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Legislação Penal Especial – 6º Período

Bacharelado em Direito
UNINCOR

1. Lei Federal 10.826/2003

Trata-se de norma jurídica que visa disciplinar o acesso à arma de fogo no


território nacional, criando regras e procedimentos, bem como tipificando crimes. A Lei
10.826, em última análise, configura-se como uma política de segurança pública que
visa à diminuição dos crimes praticados com arma de fogo.
No ano de 2003, o Brasil passou por um referendo para a consulta da população
sobre a proibição de acesso do cidadão comum a arma de fogo. A consulta foi feita com
a seguinte pergunta: O comércio de arma de fogo deve ser proibido no Brasil? E por
maioria dos votos (63,94%), os brasileiros decidiram que o comércio não deveria ser
proibido. Assim, a redação do artigo 35 foi rejeitada pela população:

Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e


munição em todo o território nacional, salvo para as entidades
previstas no art. 6o desta Lei.
§ 1o Este dispositivo, para entrar em vigor, dependerá de
aprovação mediante referendo popular, a ser realizado em
outubro de 2005.
§ 2o Em caso de aprovação do referendo popular, o disposto
neste artigo entrará em vigor na data de publicação de seu
resultado pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Partindo dessa premissa, o Estatuto do Desarmamento encontra guarida no


artigo 5.º, caput, da Constituição da República, o qual assegura aos nacionais e aos
estrangeiros residentes no país o direito à segurança, nos seguintes termos:

Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes.

1.1 CONCEITO DE ARMA DE FOGO

Dispositivo que impele um ou vários projéteis através de um cano pela pressão


de gases em expansão produzidos por uma carga propelente em combustão. Assim não
estão incluídos no teor de tais crimes os seguintes dispositivos: granadas ou qualquer
outras espécies de explosivos.

Recurso especial penal estatuto do desarmamento delito


tipificado no artigo 16, parágrafo único , III, da lei n.
10.826/2003. Porte de artefato explosivo. Granada de gás
lacrimogêneo/pimenta. inadequação típica. Recurso
improvido. 1.Explosivo é, em sentido amplo, um material
extremamente instável, que pode se decompor rapidamente,
formando produtos estáveis. Esse processo é denominado de
explosão e é acompanhado por uma intensa liberação de energia,
que pode ser feita sob diversas formas e gera uma considerável
destruição decorrente da liberação dessa energia. 2.não será
considerado explosivo o artefato que, embora ativado por
explosivo, não projete e nem disperse fragmentos perigosos
como metal, vidro ou plástico quebradiço, não possuindo,
portanto, considerável potencial de destruição. 3.Para a
adequação típica do delito em questão, exige-se que o objeto
material do delito, qual seja, o artefato explosivo, seja capaz
de gerar alguma destruição, NÃO PODENDO SER
TIPIFICADO NESTE CRIME A POSSE DE GRANADA
DE GÁS LACRIMOGÊNEO/PIMENTA, porém, não
impedindo eventual tipificação em outro crime. 4.Recurso
especial improvido. (REsp1627028/SP, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
21/02/2017, DJe 03/03/2017)

1.1.1 Arma de fogo de uso permitido - É aquela cuja utilização é autorizada a pessoas
físicas, bem como as pessoas jurídicas, de acordo com as normas do Comando do
Exército e nas condições previstas na Lei no 10.826, de 2003.

1.1.2 Arma de fogo de uso restrito - É aquela de uso exclusivo das Forças
Armadas, de instituições de segurança pública e de pessoas físicas e jurídicas
habilitadas, devidamente autorizadas pelo Comando do Exército, de acordo com
legislação específica.

1.1.3 Arma de fogo de uso proibido – É aquela que configura de um objeto inocente,
que dissimula uma situação, mas que em verdade se configura de uma arma de fogo
disfaçada. Ex.: caneta, bicicleta, etc.

1.1.4 Regulamentação

Atualmente o acesso à arma, além da Lei 10.826/2003, também está


regulamentado por vários decretos do Poder Executivo, os quais trazem os
procedimentos específicos para que o cidadão possa ter acesso à arma de fogo.

Art. 23. A classificação legal, técnica e geral bem como a


definição das armas de fogo e demais produtos controlados, de
usos proibidos, restritos, permitidos ou obsoletos e de valor
histórico serão disciplinadas em ato do chefe do Poder
Executivo Federal, mediante proposta do Comando do
Exército.

