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Parasitologia
Veterinária
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R ESPEI TE o AUTOR
NÃO FAC A CóP IA
.abpdea.org.b
Parasito lo gia
Veterinária
Segunda Edição
G. M. U,rquhart
J. Armour
J. L. Duncan
A. M. Dunn
E W. Jennings
The Faculty of Veterinary Medicine
The University of Glasgow
Scotland
Revisores Técnicos
Tradutora
GUANABARA~KOOGAN
NOTA DA EDITORA: A área da saúde é um campo em constante mudança. As normas de
segurança padronizadas precisam ser obedecidas; contudo, à medida que as novas pesquisas
ampliam nossos conhecimentos, tomam-se necessárias e adequadas modificações terapêuti-
cas e medicamentosas. O ~ autores desta obra referiram-se às denominações químicas dos
medicamentos mencionados e não aos nomes comerciais. E evitaram estabelecer doses; neste
sentido, os leitores devem prestar atenção às infonnações forn ecidas pelos fabri cantes, a fim
de se certificare m de que as doses preconizadas ou as contra-ind icações não so freram modi-
ficações. Isso é importante, sobretudo em relação a substâncias novas ou prescritas com pouca
freq üência. Os autores e a editora não podem ser responsabilizados pelo uso impróprio ou
pela aplicação incorreta do produto apresentado nesta ohra .
HELMINTOLOGIA VETERINÁRIA
Família CALLIPHORlDAE, 138
Filo ) Família SARCOPHAGlDAE, 140
NEMATELMINTOS, 3
Classe FamI1ia OESTRIDAE, 140
NEMATODA,3
Superfarrulia Família HIPPOBOSClDAE, 146
TRICHOSTRONGYLOlDEA, 9
Superfamília Ordem PHTHIRAPTERA, 147
STRONGYLOlDEA, 37
Superfanúlia Subordem ANOPLURA , 147
METASTRONGYLOIDEA,50
Superfarrulia Subordem MALLOPHAGA, 147
RHABDITOlDEA, 57
Superfarrulia Ordem SIPHONAPTERA, 153
ASCARlDOlDEA, 59
Superfamília Classe ARACHNlDA, 157
OXYUROIDEA, 68
Superfanúlia "' Ordem ACARINA, 157
SPfRUROIDEA, 69
Superfamília Família IXODIDAE, 158
FILARIOlDEA,75
Superfamília Família ARGASlDAE, 164
TRICHUROlDEA, 82
Superfamília Fanúlia SARCOPTlDAE, 166
DIOCTOPHYMATOlDEA , 86
Filo Família DEMODIClDAE, 169
ACANTHOCEPHALA,87
Filo Família LAMINOSIOPTlDAE, 17l
PLATYHELMINTHES,88
" Classe Família PSOROPTlDAE, 171
TREMATODA, 88
Subclasse DIGENEA,88
Família CHEYLETlDAE, 175
6' Pamília __ Família
FASCIOLIDAE, 89 DERMANYSSlDAE, 177
Família Classe PENT ASTOMIDA, 178
DICROCOELIlDAE, 98
Família PARAMPI-llSTOMATIDAE, 100
Farrulia TROGLOTREMATIDAE, 101 PROTOZOOLOGIA VETERINÁRIA
Farrulia OPISTHORCHIIDAE, 10 I
Fanúlia SCHISTOSOMA TIDAE, 10 I Filo õ> PROTOZOA, 183
Fanúlia DIPLôSTOMA TIDAE, 104 Subfilo SARCOMASTIGOPHORA, 184
~ Classe CESTODA, 104 Classe SARCODINA, 184
Ordem CYCLOPHYLLIDEA, 104 Classe ~ MASTIGOPHORA, @
{" Família TAENIIDAE, 106 Subfilo ~ SPOROZOA, ~
". Família ANOPLOCEPHALIDAE, 112 Classe ;;> COCCIDIA, 196
~ Família DILEPlDlDAE, 115 ~ ília ( EIMERIIDAE, 196)
c( Família DA v AINEIDAE, 117 Família SARCOCYSTlDAE, 204
ti Família HYMENOLEPlDIDAE, 117 Classe PIROPLASMIDIA, 210
Faml1ia MESOCESTOIDlDAE, I 18 Classe HAEMOSPORlDIA, 217
Fmm1ia THYSANOSOMlDAE, 118 Subfilo CILIOPHORA, 217
Ordem PSEUDOPHYLLIDEA, 118 Subfilo MrcROSPoRA, 217
Ordem RICKETTSIALES, 218
ENTOMOLOGIA VETERINÁRIA
Filo
TÓPICOS DE REVISÃO
ARTHROPODA, 123
Classe INSECTA, 124-
Ordem Epidemiologia de Doenças Parasitárias, 223
DIPTERA, 125
Subordem Resistência a Doenças Parasitárias, 229
NEMATOCERA, 125 Anti-helmfnticos, 233
Família CERA TOPOGONIDAE, 126
Família Ectoparasiticidas (lnseticidas/Acaricidas), 236
srMuLIIDAE, 127
Fanúlia Diagnóstico Laboratorial de Parasitismo, 239
PSYCHODlDAE, 128
Fanúlia CULIClDAE, 129
. Subordem BRACHYCERA, 131
RELAÇÕES HOSPEDEIRO/PARASITA, 249
7Família TABANlDAE, 131
i'-rSubordem Fontes de informações adicionais, 261
CYCLORRHAPHA, 133
Família MUSClDAE, 133 .,
Índice Alfabético, 262
PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDiÇÃO
L'-.e livro é destinado a estudantes de para~itologia veterinária, fabricantes. Entretanto, nas ocasiões em que se recomenda uma
:terinários em exercício e a todos aqueles que necessitem de droga em dose incomum, alertamos para isso no texto.
. . ormações sobre algum aspecto de doença parasitária. Nos capítulos finais do livro (nos Tópicos de Revisão); tenta-
PIanejado a princípio como uma versão modestamente am- mos rever cinco aspectos da parasitologia veterinária: epidemio-
ç~ das anotações impressas distribuídas aos nossos alunos do logia. imunidade, anti-helmínticos. ectoparasiticidas e diagnós-
~ ....eiro e quarto anos do curso, o texto, talvez inadvertidamen- tico laboratorial. Acreditamos que esta abordagem mais ampla
. expandiu-se. Isso em razão de três fatores: primeiro, a cons- seja útiJ aos estudantes e, e m especial, àqueles desestimulados
~o gradativa das deficiências em nossas anotações; segun- diante das muitas complexidades do assunto.
. a necessidade da inclusão de algu ns comentários feitos no[- Não existem referências, no texto, além daquelas inseridas no
m:llmen te durante as preleções; e, finalmente, por sugestão dos final do capítulo sobre diagnóstico. Isso foi decidido co m certo
editores, a inclusão de certos aspectos das infecções parasitárias pesar e muito alívio, porque, caso contrário, significaria a inclu-
"i não são discutidos em detalhes em nosso cu rso. são de centenas de referências num li vro basicamente destinado
Talvez seja melhor repetir que o livro se destina sobretudo a estudantes. Esperamos qu e os nossos colegas de todas as par-
~ueles diretamente e nvol vidos com diagnósti co, tratamento e tes do mundo reconheçam os resultados de seus trabalhos no texto
.:ooO"ole das doenças parasitárias dos animais domésticos. As e aceitem tal fato como ex plicação e elogio.
mais importantes dessas doenças, portanto, foram di scutidas com Gostaríamos, entretanto, de reconh ecer nossa dívida para com
3.lguns deta lhes; as menos importantes, descritas resumidamen- os autores de diversos livros de infonnações sobre parasitologia
~: e as incomuns, omitidas ou ape nas me ncionadas de modo veterinári a, cujos trabalhos consultamos com freqüência. Dentre
. reve. Além disso, como os detalhes de classificação tê m valor estes se incluem Medical and Veterinary Protozoology, de Adam,
limi tado para o veterinário, deliberadamente os mantivemos ao Paul e Zaman; Veterinaermedizinische Parasitalagie, de Bach e
mínimo necessário para indicar as relações entre as vári as espé- Supperer; Veterinary Helminthology, de Dunn; Les Maladies
ies. Por idêntica razão, os detalhes taxonômicos são apresenta- Vennineuses des Animaux Domestiques, de Euzéby; Parasitology
dos apenas em nível genérico e, ocasionalmente, para determi- for Veterinarians, de Georgi; Veterinary Helminthalogy, de
nados parasitas, e m nível de espécie. Incursionamo-nos também, Reinecke; A Cuide to Medical En tomology, de Service; e
ligeiramente, em algumas outras áreas, tais como, por exemplo, Helminths, Arthropods and Protozoa of DomesticatedAnimals, de
na identificação de espécies de carrapatos tropi cais e no signifi- Soulsby.
cado especial e epidemiológico de al gu ns parasitas de importân- Qualquer estudante interessado em maiores informações so-
cia regional. Nesses casos, achamos que os esclarecimentos se- bre tópicos específicos deve consul tar essas obras, ou, se prefe-
rão mais amplos se dados por um especialista conhecedor da im- rir, solicitar a seu orientador uma revisão adequada.
portância de espécies particulares na região considerada. O fastio associado à revisão repetida de provas pode. ocasio-
Em todo o texto, referimo-nos geralmente a drogas por suas nalmente (poucas vezes, esperamos), ter levado a alguns desli-
denominações químicas e não pelos nomes comerciais, devido à zes no texto. A notificação desses seria bem acolhida pelos au-
profusão dos últimos no mundo inteiro. Além disso, como as for- tores. Finalmente, esperamos que os esforços de cada um de nós
mulações costumam ser di fe rentes, evitamos estabelecer doses ; neste empreendimento conjunto venham a ser recompensados se
neste sentido, devem ser consultadas as bulas fornecidas pelos ti vere m algum valor para os leitores.
AGRADECIMENTOS DA PRIMEIRA EDiÇÃO
Gostaríamos de expressar nossa gratidão às seguintes pessoas las (Prancha XIla); Dra. Elaine Rose, Houghton Poultry Research
e organizações, que nos auxiliaram na elaboração deste li vro. Station, Huntingdon, Inglaterra (Figs. 160, 163b e 164a, b); Prof.
Primeiramente, aos Drs. R. Ashford e W. Beesley, de Liver- L Selman, Glasgow (prancha XII); Dr. D. Taylor, Glasgow (pran-
pool; Dr. J. Bogan, Glasgow; Dr. W. Campbell , Rahway, EUA; cha XIVc); Dr. M. Taylor, Londres (Fig. 85); Dr. S. Taylor, Belfast
Dr. R. Dalgleish, Brisbane; Dr. L. Joyner, Weybridge, Inglater- (prancha lIa); Dr. H. Thompson, Glasgow (Fig. 92 e Pranchas IVb,
ra; Dr. T. Miller, Flórida; Dr. M. Murray, Nairobi; Dr. R. Purnell, c e Vld); Dr. R. Titchener, Ayr, Escócia (Fig. 11 3b e Prancha
Sandwi ch, Inglaterra; Dr. S. M. Taylor, Belfas t; Professor K. VIIIa); Dr. A. Waddell, Brisbane, AustráJia(Fig. 66e Prancha IVe);
Vickerrnan, Glasgow. Cada um deles leu as seções do texto em Wellcome Research Laboratories, Berkharnsted, Inglaterra (pran-
que são especialistas. tecendo comentários peninentes. Quaisquer cha VI1Ic); Dr. A. Wright, Bristol (pranchas VIb, XIb, Xlld, 1).
erros nessas áreas, entretanto, são de exclusiva responsabilidade Neste contexto, também somos extremamente gratos à Srta.
dos autores. E. Urquhart, Wrexharn, País de Gales, que gentilmente prepa-
Em segundo lugar, às seguintes pessoas e companhias que gen- rou muitos de nossos desenhos gráficos. .
tilmente nos pennitiram usar suas fotografias ou material como Em terceiro lugar, às companhias farmacêuticas de Crown
ilustrações ou pranchas coloridas: Chemical, Kent, Inglaterra; Hoechsl do Reino Unido, Bucks;
Dr. E. AlIonby, Nairobi (Prancha Id, e, 1); Dr. K. Angus, Edim- Merck Sharp & Dohme, Herts; Pfizer, Kent; Schering, Nova
burgo (Fig. 167); Dr. J. Arbuckle, Guildford, Inglaterra (Fig. 61); Jersey; Syntex Agribusiness, Califórnia. Sua generosidade per-
D r. E. Batte, Carolina do Norte, EUA (Prancha IIII); Dr. l. mitiu-nos apresentar muitas das fotografias em cores, aumentan-
Carmichael, Johanesburgo, Áfri ca do Sul (Fig. 142); Dr. L. Cra- do assim seu valor.
mer, São Pau lo, Brasil (Fig. 126b); Crown Copyright, Reino Finalmente, aos membros da Faculdade de Medicina Veteri-
Unido (Prancha XIVb); Dr. J. Dunsmore, Murdoch, Austrália nária de Glasgow, cuja cooperação foi imprescindível para a ela-
Ocidental (Prancha TVd); Prof. J. Eckert, Zu riqu e (Fig. 96) ; boração deste livro. Gostaríamos, em especial, de agradecer a:
Glaxovet, Harefield, Inglaterra (Prancha III); Dr. l. Herbert, Kenneth Bairden, nosso técnico-chefe, que preparou grande parte
Bangor, País de Gales (Fig. 172); Dr. A. Heydom, Berlim Oci- do material para fotografia, quase sempre em cima da hora;
dental (Figs. 170 e 171); Prof. F. Hiiming, Berna (Fig. 82 e Pran- Archie Finnie e Allan May, da Photographi c Unit, os quais,
cha Ve); Dr. B. lovanitti, Balcarce, Argentina (Figs. 22 e 23); Dr. prestimosamente, fizeram o trabalho extra de fotografar muitos
D. Jacobs, Londres (Fig. 38); Drs. D. Kelly e A. Longstaffe, Bris- espécimes; nossas duas secretárias de departamenw, Elizabeth
tol (Figs. 156 e 157); o falecido Dr. T. Lauder, Glasgow (Fig. 65 e Millar e Julie Nybo, sem cuja perícia e atenção a detalhes certa-
Pranchas XIc, e, Xllb); Drs. B . Lindemann e J. McCall, Geórgia, mente este livro não teria sido escrito.
EUA (Fig. 67); Dr. N. McEwan, Glasgow (Pranchas XId eXIle); G. M. Urquhart
Dr. G. Mitchell, Ayr, Escócia (Prancha VIe); Prof. M. Murray, J. Armaur
Glasgow (Figs. 68, 84 e 152); Dr. A. Nash, Glasgow (Fig. 138b e J. L. Duncan
Prancha Xllc); Dra. Julia Nicholls, Adelaide, Austrália (Figs. 6 e A. M. Dunn
14c, d); Dr. R. Pumell, Sandwich, Inglaterra (Fig. 173 e Prancha F. W. Jennings
VIIId, e, 1); Prof. H. Pirie, Glasgow (Fig. 40); Dr. J. Reid, Bruxe- setembro, 1985
cc
PREFÁCIO E AGRADECIMENTOS DA SEGUNDA EDIÇÃO
A primeira edi ção deste liv ro foi publicada em 1987; agora, os que estão familiarizados há tempos com o e mprego de determi-
autores conside raram necessária uma seg unda edição por diver- nados termos para doenças parasitárias animais, nosso objetivo
sos motivos. foi o de tomar mais clara a comunicação científica pelo uso ge-
Em prime iro lugar, o uso di ssemin ado de determinadas dro- rai de uma terminologia uniforme. A longo prazo, esta medida
gas como as avermecti nas e milbenti ci nas, cujo efeito é signifi- deverá ser particularmente vantajosa para facilitar a recuperação
cati vo na profilaxia e no controle de anti-he lmínticos. Na época de dados computadori zados relacionados à parasitologia veteri -
da primeira edição. apenas uma, a ivermectina, era comercializa- nária.
da, ao passo que, no momento, há vários produtos suplementa- No fi nal do li vro, fo rnecemos uma lista de várias publicações
dos por um a série de dispositivos quimioprofiláticos de longa certamente úteis para que m desejar in tei rar-se de um ass unto
ação. específico co m mais detalhes. Encontram-se elas já disponíveis
Em segundo lugar, em muitos países a produção de vários dos na maioria das bibliotecas de universidades e institutos de pes-
anti-he lmínticos e inseticidas mais antigos foi amplamente de- quisas.
sati vada ou é muito difícil encontrá-los. Desejamos agradecer aos Drs. Ken Bairden, Quintin McKellar
Em terceiro lugar, diversas enfennidades parasitárias acham- e Jacqueline McKeand, pelos valiosos comentári os sobre o tex-
se descritas atua lmente, sobre as quais pouco se sabia por oca- to; também a Mr. Stu art Brown, que ajudou no preparo de algu-
sião da primeira edição. As e nfermidades são so bretudo a mas das novas ilustrações, e a Una B. Shanks, que preparou to-
neosporose e a doença de Lyme. Foi inc1uída também uma bre- dos os novos desenhos gráficos.
ve descrição do ácaro nasal de cães, Pneumonyssus caninum, for- Devemos mencionar, com grande pesar, a morte de nosso co-
nec ida gentilmente pelo Prof. Arvid Ugg la de The National autor, Dr. Angus M. Dunn, falecido em 199 1, antes do início desta
Veterinary Institute and Swedish Univers ity of Agri cultural revisão. Temos certeza de que ele teria aprovado, sem restrições,
Sciences, Uppsala, Suécia. todas as alterações a que procedemos.
Em quarto lugar, tivemos a oportunidade de reescrever a lgu- No início desta revisão, pretend íamos incluir novas seções
mas partes do texto, as quai s, depois de muita ponderação, esta- sobre doenças parasitárias de peixes e de animais de laboratório.
vam menos claras do que esperávamos. Em muitos casos, isso Entretanto uma posterior revisão da literatura atualmente viável
foi atenuado por novos diagramas ou fotografias. sobre estes do is temas demonstrou que ambos foram adequada-
Outra mudança nesta edição foi a adoção da nomenclatura pa- mente abordados nas publicações já existentes, parecendo-nos
dronizada de doenças parasitárias animais (SNOAP AD) proposta mais razoável incluir os títulos dessas obras na relação de leitu-
por uma comissão de especialistas nomeada pela World Asso- ras adicionais.
c ia ti on for the Adv à nceme nt of Veteri nary Parasito lo gy Finalmente, desejamos expressar nossa alegria pela recepção
(W AA VP), publicada em Veterinary Parasitology ( 1988) 29, da primeira edição por revisores, colegas e estudantes; espera-
299-326. Em bora isso possa ter um efeito desagradável junto aos mos que esta segunda edição seja igualme nte bem acolhida.
Parasitologia
Veterinária
ENCARTE COLORIDO
la)
Ib)
M2
le)" ,._ _ _ _ _ _ _ _ _--'
le)
If)
Prancha I
a Ostertagia ostertagi emergindo de uma glândula gástrica.
~ Lesões macroscópicas características de ostertagiose.
:; Necrose da mucosa em ostertagiose grave.
:: Hemorragias abomasais em hemoncose.
;; Expansão da medula vermelha na tíbia em hemoncose aguda.
Anemia e edema submandibular característicos de hemoncose.
(a) (d)
(b) (e)
(c)
(I)
Prancha II
(a) TrichostrongyJus vitrinus na mucosa do intestino delgado.
(b) Erosões características de tricostrongilose inlestinal.
(c) Placas salie ntes no abomaso decorrentes de infecção por Trichostrongy/us axei.
(d) Dictyocaulus viviparus adulto nos brônquios.
(e) Distribuição típica de lesões pneumônicas de bronquite parasitâria.
(I) Larvas de Dictyocaulus viviparus no fungo PHobolus.
(a)
(e)
(b)
(f)
(c)
~halll
- Arterite e trombose da artéria mesentérica cranial causadas por laNas de Strongyfus vulgaris .
.:: Stmngyfus edenfatus nutrindo-se da mucosa do intestino grosso.
Triodontophorus tenuicollis adultos nutrindo-se ao redor da periferia de uma úlcera no cólon ventral.
....arvas de pequenos estrõngilos em desenvolvimento na mucosa do ceco.
- 'õódulos intestinais associados a espécies de Oesophagostomum em desenvolvimento.
O -Verme do rim'· Stephanurus dentatus
(a) (d)
(b) (e)
(f)
(e)
Prancha IV
(a) Syngamus trachea adulto in situ (I).
(b) lesões de "mancha de leite" no fígado associadas a infecção por Ascaris suum.
(e) Infecção maciça por Toxocara canis no intestino delgado de um cãozinho.
(d) Granuloma ulcerado na comissura labial de eqüino causado por habronemose cutânea.
(e) Grande nódulo em estômago eq üino associado a infecção por Draschia megastoma.
(f) Nódulos típicos de oncocercose bovina.
(a)
(f)
~ v
-: ....esões hepáticas associadas a fasciolose ovina aguda.
~rragia subcapsular maciça observada freqüenlemente em fasciolose ovina aguda.
Jrrose extensa associada a fasciolose ovina crônica.
~o macroscópico do fígado na fasciolose bovina.
~ -SSÕeS hepáticas causadas por grave infecção por Dicrocoelium dendritícum.
"'c:Ianfistomos adultos fixados à parede do rúmen .
(a)' (d)
(e))
(e)
(f)
Prancha VI
(a) Cysticercus bovis em músculo esquelético.
(b) Cisto de Coenurus cerebralis de cérebro de ovino.
(c) Grande Cysticercus tenuicollis cheio de líquido lixado ao fígado.
(d) "Hepatite cisticercosa" causada por infecção maciça por Cysticercus tenuicollis.
(e) Fígado de camundongo inlectado por Cystic8rcus fascio/aris.
(I) Corte de fígado ovino apresentando cisto hidático.
la) lo)
Ib) (d)
Prancha VII
(a) Musca domestica.
(b) Stomoxys calcitrans.
(e) Haematobia (Lyperosia) spp.
(d ) Glossina spp .
(d)
Ib}~' (e)
(e) (f)
Prancha VIII
(a) Hydrotaea irritans ag lomerada ao redor da base dos chifres num ovino.
(b) Lesões características de ataque ao corpo em conseqüência de miíases causadas por varejeiras.
(e) O melofagídeo dos ovinos Melophagus ovinus.
(d) Ixodes ricínus fêmea; observar peças bucais alongadas.
(e) Haemaphysalis punctata fêmea; observar peças bucais curtas e l eslões.
(I) Dermacentor reticulatus macho e fêmea; é um carrapato ornamentado e possui leslões.
r
HELMINTOLOGIA VETERINARIA
PRINCíPIOS DE CLASSIFICAÇÃO Secundários
Acantocéfalos (vermes de cabeça espinhosa)
Todos os organismos ánimais relacionam-se entre si, íntima ou
remotamente, e o estudo do co mplexo sistema de jnter-relações
é denominado sistemática. É essencialmente um estudo do pro- Filo NEMATELMINTOS
cesso evolutivo.
Ao exame dos organi smos, observa-se que formam grupos Embora o filo Nematelmintos tenha seis classes, apenas uma
naturais com características, usualmente morfológicas, em co- delas, a nematoda, contém vermes de significância parasitária.
mum. Um grupo deste tipo chama-se taxoD, e o es tudo deste Os nematóides são denominados comumente vennes cilíndricos,
as pecto da biologia, taxonomia. por seu aspecto ao corte transversal.
Os taxons em que os organismos podem ser incluídos são
reconhecidos por regras internacionais, os principais são: reino,
ruo, classe, ordem, família, gênero e espécie. Os intervalos entre Classe NEMATODA
os taxons são grandes. e alguns organismos não podem ser en-
quadrados neles com preci são. de tal maneira que foram forma- No Quadro I é apresentado um sistema de classificação dos ne-
dos taxons intermediários, prefixados apropriadamente; a subor- matóides de importância veterinária.
dem e a superfamília constituem exemplos disto. Como ilus- Deve-se ressaltar que não é uma representação exata do sis-
tração, o estado taxonômico de um dos parasitas abomasais co- tema geral de nematóides parasitas, mas sim uma apresentação
muns de ruminantes pode ser expresso como se segue. simplificada para ser utilizada no estudo de parasitologia veteri-
nári a. Baseia-se nas dez superfamílias em que ocorrem nema-
Reino Animal tóides de importância veterinária e que se dividem conveni ente-
Filo Nematelmintos mente em grupos com bolsa copuladora e sem bolsa copula-
Classe Nematoda dora, como demonstra o Quadro I.
Ordem Strongylida
Subordem Strongylina ESTRUTURA E FUNÇÃO
Superfamília Trichostrongyloidea
FanúLia Trichostrongylidae A maioria dos nematóides te m forma cilíndrica, afi lando-se em
Subfamília Haernonchinae cada extremidade, sendo o corpo revestido por uma camada in-
Gênero Haemonchus color, algo translúcida, a cutícula.
Espécie conlOrlus A cu tícula é secretada pela hipodenne subjacente, que se pro-
jeta na cavidade corpórea formando dois cordões laterais, que
Os nomes dos taxons devem ser seguidos conforme as regras contêm os canais excretores, e um cordão dorsal e um ventral que
internacionais, mas é permitido vernaculizar as terminações, e, contêm os nervos (Fig. I). As células musc ulares, di spostas lon-
ass im sendo, os membros da superfamI1ia Trichostrongyloidea gitudinalmente, ficam entre a hipoderme e a cavidade corpórea.
no exemplo citado também podem ser denominados tricostrongi- Esta última contém líquido sob alta pressão que mantém a turgi-
lídeos. dez e a forma do corpo. A locomoção é efetuada por movimen-
Os nomes do gênero e da espécie são apresentados na forma tos ondul antes de contração e relaxamento muscular que se al-
latina, tendo o nome genérico inicial maiúscula, e deve haver ternam nas faces dorsal e ven tral do verme.
concordância gramatical. É com um a grafia de palavras estran- Os órgãos internos, em sua maioria, são filamentosos e ficam
geiras em itálico, de modo que o nome de um organismo geral- suspensos na cavidade corpórea cheia de líquido (Fig. 2)
mente é escrito em itálico ou sublinhado. Não são permitidos O sistema digestivo é tubul ar. A boca de muitos nematói-
acentos, razão pela qual, se a denominação ,de um organismo for des é um simples orifício, que pode ser rodeado por doi s ou três
homenagem a alguém, pode ser necessário correção; O nome de láb ios, indo diretamente ao esôfago.t Em outros, como nos
Mü Uer, por exemplo, foi alterado no gênero Muellerius. estrongilídeos, é grande e se abre numa cápsula bucal, que po-
Os principais taxons contendo helmintos de importância ve- de conter dentes; estes parasitas, ao se alimentar, remo vem um
terinária são: tampão de mucosa para a cápsula bucal (Fig. 3), onde é di -
gerido pela ação de enzimas secretadas para a cápsula pelas
Mais importantes glândulas adjacentes. Alguns destes vermes também podem
Nematelmintos (vermes cilíndricos) secretar anticoagulante, e pequenos vasos, rompidos na diges-
Platelmintos (vermes achatados) tão do pedaço de mucosa, podem continuar a sangrar por al-
4 Parasitologia Veterinária
,:"."~~~
Quadro 1 Nematóides parasitas de importância veterinária: classificação
simplificada
~
$yngamus etc. geralmente presentes.
Ciclo evolutivo direto; infecção
por L3.
Intestino
Canal excretor
Útero
+'1-- Músculo
/-;1--- Hipoderme
~ ..
Fig . 4 Formas básicas de esôfago encontradas em nematóides. Fig. 5 Micrografia eletrônica de varredura de um apêndice vulvar de um nematóide
tricostrongilideo.
or e posterior, é encontrado nas larvas pré-parasitári as de muitos ICoroas lamelares, constituídas de fileiras de papilas que se
nematóides e nos nematóides de vida li vre. I .. apresentam como fímbrias ao redor da abertura da cápsula bucal
O intestino é um tubo cuj a luz é envol ta por uma única ca- (coroas lamelares externas) ou exatamente no lado interno desta
mada de células ou por um sincício. Sua superfície luminal pos- abertura (coroas lamelares internas) . São particularmente salien-
sui microvilosidades que aumentam a capacidade de absorção das tes em determinados nematóides de eqüinos. Sua função não é
células. Nas fêmeas, O intestino termina num ânus, enquanto nos conhecida, mas supõe-se que possam ser usadas para manter em
machos há uma cloaca que func iona co mo ânus e na qual se abre posição um pedaço da mucosa durante a alimentação ou que
o canal deferente e através da qual podem projetar-se os espícu- possam impedir a entrada de material estranho na cápsula bucal
las copuladores. quando o verme se desprender da mucosa.
O chamado «sistema excretor" é muito primiti vo, constituí-
do de um canal em cada cordão lateral unindo-se no poro excre-
tor na região esofágica.
Os sistemas reprodutores consistem em tubos filamentosos.
Os órgãos femininos compreendem ovário, oviduto e útero, que
podem ser pares, terminando numa curta vagina comum que se
abre na vulva. Em algum as espécies, na junção do útero com a Espículas
vagina há um pequeno órgão muscular, o ovoejetor, que auxi-
lia a postura de ovos. Pode haver também um apêndice vulvar
(Fig. 5). Gubernáculo --+.-:..
Os órgãos masculinos são constituídos de um ún ico testícu-
lo contínuo e um canal deferente terminando num dueto ejacu-
lador na cloaca. Às vezes, órgãos masculinos acessórios são muito
úteis na identificação, especialmente dos tricostrongilídeos, os
dois mais importantes sendo os espículas e o gubernác ulo (Fig.
6). Os espículos são órgãos quitinosos, geralmente pares, que são
in trodu zidos no orifício genital feminino durante a cópula. O gu-
bernáculo, também quitinoso, é uma pequena estrutura que ser-
ve de guia para os espículos. Com os dois sexos em perfeita apo-
sição, o esperma amebóide é transferido da cloaca do macho Pê:a
o ·úte ro da fêmea.
A cutícula pode modificar-se, fo rmando várias estruturas, das Fig. 6 Espiculos, gubernáculo e bolsa copuladora de um nemalóide lricostrongilí-
guais as mais importantes (Fig. 7) são : deo.
6 Parasitologia Veterinária
e viscosa nos ascarídeos e importante na epidemiologia desta condições adversas, como congelamento ou dessecação; por
superfamília. outro lado, as L I e ~ são partic ularmente vulneráveis. Apesar
Por outro lado, em algumas espécies a casca é muito fina, da dessecação em geral ser considerada a influência mais letal
podendo estar presente simplesmente como uma cápsula em volta na sobrevivência larval, há evidência cada vez maior de que cer-
da larva. tas larvas podem sobreviver a grave dessecação entrando num
O potencial de sobrevjvência do ovo fora do corpo varia, mas estado de anidrobiose.
parece estar relacionado à espess ura da casca, que protege a lar- No solo, as larvas, em sua maioria, são ati vas; embora requei-
va de dessecação. Portanto, os parasitas cuja fonna infectante é ram uma película de água para se movimentar e sejam estimula-
o ovo larvado geralmente têm ovos de casca es pessa, que podem das pela luz e pela temperatura, sabe-se agora que o movimento
sobreviver durante anos no solo. larval é principalmente casual e o encontro com folhas de gra-
míneas acidental.
ECLOSÃO
INFECÇÃO ~
Dependendo da espécie, os ovos podem eclodir fora do corpo ou
após a ingestão. Como observado anteriormente, a infecção pode ser por inges-
Fora do corpo, a eclosão é controlada em parte por certos fa- tão de L3 de vida livre, e isto ocorre na maioria dos nematóides
tores co mo temperatura e umidade, em parte pela própria larva. tricostrongilídeos e estrongilídeos. Nestes. a L, perde a cápsula
No processo de eclosão, a membrana interna impenneável do ovo retida da L 2 dentro do trato digestivo do hospedeiro, sendo o es-
é digerida por enzimas secretadas pela larva e por seu próprio tímulo para o desencapsulamento fornecido pelo hospedeiro de
movimento. A larva é, então, capaz de absorver água do ambi- modo semelhante ao estímulo de eclosão requerido por nema-
ente e se dilata, rompendo as camadas restantes e saindo. tóides ovo-infectantes. Em resposta ao estímulo. a larva libera
Quando o ovo larvado é a forma infectante, o ho spedeiro ini- se u próprio líquido de desencapsulamento, contendo uma enzi-
cia a eclosão, fornecendo estím ulos para a larva, que completa ma leucina aminopeptidase, que dissolve a cápsula a partir de
então O processo. É importante para cada espécie de ne matóide dentro, ou num estreito anel anteriormente de modo a se soltar
que a eclosão ocorra em regiões apropriadas do intestino, e as- um tampão ou partindo a cáps ul a longitudinalmente. A larva
sim os estímulos serão diferentes, embora pareça que o dióxido pode, então, mover- se livre da cápsula.
de carbono dissolvido seja uma constante essencial. Como acontece no estágio pré-parasitário, o crescimento da
larva durante o desenvolvimento parasitário é interrompido por
DESENVOL VIMENTO E SOBREVIVÊNCIA duas mudas, cada uma delas ocorrendo durante um curto perío-
LARVAL do de letargia.
O tempo gasto para o desenvol vi mento desde a infecção até
Três das superfarníli as importantes, os tri costrongilídeos, os es- os parasitas adultos maduros estarem produzindo ovos ou larvas
trongi lídeos e os rabditídeos, têm uma fase pré-parasitária com- é denominado período pré-patente, tendo duração conhecida
pletamente de vida livre. Os doi s primeiros estágios larvais usu- para cada espécie de nematóide.
almente se nutrem de bactérias, mas a L3' isolada do meio ambi-
ente pela cutícula retida da ~, não pode alimentar-se e precisa
sobreviver dos nutri entes acumulados adquiridos nos estágios
METABOLISMO
iniciai s. O crescimento da larva é interrompido durante a muda
por períodos de letargia em que ela não se nutre nem se move. A principal reserva alimentar de larvas de nematóides pre-para-
A c utícula da L 2 fica retida como uma cápsula ao redor da ~ ; sitárias, se dentro da casca do ovo ou de vida li vre, é Iipídica,
isto é importante na sobrevivência da larva, com uma função podendo ser observada como gotículas na luz intestin al ~ a infec-
análoga à da casca do ovo nos grupos ovo-infectantes. ti vidade desses estágios está sempre relacionada à quantidade
O s doi s elementos mais importantes do ambiente ex terno são presente, visto que as larvas que esgotam suas reservas não são
a temperatura e a umidade. tão infectantes como as que ainda retêm quantidades de lipídios.
A temperautra ideal para O desenvol vimento da quantidade Além dessas reservas, as larvas de primeiro e segundo está-
máxima de larvas no menor tempo possível geralmente está na gio de vida livre da maioria dos nematóides nutrem-se de bacté-
faixa de 18 a 26°C. Em temperaturas mai s altas, o desenvolvi- rias. Entretanto, assim que atingem o terceiro estágio infectante,
t-
mento mais rápido e as larvas são hiperativas , esgotando as- ficam isoladas pela cutícula retida do segundo estágio, não po-
sim as suas reservas lipídicas. A taxa de mortalidade sobe então, dem alimentar-se e dependem totalmente das suas reservas acu-
de tal modo que poucas chegam a L3' Conforme cai a temperatu- muladas.
ra, o processo toma-se lento, e abaixo de 10°C geralmente não Por outro lado, o parasita adulto armazena sua energia sob a
pode ocorrer o desenvolvimento do ovo até L,. Abaixo de soe, o forma de g1icogênio, principalmente nos cordões laterais e nos
movimento e o metabolismo de L3 são ITÚnimos, o que em mui - mú sculos, e isto pode constituir 20% do peso seco do verme.
tas espécies favorece a sobrevivência. Os estágios de vida livre e em desenvolvimento geralmente
A umidade ideal é de 100%, embora possa ocorrer algum têm metabolismo aeróbio, enquanto os nematóides adultos po-
desenvolvimento com umidade relativa inferior a 80%. Deve-se dem metaboli zar carboidratos por gl icólise (anaeróbios) e por
observar que mesmo e m tempo seco, em que a umidade ambi- descarboxilação (aeróbios). Nesta última, entretanto, podem atuar
ente 6 baixa, o microclima nas fezes ou na superfície do solo pode vias que não estão presentes no hospedeiro. e é neste nível que
ser suficientemente úmido para permitir desenvolvimento larval agem algumas drogas antiparasitárias.
contínuo. A oxidação de carboidratos requer a presença de um sistema
Nos tricostrongilídeos e estrongilídeos, O ovo embrionado e transportador de elétrons que n~ maioria dos nematóides pode
a L3 encapsulada são mais bem protegidos para sobreviver em operar aerobiamente em tensões de oxigênio de 5 mm Hg ou
8 Parasitologia Veterinária
menos. Como a tensão de oxigênio na superfície mucosa é de co ndições muito secas nos subtrópicos ou trópicos. Por outro
aproximadamente 20 mm Hg, os nematóides em íntima proxi- lado, a maturação dessas larvas coincide com a volta de condi-
midade da mucosa normalme nte têm oxigênio suficiente para ções ambientais adequadas ao seu desenvolvimento de vida li-
°
metabolismo aeróbio. Por outro lado, se nematóide ficar tem- vre, apesar de não estar claro o que dispara o sinal para matura-
porária ou permanentemente a certa distância da superfície mu- ção e como é transmitido.
cosa, é pro vável que O metabolismo e nergético seja amplamente O grau de adaptação a estes estímulos sazonais, e portanto a
anaeróbio. proporção de larvas a tornar-se inibida, parece ser um caráter he-
Tal qual o sistema transportador convencional de elétrons de reditário e é afetado por di versos fatores, incluindo sistemas de
citocromo e flavoproteína, muitos nematóides têm "hemoglobina" pastejo e o grau de adversidade no meio ambiente. Por exemplo.
nos líquidos corpóreos, o que lhes confere pigmentação vermelha. no Canadá, onde os invernos são rigorosos, as larvas de tri cos-
Essa hemoglobina dos nematóides é quimicamente semelhan te à trongilídeos ingeridas no final do outono ou no inverno, em sua
mioglobina e apresenta a mais alta afinidade por oxigênio de qual- maioria, ficam inibidas, enquanto no sul da Grã-Bretanha, com
quer hemoglobina an imal conhecida. Supõe-se que a principal invernos moderados, cerca de 50 a 60% ficam inibidas. Nos tró-
função da hemoglobina dos nematóides seja o transporte de oxi- picos úmidos, onde é possível o desenvolvi mento larval de vida
gênio, adquirido por difusão através da cutícula ou do intestino, li vre durante quase todo o ano, relativamente poucas ficam iru-
para os tecidos; os vermes hematófagos provavel mente ingiram bidas.
uma quantidade considerável de nutrientes oxigenados na dieta. Contudo, pode ocorrer também de sen volvime nto in ibido
Qs produtos finai s do metabolismo de carboidratos, gorduras como resultado de imunidade tanto adquirida como etária no
ou proteínas são excretados através do ânus ou da cloaca ou por hospedeiro, e, embora as proporções de larvas inibidas em geral
difusão através da parede corpórea. A amônia, produto final do não sejam tão al tas como na hipobiose, elas podem desempenhar
metabolismo protéico, deve ser excretada rapidamente e di1uída um pape l importante na epidemiologia de infecções por nema-
a níveis atóxicos nos líquidos circundantes. Durante períodos de tóides. A maturação dessas larvas inibidas parece estar ligada ao
metabolismo anaeróbio de carboidratos, os vermes também po- ciclo reproduti vo do hospedeiro e ocorre no parto ou em suas
dem excretar ácido pirúvico em vez de retê-lo para futura oxida- proxi midades.
ção quando for possível metabolismo aeróbio. A importância epidemiológica do desenvolvimento larval
O "sistema excretor" que termina no poro excretor quase cer- inibido por quaJquer que seja a cau sa é que , em primeiro lugar.
tamente não está relacionado com excreção, mas sim com osmor- assegura a sobrevivência do nematóide durante períodos de ad·
regulação e equilíbri o de sais. versidade e, em segundo lugar, a subseqüente maturação de lar-
Dois fenômenos que acometem o ciclo evoluti vo parasitário vas inibidas aumenta a contami nação do meio ambiente, poden-
de nematóides e que têm considerável importância biológica e do, às vezes, resultar em doença clínica.
epidemiológica são o desenvolvimento larval inibido e o au-
mento peripuerperal nas contagens de ovos fecais. AUMENTO PERIPUERPERAL (APP) EM
CONTAGENS DE OVOS NAS FEZES
DESENVOL VIMENTO LARVAL INIBIDO
(S inô nimos: aumento pós-puerperal, aumento de primavera.)
(Sinônimos: desenvolvimento larval reprimido, hipobiose.) Trata-se de um aumento nas quantidades de ovos de nematói-
Este fenômeno pode ser definido como a inte rrupção tempo- des nas fezes de animais na época do parto. O fenômeno é mais
rária no desenvolvimento de um nematóide num exato momen- acentuado em ovelhas, porcas e cabras.
to de seu desenvolvimento parasitário. Geralmente é uma carac- A etiologia deste fenômeno tem sido estudada principalmen-
terística facultati va e acomete apenas uma proporção da popula- te em ovinos e parece resultar de uma queda temporária da imu-
ção de verme~ Em algumas lin hagens de nematóides, há alta nidade associada a alterações nos níveis circulantes do hormô-
propensão para desenvolvimento inibido, enquanto em outras nio lactogênico prolactina. Parece ocorrer diminuição nas respos-
essa tendência é baixa. tas i munes parasita-específicas simultaneamente à elevação dos
A evidência concl usiva da ocorrê nci a de desenvolvimento níve is séricos de prolactina. Esses níveis são rapidamente resta-
larval inibido pode ser obtida apenas por exame da população belecidos quando os níveis de prolactina cae m ao final da lacta-
de vermes no hospedeiro. É reconhecida comumente pela pre- ção ou, mais abruptamente, se os cordeiros forem desmamados
sença de grandes quantidades de larvas no mesmo estágio de precocemente e removido O estímu lo de sucção.
desenvolvimento em an imais impedidos de infectar-se por um A causa do APP é tripla:
período mais lon go que o necessário para atingir este estágio
(1) Maturação de larvas inibidas em conseqüência da imunida-
larval específico.
de do hospedeiro.
A natureza do estímulo para desenvolvimento inibido e sub-
(2) Aumento no estabe lecimento de infecções adquiridas d",
seqüente maturação das larvas é ainda um assunto de debates.
pastos e redução na renovação de infecções existentes pOl
Embora haja circunstâncias aparentemente d iferentes que inici-
vermes adul tos.
am desenvolvimento larval inibido, mais comumente o estímu-
(3) Aumento na fecundidade de populações existentes de vennes
lo é ambiental, recebido pelos estágios infectaJ;ltes de vida li vre
adultos.
antes da ingestão pelo hospedeiro. Pode ser encarado como um
artifício pelo parasita para evitar condições c limáticas adversas Concomitantemente, mas não em associação à queda da imu-
para sua progênie, permanecendo sex ualmente imaturo até que nidade do hospedeiro , o APP pode ser aumentado pela matura-
haja novamente condições mais favoráv e i ~ O nome comumen- ção de larvas hipobióticas.
te aplicado a esta interrupção sazonal é hipobiose. Assim, o acú- A importânci a do APP é a sua ocorrênci a numa época em
mulo de larvas inibidas freqüentemente coincide com o início das as quantidades de novos hospedeiros suscetíveis estão aumen-
condi ções frias de outono/inverno no hemisfério norte ou de tando, garantindo assim a sobrevivência e a propagação da e
Helmilllologia Veterinária 9
(a) (e)
(b)
(d)
Fig. 8 Estrutura de espículas de cinco espécies de Ostertagia. (a) o. ostertagi; (b) o. /yrata; (c) o. circumcincta; (d) O. trifurcata; (e) o. leptospicularis.
HeLmintologia Vete rinária 11
lei
Fig. 8 (continuação) Fig. 11 Nódulos umbilicados na superfície mucosa depois da emergência de lar-
vas de Ostertagia.
ro período de pastejo, resultando da maturação de larvas ingeri- depois de levados ao pasto na primavera. Entretanto, isto é
das d urante o outono anterior e subseqüentemente tendo o de- incomum e o papel das L} é mais o de infectar bezerros num
senvolvimento inibido no início do quarto estágio larval. nível que produza infecção subclínica patente e garanta a
O principal sinal clínico na doença tanto Tipo l como Tipo II contaminação do pasto pelo resto do período de pastejo.
é uma profusa diarréia aquosa. No Tipo l, em que os bezerros (2) Na primavera, verifica-se alta mortalidade das L3 que sobre-
estão no pasto, essa diarréia usualmente é persistente e tem co- viveram ao inverno no pasto e, em junho, usualmente po-
loração verde-brilhante característica. Por outro lado, na maio- dem ser detectadas apenas quantidades desprezíveis. Essa
ria dos animais com Tipo II, a diarréia quase sempre é intenni- mortalidade, combinada com o efeito de diluição da forra-
tente , em geral estando presentes anorexia e sede. A pelagem dos gem em rápido crescimento, toma a maior parte dos pastos,
animai s acometidos em ambas as síndromes é opaca e os quar- não utili zados na primavera, seguros para o pastejo após
tos posteriores encontram-se bem sujos de fezes. meados do verão.
Ia ostertagiose T ipo II, a hipoalbuminemia é mais acentua- Entretanto, apesar da mortalidade de LJ no paslo, parece
da. e se observa anemia moderada de etiologia desconhecida. agora que muitas sobrevivem no solo por no mínimo mais
Como conseqüência da hipoalbuminemia, com freqüência veri - um ano e, às vezes, parecem migrar para a pastagem. Não
fica-se edema submandibular. Em ambas as formas da doença, a se sabe exatamente se esta é uma ocorrência comum e se as
perda de peso corpóreo é considerável durante a fase clínica e larvas migram ou são transportadas por populações terres-
pode chegar a 20% em sete a dez dias. A qualidade da carcaça tres de minhocas ou besouros, mas a ocorrência desses apa-
também pode ser afetada, pois há redução nos sólidos corpóreos rentes reservatórios de larvas no solo pode ser importante
totais em relação à água corpórea total. em relação a determinados sistemas de controle baseados no
Na doença Tipo I, a rnorbidade usualmente é alta, muitas ve- manejo de pastos.
zes ultrapassando 75%, mas a mOlialidade é rara desde que se (3) Os ovos depositados na primavera desenvolvem-se lenta-
institua tratamento em dois a três dias. No Tipo II, a prevalência mente em L 3 ; esse ritmo de desenvolvimento torna-se mais
de doença clínica é relativamente baixa e quase sempre apenas rápido perto de meados do verão, quando a temperatura au-
uma proporção de animais no grupo é acometida; a mortalidade menta, e como resultado os ovos depositados durante abril,
nesses animais é muito alta, a menos que seja instituído tratamen- maio e junho, em sua maioria, atingem todos o estágio in-
to precoce com um anti-helmíntico eficaz contra estágios larv'ais fectante de meados de julho em diante. Se forem ingeridas
inibidos e em desenvolvimento. quantidades suficientes dessas L 3, ocorre a doença Tipo I em
qualquer ocasião de julho a outubro. O desenvolvimento de
ovo em L3 torna-se mais lento durante o outono, e há dúvi-
EPIDEMIOLOGIA
das sobre se muitos dos ovos depositados depois de setem-
bro se desenvolvem mesmo em L J .
A epidemiologia da ostertagiose em regiões temperadas do he-
(4) Conforme avança o outono e cai a temperatura, uma propor-
misfério norte pode ser convenientemente considerada nos sub-
ção crescente (até 80%) das LJ ingeridas não amadurece, mas
títulos de bovinos leiteiros e bovinos de corte; as diferenças im-
torna-se inibida no início do quarto estágio larval (EL4). No
portantes nos climas subtropicais serão resumidas mais tafile.
final do outono, portanto, os bezerros podem abrigar mui -
tos milhares desses EL4' mas poucas formas em desenvol-
Bovinos leiteiros vimento ou adultos. Tais infecções em geral são assintomá-
ticas até ocorrer a maturação dos EL4 durante o inverno , e,
Os importantes fatos a seguir resultaram de estudos epidemioló- se grandes quantidades deles se desenvolverem simultane-
gicos (Fig. 12): amente, ocorre doença Tipo II. Quando a maturação não é
(1) Um número considerável de L} pode sobreviver ao inverno simultânea, pode não se manifestar sintomatologia clínica,
no pasto e no solo. Às vezes, os números são suficientes para mas as cargas de vermes adultos que se desenvolvem po-
precipitar doença Tipo I em bezerros três a quatro semanas dem desempenhar um papel epidemiológico significativo ,
contribuindo para a contaminação dos pastos na primavera.
Dois fatores, um de manejo e um climático, parecem aumen-
tar a prevalência de ostertagiose Tipo U.
O primeiro consiste na prática de deixar os bezerros em pasto
permanente de maio até o final de julho, mudando-os em segui-
- Larvas no pasto
da para campos de restolhos de feno ou silagem antes de colocá-
- Ovos nas fezes
los novamente no pasto original no final do outono. Neste siste-
ma, o acúmulo de LJ no pasto original ocorre a partir de meados
de julho, isto é, depois dos bezerros passarem para os restolhos
Larvas que de feno . Essas L3ainda se encontram presentes nos pastos quan-
sobreviveram ao inverno do os bezerros retornam no final do outono, e quando ingeridas
a maioria torna-se inibida.
Em segundo lugar, em verões secos, as L3 ficarnretidas no bolo
fecal ressecado e não podem migrar para o pasto até que ocor-
ram chuvas suficientes para umedecer o bolo fecal. Se as chuvas
atrasarem até o final do outono, muitas larvas liberadas no pasto
abril junho agosto outubro tornam-se inibidas após a ingestão, aumentando assim a chance
Fig. 12 Epidemiologia da ostertagiose bovina em zonas temperadas do hemisfério de doença Tipo II. Aliás, as epidemias de ostertagiose Tipo II
norte demonstrando aumento de larvas infectantes no pasto em meados de verão. são precedidas tipicamente por verões secos.
;
Helmilltologia Veterinária 13
Embora basicamente uma doença de bovinos leiteiros jovens, EFEITO DA INFECÇÃO POROSTERTAGIA
a ostertagiose pode, contudo, acometer grupos de animais mais SOBRE A LACTAÇÃO DE VACAS NO PASTO
velhos do rebanho, particularmente se tiveram pouca exposição
prévia ao parasita, uma vez que não existe imunidade etária sig- Embora as cargas de espécies de Ostertagia adultas em vacas
nificante à infecção. leiteiras usualmente sejam baixas, existe alguma evidência de que
A imunidade adquirida na ostertagiose é de desenvolvimento um único tratamento anti-helmintico de tais vacas no parto ou
lento, e os bezerros não adquirem um nível significativo de imu- logo após o parto pode melhorar a produção de leite. Entretanto,
nidade até o final de seu primeiro período de pastejo. Se forem, a vantagem econôrnica obtida com este tratamento varia co nsi-
então, estabulados durante O inverno, a imunidade adquirida ao deravelJnente de propriedade para propriedade e também aparen-
final do período de pastejo estará baixa na primavera seguinte, e temente de região para regi ão, e as bases existentes ainda são
os animais de um ano de idade reconduzidos ao pasto nesta oca- insuficientes para defender O tratamento rotineiro de rebanhos
sião são parcialmente suscetíveis e contaminam, assim, o pasto com na época das parições.
pequenas quantidades de ovos. Entretanto, a imunidade é rapida- Foi sugerido também que uma queda na produção de leite
mente restabelecida, e quaisquer sinais clínicos que ocorram em durante a lactação poderia ser conseqüente a edema e aumento
geral são de natureza transitória. Durante o segundo e o terceiro de permeabilidade da mucosa abomasal, provavelme nte pela
anos de pastejo, desenvolve-se urna forte imunidade adquirida, e reação de hipers ensibilidade associada a ingestão contínua e
os animais adultos em áreas endêmicas são altamente imunes à destruição de grandes quantidades de 1.,.
reinfecção e de pouca importância na epidemiologia. Uma exce-
ção a esta regra ocorre próximo ao período peripuerperal, quando DIAGNÓSTICO
a imunidade cai, particularmente em novi lhas, e há relatos de do-
ença clínica após o parto. A razão não é conhecida, mas pode de- Em animais jovens, baseia-se em:
correr do crescimento de larvas injbidas em seu desenvolvimento
como resultado de imunidade do hospedeiro. (1) Sintomatologia clínica de inapetência, perda de peso e di-
arréia.
Rebanhos de corte (2) Estação. Por exemplo, na Europa, o Tipo I ocorre de julho
a setembro e o Tipo II de março a maio.
Embora a epidemiologia básica em rebanhos de corte seja seme- (3) História do pastejo. Na doença Tipo I, os bezerros geral-
lhante à de bovinos leite iros, deve-se considerar a influência de mente são mantidos numa área por vários meses; por outro
animais adultos imunes que pastam ao lado de bezerros suscetí- lado, a doença Tipo II freqüentemente tem hi stória típica de
veis. Assim, em rebanhos de corte em que as parições ocorrem bezerros num pasto da primavera até meados do verão, sen-
na primavera, a ostertagiose é rara, pois a produção de ovos por do em seguida removidos e levados novamente ao pasto ori-
adultos imunes é baixa e a mortalidade de primavera das L:, que ginai no outono. As propriedades acometidas usualmente
sobreviveram ao inverno ocorre antes que os bezerros lactentes também têm história de ostertagiose em anos anteriores.
(4) Contagens ge ovos nas fezes. Na doença Tipo I, em geral
ingiram quantidades significativas de capim. Conseqüentemen-
são mais de 1.000 ovos por grama (opg) e constituem um
te, apenas pequenas quantidades de L3 tornam-se viáveis no pas-
auxílio valioso para o dia g nó stico~ no Tipo II, a contagem é
to mais tarde durante O ano.
altamente variável, pode até mesmo ser negativa e tem va-
Entretanto, quando as parições têm lugar no outono ou na
lor limitado.
primavera, a ostertagiose pode ser um problema em bezerros
(5) Níveis plasmáticos de pepsinogênio. Nos animais clinica-
durante o período de pastejo logo em seguida ao desmame, e a
mente acometidos de até dois anos de idade, esses níveis ul-
epidemiologia é então semelhante à dos bezerros leiteiros. A
trapassam 3 UI de tirosina (os níveis normais são de I UI em
ocorrência subseqüente de doença Tipo I ou Tipo II depende do
bezerros não-parasitados). O teste é menos seguro em bovi-
manejo de pasto dos bezerros após o desmame.
nos mai s velhos, em que valores altos não estão necessaria-
Em regiões do hemisfério sul com clima temperado, como a
mente relacionados a grandes cargas de vermes adultos, mas,
Nova Zelândia, o tipo sazonal é semelhante ao descrito para a
em vez disso, podem refletir extravasamento de plasma de
Europa, com ocorrência de doença Tipo I no verão e acúmulo de
um a mucosa hipersensível sob intenso desafio larval.
cargas de larvas inibidas no outono.
(6) Exame pós-morte. Se isto for viável, o aspecto da mucosa
Nas regiões com clima subtropical e chuvas de inverno, como
anormal é característico. Há um odor pútrido de conteúdo
partes do sul da Austrália, África Ocidental do Sul e algumas re-
abomasal em virtude do acúmulo de bactérias e do pH alto.
giões da Argentina, Chile e Brasil, o aumento na população de L,
Os vennes adultos, de coloração avennelhada e de 1,0 c m
ocorre durante o in verno, verificando-se surtos de doença Tipo I à
de comprimento, podem ser vistos num exame minucioso
medida que se aproxima o final do inverno. As larvas inibidas
da superfície mucosa. As cargas de vermes adultos ultrapas-
acumulam-se durante a primavera e, onde foi descrita a doença
sam tipicamente 40.000, embora com freqüência sejam en-
Tipo 11, ocorreram no final do verão ou no inicio do outono.
contradas quantidades menores em animais qu e estavam
Observa-se um tipo basicamente semelhante de infecção em
diarréicos por vários dias antes da necropsia.
algumas regiões do sul dos Estados Unidos, com chuvas não-
sazonais, como a Louisiana e o Texas. Nessas regiões, as larvas Nos animais mais velhos, a sintomatologia clínica e a hi stó-
acumulam-se no pasto durante o inverno, e o desenvolvimento ri a são semelhantes, mas o diagnóstico laboratori al é mais difí-
inibido tem lugar no final do inverno e início da primavera, com cil, pois as con tagens de ovos nas fezes e os níveis plasmáticos
surtos de doença Tipo II ocorrendo no final do verão ou no iní- de pepsinogênio são menos confiáveis. Uma técnica útil a ser
cio do outono. empregada nestas situações é efetuar uma contagem larval de
Os fatores ambientais que produzem larvas inibidas em regi- pasto nas áreas onde os animais estiveram pastando. Onde o ní-
ões subtropicais ainda não são conhecidos. vel de infecção é mais de 1.000 larvas por quilo de capim seco,
14 Parasit%gia Veterinária
a ingestão larval diária de vacas no pasto é superior a 10,000 veis à O. oSlertagi, até a maioria das ~ existentes no pasto ter
larvas. Este nível é provavelmente suficiente para causar doen- morrido.
ça clínica em animais adultos suscetíveis ou para perturbar o Às vezes, utiliza-se uma combinação des tes métodos, A épo-
funcionamento normal da mucosa gástri ca em vacas imunes. ca dos eventos nos sistemas descritos adiante aplica-se ao calen-
dário do hemisfério norte.
TRATAMENTO
Medicação anti-helmíntica profilática
A doença Tipo I responde bem ao tratamento nas doses padrões
com qualquer um dos modernos benzimidazóis (albendazol, fem- Como o período crucial de contami nação do s pastos co m ovos
bendazol ou oxfendazol), os pró-benzimidazóis (febantel, netobi- de o. ostertagi é o que vai até meados de julho, pode ser dado
mi n e ti ofanato), o levamisol ou as avennectinas/milbemicinas um dos eficazes anti-helllÚnticos modernos em duas ou três oca-
como a ivermectina. Todas estas drogas são eficazes contra larvas siões entre a ida para o pasto na primavera e julho a fim de redu-
em desenvolvimento e estágios adultos. Após o tratamento, os zir as quantidades de ovos depositados no pasto, Para os bezer-
bezerros devem ser transferidos para pastos que ainda não tenham ros que vão para o pasto no início de maio, são usado s dois trata-
sidos utilizados no mesmo ano. mentos três e seis semanas mais tarde, e nquanto os bezerros que
Para o tratamento bem-sucedido da doença Tipo II, é neces- vão para o pasto em abril requerem três tratamentos em interva-
sário usar drogas que sejam eficazes contras larvas inibidas e los de três semanas. Quando são utili zadas avermectin as paren-
também contra larvas em desenvolvimento e estágios adultos. terais, o intervalo após o primeiro tratamento pode ser prolonga-
Apenas os be nzimidazó is mod ernos ou as avermec tin asl do para cinco semanas em face da ati vidade residual co ntra lar-
milbemi cinas relacionados anteriormente são eficazes no trata- vas ingeridas.
mento da doença Tipo II quando utili zados em doses padrões, Atualmente, são disponíveis di versos bolus ruminais que pro-
embora os pró-ben zimidazóis também sejam eficazes em doses porcionam ou a liberação contínua de drogas anti-helITÚnticas
mais altas. Às vezes, com a administração oral do s benzimida- durante períodos de três a cinco meses ou a liberação por pulso
zóis, a droga ultrapassa o rúmem e entra diretamente no aboma- de doses terapêuticas de um anti -helmíntico em in tervalos de três
so, o que parece diminuir a eficácia, por causa da absorção e ex- semanas durante todo o período de pastejo. Estes são adminis-
creção m ais rápidas. trados a bezerros em primeiro período de pastejo ao irem para o
A área onde o surto teve origem pode ser utili zada por ovinos pasto e evitam eficazmente a contamin ação dos pastos e o sub-
ou ficar descansando até o mês de junho seguinte. Onde há in- seqüente ácúmulo de larvas infectantes. Embora proporcionan-
fecção simultânea por trematóides hepáticos, recomenda-se tra- do alto grau de controle de nematóides gastrintestinais, há algu-
tamento adicional com uma preparação trematoidicida. ma evidência sugerindo que os bovinos j ovens protegidos por
esses bolus ou outros esquemas eficazes de drogas profiláticas
CONTROLE são mais suscetíveis à infecção no segundo ano de pastejo. Isto
pode requerer tratamento anti-helmíntico adicional ou durante o
Tradicionalmente, a prevenção da ostertagiose é feita pelo trata- período de pastejo ou no estabulamento subseqüente.
mento rotineiro de bovinos jovens com anti-helmínticos durante A profilaxia anti-hel míntica tem a vantagem dos animais po-
o período em que os níveis larvais de pasto estão aumentando. derem ficar no mesmo pasto durante o ano todo e é particular-
Por exemplo, na Europa, isto envolvia um ou dois tratamentos mente vantajosa para a pequena propriedade com grande lota-
usualmente em julho e setembro, e em muitas propriedades esta ção de animais onde o pasto é restrito.
prática evitou doença e produziu índices de crescimento aceitá-
veis. Contudo, tem a desvantagem de que, como os bezerros es-
Tratamento anti-helmíntico e transferência para
tão sob desafio larval contínuo, seu desempenho pode ser preju-
dicado. Co m este sistema, também é necessário tratamen to anti-
pasto seguro em meados de julho
helmínti co dos animais es tabulados com uma droga eficaz con-
Este sistema, conhecido usualm ente co mo "tratar e transferir" ,
tra larvas hipobióticas para prevenir doença Tipo II.
Hoje. admite-se que a prevenção da ostertagiose por limita- baseia-se no conhecimento de que o aumento anual de L3 ocorre
ção de exposição à infecção seja um método de controle mais após meados de julho. Portanto, se os bezerros em campo desde
eficaz, o início da primavera receberem um tratamento anti-helmíntico
Isto pode ser feito deixando-se os bezerros em pastos de ca- no início de julho e forem transferidos imediatamente para um
pim novo , embora não se sai ba se deve ser recomendado para segundo pasto tal como restolhos de feno ou silagem. o nível de
novilhas leiteiras de reposição, pois poderia resultar num grupo infecção que se desenvolve no segundo pasto é baixo,
de anima is adu ltos suscetíveis. Uma medida melhor é permitir A única restrição a esta técnica é que, em determinados anos,
aos bo vinos jovens uma exposição à infecção larval suficie nte os números de LJ que sobrevivem ao inverno são suficientes para
para estimular a imun idade, mas não suficiente para causar que- causar infecções maciças na primavera, podendo ocorrer oster-
da na produção. O fornecimento deste "pasto seguro" pode ser tagiose clínica em bezerros em abri l e maio, Entretanto, uma vez
obtido de duas maneiras: posto em ação o sistema " tratar e tran sferir" por alg uns anos , é
Primeiramente, usando-se anti-helmínticos para limi tar acon- improvável que surja este problema.
taminação do pasto com ovos durante períodos em que o clima é Em alguns países europeus, como a Ho landa, obtém-se o
ideal para o desenvolvimento dos estágios larvais de vida livre, mesmo efeito retardando-se a ida de bezerros para o pasto até
isto é, a primavera e o verão nos climas temperados ou o outono meados do verão. Este método proporciona bom controle da os~
e o inverno nos subtrópicos. tertagiose, porém muitos pec uari stas não querem continuar es-
Alternativamente, de ixando o pasto descansar ou ocupando- tabulando e dando ração aos bezerros onde há grande disponibi-
o com outros hospedeiros, como os ovinos, que não são suscetí- lidade de pasto.
Helminlologia Veterinária 15
Pastejo alternado de bovinos e ovinos subclínicas, foi demonstrado em condições experimentais e na-
turais que a O. circumcincta causa acentuada diminuição do ape-
Este sistema utiliza idealmente uma rotação de três anos de bo- tite, e isto, juntamente com perdas de proteínas plasmáticas no
vinos, ovinos e culturas. Como o período de vida efetiva da trato gastrintestinal, resulta em interferência no metabolismo
maioria das L3de O. ostertagi tem menos de um ano e a infec- protéico pós-absorção e em menor grau na utilização de energia
ção cruzada entre bovinos e ovinos se limita amplamente a O. metabolizável. Em cordeiros com infecções moderadas por es-
leplOspicularis, Trichostrongylus axei e ocasionaJmente a C. pécies de Osterwgia, a avaliação da carcaça revela deposição
oncophora, teoricamente é possível obter-se bom controle da deficiente de proteínas, gordura e cálcio.
ostertagiose bovina. É particularmente apUcável em proprieda-
des com alta proporção de terra disponível para culturas e refor- SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA
ma de pastagens, mas não tanto para áreas de e ncosta ou monta-
nhosas. Contudo, nas últimas, há relatos de razoável controle com
O si nal clínico mais freqüente é perda de peso acentuada. A di -
rotação anual de bovinos de corte e ovinos. arréia é intermitente, e, embora sejam comuns quartos posterio-
A desvantagem dos sistemas de pastejo alternado é que obri -
res sujos, as fezes líquidas que caracterizam a ostertagiose bovi-
gam a um regime rigoroso e inflexível na utilização da terra, o
na são observadas com menos freqüência.
que pode ser considerado impraticável pelo pecuarista. Além
disso, em climas mai s quentes onde prevalecem espécie!) ut::
Haemonchus, tal sistema pode vir a ser perigoso, uma vez que EPIDEMIOLOGIA
este gênero é muito patogênico e se estabelece tanto em ovinos
como e m bovinos. Na Europa, as quantidades de L, de espécies de Os/er/agia na
pastagem aumentam de modo acentuado a partir de meados do
Pastejo rotativo de bovinos adultos e jovens verão, ocasião em que aparece a doença.
Essas larvas origi nam-se principalmente de ovos eliminados
Este sistema envolve rotação contínua de piquetes, em que os be- nas fezes das ovelhas durante o período peripuerperal, de apro-
zerros mais jovens suscetíveis pastam antes dos adultos imunes e ximadamente duas semanas antes do parto até seis semanas pós-
pennanecem em cada piquete apenas o tempo suficiente para re- parto (Fig. 13). Os ovos eliminados por cordeiros, de cargas de
mover o capim mais alto folhudo antes de serem transferidos para ovos resultantes da ingestão de larvas que sobreviveram ao in-
o piquete seguinte. Os adultos imunes que chegam consomem, verno, também contribuem para a contaminação do pasto.
então, as partes inferiores mais fibrosas das granúneas, que con- É importante compreender que são esses ovos, depositados
têm a maioria das~. Como as fezes produzidas pelos adultos imu- na primeira metade do período de pastejo de abril a junho, que
nes contêm poucos ovos de o. oSTerlugi ou não contêm, a contami- dão origem às populações potencialmente perigosas de LJ de
nação do pasto é bastante reduzida. O sucesso deste método depende julho a outubro.
da di sponibilidade de piquetes cercados suficientes para evitar Se ingeridas antes de outubro, tais larvas, em sua maioria,
superlotação, e os adultos devem ter boa imunidade adquirida. amadurecem em três semanas; a partir daí, muitas têm o desen-
Ao mesmo tempo que este sistema apresenta muitos atrativos, volv imento inibido por vários meses e podem precipitar doença
sua principal desvantagem é o fato de ser dispendioso em rela- Tipo II quando amadurecem.
ção à construção de cercas, exigi ndo também cuidadosa super- A imunidade é adquirida lentamente e requer ex{X)sição du-
visão. Seus pontos mais favoráveis são a excelente utilização de rante dois períodos de pastejo antes que se desenvoh'a resi stên-
pasto permanente e o controle de parasitismo interno sem ter que cia sign ificativa à infecção. Subseqüentemente, as ovelhas adul-
recorrer à terapia. tas abrigam apenas populações muito pequenas de espécies de
OSlertagia, exceto durante o APP.
OSTERTAGIOSE OVINA
Nos ovinos, a o. circumcincta e a o. trifurcata são responsávei s
por surtos de ostertagiose clínica, particularmente em cordeiros. - Eliminação de ovos nas fezes
de ovelho
Na Europa, ocorre uma síndrome clínica análoga à osterlagiose _.- Eliminação de ovos nas lezes
de cordeiro
bovina Tipo I de agosto a outubro; em seguida, há desenvolvi - _ Larvas no pasto
mento inibido de muitas larvas ingeridas, e ocasionalmente re-
lata-se uma síndrome Tipo II no final do inverno e início da pri-
mavera, especial mente em adultos jovens.
Parto
Nas regiões subtropicais com chuvas de in verno, a ostertagi-
ase ocorre principalmente no final do inverno. I
CICLO EVOLUTIVO
Tanto as fases de vida livre como as parasitárias do ciclo evolu-
tivo são semelhantes às da espécie bovina.
PATOGENIA
Fig. 13 Epidemiologia da gastrenterite parasitária ovina em zonas temperadas do
Nas infecções clínicas, é semelhante à situação nos bovinos, e hemisfério norte demonstrando aumento peripuerperal nas contagens de ovos em
as mesmas lesões estão presentes à necropsia. Nas infecções fezes de ovelhas e o aumento em meados do verão de larvas infectantes no pasto.
16 ParasilOlogia Veterillária
A epidemiologia nas regiões subtropicais é bas icamente seme- les recomendados para ovinos e bovinos não são registrados para
lhante à das regiões temperadas, exceto pelo fato da época sazo- uso em caprinos. Onde se utiliza leite de cabra ou seus deriva-
nal dos eventos ser diferente. Em muitas dessas áreas, o parto co- dos para consumo humano, devem ser observados os períodos
incide com um aumento do crescimento do pasto que ocorre com de carência para as diferentes drogas. O tiabendazol possui pro-
o início das chuvas no final do outono ou no inverno. Isto, por sua priedades an tifúngicas e não deve ser utilizado quando O leite for
vez, coincide com condições favoráveis ao desenvolvimento dos processado para queijos.
estágios de vida li vre de espécies de Ostertagia, e, assim, acumu-
lam-se larvas infectantes durante o inverno, causando problemas
clínicos ou queda de produção na segunda metade do inverno; Marslwl/agia marsl1al/i
ocorre desenvolvimento larval inibido no final do inverno ou no
início da primavera. Mais uma vez, as fontes de contaminação dos Encontrada no abomaso de pequenos ruminantes nos trópicos e
pastos são as ovelhas durante o APP e os cordeiros após a inges- subtrópicos, incluindo o sul da Europa, os Estados Unidos, a
tão de larvas que sobreviveram ao verão. América do Sul, a Índia e a Rússia. É semelhante às espécies de
A importância relativa dessas fontes em qualquer região va- OsterIagia , podendo ser diferenciada por seu maior comprimento
ria de acordo com as condições durante o período adverso para (até 2 cm). Os ovos são muito maiores e lembram os de NemalOdi-
sobrevivência larval. Onde o verão é muito qu ente e seco, a lon- nlS battus.
gevidade das L3 é reduzida, exceto nas áreas sombreadas, que O cicio evolutivo é semelhante ao de Ostertagia e há pene-
podem atuar como reservatórios de infecção até o inverno seguin- tração nas glândulas gástricas, com conseqüente fonnação no-
te. Embora as L, possam persistir em fe zes de ovinos durante dular. Cada nódulo contém três ou quatro parasitas em desen-
condições climáticas adversas, a proteção é provavelmente me- volvimento e mede 2 a 4 mm de diâmetro.
nor que a proporcionada pelo bolo fecal bovino mai s abundante. Não se conhece a patogenicidade da M. marshalli.
DIAGNÓSTICO
Haemol1chus
Baseia-se na sintomatologia clínica, na sazonaUdade da infecção,
nas contagens de ovos nas fezes e, se possível, no exame pós- Este nematóide abomasal hematófago pode ser respon sável por
morte, quando podem ser observadas as lesões características no extensas perdas em ovinos e bovinos, especialmente em regiões
abomaso. Os níveis plasmáticos de pepsinogênio estão acima do tropicais.
normal de I UI de tirosina e usualmente ultrapassam 2 UI e m
Hospedeiros:
ovinos com infecções maciças. Bovinos, ovinos e caprinos.
TRATAMENTO Localização:
Abomaso.
A ostertagiose ovina responde bem ao tratamento com qualquer um
dos benzimidazóis ou pró-benzimidazóis, o levamisol, que é efi- . Espécies:
caz contra larvas inibidas e m ovinos, ou as avermectinasl Haemonchus contortus
milbemicinas. De preferência, os cordeiros tratados devem ser trans- H. plaeei
feridos para pastos descontaminados, e, se isto não for possível, pode H. similis.
ser necessário repetir o tratmnento em intervalos mensais, até os
Até recentemente, a espécie ovina e ra denominada H.
níveis larvais do pasto diminuírem no início do inverno.
conlOrIus e a espécie bovi na H. p/aeei. Entretanto, existe agora
evidência cada vez maior de que es tas são a espécie úni ca H.
CONTROLE contor/us, apenas com adaptações de linhagens para bovinos e
ovinos.
Ver Tratamento e controle da gastrenterite parasitária (GEP) em
ovinos, adiante. Distribuição:
Mundial. Mais importante em regiões tropicais e subtropicais.
OSTERTAGIOSE CAPRINA
IDENTIFICAÇÃO
A caprinocultura vem aumentando no mundo inteiro e geralmente
os animais são criados em regime de pasto permanente. Foi de~ Macroscópica:
monstrado que os caprinos são muito suscetíveis às espécies de Os adultos são facilmente identificados por sua localização es-
Ostertagia ctUe predominam nos ovinos, O. circumcincta e o. pecífica no abomaso e seu grande tamanho (2 a 3 cm). Em exem-
trifurcata, e também à o. leptospicularis que se instala igualmen- plares frescos, os ovários brancos enrolando-se em espiral em
te bem em ovinos e bovinos. Há também alguma evidência de volta do intestino cheio de sangue produzem um aspecto de «bas-
que a o. osterlagi pode estabelecer-se em caprinos. tão de barbeiro".
Como nos ovinos, há um APP acentuado nas cabras; esses ovos
são a principal fo nte de contaminação dos pastos e, finalmente, as Microscópica:
L3que podem infectar então cabritos em irúcio de pastejo. O macho te m um lobo dorsal assimétrico e espículos com gan-
A patogenia, o diagnóstico, o tratamento e as medidas de con- chos; a fê mea geralmente tcm um apêndice vulvar. Em ambos
trole são como para os outros ruminantes, mas deve-se tomarcui- os sexos, há papilas cervicais e uma lanceta minúscula no interi-
dado na escolha do anti-helminlico, uma vez que muitos daque- or da cápsula bucal (Fig. 14).
Helmintologia Veterinária 17
(a)
(e)
l
I'
I'
i'
I
1&
r
I
•
(d)
(b)
Fig. 14 Haemonchus contortu$. (a) Macho - bolsa copuladora e espículos; (b) Fêmea - apêndice vulvar; (c) Papilas cervicais; (d) Lanceia bucal.
18 Parasitologia Veterinária
CICLO EVOLUTIVO identificadas mais facilmente (Prancha 1), letargia, fezes de co-
loração escura e queda de lã. A diarréia geralmente não é uma
É direto, e a fase pré-parasitária é tipicamente de tricostrongilí- característica.
deo. As fêmeas são ovíparas prolíferas. A eclosão dos ovos em A hemoncose crónica está associada a progressiva perda de
LI aCOITe no pasto que podem desenvolver-se em L3 num perío- peso e fraqueza, não se observando anemia grave ou edema vi-
do muito curto de cinco dias, mas o desenvolvimento pode ser sível.
retardado por semanas ou meses em condições frias. Após a in-
gestão e o desencapsulamento no rúmen, as larvas sofrem duas EPIDEMIOLOGIA
mudas, em íntima aposição às glândulas gástricas. Exatamente
antes da muda final, desenvolvem a lanceta perfurante, que lhes A epidemiologia do H. contorlus é mais bem considerada sepa-
permite obter sangue dos vasos da mucosa. Como adultos, mo- radamente, dependendo de sua ocorrência em regiões tropicais
vem-se livremente na superfície da mucosa. O período pré-pa- e subtropicais ou em regiões temperadas.
tente é de duas a três semanas em ovinos e quatro semanas em
bovinos. Regiões tropicais e subtropicais
HEMONCOSE OVINA Como o desenvolvimento larval do H. contortus ocorre de modo
ideal em temperaturas relativamente altas, a hemoncose é basi-
PATOGENIA camente uma doença de ovinos em climas quentes. Contudo,
como a umidade alta, pelo menos no microclima das fezes e da for-
A patogenia da hemoncose é essencialmente a de uma anemia ragem' também é essencial para o desenvolvimento e a sobrevivên-
hemorrágica aguda, provocada pelos hábitos de hematofagia dos cia das larvas, a freqüência e a gravidade dos surtos de doença
vermes. Cada verme remove cerca de 0,05 mI de sangue ao dia dependem amplamente das chuvas em qualquer área em parti-
por ingestão e por perdas pelas lesões, de tal modo que um ovi- cular.
no com 5.000 H. contortus pode perder cerca de 250 ml ao dia. Havendo tais condições climáticas, a súbita ocorrência de
Na hemoncose aguda, a anemia torna-se evidente cerca de hemoncose clínica aguda parece depender de outros dois fato-
duas semanas após a infecção e se caracteriza por diminuição res. Primeiramente, a alta produção de ovos de vermes nas fezes
dramática e progressiva no volume globular. Durante as sema- entre 2.000 e 20.000 opg, mesmo em infecções moderadas, sig-
nas subseqUentes, o hematócrito em geral se estabiliza num ní- nifica que podem aparecer muito rapidamente populações maci-
vel baixo, mas apenas à custa de um aumento compensador de ças de L] no pasto. Em segundo lugar, ao contrário de muitas
duas a três vezes da erirropoese. Contudo, em face da contínua infecções por helmintos, há pouca evidência de que os ovinos
perda de ferro e proteína no trato gastrintestinal e da inapetência em áreas endêmicas desenvolvam imunidade adquirida eficaz
crescente, a medula acaba por se esgotar, eo hematócrito cai mais contra Haemonchus, de tal modo que há contaminação contínua
ainda antes de ocorrer a morte. do pasto.
Quando as ovelhas são acometidas, a conseqüente falta de leite Em determinadas áreas dos trópicos e subtrópicos, como a
pode resultar na morte dos cordeiros lactentes. Austrália, o Brasil, o Oriente Médio e a Nigéria, a sobrevivência
À necropsia, podem estar presentes entre 2.000 e 20.000 ver- do parasita também está associada à capacidade das larvas de H.
mes na mucosa abomasal, que exibe numerosas pequenas lesões contortus de sofrer hipobiose. Embora não se conheça o dispa-
hemorrágicas (Prancha 1). O conteúdo abomasal é líquido e cas- rador deste fenómeno, a hipobiose ocorre no início de uma esta-
tanho-escuro por causa da presença de sangue alterado. A carca- ção seca prolongada e permite que o parasita sobreviva no hos-
ça é pálida e edematosa, e a medula óssea vermelha expande-se pedeiro como L4 inibida em vez de amadurecer e produzir ovos
das epífises para a cavidade medular (Prancha I). que inevitavelmente não se desenvolveriam no pasto árido. A
Menos comumente, em infecções maciças de até 30.000 ver- retomada do desenvolvimento verifica-se exatamente antes do
mes, ovinos aparentemente sadios podem ter morte súbita por início das chuvas sazonais. Em outras regiões tropicais, como a
grave gastrite hemorrágica intensa. É a denominada hemoncose África Oriental, não se observa um grau significativo de hipobi-
hiperaguda. ose talvez por causa das chuvas mais freqUentes nestas áreas, tor-
Talvez tão importante quanto a hemoncose aguda em regiões nando desnecessário tal processo evolutivo.
tropicais seja a síndrome menos conhecida de hemoncose crô- A sobrevivência de infecção por H. contortus nos pastos tro-
nica. Esta síndrome desenvolve-se durante uma estação seca picais é variável, dependendo do clima e do grau de sombrea-
prolongada, quando a reinfecyão é illsigH i ricante lIlas o pasto se menta, mas as larvas infectantes são relativamente resistentes à
torna deficiente em nutrientes. Num período desses, a contínua dessecação e algumas podem sobreviver por um a três meses no
perda de sangue por pequenas cargas persistentes de várias cen- pasto ou nas fezes.
tenas de vermes é suficiente para produzir sintomatologia clíni-
ca assoc iada principalmente mais a perda de peso, fraqueza e Áreas temperadas
inapetência do que a anemia acentuada.
Nas Ilhas Britânicas, nos Países Baixos e provavel mente em
SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA outras partes do norte da Europa e no Canadá, que estão entre as
áreas menos favoráveis para a sobrevivência do H. contor/us, a
Nos casos hiperagudos, os ovinos morrem subitamente por gastrite epidemiologia é diferente da que se observa nas zonas tropicais.
hemorrágica. Pejas informações disponíveis, as infecções parecem desenvol-
A hemoncose aguda caracteriza-se por anemia, graus variá- ver-se de duas maneiras. Talvez a mais comum seja o ciclo anu-
veis de edema, dos quais a forma submandibular e a ascite são al único. As larvas infectantes que se desenvolveram de ovos
Helmintologia Veterinária L9
depositados por ovelhas na primavera são ingeridas por ovelhas Além de profIlaxia anti-helrnintica, alguns estudos, especial-
e cordeiros no início do verão. A maiori a delas fIca inibida no me nte no Quênia, indicaram o valor potenc ial de algumas raças
abomaso como EL4 e não completa o desenvolvimento até a pri- o vinas indígenas que parecem ter al ta resistência natural à infec-
mavera seguinte. Durante o período de maturação dessas larvas ção por H. contortus. Provavelmente essas raças poderiam ser
hipobióticas, pode ocorrer sintomatologia clínica de hemoncose de valor em regiões em desenvolvi mento onde a vigilância vete-
aguda, e nas ovelhas isto freqüentemente coincide co m o parto. rinária é deficiente.
Em alguns anos, entretanto, observa-se hemoncose clínica em Nas zonas temperadas, as medidas indicadas para o controle
cordeiros no campo no final do verão. Não se conhece a epide- de gastrenterite em ovi nos usualmente são suficientes para pre-
miologia básica, mas talvez estej a associada à contaminação do venir surtos de hemoncose.
pasto por aque la proporção de larvas ingeridas que não sofreram Ex istem atualmente pesqu isas em andamento para determi-
hipobiose no início do verão. nar a eficácia de uma vacina recombinante baseada numa g lico-
proteína da membrana de microvilosidades intestinais de estági-
DIAGNÓSTICO os parasitários de H. contortus.
