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ESTATUTO DO DESARMAMENTO LEGISLAÇÃO

ESPECIAL

Lei 10.826/2003
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1.1. Histórico

Até 1997, a posse e o porte de arma ou de munição eram considerados


meramente contravenções penais.

• A Lei 9.437/97 foi a primeira lei a tratar de armas, sendo bastante criticada pela
desproporcionalidade das penas;

1.2. Norma penal em branco

O Estatuto do Desarmamento é uma norma penal em branco heterogênea, pois


necessita de informações complementares (conceito de arma, munição e
acessórios) nos Decretos 3.665/2000 e 5.123/2004.

1.3. Conceito de arma

Compreende o engenho mecânico responsável por lançar corpos pesados,


denominados projéteis, com a energia explosiva da pólvora.

• O acessório e a munição são tratados conforme o enquadramento da


respectiva arma;

1.4. Uso permitido

É aquela utilizada por qualquer pessoa que atenda aos requisitos da lei (estatuto
do desarmamento).

• O Comando do Exército Brasileiro define as armas de uso permitido e o


SINARM autoriza seu uso;

1.5. Uso restrito

É aquela cuja aquisição ou o uso só pode ocorrer por pessoas devidamente


autorizadas pelo Comando do Exército Brasileiro.

1.6. Uso proibido

É aquela quer a posse ou o porte não pode ser concedido a nenhum particular.

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2. POSSE X PORTE

Considera-se posse manter a arma em sua residência ou na dependência desta. O


porte, por sua vez, possui um conceito residual, pois tudo aquilo que não for
considerado como posse será enquadrado como porte.

• A pena da posse é de detenção e a do porte é de reclusão, mas se for de calibre


restrito será de reclusão independentemente.

Art. 5º O CRAF, com validade em todo o território nacional, autoriza o seu proprietário a
manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio, ou
dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou
o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa.

• O CRAF garante ao seu proprietário o direito de manter a arma em sua


residência ou na dependência desta, ou ainda, em seu local de trabalho, desde
que seja proprietário ou responsável legal do estabelecimento;

3. SISTEMA NACIONAL DE ARMAS - SINARM

3.1. PREVISÃO

Art. 1º O Sistema Nacional de Armas – Sinarm, instituído no Ministério da Justiça, no


âmbito da Polícia Federal, tem circunscrição em todo o território nacional.

• É um órgão do Ministério da Justiça que fica no âmbito da Polícia Federal;


• Todas as armas do exército e das forças auxiliares (PM/BM) são registradas no
Comando do Exército;

PORTE DE USO PERMITIDO


M. JUSTIÇA Instituiu o SINARM
SINARM Autoriza a expedição do porte
PF Expede o porte

Art. 4, § 1o O Sinarm expedirá autorização de compra de arma de fogo após atendidos os


requisitos anteriormente estabelecidos, em nome do requerente e para a arma indicada,
sendo intransferível esta autorização.

3.2. COMPETÊNCIAS DO SINARM

Art. 2o Ao Sinarm compete:


I – Identificar as características e a propriedade de armas de fogo, mediante cadastro;
II – Cadastrar as armas de fogo produzidas, importadas e vendidas no País;
III – Cadastrar as autorizações de porte de arma de fogo e as renovações expedidas
pela Polícia Federal;

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IV – Cadastrar as transferências de propriedade, extravio, furto, roubo e outras
ocorrências suscetíveis de alterar os dados cadastrais, inclusive as decorrentes de
fechamento de empresas de segurança privada e de transporte de valores;
V – Identificar as modificações que alterem as características ou o funcionamento de
arma de fogo;
VI – Integrar no cadastro os acervos policiais já existentes;
VII – Cadastrar as apreensões de armas de fogo, inclusive as vinculadas a procedimentos
policiais e judiciais;
VIII – Cadastrar os armeiros em atividade no País, bem como conceder licença para
exercer a atividade;
IX – Cadastrar mediante registro os produtores, atacadistas, varejistas, exportadores e
importadores autorizados de armas de fogo, acessórios e munições;
X – Cadastrar a identificação do cano da arma, as características das impressões de
raiamento e de microestriamento de projétil disparado, conforme marcação e testes
obrigatoriamente realizados pelo fabricante;
XI – Informar às Secretarias de Segurança Pública dos Estados e do Distrito Federal os
registros e autorizações de porte de armas de fogo nos respectivos territórios, bem
como manter o cadastro atualizado para consulta.