IMPORTANTE: Os decretos são mais amplos que a própria lei, tanto do próprio
procedimento, quanto no detalhamento de quem pode ter acesso à arma de fogo de
uso permitido.
1.2 DOS SISTEMA DE CONTROLE

DO SINARM

O SINARM é um sistema nacional de armas, instituido no ambito do Ministério


da Jutiça e da Polícia Federal, consituido por órgãos públicos competentes pelo registro
e fiscalização das armas de fogo registradas no território brasileiro.

Art. 1o O Sistema Nacional de Armas – Sinarm, instituído no


Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia Federal, tem
circunscrição em todo o território nacional.

Tem por finalidade manter cadastro geral, integrado e permanente das armas de
fogo importadas, produzidas e vendidas no país, de sua competência, e o controle dos
registros dessas armas.

1.2.1 Competência do SINARM


O SINARM possui competência definida no artigo 2º da Lei 10.826/2003:

Art. 2o Ao Sinarm compete:


I – identificar as características e a propriedade de armas de fogo,
mediante cadastro;
II – cadastrar as armas de fogo produzidas, importadas e vendidas
no País;
III – cadastrar as autorizações de porte de arma de fogo e as
renovações expedidas pela Polícia Federal;
IV – cadastrar as transferências de propriedade, extravio, furto,
roubo e outras ocorrências suscetíveis de alterar os dados
cadastrais, inclusive as decorrentes de fechamento de empresas de
segurança privada e de transporte de valores;
V – identificar as modificações que alterem as características ou o
funcionamento de arma de fogo;
VI – integrar no cadastro os acervos policiais já existentes;
VII – cadastrar as apreensões de armas de fogo, inclusive as
vinculadas a procedimentos policiais e judiciais;
VIII – cadastrar os armeiros em atividade no País, bem como
conceder licença para exercer a atividade;
IX – cadastrar mediante registro os produtores, atacadistas,
varejistas, exportadores e importadores autorizados de armas de
fogo, acessórios e munições;
X – cadastrar a identificação do cano da arma, as características
das impressões de raiamento e de microestriamento de projétil
disparado, conforme marcação e testes obrigatoriamente
realizados pelo fabricante;
XI – informar às Secretarias de Segurança Pública dos Estados e
do Distrito Federal os registros e autorizações de porte de armas
de fogo nos respectivos territórios, bem como manter o cadastro
atualizado para consulta.
DO SIGMA

O SIGMA – Sistema de controle de arma s de fogo no âmbito do militar


brasileiro, instituído pelo Ministério da Justiça no âmbito do Comando do Exército,
Com circunscrição em todo o território nacional, tem por finalidade manter
cadastro geral, permanente e integrado das armas de fogo importadas, produzidas
e vendidas no país, de competência do sigma, e das armas de fogo que constem dos
registros próprios.

1.3 DA AQUISIÇÃO E REGISTRO DE ARMA DE FOGO

Toda aquisição de arma de fogo no território brasileiro deve ser precedida de


autorização e registro, na forma do artigo 3º da Lei 10.826/03, sendo as de uso civil
registradas no SINARM e as de uso restrito das forças militares registradas no SIGMA.
(Parágrafo Único do artigo 3º).

1.3.1 Requisitos para aquisição de arma de fogo no Brasil

Os requisitos exigidos pela Lei estão definidos no artigo 4º da Lei 10.826/03:

Art. 4o Para adquirir arma de fogo de uso permitido o


interessado deverá, além de declarar a efetiva necessidade,
atender aos seguintes requisitos:
I - comprovação de idoneidade, com a apresentação de
certidões negativas de antecedentes criminais fornecidas pela
Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar
respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que
poderão ser fornecidas por meios eletrônicos;
II – apresentação de documento comprobatório de ocupação
lícita e de residência certa;
III – comprovação de capacidade técnica e de aptidão
psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestadas na
forma disposta no regulamento desta Lei.

ATENÇÃO!!! Na forma do § 8º do artigo 4º, estará dispensado das exigências de


comprovar aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo, na forma do
regulamento, o interessado em adquirir arma de fogo de uso permitido que comprove
estar autorizado a portar arma com as mesmas características daquela a ser adquirida.

ATENÇÃO!!! As forças de segurança estão dispensadas do preenchimento dos


requisitos dos incisos I, II e III - § 4º do artigo 6º.