A história e a sintomatologia clínica com freq üência são sufici- HEMONCOSE CAPRINA
entes para o diagnósti co da síndrome aguda, especialmente se
confirmada por contagens de ovos de vermes nas fezes. Os caprinos são altamente suscetíveis ao H. conlortus, particu-
À necropsia, também é útil prestar atenção às alterações do larmente quando são impedidos de comer brotos e todo o seu
abomaso e da medula nos ossos longos. As alterações em geral consumo alimentar se origina de pastos.
são evidentes em alllbos, embora nos ovinos que acabaram de so-
frer "autocura" (ver adiante) ou se encontram numa fase terminal
da doença a maior parte da carga de vermes possa ter desapareci- HEMONCOSE BOVINA
do do abomaso.
Na hemoncose hiperaguda, apenas o abomaso pode apresen- A doença causada por H. placei o UH. similis, o último possuin-
tar alterações, uma vez que a morte pode ter sido tão rápida que do um apêndice vul var característico (Fig. IS), é semelhante em
as alterações medulares são mínimas. muitos aspectos à hemo ncose em ovinos e é importante nos tró-
O diagnósti co de hemoncose crônica é mais difíci l, por causa picos e subtrópicos durante as chuvas sazonais, quando podem
da presença simultânea de subnutrição, e a confirmação pode ter ocorrer surtos graves. Entretanto, a doença é registrada também
que depender do desaparecimento gradativo da síndrome depois ao final de uma longa estação seca, por causa da maturação de
do tratamento anti -helmíntico. larvas hipobióticas.
TRATAMENTO
CONTROLE
.1
20 Parasitologia Veterinária
(a)
(c)
(b) (d)
Fig. 16 Algumas características de espécies de Trichostrongylus. (a) Sulco excretor na região esofágica (i); (b) Aspecto da cauda da fêmea; (c) Espículas desiguais de
T. axei; (d) Espículos semelhantes a folhas de T. vitrinus; (e) Ponta "de arpão" de espículas de T. colubriformis.
22 Parasit% gia Veterinária
DIAGNÓSTICO
TRATAMENTO E CONTROLE
(e) Dependendo do hospedeiro, são co mo os descritos para osterta-
giose bovina, gastrenterite parasitária em ovinos e estrongilose
Fig. 16 (continuação) nos eqüinos.
Microscópica: Este parasita é responsável por uma gastrite crôn ica em suínos,
As principais características genéricas (Fig. 17) são a pequena particularmente fêmeas jovens e porcas.
vesícula cefálica e as estrias cuticulares transversais na região
esofágica. Os espículos em geral têm um prolongamento seme- Hospedeiro:
lhante a asa na região central e freq üentemente apresentam sul- Suíno.
cos; não ex iste gubernáculo. As fêmeas usualmente possuem um
pequeno apêndice vulvar e uma longa cauda pontiaguda. Localização:
Estômago.
CICLO EVOLUTIVO
Espécie:
É difeto e típico da superfamília. As exigências bionômicas dos Hyostrongylus rubidus.
estágios de vida livre variam de acordo com a espécie. Assim,
por exemplo, as da C. ollcophora e C. curticei, encontradas prin- Distribuição:
c ipalmente em áreas temperadas, são semelhantes às de Mundial.
Osterlag;a~ a C. punCIata e a C. pectinata, mais comuns em áre-
as mais quentes, têm exigências semelhantes às de Haemonchus. IDENTIFICAÇÃO
Na fase parasitária, as duas espécies comuns de regiões tempe-
radas desenvolvem-se na superfície da mucosa intestinal, enquan- Macroscópica:
to com as outras ocorre alguma penetração do epitélio. O perío- Vermes avermelhados delgados de 5 a 8 mm de comprimento.
do pré-patente varia de 15 a 18 dias.
Microscópica:
PATOGENIA Há uma pequena vesícu la cefálica, e os espículos lembram
OSlertagia, embora tenham apenas dois ramos distais.
A C. oncophora e a C. curticei geralmente são consideradas pa-
tógenos moderados em bezerros e cordeiros, respecti vamente, CICLO EVOLUTIVO
embora em alguns estudos tenham sido associadas a inapetência
e baixos ganhos de peso. Desenvolve-se forte imunidade à rein- Típico da superfanulia. Os estágios de vida li vre e parasitários
fecção depois de um ano. são semelhantes aos de Ostertagia. O período pré-patente é de
A C. punctata, a C. peclinara e provavelmente a C. três semanas.
surnabada são mais patogênicas, pois penetram na superfície
epitelial do intestino delgado e causam ruptura semelhante à da PATOGENIA
tricostrongilose intestinal, que resulta em atrofia vilosa e em
redução na área viável para absorção. Há relatos de diarréia em Semelhante à da ostertagiose, com penetração das glând ulas
infecções maciças. gástricas pelas LJ e substituição das células parietais por células
indiferenciadas de divi são rápida que se proliferam, dando ori-
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA gem a nódulos na superfície mucosa. O pH toma-se elevado nas
infecções maciças. As vezes, há ulceração e hemorragia das le-
Consiste em perda de apetite, baixos ganhos de peso e, no caso sões nodulares, porém mais comumente ocorrem infecções le-
de C. pUllClata e C. pectinata, diarréia, perda de peso intensa e ves associadas a apetite diminuído e baixos índices de conver-
edema submandibular. são al imentar.
Nas áreas temperadas, é idêntica à de OSlerlagia. A hipobiose"no Consiste em inapetência, anemia e perda de condições físicas.
EL4 é uma característica durante o final do outono e no inverno tio
hemisfério norte e na primavera e no verão no hemisfério sul. EPIDEMIOLOGIA
Nos subtrópicos, a epidemiologia é semelhante à de Haemon-
chus, embora a Cooperia não tenha o mesmo potencial biótico Em face das exigências larvais pré-parasitárias, a infecção res-
alto e as L3 sobrevivam bem melhor em condições áridas. A hi- tringe-se a suínos com acesso a pastos ou àqueles mantidos em
pobiose é uma característica durante estações secas prolongadas. baias com palha. É, portanto, mais comum em animais reprodu-
Um parasita intimamente relacionado, a Paracooperia nodu- tores, particularmente porcas novas. A epidemiologia, pelo me-
[osa, é responsável por grave enterite nodular em bubalinos na nos em zonas temperadas, é semelhante à de Ostertagia em"ru-
Ásia, na África e na América do SuL minantes, com hipobiose sazonal como característica.
24 Parasitologia Veterinária
)
/
(ai (el
(bl (di
Fig. 17 Algumas características de espécies de Cooperia. (a) Vesícula cefálica e estrias cuticulares ; (b) Cauda alongada da fêmea; (c) Espículos de C. oncophora; (d)
Espículos de C. punctata; (e) Espículos de C. pectinata; (f) Espículos de C. curticei. .
HeJmintoJogia Veterinária 25
CONTROLE
I
Hospedeiros:
Ruminantes.
j
Localização:
Intestino delgado.
Espécit!s:
Nematodirus battus ovinos, ocasionalmente bezerros
N. filicollis ovinos e caprinos
N. spathiger ovinos e caprinos, ocasionalmente
bovinos
N. helvetianus bovinos.
IDENTIFICAÇÃO
DIAGNÓSTICO Macroscópica:
Os adultos são vermes de1gauos, de cerca de 2 cm de compri-
mento. O entrelaçamento dos vermes finos enrolados dá um as-
Baseia-se numa história de acesso a pastos permanentes de suí-
pecto semelhante ao de algodão em rama.
nos e na si ntomatologia clínica. A confirmação do diagnóstico é
por exame de fezes para ovos; para diferenciação de outros ne-
Microscópica:
matóides, pode ser necessária a identificação larval de pois da
Há uma vesícula cefálica pequena mas di stinta (Fig. 18). Os es-
cultura de fezes .
pículos são longos e finos . com extremidades fundidas. Em to-
dos, exceto o N. batlus, o macho tem dois conjuntos de raios
TRATAMENTO paralelos em cada um dos principais lobos bursais; a fêmea pos-
su i a cauda truncada com um pequeno espinho, e o ovo é gran-
Quando se diagnostica infecção por HyostrongyLus, particular- de, ovóide e incolor (Fig. 18) e com o dobro do tamanho do ovo
mente em animais reprodutores, é importante usar urna droga de tricostrongilídeo típico.
-- Parasit% gia Veterinária
(e)
(d)
(b)
Fig. 18 Características da maioria das espécies de Nematodirus (a-d). (a) Vesícula cefálica; (b) Espículas finos longos e dois conjuntos de raios paralelos em cada lobo
da bolsa (i); (e) Cauda da fêmea apresentando espinha; (d) Grande ovo oval (150-212 ~m x 75-108 ~m). Aspectos excepcionais de N. baltus (e-9); (e) Um conjunto de
raios paralelos em cada lobo da bolsa (i); (I) Cauda pontiaguda e longa da fêmea; (9) Ovo grande com lados paralelos (164 ~m x 70 j.Lm).
Helmintologia Veterinária 27
(9)
(e)
Nematodirus battus
No caso do N battus, espécie mais importante na Grã-Bretrinha,
a eclosão da maioria dos ovos requer um período prolongado de
resfriamento seguido por uma temperatura média diurnaJnotur-
na maior do que IOoe, condições que ocorrem no final da pri-
mavera. Portanto, a maior parte dos ovos de um período de pas-
tejo deve pennanecer no solo, sem eclodir, durante o inverno,
sendo possível apenas uma geração a cada ano para a manuten-
ção desta espécie. Não obstante, alguns ovos de N. battus depo-
sitados na primavera são capazes de eclodir no outono do mes-
mo ano, resultando em quantidades significativas de L3 no pasto
nesta época.
A fase parasitária é não-migratória e o período pré-patente é
de 15 dias.
de N. battllS nas fezes, mas esses ovos são insufi cientes para
desencadear flu xo larval suficiente para garantir a persistên-
cia de infecção nos pastos. A epidemiologia é ilustrada na
Fig. 20.
Co mo as outras espécies de Nematodirus não têm tais exigên-
cias críticas de eclosão, não ocorre fluxo repentino de ~, e,
embora N. filicollis, N. sparhiger e N. helvetianus tenham sido
todos associados a surtos de nematodirose em ovinos e bovinos,
é mais comum encontrá-los em conjunto com outros tricostron-
gil ídeos.
Embora à necropsia ten ham sido registradas L.j. de espécies
Fig. 19 Atrofia vilosa no intestino delgado por infecção por Nematodirus battus. de Nematodirus aparentemente inibidas no desenvolvimento, não
existe um padrão sazonal evidente para sua ocorrência e parece
mais provável que se tenham acumulado como conseqüência de
resistência do hospedeiro, e não por hipobiose.
testino de trocar líquidos e nutrientes é bastante reduzida, e com
o aparecimento de diarré ia o cordeiro torna- se rapidamente de-
sidratado. À necrepsia, a carcaça revela aspecto desidratado e há DIAGNÓSTICO
enterite no íleo.
Como a sintomatologia clínica se manifesta du rante o período
Ainda que a patogenia de infecções por outras espécies de
Nematodirus provavelmente sej a semelhante. há certa controvér- pré-patente, as contagens de ovos nas fezes têm pouco valor no
diagnóstico, que é mais bem feito pela história de pastejo, si nto-
sia sobre a extensão de seu efeito patogênico. Por exemplo, ape-
sar do N. helvetianus ter sido incriminado em surtos de gastren- matologia clínica e, se possível, um exame pós- morte.
terite parasitári a bovina, as tentati vas experimentais de reprodu-
zir a doença são infrutíferas . TRATAMENTO
Várias drogas são altamente eficazes contra infecções por Ne-
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA matodi ru s, em parti cu lar o levam isol, um a aver mec tinal
mi lbemicina ou um dos modernos benzimidazóis - fembenda-
Nas infecções graves, a dialTéia é o sinal clín ico mais proemi- zol, oxfend azol ou albendazol. A resposta ao tratamento é usu-
nente. Conforme avança a desidratação, os animais acometidos almente rápida, e se a diarréia persistir a coccidiose deve ser
tornam-se sedentos, e nos grupos infectados as ovelhas contin u- considerada como um fator complicador.
am a pastar, aparentemente não afetadas pelo desafio larval, en-
quanto os cordeiros inapetentes e diarréicos agrupam-se ao re-
CONTROLE
dor de bebedouros.
Com exceção do N. battlls, que requer consideração es pecial,
EPIDEMIOLOGIA raramente se observa doença decolTente de infecções monoespe-
cíficas por Nematodirus. Por outro lado, eles costumam fazer (2) A GEP em ovinos geralmente está associada a uma varie-
parte da carga de vermes de espécies de tricostrongiüdeos, res- dade de gêneros de nematóides com característi cas epide-
ponsáveis pela síndrome de gastrenterite parasitária em ovinos miológicas diferentes.
e, como tal, podem ser controlados pejas medidas apresentadas (3) A maioria dos ovinos pasta durante toda a vida, de tal modo
adiante. que a contaminação do pasto com ovos de nematóides e a
Corno a infecção de cordeiros por N. battus tem epidemiolo- ingestão de larvas infectantes são quase contínuas e modifi -
gia ún.i ca, seu controle é mais bem considerado separadamente. cadas apenas por restrições climáticas.
Como há eclosão anual de ovos de N. batlus na primavera, a do- Na escolha do melhor método de profilaxia, muito depende
ença pode ser controlada evitando-se o pastejo de lotes sucessivos da propriedade ser constituída principalmente de pasto perma-
de cordeiros no mesmo pasto. Onde esse pastejo alternativo não nente ou de pastos alternados com culturas, de maneira tal que
fo r viável por todo o ano, o controle pode ser obtido pJí'profila- todo ano haja disponibilidade de pastos novos ou restolhos de
xia anti-helmíntica, sendo a época do tratament~aseada no feno ou silagem.
conhecimento de que o período máximo de aparecimento de L3
de N. battus é de maio até início de junho. O ideal é efetuar as PROPRIEDADES CONSTITUíDAS
apli cações em intervalos de três semanas durante maio e junho,
PRINCIPALMENTE DE PASTO PERMANENTE
não se aconselhando aguardar O aparecimento de sinais clínicos
de diarréia antes de administrar as drogas. Nestas propriedades, pode obter-se o controle ou por profilaxia
Na Grã-Bretanha, o Ministério da Agri cultura desenvolveu um anti-helmíntica ou por pastejo alternado anua lmente com bovi-
sistema planejado com base principalmente na temperatura do nos e ovinos. A primeira a lternati va é o único método viável em
solo no início da pri mavera, que pode prever a provável gravi- que o rebanho da propriedade é principalmente ovino, enquanto
dade de nemat<XIirose. Nos anos em que o sistema prevê doença a outra pode ser utilizada onde estão presentes bovinos e ovinos
grave, recomendam-se três tratamentos durante maio e junho~ nos em proporções razoáveis.
outros anos, devem bastar doi s tratamentos em maio. São várias
as drogas recomendadas, incluindo levamisol ou qualquer um dos Profilaxia por anti-helmínticos
modernos benzimidazóis ou ivermectina.
Ovinos adultos:
TRATAMENTO E CONTROLE DA A fon te de infecção mai s importante para os cordeiros é sem dú -
vida o aumento nos ovos de nematóides em fezes de ovelhas du-
GASTRENTERITE PARASITÁRIA
rante o APP, e a profilaxia será eficaz apenas se este for mantido
(GEP) EM OVINOS num mínimo. A terapia anti-helmíntica eficaz de ovelh as durante
o quarto mês de gestação deve eliminar a maior parte das cargas
As recomendações adiante aplicam-se às áreas temperadas do de vennes existentes nesta época, incluindo estágios larvais inibi-
hemisfério norte, mas os princípios podem ser adaptados a con- dos, e no caso de ovelhas sob pastejo intensivo, em que o estado
dições locais em qualq uer região. nutricional é freqüe ntemente baixo, este tratamento quase sempre
resulta em melhores condições físicas gerais. Durante a prenhez e
TRATAMENTO o início da lactação, entretanto, essas ovel has tratadas logo se
reinfectam pela ingestão de larvas que sobreviveram ao inverno
Em virtude do curto período entre o nascimento e a comerciali- no pasto. Recomenda-se, então, para uma profilaxia ideal outro
zação, o tratamento da GEP em cordeiros é uma medida inferior tratamento quatro a seis semanas após o parto. Os adultos jovens
se comparada às medidas preventi vas di scutidas a seguir. Quan- e os carneiros também devem ser tratados nestas ocasiões.
do necessário, entretanto, o tratamento com qualquer um dos Uma alternativa ao agrupamento de ovelhas para tais trata-
benzimidazóis, levamisol o u uma avermectinalmilbemicina re- mentos é fornecer anti-helmín tico incorporado à ração ou a blo-
mo ve vermes adu ltos e estágios em desenvolvimento. Após o cos energéticos durante o período peripuerperal. Os resu ltados
tratamento, os corde iros devem ser transferidos para pastos não obtidos com o último sistema parecem ser os melhores qu ando
ocupados por ovinos naquele ano, pois do contrário imediatamen- as ovelhas são mantidas em pequenos piquetes ou campos, uma
te serão reinfectados. vez que a ingestão de droga é menos consistente em sistemas de
Os surtos ocasionais de ostertagiose Tipo II em ovinos adul - criação extensiva.
tos jovens na primavera podem ser tratados com os mesmos anti- Os bo/us ruminais destinados à liberação lenta de anti-hel-
helmínticos. Ao contrário de O. osterragi em bezerros, os está- mínticos durante um período prolongado são agora viáveis para
gios inibidos dos nematóides comuns de ovinos são suscetíveis ovinos e são recomendados para uso em ovelhas durante O perío-
ao tiabendazol e ao levami sol. do peripuerperal para reduzir a produção de ovos de vermes.
Cordeiros:
CONTROLE Além do tratamento específico para infecção por N. battus, os cor-
deiros devem ser tratados ao desmame e, se possível, transferidos para
Embora o controle de GEP em ovinos se baseie nos mesmos
pastos descontaminados, isto é, aqueles não ocupados por ovinos
princípios descritos para O. oSferragi em bovinos, sua prática é
desde o ano anterior. No local onde tal pastejo não for viável, os tra-
algo diferente pelos seguintes motivos:
tamentos profiláticos devem ser repetidos até O outono ou a comer-
(I) O APP (aumento peripuerperal nas contagens de ovos nas cialização. O número de tratamentos varia, dependendo da densida-
fezes) é muito acentuado nas ovelhas e constitui a causa mais de do rebanho, sendo um tratamento em setembro suficiente para
importante de contaminação dos pastos com ovos de nema- cordeiros sob pastejo extensivo e dois entre o desmame e a comerci-
tóides na primavera. alização para aqueles sob condições mais intensivas.
30 Parasitologia Veterinária
Para tratamentos profiláticos, podem ser utilizados o levami- era revezar ovinos através dos piq uetes, mas, como isto envol-
·sol, os benzimidazóis, os pr6-benzimidazóis e as avermectinas/ via a volta dos animais aos seus piquetes já ocupados na mesma
milbemicinas. estação, era de pouco valor. Dois outros métodos, que não envol-
Para administração em baixo nível em blocos de ração, o viam o retomo ao pasto original, eram o pastejo em faixa, no qual
tiofanato ou o fembendazol demonstram ser úteis. os o vinos ficavam confinados a uma faixa estreita no pasLO por
Os programas proflláticos apresentados anteriormente são rela- meio de cercas mudadas a cada poucos dias, e o pastejo restrito,
ti vamente dispendiosos em tennos de drogas e de mão-de-obra, mas no qual uma única cerca confinava as ovelhas, mas por possuir
atualmente são os únicos métodos viáveis em propriedades onde o uma pequena abertura permitia aos cordeiros pastar mais adian-
empreendimento depende muito de uma espécie animal. te. Os sistemas podem ter sido altamente efi cazes na prevenção
da GEP, mas eram dispendiosos em termos de construções de
Profilaxia por pastejo alternado de ovinos e bovinos cercas e mão-de-obra, sendo pouco utilizados atualmente.
Helmintologia Veterinária 31
Como conseqüência, os estágios pré-parasitários não precisam Está associada a duas lesões principais.
aLimentar-se. Em condições ideais, o estágio L:i é ati ngido dentro Primeiramente, uma bronquite parasitária caracterizada pela
de cinco dias, mas geralmente leva mais tempo no campo. As L3 presença de centenas ou mesmu milhares de vermes adultos no
deixam o bolo fecal e alcançam a forragem ou por sua própria muco branco espumoso nas luzes dos brônquios (Prancha II). O
motilidade ou através da intervenção do fungo Pilobofus. epitélio brônquico é hiperplásico e intensamente infiltrado por
Após a ingestão, as ~ penetram na mucosa intestinal e passam células inflamatórias, particularmente eosinófilos.
para os linfonodos mesentéricos, onde sofrem muda. Em seguida, Em seg undo lugar, a presença de áreas colapsadas vermelho-
as ~ seguem via linfa e sangue para os pulmões e irrompem dos escuras ao redor dos brônquios infectados. Esta é uma penumonia
capilares para os alvéolos cerca de uma semana após a infecção. parasitária (Prancha II) causada pela aspiração de ovos e LI nos
A muda fmal ocorre nos bronquíolos alguns dias depois e os adul- alvéolos. Tais "corpos estranhos" rapidamente provocam den-
tos jovens movem-se, então, até os brônquios e amadurecem. O sos infiltrados de polimorfas, macrófagos e células gigantes
período pré-patente é de cerca de três a quatro semanas. multinucleadas ao seu redor (Fig. 23).
Dependendo da extensão da infecção, pode haver graus vari -
PATOGENIA áveis de enfisema intersticial e edema.
(4) Fase pós-patente: 61" ao 9rY dia quase sempre adotando a clássica postura de "falta de ar" e res-
pirando com a cabeça e o pescoço distendidos. Há geralmente
Nos bezerros' não tratados, esta é normalmente a fase de recupe- tosse profunda intensa, chiados e crepitações sobre os lobos pulmo-
ração depois dos vermes pulmonares adultos terem sido expeli- nares posteriores, salivação, anorexia e, às vezes, discreta pire-
dos. Embora a sintomatologia clínica esteja diminuindo, os brôn- xia. Com freqüência, os bezerros menores são mais gravemente
quios ainda se encontram inflamados, e lesões residuais, como acometidos.
fibrose peribrônquica e brônquica, podem persistir por várias Os bezerros podem apresentar sintomatologia cl.ínica duran-
semanas ou meses. Por fim, o sistema broncopulmonar torna-se te o período pré-patente, e ocasionalmente uma infecção maciça
completamente normal e a tosse cessa. Entretanto, em cerca de pode causar grave dispnéia de início repentino, quase sempre
25% dos animais que foram intensamente infectados, há uma seguida por morte em 24 a 48 horas.
súbita manifestação de sinais clínicos durante esta fase que qua- A maioria dos animais recupera-se gradativamente, embora
se sempre é fatal. Isto é causaQ.o por uma de duas entidades. o completo retorno à normalidade possa levar semanas ou me-
Mais comumente, há uma lesão proliferativa, de modo que ses. Contudo, uma proporção de bezerros convalescentes desen-
grande parte do pulmão é rósea e semelhante a borracha, não volve subitamente sintomatologia respiratória grave, não asso-
colapsando quando o tórax é aberto. Isto, freqüentemente des- ciada a pirexia, que em geral tennina de modo fatal um a quatro
crito como "epitelização", deve-se à proliferação de pneumóci- dias depois. Esta síndrome de bronquite parasitária pós-patente
tos Tipo 2 nos alvéolos, dando o aspecto de um órgão glandular foi descrita anteriormente.
(Fig. 24). As trocas gasosas na superfície alveolar ficam grave-
mente' impedidas, e a lesão com freqüência é acompanhada por EPIDEMIOLOGIA
enfisema intersticial e edema pulmonar. A etiologia é desconhe-
cida, mas supõe-se que os fato res responsáveis sejam a dissolu- De modo geral, apenas os bezerros em primeiro período de pas-
ção e a aspiração de substâncias do verme morto ou que está tejo são clinicamente acometidos, uma vez que nas proprieda-
morrendo nos alvéolos. A síndrome clínica é freqüememente des onde a doença é endêmica os animais mais velhos têm forte
denominada bronquite parasitária pós-patente. . imunidade adquirida.
A outra causa, usualmente em animais que estão convalescen- Nas áreas endêmicas no hemisfério norte, as infecções podem
do em recintos fechados, é uma infecção bacteriana sobreposta persistir de ano para ano de duas maneiras:
dos pulmões ainda não perfeitamente cicatrizados, que resulta em
pneumonia intersticial aguda. (1) Larvas que sobreviveram ao inverno: as L3 podem sobrevi-
ver no pasto do outono até o final da primavera em números
suficientes para iniciar a infecção ou ocasionalmente para
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA
causar doença. Pode resultar um efeito semelhante quando
se espalhan1 esterco ou adubo nos pastos na primavera.
Em qualquer grupo acometido, em geral são evidentes graus vari-
(2) Animais portadores: pequenas quantidades de vermes adul-
áveis de gravidade clínica; de modo típico, alguns animais estão
tos podem sobreviver nos brônquios de animais infectados,
discretamente acometidos, a maioria se encontra moderadamente
particularmente aqueles com um ano de idade, até o próxi-
acometida e alguns estão gravemente acometidos.
mo período de pastejo. Até recentemente, supunha-se qUt:
Os animais discretamente acometidos tossem de maneira in-
todos persistiam como adultos, mas agora está demonstra-
termitente, sobretudo quando fazem esforços.
do que o resfriamento de larvas infectantes antes da admi-
Os arümais moderadamente acometidos têm ataques freqüen-
nistração a bezerros produz L5 inibidas; foi observada tam-
tes de tosse em repouso, taquipnéia (> 60 movimentos respiratóri-
bém hipobiose neste estágio em bezerros naturalmente in-
os por minuto) e hiperpnéia. Freqüentemente, à auscultação ouvem-
fectados na Suíça, na Áustria e no Canadá, embora ainda não
se chiados e crepitações sobre os lobos pulmonares posteriores.
esteja completamente estabelecida a extensão em que isto
Os animais gravemente acometidos apresentam taquipnéia
ocorre após a ingestão de larvas no final do outono e sua im-
grave (> 80 movimentos respiratórios por minuto) e dispnéia,
portância na transmissão da infecção.
A dispersão de larvas do bolo fecal durante o período de paste-
jo parece ser efetuada mais por um fungo que por simples migra-
ção. Este fungo, o Pilabalus, é encontrado comumente crescendo
na superfície de bolos fecais bovinos cerca de uma semana depois
de terem sido depositados. As larvas de D. viviparus, arrastando-
se na superfície dos bolos, migram em grandes quantidades até os
caules dos fungos, sobre e até mesmo dentro do esporângio ou da
cápsula da semente (Prancha II). Quando o esporãngio é elimina-
do, é lançado a uma distância de até três metros, sem vento, pou-
sando na pastagem adjacente. É possível que este método muito
eficaz de disseminação de larvas ainda possa ser intensificado se
houver vento moderado. Talvez também os raros surtos de bron-
quite parasitária em bezerros estabulados estejam associados à
dispersão de L3 por Pilabolus que crescem no esterco de bovinos
infectados nas proximidades.
A bronquite parasitária é predominantemente um problema
Fig. 24 "Epitelização alveolar" que pode ocorrer durante bronquite parasitaria pós- em certas áreas, como o norte da Europa, que têm clima mode-
patente. rado, índices pluviais altos e pastos permanentes abundantes. Os
s;
HelmintoJogia Veterinária 33
surtos da doençà ocorrem de junho até novembro, porém são mais rapidamente por simples remoção de vermes pulmonares adul -
comuns de julho até setembro. Não está claro por que a doença tos.
em geral não é evidente até que os bezerros, levados ao campo Onde a doença for grave e estiver bem instalada numa série
na primavera, tenham ficado no pasto durante dois a cinco me- de bezerros, deve-se infonnar O proprietário de que o tratamento
ses. Uma explicação é que a infecção inicial, adquirida pela in- anti-heIITÚntico, ainda que sendo a única saída viável, pode exa-
gestão em maio de larvas que sobreviveram ao inverno, envolve cerbar a sintomatologia clínica em um ou mais animais. com
tão poucos vermes que não é produzida nem sintomatologia clí- possível fim fatal. As razões subjacentes ainda estão sendo estu-
nica nem imunid ade~ entretanto, números suficientes de larvas · dadas, mas provavelmente sejam semelhantes às que produzem
são lançados no pasto, de tal modo que por volta de julho as bronquite parasitária pós-patente.
quantidades de Ll no pasto são suficientes para produzir doença Qualquer que seja o tratamento escolhido, é aconselhável di -
clínica. Os bezerros jovens, incluídos em julho em tal rebanho, vidir os bezerros acometidos em dois grupos, pois o prognóstico
podem desenvolver doença clínica em duas a três semanas. varia de acordo com a gravidade da doença. Os bezerros que esti-
Uma explicação alternativa é que as L1sobrevivem ao inver- verem apenas tossindo e/ou taquipnéicos geralmente se encon-
no mais no solo que no capim e migram para O pasto apenas em tram no estágio pré-patente da doença ou têm pequena carga de
algum ponto entre junho e outubro como resultado de algum fa- vermes adultos, e o tratamento desses animais deve resultar em
tor, ainda desconhecido, talvez envolvendo minhocas ou besou- rápida recuperação. Os bezerros desta categoria podem não ter
ros coprófagos. No momento, há apenas evidência circunstanci- desenvolvido forte imunidade e após o tratamento não devem vol -
aI para confirmar esta teoria. tar ao campo que foi a fonte de infecção; se isto for impossível,
Apesar dos bezerros de raças leiteiras ou mestiças leiteiras pode-se utilizar ivermectina parenteral, pois seu efeito residual
serem mais comumente acometidos, deve-se admitir que os be- impede a reinfecção por mais umas três seman as.
zerros não-desmamados de raças de corte nascidos no outono são Quaisquer bezerros que esti verem di spnéicos, anoréticos e
mesmo assim suscetíveis quando vão para o pasto no início do possivelmente piréticos devem ser mantidos em recintos fecha-
verão. Os bezerros lactentes de raças de corte nascidos na pri- dos para tratamento e posterior observação. O prognóstico deve
mavera que pastam ao lado da mãe até serem estabulados ou ser reservado e o proprietário informado de que uma proporção
vendidos em geral não desenvolvem sintomatologia clínica, desses animais pode não se recuperar, enquanto outros podem
embora tosse seja comum por discreta infecção. Entretanto, pode permanecer permanentemente raquíticos. Além do tratamento
ocorrer doença típica em bezerros desmamados que ficam no com um anti-helmíntico, os animais gravemente acometidos
pasto até O final do outono. podem requerer antibióticos se piréticos e hidratação se não es-
Este quadro epidemiológico, típico de regiões temperadas, tiverem ingerindo água. No caso de animais valiosos, pode ser
pode ser modificado em algumas áreas por certos fatores, como considerado tratamento com oxigênio.
o clima ou o manejo. Nas regiões tropicais, onde pode ocorrer
intermitentemente a doença pelo D. viviparus, a epidemiologia CONTROLE
provavelmente seja bem diferente e talvez dependa mais da con-
taminação de pastos por animais portadores - tal como pode O melhor método de prevenir bronquite parasitária é imunizar
ocorrer durante inundações, quando os bovinos se agrupam em todos os bezerros jovens com vacina de vem1e pulmonar. Esta
áreas altas e úmidas - do que da sobrevivência prolongada de vacina viva, constituída de larvas atenuadas por irradiação, atu-
larvas infectantes. almente é viável apenas na Europa e em geral é administrada por
via oral a bezerros de oito semanas de idade ou mais. São dadas
DIAGNÓSTICO duas doses de vacina num intervalo de quatro se manas, e, a fim
de permitir que se desenvolva alto nível de imunidade, os bezer-
De modo geral, a sintomatologia clínica, a época do ano e uma ros vacinados devem ser protegidos do desafio até duas sema-
história de pastejo em pastos permanentes ou semipermanentes nas depois da segu nda dose.
são suficientes para permitir que se chegue a um diagnóstico. Apesar da vacinação ser eficaz na prevenção de doença clíni-
As larvas são encontradas (50-l.000/g) apenas nas fezes de ca, ela não impede completamente a instalação de pequenas quan -
casos patentes, de tal modo que devem ser obtidas amostras de tidades de vermes pulmonares. Conseqüe ntemente, os pastos
fezes de uma série de animais acometidos. Para evitar con tami - podem permanecer contaminados, ainda que num nível muito
baixo. Por este motivo, é importante que todos os bezerros de
nação com nematóides do solo, as amostras devem ser obtidas
do reta. qualquer propriedade sejam vacinados se forem para o pasto na
primavera ou mais para o final do ano. Além disso, uma vez
adotado um programa de vacinação, deve ser seguido anualmente
TRATAMENTO para cada lote de bezerros. Embora a limitada contaminação lar-
val do pasto sirva para estimular a imunidade dos bezerros vaci-
Os anti-helmínticos viáveis para o tratamento de bronquite para- nados, ela pode causar doença clínica em animais suscetíveis.
sitária bovina são os modernos benzimidaz6is, o levamisol ou as O programa de vacinação para bezerros de raças leiteiras, se
avern1ectinas/milbernicinas. Estas drogas demonstram eficácia possível, deve ser completado antes deles irem para O campo na
contra todos os estágios de vermes pulmonares, com conseqüente primavera ou no início do verão. Entretanto, estes ou os bezerros
melhora da sintomatologia clínica. Antigamente, a dietilcarbamazi- em aleitamento podem ser vacinados com sucesso, desde que a
na era amplamente utilizada, mas tem sido substituída em grande vacina seja administrada na primavera ou no início do verão, isto
parte pelas drogas mencionadas anteriormente. é, antes de se defrontarem com um desafio larval significativo.
Para máxima eficiência, todas estas drogas devem ser usadas O controle de bronquite parasitária nos bezerros em pastejo
o mais cedo possível no tratamento da doença, visto que os si- de primeiro ano tem sido co nseguido pelo uso de regimes anti-
nais clínicos associados à patologia pulmonar não desaparecem helmfnticos profiláticos, seja por tratamentos estratég icos no
"""- Parasuologia \ -elerinária
BRONQUITE PARASITÁRIA EM
BOVINOS ADUL TOS
EPIDEMIOLOGIA
Os asininos adquirem infecção como potros e com um ano de
idade e tendem a permanecer infectados, provavelmente através
de reex posição, durante toda a vida. Supõe-se que os eqüinos
adquiram infecção principalmente de pastos contaminados por
asininos durante os meses de verão. Mais cornumente, isto ocor-
re quando asininos pastam ao lado de eqüinos. O fungo Pi/obolus
pode desempenhar um papel na disseminação de larvas de D.
arnfieldi a partir de fezes, como em D. vivipa rus.
DIAGNÓSTICO
Nos asininos, são comuns infecções patentes, e facilmente são
Fig. 26 A larva de primeiro estágio de Dictyocaulus arnfieldilembra a de D. viviparus. recuperadas LI de fezes frescas. Nos eqüinos, embora uma histó-
mas possui uma pequena lanceta terminal. ria de contato com asininos' e a sintomatologia clínica possam
ser sugestivas de infecção por D. arnfieldi, freqüentemente não
é possível confirmar um diagnóstico por demonstração de lar-
vas nas fezes. Pode-se tentar empregando-se uma técnica de
um pequeno brônquio contendo vermes pulmonares e exsudato Baerman modificada, com o uso de 50 g de fezes do reto. Recen-
mucopurulento. Microscopicamente, o epitélio é hiperplásico, temente, a detecção de eosinófilos no muco traqueal foi descrita
com aumento no tamanho e no número de células mucossecre- como meio auxi liar para o diagnóstico.
toras, enquanto a lâmina própria encontra-se intensamente infil- Na prática. um diagnóstico provável de infecção por vermes
trada e com freqüência circundada por células inflamatórias. pulmonares em eqüinos costuma ser possível apenas em retros-
predominantemente linfócitos. pectiv a, quando se observa resolução da sintomatologia clínica
após o tratamento.
SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA
TRATAMENTO
Apesar da prevalência de infecção patente por D. arnfieldi em
asininos, raramente se observam sinais clínicos manifestos; en- Tem-se descrito O tratamento bem-sucedido de eqüinos e asininos
tretanto, num exame minucioso, podem-se detectar leve hiperp- com o uso de vários esquemas de dieti1carbamazina, levam.isol,
néia e sons pulmonares ásperos. Essa ausência de anormalidade fembendazol ou mebendazol. Há relatos de alia eficác ia em ex-
perimentos com ivermectina oral em doses normais.
CONTROLE
o ideal é que eqüinos e asin inos não pastem juntos, mas se isto
acontecer recomenda-se tratar os asininos, de preferência na pri-
mavera, com um anti-heLmíntico adequado. Deve-se adotar um
esquema semelhante em haras de as ininos, fi cando os animais
visitantes isolados em piquetes separados.
Dictyocaulus filaria
Esta espécie, o verme pulmonar mais importante de ovinos e
caprinos, comumente está associada a uma síndome crônica de
tosse e definhamento que em geral acomete cordeiros e cabritos.
CICLO EVOLUTIVO
Fig. 27 Lesões pulmonares circunscritas típicas de infecção por Dic/yocaulus Semelhante ao do D. viviparus, exceto que o período pré-paten-
amfieldi. te é de cinco semanas .
•
36 Parasitologia Veterinária
PATOGENIA
Semelhante à da infecção por D. viviparus. Entretanto, como o
número de vermes pulmonares em animais individuais é geral-
mente baixo, não são comuns as lesões di sseminadas associadas
à infecção bovina. Em casos graves, contudo, podem ocorrer
edema pulmonar e enfisema e a superfície pulmonar pode apre-
sentar-se com áreas purulentas de infecção sec undária.
EPIDEMIOLOGIA
Embora este parasita seja prevalente em todo o mundo, é responsá-
vel apenas por surtos esporádicos de doença em regiões temperadas,
como a Grã-Bretanha e a América do Norte. Entretanto, ocorre mais
freqüentemente como problema clínico em a1gumas regiões mais
quentes, como os países mediterrâneos, o Oriente Médio e a Índia. Fig. 28 Cabeça de larva infectante de Dictyocaulus filaria exibindo saliência cuticular
Nas áreas temperadas, a epidemiologia é algo semelhante à do na primeira bainha larval retida.
D. viviparus, uma vez que tanto a sobrevivência de larvas que resis-
tiram ao inverno no pasto quanto o papel da ovelha como portador
são fatores significativos na persistência de infecção no pasto de
ano para ano nas áreas endêmicas. Nas ovelhas, parece provável dos para um pasto fresco. É provável que os esquemas proftláti-
que os parasitas se apresentem amplamente como larvas hipobióti- cos atualmente recomendados para o con trole de nematóides
cas nos pulmões durante cada inverno e amadureçam na primavera. gastrintestinais em ovinos, em anos normais, sejam bem efica-
O desenvolvimento em ~ ocorre somente durante o penodo da zes na e liminação de infecção por D. filaria.
primavera ao outono. Nos cordeiros, as infecções patentes ocorrem Onde for necessário aplicar medidas de controle específicas,
primeiramente no início do verão, mas as infecções mais maciças sugere-se o tratamento anual do rebanho com um anti-helmíntico
em geral são observadas no outono. Nas ovelhas, a prevalência de adequado no final da prenhez. As ovelhas e os cordeiros devem,
infecção é mais baixa, e sua produção de larvas é menor. Como acon- então, ser colocados em pastos que, pelo menos em áreas tempe-
tece com os outros tricostrongilídeos, parece provável a ocorrência radas, não tenham sido usados por ovinos durante o ano anterior.
de apenas dois ciclos do parasita durante cada período de pastejo. Três gêneros de tricostron gilídeos de importância secundária
Nos climas mais quentes, onde as condições com freq üência são são Amidoslomum, Ollulanus e Omithostrongylus.
inadequadas para a sobrevivência larval, o anima1 portador prova-
vehnente é uma fonte mais importante de contaminação do pasto, e
Amidostomum al1seris
os surtos de doença em cordeiros e cabritos ocorrem mais provavel-
mente depois de um período de chuvas prolongadas próximo ao Este parasita encontrado no trato digestivo superior, particular-
desmame. Os caprinos parecem ser mais suscetíveis a infecção que mente a moela, pode causar alta mortalidade em gansos e patos
os ovinos e supõe-se que desempenhem um papel importante na jovens e outras aves aquáticas jovens.
disseminação de infecção onde ambos ficam no campo juntos. Os vermes adultos, de coloração vermelho-viva e com até 2,5
c m de comprimento, são facilme nte identificados pela necrop-
DIAGNÓSTICO sia predominando no revestimento córneo da moela. Microsco-
picamente, caracterizam-se pela cápsula bucal rasa com três den-
Baseia-se na ananmese e na sintomatologia clínica, mas deve ser tes. Os ovos eliminados nas fezes já estão embrionados e, como
confirmado por exames de fezes de uma grande amostra do re- O Nematodirus, desenvolvem-se em LJ no ovo.
banho. A L 1 é semelhante à de D. viviparus, mas apresenta uma O tratamento com um dos benzimidazóis ou o levamisol é
saliência cuticular característica na extremidade·anterior (Fig. 28). eficaz, e pode-se preven ir a condição assegurando que as aves
Diferencia-se. de outros vermes pulmonares ovinos por seu ta- não permaneçam no mesmo solo todos os anos.
manho maior e pela cauda reta.
----------------------)
38 Parasit%gia Veterinária
PATOGENIA
Larvas
(a) (e)
Fig. 29 Cápsulas bucais de espécies de Strongylus. (a) S. vulgaris; (b) S. edentatus; (c) S. equinus.
..
Helmintologia Veterinária 39
Triodontophorus
Adultos Distribuição:
Mundial.
A patogenia da infecção por espécies adultas de Strongylus está
associada a lesão da mucosa do intestino grosso em virtude dos
hábitos alimentares dos vermes (Prancha III) e, até certo pon-
IDENTIFICAÇÃO
to, a ruptura causada pela emergência de adultos jovens no in-
testino após o término de seu desenvolvimento larval parasitá- Macroscópica:
no. Vermes avermelhados robustos, com 1 a 2,5 cm de comprimen-
Estes vem1es possuem grandes cápsulas bucais e se nutrem to, facilmente visíveis na mucosa do cólon. Numa das espécies,
por ingestão de tampões de mucosa ao se moverem pela superfí- T. tenuicollis, são encontrados caracteristicamente grupos de
cie do intestino. Embora os vennes pareçam alimentar-se total- vermes adultos alimentando-se em grupos.
mente de substância mucosa, a lesão acidental dos vasos sangüí-
neos pode causar considerável hemorragia. As úlceras resultan- Microscópica:
tes dessas mordidas eventuamente se fecham, deixando peque- A diferenciação entre espécies baseia-se nas características da
cápsula bucal, especialmente o número e o formato dos dentes
presentes em todas as espécies.
CICLO EVOLUTIVO
PATOGENIA
l
He/mifltologia Veterinária 41
. TRATAMENTO
Chabertia
Se as medidas profiláticas forem adequadas, não deve ser neces-
A Chabertia ovis está presente, usualmente em baixas qu antida-
sário o tratamento da estrongilose clínica.
des, na maioria dos ovi nos e caprinos. Contri bui para a síndro-
Há uma série de anti-helITÚnticos de largo espectro, incluin-
me de gastrenterite parasitária e apenas ocasionalmente ocorre
do benzimidazóis, pirantel e avermectinas/milbemicinas, que são
em números suficientes para causar doença clínica por si só.
eficazes na remoção de estrôngilos adu ltos e larvais da luz intes-
tinal, geralmente sendo comerciãITzados como preparações orais Hospedeiros:
ou para a ração. As avennectinas/milbe micinas tê m ainda a van- Ovinos, caprinos e ocasionalmente bovinos.
tagem de agir contra larvas de moscas (espécies de Gasterophilus)
que se desenvo lve m no estômago. Localização:
Alguns modernos benzimidaz6is e as avennectinaslmilbemici- Cólon.
nas também são eficazes tanto contra larvas de ciatostomíneos em
desenvolvimento na parede intestinal como contra alguns estági- Espécie:
os migratórios dos grandes estrôngilos. Chabertia ovina.
Distribuição:
Mundial.
- Eliminação de ovos nas fezes de égua
_.- Eliminação de ovos nas fezes de potro
- Larvas no pasto
IDENTIFICAÇÃO
Macroscópica:
Os adu ltos têm cerca de 1,5 a 2 cm de comprimento e são os
maiores nematóides encontrados no cólon de rumin antes. São
brancos, com uma extremidade anterior acentuadamente truncada
e dilatada por causa da presença da cápsula bucal muito grande.
Microscópica:
A enOIme cápsula bucal, em forma de sino, tem uma fileira dupla
de pequenas papilas ao redor da borda. Não há dentes (Fig. 33).
Fig. 32 O modelo de infecção por estrôngilos em éguas e potros no pasto em regi- É direto, e a fase pré-parasitária é semelhante à dos tricostrongili-
ões temperadas. deos de ruminantes.
42 Parasitolagia Veterinária
DIAGNÓSTICO
Urna vez que muito do efeito patogênico ocorre no período pré~
patente, a contagem de ovos nas fezes pode ser muito baixa.
Entretanto, durante a fase diarréica, os vermes podem ser expe-
lidos e são facilmente identificados. À necropsia, o diagnóstico
em gera] se baseia nas lesões, pois a carga de vermes pode ser
desprezível após a eliminação de vennes nas fezes.
Oesophagostollllll11
Na fase parasitária, as LJ entram na mucosa do intestino delga-
do e ocasionalmente na mucosa do ceco e do cólon; depois de uma As espécies de Oesophagostomum são respo nsáveis por uma
semana, sofr em muda, as L J emergem na superfície da mucosa e enterite em ruminantes e suínos. As espécies mais patogênicas
migram, agrupando-se no ceco, onde se completa o desenvolvi- em ruminantes ocorrem nos subtrópicos e trópicos. estando as-
mento em Ls cerca de 25 dias após a infecção. Os adultos jovens sociadas à formação de nódulos no intestino.
seguem, enlão, para o cólon. O período pré-patente é de 42 dias. Hospedeiros:
Ruminantes, suínos.
PATOGENIA
Localização:
O principal efeito patQgên ico é causado pelas Ls e por adultos Ceco e cólon.
maduros que se nutrem I ngeri ndo grandes tampões de mucosa,
resultando em hemorragia local e perda de proteína através da Espécies:
mucosa lesada. Oesophagostomum colurnbianum ovinos e caprinos
Uma carga de 250 a 300 vermes é considerada patogênica, e Oe. venulosum ovinos e caprinos
em surtos graves os efeitos tomam-se evidentes durante o fi nal Oe. radiatwn bovinos e bubalinos
do período pré-patente. A parede do cólon torn a-se edematosa, Oe. dentalum suínos
congesta e espessada, com pequenas hemorragias nos locais onde Oe. quadrispinulatum suínos.
se fixam os vermes (Fig. 34).
Outras espécies encontradas nos suínos são Oe. longicauda-
SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA tum, Oe. granatensis e Oe. brevicaudum e, em ovinos e caprinos,
Oe. asperwn.
Nas infecções graves, a diarréia, que contém ' muito sangue e na
Distribuição:
qual podem ser encontrados vermes, é o sinal clínico mais co-
Mundial; mais importante em áreas tropicais e subtropicais.
mum. Os ovinos ficam anêmicos e hipoalbuminêrnicos, poden-
do sofrer grave perda de peso.
IDENTIFICAÇÃO
EPIDEMIOLOGIA Macroscópica:
Velme branco espesso de 1 a 2 cm de comprimento. Facilmente
Em regiões temperadas, as LJ são capazes de sobreviver ao in- diferenciado de Chabertia pela cabeça afilada.
verno. O parasita também pode passar o inverno no hospedeiro
como L" hipobiótica na parede do intestino, e mergindo no final Microscópica:
do inverno e início da primavera. A cápsul a bucal é pequena. Em muitas espécies, é circundada por
Embora tenham sido registrados surtos de chabertiose em ca- coroas lamelares. A coroa externa, se presente, é comprimida e,
prinos e ovinos na Europa, a doença é mais importante nas regi- portanto, há apenas uma estreita abertura na cápsula bucal. Ao
ões da Austrália e da África do Sul com as chuvas de inverno. redor do esôfago anterior, há uma vesíc ul a cefálica cuticular in-
1
HelmillToJogia Veterinária 43
flada (Fig. 35). Esta termina num sulco cervical, que é acompa- EPIDEMIOLOGIA
nhado em algumas espécies por largas asas cervicais. A posição
das papilas cervicais e as disposições da coroa lamelar são usa- Em áreas temperadas, há evidência de que o Oe. venulosum so-
das para iden tificar as espécies. fre hipobiose no estágio L4 em ovinos durante O outono e O in-
verno e que esta é a principal maneira pela qual tal espécie so-
CICLO EVOLUTIVO brevive até a primavera seg uinte. Ainda não se sabe se ocolTe
hipobiose em Oe. radialwn. Ambas as espécies também são ca v
A fase pré-parasitária é tipicamente de estrongilídeos, e a infecção pazes de passar o inverno no pasto como ~.
se dá por ingestão de LJ, embora haja evidência limitada de que é Nas espécies suínas, Oe. denralwn e Oe. quadrispinulalum, a
possível penetração cutânea, pelo menos em suínos. As LJ entram sobrevivência tanto de LJ de vida livre no pasto como de L4
na mucosa de qualquer parte do intestino delgado ou grosso e em hi po biótica no hospedeiro ocorre durante o outono e o inverno;
algumas espécies (Oe. colwnbiallum, Oe. radia/um, Oe. quadrispi- as Larvas hipobióticas completam o desenvolvimento na prima v
nulatum) ficam inclusas em nódulos evidentes, nos quais tem lu- vera, freqüentemente coincidindo com o parto. Há também al-
gar a muda em L4 (Prancha ill). Essas L4 emergem, então, na su- guma evidência de que se desenvolvem larvas em fezes na pele
perfície mucosa, migram para o cólon e se transfonnam no estágio de suínos, e parece pro vável que, em anjmais estabulados, a trans-
adulto. O período pré-patente é de aproximadamente 45 dias. missão sej a por contato entre as porcas e suas ninhadas, e a in-
Na reinfecção com a maioria das espécies, as larvas podem fecção ocorre ou por via oral ou por via percutânea. Pode ocor-
permanecer inibidas como L4 em nódulos por até um ano; con- rer também transmissão de pocilga a pocilga através de moscas
tudo, com Oe. venulosw n, os nódulos estão ausentes, enquanto que podem transportar LJ nas patas.
em Oe. de{liatwn são pouco visíveis. Em áreas tropicais e subtropicais, são especialmente impor-
tantes Oe. colwnbianum e Oe. radiarwn em ovinos e bovinos
PATOGENIA respectivamente. Nas infecções por Oe. columbianum, a sobre-
vivência prolongada das L4 em nódulos na parede do intestino e
Todas as espécies são capazes de c,\usar grave enterite, incluin- a falta de imunidade eficaz tomaram difícil o controle até o ad-
do Oe. venuloswn, que não provoca formação de nódulos. vento de anti-helmínticos eficientes. Por outro lado, os bovinos
44 Parasitologia Veterinária
desenvolvem boa imunidade a Oe. radiatum, em parte graças à hospedeiro e completam o desenvol vimento. O cisto comunica-
idade e e m parte à prév ia exposição, sendo assim basicamente se com O ureter ou diretamente ou, se es tiver mais di stante, por
um problema em bezerros desmamados. um fino canal conectante, pennitindo a excreção de ovos de ver-
mes na urina.
DIAGNÓSTICO Embora a locali zação preferencial sej a na gordura perirrenal,
algun s vermes ocorrem no próprio rim, nos cálices e na pelve.
Baseia-se na sintomatologia clínica e no exame pós-morte. Como Foi descrita infecção pré-natal.
a doença aguda ocorre no período pré-patente, os ovos de espé- É comum a migração errática em infecções por Slephanurus,
cies de Oesophagostomum em geral não estão presentes nas fe- e são encontradas larvas na maioria dos órgãos e em tecido mus-
zes . Na doença crônica, observam-se ovos e podem ser identifi- cular. Nesses locais, ficam retidas por encapsulamento e jamais
cadas L, após a cultura de fezes. atingem a área perirrenal.
O período pré-patente varia de seis a dezenove meses, e os
TRA TAMENTO E CONTROLE vermes têm longevidade de cerca de dois anos.
tedouras locais registram números consideráveis de fígados ci r- mato de Y: são os únicos parasitas encontrados na traq uéia de
róLicos. pode ser feito um di agnóstico provável. aves domésticas (Prancha IV).
TRATAMENTO Microscópica:
Os vermes possuem cápsulas bucais grandes e rasas com até dez
o levam isol. os modernos benzimidazóis e a ivermectina são dentes em sua base. O ovo elipsóide de S. trachea tem um opér-
eficazes. culo em ambas as extremidades (Fig. 36).
Uma tentativa de controle baseia-se na suscetibilidade das ~ à Os ovos escapam sob a bolsa copuladora do macho e são leva-
dessecação e no fato de que uma importante via de infecção é a dos até a traquéia no muco em excesso produzido em resposta à
percutânea. Segue-se que a manutenção de superfícies lisas em infecção; são então deglutidos e eliminados nas fezes. Ao con-
volta das áreas de alimentação para SUúlOS criados extensivamen- tráfio de outros estrongilídeos, a LJ desenvolve-se no ovo.
te e a simples higiene. assegurando pisos secos e limpos em insta- Pode ocorrer infecção por uma de três maneiras - primeira-
lações para suínos, ajudaru a 1inútar a infecção. Esta abordagem mente por ingestão da LJ no ovo; em segundo lugar, por inges-
pode ser suplementada separando-se os suínos jovens dos que têm tão da L3eclodida; ou finalmente por ingestão de um hospedeiro
mais de nove meses de idade, que estarão excretrando ovos. transportador contendo a LJ'
O esquema de "apenas rnarrãs", preconizado por pesquisado- O hospedeiro transportador mais comum é a minhoca, mas
res nos Estados Unidos, consiste basicamente no uso apenas de vários outros invertebrados, incluindo lesmas, caramuj os e be-
marrãs para reprodução. As marrãs são criadas em solo seco e so uros, podem atuar como hospedeiros de transporte. Depoi s de
ex posto ao sol. Uma única ninhada é retirada delas, e tão logo os penetrar no intestino do hospedeiro defini tivo, as LJ seguem para
lei tões possam ser desmamados as marrãs são comercializadas. os pulmões, provavelmente pelo sangue, uma vez que são encon-
O esquema tem a vantagem do período pré-patente extremamente tradas nos alvéolos quatro a seis horas após infecção experime n-
longo, permitindo que um único ciclo reproduti vo pelas marrãs tal. As du as mudas parasitárias ocorrem nos pulmões dentro de
se complete antes do ínicio da oviposição e, portanto, eliminan- cincoidias, ocasião em que os parasitas têm 1 a 2 mm de co mpri-
do progressivamente a infecção. Os varrões utiJj zados no esque- mento~ A copulação dá-se por volta do sétimo dia na traquéia ou
ma são confinados em piso de conc reto. nos brônquios, depois do que a fêmea se desenvolve rapidamen·
Os esquemas que incorporam controle anti-helmintico reco- te. O período pré-patente é de 18 a 20 di as.
mendam tratamento de porcas e marrãs uma a duas semanas antes
de colocá-Ias com o macho reprodutor e novamen te uma a duas PATOGENIA
semanas antes do parto.
No planejamento de um sistema de controle, deve-se ter em Os efeitos do S. trachea são mais graves em aves jovens, especi-
mente que as minhocas, hospedeiros transportadores, represen- almente em filhotes de aves de caça e em peruzinhos. Nestes, a
tam um reservatório contínuo de infecção. migração através dos pulmões em infestações maciças pode re-
Svngamus
Apenas um membro deste gênero, o Syngamus trachea, tem im-
portância veterinária e parasita o trato respiratório superior de
aves não-aquáticas; é conhecido comurnente como "verme do
bocejo" e pode ser responsável por dificuldade res piratória e
morte.
Hospedeiros:
A ves domésticas e aves de caça. como faisões e perdizes.
Localização:
Traquéia.
Espécie:
Syngamus trachea.
Distribuição:
Mundial.
IDENTIFICAÇÃO
Macroscópica:
A fêmea grande (até 2 cm) e o macho peque no (até 0,5 cm), Fig. 36 Ovo de Syngamus trachea mostrando um opérCulO em cada extremidade
avermelhados, estão permanentemente in copula , dando o for- (78-1oo jim x 43·60 "",m).
46 Parasitologia Veterinária
sultar em pneumonia e morte. Em infecções menos graves, os membros deste gênero, mas não são considerados patógenos gra-
vennes adultos causam uma traqueíte hemorrágica, com produ- ves.
ção excessiva de muco, O que provoca oclusão parcial das vias
aéreas e dificuldade respiratória. ANCILÓSTOM~S DE CÃES E GA TOS
nas fezes. Além disso, alguns ovos de ancilóstomos nas fezes, netrando na pele e vagando na derme. Essas larvas não se desen-
embora co nfirmando a evidência de infecção, não indicam ne- volvem, mas as lesões cutâneas usualmente persistem durante se-
cessariamente que um cão adoentado seja portador de ancilosto- manas.
míase. Lesões semelhan tes, embora apenas transitórias e minúscu-
las, podem ser causadas por larvas de A. caninum.
TRATAMENTO
CONTROLE Espécie:
Uncinaria stenocephaLa.
Deve-se adotar um sistema de terapia anti-helmíntica e higiene
regular. 9s cães desmamados e os adultos devem ser tratados a Distribuição:
cada três meses. Áreas temperadas e subárticas; o "ancilóstomo do norte".
As cadelas prenhes devem ser tratadas pelo menos uma vez
durante a prenhez, e as ninhadas lactentes pelo menos duas ve- IDENTIFICAÇÃO
zes, com uma a duas semanas de idade e novamente duas sema-
nas depois , com uma droga especificamente recomendada para Um verme pequeno, de até I cm de comprimento, possui duas
uso em cãezinhos. Isto ajuda também a controlar as infecções por lâminas cortantes na borda da cápsula bucal (Fig. 38) e na base
ascarídeos. um pequeno par de dentes.
A transmissão perinataJ de larvas deAncylostomae de Toxocara
pode ser reduzida pela administração oral diária de fembendazol CICLO EVOLUTIVO
durante três semanas antes a dois dias depoi s do parto.
Os pisos dos canis não devem ter frestas, devem ser secos e as Semelhante ao do A. caninum, exceto que a infecção oral, sem
camas devem ser descartadas diariamente. As áreas livres devem migração pulmonar, é a via usual . Apesar das larvas infectantes
ser de cimento ou concreto e mantidas tão limpas e secas quanto
possível; as fezes devem ser removidas com uma pá antes de se
aplicar um j ato de água com mangueira. Se tiver ocorrido surto,
as áreas de terra devem ser tratadas com barato de sódio, que é
letal para larvas de ancilóstomos, mas também destrói a grama.
Uma segunda possibilidade freqüe ntemente usada em criações de
raposa é a manutenção de pisos de tela de arame nos cercados.
A. lubaeforme
A. braziliense
poderem penetrar na pele, a infecção raramente amadurece, e racteristicamente em forma de gancho na extrernjdade ante-
ainda não há evidência de infecção transmamária. O período pré- rior.
patente é de aproximadamente 15 dias.
Microscópica:
PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLíNICA A grande cápsula bucal apresenta na margem um par de lâminas
cortantes e internamente um grande cone dorsal (Fig. 39).
A infecção não é rara em grupos de cães de esporte e de lida. O
verme não é um hematófago voraz como o A. caninwn, mas em CICLO EVOLUTIVO
cãezinhos maciçamente infectados foram regi stradas hipoalbu-
minemia e anemia de baixo grau , aco mpanhadas de diarré ia, A infecção pelas L3 pode ser percutânea ou oral, apenas a pri-
anorexia e letargia. Provavelmente, a lesão mais comum em cães meira sendo acompanhada por migração pulmonar. O período
que se tornaram hipersensíveis por exposição prévia seja a der- pré-patente varia de um a dois ~eses.
matite podálica, acometendo particulannente a pele interdigital.
PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLíNICA
EPIDEMIOLOGIA
Os vermes adu ltos são hematófagos, e as infecções por 100 a 500
Na Inglaterra. num piquete usado continuamente durante o ano vermes produz anemia, hipoalbuminemia, perda de peso e oca-
todo por galgos, o padrão sazonal das larvas infectantes no pas- sionalmente diarréia. Nos bezerros, a penetração cutânea das
to seguiu perfeitamente o descrito para tricostrongilídeos gastrin- larvas pode ser acompanhada pelo ato de bater os pés e prurido.
restinais em ruminantes, com acentuado aumento emjulho e um
pico em setembro; isto sugere que o desenvol vimento até L3 é
altamente dependente da temperatura.
EPIDEMIOLOGIA
TRATAMENTO E CONTROLE
ANCILÓSTOMOS DE RUMINANTES
BWlOstOIllUIII
Hospedeiros:
Rumin antes.
Localização:
lntestino delgado.
Espécies:
Bunostomum trigol1ocephalwn ovinos e caprinos
B. phlebotomum bovinos.
Distribuição:
Mund ial.
IDENTIFICAÇÃO
Macroscópica:
Fig. 39 Cabeça de Bunostomum mostrando as lãminas cortantes marginais . A
O Bunostomum é um dos maiores nematóides do intestino del- estrutura cónica na cápsula bucal não ê um dente, mas contém o dueto da glãndu-
gado de ruminautes, tendo I a 3 cm de comprimento e sendo ca- la esofágica.
50 Parasitologia Veterinária
cos, e em algumas áreas, como a Nigéria, as mais altas cargas de METASTRONGILíDEOS DE SUíNOS
vennes são observadas no final da estação seca, aparentemente
por causa da maturação de larvas hipobióticas. Ocorre apenas um gênero em suínos, Metastrongylus, sendo
excepcional por ter minhocas, e não moluscos, como hospedei-
DIAGNÓSTICO ros intennediários.
Espécies:
TRATAMENTO E CONTROLE Metastrongylus apri (sin. elongatus)
M. salmi
Os esquemas anti-helmínticos profiláticos adotados para Oster- M. pudendolectlls.
tagia ou Haemonchus em geral são suficientes para o controle
deste parasita. Por outro lado, o tratamento de surtos deve ser Distribuição:
acompanhado por medidas para melhorar a higiene, particular- Mundial.
mente em relação à disposição das fezes, e pela manutenção de
camas secas para animais estabulados ou confinados.
IDENTIFICAÇÃO
PATOGENIA
SuperfamOia METASTRONGYLOlDEA
Durante o período pré-patente, desenvolvem-se áreas de conso-
Os vermes desta superfamília, em sua maioria, habitam os pulmões lidação pulmonar, hipertrofia muscular brônquica e hiperplasia
ou os vasos sangüíneos adjacentes aos pulmões. O ciclo evolutivo linfóide peribrônquica (Fig. 40), freqüentemente acompanhadas
típico é indireto, e o hospedeiro intennediário usualmente é um por áreas de grande infiltrado inflamatório.
molusco. Quando os vennes estão maduros e são aspirados ovos nas me-
Podem ser convenientemente divididos em três grupos segun- nores vias aéreas e no parênquima, a consolidação aumenta e o
doo hospedeiro; os que ocorrem em suínos; em ovinos ecaprinos; enfisema é mais acentuado. Nesta fase, ocorre também hiperse-
e nos carnívoros domésticos. creção de muco bronquiolar.
Helmintologia Veterinária 51
CONTROLE
Q uando a criação de suínos se baseia em pasto, o controle é ex-
tremamente difícil, por causa da ubiqüidade e longev idade do
ho spedeiro intenuediário TIÚnhoca. Em propriedades onde ocor-
rem surtos graves, os suínos devem ser confinados, medicados e
o pasto infectado cultivado ou utilizado por outros animais.
METASTRONGILíDEOS DE
OVINOS E CAPRINOS
Todos estes vermes hab itam os pulmões, mas nenhum deles é
um patógeno significativo e, embora comuns, têm pouca impor-
tância econômica se comparados com os outros helmintos para-
sitas de ovinos e caprinos. Apesar da existência de sete gêneros
Fig. 40 Hipertrofia muscular brônquica e hiperplasia linfóide peribrônquica associ-
adas a infecção de pulmão suíno por Metastrongy/us.
diferentes, têm o comportamento suficientemente se melhan te
para ser considerados em conjunto.
Hospedeiros:
Cerca de seis semanas após a infecção, instalam-se bronquite Ovinos e caprinos.
crônica e enfisema, sendo encontrados pequenos nódulos acinzen-
tados na parte posterior dos lobos diafragmáticos; esses nódulos Hospedeiros intermediários:
podem juntar-se e formar áreas maiores, sendo a sua resolução Moluscos: Muellerius em caramujos e lesmas; ProtostrongyLus
lenta. Em muitos casos de metastrongilose, observa-se infecção em caramujos.
es tafilocócica purulenta nos pulmões.
Gêneros e localizações:
O MueLlerius capilLaris é encontrado nos alvéolos; o Protostrongy-
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA lus, muitas espécies, é encontrado em pequenos bronquíolos. Os
gêneros menos importantes relacionados são CystocauLus, Spicu-
A maioria das infecções é leve e as si ntomática. Entretanto, e m locaulus e Neostrongylus.
infecções maciças, a tosse é acentu ada e acompanhada por disp-
néia e corrimento nasal. Uma infecção bacteriana secundária pode Distribuição:
complicar a sintomatologia. Mundi al, exceto nas regiões árti cas e subárticas.
EPIDEMIOLOGIA IDENTIFICAÇÃO
A metastrongilose apresenta distribuição etária característica, sendo São vermes capilares castanhos com 1 a 3 cm de comprimento e
mais prevalente em suínos de quatro a seis meses de idade. O pa- difíceis de ser discernidos a olho nu, pois ficam enterrados no
rasita é comum na maior parte dos países, embora não ocorram tecido pulmonar.
surtos de doença com freqüência, provavelmente graças ao fato
da maioria dos sistemas de criação de suínos não permitir o aces- CICLO EVOLUTIVO
so dos animais a m inhocas. Embora muitas vezes sugerido que o
Metastrongylus possa transmitir alguns dos vírus suínos e que possa Os vermes são ovovivíparos, sendo as LI eli minadas nas fezes;
aumentar o efeito de patógenos já presentes nos pulmões, o papel essas LI penetram na reg ião podálica do hospedeiro intermediário
do venne ainda não está defi nitivamente demonstrado. molusco e se desenvolvem em ~ num período minimo de duas a
três semanas. Os ovinos infectam-se por ingestão do molusco, e
DIAGNÓSTICO as L3' liberadas por digestão, seguem para os pulmões pela via lin-
fático-vascular, ocorrendo as mudas parasitárias nos Iinfonodos
Para exame de fezes, deve-se utilizar sulfato de magnésio satura- mesentéricos e nos pulmões.
do como a solução de flutuação, em face da alta densidade dos ovos. O período pré-patente de MaeUerius é de seis a 10 semanas e
Os pequenos ovos larvados de cascas irregulares são característi- o de ProtostrongyLus é de cinco a seis semanas. O período de
cos, mas é preciso lembrar que freqüentemente há Metastrongylus patência é muito longo, ultrapassando dois anos em todos os
em su.ínos normais e a sintomatologia pulmonar pode ser atribuí- gêneros examinados.
vel à infecção pulmonar, e não a vennes pulmonares. A doença
costuma ser encontrada mais em suínos no campo, embora ocor- PATOGENIA
ram surtos ocasionais em animais confinados.
O MueLlerius está associado a pequenas lesões nodul ares, esféri-
TRATAMENTO cas, que ocorrem mais comumente perto da ou sobre a superfície
pulmonar e, à palpação, têm a consistência e O tamanho de um
Muitos anti-helmínticos, incl uindo os modernos benzirnidazóis, chumbinho (Fig. 41). Os nódulos contendo venues isolados são
o levamisol e as avermectinas/milbemicinas, são altamente efi- quase imperceptíveis e os visíveis incluem vários dos minúsculos
cazes. vermes bem como ovos e larvas.
52 Parasit%gia Veterin6ria
DIAGNÓSTICO
A presença de infecção usualmente é observada apenas durante
exames rotineiros de fezes. As L I são diferenciadas das L I de
Dictyocaulus filaria primeiramente pela ausência de uma sali-
ência protoplasmática anterior e, depois, pelos aspectos indivi-
duais da cauda larval (Fig. 42).
TRATAMENTO
Os modernos benzimidazóis, o levamisol e a ivermectina de-
monstram se r eficazes.
CONTROLE
Em virtude da ubiqüidade dos hospedeiros intennediários molus-
cos e do fato de as LJ poderem sobreviver tanto quanto os molus-
cos, o controle específico é difícil, mas felizmente poucas vezes
necessário.
O EÚlphostrongy/us cervi é um metastrongilideo que ocorre
em cervídeos criados em propriedades rurais, incluindo a rena,
na Europa, na Ásia e na Nova Zelândia. É encontrado no tecido
Fig. 41 Lesões nodulares caracterfsticas associadas a infecção por Muellerius em
conjuntivo intennuscular do tórax e do dorso, sendo os ovos le-
pulmão de ovino. vados pela circulação sangü ínea aos pulmões, onde eclodem e
são ex pelidos pela tosse e deglutidos. Às vezes, entretanto, os
vermes in vadem o SNC e causam meningoencefalite, co m para-
lisia e morte ocasional. Nos músculos, os parasitas são inofensi-
Na infecção por Protoslrongylus, há um a área um pouco mai - vos, porém a sua presença pode exigir limpeza da carcaça.
or de comprometimento pulmonar, c a oclusão de um pequeno Uma espécie afim, Pare/aphoslrongylus tenuis, cujo hospe-
brônquio por vermes resulta no enchimento dos seus menores ra- deiro natural é o veado de cauda branca na América do Norte,
mos, que se dirigem à superfície pulmonar, por ovos, larvas e frag- ocasionalmente invade o SNC de ovinos e causa paralisia.
mentos celulares; a lesão inteira tem fonnato levemente cônico,
com a base na superfície do pulmão.
METASTRONGILÍDEOS DE CÃES E GATOS
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA Tal como a maioria dos membros desta superfarrulia, tais vennes
vivem nos pulmões ou em suas adjacências. Os poucos gêneros
Raramente se observam sinais pneumômicos, e as infecções
quase sempre são inaparentes, sendo identificadas somente à
necropsia.
EPIDEMIOLOGIA
o Muellerius é certamente o gênero mais co mum, e em muitas
regiões temperadas, como a Grã-B retanha, os estados do leste dos
Estados Unidos e as reg iões da Austrália com chuvas de inver-
no, quase todos os ovinos têm infecção; a extensa distribuição e
a alta prevalênc ia são parcialmente atribuíveis à sua ampla vari-
edade de hospedeiros intermediários.
O Prolostrongylus, cuj a vari edade de hospedeiros intermedi-
ários se restringe a certas espécies de caram ujos, tem prevalên-
cia mais baixa, embora sua amplitude geográfica seja igualmen-
te tão ampla.
Fatores adicionais que desempen ham um papel na manuten- Muellerius
ção da endemicidade desses vermes são, primeiramente, a capa- Cystocaulus
ProtostrongyJus
cidade das LI de sobrevi ver durante meses no bolo fecal e, em
segundo lugar, a persistência das L3 no hospedeiro intem1ediá- Fig. 42 Aspectos diferenciais de larvas de três gêneros de metastrongi!ídeos de
rio por toda a vida do molusco. Também importantes neste as- ovinos.
Helmintologia Veterinária 53
Hospedeiros:
Cães domésticos e silvestres.
Localização:
Os vermes ficam inclusos em nódulos fibrosos na traq uéia, na
região da bifurcação e nos brônquios adjacentes .
Espécie:
Oslerus osleri.
Fig. 43 Nooulos na bilurcaçào traqueal causados por inlecçào por Osferus osleri.
Distribuição:
Mundial.
IDENTIFICAÇÃO
" ~. Os vermes são muito peque nos, fi nos, capilares e cinzemos, não
sendo difícil vê-los a olho nu no parênq ui ma pulmonar, mas é
improvável que sejam recuperados intactos do tecido. A com-
pressão de um corte pulmonar demons tra fragmen tos de vennes.
ovos e larvas, e isto, com o hospedeiro e a localização, é sufj ci-
e nte para diagnóstico genéri co.
CICLO EVOLUTIVO
PATOGENIA
Filaroides TRATAMENTO
Localização: CONTROLE
Parênq uima pu lmonar.
É improvável que seja necessári o.
Espécies:
Filaroides l1lilksi
F. hirlhi. Aelurostrongylus
Hospedeiros:
Gatos.
Hospedeiros intermediários:
Muitos moluscos.
Localização:
Parênquima pulmonar e pequenos bronquíolos.
E spécie:
Aelurostrongylus abstrusus.
Distr ibuição:
Mundi al.
Fig. 45 Corte de pulmão de gato infectado por Aefurostrongyfus abstrusus.
IDENTIFICAÇÃO
Os vermes são ovovivíparos, e as LI são eliminadas nas fezes. A infecção por Aelurostrongylus é di sseminada, em parte por ser
Estas pe netram na região podálica do hospede iro intennedi ário quase indiscri mi nada em sua capacidade de desenvolvimento em
mo lusco e se desenvolvem nas LJ infectantes, e durante esta fase les mas e caramujos e em parte por sua ampla variedade de hos-
o molusco pode sef ingerido por hospedeiros paratênicos, como pedeiros paratênicos. Até agora, lodos os levantamentos demons-
aves e roedores. O gato infec ta-se por ingestão desses hospedei- tram prevalências superiores a 5%.
ros, e as L), liberadas no trato digestivo, seguem para os pulmões
pe la c irculação linfática ou san güínea. DIAGNÓSTICO
O período pré-patente é entre quatro e seis semanas e a dura-
ção da patência é de aproxim adamente qu atro meses, embora Podem ser necessários exames repetidos de fezes por esfregaço.
algun s vermes possam sobreviver nos pulmões durante vários fl utuação ou técnica de Baerman para encontrar a L I caracterís-
anos apesar da ausência de larvas nas fezes. tica, que apresenta uma es pinh a subtermin al na cauda em forma
de S. O exame de esfregaços da faringe pode ser um a conduta
PATOGENIA adic ional útil. As radiografi as revelam aumentos das densidades
vasc ular e parenq uimatosa focal, o que se poderia esperar pelas
o verme em geral tem baixa patogenicidade e as infecções, em alterações descritas anteriormente.
sua maioria, são descobertas apenas acidentalmente no exame pós-
morte. Na maior parte dos casos, os pulmões apresentam apenas TRATAMENTO
múltiplos pequenos focos com centros acinzentados contendo os
vermes e fragmentos tissulares, mas nas raras infecções graves há O fe mbendazol, na dose de 50 mglkg ao d ia, durante três di as,
nódulos mai ores, de a té I cm de diâmetro, com centros caseosos demonstra ser eficaz.
projetando-se da superfície pulmonar; esses nódu los podem fun-
dir-se e formar áreas de consolidação. M.icroscopicamente, obser-
CONTROLE
va-se que os alvéolos estão bloq ueados com vennes, ovos, larvas
e aglomerados celulares que podem evoluir para formação de gra-
Em cães de estimação e especialmente naqueles com tendência
nuloma (Fig. 45). Uma alteração característica é hipertrofia e hi-
nôm ade, é difícil evitar o acesso aos hospedeiros intermediários
perplasia muscular, acometendo não somente os bronquíolos e
e paratênicos.
duetos alveolares, mas também a média das artérias pulmonares.
Com exceção das alterações musculares, que parecem ser ir-
reversíveis, a resolução é rápida e os pulm ões se apresentam Angioslrollgylus
quase comp letamente normais em seis meses de infecção expe-
ri mental, embora ainda possam estar presentes alguns vennes.
A única espécie de importância veterinária não é encontrada em
tecido pul monar, mas sim no coração e em vasos pulmonares
SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA associados.
nérico. A confirmação microscópica baseia-se na presença de silvestres nos Estados Unidos, Anafilaroides nos gatos domésti-
pregas anulares da cutícula, que apresentam em suas bordas pe- cos nos Estados Unidos, no Sri Lanka e em Israel, e Gurltia em
quenas espinhas voltadas para trás. gatos na América do Sul. Metathelazia e Anafilaroides habitam
o parênquima pulmonar, enquanto Gllrltia é e ncontrado nas vei-
CICLO EVOLUTIVO as da parte superior do membro posterior e é uma causa ocasio-
nal de paralisia.
o C. vulpis é ovovivíparo, e as LI são eliminadas nas fezes. De-
pois da ingestão do hospedeiro intermediário molusco pelo hos-
pedeiro definitivo, as LJ são liberadas por digestão e seguem para SuperfamOia RHABDlTOIDEA
os pulmões, onde têm lugar ambas as mudas parasitárias. O pe-
ríodo pré-patente é de 19 dias. É um grupo primitivo de nematóides, principalmente de vida li-
vre ou parasitas de vertebrados inferiores e invertebrados.
PATOGENIA Embora alguns gêneros normalmente de vida livre, como
Micronema e Rhabditis, ocasionalmente provoquem problemas
em animais, o único gênero importante do ponto de vista veteri-
As pregas cuticulares espinhosas lesam a mucosa das vias aére-
as, com conseqüente broncopneumonia e oclusão dos menores nário é o Strongyloides.
brônquios e bronquíolos.
Strollgyloides
SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA
Os membros deste gênero são parasitas comuns do intestino del-
Os sintomas são os de uma infecção respiratória crônica, com gado de animais muito jovens e, embora geralmente de pouca
tosse, espirros e corrimento nasal associados a taquipnéia. As significância patogênica, em determinadas circunstâncias podem
raposas podem ficar emaciadas, com pele de baixa qualidade. dar origem a grave enterite.
Nas raras infecções agudas, pode haver mortalidade alta.
Hospedeiros:
EPIDEMIOLOGIA A maioria dos an imais.
TRATAMENTO Macroscópica:
Vennes capilifonnes, delgados, geralmente com menos de I cm
de comprimento.
A dietilcarbamazina foi descrita como eficaz, porém não é mais
amplamente viável. É provável que alguns dos mais modernos
Microscópica:
anti -helllÚnticos sejam eficazes.
Apenas as fêmeas são parasitas. O longo esôfago pode ocupar
até um terço do comprimento do corpo, e O útero fica entrelaça-
CONTROLE do com o intestino, dando o aspecto de fio retorcido. Ao contrá-
rio de outros parasitas intestinais de mesmo tamanho, a cauda
Os vetores caramujos podem ser eliminados pulverizando-se os tem ponla obtusa (Fig. 46).
viveiros de raposas com molusquicida e pintando o madeiramento t Os ovos de Strongyloides são ovais, de casca fina e peque-
com creosoto até a uma altura de 20 cm do solQ. As fezes devem nos, tendo a metade do tamanho dos ovos típicos de estrongilí-
ser descartadas de modo a impedir o acesso de moluscos. deos (Fig. 47). Em herbívoros, é o ovo larvado que é e liminado
nas fezes, mas em outros animais é a LI eclodida)
OUTROS METASTRONGILÍDEOS
CICLO EVOLUTIVO
Vários outros gêneros de metastrongilídeos ocorrem nos carní-
voros domésticos, mas têm distribuição limitada. Inc1uemMela- o Strongyloides é único entre os nematóides de importância vete-
lhelazia, encontrado em gatos domésticos na Rú ssia e em gatos rinária, sendo capaz de ciclos reprodutivos tanto parasitário como
58 ParasilOlogia Veterinária
PATOGENIA
>i- DIAGNÓSTICO
TRATAMENTO E CONTROLE
Distribuição:
Rhabditis Mundial.
Vários membros deste gênero de nematóides de vida livre podem
IDENTIFICAÇÃO
tomar-se parasitas casuais, invadindo a pele e causando prurido
intenso. Os casos são registrados com mais freqüência em cães de
O A. suum é certamente o maior nematóide dos suínos; as fême-
canis com camas de feno ou palha úmida, e as lesões, geralmente
as têm até 40 cm de comprimento e podem ser confundidas ape-
restritas a áreas do corpo em contato com o solo, apresentam que-
nas com Macracanthorhyncus onde este ocorre.
da de pêlos, eritema e fonnação de pústulas se contaminadas com
O ovo é oval e amarelado, com casca espessa, cuja camada
bactérias. Os vermes muito pequenos, de 1 a 2,8 mm de compri-
externa é irregularmente mamilada (Fig. 48).
mento, com esôfago rabditiforme, podem ser recuperados de ras-
pados de pele. O tratamento é sintomático, e a condição pode ser
evitada alojando-se os animais em camas limpas e secas. CICLO EVOLUTIVO
Nos trópicos, há relatos de otite externa em bovinos associa-
da à infecção por Rhabditis. O ciclo evolutivo é direto. Apesar da única muda pré-parasitária
ocorrer em aproximadamente três semanas depois do ovo ter sido
eliminado, é necessário um período de maturação, e não é infec-
Halicephalobus (sin. Micronema) tante até um mínimo de quatro semanas após a eliminação, mes-
mo na faixa ideal de temperatura de 22 a 26°C. O ovo é muito
Foram descritos casos de infecção em eqüinos pelo nematóide resistente a temperaturas extremas e viável por mais de quatro anos.
de vida livre saprófita Halicephalobus deletrix em várias partes Após a infecção, o ovo eclode no intestino delgado e a L 2 se-
do mundo. Nos animais acometidos, os vermes muito pequenos, gue para o fígado, onde tem lugar a primeira muda parasitária. A
com menos de 0,5 mm de comprimento, foram encontrados em L3 então, através da circulação sangüínea, vai para os pulmões e
granulomas nasais e maxilares e nó cérebro e no rim. Sintoma- daí para o intestino delgado via traquéia. No intestino, ocorrem
tologia nervosa grave e morte podem acompanhar a infecção do as duas últimas mudas parasitárias.
sistema nervoso central. Se os ovos forem ingeridos por minhocas ou besouros copró-
fagos, eles eclodem, e as L 2 seguem para os tecidos destes hos-
[Estrongiloidose no homem: Os. stercoralis ocorre no homem pedeiros paratênicos, onde podem permanecer totalmente infec-
em climàs quentes. Produz diarré ia, especialmente em crianças tantes para suínos durante longo período.
novas, e em adultos imunologicamente comprometidos pode
multiplicar-se no hospedeiro, com conseqüências fatais. O cão
pode atuar como hospedeiro natural desta espécie.]
