas na infecção por H. isolonche as larvas eclodidas entram na
mucosa cecal e atingem a maturidade em nódulos. Cada nódulo
tem uma abertura para o intestino por onde os ovos chegam à luz_
O período pré-patente do gênero é de aproximadamente qua-
tro semanas.

PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLíNICA

O H. gallinarum é o parasita ne matóide mais comum das aves


domésticas e usualmente considerado não-patogênico. Sua prin-
c ipal importância patogê ni ca é co mo ve tor do protozoári o
Histomonas meleagridis, o agente causal de "cabeça negra" em
perus. O microrganismo pode ser transmitido de ave a ave no ovo
de Heterakis e em minhocas contendo larvas eclodidas do verme.
O H. is% nche de aves de caça é patogénico por si próprio,
causando uma grave inflamação dos cecos, com nódulos proje-
tando-se das superfícies peritoneal e mucosa. Provocam diarréia
com emac iação progressiva, e pode haver alta mortalidade em
lotes maciçamente infectados.

EPIDEMIOLOGIA

OH. gallinarum é amplamente disseminado na mai oria dos gru-


pos de aves domésticas e possui pouco significado patogênico
por si próprio, mas é de grande importância na epidemiologia do
Histomonas. Por outro lado, o H. isolonche ocorre como uma enti-
dade clínica em aves de caça.

DIAGNÓSTICO

A infecção por H. gallin.a rum em geral é diagnosticada apenas


acidentalmente, pelo achado de ovos nas fezes ou pela presença
de vermes à necropsia. A infecção por H. isolonche é diagnosti-
cada à nec ropsia pelo achado de nódulos cecais contendo ver-
mes adultos e, se necessário, conflfmada microscopicamente por
exame dos espículas.

TRATAMENTO
Fig. 55 Os dois ascarideos comuns de aves são Ascaridia galli (até 12 cm de com-
primento) e Heterakis ga llinarum (até 1,5 cm de comprimento) . Assim como Ascaridia, o Heterakis é sensível à piperazina, ao
levamisol e a uma série de benzimidazóis.

CONTROLE
cilmente o gênero, mas, para identifi cação específica macroscó-
pica, é necessário demonstrar os espícul os, de com prime ntos O co ntrole do H. gallinarum é necessário apenas quando a
diferentes no H. gallinarum mas do mesmo compri mento no H. histomonose constitui um problema em perus. Baseia-se ampla-
isolonche. M ic roscopica mente, também, pode-se co nfirmar a menle na hi giene e, em criações de quintal, doi s pontos princi-
identidade genérica pela presença de uma grande ventosa pré- pais são: a segregação de peru s das outras aves domésti cas e a
cloacal no macho e asas caud ais proeminentes sustentadas por remoção e o desc31te da cama de aviários. Onde o problema for
grandes papilas caudais. sério e contínuo, pode ser aconselhável administrar ou piperazina
O ovo é ovóide e tem casca li sa, sendo difíc il distin gui -lo do ou levamisol intermitentemente na ração ou na água, além de
ovo de AscO/-idia. quimioprofilaxia contínua para Histomonas.
Onde a infecção por H. isolonche for endêmica e m fai sões,
CICLO EVOLUTIVO os viveiros devem ser abandonados e os filhotes de faisões cria-
dos em solo fresco.
o ovo é in fec tante no solo em cerca de duas semanas e m tempe-
raturas ideai s. As minhocas podem ser hospedeiros tran sporta- Infecção por Anisakidae
dores, co m os ovos simplesmente passando pelo intestino, ou
hospede iros paratênicos, nos qua is o ovo eclode e a ~ seg ue para Os Anisakidae são ascarídios c ujos adultos parasitam uma ampla
os tecidos a fi m de aguardar a ingestão pelas aves. No H. gallina- variedade de animais, incluindo mamíferos marinhos e aves. As
ParosilOlogia Veterinária

larvas ocorrem em muitos peixes que ingeriram ou os ovos ou hos-


pedeiros paratênicos crustáceos abrigando as larvas. Se os peixes
fo rem consumidos pelo homem, as larvas migram do trato diges-
tivo para outros tecidos, causando uma forma de larva migrans vis-
ceral que pode ser fatal Um surto na Holanda envolveu o consu-
mo de arenques crus que abrigavam as larvas nos músculos, mas
o ciclo endêmico mais disseminado em geral é reconhecido como
sendo entre focas e bacalhau, e por este motivo em algumas co-
munidades pescadoras há pressão para reduzir as populações de
focas, a fim de diminuir a perda econôm:ica resultante da rejeição
dos peixes à inspeção.

Superfamflia OXYUROIDEA
Os oxiurídeos adultos de animais habitam o intestino grosso e são
comumente denominados pinworms por autores de língua ingle-
sa, por causa da cauda pontiaguda do parasita fêmea. Possuem
esôfago de bulbo duplo e ciclo evolutivo direto. Os únicos gêne-
ros de interesse veterinário são Oxyuris e Probstmayria. ambos
parasitas de eqüinos, e Skrjabinema, parasita de ruminantes. Fig. 56 Fêmeas adultas de Oxyuris equi.

Oxyuris
A infecção pelo oxiurídeo de eqüinos, Oxyuris equi, é extrema- midade anterior e põe os ovos em grumos, vistos macrosco-
mente comum, e, apesar de importância patogênica limitada no picamente como estrias gelatinosas branco-amareladas na pe-
intestino, os parasitas fêmeas podem causar intenso prurido anal le perineal. O desenvolvimento é rápido e, em quatro a cinco dias,
durante o processo de oviposição. o ovo contém a L3 infectante. A infecção é por ingestão dos ovos,
e as larvas são liberadas no intestino delgado, movem-se para
Hospedeiros: o intestino grosso e migram para as criptas mucosas do ceco e
Eqüinos e asininos. do cólon, onde tem lugar o desenvolvimento em L4 dentro de
10 dias. As L4 então emergem e se nutrem da mucosa antes de
Localiza ção: atingir os estágios adultos, que se alimentam de conteúdo intes-
Ceco, cólon e reta. tinal.
Espécie:
O período pré-patente do o.
equi é de cinco meses.
Oxyuris equi.
Distribuição:
Mundial.

IDENTIFICAÇÃO
Macroscópica:
As fêmeas adultas são grandes vermes brancos com cauda pon-
tiaguda que podem atingir 10 cm de comprimento (Fig. 56), en-
quanto os machos maduros geralmente têm menos de I cm de
comprimento. As L4 de O. equi, com 5 a 10 mm de comprimen-
to, têm a cauda afilada (Fig. 57) e costumam fixar-se oralmente
à mucosa intestinal.

Microscópica:
Há um bulbo esofágico duplo e os machos minúsculos possuem
asas caudais e um único espinho. Na fêmea, a vulva situa-se ante-
riormente.
Os ovos de o. equi são ovais, amarelos e levemente achatados
numa das extremidades com um tampão mucóide na outra (Fig. 58).

CICLO EVOLUTIVO
Os vermes adultos são encontrados na luz do cólon. Após a fer- Fig. 57 Larvas de quarto estágio de Oxyuris equi que lembram pequenos pregos
tilização, a fêmea grávida migra para o ânus, projeta a sua extre- de carpete.
Helmintoiogia Veterinária 69

e de longa cauda, freqüentemente são observadas nas fezes e se


deslocam para a postura dos ovos.
Raramente são encontrados ovos de O. equi ao exame de
amostras de fezes colhidas do reta, mas podem ser observados
em material do períneo ou em substância fecal colhida do solo.

TRA TAMENTO E CONTROLE


o o. equi é sensível a muitos anti-helmínticos de amplo espectro e
pode ser controlado por quimioterapia rotineira para os mais im-
portantes parasitas de eqüinos, como os estrôngilos e o P. equorum.
Quando os animais apresentam sintomatologia clínica, a pele
perineal e a face inferior da cauda devem ser ~ubmetjdas a lim-
peza freqüente com uma toalha descartável, além da administra-
ção de tratamento anti-helmíntico. Deve ser observado alto pa-
drão de higiene nos estábulos . .

Probstmayria
A Probstmayria vivipara é wn parasita oxiurídeo longo, de 2,0~ 3,0
mm, incomwn por ser um parasita perpétuo e viver de geração em
geração no cecoe no cólon de eqüinos. As fêmeas são vivíparas e adul-
tos e larvas podem ser eliminados nas fezes; a transmissão, portanto, é
por coprofagia. Embora possam c-<;tar presentes milhões desses oxiu-
rídeos, nunca dão origem à sintomatologia clínica. Como o Oxyuris,
este parasita é sensível aos anti-helmínticos mais modernos.
Fig. 58 Ovo de Oxyurís equí (90 p..m x 45 p..m).

Skrjabinema

PATOGENIA Este gênero de pequenos oxiurídeos contém várias espécies para-


sitas do ceco e do cólon de ruminantes domésticos e silvestres. O
Skrjabinerna ovis, por exemplo, é um oxiurídeo de até 1 cm de
Os efeitos patogênicos do O. equi no intestino, em sua maioria,
compri mento de caprinos e menos comumente de ovinos. Rara-
devem-se aos hábitos alimentares das L4' que resultam em pe-
mente é apontado como causa de doença e, em geral, é identifica-
quenas erosões da mucosa, e em infecções maciças essas erosões
do apenas à necropsia.
podem ser difusas e acompanhadas por resposta inflamatória.
Normalmente, um efeito mais importante é a irritação perineal [Oxiúros no homem: O Enterobius vennicularis, o oxiúro huma-
causada pelas fêmeas adultas durante a oviposição. no, é comum em todo o mundo e, embora ocorra em todas as fai-
xas etárias, é mais prevalente em crianças. É importante observar
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA que o E. vennicularis, como outros oxiurídeos, é altamente hos-
pedeiro-específico, não havendo, portanto, possibilidade de cães
A presença de parasitas no intestino raramente causa sintomato- de estimação infectar-se e atuar como reservatórios de infecção hu-
logia clínica. Entretanto, um intenso prurido ao redor do ânus faz mana por oxiúros.]
o animal esfregar-se, resultando em pêlos partidos, áreas alo-
pécicas e inflamação da pele sobre a anca e a parte superior da
cauda. Superfamília SPIRUROIDEA

EPIDEMIOLOGIA A classificação exata de uma série de gêneros comumente atribuí-


dos a esta superfanulia é controversa, mas há cinco de importância
Embora os estágios infectantes possam ser atingidos na pele, mais em clínica veterinária: Spirocerca, Habronema, Draschia, Thelazia
e Gnathostoma. Uma característica relevante deste grupo é a cau-
freqüentemente flocos de substância contendo ovos são disper-
da bem contorcida em espiral do macho. Os ciclos evolutivos são
sados no meio ambiente, pelo ato do animal esfregar-se em ins-
indiretos, envolvendo hospedeiros intermediários artrópodes.
talações do estábulo, mourões de cercas ou outros objetos sóli-
dos. Podem instalar-se cargas maciças em eqüinos em estábulos
contaminados, e parece haver pouca imunidade à reinfecção. Spirocerca
DIAGNÓSTICO Os nematóides adultos são encontrados em grandes nódulos gra-
nulomatosos na parede do esôfago. Esses nódulos podem causar
Baseia-se em sinais de prurido anal e no achado de massas de uma série de sinais clínicos, incluindo, raramente, os de osteossar-
ovos amarelo-acinzentados na pele perinea!. As fêmeas, grandes coma esofágico.
;0 Parasitologia Veterinária

H ospedeiros:
O cão e ocasionalmente o gato.

Hospedeiros intermediários:
Besouros coprófagos.

Localização:
As larvas migratórias produzem lesões características na parede
da aorta, enquanto os adultos são encontrados em lesões granu-
lomatosas na parede do esôfago e no estômago.

Espécie:
Spirocerca lupi.
Fig. 60 Corte transversal mostrando SpirocBrca lupino interior de um granuloma e
Distribuição: na luz esofágica.
Áreas tropicais e subtropicais.

IDENTIFICAÇÃO
por um besouro coprófago. Neste, o hospedeiro intermediário, a
o aspecto das lesões granulomatosas, do tamanho até de urna bola larva desenvolve-se até a 1.:, e se encista. Pode também haver hos-
de golfe, geralmente é suficiente para a identificação (Fig. 59). pedeiros paratênicos envolvidos se o besouro coprófago, por sua
Ao corte dos granu lomas. podem ser observados numerosos ver- vez, for ingerido por uma série de outros animais, incluindo as
mes róseos (Fig. 60), mas é difícil removê-los intactos, pois es- galinhas domésticas, aves silvestres e lagartixas. Nestes, a LJ
tão enrolados e têm até 8 cm de comprimento. encista-se nas vísceras.
À ingestão do hospedeiro intermediário ou paratênico pelo
CICLO EVOLUTIVO hospedeiro definiti vo, as L, são liberadas, penetram na parede
do estômago e migram, através da artéria celíaca, para a aorta
o ovo alongado e de casca espessa, contendo uma larva, é eli- torácica. Cerca de lrês meses depois, vão para o esôfago adja-
minado nas fezes ou em vômitos e não eclode até ser ingerido cente, onde provocam a formação de granulomas conforme se
desenvolvem até o estágio adulto nos três meses seguintes. O
período pré-patente, portanto, é de seis meses. Contudo, podem
não ser encontrados ovos nas fezes de certa proporção de ani-
mais com infecções adultas, nos quais os granulomas não têm
aberturas na luz esofágica.

PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLíNICA

As larvas migratórias produzem cicatrização da parede interna


da aorta que, se particularmente grave, pode causar estenose ou
mesmo ruptura.
Os granu lomas esofágicos, de até 4 cm de tamanho, associa-
dos aos vermes adultos podem ser responsáveis por vários sinais
clínicos, inclui ndo disfagia e vô mitos por obstrução e inflama-
ção.
Duas outras complicações são, primeirame nte, o desenvolvi-
mento de osteossarcoma numa pequena proporção de cães infec-
tados. Podem ser altamente invasi vos e produzir metástases. Em
segundo lugar, também relati vamente rara é a ocorrência de
espondilose das vértebras torácicas ou de os teopatia pulmonar
hipertrófica dos ossos longos. Não se conhece a etiologia dessas
lesões. ,
Entretanto, apesar da potencial patogenicidade deste parasi-
ta, muitos cães infectados não apresentam sintomatologia clíni-
ca, mes ma na presença de extensas lesões aórticas e grandes gra-
nulomas esofágicos freqüentemente purulentos.

EPIDEMIOLOGIA
Nas áreas endêmicas, a incidência de infecção cm cães costuma
--' ser extremamente alta, aproximando-se, às vezes, de 100%. É
provável que isto esteja associado às muitas oportunidades de
Fig. 59 Grande granuloma esofágico decorrente de infecção por Spirocerca lupi. adquirir infecção da série de hospedeiros paratênicos.
HelminlOlogia Veterinária 71
1
DIAGNÓSTICO e Haematobia, que freqüentemente estão presentes nas fezes. O
desenvolvimento em L3ocorre sincroni zadamente com o desen-
Podem ser encontrados ovos nas fezes ou em vômitos se houver volvimento do hospedeiro intermediário muscídeo até a maturi-
fístulas nos granulomas esofágicos. Por outro lado, o diagnósti- dade. Quando a mosca se alimenta ao redor da boca do eqüino,
co pode depender de endoscopia ou radiografia. as larvas passam de suas peças bucais para a pele e são degluti-
das. Alternativamente, as moscas infectadas podem ser degluti-
TRATAMENTO das inteiras. O desenvolvimento em adulto tem lu gar na área
glandular do estômago em aproximadamente dois meses.
o tratamento é raramente viável, mas o levamisol, o disofenol e Quando são depositadas numa ferida cutânea ou ao redor dos
o albendazol são descritos como tendo valor. O disofenol é ad- olh os, as larvas de Habronema invadem os tecidos, mas não
mjnistrado por via subcutânea na dose de 7 rng/kg de peso COf- completam o desenvolvimento.
póreo, repetindo-se o tratamento depois de sete dias.
PATOGENIA
CONTROLE
Os adu ltos no estômago podem causar di screta gastrite catarral
É difícil, em face da ubiqüidade dos hospedeiros intermediários e com excessiva produção de muco. Mais importantes são as le-
paratênicos. Os cães não devem ser alimentados com vísceras cru- sões granu lomatosas de habronemose cutânea, conhecidas comu-
as de aves silvestres ou de galinhas domésticas criadas extensiva- mente como "feridas de verão" (Prancha IV), e a conjunti vi te
mente. persistente, com espessamento nodular e ulceração das pálpebras
associada a invasão dos olhos. São encontradas também larvas
associadas a pequenos abscessos pulmonares.
Habronema
SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA
Os membros deste e do gênero intimamente relacionado Draschia
são parasitas do estômago dos eqüinos; o Habron.ema pode cau- Em geral, está ausente na habronemose gástrica. As lesões da
sar gastrite hemorrágica, mas não é considerado um patógeno habronemose cutânea são mais comuns nas áreas do corpo su-
importante, enquanto o Draschia provoca a formação de gran- jeitas a traumatismos e ocorrem durante a época de moscas em
des nódulos fibrosos que ocasionalmente são significantes. A regiões quentes. Durante as fases iniciais, há intensa coceira da
maior importância desses parasitas é como causa de habronemose ferida infectada ou abrasão, que pode resultar em posterior lesão
cutânea ou "feridas de verão" em países quentes. auto-infligida. Em seguida, desenvolve-se um granuloma casta-
nho-avermelhado não-cicatri zante, que se projeta acima do ní-
Hospedeiros: vel da pele circundante e pode ter até 8 cm de diâmetro. Mais
Eqüinos e asininos. tarde, a lesão pode tornar-se mais fibrosa e inativa, mas não ci-
catriza até o advento de tempo mais frio , quando cessa a ati vi-
Hospedeiros intermediários: dade das moscas. A invasão do olho produz uma conju nti vi te
Muscídeos. pe rsistente, com úlceras nodulares especialmente no canto
medial.
Localização:
Estômago. EPIDEMIOLOGIA
Espécies: A sazonalidade das lesões cutâneas está associada a ativ idade dos
Habronema muscae vetores muscídeos.
H. microstoma (sin. H. majus).
DIAGNÓSTICO
Distribuição:
Mundi al. Baseia-se no achado de granulomas cutâneos avermelhados não-
cicatrizantes. As larvas, identificadas pelas saliências espinho-
IDENTIFICAÇÃO sas na cauda, podem ser encontradas em material dessas lesões.
A infecção gástrica não é facilmente diagnosticada, pois os ovos
Vermes brancos delgados, de I a 2,5 cm de comprimento. No e as larvas de Habron'ema não são faci lmente demonstráveis nas
macho, a cauda tem uma torção espiral. É improvável que sej a fezes por técnicas de rotina.
confundido com outros nematóides no estômago, pois o Draschia
está associado a lesões características e o T. axei tem menos de 1 TRATAMENTO E CONTROLE
cm de comprimento.
Os ovos alongados têm parede fina e são larvados quando Vários anti-hellTÚnticos modernos de amplo espectro demonstram
postos. atividade contra os parasitas adultos no estômago. As lesões
cutâneas são mais bem tratadas com ivermectina. O uso de repe-
CICLO EVOLUTIVO lentes de insetos traz algum benefício, e, nos casos mais crôni-
cos, tem-se utilizado radioterapia e criocirurgia. Obviamente,
São eliminados ovos oU LI nas fezes, e as LI são ingeridas pelos quaisquer medidas adotadas para evitar traumatismos e para con-
estágios larvais de vários muscídeos, incluindo Mus ca, Stomoxys trolar populações de moscas são benéficas.
Parasit%gia Veterinária

Draschia ~ ~

Há apenas uma espécie de importância veterinária, Draschia


megastoma, que se comporta em muitos aspectos como Habro-
nema. Entretanto, no estômago, os vermes vivem em colônias,
ao redor das quais se desenvolvem grandes lesões nodulares
(prancha IV). Essas lesões ocorrem no fundo do estômago e
parecem ser bem toleradas, a menos que se projetem suficiente-
mente na luz a ponto de interferir mecanicamente na função gás-
trica. Em todos os outros aspectos, o D. megastoma pode ser con-
siderado semelhante ao Habronema.
Fig. 61 Espécies de Thelazia no saco conjuntival (i).
Parabronema
Este gênero em ruminantes equivale ao Habronema em eqüinos.
Oc~rre no abomaso de ovinos e caprinos e tem ampla distribuição
CICLO EVOLUTIVO
na Africa e alguns países mediterrâneos, notavelmente o Chipre.
Os vennes adultos lembram um pouco as espécies de Haemonchus Os vennes são vivíparos. A LI eliminada pela fémea na secreção
no fonnato macroscópico e no tamanho, mas sem a coloração es- lacrimal é ingetida pelo hospedeiro intennediário muscídeo ao se
piralada vennelha, enquanto os vemles mais jovens têm aspecto alimentar. O desenvolvimento de L) em L3 ocorre nos folículos
mais semelhante a Osterfagia. Microscopicamente, o gênero é ovarianos da mosca em 15 a 30 dias durante os meses de verão. As
facilmente distinguido dos outros vennes abomasais pela presen- ~ migram para as peças bucais da mosca e são transferidas para o
ça de grandes escudos cuticulares e cordões na região cefálica. hospedeiro definitivo quando a mosca se alimenta. O desenvolvi-
O ciclo evolutivo é tipicamente de espirurídeo. O Parabrone- mento no olho tem lugar sem posterior migração e o período pré-
ma é usualmente considerado não-patogénico, jamais sendo ne- patente é entre três e 11 semanas dependendo da espécie.
cessário tratamento e controle.
PATOGENIA

Thelazia As lesões são causadas pela cutícula denteada do verme, e a maior


parte das lesões resulta do movimento dos adultos jovens ativos
Os membros deste género são encontrados principalmente nos causando lacrimejamento, seguido por conjuntivite. Nas infec-
olhos de animais ou ao seu redor e podem ser responsáveis por ções maciças, a córnea pode tornar-se opaca e ulcerada. Geral-
uma ceratite. Diferentemente da maioria dos espirurídeos, o es- mente há recuperação completa em cerca de dois meses, embora
tágio LI não é ingerido das fezes, mas por moscas que se nutrem em alguns casos possa persistir opacidade da córnea.
das secreções oculares.
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA
Hospedeiros:
Bovinos; outros animais domésticos e ocasionalmente o homem. Lacrimejamento, conjuntivite e fotofobia. As moscas em geral
se aglomeram em volta do olho por causa da secreção excessi-
Hospedeiros intermediários: va. Nos casos graves, toda a córnea pode estar opaca.
Muscídeos, particulannente Musca, Fannia e Morellia.

Localização: EPIDEMIOLOGIA
Região ocular, especialmente o saco conjuntival e o ducto lacri-
As infecções por Thelazia ocorrem sazonalmente e estão ligadas
mal (Fig~ 61)~
a períodos de atividade máxima das moscas. O parasita pode so-
breviver no olho durante vários anos, mas, como apenas o adulto
ESPÉCIES E DISTRIBUIÇÃO jovem é patogênico, em bovinos portadores assintomáticos pode
persistir um reservatório de infecção. Ocorre também sobrevivên-
Thelazia lacrymalis principalmente eqüinos na Europa e
cia de larvas nos estágios pupais de moscas durante o inverno.
América do Norte
T. californiensis cães, gatos e ocasionalmente ovinos na
América do Norte. DIAGNÓSTICO

Outras espécies que ocorrem mundialmente em bovinos inclu- Baseia-se na observação dos parasitas no saco conjuntival. Pode
em T. rhodesi. T. gulosa e T. skrjabini. ser necessário instilar algumas gotas de anestésico local para
facilitar a manipulação da terceira pálpebra~
IDENTIFICAÇÃO
TRA TAMENTO E CONTROLE
Vennes brancos finos e pequenos de 1 a 2 cm de comprimento.
Há uma cápsula bucal e a cutícula tem estrias proeminentes na Antigamente. o tratamento baseava-se na remoção manual dos
extremidade anterior. vermes sob anestesia local, mas agora isto foi substituído pela
Helmilltologia Veterinária 73

administração de um anti-helnúntico eficaz, como levamisol ou parede gástrica. Esses crescime ntos são de tamanho variável , os
uma avennectina; a primeira droga pode ser apli cada por via maiores tendo 3 a 4 cm de diâmetro, e são escavados, correspon-
tópic a como solução aquosa a 1%. dendo a cistos de paredes espessas contendo vermes e líquido. É
A prevenção é difícil, em vittude da natureza ubíqua dos ve- freqüente a presença de ulceração e necrose da parede gástrica.
tares muscídeos. A espécie mais patogênica é o G. spinigerwn, que em gatos
pode ca usar perfuração gástrica e peritonite fatal.
Em alguns casos, uma série de larvas migra do estômago para
GnafllOSlollla outros órgãos, mais comumente O fígado, onde fazem escavações
de ixando marcas necrosadas.
Assim como a maioria dos espirurídeos, o Gnathostoma habita Quando ocorre lar va migrans v isceral no homem por
o trato digesti vo superior, ocorrendo em nódulos na parede do Gnathostoma, geralmente a espécie envolvida é o G. spinigerwn,
estômago de onívoros e ·c arnívoros. É excepcional, pelo fato de e a fonte mais com um de infecção é constituída por aves domés-
requerer doi s hospedeiros intermediários. ticas que atuam como segundo s hospedeiros intermediários. Os
vermes nunca se tornam completamente adultos e as formas
Hospedeiros: imaturas são mais comumente encontradas em nódulos subcutâ-
Em animais domésticos, suínos, gatos e cães. No homem, ocor- neos que aparecem e desaparecem de modo irregular conforme
re erraticamente como causa de larva migrans visceral. os parasitas vagam em diversas partes do corpo.

Hospedeiros intermediários: SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA


(1) Mu itas espécies de crustáceos aquáticos;
(2) Pequenos vertebrados, incluindo mamíferos, aves, répteis, Exceto nos gatos, em que pode estar presente sintomatologia
peixes e anfíbios. abdominal aguda, a infecção por Gnathostonza em geral é ina-
parente.
Localização:
Estômago.
EPIDEMIOLOGIA
Espécies:
Deve-se observar que os hospedeiros definiti vos também são
Gnathostoma hispidum suínos
segundos hospedeiros intermediários convenientes, e portanto,
G. doloresi suínos
por exemplo, os suínos podem abrigar L3 no fígado e nos mú s-
G. spinigerum cães e gatos; também no homem
culos bem como vermes adultos no estômago.
erraticamente.

Distribuição: DIAGNÓSTICO
Sul da Europa, África, Ásia e Austrália.
A infecção no animal vivo pode ser diagnosticada apenas pelo acha-
do nas fezes de ovos ovais, esverdeados e que têm um tampão fino
IDENTIFICAÇÃO
em cada pólo. Muitas vezes, contudo, não há ovos nas fezes.
o GnathoslOma é um verme de corpo espesso e as fêmeas têm
até 3 cm de comprimento. A presença dos vermes em nódulos TRA TAMENTO E CONTROLE
gástricos é suficiente para o diagnóstico genérico, sendo a con-
firmação feita facilmente com uma lupa quando se observa a o tratamento não foi pesquisado. Em virtude da ubiqüidade do
extremidade anterior intumescida coberta co m fileiras de peque- primeiro e segundo hospedeiros intermediários, não se pode obter
nos ganchos. controle completo, mas é possível limitação parcial pela cocção
completa de lodos os alimentos.
CICLO EVOLUTIVO
Gongylonema
Os vermes adultos vive m em túneis nos nódulos gás tricos, e os
ovos passam daí para a luz, caindo na água com as fezes . Os cms- Este gênero é incomum entre os espirurídeos, visto ter ampla
táceos (primeiros hospedeiros intermediários) ingerem L I' e tem variedade de hospedeiros definiti vos que inclui todos os animais
lugar o desenvolv imento em Lz. Os próprios crustáceos são in- domésticos, embora seja mais prevalente nos ruminantes. Seus
gerido s pelos vertebrados (segundos hospedeiros intermediári - hospedeiros intermediários incluem besouros coprófagos e ba-
os), ocorrendo o desenvolvimento em ~ no fígado e nos mú scu- ratas, sendo sua distribuição mundial. É um verme delgado e
los desses animais. longo, as fêmeas tendo até 9 cm de comprimento, e é fac ilmente
O hospedeiro definitivo infecta-se por ingestão do vetor verte- distinguido ao microscópio pela presença de fileiras longitudi-
brado, e o desenvol vimento posterior ocorre na parede do estôma- nais de lâminas cuticulares na região anterior do corpo.
go, onde os vermes provocam o crescimento de lesões fibrosas. Como a maioria do s espirurídeos, a localização predileta dos
adultos é o trato digesti vo superior, no esôfago, nos pró-estôm a-
PA TOGENIA gos e estômago de mamíferos e no papo das aves.
As espécies comuns são Gongylonerna pulchrum em todos os
Tal como em muitas infecções por espirurídeos, o efeito mais marniferos domésticos, embora principalment~ uvi llos e caprinos.
óbvio da gnatostomose é a presença de crescimentos fibrosos na G. verrucosum em ruminantes e G. ingluvicola em aves.
- ..! ParasiloloMia Veterinária

vermes adultos tê m dentes pequenos nos grandes lábios tri angu-


lares e se fixam fo rtemente à mucosa gástrica, deixando peque-
nas úlceras quando se movem para novos locais. Podem causar
gastrite catarral, com emese, e nas infecções maciças pode apa-
recer sangue nas fezes. O diagnóstico é pe lo achado dos ovos
alongados e espessados em cada pólo nas fe zes ou em vómitos.
Não existe tratamento eficaz, e, com a ubiqüidade dos hospedei-
ros in termediários insetos, não se pode considerar o controle.
O Spirura ritypleurites ocorre nos gatos e menos comumente
nos cães. É um verme CUlto e espesso que habita principalmente o
estômago mas que ocorre ocasionalmente no esôfago. Os hospe-
deiros intennediários são besouros coprófagos e o ciclo evolutIvo
Fig. 62 Corte transversal de um unico Gongy/onema adulto encravado na mucosa é tipicamente espirurídeo. Este verme é endêmico em partes do
esofágica de um ovino. sul da Europa, África e Ásia e, em geral, considerado não-palogê-
ruco.

ESPIRURíDEOS DE AVES DOMÉSTICAS


o ciclo evoluti vo é tipicamente de espirurídeo, e os vermes
adultos vivem enterrados na mucosa di gestiva (Fig. 62). Em geral,
A maioria desses vermes ocorre em aves adultas criadas exten-
são considerados não-patogênicos, apesar de terem sido associ-
sivamente e habita o trato digestivo, com exceção de um gênero
ados a discreta esofagite crônica em ruminantes.
que ocorre no olho. No intestino, são encontrados em três loca-
lizações di stintas.
ESPIRURíDEOS MENOS IMPORTANTES
DE SUíNOS Pró-ventrículo:
Ocorrem três gêneros aí, Echinuria, Disphmynx e Tetrameres, to-
Os suínos criados extensivamente podem abrigar vários espiru- dos de di stribuição mundial. Embora os doi s primeiros tenham
rídeos além de Gnathostoma e Gongylonema, mas nenhum tem preferências diferentes por hospedeiros, o Echinuria seja encontrado
grande importância ~conômica ou patogênica. Os mais dissemi- em patos e gansos e tran smitido por cru stáceos aq~álicos e o
nados são Ascarops slrongylina, Physocephalus sexalalUs e Dispharynx seja parasita de aves domésticas não-aquátIcas e tenha
Simondsia paradoxa. crustáceos terrestres como hospedeiros intennediários, eles são, por
Ascarops e Physocephalus di stribuem-se amplamente. Ambos outro lado, semelhantes em aspecto, comportamento e patogenia.
são vermes pequenos e delgados, de até 2 cm de comprimento, que O corpo é delgado e espiralado, com até 2 cm de comprimento, e a
vivem na parede do estômago sob uma camada de muco. Os hos- cutícula é ornamentada com cordões. São eliminados pequenos ovos
pede iros intermediários são besouros coprófagos e os ciclos evo- embrionados de casca espessa, e o desenvolvimento em L, tem lugar
luti vos são tipicamente de espirurídeo, tendo o Ascarops um perí- nos crustáceos que são ingeridos pelos hospedeiros tinais. Os ver-
odo pré-patente de cerca de quatro semanas e o Physocephalus, mes usualmente provocam apenas discreta reação nodular na mu-
de seis semanas. Nenhum deles é gravemente patogênico, e o prin- cosa com excessiva produção de muco. As infecções por Echinuria
cipal efeito é uma gastrite catarral. O Simondsia também ocor:e e Dispharynx, em sua maioria, são inaparentes.
no estômago. Seu comprimento é semelhante ao dos outros dOlS, O Tetrameres é algo diferente. Poss ui uma série mais ampl a
mas a fêmea grávida tem forma característica, e a extremidade de hospedeiros intelmediários, utilizando não apenas crustáceos
posterior do corpo consiste num saco redondo cheio de ovos. Os aquáticos, mas também baratas, gafanhotos e besouros, e pode
machos vivem na superfície da mucosa gástrica, mas as fêmeas infectar todas as aves domésticas incluindo pombos. Os ad ultos
são encontradas em pequenos cistos nas criptas mucosas, com suas apresentam dimorfismo sex ual, e os machos, que são pálidos,
extremidades anteriores proj etadas. Não se conhecem os hospe- delgados, de apenas 6 mm de comprimento e com cutícul as es-
deiros intermediários. Este gênero é predominantemente um pa- pinhosas, vivem na superfície mucosa, enqu anto as fêmeas,.ver-
rasita de regiões tropicais e subtropicais e, como os outros, é uma me lho-vivas, quase esféricas e com um di âmetro de aproxIma-
causa de gastrite catarral, mas além disso há alguma reação fi bro- damente 5 mm, ficam no fundo das glândulas mucosas. As fê-
sa ao redor dos nódulos na parede do estômago. meas nas glândul as são hematófagas e podem causar anemia bem
É difícil o diagnóstico de determinado gênero por exame fe- como erosão local. As infecções maciças podem ser fatais em
cal, mas a presença dos pequenos ovos alongados nas fezes dos pintos, mas este gênero freqüentemente está presente apenas em
animais com sintomatologia de gastrite oferece uma indicação quantidades moderad as e é bem tolerado.
presuntiva de espiruridose.
O tratamento não foi considerado com estes gêneros. Moela:
Nesta região, ocorrem os gêneros Slreptocara, Cheilospirura e
ESPIRURíDEOS MENOS IMPORTANTES Histiocephalus. O Histiocephalus tem apenas importância trivial
DE CARNíVOROS e ocorre na Europa, nada sendo conhecido sobre seu ciclo evolu-
tivo; quase nunca é patogênico. Dos outros dois, o Slreptocara tem
O Physaloplera praeputialis e o P. rara , de di stribui ção mundial, a ma ior variedade de hospedeiros, ocorrendo em todos os tipos de
ocorrem no estômago dos cães e dos gatos. São maiores que a ave s~ é transmitido por crustáceos. O Cheilospirura restringe-se a
maioria dos espirurídeos, tendo 4 a 6 cm de comprimento e pa- aves não-aquáticas e tem gafanhotos e gorgulhos como hospedei-
recendo ascarídeos. Os hospedeiros intermediários são besouros, ros intennediários. Estes doi s últimos gêneros têm distribuição
baratas e grilos, e o ciclo evoluti vo é tipicamente espirurídeo. Os mundial, mas, como os outros, são de baixa patogenicidade.
Hebninlologia Veterinária 75

Duodeno:
Parajilaria
Este é o habitat de Hartertia, disseminado na Europa, África e
Ásia mas não encontrado no Novo Mundo. É um verme delgado
e excepcionalmente longo para um espirurídeo, as fêmeas atin- Os adultos deste gênero de filarídeos primitivos vivem sob a pele,
gindo 11 cm. Os hospedeiros intermediários são térmitas. As oode produzem lesões ou nódulos inflamatórios e, durante a
infecções nunca são fatais , mas quando estão presentes grandes oviposição, exsudatos hemorrágicos ou " pontos hemorrágicos"
quantidades pode haver diarréia e emaciação. na superfície cutânea.

Olho:
Parafilaria bovicola
O gênero Oxyspirura em aves corresponde ao Thelazia em ma-
míferos. Ocorre na conjuntiva e ocasionalmente nos seios nasais,
seus vetares sendo baratas e as efeméridas. Não existe na Euro- Hospedeiros:
pa, mas distribui-se amplamente pelo resto do mundo. Bovinos e bubalinos.
Não é um gênero altamente patogênico, mas as infecções
maciças podem causar cegueira ou oclusão das vias nasais. Hospedeiros intermediários:
Muscídeos; M. autumnalis na Europa.
As tentativas de co ntrole dos espirurídeos de aves têm pouca
probabilidade de dar bons resul tados, em vil1ude da fáci l viabi- Localização:
lidade dos hospedeiros intermediários. O levamisol é eficaz con- Tecido conjuntivo subcutâneo e intennusc ular.
tra os gêneros digestivos.
Distribuição:
África, Ásia, sul da Europa e Suécia.
Superfamflia FlLARIOlDEA
IDENTIFICAÇÃO
Esta superfamilia está intimamente relac ionada à Spiruroidea, e,
como nesta última, todos os seus gêneros têm ciclos evolutivos Vermes brancos delgados de 3 a 6 cm de comprimento. Na re-
indiretos. Nenhum deles habita o trato digestivo, e eles depen- gião anterior, há numerosas papilas e arestas circulares na cutí-
dem de vetares insetos para a transmissão. cula. Na fêmea, a vu lva situa-se anteriormente, próximo à sim-
Dentro da superfamília, observam-se diferenças no compor- ples abertura bucal.
tamento biológico, e as formas mais primiti vas põem ovos que Os pequenos ovos embri onados são postos na superfície da
são viáveis para os vetares em exsudatos dérmicos e as formas pele, onde eclodem e liberam as microfilárias ou L I de aprox i-
mais altamente evoluídas põem larvas, denominadas microfilárias madamente 200 J.Lm de comprimento.
(Fig. 63). As últimas, que podem estar inclusas numa "casca de
ovo" semelhante a uma báinha flexível, são absorvidas por inse- CICLO EVOLUTIVO
tos parasitas e se nutrelll de sangue e de líquidos teciduais. Em
algumas espécies, as microfilárias apenas aparecem no sangue Os ovos ou larvas presentes em exs udatos de pontos hemorrági-
periférico e em tecidos com intervalos regulares, algumas durante cos na supeIfície cutânea são ingeridos por muscídeos, como M.
O dia e outras à noite; este co mpol1amento é denominado perio- aulumnalis na Europa e M. {usaria e M. xanlhomelas na África,
dicidade diurna ou notuma. nos quais se dese nvolvem em LJ dentro de várias semanas a
meses, dependendo da temperatura do ar.
Ocorre transmissão quando as moscas infectadas se nutrem
de secreções lacrimais ou feridas cutâneas em outros bovi nos e
as ~ depositadas migram então e se desenvolvem no estágio adulto
sob a pele em cinco a sete meses (Fig. 64). Os pontos hemorrági-
cos desenvolvem-se sete a nove meses após a infecção.

PATOGENIA
• Quando a fêmea grávida perfura a pele para pôr ovos, surge um
exsudato hemorrágico ou "ponto hemorrágico" que suja e em-
baraça os pêlos adjacentes, atraindo moscas. As lesões indi vidu-
ais apenas sangram por curto tempo e a cicatrização é rápida.
Nos locais de infecção, predominantemente sobre as es-
páduas, a cernelha e áreas torácicas, há inflamação e edema
que, à inspeção da carne, parecem contusão subcutânea em le-
sões iniciais e têm aspecto amarelo-esverdeado gelatinoso, com
odor metálico em casos de mais longa duração. Às vezes, as
lesões estendem-se pela fáscia intermuscular. As áreas acome-
tidas têm de ser removidas para a comercialização, podendo
ainda haver perdas eco nômicas por rejeição ou degradação de
Fig. 63 Uma microfilária, a primeira forma larval de vermes filarideos. carcaças.
"'flSitologia Veterinária

CONTROLE

É difícil, por causa do longo período pré-patente durante o qual


supõe-se que as drogas não sejam eficazes. Na Suécia, os bovi-
nos leiteiros, particularmente as novilhas no pasto, constituem a
principal fonte de infecção para M. autumnalis, uma mosca que
existe livremente e é ativa na primavera e no verão. Entretanto,
as infecções nos bo vi nos de corte jovens são a principal causa
de perda econômica por danos na carcaça.
Como nem a ivermectina nem o nitroxinil são eficazes contra
vermes imaturos, o tratamento é útil apenas para infecções pa-
tentes identificáveis pela sintomatologia clínica. Contudo, em
virtude das restrições ao uso de ivelmectina e nitroxinil em vacas
lactantes, estas raramente são tratadas, sendo, em vez disso, man-
tidas estabuladas durante o período de atividade das moscas.
Nas áreas endêmicas, os bovinos de corte jovens podem ser
Fig. 64 Parafilaria bovicola nos tecidos subculãneos. tratados com um anti-heLIIÚntico em alguma ocasião antes do
abate, como já descrito. Na Suécia, recomenda-se o uso de brin-
cos impregnados com inseticida para controle do vetar.

SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA


Parafi/aria multipapillosa
Os sinais de parafilariose são patognomônicos. As lesões hemor-
rágicas ativas são observadas mais com um enle em tempo quen-
te, um a aparente adaptação para coincidir com a presença do Este parasita, de aspecto semelhante ao P. bovicola, é transmiti-
hospedeiro intermediário muscídeo. do por espécies de Haematob;a e aCOITe no tecido subcutâneo e
conjuntivo intermuscular de eqü inos. É registrado na Ásia, na
África, na Europa e na América do Sul. Na Grã-Bretanha, foi
EPIDEMIOLOGIA identificado apenas em eq üinos importados.
Na Europa, a parafilariose bovina ocorre na primavera e no ve- As lesões são mais nodulares que as do P. bovicola em bovi-
rão, enquanto nas regiões tro picais é observada principalmente nos e a sua distribu ição nas áreas abrangidas por arreios pode
depois da estação das chuvas. Há relatos de alta prevalência de inutilizar os animai s de serviço.
36% em bovinos em algumas áreas endêmicas na África do Sul, Clinicamente, a condição caracteri za-se pela pelagem suja
e a doença atualmente está presente na Suécia, uma área antiga- (Fig. 65) de sangue e líquido tissular dos nódulos rompidos. As
mente livre de infecção. A infecção por Parafilaria pode ser in- lesões são mais proeminentes no verão e particularmente quan-
troduzida pela importação de bovinos de áreas endémicas, mas do os animais estão que ntes e parecem estar "suando sangue".
sua disseminação depende da presença de vetores muscídeos Embora a condição tenda a desaparecer em tempo frio, rea-
específicos. Na Suécia, calcula-se que uma vaca com lesão san- parece periodicamente durante os meses mais quentes por até
grando atue como fonte de infecção para três outros animais. quatro anos em animais individuais. Ocasionalmente, as lesões
são confundidas com traumatismos causados por espinhos e ara-
me farpado. O tratamento é difíci l, mas pode-se tentar a ivermec-
DIAGNÓSTICO
tina.
Baseia-se norm almente na sintomatol ogia clínica, mas se for
necessário confirmação laboratorial os pequenos ovos embriona-
dos ou microfilárias podem ser encontrados ao exame do exsu-
dato de pontos hemorrágicos. A demonstração de eosinófilos em
esfregaços de lesões também é considerada um aspecto diagnós-
tico constante. Na Suécia, foi desenvolvido sorodi agnóstico com
a utilização de uma técn ica de ELISA.

TRATAMENTO
As infecções patentes em bovinos de corte e em bovinos leiteiros
não-Iactantes podem ser tratadas com ivennectina ou nitroxinil. A
primeira é administrada parentera1mente como dose única, enquanto
são necessárias duas doses de nitroxinil num intervalo de três dias.
Nenhuma droga está aprovada para uso em vacas lactantes, quan-
do então se pode tentar o levamisol, que é menos eficaz.
Estas drogas produzem redução acentuada nos pontos hemor-
rágicos e, em conseqüência da resolução das lesões musculares,
diminuição signifi cativa na condenação de carne se o abate for
retardado por 70 dias após o tratamento. Fig. 65 Lesões nodulares de Parafilaria multipapillosa num eqüino.
HeJmintOJOg~ Veterinária 77
I

Embora as lesões desapareçam em tê'~po mais frio, os danos


Stephanojilaria no couro são permanentes, podendo resultar em considerável
perda eco~ômica. A produção de leite pode cair seriamente, por
Os vermes deste gênero habitam a derme e são re sponsáveis por
causa da dor das lesões e da irritação dos animais pelas moscas.
dermatite crônica em bovinos e bubalinos nos trópicos e subtró-
picos.
DIAGNÓSTICO
Hospedeiros:
Bovinos e bubalinos. Embora estejam presentes vermes adultos e microfilárias nas
lesões, quase sempre são escassos, e muitos raspados são nega-
Hospedeiros intermediários: tivos. O diagnóstico, portanto, em geral é presunti vo em áreas
Muscídeos. endêmicas, com base no aspecto e na localização das lesões . .

Localização: TRATAMENTO
Pele; dependendo da espécie, os locais de preferência são di fe-
rentes regiões do corpo. Os compostos organofosforados de uso tópico, sob a forma de
pomada, são eficazes. É provável que as avermectinas sejam
ESPÉCIES E DISTRIBUiÇÃO eficazes.

Stephanofilaria stilesi: região inferior do abdome, Estados Un i- CONTROLt=


dos, Rússia. S. assamensis: cupim de zebus, Ásia. Na Índia e no
Extremo Oriente, S. zaheeri, S. kaeli e S. okinawaensis ocorrem Raramente é viável, em face da ubiqüidade dos vetares, mas deve
principalmente na cabeça, nas pernas e nas tetas. basear-se ~o uso de inseticidas ou repelentes.

IDENTIFICAÇÃO
Dirojilaria
Vermes muito pequenos, com menos de 1 cm de comprimento.
Microscopicamente. a abertura bucal é circundada por um anel Das duas espécies que ocorrem em carnívoros domésticos, uma,
espinhoso. Dirofilaria immitis, é sem dúvida a mais importante. Os adultos,
que são encontrados no lado direito do coração e vasos sangüí-
neos adjacentes de cães, são responsávei s por uma condição de-
CICLO EVOLUTIVO bili tante conhecida como dirofilariose canina. Embora principal-
mente um problema de regiões quentes onde abunda o mosquito
Os vetores muscídeos são atraídos para as lesões abertas na pele
hospedeiro intermediário, a doença difundiu-se muito mais na
causadas pelos pacasitas. adultos e ingerem as microfilárias no
última década e O problema na América do Norte é tão extenso
exsudato. O desenvolvimento em L) dura cerca de três semanas,
agora que foram cri adas clínicas especializadas em dirofilariose.
e o hospedeiro definitivo infec ta-se quando as moscas deposi-
tam larvas na pele normal.
Dirojilaria imllliti.\
PA TOGENIA E SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA
Hospedeiros:
Começam a aparecer lesões dentro de duas semanas após a in- Cães, ocasionalmente gatos e raramente o homem.
fecção. No caso de S. stilesi, as moscas agrupam-se na face infe-
rior sombreada do abdome, onde ocorre a lesão mais grave; por Hospedeiros intermediários:
outro lado, a lesão por S. assamensis é comumente denominada Mosquitos.
"ferida do cupim". Em todas as espécies, as lesões em geral se
localizam nas áreas de picadas preferidas dos vetores. A pele Localização:
primeiramente é nodular, porém mais tarde há erupção papular Sistema cardiovascular; adu ltos no ventrículo direito, artéria pul-
com exsudato de sangue e pus. No centro da lesão, pode haver monar e veia cava posterior.
perda de pele, mas na borda freqüentemente há hiperqueratose.
A condi ção é essencialmente uma dennatite exsudativa, quase DISTRIBUiÇÃO
se mpre hemorrágica, que atrai os vetares muscídeos.
Essencialmente em zo nas temperadas quentes e tropicais em todo
EPIDEMIOLOGIA o mundo, incluindo O sul da Europa e o Canadá. Na Grã-Bretanh a,
é encontrado apenas em cães importados.
Nas áreas endêmicas, a incidência de infecção pode. ser de até
90% e a ocorrência é em grande parte infl uenciada pelo tipo de IDENTIFICAÇÃO
gramínea. As pastagens suculentas produzem fezes moles e úmi-
das, que são criadouros mais adequados para as moscas que as Macroscópica: •
fezes duras e friáveis depositadas em pasto seco e esparso. Por- Vermes longos e delgados, de 20 a 30 cm de comprimento (Fig. 66).
tanto, a inigação dos pastos pode resultar em aumento de estefa- A cauda do macho tem a típica espiral frouxa comum aos filarídeos.
nofilariose. O tamanho e a locali zação são diagnósticos para D. immitis.
Parasito/agia Veterinária

duas semanas, época em que as larvas estão presentes nas peças


bucais, e o hospedeiro definitivo infecta-se quando o mosquito
se alimenta novamente de sangue. No cão, as L3 migram para os
tecidos subcutâneos ou subserosos e sofrem duas mudas nos me-
ses seguintes; somente depois da última muda, as D. immitis jo-
vens vão para o coração através da circulação venosa. O período
pré-patente mini mo é de seis meses. Os vermes adultos sobrevi-
vem por vários anos, tendo-se registrado patência durante mais
de cinco anos.

PATOGENIA

Está associada aos parasitas adultos. Muitos cães infectados com


pequenas quantidades de D. immitis não se apresentam doentes
e somente nas infecções maciças é que ocorre distúrbio circula-
tório, principalmente por obstrução do fluxo sangüíneo normal
Fig. 66 Dirofilaria immitis no ventrículo direito do coração. que provoca insuficiência cardíaca congestiva direita. A presen-
ça de uma massa de vermes ativos pode causar endocardite nas
válvulas cardíacas e endarterite pulmonar proliferativa, prova-
velmente em razão de uma resposta a produtos de excreção dos
Microscópica:
parasitas. Além disso, vermes mortos ou que estão morrendo
As microfilárias no sangue não são encapsuladas e têm 307 a 332
podem provocar embolia pulmonar. Após um penado de cerca
fLm de comprimeQto por 6,8 fLm de largura (Fig. 67). Sua extre-
de nove meses, o efeito da hipertensão pulmonar em desenvol-
midade anterior é afilada e a posterior obtusa.
vimento é compensado por hipertrofia ventricular direita, que
pode resul tar em insuficiência cardíaca congestiva, com a sinto-
CICLO EVOLUTIVO
matologia usual concomitante de edema e ascite. Nesta fase, o
Os adultos vivem no coração e nos vasos sangüíneos adjacentes cão está inquieto e fraco .
e as fêmeas liberam microfilárias diretamente na circulação san- Uma massa de vemles pode alojar-se na veia cava posterior,
güínea. Estas são ingeridas por mosquitos fêmeas durante a ali- e a obstrução resultante causa uma síndrome aguda, às vezes fatal,
mentação. O desenvolvimento em ~ no mosquito leva cerca de conhecida como síndrome da veia cava. Caracteriza-se por he-
mólise, hemoglobinúria, bilirrubinemia, icterícia, anorexia e
colapso. Pode ocorrer a morte em dois a três dias. Muito ocasio-
nalmente, há bloqueio dos capilares renais por microfilárias, pro-
vocando glomerulonefrite, possivelmente relacionada à deposi-
ção de complexos imunes.

SINTOMA TOLOGIA CLíNICA

Os cães maciçamente infectados ficam inquietos, e há perda gra-


dativa de condições físicas e intolerância a exerCÍcios. Apresentam
lasse branda crônica com hemoptise e, nas últimas fases da doen-
ça, tomam-se dispnéicos e podem desenvolver edema e ascite.
A síndrome aguda da veia cava anteriormente descrita carac-
teriza-se por hemoglobinúria, icterícia e colapso.
As infecções mais leves em cães de lida podem ser responsá-
veis por mau desempenho durante períodos de esforços contínuos.

EPIDEMIOLOGIA

Os fatores importantes na disseminação de dirofilariose podem


ser divididos nos que afetam o hospedeiro e nos que afetam o
vetar.
Os fatores do hospedeiro incluem a alta densidade de cães
em áreas onde existem os vetores, o longo período patente de
até cinco anos durante o qual estão presentes microfilárias cir-
culantes e a falta de resposta imune eficaz contra parasitas ins-
• talados .
Os fatores do vetar incluem a ubiqüidadc dos hospedeiros in-
termediários mosquitos, sua capacidade de rápido aumento po-
pulacional e o curto período de desenvolvimento de microfilárias
Fig. 67 Microfilárias de Dirofilaria immitis. em L)" ,

\.
HelmÊnlologia Veterinária 79

DIAGNÓSTICO Em alguns casos graves, os vermes são removidos cirurgica-


mente, evitando-se o risco de reações adversas após terapia me-
Baseia-se,na sintomatologia dínica de d.isJunção. cardiovascular dicam entosa.
e na demonstração das microfiJárias adequadas no sangue. Os Após o tratamento. é comum colocar os cães num programa
cães acometidos raramente têm menos de um ano e mais de dois profilático de controle, o que será considerado na próxima se-
anos de idade. Nos casos suspeitos. em que não podem ser de- ção.
monstradas mi crofilárias, as radiQgrafias-tor:áciGas podem reve-
lar espessamento da artéria pulmonar, seu trajeto sinuoso e hi- CONTROLE
pertrofia ventricular direita. Pode-se utili zar também angiogra-
fia para demonstrar mais nitidame nte as alterações vàsc ulares. O controle do mosquito é difícil , e a profilaxia base ia-se, por-
--- São viáveis também testes j.munodiagnósticos para identifi- tanto, quase inteiramente em medicação. A droga amplamente
car casos que não apresentam microfilaremia detectável. Por utili zada para isto é a ~die~a~, que nas áreas endêmi-
exemplo, há uma série de kits de teste ELISA para a detecção de cas é administrada diariamente, por via oral, a cãezinhos de dois
antIgenos de vermes adultos qu e identificam infecções mais a três meses de idade. Isto destrói as larvas em desenvolvimen-
maduras e altamente específicas. to. evitando, assim, os problemas do tratamento de infecções pa-
A identificação das microfilárias no sangue é auxiliada por tentes e microfilaremia. Nas áreas tropicais, a droga é adminis-
concentração dos parasitas após lise, filtração e coloração com azul trad a durante o ano todo, mas em zonas mais tempe radas, onde
de metileno. Há kits comerciais para esta técnica. Alternativamente, o mosquito tem um período limitado, o tratamento co meça um
uma parte de sangue e nove partes de formalina são centrifugadas mês antes da época de mosquitos e cessa dois meses após o seu
e o sedimento misturado com um corante azul e examinado como término. Onde a profilaxia é inlrod uzida em cães mais velhos ou
um esfregaço microscópico. As microfilárias têm de ser diferen- depois do tratamento de um cão infectado, deve-se assegurar-se
ciadas daquelas de Dipetalonerna. reconditum, um filarídeo para- de que o cão está li vre de infecção por mi crofilárias, pois podem
sita comumente encontrado no t.ecido subcutâneo de cães. As ocorrer reações anafiláLit:us em cães infectados após o tratamen-
microfilárias de D. immitis têm mais de 300 j.Lm de comprimento, to com dieti Jcarbamazina. Uma vez introduzida a profilaxia,
a cabeça afilada e a cauda reta~ as de D. reconditwn têm menos devem ser feitos controles regulares para microfiJárias a cada seis
300 j,Lm de comprimento, a cabeça obtusa e a extremidade poste- meses.
rior em forma de gancho. Pode-se conseguir uma diferenciação Os métodos mais atuais de prevenção de infecção por diro-
mais precisa pela utilização de corantes histoquímicos para ativi- filárias envolve a administração mensal, durante toda a época de
dade da fosfatase ácida. D. immitis mostra manchas ácido-fosfato mosquitos, de ivermectina ou milbemicina, especialmente fo r-
positivas vennelhas distintas no poro excretor e no ânus, enquan- mul adas para es te uso em cães.
to D. reconditum fica totalmente rosa.

TRATAMENTO Dirofilaria repens


Não se deve efetuar o tratamento sem um exame físico do cão e Este parasita dos cães e gatos tem pouca significação patogêni-
uI1)llavaliação do coração, do pulmão, do fígado e do rim. Quando ca. Os adulto s são encontrados em tecidos subcutâneos e as
estas funções estiverem visivelmente anormais, pode ser neces- microfilárias no sangue e na linfa. Ocorre na bacia mediterrânea,
sário um tratamento prévio para insuficiê ncia cardíaca. A reco- no Oriente Médio, na África e na Ásia.
mendação usual é que os cães infcctados sejam tratados primei-
ramente por via intravenosa com~cetarsamida, duas vezes ao
dia, por um período de três dias p.arn remover os vermes adultos; Dipetalollema
após este tratamento, não são raras reaçoes tóxicas decorrentes
de morte das dirofilárias e embolia resultante; deve-se limitar a Ocorrem várias espécies de Dipetalonema transmitidas princi-
atividade do cão por um período de duas a seis semanas. Esta palmente por carrapatos e pulgas no tecido subcutâneo de cães
droga deve ser utilizada com extrema cautela. em áreas trop icais e subtropicais. Não são especialmente pato-
Efetua-se, então, outro tratamento com uma droga diferente gênicas, exceto por causar ulcerações cutâneas e abscessos sub-
seis semanas depois para remover as microfilárias, que não são cutâneos ocasionais.
suscetíveis ao tratamento com tiacetarsamida. Atualmente, exis- O Dipetalonema reconditum ocorre freqüentemente nas mes-
tem várias drogas viáveis para este fim; a droga tradicional era a mas áreas endêmicas da D. immitis, e a presença de suas mi cro-
ditiazanina que, tanto quanto o levamisol, administrada por via filári as pode levar.a um falso diagnóstico ao exame de sangue.
oral durante um período de la a 14·dias demonstra eficácia. As As diferenças morfológicas encontram-se na descrição de D.
avennectinas também são altamente eficazes contra microfilárias, immitis.
assim como a fl1ilb~micillil na dose profilática para dirofilárias
de 500 j,Lg/kg. Estas doses produzem rápida remoção das
microfilárias. mas não são aprovadas para este fim, em virtude Onchocerca
de ocasionais efeitos colaterais tóxicos ou microfilaricidas. Os
veterinários que optam pelo uso de qualquer droga como micro- Embora a oncocercose seja uma importante infecção por fil::trídeos
filaricida devem compreender que esta é uma aplicação "extra- em medicina humana, a maioria das espécies em animais domés-
bula" e que são responsáveis pela administração da dose correta ticos é relativamente inofensiva
e da manutenção de controle e cuidados adequados.
Com todas estas drogas. há ri sco de reações adversas às mi- Hospedeiros:
crofilárias que estão morrendo. Eqüinos e bovinos.
80 Parasitologia Vererinária

Hospedeiros intermediários:
Espécie Localização Distribuição Vetar
Espécies de Culicoides e espécies de Simulium.

Localizações: o. gutturosa ligamento nucal Mundial Simulium spp.


(sin. o. e ligamento
Tecido fibro so, usualmente de ligamentos e tecido conjunti vo lienalis) gastresplênico
intermuscular; uma espécie ocorre na aorta bovina.
o. gibsoni nódulos África, Culicoides
subcutâneos e Ásia, Australásia spp.
ESPÉCIES E DISTRIBUiÇÃO intermusculares

O. armillata parede da 9riente. Médio, Desconhecido


Ocorrem diversas espécies em eqüinos e bovinos, sendo conve- aorta torácica Africa, India
nientemente di scutidas de acordo com o hospedeiro.

IDENTIFICAÇÃO
Espécies menos importantes incluem O. dukei em nódulos
Os vermes delgados variam de 2 a 6 cm de comprimen to e ficam subcutâneos e musculares e O. ochengi e O. sweetae em tecido
firmemente e nrolados em nódulos tissulares. Nas lesões ativas, intradérmico.
a presença de vermes é facilmente determinada ao corte desses Dependendo da locali zação, as diversas espécies em bovinos
nódul os. estão associadas a alterações diferentes. A O. gutlurosa, nos gran-
des ligamentos, tem pouca importância clínica ou econômica; a
CICLO EVOLUTIVO O. gibsoni, que provoca reação fibrosa no tecido muscular (Pran-
cha IV), pode ser responsável por perda econômica decorrente
O ciclo evoluLi vo de espécies de On.chocerca é tipi camente de de limpeza da carcaça; a O. ochengi e a O. sweetae na pele pro-
filarídeos, com exceção de que as microfilárias ocorrem nos espa- vocam al guma perda económica por depreciação do couro. Os
ços tiss ulares da pele, e não na circulação sangüínea periférica. nód ulos musculares provocados por o. dukei, embora de pouca
importância por si próprios, adquirem significação em algumas re-
ONCOCERCOSE EQÜINA giões da África, onde podem ser confundidos com Cysticercus
bovis à inspeção da carne.
A única espécie, O. reticulata (sin. O. cervicalis), tem distribui- O interessante é que a O. armillata, apesar de ocorrer numa
ção mundial e ocorre comumente no ligamento nucal e me nos localização estrategicamente importante na aorta bovina, nunca
freqüentemente nos li gamentos suspensores e tendões flexores está associada a si ntomatologia clínica; e m geral, é descoberta
da parte inferior dos membros. apenas no matadouro, com levantamentos no Oriente Médio de-
O ligamento nucal na região da cernelha é o local preferenci- monstrando prevalência de até 90%. Os vermes são encontrados
al. Após inoculação de L, pelo vetor, Culicoides (C. Ilubeculosus em nódulos macroscopicamente visíveis na íntima, na média e
sendo o mais freqüentemente incriminado), a chegada-dos para- na adventícia da aorta, sendo comumente observ adas placas ate-
sitas à sua localização final resulta em reação do hospedeiro na romatosas na íntima (Fi g. 68). Em cerca de um quarto das infec-
fonna de uma tumefação difu sa e indolor, que aumenta gradati- ções, observam-se aneurismas aórticos.
vamente de tamanho tornando- se uma protuberância branda pal-
pável e regride em seguida deixando um foco ca1cificado. per-
DIAGNÓSTICO
manecendo a pele sobre a área intacta. Podem ocorrer lesões
purulentas abertas, comumente denominadas "cernelha fistulo- Raramente é necessário e depende do achado de microfilárias em
sa". mas. embora seja encontrado O. reticulata nestas lesões, não amostras de biopsia de pele. Na maioria das espécies, as microfi-
existe uma nítida relação causal entre os vermes e a condição, lárias concentram-se nos locais preferidos de alimentação dos ve-
supondo-se ser mais provável o envolvimento de bactérias, in-
cluindo talvez 8rucella aborlus.
Na parte inferior dos membros, a reação à presença do parasi ta
é semelhante à observada no ligamento nucal, com uma tumefa-
ção branda indolor sucedida por pequenos nódulos fibrosos . .
A prevalência geral de oncocercose eqüina é al ta, e a maior
parte dos levantamentos nos Estados Unidos demon stra índices
superiores a 50%. embora o mais alto registrado até agora na Grã-
Bretanha seja de 23%. A não ser a di screta reação inicial, não
são demonstráveis si nais clínicos atribuíveis aos vennes adultos.
Nos Estados Uni dos, entretanto, foi descrita uma dermatite da
linha mediana ventral aparentemente associada a nutrição da
mosca dos chifres Haematobia irritans na pele sobre a linha alba,
a localização preferida das mkrofilárias de O. cervicalis.

ONCOCERCOSE BOVINA

As princ ipais características das espécies que ocorrem em bovi- Fig. 68 Lesões aórticas nodu lares confluentes decorrentes de infecção por
nos estão resumidas adiante. Onchocerca annillata.
Helmintologia Veterinária 81

tores, que para as espécies de Simlllillm e de Culicoides são usu- PATOGENIA


almente as partes inferiores sombreadas do tronco, recomendan-
do-se em geral a colheita de amostras da região da linha alba. O Os velmes em sua localização nonnal são inofensivos e descober-
pedaço de pele é colocado em solução salina morna e cortado, tos apenas à necropsia. A S. labiato-papillosa pode ter migração
permiti ndo a emergência das microfilárias, e em seguida incu- errática em ovinos e caprinos e entrar no canal espinhal causando
bado durante seis horas ou mais. As microfilárias são facilmente nematodiose cerebroespinhal, "paralisia lombar", que é irreversí-
identificadas pelos movimentos sinuosos numa amostra centri- vel e freqüentemente fatal; a condição foi registrada apenas no
fugada da solução salina. Oriente Médio e no Extremo Oriente.

TRATAMENTO SINTOMA TOLOGIA CLíNICA

No passado, consistia na administração diária de dietilcarbamazina Não há sintomatologia clínica quando os vermes estão na locali-
durante um período como microfi laricida, mas atualmente parece zação normal, mas, quando o tecido nervoso está envolvido, há
que uma única dose de ivermectina é altamente eficaz neste as- distúrbio locomotor, geralmente dos membros posteriores, e. se
pecto, embora as microfilárias que estão morrendo possam pro- os parasitas ocuparem uma posição alta no canal espinhal, pode
vocar reações tissulares locais. No caso de dennatite eqüina da linha haver paraplegia.
mediana ventral, O tratamento local com piretróides sintéticos con-
trola as moscas dos chifres e aj uda a resolução das lesões. EPIDEMIOLOGIA
Como os vermes em geral são inócuos, sua epidemjologia tem
CONTROLE
sido objeto de poucos estudos. A prevalência é mais alta em re-
Com a ubiqüidade dos vetares inse tos, há pouca possibilidade giões mais quentes, onde há atividade sazonal mais longa dos
de controle eficaz, apesar do uso de microfilaricidas reduzir as vetares mosquitos.
quantidades de moscas infectadas. Em qualquer caso, com a na-
tureza relati vamente inócua da infecção, é improvável que haja DIAGNÓSTICO
necessidade de controle.
A infecção com vermes adu ltos é descoberta apenas ac idental-
mente no animal vivo pelo achado de microfilárias em esfrega-
Selaria ços sangüfneos rotineiros. Nos casos de nematodiose cerebroes-
pinhal, a conf1fll1ação do diagnóstico é possível apenas por exa-
me microscópico da med ula espinhal . uma vez que os parasitas
Os membros deste gênero em geral são hab itantes inofensivos
existem apenas corno formas larvais na localização aberrante.
das cavidades peritoneal e pleural.
Hospedeiros: TRATAMENTO
Ruminantes e eq üinos.
Não existe tratamento para paralisia setarial. A ivennectina é
Hospedeiros intermediários: descrita como eficaz contra S. equina adulta.
Mu itas espécies de mosquito.
CONTROLE
Localização:
Geralmente a superfície peritoneal e bvre na cavidade peritoneal; Depende do controle dos vetares mosqui tos, que é improvável
de ser ap licado especificamente para este parasita.
menos comumente a cavidade pleu ral; e após migração elTática
oSNC.
Espécies: Elaeophora
Setaria labiato-papillosa bovinos e rumin antes silvestres
(sin. S. digitara) Estes vermes habitam grandes vasos sangüíneos. mas têm ape-
S. equina eq üinos e asininos. nas importância local.

Distribuição: Hospedeiros:
Mundi al. Ruminantes e eqüinos.

Hospedeiros intermediários:
IDENTIFICAÇÃO Tabanídeos.
Vermes delgados e longos, de até 12 cm de comprimento. A loca-
li zação e o aspecto macroscópico são suficientes para identifi- Espécie Hospedeiros Localização Distribuição
cação genérica.
EJaeophora ovinos, artérias carótida, Sul dos
schneideri caprinos mesentérica Estados Unidos
CICLO EVOLUTIVO e ilíaca

E.bohmi eqüinos veias e artérias Europa (Áustria)


As microfilárias na circulação sangüínea são absorvidas por mos-
quitos, nos quais o desenvolvimento em L:J leva cerca de 12 di as. E. poefi bovinos, intima da aorta África, Ásia
bubalinos
O período pré-patente é de oito a 10 meses.
2 Parasito/agia Veterinária

IDENTIFICAÇÃO [FiJariose no homem: Embora provavelmente constituam o mais


importante grupo de infecções por helmintos no homem, essas
Vermes delgados, de até 12 cm de comprimento. filarioses pouco preocupam o veterinário, uma vez que os ani-
mais domésticos têm pouca significância em sua epidemiologia.
CICLO EVOLUTIVO Seguem-se as espécies mais importantes:
(1) Onchocerca volvulus. A oncocercose humana causada por
Apenas o c iclo evoluti vo de E. schneideri foi estudado e é tipi- O. volvulus ocorre em todo o mundo na zona equatorial,
camente de filarídeos. As microfilárias são ingeridas pelos tabaní- sendo transmitida por espécies de Simuliwn. Os vennes adul-
deos durante a alimentação, e as L3' quando dese nvolvidas, são tos vivem em nódulos subcutâneos, e quase todo o efeito pa-
liberadas na ferida produzida quando o inseto se nutre em segui- togênico é causado pelas microfilárias; são comu ns derma-
da. O desenvolvimento inicial parece ser nas artérias meníngeas, tite e elefantíase, mas o efeito mais importante é a "ceguei-
e os vermes estão maduros e produzindo microfilárias cerca de ra do rio", assim chamada por causa de sua distribuição ao
quatro meses e meio depois da infecção. longo dos habitats de espécies de Simulium Calcula-se que
Os vermes adul tos ficam encravados na íntima arterial de na África haja cerca de 20 milhões de pessoas acometidas
vasos sangüíneos apenas com a parte anterior da fêmea livre na por oncocercose. Os únicos outros animais aos quais é trans-
luz. missível são os primatas superiores, os ch impanzés e os
gorilas. A ivermectina é eficaz na redução das contagens de
PATOGENIA microfilárias da pele em infecções por O. volvulus, e o tra-
tamento repetido ajuda a reduzif'a transmissão. Mostrou-se
Nos bovinos, os nódulos dos quais se projetam os vermes for- também que o tratamento com ivermectina reduz a oncocer-
mam-se na íntima dos vasos. mas em outros animais domésticos cose associada a patologia no olho e na pele.
os adultos parecem provocar pouca reação. Na infecção por E. (2) Brugia spp. são tran sportadas por muitas espécies de mos-
schneideri em ovinos, as microfilárias estão associadas a uma quito e ocorrem na Ásia, notavelmente na Malásia, causan-
dermatite facial que aparece nos meses de verão; nos casos gra- do elefantíase. A espécie mais importante, B. malayi, é in-
ves, pode haver autotraumatismo por esfregadura, com abrasão, fectante para macacos e carnívoros sil vestres, tendo sido
hemorragia e fOffilação de crosta. Supõe-se que os hospedeiros transmitida experimentalmente para cães e gatos. A espécie
naturais de E. schneideri sejam cervídeos, nos quais a infecção é menos importante que ocorre no homem, B. pahangi, tem
assintomática, e que os ovinos possam ser hospedeiros anormais. um reservatório em muitas espécies de animais si lvestres,
se ndo também transmissível aos gatos domésticos.
SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA (3) A Wuchereria bancrofti também é transmitida por mosqui-
tos e causa elefantíase na África, na Ásia e na América do
Apenas a dermatite facial sazonal em ovinos é identificada como Sul. É exclusiva do homem.
indicação clínica de eleoforíase. (4) A Loa toa é transmitida por espécies de Chr)'sops e ocorre na
África Ocidental e Oriental, onde provoca tumefações sub-
cutâneas transitórias conhecidas como "inchaços de Calabar".
EPIDEMIOLOGIA
Restringe-se ao homem, aos sÍffiios e aos macacos.
(5) A Mansonella ozzardi, transportada por espécies de
Em face da natureza inócua da infecção em bovinos e eqüinos.
Culicoides e de Simulium. ocorre no Caribe e na América
não se conhece completamente a distribuição das espécies nes-
Central e do Sul. Vive no tecido adiposo e no mesentério,
ses hospedeiros. A Elaeophora schneideri di stribui-se pelos es-
em geral sendo considerada não-patogênica, embora recen-
tados do .sul e do oeste dos Estados Un idos. Os hospedeiros na-
temente tenha sido associada a sin tomatologia alérgica. A
turais parecem ser cervídeos de espécies Odocoileus, o veado de
prevalência é extremamente alta em regiões endêmicas, onde
cauda branca e o veado híbrido, em cujos animais a infecção é
é comum encontrar parasitas muito semelhantes àM. ozzardi
clinicamente inaparente. Entretanto, no alce americano (Cervus
em macacos e em eqüinos e bovinos. Há, entretanto, relu-
canadensis), a trombose por vermes freqüentemente resulta em
tância em supor que tais animais possam ser hospedeiros re-
necrose do focinho, das orelhas e dos nervos ópticos, com con-
servatórios até ser feita identificação positiva.]
seqüente lesão facial grave, cegueira e morte.

DIAGNÓSTICO SuperfamOia TRICHUROIDEA

O diagnóstico é necessário apenas em ovinos, e, embora o méto- Os membros desta superfamília são encontrados numa ampla
do óbvio seja por exame de biopsia de pele, freqüentemente as variedade de animais domésticos. Uma característica morloló-
microfilárias são escassas nas amostras e o diagnóstico em geral gica comum é o esôfago "de esticosoma", composto de um tubo
é presuntivo, baseado na localização, nas lesões faciais e no apa- capilifonne rodeado por uma única camada de células.
rec imento sazonal da dermatite. Há três gêneros de interesse. O primeiro, Trichuris, é encon-
trado no ceco e no cólon de mamíferos; o segundo, Capillaria,
TRATAMENTO está presente mais comumente no trato digestivo ou respiratório
de mamíferos ou aves. Ambos põem ovos com tampões nos dois
A administração repetida de dietilcarbamazina é eficaz, porém é pólos. Os adultos do terceiro gênero, Trichinella, são encontra-
preciso reconhecer O risco de fatalidade pela presença de vermes dos no intestino delgado de mamíferos e produzem larvas que
mortos nas artérias. imediatamente in vadem os tecidos do mesmo hospedeiro.
Helminrologia Veterinária 83

Trichuris CICLO EVOLUTIVO

Os adultos em geral são enco ntrados no ceco, mas apenas ocasi-


o estágio infectante é a L I no ovo, q ue se desenvolve em um ou
dois meses após sua eliminação nas fezes, dependendo da tem-
onalmente e m quantidades suficientes para ter importância clí- peratura. Em condi ções ideais, podem sobreviver subseqüente-
nica. mente por vários anos.
Após a ingestão, os opérculos são digeridos e as LJ li vres pene-
ESPÉCIES E HOSPEDEIROS tram nas glândulas da mucosa cecal. Em seguida, todas as qua-
tro mudas ocorrem nessas glândulas, os adultos emergindo e fi-
As espécies comuns são: cando na superfície mucosa com a extremidade anterior encra-
vada na mucosa (Fig. 70). O período pré-patente varia de seis a
Trichuris ovis ovinos e caprinos doze semanas, dependendo da espécie.
T. globulosa bovinos
T suis suínos PATOGENIA
T. vulpis cães.
As infecções, em sua maioria, são leves e assintomáticas. Ocasi-
onalmente, quando presentes em grandes quantidades, os vennes
Menos comuns são o T disc%r em bovinos, o T. skrjabini em
causam uma inflamação diftérica da mucosa cecal. Isto resulta
ovinos, caprinos e camelos e o T. serrata nos gatos.
da localização subepitelial e do movimento contínuo da extre-
midade anterior do parasita em busca de sangue e líquido. Nos
Localização:
suínos, supõe-se que as infecções maciças facilitem a invasão de
Intestino grosso, particularmente o ceco.
espiroquetas potencialmente patogênicos.
Distribuição:
Mund ial.
SIGNIFICADO CLíNICO
Apesar do fato dos ruminantes e em menor grau os suínos terem
IDENTIFICAÇÃO alta incidência de infecções leves, o significado clínico deste gê-
nero, 'especialmente em ruminantes, em geral é irrelevante, embo-
Macroscópica: ra haja registros de surtos isolados. A doença esporádica causada
Os adultos têm 4 a 6 cm de comprimento, com extremidade pos- por infecções maciças é mais comum em suínos e cães, estando
terior espessa afilando-se rapidamente numa longa extremidade associada a diarréia aquosa usualmente contendo sangue.
anterior filamentosa, que fica caracteristicament!! em.::ravaua na
mucosa. Por causa do seu aspecto, os membros deste gênero EPIDEMIOLOGIA
costumam ser chamados "vermes chicotes",
o aspecto mais importante é a longev idade dos ovos, que depois
de três ou quatro anos ainda podem so breviver como reservató-
Microscópica:
rio de infecção em pocilgas ou em cani s. No pasto, isto é menos
A cauda do macho é enrolada e possui um único espículo numa
provável, pois os ovos tendem a ser lavados no solo.
bainha; a cauda da fêmea é simplesmente curva. Os ovos carac-
terísti cos têm o fonnato de li mão, com um opérculo conspícuo
em ambas as extremidades; nas fezes, os ovos têm coloração DIAGNÓSTICO
amarela ou castanha (Fig. 69). Como os sinais clínicos não são patognomônicos, o diagnóstico
pode depender do achado da quantidade de ovos de Trichuris nas

Fig. 70 Trichuris ovis no ceco de ovino. A extremidade anterior do verme usual-


Fig. 69 Aspecto tipico do ovo de espécies ':ie Trichuris. mente fica enterrada na mucosa, mas é visível no exemplar apontado pela sela
84 Parasito/agia Veterinária

fe zes. Entretanto, como pode ocorrer si ntomatologia clínica du -


rante o período pré-patente. o diagnóstico em animais de corte
pode depender de necropsia e, em cães, de resposta favorável ao
tratamento anti -heIITÚntico.

TRATAMENTO

Nos ruminantes, os pró-benzimidazóis, os modernos benzi mi da-


zó is, as avermectinas/milbemicinas ou o levamisol injetáveis são
muito eficazes contra Trichuris adultos, porém menos contra
estágios larvais. Nos suínos, estas drogas podem ser usadas, en-
quanto nos cães, alguns dos benzimidazóis e milbemicinas são
as drogas de escolha.

CONTROLE
Fig. 71 Ovos típicos de Capillaria, em forma de barril, dentro do útero de um verm e
Rarame_nte há necessidade de profilaxia, particulannente em ru- fêmea.
minantes, mas no caso de suínos ou cães deve-se prestar atenção
a áreas onde os ovos podem continuar a sobreviver por longos
períodos. Essas áreas devem ser totalmente limpas e desinfetadas O período pré-patente destas três espécies aviári as é de três a
ou esterilizadas por calor úmido ou seco. quatro semanas.
[Tricuríase no homem: O Trichuris trichiura, o parasi ta huma- PATOGENIA E SIGNIFICADO CLíNICO
no, é morfol ogicamente indistinguível do T. suis. Entretanto,
considera-se que estes dois parasitas sejam estritamente hospe- Como ocorre com o Trichuris, a ex tremidade ante rior dos para-
deiro-específicos. ] sitas fica enterrada na mucosa. Isto causa, nas infecções maci-
ças, inflamação diftérica, com inapetência e emaciação e, na in-
fecção in tes tinal, provoca diarréia. A mortalidade nestes casos
Capillaria pode ser alta. Há também evidência de que as infecções leves ou
com menos de 100 vermes podem provocar baixos ganh os de
Estes vermes capilariformes muito finos não são facilmente vi- peso e menor produção de ovos.
síveis a olho nu em conteúdo intestinal não-preparado. Embora
haja muitas espécies em mamíferos e aves, apenas estas últimas EPIDEMIOLOGIA
têm significado veterinário geral.
As aves jovens são mais suscetíveis às infecções por Capillaria, en-
IDENTIFICAÇÃO quanto os adultos podem atuar como transportadores. A C. obsignata
talvez seja a mais importante, pois, havendo ciclo evolutivo direto,
São vermes filamentosos muito finos, com I a 5 cm de compri- t.:'1is infecções ocorrem em recintos fechados em aves mantidas em
mento, com O estreito esôfago de esticosoma ocupando metade camas densas. A epidemiologia das outras duas espécies baseia-se
da extensão do corpo. Os machos possuem um único espículo amplamente na ubiqüidade do hospedeiro intennediário minhoca.
longo e fino e rreqüentemente uma estrutura primitiva semelhante
a bolsa copuladora; as fêmeas contêm ovos que se parecem com DIAGNÓSTICO
os de Trichuris, por apresentar opérculos bipolares, mas que têm
mais formato de barril e são incolores (Fi g. 71). Por causa da natureza inespecífica da sintomatologia clínica e do fato
de, nas infecções maciças, a sintomatologia poder aparecer antes que
Em virtude do grande número de espécies, hospedeiros e lo-
haja ovos de Capil/ada nas fezes, o diagnóstico depende da necrop-
cais de preferência, além do fa to de alguns destes parasitas terem
sia e do exame cuidadoso do esôfago, do papo ou do intestino para
ciclo evoluti vo direto e outros indireto, as espécies importantes em
a presença dos vermes. Isto pode ser feito por exame microscópi-
aves e mamiferos encontram-se resumidas separadamente.
co de raspados da mucosa entre du as lâminas de vidro; alterna-
tivamente, o conteúdo dos órgãos suspeitos deve ser lavado delica-
CAPILLARIA EM AVES damente através de uma peneira de malha fina e o material retido
novamente suspenso em água e examinado contra um fu ndo negro.
A Capillaria obsignata está presente na parte superior do intestino
delgado de gal inhas, perus e pombos e tem ciclo evolutivo direto. TRATAMENTO
A L j infectante desenvolve-se no ovo em cerca de uma semana.
A C. caudinflata também é encontrada no intestino delgado O levamisol na água de beber é altamente eficaz, bem como urna
de galinhas e perus. O ovo desta espécie precisa ser ingerido por série de benzimidazóis admini strados na ração.
uma minhoca, onde eclode, sendo o hospedeiro definitivo infec-
tado por ingestão da minhoca. CONTROLE
A C. confo rta (s in. C. annulata) ocorre no esôfago e no papo
das galinhas. perus, patos e aves silvestres, também sendo essen- Onde as espécies de Capillaria envolvidas têm um ho spedeiro
cial um hospedeiro intermediário minhoca. intermediário minhoca, pode-se obter o controle completo enc1au-
Helmintologia Veterinária 85

surando-se as aves depois do tratamento anti-helmíntico. Por ou- O macho tem cerca de 1 mm de comprimento. O esôfago
tro lado, o controle depende do tratamento anti-helmíntico regu- corresponde a no mínimo um terço do comprimento total do corpo
lar acompanhado, se possível, pela transferência das aves para e a cauda tem duas pequenas asas cloacais, mas nenhum espículo.
solo novo. A fêmea tem 3 mm de comprimento, e o útero contém larvas em
No caso de C. obsignata, são essenciais a limpeza e o trata- desenvolvimento.
mento das superfícies acometidas pelo calor, além da manuten- A infecção por Trichinella é mais facilmente identificada pela
ção de camas novas nos aviários. O tratamento periódico do lote presença de larvas enroladas na musculatura estriada (Fig. 72).
com um anti-helmintico também tem valor.
CICLO EVOLUTIVO
CAPILLARIA EM MAMíFEROS
Os adultos em desenvolvimento ficam entre as vilosidades do
A C. aerophila é encontrada enterrada na mucosa da traquéia, intestino delgado. Depois da fertilização, os machos morrem,
dos brônquios e das vias nasais de raposas e, ocasionalmente, de enquanto as fêmeas penetram mais profundamente nas vilosida-
cães e gatos. O parasita tem ciclo evolutivo direto. Os ovos po- des. Três dias mais tarde, produzem LI, que entram nos vasos
dem sobreviver durante meses, e após a ingestão as larvas pene- linfáticos e, através da circulação sangüínea, seguem para os
tram no intestino e migram para os pulmões através da circulação músculos esqueléticos. Aí, ainda como LI' penetram nas células
sangüínea. O período pré-patente é de cerca de seis semanas. musculares, onde são encapsuladas pelo hospedeiro, crescem e
A sintomatologia clínica é a de rinotraqueíte, neste aspecto adotam urna característica posição enrolada; a célula muscular
sendo semelhante à sintomatologia causada pela infecção por parasitada é conhecida às vezes como "célula protelara". Este
Oslerus ou Crenosoma. processo completa-se em sete semanas, ocasião em que as lar-
A C. plica é comum na bexiga de raposas, cães e, mais rara- vas são infectantes, podendo assim permanecer durante anos.
mente, gatos. Este parasita aparentemente requer um hospedei- O desenvolvimento é retomado quando as larvas são ingeri-
ro intennediário minhoca, mas raramente tem significado pato- das por outro hospedeiro, usualmente como resultado de predação
gênico. ou consumo de cadáver. A L I é liberada e no intestino sofre qua-
A C. hepatica é basicamente um parasita de roedores silves- tro mudas, tornando-se sexualmente madura em dois dias. As
tres, mas ocorre, às vezes, nos cães, nos gatos e no homem. A infecções patentes persistem durante apenas algumas semanas no
10caJização preferencial é o fígado, e os ovos são postos no pa- máximo.
rênquima, de onde não há acesso natural ao exterior. A infecção
é adquirida por ingestão ou do fígado, após predação, canibalis- PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLÍNICA
mo ou consumo de cadáver, ou de ovos no solo que foram libe-
rados por decomposição do hospedeiro. A lesão nos animais A infecção nos animais domésticos é invruiavelmente leve e não
·domésticos e no homem é uma reação granuloma tosa às massas ocorre sintomatologia clínica. Entretanto, quando são ingeridas cen-
de ovos no fígado, seguida por cirrose. As infecções raramente tenas de larvas, como ocasionalmente acontece no homem e pro-
são fatais, e a maioria é descoberta à necropsia de rotina. vavelmente também em animais predadores da selva, a infecção
intestinal costuma estar associada a enterite, e uma a duas semanas
depois a invasão larval maciça dos músculos causa miosite aguda,
Trichinella febre, eosinoftlia e miocardite; no homem, também são comuns ede-
ma e ascite. A menos que tratadas com um anti-helmíntico e dro-
O único membro deste gênero é a Trichinella ~"piralis, um ne- gas antiinflamatórias, tais infecções freqüentemente podem ser fa-
matóide com uma variedade muito ampla de hospedeiros e a tais, mas nas pessoas que sobrevivem a esta fase a sintomatologia
causa de uma importante zoonose mundial. Por apresentar diver- clínica começa a desaparecer depois de duas a três semanas.
sos ciclos evolutivos em diferentes partes do mundo, freqüente- É importante compreender que a triquinelose é basicamente
mente se considera que este parasita existe como uma série de uma infecção de animais da selva e que o envolvimento do ho-
subespécies. mem nestas circunstâncias é acidental.

Hospedeiros:
A maioria dos mamíferos. Do ponto de vista de zoonose, os su-
ínos e o homem são os hospedeiros importantes.

Localização:
Os adultos ocorrem no intestino delgado e suas larvas na mus-
culatura estriada; os músculos diafragmáticos, intercostais e
masseteres são considerados locais de predileção.

Distribuição:
Mundial, com as aparentes exceções da Austrália e Dinamarca.

IDENTIFICAÇÃO

Por causa do seu curto período de vida, os vennes adultos rara-


mente são encontrados nas infecções naturais. Fig. 72 Músculo infectado por larvas de Trichine/la spiralís.

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86 ParasilOlogia Veterinária

EPIDEMIOLOGIA músculo podem ser digeridas em pepsinaIHCI e o sedimento exa-


minado microscopicamente para a presença de larvas.
A epidemiologia da triquinelose depende de dois fatores. Em Para fins de seleção em massa, com o objetivo de determinar a
primeiro lugar, os animais podem infectar-se a partir de uma am- incidência de triquinelose em suínos em regiões, são utilizados testes
pla variedade de fontes, sendo a predação e o canibalismo talvez imunodiagnósticos. Destes, o ELISA parece ser o teste de escolha.
as mais comuns. Outras fontes incluem consumo de cadáveres,
uma vez que as larvas encapsuladas podem sobreviver durante TRATAMENTO
vários meses na carne em decomposição. e ingestão de fezes fres-
cas de animais com uma infecção patente. Supõe-se também que Embora raramente necessário em animais, os vermes adultos e
hospedeiros transportadores como crustáceos e peixes, alimen- as larvas nos músculos são sensíveis aos anti-helmínticos benzi-
tando-se de animais terres tres afogados, possam ser responsáveis mjdazóis.
por infecção em alguns mauúferos aquáticos, como as focas.
O segundo fator é a ampla variedade de hospedeiros do parasi- CONTROLE
ta. Nos roedores de áreas temperadas, o urso pardo, o texugo e o
porco selvagem são mais comumente envolvidos; no ártico, o urso Provavelmente, o fator mai s importante no controle da
polar, o lobo e a raposa; nos trópicos, o leão, O leopardo, o javali . triquinelose seja a exigência legal de que a lavagem ou os restos
a hiena e o chacal. de alimentos human os destinados ao consumo por suínos sejam
Nesses ciclos silvestres, o homem e os an imais domésticos cozidos. Na verdade, esta prática é obrigatória em muitos países
são envolvidos apenas ocasionalmente. Por exemplo, o consu- para limitar a potencial disseminação de outras doenças como a
'mo de carne de urso polar pode causar infecção em esquimós e febre aftosa e a febre suína.
cães de trenó, enquanto na Europa a caça e a subseqüente inges- Outras medidas essenciais incluem:
tão de porcos selvagens também podem produzir doença no ho- -
mem e em seus animais de estimação . . (I) Inspeção da carne, que desempenha um papel fundamen-
O ciclo doméstico no homem e nos suínos é uma zoonose tai no controle da detecção de carcaças infectadas.
"artificial", criada em grande parte por suínos que se alimentam (2) Medidas para eliminar ratos de instalações de suínos e
de restos de alimentos contendo a carne de suínos infectados; mais ,qbatedouros.
recentemente, a mordedura da cauda em suínos também demons- (3) Regulamentos para garantir a destruição de larvas na
trou ser um modo de transmissão. Os ratos em pocilgas também carne de porco por cozimento ou congelamento. Nos Esta-
mantêm um ciclo secundário que pode, às vezes, passar para dos Unidos, por exemplo, toda carne de porco ou .seus sub-
suínos ou vice-versa pela ingestão de carne ou fezes infectadas. produtos, exceto a carne fresca, devem ser tratados por aque-
A infecção no homem é adquirida pela ingestão de carne de por- cimento ou congelamento antes da comercialização. e é pro-
co crua ou mal cozida ou de seus subprodutos, como Iingüiças e vável também que a irrad iação logo possa ser introduzida
salames. É importante também compreender que a defumação, co mo outro método de controle.
a dessecação ou a cura da carne de porco não destroem necessa- (4) Educação do consumidor e particularmente o conhecimen-
riamente as larvas nos produtos suínos. to de que a carne de porco ou os produtos suínos ou a carne
Em regiões como a Polônia, a Alemanha e os Estados Uni- de caças carnívoras devem ser totalmente cozidos antes do
dos, a triquinelose humana adquirida através da carne de porco consumo.
era considerada, até recentemente, uma zoonose importante. Nas
últimas décadas, a proibição do fornecimento de restos de ali-
mentos não-cozidos a suínos, a melhor inspeção da carne e o Superfamilia DIOCTOPHYMATOIDEA
conhecimento público diminuíram muito a importância do pro-
blema. Na Grã-Bretanha, foram registrados apenas oito surtos no Dioctophyma
homem nos últimos 40 anos, o último em 1953. Em outras regi-
ões da Europa e nos Estados Unidos, 0 $ número s de surtos são A única espécie de interesse veterinário nesta superfamília é o
igualmente poucos e esporádicos. "verme do rim", Dioctophyma rena/e.
A prevalência decrescente também se reflete no fato da in-
fecção inaparente no homem, conforme demonstrado pela pre- Hospedeiros:
sença de larvas de T. spiralis em amostras de músculos à necrop- Cães, raposas e martas.
sia, ter caído de 10% para menos de I % na Grã-Bretanha e de
20% para menos de 5% nos Estados Unidos durante os últimos Hospedeiro intermediário:
50 anos. O anelídeo aquático, Lumbriculus variegatus.

DIAGNÓSTICO Localização:
Parênquima renal.
Não é relevante em animais domésticos vivos. À inspeção da car-
ne, ocasionalmente podem ser vistas, a olho nu, infecções larvais Espécie:
maciças, como minúsculas manchas brancas acinzentadas. Para fins Dioclophyma rena/e .
de rotina, pequenas amostras de músculos de suínos de aproxima-
damente um grama são comprimidas entre lâminas de vidro - DISTRIBUIÇÃO
mecanismo denominado triquinoscópio ou compressor - e exa-
minadas para a presença de larvas por exame microscópico direto Áreas temperadas e subárticas. Ocorre esporadi camente na Eu-
ou projeção numa tela. Alternativamente, pequenas porções de ropa, mas não foi registrada na Grã-Bretanha. Sua principal área
Helmintologia Veterinária 87

endêmica é a região norte da América do Norte, principalmente


o Canadá.
Filo ACANTHOCEPHALA
Este é um filo separado, intimamente relacionado ao Nematoda,
IDENTIFICAÇÃO que contém alguns gêneros de importância veterinária. São de-
signados, geralmente, "vennes de cabeça espinhosa", por causa
o Dioclophyma é o maior nematóide parasita de animais domés- da presença na parte anterior do corpo de uma probóscida co-
ticos, a fêmea tendo mais de 60 cm de comprimento com diâme- berta de ganchos, e a maioria parasita o trato digesti vo de verte-
tro de I cm. Seu tamanho e a localização preferencial são sufici- brados. A probóscida oca guarnecida de ganchos, que ajudam a
entes para a identificação. fixação, é retrátil e fica numa bolsa. Não existe canal digestivo,
e a absorção tem lugar através da espessa cutícula, que freqüen-
CICLO EVOLUTIVO temente é pregueada e in vaginada para aumentar a s uperfície
absorvente. Os sexos são separados, os machos sendo muito
Os vermes são ovíparos. Os ovos, no estágio de cél ula única, são menores que as fêmeas. Na região posteri or do corpo, o macho
elillÚnados na urina em grumos ou cadeias e ingeridos pelo hos- possui uma bolsa copuladora muscular e pênis, e de pois da có-
pedeiro intermediário anelídeo no qual ocorrem as duas mudas pula os ovos, lançados pelos ovários na cavidade corpórea da
pré-parasitárias. O hospedeiro definitivo infecta-se deglutindo o fêmea, são fertilizados e captados por uma complexa estrutura
anelídeo com a água de beber ou por ingestão de um hospedeiro denominada campânula uterina, que permite saída apenas dos
paratênico, como rã ou peixe, que tenha ingerido o anelídeo in- ovos maduros. Esses ovos são fusifonnes, têm casca espessa e
fectado. O período pré-patente não é conhecido com exatidão, contêm uma larva que apresenta um anel anterior de ganchos e
mas observou-se ser tão longo quanto dois anos. espinhos na sua superfície e é denominada acantOT. O ciclo evo-
luti vo é indireto, envolvendo um hospedeiro intermediário artró-
PATOGENIA pode aquático ou terrestre. À ingestão pelo hospedeiro interme-
diário, o ovo eclode e o acantor migra para a hemocele do artró-
o efeito final da infecção é a destruição do rim. Em geral, ape- pode, onde se desenvolve, tornando-se um cistacanto após um
nas um dos rin s é acometido, o direito sendo envolvido mais fre- a três meses. O hospedeiro definiti vo infecta-se por ingestão do
qüentemente que o esquerdo. O parênquima é destruído, deixando hospedeiro intermediário artrópode, e o cistacanto, que na rea-
apenas a cápsula como uma bolsa contendo os ovos; embora lidade é um adulto jovem, fixa- se ao canal digestivo e atinge
possa haver três ou quatro vennes num rim, às vezes há apenas a maturidade. O período pré-patente varia de cinco a doze sema-
um. Raramente, os vermes podem ocon'er na cavidade abdollÚ- nas.
nal e no tecido conjuntivo subcutâneo. Embora haja uma série de gêneros parasitas de uma ampl a
variedade de mamíferos e aves, o principal gênero de importân-
SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA cia veterinária é o Macracanthorhynchus. Alguns outros gêne-
ros são importantes como parasitas de aves aquáticas.
Os principais sinais são disúria com alguma hematúria, especi-
almente ao final da micção; em algun s casos, há dor lombar. A
maioria dos casos, entretanto, é completamente assintomática, Macraca/ullOrhy/lcl1us
mesmo quando um dos rins está completamente destruído.
Hospedeiros:
EPIDEMIOLOGIA Suín os.

Como em muitas das infecções parasitárias dos carnívoros do- Hospedeiros intermediários:
mésticos, há um grande reservatório em animais silvestres a partir Vários besouros coprófagos.
dos quais se infectam os hospedeiros intennediários e paratênicos.
As martas de viveiros provavelmente adquirem infecção através Espécie:
da carne com que se alimentam e os cães domésticos por inges- Macracanthorhynchus hirudinaceus.
tão casual de anelídeos, rãs ou peixes infectados.
Distribuição:
DIAGNÓSTICO Mundial, mas ausente em determinadas áreas, como partes da
Europa ocidental.
Os ovos, bem característicos, são ovó ides e castanhos, com a
casca escavada, e a sua ocorrê ncia na urina, isoladamente ou em IDENTIFICAÇÃO
grumos ou cadeias, é di agnóstica.
Macroscópica:
TRATAMENTO Os adultos são parecidos comA. suum, mas afilam-se posterior-
mente. Os machos têm até 10 cm e as fêmeas até 65 cm de com-
Raramente é necessário, embora se possa tentar cirurgia em ca- primento. Quando colocados na ág ua, a probóscida espinhosa
sos confirmados. projeta-se, diferenciando-se ainda mais de Ascaris (Fig. 73).

CONTROLE Microscópica:
O ovo é oval, li O I-'m por 65 I-'m, com casca castanha espessa e
Eliminação de peixe cru da dieta. contém a larva acantor quando posto.
L

88 Parasit%gia Veterinária

Acantocéfalos de aves aquáticas

Há dois gêneros que podem causar enterite em aves aquáticas, a


saber, Polymorphus e Filicotlis. Os hospedeiros intennediários
em ambos os casos são crustáceos e em todos os outros aspectos
são lípicos do grupo.

Filo PLATYHELMINTHES
Este filo contém as duas classes de vermes achatados parasitas,
a Trematoda e a Cestoda.

Classe TREMATODA
A classe Trematoda divide-se em duas subclasses princi pais, a
Monogenea, que tem ciclo evolutivo difeto, e a Digenea, que
requer um hospedeiro intermediário. Os vennes da primeira são
encontrados principalmente como parasitas extemós de peixes,
enquanto os da última são encontrados exclusivamente em ver-
tebrados e têm considerável importância veterinária.
Os trematóides digenéticos adu ltos, comumente denomina-
Fig. 73 Extremidade anterior de Macracanthorhynchus hirudinaceus mostrando a dos "vermes em fo lha", ocorrem principalmente nos duetos
probóscida espinhosa saliente. biliares, no trato digestivo e no sistema vascular. Os trematói-
des, em sua maioria, são achatados dorsoventralmente, possu-
em trato digestivo cego, ventosas para fixação e são hermafro-
ditas. Dependendo da localização predileta, os ovos deixam O
CICLO EVOLUTIVO hospedeiro definitivo, em geral nas fezes ou na urina, e os está-
gios larvais desenvolvem-se num hospedeiro intermediário mo-
Os adultos, fixos à mucosa do intestino delgado, põem ovos que lusco. Para algumas espécies, há um seg undo hospedeiro intenne-
são eliminados nas fezes. Esses ovos são produzidos em grandes diário envolvido, mas o molusco é essencial para todos os mem-
quantidades, são muito resistentes a climas extremos e podem bros do grupo.
sobreviver durante anos no meio ambiente . Após a ingestão por Há muitas famílias na classe Trematoda, e as que incluem pa-
larvas de besouros coprófagos, o acantor desenvolve-se até o es- rasitas de grande importância veteri nária são Fasciolidae,
tágio infectante de cistacanto em aproximadamente três meses. A Dicrocoeliidae, Paramphistomatidae e Schistosomatidae. De
infecção de suínos ocorre após a ingestão de besouros adu ltos e menor importância são a Troglotrematidae e a Opisthorchiidae.
larvas, o peIÍodo pré-patente sendo de dois a três meses. O grupo mais importante é sem dúvida alguma o Fasciolidae, e a
discussão a seguir sobre estrutura, função e cicio evolutivo é am-
SIGNIFICADO PATOGÊNICO plamente dirigida a esle grupo.

M. hirudinaceus produz inflamação e pode provocar formação


de granul oma no local de fixação na parede do intestino delga- ~ Subclasse DIGENEA
do. As infecções maciças podem provocar perda de peso, e rara-
mente a penetTação da parede intestinal resulta numa peritonite ESTRUTURA E FUNÇÃO DE
falaI. TREMA TÓ/DES D/GENÉTICOS

DIAGNÓSTICO O adulto possui duas ventosas para fixação. A ventosa oral na


extrerrtidade anterior circunda a boca, e a ventral, como indica o
nome, fica nesta superfície. A superfície corpórea é um tegumento
Baseia-se no achado de ovos típicos nas fezes.
absorvente e freqüentemente coberto de espinhos. Os músculos
situam-se imediatamente abaixo do tegumento. Não existe cavi-
TRATAMENTO E CONTROLE dadecorpórea, e os órgãos agrupam-se num parênquima (Fig. 74).
O sistema diges tivo é si mples, com a abertura oral desembo-
Deve-se evitar o acesso dos suínos aos hospedeiros intermediá- cando na faringe, no esôfago e num par de cecos intestinais rami-
rios. ficados, que 'terminam cegamente. As substâncias não digeridas
Nos modernos sistemas de criação, isto pode ser facilmente provavelmente são regurgitadas. O sistema excretor é constituído
conseguido, mas onde os suínos são mantidos em pocilgas pe- de uma grande quantidade de células ativas ciliadas, que impulsi-
quenas as fezes devem ser removidas regularmente para reduzir onam os produtos metabólicos inúteis ao longo de um sistema de
a prevalência dos hospedeiros intermediários, os besouros túbulos, que acabam por se unir e se abrem para o exterior. O sis-
coprófagos . Embora haja poucas informações sobre o tratamen- tema nervoso é simples, consistindo num par de troncos longitu-
to, o levamisol e a ivennectina são descritos como eficazes. dinais que se unem anterionnente com dois gânglios.
Heimintologia Veterinária 89

Tais células desenvolvem-se em rédias que migram para o


l
hepatopâncreas do caramujo; as rédias também são formas lar-
vais que possuem uma ventosa oral, algumas células ativas e um
intestino simples. Das células germinativas das rédias surgem os
estágios finais, as cercárias, embora se as condições ambientais
forem inadequadas para o caramujo, ao invés disso, freqüente-
mente é produzida uma segunda geração de rédias ou de rédias-
filhas. As cercárias, em essência trematóides jovens com caudas
longas, emergem ativamente do caramujo, em geral em quanti-
dades consideráveis. O verdadeiro estímulo para a emergência
depende da espécie. porém é mais comumente uma alteração na
temperatura ou na intensidade da luz. Uma vez infectado um
caramujo, continuam a ser produzidas cercárias indefinidamen-
te, apesar da maioria dos caramujos infectados morrer prematu-
ramente por intensa destruição do hepatopâncreas.
Fig. 74 A estrutura de Fasciofa hepatica.
Tipicamente, as cercárias nadam por algum tempo, utilizan-
do até mesmo uma película de água e, dentro de uma hora apro-
ximadamente, fixam-se à vegetação, perdem a cauda e se
encistam. Este estágio é denominado metacercária.
Os trematóides usualmente são hennafroditas, podendo ocar- As metacercárias encistadas têm grande potencial de sobre-
rer tanto fertilização cruzada como autofertilização. O sistema vivência que se estende por meses. Uma vez ingerida, a parede
reprodutor masculino é constituído de um par de testículos, cada externa do cisto é removida mecanicamente durante a mastiga-
um deles em comunicação com um canal deferente; esses canais ção. A ruptura do cisto interno ocorre no intestino e depende de
unem-se e entram numa bolsa do cirro contendo uma vesícul a um mecanismo de eclosão, de origem enzimática, desencadea-
seminal e o cirro, um pênis primitivo que termina na abeltura ge- do por um potencial adequado de oxidação-redução e por um
nital comum. O sistema feminino possui um único ovário comu- sistema de CO 2 proporcionado pelo ambiente intestinal. O
nicando-se com um oviduto, que se dilata distalmente e forina o trematóide juvenil emergente penetra, então, no intestino e mi-
ootipo. Aí, o ovo adquire um vitelo pela secreção das glândulas gra para o local predileto, onde se torna adulto depois de várias
vitelinas e finalmente uma casca. Confonne o ovo passa ao longo semanas.
do útero, a casca torna-se endurecida e resistente, projetando-se
finalmente pela abertura genital adjacente à ventosa ventral. O ovo
maduro em geral é amarelo, por causa da casca protéica espessa- Familia FASCIOLIDAE
da, e a maioria das espécies possui um opérculo.
O alimento, geralmente sangue ou fragmentos tissulares, é São trematóides grandes em forma de folha. A extremidade an-
ingerido e levado aos cecos, onde é digerido e absorvido. O ,meta- terior usualmente se prolonga no formato de um cone, e a vento-
bolismo parece ser principalmente anaeróbio. sa anterior situa-se na extremidade desse cone. A ventosa ven-
tral localiza-se no nível do terço anterior do trematóide. Os ór-
CICLO EVOLUTIVO DE TREMA TÓIDES gãos internos são ramificados, enquanto a cutícula é coberta de
DIGENÉTICOS espinhos. Há três gêneros importantes: Fasciola, Fascioloides e
Fasciolopsis.
o ponto essencial do ciclo evolutivo é que, enquanto um ovo de
nematóide pode desenvolver-se apenas em um adulto, um ovo de
trematóide pode desenvolver-se em centenas de adultos. Isto se Faseiola
deve ao fenômeno de pedogênese no hospedeiro intermediário
molusco, isto é, a produção de novos indivíduos por uma única Os membros deste gênero são c-omumente conhecidos como tre-
forma larval. matóides hepáticos. São responsáveis por morbidade disseminada
Os trematóides adultos são sempre ovíparos e põem ovos com e mortalidade em ovinos e bovinos caracterizadas por perda de
um opérculo ou uma tampa num pólo. No ovo, o embrião desen- peso, anemia e hipoproteinemia. As duas espécies mais impor-
volve-se numa larva piriforrne ciliada denominada miracídio. Sob tantes são a F. hepatica, encontrada em áreas temperadas e em
o estímulo da luz, o rniracídio libera uma enzima que digere o áreas mais frias de grande altitude nos trópicos e subtrópicos, e
cemento protéico, que mantém o opérculo 00 lugar. O opérculo a F gigantica, que predomina nas áreas tropicais.
abre-se como uma tampa articulada e o miracídio emerge em pou-
cos minutos.
O miracídio, impulsionado através da água pelos cílios, não Fasciola hepatica
se alimenta e, para seu desenvolvimento posterior, deve encon-
trar um caramujo adequado em poucas horas. Supõe-se que res- Hospedeiros:
postas quimiotáticas o direciooem para encontrar o molusco e, A maioria dos mamiferos; os ovinos e os bovinos são os mais im-
ao cantata, ele adere por sucção ao caramujo e penetra em seus portantes.
tecidos moles com o auxílio de uma enzima citolítica. Todo o
processo de penetração leva cerca de 30 minutos, depois do que Hospedeiros intermediários:
os cílios caem e o miracídio se desenvolve em um saco alonga- Caramujos do gênero Lymnaea. O mais comum, L. truncatula, é
do, o esporocisto, contendo uma série de células germinativas. um caramujo anfíbio com ampla distribuição em todo o mundo.
90 ParasilOlogia Veterinária

Outros vetores Lymnaea importantes de F. hepatica fora da Eu-


ropa são:

L. IOmentosa Austrália, Nova Zelândia


L. columelia Améri ca do Norte, A ustrália, Nova Zelândia
L. bulimoides Sul dos Estados Unidos e Caribe
L. humilis América do Norte
L. viator América do Sul
L. diaphena América do Sul.

Localização:
Os adultos são encontrados nos ductos biliares e os trematóides ima-
turos no parênquima hepático. Ocasionalmente, tremat6ides aberran-
tes tomam-se t!m;apsulados em outros órgãos, como os pulmões.

Distribuição:
Mundial.

IDENTIFICAÇÃO
Macroscópica:
O trematóide jove m, por ocasião da entrada no fígado, tem I a 2
mm de comprimento e o formato de lanceta. Quando se tom a to-
talmente maduro nos duetos biliares, adquire o formato de folha,
coloração castanho-aci nzentada e cerca de 3,5 cm de comprimen-
to e 1 cm de largura. A extremidade anterior é cônica e morfologi-
camente característica com dilatação nesta região (Fig. 75).
Fig. 76 Ovo de Fasciola hepatíca (150 fLm x 90 fLm).
Microscópica:
O tegumen to é cobel10 de espinhos projetados para trás. Pode-
se observar facilmente uma ventosa oral e ventral. O ovo é oval,
nove di as em temperaturas ideais de 22 a 26°C, ocorrendo pou-
operculado, amarelo e grande ( 150 ILm X 90 ILm) e cerca de duas
co desenvolvimento abaixo de 10°C.
vezes o tamanho de um ovo de tricostrongilídeo (Fig. 76).
O miracídio liberado (Fig. 78) tem um período de vida curto e
deve.localizar um caramujo adequado dentro de !rés horas para que
CICLO EVOLUTIVO (Fig. 77) ocorra penetração bem-sucedida neste último. Nos caramujos in-
fectados, o desenvolvimento prossegue através do esporocisto e de
Os ovos eliminados nas fezes do hospedeiro mamífero desenvol- estágios de rédias até o estágio final no hospedeiro intermediário, a
vem-se e eclodem, liberando miracídios cHiados móveis. Isto leva cercária; estas deixam o caramujo como formas móveis que se fi-
xam a superfícies finnes, como folhas de capim, e aí se encistam
formando as metacercárias infectantes (Fig. 78). Um rrúnimo de seis
a se te semanas é necessário para que o desenvolvimento de
miracídio em metacercária se complete, embora em 'c ondições des-
favoráveis seja necessário um período de vários meses. A infecção
de um caramujo por um miracídio pode produ zir mais de 600
metacercárias.
As metacercárias in geridas pelo ho sped e iro definitivo
desencistam-se no intestino delgado, migram através da parede
intestinal, cruzam O peritônio e penetram na cápsula hepática. Os
tremat6ides jovens fazem túneis através do parênquimaduranle seis
a oito semanas e em seguida entram nos pequenos ductos biliares
onde migram para os duetos maiores e ocasionalmente para a vesí-
cula biliar (Fig. 78). O período pré-patente é de 10 a 12 semauas.
O período mínimo para que um ciclo evolutivo inteiro de F.
hepatica se compl ete é, portanto, de 17 a 18 semanas.
A longev idade da F. hepalica em ovinos não tratados pode
sef de anos; em bovinos, geralmente é inferi or a um ano.

ECOLOGIA DE ESPÉCIES DE L YMNAEA EM


CLIMAS TEMPERADOS

Fig. 75 Fasciola hepatica adulta mostrando formato característico de folha e extre- Por ser a espécie mais dissenti nada e importante envolvida na trans-
midade anterior cônica. missão de F. hepatica, a L. truncatula é discutida em detalhes.
i

Helmintologia Veterinária 91

Cercária
eliminada
pelo
caramujo Ovo
contendo
miracídio

Rédia

~iraCidio
penetrando no
caramujo
Esporocisto

Fig. 77 O ciclo evolutivo de Fascio/a hepatica.