1.3.2 Aprovação pelo SINARM – Art. 4º, § 1º

O interessado irá apresentar ao SINARM o pedido de autorização para compra


de arma de fogo, acompanhando todos os documentos descritos no caput do artigo 4º.
Ness mesmo pedido deverá descrever qual arma será adquirida, seu calibre e todas as
características que poderão identificá-la.
Após o interessado acostar ao seu pedido todos os documentos necessários à
análise, o SINARM poderá expedir ou recursar a autorização para a compra de arma de
fogo que terá caracteristica de Intranferibilidade.

Art. 4º, §1º O Sinarm expedirá autorização de compra de arma


de fogo após atendidos os requisitos anteriormente
estabelecidos, em nome do requerente e para a arma indicada,
sendo intransferível esta autorização.

ATENÇÃO!!! A indicação de qual o modelo de arma de fogo será adquirido pelo


interessado é importante para que o SINARM também autorize a compra de munições,
que será exclusivamente para a arma de fogo autorizada. Art. 4º, § 2º.

1.3.3 Comercialização e Responsabilidade

A empresa de arma de fogo que comercializá-las traz consigo diversas


obrigações descritas nos § § 3º e 4º da Lei 10.826/03:

§ 3o A empresa que comercializar arma de fogo em território


nacional é obrigada a comunicar a venda à autoridade
competente, como também a manter banco de dados com todas
as características da arma e cópia dos documentos previstos
neste artigo.
§ 4o A empresa que comercializa armas de fogo, acessórios e
munições responde legalmente por essas mercadorias, ficando
registradas como de sua propriedade enquanto não forem
vendidas.

ATENÇÃO!!! As comercializadas por lojas serão consideradas para todos os efeitos


como sendo de sua propriedade e serão registrada em seu nome, logo deverão também
preencher os requisitos exigidos no caput do artigo 4º.

1.3.4 Comercialização entre pessoas físicas

Nos termos do artigo 4º, em seu § 5º, é possível a comercialização de arma de


fogo entre particulares pessoas físicas, no entanto para sua validade haverá necessidade
de autorização do SINARM.

1.3.5 Do certificado de Registro de Arma de Fogo – Art. 5º

O certificado de registro de arma de fogo é um documento que autoriza o


interessado a adquirir sua arma de fogo e permanecer em sua posse dentro do seu
ambiente doméstico, exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio, ou
dependência desses ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o
responsável legal pelo estabelecimento ou empresa.

ATENÇÃO!!! Nos termos do § 5º do artigo 5º, no caso de residência ou domicilio no


ambiente rural, será considerado residência ou domicílio toda a extensão do respectivo
imóvel rural.
1.3.5.1 Validade do Registro – O registro tem validade em todo território nacional e
autoriza o uso da arma de fogo exclusivamente por seu proprietário.

1.3.5.2 Órgão Expedidor – Nos termos do § 1º do artigo 5º, o registro da arma de fogo
será de competência do Polícia Federal.

1.3.5.3 Renovação do Registro – Nos termos do § 2º do artigo 5º, o registro da arma de


fogo deverá ser renovado periodicamente, em período não inferior a 03 anos, com a
comprovação de todos os requisitos do artigo 4º, caput.

1.4 DO PORTE DE ARMA

O porte de arma é a capacidade do indivíduo poder estar na disposição de sua


arma a todo tempo, independente do local onde esteja.
Nos termos do artigo 6º do Estatuto da Arma, o porte é proibido em todo
território nacional, salvo para as exceções descritas nos incisos:

I – os integrantes das Forças Armadas;