Parágrafo único. As disposições deste artigo não alcançam as armas de fogo das Forças
Armadas e Auxiliares, bem como as demais que constem dos seus registros próprios.

• O SINARM não faz controle de arma de fogo das Forças Armadas e Auxiliares;

4. COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO

A competência para processar e julgar os crimes do Estatuto do Desarmamento, em


regra, é da Justiça Comum Estadual (STF/STJ), exceto o crime do art. 18:

Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, a qualquer título,
de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade competente:
Pena – reclusão de 4 a 8 anos, e multa.

• O tráfico internacional de arma de fogo é necessariamente julgado na Justiça


Federal;

5. REGISTRO

Art. 3o É obrigatório o registro de arma de fogo no órgão competente.


Parágrafo único. As armas de fogo de uso restrito serão registradas no Comando do Exército,
na forma do regulamento desta Lei.

CALIBRE GERENCIAMENTO SISTEMA


Permitido Polícia Federal Sinarm
Restrito Comando do Exército Sigma

Art. 4o Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá, além de declarar a
efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos:
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I - Comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões negativas de antecedentes
criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar
respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que poderão ser fornecidas por
meios eletrônicos;
II – Apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita e de residência certa;
III – Comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o manuseio de arma
de fogo, atestadas na forma disposta no regulamento desta Lei.

REQUISITOS PARA ADQUIRIR ARMA DE FOGO


1 Comprovar idoneidade, mediante apresentação de certidões
2 Comprovar ocupação lícita e residência certa
3 Comprovar capacidade técnica e aptidão psicológica

• Além dos requisitos acima, também é necessário possuir idade mínima de 25 anos
e apresentar declaração de efetiva necessidade, bem como cópia autenticada da
carteira de identidade;
• O requisito da idade poderá ser relativizado em caso dos cargos da área de
segurança pública preenchidos mediante concurso público (PM, PF, PRF etc.):
Art. 6, § 4o Os integrantes das Forças Armadas, das polícias federais e estaduais e do Distrito
Federal, bem como os militares dos Estados e do Distrito Federal, ao exercerem o direito
descrito no art. 4o, ficam dispensados do cumprimento do disposto nos incisos I, II e III do
mesmo artigo, na forma do regulamento desta Lei.

§ 1o O Sinarm expedirá autorização de compra de arma de fogo após atendidos os requisitos


anteriormente estabelecidos, em nome do requerente e para a arma indicada, sendo
intransferível esta autorização.

§ 2o A aquisição de munição somente poderá ser feita no calibre correspondente à arma


registrada e na quantidade estabelecida no regulamento desta Lei.

§ 3o A empresa que comercializar arma de fogo em território nacional é obrigada a


comunicar a venda à autoridade competente, como também a manter banco de dados com
todas as características da arma e cópia dos documentos previstos neste artigo.

§ 4o A empresa que comercializa armas de fogo, acessórios e munições responde legalmente


por essas mercadorias, ficando registradas como de sua propriedade enquanto não forem
vendidas.

§ 5o A comercialização de armas de fogo, acessórios e munições entre pessoas físicas


somente será efetivada mediante autorização do Sinarm.
§ 6o A expedição da autorização a que se refere o § 1o será concedida, ou recusada com a
devida fundamentação, no prazo de 30 dias úteis, a contar da data do requerimento do
interessado.