A L. truncatula é um caramujo pequeno, tendo os adultos cerca manentes incluem as margens de valas ou córregos e as mar-
de I cm de comprimento (Fig. 79). A casca em geral é castanho- gens de pequenas lagoas. Após chuvas pesadas ou inundações,
escura e tem o aspecto de pequena torre, enrolando-se numa sé- os habitats temporários podem ser constituídos por marcas de
rie de espirais. Quando mantida com a pequena torre na vertical casco, sulcos de rodas ou poças de água. Os campos com
e a abertura voltada para o observador, esta tem aproximadamente touceiras freqüentemente são locais suspeitos. Embora um
metade do comprimento do caramujo e fica do lado direito, ha- ambiente com pH levemente ácido seja ideal para L.
vendo quatro voltas e meia. Os caramujos são anfíbios e, embo- truncalula, os níveis de pH excessivamente ácidos são preju-
ra passem horas em água rasa, periodicamente emergem na lama diciais, como ocorre em pântanos de turfas e áreas de musgo.
adjacente. São capazes de suportar a seca do verão ou o conge- (2) Temperatura: Para que os caramujos se reproduzam e para
lamento do inverno por vários meses, estivando ou hibernando o desenvolvimento de F. heparica no seu interior, é neces-
na lama profunda, respectivamente. sária uma temperatura diurna/noturna média de 10°C ou
As condições ideais incluem um ambiente com pH levemen- mais, e toda a ativ idade cessa a soe.Esta é também a faixa
te ácido e um me i o hídrico de movimento lento para o mínima para de senvolvimento e eclosão de ovos de F.
carreamento de produtos residuais. Nutrem-se principalmente de hepatica. Entretanto, somente quando as temperaturas so-
algas, e a faixa ideal de temperatura para o desenvolvimento é bem para ] 5°e e se mantêm acima deste nível é que ocorre
de 15 a 22°C; abaixo de 5°C, cessa o desenvolvimento. Na Grã- significativa muhiplicação de caramujos e estágios larvais
Bretanha, os caramujos reproduzem-se continuamente de maio do trematóide.
a outubro, e um caramujo é capaz de produzir até 100.000 des- (3) Umidade: As condições ideais de wnidade para a reprodução
cendentes durante três meses. de caramujos e o desenvolvimento de F. hepatica nesses hos-
pedeiros se estabelecem quando as chuvas excedem a transpi-
EPIDEMIOLOGIA ração e se atinge a saturação do meio ambiente. Tais condi-
ções também são essenciai s para o desenvolv imento de ovos
Há três fatores principais que influenciam a produção das grandes do trematóide, para que os miracídios busquem os caramujos
quantidades de metacercárias necessárias para SUItos de fasciolose: e para a di spersão de cercárias que deixam os caramujos.
( I) Disponibilidade de habitats adequados de caramujos: a L. Nas regiões temperadas, como a Orã-Bretanha, estes fatores
truncatula prefere lama úmida à água livre, e os habitats per- usualmente existem apenas de maio a outubro. É possível, por-
92 Parasitologia Veterinári~

(a)

(e)

(d)

(b)

Fig. 78 Estágios no ciclo evolutivo de Fasciola hepatica. (a) Miracidio; (b) Rédias maduras contendo cercárias; (c) Cercária; (d) Metacercária encistada; (e) Trematóide
jovem migratório no parênquima hepático; (f) Trematóide no dueto biliar.
Helmimologia Veterinária 93
,

lei It)
Fig. 78 (continuação)

ranto, um aumento acentuado nas quantidades de metacercárias temporariamente durante o período de hibernação de inverno do
no pasto durante doi s períodos. Primeiramente, pelo que se co- caramujo hospedeiro.
nhece como a infecção de verão de caramujos. em que apare- Tanto os ovos como as metacercárias de F. hepatica podem so-
cem metacercáriasJlo pas to de agosto a outubro (Fig. 80). Tais breviver durante o inverno e desempenham papéis importantes na
infecções de caramuj os originam-se de miracídios que eclodiram epidemiologia. Os ovos, eclodindo em miracídios no final da pri-
de ovos excretados nâ pri mavera/início do verão por an imais mavera, podem infectar os caramujos. As metacercárias, infectando
infectados ou de ovos que sobreviveram ao in verno num es tado os animais no início da pri mavera, resultam na viabilidade dos ovos
não-desenvolvido. O desenvolvimento no caramujo ocorre du- em meados do verão, no período ideal de reprodução do caramu-
rante o verão, e as cercárias são eliminadas de agosto a outubro. jo. Entretanto, a sobrevivência de metacercárias é baixa em con-
Em segundo lugar, pe la infecção de inverno de caramujos, em dições de altas temperaturas e de seca, e elas perdem rapidamente
que aparecem metacercárias no pasto em maio a junho (Fig. 8 1). a infectividade durante certos processos como a produção de sila-
Essas cercárias originam-se de caramujos que foram infectados gens, embora possam sobreviver por vários meses no feno.
no outono anterior e nos quais o desenvolvimento larval cessou

Chuvas
~"'%."""'%.""""",'%.,,'%.~""''%.'%.'''''''''''''~'%.''%.'''%.~
Temperatura superior
a 10°C
Metacercárias

\'----. Cercá rias e.liminadas


. H.
Metacercánas
que so.breviveram. _
"é - por caramuJos
_
ao Inverno ; ' ......

Fig. 80 Na infecção de verão de caramujos, aparecem metacercárias no pasto de


Fig. 79 Lymnaea truncatula adulta; observar metacercárias encistadas na superfí- agosto a outubro; as metacercárias que sobreviveram ao inverno terão morrido em
cie da casca. meados de verão.
94 Parasito/agia Veterinária

Temperatura superior a 1QOC Temperatura superior a 1QoC A situação difere com L. tomentosa que, apesar de classifica-
Chuvas Chuvas da co mo caramuj o anfíbio, está bem adaptada à vida aquática em
;:..."""~~~~""""'~ r"~~~~"~""~~~~' áreas pantanosas ou canais de irrigação, e a temperatura, portan-
Inverno
to, é o fator mais importante no con trole biológico. Assim, na
(temperatura i maior parte da Austrália oriental, L. tomentosa continua a pro-
inferior a 1QOC) ! duzir. massas de ovos durante todo o ano, embora a taxa de re-
jCercárias
jeliminadas
produção seja controlada pela temperatura e seja mínima duran-

H.
Caramujos infectados
i

II Ausência de
i por cara-
lmujos
<' Metacercárias
1
te o inverno. As temperaturas mais baixas de inverno também
retardam a eclosão de ovos de trematóides e o desenvolvimento
larval no caramujo, de tal modo que grandes quantidades de
por ovos de portadores
maturação I : metacercárias aparecem pela primeira vez no final da primave-
\~ ! ou eliminação i ra. Durante o verão e o outono, há uma segunda onda de produ-
;... de ;
Esporocistos e! metacercárias i
ção de metacercárias derivadas de novas gerações de caramujos.
!
rédias em caramujos !:.':':_~~~!_~.~}_~_~_ " , i' -_ _ _ __
Há alguma evidência de que a prevalência de fasciolose nos
verão outono primavera verão
países quentes é mais alta após vários meses de seca, provavelmente
porque os animais se agrupam ao redor de áreas de reservas de água,
Fig. 81 Na infecção de inverno de caramujos, aparecem metacercárias no pasto aumentando portanto as chances dos caramujos se infectarem.
de maio a junho; originam-se oe caramujos que hibernaram durante o inverno.

PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLíNICA


Na maioria das regi ões européias, a infecção de verão de Variam de acordo com a fase de desenvolvimento parasitário no
cru-amuj os é a mais importante e ocorre anualmente aumento nas fígado e a espécie de hospedeiro envolvida. Essencialmente, a
quantidades de metacercárias de agosto a outubro. A intensida- patogenia é dupla; a primeira fase ocorre durante a migração no
de desse aumento é mais alta nos anos em que as chuvas de ve- parênquima hepático e está associada a lesão hepática e hemorra-
rão são pesadas. A infecção de inverno de caramuj os é muito gia. A segunda ocorre quando o parasita se encontra nos ductos
menos importante, mas ocasionalmente dá origem a grandes biliares e resulta da atividade hematófaga dos trematóides adultos
quantidades de metacercárias no final da primavera e início do e de lesão na mucosa biliar_por seus espinhos cuticulares.
verão, particularmente quando os meses precedentes foram ines- A maior parte dos estudos foi feita em ovinos, e a doença neste
peradamente úmidos. hospedeiro é discutida com detalhes. A sazonalidade dos surtos
Os anticorpos circulantes para F. hepatica são facilmente é a que ocorre na Europa Ocidental.
detectáveis em ovinos, mas não há evidência de que em condi-
ções de campo os ovinos realmente se tornem imunes à reinfec-
ção por F. hepatica, e na ausência de tratamento os trematóides FASCIOLOSE OVINA
vivem tanto quanto os ovinos. Os graves surtos de fasciolose
ovina com freqüência envolvem ovinos adultos já expostos pre- A fasciolose pode ser aguda, subaguda ou crônica.
viamente à infecção. Por outro lado, embora ocorram su rtos em A doença aguda ocorre duas a seis semanas após a ingestão
bovinos jovens, o mai s comum é o desenvol vimento gradati vo de grandes quantidades de metacercárias, em geral acima de
de imunidade adquirida; isto limita o período de vida da infec- 2.000, e se deve à grave hemorragiatesultante da ruptura de vasos
ção primária, retarda a migração de infecção sec undária e fi- sangüíneos pelosJovens treriíãIõides migrando no parênquima
nalmente redu z as quantidades de tremat6ides estabelecidos. hepático. A lesão do parênquima hepático também é grave.
Portanto, nas regiões endêmicas, os bovinos adultos quase sem- À necropsia, o fígado encontra-se dilatado, hemorrágico e
pre se apresentam não-acometidos clinicamente, enquanto nos dividido em forma de favoi pelos trajetos de trematóides migrrul-
ov inos ad ultos podem estar ocorre ndo graves perdas por tes (Prancha V). A superfície, particularmente sobre o lobo ven-
fasciolose. tral, quase sempre está coberta por um exsudato fibrinoso. São
Final mente, é preciso lembrar que a F. hepatica pode infec- comuns hemorragias subcapsulares (Prancha V) que podem rom-
tar uma amp la variedade de mamíferos, incluindo eqüinos, per-se, de modo que é freqüente a presença de uma quantidade
asininos, cervídeos, suínos e coelhos, e é possível que às vezes de líquido sangüinolento na cavidade abdominal.
estes hospedeiros possam atuar como reservatórios de infecção. Os surtos de fasciolose aguda e m geral se manifestam como
O homem também pode infectar-se, especialmente pelo consu- mortes súbitas durante o outono e início do inverno. Ao exame do
mo de agrião de canteiros não-cercados. restante do rebanho, pode-se verificar que aJguns ovinos estão fra-
A maioria dos comentários citados anteriormente sobre a eco- cos, com mucosas pálidas" dispnéicos e em ª lguns casos têm o
logia da L. truncatula também se aplica às outras espécies an fí- fígado dilatado.e palpável associado a dor abdominal e ascite.
bias de Lymnaea que transmitem o parasita. A diferenciação entre Às vezes, esses surtos são complicados por infecções simul-
espécies de Lymnaea é tarefa de especialistas e usualmente se tâneas por Clostridium novyi. resultando em "doe nça negra",
baseia nas características morfológicas, embora hoje em dia tam- embora atualmente isto seja menos comum graças à vac inação
bém sejam aplicados métodos bioquímicos e imunológicos. disseITÚnada contra clostridioses.
Em áreas mais quentes, como o sul dos Estados Unidos ou a Na doença subaguda, são ingeridas metacercárias por um pe-
Austrália, a seqüência de eventos tem uma sazonalidade diferente, ríodo mais longo, e enquanto algumas já atingiram os dUClOS bi-
mas os princípios epidemiológicos são os mesmos. Por exem- liares, onde causam colangite. outras ainda estão migrando e pro-
plo. tanto no Texas como na Louisiana, a atividade dos caramujos vocando lesões menos graves mas semelhantes às da doença agu-
é máxima durante os meses mais frios de outono, com números da; assim, o fígado está dilatado com numerosos trajetos necróti-
mais altos de metacercárias aparecendo no inverno. cos ou hemorrágicos visíveis na superfície e no parênquima. Em

7
HelminlOlogia Veterinária 95

geral, são evidentes hemorragias subcapsulares. mas a sua ruptu- parasitas encapsulados nos pulmões. Na reinfecção de vacas
ra é rara. adultas, há registro de migração para o feto resultando em@~
Esta forma da doença, que ocorre seis a 10 semanas após a in- (ção pré-natãJ'. Há alguma evidência experimental de que a
gestão de aproximadamente 500 a 1.500 metacercárias, aparece fasciolose aumenta a suscetibilidade de bovinos à infecção por
também no final do outono e no inverno. Manifesta-se corno ane- Salmonella dublin.
mia hemorrágica rápida e grave com hipoalbuminemia que, se não Nas infestações maciças, em que a anemia e a hipoalburnine-
tratada, pode resultar em alta taxa de mortalidade. Entretanto, não mia são graves, costuma ocorrerledema submarillibular'\ Com
é tão rapidamente fatal quanto a condição aguda, e os ovinos aco- cargas menores de trematóides, o efeito clínico é mínimo, sendo
metidos podem apresentar sintomatologia clínica durante urna a difícil diferenciar a queda de produtividade de nutrição inade-
duas semanas antes da morte; estes sinais incluem perda rápida de quada. Deve-se ressaltar que a diarréia não é uma característica
condições físicas, palidez acentuada das mucosas e fígado dilata- da fasciolose bovina, a menos que complicada pela presença de
do e palpável. Pode haver edema submandibular ou facial. espécies de Ostertagia. A infecção combinada por estes dois
A fasciolose crônica, que é observada principalmente no fi- parasitas é designada complexo fasciolose/ostertagiose .
nal do inverno/início da primavera, é a forma mais comum da As infecções por Fasciola podem causar fLueda de produçãõ-.. .
doença. Ocorre quatro a cinco meses após a ingestão de quanti- em vacas leiteiras durante o inverno. Clinicamente, é difícil de-
dades moderadas (200 a 500) de metacercárias. Os principais tectar estas infecções, pois as cargas de trematóides em geral são
efeitos patogênicos são anemia e \ nipoaJbumin~rili ã;'l podendo baixas e não há evidência de anemia. Os principais efeitos são
haver perda diária superior a 0,5 ml de sangue por trematóide nos queda na produção e na qualidade do leite, particularmente dos
duetos biliares. Ocorre perda adici onal de proteínas plasmáticas componentes sólidos não-gordurosos.
por extravasamento pela mucosa biliar hiperplásica, e o efeito
patogênico é exacerbado se o animal se encontrar em baixo ní- DIAGNÓSTICO
vel nutricional.
À necropsia, o fígado tem um contorno irregular e é pálido e Baseia-se principalmente na sintomatologia clínica, na ocorrên-
firme, o lobo ventral estando mais afetado e reduzido em tama- cia sazonal, nos tipos de climas prevalentes e em história prévia
nho (Prancha V). A patologia hepática caracteriza-se por fibro- de fasciolose na propriedade ou de identificação de habitats de
se hepática e colangite hiperplásica. caramuJos.
Estão presentes vários tipos de fibrose. A primeira a ocorrer Enquanto o diagnóstico da fasciolose ovina apresenta poucos
é a cicatrização pós- necróti ca, encontrada principalmente no lobo problemas, especialmente quando é possível exame pós-morte,
ventral e associada ao fechamento dos tratos dos trematóides. A o diagnóstico de fasciolose bovina às Vezes pode ser difícil. Neste
segunda, freqüentemente denominada necrose isquêmica, é uma contexto, são úteis os testes hematológicos rotineiros e o exame
seqüela de infarto causado por lesão e trombose de grandes va- de fezes para ovos de trematóides, podendo ser suplementados
sos. Em terceiro lugar, desenvolve-se uma fibrose peribiliar quan- por dois outros testes laboratoriais.
do os trematóides atingem os pequenos ductos biliares. O primeiro é a estimativa de níveis plasmáticos de enzimas li-
Às vezes, os ovos de trematóide provocam uma reação seme- beradas por células hepáticas lesadas. Em geral, são medidas duas
lhante a granuloma, que pode resultar em obliteração dos duetos enzimas. A glutamato-desidrogenase (GLDH) é liberada quando
biliares acometidos. são lesadas células parenquimatosas e os níveis se tornam eleva-
A colangite hiperplásica nos ductos biliares maiores origina- dos nas primeiras semanas de infec'ção. A outra, gama-
se da grave erosão e necrose da mucosa causadas pelos trema- glutamiltranspeptidase (GGT), indica lesão das células epiteliais
tóides ao se alimentar. que revestem os ductos biliares; a elevação desta enzima tem lu-
Clinicamente, a fasciolose crônica caracteriza-se por perda gar principalmente depois que os trematóides atingem os ductos
progressiva de condi ções físicas e desenvolvimento de anemia e biliares, e os IÚveis mantêm-se elevados por um período mais longo.
hipoalbuminemia, podendo resultar em emaciação, palidez das O segundo é a detecção de anticorpos contra componentes de
mucosas, edema submandibular e ascite. A ane!llia é hi ocrâmi- trematóides, sendo o teste ELISA e o teste de hemaglutinação
ca e macrocítica com eosinofilia simultânea. odem ser demons- passi va os mais seguros.
:~dos ov_os_de Fas!i,.iola n~~~ "
Nas infecções leves, o efeito clímco pode não ser rapidamen- Previsão meteorológica de fasciolose
te discernível, mas os parasitas podem ter um efeito significante
sobre a produção, por causa da diminuição do apetite e do seu O ciclo evoluti vo do trematóide hepático e a prevalência de fas-
efeito sobre o metaboli smo pós-absortivo de proteínas, carboi- ciolose dependem do clima. Isto motivou o desenvolvimento de
dratos e sais minerais. sistemas de previsão, baseados em dados meteorológicos, que cal-
culam a provável época e gravidade da doença. Em diversos paí-
FAse/OLOSE BOV/NA ses da Europa Ocidental, essas previsões são utilizadas como base
de programas anuais de controle.
Embora ocasionalmente possa ocorrer doença aguda e subaguda Foram desenvolvidas duas fórmulas diferentes. Uma delas cal-
em condi ções de intenso desafio, especial mente em bezerros cula a "umidade da superfície do solo", o fator crítico que afeta a
jovens, a forma crônica da doença é, sem dúvida alguma, a mais infecção de verão de caramujos. A fórmula é M ~ n(R - P + 5),
importante e, como nos ovinos, é observada no final do inverno/ em que M é o mês, R é o índice pluvial mensal em polegadas, P é a
início da primavera. evapotranspiração em polegadas e n é o número de dias úmidos por
A patogenia é semelhante à dos ovinos, mas tem ainda as mês. Um valor de 100 ou mais por mês é ideal para o desenvolvi-
características de'ê!6ficaçllo dos, aueros lYmar~ e\dilataç.âo da" mento de parasitas, e portanto os valores superiores a 100 são regis-
(Vesícula bjliaf'(Prancha V). A migração aberrante dos trematói- trados como 100. A fónnula é aplicada nos meses em que as tem-
des é mais comum em bovinos, e com freqüência observam-se peraturas são adequadas para reprodução de caramujos e desenvol-
96 Parasit%gia Veterinária

vimento do parasita, isto é, maio-outubro na Europa, e os valores Fasciolose ovina crônica


mensais somados para dar um índice sazonal ou valor MI. Como
as temperaturas geralmente são mais baixas em maio e outubro, os Os surtos de fasciolose crónica podem ser tratados com êxito com
valores para estes meses são divididos por dois antes da soma. uma única dose de qu alquer uma de uma série de drogas (rafo-
Quando o MI ultrapassa 450, é provável que a prevalência de xanida, nitroxinil, brotiani da, elosantel, oxiclozan ida e tricla-
fasciolose seja alta. bendazol), e após o tratamento a anemia em geral regride em duas
A previsão é utilizada como alerta antecipado da doença cal- a três semanas. Os anti-helmínticos para nematóides albendazol
culando-se dados de maio a agosto a fim de que possam ser in- e netobimin também são eficazes contra trematóides adul tos,
troduzidas medidas de controle antes da eliminação de cercárias. ainda que em doses maiores.
A desvantagem da previsão é que _ela pode superestimar a pre-
valência onde há outono seco ou subestimar a provável preva- Fasciolose bovina
lência onde a presença de valas de drenagem permite que o ciclo
evolutivo se mantenha em verões secos. Embora esta técnica se AtuaJmente, existe ape nas uma droga, o triclabendazol, que re-
aplique principalmente à infecção de verão de caramujos, é usa- move os estágios pare:nquimatosos iniciais. Além do triclabenda-
da também para previsão da infecção de inverno de caramujos zol, as du as drogas mais comumente utilizadas para fasciolose
somando-se os valores de agosto, setembro e outubro; se ultra- subaguda ou crónica são rafoxanida e nitroxinil, c várias outras,
passarem 250 e o próximo mês de maio ou junho tiver alto índi- como c1osurlon e niclofolan, também são comercializadas em
ce pluvial, prevê-se, então, fasciolose para a área. alguns países; o albendazol também é eficaz em doses maiores.
A outra téc nica empregada é uma previsão de "dia úmido". Nas vacas em lactação, cujo leite é usado para consumo huma-
Es ta técnica compara a prevalência de fasciolose duranLe certo no, tais drogas aLI são proibidas ou têm períodos de carência pro-
número de anos com o número de dias chuvosos durante os ve- longados em muitos países . Uma exceção é a oxielozani da,
rões desses anos. Em essência, a fasciolose disseminada está as- aprovada para uso em animais lactantes em muitos países com
sociada a 12 dias úmidos (índice pluvial superior a I mm) por período de suspensão do uso do leite de até três dias.
mês de junho a setembro onde as temperaturas não caem abaixo
do nonnal sazonal.
CONTROLE
TRA TAMEN TO o controle de fasciolose pode ser abordado de duas maneiras:
reduzindo-se as populações do hospedeiro intermediário caramu-
As drogas mais antigas como o tetracloreto de carbono, o hexa- jo ou utili zando-se anti-helminticos.
c1oretano e o hexaclorofeno ainda são utilizadas em alguns paí-
ses, mas têm sido substituídas por compostos mais eficazes e menos Redução de populações de caramujos
tóxicos, e apenas os últimos serão discutidos.
Antes de empreender qualquer esquema de controle de caramujos,
Fasciolose ovina aguda deve-se realizar um levantamento da área em relação aos habitats
de caramujos para determinar se são localizados ou difusos.
Até recentemente, o tratamento não ti nha muito sucesso em virtu- O melhor método de redução de populações de caramujos do
de da ineficácia das drogas mais antigas contra os estágios paren- lodo, como L. truncafula, a longo prazo é a drenagem, uma vez
quimatosos iniciais. Contudo, hoje em dia existem drogas de es- que garante a destrui ção permanente de habitats de caram ujos.
colha eficazes, uma das quais é o triclabendazol, que remove to- Entretanto, os proprietários sempre re lutam em executar esque-
dos os estágios em desenvolvimento com mais de uma semana de mas de drenagem dispendiosos, embora em muitos países exis-
idade. Outras drogas são rafoxanida, elosantel e nitroxinil, que tam financiamentos especiais para drenagem.
removem trematóides com mais de quatro semanas de idade. Quando o habitat de caramujos é limitado, um método simples
Uma única dose de tricl abendazol acompanhada da transfe- de controle é isolar essa área aLI tratar anua lmente com um
rência para pasto li vre de trematóides ou um campo recém-cul- molusq uicida. O sulfato de cobre é atualmente o mais utilizado, e
tivado e bem drenado pode ser um tratamento adequado. Com embora tenham sido desenvolvidos molusquicidas mais eficazes,
rafoxanida, closantel ou nitroxinil, entretanto, pode ser necessá- como N-tritil-morfolina, geralmente nenhum está di sponível.
rio um segundo tratamento duas a três semanas após a transfe- Na Europa, evidências experimentais indicam que deve ser
rência para solo livre de trematóides. Quando os ovinos não po- aplicado um molusquicida ou na primavera (maio), para destruir
dem ser transferidos para solo descontaminado, o tratamento deve populações de caramujos antes do irúcio da reprodução, ou no verão
ser repetido em intervalos de três semanas até seis semanas de- (julho/agosto), para destruir caramujos infectados. A aplicação de
pois de cessadas as mortes. primavera pode garantir melhor contato com os caramujos, por-
que o crescimento da pastagem é limitado, mas na prática freqüen-
Fasciolose ovina subaguda temente é inviável, porque a natureza saturada do habitat torna
difícil o acesso de veículos. No verão, isto quase não é problema,
As drogas recomendadas para fasciolose aguda podem ser usa- embora o contato molusquicida/caramujo possa ser redu zido por
das contra trematóides mais velhos responsáveis por fasciolose aum en to no crescimento da forragem. A aplicação de um
subaguda. Mais uma vez, recomenda-se transferência para pas- molusquicida deve ser combinada com tratamento anti-helmíntico
to li vre de trematóides após o tratamento, e onde isto não for para remover populações existentes de trematóides e, conseqüen-
possível deve-se repetir O tratamento em quatro e oito se manas temente, a contaminação de habitats co m ovos.
para eli mi nar os tTematóides que estão amadur~cendo. Quando o hospedeiro intermediário caramujo for aquático,
Além de tais drogas, a brotianida também é eficaz. como L. lamentosa, é possível bom controle adicionando-se um
He1mintologia Veterinária 97

molusquicida, como N-tritil-morfolina, ao habitat aquático do Hospedeiros intermediários:


caramujo, mas existem muitas objeções ao uso de molusquicidas Caramujos do gênero Lymrweu; IIU sul tia Europa, é L.
na água ou em canais de irrigação. auricularia, também a espécie importante no sul dos Estados
Unidos, no Oriente Médio e nas Ilhas ·do Pacifico. Outros im-
Uso de anti-helmínticos portantes vetares Lymnaea de F. gigantica são:

o uso profilático de anti-helmínticos de trematóides tem por L. natalensis África


objetivos: L. rufescens e L. acuminaia Índia e Paquistão
L. rubiginosa Malásia.
(1) Reduzir a contaminação do pasto por ovos de trematói-
des numa época mais adequada para seu desenvolvimento, Todos estes caramujos são basicamente aquáticos e encontrados
isto é, abril a agosto. em córregos, canais de irrigação e pântanos.
(2) Remover populações de trematóides numa época de cargas
maciças ou num período de estresse nutricional ou de prenhez Localização:
do animal. Para atingir estes objetivos, recomenda-se o seguin- Os adultos são encontrados nos ductos biliares e os trematóides
te programa de controle para ovinos nas Ilhas Britânicas para imaturos no parênquima hepático.
anos com índices pluviais normais ou abaixo da média. Como
a época de tratamentos se baseia no fato da maioria das Distribuição:
metacercárias aparecer no outono e no início do inverno, po- A maioria dos continentes. Não ocorrem na Europa ocidental.
dem ser necessárias modificações para uso em outras áreas.
No final de abril/início de maio. tratar todos os ovinos adul- IDENTIFICAÇÃO
tos com uma droga eficaz contra estágios adultos e imaturos
avançados. Nessa época, podem ser utilizados produtos conten- Macroscópica:
do tanto um fasciolicida como uma droga eficaz contra nema- É maior que F. hepatica e pode atingir 7,5 cm de comprimento.
tóides que contribuem para o aumento peripuerperal (APP) em O formato é mais foliáceo, a extremidade anterior cônica é mui-
contagens de ovos nas ovelhas. to curta, e no terço anterior características de F. hepatica são
Em outubro, tratar todo o rebanho com uma droga eficaz con- pouco perceptíveis.
tra estágios parenquimatosos iniciais, como o triclabendazol.
Em janeiro, tratar o rebanho com qualquer droga eficaz con- Microscópica:
tra estágios adultos. Os ovos são maiores que os deF. hepatica, medindo 190 X 100 j.Lm.
Nos anos úmidos, podem ser necessárias outras doses, como
se segue: CICLO EVOLUTIVO
Em junho, quatro a seis semanas após o tratamento de abril!
maio, todos os ovinos adultos devem ser tratados com uma dro- Semelhante ao da F. hepatica , sendo as principais diferenças na
ga eficaz contra trematóides adultos e imaturos avançados. escala de tempo do ciclo. As fases parasitárias, na maioria, são
Em outubro/novembro, quatro semanas após o tratamento mais longas e o período pré-patente é de 13 a 16 semanas.
inicial de outubro, tratar todos os ovinos com uma droga eficaz
contra estágios parenquimatosos. PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLíNICA
A época exata dos tratamentos de primavera e outono depen-
de das datas de monta e de parto. Embora sejam obtidos resulta- Semelhantes às da F. hepatica.
dos muito bons em propriedades de ovinocultura por profilaxia
anti-helmíntica, o mesmo não é verdade para o controle de do-
ença em bovinos. Isto porque, até recentemente, as drogas viá- EPIDEMIOLOGIA
veis para bovinos, em sua maioria, eram ineficazes contra os
estágios parenquimatosos iniciais. Os caramujos que transportam os estágios larvais de F. gigantica
O tratamento profilático em bovinos, portanto, visa a reduzir são principalmente aquáticos, e como conseqüência a doença está
as cargas de trematóides no inverno numa época em que os pa- associada a animais de pasto em áreas natural ou artificialmente
rasitas são suscetíveis a drogas viáveis e em que o estado nutri- inundadas ou ao redor de canais permanentes ou represas.
cional dos animais se encontra no nível mais baixo. É imprová- Nos países subtropicais ou tropicais, com estações úmida e seca
vel que suas fezes permaneçam livres de ovos por qualquer perí- distintas, parece que o desenvolvimento ideal dos ovos em
odo de tempo, uma vez que os estágios parenquimatosos não miracídios ocorre no início da estação úmida e o desenvolvimen-
removidos pelo anti-helmíntico logo se desenvolvem no estágio to no caramujo está completo ao término das chuvas. A elimina-
adulto. Nas Ilhas Britânicas, é comum tratar os bovinos em áre- ção de cercárias começa, então, no início da estação seca, quando
as de trematóides em meados de inverno. o nível de água ainda está alto, e continua à medida que cai o nível
Esta situação poderia mudar com o aumento no uso de certas da água. Em condições laboratoriais, uma grande quantidade de
drogas, como triclabendazol, em bovinos. metacercárias simplesmente se encista na superfície da água, e não
na forragem, e em condições naturais isto poderia ter um efeito
muito significativo sobre a disseminação da infecção. As
Fasciola gigantica metacercárias são adquiridas por animais que utilizam estas áreas
durante a estação seca, e os problemas clínicos, dependendo da taxa
Hospedeiros: de infecção, ocorrem ao final desta estação ou no início da próxi-
Ruminantes. ma estação úmida.
r 98 Parasit%glo Veterinária

Tal qu al F. hepatica, F. gigantica é capaz de infectar o ho- pode ocorrer nos suínos, que podem atuar como hospede iros re-
mem. servatóri os. Ao contrári o de Fasciola e Fascioloides, localiza-
se no intestino del gado, onde causa grave ulceração.
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Como para F. hepa/ica. Família DICROCOELIlDAE


,
CONTROLE São pequenos trematóides lanceolados que ocorrem nos duetos
biliares e pancreáticos de vertebrados. Observam-se miracídios
nos ovos, quando são eliminados nas fezes; não existe estágio
Os princípios são os mesmos do controle de F. hepatica e se
de rédia durante o desenvo lvimento no caramujo.
baseiam no uso rotineiro de anti-helmínticos, juntamente com
medidas para redu zir populações do hospedeiro intermediário
caramujo. Há, entretanto, a importante diferença de que os últi-
mos são caramujos aquáticos cujo controle depende de uma abor-
Dicrocoeliwll
dagem diferente daquela para o caramujo do lodo, L truncatula.
Recome nda-se tratamento anti-helmíntico de rotina dos ani- Hospedeiros:
mais nas estações em que se acumulam infecções maci ças de Ovinos, bovinos, cervídeos e coelhos.
trematóides adu ltos no hospedeiro, utili zando-se uma droga efi-
Hospedeiros intermediários:
caz contra trematóides adultos e imaturos. Isto deve evitar gra-
ves quedas na produção, mas para maiores benefícios deve ser São necessário s dois:
acompanhado por controle de caramujos. (1) Caramujos terrestres de muitos gêneros.
Quando o abastecimento de água do rebanho é proveni ente (2) Formigas marrons do gênero Formica.
de um reservatório ou córrego, pode-se obter controle completo
i so lando -s~a fonte de água e colocando-se um cano para levar Localização:
água aos bebedouros. No caso de córregos, para que isto seja feito Duetos biliares e vesícula biliar.
e fi cazmente, pode ser necessário bombear água, e em áreas dis-
tantes são úteis simples bombas cuja energia é deri vada do fluxo Distribuição:
de ág ua. É importante limpar regularmente os bebedouros, uma Mundial. A prevalência nas Llhas Britânicas é muito baixa, res-
vez que podem tornar-se colonizados por caramujos. tringindo-se a pequenos focos no oeste da Escócia e na Irlanda.
Quando o pastejo na estação seca depende do uso de áreas pan- Por outro lado, a prevalência em muitos outros países e uropeus
tanosas ao redor de leitos vazantes de lagos, o controJede caramujos é alia.
é difícil. Os molusquicidas em geral são inviáveis por causa do
grande volume de água envolvido e seu possível efeito sobre os Espécie:
peixes, que podem constituir uma importante parte da alimenta- Dicrocoelium dendriticunl.
ção local. Além do tratamento anti-helTTÚntico repetido para evi-
tar a patência de infecções adquiridas de F. gigantica, quase sem- IDENTIFICAÇÃO
pre há pouco a ser feito. Idealmente, essas áreas muitas vezes se
prestam mais à inigação e à produção de culturas rentáveis, cujos Macroscópica:
lucros podem ser usados para melhorar o abastecimento de alimen- Não existe possibilidade de confusão co m outros trematóides nos
tos e de água para os bovinos no período da seca. ductos biliares de ruminantes, pois o Dicrocoelium tem menos
de I cm de comprimento, é distintamente lanceolado e é semi-
OUTROS GÊNEROS DE FASCIOLlDAE transparente (Fig. 82).

Fascioloides magna Microscópica:


O intesti no é simples, constituído de dois ramos, lembrando um
É fundamentalmente um parasita de cervídeos que pode infectar diapasão. Atrás da ventosa ventral, ficam os testículos, um atrás
outros ruminantes. É encontrado na América do Norte e no sudo- do outro, com o ovário imedbtamente posterior. Não existem es-
este da Europa central. Transmitido por espécies de Lymnaea, este pinhos na cutícula (cf. Fascio/a). O ovo é pequeno, 45 X 300 !-LID,
trematóide muito grande mede até 10 cm e não tem cone anterior. castanho-escuro e operculado, usualmente com uma face achata-
Em cervídeos e bovinos, o parasita pode causar lesão hepáti- da (Fig. 83). Conté m um miracídio quando eliminado nas fezes.
ca ao atin gir o fígado. mas rapidamente é encapsulado pela rea-
ção do hospedeiro. sendo os efeitos clínicos mínimos. Nos ovi- CICLO EVOLUTIVO
no s, entretanto, esta resposta é desprezível e a lesão no fígado
pode ser grave ou mesmo fatal ; por causa di sso, é difíc il criar O ovo não eclode até ser ingerido pelo primeiro hospedeiro inter-
ovinos em áreas onde o parasita é prevaJente. mediário, o caramujo terrestre, no qu al se desenvolvem duas ge-
rações de esporocistos, que produzem então cercárias. Estas últi-
mas são ex pelidas em massas consolidadas por substância visco-
Fasciolopsis buski sa. Esta fase de desenvolv imento leva no mínimo três meses.
Os grumos viscosos de cercárias são ingeridos por formigas,
Este trernatóide, encontrado na Índia, no Paquistão, no sudoeste nas quai s se dese nvolvem em metace rcárias, principalmente na
da Ásia e na China, é principalmente um parasita do homem, mas cavidade corpórea e ocasionalmente no cérebro. A presença de
Helmintologia Veterinária 99
(

velmente se deve à ausência de uma fase migratória. Entretanto,


nas infecções mais pesadas, há fibrose dos ductos biliares me-
nores e pode ocorrer extensa cirrose (Prancha V); às vezes, os
ductos biliares ficam notavelmente distendidos.

SINTOMA TOLOGIA CLíNICA

Em muitos casos, está ausente. Em casos graves, há registros de


anemia, edema e emaciação.

EPIDEMIOLOGIA

Há dois aspectos importantes que diferenciam a epidemiologia


de Dicrocoelium da epidemiologia de Fasciola:
(1) Os hospedeiros intermediários não dependem de água e
se distribuem regulannente no terreno.
(2) O ovo pode sobreviver durante meses no pasto seco, re-
presentando um reservatório adicional àquele dos hospedei-
ros intennediário e finaL

DIAGNÓSTICO

Baseia-se inteiramente no exame fecal para ovos e em achados


de necropsia.
Fig. 82 Oicrocoelium dendriticum, um pequeno Irematóide lanceolado de ruminan -
les. Podem ser vistos nitidamente o útero escuro e as glândulas vitelinas brancas. TRATAMENTO

o netobimin é altamente eficaz na dose de 20 mg/kg. São neces-


sárias altas doses de outras anti-helmínticos para efetiva remo-
uma lesão cerebral na fonniga induzida por metacercárias impe- ção de Dicrocoelium. O benzimidazol albendazol, administrado
le a formiga a subir e permanecer nas pontas das gramíneas, au- numa dose três vezes maior que a dose para nematóides, é muito
mentando, assim, a chance de ingestão pelo hospedeiro definiti- eficaz, bem como o praziquantel, numa dose duas vezes maior
vo. Esta fase na formiga co mpleta-se em pouco mais de um mês qu e a do se usada para cestóides. Outras drogas como o
em temperaturas de verão. tiabendazol e o fembendazol também são eficazes, mas em do-
No hospedeiro definitivo, as metacercárias eclodem no intesti-
ses muito altas.
no delgado e os trematóides jovens migram para o ducto biliar prin-
cipal e daí para os ductos menores no fígado. Não há migração
parenquimatosa, e o período pré-patente é de 10 a 12 semanas. Os CONTROLE
trematóides têm vida longa e podem sobreviver no hospedeiro du-
rante vários anos. É difícil, em face da longevidade de ovos de D. dendriticum, da
ampla distribuição dos hospedeiros intermediários e da quanti-
PATOGENIA dade de hospedeiros rese rvatórios. O controle depende quase
inteiramente de tratamento anti-helmíntico regular.
Embora seja comum encontrar vários milhares de D. dendriticwn
nos duetos biliares, o fígado é rel ati vamente normal; isto prova- Observação: Na África subsaárica, ocorre uma espécie intima-
mente relacionada, D. hospes , sendo as formigas do gênero
Campanotus o seg undo hospedeiro intennediário.

Eurytrema
O trematóide Eurytrema pancreaticum é encontrado nos duetos
pancreáticos de ruminantes em partes da Ásia, do Brasil e da
Venezuela. Tal qual o D. dendriticum, tem dois hospedeiros in-
termediários consecutivos, um caramujo terrestre seguido por um
gafanhoto ou grilo arborícola. A infecção do hospedeiro defini-
tivo é por ingestão do gafanhoto e migração do trematóide do
intestino delgado para a localização final no dueto pancreático.
As infecções maciças são descritas como causa de fibrose e atrofia
Fig. 83 O ovo de Oicrocoelium dendriticumconlém um miracídio quando eliminado pancreática. No momento, não existe um tratamento eficaz co-
nas fezes. nhecido.
100 Parasitologia Veterinária

podendo completar-se em quatro semanas. Após a ingestão com


Platynosomllm
as gram íneas de metacercárias encistadas, o desenvolvimento do
hospedeiro defini tivo ocorre inteiramente no trato digestivo.
o parasita Platynosomum fastosum é encontrado no ducto biliar Depois do desencistamento no duodeno, os trematóides jovens
de gatos em regiões da América do Sul, no Caribe, no sul dos
fixam- se e se nutrem neste local por cerca de seis semanas antes
Estados Unidos, na África Ocidental, na Malásia e nas Ilhas do
de migrar para os pré-estômagos, onde amadurecem. O período
Pacífico. São necessá rios três hospedeiros intermediários, um
pré-patente é entre sete e 10 semanas.
caramujo terrestre , um crustáceo e um lagarto.
O gato infecta-se ingerindo o lagarto. A maioria das infecções
é bem tolerada pelo gato, causando apenas discreta inapetência, PATOGENIA
mas nas infecções maciças, o chamado "envenenamento por la-
gartixa", há re latos de cirrose e icterícia, com diarréia e vômi tos Qualquer efeito patogênico está associado à fase intestinal da
em casos terminais. O praziquantel e o nitroscanato são descri- infecção. Os trematóides jovens nutrem-se de tampões de mu-
tos como tratamentos eficazes. cosa, o que resulta em graves erosõe s na mucosa duodenal. Nas
infecções maciças, causam uma enterite caracterizada por ede-
ma, hemorragia e ulceração. À necropsia, os trematóides podem
Família PARAMPHISTOMA TIDAE ser vistos como grumos de parasitas róseo-acastanhados fixados
à mucosa duoden al e, ocasíonalmente, também no jejuno e abo-
Os paranfistomídeos adultos são principalmente parasitas dosª,LS> maso. Os parasitas adultos (Pranc ha V) nos pré-estômagos são
estômagos de ruminantes, embora algumas espécies ocorram no bem tolerados mesmo quando há milhares nutrindo- se na pare-
intestinõ'de ruminantes) suí!!9~.. e <;?qüinos. Seu formato não é tí- de do rúmen ou retículo (Fig. 84).
pico dos trematóides, sendo cônico': e não achatado. Todos re-
querem um c..~o aquático como hospedeiro intermediário. SINAIS CLíNICOS
Há vários gênerõs, dos quai s o Paramphistomum é o mais co-
mum e disseminado. Em infecções duodenais maciças, o sinal evidente é diarréi a
acompanhada de anorexia e sede intensa. Às vezes, em bovinos,
há hemorragia retal após um período de esforços prolongados
Paramphistol1llll1/ para defecar. A mortalidade em surtos agudos pode chegar até a
90%.
Hospedeiros:
Ruminantes. EPIDEMIOLOGIA
Hospedeiros intermediários:
Para sua endemi cidade contínua, a paranfistomose depende fre-
Caramujos aquáti cos: principalmente Planorbis e Bulinus.
qüentemente de coleções permanentes de água, como lagos e la-
Localização: goas, de onde os caramujos se dispersam para áreas previamente
Adultos no lÚmen e retícu lo e estágios imaturos no duodeno. seca s por inundação dura nte chu vas pesada s . Os ovos de
paranfistorrúdeos depositados por animais que pastam nestas áre-
Espécies: as eclodem e infectam caramujos. A subseqüente produção de
Há pelo menos 14 espécies, das quai s o Paramphistomum cervi cercárias costuma coincidir com níveis de água vazantes, toman-
e o P. microbothriwn são as mais comuns. do-as acessíveis aos rurrunantes em pastejo. Em outras áreas, a
situação é complicaáa pela capacidade dos caramujos de hibernar
Distribuição: em pastagens secas e reativar-se com a volta das chuvas.
Mundial. Têm pouca importância veterinária na Europa e na Desenvolve-se boa imun idade em bovinos, e os surtos usual-
América, mas ocasionalmente são a causa de doença nos trópi- mente se res trin gem a animais jovens. Entretanto, os adultos
cos e subtrópicos.

IDENTIFICAÇÃO
Macroscópica:
Os adultos são pequenos tremalóides vermifonnes, cônicos, com
cerca de 1 cm de comprimento. Observa-se uma ventosa na ponta
do cone e a outra na base. Os estágios larvais têm menos de 5
mm, e os espécimes têm coloração rósea.

Microscópica:
O ovo é semelhante ao da F. hepatica, sendo grande e opercuJado,
mas é claro, e não amarelo.

CICLO EVOLUTIVO

O desenvolvimento no hospedeiro intermediário caramujo é se-


me lhante ao de Fasciola em condições favorávei s (26-30°C), Fig. 84 Corte de Paramphistomum nutrindo-se de epitélio ruminaI.
-,
Hetmúlfologia Veterinária 10 I

co ntinuam a abrigar cargas baixas de paras itas adu ltos e são mamiferos que consomem peixes. Ocorre no noroeste dos Esta-
importantes reservatórios de infecção para caramuj os. Por outro dos Unidos e partes da Sibéria, tendo importância porque os tre-
lado, os ovinos e caprinos são relativamente suscetíveis durante matóides são vetares da riquétsia Neoricketlsia helminthoeca, que
toda a vida. causa grave enterite hemorrágica em cães, o chamado "envene-
namento por salmão". Esta denominação origina-se do ciclo do
DIAGNÓSTICO trematóide, que envolve um caramujo aquático e um peixe, fre-
qüente mente um salmonídeo.
Baseia-se na sintomatologia que em geral envo lve animais jo- Supõe-se que a infecção por riquétsia seja transmitida ao cara-
vens num rebanho e num a históri a de pastejo ao redor de habitats muj o aquático através do ovo de trematóides e, em seguida, ao peixe,
de caramujos durante um período de tempo seco. O exame de onde as cercárias se localizam no rim. O cão infecta-se por inges-
fezes tem pouco valor, um a vez que a doença ocorre durante o tão de peixe contendo as metacercárias e a riquétsia associada.
período pré-patente. Pode-se obter confrnnação por um exame
pós-morte e recuperação dos pequenos trematóides do duodeno.
FamOIU OPISTHORCHIlDAE
TRATAMENTO
Os membros desta família req1:lerem dois hospedeiros intenne-
o reso rant e l e a oxiclozanida são considerados os anti- diários, o primeiro sendo caramujos aquáticos e o segundo uma
helmínticos de escolha contra trematóides ruminai s imaturos e ampl a variedade de peixes, nos quais as metacercárias se encis-
adultos em bovinos e ovinos. tam. Os hospedeiros definiti vos são mamiferos que conso mem
peixes nos quais habitam os ductos biliares.
Opisthorchis, sem dúvida o gênero mais importante, é um pe-
CONTROLE queno trematóide lanceaI ado, macroscopicamente semelhante ao
Dicrocoelium. Duas espécies têm o homem como hospedeiro prin-
Como em F. gigantica, O melhor controle é conseguido pela ins-
cipal. o. sinensis (antigamente Clonorchis sinensis) é o "tremat6ide
talação de canos para levar água aos bebedouros e impedindo-se
hepático chinês" que, apesar do nome, ocorre na maior parte do
o acesso dos animais à água natural. Mesmo assim, os caramujos
leste da Ásia incluindo o subcontinente indiano; cães e gatos são
podem ter acesso aos bebedouros, podendo ser necessária a apli-
hospedeiros ocasionais. o. viverrini, embora descoberto no gato
cação regular de um molusquicida na fonte ou a remoção manu- almíscar, que é portanto o hospedeiro típico, é essencialmente um
al de caramuj os.
parasita do homem; é encontrado em cães e gatos com freqüência
suficiente para que sej am importantes hospedeiros reservatórios.
Outros paranfistomídeos de importância veterinária Ocorre no Extremo Oriente. O. tenuicollis (sin. O. felineus) tem
os gatos e, menos freqüentemente, os cães como hospedeiros prin-
Além de Paramphistomum, há muitos gêneros encontrados nos cipais; o homem é um hospedeiro ocasional. Esta espécie ocorre
animais domésticos. Entre os mais bem conhecidos dos que ocor- na Europa oriental, no Oriente Médio, na Ásia Menor e na Rússia
rem nos pré-estômagos estão Cotylophoron e Ceylonocotyle, res- asiática; foi descrito no Canadá.
ponsáveis por surtos de paranfistomose em bovinos e bubalinos O homem e os animais adquirem infecção por ingestão de pei-
na Ásia e em bovinos na Austrália e no sul dos Estados Unidos. xe cru ou insuficientemente cozido, e os trematóides jovens seguem
Dos que ocorrem no trato digestivo inferior, Gastrodiscus tem alta para o fígado pelos duetos biliares. A maioria das infecções é ina-
prevalência no intestino delgado e grosso de eqüinos nos trópicos parente, embora Opisthorchis seja muito comum em suas áreas
e Homoloqaster no intestino grosso de ruminantes em algumas endêmkas. Nas infecções maciças, a principal lesão é causada
partes da Asia. Um outro gênero, Gigantocotyle, ocorre nos duc- pelos jovens trematóides cujos espinhos lesam os ductos biliares,
tos biliares de bubalinos no Oriente Médio e no Extre mo Oriente. causando espessamento com formação de papilomas e desenvol-
vimento de cistos, contendo trematóides, adjacentes aos duetos.
Nestas infecções, os sintomas são emaciação, icterícia e asei te; às
Família TROGLOTREMATIDAE vezes, é possível palpar o fígado nodular dilatado.
O controle de opistorcose baseia-se na cocção co mpleta de
Há doi s gêneros de interesse veterinário local. O primeiro, Parago- peixes.
nimus, comumente designado "trematóide pulmonar", é encontra- Um segundo gênero, Metorchis. ocorre basicamente em cães
do em gatos, cães e outros carnivoros e no homem na América do de trenó e de caça, tendo di stribuição principalmente árti ca e
Norte e na Ásia. O ciclo envolve um caramujo aquático e um ca- subártica na Europa, na Ásia e na América; foi registrado tam-
ranguejo de rio ou um caranguejo de água fresca. O caramujo aquá- bém na a nti ga Iugosl áv ia. A patogenia é seme lh ante à da
tico, previamente infectado por um miracídio da mesma maneira opistoreose, e há um re servatório de infecção em carnívoros si1- /
que e m outros trematóides, é ingerido por um crustáceo. A infec- vestres que consomem peixes.
ção do hospedeiro defInitivo ocorre por ingestão das metacercárias
no fígado ou nos músculos do crustáceo. Os trematóides j ovens
migram para os pulmões, onde são encapsulados por cistos fibro- FamOia SCHISTOSOMATIDAE
sos conectados aos bronquíolos por meio de fístulas para facilitar
a excreção de ovos. A sintomatologia pulmonar é relativamente Esta família é fundamentalmente parasita do s (Vasos sangu íneos I
rara em gatos ou cães, estando o interesse veteri nário no potencial do tIato digestivo e da bexiga. No homem. os esquistossomas cos-
reservatório de infecção para o homem. tumam ser responsáveis por doença grave e debilitante, estando
O segundo gênero, Nanophyetus, é um trematóide encontra- o interesse veterinário no fato de poderem causar uma doença
do principalmente no intestino delgado de cães, martas e outros semelhante e m animais, algun s dos quais podem atuar como re-
102 Parasitologia Veterinária

servatórios de infecção para o homem. Os esquistossomas dife- S. japonicurn O homem e a maioria dos animais
rem de outros trematóides por possuírem os t~exos separados} a domésticos no Extremo Oriente.
pequena fêmea adulta ficando permanentemente num sulco, o canal
ginecóforo, no corpo do macho (Fig. 85). O gênero mais impor- Menos importantes:
tante é o Schistosoma, que será discutido com alguns detalhes. S. leiperi Bovinos na África
S. spindale Ruminantes, eqüinos e suínos na Ásia e
no Extremo Oriente
Schistosoma S. incognitum Suínos e cães na Índia e no Paquistão
S. mansoni O homem e animais silvestres na África,
Hospedeiros: na América do Sul e no Oriente Médio
Todos os mamíferos domésticos. Importante principalmente em s. (sin. Ruminantes na Ásia
ovinos e bovinos. Orienlobilharzia
turkestanica
Hospedeiros intermediários: S. nasalis Ruminantes e eqüinos na Índia e no
Caramujos aquáticos. As espécies Bulinus e Physopsis são par- Paquistão.
ticularmente importantes na transmissão de esq uistossomose
bovina e ovina. Distribuição:
Trópicos e subtrópicos. Ocorre escassamente no sul da Europa.
Localização:
Usualmente as veias mesentéricas; ocorre uma espécie em veias IDENTIFICAÇÃO
naSaIs.

Espécies e distribuição: Macroscópica:


Principais: Os sexos são separados, e o macho, que é largo, achatado e com
Schistosorna bovis Ruminantes na África, no Oriente Médio,
cerca de 2 cm de comprimento, transporta a fêmea no sulco do
na Ásia e no sul da Europa seu corpo curvado para dentro. Esta característica e o local de
S. mattheei Ruminantes e ocasionalmente o homem predileção vascular são suficientes para identificação genérica.
na África
Microscópica:
Os ovos têm 1()() a 500 jJ.-ffi de comprimento, são fusifonnes e
possuem um espinho lateral ou terminal (Fig. 86). Não existe
opérculo.

CICLO EVOLUTIVO

Nas veias mesentéricas, a fêmea insere a cauda numa pequena


vênula, e, como o poro genital é terminal, os ovos são deposita-
dos ou mesmo empurrados na vênula. Aí, auxiliados pelos espi-
nhos e por enzimas proteolíticas secretadas pelos rrtiracídios não
fixados, penetram no endotélio e chegam à submucosa intesti-
nal e finalmente à luz intestinal; são então eliminados nas fezes .
Os ovos eclodem em minutos na água, e os miracídios penetram
em caramujos adequados. O desenvolvimento no estágio de
cercárias ocorre sem uma forma de rédia, e não há fase de
metacercárias, sendo a penetração no hospedeiro definitivo pe-.
las cercárias móveis (Fig. 87) através da pele ou por ingestão na
água de beber. O período de desenvolvimento no caramujo pode
ser tão curto quanto cinco semanas. Depois da penetração ou da
ingestão, as cercárias perdem a cauda bifurcada, transformam-

Fig. 85 O grande Schistosoma macho transporta a fêmea , menor, no canal


ginecóforo. Fig. 86 o ovo de' casca fina de Schistosoma com espinho terminal.
Helminrologia Veterinária 103

Fig. 88 Formação de granuloma ao redor de ovos de Schistosoma no ligado.

ções naturais, que pode desenvolver-se resistência como conse-


Fig. 87 Cercária móvel de Schisfosoma mostrando cauda bifurcada característica qüência de exposição anterior a uma espécie heteróloga .
. (furcocercária).

SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA


se em esquistossômulos, ou trematóides jovens, e seguem via Diarréia, às vezes sangüinolenta e contendo muco, anorexia, sede,
circulação sangüínea através do coração e pulmões para a circu- anemia e emaciação.
lação sistémica. No fígado, eles se localizam nas veias portais e
se tomam sexualmente maduros antes de migrar para sua locali-
EPIDEMIOLOGIA
zação final, as veias mesentéricas. O período pré-patente é de seis
a sete semanas.
É muito semelhante à de F. gigantica e de espécies de Param-
PATOGENIA ph.istomum, e de Schistosoma, dependendo totalmente da água
como meio para infecção tanto do hospedeiro intennediário como
A esquistossomose geralmente é considerada uma infecção muito do definitivo. O fato de poder ocorrer infecção por via cutânea
mais grave e importante nos ovinos que nos ruminantes maiores, favorece a infecção onde os animais são obrigados a andar na água.
e mesmo onde se detecta alta prevalência do parasita em bovinos
abatidos raramente se observa sintomatologia clínica da doença. DIAGNÓSTICO
A doença aguda, caracterizada por diarréia e anorexia, ocor-
re sete a oito semanas depois de infecção maciça e se deve intei- Baseia-se principalmente no quadro cLinicopatológico de diar-
ramente à resposta inflamatória e granulomatosa à deposição de réia, desgaste e anemia associado a história de acesso a fontes
ovos nas veias mesentéricas e sua subseqüente infiltração na de água naturais. A diarréia relativamente persistente, quase sem-
mucosa intestinal. Após infecção maciça, pode ocorrer morte pre sangüinolenta e contendo muco, pode ajudar a diferenciar esta
rapidamente, mas em geral a sintomatologia clínica desaparece síndrome de fasciolose.
lentamente conforme evolui a infecção. Neste caso, parece ha- A demonstração dos ovos característicos nas fezes ou em pre-
ver um desvio parcial de vermes da mucosa intestinal, e podem parações comprimidas de sangue e muco das fezes é útil no pe-
ocorrer reações a esses parasitas migrantes e seus ovos no fíga- ríodo após a patência porém menos útil quando a produção de
do (Fig. 88). ovos cai nos estágios finais de infecção.
À necropsia durante a fase aguda da doença, há lesões hemor- Em geral, quando há suspeita de esquistossomose, o diagnós-
rágicas acentuadas na mucosa do intestino, mas, conforme a tico é mais bem confinnado por um exame pós-morte detalhado
doença evolui, a parede do intestino apresenta-se acinzentada, que irá revelar a lesão e, se o mesentério estiver distendido, a pre-
espessada e edematosa por causa da confluência dos granulomas sença de numerosos esquistossomas nas veias. Nos levantamen-
dos ovos e alterações inflamatórias associadas; ao corte do fíga- tos epidemiológicos, podem ser úteis testes sorológicos.
do, há evidência também de granulomas de ovos e de fibrose
portal provocada por ovos que, inadvertidamente, passaram para
pequenos vasos porta. TRATAMENTO
Demonstrou-se que, em ovinos, anemia e hipoalbuminemia
são proeminentes durante a fase clínica, aparentemente como É preciso cuidado no tratamento de casos clínicos de esquistos-
resultado de hemorragia da mucosa, de disemopoese e de expan- somose, uma vez que o deslocamento dos trematóides atingidos
são do volume plasmático. pode resultar na formação de êmbolos e subseqüente oclusão de
Não se conhece a significância da infecção de baixo nível, mas grandes vasos sangüíneos mesentéricos e portais com conseqüên-
sugere-se que possa ter considerável efeito sobre a produtividade. cias fatais. As drogas ainda amplamente utilizadas são prepara-
Há evidências experimentais de resistência adquirida à rein- ções antimoniais, tártaro emético, antimosan e estibofen, embo-
fecção por espécies homólogas e, no que diz respeito às infec- ra estejam sendo substituídas por niridazol e triclorfon, todos os
104 Parasitologia Veterinária

quais precisam ser administrados durante certo período de dias femininos. Quase todos os cestóides de importância veterinária
em altas doses. Não são incomuns as fatalidades associadas ao estão na ordem Cyclophyll idea, as duas exceções estando na
uso destas drogas. O praziquantel, utilizado no tratamento de ordem Pseudophyllidea.
esquistossomose humana, també.m é eficaz em animais.

CONTROLE Ordem CYCLOPHYLLIDEA

É semelhante ao descrito para as infecções por F. gigantica e ESTRUTURA E FUNÇÃO


Paramphistomum. Uma vez que a prevalência de populações de
caramujos varia de acordo com a temperatura, devem ser feitos o cestóide adulto (Fig. 89) é çonstituído de cabeça ou escólex
esforços locais para identificar os meses de máxima população com órgãos de fixação, pescoço curto não-segmentado e uma
de caramujos e planejados os movimentos dos bovinos para evi- cadeia de segmentos. A cadeia é conhecida como estróbilo e cada
tar sua exposição a perigosas extensões de água nessas ocasiões. segmento como proglote.
Os órgãos de fixação são quatro ventosas nos lados do escólex
Esquistossomose nasal e podem conter ganchos. O escó!ex em geral apresenta anterior-
mente um cone projetável móvel ou rostelo em algumas espéci-
Em partes do subcontinente indiano, ocorre Schistosoma nasalis es que pode também ser guarnecido por uma ou mais fileiras
nas veias da mucosa nasal de bovinos, bubalinos e eqüinos. Nas concêntricas de ganchos que ajudam a fixação.
infecções maciças, há abundante corrimento mucopurulento, Os proglotes desenvolvem-se continuamente da região do colo
roncos e dispnéia. Os principais efeitos patogênicos estão associa- e se tornam sex ualmente maduros na porção final do estróbilo . .
dos aos ovos, que causam formação de abscessos na mucosa. Cada proglote é hermafrodita, com um ou dois conj untos de ór-
Ocorrem crescimentos granulomatosos fibrosos que podem ocluir gãos reprodutores, os poros genitais abrindo-se usualmente na
as vias nasais. A infecção é confirmada pela presença dos ovos borda ou nas bordas laterais do segmento (Fig. 89); podem ocorrer
fusiformes no corrimento nasal. tanto auto fertilização como fertilização cruzada entre proglotes.
A estrutura do sistema genital geralmente é semelhante à dos
trematóides. À medida que o segmento amadurece, sua estrutu-
[Esquistossomose no homem: A esquistossomose, ainda fre- ra interna desaparece amplamente e o proglote totalmente ma-
qüentemente conhecida pela antiga denominação de bilharziose, duro ou grávido finalmente contém apenas resquícios do útero
é de grande importância e, juntamente com a ancilostomose e a
filariose , constitui a helmintose mais importante do homem. As
duas espécies intestinais mais comuns são S. mansoni e S.
japonicum, o último ocorrendo ocasionalmente em animais do- Escólex
mésticos. A terceira espécie, S. haematobium, é encontrada nas
veias da vesícula.
No homem, ocorre uma forma de larva migrans cutânea fre-
qüentemente denominada "sarna dos nadadores", supondo-se que
seja causada por cercárias de esquistossomas aviários e animais
que têm migração limitada na pele humana.]

FamOia DIPLOSTOMATIDAE
A família Diplostomatidae inclui o gênero Alaria, do qual ocor-
rem diversas espécies no intestino delgado de cães, gatos, rapo-
sas e martas na maioria dos continentes, embora não tenham sido
registrados na Grã-Bretanha. O ciclo evolutivo envolve dois
hospedeiros intermediários, a saber, caramujos de água doce e
rãs. O hospedeiro definitivo infecta-se ingerindo rãs contendo
metacercárias encistadas (mesocercárias), e os trematóides mi-
gram extensivamente, incluindo passagens pelos pulmões, antes
de retomar ao intestino delgado. As infecções maciças podem
causar grave duodenite em cães e gatos. Foi registrado um caso
fatal num homem pela ingestão de pernas de rãs inadequadamente
cozidas; as principais lesões estavam nos pulmões.
Recomenda-se tratamento com praziquantel.

. Classe CESTODA (a)

Esta classe difere da Trematoda pelo corpo achatado sem canal


Fig. 89 Estrutura de um cestóide ciclofilídeo típico. (a) Escólex, colo e estróbilos;
digestivo. O corpo é segmentado, cada segmento contendo um (b) Segmento maduro mostrando órgãos reprodutores; (c) Segmento grávido; (d)
e, às vezes, dois conjuntos de órgãos reprodutores masculinos e Ovo de tenídeo típico (27 a 38 f.l.m).
Helminfologia Veterinária 105

++I1!i-- Útero

Poro
genital

Ovário

Glândulas
"""'A---vilelinas
(d)

(b) (3) Uma casca verdadeira que é uma delicada membrana e que
freqüentemente desaparece enquanto ainda no útero.
O tegumento do cestóide adulto é altamente absorvente, e o
verme obtém toda a sua nutrição através desta estrutura. Sob o
tegumento, ficam células músculares e o parênquima, o último
um sincício de células que ocupa o espaço entre os órgãos. O
sistema nervoso é constituído de gânglios no escólex de onde os
nervos entram no estróbilo. O sistema excretor, como nos tre-
matóides, é composto de células ativas que levam a canais efe-
rentes que seguem através dos estróbilos descarregando no seg-
mento tenninal.

CICLO EVOLUTIVO

O ciclo evolutivo típico desses cestóides é indireto com um hos-


pedeiro intermediário. Com poucas exceções, o cestóide adulto
é encontrado no intestino delgado do hospedeiro definitivo, e os
segmentos e ovos atingem o exterior pelas fezes.
Quando o ovo é ingerido pelo hospedeiro intermediário, as
secreções gástrica e intestinal digerem o embrióforo e ativam a
oncosfera. Usando seus ganchos, ela lacera a mucosa e atinge a
circulação sangüínea ou linfática ou, no caso dos invertebrados,
a cavidade corpórea. Uma vez no seu local de predileção, a
oncosfera perde os ganchos e se desenvolve, dependendo da es-
pécie, em um dos seguintes estágios larvais, freqüentemente co-
(e)
nhecidos como metaces!óides (Fig. 90).

Fig. 89 (continuação)
Cisticerco:
Cisto cheio de líquido contendo um único escólex invaginado
fixo , às vezes denominado protoescólex.

ramificado cheio de ovos. Os segmentos grávidos em geral saem Cenuro:


intactos dos estróbilos e são eliminados com as fezes. Fora do Semelhante ao cisticerco, mas com numerosos escólices inva-
corpo, os ovos são liberados por desintegração do segmento ou ginados.
saem afravés do poro genital.
O ovo [Fig. 89 (d)] é constituído de:
Estrobilocerco:
(I) O embrião hexacanto (6 ganchos) ou oncosfera. O escólex é evaginado e se liga ao cisto por uma cadeia de
(2) Uma "casca" espessa, escura e radialmente estriada deno- proglotes assexuados. Os últimos são digeridos após a ingestão
minada embrióforo. pelo hospedeiro definitivo, deixando apenas o escólex.
106 Parasitologia Veterinária

Cisticerco Cisto Cisto hidático


exógeno Taenia
É o gênero mais importante, tanto o adulto como os estágios lar-
vais tendo importância em saúde humana e medicina veteriná-
ria.
O hospedeiro defi nitivo, o estágio larval, o hospedeiro inter-
invaginado mediário e o local de predileção larval das principais espécies
único estão no Quadro 2.

Taenia saginata
o estágio intermediário deste cestóide, encontrado nos múscu-
los de bovinos, freqüentemente representa problemas económi-
cos para a indústria de came e constitui um risco para a saúde
pública.

Cisticercóide
Estrobilocerco Cenuro DISTRIBUiÇÃO
Fig. 90 ES1âgios larvais de ces1óides ciclofilídeos.
Mundial.

IDENTIFICAÇÃO
Hidátide: O cestóide adulto, encontrado apenas no homem, varia de 5 a 15
É um grande cisto cheio de líquido revestido por epitélio germi- m de comprimento. O escólex, excepcional entre as espécies de
nativo do qual são produzidos escólices invaginados que ficam Taenia, não tem rasteio nem ganchos; o útero do segmento
livres ou em cachos, circundados por epitélio germinativo (vesí- grávido tem 15 a 30 ramos laterais de cada lado do tronco cen-
culas filhas). O conteúdo dos cistos exceto o líquido, isto é, escó- trai, diferindo do da T solium, com apenas 7 a 12 ramos laterais.
lices e vesículas filhas, é freqüentemente descrito como "areia hidá-
No bovino, o cisticerco maduro, C. bovis, é branco-acinzentado,
tica". Às vezes, também se fonuam endogenamente vesículas fi- com cerca de I cm de diâmetro e cheio de líquido, no qual o escólex
lhas completas com cutícula e camada genninativa ou, se a pare- em geral é nitidamente visível. Como no cestóide adulto, ele não
de do cisto se romper, exogenamente. possui rasteio nem ganchos. Embora possa ocorrer em qualquer
parte da musculatura estriada, os locais de predileção, pelo menos
Cisticercóide: do ponto de vista de inspeção rotineira de carne, são o coração, a
Um único escólex evaginado incluso num pequeno c'isto sólido. língua e os músculos masseter e intercostais.
Encontrado tipicamente em muitos pequenos hospedeiros inter-
mediários, como artrópodes.
CICLO EVOLUTIVO
Tetratirídio: Um homem infectado pode eliminar milhões de ovos ao dia, li-
Larva em forma de venue, com um escólex invaginado; encon- vres nas fezes ou como segmentos intactos, cada um contendo
trado apenas em Mesocestoididae. cerca de 250.000 ovos, que podem sobreviver na pastagem du-
rante vários meses. Depois da ingestão por um bovino suscetí-
Quando o metacestóide é ingerido pelo hospedeiro definitivo, vel, a oncosfera segue através do sangue para a musculatura es-
o escólex fixa-se na mucosa, o restante da estrutura é digeri- triada. Começa a ser macroscopicamente visível cerca de duas
do e começa a crescer uma cadeia de proglotes da base do escó- semanas mais tarde como um ponto pálido semitransparente de
lex. aproximadamente 1 mm de diâmetro, mas não é infectante para
As sete principais farrn1ias de interesse veterinário na ordem o homem até cerca de 12 semanas depois, quando já terá atingi-
Cyclophyllidea são Taeniidae, Anoplocephalidae, Dilepididae, do o seu tamanho máximo de 1 cm (Prancha VI). Nessa ocasião,
Davaineidae, Hymenolepididae, Mesocestoididae e Thysanosomi- é envolto pelo hospedeiro numa cápsula fibrosa fina, .rnas apesar
doe. disto usualmenle o escólex ainda pode ser observado. A longe-
vidade dos cistos varia de semanas a anos. Quando morrem, em
geral são substituídos por uma massa caseosa friável, que pode
Família TAENIIDAE tornar-se calcificada. Tanto cistos vivos como mortos estão fre-
qüentemente presentes na mesma carcaça.
Os adultos são encontrados em carnívoros domésticos e no ho- O homem iruecta-se ingerindo carne crua ou insuficientemente
mem. O escólex tem um rostelo guarnecido com uma fileira dupla cozida. O desenvol vimento até a patência leva dois a três meses.
de ganchos (aexceção importante é Taenia saginata, cujo escólex
é desguarnecido). Os segmentos grávidos são mais longos que PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLíNICA
largos.
O estágio intermediário é cisticerco, estrobilocerco, cenuro ou Em condições naturais, a presença de cisticercos nos músculos
cisto hidático, ocorrendo apenas em mamíferos. de bovinos não está associada a sintomatologia clínica, embora,
HeJm intofogia Veterinária 107

Quadro 2 Hospedeiros definil ivos e inlermediários de espécies de Tael1ia

Cestóide adulto Hospedeiro definitivo Larva Hospedeiro interrnediârio Localização das larvas

T. saginata Homem Cysticercus bovis Bovino Músculo


T. sofium Homem Cysticercus cellu/osae Suíno, homem Músculo
T. multiceps Cão Coenurus cerebra/is Ovino, bovino Sistema nervoso central I -
T. hydatigena Cão Cystícercus ténuicoflis Ovino, bovino, suíno Peritônio FlGAtw € puL.mi/<:J
T. ovis Cão Cysticercus ovis Ovino Músculo
T. pisiformis Cão Cysticercus pisiformis Coelho Peritônio 'I~" ec. C! p"L,...~ L
T. s eria/is Cão Coenurus serialis Coelho Tecido conjunti vo -<> lN'~'t'.}JJsc.i.fo. '
T. ta eniaeforniis Gato Cysticercus fasciolaris (strobi/oce rcus) •Çamundongo. rato Fígado
;r.-...k7.ã15bei ~ão -<Cysfic ercus tarandi ~ :Befla'"":" ...Músculo

experimentalmente, bezen'os submetidos a infecções maciças por propri edades particulares devem-se a um a infecção por cestóide
o vos de T. saginata tenham desenvol vido grave miocardite e num peão ocorrendo ou como um evento casual o u, como foi
insuficiência cardíaca associadas a cisticercos em desenvolvi- reg istrado a partir de confinamentos de gado e m algun s dos es-
mento no coração. tados do sul dos Estados Unidos, co mo resultado do emprego de
No ho mem, o cestóide ad ulto pode produzir di arréia e cóli- mão-de-obra migrante de um a reg ião co m alta prevalência de
cas, mas a infecção usualmente é assi ntomática, sendo principal- infecção.
me nte censu rável em termos estéticos. Bem di stinta destes surtos, a causa da prevalência baixa po-
., rém persistente de infecção em bovinos é obscura, mas supõe-se
EPIDEMIOLOGIA q ue seja oriunda do acesso de bov inos à agua contaminada com
desaguame ntos de matéria orgânica hum ana, do transporte e di s-
Há doi s modelos epidemi ológicos bem distintos e ncontrados nos persão de o vos de T. saginata por aves que freqüentam esgotos
países em desenv olvimento e nos países desenvolvido s. ou se alime ntam de dejetos)ançados em ri os ou no mar e da con-
ta mina ç ão ocasional de pastos po r indivíduo s infectados
Países em desenvolvimento itinerantes.
Ao contrário da epidemiologia em países em desenvolvimen-
to, os bovinos de qualquer idade são suscetíveis à in fecção, pois
E m muitas partes da Á fri ca, da Ás ia e da América Latina, os
bovinos são criados em regim e ex ten sivo, a higiene humana é geralmente não possuem imunidade adquirida. Há ev idência tam-
bém de que, quando os bovinos são infectados pela primeira vez
pouco desenvol vida e o combu stível para cozinhar é caro. Nes-
ta s circun stânc ias, a inc idê nc ia de infecção humana po r T. j á co mo adultos, a longevidade dos cisticercos é limitada, a mai-
saginara é alta, e m...detel1nin adas regiões sendo bem s uperi or a ori a estando morta dentro de nove meses.
20%. Por ca usa di sso, os bezerros em geral são infec tados no
início da vida, freqüen!emente nos primeiros di as após o nasci- DIAGNÓSTICO
mento, por peões infec tados cujas mãos estão contaminadas por
ovos de Taenia. Pode ocorrer também infecção pré-natal de be- Cada país tem regulamentos di fe rentes em relação à inspeção de
zerros, mas é rara. Dos c istos que se desenvolvem, cert'a propor- carcaças, mas in variavelmente o músc ulo masseter, a líng ua e o
ção persiste durante anos, mes mo que o hospedeiro tenha desen- coração são cortados e examinados e os mú sculos intercostais e
vol vido imunidade adquirida e seja totalmente resistente a infec- o diafragma inspecionados; em muitos países, o músc ulo tríceps
ção posteri or. também é cortado.
Baseando-se em inspeção rotine ira de carcaça, a taxa de in- A inspeção é inevitavelmente um compromi sso entre a detec-
fecção costuma ser de aproximadamente 30 a 60%, embora a ção de cisticercos e a preservação do valor eco nômico da carcaça.
prevalênci a real sej a consideravelmente mais alta.
TRATAMENTO
Países desenvolvidos
Ai nda não existe uma droga aprovada disponível que realmente
Em certas regiões como a Euro pa, a América do Norte, a Aus- destrua todos os cisticercos no mú sculo, embora o praziquantel
trália e a Nova Zelândia, os padrões de higiene humana são altos demonstre eficácia em situações ex perimenta is.
e a carne é c uidadosamente inspecionada e, em geral, completa-
mente cozida antes do conSumo. Nessas regiões, a prevalência CONTROLE
de cisticercose é baixa, correspondendo a menos de I % de car-
caças examinadas. Ocasionalmente, entretanto, há relatos de surto Nos países desenvolvidos, o controle da cisti cercose bovina de-
de c isticercose em propriedades particulares, onde alta propo r- pende de condições de higiene humana de alto pad.dio, da prática
ção de bovin os se e nco ntra infectada. Na Grã-Bretanh a e na geral de cozimento completo da carne (o ponto térmico da morte
Austráli a, isto está associado ao uso de matéri a o rgâni ca hum a- de cisticerc os é de 57°C) e da inspeção compul sória da carne.
na no pasto, como fertilizante na forma de estercos, isto é, fezes Os reg ulamentos usualmen te requerem O congelamento das
sedimentadas ou di geri das por bactérias. Uma vez que os o vos carcaças infectadas a -10°C durante no mínimo 10 (tias, o que é
de T. saginata pode m sobreviver por mais de 200 dia s em sedi- sufi ciente para destruir os cisticercos, embora o processo reduza
mentos, a ocorrênci a desses surtos talvez não seja surpreenden- o valor econômico da carne. Onde são detectadas infecções ma-
te . Outras causas de repentina alta incidência de infecção em ciças de mais de 25 cisticercos, é co mum destruir a carcaça.
108 Parasitolagia Veterinária

Na agricul tura, o uso de esterco humano como ferti lizante deve CICLO EVOLUTIVO
restri ngir-se a áreas cultivadas ou a áreas que não serão ocupa-
das por bovinos durante pelo menos doi s anos. Também é semelhante ao de T. saginata, co m a importante dife-
Nos países em desenvolvi mento, são necessárias as mesmas rença de que o homem, o hospedeiro definiti vo, também pode
medidas, mas que nem sempre são economicamente viáveis, e, infectar-se por cisticercos. Isto pode ocorrer ou pela ingestão
no momento, a medida mais útil parece ser a educação das co- acidental de ovos de T. so/ium ou, aparentemente, numa pessoa
munidades quanto à higiene sanitária e ao cozime nto co mpleto com uma tênia adulta, pela liberação de oncosferas após a diges-
de carne. tão de um segmento grávido que entro u no estômago pelo duo-
deno por peristaltismo inverso; isto é conhecido como auto-in-
fecção.
ToeI/ia so!iulIl

Esta é a outra espécie de Taenia que ocorre no homem. O está- PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLíNICA
gio larva l, Cyslicerclls cellulosae, ocorre nos músc ul os de suí-
nos. Às vezes, os c isticercos também podem desenvolver- se no Como na infecção por T. saginata, a sintomatologia clínica é
homem, e a doença, cisticercose humana, constitui o aspecto mais inaparente nos suínos naturalmente infectados com cisticercos e
sério desta zoonose. geralmente insignificante no homem com tênias adu ltas.
Entretanto, quando o homem se infecta com cisticercos, po-
dem ocorrer diversos sinais clínicos dependendo da localização
DISTRIBUiÇÃO
dos cistos em órgãos, mú sculos ou tecido subcutâneo. Mais gra-
Este cestóide é mais prevalente na América Latina, na Índia, na vemente, os cisticercos podem desenvolver-se no sistema ner-
África e em regiões do Extremo Oriente, exceto nos países onde voso central, produzindo distúrbi os me ntais ou sinais clínicos de
existem sanções reli giosas para o consumo de carne de porco. epilepsia ou aumento de pressão intracraniana; podem também
Atualmente, é incomum nos países desenvolvidos. desenvolver-se no olho, com conseqüente perda de visão. Somen-
te na América Latina, calcula-se que meio milhão de pessoas
estejam cometidas, ou pela forma nervosa ou pela forma ocular
IDENTIFICAÇÃO
de cisLicercose.
o cestóide adu lto é semelhante à T saginata, exceto que o escólex
é tipicamente tenídeo, possuindo um rasteio guarnecido com duas EPIDEMIOLOGIA
fileiras concêntricas de ganchos (Fig. 91), enquanto o útero do
segmento gráv ido, como foi observado anteriormente, tem me- É basicamente semelhante à de T. saginata nos países em desen-
nos ramos latera is. volvimento, exceto, naturalmente, que depende sobretudo da
íntima associação de suínos rurai s com o homem e, em particu-
lar, do seu acesso quase sempre irrestrito a fezes humanas. A
negligência na inspeção da carne e o comércio clandestino de
carne de porco não-inspec ionada também são fatores importan-
tes na di sseminação da infecção.
Como se observou anterionnente, O homem pode infectar-se
com cisticercos, o que pode ocorrer pela ingestão de ovos em
legu mes ou em outros alimentos contaminados com fezes huma-
nas ou manuseados por pessoa infectada.

DIAGNÓSTICO

Para todos os fins práticos, O diagnóstico depende dos métodos


de inspeção de' carne semelhantes aos descritos para T. saginata.
No homem, o diagnóstico de cisticercose cerebral depende
principalmente da detecção de cisticercos por técnicas de varre-
dura de TAC (tomografia axial computadorizada) e do achado
de anticorpos contra cisticercos no líquido cerebroespinha1.

TRATAMENTO

Não existem drogas eficazes viáveis para a destruição de eis-


licercos nos suínos , embora no homem o praziquantel e o alben-
dazol sejam considerados de alg um valor como possíveis alter-
nati vas à cirurgia.

CONTROLE

Fig. 91 Cabeça típica de ten(deo mostrando quatro ventosas e rasteio guarnecido Depende, em última análise, da obrigatoriedade de regulamen-
de ganchos. tos de inspeção de carne e de métodos de congelamento a tem -
Helmintologia Veterinária 109

peraturas baixas, como foi descrito para T. sagillata. Além dis-


so, a exclusão de suínos do cantata com fezes humanas, O cozi-
mento completo de carne de porco e padrões adequados de higi-
ene pessoal também reduzem a prevalência de infecção.

TENíASE EM CÃES E GA TOS

Taenia (sin. Multiceps) 1I1ulticeps

o cestóide adulto tem até 100 cm de comprimento e é encontra-


do no cão e em canídeos sil vestres. As oncosferas, quando inge-
ridas por ovinos ou outros ruminantes, são transportadas pelo
sangue ao cérebro ou à medula espinha~, onde cada uma delas se
desenvolve no estágio larval, Coenurtls cerebralis. Quando ma-
duro, é facilmente identificado como um grande cisto cheio de
líquido de até 5 cm ou mais de diâmetro, que apresenta grumos
de escólices na sua parede interna (Prancha VI).
O cenuro leva cerca de oito meses para amadurecer no siste-
ma nervoso central e, confonne se desenvolve, comumente ocorre
si ntomatologia clínica. Esses sinais clínicos dependem da loca-
lização do cisto ou cistos e incluem andar em círculos, defeitos
visuais, a.lterações na postura, hiperestesia ou paraplegia. A sín-
drome clínica é freqüentemente conhecida como cenurose.
A remoção cirúrgica é possível se o cisto esti ver .situado na Fig. 92 Cysticercus ovis em musculo de ovino.
superfície do cérebro. Pode ser detectado por amolecimento lo-
cai do crânio ou por exame neurológico detalhado. Para muitos
casos, entretanto, não há tratamento.
inspeção da carne. Estão sendo feitos grandes esforços para erra-
dicar este cestóide em cães em áreas de ovinocultura da Austrália
Taenia hydatigena e da Nova Zelândia por quimioterapia regular e proibição do for-
necimento de carne ovina não-cozida a cães. Uma vacina reCOffi-
Este grande cestóide, de até 500 cm de comprimento, é encon- binante contra T. avis em ovinos está sendo desenvolvida comer-
trado no cão e em canídeos silvestres. As oncosferas, infectan- cialmente, devendo ser viável num futuro próximo.
tes para ovinos, bovinos e suínos, são transportadas pelo sangue
ao fígado, onde migram por aproximadamente quatro semanas
antes de emergir na superfície deste órgão e fixar-se ao peritô- Taenia pisiformis
nio. Em outras quatro semanas, cada oncosfera se desenvolve no
Cysticercus tenuicollis, caracteristicamente grande, que tem até o ciclo evolutivo deste cestóide, de até 200 cm de comprimen-
8 cm de diâmetro (Prancha VI). , to, de cães e carnívoros relacionados é semelhante ao da T.
A infecção é prevalente, sobretudo em ovinos, mas em geral hydatigena, exceto que o estágio intermediário, O Cysticercus
é detectada apenas à inspeção da carne. Raramente, contudo, pisifarmis·em forma de pêra, é encontrado no peritônio de coe-
grandes quantidades de cisticercos em desenvolvimento migram lhos e lebres.
simultaneamente no fígado dos ovinos ou suínos, produzindo
"hepatite cisticercosa" (Prancha VI), uma condição cuja patolo-
gia macroscópica lembra fasciolose aguda e que freqüentemen- Tael/ia .Ierialis
te é fatal. Ocasional mente, também, os cisticercos em desenvol-
vimento são destruídos no fígado, provavelmente em ovinos Este é outro cestóide de cães, de aproximadamente 70 cm de
expostos antes à infecção; nesses casos, a superfície subcapsu- comprimento, cujo estágio intermediário, o Coenurus serialis,
lar do fígado encontra-se salpicada de nódulos esverdeados de é encontrado nos coelhos, em geral subcutaneamente ou no
aproximadamente I cm de diâmetro. tecido conjuntivo intermuscular. Os numerosos escqlic~s no
cenuro ficam dispostos em linhas, como indica o próprio nome
(Fig. 93).
Taenia ol"is

Este cestóide comum de cães e carnívoros silvestres tem até 200 Taenia taeniaeformis
cm de compri mento. O ciclo evoluti vo é semelhante ao de T
saginata, sendo o estágio intermectiário, Cysticercus avis, encon- É um cestóide de gatos, com cerca de 60 cm de comprimento,
trado nos músculos de ovinos (Fig. 92). cujo estágio intermediário, o Cysticercusfasciolaris, é encontrado
É importante principalinente pelas objeções estéticas ao aspecto no fígado de camundongos e outros roedores (Prancha VI). Cada
dos cistos na carne de ovinos e, como conseqüência, pode ser uma estrobilocerco se encontra num nódul o do tamanho de urria-ervi-
causa significativa de perda econômica através da condenação à lha enterrado no parênquima hepálico.
11 0 Parasito/agia Veterinária

E. g. equ t"nlls eq üin os e asi ninos.

Localização:
Adultos no intestino delgado e cistos hidáti cos principalmente
no fígado e nos pulmões.

Distribuição:
E. g. granlllosus mundial
E. g. equinus principalmente Europa.

IDENTIFICAÇÃO

Macroscópica:
O cestóide inteiro tem apenas cerca de 6 mm de comprimento
(Fig. 94), sendo, portanto, difíci l encontrá- lo no in testi no recém-
aberto. É constituído de um escólex e três ou quatro segmentos,
o seg mento grávido termi nal oc upando aproximadamente meta-
de do comprimento do cestóide completo.

Microscópica:
O esc61ex é tipicamente tenídeo, e cada seg mento possui um
único ori fício genital. O embrióforo é semelhante ao de espécies
de Taenia, radialmente estri ado e contendo uma oncosfera com
seis ganchos.
Fig. 93 Coenurus seriafis de tecido intermuscular de coelho.
CICLO EVOLUTIVO

O período pré- patente no hospedeiro definitiv o é de aproxima-


DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO E CONTROLE damente 40 a 50 di as, após o que apenas um segmento grávido é
eliminado pela tênia por semana. As oncosferas são capazes de
o diagnóstico depende da demonstração de segmentos ou de ovos sobrevivênci a prolongada fora do hospedeiro, sendo viáveis no
de tenídeos indi viduais nas fezes. A identificação específica do solo durante cerca de doi s anos. Após a ingestão pelo hospedei-
verme adulto é um a tarefa de especialistas.
Para os vermes adultos, há uma série de drogas eficazes viá-
ve is , incluindo pra ziquante l, mebenda zo l , fenbendazo l,
nitroscanato e diclorofen.
O co ntrole depende de métodos di etéticos, que excluem o
acesso ao estágio larval nos hospedeiros intermediários.

EchillococcUS

Este é outro gênero importante na farrulia Taeniidae e um dos me-


nores cestóides de animais domésticos. Duas espécies, E. granulo-
sus e E. multilocularis, são importantes em medicina veterinária, e
o estágio larval, a hidátide, desenvolve-se numa variedade muito
ampl a de hospedeiros intennediários, incl uindo o homem.

Echinococcus gr{//1lI1oslIs

Há duas import.:1.ntes linhagens de E. granulosus em animais domés-


ticos, a saber, E. granulosus granulosus e E. granl/losus equinus.

Hospedeiros:
E. g. granulosus cães e muitos canídeos silvestres
E. g. equinus cães e raposas venne lhas.

Hospedeiros intermediários:
E. g. granuloslts ruminantes domésticos, homem , suínos e
ruf1!inantes silvestres; os eqüino s e
asi nin os são resi stentes. Fig. 94 Echinococcus granulosus adulto.
,
Helminloiogia Veterinária II I

ro intermediário, a oncosfera penetra na parede intestinal e se- ambos os pulmões podem ser acometidos, causando sintomas
gue no sangue para o fígado ou na linfa para os pulmões. Estes respiratórios, e se hou ver várias hidátides presentes no fígado
são os dois locai s mais comuns para desenvolvimento larval, mas pode haver grande distensão abdominal. Se um cisto se romper,
ocasionalmente escapam oncosferas na circulação sistêmica ge- há ri sco de morre por anafil axia; se a pessoa so breviver, os cis-
ral e se desenvolvem em outros órgãos e tecidos. tos filhos liberados podem retomar o desenvolvimento em ou-
O crescimento da hidátide é lento, e a maturidade é atingida tras regiões do corpo.
em seis a 12 meses. No fígado (Prancha VI) e nos pulmões, o
cisto pode ter di âmetro de até 20 cm, mas nos locais mais raros, EPIDEMIOLOGIA
como a cavidade abdominal, onde é poss ível crescimento
irrestrito, pode ser muito grande e conter vários lilroS de líquido. E. g. granulosus
A cápsula do cisto é constituída de uma membran a ex terna e um
epitélio germinativo interno do qual , quando o crescimento do Apenas alguns países, notavelmente a Islândia e a Irlanda, estão
cisto está quase completo, se originam vesículas filhas, cada uma livres desta linhagem de E. granulosus. Costuma-se considerar a
delas contendo uma série de escólices (Fig. 95). Mu itas dessas epidemiologia como baseada em dois ciclos, pastoral e silvestre.
vesículas filhas soltam-se e ficam li vres no líquido hidático; co- No ciclo pastoral, o cão sempre está envolvido, infectando-
letivame nte, tais vesículas e os escólices costumam ser designa- se pela ingestão de vísceras de ruminanles contendo cistos hidá-
dos "areia hidálica". ticos. O hospedeiro intermediário doméstico varia de acordo com
Às vezes, formam-se cistos filhos completos no lado interno o tipo de criação local , porém o mais importante é o ovino, que
do ci sto mãe ou externamente; no último caso, podem ser trans- parece ser o hospedeiro intermediário natural, sendo os escólices
portados para outras partes do corpo e formar novas hidátides. destes animais os mais infectan tes para cães. Em partes do Ori-
Nos ovinos, cerca de 70% de hidátides oconem nos pulmões, ente Médio, o camelo é o principal reservatório de hidátides,
cerca de 25% no fígado e o restante em outros órgãos. Nos eqüi- enquanto no norte da Europa e no norte da Rú ssia é a rena.
nos e bovinos, mais de 90% dos cistos são usualme nte encontra- O ciclo pastoral é a principal fonte de hidatidose no homem,
dos no fígado. Os animais, em sua maioria, apresentam pouca e a infecção ocorre por ingestão acidental de oncosferas da pela-
reação local à hidátide em crescimento, que aparece como um gem de cães ou de legumes e outros gêneros alimentícios conta-
ci sto de paredes finas parcialmente incluso no órgão, mas em minados por fezes de cães.
eqüinos desenvolve-se uma cápsula fibrosa espessa ao redor do O ciclo silvestre ocorre em canídeos e ruminantes silvestres,
ci sto. Os cistos podem ser poucos e tão grandes quanto bolas de com base na predação ou no consumo de cadáveres. É menos
tênis ou numerosos e pequenos, aparecendo no fígado co rno pe- importante como fonte de infecção humana, exceto nas comuni-
quenas malhas brancas. dades caçadoras, onde a infecção pode ser introduzida em cães
domésticos pelo consumo de vísceras de ruminantes silvestres.
PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLíNICA
E. g. equinus
O cestóide adulto não é patogênico, podendo haver milhares num
cão sem sintomatologia clínica. A hidatidose eqü ina é mais com um na Europa, e em outras par-
Nos animais domésticos, a hidátide no fígado ou nos pulmões les do mundo a maioria dos casos é regi strada em eqüinos euro-
geralmente é tol erada sem sinais clínicos, e a maioria das infec- peus importados. A linhagem é altamente específica para os eq üi-
ções é revelada apenas no abatedouro. Onde foram transporta- nos, e os ovos não se desenvol vem em ovinos. O cão doméstico
das oncosferas na circulação para ou tro s locais, como rim, pân- e a raposa vermelha são os hospedeiros defi nitivos, e nas regi-
creas, SNC ou medula de ossos longos, a pressão exercida pelo ões de alta prevalência o ciclo depende do acesso de cães a vís-
cisto em crescimenlO pode provocar uma série de sinais clínicos. ceras eqüinas infectadas. No continente e uropeu, a fonte mais
Por outro lado, quando o homem está envol vido como hos- provável é constituída por restos de abatedouros de eqüinos e,
pedeiro intermediário, a hidátide em sua locali zação pulmonar na Grã-Bretanha, pelas vísceras de eqüinos de caça ingeridas por
ou hepática quase sempre tem importância patogênica. Um ou cães na caça à raposa.

DIAGNÓSTICO

Raramente se suspeita da presença de hidátides como entidade


clínica em animais domésticos, nunca sendo necessário um di-
agnóstico específico. No homem, os métodos mais comumente
utilizados são testes sorológicos, como fi xação do complemen-
to ou imunoeletroforese. Para localizar os ci stos, podem ser usa-
das técni cas de varredura.
O diagnóstico de infecção em cães por cestóides adu ltos é
difícil, porque os segmentos são pequenos e eliminados apenas
escassamente. Quando encontrados , a identificação baseia-se no
seu tamanho de 2 a 3 mm, formato oval e poro gen ital único.
Em alguns países, os esquemas de controle envolvem a ad-
ministração de anti-helmínticos purgativos, como o cJoridrato de
arecolina, a fim de que o verme inteiro seja ex pelido no muco e
Fig. 95 Escôlices de EchinOCOCCU5 granulosus de cisto hidático. possa ser procurado nas fe zes. Se for viável a necropsia, o intes-
112 Parasit%gia Veterinária

tino delgado deve ser aberto e imerso em água rasa, quando os


cestóides fixados serão vistos como pequenas papilas finas.

TRATAMENTO

É mais difícil remover as tênias do gênero Echinococcus do que


as do gênero Taenia, mas atualmente existem várias drogas,
principalmente o praziquantel, que são altamente eficazes. Após
o tratam'ento, é recomendável prender os cães por 48 horas para
facilitar a colheita e a eliminação de fezes infectadas.
No homem, os cistos hidáticos podem ser excisados cirurgi-
camente, embora as terapias com mebendazol, albendazol e
praziquantel sejam descritas como eficazes.

CONTROLE Fig. 96 Fígado humano infectado por Echinococcus muftilocularis larval.

Baseia-se no tratamento regular de cães para eliminar os vermes


adultos e na prevenção de infecção em cães excluindo-se de sua EPIDEMIOLOGIA E SIGNIFICADO
dieta as substâncias animais que contêm hidátides. Consegue-se
isto impedindo o acesso de cães a abatedouros e, onde for possí-
Embora o E. multilocularis tenha ampla distribuição no hemis-
vel, por eliminação adequada de carcaças de ovinos em proprie-
fério norte, é essencialmente um parasita de regiões de tundra,
dades rurais. Em alguns países, estas medidas fazem parte da
com sua prevalência máxima nas regiões subárticas do Canadá,
legislação, com penalidades quando são desobedecidas.
Alasca e Rússia. Seu ciclo epidemiológico básico nestas regiões
Nos países onde não existem medidas específicas para o co~­
é na raposa e no lobo árticos, e suas presas pequenos roedores e
trole de hidátides, verifica-se que um benefício acidental da eh-
insetívoros. Na América do Norte, sua amplitude estende-se do
mi nação de cães de rua para o controle da raiva é a grande redu-
sul do Canadá aos Estados Urtidos, onde a raposa vermelha e o
ção na infecção por hidátide no homem.
coiote atuam como hospedeiros finais. O ciclo, portanto, é sil-
vestre, e a maioria dos casos no homem ocorre em caçadores e
Echinococcus multilocularis suas famílias após o contato com a pele contaminada de raposas
e lobos. Contudo, ocasionalmente o homem suburbano pode in-
fectar-se por ingestão de verduras ou frutas contaminadas por
Hospedeiros:
raposas infectadas à procura de ratos silvestres de jardim. O cres-
Canídeos sil vestres, cães e gatos domésticos.
cimento invasivo no homem simula neoplasia maligna, e, por
causa da sua difusão infiltrativa nos tecidos e facilidade para
Hospedeiros intermediários:
desenvolver metástases, não se aconselha cirurgia; em vez dis-
Principalmente roedores, como ratos silvestres e lemingues, e
so, recomenda-se o tratamento com mebendazol ou praziquantel.
insetívoros; alguns dos maiores manúferos, incluindo o homem,
O cestóide adulto ocorre nos cães de trenó de caçadores, e o
também são suscetíveis.
fato destes e de outros cães domésticos, bem como os gatos do-
mésticos, serem potenciais portadores de infecção para o homem
Localização:
o coloca no campo de interesse veterinário.
Os adultos ocorrem no intestino e as hidátides principalmente no
Em virtude do grande reservatório silvestre, é improvável que
fígado.
algum dia se consiga o controle de E. multilocularis.
Distribuição:
Hemisfério norte incluindo América do Norte, Groenlândia, Es- Família ANOPLOCEPHALlDAE
candinávia, Euro~a Central, Oriente Médio; também Índia e Japão.

IDENTIFICAÇÃO Anoplocephala

Em geral, semelhante ao E. granulosus, mas usualmente com Essencialmente cestóides de herbívoros. O escólex não tem
quatro a cinco segmentos. rasteIo nem ganchos e os segmentos grávidos são mais largos que
longos. O estágio intermediário é um cisticercóide.
Duas espécies deste gênero são parasitas do intestino dos
CICLO EVOLUTIVO E PATOGENIA eqüinos, e, embora pouco se conheça sobre sua exata importân-
cia patogênica, estão associadas a alterações erosivas na muco-
O hospedeiro intennediário infecta-se por ingestão da oncosfera, sa intestinal.
e o estágio larval desenvolve-se principalmente no fígado, como
o chamado cisto multilocular ou alveolar, um crescimento difuso Hospedeiros:
com muitos compartimentos contendo uma matriz gelatinosa na Eqüinos e asininos.
qual se originam os escólices (Fig. 96). O crescimento do estágio
intennediário é invasivo, estendendo-se localmente e capaz de Hospedeiros intermediários:
metástases sistêmicas. Vários ácaros do solo e do pasto, da farru1ia Oribatidae.
Helmintologia Veteril1ária 113

Localização: PATOGENIA
Os adultos são encontrados no intestino delgado e grosso e os
cisticercóides em ácaros oribatídeos. o gênero Anaplocephala em geral é considerado relativamente não-
patogênico, mas existe certa evidência de que as infecções maciças
Espécies: podem causar grave sintomatologia clínica e pcxIem mesmo ser fatais.
Anoplocephala petfoliata e A. magna. A. pelfoliata é encontrado usualmente em volta da junção ileoce-
cal e provoca ulceração da mucosa no seu ponto de fixação; essas
Distribuição: lesões são apontadas como causa de intlJssuscepção. A. magna é mais
Mundial, sendo A. perfoliata o mai s comum. comumente encontrado no jejuno e, quando presente em grandes
quantidades, pode resultar em enterite catarral ou hemorTágica.
IDENTIFICAÇÃO Há registros de casos de obstrução e perfuração intestinal as-
sociadas a infecções maciças por ambas as espécies.
Estes, juntamente com o cestóide relacionado porém menor e
menos comum Paranoplocephala mamillana, são os únicos SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA
cestóides adultos encontrados nos eqüinos. A. perfaliala, cujo
aspecto global (Fig. 97) é o de um grande trematóide branco, tem Na maioria das infecções, não se observa sintomatologia clíni-
até 20 cm de comprimento e escólex arredondado, com uma pro- ca. Entretanto, quando há alterações patológicas significantes no
jeção atrás de cada uma das quatro ventosas; tem o colo muito intestino , pode haver definhamento, enterite e cólica. A perfura-
curto, e o estróbilo alarga-se rapidamente, sendo os proglotes ção do intestino é rapidamente fatal.
indi vidualmente muito mais largos que longos. A magna é se-
me lhante morfologicamente, porém muito mais longo, com até
80 cm, e não há projeções no escólex.
Os ovos são irregularmente esféricos ou triangulares e vari-
am de 50 a 80 fLm de diâmetro; a oncosfera é sustentada por um
par de projeções, o chamado aparel ho piriforme (Fig. 98).

CICLO EVOLUTIVO

Os segmentos maduros são eliminados nas fezes e se desintegram,


liberando os ovos. Esses ovos são ingeridos por ácaros nos quais
se desenvolvem no estágio cisticercóide em dois a quatro me-
ses. Um ou dois meses depois da ingestão dos ácaros infectados
na forragem. os cestóides adultos são encontrados no intestino
de eqüinos.

lal Ibl

Fig. 97 Anoplocephala perfoliata. (a) Cabeça apresentando projeções; (b) Um grupo de cestóides fixados à mucosa cecal.
114 Parasito/agia Veterinária

Não existem projeções no escólex, e as ventosas são em forma


de fenda. O ciclo evolutivo é semelhante ao de Anoplocephala.

Moniezia
Este gênero de cestóides é comum em ruminantes e lembra, em
muitos aspectos, Anoplocephala dos eqüinos.

Hospedeiros:
Ruminantes.

Hospedeiros intermediários:
Ácaros da pastagem, principalmente da família Oribatidae.

Localização:
Adultos no intestino delgado; cisticercóides em ácaros.

Espécies:
Moniezia expansa ovinos, caprinos, ocasionalmente bovinos
M. benedeni principalmente bovinos.

Distribuição:
Mundial. Os únicos cestóides de ruminantes na Europa Ocidental.

IDENTIFICAÇÃO
Fig. 98 Ovos de Anopfocephalaperfoliata (65 a 80 fi-m; diâmetro do embrião, 16 fi-rn).
São cestóides longos, com 2 m ou mais, não-guarnecidos e pos-
suindo apenas ventosas (Fig. 99). Os segmentos são mais largos
que longos e contêm dois conjuntos de órgãos genitais macros-
EPIDEMIOLOGIA copicamente visíveis ao longo da borda lateral de cada segmen-
to. M. expansa tem até 1,5 cm de largura, enquanto M. benedeni
Podem ser acometidos eqüinos de todas as idades, mas os casos pode ter até 2,5 cm. Microscopicamente, há uma fileira de glân-
clínicos são registrados principalmente em animais de até três a du las interproglotidianas na borda posterior de cada segmento,
quatro anos de idade. Parece haver leve flutuação sazonal em A.
petfoliata, sendo os números de vermes mínimos na primavera
e, em seguida, acumulando-se até o inverno.
~

DIAGNÓSTICO

Quando ocorre sintomatologia clínica, pode ser difícil diferenciar


de causas mais comuns de definhamento e distúrbios digestivos.
Entretanto, pode ser possível confirmar a presença deAnoplocepha-
la pela demonstração dos ovos típicos ao exame de fezes.

TRA TAMENTO E CONTROLE

Raramente é necessário tratamento específico para infecção por


Anoplocephala, mas vários compostos foram descritos corno
eficazes, incluindo o pirantel em doses maiores.
O controle é difícil, pois os ácaros oribatídeos encontram-se
amplamente espalhados pelos pastos. O tratamento com um anti-
helmíntico eficaz antes dos animais começarem um novo paste-
jo pode ajudar a controlar as infecções por Anoplocephala em
áreas onde surgiram problemas.

Paranoplocephala
Paranoplocephala mamillana é um pequeno cestóide não-pato-
gênico, de até 5 cm de comprimento e 0,5 cm de largura, que
ocorre no duodeno de eqüinos na maioria das regiões do mundo. Fig. 99 Cabeça desguarnecida de Moniezia.
HelminIologia Veterinária 11 5

o que pode ser usado em diferenciação entre espécies (Fig. 100); trar efeitos clínicos substanciais mesmo com cargas de vermes
em M. expansa, estendem-se ao longo de toda a largura do seg- razoavelmente pesadas.
mento. enquanto em M. benedeni limitam-se a uma fileira curta
perto da parte central do segmento. SINTOMATOLOGIA CLíNICA
Os ovos irregularmente triangulares têm um aparelho pirifor-
me bem definido e variam de 55 a 75 ",m de diâmetro. Ainda que uma grande variedade de sinais clínicos, incluindo
definhamento, diarréia, sintomatologia respiratória e até mesmo
CICLO EVOLUTIVO convulsões, seja atribuída a Moniezia, a infecção geralmente é
assintomática. Ainda precisam ser determinados os efeitos sub-
Semelhante ao deAlloplocephala. Proglotes maduros ou ovos são clínicos.
eliminados nas fezes e, no pasto, as oncosferas são ingeridas por
ácaros da forragem. Os embriões migram para a cavidade cor- EPIDEMIOLOGIA
pórea do ácaro, onde se desenvolvem em cisticercóides em um a
quatro meses, e a infecção do hospedeiro definitivo ocorre por A infecção é comum em cordeiros, cabritos e bezerros no prj-
ingestão de ácaros infectados durante o pastejo. O período pré- meiro ano de vida e menos comum em animais mais velhos. Uma
patente é de aproximadamente seis semanas, mas os vennes adul- flutuação sazonal na incidência de infecção por Moniezia apa-
tos parecem ter vida curta, persistindo as infecções patentes por rentemente pode estar relacionada a períodos ati vos dos vetares
apenas três meses. ácaros da forragem durante o verão em regiões temperadas. Os
cisticercóides podem sobreviver ao inverno nos ácaros.
PATOGENIA
DIAGNÓSTICO
Embora geralmente considerado de pouca importância patogê-
nica, há uma série de relatos, especialmente da Europa Oriental Baseia-se amplamente na presença de proglotes maduros nas
e da Nova Zelândia, de infecções maciças causando definha- fezes.
mento, diarréia e até mesmo obstrução intestinal. As infecções
por Monieúa, entretanto, são tão óbvias, tanto em vida pela pre- TRATAMENTO E CONTROLE
sença de proglotes nas fezes como à necropsia, que outras cau-
sas de más condições de saúde podem ser subestimadas. O inte- Em muitos países, há uma série de drogas disponíveis para o tra-
ressante é que estudos experimentais não conseguiram demons- tam ento de infecção por Moniezia, incluindo niclosamida,
praziquantel, bunamidina e vários compostos benzimidazóis de
amplo espectro, que têm a vantagem de também ser ativas con-
tra nematóides gastrintestinais. Se isto for efetuado em bezerros
e cordeiros no final da primavera nas regiões temperadas, as
quantidades de ácaros recém-infectados no pasto serão reduzi-
das. Também podem ser medidas benéficas aração e nova seme-
adura ou evitar o uso dos mesmos pastos por animais jovens em
anos consecutivos.

Família DILEPIDIDAE
Cestóides dos cães, do s gatos e das aves domésticas. O escólex
usualmente tem um rasteio guarnecido com diversas fileiras de
(a) ganchos. O estágio intermediário é um cisticercóide.

Dipylidium

É o gênero de cestóide mais comum dos cães e gatos domésticos.

Hospedeiros:
Cães e gatos; raramente o homem.

Hospedeiros intermediários:
Pulgas (Ctenocephalides canis. C. felis e Pulex irritans) e pio-
lhos (Trichodectes canis).

Localização:
(b) Intestino delgado; cisticercóide em pulgas e piolhos.

Fig. 100 Segmentos de (a) Monlezia expansa; (b) Moniezia benedeni. Observar a Espécie:
distribuição diferente de glândulas inlerproglolidianas. Dipylidium caninum.
116 Parasitologia Veterinária

Distribuição: sendo alongado. como um grande grão de arroz, e tem dois con-
Mundial. juntos de órgãos genitais, com um poro abrindo-se em cada borda.

IDENTIFICAÇÃO CICLO EVOLUTIVO


Dipylidiwn é um cestóide muito mais curto que Taenia, o compri-
mento máximo sendo de aproximadamente 50 cm. O esc61ex tem Os segmentos recém-eliminados são ati vos e podem mover-se
um rasteio protrátil, guarnecido com quatro ou cinco fileiras de pe- na região da cauda do animal. As oncosferas são contidas em
quenos ganchos (Fig. 101). O proglote é facilmente identificado, aglomerados ou cápsulas (Fig. 102), cada uma contendo cerca
de vinte ovos, que são ou expelidos pelo segmento ativo ou libe-
rados por sua desintegração.
Depois de ingeridas pelo hospedeiro intermediário, a s
oncosferas seguem para a cavidade abdominal, onde se desenvol-
vem em cisticercóides. Todos os estágios do piolho mordedor
podem ingerir oncosferas exceto a pulga adulta, que possui peças
bucais adaptadas para perfuração, e a infecção é adquirida apenas
durante o estágio larval, que tem peças bucais mastigadoras.
O desenvolvimento no piolho, que é permanentemente para-
sita e portanto desfruta de um ambiente quente, dura cerca de 30
dias, mas na larva de pulga e no adulto que estão crescendo no
casulo, ambos no solo, O desenvolvimento pode prolongar-se por
vários meses.
O hospedeiro definiti vo infecta-se por ingestão da pulga ou
do piolho contendo os cisticercóides, e o desen volvimento na
forma patente, quando são eliminados os primeiros segmentos
grávidos, prolonga-se por cerca de três semanas.

PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLíNICA

(a) O adulto é não-patogênico, e podem ser toleradas várias cente-


nas sem efeito clínico. Eliminam segmentos, os quais, ao raste-
jar ativamente pelo ânus, podem causar certo desconforto, e uma

(b)

Fig. 101 Dipy/idium caninum. (a) Cabeça apresentando rasteio guarnecido de vá-
rias fileiras de ganchos; (b) Segmento maduro com poro genital em cada borda. Fig. 102 Cápsula avigera de Dipy/idium caninum (120 a 200 fJ..m).
Helmintolog ia Veterinária 11 7

indicação útil de infecção é o ato de esfregar excessivamente o


períneo. Sugeriu-se que os cães infectados adquirem o hábito de
Davainea
esfregar o ânus no chão, mas as glândulas anais repletas por obs-
trução são uma causa mais comum deste comportamento. Este gênero contém Davainea proglottina, o cestóide mais pa-
togênico de aves.
EPIDEMIOLOGIA Hospedeiros:
A infecção por Dipylidium é muito comum e, dependendo da Aves domésticas e pombos.
presença contínua de ectoparasitas para sua endemicidade local,
é mais prevalente em animai s mal cuidados, embora também se Hospedeiros intermediários:
observem infecções em cães e gatos bem tratados. Lesmas e caramujos terrestres.

Localização:
DIAGNÓSTICO
Adu ltos no intestino del gado; cisticercóides em lesmas e
Freqüentemente, a primeira indicação de infecção é a presença caramujos.
de um segmento na pelagem ao redor do períneo. Se o segmento
for recém-eliminado, pode-se fazer a identificação preliminar Espécie:
pelo fonnato alongado e pelos órgãos gen itais duplos que podem Davainea proglottina.
ser vistos com uma lente de aumento. Se estiver ressecado e de-
formado, será necessário rompê-lo com agulhas umedeci das, quan- Distribuição:
do as cápsulas ovígeras serão faci lmente observadas com um mi- Mundial.
croscópio, diferenciando, assim, este segmento do segmento de
espécies de Taenia, que contém apenas oncosferas isoladas. IDENTIFICAÇÃO

TRA TAMENTO E CONTROLE D. proglottina é um pequeno cestóide de até 4 mm de compri-


mento e, diferentemente de Amoebotaenia, possui apenas seis a
Na infecção por Dipylidium, o tratamento e o controle devem ser nove segmentos (Fig. 103). Tanto o rasteio como as ventosas
instituídos juntos, pois evidentemente não se justifica eliminar o apresentam ganchos.
verme adulto e ao mesmo tempo deixar um reservatório nos ecto-
parasitas do animal. Portanto, a administração de anti-helrrúnticos, PATOGENIA E CONTROLE
como nitroscanato e praziquantel, deve ser acompanhada pelo uso
de inseticidas. É fundamental também a aplicação de inseticidas à Este é o mais patogênico dos ceslóides de aves, o escólex dupla-
cama e aos locais habituais de repouso, a fim de eliminar os está- mente guarnecido penetrando profundamente entre as vilosidades
gios imaturos da pulga que muitas vezes são mais numerosos que intestinais. As infestações maciças podem causar enterite hemor-
os parasitas adultos que se nutrem no cão ou no gato. rágica e as infestações leves crescimento retardado e fraqueza.
O controle depende do tratamento de aves infectadas com um
anti-helrnintico adequado como a niclosamida ou o butinorato e
Amoebotaenia da destruição de lesmas e caramujos quando possível.

Amoebotaenia sphenoides, um pequeno cestóide do intestino del-


gado de aves domésticas, mede até 4 mm de comprimento, poss ui Raillietina
até 20 proglotes e tem o formato levemente triangular. O estágio
intermediário, um cisticercóide, é encontrado em minhocas. As inúmeras espécies deste gênero são encontradas no intestino
Normalmente, não é patogênico, a menos que presente em delgado das galinhas e perus, e o estágio intennediário cisticercói-
grandes quantidades. de, dependendo da espécie, em formigas ou besouros.
Talvez a espécie mais importante seja RailLietina echinobo-
thrida, que mede até 25 cm de comprimento. tem ganchos tanto
, Choanotaen;a nos rosteIos como nas ventosas e cujo ovos ficam contidos em
cápsulas ovígeras nos segmentos grávidos. Nas infestações ma-
Choanotaenia infundibulum , um cestóide relativamente grande do ciças, os escólices enterrados deste parasita produzem grandes
intestino delgado de aves domésticas, tem até 20 cm de compri- nódulos caseosos na parede do intestino delgado.
mento. Cada segmento é mais largo posterionnente, dando à bor- O controle depende do tratamento anti-helmíntico, como para
da do cestóide o aspecto de "lâmina de serrote". O cisticercóide é Davainea, e da destruição dos hospedeiros intermediários com
encontrado na mosca doméstica, Musca domestica, e em besou- inseticidas.
ros. Tal como Amoebotaenia, normalmente não é patogênico.

FamnlU HYMENOLEPIDIDAE
Família DA VAINEIDAE
De importância veterinária secundária. Os membros desta fanú-
Principalmente parasitas de aves. Estes cestóides em geral têm lia, que têm um estróbilo caracteristicamente mais fino, infec-
fileiras de ganchos tanto no rasteio como nas ventosas. O está- tam aves, o homem e roedores. O hospedeiro intennediário é um
gio intermediário é um cisticercóide. cisticercóide.
118 Parasito/agia Veterinária

O ciclo evoluti vo do parasita aparentemente req uer dois está-


gios e hospedeiros intermediários, o primeiro um cisticercói de
num ácaro e o seg undo um tetratiridio na cavidade peritoneal ou
pleural de uma grande vari edade de vertebrados.
Seu interesse veteri nário está no fato dos cães ou gatos, além de
serem hospedeiros defmitivos, também poderem abrigar tetratirídios
na cavidade peritoneal. Esses tetratiridios, cada um ·com I cm ou
mais, têm a capacidade de se multiplicar assexuadamente, e as in-
fecções maciças resultames podem produzir asc ite grave.

Fanúlia THYSANOSOMIDAE
Intimamente relacionada à Anoplocephalidae, esta família con-
tém três cestóides de importância veteri nária.

Stilesia

Stilesia hepatica é extremamente comum em ovinos e outros ru-


minantes na Áftica e na Ásia. Grandes quantidades destes cestóides
são encontradas freqüentemente nos duetos biliares de ovinos ao
abate, e. embora possam não causar sintomatologia ou patologia
hepáLica significante, as condenações de fígado constituem uma
fonte de considerável perda econômica por motivos estéticos.
Os ovos possuem um aparelho piriforme, e o hospedeiro in-
termediário é provave lmente um ácaro oribatídeo.
S. globipunctata , outra espécie, ocorre no irytestino del~ado
Fig. 103 Davainea proglottina tem menos de 4 mm de comprimento e possui ape- de ruminantes no sul da Europa bem como na Africa e na Asia.
nas seis a nove segmentos.
Raramente há necessidade de tratamento, mas o praziquantel
demonstra ser eficaz.

Hymenolepis nana tem relativa importância veterinária, visto


ser um cestóide comum do homem e de roedores de laboratório e Thy.lallosoma
silvestres. O interessante é que o seu ciclo evolutivo pode ser di-
reta, com os cisticercóides desenvolvendo-se nas vilosidades do Thysanosoma acrinioides é conhecido como "cestóide franjado" ,
intestino delgado do hospedeiro definitivo e em seguida emergin- pois cada segmento tem uma fileira de papilas grandes e macros-
do e desenvol vendo-se no verme adulto, cerca de 30 mm de com- copicamente visíveis na borda posterior de cada segmento. Tal
primento, na luz intestinal. Por outro lado, besouros de cereais ou como S. hepatica, é encontrado nos duetos biliares de ovinos e
pulgas podem servir como hospedeiros intermediários. outros ruminantes, estando a sua importância alta mente relacio-
Nas colônias de roedores de laboratório, a erradicação depende nada à condenação do fígado na inspeção de carnes. Sua distri -
de perfeita higiene, de preferência com animais nascidos de ce- buição geográfica, entretanto, difere da de Stilesia, li mitando-se
sariana. O tratamento depende de nic10samida ou mebendazo1. à Améri ca do Norte e do Sul. Supõe-se que os hospedeiros inter-
Outras espécies de Hymenolepis são descritas em aves domés- mediários sejam ácaros oribatídeos ou piolhos psócidos.
ticas. A niclosamida é efi caz.