II - os integrantes de órgãos referidos
nos incisos I, II, III, IV e V do caput do art. 144
da Constituição Federal e os da Força Nacional de Segurança
Pública (FNSP);
III – os integrantes das guardas municipais das capitais dos
Estados e dos Municípios com mais de 500.000 (quinhentos mil)
habitantes, nas condições estabelecidas no regulamento desta
Lei;
IV - os integrantes das guardas municipais dos Municípios com
mais de 50.000 (cinqüenta mil) e menos de 500.000 (quinhentos
mil) habitantes, quando em serviço;
V – os agentes operacionais da Agência Brasileira de
Inteligência e os agentes do Departamento de Segurança do
Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da
República;
VI – os integrantes dos órgãos policiais referidos no art. 51, IV,
e no art. 52, XIII, da Constituição Federal;
VII – os integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas
prisionais, os integrantes das escoltas de presos e as guardas
portuárias;
VIII – as empresas de segurança privada e de transporte de
valores constituídas, nos termos desta Lei;
IX – para os integrantes das entidades de desporto legalmente
constituídas, cujas atividades esportivas demandem o uso de
armas de fogo, na forma do regulamento desta Lei, observando-
se, no que couber, a legislação ambiental.
X - integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita Federal do
Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, cargos de Auditor-
Fiscal e Analista Tributário.
XI - os tribunais do Poder Judiciário descritos no art. 92 da
Constituição Federal e os Ministérios Públicos da União e dos
Estados, para uso exclusivo de servidores de seus quadros
pessoais que efetivamente estejam no exercício de funções de
segurança, na forma de regulamento a ser emitido pelo Conselho
Nacional de Justiça - CNJ e pelo Conselho Nacional do
Ministério Público - CNMP.

1.4.1 Porte dos Policiais Penais - § 1º-B


§ 1º-B. Os integrantes do quadro efetivo de agentes e guardas
prisionais poderão portar arma de fogo de propriedade particular
ou fornecida pela respectiva corporação ou instituição, mesmo
fora de serviço, desde que estejam:
I - submetidos a regime de dedicação exclusiva;
II - sujeitos à formação funcional, nos termos do regulamento; e
III - subordinados a mecanismos de fiscalização e de controle
interno.

1.4.2 Regras específicas

Para as forças de segurnça e da inteligência:

1o As pessoas previstas nos incisos I, II, III, V e VI


do caput deste artigo terão direito de portar arma de fogo de
propriedade particular ou fornecida pela respectiva corporação ou
instituição, mesmo fora de serviço, nos termos do regulamento
desta Lei, com validade em âmbito nacional para aquelas
constantes dos incisos I, II, V e VI.

Para os guardas municipais


§ 3o A autorização para o porte de arma de fogo das guardas
municipais está condicionada à formação funcional de seus
integrantes em estabelecimentos de ensino de atividade policial, à
existência de mecanismos de fiscalização e de controle interno,
nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei, observada
a supervisão do Ministério da Justiça.

1.4.3 Porte para Caçador Art. 6º, § 5º


A lei apresenta a possibilidade do porte de arma ser concedido para o cidadão
que preencher os requisitos do artigo 6º, § 5º, desde que:
 Residentes em áreas rurais;
 Maior de 25 anos;
 Dependência do emprego da arma para subsistência familiar;
 Comprovação de efetiva necessidade.
 Arma de uso permitido com um ou dois canos e com calibre igual ou menor do
que 16.
 Apresentação dos documentos:
o Documentos pessoal;
o Comprovante de residência em área rural;
o Atestado de bons antecedentes.

ATENÇÃO!!! O uso da arma definida para o caçador somente poderá ser dentro
daquilo que a lei estabelece, e caso o uso fuja da finalidade de caçador, nos termo do §
6º do artigo 6º, responderá por porte ilegal de arma de fogo ou por disparo de arma de
fogo.

1.4.4 O Porte para empresas de segurança - Art. 6º, § 7º

As empresas de segurança também terão direito ao porte de arma para seus


empregados, no entanto, deverá observar os limites do § 7º.

Art. 7o As armas de fogo utilizadas pelos empregados das


empresas de segurança privada e de transporte de valores,
constituídas na forma da lei, serão de propriedade,
responsabilidade e guarda das respectivas empresas, somente
podendo ser utilizadas quando em serviço, devendo essas
observar as condições de uso e de armazenagem estabelecidas
pelo órgão competente, sendo o certificado de registro e a
autorização de porte expedidos pela Polícia Federal em nome da
empresa.
§ 1o O proprietário ou diretor responsável de empresa de
segurança privada e de transporte de valores responderá pelo
crime previsto no parágrafo único do art. 13 desta Lei, sem
prejuízo das demais sanções administrativas e civis, se deixar de
registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal
perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de armas de
fogo, acessórios e munições que estejam sob sua guarda, nas
primeiras 24 (vinte e quatro) horas depois de ocorrido o fato.
§ 2o A empresa de segurança e de transporte de valores deverá
apresentar documentação comprobatória do preenchimento dos
requisitos constantes do art. 4o desta Lei quanto aos empregados
que portarão arma de fogo.
§ 3o A listagem dos empregados das empresas referidas neste
artigo deverá ser atualizada semestralmente junto ao Sinarm.