• A concessão da autorização ou a sua recusa fundamentada observará o prazo de


30 dias úteis;

§ 7o O registro precário a que se refere o § 4 o prescinde do cumprimento dos requisitos dos


incisos I, II e III deste artigo.

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• Denomina-se registro precário aquele realizado em nome da empresa enquanto
não vende a arma;

§ 8o Estará dispensado das exigências constantes do inciso III do caput deste artigo, na forma
do regulamento, o interessado em adquirir arma de fogo de uso permitido que comprove
estar autorizado a portar arma com as mesmas características daquela a ser adquirida.

• No caso de autorização para compra de arma para a qual o agente já possua a


capacidade técnica e aptidão psicológica, esses requisitos estarão dispensados;

Art. 5o O CRAF, com validade em todo o território nacional, autoriza o seu proprietário a
manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio, ou
dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o
responsável legal pelo estabelecimento ou empresa.

• O CRAF não autoriza o porte, apenas a posse no interior da residência e no local


de trabalho, sendo necessário, neste último caso, que o possuidor seja o
responsável legal pelo local;

§ 1o O CRAF será expedido pela Polícia Federal e será precedido de autorização do Sinarm.

§ 2o Os requisitos de que tratam os incisos I, II e III do art. 4o deverão ser comprovados


periodicamente, em período não inferior a 3 anos, na conformidade do estabelecido no
regulamento desta Lei, para a renovação do CRAF.

• A validade do CRAF é de 3 anos, sendo indispensável à renovação a comprovação


de todos os requisitos;

§ 3o O proprietário de arma de fogo com certificados de registro de propriedade expedido


por órgão estadual ou do Distrito Federal até a data da publicação desta Lei que não optar
pela entrega espontânea prevista no art. 32 desta Lei deverá renová-lo mediante o pertinente
registro federal, até o dia 31 de dezembro de 2008, ante a apresentação de documento de
identificação pessoal e comprovante de residência fixa, ficando dispensado do pagamento de
taxas e do cumprimento das demais exigências constantes dos incisos I a III do caput do art.
4o desta Lei.
§ 4o Para fins do cumprimento do disposto no § 3o deste artigo, o proprietário de arma de
fogo poderá obter, no Departamento de Polícia Federal, certificado de registro provisório,
expedido na rede mundial de computadores - internet, na forma do regulamento e
obedecidos os procedimentos a seguir:
I - emissão de certificado de registro provisório pela internet, com validade inicial de 90 dias;
e
II - revalidação pela unidade do Departamento de Polícia Federal do certificado de registro
provisório pelo prazo que estimar como necessário para a emissão definitiva do certificado de
registro de propriedade.

6. PORTE

Art. 6o É proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo para os casos
previstos em legislação própria e para:

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I – os integrantes das Forças Armadas;
II- os integrantes de órgãos referidos nos incisos I, II, III, IV e V do caput do art. 144
a Constituição Federal e os da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP);
III – os integrantes das guardas municipais das capitais dos Estados e dos Municípios com mais
de 500 mil habitantes, nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei;
IV - os integrantes das guardas municipais dos Municípios com mais de 50 mil e menos de
500 mil habitantes, quando em serviço;

Capital ou Município
Ainda que fora de serviço
Mais de 500 mil habitantes
Município
Apenas em serviço
Entre 50 e 500 mil habitantes
Município
Proibido
Abaixo de 50 mil habitantes

Art. 6, § 7o Aos integrantes das guardas municipais dos


Municípios que integram regiões metropolitanas será
autorizado porte de arma de fogo, quando em serviço.