Família MESOCESTOIDIDAE AvitellillG


Também de importância veterinária secundária, estes cestóides Avite/lina centripunctata é encontrada no intesti no delgado de ovi-
de an imais carnívoros e aves têm dois estágios de metacestóides. nos e outros ruminantes no sul da Europa, na África e na Ásia. Este
O primeiro é um cisticercóide num inseto ou ácaro e o segundo cestóide é semelhante a Moniezia ao exame macroscópico, exceto
uma forma larval sólida, o tetratirídio, num vertebrado. que a segmentação é tão pouco acentuada que lembra lima faixa.
De patogeni cidade irrelevante, supõe-se que os hospedeiros
intermediários sejam ácaros oribatídeos ou piolhos psócidos.
Mesocestoides O tratamento é como para Thysanosoma .

Os cestóides adultos são encontrados no intestino delgado de


cães, gatos e carnívoros silvestres em partes da Europa, Ásia, Ordem PSEUDOPHYLLIDEA
África e América do Norte. Têm até 40 cm de comprimento, cada
segmento possuindo um poro genital central, e o escólex des- A morfologia dos Pseudophyllidea geralmente é semelhante à dos
guarnecido apresenta quatro ventosas. Cyclophyllidea, mas há doi s aspectos distintos . Em primeiro
Helmi1l1ologia Veterin6ria 119

lugar, O escólex não possui ventosas e, em vez disso, tem dois IDENTIFICAÇÃO
sulcos longitudinais ou bólrias (Fig. 104) que se achatam, for-
mando órgãos de fixação. Em segundo lugar, a casca do ovo é Um cestóide muito longo. de até 20 m de comprimento. O es-
es pessa, castanha e operculada, e o coracídio que emerge após a cólex é desguarnecido, com dois sulcos longitudinais muscula-
eclosão é uma oncosfera com um embrióforo ciliado para movi- res ou bótrias como órgãos de fi xação. Os segmentos grávidos e
mentar-se na água. maduros são qu adrados, com um poro genital cenl ral (Fig.
O ciclo evolutivo pseudofilídeo utili za dois hospedeiros in- 105).
termediários. O coracídio primeiramente deve ser ingerido por
um crustáceo, em cuja cavidade corpórea se desenvo lve um
procercóide larval. Subseqüentemente, se o crustáceo for inge- CICLO EVOLUTIVO
rido por um peixe de ág ua doce, o procercóide é liberado, e nos
músculos do novo hospedeiro desenvolve-se um segundo está- Os ovos são eliminados continuamente pelos poros genitais dos
gio larval, um pler ocercóide, que possui o escólex característi- segmentos grávidos fixados do estróbilo. saindo nas fezes. Lem-
co; apenas este estágio é infectante para o hospedeiro definitivo. bram ovos de F. hepatica por serem amarelos e operculados, mas
Esta ordem contém apenas dois gêneros de importância vete- têm aproxi madamente a metade do seu tamanho.
rinária, Diphyllobothrium e Spirometra. Os ovos de vem desen volver-se na água, e em poucas sema-
nas cada um deles eclode e libera um coracídio ciliado móvel que,
se ingerido por um copépode, se desenvolve no primeiro estágio
DiphylloborhriulIl larv al parasita, um procercóide. Quando O copépode é ingerido
por um peixe de água doce, como um lúcio, truta ou perca, o
Diphyllobothrium lalLlm é um importante parasita cestóide do procercóide migra para os músculos ou vísceras, formando o se-
intestino delgado do homem em climas do norte, como partes da gundo estágio larval, o plerocercói de~ este metacestóide larval
Escandinávia, Rússia e América do Norte; pode infectar também sólido tem cerca de 5 mm de comprimento e possui o escólex
outros mamíferos que comem peixes. característico. O ciclo evolutivo completa-se qu ando o peixe in-
fectado é ingerido cru, ou insuficientemente cozido, pelo hospe-
Hospedeiros: deiro definiti vo. O desenvolvimento até a patência é rápido, ocor-
O homem e mamíferos que comem peixes, como os cães, gatos, rendo em quatro semanas após a ingestão do plerocercóide. Con-
suínos e ursos polares. tudo, se o peixe infectado fo r ingerido por um peixe maior,
o plerocercóide tem a capacidade de se insta1ar no novo hospe-
Hospedeiros intermediários: deiro.
São necessári os dois, um crustáceo co pépode como Cyclops,
seguido de um peixe de água doce.

Fig. 105 Segmento de Diphyllobothrium latum mostrando formato quadrado e poro


Fig. 104 Cabeça de Diphy/fobothrium latum. genital central.
120 p'arasitviogid Veterinária

PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLÍNICA CONTROLE


No homem, o cestóide causa, às vezes, anemia macrocítica, que Nas áreas onde a infecção é comum, os animais domésticos não
lembra anemia perniciosa, em virtude de sua captação de vitamina devem ser al imentados com produtos de peixes, a menos que
B I2 do intestino. totalmente cozidos ou congelados a temperatu ras muito baixas.

EPIDEMIOLOGIA
Sl'irometra
D. latum é essencialmente um parasita do homem, uma vez que
em outros hospedeiros o cestóide produz poucos ovos férteis. A Os Spirometra adultos são encontrados em cães, gatos e carní-
epidemiologia, portanto, baseia-se amplamente em dois fatores, voros sil vestres na América do Norte e do Sul, na Austrália e no
o acesso de dejetos humanos a lagos de água doce e a ingestão de Ex tremo Oriente. A morfologia e o ciclo evolutivo desses
peixe não-cozido. Os animais domésticos, como os cães ou suí- cestóides são semelhantes aos de D. latum, os procercóides sen-
nos, infectam-se pela ingestão de peixe cru ou restos de peixe. do encontrados em crustáceos e os plerocercóides numa ampla
variedade de hospedeiros, incluindo anfíbios, aves e mamíferos.
DIAGNÓSTICO Ocasionalmente, o homem pode infectar-se com plerocercóides
através da água de beber contendo crustáceos infectados com
Depende da detecção dos ovos característicos nas fezes. procercóides ou pelo consumo de hospedeiros infectados com
plerocercóides, como os suínos. Esta zoonose, conhecida como
TRATAMENTO esparganose (Sparganum era a anti ga denominação destes
plerocercóides), caracteriza-se pela presença de larvas de até 35
o praziq uantel e a niclosarnida são eficazes contra o cestóide mm de comprimento nos músculos e tecidos subcutâneos, parti-
adulto. cularmehte a região periorbital, causando edema e inflamação.
ENTOMOLOGIA VETERINÁRIA
Entomologia veterinária, no sentido literal, significa o estudo de te de metabólitos. Os órgãos internos são banhados neste san-
insetos de importância veterinária. Este termo, entretanto, é co- gue, cuja circulação contínua é efetuada por um coração tubu-
mumente empregado para descrever o estudo mais amplo de to- lar, primiti vo, localizado dorsalmente. O sangue entra através de
dos os artrópodes parasitas de animais, incluindo os aracnídeos, orifícios na parede do coração, denominados óstios, e é expeli-
como carrapatos e ácaros. do por meio de pequenos vasos para a hemocele.
A respiração dos artrópodes é simples, o oxigénio atingindo
os tecidos por difusão gasosa direta. Pequenas aberturas circula-
Filo ARTHROPODA res no exoesquel eto, denominadas espiráculos, permitem a en-
trada de ar no corpo. O ar entra em seguida num sistema de tra-
o filo Arthropoda contém mais de 80% de todas as espécies quéias e traquéolas ramificantes, que se espalham pela maior parte
animais conhecidas e é constituído de invertebrados, cujas prin- do corpo. O oxigênio difunde-se das traquéolas para as células
cipais características são o ~oesqueleTc)quitinose.:.í~~­ e, inversamente, o dióxido de carbono das células vai para o
po segmentado e~~Q.s artiç,ul~s. exterior, via traquéolas, traquéias e espiráculos. O sistema tra-
queal em alguns artrópodes também está envolvido na regula-
ção de perda de água. Em alguns artrópodes aquáticos, também
ESTRUTURA E FUNÇÃO ocorre respiração cuticular direta.
O sistema nervoso é formado por um cordão nervoso gangli-
o exoes ueleto rígido~artró odes é s~cretado ar uma em- onar situado ventralmente que, na região da cabeça, se une a um
âerme subjacente e consi§Je em n~mEosos segmep.tos que com grande gânglio supra-esofágico , freqüentemente denominado
frétiê ncia ficam nitidamente divididos-em trêSregiões, a cabe- "cérebro". Associados ao sistema nervoso, encontram-se os ór-
Çã: o tórax e oãbdõme( Fig. 106). Estes segmentos são forma- gãos sensoriais, incluindo os olhos e di versos órgãos táteis e
os por placas quitinosas espessas denominadas escleritos, que auditivos. Em alguns artrópodes, os olhos estão ausentes ou são
podem ser adaptadas ou fundidas. de várias maneiras, mascaran- reduzidos, como nos carrapatos e piolhos, ao passo que em ou-
do assim a segmentação, mas cada um deles é constituído geral- tros, como algumas moscas hematófagas, cuja visão é importan-
mente de um tergo dorsal, um esterno ventral e duas pleuras la- te para localizar os hospedeiros, os olhos são bem desenvolvi-
terais unidas por pequenas áreas flexíveis de quitina que funcio- dos. Com freqüência, coexistem dois tipos de olhos no mesmo
nam como articulações. animal. O mais complexo é o olho composto, patticularrnente
Há uma grande diversidade na morfologia do tubo digestivo, adaptado para a percepção de movimento; na fêmea de algumas
masgeralffi-éllte-pode ele ser aividido em trés regiões, a saber, espécies, os olhos são nitidamente separados (dicópticos), e nos
lltestmos a!1t~ri.õr;---.lÍlécli-º e poS!friõr. - machos podem ser fundidos (holópticos). É freqüente também
---O intestino anterior começa com as peças bucais freqüente- a presença de olhos simples ou ocelos na parte superior da cabe-
mente complexas e variadas que levam à cavidade bucal, farin- ça e, embora a sua função não seja bem conhecida, aparentemente
ge, esôfago e proventrículo. Em muitos casos, o esófago é dila- podem diferenciar entre claro e escuro. Outros órgãos sensoriais
tado posteriormente e conhecido como papo, enquanto o incluem antenas, palpos e diversos receptores no corpo que res-
proventrículo muscular ou moela funciona como uma válvula,
para evitar regurgitação, e pode ter "dentes" para ajudar a tritu-
ração das partículas alimentares.
-, O intestino médio armazena alimento e secreta enzimas ne- Sistema va scular Óstios
cessárias para a digestão. Abrindo-se no tubo digestivo, najun-
ção dos intestinos médio e posterior, há uma quantidade variá-
vel de túbulos excretores denominados lóbulos de Malpighi.
Funcionam como filtros, extraindo produtos residuais do sangue,
que em seguida são lançados no intestino.
- O intestino posterior é constituído de um íleo anterior e um
reto dilatado posteriormente, este último freqüentemente tendo
papilas ou glândulas envolvidas na reabsorção de água das fe-
zes.
A cavidade corpórea ou celoma (o espaço entre o intestino e
Peças bu cais
a parede corpórea) com freqüência é denominada hemocele, pois
contém sangue ou hemolinfa, cujaprincipal função é o transpor- Fig. 106 Alguns aspectos gerais de um artrópode.
124 Parasitologia Veterinária

pondem a temperatura, umidade, estímulos alimentares e odo-


res do hospedeiro. O sentido tátil em alguns artrópodes também
depende do deslocamento de pêlos situados na superfície do
corpo.
Nos artrópodes, os sexos são separados. As estruturas geni-
tais externas, como o pênis e os ganchos pareados dos machos,
podem ter valor taxonômico na identificação em nível de espé-
cie.Internamente, os órgãos reprodutores masculinos consistem
em um par de testículos, cada um deles com um canal deferente
que se expande distalmente e forma uma vesícula seminal co-
mum ou dupla, que armazena os espennatozóides. O aparelho
genital externo da fêmea usualmente é imperceptível, embora
algumas espécies possam ter ovipositores bem desenvolvidos.
Internamente, o sistema reprodutor feminino compreende ová-
rios e ovidutos pareados que levam a um "útero", citado às ve-
zes como oviduto comum, e, posteriormente, à vagina. Um im- Dueto salivar
portante órgão acessório que se abre no oviduto comum é a
Fig. 107 Elementos básicos de peças bucais de insetos.
esperma teca, constituída por vários receptáculos que se enchem
de espermatozóides do macho durante a cópula. Os ovos que
passam para a vagina são fertilizados pelos espermatozóides que
com adaptações para masligar-munler, sugar uu picar-sugar. Os
permanecem viáveis na espermateca, freqüentemente durante
elementos básicos das peças bucais de insetos são ilustrados na
toda a vida da fêmea. Os artrópodes, em sua maioria, são ovípa-
Fig. 107 e consistem em:
ros.
(1) O labro ou lábio superior é uma lâmina encurvada unida à
CLASSIFICAÇÃO face ou clípeo.
(2) As mandíbulas e maxilas, peças pares, possuem áreas de
Há duas grandes classes de artrópodes de importância veteriná- suas superfícies adaptadas para COItar ou triturar. As maxi-
ria, a saber, Insecta e Arachnida, e as ordens importantes nestas las também podem apresentar palpos maxilares, que têm
classes são apresentadas no Quadro 3. função sensorial e são utilizados no controle de alimento.
As duas grandes classes podem ser diferenciadas pelas seguin- (3) Uma hipofaringe que se origina no assoalho da boca apre-
tes características gerais: senta a abertura externa das glândulas salivares e é seme-
lhante a uma língua.
Insecta: Possuem três pares de pernas, têm a cabeça, o tórax e o (4) Uma estrutura em forma de lábio ou lábio inferior, que pode
abdome distintos e podem ter um único par de antenas. ser amplamente modificada, especialmente nas moscas, e às
~... Arachnida: Os adultos possuem quatro pares de pernas, o cor- vezes apresenta dois palpos labiais sensoriais.
po divide-se em cefalotórax e abdome e não existem antenas. Cada um dos três segmentos no tórax (pró-, meso- e metatórax)
apresenta um par de pernas articuladas. O tórax de muitos inse·
tos também apresenta dois pares de asas, mas, nos insetos ala·
Classe INSECTA dos de importância veterinária, i.e., da ordem Diptera (Fig. 108).
apenas um par é funcional, estando o segundo reduzido a peque·
MORFOLOGIA GERAL E CICLO EVOLUTIVO nas estruturas sensoriais semelhantes a botões arredondados.
denominadas halteres, que aparentemente têm função de equi·
A cabeça de um inseto geralmente compreende seis segmentos líbrio. As asas são apêndices do tegumento torácico sustentados
fundidos, com um único par de antenas. Há grande variedade na por tubos ocos denomjnados nervuras, que seguem longitudi·
estrutura das peças bucais, dependendo dos hábitos alimentares, nal e transversalmente, as áreas interpostas de tegumento conhe-

Quadro 3 Classificação dos Arthropoda

Arthropoda
I

Insecta Arachnida Outras


(por exemplo, Crustacea.
Pentastomida)

ORDEM: Diptera Phthiraptera Siphonaptera Outras Acarina


(moscas)- (piolhos) (pulgas) (ácaroslcarrapatos)

(por exemplo, Hemiptera


- percevejos)

.
Entomologia Veterinária 125

Probóscida Antena

Olho composto
Ocelos

/ ~~ovo
Veias da asa
\
Halteres

Fig. 108 Aspectos gerais de uma mosca díptera. ff Ninfas

/
1r
cidas como células. A di sposição das nervuras e o formato das
células são importantes na identificação.
O abdome dos insetos é constituído de até II segmentos, com
~ y
Fig_ 110 Um ciclo evolutivo hemimetabólico em que não ocorre metamorfose é
modificações terminais formando a gen itália. exemplificado por este ciclo evolutivo de piolhos.
Nos insetos, os sexos são separados, e depoi s da fertilização
são produzidos ovos ou larvas. O desenvolvimento freqüente-
mente envolve três ou mai s estágios larvais, seguidos pela for-
mação de uma pupa e uma transformação marcante ou metamor- A ordem Diptera pode ser convenientemente dividida em três
fose para o estágio adulto como em todas as moscas e pulgas, subordens, a saber, Nematocera, Brachycera e Cyclorrhapha. No
i. e., ciclo evoluti vo holometabólico (Fig. 109). Em outros inse- Quadro 4, é apresentada uma classificação simplificada mostran-
tos, O desenvolvi mento a partir do ovo ocorre através de diver- do as diversas famílias.
sos estágios ninfais que lembram o adulto, como em piolhos, i.e. ,
um ciclo evoluti vo hemimetahólico (Fig. 110). Os dife rentes
estágios no ciclo evoluti vo são conhecidos como ínstares. Subordem NEMATOCERA
São pequenos dípteros, e os adultos se caracterizam por um par
Ordem DIPTERA de antenas longas e arlit..:uladas (Fig. 111 ) e palpos maxilares
segmentados. As asas geralmente apresentam poucas nervuras
Esta ordem de insetos conté m todas as moscas de importância cruzadas (Fig. 112). Apenas as fêmeas são parasitas e poss uem
veterinária. Essas moscas geralmente se caracterizam por um peças bucais picadoras-sugadoras.
único par de asas me mbranosas e um par de halteres. Algumas Os ovos são postos na água ou próximos a ela e se desenvol-
são importantes como ectoparasitas, enquanto em outras as lar- vem em larvas e pupas aquáticas: estes dois estágios têm cabeça
vas parasitam os tecidos do hospedeiro. Muitos membros deste identificável e são móveis.
grupo também são importantes como vetares de doenças.

Nematoce ra

! \
Ovo
Pupário

\ <111111])),
I
(]JJ ,( li lY"
Larvas Cyclorrhapha
Fig. 109 É típico de muitos muscídeos um ciclo evolutivo hOlometabólico, caracte- Fig. 11 1 Cada uma das três subordens dos drpteros possui antenas característi-
rizado por metamorfose. cas.
126 Parasirologia Veterillária

Quadro 4 Classificação dos Diplera

I
Nematocera Brachycera Cyclorrhapha

I
Tabanidae
(Moscas do cavalo)

Ceratopogonidae Simuliidae Psychodidae Culicidae Muscidae Calliphoridae Hippoboscidae Oestridae


(mosquitos- (borrachudos) (mosquitos- (mosquitos) (moscas (varejeiras) (moscas da (moscas das
pólvora) palha) domésticas e floresta e cavidades)
dos estábulos) melofagídeos)

te possuindo um apêndice semelhante à pena, a arista (Fig. II I).


Subordem BRACHYCERA Os palpos maxilares são pequenos, e as asas apresentam nervuras
transversais (Fig. 11 2).
São muscídeos grandes com antenas grossas, freqüentemente cons-
Tanto os machos como as fêmeas podem alimentar-se em
tituídas de apenas três segmentos (Fig. 111), o último segmento
animais, porém mu itos membros deste grupo não são parasitas
muitas vezes apresentando anéis. Os palpos maxilares em geral se
quando adultos e possuem peças bucais vestigiais ou sugadoras.
mantêm para a frente, e há nervuras transversais nas asas (Fig. I 12).
As larvas têm a cabeça mal definida, são móveis e venniformes.
Utilizando as peças bucais cortantes e sugadoras, as fêmeas
A larva madura transforma-se em pupa no solo dentro de uma
nutrem-se de sangue e os ovos, que são postos em vegetação
cápsula pu pai rígida, ou pupário, que é completamente imóvel.
suspensa sobre lama ou ág ua rasa, desenvolvem-se em grandes
Quando a mosca jovem está prestes a emergir, O faz inflando uma
larvas carnívoras, com a cabeça pouco definida mas geralmente
bexiga membranosa denominada saco ptilinal süuada na parte
retrátil. Como os Nematocera, tanto as larvas como as pupas são
anterior da cabeça, que desprende, então, um fragmento circular
móveis e aquáticas, em geral sendo encontradas na lama.
da extremidade anterior do pupário.

Subordem CYCLORRHAPHA Subordem NEMATOCERA


São moscas de tamanho pequeno a médio com antenas curtas
apresentando três segmentos, o último dos quais freqüe ntemen- Famnia CERATOPOGONlDAE

Esta famíl ia é constituída por dípteros muito pequenos, comu-

Q2!
__ 0S0
~ ~matocera
mente conhecidos como "mosquitos-pólvora". As fêmeas alimen-
tam-se no homem e nos an imais. sabendo-se que transmitem
diversos vírus, protozoários e helmintos. Do ponto de vista ve-
terinário, o úni co gênero importante é o Cu/ieoides.

Culicoides

Hospedeiros:
Todos os animais domésticos e o homem.

Espécies:
Brachycera Há mais de 800 espécies de Culicoides, conhecidas comurnente
como "mosquitos-pólvora".

Distribuição:
Mundial .

MORFOLOGIA

Cyclorrhapha
Esses dípteros têm 1,5 a 5 mm de compri mento, com o tórax
curvado sobre a cabeça pequena, e asas, geralmente manchadas.
Fig. 112 Variações nas nervuras alares encontradas nas três subordens dos dlple-
que se mantêm em repouso como uma tesoura fec hada sobre o
ros. abdome cinza ou negro-acastanh ado. As antenas são proeminen-

Entomologia Veterinária 127

tes, as pernas relativamente curtas e as pequenas peças bucais de um a reação de hipersensibilidade do tipo imediata às picadas
pendem verticalmente. das moscas.
A probóscida curta e perfurante é constituída de um labro
pontiagud o, duas maxi las, duas mandíbulas, uma hjpofaringe e CONTROLE
um lábio que não penetra na pele durante a alimentação da fê-
mea ad ul ta. No macho, as antenas longas são plumosas, enquan- É difícil , por causa do habitat onde se reproduzem, geralmente
to as da fê mea possuem apenas pêlos curtos e são conhecidas extenso, e depende da destruição dos criadouros por drenagem
como an tenas pilosas. Pêlos microscópicos revestem as asas. ou puI verização com inseticidas, uma vez que os adultos normal-
mente voam apenas algumas centenas de metros. Não obstante,
CICLO EVOLUTIVO a dispersão dessas pequenas moscas pelo vento pode ser parti-
cularmente importante na disse minação de al gumas viroses.
Os ovos, de cor castanha ou negra, são cilíndricos ou em forma Podem ser usados repelentes ou telas, mas estas últimas têm que
de banana e têm 0,5 mm de comprimento; são postos em solo ser tão finas que podem reduzi r O flu xo de ar, recomendando-se,
pantanoso úmido ou em matéria vegetal em decomposição perto em vez d isso, a impregnação das telas destinadas à exclusão de
da água. A eclosão ocorre em dois a nove dias, dependendo da dípteros maiores com inseticidas. Para a "sarna branda", o trata-
espécie e da temperatura, mas as espécies das reg iões tempera- mento anti-histamínico pode produzir alívio imedi ato e a apl ica-
das podem resistir ao in verno na forma de ovos. Há quatro está- ção regular de bandagens de piretróides sintéticos pode ajudar a
gios Jarva is, que se caracterizam por peq uena cabeça esc ura, evitar a recidiva do processo. Recomenda-se também que os
corpo segmentado e brânquias anais terminais. Apresentam animais fiquem presos nos períodos de atividade máxima das
movimentos natatórias sinuosos na ág ua e se alimentam em ve- moscas, usualmente no final da tarde e no início da manhã.
getação em decomposição. Nas regiões quentes, o desenvolvi-
mento larval completa-se em 14 a 25 dias, mas nas regiões tem-
peradas pode prolongar-se por períodos de até sete meses. As Famnia SIMULllDAE
pupas castanhas menos ati vas, com 2 a 4 mm de comprimento,
encontram-se à superfície ou às margens de água e se caracteri- Dos 12 gêneros pertencentes a esta família de pequenas moscas,
zam por um par de sifões respiratórios no cefalotórax e um par o Simu/ium é o mais importante. Con hecidas comumente como
de "cornos" terminais que permitem à pupa movimentar-se. As " borrachudos" ou "pi uns", têm amp la faixa de hospedei ros, ali-
moscas ad ultas emergem das pupas em três a dez dias e as fême- mentando-se numa grande variedade de mamíferos e aves e cau-
as são hematófagas. sando perturbação por causa das do lorosas picadas. No homem,
contudo, são mais importantes como vetares de Ollchocerca
IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA volvulus. o filarídeo que provoca a "cegueira do rio" na África e
nas Américas Central e do Sul.
Como estas moscas podem estar presentes em grandes quanti-
dades, é possível que constituam uma séria fonte de irritação.
Além disso, podem transmitir doenças virais como a "língua azul"
Simulium
e a "doença do cav~lo africano", além de fiJarídeos como Dipe-
Hospedeiros:
tatonema, spp., Onchocerca reliculata e O. gibsoni. Diversas
Todos os an imais domésticos e o homem.
espécies também são apontadas co mo agentes causadores da
doença cutânea de eqüinos, intensamente prurigi nosa e de ocor-
rência sazonal (Fig. 11 3), denominada "sarna branda" e, na Aus-
Espécies:
Numerosas e freqüentemente divididas em subespécies.
trália, "sarna de Queensland". Esta sarna acomete principalmente
a cernelha e a base da caud a, e se demonstrou que é decorrente
Distribuição:
Mundial, exceto Nova Zelândia, Havaí e alguns grupos de pe-
quenas ilhas.

MORFOLOGIA

Como O seu nome comum indica, essas moscas em geral são


negras com o tórax arqueado (Fig. 114) . Os adultos medem 1,5
a 5 mm de comprimento, têm o corpo relativamente robusto, com
asas incolores que apresentam nerv uras indistintas e se mantêm
em repou so como as lâminas fechadas de uma tesoura. Morfolo-
gicamente, as moscas adu ltas fêmeas e machos são semelhan-
tes, mas podem ser diferenciadas pelo fato de na fêmea os ol hos
serem nitidamente separados (dicópticos). enquanto nos machos
se fundem (holópticos).
Comparadas a outros nematóceros, as antenas, apesar de seg-
mentadas, são relativamente curtas e fortes, não possuindo pê-
los. As peças bucais são basicamente semelhantes às do s "mos-
quitos- pólvora", exceto pela presença de palpos maxilares evi-
Fig. 113 Caso grave de "sarna branda" num põneL dentes e segmentados.
128 Parasit%gia Veterinária

..çiço por essas moscas pode estar associado a uma síndrome aguda
caracterizada por petéquias generalizadas, particularmente em
áreas de pele fina, juntamente com edema da laringe e da parede
abdominal. As picadas dolorosas de enxames de Simulium po-
dem interferir no pastejo e causar perda de produção, e, em de-
terminadas regiões da Europa Central, muitas vezes é impossí-
vel deixar o gado no pasto durante a primavera, em virtude da
atividade destas moscas. Os eqüinos freqüentemente são acome-
tidos pelas moscas que se alimentam na parte interna das ore-
lhas, e as aves, quando atacadas, podem ficar anêmicas por per-
da de sangue.
As espécies de Simulium podem transmitir os vírus causado-
res da encefalite eqüina do Leste e da estomatite vesicular, o
protozoá r io aviário Leucocytozoon e filarídeos como a
Pupa ~
/ Onchocerca gutturosa dos bovinos.

CONTROLE

Larva O método de controle mais prático é a aplicação de inseticidas


nos criadouros para destru ir as larvas. Esta técnica foi desenvol-
Fig. 11 4 Ciclo evolutivo de $imulium.
vida para o controle de espécies de Simulium, que são vetores de
"cegueira do rio" no homem na África, e consiste na aplicação
repetida de inseticidas organoclorados ou organofosforados a
CICLO EVOLUTIVO cursos de água selecionados em intervalos durante todo o ano.
O inseticida é, então, levado rio abaixo e destrói as larvas por
Os ovos, com 0, I a 0,4 mm de comprimento, são postos em mas- longas extensões de água.
sas pegajosas em várias centenas em pedras ou vegetação parcial- Alternativamente, a li mpeza dos bosques remove pontos de
mente submersas em água corrente (Fig. 114). A incubação dura repou so de adultos, e a aplicação aérea de inseticidas pode ser
apenas alguns dias em condições quentes, mas pode levar semanas útil e m áreas onde a reprodução ocorre em redes de pequenos
nas regiões temperadas, e em algumas espécies os ovos podem cursos d'água e córregos. Nos eqüinos, os inseticidas ou repe-
sobreviver ao inverno. Pode haver até oito ínstares larvais, e as lar- lentes podem ser ap licados por via tópica e as aves podem ser
vas maduras, que têm 5 a 13 mm de comprimento, cor clara e são polvilhadas com inseticidas.
pouco segmentadas, distinguem-se pela cabeça enegrecida que
apresenta um par saliente de escovas de alimentação. O corpo é
di latado na parte posterior e, exatamente abaixo da cabeça, há um FamílIa PSYCHODlDAE
apêndi ce podal guarnecido de ganchos. As larvas normalmente
permanecem aderidas à vegetação ou às pedras submersas por um As moscas desta família são denominadas "mosquitos-palha", e
anel de ganchos posteriores, mas podem mudar de posição pelo uso o Phlebotomus é o único gênero de alguma importância veteri-
alternado do apêndice podal e dos ganchos posteriores. A matura- nária. Uma vez que, em algumas regiões do mundo, o termo
ção larval leva várias semanas a vários meses, e em algumas espé- "mosquitos-palha" inclui alguns mosqu itos-pólvora e borrachu-
cies as larvas podem sobreviver ao inverno. As larvas maduras dos, uma denominação mais adeq uada é a de flebotomíneos.
pupam num casulo acastanhado de formato cónico aderido a obje- Essas moscas são importantes como vetares de Leishmania.
tos submersos, e a pupa tem brânquias respiratórias proeminentes
projetando-se do casulo. O período pupal é normalmente de dois a
seis dias. e um aspecto característico de muitas espécies é a emer- Phlebotomus
gência maciça simultânea das moscas adultas que ganham a super-
fície da água e alçam vóo. Hospedeiros:
Muitos mamíferos, répteis, aves e o homem.
IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA
Espécies :
Apenas as fêmeas adultas são hematófagas e as diferentes espé- Há mais de 600 espécies de f1ebotomíneos.
cies têm diferentes locais e horas de alimentação preferidos.
Alime ntam-se geralmente nas pernas, no abdome, na cabeça e Distribuição:
nas orelhas, e a maioria das espécies é particularmente ativa Amplamente distribuídos nos trópicos, subtrópicos e na região
durante a manhã e no início da noite em tempo quente e nubla- do MediteITâneo. A maioria das espécies prefere regiões serni-
do. Embora as moscas possam ser ativas durante todo o ano, pode áridas e de savanas em vez de florestas.
haver grande aumento nas suas quantidades nos trópicos duran-
te a estação das chuvas. Nas regiões temperadas e árticas, o trans- MORFOLOGIA
torno das picadas pode ser sazonal,já que os ad ultos morrem no
outono, com novas gerações surgindo na primavera e no verão. Essas pequenas moscas, de até 5,0 mm de comprimento, carac-
Nos animais domésticos, especialmente bovinos, o ataque ma- terizam-se por aspecto piloso, grandes olhos negros e longas
Entomologia Veterinária 129

pernas. As asas, que ao contrário das asas de outras moscas


picadoras têm o contorno lanceolado, também são cobertas de
Família CULICIDAE
pêlos e se mantêm eretas sobre o corpo em repouso.
Os culicídeos (não devem ser confundidos com "mosquitos-pól-
Como em muitos outros nematóceros, as peças bucais têm
vora" do gênero Culicoides) são os mosquitos, dípteros peque-
comprimento pequeno a médio, pendem para baixo e são adap-
nos e delgados com longas patas. Embora suas picadas sejam um
tadas para perfuração e sucção. Os palpos maxilares são relati-
sério aborrecimento para o homem e os an imais, são importan-
vamente proeminentes e são formados por cinco segmentos. Em
tes principalmente como vetares de malária (Plasmodium spp.),
ambos os sexos, as antenas muito longas, de até 16 segmentos,
filarídeos e vírus. Basicamente por causa da sua importância
apresentam muitos pêlos curtos. '
como vetares de malária humana, há uma vasta literatura sobre
sua classificação, comportamento e controle, mas a família tem
CICLO EVOLUTIVO significado veterinário restrito, sendo necessário discutir apenas
aspectos gerais de morfologia, importância e controle.
Em cada oviposição, podem ser postos até 100 ovos castanhos
ou negros, com 0,3 a 0,4 mm de comprimento, em pequenas fe n- Hospedeiros:
das ou buracos no solo, pisos de instalações de animais ou em Uma ampla variedade de mamíferos (incluindo o homem), rép-
camas de folhas. Embora não sejam postos na água, os ovos pre- teis e aves.
cisam de condições úmidas para sobreviver, como acontece com
as larvas e pupas. Em condições ideais, os ovos podem eclodir Espécies:
em um a a duas semanas, mas isto pode prolongar-se em climas A fa mília contém mais de 3.000 espécies pertencentes a 34 gê-
frios. As larvas, que parecem pequenas lagartas, buscam alimen- neros, sendo os mais importantes Anopheles, Culex e Aedes.
tos em matéria orgânica e podem sobrevi ve~ a inundações. Há
quatro ínstares larvais, durando a maturação três semanas a vá- Distribuição:
rios meses, dependendo da espécie, da temperatura e da dispo- Mundial.
nibilidade de alimentos, e nas regiões temperadas essas moscas
sobrev ive m ao inverno como larvas maduras. As principais ca- MORFOLOGIA GERAL
racterísticas das larv as maduras, que têm 4,0 a 6,0 mm de com-
primento, são a cabeça negra e o corpo acinzentado segmentado Os mosquitos variam de 2 a 10 mm de comprimento e têm corpo
coberto de cerdas. Os adultos emergem da pupação depois de uma delgado, olhos salientes e patas longas (Fig. I 15). As asas lon-
a duas semanas. O ciclo evolutivo inteiro dura 30 a 100 dias, ou gas e estreitas apresentam escamas que se projetam como uma
até mais tempo em cl ima frio. franja na borda posterior e, em repouso, mantêm-se cruzadas e
sobrepostas ao abdome.
IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA As peças bucais são constituídas de uma saliente probóscida
alongada e projetada para a frente, adaptada para perfuração e
Como muitas outras pequenas moscas picadoras, apenas as fê- sucção. Individualmente, os elementos compreendem um longo
meas são hematófagas. Preferem alimentar-se à noite, repousan- lábio carnudo em forma de U e que contém maxilas pareadas,
do em áreas sombreadas durante o dia. Uma vez que têm ape- mandíbu las e hipofaringe que apresenta um ducto sali var que
nas capacidade limitada de vôo, o transtorn o causado pelas pi- libera anticoagulante para os tecidos do hospedeiro (Fig. 116).
cadas pode ser restrito a determ inadas áreas próximas a criadou- O labro forma a parte superior da probóscida, e todos os elemen-
ros. tos, com exceção do lábio, penetram na pele durante a nutrição
Há uma certa sazonalidade na ati vidade, e os números de da fêmea, formando um tubo por onde o sangue é sugado. Nos
moscas aumentam durante a estação chu vosa nos trópi cos, en- machos não-parasitas, as maxilas e as mandíbulas são reduzidas
quanto estão presentes apenas durante os meses de verão nas ou ausentes. Os palpos maxilares de diferentes espécies variam
regiões temperadas. Além da irritação causada pelas picadas em em comprimento e morfologia. Ambos os sexos possuem lon-
áreas locali zadas, os fl ebotoITÚneos são importantes como os gas antenas segmentadas e filamentosas, pilosas nas fêmeas e
únicos vetares conhecidos de Leishmania tropica e L. donova- plumosas nos machos.
ni, que causam leishmaniose cutânea e visceral no homem, sen-
do os cães importantes hospedeiros reservatórios em algumas CICLO EVOLUTIVO GERAL
regiões.
Depois de alimentar-se de sangue, a fê mea grávida põe até 300
CONTROLE ovos na superfície da água, isoladamente ou, no caso do Culex,
em grupos que formam balsas de ovos (Fig. I 15). Os ovos, de
São poucas as tentati vas sérias para controlar os tlebotomíneos, coloração escura, são alongados ou ovais, e no gênero Anophe-
provavelmente pelo fato de a leishmaniose ter merecido atenção les têm o formato de bote e não res istem à dessecação. A eclosão
insufi ciente como doença e também porque pouco se sabe com depende da temperatura e ocorre após vários dias a semanas,
detalhes sobre a biologia e a ecologia dos estágios de desenvo l- porém em algu mas espécies de regiões temperadas os ovos po-
vimento dessas moscas. Os adu ltos, entretanto, são suscetíveis à dem sobreviver ao inverno. Todos os quatro ínstares larvais são
maior parte dos inseti cidas, e nos locais onde houve campanhas aquáticos. Há uma cabeça distinta com um par de antenas, olhos
para controlar os mosquitos vetores"da malária, o Phlebotomus compostos e escovas bucais salientes, utilizadas na alimentação
foi eficazmente control ado. O homem protege-se contra as pica- em matéria orgânica. A maioria das larvas respira através de um
das dessas moscas com O uso de sprays residuais para uso do- par de espiráculos no penúltimo segmento abdominal, mas em
méstico, repelentes e telas protetoras muito finas. Culex spp., localizam-se na extremidade de um pequeno tubo
130 Parasitologia Veterinária

Anopheles Cu/ex
Ovos Balsa de ovos

. - ....

Adu lto em repouso

Fig. 115 Ciclos evolutivos comparativos de anofelideos e culicideo5.

chamado sifão respiratório (Fig. 115). A maturação das larvas IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA
pode prolongar-se de uma semana a vários meses, e nas regiões
temperadas di versas espécies sobrevivem ao in verno como lar- As espécies de mosquitos, em sua maioria, possue m hábitos
vas. Os habitats das larv as variam muito, desde pequenas cole- alimentares noturnos, e suas picadas podem causar considerá-
ções temporárias de água a áreas extensas, como pântanos, mas ve l transtorno , poi s as longas peças bucai s permitem-lhes pi-
em .geral não são encontradas em grandes ex tensões contínuas car o home m mesmo através das roupas. M ais essencialmen-
de ág ua, como lagos, e em córregos ou rios de vazão rápida. te, es pécies de Anopheles, Cu/ex e Aedes transmitem tanto o
Todas as pupas de mosquitos são aquáticas, móveis e em for- verm e do coração de cães, Dirofilaria immitis, como uma for-
rna de vírgula, com cefalotórax distinto apresentando um par de ma de malária av iária causada por Plasmodium. Os mosq uitos
sifões respiratórios (Fig. 11 5). O tegumento do cefal otórax é ta m bé m são impo rtan tes n a tran smi ssão d os a rbo víru s
uansparente, e os olhos, as patas e outras estruturas do adulto em (arthro pod-borne ) causadores da e ncefali te eqü ina do Les te,
desenvolvimento são faci lme nte visíveis. Os segmentos abdomi- Oeste e venezuelana e de outras arboviroses no ho mem e nos
nais afilados têm pêlos curtos, e no fUlal há um par de prolonga- animai s.
me ntos ovais semelhantes a nadadeiras, que permitem à pupa Os únicos vetores conhecidos de malária hum ana pertencem
deslocar-se para cima e para baixo na água. O estágio pupal ge- ao gênero Anophe/es, enqu anto a febre am arela é transmitida por
ralmente é curto, du rando ape nas alguns dias nos trópicos e vá- espécies de Aedes. Todos os três gêneros transmitem os fil arídeos
ri:b semanas ou mais nas regiões temperadas, os adul tos emer- humanos Wuchereria e Brug ia.
gi..Jxio através de um a fe nda no tegumento pupal. Os adultos usu-
almenle voam apenas até al gumas centenas de metros dos cria- CONTROLE
douros. mas podem dispersar-se Ror longas di stâncias levados por
vemos. Embora o período de vida das moscas adultas em geral As medidas, desenvolvid as em grande parte para o controle da
seja cuno. algumas espécies podem sobreviver ao inverno atra- malária humana, são direcionadas ou contra larvas em desenvol-
vés de hibernação. vi mento ou adultos ou contra ambos simultaneamente.

I.
Entomologia Veterinária 131

Subordem BRACHYCERA

Família TABANIDAE
Estas moscas grandes e robustas são comumente conhecidas em
todo o mundo como " moscas dos cavalos", embora ataquem e
se nutram numa ampla variedade de grandes animais e no ho-
mem. A dor provocada por suas picadas produz interrupção da
alimentação. e como conseqüência as moscas podem nutrir-se
numa sucessão de hospedeiros, sendo, portanto, importantes na
transmissão de patógenos como os tripanossomos.
Existem muitos gêneros de tab3IÚdeos, mas apenas três têm im-
portância veterinária, a saber, Tabanus, HaemalQPota e ChrysQPs.
Por causa de sua estreita relação em tennos de compoMmento e
importância patogênica, serão considerados como um grupo.

Hospedeiros:
Geralmente, grandes an imais domésticos ou silvestres e o ho-
mem , mas os pequenos animais e as aves também podem ser
atacados.

Espécies:
Há mais de 3.000 espécies de tabanídeos.
Mandíbulas
Distribuição:
Fig. 116 Peças bucais picadoras e sugadoras de um mosquito.
Mundial, embora certos gêneros estejam ausentes em grandes
áreas; por exemplo, não há espécies de Haematopota na Austrá-
lia e na América do Norte e do Sul.
As di versas medidas usadas contra larvas incluem a remoção
ou a redu ção de criadouros viáveis por drenagem ou outros MORFOLOGIA
meios que tornem esses-locais inadequados para o desenvolvi-
men to larval. Tst9-Jlém sempre é praticável. econômico ou acei- São moscas picadoras médias a grandes, de até 2,5 cm de com-
lável, devendo-se sempre av aliar a exeqüibilidade desses méto- primento, com envergaduras de asas de até 6,5 cm. Geralmente
dos localme nte. Tem-se tentado o controle biológico, por exem- têm coloração escura, mas podem apresentar várias faixas ou
plo, pela introdução de peixes predatórios em áreas pantanosas áreas coloridas no abdome ou no tórax, e mesmo os grandes olhos,
e arrozais, mas tai s métodos são inadequados para as espécies que são dicópticos na fêmea e holópticos no macho, podem ser
de mosquitos que se reproduzem em pequenas coleções tempo- coloridos. A coloração das asas é úti l na diferenciação dos três
rárias de água. O isolamento e o desenvolvimento de patógenos gêneros principais. Assim, Taballus tem asas daras ou acasta-
de mosquitos, incluindo microrganismos, protozoários e nema- nhadas, enquanto freqüentemente há faixas escuras de lado a lado
tóides, são principa lm en~e experimentais no momento, assim nas asas de ChlYsops; por outro lado, o gênero Haematopofa
como os métodos genéticos de controle. possui asas salpicadas ou pintadas (Fig. J 17) . São úteis também
Provavelmente, as medidas mais amplamente utilizadas con- na diferencia ão dos gêneros as características de antenas
tra larvas de mosquito são as que envolvem repeti das aplicações trissegmemadas, curtas, grossas ue, ao contrário das andes
de produtos químicos tóxicos, óleos minerais ou inseticidas aos moscas ciclórrafa"S,õãõtêmansta (Fig. 111 ).
criadouros, mas a sua aplicação deve ser contínua. Corno tais ~ As peças bucais, adaptadas para picar/sugar, são curtas e fo r-
medidas podem resultar em poluição do meio ambiente e tam- les, sempre aponland o para baixo. Mais saliente é o lábio gros-
bém podem acelerar o desenvolvimento de resistência a inseti- so, sulcado dorsalmente para sustentar as outras peças bucais,
cidas, a úni ca solução permanente é a destruição de criadouros. cujo conjunto é denominado fascíc ulo picador; o lábio também
As fon tes de água essenciais podem tornar-se inadequadas como se prolonga terminalmente como grandes labelos pareados, que
criadouros pelo es palhamento de contas de poliestireno inerte apresentam tubos denominados pseudotraquéias através dos quais
para cobrir a superfície da água. é aspirado sangue ou líquido das feridas (Fig. 11 8). O fascículo
Os inseticidas com ação residu al são efi cazes contra os está- picador, que produz o ferimento, é constituído de seis elemen-
gios adultos, particularmente se aplicados em recintos fechados, tos, o labro afiado superior, a hipofaringe com seu ducto sali var,
e são amplamente usados para controlar os vetares anofelinos da um par de max ilas semelhantes a limas e um par de mand íbulas
malária no homem. Os compostos organofosforados e os carba- largas e pontiagudas. Os machos não possuem m~ndíbulas e não
matos são recomendados para este fim bem como o uso dos podem, portanto, nutrir-se de sangue.
organoclorados residuais onde não há resistência.
Embora os piretróides sintéticos tenham estado disponíveis por CICLO EVOLUTIVO
algum tempo como sprays superficiais de curta ação, hoje alguns
estão sendo desenvolvidos como inseticidas residuais. Existem te- Depois de nutrir-se de sangue, a fêmea põe lotes de várias cente-
las para mosquitos, redes e repelentes para a proteção do homem. nas de ovos em forma de charuto, branco-cremosos ou acinzen-
132 Parasitologia Veterinária

(a)

Labro ----«,""

Labelos com
pseudotraq uéias

Hipofaringe

Fig. 118 Peças bucais cortantes e sugadoras de uma mosca labanídea fême a.

<\.. .
tados, de 1 a 2,5 mm ~e\comprimento,
na parte inferior da vege-
tação ou sobre pedras:1eralmente em áreas barrentas ou panta-
nosas. p s ovos eclodeni)em uma a duas semanas, e as larvas ci-
líndricas e mal diferenc iadas caem na lama ou na água. As lar-
vas, de 1 a 6 mm de comprimento, são identificadas como de
tabanídeos pela pequena cabeça negra retrátil, pelos proeminen-
tes anéis elevados ao redor os segmentos, a maior parte dos quais
apresenta pseudópodes, e por uma estrutura no último segmen-
to, exclusiva de larvas de tabanídeos, conhecida como órgão de
Graber, cuja função pode ser sensorial. São lentas e se nutrem
(b)
buscando alimento em matéria orgânica em decomposição ou por
predação de pequenos artrópodes, incluindo outras larvas de
tabanídeos. Em condições ideais, o desenvolvimento larval leva
três meses, mas, se ocorrer hibernação, pode prolongar-se por até
três anos. As larvas maduras pupam parcialmente enterradas na
lama ou na terra, e a mosca adulta emerge depois de uma a três
semanas. O ciclo evolutivo todo dura no mínimo quatro a cinco
meses, ou mais tempo se o desenvolvimento larval se prolongar_
As populações de moscas adultas apresentam fl utuações sa-
zonais tanto em regiões temperadas como em regiões tropicais_
Nos climas temperados, os adultos morrem no outono e são subs-
tituídos por novas populações na primavera e verão seguintes.
enquanto nas regiões tropicais, seus números são simplesmenre
reduzidos durante a estação seca, com um aumento no início da
estação chuvosa.

IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA

(e) Estas moscas robustas podem dispersar~se por muitos quilôme-


tros além dos seus criadouros e são mais ativas durante os dias
Fig. 117 Diferenciação dos três gêneros comuns de labanídeos. (a) Haematopota: quentes e ensolarados. As fêmeas adultas localizam a presa pri n-
(b) Tabanus; (c) Chrysops.
cipalmente pela visão, e suas picadas são profundas e dolorosas..
Entomologia Veterinária 133

Nutrem-se a cada três a quatro dias, causando grande perturba- MORFOLOGIA


ção, e, como sua alimentação freqüentemente é interrompida, são
eficazes vetores mecânicos de certas doenças, como carbúnculo Os adultos têm cerca de 5,5 a 7,5 mm de comprimento e sua cor
hemático, pasteurelose, tripanossomose, anaplasmose e a filariose varia de cinza-claro a escuro. Há quatro listras longitudinais es-
humana loíase. curas distintas no tórax e O abdome acinzentado apresenta diver-
É difícil avaliar a importância real deste grupo de moscas, mas' sas marcas claras e escuras (Prancha VII). As complexas peças
nos Estados Unidos há estimativas de perdas anuais de aproxi- bucais, adaptadas para sucção, são evidentes apenas quando dis-
madamente 40 milhões de dólares em conseqüência do efeito tendidas durante a alimentação (Fig. 119). A disposição das
irritante e da transmissão de doenças. nervuras nas asas tem importância taxonômica na diferenciação
entre Musca e moscas similares pertencentes a outros gêneros,
CONTROLE como Fannia, Morellia e Muscina, bem como na identificação
de diferentes espécies de Musca, mas isto está além do objetivo
Constitui um problema especial, uma vez que os criadouros são deste texto.
difusos e de difícil detecção. Para o controle geral de moscas, Uma importante característica morfológica é a presença de
são usados sprays inseticidas com efeito residual em estábulos e pêlos pegajosos em estruturas semelhantes a coxins na extremi-
nos próprios animais. Existe também a possibilidade do uso de dade das patas com garras. Essas estruturas permitem à mosca
painéis escuros com adesivos pegajosos como armadilhas, e há fixar-se a superfícies lisas, porém o mais importante é que são
uma série de grades de eletrocução que podem ser úteis em ins- responsáveis pela transmissão de bactérias patogênicas, quando,
talações de animais. por exemplo, as moscas se alimentam em feridas sépticas e ma-
téria orgânica em decomposição.

Subordem CYCLORRHAPHA CICLO EVOLUTIVO

Esta subordem é constituída de uma série de famílias de moscas As fêmeas põem lotes de até 100 ovos em fonna de banana, com
que são importantes como parasitas ou como vetares de doenças 1 mm de comprimento e de cor branco-cremosa, em fezes ou em
em animais. Como a classificação de muitos gêneros é variável, matéria orgânica em putrefação. A eclosão dos ovos, em tempe-
para facilitar serão discutidos sob quatro farrúlias principais, a raturas ideais, ocorre em 12 a 24 horas e produz larvas cilíndri-
Muscidae (sin. Anthomyidae), Calliphoridae (sin. Tachinidae), cas, segmentadas e esbranquiçadas, as quais, na parte anterior,
Oestridae e Hippoboscidae. são pontiagudas e possuem um par de pequenos ganchos. Na
extremidade posterior arredondada das larvas, há espiráculos
respiratórios pares, cuja forma e estrutura permitem a diferenci-
Fa01l1ia MUSCIDAE ação de gênero e espécie.
Os três ínstares larvais nutrem-se de matéria orgânica em
Esta famOia compreende muitos gêneró's picadores e não-pica- decomposição e amadurecem em larvas de 1 a 1,5 cm de com-
dores, os últimos comumente citados como moscas irritantes.
Como grupo, podem ser responsáveis por "ataque de moscas"
nos rebanhos, e várias espécies são vetores de importantes bac-
terioses, helmintoses e protozooses de a!1imais.
Os principais gêneros de importância veterinária incluem
Musca (moscas domésticas e moscas relacionadas), Hydrotaea
(mosca da cabeça), Stomoxys (mosca dos estábulos) e Haemato-
bia (mosca dos chifres). Um gênero atípico aqui incluído é Glos-
sina (mosca tsé-tsé), que em algumas classificações recebe o sta-
tus de família.
Arista

Mu,sca Antena

Hospedeiros:
Os membros deste gênero não são parasitas obrigatórios, mas
podem nutrir-se de ampla variedade de secreções animais e são
especialmente atraídos por feridas.

Espécies: Palpos
Musca domestica A mosca doméstica
M. autumnalis A mosca da face.

V árias outras espécies e subespécies ocorrem nos trópicos e


. subtrópicos, como o grupo da Mu~ca sorbens. Labelos com ·
pseudotraquéias
Distribuição: Fig. 119.,Peças bucais sugadoras da mosca doméstica Musca domestica dilatadas
Mundial. para a alimentação.
134 Parasit% gia Ve1erinária

primento em 3 a 7 dias em condi ções adequadas. Estas movem- douros (redução de fonte). Por exemplo, e m estábulos e faze n-
se, então, para áreas mais secas ao redor do habitat larval e pupam das, o esterco deve ser removido ou disposto em grandes pilhas,
na pele larval fin al, que se contrai e se torna ríg ida e castanho- onde o calor da fennentação irá destruir os estágios de mosca em
esc ura, formando o pupário em forma de barril ou cápsula pupal desenvolvimento, bem como ovos e larvas de hei mintas. Além
de 6 mm de comprimento. A mosca adulta emerge depois de 1 a. nisso, a aplicação de inse.(icidas à superfície de pilhas de esterco
26 dias, dependendo da temperatura. pode ser benéfica.
O tempo total de desenvolvimento desde o ovo até a mosca Há uma variedade de inseticidas e condu tas viáveis para o
adul ta pode, portanto, ser bem curto, de até 8 dias a 35°C, mas control e das moscas domésticas adu ltas. Os sprays de superfície
pode prolongar-se e m temperaturas mais baixas (p. ex., até 49 em aerossol, os inseticidas residuais aplicados a paredes e tetas
dias a 16°C). Nas regiões temperadas, uma pequena proporção ass im como cartões e faixas impregnados de inseticida podem
de pupas ou larvas pode sobreviver ao in verno, mas aparente- reduzir as quantidades de moscas em recintos fechados. Podem
mente o mais freqüente é as moscas passarem o inverno como ser incorporados também inse ticidas a iscas sólidas ou líquidas,
adu ltos hibernantes. usando-se atrativos como di versos xaropes açucarados ou leve-
dura hi drolisada e proteínas animais.
Ao ar livre, utilizam-se largamente brincos, faixas de cauda e
IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA
cabrestos contendo principalmente piretróides sintéticos junta-
mente com preparações pour-on, spot-on e em spray para redu-
As moscas domésticas, como o próprio nome sugere, estão inti-
zir o aborrecimento em bovi nos e eq üinos.
mamente associadas a habitações dos animais e do homem. Não
Ant igamente, eram usados sacos de pó inseticida ("esfrega-
são apenas um a fo nte de aborrecimento, mas também podem
dores dorsais") para diminuir o ataq ue de moscas. Consistem em
tran smitir mecanicamente vírus, bactérias, helmintos e protozo-
sacos grosseiros impregnados de inseticida ou contendo inseti-
ários por causa do seu hábito de freqüe ntar susbtância fecal e
cida, suspensos entre duas estacas, a uma altura que permite aos
matéria orgânica em decomposição; os pat6genos ou são trans-
bovinos esfregar-se, aplicando assi m o inseticida à pele.
portados nos pêlos das patas e do corpo ou regurgitados co mo
vômi to sali var durante subseqüente alimentação. Várias espéci-
es do gênero Musca são incriminadas na di sseminação de doen-
ças, incluindo mastite, conj untivite e carbúnculo hemático. No
Hydrotaea
hom em, provavelmente são mais importantes na disseminação
Este gê nero de moscas não-picadoras, muito semelhantes às do
de Shigella e de outras bactérias entéricas. Os ovos de diversos
gênero Musca, contém uma espécie de particular importância
helmintos podem ser transportados por moscas que se nutrem de
veterinária, a mosca da cabeça Hydrotaea irritans, responsável
fezes e que também podem atuar como hospedeiros intermediá-
por uma grave condição em ovi nos. Em muitas regiões, é tam-
rio s de uma série de he lmin tos, como Habronema spp. e
bém a espécie muscídea mais numerosa encontrada em bovinos
Raillietina spp. A deposição de larvas de Habronema em feri-
e eqüinos, sendo incriminada na transmissão de mastite de ve·
das pode dar origem a lesões cutâneas, comumente denontina-
rão e ceratoconjunti vite infecciosa bovina.
das "feridas de verão" em eqüinos.
A " mosca da face" M. autumnalis tende a se ali mentar de
Hospedeiros:
secreções dos olhos, do nariz e da boca, bem corno em feridas
Ovi nos, bovinos e eqüinos.
de ixadas por moscas picadoras e em geral são as moscas mais
numerosas que perturbam o gado no pasto. Os ovos de M. autll-
Espécie:
mnalis amiúde são postos em fezes bovinas, e, se as condições
Hydrotaea irritans.
forem adequadas, as grandes populações de moscas resultantes
Várias outras espécies de Hydrotaea também podem ser as-
podem provocar sérios transtornos, interferindo assim no pastejo.
sociadas à perturbação causada por moscas em rebanhos, como
Essas moscas são consideradas importantes na transmissão de
a H. albipuflcla, encontrada ao redor dos olhos de bovinos.
ceratoconjuntivite infecciosa bovina ("olho rosado" ou doença
de New Forest) causada por Moraxella bovis e também são im-
portantes hospedeiros intermediários de Parafilaria bovicola e Distribuição:
do parasita ocular Thelazia. Na América do Norte, nos últimos Principalmente o norte da Europa.
anos, os aumentos no número dessas moscas tê m provocado alta
incidência de distúrbios oculares, como co njunti vite. MORFOLOGIA
Há u ma série de gêneros intim amente rela cio nados de
muscídeos não-picadores, a saber, Fannia, Morellia e Muscina, A H. irritans, de tamanho semelhante ao de Musca, caracteriza-
que podem, em algumas regiões, dar uma contribuição substan- se pelo abdome verde-oli va e cor amarelo-laranja na base das asas
cial a "ataque de moscas" nos an imais pec uários, mas os seus (Prancha VIll). A identi ficação específica de muscídeos não-pi-
ciclos evol utivos e o controle são semelhantes aos descritos para cadores requer a opinião de um especialista.
Musca spp.
CICLO EVOLUTIVO
CONTROLE
As moscas adultas preferem condições tranqüilas e são encon-
Há vários tipos de telas e grades de eletrocussão para edifícios tradas perto de matas e plantações, com as quantidades máximas
destinados à diminui ção do aborrecimento causado por moscas ocorrendo no meio do verão. Os ovos são postos em matéria
ao homem, porém os melhores métodos de controle são os que vegetal em decomposição ou em fezes e eclodem, transforman-
visam à melhoria das condições de hi giene e à redução de cria- do-se em larvas maduras no outono; essas larvas entram então
Entomologia Veterinária 135

em diapausa (interrupção temporária do desenvolvimento) até a H ospedeiros:


primavera seguinte, quando á pupação e o desenvolvimento se A maioria dos animais e o homem.
completam com a emergência de uma nova geração de adul tos
no início do verão. Portanto, há apenas urna geração de moscas E spécie:
da cabeça a o ano. Stomoxys calcitrans.

IMPORTÂNCIA PA TOGÊNICA Distribuição:


Mundial.
Apesar de não serem paras itas obri gatórios. as moscas da cabeça
são atraídas por animais e se nutrem de secreções lacrimais e feri - MORFOLOGIA
das, como aquelas produzidas por carneiros após brigas. Como em
Musca, os labelos são adaptados para sucção, mas além disso pos- Superficialmente, aS. calcitrans lembra a M. domestica, sendo
suem pequenos dentes, e o seu efeito irritante durante a alimenta- do mesmo (amanho e cinza com quatro listras escuras longitudi-
ção causa lesão cutânea. As raças ovinas com chifres, como a Swa- nais no tórax. Seu abdome, entretanto, é mais curto e mais largo
ledale e a Scottish B lac kface, são mais suscetíveis ao ataque, e os que e m Musca, com três manchas esc uras no segundo e no ter-
enxames dessas moscas provocam intensa irritação e aborrecimento, ceiro segmentos abdominais (Prancha Vil). O método mais sim-
resultando e m ferimentos autoproduzidos, os quais, por sua vez, ples para distinguir as moscas dos estábulos de Musca e de ou-
atraem mais moscas. As aglomerações de moscas nutrindo-se na tros gêneros de muscídeos não-picadores provavelmente sej a pelo
base dos chifres (Prancha VnI) aumentam a extensão dessas feri- exame da probóscida, que em Stomoxys é saliente e projetada para
das, e a condição pode ser confund ida com rniíase por varej eira. É a fre nte. As moscas dos estábulos podem ser di stin guid as de
comum a infecção bacteriana secundária da ferida, o que pode es- muscídeos picador:es do gênero Haemalobia pelo tamanho mai-
timular o aparecimento de varejeiras. or e pelos palpos ma is curtos das pri meiras.
Nos bovi nos, encontram-se grandes quantidades de H. irri- As larvas de Musca e Sfomoxys podem ser diferenciadas por
tons na parte ventral do abdome e no úbere, e, como as bactérias exame dos espiráculos posteriores.
envolvidas em " mastite de verão" (Corynebacterium pyogenes,
Streptococcus dysgalactiae e PeptocOCCtlS indolicus) têm sido CICLO EVOLUTIVO
isoladas dessas moscas, há forte evidência presumível de que
possam transmitir a doença. As moscas, tanto machos como fêmeas, nutrem-se de sangue, e
É difícil determinar as perdas econômicas provocadas pela as fêmeas podem pôr lotes de 2S a 50 ovos, semelhantes aos das
infecção por moscas da cabeça, mas supõe-se que sejam subs- moscas domésticas, em matéria vegetal em decomposição, como
tanciais. feno e palha contamin ados com urina. Os ovos eclodem em um
a quatro dias, ou mais em clima frio, e as larvas, que també m se
CONTROLE parecem com larvas de moscas domésticas, amadurecem em 6 a
30 di as. Depois da e mergência, as fêmeas adultas precisam de
Demonstra ser difícil. Em algu mas regiões, é tradic ional prote- várias ingestões de sangue antes que os ovários amadureçam e
ger os carneiros com capuzes de aniagem . Recomenda-se tam- possa ter üúcio a oviposição.
bém a redução no uso de áreas adjacentes a matas, bem como a O ciclo evoluti vo completo desde o ovo até a mosca adulta pode
introd ução de raças ovinas sem chifres. Os animais acometidos levar 12 a 60 dias, dependendo principalmente da temperatu ra.
precisam ser estabulados e tratados para preve nir problemas Em regiões temperadas, as moscas podem passar o inverno
posteriores. como larvas ou pupas, enquanto nos cli mas tropicais a reprodu-
Há uma série de cremes protetores ou repelentes viáveis para ção é contínua durante todo o ano.
apl icação ao redor da base dos chifres, mas muitos deles apenas
evitam o cantata com a pele, mas não o aborrecimento. Obté m- IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA
se melhor controle com o uso de piretróides sintéticos sob a for-
ma de spot-on ou spray durante a época de moscas ou sob a for- Durante a nutrição, a probóscida pende para baixo e a penetra-
ma de brincos impregnados. ção da pele se dá pela ação irritante dos pequenos dentes na ex-
Nos bov ino s, a utilização de preparações pour-on ou spot-on tre mi dade do lábio (Fig. 120). Isto é doloroso, e as moscas dos
ou a aplicação de um ou dois brincos impreg nados de inseticida estábulos podem ser uma séri a praga dos animais e do homem .
ou faixas de cauda, contendo geralmente piretróides, demonstram São necessários aprox imadamente três minutos para a ingestão
ser benéficas no alív io do tormento causado pelas moscas. Nos de sangue e freqüentemente a alimentação é int~rrompid a. pei-
locais onde a mastite de verão constitui problema, são preferí- mÜindo assim a transmjssão mecânica de microrganismos e pro-
veis as faixas de cauda. tozoários patogênicos, como os tripanossomos. AS. calcitrans
. . também atu a como hospedeiro intermediário de Habronema .
As moscas adultas vivem durante cerca de um mês e são abun -
Stomoxys dantes em volta de insta lações rurais e estábulos no fi nal do ve-
rão e outono nas regiões temperadas. Preferem a luz solar forte e
A espécie mais com um neste gênero é a Slomoxys calcilrans, picam principalmente ao ar li vre, embora acompanhem os ani-
CQmumente conhecida corn o mosca dos estábulos ou mosca do- mais em reci ntos fec hados para se ali mentar. Estas moscas em
méstica picadora. As picadas desta mo'sca são dolorosas, e trata- grandes quantidades são uma enonne fon te de perturbação para
se de um vetor de diversas protozooses e helmintoses dos ani- bovinos no pasto, e em algum as áreas há esti mativas de quedas
mais. da produção de leite e carne de até 20%.
136 Parasitologia Veterinária

Distribuição:
As moscas dos chifres ocorrem em muitas regiões do mundo, in-
cluindo a Europa, os Estados Unidos e a Austrália, enq uanto a
mosca dos búfalos restringe-se ao Extremo Oriente e ao nOIte da
Austrália e a H. stimulans parece distribuir-se principalmente pela
Europa.

Arista MORFOLOGIA

Os adu ltos têm até 4 mm de comprimento e são os menores dos


muscídeos hemat6fagos (Prancha VII ). Em geral, têm a cor cin-
za, freqU entemente com diversas listras escuras no tórax . Ao
contrário do que se observa em Musca, a prob6scida mantém-se
para a frente e, diferentemente de Sfomoxys, os palpos são gros·
sos e tão longos qu anto a prob6scida. Contrastando co m outros
muscídeos, as espécies de Haematobia em geral permanecem nos
hospedeiros, saindo apenas para voar até outro hospedeiro ou.
no caso das fêmeas, para ovipor em fezes recém-elim inadas.

Labro CICLO EVOLUTIVO


Lábio

Os ovos, de 1 a 1,5 mm de comprimento, são postos em fezes fres-


cas. Eclodem rapidamente, e as larvas já podem estar maduras com
quatro dias se hou ver umidade adequada e temperaturas ao redor
labelos com de 27°C. As baixas temperaturas e condições secas retardam o de-
dentes
senvolvimento larval e destroem os ovos. O período pupal é de
Fig. 120 Peças bucaís picadoras-sugadoras da mosca dos estábulos Stomoxys aproximadamente 6 a 8 dias, e ao emergir as moscas adultas bus-
calcitrans numa posíção de nutrição para baíxo. cam seus hospedeiros bovinos ou bubalinos, onde permanecem.

IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA
CONTROLE
As moscas dos chifres podem ser encontradas aos milhares alimen-
Muitas das medidas de controle descritas para Musca aplicam- tando-se ao longo do dorso, das laterais e da parte ve ntral do abdo-
se a Stomoxys. A redução da fonte é importante, e devem ser me de bovinos. Seu nome comum deriva da sua tendência a se
evitados potenciais criadouros pela remoção regular e empilha- aglomerar em volta dos chifres ou na região da cabeça quando nào
mento de camas úmidas, fe no e resíduos alimentares de es tábu- se estão alimentando. Grandes quantidades causam intensa inita-
los e alojamentos de animais. As aplicações de inseticida em ção, e as feridas cutâneas produzidas durante a nutrição podem atrair
aerossol dentro e em volta de estábulos e instalações rurais po- outros Illuscídeos e moscas causadoras de miíases. É difícil deter-
dem proporcionar bom controle local de S. calcitrans. minar o efeito econômko exato dessas moscas, mas o seu controle
em bovinos no pasto pode resultar em aumentos significativos na
>t G~_~ produção. A mosca dos búfalos e outras espécies de Haematobia
têm um efeito patogêni co semelhante.
Haematobia
Apesar de menos importante que muitos outros muscídeos na
Várias espécies deste gênero de muscídeos hemat6fagos ocor- transmissào de doença, espécies de Haemarobia transmitem Ste-
rem em di versas regiões e podem ser um séri o transtorno para phanofilaria, o filarídeo cutâneo de bovinos.
os bovinos. Uma das espécies, a mosca dos chifres, é conhecida
como Haematobia irritans nos Estados Unidos e, às vezes, como CONTROLE
Lyperosia irritans na Gfã-Bretanha e em partes da Europa.
Há também confusão taxonômica, visto que certas outras es- Como as espécies de Haematobia passam muito tempo em seus
pécies atribuídas ao gênero Haematobia às vezes são citadas hospedeiros, o co ntrole é fácil, em relação ao controle de outros
como pertencentes aos gêneros Haematobosca e Siphona. Para muscídeos que visitam os rebanhos. Os brincos impregnados de
simplificar, todos os muscídeos picadores, exceto Stomoxys e inseti cida são benéficos no controle de moscas dos chu res; al-
Glossina, serão considerados em Haematobia. ternativamente, os ani mais podem ser tratados repetid as vezes
com preparações pour-on e spot-on.
Hospedeiros:
Bovinos e bubalinos.
Clossilla
Espécies:
Haematobia (sin. Lyperosia) irritans a mosca dos chifres Este gê nero é aqui considerado co mo membro da fam ília
H. exigua a mosca dos búfalos Muscidae, embora em algumas classificações seja discutido como
H. (sin. Haematobosca) stimulans. o único membro da família Glossinidae.
Emomologia Veterill6r;a 137

Os membros deste grupo de moscas picadoras são comu mente Não há maxilas ou mandíbulas nas peças bucais, em bora a
denom inados moscas tsé- tsé. Distribuem-se por 10 milhões de probóscida seja adaptada para perfuração e sucção, e, como em
qui lómetros quadrados da África e são extremamente importan- Stomoxys, consiste num lábio em forma de U, com labelos se-
tes corno vetores da tripanossomose africana, um a grave doença melhantes a lima terminalmente, um labro pontiagudo mais es-
dos anima is domésticos e do homem. treito superior e entre estes um tubo digestivo contendo a delga-
da hipofaringe, que tran sporta sal iva e anticoagulante para a fe-
Hospedeiros: rida formada durante a alimentação. As moscas tsé-tsé infectam-
Diversos mamíferos, répteis e aves. se com tripanossomos durante a alimentação, e estes se multi-
plicam então na mosca, antes de serem infectantes para outros
Espécies: hospedeiros durante subseqüente nutrição.
Há cerca de 30 espécies e subespécies do gênero Glossina. A
iden tificação individual de espéci~s e subespécies é uma tarefa CICLO EVOLUTIVO
de especialistas.
As moscas, tanto os machos como as fêmeas, são hematófagas
DISTRIBUiÇÃO e, embora possam ter preferências por hospedeiros, nutrem-se
nu ma ampla variedade de animais. As fê meas, ao contrário de
Essas moscas estão confi nadas a um cinturão da África tropical outros muscídeos, são vivíparas e produzem apenas uma larva
que se estende do sul do Saara (La!. 15"N) no 110rte até Zimbabwe por vez, até um total de 8 a 12 larvas. A maturação no útero, desde
e Moçambique no sul (La!. 20-30"S). As espécies restringem-se o ovo fertilizado até a larva de terceiro estágio depositada pelo
a diversas áreas geográficas de acordo com o habitat, com os três adulto, móvel e com 8 a 10 mm de comprimento, leva aproxi-
principais grupos, com a denominação depois da espécie mais madamente 10 dias. Neste estágio, a larva é branco-cremosa,
com um em cada grupo, sendo fusca, palpalis e morsitans, en- segmentada e na parte posterior apresenta um par de salientes
contrados respectivamente em áreas de florestas, de rios e de protuberâncias escuras em forma de orelha, conhecidas como
savana. Os dois últimos grupos, em razão da sua presença nas lobos polipnêusticos (Fig. 12!); esses lobos têm função respira-
grandes áreas de criação de rebanhos, são os mais importantes tória se melhante aos espiráculos posteriores de outras larvas
do ponto de vista veterinário. muscídeas. Após a deposição, a larva infiltra-se em solo solto até
a profundidade de alguns centímetro s e forma um pupário rígi-
MORFOLOGIA do, castanho-escuro, em forma de barril. O período pupa! é rela-
tivamen te longo, durando quatro a cinco semanas, ou mais em
tempo frio. Ao emergir, a fêmea requer várias ingeslões de san-
Em geral, os adultos são moscas delgadas, de cor amarela a casta-
gue durante um período de 16 a 20 dias antes de produzir a pri-
nho-escura, têm 6 a 15 mm de comprimento e apresentam probós-
meira larva.
cida longa, rígida e projetada para a frente (Prancha VIl). Quando
A reprodução geralmente prossegue por todo O ano, com as
em repouso, as asas mantêm-se sobre o abdome como as lâminas
quantidades máximas de moscas ocorrendo ao final da estação
de uma tesoura fechada. Em caso de dúvida, são faci lmente dife-
das ch uvas. A longev idade da s moscas adultas na natureza é
renciadas de todas as outras moscas pela célula característica em
variável, de algun s dias a vários meses.
forma de cutelo (machadinha) nas asas (Fig. 121).
IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA

Apesar das picadas dessas moscas serem muito do lorosas e cau-


sarem grande irritação, sua maior importância está na transmis-
são de tripanossomose animal e humana.

CONTROLE
Antigamente, as campanhas contra moscas tsé-tsé para o controle
da tripanossomose no homem e nos animais dependi am funda-
mentalmente da destruição em grande escala de animais de caça,
que atuam como reservatórios de infecção por tripanos somos e
como fonte de sangue para as moscas. Era comum também a lim-
(a) peza de grandes áreas de arbustos, para destruir os habitats das
moscas adu ltas. Estes métodos davam bons resultados, mas na
época atual são largamente inaceitáveis do ponto de vista ecoló-
gico e econômico.
Hoje em dia, a maioria das medidas contra a tsé-tsé baseia-se
no uso de inseticidas aplicados no solo ou por pulverização aé-
rea. Q uando o objetivo é a completa erradicação de Glossina, são
utilizados inseticidas residuais. No caso de simples controle de
populações de moscas para diminuir o risco de tripanossomose
(b)
humana e animal, ou no caso de uso periódico para garantir que
Fig. 121 (a) Larva madura da G/ossina exibindo aparência segmentada e lobos uma área li vre de moscas assim o permaneça, pode ser feita apli-
polipnêuSlicos; (b) asa de G/ossina exibindo cêlula "em cutelo" característica. cação aérea de inseticidas não-resid uais.
)38 Parasitologia Veterinária

É preferível a erradicação, mas em face da inevitável reinva~ OUTRAS ESPÉCIES IMPORTANTES NOS
são de tsé-tsés oriundas de áreas adJacentes não-tratadas, torna~ TRÓPICOS E SUBTRÓPICOS
se antieconómico, a menos que a área selecionada fique às mar-
gens de um cinturão de tsé-tsé onde a população já esteja estres- Lucilia cuprina
sada por causa das cóndições climáticas relativamente desfavo~ L. caesar
ráveis. É essencial também que a área a ser pulverizada tenha L. illustris
potencial econômico e que ocorra desenvolvimento agrícola si ~ Phormia regina
multâneo da área limpa. Calliphora stygia
O controle com inseticidas não-residuais é caro, por causa da C. australis
necessidade de repetir-se regularmente a operação,justificando~ C. fallax
se apenas onde a área tiver grande potencial económico. Chl)1Somia albiceps
Os defensores da pulverização de inseticidas argumentam que, C. chlorophyga
como a Glossina é altamente sensível aos inseticidas utilizados, C. micropogon
o uso seletivo e sofisticado de modernos produtos químicos, em C. rufifacies.
geral apenas uma vez, não tem efeitos importantes e permanen ~
tes sobre o meio ambiente; de fato, as mudanças no uso da terra MORFOLOGIA
que devem aCOITeI' após controle bem-sucedido, são muito mais
significativas neste aspecto.
Adultos:
Têm-se reduzido populações de moscas tsé-tsé em áreas lo- As varejeiras medem até 1 cm de comprimento e ao exame mi-
calizadas pelo uso de armadilhas. Além de baratas, essas arma- croscópico todas apresentam cerdas dorsais distintas no tórax.
dilhas têm a vantagem de poder ser utilizadas por mão-de-obra Alguns gêneros, como as moscas verdes, são relativamente del -
local e de ser inócuas para o meio ambiente. Dependem funda- gados, enquanto outros, como as moscas azuis, são robustos.
mentalmente da apresentação do material, como tecidos escuros, Todas se caracterizam por brilho verde ou azul-metálico no
que atraem as moscas para uma armadilha freqüentemente incor- corpo; assim Lucilia é esverdeada a bronze, Phonnia é preta com
porando um inseticida. Os extratos odoríferos de bovinos colo-
um brilho azul-esverdeado sobrejacente, enquanto Calliphora é
cados em armadilhas ou próximos a elas para atrair moscas ao azul (Prancha IX) e Chrysomya é verde-azulada. A identifica-
local têm dado resultados promissores.
ção individual das espécies pode ser feita de acordo com as dife-
renças locais de cor, principalmente no tórax e abdome.

Fanu1ia CALLIPHORIDAE Larvas:


As larvas, em sua maioria, são lisas, segmentadas e medem 10 a 14
Esta família, juntamente com a Sarcophagidae e a Oestridae, mm de comprimento. Possuem um par de ganchos orais na extremi-
contém as espécies responsáveis pelas miíases mais importantes dade anterior, espiráculos no segmento anterior e posterionnente
dos animais domésticos e do homem. placas estigmáticas também apresentando espiráculos. A disposição
Define-se m iíase como a infestação de animais vi vos com dos espiráculos nessas placas serve para diferenciar aS espécies.
larvas de dípteros. Pode ser facultativa (opcional), como no caso
dos califorídeos, ou obrigatória, como nos oestrídeos. Pode ainda CICLO EVOLUTIVO
ser cutânea (p. ex., Lucilia), nasal (p. ex. , Oestrus) ou somática
(p. ex., Hypoderma). A varejeira fêmea grávida põe grumos de ovos creme-amarela-
Um terrnõ comum para a miíase causada por membros da dos em feridas, velo sujo ou animais mortos, sendo atraída pelo
família Calliphoridae é "miíases por varejeiras", a postura de ovos odor da matéria em decomposição.
pela mosca sendo denominada "grumos" e o desenvolvimento N as regiões temperadas em condições de verão, os ovos
das larvas e a conseqüente lesão miíase. eclodem em larvas em aproximadamente 12 horas; as larvas,
então, nutrem-se, crescem rapidamente e sofrem duas mudas,
MlíASE CAUSADA POR tornando-se larvas totalmente maduras em três a dez dias. Estas
VAREJEIRA caem então no solo e pupam. A fase pupal completa-se em três a
sete dias no verão e a mosca fêmea emergente, após uma inges-
Hospedeiros: tão de proteína, atinge a maturidade sexua1. A fêmea fertilizada
Principalmente ovinos, mas qualquer outro animal pode ser aco- pode pôr até 3.000 ovos, usualmente em lotes de 100 a 200. As
metido. É importante observar que apenas as larvas são respon- moscas adultas podem viver durante cerca de 30 di as, e até qua-
sáveis por miíase. tro gerações podem desenvolver-se entre maio e setembro. A
última geração passa o inverno no solo, em geral sob a forma de
Distribuição: pupas, emergindo na primavera seguinte.
Mundial. Nos climas mais quentes, o número de gerações "por ano é
maior, tendo-se registrado até nove ou dez no sul da Africa e na
PRINCIPAIS ESPÉCIES NA EUROPA Austrália.

Lucilia sericata . (moscas verdes) EPIDEMIOLOGIA


Phormia terrae-novae (moscas negras)
Calliphora erythrocephala As varejeiras que atacam os ovinos enquadram-se em duas prin-
C. vomitaria (moscas azuis) cipais categorias:
Entomologia Veterinária 139

(1) Moscas primárias, que são capazes de iniciar um ataque em PATOGENIA


animais vivos. Incluem Lucilia e Phormia spp. e algumas
Calliphora spp. Depois que os ovos são depositados na lã pela mosca adulta pri-
(2) Moscas secundárias, que não podem iniciar um ataque, mas mária, as larvas emergem e penetram na lã até a pele, a qual la-
investem contra uma área já atacada ou lesada por qualquer ceram co m os ganchos orais, e secretam enzimas proteolíticas
outro motivo. Com freqüência ampliam a lesão, tornando o que digerem e liquefazem os tec idos. Moscas sec undárias são
ataque de grande gravidade. Os exemplos inc luem muitas então atraídas pelo odor dos tecidos em decomposição, e suas
Calliphora spp. e, nos climas mais quentes, Chl)ISomya spp. larvas ampliam e aprofundam a lesão. A situação freqüenternente
é compli cada por infecção bacteriana sectindária.
Há alguma evidência de que o desenvolvimento das larvas do
A initação e o desconforto causados pela lesão são extrema-
segundo estágio resulta em competição por alimento com as lar-
mente debilitantes, e os ovinos podem perder a higidez rapida-
vas das moscas primárias. Esta batalha em geral é vencida pelas
mente.Isto costuma ser o prime iro sinal evidente de ataque, pois
larvas secundárias, particularmente em regiões onde predominam
a lesão ocorre na su perfície cutânea e às vezes é observada ape-
Chrysomya spp., pois as larvas deste gênero são carnívoras e se
nas sob ri goroso exame. No caso de morte, freqüentemente se
al imentam das larvas das moscas primárias.
deve a septicemia.
Na Austrál ia, é encontrado também um grupo de moscas "ter-
O ataq ue pode ser classificado de acordo com a região
ciárias", composto pelo grupo Musca, principalmente quando as
corpórea acometida, isto é, traseiro, cauda, corpo, cornos ou pre-
lesões da carcaça "atacada" estão secando.
púcio. Na Europa, o mais comum é o ataque ao longo do corpo,
A epidemiologia da miíase em ovinos depende de fatores que
por causa da podridão da lã produzida por chuvas in tensas.
afetam a prevalência de varejeiras e dos que afetam a suscetibi-
Na Austrália, na África do Sul e na América do Su l, onde
Iidade do hospedeiro. Os três principais fatores são:
predomina a raça Merino, são mai s comuns os ataques ao tra-
(1) Temperatura. Nas regiões temperadas, as temperaturas seiro e à cauda, por causa da conformação desta raça e da pele
mais altas do final da primavera e do verão estimulam as enrugada na região traseira que favorece o acúmu lo de urina e
pupas hibernantes a completar seu desenvol vimento, e apa- fezes.
rece então a primeira onda de varejeiras adultas. As altas
temperaturas ambientes, desde que a umidade re lativa tam- SINTOMA TOLOGIA CLíNICA
bém seja alta, favorecem a criação de áreas adequadas de
microclima no velo, que atraem as moscas adultas para ovi- O s ovinos acometidos são anoréticos, apresentam-se a páticos e,
por. em geral, mantêm-se separados do resto do rebanho. No ataque
(2) Chuva, A chuva persistente pode produzir "podridão da lã", ao longo do corpo, o velo na área acometida é mais escuro , com
o que torna o velo atrativo para as moscas adu ltas. Estas aspecto úmido e odor fétido. Entretanto, exceto nos casos avan-
últimas não são ativas durante as chuvas, mas assim se tor- çados, nada mais pode ser visto até o velo partir-se, revelando a
nam tão logo cessem, tirando vantagem das condições do pele lesada (Prancha VIlI) e a presença de larvas.
velo produzidas pela chuva. As raças ovinas com lã fina e
longa são particularmente suscetíveis à podridão da lã ou do DIAGNÓSTICO
velo.
(3) Suscetibilidade do hospedeiro, Está aumentada unde se Base ia-se na sintomatologia clínica e na identificação das larvas
desenvolvem odores putrefativos no velo, que geralmente na lesão.
se devem à decomposição bacteriana de matéria orgânica.
As causas mais comuns são a sujeira nos quartos posterio-
TRATAMENTO
res por urina ou diarréia e lesões conseqüentes a tosquia,
brigas ou arame farpado.
Uma vez diagnosticado o problema, todos os ov inos afetados
Determinadas raças ovinas, como a raça Merino, possuem uma devem ser separados e submetidos a tricotomia na área adjacen-
estreita área do traseiro com enrugamento excessivo de pele, o te à lesão, sempre que possível com remoção das larvas, apl ican-
que favorece sujeiras constantes por urina ou fezes, atraindo as- do-se um inseticida adequado à lesão, como diazinon , ciperme-
sim varejeiras. Nos machos reprodutores e nos castrados com uma trina ou deltametrina.
abertura estreita do prepúcio, o acúmuIo de urina favorece o ata-
que nesta área. CONTROLE
Considerando-se os fatores acima, fica claro que na Europa a
época de varejeiras ocorre do início de junho até o final de se- Baseia-se amplamente no tratamento profilático dos ovinos com
tembro. Em ovinos monteses, observa-se uma primeira fase em inseticidas. Os problemas associados a isto são o período relati-
junho, que acomete os adu ltos não-tosquiados, quando O velo dos vamente curto em que as larvas permanecem nos animais, as
cordeiros não está suficientemente crescido. Imediatamente após repetidas infestações verificadas durante toda a estação das mos-
a tosquia, há pouco ou nenhum ataque, mas ocorre uma segunda cas e a rapidez com que ocorre o agravamento da lesão. Q ual-
fase em agosto/setembro e afeta os cordeiros conforme crescem quer inseti cida utilizado, portanto, deve não só destruir as larvas
seus velas. Nos rebanhos de planícies, onde a tosquia aCOITe mais como também persistir no velo. Neste aspecto, o hidrocarboneto
cedo, a primeira fase é menos evidente e a segunda, acometendo clorado, dieldrin, era particularmente eficaz e conferia proteção
principalmente os cordeiros, ocorre mais cedo, e m julho. por no mínimo 20 semanas. Contudo, este produto foi descarta-
Como o número de gerações de moscas é mais alto nas re- do por questão de segurança e s ubstituído principalmente por
giões mais quentes, o período de risco é mais prolongado e es- compostos organofosforados e piretróides sintéticos, que persis-
pecialmente alto em clima quente e úmido. tem por muito menos tempo.
140 Parasirologia Veterinária

A aplicação desses inseticidas é feita por pulverização manu- saárica. As larvas desenvolvem-se sob a pele e produzem um
al, banho de imersão ou, mais rarf!mente na Europa, por asper- inchaço doloroso com um pequeno orifício central.
são. Na Europa, a alta prevalência de ataque ao longo do corpo
torna necessária a proteção do corpo inteiro. Na prática, dois tra-
tamentos anuais, geralmente em junho e agosto, devem conferir Família SARCOPHAGIDAE
proteção durante toda a estação das moscas.
Um regulador de crescimento de insetos, a ciromazina, confere Os sarcofagídeos ou "moscas da came", como a Sarcophaga e a
proteção por até dois meses após uma única aplicação. A droga é Wohlfahrtia, estão amplamente distribuídos e põem ovos em
aplicada sob a forma de pour-on antes de um desafio previsto. chagas, feridas ou came em decomposição; acometem prineipal-
Outras medidas a serem tomadas para ajudar o controle são a mente o homem e apenas ocasionalmente os animais. As larvas
prevenção de diarréia por controle eficaz de verminoses e a re- podem causar grande deformidade.
moção do excesso de lã da virilha e da região perineal para evi-
tar o acúmulo de sujeira, técnica conhecida como cascarreio.
Recomenda-se também que as carcaças sejam enterradas ou quei- Família OESTRIDAE
madas, pois caso contrário constituirão um excelente criadouro
alternativo de varejeiras. Esta é uma importante família, constituída de vários gêneros de
Na Austrália, onde predomina a raça Merino, tem-se tentado a moscas grandes, usualmente pilosas, cujas larvas são parasitas
criação seletiva de ovinos com áreas traseiras lisas, em vez de en-
obrigatórios de animais. As moscas adultas possuem primitivas
rugadas, mas o progresso é lento. Uma alternativa é o emprego da peças bucais afuncionais e têm vida curta, enquanto as larvas
operação de Mule, em que se utiliza uma cirurgia profilática para altamente hospedeiro-específicas passam considerável tempo
remover uma porção da pele traseira, de maneira que, quando as nutrindo-se e se desenvolvendo em seus hospedeiros animais.
áreas excisadas cicatrizam, a pele fica lisa e não mais enrugada. Três gêneros de comportamento semelhante são aqui consi-
derados, a saber: Hypoderma, Oestrus e Gasterophilus (atual-
MlíASE CAUSADA POR MOSCAS DA BICHEIRA. ) mente, este último gênero com freqüência é classificado numa
família separada, a Gasterophilidae).
A denominação moscas da bicheira é dada às larvas de certas
espécies de Cochliomyia (sin. Callitroga), incluindo C. honúni-
vorax e C. maceLlaria, e à larva de uma única espécie de Chry- Hypoderma
somya, C. bezziani, que causam miíase nos animais e ocasional-
mente no homem. Os membros deste gênero são as "moscas do tumor" e a sua
Estas moscas verde-azuladas apresentam listas longitudinais importância económica reflete-se nos esquemas nacionais de
no tórax e olhos castanho-alaranjados (Prancha IX). Ocorrem erradicação realizados em diversos países.
principalmente em regiões tropicais e põem ovos nas feridas, com
os estágios larvais caracteristicamente nutrindo,-"se sob a forma Hospedeiros:
de colónia e penetrando nos tecidos, onde produzem uma lesão Bovinos; as larvas ocorrem irregularmente em outros animais.
grande e de odor desagradável. A C. hominivorax era um pro- incluindo eqüinos, ovinos e, muito raramente, o homem.
blema tão grande no sul dos Estados Unidos que foi efetuada uma
campanha de erradicação em massa usando controle biológico. Espécies:
Isto envolveu a liberação de até 1.000 machos, esterilizados por Hypoderma bovis
irradiação, por milha quadrada. Como a fêmea se acasala ape- H. lineatum.
nas uma vez, o controle foi muito bem-sucedido, exceto onde as
moscas, capazes de voar até 320 quilómetros, migravam através Distribuição:
da fronteira mexicana. Hemisfério'Tlorte. A Hypoderma , entretanto, está ausente em
Antigamente, pensava-s~ que a Chrysomya estava restrita ao latitudes extremas, incluindo a Escandinávia, e de maneira oca-
Velho Mundo, à Africa e à Asia, enquanto a Cochliomyia estava sional é encontrada escassamente ao sul do equador na Argenti-
presente apenas no Novo Mundo. Em 1988, entretanto, a Cochli- na, no Chile, no Peru e no sul da África, após introdução aciden-
omyia hominivorax foi introduzida na Líbia, aparentemente por tal em bovinos importados.
meio de animais infestados importados da América Latina. O
risco potencial para a África e a Europa foi contido e finalmente MORFOLOGIA
eliminado em 1991 pela aplicação enérgica da técnica do macho
estéril, que envolve a liberação de milhões de moscas machos
Adultos:
esterilizadas importadas do México. De modo menos espetacu- A H. bovis e a H. lineatum parecem-se com abelhas, mas, sendo
lar, têm-se descrito várias espécies de Chrysomya de vários pa- dípteros, têm apenas um par de asas; o abdome é coberto por pêlos
íses sul-americanos desde 1975, provavelmente introduzidas por amarelo-alaranjados, com uma larga faixa de pêlos negros em
animais infestados que acompanharam os imigrantes de língua volta da parte central (Prancha X).
portuguesa oriundos de Angola naquele ano.
Larvas:
MlíASE CAUSADA POR MOSCA TUMBU As larvas maduras são largas em forma aproximada de barril.
afilando-se anteriormente; quando maduras, têm de 2,5 a 3 cm
As larvas de Cordylobia anthropophaga, a "mosca tumbu", são de comprimento, e a maioria dos segmentos apresenta espinhos
responsáveis por miíase no homem e nos animais na África sub- curtos (Fig. 122). A cor é branco-turva quando recém-emergidas
Entomologia Veterinária 141

neste local, emergem, a H. lineatum em março a maio e a H. bovis


em maio ajunho, caindo ao solo, onde pupam sob folhas e vege-
tação solta durante aproximadamente cinco semanas. As mos-
cas ::1clllltas então emergem, copulam e as fêmeas põem ovos e
morrem, tudo isto em uma a duas semanas. Pode ocorrer
avi posição já às 24 horas depois da emergência do pupário.

IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA

o aspecto mais importante deste gênero é certamente a perda


econômica causada por depreciação e condenação de carcaças
Fileiras de espinhos perfuradas por larvas.
Fig. 122 Larva de Hypoderma exibindo aparência segmentada, espinhos curtos e
Além disso, contudo, as próprias moscas adultas são respon-
espiráculos posteriores. sáveis por alguma perda. Quando se aproximam dos animais para
pôr ovos, o seu zumbido característico, que parece ser imediata-
mente identificado, faz com que os animais entrem em pânico
ou "andem a esmo", ferindo-se às vezes em mourões, arame far-
do hospedeiro, mas rapidamente muda para castanho-escura; a
pupa é quase negra. pado e outros obstáculos. As vacas leiteiras apresentam queda
na produção de leite e os bovinos de corte têm ganhos de peso
reduzidos em conseqüência da alimentação interrompida. Neste
CICLO EVOLUTIVO aspecto, a H. bovis é a mais importante, uma vez que avi põe
apenas na parte superior do corpo, perseguindo os animais por
As moscas adultas são ativas apenas em clima quente, e na Eu- certa distância e desferindo ataques repetidos. A H. lineatum
ropa o período de pico é emjunho e julho. As fêmeas fixam os atinge os animais através de uma série de saltos ao longo do solo
ovos aos pêlos, a H. bovis deposita um ovo por pêlo nas partes e permanece na parte inferior do membro durante certo tempo,
inferiores· do corpo e nos membros, acima do jarrete, e a H. enquanto põe a fileira de ovos, de tal modo que o animal pode
lineatum, em fileiras de seis ou mais em pêlos individuais abai- não perceber a sua presença. Em regiões dos Estados Unidos, esta
xo do jarrete (Fig. 123). Não há atividade de moscas abaixo de espécie é adequadamente denominada "mosca da quarteIa".
18°C. As LJ sob a pele lesam o músculo adjacente, o que requer que
As larvas de primeiro estágio, que têm menos de I mm de seja removido da carcaça o tecido gelatinoso esverdeado, deno-
comprimento, eclodem em alguns dias e se arrastam nos pêlos, minado "geléia de açougueiro", observado também nos tecidos
penetram nos folículos pilosos e migram para a região do dia- submucosos esofágicos infestados.
fragma. A migração é auxiliada pelo uso de ganchos bucais pa- Finalmente, se as larvas de H. bovis morrerem no canal espi-
res e pela secreção de enzimas proteolíticas, e as larvas se ali- nhal, a liberação de uma proteolisina altamente tóxica que ela
mentam ao seguirem para os locais de repouso, onde passarão o contém pode causar paraplegia, enquanto a morte de larvas de
inverno, a H. lineatum para a submucosa esofágica e a H. bovis H. lineatum na parede esofágica pode causar timpanismo por
para o tecido adiposo epidural no canal da medula espinhaL Es- estreitamento do esôfago e regurgitação imperfeita. A morte de
tes locais são atingidos no outono, usualmente após o término larvas em outras regiões pode, em casos muito raros, causar ana-
de novembro na Europa, e aí ocorre a muda para o segundo está- filaxia em animais sensibilizados.
gio. Em fevereiro e março, recomeça a migração, e as Lz chegam
sob a pele do dorso, onde se transformam em LJ' que podem ser CONTRQLE
palpadas como tum~fações distintas ("tumores"). As L3 fazem
uma perfuração cutânea, e as larvas respiram aplicando os A Hypoderma é sensível a inseticidas organofosforados de ação
espiráculos à abertura. Depois de cerca de quatro a seis semanas sistêmica e à ivermectina. As preparações organofosforadas são
aplicadas como pour-on ao dorso de bovinos e absorvidas siste-
micamente; a ivermectina é aplicada por injeção subcutânea. Em
esquemas de controle na Europa, usualmente se recomenda um
único tratamento anual, de preferência em setembro, outubro ou
novembro, antes que as larvas de H. bovis atinjam o canal espi-
nhal, para que- não haja risco de desintegração de larvas mortas.
O tratamento na primavera, quando as larvas deixaram os locais
de repouso e já se encontram sob a pele do dorso, apesar de efi-
caz no controle, é menos recomendável, pois o couro já terá sido
perfurado pelas L3 que respiram. Entretanto, em algumas re-
giões, como o Reino Unido, este tratamento é obrigatório se hou-
ver "tumores" no dorso dos bovinos.
A Hipoderma tem grande capacidade de regeneração popu-
lacional, e, assim sendo, quaisquer medidas de controle deveu:
ter como objetivo a erradicação total, com salvaguardas contra a
reintrodução. Por este motivo, os esquemas mais bem-sucedidos,
amparados pela legislação, tais como restrição de movimenta-
Fig. 123 Ovos de Hypoderma. (a) H. bovis; (b) H. lineatum. ção de bovinos em propriedades infestadas e tratamento compul-
142 Parasito/agia Velerinária

sório no outono, são adotados nas ilhas britânicas, COffi.O Reino MORFOLOGIA
Unido e a Irlanda constituindo exemplos notáveis. A prevalên-
cia de bovinos infestados no Reino Unido, por exemplo, durante Adultos:
a última década caiu de aproximadamente 40% para quase zero. Moscas cinzentas de cerca de 1 cm de comprimento, com peq ue-
Entretanto, evidência de infestação ocasionalmente ainda é en- nas manchas brancas no abdome e um revestimento de pêlos
contrada em animais importados para o Reino Unido. Outras castanhos curtos (Prancha X).
regiões que tiveram êxito na erradicação, como a Dinamarca e a
Holanda, evidentemente con-em maior risco de reintrodução. Larvas:
As larvas maduras nas vias nasais têm cerca de 3 cm de compri-
INFESTAÇÃO POR HYPODERMA EM OUTROS mento, são branco-amareladas, afilando-se anteriormente com
ANIMAIS um "degrau" saliente na parte posterior. Cada segmento apresenta
uma faixa trans,versal escura no dorso (Fig. 124).
CERVíOEOS
CICLO EVOLUTIVO
Nestes animais, a H. diana corresponde à H. bovis em bovinos,
utilizando o canal espinhal como local de repouso larval. A mosca As fêmeas são vivíparas e infectam os ovinos, lançando nas na-
é mais ativa em maio e junho, mas não é identificada como cau- rinas, durante o vôo, um jato de líquido contendo larvas, sendo
sa de desassos sego em cervídeos. As larvas maduras ocorrem liberadas até 25 larvas de uma só vez. As LI recém-depositadas
subcutaneamente ao longo do dorso, e a lesão do couro é seme- têm cerca de 1 mm de comprimento e migram através das vias
lhante àquela em bovinos, com perfurações lineares. Com o su- nasais para os seios frontais, nutrindo-se de muco, cuja secreção
cesso das medidas de controle contra "tumores" em bovinos, é é estimulada por seus movimentos. A primeira muda ocorre nas
importante compreender que a H. diana, apesar de capaz de in- vias nasais, e as L2 arrastam-se para os seios nasais, onde tem
fectar muitas espécies de cervídeos, não infecta os bovinos, e, lugar a muda final para Ly Nos seios, as larvas completam o
assim sendo, mesmo nas regiões onde quase todos os cervídeos crescimento e em seguida migram de volta às narinas. Onde as
transpOItam as larvas parasitas, como amiúde é o caso, os bovi- larvas são ativas durante o ano inteiro, são possíveis duas ou três
nos não correm risco. Assim como outras espécies, a H. diana é gerações, mas em clima frio ou gelado as pequenas LI e Lz tor-
sensível aos inseticidas organofosforados e à ive~·mecti na. nam-se inativas e permanecem em recessos das vias nasais du-
rante o inverno; movem-se para os seios frontais apenas no tem-
EQÜINOS po mais quente da primavera e em segu ida completam o desen-
vo lvi mento, as L 3 emergindo das narinas e pupando no solo para
Estes animais podem infectar-se com espécies de Hypoderma de · dar outra geração de adultos. As fêmeas sobrevive m apenas duas
bovinos e cervídeos que atuam como parasitas en'áticos, e uma certa semanas, mas durante este período cada uma pode depositar 500
proporção das larvas atinge a maturidade no dorso, causando pro- larvas nas vias nasais dos ovinos.
blemas se estiverem na região da seja. Nestes casos, o tratamento é
por pequena cirurgia ou aplicação tópica de inseticida. Em algu- IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA
mas áreas dos Estados Unidos onde os cavalos são regularmente
infectados, experimentos demonstram que o uso anual de insetici- As infecções, em sua maioria, são leves, e os ovinos apresentam
das sistêmicos pour-on constitui uma medida profilática eficaz. corrimento nasal, espirros e esfregam o nariz em objetos fixos.
Nas raras infecções mais maciças, há definhamento, e os animais
OVINOS podem andar em círculos e mostrar incoordenação, sendo estes
sinais freqüentemente denominados "falsa cenurose". Se uma
Há alguns relatos de infecção por Hypodenna em ovinos no Reino larva morrer nos seios, pode haver invasão bacteriana secundá-
Unido, sendo a H. diana a provável espécie envolvida, mas nes- ria e envolvimento cerebral.
tes animais as.larvas nunca têm desenvolvimento completo, for- Os efeitos mais importantes, entretanto, devem-se à ativida-
mando simplesmente os chamados "tumores cegos", sem perfu- de das moscas adultas. Quando se aproximam dos ovinos para
ração cutânea. depositar as larvas, os animais se apavoram, batem as patas, agru-
pam-se e comprimem as narinas no velo uns dos outros e contra
o chão. Pode haver diversos ataques ao dia, de tal maneira que a
alimentação é in terrompida e os animais podem deixar de ganhar
peso.
As larvas deste gênero passam o período parasitário nas vias aé-
reas dos hospedeiros e são comumente designadas "bernes nasais".

Hospedeiros:
Ovinos e caprinos.

Espécie:
Oestrus ovis.

Distribuição:
Fig. 124 Larva de Oestrus ovis exibindo "degrau" posterior e faixas transversais
Mundial. dorsais nos segmentos.
El1Iomologia Veterinária 143

Ocasionalmente, o Oeslrus pode infectar o homem também. CICLO EVOLUTIVO


As larvas em geral são depositadas perto dos olhos, onde pode
resultar uma conjuntivite catarral, ou em volta dos lábios, resu l ~ Os ciclos evolutivos das várias espécies diferem apenas levemen-
tando em estomatite. Estas larvas nunca se desenvolvem co m~ te. Nas regiões temperadas, as moscas adu ltas são mai s ati vas no
pletamente. final do verão e. no caso de G. inrestinalis, os ovos são postos
nos pêlos dos membros anteriores e espáduas, enq uanto G. na-
TRATAMENTO E CONTROLE salis e G. haemorrhoidalis põem ovos na região intermandibular
e ao redor dos lábios, respecti vamen te. Os ovos são vistos faci l-
Onde as quantidades de larvas são pequenas, O tratamento pode mente, têm I a 2 mm de comprimento e em geral a sua cor é bran-
não ser economicamente vantajoso. Nas infestações pesadas, co-cremosa; eclodem espontaneamente em cerca de cinco. dias,
co ntud o, o nitrox inil , a rafoxanida e a ivermectina são altamente ou são estimulados a isto pelo calor gerado durante as lambeduras
efi cazes, assim como os organofosforados tric1orfon e dic1orvos. e a auwlimpeza. As larvas ou se arrastam para a boca ou são
Se for necessário um esquema de controle, foi sugerido por transferidas para a língua durante as lambeduras. Penetram, ~ n ­
pesquisadores s ul ~africa n os um tratamento do rebanho duas ve ~ tão, na língua ou na mucosa bucal e vagueiam nesses tecidos
zes ao ano, o primeiro no início do verão para destruir larvas durante várias semanas, antes de passar via faringe e esôfago para
recém-adquiridas e o segundo em meados do inverno para des- o estômago, onde se fi xam ao epitélio gástrico. U ma aparente
truir algumas larvas que sobrevivam ao inverno. exceção é o G. pecaruJ11., qu e põe ovos no pasto, os quais são
ingeridos por eq üinos durante o pastejo.
No estômago, as larvas vermel has de G. intestinalis preferem
Gaslerophilus a região cárdka (Fig. 125), enquanto as larvas amarelas de G.
nasaüs se fixam ao redor do piloro e, às vezes, do duode no. As
Os membros deste gênero são comumente designados " moscas larvas permanecem e se desenvolvem neste local por períodos
do berne". Suas larvas, denomi nadas "bernes", passam a maior de 10 a 12 meses e, quando maduras na primavera ou no início
parte da vida desenvolvend o-se no estômago de eqüi nos. mas do verão seguinte, desprendem-se e são eliminadas nas fezes; em
geralmente são consideradas de pouca importância patogênica. al gum as espécies,.principalmente O G. haemorrhoidalis, as lar-
vas fixam-se novamente ao reto durante alguns dias antes de ser
Hospedeiros: elimi nadas. A pupação tem lugar no solo e depois de um a dois
Eqüinos e asininos. meses emergem as moscas adu ltas. As moscas não se alimen-
tam e vivem apenas poucos d ias ou semanas, período em que se
acasalam e põem ovos. Há, portanto, apenas uma geração de
ESPÉCIES E DISTRIBUIÇÃO
moscas por ano nas regiões temperadas.
Espécies principais:
Gasterophilus intestinalis IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA
G. nasalis } Mundial
G. haemorrhoidalis As moscas adultas freqüentemente constituem urna fonte de gran-
G. pecaram Europa, Áfri ca, Ásia. de aborrecimento ao aprox imar-se dos eqüinos para pôr ovos,
pri nci palmente as espécies que põem ovos em volta da cabeça.
Espécies menos importantes: A presença de larvas na cavidade bucal pode causar estoma-
G. inermis Norte da Europa, norte da tite com ul ceração da língua, mas isto é muito raro. Após a fixa-
Ásia, ção ao revestimento gástri co por meio dos ganchos orais, as lar-
África do Norte e ao sul vas provocam uma reação innamatória, com a form ação de úl -
de Zululândia ceras afun iladas rodeadas por uma borda de epitélio hiperplási-
G. nigricomis Espanha, Oriente Méd io,
sul da Rússia, Chi na.

MORFOLOGIA

Adultos:
As moscas dos bemes são moscas robustas e escuras, de I a 2 cm
de comprimento (Prancha X). A espécie mais comum, G. intesti-
nalis, tem faixas transversais escuras irregulares nas asas, mas ra-
ramente é necessária a diferenciação de espécie de moscas adultas.

Larvas:
Quando maduras e presentes no estômago ou eliminadas nas
fezes, são cilíndricas, medem 16 a 20 mm de comprimento e são
laranj a-avermelhadas com espiráculos posteri ores, cuja morfo~
logia é diferente da observada em larvas de Oestras e de Hypo-
derma. A diferenciação das larvas maduras das di versas espéci-
es pode ser feita pelas quantidades e distribuição dos espi nhos Fig . 125 Larvas de Gasterophilus intestina/is fixadas à região do cárdia no estô-
presentes nos diversos segmentos. mago.
144 Parasit%gia Veterinária

COo Estas úlceras são comumente observadas ao exame pós-mOlte CICLO EVOLUTIVO
de eqüinos em áreas de alta prevalência das moscas, e apesar do
aspecto dramático sua verdadeira importância patogênica perma- A Dermatobia é mais comum em regiões de matas e bosques.
nece obscura. As larvas de G. haemorrhoidalis podem causar estes últimos conhecidos em muitas partes da América do Sul
irritação ao se fixarem novamente ao reta. Apesar da falta de como " monte". A fêmea tem hábitos sedentários, repou sando em
detalhes sobre os efeitos patogênicos dos gasterófilos, em geral folhas e, quando a oviposição está prestes a ocorrer, prende-se a
recomenda-se o tratamento, pois os proprietários se preocupam um inseto, geralmente um mosquito, e fixa ao seu abdome um
quando as larvas aparecem nas fezes. O tratamento, entretanto, lote de até 25 ovos. Enquanto fixados a este hospedeiro trans-
reduz as populações de moscas e conseqüentemente o transtor- portador, as Lj desenvolvem-se nos ovos em cerca de uma se-
no associado à oviposição. Raramente, hospedeiros anormais mana, mas não eclodem até o inseto pousar num animal de san-
como o homem ou outros animais podem infectar-se com algu- gue quente. As larvas penetram, então, na pele. migram para o
mas larvas, mas a migração das larvas em geral se limita à pele, tecido subcutâneo e se transformam em L3' que respiram através
causando uma "erupção sinuosa". de uma perfuração cutânea, do mesmo modo que Hypoderma.
As larvas maduras (Fig. 126) emergem depois de aproximada-
CONTROLE mente três meses e pupam no solo por mais um mês antes das
moscas adultas emergirem. Há até três gerações a cada ano.
Pelo ciclo evolutivo, é óbvio que nas regiões temperadas quase
toda a população de Gasterophilus se apresenta sob a forma de IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA
larvas no estômago durante o inverno, uma vez que a ati vidade
das moscas cessa com a chegada das primeiras geadas no outo- As larvas ocorrem em intumescências em diversas panes do
no. Um único tratamento durante o inverno, portanto, pode que- corpo (Fig. 126), que podem supurar e provocar dor intensa; na
brar eficazmente o ciclo. Em determinadas área s, onde a ati vi - América Latina, a condição é freqüentemente conhecida como
dade das moscas é prolongada por condições moderadas, podem "Ura".
ser necessários tralamentos ad icionais. As drogas específicas No homem, os locais mais com uns de larvas são as extremi-
mais amplamente utilizadas incluem o dissulfeto de carbono e o dades dos membros e o co uro cabeludo. Ocorre lesão cerebral
triclOIfon ; os anti-helmínticos/inseticidas diclorvos e ivermecti- fatal em crianças quando as larvas migram através da fO lltanela
na também são muito eficazes contra gasterófilos. para a cavidade crania!.
Se, durante o verão e o outono, forem encontrados ovos na
pelagem, pode-se prevenir infecção subseqüente esfregando-se
vigorosamente a região com água morna contendo um insetici-
da. O calor moderado estimula a eclosão e o inseticida destrói as
larvas recém-eclodidas.

Dermatobia
Esta mosca, com freqüência colocada numa farrulia separada dos
outros oestrídeos, é um sério problema em clínica humana e ani-
mal na América Central e do Sul.

Hospedeiros:
O homem, a maioria dos animais domésticos e silvestres e mui-
tos tipos de aves.
{ai

Espécie:
DermalObia hominis.

Distribuição:
América Latina, desde o México até o norte da Argentina, e a
ilha de Trinidad.

MORFOLOGIA

Adultos:
A mosca assemelha-se à Calliphora, o abdome tendo um brilho
azulado metálico, mas há apenas peças bucais vestigiais cober-
tas por uma aba.
{bl
Larvas:
As larvas maduras medem até 2,5 cm de comprimento e são algo Fig. 126 (a) Larvas maduras de Dermatobia sendo espremidas da pele; (b) aspec-
ovais. to geral de pele acometida por Dermatobia.
Entomologia Veterinária 145

A Dennatobia representa um grande problema nos bovinos ao animal, em seguida voa como uma seta e lança líquido con-
na América do Sul. As lesões são mais numerosas na paIte supe- tendo larvas. Ocorre desenvolvimento posterior na nasofaringe,
rior do corpo, no pescoço, no dorso, nos flancos e na cauda, fre- e as L3' que podem ter 4 cm de comprimento, são eliminadas
qüentemente agrupando-se e fonnando grandes tumefações con- através de espirros. O período de pupação é de aproximadamen-
fluentes e muitas vezes purulentas (Fig. 126). Além de dano no te quatro semanas.
couro, a dor e o desconfOlto das lesões resultam em atraso de As moscas adultas causam inquietação nos cervídeos, com
crescimento e menor produção de carne e leite, uma perda de- perda de higidez. Embora as larvas ocasionalmente provoquem
corrente do fato dos bovinos passarem muito tempo em solo seco a morte por asfixia, seu efeito geral é a debilitação. No verão,
e nu em vez de pastarem nas matas e vegetações rasteiras, habi- podem ocorrer ceratite e cegueira nas renas quando as larvas são
tats da mosca. depositadas nos olhos.

CONTROLE
Oedemagena
Embora as laI·vas sejam sensíveis a inseticidas sistêmicos, a rápida
mudança de gerações e a falta de sazonalidade requerem que qual- Na rena e no caribu do norte da Europa, na Rússia asiática e na
quer sistema de controle envolva tratamentos repetidos, sendo, América, O. larandi substitui Hypoderma diana de cervídeos
pmtanto, caro. Se o custo for aceitável, entretanto, pode-se conse- mais ao sul.
guir O controle por freqüentes puLverizações, banhos ou prepara- As moscas adultas lembram Hypoderma, com abdome pilo-
ções pour-on de compostos organofosforados, como o tricJorfon, e so amarelo-avermelhado, e são ativas em julho e agosto, cada
pela administração parenteral de ivermectina ou cJosantel. fêmea pondo entre 500 e 700 ovos, que se fixam à parte inferior
da pelagem, em vez de na pelagem externa. Os flancos, os mem-
bros e o peito são os locais de preferência de oviposição. Ao
GÊNEROS MENOS IMPORTANTES contrário de Hypodenna, contudo, as LI migram diretamente para
DE OESTRíDEOS ao dorso no tecido conjuntivo subcutâneo.
As moscas adultas causam desassossego e as larvas recém-
Os oestrídeos a seguir, embora de distribuição geográfica limi- eclodidas podem provocar dermatite com edema local ao pene-
tada, têm importância veterinária local. trar na pele. A principal importância deste gênero, entretanto, é
econôrnica, por causa do dano ao couro provocado pelas LJ' e na
Suécia essa perda pode cOlTesponder a um quinto da renda total
Ptz(!.valskiana (sin. Crivellia) . de rebanhos de renas. Na Rússia, são produzidos comumente 200
orifícios em couros de renas tipicamente infestadas.
Este gênero parasita caprinos domésticos e menos comumente Os inseticidas eficazes contra os "tumores" (Hypoderma)
ovinos, com as gazelas sendo reservatórios sil vestres em grande bovinos parecem capazes de limitar esta infecção.
parte de seu raio de ação. A principal espécie é P. silenus, ocor-
rendo na Ásia, Oriente Médio, África do Norte e sul da Europa;
a P. aegagri tem distribuição mais limitada na Turquia, Israel, Gedoelslia
Creta e Chipre.
A mosca tem muito em comum com a Hypodenna, a larva de No sul da África, este oestrídeo é responsável por uma miíase
terceiro estágio ocorrendo sob a pele do dorso. Os ovos são pos- oculovascular que causa protrusão do globo ocular nos ovinos e
tos em curtas fileiras nos pêlos dos membros e do tórax, e, de- raI·amente nos bovinos. As larvas são depositadas pelas moscas
pois de penetrarem na pele, as L I migram no tecido subcutâneo adultas na órbita dos hospedeiros naturais, que são antílopes, e
para o dorso, de tal modo que não há risco de complicações por seguem por uma rota vascular para a nasofaringe, onde amadu-
larvas que repousam em locais estratégicos, como pode aconte- recem, demonstrando assim alguma afinidade com Cephenemyia.
cer com Hypodenna. Algumas larvas parecem incluir os pulmões nesta migração. Em
Embora as infestações maciças possam resultar na perda de tais hospedeiros, a infecção ocorre sem sintomatologia clínica e
peso, a maior importância da Przevalskiana está no couro dani- se toma de importância veterinária quando ruminantes domésti-
ficado. Em regiões do Punjab, mais de 90% dos caprinos estão cos pastam junto a hospedeiros silvestres ou entre eles.
infestados, e, como o subcontinente indiano produz cerca de um Nos ovinos, as larvas começam sua migração, e muitas che-
terço do suprimento mundial de couros caprinos, O parasita tem gam ao cérebro, a tecidos oculares e ao coração. É no olho que a
alguma influência na economia da região. sintomatologia é mais proeminente, com glaucoma, protrusão e
até mesmo ruptura do globo ocular, mas pode ocorrer infaIto
miocárdico, pulmonar e renal, bem como encefalomalacia, por
Cephenemyia ' trombose vascular.
Os rebanhos podem ter morbidade de 30%, com a morte de
As larvas de terceiro estágio desta mosca habitam. a nasofaringe um terço desses animais, e em algumas regiões a criação de ovi-
de cervídeos. Uma espécie, C. trompe, sempre foi identificada nos teve que ser abandonada em favor da bovinocultura por cau-
como problema em renas, mas com a domesticação crescente de sa deste parasita.
cervos, a C. auribarbis, espécie que ocorre nestes animais, tem Os rebanhos domésticos podem pastar sem problemas com
agora certa importância econômica. Várias outras espécies ocor- antílopes durante o inverno, quando as moscas são inativas Qu-
rem em cervídeos silvestres na Europa e na América do Norte. nho a agosto). Devem ser removidos dessas áreas no início da
As moscas adultas são ativas de junho a setembro e, como no primavera, quando então as moscas começam a emergir de pu-
caso de Oestrus, as fêmeas são vivíparas. A mosca paira junto pários com a temperatura crescente.
146 Parasitologia Veterinária

ds organofosforados, como o tricIorfon, são eficazes contra amarelas no abdome indistintamente segmentado. Possuem asas.
as larvas e o tratamento do rebanho reduzirá a cegueira e a mor- e a maior parte da probóscida perfurante fica geralmente reco-
talidade. lhida na cabeça, exceto durante a alimentação. As moscas da fl o-
resta pennanecem nos hospedeiros por longos períodos, e seus
locais preferidos de nutrição são o períneo e entre os membros
Cep1talopina posteriores.

