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Fundações e

Obras de Terra
PROFESSORA
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos

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NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


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FICHA CATALOGRÁFICA

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.


Núcleo de Educação a Distância. SANTOS, Aline Cristina Souza dos.

Fundações e Obras de Terra. Aline Cristina Souza dos Santos.


Maringá - PR.: Unicesumar, 2021.

376 p.
978-65-5615-594-4
“Graduação - EaD”.

1. Fundações 2. Obras 3. Terra. EaD. I. Título.

CDD - 22 ed. 624.15

Impresso por:

Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar
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A UniCesumar celebra os seus 30 anos de
história avançando a cada dia. Agora, enquanto
Universidade, ampliamos a nossa autonomia Tudo isso para honrarmos a
e trabalhamos diariamente para que nossa nossa missão, que é promover
educação à distância continue como uma das a educação de qualidade nas
melhores do Brasil. Atuamos sobre quatro diferentes áreas do conhecimento,
pilares que consolidam a visão abrangente do formando profissionais
que é o conhecimento para nós: o intelectual, o cidadãos que contribuam para o
profissional, o emocional e o espiritual. desenvolvimento de uma sociedade
justa e solidária.
A nossa missão é a de “Promover a educação de
qualidade nas diferentes áreas do conhecimento,
formando profissionais cidadãos que contribuam
para o desenvolvimento de uma sociedade
justa e solidária”. Neste sentido, a UniCesumar
tem um gênio importante para o cumprimento
integral desta missão: o coletivo. São os nossos
professores e equipe que produzem a cada dia
uma inovação, uma transformação na forma
de pensar e de aprender. É assim que fazemos
juntos um novo conhecimento diariamente.

São mais de 800 títulos de livros didáticos


como este produzidos anualmente, com a
distribuição de mais de 2 milhões de exemplares
gratuitamente para nossos acadêmicos. Estamos
presentes em mais de 700 polos EAD e cinco
campi: Maringá, Curitiba, Londrina, Ponta Grossa
e Corumbá), o que nos posiciona entre os 10
maiores grupos educacionais do país.

Aprendemos e escrevemos juntos esta belíssima


história da jornada do conhecimento. Mário
Quintana diz que “Livros não mudam o mundo,
quem muda o mundo são as pessoas. Os
livros só mudam as pessoas”. Seja bem-vindo à
oportunidade de fazer a sua mudança!

Reitor
Wilson de Matos Silva
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos

Olá aluno (a), eu sou a filha mais velha das melhores pessoas
que você pode conhecer no norte do Mato Grosso. Nasci, cresci
e me desenvolvi com a mesma multiplicidade que minha queri-
da cidade, Sinop. Temos quase a mesma idade, acredita? Hoje
possuímos tanta história e conhecimento que não dá nem para
começar a enumerar, mas adoraria poder bater um papo con-
tigo para ensinar o que sei. Esta é minha maior paixão: ensinar.
Comecei bem cedo explicando ao meu irmãozinho tudo sobre
história dos deuses gregos e animes da televisão.
Eu adoro ler, escutar música dançando, ouvir podcast en-
quanto faço faxina, ver arte nas férias e almoçar com minha
mãe toda quarta-feira. Quando terminei o 3º Ano eu só pensava
em duas coisas para meu futuro: ser decoradora de interiores
e terminar de escrever minhas fanfics. Depois de muitos anos
e estudos eu finalmente acabei de decorar minha casa. Está
muito lindo, diga-se de passagem! ;) E quanto às fanfics, eu ter-
minei a maioria delas, outras ficaram sem fim porque é difícil
Aqui você pode conciliar a faculdade e essa carreira de escritora. Mas agora
conhecer um estou de volta ao caminho das palavras com minha pesquisa
pouco mais sobre
em literatura na pós-graduação e escrita de novo capítulo da
mim, além das
informações do minha vida. Estou empolgada!
meu currículo. Essa é minha história resumida, em algum ponto pelo caminho
eu me formei em Engenharia Civil, fiz pós-graduação para ensi-
nar em nível superior, formei centenas de alunos nos cursos de
graduação e técnico da minha região. Mas esta é apenas uma
nota de rodapé no grande livro da minha vida cujo título é meu
nome: Aline Cristina.
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Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Posicionando seu leitor de QRCode
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PENSANDO JUNTOS

Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e transformar. Aproveite


este momento.

EXPLORANDO IDEIAS

Com este elemento, você terá a oportunidade de explorar termos e palavras-chave do


assunto discutido, de forma mais objetiva.

EU INDICO

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FUNDAÇÕES E OBRAS DE TERRA

Garantir que uma edificação ou obra fique “de pé” ao longo de toda sua vida de uso é parte do
trabalho da Engenharia Civil. Quando se planeja a estrutura de uma obra, seja ela uma casa ou
prédio, uma das questões fundamentais a se determinar na etapa de projeto é a exata resistência
para que fique estável. Porém, a Engenharia se relaciona com a Natureza, um campo enorme
de incertezas que não faz parte das Ciências Exatas de criação humana. A Engenharia é uma
Ciência Exata? Se os cálculos realizados por pessoas engenheiras são detalhados e precisos,
seus resultados serão exatos?
Na maioria das obras, podemos identificar duas partes que compõem a estrutura: a superes-
trutura e a infraestrutura. A primeira, na parte de cima, consiste nos elementos acima do solo,
aqueles que conseguimos ver como as vigas, pilares, lajes e etc. Já a segunda, na parte de baixo,
são os elementos que nós não vemos, as fundações ou alicerces que encontram-se enterrados e
apoiados sobre o solo. Ambos frutos de fabricação humana, com materiais como o concreto ou aço
que possuem matéria-prima extraída da natureza e intensamente modificada para que atenda às
resistências estabelecidas pelos projetos de engenharia.
Podemos chamá-las, as estruturas projetadas, de triunfo das Ciências Exatas, não é? Foi aberto
um espaço na Natureza, extraído os melhores materiais, moldados para que componham as es-
truturas e construído algo inteiramente pelas mãos humanas, utilizando todos os conhecimentos
desenvolvidos nas Ciências Exatas.
Portanto agora você, estudante, pode perguntar com toda a certeza da resposta positiva: A En-
genharia é sim uma Ciência Exata, não é mesmo?
Eu te responderei com toda certeza: Não. Que resposta decepcionante, e também desesperadora!
Você vai tentar perguntar de uma forma mais clara, porque supõe que eu não entendi direito já
que não concordei contigo em algo tão simples e lógico: Engenharia não é uma Ciência Exata?
Vou te responder de uma forma mais clara, porque suponho que você não entendeu direito
quando eu não concordei contigo em algo que não é simples, porém é bastante lógico: Engenharia
não é uma Ciência Exata.
Tem que ser! Está tudo aí, construído e estável e os grandes monumentos da humanidade tem centenas
de anos. Essas coisas não estão de pé por “sorte”, estão de pé porque existem modelos físicos comple-
xos e matemática sofisticada nas Ciências Exatas que permitem projetar com extrema segurança, e a
Engenharia é uma delas! Como pode afirmar que a Engenharia não é uma Ciência Exata diante disso?!
A Engenharia Civil tem uma relação com a Natureza que vai muito além de uma simples
extração de matéria-prima, principalmente na área das estruturas que serão apoiadas (como
todas são) sobre o solo natural. Os modelos empregados nos projetos e os cálculos realizados
são precisos, porém todos os dados utilizados para eles advém das variáveis presentes na
Natureza. A pessoa engenheira será treinada para analisar tais variáveis, estimar os riscos, e,
com a competência dada pela atribuição profissional, utilizar a habilidade de decidir sobre um
projeto com dados inexatos.
Quando os dados não são exatos, mas a modelagem física e os cálculos são, temos uma área
profissional que estima riscos e toma decisões: a pessoa engenheira. O fato de que a Engenharia
está posta dentro da categoria de Ciências Exatas nas listas de cursos das instituições de ensino
superior é decisão puramente organizacional, colocando junto as áreas de conhecimento que são
bastante ligadas a números e cálculos. Nós que estamos dentro da formação acadêmica não po-
demos simplificar a abrangência da Engenharia dessa forma, é muito mais interessante que isso.
Esta disciplina do curso de Engenharia Civil coloca junto duas áreas de conhecimento que tem
como ligação principal a relação com o material solo. Nas Fundações temos o solo como apoio
para as estruturas, já nas Obras de Terra ele também será o material que irá compor as estruturas.
No Ciclo de Aprendizagem 1 iremos conhecer o que são as Fundações em si. Será um capítulo
introdutório para conhecer estas estruturas, suas funções, classificações, projetos e também nor-
mativas técnicas que orientam as escolhas das pessoas engenheiras.
No Ciclo de Aprendizagem 2 o foco está nas Investigações Geotécnicas, ou seja, será o momen-
to de aprofundar nos métodos utilizados pela área de Fundações para levantar os parâmetros e
variáveis do solo no qual as estruturas irão se apoiar. Iremos conhecer a forma de programar as
atividades de investigações geotécnicas para os projetos de Fundações, as metodologias dos prin-
cipais ensaios utilizados nos dimensionamentos, as normas técnicas que regem sua realização e a
interpretação de seus resultados.
No Ciclo de Aprendizagem 3 e 4 daremos foco à classe de Fundações Diretas Rasas, geralmente
referidas como os Blocos de Fundação, as Sapatas e os Radiers. Conheceremos suas características
geométricas, as formas de distribuição dos esforços da estrutura no solo de apoio, os métodos para
estimar sua capacidade de carga, os cálculos necessário para definição dos parâmetros de projeto
e dimensionamento.
No Ciclo de Aprendizagem 5 e 6 daremos foco à classe de Fundações Indiretas Profundas, as
Estacas. Conheceremos seus tipos, classificações, métodos de execução, geometria e distribuição
indireta dos esforços no solo, os métodos para estimar sua resistência interna e capacidade de carga
do conjunto estaca-solo, os parâmetros básicos de dimensionamento de fundações em Estacas e
parâmetros de projeto.
No Ciclo de Aprendizagem 7 será a vez das Fundações Diretas Profunda, os Tubulões. Enten-
deremos qual a função deste tipo de categoria mista de fundação, como realizam a distribuição
dos esforços das grandes estruturas às quais servem de apoio, Conheceremos suas características
geométricas, as formas de distribuição dos esforços da estrutura no solo de apoio, os métodos para
estimar sua capacidade de carga, os cálculos necessário para definição dos parâmetros de projeto
e dimensionamento.
No Ciclo de Aprendizagem 8 e 9 daremos foco às Obras de Terra. Iremos conhecer o que são
estas estruturas por meio das principais estruturas deste tipo: Taludes e Encostas; Contenções;
e Barragens. Serão capítulos voltados para entender quais são as finalidades destas obras, suas
classificações, quais são os elementos que oferecem riscos durante sua vida útil, de que forma
podemos estimar e garantir sua estabilidade, além de explorar os cálculos básicos que definem os
principais parâmetros de projeto para estas obras.
Você, enquanto pessoa Engenheira Civil, responsável por um projeto de estrutura, muitas vezes
vai ter que lidar com escolhas: Qual tipo de Fundação utilizar para minha construção? Eu garanto es-
tabilidade em maciços terrosos utilizando qual tipo de Obra de Terra? Qual material é mais resistente
e econômico para ser utilizado? Como deve ser a construção para ter um bom apoio sobre o solo?
Esta escolha precisa levar em conta o que é mais seguro, o que é mais confiável para garantir
que sua obra fique de pé, estável. Nesta disciplina de Fundações e Obras de Terra você vai conse-
guir identificar quais são os critérios necessários para garantir isso, norteando suas decisões no
momento de projetar novas obras e também lidar com as incertezas da Natureza relacionadas ao
apoio das edificações sobre o solo.
CAMINHOS DE
APRENDIZAGEM

1
11 2
43
INTRODUÇÃO ÀS INVESTIGAÇÕES
FUNDAÇÕES GEOTÉCNICAS

3
83 4
113
FUNDAÇÕES DIRE- FUNDAÇÕES
TAS RASAS I DIRETAS RASAS II

5 147 6
193
FUNDAÇÕES FUNDAÇÕES INDI-
INDIRETAS RETAS PROFUNDAS
PROFUNDAS I II
7
233
8
273
FUNDAÇÕES DIRE- OBRAS DE TERRA I
TAS PROFUNDAS

9
307
OBRAS DE TERRA II
1
Introdução às
Fundações
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos.

Nesta unidade, você será capaz de compreender os desafios conti-


dos na área de Engenharia de Fundações, compreendendo a função
deste elemento dentro da estrutura e de que forma a variabilidade
do solo afeta a prática das construções. Além disso, você, tam-
bém, explorará os fatores que influenciam a decisão acerca do tipo
de fundação adequado a cada edificação, as informações básicas
necessárias para elaborar o projeto e as condições de qualidade,
levando em conta, além dos aspectos de segurança da edificação
e de resistência do solo, a economia da obra.
UNICESUMAR

Você já parou para pensar em como a estrutura de obras incríveis, que, muitas vezes, desafiam as leis
da natureza, se mantém em pé? Se lhe fosse dado o trabalho de projetar a estrutura de um edifício de
dois pisos, com 2.100 m² cada, suspensos do chão, numa altura de 8 m e cujo único apoio no solo seja
por meio de quatro pilares, por onde você começaria?
O engenheiro José Carlos Figueiredo Ferraz aceitou este desafio e obteve sucesso ao projetar e
dimensionar, de forma adequada, as estruturas de um dos marcos da Engenharia e da Arquitetura
brasileiras, o Museu de Arte de São Paulo (MASP), inaugurado na Avenida Paulista, em 1968. A forma
inovadora proposta pela arquiteta Lina Bo Bardi para o Edifício MASP é, ainda hoje, uma das referên-
cias em design artístico, porque eleva o nível das técnicas construtivas da época, provocando, mesmo
nos dias atuais, a admiração dos visitantes quando se encontram sob o vão livre.

Figura 1 - Vista do Edifício MASP, em São Paulo / Fonte: Cárdenas (2015, p. 76-77).

Descrição da Imagem: a fotografia mostra a vista aérea da Avenida Paulista, com vários veículos transitando nas pistas
e pedestres nas calçadas ao lado, mostrando o local onde se localiza o edifício do Museu de Arte de São Paulo, também
conhecido como MASP, com destaque para as colunas e vigas de sustentação do edifício, na cor vermelha, as quais fazem
o prédio estar suspenso do chão, criando um vão para a passagem e permanência de pessoas.

O Edifício MASP possui um vão livre de 74 m e largura de 30 m, sendo que, na frente e nos fundos, há
um balanço de 5 m em relação aos pilares, o qual mantém os dois pisos da edificação suspensos a 8 m do
nível da rua. Uma configuração assim só foi possível devido à intensa produção por parte da Engenharia,

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UNIDADE 1

que, na época, contava com diversos avanços no âmbito nacional. A solução estrutural para o desenho
proposto por Bo Bardi, desenvolvida por Figueiredo Ferraz, permitiu a exploração da técnica do concreto
armado de alta resistência aliado à técnica de protensão (método de tração dos cabos de aço dentro da
armadura, antes da cura do concreto), consolidando o MASP como uma obra de destaque do Brasil.
A estrutura do museu faz parte da identidade visual do edifício, constituída por dois pórticos
isostáticos com dois pilares e uma viga em cada um deles, sendo as lajes engastadas e suportadas por
esses pórticos. Os seus pilares possuem trechos maciços e vazados de concreto armado, com uma seção
transversal de medidas externas de 4,0 x 2,5 m que terminam abaixo do nível do solo, numa base de
forma achatada, a qual lembra um sapato.
A fundação é a parte da estrutura responsável por transferir o peso da construção para o solo.
Ela se localiza na porção inferior da obra, na maioria das vezes, enterrada, por isso, também recebe o nome
de infraestrutura (a parte da estrutura que fica acima do nível do terreno é a superestrutura). Existem
muitos tipos e formatos diferentes de fundação e cada uma delas tem um jeito distinto de dar estabilidade
à construção. No caso do Edifício MASP, o jeito foi utilizar a sapata: esta transfere o peso da superestrutura
ao solo, por meio de pressão da sua base, que mede 10 x 12,5 m e cuja altura variável é de até 4 m.
A Engenharia de Fundações não é uma das áreas mais simples de lidar, justamente, porque depara-se
com riscos muito elevados ao tentar conciliar o binômio “conhecido x desconhecido”, representado
pelas duas partes dessa área: a infraestrutura e o terreno no qual ela
se apoia. Ou seja, o elemento estrutural fundação (como a sapata
de concreto armado construída na base do MASP), feito de um
material conhecido pelo(a) projetista, estará apoiado ou inserido REALIDADE
dentro do maciço terroso ou rochoso (o solo do terreno), que é AUMENTADA
um material desconhecido. Por isso, mestres da Engenharia, como
Vera Fernandes Hachich e Claudio Michael Wolle (2019) afirmam
que uma boa investigação do terreno onde a obra será construída
é o primeiro passo para a qualidade de um projeto de fundações,
seguido pela boa análise destas informações e, assim, determinar as
soluções (ou tipo de fundações) mais adequadas ao caso.
Na primeira unidade da disciplina de Tecnologias de Construção
(LUCENA; GARCIA, 2020), você conheceu, mais de perto, o caso
dos edifícios inclinados de Santos-SP, onde fundações de várias
construções não estavam funcionando bem devido à má decisão
dos projetistas. Os problemas causados pela má interação da in-
fraestrutura com o solo só se tornaram visíveis alguns anos depois
Edifício MASP com suas
da entrega da obra e, ainda hoje, os edifícios recebem serviços de fundações em sapatas
manutenção para evitar o tombamento.
Mas como não errar na escolha da fundação, na hora de pro-
jetá-la? Existem três fatores principais que influenciam a escolha
da fundação pelo(a) projetista: o tipo de solo, principalmente,

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UNICESUMAR

em relação à resistência que ele possui e como se deforma quando recebe esforços
(como o peso de uma edificação); as cargas provenientes da superestrutura, que
dependem da forma da estrutura definida pelo(a) projetista, durante o dimensio-
namento; os valores máximos de recalques (rebaixamento), deslocamentos e
distorções que a edificação pode sofrer na sua vida útil. Não existem ideias prontas
de fundações para cada tipo de edificação (casa, prédio, galpão, ponte etc.). Cada
caso deve ser analisado, individualmente, por um(a) engenheiro(a), pois o elemento
desconhecido (o solo) é bastante variável e precisa se tornar conhecido.
Para conhecer o solo de um terreno, começamos levantando informações
em fontes de pesquisas confiáveis do ponto de vista técnico. As primeiras
delas são as pesquisas realizadas no local, por instituições, por exemplo, as uni-
versidades com cursos ligados à Engenharia e, também, empresas que lidam
com o solo (sondagens, mineração ou comercialização de terra). Num segundo
momento, conversamos com profissionais de Engenharia Civil e projetistas
que atuam ou atuaram na região, em obras de pequeno e grande porte, reali-
zando uma consultoria, ou, até mesmo, uma entrevista informal sobre quais os
tipos de fundações empregados nessas obras e como foi o processo de execução
(quais dificuldades encontraram na construção).
O trabalho de fazer um levantamento teórico do conhecimento acumulado pela
academia (artigos científicos, trabalhos de conclusão de curso, dissertações de mes-
trado e teses de doutorado na área de Engenharia ou Geotecnia) e, também, pelos
profissionais (de Engenharia, de projetos, comércio ou prestação de serviços ligados
à construção civil) a respeito do solo local, sem realizar nenhum ensaio técnico, pode
ser chamado de Reconhecimento Inicial de Solo.
Vamos lá! Utilizando o seu conhecimento prévio, a leitura de fontes confiáveis de
informações técnicas (artigos, trabalhos e pesquisas locais) e conversas com profis-
sionais da área de construção civil (engenheiros, mestre de obras, professores etc.),
faça um Reconhecimento Inicial do Solo de onde você mora. Levante as informações
pertinentes sobre como é o solo na sua cidade e quais os tipos de fundações que já
foram executadas nas obras locais.
Por exemplo, a cidade de Sinop (Figura 2), localizada no norte do estado de Mato
Grosso, já teve o seu solo investigado por instituições de pesquisa (universidades e
institutos), e os resultados destas análises podem ser encontrados em diversos artigos
científicos e trabalhos de conclusão de curso de Engenharia Civil, publicados online
ou nos sites das instituições, permitindo conhecer algumas características desse solo.
Nas palavras de Wagner Ferreira e Júlio Benatti (2017, p.1), “o perfil de solo no mu-
nicípio de Sinop-MT apresenta características que limitam a utilização de fundações
rasas, como a baixa capacidade de suporte e o lençol freático pouco profundo”.

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UNIDADE 1

Figura 2 - Vista da região central de Sinop-MT / Fonte: Andrade (2017 apud ROMANINI, 2019, p. 43).

Descrição da Imagem: a fotografia mostra uma vista aérea da cidade de Sinop-MT, com a principal avenida ao centro, a
qual apresenta veículos em trânsito e as quadras com as edificações da cidade. Ao fundo, é possível ver a linha do horizonte
arqueada devido ao foco da lente da câmera que fez o registro, separando os limites da cidade e o céu cinza-azulado com
muitas nuvens brancas.

O pesquisador Augusto Romanini (2019) detalha que o perfil de solo típico de Sinop é composto por
uma camada de silte argiloso amarelo ou variegado (de coloração indefinida) com espessura de 10 a
16 m e consistência que varia de muito mole a mole. Dependendo da região da cidade, esta primeira
camada é seguida por uma outra, composta de silte arenoso concrecionado (também chamado de
cascalho laterítico), de consistência compacta a muito compacta e profundidade variando de 12 a
16 m. Abaixo dessa camada de cascalho, ou, quando ela é inexistente, podem ocorrer duas situações,
dependendo do local do terreno analisado: i) camada de silte arenoso de consistência mole à média;
ii) camada de areia siltosa que vai de fofa a, medianamente, compacta. Ambas as situações ocorrem
entre 14 e 30 m de profundidade, e o solo apresenta cor amarela a variegada nos metros iniciais, ter-
minando em amarelo avermelhado, ou, somente, avermelhado. A partir dos 30 m de profundidade,
encontra-se uma camada de resistência superior a qual poucas pesquisas registram a sua composição,
pois a maioria das sondagens realizadas para reconhecimento do solo terminam nessa profundidade.
O lençol freático é bastante próximo da superfície dos terrenos, com valor médio de profundidade
próximo de 4 m, na época de estiagem, e 0,8 m em período chuvosos (ROMANINI, 2019). Pesquisas

15
UNICESUMAR

realizadas apontam que este comportamento da água corresponde ao relevo plano do município, o
qual se encontra inserido em bacia sedimentar.

Figura 3 - Exemplo de perfil do solo de Sinop-MT / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a imagem, desenhada e colorida, exibe dois retângulos verticais, lado a lado, que exibem faixas co-
loridas na horizontal, demonstrando a sequência de camadas de solo presentes no perfil típico de solo da cidade de Sinop.
No retângulo à esquerda, é apresentada a situação um: a sequência de faixa horizontal branca mostra a superfície do solo;
a faixa horizontal, na cor amarela alaranjada, mostra o silte argiloso, que vai do muito mole ao mole amarelo ou variegado;
a faixa horizontal, na cor cinza-clara, mostra o silte arenoso concrecionado, que vai de compacto a muito compacto. A faixa
horizontal, na cor vermelha alaranjada, apresenta o silte arenoso, que vai de mole a média; de amarela a variegada inicial, a
amarela avermelhada ou avermelhada final. Em seguida, há uma faixa horizontal, na cor cinza-escura, mostrando a camada
desconhecida com resistência superior. No retângulo à direita, é apresentada a situação dois: a sequência de faixa horizontal
branca mostra a superfície do solo; a faixa horizontal, na cor amarela alaranjada, mostra o silte argiloso, que vai de muito
mole a mole amarelo ou variegado; a faixa horizontal, na cor cinza-clara, apresenta o silte arenoso concrecionado, o qual
vai do compacto ao muito compacto; a faixa horizontal, na cor vermelha alaranjada, mostra a areia siltosa, que vai de fofa
a, medianamente, compacta e, também, da cor amarela à variegada inicial, à amarela avermelhada ou avermelhada final.
Em seguida, há uma faixa horizontal, na cor cinza-escura, mostrando a camada desconhecida com resistência superior.

Profissionais de Engenharia Civil relatam que a maioria das construções do município de Sinop utili-
zam fundações do tipo sapata ou radier apoiadas nas camadas superficiais do solo — evitando atingir
o nível do lençol freático da cidade — ou executadas sobre camada de aterro reforçado. A cidade,
também, possui edificações de grande porte que se apoiam, mais profundamente, sendo um exemplo
o Edifício Residencial Ilhas Gregas, de 20 andares, localizado na região central de Sinop, cuja fundação
é do tipo estacas de concreto.

16
UNIDADE 1

Edifícios com menos andares,


porém de grande porte, também
tiveram a execução de fundações
em estacas cravadas (metálicas
ou pré-moldadas de concreto)
ou escavadas (de concreto, mol-
dadas in loco). Desse modo, “as
fundações profundas são mais
adequadas em grandes estrutu-
ras em Sinop-MT” (ZIMMER;
ROMANINI, 2019, p. 2).
Até aqui, vimos que a deter-
minação do tipo de fundação
que será projetada para uma
obra está, diretamente, relacio-
nada com as características do
solo e, também, o porte e o tipo
da estrutura. Dentro do papel
do(a) projetista responsável pela
implantação de uma edificação
igual ao Edifício MASP (com
as mesmas dimensões e estru-
tura), em um terreno localizado
no centro de sua cidade, quais
tipos de fundações você reco-
mendaria que fossem utilizadas
para a base dos quatro pilares?
Você considera que a fundação
proposta por Figueiredo Ferraz
(apud CÁRDENAS, 2015, p. 85),
de “grandes sapatas em forma de
pé de pato, enterradas no piso [...]
em dimensão de 10 m × 12,5 m e
Figura 4 - Edifício Ilhas Gregas, no município de Sinop-MT
altura variável até quatro metros” Fonte: Imobiliária... ([2021], on-line).
pode ser aplicada à construção
dessa obra, em sua cidade? Descrição da Imagem: a fotografia mostra um edifício branco, estreito, de
vários andares, com apartamentos residenciais e as suas respectivas varandas.
Registre as suas primeiras O prédio está na esquina, entre uma avenida que contém árvores médias em
seu canteiro central, e uma rua na qual variados veículos estão estacionados
análises para esta situação, no no acostamento das pistas.
Diário de Bordo, detalhando

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UNICESUMAR

como seria a sua proposta de fundação ao Edifício MASP que seria construído em sua cidade, e os mo-
tivos que lhe levaram a esta indicação. Use, como guia para esta investigação, as informações apresentadas,
nos parágrafos anteriores, sobre o município de Sinop. Pense em como informar a um(a) leitor(a) que
não conhece a sua cidade as características do solo, das edificações e das fundações de onde você mora.

Até aqui, você deve ter entendido que projetar a fundação de uma edificação não envolve, apenas,
dimensionar o elemento estrutural abaixo da construção, mas também conhecer a estrutura do solo.
Desse modo, a fundação é “um sistema formado pelo terreno (maciço de solo) e pelo elemento es-
trutural de fundação e que transmite a carga ao terreno pela base ou fuste, ou combinação das duas”
(ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020, p. 3). A Figura 5 ilustra esta associação entre os elementos que
compõem a fundação.

18
UNIDADE 1

Figura 5 - Composição de uma fundação / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a imagem apresenta, no canto superior esquerdo, um retângulo horizontal, estreito, de cores cinza-clara
e escura misturadas, e a palavra “infraestrutura”, em preto, no centro. Embaixo do retângulo, há o sinal de positivo, na cor preta,
indicando soma. Embaixo desse sinal, no canto inferior esquerdo, há um losango na horizontal, alongado, de cor marrom clara e
escura misturadas, com o termo “maciço de solo”, em preto, no centro. No meio da imagem, vê-se uma flecha, na cor preta, direcio-
nando os elementos que foram somados, do lado esquerdo, a um grande elemento único, à direita, o qual apresenta forma hexa-
gonal alongada na horizontal e cor indefinida que mistura tons de cinza e marrom, com a palavra “fundação”, em preto, no centro.

Para compreender com o que a Engenharia de Fundações lida, é preciso entender que a função deste
elemento, na construção, é oferecer estabilidade e segurança, ou seja, não pode causar ruptura ou
deformações inaceitáveis do ponto de vista técnico. Mas vem uma dúvida: existem deformações
aceitáveis? E a resposta é “sim, claro! ”.
Toda estrutura é projetada para que as deformações que acontecerão (sim, elas vão e precisam
acontecer) estejam dentro de certos limites aceitáveis, os quais, na linguagem da Engenharia de Es-
truturas, chamamos de Estados-Limites. Se você chegou, aqui, com a disciplina de Teoria das Estru-
turas — prevista para o curso de Engenharia Civil — realizada, já deve ter ouvido falar dos dois tipos
de limites a serem atendidos num dimensionamento de projeto: Estados-Limites Últimos (ELU) e
Estados-Limites de Serviço (ELS). Eles, também, devem ser verificados no dimensionamento das
fundações e os seus valores e métodos de verificação estão previstos na norma técnica base desta área
da Engenharia, a NBR 6122: Projeto e Execução de Fundações (ABNT, 2019). O capítulo 6 dessa
norma (“Segurança nas Fundações”) trata de todas as situações de projeto que devem ser verificadas
sobre o ELU e o ELS necessárias para garantir a segurança nos principais tipos de fundações.

“Então, é só seguir o passo a passo da norma NBR 6122, não é? Fundações não são difíceis”.
Eu gostaria de dizer que é isso mesmo, porém, na Engenharia de Fundações, o “buraco é bem
mais embaixo”, literalmente! Por que você acha que existe dificuldade em projetar fundações?
Por que elas precisam de uma normativa só delas, a qual não está inclusa dentro das normas
clássicas de estruturas, como a de concreto armado ou de madeira?

19
UNICESUMAR

Na Engenharia de Fundações, lidamos com o elemento artificial moldado pelo ser humano (infraes-
trutura) combinado ao elemento natural moldado pelo planeta (maciço de solo). Espero que você
não tenha esquecido do maciço de solo, não é? Porque a Norma Técnica de Fundações não esqueceu
e menciona, logo no começo de seu capítulo sobre segurança: “Deve ser considerada a sensibilidade
da estrutura às deformações das fundações. Estruturas sensíveis a recalques devem ser analisadas
considerando-se a interação solo-estrutura” (ABNT, 2019, p. 15). Ou seja, o solo também se deformará
junto com a infraestrutura, então, é necessário prever a deformação dele.
É aqui que entram os conhecimentos de Geotecnia aprendidos nas disciplinas de Geologia de Engenha-
ria, Mecânica dos Solos e Mecânica das Rochas. Você já teve contato com algumas delas em sua graduação,
não é? Se saiu bem aprendendo os assuntos? Espero que sim, porque precisaremos de alguns conceitos
para projetar as fundações. Então, é melhor incluir, no seu material de estudo, o livro da disciplina de Me-
cânica dos Solos, pois ele será uma constante fonte de consulta para relembrar e esclarecer certos conceitos
relacionados à previsão de comportamento dos solos. Afinal de contas, não se espera que você, estudante,
tenha decorado todo o conteúdo, então, não é ruim fazer consultas. Na verdade, é preciso se acostumar a
realizá-las, pelo fato de estarmos trabalhando com duas áreas diferentes: Cálculo Estrutural e Geotecnia.

Figura 6 - Composição da Engenharia de Fundações / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a imagem é uma ilustração que mostra, no canto superior esquerdo, um retângulo horizontal, estreito,
de cor cinza clara e escura misturadas, com o termo “cálculo estrutural” em preto, no centro. Embaixo do retângulo, está o sinal
de positivo, na cor preta, indicando soma. Embaixo, no canto inferior esquerdo, vê-se um losango na horizontal, alongado, de cor
marrom clara e escura misturadas, com a palavra “geotecnia”, em preto, no centro. No meio da imagem, há uma flecha, na cor
preta, direcionando os elementos somados, à esquerda, a um grande elemento único, à direita, de forma hexagonal, na horizontal,
alongada e de cor indefinida, que mistura tons de cinza e marrom, com o termo “Engenharia de Fundações”, em preto, no centro.

Entendido que o projeto de uma fundação lida com os conhecimentos de Cálculo Estrutural
e Geotecnia, o que o(a) projetista precisa ter, em mãos, para começar a elaborar um projeto
de fundações? Você já parou para pensar quais projetos da edificação devem ser desenvol-
vidos, antes de iniciar a elaboração das fundações? E quais só podem ser feitos depois de as
fundações estarem projetadas?

20
UNIDADE 1

Para iniciar um projeto de fundações, alguns documentos técnicos são indispensáveis:


• Levantamento planialtimétrico: deve conter as cotas e os pontos de interesse internos e,
também, dos terrenos vizinhos e lindeiros da edificação da obra a ser construída. Devem estar
inclusos afastamentos, distâncias e cotas de muros, divisas, solos, edificações já construídas,
árvores, córregos ou nascentes e, eventualmente, redes (elétrica, hidráulica, esgoto etc.), galerias
e túneis. O ponto referencial deste levantamento deve ser o mesmo que foi utilizado no projeto
de arquitetura e, também, nos Ensaios Geotécnicos (quando realizados, previamente).
• Projeto de arquitetura: deve conter todas as plantas de todos os níveis (pisos) e cortes nos
pontos de mais relevância que mostre as transições de alturas e posicionamento dos elementos
de construção. Quando houver, deve-se detalhar, muito bem, a posição bem como a profundi-
dade de poços de elevadores e reservatórios enterrados.
• Ensaios geotécnicos: devem ser realizados de acordo com a característica da edificação a ser
construída e as particularidades do terreno. A norma técnica NBR 8036: Programação de
Sondagens de Simples Reconhecimento dos Solos para Fundações de Edifícios fornece
os critérios básicos para definir se uma edificação necessita, ou não, de sondagens de solo, a sua
programação, número, localização e profundidade. A exploração do solo não deve se limitar a
sondagens de simples reconhecimento, pode-se complementar os estudos com outros procedi-
mentos de investigação. Nestes ensaios, é indispensável el a correta verificação do tipo do solo, da
espessura das camadas que o compõem e das suas respectivas resistências, da posição do nível do
lençol freático (água no solo) e outros parâmetros imprescindíveis para o projeto de fundações.
As quantidade, qualidade e profundidade dos ensaios e das investigações estarão, inteiramente,
ligadas ao dimensionamento do elemento de fundação, sendo, muitas vezes, realizados Ensaios
Geotécnicos Preliminares e, após algumas etapas de desenvolvimento do projeto solicitado, os
Ensaios Geotécnicos Complementares. Ensaios geotécnicos nunca são “demais” e vale a pena
investir neles, ao longo de todo desenvolvimento do projeto de fundações.
• Locação de pilares e cargas na fundação: deverão ser fornecidos pelo(a) projetista estrutural
com plantas, desenhos, cortes e esquemas que detalham as cargas/forças as quais a estrutura
estará sujeita bem como as formas dos níveis (pisos) do térreo e do solo. Muitas vezes, o(a)
mesmo(a) profissional que projeta a superestrutura também projeta a infraestrutura, o que
facilita a obtenção dessas informações.
• Levantamento sobre construções vizinhas: podem ser realizados na etapa de concepção
da arquitetura ou de topografia (planialtimétrico), ou, ainda, nas investigações geotécnicas.
Geralmente, este levantamento é realizado por um(a) profissional da área de Construção Ci-
vil (técnico(a) em edificações ou engenheiro(a) civil), resultando num relatório técnico com
informações das edificações vizinhas já construídas, tais como: tipo e estrutura das fundações,
número de pavimentos e carga média por pavimento, desempenho das fundações, existência de
solo ou de elementos enterrados, além de muitas fotos de registro com data. Afinal de contas,
é preciso ter em mente que uma nova obra não pode provocar consequências e patologias
(problemas de construção) em edificações construídas. Este levantamento resguarda os respon-

21
UNICESUMAR

sáveis da nova obra para possíveis pedidos de indenização


indevidos, ou seja, quando a edificação vizinha já tinha
uma patologia prévia que não foi registrada por nenhum
relatório técnico, porém tal patologia foi atribuída por seu
proprietário à nova obra que se iniciou, com o objetivo
de obter indenizações. É preciso ter cuidado neste item,
porque, independentemente do porte da obra (pequena,
média ou grande), todas estão passíveis de interferir ou
sofrer interferências de edificações já construídas.

É unanimidade entre bons projetistas que eles devem realizar uma


visita ao local de construção da edificação, antes de iniciar o seu
projeto, seja ele um projeto de arquitetura, seja de instalações, es-
trutural e, também, de fundações. Ir ao local e verificar as condições
do terreno, o clima, os elementos preexistentes e o acesso a recursos
(água e energia elétrica) fornece uma perspectiva mais precisa so-
bre o que deve ser considerado no momento de tomar as decisões
relacionadas ao tipo de estrutura de fundação que será projetada.

Você entendeu que uma fundação precisa seguir certo


caminho de projeto, começando com os levantamentos
das informações sobre a edificação a ser projetada e o
solo. Se tudo isso está predefinido, por que não podemos
transformar este caminho de projeto em algo automático,
nos dias de hoje, com o uso de tecnologias de inteligência
artificial e softwares? Por que você acha que o papel do(a)
projetista de fundações ainda é indispensável nas obras?

Hachich e Wolle (2019), em um dos livros de referência para enge-


nheiros e engenheiras, denominado Fundações: Teoria e Prática,
indica a sequência das atividades para elaboração do projeto de
fundações, por meio de um fluxograma que organiza o caminho a
ser seguido pelo projeto, desde os levantamentos de informações
iniciais até a verificação de desempenho no pós-obra.

22
UNIDADE 1

CARACTERIZAÇÃO DO
EMPREENDIMENTO:
Observando o fluxograma de
- LOCALIZAÇÃO (visita) atividades, você pode notar
- ARQUITETURA
dois momentos bem distintos:
o primeiro, composto pelas ca-
AVALIAÇÃO DAS ESTRUTURAS
E DAS CARGAS PARA FINS DE racterizações, investigações e
FUNDAÇÕES análises; e o segundo, que en-
globa a elaboração do projeto,
PROGRAMAÇÃO DAS a execução e avaliação de de-
CONSULTORIA
ESPECIALIZADA
INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS sempenho. O ponto de virada
– IG
entre esses dois momentos é a
escolha da fundação. Esta é
EXECUÇÃO DAS a decisão que revela a capaci-
INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS
dade de julgamento do(a) pro-
jetista de fundações, baseada
em seu conhecimento teórico
ANÁLISE DOS PROGRAMAÇÃO DAS
CONSULTORIA RESULTADOS DAS INVESTIGAÇÕES e na experiência acumulada,
ESPECIALIZADA I.G. SUFICIENTES? COMPLEMENTARES
repercutindo em toda a obra
e na vida útil da edificação
construída. Por isso, é muito
CONSULTORIA ANÁLISE DE ALTERNATIVAS E importante escolher o tipo
ESPECIALIZADA ESCOLHA DA FUNDAÇÃO
mais adequado ao seu projeto.
Figura 7 - Projeto e execução de funda-
ELABORAÇÃO DO ções: fluxograma de atividades
PROJETO Fonte: Hachich e Wolle (2019, p. 755).

Descrição da Imagem: a figura


ilustra um fluxograma com diversas
Verificações:
Dimensionamento Cálculos dos formas geométricas desenhadas
- segurança contra ruptura
dos elementos quantitativos em linhas pretas sobre um fundo
- recalque
branco. Nestas, há diversos termos
escritos em cor preta, os quais
mostram partes das atividades de
projeto de fundações. Essas formas
estão interligadas por flechas que
Elaboração dos textos: indicam o caminho do procedimen-
Elaboração Apresentação
dos desenhos - memorial dos quantitativos to para desenvolver o projeto e a
- especificações execução de fundações.

ACOMPANHAMENTO
EXECUÇÃO DA OBRA E/OU FISCALIZAÇÃO

AVALIAÇÃO DO
DESEMPENHO

23
UNICESUMAR

A NBR 6122 (ABNT, 2019) organiza as fundações em dois grandes grupos:


• Fundações superficiais (rasas ou diretas): aquelas que transferem a carga
que recebem da edificação (superestrutura), por meio de pressão distribuída
no maciço de solo pela base do elemento de infraestrutura (é daí que vem a
definição de “direta”). Outra característica deste tipo é que a sua base se apoia
numa profundidade do solo duas vezes inferior à menor dimensão do elemento
de infraestrutura, por isso, a definição de “rasas”. Pertencem a este grupo os
blocos simples de fundação, as sapatas e o radier.

Figura 8 - Tipos de fundações superficiais / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura mostra um fluxograma colorido sobre fundo branco. Nesse fluxograma,
retângulos vermelhos e roxos exibem palavras escritas em cor branca, indicando os tipos de fundações
superficiais. Os retângulos estão interligados por linhas que indicam a relação entre esses tipos.

• Fundações profundas: aquelas que transferem a carga que recebem da edi-


ficação (superestrutura) no maciço de solo pela base do elemento de infraes-
trutura (resistência de ponta) ou por sua superfície lateral (resistência de fuste)
ou por uma combinação das duas. Outra característica deste tipo é que a base
se apoia numa profundidade do solo oito vezes superior à menor dimensão
do elemento de infraestrutura e, no mínimo, 3 m de profundidade, por isso,
a definição de “profundas”. Pertencem a este grupo as estacas e os tubulões.

24
UNIDADE 1

Figura 9 - Tipos de fundações profundas / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura mostra um fluxograma colorido sobre fundo branco. Nesse fluxograma, retângulos azuis claros e
escuros, verdes, laranjas e roxos exibem palavras escritas em cor branca, indicando os tipos de fundações profundas. Os retângulos
estão interligados por linhas que indicam a relação entre esses tipos.

Para se aprofundar no processo de tomada de decisão de um projeto


de fundações, o livro 4 Edifícios x 5 Locais de Implantação = 20 Soluções
de Fundações, dos autores Manoel Henrique Campos Botelho e Luis
Fernando Meirelles Carvalho, e que se encontra disponível na Bibliote-
ca Virtual, apresenta, de forma didática, uma discussão de casos para
explicar o estudo de fundações. Temos quatro tipos de edificações
(casa térrea, sobradinho, pequeno prédio de apartamentos e galpão
industrial) que são analisados sob a perspectiva de como seriam as
suas implantações em cinco locais, geotecnicamente, diferentes para
o desenvolvimento do projeto de fundação dos mesmos.

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UNICESUMAR

A escolha de uma fundação no projeto


Qualquer pessoa que começa a estudar fundações, quando chega
neste ponto, tem consciência da existência de muitas opções e que
é preciso acertar a escolha. E, no momento de projetar a infraes-
trutura, precisamos saber: qual o tipo de fundação é a melhor para
a minha edificação? As normas técnicas definem em quais casos
devemos utilizar fundações rasas ou profundas? O custo para exe-
cutar uma fundação deve ser levado em conta, nessa decisão, ou
a garantia de segurança deve vir em primeiro lugar? É sobre estes
questionamentos que conversaremos no podcast, aprofundando al-
guns exemplos e desmistificando algumas noções erradas sobre a
escolha de uma fundação no projeto. Acesse o link e põe para tocar!

Depois de escolhido o tipo de fundação, tendo, em mãos, os dados dos projetos arquitetônico e estru-
tural, além das informações geotécnicas do terreno, você, projetista, elaborará o projeto de fundações
buscando balancear três aspectos:
• Segurança contra as rupturas.
• Recalques limitados aos valores admissíveis.
• Economia.

Comparação de três tipos de fundações


Os critérios de segurança e os recalques serão vistos ao longo de
nossa disciplina, mais a fundo, em cada tipo de fundação, o qual
está ligado aos cálculos de projeto. Porém a questão da economia
precisa ser um pouco mais explorada, por meio de um exemplo prá-
tico que demonstre porque a escolha de uma fundação nem sempre
está ligada, somente, a fatores de resistência e projeto. Nesta pílula
de aprendizagem, demonstramos um cálculo simples com o objetivo
de comparar três tipos de fundações para uma mesma situação de
projeto. Contudo vale ressaltar que o fator decisivo à escolha recai
sobre a economia no processo construtivo. Acesse o vídeo explicati-
vo para ver esta demonstração!

O projeto deve seguir os limites e orientações estabelecidos pela norma NBR 6122: Projeto e Exe-
cução de Fundações (ABNT, 2019) e métodos de cálculo teóricos, semiempíricos e empíricos que
sejam comprovados no meio da Engenharia de Fundações, inclusive, na região onde a obra ocorrerá,
nos tipos de solos e fundações que a compõem. Você, enquanto projetista de fundações, deve estabe-
lecer os procedimentos para o projeto, embasando e documentando os seus cálculos nos memoriais
circunstanciados, além de manter o registro de todos os passos executados durante a elaboração.

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UNIDADE 1

Um dos grandes profissionais da Engenharia de Fundações e da


Geotecnia brasileira, Luciano Décourt, viajou o Brasil todo, em 2017,
com a palestra chamada “Quebrando os Paradigmas na Engenharia
de Fundações”, promovida pela Associação Brasileira de Mecânica dos
Solos (ABMS). Nesta palestra, Décourt apresenta aos profissionais os
questionamentos sobre as teorias e práticas para projetos de fun-
dações que são utilizadas e que já deveriam ter sido substituídas por novas considerações
atuais da prática. Para acessar, use seu leitor de QR Code.