Superfamília ASCARIDOIDEA
Os ascarídeos estão entre os maiores nematóides e ocorrem na
maioria dos animais domésticos, sendo de importância veterinária
tanto os estágios larvais como os adultos. Ainda que os adultos
no intestino possam causar definhamento em animais jovens e
ocasional obstrução, uma característica importante do grupo são
as conseqüências patológicas do comportamento migratório dos
estágios larvais.
Com poucas exceções, o gênero tem as seguintes caracterís-
ticas em comum.
São vermes opacos brancos, grandes, que habitam o intestino
delgado. Não há cápsula bucal, e a boca consiste simplesmente
numa pequena abertura circundada por três lábios. O modo co-
mum de infecção é por ingestão do ovo de casca espessa conten-
do a L 2 • Entretanto, o ciclo pode envolver hospedeiros de trans-
porte e paratênicos.
Ascaris
Hospedeiros:
Suínos.
Localização:
Intestino delgado.
Espécie:
Ascaris suum. Fig. 48 Ovos de Ascaris suum (60 J.l.m x 50 I-l-m).
60 Parasito/agia Veterinária
o período pré-patente é entre seis e oito semanas, cada fêmea aração e cultivo. Ocasionalmente, são encontrados adultos jovens
podendo produzir mais de 200.000 ovos por dia. de A. SUllm no intestino delgado de ovinos.
Há algu ns casos registrados de infecção patente por A. suum
PATOGENIA no homem.
EPIDEMIOLOGIA
Fig . 49 Ovo de Toxocara canis (75 fLm x 90 fLm) mostrando espessa casca com Foram efetuados levantamentos de prevalênci a de T. canis em
escavações. Compara c com o de Toxascaris na Fig, 51. muitos países que demonstraram ampla variação de taxas de in-
62 Parasitologia Veterinária
fecção, de 5% a mais de 80 %. As prevalências mais altas foram naturais fossem outros animais, atualmente, em uso generaliza-
registradas em cães com menos de seis meses de idade, com as do, ele representa es te tipo de invasão apenas no homem e, em
menores quantidades de vermes nos animais adultos. particular, pelas larvas de Toxocara canis. Seu termo comple-
A ampla di stribuição e a alta intensidade de infecção por T. me ntar é larva m.igrans cutânea, para infecções por larvas "es-
canis dependem fundamentalmente de três fatores. tran has" que se restrin gem à pele.
Primeiramente, as fêmeas são extremamente fecundas, um A condição ocorre mais comume nte em crianças com muito
verme podendo contribui r com cerca de 700 ovos para cada gra- cantata com cães de estimação ou que freqüentam locais como
ma de fezes por dia, não sendo incomuns contagens de ovos de parq ues públicos, onde há contamin ação do solo por fezes cani-
15.000 opg em cãezinhos. nas. Os levantamentos desses locais e m muitos países demons-
Em seg undo lugar, os ovos são altamente resistentes a extre- tram, quase invariave lmente, a presença de ovos viá veis de T.
mos climáticos, podendo sob reviver durante anos no solo. canis em cerca de 10% das amostras de solo.
Em terceiro lugar, há um reservatóri o constante de infecção Apesar deste alto risco de exposição à infecção, a incidência
nos tecidos somáticos da cadela, sendo as larvas nestes locais relatada de casos clínicos é pequena. Por exemplo, em 1979, um
insensíveis à maioria dos anti-helmínticos. levantamento francês da literatura mundial revelou que haviam
sido relatados apenas 430 casos de larva migrans ocular e 350
DIAGNÓSTICO de larva migrans visceral. Entretanto, sugere-se a ocorrência de
50 a 60 casos clínicos por ano na Grã-Bretanha, j á que muitos
É possível apenas um diagnóstico presuntivo durante a fase pul- não são registrados.
monar de infecções maciças, quando as larvas estão migrando, Em muitos casos, a invasão larval limita-se ao fígado e pode
baseando-se no aparecimento simultâneo de si nais pneumônicos dar origem a hepatomegalia e eosinofitia, mas em algumas ocasi-
numa ninhada, quase sempre dentro de duas semanas depois do ões uma larva escapa para a circulação geral e atinge outro órgão,
nascimento. sendo o olho o mais freqüentemente observado. Ai, foona-se um
Os ovos nas fezes, subglobulares e castanhos com espessas granuloma ao redor da larva na retina, muitas vezes semelhante a
cascas escavadas, são espécies-diagnósticos. A produção de ovos um retinoblastoma, e há casos de remoção precipitada do globo
dos vermes é tão alta que não é necessário utilizar métodos de ocular em crianças após um falso diagnóstico. Apenas em casos
flutuação, sendo facilmente encontrados em simples esfregaços raros O granuloma envo lve o disco óptico, com perda total de vi-
de fezes aos quais se adiciona uma gota de água. são, e muitos dos relatos são de diminui ção parcial da visão, com
endoftalmia ou retini te granulosa. Atualmente, esses casos são tra-
tados com o uso de terapia com laser. Em alguns casos de epilep-
TRATAMENTO E CONTROLE sia, foi identificada sorologicamente infecção por T canis, mas
ainda não foi determinada a importância da associação.
Os vermes adultos são facilmente removidos por tratamento anti- O controle de larva migrans visceral baseia-se no esquema
helmíntico. A droga utilizada mais popular é a piperazina, em- anti-helmíntico já descri to, no descarte seguro de fezes caninas
bora esteja sendo sub stituída pelos benzimidazóis fenbendazol
em casas e jardins e na limitação do acesso de cães a áreas onde
e mebendazol e por nitroscanato. brincam crianças, como os parques públicos.
Um esquema simples e freqüe ntemente recomendado para
controle de toxocariose e m cães jovens é como se segue:
Todos os cãezinhos devem ser tratados com duas semanas de Toxocara cali
idade e novamente duas a três semanas mais tarde para eliminar
infecção.adquirida no período pré-natal. Recomenda-se também Hospedeiro:
o tratamento simultâneo das cadelas. Gato.
Uma outra dose deve ser admi nistrada aos cãezinhos aos doi s
meses de idade para eliminar qualquer infecção adquirida atra- Localização:
vés do leite matemo ou por algum aumento na contagem de ovos Intestino delgado.
nas fezes maternas nas semanas posteriores ao parto.
Os cãezinhos recém-adquiridos devem ser tratados duas ve- Distribuição:
zes num intervalo de 14 dias. Mundial.
Como é provável a presença de alguns vennes mesmo em cães
adultos apesar da migração da maioria das larvas para os tecidos
somáticos, recomenda-se o tratamento dos cães adu ltos a cada
IDENTIFICAÇÃO
três a seis meses durante a vida toda.
Tipicamente da superfamI1ia, o Toxocara cati é um grande ver-
Foi demonstrado que a administração diária de altas doses de
me branco, quase sempre ocorrendo como uma infecção mista
fembe ndazol à cadela de três semanas pré-parto a dois dias pós- com o outro ascarídeo de carnívoros, Toxascaris leonina. A dife-
parto elimina amplamente a infecção pré-natal e transmamária
renciação (Fig. 50) entre os dois é feita facilmente ao exame ma-
dos cãezinhos, embora possa persistir uma infecção residu al nos
croscópico ou com uma lupa, quando se observa que as asas cer-
tecidos da cadela. Este esq uema pode ser útil em canis de repro- vicais de T cati têm a forma de ponta de flecha, com as bordas
dução. posteriores quase e m ângulo reta com o corpo, enquanto as de
Toxascaris se afilam gradativamente no corpo. O macho, como o
LARVA MIGRANS VISCERAL de T. CatÚS, possui um pequeno processo digitifol111e na extremi-
dade da cauda.
Embora este termo originalmente fosse aplicado à invasão dos O ovo, subglobular e com casca espessa, escavada e quase
tecidos viscerais de um animal por parasitas cujos hospedeiros incolor, é característico e m fezes de gatos.
He1mintologia Veterinária 63
CONTROLE
Hospedeiros:
Bovinos e bubalinos.
Localização:
Intestino delgado.
Toxascaris leonina
Distribuição:
Principalmente em regiões tropicais e quentes.
IDENTIFICAÇÃO
-.....~- EVOLUTIVO
o T. vitulorum é o maior parasita intestinal de bovinos, as fême-
T. canis, o ciclo evolutivo de T. cati é migratório, quan- as tendo até 30 cm de comprimento. É um verme espesso, rosa-
""k"'=por ingestão das ~ no ovo, e não-migratório após a in- do quando fresco, e a cutícula é bem transparente, de tal modo
:::msmamária por L3 ou após a ingestão de um hospedeiro que os órgãos internos podem ser vistos.
. ...,;,.,."'. Entretanto, ao contrário do T canis, não ocorre infec- O ovo é subglobular, com uma espessa casca escavada e qua-
_-=1. se incolor.
~o pré-patente desde a infecção pelo ovo é de aproxi-
_","=:rte oito semanas. CICLO EVOLUTIVO
" ' --:X;:ENIA E SINTOMA TOLOGIA CLíNICA O ciclo evol utivo desta espécie lembra o de T. cati pelo fato da
mais importante fonte de infecção ser o leite matemo, em que se
da maioria das infecções ser adquirida ou no leite ma- observa a presença de larvas por até 30 dias após o parto. Não há
por ingestão de hospedeiros paratênicos, não há fase migração teciduaJ no bezerro após a infecção e o penado pré-
DIAGNÓSTICO
Os O\ 'OS subglobulares, com es pessas cascas escavadas, são ca-
ractensticos nas fezes bovinas.
TRA TAMENTO
Os vem1es adultos são suscetíveis a uma ampla variedade de anti-
helmfnticos, incluindo piperazina, levamisol e os benzimidazóis.
Todas estas drogas também são eficazes contra estágios em de-
senvolvimento no in testino.
CONTROLE
A prevalência de infecção pode ser drasticamente reduzida por
tratamento dos bezerros às três e seis semanas de idade, impe-
dindo que os vermes em desenvolvimento atinjam a patência.
Fig. 51 Ovo de Toxascan"s leonina (75 /-Lm x 85 /-Lm) mostrando a casca lisa.
Toxascaris
menta de infecção por vermes nos animais hospedeiros e em
Este gênero ocorre nos carnívoros domésticos e, apesar de co- higiene adequada para limitar a possibilidade de aquisição de
mum, é menos importante que Toxocara, pois sua fase parasitá- infecção por ingestão de ovos.
ria é não-migratória.
Hospedeiros: Parascaris
Cães e gatos.
A infecção por Parascar;s equorum é comum em todo o mundo
Localização: e uma importante causa de definhamento em potros jovens.
Intesti no delgado.
Hospedeiros:
Espécie: Eqüinos e asininos.
Toxascaris leonina.
Localização:
Distribuição: Intestino delgado.
Mundial.
Espécie:
IDENTIFICAÇÃO Parascaris equorUJJ'l.
DIAGNÓSTICO
CONTROLE
Espécies: DIAGNÓSTICO
Ascaridia gal/i. Duas outras espécies são A. dissimilis em perus
e A. columbae em pombos. Nas infecções com vermes adultos, os ovos são encontrados nas
fezes, mas, como é difícil distingui-los dos ovos de Heterakis, a
Distribuição: confirnlação de ve ser feita por exame pós-morte de uma ave,
Mundial. quando são encontrados os grandes vermes brancos. No período
pré-patente, as larvas são encontradas no conteúdo intestinal e
IDENTIFICAÇÃO em raspados da mucosa.
Estes vermes são robustos e densamente brancos, tendo as fê- TRA TAMENTO E CONTROLE
meas até 12 cm de comprimento. O Ascaridia é certamente o
maior nematóide de aves domésticas. Quando as aves são criadas num sistema extensivo e a ascaridiose
O ovo é distintamente oval, com casca lisa (Fig. 54), não po- constitui um problema, as aves jovens devem, se possível, ser
dendo ser facilmente distinguido do ovo do outro ascarídeo co- agrupadas e criadas em solo previamente não ocupado por aves.
mum das aves, Heterakis. Como o nematóide também pode ser um problema em aloja-
mentos com camas densas, devem ser utilizados sistemas de ali -
CICLO EVOLUTIVO mentação e fornecimento de água que limitem a contaminação
dos alimentos e da água por fezes.
O ovo torna-se infectante em temperaturas ideais num mínimo Em qualquer caso, o tratamento com sais de piperazina,
de três semanas e a fase parasitária é não-migratória. Às vezes, o levarnisol ou um benzimidazol, como O flubendazol, pode ser
ovo é ingerido por minhocas, que podem atuar corno hospedei- administrado ou na águ a de beber ou na ração. As cápsulas con-
ros transportadores. tendo fembendazol para uso em pombos também são altamente
O período pré-patente varia de cinco a seis semanas em pin- eficazes.
tinhos a oito semanas ou mais em aves adultas. Os vermes vi-
vem por aproximadamente um ano.
Heterakis
PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLÍNICA
Este gênero é excepcional por seu tamanho pequeno e sua loca-
Ascaridia não é um verme altamente patogénico, e quaisquer efei-
lização no intestino grosso, ao contrário deAscaridia , que é gran-
tos são observados em aves jovens, os adultos apresentando-se
de e habita o intestino delgado (Fig. 55).
Hospedeiros:
Aves domésticas e silvestres.
Localização:
Cecos .
Espécies:
Heterakis gal/inarum. Outra espécie, H. isolonche, ocorre em
aves de caça, notavelmente faisões.
Distribuição:
Mundial.
IDENTIFICAÇÃO
EPIDEMIOLOGIA
DIAGNÓSTICO
TRATAMENTO
Fig. 55 Os dois ascarideos comuns de aves são Ascaridia galli (até 12 cm de com-
primento) e Heterakis ga llinarum (até 1,5 cm de comprimento) . Assim como Ascaridia, o Heterakis é sensível à piperazina, ao
levamisol e a uma série de benzimidazóis.
CONTROLE
cilmente o gênero, mas, para identifi cação específica macroscó-
pica, é necessário demonstrar os espícul os, de com prime ntos O co ntrole do H. gallinarum é necessário apenas quando a
diferentes no H. gallinarum mas do mesmo compri mento no H. histomonose constitui um problema em perus. Baseia-se ampla-
isolonche. M ic roscopica mente, também, pode-se co nfirmar a menle na hi giene e, em criações de quintal, doi s pontos princi-
identidade genérica pela presença de uma grande ventosa pré- pais são: a segregação de peru s das outras aves domésti cas e a
cloacal no macho e asas caud ais proeminentes sustentadas por remoção e o desc31te da cama de aviários. Onde o problema for
grandes papilas caudais. sério e contínuo, pode ser aconselhável administrar ou piperazina
O ovo é ovóide e tem casca li sa, sendo difíc il distin gui -lo do ou levamisol intermitentemente na ração ou na água, além de
ovo de AscO/-idia. quimioprofilaxia contínua para Histomonas.
Onde a infecção por H. isolonche for endêmica e m fai sões,
CICLO EVOLUTIVO os viveiros devem ser abandonados e os filhotes de faisões cria-
dos em solo fresco.
o ovo é in fec tante no solo em cerca de duas semanas e m tempe-
raturas ideai s. As minhocas podem ser hospedeiros tran sporta- Infecção por Anisakidae
dores, co m os ovos simplesmente passando pelo intestino, ou
hospede iros paratênicos, nos qua is o ovo eclode e a ~ seg ue para Os Anisakidae são ascarídios c ujos adultos parasitam uma ampla
os tecidos a fi m de aguardar a ingestão pelas aves. No H. gallina- variedade de animais, incluindo mamíferos marinhos e aves. As
ParosilOlogia Veterinária
Superfamflia OXYUROIDEA
Os oxiurídeos adultos de animais habitam o intestino grosso e são
comumente denominados pinworms por autores de língua ingle-
sa, por causa da cauda pontiaguda do parasita fêmea. Possuem
esôfago de bulbo duplo e ciclo evolutivo direto. Os únicos gêne-
ros de interesse veterinário são Oxyuris e Probstmayria. ambos
parasitas de eqüinos, e Skrjabinema, parasita de ruminantes. Fig. 56 Fêmeas adultas de Oxyuris equi.
Oxyuris
A infecção pelo oxiurídeo de eqüinos, Oxyuris equi, é extrema- midade anterior e põe os ovos em grumos, vistos macrosco-
mente comum, e, apesar de importância patogênica limitada no picamente como estrias gelatinosas branco-amareladas na pe-
intestino, os parasitas fêmeas podem causar intenso prurido anal le perineal. O desenvolvimento é rápido e, em quatro a cinco dias,
durante o processo de oviposição. o ovo contém a L3 infectante. A infecção é por ingestão dos ovos,
e as larvas são liberadas no intestino delgado, movem-se para
Hospedeiros: o intestino grosso e migram para as criptas mucosas do ceco e
Eqüinos e asininos. do cólon, onde tem lugar o desenvolvimento em L4 dentro de
10 dias. As L4 então emergem e se nutrem da mucosa antes de
Localiza ção: atingir os estágios adultos, que se alimentam de conteúdo intes-
Ceco, cólon e reta. tinal.
Espécie:
O período pré-patente do o.
equi é de cinco meses.
Oxyuris equi.
Distribuição:
Mundial.
IDENTIFICAÇÃO
Macroscópica:
As fêmeas adultas são grandes vermes brancos com cauda pon-
tiaguda que podem atingir 10 cm de comprimento (Fig. 56), en-
quanto os machos maduros geralmente têm menos de I cm de
comprimento. As L4 de O. equi, com 5 a 10 mm de comprimen-
to, têm a cauda afilada (Fig. 57) e costumam fixar-se oralmente
à mucosa intestinal.
Microscópica:
Há um bulbo esofágico duplo e os machos minúsculos possuem
asas caudais e um único espinho. Na fêmea, a vulva situa-se ante-
riormente.
Os ovos de o. equi são ovais, amarelos e levemente achatados
numa das extremidades com um tampão mucóide na outra (Fig. 58).
CICLO EVOLUTIVO
Os vermes adultos são encontrados na luz do cólon. Após a fer- Fig. 57 Larvas de quarto estágio de Oxyuris equi que lembram pequenos pregos
tilização, a fêmea grávida migra para o ânus, projeta a sua extre- de carpete.
Helmintoiogia Veterinária 69
Probstmayria
A Probstmayria vivipara é wn parasita oxiurídeo longo, de 2,0~ 3,0
mm, incomwn por ser um parasita perpétuo e viver de geração em
geração no cecoe no cólon de eqüinos. As fêmeas são vivíparas e adul-
tos e larvas podem ser eliminados nas fezes; a transmissão, portanto, é
por coprofagia. Embora possam c-<;tar presentes milhões desses oxiu-
rídeos, nunca dão origem à sintomatologia clínica. Como o Oxyuris,
este parasita é sensível aos anti-helmínticos mais modernos.
Fig. 58 Ovo de Oxyurís equí (90 p..m x 45 p..m).
Skrjabinema
H ospedeiros:
O cão e ocasionalmente o gato.
Hospedeiros intermediários:
Besouros coprófagos.
Localização:
As larvas migratórias produzem lesões características na parede
da aorta, enquanto os adultos são encontrados em lesões granu-
lomatosas na parede do esôfago e no estômago.
Espécie:
Spirocerca lupi.
Fig. 60 Corte transversal mostrando SpirocBrca lupino interior de um granuloma e
Distribuição: na luz esofágica.
Áreas tropicais e subtropicais.
IDENTIFICAÇÃO
por um besouro coprófago. Neste, o hospedeiro intermediário, a
o aspecto das lesões granulomatosas, do tamanho até de urna bola larva desenvolve-se até a 1.:, e se encista. Pode também haver hos-
de golfe, geralmente é suficiente para a identificação (Fig. 59). pedeiros paratênicos envolvidos se o besouro coprófago, por sua
Ao corte dos granu lomas. podem ser observados numerosos ver- vez, for ingerido por uma série de outros animais, incluindo as
mes róseos (Fig. 60), mas é difícil removê-los intactos, pois es- galinhas domésticas, aves silvestres e lagartixas. Nestes, a LJ
tão enrolados e têm até 8 cm de comprimento. encista-se nas vísceras.
À ingestão do hospedeiro intermediário ou paratênico pelo
CICLO EVOLUTIVO hospedeiro definiti vo, as L, são liberadas, penetram na parede
do estômago e migram, através da artéria celíaca, para a aorta
o ovo alongado e de casca espessa, contendo uma larva, é eli- torácica. Cerca de lrês meses depois, vão para o esôfago adja-
minado nas fezes ou em vômitos e não eclode até ser ingerido cente, onde provocam a formação de granulomas conforme se
desenvolvem até o estágio adulto nos três meses seguintes. O
período pré-patente, portanto, é de seis meses. Contudo, podem
não ser encontrados ovos nas fezes de certa proporção de ani-
mais com infecções adultas, nos quais os granulomas não têm
aberturas na luz esofágica.
EPIDEMIOLOGIA
Nas áreas endêmicas, a incidência de infecção cm cães costuma
--' ser extremamente alta, aproximando-se, às vezes, de 100%. É
provável que isto esteja associado às muitas oportunidades de
Fig. 59 Grande granuloma esofágico decorrente de infecção por Spirocerca lupi. adquirir infecção da série de hospedeiros paratênicos.
HelminlOlogia Veterinária 71
1
DIAGNÓSTICO e Haematobia, que freqüentemente estão presentes nas fezes. O
desenvolvimento em L3ocorre sincroni zadamente com o desen-
Podem ser encontrados ovos nas fezes ou em vômitos se houver volvimento do hospedeiro intermediário muscídeo até a maturi-
fístulas nos granulomas esofágicos. Por outro lado, o diagnósti- dade. Quando a mosca se alimenta ao redor da boca do eqüino,
co pode depender de endoscopia ou radiografia. as larvas passam de suas peças bucais para a pele e são degluti-
das. Alternativamente, as moscas infectadas podem ser degluti-
TRATAMENTO das inteiras. O desenvolvimento em adulto tem lu gar na área
glandular do estômago em aproximadamente dois meses.
o tratamento é raramente viável, mas o levamisol, o disofenol e Quando são depositadas numa ferida cutânea ou ao redor dos
o albendazol são descritos como tendo valor. O disofenol é ad- olh os, as larvas de Habronema invadem os tecidos, mas não
mjnistrado por via subcutânea na dose de 7 rng/kg de peso COf- completam o desenvolvimento.
póreo, repetindo-se o tratamento depois de sete dias.
PATOGENIA
CONTROLE
Os adu ltos no estômago podem causar di screta gastrite catarral
É difícil, em face da ubiqüidade dos hospedeiros intermediários e com excessiva produção de muco. Mais importantes são as le-
paratênicos. Os cães não devem ser alimentados com vísceras cru- sões granu lomatosas de habronemose cutânea, conhecidas comu-
as de aves silvestres ou de galinhas domésticas criadas extensiva- mente como "feridas de verão" (Prancha IV), e a conjunti vi te
mente. persistente, com espessamento nodular e ulceração das pálpebras
associada a invasão dos olhos. São encontradas também larvas
associadas a pequenos abscessos pulmonares.
Habronema
SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA
Os membros deste e do gênero intimamente relacionado Draschia
são parasitas do estômago dos eqüinos; o Habron.ema pode cau- Em geral, está ausente na habronemose gástrica. As lesões da
sar gastrite hemorrágica, mas não é considerado um patógeno habronemose cutânea são mais comuns nas áreas do corpo su-
importante, enquanto o Draschia provoca a formação de gran- jeitas a traumatismos e ocorrem durante a época de moscas em
des nódulos fibrosos que ocasionalmente são significantes. A regiões quentes. Durante as fases iniciais, há intensa coceira da
maior importância desses parasitas é como causa de habronemose ferida infectada ou abrasão, que pode resultar em posterior lesão
cutânea ou "feridas de verão" em países quentes. auto-infligida. Em seguida, desenvolve-se um granuloma casta-
nho-avermelhado não-cicatri zante, que se projeta acima do ní-
Hospedeiros: vel da pele circundante e pode ter até 8 cm de diâmetro. Mais
Eqüinos e asininos. tarde, a lesão pode tornar-se mais fibrosa e inativa, mas não ci-
catriza até o advento de tempo mais frio , quando cessa a ati vi-
Hospedeiros intermediários: dade das moscas. A invasão do olho produz uma conju nti vi te
Muscídeos. pe rsistente, com úlceras nodulares especialmente no canto
medial.
Localização:
Estômago. EPIDEMIOLOGIA
Espécies: A sazonalidade das lesões cutâneas está associada a ativ idade dos
Habronema muscae vetores muscídeos.
H. microstoma (sin. H. majus).
DIAGNÓSTICO
Distribuição:
Mundi al. Baseia-se no achado de granulomas cutâneos avermelhados não-
cicatrizantes. As larvas, identificadas pelas saliências espinho-
IDENTIFICAÇÃO sas na cauda, podem ser encontradas em material dessas lesões.
A infecção gástrica não é facilmente diagnosticada, pois os ovos
Vermes brancos delgados, de I a 2,5 cm de comprimento. No e as larvas de Habron'ema não são faci lmente demonstráveis nas
macho, a cauda tem uma torção espiral. É improvável que sej a fezes por técnicas de rotina.
confundido com outros nematóides no estômago, pois o Draschia
está associado a lesões características e o T. axei tem menos de 1 TRATAMENTO E CONTROLE
cm de comprimento.
Os ovos alongados têm parede fina e são larvados quando Vários anti-hellTÚnticos modernos de amplo espectro demonstram
postos. atividade contra os parasitas adultos no estômago. As lesões
cutâneas são mais bem tratadas com ivermectina. O uso de repe-
CICLO EVOLUTIVO lentes de insetos traz algum benefício, e, nos casos mais crôni-
cos, tem-se utilizado radioterapia e criocirurgia. Obviamente,
São eliminados ovos oU LI nas fezes, e as LI são ingeridas pelos quaisquer medidas adotadas para evitar traumatismos e para con-
estágios larvais de vários muscídeos, incluindo Mus ca, Stomoxys trolar populações de moscas são benéficas.
Parasit%gia Veterinária
Draschia ~ ~
Localização: EPIDEMIOLOGIA
Região ocular, especialmente o saco conjuntival e o ducto lacri-
As infecções por Thelazia ocorrem sazonalmente e estão ligadas
mal (Fig~ 61)~
a períodos de atividade máxima das moscas. O parasita pode so-
breviver no olho durante vários anos, mas, como apenas o adulto
ESPÉCIES E DISTRIBUIÇÃO jovem é patogênico, em bovinos portadores assintomáticos pode
persistir um reservatório de infecção. Ocorre também sobrevivên-
Thelazia lacrymalis principalmente eqüinos na Europa e
cia de larvas nos estágios pupais de moscas durante o inverno.
América do Norte
T. californiensis cães, gatos e ocasionalmente ovinos na
América do Norte. DIAGNÓSTICO
Outras espécies que ocorrem mundialmente em bovinos inclu- Baseia-se na observação dos parasitas no saco conjuntival. Pode
em T. rhodesi. T. gulosa e T. skrjabini. ser necessário instilar algumas gotas de anestésico local para
facilitar a manipulação da terceira pálpebra~
IDENTIFICAÇÃO
TRA TAMENTO E CONTROLE
Vennes brancos finos e pequenos de 1 a 2 cm de comprimento.
Há uma cápsula bucal e a cutícula tem estrias proeminentes na Antigamente. o tratamento baseava-se na remoção manual dos
extremidade anterior. vermes sob anestesia local, mas agora isto foi substituído pela
Helmilltologia Veterinária 73
administração de um anti-helnúntico eficaz, como levamisol ou parede gástrica. Esses crescime ntos são de tamanho variável , os
uma avennectina; a primeira droga pode ser apli cada por via maiores tendo 3 a 4 cm de diâmetro, e são escavados, correspon-
tópic a como solução aquosa a 1%. dendo a cistos de paredes espessas contendo vermes e líquido. É
A prevenção é difícil, em vittude da natureza ubíqua dos ve- freqüente a presença de ulceração e necrose da parede gástrica.
tares muscídeos. A espécie mais patogênica é o G. spinigerwn, que em gatos
pode ca usar perfuração gástrica e peritonite fatal.
Em alguns casos, uma série de larvas migra do estômago para
GnafllOSlollla outros órgãos, mais comumente O fígado, onde fazem escavações
de ixando marcas necrosadas.
Assim como a maioria dos espirurídeos, o Gnathostoma habita Quando ocorre lar va migrans v isceral no homem por
o trato digesti vo superior, ocorrendo em nódulos na parede do Gnathostoma, geralmente a espécie envolvida é o G. spinigerwn,
estômago de onívoros e ·c arnívoros. É excepcional, pelo fato de e a fonte mais com um de infecção é constituída por aves domés-
requerer doi s hospedeiros intermediários. ticas que atuam como segundo s hospedeiros intermediários. Os
vermes nunca se tornam completamente adultos e as formas
Hospedeiros: imaturas são mais comumente encontradas em nódulos subcutâ-
Em animais domésticos, suínos, gatos e cães. No homem, ocor- neos que aparecem e desaparecem de modo irregular conforme
re erraticamente como causa de larva migrans visceral. os parasitas vagam em diversas partes do corpo.
Distribuição: DIAGNÓSTICO
Sul da Europa, África, Ásia e Austrália.
A infecção no animal vivo pode ser diagnosticada apenas pelo acha-
do nas fezes de ovos ovais, esverdeados e que têm um tampão fino
IDENTIFICAÇÃO
em cada pólo. Muitas vezes, contudo, não há ovos nas fezes.
o GnathoslOma é um verme de corpo espesso e as fêmeas têm
até 3 cm de comprimento. A presença dos vermes em nódulos TRA TAMENTO E CONTROLE
gástricos é suficiente para o diagnóstico genérico, sendo a con-
firmação feita facilmente com uma lupa quando se observa a o tratamento não foi pesquisado. Em virtude da ubiqüidade do
extremidade anterior intumescida coberta co m fileiras de peque- primeiro e segundo hospedeiros intermediários, não se pode obter
nos ganchos. controle completo, mas é possível limitação parcial pela cocção
completa de lodos os alimentos.
CICLO EVOLUTIVO
Gongylonema
Os vermes adultos vive m em túneis nos nódulos gás tricos, e os
ovos passam daí para a luz, caindo na água com as fezes . Os cms- Este gênero é incomum entre os espirurídeos, visto ter ampla
táceos (primeiros hospedeiros intermediários) ingerem L I' e tem variedade de hospedeiros definiti vos que inclui todos os animais
lugar o desenvolv imento em Lz. Os próprios crustáceos são in- domésticos, embora seja mais prevalente nos ruminantes. Seus
gerido s pelos vertebrados (segundos hospedeiros intermediári - hospedeiros intermediários incluem besouros coprófagos e ba-
os), ocorrendo o desenvolvimento em ~ no fígado e nos mú scu- ratas, sendo sua distribuição mundial. É um verme delgado e
los desses animais. longo, as fêmeas tendo até 9 cm de comprimento, e é fac ilmente
O hospedeiro definitivo infecta-se por ingestão do vetor verte- distinguido ao microscópio pela presença de fileiras longitudi-
brado, e o desenvol vimento posterior ocorre na parede do estôma- nais de lâminas cuticulares na região anterior do corpo.
go, onde os vermes provocam o crescimento de lesões fibrosas. Como a maioria do s espirurídeos, a localização predileta dos
adultos é o trato digesti vo superior, no esôfago, nos pró-estôm a-
PA TOGENIA gos e estômago de mamíferos e no papo das aves.
As espécies comuns são Gongylonerna pulchrum em todos os
Tal como em muitas infecções por espirurídeos, o efeito mais marniferos domésticos, embora principalment~ uvi llos e caprinos.
óbvio da gnatostomose é a presença de crescimentos fibrosos na G. verrucosum em ruminantes e G. ingluvicola em aves.
- ..! ParasiloloMia Veterinária
Duodeno:
Parajilaria
Este é o habitat de Hartertia, disseminado na Europa, África e
Ásia mas não encontrado no Novo Mundo. É um verme delgado
e excepcionalmente longo para um espirurídeo, as fêmeas atin- Os adultos deste gênero de filarídeos primitivos vivem sob a pele,
gindo 11 cm. Os hospedeiros intermediários são térmitas. As oode produzem lesões ou nódulos inflamatórios e, durante a
infecções nunca são fatais , mas quando estão presentes grandes oviposição, exsudatos hemorrágicos ou " pontos hemorrágicos"
quantidades pode haver diarréia e emaciação. na superfície cutânea.
Olho:
Parafilaria bovicola
O gênero Oxyspirura em aves corresponde ao Thelazia em ma-
míferos. Ocorre na conjuntiva e ocasionalmente nos seios nasais,
seus vetares sendo baratas e as efeméridas. Não existe na Euro- Hospedeiros:
pa, mas distribui-se amplamente pelo resto do mundo. Bovinos e bubalinos.
Não é um gênero altamente patogênico, mas as infecções
maciças podem causar cegueira ou oclusão das vias nasais. Hospedeiros intermediários:
Muscídeos; M. autumnalis na Europa.
As tentativas de co ntrole dos espirurídeos de aves têm pouca
probabilidade de dar bons resul tados, em vil1ude da fáci l viabi- Localização:
lidade dos hospedeiros intermediários. O levamisol é eficaz con- Tecido conjuntivo subcutâneo e intennusc ular.
tra os gêneros digestivos.
Distribuição:
África, Ásia, sul da Europa e Suécia.
Superfamflia FlLARIOlDEA
IDENTIFICAÇÃO
Esta superfamilia está intimamente relac ionada à Spiruroidea, e,
como nesta última, todos os seus gêneros têm ciclos evolutivos Vermes brancos delgados de 3 a 6 cm de comprimento. Na re-
indiretos. Nenhum deles habita o trato digestivo, e eles depen- gião anterior, há numerosas papilas e arestas circulares na cutí-
dem de vetares insetos para a transmissão. cula. Na fêmea, a vu lva situa-se anteriormente, próximo à sim-
Dentro da superfamília, observam-se diferenças no compor- ples abertura bucal.
tamento biológico, e as formas mais primiti vas põem ovos que Os pequenos ovos embri onados são postos na superfície da
são viáveis para os vetares em exsudatos dérmicos e as formas pele, onde eclodem e liberam as microfilárias ou L I de aprox i-
mais altamente evoluídas põem larvas, denominadas microfilárias madamente 200 J.Lm de comprimento.
(Fig. 63). As últimas, que podem estar inclusas numa "casca de
ovo" semelhante a uma báinha flexível, são absorvidas por inse- CICLO EVOLUTIVO
tos parasitas e se nutrelll de sangue e de líquidos teciduais. Em
algumas espécies, as microfilárias apenas aparecem no sangue Os ovos ou larvas presentes em exs udatos de pontos hemorrági-
periférico e em tecidos com intervalos regulares, algumas durante cos na supeIfície cutânea são ingeridos por muscídeos, como M.
O dia e outras à noite; este co mpol1amento é denominado perio- aulumnalis na Europa e M. {usaria e M. xanlhomelas na África,
dicidade diurna ou notuma. nos quais se dese nvolvem em LJ dentro de várias semanas a
meses, dependendo da temperatura do ar.
Ocorre transmissão quando as moscas infectadas se nutrem
de secreções lacrimais ou feridas cutâneas em outros bovi nos e
as ~ depositadas migram então e se desenvolvem no estágio adulto
sob a pele em cinco a sete meses (Fig. 64). Os pontos hemorrági-
cos desenvolvem-se sete a nove meses após a infecção.
PATOGENIA
• Quando a fêmea grávida perfura a pele para pôr ovos, surge um
exsudato hemorrágico ou "ponto hemorrágico" que suja e em-
baraça os pêlos adjacentes, atraindo moscas. As lesões indi vidu-
ais apenas sangram por curto tempo e a cicatrização é rápida.
Nos locais de infecção, predominantemente sobre as es-
páduas, a cernelha e áreas torácicas, há inflamação e edema
que, à inspeção da carne, parecem contusão subcutânea em le-
sões iniciais e têm aspecto amarelo-esverdeado gelatinoso, com
odor metálico em casos de mais longa duração. Às vezes, as
lesões estendem-se pela fáscia intermuscular. As áreas acome-
tidas têm de ser removidas para a comercialização, podendo
ainda haver perdas eco nômicas por rejeição ou degradação de
Fig. 63 Uma microfilária, a primeira forma larval de vermes filarideos. carcaças.
"'flSitologia Veterinária
CONTROLE
TRATAMENTO
As infecções patentes em bovinos de corte e em bovinos leiteiros
não-Iactantes podem ser tratadas com ivennectina ou nitroxinil. A
primeira é administrada parentera1mente como dose única, enquanto
são necessárias duas doses de nitroxinil num intervalo de três dias.
Nenhuma droga está aprovada para uso em vacas lactantes, quan-
do então se pode tentar o levamisol, que é menos eficaz.
Estas drogas produzem redução acentuada nos pontos hemor-
rágicos e, em conseqüência da resolução das lesões musculares,
diminuição signifi cativa na condenação de carne se o abate for
retardado por 70 dias após o tratamento. Fig. 65 Lesões nodulares de Parafilaria multipapillosa num eqüino.
HeJmintOJOg~ Veterinária 77
I
Localização: TRATAMENTO
Pele; dependendo da espécie, os locais de preferência são di fe-
rentes regiões do corpo. Os compostos organofosforados de uso tópico, sob a forma de
pomada, são eficazes. É provável que as avermectinas sejam
ESPÉCIES E DISTRIBUiÇÃO eficazes.
IDENTIFICAÇÃO
Dirojilaria
Vermes muito pequenos, com menos de 1 cm de comprimento.
Microscopicamente. a abertura bucal é circundada por um anel Das duas espécies que ocorrem em carnívoros domésticos, uma,
espinhoso. Dirofilaria immitis, é sem dúvida a mais importante. Os adultos,
que são encontrados no lado direito do coração e vasos sangüí-
neos adjacentes de cães, são responsávei s por uma condição de-
CICLO EVOLUTIVO bili tante conhecida como dirofilariose canina. Embora principal-
mente um problema de regiões quentes onde abunda o mosquito
Os vetores muscídeos são atraídos para as lesões abertas na pele
hospedeiro intermediário, a doença difundiu-se muito mais na
causadas pelos pacasitas. adultos e ingerem as microfilárias no
última década e O problema na América do Norte é tão extenso
exsudato. O desenvolvimento em L) dura cerca de três semanas,
agora que foram cri adas clínicas especializadas em dirofilariose.
e o hospedeiro definitivo infec ta-se quando as moscas deposi-
tam larvas na pele normal.
Dirojilaria imllliti.\
PA TOGENIA E SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA
Hospedeiros:
Começam a aparecer lesões dentro de duas semanas após a in- Cães, ocasionalmente gatos e raramente o homem.
fecção. No caso de S. stilesi, as moscas agrupam-se na face infe-
rior sombreada do abdome, onde ocorre a lesão mais grave; por Hospedeiros intermediários:
outro lado, a lesão por S. assamensis é comumente denominada Mosquitos.
"ferida do cupim". Em todas as espécies, as lesões em geral se
localizam nas áreas de picadas preferidas dos vetores. A pele Localização:
primeiramente é nodular, porém mais tarde há erupção papular Sistema cardiovascular; adu ltos no ventrículo direito, artéria pul-
com exsudato de sangue e pus. No centro da lesão, pode haver monar e veia cava posterior.
perda de pele, mas na borda freqüentemente há hiperqueratose.
A condi ção é essencialmente uma dennatite exsudativa, quase DISTRIBUiÇÃO
se mpre hemorrágica, que atrai os vetares muscídeos.
Essencialmente em zo nas temperadas quentes e tropicais em todo
EPIDEMIOLOGIA o mundo, incluindo O sul da Europa e o Canadá. Na Grã-Bretanh a,
é encontrado apenas em cães importados.
Nas áreas endêmicas, a incidência de infecção pode. ser de até
90% e a ocorrência é em grande parte infl uenciada pelo tipo de IDENTIFICAÇÃO
gramínea. As pastagens suculentas produzem fezes moles e úmi-
das, que são criadouros mais adequados para as moscas que as Macroscópica: •
fezes duras e friáveis depositadas em pasto seco e esparso. Por- Vermes longos e delgados, de 20 a 30 cm de comprimento (Fig. 66).
tanto, a inigação dos pastos pode resultar em aumento de estefa- A cauda do macho tem a típica espiral frouxa comum aos filarídeos.
nofilariose. O tamanho e a locali zação são diagnósticos para D. immitis.
Parasito/agia Veterinária
PATOGENIA
EPIDEMIOLOGIA
\.
HelmÊnlologia Veterinária 79
Hospedeiros intermediários:
Espécie Localização Distribuição Vetar
Espécies de Culicoides e espécies de Simulium.
IDENTIFICAÇÃO
Espécies menos importantes incluem O. dukei em nódulos
Os vermes delgados variam de 2 a 6 cm de comprimen to e ficam subcutâneos e musculares e O. ochengi e O. sweetae em tecido
firmemente e nrolados em nódulos tissulares. Nas lesões ativas, intradérmico.
a presença de vermes é facilmente determinada ao corte desses Dependendo da locali zação, as diversas espécies em bovinos
nódul os. estão associadas a alterações diferentes. A O. gutlurosa, nos gran-
des ligamentos, tem pouca importância clínica ou econômica; a
CICLO EVOLUTIVO O. gibsoni, que provoca reação fibrosa no tecido muscular (Pran-
cha IV), pode ser responsável por perda econômica decorrente
O ciclo evoluLi vo de espécies de On.chocerca é tipi camente de de limpeza da carcaça; a O. ochengi e a O. sweetae na pele pro-
filarídeos, com exceção de que as microfilárias ocorrem nos espa- vocam al guma perda económica por depreciação do couro. Os
ços tiss ulares da pele, e não na circulação sangüínea periférica. nód ulos musculares provocados por o. dukei, embora de pouca
importância por si próprios, adquirem significação em algumas re-
ONCOCERCOSE EQÜINA giões da África, onde podem ser confundidos com Cysticercus
bovis à inspeção da carne.
A única espécie, O. reticulata (sin. O. cervicalis), tem distribui- O interessante é que a O. armillata, apesar de ocorrer numa
ção mundial e ocorre comumente no ligamento nucal e me nos localização estrategicamente importante na aorta bovina, nunca
freqüentemente nos li gamentos suspensores e tendões flexores está associada a si ntomatologia clínica; e m geral, é descoberta
da parte inferior dos membros. apenas no matadouro, com levantamentos no Oriente Médio de-
O ligamento nucal na região da cernelha é o local preferenci- monstrando prevalência de até 90%. Os vermes são encontrados
al. Após inoculação de L, pelo vetor, Culicoides (C. Ilubeculosus em nódulos macroscopicamente visíveis na íntima, na média e
sendo o mais freqüentemente incriminado), a chegada-dos para- na adventícia da aorta, sendo comumente observ adas placas ate-
sitas à sua localização final resulta em reação do hospedeiro na romatosas na íntima (Fi g. 68). Em cerca de um quarto das infec-
fonna de uma tumefação difu sa e indolor, que aumenta gradati- ções, observam-se aneurismas aórticos.
vamente de tamanho tornando- se uma protuberância branda pal-
pável e regride em seguida deixando um foco ca1cificado. per-
DIAGNÓSTICO
manecendo a pele sobre a área intacta. Podem ocorrer lesões
purulentas abertas, comumente denominadas "cernelha fistulo- Raramente é necessário e depende do achado de microfilárias em
sa". mas. embora seja encontrado O. reticulata nestas lesões, não amostras de biopsia de pele. Na maioria das espécies, as microfi-
existe uma nítida relação causal entre os vermes e a condição, lárias concentram-se nos locais preferidos de alimentação dos ve-
supondo-se ser mais provável o envolvimento de bactérias, in-
cluindo talvez 8rucella aborlus.
Na parte inferior dos membros, a reação à presença do parasi ta
é semelhante à observada no ligamento nucal, com uma tumefa-
ção branda indolor sucedida por pequenos nódulos fibrosos . .
A prevalência geral de oncocercose eqüina é al ta, e a maior
parte dos levantamentos nos Estados Unidos demon stra índices
superiores a 50%. embora o mais alto registrado até agora na Grã-
Bretanha seja de 23%. A não ser a di screta reação inicial, não
são demonstráveis si nais clínicos atribuíveis aos vennes adultos.
Nos Estados Uni dos, entretanto, foi descrita uma dermatite da
linha mediana ventral aparentemente associada a nutrição da
mosca dos chifres Haematobia irritans na pele sobre a linha alba,
a localização preferida das mkrofilárias de O. cervicalis.
ONCOCERCOSE BOVINA
As princ ipais características das espécies que ocorrem em bovi- Fig. 68 Lesões aórticas nodu lares confluentes decorrentes de infecção por
nos estão resumidas adiante. Onchocerca annillata.
Helmintologia Veterinária 81
No passado, consistia na administração diária de dietilcarbamazina Não há sintomatologia clínica quando os vermes estão na locali-
durante um período como microfi laricida, mas atualmente parece zação normal, mas, quando o tecido nervoso está envolvido, há
que uma única dose de ivermectina é altamente eficaz neste as- distúrbio locomotor, geralmente dos membros posteriores, e. se
pecto, embora as microfilárias que estão morrendo possam pro- os parasitas ocuparem uma posição alta no canal espinhal, pode
vocar reações tissulares locais. No caso de dennatite eqüina da linha haver paraplegia.
mediana ventral, O tratamento local com piretróides sintéticos con-
trola as moscas dos chifres e aj uda a resolução das lesões. EPIDEMIOLOGIA
Como os vermes em geral são inócuos, sua epidemjologia tem
CONTROLE
sido objeto de poucos estudos. A prevalência é mais alta em re-
Com a ubiqüidade dos vetares inse tos, há pouca possibilidade giões mais quentes, onde há atividade sazonal mais longa dos
de controle eficaz, apesar do uso de microfilaricidas reduzir as vetares mosquitos.
quantidades de moscas infectadas. Em qualquer caso, com a na-
tureza relati vamente inócua da infecção, é improvável que haja DIAGNÓSTICO
necessidade de controle.
A infecção com vermes adu ltos é descoberta apenas ac idental-
mente no animal vivo pelo achado de microfilárias em esfrega-
Selaria ços sangüfneos rotineiros. Nos casos de nematodiose cerebroes-
pinhal, a conf1fll1ação do diagnóstico é possível apenas por exa-
me microscópico da med ula espinhal . uma vez que os parasitas
Os membros deste gênero em geral são hab itantes inofensivos
existem apenas corno formas larvais na localização aberrante.
das cavidades peritoneal e pleural.
Hospedeiros: TRATAMENTO
Ruminantes e eq üinos.
Não existe tratamento para paralisia setarial. A ivennectina é
Hospedeiros intermediários: descrita como eficaz contra S. equina adulta.
Mu itas espécies de mosquito.
CONTROLE
Localização:
Geralmente a superfície peritoneal e bvre na cavidade peritoneal; Depende do controle dos vetares mosqui tos, que é improvável
de ser ap licado especificamente para este parasita.
menos comumente a cavidade pleu ral; e após migração elTática
oSNC.
Espécies: Elaeophora
Setaria labiato-papillosa bovinos e rumin antes silvestres
(sin. S. digitara) Estes vermes habitam grandes vasos sangüíneos. mas têm ape-
S. equina eq üinos e asininos. nas importância local.
Distribuição: Hospedeiros:
Mundi al. Ruminantes e eqüinos.
Hospedeiros intermediários:
IDENTIFICAÇÃO Tabanídeos.
Vermes delgados e longos, de até 12 cm de comprimento. A loca-
li zação e o aspecto macroscópico são suficientes para identifi- Espécie Hospedeiros Localização Distribuição
cação genérica.
EJaeophora ovinos, artérias carótida, Sul dos
schneideri caprinos mesentérica Estados Unidos
CICLO EVOLUTIVO e ilíaca
O diagnóstico é necessário apenas em ovinos, e, embora o méto- Os membros desta superfamília são encontrados numa ampla
do óbvio seja por exame de biopsia de pele, freqüentemente as variedade de animais domésticos. Uma característica morloló-
microfilárias são escassas nas amostras e o diagnóstico em geral gica comum é o esôfago "de esticosoma", composto de um tubo
é presuntivo, baseado na localização, nas lesões faciais e no apa- capilifonne rodeado por uma única camada de células.
rec imento sazonal da dermatite. Há três gêneros de interesse. O primeiro, Trichuris, é encon-
trado no ceco e no cólon de mamíferos; o segundo, Capillaria,
TRATAMENTO está presente mais comumente no trato digestivo ou respiratório
de mamíferos ou aves. Ambos põem ovos com tampões nos dois
A administração repetida de dietilcarbamazina é eficaz, porém é pólos. Os adultos do terceiro gênero, Trichinella, são encontra-
preciso reconhecer O risco de fatalidade pela presença de vermes dos no intestino delgado de mamíferos e produzem larvas que
mortos nas artérias. imediatamente in vadem os tecidos do mesmo hospedeiro.
Helminrologia Veterinária 83
TRATAMENTO
CONTROLE
Fig. 71 Ovos típicos de Capillaria, em forma de barril, dentro do útero de um verm e
Rarame_nte há necessidade de profilaxia, particulannente em ru- fêmea.
minantes, mas no caso de suínos ou cães deve-se prestar atenção
a áreas onde os ovos podem continuar a sobreviver por longos
períodos. Essas áreas devem ser totalmente limpas e desinfetadas O período pré-patente destas três espécies aviári as é de três a
ou esterilizadas por calor úmido ou seco. quatro semanas.
[Tricuríase no homem: O Trichuris trichiura, o parasi ta huma- PATOGENIA E SIGNIFICADO CLíNICO
no, é morfol ogicamente indistinguível do T. suis. Entretanto,
considera-se que estes dois parasitas sejam estritamente hospe- Como ocorre com o Trichuris, a ex tremidade ante rior dos para-
deiro-específicos. ] sitas fica enterrada na mucosa. Isto causa, nas infecções maci-
ças, inflamação diftérica, com inapetência e emaciação e, na in-
fecção in tes tinal, provoca diarréia. A mortalidade nestes casos
Capillaria pode ser alta. Há também evidência de que as infecções leves ou
com menos de 100 vermes podem provocar baixos ganh os de
Estes vermes capilariformes muito finos não são facilmente vi- peso e menor produção de ovos.
síveis a olho nu em conteúdo intestinal não-preparado. Embora
haja muitas espécies em mamíferos e aves, apenas estas últimas EPIDEMIOLOGIA
têm significado veterinário geral.
As aves jovens são mais suscetíveis às infecções por Capillaria, en-
IDENTIFICAÇÃO quanto os adultos podem atuar como transportadores. A C. obsignata
talvez seja a mais importante, pois, havendo ciclo evolutivo direto,
São vermes filamentosos muito finos, com I a 5 cm de compri- t.:'1is infecções ocorrem em recintos fechados em aves mantidas em
mento, com O estreito esôfago de esticosoma ocupando metade camas densas. A epidemiologia das outras duas espécies baseia-se
da extensão do corpo. Os machos possuem um único espículo amplamente na ubiqüidade do hospedeiro intennediário minhoca.
longo e fino e rreqüentemente uma estrutura primitiva semelhante
a bolsa copuladora; as fêmeas contêm ovos que se parecem com DIAGNÓSTICO
os de Trichuris, por apresentar opérculos bipolares, mas que têm
mais formato de barril e são incolores (Fi g. 71). Por causa da natureza inespecífica da sintomatologia clínica e do fato
de, nas infecções maciças, a sintomatologia poder aparecer antes que
Em virtude do grande número de espécies, hospedeiros e lo-
haja ovos de Capil/ada nas fezes, o diagnóstico depende da necrop-
cais de preferência, além do fa to de alguns destes parasitas terem
sia e do exame cuidadoso do esôfago, do papo ou do intestino para
ciclo evoluti vo direto e outros indireto, as espécies importantes em
a presença dos vermes. Isto pode ser feito por exame microscópi-
aves e mamiferos encontram-se resumidas separadamente.
co de raspados da mucosa entre du as lâminas de vidro; alterna-
tivamente, o conteúdo dos órgãos suspeitos deve ser lavado delica-
CAPILLARIA EM AVES damente através de uma peneira de malha fina e o material retido
novamente suspenso em água e examinado contra um fu ndo negro.
A Capillaria obsignata está presente na parte superior do intestino
delgado de gal inhas, perus e pombos e tem ciclo evolutivo direto. TRATAMENTO
A L j infectante desenvolve-se no ovo em cerca de uma semana.
A C. caudinflata também é encontrada no intestino delgado O levamisol na água de beber é altamente eficaz, bem como urna
de galinhas e perus. O ovo desta espécie precisa ser ingerido por série de benzimidazóis admini strados na ração.
uma minhoca, onde eclode, sendo o hospedeiro definitivo infec-
tado por ingestão da minhoca. CONTROLE
A C. confo rta (s in. C. annulata) ocorre no esôfago e no papo
das galinhas. perus, patos e aves silvestres, também sendo essen- Onde as espécies de Capillaria envolvidas têm um ho spedeiro
cial um hospedeiro intermediário minhoca. intermediário minhoca, pode-se obter o controle completo enc1au-
Helmintologia Veterinária 85
surando-se as aves depois do tratamento anti-helmíntico. Por ou- O macho tem cerca de 1 mm de comprimento. O esôfago
tro lado, o controle depende do tratamento anti-helmíntico regu- corresponde a no mínimo um terço do comprimento total do corpo
lar acompanhado, se possível, pela transferência das aves para e a cauda tem duas pequenas asas cloacais, mas nenhum espículo.
solo novo. A fêmea tem 3 mm de comprimento, e o útero contém larvas em
No caso de C. obsignata, são essenciais a limpeza e o trata- desenvolvimento.
mento das superfícies acometidas pelo calor, além da manuten- A infecção por Trichinella é mais facilmente identificada pela
ção de camas novas nos aviários. O tratamento periódico do lote presença de larvas enroladas na musculatura estriada (Fig. 72).
com um anti-helmintico também tem valor.
CICLO EVOLUTIVO
CAPILLARIA EM MAMíFEROS
Os adultos em desenvolvimento ficam entre as vilosidades do
A C. aerophila é encontrada enterrada na mucosa da traquéia, intestino delgado. Depois da fertilização, os machos morrem,
dos brônquios e das vias nasais de raposas e, ocasionalmente, de enquanto as fêmeas penetram mais profundamente nas vilosida-
cães e gatos. O parasita tem ciclo evolutivo direto. Os ovos po- des. Três dias mais tarde, produzem LI, que entram nos vasos
dem sobreviver durante meses, e após a ingestão as larvas pene- linfáticos e, através da circulação sangüínea, seguem para os
tram no intestino e migram para os pulmões através da circulação músculos esqueléticos. Aí, ainda como LI' penetram nas células
sangüínea. O período pré-patente é de cerca de seis semanas. musculares, onde são encapsuladas pelo hospedeiro, crescem e
A sintomatologia clínica é a de rinotraqueíte, neste aspecto adotam urna característica posição enrolada; a célula muscular
sendo semelhante à sintomatologia causada pela infecção por parasitada é conhecida às vezes como "célula protelara". Este
Oslerus ou Crenosoma. processo completa-se em sete semanas, ocasião em que as lar-
A C. plica é comum na bexiga de raposas, cães e, mais rara- vas são infectantes, podendo assim permanecer durante anos.
mente, gatos. Este parasita aparentemente requer um hospedei- O desenvolvimento é retomado quando as larvas são ingeri-
ro intennediário minhoca, mas raramente tem significado pato- das por outro hospedeiro, usualmente como resultado de predação
gênico. ou consumo de cadáver. A L I é liberada e no intestino sofre qua-
A C. hepatica é basicamente um parasita de roedores silves- tro mudas, tornando-se sexualmente madura em dois dias. As
tres, mas ocorre, às vezes, nos cães, nos gatos e no homem. A infecções patentes persistem durante apenas algumas semanas no
10caJização preferencial é o fígado, e os ovos são postos no pa- máximo.
rênquima, de onde não há acesso natural ao exterior. A infecção
é adquirida por ingestão ou do fígado, após predação, canibalis- PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLÍNICA
mo ou consumo de cadáver, ou de ovos no solo que foram libe-
rados por decomposição do hospedeiro. A lesão nos animais A infecção nos animais domésticos é invruiavelmente leve e não
·domésticos e no homem é uma reação granuloma tosa às massas ocorre sintomatologia clínica. Entretanto, quando são ingeridas cen-
de ovos no fígado, seguida por cirrose. As infecções raramente tenas de larvas, como ocasionalmente acontece no homem e pro-
são fatais, e a maioria é descoberta à necropsia de rotina. vavelmente também em animais predadores da selva, a infecção
intestinal costuma estar associada a enterite, e uma a duas semanas
depois a invasão larval maciça dos músculos causa miosite aguda,
Trichinella febre, eosinoftlia e miocardite; no homem, também são comuns ede-
ma e ascite. A menos que tratadas com um anti-helmíntico e dro-
O único membro deste gênero é a Trichinella ~"piralis, um ne- gas antiinflamatórias, tais infecções freqüentemente podem ser fa-
matóide com uma variedade muito ampla de hospedeiros e a tais, mas nas pessoas que sobrevivem a esta fase a sintomatologia
causa de uma importante zoonose mundial. Por apresentar diver- clínica começa a desaparecer depois de duas a três semanas.
sos ciclos evolutivos em diferentes partes do mundo, freqüente- É importante compreender que a triquinelose é basicamente
mente se considera que este parasita existe como uma série de uma infecção de animais da selva e que o envolvimento do ho-
subespécies. mem nestas circunstâncias é acidental.
Hospedeiros:
A maioria dos mamíferos. Do ponto de vista de zoonose, os su-
ínos e o homem são os hospedeiros importantes.
Localização:
Os adultos ocorrem no intestino delgado e suas larvas na mus-
culatura estriada; os músculos diafragmáticos, intercostais e
masseteres são considerados locais de predileção.
Distribuição:
Mundial, com as aparentes exceções da Austrália e Dinamarca.
IDENTIFICAÇÃO
\ >
86 ParasilOlogia Veterinária
DIAGNÓSTICO Localização:
Parênquima renal.
Não é relevante em animais domésticos vivos. À inspeção da car-
ne, ocasionalmente podem ser vistas, a olho nu, infecções larvais Espécie:
maciças, como minúsculas manchas brancas acinzentadas. Para fins Dioclophyma rena/e .
de rotina, pequenas amostras de músculos de suínos de aproxima-
damente um grama são comprimidas entre lâminas de vidro - DISTRIBUIÇÃO
mecanismo denominado triquinoscópio ou compressor - e exa-
minadas para a presença de larvas por exame microscópico direto Áreas temperadas e subárticas. Ocorre esporadi camente na Eu-
ou projeção numa tela. Alternativamente, pequenas porções de ropa, mas não foi registrada na Grã-Bretanha. Sua principal área
Helmintologia Veterinária 87
Como em muitas das infecções parasitárias dos carnívoros do- Hospedeiros intermediários:
mésticos, há um grande reservatório em animais silvestres a partir Vários besouros coprófagos.
dos quais se infectam os hospedeiros intennediários e paratênicos.
As martas de viveiros provavelmente adquirem infecção através Espécie:
da carne com que se alimentam e os cães domésticos por inges- Macracanthorhynchus hirudinaceus.
tão casual de anelídeos, rãs ou peixes infectados.
Distribuição:
DIAGNÓSTICO Mundial, mas ausente em determinadas áreas, como partes da
Europa ocidental.
Os ovos, bem característicos, são ovó ides e castanhos, com a
casca escavada, e a sua ocorrê ncia na urina, isoladamente ou em IDENTIFICAÇÃO
grumos ou cadeias, é di agnóstica.
Macroscópica:
TRATAMENTO Os adultos são parecidos comA. suum, mas afilam-se posterior-
mente. Os machos têm até 10 cm e as fêmeas até 65 cm de com-
Raramente é necessário, embora se possa tentar cirurgia em ca- primento. Quando colocados na ág ua, a probóscida espinhosa
sos confirmados. projeta-se, diferenciando-se ainda mais de Ascaris (Fig. 73).
CONTROLE Microscópica:
O ovo é oval, li O I-'m por 65 I-'m, com casca castanha espessa e
Eliminação de peixe cru da dieta. contém a larva acantor quando posto.
L
88 Parasit%gia Veterinária
Filo PLATYHELMINTHES
Este filo contém as duas classes de vermes achatados parasitas,
a Trematoda e a Cestoda.
Classe TREMATODA
A classe Trematoda divide-se em duas subclasses princi pais, a
Monogenea, que tem ciclo evolutivo difeto, e a Digenea, que
requer um hospedeiro intermediário. Os vennes da primeira são
encontrados principalmente como parasitas extemós de peixes,
enquanto os da última são encontrados exclusivamente em ver-
tebrados e têm considerável importância veterinária.
Os trematóides digenéticos adu ltos, comumente denomina-
Fig. 73 Extremidade anterior de Macracanthorhynchus hirudinaceus mostrando a dos "vermes em fo lha", ocorrem principalmente nos duetos
probóscida espinhosa saliente. biliares, no trato digestivo e no sistema vascular. Os trematói-
des, em sua maioria, são achatados dorsoventralmente, possu-
em trato digestivo cego, ventosas para fixação e são hermafro-
ditas. Dependendo da localização predileta, os ovos deixam O
CICLO EVOLUTIVO hospedeiro definitivo, em geral nas fezes ou na urina, e os está-
gios larvais desenvolvem-se num hospedeiro intermediário mo-
Os adultos, fixos à mucosa do intestino delgado, põem ovos que lusco. Para algumas espécies, há um seg undo hospedeiro intenne-
são eliminados nas fezes. Esses ovos são produzidos em grandes diário envolvido, mas o molusco é essencial para todos os mem-
quantidades, são muito resistentes a climas extremos e podem bros do grupo.
sobreviver durante anos no meio ambiente . Após a ingestão por Há muitas famílias na classe Trematoda, e as que incluem pa-
larvas de besouros coprófagos, o acantor desenvolve-se até o es- rasitas de grande importância veteri nária são Fasciolidae,
tágio infectante de cistacanto em aproximadamente três meses. A Dicrocoeliidae, Paramphistomatidae e Schistosomatidae. De
infecção de suínos ocorre após a ingestão de besouros adu ltos e menor importância são a Troglotrematidae e a Opisthorchiidae.
larvas, o peIÍodo pré-patente sendo de dois a três meses. O grupo mais importante é sem dúvida alguma o Fasciolidae, e a
discussão a seguir sobre estrutura, função e cicio evolutivo é am-
SIGNIFICADO PATOGÊNICO plamente dirigida a esle grupo.
Localização:
Os adultos são encontrados nos ductos biliares e os trematóides ima-
turos no parênquima hepático. Ocasionalmente, tremat6ides aberran-
tes tomam-se t!m;apsulados em outros órgãos, como os pulmões.
Distribuição:
Mundial.
IDENTIFICAÇÃO
Macroscópica:
O trematóide jove m, por ocasião da entrada no fígado, tem I a 2
mm de comprimento e o formato de lanceta. Quando se tom a to-
talmente maduro nos duetos biliares, adquire o formato de folha,
coloração castanho-aci nzentada e cerca de 3,5 cm de comprimen-
to e 1 cm de largura. A extremidade anterior é cônica e morfologi-
camente característica com dilatação nesta região (Fig. 75).
Fig. 76 Ovo de Fasciola hepatíca (150 fLm x 90 fLm).
Microscópica:
O tegumen to é cobel10 de espinhos projetados para trás. Pode-
se observar facilmente uma ventosa oral e ventral. O ovo é oval,
nove di as em temperaturas ideais de 22 a 26°C, ocorrendo pou-
operculado, amarelo e grande ( 150 ILm X 90 ILm) e cerca de duas
co desenvolvimento abaixo de 10°C.
vezes o tamanho de um ovo de tricostrongilídeo (Fig. 76).
O miracídio liberado (Fig. 78) tem um período de vida curto e
deve.localizar um caramujo adequado dentro de !rés horas para que
CICLO EVOLUTIVO (Fig. 77) ocorra penetração bem-sucedida neste último. Nos caramujos in-
fectados, o desenvolvimento prossegue através do esporocisto e de
Os ovos eliminados nas fezes do hospedeiro mamífero desenvol- estágios de rédias até o estágio final no hospedeiro intermediário, a
vem-se e eclodem, liberando miracídios cHiados móveis. Isto leva cercária; estas deixam o caramujo como formas móveis que se fi-
xam a superfícies finnes, como folhas de capim, e aí se encistam
formando as metacercárias infectantes (Fig. 78). Um rrúnimo de seis
a se te semanas é necessário para que o desenvolvimento de
miracídio em metacercária se complete, embora em 'c ondições des-
favoráveis seja necessário um período de vários meses. A infecção
de um caramujo por um miracídio pode produ zir mais de 600
metacercárias.
As metacercárias in geridas pelo ho sped e iro definitivo
desencistam-se no intestino delgado, migram através da parede
intestinal, cruzam O peritônio e penetram na cápsula hepática. Os
tremat6ides jovens fazem túneis através do parênquimaduranle seis
a oito semanas e em seguida entram nos pequenos ductos biliares
onde migram para os duetos maiores e ocasionalmente para a vesí-
cula biliar (Fig. 78). O período pré-patente é de 10 a 12 semauas.
O período mínimo para que um ciclo evolutivo inteiro de F.
hepatica se compl ete é, portanto, de 17 a 18 semanas.
A longev idade da F. hepalica em ovinos não tratados pode
sef de anos; em bovinos, geralmente é inferi or a um ano.
Fig. 75 Fasciola hepatica adulta mostrando formato característico de folha e extre- Por ser a espécie mais dissenti nada e importante envolvida na trans-
midade anterior cônica. missão de F. hepatica, a L. truncatula é discutida em detalhes.
i
Helmintologia Veterinária 91
Cercária
eliminada
pelo
caramujo Ovo
contendo
miracídio
Rédia
~iraCidio
penetrando no
caramujo
Esporocisto
A L. truncatula é um caramujo pequeno, tendo os adultos cerca manentes incluem as margens de valas ou córregos e as mar-
de I cm de comprimento (Fig. 79). A casca em geral é castanho- gens de pequenas lagoas. Após chuvas pesadas ou inundações,
escura e tem o aspecto de pequena torre, enrolando-se numa sé- os habitats temporários podem ser constituídos por marcas de
rie de espirais. Quando mantida com a pequena torre na vertical casco, sulcos de rodas ou poças de água. Os campos com
e a abertura voltada para o observador, esta tem aproximadamente touceiras freqüentemente são locais suspeitos. Embora um
metade do comprimento do caramujo e fica do lado direito, ha- ambiente com pH levemente ácido seja ideal para L.
vendo quatro voltas e meia. Os caramujos são anfíbios e, embo- truncalula, os níveis de pH excessivamente ácidos são preju-
ra passem horas em água rasa, periodicamente emergem na lama diciais, como ocorre em pântanos de turfas e áreas de musgo.
adjacente. São capazes de suportar a seca do verão ou o conge- (2) Temperatura: Para que os caramujos se reproduzam e para
lamento do inverno por vários meses, estivando ou hibernando o desenvolvimento de F. heparica no seu interior, é neces-
na lama profunda, respectivamente. sária uma temperatura diurna/noturna média de 10°C ou
As condições ideais incluem um ambiente com pH levemen- mais, e toda a ativ idade cessa a soe.Esta é também a faixa
te ácido e um me i o hídrico de movimento lento para o mínima para de senvolvimento e eclosão de ovos de F.
carreamento de produtos residuais. Nutrem-se principalmente de hepatica. Entretanto, somente quando as temperaturas so-
algas, e a faixa ideal de temperatura para o desenvolvimento é bem para ] 5°e e se mantêm acima deste nível é que ocorre
de 15 a 22°C; abaixo de 5°C, cessa o desenvolvimento. Na Grã- significativa muhiplicação de caramujos e estágios larvais
Bretanha, os caramujos reproduzem-se continuamente de maio do trematóide.
a outubro, e um caramujo é capaz de produzir até 100.000 des- (3) Umidade: As condições ideais de wnidade para a reprodução
cendentes durante três meses. de caramujos e o desenvolvimento de F. hepatica nesses hos-
pedeiros se estabelecem quando as chuvas excedem a transpi-
EPIDEMIOLOGIA ração e se atinge a saturação do meio ambiente. Tais condi-
ções também são essenciai s para o desenvolv imento de ovos
Há três fatores principais que influenciam a produção das grandes do trematóide, para que os miracídios busquem os caramujos
quantidades de metacercárias necessárias para SUItos de fasciolose: e para a di spersão de cercárias que deixam os caramujos.
( I) Disponibilidade de habitats adequados de caramujos: a L. Nas regiões temperadas, como a Orã-Bretanha, estes fatores
truncatula prefere lama úmida à água livre, e os habitats per- usualmente existem apenas de maio a outubro. É possível, por-
92 Parasitologia Veterinári~
(a)
(e)
(d)
(b)
Fig. 78 Estágios no ciclo evolutivo de Fasciola hepatica. (a) Miracidio; (b) Rédias maduras contendo cercárias; (c) Cercária; (d) Metacercária encistada; (e) Trematóide
jovem migratório no parênquima hepático; (f) Trematóide no dueto biliar.
Helmimologia Veterinária 93
,
lei It)
Fig. 78 (continuação)
ranto, um aumento acentuado nas quantidades de metacercárias temporariamente durante o período de hibernação de inverno do
no pasto durante doi s períodos. Primeiramente, pelo que se co- caramujo hospedeiro.
nhece como a infecção de verão de caramujos. em que apare- Tanto os ovos como as metacercárias de F. hepatica podem so-
cem metacercáriasJlo pas to de agosto a outubro (Fig. 80). Tais breviver durante o inverno e desempenham papéis importantes na
infecções de caramuj os originam-se de miracídios que eclodiram epidemiologia. Os ovos, eclodindo em miracídios no final da pri-
de ovos excretados nâ pri mavera/início do verão por an imais mavera, podem infectar os caramujos. As metacercárias, infectando
infectados ou de ovos que sobreviveram ao in verno num es tado os animais no início da pri mavera, resultam na viabilidade dos ovos
não-desenvolvido. O desenvolvimento no caramujo ocorre du- em meados do verão, no período ideal de reprodução do caramu-
rante o verão, e as cercárias são eliminadas de agosto a outubro. jo. Entretanto, a sobrevivência de metacercárias é baixa em con-
Em segundo lugar, pe la infecção de inverno de caramujos, em dições de altas temperaturas e de seca, e elas perdem rapidamente
que aparecem metacercárias no pasto em maio a junho (Fig. 8 1). a infectividade durante certos processos como a produção de sila-
Essas cercárias originam-se de caramujos que foram infectados gens, embora possam sobreviver por vários meses no feno.
no outono anterior e nos quais o desenvolvimento larval cessou
Chuvas
~"'%."""'%.""""",'%.,,'%.~""''%.'%.'''''''''''''~'%.''%.'''%.~
Temperatura superior
a 10°C
Metacercárias
Temperatura superior a 1QOC Temperatura superior a 1QoC A situação difere com L. tomentosa que, apesar de classifica-
Chuvas Chuvas da co mo caramuj o anfíbio, está bem adaptada à vida aquática em
;:..."""~~~~""""'~ r"~~~~"~""~~~~' áreas pantanosas ou canais de irrigação, e a temperatura, portan-
Inverno
to, é o fator mais importante no con trole biológico. Assim, na
(temperatura i maior parte da Austrália oriental, L. tomentosa continua a pro-
inferior a 1QOC) ! duzir. massas de ovos durante todo o ano, embora a taxa de re-
jCercárias
jeliminadas
produção seja controlada pela temperatura e seja mínima duran-
H.
Caramujos infectados
i
II Ausência de
i por cara-
lmujos
<' Metacercárias
1
te o inverno. As temperaturas mais baixas de inverno também
retardam a eclosão de ovos de trematóides e o desenvolvimento
larval no caramujo, de tal modo que grandes quantidades de
por ovos de portadores
maturação I : metacercárias aparecem pela primeira vez no final da primave-
\~ ! ou eliminação i ra. Durante o verão e o outono, há uma segunda onda de produ-
;... de ;
Esporocistos e! metacercárias i
ção de metacercárias derivadas de novas gerações de caramujos.
!
rédias em caramujos !:.':':_~~~!_~.~}_~_~_ " , i' -_ _ _ __
Há alguma evidência de que a prevalência de fasciolose nos
verão outono primavera verão
países quentes é mais alta após vários meses de seca, provavelmente
porque os animais se agrupam ao redor de áreas de reservas de água,
Fig. 81 Na infecção de inverno de caramujos, aparecem metacercárias no pasto aumentando portanto as chances dos caramujos se infectarem.
de maio a junho; originam-se oe caramujos que hibernaram durante o inverno.
7
HelminlOlogia Veterinária 95
geral, são evidentes hemorragias subcapsulares. mas a sua ruptu- parasitas encapsulados nos pulmões. Na reinfecção de vacas
ra é rara. adultas, há registro de migração para o feto resultando em@~
Esta forma da doença, que ocorre seis a 10 semanas após a in- (ção pré-natãJ'. Há alguma evidência experimental de que a
gestão de aproximadamente 500 a 1.500 metacercárias, aparece fasciolose aumenta a suscetibilidade de bovinos à infecção por
também no final do outono e no inverno. Manifesta-se corno ane- Salmonella dublin.
mia hemorrágica rápida e grave com hipoalbuminemia que, se não Nas infestações maciças, em que a anemia e a hipoalburnine-
tratada, pode resultar em alta taxa de mortalidade. Entretanto, não mia são graves, costuma ocorrerledema submarillibular'\ Com
é tão rapidamente fatal quanto a condição aguda, e os ovinos aco- cargas menores de trematóides, o efeito clínico é mínimo, sendo
metidos podem apresentar sintomatologia clínica durante urna a difícil diferenciar a queda de produtividade de nutrição inade-
duas semanas antes da morte; estes sinais incluem perda rápida de quada. Deve-se ressaltar que a diarréia não é uma característica
condições físicas, palidez acentuada das mucosas e fígado dilata- da fasciolose bovina, a menos que complicada pela presença de
do e palpável. Pode haver edema submandibular ou facial. espécies de Ostertagia. A infecção combinada por estes dois
A fasciolose crônica, que é observada principalmente no fi- parasitas é designada complexo fasciolose/ostertagiose .
nal do inverno/início da primavera, é a forma mais comum da As infecções por Fasciola podem causar fLueda de produçãõ-.. .
doença. Ocorre quatro a cinco meses após a ingestão de quanti- em vacas leiteiras durante o inverno. Clinicamente, é difícil de-
dades moderadas (200 a 500) de metacercárias. Os principais tectar estas infecções, pois as cargas de trematóides em geral são
efeitos patogênicos são anemia e \ nipoaJbumin~rili ã;'l podendo baixas e não há evidência de anemia. Os principais efeitos são
haver perda diária superior a 0,5 ml de sangue por trematóide nos queda na produção e na qualidade do leite, particularmente dos
duetos biliares. Ocorre perda adici onal de proteínas plasmáticas componentes sólidos não-gordurosos.
por extravasamento pela mucosa biliar hiperplásica, e o efeito
patogênico é exacerbado se o animal se encontrar em baixo ní- DIAGNÓSTICO
vel nutricional.
À necropsia, o fígado tem um contorno irregular e é pálido e Baseia-se principalmente na sintomatologia clínica, na ocorrên-
firme, o lobo ventral estando mais afetado e reduzido em tama- cia sazonal, nos tipos de climas prevalentes e em história prévia
nho (Prancha V). A patologia hepática caracteriza-se por fibro- de fasciolose na propriedade ou de identificação de habitats de
se hepática e colangite hiperplásica. caramuJos.
Estão presentes vários tipos de fibrose. A primeira a ocorrer Enquanto o diagnóstico da fasciolose ovina apresenta poucos
é a cicatrização pós- necróti ca, encontrada principalmente no lobo problemas, especialmente quando é possível exame pós-morte,
ventral e associada ao fechamento dos tratos dos trematóides. A o diagnóstico de fasciolose bovina às Vezes pode ser difícil. Neste
segunda, freqüentemente denominada necrose isquêmica, é uma contexto, são úteis os testes hematológicos rotineiros e o exame
seqüela de infarto causado por lesão e trombose de grandes va- de fezes para ovos de trematóides, podendo ser suplementados
sos. Em terceiro lugar, desenvolve-se uma fibrose peribiliar quan- por dois outros testes laboratoriais.
do os trematóides atingem os pequenos ductos biliares. O primeiro é a estimativa de níveis plasmáticos de enzimas li-
Às vezes, os ovos de trematóide provocam uma reação seme- beradas por células hepáticas lesadas. Em geral, são medidas duas
lhante a granuloma, que pode resultar em obliteração dos duetos enzimas. A glutamato-desidrogenase (GLDH) é liberada quando
biliares acometidos. são lesadas células parenquimatosas e os níveis se tornam eleva-
A colangite hiperplásica nos ductos biliares maiores origina- dos nas primeiras semanas de infec'ção. A outra, gama-
se da grave erosão e necrose da mucosa causadas pelos trema- glutamiltranspeptidase (GGT), indica lesão das células epiteliais
tóides ao se alimentar. que revestem os ductos biliares; a elevação desta enzima tem lu-
Clinicamente, a fasciolose crônica caracteriza-se por perda gar principalmente depois que os trematóides atingem os ductos
progressiva de condi ções físicas e desenvolvimento de anemia e biliares, e os IÚveis mantêm-se elevados por um período mais longo.
hipoalbuminemia, podendo resultar em emaciação, palidez das O segundo é a detecção de anticorpos contra componentes de
mucosas, edema submandibular e ascite. A ane!llia é hi ocrâmi- trematóides, sendo o teste ELISA e o teste de hemaglutinação
ca e macrocítica com eosinofilia simultânea. odem ser demons- passi va os mais seguros.
:~dos ov_os_de Fas!i,.iola n~~~ "
Nas infecções leves, o efeito clímco pode não ser rapidamen- Previsão meteorológica de fasciolose
te discernível, mas os parasitas podem ter um efeito significante
sobre a produção, por causa da diminuição do apetite e do seu O ciclo evoluti vo do trematóide hepático e a prevalência de fas-
efeito sobre o metaboli smo pós-absortivo de proteínas, carboi- ciolose dependem do clima. Isto motivou o desenvolvimento de
dratos e sais minerais. sistemas de previsão, baseados em dados meteorológicos, que cal-
culam a provável época e gravidade da doença. Em diversos paí-
FAse/OLOSE BOV/NA ses da Europa Ocidental, essas previsões são utilizadas como base
de programas anuais de controle.
Embora ocasionalmente possa ocorrer doença aguda e subaguda Foram desenvolvidas duas fórmulas diferentes. Uma delas cal-
em condi ções de intenso desafio, especial mente em bezerros cula a "umidade da superfície do solo", o fator crítico que afeta a
jovens, a forma crônica da doença é, sem dúvida alguma, a mais infecção de verão de caramujos. A fórmula é M ~ n(R - P + 5),
importante e, como nos ovinos, é observada no final do inverno/ em que M é o mês, R é o índice pluvial mensal em polegadas, P é a
início da primavera. evapotranspiração em polegadas e n é o número de dias úmidos por
A patogenia é semelhante à dos ovinos, mas tem ainda as mês. Um valor de 100 ou mais por mês é ideal para o desenvolvi-
características de'ê!6ficaçllo dos, aueros lYmar~ e\dilataç.âo da" mento de parasitas, e portanto os valores superiores a 100 são regis-
(Vesícula bjliaf'(Prancha V). A migração aberrante dos trematói- trados como 100. A fónnula é aplicada nos meses em que as tem-
des é mais comum em bovinos, e com freqüência observam-se peraturas são adequadas para reprodução de caramujos e desenvol-
96 Parasit%gia Veterinária
Tal qu al F. hepatica, F. gigantica é capaz de infectar o ho- pode ocorrer nos suínos, que podem atuar como hospede iros re-
mem. servatóri os. Ao contrári o de Fasciola e Fascioloides, localiza-
se no intestino del gado, onde causa grave ulceração.
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
EPIDEMIOLOGIA
DIAGNÓSTICO
Eurytrema
O trematóide Eurytrema pancreaticum é encontrado nos duetos
pancreáticos de ruminantes em partes da Ásia, do Brasil e da
Venezuela. Tal qual o D. dendriticum, tem dois hospedeiros in-
termediários consecutivos, um caramujo terrestre seguido por um
gafanhoto ou grilo arborícola. A infecção do hospedeiro defini-
tivo é por ingestão do gafanhoto e migração do trematóide do
intestino delgado para a localização final no dueto pancreático.
As infecções maciças são descritas como causa de fibrose e atrofia
Fig. 83 O ovo de Oicrocoelium dendriticumconlém um miracídio quando eliminado pancreática. No momento, não existe um tratamento eficaz co-
nas fezes. nhecido.
100 Parasitologia Veterinária
IDENTIFICAÇÃO
Macroscópica:
Os adultos são pequenos tremalóides vermifonnes, cônicos, com
cerca de 1 cm de comprimento. Observa-se uma ventosa na ponta
do cone e a outra na base. Os estágios larvais têm menos de 5
mm, e os espécimes têm coloração rósea.
Microscópica:
O ovo é semelhante ao da F. hepatica, sendo grande e opercuJado,
mas é claro, e não amarelo.
CICLO EVOLUTIVO
co ntinuam a abrigar cargas baixas de paras itas adu ltos e são mamiferos que consomem peixes. Ocorre no noroeste dos Esta-
importantes reservatórios de infecção para caramuj os. Por outro dos Unidos e partes da Sibéria, tendo importância porque os tre-
lado, os ovinos e caprinos são relativamente suscetíveis durante matóides são vetares da riquétsia Neoricketlsia helminthoeca, que
toda a vida. causa grave enterite hemorrágica em cães, o chamado "envene-
namento por salmão". Esta denominação origina-se do ciclo do
DIAGNÓSTICO trematóide, que envolve um caramujo aquático e um peixe, fre-
qüente mente um salmonídeo.
Baseia-se na sintomatologia que em geral envo lve animais jo- Supõe-se que a infecção por riquétsia seja transmitida ao cara-
vens num rebanho e num a históri a de pastejo ao redor de habitats muj o aquático através do ovo de trematóides e, em seguida, ao peixe,
de caramujos durante um período de tempo seco. O exame de onde as cercárias se localizam no rim. O cão infecta-se por inges-
fezes tem pouco valor, um a vez que a doença ocorre durante o tão de peixe contendo as metacercárias e a riquétsia associada.
período pré-patente. Pode-se obter confrnnação por um exame
pós-morte e recuperação dos pequenos trematóides do duodeno.