Esta é a mosca do berne nasal de camelos, equivalente a Cephe- CICLO EVOLUTIVO


nemyia nos cervídeos e Oestrus nos ovinos, e ocorre em toda a
extensão de ambas as espécies de camelos. Um sinônimo ainda As fêmeas deixam os hospedeiros e depositam larvas maduras
encontrado é Cephalopsis. unicamente em solo seco ou húmus. Cada fêmea pode produzir
A mosca deposita as larvas nas narinas, de onde elas migram apenas cinco ou seis larvas durante a vida. Essas larvas pupam
para a nasofaringe e os seios nasais. A fase larval geralmente dura quase imediatamente e mudam de uma cor amarela para negra:
cerca de 11 meses e está associada a inflamação, às vezes puru- a maturação para o estágio adulto depende da temperatura, e nas
lenta, da mucosa nasofaríngea. Os camelos bufam, espirram e regiões temperadas as moscas são mais abundantes nos meses
ficam inquietos, podendo até mesmo parar de se alimentar, es- de verão.
pecialmente durante a emergência de larvas maduras das nari-
nas. Quando estão presentes grandes quantidades de larvas, a IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA
respiração e a capacidade de trabalho dos animais podem ficar
seriamente prejudicadas . Ao contrário de muitos oestrídeos, a Alguns animais aparentemente se acostumaram aos ataques des-
Cephalapina adulta não apavora os animais, freqüentemente sas moscas, podendo observar-se várias centenas agrupadas ao
observando-se grandes quantidades sobre a cabeça dos animais redor do períneo de eqüinos sem que o animal demonstre grande
e ao redor das narinas. São facilmente identificadas pelas gran- aborrecimento. Contudo, podem ser uma fonte de grande irrita-
des manchas irregulares de pêlos negros e brancos no abdome. ção para animais não acostumados aos ataques.
Como tais moscas perfuram a pele para sugar sangue, podem
ser vetares mecânicos de hemoparasitas, como o Trypanosoma
Família HlPPOBOSCIDAE theileri não-patogênico em bovinos.

Os membros desta famOia eram classificados antigamente com ' CONTROLE


Glassina numa subordem separada, a Puparia, porque as fêmeas
adultas produzem larvas maduras prontas para pupar. Entretan- É obtido mais apropriadamente por aplicação tópica de insetici·
to, estas e a C/assina, intimamente relacionada, são considera- das, de preferência aqueles com algum efeito repelente e resi-
das como grupo dentro de Cyclorrhapha. dual, como os piretróides sintéticos permetrina e deltametrina.
Os hipoboscídeos são incomuns por ser achatados dorsoven-
tralmente e ter abdome indistintamente segmentado, que em geral
é mole e coriáceo. Possuem peças bucais perfurantes sugadoras Melophagus
de sangue, são parasitas de mamíferos e aves e têm fortes garras
nas patas, que lhes permitem agalTar-se a pêlos ou penas. Ten- Hospedeiros:
dem a ser ectoparasitas permanentes ou a permanecer nos hos- Ovinos.
pedeiros por longos períodos. Os dois principais gêneros de im-
portância veterinária são Hippohosca e Melophagus. Espécie:
Melophagus ovinus.

Hippobosca Distribuição:
Mundial, porém mais comum nas regiões temperadas.
Os membros deste gênero possuem asas e são comumente co-
nhecidos como "moscas da floresta". MORFOLOGIA

Hospedeiros: M . ovinus é um inseto piloso, sem asas, de aproximadamente 5


Principalmente eqüinos e bovinos, mas outros animais domésti- mm de comprimento, com cabeça curta e tórax e abdome acas-
cos e aves podem ser atacados. tanhados, largos e achatados. Possui patas fortes providas de
garras e é um ectoparasita permanente (Prancha VIII).
Espécies e distribuição:
Hippobosca equina Mundial CICLO EVOLUTIVO
H. rufipes África
H. macuLata Trópicos e subtrópicos. Os adultos vivem durante vários meses e as larvas produzidas
pelas fêmeas aderem à lã. São imóveis e pupam imediatamen-
MORFOLOGIA te, sendo as longas pupas castanhas de 3 a 4 mm facilmente
visíveis no velo. Os melofagídeos adu ltos emergem em apro-
As moscas adultas têm aproximadamente 1 cm de comprimento ximadamente três semanas no verão, mas este período pode
e em geral são castanho-avermelhadas pálidas, com manchas prolongar-se consideravelmente durante o inverno. As popu-
Elltomologia Veferi"ária 147

lações de melofagíd eos formam-se lentamente, pois apenas


uma larva é produ z ida po r cada fêmea a cada 10 a 12 dias, até
um total de 15. Os adulto s e as pupas podem vive r apenas por
curtos períodos fora dos hospedeiros. M. ovinus é o vetar do
Trypanosoma melophagium não- patogênico. As infestações
maciças por melofagídeos são mai s comuns no outo no e no
invern o.

IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA

Como os melofagídeos são hematófagos, as infestações maciças


podem causar debilitação e anemia. Disseminam-se por conta-
(o, e as raças de lã longa parecem ser particularmente suscetí-

veis. A irritação causada por esses parasitas também obriga os


an im ais a morder-se e esfregar-se, com conseqüente prej uízo para
o velo.

CONTROLE
Fig. 127 As patas dos piolhos de mamíferos possuem, cada uma delas, uma gar-
ra, ao passo que as dos piolhos de aves possuem duas.
Raramente são tomadas medidas específicas, um a vez que o uso
rotineiro de inseticidas para o controle de varejeiras e carrapatos
em geral também resulta no controle eficaz de melofagíctr0s.

Outros hipoboscídeos Subordem ANOPLURA


Os piolhos sugadores usualmente são grandes, de até 5 nun, com
Há uma séri~ de outros gêneros de hipoboscídeos de importân-
pequena cabeça pontiaguda e peças bucais tenninais. Em geral,
cia veterinári a limitada. U m gênero, Pseudolynchia, parasita aves
movem-se lentamente e possuem patas potentes, cada uma delas com
e lembra muito os melofagídeos dos ovinos, mas possui asas. P.
uma garra grande e única. Ocorrem exclusivamente nos mamíferos.
conariensis pode constituir um problema em po mbos jovens e m
conseqüência de picadas dolorosas e hematofagia. Algun s mem- HaematopillllS: O piolho de "nariz curto". É o maior piolho dos
bros de outro gênero, Lipoprella, são parasitas de cervídeos e se animais domésticos, com até 0,5 cm de comprimento. É amarelo ou
assemelham a Hyppobosca, exceto que perdem as asas depois castanho-acinzentado com uma listra escura de cada lado (Fig. 128).
de localizar os hospedeiros. O comportamento e o con trole de
todos os hipoboscídeos são similares. Hospedeiros:
Bovinos, suínos, eqüinos.
Linognathus: Este, o piolho de " nari z longo" (Fig. 128), é pre-
Ordem PHTHIRAPTERA to-azul ado e os ovos são excepcionais pela cor azul -escura, sen-
do menos fácil visualizá-los nos pêlos.
São os piolhos. Os insetos desta ordem são altame nte hospedei-
ro-específicos e permanentemente ecoparasitas, a maioria sen- Hospedeiros:
do incapaz de sobrevi ver fora do hospedeiro por mai s de um ou Bovinos, ov inos, caprin os, cães.
doi s di as.
Têm tamanho e coloração variáveis, mas todos são achatados Solenopotes: Pequenos piolhos az ul ados, que tendem a ocorrer
do rsoventralmente. Em s ua maioria, são cegos, mas algumas e m ag lomerados.
espéc ies possuem olhos pri mitivos, que são meramente manchas
fOlossensÍveis. As-patas term in am em garras, tendo os piolhos Hospedeiros:
dos mamíferos uma garra em cada pata, enquanto os piolhos das Bov inos.
aves têm duas (Fig. 127).
Há duas subordens:
Anoplura: os piolhos sugadore s; ocorrem apenas nos mamÍ- Subordem MALLOPHAGA
feros.
Mallophaga: os piolhos mordedores; ocorrem tanto nos ma- Embora os piol hos mastigadores sej am geralmen te me nores (até
míferos como nas aves. 3 mm) que os anopluros, a cabeça é relativamente muito maior,
ocupando a largura do corpo, e é arredondada anteriormente, com
As infestações maciças de piolhos sugadores podem causar as peças bucais ventrais. As garras são pequenas, os gêneros dos
anemia grave, e nquan to tanto os piolhos sugadores como os mamíferos tendo uma em cada pata, e os das aves, d uas.
mordedores constituem uma fonte de irritação e lesão cutânea,
que podem provocar queda de produção e danos no couro. PIOLHOS MASTIGADORES DE MAMíFEROS
Os gêneros a segu ir são os mais comuns das subordens en-
contradas nos animais domésticos. As espécies individuais são Damalinia: Estes piolhos têm coloração castanho-avermelhada
d isc utid as co m os hospedeiros apropriados. (Fig. 129).
148 Parasito/agia Velerinária

(a)

Fig. 128 Dois gêneros comuns de piolhos sugadores de mamífe- (b)


ros: (a) Haematopinus; (b) Unognathus.

Hospedeiros: Gêneros principais: (Fig. 130)


Bovinos, ovinos, caprinos, eqüinos . Lipeurus "piolho da asa"
Cuclotogaster "piolho da cabeça" } aves domésticas
Felicola: Distingue-se entre os malófagos pela cabeça ponti-
Menacanthus "piolho do corpo"
aguda, lembrando um pouco os anopluros . É, contudo, um
verdadeiro piolho mastigador, com peças bucais ventrais (Fig. Gêneros menos importantes:
129). GOlliocotes "piolho da penugem"
} aves domésticas
Menopon "piolho da base das patas"
Hospedeiro: Goniodes
Gato. Columbieola pombos e rolas
Holomenopon patos.
Trichodectes: Este piolho é curto, largo e amarelado, sendo im-
portante como vetor do cestóide Dipylidium caninum.
CICLO EVOLUTIVO GERAL DOS PIOLHOS
Hospedeiro:
Cão. Os piolhos das duas subordens têm ciclos evolutivos muito se-
Heterodoxus: Um piolho delgado, amarelado, restrito às regiões melhantes. Durante um período de vida de cerca de um mês, a
tropicais e subtropicais. fêmea põe 200 a 300 ovos operculados ("lêndeas"). Os ovos são
geralmente esbranquiçados e ficam grudados no pêlo. ou nas
penas, onde podem ser vistos a olho nu.
Hospedeiro:
Não existe uma verdadeira metamorfose, e do ovo eclode uma
Cão.
ninfa, semelhante ao adulto, apesar de muito menor. Depois de
três mudas, está presente o adulto totalmente desenvolvido. O
PIOLHOS MASTIGADORES ciclo inteiro, desde o ovo até a forma adulta, leva duas a três
DE AVES semanas.
Os anopluras, com as peças· bucais perfurantes, nutrem-se de
As aves abrigam uma quantidade muito grande de gêneros, e a sangue, mas os malófagos, equipados para morder e mastigar.
lista a seguir compreende alguns dos mais comuns. Muitos de- têm uma dieta mais variada. Aqueles que parasitam mamíferos
les adqu iriram nomes, relacionados com seus locais preferidos ingerem as camadas externas das hastes pi los as, as escamas cb.
no corpo. derme e crostas sangüíneas; os piolhos das aves também se ali-
Entomologia Veterinária 141)

la rir li;
,01 Si [111a

(al (bl

Fig. 129 Dois generos comuns de piolhos mastigadores de mamileros: (a) Damalinia; (b) Felicola.

mentam de escamas cUlâneas e crostas, mas, ao contrário das moderadas é encontrado na vassoura da cauda, enquanto o H.
es pécies dos mamíferos, podem digerir queratina, de ta] modo quadriperlusus limita-se à região da cauda.
que também ingerem penas e penugem. Al gumas espécies. princ ipalmente o H. eurysternus e o L.
Alguns gêneros são capazes de rápida expansão populacio- vituli, têm hábitos gregários. fo rmando aglomerados densos e
nal, mudando para reprodução assexuada por partenogênese. isolados.
sendo o exemplo mais notável nos rebanhos domésticos Dama- Com exceção do H. qlladripertuslIs, que se restringe a áreas
linia. mai s quentes como a África e a Austrália, todos os piolhos de
bovinos mencionados anteriormente são encontrados no mundo
todo , da região ártica aos trópicos.
INFESTAÇÃO POR PIOLHOS (PEDICULOSE)
EM BOVINOS
EPIDEMIOLOGIA
A pediculose em bovinos ocorre no mundo inteiro, sendo mais
comumente observada nestes an imais que nos outros mamíferos Nos países quentes, não existe uma sazonalidade marcante de
domésticos. pediculose bovina , mas nas regiões frias e temperadas as
Os diversos gêneros têm locais preferenciais no animal, po- infestações mais pesadas são no final do inverno e início da pri-
rém, nas infestações intensas, disseminam-se destas áreas de re- ma vera, quando a pelagem tem a espessura máxima, proporcio-
servatórios e parasitam todo o corpo. nando um habitat úmido, volumoso e protegido para multiplica-
O Damalinia bovis, a única espécie mastigadora, prefere a ção ideal. O aumento anual mais rápido nas populações de pio-
parte superior da cabeça, especialmente a pelagem encaracolada lhos é observado quando os bovi nos ficam estabulados no inver-
do topo da cabeça e da fronte, o pescoço, as espáduas, o dorso, no, e especialmente o Dama/inia, com sua capacidade de
as ancas e ocasionalmente a vassoura da cauda. Dos piolhos su- partenogênese, pode desenvolver-se em grandes quantidades
gadores, o Unognathus vitu/i e o Solenopotes capillatus prefe~ muito rapidamente.
rem a cabeça, o pescoço e a barbela, enquanto cada espécie de No final da primavera, há uma queda abrupta nas quantida-
Háematopinus tem sua própria preferência. O H. eurystemus de s de piolhos, a maior parte dos parasitas e dos ovos sendo re-
ocorre no topo da cabeça e na base dos chifres, nas orelhas e ao movida com a pelagem de inverno. Os números geralmente per-
redor dos olhos e narinas (Prancha XI) e mesmo em infestações manecem baixos durante todo o verão, em parte porque a pequena
150 Parasito/agia Veterinária

(a) (b)

Fig. 130 Dois gêneros comuns de piolhos mastigadores de aves: (a) Lipeurus; (b) Menacanthus.

espessura da pe lagem proporciona um habitat restrito, mas em grande quantidade pode haver ane mia e fraqueza. Nessas infec-
parte també m porque as altas temperaturas da superfície cutânea ções, os piolhos e as lêndeas são facil mente encontrados repar-
e a luz solar direta limitam a multiplicação, podendo até mesmo tindo-se os pêlos, especialmente ao longo do dorso, estando os
ser letais, especia lmente para Damalinia. piolhos junto à pele e as lêndeas espalhadas como um pó grosso
por toda a pelagem.
PATOGENIA É impol1ante lembrar qu~ ulIla inr~slaçãu lIIaciça por piolhos
por si só pode ser simplesmente um sintoma de alguma outra
As infestações moderadas estão associadas apenas a di sc reta condição subjacente, como má nutrição ou doença crônica, pois
dennatite crônica e são bem toleradas. os animais debilitados não se limpam e deixam os piolhos à von-
Os piolhos masti gadores, em grandes quantid ades, causa m tade; nesses animais, a queda da pelage m de inverno pode ser
intensa irritação, obrigando os animais a se esfregar contra mou - retardada por muitas semanas, retendo grandes quantidades de
rões, arame e outros objetos, com perda de pêlos e, mais impor- piolhos.
tante do ponto de vista econômico, do couro extensamente dani -
ficado, mas têm menos efeito na saúde do animal. Por outro lado, TRATAMENTO E CONTROLE
os piolhos sugadores, e especialmente oH. euryslemus, podem
causar anemia grave e perda de peso. Os inseticidas organofosforados, aplicados usualmente na for-
ma pour-an, são eficazes na destru ição de todos os piolhos. Re-
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA comenda-se um segundo tratamento du as semanas mais tarde
para destruir quaisquer piolhos emergentes. Al ternativamente.
As infestações leves em geral são descobertas apenas acidental- podem ser usados piretróides sintéticos pour-on ou spol-on , como
mente e não devem ser consideradas de importância patogênica, a cipermetrina, ou avermectinas parenterais; as últimas são par-
sendo os piolhos habitantes quase normais da derme e da pe la- ticularmente eficazes contra piolhos sugadore s.
gem de muitos bovinos, especialmente no inverno. Na Europa, o controle de piolhos geralmente é efetuado quan-
Nas infestações mais pesadas, há prurido, mais acentuado na do os bovinos são estabulados durante o inverno. O tratamento
infestação por Damalinia , com os animais esfregando-se e se com um inseticida adequado nessa época também controla Hypo-
lambendo, enquanto se estiverem presentes piolhos sugadores em derrna e ácaros da sarna.
Entomologia Veterinária 151

INFESTAÇÃO POR PIOLHOS EM OVINOS gar e manchados por fezes de piolhos, constituem um atrativo
para varejeiras e colocam o animal em risco de ser atacado.
As duas espécies de pj olhos sugadores em ovinos são essencial-
mente parasitas das áreas do corpo cobertas de pêlos, invadindo SINTOMA TOLOGIA CLíNICA
as áreas lanosas apenas quando a população aumenta rapidamen-
te. Não são muito ativos e têm hábitos gregários, nutrindo-se em Em comum com outros animais, os ovinos com infestações le-
grupos. O piolho mastigador de ovinos é ativo e encontrado ge- ves a moderadas não apresentam sintomatologia clínica, sendo
ralmente nas áreas lanosas. os piolhos detectados apenas durante a remoção da lã.
Nas infestações maciças e especialmente quando em velo
EPIDEMIOLOGIA abundante, o prurido intenso provoca inquietude e arranhaduras,
e o velo apresenta áreas desnudadas e manchas. Separando-se a
De modo geral, para a transmissão de infestação por piolhos, é lã, encontram-se O Damalinia avermelhado e o Linognathus azu-
necessário um íntimo cantata corpóreo e, enquanto isto é inca- lado, o último estando presente também em áreas pilas as. As
rnum nos animais de pasto na Europa, acontece em aglomera- lêndeas, que parecem pó, encontram-se aderidas às fibras de lã
ções e feiras de venda, e especialmente quando os ovinos são junto à pele.
estabulados durante o inverno, pois o velo denso constitui um
habitat facilmente colonizado por piolhos. TRATAMENTO E CONTROLE
O Linognathus pedalis, o "piolho da pata", habita principal-
mente a região inferior dos membros posteriores, das patas até Os piolhos nos ovinos podem ser tratados com inseticidas con-
abaixo do jarrete, disseminando-se daí para as entrepernas, es- tendo organofosforados ou amidina amitraz; com os organofos-
croto e abdome. Em Merinos e outras raças bem lanosas, em geral farad os, pode ser necessário outro tratamento duas semanas de-
é detectado primeiramente as entrepernas. Em seu habitat nor- pOlS.
mal nas pernas, fica exposto a grandes flutuações na temperatu- Os piretróides sintéticos de fácil aplicação cipermetrina pour-
ra e, estando adaptado para sobreviver nestas condições, é um on e deltametrina spot-on, que atuam por difusão através da gor-
dos poucos piolhos que pode viver longe do corpo do hospedei- dura subcutânea conferindo proteção por oito a 14 semanas, pro-
ro por mais de um ou dois dias, sendo viável no pasto durante vavelmente constituem o tratamento de escolha.
cerca de uma semana. O tratamento de infestação por piolhos em caprinos, com as
O L. ovillus, o "piolho da face", ocorre na face e nas orelhas, espécies de Damalinia e Linognathus, é semelhante ao dos ovinos.
disseminando-se daí para as bochechas, o pescoço e o corpo,
sendo detectado usualmente nas raças bem lanosas, quando se INFESTAÇÃO POR PIOLHOS EM SUíNOS
remove o excesso de lã do topo da cabeça. Ao contrário do L.
pedalis, esta espécie, mais habituada a temperaturas uniformes, Ocorre apenas uma espécie em suínos, o piolho sugador Hae-
pode sobreviver fora dos ovinos apenas durante um a dois dias. matopinus suis. É altamente hospedeiro-específico, não se esta-
Em tempo muito quente, quando exposto ao sol, a temperatura belecendo nem mesmo em porcos silvestres, os ancestrais das
do dorso do ovino pode chegar a 48°C, e nestas condições o L. nossas espécies domésticas. O Haematopinus é um piolho cas-
ovillus é destruído em cerca de uma hora, dependendo sua per- tanho-acinzentado grande, mais freqüentemente presente em
sistência da parte da população que habita a pele mais fria da face pregas cutâneas do pescoço e da queixada, nos flancos e na face
e das orelhas. interna das pernas de animais de pelagem fina.
Damalinia avis, piolho mastigador de ovinos, às vezes deno-
minado "piolho do corpo", é muito mais ativo que o Linogna- EPIDEMIOLOGIA
thus, vagando na lã sobre todo o corpo. Como os outros, Dama-
linia é suscetível a altas temperaturas, mas também não tolera A infestação é transmitida entre os suínos principalmente por
umidade. No velo úmido, com umidade relativa superior a 90%, contato, em animais de engorda em regime de confinamento e
morre em seis horas, e quando coberto por água afoga-se em uma em porcas lactantes confinadas com os filhotes, mas os piolhos
hora. também podem ser adquiridos quando os animais são introduzi-
dos em instalações sujas recentemente desocupadas.
PATOGENIA
PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLíNICA
Embora as espécies de Linognathus possam causar anemia, o
Damalinia em geral é considerado o mais patogénico. Sendo Este piolho é muito comum e em geral é tolerado sem sintoma-
altamente ativo, pode causar grande irritação, deixando os ovi- tologia clínica, além de discreta irritação ocasional. Nas
nos inquietos e interrompendo a alimentação, com conseqüente infestações maciças, os animais ficam inquietos e deixam de se
perda de higidez. Em resposta à irritação, os ovinos esfregam-se desenvolver, mas, apesar do Haematopinus ser hematófago, di-
contra mourões e cercas, com lesão no velo e alguma perda de ficilmente se observa anemia. Do ponto de vista econômico, o
lã. Quando esses piolhos mordem, há um exsudato de soro de aspecto mais importante da pediculose em suínos é provavelmen-
pele lesada, do qual os piolhos também se alimentam; nas te a lesão cutânea por arranhaduras, com redução no valor do
infestações maciças, a quantidade de exsudato é suficientemen- couro.
te grande para emaranhar a lã. No aspecto econômico, a redução Supõe-se que este piolho seja um vetar da febre suína africa-
no valor da lã tosquiada é a conseqüência mais importante da na, do Eperythrozoon suis e do vírus da varíola suína.
pediculose ovina, mas um risco adicional nos países quentes é Até recentemente, o contTole baseava-se na aplicação de in-
que o velo e a pele, danificados pelo ato dos animais de se esfre- seticidas sob a forma de pó ou líquido. Esses inseticidas incluí-
152 Parasitologia Veterinária

am o organoclorado gama~HCH e organofosforados como o di- TRATAMENTO E CONTROLE


azinon. Ultimamente, a ivermectina por via parenteral ou o or-
ganofosforado fosmet, sob a fonna de pour-on, têm-se mostra- Atualmente, utilizam- se inseticidas piretróides para tratar
do altamente eficazes como tratamento único. O amitraz e a infestação por piolhos em eqüinos, não mai s estando disponíveis
deltametrina são eficazes contra piolhos de suínos. muitas drogas mais antigas. Todos os eqüinos da propriedade
Para profilaxia de rebanho, as marrãs e as matrizes devem ser devem ser tratados.
tratadas antes do parto, para evitar a disseminação de infecção O equipamento de trato deve ser escaldado, as mantas e co-
para os filhotes, e os cachaços devem ser tratados duas vezes ao bertas inteiramente lavadas e os arreios totalmente limpos. O ideal
ano. é que os animais tenham equipamento de trato indi vidual, e os
arreios não devem ser usados em outros eqüinos, mas isto nem
INFESTAÇÃO POR PIOLHOS EM EQÜINOS sempre é viável. O trato regular e completo é, certamente, a es-
sência do controle.
São duas as espécies comuns em eqüinos, o piolho sugador,
Haematopinus asini, e o piolho mastigador, Damalinia equi. INFESTAÇÕES POR PIOLHOS
EM CÃES E GA TOS
EPIDEMIOLOGIA
Nos cães, o piolho mastigador Trichodectes canis e o piolho
Nas infestações leves normais, ambas as espécies ocupam os sugador Linognalhus selosus são sem dúvida alguma os mais
mesmos locais reservatórios na densa pelagem da crina, na base comuns e os mais dissemjnados.
da cauda e no espaço submaxilar, bem como no boleto das raças O único piolho de alguma importância em gatos é a espécie
de membros pilosos. Desses locais, ocorre disseminação por todo mastigadora Felicola subrostratus, que tem distribuição mun-
o corpo, e as quantidades são máximas no inverno e início da dial.
primavera, quando a pelagem de inverno está com a espessura
máxima. Como nos bovinos, a queda da pelagem de inverno é EPIDEMIOLOGIA
importante, para livrar os animais da maior parte da carga de
piolhos na primavera. Embora a pediculose nestes animais seja fundamentalmente uma
Nas regiões quentes. a temperatura do dorso do animal pode doença decorrente de negligência, alguns tipos são particulannen-
ser suficientemente alta, como se observou em ovinos, para des- te propensos a infestações; nos cães, as longas orelhas de certas
truir os piolhos nas áreas expostas de pelagem fina. raças como os spaniels, basset e Afghan hound constituem um
A pediculose eqüina dissemina-se por contato e através de habitat extenso e protegido, onde os piolhos podem multiplicar-
equipamento para raspar e escovar pêlo, mantas, cobertas e ar- se, e os gatos de raças de pêlos longos, que não conseguem li m-
reIOS. par-se tão bem como os de pêlos curtos, podem abrigar popula-
ções localizadas nas regiões mais profundas da pelagem.
PATOGENIA
PATOGENIA
Como em outros animais, os piolhos dos eqüinos, e em particu-
lar Damalinia, mais ativo, podem causar intensa irritação, obri- As infestações maciças por piolhos são encontradas mais freqüen-
gando os animais a se esfregar e a se arranhar, com emaranha- temente em animais negligenciados e subnutridos, embora, como
mento e perda de pêlos e às vezes escoriações, sendo quase todo em outros animais, possam mascarar a doença subjacente. Em
o corpo envolvido em casos extremos. Os animais tornam-se alguns casos, estão associadas à senilidade, mas a maioria dos
inquietos e perdem a higidez, e, nas infestações maciças por animais gravemente acometidos é jovem.
Haematopinus, também pode haver anemia. Nos cães, o Trichodecles é mais nocivo, apesar do Linogna-
thus ser uma causa de anemia. O primeiro é um piolho mais ati-
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA vo, movendo-se rapidamente através da pelagem e produzindo
intenso prurido, e provoca lesões auto-infligidas por arranhadu-
É possível que, como em bovinos, as maciças infestações por ras, com perda de pêlos e escoriação da pele. Em maciças
piolhos sejam por si sós sintomáticas de algum outro distúrbio infestações mistas com os dois gêneros, os filhotes podem mor-
que pode ser uma doenca ou, mais provavelmente, simples des- rer de anemia e debilidade.
cuido. É verdade que ~s animais debilitados não conseguirão Nos gatos de pê.los longos, podem desenvolver-se populações
perder a pelagem de inverno e abrigarão quantidades muito gran- patogênicas de Felicola sob pelagens descuidadas altamen te
des de piolhos, mas da mesma fonna, especialmente em eqüinos, emaranhadas.
em animais descuidados e deixados sem escovação, a população
de piolhos se multiplicará de modo muito rápido. SINTOMA TOLOGIA CLíNICA
A inquietude, o ato de se esfregar e lesões na pelagem suge-
rem a presença de piolhos, encontrando-se os parasitas ao repar- Na maioria das infestações, os animais ficam inquietos e se ar-
tir-se os pêlos. Haemàtopinus, grande e castanho-amarelado, é ranham quase continuamente, mas nas infestações maciças po-
visto muito facilmente, e nas regiões temperadas, em dias enso- dem tornar-se gravemente debilitados. Os ovos dos piolhos são
larados e quentes, este piolho freqüentemente se move para a visualizados facilmente na pelagem , e os dois piolhos comuns
superfície da pelagem. Danfalinia aparece como pequenas pin- dos cães são diferenciados com facilidade, o Trichodectes sen-
tas amareladas na pelagem, e os ovos, pequenos e pálidos, são do pequeno e amarelo, enquanto o Linognathus é azulado e
facilmente encontrados, espalhados por toda a pelagem. maior.
Entomologia Veterinária 153

TRATAMENTO E CONTROLE nha domésti ca, mas di ssemina-se para outras aves, como perus
e patos, que estão em contato.
As infestações por piol hos normalmente são tratadas com pó, Holomenopon , que ocorre em patos, é às vezes denominado
liq uido ou xampus de inseticidas piretróides sintéticos, organo- "piolho da base da asa" dessas aves. É um piolho pequeno, de
fos forados ou carbamatos. As preparações mais antigas como mo vimento rápid o, que prefere especialm e nte a glâ ndula
piretro e be nzoato de benzila também são eficazes. Algumas uropigeana, inibindo a produção da secreção oleosa. Em parte
destas drogas também são viáve is como aerossóis ou sprays, que pe la irritação, as aves bicam-se continuamente, mas sem a se-
freqüenteme nte são convenie ntes para o proprietário apli car. O creção as penas não podem ficar à prova d' água. Incapaz de re-
tratamento quase sempre é repetido em um intervalo de 14 dias pel ir a água e dani ficada por bicadas constantes, a plumagem
para destruir piolhos recém-eclodido s. Para profilax ia, com fre- torna-se esfarrapada e suj a, com as penas quebradas. Pode ocor-
qüênc ia utili zam-se caleiras para cães ou gatos, im pregnadas com rer penetração de água até a pele, e quando grande parte do COf-
um inseticida carbarnato, piretróide ou diaz inon, embora as ea- po está acometida as aves ficam encharcadas e podem morrer de
leiras canin as não possam ser usadas em gatos, pois a conce n- pneumonia depois de se resfriar. Embora a plumagem dan ifica-
tração de inseticida pode ser tóxica para tais animais. da possa ser substituída na muda anual, ela logo se degenera com
as bicadas excessivas, tomando-se novamente permeável à água.
INFESTAÇÃO POR PIOLHOS EM AVES Columbicofa colwnbae, parasita de pombos e rolas, é muito
comum. Seu local preferido é a parte anterior do corpo, onde pode
causar di screto prurido , e, como na maioria das pedicul oses, as
Ma is de 40 espécies de piolhos, todas mal6fagas, ocorrem e m
infestações maciças são observadas usualmente apenas e m aves
aves domésticas.
doentes e debilitadas.
Os gêneros Lipeurus e Menacanthus contêm as espécies mais
patogénicas de piolhos de aves. As espécies de Lipeurus são pio-
lhos c inzentos, de movimento lento, encontrados junto à pele. L. PATOGENICIDADE E EPIDEMIOLOGIA
caponis, o "piolho da asa", prefere a base das asas e as penas da
cauda, enquanto Cuclotogaster (Lipeurus) heterographus, o "pio_ Os piolhos de aves podem digerir queratina, mastigando peda-
lho da cabeça", ocorre na cabeça e no pescoço; nesta espécie, os ços de penas, quebrando-os com estruturas semelhantes a pen-
ovos são postos indi vidualmente nas penas e não em grumos como tes no papo e digerindo-os com secreções auxiliadas por ação
é habitual em piolhos de aves. Esses piolhos podem infectar todas bacteriana. Ingerem não s6 as bainhas de penas em crescimento,
as aves domésticas, incluindo perus, aves de caça e patos. mas também penugem e crostas cutâneas.
Menacanthus tem uma espécie importante, M. stramineus, o Apesar das diferenças na patogenicidade entre os gêneros, os
"piolho amare lo do corpo". Como Lipeurtls, infecta aves domés- efei tos da pediculose aviária são amplamente si milares, varia n-
ticas e prefere a superfície cutânea como habitat, sendo encon- do apenas e m grau. As aves tomam-se incapazes de repousar,
trado e m quantidades máximas sobre a pele finame nte coberta param de se alim entar e pode m ferir-se por arra nh aduras e
do peito e das coxas e ao redor da cloaca. E um piolho muito ativo arrancamento das penas, com resultados freqüenteme nte mais
e põe os ovos em grumos, principalmente na região da cloaca. graves que qualquer dano imediato produzido pelos piolhos_
Apesar de ser um piolho mastigador, pode causar anemia grave, De modo geral, as aves jovens sofrem mais intensamente, com
perfurando pequenas penas e se nutrindo do sangue que flui. perda de peso, debilidade e ta lvez morte. Nas aves de postura
Sendo ati vo e um comedor voraz, provoca grande irritação, e a adultas, o efei to sobre o peso corpóreo é leve, e a perda princi pal
pele torna-se inflamada e eventualmen te coberta por crostas, ocorre por queda na produção de ovos. Como se poderia espe-
especialmente na região da cloaca e, nas aves jovens, na cabeça rar, a prática do corte de bico permite aumento nas infestações,
e na garganta. É o piolho mais patogénico das aves adultas, mas impedindo que as aves se biquem e se limpem.
também tem sido responsável por fatalidades em filhotes. As aves Corno nas outras pediculoses, a co ndição, por si só, nas aves
de cativeiro, e e m parlicular os canários, são infestadas ocasio- domés ticas muitas vezes é um s intoma decorrente de outras cau-
nalmente e sofrem irritação, inquietude e debilidade. sas, como outra infecção, desnutrição ou instalações inadequa-
das, superlotadas e sem higiene.
GÊNEROS MENOS IMPORTANTES
TRATAMENTO E CONTROLE
Comuns, porém menos patogênicos, outros gêneros de piolhos
de aves incluem: E mbora sejam usados certos métodos, como pulverização da
Goniocotes galLinae , o "piolho da penugem", ocorre na pe- cama ou o emprego de caixas de postura tratadas com insetici-
nugem na base das penas, seus locais preferidos sendo o dorso e das, para evitar manipulação indevida das aves, os resultados
a cauda. É um dos menores piolhos de aves. obtidos co m a pul verização individ ual das aves são, sem dúvida
O Goniodes tem vári as espécies, incluindo G. gigas e G. dissimilis algu ma, melhores. Recomendam-se inseticidas como a c ipenne-
na galinha doméstica, G. meleagridis em perus e galinhas-d'angola trina e o carbamato carbari l. Dois tratamentos, num intervalo de
e G. pavonis em pavões. São todos piollios muito grandes, habitan- 14 dias, geralmente são eficazes.
do a superfície da pele e as penas do corpo, sendo mais coml!lls em
aves adultas. Jamais estão presentes em grandes quantidades.
Menopon gallinae, o "piolho da base das penas", é um piolho Ordem SIPHONAPTERA
am arelo pálido que se move rapidamente e que não se desenvol-
ve em populações ap reciáveis em aves jovens até estarem bem São as pulgas. Têm importânc ia veterin ária não s6 pelos efeitos
emplumadas. Nutre-se somente de penas e, apesar de comum, nos hospedeiros, mas também como trans missores de doenças.
nunca é um pat6geno grave. Seu pri ncipal hospedeiro é a gali- Apesar de serem mais importantes nos cães, gatos e aves, a sua
154 Parasitologia Veterinária

facilidade para paras itar o homem como hospedeiro alternati vo É importante saber que a maior parte do ciclo evoluti vo da
torna as pulgas destes animais domésticos relevantes em termos pulga se passa fora do hospedeiro. Isto inclui não so mente os
de saúde pública. Os rumin antes, eqüinos e suínos não têm suas ovos, as larvas e a pupa, mas ta mbém, se necessári o, a pulga
próprias espécies de pulgas. adul ta, que pode sobreviver por até seis meses entre alimenta-
ções. O período comum de vida é de um a dois anos.
MORFOLOGIA A maioria das pulgas nutre-se apenas du ran te alguns minutos
antes de mudar-se para outra parte do hospedeiro ou saltar para
As pulgas (Fig. 131) são insetos castanho-escuros, sem asas, com o solo ou um novo hospedeiro.
o corpo lateralmente achatado e de superfície lisa, permitindo Alguns gêneros permanecem fix ados perm anentemente du-
fácil movimentação através dos pêlos e penas. Os ol hos, quando rante toda a vida adulta. São as pulgas penetrantes, cuj as fêmeas
presen tes, são simples mente pontos escuros fo tossensíveis, e as ficam enterradas na pele, dentro de nódul os. Apenas a parte pos-
antenas, curtas e claviformes, ficam encaixadas na cabeça. O terior dessas pulgas se comunica com a superfície, permiti ndo
terceiro par de patas é mu ito mais longo que os outros, uma adap- que os ovos ou as larvas caiam no solo e se desenvolvam da
tação para pular sobre os hospedeiros e para fora deles. maneira habitual.
A cabeça pode apresentar nas bordas posterior (pronotal) ou Apesar de cada espécie de pulga ter suas próprias preferênci-
ventral (genal) fi leiras de espinhos escuros, denominados ctení- as em relação a hospedeiros, a alimentação casual é comum, e a
deos ou "pentes", que são as características mais importantes maioria nutre-se em uma ampla variedade de mamíferos e aves.
usadas na identificação (Fig. 131 ). Os gêneros a seguir são os mais importantes que ocorrem em
mamíferos e aves do mésticas, podendo a sua distribuição ser
CICLO EVOLUTIVO considerada mundial, a menos que estabelecido o contrário. Sua
morfologia diferencial é apresentada na Fig. 132.
Ambos os sexos são hematófagos e apenas os adultos são para-
sitas. Os ovos ovais têm superfícies lisas e podem ser postos no PUL GAS DOS MAMíFEROS
solo ou no hospedeiro, de onde logo caem. A eclosão ocorre em
dois dias a duas semanas, dependendo da temperatura do ambi-
ente. As larvas são semelhantes a gusanos e apresentam um re- Ctenocephalides
vestimento de cerdas. Possuem peças bucais mastigadoras e se
nutrem de resíd uos e das fezes das pulgas adultas, que contêm É o único gênero importante no cão e no gato. Ocorrem Cteno-
sangue e conferem às larvas a cor avermel hada. Sob a influência cephalides canis e C. felis no cão e no gato, porém C. felis é bem
de regul adores in ternos de cresci men to, a larva sofre duas mu- mais disseminada e, em muitas regiões, é a espécie dominante
das, tendo o estág io final cerca de 5 mm de comprimento, e em em cães e no homem, bem como em gatos. Ambas as espécies
seguida tece um casulo, uma fo rma de pupári o lanoso, do qual podem atuar como hospedeiros intermediários do cestóide co-
emerge o adulto. As mudas e a pupação dependem da tempera- mum de cães e gatos Dipylidium caninum e do fi larídeo de cães
tura ambiente, e, embora em condições amenas o ciclo todo pos- Dip etalonema reconditwn. Embora a pulga adulta possa adqui-
sa estar completo em apro ximadamente três semanas, em tem- rir a infes tação por fil arídeos mediante a ingestão de microfil á-
peraturas baixas pode prolongar-se por dois anos. ri as num repasto sangüíneo, as peças bucais especializadas não

Pente genal Pente pronotal

(b) Peças bucais

(ai
Fig. 131 (a) Aspecto lateral de uma pulga; (b) cabeça de pulga exibindo peças bucais picadoras·sugadoras e exibindo "pentes" genal e pronola1.
Entomologia Veterinária 155

SEM CTENíDEOS

Fronte angulosa anteriormente ........... .. ............. .... .Echidnophaga

Fronte arredondada anteriormente ..... ...... ..... ...... ... Pu/ex

COM CTENíDEOS
Apenas ctenídeo pronotal .. .... ...... .... .... ... ......... ..... ... Ceratophyllus

Ambos os ctenídeos, genal e pronotal ... .. ..... .. ......... Ctenocephalides


Spi/opsy/lus

Ctenideo genal horizontal. . .. ... ......... Ctenocephalides

Comprimento da cabeça inferior C. canis


ao dobro da altura.
1° espinho do clenideo genal mais
curto que o 2° espinho

C.le/is
Comprimento da cabeça o dobro
da altura.
°
1 espinho do ctenídeo
gena! igual ao 2 Q espinho

Ctenideo gena! obliquo,


com 4-6 elementos .. ... .... .... .. Spilopsy/lus

Fig. 132 Chave para diferenciação de pulgas de importância veterinária.

permitem a ingestão dos ovos de Dipy/idium, e esta infestação


Pu/ex
pode ser adquirida apenas pela larva da pulga, cujas peças bu-
cais são mastigadoras. O desenvolvimento do cestóide ocorre si-
mu ltaneamente ao da pulga, de tal maneira que o adulto contém Pu/ex irritans é principalmente parasita do homem. mas em al-
o cisticercóide. Ctenocephalides é o gênero altamente responsá- gumas regiões é comum em cães e gatos. Pode atuar como hos-
vel pela ocorrência de dermatite alérgica à picada de pulga em pedeiro intermediário de Dipylidium caninum e às vezes está
cães e gatos. envolvida na dermatite por picada de pulga.
156 Parasito/agia Veterinária

Como se poderia esperar, as áreas mais comumente acometi-


Spilopsyllus
das tanto nos cães como no s gatos são os locais preferenciais das
picadas de pulgas, a saber, o dorso, a parte ventral do abdome e
Spilopsyl/.us cuniculi ocorre nas orelhas de coelhos e é o princi-
a parte interna das coxas. No cão, as lesões primárias são discre-
pal vetor de mixomatose. Tem hábitos mais sede ntários que a
tas pápulas com crostas que causam intenso prurido. O dano mais
maioria das pulgas e pe rmanece na orelha mesmo quando esta é
importante, entretanto, é subseqüentemente infli gido pelos pró-
manipulada. É comumente enco ntrada junto às bordas dos pavi -
prios animais, que arranhando e mordendo as áreas afetadas pro-
lhões auriculares de cães e gatos que freqüentam habitats de coe-
duzem áreas de alopecia ou de dermatite úmid a ("eczema úmi-
lhos.
do" ). Em cães mais velhos, que ficam expostos por muitos anos,
a pele pode tornar-se espessada, enrugada e sem pêlos, sendo o
prurido nes tes animais muito menos intenso.
Xeuopsylla
No gato, a alergia à picada de pulga produz a condição co-
mumente conhecida corno dermatite ou eczema miliar, facilmente
Embora este gênero tenha pouca importância imediata para o
detectável à palpação, em que a pele fica coberta por inúmeras
vete rinário, deve ser mencionado, porque urn a espécie, Xenop-
pequenas pápulas, castanhas, com crostas, que causam prurido
sylla cheopis, é o principal velOr de Yersinia pestis, a causa da
acentu ado (Prancha Xl).
peste bubônica no homem. X. cheopis é uma pulga de ratos e
adquire Y. pestis ao nutrir-se em seus hospedeiros usuais. Quan-
do os bacilos se multipli cam em seu intestino , O proventrículo DIAGNÓSTICO
fica bloqueado, o que impede a absorção de sangue; a pulga fa-
minta vai de hospedeiro em hospedeiro, tentando alimentar-se, Quando a sintomatologia é indi cati va de infestação por pulgas
e nessa movimentação a infecção pode ser transferida de sua base mas não são encontrados parasitas, o hospedeiro deve ser pulve-
endêmica em roedores para a população humana. Embora atual- ri zado com um inseticida, colocado sobre uma grande fo lha de
mente rara no home m, a peste ainda existe e m roedores silves- plástico ou papel e vigorosamente penteado. Os pêlos removi-
tres ("peste silvestre") e m regiões da África, Ás ia, América do dos e os fragmentos devem ser examinados para pulgas ou fezes
Sul e no s estados ocidentais dos Estados Unidos. de pulgas, que se apresentam como partículas em formato de
meia- lua castanho-escuras ou pretas. Constituídas quase total-
mente de sangue, produzem uma coloração avermelhada difus a
TUllga quando colocadas em tecido úmido.
Outra técnica é o uso de um aspirador a vácuo, com uma gaze
Tun ga penetram; é a representante das pulgas penetrantes nos fina inserida atrás do bocal; este último é aplicado ao hospedei-
mamíferos, ocorrendo no homem e raramente e m suínos. No ro ou ao seu habitat e as pulgas ficam retidas na gaze.
hom em, o nome popular depa pul&a é "bicho-de-pé". Sua di s-
tribuição inclui regiões da Africa, Asia, América do Norte e do
TRATAMENTO E CONTROLE
Sul, mas não ocorre na Europa. A fêmea penetra na pele, onde
seu abdome se torna muito distendido e che io de ovos, forman-
Na alergia à picada de pulga, em que há muito desconforto, po-
do um nódulo característico. Esta pulga ocorre princ ipalmente
dem ser aplicados corticosteróides tópicos ou sistêmi cos como
nos pés das pessoas, provocando séria irritação. Nos suínos, os
tratamento paliativo.
locais descritos são as patas e o escroto, mas estes animais tole-
Para tratamento específico, são disponívei s insetic idas princi-
ram a infestação sem sinais de desconforto.
palmente sob a fonua de PÓ, spray, xampu ou spOl-on. Em geral.
são compostos organofosforados, piretro e seus deri vados ou car-
IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA bamatos. Há também formulações de drogas orais e para adição à
ração para uso contra pulgas em cães, e uma delas é um derivado
A reação a uma picada de pulga é uma di screta reação cutânea da benzoiluréia, o lufenuron, que, ao ser ingerido por pulgas du-
inflamatória, associada a lige iro prurido, mas, embora o animal rante a alimentação, é tran smitido aos ovos e bloqueia a fonnação
se esfregue intermitentemente, há pouco desconfo rto. Entretan- de quitina, inibindo, assim, o desenvolvimento de larvas de pulgas.
to, após repetidas picadas num período de vári os meses, certa Recentemente, foi aprovado para uso contra pulgas e carrapatos em
proporção de cães e gatos desenvolve alergia à picada de pulga, cães e gatos um spraycontendo fipronil, um ectoparasiticida de nova
que freqüentemente está associada a profunda sintomatologia geração que confere proteção por doi s a três meses. Como os ani-
clínica. mais em cantata também podem abrigar pulgas sem desenvol ver
A alergia à picada de pulga é uma reação de hipersensibilida- alergia, também devem ser tratados.
de à saliva de pulga, liberada na pele durante a alimentação. Na São usadas também coleiras antipu lgas contendo vários inse-
saliva, há um hapteno (um antígeno incompleto) que se combi- ticidas para controlar pulgas em cães e gatos; os últimos reque-
na com o colágeno da pele do hospedeiro, fo rmando um alérge- rem uma coleira especial com baixa concentração de inseticida.
no completo. A alergia resultante é mais comume nte uma com- Deve-se tomar cuidado na escolha de qualquer inseticida para
binação de reações do tipo imediato e tardio. cães e gatos, pois algumas peparações são aprovadas para uso
A alergia demon stra uma sazonalidade nas regiões tempera- apenas numa espécie de hospedeiro ou são utili zadas em doses e
das, aparecendo no verão quando a atividade das pulgas é má- esquemas de aplicação diferentes para cada espécie.
xima, embora nas casas co m aquecimento ce ntral a exposição Como a maior parte da população de pulgas não se encontra
possa ser contínua. Em regiões mais quentes, como os estados sobre o animal, mas sim em seu ambiente, é importante ql.le os
ocidentais dos Estados Unidos, o problema ocorre durante o ano inseticidas também sejam aplicados em seus abrigos naturais e
inte iro. no habitat interno gera.I e que a cama seja destruída se mpre que
Entomologia Veterinária 157

possível. Os carpetes fixos devem ser totalmente limpos com \ ____-47"/7 Quelíceras
aspirador de pó.
Recentemente, um regulador de crescimento de insetos, o
metoprene, tem sido comercializado sob a forma de aerossol para
aplicação direta a camas, carpetes e outros habitats de larvas de
pulgas. Quando ingerido pelas larvas, o produto químico impe-
de a emergência de pulgas adultas das pupas. A proteção contra
rei nfestação pode persistir por até quatro meses.
Palpo
PULGAS DAS AVES

Ceratophyllus Base do
capítulo
Ceratophyllus gallinae é a pulga mais comum das aves domés-
ticas e pode ser responsável por irritação, inquietude e até mes- l-I
mo anemia. Nutre-se facilmente no homem e em animais de es-
timação, com freqüência sendo adquirida na manipulação de aves
_x
domésticas e de aves silvestres feridas trazidas para casa. Sabe-
se também que migra para os aposentos a partir de ninhos sob
beirais adjacentes. Quando esses ninhos são removidos, devem (a)
ser incinerados; caso contrário, as pulgas famintas podem para-
sitar animais de estimação e o homem.

Echidnophaga
Echidnophaga gallinacea é uma das pulgas penetrantes. Após a
fertilização, a fêmea penetra na pele das aves, usualmente na
crista e na barbela, resultando na formação de nódulos onde os
ovos são postos. A ecJosão OCOlTe nos nódulos, e as larvas caem
ao solo, completando o seu desenvolvimento. A pele sobre os
nódulos freqüentemente se toma ulcerada, e as aves jovens po-
dem morrer por infecções maciças. Echidnophaga também ata-
ca mamíferos, principalmente cães, com os nódulos formando-
se em volta dos olhos e entre os dedos.

TRA TAMENTO E CONTROLE

Vários inseticidas organofosforados, carbamatos e piretróides são


eficazes. São utilizados sob a forma de pó para Ceratophyllus e
como solução, no caso de Echidnophaga.
Se as pulgas se estabelecerem num aviário, pode ser necessário
adotar medidas drásticas para eliminá-las. Toda a cama deve ser
removida e queimada e o aviário pulverizado com um inseticida.

Classe ARACHNlDA (b)

Esta classe inclui carrapatos e ácaros que têm considerável im- Fig. 133 (a) Peças bucais típicas de carrapato ixodídeo; (b) eletromicrografia de
varredura de Ixodes ricinus.
portância veterinária, assim como aranhas e escorpiões. Diferem
da classe Insecta pelo fato do adulto ter quatro pares de patas e o
corpo ser composto de cefalotórax e abdome. As peças bucais
são extensamente modificadas e apresentam dois pares de apên- cais (Fig. 133), que se originam na base do capítulo, constituÍ-
dices, o primeiro denominado quelíceras e o segundo palpos. Não d4S de um par de quelíceras com dígitos móveis adaptados para
existem antenas. cortar e um par de palpos sensoriais. Ventromedialmente, há um
hipostômio, que possui dentes recurvados para manter a posição,
com um sulco dorsal, para permitir o fluxo de saliva e do sangue
Ordem ACARINA do hospedeiro. Os acarinos de importância veterinária são os
carrapatos e ácaros, e seu ciclo evolutivo consiste no desenvol-
Os acarinos são artrópodes pequenos e às vezes microscópicos. vimento do ovo em larva, que se parece um pouco com o adulto,
Caracterizam-se por sua estrutura aracnídea, com as peças bu- em ninfa e em adulto. Usualmente há apenas um ínstar larval.
158 Parasito/agia Veterinária

OS CARRAPATOS Jida~_-º..o corno, denominando-se '~a....r.r.apatos o.rnamentados'·.


_ Os adultos possuem um iãr
de espirácylos atrás do quarto p_ar
Duas famíli<l:s, a I~oc!ic!a~e a Argasidae, são comumente co- de patas. Oji olhos, quandoyresentes, situam-se-.na-margem ex-
nhecidas como carrapatos. A mais importante é a Ixodidae, cu- terna do escudo.
jos membros são freqüentemente denominados carrapatos du~ Como outros carrapatos, os ixodídeos são parasitas temporá-
ros, por ~ ~a E.r~sença de um rígido escudo quitinoso, que rios e passam períodos relativamente CULtos nos hospedeiros. O
cobre toda a superfície dorsal do macho adulto; na fêmea adulta, número de hospedeiros em que se fixam durante o ciclo evoluti-
na larva e na ninfa, ele se estende apenas por uma pequena área, vo parasitário varia de um a três, e, com base nisto, são classifi-
permitindo a dilatação do abdome depois da alimentação. cados como ~J!!l!o~ de um hospedeiro, q!:!ªºd2J.odo o de-
A outra família é a Argasidae ou os carrapatos moles, assim senvolvimento parasitário,d esde a larva até o a~ulto , ocorre no
chamados por não possuírem escudo; incluídos nesta família - mesmo hospedeiro; carrapatos de dois hosp~deiro~,_quando as
estão os carrapatos das aves e os "carrapatos do chão", larvas e as ninfas ocorrem num hospedeiro e os adultos em ou-
tro; e carrapatos de três hospedeiros, quando cada estágio de
desenvolvimento tem lugar em hospedeiro s diferentes.
Família IXQDIDAE Os três gêneros de ixodídeos descritos primeiram~nte , Ixodes,
Haemaphysalis e Dermacentor (Pral1cha VIII), são os que ocor-
. Os ixodídeos são vetores imp011antes d ~doen.ças causadas por rem na Europa Ocidental assim como em todas as partes do
protozoáti,.os, bactérias, vírus e riquétsias. Apesar da existência mundo.
~de mUitos gêneros de Ixodidae, ocorrem apenas três na Europa
Ocidental: Ixodes, Haemaphysalis e Dennacentor, dos quais o
Ixodes é certamente o mais importante. Ixodes
Como observado anteriormente, os ixodídeos (Fig. l34) pos-
sue!n um re vestimento quitinos ~escudo que---.S e estende por Hospedeiros:
toda a superfície dorsal do macho mas que cobre apenas uma Todos os mamíferos e aves. De grande importância veterinária
pequena área atrás da cabeça na larva, na ninfa ou na fê~ea. As em ruminantes.
peças bucais presentes no capítulo são anteriõr~_Lvisíveis pela
sl.}perfície dorsal. Outros aspectos péculiares são u.!!!.a série de Localização:
sulcos no escudo e no corpo e, em algumas espécies, uma fi-Ieira - Sobre todo o corpo, mas principalmente na axila, na região in-
de entalhes; denornlnados restões, na borda posterior do corpo. guinal, na face .e nas orelhas.
Às vezes, verificam-se placas quitinosas na supetfície ventral dos
macho s .~ Q orifício genital fica na linha média ventrale o ânus é Espécies encontradas na Europa:
posterior. Alguns carrapatos possuem áreas envernizadas colo- /xodes ricinus carrapato-feijão do castor

Fig. 134 Estrutura e ciclo evolutivo de um carrapato ixodídeo.


Enlomologhl Veterinária 159

lxodes canisuga carrapato inglês do cão


Ixodes hexagonus carrapato do ouriço
Ixodes ricinus

Algumas outras espécies:


lxodes holocyclus o carrapato da paralisia da Austrália
lxodes rubiculldus o carrapato da paralisia da África do
Sul
Ixodes scapularis o carrapato da espádua da América do
Norte

IDENTIFICAÇÃO DO GÊNERO

São carrapatos não-ornamentados, sem festões ou olhos. Os


~palPos~io longos e a superfície ventral do macho é quase total-
---menteeoberta por uma série de placas.-Há um sulco anal anteri-
- ar-ao ânus. .
Ixodes canisuga

Ixodes ricil/l/s

DISTRIBUiÇÃO

Europa, América do Norte, Austrália e África do Sul. Na Grã-


Bretanha, é mais com um na metade ocidental do país, em re-
giões de pastos não cultivados e terrenos pantanosos. No conti-
nente europeu, esta espécie é mais numerosa nas regiões norte e
central, restringindo-se amplamente a áreas arborizadas.

IDENTIFICAÇÃO
Fig. 135 O Ixodes ricinus pode ser diferenciado de outras espécies de Ixodes pela
presença de urnespinfio (i) sobrepondo-se no ângulo posterior da pri~ejra coxa.
- A fêmea ingurgitada é cinza-clara, com até 1 cm de comprimen-
to:êm forma de feijão e com quatro pares de patas. Os machos
têm apenas 2 a 3 mm de comprimento, e, por causa do abdome do depois ao solo e sofrendo a muda para o estágio ninfa!. No
pequeno, os quatro pares de patas são facilmente visíveis. terceiro ano, este estágio alimenta-se, cai e se torna adulto. Em-
f\.s ninfas ~arecern com os adultos e também têm uatro
bora este ciclo evolutivo leve três anos para se completar, as lar-
pares de atas, mas medem menos de 2 mm,enquanto as larvas vas, ninfas e adultos alimentam-se durante um total de apenas
'carrapatos -p im en ta ~' ) têm menos de I mm, geralmente colora-
26 a 28 dias. I. ricinus é, portanto, um parasita temporário.
ção amarelada e apen~s trê~ 'pares de p_atas. Observa-se uma atividade sazonal distinta de I. ricinus, du-
Em f. ricinus, comparado a I. canisuga e I. hexagonus, os tar- rante a qual ocorre infestação de bovinos, ovinos ou outros hos-
sos são amados e não-curvados, e o ângulo interno posterior da pedeiros. e durante este período podem ser enco ntrados carrapa-
primeira coxa apresenta um espinho que ultrapassa a segunda tos nas pontas da vegetação, buscando um hospedeiro, que loca-
coxa (Fig. 135). li zam com o auxílio de cerdas sensoriai s si tuadas nas suas patas.
Nas Ilhas Britânicas, ocorrem dois períodos de atividade máxi-
CICLO EVOLUTIVO E EPIDEMIOLOGIA ma, a saber, março aj unho e agosto a novembro, embora alguns
carrapatos possam ser adquiridos durante a maior parte do ano.
~!!:Lé_lLffi...catrapato de trêshospedeir9s, e o ciclo evolutivo De modo geral, supõe-se que estes dois períodos distintos de
requer três anos. O carrapato nutre-se por apenas alguns dias ao at ividade reflitam a ocorrência de duas populações fisiologica-
ano, sob a forma de larva no primeiro ano, de ninfa no segundo mente distintas de carrapatos, uma ativa na primavera e a outra
e de adu lto no terceiro (Fig. 134). no outono. Nas regiões limítrofes entre a Escócia e a Inglaterra,
O acasalamento dá-se no hospedeiro. Após a fixação, a fêmea ocorre apenas atividade de primavera, enquanto nas áreas de
é inseminada uma vez e subseqüentemente completa seu único carrapatos do sudoeste da Inglaterra, País de Gales, oeste da
grande repasto sangüíneo; por outro lado, os machos nutrem-se . Escócia e Irlanda, ocorre também ativ idade de outono. Os ovos
de modo intermitente e se acasalam repetidamente. Durante o daqueles com atividade na primavera eclodem no outono, e as
acasalamento, o macho arrasta-se sob a fêmea e, depois de ma- larvas e ninfas também sofrem mudas nesta época, passando
nipular o orifício genital com as peças bucais, transfere o esper- então o inverno na condição de não-ingurgitadas ou achatadas.
matóforo, uma bolsa contendo os espermatozóides, para o orifí- Por outro lado, os ovos daqueles com atividade no outono não
cio, provavelmente com o aux ílio das patas anteriores. Uma vez eclodem até o verão seguinte, enq uanto as larvas e ninfas ficam
fertilizada, a fêmea em seguida alimenta-se durante cerca de 14 em diapausa durante todo este período, passando então o inver-
dias e cai, então, ao solo, deposita vários milhares de ovos em no no estado ingurgitado e sem sofrer mudas até o verão.
lugares protegidos e morre em seguida_ As larvas que eclodem A sobrevivência de 1. ricinus e conseqüentemente a sua dis-
dos ovos nu trem-se por cerca de seis dias no ano seguinte, cain- tribuição são detenninadas por suas necessidades hídricas, sen-
, ~ '. ,"

160 Parasitologia Veterinária

do incapaz de sobreviver quando a umidad e relativa é inferior a vel pela doença de Lyme no homem . Há evidência de alta
90%, Na Grã-Bretanha, é predominantemente um carrapato de incidência de anticorpos específicos para B. burgdoiferi em
pastos não-cultivados, onde a morte anual e a subseqüente de- cães, gatos, bovinos e eqüinos, indicando exposição freqüen-
composição da vegetação garantem a presença de uma "cober- te à infecção, mas a doença clínica é relativamente incomum.
tura" com alta capacidade de retenção de umidade, Em outras
áreas onde prevalece a urze há pouca "cobertura", mas os tre- SINTOMA TOLOGIA CLíNICA
chos úmidos abertos en tre a urze são cobertos de musgo que re-
tém umidade, tornando viável este outro habitat, Em regiões do Não existe sintomatologia óbvia de infestação por carrapatos
continente europeu, os carrapatos são encontrados principalmente alé m da presença de parasitas e de reações cutâneas locais às
em áreas arborizadas e, na Irlanda, onde o nível de lençol de água picadas,
é particulannente al to, sobrevivem em solo arável, pri ncipalmente
ao redor de fileiras de cerca viva. DIAGNÓSTICO
A cutícula do carrapato é a chave da sua sobrevivência; co n-
tém uma camada ex terna de cera que é impermeável à água, e
Os carrapatos adu ltos, particulannente as fêmeas ingurgitadas.
dessa maneira a perda de água limüa-se normalmente a minús-
são facilmente observados na pele, os locais prediletos sendo face.
culos poros no tegum ento. Não obstante, quando o carrapato é
orelhas, axila e região ingui nal. Em geral, observam- se também
ati vo, a perda de água é acelerada, em razão da abertura dos
peque nos nódulos inflamados nessas regiões, se ndo cada um
espirác ulos e durante a nutrição pela secreção salivar. deles uma reação a uma picada anterior.
Na Grã-Bretanha, o movimento dos C3lTapatos da cobertura
vegetal para uma posição de busca tem início com aqueles com
atividade na primavera, quando a temperatura diurna-noturna
CONTROLE
médi a excede 10°C, e termina com aqueles com atividade no
outono, quando a temperatura cai abaixo de 10°; no verão, não Será di sc ut ido após uma descrição do s outros carrapatos
há ati vidade por causa de baixa umidade e altas temperaturas, ixodídeos.

IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA {xodes canisuga :


Os efeitos patogênicos estão associados ao mecanismo de alimen- Esta espécie, às vezes denominada carrapato inglês do cão, é
tação do parasita, que é ideal para penetrar na pele e para trans- encontrada numa variedade de hospedeiros, mas é reconhecida
mitir microrganismos. No processo nutriti vo, a ação semelhante como um problema em canis, onde o carrapato é capaz de sobre-
à tesoura dos d ígitos na extremidade das quelíceras é seguida por viver em fendas e frestas nos pisos e paredes. As infestações
um movimento propulsor do hipostômio através da pele lacera- maciças podem causar prurido, perda de pêlos e anemia. Pode
da e pelo efeito fixador dos seus dentes recurvados sobre os teci- ser difere nciado de I. riciul/s pela presença de tarsos curvados e
dos, Supõe-se que as glând ulas salivares produzam uma subs- pela ausênc ia de um espinho no ângulo interno posteri or da pri-
tância semelhante à hialuronidase para ajudar na penetração, uma meira coxa (Fig. 135).
substância adesiva qu e ajuda a fixação e um anticoagulante, O
sulco dorsal no hipostômio constitui um canal para que a saliva
fl ua para o hospedeiro e, subseqüentemente, sangue e linfa flu - !xodes hexagonus
am para o carrapato. À medida que a fê mea se ingurgita e au-
me nta de volume, ela tende a se projetar do local de fi xação e as Denominado geralmente carrapato do ouriço, ocorre também em
patas traseiras se firm am, fi cando o carrapato inclinado em ân- cães, furões e doninhas. Pode ser diferenciado de I. ricinus pe-
gul os retos em relação ao corpo, Se o carrapato for removido à los tarsos curvados e pelo fato do espinho da primeira coxa não
força durante a fase de fixação na al imentação, pode haver con- ultrapassar a segunda coxa,
siderável reação às peças bucais, que freqüe ntemente permane-
cem enrerradas nos tecidos. Durante a ingurgitação, o peso cor- ESPÉCIES IMPORTANTES DE IXODES
póreo de um carrapato aume nta cerca de 200 vezes,
FORA DA EUROPA
~ As infestações ~r I. ricinus são importantes por três motivos:
_.~

(01 Eles são hematófagos e em infestações maciças ocasionais As fêmeas adultas de diversas espécies de Ixodes, incluindo I.
podem causar anemia, holocyclus e I. rubicundus na Austrália e na África do Sul, respec-
(2) As lesões produ zidas pelas peças bucais denteadas durante ti vamente, produzem uma toxina responsável por paralisia do car-
a alimentação podem infectar-se e predispor ao ataque de rapato, que ocorre no homem e em animais e se caracteriza por pa-
varejeiras, Além di sso, no abate, o valor do couro ou do velo ralisia motora ascendente aguda, ocorrendo vários dias após a fi-
pode ser reduzido. xação, que pode terminar fatalmente, a menos que os carrapatos
(3) O mais importante de tudo é que, na Europa Ocidental, este sejam retirados. Não se conhece a natureza exata da toxina, mas a
carrapato transmite 8abesia divergens - a causa da hema- teoria atuaI sugere que é produzida nas glândulas sal ivares.
túria em bovinos - e em ovinos e bovinos O vírus da ence-
falomiel ite infecciosa e a riquétsia responsável pela febre do
carrapato. Está associado também a piem ia do carrapato, Haemaphysalis
causad a por StaphylocoCCllS aureus, em cordeiros na Grâ w

Bretanha e na Noruega, Os carrapatos ixod ídeos também São carrapatos não-ornamentados, com festões e sem olhos. Os
transmitem Borrelia bllrgdorferi, espiroquetídeo responsá- palpos sensoriais são curtos e largos, com o segundo segmento
U~IVtRSID~DE ES TADUAL DO CEARÁ
Biblioteca Central Entomologia Veterinária 161

prolongando-se além da base do capítulo. Os machos não têm Quadro 5 Chave resumida para os importantes carrapatos adultos dos
placas ventrais e o sulco anal contorna o ânus posteriormente. ani mais domésticos da Europa Ocidental
São carrapatos de três hospedeiros. (1) Tegumento com escudo Ixodidae 2
HaemaphysaUs punctata distribui-se amplamente na Europa, Capítulo visível dorsalmenle
incluindo o sul da Inglaterra e regiões do País de Gales, onde é ou
Sem escudo Argasidae
responsável pela transmissão de Babesia major e de uma espé- Capítulo ventral (muito raros na Grã-
cie não-patogênica de Theileria em bovinos e, em ovinos, de Bretanha)
Babesia motasi e da Theileria ovis benigna. (2) Não-ornamentado 3
Nas outras regiões, transmite Babesia bigemina em bovinos, ou
Ornamentado com olhos, palpos curtos Dermacentor
B. motasi em ovinos e Anaplasma marginale e Anaplasma cen- e base do capítulo relangular retículatus
trale em bovinos; é descrito também corno causador da paralisia
do calTapato. (3) Sulco anal posterior ao ânus Haemaphysalis
Festões presentes punctata
Há muitas outras espécies de Haemaphysalis encontradas em ou
todo o mundo. Por exemplo, H. leaehi, o "carrapato amarelo do Sulco anal anterior ao ânus Ixodes 4
Festões ausentes
cão", comum na África e na Ásia, é responsável pela transmis-
são de B. eanis em cães, e H. longieornis, primariamente um (4) Coxa I com um espinho interno 5
po~terior distinto
carrapato de bovinos, tem ampla distribuição no Extremo Ori- ou
ente e na Australásia. Coxa I sem um espinho interno Ixodes canisuga
posterior distinto

(5) T arsos afilando-se gradativamente Ixodes ricinus


Dermacentor até uma ponta fina. Espinho
sobrepõe-se â Coxa II
Escudo arredondado posteriormente
São carrapatos ornamentados, com olhos e festões. A base do ou
Tarsos recurvados. Espinho não se 1~"Odes hexagonus
capítulo é retangular e os palpos são curtos. Os machos não pos- sobrepõe à Coxa II
suem placas ventrais e as quartas coxas são dilatadas. Podem ser Escudo sub-hexagonal
canapatos de três hospedeiros ou de um hospedeiro, sendo para- Sulco anal com lados paralelos

sitas de muitos mamíferos domésticos e silvestres.


Dermacentor retieulatus ocorre em muitas partes da Europa,
incluindo o sul da Inglaterra e o País de Gales, e parece preferir
áreas densamente arborizadas. É um carrapato de três hospedei- maculosa das Montanhas Rochosas; o "carrapato da Costa do
ros que transmite infecções por 8abesia para eqüinos e cães nas Golfo", A. maeulatum, que ocorre nas orelhas dos bovinos, é uma
regiões onde estes parasitas estão presentes. causa predisponente de miíase por larva de mosca associada a
Diversas espécies de Dermaeentor são importantes na Amé- Coehliomy ia spp. A. cajennense é um importante carrapato na
rica do Norte. Assim, os carrapatos de três hospedeiros D. on- América do Sul, sendo as picadas cau"'sadas por este gêI}er<.? par-
dersoni e D. variabilis são responsáveis pela transmissão de '1ic ularmente dolorosas, prõvavelmente por causa das longas pe-
Anaplasma Marginale em bovinos e febre macuJosa das Mon ta- ~ç·ás bucãis::- -
nhas Rochosas no homem causada por Rickettsia riekettsü.
Ambos causam paralisia do carrapato. O carrapato de um hos-
pedeiro D. nitens é um importante vetor de babesiose eqüina no
sul dos Estados Unidos, na América Central e do Sul e no Cari-
be. Carrapatos não-ornamentados, com olhos presentes e festôes
No Quadro 5, há uma classificação resumida para os carrapa- ~tes._ Os palpos e o hipostômio são curtos. Os machos pos-
tos importantes da Europa Ocidental. suem placas ventr~is acessórias (lU. adanais.
Conhecidos freqü entemente como "carrapatos azuis", são
ca'"fi:apatos de ufT!-'1Q§J2~eirQ e os principais vetores de espécies
IXODíDEOS QUE OCORREM FORA DA EUROPA
de Babesia e de Anaplasma marginale em bovinos nas regiões
OCIDENTAL subtropicais e tropicais. As espécies mais importantes são Boo-
philus microplus, presente em todos os continentes, exceto na
Amblyomma EuroQll, B. annulatus na América Central e do Sul e na África e
B. decoloratus na Áfi·ica OrientaL
São carrapatos grandes, geralmente ornamentados, cujas patas
têm faixas coloridas; há olhos e festões. Os palpos e o hipostô-
mi o-são longos e não há placas ventrais nos machos. São carra- Hyalomma
l'at~@s hºspedeiros. --
As espécies importantes são Amblyomma variegatum e A. Usualmente não-ornamentados mas com patas listradas, olhos
hebraeum, com padrões coloridos no dorso e nas patas. Distri- presentes e festões às vezes presentes. Os palpos e o hipostômio,
buem-se principalmente na África e transmitem a cowdriose (he- como em Amblyomma, são longos. Os machos possuem placas
artwarer), para os bovinos, causada pela riquétsia, Cowdria ru~ adanais. Em geral, são carrapatos de dois hospedeiros, com as
minantium. larvas e ninfas nutrindo-se em aves e pequenos mamíferos e os
No sul dos Estados Unidos, A. americanum, o "carrapato da adultos em ruminantes e eqüinos.
estrela solitária", assim chamado em face de uma única manéha Hyalomma spp. ocorrem em toda a África, Ásia Menor e sul
branca no escudo da fêmea, transmite febre Q, tularemia e febre da Europa e são apontadas como vetores de diversas infecçôes
162 ParasilOlogia Veterinária

por babésias, theilérias e riquétsias. H. marginatum e H. delri- folhas se fec ham, a transpiração cessa e a baixa umidade fo rma-
tum são as espécies importantes no sul da Europa e África do da no microclima torna-se rapidamente letal para os carrapatos.
Norte e H. trunca tum em toda a Áfri ca. No campo, evidentemente, a estabilidade do mi croclima de-
Este gênero é responsável principalmente pela toxicose do pende de certos fatores, como a quantidade de forragem ou resí-
carrapato, uma entidade diferente da paral isia do carrapato, em duos de plantas e da espécie de gramínea. Os diversos gêneros
regiões do sul da África e no subcontinente indiano. A "toxina" de carrapatos têm diferentes limiares de temperatura e umidade
produzida pelo carrapato ad ulto causa uma doença de sudorese dentro dos quais são ati vos e se nutrem, sendo a sua distribuição
em rumjnantes e suínos caracterizada por hiperemia di ssemina- regida por estes limiares. De modo geral, os carrapatos são mais
da das membranas mucosas e profuso eczema úmido. ativos durante a estação quente, desde que as chuvas sejam sufi-

*- Rhipicephalus
cientes, mas em algumas espécies os estágios larvais e ninfais
também são ati vos em clima mais ameno, e isto afeta a duração
e a escolha da época dos programas de controle.

Em gera1....não-omamentados" com olhos e festões presentes. Os CONTROLE DE IXODíDEOS


'palpos e o .hipostômio são cllrt0..5~e a ba~do capítulo é hexago-
nal dorsalmente. A primeira coxa tem doi s espinho,ê.. Os machos
possuem placas adanais e acessórias. Este gênero inclui carra-
o controle de ixodídeos baseia-se amplamente no uso de acari-
cidas químicos, aplicados por banhos de imersão total ou sob a
patos de doi s hospedeiros e de três hospedeiros. ~ forma de spray, ducha ou spot-on.
As espécies impOItantes são encontradas exclusivamente na Quando animais gravemente parasitados requerem tratamen-
África, ao sul do Saara. O carrapato de três hospedeiros Rhipi- to individual, podem ser aplicadas formulações especiais de aca-
cephalus appendiculattls, o "carrapato castan ho da orelha", é o ricidas suspensos em base oleosa às áreas acometidas.
vetar mais eficie nte de Febre da Costa Oriental de bovinos, cau-
sada por Theileria parva, transmitindo também Babesia bigemina
e o vírus da doença ovina de Nairobi. O carrapato de dois hospe- CONTROLE NA EUROPA OCIDENTAL
deiros R. everlsi, "o carrapato de patas vermelhas", també m pode
transmitir infecções por theilérias, Babesia bigemina e B. equi. Os bovinos em geral não são submetidos a banhos de imersão
A.espécie...çomu11l.de três hospedeiros ~san uineus tem distri - para control e de carrapatos, e os tratamentos restringe m-se à
buição mais di sseminada, sendo encontrada em todo o hemisfé- pulverização manual quando, em raras ocasiões, se observam
rio sul. Fund~mentalmente parasita de cães, é denomi nada fami- grandes populações em bovi nos. Uma boa medida também é
liarmente "carrapato castanho do cão ou do canil" e responsável pul verizar os animais que estão sendo transferidos de proprieda-
pela transmissãQ de..Babesia canis.. e Ehrlichia canisJ- podendo des onde o carrapato é endêmico para propriedades onde é pro-
causar paralisia do c'!rrapato no cão. Este carrapato pode tam- vável que ele não exista.
bém transmitir muitasinfecções-po.r_proto zoári o~írus e riquét- Entretanto, elll lIIuitas regiões da Grã-Bretanha, como a parte
sias de animais e do homem. ocidental das Highlands e os condados da fronteira en tre a Escó-
Não será fornecida uma orientação sobre carrapatos dentro e cia e a Inglaterra, os ovinos são submetidos rotineiramente a
fora da Europa, por causa da ampla di versidade de espécies em banhos de imersão com um acaricida eficaz, em cada primave-
diferentes regiões, recomendando-se o aconselhamento com es- ra, para controlar a população de carrapatos e reduzir a preva-
pecialistas locais. lência de doenças transmitidas por carrapatos. Apesar de vanta-
joso, a eficácia deste único tratame nto parece variar em rebanhos
EPIDEMIOLOGIA DE IXODíDEOS indi viduais, provavelmen te porque o carrapato de três hospedei-
ros /. ricillus passa muito pouco tempo no hospedeiro e seu perí-
EM AMBIENTES TROPICAIS E SUBTROPICAIS
odo de atividade e alimentação varia com os anos de acordo com
o clima.
A distribui ção de carrapatos num clima temperado com chuvas
Quando cordeiros jovens, ou as mães, são banhados, é impor-
freqüentes e não-sazonais está intimamente relacionada à viabi-
tante assegurar-se de que estejam adequadamente desmamados
lidade de um microambiente com umidade relativa alta, como
antes de soltá-los numa vasta área montanhosa. Uma conduta co-
ocorre na cobertura que se forma sob a superfície de pastos não
mum para cordeiros era imergi-los individualmente numa peque-
culti vados. Por outro lado, em regiões de pastos tropicais, a co-
bertura de gramínea nos pastos é interrompida e freqüentemente na banheira ou tambor contendo o acaricida, pennitindo-Ihes em
intercalada com trechos nu s ou que sofreram erosão. Onde ex is- seguida ter acesso à mãe numa área restrita, mas agora S~() ::'ImpIa-
te cobertura adequada de gramíneas, geralmente se admite, des- mente utilizadas as preparações Spot-Oll mais convenientes.
de que as temperaturas sejam convenientes para desenvolvimento
durante uma grande parte do ano, que a di stribuição de carrapa- CONTROLE NOS TRÓPICOS
tos é regida principalmente pelas chuvas e, com exceção das
espécies de Hyalomma , é necessário um índice pluvi al anual Nestas regiões, o tratamento é dirigido principalmente aos bovi-
superior a 60 c m para sobrevivência. nos. Como os carrapatos permanece m apenas algun s dias no
Estudos recentes na África Oriental demonstram, entretanto, hospedeiro e freqüentemen te em determinadas épocas do ano, a
que os fatores responsáveis pela manutenção do microclima ne- escol ha da ocasião e a freqüência dos banhos baseiam-se em di-
cessário com umidade relativa alta são bem mais complexos e . versos fatores. Esses fatores incluem a atividade sazonal e a du-
dependem da transpiração da s folhas das plantas. Enquanto ela ração da alimentação da espécie do carrapato em questão, a im-
continua, a umidade adequada mantém-se no microclima, ape- portância das doenças que transmitem e o efeito residual e a to-
sar da secura do resto do ambiente. Contudo, quando a taxa de xicidade do acaricida para o hospedeiro. Outra consideração, que
evaporação aumen ta acima de um certo nível, os estômatos nas influencia o esquema de controle, é sobre se o carrapato é de um
Elltomologia Veterinária 163

hospedeiro, em que todos os ínstares se nutrem e se desenvol- Há considerável variação local na biologia dos carrapatos, e
vem no mesmo hospedeiro, ou um carrapato de doi s ou três hos- os períodos de banhos de imersão devem variar amplamente nas
pedeiros, utilizando dois ou três diferentes hospedeiros, respec- regiões. Antes do empreendimento de qu a lquer programa de
tivamente. Sem dúvida alguma, é muito mais fácil controlar o controle com banhos de imersão, devem-se considerar as opini-
carrapato de um hospedeiro que os outros. ões locais, embora devam ser observados os princípios gerais
Um ponto importante é que, ao co ntrário da Europa Ociden- anteriormente descrito s.
tal, onde a atividade dos carrapatos ocorre apenas na primavera
ou no outono, os carrapatos dos trópicos podem ser ati vos du- ACARICIDAS
rante a maior pat1e do ano, completando o ciclo evolutivo desde
o ovo até a forma adu lta em poucos meses.
O arsên ico foi o primeiro composto a ser amplamente utilizado
para o controle de carrapatos, mas em face de problemas de to-
CONTROLE DE CARRAPA TOS xicidade, falta de efeito residual e resistência, foi substituído em
DE UM HOSPEDEIRO grande escala pelos organoclorados no final dos anos 1940. A
crescente contaminação do meio ambiente e da resistência do
A base do controle bem-sucedido de espécies de um hospede iro consumidor a níveis inaceitáveis de organoclorados na carne e o
como o 8oophilus, prevalente na Austrália, na África do Sul e aparecimento de resistência dos carrapatos a este grupo de inse-
na América Latina, é evitar o desenvolvimento das fêmeas in- ticidas levaram à sua substituição na década de 1960 por diver-
gurgitadas e, portanto, limitar a deposição de grandes quantida- sos compostos organofosforados, carbamato, butocarb e, mais
des de ovos. Como o 800philus tem um ciclo evolutivo parasi- rece ntemente, formamidina, amitraz e algun s piretróides sinté-
tário que requer 20 dias antes que as fêmeas adultas se tornem ticos. A ivermectina ou o c10sante l por via parenteral também
totalmente ingurgitadas, um animal banhado com um acaricida demonstraram ser um meio útil no controle do carrapato de um
q ue tenha um efeito residual de três a quatro dias não deve abri- hospedeiro Boophilus.
gar fêmeas ingurgitadas durante no mínimo 24 dias (i.e., 20 +
4). Teoricamente, portanto, o tratamento a cada 21 dias durante
OUTRAS MEDIDAS DE CONTROLE
a estação dos carrapatos deve dar um bom controle, mas, como
os estágios ninfais parecem ser menos suscetíveis à maioria dos
O desenvolvimento de resistência pelos carrapatos à maioria dos
acaricidas, freqüentemente é necessário um intervalo de 12 dias
acaricidas viáveis cria tal risco à produção animaJ nos trópicos
entre tratamentos no início da estação dos carrapatos. As aver-
que devem ser considerados com urgência métodos alternativos
mectinas/rnl1bemicinas podem desempenhat· um papel cada vez
de controle, principalmente contra os carrapatos de dois e três
maior no controle de carrapatos de um hospedeiro.
hospedeiros, que passam longos períodos fora do hospedeiro. Os
métodos tradicionais como a queima dos pastos ainda são usa-
CONTROLE DE CARRAPATOS DE DOIS dos, em geral durante um período seco antes das chuvas, quando
E TRÊS HOSPEDEIROS os carrapatos são inativos. Esta técnica é ainda muito útil em
condições de criação extensiva e, desde que seja empregada de-
o controle dos carrapatos de dois e três hospedeiros predomi- pois da queda das sementes das gramíneas, a regeneração ocor-
nantes na África e na América do Norte é adaptado ao período rerá rapidamente após o início das chuvas. O culti vo do solo e,
parasitário necessário para que o estágio de fêmea adulta se tor- em algumas regiões, a melhora na drenagem ajudam a reduzir a
ne totalmente ingurgitado, o que varia de 4 a 10 dias, conforme prevalência de populações de carrapatos e podem ser usados onde
a espécie. Se um animal for tratado com um acaricida que tenha predominam sistemas de agricultura mais intensivos. O "rodízio"
um efeito de, digamos, três dias, levará pelo menos sete dias antes de pastos em que os animais são removidos dos pastos durante
que alguma fêmea completamente ingurgitada reapareça depoi s certo período é utilizado em regiões extensivas ou semi-extensi-
do banho de imersão (i.e., três dias de efeito residual mais um vas, mas freqüentemente têm a desvantagem dos carrapatos ain-
núnimo de quatro dias para a ingurgitação). Os banhos semanais da poderem obter sangue de uma ampla variedade de outros hos-
durante a estação dos carrapatos devem, então, destruir as fêmeas pedeiros.
adultas antes que se ingurgitem, exceto nos casos de desafio muito Outros sistemas de controle incluem a seleção de bovinos com
intenso, quando o intervalo entre os banhos deve ser reduzido alta resistência natural a infestações por carrapatos. A resistên-
para quatro ou cinco dias. Os intervalos entre os banhos de imer- cia deste tipo parece ser um caráter hered1tári o, sendo alta nas
são desta última freqüência também são necessários para os bo- raças zebuínas (Bos indicus) e baixa nas raças européias (80S
vi nos infestados por R. appendiculatus nas regiões onde a Febre taurus). O potencial das raças zebuínas resistentes, provavelmen-
da Costa Oriental é endêmica, para que os carrapatos sejam des- te cruzadas com bovinos europeus, está sendo investi gado como
truídos antes que os esporozoítos de T. parva tenham tempo para um método para reduzir populações de carrapatos e as doenças
se desenvol ver até o estágio infectante nas glândulas salivares transmitidas por eles.
do carrapato. Outra abordagem é o desenvolvime nto de vaci nas contra car-
Teoricamente, os banhos.de imersão semanais também devem rapatos . Tem-se obtido um relati vo sucesso contra o carrapato
controlar as larvas e ninfas, mas em di versas áreas as infestações de bovi nos Boophilus microplus. Foi isolado um antígeno alta-
máximas de larvas e ninfas ocorrem em estações diferentes às mente purificado, e a vacinação de bovinos com pequenas doses
das fêmeas adultas e a duração do período de banhos deve ser desta proteína glicosilada de carrapato tem reduzido em até 90%
prolongada. Como muitos dos carrapatos de dois ou três hospe- a capacidade reprodutiva dos carrapatos que se nutrem em ani -
deiros ocorrem em partes menos acessíveis do corpo, como o mais vacinados. Para produzir quantidades sufici entes para va-
ânus, a vul va, a virilha, o escroto, o úbere e a orelha, é preciso cinação, o gene que codifica o antígeno protéico foi clonado em
garantir a apli cação adequada do acaricida. microrganismos, como o fungo Aspergillus nidulans.
164 Parasifologia Veterinária

Embora estes carrapatos espinhosos ocorram principalmente nas


Fallu1ia ARGASIDAE orelhas de cães, também podem infectar muitos outros hospedei·
ros, incluindo o homem. Como os ovos são postos em fendas nas
Não existe escud o nestes carrapatos moles e as peças bucai s não
paredes e cachos, são um problema principalmente em anim ais
são visíveis pela face dorsal (Fig. 136). Não se dilatam tanto à
estabulados. Apenas as larvas e as ninfas são parasi tas, perma-
ingurgitação como os carrapatos duros, pois as fêmeas se nutrem
necendo no mesmo hospedeiro durante vários meses, nos quais
moderada e freqüentemente. O acasalamento dá-se fora do hos-
causam grave inflamação e um exsudato ceru minoso nos canais
pedeiro, e os ovos são postos em lotes. Estes calTapatos, ao con-
auditivos e, nas infestações maciças, anem ia e perda de higidez..
trário dos ixodídeos, são resistentes à seca e capazes de viver por
vários anos. Há três gêneros de importância veterinári a.

Argas (o carrapato das al'es)


Estes carrapatos moles ou carrapatos do chão vivem em solo
A espécie comu m, Argas persicus, tem distribuição cosmopolita, arenosos, em habitações rú sticas ou em áreas sombreadas em
especialmente em aves domésticas nos trópicos; foi registrado na vo lta das árvores. O Ornithodoros moubala e o o. savignyi ocor-
Grã-Bretanha apenas em algumas ocasiões. O ciclo evolutivo en- rem na África e no Oriente Médio, e o primeiro, pelo menos, é
volve um estágio larval e no oúnimo dois ninfais antes do adulto. um reservatório do vírus da febre suína africana e do espiroque-
Estes diversos estágios vivem em fendas e frestas do aviário, apro- tídeo que causa a febre recidivante no homem. Apenas as ninfas
ximando-se das aves para sugar sangue apenas à noite cerca de uma e os adu ltos são parasitas e podem ser responsáveis por conside-
vez por mês. Os estágios adultos vivem durante vários anos, mes- rável irritação no homem e nos animais, podendo as infestações
mo na ausência de hospedeiros adequados. Estes carrapatos cau- maciças provocar mortalidade de animais por perda de sangue.
sam insônia, queda de produtividade e anemia, que pode ser fatal. Em face da sua locali zação sob a superfície de areia e dos curtos
Transmitem Borrelia Qnserina, a causa de espiroquetose aviária, e períodos no hospedeiro, o tratamento e o controle podem ser
Aegyptianella pullorum, uma infecção por riquétsia. difíceis. Uma outra espécie, O. turicata, também ocorre nos Es-
Outra espécie, A. reflexus, é um parasita comum de pombos. tados Unidos e é apontada como um vetar de febre Q no homem
e em animais e também como causa de paralisia do carrapato.
As três importantes caractelÍsticas epidemiológicas dos carrapa-
Otohius tos moles são, em primeiro lugar. o fato da ingurgitação se comple-
tarrapidamente, pennitindo-lhes, pOltanto, tirar vantagem da presença
O Otobius megnini, o carrapato espinhoso da orelha, é encontra- rara de hospedeiros adequados; em segundo lugar, a grande capaci-
do na América do Norte e do Sul, na Índia e no sul da África. dade destes carrapatos moles de sobreviverem condições áridas; em
terceiro lugar, a freqüente atividade nuu'itiva dos vários estágios ofe-
rece muitas oportunidades para a transmissão de patógenos.

CONTROLE DE ARGASíDEOS

Os argasídeos que existem em aviários ou em abrigos ou cerca-


dos animais podem ser co ntrolados por aplicação de um acarici-
da ao seu ambiente, juntamente com O tratamento da população
no hospedeiro. Todos os vãos e frestas nas construções acometi-
das devem ser pulverizados e as caixas de ninhos e poleiros nos
av iários também devem ser pincelados com acaricidas. Ao mes-
mo tempo em que as instalações são tratadas, as aves devem ser
polvilhadas com um acaricida apropriado ou, no caso de animais
de parle maior, pulverizados ou banhados. O tratamento deve ser
repetido em intervalos mensais.
No caso do carrapato da orelha Otobius, que passa longo tem-
po no hospedeiro, pode-se obter conu'ole pelo uso tópico de cre-
mes acaricidas junto com o tratamento das instalações.
Para os calTapatos do chão, freqüentemente se recomenda o
uso de blocos de dióxido de carbono sólido para estimulá-los a
deixar seus esconderijos em busca da superfície do solo, onde
ficam expostos a acaricidas, mas em geral é impraticável. A in-
trodução de ivermectina, que tem um efeito residual contra
Ornithodoros, constitui um método de controle muito promis-
sor em animais domésticos.

OS ÁCAROS
Este grupo de acarinos inclui form as tanto parasitárias como de
Fig. 136 Aspecto ventral do carrapato mole Argas; as peças bucais não são visí-
vida livre, algumas das últimas espécies sendo de interesse vete-
veis pela face dorsal. rinário como parasitas ocasionais e como hospedeiros interme-
Entomologia Veterinária 165

diários de cestóides anoplocefalídeos, incluindo Anoplocepha- Os ácaros poss uem uma taxonomia complexa, incluindo-se
la, Morúezt"a e Stilesia. em pelos menos oito famílias diferentes, se ndo mais vantajoso
Os ácaros parasitas são pequenos, a maioria tendo menos de para os veterinários considerá-los de acordo com a sua localiza-
0,5 mm de comprimento, apesar de algumas espécies hematófa- ção no hospedeiro como ácaros escavadores e não-escavadores.
gas poderem atingir vários milímetros quando totalmente ingur-
gi tadas. Com poucas exceções, ficam em proJongado contata com ÁCAROS ESCAVADORES
a pele do hospedeiro, causando várias formas da condição geral-
mente conhecida como sarna. Com uma exceção, o Demodex, a ser considerado mais tarde, os
Embora, como os carrapatos, os ácaro s sejam parasitas obri- três importantes gêneros escavadores, Sarcoptes, NOloedres e
gatórios, diferem de les no imp0l1ante aspecto de que a maioria Knemidocoptes, pertencem a uma ún ica família, a Sarcoptidae,
das espécies passa todo o ciclo evoluti,yo,.--de. ovo a àdulto, no e têm muito em comum.
liospedelro, sendo a transnllssão,-.Qorta.!1to, prjnc~a l mel)te por Morfologicamente, apresentam uma semelhança geral, com
- cbnlatõ:- Mais ad iante também será visto que, ao contrário dos corpos circulares e patas muito curtas que se projetam escassa-
ê árrapatos, uma vez instalada a infecção, podem formar-se po- mente além da margem do corpo. Suas características gerais são
pulações patagênicas num animal sem outras aqui sições. resumid as na Fig. 137.

(e)
(a)

Fig. 137 (a) Aspecto dorsal de Sarcoptes scabiei exibindo estrias


transversais e espinhos triangulares; (b) aspecto dorsal de Notoe-
dres catimoslrando estrias concêntricas; (c) aspecto dorsal d9 ácaro
(b) de aves domésticas Knemidocoptes.
166 Parasito/agia Veterinária

Nos casos negligenciados por alguns meses, toda a superfí·


Família SARCOPTIDAE cie da pele pode ser envolvida, e os cães se tornam progressiva-
mente debilitados e magros; um forte odor ácido é uma notável
Sarcoptes caracteristica desta forma de sarna.
Os aspectos diagnósticos úteis da sarna sarcóptica canina são:
A única espécie deste ácaro ocorre numa ampla variedade de
mamíferos, mas por adaptação biológica desenvolveram-se "li- (1) As bordas das orelhas freqüentemente são acometidas em
nhagens" altamente hospedeiro-específicas. Assim, o Sarcoptes primeiro lugar, e à fricção rapidamente é produzido um re-
é ~em conhecido em medicina humana e em veterinária como flexo de arranhar.
causa de sarna referida geralmente como escabiose. (2) Há sempre intensa coceira, e assim, em casos de dermati-
te sem coceira, pode-se eliminar a sarna sarcóptica como uma
Hospedeiros: possibilidade.
Todos os mamíferos domésticos e o homem. (3) É uma condição altamente contagiosa, e raramente se
observam casos únicos em grupos de cães mantidos em Ín-
Espécie: timo contato.
Sarcoptes scabiei. A confirmação do diagnóstico é por exame de raspados de pele
para a presença de ácaros. Entretanto, como às vezes é difícil
Distribuição: demonstrá-los, um achado negativo não deve descartar um di-
Mundial. agnóstico presumível de sarna e o início do tratamento.
Tendo como base a localização protegida dos parasitas, a
MORFOLOGIA duração do ciclo evoluti vo e a necessidade de destruir todos os
ácaros, os cães devem ser banhados semanalmente com uma
o Sarcoptes tem o contorno arredondado e até 0,4 mm de diâ- preparação acaricida durante quatro semanas, ou mais se neces-
metro, com patas curtas que, como as de Notoedres, se projetam sário, até que as lesões tenham desaparecido. Os acaricidas efi-
escassamente além da margem do corpo. Seus aspectos identifi- cazes incluem os organoclorados gama-HCH e bromociclen e os
cadores mais importantes são as numerosas estrias transversais organofosforados como o fosmet, mas a disponibilidade de al-
e escamas triangulares no dorso, características estas não apre- guns destes compostos é limitada em alguns países. Muitas pre-
sentadas por nenhum outro ácaro da sarna de mamíferos domés- parações são combinadas com um surfactante que ajuda no con-
ticos. tato com os ácaros, removendo escamas cutâneas e amolecendo
crostas e outros resíduos.
CICLO EVOLUTIVO Por ser uma sarna altamente contagiosa, os cães acometidos
devem ser isolados, e deve-se explicar aos proprietários que a
A fêmea fertilizada produz uma galeria ou túnel sinuoso nas ca- cura não será rápida. Para assegurar um surto controlado, todos
madas superiores da epiderme, nutrindo-se do líquido que flui os cães do local devem ser tratados se possível.
dos tecidos lesados. Os ovos são postos nesses túneis, eclodem Nos cães gravemente estressados, os corticosteróides orais ou
em 3 a 5 dias e as larvas de seis patas arrastam-se pela superfície parenterais são úteis para aliviar o prurido, evitando, assim, es-
da pele. Essas larvas, por sua vez, escavam as camadas superfi- coriações posteriores.
ciais da pele e criam pequenas "bolsas de muda" nas quais se
completam as mudas para ninfa e adulto. O macho adulto emer- SARNA SARCÓPTICA DE GA TOS
ge, então, e procura uma fêmea na superfície cutânea ou numa
bolsa de muda. Após a fertilização, as fêmeas produzem novos
A sarna sarcóptica é rara em gatos. Nos poucos casos registra-
túneis, de novo ou por prolongamento da bolsa de muda. O ciclo
dos, as alterações eram semelhantes às da infestação por Notoe·
evolutivo inteiro completa-se em 17 a 21 dias.
dres, com queda progressiva dos pêlos das orelhas, da face e do
Novos hospedeiros são infectados porcontato, provavelmente
pescoço, estendendo-se ao abdome. O tratamento é como para
por larvas que comumente estão presentes na superfície cutânea.
Notoedres .
SARNA SARCÓPTlCA DE CÃES
SARNA SARCÓPTlCA DE SUíNOS
Os locais de preferência dos ácaros são certas áreas como orelhas,
focinho, face e cotovelos, mas, como em outras sarnas, as infestações As orelhas constituem o local mais comum, usualmente sendo o
graves podem estender-se por todo o corpo (Prancha XI). foco primário do qual a população de ácaros se dissemina para
Visualmente, a condi ção começa como eritema, com forma- outras regiões do corpo (Prancha XI). especialmente dorso, flan-
ção de pápulas, o que é seguido por formação de escamas e cros- cos e abdome. Muitos animais abrigam infecções inaparentes
tas e de alopecia. Uma característica desta forma de sarna é um durante toda a vida, e o principal modo de transmissão parece
intenso prurido, que freqüentemente resulta em trauma autopro- ser entre porcas portadoras e seus filhotes durante o aleitamen-
duzido. to. Podem aparecer sinais na face e nas orelhas dentro de três
Após uma infecção primária, os cães começam a se arranhar semanas após o nascimento, estendendo-se mais tarde para ou-
dentro de uma semana, muitas vezes antes que as lesões sej am tras áreas. Pode ocorrer também transmissão durante a mon ta
visíveis. Por analogia com a infestação em suínos e no homem, especialmente de um cachaço infectado para marrãs.
parece provável que o grau de prurido seja exacerbado pelo de- Os suínos afetados arranham-se continuamente e podem per-
senvolvimento de hiperse nsibilidade cutânea a alérgenos dos der a higidez. As primeiras lesões aparecem sob a forma de pe-
ácaros. quenas pápulas vermelhas ou vergões e eritema geral ao redor
Entomologia Veterinária 167

dos olhos, em volta do foci nho, na superfície côncava das ore- num intervalo de 14 dias também é eficaz. Nem a ivermectina
lhas ex ternas, nas axilas e na parte anterior dos j alTetes onde a nem o fosmet são liberados para uso em animais lactantes cujo
pele é flna .. As arranhaduras resultam em escori ação destas áreas leite é utili zado para consumo humano. A amidina amitraz é efi-
afetadas e na formação de crostas acastanhadas na pele lesada. caz contra sarna sarcóptica em bovinos e tem períodos de carên-
Subseqüentemente, a pele fica enrugada, coberta com lesões cros- cia de 24 e 48 horas, respectivamente, para carne e leite.
tosas e espessada.
Para confirmar o di agnóstico, a fonte mais segura de materi al SARNA SARCÓPTlCA DE OVINOS
para exame é o cerume da orelha.
Um esquema de controle com um é tratar a porca, o principal A sarna sarcóptica tem ampla distribu ição geográfica em muitas
reservatório de infecção, antes de sua entrada na baia de parição. regiões de ovi nocul tura do mundo, como o Oriente Médio. Na
Esta conduta, evidentemente, é muito mais vantajosa que tratar África, ocorre nas raças locais de ovinos lanados e, em virtude
an imais parcialmente desenvol vidos. As experiências demons- do estrago no couro, tem consideráve l importância econômica,
tram que os benefíci os de tal esquema aparecem na época da sendo exportadas anualmente mais de um milhão de peles ovi-
engo rda, com os leitões de porcas tratadas apresentando melho- nas da região.
res índices de crescimento e período de acabamento mais curto Na Grã-Bretanha, não se tem registrado sarna sarcóptica em
que os leitões de porcas não tratadas. Os cachaças também devem ovinos há mais de 30 anos.
ser tratados rotineiramente em in tervalos de seis meses. O ácaro, ao contrário do gênero não-escavador Psoroptes,
No [[atamento dos suínos acometidos, o acaricida pode ser prefere regiões sem lã, como face, orel has, ax ilas e virilha, e tem
aplicado semanalmente, por banho ou pul verização, até a regres- lenta di sseminação. As áreas aco metidas primeiramente ficam
são dos sinais. As preparações eficazes que têm sido utili zadas eri tematosas e escamosas. Está presente o prurido intenso carac-
incluem amitraz, triclorfon e bromociclen. Produtos mais moder- terístico de sarna sarcóptica, e os ovinos arranham e esfregam a
nos e mais conveni entes com melhor efeito residu al são o orga- cabeça, o corpo e os membros contra árvores, mourões e pare-
nofosforado sistêmico pour-on fos met e a jvermectina injetável. des. Por causa da coceira, os ov inos estão quase continuamente
Recomenda-se a aplicação do fosmet no dorso da porca 3 a 7 dias inquietos e são incapazes de pastar, havendo, então, emagreci-
antes do parto, uma pequena parte da dose sendo instilada nas mento progressivo. Nos ovinos lanados, todo o corpo pode ser
orelhas. Alternativamente, pode-se administrar a ivermectina na afetado.
dose de 300 fLg/kg. O tratamento e o controle são semelhantes aos descri tos mais
adiante para a sarna psorótica de ovinos, que é mais comum.
SARNA SARCÓPTlCA DE BOVINOS
SARNA SARCÓPTICA DE CAPRINOS
A sarna sarcópti ca é potencialmente a mais grave das sarn as dos
bovinos, embora muitos casos sejam discretos. Entretanto, vem
'Esta forma de sarna em caprinos tem distribuição mundial, mas
sendo cada vez mais diagnosti cada na Grã-Bretanh a, e deve.,se
é de máxima importância eco nômica nas regiões onde o caprino
ressaltar o fato altamente relevante de que em algumas regiões,
é o rumin ante doméstico básico, como a Índia e a África Oci-
incluindo o Canadá e os Estados Unidos, a doença é notificável,
dental.
não se permitindo a entrada de bovinos portadores de Sarcoptes,
Nos caprinos, a condição é freqüentemente crônica e pode ter
clinicamente acometidos ou não.
estado presente simplesmente co mo "doença de pele" por mui-
O ácaro tem preferências parciais por locais, o que lhe confe-
tos meses ant~s de ser feito um diagnóstico definitivo. Como em
re, nos Estados Unidos, a denominação comum de "sarna do
outras infestações sarcópticas, os principais sinais são irritação
pescoço e da caud a" (Prancha XI), mas pode ocorrer em qual-
com fonnação de crostas, queda de pêlos e escori ações por fri c-
quer parte do corpo.
ção e aITanh aduras. Nos casos de longa duração, a pele fica es-
As infecções discretas ex ibem simples mente pele escamosa
pessada e podem dese nvo lver-se nódu los nas áreas cutâneas
com pouca queda de pêlos, mas nos casos graves a pele torn a-se
espessada, há queda acentuada de pêlos e formam-se crostas nas menos pilosas, incl uindo o foci nho, a periferi a dos ol hos e a face
partes menos pilosas do corpo, como o escudo das vacas. Como interna das orelhas.
em todas as sarnas sarcópticas, há Íntenso prurido, que resulta Com freqüê ncia, é necessário o tratamento repetido, às vezes
em queda na produção de carne e leite e na depreciação do cou- por vários meses nos casos de longa duração. O acaricida mais
ro por arranhaduras e fricção. amplamente utilizado é o gama-HCH, e onde este produto não é
Para a co nfirmação do di ag nósti co, os raspados de peje mais viável pode haver problemas para a obtenção de uma dro-
dev e m ser cuidad osa mente examin ados, poi s os bo vinos ga adequada aprovada para uso em caprinos.
estabulados e os que são alimentado s ao ar li vre com freq üên- Apesar de não aprovada para o tratamento de caprinos, cuj o
cia transpo rtam grandes populações de ácaros da forragem leite é para consumo humano, uma única injeção de ivermectina
inócuos bem como Cho rioptes, qu e é menos prejudicial. Uma é extremamente eficaz.
vez encontrado, Sarcoptes, co m seu contorno circular, patas A corticosteroidoterapia é descrita co mo meio auxiliar da re-
curtas e es tri as transversais, é fac ilmente diferenciado de De- cuperação, visto que elimina o prurido.
modex e de outros ácaros de bovinos que têm o corpo oval e
patas faci lmente visíveis. SARNA SARCÓPTICA DE EQÜINOS
Até recentemente, O tratamento dependia em grande parte do
uso repetido de líquidos ou sprays contendo, em geral, gama- Esta sarna atualmente é rara, e na Grã-Bretanh a foram registra-
HCH. Ultimamente, é comum o uso de uma úni ca injeção de dos apenas dois casos desde 1948. Em ambos os casos, havia uma
ivermectina com bons resultados. Alternativamente, a aplicação forte evidência de que a infecção fora adquirida de outras espé-
de um organofosforado pour-on, como o fosmet, em duas vezes cies domésticas.
168 Parasitologia Veterinária

SARNA SARCÓPTlCA DO HOMEM lhão auricular e em seguida se disseminam rapidamente pelas ore-
lhas, face, pálpebras e pescoço. Pode difundir-se para as patas e a
Apesar de terem sua própria "linhagem" de Sarcoptes, as pesso- cauda por contato quando o gato se limpa e donne.
as facilmente são infectadas por animais domésticos. A maior
parte dos casos de escabiose de origem animal é proveniente de DIAGNÓSTICO
cães, mas ocorrem também surtos em criadores intimamente
envolvidos com bovinos ou suínos. Baseia-se no hospedeiro envolvido, no intenso prurido, na locali-
As áreas mais freqüentemente afetadas são as que ficam em zação das lesões e na rápida disseminação atingindo todos os
contato direto com os animais, incluindo palmas das mãos, pu- filhotes da mesma ninhada. A confirmação é pelo achado dos
nhos, braços e peito. ácaros em raspados de pele, o que é conseguido mais facilmente
A escabiose primária de origem animal é muito menos grave que na sarna sarcóptica, pois um único "ninho" num raspado
no homem que a infecção pela linhagem humana, porque os áca- revela muitos ácaros.
ros não penetram na pele e não se multiplicam. A condição ma-
nifesta-se como uma erupção papular, avermelhada, com pruri- TRATAMENTO
do, que desaparece em poucas semanas. Nas pessoas repetida-
mente expostas aos animais infectados, dentro de algumas horas As crostas cutâneas devem primeiramente ser amolecidas com
de cantata com o animal pode aparecer um estado de hipersensi- parafina líquida ou solução de sabão antes da aplicação de um aca-
bilidade, caracterizado por um vergão transitório. ricida. Recomenda-se especificamente uma solução de sulfeto de
Uma vez que os animais acometidos sejam tratados com su- selênio a I % para uso em gatos, pois certos compostos como os
cesso, não ocorrem mais casos humanos. organoclorados podem ser tóxicos para gatos. O tratamento deve
ser efetuado em intervalos semanais durante quatro a seis semanas
e o prognóstico é bom. Embora ainda não aprovada para o trata-
Notoedres mento de gatos, a ivennectina é eficaz contra Notoedres.

Este gênero apresenta comportamento e patogenia algo semelhantes


a Sar.c9ptes, mas tem uma variedade de hospedeiros mais restrita. Knemidocoptes (sin. Cnemidocoptes)
Hospedeiros: É o único gênero escavador de aves domésticas, sendo semelhante
Gato; é ocasionalmente observado como parasita temporário no ao Sarcoptes em muitos aspectos.
cão e uma variedade ou linhagem pode causar grave sarna da face
e da cabeça em coelhos. Hospedeiros:
Aves domésticas e aves ornamentais.
Espécie:
Notoedres cati. Distribuição:
Mundial.
Distribuição:
Mundial. Espécies:
As condições causadas pelas várias espécies adquiriram nomes
MORFOLOGIA comuns descritivos:
Knemidocoptes aves domésticas "perna escamosa"
Notoedres é muito semelhante a Sarcoptes, tendo contorno cir- mutans
cular e patas curtas, mas distingue-se por suas estrias concêntri- K. gallinae aves domésticas "sarna desplumante"
cas de "impressões digitais" e ausência de espinhos (Fig. 137). K. pilae aves ornamentais "face escamosa"
"pata com borla".
CICLO EVOLUTIVO
MORFOLOGIA
Semelhante ao de Sarcoptes, exceto que as fêmeas na derme não
ocorrem isoladamente, mas são encontradas em aglomerações O corpo circular, as patas curtas e grossas e o hospedeiro aviário
conhecidas como "ninhos". são suficientes para diagnóstico genérico (Fig. 137).

EPIDEMIOLOGIA E PATOGENIA CICLO EVOLUTIVO

A sarna notoédrica é altamente contagiosa, mas, apesar de ocor- Semelhante ao Sarcoptes, as fêmeas fertilizadas escavando a
rer em surtos locais e limitados, não é uma causa freqüente de derme e pondo ovos em túneis.
doença cutânea em gatos. Na Grã-Bretanha, por exemplo, hoje
raramente se observa a doença. EPIDEMIOLOGIA E SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA
A infecção manifesta-se como lesões escamosas, secas, com cros-
tas nas bordas das orelhas e na face e pele espessada e algo coriácea. Nas aves domésticas, K. mutans acomete a pele sob as escamas da
O prurido associado é freqüentemente intenso, e pode haver graves pata, fazendo com que se soltem e se elevem, resultando num as-
escoriações na cabeça e no pescoço por arranhaduras. Nos casos tí- pecto áspero dos membros e em dedos usualmente lisos (Fig. 138).
picos, as lesões aparecem primeiramente na borda medial do pavi- Podem ser evidentes claudicação e deformidade das patas e garras.
Ellfomologia Veterinária 169

faces inferiores das asas. Para "perna escamosa", as pernas devem


ser mergulhadas numa solução acaric ida. O tratamento deve ser
repetido várias vezes em intervalos de dez dias. O aviário deve
ser tOlalmente limpo e os poleiros e caixas de ninho pulveriza-
dos com acaricida.
O tratamento das aves de cativeiro é similar, exceto que o
acaricida em geral é aplicado lOpicamente. As gotas otológicas
para cães de base oleosa são úteis, de fácil preparo e simples
aplicação. Recomendam-se algumas gotas de ivermectina a 1%
aplicadas sobre a pele na base da orelha para o tratamento de sarna
em aves ornamentais.

Famüla DEMODIClDAE
(a)

Del1lodex
Os ácaros deste gênero pertencem a uma família separada, a
Demodicidae, e, embora ácaros escavadores, diferem bastante em
forma e comportamento dos sarcoptídeos.

Hospedeiros:
Todos os mamíferos domésticos e o homem.

Distribuição:
Mundial.
(b)
Localização:
Fig. 138 (a) "Perna escamosa", causada por K. mutans; (b) "face escamosa", cau- Folículos pilosos e glândulas sebáceas.
sada por K. pi/ae.