Mas, o que, de fato, é esta documentação de projeto? Quais são os elementos que um projeto de funda-
ções deve conter, minimamente? Seguindo as orientações mais básicas e comuns a quase todo tipo de
fundação (algumas mais detalhadas, algumas menos), temos os seguintes elementos que fazem parte
do projeto de fundações:
• Planta de locação dos elementos de fundação: dependendo do porte da obra, é necessário
mais de uma planta. Porém existe preferência por colocá-la toda em uma folha só, para que
seja possível visualizar a estrutura de fundação, como um todo, dentro do terreno, tal qual é
representado na Figura 10. Geralmente, essa planta possui associação com a planta de pila-
res, indicando os mesmos nomes e numeração que o projeto estrutural definiu para eles, a
chamada compatibilidade de projetos. Deve-se indicar as cotas de arrasamento e das bases
previstas dos elementos de infraestrutura, as suas dimensões nominais e as cargas que eles
receberão da superestrutura.

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UNICESUMAR

Figura 10 - Planta de locação de fundações: sapatas / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura mostra uma planta de projeto de fundações com linhas, texto e números escritos em preto sobre
fundo branco. Os elementos quadrados e retangulares que representam as sapatas estão alinhados em eixos horizontais, os quais
estão nomeados por letras de A até E, e alinhados, na vertical, em eixos nomeados por números de 1 a 4. Tais elementos também
são interligados por linhas que formam faixas estreitas para as vigas baldrames.

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UNIDADE 1

• Desenhos de apoio à execução: estes são bem detalhados, às vezes, exigindo a produção de
cada um em uma folha de projeto diferente, para utilizar uma escala maior (de preferência,
1:50 ou 1:25) e detalhar bem as seções, os cortes e detalhes dos elementos de infraestrutura ou
de suas partes que fazem parte da sequência executiva. A Figura 11 ilustra o detalhamento de
uma fundação de bloco sobre estacas. É comum ter desenhos de elementos de fundação que
indicam, ao lado um pequeno texto, a sequência de trabalhos que deve ser seguida para a sua
execução, a qual foi pensada pelo(a) projetista, facilitando, assim, as instruções aos construtores
no canteiro de obras.

Figura 11 - Desenho de apoio à execução: geometria do bloco sobre duas estacas / Fonte: Cunha e Moura (2018, p. 7).

Descrição da Imagem: a figura mostra o desenho de apoio à execução com duas vistas para o mesmo elemento estrutural de
um bloco de fundação sobre duas estacas. O desenho à esquerda representa a vista, em planta, do bloco, e o desenho à direita
representa a vista lateral do bloco sobre duas estacas. Os elementos são compostos por retângulos na cor cinza, representando
o bloco de fundação. Um retângulo, no centro do bloco, no desenho à esquerda e em cor verde representa o pilar, com todos os
elementos alinhados por eixos e cotas que identificam, em centímetros, as dimensões e distâncias

• Desenhos de armações dos elementos de fundação e, quando couber, desenho das fôrmas
dos elementos de fundação: muitas vezes, estes desenhos são inclusos no meio do projeto es-
trutural, pois o(a) projetista que elaborou a superestrutura elaborou, também, a infraestrutura.
São seguidas as mesmas simbologias para armações metálicas e fôrmas dos projetos estruturais,

29
UNICESUMAR

inclusive, as mesmas escalas e linguagem de detalhamento. Isso facilita, no canteiro de obras,


que os profissionais responsáveis por confeccionar esses elementos sigam o mesmo padrão de
orientações e trabalho. A Figura 12 apresenta o exemplo de detalhamento estrutural de uma
sapata, com a mesma forma de ilustração simplificada, as linhas e indicações de armadura
utilizadas para as vigas e pilares.

Figura 12 - Desenho de armação: sapata com um pilar / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura mostra o desenho ilustrativo do projeto estrutural de fundações com duas vistas para o mesmo
elemento — uma sapata isolada conectada a um pilar retangular. O desenho à esquerda representa a vista, em planta, da sapata,
enquanto o desenho à direita representa a vista lateral da sapata, por isso, contém as linhas indicativas do posicionamento das
armaduras dentro da sapata. Os elementos são compostos por linhas na cor preta sobre fundo branco, cotas que identificam, em
centímetros, as dimensões e distâncias bem como linhas representando as armaduras que serão posicionadas na execução das
fundações, inclusive, as suas indicações de nome, tamanho, dimensões e indicações técnicas.

• Especificações executivas das fundações: consiste numa documentação que especifica o


passo a passo dos serviços de construção dos elementos de fundação: limpeza do terreno, even-
tuais escavações ou aterros, sequência de instalação de armaduras e fôrmas (quando houver),
realização de ensaios de verificação durante a execução, armazenamento de materiais e outras
ações que sejam necessárias. Nem sempre uma obra de fundação necessita deste detalhamento
de serviços, porém é muito comum nos casos de terrenos e tipos de fundações não comuns para
a região. É neste documento que o(a) projetista consegue reunir todas as indicações de trabalho
que devem ser seguidas pelos profissionais que atuarão na obra, com vistas a garantir a qualidade
e a fidelidade dos serviços em relação ao projeto elaborado. Muitas vezes, essas especificações
reproduzem as determinações de procedimentos contidos em normas técnicas ou em manuais
de execução elaborados por instituições reconhecidas, nacionalmente, ligadas às fundações, por
exemplo, a Associação Brasileira de Empresas de Engenharia de Fundações e Geotecnia (ABEF)
e a Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS).

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UNIDADE 1

• Memorial de cálculo do projeto ou memorial circunstanciado:


registra todos os cálculos, parâmetros adotados e métodos utilizados
para o dimensionamento das fundações. Este documento, muitas vezes,
não é incluso nos papéis entregues ao cliente ou aos construtores, mas
mantido pelo(a) profissional projetista em seus arquivos (físicos ou
digitais). Muitas ferramentas digitais (softwares de projeto) possuem a
opção de exportar os cálculos que foram utilizados na determinação dos
elementos e, em muitas ocasiões, é apresentado como documentação de
cálculo, porém o importante é o(a) projetista ter disponível ao cliente ou
a eventuais demandantes, quando necessário, esta memória de cálculo
e dimensionamento de obras das quais foi responsável.

O início do desenvolvimento dos cálculos de estruturas de fundações se ini-


cia com os critérios definidos por duas principais normativas: a NBR 8681:
Ações e Segurança nas Estruturas – Procedimento, a qual estabelece os
requisitos exigíveis para a verificação da segurança nas estruturas mais utili-
zadas na construção civil; e a NBR 6122: Projeto e Execução de Fundações
(ABNT, 2019), em que são definidos os critérios gerais que regem o projeto
e a execução das estruturas convencionais de Engenharia Civil (residências,
edifícios de uso geral, pontes, viadutos etc.). São nestas normativas que sabe-
remos como quantificaremos e combinaremos as ações (também chamadas
de cargas) que a edificação estará transferindo à fundação e utilizadas no
dimensionamento dos elementos.
Para dimensionar, corretamente, a fundação, não basta saber, apenas, as
ações da superestrutura; é preciso entender de que forma o elemento estru-
tural da fundação interagirá com o maciço do solo. Entendendo que estamos
lidando com um corpo rígido (elemento de infraestrutura) imerso em um meio,
aproximadamente, elástico (solo), o comportamento da fundação resultará da
combinação entre as características do solo e do processo de execução (o qual
insere o elemento estrutural da fundação no meio natural).
De forma geral, os elementos de infraestrutura transferem a sua carga ao
solo por resistência lateral e de ponta (também chamada de base). De acordo
com a forma geométrica do elemento, a direção e o sentido das forças atuantes
sobre ele e sobre o solo podem variar de caso a caso.
No caso das fundações rasas ou diretas, a resistência lateral é desprezada, sendo
considerada, somente, a resistência de ponta. Neste caso, tal resistência primordial
é denominada resistência de base, porque consiste na pressão que a área da base
do elemento exerce sobre o maciço de solo no qual ela se encontra apoiada.

31
UNICESUMAR

Figura 13 - Esforços característicos de uma fundação rasa / Fonte: Albuquerque e Garcia (2020, p. 15).

Descrição da Imagem: a imagem mostra um desenho ilustrativo com o nome “vista em corte”, mostrando uma sapata isolada
conectada a um pilar retangular, ambos em vista lateral. O elemento é composto por uma forma geométrica piramidal na cor
cinza-clara, inserido em um encaixe retangular no solo, com uma série de flechas, na cor preta, apontando para cima, alinhadas,
lado a lado, em contato com a base da sapata, as quais indicam a reação do solo, nomeada pela indicação rP. Na porção superior,
há uma única flecha, na cor preta, apontada para baixo, alinhada no centro do pilar, mostrando a letra P, esta nomeia essa
força de ação sobre a sapata. O elemento contém eixos alinhados na porção inferior e nas laterais, como cotas que identificam
as letras que nomeiam as dimensões características. No canto superior direito, há a equação que relaciona as forças, ações e
reações representadas na figura.

Nos casos das fundações profundas, podemos ter a situação cujo elemento atravessa diversas camadas
de solo que não são nem resistentes o suficiente para oferecer estabilidade, nem para oferecer resistência
lateral, apoiando-se, então, numa camada resistente mais profunda. É o caso de algumas estacas e de
quase todos os tubulões que apresentam este comportamento de ponta.

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UNIDADE 1

Figura 14 - Fundação profunda: comportamento de ponta / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a imagem mostra o desenho de dois elementos alongados de fundações inseridos numa faixa branca, a
qual é nomeada “camada de baixa resistência”, cuja ponta, na porção inferior, está inserida numa camada cinza-clara chamada
“camada resistente”, ambos em vista lateral, com o nome do elemento da esquerda, “estaca”, e, no elemento da direita, o nome
“tubulão”. O elemento “estaca” é de cor branca com algumas manchas cinzas, ele tem flechas pretas em contato com as suas
laterais esquerda e direita, na sua base, em forma triangular, com a ponta para baixo e, no seu topo, com a indicação da força de
solicitação P em única flecha vertical, alinhada ao centro do elemento. O elemento “tubulão” é de cor marrom clara, com algumas
manchas cinza-clara, tem flechas pretas em contato com as suas laterais esquerda e direita, na sua base, em forma de pirâmide,
e, também, no seu topo, com a indicação da força de solicitação P em única flecha vertical alinhada ao centro do elemento. No
canto inferior direito, há a equação que relaciona as forças, ações e reações representadas, na figura, pelas flechas..

Porém, nas fundações profundas do tipo estaca, o caso mais comum é o de comportamento misto,
em que existe a contribuição da resistência de atrito lateral e, também, de ponta, para o elemento que
se encontra inserido no solo.

33
UNICESUMAR

Além das resistências laterais e de ponta/base, é,


extremamente, importante avaliar o desempe-
nho da fundação, para analisar a interação so-
lo-infraestrutura. Esta avaliação é feita por meio
dos dados que monitoram o comportamento dos
elementos inseridos no maciço de solo, quando
recebem carregamento. A norma técnica NBR
6122 (ABNT, 2019) torna obrigatório avaliar o
desempenho das fundações, nos seguintes casos:
• Quando a infraestrutura possui uma car-
ga variável significativa, se comparada à
carga total.
• Em edificações com mais de 55 m de altura.
• Quando a relação H/B (H = altura; B =
menor dimensão) for superior a 4.
• Se as fundações ou estruturas da edifica-
ção serem de tipos não convencionais (não
constantes na norma técnica).
Figura 15 - Fundação profunda: comportamento de ponta
O monitoramento do comportamento dos ele- Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
mentos de fundação pode ser realizado por meio
das provas de carga, ou seja, testes monitora- Descrição da Imagem: a imagem mostra o desenho de um
elemento de fundação do tipo estaca inserido numa faixa
dos do elemento de fundação no terreno onde a branca que ilustra o solo. O elemento é de cor branca com
obra ocorrerá. É previsto que sejam obrigatórias algumas manchas cinzas, tem flechas pretas em contato
com as suas laterais esquerda e direita, na sua base, em
as realizações de provas de carga em obras cuja forma triangular, com ponta para baixo, assim como no
fundação em estacas tiver um número de estacas seu topo, com a indicação da força de solicitação P em
única flecha vertical, alinhada ao centro do elemento. No
superior ao valor especificado na coluna (B) da lado esquerdo, existe a indicação, em cota do eixo, repre-
sentando a medida de comprimento H da estaca. No canto
Tabela 6 do item 9.2.2.1 da NBR 6122. Veremos inferior direito, há a equação relacionando as forças, ações
os valores correspondentes a esta tabela, mais e reações representadas, pelas flechas, na figura.

adiante, quando tratarmos, especificamente, das


fundações profundas do tipo estacas.
Finalizando este ciclo, chamamos a sua atenção para dois pontos principais sobre as fundações: i)
a geotecnia do maciço de solo acrescenta o elemento do desconhecido (incerteza, variabilidade) no
projeto de fundações. Exigindo do(a) projetista de Fundações vasta capacidade criativa para conciliar
isso ao cálculo estrutural, o qual necessita da precisão de valores e métodos; ii) deve-se evitar, a todo
custo, as generalizações. Na área de Fundações, as obras têm peculiaridades que as tornam únicas,
sejam nas situações de projeto, sejam nas execuções.
Nas palavras do engenheiro civil Ralph Brazelton Peck (apud VELLOSO; LOPES, 2011, p. 1), um
dos mais importantes nomes da área geotécnica:

34
UNIDADE 1


“Como a natureza é infinitamente variável, os aspectos geológicos de nossa profissão nos
garantem que nunca haverá dois trabalhos exatamente iguais. Portanto, nunca devemos
temer que nossa profissão se torne rotineira ou monótona. Se for o caso, podemos ter
certeza de que não o estaríamos praticando adequadamente”.

De forma prática, podemos dizer que as fundações são o início de toda construção, são a base da obra.
Elas abrangem todos os elementos de infraestrutura da Engenharia, ou seja, aquela parte da edificação
que ficará enterrada no solo. Por isso, a escolha do tipo de fundação não dependerá, apenas, do tipo da
construção (residência, prédio, galpão, ponte etc.), mas, principalmente, das características do solo no
terreno da obra. Quando o(a) engenheiro(a) civil compreende os conhecimentos envolvidos na con-
cepção das fundações, consegue traçar, com mais segurança, o caminho de desenvolvimento do projeto,
sempre atento(a) aos elementos que interferirão na sua obra e durante toda a vida útil da edificação.
Trabalhar com fundações, em Engenharia Civil, requer muito conhecimento técnico, vivência de
obra e criatividade. Na maior parte do tempo, o(a) projetista de fundações mantém contato próximo
com os profissionais responsáveis por arquitetura, cálculo estrutural, topografia, sondagens de solo,
instalações e paisagismo, dependendo das informações fornecidas por estas áreas, ao mesmo tempo em
que as decisões de projeto dele(a) determinam ou influenciam a execução de todos os serviços da obra.

35
No dia a dia profissional da Engenharia Civil, é muito importante realizar a gestão das informações
de uma obra para potencializar o seu trabalho ou de uma equipe. O mesmo deve ser feito com
todo o conhecimento adquirido em sua formação, é preciso que você, enquanto profissional,
saiba em qual momento ele pode ser aplicado num projeto.
Passamos por uma quantidade bem grande de conceitos e definições nesta unidade, agora, rea-
lizaremos uma atividade de “Arquivologia Mental”. A seguir, estão embaralhados vários termos,
conceitos e nomes relacionados ao que vimos nesta unidade e outros que fazem parte da prática
de Engenharia Civil. Encontre as informações que serão úteis para o projeto de fundações e des-
taque-as das demais (utilize um marcador de textos ou circule as palavras). Em seguida, escreva
os nomes delas no fluxograma de atividades, presente na etapa da qual fazem parte. Caso você
perceba que estão faltando documentos ou informações importantes para o desenvolvimento
do projeto, anote-os, com uma breve descrição de sua utilidade, no espaço disponível.

Comprovante Cronograma
Alvará de ART – Assentamento Carga de de dominalidade Contrapiso Deformação
construção Arquitetura de azulejo incêndio físico-financeiro do solo
de terreno

Desenho de Ensaios Escavação Esforços de


Diagrama Documentos Geotécnicos Ensaios Estanqueidade
elementos de terreno superestrutura
de vedação unifilar do proprietário Complementares in natura ao ar

Instalação de Laudo de
Execução de Gestão de armadura de Julgamento Vistoria da Locação de
Gabarito Qualidade Lençol freático
emboço infraestrutura profissional Vizinhança fundações

Memorial de Memorial de Nivelamento Oficio de Patologias


Memorial de Oficio de Encaminhamento
cálculo de cálculo de segurança PPCI do pós-obra Perfil do solo
revestimento apresentação de Documentos
aterro fundações

Peso de Plantas Projeto de


Planta de Poliestireno Projeto de
equipamentos Pisos vinílicos Planta de risco topográficas cabeamento
pilares expandido (EPS) cobertura
fixos estruturado

Projeto de Projeto de Projeto de Projeto Quadro de Quadro de Recalques


Projeto elétrico estrutural cargas esquadrias admissíveis
drywall fundações paisagismo

Relatório de Resistência Sondagens de Tesoura de Verificação Visita ao


Rejuntamento prova de carga Segurança reconhecimento madeira de ELU e ELS
de ponta terreno

36
1 - CARACTERIZAÇÃO DA 2 - AVALIAÇÃO DAS ESTRUTURAS
CONSTRUÇÃO E CARGAS

3 - INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS 4 - ESCOLHA DA FUNDAÇÃO

5 - ELABORAÇÃO DO PROJETO 6 - EXECUÇÃO DA OBRA

7 - AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO

37
1. Todo projeto de fundações requer um levantamento preliminar de informações para
o seu planejamento. Estes dados são divididos em quatro grandes grupos, de acordo
com a sua natureza: Topografia, Geotecnia, estrutura a construir e construções vizinhas.
Sobre o estudo da Geotecnia, que é realizado para fundações, assinale a alternativa que
descreve, corretamente, algumas das informações levantadas neste tipo de investigação:
a) Reunião de dados sobre a tensão da rede que será instalada na edificação, máquinas
ou equipamentos de instalação fixa, lista de componentes, layout, diagrama elétrico,
distribuição de cabos e posicionamento das tomadas.
b) Identificação das camadas do solo e a profundidade de cada uma delas, dados referentes
ao valor de compressibilidade e resistência dos solos bem como ao nível do lençol freático.
c) Tipo e uso da nova edificação, o sistema construtivo e estrutural empregado e a inten-
sidade e posicionamento das cargas que serão transmitidas ao solo.
d) Custos envolvidos na construção da nova obra, prazos definidos pelo cronograma de
execução, existência de estruturas ou construções subterrâneas (como porão, fossas
e sumidouros).
e) Dados sobre estabilidade de taludes e encostas no terreno, histórico de erosões da
região e perfil geométrico da área para saber se haverá necessidade de serviços de
movimentação de terra (cortes e aterros).

2. Para melhor entendimento das características dos tipos de fundações, a NBR 6122:
Projeto e Execução de Fundações (ABNT, 2019) estabelece a sua classificação em dois
grandes grupos: fundações superficiais (rasas ou diretas) e fundações profundas. Com
relação às características das fundações superficiais, assinale a alternativa correta:
a) Neste tipo de fundação, a profundidade de assentamento em relação ao terreno ad-
jacente deve ser oito vezes igual ou maior do que a menor dimensão do elemento. A
cota de assentamento mínima de seu elemento é de 3 m.
b) Os seus elementos interagem com o solo, principalmente, pela resistência de ponta, por
isso, apresentam uma base alargada. Incluem-se, neste grupo, os blocos, os tubulões,
as estacas moldadas in loco e os radiers.
c) Estas fundações são empregadas quando as camadas superficiais do solo são capazes
de suportar as cargas da construção. O seu elemento transmite a carga ao terreno
pelas tensões distribuídas sob a base da fundação.
d) Geralmente, é o tipo mais complexo de fundação, principalmente, pela necessidade
de equipamentos sofisticados. Os seus elementos são executados, inteiramente, por
máquinas e ferramentas, sem que haja descida de pessoas.
e) Podem ser constituídas de: madeira, aço, concreto pré-moldado, concreto moldado in
loco ou uma combinação das anteriores. Quando feitas de concreto moldado in loco,
executam-se perfurações prévias no solo.

38
3. A utilização do método de Estudo de Caso é muito empolgante sob o ponto de vista
didático, fugindo da “lengalenga” dos textos tradicionais e indo direto ao conhecimento
prático. Nesta atividade, teremos um breve Estudo de Caso envolvendo a escolha de
fundação adequada para as seguintes edificações:

Tipo do edifício Características dos esforços nas fundações

Casa térrea isolada Carga vertical positiva, distribuída, bastante baixa*.

Sobrado estruturado Carga vertical, positiva, concentrada e baixa*.

Prédio de concreto armado


Carga vertical, positiva, concentrada, média intensidade.
com três pavimentos + térreo

Carga vertical, positiva e negativa, momento fletor e carga


Galpão industrial
horizontal.

*Carga baixa: carga de pequena intensidade.

Quadro 1 - Edificações para Estudo de Caso / Fonte: Botelho e Carvalho (2015, p. 17).

O terreno no qual estas edificações serão construídas possui o seguinte perfil do solo:

Figura 1 - Exercício 3: sondagem no local / Fonte: adaptada de Botelho e Carvalho (2015)

Descrição da Imagem: a imagem desenhada exibe um retângulo vertical dividido ao meio por uma faixa que inter-
cala coloração branca e preta, cores estas indicativas da profundidade, metro a metro. Também há faixas horizontais
em diferentes tons de cinza e listrados, demonstrando a sequência de camadas de solo presentes no perfil do solo
presente na sondagem do local.

39
Neste caso, encontram-se disponíveis para escolha os tipos de fundações mais comuns
executadas no Brasil, são elas: fundação superficial por sapatas; fundação profunda
por estacas de concreto moldadas in loco; fundação profunda por estacas de concreto
pré-moldadas e fundação profunda por tubulões a céu aberto.

A seguir, serão apresentadas algumas sugestões preliminares para as fundações dessas


edificações, quando executadas no terreno proposto. Utilize os seus conhecimentos
sobre a escolha de fundações, adquiridos nesta unidade, e aponte qual delas concilia
os princípios de segurança, recalques admissíveis e economia buscados na Engenharia
De Fundações:
a) Tomando, por base, o estudo da estrutura da casa térrea, teremos uma carga distri-
buída ao longo das paredes laterais externas e junto às fundações. Como o nível da
água é baixo e o terreno é muito bom, com camadas resistentes de solo próximas da
superfície (cota 0,00), a melhor solução é a fundação superficial por sapata. Esta
alternativa apresenta economia na execução da obra porque não necessita atingir
grandes profundidades.
b) Quando temos a execução de um sobrado estruturado (edificação cuja estrutura é
composta por lajes, vigas e pilares que concentram a descida das cargas pelos pilares)
em um local com características ruins (aterro sobre argila mole), com camadas pouco
resistentes de solo próximas da superfície (cota 0,00), optar pelo uso de fundações
profundas por tubulões a céu aberto garantirá segurança à estrutura, pois os ele-
mentos de fundação se apoiarão em camadas mais resistentes do solo. Esta alternativa
apresenta muita economia para a execução da obra porque é executada em camadas
superficiais do solo.
c) O nosso prédio de concreto armado tem um andar subterrâneo, por isso, a pressão
da água poderia preocupar na sua construção. Porém a sondagem mostra que o Nível
da Água (N.A.) é muito baixo, portanto, não haverá preocupante subpressão. Como o
nível da água é baixo, e o terreno é superficial com características ruins (aterro sobre
argila mole), com camadas pouco resistentes de solo próximas da superfície (cota
0,00), a melhor solução é a fundação profunda por estacas de concreto mol-
dadas in loco. Esta alternativa é a que garantirá segurança para a estrutura, pois os
elementos de fundação serão longos e se apoiarão em camadas mais resistentes do
solo. Os preços por metro de comprimento das estacas moldadas in loco costumam
ser menores do que das estacas pré-moldadas e dos tubulões, devido à simplicidade
dos equipamentos envolvidos na sua execução, à ausência de perdas (não há sobras
de materiais) e a menos riscos para os operários e profissionais da obra.

40
d) Analisando o galpão industrial, temos cargas sobre as fundações que precisam ser
consideradas: peso permanente da estrutura (carga vertical); ação do vento (carga
horizontal); peso da estrutura metálica de cobertura (sobrecarga); e mais o peso da
fundação. Quando ocorre vento, supõe-se que não haja sobrecarga para a estrutura,
tornando as solicitações transmitidas às fundações muito mais leves. Neste caso, temos
um terreno superficial de características ruins (aterro sobre argila mole), o que indica
que devemos adotar a solução de fundação profunda por estacas de concreto
pré-moldadas apoiadas na cota 6,00 m. Esta alternativa não apresenta a melhor eco-
nomia dentre as opções dadas, porque é executada por meio de serviços complexos
que exigem equipamento e mão de obra qualificada à cravação das estacas. Porém,
como o comprimento será de, no máximo, 6 m de profundidade até atingir a camada
mais resistente do solo, o custo será compensado pelo benefício de garantir segurança
contra recalques e deslocamentos da fundação pelas ações de vento e sobrecarga.
e) O nosso prédio de concreto armado tem um andar subterrâneo, por isso, a pressão
da água poderia preocupar na sua construção. Porém a sondagem mostra que o Nível
da Água (N.A.) é muito baixo, portanto, não haverá preocupante subpressão. Como
o nível da água é baixo e o terreno é muito bom, com camadas resistentes de solo
próximas da superfície (cota 0,00), a melhor solução são as fundações superficiais
por sapatas. Utilizando sapatas centradas para os pilares internos e sapatas excên-
tricas alavancadas para as sapatas de divisa, conseguiremos distribuir a carga baixa
que a superestrutura imprime ao solo, por meio de pressão na base, sem perigo de
haver recalques além dos admissíveis, graças à escolha de uma fundação segura. Esta
alternativa apresenta muita economia na execução da obra, pois é executada por meio
de serviços simples, como: escavação manual, posicionamento de armadura e con-
cretagem, com riscos mínimos para os operários e profissionais de inspeção da base.

41
42
2
Investigações
Geotécnicas
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos

A Investigação Geotécnica é pré-requisito para projetos seguros e


econômicos na área de Fundações e Obras de Terra. Esta unidade
contempla os cuidados na programação e execução das principais
investigações de campo, apresentando um panorama geral das
principais Prospecções Geotécnicas (Ensaios Geofísicos de Palheta,
de Cone, Dilatométrico, Pressiométrico e SPT). Você aprofundará
a descrição geral, as normativas associadas, os procedimentos,
os índices mensurados e a interpretação dos dados bem como as
recomendações de uso e aplicação.
UNICESUMAR

Pare um pouco e pense no solo do terreno mais próximo de você. Do que ele é feito? Certamente, você
lembrará das aulas de Mecânica dos Solos e saberá que este material natural é composto por grãos de
rochas formados ao longo de milhares de anos, além de conter certo percentual de umidade (água) e
espaços vazios (ar). Talvez, tenha lembrado, ainda, que, dependendo da proporção destes três compo-
nentes, o solo se comporta de formas diferentes.
O maciço de solo (terreno) faz parte do que chamamos de fundação de uma obra (conceito que
vimos na unidade anterior). Mas o que é preciso saber a respeito do solo para construir sobre ele?
Quais ensaios e experimentos devem ser feitos e como são utilizados os seus resultados na elabo-
ração de um projeto de fundações?
Manuel Henrique Campos Botelho (2015), em seu livro Princípios da Mecânica dos Solos e Funda-
ções para Construção Civil (disponível na Biblioteca Virtual da Unicesumar) conta um caso interessante
envolvendo solos na construção de uma edificação de, apenas, um andar, sem estudo algum de fundações.

CENTRO COMUNITÁRIO

N.T.

Figura 1 - Centro Comunitário / Fonte: Botelho (2015).

Descrição da Imagem:a figura apresenta uma ilustração em tons de cinza, que mostra a vista frontal de uma edificação
com duas portas e três janelas e teto chanfrado, acima das portas está escrito “Centro Comunitário”. À esquerda, há uma
flecha indicativa para baixo, nela está escrito “N. T.”. À direita, ao lado da edificação, está uma mulher em pé com uma das
mãos na cintura.

O autor não cita nomes ou datas na narração do caso, porém quem já se interessou por saber como são
construídas as obras públicas terá certa familiaridade com os eventos. É possível até que você consiga lembrar
de outro caso bem parecido, acontecendo, neste exato momento, em sua própria cidade. Mas vamos ao caso:
A prefeitura contratou o projeto arquitetônico para um centro comunitário que teria as seguintes
características: edificação térrea; área construída de 700m²; paredes de blocos de concreto; telhado com
lajes treliçadas. Neste projeto, não constava nenhuma indicação sobre as fundações da construção e
mostrava a alvenaria (paredes) terminando no Nível do Terreno (N.T.).

44
UNIDADE 2

A construtora que ganhou a concorrência pública para construir o centro comunitário


questionou o responsável técnico da prefeitura (o fiscal da obra) sobre como seriam as
fundações e ele fez a seguinte instrução: “Façam, a 30 cm de profundidade, ao longo de
todas as paredes internas e externas da edificação, uma sapatinha de concreto armado
com cerca de 30 cm de largura”. (BOTELHO, 2015, p. 158). Sem nenhuma investigação do
subsolo ou estudo de alternativa de fundação que melhor se adequasse à estrutura e ao
maciço do solo, ou seja, ocorreu absolutamente nada das etapas de desenvolvimento que
vimos na Unidade 1 para um projeto de fundações.
Com o centro comunitário construído e iniciando o seu uso, começaram a aparecer
fissuras (aberturas estreitas) nas alvenarias. Com o passar do tempo, essas fissuras se
transformaram em trincas (aberturas largas), e o corpo técnico da prefeitura interditou
o prédio. Depois de três meses, o prédio todo inclinou e um inquérito na prefeitura foi
iniciado para descobrir o culpado e definir a responsabilidade pelos danos.
É quando uma notícia muito importante vem a conhecimento público: o terreno do centro
comunitário havia sido local de depósito de lixo no passado e o seu solo era composto por uma
camada de rejeitos compactados (aterro) de pouco mais de um 1,50 m de espessura com solo
natural (terra) lançado como cobertura, ocultando-o. Só então foram realizadas Investigações
Geotécnicas para conhecer aquele solo com algumas sondagens (perfurações no terreno).
O desfecho para este caso pode ser encontrado no capítulo 33, intitulado “Casos
interessantes de Mecânica dos Solos e Fundações” no livro Princípios da Mecânica dos
Solos e Fundações Para a Construção Civil de Manuel Henrique Botelho, de 2015 (dis-
ponível na Biblioteca Virtual da Unicesumar), porém é a sua vez de fazer uso de seus
conhecimentos sobre fundações e solos acumulados, até aqui, e colocar-se no lugar do
corpo técnico responsável pelo inquérito.
A sua tarefa é analisar as informações no caso do centro comunitário e emitir um parecer
sobre a responsabilidade pelo ocorrido. O parecer é um texto de algumas linhas, como a
conclusão de um artigo científico, no qual você explicará em que etapa houve erro de pro-
cedimento, qual foi esse erro e apontar quem é o(a) profissional responsável por essa etapa.
Quem seria o responsável pelo problema das fundações na obra do centro comuni-
tário? O(a) projetista da arquitetura? A construtora? O fiscal? Elabore o seu argumento
no parecer técnico de quem deveria ser responsabilizado pela negligência do projeto de
fundações no caso do centro comunitário. Você pode pesquisar casos semelhantes no
local onde você vive e, também, alguns famosos, como os prédios tortos de Santos-SP,
que tiveram problemas nas fundações e entortaram. Cite-os em seu texto como forma
de referenciar a origem de seu conhecimento.
Registre, no Diário de Bordo, o seu parecer sobre o caso do centro comunitário e, tam-
bém, as suas reflexões sobre a solicitação de investigações geotécnicas em obras.

45
UNICESUMAR

DIÁRIO DE BORDO

O caso do centro comunitário é um exemplo bastante prático de como uma construção inteira entra
em risco porque não foram realizadas investigações do subsolo nem na etapa de projeto, nem antes de
iniciar as obras. Sondagens e reconhecimento de solo, normalmente, têm o seu custo variando entre
0,2% e 0,5% do custo total de uma obra, um preço baixo para reduzir riscos de colapso (SCHNAID;
ODEBRECHT, 2012).
Mas será que todas as obras e projetos precisam de Investigações Geotécnicas? Edificações pe-
quenas também? Veremos o que a nossa norma técnica base para fundações, a NBR 6122: Projeto
e Execução de Fundações, aponta em seu capítulo 4 “Investigações geológicas e geotécnicas”:



Para qualquer edificação, deve ser feita uma campanha de investigação geotécnica
preliminar, constituída, no mínimo, por sondagens a percussão (com SPT), visando
a determinação da estratigrafia e classificação dos solos, a posição do nível d’água e a
medida do índice de resistência à penetração NSPT, de acordo com a ABNT NBR 6484.
Na classificação dos solos, deve ser empregada a ABNT NBR 6502 (ABNT, 2019, p. 3).

46
UNIDADE 2

A normativa aponta que qualquer edificação deve ter Investigações Geotécnicas Preliminares,
indicando, inclusive, qual o tipo de sondagem e as normas as quais essas análises devem se basear. Não
há exceções! Qualquer tipo de obra necessita de uma investigação do subsolo para que seja executada,
contando com, no mínimo, sondagens à percussão.
Para escolher o método de investigação (escavação, sondagem, ensaios de campo, ensaios de labo-
ratório etc.), deve-se levar em conta a finalidade e a proporção da obra; as características do terreno;
as experiências práticas locais e o custo dos métodos. Todas estas condições serão analisadas pelo(a)
profissional de Engenharia responsável pelas análises geotécnicas e/ou projeto de fundações, deter-
minando, então, um plano de investigação e as etapas que farão, ou não, parte dele.
De acordo com os critérios estabelecidos pela NBR 6122 (ABNT, 2019), podemos ter um ou dois
tipos de Investigação Geotécnicas, sendo elas:
• Investigação Geotécnica Preliminar: é o conjunto de métodos de investigação básicos cons-
tituído por, no mínimo, sondagens à percussão (com ensaio SPT). A sua realização é indicada
para qualquer edificação, independentemente de seu porte ou forma. Dentre as informações
coletadas estão: estratigrafia e classificação das camadas do solo; posição do nível d’água; índice
de resistência à penetração nspt.
• Investigação Geotécnica Complementar: é o conjunto de métodos de investigação suplementares
constituídos por sondagens adicionais, instalação de indicadores de nível d’água, piezômetros ou ou-
tros ensaios de campo. A sua execução é realizada, sempre, após a Investigação Preliminar e indicada
devido a peculiaridades do subsolo ou do projeto; dúvida quanto à natureza do material impenetrável à
percussão e diferenças entre as condições locais e as indicações fornecidas pela investigação preliminar.
Visam a determinar parâmetros do solo, tais como: resistência; deformabilidade e permeabilidade.

Agora que sabemos a importância de conhecer e caracterizar o subsolo, além das indicações da prin-
cipal normativa brasileira de fundações para essa etapa do projeto, entenderemos, um pouco mais,
como planejar a Investigação Geotécnica.

Programa de Investigação do Subsolo

Vimos, na unidade anterior, quais são os documentos técnicos indispensáveis para iniciar o projeto
de fundações e, neste caso, as sondagens fazem parte do projeto geotécnico, muitas vezes, referido,
apenas, como projeto ou programa de sondagens.
As sondagens são perfurações realizadas num terreno para verificar as características dele, sem
alterar as condições naturais do mesmo, ou seja, as sondagens são a ausência de grandes escavações.
A normativa técnica NBR 8036 – Programação de Sondagens de Simples Reconhecimento
dos Solos para Fundações de Edifícios (ABNT, 1983) especifica o planejamento da quantidade de
furos, da localização e das profundidades das sondagens. O quadro, a seguir, apresenta a quantidade
de sondagens mínimas em função da projeção em planta da obra.

47
UNICESUMAR

Projeção Número
em planta mínimo de Observações
(m²) sondagens

Na prática, adota-se, no mínimo, três furos para


Até 200 2
edificações até 200 m² de projeção em planta.

200 a 400 3 Quantidade fixa.

400 a 600 3

600 a 800 4
Mínimo de um furo para cada 200 m²
de projeção em planta da edificação.
800 a 1000 5

1000 a 1200 6

1200 a 1600 7
Correspondente a um furo para cada 200 m² de projeção,
1600 a 2000 8 em planta da edificação, para os primeiros 1200 m² de área
total e um furo para cada 400 m² de projeção excedente.
2000 a 2400 9

Acima de Quantidade de acordo com o plano particular


2400 da construção, critério estabelecido pelo(a) projetista.

Quando ainda não há projeção em planta O número de sondagens deve ser fixado de forma
da obra (ex.: estudos de viabilidade ou de que a distância máxima entre elas seja de 100 m,
escolha do local). com o mínimo de três sondagens.

Quadro 1 - Quantidade de sondagens mínimas para projetos, segundo a NBR 8036 / Fonte: adaptado de ABNT (1983).

A localização e, também, a profundidade que as sondagens devem alcançar num mesmo terreno de-
pendem do tipo de estrutura que será construída, as suas características especiais e das condições do
subsolo. A localização das sondagens dependerá da fase do projeto em que elas serão executadas,
obedecendo às seguintes regras gerais:
• Fase de estudos preliminares: as sondagens devem ser, igualmente, distribuídas em toda a área.
• Fase de projeto: podem localizar-se de acordo com um critério específico que leve em conta
pormenores estruturais. Quando o número de sondagens for maior do que três, elas não devem
ser distribuídas ao longo de um mesmo alinhamento.

Já a profundidade das sondagens deve ser determinada de acordo com as características da estru-
tura, de suas dimensões em planta, da forma da área carregada e, também, das condições geotécnicas
e topográficas locais. Como regra geral, as sondagens devem ser realizadas até a profundidade na qual
o solo não receba cargas estruturais significativas das fundações, fixando aquela cujo acréscimo de
pressão seja menor do que 10% da Pressão Geostática Efetiva. A NBR 8036 (ABNT, 1983) indica um
ábaco, em forma de gráfico, como guia para a estimativa da profundidade da sondagem.

48
UNIDADE 2

NBR 8036
A norma NBR 8036 (ABNT, 1983) estabelece mais critérios para de-
terminar qual será a profundidade máxima que as sondagens devem
atingir durante a sua perfuração, porém a principal começa com o
uso desse gráfico. Realizamos uma demonstração da determinação
da profundidade de sondagem, por meio de um breve exemplo, em
nossa Pílula de Aprendizagem. Confira o vídeo e entenda como uti-
lizar as informações prévias do seu projeto e o gráfico da norma
técnica para estimar a profundidade mínima da sondagem.

As investigações do subsolo, também chamadas de Prospecção Geotécnica, são executadas com base
em ensaios de campo no terreno de implantação da obra. Nas últimas décadas, foram introduzidos, na
área da Geotecnia, novos e modernos equipamentos de investigação que permitem utilizar novas tecno-
logias para determinar diferentes condições do solo natural. Neste material, aprofundaremos, apenas, as
técnicas que são implantadas no Brasil e disponíveis às contratações em empresas especializadas do ramo.
Dos ensaios de campo que se destacam pela sua ampla utilização em todo o mundo, temos: o Stan-
dard Penetration Test – SPT (mais executado no Brasil) e a sua variação, que é complementada com
medidas de torque: SPT-T; o Ensaio de Penetração do Cone – CPT (para análises detalhadas do
terreno) e a sua variação, que é complementada com medida das pressões neutras: CPTu ou piezocone;
o Ensaio de Palheta (Vane Test); os Ensaios Pressiômetricos – PMT (de Ménard e autoperfuran-
tes); o Dilatômetro de Marchetti – DMT; os ensaios de carregamento de placa – Provas de Carga
(bastante utilizados no passado, mas, hoje, quase em desuso no Brasil); os Ensaios Geofísicos (em
particular, o Ensaio de Crosshole, que fornece um importante parâmetro geotécnico, o Módulo de
Elasticidade Transversal Inicial do solo – Go).

49
UNICESUMAR

Figura 2 - Tipos de processos geotécnicos aplicados às investigações de subsolo / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura apresenta a ilustração de um fluxograma colorido, com formas retangulares que contêm
textos da hierarquia dos processos geotécnicos. Estes são divididos entre as classes. A classe dos indiretos, subdividida entre
geoelétricos e sísmicos, que ramificam nos nomes dos ensaios específicos de cada. A classe dos semidiretos e a classe dos
diretos, contendo a lista dos ensaios específicos de cada.

A escolha dos ensaios pelo(a) profissional de Engenharia, durante a elaboração do projeto de fundações,
dependerá do tipo de solo investigado, das normas e dos códigos específicos do local da obra bem
como das práticas regionais de investigações e construção. Cabe ao profissional responsável definir
qual o procedimento mais apropriado, porém recomenda-se utilizar métodos consagrados, ou seja,

50
UNIDADE 2

utilizar, apenas, os métodos e ensaios que são consenso entre especialistas brasileiros e internacionais.
Para obter resultados confiáveis, a exigência é usar equipamentos e procedimentos normalizados, com
calibrações frequentes e uma equipe treinada e qualificada.
No quadro, a seguir, são apresentados as principais técnicas de ensaios de campo e os parâmetros
obtidos durante a sua realização. Observando as informações contidas no quadro, é possível fazer a
escolha do tipo de ensaio de acordo com as características do subsolo e, também, das propriedades
que necessitam de determinação.

Parâmetros
Grupo Equipamento Tipo de Perfil u f' S D m c K G sh OCR σ − ε
solo u r v v 0 0

Penetrô- Elétrico (CPT) B A - C B A/B C - - B B/C B -


metro Piezocone (CPTu) A A A B B A/B B A/B B B B/C B C
Dilatômetro B A C B B C B - - B B B C
(DMT)
Standard Pene- A B - C C B - - - C - C -
tration Test (SPT)
Resistividade B B - B C A C - - - - - -
Pressiô- Pré-furo (PBP) B B - C B C B C - B C C C
metro Autoperfurante B B A B B B B A B A A/B B A/B
(SBP)
Conepressiôme- B B - C B C C C - A C C C
tros (FDP)
Outros Ensaio de Palhe- B C - - A - - - - - - B/C B
ta (Vane Test)
Ensaio de Placa C - - C B B B C C A C B B
Sísmicos C C - - - - - - - A - B -

Quadro 2 - Aplicabilidade e uso de ensaios in situ / Fonte: adaptado de Schnaid e Odebrecht (2012).

Legenda:
Aplicabilidade: A = alta; B = moderada; C = baixa; - = inexistente
Definição de parâmetros: u = poropressão in situ;f ' = ângulo de atrito efetivo ; Su = resistência ao cisalhamento não
drenada; Dr = densidade relativa; mv = módulo de variação volumétrica; cv = coeficiente de consolidação; K0 =
coeficiente de empuxo no repouso; G0 = módulo cisalhante a pequenas deformações; sh = tensão horizontal; OCR =
razão de pré-adensamento; σ −ε = relação tensão-deformação.

Processos indiretos de Prospecção Geotécnica

Consistem em processos de Prospecção Geotécnica que não fornecem, diretamente, os tipos de solos,
isto é, estas informações são obtidas por meio de correlações com suas respectivas características de
resistividades elétricas e velocidades de propagação de ondas sonoras. São procedimentos que per-

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UNICESUMAR

tencem ao ramo da Geofísica, uma área que realiza estudos de partes profundas do terreno a partir
de medições físicas na superfície, algo que não é possível obter por meio dos processos diretos de
prospecção (GANDOLFO, 2012).
A investigação geofísica apresenta, como principal vantagem, o levantamento rápido de uma ampla
amostragem do volume de subsolo em seu estado natural, não perturbado por intervenções diretas,
como perfurações (sondagens, cavas, trincheiras). É importante destacar que os seus resultados apre-
sentam identificação de lençol freático e de estruturas favoráveis à percolação de águas subterrâneas
para a perfuração de poços artesianos; delimitação da extensão no subsolo de jazidas; determinação
correta para vazamentos de contaminantes no solo; elaboração de mapeamento de vazios nas camadas
do solo; dimensionamento de aterros sanitários, entre outros (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020).

Achou interessante os usos e aplicações da Geofísica como ferra-


menta para exploração do subsolo? Você pode se aprofundar, um
pouco mais, no tema assistindo à conversa entre o Dr. Otávio Gan-
dolfo (especialista em Geofísica) e o professor Rafael Di Carlo que foi
transmitida online pela Universidade Federal do Pará. Neste vídeo,
são apresentadas explicações mais detalhadas e demonstrativas da
aplicação da Geofísica no ramo da Geotecnia para reconhecimento dos subsolos em grandes
obras e empreendimentos da Engenharia.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

Esses métodos de investigação fazem uso de ferramentas bastante sofisticadas para realizar as medições
e, conforme Albuquerque e Garcia (2020), se classificam, de acordo com os parâmetros que medem, em:
• Sísmicos: processos que se apoiam no princípio da propagação de ondas sonoras em função do
Módulo de Elasticidade do material, do Coeficiente de Poisson e da Massa Específica. O apare-
lho do método produz uma emissão sonora no terreno, com pancadas ou explosões, utilizando
geofones. É, então, registrado o tempo gasto das ondas, desde a sua emissão até a chegada aos
geofones. Fazem parte desses processos os Ensaios Geofísicos de Crosshole, a Sísmica de Refle-
xão, o Multichannel Analysis of Surface Waves – MASW (traduzido como Análise Multicanal
de Superfícies de Onda).

A figura, a seguir, mostra o sistema de instalação de um ensaio sísmico do tipo Crosshole.

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UNIDADE 2

Figura 3 - Configuração de um ensaio sísmico (Crosshole)


Fonte: Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em tons de cinza. Nela, há o horizonte de
subsolo contendo três perfurações com dispositivo retangular em seu fundo, e a indicação, em textos
embaixo de cada perfuração. À esquerda, está escrito: “emissor”, no centro, está escrito “geofone”,
à direita, lê-se: “geofone”. Os dispositivos são ligados, por meio de fios, a um dispositivo na parte
superior, o qual traz escrito: “equipamento de leitura e registro”. Linhas pontilhadas equidistantes,
em forma de arco, ilustram a propagação de onda do emissor para os geofones.