FamOIU OPISTHORCHIlDAE
TRATAMENTO
Os membros desta família req1:lerem dois hospedeiros intenne-
o reso rant e l e a oxiclozanida são considerados os anti- diários, o primeiro sendo caramujos aquáticos e o segundo uma
helmínticos de escolha contra trematóides ruminai s imaturos e ampl a variedade de peixes, nos quais as metacercárias se encis-
adultos em bovinos e ovinos. tam. Os hospedeiros definiti vos são mamiferos que conso mem
peixes nos quais habitam os ductos biliares.
Opisthorchis, sem dúvida o gênero mais importante, é um pe-
CONTROLE queno trematóide lanceaI ado, macroscopicamente semelhante ao
Dicrocoelium. Duas espécies têm o homem como hospedeiro prin-
Como em F. gigantica, O melhor controle é conseguido pela ins-
cipal. o. sinensis (antigamente Clonorchis sinensis) é o "tremat6ide
talação de canos para levar água aos bebedouros e impedindo-se
hepático chinês" que, apesar do nome, ocorre na maior parte do
o acesso dos animais à água natural. Mesmo assim, os caramujos
leste da Ásia incluindo o subcontinente indiano; cães e gatos são
podem ter acesso aos bebedouros, podendo ser necessária a apli-
hospedeiros ocasionais. o. viverrini, embora descoberto no gato
cação regular de um molusquicida na fonte ou a remoção manu- almíscar, que é portanto o hospedeiro típico, é essencialmente um
al de caramuj os.
parasita do homem; é encontrado em cães e gatos com freqüência
suficiente para que sej am importantes hospedeiros reservatórios.
Outros paranfistomídeos de importância veterinária Ocorre no Extremo Oriente. O. tenuicollis (sin. O. felineus) tem
os gatos e, menos freqüentemente, os cães como hospedeiros prin-
Além de Paramphistomum, há muitos gêneros encontrados nos cipais; o homem é um hospedeiro ocasional. Esta espécie ocorre
animais domésticos. Entre os mais bem conhecidos dos que ocor- na Europa oriental, no Oriente Médio, na Ásia Menor e na Rússia
rem nos pré-estômagos estão Cotylophoron e Ceylonocotyle, res- asiática; foi descrito no Canadá.
ponsáveis por surtos de paranfistomose em bovinos e bubalinos O homem e os animais adquirem infecção por ingestão de pei-
na Ásia e em bovinos na Austrália e no sul dos Estados Unidos. xe cru ou insuficientemente cozido, e os trematóides jovens seguem
Dos que ocorrem no trato digestivo inferior, Gastrodiscus tem alta para o fígado pelos duetos biliares. A maioria das infecções é ina-
prevalência no intestino delgado e grosso de eqüinos nos trópicos parente, embora Opisthorchis seja muito comum em suas áreas
e Homoloqaster no intestino grosso de ruminantes em algumas endêmkas. Nas infecções maciças, a principal lesão é causada
partes da Asia. Um outro gênero, Gigantocotyle, ocorre nos duc- pelos jovens trematóides cujos espinhos lesam os ductos biliares,
tos biliares de bubalinos no Oriente Médio e no Extre mo Oriente. causando espessamento com formação de papilomas e desenvol-
vimento de cistos, contendo trematóides, adjacentes aos duetos.
Nestas infecções, os sintomas são emaciação, icterícia e asei te; às
Família TROGLOTREMATIDAE vezes, é possível palpar o fígado nodular dilatado.
O controle de opistorcose baseia-se na cocção co mpleta de
Há doi s gêneros de interesse veterinário local. O primeiro, Parago- peixes.
nimus, comumente designado "trematóide pulmonar", é encontra- Um segundo gênero, Metorchis. ocorre basicamente em cães
do em gatos, cães e outros carnivoros e no homem na América do de trenó e de caça, tendo di stribuição principalmente árti ca e
Norte e na Ásia. O ciclo envolve um caramujo aquático e um ca- subártica na Europa, na Ásia e na América; foi registrado tam-
ranguejo de rio ou um caranguejo de água fresca. O caramujo aquá- bém na a nti ga Iugosl áv ia. A patogenia é seme lh ante à da
tico, previamente infectado por um miracídio da mesma maneira opistoreose, e há um re servatório de infecção em carnívoros si1- /
que e m outros trematóides, é ingerido por um crustáceo. A infec- vestres que consomem peixes.
ção do hospedeiro defInitivo ocorre por ingestão das metacercárias
no fígado ou nos músculos do crustáceo. Os trematóides j ovens
migram para os pulmões, onde são encapsulados por cistos fibro- FamOia SCHISTOSOMATIDAE
sos conectados aos bronquíolos por meio de fístulas para facilitar
a excreção de ovos. A sintomatologia pulmonar é relativamente Esta família é fundamentalmente parasita do s (Vasos sangu íneos I
rara em gatos ou cães, estando o interesse veteri nário no potencial do tIato digestivo e da bexiga. No homem. os esquistossomas cos-
reservatório de infecção para o homem. tumam ser responsáveis por doença grave e debilitante, estando
O segundo gênero, Nanophyetus, é um trematóide encontra- o interesse veterinário no fato de poderem causar uma doença
do principalmente no intestino delgado de cães, martas e outros semelhante e m animais, algun s dos quais podem atuar como re-
102 Parasitologia Veterinária
servatórios de infecção para o homem. Os esquistossomas dife- S. japonicurn O homem e a maioria dos animais
rem de outros trematóides por possuírem os t~exos separados} a domésticos no Extremo Oriente.
pequena fêmea adulta ficando permanentemente num sulco, o canal
ginecóforo, no corpo do macho (Fig. 85). O gênero mais impor- Menos importantes:
tante é o Schistosoma, que será discutido com alguns detalhes. S. leiperi Bovinos na África
S. spindale Ruminantes, eqüinos e suínos na Ásia e
no Extremo Oriente
Schistosoma S. incognitum Suínos e cães na Índia e no Paquistão
S. mansoni O homem e animais silvestres na África,
Hospedeiros: na América do Sul e no Oriente Médio
Todos os mamíferos domésticos. Importante principalmente em s. (sin. Ruminantes na Ásia
ovinos e bovinos. Orienlobilharzia
turkestanica
Hospedeiros intermediários: S. nasalis Ruminantes e eqüinos na Índia e no
Caramujos aquáticos. As espécies Bulinus e Physopsis são par- Paquistão.
ticularmente importantes na transmissão de esq uistossomose
bovina e ovina. Distribuição:
Trópicos e subtrópicos. Ocorre escassamente no sul da Europa.
Localização:
Usualmente as veias mesentéricas; ocorre uma espécie em veias IDENTIFICAÇÃO
naSaIs.
CICLO EVOLUTIVO
quais precisam ser administrados durante certo período de dias femininos. Quase todos os cestóides de importância veterinária
em altas doses. Não são incomuns as fatalidades associadas ao estão na ordem Cyclophyll idea, as duas exceções estando na
uso destas drogas. O praziquantel, utilizado no tratamento de ordem Pseudophyllidea.
esquistossomose humana, també.m é eficaz em animais.
FamOia DIPLOSTOMATIDAE
A família Diplostomatidae inclui o gênero Alaria, do qual ocor-
rem diversas espécies no intestino delgado de cães, gatos, rapo-
sas e martas na maioria dos continentes, embora não tenham sido
registrados na Grã-Bretanha. O ciclo evolutivo envolve dois
hospedeiros intermediários, a saber, caramujos de água doce e
rãs. O hospedeiro definitivo infecta-se ingerindo rãs contendo
metacercárias encistadas (mesocercárias), e os trematóides mi-
gram extensivamente, incluindo passagens pelos pulmões, antes
de retomar ao intestino delgado. As infecções maciças podem
causar grave duodenite em cães e gatos. Foi registrado um caso
fatal num homem pela ingestão de pernas de rãs inadequadamente
cozidas; as principais lesões estavam nos pulmões.
Recomenda-se tratamento com praziquantel.
++I1!i-- Útero
Poro
genital
Ovário
Glândulas
"""'A---vilelinas
(d)
(b) (3) Uma casca verdadeira que é uma delicada membrana e que
freqüentemente desaparece enquanto ainda no útero.
O tegumento do cestóide adulto é altamente absorvente, e o
verme obtém toda a sua nutrição através desta estrutura. Sob o
tegumento, ficam células músculares e o parênquima, o último
um sincício de células que ocupa o espaço entre os órgãos. O
sistema nervoso é constituído de gânglios no escólex de onde os
nervos entram no estróbilo. O sistema excretor, como nos tre-
matóides, é composto de células ativas que levam a canais efe-
rentes que seguem através dos estróbilos descarregando no seg-
mento tenninal.
CICLO EVOLUTIVO
Fig. 89 (continuação)
Cisticerco:
Cisto cheio de líquido contendo um único escólex invaginado
fixo , às vezes denominado protoescólex.
Taenia saginata
o estágio intermediário deste cestóide, encontrado nos múscu-
los de bovinos, freqüentemente representa problemas económi-
cos para a indústria de came e constitui um risco para a saúde
pública.
Cisticercóide
Estrobilocerco Cenuro DISTRIBUiÇÃO
Fig. 90 ES1âgios larvais de ces1óides ciclofilídeos.
Mundial.
IDENTIFICAÇÃO
Hidátide: O cestóide adulto, encontrado apenas no homem, varia de 5 a 15
É um grande cisto cheio de líquido revestido por epitélio germi- m de comprimento. O escólex, excepcional entre as espécies de
nativo do qual são produzidos escólices invaginados que ficam Taenia, não tem rasteio nem ganchos; o útero do segmento
livres ou em cachos, circundados por epitélio germinativo (vesí- grávido tem 15 a 30 ramos laterais de cada lado do tronco cen-
culas filhas). O conteúdo dos cistos exceto o líquido, isto é, escó- trai, diferindo do da T solium, com apenas 7 a 12 ramos laterais.
lices e vesículas filhas, é freqüentemente descrito como "areia hidá-
No bovino, o cisticerco maduro, C. bovis, é branco-acinzentado,
tica". Às vezes, também se fonuam endogenamente vesículas fi- com cerca de I cm de diâmetro e cheio de líquido, no qual o escólex
lhas completas com cutícula e camada genninativa ou, se a pare- em geral é nitidamente visível. Como no cestóide adulto, ele não
de do cisto se romper, exogenamente. possui rasteio nem ganchos. Embora possa ocorrer em qualquer
parte da musculatura estriada, os locais de predileção, pelo menos
Cisticercóide: do ponto de vista de inspeção rotineira de carne, são o coração, a
Um único escólex evaginado incluso num pequeno c'isto sólido. língua e os músculos masseter e intercostais.
Encontrado tipicamente em muitos pequenos hospedeiros inter-
mediários, como artrópodes.
CICLO EVOLUTIVO
Tetratirídio: Um homem infectado pode eliminar milhões de ovos ao dia, li-
Larva em forma de venue, com um escólex invaginado; encon- vres nas fezes ou como segmentos intactos, cada um contendo
trado apenas em Mesocestoididae. cerca de 250.000 ovos, que podem sobreviver na pastagem du-
rante vários meses. Depois da ingestão por um bovino suscetí-
Quando o metacestóide é ingerido pelo hospedeiro definitivo, vel, a oncosfera segue através do sangue para a musculatura es-
o escólex fixa-se na mucosa, o restante da estrutura é digeri- triada. Começa a ser macroscopicamente visível cerca de duas
do e começa a crescer uma cadeia de proglotes da base do escó- semanas mais tarde como um ponto pálido semitransparente de
lex. aproximadamente 1 mm de diâmetro, mas não é infectante para
As sete principais farrn1ias de interesse veterinário na ordem o homem até cerca de 12 semanas depois, quando já terá atingi-
Cyclophyllidea são Taeniidae, Anoplocephalidae, Dilepididae, do o seu tamanho máximo de 1 cm (Prancha VI). Nessa ocasião,
Davaineidae, Hymenolepididae, Mesocestoididae e Thysanosomi- é envolto pelo hospedeiro numa cápsula fibrosa fina, .rnas apesar
doe. disto usualmenle o escólex ainda pode ser observado. A longe-
vidade dos cistos varia de semanas a anos. Quando morrem, em
geral são substituídos por uma massa caseosa friável, que pode
Família TAENIIDAE tornar-se calcificada. Tanto cistos vivos como mortos estão fre-
qüentemente presentes na mesma carcaça.
Os adultos são encontrados em carnívoros domésticos e no ho- O homem iruecta-se ingerindo carne crua ou insuficientemente
mem. O escólex tem um rostelo guarnecido com uma fileira dupla cozida. O desenvol vimento até a patência leva dois a três meses.
de ganchos (aexceção importante é Taenia saginata, cujo escólex
é desguarnecido). Os segmentos grávidos são mais longos que PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLíNICA
largos.
O estágio intermediário é cisticerco, estrobilocerco, cenuro ou Em condições naturais, a presença de cisticercos nos músculos
cisto hidático, ocorrendo apenas em mamíferos. de bovinos não está associada a sintomatologia clínica, embora,
HeJm intofogia Veterinária 107
Cestóide adulto Hospedeiro definitivo Larva Hospedeiro interrnediârio Localização das larvas
experimentalmente, bezen'os submetidos a infecções maciças por propri edades particulares devem-se a um a infecção por cestóide
o vos de T. saginata tenham desenvol vido grave miocardite e num peão ocorrendo ou como um evento casual o u, como foi
insuficiência cardíaca associadas a cisticercos em desenvolvi- reg istrado a partir de confinamentos de gado e m algun s dos es-
mento no coração. tados do sul dos Estados Unidos, co mo resultado do emprego de
No ho mem, o cestóide ad ulto pode produzir di arréia e cóli- mão-de-obra migrante de um a reg ião co m alta prevalência de
cas, mas a infecção usualmente é assi ntomática, sendo principal- infecção.
me nte censu rável em termos estéticos. Bem di stinta destes surtos, a causa da prevalência baixa po-
., rém persistente de infecção em bovinos é obscura, mas supõe-se
EPIDEMIOLOGIA q ue seja oriunda do acesso de bov inos à agua contaminada com
desaguame ntos de matéria orgânica hum ana, do transporte e di s-
Há doi s modelos epidemi ológicos bem distintos e ncontrados nos persão de o vos de T. saginata por aves que freqüentam esgotos
países em desenv olvimento e nos países desenvolvido s. ou se alime ntam de dejetos)ançados em ri os ou no mar e da con-
ta mina ç ão ocasional de pastos po r indivíduo s infectados
Países em desenvolvimento itinerantes.
Ao contrário da epidemiologia em países em desenvolvimen-
to, os bovinos de qualquer idade são suscetíveis à in fecção, pois
E m muitas partes da Á fri ca, da Ás ia e da América Latina, os
bovinos são criados em regim e ex ten sivo, a higiene humana é geralmente não possuem imunidade adquirida. Há ev idência tam-
bém de que, quando os bovinos são infectados pela primeira vez
pouco desenvol vida e o combu stível para cozinhar é caro. Nes-
ta s circun stânc ias, a inc idê nc ia de infecção humana po r T. j á co mo adultos, a longevidade dos cisticercos é limitada, a mai-
saginara é alta, e m...detel1nin adas regiões sendo bem s uperi or a ori a estando morta dentro de nove meses.
20%. Por ca usa di sso, os bezerros em geral são infec tados no
início da vida, freqüen!emente nos primeiros di as após o nasci- DIAGNÓSTICO
mento, por peões infec tados cujas mãos estão contaminadas por
ovos de Taenia. Pode ocorrer também infecção pré-natal de be- Cada país tem regulamentos di fe rentes em relação à inspeção de
zerros, mas é rara. Dos c istos que se desenvolvem, cert'a propor- carcaças, mas in variavelmente o músc ulo masseter, a líng ua e o
ção persiste durante anos, mes mo que o hospedeiro tenha desen- coração são cortados e examinados e os mú sculos intercostais e
vol vido imunidade adquirida e seja totalmente resistente a infec- o diafragma inspecionados; em muitos países, o músc ulo tríceps
ção posteri or. também é cortado.
Baseando-se em inspeção rotine ira de carcaça, a taxa de in- A inspeção é inevitavelmente um compromi sso entre a detec-
fecção costuma ser de aproximadamente 30 a 60%, embora a ção de cisticercos e a preservação do valor eco nômico da carcaça.
prevalênci a real sej a consideravelmente mais alta.
TRATAMENTO
Países desenvolvidos
Ai nda não existe uma droga aprovada disponível que realmente
Em certas regiões como a Euro pa, a América do Norte, a Aus- destrua todos os cisticercos no mú sculo, embora o praziquantel
trália e a Nova Zelândia, os padrões de higiene humana são altos demonstre eficácia em situações ex perimenta is.
e a carne é c uidadosamente inspecionada e, em geral, completa-
mente cozida antes do conSumo. Nessas regiões, a prevalência CONTROLE
de cisticercose é baixa, correspondendo a menos de I % de car-
caças examinadas. Ocasionalmente, entretanto, há relatos de surto Nos países desenvolvidos, o controle da cisti cercose bovina de-
de c isticercose em propriedades particulares, onde alta propo r- pende de condições de higiene humana de alto pad.dio, da prática
ção de bovin os se e nco ntra infectada. Na Grã-Bretanh a e na geral de cozimento completo da carne (o ponto térmico da morte
Austráli a, isto está associado ao uso de matéri a o rgâni ca hum a- de cisticerc os é de 57°C) e da inspeção compul sória da carne.
na no pasto, como fertilizante na forma de estercos, isto é, fezes Os reg ulamentos usualmen te requerem O congelamento das
sedimentadas ou di geri das por bactérias. Uma vez que os o vos carcaças infectadas a -10°C durante no mínimo 10 (tias, o que é
de T. saginata pode m sobreviver por mais de 200 dia s em sedi- sufi ciente para destruir os cisticercos, embora o processo reduza
mentos, a ocorrênci a desses surtos talvez não seja surpreenden- o valor econômico da carne. Onde são detectadas infecções ma-
te . Outras causas de repentina alta incidência de infecção em ciças de mais de 25 cisticercos, é co mum destruir a carcaça.
108 Parasitolagia Veterinária
Na agricul tura, o uso de esterco humano como ferti lizante deve CICLO EVOLUTIVO
restri ngir-se a áreas cultivadas ou a áreas que não serão ocupa-
das por bovinos durante pelo menos doi s anos. Também é semelhante ao de T. saginata, co m a importante dife-
Nos países em desenvolvi mento, são necessárias as mesmas rença de que o homem, o hospedeiro definiti vo, também pode
medidas, mas que nem sempre são economicamente viáveis, e, infectar-se por cisticercos. Isto pode ocorrer ou pela ingestão
no momento, a medida mais útil parece ser a educação das co- acidental de ovos de T. so/ium ou, aparentemente, numa pessoa
munidades quanto à higiene sanitária e ao cozime nto co mpleto com uma tênia adulta, pela liberação de oncosferas após a diges-
de carne. tão de um segmento grávido que entro u no estômago pelo duo-
deno por peristaltismo inverso; isto é conhecido como auto-in-
fecção.
ToeI/ia so!iulIl
Esta é a outra espécie de Taenia que ocorre no homem. O está- PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLíNICA
gio larva l, Cyslicerclls cellulosae, ocorre nos músc ul os de suí-
nos. Às vezes, os c isticercos também podem desenvolver- se no Como na infecção por T. saginata, a sintomatologia clínica é
homem, e a doença, cisticercose humana, constitui o aspecto mais inaparente nos suínos naturalmente infectados com cisticercos e
sério desta zoonose. geralmente insignificante no homem com tênias adu ltas.
Entretanto, quando o homem se infecta com cisticercos, po-
dem ocorrer diversos sinais clínicos dependendo da localização
DISTRIBUiÇÃO
dos cistos em órgãos, mú sculos ou tecido subcutâneo. Mais gra-
Este cestóide é mais prevalente na América Latina, na Índia, na vemente, os cisticercos podem desenvolver-se no sistema ner-
África e em regiões do Extremo Oriente, exceto nos países onde voso central, produzindo distúrbi os me ntais ou sinais clínicos de
existem sanções reli giosas para o consumo de carne de porco. epilepsia ou aumento de pressão intracraniana; podem também
Atualmente, é incomum nos países desenvolvidos. desenvolver-se no olho, com conseqüente perda de visão. Somen-
te na América Latina, calcula-se que meio milhão de pessoas
estejam cometidas, ou pela forma nervosa ou pela forma ocular
IDENTIFICAÇÃO
de cisLicercose.
o cestóide adu lto é semelhante à T saginata, exceto que o escólex
é tipicamente tenídeo, possuindo um rasteio guarnecido com duas EPIDEMIOLOGIA
fileiras concêntricas de ganchos (Fig. 91), enquanto o útero do
segmento gráv ido, como foi observado anteriormente, tem me- É basicamente semelhante à de T. saginata nos países em desen-
nos ramos latera is. volvimento, exceto, naturalmente, que depende sobretudo da
íntima associação de suínos rurai s com o homem e, em particu-
lar, do seu acesso quase sempre irrestrito a fezes humanas. A
negligência na inspeção da carne e o comércio clandestino de
carne de porco não-inspec ionada também são fatores importan-
tes na di sseminação da infecção.
Como se observou anterionnente, O homem pode infectar-se
com cisticercos, o que pode ocorrer pela ingestão de ovos em
legu mes ou em outros alimentos contaminados com fezes huma-
nas ou manuseados por pessoa infectada.
DIAGNÓSTICO
TRATAMENTO
CONTROLE
Fig. 91 Cabeça típica de ten(deo mostrando quatro ventosas e rasteio guarnecido Depende, em última análise, da obrigatoriedade de regulamen-
de ganchos. tos de inspeção de carne e de métodos de congelamento a tem -
Helmintologia Veterinária 109
Este cestóide comum de cães e carnívoros silvestres tem até 200 Taenia taeniaeformis
cm de compri mento. O ciclo evoluti vo é semelhante ao de T
saginata, sendo o estágio intermectiário, Cysticercus avis, encon- É um cestóide de gatos, com cerca de 60 cm de comprimento,
trado nos músculos de ovinos (Fig. 92). cujo estágio intermediário, o Cysticercusfasciolaris, é encontrado
É importante principalinente pelas objeções estéticas ao aspecto no fígado de camundongos e outros roedores (Prancha VI). Cada
dos cistos na carne de ovinos e, como conseqüência, pode ser uma estrobilocerco se encontra num nódul o do tamanho de urria-ervi-
causa significativa de perda econômica através da condenação à lha enterrado no parênquima hepálico.
11 0 Parasito/agia Veterinária
Localização:
Adultos no intestino delgado e cistos hidáti cos principalmente
no fígado e nos pulmões.
Distribuição:
E. g. granlllosus mundial
E. g. equinus principalmente Europa.
IDENTIFICAÇÃO
Macroscópica:
O cestóide inteiro tem apenas cerca de 6 mm de comprimento
(Fig. 94), sendo, portanto, difíci l encontrá- lo no in testi no recém-
aberto. É constituído de um escólex e três ou quatro segmentos,
o seg mento grávido termi nal oc upando aproximadamente meta-
de do comprimento do cestóide completo.
Microscópica:
O esc61ex é tipicamente tenídeo, e cada seg mento possui um
único ori fício genital. O embrióforo é semelhante ao de espécies
de Taenia, radialmente estri ado e contendo uma oncosfera com
seis ganchos.
Fig. 93 Coenurus seriafis de tecido intermuscular de coelho.
CICLO EVOLUTIVO
EchillococcUS
Echinococcus gr{//1lI1oslIs
Hospedeiros:
E. g. granulosus cães e muitos canídeos silvestres
E. g. equinus cães e raposas venne lhas.
Hospedeiros intermediários:
E. g. granuloslts ruminantes domésticos, homem , suínos e
ruf1!inantes silvestres; os eqüino s e
asi nin os são resi stentes. Fig. 94 Echinococcus granulosus adulto.
,
Helminloiogia Veterinária II I
ro intermediário, a oncosfera penetra na parede intestinal e se- ambos os pulmões podem ser acometidos, causando sintomas
gue no sangue para o fígado ou na linfa para os pulmões. Estes respiratórios, e se hou ver várias hidátides presentes no fígado
são os dois locai s mais comuns para desenvolvimento larval, mas pode haver grande distensão abdominal. Se um cisto se romper,
ocasionalmente escapam oncosferas na circulação sistêmica ge- há ri sco de morre por anafil axia; se a pessoa so breviver, os cis-
ral e se desenvolvem em outros órgãos e tecidos. tos filhos liberados podem retomar o desenvolvimento em ou-
O crescimento da hidátide é lento, e a maturidade é atingida tras regiões do corpo.
em seis a 12 meses. No fígado (Prancha VI) e nos pulmões, o
cisto pode ter di âmetro de até 20 cm, mas nos locais mais raros, EPIDEMIOLOGIA
como a cavidade abdominal, onde é poss ível crescimento
irrestrito, pode ser muito grande e conter vários lilroS de líquido. E. g. granulosus
A cápsula do cisto é constituída de uma membran a ex terna e um
epitélio germinativo interno do qual , quando o crescimento do Apenas alguns países, notavelmente a Islândia e a Irlanda, estão
cisto está quase completo, se originam vesículas filhas, cada uma livres desta linhagem de E. granulosus. Costuma-se considerar a
delas contendo uma série de escólices (Fig. 95). Mu itas dessas epidemiologia como baseada em dois ciclos, pastoral e silvestre.
vesículas filhas soltam-se e ficam li vres no líquido hidático; co- No ciclo pastoral, o cão sempre está envolvido, infectando-
letivame nte, tais vesículas e os escólices costumam ser designa- se pela ingestão de vísceras de ruminanles contendo cistos hidá-
dos "areia hidálica". ticos. O hospedeiro intermediário doméstico varia de acordo com
Às vezes, formam-se cistos filhos completos no lado interno o tipo de criação local , porém o mais importante é o ovino, que
do ci sto mãe ou externamente; no último caso, podem ser trans- parece ser o hospedeiro intermediário natural, sendo os escólices
portados para outras partes do corpo e formar novas hidátides. destes animais os mais infectan tes para cães. Em partes do Ori-
Nos ovinos, cerca de 70% de hidátides oconem nos pulmões, ente Médio, o camelo é o principal reservatório de hidátides,
cerca de 25% no fígado e o restante em outros órgãos. Nos eqüi- enquanto no norte da Europa e no norte da Rú ssia é a rena.
nos e bovinos, mais de 90% dos cistos são usualme nte encontra- O ciclo pastoral é a principal fonte de hidatidose no homem,
dos no fígado. Os animais, em sua maioria, apresentam pouca e a infecção ocorre por ingestão acidental de oncosferas da pela-
reação local à hidátide em crescimento, que aparece como um gem de cães ou de legumes e outros gêneros alimentícios conta-
ci sto de paredes finas parcialmente incluso no órgão, mas em minados por fezes de cães.
eqüinos desenvolve-se uma cápsula fibrosa espessa ao redor do O ciclo silvestre ocorre em canídeos e ruminantes silvestres,
ci sto. Os cistos podem ser poucos e tão grandes quanto bolas de com base na predação ou no consumo de cadáveres. É menos
tênis ou numerosos e pequenos, aparecendo no fígado co rno pe- importante como fonte de infecção humana, exceto nas comuni-
quenas malhas brancas. dades caçadoras, onde a infecção pode ser introduzida em cães
domésticos pelo consumo de vísceras de ruminantes silvestres.
PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLíNICA
E. g. equinus
O cestóide adulto não é patogênico, podendo haver milhares num
cão sem sintomatologia clínica. A hidatidose eqü ina é mais com um na Europa, e em outras par-
Nos animais domésticos, a hidátide no fígado ou nos pulmões les do mundo a maioria dos casos é regi strada em eqüinos euro-
geralmente é tol erada sem sinais clínicos, e a maioria das infec- peus importados. A linhagem é altamente específica para os eq üi-
ções é revelada apenas no abatedouro. Onde foram transporta- nos, e os ovos não se desenvol vem em ovinos. O cão doméstico
das oncosferas na circulação para ou tro s locais, como rim, pân- e a raposa vermelha são os hospedeiros defi nitivos, e nas regi-
creas, SNC ou medula de ossos longos, a pressão exercida pelo ões de alta prevalência o ciclo depende do acesso de cães a vís-
cisto em crescimenlO pode provocar uma série de sinais clínicos. ceras eqüinas infectadas. No continente e uropeu, a fonte mais
Por outro lado, quando o homem está envol vido como hos- provável é constituída por restos de abatedouros de eqüinos e,
pedeiro intermediário, a hidátide em sua locali zação pulmonar na Grã-Bretanha, pelas vísceras de eqüinos de caça ingeridas por
ou hepática quase sempre tem importância patogênica. Um ou cães na caça à raposa.
DIAGNÓSTICO
TRATAMENTO
IDENTIFICAÇÃO Anoplocephala
Em geral, semelhante ao E. granulosus, mas usualmente com Essencialmente cestóides de herbívoros. O escólex não tem
quatro a cinco segmentos. rasteIo nem ganchos e os segmentos grávidos são mais largos que
longos. O estágio intermediário é um cisticercóide.
Duas espécies deste gênero são parasitas do intestino dos
CICLO EVOLUTIVO E PATOGENIA eqüinos, e, embora pouco se conheça sobre sua exata importân-
cia patogênica, estão associadas a alterações erosivas na muco-
O hospedeiro intennediário infecta-se por ingestão da oncosfera, sa intestinal.
e o estágio larval desenvolve-se principalmente no fígado, como
o chamado cisto multilocular ou alveolar, um crescimento difuso Hospedeiros:
com muitos compartimentos contendo uma matriz gelatinosa na Eqüinos e asininos.
qual se originam os escólices (Fig. 96). O crescimento do estágio
intennediário é invasivo, estendendo-se localmente e capaz de Hospedeiros intermediários:
metástases sistêmicas. Vários ácaros do solo e do pasto, da farru1ia Oribatidae.
Helmintologia Veteril1ária 113
Localização: PATOGENIA
Os adultos são encontrados no intestino delgado e grosso e os
cisticercóides em ácaros oribatídeos. o gênero Anaplocephala em geral é considerado relativamente não-
patogênico, mas existe certa evidência de que as infecções maciças
Espécies: podem causar grave sintomatologia clínica e pcxIem mesmo ser fatais.
Anoplocephala petfoliata e A. magna. A. pelfoliata é encontrado usualmente em volta da junção ileoce-
cal e provoca ulceração da mucosa no seu ponto de fixação; essas
Distribuição: lesões são apontadas como causa de intlJssuscepção. A. magna é mais
Mundial, sendo A. perfoliata o mai s comum. comumente encontrado no jejuno e, quando presente em grandes
quantidades, pode resultar em enterite catarral ou hemorTágica.
IDENTIFICAÇÃO Há registros de casos de obstrução e perfuração intestinal as-
sociadas a infecções maciças por ambas as espécies.
Estes, juntamente com o cestóide relacionado porém menor e
menos comum Paranoplocephala mamillana, são os únicos SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA
cestóides adultos encontrados nos eqüinos. A. perfaliala, cujo
aspecto global (Fig. 97) é o de um grande trematóide branco, tem Na maioria das infecções, não se observa sintomatologia clíni-
até 20 cm de comprimento e escólex arredondado, com uma pro- ca. Entretanto, quando há alterações patológicas significantes no
jeção atrás de cada uma das quatro ventosas; tem o colo muito intestino , pode haver definhamento, enterite e cólica. A perfura-
curto, e o estróbilo alarga-se rapidamente, sendo os proglotes ção do intestino é rapidamente fatal.
indi vidualmente muito mais largos que longos. A magna é se-
me lhante morfologicamente, porém muito mais longo, com até
80 cm, e não há projeções no escólex.
Os ovos são irregularmente esféricos ou triangulares e vari-
am de 50 a 80 fLm de diâmetro; a oncosfera é sustentada por um
par de projeções, o chamado aparel ho piriforme (Fig. 98).
CICLO EVOLUTIVO
lal Ibl
Fig. 97 Anoplocephala perfoliata. (a) Cabeça apresentando projeções; (b) Um grupo de cestóides fixados à mucosa cecal.
114 Parasito/agia Veterinária
Moniezia
Este gênero de cestóides é comum em ruminantes e lembra, em
muitos aspectos, Anoplocephala dos eqüinos.
Hospedeiros:
Ruminantes.
Hospedeiros intermediários:
Ácaros da pastagem, principalmente da família Oribatidae.
Localização:
Adultos no intestino delgado; cisticercóides em ácaros.
Espécies:
Moniezia expansa ovinos, caprinos, ocasionalmente bovinos
M. benedeni principalmente bovinos.
Distribuição:
Mundial. Os únicos cestóides de ruminantes na Europa Ocidental.
IDENTIFICAÇÃO
Fig. 98 Ovos de Anopfocephalaperfoliata (65 a 80 fi-m; diâmetro do embrião, 16 fi-rn).
São cestóides longos, com 2 m ou mais, não-guarnecidos e pos-
suindo apenas ventosas (Fig. 99). Os segmentos são mais largos
que longos e contêm dois conjuntos de órgãos genitais macros-
EPIDEMIOLOGIA copicamente visíveis ao longo da borda lateral de cada segmen-
to. M. expansa tem até 1,5 cm de largura, enquanto M. benedeni
Podem ser acometidos eqüinos de todas as idades, mas os casos pode ter até 2,5 cm. Microscopicamente, há uma fileira de glân-
clínicos são registrados principalmente em animais de até três a du las interproglotidianas na borda posterior de cada segmento,
quatro anos de idade. Parece haver leve flutuação sazonal em A.
petfoliata, sendo os números de vermes mínimos na primavera
e, em seguida, acumulando-se até o inverno.
~
DIAGNÓSTICO
Paranoplocephala
Paranoplocephala mamillana é um pequeno cestóide não-pato-
gênico, de até 5 cm de comprimento e 0,5 cm de largura, que
ocorre no duodeno de eqüinos na maioria das regiões do mundo. Fig. 99 Cabeça desguarnecida de Moniezia.
HelminIologia Veterinária 11 5
o que pode ser usado em diferenciação entre espécies (Fig. 100); trar efeitos clínicos substanciais mesmo com cargas de vermes
em M. expansa, estendem-se ao longo de toda a largura do seg- razoavelmente pesadas.
mento. enquanto em M. benedeni limitam-se a uma fileira curta
perto da parte central do segmento. SINTOMATOLOGIA CLíNICA
Os ovos irregularmente triangulares têm um aparelho pirifor-
me bem definido e variam de 55 a 75 ",m de diâmetro. Ainda que uma grande variedade de sinais clínicos, incluindo
definhamento, diarréia, sintomatologia respiratória e até mesmo
CICLO EVOLUTIVO convulsões, seja atribuída a Moniezia, a infecção geralmente é
assintomática. Ainda precisam ser determinados os efeitos sub-
Semelhante ao deAlloplocephala. Proglotes maduros ou ovos são clínicos.
eliminados nas fezes e, no pasto, as oncosferas são ingeridas por
ácaros da forragem. Os embriões migram para a cavidade cor- EPIDEMIOLOGIA
pórea do ácaro, onde se desenvolvem em cisticercóides em um a
quatro meses, e a infecção do hospedeiro definitivo ocorre por A infecção é comum em cordeiros, cabritos e bezerros no prj-
ingestão de ácaros infectados durante o pastejo. O período pré- meiro ano de vida e menos comum em animais mais velhos. Uma
patente é de aproximadamente seis semanas, mas os vennes adul- flutuação sazonal na incidência de infecção por Moniezia apa-
tos parecem ter vida curta, persistindo as infecções patentes por rentemente pode estar relacionada a períodos ati vos dos vetares
apenas três meses. ácaros da forragem durante o verão em regiões temperadas. Os
cisticercóides podem sobreviver ao inverno nos ácaros.
PATOGENIA
DIAGNÓSTICO
Embora geralmente considerado de pouca importância patogê-
nica, há uma série de relatos, especialmente da Europa Oriental Baseia-se amplamente na presença de proglotes maduros nas
e da Nova Zelândia, de infecções maciças causando definha- fezes.
mento, diarréia e até mesmo obstrução intestinal. As infecções
por Monieúa, entretanto, são tão óbvias, tanto em vida pela pre- TRATAMENTO E CONTROLE
sença de proglotes nas fezes como à necropsia, que outras cau-
sas de más condições de saúde podem ser subestimadas. O inte- Em muitos países, há uma série de drogas disponíveis para o tra-
ressante é que estudos experimentais não conseguiram demons- tam ento de infecção por Moniezia, incluindo niclosamida,
praziquantel, bunamidina e vários compostos benzimidazóis de
amplo espectro, que têm a vantagem de também ser ativas con-
tra nematóides gastrintestinais. Se isto for efetuado em bezerros
e cordeiros no final da primavera nas regiões temperadas, as
quantidades de ácaros recém-infectados no pasto serão reduzi-
das. Também podem ser medidas benéficas aração e nova seme-
adura ou evitar o uso dos mesmos pastos por animais jovens em
anos consecutivos.
Família DILEPIDIDAE
Cestóides dos cães, do s gatos e das aves domésticas. O escólex
usualmente tem um rasteio guarnecido com diversas fileiras de
(a) ganchos. O estágio intermediário é um cisticercóide.
Dipylidium
Hospedeiros:
Cães e gatos; raramente o homem.
Hospedeiros intermediários:
Pulgas (Ctenocephalides canis. C. felis e Pulex irritans) e pio-
lhos (Trichodectes canis).
Localização:
(b) Intestino delgado; cisticercóide em pulgas e piolhos.
Fig. 100 Segmentos de (a) Monlezia expansa; (b) Moniezia benedeni. Observar a Espécie:
distribuição diferente de glândulas inlerproglolidianas. Dipylidium caninum.
116 Parasitologia Veterinária
Distribuição: sendo alongado. como um grande grão de arroz, e tem dois con-
Mundial. juntos de órgãos genitais, com um poro abrindo-se em cada borda.
(b)
Fig. 101 Dipy/idium caninum. (a) Cabeça apresentando rasteio guarnecido de vá-
rias fileiras de ganchos; (b) Segmento maduro com poro genital em cada borda. Fig. 102 Cápsula avigera de Dipy/idium caninum (120 a 200 fJ..m).
Helmintolog ia Veterinária 11 7
Localização:
DIAGNÓSTICO
Adu ltos no intestino del gado; cisticercóides em lesmas e
Freqüentemente, a primeira indicação de infecção é a presença caramujos.
de um segmento na pelagem ao redor do períneo. Se o segmento
for recém-eliminado, pode-se fazer a identificação preliminar Espécie:
pelo fonnato alongado e pelos órgãos gen itais duplos que podem Davainea proglottina.
ser vistos com uma lente de aumento. Se estiver ressecado e de-
formado, será necessário rompê-lo com agulhas umedeci das, quan- Distribuição:
do as cápsulas ovígeras serão faci lmente observadas com um mi- Mundial.
croscópio, diferenciando, assim, este segmento do segmento de
espécies de Taenia, que contém apenas oncosferas isoladas. IDENTIFICAÇÃO
FamnlU HYMENOLEPIDIDAE
Família DA VAINEIDAE
De importância veterinária secundária. Os membros desta fanú-
Principalmente parasitas de aves. Estes cestóides em geral têm lia, que têm um estróbilo caracteristicamente mais fino, infec-
fileiras de ganchos tanto no rasteio como nas ventosas. O está- tam aves, o homem e roedores. O hospedeiro intennediário é um
gio intermediário é um cisticercóide. cisticercóide.
118 Parasito/agia Veterinária
Fanúlia THYSANOSOMIDAE
Intimamente relacionada à Anoplocephalidae, esta família con-
tém três cestóides de importância veteri nária.
Stilesia
lugar, O escólex não possui ventosas e, em vez disso, tem dois IDENTIFICAÇÃO
sulcos longitudinais ou bólrias (Fig. 104) que se achatam, for-
mando órgãos de fixação. Em segundo lugar, a casca do ovo é Um cestóide muito longo. de até 20 m de comprimento. O es-
es pessa, castanha e operculada, e o coracídio que emerge após a cólex é desguarnecido, com dois sulcos longitudinais muscula-
eclosão é uma oncosfera com um embrióforo ciliado para movi- res ou bótrias como órgãos de fi xação. Os segmentos grávidos e
mentar-se na água. maduros são qu adrados, com um poro genital cenl ral (Fig.
O ciclo evolutivo pseudofilídeo utili za dois hospedeiros in- 105).
termediários. O coracídio primeiramente deve ser ingerido por
um crustáceo, em cuja cavidade corpórea se desenvo lve um
procercóide larval. Subseqüentemente, se o crustáceo for inge- CICLO EVOLUTIVO
rido por um peixe de ág ua doce, o procercóide é liberado, e nos
músculos do novo hospedeiro desenvolve-se um segundo está- Os ovos são eliminados continuamente pelos poros genitais dos
gio larval, um pler ocercóide, que possui o escólex característi- segmentos grávidos fixados do estróbilo. saindo nas fezes. Lem-
co; apenas este estágio é infectante para o hospedeiro definitivo. bram ovos de F. hepatica por serem amarelos e operculados, mas
Esta ordem contém apenas dois gêneros de importância vete- têm aproxi madamente a metade do seu tamanho.
rinária, Diphyllobothrium e Spirometra. Os ovos de vem desen volver-se na água, e em poucas sema-
nas cada um deles eclode e libera um coracídio ciliado móvel que,
se ingerido por um copépode, se desenvolve no primeiro estágio
DiphylloborhriulIl larv al parasita, um procercóide. Quando O copépode é ingerido
por um peixe de água doce, como um lúcio, truta ou perca, o
Diphyllobothrium lalLlm é um importante parasita cestóide do procercóide migra para os músculos ou vísceras, formando o se-
intestino delgado do homem em climas do norte, como partes da gundo estágio larval, o plerocercói de~ este metacestóide larval
Escandinávia, Rússia e América do Norte; pode infectar também sólido tem cerca de 5 mm de comprimento e possui o escólex
outros mamíferos que comem peixes. característico. O ciclo evolutivo completa-se qu ando o peixe in-
fectado é ingerido cru, ou insuficientemente cozido, pelo hospe-
Hospedeiros: deiro definiti vo. O desenvolvimento até a patência é rápido, ocor-
O homem e mamíferos que comem peixes, como os cães, gatos, rendo em quatro semanas após a ingestão do plerocercóide. Con-
suínos e ursos polares. tudo, se o peixe infectado fo r ingerido por um peixe maior,
o plerocercóide tem a capacidade de se insta1ar no novo hospe-
Hospedeiros intermediários: deiro.
São necessári os dois, um crustáceo co pépode como Cyclops,
seguido de um peixe de água doce.
EPIDEMIOLOGIA
Sl'irometra
D. latum é essencialmente um parasita do homem, uma vez que
em outros hospedeiros o cestóide produz poucos ovos férteis. A Os Spirometra adultos são encontrados em cães, gatos e carní-
epidemiologia, portanto, baseia-se amplamente em dois fatores, voros sil vestres na América do Norte e do Sul, na Austrália e no
o acesso de dejetos humanos a lagos de água doce e a ingestão de Ex tremo Oriente. A morfologia e o ciclo evolutivo desses
peixe não-cozido. Os animais domésticos, como os cães ou suí- cestóides são semelhantes aos de D. latum, os procercóides sen-
nos, infectam-se pela ingestão de peixe cru ou restos de peixe. do encontrados em crustáceos e os plerocercóides numa ampla
variedade de hospedeiros, incluindo anfíbios, aves e mamíferos.
DIAGNÓSTICO Ocasionalmente, o homem pode infectar-se com plerocercóides
através da água de beber contendo crustáceos infectados com
Depende da detecção dos ovos característicos nas fezes. procercóides ou pelo consumo de hospedeiros infectados com
plerocercóides, como os suínos. Esta zoonose, conhecida como
TRATAMENTO esparganose (Sparganum era a anti ga denominação destes
plerocercóides), caracteriza-se pela presença de larvas de até 35
o praziq uantel e a niclosarnida são eficazes contra o cestóide mm de comprimento nos músculos e tecidos subcutâneos, parti-
adulto. cularmehte a região periorbital, causando edema e inflamação.
ENTOMOLOGIA VETERINÁRIA
Entomologia veterinária, no sentido literal, significa o estudo de te de metabólitos. Os órgãos internos são banhados neste san-
insetos de importância veterinária. Este termo, entretanto, é co- gue, cuja circulação contínua é efetuada por um coração tubu-
mumente empregado para descrever o estudo mais amplo de to- lar, primiti vo, localizado dorsalmente. O sangue entra através de
dos os artrópodes parasitas de animais, incluindo os aracnídeos, orifícios na parede do coração, denominados óstios, e é expeli-
como carrapatos e ácaros. do por meio de pequenos vasos para a hemocele.
A respiração dos artrópodes é simples, o oxigénio atingindo
os tecidos por difusão gasosa direta. Pequenas aberturas circula-
Filo ARTHROPODA res no exoesquel eto, denominadas espiráculos, permitem a en-
trada de ar no corpo. O ar entra em seguida num sistema de tra-
o filo Arthropoda contém mais de 80% de todas as espécies quéias e traquéolas ramificantes, que se espalham pela maior parte
animais conhecidas e é constituído de invertebrados, cujas prin- do corpo. O oxigênio difunde-se das traquéolas para as células
cipais características são o ~oesqueleTc)quitinose.:.í~~ e, inversamente, o dióxido de carbono das células vai para o
po segmentado e~~Q.s artiç,ul~s. exterior, via traquéolas, traquéias e espiráculos. O sistema tra-
queal em alguns artrópodes também está envolvido na regula-
ção de perda de água. Em alguns artrópodes aquáticos, também
ESTRUTURA E FUNÇÃO ocorre respiração cuticular direta.
O sistema nervoso é formado por um cordão nervoso gangli-
o exoes ueleto rígido~artró odes é s~cretado ar uma em- onar situado ventralmente que, na região da cabeça, se une a um
âerme subjacente e consi§Je em n~mEosos segmep.tos que com grande gânglio supra-esofágico , freqüentemente denominado
frétiê ncia ficam nitidamente divididos-em trêSregiões, a cabe- "cérebro". Associados ao sistema nervoso, encontram-se os ór-
Çã: o tórax e oãbdõme( Fig. 106). Estes segmentos são forma- gãos sensoriais, incluindo os olhos e di versos órgãos táteis e
os por placas quitinosas espessas denominadas escleritos, que auditivos. Em alguns artrópodes, os olhos estão ausentes ou são
podem ser adaptadas ou fundidas. de várias maneiras, mascaran- reduzidos, como nos carrapatos e piolhos, ao passo que em ou-
do assim a segmentação, mas cada um deles é constituído geral- tros, como algumas moscas hematófagas, cuja visão é importan-
mente de um tergo dorsal, um esterno ventral e duas pleuras la- te para localizar os hospedeiros, os olhos são bem desenvolvi-
terais unidas por pequenas áreas flexíveis de quitina que funcio- dos. Com freqüência, coexistem dois tipos de olhos no mesmo
nam como articulações. animal. O mais complexo é o olho composto, patticularrnente
Há uma grande diversidade na morfologia do tubo digestivo, adaptado para a percepção de movimento; na fêmea de algumas
masgeralffi-éllte-pode ele ser aividido em trés regiões, a saber, espécies, os olhos são nitidamente separados (dicópticos), e nos
lltestmos a!1t~ri.õr;---.lÍlécli-º e poS!friõr. - machos podem ser fundidos (holópticos). É freqüente também
---O intestino anterior começa com as peças bucais freqüente- a presença de olhos simples ou ocelos na parte superior da cabe-
mente complexas e variadas que levam à cavidade bucal, farin- ça e, embora a sua função não seja bem conhecida, aparentemente
ge, esôfago e proventrículo. Em muitos casos, o esófago é dila- podem diferenciar entre claro e escuro. Outros órgãos sensoriais
tado posteriormente e conhecido como papo, enquanto o incluem antenas, palpos e diversos receptores no corpo que res-
proventrículo muscular ou moela funciona como uma válvula,
para evitar regurgitação, e pode ter "dentes" para ajudar a tritu-
ração das partículas alimentares.
-, O intestino médio armazena alimento e secreta enzimas ne- Sistema va scular Óstios
cessárias para a digestão. Abrindo-se no tubo digestivo, najun-
ção dos intestinos médio e posterior, há uma quantidade variá-
vel de túbulos excretores denominados lóbulos de Malpighi.
Funcionam como filtros, extraindo produtos residuais do sangue,
que em seguida são lançados no intestino.
- O intestino posterior é constituído de um íleo anterior e um
reto dilatado posteriormente, este último freqüentemente tendo
papilas ou glândulas envolvidas na reabsorção de água das fe-
zes.
A cavidade corpórea ou celoma (o espaço entre o intestino e
Peças bu cais
a parede corpórea) com freqüência é denominada hemocele, pois
contém sangue ou hemolinfa, cujaprincipal função é o transpor- Fig. 106 Alguns aspectos gerais de um artrópode.
124 Parasitologia Veterinária
Arthropoda
I
.
Entomologia Veterinária 125
Probóscida Antena
Olho composto
Ocelos
/ ~~ovo
Veias da asa
\
Halteres
/
1r
cidas como células. A di sposição das nervuras e o formato das
células são importantes na identificação.
O abdome dos insetos é constituído de até II segmentos, com
~ y
Fig_ 110 Um ciclo evolutivo hemimetabólico em que não ocorre metamorfose é
modificações terminais formando a gen itália. exemplificado por este ciclo evolutivo de piolhos.
Nos insetos, os sexos são separados, e depoi s da fertilização
são produzidos ovos ou larvas. O desenvolvimento freqüente-
mente envolve três ou mai s estágios larvais, seguidos pela for-
mação de uma pupa e uma transformação marcante ou metamor- A ordem Diptera pode ser convenientemente dividida em três
fose para o estágio adulto como em todas as moscas e pulgas, subordens, a saber, Nematocera, Brachycera e Cyclorrhapha. No
i. e., ciclo evoluti vo holometabólico (Fig. 109). Em outros inse- Quadro 4, é apresentada uma classificação simplificada mostran-
tos, O desenvolvi mento a partir do ovo ocorre através de diver- do as diversas famílias.
sos estágios ninfais que lembram o adulto, como em piolhos, i.e. ,
um ciclo evoluti vo hemimetahólico (Fig. 110). Os dife rentes
estágios no ciclo evoluti vo são conhecidos como ínstares. Subordem NEMATOCERA
São pequenos dípteros, e os adultos se caracterizam por um par
Ordem DIPTERA de antenas longas e arlit..:uladas (Fig. 111 ) e palpos maxilares
segmentados. As asas geralmente apresentam poucas nervuras
Esta ordem de insetos conté m todas as moscas de importância cruzadas (Fig. 112). Apenas as fêmeas são parasitas e poss uem
veterinária. Essas moscas geralmente se caracterizam por um peças bucais picadoras-sugadoras.
único par de asas me mbranosas e um par de halteres. Algumas Os ovos são postos na água ou próximos a ela e se desenvol-
são importantes como ectoparasitas, enquanto em outras as lar- vem em larvas e pupas aquáticas: estes dois estágios têm cabeça
vas parasitam os tecidos do hospedeiro. Muitos membros deste identificável e são móveis.
grupo também são importantes como vetares de doenças.
Nematoce ra
! \
Ovo
Pupário
\ <111111])),
I
(]JJ ,( li lY"
Larvas Cyclorrhapha
Fig. 109 É típico de muitos muscídeos um ciclo evolutivo hOlometabólico, caracte- Fig. 11 1 Cada uma das três subordens dos drpteros possui antenas característi-
rizado por metamorfose. cas.
126 Parasirologia Veterillária
I
Nematocera Brachycera Cyclorrhapha
I
Tabanidae
(Moscas do cavalo)
Q2!
__ 0S0
~ ~matocera
mente conhecidos como "mosquitos-pólvora". As fêmeas alimen-
tam-se no homem e nos an imais. sabendo-se que transmitem
diversos vírus, protozoários e helmintos. Do ponto de vista ve-
terinário, o úni co gênero importante é o Cu/ieoides.
Culicoides
Hospedeiros:
Todos os animais domésticos e o homem.
Espécies:
Brachycera Há mais de 800 espécies de Culicoides, conhecidas comurnente
como "mosquitos-pólvora".
Distribuição:
Mundial .
MORFOLOGIA
Cyclorrhapha
Esses dípteros têm 1,5 a 5 mm de compri mento, com o tórax
curvado sobre a cabeça pequena, e asas, geralmente manchadas.
Fig. 112 Variações nas nervuras alares encontradas nas três subordens dos dlple-
que se mantêm em repouso como uma tesoura fec hada sobre o
ros. abdome cinza ou negro-acastanh ado. As antenas são proeminen-
•
tes, as pernas relativamente curtas e as pequenas peças bucais de um a reação de hipersensibilidade do tipo imediata às picadas
pendem verticalmente. das moscas.
A probóscida curta e perfurante é constituída de um labro
pontiagud o, duas maxi las, duas mandíbulas, uma hjpofaringe e CONTROLE
um lábio que não penetra na pele durante a alimentação da fê-
mea ad ul ta. No macho, as antenas longas são plumosas, enquan- É difícil , por causa do habitat onde se reproduzem, geralmente
to as da fê mea possuem apenas pêlos curtos e são conhecidas extenso, e depende da destruição dos criadouros por drenagem
como an tenas pilosas. Pêlos microscópicos revestem as asas. ou puI verização com inseticidas, uma vez que os adultos normal-
mente voam apenas algumas centenas de metros. Não obstante,
CICLO EVOLUTIVO a dispersão dessas pequenas moscas pelo vento pode ser parti-
cularmente importante na disse minação de al gumas viroses.
Os ovos, de cor castanha ou negra, são cilíndricos ou em forma Podem ser usados repelentes ou telas, mas estas últimas têm que
de banana e têm 0,5 mm de comprimento; são postos em solo ser tão finas que podem reduzi r O flu xo de ar, recomendando-se,
pantanoso úmido ou em matéria vegetal em decomposição perto em vez d isso, a impregnação das telas destinadas à exclusão de
da água. A eclosão ocorre em dois a nove dias, dependendo da dípteros maiores com inseticidas. Para a "sarna branda", o trata-
espécie e da temperatura, mas as espécies das reg iões tempera- mento anti-histamínico pode produzir alívio imedi ato e a apl ica-
das podem resistir ao in verno na forma de ovos. Há quatro está- ção regular de bandagens de piretróides sintéticos pode ajudar a
gios Jarva is, que se caracterizam por peq uena cabeça esc ura, evitar a recidiva do processo. Recomenda-se também que os
corpo segmentado e brânquias anais terminais. Apresentam animais fiquem presos nos períodos de atividade máxima das
movimentos natatórias sinuosos na ág ua e se alimentam em ve- moscas, usualmente no final da tarde e no início da manhã.
getação em decomposição. Nas regiões quentes, o desenvolvi-
mento larval completa-se em 14 a 25 dias, mas nas regiões tem-
peradas pode prolongar-se por períodos de até sete meses. As Famnia SIMULllDAE
pupas castanhas menos ati vas, com 2 a 4 mm de comprimento,
encontram-se à superfície ou às margens de água e se caracteri- Dos 12 gêneros pertencentes a esta família de pequenas moscas,
zam por um par de sifões respiratórios no cefalotórax e um par o Simu/ium é o mais importante. Con hecidas comumente como
de "cornos" terminais que permitem à pupa movimentar-se. As " borrachudos" ou "pi uns", têm amp la faixa de hospedei ros, ali-
moscas ad ultas emergem das pupas em três a dez dias e as fême- mentando-se numa grande variedade de mamíferos e aves e cau-
as são hematófagas. sando perturbação por causa das do lorosas picadas. No homem,
contudo, são mais importantes como vetares de Ollchocerca
IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA volvulus. o filarídeo que provoca a "cegueira do rio" na África e
nas Américas Central e do Sul.
Como estas moscas podem estar presentes em grandes quanti-
dades, é possível que constituam uma séria fonte de irritação.
Além disso, podem transmitir doenças virais como a "língua azul"
Simulium
e a "doença do cav~lo africano", além de fiJarídeos como Dipe-
Hospedeiros:
tatonema, spp., Onchocerca reliculata e O. gibsoni. Diversas
Todos os an imais domésticos e o homem.
espécies também são apontadas co mo agentes causadores da
doença cutânea de eqüinos, intensamente prurigi nosa e de ocor-
rência sazonal (Fig. 11 3), denominada "sarna branda" e, na Aus-
Espécies:
Numerosas e freqüentemente divididas em subespécies.
trália, "sarna de Queensland". Esta sarna acomete principalmente
a cernelha e a base da caud a, e se demonstrou que é decorrente
Distribuição:
Mundial, exceto Nova Zelândia, Havaí e alguns grupos de pe-
quenas ilhas.
MORFOLOGIA
..çiço por essas moscas pode estar associado a uma síndrome aguda
caracterizada por petéquias generalizadas, particularmente em
áreas de pele fina, juntamente com edema da laringe e da parede
abdominal. As picadas dolorosas de enxames de Simulium po-
dem interferir no pastejo e causar perda de produção, e, em de-
terminadas regiões da Europa Central, muitas vezes é impossí-
vel deixar o gado no pasto durante a primavera, em virtude da
atividade destas moscas. Os eqüinos freqüentemente são acome-
tidos pelas moscas que se alimentam na parte interna das ore-
lhas, e as aves, quando atacadas, podem ficar anêmicas por per-
da de sangue.
As espécies de Simulium podem transmitir os vírus causado-
res da encefalite eqüina do Leste e da estomatite vesicular, o
protozoá r io aviário Leucocytozoon e filarídeos como a
Pupa ~
/ Onchocerca gutturosa dos bovinos.
CONTROLE
Anopheles Cu/ex
Ovos Balsa de ovos
. - ....
chamado sifão respiratório (Fig. 115). A maturação das larvas IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA
pode prolongar-se de uma semana a vários meses, e nas regiões
temperadas di versas espécies sobrevivem ao in verno como lar- As espécies de mosquitos, em sua maioria, possue m hábitos
vas. Os habitats das larv as variam muito, desde pequenas cole- alimentares noturnos, e suas picadas podem causar considerá-
ções temporárias de água a áreas extensas, como pântanos, mas ve l transtorno , poi s as longas peças bucai s permitem-lhes pi-
em .geral não são encontradas em grandes ex tensões contínuas car o home m mesmo através das roupas. M ais essencialmen-
de ág ua, como lagos, e em córregos ou rios de vazão rápida. te, es pécies de Anopheles, Cu/ex e Aedes transmitem tanto o
Todas as pupas de mosquitos são aquáticas, móveis e em for- verm e do coração de cães, Dirofilaria immitis, como uma for-
rna de vírgula, com cefalotórax distinto apresentando um par de ma de malária av iária causada por Plasmodium. Os mosq uitos
sifões respiratórios (Fig. 11 5). O tegumento do cefal otórax é ta m bé m são impo rtan tes n a tran smi ssão d os a rbo víru s
uansparente, e os olhos, as patas e outras estruturas do adulto em (arthro pod-borne ) causadores da e ncefali te eqü ina do Les te,
desenvolvimento são faci lme nte visíveis. Os segmentos abdomi- Oeste e venezuelana e de outras arboviroses no ho mem e nos
nais afilados têm pêlos curtos, e no fUlal há um par de prolonga- animai s.
me ntos ovais semelhantes a nadadeiras, que permitem à pupa Os únicos vetores conhecidos de malária hum ana pertencem
deslocar-se para cima e para baixo na água. O estágio pupal ge- ao gênero Anophe/es, enqu anto a febre am arela é transmitida por
ralmente é curto, du rando ape nas alguns dias nos trópicos e vá- espécies de Aedes. Todos os três gêneros transmitem os fil arídeos
ri:b semanas ou mais nas regiões temperadas, os adul tos emer- humanos Wuchereria e Brug ia.
gi..Jxio através de um a fe nda no tegumento pupal. Os adultos usu-
almenle voam apenas até al gumas centenas de metros dos cria- CONTROLE
douros. mas podem dispersar-se Ror longas di stâncias levados por
vemos. Embora o período de vida das moscas adultas em geral As medidas, desenvolvid as em grande parte para o controle da
seja cuno. algumas espécies podem sobreviver ao inverno atra- malária humana, são direcionadas ou contra larvas em desenvol-
vés de hibernação. vi mento ou adultos ou contra ambos simultaneamente.
I.
Entomologia Veterinária 131
Subordem BRACHYCERA
Família TABANIDAE
Estas moscas grandes e robustas são comumente conhecidas em
todo o mundo como " moscas dos cavalos", embora ataquem e
se nutram numa ampla variedade de grandes animais e no ho-
mem. A dor provocada por suas picadas produz interrupção da
alimentação. e como conseqüência as moscas podem nutrir-se
numa sucessão de hospedeiros, sendo, portanto, importantes na
transmissão de patógenos como os tripanossomos.
Existem muitos gêneros de tab3IÚdeos, mas apenas três têm im-
portância veterinária, a saber, Tabanus, HaemalQPota e ChrysQPs.
Por causa de sua estreita relação em tennos de compoMmento e
importância patogênica, serão considerados como um grupo.
Hospedeiros:
Geralmente, grandes an imais domésticos ou silvestres e o ho-
mem , mas os pequenos animais e as aves também podem ser
atacados.
Espécies:
Há mais de 3.000 espécies de tabanídeos.
Mandíbulas
Distribuição:
Fig. 116 Peças bucais picadoras e sugadoras de um mosquito.
Mundial, embora certos gêneros estejam ausentes em grandes
áreas; por exemplo, não há espécies de Haematopota na Austrá-
lia e na América do Norte e do Sul.
As di versas medidas usadas contra larvas incluem a remoção
ou a redu ção de criadouros viáveis por drenagem ou outros MORFOLOGIA
meios que tornem esses-locais inadequados para o desenvolvi-
men to larval. Tst9-Jlém sempre é praticável. econômico ou acei- São moscas picadoras médias a grandes, de até 2,5 cm de com-
lável, devendo-se sempre av aliar a exeqüibilidade desses méto- primento, com envergaduras de asas de até 6,5 cm. Geralmente
dos localme nte. Tem-se tentado o controle biológico, por exem- têm coloração escura, mas podem apresentar várias faixas ou
plo, pela introdução de peixes predatórios em áreas pantanosas áreas coloridas no abdome ou no tórax, e mesmo os grandes olhos,
e arrozais, mas tai s métodos são inadequados para as espécies que são dicópticos na fêmea e holópticos no macho, podem ser
de mosquitos que se reproduzem em pequenas coleções tempo- coloridos. A coloração das asas é úti l na diferenciação dos três
rárias de água. O isolamento e o desenvolvimento de patógenos gêneros principais. Assim, Taballus tem asas daras ou acasta-
de mosquitos, incluindo microrganismos, protozoários e nema- nhadas, enquanto freqüentemente há faixas escuras de lado a lado
tóides, são principa lm en~e experimentais no momento, assim nas asas de ChlYsops; por outro lado, o gênero Haematopofa
como os métodos genéticos de controle. possui asas salpicadas ou pintadas (Fig. J 17) . São úteis também
Provavelmente, as medidas mais amplamente utilizadas con- na diferencia ão dos gêneros as características de antenas
tra larvas de mosquito são as que envolvem repeti das aplicações trissegmemadas, curtas, grossas ue, ao contrário das andes
de produtos químicos tóxicos, óleos minerais ou inseticidas aos moscas ciclórrafa"S,õãõtêmansta (Fig. 111 ).
criadouros, mas a sua aplicação deve ser contínua. Corno tais ~ As peças bucais, adaptadas para picar/sugar, são curtas e fo r-
medidas podem resultar em poluição do meio ambiente e tam- les, sempre aponland o para baixo. Mais saliente é o lábio gros-
bém podem acelerar o desenvolvimento de resistência a inseti- so, sulcado dorsalmente para sustentar as outras peças bucais,
cidas, a úni ca solução permanente é a destruição de criadouros. cujo conjunto é denominado fascíc ulo picador; o lábio também
As fon tes de água essenciais podem tornar-se inadequadas como se prolonga terminalmente como grandes labelos pareados, que
criadouros pelo es palhamento de contas de poliestireno inerte apresentam tubos denominados pseudotraquéias através dos quais
para cobrir a superfície da água. é aspirado sangue ou líquido das feridas (Fig. 11 8). O fascículo
Os inseticidas com ação residu al são efi cazes contra os está- picador, que produz o ferimento, é constituído de seis elemen-
gios adultos, particularmente se aplicados em recintos fechados, tos, o labro afiado superior, a hipofaringe com seu ducto sali var,
e são amplamente usados para controlar os vetares anofelinos da um par de max ilas semelhantes a limas e um par de mand íbulas
malária no homem. Os compostos organofosforados e os carba- largas e pontiagudas. Os machos não possuem m~ndíbulas e não
matos são recomendados para este fim bem como o uso dos podem, portanto, nutrir-se de sangue.
organoclorados residuais onde não há resistência.
Embora os piretróides sintéticos tenham estado disponíveis por CICLO EVOLUTIVO
algum tempo como sprays superficiais de curta ação, hoje alguns
estão sendo desenvolvidos como inseticidas residuais. Existem te- Depois de nutrir-se de sangue, a fêmea põe lotes de várias cente-
las para mosquitos, redes e repelentes para a proteção do homem. nas de ovos em forma de charuto, branco-cremosos ou acinzen-
132 Parasitologia Veterinária
(a)
Labro ----«,""
Labelos com
pseudotraq uéias
Hipofaringe
Fig. 118 Peças bucais cortantes e sugadoras de uma mosca labanídea fême a.
<\.. .
tados, de 1 a 2,5 mm ~e\comprimento,
na parte inferior da vege-
tação ou sobre pedras:1eralmente em áreas barrentas ou panta-
nosas. p s ovos eclodeni)em uma a duas semanas, e as larvas ci-
líndricas e mal diferenc iadas caem na lama ou na água. As lar-
vas, de 1 a 6 mm de comprimento, são identificadas como de
tabanídeos pela pequena cabeça negra retrátil, pelos proeminen-
tes anéis elevados ao redor os segmentos, a maior parte dos quais
apresenta pseudópodes, e por uma estrutura no último segmen-
to, exclusiva de larvas de tabanídeos, conhecida como órgão de
Graber, cuja função pode ser sensorial. São lentas e se nutrem
(b)
buscando alimento em matéria orgânica em decomposição ou por
predação de pequenos artrópodes, incluindo outras larvas de
tabanídeos. Em condições ideais, o desenvolvimento larval leva
três meses, mas, se ocorrer hibernação, pode prolongar-se por até
três anos. As larvas maduras pupam parcialmente enterradas na
lama ou na terra, e a mosca adulta emerge depois de uma a três
semanas. O ciclo evolutivo todo dura no mínimo quatro a cinco
meses, ou mais tempo se o desenvolvimento larval se prolongar_
As populações de moscas adultas apresentam fl utuações sa-
zonais tanto em regiões temperadas como em regiões tropicais_
Nos climas temperados, os adultos morrem no outono e são subs-
tituídos por novas populações na primavera e verão seguintes.
enquanto nas regiões tropicais, seus números são simplesmenre
reduzidos durante a estação seca, com um aumento no início da
estação chuvosa.
IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA
Esta subordem é constituída de uma série de famílias de moscas As fêmeas põem lotes de até 100 ovos em fonna de banana, com
que são importantes como parasitas ou como vetares de doenças 1 mm de comprimento e de cor branco-cremosa, em fezes ou em
em animais. Como a classificação de muitos gêneros é variável, matéria orgânica em putrefação. A eclosão dos ovos, em tempe-
para facilitar serão discutidos sob quatro farrúlias principais, a raturas ideais, ocorre em 12 a 24 horas e produz larvas cilíndri-
Muscidae (sin. Anthomyidae), Calliphoridae (sin. Tachinidae), cas, segmentadas e esbranquiçadas, as quais, na parte anterior,
Oestridae e Hippoboscidae. são pontiagudas e possuem um par de pequenos ganchos. Na
extremidade posterior arredondada das larvas, há espiráculos
respiratórios pares, cuja forma e estrutura permitem a diferenci-
Fa01l1ia MUSCIDAE ação de gênero e espécie.
Os três ínstares larvais nutrem-se de matéria orgânica em
Esta famOia compreende muitos gêneró's picadores e não-pica- decomposição e amadurecem em larvas de 1 a 1,5 cm de com-
dores, os últimos comumente citados como moscas irritantes.
Como grupo, podem ser responsáveis por "ataque de moscas"
nos rebanhos, e várias espécies são vetores de importantes bac-
terioses, helmintoses e protozooses de a!1imais.
Os principais gêneros de importância veterinária incluem
Musca (moscas domésticas e moscas relacionadas), Hydrotaea
(mosca da cabeça), Stomoxys (mosca dos estábulos) e Haemato-
bia (mosca dos chifres). Um gênero atípico aqui incluído é Glos-
sina (mosca tsé-tsé), que em algumas classificações recebe o sta-
tus de família.
Arista
Mu,sca Antena
Hospedeiros:
Os membros deste gênero não são parasitas obrigatórios, mas
podem nutrir-se de ampla variedade de secreções animais e são
especialmente atraídos por feridas.
Espécies: Palpos
Musca domestica A mosca doméstica
M. autumnalis A mosca da face.
primento em 3 a 7 dias em condi ções adequadas. Estas movem- douros (redução de fonte). Por exemplo, e m estábulos e faze n-
se, então, para áreas mais secas ao redor do habitat larval e pupam das, o esterco deve ser removido ou disposto em grandes pilhas,
na pele larval fin al, que se contrai e se torna ríg ida e castanho- onde o calor da fennentação irá destruir os estágios de mosca em
esc ura, formando o pupário em forma de barril ou cápsula pupal desenvolvimento, bem como ovos e larvas de hei mintas. Além
de 6 mm de comprimento. A mosca adulta emerge depois de 1 a. nisso, a aplicação de inse.(icidas à superfície de pilhas de esterco
26 dias, dependendo da temperatura. pode ser benéfica.
O tempo total de desenvolvimento desde o ovo até a mosca Há uma variedade de inseticidas e condu tas viáveis para o
adul ta pode, portanto, ser bem curto, de até 8 dias a 35°C, mas control e das moscas domésticas adu ltas. Os sprays de superfície
pode prolongar-se e m temperaturas mais baixas (p. ex., até 49 em aerossol, os inseticidas residuais aplicados a paredes e tetas
dias a 16°C). Nas regiões temperadas, uma pequena proporção ass im como cartões e faixas impregnados de inseticida podem
de pupas ou larvas pode sobreviver ao in verno, mas aparente- reduzir as quantidades de moscas em recintos fechados. Podem
mente o mais freqüente é as moscas passarem o inverno como ser incorporados também inse ticidas a iscas sólidas ou líquidas,
adu ltos hibernantes. usando-se atrativos como di versos xaropes açucarados ou leve-
dura hi drolisada e proteínas animais.
Ao ar livre, utilizam-se largamente brincos, faixas de cauda e
IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA
cabrestos contendo principalmente piretróides sintéticos junta-
mente com preparações pour-on, spot-on e em spray para redu-
As moscas domésticas, como o próprio nome sugere, estão inti-
zir o aborrecimento em bovi nos e eq üinos.
mamente associadas a habitações dos animais e do homem. Não
Ant igamente, eram usados sacos de pó inseticida ("esfrega-
são apenas um a fo nte de aborrecimento, mas também podem
dores dorsais") para diminuir o ataq ue de moscas. Consistem em
tran smitir mecanicamente vírus, bactérias, helmintos e protozo-
sacos grosseiros impregnados de inseticida ou contendo inseti-
ários por causa do seu hábito de freqüe ntar susbtância fecal e
cida, suspensos entre duas estacas, a uma altura que permite aos
matéria orgânica em decomposição; os pat6genos ou são trans-
bovinos esfregar-se, aplicando assi m o inseticida à pele.
portados nos pêlos das patas e do corpo ou regurgitados co mo
vômi to sali var durante subseqüente alimentação. Várias espéci-
es do gênero Musca são incriminadas na di sseminação de doen-
ças, incluindo mastite, conj untivite e carbúnculo hemático. No
Hydrotaea
hom em, provavelmente são mais importantes na disseminação
Este gê nero de moscas não-picadoras, muito semelhantes às do
de Shigella e de outras bactérias entéricas. Os ovos de diversos
gênero Musca, contém uma espécie de particular importância
helmintos podem ser transportados por moscas que se nutrem de
veterinária, a mosca da cabeça Hydrotaea irritans, responsável
fezes e que também podem atuar como hospedeiros intermediá-
por uma grave condição em ovi nos. Em muitas regiões, é tam-
rio s de uma série de he lmin tos, como Habronema spp. e
bém a espécie muscídea mais numerosa encontrada em bovinos
Raillietina spp. A deposição de larvas de Habronema em feri-
e eqüinos, sendo incriminada na transmissão de mastite de ve·
das pode dar origem a lesões cutâneas, comumente denontina-
rão e ceratoconjunti vite infecciosa bovina.
das "feridas de verão" em eqüinos.
A " mosca da face" M. autumnalis tende a se ali mentar de
Hospedeiros:
secreções dos olhos, do nariz e da boca, bem corno em feridas
Ovi nos, bovinos e eqüinos.
de ixadas por moscas picadoras e em geral são as moscas mais
numerosas que perturbam o gado no pasto. Os ovos de M. autll-
Espécie:
mnalis amiúde são postos em fezes bovinas, e, se as condições
Hydrotaea irritans.
forem adequadas, as grandes populações de moscas resultantes
Várias outras espécies de Hydrotaea também podem ser as-
podem provocar sérios transtornos, interferindo assim no pastejo.
sociadas à perturbação causada por moscas em rebanhos, como
Essas moscas são consideradas importantes na transmissão de
a H. albipuflcla, encontrada ao redor dos olhos de bovinos.
ceratoconjuntivite infecciosa bovina ("olho rosado" ou doença
de New Forest) causada por Moraxella bovis e também são im-
portantes hospedeiros intermediários de Parafilaria bovicola e Distribuição:
do parasita ocular Thelazia. Na América do Norte, nos últimos Principalmente o norte da Europa.
anos, os aumentos no número dessas moscas tê m provocado alta
incidência de distúrbios oculares, como co njunti vite. MORFOLOGIA
Há u ma série de gêneros intim amente rela cio nados de
muscídeos não-picadores, a saber, Fannia, Morellia e Muscina, A H. irritans, de tamanho semelhante ao de Musca, caracteriza-
que podem, em algumas regiões, dar uma contribuição substan- se pelo abdome verde-oli va e cor amarelo-laranja na base das asas
cial a "ataque de moscas" nos an imais pec uários, mas os seus (Prancha VIll). A identi ficação específica de muscídeos não-pi-
ciclos evol utivos e o controle são semelhantes aos descritos para cadores requer a opinião de um especialista.
Musca spp.
CICLO EVOLUTIVO
CONTROLE
As moscas adultas preferem condições tranqüilas e são encon-
Há vários tipos de telas e grades de eletrocussão para edifícios tradas perto de matas e plantações, com as quantidades máximas
destinados à diminui ção do aborrecimento causado por moscas ocorrendo no meio do verão. Os ovos são postos em matéria
ao homem, porém os melhores métodos de controle são os que vegetal em decomposição ou em fezes e eclodem, transforman-
visam à melhoria das condições de hi giene e à redução de cria- do-se em larvas maduras no outono; essas larvas entram então
Entomologia Veterinária 135
Distribuição:
As moscas dos chifres ocorrem em muitas regiões do mundo, in-
cluindo a Europa, os Estados Unidos e a Austrália, enq uanto a
mosca dos búfalos restringe-se ao Extremo Oriente e ao nOIte da
Austrália e a H. stimulans parece distribuir-se principalmente pela
Europa.
Arista MORFOLOGIA
IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA
CONTROLE
As moscas dos chifres podem ser encontradas aos milhares alimen-
Muitas das medidas de controle descritas para Musca aplicam- tando-se ao longo do dorso, das laterais e da parte ve ntral do abdo-
se a Stomoxys. A redução da fonte é importante, e devem ser me de bovinos. Seu nome comum deriva da sua tendência a se
evitados potenciais criadouros pela remoção regular e empilha- aglomerar em volta dos chifres ou na região da cabeça quando nào
mento de camas úmidas, fe no e resíduos alimentares de es tábu- se estão alimentando. Grandes quantidades causam intensa inita-
los e alojamentos de animais. As aplicações de inseticida em ção, e as feridas cutâneas produzidas durante a nutrição podem atrair
aerossol dentro e em volta de estábulos e instalações rurais po- outros Illuscídeos e moscas causadoras de miíases. É difícil deter-
dem proporcionar bom controle local de S. calcitrans. minar o efeito econômko exato dessas moscas, mas o seu controle
em bovinos no pasto pode resultar em aumentos significativos na
>t G~_~ produção. A mosca dos búfalos e outras espécies de Haematobia
têm um efeito patogêni co semelhante.
Haematobia
Apesar de menos importante que muitos outros muscídeos na
Várias espécies deste gênero de muscídeos hemat6fagos ocor- transmissào de doença, espécies de Haemarobia transmitem Ste-
rem em di versas regiões e podem ser um séri o transtorno para phanofilaria, o filarídeo cutâneo de bovinos.
os bovinos. Uma das espécies, a mosca dos chifres, é conhecida
como Haematobia irritans nos Estados Unidos e, às vezes, como CONTROLE
Lyperosia irritans na Gfã-Bretanha e em partes da Europa.
Há também confusão taxonômica, visto que certas outras es- Como as espécies de Haematobia passam muito tempo em seus
pécies atribuídas ao gênero Haematobia às vezes são citadas hospedeiros, o co ntrole é fácil, em relação ao controle de outros
como pertencentes aos gêneros Haematobosca e Siphona. Para muscídeos que visitam os rebanhos. Os brincos impregnados de
simplificar, todos os muscídeos picadores, exceto Stomoxys e inseti cida são benéficos no controle de moscas dos chu res; al-
Glossina, serão considerados em Haematobia. ternativamente, os ani mais podem ser tratados repetid as vezes
com preparações pour-on e spot-on.
Hospedeiros:
Bovinos e bubalinos.
Clossilla
Espécies:
Haematobia (sin. Lyperosia) irritans a mosca dos chifres Este gê nero é aqui considerado co mo membro da fam ília
H. exigua a mosca dos búfalos Muscidae, embora em algumas classificações seja discutido como
H. (sin. Haematobosca) stimulans. o único membro da família Glossinidae.
Emomologia Veterill6r;a 137
Os membros deste grupo de moscas picadoras são comu mente Não há maxilas ou mandíbulas nas peças bucais, em bora a
denom inados moscas tsé- tsé. Distribuem-se por 10 milhões de probóscida seja adaptada para perfuração e sucção, e, como em
qui lómetros quadrados da África e são extremamente importan- Stomoxys, consiste num lábio em forma de U, com labelos se-
tes corno vetores da tripanossomose africana, um a grave doença melhantes a lima terminalmente, um labro pontiagudo mais es-
dos anima is domésticos e do homem. treito superior e entre estes um tubo digestivo contendo a delga-
da hipofaringe, que tran sporta sal iva e anticoagulante para a fe-
Hospedeiros: rida formada durante a alimentação. As moscas tsé-tsé infectam-
Diversos mamíferos, répteis e aves. se com tripanossomos durante a alimentação, e estes se multi-
plicam então na mosca, antes de serem infectantes para outros
Espécies: hospedeiros durante subseqüente nutrição.
Há cerca de 30 espécies e subespécies do gênero Glossina. A
iden tificação individual de espéci~s e subespécies é uma tarefa CICLO EVOLUTIVO
de especialistas.
As moscas, tanto os machos como as fêmeas, são hematófagas
DISTRIBUiÇÃO e, embora possam ter preferências por hospedeiros, nutrem-se
nu ma ampla variedade de animais. As fê meas, ao contrário de
Essas moscas estão confi nadas a um cinturão da África tropical outros muscídeos, são vivíparas e produzem apenas uma larva
que se estende do sul do Saara (La!. 15"N) no 110rte até Zimbabwe por vez, até um total de 8 a 12 larvas. A maturação no útero, desde
e Moçambique no sul (La!. 20-30"S). As espécies restringem-se o ovo fertilizado até a larva de terceiro estágio depositada pelo
a diversas áreas geográficas de acordo com o habitat, com os três adulto, móvel e com 8 a 10 mm de comprimento, leva aproxi-
principais grupos, com a denominação depois da espécie mais madamente 10 dias. Neste estágio, a larva é branco-cremosa,
com um em cada grupo, sendo fusca, palpalis e morsitans, en- segmentada e na parte posterior apresenta um par de salientes
contrados respectivamente em áreas de florestas, de rios e de protuberâncias escuras em forma de orelha, conhecidas como
savana. Os dois últimos grupos, em razão da sua presença nas lobos polipnêusticos (Fig. 12!); esses lobos têm função respira-
grandes áreas de criação de rebanhos, são os mais importantes tória se melhante aos espiráculos posteriores de outras larvas
do ponto de vista veterinário. muscídeas. Após a deposição, a larva infiltra-se em solo solto até
a profundidade de alguns centímetro s e forma um pupário rígi-
MORFOLOGIA do, castanho-escuro, em forma de barril. O período pupa! é rela-
tivamen te longo, durando quatro a cinco semanas, ou mais em
tempo frio. Ao emergir, a fêmea requer várias ingeslões de san-
Em geral, os adultos são moscas delgadas, de cor amarela a casta-
gue durante um período de 16 a 20 dias antes de produzir a pri-
nho-escura, têm 6 a 15 mm de comprimento e apresentam probós-
meira larva.
cida longa, rígida e projetada para a frente (Prancha VIl). Quando
A reprodução geralmente prossegue por todo O ano, com as
em repouso, as asas mantêm-se sobre o abdome como as lâminas
quantidades máximas de moscas ocorrendo ao final da estação
de uma tesoura fechada. Em caso de dúvida, são faci lmente dife-
das ch uvas. A longev idade da s moscas adultas na natureza é
renciadas de todas as outras moscas pela célula característica em
variável, de algun s dias a vários meses.
forma de cutelo (machadinha) nas asas (Fig. 121).
IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA
CONTROLE
Antigamente, as campanhas contra moscas tsé-tsé para o controle
da tripanossomose no homem e nos animais dependi am funda-
mentalmente da destruição em grande escala de animais de caça,
que atuam como reservatórios de infecção por tripanos somos e
como fonte de sangue para as moscas. Era comum também a lim-
(a) peza de grandes áreas de arbustos, para destruir os habitats das
moscas adu ltas. Estes métodos davam bons resultados, mas na
época atual são largamente inaceitáveis do ponto de vista ecoló-
gico e econômico.
Hoje em dia, a maioria das medidas contra a tsé-tsé baseia-se
no uso de inseticidas aplicados no solo ou por pulverização aé-
rea. Q uando o objetivo é a completa erradicação de Glossina, são
utilizados inseticidas residuais. No caso de simples controle de
populações de moscas para diminuir o risco de tripanossomose
(b)
humana e animal, ou no caso de uso periódico para garantir que
Fig. 121 (a) Larva madura da G/ossina exibindo aparência segmentada e lobos uma área li vre de moscas assim o permaneça, pode ser feita apli-
polipnêuSlicos; (b) asa de G/ossina exibindo cêlula "em cutelo" característica. cação aérea de inseticidas não-resid uais.
)38 Parasitologia Veterinária
É preferível a erradicação, mas em face da inevitável reinva~ OUTRAS ESPÉCIES IMPORTANTES NOS
são de tsé-tsés oriundas de áreas adJacentes não-tratadas, torna~ TRÓPICOS E SUBTRÓPICOS
se antieconómico, a menos que a área selecionada fique às mar-
gens de um cinturão de tsé-tsé onde a população já esteja estres- Lucilia cuprina
sada por causa das cóndições climáticas relativamente desfavo~ L. caesar
ráveis. É essencial também que a área a ser pulverizada tenha L. illustris
potencial econômico e que ocorra desenvolvimento agrícola si ~ Phormia regina
multâneo da área limpa. Calliphora stygia
O controle com inseticidas não-residuais é caro, por causa da C. australis
necessidade de repetir-se regularmente a operação,justificando~ C. fallax
se apenas onde a área tiver grande potencial económico. Chl)1Somia albiceps
Os defensores da pulverização de inseticidas argumentam que, C. chlorophyga
como a Glossina é altamente sensível aos inseticidas utilizados, C. micropogon
o uso seletivo e sofisticado de modernos produtos químicos, em C. rufifacies.
geral apenas uma vez, não tem efeitos importantes e permanen ~
tes sobre o meio ambiente; de fato, as mudanças no uso da terra MORFOLOGIA
que devem aCOITeI' após controle bem-sucedido, são muito mais
significativas neste aspecto.
Adultos:
Têm-se reduzido populações de moscas tsé-tsé em áreas lo- As varejeiras medem até 1 cm de comprimento e ao exame mi-
calizadas pelo uso de armadilhas. Além de baratas, essas arma- croscópico todas apresentam cerdas dorsais distintas no tórax.
dilhas têm a vantagem de poder ser utilizadas por mão-de-obra Alguns gêneros, como as moscas verdes, são relativamente del -
local e de ser inócuas para o meio ambiente. Dependem funda- gados, enquanto outros, como as moscas azuis, são robustos.
mentalmente da apresentação do material, como tecidos escuros, Todas se caracterizam por brilho verde ou azul-metálico no
que atraem as moscas para uma armadilha freqüentemente incor- corpo; assim Lucilia é esverdeada a bronze, Phonnia é preta com
porando um inseticida. Os extratos odoríferos de bovinos colo-
um brilho azul-esverdeado sobrejacente, enquanto Calliphora é
cados em armadilhas ou próximos a elas para atrair moscas ao azul (Prancha IX) e Chrysomya é verde-azulada. A identifica-
local têm dado resultados promissores.
ção individual das espécies pode ser feita de acordo com as dife-
renças locais de cor, principalmente no tórax e abdome.
A aplicação desses inseticidas é feita por pulverização manu- saárica. As larvas desenvolvem-se sob a pele e produzem um
al, banho de imersão ou, mais rarf!mente na Europa, por asper- inchaço doloroso com um pequeno orifício central.
são. Na Europa, a alta prevalência de ataque ao longo do corpo
torna necessária a proteção do corpo inteiro. Na prática, dois tra-
tamentos anuais, geralmente em junho e agosto, devem conferir Família SARCOPHAGIDAE
proteção durante toda a estação das moscas.
Um regulador de crescimento de insetos, a ciromazina, confere Os sarcofagídeos ou "moscas da came", como a Sarcophaga e a
proteção por até dois meses após uma única aplicação. A droga é Wohlfahrtia, estão amplamente distribuídos e põem ovos em
aplicada sob a forma de pour-on antes de um desafio previsto. chagas, feridas ou came em decomposição; acometem prineipal-
Outras medidas a serem tomadas para ajudar o controle são a mente o homem e apenas ocasionalmente os animais. As larvas
prevenção de diarréia por controle eficaz de verminoses e a re- podem causar grande deformidade.
moção do excesso de lã da virilha e da região perineal para evi-
tar o acúmulo de sujeira, técnica conhecida como cascarreio.
Recomenda-se também que as carcaças sejam enterradas ou quei- Família OESTRIDAE
madas, pois caso contrário constituirão um excelente criadouro
alternativo de varejeiras. Esta é uma importante família, constituída de vários gêneros de
Na Austrália, onde predomina a raça Merino, tem-se tentado a moscas grandes, usualmente pilosas, cujas larvas são parasitas
criação seletiva de ovinos com áreas traseiras lisas, em vez de en-
obrigatórios de animais. As moscas adultas possuem primitivas
rugadas, mas o progresso é lento. Uma alternativa é o emprego da peças bucais afuncionais e têm vida curta, enquanto as larvas
operação de Mule, em que se utiliza uma cirurgia profilática para altamente hospedeiro-específicas passam considerável tempo
remover uma porção da pele traseira, de maneira que, quando as nutrindo-se e se desenvolvendo em seus hospedeiros animais.
áreas excisadas cicatrizam, a pele fica lisa e não mais enrugada. Três gêneros de comportamento semelhante são aqui consi-
derados, a saber: Hypoderma, Oestrus e Gasterophilus (atual-
MlíASE CAUSADA POR MOSCAS DA BICHEIRA. ) mente, este último gênero com freqüência é classificado numa
família separada, a Gasterophilidae).
A denominação moscas da bicheira é dada às larvas de certas
espécies de Cochliomyia (sin. Callitroga), incluindo C. honúni-
vorax e C. maceLlaria, e à larva de uma única espécie de Chry- Hypoderma
somya, C. bezziani, que causam miíase nos animais e ocasional-
mente no homem. Os membros deste gênero são as "moscas do tumor" e a sua
Estas moscas verde-azuladas apresentam listas longitudinais importância económica reflete-se nos esquemas nacionais de
no tórax e olhos castanho-alaranjados (Prancha IX). Ocorrem erradicação realizados em diversos países.
principalmente em regiões tropicais e põem ovos nas feridas, com
os estágios larvais caracteristicamente nutrindo,-"se sob a forma Hospedeiros:
de colónia e penetrando nos tecidos, onde produzem uma lesão Bovinos; as larvas ocorrem irregularmente em outros animais.
grande e de odor desagradável. A C. hominivorax era um pro- incluindo eqüinos, ovinos e, muito raramente, o homem.
blema tão grande no sul dos Estados Unidos que foi efetuada uma
campanha de erradicação em massa usando controle biológico. Espécies:
Isto envolveu a liberação de até 1.000 machos, esterilizados por Hypoderma bovis
irradiação, por milha quadrada. Como a fêmea se acasala ape- H. lineatum.
nas uma vez, o controle foi muito bem-sucedido, exceto onde as
moscas, capazes de voar até 320 quilómetros, migravam através Distribuição:
da fronteira mexicana. Hemisfério'Tlorte. A Hypoderma , entretanto, está ausente em
Antigamente, pensava-s~ que a Chrysomya estava restrita ao latitudes extremas, incluindo a Escandinávia, e de maneira oca-
Velho Mundo, à Africa e à Asia, enquanto a Cochliomyia estava sional é encontrada escassamente ao sul do equador na Argenti-
presente apenas no Novo Mundo. Em 1988, entretanto, a Cochli- na, no Chile, no Peru e no sul da África, após introdução aciden-
omyia hominivorax foi introduzida na Líbia, aparentemente por tal em bovinos importados.
meio de animais infestados importados da América Latina. O
risco potencial para a África e a Europa foi contido e finalmente MORFOLOGIA
eliminado em 1991 pela aplicação enérgica da técnica do macho
estéril, que envolve a liberação de milhões de moscas machos
Adultos:
esterilizadas importadas do México. De modo menos espetacu- A H. bovis e a H. lineatum parecem-se com abelhas, mas, sendo
lar, têm-se descrito várias espécies de Chrysomya de vários pa- dípteros, têm apenas um par de asas; o abdome é coberto por pêlos
íses sul-americanos desde 1975, provavelmente introduzidas por amarelo-alaranjados, com uma larga faixa de pêlos negros em
animais infestados que acompanharam os imigrantes de língua volta da parte central (Prancha X).
portuguesa oriundos de Angola naquele ano.
Larvas:
MlíASE CAUSADA POR MOSCA TUMBU As larvas maduras são largas em forma aproximada de barril.
afilando-se anteriormente; quando maduras, têm de 2,5 a 3 cm
As larvas de Cordylobia anthropophaga, a "mosca tumbu", são de comprimento, e a maioria dos segmentos apresenta espinhos
responsáveis por miíase no homem e nos animais na África sub- curtos (Fig. 122). A cor é branco-turva quando recém-emergidas
Entomologia Veterinária 141
IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA
sório no outono, são adotados nas ilhas britânicas, COffi.O Reino MORFOLOGIA
Unido e a Irlanda constituindo exemplos notáveis. A prevalên-
cia de bovinos infestados no Reino Unido, por exemplo, durante Adultos:
a última década caiu de aproximadamente 40% para quase zero. Moscas cinzentas de cerca de 1 cm de comprimento, com peq ue-
Entretanto, evidência de infestação ocasionalmente ainda é en- nas manchas brancas no abdome e um revestimento de pêlos
contrada em animais importados para o Reino Unido. Outras castanhos curtos (Prancha X).
regiões que tiveram êxito na erradicação, como a Dinamarca e a
Holanda, evidentemente con-em maior risco de reintrodução. Larvas:
As larvas maduras nas vias nasais têm cerca de 3 cm de compri-
INFESTAÇÃO POR HYPODERMA EM OUTROS mento, são branco-amareladas, afilando-se anteriormente com
ANIMAIS um "degrau" saliente na parte posterior. Cada segmento apresenta
uma faixa trans,versal escura no dorso (Fig. 124).
CERVíOEOS
CICLO EVOLUTIVO
Nestes animais, a H. diana corresponde à H. bovis em bovinos,
utilizando o canal espinhal como local de repouso larval. A mosca As fêmeas são vivíparas e infectam os ovinos, lançando nas na-
é mais ativa em maio e junho, mas não é identificada como cau- rinas, durante o vôo, um jato de líquido contendo larvas, sendo
sa de desassos sego em cervídeos. As larvas maduras ocorrem liberadas até 25 larvas de uma só vez. As LI recém-depositadas
subcutaneamente ao longo do dorso, e a lesão do couro é seme- têm cerca de 1 mm de comprimento e migram através das vias
lhante àquela em bovinos, com perfurações lineares. Com o su- nasais para os seios frontais, nutrindo-se de muco, cuja secreção
cesso das medidas de controle contra "tumores" em bovinos, é é estimulada por seus movimentos. A primeira muda ocorre nas
importante compreender que a H. diana, apesar de capaz de in- vias nasais, e as L2 arrastam-se para os seios nasais, onde tem
fectar muitas espécies de cervídeos, não infecta os bovinos, e, lugar a muda final para Ly Nos seios, as larvas completam o
assim sendo, mesmo nas regiões onde quase todos os cervídeos crescimento e em seguida migram de volta às narinas. Onde as
transpOItam as larvas parasitas, como amiúde é o caso, os bovi- larvas são ativas durante o ano inteiro, são possíveis duas ou três
nos não correm risco. Assim como outras espécies, a H. diana é gerações, mas em clima frio ou gelado as pequenas LI e Lz tor-
sensível aos inseticidas organofosforados e à ive~·mecti na. nam-se inativas e permanecem em recessos das vias nasais du-
rante o inverno; movem-se para os seios frontais apenas no tem-
EQÜINOS po mais quente da primavera e em segu ida completam o desen-
vo lvi mento, as L 3 emergindo das narinas e pupando no solo para
Estes animais podem infectar-se com espécies de Hypoderma de · dar outra geração de adultos. As fêmeas sobrevive m apenas duas
bovinos e cervídeos que atuam como parasitas en'áticos, e uma certa semanas, mas durante este período cada uma pode depositar 500
proporção das larvas atinge a maturidade no dorso, causando pro- larvas nas vias nasais dos ovinos.
blemas se estiverem na região da seja. Nestes casos, o tratamento é
por pequena cirurgia ou aplicação tópica de inseticida. Em algu- IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA
mas áreas dos Estados Unidos onde os cavalos são regularmente
infectados, experimentos demonstram que o uso anual de insetici- As infecções, em sua maioria, são leves, e os ovinos apresentam
das sistêmicos pour-on constitui uma medida profilática eficaz. corrimento nasal, espirros e esfregam o nariz em objetos fixos.
Nas raras infecções mais maciças, há definhamento, e os animais
OVINOS podem andar em círculos e mostrar incoordenação, sendo estes
sinais freqüentemente denominados "falsa cenurose". Se uma
Há alguns relatos de infecção por Hypodenna em ovinos no Reino larva morrer nos seios, pode haver invasão bacteriana secundá-
Unido, sendo a H. diana a provável espécie envolvida, mas nes- ria e envolvimento cerebral.
tes animais as.larvas nunca têm desenvolvimento completo, for- Os efeitos mais importantes, entretanto, devem-se à ativida-
mando simplesmente os chamados "tumores cegos", sem perfu- de das moscas adultas. Quando se aproximam dos ovinos para
ração cutânea. depositar as larvas, os animais se apavoram, batem as patas, agru-
pam-se e comprimem as narinas no velo uns dos outros e contra
o chão. Pode haver diversos ataques ao dia, de tal maneira que a
alimentação é in terrompida e os animais podem deixar de ganhar
peso.
As larvas deste gênero passam o período parasitário nas vias aé-
reas dos hospedeiros e são comumente designadas "bernes nasais".
Hospedeiros:
Ovinos e caprinos.
Espécie:
Oestrus ovis.
Distribuição:
Fig. 124 Larva de Oestrus ovis exibindo "degrau" posterior e faixas transversais
Mundial. dorsais nos segmentos.
El1Iomologia Veterinária 143
MORFOLOGIA
Adultos:
As moscas dos bemes são moscas robustas e escuras, de I a 2 cm
de comprimento (Prancha X). A espécie mais comum, G. intesti-
nalis, tem faixas transversais escuras irregulares nas asas, mas ra-
ramente é necessária a diferenciação de espécie de moscas adultas.
Larvas:
Quando maduras e presentes no estômago ou eliminadas nas
fezes, são cilíndricas, medem 16 a 20 mm de comprimento e são
laranj a-avermelhadas com espiráculos posteri ores, cuja morfo~
logia é diferente da observada em larvas de Oestras e de Hypo-
derma. A diferenciação das larvas maduras das di versas espéci-
es pode ser feita pelas quantidades e distribuição dos espi nhos Fig . 125 Larvas de Gasterophilus intestina/is fixadas à região do cárdia no estô-
presentes nos diversos segmentos. mago.
144 Parasit%gia Veterinária
COo Estas úlceras são comumente observadas ao exame pós-mOlte CICLO EVOLUTIVO
de eqüinos em áreas de alta prevalência das moscas, e apesar do
aspecto dramático sua verdadeira importância patogênica perma- A Dermatobia é mais comum em regiões de matas e bosques.
nece obscura. As larvas de G. haemorrhoidalis podem causar estes últimos conhecidos em muitas partes da América do Sul
irritação ao se fixarem novamente ao reta. Apesar da falta de como " monte". A fêmea tem hábitos sedentários, repou sando em
detalhes sobre os efeitos patogênicos dos gasterófilos, em geral folhas e, quando a oviposição está prestes a ocorrer, prende-se a
recomenda-se o tratamento, pois os proprietários se preocupam um inseto, geralmente um mosquito, e fixa ao seu abdome um
quando as larvas aparecem nas fezes. O tratamento, entretanto, lote de até 25 ovos. Enquanto fixados a este hospedeiro trans-
reduz as populações de moscas e conseqüentemente o transtor- portador, as Lj desenvolvem-se nos ovos em cerca de uma se-
no associado à oviposição. Raramente, hospedeiros anormais mana, mas não eclodem até o inseto pousar num animal de san-
como o homem ou outros animais podem infectar-se com algu- gue quente. As larvas penetram, então, na pele. migram para o
mas larvas, mas a migração das larvas em geral se limita à pele, tecido subcutâneo e se transformam em L3' que respiram através
causando uma "erupção sinuosa". de uma perfuração cutânea, do mesmo modo que Hypoderma.
As larvas maduras (Fig. 126) emergem depois de aproximada-
CONTROLE mente três meses e pupam no solo por mais um mês antes das
moscas adultas emergirem. Há até três gerações a cada ano.
Pelo ciclo evolutivo, é óbvio que nas regiões temperadas quase
toda a população de Gasterophilus se apresenta sob a forma de IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA
larvas no estômago durante o inverno, uma vez que a ati vidade
das moscas cessa com a chegada das primeiras geadas no outo- As larvas ocorrem em intumescências em diversas panes do
no. Um único tratamento durante o inverno, portanto, pode que- corpo (Fig. 126), que podem supurar e provocar dor intensa; na
brar eficazmente o ciclo. Em determinadas área s, onde a ati vi - América Latina, a condição é freqüentemente conhecida como
dade das moscas é prolongada por condições moderadas, podem "Ura".
ser necessários tralamentos ad icionais. As drogas específicas No homem, os locais mais com uns de larvas são as extremi-
mais amplamente utilizadas incluem o dissulfeto de carbono e o dades dos membros e o co uro cabeludo. Ocorre lesão cerebral
triclOIfon ; os anti-helmínticos/inseticidas diclorvos e ivermecti- fatal em crianças quando as larvas migram através da fO lltanela
na também são muito eficazes contra gasterófilos. para a cavidade crania!.
Se, durante o verão e o outono, forem encontrados ovos na
pelagem, pode-se prevenir infecção subseqüente esfregando-se
vigorosamente a região com água morna contendo um insetici-
da. O calor moderado estimula a eclosão e o inseticida destrói as
larvas recém-eclodidas.
Dermatobia
Esta mosca, com freqüência colocada numa farrulia separada dos
outros oestrídeos, é um sério problema em clínica humana e ani-
mal na América Central e do Sul.
Hospedeiros:
O homem, a maioria dos animais domésticos e silvestres e mui-
tos tipos de aves.
{ai
Espécie:
DermalObia hominis.
Distribuição:
América Latina, desde o México até o norte da Argentina, e a
ilha de Trinidad.
MORFOLOGIA
Adultos:
A mosca assemelha-se à Calliphora, o abdome tendo um brilho
azulado metálico, mas há apenas peças bucais vestigiais cober-
tas por uma aba.
{bl
Larvas:
As larvas maduras medem até 2,5 cm de comprimento e são algo Fig. 126 (a) Larvas maduras de Dermatobia sendo espremidas da pele; (b) aspec-
ovais. to geral de pele acometida por Dermatobia.
Entomologia Veterinária 145
A Dennatobia representa um grande problema nos bovinos ao animal, em seguida voa como uma seta e lança líquido con-
na América do Sul. As lesões são mais numerosas na paIte supe- tendo larvas. Ocorre desenvolvimento posterior na nasofaringe,
rior do corpo, no pescoço, no dorso, nos flancos e na cauda, fre- e as L3' que podem ter 4 cm de comprimento, são eliminadas
qüentemente agrupando-se e fonnando grandes tumefações con- através de espirros. O período de pupação é de aproximadamen-
fluentes e muitas vezes purulentas (Fig. 126). Além de dano no te quatro semanas.
couro, a dor e o desconfOlto das lesões resultam em atraso de As moscas adultas causam inquietação nos cervídeos, com
crescimento e menor produção de carne e leite, uma perda de- perda de higidez. Embora as larvas ocasionalmente provoquem
corrente do fato dos bovinos passarem muito tempo em solo seco a morte por asfixia, seu efeito geral é a debilitação. No verão,
e nu em vez de pastarem nas matas e vegetações rasteiras, habi- podem ocorrer ceratite e cegueira nas renas quando as larvas são
tats da mosca. depositadas nos olhos.
CONTROLE
Oedemagena
Embora as laI·vas sejam sensíveis a inseticidas sistêmicos, a rápida
mudança de gerações e a falta de sazonalidade requerem que qual- Na rena e no caribu do norte da Europa, na Rússia asiática e na
quer sistema de controle envolva tratamentos repetidos, sendo, América, O. larandi substitui Hypoderma diana de cervídeos
pmtanto, caro. Se o custo for aceitável, entretanto, pode-se conse- mais ao sul.
guir O controle por freqüentes puLverizações, banhos ou prepara- As moscas adultas lembram Hypoderma, com abdome pilo-
ções pour-on de compostos organofosforados, como o tricJorfon, e so amarelo-avermelhado, e são ativas em julho e agosto, cada
pela administração parenteral de ivermectina ou cJosantel. fêmea pondo entre 500 e 700 ovos, que se fixam à parte inferior
da pelagem, em vez de na pelagem externa. Os flancos, os mem-
bros e o peito são os locais de preferência de oviposição. Ao
GÊNEROS MENOS IMPORTANTES contrário de Hypodenna, contudo, as LI migram diretamente para
DE OESTRíDEOS ao dorso no tecido conjuntivo subcutâneo.
As moscas adultas causam desassossego e as larvas recém-
Os oestrídeos a seguir, embora de distribuição geográfica limi- eclodidas podem provocar dermatite com edema local ao pene-
tada, têm importância veterinária local. trar na pele. A principal importância deste gênero, entretanto, é
econôrnica, por causa do dano ao couro provocado pelas LJ' e na
Suécia essa perda pode cOlTesponder a um quinto da renda total
Ptz(!.valskiana (sin. Crivellia) . de rebanhos de renas. Na Rússia, são produzidos comumente 200
orifícios em couros de renas tipicamente infestadas.
Este gênero parasita caprinos domésticos e menos comumente Os inseticidas eficazes contra os "tumores" (Hypoderma)
ovinos, com as gazelas sendo reservatórios sil vestres em grande bovinos parecem capazes de limitar esta infecção.
parte de seu raio de ação. A principal espécie é P. silenus, ocor-
rendo na Ásia, Oriente Médio, África do Norte e sul da Europa;
a P. aegagri tem distribuição mais limitada na Turquia, Israel, Gedoelslia
Creta e Chipre.
A mosca tem muito em comum com a Hypodenna, a larva de No sul da África, este oestrídeo é responsável por uma miíase
terceiro estágio ocorrendo sob a pele do dorso. Os ovos são pos- oculovascular que causa protrusão do globo ocular nos ovinos e
tos em curtas fileiras nos pêlos dos membros e do tórax, e, de- raI·amente nos bovinos. As larvas são depositadas pelas moscas
pois de penetrarem na pele, as L I migram no tecido subcutâneo adultas na órbita dos hospedeiros naturais, que são antílopes, e
para o dorso, de tal modo que não há risco de complicações por seguem por uma rota vascular para a nasofaringe, onde amadu-
larvas que repousam em locais estratégicos, como pode aconte- recem, demonstrando assim alguma afinidade com Cephenemyia.
cer com Hypodenna. Algumas larvas parecem incluir os pulmões nesta migração. Em
Embora as infestações maciças possam resultar na perda de tais hospedeiros, a infecção ocorre sem sintomatologia clínica e
peso, a maior importância da Przevalskiana está no couro dani- se toma de importância veterinária quando ruminantes domésti-
ficado. Em regiões do Punjab, mais de 90% dos caprinos estão cos pastam junto a hospedeiros silvestres ou entre eles.
infestados, e, como o subcontinente indiano produz cerca de um Nos ovinos, as larvas começam sua migração, e muitas che-
terço do suprimento mundial de couros caprinos, O parasita tem gam ao cérebro, a tecidos oculares e ao coração. É no olho que a
alguma influência na economia da região. sintomatologia é mais proeminente, com glaucoma, protrusão e
até mesmo ruptura do globo ocular, mas pode ocorrer infaIto
miocárdico, pulmonar e renal, bem como encefalomalacia, por
Cephenemyia ' trombose vascular.
Os rebanhos podem ter morbidade de 30%, com a morte de
As larvas de terceiro estágio desta mosca habitam. a nasofaringe um terço desses animais, e em algumas regiões a criação de ovi-
de cervídeos. Uma espécie, C. trompe, sempre foi identificada nos teve que ser abandonada em favor da bovinocultura por cau-
como problema em renas, mas com a domesticação crescente de sa deste parasita.
cervos, a C. auribarbis, espécie que ocorre nestes animais, tem Os rebanhos domésticos podem pastar sem problemas com
agora certa importância econômica. Várias outras espécies ocor- antílopes durante o inverno, quando as moscas são inativas Qu-
rem em cervídeos silvestres na Europa e na América do Norte. nho a agosto). Devem ser removidos dessas áreas no início da
As moscas adultas são ativas de junho a setembro e, como no primavera, quando então as moscas começam a emergir de pu-
caso de Oestrus, as fêmeas são vivíparas. A mosca paira junto pários com a temperatura crescente.
146 Parasitologia Veterinária
ds organofosforados, como o tricIorfon, são eficazes contra amarelas no abdome indistintamente segmentado. Possuem asas.
as larvas e o tratamento do rebanho reduzirá a cegueira e a mor- e a maior parte da probóscida perfurante fica geralmente reco-
talidade. lhida na cabeça, exceto durante a alimentação. As moscas da fl o-
resta pennanecem nos hospedeiros por longos períodos, e seus
locais preferidos de nutrição são o períneo e entre os membros
Cep1talopina posteriores.
Hippobosca Distribuição:
Mundial, porém mais comum nas regiões temperadas.
Os membros deste gênero possuem asas e são comumente co-
nhecidos como "moscas da floresta". MORFOLOGIA
IMPORTÂNCIA PATOGÊNICA
CONTROLE
Fig. 127 As patas dos piolhos de mamíferos possuem, cada uma delas, uma gar-
ra, ao passo que as dos piolhos de aves possuem duas.
Raramente são tomadas medidas específicas, um a vez que o uso
rotineiro de inseticidas para o controle de varejeiras e carrapatos
em geral também resulta no controle eficaz de melofagíctr0s.
(a)
la rir li;
,01 Si [111a
(al (bl
Fig. 129 Dois generos comuns de piolhos mastigadores de mamileros: (a) Damalinia; (b) Felicola.
mentam de escamas cUlâneas e crostas, mas, ao contrário das moderadas é encontrado na vassoura da cauda, enquanto o H.
es pécies dos mamíferos, podem digerir queratina, de ta] modo quadriperlusus limita-se à região da cauda.
que também ingerem penas e penugem. Al gumas espécies. princ ipalmente o H. eurysternus e o L.
Alguns gêneros são capazes de rápida expansão populacio- vituli, têm hábitos gregários. fo rmando aglomerados densos e
nal, mudando para reprodução assexuada por partenogênese. isolados.
sendo o exemplo mais notável nos rebanhos domésticos Dama- Com exceção do H. qlladripertuslIs, que se restringe a áreas
linia. mai s quentes como a África e a Austrália, todos os piolhos de
bovinos mencionados anteriormente são encontrados no mundo
todo , da região ártica aos trópicos.
INFESTAÇÃO POR PIOLHOS (PEDICULOSE)
EM BOVINOS
EPIDEMIOLOGIA
A pediculose em bovinos ocorre no mundo inteiro, sendo mais
comumente observada nestes an imais que nos outros mamíferos Nos países quentes, não existe uma sazonalidade marcante de
domésticos. pediculose bovina , mas nas regiões frias e temperadas as
Os diversos gêneros têm locais preferenciais no animal, po- infestações mais pesadas são no final do inverno e início da pri-
rém, nas infestações intensas, disseminam-se destas áreas de re- ma vera, quando a pelagem tem a espessura máxima, proporcio-
servatórios e parasitam todo o corpo. nando um habitat úmido, volumoso e protegido para multiplica-
O Damalinia bovis, a única espécie mastigadora, prefere a ção ideal. O aumento anual mais rápido nas populações de pio-
parte superior da cabeça, especialmente a pelagem encaracolada lhos é observado quando os bovi nos ficam estabulados no inver-
do topo da cabeça e da fronte, o pescoço, as espáduas, o dorso, no, e especialmente o Dama/inia, com sua capacidade de
as ancas e ocasionalmente a vassoura da cauda. Dos piolhos su- partenogênese, pode desenvolver-se em grandes quantidades
gadores, o Unognathus vitu/i e o Solenopotes capillatus prefe~ muito rapidamente.
rem a cabeça, o pescoço e a barbela, enquanto cada espécie de No final da primavera, há uma queda abrupta nas quantida-
Háematopinus tem sua própria preferência. O H. eurystemus de s de piolhos, a maior parte dos parasitas e dos ovos sendo re-
ocorre no topo da cabeça e na base dos chifres, nas orelhas e ao movida com a pelagem de inverno. Os números geralmente per-
redor dos olhos e narinas (Prancha XI) e mesmo em infestações manecem baixos durante todo o verão, em parte porque a pequena
150 Parasito/agia Veterinária
(a) (b)
Fig. 130 Dois gêneros comuns de piolhos mastigadores de aves: (a) Lipeurus; (b) Menacanthus.
espessura da pe lagem proporciona um habitat restrito, mas em grande quantidade pode haver ane mia e fraqueza. Nessas infec-
parte també m porque as altas temperaturas da superfície cutânea ções, os piolhos e as lêndeas são facil mente encontrados repar-
e a luz solar direta limitam a multiplicação, podendo até mesmo tindo-se os pêlos, especialmente ao longo do dorso, estando os
ser letais, especia lmente para Damalinia. piolhos junto à pele e as lêndeas espalhadas como um pó grosso
por toda a pelagem.
PATOGENIA É impol1ante lembrar qu~ ulIla inr~slaçãu lIIaciça por piolhos
por si só pode ser simplesmente um sintoma de alguma outra
As infestações moderadas estão associadas apenas a di sc reta condição subjacente, como má nutrição ou doença crônica, pois
dennatite crônica e são bem toleradas. os animais debilitados não se limpam e deixam os piolhos à von-
Os piolhos masti gadores, em grandes quantid ades, causa m tade; nesses animais, a queda da pelage m de inverno pode ser
intensa irritação, obrigando os animais a se esfregar contra mou - retardada por muitas semanas, retendo grandes quantidades de
rões, arame e outros objetos, com perda de pêlos e, mais impor- piolhos.
tante do ponto de vista econômico, do couro extensamente dani -
ficado, mas têm menos efeito na saúde do animal. Por outro lado, TRATAMENTO E CONTROLE
os piolhos sugadores, e especialmente oH. euryslemus, podem
causar anemia grave e perda de peso. Os inseticidas organofosforados, aplicados usualmente na for-
ma pour-an, são eficazes na destru ição de todos os piolhos. Re-
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA comenda-se um segundo tratamento du as semanas mais tarde
para destruir quaisquer piolhos emergentes. Al ternativamente.
As infestações leves em geral são descobertas apenas acidental- podem ser usados piretróides sintéticos pour-on ou spol-on , como
mente e não devem ser consideradas de importância patogênica, a cipermetrina, ou avermectinas parenterais; as últimas são par-
sendo os piolhos habitantes quase normais da derme e da pe la- ticularmente eficazes contra piolhos sugadore s.
gem de muitos bovinos, especialmente no inverno. Na Europa, o controle de piolhos geralmente é efetuado quan-
Nas infestações mais pesadas, há prurido, mais acentuado na do os bovinos são estabulados durante o inverno. O tratamento
infestação por Damalinia , com os animais esfregando-se e se com um inseticida adequado nessa época também controla Hypo-
lambendo, enquanto se estiverem presentes piolhos sugadores em derrna e ácaros da sarna.
Entomologia Veterinária 151
INFESTAÇÃO POR PIOLHOS EM OVINOS gar e manchados por fezes de piolhos, constituem um atrativo
para varejeiras e colocam o animal em risco de ser atacado.
As duas espécies de pj olhos sugadores em ovinos são essencial-
mente parasitas das áreas do corpo cobertas de pêlos, invadindo SINTOMA TOLOGIA CLíNICA
as áreas lanosas apenas quando a população aumenta rapidamen-
te. Não são muito ativos e têm hábitos gregários, nutrindo-se em Em comum com outros animais, os ovinos com infestações le-
grupos. O piolho mastigador de ovinos é ativo e encontrado ge- ves a moderadas não apresentam sintomatologia clínica, sendo
ralmente nas áreas lanosas. os piolhos detectados apenas durante a remoção da lã.
Nas infestações maciças e especialmente quando em velo
EPIDEMIOLOGIA abundante, o prurido intenso provoca inquietude e arranhaduras,
e o velo apresenta áreas desnudadas e manchas. Separando-se a
De modo geral, para a transmissão de infestação por piolhos, é lã, encontram-se O Damalinia avermelhado e o Linognathus azu-
necessário um íntimo cantata corpóreo e, enquanto isto é inca- lado, o último estando presente também em áreas pilas as. As
rnum nos animais de pasto na Europa, acontece em aglomera- lêndeas, que parecem pó, encontram-se aderidas às fibras de lã
ções e feiras de venda, e especialmente quando os ovinos são junto à pele.
estabulados durante o inverno, pois o velo denso constitui um
habitat facilmente colonizado por piolhos. TRATAMENTO E CONTROLE
O Linognathus pedalis, o "piolho da pata", habita principal-
mente a região inferior dos membros posteriores, das patas até Os piolhos nos ovinos podem ser tratados com inseticidas con-
abaixo do jarrete, disseminando-se daí para as entrepernas, es- tendo organofosforados ou amidina amitraz; com os organofos-
croto e abdome. Em Merinos e outras raças bem lanosas, em geral farad os, pode ser necessário outro tratamento duas semanas de-
é detectado primeiramente as entrepernas. Em seu habitat nor- pOlS.
mal nas pernas, fica exposto a grandes flutuações na temperatu- Os piretróides sintéticos de fácil aplicação cipermetrina pour-
ra e, estando adaptado para sobreviver nestas condições, é um on e deltametrina spot-on, que atuam por difusão através da gor-
dos poucos piolhos que pode viver longe do corpo do hospedei- dura subcutânea conferindo proteção por oito a 14 semanas, pro-
ro por mais de um ou dois dias, sendo viável no pasto durante vavelmente constituem o tratamento de escolha.
cerca de uma semana. O tratamento de infestação por piolhos em caprinos, com as
O L. ovillus, o "piolho da face", ocorre na face e nas orelhas, espécies de Damalinia e Linognathus, é semelhante ao dos ovinos.
disseminando-se daí para as bochechas, o pescoço e o corpo,
sendo detectado usualmente nas raças bem lanosas, quando se INFESTAÇÃO POR PIOLHOS EM SUíNOS
remove o excesso de lã do topo da cabeça. Ao contrário do L.
pedalis, esta espécie, mais habituada a temperaturas uniformes, Ocorre apenas uma espécie em suínos, o piolho sugador Hae-
pode sobreviver fora dos ovinos apenas durante um a dois dias. matopinus suis. É altamente hospedeiro-específico, não se esta-
Em tempo muito quente, quando exposto ao sol, a temperatura belecendo nem mesmo em porcos silvestres, os ancestrais das
do dorso do ovino pode chegar a 48°C, e nestas condições o L. nossas espécies domésticas. O Haematopinus é um piolho cas-
ovillus é destruído em cerca de uma hora, dependendo sua per- tanho-acinzentado grande, mais freqüentemente presente em
sistência da parte da população que habita a pele mais fria da face pregas cutâneas do pescoço e da queixada, nos flancos e na face
e das orelhas. interna das pernas de animais de pelagem fina.
Damalinia avis, piolho mastigador de ovinos, às vezes deno-
minado "piolho do corpo", é muito mais ativo que o Linogna- EPIDEMIOLOGIA
thus, vagando na lã sobre todo o corpo. Como os outros, Dama-
linia é suscetível a altas temperaturas, mas também não tolera A infestação é transmitida entre os suínos principalmente por
umidade. No velo úmido, com umidade relativa superior a 90%, contato, em animais de engorda em regime de confinamento e
morre em seis horas, e quando coberto por água afoga-se em uma em porcas lactantes confinadas com os filhotes, mas os piolhos
hora. também podem ser adquiridos quando os animais são introduzi-
dos em instalações sujas recentemente desocupadas.
PATOGENIA
PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLíNICA
Embora as espécies de Linognathus possam causar anemia, o
Damalinia em geral é considerado o mais patogénico. Sendo Este piolho é muito comum e em geral é tolerado sem sintoma-
altamente ativo, pode causar grande irritação, deixando os ovi- tologia clínica, além de discreta irritação ocasional. Nas
nos inquietos e interrompendo a alimentação, com conseqüente infestações maciças, os animais ficam inquietos e deixam de se
perda de higidez. Em resposta à irritação, os ovinos esfregam-se desenvolver, mas, apesar do Haematopinus ser hematófago, di-
contra mourões e cercas, com lesão no velo e alguma perda de ficilmente se observa anemia. Do ponto de vista econômico, o
lã. Quando esses piolhos mordem, há um exsudato de soro de aspecto mais importante da pediculose em suínos é provavelmen-
pele lesada, do qual os piolhos também se alimentam; nas te a lesão cutânea por arranhaduras, com redução no valor do
infestações maciças, a quantidade de exsudato é suficientemen- couro.
te grande para emaranhar a lã. No aspecto econômico, a redução Supõe-se que este piolho seja um vetar da febre suína africa-
no valor da lã tosquiada é a conseqüência mais importante da na, do Eperythrozoon suis e do vírus da varíola suína.
pediculose ovina, mas um risco adicional nos países quentes é Até recentemente, o contTole baseava-se na aplicação de in-
que o velo e a pele, danificados pelo ato dos animais de se esfre- seticidas sob a forma de pó ou líquido. Esses inseticidas incluí-
152 Parasitologia Veterinária
TRATAMENTO E CONTROLE nha domésti ca, mas di ssemina-se para outras aves, como perus
e patos, que estão em contato.
As infestações por piol hos normalmente são tratadas com pó, Holomenopon , que ocorre em patos, é às vezes denominado
liq uido ou xampus de inseticidas piretróides sintéticos, organo- "piolho da base da asa" dessas aves. É um piolho pequeno, de
fos forados ou carbamatos. As preparações mais antigas como mo vimento rápid o, que prefere especialm e nte a glâ ndula
piretro e be nzoato de benzila também são eficazes. Algumas uropigeana, inibindo a produção da secreção oleosa. Em parte
destas drogas também são viáve is como aerossóis ou sprays, que pe la irritação, as aves bicam-se continuamente, mas sem a se-
freqüenteme nte são convenie ntes para o proprietário apli car. O creção as penas não podem ficar à prova d' água. Incapaz de re-
tratamento quase sempre é repetido em um intervalo de 14 dias pel ir a água e dani ficada por bicadas constantes, a plumagem
para destruir piolhos recém-eclodido s. Para profilax ia, com fre- torna-se esfarrapada e suj a, com as penas quebradas. Pode ocor-
qüênc ia utili zam-se caleiras para cães ou gatos, im pregnadas com rer penetração de água até a pele, e quando grande parte do COf-
um inseticida carbarnato, piretróide ou diaz inon, embora as ea- po está acometida as aves ficam encharcadas e podem morrer de
leiras canin as não possam ser usadas em gatos, pois a conce n- pneumonia depois de se resfriar. Embora a plumagem dan ifica-
tração de inseticida pode ser tóxica para tais animais. da possa ser substituída na muda anual, ela logo se degenera com
as bicadas excessivas, tomando-se novamente permeável à água.
INFESTAÇÃO POR PIOLHOS EM AVES Columbicofa colwnbae, parasita de pombos e rolas, é muito
comum. Seu local preferido é a parte anterior do corpo, onde pode
causar di screto prurido , e, como na maioria das pedicul oses, as
Ma is de 40 espécies de piolhos, todas mal6fagas, ocorrem e m
infestações maciças são observadas usualmente apenas e m aves
aves domésticas.
doentes e debilitadas.
Os gêneros Lipeurus e Menacanthus contêm as espécies mais
patogénicas de piolhos de aves. As espécies de Lipeurus são pio-
lhos c inzentos, de movimento lento, encontrados junto à pele. L. PATOGENICIDADE E EPIDEMIOLOGIA
caponis, o "piolho da asa", prefere a base das asas e as penas da
cauda, enquanto Cuclotogaster (Lipeurus) heterographus, o "pio_ Os piolhos de aves podem digerir queratina, mastigando peda-
lho da cabeça", ocorre na cabeça e no pescoço; nesta espécie, os ços de penas, quebrando-os com estruturas semelhantes a pen-
ovos são postos indi vidualmente nas penas e não em grumos como tes no papo e digerindo-os com secreções auxiliadas por ação
é habitual em piolhos de aves. Esses piolhos podem infectar todas bacteriana. Ingerem não s6 as bainhas de penas em crescimento,
as aves domésticas, incluindo perus, aves de caça e patos. mas também penugem e crostas cutâneas.
Menacanthus tem uma espécie importante, M. stramineus, o Apesar das diferenças na patogenicidade entre os gêneros, os
"piolho amare lo do corpo". Como Lipeurtls, infecta aves domés- efei tos da pediculose aviária são amplamente si milares, varia n-
ticas e prefere a superfície cutânea como habitat, sendo encon- do apenas e m grau. As aves tomam-se incapazes de repousar,
trado e m quantidades máximas sobre a pele finame nte coberta param de se alim entar e pode m ferir-se por arra nh aduras e
do peito e das coxas e ao redor da cloaca. E um piolho muito ativo arrancamento das penas, com resultados freqüenteme nte mais
e põe os ovos em grumos, principalmente na região da cloaca. graves que qualquer dano imediato produzido pelos piolhos_
Apesar de ser um piolho mastigador, pode causar anemia grave, De modo geral, as aves jovens sofrem mais intensamente, com
perfurando pequenas penas e se nutrindo do sangue que flui. perda de peso, debilidade e ta lvez morte. Nas aves de postura
Sendo ati vo e um comedor voraz, provoca grande irritação, e a adultas, o efei to sobre o peso corpóreo é leve, e a perda princi pal
pele torna-se inflamada e eventualmen te coberta por crostas, ocorre por queda na produção de ovos. Como se poderia espe-
especialmente na região da cloaca e, nas aves jovens, na cabeça rar, a prática do corte de bico permite aumento nas infestações,
e na garganta. É o piolho mais patogénico das aves adultas, mas impedindo que as aves se biquem e se limpem.
também tem sido responsável por fatalidades em filhotes. As aves Corno nas outras pediculoses, a co ndição, por si só, nas aves
de cativeiro, e e m parlicular os canários, são infestadas ocasio- domés ticas muitas vezes é um s intoma decorrente de outras cau-
nalmente e sofrem irritação, inquietude e debilidade. sas, como outra infecção, desnutrição ou instalações inadequa-
das, superlotadas e sem higiene.
GÊNEROS MENOS IMPORTANTES
TRATAMENTO E CONTROLE
Comuns, porém menos patogênicos, outros gêneros de piolhos
de aves incluem: E mbora sejam usados certos métodos, como pulverização da
Goniocotes galLinae , o "piolho da penugem", ocorre na pe- cama ou o emprego de caixas de postura tratadas com insetici-
nugem na base das penas, seus locais preferidos sendo o dorso e das, para evitar manipulação indevida das aves, os resultados
a cauda. É um dos menores piolhos de aves. obtidos co m a pul verização individ ual das aves são, sem dúvida
O Goniodes tem vári as espécies, incluindo G. gigas e G. dissimilis algu ma, melhores. Recomendam-se inseticidas como a c ipenne-
na galinha doméstica, G. meleagridis em perus e galinhas-d'angola trina e o carbamato carbari l. Dois tratamentos, num intervalo de
e G. pavonis em pavões. São todos piollios muito grandes, habitan- 14 dias, geralmente são eficazes.
do a superfície da pele e as penas do corpo, sendo mais coml!lls em
aves adultas. Jamais estão presentes em grandes quantidades.
Menopon gallinae, o "piolho da base das penas", é um piolho Ordem SIPHONAPTERA
am arelo pálido que se move rapidamente e que não se desenvol-
ve em populações ap reciáveis em aves jovens até estarem bem São as pulgas. Têm importânc ia veterin ária não s6 pelos efeitos
emplumadas. Nutre-se somente de penas e, apesar de comum, nos hospedeiros, mas também como trans missores de doenças.
nunca é um pat6geno grave. Seu pri ncipal hospedeiro é a gali- Apesar de serem mais importantes nos cães, gatos e aves, a sua
154 Parasitologia Veterinária
facilidade para paras itar o homem como hospedeiro alternati vo É importante saber que a maior parte do ciclo evoluti vo da
torna as pulgas destes animais domésticos relevantes em termos pulga se passa fora do hospedeiro. Isto inclui não so mente os
de saúde pública. Os rumin antes, eqüinos e suínos não têm suas ovos, as larvas e a pupa, mas ta mbém, se necessári o, a pulga
próprias espécies de pulgas. adul ta, que pode sobreviver por até seis meses entre alimenta-
ções. O período comum de vida é de um a dois anos.
MORFOLOGIA A maioria das pulgas nutre-se apenas du ran te alguns minutos
antes de mudar-se para outra parte do hospedeiro ou saltar para
As pulgas (Fig. 131) são insetos castanho-escuros, sem asas, com o solo ou um novo hospedeiro.
o corpo lateralmente achatado e de superfície lisa, permitindo Alguns gêneros permanecem fix ados perm anentemente du-
fácil movimentação através dos pêlos e penas. Os ol hos, quando rante toda a vida adulta. São as pulgas penetrantes, cuj as fêmeas
presen tes, são simples mente pontos escuros fo tossensíveis, e as ficam enterradas na pele, dentro de nódul os. Apenas a parte pos-
antenas, curtas e claviformes, ficam encaixadas na cabeça. O terior dessas pulgas se comunica com a superfície, permiti ndo
terceiro par de patas é mu ito mais longo que os outros, uma adap- que os ovos ou as larvas caiam no solo e se desenvolvam da
tação para pular sobre os hospedeiros e para fora deles. maneira habitual.
A cabeça pode apresentar nas bordas posterior (pronotal) ou Apesar de cada espécie de pulga ter suas próprias preferênci-
ventral (genal) fi leiras de espinhos escuros, denominados ctení- as em relação a hospedeiros, a alimentação casual é comum, e a
deos ou "pentes", que são as características mais importantes maioria nutre-se em uma ampla variedade de mamíferos e aves.
usadas na identificação (Fig. 131 ). Os gêneros a seguir são os mais importantes que ocorrem em
mamíferos e aves do mésticas, podendo a sua distribuição ser
CICLO EVOLUTIVO considerada mundial, a menos que estabelecido o contrário. Sua
morfologia diferencial é apresentada na Fig. 132.
Ambos os sexos são hematófagos e apenas os adultos são para-
sitas. Os ovos ovais têm superfícies lisas e podem ser postos no PUL GAS DOS MAMíFEROS
solo ou no hospedeiro, de onde logo caem. A eclosão ocorre em
dois dias a duas semanas, dependendo da temperatura do ambi-
ente. As larvas são semelhantes a gusanos e apresentam um re- Ctenocephalides
vestimento de cerdas. Possuem peças bucais mastigadoras e se
nutrem de resíd uos e das fezes das pulgas adultas, que contêm É o único gênero importante no cão e no gato. Ocorrem Cteno-
sangue e conferem às larvas a cor avermel hada. Sob a influência cephalides canis e C. felis no cão e no gato, porém C. felis é bem
de regul adores in ternos de cresci men to, a larva sofre duas mu- mais disseminada e, em muitas regiões, é a espécie dominante
das, tendo o estág io final cerca de 5 mm de comprimento, e em em cães e no homem, bem como em gatos. Ambas as espécies
seguida tece um casulo, uma fo rma de pupári o lanoso, do qual podem atuar como hospedeiros intermediários do cestóide co-
emerge o adulto. As mudas e a pupação dependem da tempera- mum de cães e gatos Dipylidium caninum e do fi larídeo de cães
tura ambiente, e, embora em condições amenas o ciclo todo pos- Dip etalonema reconditwn. Embora a pulga adulta possa adqui-
sa estar completo em apro ximadamente três semanas, em tem- rir a infes tação por fil arídeos mediante a ingestão de microfil á-
peraturas baixas pode prolongar-se por dois anos. ri as num repasto sangüíneo, as peças bucais especializadas não
(ai
Fig. 131 (a) Aspecto lateral de uma pulga; (b) cabeça de pulga exibindo peças bucais picadoras·sugadoras e exibindo "pentes" genal e pronola1.
Entomologia Veterinária 155
SEM CTENíDEOS
COM CTENíDEOS
Apenas ctenídeo pronotal .. .... ...... .... .... ... ......... ..... ... Ceratophyllus
C.le/is
Comprimento da cabeça o dobro
da altura.
°
1 espinho do ctenídeo
gena! igual ao 2 Q espinho
possível. Os carpetes fixos devem ser totalmente limpos com \ ____-47"/7 Quelíceras
aspirador de pó.
Recentemente, um regulador de crescimento de insetos, o
metoprene, tem sido comercializado sob a forma de aerossol para
aplicação direta a camas, carpetes e outros habitats de larvas de
pulgas. Quando ingerido pelas larvas, o produto químico impe-
de a emergência de pulgas adultas das pupas. A proteção contra
rei nfestação pode persistir por até quatro meses.
Palpo
PULGAS DAS AVES
Ceratophyllus Base do
capítulo
Ceratophyllus gallinae é a pulga mais comum das aves domés-
ticas e pode ser responsável por irritação, inquietude e até mes- l-I
mo anemia. Nutre-se facilmente no homem e em animais de es-
timação, com freqüência sendo adquirida na manipulação de aves
_x
domésticas e de aves silvestres feridas trazidas para casa. Sabe-
se também que migra para os aposentos a partir de ninhos sob
beirais adjacentes. Quando esses ninhos são removidos, devem (a)
ser incinerados; caso contrário, as pulgas famintas podem para-
sitar animais de estimação e o homem.
Echidnophaga
Echidnophaga gallinacea é uma das pulgas penetrantes. Após a
fertilização, a fêmea penetra na pele das aves, usualmente na
crista e na barbela, resultando na formação de nódulos onde os
ovos são postos. A ecJosão OCOlTe nos nódulos, e as larvas caem
ao solo, completando o seu desenvolvimento. A pele sobre os
nódulos freqüentemente se toma ulcerada, e as aves jovens po-
dem morrer por infecções maciças. Echidnophaga também ata-
ca mamíferos, principalmente cães, com os nódulos formando-
se em volta dos olhos e entre os dedos.
Esta classe inclui carrapatos e ácaros que têm considerável im- Fig. 133 (a) Peças bucais típicas de carrapato ixodídeo; (b) eletromicrografia de
varredura de Ixodes ricinus.
portância veterinária, assim como aranhas e escorpiões. Diferem
da classe Insecta pelo fato do adulto ter quatro pares de patas e o
corpo ser composto de cefalotórax e abdome. As peças bucais
são extensamente modificadas e apresentam dois pares de apên- cais (Fig. 133), que se originam na base do capítulo, constituÍ-
dices, o primeiro denominado quelíceras e o segundo palpos. Não d4S de um par de quelíceras com dígitos móveis adaptados para
existem antenas. cortar e um par de palpos sensoriais. Ventromedialmente, há um
hipostômio, que possui dentes recurvados para manter a posição,
com um sulco dorsal, para permitir o fluxo de saliva e do sangue
Ordem ACARINA do hospedeiro. Os acarinos de importância veterinária são os
carrapatos e ácaros, e seu ciclo evolutivo consiste no desenvol-
Os acarinos são artrópodes pequenos e às vezes microscópicos. vimento do ovo em larva, que se parece um pouco com o adulto,
Caracterizam-se por sua estrutura aracnídea, com as peças bu- em ninfa e em adulto. Usualmente há apenas um ínstar larval.
158 Parasito/agia Veterinária
IDENTIFICAÇÃO DO GÊNERO
Ixodes ricil/l/s
DISTRIBUiÇÃO
IDENTIFICAÇÃO
Fig. 135 O Ixodes ricinus pode ser diferenciado de outras espécies de Ixodes pela
presença de urnespinfio (i) sobrepondo-se no ângulo posterior da pri~ejra coxa.
- A fêmea ingurgitada é cinza-clara, com até 1 cm de comprimen-
to:êm forma de feijão e com quatro pares de patas. Os machos
têm apenas 2 a 3 mm de comprimento, e, por causa do abdome do depois ao solo e sofrendo a muda para o estágio ninfa!. No
pequeno, os quatro pares de patas são facilmente visíveis. terceiro ano, este estágio alimenta-se, cai e se torna adulto. Em-
f\.s ninfas ~arecern com os adultos e também têm uatro
bora este ciclo evolutivo leve três anos para se completar, as lar-
pares de atas, mas medem menos de 2 mm,enquanto as larvas vas, ninfas e adultos alimentam-se durante um total de apenas
'carrapatos -p im en ta ~' ) têm menos de I mm, geralmente colora-
26 a 28 dias. I. ricinus é, portanto, um parasita temporário.
ção amarelada e apen~s trê~ 'pares de p_atas. Observa-se uma atividade sazonal distinta de I. ricinus, du-
Em f. ricinus, comparado a I. canisuga e I. hexagonus, os tar- rante a qual ocorre infestação de bovinos, ovinos ou outros hos-
sos são amados e não-curvados, e o ângulo interno posterior da pedeiros. e durante este período podem ser enco ntrados carrapa-
primeira coxa apresenta um espinho que ultrapassa a segunda tos nas pontas da vegetação, buscando um hospedeiro, que loca-
coxa (Fig. 135). li zam com o auxílio de cerdas sensoriai s si tuadas nas suas patas.
Nas Ilhas Britânicas, ocorrem dois períodos de atividade máxi-
CICLO EVOLUTIVO E EPIDEMIOLOGIA ma, a saber, março aj unho e agosto a novembro, embora alguns
carrapatos possam ser adquiridos durante a maior parte do ano.
~!!:Lé_lLffi...catrapato de trêshospedeir9s, e o ciclo evolutivo De modo geral, supõe-se que estes dois períodos distintos de
requer três anos. O carrapato nutre-se por apenas alguns dias ao at ividade reflitam a ocorrência de duas populações fisiologica-
ano, sob a forma de larva no primeiro ano, de ninfa no segundo mente distintas de carrapatos, uma ativa na primavera e a outra
e de adu lto no terceiro (Fig. 134). no outono. Nas regiões limítrofes entre a Escócia e a Inglaterra,
O acasalamento dá-se no hospedeiro. Após a fixação, a fêmea ocorre apenas atividade de primavera, enquanto nas áreas de
é inseminada uma vez e subseqüentemente completa seu único carrapatos do sudoeste da Inglaterra, País de Gales, oeste da
grande repasto sangüíneo; por outro lado, os machos nutrem-se . Escócia e Irlanda, ocorre também ativ idade de outono. Os ovos
de modo intermitente e se acasalam repetidamente. Durante o daqueles com atividade na primavera eclodem no outono, e as
acasalamento, o macho arrasta-se sob a fêmea e, depois de ma- larvas e ninfas também sofrem mudas nesta época, passando
nipular o orifício genital com as peças bucais, transfere o esper- então o inverno na condição de não-ingurgitadas ou achatadas.
matóforo, uma bolsa contendo os espermatozóides, para o orifí- Por outro lado, os ovos daqueles com atividade no outono não
cio, provavelmente com o aux ílio das patas anteriores. Uma vez eclodem até o verão seguinte, enq uanto as larvas e ninfas ficam
fertilizada, a fêmea em seguida alimenta-se durante cerca de 14 em diapausa durante todo este período, passando então o inver-
dias e cai, então, ao solo, deposita vários milhares de ovos em no no estado ingurgitado e sem sofrer mudas até o verão.
lugares protegidos e morre em seguida_ As larvas que eclodem A sobrevivência de 1. ricinus e conseqüentemente a sua dis-
dos ovos nu trem-se por cerca de seis dias no ano seguinte, cain- tribuição são detenninadas por suas necessidades hídricas, sen-
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do incapaz de sobreviver quando a umidad e relativa é inferior a vel pela doença de Lyme no homem . Há evidência de alta
90%, Na Grã-Bretanha, é predominantemente um carrapato de incidência de anticorpos específicos para B. burgdoiferi em
pastos não-cultivados, onde a morte anual e a subseqüente de- cães, gatos, bovinos e eqüinos, indicando exposição freqüen-
composição da vegetação garantem a presença de uma "cober- te à infecção, mas a doença clínica é relativamente incomum.
tura" com alta capacidade de retenção de umidade, Em outras
áreas onde prevalece a urze há pouca "cobertura", mas os tre- SINTOMA TOLOGIA CLíNICA
chos úmidos abertos en tre a urze são cobertos de musgo que re-
tém umidade, tornando viável este outro habitat, Em regiões do Não existe sintomatologia óbvia de infestação por carrapatos
continente europeu, os carrapatos são encontrados principalmente alé m da presença de parasitas e de reações cutâneas locais às
em áreas arborizadas e, na Irlanda, onde o nível de lençol de água picadas,
é particulannente al to, sobrevivem em solo arável, pri ncipalmente
ao redor de fileiras de cerca viva. DIAGNÓSTICO
A cutícula do carrapato é a chave da sua sobrevivência; co n-
tém uma camada ex terna de cera que é impermeável à água, e
Os carrapatos adu ltos, particulannente as fêmeas ingurgitadas.
dessa maneira a perda de água limüa-se normalmente a minús-
são facilmente observados na pele, os locais prediletos sendo face.
culos poros no tegum ento. Não obstante, quando o carrapato é
orelhas, axila e região ingui nal. Em geral, observam- se também
ati vo, a perda de água é acelerada, em razão da abertura dos
peque nos nódulos inflamados nessas regiões, se ndo cada um
espirác ulos e durante a nutrição pela secreção salivar. deles uma reação a uma picada anterior.
Na Grã-Bretanha, o movimento dos C3lTapatos da cobertura
vegetal para uma posição de busca tem início com aqueles com
atividade na primavera, quando a temperatura diurna-noturna
CONTROLE
médi a excede 10°C, e termina com aqueles com atividade no
outono, quando a temperatura cai abaixo de 10°; no verão, não Será di sc ut ido após uma descrição do s outros carrapatos
há ati vidade por causa de baixa umidade e altas temperaturas, ixodídeos.
(01 Eles são hematófagos e em infestações maciças ocasionais As fêmeas adultas de diversas espécies de Ixodes, incluindo I.
podem causar anemia, holocyclus e I. rubicundus na Austrália e na África do Sul, respec-
(2) As lesões produ zidas pelas peças bucais denteadas durante ti vamente, produzem uma toxina responsável por paralisia do car-
a alimentação podem infectar-se e predispor ao ataque de rapato, que ocorre no homem e em animais e se caracteriza por pa-
varejeiras, Além di sso, no abate, o valor do couro ou do velo ralisia motora ascendente aguda, ocorrendo vários dias após a fi-
pode ser reduzido. xação, que pode terminar fatalmente, a menos que os carrapatos
(3) O mais importante de tudo é que, na Europa Ocidental, este sejam retirados. Não se conhece a natureza exata da toxina, mas a
carrapato transmite 8abesia divergens - a causa da hema- teoria atuaI sugere que é produzida nas glândulas sal ivares.
túria em bovinos - e em ovinos e bovinos O vírus da ence-
falomiel ite infecciosa e a riquétsia responsável pela febre do
carrapato. Está associado também a piem ia do carrapato, Haemaphysalis
causad a por StaphylocoCCllS aureus, em cordeiros na Grâ w
Bretanha e na Noruega, Os carrapatos ixod ídeos também São carrapatos não-ornamentados, com festões e sem olhos. Os
transmitem Borrelia bllrgdorferi, espiroquetídeo responsá- palpos sensoriais são curtos e largos, com o segundo segmento
U~IVtRSID~DE ES TADUAL DO CEARÁ
Biblioteca Central Entomologia Veterinária 161
prolongando-se além da base do capítulo. Os machos não têm Quadro 5 Chave resumida para os importantes carrapatos adultos dos
placas ventrais e o sulco anal contorna o ânus posteriormente. ani mais domésticos da Europa Ocidental
São carrapatos de três hospedeiros. (1) Tegumento com escudo Ixodidae 2
HaemaphysaUs punctata distribui-se amplamente na Europa, Capítulo visível dorsalmenle
incluindo o sul da Inglaterra e regiões do País de Gales, onde é ou
Sem escudo Argasidae
responsável pela transmissão de Babesia major e de uma espé- Capítulo ventral (muito raros na Grã-
cie não-patogênica de Theileria em bovinos e, em ovinos, de Bretanha)
Babesia motasi e da Theileria ovis benigna. (2) Não-ornamentado 3
Nas outras regiões, transmite Babesia bigemina em bovinos, ou
Ornamentado com olhos, palpos curtos Dermacentor
B. motasi em ovinos e Anaplasma marginale e Anaplasma cen- e base do capítulo relangular retículatus
trale em bovinos; é descrito também corno causador da paralisia
do calTapato. (3) Sulco anal posterior ao ânus Haemaphysalis
Festões presentes punctata
Há muitas outras espécies de Haemaphysalis encontradas em ou
todo o mundo. Por exemplo, H. leaehi, o "carrapato amarelo do Sulco anal anterior ao ânus Ixodes 4
Festões ausentes
cão", comum na África e na Ásia, é responsável pela transmis-
são de B. eanis em cães, e H. longieornis, primariamente um (4) Coxa I com um espinho interno 5
po~terior distinto
carrapato de bovinos, tem ampla distribuição no Extremo Ori- ou
ente e na Australásia. Coxa I sem um espinho interno Ixodes canisuga
posterior distinto
por babésias, theilérias e riquétsias. H. marginatum e H. delri- folhas se fec ham, a transpiração cessa e a baixa umidade fo rma-
tum são as espécies importantes no sul da Europa e África do da no microclima torna-se rapidamente letal para os carrapatos.
Norte e H. trunca tum em toda a Áfri ca. No campo, evidentemente, a estabilidade do mi croclima de-
Este gênero é responsável principalmente pela toxicose do pende de certos fatores, como a quantidade de forragem ou resí-
carrapato, uma entidade diferente da paral isia do carrapato, em duos de plantas e da espécie de gramínea. Os diversos gêneros
regiões do sul da África e no subcontinente indiano. A "toxina" de carrapatos têm diferentes limiares de temperatura e umidade
produzida pelo carrapato ad ulto causa uma doença de sudorese dentro dos quais são ati vos e se nutrem, sendo a sua distribuição
em rumjnantes e suínos caracterizada por hiperemia di ssemina- regida por estes limiares. De modo geral, os carrapatos são mais
da das membranas mucosas e profuso eczema úmido. ativos durante a estação quente, desde que as chuvas sejam sufi-
*- Rhipicephalus
cientes, mas em algumas espécies os estágios larvais e ninfais
também são ati vos em clima mais ameno, e isto afeta a duração
e a escolha da época dos programas de controle.
hospedeiro, em que todos os ínstares se nutrem e se desenvol- Há considerável variação local na biologia dos carrapatos, e
vem no mesmo hospedeiro, ou um carrapato de doi s ou três hos- os períodos de banhos de imersão devem variar amplamente nas
pedeiros, utilizando dois ou três diferentes hospedeiros, respec- regiões. Antes do empreendimento de qu a lquer programa de
tivamente. Sem dúvida alguma, é muito mais fácil controlar o controle com banhos de imersão, devem-se considerar as opini-
carrapato de um hospedeiro que os outros. ões locais, embora devam ser observados os princípios gerais
Um ponto importante é que, ao co ntrário da Europa Ociden- anteriormente descrito s.
tal, onde a atividade dos carrapatos ocorre apenas na primavera
ou no outono, os carrapatos dos trópicos podem ser ati vos du- ACARICIDAS
rante a maior pat1e do ano, completando o ciclo evolutivo desde
o ovo até a forma adu lta em poucos meses.
O arsên ico foi o primeiro composto a ser amplamente utilizado
para o controle de carrapatos, mas em face de problemas de to-
CONTROLE DE CARRAPA TOS xicidade, falta de efeito residual e resistência, foi substituído em
DE UM HOSPEDEIRO grande escala pelos organoclorados no final dos anos 1940. A
crescente contaminação do meio ambiente e da resistência do
A base do controle bem-sucedido de espécies de um hospede iro consumidor a níveis inaceitáveis de organoclorados na carne e o
como o 8oophilus, prevalente na Austrália, na África do Sul e aparecimento de resistência dos carrapatos a este grupo de inse-
na América Latina, é evitar o desenvolvimento das fêmeas in- ticidas levaram à sua substituição na década de 1960 por diver-
gurgitadas e, portanto, limitar a deposição de grandes quantida- sos compostos organofosforados, carbamato, butocarb e, mais
des de ovos. Como o 800philus tem um ciclo evolutivo parasi- rece ntemente, formamidina, amitraz e algun s piretróides sinté-
tário que requer 20 dias antes que as fêmeas adultas se tornem ticos. A ivermectina ou o c10sante l por via parenteral também
totalmente ingurgitadas, um animal banhado com um acaricida demonstraram ser um meio útil no controle do carrapato de um
q ue tenha um efeito residual de três a quatro dias não deve abri- hospedeiro Boophilus.
gar fêmeas ingurgitadas durante no mínimo 24 dias (i.e., 20 +
4). Teoricamente, portanto, o tratamento a cada 21 dias durante
OUTRAS MEDIDAS DE CONTROLE
a estação dos carrapatos deve dar um bom controle, mas, como
os estágios ninfais parecem ser menos suscetíveis à maioria dos
O desenvolvimento de resistência pelos carrapatos à maioria dos
acaricidas, freqüentemente é necessário um intervalo de 12 dias
acaricidas viáveis cria tal risco à produção animaJ nos trópicos
entre tratamentos no início da estação dos carrapatos. As aver-
que devem ser considerados com urgência métodos alternativos
mectinas/rnl1bemicinas podem desempenhat· um papel cada vez
de controle, principalmente contra os carrapatos de dois e três
maior no controle de carrapatos de um hospedeiro.
hospedeiros, que passam longos períodos fora do hospedeiro. Os
métodos tradicionais como a queima dos pastos ainda são usa-
CONTROLE DE CARRAPATOS DE DOIS dos, em geral durante um período seco antes das chuvas, quando
E TRÊS HOSPEDEIROS os carrapatos são inativos. Esta técnica é ainda muito útil em
condições de criação extensiva e, desde que seja empregada de-
o controle dos carrapatos de dois e três hospedeiros predomi- pois da queda das sementes das gramíneas, a regeneração ocor-
nantes na África e na América do Norte é adaptado ao período rerá rapidamente após o início das chuvas. O culti vo do solo e,
parasitário necessário para que o estágio de fêmea adulta se tor- em algumas regiões, a melhora na drenagem ajudam a reduzir a
ne totalmente ingurgitado, o que varia de 4 a 10 dias, conforme prevalência de populações de carrapatos e podem ser usados onde
a espécie. Se um animal for tratado com um acaricida que tenha predominam sistemas de agricultura mais intensivos. O "rodízio"
um efeito de, digamos, três dias, levará pelo menos sete dias antes de pastos em que os animais são removidos dos pastos durante
que alguma fêmea completamente ingurgitada reapareça depoi s certo período é utilizado em regiões extensivas ou semi-extensi-
do banho de imersão (i.e., três dias de efeito residual mais um vas, mas freqüentemente têm a desvantagem dos carrapatos ain-
núnimo de quatro dias para a ingurgitação). Os banhos semanais da poderem obter sangue de uma ampla variedade de outros hos-
durante a estação dos carrapatos devem, então, destruir as fêmeas pedeiros.
adultas antes que se ingurgitem, exceto nos casos de desafio muito Outros sistemas de controle incluem a seleção de bovinos com
intenso, quando o intervalo entre os banhos deve ser reduzido alta resistência natural a infestações por carrapatos. A resistên-
para quatro ou cinco dias. Os intervalos entre os banhos de imer- cia deste tipo parece ser um caráter hered1tári o, sendo alta nas
são desta última freqüência também são necessários para os bo- raças zebuínas (Bos indicus) e baixa nas raças européias (80S
vi nos infestados por R. appendiculatus nas regiões onde a Febre taurus). O potencial das raças zebuínas resistentes, provavelmen-
da Costa Oriental é endêmica, para que os carrapatos sejam des- te cruzadas com bovinos europeus, está sendo investi gado como
truídos antes que os esporozoítos de T. parva tenham tempo para um método para reduzir populações de carrapatos e as doenças
se desenvol ver até o estágio infectante nas glândulas salivares transmitidas por eles.
do carrapato. Outra abordagem é o desenvolvime nto de vaci nas contra car-
Teoricamente, os banhos.de imersão semanais também devem rapatos . Tem-se obtido um relati vo sucesso contra o carrapato
controlar as larvas e ninfas, mas em di versas áreas as infestações de bovi nos Boophilus microplus. Foi isolado um antígeno alta-
máximas de larvas e ninfas ocorrem em estações diferentes às mente purificado, e a vacinação de bovinos com pequenas doses
das fêmeas adultas e a duração do período de banhos deve ser desta proteína glicosilada de carrapato tem reduzido em até 90%
prolongada. Como muitos dos carrapatos de dois ou três hospe- a capacidade reprodutiva dos carrapatos que se nutrem em ani -
deiros ocorrem em partes menos acessíveis do corpo, como o mais vacinados. Para produzir quantidades sufici entes para va-
ânus, a vul va, a virilha, o escroto, o úbere e a orelha, é preciso cinação, o gene que codifica o antígeno protéico foi clonado em
garantir a apli cação adequada do acaricida. microrganismos, como o fungo Aspergillus nidulans.
164 Parasifologia Veterinária
CONTROLE DE ARGASíDEOS
OS ÁCAROS
Este grupo de acarinos inclui form as tanto parasitárias como de
Fig. 136 Aspecto ventral do carrapato mole Argas; as peças bucais não são visí-
vida livre, algumas das últimas espécies sendo de interesse vete-
veis pela face dorsal. rinário como parasitas ocasionais e como hospedeiros interme-
Entomologia Veterinária 165
diários de cestóides anoplocefalídeos, incluindo Anoplocepha- Os ácaros poss uem uma taxonomia complexa, incluindo-se
la, Morúezt"a e Stilesia. em pelos menos oito famílias diferentes, se ndo mais vantajoso
Os ácaros parasitas são pequenos, a maioria tendo menos de para os veterinários considerá-los de acordo com a sua localiza-
0,5 mm de comprimento, apesar de algumas espécies hematófa- ção no hospedeiro como ácaros escavadores e não-escavadores.
gas poderem atingir vários milímetros quando totalmente ingur-
gi tadas. Com poucas exceções, ficam em proJongado contata com ÁCAROS ESCAVADORES
a pele do hospedeiro, causando várias formas da condição geral-
mente conhecida como sarna. Com uma exceção, o Demodex, a ser considerado mais tarde, os
Embora, como os carrapatos, os ácaro s sejam parasitas obri- três importantes gêneros escavadores, Sarcoptes, NOloedres e
gatórios, diferem de les no imp0l1ante aspecto de que a maioria Knemidocoptes, pertencem a uma ún ica família, a Sarcoptidae,
das espécies passa todo o ciclo evoluti,yo,.--de. ovo a àdulto, no e têm muito em comum.
liospedelro, sendo a transnllssão,-.Qorta.!1to, prjnc~a l mel)te por Morfologicamente, apresentam uma semelhança geral, com
- cbnlatõ:- Mais ad iante também será visto que, ao contrário dos corpos circulares e patas muito curtas que se projetam escassa-
ê árrapatos, uma vez instalada a infecção, podem formar-se po- mente além da margem do corpo. Suas características gerais são
pulações patagênicas num animal sem outras aqui sições. resumid as na Fig. 137.
(e)
(a)
dos olhos, em volta do foci nho, na superfície côncava das ore- num intervalo de 14 dias também é eficaz. Nem a ivermectina
lhas ex ternas, nas axilas e na parte anterior dos j alTetes onde a nem o fosmet são liberados para uso em animais lactantes cujo
pele é flna .. As arranhaduras resultam em escori ação destas áreas leite é utili zado para consumo humano. A amidina amitraz é efi-
afetadas e na formação de crostas acastanhadas na pele lesada. caz contra sarna sarcóptica em bovinos e tem períodos de carên-
Subseqüentemente, a pele fica enrugada, coberta com lesões cros- cia de 24 e 48 horas, respectivamente, para carne e leite.
tosas e espessada.
Para confirmar o di agnóstico, a fonte mais segura de materi al SARNA SARCÓPTlCA DE OVINOS
para exame é o cerume da orelha.
Um esquema de controle com um é tratar a porca, o principal A sarna sarcóptica tem ampla distribu ição geográfica em muitas
reservatório de infecção, antes de sua entrada na baia de parição. regiões de ovi nocul tura do mundo, como o Oriente Médio. Na
Esta conduta, evidentemente, é muito mais vantajosa que tratar África, ocorre nas raças locais de ovinos lanados e, em virtude
an imais parcialmente desenvol vidos. As experiências demons- do estrago no couro, tem consideráve l importância econômica,
tram que os benefíci os de tal esquema aparecem na época da sendo exportadas anualmente mais de um milhão de peles ovi-
engo rda, com os leitões de porcas tratadas apresentando melho- nas da região.
res índices de crescimento e período de acabamento mais curto Na Grã-Bretanha, não se tem registrado sarna sarcóptica em
que os leitões de porcas não tratadas. Os cachaças também devem ovinos há mais de 30 anos.
ser tratados rotineiramente em in tervalos de seis meses. O ácaro, ao contrário do gênero não-escavador Psoroptes,
No [[atamento dos suínos acometidos, o acaricida pode ser prefere regiões sem lã, como face, orel has, ax ilas e virilha, e tem
aplicado semanalmente, por banho ou pul verização, até a regres- lenta di sseminação. As áreas aco metidas primeiramente ficam
são dos sinais. As preparações eficazes que têm sido utili zadas eri tematosas e escamosas. Está presente o prurido intenso carac-
incluem amitraz, triclorfon e bromociclen. Produtos mais moder- terístico de sarna sarcóptica, e os ovinos arranham e esfregam a
nos e mais conveni entes com melhor efeito residu al são o orga- cabeça, o corpo e os membros contra árvores, mourões e pare-
nofosforado sistêmico pour-on fos met e a jvermectina injetável. des. Por causa da coceira, os ov inos estão quase continuamente
Recomenda-se a aplicação do fosmet no dorso da porca 3 a 7 dias inquietos e são incapazes de pastar, havendo, então, emagreci-
antes do parto, uma pequena parte da dose sendo instilada nas mento progressivo. Nos ovinos lanados, todo o corpo pode ser
orelhas. Alternativamente, pode-se administrar a ivermectina na afetado.
dose de 300 fLg/kg. O tratamento e o controle são semelhantes aos descri tos mais
adiante para a sarna psorótica de ovinos, que é mais comum.
SARNA SARCÓPTlCA DE BOVINOS
SARNA SARCÓPTICA DE CAPRINOS
A sarna sarcópti ca é potencialmente a mais grave das sarn as dos
bovinos, embora muitos casos sejam discretos. Entretanto, vem
'Esta forma de sarna em caprinos tem distribuição mundial, mas
sendo cada vez mais diagnosti cada na Grã-Bretanh a, e deve.,se
é de máxima importância eco nômica nas regiões onde o caprino
ressaltar o fato altamente relevante de que em algumas regiões,
é o rumin ante doméstico básico, como a Índia e a África Oci-
incluindo o Canadá e os Estados Unidos, a doença é notificável,
dental.
não se permitindo a entrada de bovinos portadores de Sarcoptes,
Nos caprinos, a condição é freqüentemente crônica e pode ter
clinicamente acometidos ou não.
estado presente simplesmente co mo "doença de pele" por mui-
O ácaro tem preferências parciais por locais, o que lhe confe-
tos meses ant~s de ser feito um diagnóstico definitivo. Como em
re, nos Estados Unidos, a denominação comum de "sarna do
outras infestações sarcópticas, os principais sinais são irritação
pescoço e da caud a" (Prancha XI), mas pode ocorrer em qual-
com fonnação de crostas, queda de pêlos e escori ações por fri c-
quer parte do corpo.
ção e aITanh aduras. Nos casos de longa duração, a pele fica es-
As infecções discretas ex ibem simples mente pele escamosa
pessada e podem dese nvo lver-se nódu los nas áreas cutâneas
com pouca queda de pêlos, mas nos casos graves a pele torn a-se
espessada, há queda acentuada de pêlos e formam-se crostas nas menos pilosas, incl uindo o foci nho, a periferi a dos ol hos e a face
partes menos pilosas do corpo, como o escudo das vacas. Como interna das orelhas.
em todas as sarnas sarcópticas, há Íntenso prurido, que resulta Com freqüê ncia, é necessário o tratamento repetido, às vezes
em queda na produção de carne e leite e na depreciação do cou- por vários meses nos casos de longa duração. O acaricida mais
ro por arranhaduras e fricção. amplamente utilizado é o gama-HCH, e onde este produto não é
Para a co nfirmação do di ag nósti co, os raspados de peje mais viável pode haver problemas para a obtenção de uma dro-
dev e m ser cuidad osa mente examin ados, poi s os bo vinos ga adequada aprovada para uso em caprinos.
estabulados e os que são alimentado s ao ar li vre com freq üên- Apesar de não aprovada para o tratamento de caprinos, cuj o
cia transpo rtam grandes populações de ácaros da forragem leite é para consumo humano, uma única injeção de ivermectina
inócuos bem como Cho rioptes, qu e é menos prejudicial. Uma é extremamente eficaz.
vez encontrado, Sarcoptes, co m seu contorno circular, patas A corticosteroidoterapia é descrita co mo meio auxiliar da re-
curtas e es tri as transversais, é fac ilmente diferenciado de De- cuperação, visto que elimina o prurido.
modex e de outros ácaros de bovinos que têm o corpo oval e
patas faci lmente visíveis. SARNA SARCÓPTICA DE EQÜINOS
Até recentemente, O tratamento dependia em grande parte do
uso repetido de líquidos ou sprays contendo, em geral, gama- Esta sarna atualmente é rara, e na Grã-Bretanh a foram registra-
HCH. Ultimamente, é comum o uso de uma úni ca injeção de dos apenas dois casos desde 1948. Em ambos os casos, havia uma
ivermectina com bons resultados. Alternativamente, a aplicação forte evidência de que a infecção fora adquirida de outras espé-
de um organofosforado pour-on, como o fosmet, em duas vezes cies domésticas.
168 Parasitologia Veterinária
SARNA SARCÓPTlCA DO HOMEM lhão auricular e em seguida se disseminam rapidamente pelas ore-
lhas, face, pálpebras e pescoço. Pode difundir-se para as patas e a
Apesar de terem sua própria "linhagem" de Sarcoptes, as pesso- cauda por contato quando o gato se limpa e donne.
as facilmente são infectadas por animais domésticos. A maior
parte dos casos de escabiose de origem animal é proveniente de DIAGNÓSTICO
cães, mas ocorrem também surtos em criadores intimamente
envolvidos com bovinos ou suínos. Baseia-se no hospedeiro envolvido, no intenso prurido, na locali-
As áreas mais freqüentemente afetadas são as que ficam em zação das lesões e na rápida disseminação atingindo todos os
contato direto com os animais, incluindo palmas das mãos, pu- filhotes da mesma ninhada. A confirmação é pelo achado dos
nhos, braços e peito. ácaros em raspados de pele, o que é conseguido mais facilmente
A escabiose primária de origem animal é muito menos grave que na sarna sarcóptica, pois um único "ninho" num raspado
no homem que a infecção pela linhagem humana, porque os áca- revela muitos ácaros.
ros não penetram na pele e não se multiplicam. A condição ma-
nifesta-se como uma erupção papular, avermelhada, com pruri- TRATAMENTO
do, que desaparece em poucas semanas. Nas pessoas repetida-
mente expostas aos animais infectados, dentro de algumas horas As crostas cutâneas devem primeiramente ser amolecidas com
de cantata com o animal pode aparecer um estado de hipersensi- parafina líquida ou solução de sabão antes da aplicação de um aca-
bilidade, caracterizado por um vergão transitório. ricida. Recomenda-se especificamente uma solução de sulfeto de
Uma vez que os animais acometidos sejam tratados com su- selênio a I % para uso em gatos, pois certos compostos como os
cesso, não ocorrem mais casos humanos. organoclorados podem ser tóxicos para gatos. O tratamento deve
ser efetuado em intervalos semanais durante quatro a seis semanas
e o prognóstico é bom. Embora ainda não aprovada para o trata-
Notoedres mento de gatos, a ivennectina é eficaz contra Notoedres.
A sarna notoédrica é altamente contagiosa, mas, apesar de ocor- Semelhante ao Sarcoptes, as fêmeas fertilizadas escavando a
rer em surtos locais e limitados, não é uma causa freqüente de derme e pondo ovos em túneis.
doença cutânea em gatos. Na Grã-Bretanha, por exemplo, hoje
raramente se observa a doença. EPIDEMIOLOGIA E SINTOMA TOLOGIA CLÍNICA
A infecção manifesta-se como lesões escamosas, secas, com cros-
tas nas bordas das orelhas e na face e pele espessada e algo coriácea. Nas aves domésticas, K. mutans acomete a pele sob as escamas da
O prurido associado é freqüentemente intenso, e pode haver graves pata, fazendo com que se soltem e se elevem, resultando num as-
escoriações na cabeça e no pescoço por arranhaduras. Nos casos tí- pecto áspero dos membros e em dedos usualmente lisos (Fig. 138).
picos, as lesões aparecem primeiramente na borda medial do pavi- Podem ser evidentes claudicação e deformidade das patas e garras.
Ellfomologia Veterinária 169
Famüla DEMODIClDAE
(a)
Del1lodex
Os ácaros deste gênero pertencem a uma família separada, a
Demodicidae, e, embora ácaros escavadores, diferem bastante em
forma e comportamento dos sarcoptídeos.