V – os agentes operacionais da ABIN e os agentes do Departamento de Segurança do


Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República;
VI – os integrantes dos órgãos policiais referidos no art. 51, IV, e no art. 52, XIII, da
Constituição Federal;
VII – os integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais, os integrantes das
escoltas de presos e as guardas portuárias;
VIII – as empresas de segurança privada e de transporte de valores constituídas, nos termos
desta Lei;
IX – para os integrantes das entidades de desporto legalmente constituídas, cujas atividades
esportivas demandem o uso de armas de fogo, na forma do regulamento desta Lei,
observando-se, no que couber, a legislação ambiental.
X - integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita Federal do Brasil e de Auditoria-Fiscal do
Trabalho, cargos de Auditor-Fiscal e Analista Tributário.
XI - os tribunais do Poder Judiciário descritos no art. 92 da Constituição Federal e os Ministérios
Públicos da União e dos Estados, para uso exclusivo de servidores de seus quadros pessoais
que efetivamente estejam no exercício de funções de segurança, na forma de regulamento
a ser emitido pelo CNJ e pelo CNMP.
§ 1o As pessoas previstas nos incisos I, II, III, V e VI do caput deste artigo terão direito de portar
arma de fogo de propriedade particular ou fornecida pela respectiva corporação ou instituição,
mesmo fora de serviço, nos termos do regulamento desta Lei, com validade em âmbito
nacional para aquelas constantes dos incisos I, II, V e VI.

PORTE FORA DE SERVIÇO PORTE EM ÂMBITO NACIONAL


- Agentes de segurança pública - Agentes de segurança pública
- ABIN - ABIN
- Polícia do Senado e da Câmara - Polícia do Senado e da Câmara
- Guarda municipal (+ de 500 mil hab.)

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§ 1º-B. Os integrantes do quadro efetivo de agentes e guardas prisionais poderão portar arma
de fogo de propriedade particular ou fornecida pela respectiva corporação ou instituição,
mesmo fora de serviço, desde que estejam:
I - submetidos a regime de dedicação exclusiva;
II - sujeitos à formação funcional, nos termos do regulamento; e
III - subordinados a mecanismos de fiscalização e de controle interno.

PORTE DE ARMA DOS AGENTES PRISIONAIS


- Regime de dedicação exclusiva
Integrar o quadro efetivo
- Formação funcional
(inclusive fora de serviço)
- Fiscalização e controle interno

§ 2o A autorização para o porte de arma de fogo aos integrantes das instituições descritas nos
incisos V, VI, VII e X do caput deste artigo está condicionada à comprovação do requisito a
que se refere o inciso III do caput do art. 4o desta Lei nas condições estabelecidas no
regulamento desta Lei.

ABIN
Polícia da Câmara e do Senado
Capacidade Técnica e
Guarda prisional, portuário e
Aptidão Psicológica
de escolta de presos
Carreira Fiscal e Trabalhista

§ 3o A autorização para o porte de arma de fogo das guardas municipais está condicionada
à formação funcional de seus integrantes em estabelecimentos de ensino de atividade
policial e à existência de mecanismos de fiscalização e de controle interno, nas condições
estabelecidas no regulamento desta Lei, observada a supervisão do Comando do Exército.

7. PORTE PARA SUBSISTÊNCIA

Art. 6, § 5o Aos residentes em áreas rurais, maiores de 25 anos que comprovem depender do
emprego de arma de fogo para prover sua subsistência alimentar familiar será concedido pela
PF o porte de arma de fogo, na categoria caçador para subsistência, de uma arma de uso
permitido, de tiro simples, com 1 ou 2 canos, de alma lisa e de calibre igual ou inferior a 16,
desde que o interessado comprove a efetiva necessidade em requerimento ao qual deverão
ser anexados os seguintes documentos:
I - documento de identificação pessoal;
II - comprovante de residência em área rural; e
III - atestado de bons antecedentes.

Área Rural Maior de 25 anos


Para subsistência alimentar A PF concede porte
Na categoria caçador para subsistência 1 arma de uso permitido
Tiro simples 1 ou 2 canos
Alma lisa Calibre menor ou igual a 16

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Art. 6, § 6o O caçador para subsistência que der outro uso à sua arma de fogo,
independentemente de outras tipificações penais, responderá, conforme o caso, por porte
ilegal ou por disparo de arma de fogo de uso permitido.