• Geoelétricos: processos que partem do princípio de que os vários materiais


que constituem o subsolo possuem valores diferentes e característicos de
resistividade elétrica. Fazem parte destes ensaios geofísicos os Ensaios de
Eletrorresistividade e o Ground Penetrating Radar – GPR (traduzido como
Radar de Penetração no Solo). A sua execução, geralmente, consiste na insta-
lação de quatro eletrodos equidistantes na superfície do terreno, sendo os dois
externos conectados a uma bateria e um amperímetro, já os eletrodos centrais

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UNICESUMAR

são ligados a um voltímetro. Esta instalação gera, artificialmente, um campo elétrico a partir de
uma corrente, o que permite a medida da resistividade no subsolo.

A figura, a seguir, ilustra a instalação deste sistema.

Figura 4 - Sistema de funcionamento do ensaio de resistividade elétrica


Fonte: Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em tons de cinza. Na parte superior, há quatro dispositivos retangulares
localizados acima da linha do horizonte, equidistantes entre si pela distância “a”. Os dois dispositivos centrais são ligados por
uma linha reta superior com a letra indicativa “V”. O dispositivo na ponta esquerda é ligado por uma linha ondulada superior
ao dispositivo na ponta direita, o qual é indicado pelo texto “eletrodo”. Essa linha ondulada traz as indicações “~” e “A”. Abaixo
do horizonte, estão linhas cheias, em arco, que ligam o dispositivo da ponta esquerda ao da ponta direita e são indicadas pelo
texto “Linhas de corrente (A)”. Ainda, abaixo do horizonte, há linhas pontilhadas, em arco, se propagando a partir do dispositivo
da ponta esquerda para o subsolo, essas linhas são indicadas pelo texto “Linhas de potencial (V)”.

Esses processos são vistos como rápidos e de excelente custo/benefício, principalmente, em obras de gran-
de porte. Os resultados apresentados são satisfatórios ao determinar características de camadas extensas
e profundas do subsolo, entretanto a sua aplicação é recomendada, apenas, como ensaio complementar,
porque tais resultados não apresentam informações conclusivas quando empregados, isoladamente.

Processos semidiretos de Prospecções Geotécnicas

Nos processos semidiretos, são obtidas características mecânicas das camadas de subsolo, por
meio de correlações com valores obtidos nos ensaios de campo, contudo sem realizar coleta de

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UNIDADE 2

amostras ou informações sobre a natureza do solo. Foram desenvolvidos para suprir a necessidade
de determinar as características do comportamento de camadas do subsolo em seu estado natural,
quando não é possível obter amostras.
Geralmente, os ensaios desta categoria integram as Investigações Geotécnicas Complemen-
tares, sendo realizados em furos de sondagens ou em pré-furos específicos para este fim. Cada
tipo de ensaio tem o seu equipamento padronizado segundo a normativa técnica própria. Fazem
parte destes tipos de processos os ensaios: Ensaio de Palheta (Vane Test); Ensaio de Penetração
do Cone – CPT; Ensaio de Penetração do Piezocone – CPTu; Ensaio Pressiométrico – PMT;
Ensaio Dilatométrico – DMT.

Ensaio de Palheta (Vane Test)

O Ensaio de Palheta, conhecido no cenário inter-


nacional geotécnico como Vane Test, é aplicado
na determinação da resistência ao cisalhamento
não drenada (Su) das argilas moles nas condições
naturais em que se encontram no terreno (in situ).
No Brasil, é regulamentado pela norma técnica
NBR 10905: Solo – Ensaios de Palheta in situ
– Método de Ensaio e consiste na cravação de
uma palheta no terreno, medindo, então, o torque
necessário para que ela realize a sua rotação cau-
sadora do cisalhamento do solo. Pode ser feito por
cravação direta do equipamento na superfície do
terreno, dentro de furos de sondagens ou pré-furos
específicos, realizando o ensaio para camadas de
subsolo mais profundas.
Figura 5 - Equipamentos para realização do ensaio
O equipamento necessário para a execução deste Fonte: Ortigão e Collet (1987, p. 108).

ensaio é constituído por: palheta (composta por qua-


Descrição da Imagem: a imagem mostra um de-
tro aletas de aço, altamente, resistente, com diâmetro senho em tons de cinza, dividido em duas partes. À
esquerda, vê-se, de modo ampliado, as partes inter-
de 65 mm e altura de 130 mm), haste fina e equipa- nas do equipamento, com a porção superior indicada
mento de aplicação e medição de torque. Este último pelo texto “haste”. Abaixo desse texto, há a porção do
equipamento que é indicada pelo texto “rolamento”,
rotaciona o conjunto haste-palheta a 6±0,6 º/min. logo abaixo, está a porção do equipamento indicada
pelo texto “sapata de proteção”, e a porção inferior
(graus por minuto) e, durante o ensaio, são realizadas da ponta é indicada pelo texto “palheta”. À direita,
as duas partes da porção superior são apresentadas
leituras da rotação a cada 2 º (graus) para esboçar a pelo texto “mesa de torque” e contém manivela. Vê-
-se, também, a porção identificada pelo texto como
curva “torque versus rotação”. “tubo de proteção” e a porção inferior, a qual está
Na figura 5, ao lado, são representados os equipa- ligada, por meio de uma linha tracejada, à parte
superior esquerda, indicando o encaixe de ambas.
mentos necessários ao ensaio.

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UNICESUMAR

O mecanismo de aplicação do torque tem uma coroa e um pinhão acionado por manivela. Há, também,
equipamentos de Vane Test mais modernos, cuja rotação é aplicada por motor elétrico e a leitura dos dados
é feita por computador com software específico, o qual gera, em tempo real, a curva “torque versus rotação”.
Por meio dos ensaios de palheta (Vane Test), podem-se obter os seguintes resultados: gráfico de
torque em função da rotação (“torque versus rotação”); momento máximo aplicado; resistência não
drenada nas condições naturais (Su); Resistência não drenada nas condições amolgadas (Sur). No caso
desta última, imediatamente à leitura do momento máximo aplicado, são realizadas dez revoluções
completas na palheta, e o ensaio é refeito visando, assim, à medição da resistência amolgada da argila.

Ensaio de Penetração do Cone

O Ensaio de Penetração do Cone é uma das mais importantes ferramentas que a Prospecção Geotécnica
possui, atualmente, e o seu desenvolvimento começou na Holanda, pretendendo simular uma cravação
de estaca no solo. Recebe diversos nomes no meio internacional, dentre eles: Ensaio de Penetração
Contínua (EPC), Deepsounding, Diepsondering, Cone Penetration Test (CPT), piezocone (CPTu), Pie-
zocone Sísmico (SCPTu), cone resistivo, entre outros. Estes ensaios fornecem resultados que permitem
a identificação de vários aspectos dos solos, tais como a estratigrafia dos perfis e a determinação das
propriedades mecânicas, por meio de correlações empíricas e semiempíricas.
No Brasil, era regulamentado pela NBR 12069 até o ano de 2015, porém esta normativa foi cance-
lada por não estar adequada aos equipamentos mais modernos que funcionam com recursos compu-
tacionais de análise. Por isso, atualmente, são utilizados os parâmetros de normativas internacionais,
como a norma norte-americana ASTM D-344: Standard test method for deep quasi-static, cone
and friction-cone penetration test of soils. Ela apresenta, satisfatoriamente, as recomendações para
o ensaio referente a terminologias, procedimentos, dimensões e apresentação de resultados.
O equipamento necessário à execução deste ensaio é composto por um conjunto de hastes que,
na extremidade inferior, possui um cone de ângulo de 60º no vértice e área de seção transversal de 10
cm², podendo chegar a 15 cm² nos equipamentos maiores e com mais capacidade de carga, e 5 cm² ou
menos naqueles empregados em condições especiais. Esse cone, ao ser cravado, permite a medição da
Resistência da Ponta do cone (qc) e da Resistência de Atrito Lateral (fs). Estes valores são, continuamente,
monitorados e digitalizados. Quando a medição é realizada na superfície pela transferência de esforços
nas hastes, chamamos de cone mecânico; quando a medição é feita por meio de células de carga eletrôni-
cas no próprio cone; denominamos cone elétrico; se essas medidas também realizam o monitoramento
das Pressões Neutras (u), chamamos de piezocone. A cravação da ponteira cônica é controlada por um
sistema hidráulico instalado em perfuratriz ou em veículos preparados para esta finalidade.
Podemos resumir o procedimento do Ensaio do Cone Mecânico em três etapas:
1. Uma força F1 é aplicada na haste interna, forçando o cone a penetrar no terreno por 40 mm,
então, é medida a Resistência da Ponta do cone (qc) para aquela profundidade de ensaio.

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UNIDADE 2

2. Em seguida, uma força F2 é aplicada na haste externa até encostar na base do cone, determi-
nando a Resistência por Atrito Lateral (fs) do terreno naquela profundidade de ensaio.
3. Ao aplicar uma força sobre as duas hastes para que penetrem no terreno, realizamos a medição
da Resistência Total (qt) que contempla as duas medidas anteriores: qt = qc + fs.

A figura, a seguir, ilustra o funcionamento do cone mecânico:

Figura 6 - Etapas de funcionamento do cone mecânico / Fonte: Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a imagem mostra uma ilustração em tons de cinza, dividida em três partes. À esquerda, está o dispo-
sitivo de ensaio alongado com pino superior e ponta cônica inferior posicionada sobre um eixo de linha horizontal pontilhada.
No centro, o mesmo dispositivo, agora, com uma flecha que aponta para baixo, em direção ao pino, indicada pelo texto “F1”.
Também se vê uma ponta cônica alinhada a 40 mm do eixo anterior e com flechas que apontam para cima, indicadas pelo
texto “qc”. À direita, o mesmo dispositivo, agora, com flecha para baixo na porção de cabeça sem o pino, e indicada pelo texto
“F2”, e, também, uma ponta cônica alinhada a outros 40 mm abaixo do eixo anterior, com as mesmas flechas e indicações da
etapa do centro e flechas para cima, alinhadas ao lado da porção central do dispositivo, indicadas pelo texto “fs”.

A cravação da ponteira deve ser feita com velocidade constante de 20 mm/s ± 5mm/s, e devem ser
recolhidas leituras, no mínimo, de um a cada 20 cm de avanço da ponteira, porém, na prática, são
realizadas leituras entre 20 mm e 50 mm, para compor melhor os resultados dos gráficos. A ponteira
será cravada até que a cota de interesse seja superada.

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UNICESUMAR

Durante a penetração, as forças medidas pela ponta e pelo atrito lateral variam em função das
propriedades dos materiais atravessados. Os registros de resistência da ponta do cone (qc) e atrito
lateral (fs) para o cone são, continuamente, monitorados e digitalizados. Na medição piezocone, o
procedimento é igual, apenas, com a medição adicional da poropressão (u). Com base nestas me-
didas, calculamos a razão de atrito (Rf):

fs
Rf =
qc
Em que:
R f = razão de atrito (%);
f s = resistência de atrito lateral (kPa);
qc = resistência da ponta do cone (MPa).

A classificação do tipo de solo depende do emprego de ábacos e da análise conjunta dos diagramas de
resistência de ponta, atrito lateral, razão de atrito e medida de poropressão.
A figura, a seguir, mostra o ábaco proposto por Peter K. Robertson, em 1986, e atualizado no ano
de 1990, podendo ser utilizado na identificação de tipos diferentes de solo:

Figura 7 - Ábaco de classificação do solo proposto por Robertson (adaptado) / Fonte: Neto et al. (2006, p. 40).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em tons de cinza e com duas partes. Na parte da direita, há a lista de
tipos de solo com indicação de números, ordenando esses solos de 1 até 12. Na porção direita, vê-se o gráfico em retângulo
com eixo horizontal e identificado pelo texto “razão de atrito Rf (%)”, variando de 0 a 8, e o eixo vertical identificado pelo texto
“resistência da ponta do cone qc (MPa)” variando de 0.1 a 100. Divisões internas do gráfico, pintadas de diferentes tons de
cinza, mostram números indicativos de cada área, variando de 1 a 12.

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UNIDADE 2

Os resultados das medições são apresentados para mostrar a profundidade, com os valores das resis-
tências se deslocando na horizontal. A figura, a seguir, apresenta um exemplo de resultado de Ensaio
de Piezocone com os respectivos gráficos em profundidade para resistência de ponta (qt), atrito lateral
(fs), razão de atrito (Rf) e medida de poropressão (u2):

Figura 8 - Exemplo de resultado do ensaio CPTu / Fonte: Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em cinco partes, mostrando os gráficos de resultado do Ensaio de Cone, todos
contendo um eixo vertical identificado pelo texto “profundidade (m)”, variando de 0 a 35. Cada parte representa a curva do gráfico,
conforme o parâmetro indicado no eixo horizontal, no topo, seguindo a ordem da esquerda para a direita: gráfico “Rf (%)” variando
de 0 a 8; gráfico “qt (MPa)” com variação de 0 a 25; gráfico “fs (kPa)” com variação de 0 a 150; gráfico “u2 (kPa)” variando de 0 a 1500;
camadas de subsolo identificada como “CPTU – Perfil Interpretado” com indicação das partes do solo e o seus respectivos nomes.

As medidas obtidas no Ensaio de Penetração do Cone (qc, fs, u) podem ser utilizadas para determinar, por
meio de estimativas importantes, as características e propriedades do solo, tais como: estratigrafia; densidade
relativa/resistência não drenada; ângulo de atrito; histórico de tensões; coeficiente de adensamento, entre
outros. Porém a sua principal aplicação está na previsão da capacidade de carga bem como dos recalques
das fundações, tendo relação direta na previsão do comportamento de fundações profundas do tipo estaca.

Ensaio Dilatométrico

Desenvolvido na Itália, na década de 70, pelo professor Silvano Marchetti, o Ensaio Dilatométrico
também é conhecido como Ensaio do Dilatômetro de Marchetti ou pela sigla DMT, sendo utilizado
em mais de 50 países como ferramenta de Prospecção Geotécnica.

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UNICESUMAR

A exemplo do Ensaio de Penetração do Cone, os equipamentos dilatométricos receberam avanços


tecnológicos, por exemplo, a associação a um módulo sísmico que captura e filtra sinais medidos por
geofones, neste caso, o ensaio recebe o nome de DMT Sísmico (SDMT).
O dilatômetro começou a ser utilizado, no Brasil, a partir de 1986, e ainda não possui uma normativa
nacional, sendo adotadas as normas internacionais, como a norte-americana ASTM D6635-1 – Standard
Test Method for Performing the Flat Plate Dilatometer Test e a europeia Eurocode 7 – Geotechnical
Design – Part 3 – Design assisted by field testing – Section 9 – Flat Dilatometer Test (DMT).
Para este ensaio, recomenda-se seguir as orientações de sondagem prescritas na NBR 6484: Solo
– Sondagens de Simples Reconhecimento com SPT – Método de Ensaio e as recomendações de
aplicação utilizadas para o Ensaio de Cone. Na NBR 6122 (ABNT, 2019, p. 4, grifo do autor), há, apenas,
uma sucinta explicação sobre o ensaio.



4.5.7 Ensaio dilatométrico - O ensaio dilatométrico (Dilatômetro de Marchetti)
consiste na cravação de uma lâmina, que possui um diafragma. Este diafragma é em-
purrado contra o solo pela aplicação de uma pressão de gás. O ensaio pode ser usado
para determinação da estratigrafia e pode dar indicação da classificação do solo. Pro-
priedades dos materiais ensaiados podem ser obtidas por correlação, sobretudo em
depósitos de argilas moles e areias sedimentares.

A figura, a seguir, mostra a instalação dos equipamentos necessários para realização do ensaio com
registro, também, de informações sísmicas (DMT Sísmico).
Figura 9 - Vista geral da instalação do equipa-
mento utilizado no Ensaio Dilatométrico (DMT)
Fonte: Oneto e Santos [2021].

Descrição da Imagem: a figura apresenta


uma ilustração dividida em duas partes,
em linhas pretas e vermelhas sobre fundo
branco. À esquerda, abaixo do nível do solo,
está a lâmina do dilatômetro conectada às
hastes metálicas que se prolongam acima
do solo e se conectam, por meio de uma
linha identificada pelo texto “cabo elétrico e
pneumático para até 80 bar” a uma maleta
aberta com relógios no interior, a qual é
identificada pelo texto “unidade de controle
com 2 manômetros”, no centro. Uma linha
indicada pelo texto “cabo pneumático” liga
a maleta, no centro, a um cilindro, à direita,
identificado pelo texto “tanque de nitrogê-
nio”. À direita, na parte inferior, é mostrado
um retângulo dividido em dois, contendo as
vistas ampliadas das situações de dilatação
do ensaio, esse retângulo é identificado, na
sua base, pelo texto “detalhe da lâmina”, e,
na parte superior do retângulo, estão os
textos “inicial” e “final”.

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UNIDADE 2

O método do ensaio inicia com a penetração da lâmina de aço inoxidável no terreno, por meio de
cravação. Quando atingida a profundidade desejada, a membrada metálica (de aço, 6 cm de diâmetro)
se expande contra o solo devido à ação do gás nitrogênio (extrasseco) injetado. São realizadas duas
leituras de pressões: a primeira é referente ao início da expansão da membrada (p0); a segunda se re-
fere à expansão de 1,1 mm no centro da membrana contra o solo (p1). Este procedimento é realizado
em intervalos de 20 cm ao longo da profundidade, o que fornece leituras suficientes para compor um
gráfico, bastante preciso, de cada camada de solo ensaiada.
A partir dos valores medidos de pressão do ensaio (p0 e p1), é possível obter os parâmetros caracte-
rísticos do solo, ao associar a diferença entre ambas (p1 – p0) a cálculos matemáticos específicos. Como
principais parâmetros obtidos dessa forma, temos: Módulo Dilatométrico (ED); Índice de Material (ID)
e Índice de Tensão Horizontal (KD).
O Ensaio DMT Sísmico permite, também, a medição das velocidades de onda que são utilizadas
no cálculo do Módulo de Cisalhamento Inicial do solo (G0).

Ensaio Pressiométrico

Desenvolvido na França, em 1955, pelo engenheiro Louis Ménard, o Ensaio Pressiométrico tem uso
recorrente e rotineiro nas Prospecções Geotécnicas, sendo, extremamente, útil para determinar o
comportamento de tensão-deformação dos solos in situ. O pressiômetro de Ménard foi o primeiro a
ser aperfeiçoado e difundido, e os mais utilizados são os pressiômetros autoperfurantes e os cravados.
Um exemplo famoso de autoperfurante é o CamKoMeter, desenvolvido na Universidade de Cam-
bridge, nos anos 70. O nome atribuído a esse pressiômetro se deve ao local onde ele foi criado, Cambridge,
bem como à sua eficiência em determinar os valores do coeficiente de empuxo em repouso dos solos (K0).
Não existem normas brasileiras que regulamentam a realização desse ensaio, sendo que, na NBR
6122 (ABNT, 2019, p. 4, grifo do autor), há, apenas, uma sucinta explicação sobre ele:


4.5.6 Ensaio pressiométrico – Este ensaio consiste na expansão de uma sonda ci-
líndrica no interior do terreno, em profundidades preestabelecidas. Dependendo do
modo de inserção do pressiômetro no solo, pode ser classificado como pressiômetro em
pré-furo (ou de Ménard), autoperfurante. O ensaio permite a obtenção de propriedades
de resistência e tensão-deformação do material.

Internacionalmente, o Ensaio Pressiométrico é regido pela norma ASTM D4719-20 – Standard


Test Methods for Prebored Pressuremeter Testing in Soils. Na França, local de origem de seu de-
senvolvimento, a norma regulamentadora é a NF P 94 110 1: Sols: reconnaissance et essais. Essai
pressiométrique Ménard. Partie 1: Essai sans cycle.
O método consiste, basicamente, em introduzir uma sonda cilíndrica no maciço de solo, para, então,
injetar pressão dentro de uma membrana flexível presente nesse equipamento. A membrana expande-se,

61
UNICESUMAR

Manômetros
lateralmente, até alcançar as paredes
de um furo pré-perfurado, em se-
guida, medem-se os deslocamentos
produzidos pelo processo de fura-
ção e pela expansão da membrana.
Este deslocamento é relacionado à
Volumímetro
magnitude das tensões principais in
Controle pressão-volume
situ e com os parâmetros de defor-
mabilidade existentes na zona onde
se realiza o ensaio.
Gás comprimido A instalação da sonda do Ensaio
Pressiométrico pode ser realizada
por diferentes procedimentos. Cada
um deles foi desenvolvido buscan-
do reduzir ou eliminar quaisquer
possíveis efeitos de amolgamento
do solo que a inserção da sonda
possa ter gerado, além de, secunda-
riamente, melhor adaptar o método
do ensaio para a realização em dife-
rentes condições do subsolo.
A figura, ao lado, mostra a ins-
talação do Ensaio Pressiométrico
Célula de Guarda
do tipo Ménard (MPM) bem como
Célula de medição
o seu equipamento, composto por
sonda pressiométrica e painel de
Célula de guarda controle de pressão.
Para interpretar, corretamente,
Figura 10 - Instalação do pressiômetro tipo Ménard os resultados dos Ensaios Pressio-
Fonte: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 56).
métricos, é preciso considerar o
tipo de pressiômetro utilizado; o
Descrição da Imagem: a imagem mostra uma ilustração colorida em que a linha
do horizonte separa a superfície do solo, a qual apresenta grama verde e céu método de instalação dele; o tipo
azul, das camadas abaixo do terreno, o qual apresenta terra marrom. No centro
na superfície do terreno, um tripé sustenta um grande dispositivo que contém
de solo e o método de análise esco-
relógios de medição, esse dispositivo é identificado pelo texto “manômetro”. Há, lhido, a fim de definir os parâmetros
ainda, no dispositivo, uma régua vertical identificada pelo texto “volumímetro”,
botões identificados pelo texto “controle pressão-volume”. O dispositivo é ligado, geotécnicos. As medições obtidas
por meio de um cabo, a um cilindro com válvula, a qual está à direita, identificada definem as curvas pressiométricas
pelo texto “gás comprimido”. O dispositivo é ligado a outro, que é alongado e
vertical, inserido nas camadas de subsolo, o qual está dividido em três partes, (tensão-deformação) e de fluência,
indicadas, respectivamente, no início, no meio e no final desse equipamento
alongado, como “célula de guarda”; “célula de medição” e “célula de guarda”.
nas quais os parâmetros geotécni-
cos serão deduzidos.

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UNIDADE 2

Os resultados obtidos por meio do Ensaio Pressiométrico podem ser utilizados em


diversas obras de Engenharia, tendo destaque especial para: elaboração de projetos de
fundações rasas, auxiliando na previsão de recalques; dimensionamento de estacas, o que
permite a determinação da capacidade resistente; em ancoragens, relacionando a expansão
da sonda com a expansão do bulbo de selagem da ancoragem; em projetos de pavimen-
tação, para determinar o módulo de deformabilidade para cada camada do pavimento;
em controle de compactação e melhoramento de solo, o qual permite obter o valor do
módulo pressiométrico do solo e, assim, controlar o valor esperado do assentamento.

Processos diretos de Prospecções Geotécnicas

Os processos diretos são aqueles que realizam furos no terreno (sondagens) e permitem re-
conhecer a natureza das camadas, realizando, também, a coleta de amostras para análises. A
quantidade de sondagens a serem realizadas seguirá as instruções do planejamento previsto
pela NBR 8036 (ABNT, 1983) e, também, dependerá da localização e das profundidades a
serem investigadas. As amostras retiradas durante esses processos serão submetidas a exame
táctil-visual e a ensaios de caracterização de solos (em laboratório ou em campo) para que
sejam determinadas todas as principais informações, como: granulometria; plasticidade;
cor; origem (solos residuais, transportados, aterros etc.) e classificação.
A forma de identificar, nomear e armazenar as amostras seguia uma normativa
técnica própria (antiga NBR 7250), porém todas essas informações encontram-se,
atualmente, no capítulo 6.6 “Identificação das amostras e elaboração do perfil geoló-
gico-geotécnico da sondagem” dentro da norma NBR 6484: Solo – Sondagens de
Simples Reconhecimento com SPT – Método de Ensaio (ABNT, 2020). Nestes
procedimentos de exames de amostras, é muito importante, também, seguir as orien-
tações da norma técnica específica que realiza a identificação básica dos solos, a NBR
7181: Solo Análise Granulométrica (ABNT, 2018).
Geralmente, as sondagens que fazem parte dos processos diretos integram as Investi-
gações Geotécnicas Preliminares, sendo as primeiras realizadas nos terrenos que servirão
de base para a elaboração dos projetos, principalmente, o de fundações. Cada tipo de
sondagem possui o seu tipo de equipamento, o seu método e a sua forma de análise,
padronizados segundo normativa técnica própria.
Fazem parte das prospecções geotécnicas diretas: poços; trincheiras; Sondagens a
Trado; Sondagem de Simples Reconhecimento com Ensaio SPT e a sua variante com
aplicação de torque (SPT-T).
No quadro, a seguir, são apresentadas as principais técnicas de ensaios de campo e
exames de laboratório indicados para o estudo dos solos e das fundações bem como a
sua normativa técnica associada.

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UNICESUMAR

EXAMES
OBRA LABORATORIAIS NORMA TÉCNICA ASSOCIADA
OU DE CAMPO

Poço NBR 9604: Abertura de poço e trincheira de inspeção em


solo, com retirada de amostras deformadas e indeformadas
Trincheira – Procedimento

Sondagem a trado NBR 9603: Sondagem a Trado – Procedimento

NBR 6484: Solo – Sondagem de simples reconhecimento com


Sondagem à SPT – Método de ensaio
percussão SPT NBR 16796: Solo – Método padrão para avaliação de energia
em SPT
Fundações
de Sondagem à per- NBR 16797: Medida de torque em ensaios SPT durante
edificações cussão SPT com a execução de sondagens de simples reconhecimento à
torque (SPT-T) percussão – Procedimento

NBR 9603: Sondagem a trado – Procedimento


Medida do nível de
água no terreno NBR 6484: Solo – Sondagem de simples reconhecimento com
SPT – Método de ensaio

NBR 6489: Solo – Prova de carga estática em fundação direta


Prova de carga NBR 16903: Solo – Prova de carga estática em fundação
profunda

Recalques de Ensaio de
NBR 16853: Solo – Ensaio de adensamento unidimensional
edificações adensamento
Análise
Maciços terrosos granulométrica NBR 7181: Solo – Análise granulométrica

Aterros
NBR 6457: Amostras de solo – Preparação para ensaios de
Barragens de Ensaio de compactação e ensaios de caracterização
terra compactação
NBR 7182: Solo – Ensaio de compactação

Estabilidade de Ensaio de cisalha- ASTM D3080 - 04 - Standard Test Method for Direct Shear Test
taludes mento direto of Soils Under Consolidated Drained Conditions
Muros de
arrimo Ensaio triaxial NBR 11682: Estabilidade de encostas

NBR 14545: Solo – Determinação do coeficiente de


Rebaixamento permeabilidade de solos argilosos à carga variável
Permeabilidade
de lençol
do solo NBR 13292: Solo – Determinação do coeficiente de
freático
permeabilidade de solos granulares à carga constante

Projeto de NBR 9895: Solo – Índice de Suporte Califórnia (ISC) – Método


Índice CBR ou ISC
estradas de ensaio

64
UNIDADE 2

EXAMES
OBRA LABORATORIAIS NORMA TÉCNICA ASSOCIADA
OU DE CAMPO

NBR 6458: Grãos de pedregulho retidos na peneira de aber-


Peso específico
tura 4,8 mm – Determinação da massa específica, da massa
do solo
específica aparente e da absorção de água

NBR 6459: Solo – Determinação do limite de liquidez


NBR 7180: Solo – Determinação do limite de plasticidade
Estudos gerais NBR 7185: Solo – Determinação da massa específica aparente,
in situ, com emprego do frasco de areia
Outros NBR 9813: Solo – Determinação da massa específica aparente
in situ, com emprego de cilindro de cravação
NBR 12770: Solo coesivo – Determinação da resistência à
compressão não confinada – Método de ensaio
NBR 9820: Coleta de amostras indeformadas de solos de baixa
consistência em furos de sondagem – Procedimento

Quadro 3 - Testes de campo e exames laboratoriais mais usados em Obras de Terra e Fundações / Fonte: a autora.

A seguir, detalharemos as formas de prospecções mais utilizadas em território nacional que permitem
a análise dos solos dos terrenos por processo direto.

Sondagens de Sondagem de Simples Reconhecimento com


SPT e com Torque (SPT-T)

Prevista como Investigação Preliminar para qualquer tipo de obra de construção, as Sondagens de
Simples Reconhecimento consistem em perfurações do terreno utilizando ferramentas de percussão
(batidas de martelo) que fazem a cravação do instrumento (amostrador-padrão) necessário para ensaios
como o Standard Penetration Test (Teste de Penetração Padrão) de sigla SPT, ou, a sua variante, o
SPT-T, o qual também realiza a medição dos momentos de torção (torque do amostrador-padrão).
Esta é reconhecida como a ferramenta de investigação geotécnica mais popular, rotineira e eco-
nômica, praticamente, no mundo todo, e, no Brasil, é regida pelas normas técnicas NBR 6484: Solo
– Sondagem de Simples Reconhecimento com SPT – Método de ensaio e NBR 16797: Medida
de Torque em Ensaios SPT durante a Execução de Sondagens de Simples Reconhecimento
à Percussão – Procedimento. Com a inclusão de equipamentos mecanizados nessas sondagens,
também é necessário se orientar pela NBR 16796: Solo – Método Padrão para Avaliação de Energia
em SPT, que trata do uso e das considerações para o ensaio quando do uso deste tipo de ferramenta.

65
UNICESUMAR

NBR 6484
No ano de 2020, houve uma extensa reformulação das normativas de
investigação geotécnica por parte da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT), principalmente, sobre as normas relacionadas às son-
dagens com SPT. A comunidade formada por empresas e profissionais
de Engenharia e Geotecnia foi bastante impactada por estas alterações
recentes das normas. Mas o que muda, de fato, para o trabalho, de
quem lida, no dia a dia, com projetos de fundações? No podcast desta
unidade, conversaremos com um profissional da área de Engenharia
e Geotecnia e saberemos como está sendo a adaptação de sua prática
profissional às alterações na norma NBR 6484: Solo – Sondagem de
Simples Reconhecimento com SPT – Método de Ensaio. Acesse o link
e dê o play nesta conversa enriquecedora para a prática profissional.

Este tipo de sondagem permite determinar a condição de compacidade de solos granulares (arenosos),
de consistência de solos coesivos (argilosos ou siltosos) e, até mesmo, a ocorrência de camadas de ro-
chas brandas no subsolo. Os seus principais objetivos são: coletar informações sobre os tipos de solo e
as suas respectivas profundidades de ocorrência (estratigrafia do subsolo); determinar a posição do
lençol freático (Nível de Água ou N.A.) e do Índice de Resistência à Penetração NSPT a cada metro
do subsolo que é prospectado.
Os equipamentos necessários para este tipo de prospecção são compostos por seis partes distintas:
amostrador-padrão para ensaio SPT e SPT-T; hastes com encaixe; martelo (massa total de 65 kg); torre
ou tripé de sondagem; cabeça de bater e conjunto de perfuração (com trépano e/ou peça de lavagem).
Existem outros equipamentos auxiliares ao ensaio, porém esses são os de participação mais ampla.

66
UNIDADE 2

Figura 11 - Instalação de equipamento


de Sondagem de Simples Reconhe-
cimento com SPT / Fonte: Schnaid e
Odebrecht (2012, p. 56).

Descrição da Imagem: a imagem


mostra uma ilustração colorida em
que a linha do horizonte separa a
superfície do solo, a qual apresenta
grama verde e céu azul, das cama-
das abaixo do terreno, o qual apre-
senta terra marrom. No centro da
imagem, na superfície do terreno,
há um tripé alto com uma polia na
ponta superior, a qual está preso um
cabo que se liga a uma peça quadra-
da amarela, identificada pelo texto
“martelo 65 kg”. Este está conectado
a uma haste cinza indicada pelo tex-
to “pino guia”. No centro da haste, há
um pequeno retângulo de mesma
cor, identificada pelo texto “cabeça
de bater”, o qual está conectado a
um tubo amarelo cravado no sub-
solo. A porção de camada do solo
que se encontra abaixo do nível da
grama mostra o prolongamento do
tubo, o qual é identificado pelo texto
“tubo de revestimento”, com visão,
em corte, mostrando as partes de
seu interior. Ele contém os equipa-
mentos conectados entre si, na cor
cinza, indicados pelos textos por
“luva”, “haste” e “amostrador”.

O resultado obtido no Ensaio


SPT é o número de golpes do
martelo para cravação do amos-
trador-padrão. Este correspon-
de ao índice de resistência (que
não possui unidade de medida)
chamado NSPT. O valor do NSPT é
o número de golpes que foram
necessários para fazer com que
o amostrador-padrão penetras-
se 30 cm do solo após cravação
inicial de 15 cm (contabilizando
os 45 cm de cravação total) em
cada porção de 1 m de subsolo.

67
UNICESUMAR

A figura, a seguir, ilustra o procedimento de ensaio e a forma de obter o NSPT, a partir dos golpes
da cravação.

Figura 12 - Procedimento para realização do Ensaio SPT e obtenção do índice NSPT / Fonte: Albuquerque e Garcia (2020, p. 57).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração, em tons de cinza, dividida em quatro partes, as quais mostram as etapas
de Ensaio SPT. À esquerda, vê-se a instalação dos equipamentos, em um furo no terreno, com a ponta do amostrador alinhada a
um eixo pontilhado horizontal. Há três outros eixos horizontais, em linhas pontilhadas equidistantes, indicados pelas cotas de 15 cm
cada. No centro, à esquerda, está a ponta do amostrador no segundo eixo, indicado pelos textos “trecho 1” e “NSPT1”. No centro, à
direita, está a ponta do amostrador no terceiro eixo, indicado pelos textos “trecho 2” e “NSPT2”. À direita, está a ponta do amostrador
no segundo eixo, indicado pelos textos “trecho 3” e “NSPT3”. No canto inferior direito, há a expressão “NSPT igual NSPT2 mais NSPT3”.

Sondagem à Percussão com Ensaio SPT


Sabendo que a Sondagem à Percussão com Ensaio SPT é um dos
métodos de investigação mais utilizados na Engenharia, é importan-
te ter clareza de como é o procedimento de realização e, principal-
mente, a anotação dos resultados de cada cravação do amostrador-
-padrão. Por isso, desenvolvemos esta Pílula de Aprendizagem para
ilustrar as informações básicas deste ensaio, as formas de realizar as
anotações dos golpes e como você determina o índice NSPT de cada
metro de solo prospectado.

68
UNIDADE 2

É possível que alguns relatórios de Ensaio SPT apresentem o número de golpes para os primeiros 30
cm e, também, o número de golpes para os últimos 30 cm, porém o valor do Índice de Resistência à
Penetração (NSPT) a cada metro do subsolo será sempre o dos últimos 30 cm cravados. Caso o número
de golpes referente aos primeiros e aos últimos 30 cm apresentem diferenças elevadas em seus valores,
indicará condição de amolgamento do solo ou de deficiência na limpeza do fundo do furo da sondagem
(SCHNAID; ODEBRECHT, 2012).
Na imagem, a seguir, é apresentado o relatório de sondagem com Ensaio SPT, feito na ci-
dade de Caxias-MA, representando os valores encontrados para um furo realizado no centro
do município, em local onde, anteriormente, existia um rio (condição que justifica a baixa
resistência encontrada).

LOCAL: AVENIDA OTÁVIO PASSOS, S/N - CENTRO - CAXIAS - MA PESO BATENTE 65 Kg ALTURADE QUEDA 0,75m
PENETRAÇÃO P
R
P
MATERIAL
O
Profundidade RESISTÊNCIA À Gráfico SPT F
U
E
(m) N R
PENETRAÇÃO
D
Golpes p/30 cm finais I F CLASSIFICAÇÃO TÁCTIL VISUAL
D
A I
D L
De Até 15 15 15 10 30 50 70 90 E

0,00 0,45 5 3 4 0,53m 0,53m Piso Cerâmico e contra piso. Areia muito fina, pouco
1,00 1,45 5 5 4 medianamente argilosa, pouco compacta de cor creme
amarelado escuro com presença acentuada de materiais
2,00 2,45 4 5 7 de demolição (pedaços de tijolos, concreto e etc.). De 0,00
3,00 3,45 8 7 8 à 0,53 m. Aterro.

4,00 4,45 7 8 8 4,39m 4,39m Areia, muito fina, argilosa, mediamente compacta de cor
5,00 5,45 8 8 8 5,77m 5,77m creme amarelado escuro com presença acentuada de
pedregulhos de quartzo (seixo) fino. De 0,53 à 4,39m.
5,45 5,77 - - -
5,77 5,77 5/0 - - Areia muito fina, pouco a medianamente argilosa,
medianamente compacta de cor creme amarelado escuro
com presença eventual de materiais de demolição
(pedações de concreto) e fragmento de pedras de arenito
silicificado. De 4,39 à 5,77 m.

Figura 13 - Relatório de sondagem com Ensaio SPT no centro de Caxias-MA / Fonte: Santos et al. (2018, [s. p.]).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma tabela em linhas pretas sobre fundo branco. Essa tabela contém seções verticais que
separam parâmetros e descrições e, também, linhas horizontais que delimitam camadas do subsolo. Na parte da esquerda da seção,
nomeada como “penetração”, temos as subcolunas com os valores indicativos de profundidade e de resistência à penetração, além do
gráfico SPT para os valores de golpes. Na parte central, as divisões das camadas do subsolo têm hachuras do perfil representado. Na
parte da direita, há a coluna identificada por “material” e “classificação táctil visual”, com os textos separados por linhas horizontais,
os quais descrevem a composição das camadas de solo do ensaio.

69
UNICESUMAR

Para analisar o relatório, começamos observando-o, da esquerda


para a direita, na tabela “Penetração”, verificando quantas medições
foram feitas e quantos metros de profundidade foram atingidos.
Ao todo, são oito Ensaios SPT representados pelas oito linhas da
tabela, e a profundidade sondada chegou até 5,77 m, que é o últi-
mo valor da coluna “Profundidade”, a qual registra as cotas iniciais
(subcoluna “De”) e finais (subcoluna “Até”) de cada um dos ensaios.
Já na coluna “Resistência à penetração”, encontramos os valores dos
golpes do martelo durante a cravação das três porções de 15 cm
(cada subcoluna “15” indica as porções da esquerda para a direita).

Entendendo que o valor NSPT é o Índice de Resistência


à Penetração que representa o número de golpes para
fazer o amostrador-padrão penetrar 30 cm de solo, após
a cravação de 15 cm iniciais, e observando o relatório da
figura anterior, qual seria o NSPT encontrado na profun-
didade de 3 m?

Imagine que executaremos uma infraestrutura de fundação, na


profundidade de 3 m, no terreno onde foi realizada a sondagem
da figura anterior. O valor Índice de Resistência à Penetração
do Ensaio SPT, para a camada do solo que devo considerar, é
aquele que está na linha “De” 3,00 “Até” 3,45, onde os valores nas
subcolunas de “Resistência à Penetração” são 6-7-8 golpes, res-
pectivamente, representando a primeira, a segunda e a terceira
porções de 15 cm de penetração do ensaio. Dessa forma, calcula-
mos o índice NSPT pela soma dos golpes da porção intermediária
dos 15 cm (valor de 7) e da porção final dos 15 cm (valor de 8),
resultando em um índice NSPT = 15 .
Utilizando, apenas, o valor do Índice de Resistência (NSPT,
ou, apenas, N) é possível classificar o solo (antes do ensaio da
amostra coletada que é enviada ao laboratório) por meio da
tabela dos estados de compacidade e de consistência dentro da
NBR 6484 (ABNT, 2020).

70
UNIDADE 2

ÍNDICE DE
RESISTÊNCIA À
SOLO PENETRAÇÃO DESIGNAÇÃO¹
N

≤4 Fofa(o)

5a8 Pouco compacta(o)


Areias e siltes arenosos 9 a 18 Medianamente compacta(o)

19 a 40 Compacta(o)
> 40 Muito compacta(o)
≤2 Muito mole

3a5 Mole

Argilas e siltes argilosos 6 a 10 Média(o)

11 a 19 Rija(o)

> 19 Dura(o)
1) As expressões empregadas para a classificação da compacidade das areias (fofa, compacta etc.) referem-se à deforma-
bilidade e à resistência desses solos, sob o ponto de vista de fundações, e não devem ser confundidas com as mesmas
denominações empregadas para a designação da compacidade relativa das areias ou para a situação perante o índice de
vazios críticos, definido na Mecânica dos Solos.

Quadro 4 - Estados de compacidade e de consistência do solo, com base no Índice de Resistência à Penetração N do Ensaio SPT
Fonte: ABNT (2020, p. 6).

Durante a realização do Ensaio SPT, em cada metro de sondagem, é possível realizar, também, outro
procedimento que associa a medida de torque à sondagem: é o chamado Ensaio SPT-T ou Ensaio de
Torque. Quando o amostrador-padrão estiver, completamente, cravado na camada de solo, após ter
realizado os golpes do martelo para os 45 cm de penetração, é aplicado um torque na parte superior da
composição da haste que rotaciona o amostrador-padrão. A medida do torque, que é registrada com
o auxílio de um torquímetro, fornece um dado adicional para a resistência à penetração.
Durante a rotação, é possível obter a leitura do Torque Máximo, o qual é necessário para romper a
aderência entre o solo e o amostrador-padrão, obtendo, assim, uma medida de atrito lateral amostrador-
-solo. Também pode ser conferida a medida do Torque Residual, quando se continua rotacionando
o conjunto até que a leitura no torquímetro se mantenha constante, então, é realizada nova medida.
A medida do torque, num Ensaio SPT-T, não é afetada por fontes de erros, como no caso do Índice
de Resistência N do SPT Padrão (contagem do número de golpes; altura de queda; peso da massa do
martelo; atrito e drapejamento das hastes; estado ruim da sapata cortante; roldana; corda etc.).
O valor do torque medido permite obter, de maneira mais confiável e a baixo custo, a resistência
lateral de determinado solo. O cálculo para o atrito lateral, por meio do torque medido no SPT-T, é:

71
UNICESUMAR

 T 
fT     100
  40, 5366  h   3, 1711 

Em que:
f = atrito lateral unitário (kPa);
T = torque máximo medido no SPT- T (kgf× cm);
h = comprimento do amostrador- padrão (cm).

A seguir, apresentamos outro exemplo de relatório de sondagem (da cidade de Ijuí-RS), o qual ilustra
melhor todos os valores que podem estar contidos num laudo de sondagem com SPT-T. Nele, temos
uma coluna que indica o número de golpes para cravar os últimos 30 cm do amostrador (NSPT), o valor
do Torque Máximo (TM), do Torque Residual (TR) e do comprimento cravado do amostrador (H).

SONDAGEM DE SIMPLES RECONHECIMENTO DO SOLO COM SPT-T NBR 6484/01


CLIENTE: CARLA PATRICIA SHULTZ COPPETI SONDAGEM À PERCUSSÃO SPT-T 01 SPT-T01
OBRA: TCC SOLOS RESIDUAIS BASAL ALTO INÍCIO 31/05/2016 TÉRMINO 31/05/2016
LOCAL: LOTEAMENTO COSTA DO SOL, IJUI/RS COTA 0,00 COORD. N: E:
PERFIL GEOLÓGICO

GRÁFICO AMOSTRADOR:
PROFUNDIADE DA
(GOLPES SP ENE T.)

TORQUE (Kg -f )
PROFUNDIDADE

RESISTÊNCIA À

NÍVEL D’ÁGUA
CAMADA (M)
PENETRAÇÃO

PENETRAÇÃO

AVANÇO
ENSAIO DE

SPT INTERNO = 34,9 MM PESO: 65KG


SPT EXTERNO = 50,8 MM ALTURA DE QUEDA: 75CM
TORQUE REVESTIMENTO: 2,00M
0 10 20 30 40 50 60 70 INICIO FINAL Max Res DESCRIÇÃO DO MATERIAL
7 7 10
SOLO ARGILOSO COM RESÍDUOS VEGETAIS DE COR MARROM TH
0,45 14 17 12,5 10 0,45 ESCURO, CONSISTÊNCIA RUA.

N.A. N.F.E.
15 15 15

1,00 TH

1,45
4 4 4
8 8 12 9 1,45 SOLO ARGILOSO PLÁSTICO DE COR MARROM E
15 15 15 CONSISTÊNCIA MÉDIA.
2,00 TH
2,45 3 4 6
7 10 11 7 2,45
15 15 15
3,00 SOLO ARGILOSO PLÁSTICO DE COR MARROM E TH
CONSISTÊNCIA RUA.
5 7 8
3,45
15 15 15
12 15 10 6 3,45
4,00 TH
4 4 5
4,45 8 9 11 10 4,45 SOLO ARENOSO GROSSO COM FRAÇÕES DE SILTE NA MATRIZ E
15 15 15 PEDREGULHO NO ARCABOÇO, VARIEGADO COMPACTO.
5,00 TH
5,45 4 5 5 9 10 12 10,5 5,45
15 15 15
NE OSSOLO LITÓLICO ARENOSO GROSSO DE COR PALHA
6,00 POUCO COMPACTO.
TH
4 4 4
6,45 15 15 15 8 8 10 8 6,45
SOLO ARENOSO GROSSO COM FRAÇÕES DE SILTE NA MATRIZ E
7,00 PEDREGULHO NO ARCABOÇO, VARIEGADO COMPACTO TH
4 4 4
7,45 15 15 15 19 29 25 20 7,45
7,70
4 4 4
7,70 TH
15 15 15 33 55 37 30 CONTATO COM A ROCHA.