1.4.5 Uso da Arma em atividade desportivas – Art. 6º, § 8º

Art. 8o As armas de fogo utilizadas em entidades desportivas


legalmente constituídas devem obedecer às condições de uso e
de armazenagem estabelecidas pelo órgão competente,
respondendo o possuidor ou o autorizado a portar a arma pela
sua guarda na forma do regulamento desta Lei.

1.4.6 Competência para Autorização do Porte de Arma – Art. 10

O porte de arma de fogo será concedido pela Polícia Federal após autorização do
SINARM.

1.4.7 Porte Temporário


Podendo, entretanto, ser concedida temporariamente e com territorio limitado,
em hipóteses específicas, e dependerá:

I – demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de


atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade
física;
II – atender às exigências previstas no art. 4o desta Lei;
III – apresentar documentação de propriedade de arma de fogo,
bem como o seu devido registro no órgão competente.

ATENÇÃO!!! Nos termos do § 2º do artigo 10, a autorização de porte de arma de fogo


temporário, perderá automaticamente sua eficácia caso o portador dela seja detido ou
abordado em estado de embriaguez ou sob efeito de substâncias químicas ou
alucinógenas.

1.4.8 Avaliação Psicológica para o porte

A lei exige para o porte a avaliação psicológica, e nos termos do artigo 11-A,
estabelece a disciplina do exame.

Art. 11-A. O Ministério da Justiça disciplinará a forma e as


condições do credenciamento de profissionais pela Polícia
Federal para comprovação da aptidão psicológica e da
capacidade técnica para o manuseio de arma de fogo.
§ 1o Na comprovação da aptidão psicológica, o valor
cobrado pelo psicólogo não poderá exceder ao valor médio dos
honorários profissionais para realização de avaliação psicológica
constante do item 1.16 da tabela do Conselho Federal de
Psicologia.
§ 2o Na comprovação da capacidade técnica, o valor
cobrado pelo instrutor de armamento e tiro não poderá exceder
R$ 80,00 (oitenta reais), acrescido do custo da munição.
§ 3o A cobrança de valores superiores aos previstos nos §§
1o e 2o deste artigo implicará o descredenciamento do
profissional pela Polícia Federal.

1.5 DOS CRIMES EM ESPÉCIE

1.5.1 Análise geral


Os crimes definidos na Lei 10.826/03 possuem características comuns entre si,
tal como a vítima, que se trata da coletividade, o resultado que se trata de um crime de
perigo abstrato, crimes cometidos por dolo, e por se tratarem de crimes de mera conduta
se consumam com a simples ocorrências das condutas definidas em cada tipo penal.

1.5.2 A prova nos crimes de arma

Muito embora os crimes previstos no Estatudo sejam de mera conduta, a


comprovação de sua ocorrência exige que a arma seja eficiênte para o perigo que ela se
propõem, de modo que uma arma ineficiênte para o uso não será suficiente para que seu
portador seja enquadrado em quaisquer dos crime previstos na Lei 10.826/2003.

Não está caracterizado o crime de porte ilegal de arma de


fogo quando o instrumento apreendido sequer pode ser
enquadrado no conceito técnico de arma de fogo, por
estar quebrado e, de acordo com laudo pericial,
totalmente inapto para realizar disparos. De fato, tem-se
como típica a conduta de portar arma de fogo sem
autorização ou em desconformidade com determinação legal
ou regulamentar, por se tratar de delito de perigo abstrato,
cujo bem jurídico protegido é a incolumidade pública,
independentemente da existência de qualquer resultado
naturalístico. Nesse passo, a classificação do crime de porte
ilegal de arma de fogo como de perigo abstrato traz, em seu
arcabouço teórico, a presunção, pelo próprio tipo penal, da
probabilidade de vir a ocorrer algum dano pelo mau uso da
arma. Com isso, flagrado o agente portando um objeto eleito
como arma de fogo, temos um fato provado – o porte do
instrumento – e o nascimento de duas presunções, quais
sejam, de que o objeto é de fato arma de fogo, bem como tem
potencial lesivo. No entanto, verificado por perícia que o
estado atual do objeto apreendido não viabiliza sequer a
sua inclusão no conceito técnico de arma de fogo, pois
quebrado e, consequentemente, inapto para realização de
disparo, não há como caracterizar o fato como crime de
porte ilegal de arma de fogo. Nesse caso, tem-se,
indubitavelmente, o rompimento da ligação lógica entre o
fato provado e as mencionadas presunções. AgRg no AREsp
397.473-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
19/8/2014

1.5.3 POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO

Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de
uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de
sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o
titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa:

Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

ATENÇÃO!!! E se o agente tem o porte mediante o registro, mas este está


vencido? Segundo a jurisprudêcnia do Egrégio Superior Tribunal de Justiça a falta
de registro ou o registro vencido pode configurar o crime de posse ilegal.