8. PORTE PARA SEGURANÇA DE ESTRANGEIRO

Art. 9o Compete ao Ministério da Justiça a autorização do porte de arma para os responsáveis


pela segurança de cidadãos estrangeiros em visita ou sediados no Brasil e, ao Comando do
Exército, nos termos do regulamento desta Lei, o registro e a concessão de porte de trânsito
de arma de fogo para colecionadores, atiradores e caçadores e de representantes estrangeiros
em competição internacional oficial de tiro realizada no território nacional.

Autoriza o porte de arma para segurança de estrangeiros em visita


Ministério da Justiça
ou sediados no Brasil.
Registra e concede o porte de trânsito de arma para colecionador,
Comando do Exército
atirador, caçador e competidor internacional de tiro.

9. PORTE CIVIL

Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido, em todo o território
nacional, é de competência da Polícia Federal e somente será concedida após autorização do
Sinarm.

§ 1o A autorização prevista neste artigo poderá ser concedida com eficácia temporária e
territorial limitada, nos termos de atos regulamentares, e dependerá de o requerente:
I – demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de atividade profissional de risco ou
de ameaça à sua integridade física;
II – atender às exigências previstas no art. 4o desta Lei;
III – apresentar documentação de propriedade de arma de fogo, bem como o seu devido
registro no órgão competente.

§ 2o A autorização de porte de arma de fogo, prevista neste artigo, perderá automaticamente


sua eficácia caso o portador dela seja detido ou abordado em estado de embriaguez ou sob
efeito de substâncias químicas ou alucinógenas.

10. CRIMES EM ESPÉCIE

Os crimes do Estatuto do Desarmamento são considerados crimes de perigo


abstrato, pois o simples fato de estar armado ou em posse de munição ou acessório
é suficiente para configurar o crime (perigo presumido pela lei).

• Não é necessário exame pericial para saber o potencial lesivo da arma, mas, uma
vez realizado e comprovada sua inaptidão, será considerado fato atípico;
• A arma desmuniciada não descaracteriza o crime, servindo apenas para impor a
grave ameaça, não sendo majorante do crime - STF;

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• O bem jurídico tutelado é a incolumidade pública, pois trata-se de crime de
perigo abstrato (representa uma tutela penal antecipada);
• No porte simultâneo de 2 ou mais armas do mesmo calibre (permitido ou
restrito), o agente responde por crime único (não haverá concurso formal);
• No porte simultâneo de 2 ou mais armas de calibres distintos, o agente
responderá pelos crimes praticados (concurso formal impróprio – soma as penas);

10.1. POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO

Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso
permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua
residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o
titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa:
Pena – detenção, de 1 a 3 anos, e multa.

• O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum) e o sujeito passivo
é a coletividade (crime vago);
• A conduta de ocultar é enquadrada como porte de uso permitido (art. 14)
ou restrito (art. 16), a depender do calibre;
• Embora não seja infração de menor potencial ofensivo, admite a suspensão
condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95);
• A autoridade policial pode arbitrar fiança, já que a pena máxima é inferior a
4 anos (art. 322, CPP);
• A posse apenas da arma, desacompanhada da munição, é suficiente para
configurar o crime - STF/STJ;
• Os componentes da arma de fogo isoladamente configuram atipicidade da
conduta;
• Se a arma estiver quebrada (totalmente inoperante) e for comprovado
mediante exame pericial, caracteriza crime impossível por absoluta
impropriedade no meio de execução – STJ;

10.2. OMISSÃO DE CAUTELA

Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 anos
ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob
sua posse ou que seja de sua propriedade:
Pena – detenção, de 1 a 2 anos, e multa.