Figura 14 - Relatório de sondagem de reconhecimento com Ensaio SPT-T / Fonte: adaptada de Coppeti (2016).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma tabela em linhas pretas sobre fundo branco. Essa tabela contém seções verticais que
separam parâmetros e descrições e, também, linhas horizontais que delimitam camadas do subsolo. Na parte da esquerda, na seção
nomeada como “gráfico”, temos a curva vertical vermelha para os valores de SPT e a curva vertical azul para os valores de torque.
No centro, à esquerda, há as colunas e subcolunas com os valores de golpes do Ensaio SPT e das medições máximas e mínimas de
torque. No centro, temos as divisões das camadas do subsolo, com hachura do perfil representado e, também, a coluna ao lado
indicando a profundidade de cada camada. Na parte direita, está a coluna indicada pelo texto “descrição do material”. Nela, os textos,
separados por linhas horizontais, descrevem a composição das camadas de solo do ensaio.

72
UNIDADE 2

Entendendo que o NSPT e o fT são, respectivamente, o Índice de Resistência à Penetração


presente nos laudos de sondagem e o Atrito Lateral Unitário calculado a partir da medida
do Torque Máximo, e observando o relatório da figura anterior, qual seria o NSPT encontrado
na profundidade de 2 m?

Imagine que executaremos uma infraestrutura de fundação na profundidade de 2 m no terreno


onde foi realizada a sondagem da figura anterior. O valor Índice de Resistência à Penetração do
Ensaio SPT, para a camada do solo que devo considerar, precisa ser obtido por meio dos valores
contidos na coluna “Ensaio de Penetração (Golpes/Penet.) ”, na terceira linha, pois o primeiro
ensaio da sondagem ocorreu na cota 0,00 m, onde temos os valores das três porções do ensaio:
3/15 – 4/15 – 6/15 (golpes/penetração).
Podemos calcular o NSPT por meio da soma dos golpes das últimas duas porções ou pela observação
do valor presente na coluna “Resistência à Penetração SPT”, na subcoluna “Final”, para aquela mesma
linha. Dessa forma, calculamos o índice NSPT pela soma dos golpes da porção intermediária dos 15
cm (valor de quatro) e da porção final dos 15 cm (valor de seis), resultando em um índice NSPT = 10,
o qual coincide com o valor exposto na subcoluna do próprio laudo.
Já para a determinação do Atrito Lateral Unitário, fazemos uso do valor presente na coluna
“Torque (kg.f)”, em sua subcoluna “Max.”, na mesma linha da profundidade (valor de 11), juntamente
com o valor de penetração do amostrador-padrão naquela camada (valor de 45 cm referentes às três
porções do ensaio), e aplicamos a equação para o cálculo do atrito lateral, resultando em um índice
de adesão fT = 0,6040 kg/cm².
Os resultados dos Ensaios SPT e SPT-T possuem inúmeras aplicações nos projetos de Fundações
e Geotecnia. Na prática, o uso dos valores médios dos índices dos Ensaios SPT e SPT-T podem servir
para a previsão de problemas bem como indicar se serão necessários mais ensaios durante as Investi-
gações Geotécnicas Complementares ou se pode prosseguir com as soluções mais simples de projeto.
Por exemplo, num perfil de solo que apresenta valores de NSTP superiores a 30, temos a indicação de
subsolo resistente e estável e, assim, podemos reduzir a quantidade de estudos geotécnicos elaborados
para o caso de obras de menor porte. Já em casos cujo perfil do solo apresenta valores de NSTP inferio-
res a 5, temos a indicação de subsolo compressível e pouco resistente, necessitando de mais estudos
geotécnicos, a fim de elaborar a solução de fundação.
Pode-se aplicar os resultados dos relatórios ou laudos de SPT e SPT-T na estimativa de parâmetros
do comportamento dos solos e na previsão do desempenho das fundações, resguardando as limitações
das metodologias comprovadas por pesquisas e aceitas nos meios de Geotecnia e Engenharia.

73
UNICESUMAR

Sondagem Rotativa Mista

Quando as sondagens à percussão encontram um Critério de Parada (situação em que a perfuração


não pode prosseguir), por exemplo, uma camada de material impenetrável, é possível surgir dúvidas
quanto à natureza do mesmo. É neste momento que devem ser incluídas as Sondagens Rotativas ou
Sondagens Mistas (percussão e rotativa).
Chamamos de Rotativa aquelas sondagens que são utilizadas na perfuração de rochas, matacões, blocos
de natureza rochosa ou solos de alta resistência. É executada com o uso de aparelho motor que imprime ro-
tação (sonda); bomba d’água; tubos de revestimento para os furos; hastes metálicas de sondagem; barriletes;
calibrador; amostrador para retenção dos testemunhos (amostras) com coroa diamantina de perfuração.
Na Sondagem Rotativa, é possível obter os testemunhos de rocha e avaliar a qualidade do maciço
rochoso, por meio do índice Rock Quality Designation (RQD). Este índice foi introduzido, primeiro,
pelo renomado engenheiro geologista Don U. Deere, em 1967, e se tornou um parâmetro-chave aos
sistemas de classificação de maciços rochosos. Pode ser calculado pela seguinte expressão:

 n 
  xi 
RQD  100   i 1 %
 L 
 
 
 
Em que:
xi = comprimento indiividual dos fragmentos recuperados
que tenham comprimentos superiores a 10cm;
L = comprimento total do avanço da perffuração .

Na figura, a seguir, temos a representação do método de determinação do RQD:

74
UNIDADE 2

Figura 15 - Exemplo de procedimento para determinação do RQD, a partir de testemunho de Sondagem Rotativa
Fonte: adaptada de Ramírez (2009).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração separada em duas partes. À esquerda, temos um elemento alongado,
fragmentado em vários trechos e ângulos, separado por cotas indicativas e o seu respectivo comprimento. Nele, há uma cota total
identificada pelo texto “comprimento total perfurado”. À direita, temos o cálculo em etapas para o RQD, mostrando como contabilizar
os comprimentos medidos no elemento e aplicá-los na fórmula definida por Deere.

Deere (apud RAMÍREZ, 2009) propôs um sistema de classificação baseada na relação entre o Índice
RQD e a qualidade dos maciços rochosos, seguindo o Quadro 5.

RQD
DESCRIÇÃO DA QUALIDADE DE ROCHA
%
< 25 Muito pobre
25-50 Pobre
50-75 Regular
75-90 Bom
90-100 Excelente

Quadro 5 - Classificação dos maciços de rocha para Índice RQD / Fonte: Ramírez (2009, p. 48).

Empregamos a Sondagem Mista para os casos em que os processos de percussão ou manuais não
conseguem penetrar, completamente, as camadas de matacões, blocos de natureza rochosa ou solos
de altas resistências. Então, associamos a Sondagem Rotativa à Sondagem à Percussão para o avanço
das investigações e a obtenção de amostras aos estudos dessas camadas.

75
UNICESUMAR

A norma técnica NBR 6122 indica que, para essas sondagens, deve-se indicar, em seus resultados,
as características principais da camada, tais como: tipo da rocha; grau de alteração; faturamento; coe-
rência; xistosidade; porcentagem de recuperação; Índice RQD; eventuais descontinuidades e, sempre
que possível, determinação do NSPT.
Toda obra de Engenharia se apoia sobre o elemento natural solo, às vezes, de forma direta (caso
das fundações superficiais e rasas), às vezes, de forma indireta (caso das fundações profundas). Porém
nenhuma delas escapa da interação com o maciço natural. Conhecer o solo que suportará a edificação
é essencial para evitar acidentes e problemas construtivos (patologias), como: aparecimento de fissu-
ras; trincas; desníveis; desmoronamentos e outros. Existem muitos casos famosos de edificações cuja
ausência de Investigação Geotécnica que revelasse as condições do subsolo condenou a construção,
como um todo, para o resto da vida. É o caso da Torre de Pisa, na Itália e, também, dos prédios tortos
na orla de Santos, no Brasil.
A fim de orientar a escolha do tipo do elemento de fundação mais adequado ao subsolo que se
apresenta no terreno e, também, para guiar os cálculos de dimensionamento da infraestrutura, é ne-
cessário realizar Investigações Geotécnicas. Estes trabalhos podem ser feitos por meio de ensaios no
local da obra (in situ) e/ou em laboratório, com amostras coletadas, permitindo conhecer e entender
algumas características do comportamento dos solos e das rochas bem como determinar a sua na-
tureza (classificação e condição natural), a resistência a esforços e outros parâmetros necessários ao
dimensionamento dos elementos de fundação.
Existem diversos métodos e procedimentos de prospecção do subsolo que fazem parte das Inves-
tigações Geotécnicas, e cabe à pessoa encarregada pelo projeto de fundações realizar o planejamento
de quais deles farão parte, ou não, dos estudos do solo. Esta decisão não possui uma recomendação
pronta e tabelada, nem mesmo na norma técnica principal para fundações (NBR 6122). É trabalho
do(a) projetista conhecer as opções de sondagens, ensaios e estudos, com o objetivo de escolher aquelas
que serão úteis aos dimensionamentos de estruturas.
A única regra sobre Investigações Geotécnicas que serve para todos os tipos de construção e terreno
é: não pode deixar de fazer!

76
No dia a dia do(a) profissional da Engenharia de Fundações, é muito importante conhecer as opções
de procedimentos que fazem parte das Investigações Geotécnicas, porém cada procedimento
tem as suas particularidades e informações de base que precisam ser, rapidamente, acessadas
quando se busca definir o plano de estudos do subsolo. Realizar a gestão das informações po-
tencializa, aluno(a), o seu trabalho ou de sua equipe. Passamos por uma quantidade bem grande
de métodos de Investigações Geotécnicas, nesta unidade, agora, realizaremos uma atividade de
“Arquivologia Mental”.
A seguir, estão embaralhadas várias normativas bem como equipamentos, procedimentos e resul-
tados que vimos, aqui. Encontre as informações úteis às Investigações Geotécnicas para fundações
e destaque-as das demais. Em seguida, anote os nomes delas no campo do organograma, na
Prospecção Geotécnica da qual esses nomes fazem parte. Caso você perceba que estão faltando
termos ou informações pertencentes aos procedimentos de estudos do subsolo que constam no
organograma, pesquise-os no material de estudo e complete com a informação.

GPR Cone resistivo Geo-Radar Geofones

Amostras deformadas NSPT NBR 6118 qc


Condutividade
Cilindro de gás Tripé Sistema de cravação
elétrica
Aplicado torque
Cravação do
na parte superior
Cravação, no terreno, amostrador-padrão no
da composição da
de uma ponteira fundo de um furo no
NBR 10905 haste, rotacionando o
cônica, a uma solo, usando a queda
amostrador-padrão,
velocidade constante de peso de 65 kg de
previamente, cravado
uma altura de 750 mm.
no terreno.
NBR 6483 NBR 16797 NBR 6118 Amostrador-padrão
Ponteira tipo cone
NBR 9603 NBR 6484 ASTM D-344
elétrico
NBR 9604 NBR 16796 Cone-pressiômetro Manômetros
Picareta Célula de medição ASTM D4719-20 ASTM D6635-1
Resistividade elétrica Crosshole NF-P-94-110-1 NBR 8036
Ponteira tipo cone
Unidade de torque fs NBR 8044
mecânico

Trado cavadeira Martelo 65 kg Cone-pressiômetro Unidade de controle

Trado helicoidal Torquímetro Caixa de comando Eletrorresistividade


Ponteira tipo
Volumímetro Hastes de sondagem Mesa de torque
piezocone

77
CONE CPT e CPTu SPT e SPT-T

Normas Normas

Equipamentos Equipamentos

Método Método

Resultados

78
1. Todo projeto de fundações requer um levantamento preliminar de informações para o seu
planejamento. Estes dados são divididos em quatro grandes grupos, de acordo com sua
natureza, em: Topografia; Geologia-Geotecnia; estrutura a construir; construções vizinhas.
Sobre as Investigações Geotécnicas realizadas para as fundações, assinale a alternativa que
descreve, corretamente, algumas das informações levantadas neste tipo de investigação:
a) Dados sobre estabilidade de taludes e encostas no terreno, histórico de erosões da
região e perfil geométrico da área para saber se haverá necessidade de serviços de
movimentação de terra (cortes e aterros).
b) Identificação das camadas do subsolo e profundidade de cada uma delas; dados referentes
ao valor de compressibilidade e resistência dos solos bem como o nível do lençol freático.
c) Tipo e uso da nova edificação; sistema construtivo e estrutural empregado; intensidade
e posicionamento das cargas que serão transmitidas ao solo.
d) Tipo e sistema construtivo da edificação vizinha; tipo de fundação empregado; exis-
tência de estruturas ou construções subterrâneas (ex.: porão, fossas e sumidouros);
patologias das construções; existência de mina de água, poços e nível de lençol freático.
e) Custos envolvidos na construção da nova obra e prazos definidos pelo cronograma
de execução.

2. As Investigações Geotécnicas fazem uso de diversos métodos de ensaio de campo para


conhecer e entender as condições do terreno da obra e auxiliar no desenvolvimento de
projetos de fundações. Esta investigação pode ser realizada, visualmente, por ensaios
in situ (no local) ou em laboratório. Sobre os ensaios de campo do tipo SPT-T, CPT e
CPTu, considere as afirmativas, a seguir:
I) O SPT-T foi primeiro proposto por Ranzini, em 1988, com o intuito de complementar
as informações obtidas pela Sondagem de Simples Reconhecimento, avaliando a
resistência cisalhante do solo. Antes da perfuração e da cravação dinâmica de amos-
trador-padrão, será realizado, a cada metro, a medição do Torque Máximo (Tmáx) com
um torquímetro, para, em seguida, obter o Índice de Resistência do Ensaio SPT (NSPT).
II) O Ensaio CPT consiste na cravação no solo, de forma contínua ou incremental, a
uma velocidade padronizada de uma ponteira, também, padronizada, do tipo cone
ou cone atrito, medindo a sua reação, contínua ou descontinuamente, para obter
os componentes de resistência de ponta e de atrito lateral local. Em função do alto
custo e da dificuldade em transportar o equipamento em locais de difícil acesso, o
CPT é pouco usado, além de ter a necessidade de mão de obra especializada.
III) O Ensaio de Piezocone (CPTU) tem muitas semelhanças com o Ensaio de Penetração
de Cone Simples (CPT), ou seja, as suas sondas possuem as mesmas configurações, ob-
tendo, então, os mesmos valores básicos. No entanto uma das principais diferenças das
sondas do CPTU é que elas têm um elemento poroso em sua extremidade, ou, muitas
vezes, em vários trechos, a fim de medir as pressões neutras do solo (relativas à água).

79
IV) O SPT-T foi proposto, primeiro, por Ranzini, em 1988, com o intuito de complementar
as informações obtidas pela Sondagem de Simples Reconhecimento, avaliando a
resistência cisalhante do solo. Após a perfuração e a cravação dinâmica de amostra-
dor-padrão, será realizado, a cada metro, a medição do Torque Máximo e Residual,
ainda com o amostrador-padrão cravado na porção do solo ensaiada.

É correto o que se afirma em:

a) I e II, apenas.
b) II e III, apenas.
c) I, II, III e IV.
d) II, III e IV, apenas.
e) I, apenas.

3. A seguir, é apresentado um relatório de Sondagem à Percussão com Ensaio SPT, da


cidade de Rio Preto da Eva-AM.

Figura 1 - Relatório de sondagem / Fonte: adaptada de Lima (2019).

Descrição da Imagem: a imagem mostra uma tabela em linhas pretas sobre fundo branco. Essa tabela contém
seções verticais que separam parâmetros e descrições e, também, linhas horizontais que delimitam camadas do
subsolo. Na parte central da seção nomeada como “perfil estratigráfico”, temos as subcolunas com os valores indi-
cativos de profundidade, N.A, avanço, índice de penetração e NSPT , além do gráfico SPT para os valores de golpes.
Na parte da direita, há duas colunas apresentando as características da amostra e a discriminação da camada com
os textos separados por linhas horizontais, os quais descrevem a composição das camadas de solo do ensaio.

80
Analisando os resultados para os Índices de Penetração do solo presentes no relatório, qual
é o valor do NSPT a 4 m de profundidade? Assinale a alternativa correta:
a) NSPT = 6.
b) NSPT = 8.
c) NSPT = 9.
d) NSPT = 14.
e) NSPT = 17.

81
82
3
Fundações
Diretas Rasas I
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos

Nesta terceira unidade do livro, você identificará os tipos de funda-


ções diretas rasas que executamos em nossas edificações, explora-
remos as principais teorias e métodos de cálculo para os parâmetros
de projeto, por exemplo, a capacidade de carga.
UNICESUMAR

Considere as seguintes informações: na Serra do Caparaó, no estado de Minas Gerais, existe uma
montanha chamada Pico do Cristal, que conta com, aproximadamente, 2.780 m de altitude e
mantém a sua forma sobre terreno rochoso desde antes da Era Cenozoica (há 65,5 milhões de anos).
No Planalto de Gizé, no deserto do Egito, foi construída a Grande Pirâmide de Quéops, que conta
com, aproximadamente, 139 m de altura e mantém a sua forma sobre um terreno arenoso desde a
IV Dinastia Egípcia (2.613-2.494 a.C.).

Figura 1 - Pico do Cristal, estado de Minas Gerais Figura 2 - Grande Pirâmide de Quéops, Egito
Fonte: Turismo... ([2021], on-line)1. Fonte: Shutterstock

Descrição da Imagem: fotografia colorida de uma montanha Descrição da Imagem: fotografia colorida de uma grande
de pedra cinza, com céu azul na parte superior e terreno com pirâmide marrom ao fundo, no centro, e uma pirâmide me-
vegetação verde na parte de baixo. nor, em decomposição, à direita. Ambas estão em um terreno
desértico com pedras e céu azul com nuvens.

São duas construções de enormes proporção e estrutura que se encontram estáveis e resistem ao
tempo há muitos anos, sendo que uma possui formação natural, outra é resultado de projeto e traba-
lho humanos. Ambas têm pontos em comum: são constituídas de rocha, além de um formato muito
semelhante — base maior e topo menor.
Mas você saberia dizer o motivo pelo qual esse formato é encontrado nas maiores e mais antigas
construções humanas? O que os projetistas e construtores da Antiguidade aprenderam para garantir
a estabilidade de suas obras, até os dias de hoje, como é o caso da Grande Pirâmide?
Não é recente ou inovador que o conhecimento humano tenha base na observação de fenômenos
naturais, e o mesmo se aplica às técnicas de construção. Quando imaginamos quais são os elementos

84
UNIDADE 3

naturais que alcançam maiores altitudes, podemos pensar, primeiro, nas montanhas e, depois, nas
árvores, sendo ambos com formações e sistemas de apoio diferentes. O primeiro e mais simples de
reproduzir é o das montanhas, o qual corresponde a uma base larga que sustenta o corpo e, gradual-
mente, se reduz, ou seja, um aspecto muito parecido com as construções antigas. Quanto mais alta a
montanha, maior a sua base. Existe um motivo para isso, claro!
Os construtores antigos perceberam uma relação entre o porte (tamanho) e o peso da construção
e a necessidade de uma base mais alargada para sustentá-la. O primeiro sistema de fundação vem
deste conhecimento, a Fundação Direta, aquela que transmite a carga da edificação ao solo por meio
da pressão distribuída em uma base alargada.
Entenderemos como, naturalmente, a concepção de uma Fundação Direta funciona, por meio da
análise do funcionamento do corpo humano. Imagine que o seu corpo é uma edificação e os seus pés
são a estrutura de fundação desta construção.
Para este experimento, você precisará de régua, fita métrica ou trena (para fazer as medições) e,
também, informações sobre o peso de um corpo (geralmente, por meio da pesagem em balanças,
como as de farmácia).
Primeiro, meça o comprimento de um de seus pés, desde a ponta do dedão (o mais proeminente)
até o final do calcanhar, e anote esta medida, em centímetros. Em seguida, meça a maior largura do
seu pé, aquela que fica próxima aos dedos, também, em centímetros. Imaginaremos que os seus pés
são como retângulos, com um lado maior e, outro, menor. Calcule a área deste retângulo.
No segundo passo, anote a sua massa corporal, para isso, você deve se pesar em uma balança pre-
sente numa farmácia ou num consultório médico, ou, até mesmo, naquelas balanças pequenas que
temos em casa. Anote o valor da massa corporal, em quilogramas, e calcule a carga que essa massa
gera, multiplicando-a pelo valor médio da gravidade (9,8 m/s²).
Com as informações de uma área hipotética da base do seu pé e a carga advinda do peso que o seu
corpo produz, determine o quanto de pressão cada um dos pés imprime, em média, no chão. Lembre-se
que o peso do corpo estará dividido entre dois retângulos de base. A seguir, temos uma organização de
equação para ajudar no cálculo, com a consideração da divisão da massa corporal para, apenas, um pé, e,
também a conversão de unidades entre kg (massa) e cm (comprimento) para MPa (unidade de pressão):


 M corpo  2
s pé  
   0, 098
  
 a pé  b pé 


Em que:
s pé = pressão que um pé imprime ao chão, em Mpa;
M corpo = massa corporal, em kg;
a pé = maior lado do pé, em cm;
b pé = menor lado do pé, em cm.

85
UNICESUMAR

Agora que você sabe qual a pressão média que cada um de seus pés imprime ao chão, quando anda,
ou, apenas, fica parado(a), anote, numa pequena lista, quais os lugares onde você esteve pisando e o
seu pé afundou (mesmo que alguns milímetros) no solo e quais aqueles que não sentiu afundamento
(solo duro). Por exemplo, em uma quadra de areia, na calçada de pedra, na grama, no asfalto, num
terreno de solo escuro, num terreno de solo colorido (qual cor?), em caminho de pedras ou seixos, no
barro, na beira do rio etc.
Use o espaço do Diário de Bordo, a seguir, para as suas anotações de medidas do pé, cálculo da
área do retângulo, massa corporal, cálculo da pressão de cada pé e registro das considerações sobre os
terrenos nos quais o seu pé afunda e não afunda.

DIÁRIO DE BORDO

Tente pensar: o que há em comum entre os locais onde o seu pé afundou e onde não afundou? E quais
tiveram mais e menos afundamento? Por quê?
Você entende que, naturalmente, o seu corpo foi constituído para permanecer em pé, ou seja, total-
mente, apoiado sobre dois pés. Então, a sua construção (corpo) está proporcional à sua fundação (pé);
se você fosse mais alto(a)/maior, haveria mais carga corporal a ser distribuída por sua base e, conse-

86
UNIDADE 3

quentemente, os seus pés deveriam ser maiores. O contrário também ocorre, se o seu corpo fosse mais
baixo ou menor, haveria menos carga corporal a ser distribuída pela base e, então, os seus pés seriam
menores. Porém, quando você está parado(a) sobre um terreno, a estabilidade de sua fundação (pés)
não depende, somente, do quanto de carga o seu corpo possui ou quão maiores são os seus pés, mas
também do tipo de resistência à pressão que o solo oferece. O projeto de fundações diretas rasas lida
com essa relação entre a carga da edificação, a forma da base e a resistência à pressão do solo.
Antes de começar a entender como funcionam as fundações diretas rasas, é preciso, primeiro, enten-
der o conceito por trás destas duas denominações que constam no nome dessas fundações: Rasas e Diretas.
Chamamos de superficiais ou rasas aqueles tipos de fundações nas quais os seus elementos
apoiam-se sobre o solo a uma profundidade duas vezes menor do que a sua menor dimensão em
planta (ABNT, 2019a). A imagem, a seguir, ilustra esta definição, mostrando o elemento de fundação
e a sua menor dimensão em planta (B), além de como medir a sua profundidade de apoio (H) em
relação ao nível do terreno (N.T.).

Figura 3 - Definição da fundação superficial ou rasa


Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a imagem mostra um desenho, em vista frontal, de um elemento de fundação com um pilar cinza-escuro inserido
em um recorte retangular de solo. Embaixo desse pilar, há uma cota medindo a largura da base, identificada pela letra “B”. À direita,
há uma cota medindo a distância do nível do terreno até a base da fundação, o que é identificado pela equação “H menor igual 2B”.

Nomeamos como diretas aqueles tipos de fundações cujos elementos transmitem a carga recebida da
estrutura da edificação (superestrutura) para o solo, por meio de tensões distribuídas sob a base (ABNT,
2019a). A imagem, a seguir, ilustra esta forma de distribuição de carga recebida (P) por um elemento
de fundação para o terreno, por meio da pressão de sua base ( s Ap ).

87
UNICESUMAR

Figura 4 - Definição da fundação direta


Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a imagem mostra um desenho,


em vista frontal, de um elemento de fundação na cor
cinza, com um pilar inserido em um recorte retangular
de solo, o qual está na cor marrom. Em cima desse pilar,
há uma flecha apontada para baixo, no centro do pilar,
acompanhada por um texto indicando “P igual carga no
pilar”. Embaixo do elemento de fundação, há flechas pe-
quenas apontadas para baixo, alinhadas na horizontal,
na base desse elemento e dentro do solo, com um texto
indicando as letras “sigma Ap”.

Dessa forma, conseguimos entender que as


fundações diretas rasas reúnem estas duas
características: (i) profundidade de assen-
tamento duas vezes menor do que a menor
dimensão do elemento; (ii) transmissão, por
meio da base, de cargas ao solo.

Se as fundações diretas rasas transmitem as cargas por pressão em suas bases e se apoiam a
pouca profundidade, entendemos que os locais onde essas fundações podem ser empregadas
devem ter as camadas superficiais do solo com resistência suficiente para suportar as tensões
do elemento de fundação. Ou seja, a carga aplicada pela fundação deve ser menor do que a
capacidade de carga do solo.

A Capacidade de Carga do Solo (σr), também chamada de Tensão de Ruptura do Solo (σrup),
corresponde ao valor de tensão que o elemento de fundação (bloco, sapata, radier etc.) aplica sobre o
solo, provocando deslocamentos que comprometem a sua segurança ou o seu desempenho (ABNT,
2019a). Esta ruptura ocorrerá em função da compressibilidade do solo, da geometria da fundação e
do embutimento da mesma no solo, além do carregamento da estrutura.
Os modos de ruptura variam desde uma ruptura frágil, chamada de Ruptura Geral, cujo elemento
de fundação pode girar e levantar uma porção do solo acima da superfície do terreno, até uma ruptura
dúctil, chamada de Ruptura por Puncionamento, em que o elemento de fundação se desloca, signi-
ficativamente, para baixo, sem ocorrer desaprumo (CINTRA; AOKI; ALBIERO, 2011). No intermédio,
também existe uma ruptura híbrida denominada Ruptura Local.
O quadro, a seguir, reúne as principais informações sobre estes três tipos de modos de ruptura para
Fundações Diretas Rasas, de acordo com os estudos de Aleksandar Vésic, em 1975.

88
UNIDADE 3

RUPTURA POR
MÉTODO RUPTURA GERAL RUPTURA LOCAL
PUNCIONAMENTO

Ilustração

Forma uma cunha que se Não apresenta um comporta- Não há movimentação de


move, verticalmente, para mento típico, são casos inter- solo na superfície, a fundação
baixo, e que empurra duas mediários entre os dois extre- se move, verticalmente, para
Descrição
outras cunhas, levantando o mos. Podem combinar ruptura baixo, por meio de penetra-
solo adjacente à fundação. generalizada e puncionamento. ção no solo. Dúctil. Progressi-
Frágil. Súbita. Catastrófica. Não há colapso catastrófico. va. Difícil percepção.

Solos mais deformáveis e


Solos mais resistentes e Solos de média compacidade
menos resistentes.
menos deformáveis. ou consistência.
Areias pouco compactas e
Ocorrência Areias compactas e muito Areias, medianamente,
fofas.
compactas. compactas.
Argilas moles ou muito
Argilas rijas e duras. Argilas médias.
moles.

Carga A carga de ruptura é


A carga de ruptura atinge
A carga cresce com os atingida para recalques mais
x pequenos valores de
recalques. elevados e, após ela, serão
Recalque recalque.
incessantes.

Não ocorre giro. Recalques Recalques sucessivos e


Baixos valores de recalque.
são sucessivos e é perceptível incessantes com ou sem
Superfície de ruptura bem
a movimentação de solo na acréscimo de carga, sem
Efeito definida e acompanha um
superfície. Superfície de ruptura desaprumo da fundação. O
tombamento da fundação,
definida, progressivamente, e padrão de ruptura não é,
cujo elemento pode girar.
abaixo da base da fundação. facilmente, observado.

Quadro 1 - Métodos de ruptura por Vésic / Fonte: Vésic (1975 apud CINTRA; AOKI; ALBIERO, 2011).

De forma numérica, o método de rup-


tura pode ser determinado por meio
de um gráfico que relaciona o ângulo
de atrito e a coesão do solo em questão:
Figura 5 - Gráfico dos métodos de ruptura do solo
Fonte: Cintra, Aoki e Albiero (2011).

Descrição da Imagem: a imagem mostra a


ilustração de um gráfico em linhas pretas so-
bre fundo branco. O eixo horizontal, nomeado
“coesão c (kPa)”, apresenta valores indicativos
50 e 100. O eixo vertical, nomeado “ângulo de
atrito phi”, mostra valores indicativos de 10,
20, 30 e 40 graus. Há, também, linhas com
inclinação para a esquerda dividindo o grá-
fico em três áreas, as quais são nomeadas,
da esquerda para a direita, como “I punciona-
mento”, “II ruptura local” e “III ruptura geral”.

89
UNICESUMAR

A Tensão de Ruptura do Solo (σrup) pode ser calculada segundo métodos e equações diferentes,
cada uma delas variando de acordo com o tipo e o estado do solo (areias e argilas nos vários estados
de compacidade e consistência), dimensão e forma do elemento de fundação (circulares, quadradas,
retangulares ou corridas) e, também, conforme a profundidade do elemento de fundação (TEIXEIRA;
GODOY, 2019).
O quadro, a seguir, lista alguns desses métodos e as condições específicas nas quais eles são aplicados.

COMPACIDADE OU
TIPO DE SOLO MÉTODO DE ANÁLISE
CONSISTÊNCIA

Compacta
Terzaghi – Ruptura Geral, Ruptura
Local e Ruptura Intermediária
Areia Fofa
ou
Meyerhof
Intermediária

Argila saturada Qualquer Skempton

Argila parcialmente saturada Acima da média Meyerhof

Argila porosa Qualquer Não aplicável

Não plástico Qualquer Tratar como areia fina


Silte
Plástico Tratar como argila

Quadro 2 - Método de análises para o cálculo da capacidade de carga de ruptura para fundações rasas
Fonte: adaptado de Albuquerque e Garcia (2020).

Qual o método de cálculo mais eficiente para um projeto de fundações diretas rasas? Esta
resposta pode ser obtida avaliando o desempenho das fundações após a sua conclusão. Na
prática, projetistas utilizam, sempre, mais de um método para confirmar as suas estimativas.
As escolhas de projeto são testadas por metodologias diferentes e agregam confiabilidade
nos resultados.

Para o cálculo da Tensão de Ruptura, pelo Método de Terzaghi, consideramos as características da


camada de solo na qual a fundação se assenta, isto é, desprezamos as contribuições das camadas de
solo acima da cota de apoio (ALONSO, 2019). Considerando uma situação em que o solo apresentará
uma ruptura pelo esforço da fundação, o Método de Terzaghi realiza o cálculo da Tensão de Ruptura
(σrup) utilizando a seguinte equação:

90
UNIDADE 3


 γ  B  N γ  Sγ   
σrup   c  N c  Sc   
 2 
 q  N q  Sq 

Em que:
c = coeesão do solo;
γ = peso específico do solo onde se apoia a fundação;
B = menor dimensão (em planta) do elemento de fundação;
q = pressão efetiva do solo na cota de apoio da fundação;
Nc 

N γ  fatores de carga (função do ângulo de atrito do solo f)

N q 

Sc 

Sγ  fatores de forma .

Sq 

Os fatores de carga (Nc, Nγ e Nq) podem ser determinados por meio de um ábaco elaborado por Ter-
zaghi, para cada situação de ruptura solo: Ruptura Geral e Ruptura Local. Os valores estão compilados
no quadro, a seguir, a fim de facilitar a consulta e a determinação.

Ângulo de atrito
Ruptura Geral Ruptura Local
f
Nc Nq Nγ N’c N’q N’γ
0º 5,70 1,00 0,00 5,70 1,00 0,00
5º 7,34 1,64 0,49 6,74 1,39 0,18
10º 9,60 2,69 1,25 8,02 1,94 0,47
15º 12,86 4,45 2,54 9,67 2,73 0,92
20º 17,69 7,44 4,97 11,85 3,88 1,74
25º 25,13 12,72 9,70 14,81 5,60 3,17
30º 37,16 22,46 13,73 18,99 8,31 5,66
35º 57,75 41,44 42,43 25,18 12,75 10,14
40º 95,66 81,27 100,39 34,87 20,50 18,82
Tabela 1 - Fatores de carga pela Teoria de Terzaghi / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Os fatores de carga (N’c, N’γ e N’q) apresentados no quadro fazem referência aos valores para condi-
ções de solos com Ruptura Local, sendo utilizados na Equação de Terzaghi apresentada, anterior-
mente, com redução aos valores da coesão (c) e do ângulo de atrito ( f ) tomados em 2/3 (TEIXEIRA;

91
UNICESUMAR

GODOY, 2019). Calculam-se novos valores de Coesão para Solos com Ruptura Local (c’) e Ângu-
lo de Atrito para Solos com Ruptura Local ( f ’), conforme detalhado nas equações, a seguir:

 2c
c ' 
 3
Solos com Ruptura Local 
 2  tan  f 
 tan  f ' 
 3

Dessa forma, nas situações em que os solos apresentam Ruptura Local (areias fofas e argilas moles), a
equação para cálculo da Tensão de Ruptura, pelo Método de Terzaghi (ALONSO, 2019), fica ajustado
à seguinte equação:

 γ  B  N 'γ  S γ   
σrup   c '  N 'c  S c   
 2 
 q  N 'q  S q 

Em que:
c’ = coesão do solo com ruptura local;
γ = peso específico do solo onde se apoia a fundação;
B = a menor dimensão (em planta) do elemento de fundação
q = a pressão efetiva do solo na cota de apoio da fundação
N 'c 

N 'γ  fatores de carga (função do Ângulo de Atrito do Solo com Ruptura Lo
ocal f')

N 'q 

Sc 

S γ  fatores de forma

S q 

Nos casos dos solos com Ruptura Intermediária, é necessário o uso da Equação de Terzaghi, por
meio da utilização de valores de Fatores de Carga com Ruptura Intermediária (N”c, N”γ e N”q) e
Coesão do Solo com Ruptura Intermediária (c”), que são uma média entre aqueles tomados na
situação de Ruptura Geral e Ruptura local, ou seja, segundo Albuquerque e Garcia (2020):

92
UNIDADE 3

 c  c' 5  c
c "  2  6

 N "  N c  N 'c
 c 2
Solos com Ruptura Intermediária 
N g  N 'g
N " 
 g 2
 N  N 'q
N "  q
q
 2

Desta forma, as situações em que os solos apresentam Ruptura Intermediária (areias, medianamente,
compactas e argilas médias), a equação para cálculo da Tensão de Ruptura, pelo Método de Terzaghi, fica:


 γ  B  N "γ  S γ   
σrup   c"  N "c  Sc   
 2 
 q  N "q  S q 

Em que :
c" = coesão do solo com ruptura intermediária;
γ = peso específico do solo onde se apoia a fundação;
B = menor dimensão (em planta) do elemento de fundação;
q = pressão efetiva do solo na cota de apoio da fundação;
N "c 

N "γ  fatores de carga para solo com ruptura intermediária;

N "q 

Sc 

S γ  fatores de forma .

S q 

Os fatores de forma (Sc,Sγ e Sq) propostos por Terzaghi, para o seu método, em 1943, podem ser obtidos
em um quadro esquematizado, de acordo com o formato da área da base do elemento de fundação
(TEIXEIRA; GODOY, 2019). Em 1975, Vésic realiza estudos experimentais para testar o Método de
Terzaghi e propõe modificações a esses mesmos fatores de forma, elaborando um novo quadro com
cálculos para cada caso. Ambas as considerações são apresentadas na tabela, a seguir:

93
UNICESUMAR

FATORES DE FORMA
FORMA DA BASE TERZAGHI (1943)
DA FUNDAÇÃO
Sc Sq Sγ
Corrida 1,0 1,0
Quadrada 1,3 0,8
Circular 1,3 1,0 0,6
Retangular
1,1 0,9
(L > B e L < 5B)
FATORES DE FORMA
VÉSIC (1975)

Sc Sq Sγ

Corrida 1,0 1,0 1,0

 Nq 
Quadrada 1   1 tan  f  0,6
ou Circular
 Nc 

Retangular  B   N q   B     B 
1      1    tan  f   1  0, 4    
(L > B e L < 5B)
 L   N c    L     L 

Tabela 2 - Fatores de forma segundo Terzaghi (1943) e Vésic (1975) / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

A determinação dos valores de coesão (c), do peso específico (γ) e do ângulo de atrito ( f ) podem
ser feitas por ensaios específicos de laboratório, em amostras do solo abaixo da fundação. Porém,
quando não se dispõe destes tipos de ensaios, os seus valores podem ser aproximados pelos quadros de
correlações da Resistência à Penetração (NSPT) do Ensaio SPT (ALONSO, 2019). O quadro, a seguir,
apresenta estas correlações aproximadas.

RESISTÊNCIA À COESÃO DO SOLO


TIPO DO SOLO PENETRAÇÃO c
NSPT (kPa)
Muito mole <2 < 10
Mole 2a4 10 a 25
Média 4a8 25 a 50
Argilas
Rija 8 a 15 50 a 100
Muito rija 15 a 30 100 a 200
Dura > 30 > 200

RESISTÊNCIA À
ÂNGULO DE ATRITO
PENETRAÇÃO
f
NSPT

94
UNIDADE 3

RESISTÊNCIA À COESÃO DO SOLO


TIPO DO SOLO PENETRAÇÃO c
NSPT (kPa)
Fofa <4 < 30º
Pouco compacta 4 a 10 30º a 35º
Areias Medianamente compacta 10 a 30 35º a 40º
Compacta 30 a 50 40º a 45º
Muito compacta > 50 > 45º
RESISTÊNCIA À PESO ESPECÍFICO
PENETRAÇÃO 𝛄
NSPT (kN / m³)
Muito mole <2 13
Mole 2a5 15
Argila Média 6 a 10 17
Rija 11 a 19 19
Dura > 19 21
RESISTÊNCIA À PESO ESPECÍFICO
PENETRAÇÃO 𝛄
NSPT (kN / m³)
Seca 16
Pouco compacta Úmida 5a8 18
Saturada 19
Seca 17
Medianamente
Areia Úmida 9 a 18 19
compacta
Saturada 20
Seca 18
Compacta Úmida 19 a 41 20
Saturada 21
Quadro 3 - Correlação entre a Resistência à Penetração (NSPT), a coesão (c), o ângulo de atrito (φ) e o peso específico (γ) do solo
Fonte: adaptado de Alonso (2019) e Albuquerque e Garcia (2020).

Método de Terzaghi
A aplicação do Método de Terzaghi para fundações diretas rasas preci-
sa ser um pouco mais explorada, por meio de um exemplo prático que
demonstre o método de cálculo, utilizando, assim, um Relatório de En-
saio SPT conhecido. Nesta Pílula de Aprendizagem, demonstramos um
cálculo simples para uma situação de projeto de uma fundação direta
rasa. Acesse o vídeo explicativo para ver esta demonstração!

95
UNICESUMAR

O cálculo da Tensão de Ruptura (σrup), por mé- estabelecer, com exatidão, a resistência ao cisa-
todos teóricos, é passível de diversas incertezas. lhamento do solo, tão importante para estimar a
Devido à impossibilidade prática de conhecer o capacidade de carga. Por esta razão, não aborda-
estado de tensões naturais do solo, não é possível remos todas as metodologias teóricas presentes na
estimar, precisamente, mesmo com sondagens, as literatura, partindo, então, para outros dois tipos
condições de drenagem que definirão o compor- de estimativas da Tensão de Ruptura.
tamento de cada camada de solo sob as fundações.
As suas formulações encontram dificuldade em
Cálculo da capacidade
de carga pela execução
de provas de carga no
terreno da obra

A tensão admissível é determinada utilizando méto-


dos de cálculo que se baseiam nos resultados de um
ensaio de campo chamado Prova de Carga sobre
Placa, previsto na norma técnica de fundações, a NBR
6122 (ABNT, 2019a), regulamentado, em detalhes,
pela NBR 6489: Solo – Prova de Carga Estática
em Fundação Direta (ABNT, 2019b).
Esse ensaio reproduz, da seguinte forma, uma
situação de solicitação de uma fundação direta so-
bre o maciço: (1) uma placa rígida de ferro fun-
dido com 80 cm de diâmetro é posicionada sobre
o solo a ser ensaiado; (2) um macaco hidráulico
será acoplado, a fim de produzir esforço de reação
contra uma caixa carregada de material (areia, ferro
etc.) ou um sistema de tirantes, conforme a figura,
a seguir; (3) um manômetro será acoplado ao
macaco hidráulico para medir o valor da pressão
(tensão) aplicada, e um deflectômetro, para medir o
recalque do sistema; (4) certa pressão será aplicada
pelo macaco hidráulico, em estágios, anotando-se
o tempo de início e fim de cada estágio, a pressão
em MPa e o recalque em mm, só iniciando o novo
estágio após a estabilização do recalque no estágio
anterior; (5) com os resultados monitorados, é traça-
do o gráfico que exibe a curva Tensão x Recalque
para aquele solo ensaiado (ABNT, 2019b).

96
UNIDADE 3

Figura 6 - Sistema de Ensaio de Placa utilizando caixa carregada


Fonte: adaptada de Alonso (2019).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em tons de cinza, com duas
partes. À esquerda, vê-se a instalação de equipamento para Ensaio de Placa com núme-
ros indicativos de 1 a 8, posicionados ao lado de cada peça. Há uma caixa preenchida
com hachura e um texto que diz: “carga de reação (areia, ferro etc.) ” sobre o equi-
pamento de eixo cilíndrico e da base larga, apoiada no fundo de um recorte de uma
camada de terreno, recorte esse que apresenta contorno hachurado. À direita, há um
texto indicando, em formato de lista, as legendas dos equipamentos numerados: (1)
viga de referência; (2) cavalete de apoio; (3) solo; (4) deflectômetro; (5) placa phi igual
a 80 cm; (6) viga de transição; (7) célula de carga; (8) macaco hidráulico.

As curvas podem representar um comportamento de ruptura dife-


rente de acordo com o tipo de condição do maciço. Os solos mais
resistentes (argilas rijas ou areias compactas) apresentam uma Curva
de Ruptura Geral, em que é possível definir o valor da Tensão de
Ruptura ( s R ) pelo eixo vertical que a curva faz quando o sistema
começa, sem haver aumento de tensão, a aumentar o recalque. Os solos
de baixa resistência (argilas moles ou areias fofas) apresentam uma
Curva de Ruptura Local, na qual não é possível definir o valor da
Tensão de Ruptura, pois a curva segue uma direção descendente sem,
nunca, estabelecer um eixo vertical definitivo para uma tensão limite.
Na figura, a seguir, são ilustradas as curvas para estes dois tipos
de rupturas:

97
UNICESUMAR

Figura 7 - Curvas Pressão x Recalque para Ruptura Local e Ruptura


Geral / Fonte: Alonso (2019).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em


tons de cinza, com duas partes. À esquerda, vê-se a instalação
de equipamento para Ensaio de Placa com números indicati-
vos de 1 a 8, posicionados ao lado de cada peça. Há uma caixa
preenchida com hachura e um texto que diz: “carga de reação
(areia, ferro etc.) ” sobre o equipamento de eixo cilíndrico e da
base larga, apoiada no fundo de um recorte de uma camada
de terreno, recorte esse que apresenta contorno hachurado. À
direita, há um texto indicando, em formato de lista, as legendas
dos equipamentos numerados: (1) viga de referência; (2) cavale-
te de apoio; (3) solo; (4) deflectômetro; (5) placa phi igual a 80 cm;
(6) viga de transição; (7) célula de carga; (8) macaco hidráulico.

A seguir, apresentamos as equações gerais da Tensão Admissível pela Prova de Carga (σadm) para
os dois tipos de curva Tensão x Recalque:
• Para solos com Ruptura Geral, temos:

sR
sadm 
FS

Em que:
s R  tensão de ruptura ;
FS = fator de segurançça que deve ser sempre : FS  2.

• Para solos com Ruptura Local, temos:

 s25 
 FS 
 
sadm 
s
 10 


Em que:
s25  tensão correspondeente a um recalque de 25 mm;
s10  tensão correspondente a um recalque de 10 mm;
FS = fator de segurança que deve ser sempre : FS  2.

98
UNIDADE 3

Tensão Admissível
A utilização do Ensaio de Placa para determinar a Tensão Admissível
pode ser melhor entendida por meio de uma aplicação prática que
demonstre o cálculo. Pensando nisso, elaborei uma Pílula de Apren-
dizagem que mostra o cálculo para um resultado de ensaio que con-
tém uma curva Tensão x Recalque. Acesse o vídeo explicativo para
ver esta demonstração!

III) Cálculo da capacidade de carga pelas equações semiempíricas: a Tensão Admissível é deter-
minada por meio de métodos de cálculo com base em ensaios de campo (SPT e CPT), um procedi-
mento bastante comum na prática de fundações, no Brasil (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020). As
equações utilizam um valor da Resistência à Penetração Média ( N SPT ) e a Resistência de Ponta
Média ( qc ) que se encontram na região do Bulbo de Tensões. O tamanho desse Bulbo de Tensões
varia de acordo com a forma da área da base do elemento de fundação, sendo que a profundidade de
cada um deles é calculada conforme a Menor Dimensão em Planta (B) do elemento.
Na figura, a seguir, é representado como se determina essa profundidade para cada caso.