Hospedeiros:
Todos os mamíferos domésticos e o homem.
Distribuição:
Mundial.
(b)
Localização:
Fig. 138 (a) "Perna escamosa", causada por K. mutans; (b) "face escamosa", cau- Folículos pilosos e glândulas sebáceas.
sada por K. pi/ae.
Espécies:
K. gallinae, responsáve l pela "sarna desplumante", faz esca- Com exeeção de D. phylloides de su ínos e D. folliculorum do
vações nas hastes das penas, e a dor e a initação intensas obri- homem , todas as espécies de Demodex são denominadas de
gam a ave a arrancar as penas do corpo. acordo com seus hospedeiros - p. ex., D. canis, D. bovis, D.
K. pilae é observado mais freqüentemente em periquitos aus- equi etc.
tralianos por causa de sua popularidade, mas outros psitacídeos,
como o papagaio, o periquito comum e a cacatua, além dos ten - MORFOLOGIA
tilhões, como o canário, são igualmente suscetíveis. K. Pilae ataca
as áreas nuas e levemente emplumadas, incluindo o bico, a cera, Demodex tem o corpo afilado e alongado, de até 0,2 mm de com-
a cabeça, o pescoço, a parte interna das asas, as pernas e as pa- primento, com quatro pares de patas dilatadas a nteriormente
tas. Os ácaros estão profundos na pele, mas, ao contrário do 5ar- (Fig. 139).
captes, causam pouco prurido. As lesões desenvolvem-se lenta-
mente, durante um período de meses. CICLO EVOLUTIVO
A infecção pode permanecer latente por longo período com
uma pequena população estática de ácaros até ocorrer estresse, As espécies de Demodex vi vem como comensais na pele da
como resfriamento ou transferência para uma gaiola estranha, maiori a dos mamíferos, sendo excepcionais por sua seletivida-
quando aumenta a população. de em relação a determinadas áreas cutâneas, a saber, os folíc u-
Na cabeça, a primeira alteração é uma escamosidade no ân- los pilosos e as glândulas sebáceas.
gulo do bico que se espalha pela face ("face escamosa"), aco- As espécies, em sua maioria, passam todo o ciclo evolutivo
metendo a cera e o tecido córneo do bico (Fig. 138). O bico pode nos folículos ou nas glândulas, nos quais ocorrem em grandes
ser deformado, porque os ácaros escavam a matriz, podendo quantidades numa característica postura de cabeça para baixo.
desenvolver-se bico cruzado. Se a matriz for destruída , não existe No an imal recém-nascido e muito jovem, estes locais têm estru-
perspectiva de recuperação. Quando os membros são afetados, tura simples, porém mais tarde se tornam complexos por protu-
pode desenvolver-se uma forma extrema de perna escamosa, e berâncias. Os ácaros movem-se, então, nos habitats aumentados,
nas aves seriamente atingidas os dedos podem cair. penetrando muito mais profundamente na derme que os sarcop-
tídeos e sendo, portanto, menos acessíveis aos acaricidas de ação
TRATAMENTO superficial.
Esta forma de sama é mais bem documentada no cão, mas a
Para o tratamento de infestação por ácaros em aves domést icas, patogenia e a epidemiologia em outros animais sugerem que suas
os acaricidas mais amplamente utilizados são carbaril ou pire- infestações podem ter muito em comum com a demodicose ca-
tróides sob a f6rma de pó ou spray, com particular atenção às mna.
j
-
170 Parasitolqgia Veterinária
,
penhar grande papel em sua ocorrência e gravidade. Supõe-se que
certas cadelas transportem um fator geneticamente transmitido
que resulta em imunodeficiência em seus filhotes, tornando-os
mais suscetíveis à invasão por ácaros, e observa-se que os filho-
tes de uma cadela deste tipo com freqüência desenvolvem a for-
ma generalizada de sarna demodécica simultaneamente, mesmo
(ai. apesar de terem sido criados separadamente. Além disso, supõe-
se que o próprio Demodex cause uma imunodeficiência media-
da por células que suprime a resposta normal dos linfócitos T;
este defeito desaparece quando os ácaros são erradicados do
animal. A sarna demodécica pode irromper quando os cães re-
cebem imunossupressores por outras condições.
DIAGNÓSTICO
(bl
Fig. 139 (a) Aspecto típico de Oemodexem raspado de pele; (b) Oemodexadulto. Para confirmar o diagnóstico, são necessários raspados profun-
dos para atingir os ácaros no fundo os folículos e glândulas, e a
melhor maneira para se conseguir isto é pegar uma prega cutâ-
SARNA DEMODÉCICA DE CÃES nea, aplicar uma gota de parafina líquida e raspar até aparecer
sangue capilar. Mesmo em cães normais, podem ser encontra-
dos alguns ácaros comensais no material, mas a presença de uma
EPIDEMIOLOGIA alta proporção de larvas e ninfas (Fig. 139) indicará uma popu-
lação rapidamente crescente e, portanto, infecção ativa. A biop-
Provavelmente pela sua localização profunda na derme, é quase sia de pele, para detectar ácaros nos folículos, é usada nos cães
impossível a transmissão de Demodex entre animais, a menos que gravemente afetados, mas raramente é necessária.
haja contato prolongado. No controle da endemicidade da demodicose, deve-se obser-
Na natureza, tal contato ocorre apenas durante o aleitamen- var que, como certas cadelas são mais propensas que outras a ter
to, e se supõe que a maioria das infecções seja adquirida nas pri- filhotes suscetíveis, pode ser aconselhável descartá-las como
meiras semanas de vida, sendo a população comensal da pele reprodutoras.
da cadela transferida para as áreas em contato do cãozinho. Cer-
tamente, é nessas áreas, focinho, face, região periorbital e mem-
TRATAMENTO
bros anteriores, que primeiramente aparecem as lesões (Pran-
cha XII).
Com sua localização profunda na derme, os ácaros não são fa-
cilmente acessíveis a acaricidas de uso tópico, sendo, portanto.
PATOGENIA necessário tratamento repetido, e não devem ser esperados re-
sultados rápidos. Na sarna escamosa localizada, pode-se prever
No início da infecção, há discreta queda de pêlos da face e dos a recuperação em um a dois meses, mas, na forma pustular ge-
membros anteriores, seguida por espessamento da pele, e a sar- neralizada, o prognóstico é que a recuperação leve no mínimo
na pode não avançar além das áreas em contato; muitas dessas três meses, devendo, portanto, ser reservado.
discretas lesões localizadas desaparecem espontaneamente sem Antes de iniciar o tratamento específico, o cão deve ser sub-
tratamento. Por outro lado, as lesões podem disseminar-se por metido a tricotomia, lavado com um xampu anti-seborréico e
todo o corpo, e esta demodicose generalizada pode assumir uma totalmente enxugado. Dos acaricidas viáveis, os mais amplamen-
de duas formas: te utilizados são o amitraz e o organofosforado citioato.
(1) A demodicose escamosa é a menos grave. É uma reação O tratamento com amitraz demonstra ser altamente bem-su-
seca, com pouco eritema mas alopecia difusa, descamação cedido com uma ou mais aplicações em intervalos de 14 dias.
e espessamento da pele. Em alguns casos deste tipo, apenas Quando a lesão é discreta e localizada, pode ser tratada com
a face e as patas estão comprometidas. a aplicação local de acaricida e quando a piodermite é grave pode
(2) A demodicose pustular ou folicular constitui a fonna gra- ser necessário antibioticoterapia.
ve e se segue à invasão bacteriana das lesões, freqüentemente
por estafilococos. A pele torna-se enrugada e espessada com SARNA DEMODÉCICA DE GA TOS
muitas pequenas pústulas, das quais fluem soro, pus e san-
gue, dando a esta forma o nome comum de "sarna verme- A demodicose é rara em gatos. Assume uma forma localizada.
lha" (Prancha XIl); os cães acometidos têm odor desagra- autolimitante, restrita às palpebras e à região periocular e é do
dável. É necessário tratamento prolongado, e os sobreviven- tipo escamoso discreto, com alguma alopecia. Pode ser tratada
tes podem ficar gravemente deformados, de tal modo que pela aplicação local de um acaricida adequado.
EntomoLogia Veterinária 171
SARNA DEMODÉCICA DE BOVINOS quenos ácaros ovais em nódulos caseosos amarelos de vários
milímetros de diâmetro na fáscia muscular subcutânea e em te-
o efeito mais importante da demodicose bovina é a formação de cidos mais profundos nos pulmões, peritônio, músculo e vísceras
muitos nódulos do tamanho de ervilhas, cada um deles contendo abdominais. O ciclo evolutivo é desconhecido.
material caseoso e vários milhares de ácaros, que causam dano ao Os nódulos subcutâneos freqüentemente são calcificados e
couro e perdas econômicas. Embora esses nódulos possam ser vis- contêm apenas ácaros mortos, com os ácaros ativos ocorrendo
tos em animais de pelagem lisa, freqüentemente não são detecta- nos tecidos profundos.
dos nos bovinos de pelagem grosseira até o couro ser tratado. Laminosioptes jamais está associado a sintomatologia clíni-
Em algumas regiões da Austrália, 95% dos couros são dani- ca, sendo descoberto apenas à inspeção da carne, quando as car-
ficados, e levantamentos nos Estados Unidos mostram que um caças infectadas são condenadas, em parte por questões estéti-
quarto dos couros está comprometido. Na Grã-Bretanha, 17% dos cas e em parte porque a infecção tem um aspecto algo semelhan-
couros apresentam nódulos de Dcmodex. te à tuberculose aviária.
Como no cão, a transmissão parece ocorrer durante os primei-
ros dias de aleitamento, sendo os locais comuns o focinho, o ÁCAROS NÃO-ESCAVADORES
pescoço, a cernelha e o dorso.
O controle é raramente efetuado, pois há pouco incentivo para Os ácaros desta categoria têm biologia diversa e, embora classi-
que os criadores tratem seus animais, e o custo dos danos é arcado ficados em muitos grupos diferentes, as três principais famílias
pelo comerciante de couro. Caso se deseje o tratamento, podem ser de importância veterinária são Psoroptidae, Cheyletidae e
tentados organofosforados pour-on ou ivermectina parenteral. Dermanyssidae. Sua característica comum é que não escavam a
derme, mas se nutrem superficialmente. Alguns se nutrem ape-
SARNA DEMODÉCICA DE OVINOS nas de escamas cutâneas, mas alguns também sugam líquido
tissular da pele e vários são hematófagos. Em seu comportamento,
Esta forma de sarna é rara em ovinos e tem pouca impOliância eles incluem espécies que vivem pennanentemente na superfí-
económica, restringindo-se à região da face e sendo de natureza cie da pele, espécies que vivem principalmente nos pêlos ou na
discreta. pele e alguns gêneros que, como os carrapatos, visitam o hospe-
deiro apenas para se alimentar. Outros passam a fase adulta como
SARNA DEMODÉCICA DE CAPRINOS acarinos de vida livre, mas devem alimentar-se em animais na
sua fase larval. Os principais aspectos diagnósticos das espécies
A demodicose de caprinos tem distribuição mundial e, embora importantes estão indicados na Fig. 140.
antigamente de máxima importância nas regiões quentes, está
sendo cada vez mais diagnosticada na Europa.
A doença é semelhante à dos bovinos. As lesões iniciais na Família PSOROPTIDAE
face e no pescoço estendem-se pelo tórax e flancos, podendo
eventualmente envolver todo o corpo, com a formação de nódu- Psoroptes
los cutâneos de até 2 cm de diâmetro contendo substância caseosa
amarelada com grandes quantidades de ácaros. Hospedeiros:
Esta forma de sarna é raramente debilitante e é da máxima Ovinos, bovinos, eqüinos.
importância como causa de depreciação ou condenação de cou-
ros caprinos. Quando se tenta o tratamento, podem ser utiliza- Espécies:
dos organofosforados pour-on ou ivermectina parenteral. Psoroptes ovis ovinos e bovinos
P. equi eqüinos
SARNA DEMODÉCICA DE SUíNOS P. cuniculi eqüinos e coelhos.
(a)
(b)
(e) (d)
Fig. 140 (a) Aspecto ventral de ácaro Psoroptes fêmea; (b) aspecto ventral de ácaro Chorioptes fêmea; (c) aspecto ventral de O/adecles cynotis fêmea; (d) aspecto
dorsal de Cheyletielfa fêmea.
genicidade deste ácaro é atribuída ao fato de que, ao contrário Apesar de ser um ácaro não-escavador, Psoroptes é muito
da maioria dos ácaros não-escavadores, possui peças bucais per- ativo na camada de queratina e provoca lesão direta na pele. A
furantes e mastigadoras que podem lesar gravemente a pele. primeira fase de infecção ocorre como uma zona de i.nflamação
com pequenas vesículas e exsudato seroso, mas conforme a le-
SARNA PSORÓPTICA DE OVINOS são se difunde o centro se torna seco e coberto por uma crosta
(SARNA OVINA) amarela, enquanto as bordas, nas quais os ácaros estão-se multi-
plicando, são úmidas (Prancha XII). O primeiro sinal visível é
geralmente um trecho de lã mais clara, mas, conforme a área de
EPIDEMIOLOGIA E PATOGENIA lesão aumenta, o ovino reage à intensa coceira associada à ativi-
dade dos ácaros esfregando-se e se arranhando contra mourões
A distribuição de ácaros nos animais varia de acordo com a esta- de cerca e outros objetos, de modo que a lã fica desigual e man-
ção, ficando a infecção em estado quiescente nos locais reserva- chada e se desprende de grandes áreas (Fig. 141).
tórios, como axila, virilha, fossa infra-orbitária e superfície in- Além da perda de lã, os ovinos também ficam tão inquietos e
terna dos pavilhões auriculares e canal auditivo durante a prima- preocupados em se coçar que quase param de comer, e nos an i-
vera e espalhando-se rapidamente pelo resto do corpo nos me- mais em crescimento os ganhos de peso podem ser suprimidos.
ses mais frios , quando o velo fica espesso. enquanto nos adultos pode haver perda de peso. Nas infestações
Entomologia Velerinária 173
TRATAMENTO E CONTROLE
Hospedeiros:
Bovinos, ovinos, caprinos e eqüinos. Otodectes
Distribuição: Este é o ácaro da sarna mais comum de cães e gatos em todo o
Mundial. mundo.
Entomologia Veterinária 175
Gato
Famflia CHEYLETIDAE
Os gatos, em sua maioria, abrigam este ácaro, que nos animais
adultos tem uma associação quase comensal com O hospedeiro, Psorergates
e os sinais de irritação aparecem apenas esporadicamente com a
atividade transitória dos ácaros. Supõe-se que a maior parte das É o "ácaro da sarna" de ovinos.
infecções seja adquirida por gatinhos lactentes da mãe portado-
ra, e, sendo altamente contagiosos, ninhadas inteiras são acome-
Hospedeiro:
tidas. Ovinos.
No início das infecções, há um exsudato ceruminoso acasta-
nhado no canal auditivo, que se torna crostoso. Os ácaros vivem Distribuição:
no fundo da crosta, junto à pele. A infecção bacteri ana sec undá- Austrália, Nova Zelândia, sul da África, América do Norte e do
ria pode resultar em otite purulenta. Sul. Não foi descrito na Europa.
Os principais sinais são balanço freqüente da cabeça, arranha-
duras das orelhas por causa do prurido, presença de massas ce- Espécie:
ruminosas fétidas no canal auditivo e, à inspeção de casos gra-
Psorergates ovis.
ves, otorréia e ulceração do canal auditivo. Pode haver pus, por
infecção bacteriana secundária.
As arranhaduras podem causar escoriações na superfície pos- MORFOLOGIA
terior do pavilhão auricular, e isto, com O balanço da cabeça, pode
resultar em oto-hematoma. P. ovis é um ácaro pequeno, de fonnato levemente circular e com
menos de 0,2 mm de diâmetro. As patas são muito robustas, com
Cão as bases adjacentes, e são dirigidas radialmente, dando ao ácaro
uma forma de estrela irregular.
O Otodectes é uma causa comum de otite externa em cães. As
alterações e os sinais são semelhantes aos do gato, com depósi- CICLO EVOLUTIVO
tos ceruminosos acastanhados a pretos e exsudato no canal au-
ditivo (Prancha XII), e intenso prurido. O resultante balanço vi- Semelhante ao de Psoroptes, com os ácaros nutrindo-se da pró-
olento da cabeça e as arranhaduras na orelha são uma causa co- pria pele.
mum de ato-hematomas nesta espécie. Nos casos de longa dura-
ção, uma seqüela comum é uma grave otite purulenta. EPIDEMIOLOGIA E PATOGENIA
meses de idade; pode levar três anos ou mais antes que toda a
Cheyletiella
área do velo seja acometida.
Apesar de ser um ácaro "não-escavador", Psorergates ataca
Este gênero ocorre principalmente em cães e gatos, mas é tam-
a pele em si, vivendo nas camadas superfic iais e causando irrita-
bém um parasi ta freqüente de coelhos. Tem cel1a importância em
ção crônica e espessamento da pele.
saúde pública, pois é transmitido facilmente de animais de esti-
Os primeiros sinais são peq uenas áreas de lã pálida nas espá-
mação ao homem .
duas, no corpo e nos flancos, que gradati vamente se estendem
por todo o velo, aumentando a irritação à medida que cresce a
Hos pedeir os:
população de ácaros. Os ovi nos esfrega m, morde m e mastigam Cão, gato e coelho; o homem é um hospedeiro errático freqüente.
a sua própria lã, que fica desi gual, com fios soltos pendendo dos
lados do corpo. Nos casos de longa duração, podem cair grand es Espécies:
porções de lã, Cheyletiella yasguri cão
O próprio velo contém muitas crostas e exibe coloração leve- C. blakei gato
mente amarelada, enquanto a fib ra da lã é muito seca e fac ilmente C. parasirivorax coelho.
quebrada.
Nos casos graves, O velo inteiro, difícil de ser tosquiad o pela Distribuição:
consistência emaranhada, deve ser descartado (Fig. 142). Nos Mundial.
ovinos menos grave mente acometidos. e especialmente nos an i-
mais com mais idade que se tornaram tolerantes à coceira por
MORFOLOGIA
causa da pele traumati zada e espessada, os velas são deprecia-
dos.
O corpo do ácaro, de até 0,4 mm de comprimento, tem uma "cin-
tura" . Os palpos são bem dil atados, dando a impressão de um
DIAGNÓSTICO par de patas extras, e cada palpo termina numa garra preêns il
(Fig. 140).
Para a coleta de ácaros, depois de removida uma porção de lã, é Há seis longos pêlos ou cerdas no corpo, um de cada lado do
necessário aplicar uma gota de óleo mineral e raspar a pele até o ânus terminal, e dois de cada lado do corpo, entre o segundo e o
nível dos capilares sangüíneos. Os ácaros em si são identifica- terceiro pares de patas.
dos facilmente. Nas áreas endêmicas, todos os ovinocultores estão As patas tenninam em " pentes" em vez de garras ou ventosas.
familiarizados com o aspecto dos ovinos infestados pelo "ácaro
da sarna". CICLO EVOLUTIVO
TRATAMENTO E CONTROLE Os ácaros vivem nos pêlos e no couro, apenas visitando a pele
para se alimentar. O ciclo evolutivo em si é semelhante aos de
Psorergales é relat ivamente insensível à maiori a dos acari ci- Psoroptes e Chorioptes , com pletando-se em cerca de duas se-
das, embora a form amidina amitraz recentemente tenh a de- manas.
monstrado ser de considerável valor. Por outro lado, podem
ser usadas as preparações mais anti gas de arsênico e enxofre. EPIDEMIOLOGIA E PATOGENIA
Os ovinos devem ser submetidos a banhos de imersão logo após
a tosquia. Es ta sarna altamente contagiosa, embora discreta, pode dissemi-
nar-se rapidamente através de gatis e canis.
O ácaro não é altamente patogênico, freqüentemente sendo
encontrado em gatinhos e cãezinhos novos em boas condições
físicas. A característica da dermatite que causa é que mu itas es-
camas cutâneas fi cam soltas nos pêlos (Prancha XII) ou na pele,
d a ndo~lhe um aspecto empoeirado ou fa rináceo, e a presença de
ácaros móveis entre estes frag mentos resultou na denominação
comum de "caspa ambulante". Há muito pouca reação cutânea
ou prurido. No raro caso grave envol vendo grande parte da su-
perfície do corpo, fo rmam ~se crostas, mas há apenas pequen a
perda de pêlos.
De todas as infestações de an imais domésticos por ácaros, esta
é a mais facilmente transmissível para o homem, sendo C. blakei
envolvido com mais freqüência, pro vavelmente por causa do
estreito co ntato físico entre proprietários e gatos.
Os ácaros podem penetrar nas roupas e são transmitidos fa-
cilmente, mesmo em breve contato. Muitas vezes, verifica-se que,
quando se faz um di agnóstico positi vo num animal de estima-
ção, há história de erupção cutânea persistente na farrulla do pro-
prietário. Ao contrário da condição em seus hospedeiros natu-
Fig. 142 o velo de um ovino infectado pelo "ácaro da sarna" Psorergates (direita) rais, a infestação no homem causa grave irritação e intenso pru-
comparado com um velo normal (esquerda). rido. O primeiro sinal é um eritema que pode evoluir para uma
EntomoLogia Veterinária 177
DIAGNÓSTICO
TRATAMENTO E CONTROLE
Família DERMANYSSIDAE
As ninfas e os adultos ao se alimentar causam irritação, in-
Dermanyssus quietude e debilidade, e nas infecções maciças pode haver ane-
mia grave e ocasionalmente fatal.
A única espécie de interesse veterinário é o "ácaro vermelho" de Na Austrália, é um vetor de Borrelia anserina, a causa de
aves domésticas. espiroquetose aviária.
Dermanysslls infecta facilmente outros animais e pode cau-
Hospedeiros: sar eritema e intenso prurido em gatos que ocupam velhos aviá-
Aves domésticas e aves silvestres; ocasionalmente é parasita de rios de madeira. O homem pode desenvolver lesões cutâneas
mamíferos, incluindo o homem. quando os ácaros entram nos aposentos oriundos de ninhos de
aves silvestres nos beirais das casas.
Espécie:
Dermanyssus gallinae . TRATAMENTO E CONTROLE
Linguatula serrata tem alguma importância veterinária, pois o se encistam e se desenvolvem nos estágios ninfais infectantes. Os
adulto ocorre nas vias e seios nasais de cães, gatos e raposas. Tem cistos, de aproximadamente 1 mm de diâmetro, podem ser visíveis
até 2 cm de comprimento, é transversalmente estriado e tem a for- à superfície de corte de glândulas mesentéricas. O hospedeiro final
ma de uma língua alongada (Fig. 144), com uma pequena boca e é infectado pela ingestão de vísceras cruas.
garras minúsculas na extremidade da parte anterior espessada. Os Raramente, as infecções maciças nos cães podem causar es-
ovos são expelidos através da tosse ou de espirros ou são degluti- pirros, tosse e corrimento nasal. Não existe um tratamento espe-
dos e eliminados nas fezes. Quando ingeridos por um hospedeiro cífico recomendado, embora possam ser considerados insetici-
intennediário herbívoro, comumente ovinos, caprinos ou coelhos, das organofosforados. Na ausência de reinfestação, os parasitas
eclodem e as larvas se localizam nos Iinfonodos mesentéricos. Ai morrem depois de aproximadamente um ano.
PROTOZOOLOGIA VETERINÁRIA
pode também possui capacidade fagocitária e pode funcionar
Filo PROTOZOA
como uma ventosa que se fecha, envolvendo partículas alimen-
tares num vacúolo.
o filo Protozoa contém microrganismos unicelulares que perten- Finalmente, alguns protozoários. como os estágios extrace-
cem ao Reino Animal , visto que obtêm energia pela absorção de
lulares da Eimeria, não possuem meios de locomoção eviden-
matéria orgânica. e não, como no Reino Vegetal, da energia ra-
tes, porém, não obstante, são capaz~~ de movimentos de desti-
diante do sol pelo processo.de fotossíntese em cloroplastos. Além
zamento. 'I
disso, ao contrário dos vegetais, não possuem uma rígida parede
A nutrição de 'protozoários parasitas ocorre geralmente por
de celulose externa à membrana celular. Existem algumas exce-
pinocitose ou por fagocitose, dependendo da absorção celular,de
ções, e alguns protozoários de vida livre, por exemplo, têm c~
minúsculas gotículas de fluido ou de pequenos fragmentos solI-
pacidade fotos sintética, mas sua consideração é irrelevante aqUi.
dos de dimensão macromolecular. Em ambos os casos, o processo
Os protozoários, como a maioria dos organismos, são
é o mesmo, a membrana celular envolvendo de modo gradativo
eucarióticos, já que sua infonnação genética é armazenada em
a gotícula ou o fragmento sólido, que aderiu à sua superfície
cromossomos contidos num invólucro nuclear. Diferem, assim, de
externa. Quando isto está completo, a partícula é transportada
bactérias, que não possuem núcleo e cujo único cromossomo fica
para o interior da célula, onde a fusão com os lisos somos pr~
emolado como um novelo de lã no citoplasma. Essa disposição
move a digestão. Finalmente, o material não digerido é expelI-
primitiva, encontrada apenas em bactérias, riquétsias e certas al-
do da célula. Como se observou anterionnente, alguns protozo-
gas, é denominada procariótica, e estes organismos devem ser
ários ciliados e também alguns estágios de organismos causado-
considerados não como animais nem como plantas, mas como um
res de malária obtêm alimento através de um citóstoma. Na base
reino separado de organismos procarióticos, o reino Monera.
do citóstoma, o alimento entra num vacúolo para digestão den-
tro da célula. Os produtos metabólicos são excretados por ~ifu
ESTRUTURA E FUNÇÃO DOS PROTOZOÁRIOS são através da membrana celular.
O estágio infectante de alguns protozoários é denominado
Os protozoários, como outras células eucarióticas, possuem um esporozoíto, enquanto o termo trofozoíto se aplica ao estágl~
núcleo, um retículo endoplasmático, rnitocôndrias, um comple- do protozoário no hospedeiro, alimentando-se e crescendo ate
xo de Golgi e lisossomos. Além disso, como têm vida indepen- começar a divisão. Na maioria dos protozoários, a reprodução é
dente, apresentam um variedade de outras estruturas subcelulares
ou organelas com características organizacionais e funções di-
ferentes.
Assim, por exemplo, a locomoção no gênero Trypanosoma
(Fig. 145) é facilitada por um único flagelo e em alguns outros
protozoários por diversos flagelos. O flagelo é um fibra contrátJl,
que se origina numa estrutura denominada corpo basal e em al-
gumas espécies se une ao corpo do protozoário ao longo do seu \ \ - - - Flagelo livre
comprimento, de tal modo que, quando o flagelo bate, a mem-
brana celular (película) é levantada e forma uma membrana Membrana ondulante
ondulante. Às vezes, também, projeta-se além do corpo do pro-
tozoário como flagelo livre. Durante o movimento, a forma des-
ses organismos é mantida por rnicrotúbulos na película.
Outros protozoários, como o Balantidium (Fig. 146), movem-
se por meio de cílios, que são pêlos curtos e finos, cada um deles
se originando num corpo basal; revestem grande parte da super-
fície corpórea e batem em uníssono, produzindo movimento ~.
Bolsa flagelar
Nestas espécies, observa-se uma boca ou citóstoma e os mOV1-
mentos ciliares também são utilizados para levar alimento até esta
abertura. Cinetoplasto
Um terceiro meio de locomoção, usado por protozoários como
a Entamoeba (Fig. 147), consiste em pseudópodes, que são pro-
longamentos citoplasmáticos. Ocorre movimento à medida que
o resto do citoplasma flui para esse prolongamento. O pseudó- Fig. 145 Trypanosoma brucei exibindo o flagelo e a membrana ondulante.
-
184 Parasitologia Veterinária
Vacúolo alimentar Vacúolo contrátil diferenças básicas na estrutura e no ciclo evolutivo dos princi-
pais grupos. Em grande parte, as características comuns de cada
grupo refletem-se em semelhanças nas doenças que causam.
' Há quatro subfilos de protozoários de importância veteriná-
ria. Esses subfilos e os gêneros mais importantes neles contidos
estão relacionados no Quadro 6.
Subfilo SARCOMASTIGOPHORA
Classe SARCODINA
Citóstoma Micronúcleo
Fig. 146 A morfologia dOfrotozoáriO intestinal Bafantidium coli. Entamoeba histolytica
Este patógeno é a causa de disenteria amebiana no homem, uma
assexuada e obtida por divisão binária ou, no caso da Babesia doença de distribuição mundial, apesar de mais comum nos tró-
no interior de eritrócitos, por brotamento. Outra fonua de repro- picos. Os trofozoítos amebóides secretam enzimas proteo1íticas
dução assexuada que ocorre no subfilo Sporozoa é a esquizogo- e produzem úlceras características em fonua de cantil na muco-
nia. Neste último processo, o trofozoíto cresce até atingir um sa do intestino grosso. A sua erosão pode permitir o acesso de
tamanho grande enquanto o núcleo se divide repetidamente. Esta parasitas à corrente sangüínea, quando, então, a seqüela mais
estrutura é denominada esquizonte e, quando madura, cada nú- comum é a formação de abscessos amebianos no fígado.
cleo terá adquirido urna porção do citoplasma, de tal maneira que A Entamoeba multiplica-se por divisão binária, mas eventu-
o esquizonte fica repleto de urna grande quantidade de organis- almente se encista e é eliminada nas fezes. O cisto (Fig. 147),
mos alongados separados, chamados merozoítos. O esquizonte contendo quatro núcleos, é relativamente resistente e constitui o
eventualmente se rompe, liberando os merozoítos individuais. estágio infectante do hospedeiro seguinte.
Os protozoários que se dividem apenas assexuadamente em A importância veterinária da amebíase é que ocasionalmente
geral têm um curto período de geração e, como não podem tro- podem ocorrer infecções naturais em cães, em geral sem sinto-
car material genético, contam com mutantes para fornecer as matologia clínica, a partir do reservatório humano de infecções
variantes necessárias à seleção natural. A maioria dos esporozo- ativas ou inaparentes. Os gatos também são suscetíveis à infec-
ários, entretanto, em determinados estágios do ciclo evolutivo ção experimental, embora não produzam cistos. Os macacos
também possui uma fase sexuada de reprodução, chamada ga- possuem suas próprias linhagens de E. histolytica que podem ser
metogonia ou esporogonia. Às vezes, como na Eimeria, ocor- infectantes para o homem.
rem as fases assexuada e sexuada no mesmo hospedeiro, enquanto Podem ser detectados organismos móveis e cistos de E. histolytica
em outros, como o Plasmodium, a fase assexuada ocorre no hos- em esfregaços de fezes, particulannente se diarréicas, pennitindo um
pedeiro vertebrado e a fase sexual no vetar artrópode. diagnóstico presumível; entretanto, a sua diferenciação de espécies
Finalmente, deve-se observar que embora esta seção se refira menos patogênicas é uma tarefa de especialistas.
a protozoários patogênicos de importância veterinária, existem Os cães não são um reservatório significante de infecção para
muitas outras espécies, sobretudo no rúmem, que são puramente o homem e, assim, a profilaxia depende, em última análise, da
comensais ou mesmo simbióticas, visto que auxiliam a digestão higiene pessoal e sanitária na população humana. O tratamento,
da celulose e, ao passar para o abomaso, atuam como uma fonte se necessário, baseia-se no uso combinado de metronidazol e
de proteínas para o hospedeiro. diiodoidroxiquina.
CLASSIFICAÇÃO
Classe MASTIGOPHORA
A classificação do filo Protozoa é extremamente complexa e a
versão resumida a seguir pretende apenas dar um esboço das Trypanosoma
Os membros deste gênero são encontrados na circulação
sangüínea e nos tecidos de vertebrados em todo o mundo. Algu-
Pseudópode mas espécies, contudo, têm importância fundamental como gra-
ve causa de morbidade e mortalidade em animais e no homem
em regiões tropicais. Com uma exceção apenas, todos possuem
,...-......- Vacúolo alimentar um vetar artrópode.
FILO: Protozoa
(Animais eucari6ticos, unicelulares)
I
SUBFILO: Sarcomastigophora Sporozoa l (locomoção por Ciliophora (locomoção Microspora (pouca importância
(locomoção por deslizamento, ciclo evolutivo por cílios) veterinária. Parasitas
pseudópodes elou flagelos) amplamente Intracelular, ocorrem intracelulares
fases tanto sexuada como multiplicando-se
assexuada) assexuadamente)
Balantidium Encephalitozoon
CLASSE: Sarcodina Mastigophora (um Coccidia (parasitas de células Piroplasmidia (parasitas Haemosporidia (parasitas de
(movimento ou mais flagelos) epiteliais em que ocorre repro- de células sangüineas. têm células sangüíneas, têm
amebóide dução tanto sexuada como carrapatos como vetores dípteros hematófagos como
por pseudópodes) assexuada) nos quais ocorre reprodu- vetares nos quais ocorre
ção sexuada) reprodução sexuada)
il7 /
Entamoeba
_T=~~~ EimBria V
_lsoSQQ~ ~ /'
Babesia V
Theiferia
Plasmpdium _
Haemoproteus
------'
Triçhommps
Histomonas
Hexamita
Toxoplasma r/
Cryptosporidium\"":/
SarcocystiS 0 /
Cytauxzoon Leucocytozoon
' .Denominado também Aplcomplexa. Este nome alternativo refere-se ao fato do grupo possuir um "complexo apical", uma estrutura que aparentemente ajuda a penetraçAo na célula hospedeira.
E visfvel apenas ao microscópio eletrÔnico.
Com a única exceção do T. equiperdum de eqüinos, que é trai e do Sul, contudo, o T. evansi é transmitido também pelas
causador de uma doença venérea, todos têm vetores artrópodes, picadas de morcegos hematófagos, nos quais os parasitas podem
em que a transmissão é cíclica ou acíclica. multiplicar-se e sobreviver durante longo período. Em sentido
Na transmissão cíclica, o artrópode é um hospedeiro inter- restrito, isto é mais que uma simples transmissão mecânica, pois
mediário necessário no qual os tripanossomos se multiplicam, o morcego também é um hospedeiro, embora certamente acícli-
sofrendo uma série de transformações morfológicas antes que co, uma vez que os tripanossomos em multiplicação no sangue
sejam produzidas formas infectantes para o próximo hospedeiro do morcego não sofrem transfoffi1ação morfológica antes de mi-
mamífero. Quando a multiplicação ocorre no trato digesti vo e na • grar para a cavidade bucal.
prob6scida, a nova infecção sendo transmitida durante a alimen- É importante observar que os tripanossomos Sali varia, nor-
tação, o processo é co nhecido como desenvolvimento de esta- malmente transmitidos de maneira cíclica nas moscas tsé-tsé,
ção anterior e as diversas espécies de tripanossomos que utili- podem às vezes ser transmitidos mecanicamente. Assim, o T.
zam este processo freqüentemente são consideradas como um vivax estabeleceu-se na América do Sul, provavelmente pela
grupo, Salivaria. Todos são tripanossomos transmitidos por importação de bovinos infectados, e supõe-se que seja transmi-
moscas tsé-tsé, as principais espécies sendo T. congolense, T. tido mecanicamente por moscas picadoras.
vivax e T. brucei. Finalmente, além da clássica transmissão cíclica e acíclica, os
Em outros tripanossomos, a multiplicação e a transfonnação cães, gatos e carnívoros silvestres podem infectar-se pela inges-
ocorrem no intestino e as formas infectantes migram para o reto. tão de carcaças frescas ou órgãos de animais mortos por tripa-
sendo eliminadas nas fezes; este é o desenvolvimento de esta- nossomose, os parasitas penetrando por abrasões orais.
ção posterior e as espécies de tripanossomos são agrupadas como As importantes infecções tripanossômicas dos animais domés-
Stercoraria. Nos animais domésticos, todos estes são relativa- ti cos diferem consideravelmente em muitos aspectos, sendo
mente não-patogênicos, como o T. theile ri c o T. melophagium, melhor discuti-las separadamente. As espécies africanas respon-
transmitidos por tabanídeos e melofagídeos, respecti vamente, sáveis pelas "tripanossomoses transmitidas por tsé-tsé", i.e.,
mas este certamente não é o caso no homem, em que o T cruzi, Salivaria, em geral são consideradas as mais significantes e se-
a causa da grave doença de Chagas na América do Sul, é trans- rão tratadas em primeiro lugar.
mitido nas fezes de hemípteros reduvídeos.
A transmissão acíclica é essencialmente mecânica, os tripa- OS SALIVARIA
nosso mos sendo transferidos de um hospedeiro mamífero a ou-
tro pela alimentação interrompida de insetos picadores. princi- Várias espécies de Trypanosoma, encontradas em animais do-
palmente tabanídeos e Stomoxys. mésticos e silvestres, são todas transmitidas ciclicamente por
Os tripanossomos na probóscida contaminada ou sobre ela não Glossina em grande parte da África subsaariana. A presença de
se multiplicam e morrem rapidamente, e portanto a transmissão tripanossomose impede a criação de animais em muitas regiões,
cruzada é possível apenas por algumas horas. O T. evansi, am- ao passo que em outras, onde os vetores não são tão numerosos,
plamente distribuído nos rebanhos na África e na Ásia, é trans- a tripanossomose com freqüência é um grave problema, particu-
mitido mecanicamente por moscas picadoras. Na América Cen- larmente nos bovinos. A doença, conhecida às vezes corno na·
186 Parasitologia Veterinária
Hospedeiros:
Todos os animais domésticos, mas especialmente importante nos
bovinos. Comum também em muitos animais silvestres, como o
javali africano, o porco-da-mato e vários antílopes.
Hospedeiro intermediário:
A maioria das espécies de Glossina, das quais a G. morsitans
talvez seja a mais disseminada.
Localização:
Todas as três espécies de tripanossomos estão caracteristicamente
presentes na circulação sangüínea. O T. brucei também é encon-
trado extravascu]annente, por exemplo, no miocárdio. no siste-
Fig. 148 O Trypanosoma bruceié pleomórfieo, apresentando formas finas e lon-
ma nervoso central e no trato reprodutivo. gas (a), grossas e curtas (b) e intermediárias (c).
Principais espécies:
Trypanosoma brucei Em esfregaços sangüíneos frescos, o T. congolense move-
T. congolense, a espécie mais comum se lentamente, com freqüência aparentemente unido a eritróci-
T. vivax. tos.
O T. vivax é monomórfico (Fig. 150), variando de 20 a 27 /lffi.
Espécies menos importantes: A membrana ondulante é inconspícua, o grande cinetoplasto é
Provavelmente a mais importante destas espécies seja o T. simi- terminal e a extremidade posterior é lf\fga e arredondada. Obser-
ae, fundamentalmente um parasita de suínos e de camelos e mor- va-se um curto flagelo livre.
fologicamente semelhante ao T. congolense. Em esfregaços sangüíneos frescos, o T. vivax move-se rapi-
damente pelo campo microscópico.
DISTRIBUiÇÃO
CICLO EVOLUTIVO
Aproximadamente 10 milhões de quilômetros quadrados da Áfri-
ca subsaárica entre as latitudes 14' N e 29'S. As moscas tsé-tsé ingerem tripanossomos no sangue ou na linfa
ao alimentar-se num hospedeiro infectado. Em seguida, os tri -
IDENTIFICAÇÃO panossomos perdem a camada superficial glicoprotéica e, no caso
do T. brucei e do T. congolense, tomam-se alongados e se mul-
Protozoários fusiformes alongados, variando de 8 a 39 /lffi de com- tiplicam no intestino médio antes de migrar para as glândulas
primento. Todos possuem um flagelo que se origina na extremida- salivares (T. brucei) e para a probóscida (T. congolense). Neste
de posterior do tripanossomQ, num corpo basal à base de uma bol-
sa flagelar (Fig. 145). O flagelo segue para a extremidade anterior
do corpo e se une, ao longo do seu comprimento, à película, for-
mando uma membrana ondulante. A partir daí, o flagelo pode se-
guir em frente como flagelo livre (Prancha XIII). Numa amostra
corada, podem-se observar um único núcleo de localização ceritral
e, adjacente à bolsa flagelar, uma pequena estrutura, o cinetoplas-
to, que contém o DNA da única mitocôndria.
IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES
PATOGENIA
Os parasitas
Hospedeiros:
O homem, o cão e uma amp la variedade de animais silvestres.
Hospedeiros intermediários:
Flebotomíneos hematófagos.
Localização:
Os protozoários mul tiplicam-se dentro dos macrófagos, que
eventualmente são des truídos, e os parasitas livres entram em
outros macrófagos intactos.
ESPÉCIES la)
............
Leishmania tropica causando leishmani ose cutânea ou
"botão-da-Oriente", as lesões desen-
....
volvendo-se no local da picada do
Ib)
inseto.
L donovani ca usando leish maniose visceral. ou Fig. 155 Leishmania. (a) Forma promastigota; (b) forma amastigola.
"caJazar". a infecção sendo sistêmi-
ca.
L. braziliensis causando lesões semelhantes às da L.
tropica. Em alguns casos, finalmente estes microrganismos são rodea-
dos por plasmócitos e linfócitos. Os macrófagos infectados são
/
então destruídos, o animal recupera-se e fica imune à reinfec-
DISTRIBUIÇÃO
\ ção.
A recuperação, contudo, depende da expressão adequada da
No cão, a L. tropica ocorre no sul da Europa, em outros países
mediterrâneos, na África e na Ásia; a L. donovani é encontrada imunidade celular, e se isto não ocorre, como em muitos casos
em países ao redor do Medjterrâneo e na Améri ca do Sul e a in- de L. donovani, as lesões ativas persistem, resultando em dilata-
fecção por L. braziliensis em partes da América do Sul. ção crônica do baço. do fígado e de Iinfonodos e em lesões cutâ-
neas persistentes. A anemia hemolítica também é uma caracte-
rística de infecção por L. donovani.
IDENTIFICAÇÃO E CICLO EVOLUTIVO
A Leishmania relaciona-se, até certo ponto, com O Trypanosoma, SINTOMA TOLOGIA CLíNICA
pois o microrganismo oval no interior do macrófago possui um
cinetoplasto em forma de bas~? associado a um flagelo rudimen- Pode levar muitos meses ou até mesmo anos para que os cães
tar, o qual, entretanto, não se .prolonga além da borda celular. Esta infectados desenvolvam si ntomatologia clínica, de tal modo que
forma de leishmânia, ou amastigota, depois de ingerida por um a doença pode tornar-se aparente bem depois dos cães terem saí-
flebotomíneo, transforma-se numa forma prornastigota no intes- do de áreas endêITÚcas.
tino do inseto, no qual o ci netoplasto se situa na ex tremidade pos- Na forma cutânea, as lesões restringem-se a ülceras cutâ-
terior do corpo (Fig. 155). Estes se dividem repetidamente por di- neas superficiais, freqüentemente nos lábios ou nas pálpebras,
visão binária, migram para a probóscida e quando o inseto se ali- e a recuperação é espontânea. Na forma visceral, que é mais
menta subseqüentemente são inoculados em um novo hospedei- comum, os cães inicialmente desenvo lvem "óculos", porcau-
ro. Uma vez dentro do macrófago, o promastigota retoma à forma sa da alopecia em vol ta dos olhos, o que é acompanh ado por
amastigota e novamente começa a se dividir. queda de pelos generali zada e eczema (Fig. 157), observan-
do -se leishmânias em grandes quantidades na pele infectada.
PATOGENIA Febre intermitente, anemia, caquexia e linfadenopatia genera-
Uzada também são sinais típicos.
As lesões básicas são focos de macrófagos proli feran tes ati- Não são raros longos períodos de reITÚssão seguidos pelo rea-
vados infectados com microrganismos leishmania (Fig. 156). parecimento de sintomatologia clínica.
192 ParasitoJogia Veterinária
Fig. 156 Micrografia eletrônica apresentando aglomerados de formas amastigotas de Leishmania no citoplasma de macrôfago.
EPIDEMIOLOGIA TRATAMENTO
A maioria das espécies de Leishmania infecta principalmente No homem, são usados co mumente compostos antimoni ais e
animais silvestres, em especial roedores, e o homem apenas oca,.- alopurinol mas que não são particularmente eficazes na doença
sionalmente se infecta. Outras espécies de Leishmania apresen'- canina, e em termos de saúde pública provavelmente seja me-
tam transmissão dircta de homem para homem, através de f1e- lhor sacrificar os cães infectados, particulannente com leishma-
botomíneos. O cão é um hospedeiro natural e reservatório de in- niose visceral.
fecção para algumas linhagens de L. donovani e L. tropica que
podem infectar o homem, especialmente crianças, na bacia do
Mediterrâneo. CONTROLE
Tricholllonas
o patógeno mais im portante neste gênero é o Tricho111onas foe-
tus, um microrganismo multiflagelado do trato reprodutor de
bovinos transmitido por via venérea. Nos touros, a infecção é
inaparente, mas nas vacas prenhes produz morte fetal precoce, o
que em geral é identificado como um problema de infertilidade.
Outras espécies de Trichomonas ocorrem no trato digestivo
de animais, aparentemente como comensais, e apenas uma es-
pécie, T. gallinae, é nitidamente patogênica no esófago e no papo
de pombos.
Trichomol1as Joelus
Hospedeiros:
Fig. 157 Leishmaniose cutânea num cão. Bovinos.
Protozoologia Veterinária 193
DIAGNÓSTICO
TRATAMENTO
CONTROLE
Trichomonas gallinae
Esta espécie causa lesões necróticas amarelas na boca, no esôfa-
go e no papo de pombos jovens, freqüente mente sendo fatal. A
infecção é adquirida via conteúdo de papo regurgitado de aves
ad ultas, as quais, apesar de imunes, permanecem portadoras. Os
perus e as galinhas podem ocasionalmente infectar-se.
Para tratamento, recomenda-se dimetridazol, enquanto o con-
trole depende de se im·pedir o acesso de pombos sil vestres à água
de be ber.
Fig. 159 A forma cecal flagelada de Hisfomonas meleagridis.
[Tricomonose no homem: Trichomonas vaginaUs é um pató-
geno comum e hospedeiro-específico da vagina e da u retr~. Como
o T. foetus, sua tran smissão é venérea e a sintom atologia clínica
rios são liberados pela larva e penetram na mucosa cecal, onde
de infl amação está largamente restrita às fêmeas.]
causam ulceração e necrose. Chegam ao fígado pela ci rculação
porta e coloni zam o parênquima hepático, produzindo focos ne-
eróticos circulares que aumentam de tamanho conforme os pa-
l1istomonas meleagridis rasitas se multiplicam na periferia da lesão.
A fase seguinte do c iclo evolu tivo não está clara, mas se su-
H istomonas meleagridis é a causa de uma doença em perus jo-
põe que os ascarídeos Heterakis se infectem com os protozoári-
vens, conhecida como êntero-hepatite infecciosa, histomonose
os cecais, provavelmente por ingestão, e esses protozoários sub-
ou "cabeça negra". As lesões necróticas características restrin-
seqüenteme nte atinjam o ovário do nematóide. Já está estabele-
gem-se ao ceco e ao fígado, e a transmissão e ntre as aves depen-
cido que os protozoários se incorporam a uma certa proporção
de do transporte do protozoário no ovo do ascarídeo de aves
do s ovos de Heterakis e dessa maneira atingem o exterior.
Helerakis gallinarum.
A infecção das aves também pode resultar da ingestão de
minhocas, que são hospedeiros transportadores de ovos e larvas
Hospedeiros:
de Heterakis.
Perus, particularmente os bem jovens; ocasionalmente patogê-
nico em gali nhas e aves de caça.
PATOGENIA
Hospedeiro transportador:
O adu lto e os ovos do ascarídeo Heterakis gallinarum. A doença é essencialmente de perus jovens de até 14 semanas
de idade e se caracteri za por lesões necróticas no ceco e no fíga-
Localização: do. As lesões iniciais são pequenas úlceras no ceco, que rapida-
A mucosa cecal e o parênq uima hepático. mente aumentam e se fundem, de tal modo que toda a mucosa
fi ca necrosada e se desprende, formando, com o conteúdo cecal,
Distribuição: um tampão caseoso. As lesões do fígado são c ircul ares e têm até
Mundial. 1 cm de diâmetro, com centros amarelos formando depressões;
são encontradas tanto na superfíc ie como no parênquima hepáti-
co (Fig. 160).
IDENTIFICAÇÃO A mortalidade nos perus jovens pode chegar a 100%, e nas
aves que se recuperam o ceco e o fígado podem ter cicatrizes
Um parasita redondo ou oval, com 6 a 20 ).llTI de diâmetro, que permanentes.
na luz do ceco apresenta um único flagelo (Fig. 159), embora este
fl age lo pareça ter sido perdido quando no tecido mucoso ou no
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA
fígado. Tanto o estágio luminal como o estágio tecidual se loco-
movem por meio de pseudópodes.
Oito ou mais dias após a infecção, as aves tomam -se apáticas,
com as penas arrepiadas e as fezes de coloração amarelo-enxo-
CICLO EVOLUTIVO fre. A menos que tratad as, em geral morrem dentro de uma ou
duas semanas.
As aves infectam-se por ingestão do ovo embri onado do ascarí- Nos peru s mais velhos, a doença é mais comumente uma sín-
deo cecal Heterakis gallinarum, sendo os flage lados transporta- drome debilitante, crônica, seguida de recuperação e subseqüente
dos na larva não-eclodida. Quando o ovo eclode, os protozoá- imunidade.
Prolozoologia Veterinária 195
CONTROLE
Hexwllira meleagridis
Este protozoário é algo semelhante ao Trichomonasfoetu.s, mas
é bilateralmente simétrico, visto possuir doi s núcleos, dois con-
juntos de três flagelos anteriores e dois flagelos que atravessam
o corpo, emergindo na prute posterior. É ocasionalmente respon-
sável por enteri te catarral em perus jovens.
Fig. 160 As lesões hepáticas necróticas circulares características de histomonose. Gi(//-dia lamblia
Este microrganismo é bilateral mente simétrico como o Hexami-
ta e também possui oito flagelo s. seis dos quais emergem como
A denominação "cabeça negra" foi usada primeiramente para flagelos livres em intervalos em volta do corpo (Fig. 161). É sin-
descrever a doença quando se supunha que a cianose da cabeça gular, pelo fato de possuir um grande disco adesivo na superfí-
e do monco (ou barbela) fosse um aspecto característico. Co ntu- cie ventral achatada do corpo, O que facilita a fixação às células
do, este si nal não está necessariamente presente e, de qualquer epite li ais da mucosa intestinal. O microrganismo é eliminado
maneira, não se restringe à histomonose. como cistos multinucleados em que os flagelos podem ser viSÍ-
veis e ocasionalmente como trofozoítos nas fezes. Sua detecção
EPIDEMIOLOGIA é a base do diagnóstico laboratorial.
A Giardia não é uma causa rara de diarréiacrônica no homem
Embora sem apresentar sintomatologia de infecção por Histomo- e a infeção também foi descrita em animais silvestres e domésti-
nas, a galinha doméstica comumente infecta-se com H. gallina- cos. Embora comumente sejam excretados cistos de Giardia nas
rum, cujos ovos, se ingeridos por perus, produzirão regularmen- fezes de cães e de gatos, não existe uma relação consistente com
te hi sto monose. diarréia ou outros sinais de problemas gastrintestinais, apesar de
Caracteri sticamente, a histomonose ocorre onde perus bem poderem atuar como reservatórios de infecção para o homem.
jovens são criados junto com gaJinhas ou em locais onde até re- Curiosamente, nos Estados Unidos, há evidência de que a Giar-
centemente havia gal inhas. Entretanto, como o organismo pode dia proveniente do homem que tem acesso a reservatórios mu-
sobreviver em ovos embrionados de Heterakis no solo ou sob a nicipais de água pode infectar animais silvestres com êxito, es-
forma de larvas em minhocas, podem surgir su rtos em locais pecialmente castores. Estes animais atuam, então, como fonte de
aparentemente livres do problema. .!
contaminação de abastecimentos domésticos de água.
Os perus jovens também podem infectar-se quando criados
por fêmeas chocas que são portadoras.
Disco suctorial
DIAGNÓSTICO
TRATAMENTO
Os protozoários pertencentes ao subfilo Sporozoa caracterizam- Pode ser feita em nível microscópico ou pelo exame das fezes
se por ocorrência intracelular e por terem um complexo apical para a presença de oocistos ou por exame de raspados ou cortes
em algum estágio de seu desenvolvimento. Os trofozoítos não histológicos de tecidos acometidos.
têm cílios ou fl agelos. A reprodução envolve fases assexuada
(esqui zogonia) e sexuada (gametogonia). Após a gametogonia, OOCISTOS
for ma-se um zigoto que se divide e prouuz espurus (t:spurogonia).
Das três c lasses de significado veterinário, as duas mais im- Os oocistos podem ser identi ficados de acordo com a fonna e o
portantes são a Coccidia ou esporozoários intestinais e a Piro- tamanho. As formas mais comuns são esférica, oval ou elipsóide e
plasmidia, que consiste cm esporozoários sangüíneos. o tamanho das espécies comuns varia de 15 a 50 ,.un. Os oocistos
possuem uma casca refrátil e algumas espécies possuem um peque-
no poro numa das extremidades, o micrópilo, que freqüentemente
Classe COCCIDIA é coberto por um tampão polar que pode ser saliente. O tempo gas-
to para que ocorra esporulação em condições nonnais também pode
A classe Coccidia contém parasitas que ocorrem principalmente ser usado como uma ajuda para a identificação.
nos vertebrados. Como os parasitas de importância veterinária
estão incluídos em duas famI1ias distintas, a Eimeriidae e a Sar- Estágios teciduais
cocystidae, propomos discuti-Ias separadamente.
Os esquizontes maduros podem, em alguns casos, ser identifica-
dos histologicamente por sua localização. tamanho e número de
FamOIa EIMERlIDAE merozoítos que contêm. Os merozoítos dispõem-se corno uma sé-
rie de microrganismos de formato em crescente (5 a 10 ~), muito
São principalmente parasitas intracel ul ares do epitélio intesti- semelhante ao aspecto de uma cebola cortada. Por outro lado, no
nal. A esqu izogon ia e a gamctogonia ocorrcm no hospedeiro e microgametócito maduro, os microgametas dispõem-se ao redor da
a esporulação, ou maturação do zigoto fertili zado, em geral tem periferia da célula e têm cerca de 5 j.U11 de comprimentp. O macro-
lugar fora do hospedeiro. Embora três gêneros, Eimeria, lsos- gametócito possui um grande núcleo central, com pequenos grâ.
pora e Cryptosporidiwn, tenham considerável importância ve- nulos dispostos em volta da periferia da célula. Equivale em tama-
terinária, o termo coccidiose usualmente está reservado para in- nho ao oocista que eventualmente se desenvolverá a partir dele.
fecções causadas por espécies de Eimeria e lsospora. Como as
diferenças na patogenia e na epidemiologia das diferentes es- CICLO EVOLUTIVO
pécies são mínimas, propomos que, após comentários gerais
sobre e las, a si ntomatologia clínica, o diagnóstico, o tratamen- Divide-seem três fases: ~o rulação, infecção e esquizogonia e_
to e o controle sejam considerados detalhadamente para cada finalmente, gametogonia e fonnação de oocisto (Fig. 162).
hospedeiro.
Esporulação
Eimeria Os oocistas não-esporulado s. constitu ídos de uma massa
protoplasmática nucleada envolta por uma parede resistente, são
Hospedeiros: eliminados nas fe zes. Em condições adeq uadas de oxigenação.
Aves domésticas, bovinos, ovinos, caprinos, suínos, eqüinos e alta umidade e temperaturas ideais de aprox imadamente 27°C. o
coelhos. núcl eo di vide-se duas vezes e a massa protoplasmática forma
qu atro corpos cónicos, que se irradiam de uma massa central
Localização: Cada um desses cones nucleados torna-se arredondado e fonnz
Células epiteliais do intestino e em duas espécies o rim e o fíga- um esporoblasto, enquanto em algumas espécies o protoplasIll.2.
do, respectivamente. restante forma o corpo oocístico residual. Cada esporoblaslo
secrela uma parede de material refrátil e passa a ser conhecido
ESPÉCIES IMPORTANTES como esporocisto, enquanto o protoplasma em seu interior di-
Eimeria renella, E. necatrix, E. brunetti, E. maxima, E. mi/is e vide-se em dois esporozoítos em forma de banana. Em algumas
E. acervulina - galinhas espécies, o protoplasma restante no interior do esporocis to for-
E. meleagrimitis e E. adenoeides - perus ma um corpo residual esporocístico.
E. anseris, E. nocens e E. truncata (rim) - gansos O tempo gasto para estas alterações varia de acordo com a tem-
E. zuernii, E. bovis e E. alabamensis - bovinos peratura, mas em condições ideais usualmente requer dois a quatro
E. crandallis, E. ovinoidalis, E. bakuensis - ovinos dias. O oocisto, constituído agora de uma parede externa envolvendo
E. arloingi e E. ninakohlyakimovae - caprinos quatro esporocistos cada qual contendo dois esporozoítos, é desig-
E. debliecki - suínos nado oocisto esporulado e é o estágio infectante (Fig. 163).
E. leuckarti - eqüinos
E. flavescens, E. intestinalis e E. stiedae (fígado) - coelhos. Infecção e esquizogonia (reprodução assexuada)
Mero-iõito
Esquizonte de
segundo estágio
Esquizonte de
primeiro estágio
• • Gametogonia
Microgametócito
• ®
Trofozoíto
F-+-- Macrogametócito
•
~ Zigoto
t /
•. Oocisto
~ !I' •
• Esporulação
os esporozoítos, ati vados por tripsina e bile, deixam o esporocisto. repetida e formam uma grande quantidade de organi smos
Na maioria das espécies, cada esporozoíto penetra numa célula uninucleados flagelados, os microgametas. É somente durante
epitelial, arredonda· se e é conhecido então como trofozoíto. Em esta breve fase que os coccídios apresentam órgãos de locomo-
algumas espécies, entretanto, por exemplo a E. tenelia, os espo- ção. Os microgametas são liberados por ruptura da célula hos-
rozoítos penetram no epitélio, são captados por macrófagos na pedeira, um deles penetra num macrogameta e ocorre, assim, a
lâmina própria das vilosidades e transportados para uma posi- fusão dos núcleos do micro- e do macrogameta. Forma-se uma
ção profunda na mucosa, onde deixam os macrófagos e penetram parede cística em volta do zigoto agora conhecido como oocisto
nas células epiteliais, formando trofozoítos. Após alguns dias, e geralmente não mais se observa desenvolvimento, até que este
cada trofozoíto terá se dividido por fissão binária e formado um oocisto não· esporulado seja eliminado nas fezes.
esquizonte (Fig. 164), uma estrutura constituída de uma grande O período pré-patente varia consideravelmente, podendo ser
quantidade de microrganismos nucleados alongados, conhecidos tão curto quanto cinco dias em aves domésticas e de até três a
como merozoítos. Quando a divisão está completa e o esquizonte quatro semanas em algumas espécies de ruminantes.
maduro, a célula hospedeira e o esqui zonte rompem-se e os
merozoítos saem e invadem células adjacentes. A esquizogonia
pode ser repetida, e o número de gerações de esquizontes depen- Isospora (sin. CystoLlOspora)
dendo da espécie.
O gênero Isospora contém muitas espécies e como o gênero
Gametogonia e formação de oocisto Eimeria parasita uma ampla variedade de hospedeiros.
(reprodução sexuada) As espécies importantes incluem a I. suis nos suínos, I. ca-
nis e I. ohioensis nos cães e I. feiis e l. rivolta nos gatos. O ciclo
A esquizogonia termina quando os merozoítos dão origem a evolutivo das espécies de Isospora difere do ciclo das espécies
gametócitos masculinos e femininos (Fig. 164). Os fatores res- de Eirneria em três aspectos. Primeiramente, o oocisto esporulado
ponsáveis por esta mudança não são totalmente conhecidos. Os contém dois esporocistos, cada um com quatro esporozoítos. Em
macrogametócitos são femininos e permanecem unicelulares, segundo lugar, os estágios extra-intestinais que ocorrem no baço,
mas seu tamanho aumenta, ocupando a célula parasitada. Podem no fígado e nos linfonodos do suíno podem reinvadir a mucosa
ser distinguidos de trofozoítos ou esquizontes em desenvolvimen- intestinal e causar sintomatologia clínica. Em terceiro lugar, os
to pelo fato de possuírem um núcleo único e grande . Os roedores podem, por ingestão de oocistos de cães e gatos, infec-
microgametócitos masculinos sofrem, cada um deles, divisão tar-se com estágios assexuadas e amar como reservatórios.
..
198 Parasitologia Veterinária
Esporocisto
contendo
2 esporozoítos
Ibl
ASPECTOS GERAIS DE EIMERIA rer em dois dias depois de sua eliminação nas fezes, este período
EISOSPORA pode ser muito mais longo no pasto. Os Docistas têm longevida-
de considerável e podem persistir por vários anos.
Há também certa evidência de que o ciclo evolutivo de deter-
EPIDEMIOLOGIA E IMUNIDADE minados coccídios de ruminantes pode ter desenvolvimento re-
tardado ou inibido no estágio esquizogônico; a retomada do de-
Tanto em Eimeria como em lsospora, certos tipos de manejo senvolvimento vários meses depois com subseqüente eliminação
envolvendo aviários, currais e pocilgas com camas densas ofe- de oocistos pode desempenhar um papel importante na epidemi-
recem condições ideais de temperatura e umidade para esporu- ologia da coccidiose bovina.
lação de oocistos; com a superlotação, o risco de infecção maci- Após a infecção, desenvolve-se imunidade, e os estágios imu-
ça é ainda maior. Embora a esporulação de oocistos possa ocor- nogênicos variam de acordo com a espécie, mas em geral são aque-
Protozoologia Veterinária 199
Quadro 7 Caracteres diferenciais de seis importantes espécies de Eimeria nas aves domésticas
Região Ceco I.D. Parte inferior Parte superior Parte média Parte inferior
do 1.0. do 1.0. do l.0. do l.O.
Lesões intestinais Hemorragia I-!emorragia Hemorragia leve Exsudato aquoso Exsudato rosa· Sem lesões
Pontos brancos Parede espessada Necrose coagulativa Faixas transversais salmão visíveis
Pontos brancos brancas Paredes espessa·
das
Hemorragia com
infecções maciças
Nos locais em que as aves de postura de reposição perma- registradas, dois dos principais patógenos são E. zuernii e E.
necem todo o tempo em pisos de tela de arame, não há necessi- bovis. A E. zuernii é particulannente patogénica, atacando o ceco
dade de medicação; se forem criadas em camas, para eventual e o cólon e, em infecções maciças, produz uma grave disenteria
produção em gaiolas suspensas, administram-se então coccidi- sanguinolenta acompanhada por tenesmo. Seu período pré-pa-
ostáticos no mesmo nível que o utilizado para frangos de corte. tente é de 17 dias e produz oocistos pequenos e esféricos de 16
Se elas forem criadas em camas, para produção em camas, uti- ).1Ill de diâmetro. A E. bovis também acomete o ceco e o cólon,
liza-se então um programa de anticoccídios para estimular a imu- produzindo uma grave enterite e diarréia nas infecções maciças.
nidade. As preparações uti lizadas com mais freqüéncia, isola- Caracteristicamente, podem ser encontrados esquizontes nos
damente ou em combinação, são amprólio, etopabato, lasalocid, vasos lacteais centrais das vilosidades (Fig. 165). O período pré-
monensina e sulfaquinoxalina. O esquema consiste na adminis- patente é de 18 dias e os oocistos são grandes, ovais e medem 28
tração destas drogas em nível decrescente durante as primeiras X 20 ~. A doença depende das condições epidemiológicas que
16 ou 18 semanas de vida. Isto pode ser feito como uma redu- precipitam uma ingestão maciça de oocistos, tais como superlo-
ção em duas etapas, isto é, entre O e 8 semanas e 8 e 16 sema- tação em currais ou grandes quantidades de alimentos sem con-
nas, ou, alternativamente, como uma redução em três etapas, de dições higiénicas. Pode ocorrer também no pasto, onde os ani-
O a 6 semanas, 6 a 12 semanas e 12 a 18 semanas. Com esta téc- mais se agrupam em volta de bebedouros. Em certas regiões
nica, mantém-se proteção completa contra o desafio coccídico européias, a E. alabamensis foi responsável por surtos de diar-
nas aves muito jovens, e a taxa de droga reduzida nas aves mais réia em bezerros que recentemente haviam sido levados de volta
velhas permite exposição limitada a coccídios em desenvolvi- a recintos permanentes de bezerros.
mento, de tal modo que pode desenvolver-se imunidade adqui- O diagnóstico baseia-se na história e na sintomatologia clíni-
rida. ca e, nas infecções patentes, na presença de oocistos das espéci-
Quando são utilizados coccidiostáticos na ração, há dois ou- es patogênicas nas fezes.
tros fatores a serem considerados. Primeiramente, podem ocor- Recomenda-se tratamento com sulfadimidina, por via oral ou
rer surtos de coccidiose em aves mantidas com ração medicada parenteral, que é repetido na metade da dose inicial durante os
seja porque o nível de coccidiostático usado é baixo demais ou dois dias seguintes. Alternativamente, pode se utilizar uma com-
porque as condições no aviário mudaram, permitindo uma espo- binação de amprólio e etopabato ou decoquinato.
rulação maciça de oocistos, os quais, à ingestão, o nível da dro- A prevenção baseia-se em bom manejo; em particular, os
ga não mais consegue controlar. Em segundo lugar, deve-se con- comedouros e bebedouros devem ser trocados regularmente e a
siderar também a influência de infecções intercorrentes que al- cama deve ser mantida seca.
teraram 9 apetite e, conseqüentemente, a ingestão de coccidios-
tático. COCC/D/OSE DE OVINOS E CAPRINOS
Nos perus, as sulfonamidas são mais uma vez as drogas de
escolha no tratamento. Para profilaxia, normalmente são adicio- A coccidiose clínica de ovinos e caprinos ocorre principalmente
nados coccidiostáticos à ração durante as primeiras 12 a 16 se- em cordeiros e cabritos jovens e parece haver uma prevalência
manas de vida. As drogas comumente utilizadas são sulfaquino- crescente em condições de criação,intensiva. Embora a maioria
xalina uma mistura de amprólio, etopabato e sulfaquinoxalina ou dos ovinos, principalmente os que têm menos de um ano de ida-
halofuginona em baixa concentração. A monensina também é de, seja portadora de coccídios, apenas duas das 11 espécies são
usada, apesar de viável apenas sob receita por causa do seu mai- conhecidas como altamente patogénicas. São a E. crandaUis e a
or risco de toxicidade para perus. E. ovinoidalis. as duas com um período pré-patente de 15 dias.
Nos Estados Unidos, há no comérciduma "vacina" constitu- Os oocistos da E. crandallis têm paredes espessas e são subesfé-
ída de oocistos de oito espécies de coccídios. As aves jovens ricos, enquanto os oocistos da E. ovinoidalis são elipsóides, com
recebem esta vacina viva na água de beber, e 10 dias depois in- uma casca interna distinta; ambos possuem tampões polares. A
troduz-se um coccidiostático na ração por um período de trés a diferenciação das muitas espécies é uma tarefa de especialistas.
quatro semanas. Tem-se obtido também imunização adequada As infecções maciças em cordeiros são responsáveis por gra-
com oocistos atenuados por irradiação, e agora existe uma vaci- ve diarréia, que às vezes contém sangue. As lesões patogênicas
na oral, viva, atenuada, como alternativa para os coccidiostáti-
cos, no controle de coccidiose em pintos. Isto consiste em linha-
gens "precoces" selecionadas de cada espécie de coccídio que
afeta as aves domésticas; essas linhagens apresentam rápido
desenvolvimento in vivo com lesão mínima no intestino mas es-
timulando uma imunidade eficaz. Para que tenham sucesso,
ambas as técnicas dependem da exposição subseqüente a oocis-
tos para produzir imunidade, o que pode não ocorrer, a menos
que a cama seja suficientemente úmida para pennitir a esporula-
ção. Há um considerável interesse no desenvolvimento de vaci-
nas mais eficazes, visto que há cada vez maior resistência a dro-
gas em coccidiose.
COCC/D/OSE DE BOV/NOS
são princjpalmente no ceco e no cólon, onde ocorrem gameto- ção de oocistos e é muito semelhante à sintomatologia causada
gonia de E. crandallis e esquizogonia de segundo estágio e ga- por outros patógenos, como rotavÍrus.
metogonia de E. ovinoidalis. As lesões causam hemorragia lo- O tratamento com amprólio por via oral para os leitões aco-
cal e edema, podendo a atrofia das vilosidades ser uma seqü ela metidos usualmente é eficaz, enquanto se pode obter a preven-
que resulta em má absorção. ção pela administração de amprólio na ração a porcas durante o
Diversas espécies, incluindo a E. ovinoidalis, produzem es- período peripuerperal, isto é, de uma semana antes do parto até
quizontes gigantes, de até 300 ~ de diâmetro, que podem ser três semanas pós-parto.
observados macroscopicamente como pontos brancos na parte
inferior do intestino delgado. Neste local, podem ocorrer tam- COCCIDlOSE DE EQÜINOS
bém lesões semelhantes a papilomas, usualmente uma seqüela
da formação de gametócitos por E. bakuensis, mas não têm gran- A Eimeria (sin. Globidium) leuckarti ocorre no intestino del ga-
de significado patogênico (Prancha XIV). do de eqüinos e asininos, tendo sido apontada como a causa de
Os cordeiros em geral são acometidos entre quatro e sete se- uma diarréia intennitente. O período pré-patente é de 15 dias e
manas de idade, com o pico da infecção por volta de seis sema- os oocistos ovais são muito grandes, medindo 80 X 60~, com
nas. Os surtos relatados ocorreram onde as ovelhas e os cordei- espessa casca escura e mjcrópilo distinto.
ros eram estabulados em condições sem higiene ou submetidos A patologia inclui alterações inflamatóri as m arcantes na
a pastejo intensivo. O fomecimento de concentrados em cochas mucosa e ruptura da estrutura das vilosidades.
fixos, ao redor dos quais houve intensa contaminação com 00- O diagnóstico é difícil e, dada a natureza pesada dos oocis-
cistos, também pode ser um fator precipitante. Nos Estados Uni- tos, devem ser empregadas técnicas de sedimentação ou, se for
dos, ocorre coccidiose quando os cordeiros mais velhos são con- usada a flutuação, é necessária uma solução saturada de açúcar.
finados em piquetes após o desmame. Pouco se sabe sobre o tratamento, mas por analogia com outros
Na Europa Ocidental, em rebanhos com parição na primave- hospedeiros, pode-se tentar sulfadimidina ou amprólio.
ra, a infecção dos cordeiros resulta tanto de oocistos que sobre-
vi veram ao inverno como dos oocistos produzidos por ovelhas
durante o penodo peripuerperal. COCCIDIOSE DE COELHOS
O diagnóstico baseia-se na história do manejo, na idade dos
cordeiros, em lesões pós-morte e no exame fecal para oocistos. Há três espécies patogênicas principais em coelhos, a saber, E.
Estes últimos podem estar presentes em quantidades muito gran- stiedae, E.flavescens e E. intestina/is. O penodo pré-patente da
des tanto em cordeiros sadios como em doentes, de tal modo que E. stiedae é de 18 dias e das outras é de cinco a sete dias.
sempre é recomendável necropsia. A doença é mais comum perto do desmame e a sintomatolo-
O tratamento é o mesmo descrito para bovinos. gia da infecção por E. stiedae inclui enfraquecimento, diarréia.
A prevenção baseia-se em bom manejo e troca regular de ascite e poliúria. Esta espécie, que ocorre nos ductos biliares,
comedouros e bebedouros, mas, em alguns rebanhos intensivos atinge o fígado pelos duetos porta e em seguida se localiza no
em que o problema ocorre anualmente, podem ser incluídos bai- epitélio dos duetos biliares, onde resulta numa grave colangite.
xos níveis de amprólio ou decoqu inato na ração. O fígado apresenta-se dilatado e repleto de nódulos brancos. As
Pouco se sabe a respeito do problema da coccidiose em ca- espécies intestinais, E.flavescens e E. intestinalis, que são as mais
prinos, mas freqüentemente são registrados oocistos nas fezes, e significativas nas criações comerciais de coelhos, causam des-
uma espécie, E. arloingi, foi descrita como causadora de grave truição das criptas no ceco, resultando em diarréia e emagreci-
patologia. Não eSlá claro se as espécies ovinas podem afetar os mento.
caprinos, mas isto parece improvável diante da alta especifici- O diagnóstico, como em outras espécies, é mais bem feito por
dade de hospedeiros demonstrada pelas espécies de Eimeria. exame pós-morte. Na prática, entretanto, a demonstração de
oocistos nas fezes é freqüentemente usada como uma indicação
de que os coelhos necessitam de tratamento. Os oocistos de E.
COCCIDIOSE DE SUíNOS
stiedae são elipsóides e têm 37 X 21 ~ de tamanho; os oocis-
tos da E. flavescens são ovóides e medem 31 X 21 jLm, com um
Embora tenham sido descritas urnas dez espécies de coccídios
micrópilo na extremidade larga; e os oocistos da E. intestinalis
para os suínos, a sua importância não está clara. A E. debliecki
são piriformes e medem 27 X 18~.
foi descrita como causadora de doença clínica e grave patologia,
e apenas relativamente há pouco tempo uma outra espécie, Isos- Para tratamento, utilizam-se sulfadimidina ou sulfaquinoxa-
pora suis, foi apontada como a causa de urna grave enterite de !ina na água de beber. O controle da coccidiose de coelhos en-
ocorrência natural em leitões novos de urna a duas semanas de volve a limpeza diária das gaiolas, coelheiras ou cercados, bem
idade. A 1. suis tem um período pré-patente curto de quatro a seis como comedouros limpos. Em muitas unidades grandes, obtém-
dias; os oocistas elipsóides medem 17 x 13 f.Lme quando espo- se o controle, criando-se os animais em pisos de tela de arame
rulados contêm os dois esporocistos com quatro esporozoÍtos ou, alternativamente, pela incorporação à ração de coccidiostá-
característicos de lsospora. Os principais sinais clínicos inclu- ticos, como amprólio, clopidol ou robenidina.
em diarréia, freqüentemente bifásica, cuja gravidade varia de
fezes amolecidas a diarréia líquida persistente. COCCIDIOSE DE CÃES E GA TOS
A fonte de infecção parece ser oocistos produzidos pela por-
ca durante o período peripuerperal e os leitões infectam-se inici- Antigamente, supunha-se que as espécies do gênero Isospora
almente por coprofagia; a segunda fase de diarréia é iniciada por eram li vremente transmissíveis entre cães.e gatos, mas agora está
rei nvasão por estágios teciduais. O diagnóstico desta condição é estabelecido que não é este o caso.
difícil, a menos que haja disponibilidade de materiaJ pós-morte, No cão, as espécies comuns de Isospora são J. canis e I. ohi-
uma vez que a sintomatologia clínica ocorre antes da elimina- oensis. O período pré-patente de ambas é de menos de 10 dias e
Proro?Oologia Veterinária 203
o oocisto de /. can is é o maior, medindo 38 X 30 ILm , enquanto ocorrer infecção cruzada en tre animais do mésticos e de labo-
o de /. ohioensis mede 25 X 20 ILm. Não há uma real evidência ratório e o homem.
de que estas espécies sejam patogênicas por si próprias, mas a O ciclo evoluti vo do Clyptosporidium é bas icamente seme-
infecção pode ser exacerbada por virose intercorrente ou outros lhante ao de outros coccídios intestinais, embora, como o Sar-
agentes imunossupressores. Os ciclos evolutivos são nomlalrnen- cocystis, a esporulação tenha lugar no hospedeiro. Os minúscu-
te diretos, embora haj a certa evidência de que pode estar envo l- los oocistos (4,0-4,5 fLm), cada um com quatro esporozoítos, são .
vida um a re lação predador-presa e que os cães podem adqui rir eliminados nas fezes. Após a ingestão, os esporozoítos invadem
infecçflo pelos tecidos de roedores infectados com es tágios as- a borda em escova das mi crovi losidade,s dos enter6citos e os tro-
sexuadas. É importante que os oocistas de stas espécies sejam fozoÍtos rapidamente se diferenciam, for mando esquizontes com
diferenci ados dos oocistos de Sarcocyslis, muito menores e es- quatro a oito merozoítos. A gametogo ni a ocorre depois de uma
porulados quando recém-eliminados nas fe zes. ou duas gerações de esquizontes e são produzidos oocistas em
No gato, as espécies comuns são I. felis e I. ri volta e, como 72 horas .
no cão, a infecção pode ser adquirida de modo direto ou prova- Recentes evidências indicam também que são produzidos dois
velm ente por ingestão de pequenos roedores infectados. Os pe- tipos de oocistas. Os oocistos do primeiro tipo, a maioria, têm
ríodos pré- patentes são curtos, de sete a oito dias. Os oocistos de paredes espessas e são eliminados nas fezes. Os demais têm pa-
l. lelis medem 40 X 30 f'm, enquanto os de l. rivolta mede m 25 redes finas e hberam os esporozoítos no intestino, causando auto-
X 20 j.lJTI. Sua patogenicidade, como no cão, em geral é suposta- infecção.
mente baixa, apesar de diarréia grave em gatos no vos ler sido A patogenia da infecção por Cryptosporidiwn não está clara.
associada a altas contagens de oocistos. Os esquizontes e gamontes desenvo lvem-se num invólucro pa-
Outros oocistos encontrados em fezes de gato (Fig. 166) per- rasitóforo aparentemente deri vado das microvilosidades (Fig.
tencem a membros da Família Sarcocystidae, e é importante di- 167) e, assim sendo, aparentemente não ocorre a ruptura celular
ferenciar os oocistos de lsospora dos oocistos de espécies de observada em outros coccídios . Não obstante, são evidentes as
Sarcocystis e Toxoplasma gondii, que podem infectar animais que alterações da mucosa no íleo, onde há atrofia , intumescimento e
servem como alimento e ocasionalmente o homem. Os pri mei- eventualmente fusão das vi losidades; isto tem um efeito marcante
ros podem ser diferenciados de l sospora pelo menor tamanho sobre a atividade de algumas das enzimas ligadas à membrana.
(menos de IS X II f'm) e pela presença de es porocistos ou 00- Clinicamente, a doença caracteri za-se por anorexia e diarréia,
cistos esporul ados em fezes frescas, enquanto os oocistos de T. com freqüência intermitente, o que pode resultar em baixos ín-
gondii, apesar de não-esporulados, medem apenas 12 X lO f'm. di ces de crescimento. Foram descritos vôm itos e diarréia em lei-
As informações sobre o tratamento no cão e no gato são es- tões novos com infecções mistas por rotavírus e Cryplosporidium..
cassas, embora por analogia com outras espécies de hospedeiro Os oocistos podem ser demonstrados pela técnica de coloração
possam ser tentadas sulfas, como a sulfadimidina. de esfregaços fecais de Ziehl-Nielsen, em que os esporozoítos
aparecem como grânulos vennelho-bri lhantes (Prancha XIV). O
diagnóstico mais preciso baseia-se em sofisticadas técni cas de
Cl)plosporidiu/Il coloração, incluindo imunofluorescência.
Ovo de
"';..",-- Taxocara cati
Isospora
telis
.; .i,... .
Fig. 166 Diagrama de oocistos de coccídios de gato em relação ao ovo de Toxoc8r8 Fig. 167 Micrografia eletrônica mostrando macrogamonte de Cryptosporidium na
ca ri. borda da microvilosidade de uma célula epitelial.
Parasit% gia Veterin6rla
Estágios extra-intestinais
Família SARCOCYSTIDAE
T aquizoítos:
Quatro gêneros, Toxoplasma, Sarcocyslis, Besnoitia e Hammon- São encontrados desenvol vendo-se em vacúolos em muitos ti-
dia, têm importância veterinária. Seus ciclos evoluti vos são se- pos de célula, como fibrobl astos, hepatócitos, células reticula-
melhantes ao da Eimeria e da lsospora , exeeto que os estágios res e células miocárdicas. Em qualquer uma, pode haver 8 a 16
assexuado e sexuado ocorrem nos hospedeiros intermediário e microrganismos, cada um medindo 6 a 8 jJ..m.
final, respectivamente. Bradizoítos:
Com exceção do gênero Toxoplasma , normalmente não são Estão contidos em cistos e ocorrem principalmente nos múscu-
patogênicos para seus hospedeiros finais e sua importância deve- los, fígado, pulmão e cérebro. O s bradizoítos são lanceolados e
se aos estágios teeiduais císticos nos hospedeiros intermediári- podem estar presentes vário·s milhares num cisto , que pode me-
os, que incluem ruminantes, suínos, eqüinos e o homem. A fase dir até 100 lJIll de diâmetro.
tecidual no hospede iro intem1ediário é obrigatória, exceto no
Toxoplasma, em que é facultativa.
CICLO EVOLUTIVO
o gênero Toxoplasma tem uma única e spéc ie, T. gondii, um A maioria dos gatos infecta-se pela ingestão de animais infecta-
coccídio intestinal de gatos. O ciclo evoluti vo inclui uma fase dos por Toxoplasma, usualmente roedores , cujos tecidos contêm
sistêmica facultativa, que é uma causa importante de aborto em taqui zoítos ou bradizoítos, embora também possa ocorrer trans-
o vinos e também pode causar uma zoonose. As infecções huma- missão direta de oocistos entre gatos (Fig. 168). A ingestão de
nas são particularmente graves se ocorrerem durante a gravidez bradizoítos maduros é a via mais importante e resulta na elimi-
e podem resultar em aborto ou em distúrbios adquiridos congê- nação de oocistas em maiores quantidades do que quando a in-
nitos que acometem principalmente o sistema nervoso central. fecção é adquirida a partir de outros estágios.