Espécies:
K. gallinae, responsáve l pela "sarna desplumante", faz esca- Com exeeção de D. phylloides de su ínos e D. folliculorum do
vações nas hastes das penas, e a dor e a initação intensas obri- homem , todas as espécies de Demodex são denominadas de
gam a ave a arrancar as penas do corpo. acordo com seus hospedeiros - p. ex., D. canis, D. bovis, D.
K. pilae é observado mais freqüentemente em periquitos aus- equi etc.
tralianos por causa de sua popularidade, mas outros psitacídeos,
como o papagaio, o periquito comum e a cacatua, além dos ten - MORFOLOGIA
tilhões, como o canário, são igualmente suscetíveis. K. Pilae ataca
as áreas nuas e levemente emplumadas, incluindo o bico, a cera, Demodex tem o corpo afilado e alongado, de até 0,2 mm de com-
a cabeça, o pescoço, a parte interna das asas, as pernas e as pa- primento, com quatro pares de patas dilatadas a nteriormente
tas. Os ácaros estão profundos na pele, mas, ao contrário do 5ar- (Fig. 139).
captes, causam pouco prurido. As lesões desenvolvem-se lenta-
mente, durante um período de meses. CICLO EVOLUTIVO
A infecção pode permanecer latente por longo período com
uma pequena população estática de ácaros até ocorrer estresse, As espécies de Demodex vi vem como comensais na pele da
como resfriamento ou transferência para uma gaiola estranha, maiori a dos mamíferos, sendo excepcionais por sua seletivida-
quando aumenta a população. de em relação a determinadas áreas cutâneas, a saber, os folíc u-
Na cabeça, a primeira alteração é uma escamosidade no ân- los pilosos e as glândulas sebáceas.
gulo do bico que se espalha pela face ("face escamosa"), aco- As espécies, em sua maioria, passam todo o ciclo evolutivo
metendo a cera e o tecido córneo do bico (Fig. 138). O bico pode nos folículos ou nas glândulas, nos quais ocorrem em grandes
ser deformado, porque os ácaros escavam a matriz, podendo quantidades numa característica postura de cabeça para baixo.
desenvolver-se bico cruzado. Se a matriz for destruída , não existe No an imal recém-nascido e muito jovem, estes locais têm estru-
perspectiva de recuperação. Quando os membros são afetados, tura simples, porém mais tarde se tornam complexos por protu-
pode desenvolver-se uma forma extrema de perna escamosa, e berâncias. Os ácaros movem-se, então, nos habitats aumentados,
nas aves seriamente atingidas os dedos podem cair. penetrando muito mais profundamente na derme que os sarcop-
tídeos e sendo, portanto, menos acessíveis aos acaricidas de ação
TRATAMENTO superficial.
Esta forma de sama é mais bem documentada no cão, mas a
Para o tratamento de infestação por ácaros em aves domést icas, patogenia e a epidemiologia em outros animais sugerem que suas
os acaricidas mais amplamente utilizados são carbaril ou pire- infestações podem ter muito em comum com a demodicose ca-
tróides sob a f6rma de pó ou spray, com particular atenção às mna.

j
-
170 Parasitolqgia Veterinária

os proprietários, especialmente os criadores de raças com


pedigree, às vezes solicitam o sacrifício.
Urna característica notável de todos os tipos de sarna demo-
décica é a ausência de prurido.
A patogenia de Demodex é mais complexa que a de outros
ácaros de sama, porque os fatores imunológicos parecem desem-

,
penhar grande papel em sua ocorrência e gravidade. Supõe-se que
certas cadelas transportem um fator geneticamente transmitido
que resulta em imunodeficiência em seus filhotes, tornando-os
mais suscetíveis à invasão por ácaros, e observa-se que os filho-
tes de uma cadela deste tipo com freqüência desenvolvem a for-
ma generalizada de sarna demodécica simultaneamente, mesmo
(ai. apesar de terem sido criados separadamente. Além disso, supõe-
se que o próprio Demodex cause uma imunodeficiência media-
da por células que suprime a resposta normal dos linfócitos T;
este defeito desaparece quando os ácaros são erradicados do
animal. A sarna demodécica pode irromper quando os cães re-
cebem imunossupressores por outras condições.

DIAGNÓSTICO
(bl
Fig. 139 (a) Aspecto típico de Oemodexem raspado de pele; (b) Oemodexadulto. Para confirmar o diagnóstico, são necessários raspados profun-
dos para atingir os ácaros no fundo os folículos e glândulas, e a
melhor maneira para se conseguir isto é pegar uma prega cutâ-
SARNA DEMODÉCICA DE CÃES nea, aplicar uma gota de parafina líquida e raspar até aparecer
sangue capilar. Mesmo em cães normais, podem ser encontra-
dos alguns ácaros comensais no material, mas a presença de uma
EPIDEMIOLOGIA alta proporção de larvas e ninfas (Fig. 139) indicará uma popu-
lação rapidamente crescente e, portanto, infecção ativa. A biop-
Provavelmente pela sua localização profunda na derme, é quase sia de pele, para detectar ácaros nos folículos, é usada nos cães
impossível a transmissão de Demodex entre animais, a menos que gravemente afetados, mas raramente é necessária.
haja contato prolongado. No controle da endemicidade da demodicose, deve-se obser-
Na natureza, tal contato ocorre apenas durante o aleitamen- var que, como certas cadelas são mais propensas que outras a ter
to, e se supõe que a maioria das infecções seja adquirida nas pri- filhotes suscetíveis, pode ser aconselhável descartá-las como
meiras semanas de vida, sendo a população comensal da pele reprodutoras.
da cadela transferida para as áreas em contato do cãozinho. Cer-
tamente, é nessas áreas, focinho, face, região periorbital e mem-
TRATAMENTO
bros anteriores, que primeiramente aparecem as lesões (Pran-
cha XII).
Com sua localização profunda na derme, os ácaros não são fa-
cilmente acessíveis a acaricidas de uso tópico, sendo, portanto.
PATOGENIA necessário tratamento repetido, e não devem ser esperados re-
sultados rápidos. Na sarna escamosa localizada, pode-se prever
No início da infecção, há discreta queda de pêlos da face e dos a recuperação em um a dois meses, mas, na forma pustular ge-
membros anteriores, seguida por espessamento da pele, e a sar- neralizada, o prognóstico é que a recuperação leve no mínimo
na pode não avançar além das áreas em contato; muitas dessas três meses, devendo, portanto, ser reservado.
discretas lesões localizadas desaparecem espontaneamente sem Antes de iniciar o tratamento específico, o cão deve ser sub-
tratamento. Por outro lado, as lesões podem disseminar-se por metido a tricotomia, lavado com um xampu anti-seborréico e
todo o corpo, e esta demodicose generalizada pode assumir uma totalmente enxugado. Dos acaricidas viáveis, os mais amplamen-
de duas formas: te utilizados são o amitraz e o organofosforado citioato.
(1) A demodicose escamosa é a menos grave. É uma reação O tratamento com amitraz demonstra ser altamente bem-su-
seca, com pouco eritema mas alopecia difusa, descamação cedido com uma ou mais aplicações em intervalos de 14 dias.
e espessamento da pele. Em alguns casos deste tipo, apenas Quando a lesão é discreta e localizada, pode ser tratada com
a face e as patas estão comprometidas. a aplicação local de acaricida e quando a piodermite é grave pode
(2) A demodicose pustular ou folicular constitui a fonna gra- ser necessário antibioticoterapia.
ve e se segue à invasão bacteriana das lesões, freqüentemente
por estafilococos. A pele torna-se enrugada e espessada com SARNA DEMODÉCICA DE GA TOS
muitas pequenas pústulas, das quais fluem soro, pus e san-
gue, dando a esta forma o nome comum de "sarna verme- A demodicose é rara em gatos. Assume uma forma localizada.
lha" (Prancha XIl); os cães acometidos têm odor desagra- autolimitante, restrita às palpebras e à região periocular e é do
dável. É necessário tratamento prolongado, e os sobreviven- tipo escamoso discreto, com alguma alopecia. Pode ser tratada
tes podem ficar gravemente deformados, de tal modo que pela aplicação local de um acaricida adequado.
EntomoLogia Veterinária 171

SARNA DEMODÉCICA DE BOVINOS quenos ácaros ovais em nódulos caseosos amarelos de vários
milímetros de diâmetro na fáscia muscular subcutânea e em te-
o efeito mais importante da demodicose bovina é a formação de cidos mais profundos nos pulmões, peritônio, músculo e vísceras
muitos nódulos do tamanho de ervilhas, cada um deles contendo abdominais. O ciclo evolutivo é desconhecido.
material caseoso e vários milhares de ácaros, que causam dano ao Os nódulos subcutâneos freqüentemente são calcificados e
couro e perdas econômicas. Embora esses nódulos possam ser vis- contêm apenas ácaros mortos, com os ácaros ativos ocorrendo
tos em animais de pelagem lisa, freqüentemente não são detecta- nos tecidos profundos.
dos nos bovinos de pelagem grosseira até o couro ser tratado. Laminosioptes jamais está associado a sintomatologia clíni-
Em algumas regiões da Austrália, 95% dos couros são dani- ca, sendo descoberto apenas à inspeção da carne, quando as car-
ficados, e levantamentos nos Estados Unidos mostram que um caças infectadas são condenadas, em parte por questões estéti-
quarto dos couros está comprometido. Na Grã-Bretanha, 17% dos cas e em parte porque a infecção tem um aspecto algo semelhan-
couros apresentam nódulos de Dcmodex. te à tuberculose aviária.
Como no cão, a transmissão parece ocorrer durante os primei-
ros dias de aleitamento, sendo os locais comuns o focinho, o ÁCAROS NÃO-ESCAVADORES
pescoço, a cernelha e o dorso.
O controle é raramente efetuado, pois há pouco incentivo para Os ácaros desta categoria têm biologia diversa e, embora classi-
que os criadores tratem seus animais, e o custo dos danos é arcado ficados em muitos grupos diferentes, as três principais famílias
pelo comerciante de couro. Caso se deseje o tratamento, podem ser de importância veterinária são Psoroptidae, Cheyletidae e
tentados organofosforados pour-on ou ivermectina parenteral. Dermanyssidae. Sua característica comum é que não escavam a
derme, mas se nutrem superficialmente. Alguns se nutrem ape-
SARNA DEMODÉCICA DE OVINOS nas de escamas cutâneas, mas alguns também sugam líquido
tissular da pele e vários são hematófagos. Em seu comportamento,
Esta forma de sarna é rara em ovinos e tem pouca impOliância eles incluem espécies que vivem pennanentemente na superfí-
económica, restringindo-se à região da face e sendo de natureza cie da pele, espécies que vivem principalmente nos pêlos ou na
discreta. pele e alguns gêneros que, como os carrapatos, visitam o hospe-
deiro apenas para se alimentar. Outros passam a fase adulta como
SARNA DEMODÉCICA DE CAPRINOS acarinos de vida livre, mas devem alimentar-se em animais na
sua fase larval. Os principais aspectos diagnósticos das espécies
A demodicose de caprinos tem distribuição mundial e, embora importantes estão indicados na Fig. 140.
antigamente de máxima importância nas regiões quentes, está
sendo cada vez mais diagnosticada na Europa.
A doença é semelhante à dos bovinos. As lesões iniciais na Família PSOROPTIDAE
face e no pescoço estendem-se pelo tórax e flancos, podendo
eventualmente envolver todo o corpo, com a formação de nódu- Psoroptes
los cutâneos de até 2 cm de diâmetro contendo substância caseosa
amarelada com grandes quantidades de ácaros. Hospedeiros:
Esta forma de sarna é raramente debilitante e é da máxima Ovinos, bovinos, eqüinos.
importância como causa de depreciação ou condenação de cou-
ros caprinos. Quando se tenta o tratamento, podem ser utiliza- Espécies:
dos organofosforados pour-on ou ivermectina parenteral. Psoroptes ovis ovinos e bovinos
P. equi eqüinos
SARNA DEMODÉCICA DE SUíNOS P. cuniculi eqüinos e coelhos.

Esta sarna é rara em suínos, embora se observem incidências Distribuição:


esporádicas de até 5% em regiões européias orientais. Em geral, Mundial.
restringe-se à cabeça, onde há formação de pústulas e espessa-
mento da pele. MORFOLOGIA
SARNA DEMODÉCICA DE EQÜINOS Psoroples é um ácaro não-escavador típico, de até 0,75 mm, de
fOlmato oval e com todas as patas projetando-se além da margem
A sarna demodécica é rara no eqüino, mas pode ocorrer sob a do corpo. Suas características de identificação mais importantes são
fOnTIa escamosa ou pustular, acometendo inicialmente o focinho, as peças bucais pontiagudas, os tubérculos abdominais arredonda-
a fronte e a área periocular. dos do macho e os pedicelos triarticulados apresentando ventosas
afuniladas na maioria das patas (Figs. 140 e 14l)~

Fann1ia LAMINOSIOPTIDAE ~' ,: , ' CICLO EVOLUTIVO

Laminosioptes Em geral, típico dos ácaros não-escavadores. A fêmea põe cerca


de 90 ovos durante a sua vida de quatro a seis semanas, e o de-
Laminosioptes cysticola ocorre em aves domésticas e pombos na senvolvimento desde o ovo, passando pelos estágios larval e nin-
maior parte do mundo. São encontradas agregações destes pe- fal até o adulto, leva aproximadamente dez dias. A maior pato-
...
172 Parasito/agia Veterinária

(a)

(b)

(e) (d)

Fig. 140 (a) Aspecto ventral de ácaro Psoroptes fêmea; (b) aspecto ventral de ácaro Chorioptes fêmea; (c) aspecto ventral de O/adecles cynotis fêmea; (d) aspecto
dorsal de Cheyletielfa fêmea.

genicidade deste ácaro é atribuída ao fato de que, ao contrário Apesar de ser um ácaro não-escavador, Psoroptes é muito
da maioria dos ácaros não-escavadores, possui peças bucais per- ativo na camada de queratina e provoca lesão direta na pele. A
furantes e mastigadoras que podem lesar gravemente a pele. primeira fase de infecção ocorre como uma zona de i.nflamação
com pequenas vesículas e exsudato seroso, mas conforme a le-
SARNA PSORÓPTICA DE OVINOS são se difunde o centro se torna seco e coberto por uma crosta
(SARNA OVINA) amarela, enquanto as bordas, nas quais os ácaros estão-se multi-
plicando, são úmidas (Prancha XII). O primeiro sinal visível é
geralmente um trecho de lã mais clara, mas, conforme a área de
EPIDEMIOLOGIA E PATOGENIA lesão aumenta, o ovino reage à intensa coceira associada à ativi-
dade dos ácaros esfregando-se e se arranhando contra mourões
A distribuição de ácaros nos animais varia de acordo com a esta- de cerca e outros objetos, de modo que a lã fica desigual e man-
ção, ficando a infecção em estado quiescente nos locais reserva- chada e se desprende de grandes áreas (Fig. 141).
tórios, como axila, virilha, fossa infra-orbitária e superfície in- Além da perda de lã, os ovinos também ficam tão inquietos e
terna dos pavilhões auriculares e canal auditivo durante a prima- preocupados em se coçar que quase param de comer, e nos an i-
vera e espalhando-se rapidamente pelo resto do corpo nos me- mais em crescimento os ganhos de peso podem ser suprimidos.
ses mais frios , quando o velo fica espesso. enquanto nos adultos pode haver perda de peso. Nas infestações
Entomologia Velerinária 173

Psoroptes Chorioptes Como ácaro não-escavador, Psoroptes geralmente tem um


Ventosa afunilada Ventosa em contorno oval, com todas as patas projetando-se aJém da mar-
forma de taça
gem do corpo. Um outro ácaro não-escavador, Chorioptes, pode
ser comum em ovinos, e é fundamental diferenciar este ácaro
/~
relativamente inofensivo do Psoroptes patogênico. Os aspectos
Pedicelo
curto e não· diferenciais importantes são apresentados na Fig. 141.
articulado

TRATAMENTO E CONTROLE

Em virtude do seu curto período de mudança populacional de dez


dias, .há uma disseminação muito rápida, e é esta peculiaridade
que motivou o controle legislativo em muitos países, pois as
conseqüências econômicas da sarna ovina não controlada são
sérias. A doença foi considerada erradicada do Reino Unido em
1952, não havendo notificações de surtos por vários anos; rea-
pareceu em 1973, muito provavelmente tendo sido introduzida
sob a fase quiescente em ovinos importados. Foi erradicada da
Austrália e da Nova Zelândia há muitos anos, mas permanece
notificável nestes países. A legislação de apoio ao controle ba-
seia-se na inspeção de rebanhos, na limitação da movimentação
de ovinos em (e a partir de) áreas em que foi diagnosticada a
infestação e em banhos de imersão compulsórios de todos os
ovinos em épocas prescritas. Embora a legislação incluindo ba-
nho de imersão compulsório tenha vigorado na Grã-Bretanha
durante 20 anos, a doença não é mais notificável; esta situação,
entretanto, pode mudar.
Apesar de terem sido testados vários métodos de aplicação de
acaricidas, como o chuveiro, geralmente se recomenda banho de
imersão para controle da sarna ovina. Os ovinos devem perma-
necer no banho durante no mínimo um minuto e a cabeça deve
ser imergida pelo menos duas vezes. Devem ser mantidos em
cercados limpos antes do banho, e é costume mantê-los em cur-
rais de drenagem depois, por celi0 tempo, para conservar a cal-
da do banho e auxiliar sua eliminação adequada. Foram desen-
volvidos modernos acaricidas que têm afinidade pela gordura da
lã, de modo que, à medida que uma série de ovinos atravessa o
(b)
banheiro, o acaricida é "removido" gradativamente, e os fabri -
Fig. 141 (a) Aspectos diferenciais de Psoroptes e Chorioptes; (b) prurido e queda cantes fornecem instruções para reabastecimento após o banho
de lã característicos de sarna ovina.
de determinado número de ovinos. Recomenda-se, geralmente,
que a mistura para o reabastecimento tenha uma concentração
de acaricida pelo menos 1,5 vezes maior que a original, para re-
muito graves, os animais podem mesmo sucumbir, estando tão por a perda seletiva.
debilitados que não podem competir por alimentos no inverno. Na maioria dos países em que existe controle, apenas acarici-
Embora a maioria dos ovinos se infecte enquanto os ácaros das específicos são permitidos para uso em banhos de imersão.
estão ativos e se multiplicando, a fase quiescente também é muito Durante muitos anos, foi usado apenas gama-BHC, agora desig-
importante na epidemiologia da doença, pois ovinos aparente- nado gama-HCH (hexac1orocic1oexano), hoje amplamente subs-
mente nonnais transportando tal fase em reservatórios podem ser tituído pelos organofosforados diazinon e propetanfós que, além
introduzidos em rebanhos sadios durante o verão e o outono e de conferir a persistência requerida no velo, são rapidamente
iniciar surtos quando chega a estação fria. Há um risco de infec- detoxificados e excretados dos tecidos. O piretróide sintético
ção a curto prazo a partir de cercados e instalações, mas fora do flumetrina também está liberado para o controle da sarna ovina
hospedeiro a maior parte dos ácaros morre dentro de uma sema- no Reino Unido.
na, podendo-se considerar as instalações livres de infestação três Dois tratamentos com ivermectina injetável num intervalo de
semanas depois da remoção dos ovinos. sete dias têm resultado em eliminação completa de Psoroptes
ovis, estando agora liberados para este fim em muitos países.
DIAGNÓSTICO
SARNA PSORÓPTlCA DE GRANDES ANIMAIS
o diagnóstico inicial baseia-se na estação de ocorrência e nos si-
nais de lã úmida e descolorida, debilidade e intenso prurido, com A sarna psoróptica bovina tem importância cada vez maior nos
um reflexo de mordiscar sendo rapidamente produzido. A confu- Estados Unidos e regiões da Europa, atribuível principalmente a
mação do diagnóstico é feita por identificação dos ácaros. O mate- métodos de manejo mais intensivos.
rial deve ser raspado da borda de uma lesão, colocado em hidróxi- O principal efeito é um prurido causado pela atividade
do de potássio morno a 10% e examinado ao microscópio. mastigadora e sugadora dos ácaros, que resulta na formação
174 Parasilologia Veterillária

de vesículas, com o exsudato ressecando na pele e fo rm ando Espécie:


uma crosta. Os bovinos ficam extremame nte inquietos, e nos Embora tenham sido dados nomes específicos a Chorioptes en-
Estados Un idos observa-se que o consumo de alimentos dos contrados em bovinos, ovinos e eqüinos (C. bovis, C. ovis, C.
animais infectados pode cair 20%, de tal modo que podem ser equi), atualmente todos são considerados como pertencentes a
necessários três meses de ali mentação adicional para que atin- uma única espécie, C. bovis.
jam o peso requerido. Na A lemanha, têm ocorrido extrema
debilidade e algumas mortes em an imais com menos de um ano MORFOLOGIA
de idade,
As regiões cutâneas mais freqüentemente acometidas em va- Ver ilustrações (Figs. 140 e 141) para comparação com Psorop-
cas são o .abdome, a parte superior da cauda e o escudo e, nos teso As peças bucais são distintamente mais arredondadas, os
touros, o abdome, a parte superior da cauda e o prepúcio. Estes tubérculos abdominais do macho são notavelmente truncados e
locais sugerem que um modo de transmissão comum é quando os pedicelos são curtos e não-articulados, com ventosas em for-
os bovinos montam un s nos outros. ma de taça.
O tratamento é como para a sarna sarcóptica ovina, com o uso
de ivermectina parenteral, organofosforados ou organoclorados.
A ivermectina é a mais eficaz, em bora os animais tratados per- CICLO EVOLUTI VO
maneçam contagiosos durante cinco dias após o tratamento. Os
currais devem ser desinfetados e desocupados durante duas se- Similar ao de Psoroples, exceto que este ácaro se nutre apenas
manas antes de ser utilizados novamente. na superfície cutânea.
Embora a espécie em bovinos seja P. ovis, a probabilidade de
transmissão de infecção destes animais aos ovinos parece ser EPIDEMIOLOGIA, PATOGENIA E TRATAMENTO
pequena, pois na Grã-Bretanha, onde se passaram 20 anos livres
de sarna ovina desde 1952, estavam presentes continu amente Em bovinos, a sarna corióptica ocorre mais freqüentemente em
bovinos infectados. Parece que, como em algumas outras sarnas, animais estabulados, acometendo plincipalmente o pescoço, a parte
a adaptação biológica resultou na restri ção da faixa de hospedei- superior da cauda, o úbere e os membros, e em geral apenas alguns
ros. Expelimentalmente, há transmissão de infecção entre ovi- animais do grupo são clinicamente afetados.É uma condição dis-
nos e bovinos e vice-versa, mas em nenhum deles a "linhagem" creta, e as lesões tendem a permanecer localizadas, com lenta dis-
heteróloga persiste por mais de algumas semanas. seminação. Sua importância é econômica, pois o prurido causado
A sarna psoróptica eqüina causada por P. equi não foi ofici- pelos ácaros resulta em fricção e arranhaduras, com danos ao cou-
almente regi strada na Grã-Bretanha por mui tos anos. Nos Esta- ro. O tratamento é o mesmo da sarna sarcóptica em bovinos.
dos Unidos e na Austrália, o Psoroptú é encontrado associado a Nos ovinos, os ácaros são encontrados principalmente nos mem-
uma síndrome de "balanço da cabeça", em que a infestação das bros, e apesar de muito comuns há pouco dano. Supõe-se que os
orelhas pelo que parece ser uma linhagem eqüina de P. cunicu/i cordeiros se infectem por contato com as pernas das ovelhas. Em
causa irritação aguda, de modo que os animais adotam lima po- alguns casos, podem ser disseminados dos membros para a face e
sição de orelhas pendentes, ressentindo-se à colocação de frei- outras regiões, e em ocasionais casos graves pode ocorrer dennati-
os. Na Austrália, onde o "balanço da cabeça" é relati vamente te pustular, com enrugamento e espessamento da pele.
comum, um levantamento mostra que 20% dos eqüinos abrigam Na Nova Zelândia, observa-se que quando a sarna passa para
P. cuniculi nas orelhas. o escroto a pele inflamada e espessada permite que a temperatu-
As preparações inseticidas aplicadas diariamente durante ra escrotal permaneça alta, resultando em atrofia testicular e pa-
quatro dias e repetidas em dez dias demonstram ser eficazes. rada de espermatogênese. Os reprodutores infectados têm capa-
Nas colônias de coelhos, P. cuniculi também se localiza nas cidade reprodutiva prejudicada ou esterilidade, embora seu es-
orelhas, onde os ácaros usualmente são quiescentes mas ocasio- tado geral não seja afetado. O processo não é irreversível , e a
nalmente se proliferam, causando grave sarna, em que o canal produção de sêmen e a fertilidade voltam ao normal após trata-
auditivo pode ficar completamente bloqueado por resíduos acin- mento bem-sucedido da sarna.
zentados; a infecção pode estender-se pelo resto do corpo, com A sarna corióptica em ovinos é facilmente tratada por banhos
crostas, queda de pêlos e escoriações por arranhaduras. de imersão ou por tratamento local com um acaricida adequado.
O tratamento é como para a sama otodécica de cães e gatos. A sarna corióptica eqüina ocorre como lesões crostosas com
espessamento de pele nas pernas, abaixo do joelho e no jarrete,
sendo mais prevalente nos animais de pernas com pêlos longos
Chorioptes e naqueles com densos tufos de pêlos (Prancha XII). Embora os
ácaros sejam ativos apenas superficialmente, seu movimento
Este gênero e o Otodectes, o próximo a ser considerado, nutrem- provoca irritação e inquietude, especialmente à noite, quando os
se apenas superfi cialme nte. Ao contrário de Psoroptes, poss u- animais estão estabul ados, podendo ocorrer pequenos traumatis-
em peças bucais que não perfuram a pele mas são adaptadas mos na região do boleto por causa dos coices contra paredes. Um
apenas para mastigação, nutrindo-se de escamas soltas e outros líquido acaricida adequado friccionado sobre as lesões em duas
fragmentos de pele. vezes, com intervalo de 14 dias, é eficaz.

Hospedeiros:
Bovinos, ovinos, caprinos e eqüinos. Otodectes
Distribuição: Este é o ácaro da sarna mais comum de cães e gatos em todo o
Mundial. mundo.
Entomologia Veterinária 175

Hospedeiros: A confirmação depende da observação de ácaros no interior


Cão e gato; ocorre numa série de outros pequenos mamiferos, do ouvido através de um otoscópio ou, mais simplesmente, pela
incluindo o furão e a raposa vermelha. remoção de um pouco do depósito e do exsudato e observação
com lupa do material sobre uma superfície escura, onde os áca-
Espécie: ros serão vistos como partículas esbranquiçadas móveis.
Otodectes cynotis.
TRATAMENTO
MORFOLOGIA
Há muitas preparações eficazes viáveis comercialmente sob a
Otodectes assemelha-se a Psoroptes e Chorioptes na conforma- fonna de gotas otológicas, a maioria delas incluindo, além de um
ção geral, tendo o corpo oval e patas salientes. Os aspectos dife- acaricida, antibióticos, fungicidas, corticosteróides e analgésicos
renciais mais evidentes, além da localização preferida na orelha locais. Os componentes acaricidas incluem gama-HCH, butóxido
externa do hospedeiro, são os apódemas fechados adjacentes ao de piperonil e monossulfiram.
primeiro e segundo pares de patas. Os pedicelos, como os de O canal auditivo em primeiro lugar deve ser completamente
Chorioptes, não são articulados (Fig. 140). limpo, e, depois da instilação das gotas otológicas, deve-se mas-
sagear a base da orelha para dispersar a preparação oleosa.
CICLO EVOLUTIVO Qualquer que sej a a preparação usada, o tratamento deve ser
repetido em 10 a 14 dias, para destruir quaisquer ácaros recém-
Como Chorioptes, este ácaro nutre-se superficialmente, e um eclodidos.
ciclo completo leva três semanas. Em vista da ubiqüidade e da alta infectividade do ácaro, to-
dos os cães ou gatos da mesma casa, ou aqueles em cantata ínti-
mo em canis e gatis, devem ser tratados na mesma ocasião que
EPIDEMIOLOGIA E PATOGENIA os animais clinicamente acometidos.

Gato
Famflia CHEYLETIDAE
Os gatos, em sua maioria, abrigam este ácaro, que nos animais
adultos tem uma associação quase comensal com O hospedeiro, Psorergates
e os sinais de irritação aparecem apenas esporadicamente com a
atividade transitória dos ácaros. Supõe-se que a maior parte das É o "ácaro da sarna" de ovinos.
infecções seja adquirida por gatinhos lactentes da mãe portado-
ra, e, sendo altamente contagiosos, ninhadas inteiras são acome-
Hospedeiro:
tidas. Ovinos.
No início das infecções, há um exsudato ceruminoso acasta-
nhado no canal auditivo, que se torna crostoso. Os ácaros vivem Distribuição:
no fundo da crosta, junto à pele. A infecção bacteri ana sec undá- Austrália, Nova Zelândia, sul da África, América do Norte e do
ria pode resultar em otite purulenta. Sul. Não foi descrito na Europa.
Os principais sinais são balanço freqüente da cabeça, arranha-
duras das orelhas por causa do prurido, presença de massas ce- Espécie:
ruminosas fétidas no canal auditivo e, à inspeção de casos gra-
Psorergates ovis.
ves, otorréia e ulceração do canal auditivo. Pode haver pus, por
infecção bacteriana secundária.
As arranhaduras podem causar escoriações na superfície pos- MORFOLOGIA
terior do pavilhão auricular, e isto, com O balanço da cabeça, pode
resultar em oto-hematoma. P. ovis é um ácaro pequeno, de fonnato levemente circular e com
menos de 0,2 mm de diâmetro. As patas são muito robustas, com
Cão as bases adjacentes, e são dirigidas radialmente, dando ao ácaro
uma forma de estrela irregular.
O Otodectes é uma causa comum de otite externa em cães. As
alterações e os sinais são semelhantes aos do gato, com depósi- CICLO EVOLUTIVO
tos ceruminosos acastanhados a pretos e exsudato no canal au-
ditivo (Prancha XII), e intenso prurido. O resultante balanço vi- Semelhante ao de Psoroptes, com os ácaros nutrindo-se da pró-
olento da cabeça e as arranhaduras na orelha são uma causa co- pria pele.
mum de ato-hematomas nesta espécie. Nos casos de longa dura-
ção, uma seqüela comum é uma grave otite purulenta. EPIDEMIOLOGIA E PATOGENIA

DIAGNÓSTICO A infecção é mais comum nas raças de lã fina, como a Merino e


a Corriedale, sendo adquirida por contato quando a lã está curta;
O diagnóstico presuntivo baseia-se no co mportamento do ani- conforme o velo cresce, constitui uma barreira à transmissão dos
mal e na presença de depósitos ceruminosos escuros e de exsu- ácaros. A disseminação da população de ácaros é muito lenta e a
dato no canal auditivo. infestação raramente é encontrada em animais com menos de seis
176 Parasito/agia VeTerinária

meses de idade; pode levar três anos ou mais antes que toda a
Cheyletiella
área do velo seja acometida.
Apesar de ser um ácaro "não-escavador", Psorergates ataca
Este gênero ocorre principalmente em cães e gatos, mas é tam-
a pele em si, vivendo nas camadas superfic iais e causando irrita-
bém um parasi ta freqüente de coelhos. Tem cel1a importância em
ção crônica e espessamento da pele.
saúde pública, pois é transmitido facilmente de animais de esti-
Os primeiros sinais são peq uenas áreas de lã pálida nas espá-
mação ao homem .
duas, no corpo e nos flancos, que gradati vamente se estendem
por todo o velo, aumentando a irritação à medida que cresce a
Hos pedeir os:
população de ácaros. Os ovi nos esfrega m, morde m e mastigam Cão, gato e coelho; o homem é um hospedeiro errático freqüente.
a sua própria lã, que fica desi gual, com fios soltos pendendo dos
lados do corpo. Nos casos de longa duração, podem cair grand es Espécies:
porções de lã, Cheyletiella yasguri cão
O próprio velo contém muitas crostas e exibe coloração leve- C. blakei gato
mente amarelada, enquanto a fib ra da lã é muito seca e fac ilmente C. parasirivorax coelho.
quebrada.
Nos casos graves, O velo inteiro, difícil de ser tosquiad o pela Distribuição:
consistência emaranhada, deve ser descartado (Fig. 142). Nos Mundial.
ovinos menos grave mente acometidos. e especialmente nos an i-
mais com mais idade que se tornaram tolerantes à coceira por
MORFOLOGIA
causa da pele traumati zada e espessada, os velas são deprecia-
dos.
O corpo do ácaro, de até 0,4 mm de comprimento, tem uma "cin-
tura" . Os palpos são bem dil atados, dando a impressão de um
DIAGNÓSTICO par de patas extras, e cada palpo termina numa garra preêns il
(Fig. 140).
Para a coleta de ácaros, depois de removida uma porção de lã, é Há seis longos pêlos ou cerdas no corpo, um de cada lado do
necessário aplicar uma gota de óleo mineral e raspar a pele até o ânus terminal, e dois de cada lado do corpo, entre o segundo e o
nível dos capilares sangüíneos. Os ácaros em si são identifica- terceiro pares de patas.
dos facilmente. Nas áreas endêmicas, todos os ovinocultores estão As patas tenninam em " pentes" em vez de garras ou ventosas.
familiarizados com o aspecto dos ovinos infestados pelo "ácaro
da sarna". CICLO EVOLUTIVO

TRATAMENTO E CONTROLE Os ácaros vivem nos pêlos e no couro, apenas visitando a pele
para se alimentar. O ciclo evolutivo em si é semelhante aos de
Psorergales é relat ivamente insensível à maiori a dos acari ci- Psoroptes e Chorioptes , com pletando-se em cerca de duas se-
das, embora a form amidina amitraz recentemente tenh a de- manas.
monstrado ser de considerável valor. Por outro lado, podem
ser usadas as preparações mais anti gas de arsênico e enxofre. EPIDEMIOLOGIA E PATOGENIA
Os ovinos devem ser submetidos a banhos de imersão logo após
a tosquia. Es ta sarna altamente contagiosa, embora discreta, pode dissemi-
nar-se rapidamente através de gatis e canis.
O ácaro não é altamente patogênico, freqüentemente sendo
encontrado em gatinhos e cãezinhos novos em boas condições
físicas. A característica da dermatite que causa é que mu itas es-
camas cutâneas fi cam soltas nos pêlos (Prancha XII) ou na pele,
d a ndo~lhe um aspecto empoeirado ou fa rináceo, e a presença de
ácaros móveis entre estes frag mentos resultou na denominação
comum de "caspa ambulante". Há muito pouca reação cutânea
ou prurido. No raro caso grave envol vendo grande parte da su-
perfície do corpo, fo rmam ~se crostas, mas há apenas pequen a
perda de pêlos.
De todas as infestações de an imais domésticos por ácaros, esta
é a mais facilmente transmissível para o homem, sendo C. blakei
envolvido com mais freqüência, pro vavelmente por causa do
estreito co ntato físico entre proprietários e gatos.
Os ácaros podem penetrar nas roupas e são transmitidos fa-
cilmente, mesmo em breve contato. Muitas vezes, verifica-se que,
quando se faz um di agnóstico positi vo num animal de estima-
ção, há história de erupção cutânea persistente na farrulla do pro-
prietário. Ao contrário da condição em seus hospedeiros natu-
Fig. 142 o velo de um ovino infectado pelo "ácaro da sarna" Psorergates (direita) rais, a infestação no homem causa grave irritação e intenso pru-
comparado com um velo normal (esquerda). rido. O primeiro sinal é um eritema que pode evoluir para uma
EntomoLogia Veterinária 177

erupção vesicular e pustular. Os casos humanos invariavelmen-


te se resolvem de maneira espontânea quando a fonte animal for
tratada.

DIAGNÓSTICO

Em qualquer caso de crostas ou caspas excessivas num cão ou gato,


deve-se considerar Cheyleriella no diagnóstico diferencial.
Repartindo-se a pelagem ao longo do dorso e especialmente
sobre o sacro, serão vistas crostas, e, se estas forem removidas
com um pente sobre um papel escuro, será detectado o movimen-
to dos ácaros entre os fragmentos. Não é necessário raspado, pois
os ácaros estão sempre na superfície da pele ou na pelagem.

TRATAMENTO E CONTROLE

Os cães podem ser tratados com uma série de xampus insetici-


das, enquanto os xampus de sulfeto de selênio são recomenda-
dos para gatos. O processo usualmente desaparece com três tra-
tamentos semanais sucessivos.
Fig. 143 O "ácaro vermelho" Dermanyssus gallinae de aves domésticas.

Família DERMANYSSIDAE
As ninfas e os adultos ao se alimentar causam irritação, in-
Dermanyssus quietude e debilidade, e nas infecções maciças pode haver ane-
mia grave e ocasionalmente fatal.
A única espécie de interesse veterinário é o "ácaro vermelho" de Na Austrália, é um vetor de Borrelia anserina, a causa de
aves domésticas. espiroquetose aviária.
Dermanysslls infecta facilmente outros animais e pode cau-
Hospedeiros: sar eritema e intenso prurido em gatos que ocupam velhos aviá-
Aves domésticas e aves silvestres; ocasionalmente é parasita de rios de madeira. O homem pode desenvolver lesões cutâneas
mamíferos, incluindo o homem. quando os ácaros entram nos aposentos oriundos de ninhos de
aves silvestres nos beirais das casas.
Espécie:
Dermanyssus gallinae . TRATAMENTO E CONTROLE

Distribuição: O tratamento de aves é apenas paliativo, devendo-se dar atenção


Mundial. aos habitats dos ácaros em construções. Estes devem ser limpos,
escaldados com água fervente e tratados com um acaricida como
MORFOLOGIA o carbaril ou piretróides sinergizados. Quando os ácaros consti-
tuem um problema em moradias humanas, a sua capacidade de
Dermanyssus é um ácaro grande, sendo o comprimento do cor- sobreviver em ninhos, sem se alimentar por vários meses, torna-
po de aproximadamente 1,5 mm. Possui longas patas e é algo os importantes como locais reservatórios, e todos os ninhos
aracneiforme (Fig. 143). devem ser removidos dos beirais assim que as aves novas tenham
A cor é branca a preto-acinzentada, tornando-se vermelha partido.
quando ingurgitado com sangue. As aves podem ser tratadas individualmente com um acarici-
da, como o piretro ou carbaril.

CICLO EVOLUTIVO, EPIDEMIOLOGIA


E PATOGENIA Omithonyssus (sin. Liponyssus)
Este ácaro passa grande parte do seu ciclo evolutivo fora do hos- Este gênero está intimamente relacionado ao Dermanyssus. Sua
pedeiro, e o adulto e a ninfa apenas visitam as aves para se ali- espécie mais importante, Ornithonyssus sylvarium. é o "'ácaro do
mentar, principalmente à noite. Os habitats preferidos são aviá- norte" de aves.
rios, em geral feitos de madeira, em cujas frestas são postos os
ovos, e o ciclo se completa num núnimo de uma semana. O adulto Hospedeiros:
pode sobreviver por vários meses sem se alimentar, de modo que Aves domésticas e silvestres.
pode persistir urna população reservatório em aviários desocu-
pados. Espécies:
O ácaro constitui um risco principalmente para aves de tiro Ornithonyssus silvarium
alojadas em velhas construções. o. hursa.
178 Parasit%gia Veterinária

Distribuição: Um terceiro gênero, com distribuição mais limitada, é


O. sylvarium está presente em regiões temperadas em todo o Leptotrombidiw1l, um vetar da febre tsutsugamushi no Extremo
mundo e é substituído por O, bursa nos trópicos, Oriente,
As larvas ingurgitadas de trombiculídeos são ovais e de apro-
MORFOLOGIA ximadamente 0,6 mm de comprimento, sendo sua caract6rística
macroscópica mais notável a cor laranja brilhante. Microscopi-
Este gênero de patas longas e movimentos rápidos tem o corpo camente, as patas, que se projetam considera velme nte além da
oval, com cerca de 1 mm de comprimento, e a cor variando de margem do corpo, têm cerdas plumosas, ao contrári o das cerdas
branca a preto-avermelhada, dependendo da quantidade de san- lisas de outros ácaros parasitas.
gue que contém. O corpo apresenta muitas cerdas longas e é muito Os ovos são postos no solo, e as larvas eclodidas arrastam-se
mais piloso que Dermanyssus. para a vegetação, onde podem ter cantata com hospedeiros ma-
míferos ou aviários. Nas regiões temperadas, as larvas aparecem
CICLO EVOLUTIVO primeiro em meados de verão e as populações são máximas no
final do verão. mas nas regiões mais quentes, estão presentes
durante o ano inteiro.
Ao contrário de DermanyssLls, OmithonyssLls passa toda a sua
vida na ave e pode sobreviver apenas durante dez dias fora de As larvas introduzem as peças bucais na pele, injetam uma
um hospedeiro. enzima citolítica e se nutrem do tecido parcialmente digerido. Ao
se alimentar, as larvas causam irritação, que se torna mais inten-
sa, com a formação de máculas, pápulas e vesículas em sucessi-
EPIDEMIOLOGIA E PATOGENIA vos ataques, em face do desenvolvimento de hipersensibilidade
às suas secreções. Pode ocorrer autoferimento por fricção e ar-
Sendo quase um parasita permanente, a infecção é por cantata ranhaduras em resposta à irritação.
ou colocando-se as aves em instalações recentemente desocupa- Os locais de fixação são ditados pela altura do hospedeiro, de
das por animais infestados. Este ácaro ocorre não somente em modo que os ácaros oconem na cabeça, nas orelhas e nos flan-
aves domésticas, mas em colônias de aves ornamentais, e há um cos de cães e gatos e na face e partes inferiores dos membros de
reservatório permanente nas aves silvestres. Nas infestações animais em pastejo.
maciças, as aves ficam inquietas e perdem peso por causa da ir- Embora tanto Neotrombicula como Eutrombicola tenham um a
ritação, a produção de ovos pode ser reduzida e pode haver gra- aparente afinidade por arbustos frutíferos são comuns em qual-
ve anemia. Os sinais comuns, além de debilidade, são pele cros- quer outra parte, oconendo em tipos de habitat que variam de
tosa, espessada, e penas manchadas em vo lta da cloaca. semideserto a pântano ; e m regiões dos Estados Un idos.
Eurrombicula é comum em gramados urbanos.
TRATAMENTO E CONTROLE O controle destes ácaros é quase impossível em bovinos, ovi-
nos e eqüinos, pois a população larval é máxima durante o verão
Pós de carbaril ou preparações organofosforadas podem ser apli- quando estes animais estão no pasto, mas os cães e gatos podem
cados às aves e às suas caixas de ninhos. ter o acesso restrito a áreas sabidamente acolhedoras de grandes
quantidades de ácaros, A ap licação de repelentes dá resultados
ape nas variávels.
Pneumonyssus c([ninam

O ácaro nasal Pneumonyssus caninum é um parasita da cavida- Classe PENTASTOMIDA


de e dos seios nasais de cães. Foi descrito em todos os continen-
tes, mas parece ser particularmente comum na Escandinávia, onde Os adultos desta estranha classe de artrópodes aberrantes são
recentemente foi registrada prevalência de 24% em material de encontrados nas vias respiratórias de vertebrados e parecem mais
necropsia de cães de estimação da Suécia. A infecção é prova- anelídeos que artrópodes.
velmente transmitida por cantata nasal direto entre animais, mas
faltam detalhes da história evolutiva. P. caninwn tem sido asso-
ciado a balanço da cabeça e espirros "invertidos", bem como a
rinite crônica, sinusite e tonsilite, embora a maioria das infec-
ções pareça ser su bclínica. Em cães de lida e de caça, a seqüela
mais óbvia de infestação por ácaros nasais é O faro acentuada-
mente diminuído. O tratamento com ivermectina demonstra ser
eficaz.

ÁCAROS PARCIALMENTE PARASITAS

Os ácaros da familia Trombiculidae são parasitas apenas no es-


tágio larval, e as ninfas e os adultos são de vida livre. Há dois
gêneros comuns, Neotrombicula, o "'ácaro da colheita", que tem
ampla distribuição no Velho Mundo, e Eutrombicula, que ocor-
re na América do Norte e do Sul e cujas larvas são conhecidas
por "bicho do pé". Ambos os gêneros parasitam qualquer ani-
maI, incluindo o homem. Fig. 144 Linguatula serrata, um artrópode aberrante das vias nasais de um cão.
Entomolog ia Veterinária 179

Linguatula serrata tem alguma importância veterinária, pois o se encistam e se desenvolvem nos estágios ninfais infectantes. Os
adulto ocorre nas vias e seios nasais de cães, gatos e raposas. Tem cistos, de aproximadamente 1 mm de diâmetro, podem ser visíveis
até 2 cm de comprimento, é transversalmente estriado e tem a for- à superfície de corte de glândulas mesentéricas. O hospedeiro final
ma de uma língua alongada (Fig. 144), com uma pequena boca e é infectado pela ingestão de vísceras cruas.
garras minúsculas na extremidade da parte anterior espessada. Os Raramente, as infecções maciças nos cães podem causar es-
ovos são expelidos através da tosse ou de espirros ou são degluti- pirros, tosse e corrimento nasal. Não existe um tratamento espe-
dos e eliminados nas fezes. Quando ingeridos por um hospedeiro cífico recomendado, embora possam ser considerados insetici-
intennediário herbívoro, comumente ovinos, caprinos ou coelhos, das organofosforados. Na ausência de reinfestação, os parasitas
eclodem e as larvas se localizam nos Iinfonodos mesentéricos. Ai morrem depois de aproximadamente um ano.
PROTOZOOLOGIA VETERINÁRIA
pode também possui capacidade fagocitária e pode funcionar
Filo PROTOZOA
como uma ventosa que se fecha, envolvendo partículas alimen-
tares num vacúolo.
o filo Protozoa contém microrganismos unicelulares que perten- Finalmente, alguns protozoários. como os estágios extrace-
cem ao Reino Animal , visto que obtêm energia pela absorção de
lulares da Eimeria, não possuem meios de locomoção eviden-
matéria orgânica. e não, como no Reino Vegetal, da energia ra-
tes, porém, não obstante, são capaz~~ de movimentos de desti-
diante do sol pelo processo.de fotossíntese em cloroplastos. Além
zamento. 'I
disso, ao contrário dos vegetais, não possuem uma rígida parede
A nutrição de 'protozoários parasitas ocorre geralmente por
de celulose externa à membrana celular. Existem algumas exce-
pinocitose ou por fagocitose, dependendo da absorção celular,de
ções, e alguns protozoários de vida livre, por exemplo, têm c~­
minúsculas gotículas de fluido ou de pequenos fragmentos solI-
pacidade fotos sintética, mas sua consideração é irrelevante aqUi.
dos de dimensão macromolecular. Em ambos os casos, o processo
Os protozoários, como a maioria dos organismos, são
é o mesmo, a membrana celular envolvendo de modo gradativo
eucarióticos, já que sua infonnação genética é armazenada em
a gotícula ou o fragmento sólido, que aderiu à sua superfície
cromossomos contidos num invólucro nuclear. Diferem, assim, de
externa. Quando isto está completo, a partícula é transportada
bactérias, que não possuem núcleo e cujo único cromossomo fica
para o interior da célula, onde a fusão com os lisos somos pr~ ­
emolado como um novelo de lã no citoplasma. Essa disposição
move a digestão. Finalmente, o material não digerido é expelI-
primitiva, encontrada apenas em bactérias, riquétsias e certas al-
do da célula. Como se observou anterionnente, alguns protozo-
gas, é denominada procariótica, e estes organismos devem ser
ários ciliados e também alguns estágios de organismos causado-
considerados não como animais nem como plantas, mas como um
res de malária obtêm alimento através de um citóstoma. Na base
reino separado de organismos procarióticos, o reino Monera.
do citóstoma, o alimento entra num vacúolo para digestão den-
tro da célula. Os produtos metabólicos são excretados por ~ifu­
ESTRUTURA E FUNÇÃO DOS PROTOZOÁRIOS são através da membrana celular.
O estágio infectante de alguns protozoários é denominado
Os protozoários, como outras células eucarióticas, possuem um esporozoíto, enquanto o termo trofozoíto se aplica ao estágl~
núcleo, um retículo endoplasmático, rnitocôndrias, um comple- do protozoário no hospedeiro, alimentando-se e crescendo ate
xo de Golgi e lisossomos. Além disso, como têm vida indepen- começar a divisão. Na maioria dos protozoários, a reprodução é
dente, apresentam um variedade de outras estruturas subcelulares
ou organelas com características organizacionais e funções di-
ferentes.
Assim, por exemplo, a locomoção no gênero Trypanosoma
(Fig. 145) é facilitada por um único flagelo e em alguns outros
protozoários por diversos flagelos. O flagelo é um fibra contrátJl,
que se origina numa estrutura denominada corpo basal e em al-
gumas espécies se une ao corpo do protozoário ao longo do seu \ \ - - - Flagelo livre
comprimento, de tal modo que, quando o flagelo bate, a mem-
brana celular (película) é levantada e forma uma membrana Membrana ondulante
ondulante. Às vezes, também, projeta-se além do corpo do pro-
tozoário como flagelo livre. Durante o movimento, a forma des-
ses organismos é mantida por rnicrotúbulos na película.
Outros protozoários, como o Balantidium (Fig. 146), movem-
se por meio de cílios, que são pêlos curtos e finos, cada um deles
se originando num corpo basal; revestem grande parte da super-
fície corpórea e batem em uníssono, produzindo movimento ~.
Bolsa flagelar
Nestas espécies, observa-se uma boca ou citóstoma e os mOV1-
mentos ciliares também são utilizados para levar alimento até esta
abertura. Cinetoplasto
Um terceiro meio de locomoção, usado por protozoários como
a Entamoeba (Fig. 147), consiste em pseudópodes, que são pro-
longamentos citoplasmáticos. Ocorre movimento à medida que
o resto do citoplasma flui para esse prolongamento. O pseudó- Fig. 145 Trypanosoma brucei exibindo o flagelo e a membrana ondulante.
-
184 Parasitologia Veterinária

Vacúolo alimentar Vacúolo contrátil diferenças básicas na estrutura e no ciclo evolutivo dos princi-
pais grupos. Em grande parte, as características comuns de cada
grupo refletem-se em semelhanças nas doenças que causam.
' Há quatro subfilos de protozoários de importância veteriná-
ria. Esses subfilos e os gêneros mais importantes neles contidos
estão relacionados no Quadro 6.

Subfilo SARCOMASTIGOPHORA

Classe SARCODINA
Citóstoma Micronúcleo
Fig. 146 A morfologia dOfrotozoáriO intestinal Bafantidium coli. Entamoeba histolytica
Este patógeno é a causa de disenteria amebiana no homem, uma
assexuada e obtida por divisão binária ou, no caso da Babesia doença de distribuição mundial, apesar de mais comum nos tró-
no interior de eritrócitos, por brotamento. Outra fonua de repro- picos. Os trofozoítos amebóides secretam enzimas proteo1íticas
dução assexuada que ocorre no subfilo Sporozoa é a esquizogo- e produzem úlceras características em fonua de cantil na muco-
nia. Neste último processo, o trofozoíto cresce até atingir um sa do intestino grosso. A sua erosão pode permitir o acesso de
tamanho grande enquanto o núcleo se divide repetidamente. Esta parasitas à corrente sangüínea, quando, então, a seqüela mais
estrutura é denominada esquizonte e, quando madura, cada nú- comum é a formação de abscessos amebianos no fígado.
cleo terá adquirido urna porção do citoplasma, de tal maneira que A Entamoeba multiplica-se por divisão binária, mas eventu-
o esquizonte fica repleto de urna grande quantidade de organis- almente se encista e é eliminada nas fezes. O cisto (Fig. 147),
mos alongados separados, chamados merozoítos. O esquizonte contendo quatro núcleos, é relativamente resistente e constitui o
eventualmente se rompe, liberando os merozoítos individuais. estágio infectante do hospedeiro seguinte.
Os protozoários que se dividem apenas assexuadamente em A importância veterinária da amebíase é que ocasionalmente
geral têm um curto período de geração e, como não podem tro- podem ocorrer infecções naturais em cães, em geral sem sinto-
car material genético, contam com mutantes para fornecer as matologia clínica, a partir do reservatório humano de infecções
variantes necessárias à seleção natural. A maioria dos esporozo- ativas ou inaparentes. Os gatos também são suscetíveis à infec-
ários, entretanto, em determinados estágios do ciclo evolutivo ção experimental, embora não produzam cistos. Os macacos
também possui uma fase sexuada de reprodução, chamada ga- possuem suas próprias linhagens de E. histolytica que podem ser
metogonia ou esporogonia. Às vezes, como na Eimeria, ocor- infectantes para o homem.
rem as fases assexuada e sexuada no mesmo hospedeiro, enquanto Podem ser detectados organismos móveis e cistos de E. histolytica
em outros, como o Plasmodium, a fase assexuada ocorre no hos- em esfregaços de fezes, particulannente se diarréicas, pennitindo um
pedeiro vertebrado e a fase sexual no vetar artrópode. diagnóstico presumível; entretanto, a sua diferenciação de espécies
Finalmente, deve-se observar que embora esta seção se refira menos patogênicas é uma tarefa de especialistas.
a protozoários patogênicos de importância veterinária, existem Os cães não são um reservatório significante de infecção para
muitas outras espécies, sobretudo no rúmem, que são puramente o homem e, assim, a profilaxia depende, em última análise, da
comensais ou mesmo simbióticas, visto que auxiliam a digestão higiene pessoal e sanitária na população humana. O tratamento,
da celulose e, ao passar para o abomaso, atuam como uma fonte se necessário, baseia-se no uso combinado de metronidazol e
de proteínas para o hospedeiro. diiodoidroxiquina.

CLASSIFICAÇÃO
Classe MASTIGOPHORA
A classificação do filo Protozoa é extremamente complexa e a
versão resumida a seguir pretende apenas dar um esboço das Trypanosoma
Os membros deste gênero são encontrados na circulação
sangüínea e nos tecidos de vertebrados em todo o mundo. Algu-
Pseudópode mas espécies, contudo, têm importância fundamental como gra-
ve causa de morbidade e mortalidade em animais e no homem
em regiões tropicais. Com uma exceção apenas, todos possuem
,...-......- Vacúolo alimentar um vetar artrópode.

Núcleo A TRANSMIS~ÃO DE INFECÇÃO


TRIPANOSSOMICA EM ANIMAIS

Trofozoíto Cisto Antes de discutir as espécies isoladas do gênero Trypanosoma,


Fig . 147 A Entamoeba histolytica tem um estágio trofozoito amebólde e um está-
vale a pena considerar as diversas maneiras pelas quais as infec-
gio cistico não-móvel com quatro núcleos. ções tripanossômicas são transmitidas entre animais.
Prolozoologia Veterinária 185

Quadro 6 Classificação dos protozoários

FILO: Protozoa
(Animais eucari6ticos, unicelulares)
I
SUBFILO: Sarcomastigophora Sporozoa l (locomoção por Ciliophora (locomoção Microspora (pouca importância
(locomoção por deslizamento, ciclo evolutivo por cílios) veterinária. Parasitas
pseudópodes elou flagelos) amplamente Intracelular, ocorrem intracelulares
fases tanto sexuada como multiplicando-se
assexuada) assexuadamente)
Balantidium Encephalitozoon

CLASSE: Sarcodina Mastigophora (um Coccidia (parasitas de células Piroplasmidia (parasitas Haemosporidia (parasitas de
(movimento ou mais flagelos) epiteliais em que ocorre repro- de células sangüineas. têm células sangüíneas, têm
amebóide dução tanto sexuada como carrapatos como vetores dípteros hematófagos como
por pseudópodes) assexuada) nos quais ocorre reprodu- vetares nos quais ocorre
ção sexuada) reprodução sexuada)
il7 /
Entamoeba
_T=~~~ EimBria V
_lsoSQQ~ ~ /'
Babesia V
Theiferia
Plasmpdium _
Haemoproteus
------'
Triçhommps
Histomonas

Hexamita
Toxoplasma r/
Cryptosporidium\"":/

SarcocystiS 0 /
Cytauxzoon Leucocytozoon

_ '--.... Gjarcfia Besnoitia


Hammondia
Hepatozoon
NeosporB

' .Denominado também Aplcomplexa. Este nome alternativo refere-se ao fato do grupo possuir um "complexo apical", uma estrutura que aparentemente ajuda a penetraçAo na célula hospedeira.
E visfvel apenas ao microscópio eletrÔnico.

Com a única exceção do T. equiperdum de eqüinos, que é trai e do Sul, contudo, o T. evansi é transmitido também pelas
causador de uma doença venérea, todos têm vetores artrópodes, picadas de morcegos hematófagos, nos quais os parasitas podem
em que a transmissão é cíclica ou acíclica. multiplicar-se e sobreviver durante longo período. Em sentido
Na transmissão cíclica, o artrópode é um hospedeiro inter- restrito, isto é mais que uma simples transmissão mecânica, pois
mediário necessário no qual os tripanossomos se multiplicam, o morcego também é um hospedeiro, embora certamente acícli-
sofrendo uma série de transformações morfológicas antes que co, uma vez que os tripanossomos em multiplicação no sangue
sejam produzidas formas infectantes para o próximo hospedeiro do morcego não sofrem transfoffi1ação morfológica antes de mi-
mamífero. Quando a multiplicação ocorre no trato digesti vo e na • grar para a cavidade bucal.
prob6scida, a nova infecção sendo transmitida durante a alimen- É importante observar que os tripanossomos Sali varia, nor-
tação, o processo é co nhecido como desenvolvimento de esta- malmente transmitidos de maneira cíclica nas moscas tsé-tsé,
ção anterior e as diversas espécies de tripanossomos que utili- podem às vezes ser transmitidos mecanicamente. Assim, o T.
zam este processo freqüentemente são consideradas como um vivax estabeleceu-se na América do Sul, provavelmente pela
grupo, Salivaria. Todos são tripanossomos transmitidos por importação de bovinos infectados, e supõe-se que seja transmi-
moscas tsé-tsé, as principais espécies sendo T. congolense, T. tido mecanicamente por moscas picadoras.
vivax e T. brucei. Finalmente, além da clássica transmissão cíclica e acíclica, os
Em outros tripanossomos, a multiplicação e a transfonnação cães, gatos e carnívoros silvestres podem infectar-se pela inges-
ocorrem no intestino e as formas infectantes migram para o reto. tão de carcaças frescas ou órgãos de animais mortos por tripa-
sendo eliminadas nas fezes; este é o desenvolvimento de esta- nossomose, os parasitas penetrando por abrasões orais.
ção posterior e as espécies de tripanossomos são agrupadas como As importantes infecções tripanossômicas dos animais domés-
Stercoraria. Nos animais domésticos, todos estes são relativa- ti cos diferem consideravelmente em muitos aspectos, sendo
mente não-patogênicos, como o T. theile ri c o T. melophagium, melhor discuti-las separadamente. As espécies africanas respon-
transmitidos por tabanídeos e melofagídeos, respecti vamente, sáveis pelas "tripanossomoses transmitidas por tsé-tsé", i.e.,
mas este certamente não é o caso no homem, em que o T cruzi, Salivaria, em geral são consideradas as mais significantes e se-
a causa da grave doença de Chagas na América do Sul, é trans- rão tratadas em primeiro lugar.
mitido nas fezes de hemípteros reduvídeos.
A transmissão acíclica é essencialmente mecânica, os tripa- OS SALIVARIA
nosso mos sendo transferidos de um hospedeiro mamífero a ou-
tro pela alimentação interrompida de insetos picadores. princi- Várias espécies de Trypanosoma, encontradas em animais do-
palmente tabanídeos e Stomoxys. mésticos e silvestres, são todas transmitidas ciclicamente por
Os tripanossomos na probóscida contaminada ou sobre ela não Glossina em grande parte da África subsaariana. A presença de
se multiplicam e morrem rapidamente, e portanto a transmissão tripanossomose impede a criação de animais em muitas regiões,
cruzada é possível apenas por algumas horas. O T. evansi, am- ao passo que em outras, onde os vetores não são tão numerosos,
plamente distribuído nos rebanhos na África e na Ásia, é trans- a tripanossomose com freqüência é um grave problema, particu-
mitido mecanicamente por moscas picadoras. Na América Cen- larmente nos bovinos. A doença, conhecida às vezes corno na·
186 Parasitologia Veterinária

gana, caracteriza-se por linfadenopatia e anemia acompanhadas


por emaciação progressiva e, freqüentemente, morte.

Hospedeiros:
Todos os animais domésticos, mas especialmente importante nos
bovinos. Comum também em muitos animais silvestres, como o
javali africano, o porco-da-mato e vários antílopes.

Hospedeiro intermediário:
A maioria das espécies de Glossina, das quais a G. morsitans
talvez seja a mais disseminada.

Localização:
Todas as três espécies de tripanossomos estão caracteristicamente
presentes na circulação sangüínea. O T. brucei também é encon-
trado extravascu]annente, por exemplo, no miocárdio. no siste-
Fig. 148 O Trypanosoma bruceié pleomórfieo, apresentando formas finas e lon-
ma nervoso central e no trato reprodutivo. gas (a), grossas e curtas (b) e intermediárias (c).

Principais espécies:
Trypanosoma brucei Em esfregaços sangüíneos frescos, o T. congolense move-
T. congolense, a espécie mais comum se lentamente, com freqüência aparentemente unido a eritróci-
T. vivax. tos.
O T. vivax é monomórfico (Fig. 150), variando de 20 a 27 /lffi.
Espécies menos importantes: A membrana ondulante é inconspícua, o grande cinetoplasto é
Provavelmente a mais importante destas espécies seja o T. simi- terminal e a extremidade posterior é lf\fga e arredondada. Obser-
ae, fundamentalmente um parasita de suínos e de camelos e mor- va-se um curto flagelo livre.
fologicamente semelhante ao T. congolense. Em esfregaços sangüíneos frescos, o T. vivax move-se rapi-
damente pelo campo microscópico.
DISTRIBUiÇÃO
CICLO EVOLUTIVO
Aproximadamente 10 milhões de quilômetros quadrados da Áfri-
ca subsaárica entre as latitudes 14' N e 29'S. As moscas tsé-tsé ingerem tripanossomos no sangue ou na linfa
ao alimentar-se num hospedeiro infectado. Em seguida, os tri -
IDENTIFICAÇÃO panossomos perdem a camada superficial glicoprotéica e, no caso
do T. brucei e do T. congolense, tomam-se alongados e se mul-
Protozoários fusiformes alongados, variando de 8 a 39 /lffi de com- tiplicam no intestino médio antes de migrar para as glândulas
primento. Todos possuem um flagelo que se origina na extremida- salivares (T. brucei) e para a probóscida (T. congolense). Neste
de posterior do tripanossomQ, num corpo basal à base de uma bol-
sa flagelar (Fig. 145). O flagelo segue para a extremidade anterior
do corpo e se une, ao longo do seu comprimento, à película, for-
mando uma membrana ondulante. A partir daí, o flagelo pode se-
guir em frente como flagelo livre (Prancha XIII). Numa amostra
corada, podem-se observar um único núcleo de localização ceritral
e, adjacente à bolsa flagelar, uma pequena estrutura, o cinetoplas-
to, que contém o DNA da única mitocôndria.

IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES

O T. brucei é pleomórfico (Fig. 148) e varia de longo e fino « 39


/lffi) a curto e grosso « 18 ILm), as duas formas freqüentemente
estando presentes na mesma amostra de sangue. A membrana
ondulante é conspícua, o cinetoplasto é pequeno e subterminal e
a extremidade posterior é pontiaguda. A forma fina tem um fla-
gelo livre bem desenvolvido, enquanto na fonna grossa é curto
ou está ausente. Em esfregaços sangüíneos frescos não-fixados,
o T. brucei move-se rapidamente em pequenas áreas do campo
microscópico.
O T. congolense é monomórfico (Fig. 149), variando de 8 a
18 ).lIt1. A membrana ondulante é inconspícua, o cinetoplasto de Eritrócitos
tamanho médio é marginal e a extremidade posterior é romba. Fig. 149 O Trypanosoma congolense é monomórfico e possui um cineloplaslo
Não há flagelo livre. marginal.

Protozoologia Veterinária 187

Fig. 151 Linfonodo pré·escapular aumentado de volume de zebu com tripanosso-


mosa.

Fig. 150 O Trypanosoma vivaxê monomórtico e tem um flagelo curto e cinetoplas-


to terminal.
contraídos; por causa da exaustão dos seus elementos ce-
lulares.
(2) A anemia é uma característica fundamental da doença, par-
ponto sofrem uma transformação, perdendo a forma tripanossô- ticulannente em bovinos, no início sendo proporcional ao
rnicatípica, ou tripomastigota, e adquirem uma forma epimas- grau de parasitemia. É hemolítica., visto que os eritrócitos
tigota caracterizada pelo fato do cinetoplasto localizar-se exata- são removidos da circulação pelo sistema fagocitário mo-
mente na frente do núcleo. Depois de multiplicação posterior dos nonuclear estimulado. Mai s tarde, nas infecções de longos
epimastigotas, transformam-se novamente em pequenas formas meses de duração, quando a parasitemia com freqüência se
tipicamente tripomastigotas, com uma camada superficial glico- toma baixa e intennitente, a anemia pode desaparecer num
protéica. Estas são as formas infectantes para o próximo hospe- grau variável. Em alguns casos crônkos, contudo, pode per-
deiro e são denominadas tripanossomos metacíclicos. O processo sistir, apesar da quimioterapia.
todo dura no mínimo duas a três semanas e os tripanossomos (3) Ocorrem degeneração celular e infiltrados inflamatórios
metacíclicos são inoculados no novo hospedeiro, quando a mos- em muitos órgãos, como os músculos esqueléticos e o siste-
ca tsé-tsé se alimenta. ma nervoso central, mas talvez mais significativamente no
Com o T. vivax, ocorre um processo semelhante de desenvol - miocárdio, onde há separação e degeneração das fibras
vimento cíclico, exceto que se dá inteiramente no interior da muscul ares (Fig. 152). Os mecanismos responsáveis por
probóscida. estas alterações ainda estão sendo estudados.
No ponto de inoculação, as formas metacíclicas multiplicam-
se localmente à medida que se desenvolvem as formas sangüí-
SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA
neas típicas, produzindo em poucos dias uma tumefação infla-
matória cutânea elevada denominada cancro. Em seg uida, en-
Nos ruminantes, os principais sinais são anemia, dilatação ge-
tram na circulação sangüínea, multiplicam-se e uma a três sema-
neralizada das glândulas linfáticas superficiais, letargia e perda
nas depois geralmente se torna evidente uma parasitemia, detec-
progressiva de condições físicas (Fig. 153). Ocorrem febre e
tável no sangue periférico.
Subseqüentemente, a parasitemia pode persistir por muitos perda de apetite intermitentemente durante os picos parasitêmi-
cos, a última se acentuando nas fases terminais da doença.
meses, embora o seu nível possa aumentar e diminuir, por causa
da resposta imune do hospedeiro.

PATOGENIA

Com exceção de algumas linhagens de T vivax, que produzem


uma infecção hiperaguda e fatal , caracterizada por alta parasite-
mia, febre, anemia grave e hemorra gias nas superfícies mucosas
e serosas, a patogenia da tripanossomose pode ser considerada
sob três aspectos:

(1) Desenvolvem-se dilatação Iinfóide (Fig. 15 1) e espleno-


megalia assoc iadas a hiperplasia plasmocitária e hiperga-
maglobuJjnemia, que se deve primariamente a um aumen-
to em IgM. Concomitantemente, há um grau variável de
supressão de respostas imunitárias a outros antígenos, como
patógenos microbianos ou vacinas. Por fim, em infecções Fig. 152 Miocardite de um caso de tripanossomose bovina, apresentando degene-
de longa duração, os órgãos Iinfóides e o baços tornam-se ração miocârdica, edema e infiltração celular.
188 Parasito/agia Veterinária

As moscas picadoras podem atuar como vetares mecânicos,


mas a sua importância na África ainda está indefinida. Na Amé-
rica Central e do Sul, entretanto, supõe-se que o T. vivax seja
facilmente transmitido por estas moscas.

Os parasitas

Como os animais parasitêmicos sobrevivem comumente por


períodos prolongados, são amplas as oportunidades de transmis-
são por moscas, especialmente de T. brucei e T. congolense. Por
outro lado, algumas linhagens de T. vivax em bovinos e de T.
simiae em porcos domésticos matam os hospedeiros em uma a
duas semanas, sendo as chances de infecção das moscas, portanto,
mais limitadas.
Fig. 153 Caso avançado de tripanossomose mostrando perda acentuada de con· Talvez o aspecto mais importante da tripanossomose, respon-
dições físicas.
sável pela parasitem ia persistente, seja a maneira pela qual o
parasita escapa da resposta imune do hospedeiro.
Conforme já foi observado, os tripanossornos metacíclicos e
Caracteristicamente, a doença é crónica, prolongando-se por da circulação sangüínea possuem uma camada glicoprotéica que
vários meses e, se não tratada, em geral é fatal. é antigênica e provoca a formação de anticorpos, os quais cau-
Como fenómeno de rebanho, o crescimento dos animais jo- sam opsonização e lise dos tripanossomos. Infelizmente, na época
vens é retardado, enquanto os adultos apresentam queda da fer- em que são produzidos os anticorpos, uma certa proporção dos
tilidade e se prenhes podem abortar ou gerar animais debilita- tripanossomos já teve a composição química da camada glico-
dos. protéica alterada e então, apresentando uma superfície antigêni-
Nas fases terminais, os animais tornam-se extremamente ca diferente, tais tripanossomos não são afetados por esses anti-
fracos, os linfonodos têm o tamanho reduzido e com freqüên- corpos. Os tripanossomos com esta nova variante antigênica
cja há um pulso jugular. A morte está associada a insuficiên- multiplicam-se e produzem uma segunda onda de parasitemia; o
cia cardíaca congestiva em conseqüência de anemia e miocar- hospedeiro produz um segundo tipo de anticorpo, porém mais
dite. uma vez a camada glicoprotéica já se terá alterado numa certa
Às vezes, principalmente com algumas linhagens de T. vivax, quantidade de tripanossomos e ocorre, então, uma terceira onda
a doença é aguda, a morte ocorrendo em duas a três semanas parasitêmica. Este processo de variação antigênica associada a
de infecção, precedida por febre, anemia e hemorragias bem di- ondas e remissões de parasitemias, freqüentemente em interva-
fusas. los semanais, pode prolongar-se por meses, em geral com resul-
Nos eqüinos, as infecções por T. brucei podem ser agudas ou tado fatal.
crónicas, muitas vezes acompanhadas por edema dos membros Sabe-se agora que as repetidas mudanças da camada de re-
e dos genitais. vestimento glicoprotéica dependem de uma expressão seqüen-
No suíno, as infecções por T. congolense em geral são mode- cial aleatória de uma quantidade indefinida de genes, cada um
radas e crónicas, ao contrário das infecções associadas ao T. si- deles codificando para uma camada glicoprotéica diferente. Isto,
miae em que a doença é hiperaguda, ocorrendo a morte em apro- juntamente com a descoberta de que os tripanossomos metaCÍ-
ximadamente um dia após o aparecimento de pirexia. clicas podem ser uma mistura de tipos antigênicos, cada um ex-
O cão e o gato são suscetíveis ao T. brucei e ao T. congo- pressando um diferente repertório genético, explica por que os
lense. A doença usualmente é aguda, e além dos sinais de fe- animais domésticos, mesmo se tratados com sucesso, com fre-
bre, anemia e miocardite a opacidade da córnea com freqüên- qüência são imediatamente suscetíveis à reinfecção. A comple-
cia é uma característica. Pode haver também alterações neuro- xidade de antígenos potencialmente envolvidos também frustrou
lógicas, resultando em sinais de agressividade, ataxia ou con- tentativas de vacinação.
vulsões.
Os hospedeiros
EPIDEMIOLOGIA
A tripanossomose é basicamente uma infecção de animais sil-
A epidemiologia depende de três fatores: a distribuição dos vestres, nos quais, de modo geral, adquiriu um modus vivendi
vetores, a virulência do parasita e a resposta do hospedeiro. visto que os hospedeiros animais são parasitêmicos por perío-
dos prolongados mas normalmente permanecem em boas con-
Os vetares dições de higidez. Esta situação é conhecida como tripanotole-
rância. Por outro lado, a criação de rebanhos em áreas endêmi-
Dos três grupos de Glossina, os de savana e os fluviais são os cas sempre esteve associada a excessiva morbidade e mortalida-
mais importantes, pois habitam áreas adequadas para pastejo e de, apesar da evidência de ter ocorrido certo grau de adaptação
abastecimento de água. Embora a taxa de infecção de Glossina ou seleção em diversas raças. Assim, na África Ocidental, pe-
com tripanossomos geralmente seja baixa, variando de 1 a 20% quenos bovinos sem cupim do tipo Bos laurus, notavelmente o
das moscas, cada mosca se infecta por toda a vida, e a sua pre- N'dama (Fig. 154), sobrevivem e procriam em regiões de inten-
sença em qualquer quantidade torna extremamente difícil a cri- so desafio tripanossômico, apesar da ausência de medidas de
ação de bovinos, suínos e eqüinos. controle. A sua resistência, contudo, não é absoluta, e a tripa-
Protozoologia Veterinária 189

cia à droga ou em alguns casos muito crónicos. O tratamento deve


ser acompanhado rigorosamente, porque pode ocorrer reinfec-
ção em uma ou duas semanas, acompanhada de sintomatologia
clínica e parasÜemia. Alternativamente, o animal pode ter uma
recaída após a quimioterapia, em virtude da persistência de um
foco de infecção nos seus tecidos ou por que os tripanossomos
são resistentes ao quirnioterápico.
Em virtude da aridez do seu habitat, os camelos apenas rara-
mente são expostos a tripanossomos transmitidos por tsé-tsé,
embora o T. brucei, quando ocorre, seja particularmente letal. O
tratamento consiste em suramin, sulfato de quinapi.rarnina (Trypa-
cide, antigamente denominado Antrycide) ou dicloridrato de
melarsornina (melCy ou cyme1arsan), que também são utiliza-
dos para o T. evansi, mais comum. O T. simiae também causa
Fig. 154 A raça N'dama sem cupim da África Ocidental é tripanotolerante.
infecções rapidamente fatais em camelos, proporcionando pou-
cas oportunidades de tratamento. Deve-se observar que o dimi-
nossomose cobra um alto tributo, particularmente no que diz nazeno é tóxico para camelos.
respeito à produtividade. Em outras áreas da África, sabe-se que Em suínos, o T. simiae é o patógeno mais importante, e a
raças nativas de ovinos e caprinos são tripanotolerantes, embora morte rápida dá· pouca chance de tratamento, mas um comple-
isto possa decorrer em parte do fato de serem hospedeiros relati- xo quinapiramina-suraminato demonstra algum sucesso na pro-
vamente sem atrati vos pam Glossina. filaxia.
Não se sabe exatamente como os animais tripanotolerantes com- Os eqüinos são particularmente suscetíveis ao T. brucei, e
petem com a variação antigênica. Supõe-se que o controle e a eli- as drogas de escolha são o suramin, a quinapiramina ou o
minação gradativa de suas parasitemias possam depender do fato me lCy. O diminazeno é relativamente tóxico para eqüinos.
de possuírem urna reação de anticorpos particulannente rápida e Apesar do tratamento, é provável uma recidiva por infecção do
eficaz, embora também possa haver outros fatores envolvidos. SNC.
Em cães e gatos infectados por T brucei, deve-se utilizar $ura-
min ou quinapiramina, enquanto as infecções por T. congolense
DIAGNÓSTICO
requerem diminazeno. Na suspeita de tripanossomose cerebral, urna
seqüela ocasional de infecção IX>r T brucei, o tratamento deve ser
A confinnação do diagnóstico clínico depende da demonstração
suplementado pelo arsenica! melarsopro! (me! B) ou melCy.
de tripanossomos no sangue, e, se houver um rebanho ou um gru-
po envolvido, _deve-se examinar um número representativo de
amostras de sangue, pois em animais individuais a parasitemia pode CONTROLE
estar em remissão ou, em casos de longa duração, pode ser extre-
mamente escassa. Depende geralmente do controle de moscas tsé-tsé, discutidas em
Ocasionalmente, quando a parasitemia é maciça, é possível Glossina (Cap. 2), e do uso de antiparasitários.
detectar tripanossomos móveis em esfregaços sangüíneos finos. Nos bovinos, e se necessário nos ovinos e caprinos, o isome-
Mais comumente, os esfregaços sangüíneos finos e espessos são tamídio (Samarin) é a droga de escolha, pois pennan ~ce nos te-
secados ao ar e examinados mais tarde. Os esfregaços espessos, cidos e tem efeito profilático par dois a seis meses. Por outro lado,
desemoglobinizados antes da aplicação do corante de Giemsa ou podem ser utilizados dirninazeno ou sais de homidium quando
de Leishman, oferecem mais chances de detecção de tripanos- aparecem casos, determinados ou por exame clínico ou por de-
somos, enquanto os esfregaços finos são usados para a diferen- tecção hematológica de animais anêmicos.
ciação das espécies de tripanossomos. Para reduzir o possível desenvolvimento de resistência a an-
As técnicas mais sensíveis utilizam centrifugação num tubo tiparasitários, pode ser aconselhável a mudança periódica de um
capilar de hematócrito, seguida por exame microscópico da inter- tripanossomicida por outro. A vigilância é sempre necessária,
face entre o sedimento leucocitário e o plasma; alternativamente, para garantir a dose adequada do quimioterápico e para detec-
tar o aparecimento precoce de possível resistência a antipara-
pode-se descartar o sobrenadante, comprimir o sedimento leucoci-
sitários, quando se deve considerar a opinião de um especialis-
tário sobre uma lâmina e examinar o conteúdo sob microscopia de
campo escuro ou de contraste de fase para tripanossomos móveis. ta.
Dois importantes aspectos de controle são, em primeiro lu-
Com estas técnicas, obtém-se também o volmne globular, que tem
gar, a necessidade de proteger os bovinos oriundos de uma re-
valor indireto no diagnóstico, caso possam ser eliminadas outras
gião livre de tsé-tsé ao serem transportados para comércio atra-
causas de anemia, especialmente helmintoses.
vés de uma área de tripanossomose endêmica e, em segundo lu-
gar, o conhecimento dos riscos de introdução, numa proprieda-
TRATAMENTO de livre de tsé-tsé, de animais provenientes de regiões onde há
tripanossomose, pois a transmissão mecânica pode causar um
Este é um assunto complexo e aqui é apresentada apenas uma surto da doença; em ambos os casos, recomenda-se o tratamento
revisão geral. com um tripanossornicida na época apropriada.
Em bovinos, ovinos ou caprinos acometidos, as duas drogas Uma abordagem alternativa, usando raças tripanotolerantes de ru-
de uso comum são o aceturato de diminazeno (Berenil) e sais de minantes, combinadas talvez com quimioterapia criteriosa, pode. no
homidium (Ethidium e Novidium). Em geral dão bons resulta- futuro, oferecer uma solução realista em muitas áreas onde a doença é
dos, exceto quando os tripanossomos já desenvolveram resistên- endêmica, e este aspecto é atualmente objeto de muitos estudos.
190 Parasitologia Veterinária

Ocasionalmente, são praticados esquemas quimioprofiláticos TRIPANOSSOMOSE TRANSMITIDA


para outras espécies domésticas, devendo ser adaptados às cir- MECANICAMENTE
cunstâncias particulares encontradas.

[Tripanossomos t ransmitidos por tsé-tsé no homem: Duas Trypanosoma evansi


espécies de tripano ssomos Salivaria infectam o homem. A inda
que ambas possam causar a "doença do sono" por invasão do Esta espécie, embora perfeitamente relacionada ao tripanosso-
sistema nervoso central, o T, rhodesiense geralmente causa uma mo Salivaria T. brucei, sofre transmissão mecânica por insetos
síndrome aguda, enquanto as infecções por T. gambiense podem picadores, hematófagos, e é a causa de uma doença comumente
ser assintomáticas no início, embora eventualmente o sistema denominada surra. Encontra-se disseminada na Africa do Nor-
nervoso central seja acometido. O T. rhodesiense ocorre na África te, América do Sul e partes da Ásia, acometendo principalmente
Oriental e Central, enquanto o T. gambiense é encontrado prin- eqüinos e camelos. A síndrome é semelhante àquela causada por
cipalmente na África Ocidental. tripanossomos transmitidos por tsé-tsé.
As duas espécies são morfologicamente idênticas ao T. bru- °
O Trypanosoma evansi tem ~spec to idêntico às formas del-
cei e, por causa disso e das limitações em experimentação hu- gadas de T. brucei. Os vetores são espécies de tabanídeos e Sto-
mana, é difícil delinear sua relação exata. Entretanto, dian te dos moxys, embora nas Américas o morcego hematófago também
atuais conhecimentos, parece que o T. brucei é infectante ape- possa atuar como vetar e como reservatório.
nas para os animais, ao contrário do T. rhodesiense e do T. gam- Dependendo da virulência da linhagem e da suscetibilidade
biense, que podem infectar tanto o homem como os animais. indi vidual do hospedeiro, a doença pode ser aguda em eqüinos,
Estes últimos podem incluir primatas, ungulados silvestres e camelos e cães, Outras espécies domésticas como bovinos, bu-
animais domésticos , que podem atuar como reservató rio s de balinos e suíno s, são comumente infectadas, mas a doença ma-
infecção para o homem. E m geral, a tripanossomose humana nifesta é rara e sua maior importância é como reservatórios de
usualme nte é o res ultado de tran smissão homemltsé- tsé/ho - infecção. .
mem.) Além da febre, anemia e emaciação características da tripa-
nossomose, os eqüinos desenvolvem tumefações edematosas que
OS STERCORARIA variam de placas cutâneas a franco edema da região ventral do
abdôme e genitais. Nos casos mais crónicos, é comum a parali-
Dois tripanossomos relativamente grandes, o Trypanosoma thei- sia progressiva dos quartos posteriores.
leri e o T. melophagium, com cerca de 50 J1lTI de comprimento, Na América do SU!"a doença é denominada mal de cadei-
são encontrados no sangue de bovinos e ovinos, respectivamen- ras, literalmente "doença das ancas", e a espécie tripanossômi-
te. O Trypanosoma theileri é transmitido por tabanídeos e o T. ca é denominada T. equinum; é idêntico ao T. evansi, exceto pela
melophagiurn. pelo díptero Melophagus ovinus, e a distribuição ausência de um cinetoplasto.
mundial de cada tripanossomo corresponde à amplitude de vari- O surarnin ou a quinapiramina (Trypacidel são as drogas de
ação e prevalência de seus hospedeiros intermediários. Assim, escolha para o tratamento e também conferem um curto período
ambas as espécies ocorrem na Europa Ocidental. de profilaxia. Para uma proteção mais prolongada, há também uma
Os tripanossomos metacíclicos, presentes nas fezes do vetor, quinapiramina modificada conhecida corno "Trypacide Pro-Sal r ·_
ganham acesso ao sangue do seu hospedeiro marrúfero penetran- Infelizmente, não é rara a resistência a quimioterápicos , pelo me-
do em pele escoriada ou após a ingestão do vetar, quando os tri- nos ao suramin. Em camelos, geralmente se administra isometa-
panossomos livres penetram na mucosa. núdio por via intravenosa, por causa de reações teciduais locais.
Ambas as espécies de tripanossomos podem produzir paIâsitemias
transitórias, IX'rém a infecção é mais comumente assintomática e pode
ser diagnosticada apenas por incubação do sangue em meio de cul- Trypanosoma equiperdum
tura adequado para a multiplicação de tripanossomos. Com freqüên-
cia são designados "os tripanossomos não-patogênicos". Esta espécie de tripanossomo, morfologicamente semelhante ao
T. evansi, causa uma doença venérea de eqüinos e asininos de-
[Trypanosoma cruzi do homem: Embora os tripanossomos Ster- nominada durina. Antigamente disseminada pelo seu singula:
coraria de ruminantes sejam não-patogênicos, o inverso é que vale método de transmissão, restringe-se agora a regiões da África.
para o T. cruz;, a causa da doença de Chagas no homem. A do- Ásia e América do Sul e Central. A sintomatologia clínica con-
ença, encontrada na América Central e do Sul, é extremamente siste em edema abdominal ventral e genital, placas urticari for-
grave tanto na sua fase de parasitemia febril aguda como em sua mes e emagrecimento progressivo. Em muitos casos, o SNC es~
fase crónica caracterizada por miocardite, megaesôfago e mega- envolvido, causando uma paralisia motora ascendente que, pcx
cólon. Os vetores são insetos hematófagos .da ordem Hemiptera, fim, é fatal. O diagnóstico geralmente se baseia num teste ~
freqüentemente denominados "barbeiros". Quase sempre estão ELISA para anticorpos ou fixação de complemento ou num les-
a
presentes em habitações primitivas, e infeção humana resulta te de ELISA para antígeno tripanossômico. O tratamento é cor;;.
da fricção das fezes do inseto em lesões cutâneas, como as pro- suramin, quinapirarnina ou melCy; se o SNC estiver envol vido.
duzidas pela sua picada. Os animais domésticos, principalmente requer-se melC y ou melarsoprol.
o cão e o gato, podem ser clinicamente acometidos ou atuar como
reservatórios, Neste último caso, podem introduzir inadvertida-
mente a doença em regiões até então livres dela, como, por exem- Leishmania
plo, partes dos Estados Unidos.
Os animais silvestres, notavelmente o tatu e o gambá, tam- As espécies deste gênero são parasitas intracelulares de macrófu-.
bém atuam co mo reservatórios,] gos no home~, no cão e,t1uma ampla vJiedade de animais silves-
1
Protozoologia Veterinária L91

tres, causando uma doença, a leishmanjose, nas formas cutânea e


visceral. Seus vetores são flebotorníneos hematófagos, nos quais
os parasitas sofrem transfonnação morfológica e multiplicação. A
lei shmanios~ é de capital importância como doença humana.

Hospedeiros:
O homem, o cão e uma amp la variedade de animais silvestres.

Hospedeiros intermediários:
Flebotomíneos hematófagos.

Localização:
Os protozoários mul tiplicam-se dentro dos macrófagos, que
eventualmente são des truídos, e os parasitas livres entram em
outros macrófagos intactos.

ESPÉCIES la)

Embora seja difícil distinguir espécies de Leishmania em bases


monológicas, modernos métodos taxonômicos demonstraram a
existência de seis espécies principais. que correspondem ampla-
mente às características geográficas, epidemiológicas e clínicas
da doe nça que causam no homem. Três destas espécies ocorrem \.
no cão: .....•.

............
Leishmania tropica causando leishmani ose cutânea ou
"botão-da-Oriente", as lesões desen-
....
volvendo-se no local da picada do
Ib)
inseto.
L donovani ca usando leish maniose visceral. ou Fig. 155 Leishmania. (a) Forma promastigota; (b) forma amastigola.
"caJazar". a infecção sendo sistêmi-
ca.
L. braziliensis causando lesões semelhantes às da L.
tropica. Em alguns casos, finalmente estes microrganismos são rodea-
dos por plasmócitos e linfócitos. Os macrófagos infectados são
/
então destruídos, o animal recupera-se e fica imune à reinfec-
DISTRIBUIÇÃO
\ ção.
A recuperação, contudo, depende da expressão adequada da
No cão, a L. tropica ocorre no sul da Europa, em outros países
mediterrâneos, na África e na Ásia; a L. donovani é encontrada imunidade celular, e se isto não ocorre, como em muitos casos
em países ao redor do Medjterrâneo e na Améri ca do Sul e a in- de L. donovani, as lesões ativas persistem, resultando em dilata-
fecção por L. braziliensis em partes da América do Sul. ção crônica do baço. do fígado e de Iinfonodos e em lesões cutâ-
neas persistentes. A anemia hemolítica também é uma caracte-
rística de infecção por L. donovani.
IDENTIFICAÇÃO E CICLO EVOLUTIVO

A Leishmania relaciona-se, até certo ponto, com O Trypanosoma, SINTOMA TOLOGIA CLíNICA
pois o microrganismo oval no interior do macrófago possui um
cinetoplasto em forma de bas~? associado a um flagelo rudimen- Pode levar muitos meses ou até mesmo anos para que os cães
tar, o qual, entretanto, não se .prolonga além da borda celular. Esta infectados desenvolvam si ntomatologia clínica, de tal modo que
forma de leishmânia, ou amastigota, depois de ingerida por um a doença pode tornar-se aparente bem depois dos cães terem saí-
flebotomíneo, transforma-se numa forma prornastigota no intes- do de áreas endêITÚcas.
tino do inseto, no qual o ci netoplasto se situa na ex tremidade pos- Na forma cutânea, as lesões restringem-se a ülceras cutâ-
terior do corpo (Fig. 155). Estes se dividem repetidamente por di- neas superficiais, freqüentemente nos lábios ou nas pálpebras,
visão binária, migram para a probóscida e quando o inseto se ali- e a recuperação é espontânea. Na forma visceral, que é mais
menta subseqüentemente são inoculados em um novo hospedei- comum, os cães inicialmente desenvo lvem "óculos", porcau-
ro. Uma vez dentro do macrófago, o promastigota retoma à forma sa da alopecia em vol ta dos olhos, o que é acompanh ado por
amastigota e novamente começa a se dividir. queda de pelos generali zada e eczema (Fig. 157), observan-
do -se leishmânias em grandes quantidades na pele infectada.
PATOGENIA Febre intermitente, anemia, caquexia e linfadenopatia genera-
Uzada também são sinais típicos.
As lesões básicas são focos de macrófagos proli feran tes ati- Não são raros longos períodos de reITÚssão seguidos pelo rea-
vados infectados com microrganismos leishmania (Fig. 156). parecimento de sintomatologia clínica.
192 ParasitoJogia Veterinária

Fig. 156 Micrografia eletrônica apresentando aglomerados de formas amastigotas de Leishmania no citoplasma de macrôfago.

EPIDEMIOLOGIA TRATAMENTO

A maioria das espécies de Leishmania infecta principalmente No homem, são usados co mumente compostos antimoni ais e
animais silvestres, em especial roedores, e o homem apenas oca,.- alopurinol mas que não são particularmente eficazes na doença
sionalmente se infecta. Outras espécies de Leishmania apresen'- canina, e em termos de saúde pública provavelmente seja me-
tam transmissão dircta de homem para homem, através de f1e- lhor sacrificar os cães infectados, particulannente com leishma-
botomíneos. O cão é um hospedeiro natural e reservatório de in- niose visceral.
fecção para algumas linhagens de L. donovani e L. tropica que
podem infectar o homem, especialmente crianças, na bacia do
Mediterrâneo. CONTROLE

DIAGNÓSTICO No que diz respeito à sa úde pública, em geraI é recomendável o


sacrifício dos cães infectados e cães errantes.
Em muitas regiões. a população de f1eboto míneos foi reduzi-
Depende da demonstração do parasita amastigota em esfregaços
da em conseqüência do controle de mosquitos da malária, e como
ou raspados de pele infectada ou de li nfonodos ou de biopsias
resultado a incidência de leishmaniose também caiu.
medulares.

Tricholllonas
o patógeno mais im portante neste gênero é o Tricho111onas foe-
tus, um microrganismo multiflagelado do trato reprodutor de
bovinos transmitido por via venérea. Nos touros, a infecção é
inaparente, mas nas vacas prenhes produz morte fetal precoce, o
que em geral é identificado como um problema de infertilidade.
Outras espécies de Trichomonas ocorrem no trato digestivo
de animais, aparentemente como comensais, e apenas uma es-
pécie, T. gallinae, é nitidamente patogênica no esófago e no papo
de pombos.

Trichomol1as Joelus
Hospedeiros:
Fig. 157 Leishmaniose cutânea num cão. Bovinos.
Protozoologia Veterinária 193

Localização: de. Em seguida, as vacas parecem "autocurar-se" e, na maioria


Nas vacas, o útero e intermitentemente a vagina. Nos touros, a dos casos, parecem desenvolver uma imunidade estéril.
cavidade prepucial.
PATOGENIA
Distribuição:
Mundial. Entretanto, a prevalência diminuiu de modo dramáti-
No touro, logo após a infecção, pode desenvolver-se um corri-
co nas regiões onde a inseminação artificial é amplamente prati-
mento prepucial associado a pequenos nódulos nas membranas
cada, e na Grã-Bretanha, por exemplo, atualmente é provável que
prepucial e peniana. A partir daí, não há sintomatologia clínica
a doença esteja extinta.
ou lesões.
Na vaca, o aborto antes do quarto mês de prenhez é a seqüela
IDENTIFICAÇÃO mais comum e normalmente é seguido de recuperação. Ocasio-
nalmente, há retenção das membranas fetais em desenvolvimento,
o organismo é pirifonne, com cerca de 20 X 10 J.lffi e tem ape- resultando em endometrite purulenta, corrimento uterino persis-
nas um núcleo e quatro flagelos, cada um deles originando-se num tente e anestro; raras vezes, o corpo lúteo fica retido e o tampão
corpo bãsãr situado na extremidade arredondada anterior (Fig. cervical permanece fechado , quando se desenvolve piometra
158). Três dos flagelos são livres anteriormente, enquanto o quar- maciça que, visualmente, lembra prenhez.
to se prolonga para trás e forma uma membrana ondulante ao
longo do comprimento do organismo e em seguida continua
posteriormente, corno flagelo livre. O axóstilo, um bastão hialino SINTOMA TOLOGIA CLíNICA
co~nção esquelética, prolonga o comprimento da célula e em
geral se projeta posteriormente. No touro, não há sintomatologia clínica uma vez estabelecida a
Em preparações frescas, o organismo é móvel e avança por infecç~o. Na vaca, o aborto precoce é um aspecto caracteristico,
meio de movimentos çspasmódicos girat.óri.Qs, sendo vistos fa- apesar de freqüentemente passar despercebido por causa do pe-
cilmente os flagelos vibráteis e os movimentos da membrana queno tamanho do feto, e o caso pode apresentar-se como um
ondulante. Às vezes, observam-se formas imóveis arredondadas, problema de ciclo estral irregular. Outros sinais clínicos são os
possivelmente degenerativas. de endometrite purulenta ou de piometra fechada, e, nestes ca-
sos, a vaca pode tornar-se permanentemente estéril.
CICLO EVOLUTIVO
EPIDEMIOLOGIA
Os touros, uma vez infectados, assim permanecem para sempre.
Os microrganismos habitam a cavidade prepucial, e a transmis- Poder-se-ia prever, normalmente, alta prevalência total de trico-
são para a vaca se dá durante o coito. Da vagina, atingem o útero monose, visto ser transmitida venereamente por touros sem sin-
via cérvix e produzem uma endometrite de baixo grau. Intermi- tomatologia clínica. Na verdade, o advento de esquemas super-
tentemente, os microrganismos fluem para a vagina, com freqüên- visionados-de inseminação artificial erradicou amplamente a
Cla dois ou três dias antes do estro. doença, que hoje se restringe a regiões onde há muitas pequenas
A infecção em geral é seguida por aborto precoce, sendo os propriedades, cada quaf'eom seus próprios touros, ou a regiões
microrganismos encontrados no líquido amniótico e no alantói- onde a supervisão veterinária é limitada.

DIAGNÓSTICO

Além de um problema de infertilidade, que usualmente acom-


panha a aquisição de um touro adulto, o diagnóstico depende da
demonstração do microrganismo.
O muco vaginal coletado da extremidade anterior da vagina
num tubo estéril, por sucção, ou lavados prepuciais do touro
podem ser examinados em microscópio com placa aquecida para
a presença de microrganismos. Entretanto, como o microrganis-
mo com freqüência está presente apenas intermitentemente, pode
ser necessário repetir o exame diversas vezes.
Alternati vamente, em termos de rebanho, amostras de muco
vaginal podem ser examinadas no laboratório para a presença
de aglutininas específicas contra culturas laboratoriais de T.
joetus.

TRATAMENTO

Como a doença é autolimitante na fêmea, normalmente é neces-


sário apenas tratamento sintomático e repouso sexual por três
meses. No touro, o abate é a melhor medida, embora haja relatos
Fig. 156 Trichomonas foe/us. da eficácia do dimetridazol por via oral ou intravenosa.
194 Parasitofogia Veterinária

CONTROLE

A inseminação arti fic ial de sêmen coletado de doadores não-in-


fectados é o único método de controle inteiramente sati sfatório.
Se for considerado o retorno à monta natural, as vacas recupera-
das devem ser descartadas. pois algumas delas podem permane-
cer portadoras.

Trichomonas gallinae
Esta espécie causa lesões necróticas amarelas na boca, no esôfa-
go e no papo de pombos jovens, freqüente mente sendo fatal. A
infecção é adquirida via conteúdo de papo regurgitado de aves
ad ultas, as quais, apesar de imunes, permanecem portadoras. Os
perus e as galinhas podem ocasionalmente infectar-se.
Para tratamento, recomenda-se dimetridazol, enquanto o con-
trole depende de se im·pedir o acesso de pombos sil vestres à água
de be ber.
Fig. 159 A forma cecal flagelada de Hisfomonas meleagridis.
[Tricomonose no homem: Trichomonas vaginaUs é um pató-
geno comum e hospedeiro-específico da vagina e da u retr~. Como
o T. foetus, sua tran smissão é venérea e a sintom atologia clínica
rios são liberados pela larva e penetram na mucosa cecal, onde
de infl amação está largamente restrita às fêmeas.]
causam ulceração e necrose. Chegam ao fígado pela ci rculação
porta e coloni zam o parênquima hepático, produzindo focos ne-
eróticos circulares que aumentam de tamanho conforme os pa-
l1istomonas meleagridis rasitas se multiplicam na periferia da lesão.
A fase seguinte do c iclo evolu tivo não está clara, mas se su-
H istomonas meleagridis é a causa de uma doença em perus jo-
põe que os ascarídeos Heterakis se infectem com os protozoári-
vens, conhecida como êntero-hepatite infecciosa, histomonose
os cecais, provavelmente por ingestão, e esses protozoários sub-
ou "cabeça negra". As lesões necróticas características restrin-
seqüenteme nte atinjam o ovário do nematóide. Já está estabele-
gem-se ao ceco e ao fígado, e a transmissão e ntre as aves depen-
cido que os protozoários se incorporam a uma certa proporção
de do transporte do protozoário no ovo do ascarídeo de aves
do s ovos de Heterakis e dessa maneira atingem o exterior.
Helerakis gallinarum.
A infecção das aves também pode resultar da ingestão de
minhocas, que são hospedeiros transportadores de ovos e larvas
Hospedeiros:
de Heterakis.
Perus, particularmente os bem jovens; ocasionalmente patogê-
nico em gali nhas e aves de caça.
PATOGENIA
Hospedeiro transportador:
O adu lto e os ovos do ascarídeo Heterakis gallinarum. A doença é essencialmente de perus jovens de até 14 semanas
de idade e se caracteri za por lesões necróticas no ceco e no fíga-
Localização: do. As lesões iniciais são pequenas úlceras no ceco, que rapida-
A mucosa cecal e o parênq uima hepático. mente aumentam e se fundem, de tal modo que toda a mucosa
fi ca necrosada e se desprende, formando, com o conteúdo cecal,
Distribuição: um tampão caseoso. As lesões do fígado são c ircul ares e têm até
Mundial. 1 cm de diâmetro, com centros amarelos formando depressões;
são encontradas tanto na superfíc ie como no parênquima hepáti-
co (Fig. 160).
IDENTIFICAÇÃO A mortalidade nos perus jovens pode chegar a 100%, e nas
aves que se recuperam o ceco e o fígado podem ter cicatrizes
Um parasita redondo ou oval, com 6 a 20 ).llTI de diâmetro, que permanentes.
na luz do ceco apresenta um único flagelo (Fig. 159), embora este
fl age lo pareça ter sido perdido quando no tecido mucoso ou no
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA
fígado. Tanto o estágio luminal como o estágio tecidual se loco-
movem por meio de pseudópodes.
Oito ou mais dias após a infecção, as aves tomam -se apáticas,
com as penas arrepiadas e as fezes de coloração amarelo-enxo-
CICLO EVOLUTIVO fre. A menos que tratad as, em geral morrem dentro de uma ou
duas semanas.
As aves infectam-se por ingestão do ovo embri onado do ascarí- Nos peru s mais velhos, a doença é mais comumente uma sín-
deo cecal Heterakis gallinarum, sendo os flage lados transporta- drome debilitante, crônica, seguida de recuperação e subseqüente
dos na larva não-eclodida. Quando o ovo eclode, os protozoá- imunidade.
Prolozoologia Veterinária 195

CONTROLE

Os perus devem ser criados em solos não ocupados por galinhas


domésticas durante no mínimo os doi s últimos anos ou em cama
fresca ou telas de arame acima do nível do chão.
Quando hou ver algum risco da doença. é altamente recomen-
dável a medicação contínua em baixos níveis, geralmente na ra-
ção em vez de na água de beber, com as drogas recém-descritas.

Hexwllira meleagridis
Este protozoário é algo semelhante ao Trichomonasfoetu.s, mas
é bilateralmente simétrico, visto possuir doi s núcleos, dois con-
juntos de três flagelos anteriores e dois flagelos que atravessam
o corpo, emergindo na prute posterior. É ocasionalmente respon-
sável por enteri te catarral em perus jovens.

Fig. 160 As lesões hepáticas necróticas circulares características de histomonose. Gi(//-dia lamblia
Este microrganismo é bilateral mente simétrico como o Hexami-
ta e também possui oito flagelo s. seis dos quais emergem como
A denominação "cabeça negra" foi usada primeiramente para flagelos livres em intervalos em volta do corpo (Fig. 161). É sin-
descrever a doença quando se supunha que a cianose da cabeça gular, pelo fato de possuir um grande disco adesivo na superfí-
e do monco (ou barbela) fosse um aspecto característico. Co ntu- cie ventral achatada do corpo, O que facilita a fixação às células
do, este si nal não está necessariamente presente e, de qualquer epite li ais da mucosa intestinal. O microrganismo é eliminado
maneira, não se restringe à histomonose. como cistos multinucleados em que os flagelos podem ser viSÍ-
veis e ocasionalmente como trofozoítos nas fezes. Sua detecção
EPIDEMIOLOGIA é a base do diagnóstico laboratorial.
A Giardia não é uma causa rara de diarréiacrônica no homem
Embora sem apresentar sintomatologia de infecção por Histomo- e a infeção também foi descrita em animais silvestres e domésti-
nas, a galinha doméstica comumente infecta-se com H. gallina- cos. Embora comumente sejam excretados cistos de Giardia nas
rum, cujos ovos, se ingeridos por perus, produzirão regularmen- fezes de cães e de gatos, não existe uma relação consistente com
te hi sto monose. diarréia ou outros sinais de problemas gastrintestinais, apesar de
Caracteri sticamente, a histomonose ocorre onde perus bem poderem atuar como reservatórios de infecção para o homem.
jovens são criados junto com gaJinhas ou em locais onde até re- Curiosamente, nos Estados Unidos, há evidência de que a Giar-
centemente havia gal inhas. Entretanto, como o organismo pode dia proveniente do homem que tem acesso a reservatórios mu-
sobreviver em ovos embrionados de Heterakis no solo ou sob a nicipais de água pode infectar animais silvestres com êxito, es-
forma de larvas em minhocas, podem surgir su rtos em locais pecialmente castores. Estes animais atuam, então, como fonte de
aparentemente livres do problema. .!
contaminação de abastecimentos domésticos de água.
Os perus jovens também podem infectar-se quando criados
por fêmeas chocas que são portadoras.

Disco suctorial
DIAGNÓSTICO

Baseia-se na hi stória, na sintomatologia clínica e em achados de


necropsia. Apesar de raramente necessário, podem ser prepara-
dos cortes histológicos de fígado ou de ceco para exame especí-
fico.

TRATAMENTO

Há várias drogas eficazes, incluindo dimetridazol, compostos de


nitrotiazol e nitiazida. Na Grã-Bretanha, apenas o dimetridazol
está liberado, sendo viáve l como pó para inclusão na ração ou,
como uma preparação solúvel mais facilmente administrada, para
adição à água de beber. Em ambos os casos, o tratamento deve
abranger todos os perus, infectados ou não, e deve prolongar-se
por 12 dias, após o que deve ser iniciado um esquema profiláti-
co da droga. Fig. 161 Giardia lamblia.
9 Parasito/agia Veterinária

Subfilo SPOROZOA IDENTIFICAÇÃO

Os protozoários pertencentes ao subfilo Sporozoa caracterizam- Pode ser feita em nível microscópico ou pelo exame das fezes
se por ocorrência intracelular e por terem um complexo apical para a presença de oocistos ou por exame de raspados ou cortes
em algum estágio de seu desenvolvimento. Os trofozoítos não histológicos de tecidos acometidos.
têm cílios ou fl agelos. A reprodução envolve fases assexuada
(esqui zogonia) e sexuada (gametogonia). Após a gametogonia, OOCISTOS
for ma-se um zigoto que se divide e prouuz espurus (t:spurogonia).
Das três c lasses de significado veterinário, as duas mais im- Os oocistos podem ser identi ficados de acordo com a fonna e o
portantes são a Coccidia ou esporozoários intestinais e a Piro- tamanho. As formas mais comuns são esférica, oval ou elipsóide e
plasmidia, que consiste cm esporozoários sangüíneos. o tamanho das espécies comuns varia de 15 a 50 ,.un. Os oocistos
possuem uma casca refrátil e algumas espécies possuem um peque-
no poro numa das extremidades, o micrópilo, que freqüentemente
Classe COCCIDIA é coberto por um tampão polar que pode ser saliente. O tempo gas-
to para que ocorra esporulação em condições nonnais também pode
A classe Coccidia contém parasitas que ocorrem principalmente ser usado como uma ajuda para a identificação.
nos vertebrados. Como os parasitas de importância veterinária
estão incluídos em duas famI1ias distintas, a Eimeriidae e a Sar- Estágios teciduais
cocystidae, propomos discuti-Ias separadamente.
Os esquizontes maduros podem, em alguns casos, ser identifica-
dos histologicamente por sua localização. tamanho e número de
FamOIa EIMERlIDAE merozoítos que contêm. Os merozoítos dispõem-se corno uma sé-
rie de microrganismos de formato em crescente (5 a 10 ~), muito
São principalmente parasitas intracel ul ares do epitélio intesti- semelhante ao aspecto de uma cebola cortada. Por outro lado, no
nal. A esqu izogon ia e a gamctogonia ocorrcm no hospedeiro e microgametócito maduro, os microgametas dispõem-se ao redor da
a esporulação, ou maturação do zigoto fertili zado, em geral tem periferia da célula e têm cerca de 5 j.U11 de comprimentp. O macro-
lugar fora do hospedeiro. Embora três gêneros, Eimeria, lsos- gametócito possui um grande núcleo central, com pequenos grâ.
pora e Cryptosporidiwn, tenham considerável importância ve- nulos dispostos em volta da periferia da célula. Equivale em tama-
terinária, o termo coccidiose usualmente está reservado para in- nho ao oocista que eventualmente se desenvolverá a partir dele.
fecções causadas por espécies de Eimeria e lsospora. Como as
diferenças na patogenia e na epidemiologia das diferentes es- CICLO EVOLUTIVO
pécies são mínimas, propomos que, após comentários gerais
sobre e las, a si ntomatologia clínica, o diagnóstico, o tratamen- Divide-seem três fases: ~o rulação, infecção e esquizogonia e_
to e o controle sejam considerados detalhadamente para cada finalmente, gametogonia e fonnação de oocisto (Fig. 162).
hospedeiro.
Esporulação
Eimeria Os oocistas não-esporulado s. constitu ídos de uma massa
protoplasmática nucleada envolta por uma parede resistente, são
Hospedeiros: eliminados nas fe zes. Em condições adeq uadas de oxigenação.
Aves domésticas, bovinos, ovinos, caprinos, suínos, eqüinos e alta umidade e temperaturas ideais de aprox imadamente 27°C. o
coelhos. núcl eo di vide-se duas vezes e a massa protoplasmática forma
qu atro corpos cónicos, que se irradiam de uma massa central
Localização: Cada um desses cones nucleados torna-se arredondado e fonnz
Células epiteliais do intestino e em duas espécies o rim e o fíga- um esporoblasto, enquanto em algumas espécies o protoplasIll.2.
do, respectivamente. restante forma o corpo oocístico residual. Cada esporoblaslo
secrela uma parede de material refrátil e passa a ser conhecido
ESPÉCIES IMPORTANTES como esporocisto, enquanto o protoplasma em seu interior di-
Eimeria renella, E. necatrix, E. brunetti, E. maxima, E. mi/is e vide-se em dois esporozoítos em forma de banana. Em algumas
E. acervulina - galinhas espécies, o protoplasma restante no interior do esporocis to for-
E. meleagrimitis e E. adenoeides - perus ma um corpo residual esporocístico.
E. anseris, E. nocens e E. truncata (rim) - gansos O tempo gasto para estas alterações varia de acordo com a tem-
E. zuernii, E. bovis e E. alabamensis - bovinos peratura, mas em condições ideais usualmente requer dois a quatro
E. crandallis, E. ovinoidalis, E. bakuensis - ovinos dias. O oocisto, constituído agora de uma parede externa envolvendo
E. arloingi e E. ninakohlyakimovae - caprinos quatro esporocistos cada qual contendo dois esporozoítos, é desig-
E. debliecki - suínos nado oocisto esporulado e é o estágio infectante (Fig. 163).
E. leuckarti - eqüinos
E. flavescens, E. intestinalis e E. stiedae (fígado) - coelhos. Infecção e esquizogonia (reprodução assexuada)

Distribuição: o hospedeiro infecta-se por ingestão do oocisto esporulado. {)f


Mundial. esporocistos são então liberados mecanicamente ou por CO:, ç
,
Protozoologia Veterinária 197

Mero-iõito
Esquizonte de
segundo estágio

Esquizonte de
primeiro estágio
• • Gametogonia

Microgametócito
• ®
Trofozoíto
F-+-- Macrogametócito


~ Zigoto

t /

•. Oocisto

~ !I' •
• Esporulação

Fig. 162 Ciclo evolutivo de Eimeria.

os esporozoítos, ati vados por tripsina e bile, deixam o esporocisto. repetida e formam uma grande quantidade de organi smos
Na maioria das espécies, cada esporozoíto penetra numa célula uninucleados flagelados, os microgametas. É somente durante
epitelial, arredonda· se e é conhecido então como trofozoíto. Em esta breve fase que os coccídios apresentam órgãos de locomo-
algumas espécies, entretanto, por exemplo a E. tenelia, os espo- ção. Os microgametas são liberados por ruptura da célula hos-
rozoítos penetram no epitélio, são captados por macrófagos na pedeira, um deles penetra num macrogameta e ocorre, assim, a
lâmina própria das vilosidades e transportados para uma posi- fusão dos núcleos do micro- e do macrogameta. Forma-se uma
ção profunda na mucosa, onde deixam os macrófagos e penetram parede cística em volta do zigoto agora conhecido como oocisto
nas células epiteliais, formando trofozoítos. Após alguns dias, e geralmente não mais se observa desenvolvimento, até que este
cada trofozoíto terá se dividido por fissão binária e formado um oocisto não· esporulado seja eliminado nas fezes.
esquizonte (Fig. 164), uma estrutura constituída de uma grande O período pré-patente varia consideravelmente, podendo ser
quantidade de microrganismos nucleados alongados, conhecidos tão curto quanto cinco dias em aves domésticas e de até três a
como merozoítos. Quando a divisão está completa e o esquizonte quatro semanas em algumas espécies de ruminantes.
maduro, a célula hospedeira e o esqui zonte rompem-se e os
merozoítos saem e invadem células adjacentes. A esquizogonia
pode ser repetida, e o número de gerações de esquizontes depen- Isospora (sin. CystoLlOspora)
dendo da espécie.
O gênero Isospora contém muitas espécies e como o gênero
Gametogonia e formação de oocisto Eimeria parasita uma ampla variedade de hospedeiros.
(reprodução sexuada) As espécies importantes incluem a I. suis nos suínos, I. ca-
nis e I. ohioensis nos cães e I. feiis e l. rivolta nos gatos. O ciclo
A esquizogonia termina quando os merozoítos dão origem a evolutivo das espécies de Isospora difere do ciclo das espécies
gametócitos masculinos e femininos (Fig. 164). Os fatores res- de Eirneria em três aspectos. Primeiramente, o oocisto esporulado
ponsáveis por esta mudança não são totalmente conhecidos. Os contém dois esporocistos, cada um com quatro esporozoítos. Em
macrogametócitos são femininos e permanecem unicelulares, segundo lugar, os estágios extra-intestinais que ocorrem no baço,
mas seu tamanho aumenta, ocupando a célula parasitada. Podem no fígado e nos linfonodos do suíno podem reinvadir a mucosa
ser distinguidos de trofozoítos ou esquizontes em desenvolvimen- intestinal e causar sintomatologia clínica. Em terceiro lugar, os
to pelo fato de possuírem um núcleo único e grande . Os roedores podem, por ingestão de oocistos de cães e gatos, infec-
microgametócitos masculinos sofrem, cada um deles, divisão tar-se com estágios assexuadas e amar como reservatórios.
..
198 Parasitologia Veterinária

Micrópilo com Tampão Polar

Esporocisto
contendo
2 esporozoítos

Fig. 163 Eimeria. (a) Estrutura de Docista esporulado; (b) O Docista


lal esporulado de Eimeria maxima.