Figura 8 - Definição do Bulbo de Tensões em função do formato da área da base do elemento de fundação
Fonte: Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em tons de cinza com três partes nomeadas. À esquerda, uma figura é
identificada como “quadrada ou circular”, no centro, uma figura é nomeada como “retangular” e, à direita, nomeada como “corrida”.
Todas repetem o mesmo elemento de fundação, que é uma flecha apontada para baixo, no centro do pilar, na porção superior, e um
círculo tracejado abaixo da base desse círculo. Do lado esquerdo da primeira figura, há uma cota horizontal indicando “largura da base
B” e uma cota vertical indicando o alcance do círculo de, aproximadamente, 2B. No centro, há uma cota horizontal que indica a largura
da base B e, também, há uma cota vertical indicando o alcance do círculo de, aproximadamente, 3B. No lado direito, vê-se uma cota
horizontal que indica a largura da base B e, também, uma cota vertical, a qual indica o alcance do círculo de, aproximadamente, 3B.

99
UNICESUMAR

As correlações utilizando os resultados dos Ensaios SPT e CPT advêm dos estudos de diferentes pes-
quisadores para diferentes situações de solo, sendo alguns desses estudos propostos há muitos anos,
mas ainda servem à estimativa de Tensão Admissível em determinada região do país.
A seguir, apresentamos, num quadro, a relação dos principais métodos propostos para os valores
de Tensão Admissível ( sadm ) correlacionando resultados de NSPT médio e qc médio:

EQUAÇÃO PARA TENSÃO ADMISSÍVEL


PROPOSTA SOLO N SPT sadm
(kPa)

sadm  20  N SPT
Mello Argilas do Terciário da
4 a 16

 
(1975) cidade de São Paulo.
sadm  100  N SPT  1

Argilas pouco a, me-


dianamente, plástica e sadm  20  N SPT
FS = 3.
Teixeira
Fundação apoiada em 5 a 25
(1996)
areias (g = 18 kN/m³) a
1,5 m de profundidade 
sadm  50  10   4  B    N SPT 
e FS = 3.
EQUAÇÃO PARA TENSÃO ADMISSÍVEL
qc sadm
PROPOSTA SOLO
(Mpa) (Mpa)

Teixeira e Areias
Godoy > 1,5
qc
sadm =
(1996) Argilas 10

Quadro 4 - Equações de Tensão Admissível por NSPT e qc médios


Fonte: adaptado de Mello (1975), Teixeira (1996) e Teixeira e Godoy (1996).

Para utilizar essas formulações, anteriormente, propostas, é necessário entender a forma de determinar
os valores médios da Resistência à Penetração (NSPT) e, também, da Resistência de Ponta (qc) aos perfis
do solo. O primeiro passo para isso é determinar a qual profundidade o elemento de fundação se
apoiará, então, definir (ou buscar a informação no pré-projeto) qual será a forma da área da base
(quadrada, circular, retangular ou corrida). Com estas informações em mãos, podemos realizar o
cálculo da área de influência do Bulbo de Tensões, de acordo com as orientações na figura anterior,
e conferir quais valores de NSPT e de qc estarão dentro desse bulbo.

100
UNIDADE 3

Para os casos em que estamos calculando a Tensão Admissível e, também, utilizando os relatórios
do Ensaio de Penetração Padrão (Standard Penetration Test – SPT), a figura, a seguir, ilustra como
é feito o cálculo da Resistência à Penetração Média ( N SPT ) para um elemento de fundação de área
da base quadrada ou circular.

Figura 9 - Procedimento para determinação do valor da Resistência à Penetração Média ( N SPT )


Fonte: Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em tons de cinza, dividida em duas partes. À esquerda, estão um perfil de
subsolo separado em três camadas horizontais e um eixo vertical com números verticais de Ensaio SPT, com um elemento de fundação
inserido na primeira camada, o qual mostra uma área circular hachurada, abaixo da base. À direita, o cálculo para o NSPT médio e a
Tensão Admissível.

Agora, pensando no caso da determinação da Tensão Admissível para os resultados do Ensaio de Pe-
netração do Cone (Cone Penetration Test – CPT), a figura, a seguir, ilustra como é feito o cálculo da
Resistência de Ponta Média ( qc ) para um elemento de fundação de área da base quadrada ou circular.

101
UNICESUMAR

Figura 10 - Procedimento para determinação do valor da Resistência de Ponta Média ( qc ) / Fonte: Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em tons de cinza, dividida em duas partes. À esquerda, há texto indicativo
superior que diz “circular ou quadrada”, mostrando um perfil de subsolo separado em duas camadas horizontais e um elemento de fun-
dação inserido na primeira camada, o qual tem uma área circular hachurada, abaixo da base. À direita, vê-se o gráfico com eixo horizontal
superior nomeado como “resistência de ponta (qc) (MPa)” e valores que variam de 1 a 8, além de um eixo vertical para baixo, o qual é
nomeado como “profundidade (m)” e valores que variam de 1 a 5. No gráfico, também é possível ver uma curva delimitada, descendente,
em linha preenchida, com um eixo vertical em linha tracejada, reta, indicando “qc médio” e o cálculo da Tensão Admissível descrito.

Cálculo para Ensaio SPT


A aplicação de métodos semiempíricos para determinar a Tensão
Admissível pode ser melhor entendida por meio de uma aplicação
prática que demonstre o cálculo. Pensando nisso, elaborei uma Pí-
lula de Aprendizagem que mostra um exemplo do cálculo para um
resultado de Ensaio SPT, considerando uma fundação direta rasa.
Acesse o vídeo explicativo para ver esta demonstração!

102
UNIDADE 3

Luciano Décourt (1999; 2017) aponta que, para os cálculos de projetos das fundações diretas, é neces-
sário almejar recalques iguais aos elementos que compõem a infraestrutura, e não tensões iguais. Para
isso, o autor propõe, em seus estudos recentes, a correlação entre a razão da Tensão de Projeto (q) e a
Tensão de Referência (qr) com a razão do Recalque da Fundação Direta (s) e o Lado Equivalente
da Fundação Direta (Beq), como mostra a equação, a seguir:

 q    s 
log    C  C  log  
 qr    Beq 
 

Em que :
C  coeficiente de compressibilidade intrínseca do solo .

Para determinar o Lado Equivalente da Fundação Direta (Beq), é preciso conhecer a Área da Base
(Abase) do elemento de fundação, cujo cálculo é:

Beq = Abase

O Método Décourt considera que a curva Carga x Recalque seja normalizada, de forma que a Tensão
de Referência calculada pelo método represente recalque de 10% do lado da fundação direta rasa. Para
determinar a Tensão de Referência (qr), o autor propõe o uso de correlações empíricas apresentadas
no quadro, a seguir. Nestas considerações, utilizamos, como valores de NSPT, o número de golpes do
Ensaio SPT para eficiência de 72%, enquanto o Neq corresponde ao valor do torque medido no
Ensaio SPT-T, que é dividido por um fator no valor de 1,2 proposto por Décourt (1999).
O quadro, a seguir, apresenta as correlações com essas tensões de referência:

TENSÃO DE REFERÊNCIA
SOLO qr
(kPa)

Areias 120  N SPT   120  Neq 

Solos intermediários 100  N SPT   100  Neq 

Argilas saturadas  80  N SPT    80  Neq 


Quadro 5 - Correlações para determinação da Tensão de Referência (qr) por Décourt (1999) / Fonte: adaptado de Décourt (1999).

103
UNICESUMAR

A determinação do Coeficiente de Compressibilidade Intrínseca do Solo (C), previsto no estudo de


Décourt (1999), leva em consideração a origem do solo que faz parte da camada de apoio da fundação direta.
Os principais valores estimados pelo autor, para solos brasileiros, estão organizados no quadro, a seguir.

COEFICIENTE DE COMPRESSIBILIDADE INTRÍNSECA DO SOLO


SOLO
C

Lateríticos 0,28 a 0,42

Não-lateríticos 0,426

Areias de quartzo
0,40 ± 15%
(sedimentares ou residuais)

Areias calcárias 0,70 ± 15%

Quadro 6 - Valores do Coeficiente de Compressibilidade Intrínseca do Solo (C) previstos no estudo de Décourt (1999)
Fonte: adaptado de Décourt (1999).

Resultado de ensaio SPT-T


O Método Semiempírico de Luciano Décourt, para fundações dire-
tas, é uma proposta, relativamente, recente, dentro da Engenharia de
Fundações, por isso, os seus cálculo e aplicações precisam de exem-
plos para demonstrar o seu funcionamento. Pensando nisso, elabo-
rei uma Pílula de Aprendizagem que mostra um exemplo do cálculo
para um resultado de Ensaio SPT-T, considerando uma fundação di-
reta rasa. Acesse o vídeo explicativo para ver esta demonstração!

Resistência dos solos em fundações


Ao chegar a este ponto, você já deve ter percebido que a determi-
nação da Capacidade de Carga dos Solos é um fator de extrema im-
portância para iniciar qualquer projeto de fundações, por isso, não
podemos errar no entendimento deste tópico. Então, é necessário
entender os principais parâmetros que influenciam este fator: con-
dições não homogêneas do solo e influência do lençol freático. São
estes tópicos que abordaremos no podcast desta unidade, em que
nos aprofundaremos, ainda mais, em alguns exemplos e, também,
desmistificaremos algumas noções erradas sobre a resistência dos
solos em fundações. Acesse o link e coloque para tocar!

104
UNIDADE 3

Base de fundações diretas rasas

No dimensionamento das fundações diretas rasas, o primeiro item a ser determinado é a Área da
Base, um valor calculado pela razão entre a Carga de Projeto e a Tensão Admissível do solo onde
o elemento da fundação se apoiará. Já foram abordadas, até aqui, as várias formas de determinação
da Tensão Admissível do solo, ficando a cargo do(a) projetista determinar o método utilizado, então,
resta entender um pouco mais sobre a Carga de Projeto.
A Carga de Projeto é composta pela soma do Esforço da Estrutura (P) e pelo Peso Próprio (pp)
do elemento de fundação. Nas situações em que o Peso Próprio de um elemento de fundação depende
das dimensões dele (base, altura etc.) que ainda serão calculados (caso de blocos e sapatas), recomenda-se
adotar a estimativa inicial de projeto correspondente a 5% do Esforço da Estrutura (ALONSO, 2019).

Figura 11 - Fundação direta rasa para construção de casa / Fonte: Shutterstock

Descrição da Imagem: a imagem mostra uma fotografia colorida de um canteiro de obras. Neste canteiro, o está solo escavado em
eixos retos, limitados por madeiras que formam caixarias apoiadas sobre esse solo. Tais eixos, que estão interligados, delimitam áreas
retangulares. Também é possível ver barras de aço, posicionadas na vertical, nos pontos de interseção dos eixos.

A
 P  pp 
sadm
A equação, ao lado, apresenta o cálculo
para a Área da Base de um elemento Em que :
de fundação direta: P = esforço da estrutura;
pp = peso próprio do elemento de fundação;
sadm = tensão admissível do solo .

105
UNICESUMAR

Com o valor da Área da Base calculado, o dimensionamento prossegue para a definição da forma dessa
base e o cálculo de suas dimensões. Sabemos que existem algumas formas básicas mais utilizadas, algumas
delas são escolhidas pelo(a) projetista, outras são impostas pelas condições de implantação do projeto.
As principais formas de área de base e os cálculos de suas dimensões são apresentados no quadro,
a seguir.

FORMA DIMENSÕES DE PROJETO EQUAÇÃO

Circular   4  A 
D  
 p 

D = diâmetro

Quadrada a= A

a = lado

Retangular a  b  A

a = maior lado
b = menor lado

Quadro 7 - Equações para cálculo de dimensões da base de elementos de fundações / Fonte: a autora.

106
UNIDADE 3

Os dimensionamentos de fundações diretas podem ter


diversos caminhos de cálculo, dependendo das variáveis
da situação da obra, como: filosofias de projeto; Capaci-
dade de Carga; recalque e Tensão Admissível. Por isso, é
importante conhecer exercícios resolvidos e ilustrações
explicativas para as diversas variações de forma, cargas,
posicionamento e espaço de terreno disponível. O livro
de José Carlos A. Cintra, Nelson Aoki e José Henrique
Albiero, Fundações diretas: projeto geotécnico, está disponível na Biblioteca Vir-
tual e é uma importante obra de referência sobre o tema para estudantes de
Engenharia Civil. Acesse este conteúdo, de forma gratuita, como aluno(a) da
Unicesumar e expanda os seus estudos sobre fundações!

As fundações são uma área de estudo, dentro da Engenharia, que depende de muito
estudo e prática para ser, completamente, aprendida. É importante aprender com
materiais e referências dos conhecimentos de quem tem prática na indústria seja
em projetos, seja em execução, como também na fiscalização ou na pesquisa sobre
as variações de condições de solo e projetos. Por isso, cabe a você colher o máximo
de ensinamentos disponíveis nas publicações da área de Fundações, principalmente,
aquelas de autores brasileiros, e adaptá-las às condições de solo, de equipamentos, de
geometria de edificação e de práticas executivas encontradas em nosso país.
É preciso que a pessoa que deseja desenvolver projetos de fundações conheça, a
fundo, este tipo de solução, porque é o primeiro nível de complexidade da área. Sem
entender como as fundações diretas rasas funcionam e são dimensionadas, dificulta-se
muito a compreensão de como as fundações indiretas e profundas são pensadas, para
suprir o que as anteriores não puderam solucionar.
Nas palavras dos consagrados Dirceu de Alencar Velloso e Francisco Lopes (2011,
p. 5), respectivamente, engenheiro de fundações e engenheiro geotécnico:


“Gostaríamos de lembrar que Fundações é um casamento, nem
sempre harmonioso, de técnica e arte. Portanto, o profissional que
se decide por essa especialidade, que é, como já foi dito, fascinante,
tem que ser prudente. Somente a experiência lhe permitirá ser
mais ou menos audacioso”.

107
No dia a dia profissional da Engenharia de Fundações, é muito importante conhecer os parâmetros
e elementos envolvidos no desenvolvimento de projeto. Porém cada método de cálculo possui
as suas particularidades e informações base que precisam ser, rapidamente, acessadas, quando
se busca definir o plano de dimensionamento. Passamos por uma quantidade bem grande de
tipos de fundações, parâmetros de projeto, métodos de dimensionamento e classificação dos
elementos, agora, realizaremos uma atividade de “Arquivologia Mental”.
A seguir, estão vários termos e palavras, embaralhados, que vimos, nesta unidade. Você analisa-
rá cada um deles e os anotará no espaço adequado do organograma de fundações superficiais.
Caso perceba que estão faltando termos ou informações que fazem parte das aulas presentes
no organograma, pesquise-os no material de estudo e complete com a informação.

Diretas Rasas Blocos Sapatas


Ensaio de Placa NBR 6489 Indiretas Profundas
Tensão Admissível Tensão Admissível
Método de Skempton Método Décourt
Por SPT Por CPT
Fatores de Segurança
Radier Tensão de Solicitação Tensão de Resistência
Parciais
Fatores de Segurança
Tensão Admissível Tensão de Ruptura Método de Terzaghi
Globais

108
109
1. Deseja-se executar uma sapata quadrada (b = 0,95 m) apoiada na cota -1,50 m do solo,
cujo relatório de sondagem é apresentado a, seguir:

Figura 1 - Relatório de sondagem com Ensaio SPT no centro de Caxias-MA / Fonte: adaptada de Santos et al. (2018).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma tabela em linhas pretas sobre fundo branco. Essa tabela contém seções
verticais que separam parâmetros (profundidade, Resistencia à Penetração, gráfico S e perfil), e linhas horizontais de-
limitando os resultados mensurados do ensaio. Embaixo da célula do gráfico SPT, há uma representação gráfica dos
resultados registrados, traçando um perfil decrescente até o ponto 4,45 m.

Sabe-se que esta sapata será confeccionada em concreto armado e que a carga que este ele-
mento de fundação deve distribuir ao solo, pela pressão de sua base, é igual a 75 kN. Não foram
realizadas provas de carga no terreno da obra, de forma que o Fator de Segurança utilizado
deve ser igual ou maior que 3.
Utilizando o Método Semiempírico de Tensão Admissível por SPT, assinale a alternativa que
apresenta a análise correta para a situação apresentada:

a) Tensão Aplicada > Tensão Admissível: a sapata está mal dimensionada para a carga
que precisa ser distribuída, situação de insegurança para a fundação.
b) Tensão Aplicada > Tensão Admissível: a sapata está bem dimensionada para a carga
que precisa ser distribuída, situação de segurança para a fundação.
c) Tensão Aplicada < Tensão Admissível: a sapata está mal dimensionada para a carga
que precisa ser distribuída, situação de insegurança para a fundação.
d) Tensão Aplicada < Tensão Admissível: a sapata está bem dimensionada para a carga
que precisa ser distribuída, situação de segurança para a fundação.

110
e) Tensão Aplicada = Tensão Admissível: a sapata está no limite de segurança de dimensiona-
mento para a carga que precisa ser distribuída, situação de insegurança para a fundação.

2. Luciano Décourt aponta que para os cálculos de projetos das Fundações Diretas, é
necessário almejar recalques iguais para os elementos que compõem a infraestrutura,
e não tensões iguais. Para isso, o autor propõe um método que parte de uma equação
única que leva em conta o deslocamento vertical (recalque) que a fundação irá apre-
sentar em função das tensões que às quais ela está sujeita. Considerando os cálculos
deste método, pede-se que analise a seguinte situação: Deseja-se executar uma Sapata
circular (diâmetro=1,25m) apoiada na cota -1,00m do solo não-laterítico cujo relatório
de sondagem é apresentado abaixo:

Figura 2 - Relatório de sondagem de reconhecimento com ensaio SPT-T / Fonte: adaptada de Coppeti (2016).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma tabela em linhas pretas sobre fundo branco. Essa tabela contém seções
verticais que separam Resistência à Penetração (SPT), torque, perfil geológico e descrição do material e, também, contém
linhas horizontais delimitando camadas do subsolo, com suas respectivas medidas e descrição do perfil do solo.

111
Sabe-se que esta sapata será confeccionada em concreto armado e que a carga que este ele-
mento de fundação deve distribuir ao solo pela pressão de sua base é igual a 55kN. Não foram
realizadas Provas de Carga no terreno da obra, de forma que o Fator de Segurança utilizado
deve ser igual ou maior que 3.
Utilizando o Método Semiempírico de Décourt, assinale a alternativa que apresenta a análise
correta para a situação apresentada:

a) Recalque = 0,10 mm.


b) Recalque > 0,10 mm.
c) Recalque < 0,10 mm.
d) Recalque < 10 mm.
e) Recalque > 10 mm.

3. Deseja-se executar um bloco de fundação quadrado (b = 0,80 m; h = 40 cm) apoiado


na cota -1,00 m do perfil geotécnico, a seguir:

Figura 3 - Perfil geológico / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: perfil geotécnico do solo em que será construído um bloco de fundação. Dois perfis diferentes
do solo estão indicados. Na base, solo do tipo argila e, na superfície, areia silitosa.

Sabendo que esse bloco será confeccionado com concreto estrutural fck = 20 MPa e que a carga
do pilar (25 x 25 cm) para o qual ele serve de fundação é igual a 55 kN, com Fator de Segurança
igual a 3, responda: qual a Tensão Admissível, em kN/m², do solo, na cota de apoio, pela Formu-
lação de Terzaghi? Ela é maior ou menor do que a Tensão Aplicada pelo bloco no solo?

112
4
Fundações
Diretas Rasas II
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos

Nesta quarta unidade do livro, você continuará explorando os tipos


de fundações diretas rasas que executamos em nossas edificações,
sendo elas: blocos, sapatas e radier. Aprenderemos as principais
teorias e métodos de cálculo para o dimensionamento geométrico
dos elementos de fundação desta categoria
UNICESUMAR

Imagine a seguinte situação: você lidera uma equipe de engenheiros e estagiários


responsáveis pelo projeto de um conjunto de prédios de dois a três pavimentos. A sua
equipe iniciou o trabalho fazendo os estudos das condições do solo e constatou que
ele possui alta resistência nas camadas superficiais, que aumenta até o apoio sobre
rocha natural e, também, que o lençol freático é profundo — condições favoráveis
para o uso de fundação direta rasa como solução à fundação destas obras — porém
a equipe vai até você para saber qual delas deve ser utilizada no projeto: bloco, sapata
ou radier? Qual seria a melhor fundação direta rasa?
Neste ponto da disciplina, você já deve ter aprendido que não existe “melhor
fundação” quando comparamos os tipos disponíveis, cada obra tem a “fundação
adequada” à sua situação e que representa mais economia no processo de construção.
Na maioria das vezes, quando as condições do solo favorecem o uso do sistema de
apoio de uma fundação direta rasa, optamos por este tipo, pois existem inúmeras
vantagens executivas em empregá-lo. A saber:
• Baixo custo quando comparadas com os outros tipos de fundações.
• Uso de materiais que já fazem parte dos recursos, comumente, disponíveis nas obras.
• Emprego de mão de obra mais simples, sem necessidade de técnicos ou pro-
fissionais especializados para os serviços.
• Processos de execução que não provocam vibrações no solo, as quais podem
afetar construções ou estruturas vizinhas.

As fundações diretas rasas possuem tipos que têm formatos, material constitutivo e
forma de ligação com a estrutura da edificação que são diferentes, geralmente, orga-
nizadas em três grupos: blocos de fundação, sapatas e radier. A análise de qual delas
será a mais adequada para a situação de sua obra depende, principalmente, de como
estão dispostos os pontos de transferência de carga para a fundação (quantidade e
localização dos pilares em planta) e da intensidade das cargas em cada um deles.
Para entender as possibilidades de aplicação dos diferentes tipos de fundações
diretas rasas, é importante conhecer modelos e exemplos de aplicação das mesmas
em edificações já finalizadas e que são utilizadas, atualmente. Além de expandir
os conhecimentos profissionais sobre variações de condições de obra e o emprego
de soluções adequadas, também é necessário desmistificar noções equivocadas ou
falácias da área da construção sem embasamento teórico algum.
No Brasil, temos exemplos de diversos tipos de obras de médio e grande porte que
utilizam fundações diretas rasas como solução de apoio sobre o solo, desafiando as
concepções de que este tipo serve, apenas, para obras de pequeno porte. É o caso do

114
UNIDADE 4

Museu de Arte de São Paulo (MASP), visto em nossa primeira unidade, cuja estrutura em dois pisos,
suspensa sobre o grande vão, tem seus quatro pilares vermelhos apoiados, sobre a fundação, em sapatas
que transferem as cargas ao solo.
A figura, a seguir, mostra o esquema de apoio da fundação do MASP:

8.40
Pinacoteca
8.40
Administração

-4.50
Paulista
-4.50
Auditórios

-9.50
Hall Cívico

SAPATAS DE FUNDAÇÃO
Figura 1 - Detalhes e cortes das estruturas e fundações em sapatas do MASP / Fonte: adaptada de Cárdenas (2015).

Descrição da Imagem: a figura apresenta um desenho colorido do Museu de Arte de São Paulo sobre fundo branco, desenho
esse dividido em três partes, por faixa diagonal. Na parte da esquerda, aparece a vista lateral longitudinal da edificação, com
o seu vão livre acima do nível do terreno e, abaixo, há o prolongamento, por linhas pontilhadas, de sua estrutura de pilares
e a fundação em sapata. Na parte do centro, o corte longitudinal da edificação expõe as estruturas de sustentação e funda-
ção dos pavimentos, acima do vão livre e abaixo do nível do solo. Na parte da direita, outro corte longitudinal da edificação
expõe o detalhamento das estruturas presentes e das fundações nos pavimentos nomeados “pinacoteca”, “administração”,
“Paulista”, “auditórios” e “hall cívico”. Os elementos de fundações em sapatas encontram-se circulados com cor amarela e
ligados por uma linha da mesma cor à legenda “sapatas de fundação”, na porção inferior da figura.

Outra obra brasileira com esse tipo de fundação é o Edifício Evidence, em Fortaleza, construído
em agosto de 1999, contando com 14 pavimentos apoiados sobre uma fundação em radier. A laje
da fundação foi executada para ter espessura de 50 cm, com capitéis de 80 cm de espessura sob
os pilares de maior carregamento, combinando armação de barras de aço com cordoalhas de aço
(concreto armado + concreto protendido).
A foto, a seguir, mostra a etapa de montagem da armadura desse radier.

115
UNICESUMAR

Figura 2 - Montagem das cordoalhas na laje, em que é possível ver os capitéis sob os pilares do Edifício Evidence, em Fortaleza-CE
Fonte: Cauduro (2000).

Descrição da Imagem: a imagem mostra uma foto colorida, de vista superior, mostrando o chão de um canteiro de obra
onde encontram-se posicionados barras de aço e cabos azuis, formando uma trama complexa. Um trabalhador usando
capacete encontra-se de pé, no meio da trama, em primeiro plano, trabalhando no posicionamento das barras e dos cabos.
Barras de aço verticais emergem do centro da trama e delimitam a posição futura do pilar, a área ao redor encontra-se
escavada, em formato retangular, sob as barras e os cabos. Ao fundo, um trabalhador que está agachado no meio da trama
de barras e cabos, trabalha no posicionamento deles sobre o terreno.

É importante adquirir conhecimento amplo do emprego de soluções de fundações em diversos casos,


tanto aqueles com êxito em conclusão das obras e estabilidade das estruturas quanto aqueles onde
houve problemas ou acidentes. Até mesmo situações de desastres ou falhas em edificações servem ao
propósito de entender como pode ser melhor empregado determinado tipo de técnica construtiva,
material, ou, mesmo, elemento de estrutura, como as fundações diretas
rasas. É por isso que exploraremos, um pouco, alguns casos famosos de
problemas relacionados ao emprego dessas fundações.
Para esta experimentação, você precisará ler parte do texto presente
na dissertação de mestrado em Geotecnia de Marianna Silva Dias, apre-
sentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, chamada
“Análise do Comportamento de Edifícios Apoiados em Fundação Direta
no Bairro da Ponta da Praia na Cidade de Santos” .

116
UNIDADE 4

Leia a seção 2.3.3, intitulada “Perfil geotécnico da cidade de Santos”, que explora as características
pesquisadas, ao longo de anos, sobre a situação do solo da cidade em questão. Realize o esboço do
perfil característico desse solo, contendo as suas camadas, espessuras, nomenclaturas e parâmetros de
resistência descritas no texto.
Leia o capítulo 2.4 “Os recalques e as fundações dos edifícios”, que trata da adoção das fundações
rasas para os edifícios na cidade de Santos e como isso se relaciona com o caso dos recalques que pro-
vocaram a inclinação desses edifícios, ao longo dos anos. Liste as prováveis causas de recalques para
os edifícios inclinados próximos da praia e, também, os problemas que moradores e frequentadores
dos prédios inclinados enfrentam ou enfrentaram em seu dia a dia, até que houvessem ações para
reaprumo dessas construções.
Use o espaço do Diário de Bordo, a seguir, para fazer o esboço representativo do perfil do solo da
cidade de Santos, com as suas camadas e informações de resistência. Também faça a anotação das
listas das prováveis causas de recalques dos edifícios bem como dos problemas identificados pelos
moradores e frequentadores desses prédios.

117
UNICESUMAR

Como vimos na unidade anterior, as fundações diretas rasas são aquelas que distribuem a carga vinda
da edificação, por meio da pressão da base do seu elemento, às camadas superficiais do solo.“Em situa-
ções em que o solo da camada superficial apresenta resistência suficiente e características adequadas
para suportar cargas, emprega-se esse tipo de fundação” (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020, p. 62).
A NBR 6122: Projeto e Execução de Fundações (ABNT, 2019) define alguns tipos de elementos
característicos das fundações diretas rasas, são eles:
• Bloco: elemento em concreto simples, de forma cúbica ou piramidal, dimensionado para que
as tensões de tração provocadas nele, pelos esforços da estrutura, sejam resistidas pelo próprio
concreto, dispensando o uso de armadura.
• Sapata: elemento de forma piramidal, em concreto armado, dimensionado para que as ten-
sões de tração provocadas nele, pelos esforços da estrutura, sejam resistidas pela armadura em
aço, disposta em seu interior (ABNT, 2019). A forma de sua base pode ser circular, quadrada,
retangular ou corrida (quando um dos lados é cinco vezes maior do que o outro). Além disso,
se divide em outras categorias, de acordo com a quantidade de pilares que transmitem cargas
a cada elemento (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020):
• Sapata isolada: recebe a carga pontual de, apenas, um pilar.
• Sapata associada: recebe a carga pontual de mais de um pilar.
• Sapata corrida: recebe a carga distribuída de mais de um pilar ou de uma parede
num mesmo alinhamento; assemelha-se a uma viga que distribui a carga por contato
direto com o solo.

• Radier: elemento na forma de uma placa em concreto armado que recebe mais de 70% dos
esforços dos pilares e os distribui no terreno, sobre uma grande área do solo na qual se encontra
em contato (VELLOSO; LOPES, 2011). De acordo com o seu arranjo estrutural interno, pode
se dividir em duas categorias:
• Radier flexível: composto por uma laje simples de concreto armado (sistema flexível).
• Radier rígido: composto por uma associação de vigas e laje de concreto armado
(sistema rígido).

Os elementos que compõem os tipos diferentes de fundações diretas rasas, geralmente, são fabricados
no próprio local da obra, utilizando materiais como pedra; tijolo maciço; concreto ciclópico; concreto
simples ou armado. No caso daqueles feitos de concreto, o método de execução segue uma sequência
semelhante para todos os tipos:
1. Abertura de vala: escavação (mecânica ou manual) da camada superficial do solo até a cota
de apoio da fundação, geralmente, no formato e nas dimensões da área da base do elemento
da fundação (bloco, sapata ou radier).
2. Apiloamento do fundo da vala: após a escavação, emprega-se técnica de compactação (manual
ou mecânica) do solo, na cota de apoio, para uniformizar e regularizar a superfície antes da
confecção do elemento de fundação.

118
UNIDADE 4

3. Lastro em fundo de vala: a NBR 6122 (ABNT, 2019) estabelece que se deve preparar um lastro
de concreto magro sobre a superfície do solo, na cota de apoio da fundação, geralmente, em
espessura igual ou superior a 5 cm, o que evitará possíveis contatos entre o solo e a armadura
da fundação (caso houver). Existem casos em que esse lastro é feito, apenas, com camada de
pedra britada compactada.
4. Montagem de fôrmas/posicionamento de armadura: nesta etapa, caso os solos não apre-
sentem coesão suficiente para se manterem sem desprender partículas, facilmente, e se mis-
turarem ao material (concreto), faz-se o posicionamento de fôrmas, as quais darão o formato
e o alinhamento previsto em projeto, para cada elemento de fundação. Também é o momento
de posicionamento das armaduras tanto dos próprios elementos (caso de sapatas e radiers)
quanto das esperas dos pilares que se ligarão às fundações.
5. Concretagem: quando pode ser produzido concreto no próprio local da obra ou usinado
em concreteiras e lançado na obra, por meio do sistema de bombeamento. Recomenda-se a
aplicação dos procedimentos de controle de preparo, recebimento e aceitação estabelecidos
pela NBR 12655: Concreto de Cimento Portland – Preparo, Controle, Recebimento e
Aceitação – Procedimento (ABNT, 2015).

Fundação do tipo radier


Como as fundações diretas rasas se apoiam nas camadas superfi-
ciais do solo, existe uma concepção, na área da construção, de que
esse tipo de fundação só pode ser executado em solos com alta re-
sistência superficial. A fundação do tipo radier é um exemplo que de-
safia essa concepção. Em nosso podcast, conversaremos a respeito
disso, falaremos sobre alguns outros exemplos e desmistificaremos
as concepções erradas sobre a resistência dos solos em fundações
diretas rasas. Acesse o link e põe para tocar!

Filosofia de projeto no dimensionamento de fundação

Para dimensionar uma fundação, é preciso, primeiramente, determinar qual tipo de filosofia de projeto
será seguida, sendo possível duas abordagens distintas: Valores de Cálculo e Solicitação Admissível.
A filosofia dos Valores de Cálculo — Método de Valores de Cálculo, segundo a NBR 6122 (ABNT,
2019) — possui o princípio de que uma solicitação de cálculo em projeto deve ser inferior à tensão ou
à força resistente de cálculo em projeto. Isso é obtido pela minoração/redução da resistência caracte-
rística, simultaneamente, à majoração/aumento da solicitação característica, por meio de fatores de
ponderação, também chamados de fatores de segurança parciais (CINTRA; AOKI; ALBIERO, 2011).
Na simbologia específica às fundações diretas rasas, temos:

119
UNICESUMAR

σ 

σ Sd  σ Sk  γ f  e σ Rd   Rk 
 γm 

Em que :
σ Sd = tensão de solicitação de projeto da fundação;
σ Sk = tensão de solicitação característica da fundação;
γ f = fator de ponderação para majorar a solicitação
ou fator de segurança parcial para solicitação;
σ Rd = tensão de resistência de projeto da fundação
ou capacidade de carga de projeto da fundação;
σ Rk = tensão de resistência característica da fundação
ou capacidade de carga característica da fundação;
γ m = fator de ponderação para minorar a resistência
ou fator de segurrança parcial para resistência .

Portanto, na fase de projeto, o critério de segurança estabelece que se deve dimensionar uma fundação
cujos elementos apliquem uma tensão sobre o solo a qual, por sua vez, não ultrapasse a resistência.

s Sd ≤ s Rd

a determinação da Tensão de Resistência de Projeto ( s Rd ) deve contemplar, ao mesmo tempo, os


Estados-Limites Últimos (ELU) e os Estados Limites de Serviço (ELS) para cada um dos elementos
de fundação e, também, para o conjunto. A Tensão Admissível (σadm) consiste na máxima tensão
aplicada ao terreno, pela fundação direta rasa, que atende aos fatores de segurança predeterminados
aos Estados-Limites Últimos (ELU) e aos Estados Limites de Serviço (ELS) (ABNT, 2019).
A filosofia da Solicitação Admissível — Método de Valores Admissíveis, segundo a NBR 6122
(ABNT, 2019) — tem o princípio de que a solicitação no elemento de fundação não deve ser superior
a uma Solicitação Admissível, a qual é calculada pela minoração/redução da resistência média por
um fator de segurança global, também chamado, somente, de Fator de Segurança (CINTRA; AOKI;
ALBIERO, 2011). Quando o projeto é de fundações diretas, essa solicitação recebe o nome de Tensão
Admissível; no caso das fundações por estacas, a solicitação recebe o nome de Carga Admissível. Na
simbologia específica para as fundações diretas rasas, temos:
s
sadm = Rk
FS g

Em que :
sadm = tensão admissível da fundação;
s Rk = tensão de ruptura característica da fundação
ou capacida
ade de carga última da fundação;
FS g = fator de segurança global;

120
UNIDADE 4

Portanto, na fase de projeto, o critério de segurança estabelece que seja obrigatório dimensionar uma
fundação cujos elementos aplicam uma tensão sobre o solo que, por sua vez, não ultrapasse a admis-
sível (ABNT, 2019).
s Sk ≤ sadm

A Tensão Admissível pode ser determinada de três formas:


i) Cálculo da Capacidade de Carga com Fator de Segurança: a Tensão Admissível é determinada
utilizando métodos de cálculo que se baseiam em teorias de capacidade de carga que foram desen-
volvidas com base em casos específicos de aplicação, levando em conta as particularidades do projeto
e a natureza do carregamento da fundação (ABNT, 2019). Geralmente, utilizam uma relação simples
de divisão da Capacidade de Carga (σr) pelo Fator de Segurança (FS) adequado ao caso, como na
equação que vimos, anteriormente.
O Fator de Segurança nas fundações rasas são coeficientes numéricos que inserem uma margem
de segurança no valor da solicitação/aplicação de ações pela fundação, considerando a probabilidade de
ruptura do solo, a qual pode ser associada por valores numéricos, de acordo com as seguintes situações:

COEFICIENTE DE
FATOR DE SEGURANÇA
MÉTODOS PARA DETERMINAÇÃO PONDERAÇÃO DA
GLOBAL
DA RESISTÊNCIA ÚLTIMA RESISTÊNCIA ÚLTIMA
gm C FS g

Valores propostos no próprio Valores propostos no próprio


Semiemíricosa
processo e, no mínimo, 2,15 processo e, no mínimo, 3,00

Analíticosb 2,15 3,00

Semiempíricosa ou analíticosb acres-


cidos de duas ou mais provas de
1,40 2,00
carga, necessariamente, executadas
na fase de projeto, conforme 7.3.1

a. Atendendo ao domínio de validade para o terreno local.


b. Sem aplicação de coeficientes de ponderação aos parâmetros de resistência do terreno.
c. Em todas as situações de g m , g f = 1, 4 (majoração) para o esforço atuante, se possível, apenas,
o seu valor característico; se já fornecido o valor de cálculo, nenhum coeficiente de ponderação
deve ser aplicado a ele.
Quadro 1 - Fatores de Segurança e coeficientes de ponderação para solicitações de compressão em fundações rasas
Fonte: adaptado de ABNT (2019).

121
UNICESUMAR

O assunto de Fator de Segurança nos cálculos de fundações lhe interessou?


Na revista Fundações & Obras Geotécnicas, edição 79, na seção “Em Foco”,
você pode conferir o artigo “Desempenho e Segurança em Obras Geo-
técnicas”, assinado pelos especialistas Sussumu Niyama, Arsênio Negro e
Paulo Ivo, que apresentam as principais considerações sobre este conceito
da Engenharia de Fundações o qual divide a opinião de profissionais e
estudiosos da área.

Dimensionamento de bloco de fundação

Como visto, anteriormente, nos tipos de fundações diretas rasas, os blocos são elementos executados
em concreto simples (sem armadura interna). São dimensionados para que todas as tensões de
tração produzidas neles, pelos esforços vindos da estrutura e as reações do maciço de solo, ao seu
redor, sejam absorvidas pelo próprio concreto. Eles podem ter uma forma cúbica ou escalonada (em
degraus), como na figura, a seguir:

Figura 3 - Bloco de fundação em concreto


Fonte: Shutterstock

Descrição da Imagem: a figura


apresenta uma fotografia colorida
de um solo escavado em aberturas
quadradas com elementos de funda-
ção de concreto com formato cúbico,
em seu interior. Ao fundo, há dois
elementos de concreto, endurecidos.
No canto inferior direito, um deles
tem placas de fôrma preenchidas
por concreto fresco, e, nos pontos
centrais dos elementos, há barras de
aço posicionadas na vertical.

122
UNIDADE 4

a0 a0
a a

Pilar

h=a-a0 tgα
2
a a
5 cm (concreto magro)

(a) (b)

Figura 4 - Dimensionamento de bloco de fundação do seguintes tipos: (a) escalonado; (b) cúbico / Fonte: Alonso (2019, p. 34).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em linhas pretas sobre fundo branco. Ela está dividida em quatro partes,
representando as formas de dois tipos de blocos de fundação. Na porção superior, duas representações de vista em planta, na
porção inferior, duas representações de vista em corte. À esquerda, nomeada como “a”, está a geometria de um bloco que tem
degraus entre a sua base até o início do pilar. À direita, nomeada como “b”, vê-se a geometria de um bloco quadrado em planta
e corte. São apresentadas cotas indicativas da medida do lado, do ângulo de inclinação e do cálculo de altura para os blocos.

Como mostrado na figura, o cálculo da Altura do Bloco (h) é realizado por uma equação que relaciona
a diferença entre o Maior Lado do Pilar (a0) e o Maior Lado da Base do Bloco (a), além da tangente
do Ângulo de Inclinação do Bloco (α). A definição do lado do pilar é um dado que já vem da estru-
tura da edificação acima da fundação; já o maior lado da área da base pode ser calculado, como visto
no item anterior, sobre base de fundações diretas rasas. O único elemento que precisa ser definido
é o Ângulo de Inclinação do Bloco, um valor determinado por meio de uma relação gráfica entre a
Tensão Aplicada ( s Ap ) pelo bloco no solo e a Tensão de Resistência à Tração do Concreto ( st ).

123
UNICESUMAR

(min.)

70°

60°

50°

40°

30°

0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5

Figura 5 - Gráfico para determinação do Ângulo de Inclinação do Bloco / Fonte: Alonso (2019, p. 34).

Descrição da Imagem: a figura apresenta a ilustração de um gráfico quadriculado em linhas pretas sobre fundo branco. No
eixo horizontal do gráfico, indicado pela equação da Tensão Aplicada sobre a Tensão Total, são apresentados valores variando
de 0 a 2,5. No eixo vertical, indicado pela letra “alfa” mín.; são apresentados valores variando de 30 graus a 70 graus. Há uma
curva crescente, arqueada para a direita, cortando a área do gráfico, também há uma equação relacionando o ângulo às tensões
do eixo horizontal.

Considerando que a Tensão Aplicada pelo bloco no solo não deve ser maior do que a resistência do
maciço, adota-se, nos cálculos de projeto, que a Tensão Aplicada ( s Ap ) pelo bloco é igual à Tensão
Admissível do Solo ( sadm ).
Para a determinação da Tensão de Resistência à Tração do Concreto ( st ) utiliza-se o menor
valor fornecido pelas equações, a seguir:

 f ck 
 25 
 
st  
1 MPa



Em que :
f ck = resistência à comppressão do concreto em MPa .

124
UNIDADE 4

Dimensionamento de um bloco de fundação


A utilização do gráfico para determinar o Ângulo de Inclinação do
Bloco pode ser melhor entendida por uma aplicação prática que de-
monstre os cálculos associados. Pensando nisso, elaborei uma Pílula
de Aprendizagem que mostra o cálculo de dimensionamento de um
bloco de fundação, a partir de uma Tensão Admissível já definida.
Acesse o vídeo explicativo para ver esta demonstração!

Dimensionamento de sapatas

Figura 6 - Fundação em sapata isolada / Fonte: Shutterstock

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia colorida de solo escavado em aberturas quadradas, contendo ele-
mentos de fundação de concreto em seu interior e formato achatado, como placa e prolongamento vertical de pilar acoplado.
Na esquerda e no canto superior direito, a escavação permite apresentar, apenas, o eixo do pilar. No centro, vê-se a visão su-
perior do elemento completo de fundação, inserido no fundo do buraco, em concreto endurecido. Barras de aço posicionadas
na vertical se prolongam acima dos eixos dos pilares.

125
UNICESUMAR

Diferentemente dos blocos, as sapatas são tipos de fundações diretas rasas executadas em concreto
armado, em formato piramidal, e que possuem altura bem reduzida em relação às dimensões de sua
base, ou seja, é um elemento projetado para trabalhar a flexão (TEIXEIRA; GODOY, 2019). A sua
base pode ter, praticamente, qualquer forma em planta, sendo mais, frequentemente, dimensionadas
as sapatas quadradas (a = b), as sapatas retangulares (a ≤ 5b) e as sapatas corridas (a >> b). Para a
execução facilitada das sapatas nas obras, recomenda-se que todas as dimensões definidas em projeto
sejam múltiplas de 5 cm, sempre arredondando o valor para cima (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020).

a0

d b0 b

Planta (b)

h2
h1
5 cm (magro)
(a) Perspectiva (c) Corte

Figura 7 - Dimensões de uma sapata isolada de base retangular e altura variável, vistas em: (a) perspectiva; (b) em planta; (c) em corte
Fonte: adaptada de Alonso (2019).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em linhas pretas e vermelhas sobre fundo branco e dividida em três
partes, representando a forma de uma sapata piramidal. À esquerda, nomeada como “perspectiva”, temos a vista isométrica da
sapata de base retangular ligada, em seu topo, a um pilar. No lado superior direito, temos nomeada como “planta”, a vista, em
planta, da sapata de base retangular e o pilar, ao centro. No lado direito inferior, temos nomeada como “corte”, a vista, em corte,
da sapata de formato piramidal, contendo as linhas vermelhas de posicionamento da armadura, em seu interior. Há também
as cotas indicativas da medida dos lados da sapata, do pilar, das distâncias entre as faces e das alturas variadas da pirâmide.

Como pode ser visto na Figura 7, a sapata tem alturas variáveis, desde a sua base até o encontro com o
pilar, conferindo-lhe esse formato piramidal. Existem sapatas com, apenas, uma altura (h = constante)
e outras com mais de uma altura (h = variável), como pode ser visto na figura, a seguir:

126
UNIDADE 4

Vista em planta Vista em planta

Vista Vista
em em
corte corte

h=CONSTANTE h
h0

Figura 8 - Sapatas isoladas com altura constante (h) e altura variável (h e h0) / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em linhas pretas sobre fundo branco, dividida em quatro partes,
representando as formas de dois tipos de sapatas de fundação, com um pilar cinza, no centro. Na porção superior, são apre-
sentados dois desenhos com a vista em planta, e, na porção inferior, com a vista em corte. À esquerda, é nomeada a geometria
de uma sapata de formato retangular na base e no corte, com cota indicando “h igual constante” entre a base do elemento e o
início do pilar. À direita, está indicada a geometria de uma sapata de formato piramidal na base e no corte, com cota indicando
“h0” entre a base do elemento e o degrau e cota indicando “h” entre a base do elemento e o início do pilar.

A altura da sapata é de extrema importância, pois ela determina sua classificação relativa à rigidez. Essa
classificação direciona a forma como as tensões, na base da sapata, se distribuirão pelo solo bem como o
procedimento de dimensionamento estrutural, em concreto armado, que deve ser utilizado. A norma técnica
de estruturas de concreto armado, NBR 6118: Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento
(ABNT, 2014), faz a classificação das sapatas em rígidas ou flexíveis, de acordo com o seguinte critério :

• Sapatas rígidas: são as mais utilizadas    a  a0  


   direção do maior lado
em projetos de fundações por serem  3 
menos deformáveis e sujeitas à ruptura 
h
por punção. Possuem altura atendendo 
   b  b0    direção do menor lado
ao seguinte critério, em ambas as direções   3 
(maior e menor lado): 

127
UNICESUMAR

• Sapatas flexíveis: “Embora de uso mais raro, essas sapatas são utilizadas para fun-
dação de cargas pequenas e solos relativamente fracos” (ABNT, 2014, p.189). Todas
as sapatas cujas alturas não seguem o critério estabelecido para sapatas rígidas são
consideradas do tipo flexível.