Após a infecção, a parede do cisto é digerida no es tômago do
Espécie:
gato, e no epitélio intestinal os bradi zoítos liberados iniciam um
Toxoplasma gondii.
ciclo esquizogônico e gametogônico, culminando na produção
Hospedeiros finais: de oocistos em três a dez di as. Os oocistos são e liminados du-
Todos os felfdeos. O gato doméstico é o mais importante. rante apenas uma a duas semanas. Durante este ciclo na mucosa
intestinal, os organismo s podem invadir os órgãos ex tra-intesti-
Hospedeiros intermediários:
nai s, onde o desenvolvime nto de taquizoítos e bradizoítos se dá
Qualquer mamífero, incluindo o homem, ou aves. Observar que
como no s hospedeiros intermediários.
o hospedeiro final, O gato, também pode ser um hospedeiro in-
termediário e abrigar estágios extra-intestinais.
Hospedeiros intermediários
Localizações no hospedeiro final:
Esquizontes e gamontes no intestino delgado. Esta parte do ciclo é extra-intestinal e resulta na formação de
Localizações no hospedeiro intermediário: taqui zoítos e bradizohos, que são as únicas formas encontradas
Taqui zoítos e bradizoítos em tecidos extra-intestinais, incluindo em hospedeiros não-felinos. A infecção de hospedeiros interme-
mú sculos, fígado, pulmão e cérebro. di ário s pode ocorrer de duas maneiras.
Na primeira, são ingeridos ooeistos esporulados, e os esporo-
Distribuição: zoítos liberados rapidamente penetram na parede intestinal e se
Mundial. di sse minam pela via hem atógena. Este e stág io invasivo e
proliferativo é denominado taquizoíto (Fig. 169) e, ao entrar
IDENTIFICAÇÃO numa cé lula, multiplica-se assexuadamente num vac úolo por um
processo de brotamento ou endodiogenia, em que são formados
Oocistos dois indi víduos na célula- mãe, sendo a película da última utili-
zada pelas células-filhas. Quando já se acumularam 8- 16 taqui-
São encontrados nas fezes de gatos, não-esporulados e medem zoítos, a célula se rompe e novas células se infectam. Esta é a
12 X 10 lJIll (Fig. 166). Quando esporulados, o que leva um a fase a guda da toxoplasmose.
cinco dias , o oocisto contém dois esporocisto s, cada um com Na maior parte dos casos, o hospedeiro sobrevive e há produ-
quatro esporozoítos. ção de anticorpos que limitam a capacidade de in vasão dos ta-
l
Protozoologia Veterinária 205
Estágios assexuados
taq uizoítos e bradizoítos
I
Todos os mamfleros e aves incluirldo ovinos
e o homem · assintomáticos H doen a
Natimortos assintomáticos
Infecção congênita
Fig. 168 O ciclo evolutivo de Toxoplasma gondii mostrando como hospedeiros não-
l elinos podem infectar-se. • (a)
PATOLOGIA GERAL
nodos mesentéricos dilatados, pneumonia, alterações degenera- A infecção congênita, que ocorre ape nas quando a mulher é
tivas no sistema nervoso central e encefali te em infecções expe-. exposta à infecção pela primeira vez durante a gestação, pode
rimentais. A transmissão congênita, embora rara, ocorre após a ser sprtã.êOm os taquizoítos cruzando a placenta na ausência
ativação de cistos de bradizoítos durante a prenhez. de anti corpos maternos. Enquanto a maioria de ssas infecções
congênitas é assintomática, até 10% resultam em abortos, nati -
Cães mortos ou lesão do sistema nervoso do feto. A freqüência de
doença é muito mais alta quando a infecção é adqu irida no pri-
o aparecimento da doença é marcado por febre, com lassidão, meiro trimestre da gravidez. As crian ças gravemente acometi -
anorexia e diarréia. São com un s pneumonia e man ifestações neu- das apresentam ret~ocoroidite e necrose cerebral, e pode haver
rológicas. Pode ocorrer infecção junto com cinomose, que tam- hepatoesplenomegalia, insuficiência hepática, convu lsões e hi-
bém tem sido apontada em episódios de vacinação contra cio.o- drocefalia.
mose.
À necropsia, podem ser demonstrados cistos de bradizoítos EPIDEMIOLOGIA
em células no cérebro e no trato respiratório; os linfonodos as-
sociados ficam aumentad os de volume. o gato desempenha um papel central na epidemiologia da toxo-
plasmose, e a doença está vi rtu almente ausente em áreas onde
Ruminantes não há gatos.
In vestigações epidemiológicas nos EUA e em outras partes
Existem apenas alguns relatos de toxoplasmose clínica associada a indi cam que 60% dos gatos são sorologicamente positivos para
febre, dispnéia, sintomatologia nervosa e aborto. Ao exame pós- antígeno de Toxoplasma, a maioria adqu irindo infecção por pre-
morte, foram demonstrados bradi zoítos no cérebro com necrose dação. Como poderia esperar-se, as infecções são mais prevalen-
focal em casos agudos e nódulos da glia em casos crônicos. tes em gatos de rua. A infecção congênita é rara. Após a infec-
Indubitavelmente, o papel mais importante da toxopl asmose ção, os gatos eliminam oocistos durante apenas uma a duas se-
em ruminantes é sua associação com aborto em ovelhas e mor- manas, depois do que ficam resistentes à reinfecção. Entretanto,
talidade perinatal em cordeiros. Se a infecção ocorrer no iní- certa proporção permanece como portadores. talvez pela persis-
cio da gestação « SS dias), há morte e ex pulsão do pequeno feto, tência de alguns esquizontes, e pode ocorrer reativação de infec-
o que raramente é observado. Se a infecção ocorrer no meio da ção com eliminação de Docistas em associação com doença in-
gestação, o aborto é mais faci lmente detectado, sendo os orga- tercorre nte, durante o período peripuerperal em gatas ou após
nismos encon trados nas lesões brancas típicas, com 2,0 mm de corticosteroideterapia. Contudo, os oocistos parecem ser muito
diâmetro, nos cotilédones placentários e em tecidos fetais; alter- resistentes, e isto compensa o período relativamente curto de
nativamente, o feto morto pode ficar retido, mumificado e ser excreção de oocistos.
expelido mais tarde. Se o feto sobreviver in. ulero, o cordeiro pode É difícil explicar a prevalência disse minada de toxoplasmose
nascer morto ou, se vivo, fraco. êm ruminantes, particularmente ovinos, tendo em vista o núme-
As ovelhas que abortam em conseqüência de T. gondii num ro relativamente baixo de oocistos eliminados no meio ambien-
ano em geral param normalmente nos anos seguintes. te. Supõe-se que as ovelhas prenhes sejam mais comumente in-
fectadas durante períodos de alimentação com concentrados an-
Outros hospedeiros tes da fecundação ou do parto, tendo as rações armazenadas sido
contaminadas por fezes de gatos, nas quais podem estar presen-
Tem-se relatado ocasionalmente toxoplasmose em suínos novos tes milhões de oocistos.
e aves, enquanto há regi stros de títulos sorológicos para Toxo- Pode ocorrer disseminação posterior de oocistos através de
plasma em eqüinos e coelhos silvestres. insetos coprófagos, que podem contaminar verduras, carnes e
forragen s. Sugere-se que pode ocorrer transmissão venérea em
ovinos.
Homem
A prevalência de infecção por Toxoplasma na população hu-
mana, conforme avaliado por títulos sorológicos, pode ser mui-
A infecção do homem pode ser adquirida ou congênita. As in-
to alta, de até 25% em algumas áreas. A prevalência é mais alta
fecções adquiridas ocorrem de duas maneiras. Primeiramente,
em veterinários, funcionários de abatedouros e naqueles que li-
pela ingestão de oocistos eliminados nas fezes de gatos. Isto pode
dam com gatos.
ser diretamente por mãos contaminadas, como durante a li mpe-
za do gatil, ou, o que é mais provável, indiretam~nte, pela inges-
tão de verduras ou alimentos con taminados por fezes de gato. As DIAGNÓSTICO
moscas também podem transferir oocistos para alimentos.
Em segundo lugar, uma importante fonte de infecção é a in- o diagnóstico específico é feito por testes sorológicos ou por
gestão de carne mal cozida contendo cistos de Toxoplasma. demonstração dos organismos em tecidos de camundongos ino-
As infecções adquiridas, em sua maioria, são as sintomáticas. culados com material suspeito.
As infecções clinicamente aparentes apresentam-se como febre Dois dos testes mais comumente utilizados medem anticor-
de baixo grau e mal-estar com uma linfadenopatia geral acome- pos, o teste do corante de Sabin-Feldman e o teste de anticorpos
tendo predominantemente os linfonodos cervicais, sintomas que por imunofluorescência indireta (AIP). É preferível o último, pois
são semelhantes aos da febre gland ular. O envolvimento de ór- não requer organismos vivos. Qualquer que seja o teste usado, é
gãos vitais é raro, embora haja registros de miocardite, encefali- importante o emprego de amostras pares colliidas a um interva-
te e retinocoroidite. Pode ocorrer agravamento da infecção em lo de uma a duas semanas para determinar se está presente um
pacientes com imunossupressão. título crescente, indicativo de infecção recente.
L
~ Parasitologia Veterinária
IDENTIFICAÇÃO
Oocistos:
Estes, ao contrário da Isospora, são esporulados quando elimi-
nados nas fezes e contêm dois esporocistos, cada um deles com
quatro esporozoítos; usualmente, o esporocisto esporulado é
encontrado livre nas fezes (Fig. 170). Em duas espécies comuns,
S. bovicanis e S. ovicanis, os esporocistos esporulados medem
Fig. 171 Esquizonte de Sarcocystis em célula endotelial.
aproximadamente 15 X 10 j.Lffi e 14 X 9 j.Llll, respectivamente.
Estágios teciduais:
No hospedeiro intermediário, os esquizontes encontrados nas
células endoteliais são bem pequenos, com diâmetro de 2-8 j.Lm tócitos. Após a conjugação dos gametas, formam-se oocistos
(Fig. 171). Por outro lado, os cistos de bradizoítos (Fig. 172) de paredes finas, os quais, ao contrário daqueles da maioria dos
podem ser muito grandes e visíveis a olho nu, como estrias es- esporozoários entéricos, esporulam no corpo. Formam-se dois
branquiçadas seguindo na direção das fibras musculares (Pran- esporocistos, cada qual contendo quatro esporozoítos. Em ge-
cha XIV). Foram descritos como atingindo vários centímetros de rai, a frágil parede do oocisto se rompe e são encontrados
comprimento, porém mais comumente variam de 0,5 mm a 5 mm. esporocistos nas fezes.
Hospedeiro intermediário (esquizogonia):
CICLO EVOLUTIVO A infecção é por ingestão dos esporocistos, e isto é seguido por
pelo menos três gerações assexuadas. Na primeira, os esporo-
Hospedeiro final (gametogonia): zoítos, liberados pelos esporocistos, invadem a parede intesti-
A infecção dá-se por ingestão de cistos de bradizoítos nos mús- nal e entram nos capilares, onde se localizam em células endo-
culos do hospedeiro intermediário. Os bradizoítos são libera- teliais e sofrem dois ciclos esquizogônicos. Um terceiro ciclo
dos no intestino e os zoÍtos liberados seguem para a lâmina assexuado ocorre nos linfócitos circulantes, os merozoítos re-
própria subepitelial e se diferenciam em micro- e macrogame- sultantes penetrando em células musculares. Aí se encistam e
em segui da se di videm por um processo de brotamento ou en- ção e, às vezes, decúbito; em cordeiros, foi descrita uma postura
dodiogeni a, dando origem a amplos bradizoítos em for ma de de cão sentado. Nos bovinos, freqüentemente há perda de pêlos
banana contidos num cisto; este é o sarcocisto maduro e cons- na extremidade da cauda. Estes sinais podem ser acompanhados
titui o estágio infectante para o hospedeiro final carnívoro. por edema submandibular, exoftalmia e tumefação de linfono-
Embora haja algumas variações de acordo com a espécie, os dos. Podem ocorrer abortos em fêmeas reprodutoras.
intervalos de tem po no ciclo evolutivo são aproximadamente
como se segue: EPIDEMIOLOGIA
Período pré-patente em 7-14 dias Pouco se conhece da epidemiologia, mas, pela alta prevalência
carnívoros de infecções assintomáticas observadas em abatedouros, está
Período patente (período I semana a vários meses claro que onde cães ou gatos são mantidos em íntima associação
durante o qual são eliminados com animais pecuários ou suas rações, há probabilidade de trans-
esporocistos nas fezes por missão. Por exemplo, sabe-se que os cães pastores desempenham
carnivoros) um papel importante na transmissão de S. ovicanis, e deve-se
Desde a ingestão de usualmente 2-3 meses, tomar o cuidado de fornecer apenas carne cozida aos cães. Os
esporocistos até a mas pode estender-se surtos agudos possivelmente têm maior probabilidade de ocor-
presença de bradizoítos para 12 meses em rer quando animais que foram cri ados sem contato com cães
infectantes nos músculos do algumas espécies. subseqüentemente são expostos a grandes quantidades dos
hospedeiro intermediário esporocistos de fezes caninas. Não se conhece a longevidade dos
e~poroc i s to s nas fezes.
PATOGENIA
\. .
A infecção no hospedeiro final normalmente não é patogênica,
em bora ocasionalmente se descreva diarréia moderada.
No hospedeiro intermediário, o principal efeito patogênico é
--
DIAG/::,/OSTlCO
"-
Os casos de infecção por Sarcocyslis, em sua maioria, são reve-
lados apenas à inspeção da carn e, qu ando são descobertos os
atribuível ao segundo estágio de esquizogonia no endotélio vas-
sarcocistos macroscopicamente visíveis nos músculos. Contudo,
cular. As infecções experimentais maciças de bezerros com S.
em infestações maciças dos hospedeiros intermediários. o diag-
bovicanis res ultaram em mortalidade um mês mais tarde e, à
nóstico baseia-se na sintomatologia clínica e na demonstração
necropsia, veri ficaram-se hemorragias petequiais em qu ase to-
histológica de esquizontes nos vasos sangüíneos de órgãos, como
dos os órgãos, incluindo o coração, juntamente com linfadeno-
o rim ou o coração, e na presença de cistos nos músculos à ne-
patia generalizada. A infecção experimental de vacas adultas
cropsia ou biopsia. Um teste de hemaglutinação indireta, utili-
resultou em aborto.
zando bradizoítos como antígeno, também é um meio auxiliar
Uma doença crônica de bovinos de ocorrência natural, a "doen-
útil para o diagnóstico, mas é preciso lembrar que a presença de
ça de Dalmeny", foi identificada no Canadá, nos Estados Unidos e
um título não implica necessariamente lesões ati vas por Sarco-
na Grã-Bretan ha. Caracteriza-se por emagrecimento, edema
cyslis. Além disso, os animais podem morrer antes de uma res-
submandibular, decúbito e exoftalmia; ao exame pós-morte. encon-
posta humoral detectável.
tram-se numerosos esquizontes em células endoteliais e sarcocis-
Nos ruminantes, as alterações musculares degenerativas lem-
tos em desenvolvimento em áreas de miosite degenerativa.
bram bastante as da deficiência de vitamina E-selênio, embora
Os. ovicanis é apontado como a causa de aborto em ovelhas
nesta última não haja resposta cel ul ar inflamatória.
e de grave miosite e encefalomielite em cordeiros em diversas
O exame de fezes de gatos ou de cães da propriedade rural
regiões.
para a presença de esporocistos pode ser útil no diagnóstico.
Recentemente, uma doença em eqüinos denomin ada mieI0 -
encefali te protozoária eqüina (MPE), caracterizada por ataxia e
fraqueza musc ular, foi associada à infecção por uma espécie TRATAMENTO
denominada Sarcocystis neurona. De modo geral, entretanto,
raramente se observa sintomatologia clínica em infecção por Não existe um tratamento eficaz para a infecção. seja no hospe-
Sarcocystis e o efeito mais importante é a presença de cistos nos deiro intermediário ou no final. Onde ocorre um surto em rumi-
múscul os de animais de corte, resultando em baixa qualidade nantes, sugere-se que a introdução de amprólio na dieta dos ani-
ou condenação de carcaça. Ainda que as espécies transmitidas mais tem um efeito profilático.
pelo cão tenham sido consideradas de importância fu ndamental
neste contexto, há evidência cada vez maior de que as espécies CONTROLE
transmitidas pelo gato também são responsáveis por lesões na
carne. As únicas medidas possíveis de controle são as de simples higi-
Nos suínos, há possibilidade de se confundir os cistos de Sar- ene. Os cães e gatos de propriedades rurais não devem ser aloja-
cocyslis com os cistos de Trichinella spiralis e Cysticercus cel- dos em depósitos de rações ou ter acesso a eles, nem se deve
lulosae. A diferenciação requer o exame microscópico de pre- permitir que defequem em currais onde ficam animais de inte-
parações de músculo comprimido. resse zootécnico. É impOltante também que não sejam alimen-
tados com carne sem ser cozida.
SINTOMA TOLOGIA CLíNICA Como as diferenças nos ciclos evolu tivos do s diversos gê-
neros da classe Coccidia até aqui descritos são algo confusas,
Nas infecções maciças dos hospedeiros intermediários há ano- as suas principais características encontram-se res umidas no
rexia, febre, anemia, perda de peso, indisposição para locomo- Quadro 8.
210 ParasitoLogia Veterinária
Besl10ilia HepatozoOI1
A espécie mais con hecida é a Besnoitia beslloiti, que ocorre no O Hepatozoon canis ocorre no cão, e possivelmente no gato, em
mundo inteiro, embora especialmente importante na África, e que áreas ondeé encontrado o vetor carrapatoRhipicephalus sanguineus,
tem como hospedei ro final o gato e como hospedeiro s interme- isto é, África, Ásia, sul da Europa e a Costa do Golfo do Texas.
diários os bovinos. Ocorre singamia no carrapato e, como os esporozoítos per-
Este gênero difere de outros membros de Sarcocystidae pelo manecem na cavidade corpórea, o cão aparentemente se infecta
fato de os cistos contendo bradi zoítos serem encontrados princi- por ingestão do carrapato. Ocorre esquizogonia em macrófagos
palmente em fibroblastos na pele ou sob a pele. A célula hospe- e células endoteliais na musculatura esquel ética, no coração e nos
deira dilata-se e se torna multinucleada, conforme O cisto de pulmões, acompanhada pela produção de grandes gametócitos
Besnoitia cresce num vacúolo parasitóforo, atingindo finalmen- que se coram de azul , os quais parasitam os neutrófilos circulan-
te até 0,6 mm de diâmetro. tes. O ciclo completa-se quando o carrapato in gere sang ue con-
Embora se cons idere a infecção de bovinos como ocorrendo taminado.
principalmente por ingestão de oocistos esporulados de fezes de A infecção pode se r assintomática e a doença, quando bcor-
gatos, há a hipótese de que a disseminação mecânica por mos- re, freqüentemente parece ser secundária a outros patógenos. A
cas picadoras que se alimentam em lesões cutâneas de bovinos sintomatologia clínica consiste em febre recorrente, perda acen-
pode ser outra via de transmis são. tuada de condições e dor lombar, podendo terminar de modo fatal.
Depois da infecção em bovinos, há uma fase sistêmica acom- O diagnóstico depende do exame de esfregaços sangüíneos co-
panhada por linfadenopatia e tumefações edema tosas em partes rados e, no caso de fracasso, de biopsia muscular para detecção
dependentes do corpo. Subseqüentemente, desenvolvem-se bra- de esquizontes.
dizoítos em fibrobl astos na derme, nos tecidos subcutâneos e na O tratamento é paliativo, utili zando-se drogas antiinflamató-
fáscia, bem como nas muco sas nasal e laríngea. O s cistos em rias não-esteróide s, e a profilaxia depende do controle regular de
desenvolvimento na pele resultam numa condição grave carac-
terizada por tumefações subcutâneas dolorosas e espessamentos
da pele, perda de pêlos e necrose. Não ex iste tratamento conhe-
'*
carrapatos.
ção seguinte de carrapatos. Dependendo da espécie de Babesia, célula hospedeira rompe-se e os organismos são liberados, pe-
pode ser pelos estágios de larva, ninfa ou adulto ou até mesmo netrando em novos eritrócitos.
por todos os três. A próxima seqüência de eventos, quando o sangue parasitê-
Quando a infecção persiste de um estági o ao seguinte, em mico é ingerido pelo carrapato ixodídeo apropriado, em geral a
carrapatos de dois ou três hospedeiros que se alimentam em hos- fêmea adulta ingurgitada, não está clara, mas atualmen te se su-
pedeiros diferentes, diz-se que a transmissão é transestadial. põe que ocorra um a fase sexuada no intestino do carrapato, se-
guida por esquizogonia que resulta na produção de co rpos clavi-
Localização:
fo rmes, alongados e móveis, denominados vermículos. Esses
Os organi smos fi cam isoladam ente ou em pares dentro dos
vermiculos migram para os tecidos do carrapato, especialmente
eritrócitos.
o ovário, e sofrem mu lti plicação posterior, produzindo mais ver-
miculos. O processo todo leva cerca de sete dias.
ESPÉCIES No ovário do carrapato, os vermículos invadem os ovos e, e m
seguida, continuam a multiplicar-se nos tecidos das larvas eclo-
8abesia divergens, B. major
bovinos didas. Quando as larvas se alimentam pela primeira vez, os ver-
B. bigemina. B. bovis
mícul os entram nos ácinos sali vares e formam, em alguns dias,
B. mOlasi, B. ovis ovinos e caprinos
os esporozoítos infectantes, que são inoculados no novo hospe-
B. cabaUi, B. equi eqüinos
de iro antes de cessar a alimentação.
B. perroncitoi, B. lrautmanni suínos
Quando ocorre transmissão de estág io -para~estágio, os ver-
B. canis, B. gibsoni cães
mículos novamente alcançam as glândulas sali vares do próx imo
B·felis gatos
estágio do carrapato quando começa a alimentação e amadure-
Distribuição: cem, tornando-se fonnas infectantes.
A distribuição destas muitas espécies por todo O mundo é di scu- Há uma ampla evidência de que algumas espécies de Babe-
tida nas seções separadas referentes a cada hospedeiro final. sia podem ser transmitidas através do ovário durante duas ou mais
gerações de carrapatos fêmeas; isto é conhecido como tnmsmis-
IDENTIFICAÇÃO E MORFOLOGIA são vertical.
EPIDEMIOLOGIA DIAGNÓSTICO
As considerações a seguir baseiam-se amplamente na epidemi- A história e a sintomatologia clínica em geral são suficientes para
ologia das espécies bovinas patogênicas que foram as mais com- °
justificar um diagnóstko de babesiose. Para confirmação, exa-
pletamente estudadas, mas os mesmos princípios quase certamen- me de esfregaços sangüíneos, corados com Giemsa, revelará os
te se aplicam a todas as babésias. Essencialmente, a epidemiolo- parasitas nos eritrócitos. Entretanto, uma vez cessada a fase fe~
gia depende da interação de uma série de fatores que incluem: bril aguda, freqüentemente é impossível encontrá-los, pois são
rapidamente removidos da circulação.
(1) A virulência da espécie particular de Babesia
TRATAMENTO
Por exemplo, a B. divergens em bovinos e aE. canis em cães são
relativamente patogênicas, enquanto a B. major em bovinos e a Até certo ponto, depende da espécie de Babesia a ser tratada e
B. ovis em ovinos geralmente produzem apenas anemia mode- da disponibilidade de drogas particulares em regiões individu-
rada e transitória. ais. O sulfato de quinurônio, a pentamidina, a amicarbalida, o
aceturato de diminazeno e o imidocarb são as drogas mais co-
(2) A idade do hospedeiro mumente utilizadas e o seu uso é discutido com mais detalhes
nas seções referentes à babesiose nas diferentes espécies animais.
Freqüentemente, afinn a-se que há uma resistência etária inversa
à infecção por Babesia, visto que os animais jovens são menos CONTROLE
suscetíveis à babesiose que os animais mais velhos. Não se co-
nhece a razão disto. Usualmente, não são necessárias medidas de controle específi-
cas para animais nascidos de mães em áreas endêmicas, pois,
(3) O estado imune do hospedeiro como foi observado previamente, a sua imunidade adquirida atra-
vés do coI astro é reforçada gradativamente por exposição repe-
Em áreas endêmicas, o animal jovem primeiramente adquire tida à infecção. Aliás, a importância veterinária da babesiose
imunidade de forma passiva, no colostro da mãe e, como resul- deve-se principalmente ao fato de atuar como obstáculo à intro-
tado, com freqüência sofre apenas infecções transitórias com dução de rebanhos selecionados provenientes de outras regiões.
discreta sintomatologia clínica. Contudo, essas infecções aparen- As áreas de instabilidade enzoótica também criam problemas
temente são suficientes para estimular a imunidade ativa, embo- quando as quãntidades de carrapatos aumentam repentinamente
ra a recuperação seja seguida por longo período durante o qual ou os animais, por alguma razão, são forçados a utilizar urna área
ficam portadores, quando, apesar de não manifestarem sintoma- adjacente infestada por carrapatos.
tologia clínica, o seu sangue permanece infectante para carrapa- As quantidades de carrapatos e, portanto, o nível de infecção
tos por muitos meses. Costumava supor-se que essa imunidade por Babesia podem ser reduzidos por pulverização ou banhos
ativa dependia da persistência do estado de portador, e o fenô- carrapaticidas regulares com acaricidas. Além disso, em bovi-
meno era denominado premunição. Entretanto, parece impro- nos, especialmente na Austrália, pratica-se de modo regular a
vável que seja este O caso, pois se sabe atualmente que tais ani- seleção e a criação de bovinos que adquirem alto grau de resis-
mais podem deixar de ter a infecção ou naturalmente ou por tência. O uso difundido de vacinas contra carrapatos também
quimioterapia mas ainda mantêm sólida imunidade. pode ter uma influência significativa sobre a incidência de ba-
besiose em bovinos.
(4) O nível de desafio do carrapato A imunização em bovinos, empregando sangue de animais
portadores, é praticada há muitos anos em regiões tropicais, e
Em áreas endêmicas, onde há muitos carrapatos infectados, a imuni- mais recentemente na Austrália o uso de linhagens de Babesia
dade do hospedeiro mantém-se em um nível alto através de repeti- de passagens rápidas, que são relativamente não-patogênicas, tem
dos desafios e a doença manifesta é rara. Por outro lado, onde há sido amplamente empregado cm vacinas vivas. Num futuro pró-
poucos carrapatos ou quando são restritos a áreas limitadas, o estado ximo, tais vacinas poderão ser substituídas por vacinas adjuvan-
imune da população é baixo e os animais novos recebem pouca ou tes preparadas a partir de diversos antígenos recombinantes de
nenhuma proteção colostral. Se, nestas circunstâncias, os números Babesia. Por outro lado, o controle de babesiose em animais
de carrapatos aumentarem repentinamente em virtude de condições suscetíveis introduzidos em regiões endémicas depende de vigi-
climáticas favoráveis ou de redução na freqüência de banhos carra- lância durante os primeiros meses após a sua chegada e, se ne-
paticidas, a incidência de casos clinicos pode elevar-se abruptamen- cessário, de tratamento.
te. Esta situação é conhecida como instabilidade enzoótica.
BABES/OSE DE BOV/NOS
(5) Estresse
Norte da Europa
Em áreas endêmicas, o aparecimento ocasional de doença clíni-
ca, particularmente em animais adultos, com freqüência está as- Ocorrem duas espécies em bovinos, B. divergens e B. major.
sociado a alguma forma de estresse, como parto ou a presença Destas, a B. divergens, transmitida por Ixodes ricinus, é a mais
de outra doença, como a febre causada por carrapato. disseminada e patogênica, e os casos clfnicos ocorrem durante
Estes aspectos gerais de epidemiologia são discutidos com os períodos de atividade dos carrapatos, principalmente na pri-
mais detalhes nas seções referentes à babesiose nas diferentes mavera e no outono. Como ocorre com outras babésias, a infec-
espécies de hospedeiros. ção no carrapato é transmitida por via transovariana, e as larvas,
Prol0zoo1ogia Veterinária 213
ninfas e adultos da geração seguinte são todos capazes de trans- a primeira infecção protozoária do homem ou de animais que
mitir infecção aos bovinos. demonstrou ter um hospedeiro intermedi ário artrópode; isto foi
A B. divergem· é uma "Babesia pequena" e em esfregaços comprovado em 1893, por Smith e Kilbome, ao in vestigar a cau-
sangüíneos aparece tipicamente como organismos pares, ampla- sa da localmente denominada "Febre do Texas" em bovinos,
mente divergentes, de 1,5 X O,4l-'m, localizando-se junto à borda nos Estados Unidos. Desde então, a doença foi erradicada nes-
do eritrócito, embora possam estar presentes outras formas. se país.
Normalmente, não são feitos esforços para controlar esta infec- De modo geral, as infecções por B. bigemina não são tão vi-
ção em regiões endêmicas, apesar de os bovinos recentemente rulentas quanto as infecções por B. bovis, apesar do fato de que
introduzidos requererem vigilância por alguns meses, j á que, em os paras itas podem infectar 40% dos eritrócitos. Por outro lado,
média, de cada quatro, um desenvolverá doença clínica, e des- a doença é tipicamente bifásica, e a crise hemolítica, se não fa-
tes, de cada seis, um morrerá, se não tratado. Contudo, em al- tal, é seg uida por um período prolongado de recuperação.
gumas partes do continente europeu, como nos Países Baixos, O imidocarb e os derivados da diamidina, como o aceturato
onde os carrapatos se restringem à vegetação rú stica das beiras de diminazeno, a amicarbalida e a fenamidina, são todos efica-
de. pastos e margens de estradas, freqüentemente é possível a zes con tra B. bovis e B. bigemina, especialmente se administra-
adoção de medidas evasivas. Os cervídeos não são considera- dos no início da doença.
dos rese rvatórios importantes, pois experimentalmente foram A vacinação de bovinos contra infecção por B. bovis e B. bi-
produ zidas apenas infecções discretas em cervídeos esplenec- gemina é feita comumente em muitos países por inoculação de
tomi zados. sangue de animais doadores. O sangue usualmente é obtido de
O sulfato de quinurônio e a amicarbalida são tratamentos efi- um caso clínico recentemente rec uperado, sendo quaisquer rea-
cazes, e em alguns países o imidocarb também está liberado para ções adversas nos-vacinados controladas por drogas babesicidas.
uso. Este último, graças à persistência nos tecidos, tem um efei- Na Austrália, a conduta é mais sofisticada, visto que a vacina é
to profilático por várias semanas. Durante a fase de convalescên- produzida a partir de infecções agudas provocadas em doadores
cia da doença, as transfusões de sangue podem ser úteis, assim esplenectomizados. Por motivos de economia, o sangue é colhi-
como as drogas destinadas a estimular o apetite e a ingestão de do por transfusão de troca em vez de por sangramento. O inte-
água. ressante é que a rápida passagem do parasita por inoculação de
Recentemente, preparações de oxitetracic1ina de longa ação sangue em bezerros esplenectomizados teve, fortuitamente, o
têm demonstrado exercer um efeito profilático contra a infecção efeito muito desejável de diminuir a virulência da infecção em
por B. divergens. bezerros não-esplenectomizados a ponto de freqüentemente não
A segunda espécie, B. major, trasmitida pelo carrapato de três ser efetuada a vigilância pós-vacinação de bovinos.
hospedeiros Haemaphysalis punctala, é relativamente rara, e na A contagem de parasitas sangüíneos determina a diluição do-
Grã-Bretanha, por exemplo, restri nge-se ao sul. A B. major é uma sangue, que é distribuído em sacos plásticos, acondicionado em
"Babesia grande", com 3,2 X 1,5 ~m, sendo caracteristicamen- gelo e remetido em recipientes isolados. Cada dose de vacina
te pareada num ângulo agudo. É apenas moderadamente pato- contém cerca de 10 ínilhões de parasitas. A maior parte das va-
gên ica. cinas é utilizada em bovinos com menos de 12 meses de idade
que vivem em condições de instabilidade enzoótica. O grau de
TRÓPICOS E SUBTRÓPICOS proteção induzido é tal que apenas I % dos animais vacinados
desenvol vem em seguida babesiose clínica por desafio de cam-
As duas outras babésias importantes de bovinos, 8. bovis (sin. po, em relação a 18% de bovinos não-vacinados.
B. argentina) e B. bigemina, compartilham o mesmo vetar pri- A principal desvantagem das vac inas de eritrócitos é a sua
mário, o carrapato de um hospedeiro Boophilus, e coexistem na labilidade e o fato de que, a menos que sua preparação seja cui-
mesma ampla área geográfica, que abrange Austrália, África, dadosamente supervisionada, podem di sseminar doenças como
América Central e do Sul, Ás ia e sul da Europa. a leucose bovina enzoótica. Obviamente, não haverá tal proble-
A 8. bovis, lima 8abesia pequena, cujos piroplasmas medem ma com uma vacina baseada em antígenos recombinantes.
2,0 X I ,5 ~m, em geral é considerada a mai s patogênica das Recentemente, um esquema de quatro injeções de oxitetraci-
babésias bovinas. c1ina de longa ação em intervalos se manais, administradas a
Embora ocorra a clássica sintomatologia clínica de febre, bovinos que não tiveram contato com o protozoário, durante o
anemia e hemoglobinúria. o grau de anemia é desproporcional à primeiro mês de pastejo em pastos infestados por carrapatos,
parasi temia, pois níveis de hemat6crito inferiores a 20% podem demonstrou conferir profilaxia contra B. bigemina durante este
estar associados a infecções de menos de I % dos eritrócitos. Não período. após o que os bovinos ficaram imunes a desafio subse-
se conhece a razão disto. qüente.
Ademais, a infecção por B. bovis está associada à sedimenta-
ção dos eritrócitos nos pequenos capilares. No cérebro, isto pro- BABES/aSE DE aV/NOS E CAPRINOS
voca bloqueio dos vasos por grumos de eritrócitos infectados,
provocando anoxia e lesão tecidual. A sintomatologia clínica Sabe-se que duas espécies de babésias, a B. ovis, menor, e a B.
resultante de agressão, incoordenação ou convulsões termina motasi, maior, ocorrem em ovinos e caprinos em regiões tropi-
invariavelmente de modo fatal. cais e subtropicais, incluindo o sul da E uropa.
Finalmente, um trabalho recente indica que até certo ponto a Transmitidas por diversos gêneros de carrapatos, como Rhi-
gravidade da infecção por B. bovis pode estar associada à ativa- picephalus, Haemaphysalis, Dennacentor e lxodes, estas infec-
ção de certos compone ntes plasmáticos, evoluindo para estase ções em geral são discretas em ovinos autóctones, embora possa
circulatória, choque e coagulação intravascular. ocorrer grave sintomatologia clínica em animais introduzidos que
A B. bigemina, uma Babesia grande cujos piroplasmas me - são provenientes de uma área não-endêmica. O aceturato de di-
dem 4,5 X 2,0 ~m. é de particular interesse histórico, pois foi minazeno é eficaz contra B. ovis e B. motasi.
~1~ Parasitologia Veterinária
Recentemente, na Grã-Bretanha, foi demonstrada a existên- ni s, estes também devem ser tratados freqüentemente com um
cia de duas espécies de babésias em ovinos. Urna delas é a B. acaricida adequado.
morasi, transmitida por Haemaphysalis pUflctata, enquanto se Além disso, recomenda-se certa vigilância no caso de cães
su põe, que a outra seja a B. capreoli do veado escocês, transmi- expostos à infecção, para que o tratamento possa ser admin istra-
tida aparentemente por Ixodes ricinus. Ambas as espécies pare- do O mais cedo possível.
cem ser relativamente apatogênicas. Uma segunda babésia, a B. gibsoni, ocorre em cães no Orien-
te. É uma Babesia pequena e produz uma doença mais crônica,
BABESIOSE DE EQÜINOS que é menos suscetível à quimioterapia.
BABESIOSE DE CÃES
Theileria
A espécie mais di sseminada e patogênica é a grande Babesia
canis encontrada no continente europeu, na África, na Ásia e nas As doenças causadas por diversas espécies de Theileria são um
Américas. O Rhipicephalus sanguineus é o principal vetor, no sério obstáculo ao desenvolvimento de rebanhos na África, na
qual ocorre tran smissão transovariana e transestadial. Ásia e no Oriente Médio. Os parasitas, que são transmitidos por
Embora a sintomatologia clínica mais comum seja a de febre, carrapatos, sofrem esquizogon ia repetida nos linfócitos, final-
anemia, icterícia e hemoglobinúria, podem ocorrer casos muito mente liberando pequenos merozoítos que invadem os eritrócitos
agudos em cães importados para uma região endêmica, com co- e se tornam piroplasmas.
lapso e anemia profunda levando à morte em um a dois dias.
Menos comumente, pode ocorrer hiperexcitabilidade, associada ESPÉCIES, HOSPEDEIROS E DISTRIBUiÇÃO
à babesiose cerebral.
Uma série de outros sinais e síndromes, como ascite, bron- As Theileria encontram-se amplamente disseminadas em bovi-
quite, púrpura hemorrágica e dores musculares graves, é associ- nos e ovinos na África, na Ásia, na Europa e na Austrália, pos-
ada à infecção por B. canis, visto que responde m ao tratamento suem uma série de can'apatos como vetores e estão associadas a
com babesicidas. infecções que variam de clinicamente inàparentes a rapidamen-
Ainda que o diagnóstico específico dependa da detecção dos te fatais.
parasitas nos eritrócitos, a parasitemia freqüentemente é inferior Embora a especificação de muitas Theileria ainda seja assunto
a 5% e também pode ser complicada pela presença si multânea controverso, em grande parte pela sua semelhança morfológica,
de inc1usões nos monócitos da riquétsia Ehrlichia canis, também há três espécies de grande importância veterinária (Quadro 9).
transmitida por R. sanguineus. As espécies pouco e moderadamente patogênicas que infec-
Em todos os casos, recomenda-se a quimioterapia com penta- tam os bovinos incluem T. mutans e T. taurotragi na África e
midina, fenamidina ou aceturato de diminazina, imediatamente após T. sergenti na Ásia; as identidades das espécies bovinas européias
o diagnóstico clínico, pois pode ocorrer óbito rapidamente. e australianas são incertas.
A profilaxia depende do tratamento regular de cães com um Nos ovinos, a T. avis, espécie não-patogênica, ocorre na Eu-
acaricida adequado, e, como o R. sanguineus pode viver em ca- ropa, na África e na Ásia.
ProTOzoologia Veterinária 215
IDENTIFICAÇÃO PATOGENIA
Nos eritrócitos, os piroplasmas (Prancha XIlI) são predominan- A seqüência de eventos num a típica infecção aguda e fatal evo-
temente em forma de bastonetes, tendo até 2,0 jJ.m de compri- lui através de três fases, cada uma delas durando aproximada-
mento e 1,0 iJ..m de largura. Ocorrem também formas redondas, mente uma semana. A primeira é o período de incubação de cer-
ovais e anul ares. Com corantes de Giemsa, o c itoplasma é az ul ca de uma seman a, quando não podem ser detectados parasitas
com um ponto de cromatin a vermelha em uma das extremida- nem lesões. Esta fase é sucedida durante a segunda semana por
des. Comumente, há mais de um parasita em cada eritrócito. hiperplasia acentuada e expansão da população de Iinfoblastos
No citoplasma dos linfóc itos dos linfonodos e do baço, en- acometidos, inicialmente no linfonodo regio nal que drena o lo-
contram-se os esquizontes, às vezes denominados corpúsculos cal da picada do carrapato e fi nalinente em todo O corpo. Duran-
azuis de Koch (Prancha XIII). Com coloração de Giemsa, esses te a terceira semana, há uma fase de depleção linfó ide e desor-
corpúsculos são o bservados como dois tipos; os macroesquizon- ganização, com linfocitólise maciça e leucopoese deprimida. Não
tes , com cerca de 8,0 iJ..m de diâmetro, são azui s e contêm até se conhece a causa da linfocitólise, mas talvez sej a a ati vação de
oito núcleos, enquanto o estágio seguinte, os microesquizontes, células cito tóxicas, como os macrófagos.
tê m tamanho semelhante, mas contêm até 36 pequenos núc1 eos~ A necropsia durante a fase terminal revela atrofia do teor ce-
estes últimos são os micromerozoítos em desenvolvime nto que, lulM dos linfonodos e do baço, edema e enfi sema pulmonar e
com a ruptura do microesq ui zonte, in vadem os eritrócitos e se, he morragias petequiais e equimóticas na mucosa gastrintestinaL
tomam piroplasmas. Pode haver hemorragias também nas superfícies serosa e muco-
sa de muitos órgãos.
Ocasionalmente, há relatos de sintomatologia nervosa, a cha-
CICLO EVOLUTIVO mada "doença giratória", atribuída à presença de esquizontes em
capilares cerebrais.
Os esporozoítos são inoculados nos bovinos pelo Rhipicephalus
appendiculatus, o carrapato marrom da orelha, e entram rapida-
mente nos linfóc itos numa glândula linfática associada, geralmen- SINTOMA TOLOGIA CLíNICA
te a parótida. O Jjn fócito parasitado transfor m a-se num
linfoblasto , que se divide rapidamente à medida que o macroes- Cerca de uma semana depoi s da infecção, num an imal totalmen-
quizonte se dese nvo lve. A div isão é aparentemente estimul ada te suscetível, o linfonodo que drena a área da picada do carrapa-
pelo parasita, que se divide sincronicamente com o linfo blasto e to, usualmente o parotídeo, torna-se tumefato e o an imal fica
produz duas célul as infectadas. A velocidade de proliferação é fe bril. Dentro de alguns dias, há au mento de volume generaliza-
tal q ue pode ocorrer um aumento de dez vezes de células infec- do dos linfonodos superfi ciai s, o ani mal rapidamente perde as
tadas a cada três dias. condições físicas, torna- se dispné ico e há diarréia tenninal, com
Aproximadamente 12 di as após a infecção, uma certa propor- freqüência sanguinolenta. Podem ocorrer hemorragias petequiais
ção dos macroesq ui zontes desenvolve-se em microesquizonte, sob a língua e na vulva. Quase invariavelmente ocorrem decúbi-
e em mais o u menos um dia os microesqui zontes produzem os to e óbito, em geral em três semanas de infecção.
micromerozoítos que, liberados por ruptura dos microesqui zon-
tes, invadem os eritr6citos e se tornam piroplasmas. Os piroplas - EPIDEMIOLOGIA
mas não se multiplicam nos eritrócitos.
Para que o ciclo evoluti vo se cOl1)plete , os piroplasmas preci- Como o vetor, o carrapato R. appendiculalus, é mais ativo após
sam ser ingeridos pelas larvas ou estágios ninfais do vetor de três o início das chuvas, os surtos de Febre da Costa Leste podem ser
hospedeiros, R. appendiculatus. Ocorre uma fase sex uada no sazonais ou, quando as chuvas são relati vam ente constantes,
intestino do carrapato, seguida .pela formação de esporoblastos pode m ocorrer em qualquer ocasião. Fe li zmente, os bovinos
nas glândulas salivares. Não se verifi ca desenvolvimento poste- nativos criados em áreas endêmicas apresentam alto grau de re-
1 16 Parasitologia Veterinária
sistência, e embora possa ocorrer infecção discreta e transitória Têm-se empreendido muitos esforços para desenvolver uma
no início da vida a mortalidade é insignificante. O mecanismo vacina adequada, mas sem resultado, em virtude dos complexos
dessa resistência é desconhecido. Esses bovinos, entretanto, po- mecanismos imunológicos envolvidos na imunidade contra a
dem permanecer portadores e atuar como reservatório de infec- Febre da Costa Leste e da descoberta de linhagens imunologica-
ção para carrapatos. Bovinos suscetíveis introduzidos em tais mente diferentes de T parva no campo. Contudo, um esquema
áreas sofrem alta mortalidade, independentemente da idade ou de "infecção e tratamento" que envolve a injeção concomitante
da raça, a menos que sejam observadas precauções rígidas. de uma cepa de T. parva com virulência estável e tetraciclina de
Nas áreas onde a sobrevivência do carrapato vetar é margi- longa ação demonstra dar resultados, embora ainda não seja uLi-
nal, a desafio é baixo e os bovinos nativos podem ter pouca imu- lizado em larga escala. Aparentemente, a tetracichna retarda a
nidade. Estas áreas, durante um período prolongado de chuvas, velocidade de esquizogonia, dando tempo para o desenvolvimen-
podem tornar-se ecologicamente adequadas para a sobrevivên- to de resposta imune.
cia e a proliferação dos carrapatos, resultando finalmente em
surtos desastrosos de Febre da Costa Leste.
Em algumas partes da África Oriental e Central, onde popu- Theileria annulata
lações de bovinos e búfalos africanos selvagens se sobrepõem,
há uma complicação epidemiológica adicional por causa da pre- A doença causada por Theileria annulata acomete bovinos e búfa-
sença de uma linhagem de T. parva, conhecida como T. parva los domésticos e em muitos aspectos é semelhante à doença causa-
lawrenci. Esta linhagem ocorre naturalmente em búfalos africa- da por T. parva. Existem, entretanto, algumas características que
nos, muitos dos quais permanecem portadores. O vetor também diferem, e as mais importantes delas estão resumidas adiante.
é o carrapato R. appendiculatus, e nos bovinos a doença causa A doença distribui-se numa ampla faixa tropical e subtropi-
alta mortalidade. Como os carrapatos infectados podem sobre- cal que abrange Portugal e Espanha, os Bálcãs, os países que mar-
viver por quase dois anos, o contato físico entre búfalos e bovi- geiam o Mediterrâneo (daí o nome "teileriose mediterrânea"), o
nos não precisa ser estreito. Oriente Médio e o subcontinente indiano, além da China.
A T. annulata é transmitida transestadialmente por carrapatos
DIAGNÓSTICO do gênero Hyalomma. Como a Febre da Costa Leste, os bovinos
nativos em regiões endêmicas são relativamente resistentes, enquan-
A Febre da Costa Leste ocorre apenas onde há R. appendicula- to os rebanhos selecionados, particularrnente as raças européias, são
tus, embora ocasionalmente sejam registrados surtos dentro e fora altamente suscetíveis. Entretanto, ao contrário da Febre da Costa
destas áreas em virtude da introdução de bovinos infestados por Leste, a doença nesses animais não é uniformemente fatal, apesar
carrapatos provenientes de uma região enzoótica. do índice de mortalidade poder atingir 70%.
Nos animais doentes, os macroesquizontes são facilmente A patogenia e a sintomatol.ogia clínica são inicialmente se-
detectados em esfregaços de linfonodos para biopsia e, em ani- melhantes às da Febre da Costa Leste, com pirexia e tumefação
mais mortos. em esfregaços de impressão de linfonodos e baço. de linfonodos, mas nos estágios posteriores há anemia hemolíti-
Nos casos avançados, os esfregaços sangüíneos corados por Oi- ca e freqüentemente icterÍi;ia. A convalescença é prolongada nos
emsa apresentam piroplasmas nos eritrócitos, até 80% dos quais casos clínicos que se recuperam.
podendo estar parasitados. O diagnóstico depende da detecção de esquizontes em biop-
O teste de anticorpos por fluorescência indireta tem valor na sias de linfonodos e, ao contrário de T parva, em esfregaços
detecção de bovinos que se recuperaram da Febre da Costa Leste. sangüíneos. Uma parasiternia de piroplasmas de baixo grau, na
ausência de esquizontes, em geral é indicativa de um animal
portador recuperado.
TRATAMENTO Em muitas regiões, a prevenção de infecção por T annulata
em bovinos leiteiros importados baseia-se em estabulamento
Embora as tetracic1inas tenham um efeito terapêutico se admi- permanente. Contudo, isto é dispendioso e sempre existe a pos-
nistradas na época da infecção, não têm valor no tratamento de sibilidade de introdução de carrapatos infectados junto com a
casos clínicos. As drogas de escolha em casos clínicos de Febre forragem, causando doença e o desenvolvimento desses artrópo-
da Costa Leste são os compostos de naftaquinona parvaquona e des nas frestas das baias dos animais. Em alguns países, a imu-
buparvaquona, assim como o anticoccídico halofuginona. nização com esquizontes atenuados por cultura in vivo prolon-
gada tem dado excelentes resultados. Como no caso de infecção
CONTROLE por T parva, os compostos de naftaquinona e a halofuginona são
as drogas de escolha.
Tradicionalmente, o controle da Febre da Costa Leste em áreas
onde são criados rebanhos selecionados baseia-se na legislação
para controlar a movimentação de bovinos, na construção de Theileria hirci
cercas para impedir o acesso de bovinos e búfalos errantes e no
tratamento repetido de bovinos com acaricidas. Nas regiões de Este protozoário é a causa de uma doença aguda e altamente fa-
alto desafio, pode ser necessário realizar este tratamento duas tal de ovinos e caprinos na Europa Oriental, no Oriente Médio,
vezes por semana para destruir o carrapato antes do desenvolvi- na Ásia e na ÁfTica do Norte. Não se conhece o carrapato vetor.
mento de esporozoítos infectantes nas glândulas salivares. Isto embora se suspeite de espécies de Hyalomma. A epidemiologia
não só é caro como também cria uma população de bovinos to- e a patogenia são semelhantes às da T. annulata, com febre, lin-
talmente suscetíveis; se o acaricida fracassar, por erro humano fanados tumefatos, anemia e icterícia em animais suscetíveis.
ou pela aquisição de resistência por parte dos carrapatos, as con- Há poucas infornlações disponíveis sobre controle de carra-
seqüências podem ser desastrosas. patos ou tratamento.
Prorozoologia Veterinária 217
, CytauxzoolI Hospedeiros:
O suíno; ocasionalmente outros animais, incluindo o homem e
os bovinos.
Várias espécies de Cytauxzoon ocorrem como piroplasmas se-
melhantes à teiléria no s eritrócitos de ruminantes sil vestres afri- Localização:
canos. O gênero difere de Theileria, visto que ocorre esquizogo- Intestino grosso.
nia nas células reticuloendoteliais em vez de nos linfócitos.
Recentemente, no sul dos Estados Unidos foi descrita uma IDENTIFICAÇÃO
doença fatal de gatos domésticos, caracterizada por febre, ane-
mia e icterícia. A presença de esquizontes na s células
Um organismo ativamente móvel, de até 300 tJ.m, cuja película
reticuloendoteliais do baço, linfonodos, fígado e pulmões suge-
posssui fileiras de cílios dispostos longitudinalmente (Fig. 146).
re que possa ser uma espécie de Cytauxzoon.
Na extremidade anterior, há uma depressão afunilada, o peristo-
ma, que leva ao citóstoma ou boca; desta, partículas de alimen-
tos são passadas para vacúolos no citoplasma e digeridas. inter-
Classe HAEMOSPORIDIA namente, há dois núcleos, um macronúcleo reniforme e um
micronúcleo adjacente, e dois vacúolos contráteis que regulam
Três gêneros isolados desta classe, Plasmodium, Haemoproteus
a pressão osmótica.
e LeucocylOzoon, são as causas de "malária" aviária e aves do-
mésticas e sil vestres, uma doença muito comum nos trópicos e
transmitida por dípteros picadores. CICLO EVOLUTIVO
Os vetores diferem, visto que espécies aviárias de Plasmodium
são transmitidas por mosquitos, Haemoproteus por moscas hi- o 8alantidium eoli provavelmente vive como comensal no in-
poboscídeas ou por mo squitos-pólvora e Leucocytozoon por es- testino grosso da maioria dos suíno s. A reprodução é por fis-
pécies de Simulium. são binária. Ocorre também conjugação, uma união temporá-
Os ciclos evolutivos são amplamente semelhantes ao da ma- ria de dois indivíduos durante a qual há troca de material nu-
lária humana, e a esquizogonia no sistema reticuloendotelial re- clear, após o que ambas as células se separam. Finalmente,
sulta na produção de gametócitos semelhantes aos da malária nos formam-se cistos que são eliminados na s fezes; esses cistos
eritrócitos e na ocoLTência de singamia no inseto vetar, com pro- possuem uma parede amarelada espessa, através da qual o pa-
dução de esporozoítos nas glândulas salivares. Dependendo da rasita pode ser observado, e são viáveis por duas semanas à
espécie, galinhas, patos, gansos ou pombos podem ser acometi- temperatura ambiente. A infecção de um novo ho spedeiro é por
dos , e a sintomatologia clínica varia de inaparente a pirexia, ane- ingestão dos cistos.
mia, paralisia e até mesmo morte súbita.
O diagnóstico depende da identificação e diferenciação dos
PATOGENIA E IMPORTÂNCIA
parasitas nos eritrócitos de esfregaços de sangue corados.
Embora possam ser usadas drogaS""antimaláricas no tratamento,
Normalmente não-patogênicos, estes protozoários podem, por
em última análise O controle do inseto vetor é mais importante.
razões desconhecidas, causar ocasionalmente ulceração da mu-
cosa e disenteria concomitante no suíno. Às vezes, o homem pode
[Malária no homem: Esta é uma das doenças humanas de mai-
or prevalência no mundo e é considerada a causa de 1,5 milhão tomar-se clinicamente acometido, através da contaminação de
de mortes anualmente. É provocada por quatro espécies de Plas- aUmentos ou das mãos com fezes suínas.
modium, dos quais o P. vivax é o mais comum e o P. falciparwn As tetraciclinas são eficazes no tratamento.
o mais patogênico. Os esporozoítos são inoculados pelo mosq uito
anofelino fêmea, e isto é seg uido por esquizogonia nas células
parenquimatosas do fígado e depois nos eritrócitos. Por fim , for- Subfilo MICROSPORA
mam-se micro- e macrogametócitos nos eritrócitos e, com a in-
gestão pelo mosquito, ocorre singamia no intestino. Os Encephalitozoon cuniclIli
esporocistos produzem milhares de esporozoítos que invadem as
glândulas salivares e subseqüentemente são inoculados em ou- Este patógeno é um dos vários provisoriamente atribuídos ao filo
tro hospedeiro humano. Protozoa, subfilo Microspora. Todos são parasitas intracelulares
O controle depende da erradicação de mosquitos e, pelo me- com um estágio esquizogônico e esporogônico, possuindo o
nos para moradores temporários, do uso regular de antimaláricos esporo um filamento polar espiral ado. Em sua maioria, são pa-
profiláticos. Como a resistência aos antimaláricos se encontra rasitas de peixes.
difundida em determinadas regiões, deve-se obter opinião mé- A doença causada pelo E. cunicu/i foi descrita em poucas
dica sobre a escolha da droga.] ocasiões no homem, no cão, na raposa azul, em roedores e em
outros mamíferos. O ciclo evolutivo é obscuro, embora a infec-
ção possa ser por ingestão. O parasita e m seguida sofre esquizo-
Subfilo CILIOPHORA gonia e esporogonia nos macrófagos peritoneais e, na forma crô-
nica, nos rins e no cérebro. Os esporos infectantes são ~limina
BalantidiulIl coli dos na urina.
A sintomatologia clínica varia de di screta a grave e inclui
Distribuição: distensão abdominal, paralisia e sinais nervosos que lembram
Mundial. raiva.
~J Parasitologia Veterinária
tado portador. Às vezes, este equilíbrio pode ser perturbado, so- palme nte por infecção por aerossol ou por cantata direto ou in-
brevindo anaplasmose clínica quando os bovinos se encontram gestão. A pasteurização destrói eficazmente o organismo no lei-
estressados por outras doenças, como a babesiose. te. Tendo como base evidências epidemiológicas, pode ocorrer
também transmissão por carrapato em ruminantes domésticos.
DIAGNÓSTICO
manter cantata com a mãe. Em segundo lugar, a doença, possi- A Ehrlichia canis, transmitida por Rhipicephalus, é a causa
velmente em razão da leucopenia associada, predispõe os cor- da doença febril pancitopenia canina, que ocorre nos trópicos em
deiros a e ncefalomi elite e nzoóti ca, piemia do ca rra pato todo o mundo. As inclusões são encontradas nos monócitos,
(estafilococose enzoótica) e pasteurelose. Fi nalmente, a ocorrên- embora haja leucopeni a e tromoocitopenia. Pode ocorrer morte
cia da doença em ovinos ou bovinos adultos recentemente intro- por infecções secundárias associadas à leucopenia ou por hemor-
duzidos numa região endêmica pode causar aborto ou esterilida- ragias mucosas e serosas conseqüentes a deficiências plaquetá-
de temporária em machos, provavelmente como conseqüência rias. As tetraciclinas são eficazes no tratamento.
da pirexia. Duas outras infecções por Ehrlichia feb ris e hemorrágicas, pro-
O tratamento da febre do carrapato raramente é necessário e vavelmente transmitidas por carrapato e descritas em animais do-
a profilaxia depende do controle do carrapato por banhos carra- mésticos, são a febre petequial bovina (doença de Ondiri) no Qué-
paticidas. Quando a piemia do carrapato em cordeiro for um pro- nia, causada por Cytoeceles ondiri, e a erliquiose eqüina, causada
blema, esta medida pode ser suplementada por uma ou duas in- por E. equi na Europa e nos Estados Unidos. Mais recentemente, a
j eções profiláticas de oxi tetraciclina de longa ação, cada uma das síndrome da febre do cavalo de Potomac, com febre, leucopenia e
quais protege contra infecção por Ehrlichia phagocytophila du- di arré ia em eqüinos na América do Norte, foi atribuíd a a uma
rante duas a três semanas. erlíquia, E. risticii, encontrada nos leucócitos sangüíneos.
TÓPICOS DE REVISÃO
EPIDEMIOLOGIA DE DOENÇAS PARASITÁRIAS
Embora as razões da ocorrência de doenças parasitári as sej am pedeiro definitivo. Tem a máxima influênci a quando as condições
múltiplas e freqüentemente interativas, a grande maioria ocorre climáticas são ideais para o desenvolvimento dos ovos ou larvas
por uma de quatro razões básicas (Quadro la). São elas: contaminantes, como na primavera e no verão no hemisfério norte.
A alta densidade do rebanho também favorece a disseminação
(1) Aumento no número de estágios infectantes.
de condições ectoparasitárias como a pediculose e a sarna sarcóptica,
(2) Alteração na suscetibilidade do hospedeiro.
em que o contato íntimo entre os an imai s faci lita a difusão da
(3) Introdução de animais suscetíveis.
infestação. Isto pode ocorrer em condições de superlotação em
(4) Introdução de infecção.
currais de bovinos ou da mãe à ninhada quando, por exemplo, as
Cada um destes tópicos será discutido separadamente e com porcas e as ninhadas ficam em íntimo cOntato.
exemplos. Na coccidiose, em que são disseminadas grandes quantida-
des de oocistos, os métodos de manejo que estimulam a aglome-
AUMENTO NO NÚMERO DE ESTÁGIOS ração dos animais, como o agrupamento de cordeiros ao redor
INFECTANTES de comedouros, podem resultar rapidamente em contaminação
mac iça.
Esta categoria envolve doenças parasitárias de ocorrência sazo- Nas regiões temperadas, onde os animais ficam estabulados
nal e, apesar de mais di stintas em zonas com ampla variação cli- durante o inverno, a data do retomo ao pasto na primavera influ-
mática, podem ser observadas também em zonas com vari ações encia a contaminação dos pastos com ovos de helmintos. Uma
climáticas minimas, como os trópicos úmidos. vez que muitos estágios infectantes de helmintos, que sobrevi-
São múltiplas as causas responsáveis pelas flutuações sazonais veram ao inverno, sucumbem duran te o final da primavera, a
DOS números e na viabilidade de estágios infectantes, podendo ser
manutenção dos animais estabulados até esta época minimiza a
convenientemente agrupadas como fatores que afetam a contami- infecção subseqüente.
nação do meio ambiente e fatores que controlam o desenvolvimento
e a sobrevivência dos estágios de vida livre dos parasitas e. quando Estado imunológico do hospedeiro
for o caso, de seus hospedeiros intermediários.
Evidentemente, a influência da densidade do rebanho será má-
xima se todos os animais forem totalmente suscetíveis ou se a
COryTAMINAÇÃO 00 MEIO AMBIENTE proporção de animais suscetíveis em relação aos imunes for alta,
como nos rebanhos ovinos com grande porcentagem de gêmeos
o nível de contaminação é influenciado por di versos fatores. ou em rebanhos de bovi nos de corte com múltiplos lactentes.
Entretanto, mesmo quando a proporção de adu ltos em rela-
Potencial biótico ção a j ovens for baixa, é preciso lembrar que as ovelhas, as por-
cas, as cabras e em menor grau as vacas se tomam mais susce-
Pode ser definido como a capacidade de um organismo de ter su- tíveis a muitos helmintos durante o final da prenhez e o início
cesso biQlógico medida por sua fecundid ade. Assim, alguns da lactação em face da queda peripuerperal na imunidade. Em
nemat9ides, como Haemonchus contortus eAscaris suum, produ- muitas regiões do mundo, o parto em animais no campo, sin-
zem muitos milhares de ovos ' ao dia, enquanto outros, como cronizado para ocorrer com as cond ições mai s favoráveis ao
Trichostrongylus , prod~zem apenas algumas centenas. A produção crescimento da pastagem, também é a época mais adequada para
de ovos por alguns ectoparasitas como a varejeira, Lucilia sericala, o desenvolvimento dos estágios de vida li vre da maioria dos
ou o carrapato, Ixodes ricinus, também é muito alta, enquanto as helmintos. Assi m, a importância epidemiológica da queda
espécies de Glossina produzem relativamente poucos ovos. peripuerperal da imunidade é que ela assegura maior contami-
O potencial biótico dos parasitas que se multiplicam num nação do meio ambiente quando está aumentando o número de
hospedeiro intermediário ou num hospedeiro definitivo também an imais suscetíveis.
é considerável. Por exemplo, a infecção de Lymnaea por um Há certa evidência de que a resistência a infecções intestinais
miracídio do tre matóide Fasciola hepatica pode dar origem a por protozoários como a coccidiose e a toxoplasmose também
várias centenas de cercárias. No hospedeiro definiti vo, parasitas cai durante a prenhez e a lactação. aumentando, portanto, a di s-
protozoári os como Eimeria, em virtude da esquizogoni a e da seminação destas importantes infecções.
gametogonia, também dão origem a um rápido aumento na con- Por Outro lado, a imunidade do hospedeiro limita o nível de
taminação do meio ambiente. contaminação por modificar o desenvolvimento de novas infec-
ções ou por sua destruição ou por inibição nos estágios larvais,
Manejo do rebanho enquanto as cargas de vermes adultos existentes ou são expelidas
ou sua produção de ovos é drasticamente reduzida.
A densidade do rebanho pode influenciar o nível de contaminação Apesar da imunidade contra ectoparasitas ser me nos bem
e é particularmente importante nas infecções por nematóides e definida, nos bovinos ela se desenvolve co ntra a maioria das
cestóides em que não ocorre multiplicação do parasita fora do hos- espécies de carrapatos, embora num rebanho esta expressão de
~"".j Parasitologia Veterinária
Quadro 10 Fatores que afetam a epidemiologia de doenças parasitárias Stomoxys calcitrans ou as varejeiras britânicas, têm vários ciclos
(1) Aumento no nllmero de estágios infectantes de geração antes de entrar em diapausa. A ocorrência de d:iapausa
(a) Contaminação do meio ambiente Potencial biôtico é menor em parasitas que infectam continuamente o hospedeiro
Manejo do rebanho como ácaros da sarna ou piolhos.
Estado imunológico
HipobioseJdiapausa Até agora. não foram atribuídos fenômeno s semelhantes a
(b) Desenvolvimento e sobrevivência Micro-habitat protozoários, embora haja um relato de coccidiose latente ocor-
de estágios infectantes Desenvolvimento sazonal
Manejo do rebanho rendo em bovinos para a qual foi proposta uma hipótese similar.
(2) Alteração na suseetibllidade do hospedeiro
(a) Inlecçoes existentes Dieta DESENVOL VIMENTO E SOBREVIVÊNCIA OE
Prenhez e lactação
Terapia com esterôides ESTÁGIOS INFECTANTES
(b) Infecções novas Infecções intercorrentes
Quimioterapia
Hipersensibilidade
Os fatores que afetam o desenvolvimento e a sobrevivência são
(3) Introdução de animais suscetíveis principalmente ambientais, em especial a mudança climática
(a) Ausência de imunidade adquirida sazonal e certas práticas de manejo.
(b) Ausência de imunidade etária
(c) Longevidade de estágios infectantes
(d) Fatores genéticos Entre espécies
Entre raças Micro-habitat
(e) Sexo
(f) Linhagem do parasita
Diversos fatores ambientais, que afetam os micro-habitats de está-
(4) Introdução de infecção gios parasitários de vida livre, são vitais para o desenvolvimento e
(a) Introdução de novos animais a sobrevivência. Assim, temperaturas moderadas e umidade alta
(b) Adubo orgãnico
(c) Vetores favorecem o desenvolvimento da maioria dos parasitas, enquanto
tamperaturas baixas prolongam a sobrevivência. A umidade do
microclima depende, naturalmente, não só das chuvas e da tempe-
ratura, mas também de outros elementos, como estrutura do solo,
resistência quase sempre resulte inadvertidamente numa popu- tipo de vegetação e drenagem. O tipo de solo influencia o cresci-
lação superdisseminada de carrapatos com os animais jovens mento e a composição da espécie do capim e isto, por sua vez, de-
suscetíveis transportando a maior parte dos carrapatos. termina o grau de formação de uma camada de "macega" entre o
Em doenças por protozoários, como a babesiose ou a teileriose, solo e o capim. A macega é abundante nos pastos mais antigos e
a presença de adu ltos imunes também limita a probabilidade dos mantém uma reserva permanente de umidade em que a umidade
carrapatos se infectarem; este efeito, entretanto, não é absoluto, relativa permanece alta mesmo após semanas de seca. A presença
uma vez que tais animais freqüentemente são portadores inapa- dessa umidade e bolsas de ar presas na macega limitam o nível de
rentes dessas infecções por protozoários. mudança de temperatura, e estes fatores favorecem o desenvolvi-
mento e a sobrevi vência de larvas de helmintos, carrapatos, estágios
Hipobiose/diapausa 13IVaiS de insetos e oocistos de coccídios.
Por outro lado, o uso de plantações rotativas de pastos reduz
Estes termos são usados para descrever a interrupção no desen- a influência da macega e, portanto, a sobrevivência de parasitas.
vo lvimento de um parasita em determinado estágio e por perío- Nos trópicos áridos, o crescimento da pastagem em geral é in-
dos que podem prolongar-se por vários meses. significante, produzindo um efeito análogo.
Hipobjose refere-se ao desenvolvimento inibido de larvas de Da mesma fonua, um alto nível de lençol de água no solo é
nematóides no hospedeiro e ocorre sazonalmente, em geral numa importante para o desenvolvimento e a sobrevivência de vetores
época em que as condições são adversas ao desenvolvimento e à caramujos hospedeiros intermediários de trematóides, como
sobrevivência dos estágios de vida livre. A importância epide- trematóides do fígado e do rúmen.
miológica da hipobiose é que a retomada de desenvolvimento das O desenvolvimento e a sobrevivência de ovos ou larvas de
larvas hipobióticas ocorre usualmente quando as condições são helmintos nas fezes também dependem da temperatura e da
ideais para o desenvolvimento de vida livre, resultando, ass im, umidade. A espécie do hospedeiro também pode influenciar esta
em maior contaminação do meio ambiente. Há muitos exemplos situação, uma vez que as fezes normais de bovinos pennanecem
de hipobiose sazonal em nematóides, incluindo infecções por na forma original por mais tempo que, por exemplo, as fezes
Os/er/agia em ruminantes, Hyostrongylus rubidus em suínos e ovinas. Portanto, o teor de umidade no centro de um bolo fecal
espécies de Trichonema em eqüinos. bovino permanece alto durante várias semanas ou mesmo me-
A diapausa em artrópodes, tal qual a hipobiose em nematóides, ses, proporcionando. assim, um abrigo para as larvas em desen-
também é considerada um fenômeno de adaptação através do qual volvimento até que o ambiente externo seja adequado.
os ectoparasitas sobrevivem a condições adversas por interrup- As larvas de Dictyocaulus também podem espalhar-se com
ção do desenvolvimento e do metabolismo num determinado os esporos do fungo Pilobolus que crescem em fezes bovinas,
estágio. É mais comum em parasitas artrópodes temporários em enquanto várias espécies de larvas de nematóides, incluindo es-
climas temperados. Nestes, a atividade nutritiva restringe-se aos pécies de Oesophagostomum de suínos, são disseminadas me-
meses mais quentes do ano e a sobrevivência ao inverno é efetu- canicamente por alguns dípteros.
ada freqüentemente por um período de diapausa. Dependendo dos
extremos das !atitudes norte ou sul, isto pode ocorrer depois de Desenvolvimento sazonal
uma ou várias gerações. Por exemplo, a mosca-da-cabeça
Hydrotoea irritans tem apenas um ciclo anual e passa o inverno Nas regiões temperadas. com estações distintas de inverno e
sob a forma de larva madura em diapausa. Outros insetos, como verão, há um número limitado de gerações, e o mesmo é válido
Tópicos de Revisão 225
para regiões com estações secas e úmidas bem definidas. Por tismo. Entretanto, a melhoria do pasto, particularmente nos tró-
exemplo, na Grã-Bretanha, há apenas uma ou, no máximo, duas picos, pode aumentar o sucesso da reprodução dos carrapatos e
gerações parasitárias de infecções comuns por tricostrongilíde- dos dípteros que põem ovos nas fezes, aumentando sua viabili-
os de ruminantes,já que o desenvolvimento larval no pasto ocorre dade. Além disso, as taxas de lotação de animais nas pastagens
somente a partir do final da primavera até o inicio do outono, melhoradas podem aumentar as chances de o parasita encontrar
verificando-se os níveis máximos de larvas infectantes de julho um hospedeiro.
a setembro. Por outro lado, nos climas tropicais pode haver inú- A data da parição num lote ou rebanho também pode influen-
meras gerações por ano, porém mesmo neste caso há épocas em ciar a probabilidade de infecção parasitária. Quando os animais
que as condições para o desenvolvimento e a sobrevivência dos nascem fora de estação, os números de estágios infectantes de
estágios de vida livre são ótimas. tricostrongilídeos em geral são menores e a chance de infecção
O desenvolvimento de grandes quantidades de estágios infec- é adiada até os aIÚmais jovens estarem com mais idade e mais
tantes de parasitas em estações distintas geralmente é acompa- fortes.
nhado por alta taxa de mortalidade em poucas semanas. Quanti-
dades consideráveis, entretanto, sobrevivem por muito mais tem-
AL TERAÇÃO NA SUSCETlBILlDADE A
po do que se imagina. Por exemplo, nos helmintos, números
significantes de metacercárias de Fasciola hepatica e larvas in- INFECÇAO
fectantes de tricostrongilídeos podem sobreviver durante no
mínimo nove meses na Grã-Bretanha. Pode referir-se a infecções existentes ou à aquisição de novas
As populações de dípteros também variam no número de ge- infecções.
rações por ano. Usando as varejeiras como exemplo, há três ou
quatro gerações, e portanto populações mais altas, no sul da In- AL TERAÇÃO NOS EFEITOS DE UMA INFECÇÃO
glaterra, enquanto na Escócia há apenas duas, o fator limitante
sendo a temperatura. Nas regiões tropicais ou subtropicais úmi- Isto é observado principalmente em an imais adolescentes ou
das, o desenvolvimento de larvas de tricostrongilídeos ou de adultos que estão abrigando populações de parasitas abaixo do
populações de moscas ocorre durante todo o ano, e, embora isso limiar geralmente associado a doença, podendo ser explicado por
possa ser mais lento em determinadas épocas, há inúmeras gera- vários fatores dietéticos e do hospedeiro.
ções anuais.
Embora os ectoparasitas permanentes, como piolhos ou ácaros Dieta
da sarna, vivam sobre a pele ou na pele de animais e, portanto,
num ambiente aparentemente estável, na verdade este não é o É fato bem conhecido que os animais adequadamente nutridos
caso, pois o comprimento dos pêlos ou da lã muda em razão de têm maior capacidade de tolerar o parasitismo que os animais com
fatores sazonais ou da intervenção do homem. No hemisfério baixo nivel de nutrição.
norte, o desenvolvimento desses parasitas é ótimo no inverno, Assim, os ruminantes afetados por helmintos hematófagos,
quando a pelagem está longa e o microambiente úmido e tempe- como Haemonchus contortus ou Fasciola hepatica, podem
rado. manter o nível de hemoglobina enquanto a sua ingestão de ferro
Além dos estágios de vida livre de parasitas coccídios com for adequada. Contudo, se as reservas de ferro se tornarem
exigências sazonais semelhantes às dos tricostrongilídeos, a pre- baixas, os seus sistemas hematopoéticos se esgotam e eles
valência de outras infecções por protozoários está relacionada à podem morrer. Do mesmo modo, os bovinos podem ter um
atividade nutritiva de seus vetores artrópodes. Por exemplo, na índice razoável de crescimento com cargas moderadas de
Grã-Bretanha, a babesiose em bovinos ocorre em épocas de ati- tricostrongilídeos mesmo embora esteja ocorrendo alguma
vidade máxima de carrapatos, a primavera e o outono. perda de proteínas através da mucosa alimentar. Entretanto, se
houver uma alteração na dieta que reduza a sua ingestão de
Manejo do rebanho proteínas, eles se tornam incapazes de compensar os déficits
de proteínas e perdem peso. Estes efeitos prejudiciais do pa-
A viabilidade dos estágios infectantes de helmjntos também é rasitismo, sem alteração no nível de infecção, não são raros em
afetada por certas práticas de manejo. Assim, a alta densidade animais que resistiram ao inverno ou, nos trópicos, em animais
populacional no rebanho aumenta o nível de contaminação, e, durante um período de seca.
quando a altura da pastagem diminui, intensifica-se a viabilida- Eventualmente, o mesmo efeito é produzido quando o con-
de dos estágios larvais altamente concentrados na parte inferior sumo de alimentos não aumenta durante a prenhez e a lactação.
do capim. Além disso, a escassez de capim pode induzir os ani- Bons exemplos disto são o acúmulo de piolhos sobre animais
mais a pastar mais perto de fezes do que o normaL Contra isto, subnutridos durante o inverno e o fato de a anemia causada por
entretanto, o microclima num pasto baixo é mais suscetível a carrapatos ser maior em aIÚmais subnutridos.
mudanças na temperatura e na umidade, e, assim, os estágios de Além de proteína e ferro, as deficiências nutricionais de mi-
vida livre, em condições adversas, podem ser particularmente croelementos também são significativas. Sabe-se, portanto, que
vulneráveis. Isto pode explicar por que as cargas de helmintos a tricostrongilose em ruminantes prejudica a absorção tanto de
de ruminantes em pastos sempre ocupados freqüentemente são cálcio como de fósforo, podendo ocorrer osteoporose quando
menores que as cargas em animais mantidos em sistema de rota- a ingestão destes elementos é insuficiente. Além disso, os efei-
ção de pastagem. tos noci vos de alguns parasitas do abomaso em ovinos são
Do mesmo modo, muitos esquemas de melhoria de pastagem maiores quando também existe deficiência de cobalto, e nes-
têm efeitos diretos ou indiretos sobre as populações de artrópodes. ses animais os níveis de parasitismo geralmente considerados
A melhora na nutrição do hospedeiro é resultado da melhoria da não-patogênicos podem estar associados a diarréia grave e
pastagem e ajuda a manter a resistência do hospedeiro ao paras i- perda de peso.
216 Parasito/agia Veterinária
Prenhez e lactação carrapatos também pode diminuir a imunidade do reb anho con-
tra infecções por babésias e teileri as, a chamada "instabilidade
o período de ges tação de animais no campo freqüentemente enzoótica" .
coincide com o de nutrição inadeq uada e se completa numa época
em que há disponibilidade de pasto novo para os recém-nasci- Hipersensibilidade
dos. Em rebanhos estabulados ou não-estabu lados no invern o, o
custo de manutenção de uma di eta nutriciona l adeq uada durante Em muitas circunstâncias, pelo menos parte da resposta imuno-
a prenhez quase sempre é alto, e, como conseqüênci a, os níveis lógica a parasitas está associada a uma notável resposta de IgE e
nutricionais costumam ser deficientes. Se ocorrer isto, cargas de a uma reação de hipersensibilidade. Quando isto ocorre no in-
vermes bastante baixas podem ter um efeito prejudicial sobre a testino, como em infecções intestinais por nematóides, a reação
conversão alimentar materna, o que, por sua vez, influencia o está associada a aumento de penneabilidade do intestino a ma-
desenvolvimento fetal e subseqüentemente O do neonato, por cromoléculas cqmo proteínas, o que pode ser um fator signifi-
produção deficiente de leite matemo. Isto foi claramente demons- cante em animais imunes sob desafio larval intenso. Nos ovinos,
trado em porcas infectadas com cargas moderadas de Oesopha- por exemplo, podem res ultar baixos índices de cresc imento e
gostomwn denlatum e em ovelhas infectadas por helmintos tais baixa produção de lã.
como Haemon chus ou Fasciola. Foi observado também um efeito inibidor em animais resisten-
tes a canapatos sob constante desafio, enquanto animais de esti-
Terapia com esteróides mação expostos repetidamente a infestações por ácaros podem ter
a pele gravemente espessada, hi perênúca e sensível, embora este-
Os esteróides são amplamen te utili zados em terapia humana e jam presentes apenas quantidades insignificantes de ácaros.
animal e sabe-se que podem alterar a suscetibilidade ao paras i-
tismo. Um bom exemplo é observado 11 0 gato infectado por To- PARASITISMO RESUL TANTE DA MUDANÇA DE
xoplasma gondii; a excreção de oocistos em geral ocorre ape- ANIMAIS SUSCETíVEIS PARA UM AMBIENTE
nas durante cerca de duas semanas, mas pode reaparecer e se
CONTAMINADO
prolongar após a administração de esteróides . Sabe-se também
que a produção de ovos por nematóides aumenta após tratamento
com esteróides, intensificando, assim, a contaminação dos pas- AUSÊNCIA DE IMUNIDADE ADQUIRIDA
tos.
Os melhores exemplos de surtos de doença parasitária após a
mudança de bezerros para áreas contaminadas são as nematodi-
AL TERAÇ;ÃO DA SUSCET/BILlDADE À oses comuns dos ruminantes. Por exemplo, na Europa Ociden-
AQUISiÇÃO OE NOVAS INFECÇÕES tal, o verme pulmonar bovino Dictyocaulus viviparus é endênúco
e as manifestações mais graves são observadas em bezerros nas-
O papel de infecções intercorrentes cidos no início da primavera e que vão para o campo no final do
verão, pastando ao lado de lotes de bezerros mais velhos, que
Em di versas ocasiões, foi descrita a interação de vários parasitas estão no campo desde O início da primavera. As populações
ou de um parasita com outro patógeno, resultando em enfermi- larvais que sohreviveram ao inverno ti veram seus ciclos nesses
dade clínica exagerad a. Por exemplo: em cordeiros, o nematói- bezenos mais velhos, e, quando as populações recentes de lar-
de Nematodirus battus e o protozoário Eimeria; em bovinos, o vas infectantes desenvolvidas a partir destas infecções chegam
trematóide Fasciola hepatica e a bactéria Salmonella dublin, ao pasto, os bezenos mais novos, sem experiência prévia de in-
como também Fascio/a hepatica e o ácaro da sarna Sarcoptes; fecção, são extremamente suscetíveis.
em suínos, o nematóide Trichuris suis e o espiroqueta Trepone- A ocorrência de "surtos de cisticercose" em bovinos adultos em
ma hyodysenteriae. pastos contaminados com ovos da tênia humana, Taenia saginata,
ou manuseados por vaqueiros infectados é relatada ocasionalmente
Efeito da quimioterapia na Europa e nos Estados Unidos. Este alto grau de suscetibilidade
deve-se à falta de exposição prévia à infecção. Por outro lado, em
Em detenninadas circunstâncias, a imunidade contra parasitas regiões onde a cisticercose é endêmica, os bovinos infectam-se re-
parece depender da presença contínua de infecções de baixo ní- petidamente e logo adquirem uma sólida imunidade à reinfecção,
vel, comumente denominada pré-munição. Se o equilíbrio en- persistindo nos músculos apenas os cistos adquiridos no início da vida.
tre o hospedeiro e a infecção imuni zante fo r rompido por tera- Com enfermidades ca usadas por protozoário s, como
pia, pode então ocorrer reinfecç ão do hospedeiro ou, no caso babesiose, teileriose, coccidiose e toxoplasmose, deve-se tomar
de helmintos, uma população de larvas inibidas pode atingir a cuidado na introd ução de animais não-infec tados em áreas con-
maturidade a partir do reservatório de infecção no hospedeiro. taminadas. No caso da toxoplasmose, a introdução de fêmeas
Assim, o uso de anti-helmínticos, comprovadamente efi cazes ovinas num rebanho em que a doença é endêmica tem de ser
contra parasitas adultos mas não contra larvas inibidas de cuidadosamente controlada, e essas fêmeas não devem estar pre-
nematóides, pode precipitar o desenvolvimento das últimas, nhes quando adquiridas e devem ficar no pasto com O rebanho
uma vez removidos os adu ltos; sabe-se que isto ocorre em in- durante alguns meses antes do acasalamento.
fecções por Hyostrongylus rubidus nos suínos. Às vezes, tam-
bém, o excesso de zelo na aplicação de anti-helmínticos em AUSÊNCIA OE IMUNIDADE ETÁRIA
animais de campo res ulta no eventual estabelecimento de quan-
tidades mais altas de tricostrongilídeos o que havia antes do Desenvolve-se uma significati va imunidade etária contra re-
tratamento. A aplicação excessiva de acaricidas para controlar lativamente poucos parasitas, e os animais ad ultos não ex-
Tópicos de Revisão 227
postos prev iamente a muitas infecções causadas por helmin- rasitas res istentes a drogas é outro ponto que deve ser considera-
tos e protozoários correm ri sco se levados para uma área do quando ocorrem surtos de doença em rebanhos, lotes ou haras
endémica. onde rotineiramen te são aplicadas medidas de controle.