• O sujeito ativo é o possuidor/proprietário (crime próprio) e o objeto material


é a arma de fogo, consistindo em fato atípico o apoderamento de acessório
ou munição;

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• O sujeito passivo imediato é a coletividade (crime vago) e o mediato é o
menor de idade ou aquele que possui deficiência mental;
• Por ser IMPO, a competência para julgamento será do Juizado Especial
Criminal;
• Único crime culposo do Estatuto do Desarmamento, caracterizado na
modalidade negligência;
• Tendo em vista que se trata de um crime omissivo próprio e também
culposo, não cabe tentativa;

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor responsável de


empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência
policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de
extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas
primeiras 24 horas depois de ocorrido o fato.

• Crime próprio (exige a qualidade de proprietário ou diretor da empresa);


• Crime omissivo próprio (deixar de comunicar à PF), portanto não admite
tentativa;
• Crime a prazo (a consumação só ocorre após 24 horas do fato);

10.3. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO

Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder,
ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar
arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 2 a 4 anos, e multa.

• O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum) e o sujeito passivo
é a coletividade (crime vago);
• Quando a arma de fogo é de uso restrito, posse e porte são tipificados no
mesmo tipo penal;
• Em regra, não admite prisão preventiva;
• É um crime de mera conduta, sendo irrelevante o a ocorrência do resultado;
• O porte de arma, ainda que desmuniciada, configura o crime – STF/STJ;
• O exame pericial não é necessário para comprovar a potencialidade lesiva da
arma, entretanto, se for reconhecida a absoluta ineficácia da arma e das
munições, a conduta será atípica – STJ;
• Não é necessário perícia para provar o porte ilegal, podendo ser provado
por outros meios – STJ;
• O porte de quantidade ínfima de munição afasta a tipicidade material – STJ;

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• Quanto ao porte simultâneo, se as armas forem de uso permitido,
caracteriza crime único. Se forem de uso restrito e de uso permitido,
configura 2 crimes em concurso formal – STJ;
• O homicídio e o roubo absorvem o porte ilegal se este for utilizado apenas
como meio para aqueles;

Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de
fogo estiver registrada em nome do agente.

• Não importa se a arma está ou não registrada em nome do agente, o crime


será afiançável - STF;
• O indivíduo que possuir ou portar mais de uma arma, acessório ou munição
ilegalmente responderá apenas por 1 crime;

10.4. DISPARO DE ARMA DE FOGO

Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas
adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha
como finalidade a prática de outro crime:
Pena – reclusão, de 2 a 4 anos, e multa.

• É um crime subsidiário, logo só haverá o enquadramento se o agente não


tiver outra finalidade;
• É um crime punido apenas na modalidade dolosa;
• Se o disparo ocorrer em local ermo/desabitado, a conduta será atípica;

Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável.

• Inconstitucional. A autoridade policial arbitrar a fiança - STF;

10.5. PORTE OU POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO

Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar,
ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda
ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem
autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 3 a 6 anos, e multa.

• Admite prisão preventiva (pena máxima superior a 4 anos);


• Trata-se de crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia, visto que é
enquadrado como crime hediondo, conforme a Lei 8.072/90;
• Não há necessidade de observância do objeto material (arma, acessório ou
munição) se for de uso restrito;

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• Se houver posse ou porte de calibre diferente, o agente responderá apenas
pelo crime mais grave (princípio da consunção);
• O porte ou a posse de arma com numeração raspada configura o crime
desse artigo, independentemente do calibre da arma;

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:

I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma


de fogo ou artefato;
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a
arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo
induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração,
marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado;
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório,
munição ou explosivo a criança ou adolescente; e

• Em virtude dessa previsão no Estatuto do Desarmamento, a disposição


prevista no ECA foi derrogada no que se refere a arma de fogo, acessório ou
munição (princípio da especialidade), entretanto a previsão do ECA
continua em vigor em se tratando de arma branca;

VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer


forma, munição ou explosivo.

10.6. COMÉRCIO ILEGAL DE ARMA DE FOGO

Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito,
desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma
utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 4 a 8 anos, e multa.

Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste


artigo, qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou
clandestino, inclusive o exercido em residência.