Para o cálculo da Altura da Sapata (h), iniciamos determinando a Altura Útil (d), segundo três
situações: balanço para o maior lado, balanço para o menor lado e resistência característica do
concreto (ALONSO, 2019). Após proceder o cálculo das três situações, toma-se, como Altura
Útil (d), o maior valor calculado (sempre múltiplo de 5 cm arredondado para cima).


   a  a0    Balanço do maior lado
  4 



   b  b0  
d     Balanço do menor lado
 4 


 1,96  Pk    Resistência característica
 1, 44 
 

 0,85  fck  

Em que :
a = maior lado da sapata;
a0 = maior lado do pilar;
b = menor lado da sapata;
b0 = menor lado do pilar;
Pk = carga total da sapata em kN onde :  Pk  P  pp  ;
f ck = resistência à compressão do concreto em kN/ m².

Em seguida, calcula-se a Altura da Sapata (h), somando ao valor da Altura Útil (d) o valor
do cobrimento da armadura inferior da sapata (próxima da base), que, geralmente, tem
dimensão de 5 cm.

h  d  5cm

Quando a sapata projetada tem altura variável, é preciso, também, calcular a altura da face
vertical da extremidade da sapata (h0). Neste caso, adota-se o maior valor, considerando
1/3 de h ou 15 cm.

128
UNIDADE 4

 h 
 3 
 
h0  
15cm



Cálculo de dimensionamento de sapata isolada


O dimensionamento geométrico de uma sapata, com suas alturas
variáveis, pode ser melhor entendido por meio de uma aplicação
prática que demonstre os cálculos associados. Pensando nisso, ela-
borei uma Pílula de Aprendizagem que mostra o cálculo de dimensio-
namento de uma sapata isolada, a partir de uma Tensão Admissível
já definida. Acesse o vídeo explicativo para ver esta demonstração!

O dimensionamento efetivo das outras dimensões da sapata obedece a alguns requisitos, definidos
por Albuquerque e Garcia (2020) como:
a) Distribuição uniforme de tensões: o centro de gravidade da área da base da sapata deve
coincidir com o centro da Carga do Pilar (P). Isso faz com que o esforço proveniente do pilar
tenha distribuição uniforme pela Tensão Aplicada ( s Ap ) da sapata no solo. A figura, a seguir,
ilustra essa distribuição quando os centros são coincidentes.

Vista em planta Vista em corte

a
P

Mesa
a0
2,5 cm
b b0 d

Figura 9 - Distribuição de tensões sob sapata, vista em planta e em corte / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma lustração em linhas pretas sobre fundo branco, dividida em duas partes. À
esquerda, tem-se a vista, em planta, de uma sapata piramidal de base retangular e com pilar retangular em seu centro bem
como cotas indicativas dos lados da sapata, do pilar e da distância entre as faces de ambos. À direita, tem-se a vista, em corte,
da sapata piramidal, com uma flecha grande no centro do pilar, mostrando a letra indicativa “P”. Também há flechas curtas
apontadas para baixo, alinhadas sob a base do elemento, com indicação de pressão aplicada.

129
UNICESUMAR

b) Dimensionamento econômico dos lados: as dimensões dos lados da sapata ( a × b ) e do


pilar ( a0 × b0 ) devem estar relacionadas de forma que a dimensão das abas (d) sejam iguais.
Isso resulta em momentos iguais nos quatro balanços, possibilitando que a parte inferior da
sapata seja igual nos dois sentidos. Para isso, é necessário que a seguinte relação seja seguida:

a  b  a0  b0

Em que :
a = maior lado da base da sapata;
b = menor lado da base da sapata;
a0 = maior lado da seção do pilar;
b0 = menor lado da seção do pilar .

Recomenda-se, sempre que possível, que a razão entre os lados da sapata seja menor, ou, no máximo,
igual a 2,5, como apresentado na relação, a seguir:

a
   2, 5
b

Em que:
a = maior lado da base da sapata;
b = men
nor lado da base da sapata.

c) Largura mínima: a norma técnica de fundações NBR 6122 (ABNT, 2019), estabelece que,
para um projeto utilizando sapatas isoladas e corridas, a largura mínima em planta (menor
lado da base) seja de 60 cm. Ou seja, mesmo que, em cálculo, seja possível adotar dimensão
menor para um dos lados da sapata, deve-se fixar esse valor ao menor lado da base (b) dela.
d) Momento fletor: quando a sapata recebe cargas excêntricas aplicadas à sua base ou acidentais
(ex.: vento, cargas transitórias etc.), ela estará submetida a esforços de flexo-compressão. Nestes
casos, é necessário determinar as tensões atuantes na base da sapata e realizar a verificação
normativa aplicável, sempre garantindo que a região comprimida seja de, no mínimo, 2/3 da
área total da base (ABNT, 2019).

A figura, a seguir, ilustra o caso de uma sapata submetida a esforço de flexo-compressão proveniente
da estrutura.

130
UNIDADE 4

F
Vista Vista em planta
em My My
corte

Figura 10 - Aplicação de esforços de flexo-compressão sobre sapata / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em tons de cinza e preto sobre fundo branco, dividida em duas partes.
À esquerda, tem-se a vista, em corte, da sapata piramidal com flecha vertical para baixo, no centro do pilar, mostrando a letra
indicativa “F” e uma flecha em arco, para a direita, com letra indicativa “My”. Também pode-se ver flechas curtas apontadas para
cima, alinhadas, formando um trapézio com a indicação, no lado menor, à esquerda, de pressão mínima e indicação, no lado
maior, à direita, de pressão máxima. Embaixo, cota indicativa, por meio da letra “a”, do lado maior sob a base do elemento,
com indicação de pressão aplicada. À direita, tem-se a vista, em planta, de uma sapata piramidal, de base retangular, com pilar
retangular em seu centro e cotas indicativas dos lados da sapata e do pilar.

O dimensionamento de uma sapata submetida à carga excêntrica ou ao momento fletor deve ser
projetada de forma que a Tensão Máxima na Borda ( smáx ) gerada na base seja menor ou igual à
Tensão Admissível ( sadm ). A norma técnica de fundações NBR 6122 (ABNT, 2019) estabelece os
limites de cálculo a estas situações.
e) Sapatas apoiadas em cotas diferentes: geralmente, busca-se apoiar todas as sapatas na mes-
ma profundidade, em todo terreno, para uma mesma fundação, porém existem casos em que
sapatas vizinhas estão apoiadas em cotas diferentes. Nestes casos, a recomendação é que elas
sejam posicionadas segundo um ângulo específico que não provoque superposição dos bulbos
de pressão das mesmas (ABNT, 2019). Os valores a serem adotados para o ângulo específico (α)
são: i) solos pouco resistentes (α ≥ 60º); ii) solos resistentes (α = 45º); rochas (α = 30º). Durante
a execução, a sapata posicionada na cota inferior deve ser construída primeiro.
f) Superposição de sapatas: no dimensionamento de projetos de fundações, é possível que
ocorram casos de duas ou mais sapatas ocupando a mesma posição no terreno.

131
UNICESUMAR

P1
Superposição

P2
P1 P2

Superposição

Figura 11 - Ocorrência de superposição de duas sapatas, vistas em planta e em corte / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em linhas pretas e em tons de cinza sobre fundo branco, dividida
em duas partes. À esquerda, temos a vista, em planta, de duas sapatas, de forma e pilar central retangulares com bases so-
brepostas e a área de intersecção hachurada tem um texto onde se lê “superposição”. À direita, temos a vista, em corte, das
sapatas piramidais com flecha para baixo, no centro do pilar, mostrando as letras indicativas “P1” e “P2” e, também, uma área
de intersecção hachurada cujo texto diz “superposição”.

132
UNIDADE 4

Nesses casos, podem ser propostas duas soluções: a alteração da geometria das sapatas, para evitar a coinci-
dência e a associação numa única sapata associada; a necessidade de uma viga de rigidez para transferir as
cargas de cada pilar por uma única resultante.
A figura, a seguir, ilustra o caso de um problema de superposição de sapatas solucionado pela alteração
da geometria das mesmas. Lembrando que, mesmo alterando a geometria das bases das sapatas, para so-
lucionar o problema de superposição, é preciso garantir que as áreas das bases permaneçam com mesmo
valor, pois as tensões aplicadas no terreno não podem se modificar em relação ao que já foi definido nos
cálculos de dimensionamento.

Solução
Superposição
Sapata 1 s

Sapata 1

P1 Sapata 2 s
P1
Sapata 2

P2
P2

Sd
Sd

Figura 12 - Problema de superposição de sapatas cuja solução é alterar a geometria das bases
Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em linhas pretas e em tons de cinza sobre fundo branco, dividida
em duas partes. À esquerda, nomeada como “superposição”, está a vista, em planta, de duas sapatas de forma e pilar central
retangulares com bases sobrepostas bem como a área de intersecção hachurada e uma cota medindo a distância horizontal
“Sd” entre os pilares das sapatas. À direita, nomeada como “solução”, está a vista, em planta, das duas sapatas de forma e pilar
central retangulares com bases realinhadas, evitando a intersecção. Também se vê a cota medindo a distância horizontal “Sd”
entre os pilares das sapatas.

A figura, a seguir, ilustra o caso de um problema de superposição de sapatas que é solucionado pela
associação delas, por meio da adição de uma viga de rigidez entre a sapata associada e os pilares. Lem-
brando que as cargas dos dois pilares, as quais estão aplicadas, serão consideradas uma única Carga
Resultante (R = P1 + P2) aplicada num centro de gravidade posicionado entre ambos.

133
UNICESUMAR

Vista Superior
Superposição

P2 P2
P1 P1
CG CG

XCG
XCG
Sd
Sd

P2 P1 P2

P1+P2

Viga
Viga

Vista frontal
Vista lateral

Figura 13 - Problema de superposição de sapatas com solução pela associação de sapatas


Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em tons de cinza sobre fundo branco, dividida em quatro partes. Na
parte superior esquerda, está a vista, em planta, de duas sapatas retangulares, com área de intersecção de suas bases hachurada,
nomeada como “superposição”, e uma cota indicando a distância entre os eixos dos pilares “Sd”, inclusive, o meio dessa distância,
representada pelas letras “XCG”. Na parte inferior esquerda, nomeada como “vista frontal”, está uma única sapata piramidal com
uma flecha vertical para baixo, no centro do pilar, flecha essa indicada por “P2”. Na parte superior direita, nomeada como “vista
superior”, está a vista, em planta, de uma grande sapata retangular contendo dois pilares alinhados em um eixo horizontal bem
como uma cota que indica a distância entre os eixos dos pilares “Sd” e o meio dessa distância, representada pelas letras XCG.
Na parte inferior direita, nomeada como “vista lateral”, há uma única sapata piramidal com uma flecha vertical para baixo, no
centro de cada pilar, e, entre eles, uma terceira flecha indicando “P1 + P2”.

Os centros de gravidade da sapata associada e da Carga Resultante dos pilares deverão ser coinciden-
tes. Para saber a Posição, no Eixo X, para o Centro de Gravidade (XCG) da Carga Resultante (R),
procedemos com o seguinte cálculo:

P 
X CG   2   Sd
R

Em que :
XCG = coordenada, no eixo X, para a carga resultante;
P2 = carga de maior intensidade dos pilares associados;
R = carga resultante dos pilares associados, onde : R  P1  P2 ;
Sd = distância, no eixo X, entre os centros de carga dos pilares associados .

134
UNIDADE 4

g) Sapatas na divisa: no dimensionamento de projetos de fundações, é possível que ocorram


casos de pilares situados juntos da divisa do terreno, de forma que uma sapata isolada ultra-
passaria o limite e adentrasse a área vizinha. Nestes casos, são utilizadas as chamadas sapatas
de divisa, cujo centro de carga do pilar não coincide com o centro de gravidade da área da
sapata, como ilustra a figura, a seguir:

Divisa
Folga
b

Folga
b0

CGp CGsapata
a0 a

e
b
e
b
Divisa

Figura 14 - Sapata de divisa, em vista em planta e em elevação, com excentricidade de carga (e)
Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em linhas pretas e tons de cinza sobre fundo branco em duas
partes. Na parte esquerda, está a vista, em planta, de uma sapata piramidal com o pilar posicionado na borda esquerda,
alinhado com um eixo vertical hachurado, nomeado como “divisa”, também há cotas indicando os lados da sapata, do
pilar e a distância “e” entre o CGP, no centro do pilar, e o CGsapata, no centro do retângulo da sapata. Na parte direita, está
a vista, em corte, de uma sapata piramidal, com o pilar posicionado na borda esquerda, alinhado com um eixo vertical
hachurado, nomeado como “divisa”. Também há cotas que indicam o lado “b” da sapata, do pilar e a distância “e” entre
o eixo central do pilar e o meio da base da sapata.

Por causa da diferença entre o centro de aplicação de carga do pilar (CGp) e do centro de gravidade
da base da sapata (CGsapata), ocorre uma excentricidade (e) na aplicação de carga da fundação, o que
resulta na distribuição de tensões, no terreno, de forma triangular ou trapezoidal.

135
UNICESUMAR

Divisa Divisa Divisa

<0

=0
>0

Figura 15 - Possíveis efeitos da excentricidade para as distribuições de tensões na base da sapata de divisa
Fonte: Albuquerque e Garcia (2020, p. 66).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em linhas pretas e em tons de cinza sobre fundo branco, dividida em três
partes. Todas as imagens ilustram a situação de uma vista em corte de uma sapata piramidal com o pilar posicionado na borda
esquerda, alinhado com um eixo vertical hachurado nomeado “divisa”. Abaixo da base, flechas pequenas estão localizadas para
cima, alinhadas sob a sapata. À esquerda, as flechas formam um trapézio e têm indicações de tensão máxima e de tensão mínima
maiores do que zero. No centro, as flechas formam um triângulo com indicação de tensão máxima e de tensão mínima iguais a
zero. À direita, as flechas formam dois triângulos com indicação de tensão máxima e de tensão mínima menores do que zero.

Para compensar os momentos que a excentricidade de carga (e) produz na distribuição das tensões
na base da sapata de divisa, é necessário projetar uma viga de equilíbrio, também chamada de Viga
Alavanca, a qual se liga a um pilar de carga cen-
Divisão
tral mais próximo. Vista em planta
A figura, a seguir, ilustra esta configuração para b
uma sapata de divisa e uma sapata isolada de carga
central ligadas pela Viga Alavanca (V.A.) Folga
P1 a V.A. P2
CGP CGsapata Linha de
eixo

b0

Figura 16 - Geometria da sapata de divisa com Viga Alavanca


Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
P1 P2
Descrição da Imagem: a figura apresenta um desenho
em linhas pretas e em tons de cinza sobre fundo branco, Vista em elevação
dividida em duas partes. Todas as imagens apresenta-
das estão ilustrando a situação de uma sapata piramidal
com o pilar posicionado na borda esquerda e ligado, por
meio de um prolongamento, a outra sapata piramidal
com pilar centralizado. Na parte superior, a vista em
planta mostra a Viga Alavanca cortada por uma linha
tracejada, a qual é nomeada “linha de eixo”, ligando o
centro dos pilares de ambas. Na parte inferior, a vista
em elevação mostra a Viga Alavanca ligando toda a R2
altura da sapata de divisa ao início do pilar da sapata
R1
e
com pilar centralizado.
L

136
UNIDADE 4

Assim como no caso do momento fletor, que também produz variação na distribuição de tensões, nos
casos de sapata de divisa, é necessário determinar as tensões atuantes na base da sapata e realizar a
verificação normativa aplicável, sempre garantindo que a região comprimida seja de, no mínimo, 2/3
da área total da base. O dimensionamento dela deve ser calculado de forma que a Tensão Máxima
na Borda ( smáx ), que é gerada na base, seja menor ou igual à Tensão Admissível ( sadm ).

Os dimensionamentos de sapatas podem ter diversos caminhos de cálculo,


dependendo das particularidades do projeto. Por isso, é importante co-
nhecer vários exemplos de dimensionamentos para as diversas variações
de forma, cargas, posicionamento e espaço de terreno disponível. O livro
de Urbano Rodriguez Alonso, Exercícios de Fundações, está disponível na
Biblioteca Virtual e repleto de exemplos de cálculo de dimensionamentos
de sapatas e outras fundações. Acesse este conteúdo, de forma gratuita,
como aluno(a) da Unicesumar e expanda os seus estudos sobre fundações!

Dimensionamento
de radier

O nome radier indica uma es-


trutura de fundação direta que
recebe a carga de todos os pila-
res da edificação (radier geral)
ou a maior parte dos pilares
(radier parcial) e distribui estes
esforços de maneira uniforme
ao solo (ABNT, 2019). Geral-
mente, são utilizados quando:
ocorrem muitas sobreposições
de áreas de sapatas devido a car-
gas elevadas dos pilares e baixa Figura 17 - Fundação em radier para construção de casa / Fonte: Shutterstock

resistência dos solos e se deseja


Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia colorida de um
uniformizar os recalques pela canteiro de obras. Este contém uma placa de concreto posicionada sobre
uma grande área do solo, formando um padrão de piso geométrico plano.
associação de todos (ou quase Ao fundo, à esquerda, há casas construídas atrás de uma cerca fechada de
madeira. Ao fundo, à direita, vê-se a estrutura de madeira, no formato de
todos) os pilares da edificação uma casa, sendo construída.
(VELLOSO; LOPES, 2011).

137
UNICESUMAR

Como ele é executado em concreto armado ou protendido, devido


ao grande volume de concreto necessário para sua abrangência, o
radier é um tipo de fundação que pode ser bastante onerosa e de
difícil execução em áreas urbanas com terrenos confinados (TEI-
XEIRA; GODOY, 2019).
Portanto, conseguimos entender que um radier é uma fundação
em laje maciça ou nervurada ou constituída de lajes e vigas com a
função de transmitir as cargas de toda edificação ao solo, por meio
de um único elemento (CAMPOS, 2015). Quanto à geometria, os
radiers podem ser divididos em:
a) Radier liso: tem a forma de uma laje uniforme e simples
e recebe as cargas dos pilares, diretamente, nos pontos de
localização sobre a sua área. É preciso atenção no dimen-
sionamento da armadura devido ao fenômeno de punção,
este é provocado pela concentração de carga nos pontos de
apoio dos pilares sobre o radier.
b) Radier com pedestais ou cogumelos: também segue o for-
mato de laje em contato com o solo, porém recebe estruturas
adicionais que aumentam a área de contato entre o pilar e
o radier. Quando essas estruturas (blocos ou trapézios) se
localizam na parte superior do radier, as denominamos
pedestais, quando estão localizadas na parte inferior (junto
ao solo), são chamadas de cogumelos.
c) Radier nervurado: é aquele que, na parte em contato com
o solo, tem forma de laje, porém, na porção superior, possui
vigas de distribuição na base dos pilares (nervuras).
d) Radier em caixão: é aquele composto por duas lajes, uma
superior, em contato com o piso da edificação, outra inferior,
em contato com o solo, com nervuras ou paredes internas,
formando uma caixa de vários compartimentos.
e) Radier estaqueado: composto por uma laje apoiada sobre
um conjunto de estacas que abrange toda a área da edifica-
ção, funcionando como um grande bloco de transição entre
a estrutura e as estacas. É utilizado em obras onde as cargas
provenientes da estrutura provocam recalques inaceitáveis
em diferentes pontos, então, um radier, simplesmente, apoia-
do no solo não é capaz de suportar o carregamento.

A figura, a seguir, ilustra as formas possíveis para o radier.

138
UNIDADE 4

a)
b)

c) d)

e)
Figura 18 - Tipos de radier segundo a sua forma e o seu sistema estrutural: (a) lisos; (b) pedestais ou cogumelos; (c) nervurados;
(d) caixão; (e) estaqueados / Fonte: adaptada de Velloso e Lopes (2011).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em linhas pretas e em tons de cinza sobre fundo branco, dividida em
cinco partes. No canto superior esquerdo, indicados por (a), estão os pilares sobre o radier do tipo liso. No canto superior direito,
indicados por (b), estão os pilares sobre radier com ligação em pedestal à esquerda, e cogumelo, à direita. No centro esquerdo,
indicados por (c), estão os pilares sobre radier nervurado. No centro direito, indicado por (d), estão os pilares sobre radier caixão.
No centro inferior, indicados por (e), estão os pilares sobre radier estaqueado.

Os radiers podem, ainda, ser classificados de acordo com a rigidez à flexão de seu elemento, como
podemos ver, a seguir:
• Radier rígido: quando o seu comportamento é o mesmo de um corpo rígido, ou seja, despre-
zam-se os deslocamentos relativos por serem muito pequenos e considera-se um radier rígido.
Neste tipo de elemento, a variação das cargas nos pilares ou faixas e no espaçamento entre colunas
não ultrapassa 20%. Tal espaçamento atende à seguinte condição (ACI, 1997):

139
UNICESUMAR

  Kv  b  
  1,75   4 
  4  Ec  I  

Em que :
l = espaçamento entre colunas do Radier;
K v = coeficiente de reação vertical do solo
b = largura da faixa de influência da linha das colunas;
Ec = módulo de elasticidade longitudinal do concreto;
I = momento de inércia à flexão da peça de concreto (rigid
dez da faixa).

• Radier elástico: quando, ao menos, uma das condições de rigidez anterior não é atendida,
classificamos o radier como elástico ou flexível. Este tipo possui menos rigidez e os desloca-
mentos relativos da peça não podem ser desprezados, pois são eles que determinam como será
o desenvolvimento dos esforços solicitantes na placa.

Para o dimensionamento do radier, deve-se realizar uma análise da interação solo-estrutura, obtendo
os deslocamentos reais da fundação e os seus esforços internos. Segundo Dória (2007), esses esforços
podem ser obtidos por meio da análise da interação (método direto) ou pelas pressões de contato (mé-
todo indireto). O dimensionamento estrutural do radier é feito a partir do cálculo dos esforços internos.


Segundo a VSL International LTD (1990), no primeiro passo, a estrutura é analisada
assumindo fundação rígida. No segundo passo, as reações determinadas na base da
estrutura são aplicadas na fundação e a resultante das forças e momentos são obtidos
na base para o dimensionamento da fundação (DÓRIA, 2007, p. 22).

Vários métodos podem ser adotados para esta análise, dependendo de como é determinada a distri-
buição de pressão no solo. Geralmente, o trabalho de analisar a interação solo-estrutura de radier é
realizada por um programa de cálculo estrutural cuja ferramenta computacional, por meio de molas
nos pontos que correspondem à fundação, representa o solo (SCARLAT, 1993).
Os métodos de cálculo estrutural para fundação em radier abrangem procedimentos que avaliam
estabilidade, capacidade de suporte e distribuição de tensões e/ou esforços internos solicitantes. A
norma técnica de fundações NBR 6122 (ABNT, 2019) indica que esses são parâmetros necessários para
realizar a verificação nos Estados-Limites Últimos (ELU) e Estados-Limites de Serviço (ELS). Simpli-
ficadamente, o dimensionamento de um radier consiste na busca de uma solução da equação
diferencial de equilíbrio que representa uma placa sobre uma base elástica.

140
UNIDADE 4

O dimensionamento de radier pode ter diversos caminhos de cálcu-


lo, dependendo das particularidades do projeto e, exclusivamente,
de uma análise computacional profunda para prever os esforços
e deslocamentos da fundação. Um exemplo bem completo desse
dimensionamento pode ser encontrado no trabalho de pesquisa
de Luís Eduardo Santos Dória, intitulado “Projeto de Estrutura de
Fundação em Concreto do Tipo Radier” apresentado, em 2007, no Programa de Pós-Gra-
duação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Alagoas. Acesse este documento,
de forma gratuita, e expanda os seus estudos sobre dimensionamento de radier, por meio
ferramentas computacionais. Para acessar, use seu leitor de QR Code.

As fundações diretas rasas são o tipo de solução para fundações mais utilizado para edificações de pequeno
e médio porte, devido à simplicidade de sua execução e ao sistema de transmissão de cargas ao terreno.
Elas devem, sempre, ser dimensionadas após a análise criteriosa das condições do terreno (maciço de
solo) e particularidades da obra (estrutura); porém podem assumir diversas formas, posicionamentos,
métodos de cálculo e, até mesmo, execução. Ao desenvolver o projeto de uma fundação direta rasa, o(a)
profissional toma uma série de decisões próprias — desde o pedido de investigação geotécnica para co-
nhecer o solo, passando pelos métodos de cálculo, até a filosofia de segurança que será adotada no projeto.
Conhecer, a fundo, as principais características dos tipos diferentes de fundações diretas rasas dá
ao(à) profissional a segurança de tomar a melhor decisão ao avaliar as soluções de projeto disponíveis.
Mas é, extremamente, importante ter esse conhecimento para não cair em falácias ou mitos presentes no
meio da construção civil que possam limitar as opções de projeto favoráveis à segurança e à economia.

141
Passamos por uma quantidade bem ampla de tipos de fundações, parâmetros de projeto, mé-
todos de dimensionamento e classificação dos elementos, agora, realizaremos uma atividade de
“Arquivologia Mental”.
A seguir, estão embaralhados vários termos e palavras que vimos nesta unidade. Você analisará
cada um deles e anotará no espaço adequado do organograma de fundações diretas rasas. Caso
perceba que estão faltando termos ou informações que fazem parte das seções presentes no
organograma, pesquise-os no material de estudo e complete com a informação.

Caixão Circular Cogumelos Constante


Corrida Corridas Cúbico De divisa

Tensão de Solicitação Ensaio de placa Escalonado Estaqueado

Pedras de mão (arga-


Concreto ciclópico Flexível Geral
massada ou não)

Isoladas Liso Retangular Rígida

Variável Concreto armado Associadas Nervurado

Pedestais Concreto protendido Constante Quadrada

Rígido Concreto simples Tensão Admissível Alvenaria de tijolo

142
BLACO DE FUNDAÇÃO

TIPOS MATERIAIS BASE ALTURA

SAPATA

TIPOS MATERIAIS BASE ALTURA

RADIER

TIPOS MATERIAIS BASE ALTURA

143
1. Fundações são elementos estruturais cuja função é transmitir as cargas da estrutura
ao terreno onde ela se apoia. Assim, as fundações devem ter resistência adequada
para suportar as tensões causadas pelos esforços solicitantes. Sabendo que os blocos
de fundação e as sapatas isoladas são tipos de elementos de fundação que recebem
os esforços de um único pilar, assinale a alternativa que apresenta a característica
exclusiva do bloco de fundação.
a) Essa fundação é empregada onde as camadas do subsolo, imediatamente, abaixo
das estruturas, são capazes de suportar as cargas dessas. Neste tipo de fundação, a
profundidade de assentamento em relação ao terreno adjacente é oito vezes inferior
à menor dimensão do elemento.
b) É empregado em locais de solo pouco resistentes ou que apresentam abundância de
água, demandando uma fundação que se apoie em camadas mais profundas, ou, até
mesmo, sobre a própria rocha. Por ser capaz de resistir a grandes cargas, constitui
uma obra segura tanto para a estrutura que suportará quanto para os operários.
c) É uma fundação rasa constituída de uma laje de concreto armado, onde as cargas de
pilares e outros carregamentos são transmitidos ao solo por meio de uma superfície
igual ou superior à da projeção da edificação em planta. Geralmente, é o tipo mais
oneroso e complexo de fundação, principalmente, devido à necessidade de equipa-
mentos sofisticados para a locação e execução.
d) A área da base é dimensionada de forma que os esforços gerados pela carga vertical
do pilar e pelo peso próprio do elemento não ultrapassem a Tensão Admissível do
solo. Uma vez que este tipo de fundação inclui material resistente à tração (armadura),
os seus elementos trabalham à compressão simples e à flexão.
e) O dimensionamento estrutural é feito de tal maneira que as tensões de tração, que
são máximas na base, sejam inferiores à resistência à tração do concreto, dispensando
o uso de armadura. Possui altura constante (reta vertical) ou variável (escalonado em
degraus), a forma de sua base, em planta, pode ser quadrada, trapezoidal ou retangular.

2. As fundações diretas rasas são aquelas onde as cargas provenientes da estrutura são
transmitidas ao maciço de solo pela pressão da base do elemento. Geralmente, são
executadas nas primeiras camadas do subsolo, a uma profundidade duas vezes infe-
rior à menor dimensão em planta do elemento de fundação. Com relação aos tipos de
fundações diretas rasas, leia as afirmativas, a seguir:
I) Dentre os tipos de fundações superficiais, temos os blocos e sapatas, elementos
cúbicos ou piramidais que recebem a carga de um ou mais pilares de uma edifica-
ção. Os blocos possuem espessura constante ou variável, a forma de sua base, em
planta, pode ser quadrada, trapezoidal ou retangular, o seu dimensionamento é
feito para que as tensões de tração produzidas não sejam resistidas pelo concreto
e, sim, pela armadura.

144
II) O radier é uma fundação rasa constituída de uma laje de concreto armado, onde as
cargas de pilares e outros carregamentos são transmitidos ao solo por meio de uma
superfície igual ou superior à da projeção da edificação em planta. Recomenda-se
o uso de radier quando a solução em sapatas para dada obra apresenta ocupação
de 70% do terreno.
III) Dentre os tipos de fundações superficiais, temos os blocos e sapatas, elementos
cúbicos ou piramidais que recebem a carga de um ou mais pilares de uma edifica-
ção. Os blocos são construídos para suportar os esforços de compressão simples
advindos das cargas dos pilares, podendo ser executados em concreto simples (não
armado), alvenarias de tijolos ou pedra de mão (argamassada ou não).
IV) O radier é uma fundação rasa constituída de uma laje de concreto armado, onde
as cargas de pilares e outros carregamentos são transmitidos ao solo por meio de
uma superfície igual ou superior à da projeção da edificação em planta. Constitui
numa solução de fundação onerosa, uma vez que necessita de grande volume de
concreto. Não é recomendada para a construção de residências, principalmente, se
houver repetição de estrutura, como é o caso de conjuntos habitacionais.

É correto o que se afirma em:

a) Apenas, I e II.
b) Apenas, II e III.
c) Apenas, I, II e IV.
d) I, II, III e IV. s Ap ≤ sadm
e) Nenhuma das alternativas está correta.

3. Deseja-se executar uma sapata quadrada (B = 1,80 m) apoiada na cota -2,00 m de solo
não-laterítico do perfil geotécnico, conforme a configuração, a seguir:

Figura 1 - Perfil simplificado de solo com sapata apoiada


Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração,


em tons de cinza, sobre uma sapata que está apoiada em
solo do tipo argila, marrom avermelhada, com escala NSPT à
direita, iniciando com o valor 11 até o valor 50. Na sapata,
há a marcação de suas altura e base, com a sinalização da
carga do pilar e o valor de = 19kN/m3.

145
Sabendo que essa sapata será confeccionada com concreto armado fck=25MPa e que a carga
do pilar (25 x 25cm) centrada, para o qual ele serve de fundação, é igual a 1550 kN, com Fator
de Segurança igual a 3, responda:

a) A Tensão Admissível em kN/m² do solo, na cota de apoio, é maior ou menor do que a


Tensão Aplicada pela sapata no solo?
b) Caso a sapata não passe no critério de segurança ( s Ap ≤ sadm ), redimensione-a para
garantir a segurança. Adotar estimativa para peso próprio de 5%.

146
5
Fundações
Indiretas
Profundas I
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos

Nesta quinta unidade do livro, você identificará os tipos de funda-


ções indiretas profundas que executamos em nossas edificações,
as estacas. Serão exploradas as principais características técnicas
dos tipos de estacas executadas no Brasil, as teorias e os métodos
de cálculo para os parâmetros de projeto de Capacidade de Carga
e os parâmetros gerais de projeto da fundação em estacas.
UNICESUMAR

88,5m Árvore mais alta encontrada na Amazônia; Considere as seguintes informações: na


Floresta Estadual do Paru, no estado do
Pará, existe a árvore mais alta registrada da
floresta amazônica. Conhecida como An-
gelim Vermelho (nome científico: Dinizia
excelsa) com 88,5 m de altura (GAMBI-
RASIO; PLIGER, 2019), essa árvore possui
72m Obelisco do Ibirapuera
tamanho superior aos altos monumentos
brasileiros, como o Obelisco do Ibirapuera
(São Paulo) e o Cristo Redentor (Rio de Ja-
neiro). O Angelim Vermelho encontra-se
firme sobre o terreno, como representado,
na figura 1, ao lado.
60m Altura média de Em Abu Dhabi, capital dos Emirados
um Angelim Vermelho
Árabes Unidos, encontra-se uma edificação
indicada no Livro dos Recordes Guinness
como o edifício mais inclinado do mundo.
45 a 50m Altura média das copas
das árvores da região
Ele faz parte do Centro Nacional de Expo-
sições de Abu Dhabi e recebe o nome de
Capital Gate. Esta torre possui 35 andares
e mede 160 m de altura, sustentada sobre
38m Estátua do Cristo Redentor
solo arenoso, suportando o efeito da gra-
vidade, do vento e das pressões sísmicas
causadas pela inclinação de 18 graus a oeste
do prédio (MARQUEZ, [2021], on-line),
como pode ser visto na Figura 2:

Figura 1 - Árvore mais alta da floresta amazônica em


ÁRVORE ENCONTRADA comparação com a árvore mais alta do mundo e com
alguns monumentos brasileiros
TEM ALTURA DE UM
Fonte: Gambiarasio e Pliger (2019, on-line).
PRÉDIO DE 30 ANDARES

Descrição da Imagem: a figura apresenta a ilus-


tração de uma árvore cuja altitude é comparada
com outros monumentos e, também, com um
ser humano aos pés dela. A árvore é mais alta,
1,75m Altura média apresentando altura de 88,5 m, enquanto o mo-
5m de do brasileiro numento Obelisco do Ibirapuera tem 72 m, o
diâmetro monumento Cristo Redentor tem 38 m e a altura
média do brasileiro é de 1,75 m.

148
UNIDADE 5

Figura 2 - Torre inclinada Capital Gate, em Abu Dhabi / Fonte: Marquez ([2021], on-line).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia da paisagem de uma cidade com o céu azul ao fundo e os prédios
alinhados na porção inferior horizontal. A foto apresenta, na parte esquerda da imagem, em primeiro plano, a torre inclinada
Capital Gate, o edifício mais alto da paisagem.

A árvore amazônica e a torre árabe são duas estruturas, extremamente, altas que se encontram estáveis
sobre a sua base e resistem ao tempo e às forças externas, há muitos anos, sendo que uma possui for-
mação natural, enquanto outra é resultado de projeto e trabalho humanos. Ambas possuem caracte-
rísticas estruturais em comum que possibilitam o alcance de altas altitudes: a estabilidade de sua base
é limitada a uma área pouco maior do que a sua largura e mantida por um conjunto de elementos
esbeltos inseridos no solo, sendo as raízes, na árvore, e as estacas, na torre.
Mas você sabe o motivo pelo qual as raízes conseguem manter árvores altas, como o Angelim Ver-
melho amazônico ou a Sequoia Hyperion californiana? O que os projetistas e construtores aprenderam
sobre as raízes inseridas no solo que garantissem estabilidade às obras de grandes proporções e de
enormes alturas em limitado espaço, como é o caso dos edifícios no meio de cidades?
Vimos, na unidade anterior, que muitas das inovações em técnicas de construção têm base na ob-
servação de fenômenos e estruturas naturais. As árvores são elementos naturais que alcançam elevadas
alturas e resistem a forças horizontais impostas pelo vento (as quais tentam derrubá-las). Quanto mais
alta é a árvore, mais profundas e numerosas são as suas raízes. Existe um motivo para isso!

149
UNICESUMAR

Ao longo do desenvolvimento da humanidade, diversos materiais foram incorporados na constru-


ção de edificações para torná-las mais leves e, assim, não impor tanta pressão sobre o terreno onde
elas se apoiam, mantendo a estabilidade. Porém, conforme foram desenvolvidos projetos localizados
em terrenos bem limitados, ou seja, em lugares cuja base da edificação não poderia ser alargada na
mesma proporção de seu peso ou que a resistência das camadas superficiais não fosse suficiente para
suportar a construção, os construtores perceberam a necessidade de apoiar as fundações em camadas
mais profundas do solo, de forma que os elementos utilizassem o atrito com as camadas de terra para
“grudá-los” ao terreno (MAIA et al., 2019).
O sistema de fundação indireta profunda trabalha com esse conhecimento, em que a carga da edifi-
cação é transmitida às camadas profundas do solo, por meio de um conjunto numeroso de elementos
esbeltos (as estacas) fincados no terreno.
Entenderemos como, naturalmente, a concepção de uma fundação indireta profunda em estacas
funciona, por meio de uma análise do funcionamento da torre Capital Gate, em Abu Dhabi.
Para esta experimentação, você precisará assistir ao vídeo-docu-
mentário produzido pelo canal National Geographic, chamado
Obras Incríveis – A torre inclinada de Abu Dhabi (Capital
Gate) (QR-Code) para compreender como está estruturada essa
edificação e as dificuldades oferecidas pelo design e pelas condições
ambientais da cidade de Abu Dhabi bem como a composição de
suas fundações em estacas.
Após assistir ao documentário, faça uma análise da represen-
tação, em Realidade Aumentada (RA), da torre Capital Gate com
suas estacas de fundações e verifique a posição e a diferença de
comprimento entre elas, abaixo da laje de concreto reforçada que
REALIDADE faz a distribuição das cargas para a fundação.
AUMENTADA Além de possibilitar que a edificação transmita as suas cargas às
camadas mais profundas, elementos de fundação, como as estacas,
também oferecem outros tipos de estabilidade para edificações que
atingem alturas elevadas, como a resistência ao tombamento ou ao
arranque. É o caso da Capital Gate, em Abu Dhabi, cujos esforços
necessários para manter a torre estável no terreno são de dois tipos:
um deles é o esforço de peso próprio, natural a todas as edificações e
que necessita de distribuição da carga nas camadas do solo; o outro
é o esforço de arranque, que ocorre quando a torre tem a tendência
natural de tombar no chão devido à sua elevada altitude, à sua es-
belteza, inclinação e carga dos ventos da região, os quais empurram
o edifício. A resistência a esses tipos de esforços só é possível em
estacas porque estes elementos de fundação distribuem as cargas
TORRE INCLINADA DE ABU DHABI
(CAPITAL GATE) da edificação para o solo de duas formas — por pressão e por atrito.

150
UNIDADE 5

Com as informações de posicionamento e função das estacas da Capital Gate, faça um esboço repre-
sentativo, no espaço do Diário de Bordo, em duas dimensões, da torre inclinada, da laje de distribuição
das cargas da edificação e das estacas que se inserem no solo, indicando, por meio de flechas, qual a
direção dos esforços que elas estão distribuindo (para baixo ou para cima), em relação aos esforços,
utilize setas ou flechas indicativas. Também use este espaço para escrever um parágrafo explicando por
que as forças a serem distribuídas são diferentes aos grupos de estacas que estão embaixo da mesma
laje de distribuição.

151
UNICESUMAR

Antes de começar a entender como funcionam as fundações indiretas profundas, é preciso compreen-
der, primeiro, o conceito por trás destas duas denominações: indiretas e profundas. Relembraremos o
conceito de fundação profunda, segundo a NBR 6122 (ABNT, 2019, p. 3):



Elemento de fundação que transmite a carga ao terreno ou pela base (resistência de pon-
ta) ou por sua superfície lateral (resistência de fuste) ou por uma combinação das duas,
devendo sua ponta ou base estar assente em profundidade superior a 8 vezes a sua menor
dimensão em planta e no mínimo 3,0 m; quando não for atingido o limite de 8 vezes, a de-
nominação deve ser justificada. Neste tipo de fundação, incluem-se as estacas e os tubulões.

A Figura 3 ilustra um elemento de fundação profunda, em vista lateral, inserida no maciço de solo,
comparado a um elemento de fundação superficial ou rasa. Identificamos a sua Menor Dimensão
em Planta (B) e a Cota de Assentamento da Fundação (zf).

FUNDAÇÃO SUPERFICIAL / FUNDAÇÃO


RASA PROFUNDA

Nível do Terreno Nível do Terreno

Figura 3 - Diferença entre fundação superficial e fundação profunda, segundo critério da NBR 6122 / Fonte: adaptada de ABNT (2019).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em duas partes, mostrando elemento de fundação superficial ou
rasa e de fundação profunda inseridas em camadas de solo diferentes. Na parte da direita, a fundação superficial é composta por
uma sapata inserida na camada intitulada “solo 1” com indicação de profundidade por meio das letras “Zf” e largura de sua base
denominada “B”. Na parte da esquerda, a fundação profunda é composta por uma estaca inserida na camada intitulada “solo 1” e,
também, na camada chamada “solo 2”, com indicação da profundidade por meio das letras “Zf” e largura da ponta denominada “B”.

152
UNIDADE 5

Seguindo o critério da norma técnica de fundações, vamos a um exemplo: se uma estaca possui a menor
dimensão da ponta diâmetro = B = 20 cm, para ser considerada “fundação profunda”, a profundidade
de assentamento da ponta deverá ser oito vezes maior do que a menor dimensão da ponta (Zf ≥ 160
cm), ou, no mínimo, 3 m.
A figura, a seguir, ilustra uma estaca que entra nesse critério da norma técnica.

CRITÉRIO DA NORMA NBR 6122

Nível do terreno  (8  B )  Profunda


 3m  Profunda

Zf 
 (8  B)  Superficial/Rasa

 3m  Superficial/Rasa

Zf = 18 m (8  B )  (8  0, 20)  1, 60m
Z f  18m  1, 60m
Fundação Profunda  OK!

B = 0,20 m

Figura 4 - Exemplo de classificação pela NBR 6122 / Fonte: adaptada de ABNT (2019).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração mostrando uma estaca inserida em camadas de solo diferentes, sendo
a camada superficial indicada, à esquerda, como “solo 1” e a camada profunda, embaixo dela, indicada como “solo 2”. Na ponta
da estaca inserida na camada “solo 2”, a cota horizontal indica a largura da estaca como “B igual 0,20 metros”. À direita, a profun-
didade de assentamento da estaca, que é indicada pela cota, desde o nível do terreno até a ponta, indica “Zf igual 18 metros”. Na
parte superior direita da ilustração, está o critério de identificação da norma técnica NBR 6122. Na parte central direita, está o
cálculo “oito vezes B igual a 1,60 metros”, em que a profundidade “Zf de 18 metros” é muito maior do que este valor. Portanto, a
classificação de fundação profunda está ok.

153
UNICESUMAR

A estaca é um tipo específico de fundação definido pela NBR 6122 (ABNT, 2019, p. 3) como:



Elemento de fundação profunda executado inteiramente por equipamentos ou fer-
ramentas, sem que, em qualquer fase de sua execução, haja trabalho manual em pro-
fundidade. Os materiais empregados podem ser: madeira, aço, concreto pré-moldado,
concreto moldado in loco, argamassa, calda de cimento ou qualquer combinação dos
anteriores.

A sua forma é alongada e tem seção transversal circular ou prismática (quadrada, hexagonal, entre
outras), podendo ser de perfil maciço ou vazado.
O quadro, a seguir, mostra algumas das formas de seção transversal, comumente, fabricadas para
estacas.

FORMATO DA
SEÇÃO MACIÇA SEÇÃO VAZADA PERFIL METÁLICO
SEÇÃO

CIRCULAR

QUADRADA

HEXAGONAL -

OCTOGONAL -

“I” -

“H” -

154
UNIDADE 5

FORMATO DA
SEÇÃO MACIÇA SEÇÃO VAZADA PERFIL METÁLICO
SEÇÃO

TRILHO -

ESTRELA -

Quadro 1 - Exemplos de geometria de seção transversal / Fonte: a autora.

Nomeamos como indiretas aqueles tipos de fundações cujos elementos transmitem a carga recebida
da estrutura da edificação (superestrutura) para o solo, seja pela resistência sob sua extremidade in-
ferior (resistência de ponta), seja pela resistência ao longo do fuste (atrito lateral) ou pela combinação
dos dois (ALONSO, 2019).
A Figura 5 ilustra esta forma de distribuição de carga recebida (P) por uma estaca para o terreno,
por meio de seu corpo, usando o atrito lateral com o solo e a resistência na sua ponta.

Figura 5 - Esforços atuantes em uma estaca


Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura apresen-


ta uma ilustração que mostra uma estaca
inserida em uma camada de solo com
flechas representando a direção dos es-
forços que atuam sobre essa estaca. No
topo da estaca, acima do nível do terre-
no, uma flecha vertical para baixo indica
a letra “P” como carga sobre a estaca.
Nas laterais da estaca, dentro da camada
solo, várias flechas verticais pequenas,
apontadas para cima, indicam as letras
“RL” como a resistência por Atrito Late-
ral. Na parte de baixo da estaca, dentro
da camada chamada “solo”, uma única
flecha vertical para cima indica as letras
“RP” como resistência de ponta.

155
UNICESUMAR

Dessa forma, conseguimos entender que as fundações indiretas profundas, as estacas, reúnem estas
duas características: profundidade de assentamento oito vezes maior do que a menor dimensão do ele-
mento (ou 3 m); transmissão de cargas pelo atrito de seu corpo com o solo e/ou a resistência em sua ponta.