DIREITO PENAL. TIPICIDADE DA CONDUTA DE


POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO
PERMITIDO COM REGISTRO VENCIDO.
A conduta do agente de possuir, no interior de sua
residência, armas de fogo e munições de uso permitido com
os respectivos registros vencidos pode configurar o crime
previsto no art. 12 do Lei 10.826/2003 (Estatuto do
Desarmamento). RHC 60.611-DF, Rel. Min. Rogério
Schietti Cruz, julgado em 15/9/2015, DJe 5/10/2015.

DIREITO PENAL. GUARDA DE ARMA DE FOGO DE


USO PERMITIDO COM REGISTRO VENCIDO.
Manter sob guarda, no interior de sua residência, arma de
fogo de uso permitido com registro vencido não configura o
crime do art. 12 da Lei 10.826/2003 (Estatuto do
Desarmamento). APn 686-AP, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 21/10/2015, DJe 29/10/2015

1.5.3 OMISSÃO DE CAUTELA

Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir


que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de
deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob
sua posse ou que seja de sua propriedade: Pena – detenção, de 1
(um) a 2 (dois) anos, e multa.

1.5.3.1 Conduta equiparada:

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o


proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e
transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência
policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou
outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou
munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte
quatro) horas depois de ocorrido o fato.

1.5.4 PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO

Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em


depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar,
remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo,
acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em
desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena –
reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Nesse delito o agente manuseia a arma inadequadamente e fora dos limites que
em tese seriam permitidos para a posse (residência, domicílio, local de trabalho).

ATENÇÃO 1 !!! Nos termos do Parágrafo Único do artigo 14 da Lei 10.826/03, este
delito é inafiâncável, no entanto, o STF já se posicionou na ADI 3112 que tal disposição
é desarrazoada, pois não se pode de dar o mesmo tratamento aos crimes de perigo
abstrato daqueles que é dado aos crimes de violência e lesão a própria vida.
ATENÇÃO 2 !!! Se a pessoa que tem a posse ou porte de arma de fogo, possui ou porta
arma de fogo sem o devido registro, incorrerá também nos crimes tipificados como
porte e posse.

POSSE E PORTE ILEGAL DE ARMAS DE FOGO E


MUNIÇÕES DE USO PERMITIDO. AUSÊNCIA DE
CERTIFICADO FEDERAL. DELEGADO DE POLÍCIA
CIVIL. IRRELEVÂNCIA. CONDUTA TÍPICA. É típica e
antijurídica a conduta de policial civil que, mesmo autorizado
a portar ou possuir arma de fogo, não observa as imposições
legais previstas no Estatuto do Desarmamento, que impõem
registro das armas no órgão competente. RHC 70.141-RJ, Rel.
Min. Rogério Schietti Cruz, por unanimidade, julgado em
7/2/2017, DJe 16/2/2017. Informativo STJ 597.

ATENÇÃO 3 !!! Já entendeu o STJ que o porte de arma de fogo pode ser provado por
qualquer meio, mas se de algum modo a ineficiência total da arma for comprovada,
deverá ser reconhecida a atipicidade da conduta.

1.5.5 DISPARO DE ARMA DE FOGO

Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar


habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção
a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a
prática de outro crime: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro)
anos, e multa.

Atenção!!! A restrição à fiança prevista no Parágrafo Único do 15 sofreu o mesmo


destino da prevista no artigo 14, ou seja, o STF entendeu que a restrição é demasiada
para o grau de dano oferecido pelo crime. (ADIN 3112-1)

A consumação do delito em questão depende de um dos dois luogares a seguir:


1. Que o disparo de arma seja em local habitado ou em suas adjacências;
2. Em via pública ou em direção dela.

1.5.6 PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO

Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em


depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar,
remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de
fogo, acessório ou munição de uso restrito, sem autorização e
em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena –
reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
1.5.6.1 Condutas assemelhadas:
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de
identificação de arma de fogo ou artefato;
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a
torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito
ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro
autoridade policial, perito ou juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou
incendiário, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar;
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de
fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de
identificação raspado, suprimido ou adulterado;
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma
de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou
adolescente; e
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou
adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.