• Admite prisão preventiva (pena máxima superior a 4 anos);


• O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum) e o sujeito passivo
é a coletividade (crime vago);
• O elemento subjetivo do crime é o dolo;
• A pena é aumentada pela metade se a arma, acessório ou munição for de
uso restrito/proibido;

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10.7. TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMAS

Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, a


qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade
competente:
Pena – reclusão de 4 a 8 anos, e multa.

• O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum) e o sujeito passivo
é a coletividade (crime vago);
• São objetos materiais desse crime tanto a arma de fogo quanto a munição
e o acessório;
• Se for um artefato explosivo, incendiário ou simulacro, não será tratado no
estatuto do desarmamento, sendo enquadrado pelo Código Penal como
contrabando;
• O servidor público alfandegário que facilitar a entrada de arma no território
nacional responde por tráfico internacional e não por facilitação de
contrabando/descaminho (princípio da especialidade);
• Admite fiança, mas, por ter pena máxima superior a 4 anos, deve ser
arbitrada pela autoridade judicial;
• A pena é aumentada pela metade se a arma, acessório ou munição for de
uso restrito/proibido;
• É competência da Justiça Federal, ainda que se consume no estrangeiro;

11. DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE OS CRIMES

Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada da metade se a arma de
fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou restrito.

Comércio ilegal Aumenta-se a pena


Uso proibido/restrito
Tráfico internacional de metade

Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é aumentada da metade se
forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6 o, 7o e 8o desta
Lei.

(art. 14) Porte de uso permitido


Agente de segurança pública;
(art. 15) Disparo de arma
Aumenta-se a pena Segurança privada;
(art. 16) Posse/Porte de uso restrito
de metade Transporte de valores;
(art. 17) Comércio Ilegal
Entidade desportiva;
(art. 18) Tráfico Internacional

• Só não se aplica aos crimes do art. 12 e 13 (posse de uso permitido e omissão


de cautela);

Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são insuscetíveis de liberdade provisória.
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12. DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 25. As armas de fogo apreendidas, após a elaboração do laudo pericial e sua juntada
aos autos, quando não mais interessarem à persecução penal serão encaminhadas pelo juiz
competente ao Comando do Exército, no prazo máximo de 48 horas, para destruição ou
doação aos órgãos de segurança pública ou às Forças Armadas, na forma do regulamento
desta Lei.

• Quando as armas de fogo apreendidas não forem mais úteis à persecução penal,
o Juiz Competente as encaminhará, no prazo de 48 horas, ao Comando do
Exército para que sejam destruídas ou doadas para os órgãos de segurança
pública;

Art. 26. São vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e a importação de brinquedos,


réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas se possam confundir.

• O porte de arma de brinquedo, réplica ou simulacro é conduta atípica, mas a


comercialização é vedada;
• A introdução, no território nacional, de armas de brinquedo, réplicas ou
simulacros sem autorização da autoridade competente caracteriza o crime de
contrabando;

Parágrafo único. Excetuam-se da proibição as réplicas e os simulacros destinados à


instrução, ao adestramento, ou à coleção de usuário autorizado, nas condições fixadas pelo
Comando do Exército.

Art. 28. É vedado ao menor de 25 anos adquirir arma de fogo, ressalvados os integrantes
das entidades constantes dos incisos I, II, III, V, VI, VII e X do caput do art. 6o desta Lei.

• Não estão incluídos nesse rol as empresas de segurança privada, de transporte


de valores e os integrantes de unidades de desporto, ou seja, deverão cumprir
o requisito da idade mínima;

Art. 31. Os possuidores e proprietários de armas de fogo adquiridas regularmente


poderão, a qualquer tempo, entregá-las à Polícia Federal, mediante recibo e indenização,
nos termos do regulamento desta Lei.

Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo poderão entregá-la,


espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se de boa-fé, serão indenizados, na
forma do regulamento, ficando extinta a punibilidade de eventual posse irregular da
referida arma.

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