A Associação Brasileira de Empresas de Engenharia de Fundações e


Geotecnia (ABEF) publica o Manual de Execução de Fundações – Práticas
Recomendadas, referência para fundações brasileiras. Ele contém es-
pecificações para os seguintes tipos: estacas metálicas; pré-moldadas
de concreto; escavadas mecanicamente; Strauss; Franki; raiz; hollow
auger; escavadas e barretes com uso de fluido estabilizante; estacas
hélice e mega. Acesse o site da ABEF para saber como ter acesso a esse manual.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

Velloso e Lopes (2011) reconhecem que não existem regras fixas na escolha do tipo de estaca para
determinada fundação, pois vale muito a experiência de construção local, indicando ampla variação
de situações. Porém os autores listam alguns fatores que devem ser considerados no projeto:
• Esforços nas fundações: para determinar o nível (intensidade) das cargas dos pilares bem como
a ocorrência de esforços além da compressão (tração e flexão).
• Características do subsolo: averigua-se se existe ocorrência de condições que interfiram no
processo de execução, como:
• Argilas muito moles: dificulta a execução de estacas de concreto moldadas in loco.
• Solos muito resistentes: caso de solos compactos, com pedregulhos ou matacões que
dificultam ou impedem o atravessamento das camadas por estacas cravadas de qualquer
tipo (madeira, concreto ou metálicas).
• Nível do lençol freático elevado: com ocorrência do nível d’água próximo da superfície,
dificulta ou impede a execução de estacas de concreto moldadas in loco sem revesti-
mento ou com uso de fluido estabilizante.
• Aterros recentes: solos que ainda estão em processo de adensamento sobre camadas
moles, indicando possibilidade de ocorrência de atrito negativo.
• Características do local da obra: a construção se localiza em terrenos acidentados com caracte-
rísticas que dificultam o acesso de equipamentos pesados (bate-estaca, perfuratriz etc.); limitação
de altura no caso de obras com telhados e lajes acima do espaço de cravação da estaca, impedindo

156
UNIDADE 5

equipamentos altos; o terreno é distante de centros urbanos, o que encarece o transporte de


materiais e equipamentos pesados.
• Características das construções vizinhas: referem-se, principalmente, ao tipo e profundidade
das fundações já executadas no local bem como a existência de subsolos ou danos antigos nas
edificações, pois alguns procedimentos de execução de estacas provocam perturbações, como
vibração, acréscimo de tensões no solo, entre outros que podem prejudicar construções vizinhas.

A escolha do tipo de estaca será realizada por profissional projetista em função de vários fatores, prin-
cipalmente, relacionados ao tipo de carregamento a que estará submetida, à sua posição, ao material
constituinte e ao processo de fabricação (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020). Estes fatores também
indicam as principais categorias de classificação de uma estaca, conforme destacados, a seguir:
• Carregamento: compressão, tração ou horizontal.
• Posição: vertical ou inclinada.
• Material: madeira, concreto, de aço e mistas.
• Fabricação: moldadas in loco ou pré-fabricadas.

Também podemos classificar as estacas de acordo com a forma de trabalho de sustentação que elas
promoverão após a sua execução. Este tipo de classificação é, diretamente, ligado à concepção de projeto
adotada pelo(a) profissional, durante os seus cálculos, e diferencia os efeitos de reação do solo sobre a
estaca. Albuquerque e Garcia (2020) organizam essas categorias de classificação das estacas em:
• Sustentação flutuante: será considerado resistência do solo, somente, o atrito lateral ao redor
da estaca, desprezando a resistência de ponta. Geralmente, esta consideração é utilizada, em
projeto, quando temos solo de baixa resistência ao redor e abaixo da ponta da estaca. A próxima
figura ilustra um exemplo de duas estacas sob bloco, em situação de sustentação flutuante, em
comparação aos outros dois tipos.
• Sustentação de ponta: será considerada resistência do solo, somente, a resistência de ponta da
estaca, desprezando o atrito lateral. Geralmente, esta consideração é utilizada, em projeto, quando
temos o fuste (comprimento) da estaca inserido em solo de baixo atrito lateral e cuja ponta está
apoiada em solo resistente. A próxima figura ilustra um exemplo de duas estacas sob bloco, em
situação de sustentação de ponta, em comparação aos outros dois tipos.
• Sustentação mista: serão consideradas resistência do solo tanto o atrito lateral ao redor da estaca
quanto a resistência de ponta. Geralmente, essa consideração é utilizada na maioria dos projetos
de estacas onde há solos de baixa resistência ao longo do fuste da estaca e alta resistência na
profundidade de apoio da ponta. A seguir, temos uma figura que ilustra um exemplo de duas
estacas, sob bloco em situação de sustentação mista, em comparação aos outros dois tipos.

A Figura 6 ilustra as três categorias de classificação pela forma de trabalho de sustentação das estacas.

157
UNICESUMAR

Sustentação Flutuante Sustentação de Ponta Sustentação Mista

P P P

Nível terreno Nível terreno Nível terreno

Estacas Estacas Estacas

RL Baixo atrito Solo de baixa RL


RL = 0 lateral
Solo de baixa resistência
resistência
Solo de baixa
resistência Solo de baixa
resistência

Solo de baixa
resistência
RP Solo resistente Solo resistente
RP

Figura 6 - Forma de trabalho de estacas de sustentação / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em três partes, mostrando, em cada uma delas, duas estacas
sob um bloco retangular, inseridas em camadas de solo com flechas representando a direção dos esforços que atuam sobre elas,
nas seguintes situações: sustentação flutuante, à esquerda, sustentação de ponta, ao centro, sustentação mista, à direita.

Outra forma de classificar as estacas é de acordo com o seu efeito no solo (tipo de deslocamento)
durante a execução, seguindo a terminologia estabelecida pela norma inglesa de fundações. Velloso e
Lopes (2011) organizam as categorias de classificação das estacas em:
• Estacas de deslocamento: são introduzidas no terreno utilizando um processo que não pro-
move a retirada do solo, categoria das estacas cravadas, em geral. O solo que, originalmente, se
encontrava no espaço que a estaca ocupará, é deslocado, horizontalmente, durante a execução,
aumentando as tensões horizontais geostáticas.
• Estacas de substituição: são introduzidas no terreno após a perfuração do mesmo, categoria das
estacas escavadas. O solo é removido por ferramentas de escavação, podendo, ou não, utilizar
revestimento ou fluido estabilizante para manter a integridade do furo, e o espaço perfurado é
preenchido pela estaca (substituição). Com a remoção do solo, durante a escavação, as tensões
horizontais geostáticas se reduzem.

158
UNIDADE 5

• Estacas sem deslocamento: estacas cujo processo de execução quase não varia as tensões geostá-
ticas do solo. É uma categoria intermediária, em que podemos ter estacas cravadas que deslocam,
minimamente, o solo, e escavadas, onde, durante o procedimento de escavação, já é realizada a
introdução do material componente da estaca (por exemplo, concreto), provocando mínima
variação das tensões geostáticas naturais.

A Figura 7 ilustra essas três categorias de classificação pelo efeito provocado no solo, durante o pro-
cesso de execução das estacas.

ESTACA DE ESTACA DE ESTACAS SEM


DESLOCAMENTO SUBSTITUIÇÃO DESLOCAMENTO

SOLO
RETIRADO

Figura 7 - Classificação de estacas pelo efeito provocado no solo, durante a execução das mesmas / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em três partes e que mostra cada situação de estaca inserida
em solo e as movimentações promovidas na camada de solo com flechas representando a direção de movimentação do mate-
rial. Na parte da esquerda, a estaca de deslocamento apresenta flechas indicando a compactação do solo nas laterais. Na parte
central, a estaca de substituição tem uma flecha curva no topo, a qual indica dois montes de solo retirado. Na parte da direita,
duas estacas sem deslocamento contêm flechas pequenas que indicam compactação lateral bem como outra flecha indicando
um pequeno monte de solo retirado.

O quadro, a seguir, apresenta o nome das principais estacas executadas no Brasil e as suas classificações,
de acordo com o efeito no solo produzido pelo processo de execução.

159
UNICESUMAR

EFEITO NO SOLO DA
TIPO DE ESTACA
EXECUÇÃO

Estacas brocas – Trado manual


sem fluido estabilizante
Estaca escavada, mecanicamente
com fluido estabilizante SUBSTITUIÇÃO
Estaca Strauss
Estaca hélice contínua
Estaca hélice segmentada
Estaca escavada, mecanicamente, com revestimento metálico
perdido que avança à frente da escavação
SEM DESLOCAMENTO
Estaca raiz

Estacas Franki

Estacas de madeira

Armado
Estacas de concreto
Protendido
GRANDE DESLOCAMENTO
Estacas prensadas (Mega)

Madeira-concreto
Estacas mistas Franki-pré-moldada
Metálica-concreto
Estacas metálicas – Tubos de ponta fechada
Perfis
Estacas metálicas Tubos de ponta aberta
Trilhos
PEQUENO DESLOCAMENTO
estaca hélice de deslocamento (ômega)

Estaca hollow auger

Quadro 2 - Tipos de estacas e os efeitos no solo devido à execução / Fonte: a autora.

Agora, conheceremos as técnicas de implantação no solo e os materiais das estacas, comumente,


empregadas no Brasil e que possuem prescrições na norma NBR 6122 em seus anexos (ABNT,
2019), assim como no Manual de Execução de Fundações da ABEF (2016). Lembrando que estas
documentações são as principais fontes sobre diretrizes de execução, monitoramento e avaliação
de fundações em estacas brasileiras.

160
UNIDADE 5

Duvidas sobre as normas


Você já ouviu falar de uma obra que tenha recebido a visita de
um(a) fiscal das normas? Uma pessoa com a norma da ABNT ou o
manual da ABEF debaixo do braço, além do crachá da instituição?
Nunca ouviu falar? É porque esse(a) fiscal não existe! Isso significa
que podemos fazer as nossas fundações como quisermos? Significa
que o(a) profissional pode escolher não seguir as normas técnicas
e recomendações das associações nacionais da área de fundações
e Geotécnica? A conversa no podcast desta unidade focará nas res-
postas a estas perguntas, buscando trazer o olhar cotidiano da prá-
tica profissional e como ele se relaciona com as normativas técnicas
e instruções de órgãos de classe da área de fundações. Acesse o link
e dê play neste papo profissional!

O quadro, a seguir, organiza, de forma esquemática, as estacas agrupadas pela sua classificação de
fabricação (pré-moldadas e moldadas in loco).

ESTACAS PRÉ-MOLDADAS

Nome da Técnica de
Material Componente
Estaca Implantação no Solo
Troncos de árvores: eucalipto para obras provisó-
Cravação: por percussão, normalmen- rias; madeiras de Lei para obras definitivas (peroba,
Madeira te, executada com martelo de queda aroeira, maçaranduba, ipê etc.). A ponta e o topo
livre. devem ter diâmetros maiores do que 15 cm e 25
cm, respectivamente.

Peças de aço laminado ou soldado: perfis de se-


ção simples (I e H) ou composta; chapas dobradas
Cravação: pode ser feita por percus-
Metálica de seção circular (tubos), quadrada ou retangular;
são, prensagem ou vibração.
trilhos reaproveitados de linhas férreas. Dimensio-
nadas de acordo com a norma técnica NBR 8800.

Peças de concreto: concreto armado ou protendi-


Pré-moldada de Cravação: pode ser feita por percus-
do, concretadas em fôrmas horizontais ou verticais
concreto são, prensagem ou vibração.
ou por sistema de centrifugação.

Cravação: feita por prensagem Segmentos de concreto ou metálicos: elementos


Cravada à
ou cravação estática, por meio de pré-moldados de concreto (armado, centrifugado
reação – Pren-
macaco hidráulico reagindo contra ou protendido) ou por elementos metálicos (perfis
sada ou mega
cargueira ou estrutura existente. ou tubos de aço).

161
UNICESUMAR

ESTACAS MOLDADAS IN LOCO

Nome da Técnica de
Material Componente
Estaca Implantação no Solo

Escavada, meca- Escavação: execução de furo por


nicamente, sem trado espiral com profundidade Concreto: confeccionado para satisfazer às seguin-
fluido estabili- limitada pelo nível do lençol freático.tes exigências:
zante Remoção de solo. - Consumo de cimento maior do que 300 kg/m³.
- Slump entre 8 cm e 12 cm para estacas não arma-
Escavação: furo com emprego de das, entre 12 cm e 14 cm para estacas armadas.
sonda (piteira) e introdução de reves- - Agregado diâmetro máximo de 19 mm (brita 1).
Strauss - Resistência fck ≥ 20 MPa aos 28 dias.
timento metálico em seguimentos
rosqueados. Remoção de solo.

Cravação: por percussão de um Concreto: confeccionado para satisfazer às seguin-


pilão em bucha seca. Esta é formada tes exigências:
Franki
por pedra e areia aderida à base do - Consumo de cimento maior do que 350 kg/m³.
tubo de aço. Deslocamento de solo. - Resistência fck ≥ 20 MPa aos 28 dias.

Escavação: execução de furo por meio


de perfuratriz que desce o revesti-
Raiz mento (tubos metálicos) rosqueando,
por meio de circulação de água ou ar Argamassa: confeccionada para satisfazer às
comprimido. Remoção de solo. seguintes exigências:
- Resistência fck ≥ 20 Mpa.
Escavação: perfuração rotativa de - Consumo de cimento não inferior a 600 kg/m³.
revestimentos rosqueáveis e recu- - Fator água/cimento entre 0,5 e 0,6.
peráveis, dotados de hélice dupla - Agregado tipo areia e/ou pedrisco.
Hollow auger
nas laterais e tampa articulada na
extremidade com anel de vedação.
Deslocamento de solo.

Concreto: confeccionado para satisfazer às seguin-


tes exigências:
- Consumo de cimento maior do que 400 kg/m³.
Escavação: execução de furo por ferra- - Slump 22 cm ± 3cm.
Escavada menta de perfuração, simultaneamente, - Fator água/cimento ≤ 0,6.
com fluido ao lançamento de fluido (lama bentoní- - Agregado diâmetro máximo de 19 mm (brita 1).
estabilizante tica ou polímero sintético) para susten- - Porcentagem de argamassa em massa ≥ 55%.
tação das paredes. Remoção de solo. - Traço tipo bombeado.
- Resistência fck ≥ 20 Mpa.
- Aditivos que atendam às normas NBR 11768 e
NBR 16826.

162
UNIDADE 5

Escavação: executada por meio de per-


furação de um trado helicoidal contínuo
Hélice contínua
até a profundidade planejada. Remo-
ção de solo. Concreto: confeccionado para satisfazer às se-
guintes exigências:
- Consumo de cimento não inferior a 400 kg/m³.
Escavação: perfuração executada por - Atender à correspondência entre
rotação de segmentos de trado do- classe de agressividade e qualidade do concreto
Hélice segmen-
tados de hélice espiral nas laterais e (NBR 6118) para Classe I, II, III e IV.
tada
acoplamento macho e fêmea nas ex- - Slump 22cm ± 3cm.
tremidades. Remoção de solo. - Fator água/cimento ≤ 0,6.
- Agregado tipo areia e/ou pedrisco.
- Porcentagem de argamassa em massa ≥ 55%.
Escavação: perfuração executada por - Traço tipo bombeado.
Hélice de deslo- rotação de um trado que ocasiona o - Resistência fck ≥ 20 MPa aos 28 dias.
camento (ôme- deslocamento do solo junto ao fuste
ga) e à ponta (trado ômega), não havendo
retirada de solo.

Quadro 3 - Técnicas de implantação no solo e materiais componentes das estacas empregadas, comumente, no Brasil / Fonte: a autora.

A seguir, faremos o detalhamento específico dos processos executivos de cada um dos tipos de estacas citadas.

Estaca de madeira

Estas estacas são utilizadas como fundações em edificações desde os primórdios da história. Um exem-
plo clássico, registrado em bibliografia técnica, é a reconstrução, em 1902, do campanário da Igreja
de São Marcos, em Veneza, que revelou estacas de madeira em ótimo estado e capazes de continuar a
suportar as cargas atuantes após, aproximadamente, 1000 anos de serviço (MAIA et al., 2019). Porém,
com a dificuldade de obtenção de madeiras de qualidade para a sua fabricação e do incremento das
cargas das estruturas usuais, a sua utilização é bem reduzida (MAIA et al., 2019).
A norma técnica de fundações indica o seu uso “para obras provisórias. Se forem usadas para
obras permanentes, terão que ser protegidas de ataques de fungos, bactérias aeróbicas, térmitas etc.”
(ABNT, 2019, p. 6). Isso porque a durabilidade pode ser comprometida quando existem variações
das condições do ambiente (submerso em água, úmido e seco) e exposição a agentes agressivos
(substâncias reagentes e organismos).
Quando mantidas, completamente, submersas, as estacas de madeira têm duração, praticamente,
ilimitada, caso contrário, elas são muito inseguras. Em São Paulo, temos o exemplo dos reforços
de casarões no bairro Jardim Europa, realizados com estacas de madeira que vieram a apodrecer
quando a calha do Rio Pinheiros foi retificada e aprofundada, alterando o nível do lençol freático
da região (MAIA et al., 2019). Para garantir a durabilidade da estaca, quando ocorre variação do
nível d’água, são utilizados tratamentos químicos da madeira, tais como: creosoto ou sais de zinco,
cobre, mercúrio etc. (VELLOSO; LOPES, 2011).

163
UNICESUMAR

As estacas de madeira são inseridas no solo por meio de cravação TOPO


à percussão, utilizando equipamento bate-estaca. Este procedimento ANEL
consiste em golpes repetidos de um pilão, aplicados à cabeça da
estaca ou do seu molde, forçando o elemento a se inserir no terreno
até a profundidade que oferece resistência satisfatória à penetração.
Essa resistência é controlada, em campo, por meio de relatórios ou
boletins de cravação com indicação do parâmetro conhecido como
“nega”, que será abordado mais à frente, no texto. Este processo de
cravação provoca vibração no terreno, algo que pode gerar proble-
mas a estruturas vizinhas.
Para evitar que a cabeça das estacas de madeira seja destruída por
fendilhamento, durante a percussão, usa-se um anel de aço. Já para
garantir que a estaca penetre ou atravesse camadas resistentes de
solo, protegem-se as pontas com ponteira de aço (MAIA et al., 2019).
A Figura 8 mostra uma estaca de madeira cujas cabeça e ponta
estão protegidas.
Estruturalmente, a carga admissível das estacas de madeira de-
pende do diâmetro de sua seção transversal e do tipo da madeira do
qual é feita, porém costuma-se adotar alguns valores representativos
desta resistência, a chamada Carga de Catálogo.
Na tabela, a seguir, são apresentadas algumas cargas admissíveis,
normalmente, usadas para estacas de madeira.

SEÇÃO CARGA DE
TIPO DE ESTACA TRANSVERSAL CATÁLOGO
Diâmetro (cm) Pe (kN)*
Φ 20 150 PONTEIRA
Φ 25 200
MADEIRA
Φ 30 300
BASE
σe = 4,0 MPa
Φ 35 400 Figura 8 - Estaca de madeira com anel
Φ 40 500 e ponteira metálica de proteção / Fon-
te: adaptada de Albuquerque e Garcia
(*) Estes valores representam, apenas, uma ordem de grandeza, (2020).
pois dependem do tipo e da qualidade da madeira. A norma NBR
6122 recomenda, para a definição da carga estrutural admissível,
que seja considerada, sempre, a seção transversal mínima e Descrição da Imagem: a figura
apresenta uma ilustração que mos-
adotada uma Tensão Admissível compatível com o tipo e a tra uma estaca vertical. Esta tem,
qualidade da madeira, conforme a NBR 7190. no topo, uma peça indicada como
σe = Tensão Admissível do material da estaca. “anel” e, na base, uma peça trian-
gular de ponta para baixo, indicada
Tabela 1 - Valores orientativos de Carga de Catálogo para estacas de madeira como “ponteira”.
Fonte: adaptada de Maia et al. (2019).

164
UNIDADE 5

Estaca metálica

Este tipo de estaca pode ser fabricado ou fruto de reaproveitamento de


trilhos das linhas férreas que perderam a sua utilização por desgaste
(ALONSO, 2019) composto de aço e com variadas opções de seção
transversal. A norma técnica de fundações indica que a estaca me-
tálica pode ser constituída por perfis de aço laminados ou soldados,
em composição simples ou múltiplas, tubos de chapa dobrada ou
calandrada bem como tubos (com ou sem costura) e trilhos (ABNT,
2019). Podem atingir cotas muito profundas do terreno devido ao fato
de seus elementos serem, facilmente, emendados, por meio de soldas.
Um dos principais problemas na utilização das estacas metálicas,
quando comparadas com outras estacas, está no custo elevado das
mesmas, pois o material que as compõem é caro, e os comprimentos
necessários para transferir a carga ao solo são maiores (MAIA et al.,
2019). Contudo existem situações em que a facilidade de cravação,
manipulação, transporte, emendas ou corte, além de atender às
várias fases da construção e apresentar baixa vibração, torna esse
tipo de estaca, economicamente, viável.


A cravação de estacas pode ser feita por percus-
são, prensagem ou vibração. A escolha do equi-
pamento deve ser feita de acordo com o tipo,
dimensão da estaca, características do solo, con-
dições de vizinhança, características do projeto
e peculiaridades do local. O sistema de cravação
deve estar sempre bem ajustado [...] o uso de
martelos mais pesados e com menor altura de
queda é mais eficiente do que o uso de martelos
mais leves e com grande altura de queda (ABNT,
2019, p. 58).

Geralmente, são indicadas estacas metálicas para a utilização em


solo muito resistente, pois a Tensão Admissível à compressão do aço
é elevada (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020) e a sua seção trans-
versal, quando composta de perfil esbelto ou tubo vazado, possui
características que promovem o corte do solo, durante a cravação.
Na tabela, a seguir, são apresentadas algumas cargas admissíveis,
normalmente, usadas para perfis comuns de estacas metálicas.

165
UNICESUMAR

TIPO DE ESTACA TIPO/DIMENSÃO PESO/ METRO CARGA DE


METÁLICA (kgf/m) CATÁLOGO Pe (kN)*
TR 25 24,6 200
TR 32 32,0 250

Trilhos usados TR 37 37,1 300


se ≅ 80 MPa TR 45 44,6 350

(verificar grau de TR 50 50,3 400


desgaste e 2 TR 32 64,0 500
alinhamento) 2 TR 37 74,2 600
3 TR 32 96,0 750
3 TR 37 111,3 900
I 8” (203 mm) 27,3 300
I 10” (254 mm) 37,7 400
Perfis I e H – aço A36
Descontados 1,5 mm I 12” (305 mm) 60,6 600
para corrosão e 2 I 10” 75,4 800
aplicada se = 120 MPa
2 I 12” 121,2 1200
H 6” (152 mm) 37,1 400
H 200 mm 46,1 700
Perfis H – aço A572 H 200 mm 59,0 1000
Descontados 1,5 mm H 250 mm 73,0 1200
para corrosão e
aplicada se = 175 MPa H 310 mm 93,0 1500
H 310 mm 117,0 2000
(*) Estes valores representam, apenas, uma ordem de grandeza, pois dependem do tipo de aço,
processo de fabricação e método de execução da estaca. Recomenda-se consultar os catálogos
técnicos das empresas executoras das estacas.
σe = Tensão de trabalho (adotado como 0,5 fyk para peças novas).
Tabela 2 - Valores orientativos de Carga de Catálogo para estacas metálicas / Fonte: adaptada de Velloso e Lopes (2011).

Não existe, no meio técnico, questionamento sobre a corrosão de estacas metálicas quando elas se en-
contram, completamente, enterradas em solo natural, pois a quantidade de oxigênio ao seu redor é tão
pequena que a reação química se encerra, rapidamente (MAIA et al., 2019). A norma técnica de fundações
considera que deve haver uma espessura de sacrifício definida em projeto para as seções transversais das
estacas metálicas, sempre que essas forem “executadas em solos sujeitos a erosão ou ainda que vierem a
ficar expostas ou tenham sua cota de arrasamento acima do nível do terreno” (ABNT, 2019, p. 59).

Estaca pré-moldada de concreto

Como indicado, anteriormente, na Tabela 2, este tipo de estaca pode ser fabricado em concreto armado
ou protendido, desde que apresente resistências compatíveis com os esforços de correntes de manu-
seio, transportes, cravação e utilização. Comumente, são empregadas estacas com seções transversais

166
UNIDADE 5

quadradas, hexagonais, octogonais e circulares, e aquelas de maiores dimensões são


vazadas para reduzir o peso próprio da peça (MAIA et al., 2019). A escolha por uma
forma de seção transversal de estaca pré-moldada de concreto varia dependendo das
condições específicas de cada obra e projeto, porém os seus elementos são, sempre,
fabricados em comprimentos padronizados (definidos pelo fabricante) e com anéis
metálicos nas extremidades para permitir, por meio de solda, a emenda dos elementos
(ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020).
A sua cravação, assim como nas estacas metálicas, também pode ser realizada
por percussão, vibração ou prensagem. A escolha do equipamento que realizará a
inserção dos elementos no solo será em função do tipo e dimensão da estaca, das
características do solo, condições de vizinhança, características do projeto e peculia-
ridades do local (ABNT, 2019).
O procedimento de cravação pode gerar problemas com edificações vizinhas
devido a barulho, vibração ou deslocamentos do solo, principalmente, se for esco-
lhido um sistema à percussão, no entanto a sua execução não é afetada pelo lençol
freático bem como o material componente (concreto) possui forte resistência à ação
de agentes agressivos em geral e à variação de umidade ambiental (alteração do nível
do lençol freático).
A Figura 9 mostra um equipamento de bate-estaca realizando, em terreno de
fundação, a cravação de estacas pré-moldadas de concreto.

Figura 9 - Estaca pré-moldada de concreto sendo cravada por bate-estaca / Fonte: Shutterstock.

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia que mostra um canteiro de obras com várias estacas
pré-moldadas de concreto de seção quadrada cravadas e um equipamento bate-estaca fazendo a cravação
de uma estaca igual às demais. Um trabalhador, de costas, está à esquerda e, ao fundo, há um conjunto de
prédios em fase de construção.

167
UNICESUMAR

A principal desvantagem é a dificuldade em modificar, de forma rápida, o seu comprimento, em face


de variações imprevistas do terreno. A sua cravação é feita até a cota prevista, para garantir a resistência
geotécnica exigida em projeto, sempre utilizando procedimentos de controle de cravação (relatório
ou boletim de nega), porém qualquer alteração dessa cota, durante a execução, gerará necessidade
de emenda ou corte dos elementos, interferindo nos custos e no cronograma da obra (BERBERIAN,
2010). Por isso que os estudos do solo, a definição da carga admissível e a previsão de comprimento
às estacas pré-moldadas de concreto devem ser, cuidadosamente, estudados.
Na tabela, a seguir, são apresentadas algumas cargas admissíveis, normalmente, usadas para seções
transversais comuns de estacas pré-moldadas de concreto.

TIPO DE ESTACA PRÉ- DIMENSÃO* (cm) CARGA DE CATÁLOGO Pe


MOLDADA DE CONCRETO (kN)**
20 x 20 400
Vibrada, de concreto armado, 25 x 25 600
quadrada maciça
se = 6 a 10 MPa 30 x 30 900
35 x 35 1200
Vibrada circular, de concreto Φ 22 400
armado, circular com furo Φ 29 600
central
se = 9 a 11 MPa Φ 33 800

Vibrada, de concreto Φ 20 350


protendido Φ 25 600
se = 10 a 14 MPa Φ 33 900
Φ 20 300
Φ 23 400
Φ 26 500
Centrifugada, de concreto
armado Φ 33 750
se = 9 a 11 MPa Φ 38 900
Φ 42 1150
(seção vazada)
Φ 50 1700
Φ 60 2300
Φ 70 3000
(*) Recomenda-se consultar os catálogos técnicos das empresas executoras das estacas, além das
empresas fabricantes das estacas pré-moldadas.
se = Tensão de trabalho no concreto.

Tabela 3 - Valores orientativos de Carga de Catálogo para estacas pré-moldadas de concreto / Fonte: adaptada de Velloso e Lopes (2011).

168
UNIDADE 5

Cravada à reação – Prensada ou mega

São estacas pré-moldadas constituídas de curtos segmentos de concreto, armado ou metálicos, que
se encaixam e são inseridos no solo, por meio de uma cravação estática (prensagem), a qual utiliza
um macaco hidráulico que reage contra uma cargueira ou estrutura existente (ABNT, 2019). Por esta
característica de necessitar de pouco espaço para a sua execução, este tipo de estaca é recomendado
às situações cujas fundações existentes necessitam de substituição ou reforço, sem interromper o uso
da edificação.
A Figura 10 ilustra o processo de execução desse tipo de estaca.

Parede Parede Parede Parede

Bomba Bomba
de óleo de óleo

Solo Solo Solo Solo

“Berço” de “Macado”
concreto hidráulico Núcleo vazado
para posterior
solidarização Núcleo armado
e concretado

Figura 10 - Processo de execução da estaca prensada ou mega reagindo contra estrutura existente
Fonte: Albuquerque e Garcia (2020, p. 78).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em quatro partes, mostrando uma parede de tijolos apoiada sobre
o solo, numa sequência de evolução do processo, da esquerda para a direita. Na primeira parte, é mostrado o berço de concreto sob a
parede, em uma cavidade no solo. Na segunda parte, abaixo do berço, está um macaco hidráulico com uma pequena peça em estaca
sendo inserida no solo e, na superfície do solo, em frente à parede, aparece uma bomba de óleo conectada, por meio de um fio, ao
sistema. Na terceira parte, há duas peças acopladas e inseridas no solo, entre elas, uma peça indicada como “núcleo vazado”, para
posterior solidarização. Na última parte, à direita, estão cinco peças acopladas inseridas no solo, com a indicação “núcleo armado e
concretado” nesta composição.

Dentre as vantagens desse tipo de estaca, podem ser citadas a ausência de vibrações, barulho ou incon-
venientes decorrentes da geração e manejo de resíduos de escavação, além de toda estaca cravada por
prensagem realizar uma prova de carga durante a sua execução, ajudando no controle de qualidade do
estaqueamento (ALONSO, 2019). Como desvantagens, podem ser citadas o alto custo de realização e
o longo período necessário para a execução (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020).

169
UNICESUMAR

Estaca escavada, mecanicamente, sem fluido estabilizante

Como o nome já diz, este tipo de estaca é executado por meio de escavação do terreno, utilizando um
equipamento mecanizado que perfura o solo “com trado curto acoplado a uma haste até a profundi-
dade especificada em projeto, devendo-se confirmar as características do solo através da comparação
com a sondagem mais próxima” (ABNT, 2019, p. 69). Após o furo ser feito, procede-se à concretagem
dele, as paredes do furo atuando como fôrmas para a estaca que está sendo confeccionada no local
da obra, por isso, a classificação desse tipo como estaca moldada in loco ou estaca moldada in situ.
Porém este tipo de estaca possui limitações bem definidas pela norma técnica de fundações
(ABNT, 2019):
• A sua profundidade é limitada ao nível do lençol freático (N.A.).
• Só pode ser empregada onde o perfil do subsolo apresenta características de forma que o
furo se mantenha estável, sem necessidade de revestimento ou uso de fluido estabilizante
(lama bentonítica ou polímero).
• A concretagem deve ser feita no mesmo dia da perfuração.
• Não se deve executar, em intervalo inferior a 12h, estacas com espaçamento três vezes in-
ferior ao maior diâmetro.

Na tabela, a seguir, são apresentadas algumas cargas admissíveis, normalmente, usadas para seções
transversais comuns de estacas escavadas, mecanicamente, sem fluido estabilizante.

TIPO DE ESTACA SEÇÃO CARGA DE COMPRIMENTO


TRANSVERSAL CATÁLOGO (m)
Diâmetro (cm) Pe (kN)*
25 150
30 280
40 500
50 780
Escavadas com trado 60 1150
mecânico sem fluido 3 a 18 m
estabilizante 70 1540 (depende do
equipamento)
se = 4,0 MPa 80 2010
90 2550
100 3140
110 3800
120 4520
(*) Estes valores representam, apenas, uma ordem de grandeza. Recomenda-se
consultar os catálogos técnicos das empresas executoras das estacas.
se = Tensão Admissível do material da estaca.
Tabela 4 - Valores orientativos de Carga de Catálogo para estacas escavadas, mecanicamente, sem fluido estabilizante
Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

170
UNIDADE 5

Essas estacas podem conter armadura em seu interior ou serem apenas de concreto,
dependendo se o projeto prevê que estarão sujeitas a esforços de tração ou de flexão.
“No caso de estacas submetidas a esforços de tração, horizontais ou momentos, a
armadura projetada deve ser colocada no furo antes da concretagem” (ABNT, 2019,
p. 69). Já nos casos em que as estacas não estarão sujeitas a tração ou a flexão, a única
armadura presente é aquela de arranque, sem função estrutural e prevista na Tabela 4
da NBR 6122. Estas serão barras de aço sem estribos posicionadas após a concretagem
no topo da estaca com parte para fora (arranque) que será o elemento de união com
o Bloco de Coroamento.

Estaca Strauss

A estaca Strauss é do tipo moldada in loco que é, também, executada sem fluido es-
tabilizante, mas utiliza tubos metálicos de revestimentos que auxiliam na escavação
mecânica. O Manual de Execução de Fundações e Geotecnia (ABEF, 2016, p. 135)
define as estacas Strauss como:


Elementos de fundação profunda, escavados com o emprego de uma
sonda ou piteira, cujo diâmetro é definido por uma camisa metálica
recuperada, a qual, crava em toda a sua profundidade, garante a
estabilidade da perfuração e as condições de concretagem, sem que
ocorra mistura com o solo.

A sua execução ocorre em duas fases distintas:


Fase 1: perfuração e inserção total dos tubos Strauss no solo. Inicia pela formação
de um pré-furo, por meio de percussão, utilizando o pilão ou a piteira, e posiciona-
mento de tubo metálico de extremidade inferior dentada (coroa) com uma sonda
em seu interior. A perfuração é realizada pela retirada de solo por sonda ou piteira,
enquanto ocorre, simultaneamente, a introdução de tubos metálicos rosqueáveis
entre si, até atingir a profundidade desejada (MAIA et al., 2019).
Fase 2: lançamento do concreto no interior do tubo e retirada dos tubos Strauss.
Concluída a perfuração, prossegue-se com a retirada de solo do interior dos tubos,
por meio de água e sonda. O concreto é, então, lançado através de um funil, dentro
do tubo de revestimento, até obter uma coluna de, aproximadamente, 1,0 m, que
deve ser apiloado, simultaneamente, à retirada do tubo para aquela porção (ABNT,
2019). Este procedimento é repetido até que todo o furo tenha sido preenchido com
concreto e todos os tubos Strauss, recuperados.

171
UNICESUMAR

Na tabela, a seguir, são apresentadas algumas cargas admissíveis, normalmente, usadas


para seções transversais comuns de estacas Strauss.
SEÇÃO CARGA DE
TIPO DE d a
TRANSVERSAL CATÁLOGO
ESTACA (m) (m)
Diâmetro (cm) Pe (kN)*
Φ 25 200 0,75 0,20
Φ 32 300 1,00 0,20
Strauss Φ 38 450 1,20 0,25
Φ 45 600 1,35 0,30
Φ 55 800 1,65 0,35
(*) Hoje em dia, costuma-se usar cargas maiores do que as indicadas na tabela.
Por isso, recomenda-se consultar os catálogos técnicos das empresas executoras
das estacas.
(d) = Espaçamento mínimo entre eixos de estacas.
(a) = Espaçamento mínimo entre eixo de estaca e divisa do terreno.
Tabela 5 - Valores orientativos de Carga de Catálogo para estaca Strauss / Fonte: adaptada de Alonso (2019).

A recomendação, ou não, de armadura segue o mesmo que as estacas, mecanicamente,


escavadas, com a seguinte diferença: no caso de serem estacas Strauss armadas, o
soquete utilizado para apiloar as camadas de concreto deve ter diâmetro menor do que
o da armadura (ABNT, 2019).
Dentre as principais vantagens das estacas Strauss, segundo Berberian (2010), estão:
• Trepidação reduzida e pouca vibração para edificações ou prédios vizinhos.
• Equipamento leve e econômico que permite facilidade de locomoção dentro da
obra, execução de estacas próximas à divisa, em terrenos de pequenas dimensões
e áreas construídas com pé direito reduzido.
• Possibilidade de verificação, durante a perfuração, das camadas atravessadas e
da presença de corpos estranhos no solo, matacões e outros, permitindo, antes
da concretagem, mudança de realocação da estaca.
• Possibilidade de execução das estacas com comprimento definido em projeto,
permitindo cotas de arrasamento (topo) às estacas que sejam abaixo da superfície
do terreno (N.T.).

Não se recomenda o uso desse tipo de estaca nas situações em que, segundo Albuquerque
e Garcia (2020), haja:
• Impossibilidade de fazer o esgotamento da água do furo.
• Solos que apresentem presença de argilas muito moles ou areias submersas.
• Locais que apresentem dificuldades para manejar os resíduos em forma de lama
da escavação.

172
UNIDADE 5

Estaca Franki

As estacas Franki são caracterizadas por possuírem uma grande


área de base, no formato de um bulbo de concreto, superfície
lateral de seu fuste muito rugosa, solo ao redor, fortemente, com-
primido e a possibilidade de atingir extensas profundidades. Este
tipo de estaca é executado por meio de cravação à percussão,
porém a sua confecção é moldada in loco. O Manual de Execução
de Fundações e Geotecnia (ABEF, 2016) divide o procedimento
de execução em cinco etapas:
Etapa 1 – Montagem: posicionamento do tubo de revesti-
mento de aço com um tampão de concreto seco ou brita e areia
na extremidade inferior, chamado bucha.
Etapa 2 – Cravação do tubo: utilizando um soquete dentro
do tubo, a bucha é apiloada por golpes sucessivos de um pilão.
Este procedimento faz com que o tubo de aço avance junto da
bucha, em profundidade, pelo solo, até a profundidade prevista
em projeto.
Etapa 3 – Execução da base: atingida a profundidade de
projeto, verificada por meio do relatório ou boletim de cravação
(com valores de nega da cravação), levanta-se, ligeiramente, o
tubo e a bucha é expulsa por golpes de pilão. Introduz-se, na
base do tubo, mais concreto, em seguida, procede-se ao apiloa-
mento do mesmo, a fim de formar a base alargada (bulbo) da
estaca Franki.
Etapa 4 – Preparação e colocação da armação: após a exe-
cução da base alargada, desce-se a armação da estaca dentro do
tubo até apoiá-la sobre a base.
Etapa 5 – Concretagem do fuste: lança-se uma camada de
pequeno volume de concreto seco (fator água/cimento = 0,36)
dentro do tubo e da armação. Apiloa-se o material por meio de
golpes do pilão inserido dentro da armação, ao mesmo tempo
em que se retira parte do tubo. O processo é repetido até que
todo o comprimento da estaca esteja preenchido e todo o tubo
tenha sido recuperado.

A figura, a seguir, ilustra as fases de execução da estaca Franki.

173
UNICESUMAR

1. Perfuração
3. Concretagem

Marcação
no cabo Orelha de Cabo de
arrancamento arrancamento

Tubo de
revestimento 2. Instalação da
grade de fixação

4. Estaca pronta

Bucha seca Altura de Cota de


de brita e areia Altura segurança arrasamento
da bucha

Fuste

Brita e areia Base

Figura 11 - Processo executivo da estaca Franki / Fonte: Albuquerque e Garcia (2020, p. 87).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração que mostra a sequência de desenhos, da esquerda
para a direita, de quatro etapas de execução da estaca do tipo Franki. Na etapa 1, há três desenhos mostran-
do a inserção do tubo no solo e a formação do bulbo de brita e areia, na ponta do tubo. Na etapa 2, temos
um desenho que apresenta a instalação da armadura ou grade. Na etapa 3, temos um desenho mostrando a
concretagem do fuste da estaca e a retirada do tubo. Na etapa 4, está o desenho da estaca pronta com a sua
base em forma de bulbo e a cota de arrasamento no nível do terreno.

A norma técnica de fundações (ABNT, 2019) recomenda que as negas de cravação do


tubo sejam medidas, em todas as estacas Franki, de duas maneiras: a) para 10 golpes de
1,0 m de altura de queda do pilão; b) para um golpe de 5,0 m de altura de queda do pilão.
Na tabela, a seguir, são apresentadas algumas cargas admissíveis, normalmente,
usadas para seções transversais comuns de estacas Franki.
TIPO DE SEÇÃO TRANSVERSAL CARGA DE CATÁLOGO d a
ESTACA Diâmetro (cm) Pe (kN)* (m) (m)
Φ 35 550 1,20 0,70
Φ 40 750 1,30 0,70
Franki
Φ 52 1300 1,50 0,80
Φ 60 1700 1,70 0,80
(*) Hoje em dia, costuma-se usar cargas maiores do que as indicadas na tabela. Por isso,
recomenda-se consultar os catálogos técnicos das empresas executoras das estacas.
(d) = Espaçamento mínimo entre eixos de estacas.
(a) = Espaçamento mínimo entre eixo de estaca e divisa do terreno.
Tabela 6 - Valores orientativos de Carga de Catálogo para estaca Franki / Fonte: adaptada de Alonso (2019).

174
UNIDADE 5

Podem ocorrer alguns acidentes durante a execução das estacas Franki, como: estrangulamento do
fuste na concretagem através de solos muito moles; ruptura do fuste durante apiloamento do concreto
(indicado pelo encurtamento da armação); ruptura por tração do concreto; perda de contato da base
com o solo de apoio devido ao levantamento de estaca já executada (MAIA et al., 2019).

Estaca raiz

Fazendo parte do grupo de estacas injetadas, as estacas raiz são caracterizadas por seu uso frequente em
obras nos centros urbanos onde existem diversas restrições, como: locais de difícil acesso, baixa tole-
rância à vibração e ruídos (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020). Diferentemente da maioria das estacas
moldadas in loco (com concreto), a raiz é composta por argamassa ou calda de cimento e armadura.
Além desta característica, este tipo de estaca diferencia-se das demais por outras três razões impor-
tantes, segundo Décourt, Albiero e Cintra (2019):
• Possibilidade de serem executadas em posição inclinada, formando ângulos de 0 a 90 graus.
• Possuem maior densidade de armadura do que as estacas de concreto armado, pois o seu pro-
cesso de perfuração pode atingir extensas profundidades até a rocha ou solos de alta resistência
e, por isso, em comparação com os demais tipos, o seu nível de carga transmitida ao solo por
atrito lateral é maior.
• A mesma carga de trabalho usada para o esforço de tração pode ser utilizada ao esforço de
compressão ao qual a estaca raiz está sujeita, desde que esteja, adequadamente, armado, pois a
sua carga admissível advém, principalmente, da parcela de atrito lateral.

O procedimento de execução da estaca raiz é composto por quatro fases consecutivas:


Fase 1 – Perfuração: “é executada por meio de perfuratriz rotativa ou rotopercussiva que desce
o revestimento através de rotação com o uso de circulação direta de água injetada no seu interior”
(ABNT, 2019, p. 74).
Fase 2 – Instalação da armadura: terminada a fase de perfuração, “limpa-se internamente o furo
através da utilização da composição de lavagem e posteriormente procede-se à descida da armadura
[...] que é apoiada no fundo do furo” (ABNT, 2019, p. 75).
Fase 3 – Preenchimento com argamassa: após a colocação da armadura, realiza-se o preenchimen-
to “com argamassa mediante bomba de injeção, através de um tubo descido até a ponta da estaca. O
preenchimento é feito de baixo para cima até a expulsão de toda a água” (ABNT, 2019, p. 75).
Fase 4 – Remoção do revestimento e aplicação de golpes de ar comprimido: assim que o furo estiver,
completamente, preenchido pela argamassa ou calda de cimento,“inicia-se a extração do revestimento.
Periodicamente, coloca-se a cabeça de injeção no topo do revestimento e aplica-se pressão que pode
ser de ar comprimido ou através da bomba de injeção de argamassa” (ABNT, 2019, p. 75).
A Figura 12 ilustra o processo executivo da estaca raiz.

175
UNICESUMAR

1 – Perfuração 2 – Colocação da armadura e enchimento


do furo com argamassa. Extração dos tubos
e injeção de ar comprimido.

Cabeçote de ar
comprimido
Extração
do tubo
Macaco 3 – Estaca pronta
Macaco
hidráulico
hidráulico

Solo Solo Solo Solo


Armadura

Argamassa
de cimento
e areia

Sapata de
perfuração

Figura 12 - Processo executivo da estaca raiz / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em quatro partes. Elas mostram a inserção dos elementos de perfura-
ção da estaca no solo, numa sequência de evolução de processo, da esquerda para a direita, em três etapas. As duas primeiras imagens
mostram a etapa 1 de perfuração, com o equipamento mecânico de perfuração, a instalação dos macacos hidráulicos e as peças de per-
furação inseridas no solo, em que a ponta delas indica a sapata de perfuração. A terceira imagem mostra a etapa 2, com a colocação da
armadura e o enchimento, por meio de argamassa, em quase todo o fuste e, também, próximo ao topo do nível do terreno, vemos os tubos
sendo retirados. A última imagem mostra a etapa 3, com a estaca pronta inserida no solo, à direita, e a armação, em trama, no seu meio.

A aplicação desse tipo de estaca em obras geotécnicas é diversa: reforço de fundações; fundação de estruturas
offshore e de máquinas; estabilização de encostas; paredes de contenção para proteção de escavações etc. (AL-
BUQUERQUE; GARCIA, 2020). Pois estes tipos de obras apresentam características limitadoras, como espaço
restrito para execução, ou necessidades diferenciadas, por exemplo, a confecção da estaca inclinada no solo.
Na tabela, a seguir, são apresentadas algumas cargas admissíveis, normalmente, usadas para seções
transversais comuns de estacas raiz.