1.5.7 Do Crime de Comércio Ilegal de Arma de Fogo

Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar,


ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender,
expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma
de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão, de 6
(seis) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº
13.964, de 2019)

ATENÇÃO!!! A ideia do delito é que a conduta seja praticada no exercício de atividade


comercial ou industrial, e para tanto, é necessário que o sujeito aja com habitualidade na
pratica do crime, mesmo que seja em uma ambiente completamente domestico.

§ 1º Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito


deste artigo, qualquer forma de prestação de serviços, fabricação
ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em
residência. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 2º Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de


fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo
com a determinação legal ou regulamentar, a agente policial
disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de
conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)
1.5.8 Crime de Tráfico Internacional de Arma de Fogo

Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do


território nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório
ou munição, sem autorização da autoridade competente: Pena -
reclusão, de 8 (oito) a 16 (dezesseis) anos, e multa. (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

Conduta equiparada:

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende ou entrega


arma de fogo, acessório ou munição, em operação de
importação, sem autorização da autoridade competente, a agente
policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios
razoáveis de conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)

1.6 Causa de aumentos de pena

Causa de aumento dos Crimes Comércio Ilegal de Arma de Fogo (Art. 17) e de Tráfico
Internacional de Arma de Fogo (Art. 18)

Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é


aumentada da metade se a arma de fogo, acessório ou munição
forem de uso proibido ou restrito.

Causa de Aumento dos crimes de Porte Ilegal de Arma (art. 14), Disparo de Arma de
fogo (art. 15), Porte ou posse ilegal de arma de uso restrito (art. 16), Crimes Comércio
Ilegal de Arma de Fogo (Art. 17) e de Tráfico Internacional de Arma de Fogo (Art. 18):

Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a
pena é aumentada da metade se: (Redação dada pela Lei nº
13.964, de 2019)
I - forem praticados por integrante dos órgãos e empresas
referidas nos arts. 6º, 7º e 8º desta Lei; ou (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)
II - o agente for reincidente específico em crimes dessa
natureza. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

1.7 Competência atribuída ao Exército Brasileiro – art. 24

Art. 24. Excetuadas as atribuições a que se refere o art. 2º desta


Lei, compete ao Comando do Exército autorizar e fiscalizar a
produção, exportação, importação, desembaraço alfandegário e
o comércio de armas de fogo e demais produtos controlados,
inclusive o registro e o porte de trânsito de arma de fogo de
colecionadores, atiradores e caçadores.

1.8 Destino da arma de fogo apreendida – Art. 25


Art. 25. As armas de fogo apreendidas, após a elaboração do
laudo pericial e sua juntada aos autos, quando não mais
interessarem à persecução penal serão encaminhadas pelo juiz
competente ao Comando do Exército, no prazo de até 48
(quarenta e oito) horas, para destruição ou doação aos órgãos de
segurança pública ou às Forças Armadas, na forma do
regulamento desta Lei.

1.8.1 Da Doação – § 1º Art. 25

§ 1º-A. As armas de fogo e munições apreendidas em


decorrência do tráfico de drogas de abuso, ou de qualquer forma
utilizadas em atividades ilícitas de produção ou comercialização
de drogas abusivas, ou, ainda, que tenham sido adquiridas com
recursos provenientes do tráfico de drogas de abuso, perdidas
em favor da União e encaminhadas para o Comando do
Exército, devem ser, após perícia ou vistoria que atestem seu
bom estado, destinadas com prioridade para os órgãos de
segurança pública e do sistema penitenciário da unidade da
federação responsável pela apreensão.

1.9 Proibição da Arma de Brinquedo – Art. 26

Art. 26. São vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e


a importação de brinquedos, réplicas e simulacros de armas de
fogo, que com estas se possam confundir.
Parágrafo único. Excetuam-se da proibição as réplicas e os
simulacros destinados à instrução, ao adestramento, ou à coleção
de usuário autorizado, nas condições fixadas pelo Comando do
Exército.

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