Embora este aspecto tenha merecido pouca atenção, exceto nas O PAPEL DE VETORES INFECTADOS
infecções por protozoários, existe agora alguma evidência da
ocorrência de cepas de helrnintos que variam em infectividade e Várias infecções por helmintos são transmitidas por insetos ala-
patogenicidade. A prevalência crescente de cepas de muitos pa- dos, e estes podem servir para introduzir infecção em áreas pre-
-
21 Parasitologia Veterinária
viamente não contaminadas. Às vezes, também, as aves podem por caramujos Lymnaea transportados por aves silvestres. A in-
rransportar mecanicamente estágios infectantes de parasitas para trodução de animais levemente infectados por Fasciola hepatica
um novo ambiente. Isto ocorreu nos Países Baixos, onde as fos - resultou na infecção dos caramujos e, subseqüentemente, em
sas e os diques circundando terra cultivada foram colonizados manifestação de fasciolose clínica.
s
Em termos gerais, a resistência a infecções parasitárias enqua- animais imaturos, ele ainda não se adaptou completamente ao
dra-se em duas categorias. A primeira delas, freqüentemente de- adu lto.
nominada resistência inata, inclui resistência de espécie, resis- Por outro lado , quando se encontra resistência etária, a maio-
tência etária e, em alguns casos, resistênci a racial, as quais, de ria das espécies de parasitas parece ter desenvol vido um contra-
modo geral, não são de origem imunológica. A segunda catego- mecanismo eficaz. Assim, Ancylosloma caninum, Toxocara ca-
ria, imunidade adquirida, depende de estímulo antigênico e sub- nis, Toxocaracati e espécies de Toxocara vitulorum e Strongy/oi-
seqüentes re spostas humorais e celulares. Apesar de , por razões des sobrevi vem todos co mo estágios larvais nos tecidos do hos-
explicadas adiante, serem poucas as vacinas disponíveis contra pedeiro, tornando-se ati vos apenas durante o final da prenhez e
doenças parasitárias, a expressão natural de imunidade adquiri- infectando a cria no útero (v ia transplacentári a) ou pela via
da desempenha um papel altame nte significativo na proteção de transmamária. No caso de Nematodirus battus, as exigências
animais contra infecções e no quadro epidemiológico de muitas críticas para eclosão do ovo, i.e., resfriamento prolongado seguido
doenças parasitárias. por elevação de temperatura superior a I Qoe, garantem a sobre-
vivência do parasita como uma infecção de cordeiro-para-cor-
deiro de uma estação para a outra.
RESISTÊNCIA DE ESPÉCIES
Curiosa me nte, com a infecção de bovinos por Babesia e
Anaplasma, em geral se supõe uma resistência etária inversa, pelo
Por uma série de razões parasitológicas, fi siológicas e bioquími-
fato de os animais jovens serem mais resistentes que animais mais
cas, muitos parasitas não se desenvolvem de modo algu m em
velhos criados livres de infecção.
outros hospedeiros que não sejam os seus hospedeiros naturais.
Isto é demonstrado, por exempl o, pela notável especificidade de
hospedeiro das diversas espécies de Eimeria. Em muitos casos, RESISTÊNCIA RACIAL
entretanto, ocorre um grau limitado de desenvolvimento, embo-
Nos últimos anos, tem-se observado considerável interesse no
ra usualmente sem estar associado à sintomatologia clínica; por
fato de algumas raças de ruminantes serem mais resistentes que
exempl o, algumas larvas do parasita bovino Ostertagia osterta-
outras a determinadas infecções parasitárias.
gi desenvolvem-se em ovinos, mas poucas atingem o estágio O melhor exempl o di sto pro vavelmente é o fenômeno de
adulto. Poré m, nestes hospedeiros não-naturais ou anômalos, e
tripanotolerânci a demonstrado por bovinos sem cupim da África
especialmente com parasitas qu e sofrem migração ti ssular, há
Ocidental, tais como os N' dama, que sobrevivem em áreas de in-
sérias conseq üências ocasionais, principalmente se a via migra-
tenso desafio por tripanossomas. Ainda não se conhece o mecanis-
tória se tomar errática. Um exemplo disto é a larva mi grans vis- mo pejo qual esses bovinos controlam a parasitemia, embora se
ceral em crianças do Toxocara canis que está associada a hepa- acredite que respostas imunes possam desempenhar um papel.
tomegalia e ocasionalmente a envolvimento ocular e cerebral. Em infecções por helmintos, foi demonstrado que os ovinos
Alguns parasitas, naturalmente, possuem uma variedade muito Red Masai , nativos da África Oriental, são mais resistentes à in- .
ampla de hospedeiros. a Trichinella spiralis, a Fasciola hepatica, fecção por Haemonchus contortus que algumas raças importa-
o Cryptosporid(um e os estágios assexuadas de Toxoplasma cons- das estudadas naquela região, enquanto na África do Sul foi re-
tituindo quatro exemplos. gistrado que os ovinos da raça Merino são menos suscetíveis à
tricostrongilose que certas outras raças.
RESISTÊNCIA ETÁRIA Dentro de raças, os genótipos de hemoglobina demonstraram
refletir diferenças na suscetibilidade à infecção por Haemonchus
Muitos animais tom am-se mais resistentes a infecções primárias contortus, visto que ovinos Merino, Blackface escocês e Dorset
por alguns parasitas' ao atingir a maturidade. Por exemplo, é gran- finlandês que são homozigotos para hemoglobina A desenvol-
de a probabilidade de se desenvolverem efetivamente infecções ve m cargas de vermes menores apó s infecção que os ovinos
por ascarídeos em animais se o s hospedeiros tiverem poucos homo- ou heterozigotos para hemoglobina B. Infelizmente, es-
meses de idade. Se infectados com mais idade, ou os parasitas tas diferenças genotípicas na suscetibilidade costumam falhar sob
não conseguem desenvolver-se o u ficam inibidos como estágios desafio in tenso.
larvais nos tec idos; da mesma maneira, infecções patentes de Na Austrália, alguns trabalhos numa única raça demonstra-
ruminantes e eqüinos por Strongyloides são observadas mais ram que cordeiros Merino podem ser divididos individualmente
comumente em animais jovens. Os ovinos de mais de três meses em respondedores e não-respondedores com base em sua resposta
de idade são relativamente resi stentes ao Nematodirus ballus, e, imune à infecção por Trichostrongylus colubriformis e que es-
igualmente, os cães desenvolvem gradativamente resistência à sas diferenças são transmitidas geneticamente à geração seguinte.
infecção por Ancylostoma durante o prime iro ano de vida. A seleção de animais resistentes poderia ser de grande impor-
Os fa tores responsáveis por resistência etária são desconhe- tância, principalmente em muitas áreas em desenvolvimento e m
cidos, embora se suponha que o fenômeno sej a um indício de que todo o mundo, mas na prática seria mais fácil basear-se em algu-
ainda não se desenvolveu completamente a relação hospedeiro- ma característica facilmente identificável como "cor da pelagem"
parasita. Portanto, ainda que o parasita possa desenvol ver-se em do que depender de testes laboratoriais.
230 Parasito/agia Veterinária
Na Austráli a, a resistência a carrapatos, parti c ul arme nte ovos de cinco a seis di as. A população ad ul ta permanece está-
Boophilus, demonstrou ser influenciada pela genética, sendo alta ti ca durante cerca de outros cinco dias. Após este período , a
nas raças zebuínas com cupim, 80S indicus, e baixa nas raças produção de ovos pelos vermes nas fezes cai rapidamente e os
européias, 8 0S tau rus. Entretanto, quando os bovinos são 50% adultos, em sua maioria, são rapidamente expelidos do in testi-
ou mais Zebu em sua constituição genética, ainda é possível alto no. Essa expulsão de vermes adultos, conhecida originalmente
grau de resistência, possibilitando uso restrito de acaricidas. como fenômeno de "autocura", demonstrou ser resultante de
uma resposta imune.
Se os ratos forem reinfectados, uma proporção menor da dose
IMUNIDADE ADQUIRIDA A INFECÇÕES POR
larval chega ao intestino, i.e., sua mi gração é interrompida. Os
HELMINTOS poucos vermes adultos que se desenvolvem no intesti no perma-
necem pequenos e são rel ativamente es téreis, e a expulsão dos
As respostas imunes a helmintos são complexas, dependendo vermes começa mais cedo e ocorre mais rapidamente.
provavelmente de estimulação antigênica por produtos secreto- Em condições naturais d e pastejo, as infecções larvais de
res o u excretores liberados durante o desenvolvimento da L3 em bovinos e ovinos são adquiridas durante um período, mas ocorre
adu lto, e por este motivo foi possível desenvolver apenas um ou uma série de eventos aproximadamente similares. Por exemplo,
doi s métodos práticos de imunização artificial, dos qu ais a vaci- os bezerros expostos a Dictyocaulus viviparus adquirem rapida-
na atenu ada por radiação contra Dictyocaulus viviparus talvez mente infecções patentes de fácil identifi cação pela sintomato-
constitua o melhor exemplo. logia clínica. Após um período de poucas semanas, desenvolve-
Apesar disso, não há dúvidas de que o sucesso de muitos sis- se imunidade, e as cargas de vermes adul tos são expelidas. À
temas de manejo de pastagem depende do desenvolvimento gra- exposição subseqüe nte em anos seguintes, esses animais são al-
dual por bovinos e ovinos de um grau de imunidade naturalmen- tamente resistentes a desafios, embora, se fo r um desafio inten-
te adquirida a nematóides gastrintestinais. Por exemplo, obser- so, se possa observar sintomatologia clínica associada à síndro-
vações experimentais demonstraram que um ovino adulto imu- me de reinfecção, i.e., a destrui ção imunológica das larvas inva-
ne pode ingerir cerca de 50.000 L3de Ostertagia ao dia sem apre- soras nos pulmões . Com infecções por OSlertagia e Trichos-
sentar nenhum sinal clínico de gastrite parasitária. trongylus, o tipo é o mesmo, co m o desenvoJvimento de uma
infestação por vermes adultos sendo seg uida por sua expulsão e
EFEITO DA RESPOSTA IMUNE subseqüente imunidade; em idades mais avançadas, estabelecem-
se apenas pequenas infestações adultas de curta duração e final-
Primeiramente, em relação a nematóides gastrintestinais e pul- mente as larvas infectantes são expelidas sem nenhum desenvol-
monares, os efeitos da resposta imune podem ser agrupados sob vimento. Entretanto, com infecções gastrintestinais em ruminan-
três aspectos: tes, a capacidade de desen volver boas respostas imunes costu-
ma ser retardada por alguns meses em virtude da falta de respos-
( 1) O desenvolvimento de imunidade após uma infecção primá-
ta imunológica.
ria pode estar assoc iado a uma capacidade de destruir ou
Apesar do grande número de pesquisas, ainda não se conhe-
expelir os nematóides adultos.
ce o mecanismo de imunidade contra parasitas intestinais. Con-
(2) Subseqüentemente, o hospedeiro pode tentar limi tar a rein-
tudo, admite-se geralme nte que tais infecções produzam um es-
fecção impedindo a migração e o estabelecimento de lar-
tado de hipersensibilidade intestinal associado a aumento de
vas ou, às vezes, inibindo seu desenvolvimento num es-
mastócitos da mucosa na lâmina própria e à produção de 19E
tágio larval. Este tipo de inibição do desenvolvimento não
verme-específica, grande parte da qual se liga à superfície do s
deve ser confundido co m a hipobiose, mais comum, desen-
mastócitos. A reação do antígeno do verme, a partir de uma in-
cadeada por efeitos ambientais sobre larvas infectantes no
fecção existente ou de um subseqüente desafio, com estes mas-
pasto ou, em vista dos conhecimentos atuais, com O desen-
tócitos sensibilizados libera aminas vasoativas que provocam
volvimento larval inibido associado à resistência etária, por
aumento na permeabilidade capilar e epitelial e hiperprodução
exemplo, nos ascarídeos.
de muco.
(3) Os adultos que se desenvolvem podem ter tamanho peque-
Depois deste ponto, há certa confusão. Algun s pesquisadores
no ou sua fecundidade pode estar reduzida. O importan-
concl uíram que tais alterações fisiológicas simplesmente afetam
te aspecto prático deste mecanismo talvez não seja tanto a
o bem-estar dos vermes, por exemplo, diminuindo a tensão de
menor patogenicidade destes vermes, mas sim a grande re-
oxigêni o de seu ambiente, de tal modo qu e se soltem da mucosa
dução na contanúnação de pastos por ovos e larvas, o que,
e em seguida sejam expelidos.
por sua vez, diminui a chan ce de reinfecção subseqüente.
Outros pesquisadores postularam que, além disso, a mucosa
Cada um des tes mecanismos é exemplificado em infecções permeável permi te o "ex tr avasame nt o" de anticorpo IgG
do rato pelo ne matóide tricostron gilídeo Nippostrongy/us bra- anti venne do plasma para a lu z intestinal, onde ele tem acesso
siliensis, um modelo laboratorial bastante estudado que mu ito aos parasitas.
contribuiu para nosso conhecimento do s mecanismos de imu- Encontram-se também atualmente e m estudo outros fatores,
nidade do hospedeiro em infecções por helmintos. O estágio in- como a secreção de IgA anti verme específica e o significado de
fectante deste parasita normalmente penetra atra vés da pele, células T sensibilizadas, que se sabe promover a diferenciação
mas, por conv eniência, no laboratório em geral é injetado por de mastócitos, eosinófilos e célul as mucossecretoras.
via subcutânea. As larvas seguem através da circulação sangüí- No que di z respeito aos helrnintos invasores de tecidos, os mais
nea para os pulmões onde, depois de sofrer muda, passa m para intensamente estudados têm sido os esquistos somas. Um traba-
a traquéia e são deglutidas. Ao atingir o intestino delgado, so- lho recente demonstrou que os esqui sto ssômulos de Schistoso-
frem outra muda e se tornam adultos, sendo o tempo decorrido ma mansoni podem ser atacado s tanto por eosinófilos como por
entre a infecção e o desenvolvimento em adultos eliminando macrófagos, que se fixam ao parasita revestido de anticorpos. Os
1
eosinófilos, em especial, unem-se fIrmemente aos parasi tas, e se que o cisto estabelecido possa ser "mascarado" por antígeno
suas secreções lesam a membrana paras itári a subjacente. do hospedeiro ou talvez secrete uma substância "anticom-
Tentativas feitas para descobrir se existe um mecanismo se- plementar" que bloqueia o efeito de uma reação imune.
melhante contra Fasciola hepatica indicam que, apesar de eosi-
nófilos se unirem a partes do tegumento do trematóide jovem, Estimulação polie/onal de imunoglobulina
este último parece perder a camada superficial para escapar da
lesão. Além de estimular a produção de anticorpos IgE específicos, os
helmintos induzem a produção de grandes quantidades de IgE
EVASÃO DA RESPOSTA IMUNE DO inespecífica. Isto pode aj udar os paras itas de duas maneiras. Em
HOSPEDEIRO primeiro lugar, se os mastócitos forem revestidos por IgE ines-
pecífica, é menos provável que atraiam IgE parasi ta-específica
Apesar da evidência de que os animais são capazes de desenvol- e, assim, não desgranularão quando ex postos a antígeno parasi-
ver fortes respostas imunes a muitas infecções por helmintos, tário. Em segundo lugar, o fa to de que o hospedeiro está produ-
agora está claro que os paras itas, durante a sua evolução, tira- zindo imunoglobulina de modo inespecífico significa qu e é me-
ram proveito de detenninados defeitos neste arsenal. Este aspecto nos provável a produção de anticorpos específicos para o helmin-
da parasitologia ainda está no início, mas três exemplos de eva- to em quantidade adequ ada.
são imunológica são dados a seguir.
ASPECTO NEGATIVO DA RESPOSTA IMUNE
Falta de resposta imune neonatal
Às vezes, há respostas imunes associadas a lesões que estão pre-
Trata-se da incapacidade de animais jovens de desenvolver uma j udicando o hospedeiro. Por exemplo, os efeitos patogênicos da
resposta imune adequada a algumas infecções parasitárias. Por esofagostomose freqüentemente são atribuíveis aos nódulos in-
exemplo. bezerros e cordeiros não conseguem desenvolver um testinais de Oe. columbianum; do mesmo modo, os efeitos pato-
grau útil de imunidade à reinfecção por espécies de OSlertagia gênicos da esquistossomose devem-se aos granulomas de ovos,
até que tenham sido expostos a reinfecção constante durante toda o resultado de reações mediadas por células, no fígado e na vesÍ-
a estação de pastejo. Da mesma maneira, os cordeiros são repe- cula.
tidamente suscetíveis à infecção por Haemonchus contorlus até
a idade de seis meses a um ano. IMUNIDADE ADqUIRIDA CONTRA INFECÇÕES
A causa desta falta de resposta é desconhecida. Entretanto, POR PROTOZOARIOS
ainda que bezerros e cordeiros finalmente desenvolvam boa res-
posta imune à infecção por Ostertagia, no sistema ovino/ Como se poderia prever por seu tamanho microscópico e estado
Haemonchus conlOrlus a ausência de resposta neonatal aparen- unjcelular, as respostas imunes contra protozoários são semelhan-
temente costuma ser sucedida por longo período de falta de res- tes às respostas contra bactérias. O tema, entretanto, é extrema-
posta imune adquirida - p. ex., ovinos Merino criados desde o mente complexo e as considerações a seguir constituem basica-
nascimento num ambiente em que o Haemonchus é endêrnlco mente uma condensação de informações atuais sobre alguns dos
permanecem suscetíveis a reinfecção por toda a vida. patógenos mais importantes. Como no caso de infecções bacte-
rian as, as respostas imunes são tipicamente do tipo humoral ou
Imunidade concomitante mediada por células, às vezes ambas estando envolvidas.
A tripanossomose é um bom exemplo de doença por proto-
É o termo utilizado para descrever a imunidade que atua contra zoári o para a qual a imunidade é principalmente humora1. As-
estágios larvais invasores mas não contra uma infecção existen- sim, in vitro, pode-se demonstrar que tanto a IgG como a IgM
te. Portanto, um hospedeiro pode estar infectado por parasitas lisam ou ag lutinam tripahossomas, e in vivo até mesmo pequena
adultos mas possui um grau de imunidade a infecção posteri or. quantidade do soro imune remove os tripanossomas da circula-
O melhor exemplo talvez sej a o encontrado com esquistossomas ção sangüínea, aparentemente facilitando sua absorção, através
que· são revestidos por um sincício citoplas mático que, ao con- de opsoni zação, por fag6citos. Infelizmente, o fenômeno de va-
trário da cutícula aparentemente qui tinosa dos nematóides, po- riação antigênica, outro método de evasão imnne, impede que
deria no início parecer vulnerável à ação de anticorpos ou célu- essas infecções sejam completamente eliminadas e tipicamente
las. Verificou-se, contudo, que os esquistossomas adultos têm a penrJte que a doença tenha uma evolução característica de re-
propriedade de poder incorporar antígenos do hospedeiro, tais " missões e exacerbações continuas de parasitemia. É provável,
como antígenos de grupos sangü íneos ou imunoglob ulina do também, que a imunossupressão generalizada induzida por essa
hospedeiro, em sua membrana superficial , mascarando seus pró- doença, mais cedo ou mais tarde, limite a capacidade de respos-
prios antígenos estranhos. ta do hospedeiro.
A imu nidade concomitante não parece atuar com Fasciola É relevante observar também que algumas das lesões impor-
heparica em ov inos, visto que são repetidamen te suscetíveis a tantes da tripanossomose tais como anemia, miocardite e lesões
reinfecção. Por outro lado, os bovinos não só ex pelem sua carga da musculatura esquelética são consideradas atribu íveis à depo-
adulta primária de Fasciola hepalÍca como também desenvol- sição de antígeno tripanossôrnico ou complexos imunes sobre
vem notável resistência à reinfecção. tais células, resultando na sua subseqüente destruição por rna-
A imunidade concomitante também inclui a situação em que crófagos ou linfóc itos, um possível efeito negativo da resposta
larvas de cest6ides estabelecidas podem sobreviver durante anos Imune.
nos tecidos do hospedeiro, embora este último seja completamen- A imunidade adquirida contra babesiose também parece ser
te imune à reinfecção. Não se conhece o mecanismo, mas supõe- mediada por anticorpo, atuando talvez como uma opsonina e
-
232 Parasitologia Veterinária
facilitando a absorção de hemácias infectadas por macrófagos os esporozoítos inoculados pelo carrapato pode ser altamente
esplênicos. Os anticorpos são também transmitidos através do eficaz na proteção.
colostro para o animal recém-nascido e conferem um período de Na toxoplasmose, também, os componentes humoral e medi-
proteção contra infecção. ado por células parecem estar envolvidos na resposta imune.
Finalmente, na tricomonose, observam-se anticorpos, prova- Entretanto, ainda é preciso determinar a importância relativa de
velmente produzidos por plasmócitos na lâmina própria do úte- seus papéis, embora geralmente se acredite que a formação de
ro e da vagina, no muco secretado por esses órgãos e em menor anticorpos pelo hospedeiro resulte em interrupção na produção
grau no plasma que, in vitro, destroem ou aglutinam as tricômo- de taquizoítos e no desenvolvimento do cisto de bradizoíto la-
nas e provavelmente constituem o principal fator responsável tente; pode ocorrer também recrudescência de atividade taqui-
pelas infecções autolimitantes que ocorrem úpicamente em va- zoíta se o hospedeiro se tomar imunossuprimido como conse-
cas. qüência de terapia ou de alguma outra doença.
Das infecções por protozoários contra as quais a imunidade é
principalmente mediada por células, a leishmaniose é de parti- IMUNIDADE ADQUIRIDA CONTRA INFECÇÕES
cular interesse, visto que os amastigotas penetram e se prolife- POR ARTRÓPODES
ram em macrófagos, cuja função, paradoxalmente, é a fagocito-
se e a destruição de microrganismos estranhos. Não se sabe como Sabe-se que os animais expostos a ataques repetidos de alguns
sobrevivem nos macrófagos, embora se suponha que possam li- insetos desenvolvem gradativamente certo grau de imunidade
berar substâncias que inibem a atividade enzimática de lisosso- adquirida. Por exemplo, no homem pelo menos, durante um pe-
mos ou que a camada superficial do amas ti gota seja refratária a ríodo de tempo, as reações cutâneas às picadas de Cu/icoides e
enzimas lisossômicas. A imunidade que se desenvolve parece ser mosquitos diminuem em gravidade. Da mesma maneira, após
mediada por células, talvez por células T citotóxicas que destro- diversos ataques de miíases por califorídeos, os ovinos tornam-
em macrófagos infectados ou pelos produtos solúveis de células se mais resistentes a ataque posterior.
T sensibiUzadas que "ativam" macrófagos a um ponto em que Com muitas infestações de carrapatos e ácaros, observa-se
são capazes de destruir seus parasitas intracelulares. Infelizmente, uma seqüência similar de eventos. A reação imune a carrapatos,
em muitos casos, a eficácia da resposta imune e a conseqüente que depende de componentes humorais e mediados por células
recuperação são retardadas ou impedidas por um grau variável contra as secreções orais dos carrapatos, impede o ingurgitamento
de imunossupressão de etiologia incerta. adequado dos parasitas e tem sérias conseqüências em sua sub-
Como observado anteriormente, às vezes há reações tanto seqüente fertilidade; cães que se recuperaram de sarna sarcóptica
humorais como mediadas por célula envolvidas na imunidade, e em geral são imunes a infecção posterior.
esta parece ser a situação com coccidiose, teileriose e toxoplas- Embora tais respostas imunes possam moderar consideravel-
mose. mente o significado de muitas infecções ectoparasitárias, sua
Na coccidiose, os antígenos protetores estão associados aos maior importância até hoje está altamente relacionada ao seu
estágios assexuadas em desenvolvimento, e a expressão de imu- aspecto negativo, Le., as infelizes conseqüências que costumam
nidade depende da atividade de células T. Supõe-se que funcio- ocorrer quando um animal se toma sensibilizado a antígenos de
nem de duas maneiras; primeiramente. como células auxiliares artrópodes. Três exemplos disto são a dermatite causada por
para a produção de anticorpos neutralizantes contra os esporo- pulgas em cães e gatos, o prurido e o eritema associados à sarna
zoítos e merozoítos extracelulares e, em segundo lugar, de modo sacóptica especialmente no cão e no suíno e a "sarna branda" de
mediado por células, liberando substâncias, tais como linfocinas, eqüinos devida à hipersensibilidade cutânea a picadas de Cu/i-
que inibem a multiplicação dos estágios intracelulares. O efeito coides.
final destas duas respostas imunes manifesta-se por diminuição
na sintomatologia clínica e queda na produção de oocistos. FUTURO DE VACINAS PARASITÁRIAS
Conforme já foi descrito. os estágios proliferativos de infec-
ções por teilérias são os estágios esquizogônicos que se desen- No futuro, o controle de muitas doenças parasitárias poderá fun-
volvem em Iinfoblastos e se dividem simultaneamente com es- damentar-se em vacinas baseadas em proteínas recombinantes
tas células, produzindo duas células filhas infectadas. No decor- do parasita. Atualmente, essas vacinas já foram desenvolvidas
rer da infecção e desde que não seja rapidamente fatal. são esti- -por exemplo, contra a infecção por Taenia ovis em ovinos ou
muladas respostas mediadas por células na forma de células T se encontram numa fase adiantada de desenvolvimento - por
citotóxicas que têm como alvo os linfoblastos infectados, reco- exemplo, contra Babesia bovis e Boophilus microplus em bovi-
nhecendo dois antígenos na superfície do hospedeiro; um deles nos e Haemonchus contortus em ovinos. O sucesso comercial das
é derivado do parasita Theileria e o outro é um antígeno de his- atuais vacinas recombinantes experimentais irá depender não só
tocompatibilidade da célula hospedeira. O papel dos anticorpos de sua eficácia na proteção contra desafio no campo mas tam-
na proteção é menos claro, embora recentemente tenha sido de- bém de certos fatores como sistemas de liberação eficazes e de
monstrado, usando-se um teste in vitro, que um anticorpo contra baixo custo que confiram proteção de longa ação.
ANTI-HELMíNTlCOS
o controle de helmintos parasitas em animais domésticos baseia- (5) O preço de um a nti-helmíntico deve ser razoável. Isto tem
se amplamente no uso de anti-helminticos. Embora os anti- especial importância em suínos e aves domésticas, em que
helmínticos sejam utilizados em todas as espécies domésticas, o as margens de lucro podem ser pequenas.
maior mercado é certamente o de ruminantes, sobretudo bovi-
nos, no qual são gastos milhões de libras anualmente numa ten- USO DE ANTI-HELMíNTICOS
tativa de reduzir os efeitos do parasitismo.
Não compensa fo rnecer dados sobre a eficácia e os métodos Os anti-helmínticos em geral são utili zados de duas maneiras, a
de aplicação da grande qu antidade de drogas viáveis atualmente saber, terapeuticamente, para tratar infecções existentes ou sur-
contra a ampla variedade de helmintos que parasitam animais tos clínicos, ou profilaticamente, em que a época do tratamento
domésticos. Além disso, o número de compostos e suas di versas se baseia no conhecimento da epidemiologia. Evidentemente, é
foonutações mudam continuamen te, sendo, portanto, mais ade- preferível o uso profilático, pois a administração de uma droga a
quado discutir o uso de anti-helmínticos em termos gerais, e os intervalos determinados ou continuamente durante um período
detalhes de sua utili zação contra es pécies individuais ou os gru- de tempo pode prevenir a ocorrência de doença.
pos de helmintos encontram-se descritos nas seções apropriadas
do texto principal. USO TERAPÊUTICO
PROPRIEDADES DE COMPOSTOS ANTI- Quando utili zado terapeuticamente, devem ser considerados os
HELMíNTlCOS fatores a seguir.
Primeiramente, se a droga não for ativa contra todos os está-
Um anti-helmíntico ideal deve possuir as seguintes propriedades: gios, deve ser eficaz contra o estágio patogênico do parasita. Em
segundo lugar, o uso do anti-helmíntico deve, por remoção bern-
( I) Deve ser eficaz contra todos os estágios parasitários de
sucedida dos parasitas, resultar na suspensão dos sinais clínicos
determinada espécie. Geralmente, é desejável também que
de infecção como diarréia e dificuldade respiratória; em outras
o espectro de atividade deva incluir membros de diferentes
palavras, deve haver melhora clínica acentu ada e rec uperação
gêneros, por exempl o em relação a estrôngilos eqüinos e
rápida após o tratamento.
Parascaris equorum. Entretanto, em alguns casos, devem ser
usadas drogas separadas em épocas diferentes do ano para
controlar infecções por helmintos não-relacionados; os tri- USO PROFILÁTlCO
costrongilídeos responsáveis por gastrenterite parasitária
ovina e o trematóide do fígado F asciola hepatica constitu- No uso profilático de anti-hellIÚnticos, há vários pontos a serem
em bom exemplo disto. considerados.
(2) É importante que qualquer anti-helmíntico seja atóxico para Primeiramente, os custos do tratamento profilático devem ser
o hospedeiro ou que pelo menos tenha ampla margem de economicamente justificáveis, por aumento de produção em ani-
segurança. Isto é particularmente mais importante no trata- mais de corte ou por prevenção da ocorrência de doença clínica
mento de grupos de animais como um lote de ovinos, no qual ou subclínica em, por exemplo, eqüinos com estrongilose ou cães
não é possível obter facilmente pesos corpóreos individuais, com dirofilariose.
do que no tratamento individual de animais de estimação Em segundo lugar, a relação custo-benefício da profilaxia anti-
como cães ou gatos. helmíntica deve ser comparada com o controle que pode ser ob-
(3) Em geral, um anti-hellIÚntico deve ser rapidamente me- tido por outros métodos, como manejo de pastagem ou, no caso
tabolizado e excretado pelo bospedeiro, de outro modo de dictiocaulose, por vacinação.
sendo necessários longos períodos de carência em animais Em terceiro lugar, é desejável que o uso de anti-helrnínticos
produtores de carne e leite. Em determinadas circunstâncias não interfira no desenvolvimento de imunidade adquirida, uma
e em certas classes de animais, contudo, a persistência da vez que existem relatos de manifestações de doença em animais
droga é utili zada como vantagem profilática, como o uso de mais velhos que foram protegidos em excesso por medidas de
closantel para o controle de Haemonchus em ovinos. controle durante os primeiros anos de vida.
(4) Os anti-hellIÚnticos devem ser de fácil administração, pois Finalmente, deve-se evitar o uso profilático prolongado de
do contrário não serão prontamente aceitos pelos proprietá- uma droga, pois isto pode estim.ular o desenvolvimento de resis-
rios; existem diferentes formulações para diferentes espécies tência.
de animais domésticos . Produtos orais e injetáveis são arn-
planlente usados em ruminantes, e estão dispo níveis pre- ANTI-HELMíNTICOS E SEU MODO DE AÇÃO
parações pour-on para bovinos e ovinos. Produtos palatá-
veis na ração e em pasta são convenientes para uso em eqüi- Os principais grupos de anti-helmínticos atualmente em uso con-
nos, enquanto para cães e gatos encontram-se geralmente tra nematóides, trematóides e cestóides são apresentad os no
anti-helmínticos sob a fo rma de comprimidos. Quadro 11.
234 Parasit%gia Veterinária
o modo de ação de muitos anti-helmínticos não é conhecido de canais de íon cloro e função celular reduzida. As evidências
em detalhes, mas depende bas icamente de interferência em pro- atuais sugerem que e las afetam os canais de cloro independente-
cessos bioquímicos essenciais do parasita mas não do hospedeiro. mente do GABA. Qualquer que seja o modo de ação, o resulta-
do é paralisia e eventual morte do parasita.
PIPERAZINAS
ORGANOFOSFORADOS
Estas drogas produzem paralisia em helmintos. Os sais de pipe-
razina são amplamente utili zados contra ascarídeos, enquanto a Algun s compostos organofosforados são ati vos contra nema-
dietilcarbamazina é empregada contra vermes pulmonares e tóides. Atuam por inibição da coli nesterase, resultando na for-
nematóides filarídeos. mação de aceti1colina, que causa parali sia neuromu scular de
nemalóides e sua expulsão. Este grupo de drogas é relativamente
IMIDAZOTIAZÓISfTETRAIDROPIRIMIDINAS tóxico e usado com mais freqüência em eqüinos, provavelmente
pela ação inseticida adicional contra larvas de bernes de eqüinos.
Basicamente, estes compostos atuam como agentes bloqueado-
res neuromusculares despolari zantes tanto e m nematóides co mo SALlCILANILlDASI FENÓIS SUBSTITUíDOS
em seus hospedeiros. Como conseqüência, a margem de segu-
rança tende a sef mais ·estreita que em a lguns outros grupos. Es- Embora os detalhes do modo de ação das drogas deste grupo não
tas drogas são ativas contra uma ampla vari edade de nematóides, sejam bem con hecidos, parece que agem interferindo na produ-
especialmente os do trato gastrintestinal. ção de ATP nos parasitas por desacoplamento da fo sforilação
oxidativa. São muito amplamente utili zadas contra Fasciola
BENZIMIDAZÓISI PRÓ-BENZIMIDAZÓIS hepatica e Haemonchus contortus, apesar do nitroscanato ser
comercializado para o tratamento de infecções caninas causadas
As drogas deste grupo geralmente atu am nas células intestinais por nematóides e cestóides, e a niclosamida é bastante usada
de helmintos ligando-se à tubulina nematóide e, des sa maneira, conLra tênias em muitas espécies domés ticas.
impedindo a absorção de gli cose e "matando de fome" o parasi-
ta. Virtualmente não possuem toxicidade, em alguns casos até OUTRAS DROGAS
mesmo em doses dez vezes acima da recomendada. Com mu ita
freqüência, a resistência parasitária a anti-helmínticos é associa- Não se conhece bem o modo de ação de outras drogas utilizadas
da ao uso repetido destas drogas contra nematóides de ovinos, no combate de infecções por tênias, mas o praziqu antel aparen-
caprinos e eqüinos. Diversos compostos também possuem ativi- temente age causando paralisia espástica de células musculares
dade contra tênias e fascíolas. no parasita e lesão no tegumento.
Há uma série de derivados macrocíc1icos de lactona que são pro- Os anti-helmínticos são administrados, tradicionalmente, por via
dutos de fermentação do actinomiceto Streptomyces avermitilis. oral ou parenteral, esta última em geral por injeção subcutânea.
Demonstram ter excelente atividade, em doses muito baixas, não A admini stração oral é comum sob a fonna de líquidos o u sus-
apenas contra uma ampl a variedade de nematóides m as também pensões ou pela incorporação da droga à ração ou à água dos
contra certos parasi tas artrópodes. Outra vantagem é que algu- animais pecuários e pela administração de comprimidos aos pe-
mas destas drogas podem permanecer ativas durante no mínimo quenos animais. Mais recentemente, foram introd uzidas pastas
duas semanas após a admi ni stração graças à persistência no te- para eqüinos e, atualmente, existe uma série de compostos que
cido adiposo corpóreo. Inicialmente, sup unh a~se que as avermec- possuem ação sistêmica quando aplicados sob a forma de pour-
tinas e as milbemicinas atuavam principalmente potenciali zan- on oú spol-on à pele. Há também no mercado métodos para inje-
do a liberação e a ligação do ácido garna-arninobutírico (GABA) tar compostos diretamente no rúmen de bovinos. Mais recente-
em determinadas sinapses nervosas, o que resultava em abertura mente, surgiram várias cápsulas de liberação lenta no rumen para
bovinos e ovinos que liberam doses terapêuticas de anti- menos freqüência, resistência múltipla abrangendo compostos
helmíntico em intervalos (liberação por pulsos) ou em doses não relacionados quimicamente. Parece existir também resistên-
baixas durante períodos prolongados (liberação contínua); am- cia cruzada entre avermectinas e milbemicinas.
bas previnem o estabelecimento de populações parasitárias ma- Na Europa Ocidental, a resistência anti -helmíntica é menos
duras, o que limita a contaminação dos pastos e a ocorrência de prevalente em certas regiões como a Austrália e a África do Sul,
doença. Foi desenvolvido também um aparelho para a liberação apesar de ter sido observada em infecções ovinas e caprinas por
de anti-helmínticos na ág ua de beber em intervalos diários ou Haemonchus e em menor grau por Ostertagia. Nos eqüinos, tam-
periódicos. bém há evidência de que o uso extensivo de determinados ben-
Há uma série de produtos comercializados para bovinos e zimidazóis levou à seleção de cepas resistentes de di versas es-
ovinos que consistem numa mistura de um anti-helmíntico para pécies de pequenos estrôngilos; além disso, foi registrada resis-
nematelmintos e uma droga para trematóides, mas a época de tência cruzada entre diferentes benzimidazóis.
tratamentos para nematelmintos ou trematóides, sejam curativos A análise de artigos publicados sobre resistência sugere uma
ou profiláticos, freqüentemente é diferente, sendo a necessidade associação com o uso freqüente de drogas que têm o mesmo modo
destes compostos combinados, portanto, limitada. de ação. Em vista disso. pesquisadores australianos recomenda-
ram o revezamento dos anti-helmínticos uti lizados entre os prin-
RESISTÊNCIA ANTI-HELMíNTlCA cipais grupos químicos, como os benzimidazóis, os imidazotia-
zóis e as avennectinas. O revezamento deve ter lugar entre gera-
A resistência de helmintos a anti-hehTÚnticos é mais freqüente- ções de parasitas. Assim, na Europa Ocidental, com apenas uma
mente registrada em ovinos, caprinos e eqüinos, envolvendo prin- ou duas gerações completas de nematóides gastrintestinais anu-
cipalmente o grupo de compostos de benzimidazóis. almente, os compostos seriam trocados a cada ano.
Nos ovinos, ocorreu resistência pela primeira vez principal- Entretanto, é possível também que a seleção para resistên-
mente em áreas geográficas onde predomina o Haemonchus cia seja acelerada quando os animais são levados para pastos
contortus e é grande o número anual de ciclos de infecção e tra- livres de helmintos imediatamente após o tratamento anti-
tamentos anti-helmínticos. Às vezes, entretanto, essa resistência helmíntico. Qualquer contaminação desses pastos se origina-
é incompleta e pode ser superada pelo uso de tratamentos repe- ria de helmintos que resistiram ao tratamento, e assim a pres-
tidos/contínuos ou por doses mais altas. Infelizmente, há relatos são sobre a seleção para resistência anti-helmíntica poderia ser
de resistência cruzada entre diferentes benzimidazóis e, com aumentada.
ECTOPARASITICIDAS (INSETlCIDAS/ACARICIDAS)
ocasionalmente, corno isca.;; para insetos. Entretanto, com o advento fixado à orelha de um animal, o inseticida é liberado da supedí-
de fonnulações pour-on e spot-on de efeito sistêmico, da adminis- cie, dissolve-se no sebo secretado pela pele e se espalha em se-
tração parenteral de certas drogas como avermectinas e closantel e guida por todo o corpo através dos tratos normais ou pelo agitar
do uso de brincos, coleiras e faixas de cauda impregnados, a meto- da orelha e pelo balanço da cauda, bem como por contato
dologia das aplicações controles em animais mudou. corpóreo entre os bovinos. Urna vez que o inseticida se liga ra-
pidamente ao sebo na pelagem do animal, o tratamento resiste
MÉTODOS TRADICIONAIS às chuvas; o brinco ou a faixa na cauda também continuam a li-
berar um suprimento de substância química em todas as condi-
Para dar bons resultados, o uso de inseticidas em pós, sprays ou ções climáticas. Por sua localização no sebo, as drogas não são
líquidos geralmente requer dois ou mais tratamentos, visto que absorvidas no tecido, não havendo, portanto, necessidade de
mesmo o aplicador mais diligente não conseguirá aplicar tais abstinência antes do abate nem de descartar o leite. Os PS co-
produtos na concentração exata em todas as partes do corpo do muns comercializados para este fim são cipermetrina e perme-
animal. O intervalo entre tratamentos deve estar associado à per- trina. Em condições de intenso desafio de moscas, deve-se inse-
sistência da substância química na pele, no pêlo ou na lã e ao ciclo rir um brinco em cada orelha e possivelmente uma faixa na cauda.
evolutivo do parasita, instituindo-se tratamento posterior antes
que se complete outro ciclo. TRATAMENTO PARENTERAL
Os banhos de imersão ou aplicações de spray contendo a con-
centração necessária de inseticida são utilizados para controlar As avermectinas/milbemicinas e o elosantel podem ser adminis-
ácaros, piolhos, carrapatos e certos dípteros, como as varejeiras trados por via parenteral para o controle de alguns ectoparasitas.
em ovinos em termos mundiais, e em bovinos em regiões tropi- Por exemplo, a Ívermectina e a abamectina têm boa atividade
cais. Esta técnica é mais frutífera em ovinos, em que a persistên- contra bernes, piolhos, muitos ácaros e também contra o carra-
cia de inseticida é maior na lã que na pelagem de bovinos. É pato-de-um-hospedeiro Boophilus. O closantel é viável em al-
importante lembrar que a concentração de inseticida num banho gumas regiões tropicais para uso contra carrapatos-de-um-hos-
de imersão preferencialmente "sai" ou é removida conforme os pedeiro e piolhos sugadores.
ovinos e bovinos são banhados, devendo, portanto, haver um
reabastecimento numa concentração mais alta que a inicial sufi- MÉTODOS DE APLICAÇÃO E USOS: ANIMAIS
ciente para manter uma quantidade ideal do princípio ativo. A DE ESTIMAÇÃO
maior parte dos banhos baseia-se no grupo organofosforado e
piretróides sintéticos. Apesar dos problemas de segurança, alguns Os ectoparasiticidas são utilizados principalmente corno pós para
países reintroduziram organoc1orados, em virtude da resistência polvilhar, aerossóis, líquidos/xampus, preparações spot-on e
desenvolvida contra organofosforados. coleiras impregnadas, ainda que existam dois para uso oral. São
O controle de insetos em leiterias ou estábulos pode ser auxi- empregados principalmente para o controle de pulgas, piolhos e
liado pelo uso de várias tiras de resinas incorporando o insetici- sarna em cães e gatos e para piolhos, sarna e moscas irritantes
da; o diclorvos e o triclorfon são freqüentemente utilizados para em eqüinos.
esse fim. Às vezes, espalham-se iscas contendo feromonas sin-
téticos, açúcares ou leveduras hidrolisadas, mais inseticida, ao PÓS PARA POLVILHAR
redor das instalações dos animais para atrair e destruir dípteros.
Os pós devem ser bem espalhados na pele ou nos pêlos e, no caso
POUR-ON, SPOT-ON OU SPRAY-ON de animais de estimação que vivem em casas, na cama. Os pós
comumente utilizados contêm inseticidas à base de piretróides
As fonnulações existentes atualmente contêm organofosforados com ou sem o sinergista, butóxido de piperonil. São particular-
com ação sistêrnica como fention ou fosmet, avermectinas/mil- mente úteis para pulgas e piolhos, recomendando-se, em geral,
bemicinas ou piretróides sintéticos. São recomendadas para o repetir o tratamento a cada duas ou três semanas.
controle de bemes e piolhos em bovinos e piolhos e Melopha-
gus ovinus em ovinos. Um produto útil é o fosmet pour-on para AEROSSÓIS
o controle de sarna sarcóptica em suínos e bovinos. Um único
tratamento em suínos dá resultados muito bons e, se utilizado em
Embora de fácil uso, alguns dos sprays mais ruidosos podem
porcas antes do parto, evita a transmissão para a ninhada; em
perturbar os animais de estimação. A aspersão excessiva em es-
bovinos, são necessários dois tratamentos, com um intervalo de
paços confinados, como um cesto de gato, pode produzir efeitos
14 dias. Os piretróides sintéticos também são viáveis corno
tóxicos. Os sprays viáveis usualmente se baseiam em piretróides
5prays, pour-on ou spot-on para o tratamento de piolhos e con-
e carbamatos, ou numa mistura de organofosforados como
trole de moscas picadoras e irritantes em bovinos, ovinos e ca-
dielorvos mais fenitrotion, ou numa mistura do sinergista butó-
prinos.
xido de piperonil com OF ou piretróides. Dependendo do spray,
o frasco de aerossol deve ser mantido a 15 a 30 cm do animal e
BRINCOS, COLEIRAS E FAIXAS NAS PATAS E aplicado durante até cinco segundos para gatos e um pouco mais
NA CAUDA para cães. Recomenda-se freqüentemente a repetição do trata-
mento em sete a quatorze dias, mas apenas uma aplicação de
Baseiam-se principalmente nos piretróides sintéticos e ocasio- spray com o composto recentemente desenvolvido, fipronil, pode
nalmente organofosforados. São recomendados para a proteção conferir até três meses de proteção contra reinfestação com pul-
de bovinos contra moscas irritantes. Os brincos em geral são gas em cães e gatos. Os sprays em aerossol são muito eficazes
feitos de polivinilcloreto impregnado com inseticida. Quando para pulgas e piolhos, mas para os ácaros da sarna podem ser
:s Parasitologia Veterinária
necessários vários tratamentos. Os piretróides sintéticos também demodécica e infestações de pulgas em cães, e em gatos; reco-
são encontrados sob a forma líquida ou de spot-on para eqüinos, menda-se a administração de comprimidos como suplemento da
destinados ao controle de moscas, incluindo culicóides, que são aplicação tópica.
responsáveis pela "sarna branda".
Existe um aerossol contendo um regulador do crescimento de OUTRAS PREPARAÇÕES
insetos, metoprene, para controle de populações larvais de pul-
gas no ambiente. Existem, atualmente, preparações spot-on contendo fention para
controle de pulgas em cães e gatos. Nos eqüinos, os piolhos e
SOLUÇÕES áreas de infestação pelo ácaro da sarna podem ser tratados topi-
camente, mas permanece o problema de moscas irritantes ou do
São viáveis sob a fonna de xaropus, concentrados emulsionáveis, pasto. Uma sugestão recente é a aplicação de brincos impregna-
agentes umectantes ou cremes para o controle de pulgas, piolhos e dos com cipermetrina à sela ou à crina como um possível meio
ácaros da sarna. A maioria das preparações é para cães, tendo de se de incorporar o piretróide si ntético ao sebo.
tomar cuidado se forem usadas para gatos. Os ingredientes comuns
são carbaril-propoxur e o OF fosmet; o amitraz é particularmente ECTOPARASITAS DE AVES DOMÉSTICAS
útil para sarna demodécica em cães. As instruções de uso devem
ser cuidadosamente seguidas, e, quando necessário, deve-se tomar Os carbamatos e o organofosforado malation são os mais ampla-
cuidado para que o inseticida seja enxaguado de modo adequado mente usados. As aves são polvilhadas individualmente, e o in-
da pelagem. Quando os cães têm coleiras inseticidas, não devem seticida é aplicado no aviário, em caixas de ninhos e na cama. A
ser usados xampus à base de organofosforados. possibilidade do uso de cipermetrina como spot-on encontra-se
em estudo.
COLEIRAS INSETICIDAS
RESISTÉNCIA
São utilizadas principalmente para controle de pulgas e se ba-
seiam nos organofosforados, carbamatos e piretróides sintéticos. Como acontece com outras drogas, desenvolveu-se resistência à
O período de proteção citado é de três a quatro meses, mas o maioria dos ectoparasiticidas bem conhecidos. Isto é válido par-
sucesso deste método de aplicação é variável. Surgem proble- ticularmente para os organoclorados e os organofosforados uti-
mas ocasionais por dermatite de cantata, devendo-se tomar cui- lizados para o controle de ectoparasitas de ruminantes por ba-
dado para que os animais não recebam outros tratamentos com nhos de imersão ou pulverizações, mas na Austrália j á foi regis-
organofosforados. Além de coleiras, em alguns países existem trada resistência aos piretróides sintéticos usados em brincos
também medalhões impregnados. É preciso cautela no uso de impregnados.
coleiras em gatos de pêlos longos e cães galgos, em virtude da A resistência a inseticidas é hereditária, e há dois tipos des-
suscetibilidade individual ao envenenamento por OF. critos para insetos. O primeiro tipo é a resistência específica, que
se deve a um único gene dominante ou duplos genes recessivos,
PREPARAÇÕES ORAIS e o outro tipo é a resistência poligênica ou inespecífica, na qual
a resistência provavelmente surge do desenvolvimento no inse-
Um organofosforado, citioato, é comercializado como prepara- to de sistemas fisiológicos secundários que superam o sistema
ção oral. Destina-se especificamente ao tratamento de sarna primário alvo do inseticida.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITISMO
INFECÇÕES POR HELMINTOS os ovos de trematóides, que são muito mais pesados, requerem
uma dens idade de 1,30 a 1,35.
Embora haja muito interesse atuaI no uso de sorologia como As soluções de flutuação utilizadas para ovos de nematóides
auxílio para o diagnóstico de helmintoses, particulannente com e cestóides baseiam-se principalmente em cloreto de sódio ou,
a introdução do teste imunoenzimático (ELISA), o exame de às vezes, sulfato de magnésio. Prepara-se uma solução saturada
fezes para a presença de ovos ou larvas de vermes constitui o com tais substâncias, que é conservada por alguns dias, verifi-
exame rotineiro mais comum uti lizado para o diagnóstico. cando-se sua densidade antes do uso. Em alguns laboratórios, a
preferência é por uma solução açucarada de densidade 1,2.
COLHEITA DE FEZES Para ovos de trematóides, são amplamente empregadas solu-
ções saturadas de cloreto de zinco ou sulfato de zinco. Alguns
As amostras de fezes devem, de preferência, ser colhidas do reto laboratórios utilizam a solução de iodo, mercúrio e potássio, mais
e examinadas frescas. Se for difícil obter amostras retais, podem cara e tóxica.
ser colhidas, então, fezes frescas do campo ou no piso. Para a Quaisquer que sejam as soluções usadas, deve-se verificar
colheita, é conveniente uma luva plástica, virada ao avesso, para regularmente a densidade e efetuar rapidamente o exame da so-
. servir de recipiente. Para pequenos animais de estimação, pode- lução contendo os ovos ou as larvas, pois caso contrário pode
se utilizar um tennômetro ou um bastão de vidro. ocorrer distorção das estruturas.
O ideal é que sejam colhidos cerca de 5 g de fezes, pois é esla
a quantidade necessária para alguns dos métodos de exame de Flutuação direta
concentração.
Como os ovos embrionam rapidamente, as fezes devem ser Adiciona-se uma pequena quantidade de fezes frescas, digamos
mantidas no refrigerador, a menos que o exame seja efetuado no 2 g, a 10 mI da solução de flutuação e depois de misturar com-
prazo de um dia. Para amostras enviadas pelo correio, a adição pletamente a suspensão é colocada num frasco próprio, acrescen-
de formalina a 10% às fezes, num volume correspondente ao tando-se mais solução de flutuação para encher o tubo até a par-
dobro do volume fecal, inibirá o desenvolvimento e a eclosão. te superior. Coloca-se, então, uma lamínula de vidro sobre a su-
perfície do fluido, deixando-se o frasco e a lamínula em repouso
MÉTODOS DE EXAME DE FEZES durante 10 a 15 minutos. Remove-se, em seguida, a lamínula
verticalmente e a coloca sobre uma lâmina examinando-a ao
Há vários métodos de preparação de fezes para exame microscópi- microscópio. Se houver uma centrífuga, pode-se acelerar a flu -
co visando a detectar a presença de ovos ou larvas. Entretanto, tuação dos ovos na solução de flutuação por centrifugação.
qualquer que seja o método empregado, as lâminas devem ser exa-
minadas primeiramente com pequeno aumento, já que a maioria Método McMaster
dos ovos pode ser detectada desta maneira. Se necessário, pode-se
utilizar, então, um aumento maior para medida dos ovos ou uma Esta técnica quantitativa é utilizada quando se deseja contar o
diferenciação morfológica mais detaJbada. Para dimensionar po- número de ovos ou larvas por grama de fezes. O método é como
pulações de ovos ou larvas, é bastante útil um micrômetro ocular. se segue:
(I) Pesar 3 g de fezes ou, se as fezes forem diarréicas, três co-
Método do esfregaço direto lheres das de chá.
(2) Dissolver totalmente em 42 mi de água num recipiente plás-
Sobre uma lâmina microscópica, misturam-se algumas gotas de tico. Isto pode ser feito com o uso de um homogeneizador
água e uma quantidade equivalente de fezes. Em seguida, agita- ou num frasco tampado contendo bolinhas de vidro.
se a lâmina para que os ovos mais leves flutuem separando-se (3) Passar numa peneira fina (abertura 205 fl-m, ou 100 por 1
dos resíduos mais pesados, coloca-se uma lamínula sobre o flui- polegada).
do e leva-se ao microscópio para exame. É possível detectar a (4) Coletar o filtrado, agitar e encher um tubo de ensaio' de 15
·maioria dos ovos ou larvas por este método, mas, dada a peque- mi.
na quantidade de fezes utilizadas, podem-se detectar apenas in- (5) Centrifugar a 2.000 rpm duranle 2 minutos.
fecções relativamente maciças. (6) Remover o sobrenadante, agitar o sedimento e encher o tubo
até o nível prévio com solução de flutuação.
Métodos de flutuação (7) Inverter o tubo seis vezes e remover o fluido com pipeta,
enchendo as duas parles da câmara McMaster (Fig. 174).
O princípio de qualquer método de flutuação é que, quando ovos Não deixar fluido na pipeta ou então pipetar de imediato, uma
de vermes são suspensos num líquido com densidade superior à vez que os ovos sobem rapidamente no fluido de flutuação .
dos ovos, estes últimos sobem à tona. Os ovos de nematóides e (8) Examinar um comparti.mento e multiplicar por 100 o número
cestóides flutuam num líquido com densidade entre 1,10 e 1,20; de ovos ou larvas sob uma área marcada ou os dois compar-
:..:0 Parasit%gia Veterinária
rimentos e multiplicar por 50, para chegar ao número de ovos Transferir o filtrado para um frasco cônico e deixar em repouso
por grama de fezes (opg): por 2 minutos, remover o sobrenadante e transferir o restante
Se 3 g de fezes fore m di ssolvidos em 42 mI (aproximadamente 12 a 15 mi) para um tubo de fu ndo chato.
Volume total é 45 ml Após sedimentação por mais uns 2 minutos, remover nova-
Portanto 1 g 15 mI mente o sobrenadante, adicionar algumas gotas de azul de meti-
O volume na área marcada é 0,15 mI leno a 5% e examinar o sedimento com um estereomicroscópio
Portanto, o número de ovos é multiplicado por 100 de baixa potência. Quaisquer ovos de trematóides são facilmen-
Se os doi s compartimentos forem examinados, multiplicar te visíveis contra O fu ndo azul claro.
por 50
Uma versão resumida desta técnica é homogeneizar os 3 g de
Para larvas de vermes pulmonares:
Pode-se utili zar o aparelho de Baerman. Consiste num funil de
fezes em 42 mi de solução salina, filtrar e pipetar o filtrado dire-
vidro mantido num suporte. Um tubo de borracha conectado à
tamente na câmara McMaster. Embora seja um processo mais
base do funil é comprimido por uma presilha. Coloca-se uma
rápido, é mais difícil "ler" o conteúdo da lâmina, em virtude da
peneira (abertura de 250 ",m) no gargalo largo do funil, que foi
sua cor escura.
enchido parcialmente com água, e uma camada dupla de gaze
É im possível calcular a partir do opg a verdadeira população
na parte superior da peneira. Depositam-se as fezes sobre a gaze
de vermes do hospedeiro, pois muitos fatores influenciam a pro-
e enche-se lentamente o funil com água até que as fe zes fiquem
dução de ovos pelos vermes, como também o número de ovos
imersas. Alternativamente, espalham-se as fezes num papel de
varia com a espécie. Contudo, as contage ns de ovos superiores a
filtro, que é então invertido e colocado sobre a peneira (Fig. 175).
1.000 geralmente são consideradas indicativas de infecções ma-
Deixa-se O aparelho de um dia para outro à temperatura ambien-
ciças e as contagens acima de 500 de infecção moderada. Entre-
te, quando e ntão as larvas migram das fe zes e através da peneira
tanto, um opg baixo não indica necessariamente infecções mu.i-
para o sedimento no gargalo do fun il. Retira-se a presilha do tubo
to baixas, uma vez que a patência pode ter acabado de se estabe-
de borracha e coleta-se a água do gargalo do funil num pequeno
lecer; alternativamente, o opg pode ser afetado por imunidade
béquer para exame microscópico numa placa de Petri.
e m desenvolvime nto. Os ovos de algumas espécies. tais como
Uma adaptação simples do método citado é suspender as fe-
detenninados ascarídeos, Strongylo ides, Oxyuris, Trichuris e
zes envoltas em gaze num cálice cheio de água e deixar de um
Capillaria, podem ser facilmente identificados morfologicamen-
di a para ou tro. As larvas deixarão as fezes, migrarão através da
te. Porém, com exceção das espécies de Nematodirus, os ovos
gaze e se depositarão na base do cálice. Após a remoção do so-
de tri costrongilídeos comun s requerem sua medida para diferen-
ciação.
Aind a que detecte os ovos e as larvas da maioria do s
nematóides, cestóides e coccídios, esta técni ca não demonstra
ovos de trematóides, que têm de nsidade específica mais alta. Para
estes, é preciso utilizar um fluido de flutuação de densidade es-
pecífica mais alta ou um método de sedimentação, conforme
descrito adiante.
Métodos de sedimentação
Fig_ 174 Cãmara McMaster para calcular números de ovos de nematôides nas Fig_175 Aparelho de Baerman. As fezes são espalhadas sobre um papel de filtro
fezes. que é então invertido e colocado sobre a peneira.
T6picos de Revisão 241
brenadante com sifão. examina-se o sedimento com o pequeno e quaisquer parasitas presentes coletados e colocados em
aumento do microscópio. como já descrito. formol.
Macho: Macho:
Raio dorsal da bolsa copuladora assimétrico; espículas com Espículos longos, finos e fundidos, com extremidade dilatada em
ganchos junto às extremidades . fonna de coração (N. battus); lanceolada (N.filicollis); abrupta-
mente arredondada (N. spathiger). A bolsa copuladora apresen-
Fêmea: ta dois conjuntos de raios paralelos (N. battus) ou quatro con-
Apêndice vulvar presente, cm gerallingüifomle; verme grá vidu juntos (outras espécies).
contém várias centenas de ovos; ovário enrolado ao redor do
intestino. Fêmea:
Grandes ovos presentes; extremidade da cauda é pontiaguda (N.
Ostertagia battus) ou truncada com um pequeno espinho (outras espécies).
:\>tacho: Bunostomum
Espículas finos, em fonua de bastonete (O. circumcincta), ou
grossos com ramificação junto à parte central (O. trifurcata). Grande cápsula bucal presente.
.Grande cápsula bucal em forma de sino sem dentes e coroas la- Como nos ovinos .
melares rudimentares.
Tendo como base as características recém-descritas, pode-se uti-
Oesophagostomum lizar a seguinte orientação para diferenciar microscopicamente
os gêneros de alguns nematóides gastrintestinais comuns dos
Cápsula bucal relativamente pequena; vesícula cefálica com sulco ruminantes.
cervical atrás dela. Coroas lamelares e asas cervicais freqüente-
mente presentes. Corpo composto de uma longa Trichuris
região anterior filamentosa e
uma curta região posterior larga
BOVINOS Corpo não tão dividido, esôfago Strongyloides
aproximadamente um terço do
CARACTERíSTICAS MACROSCÓPICAS comprimento do corpo
Esôfago curto e cápsula bucal Trichostrongyloidea (a)
As características macroscópicas são semelhantes às caracterís- rudimentar
ticas descritas para os nematóides de ovinos. Esôfago curto e cápsula bucal Strongyloidea (b)
bem desenvolvida
CONFIRMAÇÃO MICROSCÓPICA
(a) Trichostrongyloidea
Abomaso 1. Vesícula cefálica distinta. Nematodirus
Espículas muito longos
Haemonchus unindo-se numa membrana
na extremidade.
Como nos ovinos, mas apêndice vulvar freqüentemente bulbi- Pequena vesícula cefálica. Cooperia
forme ou vestigial. Espículas relativamente
curtos e separados
Ostertagia posteriormente.
2. Sem vesícula cefálica. Trichostrongylus
Sulco excretor presente em
Como nos ovinos, mas o macho possui espículas espessos, em
forma de bastão, com extremidades dilatadas (D. ostertagi), ou
ambos os sexos.
Ausência de sulco excretor. (3)
espículas muito fortes, usualmente de contorno irregular (O. lyra-
3. Lobo dorsal da bolsa Haemonchus
•
ta) . A fêmea tem apêndice vulvar de tamanho variável, mas em
copuladora assimétrico,
geral de forma arredondada.
espículas com ganchos.
Grande apêndice vulvar
T. axei
proeminente na fêmea.
Lobo dorsal da bolsa Ostertagia
Como nos ovinos. copuladora é simétrico.
Apêndice vulvar pequeno
Intestino delgado ou ausente.
calcular populações larvais de Dictyocaulus no pasto; uma vez que tão firmemente encravadas na pele. Pode-se fazê-los soltar as
a maioria das larvas de vermes pulmonares se concentra junto às peças bucais colocando-se ao seu redor um pedaço de algodão
fezes, devem ser colhidas amostras de capim ao redor de depósitos embebido em anestésico ou, alternati vamente, mantendo-se algo
de fezes. Em vista dos atuais conhecimentos, a detecção de quais- quente perto do seu corpo.
quer larvas de vermes pulmonares em amostras de capim deve ser Um dos métodos mais simples utilizados para recuperar car-
considerada suspeita. e mesmo um achado negativo não significa rapatos do pasto é arrastar um cobertor sobre o solo, ao qual se
necessariamente que o pasto esteja livre de infecção. fixam os carrapatos não-alimentados, como fariam a um hospe-
deiro. A identificação específica da grande variedade de carra-
ECTOPARASITAS patos que parasitam animais domésticos é uma tarefa de especi-
alistas. Para os carrapatos da Europa ocidental, é dada uma ori-
Os artrópodes de interesse veterinário dividem-se em dois grupos entação no Quadro 5, Cap. 2.
principais, [nsecta e Arachnida. Em sua maioria, são ectoparasitas
temporários ou permanentes, encontrados na pele ou sobre a pele, ÁCAROS
com exceção de algumas moscas, cujos estágios larvais podem ser
encontrados nos tecidos somáticos do hospedeiro. Os insetos para- Alguns ácaros não-escavadores, como Otodectes e Cheyletiella,
sitas incluem moscas, piolhos e pulgas, enquanto os dois grupos podem ser encontrados por meio de exame minucioso. Por exem-
de aracnídeos de importância veterinária são os carrapatose ácaros. plo, pode-se ver Otodectes ou ao exame do canal auditivo exter-
Em todos os casos, o diagnóstico de infecção depende da colheita no com um otoscópio ou ao exame microscópio do cerume re-
e identificação do(s) parasita(s) em questão. movido com um swab; da mesma maneira, escovadelas rigoro-
sas da pelagem e subseqüente exame microscópico deste mate-
INSETOS rial em geral confIrmam infestação por Cheyletiella . Para a de-
monstração de alguns ácaros não-escavadoJes e escavadores, fre-
As moscas dípteras adultas que incomodam os animais em geral qüentemente é necessário obter-se um raspado, que em seguida
são capturadas ou por meio de redes ou depois'de terem sido é examinado microscopicamente. A região escolhida para o ras-
mortas por inseticidas, enquanto as larvas podem ser obtidas em pado deve ser à margem de uma lesão visível, removendo-se os
áreas onde os animais ficam abrigados ou diretamente dos ani- pêlos sobre essa área. Coloca-se uma gota de óleo lubrificante
mais nos quais os estágios larvais são parasitários. A identifica- como parafina líquida numa lâmina microscópica e mergulha-
ção das moscas comuns de interesse veterinário, pelo menos em se uma lâmina de bisturi limpa no 61eo antes de usá-Ia para ras-
nivel genérico, é razoavelmente simples, estando as característi- par a superfície de uma prega de pele acometida. Deve-se pros-
cas principais descritas no texto principal, enquanto a identifi- seguir raspando-se até fluir uma pequena quantidade de sangue
cação de larvas em nível de gênero e espécie é bem mais especí- da superfície cutânea, transferindo-se, então, o material obtido
fica, dependendo do exame de determinados aspectos, como a para o óleo na lâmina. Deve-se colocar, em seguida, uma lamí-
estrutura dos espiráculos posteriores. No final deste capítulo, nu la e examinar a amostra em pequeno aumento ( 100 X) . Se
popem ser encontradas publicações referentes a isto. durante esse exame inicial não forem detectados ácaros, pode-
se aquecer uma outra amostra numa lâmina com uma gota de
PIOLHOS E PULGAS potassa sódica a 10%. Depois de deixar esta preparação clarear
durante cinco a dez minutos, reexaminá-la.
A detecção de pequenos ectoparasitas como piolhos e pulgas de-
pende de um exame minucioso; no caso de piolhos, os ovos, co- CONSERVAÇÃO
nhecidos como "lêndeas", também podem ser encontrados aderi-
dos à pelagem ou às pernas. Pode ser mais difícil detectar as pul- A maioria dos artrópodes adultos e seus estágios em desenvol-
gas, mas o achado de fezes de pulgas na pelagem, que aparecem vimento podem ser preservados satisfatoriamente em álcool a
como pequenos pedaços escuros de arenito e que, ao cantata com 70% em pequenos frascos de vidro ou plástico. ,Deve-se intro-
algodão bruto ou tecido umedecido, produzem coloração verme- duzir um tampão de algodão no vidro para limitar danos durante
lha por causa do sangue ingerido, permite a confrnnação de infes- o trânsito, tampá-lo firmemente e rotulá-lo. Por outro lado, pode-
tação. A colheita pode ser direta, como no caso de muitos piolhos se fixar o exemplar à rolha de um tubo de amostra, por meio de
que podem ser escovados da pelagem ou removidos por meio do um alfinete através do tórax, mas no que cli z respeito a quase tpdas
corte dos pêlos ou das penas. As pulgas podem ser removidas por as maiores moscas é melhor deixar isto para um especialista.
escovadelas ou por limpeza a vácuo (ver Cap. 2). Altemativamen-
te, no caso de pequenos animais, os parasitas podem ser facilmen- INFECÇÕES POR PROTOZOÁRIOS
te recuperados se o hospedeiro for colocado em cima de uma folha
de papel ou plástico antes de ser pulverizado com um inseticida. o diagnóstico laboratorial de doenças por protozoários amiúde é
No texto, acham-se descritas as características macroscópicas de relativamente direto e está bem ao alcance do clínico geral, embo-
piolhos mordedores e sugadores e uma orientação para as pulgas ra em outras ocasiões possa requerer técnicas especializadas e lon-
• comumente encontradas em animais domésticos. ga experiência. Esta secção refere-se principalmente ao primeiro
caso e complementa as informações já fornecidas no texto geral.
CARRAPATOS
EXAME DE AMOSTRAS DE FEZES
Os carrapatos são facilmente identificáveis em seus hospedeiros,
principalmente quando estão ingurgitados, mas é preciso cuida- o método de flutuação McMaster é a técnica mais simples para
do na sua remoção, uma vez que suas peças bucais em geral es- detectar a presença e calcular o número de oocistos de coccídios
246 ParasilOlogia Veterinária
nas fezes. A técnica é exatamente a mesma descrita para di ag- Estas soluções não se conservam, devendo ser preparadas no dia.
nóstico de helmin tos, embora o pequeno tamanho dos oocistos
( I) Mergulhar a lâmina na solução A 1a 3 segundos
tome o exame microscópico mais prolongado. Se o animal apre-
(2) Enxaguar na solução B 2a 3 segundos
sentar sintomatologia clínica aguda de coccidiose, como fezes
(3) Mergulhar a lâmina em C 1a 3 segundos
sanguinolentas, e estiverem presentes muitos milhares de oocis-
(4) Enxaguar em água corrente 2a 3 segundos
tos, é razoáve l considerar que o diagnósti co está confirmado.
(5) Deixar em posição vert ical para
Infelizmente, com as espécies mais patogênicas de coccídios,
drenar e secar
podem aparecer sinais clínicos durante a fase esquizogônica ou
quando o início da produção de oocistos é recente, de tal modo Esta técnica é comumente usada no campo em trabalhos de acom-
que uma contagem negativa ou baixa de oocistos não indica ne- panhamento em larga escala.
cessariamente que o diagnóstico clínico estava errado. A conta- Uma técnica dia gnóstica particularmente efica z para
ge m de oocistos também tem pouco valor na s infecções por tripanossomose, descrita anteriormente no texto, é o exame sob
coccídios menos agudas associadas a perdas de produção. Em il uminação de campo escuro da camada de leuc6citos de um tubo
geral, em virtude das limi tações da contagem de oocistos, sem- de micro-hematócrito para a detecção de cripanossomas móveis.
pre é recomendável um exame pós-morte, pelo menos em aves A inoc ulação de camundongos com sangue fresco de casos
domésticas. suspeitos de infecção por Trypanosoma congolense ou T. brucei
Para a detecção de protozoários intestinais como Entanweba, é outra técnica comum efetuada no campo. Três dias depois, deve-
Giardia ou 8alantidium, pode-se misturar uma pequena quanti - se examinar o sangue da cauda desses camundongos e em segui-
dade de fezes frescas com solução salina morna e examinar sob da diariamente durante cerca de três a quatro semanas, para de-
um microscópio de fase aquecida para a presença de trofozoítos terminar se estão presentes tripanossomas.
ou cistos. Contudo, a sua identificação requer considerável ex- A detecção de anticorpos específicos num laboratório espe-
periênc ia, devendo-se enviar amostras de fezes conservadas em cializado também pode ser útil no diagnóstico de várias enfer-
formalina ou álcoo l polivinílico a um laboratóri o especiali zado midades por protozoários, tai s como teileriose, tripanossomose,
para confirmação. incluindo infecção por T. cruzi, babesiose, criptos poridiose e
Na suspeita de infecção por Cryptosporidium, o diagnóstico infecç.ões riquetsiais como anaplasmose e ehrlichiose. Um resul-
depende do exame de esfregaços de fezes corados pela técnica tado positivo, entretanto, não significa necessariamente a presen-
de Ziehl-Nie lsen, os pequenos oocistos de casca fina apresentan - ça de infecção ainda ativa, e sim que o animal em alguma época
do-se vermelho-vivos. foi exposto ao patógeno. Uma exceção a esta interpretação é o
diagnóstico de toxoplasmose suspeita em ovinos, em que níveis
crescentes de anticorpos por um período de várias semanas cons-
EXAME DE SANGUE E LINFA
tituem evidência razoável de infecção recente e ati va.
Para a detecção de infecções por tripanossomas, piroplasmas
babesiais e teileriais e riquétsias tais como anaplasmose, ehrli- EXAME DE PELE
chiose e eperitrozoonose, comumente são utilizados esfregaços
sangüíneos finos corados com corantes de Romanowsky, como Pode-se utilizar o exame hi stológico de biopsias ou raspados de
Giemsa ou Leishman, e examinados com uma objetiva de imer- pele das bordas de úlceras cutâneas com suspeita de ser causa-
são em óleo. Em outras ocasiões, biopsias de agu lha de linfono- das por leishmaniose para demonstrar os parasitas amastigotos
dos dil atados podem ser coradas de modo semelhante para a nos macrófagos.
detecção de tripanossomas (especialmente Trypanosoma brucei Na durina, causada por Trypanosoma equiperdum, o fluido
ou T. vivax) ou esquizontes teileriais. remov ido das placas cutâneas geralmente oferece maior chance
Na tripanossomose, a parasitemia pode ser leve, aumentan- de detecção de tripanossomas que os esfregaços sangüíneos.
do-se a chance de um diagnóstico positivo se for utilizada uma Finalmente, embora fora do alcance do clínico geral, deve-se
lâmina de sangue espesso, cuja hemoglobina fo i liberada por registrar o uso de xenodiagnóstico como técnica diagnóstica. É
imersão da lâmina em água antes da coloração com eosina. Para utilizado para detec tar infecções por protozoários como a
isto, agitar delicadamente uma gota de sangue fresco , se m babesiose, teileriose ou infecção por Trypanosoma cruzi em que
anticoagulante, numa lâmina para abranger uma área de aprox i- o parasita não pode ser facilmente enco ntrado. Consiste em per-
madamente 10 mm de diâmetro, dei xando- se secar. Em segui- mitir que o hospedeiro intermediário correto, como um carrapa-
da, pode ser corada pela técnica de Field, como se segue. to ou um percevejo hematófago, se al imente no animal. Eviden-
temente, esses vetores artrópodes têm de ser criados em labora-
Coloração de Field tório para que estejam livres de infecção. Após a alimentação, o
hospedeiro artrópode é mantido por várias semanas para permi-
Preparo de soluções: tir a multiplicação de quaisquer microrganismos ingeridos, de-
pois do que é sacrificado e exami nado para evidência de infec-
Solução A Azu l de metileno 0,4 g ção. Embora uma técnica útil, especialmente para detecção de
Azul ultramarino I 0,25 g estados de portadores, o método tem a desvantagem do diagnós-
Solução B 250 mI tico poder levar várias semanas.
SoluçãO B Na,HPO, 12H,o 25,2 g
KH,PO, 12,5 g REFERÊNCIAS E LEITURAS ADICIONAIS
Água destilada 1.000 mi
Solução C Eosina 0,5 g Edwards, K., Jepson, R.P. & Wood, K.F. (1960) Value ofplas-
Solução B 250m! ma pepsi nogen estimation . British Medical Journal, 1, 30.
Tópicos de Revisão 247
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1
RELAÇÕES HOSPEDEIRO/PARASITA
PARASITAS DE BOVINOS Fígado e pâncreas
Cistos hidáticos
HELMINTOS Cysticercus tenuicollis
Dicrocoelium dendriticum
Esôfago e estômagos anteriores Dicrocoelium hospes
Eurytrema pancreaticum
Ceylonocotyle spp. Fasciola gigantica
Cotylophoron spp. F asciola hepatica
Gongylonema verrucosum Fascioloides magna
Paramphistomum spp. Gigantocotyle spp.
Pulmões
Abomaso
Cistos hidáticos
Haemonchus conlortus Dictyocaulus viviparus
Haemonchus similis Mammomonogamus laryngeus
Mecistocirrus digitatus Mammomonogamus nasicola
Ostertagia (Skryabinagia) kolchida
Ostertagia leptospicularis Vasos sangüíneos
Ostertagia (Skryabinagia) lyrata
Ostertagia ostertagi Elaeophora poeli
Trichostrongylus axei Onchocerca armillata
Orientobilharzia turkestanica
Intestino delgado Schistosoma bovis
Schistosoma japonicurn
Agriostomum vryburgi Schistosoma leiperi
A vitellina centripunctata Schistosoma mattheei
Bunostomum phlebotomum Schistosoma nasalis
Cooperia oncophora Schistosoma spindale
Cooperia pectinata
Cooperia punctata
Músculo, pele e tecido conjuntivo
Cooperia surnabada Cysticercus bovis
Moniezia benedeni Onchocerca spp.
Moniezia expansa Parafilaria bovicola
Nematodirus battus Setaria labiato-papillosa
Nematodirus helvetianus Stephanofilaria spp.
Paracooperia nodulosa
Stilesia globipunctata Cérebro
Strongyloides papillosus
Toxocara vitulorum Coenurus cerebralis
Trichostrongylus colubriformis
Trichostrongylus longispicularis Olho
ARTRÓPODES
Homologaster spp.
Oesophagostomum radiatum Moscas
Trichuris discolar
. Trichuris globulosa Califorídeos
.61 Parasitologia Veterinária
Avitellina centripunctata
Bunostomum trigonocephalum Músculo, pele e tecido conjuntivo
Cooperia curticei
Cooperia surnabada Cysticercus ovis
Gaigeria pachyscelis
M oniezia expansa Cérebro
Nematodirus battus
Nematodirus filicollis Coenurus cerebralis
Nematodirus spathiger
Strongyloides papillosus ARTRÓPODES
Trichostrongylus capricola
Trichostrongylus vitrinus Moscas
Intestino grosso Calliphora spp.
Chrysomya spp.
Chabertia ovina Cochliomyia spp.
Oesphagostomum colurnbianurn Gedoelstia spp.
Oesphagostomum venulosurn Hydrotaea spp.
Skrjabinerna ovis Lucilia spp.
Trichuris ovis Melophagus ovinus
Trichuris skrjabini Muscídeos
Oestrus ovis
Fígado Phormia spp.
Przevalskiana spp.
Cistos hidáticos
Cysticercus tenuicollis Piolhos
Dicrocoelium dendriticum
Dicrocoelium hospes Darnalinia ovis
254 Parasito/agia Veterinária
Vasos sangüíneos
HELMINTOS
Schistosoma spp.
Esôfago e estômago
Músculo, pele e tecido conjuntivo
Ascarops strongylina
Gnathostoma doloresi
Cysticercus cellulosae
Gnathostoma hispidum
Trichinella spiralis
Gongylonema pulchrum
Hyostrongylus rubidus
Ollulanus tricuspis Rins
Physocephalus sexalatus
Simmondsia paradoxa Stephanurus dentatus
Trichostrongylus axei
ARTRÓPODES
Intestino delgado
Moscas
Ascaris suum
Fasciolopsis buski Glossina spp.
Macracanthorhynchus hirudinaceus Muscídeos
Strongyloides ransomi
Trichinella spiralis Piolhos
Haematopinus suis
Intestino grosso
Oesophagostomum brevicaudum Ácaros
Oesophagostomum dentatum
Oesophagostomum granatensis Demodex phylloides
Oesophagostomum longicaudatum Sarcoptes scabiei
Oesophagostomum quadrispinulatum
Trichuris suis PROTOZOÁRIOS/RIQUÉTSIAS
Estômago
Músculo, pele e tecido conjuntivo
Draschia megastoma Onchocerca reticulata
Habronema microstoma Parafilaria rnultipapillosa
Habronema muscae Selaria equina
Trichostrongylus axei
Cérebro
Intestino delgado
Halicephalobus (Micronema) deletrix
Anoplocephala magna
Anoplocephala perfoliata Olho
Paranoplocephala mammillana
Parascaris equorum Thelazia lacrymalis
Strongyloides westeri
ARTRÓPODES
Intestino grosso
Moscas
Anoplocephala perfoliata
Ciatóstornos/Trichonema spp. Culicoides spp.
Cyathostornum spp. De rmatobia hominis
Cylicocyclus spp. Gasterophilus haemorrhoidalis
Cylicodontophorus spp. Gasterophilus inermis
Cylicostephanus spp. Gasterophilus intestinalis
Gastrodiscus spp. Gasterophilus nasalis
Oxyuris equi Gasterophilus nigricornis
Probstmayria vivipara Gasterophilus pecorum
Strongylus edentatus Hippobosca spp.
Strongylus equinus Muscídeos
Strongylus vulgaris Sirnu/ium spp.
Triodontophorus brevicauda Stomoxys calcitrans
Triodontophorus minor Tabanídeos
Triodontophorus serratus
Triodontophorus tenuicollis Piolhos
Damalinia equi
Pulmôes
Haematopinus asini
Cistos hidáticos
Ácaros
D ictyocaulus arnfieldi
Ácaros da colheita
Fígado Chorioptes equi
Demodex equi
Cistos hidáticos Psoroptes cuniculi
Fasciola hepatica Psoroptes equi
Relações Hospedeiro/Parasita 257
HELMINTOS Moscas
Piolhos
Capillaria conforta
Gongylonema ingluvicola Co/umbicola spp.
Ornithostrongy lus quadrirad iatus ClIclotogaster spp.
Goniocotes spp.
Pro ventrículo Goniodes spp.
Holomellopon spp.
Dispharyn.x spp. Lipeurus spp.
Echinuria spp. Menacanthus spp.
Tetrameres spp. Menopon spp.
Moela Pulgas
, "
íNDICE ALFABÉTICO
t - ciclo evolutivo, 43
- columbianum, 42, 43
- dentatum, 42, 43
Ostertagia
- circumcinctu , 9, lO, 16
- identificação, 9
- - patogenia, 75
- - sintomatologia clínica, 76
- - tratamento, 76
- mulripapillosa, 76
- diagnóstico, 44 - kolchida, 9
- epidemiologia, 43, 44 - leptospicularis, 9 , 10, 16 Parafilanose, 76
- granarel/sis, 42 ~ lyrata, 9, 10 - bovina, 76
- identificação, 42 -osrert(lgi,9, [O, II, 16 Pamgonimus , 101
- longicaudmum, 42 - trifurcaf(l , 9,10,16 Paralisia lombar
- patogenia, 43 Ostertagiose, 9 -porSetaria , 81
- bovi na, 9-15 Paramphistomatidae, 88, 100
- quadrispinulatum, 42, 43
- - ciclo evolutivo, 9 Paramphistomum, 100, 101
- radialUm , 42, 43
- - controle, 14, 15 - BuIiIlUS, 100
- sintomatologia clínica, 43
- cervi, 100
- lrnlarnento e con trole, 44 - - - medicação anti-hclmíntica profilática, 14
- ciclo evolutivo, 100
- l'cnuloswn , 42, 43 - - - pastejo a[tcrnado, 15
. controle, 10 I
Oestridae, 126, 140 - - - pastejo rotativo, [5
- diagnóstico, 10 I
Oestrideos, gêneros menos importantes, 145 - - - tratamento anti-hclmíntico e transferência de pasto,
- epidemiologia, 100, 101
Oestrus. 1~2. 143 14
- identificação, 100
- ciclo evolutivo, 142 - - diagnóstico, 13, 14
- microbothrium, 100
- importincia patogênica, 142, 143 - - efeito da infecção por
- patogenia, 100
- morfologia. 142 ~ - - sobre a lactação de vacas no pasto, 13
- oris. ].!2. 184 - Planorbis, 100
- - epidemiologia, 12, 13
- sinais clínicos, 100
- ETalaIllmto e controle, 143 - - de bovinos leiteiros, [2, 13 - tratamento, 10 1
Ollulmuu lrinlspis, 36, 37 - - - de rebanhos de corte, 13
OnchoaTal_ 79, 80 Paranfistomídeos, 100, 101
- - Osrerragia ostertagi, 9 Paranfistomose, 100
- armiJkim.. 80 - - patogenia, 9-1 [
- B1TICdJa abornls. 80 Paranoplocephala mamil/ana , 1l3. t 14
- - sintomatologia clínica, I I, 12 Parasca ris, 64, 65
- unicüla.80 - - tratamento, 14, 15 - ciclo evolutivo, 64, 65
- rido e\umh'O. 80 - capri na - controle, 65
- ~80 - - Ostertagia
- dJJ:d. SI) - diagnóstico, 65
- - - circumcinctll, 16 - epidemiologia, 65
- espéc:ie:§ c distribuição, 80 - - - leptospicul(lris, 16 - equorum , 4 1, 64
270 Índice Alfabético
4 9 10 II 12