Ibl

ASPECTOS GERAIS DE EIMERIA rer em dois dias depois de sua eliminação nas fezes, este período
EISOSPORA pode ser muito mais longo no pasto. Os Docistas têm longevida-
de considerável e podem persistir por vários anos.
Há também certa evidência de que o ciclo evolutivo de deter-
EPIDEMIOLOGIA E IMUNIDADE minados coccídios de ruminantes pode ter desenvolvimento re-
tardado ou inibido no estágio esquizogônico; a retomada do de-
Tanto em Eimeria como em lsospora, certos tipos de manejo senvolvimento vários meses depois com subseqüente eliminação
envolvendo aviários, currais e pocilgas com camas densas ofe- de oocistos pode desempenhar um papel importante na epidemi-
recem condições ideais de temperatura e umidade para esporu- ologia da coccidiose bovina.
lação de oocistos; com a superlotação, o risco de infecção maci- Após a infecção, desenvolve-se imunidade, e os estágios imu-
ça é ainda maior. Embora a esporulação de oocistos possa ocor- nogênicos variam de acordo com a espécie, mas em geral são aque-
Protozoologia Veterinária 199

e às vezes alguns estágios da E. brunelli também ocorram no


ceco.
A coccicliose causada pe la E. tene/la ocorre principalmente
e m pintinhos de três a sete semanas de idade. Como observado
anteriormente, os esq uizontes de primeiro estágio desta espécie
desenvolvem-se profundamente nas glândulas. Os esqui zontes
de segundo estágio também são incomuns, visto que as cél ulas
epiteliais nas quai s se desenvo lvem dei xam a mucosa e migram
para a lâmina própria e a submucosa. Quando estes esqui zontes
amadurecem e se rompem, cerca de 72 horas após a ingestão de
(ai oocistos, ocorre hemo rragia, a superfície mucosa desprende-se
amplamente e se manifesta a sintomatologia clínica. O período
pré-patente é de sete dias e os oocistos ovais esporulam em dois
a três dias em condições normais nos aviários.
A doen ça clínica ocorre quando grandes qu antidades de 00-
cistos são ingeridas durante um cu rto período e se caracteriza pela
presença de fezes moles, com freq üência contendo sangue. Os
pintos ficam tri stes e apáticos, com as penas caídas. Nas infec-
ções subclínicas, há ganhos de peso e índices de conversão ali-
mentar baixos.
Ao exame pós-mane das aves que apresentavam sangue nas
\ fezes, o ceco encontra-se dilatado e contém uma mistura de san-
gue coagulado e não-coagulado (Prancha XIV). Nas infecções de
(bl
longa duração, o conteúdo cecal torna-se caseoso e aderente à
Fig. 164 Eimeria. (a) Esquizontes de Eimeria necatrix ( i ); (b) Microgametócilo e mucosa. Conforme se dá a regeneração da mucosa, esses tampões
macrogametócito de Eimeria maxima.
cecais soltam-se e o material caseoso é eliminado nas fezes.
( Apesar do desenvolvimen to de boa imunidade à reinfecção,
les envolvidos em esq uizogonia. O mecanismo da resposta não é deve-se ressaltar que as aves rec uperadas freqüentemente co nti-
totalmente conhecido, mas supõe-se que seja uma co mbinação de nuam a eliminar algun s oocistos e atu am, portanto, como porta-
fatores celulares e humorais. Tanto as espécies de Eimeria como doras.
as de Isospora são altamente hospedeiro-específicas e a imunida-
de para qualquer espécie é eficaz apenas para tal espécie. COCC/D/OSE DO /NTESTlNO DELGADO

PATOLOG/A Há várias espécies importantes, das quais a E. necatrix é a mais


patogênica. Entretanto, a prevalência de doença por esta espécie
Tanto Eimeria como Isospora produzem alterações na mucosa e de coccidiose cecal por E. lenella declinou, pois muitos dos
intestinal, cuja gravidade está relacionada à den sidade parasitá- anticoccfdios em uso geral foram desenvo lvidos especificamen-
ri a e à localização dos parasitas na muco sa. Após a ruptura das te para controlar estas duas espécies patogênicas. Como resulta-
células co ntendo esqui zontes o u ga montes, o tecido em geral do, as outras espécies do intes tino delgado assumiram uma pe-
recupera len tamente sua morfologia básica. Nas infecções mui - valência mai or. Estas espécies incluem E. bnmetti, que é alta-
to maciças com espécies em que os esqu izontes e m desenvolv i- mente patogêni ca, poré m mais comumente E. acervulina, E.
mento se locali zam profundamente na mucosa ou na submuco- maxima e E. mitis de patogenic idade moderada e a E. praecox,
sa, por exemplo a E. tene/la em gal inh as, a destruição é tão gra- que é apenas um patógeno de menor importância. Os períodos
ve que ocorre hemo rragia. Nas infecções mais leves, o efei to pré-patentes variam de quatro a sete dias. Como na coccidiose
sobre a mucosa intes tinal é a diminuição da absorção local. cecal, a doença clínica ocorre cerca de três dias após a ingestão
Nas espécies que se desenvolvem mai s superficialmente, por de grandes quantidades de oocistos.
exemplo a E. acervulina nas galinhas, a infecção resulta numa Geralme nte, as aves mais velhas são acometidas pelas espé-
alteração na estrutura da vilosidade, com redução na altura da cies encontradas no intestino delgado e a sintomatologia clínica
célula epitelial e diminuição da borda em escova, dando o aspecto é semelhante à da coccidiose cecal, exceto que apenas determi-
de "mucosa achatada". Estas alterações resultam em redução da nadas espécies, como a E. necatrix e a E. brunelli, causam lesão
área superficial viável para absorção e conseq üentemen te em suficiente para o apareci mento de sangue nas fezes. As infecções
menor eficiência alimentar. subclínicas são mais comuns que a doença manifes ta, podcJltlu-
se suspeitar delas qu ando as fra ngas apresentam baixos índices
COCC/D/OSE DE AVES DOMÉST/CAS de crescimento e de conversão alimentar e o ínic io da postura de
ovos está atrasado.
Nas aves domésticas, pode ser conveni entemente dividida em Ao exame pós-morte, a localização e a gravidade das lesões
coccidiose cecal e intestinal. variam segundo a espécie e estão resumidas no Quadro 7, junta-
mente com a morfologia e os tempos de esporulação do oocisto
COCC/D/OSE CECAL pertinente.
Nos peru s, a coccidiose causada por duas espécies, E. melea-
A E. tenelia é a espécie fundamentalmen te responsável por coc- grimitis e E. adenoeides, ocorre no intesti no delgado e no intes-
cidiose cecal, embora os es tágio s gametogônicos da E. necalrix tino de lgado e ceco, respectivamente. O período pré-patente de
ambas é de cinco dias. Os oocistos de E. meleagrimitis são su- zadas, e recomenda-se a sua admini~tração na água de beber j:ltt"
besféricos e medem aproxim adamente 19 X 16 /Lm , ao contrá- dois períodos de três dias. com intervalo de dois dias entre trata-
rio dos oocistos de E adenoeides, os quais são elipsóides e me- mentos. A sulfaquinoxalina, às vezes potencializada com di ave-
dem cerca de 25 X 17 fLm. O tempo de esporulação para ambos ridina, ou a sulfadimidina, são as drogas de escolha . Onde já se
à temperatura ambiente é de 24 horas. desenvolveu resistência às sulfonamidas, as mi sturas de ampró-
A patogenicidade dacoccidiose de perus está associada a esqui- lio e etopabato dão bons resultados.
zogonia e gametogonia. A E. adenoeides tem duas gerações de No tratamento bem-sucedido de um surto de coccidiose. o
esquizontes, e a sintomatologia começa a manifestar-se quatro dias objetivo é tratar as aves já afetadas e, ao mesmo tempo , permitir
após a infecção coincidindo com a ruptura dos esquizontes de se- desenvolvimento esquizogônico suficiente nas aves clinicamente
gundo estágio. A E. meleagrimitis apresenta três gerações de es- não-afetadas para estimular a sua res istência. Por este moti vo.
quizogonia, e a doença ocorre com a ruptura dos esquizontes de as sulfonamidas, que têm seu efeito máximo no esquizonte de
terceiro estágio, também quatro dias após a infecção . segundo estágio, são as melhores drogas no tratamento de coc-
. A doença é observada em perus muito jovens de duas a dez cidiose de aves domésticas.
semanas de idade e raramente em aves mais velhas, por causa da
imunidade adquirida. Os perus acometidos ficam tristes, apáti- CONTROLE
cos, têm as penas arrepiadas e mantêm a cabeça entre as asas.
As fezes são brancas e mucóides e podem conter sangue, parti- A prevenção da coccidiose aviária baseia-se numa combinação
cularmente nas infecções por E. adenoeides. de bom manejo e uso de compostos anticoccídicos na ração ou
Há relativamente poucas informações sobre coccidiose de na água. Assim, a cama deve ser mantida sempre limpa, mere-
patos e gansos. A E. anseris e a E. nocens foram descritas como
cendo particular atenção as camas próximas a bebedouros ou
causadoras de coccidiose intestinal aguda em gansos novos na cochos de alimentação. Devem ser utilizados sempre bebedou-
Grã-Bretanha, enquanto uma outra espéc ie, a E. truncata, encon- ros que impeçam que a água atinja a cama e devem ser coloca-
trada nos rins de gansos, pode causar nefrite aguda, especialmente dos sobre bandejas de calhas ou acima da fossa de excrementos.
onde os gansos domésticos são criados de modo intensivo; fo- Os comedouros e bebedouros devem ser de tipo e altura tais que
ram registrados surtos também em gansos de parques nacionais. não possam ser contaminados por dejeções. A boa ventilação
também reduz a umidade no aviário e ajuda a manter a cama seca.
DIAGNÓSTICO De preferência, sempre colocar cama limpa entre lotes de aves.
Se isto nâo for possível, a cama deve ser empilhada e assim
Baseia-se melhor no exame pós-morte de algumas aves acometi- mantida por 24 horas depois de ter ating ido a temperatura de
das. Embora possam ser detectados oocistos ao exame fecal, seria 50°C; em seguida, deve ser revolvida novamente e o processo
errado fazer o diagnóstico com base apenas nesta evidência por duas repetido, para assegurar a destruição de todos os OOC1stos na cama.
razões. Primeiramente, o maior efeito patogênico em geral ocorre O uso de agentes anticoccídicos depende do tipo de manej o
antes da produção de oocistos e, em segundo lugar, dependendo da envolvido. Os pintos para corte recebem medicamentos na ra-
espécie envolvida, a presença de grandes quantidades de oocistos ção durante toda a vida e os anticoccídicos empregados são man-
não está necessariamente relacionada a graves alterações patológi- tidos em um nível suficiente para impedir esquizogonia. As dro-
cas no intestino. À necropsia, a localização e o tipo de lesões pre- gas viáveis para uso isolado ou em diversas combinações são
sentes constituem uma boa indicação das espécies, o que pode ser amprólio, clopidol, diclazuril, etopabato, halofuginona, lasalo-
confIrmado por exame dos oocistos nas fezes e dos esquizontes e cid, maduramicina, monensina, narasina, nicarbazina, robenidi-
oocistos presentes em raspados do intestino. na, salinomicina e sulfaquinoxalina. Recomenda-se a troca das
drogas entre lotes de pintos, o chamado "programa alternado",
TRATAMENTO ou dentro do período de vida de cada lote. A maioria das drogas
têm um período mínimo de suspensão antes que as aves possam
Deve ser instituído o mais breve possível depois de feito o diag- ser abatidas para consumo humano. Geralmente, é de cinco a sete
nóstico. As sulfonamidas são as drogas mais amplamente utili- dias.

Quadro 7 Caracteres diferenciais de seis importantes espécies de Eimeria nas aves domésticas

E. tenella E. necatrix E. brunetti E. acervulina E. maxima E.mitis

Região Ceco I.D. Parte inferior Parte superior Parte média Parte inferior
do 1.0. do 1.0. do l.0. do l.O.
Lesões intestinais Hemorragia I-!emorragia Hemorragia leve Exsudato aquoso Exsudato rosa· Sem lesões
Pontos brancos Parede espessada Necrose coagulativa Faixas transversais salmão visíveis
Pontos brancos brancas Paredes espessa·
das
Hemorragia com
infecções maciças

Sangue nas fezes ++ +


Grau de patogenicidade ++ ++ + ++ + "++ + ++ ++ ++
Tamanho do 23 x 19 20 x 17 25 x 19 18 x 14 30 x 20 16x 15
oocisto (fJ..m)
50% de esporulação. 21 20 38 12 38 19
tempo em horas
a 29' C
Protozoologia Veterinária 20 1

Nos locais em que as aves de postura de reposição perma- registradas, dois dos principais patógenos são E. zuernii e E.
necem todo o tempo em pisos de tela de arame, não há necessi- bovis. A E. zuernii é particulannente patogénica, atacando o ceco
dade de medicação; se forem criadas em camas, para eventual e o cólon e, em infecções maciças, produz uma grave disenteria
produção em gaiolas suspensas, administram-se então coccidi- sanguinolenta acompanhada por tenesmo. Seu período pré-pa-
ostáticos no mesmo nível que o utilizado para frangos de corte. tente é de 17 dias e produz oocistos pequenos e esféricos de 16
Se elas forem criadas em camas, para produção em camas, uti- ).1Ill de diâmetro. A E. bovis também acomete o ceco e o cólon,
liza-se então um programa de anticoccídios para estimular a imu- produzindo uma grave enterite e diarréia nas infecções maciças.
nidade. As preparações uti lizadas com mais freqüéncia, isola- Caracteristicamente, podem ser encontrados esquizontes nos
damente ou em combinação, são amprólio, etopabato, lasalocid, vasos lacteais centrais das vilosidades (Fig. 165). O período pré-
monensina e sulfaquinoxalina. O esquema consiste na adminis- patente é de 18 dias e os oocistos são grandes, ovais e medem 28
tração destas drogas em nível decrescente durante as primeiras X 20 ~. A doença depende das condições epidemiológicas que
16 ou 18 semanas de vida. Isto pode ser feito como uma redu- precipitam uma ingestão maciça de oocistos, tais como superlo-
ção em duas etapas, isto é, entre O e 8 semanas e 8 e 16 sema- tação em currais ou grandes quantidades de alimentos sem con-
nas, ou, alternativamente, como uma redução em três etapas, de dições higiénicas. Pode ocorrer também no pasto, onde os ani-
O a 6 semanas, 6 a 12 semanas e 12 a 18 semanas. Com esta téc- mais se agrupam em volta de bebedouros. Em certas regiões
nica, mantém-se proteção completa contra o desafio coccídico européias, a E. alabamensis foi responsável por surtos de diar-
nas aves muito jovens, e a taxa de droga reduzida nas aves mais réia em bezerros que recentemente haviam sido levados de volta
velhas permite exposição limitada a coccídios em desenvolvi- a recintos permanentes de bezerros.
mento, de tal modo que pode desenvolver-se imunidade adqui- O diagnóstico baseia-se na história e na sintomatologia clíni-
rida. ca e, nas infecções patentes, na presença de oocistos das espéci-
Quando são utilizados coccidiostáticos na ração, há dois ou- es patogênicas nas fezes.
tros fatores a serem considerados. Primeiramente, podem ocor- Recomenda-se tratamento com sulfadimidina, por via oral ou
rer surtos de coccidiose em aves mantidas com ração medicada parenteral, que é repetido na metade da dose inicial durante os
seja porque o nível de coccidiostático usado é baixo demais ou dois dias seguintes. Alternativamente, pode se utilizar uma com-
porque as condições no aviário mudaram, permitindo uma espo- binação de amprólio e etopabato ou decoquinato.
rulação maciça de oocistos, os quais, à ingestão, o nível da dro- A prevenção baseia-se em bom manejo; em particular, os
ga não mais consegue controlar. Em segundo lugar, deve-se con- comedouros e bebedouros devem ser trocados regularmente e a
siderar também a influência de infecções intercorrentes que al- cama deve ser mantida seca.
teraram 9 apetite e, conseqüentemente, a ingestão de coccidios-
tático. COCC/D/OSE DE OVINOS E CAPRINOS
Nos perus, as sulfonamidas são mais uma vez as drogas de
escolha no tratamento. Para profilaxia, normalmente são adicio- A coccidiose clínica de ovinos e caprinos ocorre principalmente
nados coccidiostáticos à ração durante as primeiras 12 a 16 se- em cordeiros e cabritos jovens e parece haver uma prevalência
manas de vida. As drogas comumente utilizadas são sulfaquino- crescente em condições de criação,intensiva. Embora a maioria
xalina uma mistura de amprólio, etopabato e sulfaquinoxalina ou dos ovinos, principalmente os que têm menos de um ano de ida-
halofuginona em baixa concentração. A monensina também é de, seja portadora de coccídios, apenas duas das 11 espécies são
usada, apesar de viável apenas sob receita por causa do seu mai- conhecidas como altamente patogénicas. São a E. crandaUis e a
or risco de toxicidade para perus. E. ovinoidalis. as duas com um período pré-patente de 15 dias.
Nos Estados Unidos, há no comérciduma "vacina" constitu- Os oocistos da E. crandallis têm paredes espessas e são subesfé-
ída de oocistos de oito espécies de coccídios. As aves jovens ricos, enquanto os oocistos da E. ovinoidalis são elipsóides, com
recebem esta vacina viva na água de beber, e 10 dias depois in- uma casca interna distinta; ambos possuem tampões polares. A
troduz-se um coccidiostático na ração por um período de trés a diferenciação das muitas espécies é uma tarefa de especialistas.
quatro semanas. Tem-se obtido também imunização adequada As infecções maciças em cordeiros são responsáveis por gra-
com oocistos atenuados por irradiação, e agora existe uma vaci- ve diarréia, que às vezes contém sangue. As lesões patogênicas
na oral, viva, atenuada, como alternativa para os coccidiostáti-
cos, no controle de coccidiose em pintos. Isto consiste em linha-
gens "precoces" selecionadas de cada espécie de coccídio que
afeta as aves domésticas; essas linhagens apresentam rápido
desenvolvimento in vivo com lesão mínima no intestino mas es-
timulando uma imunidade eficaz. Para que tenham sucesso,
ambas as técnicas dependem da exposição subseqüente a oocis-
tos para produzir imunidade, o que pode não ocorrer, a menos
que a cama seja suficientemente úmida para pennitir a esporula-
ção. Há um considerável interesse no desenvolvimento de vaci-
nas mais eficazes, visto que há cada vez maior resistência a dro-
gas em coccidiose.

COCC/D/OSE DE BOV/NOS

A coccidiose bovina ocorre no mundo inteiro e em geral acome-


te os bovinos de menos de um ano de idade, mas ocasionalmen- Fig. 165 o esquizonte de Eimeria bovis é encontrado freqüentemente no vaso ladeai
te é observada em animais de um ano e adultos. Das 13 espécies central de uma vilosidade .
102 Parasitologia Veterin.ária

são princjpalmente no ceco e no cólon, onde ocorrem gameto- ção de oocistos e é muito semelhante à sintomatologia causada
gonia de E. crandallis e esquizogonia de segundo estágio e ga- por outros patógenos, como rotavÍrus.
metogonia de E. ovinoidalis. As lesões causam hemorragia lo- O tratamento com amprólio por via oral para os leitões aco-
cal e edema, podendo a atrofia das vilosidades ser uma seqü ela metidos usualmente é eficaz, enquanto se pode obter a preven-
que resulta em má absorção. ção pela administração de amprólio na ração a porcas durante o
Diversas espécies, incluindo a E. ovinoidalis, produzem es- período peripuerperal, isto é, de uma semana antes do parto até
quizontes gigantes, de até 300 ~ de diâmetro, que podem ser três semanas pós-parto.
observados macroscopicamente como pontos brancos na parte
inferior do intestino delgado. Neste local, podem ocorrer tam- COCCIDlOSE DE EQÜINOS
bém lesões semelhantes a papilomas, usualmente uma seqüela
da formação de gametócitos por E. bakuensis, mas não têm gran- A Eimeria (sin. Globidium) leuckarti ocorre no intestino del ga-
de significado patogênico (Prancha XIV). do de eqüinos e asininos, tendo sido apontada como a causa de
Os cordeiros em geral são acometidos entre quatro e sete se- uma diarréia intennitente. O período pré-patente é de 15 dias e
manas de idade, com o pico da infecção por volta de seis sema- os oocistos ovais são muito grandes, medindo 80 X 60~, com
nas. Os surtos relatados ocorreram onde as ovelhas e os cordei- espessa casca escura e mjcrópilo distinto.
ros eram estabulados em condições sem higiene ou submetidos A patologia inclui alterações inflamatóri as m arcantes na
a pastejo intensivo. O fomecimento de concentrados em cochas mucosa e ruptura da estrutura das vilosidades.
fixos, ao redor dos quais houve intensa contaminação com 00- O diagnóstico é difícil e, dada a natureza pesada dos oocis-
cistos, também pode ser um fator precipitante. Nos Estados Uni- tos, devem ser empregadas técnicas de sedimentação ou, se for
dos, ocorre coccidiose quando os cordeiros mais velhos são con- usada a flutuação, é necessária uma solução saturada de açúcar.
finados em piquetes após o desmame. Pouco se sabe sobre o tratamento, mas por analogia com outros
Na Europa Ocidental, em rebanhos com parição na primave- hospedeiros, pode-se tentar sulfadimidina ou amprólio.
ra, a infecção dos cordeiros resulta tanto de oocistos que sobre-
vi veram ao inverno como dos oocistos produzidos por ovelhas
durante o penodo peripuerperal. COCCIDIOSE DE COELHOS
O diagnóstico baseia-se na história do manejo, na idade dos
cordeiros, em lesões pós-morte e no exame fecal para oocistos. Há três espécies patogênicas principais em coelhos, a saber, E.
Estes últimos podem estar presentes em quantidades muito gran- stiedae, E.flavescens e E. intestina/is. O penodo pré-patente da
des tanto em cordeiros sadios como em doentes, de tal modo que E. stiedae é de 18 dias e das outras é de cinco a sete dias.
sempre é recomendável necropsia. A doença é mais comum perto do desmame e a sintomatolo-
O tratamento é o mesmo descrito para bovinos. gia da infecção por E. stiedae inclui enfraquecimento, diarréia.
A prevenção baseia-se em bom manejo e troca regular de ascite e poliúria. Esta espécie, que ocorre nos ductos biliares,
comedouros e bebedouros, mas, em alguns rebanhos intensivos atinge o fígado pelos duetos porta e em seguida se localiza no
em que o problema ocorre anualmente, podem ser incluídos bai- epitélio dos duetos biliares, onde resulta numa grave colangite.
xos níveis de amprólio ou decoqu inato na ração. O fígado apresenta-se dilatado e repleto de nódulos brancos. As
Pouco se sabe a respeito do problema da coccidiose em ca- espécies intestinais, E.flavescens e E. intestinalis, que são as mais
prinos, mas freqüentemente são registrados oocistos nas fezes, e significativas nas criações comerciais de coelhos, causam des-
uma espécie, E. arloingi, foi descrita como causadora de grave truição das criptas no ceco, resultando em diarréia e emagreci-
patologia. Não eSlá claro se as espécies ovinas podem afetar os mento.
caprinos, mas isto parece improvável diante da alta especifici- O diagnóstico, como em outras espécies, é mais bem feito por
dade de hospedeiros demonstrada pelas espécies de Eimeria. exame pós-morte. Na prática, entretanto, a demonstração de
oocistos nas fezes é freqüentemente usada como uma indicação
de que os coelhos necessitam de tratamento. Os oocistos de E.
COCCIDIOSE DE SUíNOS
stiedae são elipsóides e têm 37 X 21 ~ de tamanho; os oocis-
tos da E. flavescens são ovóides e medem 31 X 21 jLm, com um
Embora tenham sido descritas urnas dez espécies de coccídios
micrópilo na extremidade larga; e os oocistos da E. intestinalis
para os suínos, a sua importância não está clara. A E. debliecki
são piriformes e medem 27 X 18~.
foi descrita como causadora de doença clínica e grave patologia,
e apenas relativamente há pouco tempo uma outra espécie, Isos- Para tratamento, utilizam-se sulfadimidina ou sulfaquinoxa-
pora suis, foi apontada como a causa de urna grave enterite de !ina na água de beber. O controle da coccidiose de coelhos en-
ocorrência natural em leitões novos de urna a duas semanas de volve a limpeza diária das gaiolas, coelheiras ou cercados, bem
idade. A 1. suis tem um período pré-patente curto de quatro a seis como comedouros limpos. Em muitas unidades grandes, obtém-
dias; os oocistas elipsóides medem 17 x 13 f.Lme quando espo- se o controle, criando-se os animais em pisos de tela de arame
rulados contêm os dois esporocistos com quatro esporozoÍtos ou, alternativamente, pela incorporação à ração de coccidiostá-
característicos de lsospora. Os principais sinais clínicos inclu- ticos, como amprólio, clopidol ou robenidina.
em diarréia, freqüentemente bifásica, cuja gravidade varia de
fezes amolecidas a diarréia líquida persistente. COCCIDIOSE DE CÃES E GA TOS
A fonte de infecção parece ser oocistos produzidos pela por-
ca durante o período peripuerperal e os leitões infectam-se inici- Antigamente, supunha-se que as espécies do gênero Isospora
almente por coprofagia; a segunda fase de diarréia é iniciada por eram li vremente transmissíveis entre cães.e gatos, mas agora está
rei nvasão por estágios teciduais. O diagnóstico desta condição é estabelecido que não é este o caso.
difícil, a menos que haja disponibilidade de materiaJ pós-morte, No cão, as espécies comuns de Isospora são J. canis e I. ohi-
uma vez que a sintomatologia clínica ocorre antes da elimina- oensis. O período pré-patente de ambas é de menos de 10 dias e
Proro?Oologia Veterinária 203

o oocisto de /. can is é o maior, medindo 38 X 30 ILm , enquanto ocorrer infecção cruzada en tre animais do mésticos e de labo-
o de /. ohioensis mede 25 X 20 ILm. Não há uma real evidência ratório e o homem.
de que estas espécies sejam patogênicas por si próprias, mas a O ciclo evoluti vo do Clyptosporidium é bas icamente seme-
infecção pode ser exacerbada por virose intercorrente ou outros lhante ao de outros coccídios intestinais, embora, como o Sar-
agentes imunossupressores. Os ciclos evolutivos são nomlalrnen- cocystis, a esporulação tenha lugar no hospedeiro. Os minúscu-
te diretos, embora haj a certa evidência de que pode estar envo l- los oocistos (4,0-4,5 fLm), cada um com quatro esporozoítos, são .
vida um a re lação predador-presa e que os cães podem adqui rir eliminados nas fezes. Após a ingestão, os esporozoítos invadem
infecçflo pelos tecidos de roedores infectados com es tágios as- a borda em escova das mi crovi losidade,s dos enter6citos e os tro-
sexuadas. É importante que os oocistas de stas espécies sejam fozoÍtos rapidamente se diferenciam, for mando esquizontes com
diferenci ados dos oocistos de Sarcocyslis, muito menores e es- quatro a oito merozoítos. A gametogo ni a ocorre depois de uma
porulados quando recém-eliminados nas fe zes. ou duas gerações de esquizontes e são produzidos oocistas em
No gato, as espécies comuns são I. felis e I. ri volta e, como 72 horas .
no cão, a infecção pode ser adquirida de modo direto ou prova- Recentes evidências indicam também que são produzidos dois
velm ente por ingestão de pequenos roedores infectados. Os pe- tipos de oocistas. Os oocistos do primeiro tipo, a maioria, têm
ríodos pré- patentes são curtos, de sete a oito dias. Os oocistos de paredes espessas e são eliminados nas fezes. Os demais têm pa-
l. lelis medem 40 X 30 f'm, enquanto os de l. rivolta mede m 25 redes finas e hberam os esporozoítos no intestino, causando auto-
X 20 j.lJTI. Sua patogenicidade, como no cão, em geral é suposta- infecção.
mente baixa, apesar de diarréia grave em gatos no vos ler sido A patogenia da infecção por Cryptosporidiwn não está clara.
associada a altas contagens de oocistos. Os esquizontes e gamontes desenvo lvem-se num invólucro pa-
Outros oocistos encontrados em fezes de gato (Fig. 166) per- rasitóforo aparentemente deri vado das microvilosidades (Fig.
tencem a membros da Família Sarcocystidae, e é importante di- 167) e, assim sendo, aparentemente não ocorre a ruptura celular
ferenciar os oocistos de lsospora dos oocistos de espécies de observada em outros coccídios . Não obstante, são evidentes as
Sarcocystis e Toxoplasma gondii, que podem infectar animais que alterações da mucosa no íleo, onde há atrofia , intumescimento e
servem como alimento e ocasionalmente o homem. Os pri mei- eventualmente fusão das vi losidades; isto tem um efeito marcante
ros podem ser diferenciados de l sospora pelo menor tamanho sobre a atividade de algumas das enzimas ligadas à membrana.
(menos de IS X II f'm) e pela presença de es porocistos ou 00- Clinicamente, a doença caracteri za-se por anorexia e diarréia,
cistos esporul ados em fezes frescas, enquanto os oocistos de T. com freqüência intermitente, o que pode resultar em baixos ín-
gondii, apesar de não-esporulados, medem apenas 12 X lO f'm. di ces de crescimento. Foram descritos vôm itos e diarréia em lei-
As informações sobre o tratamento no cão e no gato são es- tões novos com infecções mistas por rotavírus e Cryplosporidium..
cassas, embora por analogia com outras espécies de hospedeiro Os oocistos podem ser demonstrados pela técnica de coloração
possam ser tentadas sulfas, como a sulfadimidina. de esfregaços fecais de Ziehl-Nielsen, em que os esporozoítos
aparecem como grânulos vennelho-bri lhantes (Prancha XIV). O
diagnóstico mais preciso baseia-se em sofisticadas técni cas de
Cl)plosporidiu/Il coloração, incluindo imunofluorescência.

Há dú vidas na taxo nomia de Cryptosporidium, mas o Cryp-


tosporidium parvum é a espécie responsável por doença clíni-
ca em anim ais domésticos e no homem. Tem sido assoc iado a
surtos de di arré ia em beze rros , cordeiros, cabritos, leitões ,
potros, cães e gatos jovens. As duas espécies qu e podem aco-
meter as aves dom ésticas são C. baileyi e C. meleagridis. Isto
é notável, vi sto que, ao co ntTário de outros membros de Eime-
riid ae, o Cryptosporidium não entra nas células do hospedeiro
e não tem es pecific idade de hospedeiro , pode ndo, portanto,

Ovo de
"';..",-- Taxocara cati

Isospora
telis
.; .i,... .

Fig. 166 Diagrama de oocistos de coccídios de gato em relação ao ovo de Toxoc8r8 Fig. 167 Micrografia eletrônica mostrando macrogamonte de Cryptosporidium na
ca ri. borda da microvilosidade de uma célula epitelial.
Parasit% gia Veterin6rla

Não existe tratamento conhecido, embora a espiramicina possa Estágios intestinais


ter algum valor, e é difícil controlar a infecção, poi s os oocistos
são altamente resi stentes à maioria dos desinfetantes, exceto a Esquizontes:
formalina e a amônia. Ocorrem principalmente no j ejuno e no íleo, variam em tama-
nho de 4 a 17 jJ..ffi de di âmetro e contêm até 32 merozoítos.
[Criptosporidiose no homem: Estados de imunossupressão,
especialmente AIDS (sfndrome de imunodefi ciência adquirida), Gamontes: "
têm sido associados à criptosporidiose grave, provavelmente por São mais comuns no íleo e tê m aproximadamente 10 lJIl1 de diâ-
causa da auto-infecção dominante.] metro.

Estágios extra-intestinais
Família SARCOCYSTIDAE
T aquizoítos:
Quatro gêneros, Toxoplasma, Sarcocyslis, Besnoitia e Hammon- São encontrados desenvol vendo-se em vacúolos em muitos ti-
dia, têm importância veterinária. Seus ciclos evoluti vos são se- pos de célula, como fibrobl astos, hepatócitos, células reticula-
melhantes ao da Eimeria e da lsospora , exeeto que os estágios res e células miocárdicas. Em qualquer uma, pode haver 8 a 16
assexuado e sexuado ocorrem nos hospedeiros intermediário e microrganismos, cada um medindo 6 a 8 jJ..m.
final, respectivamente. Bradizoítos:
Com exceção do gênero Toxoplasma , normalmente não são Estão contidos em cistos e ocorrem principalmente nos múscu-
patogênicos para seus hospedeiros finais e sua importância deve- los, fígado, pulmão e cérebro. O s bradizoítos são lanceolados e
se aos estágios teeiduais císticos nos hospedeiros intermediári- podem estar presentes vário·s milhares num cisto , que pode me-
os, que incluem ruminantes, suínos, eqüinos e o homem. A fase dir até 100 lJIll de diâmetro.
tecidual no hospede iro intem1ediário é obrigatória, exceto no
Toxoplasma, em que é facultativa.
CICLO EVOLUTIVO

Toxoplasma Hospedeiro final

o gênero Toxoplasma tem uma única e spéc ie, T. gondii, um A maioria dos gatos infecta-se pela ingestão de animais infecta-
coccídio intestinal de gatos. O ciclo evoluti vo inclui uma fase dos por Toxoplasma, usualmente roedores , cujos tecidos contêm
sistêmica facultativa, que é uma causa importante de aborto em taqui zoítos ou bradizoítos, embora também possa ocorrer trans-
o vinos e também pode causar uma zoonose. As infecções huma- missão direta de oocistos entre gatos (Fig. 168). A ingestão de
nas são particularmente graves se ocorrerem durante a gravidez bradizoítos maduros é a via mais importante e resulta na elimi-
e podem resultar em aborto ou em distúrbios adquiridos congê- nação de oocistas em maiores quantidades do que quando a in-
nitos que acometem principalmente o sistema nervoso central. fecção é adquirida a partir de outros estágios.
Após a infecção, a parede do cisto é digerida no es tômago do
Espécie:
gato, e no epitélio intestinal os bradi zoítos liberados iniciam um
Toxoplasma gondii.
ciclo esquizogônico e gametogônico, culminando na produção
Hospedeiros finais: de oocistos em três a dez di as. Os oocistos são e liminados du-
Todos os felfdeos. O gato doméstico é o mais importante. rante apenas uma a duas semanas. Durante este ciclo na mucosa
intestinal, os organismo s podem invadir os órgãos ex tra-intesti-
Hospedeiros intermediários:
nai s, onde o desenvolvime nto de taquizoítos e bradizoítos se dá
Qualquer mamífero, incluindo o homem, ou aves. Observar que
como no s hospedeiros intermediários.
o hospedeiro final, O gato, também pode ser um hospedeiro in-
termediário e abrigar estágios extra-intestinais.
Hospedeiros intermediários
Localizações no hospedeiro final:
Esquizontes e gamontes no intestino delgado. Esta parte do ciclo é extra-intestinal e resulta na formação de
Localizações no hospedeiro intermediário: taqui zoítos e bradizohos, que são as únicas formas encontradas
Taqui zoítos e bradizoítos em tecidos extra-intestinais, incluindo em hospedeiros não-felinos. A infecção de hospedeiros interme-
mú sculos, fígado, pulmão e cérebro. di ário s pode ocorrer de duas maneiras.
Na primeira, são ingeridos ooeistos esporulados, e os esporo-
Distribuição: zoítos liberados rapidamente penetram na parede intestinal e se
Mundial. di sse minam pela via hem atógena. Este e stág io invasivo e
proliferativo é denominado taquizoíto (Fig. 169) e, ao entrar
IDENTIFICAÇÃO numa cé lula, multiplica-se assexuadamente num vac úolo por um
processo de brotamento ou endodiogenia, em que são formados
Oocistos dois indi víduos na célula- mãe, sendo a película da última utili-
zada pelas células-filhas. Quando já se acumularam 8- 16 taqui-
São encontrados nas fezes de gatos, não-esporulados e medem zoítos, a célula se rompe e novas células se infectam. Esta é a
12 X 10 lJIll (Fig. 166). Quando esporulados, o que leva um a fase a guda da toxoplasmose.
cinco dias , o oocisto contém dois esporocisto s, cada um com Na maior parte dos casos, o hospedeiro sobrevive e há produ-
quatro esporozoítos. ção de anticorpos que limitam a capacidade de in vasão dos ta-

l
Protozoologia Veterinária 205

Estágios teciduais extra·intestinais


ta uizoítos·bradizoítos

Estágios seltuados no intestino

Estágios assexuados
taq uizoítos e bradizoítos
I
Todos os mamfleros e aves incluirldo ovinos
e o homem · assintomáticos H doen a

HOn;},e:ns infectados por Ovinos infectados por oocistos


ooc istos~ ~ bradizoítos n ~ ~ame

Natimortos assintomáticos
Infecção congênita

Fig. 168 O ciclo evolutivo de Toxoplasma gondii mostrando como hospedeiros não-
l elinos podem infectar-se. • (a)

quizoítos, resultando na formação de cistos contendo milhares


de organismos, os quais, em virtude da endodiogenia e do cres-
cimento serem lentos, são denominados bradizoítos (Fig. 169).
O cisto contendo os bradi zoítos é a fonna latente, sendo a multi-
plicação mantida sob controle pela imunidade adquirida do hos-
pedeiro. Se essa imunidade decair, o cisto pode ro mper- se, libe-
rando os bradizoítos que se tomam ati vos e recuperam as carac-
terísti cas invasivas dos taquizoítos.
Em segundo lugar, comumente ocorre infecção pela ingestão
de bradizoítos e taquizoítos na carne de um outro hospedeiro
intermediário. Portanto, os carnívoros e O homem podem adqui-
rir infecção por ingestão de carne crua ou mal cozida. O ciclo de
desenvolvimento após a infecção por taqui zoítos o u bradizoítos
é semelhante ao que ocorre após a ingestão de oocistos.

PATOLOGIA GERAL

Está sempre relacionada à fase extra-intestinal de desenvolvimento.


As infecções, em sua maioria, são adquiridas através do trato
digestivo , e desta maneira os organismos di sseminam-se pelos
linfáticos e pelo sistema porta, com subseqüente in vasão de vá-
rios órgãos e tecidos. Em infestações maciças, os taquizoítos em
multiplicação podem produzir áreas de necrose em órgãos vitais,
como o miocárdio, os pulmões, o fígado e o cérebro, e durante
esta fase o hospedeiro pode tornar-se febril e ocorre tinfadeno-
(b)
patia. Conforme a doença avança, fonnam-se bradi zoítos, sendo
esta fase usualmente as sintomática.
Fig. 169 Estágios assexuados de Toxop/asma gondii. (a) Taquizoítos; (b) Cisto de
Nos animais ou nas mulheres grávidas, expostos pela primei- bradizoíto.
ra vez à infecção por T. gondii, pode ocorrer doença congênita.
As lesões predominantes são encontradas no sistema nervoso
central, embora outros tec idos possam ser acometidos. Assim, a
retinocoroidite é uma lesão freqüente na toxoplasmose congêni- PA TOLOGIA ESPECIAL E SINTOMA TOLOGIA
ta. A retina torna-se inflamada e necrótica e a camada pigmenta- CLíNICA EM HOSPEDEIROS DIFERENTES
da rompe-se por infiltração de células inflamatórias ; finalmente,
fonua-se tecido de granulação que invade o humor vítreo. Gatos
Felizmente, essas alterações patológicas descritaS são relativamen-
te incomuns e as infecções por Toxoplasma em animais e no homem, Apesar do fato de os gatos se infectarem com freqüência, a doen-
em sua maioria, são leves e, conseqüentemente, assintomáticas. ça clínica é rara, embora tenham sido registrados enterite, lillfo-
206 Parasitologia Veterinária

nodos mesentéricos dilatados, pneumonia, alterações degenera- A infecção congênita, que ocorre ape nas quando a mulher é
tivas no sistema nervoso central e encefali te em infecções expe-. exposta à infecção pela primeira vez durante a gestação, pode
rimentais. A transmissão congênita, embora rara, ocorre após a ser sprtã.êOm os taquizoítos cruzando a placenta na ausência
ativação de cistos de bradizoítos durante a prenhez. de anti corpos maternos. Enquanto a maioria de ssas infecções
congênitas é assintomática, até 10% resultam em abortos, nati -
Cães mortos ou lesão do sistema nervoso do feto. A freqüência de
doença é muito mais alta quando a infecção é adqu irida no pri-
o aparecimento da doença é marcado por febre, com lassidão, meiro trimestre da gravidez. As crian ças gravemente acometi -
anorexia e diarréia. São com un s pneumonia e man ifestações neu- das apresentam ret~ocoroidite e necrose cerebral, e pode haver
rológicas. Pode ocorrer infecção junto com cinomose, que tam- hepatoesplenomegalia, insuficiência hepática, convu lsões e hi-
bém tem sido apontada em episódios de vacinação contra cio.o- drocefalia.
mose.
À necropsia, podem ser demonstrados cistos de bradizoítos EPIDEMIOLOGIA
em células no cérebro e no trato respiratório; os linfonodos as-
sociados ficam aumentad os de volume. o gato desempenha um papel central na epidemiologia da toxo-
plasmose, e a doença está vi rtu almente ausente em áreas onde
Ruminantes não há gatos.
In vestigações epidemiológicas nos EUA e em outras partes
Existem apenas alguns relatos de toxoplasmose clínica associada a indi cam que 60% dos gatos são sorologicamente positivos para
febre, dispnéia, sintomatologia nervosa e aborto. Ao exame pós- antígeno de Toxoplasma, a maioria adqu irindo infecção por pre-
morte, foram demonstrados bradi zoítos no cérebro com necrose dação. Como poderia esperar-se, as infecções são mais prevalen-
focal em casos agudos e nódulos da glia em casos crônicos. tes em gatos de rua. A infecção congênita é rara. Após a infec-
Indubitavelmente, o papel mais importante da toxopl asmose ção, os gatos eliminam oocistos durante apenas uma a duas se-
em ruminantes é sua associação com aborto em ovelhas e mor- manas, depois do que ficam resistentes à reinfecção. Entretanto,
talidade perinatal em cordeiros. Se a infecção ocorrer no iní- certa proporção permanece como portadores. talvez pela persis-
cio da gestação « SS dias), há morte e ex pulsão do pequeno feto, tência de alguns esquizontes, e pode ocorrer reativação de infec-
o que raramente é observado. Se a infecção ocorrer no meio da ção com eliminação de Docistas em associação com doença in-
gestação, o aborto é mais faci lmente detectado, sendo os orga- tercorre nte, durante o período peripuerperal em gatas ou após
nismos encon trados nas lesões brancas típicas, com 2,0 mm de corticosteroideterapia. Contudo, os oocistos parecem ser muito
diâmetro, nos cotilédones placentários e em tecidos fetais; alter- resistentes, e isto compensa o período relativamente curto de
nativamente, o feto morto pode ficar retido, mumificado e ser excreção de oocistos.
expelido mais tarde. Se o feto sobreviver in. ulero, o cordeiro pode É difícil explicar a prevalência disse minada de toxoplasmose
nascer morto ou, se vivo, fraco. êm ruminantes, particularmente ovinos, tendo em vista o núme-
As ovelhas que abortam em conseqüência de T. gondii num ro relativamente baixo de oocistos eliminados no meio ambien-
ano em geral param normalmente nos anos seguintes. te. Supõe-se que as ovelhas prenhes sejam mais comumente in-
fectadas durante períodos de alimentação com concentrados an-
Outros hospedeiros tes da fecundação ou do parto, tendo as rações armazenadas sido
contaminadas por fezes de gatos, nas quais podem estar presen-
Tem-se relatado ocasionalmente toxoplasmose em suínos novos tes milhões de oocistos.
e aves, enquanto há regi stros de títulos sorológicos para Toxo- Pode ocorrer disseminação posterior de oocistos através de
plasma em eqüinos e coelhos silvestres. insetos coprófagos, que podem contaminar verduras, carnes e
forragen s. Sugere-se que pode ocorrer transmissão venérea em
ovinos.
Homem
A prevalência de infecção por Toxoplasma na população hu-
mana, conforme avaliado por títulos sorológicos, pode ser mui-
A infecção do homem pode ser adquirida ou congênita. As in-
to alta, de até 25% em algumas áreas. A prevalência é mais alta
fecções adquiridas ocorrem de duas maneiras. Primeiramente,
em veterinários, funcionários de abatedouros e naqueles que li-
pela ingestão de oocistos eliminados nas fezes de gatos. Isto pode
dam com gatos.
ser diretamente por mãos contaminadas, como durante a li mpe-
za do gatil, ou, o que é mais provável, indiretam~nte, pela inges-
tão de verduras ou alimentos con taminados por fezes de gato. As DIAGNÓSTICO
moscas também podem transferir oocistos para alimentos.
Em segundo lugar, uma importante fonte de infecção é a in- o diagnóstico específico é feito por testes sorológicos ou por
gestão de carne mal cozida contendo cistos de Toxoplasma. demonstração dos organismos em tecidos de camundongos ino-
As infecções adquiridas, em sua maioria, são as sintomáticas. culados com material suspeito.
As infecções clinicamente aparentes apresentam-se como febre Dois dos testes mais comumente utilizados medem anticor-
de baixo grau e mal-estar com uma linfadenopatia geral acome- pos, o teste do corante de Sabin-Feldman e o teste de anticorpos
tendo predominantemente os linfonodos cervicais, sintomas que por imunofluorescência indireta (AIP). É preferível o último, pois
são semelhantes aos da febre gland ular. O envolvimento de ór- não requer organismos vivos. Qualquer que seja o teste usado, é
gãos vitais é raro, embora haja registros de miocardite, encefali- importante o emprego de amostras pares colliidas a um interva-
te e retinocoroidite. Pode ocorrer agravamento da infecção em lo de uma a duas semanas para determinar se está presente um
pacientes com imunossupressão. título crescente, indicativo de infecção recente.

L
~ Parasitologia Veterinária

Sarcocystis bovicanis (sin. S. cruzi)


S. ovicanis (sin. S. Iene/Ia)
S. capricanis
S. porcicanis (sin. S. miescheriana)
S. equicanis (sin. S. bertrami)
S. fayeri (eqüino/cão).

Aquelas com O gato como hospedeiro final incluem:

S. bovifelis (sin. S. hirsuta)


S. ovifelis (sin. S. Iene/Ia)
S. poreifelis.

o homem é o hospedeiro final para duas espécies, S. bovihomi-


nis e S. porcihominis, e estas espécies são descritas como sendo
responsáveis por anorexia, náusea e diarréia.

IDENTIFICAÇÃO

Oocistos:
Estes, ao contrário da Isospora, são esporulados quando elimi-
nados nas fezes e contêm dois esporocistos, cada um deles com
quatro esporozoítos; usualmente, o esporocisto esporulado é
encontrado livre nas fezes (Fig. 170). Em duas espécies comuns,
S. bovicanis e S. ovicanis, os esporocistos esporulados medem
Fig. 171 Esquizonte de Sarcocystis em célula endotelial.
aproximadamente 15 X 10 j.Lffi e 14 X 9 j.Llll, respectivamente.
Estágios teciduais:
No hospedeiro intermediário, os esquizontes encontrados nas
células endoteliais são bem pequenos, com diâmetro de 2-8 j.Lm tócitos. Após a conjugação dos gametas, formam-se oocistos
(Fig. 171). Por outro lado, os cistos de bradizoítos (Fig. 172) de paredes finas, os quais, ao contrário daqueles da maioria dos
podem ser muito grandes e visíveis a olho nu, como estrias es- esporozoários entéricos, esporulam no corpo. Formam-se dois
branquiçadas seguindo na direção das fibras musculares (Pran- esporocistos, cada qual contendo quatro esporozoítos. Em ge-
cha XIV). Foram descritos como atingindo vários centímetros de rai, a frágil parede do oocisto se rompe e são encontrados
comprimento, porém mais comumente variam de 0,5 mm a 5 mm. esporocistos nas fezes.
Hospedeiro intermediário (esquizogonia):
CICLO EVOLUTIVO A infecção é por ingestão dos esporocistos, e isto é seguido por
pelo menos três gerações assexuadas. Na primeira, os esporo-
Hospedeiro final (gametogonia): zoítos, liberados pelos esporocistos, invadem a parede intesti-
A infecção dá-se por ingestão de cistos de bradizoítos nos mús- nal e entram nos capilares, onde se localizam em células endo-
culos do hospedeiro intermediário. Os bradizoítos são libera- teliais e sofrem dois ciclos esquizogônicos. Um terceiro ciclo
dos no intestino e os zoÍtos liberados seguem para a lâmina assexuado ocorre nos linfócitos circulantes, os merozoítos re-
própria subepitelial e se diferenciam em micro- e macrogame- sultantes penetrando em células musculares. Aí se encistam e

Fig. 170 Esporocistos esporulados de Sarcocystis em esfregaço de fezes frescas;


a parede do oocisto é perfeitamente discernível. Fig. 172 Cistos de bradizoítos de Sarcocystis ovicanis no esófago.
,
Protozoologia Veterinária 209

em segui da se di videm por um processo de brotamento ou en- ção e, às vezes, decúbito; em cordeiros, foi descrita uma postura
dodiogeni a, dando origem a amplos bradizoítos em for ma de de cão sentado. Nos bovinos, freqüentemente há perda de pêlos
banana contidos num cisto; este é o sarcocisto maduro e cons- na extremidade da cauda. Estes sinais podem ser acompanhados
titui o estágio infectante para o hospedeiro final carnívoro. por edema submandibular, exoftalmia e tumefação de linfono-
Embora haja algumas variações de acordo com a espécie, os dos. Podem ocorrer abortos em fêmeas reprodutoras.
intervalos de tem po no ciclo evolutivo são aproximadamente
como se segue: EPIDEMIOLOGIA
Período pré-patente em 7-14 dias Pouco se conhece da epidemiologia, mas, pela alta prevalência
carnívoros de infecções assintomáticas observadas em abatedouros, está
Período patente (período I semana a vários meses claro que onde cães ou gatos são mantidos em íntima associação
durante o qual são eliminados com animais pecuários ou suas rações, há probabilidade de trans-
esporocistos nas fezes por missão. Por exemplo, sabe-se que os cães pastores desempenham
carnivoros) um papel importante na transmissão de S. ovicanis, e deve-se
Desde a ingestão de usualmente 2-3 meses, tomar o cuidado de fornecer apenas carne cozida aos cães. Os
esporocistos até a mas pode estender-se surtos agudos possivelmente têm maior probabilidade de ocor-
presença de bradizoítos para 12 meses em rer quando animais que foram cri ados sem contato com cães
infectantes nos músculos do algumas espécies. subseqüentemente são expostos a grandes quantidades dos
hospedeiro intermediário esporocistos de fezes caninas. Não se conhece a longevidade dos
e~poroc i s to s nas fezes.
PATOGENIA
\. .
A infecção no hospedeiro final normalmente não é patogênica,
em bora ocasionalmente se descreva diarréia moderada.
No hospedeiro intermediário, o principal efeito patogênico é
--
DIAG/::,/OSTlCO
"-
Os casos de infecção por Sarcocyslis, em sua maioria, são reve-
lados apenas à inspeção da carn e, qu ando são descobertos os
atribuível ao segundo estágio de esquizogonia no endotélio vas-
sarcocistos macroscopicamente visíveis nos músculos. Contudo,
cular. As infecções experimentais maciças de bezerros com S.
em infestações maciças dos hospedeiros intermediários. o diag-
bovicanis res ultaram em mortalidade um mês mais tarde e, à
nóstico baseia-se na sintomatologia clínica e na demonstração
necropsia, veri ficaram-se hemorragias petequiais em qu ase to-
histológica de esquizontes nos vasos sangüíneos de órgãos, como
dos os órgãos, incluindo o coração, juntamente com linfadeno-
o rim ou o coração, e na presença de cistos nos músculos à ne-
patia generalizada. A infecção experimental de vacas adultas
cropsia ou biopsia. Um teste de hemaglutinação indireta, utili-
resultou em aborto.
zando bradizoítos como antígeno, também é um meio auxiliar
Uma doença crônica de bovinos de ocorrência natural, a "doen-
útil para o diagnóstico, mas é preciso lembrar que a presença de
ça de Dalmeny", foi identificada no Canadá, nos Estados Unidos e
um título não implica necessariamente lesões ati vas por Sarco-
na Grã-Bretan ha. Caracteriza-se por emagrecimento, edema
cyslis. Além disso, os animais podem morrer antes de uma res-
submandibular, decúbito e exoftalmia; ao exame pós-morte. encon-
posta humoral detectável.
tram-se numerosos esquizontes em células endoteliais e sarcocis-
Nos ruminantes, as alterações musculares degenerativas lem-
tos em desenvolvimento em áreas de miosite degenerativa.
bram bastante as da deficiência de vitamina E-selênio, embora
Os. ovicanis é apontado como a causa de aborto em ovelhas
nesta última não haja resposta cel ul ar inflamatória.
e de grave miosite e encefalomielite em cordeiros em diversas
O exame de fezes de gatos ou de cães da propriedade rural
regiões.
para a presença de esporocistos pode ser útil no diagnóstico.
Recentemente, uma doença em eqüinos denomin ada mieI0 -
encefali te protozoária eqüina (MPE), caracterizada por ataxia e
fraqueza musc ular, foi associada à infecção por uma espécie TRATAMENTO
denominada Sarcocystis neurona. De modo geral, entretanto,
raramente se observa sintomatologia clínica em infecção por Não existe um tratamento eficaz para a infecção. seja no hospe-
Sarcocystis e o efeito mais importante é a presença de cistos nos deiro intermediário ou no final. Onde ocorre um surto em rumi-
múscul os de animais de corte, resultando em baixa qualidade nantes, sugere-se que a introdução de amprólio na dieta dos ani-
ou condenação de carcaça. Ainda que as espécies transmitidas mais tem um efeito profilático.
pelo cão tenham sido consideradas de importância fu ndamental
neste contexto, há evidência cada vez maior de que as espécies CONTROLE
transmitidas pelo gato também são responsáveis por lesões na
carne. As únicas medidas possíveis de controle são as de simples higi-
Nos suínos, há possibilidade de se confundir os cistos de Sar- ene. Os cães e gatos de propriedades rurais não devem ser aloja-
cocyslis com os cistos de Trichinella spiralis e Cysticercus cel- dos em depósitos de rações ou ter acesso a eles, nem se deve
lulosae. A diferenciação requer o exame microscópico de pre- permitir que defequem em currais onde ficam animais de inte-
parações de músculo comprimido. resse zootécnico. É impOltante também que não sejam alimen-
tados com carne sem ser cozida.
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA Como as diferenças nos ciclos evolu tivos do s diversos gê-
neros da classe Coccidia até aqui descritos são algo confusas,
Nas infecções maciças dos hospedeiros intermediários há ano- as suas principais características encontram-se res umidas no
rexia, febre, anemia, perda de peso, indisposição para locomo- Quadro 8.
210 ParasitoLogia Veterinária

Quadro 8 As principais características dos cieJos evoluti vos de importantes coccídios

Eimen'a Isospora Cryptosporidium Toxoplasma Sarcocystis

Ciclo evolutivo Direto Direto Direto Indireto ou direto Sempre indireto


Também entre hospe-
deiros intermediários
Estágio infectante Oocisto {4 esporocistos, Oocisto (2 esporocistos. Docista muito pequeno Cistos de bradizoitos Cistos de bradizoftos
para o hospedeiro final cada qual com 2 cada qual com 4 com 4 esporozoítos Taquizoítos
esporozoítos) esporozoítos) Oocisto pequeno (2
esporocistos. cada qual
com 4 esporozoitos)
Estágio infectante para Cistos de bradizoitos Esporocislo
o hospedeiro Taquizoitos (4 esporozoítos)
intermediário Oocisto
Muitos hospedeiros Muitos hospedeiros
Fase assexuada Hospedeiro único Usualmente hospedeiro Hospedeiro único
único
Fase sexuada Gato Cão e gato

Besl10ilia HepatozoOI1

A espécie mais con hecida é a Besnoitia beslloiti, que ocorre no O Hepatozoon canis ocorre no cão, e possivelmente no gato, em
mundo inteiro, embora especialmente importante na África, e que áreas ondeé encontrado o vetor carrapatoRhipicephalus sanguineus,
tem como hospedei ro final o gato e como hospedeiro s interme- isto é, África, Ásia, sul da Europa e a Costa do Golfo do Texas.
diários os bovinos. Ocorre singamia no carrapato e, como os esporozoítos per-
Este gênero difere de outros membros de Sarcocystidae pelo manecem na cavidade corpórea, o cão aparentemente se infecta
fato de os cistos contendo bradi zoítos serem encontrados princi- por ingestão do carrapato. Ocorre esquizogonia em macrófagos
palmente em fibroblastos na pele ou sob a pele. A célula hospe- e células endoteliais na musculatura esquel ética, no coração e nos
deira dilata-se e se torna multinucleada, conforme O cisto de pulmões, acompanhada pela produção de grandes gametócitos
Besnoitia cresce num vacúolo parasitóforo, atingindo finalmen- que se coram de azul , os quais parasitam os neutrófilos circulan-
te até 0,6 mm de diâmetro. tes. O ciclo completa-se quando o carrapato in gere sang ue con-
Embora se cons idere a infecção de bovinos como ocorrendo taminado.
principalmente por ingestão de oocistos esporulados de fezes de A infecção pode se r assintomática e a doença, quando bcor-
gatos, há a hipótese de que a disseminação mecânica por mos- re, freqüentemente parece ser secundária a outros patógenos. A
cas picadoras que se alimentam em lesões cutâneas de bovinos sintomatologia clínica consiste em febre recorrente, perda acen-
pode ser outra via de transmis são. tuada de condições e dor lombar, podendo terminar de modo fatal.
Depois da infecção em bovinos, há uma fase sistêmica acom- O diagnóstico depende do exame de esfregaços sangüíneos co-
panhada por linfadenopatia e tumefações edema tosas em partes rados e, no caso de fracasso, de biopsia muscular para detecção
dependentes do corpo. Subseqüentemente, desenvolvem-se bra- de esquizontes.
dizoítos em fibrobl astos na derme, nos tecidos subcutâneos e na O tratamento é paliativo, utili zando-se drogas antiinflamató-
fáscia, bem como nas muco sas nasal e laríngea. O s cistos em rias não-esteróide s, e a profilaxia depende do controle regular de
desenvolvimento na pele resultam numa condição grave carac-
terizada por tumefações subcutâneas dolorosas e espessamentos
da pele, perda de pêlos e necrose. Não ex iste tratamento conhe-
'*
carrapatos.

cido. Classe PIROPLASMIDIA


Além das manifestações clínicas que em casos graves podem
resultarem morte, pode haver perdas económicas consideráveis, Babesia
em virtude da condenação do couro em matadouros.
Babesia são parasitas intra-eritrocitários de animais domésticos
e são a causa de anemia e hemoglobinúria. São transmitidos por
Ha1l111londia carrapatos, nos quai s o protozoário passa por via tran sovariana,
através do ovo, de uma geração de carrapatos à geração seguin-
Apenas uma espécie, Hammondia hammondi, é conhecida. O te. A doença, babesiose, é particularmente grave em animais que
hospedei ro final é o gato e os hospedeiros intermed iários são não tiveram contato prévio com O protozoário introdu zidos em
pequenos roedores. São produzidos oocistos não-esporulados nas áreas endêmicas e constitui um considerável entrave ao desen-
fezes, e após a infecção de roedores a multiplicação de taquizo- volvimento de criação animal em muitas partes do mundo.
ítos na lâmina própria da parede intestinal é seguida pela produ-
Hospedeiros:
ção de cistos contendo bradizoítos na musculatura esquelética.
Todos os animais domésticos.
Não é considerada patogênka para nenhum hospedeiro, mas é
importante saber que os ooci stos de Hammondia são muito se- Hospedeiros intermediários:
melhantes aos de Toxoplasma e que a sua diferenciação nas fe- Carrapatos da famíli a lxodida~, nos quais a infecção transova-
zes de gato é uma tarefa de especialista. riana assegura a transmissão de 8abesia por estágios da gera-
Prorozoologia Veterinária 2 11

ção seguinte de carrapatos. Dependendo da espécie de Babesia, célula hospedeira rompe-se e os organismos são liberados, pe-
pode ser pelos estágios de larva, ninfa ou adulto ou até mesmo netrando em novos eritrócitos.
por todos os três. A próxima seqüência de eventos, quando o sangue parasitê-
Quando a infecção persiste de um estági o ao seguinte, em mico é ingerido pelo carrapato ixodídeo apropriado, em geral a
carrapatos de dois ou três hospedeiros que se alimentam em hos- fêmea adulta ingurgitada, não está clara, mas atualmen te se su-
pedeiros diferentes, diz-se que a transmissão é transestadial. põe que ocorra um a fase sexuada no intestino do carrapato, se-
guida por esquizogonia que resulta na produção de co rpos clavi-
Localização:
fo rmes, alongados e móveis, denominados vermículos. Esses
Os organi smos fi cam isoladam ente ou em pares dentro dos
vermiculos migram para os tecidos do carrapato, especialmente
eritrócitos.
o ovário, e sofrem mu lti plicação posterior, produzindo mais ver-
miculos. O processo todo leva cerca de sete dias.
ESPÉCIES No ovário do carrapato, os vermículos invadem os ovos e, e m
seguida, continuam a multiplicar-se nos tecidos das larvas eclo-
8abesia divergens, B. major
bovinos didas. Quando as larvas se alimentam pela primeira vez, os ver-
B. bigemina. B. bovis
mícul os entram nos ácinos sali vares e formam, em alguns dias,
B. mOlasi, B. ovis ovinos e caprinos
os esporozoítos infectantes, que são inoculados no novo hospe-
B. cabaUi, B. equi eqüinos
de iro antes de cessar a alimentação.
B. perroncitoi, B. lrautmanni suínos
Quando ocorre transmissão de estág io -para~estágio, os ver-
B. canis, B. gibsoni cães
mículos novamente alcançam as glândulas sali vares do próx imo
B·felis gatos
estágio do carrapato quando começa a alimentação e amadure-
Distribuição: cem, tornando-se fonnas infectantes.
A distribuição destas muitas espécies por todo O mundo é di scu- Há uma ampla evidência de que algumas espécies de Babe-
tida nas seções separadas referentes a cada hospedeiro final. sia podem ser transmitidas através do ovário durante duas ou mais
gerações de carrapatos fêmeas; isto é conhecido como tnmsmis-
IDENTIFICAÇÃO E MORFOLOGIA são vertical.

o exame de lâminas com esfregaços sangüíneos corados mostra PATOGENIA


os organismos dentro de eritrócitos, quase sempre isoladamente
ou em pares, freqü entemente dispostos num ângulo característi- Os parasitas que se dividem rap idamente nos eri trócitos produ-
co, com as extremidades estreitas opostas. São tipicamente piri: zem rápida destrui ção destas células, com concomitante hemo-
f~s, mas podem ser redondos, alongados ou e m forma de globinemia, hemoglobinúria e febre. Este quadro pode ser tão
charu to (Fig. 173). Convencionalmen te, as diversas espécies agudo a ponto de ca usar morte em poucos dias, durante os quais
agrupam-se em pequenas babésias, cujos corpos piriformes tê m o volume globular cai para menos de 20%. A parasitemia, que
1,0-2,5 fLm de comprimento, e grandes babésias, com 2,5-5,0 usualmente é detectável assim que se manifesta a sintomatolo- .
fLm de comprimen to (Prancha XlII). Com o corante de Roma- gia clínica, pode envolver entre 0,2% e 45 % dos eritrócitos, de-
nowsky, o citoplasma apresenta-se azul e o núcleo vermelho. pendendo da espécie de Babesia.
Ao microscópio eletrônico, verifica-se que o parasita poss ui À necropsia, a carcaça apresenta-se pálida e ictérica, a bile é
um "compl exo apical" eletrodenso em sua extremidade romba, espessa e granular e pode haver hemorragias sube picárdicas e
que se supõe estar ligado à ajuda na penetração do eritrócito. subendocárdicas.
As formas mais moderadas da doença, associadas a espécies
CICLO EVOLUTIVO menos patogênicas de Babesia, ou a hospede iros relativamente
resistentes, caracterizam-se por febre, anorexia e tal vez leve ic-
o organismo divide-se assexuadamente por fi ssão binária e for- terícia por um período de vários dias.
Nas infecções por B. bovis e B. canis, podem ocorrer acúmulos
ma doi s, ou às vezes quatro, indivíduos no eritrócito. Por fim, a
de eritrócitos nos capilares do cérebro, produzindo sintomatolo-
gia nervosa de hiperexcitabilidade e incoordenação.

SINTOMA TOLOGIA CLíNICA

A doença ocorre tipicamente uma a du as semanas depois que o


carrapato começa a se alimentar e se caracteri za por febre e he-
moglobinúria C"hematúri a"). As membranas mucosas, no início
congestas, tomam-se ictéricas, as freqüências respiratória e de
pulso aumentam, os batimentos cardíacos usualmente são muito
audíveis, e nos bovinos, os movimentos ruminai s cessam e pode
ocorrer aborto. Se não tratada, comumente ocorre a morte nesta
fase. Por outro lado, a convalescência é prolongada, há perda de
peso e da produção de leite e é co mum diarréi a seguida de cons-
tipação.
10"m Nos animais previamente expostos à infecção, ou infectados
por uma espécie de Babesia de baixa patogenicidade, a sintoma-
Fig. 173 Diversas formas de 8abesia divergens em erilrócitos bovinos. tologia clínica pode ser moderada ou mesmo inaparente.
211 Parasitologia Veterinária

EPIDEMIOLOGIA DIAGNÓSTICO

As considerações a seguir baseiam-se amplamente na epidemi- A história e a sintomatologia clínica em geral são suficientes para
ologia das espécies bovinas patogênicas que foram as mais com- °
justificar um diagnóstko de babesiose. Para confirmação, exa-
pletamente estudadas, mas os mesmos princípios quase certamen- me de esfregaços sangüíneos, corados com Giemsa, revelará os
te se aplicam a todas as babésias. Essencialmente, a epidemiolo- parasitas nos eritrócitos. Entretanto, uma vez cessada a fase fe~
gia depende da interação de uma série de fatores que incluem: bril aguda, freqüentemente é impossível encontrá-los, pois são
rapidamente removidos da circulação.
(1) A virulência da espécie particular de Babesia
TRATAMENTO
Por exemplo, a B. divergens em bovinos e aE. canis em cães são
relativamente patogênicas, enquanto a B. major em bovinos e a Até certo ponto, depende da espécie de Babesia a ser tratada e
B. ovis em ovinos geralmente produzem apenas anemia mode- da disponibilidade de drogas particulares em regiões individu-
rada e transitória. ais. O sulfato de quinurônio, a pentamidina, a amicarbalida, o
aceturato de diminazeno e o imidocarb são as drogas mais co-
(2) A idade do hospedeiro mumente utilizadas e o seu uso é discutido com mais detalhes
nas seções referentes à babesiose nas diferentes espécies animais.
Freqüentemente, afinn a-se que há uma resistência etária inversa
à infecção por Babesia, visto que os animais jovens são menos CONTROLE
suscetíveis à babesiose que os animais mais velhos. Não se co-
nhece a razão disto. Usualmente, não são necessárias medidas de controle específi-
cas para animais nascidos de mães em áreas endêmicas, pois,
(3) O estado imune do hospedeiro como foi observado previamente, a sua imunidade adquirida atra-
vés do coI astro é reforçada gradativamente por exposição repe-
Em áreas endêmicas, o animal jovem primeiramente adquire tida à infecção. Aliás, a importância veterinária da babesiose
imunidade de forma passiva, no colostro da mãe e, como resul- deve-se principalmente ao fato de atuar como obstáculo à intro-
tado, com freqüência sofre apenas infecções transitórias com dução de rebanhos selecionados provenientes de outras regiões.
discreta sintomatologia clínica. Contudo, essas infecções aparen- As áreas de instabilidade enzoótica também criam problemas
temente são suficientes para estimular a imunidade ativa, embo- quando as quãntidades de carrapatos aumentam repentinamente
ra a recuperação seja seguida por longo período durante o qual ou os animais, por alguma razão, são forçados a utilizar urna área
ficam portadores, quando, apesar de não manifestarem sintoma- adjacente infestada por carrapatos.
tologia clínica, o seu sangue permanece infectante para carrapa- As quantidades de carrapatos e, portanto, o nível de infecção
tos por muitos meses. Costumava supor-se que essa imunidade por Babesia podem ser reduzidos por pulverização ou banhos
ativa dependia da persistência do estado de portador, e o fenô- carrapaticidas regulares com acaricidas. Além disso, em bovi-
meno era denominado premunição. Entretanto, parece impro- nos, especialmente na Austrália, pratica-se de modo regular a
vável que seja este O caso, pois se sabe atualmente que tais ani- seleção e a criação de bovinos que adquirem alto grau de resis-
mais podem deixar de ter a infecção ou naturalmente ou por tência. O uso difundido de vacinas contra carrapatos também
quimioterapia mas ainda mantêm sólida imunidade. pode ter uma influência significativa sobre a incidência de ba-
besiose em bovinos.
(4) O nível de desafio do carrapato A imunização em bovinos, empregando sangue de animais
portadores, é praticada há muitos anos em regiões tropicais, e
Em áreas endêmicas, onde há muitos carrapatos infectados, a imuni- mais recentemente na Austrália o uso de linhagens de Babesia
dade do hospedeiro mantém-se em um nível alto através de repeti- de passagens rápidas, que são relativamente não-patogênicas, tem
dos desafios e a doença manifesta é rara. Por outro lado, onde há sido amplamente empregado cm vacinas vivas. Num futuro pró-
poucos carrapatos ou quando são restritos a áreas limitadas, o estado ximo, tais vacinas poderão ser substituídas por vacinas adjuvan-
imune da população é baixo e os animais novos recebem pouca ou tes preparadas a partir de diversos antígenos recombinantes de
nenhuma proteção colostral. Se, nestas circunstâncias, os números Babesia. Por outro lado, o controle de babesiose em animais
de carrapatos aumentarem repentinamente em virtude de condições suscetíveis introduzidos em regiões endémicas depende de vigi-
climáticas favoráveis ou de redução na freqüência de banhos carra- lância durante os primeiros meses após a sua chegada e, se ne-
paticidas, a incidência de casos clinicos pode elevar-se abruptamen- cessário, de tratamento.
te. Esta situação é conhecida como instabilidade enzoótica.
BABES/OSE DE BOV/NOS
(5) Estresse
Norte da Europa
Em áreas endêmicas, o aparecimento ocasional de doença clíni-
ca, particularmente em animais adultos, com freqüência está as- Ocorrem duas espécies em bovinos, B. divergens e B. major.
sociado a alguma forma de estresse, como parto ou a presença Destas, a B. divergens, transmitida por Ixodes ricinus, é a mais
de outra doença, como a febre causada por carrapato. disseminada e patogênica, e os casos clfnicos ocorrem durante
Estes aspectos gerais de epidemiologia são discutidos com os períodos de atividade dos carrapatos, principalmente na pri-
mais detalhes nas seções referentes à babesiose nas diferentes mavera e no outono. Como ocorre com outras babésias, a infec-
espécies de hospedeiros. ção no carrapato é transmitida por via transovariana, e as larvas,
Prol0zoo1ogia Veterinária 213

ninfas e adultos da geração seguinte são todos capazes de trans- a primeira infecção protozoária do homem ou de animais que
mitir infecção aos bovinos. demonstrou ter um hospedeiro intermedi ário artrópode; isto foi
A B. divergem· é uma "Babesia pequena" e em esfregaços comprovado em 1893, por Smith e Kilbome, ao in vestigar a cau-
sangüíneos aparece tipicamente como organismos pares, ampla- sa da localmente denominada "Febre do Texas" em bovinos,
mente divergentes, de 1,5 X O,4l-'m, localizando-se junto à borda nos Estados Unidos. Desde então, a doença foi erradicada nes-
do eritrócito, embora possam estar presentes outras formas. se país.
Normalmente, não são feitos esforços para controlar esta infec- De modo geral, as infecções por B. bigemina não são tão vi-
ção em regiões endêmicas, apesar de os bovinos recentemente rulentas quanto as infecções por B. bovis, apesar do fato de que
introduzidos requererem vigilância por alguns meses, j á que, em os paras itas podem infectar 40% dos eritrócitos. Por outro lado,
média, de cada quatro, um desenvolverá doença clínica, e des- a doença é tipicamente bifásica, e a crise hemolítica, se não fa-
tes, de cada seis, um morrerá, se não tratado. Contudo, em al- tal, é seg uida por um período prolongado de recuperação.
gumas partes do continente europeu, como nos Países Baixos, O imidocarb e os derivados da diamidina, como o aceturato
onde os carrapatos se restringem à vegetação rú stica das beiras de diminazeno, a amicarbalida e a fenamidina, são todos efica-
de. pastos e margens de estradas, freqüentemente é possível a zes con tra B. bovis e B. bigemina, especialmente se administra-
adoção de medidas evasivas. Os cervídeos não são considera- dos no início da doença.
dos rese rvatórios importantes, pois experimentalmente foram A vacinação de bovinos contra infecção por B. bovis e B. bi-
produ zidas apenas infecções discretas em cervídeos esplenec- gemina é feita comumente em muitos países por inoculação de
tomi zados. sangue de animais doadores. O sangue usualmente é obtido de
O sulfato de quinurônio e a amicarbalida são tratamentos efi- um caso clínico recentemente rec uperado, sendo quaisquer rea-
cazes, e em alguns países o imidocarb também está liberado para ções adversas nos-vacinados controladas por drogas babesicidas.
uso. Este último, graças à persistência nos tecidos, tem um efei- Na Austrália, a conduta é mais sofisticada, visto que a vacina é
to profilático por várias semanas. Durante a fase de convalescên- produzida a partir de infecções agudas provocadas em doadores
cia da doença, as transfusões de sangue podem ser úteis, assim esplenectomizados. Por motivos de economia, o sangue é colhi-
como as drogas destinadas a estimular o apetite e a ingestão de do por transfusão de troca em vez de por sangramento. O inte-
água. ressante é que a rápida passagem do parasita por inoculação de
Recentemente, preparações de oxitetracic1ina de longa ação sangue em bezerros esplenectomizados teve, fortuitamente, o
têm demonstrado exercer um efeito profilático contra a infecção efeito muito desejável de diminuir a virulência da infecção em
por B. divergens. bezerros não-esplenectomizados a ponto de freqüentemente não
A segunda espécie, B. major, trasmitida pelo carrapato de três ser efetuada a vigilância pós-vacinação de bovinos.
hospedeiros Haemaphysalis punctala, é relativamente rara, e na A contagem de parasitas sangüíneos determina a diluição do-
Grã-Bretanha, por exemplo, restri nge-se ao sul. A B. major é uma sangue, que é distribuído em sacos plásticos, acondicionado em
"Babesia grande", com 3,2 X 1,5 ~m, sendo caracteristicamen- gelo e remetido em recipientes isolados. Cada dose de vacina
te pareada num ângulo agudo. É apenas moderadamente pato- contém cerca de 10 ínilhões de parasitas. A maior parte das va-
gên ica. cinas é utilizada em bovinos com menos de 12 meses de idade
que vivem em condições de instabilidade enzoótica. O grau de
TRÓPICOS E SUBTRÓPICOS proteção induzido é tal que apenas I % dos animais vacinados
desenvol vem em seguida babesiose clínica por desafio de cam-
As duas outras babésias importantes de bovinos, 8. bovis (sin. po, em relação a 18% de bovinos não-vacinados.
B. argentina) e B. bigemina, compartilham o mesmo vetar pri- A principal desvantagem das vac inas de eritrócitos é a sua
mário, o carrapato de um hospedeiro Boophilus, e coexistem na labilidade e o fato de que, a menos que sua preparação seja cui-
mesma ampla área geográfica, que abrange Austrália, África, dadosamente supervisionada, podem di sseminar doenças como
América Central e do Sul, Ás ia e sul da Europa. a leucose bovina enzoótica. Obviamente, não haverá tal proble-
A 8. bovis, lima 8abesia pequena, cujos piroplasmas medem ma com uma vacina baseada em antígenos recombinantes.
2,0 X I ,5 ~m, em geral é considerada a mai s patogênica das Recentemente, um esquema de quatro injeções de oxitetraci-
babésias bovinas. c1ina de longa ação em intervalos se manais, administradas a
Embora ocorra a clássica sintomatologia clínica de febre, bovinos que não tiveram contato com o protozoário, durante o
anemia e hemoglobinúria. o grau de anemia é desproporcional à primeiro mês de pastejo em pastos infestados por carrapatos,
parasi temia, pois níveis de hemat6crito inferiores a 20% podem demonstrou conferir profilaxia contra B. bigemina durante este
estar associados a infecções de menos de I % dos eritrócitos. Não período. após o que os bovinos ficaram imunes a desafio subse-
se conhece a razão disto. qüente.
Ademais, a infecção por B. bovis está associada à sedimenta-
ção dos eritrócitos nos pequenos capilares. No cérebro, isto pro- BABES/aSE DE aV/NOS E CAPRINOS
voca bloqueio dos vasos por grumos de eritrócitos infectados,
provocando anoxia e lesão tecidual. A sintomatologia clínica Sabe-se que duas espécies de babésias, a B. ovis, menor, e a B.
resultante de agressão, incoordenação ou convulsões termina motasi, maior, ocorrem em ovinos e caprinos em regiões tropi-
invariavelmente de modo fatal. cais e subtropicais, incluindo o sul da E uropa.
Finalmente, um trabalho recente indica que até certo ponto a Transmitidas por diversos gêneros de carrapatos, como Rhi-
gravidade da infecção por B. bovis pode estar associada à ativa- picephalus, Haemaphysalis, Dennacentor e lxodes, estas infec-
ção de certos compone ntes plasmáticos, evoluindo para estase ções em geral são discretas em ovinos autóctones, embora possa
circulatória, choque e coagulação intravascular. ocorrer grave sintomatologia clínica em animais introduzidos que
A B. bigemina, uma Babesia grande cujos piroplasmas me - são provenientes de uma área não-endêmica. O aceturato de di-
dem 4,5 X 2,0 ~m. é de particular interesse histórico, pois foi minazeno é eficaz contra B. ovis e B. motasi.
~1~ Parasitologia Veterinária

Recentemente, na Grã-Bretanha, foi demonstrada a existên- ni s, estes também devem ser tratados freqüentemente com um
cia de duas espécies de babésias em ovinos. Urna delas é a B. acaricida adequado.
morasi, transmitida por Haemaphysalis pUflctata, enquanto se Além disso, recomenda-se certa vigilância no caso de cães
su põe, que a outra seja a B. capreoli do veado escocês, transmi- expostos à infecção, para que o tratamento possa ser admin istra-
tida aparentemente por Ixodes ricinus. Ambas as espécies pare- do O mais cedo possível.
cem ser relativamente apatogênicas. Uma segunda babésia, a B. gibsoni, ocorre em cães no Orien-
te. É uma Babesia pequena e produz uma doença mais crônica,
BABESIOSE DE EQÜINOS que é menos suscetível à quimioterapia.

Podem ocorrer duas espécies de babésias, a pequena B. equi e a BABESIOSE DE GATOS


grande B. caballi, em eqüinos e asininos nas Américas, na Áfri -
ca, na Ásia e no continente europeu. Ambas são transmitidas por A Babesia felis, uma Babesia pequena, que produz anemi a
uma série de espécies de carrapatos, incluindo Dennacentor, e icterícia e m gatos, foi descrita na África.
Hyalomma e Rhipicephalus.
A pequena B. equi é facilmente identificada nos esfregaços BABESIOSE NO HOMEM
sangüíneos de casos agudos, pois além do tamanho os piroplas-
mas formam caracteristicamente uma cru z de Malta de quatro Desde 1957, vêm ocolTendo diversos casos de babesiose fatal no
organi smos. É a espécie mais patogênica que causa febre, ane- homem em conseqüência da infecção por B. divergens na Iugos-
mia, icterícia e hemoglobi núri a. Por outro lado, as infecções por lávia, na Rússia, na Irlanda e na Escócia. Em todos os casos, a
B. caballi em geral se caracterizam apenas por febre e anemia. pessoa já havia sido esplenectomizada ou estava sendo submeti -
Pode-se usar amicarbalida ou imidocarb para o tratamento de da si multaneamente a (ratamento imunoss upressor.
qualq uer uma das infecções. Por outro lado, a pentamidina é Mais recentemente, cerca de 100 casos de babesiose humana,
adequada para infecções por B. equi e o su.lfato de qui nurônio e dos quais apenas alguns fatais, foram diagnosticados principalmente
O aceturato de diminazeno para infecções por B. caballi. Em cada na costa leste dos Estados Un idos e ainda mais recentemente em
caso, devem ser cuidadosamente observadas as instruções do Wisconsin, aparentemente por causa do parasita de roedores B.
fa bricante. microti. A maioria das pessoas acometidas tinha o baço.
Na maior parte desses casos, a síndrome clínica e a presença
BABESIOSE DE SUíNOS de parasitas intra-eritrocitários sugeriram um ctiagnóstico inici-
ai de malária. Não se sabe se a babesiose no homem está sempre
São encontradas duas espécies, a pequena B. perroncitoi e a gran- associada a recentes picadas de carrapato ou pode ser provoca-
de B. trautmanni, no sul da Europa, na África e na Ásia. Os por- da, em algumas ocasiões, pela explosão de uma infecção latente
cos silvestres podem atuar como reservatórios de infecção e os por Babesia. Um certo apoio à última teoria é a recente demons-
carrapatos vetores incluem Boophilus, Rhipicephalus e Derma- tração de anticorpos para Babesia nos soros de muitas pessoas
centor. A sintomatologia clínica varia de discreta a grave. sadias em países como o México e a Nigéria.

BABESIOSE DE CÃES
Theileria
A espécie mais di sseminada e patogênica é a grande Babesia
canis encontrada no continente europeu, na África, na Ásia e nas As doenças causadas por diversas espécies de Theileria são um
Américas. O Rhipicephalus sanguineus é o principal vetor, no sério obstáculo ao desenvolvimento de rebanhos na África, na
qual ocorre tran smissão transovariana e transestadial. Ásia e no Oriente Médio. Os parasitas, que são transmitidos por
Embora a sintomatologia clínica mais comum seja a de febre, carrapatos, sofrem esquizogon ia repetida nos linfócitos, final-
anemia, icterícia e hemoglobinúria, podem ocorrer casos muito mente liberando pequenos merozoítos que invadem os eritrócitos
agudos em cães importados para uma região endêmica, com co- e se tornam piroplasmas.
lapso e anemia profunda levando à morte em um a dois dias.
Menos comumente, pode ocorrer hiperexcitabilidade, associada ESPÉCIES, HOSPEDEIROS E DISTRIBUiÇÃO
à babesiose cerebral.
Uma série de outros sinais e síndromes, como ascite, bron- As Theileria encontram-se amplamente disseminadas em bovi-
quite, púrpura hemorrágica e dores musculares graves, é associ- nos e ovinos na África, na Ásia, na Europa e na Austrália, pos-
ada à infecção por B. canis, visto que responde m ao tratamento suem uma série de can'apatos como vetores e estão associadas a
com babesicidas. infecções que variam de clinicamente inàparentes a rapidamen-
Ainda que o diagnóstico específico dependa da detecção dos te fatais.
parasitas nos eritrócitos, a parasitemia freqüentemente é inferior Embora a especificação de muitas Theileria ainda seja assunto
a 5% e também pode ser complicada pela presença si multânea controverso, em grande parte pela sua semelhança morfológica,
de inc1usões nos monócitos da riquétsia Ehrlichia canis, também há três espécies de grande importância veterinária (Quadro 9).
transmitida por R. sanguineus. As espécies pouco e moderadamente patogênicas que infec-
Em todos os casos, recomenda-se a quimioterapia com penta- tam os bovinos incluem T. mutans e T. taurotragi na África e
midina, fenamidina ou aceturato de diminazina, imediatamente após T. sergenti na Ásia; as identidades das espécies bovinas européias
o diagnóstico clínico, pois pode ocorrer óbito rapidamente. e australianas são incertas.
A profilaxia depende do tratamento regular de cães com um Nos ovinos, a T. avis, espécie não-patogênica, ocorre na Eu-
acaricida adequado, e, como o R. sanguineus pode viver em ca- ropa, na África e na Ásia.
ProTOzoologia Veterinária 215

Quadro 9 Uma comparação de três espécies de Theileria de imponância veterinária

Espécie Hospedeiro Vetar Doença Distribuição

T. parva Bovinos Rhipicepha/us Febre da Costa Leste ~frica Oriental e Central


T. annu/ata Bovinos Hya/omma Teileriose mediterrânea Africa do Norte, sul da
ou tropical ~uropa, Oriente Médio, Ásia
T. hirci Ovinos Hyalomma Teileriose ovina (caprina) Africa do Norte, sul da
Caprinos maligna Europa, Oriente Médio, Ásia

rior até o estágio seguinte do carrapato começar a se alimentar,


Theileria parva quando os esporoblastos produze m esporozo ítos infectantes a
partir de aproximadamente 10 dias em diante. Como os carrapa-
Este parasita é a causa da Febre da Costa Leste em bovinos na
tos fêmeas se nutrem continuamente durante cerca de 10 dias e
África Oriental e Central. Dada a ampla distribuição do seu ve-
os machos, de modo intermitente, por um período mais longo,
tor, o carrapato Rhipicephalus, e o fato da infecção em bovinos
isto pennite um amplo tempo para a infecção do hospedeiro.
introduzidos em áreas enzoóticas poder estar associada a morta-
A transmissão é transestadial, i.e., pelo próximo estágio do
lidade de 100%, a infecção por T parva é um imenso obstácul o
carrapato, e não ocorre transmissão transovariana.
para a me lhoria do rebanho.

IDENTIFICAÇÃO PATOGENIA

Nos eritrócitos, os piroplasmas (Prancha XIlI) são predominan- A seqüência de eventos num a típica infecção aguda e fatal evo-
temente em forma de bastonetes, tendo até 2,0 jJ.m de compri- lui através de três fases, cada uma delas durando aproximada-
mento e 1,0 iJ..m de largura. Ocorrem também formas redondas, mente uma semana. A primeira é o período de incubação de cer-
ovais e anul ares. Com corantes de Giemsa, o c itoplasma é az ul ca de uma seman a, quando não podem ser detectados parasitas
com um ponto de cromatin a vermelha em uma das extremida- nem lesões. Esta fase é sucedida durante a segunda semana por
des. Comumente, há mais de um parasita em cada eritrócito. hiperplasia acentuada e expansão da população de Iinfoblastos
No citoplasma dos linfóc itos dos linfonodos e do baço, en- acometidos, inicialmente no linfonodo regio nal que drena o lo-
contram-se os esquizontes, às vezes denominados corpúsculos cal da picada do carrapato e fi nalinente em todo O corpo. Duran-
azuis de Koch (Prancha XIII). Com coloração de Giemsa, esses te a terceira semana, há uma fase de depleção linfó ide e desor-
corpúsculos são o bservados como dois tipos; os macroesquizon- ganização, com linfocitólise maciça e leucopoese deprimida. Não
tes , com cerca de 8,0 iJ..m de diâmetro, são azui s e contêm até se conhece a causa da linfocitólise, mas talvez sej a a ati vação de
oito núcleos, enquanto o estágio seguinte, os microesquizontes, células cito tóxicas, como os macrófagos.
tê m tamanho semelhante, mas contêm até 36 pequenos núc1 eos~ A necropsia durante a fase terminal revela atrofia do teor ce-
estes últimos são os micromerozoítos em desenvolvime nto que, lulM dos linfonodos e do baço, edema e enfi sema pulmonar e
com a ruptura do microesq ui zonte, in vadem os eritrócitos e se, he morragias petequiais e equimóticas na mucosa gastrintestinaL
tomam piroplasmas. Pode haver hemorragias também nas superfícies serosa e muco-
sa de muitos órgãos.
Ocasionalmente, há relatos de sintomatologia nervosa, a cha-
CICLO EVOLUTIVO mada "doença giratória", atribuída à presença de esquizontes em
capilares cerebrais.
Os esporozoítos são inoculados nos bovinos pelo Rhipicephalus
appendiculatus, o carrapato marrom da orelha, e entram rapida-
mente nos linfóc itos numa glândula linfática associada, geralmen- SINTOMA TOLOGIA CLíNICA
te a parótida. O Jjn fócito parasitado transfor m a-se num
linfoblasto , que se divide rapidamente à medida que o macroes- Cerca de uma semana depoi s da infecção, num an imal totalmen-
quizonte se dese nvo lve. A div isão é aparentemente estimul ada te suscetível, o linfonodo que drena a área da picada do carrapa-
pelo parasita, que se divide sincronicamente com o linfo blasto e to, usualmente o parotídeo, torna-se tumefato e o an imal fica
produz duas célul as infectadas. A velocidade de proliferação é fe bril. Dentro de alguns dias, há au mento de volume generaliza-
tal q ue pode ocorrer um aumento de dez vezes de células infec- do dos linfonodos superfi ciai s, o ani mal rapidamente perde as
tadas a cada três dias. condições físicas, torna- se dispné ico e há diarréia tenninal, com
Aproximadamente 12 di as após a infecção, uma certa propor- freqüência sanguinolenta. Podem ocorrer hemorragias petequiais
ção dos macroesq ui zontes desenvolve-se em microesquizonte, sob a língua e na vulva. Quase invariavelmente ocorrem decúbi-
e em mais o u menos um dia os microesqui zontes produzem os to e óbito, em geral em três semanas de infecção.
micromerozoítos que, liberados por ruptura dos microesqui zon-
tes, invadem os eritr6citos e se tornam piroplasmas. Os piroplas - EPIDEMIOLOGIA
mas não se multiplicam nos eritrócitos.
Para que o ciclo evoluti vo se cOl1)plete , os piroplasmas preci- Como o vetor, o carrapato R. appendiculalus, é mais ativo após
sam ser ingeridos pelas larvas ou estágios ninfais do vetor de três o início das chuvas, os surtos de Febre da Costa Leste podem ser
hospedeiros, R. appendiculatus. Ocorre uma fase sex uada no sazonais ou, quando as chuvas são relati vam ente constantes,
intestino do carrapato, seguida .pela formação de esporoblastos pode m ocorrer em qualquer ocasião. Fe li zmente, os bovinos
nas glândulas salivares. Não se verifi ca desenvolvimento poste- nativos criados em áreas endêmicas apresentam alto grau de re-
1 16 Parasitologia Veterinária

sistência, e embora possa ocorrer infecção discreta e transitória Têm-se empreendido muitos esforços para desenvolver uma
no início da vida a mortalidade é insignificante. O mecanismo vacina adequada, mas sem resultado, em virtude dos complexos
dessa resistência é desconhecido. Esses bovinos, entretanto, po- mecanismos imunológicos envolvidos na imunidade contra a
dem permanecer portadores e atuar como reservatório de infec- Febre da Costa Leste e da descoberta de linhagens imunologica-
ção para carrapatos. Bovinos suscetíveis introduzidos em tais mente diferentes de T parva no campo. Contudo, um esquema
áreas sofrem alta mortalidade, independentemente da idade ou de "infecção e tratamento" que envolve a injeção concomitante
da raça, a menos que sejam observadas precauções rígidas. de uma cepa de T. parva com virulência estável e tetraciclina de
Nas áreas onde a sobrevivência do carrapato vetar é margi- longa ação demonstra dar resultados, embora ainda não seja uLi-
nal, a desafio é baixo e os bovinos nativos podem ter pouca imu- lizado em larga escala. Aparentemente, a tetracichna retarda a
nidade. Estas áreas, durante um período prolongado de chuvas, velocidade de esquizogonia, dando tempo para o desenvolvimen-
podem tornar-se ecologicamente adequadas para a sobrevivên- to de resposta imune.
cia e a proliferação dos carrapatos, resultando finalmente em
surtos desastrosos de Febre da Costa Leste.
Em algumas partes da África Oriental e Central, onde popu- Theileria annulata
lações de bovinos e búfalos africanos selvagens se sobrepõem,
há uma complicação epidemiológica adicional por causa da pre- A doença causada por Theileria annulata acomete bovinos e búfa-
sença de uma linhagem de T. parva, conhecida como T. parva los domésticos e em muitos aspectos é semelhante à doença causa-
lawrenci. Esta linhagem ocorre naturalmente em búfalos africa- da por T. parva. Existem, entretanto, algumas características que
nos, muitos dos quais permanecem portadores. O vetor também diferem, e as mais importantes delas estão resumidas adiante.
é o carrapato R. appendiculatus, e nos bovinos a doença causa A doença distribui-se numa ampla faixa tropical e subtropi-
alta mortalidade. Como os carrapatos infectados podem sobre- cal que abrange Portugal e Espanha, os Bálcãs, os países que mar-
viver por quase dois anos, o contato físico entre búfalos e bovi- geiam o Mediterrâneo (daí o nome "teileriose mediterrânea"), o
nos não precisa ser estreito. Oriente Médio e o subcontinente indiano, além da China.
A T. annulata é transmitida transestadialmente por carrapatos
DIAGNÓSTICO do gênero Hyalomma. Como a Febre da Costa Leste, os bovinos
nativos em regiões endêmicas são relativamente resistentes, enquan-
A Febre da Costa Leste ocorre apenas onde há R. appendicula- to os rebanhos selecionados, particularrnente as raças européias, são
tus, embora ocasionalmente sejam registrados surtos dentro e fora altamente suscetíveis. Entretanto, ao contrário da Febre da Costa
destas áreas em virtude da introdução de bovinos infestados por Leste, a doença nesses animais não é uniformemente fatal, apesar
carrapatos provenientes de uma região enzoótica. do índice de mortalidade poder atingir 70%.
Nos animais doentes, os macroesquizontes são facilmente A patogenia e a sintomatol.ogia clínica são inicialmente se-
detectados em esfregaços de linfonodos para biopsia e, em ani- melhantes às da Febre da Costa Leste, com pirexia e tumefação
mais mortos. em esfregaços de impressão de linfonodos e baço. de linfonodos, mas nos estágios posteriores há anemia hemolíti-
Nos casos avançados, os esfregaços sangüíneos corados por Oi- ca e freqüentemente icterÍi;ia. A convalescença é prolongada nos
emsa apresentam piroplasmas nos eritrócitos, até 80% dos quais casos clínicos que se recuperam.
podendo estar parasitados. O diagnóstico depende da detecção de esquizontes em biop-
O teste de anticorpos por fluorescência indireta tem valor na sias de linfonodos e, ao contrário de T parva, em esfregaços
detecção de bovinos que se recuperaram da Febre da Costa Leste. sangüíneos. Uma parasiternia de piroplasmas de baixo grau, na
ausência de esquizontes, em geral é indicativa de um animal
portador recuperado.
TRATAMENTO Em muitas regiões, a prevenção de infecção por T annulata
em bovinos leiteiros importados baseia-se em estabulamento
Embora as tetracic1inas tenham um efeito terapêutico se admi- permanente. Contudo, isto é dispendioso e sempre existe a pos-
nistradas na época da infecção, não têm valor no tratamento de sibilidade de introdução de carrapatos infectados junto com a
casos clínicos. As drogas de escolha em casos clínicos de Febre forragem, causando doença e o desenvolvimento desses artrópo-
da Costa Leste são os compostos de naftaquinona parvaquona e des nas frestas das baias dos animais. Em alguns países, a imu-
buparvaquona, assim como o anticoccídico halofuginona. nização com esquizontes atenuados por cultura in vivo prolon-
gada tem dado excelentes resultados. Como no caso de infecção
CONTROLE por T parva, os compostos de naftaquinona e a halofuginona são
as drogas de escolha.
Tradicionalmente, o controle da Febre da Costa Leste em áreas
onde são criados rebanhos selecionados baseia-se na legislação
para controlar a movimentação de bovinos, na construção de Theileria hirci
cercas para impedir o acesso de bovinos e búfalos errantes e no
tratamento repetido de bovinos com acaricidas. Nas regiões de Este protozoário é a causa de uma doença aguda e altamente fa-
alto desafio, pode ser necessário realizar este tratamento duas tal de ovinos e caprinos na Europa Oriental, no Oriente Médio,
vezes por semana para destruir o carrapato antes do desenvolvi- na Ásia e na ÁfTica do Norte. Não se conhece o carrapato vetor.
mento de esporozoítos infectantes nas glândulas salivares. Isto embora se suspeite de espécies de Hyalomma. A epidemiologia
não só é caro como também cria uma população de bovinos to- e a patogenia são semelhantes às da T. annulata, com febre, lin-
talmente suscetíveis; se o acaricida fracassar, por erro humano fanados tumefatos, anemia e icterícia em animais suscetíveis.
ou pela aquisição de resistência por parte dos carrapatos, as con- Há poucas infornlações disponíveis sobre controle de carra-
seqüências podem ser desastrosas. patos ou tratamento.
Prorozoologia Veterinária 217

, CytauxzoolI Hospedeiros:
O suíno; ocasionalmente outros animais, incluindo o homem e
os bovinos.
Várias espécies de Cytauxzoon ocorrem como piroplasmas se-
melhantes à teiléria no s eritrócitos de ruminantes sil vestres afri- Localização:
canos. O gênero difere de Theileria, visto que ocorre esquizogo- Intestino grosso.
nia nas células reticuloendoteliais em vez de nos linfócitos.
Recentemente, no sul dos Estados Unidos foi descrita uma IDENTIFICAÇÃO
doença fatal de gatos domésticos, caracterizada por febre, ane-
mia e icterícia. A presença de esquizontes na s células
Um organismo ativamente móvel, de até 300 tJ.m, cuja película
reticuloendoteliais do baço, linfonodos, fígado e pulmões suge-
posssui fileiras de cílios dispostos longitudinalmente (Fig. 146).
re que possa ser uma espécie de Cytauxzoon.
Na extremidade anterior, há uma depressão afunilada, o peristo-
ma, que leva ao citóstoma ou boca; desta, partículas de alimen-
tos são passadas para vacúolos no citoplasma e digeridas. inter-
Classe HAEMOSPORIDIA namente, há dois núcleos, um macronúcleo reniforme e um
micronúcleo adjacente, e dois vacúolos contráteis que regulam
Três gêneros isolados desta classe, Plasmodium, Haemoproteus
a pressão osmótica.
e LeucocylOzoon, são as causas de "malária" aviária e aves do-
mésticas e sil vestres, uma doença muito comum nos trópicos e
transmitida por dípteros picadores. CICLO EVOLUTIVO
Os vetores diferem, visto que espécies aviárias de Plasmodium
são transmitidas por mosquitos, Haemoproteus por moscas hi- o 8alantidium eoli provavelmente vive como comensal no in-
poboscídeas ou por mo squitos-pólvora e Leucocytozoon por es- testino grosso da maioria dos suíno s. A reprodução é por fis-
pécies de Simulium. são binária. Ocorre também conjugação, uma união temporá-
Os ciclos evolutivos são amplamente semelhantes ao da ma- ria de dois indivíduos durante a qual há troca de material nu-
lária humana, e a esquizogonia no sistema reticuloendotelial re- clear, após o que ambas as células se separam. Finalmente,
sulta na produção de gametócitos semelhantes aos da malária nos formam-se cistos que são eliminados na s fezes; esses cistos
eritrócitos e na ocoLTência de singamia no inseto vetar, com pro- possuem uma parede amarelada espessa, através da qual o pa-
dução de esporozoítos nas glândulas salivares. Dependendo da rasita pode ser observado, e são viáveis por duas semanas à
espécie, galinhas, patos, gansos ou pombos podem ser acometi- temperatura ambiente. A infecção de um novo ho spedeiro é por
dos , e a sintomatologia clínica varia de inaparente a pirexia, ane- ingestão dos cistos.
mia, paralisia e até mesmo morte súbita.
O diagnóstico depende da identificação e diferenciação dos
PATOGENIA E IMPORTÂNCIA
parasitas nos eritrócitos de esfregaços de sangue corados.
Embora possam ser usadas drogaS""antimaláricas no tratamento,
Normalmente não-patogênicos, estes protozoários podem, por
em última análise O controle do inseto vetor é mais importante.
razões desconhecidas, causar ocasionalmente ulceração da mu-
cosa e disenteria concomitante no suíno. Às vezes, o homem pode
[Malária no homem: Esta é uma das doenças humanas de mai-
or prevalência no mundo e é considerada a causa de 1,5 milhão tomar-se clinicamente acometido, através da contaminação de
de mortes anualmente. É provocada por quatro espécies de Plas- aUmentos ou das mãos com fezes suínas.
modium, dos quais o P. vivax é o mais comum e o P. falciparwn As tetraciclinas são eficazes no tratamento.
o mais patogênico. Os esporozoítos são inoculados pelo mosq uito
anofelino fêmea, e isto é seg uido por esquizogonia nas células
parenquimatosas do fígado e depois nos eritrócitos. Por fim , for- Subfilo MICROSPORA
mam-se micro- e macrogametócitos nos eritrócitos e, com a in-
gestão pelo mosquito, ocorre singamia no intestino. Os Encephalitozoon cuniclIli
esporocistos produzem milhares de esporozoítos que invadem as
glândulas salivares e subseqüentemente são inoculados em ou- Este patógeno é um dos vários provisoriamente atribuídos ao filo
tro hospedeiro humano. Protozoa, subfilo Microspora. Todos são parasitas intracelulares
O controle depende da erradicação de mosquitos e, pelo me- com um estágio esquizogônico e esporogônico, possuindo o
nos para moradores temporários, do uso regular de antimaláricos esporo um filamento polar espiral ado. Em sua maioria, são pa-
profiláticos. Como a resistência aos antimaláricos se encontra rasitas de peixes.
difundida em determinadas regiões, deve-se obter opinião mé- A doença causada pelo E. cunicu/i foi descrita em poucas
dica sobre a escolha da droga.] ocasiões no homem, no cão, na raposa azul, em roedores e em
outros mamíferos. O ciclo evolutivo é obscuro, embora a infec-
ção possa ser por ingestão. O parasita e m seguida sofre esquizo-
Subfilo CILIOPHORA gonia e esporogonia nos macrófagos peritoneais e, na forma crô-
nica, nos rins e no cérebro. Os esporos infectantes são ~limina­
BalantidiulIl coli dos na urina.
A sintomatologia clínica varia de di screta a grave e inclui
Distribuição: distensão abdominal, paralisia e sinais nervosos que lembram
Mundial. raiva.
~J Parasitologia Veterinária

PROTOZOÁRIOS DE CLASSIFICAÇÃO cito (Prancha XIII). Freqüentemente há apenas um organismo


INDETERMINADA num eritrócito e de modo característico este organismo fica na
margem externa; estes dois aspectos, entretanto, não são cons-
tantes.
Pneumocystis carillii O A. cenrrale moderadamente patogênico é semelhante, ex-
ceto que os organismos se encontram comumente no centro do
Este organismo com freqüência é considerado um esporozoá- eritrócito.
rio do tipo toxoplasmideo. É ocasionalmente responsável por
pneumonia no homem, principalmente em indivíduos muito jo- CICLO EVOLUTIVO
vens, nos velhos, nos debilitados ou naqueles com imunossupres-
são. A lesão caracteriza-se por infiltração maciça de plasmóci- Conforme descrito anterionnente, o Anaplasma pode ser trans-
tos ou ru stiócitos nos alvéolos, nos quais os organismos podem mitido por carrapatos e também mecanicamente por moscas pi-
ser detectados por um método de coloração por prata. cadoras ou instrumentos cirúrgicos contaminados .
O organismo é aparentemente bem distribuído na forma la- Uma vez no sa ng ue, o organi smo entra no eritrócito,
tente em pessoas sadias e no cão, assim como numa ampla vari- invaginando a membrana celular de modo a formar um vacúolo;
edade de outros animais domésticos e silvestres. a partir daí, divide-se e forma um corpúsculo de inclusão con-
tendo até oito "corpúsculos iniciais" mantidos juntos. Os corpús-
culos de inclusão são mais numerosos durante a fase aguda da
Ordem RICKETISlALES infecção, mas alguns persistem durante anos depoi s disto.

Os organismos descritos nesta seção foram inicialmente consi- PATOGENIA


derados como sendo protozoários, mas se sabe agora que são
Rickettsia. Entretanto, como alguns podem ser facilmente con- Tipicamente, as alterações são as de uma reação febril aguda,
fundidos com esporozoários do sangue, são tradicionalmente acompanhada por grave anemia hemolítica. Depois de um perí-
incluídos em parasitologia veterinária. odo de incubação de cerca de quatro semanas, aparecem febre e
parasitemia, e conforme esta última se desenvolve a anemia tor-
na-se mais grave a ponto de em aproximadamente urna semana
AnaplaslIla até 70% dos eritrócitos serem destruídos.
A necropsia nesta ocasião freqüentemente revela a carcaça
Estes organismos, encontrados nos eritrócitos de bovinos, cau- ictérica, a ves ícula biliar bastante dil atada e, ao corte, o fígado
sam anaplasmose, uma doe ~ ça caracterizada por febre, anemia com sufusão biliar. O baço e os linfonodos encontram-se dilata-
e icterícia. A infecção é transmitida por carrapatos ou mecanica- dos e congestos, e há hemorragias peteq uiais na musculatura
mente por insetos picadores ou mesmo por seringas hipodérmi - cardíaca. A urina, ao contrário do que ocorre na babesiose, tem
cas ou instrume ntos cirúrgicos contaminados. cor normal. Nos sobreviventes, a recuperação é prolongada.
Hospedeiros:
Bovinos. Os ruminantes silvestres, e talvez os ovinos, podem SINTOMA TOLOGIA CLíNICA
atuar como reservatórios de infecção.
A si ntomatologia clínica usualmente é muito discreta em bovi-
Hospedeiros intermediários:
nos com menos de um ano de idade que não tiveram contato pré-
Umas 20 espécies de carrapatos, incluindo O Boophilus de um
vio com o anaplasma. A partir daí, a suscetibilidade aumenta de
hospedeiro, demonstram transmitir infecção experimentalmen-
forma tal que os animais com doi s a três anos desen volvem ana-
te. Como ocorre infecção transovariana na maioria destas espé-
plasmose típica e freqüentemente fatal , enquanto nos bovinos
cies, podem ser consideradas como hospedeiros intermediários,
com mais de três anos a doença é quase sempre superaguda e
embora haja poucas informações sobre O dese nvolvimento dos
freqüente mente fatal.
parasitas no carrapato.
Os aspectos clínicos incluem pirexia, anemia e freqüentemente
Localização: icterícia, anorexia, difi culdade respiratória e, em vacas, uma grave
Nos eritrócitos. queda na produção de leite ou aborto. Às vezes, ocorrem casos
superagudos, os quais usualmente morrem em um dia após a
Espécies:
Anaplasma marginale
manifestação da sintomatologia clínica.
A. centra/e.
EPIDEMIOLOGIA
Distribuição:
Mundial nos trópicos e subtrópicos, incluindo o sul da Europa. Além dos vários modos de transmissão acima descritos, há pou-
Está presente também em algumas regiões temperadas, incluin- cas informações disponíveis. Os reservatórios de infecção são
do partes dos Estados Unidos. mantidos em bovinos portadores e talvez em ruminantes silves-
tres ou ovinos. Os bovinos, especialmente adultos, introduzidos
IDENTIFICAÇÃO em regiões endêmicas são particularmente suscetíveis, com o
índice de mortalidade sendo de até 80%. Por outro lado, os bo-
Em esfregaços sangüíneos corados por Giemsa, os organismos vinos criados em regiões endêmicas são muito menos suscetí-
de A. marginale são vistos como pequenos "corpúsculos de in- veis, provavelmente graças à exposição prévia qu ando jovens,
clusão" redondos, de cor vermelho-escura, no interior do eritró- embora a imunidade adquirida usualmente coexista com um es-
-
Protozoologia Veterinária 219

tado portador. Às vezes, este equilíbrio pode ser perturbado, so- palme nte por infecção por aerossol ou por cantata direto ou in-
brevindo anaplasmose clínica quando os bovinos se encontram gestão. A pasteurização destrói eficazmente o organismo no lei-
estressados por outras doenças, como a babesiose. te. Tendo como base evidências epidemiológicas, pode ocorrer
também transmissão por carrapato em ruminantes domésticos.
DIAGNÓSTICO

A sintomatologia clínica suplementada, se possível, por uma Eperythrozoon e Haemobartonella


avaliação do hematócrito e pela demonstração de inclusões de
Anaplasma nos eritrócitos em geral é suficiente para o diagnós- Tipicamente, espécies de ambos estes gêneros, que estão presen-
tico. Para a detecção de portadores imunes, são viáveis testes de tes em eritrócitos, produzem infecções discretas e clinicamente
fixação de complemento e aglutinação; foi desenvolvido também inaparentes numa série de animais domésticos em todo o mun-
um teste de imunotluorescência indireta e prova de DNA. do. A sua identificação por artifícios de coloração requer bons
esfregaços sangüíneos e corante de Giemsa filtrado. Mesmo as-
sim, é difícil a diferenciação entre os dois gêneros, pois ambos
TRATAMENTO
se apresentam como cocos ou bastonetes curtos na superfície dos
eritrócitos, com freqüência rodeando completamente a margem
Os compostos de tetraciclina são eficazes no tratamento se ad-
do eritrócito. Contudo, os organismos de Eperythrozoon fixam-
ministrados no início da doença e especialmente antes que a pa-
se um tanto frouxamente à superfície do eritrócito (Prancha XIV)
rasitemia tenha atingido o seu pico. Mais recentemente, o imi-
e freqüentemente são encontrados livres no plasma, enquanto os
docarb demonstrou ser eficaz e também pode ser utilizado para
da Haemobartonella se fixam firmemente aos eritrócitos e rara-
esterilizar animais portadores.
mente ficam livres no plasma.
Entre os Eperythrozoon, o E. suis é o mais patogênico, pro-
CONTROLE duzindo icterícia e anemia em leitões muito novos, enquanto o
E. ovis de ovinos e o E. wenyoni de bovinos, normalmente be-
Em diversos países, pratica-se a vacinação de animais suscetÍ- nignos, são às vezes responsáveis por febre, anemia e perda de
veis com pequenas quantidades de sangue contendo o A. cenlra- peso.
te moderadamente patogênico ou uma linhagem relativamente Das Haemobartonella, a H. felis é a mais significati va como
avirulenta de A. marginale, sendo quaisquer sinais clínicos nos causa de anemia hemolítica em gatos jovens. Essa anemia pode
adultos controlados com drogas. Nos Estados Unidos, existe tam- ser aguda ou crónica, com agravamento periódico da sintomato-
bém uma vacina morta de A. marginale contendo estroma de logia clínica. Os gatos recuperados podem pennanecer portado-
eritrócitos. Embora todas produzam bons resultados no sentido res.
clínico, os bovinos desafiados tornam-se portadores e dessa A transmissão da doença provavelmente depende de artrópo-
maneira perpetuam a transmissão. A vacina morta tem a desvan- des, incluindo piolhos, pulgas, carrapatos e moscas picadoras, e
tagem de os anticorpos produzidos contra o estroma de eritrócitos, também, pelo menos no caso de H. Ielis, a ingestão de sangue
se transferidos pelo colostro, poderem produzir isoeritrólise em durante brigas.
bezerros1actentes. Atualrnente, encontram-se em desenvolvimen- As tetraciclinas são eficazes no tratamento.
to vacinas inativadas aperfeiçoadas.
Por outro lado, no momento o controle depende amplamente
da redução de carrapatos e moscas picadoras. Ehrlichia
Os membros deste gênero de Rickettsia são encontrados nos leu-
Aegyptianella cócitos sangüíneos como inclusões intracitoplasmáticas e produ-
zem caracteristicamente uma breve doença febril associada a
O Aegyptianella puLlorum causa uma doença em galinhas, gan- leucopenia. As espécies mais importan"tes são E. phagocytophila,
sos e patos no sul da Europa Oriental, na África e na Ásia que é a causa de febre transmitida por carrapato em ovinos e bovinos
algo similar à anaplasmose em bovinos. nas Ilhas Britânicas, na Noruega, na Finlândia, nos Países Bai-
Corpúsculos semelhantes ao Anaplasma de vários tamanhos xos e na Áustria, e E. canis, que causa pancitopenia tropical em
são encontrados no citoplasma dos eritrócitos, a síndrome carac- cães.
teriza-se por anemia, icterícia e diarréia e a infecção é transmiti- A Ehrlichia (sin. Cyloecetes) phagocytophila é transmitida por
da pelo carrapato argasídeo Argas persicus. As aves importadas lxodes ricinus e, em regiões endêmicas, a prevalência de infec-
são especialmente suscetíveis e as que se recuperam freqüente- ção em jovens cordeiros monteses é de virtualmente 100%.
mente são portadoras " Após um período de incubação de sete dias, há febre, apatia e
Recomendam-se compostos de tetraciclina para o tratamento. inapetência, persistindo por cerca de dez dias. Durante esta fase,
embora a leucopenia seja acentuada, as inclusões "em mórula"
características podem ser vistas numa proporção variável dos
Coxiella ' leucócitos polimorfonucleares presentes (Prancha XIV). A recu-
peração em geral é sem problemas, apesar desses animais per-
A infecção por Coxiella burnetti causa a febre Q, uma síndrome manecerem como portadores durante muitos meses.
semelhante à influenza no homem que pode ser responsável por A importância veterinária da febre do carrapato é tripla. Pri-
aborto em ovinos, caprinos e bovinos. O organismo tem distri- meiramente, embora a doença em si seja transitória, sua ocor-
buição mundial e pode sobreviver durante anos no meio ambi- rência em cordeiros muito novos em pastos rústicos de regiões
ente. No homem e em animais domésticos, dissemina-se princi- montanhosas pode causar óbito, por causa da incapacidade de
220 Parasitologia Veterinária

manter cantata com a mãe. Em segundo lugar, a doença, possi- A Ehrlichia canis, transmitida por Rhipicephalus, é a causa
velmente em razão da leucopenia associada, predispõe os cor- da doença febril pancitopenia canina, que ocorre nos trópicos em
deiros a e ncefalomi elite e nzoóti ca, piemia do ca rra pato todo o mundo. As inclusões são encontradas nos monócitos,
(estafilococose enzoótica) e pasteurelose. Fi nalmente, a ocorrên- embora haja leucopeni a e tromoocitopenia. Pode ocorrer morte
cia da doença em ovinos ou bovinos adultos recentemente intro- por infecções secundárias associadas à leucopenia ou por hemor-
duzidos numa região endêmica pode causar aborto ou esterilida- ragias mucosas e serosas conseqüentes a deficiências plaquetá-
de temporária em machos, provavelmente como conseqüência rias. As tetraciclinas são eficazes no tratamento.
da pirexia. Duas outras infecções por Ehrlichia feb ris e hemorrágicas, pro-
O tratamento da febre do carrapato raramente é necessário e vavelmente transmitidas por carrapato e descritas em animais do-
a profilaxia depende do controle do carrapato por banhos carra- mésticos, são a febre petequial bovina (doença de Ondiri) no Qué-
paticidas. Quando a piemia do carrapato em cordeiro for um pro- nia, causada por Cytoeceles ondiri, e a erliquiose eqüina, causada
blema, esta medida pode ser suplementada por uma ou duas in- por E. equi na Europa e nos Estados Unidos. Mais recentemente, a
j eções profiláticas de oxi tetraciclina de longa ação, cada uma das síndrome da febre do cavalo de Potomac, com febre, leucopenia e
quais protege contra infecção por Ehrlichia phagocytophila du- di arré ia em eqüinos na América do Norte, foi atribuíd a a uma
rante duas a três semanas. erlíquia, E. risticii, encontrada nos leucócitos sangüíneos.
TÓPICOS DE REVISÃO
EPIDEMIOLOGIA DE DOENÇAS PARASITÁRIAS

Embora as razões da ocorrência de doenças parasitári as sej am pedeiro definitivo. Tem a máxima influênci a quando as condições
múltiplas e freqüentemente interativas, a grande maioria ocorre climáticas são ideais para o desenvolvimento dos ovos ou larvas
por uma de quatro razões básicas (Quadro la). São elas: contaminantes, como na primavera e no verão no hemisfério norte.
A alta densidade do rebanho também favorece a disseminação
(1) Aumento no número de estágios infectantes.
de condições ectoparasitárias como a pediculose e a sarna sarcóptica,
(2) Alteração na suscetibilidade do hospedeiro.
em que o contato íntimo entre os an imai s faci lita a difusão da
(3) Introdução de animais suscetíveis.
infestação. Isto pode ocorrer em condições de superlotação em
(4) Introdução de infecção.
currais de bovinos ou da mãe à ninhada quando, por exemplo, as
Cada um destes tópicos será discutido separadamente e com porcas e as ninhadas ficam em íntimo cOntato.
exemplos. Na coccidiose, em que são disseminadas grandes quantida-
des de oocistos, os métodos de manejo que estimulam a aglome-
AUMENTO NO NÚMERO DE ESTÁGIOS ração dos animais, como o agrupamento de cordeiros ao redor
INFECTANTES de comedouros, podem resultar rapidamente em contaminação
mac iça.
Esta categoria envolve doenças parasitárias de ocorrência sazo- Nas regiões temperadas, onde os animais ficam estabulados
nal e, apesar de mais di stintas em zonas com ampla variação cli- durante o inverno, a data do retomo ao pasto na primavera influ-
mática, podem ser observadas também em zonas com vari ações encia a contaminação dos pastos com ovos de helmintos. Uma
climáticas minimas, como os trópicos úmidos. vez que muitos estágios infectantes de helmintos, que sobrevi-
São múltiplas as causas responsáveis pelas flutuações sazonais veram ao inverno, sucumbem duran te o final da primavera, a
DOS números e na viabilidade de estágios infectantes, podendo ser
manutenção dos animais estabulados até esta época minimiza a
convenientemente agrupadas como fatores que afetam a contami- infecção subseqüente.
nação do meio ambiente e fatores que controlam o desenvolvimento
e a sobrevivência dos estágios de vida livre dos parasitas e. quando Estado imunológico do hospedeiro
for o caso, de seus hospedeiros intermediários.
Evidentemente, a influência da densidade do rebanho será má-
xima se todos os animais forem totalmente suscetíveis ou se a
COryTAMINAÇÃO 00 MEIO AMBIENTE proporção de animais suscetíveis em relação aos imunes for alta,
como nos rebanhos ovinos com grande porcentagem de gêmeos
o nível de contaminação é influenciado por di versos fatores. ou em rebanhos de bovi nos de corte com múltiplos lactentes.
Entretanto, mesmo quando a proporção de adu ltos em rela-
Potencial biótico ção a j ovens for baixa, é preciso lembrar que as ovelhas, as por-
cas, as cabras e em menor grau as vacas se tomam mais susce-
Pode ser definido como a capacidade de um organismo de ter su- tíveis a muitos helmintos durante o final da prenhez e o início
cesso biQlógico medida por sua fecundid ade. Assim, alguns da lactação em face da queda peripuerperal na imunidade. Em
nemat9ides, como Haemonchus contortus eAscaris suum, produ- muitas regiões do mundo, o parto em animais no campo, sin-
zem muitos milhares de ovos ' ao dia, enquanto outros, como cronizado para ocorrer com as cond ições mai s favoráveis ao
Trichostrongylus , prod~zem apenas algumas centenas. A produção crescimento da pastagem, também é a época mais adequada para
de ovos por alguns ectoparasitas como a varejeira, Lucilia sericala, o desenvolvimento dos estágios de vida li vre da maioria dos
ou o carrapato, Ixodes ricinus, também é muito alta, enquanto as helmintos. Assi m, a importância epidemiológica da queda
espécies de Glossina produzem relativamente poucos ovos. peripuerperal da imunidade é que ela assegura maior contami-
O potencial biótico dos parasitas que se multiplicam num nação do meio ambiente quando está aumentando o número de
hospedeiro intermediário ou num hospedeiro definitivo também an imais suscetíveis.
é considerável. Por exemplo, a infecção de Lymnaea por um Há certa evidência de que a resistência a infecções intestinais
miracídio do tre matóide Fasciola hepatica pode dar origem a por protozoários como a coccidiose e a toxoplasmose também
várias centenas de cercárias. No hospedeiro definiti vo, parasitas cai durante a prenhez e a lactação. aumentando, portanto, a di s-
protozoári os como Eimeria, em virtude da esquizogoni a e da seminação destas importantes infecções.
gametogonia, também dão origem a um rápido aumento na con- Por Outro lado, a imunidade do hospedeiro limita o nível de
taminação do meio ambiente. contaminação por modificar o desenvolvimento de novas infec-
ções ou por sua destruição ou por inibição nos estágios larvais,
Manejo do rebanho enquanto as cargas de vermes adultos existentes ou são expelidas
ou sua produção de ovos é drasticamente reduzida.
A densidade do rebanho pode influenciar o nível de contaminação Apesar da imunidade contra ectoparasitas ser me nos bem
e é particularmente importante nas infecções por nematóides e definida, nos bovinos ela se desenvolve co ntra a maioria das
cestóides em que não ocorre multiplicação do parasita fora do hos- espécies de carrapatos, embora num rebanho esta expressão de
~"".j Parasitologia Veterinária

Quadro 10 Fatores que afetam a epidemiologia de doenças parasitárias Stomoxys calcitrans ou as varejeiras britânicas, têm vários ciclos
(1) Aumento no nllmero de estágios infectantes de geração antes de entrar em diapausa. A ocorrência de d:iapausa
(a) Contaminação do meio ambiente Potencial biôtico é menor em parasitas que infectam continuamente o hospedeiro
Manejo do rebanho como ácaros da sarna ou piolhos.
Estado imunológico
HipobioseJdiapausa Até agora. não foram atribuídos fenômeno s semelhantes a
(b) Desenvolvimento e sobrevivência Micro-habitat protozoários, embora haja um relato de coccidiose latente ocor-
de estágios infectantes Desenvolvimento sazonal
Manejo do rebanho rendo em bovinos para a qual foi proposta uma hipótese similar.
(2) Alteração na suseetibllidade do hospedeiro
(a) Inlecçoes existentes Dieta DESENVOL VIMENTO E SOBREVIVÊNCIA OE
Prenhez e lactação
Terapia com esterôides ESTÁGIOS INFECTANTES
(b) Infecções novas Infecções intercorrentes
Quimioterapia
Hipersensibilidade
Os fatores que afetam o desenvolvimento e a sobrevivência são
(3) Introdução de animais suscetíveis principalmente ambientais, em especial a mudança climática
(a) Ausência de imunidade adquirida sazonal e certas práticas de manejo.
(b) Ausência de imunidade etária
(c) Longevidade de estágios infectantes
(d) Fatores genéticos Entre espécies
Entre raças Micro-habitat
(e) Sexo
(f) Linhagem do parasita
Diversos fatores ambientais, que afetam os micro-habitats de está-
(4) Introdução de infecção gios parasitários de vida livre, são vitais para o desenvolvimento e
(a) Introdução de novos animais a sobrevivência. Assim, temperaturas moderadas e umidade alta
(b) Adubo orgãnico
(c) Vetores favorecem o desenvolvimento da maioria dos parasitas, enquanto
tamperaturas baixas prolongam a sobrevivência. A umidade do
microclima depende, naturalmente, não só das chuvas e da tempe-
ratura, mas também de outros elementos, como estrutura do solo,
resistência quase sempre resulte inadvertidamente numa popu- tipo de vegetação e drenagem. O tipo de solo influencia o cresci-
lação superdisseminada de carrapatos com os animais jovens mento e a composição da espécie do capim e isto, por sua vez, de-
suscetíveis transportando a maior parte dos carrapatos. termina o grau de formação de uma camada de "macega" entre o
Em doenças por protozoários, como a babesiose ou a teileriose, solo e o capim. A macega é abundante nos pastos mais antigos e
a presença de adu ltos imunes também limita a probabilidade dos mantém uma reserva permanente de umidade em que a umidade
carrapatos se infectarem; este efeito, entretanto, não é absoluto, relativa permanece alta mesmo após semanas de seca. A presença
uma vez que tais animais freqüentemente são portadores inapa- dessa umidade e bolsas de ar presas na macega limitam o nível de
rentes dessas infecções por protozoários. mudança de temperatura, e estes fatores favorecem o desenvolvi-
mento e a sobrevi vência de larvas de helmintos, carrapatos, estágios
Hipobiose/diapausa 13IVaiS de insetos e oocistos de coccídios.
Por outro lado, o uso de plantações rotativas de pastos reduz
Estes termos são usados para descrever a interrupção no desen- a influência da macega e, portanto, a sobrevivência de parasitas.
vo lvimento de um parasita em determinado estágio e por perío- Nos trópicos áridos, o crescimento da pastagem em geral é in-
dos que podem prolongar-se por vários meses. significante, produzindo um efeito análogo.
Hipobjose refere-se ao desenvolvimento inibido de larvas de Da mesma fonua, um alto nível de lençol de água no solo é
nematóides no hospedeiro e ocorre sazonalmente, em geral numa importante para o desenvolvimento e a sobrevivência de vetores
época em que as condições são adversas ao desenvolvimento e à caramujos hospedeiros intermediários de trematóides, como
sobrevivência dos estágios de vida livre. A importância epide- trematóides do fígado e do rúmen.
miológica da hipobiose é que a retomada de desenvolvimento das O desenvolvimento e a sobrevivência de ovos ou larvas de
larvas hipobióticas ocorre usualmente quando as condições são helmintos nas fezes também dependem da temperatura e da
ideais para o desenvolvimento de vida livre, resultando, ass im, umidade. A espécie do hospedeiro também pode influenciar esta
em maior contaminação do meio ambiente. Há muitos exemplos situação, uma vez que as fezes normais de bovinos pennanecem
de hipobiose sazonal em nematóides, incluindo infecções por na forma original por mais tempo que, por exemplo, as fezes
Os/er/agia em ruminantes, Hyostrongylus rubidus em suínos e ovinas. Portanto, o teor de umidade no centro de um bolo fecal
espécies de Trichonema em eqüinos. bovino permanece alto durante várias semanas ou mesmo me-
A diapausa em artrópodes, tal qual a hipobiose em nematóides, ses, proporcionando. assim, um abrigo para as larvas em desen-
também é considerada um fenômeno de adaptação através do qual volvimento até que o ambiente externo seja adequado.
os ectoparasitas sobrevivem a condições adversas por interrup- As larvas de Dictyocaulus também podem espalhar-se com
ção do desenvolvimento e do metabolismo num determinado os esporos do fungo Pilobolus que crescem em fezes bovinas,
estágio. É mais comum em parasitas artrópodes temporários em enquanto várias espécies de larvas de nematóides, incluindo es-
climas temperados. Nestes, a atividade nutritiva restringe-se aos pécies de Oesophagostomum de suínos, são disseminadas me-
meses mais quentes do ano e a sobrevivência ao inverno é efetu- canicamente por alguns dípteros.
ada freqüentemente por um período de diapausa. Dependendo dos
extremos das !atitudes norte ou sul, isto pode ocorrer depois de Desenvolvimento sazonal
uma ou várias gerações. Por exemplo, a mosca-da-cabeça
Hydrotoea irritans tem apenas um ciclo anual e passa o inverno Nas regiões temperadas. com estações distintas de inverno e
sob a forma de larva madura em diapausa. Outros insetos, como verão, há um número limitado de gerações, e o mesmo é válido
Tópicos de Revisão 225

para regiões com estações secas e úmidas bem definidas. Por tismo. Entretanto, a melhoria do pasto, particularmente nos tró-
exemplo, na Grã-Bretanha, há apenas uma ou, no máximo, duas picos, pode aumentar o sucesso da reprodução dos carrapatos e
gerações parasitárias de infecções comuns por tricostrongilíde- dos dípteros que põem ovos nas fezes, aumentando sua viabili-
os de ruminantes,já que o desenvolvimento larval no pasto ocorre dade. Além disso, as taxas de lotação de animais nas pastagens
somente a partir do final da primavera até o inicio do outono, melhoradas podem aumentar as chances de o parasita encontrar
verificando-se os níveis máximos de larvas infectantes de julho um hospedeiro.
a setembro. Por outro lado, nos climas tropicais pode haver inú- A data da parição num lote ou rebanho também pode influen-
meras gerações por ano, porém mesmo neste caso há épocas em ciar a probabilidade de infecção parasitária. Quando os animais
que as condições para o desenvolvimento e a sobrevivência dos nascem fora de estação, os números de estágios infectantes de
estágios de vida livre são ótimas. tricostrongilídeos em geral são menores e a chance de infecção
O desenvolvimento de grandes quantidades de estágios infec- é adiada até os aIÚmais jovens estarem com mais idade e mais
tantes de parasitas em estações distintas geralmente é acompa- fortes.
nhado por alta taxa de mortalidade em poucas semanas. Quanti-
dades consideráveis, entretanto, sobrevivem por muito mais tem-
AL TERAÇÃO NA SUSCETlBILlDADE A
po do que se imagina. Por exemplo, nos helmintos, números
significantes de metacercárias de Fasciola hepatica e larvas in- INFECÇAO
fectantes de tricostrongilídeos podem sobreviver durante no
mínimo nove meses na Grã-Bretanha. Pode referir-se a infecções existentes ou à aquisição de novas
As populações de dípteros também variam no número de ge- infecções.
rações por ano. Usando as varejeiras como exemplo, há três ou
quatro gerações, e portanto populações mais altas, no sul da In- AL TERAÇÃO NOS EFEITOS DE UMA INFECÇÃO
glaterra, enquanto na Escócia há apenas duas, o fator limitante
sendo a temperatura. Nas regiões tropicais ou subtropicais úmi- Isto é observado principalmente em an imais adolescentes ou
das, o desenvolvimento de larvas de tricostrongilídeos ou de adultos que estão abrigando populações de parasitas abaixo do
populações de moscas ocorre durante todo o ano, e, embora isso limiar geralmente associado a doença, podendo ser explicado por
possa ser mais lento em determinadas épocas, há inúmeras gera- vários fatores dietéticos e do hospedeiro.
ções anuais.
Embora os ectoparasitas permanentes, como piolhos ou ácaros Dieta
da sarna, vivam sobre a pele ou na pele de animais e, portanto,
num ambiente aparentemente estável, na verdade este não é o É fato bem conhecido que os animais adequadamente nutridos
caso, pois o comprimento dos pêlos ou da lã muda em razão de têm maior capacidade de tolerar o parasitismo que os animais com
fatores sazonais ou da intervenção do homem. No hemisfério baixo nivel de nutrição.
norte, o desenvolvimento desses parasitas é ótimo no inverno, Assim, os ruminantes afetados por helmintos hematófagos,
quando a pelagem está longa e o microambiente úmido e tempe- como Haemonchus contortus ou Fasciola hepatica, podem
rado. manter o nível de hemoglobina enquanto a sua ingestão de ferro
Além dos estágios de vida livre de parasitas coccídios com for adequada. Contudo, se as reservas de ferro se tornarem
exigências sazonais semelhantes às dos tricostrongilídeos, a pre- baixas, os seus sistemas hematopoéticos se esgotam e eles
valência de outras infecções por protozoários está relacionada à podem morrer. Do mesmo modo, os bovinos podem ter um
atividade nutritiva de seus vetores artrópodes. Por exemplo, na índice razoável de crescimento com cargas moderadas de
Grã-Bretanha, a babesiose em bovinos ocorre em épocas de ati- tricostrongilídeos mesmo embora esteja ocorrendo alguma
vidade máxima de carrapatos, a primavera e o outono. perda de proteínas através da mucosa alimentar. Entretanto, se
houver uma alteração na dieta que reduza a sua ingestão de
Manejo do rebanho proteínas, eles se tornam incapazes de compensar os déficits
de proteínas e perdem peso. Estes efeitos prejudiciais do pa-
A viabilidade dos estágios infectantes de helmjntos também é rasitismo, sem alteração no nível de infecção, não são raros em
afetada por certas práticas de manejo. Assim, a alta densidade animais que resistiram ao inverno ou, nos trópicos, em animais
populacional no rebanho aumenta o nível de contaminação, e, durante um período de seca.
quando a altura da pastagem diminui, intensifica-se a viabilida- Eventualmente, o mesmo efeito é produzido quando o con-
de dos estágios larvais altamente concentrados na parte inferior sumo de alimentos não aumenta durante a prenhez e a lactação.
do capim. Além disso, a escassez de capim pode induzir os ani- Bons exemplos disto são o acúmulo de piolhos sobre animais
mais a pastar mais perto de fezes do que o normaL Contra isto, subnutridos durante o inverno e o fato de a anemia causada por
entretanto, o microclima num pasto baixo é mais suscetível a carrapatos ser maior em aIÚmais subnutridos.
mudanças na temperatura e na umidade, e, assim, os estágios de Além de proteína e ferro, as deficiências nutricionais de mi-
vida livre, em condições adversas, podem ser particularmente croelementos também são significativas. Sabe-se, portanto, que
vulneráveis. Isto pode explicar por que as cargas de helmintos a tricostrongilose em ruminantes prejudica a absorção tanto de
de ruminantes em pastos sempre ocupados freqüentemente são cálcio como de fósforo, podendo ocorrer osteoporose quando
menores que as cargas em animais mantidos em sistema de rota- a ingestão destes elementos é insuficiente. Além disso, os efei-
ção de pastagem. tos noci vos de alguns parasitas do abomaso em ovinos são
Do mesmo modo, muitos esquemas de melhoria de pastagem maiores quando também existe deficiência de cobalto, e nes-
têm efeitos diretos ou indiretos sobre as populações de artrópodes. ses animais os níveis de parasitismo geralmente considerados
A melhora na nutrição do hospedeiro é resultado da melhoria da não-patogênicos podem estar associados a diarréia grave e
pastagem e ajuda a manter a resistência do hospedeiro ao paras i- perda de peso.
216 Parasito/agia Veterinária

Prenhez e lactação carrapatos também pode diminuir a imunidade do reb anho con-
tra infecções por babésias e teileri as, a chamada "instabilidade
o período de ges tação de animais no campo freqüentemente enzoótica" .
coincide com o de nutrição inadeq uada e se completa numa época
em que há disponibilidade de pasto novo para os recém-nasci- Hipersensibilidade
dos. Em rebanhos estabulados ou não-estabu lados no invern o, o
custo de manutenção de uma di eta nutriciona l adeq uada durante Em muitas circunstâncias, pelo menos parte da resposta imuno-
a prenhez quase sempre é alto, e, como conseqüênci a, os níveis lógica a parasitas está associada a uma notável resposta de IgE e
nutricionais costumam ser deficientes. Se ocorrer isto, cargas de a uma reação de hipersensibilidade. Quando isto ocorre no in-
vermes bastante baixas podem ter um efeito prejudicial sobre a testino, como em infecções intestinais por nematóides, a reação
conversão alimentar materna, o que, por sua vez, influencia o está associada a aumento de penneabilidade do intestino a ma-
desenvolvimento fetal e subseqüentemente O do neonato, por cromoléculas cqmo proteínas, o que pode ser um fator signifi-
produção deficiente de leite matemo. Isto foi claramente demons- cante em animais imunes sob desafio larval intenso. Nos ovinos,
trado em porcas infectadas com cargas moderadas de Oesopha- por exemplo, podem res ultar baixos índices de cresc imento e
gostomwn denlatum e em ovelhas infectadas por helmintos tais baixa produção de lã.
como Haemon chus ou Fasciola. Foi observado também um efeito inibidor em animais resisten-
tes a canapatos sob constante desafio, enquanto animais de esti-
Terapia com esteróides mação expostos repetidamente a infestações por ácaros podem ter
a pele gravemente espessada, hi perênúca e sensível, embora este-
Os esteróides são amplamen te utili zados em terapia humana e jam presentes apenas quantidades insignificantes de ácaros.
animal e sabe-se que podem alterar a suscetibilidade ao paras i-
tismo. Um bom exemplo é observado 11 0 gato infectado por To- PARASITISMO RESUL TANTE DA MUDANÇA DE
xoplasma gondii; a excreção de oocistos em geral ocorre ape- ANIMAIS SUSCETíVEIS PARA UM AMBIENTE
nas durante cerca de duas semanas, mas pode reaparecer e se
CONTAMINADO
prolongar após a administração de esteróides . Sabe-se também
que a produção de ovos por nematóides aumenta após tratamento
com esteróides, intensificando, assim, a contaminação dos pas- AUSÊNCIA DE IMUNIDADE ADQUIRIDA
tos.
Os melhores exemplos de surtos de doença parasitária após a
mudança de bezerros para áreas contaminadas são as nematodi-
AL TERAÇ;ÃO DA SUSCET/BILlDADE À oses comuns dos ruminantes. Por exemplo, na Europa Ociden-
AQUISiÇÃO OE NOVAS INFECÇÕES tal, o verme pulmonar bovino Dictyocaulus viviparus é endênúco
e as manifestações mais graves são observadas em bezerros nas-
O papel de infecções intercorrentes cidos no início da primavera e que vão para o campo no final do
verão, pastando ao lado de lotes de bezerros mais velhos, que
Em di versas ocasiões, foi descrita a interação de vários parasitas estão no campo desde O início da primavera. As populações
ou de um parasita com outro patógeno, resultando em enfermi- larvais que sohreviveram ao inverno ti veram seus ciclos nesses
dade clínica exagerad a. Por exemplo: em cordeiros, o nematói- bezenos mais velhos, e, quando as populações recentes de lar-
de Nematodirus battus e o protozoário Eimeria; em bovinos, o vas infectantes desenvolvidas a partir destas infecções chegam
trematóide Fasciola hepatica e a bactéria Salmonella dublin, ao pasto, os bezenos mais novos, sem experiência prévia de in-
como também Fascio/a hepatica e o ácaro da sarna Sarcoptes; fecção, são extremamente suscetíveis.
em suínos, o nematóide Trichuris suis e o espiroqueta Trepone- A ocorrência de "surtos de cisticercose" em bovinos adultos em
ma hyodysenteriae. pastos contaminados com ovos da tênia humana, Taenia saginata,
ou manuseados por vaqueiros infectados é relatada ocasionalmente
Efeito da quimioterapia na Europa e nos Estados Unidos. Este alto grau de suscetibilidade
deve-se à falta de exposição prévia à infecção. Por outro lado, em
Em detenninadas circunstâncias, a imunidade contra parasitas regiões onde a cisticercose é endêmica, os bovinos infectam-se re-
parece depender da presença contínua de infecções de baixo ní- petidamente e logo adquirem uma sólida imunidade à reinfecção,
vel, comumente denominada pré-munição. Se o equilíbrio en- persistindo nos músculos apenas os cistos adquiridos no início da vida.
tre o hospedeiro e a infecção imuni zante fo r rompido por tera- Com enfermidades ca usadas por protozoário s, como
pia, pode então ocorrer reinfecç ão do hospedeiro ou, no caso babesiose, teileriose, coccidiose e toxoplasmose, deve-se tomar
de helmintos, uma população de larvas inibidas pode atingir a cuidado na introd ução de animais não-infec tados em áreas con-
maturidade a partir do reservatório de infecção no hospedeiro. taminadas. No caso da toxoplasmose, a introdução de fêmeas
Assim, o uso de anti-helmínticos, comprovadamente efi cazes ovinas num rebanho em que a doença é endêmica tem de ser
contra parasitas adultos mas não contra larvas inibidas de cuidadosamente controlada, e essas fêmeas não devem estar pre-
nematóides, pode precipitar o desenvolvimento das últimas, nhes quando adquiridas e devem ficar no pasto com O rebanho
uma vez removidos os adu ltos; sabe-se que isto ocorre em in- durante alguns meses antes do acasalamento.
fecções por Hyostrongylus rubidus nos suínos. Às vezes, tam-
bém, o excesso de zelo na aplicação de anti-helmínticos em AUSÊNCIA OE IMUNIDADE ETÁRIA
animais de campo res ulta no eventual estabelecimento de quan-
tidades mais altas de tricostrongilídeos o que havia antes do Desenvolve-se uma significati va imunidade etária contra re-
tratamento. A aplicação excessiva de acaricidas para controlar lativamente poucos parasitas, e os animais ad ultos não ex-
Tópicos de Revisão 227

postos prev iamente a muitas infecções causadas por helmin- rasitas res istentes a drogas é outro ponto que deve ser considera-
tos e protozoários correm ri sco se levados para uma área do quando ocorrem surtos de doença em rebanhos, lotes ou haras
endémica. onde rotineiramen te são aplicadas medidas de controle.

LONGEVIDADE DE ESTÁGIOS INFECTANTES INTRODUÇÃO DE INFECÇÃO NUM AMBIENTE


NÃO CONTAMINADO
Especialmente em zonas temperadas e em partes dos subtrópicos,
os estágios de vida livre da maioria dos parasitas sobrevivem no
ambiente ou em hospedeiros intermediários por períodos sufici- Existem várias maneiras pelas quais um parasita pode ser intro-
entemente longos para reinfectar lotes sucessivos de animais duzido num ambiente do qual fora erradicado ou onde nunca fora
jovens e podem causar doença nesses animais dentro de poucas encontrado.
semanas de exposição.
INTRODUÇÃO DE NOVOS ANIMAIS
A INFLUÊNCIA DE FA TORES GENÉTICOS
Uma das atuais tendências na área intern acio nal de comércio de
Entre espécies de hospedeiros animais é o trânsito de animais reprodutores de país para país.
As restrições de quarentena e exigências de vacinação são rigo-
Os parasitas, em sua maioria, são hospedeiros-específicos, e essa rosas em relação a enfermidades epidêmicas mas limitadas ou
especificidade tem sido utilizada em programas de controle in- inexistentes para doenças parasitárias. Quando são levados ani-
tegrado, tal como O pastejo misto de ovinos e bovinos, para con- mais infectados para uma área previamente li vre de determina-
trolar nematóides gastrintestinais. Entretanto, algu ns parasitas do parasita, a infecção pode ter ciclos, desde que haja condições
de importância económica podem infectar uma grande série de adequadas, e as conseqüências para o rebanho nativo podem ser
hospedeiros que variam em suscetibilidade aos efeitos do para- extremamente graves. Exemplos deste tipo inéluem a introdu-
sita. Por exemplo, os bovinos parecem capazes de resistir a ção de Toxocara vitulorum na Grã-Bretanha e na Irlanda, a fon-
infestações por trematóides hepáticos que causariam a morte em te de infecção sendo novilhas charolesas provenientes do conti-
ovinos, e os caprinos parecem ser muito mais suscetíveis qu e nente europeu e a transmissão ocorrendo através do leite mater-
os bovinos ou ov inos a seus tricostrongilídeos gastrintestinais no. A di sse minação de Parafilaria bovicola na Suécia,
comuns. introduzida provavelmente com bovinos ou pelos hospedeiros
intermediários muscídeos transportados inadvertidamente do sul
da Europa, constitui outro exemplo. Nos Estados Unidos e na
Entre raças
Austráli a, o aumento do movimento de pop ulações humanas e
seus animais de estimação contribuiu para a disseminação de
Há evidências cada vez maiores de que a suscetibilidade de di-
dirofilarioses em cães para quase todas as regiões enquanto an-
versas raças de animais a parasitas varia, sendo geneticamente
tes se limitava às regiões mais tropicais; evidentemente, os
determinada. Por exemplo, algumas raças de ovinos são mais
vetares mosq uitos adeq uados para transmissão já existiam nas
suscetíveis ao nematóide abomasal Haemonchus contortus que
outras regiões. A sarna psoróptica em bovinos, originalmente
outras; as raças bovinas Bos indicus são mais resistentes a carra-
confin ada ao sul da Europa, é agora endêmica na Bélgica e na
patos e a outros insetos hematófagos que as raças 80S taurus. Na
Alemanha por causa do comércio de raças bovinas. Doenças
Dinamarca, os bovinos Black Pied são geneticamente deficien-
causadas por protozoários, como a to xop lasmose, foram
tes nas respostas imunocelulares e demonstram ser mais suscetí-
introduzidas em rebanhos ovinos em países onde antes não exis-
veis a trematóides hepáticos, enquanto a raça bovina N' darna na
tiam, pela importação de ovinos infectados. A babesiose tam-
África Ocidental é tolerante à tripanossomose. bém se difundiu quando animais com carrapatos infectados fo-
Mesmo em lotes ou rebanhos, geralmente se observam ani-
ram levados para áreas não-endêmicas, onde os carrapatos pu-
mais respondedores e não-respondedores, em termos de capa-
deram estabelecer-se.
cidade de desenvolver resistência a endo- e a ectoparasitas, al-
guns especialistas recomendando o deSC3I1e dos que respondem
menos. O PAPEL DO ADUBO ORGÂNICO

SEXO Há relatos também da transferência de infecção de uma proprie-


dade para outra. Ass im , ocorreram surtos de ostertagiose em
Há certa evidência de que os animais machos inteiros são mais propriedades após a aplicação de esterco bovino como ferti lizan-
suscetíveis que as fêmeas a algumas infecções causadas por hel- te, enquanto se verificaram "surtos" de cisticercose em bovinos
mi ntos. Isto pode ser importante onde a castração não é uma prá- por CysticerclIs bovis após a aplicação de água de esgoto huma-
tica rotineira ou onde são utili zados andrógenos para engordar no em pastos. Final mente, a aplicação de esterco suíno conten-
animais castrados ou vacas de descarte. do ovos de ascarídeos em pastos ocupados em seguida por ovi-
nos resultou em pneumonia conseqüente à migração de larvas de
CEPA DO PARASITA ascarídeos.

Embora este aspecto tenha merecido pouca atenção, exceto nas O PAPEL DE VETORES INFECTADOS
infecções por protozoários, existe agora alguma evidência da
ocorrência de cepas de helrnintos que variam em infectividade e Várias infecções por helmintos são transmitidas por insetos ala-
patogenicidade. A prevalência crescente de cepas de muitos pa- dos, e estes podem servir para introduzir infecção em áreas pre-
-
21 Parasitologia Veterinária

viamente não contaminadas. Às vezes, também, as aves podem por caramujos Lymnaea transportados por aves silvestres. A in-
rransportar mecanicamente estágios infectantes de parasitas para trodução de animais levemente infectados por Fasciola hepatica
um novo ambiente. Isto ocorreu nos Países Baixos, onde as fos - resultou na infecção dos caramujos e, subseqüentemente, em
sas e os diques circundando terra cultivada foram colonizados manifestação de fasciolose clínica.
s

RESISTÊNCIA A DOENÇAS PARASITÁRIAS

Em termos gerais, a resistência a infecções parasitárias enqua- animais imaturos, ele ainda não se adaptou completamente ao
dra-se em duas categorias. A primeira delas, freqüentemente de- adu lto.
nominada resistência inata, inclui resistência de espécie, resis- Por outro lado , quando se encontra resistência etária, a maio-
tência etária e, em alguns casos, resistênci a racial, as quais, de ria das espécies de parasitas parece ter desenvol vido um contra-
modo geral, não são de origem imunológica. A segunda catego- mecanismo eficaz. Assim, Ancylosloma caninum, Toxocara ca-
ria, imunidade adquirida, depende de estímulo antigênico e sub- nis, Toxocaracati e espécies de Toxocara vitulorum e Strongy/oi-
seqüentes re spostas humorais e celulares. Apesar de , por razões des sobrevi vem todos co mo estágios larvais nos tecidos do hos-
explicadas adiante, serem poucas as vacinas disponíveis contra pedeiro, tornando-se ati vos apenas durante o final da prenhez e
doenças parasitárias, a expressão natural de imunidade adquiri- infectando a cria no útero (v ia transplacentári a) ou pela via
da desempenha um papel altame nte significativo na proteção de transmamária. No caso de Nematodirus battus, as exigências
animais contra infecções e no quadro epidemiológico de muitas críticas para eclosão do ovo, i.e., resfriamento prolongado seguido
doenças parasitárias. por elevação de temperatura superior a I Qoe, garantem a sobre-
vivência do parasita como uma infecção de cordeiro-para-cor-
deiro de uma estação para a outra.
RESISTÊNCIA DE ESPÉCIES
Curiosa me nte, com a infecção de bovinos por Babesia e
Anaplasma, em geral se supõe uma resistência etária inversa, pelo
Por uma série de razões parasitológicas, fi siológicas e bioquími-
fato de os animais jovens serem mais resistentes que animais mais
cas, muitos parasitas não se desenvolvem de modo algu m em
velhos criados livres de infecção.
outros hospedeiros que não sejam os seus hospedeiros naturais.
Isto é demonstrado, por exempl o, pela notável especificidade de
hospedeiro das diversas espécies de Eimeria. Em muitos casos, RESISTÊNCIA RACIAL
entretanto, ocorre um grau limitado de desenvolvimento, embo-
Nos últimos anos, tem-se observado considerável interesse no
ra usualmente sem estar associado à sintomatologia clínica; por
fato de algumas raças de ruminantes serem mais resistentes que
exempl o, algumas larvas do parasita bovino Ostertagia osterta-
outras a determinadas infecções parasitárias.
gi desenvolvem-se em ovinos, mas poucas atingem o estágio O melhor exempl o di sto pro vavelmente é o fenômeno de
adulto. Poré m, nestes hospedeiros não-naturais ou anômalos, e
tripanotolerânci a demonstrado por bovinos sem cupim da África
especialmente com parasitas qu e sofrem migração ti ssular, há
Ocidental, tais como os N' dama, que sobrevivem em áreas de in-
sérias conseq üências ocasionais, principalmente se a via migra-
tenso desafio por tripanossomas. Ainda não se conhece o mecanis-
tória se tomar errática. Um exemplo disto é a larva mi grans vis- mo pejo qual esses bovinos controlam a parasitemia, embora se
ceral em crianças do Toxocara canis que está associada a hepa- acredite que respostas imunes possam desempenhar um papel.
tomegalia e ocasionalmente a envolvimento ocular e cerebral. Em infecções por helmintos, foi demonstrado que os ovinos
Alguns parasitas, naturalmente, possuem uma variedade muito Red Masai , nativos da África Oriental, são mais resistentes à in- .
ampla de hospedeiros. a Trichinella spiralis, a Fasciola hepatica, fecção por Haemonchus contortus que algumas raças importa-
o Cryptosporid(um e os estágios assexuadas de Toxoplasma cons- das estudadas naquela região, enquanto na África do Sul foi re-
tituindo quatro exemplos. gistrado que os ovinos da raça Merino são menos suscetíveis à
tricostrongilose que certas outras raças.
RESISTÊNCIA ETÁRIA Dentro de raças, os genótipos de hemoglobina demonstraram
refletir diferenças na suscetibilidade à infecção por Haemonchus
Muitos animais tom am-se mais resistentes a infecções primárias contortus, visto que ovinos Merino, Blackface escocês e Dorset
por alguns parasitas' ao atingir a maturidade. Por exemplo, é gran- finlandês que são homozigotos para hemoglobina A desenvol-
de a probabilidade de se desenvolverem efetivamente infecções ve m cargas de vermes menores apó s infecção que os ovinos
por ascarídeos em animais se o s hospedeiros tiverem poucos homo- ou heterozigotos para hemoglobina B. Infelizmente, es-
meses de idade. Se infectados com mais idade, ou os parasitas tas diferenças genotípicas na suscetibilidade costumam falhar sob
não conseguem desenvolver-se o u ficam inibidos como estágios desafio in tenso.
larvais nos tec idos; da mesma maneira, infecções patentes de Na Austrália, alguns trabalhos numa única raça demonstra-
ruminantes e eqüinos por Strongyloides são observadas mais ram que cordeiros Merino podem ser divididos individualmente
comumente em animais jovens. Os ovinos de mais de três meses em respondedores e não-respondedores com base em sua resposta
de idade são relativamente resi stentes ao Nematodirus ballus, e, imune à infecção por Trichostrongylus colubriformis e que es-
igualmente, os cães desenvolvem gradativamente resistência à sas diferenças são transmitidas geneticamente à geração seguinte.
infecção por Ancylostoma durante o prime iro ano de vida. A seleção de animais resistentes poderia ser de grande impor-
Os fa tores responsáveis por resistência etária são desconhe- tância, principalmente em muitas áreas em desenvolvimento e m
cidos, embora se suponha que o fenômeno sej a um indício de que todo o mundo, mas na prática seria mais fácil basear-se em algu-
ainda não se desenvolveu completamente a relação hospedeiro- ma característica facilmente identificável como "cor da pelagem"
parasita. Portanto, ainda que o parasita possa desenvol ver-se em do que depender de testes laboratoriais.
230 Parasito/agia Veterinária

Na Austráli a, a resistência a carrapatos, parti c ul arme nte ovos de cinco a seis di as. A população ad ul ta permanece está-
Boophilus, demonstrou ser influenciada pela genética, sendo alta ti ca durante cerca de outros cinco dias. Após este período , a
nas raças zebuínas com cupim, 80S indicus, e baixa nas raças produção de ovos pelos vermes nas fezes cai rapidamente e os
européias, 8 0S tau rus. Entretanto, quando os bovinos são 50% adultos, em sua maioria, são rapidamente expelidos do in testi-
ou mais Zebu em sua constituição genética, ainda é possível alto no. Essa expulsão de vermes adultos, conhecida originalmente
grau de resistência, possibilitando uso restrito de acaricidas. como fenômeno de "autocura", demonstrou ser resultante de
uma resposta imune.
Se os ratos forem reinfectados, uma proporção menor da dose
IMUNIDADE ADQUIRIDA A INFECÇÕES POR
larval chega ao intestino, i.e., sua mi gração é interrompida. Os
HELMINTOS poucos vermes adultos que se desenvolvem no intesti no perma-
necem pequenos e são rel ativamente es téreis, e a expulsão dos
As respostas imunes a helmintos são complexas, dependendo vermes começa mais cedo e ocorre mais rapidamente.
provavelmente de estimulação antigênica por produtos secreto- Em condições naturais d e pastejo, as infecções larvais de
res o u excretores liberados durante o desenvolvimento da L3 em bovinos e ovinos são adquiridas durante um período, mas ocorre
adu lto, e por este motivo foi possível desenvolver apenas um ou uma série de eventos aproximadamente similares. Por exemplo,
doi s métodos práticos de imunização artificial, dos qu ais a vaci- os bezerros expostos a Dictyocaulus viviparus adquirem rapida-
na atenu ada por radiação contra Dictyocaulus viviparus talvez mente infecções patentes de fácil identifi cação pela sintomato-
constitua o melhor exemplo. logia clínica. Após um período de poucas semanas, desenvolve-
Apesar disso, não há dúvidas de que o sucesso de muitos sis- se imunidade, e as cargas de vermes adul tos são expelidas. À
temas de manejo de pastagem depende do desenvolvimento gra- exposição subseqüe nte em anos seguintes, esses animais são al-
dual por bovinos e ovinos de um grau de imunidade naturalmen- tamente resistentes a desafios, embora, se fo r um desafio inten-
te adquirida a nematóides gastrintestinais. Por exemplo, obser- so, se possa observar sintomatologia clínica associada à síndro-
vações experimentais demonstraram que um ovino adulto imu- me de reinfecção, i.e., a destrui ção imunológica das larvas inva-
ne pode ingerir cerca de 50.000 L3de Ostertagia ao dia sem apre- soras nos pulmões . Com infecções por OSlertagia e Trichos-
sentar nenhum sinal clínico de gastrite parasitária. trongylus, o tipo é o mesmo, co m o desenvoJvimento de uma
infestação por vermes adultos sendo seg uida por sua expulsão e
EFEITO DA RESPOSTA IMUNE subseqüente imunidade; em idades mais avançadas, estabelecem-
se apenas pequenas infestações adultas de curta duração e final-
Primeiramente, em relação a nematóides gastrintestinais e pul- mente as larvas infectantes são expelidas sem nenhum desenvol-
monares, os efeitos da resposta imune podem ser agrupados sob vimento. Entretanto, com infecções gastrintestinais em ruminan-
três aspectos: tes, a capacidade de desen volver boas respostas imunes costu-
ma ser retardada por alguns meses em virtude da falta de respos-
( 1) O desenvolvimento de imunidade após uma infecção primá-
ta imunológica.
ria pode estar assoc iado a uma capacidade de destruir ou
Apesar do grande número de pesquisas, ainda não se conhe-
expelir os nematóides adultos.
ce o mecanismo de imunidade contra parasitas intestinais. Con-
(2) Subseqüentemente, o hospedeiro pode tentar limi tar a rein-
tudo, admite-se geralme nte que tais infecções produzam um es-
fecção impedindo a migração e o estabelecimento de lar-
tado de hipersensibilidade intestinal associado a aumento de
vas ou, às vezes, inibindo seu desenvolvimento num es-
mastócitos da mucosa na lâmina própria e à produção de 19E
tágio larval. Este tipo de inibição do desenvolvimento não
verme-específica, grande parte da qual se liga à superfície do s
deve ser confundido co m a hipobiose, mais comum, desen-
mastócitos. A reação do antígeno do verme, a partir de uma in-
cadeada por efeitos ambientais sobre larvas infectantes no
fecção existente ou de um subseqüente desafio, com estes mas-
pasto ou, em vista dos conhecimentos atuais, com O desen-
tócitos sensibilizados libera aminas vasoativas que provocam
volvimento larval inibido associado à resistência etária, por
aumento na permeabilidade capilar e epitelial e hiperprodução
exemplo, nos ascarídeos.
de muco.
(3) Os adultos que se desenvolvem podem ter tamanho peque-
Depois deste ponto, há certa confusão. Algun s pesquisadores
no ou sua fecundidade pode estar reduzida. O importan-
concl uíram que tais alterações fisiológicas simplesmente afetam
te aspecto prático deste mecanismo talvez não seja tanto a
o bem-estar dos vermes, por exemplo, diminuindo a tensão de
menor patogenicidade destes vermes, mas sim a grande re-
oxigêni o de seu ambiente, de tal modo qu e se soltem da mucosa
dução na contanúnação de pastos por ovos e larvas, o que,
e em seguida sejam expelidos.
por sua vez, diminui a chan ce de reinfecção subseqüente.
Outros pesquisadores postularam que, além disso, a mucosa
Cada um des tes mecanismos é exemplificado em infecções permeável permi te o "ex tr avasame nt o" de anticorpo IgG
do rato pelo ne matóide tricostron gilídeo Nippostrongy/us bra- anti venne do plasma para a lu z intestinal, onde ele tem acesso
siliensis, um modelo laboratorial bastante estudado que mu ito aos parasitas.
contribuiu para nosso conhecimento do s mecanismos de imu- Encontram-se também atualmente e m estudo outros fatores,
nidade do hospedeiro em infecções por helmintos. O estágio in- como a secreção de IgA anti verme específica e o significado de
fectante deste parasita normalmente penetra atra vés da pele, células T sensibilizadas, que se sabe promover a diferenciação
mas, por conv eniência, no laboratório em geral é injetado por de mastócitos, eosinófilos e célul as mucossecretoras.
via subcutânea. As larvas seguem através da circulação sangüí- No que di z respeito aos helrnintos invasores de tecidos, os mais
nea para os pulmões onde, depois de sofrer muda, passa m para intensamente estudados têm sido os esquistos somas. Um traba-
a traquéia e são deglutidas. Ao atingir o intestino delgado, so- lho recente demonstrou que os esqui sto ssômulos de Schistoso-
frem outra muda e se tornam adultos, sendo o tempo decorrido ma mansoni podem ser atacado s tanto por eosinófilos como por
entre a infecção e o desenvolvimento em adultos eliminando macrófagos, que se fixam ao parasita revestido de anticorpos. Os
1

Tópicos de Revisão 231

eosinófilos, em especial, unem-se fIrmemente aos parasi tas, e se que o cisto estabelecido possa ser "mascarado" por antígeno
suas secreções lesam a membrana paras itári a subjacente. do hospedeiro ou talvez secrete uma substância "anticom-
Tentativas feitas para descobrir se existe um mecanismo se- plementar" que bloqueia o efeito de uma reação imune.
melhante contra Fasciola hepatica indicam que, apesar de eosi-
nófilos se unirem a partes do tegumento do trematóide jovem, Estimulação polie/onal de imunoglobulina
este último parece perder a camada superficial para escapar da
lesão. Além de estimular a produção de anticorpos IgE específicos, os
helmintos induzem a produção de grandes quantidades de IgE
EVASÃO DA RESPOSTA IMUNE DO inespecífica. Isto pode aj udar os paras itas de duas maneiras. Em
HOSPEDEIRO primeiro lugar, se os mastócitos forem revestidos por IgE ines-
pecífica, é menos provável que atraiam IgE parasi ta-específica
Apesar da evidência de que os animais são capazes de desenvol- e, assim, não desgranularão quando ex postos a antígeno parasi-
ver fortes respostas imunes a muitas infecções por helmintos, tário. Em segundo lugar, o fa to de que o hospedeiro está produ-
agora está claro que os paras itas, durante a sua evolução, tira- zindo imunoglobulina de modo inespecífico significa qu e é me-
ram proveito de detenninados defeitos neste arsenal. Este aspecto nos provável a produção de anticorpos específicos para o helmin-
da parasitologia ainda está no início, mas três exemplos de eva- to em quantidade adequ ada.
são imunológica são dados a seguir.
ASPECTO NEGATIVO DA RESPOSTA IMUNE
Falta de resposta imune neonatal
Às vezes, há respostas imunes associadas a lesões que estão pre-
Trata-se da incapacidade de animais jovens de desenvolver uma j udicando o hospedeiro. Por exemplo, os efeitos patogênicos da
resposta imune adequada a algumas infecções parasitárias. Por esofagostomose freqüentemente são atribuíveis aos nódulos in-
exemplo. bezerros e cordeiros não conseguem desenvolver um testinais de Oe. columbianum; do mesmo modo, os efeitos pato-
grau útil de imunidade à reinfecção por espécies de OSlertagia gênicos da esquistossomose devem-se aos granulomas de ovos,
até que tenham sido expostos a reinfecção constante durante toda o resultado de reações mediadas por células, no fígado e na vesÍ-
a estação de pastejo. Da mesma maneira, os cordeiros são repe- cula.
tidamente suscetíveis à infecção por Haemonchus contorlus até
a idade de seis meses a um ano. IMUNIDADE ADqUIRIDA CONTRA INFECÇÕES
A causa desta falta de resposta é desconhecida. Entretanto, POR PROTOZOARIOS
ainda que bezerros e cordeiros finalmente desenvolvam boa res-
posta imune à infecção por Ostertagia, no sistema ovino/ Como se poderia prever por seu tamanho microscópico e estado
Haemonchus conlOrlus a ausência de resposta neonatal aparen- unjcelular, as respostas imunes contra protozoários são semelhan-
temente costuma ser sucedida por longo período de falta de res- tes às respostas contra bactérias. O tema, entretanto, é extrema-
posta imune adquirida - p. ex., ovinos Merino criados desde o mente complexo e as considerações a seguir constituem basica-
nascimento num ambiente em que o Haemonchus é endêrnlco mente uma condensação de informações atuais sobre alguns dos
permanecem suscetíveis a reinfecção por toda a vida. patógenos mais importantes. Como no caso de infecções bacte-
rian as, as respostas imunes são tipicamente do tipo humoral ou
Imunidade concomitante mediada por células, às vezes ambas estando envolvidas.
A tripanossomose é um bom exemplo de doença por proto-
É o termo utilizado para descrever a imunidade que atua contra zoári o para a qual a imunidade é principalmente humora1. As-
estágios larvais invasores mas não contra uma infecção existen- sim, in vitro, pode-se demonstrar que tanto a IgG como a IgM
te. Portanto, um hospedeiro pode estar infectado por parasitas lisam ou ag lutinam tripahossomas, e in vivo até mesmo pequena
adultos mas possui um grau de imunidade a infecção posteri or. quantidade do soro imune remove os tripanossomas da circula-
O melhor exemplo talvez sej a o encontrado com esquistossomas ção sangüínea, aparentemente facilitando sua absorção, através
que· são revestidos por um sincício citoplas mático que, ao con- de opsoni zação, por fag6citos. Infelizmente, o fenômeno de va-
trário da cutícula aparentemente qui tinosa dos nematóides, po- riação antigênica, outro método de evasão imnne, impede que
deria no início parecer vulnerável à ação de anticorpos ou célu- essas infecções sejam completamente eliminadas e tipicamente
las. Verificou-se, contudo, que os esquistossomas adultos têm a penrJte que a doença tenha uma evolução característica de re-
propriedade de poder incorporar antígenos do hospedeiro, tais " missões e exacerbações continuas de parasitemia. É provável,
como antígenos de grupos sangü íneos ou imunoglob ulina do também, que a imunossupressão generalizada induzida por essa
hospedeiro, em sua membrana superficial , mascarando seus pró- doença, mais cedo ou mais tarde, limite a capacidade de respos-
prios antígenos estranhos. ta do hospedeiro.
A imu nidade concomitante não parece atuar com Fasciola É relevante observar também que algumas das lesões impor-
heparica em ov inos, visto que são repetidamen te suscetíveis a tantes da tripanossomose tais como anemia, miocardite e lesões
reinfecção. Por outro lado, os bovinos não só ex pelem sua carga da musculatura esquelética são consideradas atribu íveis à depo-
adulta primária de Fasciola hepalÍca como também desenvol- sição de antígeno tripanossôrnico ou complexos imunes sobre
vem notável resistência à reinfecção. tais células, resultando na sua subseqüente destruição por rna-
A imunidade concomitante também inclui a situação em que crófagos ou linfóc itos, um possível efeito negativo da resposta
larvas de cest6ides estabelecidas podem sobreviver durante anos Imune.
nos tecidos do hospedeiro, embora este último seja completamen- A imunidade adquirida contra babesiose também parece ser
te imune à reinfecção. Não se conhece o mecanismo, mas supõe- mediada por anticorpo, atuando talvez como uma opsonina e
-
232 Parasitologia Veterinária

facilitando a absorção de hemácias infectadas por macrófagos os esporozoítos inoculados pelo carrapato pode ser altamente
esplênicos. Os anticorpos são também transmitidos através do eficaz na proteção.
colostro para o animal recém-nascido e conferem um período de Na toxoplasmose, também, os componentes humoral e medi-
proteção contra infecção. ado por células parecem estar envolvidos na resposta imune.
Finalmente, na tricomonose, observam-se anticorpos, prova- Entretanto, ainda é preciso determinar a importância relativa de
velmente produzidos por plasmócitos na lâmina própria do úte- seus papéis, embora geralmente se acredite que a formação de
ro e da vagina, no muco secretado por esses órgãos e em menor anticorpos pelo hospedeiro resulte em interrupção na produção
grau no plasma que, in vitro, destroem ou aglutinam as tricômo- de taquizoítos e no desenvolvimento do cisto de bradizoíto la-
nas e provavelmente constituem o principal fator responsável tente; pode ocorrer também recrudescência de atividade taqui-
pelas infecções autolimitantes que ocorrem úpicamente em va- zoíta se o hospedeiro se tomar imunossuprimido como conse-
cas. qüência de terapia ou de alguma outra doença.
Das infecções por protozoários contra as quais a imunidade é
principalmente mediada por células, a leishmaniose é de parti- IMUNIDADE ADQUIRIDA CONTRA INFECÇÕES
cular interesse, visto que os amastigotas penetram e se prolife- POR ARTRÓPODES
ram em macrófagos, cuja função, paradoxalmente, é a fagocito-
se e a destruição de microrganismos estranhos. Não se sabe como Sabe-se que os animais expostos a ataques repetidos de alguns
sobrevivem nos macrófagos, embora se suponha que possam li- insetos desenvolvem gradativamente certo grau de imunidade
berar substâncias que inibem a atividade enzimática de lisosso- adquirida. Por exemplo, no homem pelo menos, durante um pe-
mos ou que a camada superficial do amas ti gota seja refratária a ríodo de tempo, as reações cutâneas às picadas de Cu/icoides e
enzimas lisossômicas. A imunidade que se desenvolve parece ser mosquitos diminuem em gravidade. Da mesma maneira, após
mediada por células, talvez por células T citotóxicas que destro- diversos ataques de miíases por califorídeos, os ovinos tornam-
em macrófagos infectados ou pelos produtos solúveis de células se mais resistentes a ataque posterior.
T sensibiUzadas que "ativam" macrófagos a um ponto em que Com muitas infestações de carrapatos e ácaros, observa-se
são capazes de destruir seus parasitas intracelulares. Infelizmente, uma seqüência similar de eventos. A reação imune a carrapatos,
em muitos casos, a eficácia da resposta imune e a conseqüente que depende de componentes humorais e mediados por células
recuperação são retardadas ou impedidas por um grau variável contra as secreções orais dos carrapatos, impede o ingurgitamento
de imunossupressão de etiologia incerta. adequado dos parasitas e tem sérias conseqüências em sua sub-
Como observado anteriormente, às vezes há reações tanto seqüente fertilidade; cães que se recuperaram de sarna sarcóptica
humorais como mediadas por célula envolvidas na imunidade, e em geral são imunes a infecção posterior.
esta parece ser a situação com coccidiose, teileriose e toxoplas- Embora tais respostas imunes possam moderar consideravel-
mose. mente o significado de muitas infecções ectoparasitárias, sua
Na coccidiose, os antígenos protetores estão associados aos maior importância até hoje está altamente relacionada ao seu
estágios assexuadas em desenvolvimento, e a expressão de imu- aspecto negativo, Le., as infelizes conseqüências que costumam
nidade depende da atividade de células T. Supõe-se que funcio- ocorrer quando um animal se toma sensibilizado a antígenos de
nem de duas maneiras; primeiramente. como células auxiliares artrópodes. Três exemplos disto são a dermatite causada por
para a produção de anticorpos neutralizantes contra os esporo- pulgas em cães e gatos, o prurido e o eritema associados à sarna
zoítos e merozoítos extracelulares e, em segundo lugar, de modo sacóptica especialmente no cão e no suíno e a "sarna branda" de
mediado por células, liberando substâncias, tais como linfocinas, eqüinos devida à hipersensibilidade cutânea a picadas de Cu/i-
que inibem a multiplicação dos estágios intracelulares. O efeito coides.
final destas duas respostas imunes manifesta-se por diminuição
na sintomatologia clínica e queda na produção de oocistos. FUTURO DE VACINAS PARASITÁRIAS
Conforme já foi descrito. os estágios proliferativos de infec-
ções por teilérias são os estágios esquizogônicos que se desen- No futuro, o controle de muitas doenças parasitárias poderá fun-
volvem em Iinfoblastos e se dividem simultaneamente com es- damentar-se em vacinas baseadas em proteínas recombinantes
tas células, produzindo duas células filhas infectadas. No decor- do parasita. Atualmente, essas vacinas já foram desenvolvidas
rer da infecção e desde que não seja rapidamente fatal. são esti- -por exemplo, contra a infecção por Taenia ovis em ovinos ou
muladas respostas mediadas por células na forma de células T se encontram numa fase adiantada de desenvolvimento - por
citotóxicas que têm como alvo os linfoblastos infectados, reco- exemplo, contra Babesia bovis e Boophilus microplus em bovi-
nhecendo dois antígenos na superfície do hospedeiro; um deles nos e Haemonchus contortus em ovinos. O sucesso comercial das
é derivado do parasita Theileria e o outro é um antígeno de his- atuais vacinas recombinantes experimentais irá depender não só
tocompatibilidade da célula hospedeira. O papel dos anticorpos de sua eficácia na proteção contra desafio no campo mas tam-
na proteção é menos claro, embora recentemente tenha sido de- bém de certos fatores como sistemas de liberação eficazes e de
monstrado, usando-se um teste in vitro, que um anticorpo contra baixo custo que confiram proteção de longa ação.
ANTI-HELMíNTlCOS

o controle de helmintos parasitas em animais domésticos baseia- (5) O preço de um a nti-helmíntico deve ser razoável. Isto tem
se amplamente no uso de anti-helminticos. Embora os anti- especial importância em suínos e aves domésticas, em que
helmínticos sejam utilizados em todas as espécies domésticas, o as margens de lucro podem ser pequenas.
maior mercado é certamente o de ruminantes, sobretudo bovi-
nos, no qual são gastos milhões de libras anualmente numa ten- USO DE ANTI-HELMíNTICOS
tativa de reduzir os efeitos do parasitismo.
Não compensa fo rnecer dados sobre a eficácia e os métodos Os anti-helmínticos em geral são utili zados de duas maneiras, a
de aplicação da grande qu antidade de drogas viáveis atualmente saber, terapeuticamente, para tratar infecções existentes ou sur-
contra a ampla variedade de helmintos que parasitam animais tos clínicos, ou profilaticamente, em que a época do tratamento
domésticos. Além disso, o número de compostos e suas di versas se baseia no conhecimento da epidemiologia. Evidentemente, é
foonutações mudam continuamen te, sendo, portanto, mais ade- preferível o uso profilático, pois a administração de uma droga a
quado discutir o uso de anti-helmínticos em termos gerais, e os intervalos determinados ou continuamente durante um período
detalhes de sua utili zação contra es pécies individuais ou os gru- de tempo pode prevenir a ocorrência de doença.
pos de helmintos encontram-se descritos nas seções apropriadas
do texto principal. USO TERAPÊUTICO

PROPRIEDADES DE COMPOSTOS ANTI- Quando utili zado terapeuticamente, devem ser considerados os
HELMíNTlCOS fatores a seguir.
Primeiramente, se a droga não for ativa contra todos os está-
Um anti-helmíntico ideal deve possuir as seguintes propriedades: gios, deve ser eficaz contra o estágio patogênico do parasita. Em
segundo lugar, o uso do anti-helmíntico deve, por remoção bern-
( I) Deve ser eficaz contra todos os estágios parasitários de
sucedida dos parasitas, resultar na suspensão dos sinais clínicos
determinada espécie. Geralmente, é desejável também que
de infecção como diarréia e dificuldade respiratória; em outras
o espectro de atividade deva incluir membros de diferentes
palavras, deve haver melhora clínica acentu ada e rec uperação
gêneros, por exempl o em relação a estrôngilos eqüinos e
rápida após o tratamento.
Parascaris equorum. Entretanto, em alguns casos, devem ser
usadas drogas separadas em épocas diferentes do ano para
controlar infecções por helmintos não-relacionados; os tri- USO PROFILÁTlCO
costrongilídeos responsáveis por gastrenterite parasitária
ovina e o trematóide do fígado F asciola hepatica constitu- No uso profilático de anti-hellIÚnticos, há vários pontos a serem
em bom exemplo disto. considerados.
(2) É importante que qualquer anti-helmíntico seja atóxico para Primeiramente, os custos do tratamento profilático devem ser
o hospedeiro ou que pelo menos tenha ampla margem de economicamente justificáveis, por aumento de produção em ani-
segurança. Isto é particularmente mais importante no trata- mais de corte ou por prevenção da ocorrência de doença clínica
mento de grupos de animais como um lote de ovinos, no qual ou subclínica em, por exemplo, eqüinos com estrongilose ou cães
não é possível obter facilmente pesos corpóreos individuais, com dirofilariose.
do que no tratamento individual de animais de estimação Em segundo lugar, a relação custo-benefício da profilaxia anti-
como cães ou gatos. helmíntica deve ser comparada com o controle que pode ser ob-
(3) Em geral, um anti-hellIÚntico deve ser rapidamente me- tido por outros métodos, como manejo de pastagem ou, no caso
tabolizado e excretado pelo bospedeiro, de outro modo de dictiocaulose, por vacinação.
sendo necessários longos períodos de carência em animais Em terceiro lugar, é desejável que o uso de anti-helrnínticos
produtores de carne e leite. Em determinadas circunstâncias não interfira no desenvolvimento de imunidade adquirida, uma
e em certas classes de animais, contudo, a persistência da vez que existem relatos de manifestações de doença em animais
droga é utili zada como vantagem profilática, como o uso de mais velhos que foram protegidos em excesso por medidas de
closantel para o controle de Haemonchus em ovinos. controle durante os primeiros anos de vida.
(4) Os anti-hellIÚnticos devem ser de fácil administração, pois Finalmente, deve-se evitar o uso profilático prolongado de
do contrário não serão prontamente aceitos pelos proprietá- uma droga, pois isto pode estim.ular o desenvolvimento de resis-
rios; existem diferentes formulações para diferentes espécies tência.
de animais domésticos . Produtos orais e injetáveis são arn-
planlente usados em ruminantes, e estão dispo níveis pre- ANTI-HELMíNTICOS E SEU MODO DE AÇÃO
parações pour-on para bovinos e ovinos. Produtos palatá-
veis na ração e em pasta são convenientes para uso em eqüi- Os principais grupos de anti-helmínticos atualmente em uso con-
nos, enquanto para cães e gatos encontram-se geralmente tra nematóides, trematóides e cestóides são apresentad os no
anti-helmínticos sob a fo rma de comprimidos. Quadro 11.
234 Parasit%gia Veterinária

o modo de ação de muitos anti-helmínticos não é conhecido de canais de íon cloro e função celular reduzida. As evidências
em detalhes, mas depende bas icamente de interferência em pro- atuais sugerem que e las afetam os canais de cloro independente-
cessos bioquímicos essenciais do parasita mas não do hospedeiro. mente do GABA. Qualquer que seja o modo de ação, o resulta-
do é paralisia e eventual morte do parasita.
PIPERAZINAS
ORGANOFOSFORADOS
Estas drogas produzem paralisia em helmintos. Os sais de pipe-
razina são amplamente utili zados contra ascarídeos, enquanto a Algun s compostos organofosforados são ati vos contra nema-
dietilcarbamazina é empregada contra vermes pulmonares e tóides. Atuam por inibição da coli nesterase, resultando na for-
nematóides filarídeos. mação de aceti1colina, que causa parali sia neuromu scular de
nemalóides e sua expulsão. Este grupo de drogas é relativamente
IMIDAZOTIAZÓISfTETRAIDROPIRIMIDINAS tóxico e usado com mais freqüência em eqüinos, provavelmente
pela ação inseticida adicional contra larvas de bernes de eqüinos.
Basicamente, estes compostos atuam como agentes bloqueado-
res neuromusculares despolari zantes tanto e m nematóides co mo SALlCILANILlDASI FENÓIS SUBSTITUíDOS
em seus hospedeiros. Como conseqüência, a margem de segu-
rança tende a sef mais ·estreita que em a lguns outros grupos. Es- Embora os detalhes do modo de ação das drogas deste grupo não
tas drogas são ativas contra uma ampla vari edade de nematóides, sejam bem con hecidos, parece que agem interferindo na produ-
especialmente os do trato gastrintestinal. ção de ATP nos parasitas por desacoplamento da fo sforilação
oxidativa. São muito amplamente utili zadas contra Fasciola
BENZIMIDAZÓISI PRÓ-BENZIMIDAZÓIS hepatica e Haemonchus contortus, apesar do nitroscanato ser
comercializado para o tratamento de infecções caninas causadas
As drogas deste grupo geralmente atu am nas células intestinais por nematóides e cestóides, e a niclosamida é bastante usada
de helmintos ligando-se à tubulina nematóide e, des sa maneira, conLra tênias em muitas espécies domés ticas.
impedindo a absorção de gli cose e "matando de fome" o parasi-
ta. Virtualmente não possuem toxicidade, em alguns casos até OUTRAS DROGAS
mesmo em doses dez vezes acima da recomendada. Com mu ita
freqüência, a resistência parasitária a anti-helmínticos é associa- Não se conhece bem o modo de ação de outras drogas utilizadas
da ao uso repetido destas drogas contra nematóides de ovinos, no combate de infecções por tênias, mas o praziqu antel aparen-
caprinos e eqüinos. Diversos compostos também possuem ativi- temente age causando paralisia espástica de células musculares
dade contra tênias e fascíolas. no parasita e lesão no tegumento.

AVERMECTlNASIMILBEMICINAS MÉTODOS DE ADMINISTRAÇÃO

Há uma série de derivados macrocíc1icos de lactona que são pro- Os anti-helmínticos são administrados, tradicionalmente, por via
dutos de fermentação do actinomiceto Streptomyces avermitilis. oral ou parenteral, esta última em geral por injeção subcutânea.
Demonstram ter excelente atividade, em doses muito baixas, não A admini stração oral é comum sob a fonna de líquidos o u sus-
apenas contra uma ampl a variedade de nematóides m as também pensões ou pela incorporação da droga à ração ou à água dos
contra certos parasi tas artrópodes. Outra vantagem é que algu- animais pecuários e pela administração de comprimidos aos pe-
mas destas drogas podem permanecer ativas durante no mínimo quenos animais. Mais recentemente, foram introd uzidas pastas
duas semanas após a admi ni stração graças à persistência no te- para eqüinos e, atualmente, existe uma série de compostos que
cido adiposo corpóreo. Inicialmente, sup unh a~se que as avermec- possuem ação sistêmica quando aplicados sob a forma de pour-
tinas e as milbemicinas atuavam principalmente potenciali zan- on oú spol-on à pele. Há também no mercado métodos para inje-
do a liberação e a ligação do ácido garna-arninobutírico (GABA) tar compostos diretamente no rúmen de bovinos. Mais recente-
em determinadas sinapses nervosas, o que resultava em abertura mente, surgiram várias cápsulas de liberação lenta no rumen para

Quadro 11 Os principais grupos de anti-helmínlicos

Parasitas Grupo quimico Drogas

Nematóides Piperazinas Sais de piperazina, dietilcarbamazina


Imidazotiazóis/tetraidropirimidinas Tetramisol, levamisol: morantel, piran tel
Benzimidazóislpró-benzimidazóis Tiabendazol , mebendazol, parbendazol, fenbendazol, oxlendazol,
albendazol, oxibendazol, cambendazol , flubendazol, lebanteJ, tiolanato,
netobimina
Avermectinaslmilbemicinas Ivermectina, doramectina, abameclina, moxidectina, óxido de milbemicina
Organoloslorados Diclorvos, haloxon, triclorion (metrilonato)
Salicilanilidas/fenóls substituidos Nilroscanato, closantel
Trematóides Salicilanilidaslfenóis substituídos Nitroxinil, rafoxanida. oxielozanida. brolianida, nielololan, elosante!
Outros Clorsulon .
BenzimidazóisJprõ-benzimidazóis Trielabendazol, albendazol, nelobimina
Cestóides Salicilanilidaslfenóis substituídos Niclosamida
Outros Praziquantel. bunamidina, arecolina
Tópicos de Revisão 235

bovinos e ovinos que liberam doses terapêuticas de anti- menos freqüência, resistência múltipla abrangendo compostos
helmíntico em intervalos (liberação por pulsos) ou em doses não relacionados quimicamente. Parece existir também resistên-
baixas durante períodos prolongados (liberação contínua); am- cia cruzada entre avermectinas e milbemicinas.
bas previnem o estabelecimento de populações parasitárias ma- Na Europa Ocidental, a resistência anti -helmíntica é menos
duras, o que limita a contaminação dos pastos e a ocorrência de prevalente em certas regiões como a Austrália e a África do Sul,
doença. Foi desenvolvido também um aparelho para a liberação apesar de ter sido observada em infecções ovinas e caprinas por
de anti-helmínticos na ág ua de beber em intervalos diários ou Haemonchus e em menor grau por Ostertagia. Nos eqüinos, tam-
periódicos. bém há evidência de que o uso extensivo de determinados ben-
Há uma série de produtos comercializados para bovinos e zimidazóis levou à seleção de cepas resistentes de di versas es-
ovinos que consistem numa mistura de um anti-helmíntico para pécies de pequenos estrôngilos; além disso, foi registrada resis-
nematelmintos e uma droga para trematóides, mas a época de tência cruzada entre diferentes benzimidazóis.
tratamentos para nematelmintos ou trematóides, sejam curativos A análise de artigos publicados sobre resistência sugere uma
ou profiláticos, freqüentemente é diferente, sendo a necessidade associação com o uso freqüente de drogas que têm o mesmo modo
destes compostos combinados, portanto, limitada. de ação. Em vista disso. pesquisadores australianos recomenda-
ram o revezamento dos anti-helmínticos uti lizados entre os prin-
RESISTÊNCIA ANTI-HELMíNTlCA cipais grupos químicos, como os benzimidazóis, os imidazotia-
zóis e as avennectinas. O revezamento deve ter lugar entre gera-
A resistência de helmintos a anti-hehTÚnticos é mais freqüente- ções de parasitas. Assim, na Europa Ocidental, com apenas uma
mente registrada em ovinos, caprinos e eqüinos, envolvendo prin- ou duas gerações completas de nematóides gastrintestinais anu-
cipalmente o grupo de compostos de benzimidazóis. almente, os compostos seriam trocados a cada ano.
Nos ovinos, ocorreu resistência pela primeira vez principal- Entretanto, é possível também que a seleção para resistên-
mente em áreas geográficas onde predomina o Haemonchus cia seja acelerada quando os animais são levados para pastos
contortus e é grande o número anual de ciclos de infecção e tra- livres de helmintos imediatamente após o tratamento anti-
tamentos anti-helmínticos. Às vezes, entretanto, essa resistência helmíntico. Qualquer contaminação desses pastos se origina-
é incompleta e pode ser superada pelo uso de tratamentos repe- ria de helmintos que resistiram ao tratamento, e assim a pres-
tidos/contínuos ou por doses mais altas. Infelizmente, há relatos são sobre a seleção para resistência anti-helmíntica poderia ser
de resistência cruzada entre diferentes benzimidazóis e, com aumentada.
ECTOPARASITICIDAS (INSETlCIDAS/ACARICIDAS)

o controle dos ectoparasitas encontrados em animais, incluindo PIRETRÓIDES SINTÉTICOS (PS)


pulgas, piolhos, carrapatos, ácaros da sarna, bemes e moscas irri-
tantes, baseia-se amplamente no uso de substâncias químicas. Há Os piretróides sintéticos comuns em uso incluem deltametrina,
um vasto mercado mundial de aproximadamente 300 milhões de li- pennetrina, cipermetrina, flumetrina e fen valerato. O principal
bras nestas substâncias, divididos de maneira unifonne entre animais valor destes compostos é seu efeito repe lente, e, como persistem
de importância econômica na pecuária e animai s de estimação. bem na pelagem ou na pele, mas não em tecido, são de particu-
lar valor contra parasitas que se nutrem na superfície cutânea,
ECTOPARASITICIDAS E SEU MODO DE AÇÃO tai s como piolhos, alguns ácaros e mo scas irritantes . Os
piretróides atuam como neurotoxin as em nervos sensoriais e
São três os principais grupos químicos utilizados como base dos motores do sistema neuroendócrino e nervoso central de insetos.
ectoparasiticidas comuns, a saber, os organoclorados, os Todos os piretróides são Iipofílicos, propriedade esta que os aju -
organofosforados e os piretróides sintéticos. Outros grupos tam- da a atuar como inseticidas de contato. A lguns têm a capacidade
bém utilizados incluem os carbamatos (principalmente em aves de repelir e "derrubar de imediato", i.e, afetar o vôo e o equilí-
domésticas), as formamidinas, as triazinas, o benzoato de benzi- brio sem causar paralisia completa. Visto que os piretróides sin-
la e produtos vegetais naturais como a piretrina. Recentemente, téticos poss uem forte afinidade por sebo, esta propriedade foi
as avermectinas e as milbemicinas demonstraram ter alta ativi- aproveitada na incorporação de brincos ou faixas de cauda. Os
dade contra uma série de ectoparasitas, e é provável que isto fonne PS são razoavelmente seguros, mas, se ocorrer toxicidade, ma-
um importante grupo de futuro. Existem também vários compos- nifesta-se no sistema nervoso periférico como hipersensibilida-
tos que afetam o crescimento e o desenvolvimento de insetos. Por de e tremores musculares.
exemplo, a ciromazina, que rompe a regulação do crescimento em
larvas de moscas produtoras de miíases em ovinos, e o lufenuron, CARBAMATOS
que bloqueia a formação de quinna nas larvas de pulgas.
Os carbamatos mai s comumente utili zados são butocarb, carba-
ORGANOCLORADOS (OC) ril e carbanolato. Constituem um importante grupo no controle
de ectoparasitas de aves domésticas. O modo de ação é seme-
Incluem o DDT; o hexaclorocicloexano (HCH), antigamente lhante ao dos PS , e se ocorrer toxicidade ela também é similar.
denominado hexacloreto de benzeno (BHC), cujo isômero gama
é o mais potente (lindano); o dieldrin ; o aldrin; o bromocicleno; AVERMECTlNAS/MILBEMICINAS
e o toxafeno. Sua vantagem é que o efeito da droga persiste por
mais tempo na pelagem ou no velo do animal, mas têm a des- São eficazes em doses muito baixas contra certos ectoparasitas
vantagem, pelo menos em animais de corte, de persistir nos teci- quando administradas por via parenteral e por preparações pour-
dos animais. Os organoclorados estão proibidos atualmente em on. São particulannente eficazes contra ectoparasitas com está-
muitos países, tendo em vista a segurança tanto humana como gios teciduais como bemes, larvas de gasterófilos e ácaros e têm
ambiental. Se ocorrer toxicidade, a si ntomatologia clínica é a de boa atlvidade contra parasitas hematófagos, como piolhos e car-
estimulação do SNC com hipersensibilidade, seguida por espas- rapatos-de-um-hospedeiro. Tal como nos nematóides, supõe- se
mo muscular crescente evoluindo para convulsões. que acometam a função celular por ação direta em canai s de íon
cloro. Apresentam margem de segurança muito ampla.
Algumas avermectinas têm notável efeito residual, e um úni-
ORGANOFOSFORADOS(O~
co tratamento por via parenteral é eficaz contra piolhos ou ácaros
eclodidos dos ovos três a quatro semanas depois.
Incluem um vasto número de compostos, dos quais clorfenvinfós,
coumafós, crotoxifós, crufomato, citioato, diazinon, diclofention,
diclorvos, fenlion , iodofenfós, malation, fosmet, propetanfós, FORMAMIDINAS
ronel, tetraclorvinfós e triclorfon estão entre os mais comuns.
Estes compostos podem persistir na pelagem ou no velo do ani - o amitraz é o único ectoparasiticida amidina comumente utili-
mal por períodos razoáveis, mas os resíduos em tecidos animais zado. Seu uso principal é contra piolhos e ácaros de grandes ani-
têm vida curta. Alguns podem agir sistematicamente, adminis- mais e infecção por Demodex em cães. Não deve ser empregado
rrados por via oral ou como pour-an, mas seus níveis sangüíneos em eqüinos ou gatos.
mantêm-se por apenas 24 horas. Os OF são inibidores da coli-
nesterase, e se ocorrer toxicidade aguda os sinais são salivação, MÉTODOS DE APLICAÇÃO E USOS: GRANDES
dispnéia, incoordenação, tremores musculares e, às vezes, diar- ANIMAIS
réia Preocupa também a toxicidade crônica que pode estar as-
sociada ao uso destes compostos e que se supõe ser o resultado Os ectoparasiticidas são tradicionalmente de uso tópico, sob a for-
de inibição da enzima esterase neurotóxica. ma de pós, sprays, nebulizações, líquidos, banhos de imersão e,
Tópicos de Revisão 237

ocasionalmente, corno isca.;; para insetos. Entretanto, com o advento fixado à orelha de um animal, o inseticida é liberado da supedí-
de fonnulações pour-on e spot-on de efeito sistêmico, da adminis- cie, dissolve-se no sebo secretado pela pele e se espalha em se-
tração parenteral de certas drogas como avermectinas e closantel e guida por todo o corpo através dos tratos normais ou pelo agitar
do uso de brincos, coleiras e faixas de cauda impregnados, a meto- da orelha e pelo balanço da cauda, bem como por contato
dologia das aplicações controles em animais mudou. corpóreo entre os bovinos. Urna vez que o inseticida se liga ra-
pidamente ao sebo na pelagem do animal, o tratamento resiste
MÉTODOS TRADICIONAIS às chuvas; o brinco ou a faixa na cauda também continuam a li-
berar um suprimento de substância química em todas as condi-
Para dar bons resultados, o uso de inseticidas em pós, sprays ou ções climáticas. Por sua localização no sebo, as drogas não são
líquidos geralmente requer dois ou mais tratamentos, visto que absorvidas no tecido, não havendo, portanto, necessidade de
mesmo o aplicador mais diligente não conseguirá aplicar tais abstinência antes do abate nem de descartar o leite. Os PS co-
produtos na concentração exata em todas as partes do corpo do muns comercializados para este fim são cipermetrina e perme-
animal. O intervalo entre tratamentos deve estar associado à per- trina. Em condições de intenso desafio de moscas, deve-se inse-
sistência da substância química na pele, no pêlo ou na lã e ao ciclo rir um brinco em cada orelha e possivelmente uma faixa na cauda.
evolutivo do parasita, instituindo-se tratamento posterior antes
que se complete outro ciclo. TRATAMENTO PARENTERAL
Os banhos de imersão ou aplicações de spray contendo a con-
centração necessária de inseticida são utilizados para controlar As avermectinas/milbemicinas e o elosantel podem ser adminis-
ácaros, piolhos, carrapatos e certos dípteros, como as varejeiras trados por via parenteral para o controle de alguns ectoparasitas.
em ovinos em termos mundiais, e em bovinos em regiões tropi- Por exemplo, a Ívermectina e a abamectina têm boa atividade
cais. Esta técnica é mais frutífera em ovinos, em que a persistên- contra bernes, piolhos, muitos ácaros e também contra o carra-
cia de inseticida é maior na lã que na pelagem de bovinos. É pato-de-um-hospedeiro Boophilus. O closantel é viável em al-
importante lembrar que a concentração de inseticida num banho gumas regiões tropicais para uso contra carrapatos-de-um-hos-
de imersão preferencialmente "sai" ou é removida conforme os pedeiro e piolhos sugadores.
ovinos e bovinos são banhados, devendo, portanto, haver um
reabastecimento numa concentração mais alta que a inicial sufi- MÉTODOS DE APLICAÇÃO E USOS: ANIMAIS
ciente para manter uma quantidade ideal do princípio ativo. A DE ESTIMAÇÃO
maior parte dos banhos baseia-se no grupo organofosforado e
piretróides sintéticos. Apesar dos problemas de segurança, alguns Os ectoparasiticidas são utilizados principalmente corno pós para
países reintroduziram organoc1orados, em virtude da resistência polvilhar, aerossóis, líquidos/xampus, preparações spot-on e
desenvolvida contra organofosforados. coleiras impregnadas, ainda que existam dois para uso oral. São
O controle de insetos em leiterias ou estábulos pode ser auxi- empregados principalmente para o controle de pulgas, piolhos e
liado pelo uso de várias tiras de resinas incorporando o insetici- sarna em cães e gatos e para piolhos, sarna e moscas irritantes
da; o diclorvos e o triclorfon são freqüentemente utilizados para em eqüinos.
esse fim. Às vezes, espalham-se iscas contendo feromonas sin-
téticos, açúcares ou leveduras hidrolisadas, mais inseticida, ao PÓS PARA POLVILHAR
redor das instalações dos animais para atrair e destruir dípteros.
Os pós devem ser bem espalhados na pele ou nos pêlos e, no caso
POUR-ON, SPOT-ON OU SPRAY-ON de animais de estimação que vivem em casas, na cama. Os pós
comumente utilizados contêm inseticidas à base de piretróides
As fonnulações existentes atualmente contêm organofosforados com ou sem o sinergista, butóxido de piperonil. São particular-
com ação sistêrnica como fention ou fosmet, avermectinas/mil- mente úteis para pulgas e piolhos, recomendando-se, em geral,
bemicinas ou piretróides sintéticos. São recomendadas para o repetir o tratamento a cada duas ou três semanas.
controle de bemes e piolhos em bovinos e piolhos e Melopha-
gus ovinus em ovinos. Um produto útil é o fosmet pour-on para AEROSSÓIS
o controle de sarna sarcóptica em suínos e bovinos. Um único
tratamento em suínos dá resultados muito bons e, se utilizado em
Embora de fácil uso, alguns dos sprays mais ruidosos podem
porcas antes do parto, evita a transmissão para a ninhada; em
perturbar os animais de estimação. A aspersão excessiva em es-
bovinos, são necessários dois tratamentos, com um intervalo de
paços confinados, como um cesto de gato, pode produzir efeitos
14 dias. Os piretróides sintéticos também são viáveis corno
tóxicos. Os sprays viáveis usualmente se baseiam em piretróides
5prays, pour-on ou spot-on para o tratamento de piolhos e con-
e carbamatos, ou numa mistura de organofosforados como
trole de moscas picadoras e irritantes em bovinos, ovinos e ca-
dielorvos mais fenitrotion, ou numa mistura do sinergista butó-
prinos.
xido de piperonil com OF ou piretróides. Dependendo do spray,
o frasco de aerossol deve ser mantido a 15 a 30 cm do animal e
BRINCOS, COLEIRAS E FAIXAS NAS PATAS E aplicado durante até cinco segundos para gatos e um pouco mais
NA CAUDA para cães. Recomenda-se freqüentemente a repetição do trata-
mento em sete a quatorze dias, mas apenas uma aplicação de
Baseiam-se principalmente nos piretróides sintéticos e ocasio- spray com o composto recentemente desenvolvido, fipronil, pode
nalmente organofosforados. São recomendados para a proteção conferir até três meses de proteção contra reinfestação com pul-
de bovinos contra moscas irritantes. Os brincos em geral são gas em cães e gatos. Os sprays em aerossol são muito eficazes
feitos de polivinilcloreto impregnado com inseticida. Quando para pulgas e piolhos, mas para os ácaros da sarna podem ser
:s Parasitologia Veterinária

necessários vários tratamentos. Os piretróides sintéticos também demodécica e infestações de pulgas em cães, e em gatos; reco-
são encontrados sob a forma líquida ou de spot-on para eqüinos, menda-se a administração de comprimidos como suplemento da
destinados ao controle de moscas, incluindo culicóides, que são aplicação tópica.
responsáveis pela "sarna branda".
Existe um aerossol contendo um regulador do crescimento de OUTRAS PREPARAÇÕES
insetos, metoprene, para controle de populações larvais de pul-
gas no ambiente. Existem, atualmente, preparações spot-on contendo fention para
controle de pulgas em cães e gatos. Nos eqüinos, os piolhos e
SOLUÇÕES áreas de infestação pelo ácaro da sarna podem ser tratados topi-
camente, mas permanece o problema de moscas irritantes ou do
São viáveis sob a fonna de xaropus, concentrados emulsionáveis, pasto. Uma sugestão recente é a aplicação de brincos impregna-
agentes umectantes ou cremes para o controle de pulgas, piolhos e dos com cipermetrina à sela ou à crina como um possível meio
ácaros da sarna. A maioria das preparações é para cães, tendo de se de incorporar o piretróide si ntético ao sebo.
tomar cuidado se forem usadas para gatos. Os ingredientes comuns
são carbaril-propoxur e o OF fosmet; o amitraz é particularmente ECTOPARASITAS DE AVES DOMÉSTICAS
útil para sarna demodécica em cães. As instruções de uso devem
ser cuidadosamente seguidas, e, quando necessário, deve-se tomar Os carbamatos e o organofosforado malation são os mais ampla-
cuidado para que o inseticida seja enxaguado de modo adequado mente usados. As aves são polvilhadas individualmente, e o in-
da pelagem. Quando os cães têm coleiras inseticidas, não devem seticida é aplicado no aviário, em caixas de ninhos e na cama. A
ser usados xampus à base de organofosforados. possibilidade do uso de cipermetrina como spot-on encontra-se
em estudo.
COLEIRAS INSETICIDAS
RESISTÉNCIA
São utilizadas principalmente para controle de pulgas e se ba-
seiam nos organofosforados, carbamatos e piretróides sintéticos. Como acontece com outras drogas, desenvolveu-se resistência à
O período de proteção citado é de três a quatro meses, mas o maioria dos ectoparasiticidas bem conhecidos. Isto é válido par-
sucesso deste método de aplicação é variável. Surgem proble- ticularmente para os organoclorados e os organofosforados uti-
mas ocasionais por dermatite de cantata, devendo-se tomar cui- lizados para o controle de ectoparasitas de ruminantes por ba-
dado para que os animais não recebam outros tratamentos com nhos de imersão ou pulverizações, mas na Austrália j á foi regis-
organofosforados. Além de coleiras, em alguns países existem trada resistência aos piretróides sintéticos usados em brincos
também medalhões impregnados. É preciso cautela no uso de impregnados.
coleiras em gatos de pêlos longos e cães galgos, em virtude da A resistência a inseticidas é hereditária, e há dois tipos des-
suscetibilidade individual ao envenenamento por OF. critos para insetos. O primeiro tipo é a resistência específica, que
se deve a um único gene dominante ou duplos genes recessivos,
PREPARAÇÕES ORAIS e o outro tipo é a resistência poligênica ou inespecífica, na qual
a resistência provavelmente surge do desenvolvimento no inse-
Um organofosforado, citioato, é comercializado como prepara- to de sistemas fisiológicos secundários que superam o sistema
ção oral. Destina-se especificamente ao tratamento de sarna primário alvo do inseticida.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITISMO

INFECÇÕES POR HELMINTOS os ovos de trematóides, que são muito mais pesados, requerem
uma dens idade de 1,30 a 1,35.
Embora haja muito interesse atuaI no uso de sorologia como As soluções de flutuação utilizadas para ovos de nematóides
auxílio para o diagnóstico de helmintoses, particulannente com e cestóides baseiam-se principalmente em cloreto de sódio ou,
a introdução do teste imunoenzimático (ELISA), o exame de às vezes, sulfato de magnésio. Prepara-se uma solução saturada
fezes para a presença de ovos ou larvas de vermes constitui o com tais substâncias, que é conservada por alguns dias, verifi-
exame rotineiro mais comum uti lizado para o diagnóstico. cando-se sua densidade antes do uso. Em alguns laboratórios, a
preferência é por uma solução açucarada de densidade 1,2.
COLHEITA DE FEZES Para ovos de trematóides, são amplamente empregadas solu-
ções saturadas de cloreto de zinco ou sulfato de zinco. Alguns
As amostras de fezes devem, de preferência, ser colhidas do reto laboratórios utilizam a solução de iodo, mercúrio e potássio, mais
e examinadas frescas. Se for difícil obter amostras retais, podem cara e tóxica.
ser colhidas, então, fezes frescas do campo ou no piso. Para a Quaisquer que sejam as soluções usadas, deve-se verificar
colheita, é conveniente uma luva plástica, virada ao avesso, para regularmente a densidade e efetuar rapidamente o exame da so-
. servir de recipiente. Para pequenos animais de estimação, pode- lução contendo os ovos ou as larvas, pois caso contrário pode
se utilizar um tennômetro ou um bastão de vidro. ocorrer distorção das estruturas.
O ideal é que sejam colhidos cerca de 5 g de fezes, pois é esla
a quantidade necessária para alguns dos métodos de exame de Flutuação direta
concentração.
Como os ovos embrionam rapidamente, as fezes devem ser Adiciona-se uma pequena quantidade de fezes frescas, digamos
mantidas no refrigerador, a menos que o exame seja efetuado no 2 g, a 10 mI da solução de flutuação e depois de misturar com-
prazo de um dia. Para amostras enviadas pelo correio, a adição pletamente a suspensão é colocada num frasco próprio, acrescen-
de formalina a 10% às fezes, num volume correspondente ao tando-se mais solução de flutuação para encher o tubo até a par-
dobro do volume fecal, inibirá o desenvolvimento e a eclosão. te superior. Coloca-se, então, uma lamínula de vidro sobre a su-
perfície do fluido, deixando-se o frasco e a lamínula em repouso
MÉTODOS DE EXAME DE FEZES durante 10 a 15 minutos. Remove-se, em seguida, a lamínula
verticalmente e a coloca sobre uma lâmina examinando-a ao
Há vários métodos de preparação de fezes para exame microscópi- microscópio. Se houver uma centrífuga, pode-se acelerar a flu -
co visando a detectar a presença de ovos ou larvas. Entretanto, tuação dos ovos na solução de flutuação por centrifugação.
qualquer que seja o método empregado, as lâminas devem ser exa-
minadas primeiramente com pequeno aumento, já que a maioria Método McMaster
dos ovos pode ser detectada desta maneira. Se necessário, pode-se
utilizar, então, um aumento maior para medida dos ovos ou uma Esta técnica quantitativa é utilizada quando se deseja contar o
diferenciação morfológica mais detaJbada. Para dimensionar po- número de ovos ou larvas por grama de fezes. O método é como
pulações de ovos ou larvas, é bastante útil um micrômetro ocular. se segue:
(I) Pesar 3 g de fezes ou, se as fezes forem diarréicas, três co-
Método do esfregaço direto lheres das de chá.
(2) Dissolver totalmente em 42 mi de água num recipiente plás-
Sobre uma lâmina microscópica, misturam-se algumas gotas de tico. Isto pode ser feito com o uso de um homogeneizador
água e uma quantidade equivalente de fezes. Em seguida, agita- ou num frasco tampado contendo bolinhas de vidro.
se a lâmina para que os ovos mais leves flutuem separando-se (3) Passar numa peneira fina (abertura 205 fl-m, ou 100 por 1
dos resíduos mais pesados, coloca-se uma lamínula sobre o flui- polegada).
do e leva-se ao microscópio para exame. É possível detectar a (4) Coletar o filtrado, agitar e encher um tubo de ensaio' de 15
·maioria dos ovos ou larvas por este método, mas, dada a peque- mi.
na quantidade de fezes utilizadas, podem-se detectar apenas in- (5) Centrifugar a 2.000 rpm duranle 2 minutos.
fecções relativamente maciças. (6) Remover o sobrenadante, agitar o sedimento e encher o tubo
até o nível prévio com solução de flutuação.
Métodos de flutuação (7) Inverter o tubo seis vezes e remover o fluido com pipeta,
enchendo as duas parles da câmara McMaster (Fig. 174).
O princípio de qualquer método de flutuação é que, quando ovos Não deixar fluido na pipeta ou então pipetar de imediato, uma
de vermes são suspensos num líquido com densidade superior à vez que os ovos sobem rapidamente no fluido de flutuação .
dos ovos, estes últimos sobem à tona. Os ovos de nematóides e (8) Examinar um comparti.mento e multiplicar por 100 o número
cestóides flutuam num líquido com densidade entre 1,10 e 1,20; de ovos ou larvas sob uma área marcada ou os dois compar-
:..:0 Parasit%gia Veterinária

rimentos e multiplicar por 50, para chegar ao número de ovos Transferir o filtrado para um frasco cônico e deixar em repouso
por grama de fezes (opg): por 2 minutos, remover o sobrenadante e transferir o restante
Se 3 g de fezes fore m di ssolvidos em 42 mI (aproximadamente 12 a 15 mi) para um tubo de fu ndo chato.
Volume total é 45 ml Após sedimentação por mais uns 2 minutos, remover nova-
Portanto 1 g 15 mI mente o sobrenadante, adicionar algumas gotas de azul de meti-
O volume na área marcada é 0,15 mI leno a 5% e examinar o sedimento com um estereomicroscópio
Portanto, o número de ovos é multiplicado por 100 de baixa potência. Quaisquer ovos de trematóides são facilmen-
Se os doi s compartimentos forem examinados, multiplicar te visíveis contra O fu ndo azul claro.
por 50
Uma versão resumida desta técnica é homogeneizar os 3 g de
Para larvas de vermes pulmonares:
Pode-se utili zar o aparelho de Baerman. Consiste num funil de
fezes em 42 mi de solução salina, filtrar e pipetar o filtrado dire-
vidro mantido num suporte. Um tubo de borracha conectado à
tamente na câmara McMaster. Embora seja um processo mais
base do funil é comprimido por uma presilha. Coloca-se uma
rápido, é mais difícil "ler" o conteúdo da lâmina, em virtude da
peneira (abertura de 250 ",m) no gargalo largo do funil, que foi
sua cor escura.
enchido parcialmente com água, e uma camada dupla de gaze
É im possível calcular a partir do opg a verdadeira população
na parte superior da peneira. Depositam-se as fezes sobre a gaze
de vermes do hospedeiro, pois muitos fatores influenciam a pro-
e enche-se lentamente o funil com água até que as fe zes fiquem
dução de ovos pelos vermes, como também o número de ovos
imersas. Alternativamente, espalham-se as fezes num papel de
varia com a espécie. Contudo, as contage ns de ovos superiores a
filtro, que é então invertido e colocado sobre a peneira (Fig. 175).
1.000 geralmente são consideradas indicativas de infecções ma-
Deixa-se O aparelho de um dia para outro à temperatura ambien-
ciças e as contagens acima de 500 de infecção moderada. Entre-
te, quando e ntão as larvas migram das fe zes e através da peneira
tanto, um opg baixo não indica necessariamente infecções mu.i-
para o sedimento no gargalo do fun il. Retira-se a presilha do tubo
to baixas, uma vez que a patência pode ter acabado de se estabe-
de borracha e coleta-se a água do gargalo do funil num pequeno
lecer; alternativamente, o opg pode ser afetado por imunidade
béquer para exame microscópico numa placa de Petri.
e m desenvolvime nto. Os ovos de algumas espécies. tais como
Uma adaptação simples do método citado é suspender as fe-
detenninados ascarídeos, Strongylo ides, Oxyuris, Trichuris e
zes envoltas em gaze num cálice cheio de água e deixar de um
Capillaria, podem ser facilmente identificados morfologicamen-
di a para ou tro. As larvas deixarão as fezes, migrarão através da
te. Porém, com exceção das espécies de Nematodirus, os ovos
gaze e se depositarão na base do cálice. Após a remoção do so-
de tri costrongilídeos comun s requerem sua medida para diferen-
ciação.
Aind a que detecte os ovos e as larvas da maioria do s
nematóides, cestóides e coccídios, esta técni ca não demonstra
ovos de trematóides, que têm de nsidade específica mais alta. Para
estes, é preciso utilizar um fluido de flutuação de densidade es-
pecífica mais alta ou um método de sedimentação, conforme
descrito adiante.

Métodos de sedimentação

Para ovos de trematóides:


Homogeneizar 3 g de fezes com ág ua e passar a suspensão atra-
vés de uma peneira de malhas finas (250 ",m). Lavar completa-
mente o material retido nessa rede com um jato fino de água e
descartar os resíduos.

Fig_ 174 Cãmara McMaster para calcular números de ovos de nematôides nas Fig_175 Aparelho de Baerman. As fezes são espalhadas sobre um papel de filtro
fezes. que é então invertido e colocado sobre a peneira.
T6picos de Revisão 241

brenadante com sifão. examina-se o sedimento com o pequeno e quaisquer parasitas presentes coletados e colocados em
aumento do microscópio. como já descrito. formol.

CUL TURA E IDENTIFICAÇÃO DE LARVAS Preparação de pepsina!HCI:


Dissolver 80 g de pepsina em pó em 3 litros de água fria. Adici-
Duas técnicas são amplamente utilizadas para a cultura de lar- onar lentamente 240 mI de HeI concentrado e mexer bem. Com-
vas infectantes de ovos de nematóides. pletar o volume final para 8 litros. Conservar a 4"C.
Na primeira, as fezes são colocadas num frasco com tampa e
conservadas no escuro a uma temperatura de 21 a 24 cC. A tam- Método de contagem de vermes
pa deve ser revestida com papel de filtro umedecido e não ficar
hermeticamente fechada. Depois de incubação por sete dias, (I) Adicionar 2 a 3 mi de solução de iodo a uma das amostras
enche-se O frasco com água. deixando-o em repouso por duas a de ZOO mI.
três horas. As larvas migrarão para a água, que é colocada, en- (Z) Depois de misturar totalmente, transferir 4 mi da suspensão
tão, num c ilindro para sedimentação. Pode-se limpar e concen- para uma placa de Petri marcada com linhas para facilitar a
trar a suspensão de larvas por meio do aparelho de Baennan, contagem; adicionar Z a 3 mi de solução de tiossulfato de
conforme já descrito, neutralizando-a, em seguida, por adição de sódio para descorar os resíduos.
algumas gotas de lugol e examinando-a ao microscópio. Se necessário, os vennes podem ser conservados numa
Um método alternativo é espalhar as fezes sobre o terço mé- solução aquosa de fonmalina a 10% ou álcool a 70%. A fim
dio de um papel de filtro colocado numa placa de Petri umedeci- de clarear vermes grandes para exame microscópico, imer-
da. Depois de mantê-la entre 21 e 24"C durante sete a dez dias, gir em lactofenol durante um período adequado antes do
enche-se a placa com água, colhendo-se as larvas como antes. exame.
A identificação de larvas infectantes é um assunto especializa- (3) Examinar para a presença de parasitas usando um micros-
do, e, para isto, podem ser consul tadas as publicações citadas no cópio estereoscópico (objetiva de IZ vezes) e identificar
final desta seção. e contar os parasitas, como machos , fêmeas e estágios
larvais.
RECUPERAÇÃO DE NEMA TÓIDES DO TRA TO
DIGESTIVO Solução de iodo:
Dissolver 907 g de iodeto de potássio em 650 mJ de água fer-
A seguir, são fornecidos os detalhes de uma técnica para colhei- vente. Adicionar 510 g de cristais de iodo e completar o vol ume
ta, contagem e identificação dos nematóides' do trato digestivo para I litro.
de ruminantes. O procedimento é semelhante para outras espé-
cies de hospedeiros, e as informações sobre a identificação en- Solução de tiossulfato de sódio:
contram-se no texto. Dissolver 100 g de tiossulfato de sódio em 5 litros de água.
Segue-se um guia para os nematóides adultos do trato diges-
(I) Após remover o trato digesti vo da cavidade corpórea, ass im ti vo de ovinos e bovinos.
que for possível deve-se ligar a junção abomasoduodenal ,
para evitar a transferência de parasitas de um local ao outro.
GUIA PARA NEMATÓIDES ADUL TOS DO
(2) Isolar o abomaso, o intestino delgado e o intestino grosso.
(3) Abrir o abomaso ao longo da face da grande curvatura, la-
TRA TO DIGESTIVO
var o conteúdo num balde sob água corrente e obter um
volume tota l de 2 a 4 litros. OVINOS
(4) Depois de misturar completamente, transferir amostras du -
plas de 200 mI para frascos adequadamente rotulados e ASPECTOS MACROSCÓPICOS
manter em formalina a 10%.
(5) Raspar a mucosa abomasal e digerir numa mistura de pep- Abomaso
sina/HCI a 4Z"C por 6 horas; para 200 g de mucosa é neces-
sário um litro de mistura. Completar a digestão até um vo- ( I) Z cm de comprimento; Haemonchus
lume de 2 ou 4 litros com água fria e colher novamente bolsa copuladora visível
amostras duplas de 200 mi. a olho nu; fêmeas têm
Alternativamente, pode-se usar a técnica de Williams. Nes- aparência de "bastão
ta, coloca-se o abomaso lavado, com a superfície mucosa para de barbeiro"; avermelhado
baixo, num balde contendo vários litros de solução salina nor- quando fresco
mal e mantendo-se a 40"C durante 4 horas. A seguir, raspa-se (Z) I cm de comprimento; OSlertagia
delicadamente o abomaso num segundo balde de solução sa- fino; castanho-avermelhado
lina morna. Passa-se a solução salina de ambos os baldes atra- quando fresco
vés de uma peneira (abertura de 38 f.'m, aproximadamente 600 (3) Menos de 0,5 cm de Trichoslrongylus axei
para uma polegada) e examina-se o resíduo. comprimento; o menor
(6) Abrir o intestino delgado ao longo de toda a sua extensão e tricostrongilídeo de
lavar o conteúdo num balde. Tratar como no caso do con- ruminantes; não pode ser
teúdo abomasal, mas não há necessidade de digestão. facilmente visto na parede
(7) O conteúdo do intestino grosso é lavado num balde, passa- ou no conteúdo abomasal;
do por uma peneira de malha grossa (abertura de 2 a 3 mm) acinzentado quando fresco
:!.12 Parasitologia Veterinária

Intestino delgado Fêmea :


Apêndice vulvar ausente; o verme grávido contém 4 ou 5 ovos,
(I) 0,5 cm de comprimento; Trichostrongylus de pólo a pólo.
fino; acinzentado quando ou
fresco Strongyloides Intestino delgado
(2) 0,5 cm de comprimento; Cooperia curticei
em forma de vírgula ou de Trichostrongylus
corda de relógio; fino;
acinzentado Ambos os sexos:
(3) 2 cm de comprimento; fino; Nematodirus Sulco excretor presente na região esofágica.
muito torcido,
freqüememente comparado Macho:
com algodão em rama Espículas em fonna de folha (T. vitrinus) ou com "forma de ar-
(4) 2 cm de comprimento; Bunostomum pão" próximo à extremidade (T. colubriformis).
vermes brancos grossos;
cabeça levemente curva
Fêmea:
Intestino grosso Apêndice vulvar ausente; ovoejetores presentes (cf. Strongyloi-
des, a seguir).
(1) Até 8 cm de comprimento; Trichuris Strongyloides
semelhante a chicote, com
longa parte anterior
Apenas fêmeas presentes; esófago longo; ovário e útero têm as-
filamentosa com o dobro
pecto de fio enrolado atrás do esófago; ovoejetores ausentes.
do comprimento da parte
posterior
(2) 1,5 a 2 cm de Cooperia
Chabertia
comprimento; grande
Ambos os sexos:
cápsula bucal em fonna
de sino Pequena vesícula cefálica presente, conferindo à extremidade
(3) Até 2 cm de comprimento; anterior aspecto cilíndrico; estrias cuticulares salientes na região
Oesophagostomum esofágica.
cápsula bucal afilada e não
evidente como em Chabertia
Macho:
Espículas possuindo "asa" na região central, apresentando estrias.
CONFIRMAÇÃO MICROSCÓPICA
Nematodirus
Abomaso
Ambos os sexos:
Haemonchus Vesícula cefálica presente.

Macho: Macho:
Raio dorsal da bolsa copuladora assimétrico; espículas com Espículos longos, finos e fundidos, com extremidade dilatada em
ganchos junto às extremidades . fonna de coração (N. battus); lanceolada (N.filicollis); abrupta-
mente arredondada (N. spathiger). A bolsa copuladora apresen-
Fêmea: ta dois conjuntos de raios paralelos (N. battus) ou quatro con-
Apêndice vulvar presente, cm gerallingüifomle; verme grá vidu juntos (outras espécies).
contém várias centenas de ovos; ovário enrolado ao redor do
intestino. Fêmea:
Grandes ovos presentes; extremidade da cauda é pontiaguda (N.
Ostertagia battus) ou truncada com um pequeno espinho (outras espécies).

:\>tacho: Bunostomum
Espículas finos, em fonua de bastonete (O. circumcincta), ou
grossos com ramificação junto à parte central (O. trifurcata). Grande cápsula bucal presente.

Trichoslrongylus axei Intestino grosso


Ambos os sexos: Trichuris
Sulco excretor visível na região esofágica.
Confirmação diagnóstica desnecessária, em virtude do formato
'.Iacho: de chicote. A cauda da fêmea tem forma de arco e a do macho
Bopículos de comprimentos diferentes. enrola-se espiralmente com um espiculo.
' ''4

Tópicos de Revisão 243

Chabertia Intestino grosso

.Grande cápsula bucal em forma de sino sem dentes e coroas la- Como nos ovinos .
melares rudimentares.
Tendo como base as características recém-descritas, pode-se uti-
Oesophagostomum lizar a seguinte orientação para diferenciar microscopicamente
os gêneros de alguns nematóides gastrintestinais comuns dos
Cápsula bucal relativamente pequena; vesícula cefálica com sulco ruminantes.
cervical atrás dela. Coroas lamelares e asas cervicais freqüente-
mente presentes. Corpo composto de uma longa Trichuris
região anterior filamentosa e
uma curta região posterior larga
BOVINOS Corpo não tão dividido, esôfago Strongyloides
aproximadamente um terço do
CARACTERíSTICAS MACROSCÓPICAS comprimento do corpo
Esôfago curto e cápsula bucal Trichostrongyloidea (a)
As características macroscópicas são semelhantes às caracterís- rudimentar
ticas descritas para os nematóides de ovinos. Esôfago curto e cápsula bucal Strongyloidea (b)
bem desenvolvida
CONFIRMAÇÃO MICROSCÓPICA
(a) Trichostrongyloidea
Abomaso 1. Vesícula cefálica distinta. Nematodirus
Espículas muito longos
Haemonchus unindo-se numa membrana
na extremidade.
Como nos ovinos, mas apêndice vulvar freqüentemente bulbi- Pequena vesícula cefálica. Cooperia
forme ou vestigial. Espículas relativamente
curtos e separados
Ostertagia posteriormente.
2. Sem vesícula cefálica. Trichostrongylus
Sulco excretor presente em
Como nos ovinos, mas o macho possui espículas espessos, em
forma de bastão, com extremidades dilatadas (D. ostertagi), ou
ambos os sexos.
Ausência de sulco excretor. (3)
espículas muito fortes, usualmente de contorno irregular (O. lyra-
3. Lobo dorsal da bolsa Haemonchus

ta) . A fêmea tem apêndice vulvar de tamanho variável, mas em
copuladora assimétrico,
geral de forma arredondada.
espículas com ganchos.
Grande apêndice vulvar
T. axei
proeminente na fêmea.
Lobo dorsal da bolsa Ostertagia
Como nos ovinos. copuladora é simétrico.
Apêndice vulvar pequeno
Intestino delgado ou ausente.

Trichostrongylus (b) Strongyloidea


4. Cápsula bucal cilíndrica. Oesophagostomum
Como nos ovinos; T. vitrinus é muito raro nos bovinos. Cápsula bucal bem (5)
desenvolvida.
Cooperia 5. Leve curvatura dorsal da Bunostomum
cabeça e presença de
Como nos ovinos, mas os espículas da espécie comum, C. lâminas cortantes.
oncophora, têm aspecto sólido, em forma de arco, com peque- Ausência de dentes, Chabertia
nas dilatações terminais. coroas lamerales
rudimentares presentes.
Nematodirus
RECUPERAÇÃO DE VERMES PULMONARES
Como nos ovinos; os espículas da espécie bovina comum, N.
helvetianus, têm uma dilatação em forma de lança nas extremidades. Para Dictyocaulus, a melhor maneira para se fazer isto é abrir as
vias aéreas desde a traquéia e em direção aos pequenos brônquios,
Bunostomum com delicada tesoura de ponta romba. Os vermes visíveis são,
então, removidos dos pulmões abertos e transferidos para
Como nos ovinos. béqueres de vidro contendo solução salina. É melhor contar os
244 Parasitologia Veterinária

vermes imediatamente, pois, se deixados a 4 oe de um dia para o '/TESTES DO PEPSINOGÊNIO PLASMÁTICO


outro, a formação de grumos diminui. Podem ser recuperados
mais vermes se os pulmões abertos ficarem imersos em solução A avaliação do pepsinogênio circulante tem valor no diagnósti-
salina morna de um dia para o outro. co de lesão abomasal, encontrando-se especialmente elevado nos
Outro método é a modificação de Inderbitzen da técnica de casos de ostertagiose. Ocorrem também elevações com outros
perfusão descrita por Wolff et ai. (1969), em que os pulmões são parasitas gástricos, como Trichostrongylus axei, Haemonchus
perfundidos da seguinte maneira. contortur e, nos suínos, Hyostrongylus rubidus.
O saco pericárdico é incisado e refletido para expor a artéria O princípio do teste, mais bem feito por um laboratório diag-
pulmonar, na qual se faz uma incisão de 2 cm. Introduz-se um nóstico, é que a amostra de soro ou plasma seja acidificada em
tubo de borracha na artéria, o qual é fixado in situ por ligaduras pH de 2,0, ativando, assim, o zimogênio inativo (pepsinogênio)
duplas. Os grandes vasos sangüíneos restantes são ligados, e na enzima proteolítica ativa pepsina. Esta pepsina ativada pode,
deixa-se entrar na artéria pulmonar água de um fluxo forte. A água então, reagir com um substrato protéico (geralmente albumina
rompe as paredes alveolares e bronquiolares, lava as luzes brôn- sérica bovina), e a concentração enzimática é calculada em uni-
quicas e é expelida pela traquéia. O fluido é colerado e seu con- dades internacionais (J.Lmoles de tirosina liberados por 100 ml
teúdo concentrado, passando-o através de uma peneira fma (aber- de soro por minuto). A tirosina liberada do substrato protéico pela
tura de 38 /-Lm). Como anteriormente, é melhor examiná-lo de pepsina é calculada pela coloração azul que se forma quando
imediato para a presença de vermes adultos e larvas. compostos fenólicos reagem com o reagente de Folin-Ciocalteu.
É difícil recuperar e enumerar os gêneros menores de vermes Na maioria dos laboratórios, a quantidade ITÚnima necessária para
pulmonares de pequenos ruminantes, embora a técnica de Inder- o teste é 1,5 mi de soro ou plasma. O anticoagulante utilizado
bitzen possa ser útil. para as amostras de plasma é EDTA ou heparina.
Na gastrite parasitária de ruminantes causada por espécies de
RECUPERAÇÃO DE PARASITAS Ostertagia e T. axei, os nfveis de pepsinogênio plasmático tOf-
TREMA TÓIDES E CESTÓIDES nam-se elevados. Nos animais livres de parasitas, o nível é infe-
rior a 1 UI de tiro sina; nos animais moderadamente infectados,
Tanto para Fasciola como para Dicrocoelium, remove-se e cor- é entre 1 e 2 e nos animais maciçamente infectados em geral
ta-se o fígado em pedaços de aproximadamente 1 cm de espes- ultrapassa 3, às vezes podendo atingir 10 ou mais. A interpreta-
sura. À compressão dos fragmentos hepáticos, removem-se e ção é simples em animais durante seus primeiros 18 meses, mas
colocam-se em formol quaisquer trematóides vistos macrosco- a partir daí torna-se difícil, uma vez que o nível pode tomar-se
picamente, os fragmentos são imersos em água morna de um dia elevado quando animais mais velhos e imunes estão sob desa-
para o outro. Deve-se também abrir e lavar a vesícula biliar, re- fio. Nestes casos, a ausência da clássica sintomatologia clínica
movendo-se quaisquer trematóides. de diarréia e perda de peso indica que há poucos parasitas adul-
Depois de embebidos, os fragmentos de fígado são novamente tos presentes.
comprimidos, lavados em água limpa e descartados. Ambos os
lavados são passados por uma peneira de malhas finas (abertura X CONTAGENS DE LARVAS NO PASTO
de 100 j.Lm) e o material retido colocado em formal. No caso de
paranfístomos intestinais, os primeiros 4 m do duodeno devem Para esta técnica, as amostras de capim obtidas no pasto são co-
ser ligados, abertos, lavados e examinados para trematóides ade- locadas num saco de politeno, que é então fechado e enviado a
rentes. um laboratório para processamento. É importante colher um
As contagens são efetuadas microscopicamente, registrando- número razoável de amostras ao acaso, e um método consiste em
se os trematóides inteiros mais os números de cabeças e caudas. atravessar o pasto e remover quatro amostras de capim a inter-
O maior número de qualquer um dos dois últimos é somado ao valos de cerca de quatro passos até serem colhidas aproximada-
número de trematóides inteiros, dando a contàgem total. mente 400; outro método, principalmente para larvas pulmona-
Os cestóides em geral são facilmente visíveis no intestino ou res, é colher um número semelhante de amostras bem junto aos
no fígado, mas sempre que possível devem ser removidos in- bolos fecais. No laboratório, o capim é totalmente molhado, la-
tactos para que, se for necessário, a cabeça e os segmentos ma- vado e secado, e os lavados contendo as larvas passados através
duros e grávidos sejam viáveis para exame especializado. No de uma peneira (abertura de 38 j.Lm; 600 para uma polegada) para
caso de Echinococcus em canídeos, entretanto, os vermes são remover resíduos finos. O material retido na peneira é, então,
tão pequenos que deve ser feito o exame mais detalhado descri- baermanizado e as larvas infectantes identificadas e contadas ao
to no texto. microscópio sob grande aumento. Os números presentes são
expressos como L3 por kg de capim seco.
OUTROS MEIOS AUXILIARES DE Quando são registradas contagens superiores a 1.000 L 3/kg de
DIAGNÓSTICO tricostrongilídeos gastrintestinais de ruminantes, o pasto pode 'ser
considerado corno moderadamente infectante, podendo-se pre-
Há duas outras técnicas que são meios auxiliares úteis no diag- ver que valores acima de 5.000 L 3/kg produzam doença clínica
nóstico de infecções por tricostrongilídeos em ruminantes. A em bovinos jovens durante seu primeiro período no pasto.
primeira delas é o teste de pepsinogênio plasmático e a segunda Embora esta seja uma técnica útil para detectar o nível de LJ de
é o cálculo de larvas infectantes na pastagem. nematóides gastrintestinais nos pastos, tem menos valor para de-
Estas duas técnicas geralmente estão fora do alcance do clí- tectar larvas de vermes pulmonares, em razão das rápidas flutua-
nico geral, mas segue-se uma breve consideração sobre o mate- ções dessas larvas nos pastos. Em alguns laboratórios, utiliza-se uma
rial necessário para estes testes, a base das técnicas e como po- técnica mais sofisticada, o método de Jorgensen, que depende da
dem ser interpretados os resultados. migração de larvas através de um meio ágar contendo bile, para
Tópicos de Revisão 245

calcular populações larvais de Dictyocaulus no pasto; uma vez que tão firmemente encravadas na pele. Pode-se fazê-los soltar as
a maioria das larvas de vermes pulmonares se concentra junto às peças bucais colocando-se ao seu redor um pedaço de algodão
fezes, devem ser colhidas amostras de capim ao redor de depósitos embebido em anestésico ou, alternati vamente, mantendo-se algo
de fezes. Em vista dos atuais conhecimentos, a detecção de quais- quente perto do seu corpo.
quer larvas de vermes pulmonares em amostras de capim deve ser Um dos métodos mais simples utilizados para recuperar car-
considerada suspeita. e mesmo um achado negativo não significa rapatos do pasto é arrastar um cobertor sobre o solo, ao qual se
necessariamente que o pasto esteja livre de infecção. fixam os carrapatos não-alimentados, como fariam a um hospe-
deiro. A identificação específica da grande variedade de carra-
ECTOPARASITAS patos que parasitam animais domésticos é uma tarefa de especi-
alistas. Para os carrapatos da Europa ocidental, é dada uma ori-
Os artrópodes de interesse veterinário dividem-se em dois grupos entação no Quadro 5, Cap. 2.
principais, [nsecta e Arachnida. Em sua maioria, são ectoparasitas
temporários ou permanentes, encontrados na pele ou sobre a pele, ÁCAROS
com exceção de algumas moscas, cujos estágios larvais podem ser
encontrados nos tecidos somáticos do hospedeiro. Os insetos para- Alguns ácaros não-escavadores, como Otodectes e Cheyletiella,
sitas incluem moscas, piolhos e pulgas, enquanto os dois grupos podem ser encontrados por meio de exame minucioso. Por exem-
de aracnídeos de importância veterinária são os carrapatose ácaros. plo, pode-se ver Otodectes ou ao exame do canal auditivo exter-
Em todos os casos, o diagnóstico de infecção depende da colheita no com um otoscópio ou ao exame microscópio do cerume re-
e identificação do(s) parasita(s) em questão. movido com um swab; da mesma maneira, escovadelas rigoro-
sas da pelagem e subseqüente exame microscópico deste mate-
INSETOS rial em geral confIrmam infestação por Cheyletiella . Para a de-
monstração de alguns ácaros não-escavadoJes e escavadores, fre-
As moscas dípteras adultas que incomodam os animais em geral qüentemente é necessário obter-se um raspado, que em seguida
são capturadas ou por meio de redes ou depois'de terem sido é examinado microscopicamente. A região escolhida para o ras-
mortas por inseticidas, enquanto as larvas podem ser obtidas em pado deve ser à margem de uma lesão visível, removendo-se os
áreas onde os animais ficam abrigados ou diretamente dos ani- pêlos sobre essa área. Coloca-se uma gota de óleo lubrificante
mais nos quais os estágios larvais são parasitários. A identifica- como parafina líquida numa lâmina microscópica e mergulha-
ção das moscas comuns de interesse veterinário, pelo menos em se uma lâmina de bisturi limpa no 61eo antes de usá-Ia para ras-
nivel genérico, é razoavelmente simples, estando as característi- par a superfície de uma prega de pele acometida. Deve-se pros-
cas principais descritas no texto principal, enquanto a identifi- seguir raspando-se até fluir uma pequena quantidade de sangue
cação de larvas em nível de gênero e espécie é bem mais especí- da superfície cutânea, transferindo-se, então, o material obtido
fica, dependendo do exame de determinados aspectos, como a para o óleo na lâmina. Deve-se colocar, em seguida, uma lamí-
estrutura dos espiráculos posteriores. No final deste capítulo, nu la e examinar a amostra em pequeno aumento ( 100 X) . Se
popem ser encontradas publicações referentes a isto. durante esse exame inicial não forem detectados ácaros, pode-
se aquecer uma outra amostra numa lâmina com uma gota de
PIOLHOS E PULGAS potassa sódica a 10%. Depois de deixar esta preparação clarear
durante cinco a dez minutos, reexaminá-la.
A detecção de pequenos ectoparasitas como piolhos e pulgas de-
pende de um exame minucioso; no caso de piolhos, os ovos, co- CONSERVAÇÃO
nhecidos como "lêndeas", também podem ser encontrados aderi-
dos à pelagem ou às pernas. Pode ser mais difícil detectar as pul- A maioria dos artrópodes adultos e seus estágios em desenvol-
gas, mas o achado de fezes de pulgas na pelagem, que aparecem vimento podem ser preservados satisfatoriamente em álcool a
como pequenos pedaços escuros de arenito e que, ao cantata com 70% em pequenos frascos de vidro ou plástico. ,Deve-se intro-
algodão bruto ou tecido umedecido, produzem coloração verme- duzir um tampão de algodão no vidro para limitar danos durante
lha por causa do sangue ingerido, permite a confrnnação de infes- o trânsito, tampá-lo firmemente e rotulá-lo. Por outro lado, pode-
tação. A colheita pode ser direta, como no caso de muitos piolhos se fixar o exemplar à rolha de um tubo de amostra, por meio de
que podem ser escovados da pelagem ou removidos por meio do um alfinete através do tórax, mas no que cli z respeito a quase tpdas
corte dos pêlos ou das penas. As pulgas podem ser removidas por as maiores moscas é melhor deixar isto para um especialista.
escovadelas ou por limpeza a vácuo (ver Cap. 2). Altemativamen-
te, no caso de pequenos animais, os parasitas podem ser facilmen- INFECÇÕES POR PROTOZOÁRIOS
te recuperados se o hospedeiro for colocado em cima de uma folha
de papel ou plástico antes de ser pulverizado com um inseticida. o diagnóstico laboratorial de doenças por protozoários amiúde é
No texto, acham-se descritas as características macroscópicas de relativamente direto e está bem ao alcance do clínico geral, embo-
piolhos mordedores e sugadores e uma orientação para as pulgas ra em outras ocasiões possa requerer técnicas especializadas e lon-
• comumente encontradas em animais domésticos. ga experiência. Esta secção refere-se principalmente ao primeiro
caso e complementa as informações já fornecidas no texto geral.
CARRAPATOS
EXAME DE AMOSTRAS DE FEZES
Os carrapatos são facilmente identificáveis em seus hospedeiros,
principalmente quando estão ingurgitados, mas é preciso cuida- o método de flutuação McMaster é a técnica mais simples para
do na sua remoção, uma vez que suas peças bucais em geral es- detectar a presença e calcular o número de oocistos de coccídios
246 ParasilOlogia Veterinária

nas fezes. A técnica é exatamente a mesma descrita para di ag- Estas soluções não se conservam, devendo ser preparadas no dia.
nóstico de helmin tos, embora o pequeno tamanho dos oocistos
( I) Mergulhar a lâmina na solução A 1a 3 segundos
tome o exame microscópico mais prolongado. Se o animal apre-
(2) Enxaguar na solução B 2a 3 segundos
sentar sintomatologia clínica aguda de coccidiose, como fezes
(3) Mergulhar a lâmina em C 1a 3 segundos
sanguinolentas, e estiverem presentes muitos milhares de oocis-
(4) Enxaguar em água corrente 2a 3 segundos
tos, é razoáve l considerar que o diagnósti co está confirmado.
(5) Deixar em posição vert ical para
Infelizmente, com as espécies mais patogênicas de coccídios,
drenar e secar
podem aparecer sinais clínicos durante a fase esquizogônica ou
quando o início da produção de oocistos é recente, de tal modo Esta técnica é comumente usada no campo em trabalhos de acom-
que uma contagem negativa ou baixa de oocistos não indica ne- panhamento em larga escala.
cessariamente que o diagnóstico clínico estava errado. A conta- Uma técnica dia gnóstica particularmente efica z para
ge m de oocistos também tem pouco valor na s infecções por tripanossomose, descrita anteriormente no texto, é o exame sob
coccídios menos agudas associadas a perdas de produção. Em il uminação de campo escuro da camada de leuc6citos de um tubo
geral, em virtude das limi tações da contagem de oocistos, sem- de micro-hematócrito para a detecção de cripanossomas móveis.
pre é recomendável um exame pós-morte, pelo menos em aves A inoc ulação de camundongos com sangue fresco de casos
domésticas. suspeitos de infecção por Trypanosoma congolense ou T. brucei
Para a detecção de protozoários intestinais como Entanweba, é outra técnica comum efetuada no campo. Três dias depois, deve-
Giardia ou 8alantidium, pode-se misturar uma pequena quanti - se examinar o sangue da cauda desses camundongos e em segui-
dade de fezes frescas com solução salina morna e examinar sob da diariamente durante cerca de três a quatro semanas, para de-
um microscópio de fase aquecida para a presença de trofozoítos terminar se estão presentes tripanossomas.
ou cistos. Contudo, a sua identificação requer considerável ex- A detecção de anticorpos específicos num laboratório espe-
periênc ia, devendo-se enviar amostras de fezes conservadas em cializado também pode ser útil no diagnóstico de várias enfer-
formalina ou álcoo l polivinílico a um laboratóri o especiali zado midades por protozoários, tai s como teileriose, tripanossomose,
para confirmação. incluindo infecção por T. cruzi, babesiose, criptos poridiose e
Na suspeita de infecção por Cryptosporidium, o diagnóstico infecç.ões riquetsiais como anaplasmose e ehrlichiose. Um resul-
depende do exame de esfregaços de fezes corados pela técnica tado positivo, entretanto, não significa necessariamente a presen-
de Ziehl-Nie lsen, os pequenos oocistos de casca fina apresentan - ça de infecção ainda ativa, e sim que o animal em alguma época
do-se vermelho-vivos. foi exposto ao patógeno. Uma exceção a esta interpretação é o
diagnóstico de toxoplasmose suspeita em ovinos, em que níveis
crescentes de anticorpos por um período de várias semanas cons-
EXAME DE SANGUE E LINFA
tituem evidência razoável de infecção recente e ati va.
Para a detecção de infecções por tripanossomas, piroplasmas
babesiais e teileriais e riquétsias tais como anaplasmose, ehrli- EXAME DE PELE
chiose e eperitrozoonose, comumente são utilizados esfregaços
sangüíneos finos corados com corantes de Romanowsky, como Pode-se utilizar o exame hi stológico de biopsias ou raspados de
Giemsa ou Leishman, e examinados com uma objetiva de imer- pele das bordas de úlceras cutâneas com suspeita de ser causa-
são em óleo. Em outras ocasiões, biopsias de agu lha de linfono- das por leishmaniose para demonstrar os parasitas amastigotos
dos dil atados podem ser coradas de modo semelhante para a nos macrófagos.
detecção de tripanossomas (especialmente Trypanosoma brucei Na durina, causada por Trypanosoma equiperdum, o fluido
ou T. vivax) ou esquizontes teileriais. remov ido das placas cutâneas geralmente oferece maior chance
Na tripanossomose, a parasitemia pode ser leve, aumentan- de detecção de tripanossomas que os esfregaços sangüíneos.
do-se a chance de um diagnóstico positivo se for utilizada uma Finalmente, embora fora do alcance do clínico geral, deve-se
lâmina de sangue espesso, cuja hemoglobina fo i liberada por registrar o uso de xenodiagnóstico como técnica diagnóstica. É
imersão da lâmina em água antes da coloração com eosina. Para utilizado para detec tar infecções por protozoários como a
isto, agitar delicadamente uma gota de sangue fresco , se m babesiose, teileriose ou infecção por Trypanosoma cruzi em que
anticoagulante, numa lâmina para abranger uma área de aprox i- o parasita não pode ser facilmente enco ntrado. Consiste em per-
madamente 10 mm de diâmetro, dei xando- se secar. Em segui- mitir que o hospedeiro intermediário correto, como um carrapa-
da, pode ser corada pela técnica de Field, como se segue. to ou um percevejo hematófago, se al imente no animal. Eviden-
temente, esses vetores artrópodes têm de ser criados em labora-
Coloração de Field tório para que estejam livres de infecção. Após a alimentação, o
hospedeiro artrópode é mantido por várias semanas para permi-
Preparo de soluções: tir a multiplicação de quaisquer microrganismos ingeridos, de-
pois do que é sacrificado e exami nado para evidência de infec-
Solução A Azu l de metileno 0,4 g ção. Embora uma técnica útil, especialmente para detecção de
Azul ultramarino I 0,25 g estados de portadores, o método tem a desvantagem do diagnós-
Solução B 250 mI tico poder levar várias semanas.
SoluçãO B Na,HPO, 12H,o 25,2 g
KH,PO, 12,5 g REFERÊNCIAS E LEITURAS ADICIONAIS
Água destilada 1.000 mi
Solução C Eosina 0,5 g Edwards, K., Jepson, R.P. & Wood, K.F. (1960) Value ofplas-
Solução B 250m! ma pepsi nogen estimation . British Medical Journal, 1, 30.
Tópicos de Revisão 247

Jorgensen, R. (1975) Isolmion of infective DictyocaltlllS larvae stage larvae af Ostertagia ostertagi. Veterinary Record, 101,
fram herbage. Veterinary Parasitology, 1,61. 484.
Manual of Veterinary ParasitologicaL Laborarol)' Techniques Wúlff, K. , Ruosch, W. & Eckert, J. (1969) Perfusionslec hnik zur
( 1986) Reference Book 4 18. Ministry of Agriculture, Fisheries Gewinnung von Dicrocoeliwn dendriticunt au s Schaf- und
and Food. Her Majesty's Slationery Office, Landon. Rinderlebem. Zeitschrififtir Parasitenkllnde, 33,85.
Williams, J. c., Knox , 1. W., Sheehan, D. & Fuselier, R. H.
(1977) Efficacy of albendazole against inhibited early 4th
1

RELAÇÕES HOSPEDEIRO/PARASITA
PARASITAS DE BOVINOS Fígado e pâncreas
Cistos hidáticos
HELMINTOS Cysticercus tenuicollis
Dicrocoelium dendriticum
Esôfago e estômagos anteriores Dicrocoelium hospes
Eurytrema pancreaticum
Ceylonocotyle spp. Fasciola gigantica
Cotylophoron spp. F asciola hepatica
Gongylonema verrucosum Fascioloides magna
Paramphistomum spp. Gigantocotyle spp.

Pulmões
Abomaso
Cistos hidáticos
Haemonchus conlortus Dictyocaulus viviparus
Haemonchus similis Mammomonogamus laryngeus
Mecistocirrus digitatus Mammomonogamus nasicola
Ostertagia (Skryabinagia) kolchida
Ostertagia leptospicularis Vasos sangüíneos
Ostertagia (Skryabinagia) lyrata
Ostertagia ostertagi Elaeophora poeli
Trichostrongylus axei Onchocerca armillata
Orientobilharzia turkestanica
Intestino delgado Schistosoma bovis
Schistosoma japonicurn
Agriostomum vryburgi Schistosoma leiperi
A vitellina centripunctata Schistosoma mattheei
Bunostomum phlebotomum Schistosoma nasalis
Cooperia oncophora Schistosoma spindale
Cooperia pectinata
Cooperia punctata
Músculo, pele e tecido conjuntivo
Cooperia surnabada Cysticercus bovis
Moniezia benedeni Onchocerca spp.
Moniezia expansa Parafilaria bovicola
Nematodirus battus Setaria labiato-papillosa
Nematodirus helvetianus Stephanofilaria spp.
Paracooperia nodulosa
Stilesia globipunctata Cérebro
Strongyloides papillosus
Toxocara vitulorum Coenurus cerebralis
Trichostrongylus colubriformis
Trichostrongylus longispicularis Olho

Intestino grosso Thelazia spp.

ARTRÓPODES
Homologaster spp.
Oesophagostomum radiatum Moscas
Trichuris discolar
. Trichuris globulosa Califorídeos
.61 Parasitologia Veterinária

Dennatobia hominis Demodex bovis


Glossina spp. Psoroptes ovis
Hypodenna bovis Sarcoptes scabiei
Hypoderma lineatum
Mosquitos -pólvora PROTOZOÁRIOS/RIQUÉTSIAS
Muscídeos
Simulium spp. Anaplasma centrale
Stomoxys calcitrans Anaplasma marginale
Tabanídeos Babesia bigemina
Babesia bovis
Piolhos Babesia divergens
Babesia major
Dannalinia bovis Besnoitia besnoiti
Haematopinus eurystemus Cryptosporidium parvum
Linognathus vituli Cytoecetes ondiri
Solenopotes capillatus Ehrlichia (Cytoecetes) phagocytophila
Eimeria bovis
Carrapatos Eimeria zuemii
Eperythrozoon wenyoni
Carrapatos ixodídeos Neospora caninum
lxodes ricinus Sarcocystis spp.
The ile ria annulata
Ácaros Theileria parva
Trichomonas foetus
Chorioptes bovis Trypanosoma spp.
PARASITAS DE OVINOS E CAPRINOS Fasciola gigantica
Fasciola hepatica
HELMINTOS Fascioloides magna
Stilesia hepatica
Esôfago e estômagos anteriores Thysanosoma actinioides

Cotylophoron spp. Pulmões


Gongylonema pulchrum
Paramphistomum spp. Cistos hidáticos
Cystocaulus spp.
Abomaso Dictyocaulus filaria
Muellerius capillar;s
Haemonchus contortus Neostrongylus spp.
Marshallagia marshalli Protostrongylus rufescens
Ostertagia (Teledorsagia) circumcincta Spiculocaulus spp.
Ostertagia trifurcata
Parabronema spp. Vasos sangüíneos
Trichostrongylus axei
Elaeophora schneideri
Intestino delgado Schistosoma spp.

Avitellina centripunctata
Bunostomum trigonocephalum Músculo, pele e tecido conjuntivo
Cooperia curticei
Cooperia surnabada Cysticercus ovis
Gaigeria pachyscelis
M oniezia expansa Cérebro
Nematodirus battus
Nematodirus filicollis Coenurus cerebralis
Nematodirus spathiger
Strongyloides papillosus ARTRÓPODES
Trichostrongylus capricola
Trichostrongylus vitrinus Moscas
Intestino grosso Calliphora spp.
Chrysomya spp.
Chabertia ovina Cochliomyia spp.
Oesphagostomum colurnbianurn Gedoelstia spp.
Oesphagostomum venulosurn Hydrotaea spp.
Skrjabinerna ovis Lucilia spp.
Trichuris ovis Melophagus ovinus
Trichuris skrjabini Muscídeos
Oestrus ovis
Fígado Phormia spp.
Przevalskiana spp.
Cistos hidáticos
Cysticercus tenuicollis Piolhos
Dicrocoelium dendriticum
Dicrocoelium hospes Darnalinia ovis
254 Parasito/agia Veterinária

Linognathus ovillus PROTOZOÁRIOS/RIQUÉTSIAS


Linognathus pedalis
Babesia motasi
Babesia ovis
Ácaros Coxiella burnetti
Cryptosporidium parvum
Chorioptes bovis Ehrlichia (Cytoecetes) phagocytophila
Demodex ovis Eimeria arloingi
Psorergates ovis Eimeria crandallis
Psoroptes ovis Eimeria ovinoidalis
Sarcoptes scabiei Eimeria spp.
Eperythrozoon ovis
Carrapatos Sarcocystis spp.
Theileria hirci
Carrapatos ixodídeos Toxoplasma gondii
Ixodes ricinus Trypanosoma spp.

PARASITAS DE SUíNOS Fasciola hepatica

Vasos sangüíneos
HELMINTOS
Schistosoma spp.
Esôfago e estômago
Músculo, pele e tecido conjuntivo
Ascarops strongylina
Gnathostoma doloresi
Cysticercus cellulosae
Gnathostoma hispidum
Trichinella spiralis
Gongylonema pulchrum
Hyostrongylus rubidus
Ollulanus tricuspis Rins
Physocephalus sexalatus
Simmondsia paradoxa Stephanurus dentatus
Trichostrongylus axei
ARTRÓPODES
Intestino delgado
Moscas
Ascaris suum
Fasciolopsis buski Glossina spp.
Macracanthorhynchus hirudinaceus Muscídeos
Strongyloides ransomi
Trichinella spiralis Piolhos

Haematopinus suis
Intestino grosso
Oesophagostomum brevicaudum Ácaros
Oesophagostomum dentatum
Oesophagostomum granatensis Demodex phylloides
Oesophagostomum longicaudatum Sarcoptes scabiei
Oesophagostomum quadrispinulatum
Trichuris suis PROTOZOÁRIOS/RIQUÉTSIAS

Pulmães Babesia perroncitoi


8abesia trautmanni
Metastrongylus apri Balantidium coZi
Metastrongylus pudendotectus Cryptosporidium parvum
Metastrongylus salmi Eimeria debliecki
Eperythrozoon suis
Fígado lsospora suis
Sarcocystis spp.
Cistos hidáticos Trypanosoma simiae
Cysticercus tenuicollis Trypanosoma spp.
PARAS/TAS DE EQÜ/NOS E AS/N/NOS Vasos sangüíneos

HELMINTOS Elaeophora bohrni


Schistosoma spp.

Estômago
Músculo, pele e tecido conjuntivo
Draschia megastoma Onchocerca reticulata
Habronema microstoma Parafilaria rnultipapillosa
Habronema muscae Selaria equina
Trichostrongylus axei
Cérebro
Intestino delgado
Halicephalobus (Micronema) deletrix
Anoplocephala magna
Anoplocephala perfoliata Olho
Paranoplocephala mammillana
Parascaris equorum Thelazia lacrymalis
Strongyloides westeri
ARTRÓPODES
Intestino grosso
Moscas
Anoplocephala perfoliata
Ciatóstornos/Trichonema spp. Culicoides spp.
Cyathostornum spp. De rmatobia hominis
Cylicocyclus spp. Gasterophilus haemorrhoidalis
Cylicodontophorus spp. Gasterophilus inermis
Cylicostephanus spp. Gasterophilus intestinalis
Gastrodiscus spp. Gasterophilus nasalis
Oxyuris equi Gasterophilus nigricornis
Probstmayria vivipara Gasterophilus pecorum
Strongylus edentatus Hippobosca spp.
Strongylus equinus Muscídeos
Strongylus vulgaris Sirnu/ium spp.
Triodontophorus brevicauda Stomoxys calcitrans
Triodontophorus minor Tabanídeos
Triodontophorus serratus
Triodontophorus tenuicollis Piolhos

Damalinia equi
Pulmôes
Haematopinus asini
Cistos hidáticos
Ácaros
D ictyocaulus arnfieldi
Ácaros da colheita
Fígado Chorioptes equi
Demodex equi
Cistos hidáticos Psoroptes cuniculi
Fasciola hepatica Psoroptes equi
Relações Hospedeiro/Parasita 257

Sarcoptes scabiei Babesia equi


Cryptosporidium parvum
Carrapatos
Ehr/ichia equi
Carrapatos ixodideos Ehrlichia risticii
Eimeria leuckarti
PROTOZOÁRIOS/RIQUÉTSIAS Sarcocystis spp.
Toxoplasma gondii
Babesia caballi Trypanosoma spp.
PARASITAS DE CÃES E GATOS Capillaria aerophila
Crenosoma vulpis
HELMINTOS Filaroides hirthi
Filaroides milksi
Mammomonogamus lerei
Esôfago
Metathelazia spp_
Spirocerca lupi Oslerus (Filaroides) osleri
Paragonimus spp.
Estômago
Fígado
GnathoSloma spinige rum
Ollulanus tricuspis Capillaria hepatica
Physaloptera spp_ Metorchis spp_
Spirura ritypleurites OpislOrchis spp_
Platynosomum fastosum
Intestino delgado
Vasos sangüíneos
Alaria spp_
Ancylostoma braziliense Angiostrongylus vaso rum
Ancylostoma caninum Dirofllaria immilis
Ancylostoma tubaefomze Curltia spp_
Diphyllobothrium latum Schistosoma incognitum
Dipylidium caninum
Echinococcus granulosus Músculo, pele e tecido conjuntivo
Echinococcus muLtilocularis
Nanophyetus spp_ Dipetalonema reconditum
Spirometra spp_ Dirofilaria repens
Strongyloides stercoralis Rhabditis spp_
Taenia hydatigena
Taenia krabbei Olho
Taenia multiceps
Taenia ovis Thelazia californiensis
Taenia pisiformis
Taen ia serialis
Trato urinário
Taenia taeniaefonnis
Toxascaris leonina
Toxocara canis
Capillaria plica
Dioctophyma renale
Toxocara cati
Trichinella spiralis
Uncinaria stenocephala ARTRÓPODES

Intestino grosso Moscas

Tric huris serrata Clossina spp_


Trichuris vulpis Mosquitos
Mosquitos-palha
Pulmães
Piolhos
Aelurostrongylus abstrusus
Anaftlaroides spp_ Felicola subrostratus
Relações Hospedeiro/Parasita 259

Linognathus setosus Pentastomídeos


Trichodectes canis
Linguatula serrata
Pulgas
PROTOZOÁRIOS/RIQUÉTSIAS
Ceratophyllus gallinae
Ctenocephalides canis Babesia canis
Ctenocephalides felis 8abesia felis
Pulex irritans Babesia gibsoni
Spilopsyllus cuniculi Besnoitia besnoiti
Cryptosporidium parvum
Carrapatos Cytauxzoon spp.
Ehrlichia canis
Carrapatos ixodídeos Encephalitozoon cuniculi
Ixodes canisuga Entamoeba histolytica
Otobius megnini Giardia lamblia
Haemobartonella felis
Ácaros Hammondia hammondi
Hepatozoon canis
Ácaros da colheita Isospora canis
Cheyletiella blakei Isospora felis
Cheyletiella yasguri Isospora ohioensis
Demodex canis Isospora rivolta
Notoedres cati Leishmania spp.
Otodectes cynotis Neorickettsia helminthoeca
Pneumonyssus caninum Neospora caninum
Sarcoptes scabiei Sarcocystis spp.
Toxoplasma gondii
Trypanosoma spp.
PARASITAS DE AVES DOMÉSTICAS ARTRÓPODES

HELMINTOS Moscas

Esôfago e papo Pseudo/ynchia spp.

Piolhos
Capillaria conforta
Gongylonema ingluvicola Co/umbicola spp.
Ornithostrongy lus quadrirad iatus ClIclotogaster spp.
Goniocotes spp.
Pro ventrículo Goniodes spp.
Holomellopon spp.
Dispharyn.x spp. Lipeurus spp.
Echinuria spp. Menacanthus spp.
Tetrameres spp. Menopon spp.

Moela Pulgas

AmidoSlomum anseris CeralOphyllus gallinae


Cheilospirura spp. Echidnophaga gallinacea
Histiocephalus spp.
SI rep/acara spp. Ácaros

Intestino delgado De rmanyssus gal/inae

... Amoebotaenia sphenoides


Ascaridia columbae
Knemid ocoptes gallinae
Knemidocoptes mutans
Knemidocoptes pi/oe
Ascaridia dissimilis Laminosioptes cyslicola
Ascaridia galli Ornithonyssus bursa
Capilla ria caudinflata Ornithonyssus sylvarium
Capillaria obsignata
Choanotaenia infundibulum Carrapatos
Davainea proglottina
Filicollis spp. Argas persicas
Hartertia spp. Argas reflexus
Polymorphlls spp.
Raillietina echinobothridia PROTOZOÁRIOSI RIQUÉTSIAS
Strongyloides avium
Trichostrongylus tenuis Aegyptianellia pullorum
Cryptosporidium baileyi
Intestino grosso Cryptosporidium meleag ridis
Eimeria spp.
Heterakis gallinarum Haemoproteus spp.
Heterakis isolonche Hexamita meleag ridis
Trichostrongylus renuis Histomonas meleagridis
Leucocytozoon spp.
Pulmões Plasmodium spp.
Toxoplasma gondii
Syngam us trachea Trichomonas gallinae
Relações Hospedeiro/Parasita 261

FONTES DE INFORMAÇÕES ADICIONAIS


Informações gerais sobre parasitas de interesse veterinário e Georgi, 1.R. & Georgi, M.E. (1992) Canine Clinica'l Para-
as doenças que causam encontram-se publicadas numa ampla sitology. Lea & Febiger, Philadelphia, PA.
variedade de livros textos e revistas referentes~ por exemplo, Kettle, D.S. (1984) Medical and Veterinary Entomology. Croom
medicina interna, patologia e pesquisas de doenças de animais. Helm, Beckenham.
Sugere-se a lista de livros e revistas a seguir como fonte mais Levine, N.D. (1985) Veterinary Protozoology. Iowa State Press,
detalhada de infonnações sobre diversos aspectos de parasitologia Ames, lO.
veterinária, mas qualquer pessoa com acesso aos sistemas de Reinecke, R.K. (1983) Veterinary Helminthology. Butterworths,
pesquisa bibliográfica de uma biblioteca moderna pode obter Durban.
facilmente as informações mais atuais sobre qualquer parasita. Roberts, R.J. (1989) Fish Pathology. Balliere Tindail, London.
Roberts, R.I. & Shepherd, CJ. (1986) Handbook of Trout and
LIVROS TEXTOS Salmon Diseases. Fishing News Books, Oxford.
Sloss , M.W. & Kemp, R .L. (1978) Veterinary Clinical
Adam, K.M.a., Paul, J. & Zaman, V. (1971) Medical and Parasitology. Iowa State Press, Ames, 10.
Veterinary Protozoology. Churchill Livingstone, Edinburgh. Soulsby, EJ.L. (1982) Helminths, Arthropods and Protozoa af
Brown, L. (1993) Aquaculture for Veterinarians. Pergamon, Domesticated Animais. Balliere Tindall, London.
Oxford. Williams, H. & lones, A. (1994) Parasitic \Vorms ofFish. Taylor
Debuf, Y. (1994) The Veterinary Formulary. The Phannaceuti- & Francis, London.
cal Press, London.
Flynn, RJ. (1973) Parasites of Labaratory Animais. Iowa Slate REVISTAS
Press, Ames, lO.
Georgi, 1.R. & Georgi, M.E. (1990) Parasitology for Veterina- Parasitology Today, Elsevier Trends Joumals.
rians. W. B. Saunders & Co., Philadelphia, PA. Veterinary Parasitology, EIsevier.

, "
íNDICE ALFABÉTICO

A - do " norte", 48 - Argas, 164


- Gaigeria, 50 - controle de, 164
Acanthocephala. 87 - no homem, 50 - Omithodoros, 164
Acantocéfalos, 3 - - Ancylostoma duodenale, 50 - Otobius, 164
- de aves aquáticas, 88 - - Ne(;ator americanus, 50 Arthropoda, 123-188
Acanlar Ancylostoma, 37,46-50 - classificação, 124
- braziliense, 46, 48 - estrutura e função, 123, 124
- definição de, 87
Acaricidas, 163
- caninum , 46-48 Artrópodes
- - ciclo evolutivo, 46, 47 - classificação dos, 124
Acarina, 157
- - controle, 48 - em aves domésticas, 260
Ácaros, 157, 164-179
- - diagnóstico, 47, 48 - em bovinos, 251, 252
- controle de, 236
- - epidemiologia, 47 - em cães e gatos, 258, 259
- da sarna, 175
- - patogenia, 47 - em eqUinos e a~ininos, 256, 257
- diagnóstico laboratorial, 245
- - sintomatologia clínica, 47 - em ovinos e caprinos, 253, 254
- do norte, 177
- - tratamento, 48 - em suínos, 255
- escavadores, 165- 171
- duodenale, 50 - imunidade adquirida por, 232
- - Demodex, 169-171
- identificação, 46 Asas cervicais e caudais
- - Knemidocoptes, 168, 169
- Necator americanus, 50 - definição de, 6
- - NOlOedres, 168
- tubaeforme, 46, 48 Asc;llideos, 59
- - Sarcoptes, 166-168
Ancylostomidae, 46 Ascaridia
- não-escavadores, 165, 171- 178
Anemia(s) - ciclo evolutivo, 66
- - Cheylelidae, 175-177 - causada - columbae, 66
- - Dennanyssidae, 177, 178 __ por r.arrapato.~, ?19, 226 - cliaenóstico, fifi
- - Psoroptidae, líl - - por Trypanosoma, 187 - dissimilis, 66
- parcialmente parasitas, 178, 179 - epidemiologia, 66
- hemorrágica aguda
- vennelho, 177 - - em hemoncose ovina, 18 -galli,66
Adubo orgânico, papel do Angiostrongilose canina, 56 - identificação, 66
- em ambiente não contaminado, 227 Angiostrongylus, 55, 56 - patogenia e sintomalOlogir. clínica, 66
Aedes, 129 - cantonensis, 56 - tratamento e controle, 66
Aegyptiallella pullorum, 219 - ciclo evolutivo, 56 Ascaridíase, 60
Aelurostrongy/us, 54, 55 - controle, 56 - no homem, 60
- abslrusus, 54 - diagnóstico, 56 Ascaridoidea, 4 , 59
- ciclo evolutivo, 55 - epidemiologia, 56 Ascaris, 59, 60
- controle, 55 - identificação, 56 - lumbricoides, 60 ~
- diagnóstico, 55 - patogenia, 56 - suum, 59, 60
- epidemiologia, 5S - sintomatologia clínica, 56 - - ciclo evolutivo, 59
- identificação, 55 - tratamento, 56 - - controle, 60
- pawgenia, 55 - vasorum, 56 - - diagnóstico, 60
- sintomatologia clínica, 55 Anisakidae, infecção por, 67 - - epidemiologia, 60
- tratamento, 55 Anopheles, 129 - - identificação, 59
Agriostomum vryburgi, 50 Anoplocephala,1l2-1l4 - - patogenia, 60
Alaria, 104 - ciclo evolutivo, 113 - - sintomatologia clínica, 60
Amastigota, 191 - diagnóstico, 114 - - tratamento, 60
Amblyomma - epidemiologia, 114 Ascarops srrongylina , 74
- americanum, 161 - identificação, 113 Aumemo em contagens de ovos nas fezes
- cajennense, 161 - magna, 113 - de primavera, 8
- hebraeum, 161 - patogenia, 113 - peripuerperal (APP), 8
- macu/atum, 16 1 - peifoliata, 113 - p6s-puerperal, 8
- variegatum, 161 - sintomatologia clfnica, 113 A vennectinas, 234, 236
AmidoslOmum anseris, 36 - tratamento e controle, 11 4 AvirdliM cenrripunctata, 118
Amoebotaenia sphenoides, 11 7 Anoplocephalidae, 112
Anafilaroides, 57 Anoplura, 147
Anaplasma, 218, 219 - Haematopinus, 147 B
- centra/e, 218 - Linognathu:>, 147
- ciclo evolutivo, 218 - Solenopotes, 147 Babesia, 210-212
- controle, 219 Anthomyidae, 133 - bigemino, 211
- diagnóstico, 219 Antigênica, variante - bovis, 211
- epidemiologia, 218, 219 - em tripanossomos, 188 - caballi, 211
- identificação, 218 Anti-helmínticOS,233 - canis, 211
- marginale, 218, 187 - administração, métoXlos de, 234, 235 - ciclo evolutivo, 211
- patogenia, 218 - grupos químicos de, 234 - controle, 212
- sinlOmatologia clínica, 218 - modo dc ução, 233, 234 - diagnóstico, 212
- tratamen to, 219 - propriedades de compostos, 233 -divergens, 187,211
Anaplasmose, 133, 218 - resistência a, 235 - epidemiologia, 212
- causada por carrapatos, 218 - uso - - fatores que se interagem
Ancilóstomo(s), 37 46-50 - - profilático, 233 - - - estado imune do hospedeiro, 2 I 2
- A griostomum vryburgi, 50 - - terapêutico, 233 - - - estresse, 212
- de cães e gatos, 46 Antimaláricos,217 - - - idade do hospedeiro, 212
- Anc)'lostonw, 46-50 Arachnida, 157 - - - nível de desafio do carrapato, 212
- - - braziliense, 46, 48 Argas - - virulência da espécie, 212
- - - cmzinum, 46-48 - persicus, 164,219 - equi, 211
- - - lubaeform e , 48 - - transmissor - felis, 211
- - Uncinaria srenocephala, 48, 49 - - - da Aegyptianella pullorum, 164 - gibsoni, 211
- de ruminantes, 49 - - - da Borrelia anserina, 164 - identificação e morfologia, 21l
- - Bunostomum - reflexus, 164 - inJecção transovariana, 2 10
- phlebotomum, 49 Argasidae, 164 -major, 187,211
- - - trigonocephalum , 49 Argasídeos - motasi, 211
[ndice Alfabético 263

- ovis, 2 11 - - o.rmu/ata. 84 - epidemiologia. patogenia e tratamento, 174


- patogenia. 21 1 - - callditif!ata, 84 - eqlli. 174
- perroncilOi. 211 - - contorta, 84 ·ovis, 174
- sintomalOlogia clfnica, 211 - - controle, 84, 85 - sarna cotióptica
- transmissão tranSCSladial, 21l - - diagnóstico, 84 · . de bovinos, 174
- tratamento, 212 - . epidemiologia, 84 - - de ovinos, 174
- Iraulmanni, 211 - - oosi8na/a, 84, 85 - - eqüina, 174
Babésias - - patogenia e significado clínico, 84 Chrysemia
- grandes, 21l - - tratamento, 84 - a/bíceps, 138
- pequenas, 21l - em mamíferos, 85 - chlorophyga, 138
Babesiose, 212-214, 227 - - aerophila, 85 - micropogon, 138
- de bovinos, 212, 213 - - hepa/ica, 85 - rufifaeies, 138
- - norte da Europa. 212, 213 - - plica , 85 Ch rysops, 82
- - trópicos c subtrópicos, 213 Caramujos Ciatostomíneos, 37, 40
- de cães, 2 14 - infecções Ciliophora, 217
-de equinos, 161.2 14 - - de inverno. 93 Cistacanto
- de gatos, 214 - - de verão, 93 - definição de, 87
- de ovinos e caprinos. 213, 214 - redução de população de, 96 Cisticerco
- de suínos, 214 Carbamatos. 236 · defi nição de, 105
- no homem, 214 Carbúnculo hemático, 133 Cisticercóide
Balantidium colí Carrapato(s),158-164 - definiçãO de, 106
- ciclo evolutivo, 217 - amarelo do cão, 161 Cisticercose, 227
- identificação, 217 - ciclo evolutivo. 158 Citóstcma. 183
- patogenia e importância. 217 - controle de, 163,236 Clonorr:his sinensis, 10 1
"Barbeiros", 190 -dapara1isia, 159, 161 Clostridioses, 94
BenzimidazÓis. 234 - das aves, 164 Clos/riaium novyi, 94
Bemes - - Argas persiclIs, 164 Crlemidocoptes, 168
- controle dos, 236 - diagnóstico laboratorial. 245 Coccidia, 196
- definição de, 143 - dos animais domésticos, 16 1 - Eimeriidae, 196
Besflai/ia besnoiti, 210 - duros, 158 - Sarcrxys/idae, 196
Bilhaniose, 104 - estrurura do. 158 Cocddios, 197
Bolsa copuladora - febre do. 219 - ciclos evolutivos de, características dos. 210
- defi nição de, 6 - feijão, 158, 160 Coccidio$C, 196, 223, 227
Boophilus, 218 -inglêsdocão, 159, 160 - de aves doméslicas, 199
- annularus, 161 - moles, 158 --cecal,199
- decolara/us , 161 - não-ornamentados, 159, 161 - - controle, 200, 20 I
- microplus, 161 - ornamentados, 158, 161 - - diagnóstico, 200
B6trias - tox icose do, 162 - - do intestino dclgado, 199,200
- defi nição de, 119 - vacinas contra, 163 - - tratamento, 200
Brachyccra, 131 Celoma - de bovinos, 20 I
Bradizoítos, 204 - definição de, 123 - de cães e gatos, 202, 203
· definição de, 205 Celular, degeneração - de coelhos. 202
Bronquite parasitária, 30, 32, 34 - por Tryparlosoma. 187 - de eqüinos, 202
- controle da, 33 Cenuro - de ovinos e caprinos, 20 I, 202
· em bovinos adultos, 34 - defi nição de, 105 - de suínos, 202
- pós-patente, 32 Cepa do parasita Cochliomyia, 161. 183-'"
- síndrome de reinfecção, 34 - influência de fatores genéticos em, 227 Coe1/U11lS
Brucello. abortus, 80 Cep/'o.lopina. 146 - cerebralis, 107, 109
8rugia Cephalopsis. 146 - serialis, 107, 109
- ma/ayi. 82 Cepherlemyia Co/umbicola, 148
· paho.ngi, 82 - auribarbis, 145 - co/umbae, 153
8u/inus, 100, 102 - /rompe, 145 Conservação de anrópodes. 245
BIIIlOstomllm, 37, 49, 50 Ceratophy/Jus gallinae. 157 Contagem
- ciclo evolutivo, 49 Ceratopogonidae, 126 - de larvas no pasto, técnicas de, 244
- diagnóstico, 50 - Culicoides, 126, 127 - de ovos nas fezes, aumento peripuerperal, 8
- epidemiologia, 49, 50 Cercárias - de vermes, métodos de, 241
- identificação, 49 . definição de, 89 Controle e profilaxia
· patogenia e sintomatologia clínica, 49 Cestoda, 88, 104-120 - em bronquite parasitária, 33, 34
- ph/ebO/omum, 49 - Cyclophyl1idea. 104·118 - - vacina de verme pul monar. 33
- tratamento e controle, 50 - Pseudophyllidea, I UI-120 - em gastrenterite parasitária, 29, 30
· /rigollocephalllm, 49 Cestóides, 106 - . propriedades com pastejo alternado
- diagnóstico laboratorial, 244 - - - profil axia por manejo de pasto, 30
Cey/o1/ocory/e, 101 - - - profilaxia por manejo de pasto e anti-helmínticos, 30
c Chabertia, 37, 41, 42 - - propriedades de pasto permanente
- ciclo evolutivo, 41, 42 - - - profilaxia por anti.helmínticos, 29
Calliphora, 138. 183 - diagnóstico, 42 - - - profilaxia por pastejo alternado, 30
· austro./is, 138 - epidemiologia, 42 Cooperia, 22-25
· erylhrocepha/a, 138 - identificação, 41 - ciclo evolutivo, 23
·falJo.x, 138 -ovina. 41 - cunicei, 22-24
- srygia, 138 - ovis. 41 - diagnóstico, tratamento e controle, 23
· vomitQria, 138 - patogenia. 42 - epidemiologia, 23
Calliphoridae, 126, 138-140 - sintOmatologia cJ{nica. 42 - identificaçãO. 23-25
· ciclo evolutivo, 138 - tratamento e controle, 42 - mcmasteri, 22
- controle, 139. 140 Chei/ospimra, 74 - oncophora. 22-24
· diagnóstico, 139 Cheyletidae, 175 - patogenia, 23
· epidemiologia, 138, 139 Chey/etiella, 176. 177 - pectinata, 22·24
· ery/hrocepJra/a. 138 - b/akei, 176 - punctata. 22-24
· Luci/ia :'õerico./o., 138 - ciclo evolutivo, 176 · sintomatologia clínica, 23
· mirare causada por, 138, 140 - diagnóstico, 177 - surnabada, 22, 23
· morfologia, 138 - epidemiologia e patogenia, 176, 177 Cor"ddio
· patogenia. 139 - morfologia. 176 - defini;:ão de, 119
· Phormia terrae-nOvae, 138 - parasi/ivorax, 176 Cordy{obia OIlIhropophaga, 140
· sintomatologia clínica, 139 - tratamcnto e controle, 177 Coroas lamelares
· tratamento, 139 - yasgllri, 176 - defini·;:ão de, 5
· vomitoria, 138 Choarlotaenia inful1dibulum, 117 Coty/ophororl. 10 1
Campa" otlls, 99 Clwriopfel Cu.úellu uumetii, 2 19
Capil/aria, 84 . 85 - oovis, 174 Crenosoma, 56, 57
· em aves - ciclo evolutivo, 174 - ciclo evolutivo, 57
2f).! índice Alfabético

-~57 Demodex, 169- 171 - sintomatologia clínica, 99


- 3IgDóstico, 57 - bovis, 169 - tratamento, 99
- ~ologia, 57 - canis, 169 Dictiocaulose, 30
- JlkntificaçãO. 56, 57 - ciclo evolutivo, 169 Dictophymatoidea
- patogenia. 57 - diagnóstico, 170 Dicl)'ocalll/ls, 9, 30-36
- sinlOmatologia clínica, 57 - epidemiologia, 170 - arnfieldi. 30, 34, 35
- trntamenlO, 57 -equi,169 - - ciclo evolutivo, 34
- \lI/pis, 56 - folliculorwn, 169 - - controle, 35
Criptosporidiose - morfologia, 169 - - diagnóstico, 35
- no homem, 204 - patogenia, 170 - epidemiologia, 35
Crivellio, 145 - phylloides, 169 - - patogenia, 34, 35
CT)ptosporidium, 188, 203, 204 - sarna demodécica, 170, 171 - - sintomatologia clfnica, 35
- baileyi, 203 --de bovinos. 171 - - tratamento, 35
- ciclo evolutivo, 203 -- de cãeS, 170 - filaria, 30, 35, 36
- me/eagridis, 203 - - de caprinos, 171 - - ciclo evolutivo, 35
- parvum, 203 - - de eqüinos, 171 - diagnóstico, 36
- patogenia, 203 - - de gatos, 170 - - epidemiologia, 36
- U'atamento, 204 - - de ovinos, 171 - - patogenia, 36
Clenídeos - - de suínos, 171 - - sintomatologia clínica, 36
- definição de, 154 - trdtamento, 170 - - tratamento e controle, 36
Cunocephalides, 154, 155 Demodicidae, 169 - identificação. 30
- canis. 115, 154 Demodicose, 169-171 - vivipanls, 3Q..34
- com clenideos. 155 - canina, 169 - - bronquite parasitária. 32, 34
-fe/is. 115, 154 - escamosa. 170 - - - em bovinos adultos, 34
- sem clenídeos, 155 - pustular, 170 - - - s(ndrome de reinfecção em. 34
Cuclotogaster, 148 Dermacentor - - ciclo evolutivo, 30, 3 1
- heterographus, 153 - andersoni, 161 - - controle, 33, 34
Cu/ex, 129 - - transmissor - - diagnóstico. 33
Culicidae, 126, 129·13 1 - - - daAI/ap/asma marginale, 161 - - epidemiologia, 32
- ciclo evolutivo geral, 129, 130 - nitens, 16 1 - - - fase de penetração, 31
. controle, 130. 131 -reticulatu.f, 16 1, 182 - - - fase patente. 31
- imponância patogênica, 130 - - transmissor - - - fase pós-patente, 32
- morfologia geral, 129 - - - da 8abesia, 161 - - - fase pré-patente, 31
- transmissor - variabilis, 161 - - patogenia, 31, 32
- - da encefalite eqUina, 130 - - transmissor - - sintomatologia cl(nica, 32
- - da febre amarela, 130 - - - da Anaplasma margina/e, 161 - -tratamento. 33
- - da malária, 130 Dermanyssidae, 177 Dieta
Culicoides, 80,126,127 Dermanyssl4s - alteraçãO nos efeitos de uma infecção, 225, 226
- ciclo evolutivo, 127 - ciclo evolutivo, epidemiologia e patogenia, 177 Digenea,88
- controle, 127 - gallinae, 177 Dilatação linfóide
- imponância patogênica, 127 - morfologia, 177 - por Trypanosoma, 187
- morfologia, 126, 127 - tratamento e controle, 177 Dilepididae, 115
- transmissão de doenças Dennatobia, 144, 145 Dioctophyma, 86, 87
- - cutânea de eqUinos, 127 - ciclo evolutivo, 144 - ciclo evolutivo, 87
- - virais, 127 - controle, 145 - controle, 87
Cutícula - llOminis. 144 - di agnósti co, 87 ,
- defin ição de, 5 ~ importância patOgênica, 144, 145 - distribuiçãO, 86
- do carrapato, 160 - morfologia. 144 - epidemiologia. 87
Cowdrio ruminolltium, 161 Desenvolvimento e sobrevivência. 7, 224, 225 - identificação. 87
Cowdriose, 161 - de estágios infectantes, 224, 225 - patogenia, 87
C)'athostomum, 37, 40 - - fatores que afetam - rena/e , 86
Cyclophyll idea, 104- 106 - - - desenvolvimento sazonal, 225 - sintomatologia clínica, 87
- ciclo evoluti vo, 105, 106 - - - manejo do rebanho, 225 - tratamento, 87
- estrutura e função dos, 104, 105 - - - micro·habitat, 224, 225 Dioctophymatoidea, 4, 86
Cyclops, 119 - larval, 7 Di~la/QlIema, 127
Cyclorrhapha, 126, 133 - - inibido, 8 - recondilllm, 79.154
Cy/icocyc/us, 40 - - reprimido, 8 Diphy/fobothrium, 119, 120
C)'licodol1tophorus, 40 Diag nóstico laboratorial, 239-246 - ciclo evolutivo, 119
Cylicostephanus, 40 - de infecções - controle, 120
Cysticercus - - por ectoparasitas, 245 - diagnóstico, 120
- bovis. 80,106,107 - - por helmintos, 239-245 - epidemiologia, 120
- cellulosae. 107, 108 - - - colheita de fezes, 239 - identificação, 119
- fasciolaris, 107, 109 - - - contagens de larvas no pasto, 244, 245 -/atum, 119
- ovis, 107, 109 - - - cultura e identificação de larvas, 241 - patogenia e sintomatologia clínica, 120
- pisiformis, 107, 109 - - - métodos de exames de fezes, 239-241 - tratamento, 120
- strobilocercus, 107 - - recuperação nas vias aéreas, 243, 244 Diplostomatidae,l04
• tarandi, 107 - - - recuperação no fígado, 244 Diptera, 125- 147
-tenuicollis, 107, 109 - - - recuperação no trato digestivo, 241-243 - classificação dos. 126
Cystocaulus, 5 1 - - teSte do pepsinogenio plasmático. 244 --Brachycern, 126. 131- 133
Cysloisospora, 197 - - por protozoários, 245. 246 - - Cyclorrhapha, 126, 133-147
Cyt.auxzoon, 217 - - - exame de amostras de fezes, 245 - - Nematocera, 126-13 1
CJIOecetes, 2 19 - - - exame de pele, 246 Dipylidium, 115-117
-lJIIIdiri,252 - - - exame de sangue e linfa, 246 - callinum. 115, 154. 155
Diapausa, 224 - ciclo evolutivo, 116
Dicópücos - d iagnóstico. 117
D - defi nição de. 123 - epidemiologia, 11 7
Dicrocoeliidae, 88, 98 - identificação, 116
o-ilinia. 147 Dicrocoelium, 98, 99 - patogenia e sintomatologia clínica. 116, 117
-bons. 1..;9 - CampGllotus, 99 - Iratamento e controle, 117
-npi.152 - ciclo evolutivo, 98, 99 Dirofilaria, 77
-mil_ ISI - controle, 99 - ill/mitis, 77-79
Dm-ainea - dcndriticum, 98, 99 - - ciclo evolutivo, 78
- idmtificação. 117 - diagnóstico, 99 - - controle. 79
- patogenia e controle, 117 - epidemiologia, 99 - - diagnóstico, 79
- prozlottina. 117 - Formica, 98 - - distribuição, 77
Dn"3ineKiae. 117 - ho.'õpes, 99 - - epidemiologia, 78
[)egeoeIação celular - identificação, 98 - - patogenia. 78
- ;xI TQptUlQsoma, 187 - patogenia, 99 - - sintomalOlogia clínica, 78
1

índice Alfabético 265

• • tratamento. 79 - bnmetti, 196, 199 Espiroquetose aviária, 164


· repens, 79 - caracteres diferenciais de espécies de, 200 Espirurideos,73
Dirofilariose,77 -ciclo evolutivo, 196, 197 - de aves domésticas, 74, 75
Disenteria amebiana - • esporulação. 196 - de caro/voros, 74
· no homem, 184 - - gametogonia e formação de oocisto, 197 - de suínos. 74
Displlarynx, 74 - - infecção e csquizogonia, 196, 197 Esplenomegalia. 187
Doença(s) · coccidiose, 199-203 Esporoblaslo
- "cabeça negra", 194 - - de aves domésticas, 199-201 - definição de, 196
·'·dasancas",190 - - - cecal, 199 Esporocisto
· de Chagas. 190 - - • do intestino delgado, 199 - definição de, 89, 196
· "do sono", 190 • - de bovinos, 201 Esporogonia
· parasitárias - - de cães e gatos, 202, 203 - definição de, 184
· - epidemiologia de, 223-228 - - de coelhos, 202 Esporozoítos, 196
- - - alteração na suscetibilidade a infecção, 225, 226 - - de eqüinos, 202 - definição de, [83
- - - aumento no número de estágios infectantes, 223-225 - - de ovinos e caprinos, 201,202 Esquistossomose
- - - de animais suscetíveis em ambiente contaminado, - - de suínos, 202 - bovina, 102
226,227 - controle, 200, 201 - nasal, 104
- - - infecção num ambiente não cOnlaminado, 227, 228 - cralUJallis, 196, 20 1 - - Schisrosoma nasalis, 104
- - resistência a, 229-232 - (lebliecki, 196.202 - no homem, 104
- - - de espécies. 229 - diagnóstico, 200 - - Sclristosoma
- - - etária, 229 - epidemiologia e imunidade. 198, 199 - - - haenratobium, 104
· - - imunidade adquirida, 230·232 - flavescel/S, 196, 202 - - - japonicum, 104
· - - racial, 229 • identificação - - . mansol/i, 104
- - - vacinas, 232 - - estágios teciduais, 196 - ovina, 102
- por protozoários - - oocistos, 196 Esquizogonia
- - babesiose, 227 - intestillali.f, 196, 202 -dcfiniçãode, 184
- - coccidiose, 227 -/euckarti, 196,202 Esquizontes, 204
- - teileriose, 227 - maxima, 196, 199 - defi nição de, 184
- - toxoplasmose, 227 - meleagrimitis, 196, 199,200 Estafilococose enzoótica, 220
- surro. 190 - mitis, 196, 199 Estágios infectantes
- virais - lIecCltrix, 196, 199 - aumento no número de. 223·225
- - "doença do cavalo africano", 127 - nilwkoh/)'akimovae. 196 - desenvolvime nto e sobrevivência de, 224. 225
- - "língua azul", 127 - nocellS, 196,200 - - fatores que afetam
Drascllia megasfOma, 72 - ovillOidalis, 196,201,202 - • - desenvolvimento sazonal, 225
Durina, 190 · patogenia, 199 · - - manejo do rebanho, 225 ,
• stiedae, 196, 202 · - - micro-habitat, 224, 225
- Ienella, 188, 196, 199 - longevidade de, 227
E - tratamento, 200 Estefanofilariose,77
- truncata, 196, 200 Esteróides, terapia com
Echidllophaga gallillacea, 157 - ZlIemii, 196,201 - alteração nos efeitos de uma infecção, 226
EcllillQcoceus, 110-1 12 Eimeriidae, 196 Estróbilo
- granulosus, 110-11 2 - Cryptosporidium, 203, 204 · definição de, 104
- - ciclo evolutivo, 110 - Eimeria, 196. 197 Estrobilocerco '
- - diagnóstico, III - /sospara, 197-199 - definiçãO de, 105
- - epidemiologia, II I Elaeopllora, 81, 82 Estrongiloidose, 58
- - equillus, 110, III - bohmi, 81 - no homem, 59
- - granulosus, 110, III - ciclo evolutivo, 82 Estrôngilos, 37
- - identificação, 110 - diagnóstico, 82 ~- de eqUinos, 37-39
- - patogenia e sintomatologia clínica, I II - epidemiologia, 82 - . ciclo evolutivo, 37
- - tratamento, 112 - identificação, 82 - - identificação, 37
- multi/oeularis, 112 - patogenia, 82 - . patogenia, 38, 39
- - ciclo evoluti vo e patogenia, 112 - poeli, 8 1 - - - adul tos, 39
- - epidemiologia e significado, 112 - schneideri, 81 - - - larvas. 37
- - identificação, 112 - sintomatologia clínica, 82 - - Slrong)'lus
Echinllria , 74 - tratamento, 82 - - - edent01us, 37, 38
Eclosão, do parasita, 7 E/aphostrong)'/us cervi, 52 - - - equillus, 37, 38
Ectoparasims Embrióforo - - - v/I/garis, 37, 38
- conservação de - definição de, 105 - grandes
• • em diagnóstico laboralOrial, 245 Encefalomielite enzoótica, 220 - - Srrongyllls, 37-39
- de aves domésticas, 238 EncephalitoZQoJl cuniculi, 217 - - Triodomophoms, 39
• diagnóstico laboratorial, 245 Endodiogenia - pequenos
Ectoparasiticidas (inseticidas/acaricidas) - definição de, 204 - - ciatostomíneos, 40
- método de aplicação e usos de Emalnoeba histolytica, 184 - - triconemas, 40
- - em animais de estimação, 237,238 Emerobius venJlicularis, 69 Estrongilose, 40. 41
- - - aerossóis, 237, 238 Entomologia, 12 1- 188 - eqüina
- - - coleiras inseticidas, 238 Enzoótica, instabilidade, 212 - - controle, 41
- - - pós para polvilhar, 237 Eper)'lhrozoon. 188,219 - - diagnóstico, 41
- - - preparações orais, 238 - ovis,219 - - epidemiologia, 40
- - - soluções, 238 - .fuis, 15 1,219 - - sintomatologia clínica, 40
- - em aves domésticas, 238 · wellyoni, 2 19 - - tratamento, 41
- - em grandes animais, 236, 237 Epidemiologia de doenças parasitárias Eucarióticos, organismos, 183
- - - brincos, coleiras e faixas, 237 - alteração na suscetibilidade II infecção, 225, 226 EUl}'trtma p~nerearicum, 99
- • - métodos tradicionais, 237 - aumento no número de estágios infectantes, 223-225 EII!rombicola, 178
- - - pour·on, spot-on ou spray ,oll, 237 - infecção em am biente não contaminado, 227, 228
- - - tratamento parenteraj, 237 • parasitismo em animais suscetíveis para ambieme F
• modo de açao, 236 contaminado, 226, 227
- resistência aos, 238 - revisão geral, 223-228 Fannia,72, 133
Ehr/ichia, 2 19, 220 Epimastigota, 187 Fasciola, 89-98
- canis, 219 Escabiose, 166 - gigall/ica. 97,98
- phagocyrophila, 188.2 19 Escólex - - ciclo evolutivo, fJ7
Eimeria - definição de, 104 - - controle, 98
- acen'ulina, 196, 199 Esparganose, 120 - - diagnóstico e tratamento, 98
- adenoeides, 196, 199,200 Espennateca - - epidemiologia, 97, 98
- alabamensis , 196,20 1 - definição de, 124 - - identificação, 97
- all$eris, 196, 200 Espfculos _. Lymnaea
- (Irloingi, 196, 202 - definição de, 5 - - - acrmrinata. 97
- bakuensis, 188, 196,202 Espiráculos - - - rrara/ensis , 97
- bovis, 196,201 - definição de, 123 - - - rubiginosa. 97
266 Índice Alfabético

- - - nrfescens, 97 Flagelo Habronemose


- - patogenia e sintomatologia clínica, 97 - definição de, 183 - cutânea, 71
~ ~p{ltica, 50, 89-97 Flebotomídeos hematófagos, 191 - gástrica, 71
- • ciclo evolutivo, 90 Fonnamidinas, 236 Haemaphysalis, 158, 160, 161
- - controle, 96, 97 Fonnica,98 - ieachi, 16 1
~ ~ ~ redução de população de caramujos, 96 - - transmissor
- ~ - uso de anti~helmínticos, 97 - ~ - da Babesia canis, 161
- - diagnóstico, 95 G - iongicornis, 161
- - epidemiologia, 91-94 - pll.nctata, 161
~ ~ identificação, 90 Gaigeria pachyscelis, 50 ~ ~ transmissor
- - infecção de caramujos Gametogonia - - - da Anap/asma centra/e, 161
- - - de inverno, 93 - definição de, 184 - - - da Anap/asma marginale, 161
- - - de verão, 93 Gamomes, 204 - - - da Babesia bigemil/a, 161
- - Lymnaea Gasterophilus, 41, 143, 144, 184 ~ - - da Bahcsia major, 161
- - - bulimoides, 90 - ciclo evolutivo, 143 - - - da Babesia matasi, 161
- - co/umella, 90 - controle, 144 - - - da Theileria, 161
~ haemorrhoidalis, 143
- - - diaphena, 90 - - - da Theileria ovis, 161
- - - humilis, 90 - importância patogénica, 143, 144 Haematobia, 71 , 76, 136
- tomenfosa, 90 - inermis, 143 ~ ciclo evolutivo, 136
- - - truncatu/a, 89 - intestinalis, 143 ~ controle, 136
~ morfologia, 143
- - - vimor, 90 - exigua, 136
- - patogenia e sintomatologia clínica, 94 -"moscasdebeme",143 - importância patogênica, 136
- - tratamento, 96 - nasa/is, 143 - irrital/s , 80, 136
Fasciolidae, 88, 89 - nigricornis, 143 - morfologia, 136
~ pecorum, 143
~ Fasclo/a, 89 - srimulans, 136
- Fasâoloides, 89 Gastrenterite ~ transmissor
- Fasciolopsis, 89 - hemorrágica - - da Steph<mofilaria, 136
Fascioloides magna, 98 - - em hemoncose ovina, 18 - - do filarídeo cutâneo, 136
Fasciolopsis buski, 98 - parasitária Haematobosca stimulans, 136
Fasciolose - ~ em ovinos, 29, 30 Haematopinus , 147, 149
~ bovina, 95
- - - controle, 29, 30 - asini, 152
- complexo fasciolose/ostertagiose, 95, 96 - ~ - epidemiologia, IS ~ eurysternus, 149
- - patogenia e sintomatologia clínica, 95 - - - tratamento, 29 - quadripertusus, 149
- - tratamento, 96 . ~ em ruminames, 9 - suis, 15 1
- controle de GastrodiSt"us,IOl Haematopo/a
- - redução de população de caramujos, 96, 97 Gedoelstia, 145 Haemobartonellafelis, 219
- - Sa/monella dublin, 95 Genética Haemollchus, 16-18
- - uso de anti-helmínticos, 97 Giardia lamblia, 195 - ciclo evolutivo, 18
- fatores que influem na, 91 Gigantocotyie, 101 - COlltor1US, 16, 17
- ovina, 94, 95 Giobidium, 202 - identificação, 16
- - aguda, 94, 96 G/o.l"silla, 136-138 - placei, 16
- - - patogenia e sintomatologia clínica, 94 - ciclo evolutivo, 137 -simi/iS, 16
- tratamento, 96 - controle, 137, 138 Haemosporidia
- - Clostridium nov)'i, 94 - distribuição, 137 - Haemaproteus, 217
- - crÓnica, 95, 96 - importância patogênica, 137 - Leucocymzoon, 217
- - - patogenia e sintomatologia clínica, 95 - morfologia, 137 - Piasmodium, 217
- ~ - tratamento, 96 - morsirans, 186 Halicephalobus dele/rix, 59
~ transmissor
- - subaguda, 94, 95, 96 Halteres
- - - patogenia e sintomatologia clínica, 94, 95 - - da tripanossomose, 137 ~ definição de, 124
- - - tratamento, 96 Glossinidae, 136 Hammondia hammolldi, 210
- previsão meteorológica de, 95 Gnathostoma Har1ertia, 75
Fasciolose/ostertagiose, complexo, 95, 96 - ciclo evolutivo, 73 Helmintologia, 1-120
~ diagnóstico, 73
Febre - acantocéfalos, 3, 87, 88
- amarela, 130 - d%resi, 73 - classificação, princípios de, 3
- da Costa Leste, 215 - epidemiologia, 73 - nematelmintos, 3-87
- do carrapato, 219 - hispidum, 73 - platelmintos, 88~ 120
- maculosa das Montanhas Rochosas, 161 - identificação, 73 Helmintos
~ patogenia, 73
- Q,161 - em aves domésticas, 260
Fe/ico/a, 148 - sintomatologia clínica, 73 - em bovinos, 251
- subrostrarus, 152 - spinigerum, 73 - em cães e gatos, 258
~ tratamento e controle, 73
Fenóis, 234 - em eqüinos e asininos, 256
Festõcs Gong)'lonema, 73, 74 ~ em ovinos e caprinos, 253
- definição de, 158 - ingluvicola, 73 - em suínos, 255
Fezes, exame de - pulchrum, 73 Hemimet;lbólico, ciclo evolutivo
- colheita de, 239 - verrucosum, 73 - definição de, 125
~ em infecções por helmintos, 239~241
Goniocotes, 148 Hemocele
- - cultura e identificação de larvas, 241 - gallinae, 153 - definição de, 123
- - métodos de, 239, 240 Goniodes, 148 Hemoncose, 18-20
~ dissimilis, 153
~ ~ ~ de flutuação, 239 - bovina, 19,20
~ - - de sedimentação, 240
- gigas, 153 - - fenÓmeno de autocura, 20
~ - ~ do esfregaço direto, 239
- me!eagridis, 153 - - Haemonchus
- pavonis, 153
- - - flutuação direta, 239 ---piacei,19
- - - McMaster, 239, 240 Gubernáculo ~ ~ ~ sim/lis, 19
- definição de, 5
~ em infecções por protozoários, 245 - caprina, 19
Ftlarioidea, 4, 75 Gur/tia.57
- - Haemonchus contortus, 19
Ftlariose no homem, 82, 133 - ovina
FiJaroidl!s H - - aguda, 18
- ciclo e....olutivo, 54 - ~ controle. 19
- controle, 54 Habrol/ema - - crÓnica, 18
- diagnóstico, 54 ~ ciclo evolutivo, 71 - - diagnóstico, 19
~ epidemiologia. 54 - diagnóstico, 71 - - epidemiologia, 18, 19
- hinhi, 54 - epidemiologia, 71 ~ ~ ~ áreas temperadas, 18, 19
- identificação. 54 - identificação,7 1 - - - em regiões tropicais e subtropicais, 18
- milksi, 54 - majus, 71 - - Haemonchuscontonus, 18
~ patogenia, 54 - microstoma, 71 . - hiperaguda, 18
- sintomalOlogia clínica, 54 ~ muscae, 71 - - palOgenia, 18
- tratamento, 54 - patogenia, 71 ~ - sintomatologia clínica, 18
Filicollis, 88 - tratamento e controle, 71 - - tratamento, 19
Índice Alfabético 267

Hepatozoon canis, 2 lO - tratamento, 25 - - - patogenia, 152


Helerakis, 6&-68 Hypoderma, 140-142 - sintomatologia clínica, 152
- ciclo evoluti\'o, 67 - bovis, 140, 184 - - - tratamento e controle, 152
- controle , 67 - cido evolutivo, 141 - - em ovinos
- diagnóstico, 67 - controle, 141, 142 - epidemiologia, 151
- epidemiologia. 67 - diana, 142 - - - patogenia, 151
- gal lillarum, 66. 194 - em cervídeos, 142 - - - sintomatologia clínica, 151
- identificação, 66 - em eqüinos, 142 - - - tratamento e controle, 151
- infecção por Anisakidae. 67 , 68 - em ovinos, 142 - - em suínos
- isolonche , 66 - importância patogênica, 141 - - - epidemiologia, 151
- patog enia e sintomatologia clínica, 67 - lineatum, 14ü, 184 - - - patogenia e sintomatologia clínica, 151, 152
- tratamento. 67 - morfologia geral, 140 - por pulgas, 156
Here rodoxus, 148 - "moscas do tumor", 140 Infiltrados inflamatórios, nos órgãos
Hexam ita meleagridis. 195 - por Trypanosoma , 187
Hidátide Insccta,124-157
- definição de, 106 - ciclo evolutivo, 125
Hidatidose - morfologia geral, 124
- eqüina, II [ Imidazotiazóis.234
l nsetos
- no homem, III Imune, resposta - diagnóstico laboratorial, 245
- aspecto negativo da, 231
Hipersensibilidade, reação de, 226 Isospora , 197
H ipobiose, 8, 224 - efeito da, 230, 231
- canis, 197
Hippohosca , 146 - evasão da, do hospedeiro, 231 - ciclo evolutivo, 197
- ciclo evolutivo, 146 Imunidade, 226, 227,230-232
- epidemiologia e imunidade, 198, 199
- controle, 146 - adquirida -jeUs,197
- equina, 146 - - ausência de, 226, 227
- ohioensis, 197
- importância patogênica, 146 - - contra infecções - patologia, 199
- - por artrópodes, 232
- macuiata, 146 - rivolta, 197
- morfologia, 146 - - - por helmintos, 230, 23 1
- suis, 197
- - - por protozoários, 231, 232
- mjipes, 146 lxodes, 159, 160
- vetor - etária
- canisuga, 159, 160
- - de Trypanosoma Iheileri, 146 - - ausência de, 227
- hexagonus, 159, 160
Hippoboscidae, 126, 146 Inchaços de Calabar, 82 - holocyclus, 159, 160
lnfecção(ões),7
Histiocephalus, 74 - ricilZus, 159, 160, 182,219
Histomonas meleagridis, 67, 194. 195 - alteração - - ciclo evolutivo e epidemiologia, 159, 160
- ciclo evolutivo, 194 - - da suscetibilidade à aquisição de novas - - controle, 160
- controle, 195 - - - efeitos da quimioterapia, 226 - - diagnóstico, 160
- diagnóstico, 195 - - - hipersensibilidade, 226
- - distribuição, 159
- epidemiologia, 195 - - - papel de infecções intercorrentes, 226
- - identificação, 159
- identificação, 194 - - nos efeitos de uma, 225, 226
- ~ importância patogênica, 160
- - - dieta, 225, 226
- patogenia, 194 - - sintomatologia clínica, 160
- sintomatologia clínica, 194 - - - prenhez e lactar;ão, 226 - - transmissor
- tratamento, 195 - terapia com esteróides, 226
- - - da doença de Lyme, 160
Histomonose, 194 - e esquizogonia, 196, 197 - - - de Babesia divergem, 160
- imunidade adquirida contra, 230-232
Holomenopon, 148, 153 - - - de Borrelia burgdorferi, 160
- - por artrópodes, 232
Holometabólico, ciclo evolutivo ~ rubicundus, 159, 160
- defi n ição de, 125 - - por helmintos, 230, 231 - scapulari.\', 159
- - por protozoários, 231 , 232
Holópticos Ixodidae, 158
- defi nição de, 123 - intercorrentes, 226 - Dermacentor, 158
Homologaster, 101 - por Anisakidae, 67
- Haemaphysalis, 158
" Hospedeiro(s) - por caramujos, 93, 94 - Ixodes, 158
- definitivo, 6 - por ectoparasitas Ixodídeos, 162
- estado imunológico do, 212, 223 - - diagnóstico laboratorial, 245
- controle, 162, 163
- por heJmintos
- idade do - - de acaricidas, 163
- - em epidemiologia da Babesia, 212 - - diagnóstico laboratorial, 239-245
- - de carrapatos
- influência de fatores genéticos entre espécies de, 227 - por Osrenagia
- - - de dois e três hospedeiros, 163
- intennediário, 6 - - efeitos sobre a lactação de vacas de pasto, 13 - - - de um hospedeiro, 163
- parasita, relações, 249-260 - por oxiurídeos, 68
- - na Europa Ocidental , 162
- paratênicos, 61 - por protozoários - - nos trópicos, 162, 163
- resposta imune do, evasão da, 23 t - - diagnóstico laboratorial, 245, 246 - - outras medidas de, 163
- suscetibilidade do - por Trichostrongylus tenuis , 22 - epidemiologia
- - em epidemiologia da miíase, 139 - pré-natal, 61 - - em ambientes tropicais e subtropicais, 162
Hyalomma , 161, 162 - transovariana, 210
- detritum, 162 - tripanossômica, 184, 185
- margina/um, 162 Infestação K
- com larvas de dípteros, 138
- truncatum. 162
- por carrapatos, 160 Kl!emidocopres, 168, 169
H)'drotaea , 134, 135
- por Hypoderma - ciclo evolutivo, 168
- albipuncta, 134
- em cervídeos, 142 - epidemiologia e sintomatologia clínica, 168, 169
- ciclo evolutivo, 134, 135
- - em eqüinos, 142 - gallinae , 168, 169
- controle, 135
- - em ovinos, 142 - morfologia, 168
- importância patogênica, 135
- por Ixodes ricinus, 160 - mutans, 168
- irritans, 134, 182 - por moscas, 138-1 40 - pUae , 168, 169
- morfologia, 134 - por piolhos, 149-1 53 - tratamento, 169
- transmissor - em aves
- - da Corynebacterium pyogenes, 135 - - - gêneros menos importantes, 153
- - da Peptococcus indolicus, 135 - - - patogenia e epidemiologia, 153 L
- - da SrreptococclIJ dYJgalactiae, 135 . tratamento e controle, 153
Hymenolepididae, 117 - - em bovinos, 149, 150 Laminosioptes 9 sticola, 17 1
- nana, 118 - - - epidemiologia, 149, 150 Laminosioptidae, 171
Hymenolepis, 118 . patogenia, 150 Larvas
Hyostrongylus, 23-25 - - - sintomatologia clínica, 150 - contagem no pasto
- ciclo evolutivo, 23 - - . tratamento e controle, 150 - cultura e identificação de
- controle, 25 - - em cães e gatos, 152, 153 - desenvolvime nto e sobrevivência das. -
- diagnóstico, 2 5 - - - epidemiologia, 152 - - inibido. 8
- epidemiologia, 2 3 - - - patogenia, 152 - infecção, 7
- identificação, 23 - - - sintomatologia clfnica, 152 - migrans
- patogenia, 23 - - - tratamento e controle, 153 . cutânea, 62, 104
- rubidus, 23 - - em eqüinos - - visceral. 62, 73
- sintomatologia clínica, 23 - - " epidemiologia, 152 Leishmania, 190-192
:6S Índice Alfabético

- cx:m:mle, 192 - controle, 147 Microspora, 217


- &gnóstico, 192 - importância patogénica, 147 Miíase, 138, 140
- distribuição, 191 - Lipoptena, 147 - causadas por
- epídemiologia, 192 - morfologia, 146 - - califoridcos, 138
- espécies - ovinus, 146, 190 - - mosca
- - braziliensis, 191 - Pseudo/ynehia canariensis, 147 - - - da bicheira, 140
- - donovani, 191 Membrana ondulante , - - tumbu, 140
- - tropica , 191 - definição de, 183 - - oestrideos, 138
- identificação e cido evolu tivo, 191 MefUlcamhus, 148 - - varejeira, 138
- patogenia, 191 - stramineus, 153 - - -lesões, 182
- sintomatologia clínica, 191 Menopon , 148 - definição de, 138
- tratamento, 192 - gallinae, 153 - epidemiologia da
Leishmaniose, 129, 191 Merozoítos - - em ovinos, 139
- "botão do Oriente", 191 - definição de, 184 - facultativa, 138
- "calazar" , 191 Mesocestoides , 118 - obrigatória, 138
,cutânea, 191 , 192 Mesocestoididae, 106, 118 Milbemicinas, 234, 236
- visceral, 191 Metacercária Miracfdio
Leptotrombidium, 178 - definição de, 89 - definição de, 89
LeucocylOzoon, 128 Metacestóides Monitzia, 114, 115
Linfóide, dilatação - definição de, 105 - belUdeni, 114
- por Trypanosoma, 187 Metastrongllídeos, 50-57 - ciclo evolulivo, 115
Unognathus, 147 - de cães e gatos, 52-54 - diagnóstico, 115
'ovillas, 151 - - Aelurostrongylus abstrusus, 54, 55 - epidemiologia, 115
-pedalis, 151 - - Anaji/aroides, 57 - expwsa, 114
- setosus, 152 - - Angiostrongylus vasomm, 55, 56 - identificação, 114, 115
- vituli, 149 - - ciclo evolutivo, 53 - palOgenia, 115
Upeurw',148 - - rrnwsoma vulpis, 56, 57 sintomatologia clínica, 115
- caponis, 153 - - controle, 54 - tratamento e controle, 115
- hererographlls, 153 - - diagnóstico, 53 Monogenea, 88
Lipoptena, 147 - epidemiologia, 53 Morellia,72,133
Loa loa, 82 - - Filaroides Mosca{s)
Luci/ia, 138, 183 , - - hinhi, 54 - azul. 138
- caesar, 138 ,- -mi/ksi, 54 - controle das, 236
- cuprina, 138 - - Gurltia, 57 - da bicheira, 140
- illllstris, 138 - - identificação, 53 - da cabeça, 133
- sericata, 138 - - Metath ewúa , 57 - da carne, 140
Lumbriculus variegatus, 86 - - Os/erus osleri, 53, 54 - da f~ce, 133, 134
Lymnaea, 89, 90, 97 - - patogenia, 53 - da floresta, 146
- acuminata, 97 - - sintomatologia clínica, 53 - do beme,143
- aariealaria, 97 - - tratamento, 54 - do tumor, 140
- bulimoides, 90 - de ovinos e (;aprinos, 51, 52 - doméstica, 126, 133, 134
- columella, 90 - - ciclo evolutivo, 51 . - dos búfalos, 136
- diaphena, 90 - , controle, 52 - dos chifres, 133, 136
- humiUs, 90 - , Cystocaulus, 51 - dos estábulos, 133
- natalensis, 97 - ~ diagnóstico, 52 - "mosquito-palha", 126, 128
, rubiginosa, 97 - epidemiologia, 52 - "mosquito-pólvora", 126
- mfescens, 97 - - identificação, 51 - não-picadoras, 133, 134
- tomemosa , 90, 94 - - MuelleriuJ, 51 - negra, 138
- mmcatula, 89, 90 - - Neostrongy/us, 51 - picadoras, 133, 135, 136, 137
- - ecologia de espécies de, 90, 91 - - patogenia, 5\, 52 - primé:rias, 139
- - habitats adequados, 91 - - Protoslrongy/us, 51 - secundárias, 139
- - tcmperatura, 91 - - sintomatologia clínica, 52 - terciárias, 139
- - umidade, 91 - - Spiculocaulus, 5! -tsé-tsé, 133, 137
, viator, 90 - - tratamento, 52 , !Umbu. 140
Lyperosia irritans, 136 - de suínos, 50 - varejeira, 138
- - ciclo evolutivo, 50 - verde, 138
M - - controle, 51 Mosquito{s), 126
diagnóstico, 51 - palha, 126
Macracanthorhynchus, 59, 87, 88 - - epidemiologia, 51 - pólvora, 126
- ciclo evolutivo, 88 - - identificação, 50 Muelluius capillari.\, 51
- diagnóstico, 88 - - Metastrongylus Multiceps, l09
- hirndinaceus, 87 - - - apri, 50 MUSCG, 71, 72,133,134
- identificação, 87 - - - elongatus, 50 - autumnalis, 75, 133
- significado patogénico, 88 - - - pudendotectus, 50 - ciclo evolu tivo, 133, 134
- tratamento e controle, 88 - , - salmi, 50 - controle, 134
Macrogametócitos, 208 - - patogenia, 50, 51 - domestica, 117, 133, 18l
Mal de cadeiras, 190 - - sintomatologia clínica, 51 - importância patogénica, 134
Malária - - tratamento, 51 - lusoda,75
- aviária, 217 Metastrongilose, 51 , morfo logia, 133
- no homem, 130,217 Metastrongyloidea, 4, 50 - sorbe/lJ, 133
Mal lophaga, 147 Metasrrongylus, 50, 51 - xantl:omelas, 75
:\Ialpighi, túbulos de - apri, 50 Muscidae, 126, 133
- defin ição de, 123 - ciclo evolutivo, 50 Muscina, 133
J.fammomonogamus, 37, 46 - controle, 51
Maruonella ozzardi, 82 - diagnóstico, 51 N
_'fargaroplls, 161 , elongatus, 50
Jfarshallagia marshaili, 16 - epidemiologia, 51 Nagana, 185
Mastigophora, 184 - identificação, 50 Nanopllyelus, 10 1
Mc ~laster. método, 239, 240, 245 - patogenia, 50, 51 Necator americanus, 50
Mecisrocinus digitatus , 20 - pudendotectus. 50 Nematelmintos, 3-87
Meio ambiente, contaminação do, 223, 224 - salmi, 50 Nematocera, 126- 131
- estado imunológico do hospedeiro, 223, 224 - sintomatologia clínica, 51 Nematooa, 3-9
- hipob ioseJdiapausa, 224 , tratamento, 51 , aumento peripuerperal (APP)
- manejo do rebanho, 223 Metafhe1azia, 57 - - em contagem de ovos nas fezes, 8
- potencial biótico, 223 Metorchis, 101 - cidoevolutivo básico, 6
Melofagídeo dos ovinos, 182 Microfilária, 76 - classificação, 4
Melophagus M icrogamet6cilOs, 208 - desenvolvimento
- ciclo evolutivo, 146, 147 Micronema, 57, 59 - - do parasita, 6. 7
q

Índice Alfabético 269

- - - eclosão, 7 - gibsoni, 80,127 - - - /rifurcata, 16


- - ~ infecção, 7 - gutturosa, 80,128 - ovina, 15, 16
- - ovo,6,7 - Haematobia irritans, 80 - - ciclo evolutivo, 15
- - - sobre\'ivência larval e. 7 - identificação, 80 - - controle, 14
- - larval inibido. 8 - fiel/alis, 80 ~ - diagnóstico, 16
- estrutura e função, 3-6 - nubeculosus, 80 - - epidemiologia, 15
- metabolismo, 7 . 8 - ochengi, 80 - - Osrertagia
Nematodiose cerebroes pinhal, 8t - reticuklta, 127
Nematodirose, 27. 28 - - - circumcincta, 15
- Simulium, 80 - - - trifurcma, [5
NeTlUlLOdims, 25-30 - sweetae, 80 - - patogenia, 15
- abnonno.lis. 25 - volvulus, 82, 127 - - sintomatologia clínica, 15
- bmzus, 16,25,26,27 Oncocercose - - tratamento, 16
- ciclo evolutivo, 27 ~ bovina, 80, 81 Óstios
- controle. 28-30 - - características das espécies, 80
1 - definição de, 123
- - profilaxia - - controle, 81 Otohius megnini, 164
- - - por ami-helmínticos, 29, 30 - - diagnóstico, 80, 81 OrodeCles, 174, 175
- - - por pastejo alternado, 30 - - tratamento, 81
- diagnóstico, 28 - ciclo evolutivo, 175
- eqüina, 80 -crnotis, 175
- epidemiologia, 28 - no homem, 82 - d-iagnóstico, 175
- filicollis , 25 Oncosfera
- heJvetianus, 25 - epidemiologia e patogenia, 175
- definiçãu de, 105 - morfologia, 175
- identificação, 25-27 Oocisto(s) - tratamento, 175
- oiratianus - esporulado, 196 Ovo, 6, 7
- patogenia, 27, 28 - não-esporulado, 197 Oxiurídeos, 68, 69
- sintomatologia clínica, 28 Opisthorchiidae, 88,101 Oxiúros no homem, 69
- spafhiger, 25 - Metorchis, 10 1 Ox)'spirura, 75
- tratamento, 28 - Opis/lw,-chis Oxyu ris , 68, 69
Nematóides (v.tb. Nematoda) - - te/il/eus, 101 - ciclo evolutivo, 68
- abomasal, 16 - - sinensis, 101 - diagnóstico, 69
- com bolsa copuladora, 3,4,37 - - tenuicollis, 101 - epidemiologia, 69
- diagnóstico laboratorial, 241-243 - ~ viverrini, 101 -equi,41,68
- - do trato digestivo do Opistorcose, 101
- - - guia para, 241-243 - identificação, 68
Organoclorados, 236 - patogenia, 69
- - - recuperação de, 241 Organofosforados, 234, 236 - sintomatologia clfnica, 69
- sem bolsa copuladora, 3, 4 Orientobilharúa turkestanica , 102
Neo(/scaris, 63 - tratamento e controle, 69
Ornirhodoros Oxyuroidea, 4, 68
Neorickettsia helmil1thoeca, 101 - moubata, 164 - Ox)'uris, 68, 69
Neospora caninum, 207 - savigl/Yi. 164 - Probstmayria, 68, 69
Neostrongylus, 5 1 - turica/a, 164 - Skrjabillema, 68, 69
Neotrombicula, 178 Ornilhol/yssus, [77,178
Notoedres - bursa, 177
~cati, 168
- ciclo evolutivo, 178
p
- ciclo evolutivo, 168 - epidemiologia e patogenia, 178
- diagnóstico, 168 - morfologia, 178 Palpos sensoriais
- epidemiologia e patogenia, 168 - silvarium , 177 - definição de, 157
- morfologia, 168 - tratamento e controle, 178 Papilas
- tra tamento, 168 Ornithostrongylus quadrjradiatu.~, 37 - caudais, 6
Oslerus, 53, 54 - cervicais, 6
o - ciclo evolutivo, 53
- controle, 54
Parubrol/ema, 72
Paracooperia nodulosa, 23
Oce[os - d iagnóstico, 53 Pamfilaria, 75
- epidemiologia, 53 - bovicola, 75, 76
- definição de, 123
Odocoifeus, 82 - identificação, 53 - - ciclo evolutivo, 75
- osleri, 53 - - controle, 7-6 _____
Oedemagena taraI/di , 145
- patogenia, 53 - - diagnóstico, 76
Oesophagostomum, 37,42-44
- asperum , 42 - sin tomatologia clínica, 53 - - epidemiologia, 76
- brevicaudum, 42 - tratamento, 54 - - identificação, 75

t - ciclo evolutivo, 43
- columbianum, 42, 43
- dentatum, 42, 43
Ostertagia
- circumcinctu , 9, lO, 16
- identificação, 9
- - patogenia, 75
- - sintomatologia clínica, 76
- - tratamento, 76
- mulripapillosa, 76
- diagnóstico, 44 - kolchida, 9
- epidemiologia, 43, 44 - leptospicularis, 9 , 10, 16 Parafilanose, 76
- granarel/sis, 42 ~ lyrata, 9, 10 - bovina, 76
- identificação, 42 -osrert(lgi,9, [O, II, 16 Pamgonimus , 101
- longicaudmum, 42 - trifurcaf(l , 9,10,16 Paralisia lombar
- patogenia, 43 Ostertagiose, 9 -porSetaria , 81
- bovi na, 9-15 Paramphistomatidae, 88, 100
- quadrispinulatum, 42, 43
- - ciclo evolutivo, 9 Paramphistomum, 100, 101
- radialUm , 42, 43
- - controle, 14, 15 - BuIiIlUS, 100
- sintomatologia clínica, 43
- cervi, 100
- lrnlarnento e con trole, 44 - - - medicação anti-hclmíntica profilática, 14
- ciclo evolutivo, 100
- l'cnuloswn , 42, 43 - - - pastejo a[tcrnado, 15
. controle, 10 I
Oestridae, 126, 140 - - - pastejo rotativo, [5
- diagnóstico, 10 I
Oestrideos, gêneros menos importantes, 145 - - - tratamento anti-hclmíntico e transferência de pasto,
- epidemiologia, 100, 101
Oestrus. 1~2. 143 14
- identificação, 100
- ciclo evolutivo, 142 - - diagnóstico, 13, 14
- microbothrium, 100
- importincia patogênica, 142, 143 - - efeito da infecção por
- patogenia, 100
- morfologia. 142 ~ - - sobre a lactação de vacas no pasto, 13
- oris. ].!2. 184 - Planorbis, 100
- - epidemiologia, 12, 13
- sinais clínicos, 100
- ETalaIllmto e controle, 143 - - de bovinos leiteiros, [2, 13 - tratamento, 10 1
Ollulmuu lrinlspis, 36, 37 - - - de rebanhos de corte, 13
OnchoaTal_ 79, 80 Paranfistomídeos, 100, 101
- - Osrerragia ostertagi, 9 Paranfistomose, 100
- armiJkim.. 80 - - patogenia, 9-1 [
- B1TICdJa abornls. 80 Paranoplocephala mamil/ana , 1l3. t 14
- - sintomatologia clínica, I I, 12 Parasca ris, 64, 65
- unicüla.80 - - tratamento, 14, 15 - ciclo evolutivo, 64, 65
- rido e\umh'O. 80 - capri na - controle, 65
- ~80 - - Ostertagia
- dJJ:d. SI) - diagnóstico, 65
- - - circumcinctll, 16 - epidemiologia, 65
- espéc:ie:§ c distribuição, 80 - - - leptospicul(lris, 16 - equorum , 4 1, 64
270 Índice Alfabético

- identificação, 64 - - - Goniocoles, 148 - das aves, 157


- patogenia, 65 - - - Goniodes, 148 - - Ceratophyllus gallinae , 157
- sintomatologia clínica, 65 - - - Holomenopon, 148 - - Echidnophaga galfinacea, 157
Parasita(s) - Lipeurus, 148 - - tratamento e controle, 157
- cepa do, 227 - - - Menacamhus, 148 - diagnóstico laboratorial, 245
- de aves domés ticas, 260 - - - Menopon, 148 - dos mamíferos, 115 , 154
- de bovinos, 251 , 252 - - de mamíferos, 147 , 151 - - Ctenocepha /ides
- de cães e gatos, 258, 259 - - - Dama/inia, 147 - - - canis, 154
- de eqüinos e asininos, 256, 257 - - - Felicola , 148 -- - jefis, 154
- de ovinos e caprinos, 253, 254 - - - Heterodoxus, 148 - - diagnóstico, 156
- de suínos, 255 - - - Trichodecles, 148 - - importância patogênica, 156
- desenvolvimento do, 6, 7 - mordedores, 147 - - Pu/ex irritarL~, 155
- - e sobrevivência larval, 7 - patogenia, 150 - - Spi/opsyllus CllI/icu /i, 156
- - eclosão, 7 - sintomatologia clínica, 150 - - tratamento e controle, 156, 157
- - infecção, 7 - sugadores, 147, 151 - - Tunga penerrans, 156
-- ovo, 6 - tratamento e controle, 150, 236 - - Xenopsylla, 156
- hospedeiro, relações, 249-260 Piperazinas, 234 - penetrantes, 154
Parasitárias, doenças Piretróides sintéticos, 236 Pulmonares, vermes, 243 , 244
- anlÍ-helmínticos e, 233-235 Piroplasmidia, 210 - diagnóstico laboratorial
- diag nóstico laboratorial de, 239-246 Placas e cordões - - recuperação de, 243, 244
- ectoparasiticidas (inseticidas!acaricidas) e, 236-238 - definição de, 6
- epidemiologia de, 223-228 Planorbis, 100
- - alteração na suscetibilidade a infecção, 225, 226 Plasmodium , 217 Q
- - animais suscetíveis a ambiente contaminado, 226, 227 Platelmintos, 3
Platyhe1minthes, 88- 120 Quelíceras
- - aumento no número de estágios infectantes, 223-225
- - infecção num ambiente não contaminado, 227, 228 Platynosomumjastosum, 100 - defi nição de, 157
- imu nidade adquirida a infecção por he!mintos, 230 Plerocercóide Quimioterapia
- efeitos da
- - efeito da resposta imu ne, 230, 231 - definição de, 119
- - na infecção imunizante, 226
- - evasão da respos ta imune do hospedeiro, 23 1 Pneumocystis carinU, 2 18
Pne umonia verminótica, 30 - em Oxyuris equi, 69
- - - estimulação policiona! de imunog!obulina, 231
- - - falta de resposta imune neonata!, 23 1 Pneumonyssus caninum, 178
- - - imunidade concomitante, 231 Polymorphus, 88 R
~ resistência a, 229-232 Pós-puerperal, aumento, 8
- - de espécies, 229 Praziquantel, 234 Raças e parasitas
- - etária, 229 Prenhez e lactação - infl uênc ia de fatores genéticos entre, 227
- - racial, 229 - alteração nos efeitos de uma infecção, 226 Raillietina echinobothrida , 117
Parelaphostrongy/us tenuis, 52 Pré-patente, período Rédias .
Pasteurelose, 133, 220 ~ definição de, 7 - definição de, 89
Pediculose, 149 Pró-benzimidazóis, 234 Relações hospedeiro/parasita, 249-260
- bovina, 185 Probstmayria vivipara , 69 Rhabditis, 57, 59
Pedogênese, fenômeno de, 89 Procercóide Rhabditoidea, 4, 57
Pele, exame dc - definição de, 119 - Micronema, 57
- em infecções por protozoários, 245 Proglote - Rhabditis, 57
Pentastomida , 178, 179 - definição de, 104 - Strongyloides, 57
- Linguatu/a serrata, 178, 179 Promastigota, 191 Rhipicephalus, 220
Pepsinogênio plasmático, teste do, 244 ProlOstrongy/us , 51 - appendicu/atus, 162,215
Peripuerperal, aumento (APP), 8, 9 Protozoa,183-220 - - transmissor
Phlebotomus, 128, 129 Protozoários, 181-220 - - - da Babesia bigemina, 162
- ciclo evolutivo, 129 - classificação dos, 184, 185 - - - da Th eileria parva , 162
- controle, 129 - - indeterminada, 2 18-220 - evertsi, 162
- importância patogênica, 129 - em aves domésticas, 260 - - transmissor
- morfologia, 128 - em bovinos, 252 - - - da Babesia bigemil1a , 162
- transmissor - em cães e gatos, 259 - - - da Babesia equi, 162
- - da leishmaniose - em eqüinos e asininos, 257 - sangui1/eus , 162
- - - cutânea, 129 - em ovinos e caprinos, 254 - - transmissor
- - - visceral, 129 - em suínos, 255 - - - da Babesia canis, 162
- vetores - estrutura e função dos, 183, 184 - - - da Ehr/ichia canis , 162
- - da Leishmania - imunidade adquirida por, 231 Rickettsiales, 218
- - - donova"i, 129 Przevalskiana , 145
- - " tropica , 129 Pseudophyllidea, 118-120
Phormia, 138, 183 - Diphyllobothrium, 119, 120 s
- regina , 138 - Spirometra , 120
- terrae-novae, 138 Pseudópodes Salicilani lidas, 234
Phthiraptera, 147 - definição de, 183 Saliva ria, 185-190
Physa{optera Psorergates, 175, 176 - ciclo evolutivo, 186, 187
- praeputialis, 74 - ciclo evolutivo, 175 - controle, 189, 190
- rara , 74 - diagnós tico, 176 - diagnóstico, 189
Physocepha/us sexa/atus, 74 - epidemiologia e patogenia, 175, 176 - distribuição, 186
Pilobolus, 31 - morfologia, 175 - em cão e gato, 188
Piolho(s), 147 -ovis, 175 - em eqüinos, 188
- ciclo evolu tivo geral dos, 148, 149 - tratamento e controle, 176 - em ruminantes, 187
- da asa, 148 Psoroptes, I71-174 - em suínos, 188
- da base das patas, 148 - ciclo evolutivo, 17 1, 172 - epidemiologia, 188, 189
- da eabeça, 148 - cuniculi, 17 1 - - fatores da
- da penugem, 148 - diagnóstico, 173 - - - os hospedeiros, 188, 189
- di agnóstico laboratorial, 245 - epidemiologia e patogenia, 172, 173 - - - os parasitas, 188
- do corpo, 148 - equi , 17 1 - - - os vetores, 188
- em aves, 148, 153 - morfologia, 17 1 - Glossina morsitafls, 186
- em bo\'inos, 148, 149 - ovis, 17 1 - identificação, 186
- em cães egatos, 115, 148, 152 - sarna psoróptica - - de espécies, 186
- em eqüinos, 148, 152 -- de grandes animais, 173, 174 - nagana, 185, 186
- em ovinos, 148, 15 1 - - de ovinos, 172, 173 - patogenia, 187
- em suínos, 15 1 - tratamento e controle, 173 - sintomatologia clínica, 187, 188
- epidemiologia. 149, 150 Psoroptidae, 17 1 - tratamento, 189
- mas{Ígadores, l -H Psychodidae, 126, 128 - Trypanosoma
- - de aves, 148 Pulex irritans, 115, 155 - - brucei, 186, 187
- - Columbico/a , 148 Pulga(s), 153 - - congolen~e, 186
- - - Cucfotogaster, 148 - controle das, 236 - - simiae, 186
índice Alfabético 271

- - vivax, 186, 187 - ident ificação, 102 - identificação. 44


Sangue e linfa, exame de - incognilll.m. 102 - palogenia, 44
- em infecçOes por pro tozoários, 246 - japollieum, 102, 104 - sintomatologia clínica, 44
Sarcocystidae, 204 - leiperi, 102 - tratamento. 45
Sarcoc)'Sti.f, 188,203,207-209 ~ mal/soni, 102, 104 Stercoraria, 185, 190
- ciclo evolutivo, 208, 209 - mattheei, 102 S/ilesio
- - hospedeiro - nasalis, 102 - globipunctata, 118
- - - final (gametogonia), 208 - patogenia, J03 - hepatiea, 11 8
- - - intermediário (esq uizogonia), 208, 209 - Physopsis, 102 Stomoxys . 71. 135, 136
- controle, 209 - sintomatologia clínica, 103 - calei/rans, 135, 18 1
- diagnóstico, 209 - spindale, 102 - ciclo evolutivo, 135
- epidemiologia, 209 - tratamento, 103 - controle, 136
- espécies Schistosomatidae, 88,101,102 - hospedeiro inte rmediário
- - bovieanis, 208 Selaria - - da Habron ema, 135
- - bovifelis, 208 - ciclo evolutivo, 8 1 - importância patogênica, 135
- - eaprieanis, 208 - controle, 8 1 ~ morfologia, 135
- - equicollis, 208 - diagnóstico, 8 [ Streptocara,74
- - fayeri, 208 - digitata, 8 [ Strongy1oidea, 4. 37
- - ovieanis, 208 - epidemiologia, 81 Strongyloides
- - {)vifelis, 208 - equina, 81 - av/um, 57
- - poreicallis, 208 - identificaçào. 8 1 - ciclo evolutivo, 57, 58
- - poreifelis, 208 - labiaro-papillosa, 81 - d iagnóstico, 58
- identificação - patogenia, 81 - e pidemiologia, 58
- - estágios teciduais, 208 - sintomalOlogia clínica, 8 1 - identificação, 57
- - OOCiSIOS, 208 - [{atamento, 81 - papilloslls, 57
- patogenia, 209 Sexo e parasitas - patogenia, 58
- sintomatologia clínica, 209 - influência de fatores genéticos entre, 227 - ransomi, 57
- tratamento, 209 Simondsia paradoxa , 74 - sintomatologia clínica, 58
Sarcodina, 184 Simuliidae, 126, 127 - stercoralis, 57, 59
Sarcomastigophora, 184 Simulium, 80, 127, 128,217 - tratamento e controle, 58
Sarcophagidac, 140 - ciclo evolutivo, 128 - westeri, 57
Sa reoptes, 166-168 - controle, 128 Strongylus, 37
- ciclo evolutivo, 166 - importância patogênica, 128 - edentatus, 37
- morfologia, 166 - morfologia, 127 - - ciclo evoluti vo, 37
- sarna sarcó ptica, 166- 168 - tmnsmissores - - patogenia, 39
- - de bovinos, 167 - - da encefalite eqUina. 128 - - - por adultos, 39
- - de cães, 166 - - da estomatite vesicular, 128 - - - por larvas, 39
- - de caprinos, 167 - - do LeucocY/01.oon, 128 - equinus, 38
- - de eqUinos, 167 - - do On choeenXI gutturosa, 128 - - ciclo evolutivo, 38
- - de gatos, 166 Siphona, 136 - - patogenia, 39
- - de ovinos, 167 Siphonaptera, 153, 154 - - - por adultos, 39
- - de suínos, 166, 167 - ciclo evolutivo, 154 - - - por larvas, 39
- - do home m, 168 - monologia, 154 - vu/garis, 37
- seabiei, 166 Skrjabinagia, 9, - - ciclo evolutivo, 37
Sarcoptidae. 166 Skrjabinema ovis, 69 - - patogenia, 38, 39
Sarna, 165 Solenopotes, 147 - - - por adultos. 39
- branda, 127 - capillatus. 149 - - - por larvas, 38
- corióplica Sparganum , 120 Surra. 190
- - de bovinos, 174 Spiculocaulus, 5 1 Syngamus, 37. 45, 46
- - de caprinos, 174 Spifopsyllus cuniculi, 156 - ciclo evolutivo, 45
- - de ovinos, 174 Spirocerca , 69-71 - controle, 46
- - eqüi na, 174, 186 - ciclo evoluti vo, 70 - diagnóstico, 46
- de Q ueensland_ 127 - controle, 7 1 - epidemiologia, 46
- demodécica, 170, 171 - diagnóstico, 7 1 - identificação, 45
- - de bovinos, 171 - epidemiologia, 70 - patogenia, 45, 46
- - de cães_ 170 - identifi cação, 69 - sintomatologia clínica, 46
- - de caprinos, 171 - !upi, 70 - trachea , 45
- - de eqüinos, 171 - patogenia e sintomatologia clínica, 70 - [{atamento, 46
- - de gatos, 170 - tratamento, 71
- - de ovinos, 171 Spirometra, 120
- - de suínos, 171 Spirura rir)'pleurites, 74
T
- - escamosa, 170, 186 SpirurOidea, 4, 69
- Drasehia, 72 Tabanidae, 131- 133
- - pustular, 170. 186
-cicJoevolutivo.13 1, 132
- desp lu mante, 168, 169 - Gnathostoma, 73
- Chrysops. 131
- dos nadadores, 104 - Habron ema, 71
- controle, 133
- ovina, 172, 173, 186 - Spirocerea , 69-71
-Haematopota , 131
- psoróptica, 172- 174 - Tlr elazia, 72 - importância patogênica, 132, 133
- - bovina, 173, 174 Sporozoa, 196-2 17 - morfologia. 131
- - de coelhos, 174 S/ephal/ofilaria - Talmnus, 13 1
- - de ovinos. 172 - assamensü, 77 - transmissor
- - eqüina, 174 - ciclo evoluti vo, 77 - - da anaplas mose, 133
- sarc6ptica, 166-168 - controle, 77 - - da fi lariose humana loíase, 133
- - de bovi nos, 167. 185 - d iagnóstico. 77 - - da pasteurelosc, 133
-- decães, 166. 185 - epidemiologia, 77 - - da tripanossomose, 133
- - de caprinos, 167 ~ espécies e distribu ição, 77 - - do carbúnculo hemático, 133
- - de eqüinos, 167 - identificação. 77 Tabanídeos, 8 1, 131, 185
- - de gatos, 166 - koeli, 77 Tachinidae, 133
- - de ovinos, 167 - okinawaensis, 77 Taelljll,I06-1 10
- - de suínos, 166, 185 - patogenia e sintomatologia clínica, 77 - hydatigena, 107. 109
- - do homem, 168 - stilesi, 77 - - Cysticercus lenuicollis, 109
Schistosoma, 102-104 - tratamento, 77 - krabbei, 107
- bovis, 102 - zaheeri, 77 - /IIulticeps , 107, 109
- Blllinus, 102 Stephanurus, 37, 44, 45 - - Coenurus eerebralis. 109
- ciclo evolutivo, 102 - ciclo evolutivo, 44 - ovis, 107, 109
- controle, J04 - controle, 45 - - Cysticereus Ol'is, 109
- diagnóstico, 103 - denta/us, 44 - pisifonlziS, 107, 109
- epidemiologia, 103 - d iagnóstico, 44, 45 - - C)'sticercus pisiformis. 109
- haematobium, 104 - epidemiologia, 44 - sagillura, 1Q6...IOS
Índice Alfabético

- - ciclo evolutivo, 10(1 - rhodesi, 72 • digenéticos


- - controle, 107 - sintomatologia clínica. 72 - - ciclo evolutivo de, 89
- • Cl'SticerclIs bovis, 106 - skrjabini, 72 - - estrutura e função de, 88, 89
- - diagnóstico, 107 - tratamento e controle, 72. 73 - " hepático chinês", 101
- • dis lributção, 106 Thysanosoma a ctinioides. 118 • monogenéticos, 88
- - epidemiologia Thysanosomidae, 118 - " pulmonar", \01
•• - países desenvolvidos. 107 - A vilel/ina , 118 Trichi"ella, 85, 86
- - - países em desenvolvimento , 107 - Stilesia, 118 - ciclo evo lutivo, 85
- - identificação, 106 - Th)'sanosoma. li8 - controle. 86
- - patogenia e sintomatologia clínica, 106, 107 Toxascaris,64- - diagnóstico, 86
- - tratame nto, 107 - ciclo evolutivo, 64- - epidemiologia, 86
- serilllis, \07, \09 - identi ficação, 64- - identi ficação, 85
- - Coenurus serialis, 109 - leonina, 61, 63, 64 - patogenia e sintomatologia clínica, 85
• solill/tI, 108 - tratamento e controle. 64 - spiralis, 85
- - cicio evolutivo, 108 ToxQCara, 60-64- - tratamen to. 86
- - controle, 108, 109 - cal/is, 60-62 Trichodecles, 148
- - Cysticercu.ç ce/Julosae, 108 - - ciclo evolutivo, 61 • canis, li5, 152
- - diagnóstico, 108 - - diagnóstico, 62 Trichom01!as, 192-194
- . dis tribuição, 108 - - epidemiologia, 61 , 62 - f oell4S, 193, 194
- - epidemiologia, 108 - - identificação, 6 1 • • ciclo evolutivo, 193
- - identificação, 108 - - larva migrQ/1S visceral e, 62 - - controle, 194
- - patogenia e sintomatologia clínica, 108 - - patogenia. 61 - - diagnóstico, 193
- - tratamento, 108 • • sintomatologia clínica. 61 - - epidemiologia, 193
· taell iaeformis. 107, 109 - - tratamento e controle, 62 - - identificaçiio, 193
- - Cys/icercus fasciolaris, 109 - Ctlti, 62, 63 - - patogenia, 193
Taeniidae, 106 - - cicio evolutivo, 63 - - sintomatologia clínica, 193
Taquizoítos,204 - - controle. 63 - - tratamento. 193
- definição de, 204 - - diagnóstico. 63 - gallillae , 194
T éCnicas para di agnóstico laboratorial - - epidemiologia. 63 • I'aginalis. 194
• em cctoparasita.'i. 245 - - identificação, 62 Trichonemal C)'athoslomes, 37, 40, 4 1
- em infecções por helmintos, 239·245 - - patogenia e sintomatologia c1fnica, 63 - ciclo evo lutivo, 40
- - contagem de larvas no pasto, 244, 245 - - lrntamemo, 63 - controle_ 4 1
- - cultura c identificação de larvas, 241 - vifllfomm, 63, 64- • C)'atlrostomum, 40
- • de contagem de vermes - - cicio evolutivo, 63 - C)'licoc)'clus, 40
- - - por recuperação na~ via.~ aéreas, 243, 244 - - controle, 64 - C)'lico(lcJ/!lophorus. 40
- - - por recuperação no tmto digestivo, 24 1 - - diagnóstico, 64 - C)'/ico~'/ephanus, 40
- - de exame de fezes - - epidemiologia, 63 • diagnóstico, 41
• • • método de sedimentação, 240 - - identificação, 63 - epidemiologia, 40, 41
- - - método do esfregaço direlo, 239 - • patogenia e sintomatologia clínica, 63 - identificação, 40
- - - método McMaster, 239. 240 - - tratamento, 64 • patogenia. 40
• • - métodos de flutuação, 239 Toxoplasma, 204-207 - sintomatologia clínica, 40
- em infecções por protozoários, 245, 246 - cicio evolutivo, 204, 205 • tratamento, 4 1
- - exame de fezes - - hospedeiro(s) Trichostrongy loidea, 4, 9
• - • método de fl utuação Mc Mas ler, 245,246 - - - fi nal, 204 Tricho.flrongy/us, 20-22
- - exame de pele • • - intermediários, 204, 205 - axei, 20, 21 , 22
- - - h istológico de biopsias, 246 - controle, 207 • Ct11"icola , 20
- - - xenodiagnóstico, 246 - diagnóstico, 206, 207 - ciclo evolutivo, 20
- - exa me de sangue e linfa • em cães, 206 • colubrifonnis, 20, 2 1
- - - técnica de Field, 246 • em gatos. 205, 206 - diagnÓstico, 22
Teileri ose, 227 - em ruminantes, 206 - epidemiologia, 22
- med iterrânea, 216 - epidemiologia. 206 - f alculom s, 20
Teníase, 109. 110 - gOlldij, 204 • identificação, 20, 21
- cm cães e gatos, 109, 110 - identificaçao, 204 - /ollgispic ularis. 20
- - diagnóstico, tratamento e controle, 110 - - estágios extra-intestinais - patogenia. 20, 22
Tetraidropirimidinas, 234 - - - bradizoítos, 204 - proboluflls, 20
Tetramere.ç, 74 - • - taquizoítos, 204 - relo rtaefa nllis, 20
Tetrat irídio - - estágios intestinais, 204 - rugalUs , 20
- definição de, 106 - - - esquizontes, 204 - sintomatologia clínica, 22
Theileria,2 14 - - - gamontes, 204 - remâs, 20
- aTl/wlma , 2 16 • • oocistos, 204 - - infecção por, 22
- espécies, hospedeiros e distribuição, 2 14 • no homem. 206 • tratamento e controle, 22
• hirci, 2i6 - patologia especial e sintomatologia clínica, 205. 206 - virrilllls, 20,21
- mUUIIlS, 2i4 - patologia geral, 205 Trichuris, 83. 84
- ol>i$,214 - tratamento, 207 - ciclo evo lutivo. 83
- parva, 187, 215, 216 Toxoplasmose, 227 - controle, 84
- - ciclo evolutivo, 2 15 - aguda, 204 - d iagnóstico, 83, 84
- - controle, 216 - cm cães, 206 • disc%~~ro 83
• - diagnóstico, 216 - e m gatos, 205, 206 - epidemiologia, 83
- - epidemiologia, 215. 216 - em ruminantes, 206 - espécies e hospedeiros, 83
- - identificação, 215 - no homem, 206 - globulosa, 83
- - patogenia, 215 Tran~missão de infecção - identificação, 83
- - sintomatologia clínica, 215 - tripanossômica, 184, 185 • ol'is, 83
· - tratamento, 21 6 • - aciclíca, 185 - patogenia, 83
- ~rgellti, 2 14 - - cíclica, 185 - se rrata, 83
- UJurorragi. 214 - transestadial, 211 - significado clínico, 83
Thela:.ia. 72. 73. 75 Tratamento e controle - skrjabilli, 83
- californ ieruis, 72 - anti- helmín tico, 14,233-235 - SUi.f, 83
- cido evolutivo. 72 - da gastrenterite parasitária, 29, 30 • tratamen to, 84
- diagnóstico. 72 • - propriedades com pastejo a lternado - trichiura, 84
- epidemiologia. 72 - - - profilaxia por manejo de pasto, 30 - vulpis , 83
- espécies e distribuição, 72 - - propriedades de pasto permanente Trichuroidea, 4, 82
- Fannia. 72 - - - profilaxia por anti-helmínticos, 29, 30 - Capillaria, 82
- gu losa, 72 - - - profilax ia por pastejo alternado, 30 - Trichinella, 82
• identificação. 72 Trcmatoda, 88 - Trichuris, 82
n
- lac rJmalis. - Digenea, 88 Tricomonose
- Morel/ia . 72 - Monogenea, 88 - do gado, 192
- Musca. 72 Trematóides - do homem. 194
• pato genia, 72 - d iagnóstico laboratorial. 244 - do pombo, 192, 194

Índice Alfabético 273

Triconcmas, 40 - epidemiologia, 188, 189


Tricostrongilídeos, 9, 11,36,37 - - fatores da
x
Tricuríase no homem, 84 - - - os hospedeiros, 188, 189
- Trichuri.y trichium, 84 - - - os parasitas, 188 Xcnodiagnóstico, 246
Triodontophorus, 37, 39 Xenopsylla cheopis, 15ó
- - - os vetores, 188
- brevicmlda, 39 - equiperdum, 185, 190
- ciclo evolutivo, 39 - evansi, 190 y
- identificação, 39 - identificação, 186
- minor, 39
- - de espécies, 186 Yersinia pesris, 156
- patogenia, 39 - patogenia, 187
- serratus, 39
- simiae, 186, 189
- tenuicollis, 39
- sintomatologia clínica, 187, 188
z
Tripanossomos
- vivax, 186, 187
- em animais, 184 Zoonoses
Tsé-tsé, 137
- melacíclicos, 187 - maiores
Tunga, 156, 157
- não-patogênicos, 190 - - Ancylostoma braziliense, 46, 48
- diagnóstico, 156
- no homem - - Babesiose, 227
- imponãncia patogênica, 156
- - transmissão pelo "barbeiro" - - Balantidium coli, 217
- penetrans, 156
- - - T. cruli, 190 - - Cheyletiella, 176
- tratamento e controle, 156, 157
- transmissão por tsé-tsé - - Diphyllobothrium (atum , 11 9
- - - T. gambiefIJe, 190 - - Echinococcus
- - - T. rhodesiensi, 190 u - - - granu{osus, 110
- tripanotolerJncia, ! 88 - - - mu(tilocul<lris, 112
- variante antigênica, 188 Undnaria, 37, 48, 49 - - Fasciola
Tripanossomose, 133, 137, 190 - "ancilóstomo do norte" - - - gigrmlica, 97,98
Tripanotolerância, 188 - ciclo evolutivo, 48, 49 - - - hepatica, 89-97
Tripomastigota, 187 - diagnóstico, 49 - - Leishmania, 190
Triquinelose, 85 - epidemiologia, 49 - - Pulgas, 153- 157
- controle da - identificação, 48 - - Sarcoptes scabiei, 166- 168
- - educação do consumidor, 86 - - Schistosoma japonicUlII, 102, 104
- patogenia e sintomatologia clínica, 49
- - inspeção da carne, 86 -- Taeniil
- .ftcllocephn{u, 48
- - medidas para eliminar ratos, 86 - - - sagirwta, !(l6-108
- tratamento e controle, 49
- - regulamentos para garantir a destruição de larvas na - - - solium, 108
Ura,144
carne de porco, 86 - - Toxocam canis, 60-62
Trofozoíto - - Toxoplasma gondii, 2M
- definição de, 183, 197 v - - Trichinella spimlis , 85
- - Trypanosoma , 184
Troglotrematidae,88, 101
- Nanophyetus, 101 - menores
Vacinas
- Neorickettsia helmimhoeca, 101 - - Alaria, 104
- contra carrapatos, 163
- Paragonimus, 101 - - Angiostrongylus CGntonensis, 56
- parasitárias, 232
Trombiculidae, 178 - - Brugia pahangi, 82
Venne(s) - _. Cryp/osporidium , 188, 203
Trypanosoma, 184 - do rim, 86
- brucei, 186, 181 - - Encephalitozoon, 217
- puLmonares - - Entamoeba histoly/ica, 184
- ciclo evolutivo, 186, 187 - - diagnóstico laboratorial, 243
- congolense, 186 - - Fasciolopsis buski, 98
Vesículas cefálicas e cervicais - - Ciardia lambfia, 195
- controle, [89, 190 - definição de, 6
- cruzi, 190 - - Opisthorchis, 101
Vetores infectados, 228 - - Paragonimus , 101
- diagnóstico, 189
- distribuição, 186 - - Pneumocystis carinii, 218
- - Sarcoc)'stis, 188
- em cão e gato, 188 w - - Sarna dos nadadores, 104
- em eqüinos, 188
- em ruminantes, 187 - Sparganosis (Spirometra), 120
Wohlfahrtia, 140 - Slrollgyloides srercoralis, 57, 59
- em suínos, 188 Wuchereria bancrofti, 82 - - Toxocam cati, 62
i

Serviços de impressão e acabamento


executados, a punir de filmes fornecidos,
nas oficinas gráficas da EDITORA SANTUÁRlO
Fone: (OXXI2) 3104-2000 - Fax (OXX 12) 3104-2016
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