TIPO DE SEÇÃO TRANSVERSAL CARGA DE CATÁLOGO COMPRIMENTO (m)


ESTACA Diâmetro (cm) Pe (kN)*

4 f 16 5 f 16 5 f 20 8 f 20
16 300 - - -
20 400 500 700 1100
Raiz 25 600 650 800 1300 Variável
31 800 850 1000 1700
41 1200 1300 1450 1950
45 1400 1500 1650
(*) Estes valores representam, apenas, uma ordem de grandeza, recomenda-se consultar os catálogos
técnicos das empresas executoras das estacas.
Tabela 7 - Valores orientativos de Carga de Catálogo para estaca raiz / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

176
UNIDADE 5

Estaca hollow auger


Nível do Terreno

Assim como as estacas raiz, a hollow auger di-


ferencia-se da maioria das estacas moldadas in
loco por utilizar, como material de moldagem,
a argamassa. O seu processo executivo possui
similaridades com as estacas hélice.
Essa estaca recebe este nome, hollow auger
(traduzido: broca oca), devido à ferramenta uti-
lizada para a sua perfuração — uma broca com-
posta por um tubo central oco, dotada de hélice
dupla nas laterais, a qual garante a estabilidade
dos furos (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020).
Ela é moldada, in loco, por meio da injeção de
argamassa, sob pressão, pela haste central da
broca, simultaneamente, à sua retirada do solo.
A introdução no terreno da broca rotativa,
com formato específico, ocasiona o deslocamen-
Figura 13 - Detalhe esquemático da perfuração por broca hol-
to do solo junto ao fuste e à ponta, não realizan- low auger / Fonte: a autora.
do retirada de solo do furo.
A Figura 13 representa o detalhe esquemáti- Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração que
mostra a inserção de uma broca larga e comprida perfurando
co da introdução, nas camadas de solo, da broca duas camadas diferentes do solo. Nas laterais do espaço ocu-
pado pela broca e, também, na base, há flechas indicando a
hollow auger. direção de deslocamento do solo.

O procedimento de execução dessa estaca é simples e contém, apenas, três fases (ABEF, 2016):
Fase 1 – Perfuração do terreno com a broca oca: operação contínua de perfuração por rotação, sem
retirada da broca do solo, até alcançar a profundidade prevista em projeto.
Fase 2 – Injeção de argamassa simultânea à extração da broca oca do terreno: bombeamento de
argamassa pelo tubo central da broca, fazendo o preenchimento do furo deixado pela ferramenta que
é extraída do solo por rotação. Esta retirada da broca não leva consigo o material do terreno, pois o
formato da ferramenta promove o deslocamento do solo durante a sua perfuração, não necessitando
de limpeza ou manejo dos resíduos de escavação.
Fase 3 – Colocação de armadura: depois da completa injeção de argamassa do furo realizado pela
broca oca, é inserida a armadura da estaca enquanto o material ainda está fresco. A armação é intro-
duzida utilizando a própria força da gravidade ou com auxílio de pilão pequeno, que “aperta” a gaiola
de aço no furo preenchido com argamassa.
A Figura 14 ilustra as etapas de execução dessa estaca:

177
UNICESUMAR

INJEÇÃO DE COLOCAÇÃO DA
PERFURAÇÃO ARGAMASSA ARMADURA

Nível do Terreno

Figura 14 - Etapas de execução da estaca hollow auger / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a imagem apresenta uma ilustração dividida em três partes, cada uma mostrando a
evolução do processo, da esquerda para a direita. A primeira parte, indicada como “perfuração”, mostra a in-
serção da broca larga e comprida perfurando duas camadas diferentes do solo com flechas que indicam o solo
deslocado. A segunda parte, identificada como “injeção de argamassa”, mostra a broca sendo retirada e metade
do espaço deixado por ela, preenchido. A terceira parte, identificada como “colocação da armadura”, mostra todo
o espaço no solo deixado pela broca, agora, preenchido por argamassa, e uma trama comprida sendo inserida
neste mesmo espaço.

Podem ser apontados como vantagens no procedimento de execução da estaca


hollow auger:
• Pode ser executada abaixo do nível do lençol freático (N.A.).
• Elevada produtividade com, apenas, uma equipe de trabalho: podem ser reali-
zadas perfurações diárias na ordem de centenas de metros por dia, dependendo
das condições do projeto.
• Adaptabilidade para terrenos em condições difíceis: é empregada em locais de
difícil acesso ou com características especiais, sobretudo, em áreas contaminadas.
• Ausência de vibrações ou ruídos: diferentemente da maioria dos equipamentos
típicos de percussão.
• Não produz detritos poluentes de escavação, como no caso da lama bentonítica,
que necessita de disposição final adequada.
• Não necessita de manejo de solo: pelo fato de a broca oca realizar a compres-
são das paredes do furo durante a escavação, nenhum material é extraído da
perfuração, dessa forma, não precisa de remoção e limpeza de terra, em obra.
• Profundidade variável: a broca é composta de segmentos rosqueáveis entre
si, permitindo que se acoplem durante a perfuração, para compor uma haste
mais longa, não havendo limitação por comprimento da ferramenta.

178
UNIDADE 5

Essa estaca, porém, apresenta, também, algumas desvantagens em seu procedimento,


assim como no caso das estacas hélice:
• Central de produção de argamassa nas proximidades: a sua intensa produti-
vidade exige que o fornecimento seja constante e sem interrupção durante os
trabalhos, pois a broca oca não pode ser retirada do terreno antes do preen-
chimento da cavidade.
• Custo-benefício específico: para ser uma alternativa viável de fundação, é
necessário um número mínimo de estacas ou de comprimento total de perfu-
ração para que os custos de mobilização de equipamentos sejam compatíveis.

Na tabela, a seguir, são apresentadas algumas cargas admissíveis, normalmente, usadas


para seções transversais comuns de estacas hollow auger.

TIPO DE SEÇÃO TRANSVERSAL CARGA DE CATÁLOGO COMPRIMENTO


ESTACA Diâmetro (cm) Pe (kN)* (m)

25 600
Hollow 31 900
Variável
auger 41 1100
50 1500
(*) Estes valores representam, apenas, uma ordem de grandeza, recomenda-se
consultar os catálogos técnicos das empresas executoras das estacas.
Tabela 8 - Valores orientativos de Carga de Catálogo para estaca hollow auger.
Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Estaca escavada com fluido estabilizante

Esse tipo de estaca é moldado in loco e realiza escavação do terreno por meio de um
fluido que promove estabilidade para as paredes do furo. Ela pode apresentar seção
transversal circular com diâmetro variando de 0,6 m a 2,0 m, recebendo o nome de
estacão (BERBERIAN, 2010). Quando as suas seções são retangulares ou alongadas,
é chamada barrete, e a sua escavação utiliza ferramentas denominadas clamshells.
A sua execução passa por fases bem definidas:
Fase 1 – Escavação e preenchimento com fluido estabilizante: inicia com a cra-
vação de uma camisa metálica ou execução de uma mureta-guia para direcionar a
ferramenta que fará a escavação da estaca. “A escavação da estaca é feita simultanea-
mente ao lançamento do fluido” (ABNT, 2019, p. 72), promovendo a estabilização das
paredes do furo por meio do preenchimento do mesmo no lugar do solo retirado.
Fase 2 – Colocação da armadura: após a escavação atingir a profundidade prevista
em projeto, estando o furo, completamente, preenchido com o fluido estabilizante, “é
feita a colocação da armadura de projeto” (ABNT, 2019, p. 73).

179
UNICESUMAR

Fase 3 – Concretagem: sendo pouco ortodoxa, o lançamento de concreto é feito


de forma submersa e investida, iniciando na base do furo e subindo. “O concreto
expulsa o fluido à medida que avança no interior da perfuração, de baixo para cima
” (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020, p. 207).
O fluido utilizado na estabilização do furo pode ser lama bentonítica ou polímero.
A lama é o fluido mais utilizado nos procedimentos de fundações e consiste numa
mistura de água e bentonita (argila) que forma uma substância coloidal. Esta, por
sua vez, promove a contenção do fundo e das paredes do furo (MAIA et al., 2019);
a estabilidade é garantida pela não decantação dos resíduos da escavação dentro da
lama bentonítica, ao mesmo tempo em que forma uma película protetora sobre a
superfície porosa do furo (cake).
A norma técnica de fundações fixa os limites de características para a lama ben-
tonítica, como pode ser visto na tabela, a seguir.

PROPRIEDADES VALORES EQUIPAMENTOS PARA ENSAIO


Densidade 1,025 g/cm³ a 1,10 g/cm³ Densímetro
Viscosidade 30s a 90s Funil Marsh
pH 7 a 11 Indicador de pH
Teor de areia Até 3% Baroid sand content ou similar
Tabela 9 - Características da lama bentonítica pela norma NBR 6122 / Fonte: adaptada de ABNT (2019).

Caso seja utilizado um polímero, este deve ser preparado segundo as características
indicadas na tabela, a seguir.

PROPRIEDADES VALORES EQUIPAMENTOS PARA ENSAIO


Densidade 1,005 g/cm³ a 1,05 g/cm³ Densímetro
Viscosidade 35s a 120s Funil Marsh
pH 8 a 12 Indicador de pH
Teor de areia Até 3% Baroid sand content ou similar
Tabela 10 - Características da fluido estabilizante polímero pela norma NBR 6122
Fonte: adaptada de ABNT (2019).

180
UNIDADE 5

Na tabela, a seguir, são apresentadas algumas cargas admissíveis, normalmente, usadas para seções
transversais comuns de estacas escavadas com fluido estabilizante.

SEÇÃO TRANSVERSAL CARGA DE CATÁLOGO Pe COMPRIMENTO


TIPO DE ESTACA
Diâmetro (cm) (kN)* (m)

se (MPa)
3,5 4,0 4,5 5,0
60 1000 1100 1250 1400
70 1350 1500 1700 1900
80 1750 2000 2250 2500
Equipamentos
Escavada com 90 2200 2550 2850 3150 especiais com
fluido estabilizante 100 2750 3100 3500 3900 profundidades de
60 a 100 m
110 3300 3800 4300 4750
120 3950 4500 5050 5650
130 4600 5300 6000 6600
140 5400 6150 6900 7700
150 6200 7100 8000 8850
160 7000 8000 9000 10.000
(*) Estes valores representam, apenas, uma ordem de grandeza, recomenda-se consultar os catálogos
técnicos das empresas executoras das estacas.
se = Tensão Admissível do material da estaca.
Tabela 11 - Valores orientativos de Carga de Catálogo para estaca escavada com fluido estabilizante.
Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Esse tipo de estaca possui fatores que podem afetar a sua escavação, segundo Maia et al. (2019):
• Condições do subsolo: com ocorrência de matacões, solos muito permeáveis, camadas duras
e outros.
• Lençol freático: quando próximo da superfície, dificulta a escavação.
• Opção por lama bentonítica ou polímero.
• Equipamentos de escavação e plataforma de trabalho: o estado de conservação interfere na
produtividade da escavação.
• Uso de armaduras autoportantes.

181
UNICESUMAR

Estaca hélice contínua monitorada

Essa estaca recebe este nome devido à ferramenta utilizada para a


sua perfuração — uma broca composta por um tubo central oco
com hastes laterais helicoidais contínuas, a hélice contínua. Ela é
moldada, in loco, por meio da injeção de concreto, sob pressão,
pela haste central da broca, simultaneamente, à sua retirada do solo
(BERBERIAN, 2010).
A sua nomenclatura, “monitorada”, advém do controle do pro-
cesso executivo que é regulado pela norma técnica de fundações
em seu anexo, o qual trata, especificamente, dessa estaca: “Todas as
fases de execução da estaca devem ser monitoradas eletronicamente
a partir de sensores instalados na perfuratriz” (ABNT, 2019, p. 92)
e fornece dados da estaca, tais como: profundidade da ponta da
hélice em relação ao nível do terreno; velocidade de rotação; tor-
que; inclinação da torre; pressão do concreto; volume acumulado
de concreto desde o início da concretagem; Sobreconsumo Parcial
(CP) e Total (CT).
O procedimento de execução da estaca hélice contínua monito-
rada é simples e contém, apenas, três fases (ALONSO, 2019):
Fase1 – Perfuração do terreno com a hélice: operação contínua
de perfuração por rotação, sem retirada da broca helicoidal (hélice)
do solo, até alcançar a profundidade prevista em projeto.
Fase 2 – Concretagem simultânea à extração da hélice do
terreno: bombeamento de concreto pelo tubo central da hélice,
fazendo o preenchimento do furo deixado pela ferramenta, que
é extraída do solo sem girar ou com giro lento no mesmo sentido
da perfuração. Esta retirada da hélice leva consigo o material do
solo que estava contido no terreno, necessitando de limpeza da
ferramenta, enquanto ela é extraída do terreno, e, também, manejo
dos resíduos de escavação.
Fase 3 – Colocação de armadura: depois da completa concreta-
gem do furo realizado pela hélice, é inserida a armadura da estaca
enquanto o concreto ainda está fresco. A armação é introduzida
utilizando a própria força da gravidade ou com auxílio de pilão pe-
queno, que “aperta” a gaiola de aço no furo preenchido com concreto.

182
UNIDADE 5

A Figura 15 ilustra as etapas de execução de uma estaca hélice contínua.

PERFURAÇÃO CONCRETAGEM COLOCAÇÃO DA


ARMADURA

Nível do Terreno

Figura 15 - Etapas de execução da estaca hélice contínua monitorada / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a imagem apresenta uma ilustração dividida em três partes, mostrando a evolução do
processo, da esquerda para a direita. A primeira parte, indicada como “perfuração”, mostra a inserção da broca
helicoidal comprida perfurando duas camadas diferentes do solo, enquanto flechas indicam o sentido da perfu-
ração para baixo. A segunda parte, identificada como “concretagem”, mostra a broca sendo retirada e metade
do espaço deixado por ela preenchido, pequenos montes são indicados como “solo retirado”, ao lado da broca,
acima do nível do terreno. A terceira parte, identificada como “colocação” da armadura, mostra todo o espaço
no solo deixado pela broca, agora, preenchido por concreto e, também, uma trama comprida sendo inserida
nesse mesmo espaço.

O método de inserir a armadura na estaca, após a


concretagem, pode ser complexo, pois o concreto
fresco oferece resistência para inserir elementos
em seu interior. As armaduras para estacas do tipo
hélice contínua precisam garantir o posicionamen-
to retilíneo da armadura conforme o projeto, mes-
mo a muitos metros de profundidade. Pensando
nisso, confira a Pílula de Aprendizagem, em que é
apresentada a realização, na prática, desta inser-
ção da armadura, garantindo o posicionamento
dentro do concreto. Acesse o vídeo explicativo
para ver esta demonstração!

183
UNICESUMAR

Podem ser apontados como vantagens no procedimento de execução da estaca hélice


contínua (BERBERIAN, 2010):
• Pode ser executada abaixo do nível do lençol freático (N.A.).
• Elevada produtividade: com, apenas, uma equipe de trabalho, podem ser rea-
lizadas perfurações diárias na ordem de 150 m a 400 m por dia, dependendo
das condições do projeto.
• Adaptabilidade para a maioria dos terrenos: exceto aqueles com presença de
matacões e rochas.
• Ausência de vibrações ou ruídos: diferentemente da maioria dos equipamentos
típicos de percussão.
• Não gera distúrbios ou descompressão das camadas do terreno.
• Não produz detritos poluentes de escavação, como no caso da lama bentonítica,
que necessita de disposição final adequada.

Essa estaca, no entanto, possui algumas desvantagens em seu procedimento, como


são apontadas por Maia et al. (2019):
• Terreno adequado para o equipamento: devido ao porte, necessita de área
plana e de fácil movimentação em obra.
• Central de concreto nas proximidades: a sua intensa produtividade exige que
o fornecimento seja constante e sem interrupção durante os trabalhos.
• Constante manejo de solo: o material extraído da perfuração acumula-se,
rapidamente, no local de execução de cada estaca, necessitando remoção e
limpeza imediata de grande volume de terra, constantemente, em obra.
• Custo-benefício específico: para ser uma alternativa viável de fundação, é ne-
cessário um número mínimo de estacas, a fim de que os custos de mobilização
de equipamentos sejam compatíveis.
• Profundidade limitada ao alcance da broca perfuradora: geralmente, com
comprimento de 20 m a 24 m.

Ao procurar formas de contornar a desvantagem de alcance máximo da estaca


hélice contínua, é possível encontrar, no mercado, empresas que executem a estaca
hélice por meio de uma ferramenta segmentada. Nomeada como hélice seg-
mentada monitorada, esta estaca possui execução nas mesmas etapas da hélice
contínua monitorada, com a diferença de que o equipamento utilizado permite
acoplar segmentos de broca hélice durante a escavação do solo e desacoplá-los na
concretagem (MAIA et al., 2019). Isso permite alcançar maiores profundidades
nesse tipo de estaca.
Na tabela, a seguir, são apresentadas algumas cargas admissíveis, normalmente,
usadas para seções transversais comuns de estacas hélice contínua.

184
UNIDADE 5

SEÇÃO TRANSVERSAL CARGA DE CATÁLOGO COMPRIMENTO


TIPO DE ESTACA
Diâmetro (cm) Pe (kN)* (m)

30 150-300
40 350-600
50 700-1100
60 1200-1400
Hélice contínua 70 1500-1900 Máximo 38m
80 2000-2500
90 2600-3200
100 3300-3900
120 4800-5600
(*) Estes valores representam, apenas, uma ordem de grandeza, recomenda-se consultar os
catálogos técnicos das empresas executoras das estacas.

Tabela 12 - Valores orientativos de Carga de Catálogo para estaca hélice contínua / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Estaca hélice de deslocamento Nível do Terreno


monitorada (ômega)

Esse tipo de estaca possui similaridades com a


estaca hélice contínua monitorada, porém apre-
senta melhoramentos em sua operação e, também,
no resultado final, que a colocam em vantagem
quando ambas são comparadas. A estaca hélice
de deslocamento monitorada, também, referida,
no meio executivo, como estaca ômega, é execu-
tada com a introdução, no terreno, de um trado
rotativo (trado ômega) cujo formato ocasiona o
deslocamento do solo junto ao fuste e à ponta, não
realizando retirada de solo do furo (ABNT, 2019).
A Figura 16 representa o detalhe esquemático
da introdução do trado ômega nas camadas de solo.
Os procedimentos e deslocamento de solo, na exe-
cução das estacas hollow auger e ômega, são muito
semelhantes, a ponto de diversos locais colocarem am-
Figura 16 - Detalhe esquemático da perfuração por trado ômega
bas as estacas como sendo as mesmas, porém, com no- Fonte: a autora.

menclaturas diferentes. Entretanto é preciso se atentar Descrição da Imagem: a imagem apresenta uma ilustração
para as diferenças entre elas, por exemplo, o material mostrando a inserção de um trado largo e de formato de pi-
teira perfurando duas camadas diferentes do solo. Nas laterais
que compõe cada uma (argamassa ou concreto) e, tam- do espaço perfurado pelo trado e, também, na base, flechas
indicam a direção de deslocamento do solo.
bém, o tipo de ferramenta utilizado (broca ou trado).

185
UNICESUMAR

Assim como na hélice contínua, a nomenclatura “monitorada” advém do controle do processo


realizado por monitoramento eletrônico de todas as fases da execução, a partir de sensores instalados
na perfuratriz, os quais fornecem dados específicos da estaca (ABNT, 2019).
O procedimento de execução da estaca hélice de deslocamento monitorada, ou, ômega, é simples
e contém, apenas, três fases (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020):
Fase 1 – Perfuração do terreno com o trado ômega: operação contínua de perfuração por rotação,
sem retirada do trado helicoidal (hélice ômega) do solo até alcançar a profundidade prevista em projeto.
Fase 2 – Concretagem simultânea à extração da hélice ômega do terreno: bombeamento de concreto
pelo tubo central da hélice, fazendo o preenchimento do furo deixado pela ferramenta, que é extraída
do solo, por rotação, no mesmo sentido da perfuração. Esta retirada da hélice ômega não leva consigo o
material do terreno, pois promove o deslocamento do solo durante a sua perfuração, não necessitando
de limpeza da ferramenta ou manejo dos resíduos de escavação.
Fase 3 – Colocação de armadura: depois da completa concretagem do furo realizado pela hélice,
é inserida a armadura da estaca enquanto o concreto ainda está fresco. A armação é introduzida uti-
lizando a própria força da gravidade ou com auxílio de pilão pequeno, que “aperta” a gaiola de aço no
furo preenchido com concreto.
A Figura 17 ilustra as etapas de execução dessa estaca.

PERFURAÇÃO CONCRETAGEM COLOCAÇÃO DA


ARMADURA

Nível do Terreno

Figura 17 - Etapas de execução da estaca hélice de deslocamento monitorada (estaca ômega) / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a imagem apresenta uma ilustração dividida em três partes, mostrando a evolução do processo, da esquerda
para a direita. A primeira parte, identificada como “perfuração”, mostra a inserção do trado ômega perfurando duas camadas diferentes
do solo e flechas indicando o sentido da perfuração para baixo e, também, o deslocamento do solo nas laterais e no chamado “solo 2”. A
segunda parte, identificada como “concretagem”, mostra o trado sendo retirado e metade do espaço preenchido. A terceira parte, identi-
ficada como “colocação da armadura”, mostra todo o espaço no solo deixado pelo trado, agora, preenchido por concreto e, também, uma
trama comprida sendo inserida nesse mesmo espaço.

186
UNIDADE 5

Na tabela, a seguir, são apresentadas algumas cargas admissíveis, normalmente, usadas para seções
transversais comuns de estacas hélice de deslocamento ou ômega.

TIPO DE SEÇÃO TRANSVERSAL CARGA DE


COMPRIMENTO (m)
ESTACA Diâmetro (cm) CATÁLOGO Pe (kN)*
27 340

Hélice de 32 480
deslocamento 37 650 28 m
(ômega) 42 830
47 1040
(*) Estes valores representam, apenas, uma ordem de grandeza, recomenda-se consultar os catálogos
técnicos das empresas executoras das estacas.
Tabela 13 - Valores orientativos de Carga de Catálogo para estaca hélice de deslocamento (ômega)
Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Podem ser apontadas como vantagens no procedimento de execução da estaca hélice de deslocamento:
• Pode ser executada abaixo do nível do lençol freático (N.A.).
• Elevada produtividade: com, apenas, uma equipe de trabalho, podem ser realizadas perfura-
ções diárias na ordem de centenas de metros por dia, dependendo das condições do projeto.
• Adaptabilidade para a maioria dos terrenos: exceto aqueles com presença de matacões e
rochas.
• Ausência de vibrações ou ruídos: diferentemente da maioria dos equipamentos típicos de
percussão.
• Não produz detritos poluentes de escavação: como no caso da lama bentonítica, que ne-
cessita de disposição final adequada.
• Não necessita de manejo de solo: pelo fato de o trado ômega realizar a compressão das pa-
redes do furo durante a escavação, nenhum material é extraído da perfuração, dessa forma,
não precisa de remoção e limpeza de terra, em obra.

Essa estaca possui algumas desvantagens em seu procedimento, assim como no caso da hélice
contínua:
• Terreno adequado para o equipamento: devido ao porte, necessita de área plana e de fácil
movimentação em obra.
• Central de concreto nas proximidades: a sua intensa produtividade exige que o fornecimento
seja constante e sem interrupção durante os trabalhos.
• Custo-benefício específico: para ser uma alternativa viável de fundação, é necessário um
número mínimo de estacas, a fim de que os custos de mobilização de equipamentos sejam
compatíveis.
• Profundidade limitada ao alcance do trado da perfuratriz: geralmente, com comprimento
até 28 m.

187
UNICESUMAR

Quando temos uma obra convencional, sem


grandes esforços de carga a se distribuir e um
terreno cuja resistência superficial do solo é
alta, não existem muitas dificuldades em pro-
por uma solução econômica de fundação, mas
quando temos edificações de grande porte, como
prédios, galpões, fábricas, torres ou edifícios de
formatos inovadores de arquitetura ou obras de
reformas que devem ser construídos em terreno
de área limitada, com solo de pouca resistência
ou composto por camadas de aterro, lençol freá-
tico próximo da superfície, localização distante
ou no meio de grandes centros urbanos, enfim,
condições adversas que não permitem escolher
uma fundação convencional simples, nestes ca-
sos, é exigido do(a) profissional de Engenharia
conhecimento amplo das opções de fundações
que podem ser utilizadas, principalmente, dos
tipos de estacas existentes, como elas são execu-
tadas e transmitem esforços ao solo.
Profissionais de Engenharia que dominam o
conhecimento de fundações se destacam e saem
na frente no mercado da construção civil, como
mão de obra técnica especializada, principal-
mente, das fundações profundas que são a base
das grandes obras de Engenharia. Existem diver-
sos métodos, formas e materiais de fundações em
estacas que podem ser projetados como sistema
de transmissão de cargas das edificações ao solo,
porém conhecer as características principais de
execução e projeto daquelas que são mais utili-
zadas permite engenheiras e engenheiros pro-
porem soluções mais assertivas, econômicas e
adequadas à situação da obra.

188
Passamos, nesta unidade, por uma quantidade considerável de informações sobre tipos de esta-
cas, as suas classificações, os seus materiais e processos de execução, agora, realizaremos uma
atividade de “Arquivologia Mental” sobre o que aprendemos.
A seguir, estão listados os nomes dos tipos de estacas que abordamos, em detalhes, nesta unidade.
A sua tarefa será escrever o nome delas dentro das caixas de classificação existentes para esses
tipos de estaca. É possível que você anote o mesmo nome em diferentes categorias de classifi-
cação, tenha atenção, somente, para não colocar a mesma estaca em classificações conflitantes.

Madeira Metálica Raiz Strauss


Escavada, Escavada, Hélice de
Pré-moldada de
mecanicamente, sem mecanicamente, com deslocamento ou
concreto
fluido estabilizante fluido estabilizante ômega
Franki Hollow auger Hélice contínua Prensada ou mega

CLASSE DA
NOME DAS ESTACAS
ESTACA

Moldadas in
loco

Pré-moldadas

Cravadas

Escavadas

Prensadas

De
deslocamento

De substituição

Sem
deslocamento

189
1. Um dos fatores fundamentais que devem ser considerados na determinação do tipo de
estaca a ser adotado para uma estrutura é a durabilidade em longo prazo. Dentre as
opções de estacas pré-moldadas, disponíveis no mercado, existe um tipo com duração,
praticamente, ilimitada, quando mantido, permanentemente, submerso, mas, ao ser
submetido à variação de nível d’água, se desintegra pela ação de fungos aeróbios que
se desenvolvem no ambiente água-ar. Em relação ao nome da estaca cujo enunciado
faz referência, assinale a alternativa correta:
a) Pré-moldadas de concreto (armado ou protendido).
b) Pré-moldadas de argamassa armada.
c) Cravadas à reação.
d) De madeira.
e) Metálicas.

2. Estacas cravadas com grande deslocamento são aquelas introduzidas no solo sem
a retirada desse, provocando muito deslocamento do solo adjacente à estaca. Esta
possui grande área da base, superfície lateral muito rugosa e terreno, fortemente,
comprimido ao redor da fundação, pois, durante a cravação, sob os golpes do pilão, o
tubo metálico penetra no solo e gera muitas vibrações, podendo causar danos a edifi-
cações vizinhas. Em relação ao nome da estaca cujo enunciado faz referência, assinale
a alternativa correta:
a) Pré-moldadas de concreto (armado ou protendido).
b) Prensadas ou mega.
c) Metálicas (tubo de ponta fechada).
d) De madeira.
e) Franki.

3. A aplicação inicial destas estacas foi para o reforço de fundações antigas, as quais o
acesso era restrito a equipamentos de grande porte. A execução compreende, funda-
mentalmente, quatro fases: perfuração auxiliada por circulação de água; instalação da
armadura; preenchimento com argamassa; remoção do revestimento e aplicação de
golpes de ar comprimido. Em relação ao nome da estaca cujo enunciado faz referência,
assinale a alternativa correta:
a) Hollow auger.
b) Hélice contínua.
c) Raiz.
d) Strauss.
e) Ômega.

190
191
192
6
Fundações Indiretas
Profundas II
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos

Nesta sexta unidade do livro, continuaremos a explorar as funda-


ções indiretas profundas que executamos em nossas edificações,
as estacas. Serão exploradas as principais teorias e métodos de
cálculo para a Capacidade de Carga bem como os parâmetros de
projeto da fundação em estacas.
UNICESUMAR

Imagine a seguinte situação:


você acaba de chegar para
uma reunião de equipe da
construtora onde trabalha e
descobre que o próximo pro-
jeto a ser assumido engloba
o segundo edifício mais alto
da capital. Será uma obra de
grande porte, apoiada sobre
um terreno limitado no cen-
tro da cidade. As condições
de resistência do solo, na su-
perfície, não são das melho-
res, porém os demais prédios
construídos, ao redor, não ti-
veram problemas em adotar
uma solução de fundações em
estacas. Se fosse dado a você o
trabalho de projetar a funda-
ção desta edificação, por onde
começaria?
Este foi o desafio que as
equipes de projetistas res-
ponsáveis pelo Empresarial
Charles Darwin, localizado
num dos maiores centros de
negócios do Nordeste brasi-
leiro, em Recife-PE, tiveram
de lidar ao planejar as funda-
ções desta edificação de 138
metros de altura e 37 anda-
res. A figura, a seguir, mostra a
vista da localização do prédio:

Figura 1 - Vista do Edifício Empresarial Charles Darwin, no centro de Recife-PE


Fonte: Web Escritórios ([2021], on-line)1.

Descrição da Imagem: a figura mostra a fotografia de uma paisagem urbana com o


céu cheio de nuvens brancas e, na porção inferior horizontal da foto, estão os prédios,
alinhados. É possível ver a torre do Edifício Empresarial Charles Darwin em primeiro
plano, na parte central da imagem, destacando-se como o edifício mais alto da paisagem.

194
UNIDADE 6

A região metropolitana da capital pernambucana passa por um


processo de verticalização que concentra, nas proximidades da
orla marítima, a construção de edificações altas (WANDERLEY,
2015, on-line). Porém, para garantir que elas permaneçam estáveis,
é preciso projetar, muito bem, as suas fundações, garantindo que
estejam apoiadas sobre uma camada resistente de solo, como visto
nas unidades anteriores.
Queremos, sempre, evitar a repetição dos erros de projeto ocorri-
dos nos edifícios em Santos-SP. É de conhecimento público, na área
da construção civil, o caso dos problemas de fundação dos prédios na
orla marítima santista, problemas estes responsáveis pela inclinação
desses edifícios, devido ao mau dimensionamento. As fundações
em estacas (de vários tipos e técnicas de execução), construídas na
época de intensa urbanização da cidade, foram planejadas a fim de se
apoiarem em camadas do solo que não tinham condições geotécnicas
para suporte estável, um problema identificado, somente, alguns anos
depois, por causa da inclinação gradativa das edificações.
Os prédios inclinados de Santos-SP são exemplos de aprendizado
da Engenharia de Fundações para entender que a escolha de um
tipo de fundação, mesmo em estaca, deve estar alinhada com as
características geotécnicas do solo, caso contrário, corre-se o risco
de ter muitos problemas.
Agora, realizaremos um breve experimento de sustentação pa-
recido com o que ocorre nas fundações em estaca dos edifícios e
prédios, utilizando um processo de tentativa e erro. Não desanime
se não conseguir equilibrar, corretamente, da primeira vez, realize
novas tentativas, com outras configurações, até atingir o objetivo.
Você separará cinco canudos de plástico ou de papel, de igual
comprimento, uma calculadora plana de qualquer tamanho e um
instrumento de medição (régua ou trena). Munido(a) destes ele-
mentos e de seu material de anotação (caderno, canetas etc., pode
utilizar, também, o Diário de Bordo), busque um local, no terreno
próximo de sua casa, que contenha solo solto (sem compactação)
e descoberto (sem grama ou plantas na superfície).
O seu objetivo é descobrir a quantos centímetros os cinco canudos
devem ser inseridos, no solo, até que o conjunto possa sustentar o peso
da calculadora apoiada sobre eles, sem que haja queda ou inclinação
por causa do recalque. Anote quantos centímetros de canudo foram
necessários penetrar no solo até oferecer sustentação à calculadora.

195
UNICESUMAR

Agora, repita o experimento, utilizando, no lugar dos canudos, lápis com ponta e do mesmo tipo
(todos redondos ou todos de seção poligonal). Anote quantos centímetros de lápis foram necessários
penetrar no solo até a sustentação da calculadora. Com a ajuda de uma balança simples, determine o
peso total da calculadora, em gramas, e calcule o quanto de carga cada estaca teve que suportar.
Lembrando que você deve trabalhar com o solo nas condições em que ele se encontra (solto e natural),
não utilize nenhum tipo de técnica para compactar o material que está ao redor dos elementos inseridos.
Caso uma tentativa tenha desagregado ou remexido, demais, o solo para teste, busque uma região do
terreno a qual não tenha sido, ainda, utilizada no experimento e que atenda às condições iniciais.
Esse experimento simula a situação de uma fundação em estacas para um pilar da construção, no
qual os canudos ou lápis inseridos, no solo, desempenham a função das estacas, e a calculadora, a fun-
ção do bloco de coroamento distribuindo a carga do pilar. Dentro do que você observou, realizando
o experimento, faça uma reflexão comparando a Capacidade de Carga do conjunto de canudos com
o conjunto de lápis:
Qual deles precisou de mais centímetros de inserção no solo até apresentar firmeza para apoiar a
calculadora?
Sabendo que ambos os materiais terão de suportar o mesmo peso, qual tipo de “estaca” é mais resis-
tente: canudo ou lápis? Como você determina isso, por meio dos números do experimento?
Se tivesse que escolher um destes “tipos de estacas” para a sua obra, qual delas seria? Por quê?
No Diário de Bordo, a seguir, use o espaço para registrar o seu esquema de apoio do experimento e
anote: as medidas de inserção para cada tipo de “estaqueamento” (canudos e lápis) do experimento; a
carga total do “bloco de coroamento” (calculadora); a carga que cada “estaca” teve de suportar; as suas
considerações às questões de reflexão levantadas no parágrafo anterior.

DIÁRIO DE BORDO

196
UNIDADE 6

Uma estaca inserida em solo apresenta duas resistências à ruptura: a Resistência Estrutural, que é
função da sua geometria e das propriedades do material de composição (madeira, aço, concreto arma-
do, protendido etc.) e consiste no valor de resistência à compressão da própria estaca ou o valor que
representa a carga de ruptura desse elemento (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020); e a Capacidade
de Carga do elemento de fundação por estaca, o qual é o valor da força máxima de resistência que o
sistema estaca-solo pode oferecer, em termos geotécnicos, ou o valor que representa a carga de ruptura
desse sistema (VELLOSO; LOPES, 2012).
As diferenças entre essas duas resistências são apresentadas no quadro, a seguir:
ESTACA ISOLADA
RESISTÊNCIA DA

SÍMBOLOS
ORIGEM FORMA DE RUPTURA DETERMINAÇÃO

Métodos de cálculo de resistência


Elemento do material disposto em
ESTRUTURAL
RESISTÊNCIA

Deformação do material
Estrutural: a normas específicas de acordo
componente da estaca por R
estaca em si. É com o material componente
esmagamento, flambagem, e
função da seção P (Madeira=NBR7190; Aço=NBR8800;
cisalhamento, rompimento, e
transversal e do Concreto=NBR6118) ou as
quebra ou outros.
tipo de estaca. informações de catálogo do
fabricante ou executor da estaca.
Sem qualquer relação
Elemento
CAPACIDADE DE

com despedaçar ou PR
Geotécnico: o
quebrar a estaca. O PR Métodos de cálculo de Carga
sistema estaca-
CARGA

que ocorre é o recalque Admissível ou Resistência Admissível


solo. É função da Pu
incessante da estaca, o para fundações profundas por
interação entre a Qu
qual só é interrompido estacas segundo a NBR6122.
estaca e o solo no
se diminuirmos a carga Pult
qual está inserida.
aplicada.
Quadro 1 - Diferenças entre tipos de resistências de estacas isoladas / Fonte: a autora.

A Capacidade de Carga de fundações profundas por estacas “deve ser determinada a partir da utilização
e interpretação de um ou mais procedimentos” (ABNT, 2019, p. 4), que são:
• Métodos estáticos: quando se baseiam nas teorias desenvolvidas dentro da Mecânica dos
Solos, são chamados de Métodos Teóricos, quando se baseiam em correlações com Ensaios de
Campo, são chamados de Métodos Semiempíricos.
• Métodos dinâmicos: estimativa da carga de fundações profundas que se baseiam na previsão
e/ou verificação do comportamento das estacas sob ação de carregamento dinâmico, de acordo
com a NBR13208: Estacas – Ensaios de carregamento dinâmico (ABNT, 2007).
• Provas de carga: determinação da carga de ruptura, por meio de ensaio de prova de carga
estática em fundações profundas, de acordo com a NBR16903: Solo – Prova de Carga Estática
em Fundação Profunda (ABNT, 2020).

197
UNICESUMAR

Qual o método de cálculo mais eficiente para um projeto de estacas? A


resposta pode ser obtida avaliando o desempenho das fundações, após a
sua conclusão. Na prática, projetistas utilizam, sempre, mais de um método
para confirmar as suas estimativas. As escolhas de projeto são testadas por
metodologias diferentes e agregam confiabilidade nos resultados.

Para Alonso (2019), os métodos teóricos para estimar a Capacidade de Carga de


uma estaca não conduzem a resultados satisfatórios, pelo fato de apresentarem alguns
fatores problemáticos em sua concepção, os quais são:



1. Impossibilidade prática de conhecer, com certeza, o estado de
tensões do terreno em repouso e estabelecer com precisão as con-
dições de drenagem que definem o comportamento de cada uma
das camadas que compõem o perfil atravessado pela estaca e aquela
do solo onde se apoia sua ponta.
2. A dificuldade que existe para determinar com exatidão a re-
sistência ao cisalhamento dos solos que interessam a fundação.
3. A influência que o método executivo da estaca exerce sobre o
estado de solicitação e sobre as propriedades do solo, em particular,
sobre sua resistência nas vizinhanças imediatas da estaca.
4. A falta de simultaneidade no desenvolvimento proporcional
da resistência de atrito e de ponta. Em geral, a resistência por
atrito se esgota muito antes de a resistência de ponta chegar ao
valor máximo.
5. Heterogeneidade do subsolo onde se cravam as estacas.
6. Presença de fatores externos ou internos que modificam o mo-
vimento relativo entre o solo e estaca (ALONSO, 2019, p. 104).

As formulações puramente teóricas não são muito utilizadas como método prin-
cipal na estimativa de cargas. O motivo é porque existem muitas incertezas quanto
à adequação das previsões (CINTRA; AOKI, 2010). A tradição da Engenharia de
Fundações brasileira prefere aliar às formulações teóricas as considerações de ordem
empírica, com os resultados de ensaios de campo, para se adequar melhor às situações
de projeto que, geralmente, são encontradas no país.

198
UNIDADE 6

É por isso que os métodos semiempíricos para a determinação da Capacidade


de Carga em estacas são mais utilizados e, por este motivo, nos focaremos neles. Sobre
esses métodos, a norma de fundações define:


São métodos que relacionam resultados de ensaios (tais como o SPT,
CPT etc.) com tensões admissíveis ou tensões resistentes de cálculo.
Devem ser observados os domínios de validade de suas aplicações,
bem como as dispersões dos dados e as limitações regionais asso-
ciadas a cada um dos métodos (ABNT, 2019, p. 22).

As formulações semiempíricas, no Brasil, estimam a Capacidade de Carga de esta-


cas com base nos valores e resultados obtidos nos Ensaios SPT e CPT, este último
é utilizado com menos frequência, se comparado ao primeiro (ALBUQUERQUE;
GARCIA, 2020). Temos os métodos semiempíricos desenvolvidos por pesquisadores
brasileiros que são, amplamente, utilizados nos escritórios de projetistas de fundações,
inclusive, no exterior. São eles: Método Aoki e Velloso e Método Décourt e Qua-
resma (CINTRA; AOKI, 2010). Na bibliografia especializada, podem ser encontrados
outros métodos, como os de Teixeira, P. P. Velloso, Alonso, Philipponat, Meyerhof etc.,
porém não serão o foco de nosso texto.

Título: Dimensionamento de Fundações Profundas


Autor: Urbano Rodriguez Alonso
Editora: Blucher
Sinopse: o dimensionamento de estacas pode ter di-
versos caminhos de cálculo, dependendo das particu-
laridades do projeto. Por isso, é importante conhecer
vários exemplos de dimensionamentos.
Comentário: o livro de Urbano Rodriguez Alonso,
Dimensionamento de Fundações Profundas, de 2012,
disponível na Biblioteca Virtual, é destinado a profissionais formados ou a es-
tudantes que projetam fundações profundas, como complemento aos critérios
básicos expostos no livro do mesmo autor, o Exercícios de Fundações (também
disponível). Acesse este conteúdo, de forma gratuita, como aluno da Unicesu-
mar, e expanda os seus estudos sobre fundações!

199
UNICESUMAR

O Método Aoki-Velloso foi R = RL + RP


apresentado, pela primeira vez,
no 5º Congresso Panameri-
Nível do Terreno
cano de Mecânica dos Solos
e Engenharia de Fundações, D
evento sediado na cidade de

SOLO 1
Buenos Aires, em 1975.
É uma metodologia desen-
volvida por dois importantes L RL = Resistência por
especialistas brasileiros: Nel- Atrito Lateral
son Aoki e Dirceu de Alencar
Velloso (ALONSO, 2019).
Este método estima, de forma
SOLO 2

aproximada, a Capacidade de
Carga de uma estaca, consi-
derando que a Resistência do
RP = Resistência de Ponta
Conjunto Estaca-Solo (R) é
composta pela soma das par- Figura 2 - Resistência do conjunto estaca-solo / Fonte: a autora.
celas da Resistência por Atrito
Lateral (RL) com a Resistência Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração que mostra uma estaca
inserida em duas camadas de solo. É possível ver flechas representando a direção dos
de Ponta (RP) da estaca inseri- esforços que atuam sobre ela e as medições de comprimento da estaca, indicadas pela
letra L e da largura, indicadas pela letra D. No topo da estaca, acima do nível do ter-
da no solo. reno, uma flecha vertical, apontada para baixo, indica: “R igual R mais R ” como carga
L P

Originalmente, este méto- sobre a estaca. Nas laterais da estaca, dentro da camada “Solo 1”, há várias pequenas
flechas verticais, apontadas para cima e indicando as letras “R ” como Resistência por
L
do foi concebido a partir de Atrito Lateral. Na parte de baixo da estaca, dentro da camada “Solo 2”, há uma única
flecha vertical, apontada para cima, indicando as letras “R ” como Resistência de Ponta.
correlações entre os resultados P

de penetração dos Ensaios de


Cone (CPT) e Ensaios SPT para solos brasileiros. Os autores consideraram a estaca do tipo Franki
para propor a sua fórmula, utilizando dados obtidos de provas de carga em estacas comprimidas.
(VELLOSO; LOPES, 2012).
Determinamos a Resistência Lateral (RL) no Método de Aoki-Velloso pelo produto entre o Períme-
tro da Seção Transversal (U) da estaca e a soma da contribuição de Resistência Lateral Unitária ( rL ) da
estaca, em cada camada de solo que ela atravessa (CINTRA; AOKI, 2010).
A equação, a seguir, apresenta esta relação de cálculo:

RL  U     rL   L  
Em que:
 L = comprimento da estaca na
respecctiva camada de solo.

200
UNIDADE 6

A figura, a seguir, ilustra o cálculo da Resistência Lateral da estaca quando ela atravessa várias
camadas de solo:
N SPT
Nível do Terreno

CAMADA 1 3 r1 L1
4
CAMADA 2 5 r2 RL  U     rL   L  
L2
7
CAMADA 3 10 r3 L3
RL  U   r1  L1    r2  L2    r3  L3    r4  L4  
13
CAMADA 4 21 r4 L4
26

Figura 3 - Procedimento para determinação da Resistência Lateral da estaca, no Método Aoki-Velloso / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em duas partes. Do lado esquerdo, há uma estaca inserida em quatro
camadas de solo diferentes, com a indicação dos resultados, em perfil, do NSPT, ao lado da estaca, com oito resultados. Ainda, ao lado
da estaca, é possível ver a indicação, em cada respectiva camada da Resistência Unitária, feita pela letra “r”, bem como a indicação,
em cada espessura respectiva, feita pela letra “L”. Do lado direito, está a equação de cálculo da Resistência Lateral para toda a estaca.

A fim de calcular a Resistência Lateral Unitária ( rL ) da estaca, são considerados os resultados presen-
tes nos Ensaios de Cone ou no Standard Penetration Test (SPT). A opção entre um ou outro parâmetro
depende da abrangência das Investigações Geotécnicas na fase de projeto (CINTRA; AOKI, 2010).
A tabela, a seguir, apresenta as fórmulas para o cálculo das duas situações de projeto (com CPT
e com SPT):

ENSAIO FÓRMULA DE RESISTÊNCIA PARÂMETRO DO ENSAIO


LATERAL UNITÁRIA
Cone
(CPT ou CPTu) rL 
 
a  qc qc = Resistência de Ponta Média do Cone definida ou
calculada para a camada de solo considerada.
F2
Standard
Penetration Test
rL 

a  K  N SPT  N SPT = Resistência à Penetração Média do SPT
definida ou calculada para a camada de solo con-
(SPT ou SPT-T) F2 siderada.
Em que:
F2 = Fator de carga lateral em função do tipo de estaca (definido por Aoki e Velloso).
a = Coeficiente da relação de atrito representada por uma constante para cada tipo de solo (definida
por Aoki e Velloso).
K = Coeficiente da correlação entre a resistência de cone e a resistência à penetração do SPT.
Tabela 1 - Fórmulas definidas por Aoki e Velloso para o cálculo da Resistência Lateral Unitária / Fonte: a autora.

201
UNICESUMAR

Os coeficientes utilizados no cálculo foram investigados e definidos


pelos criadores do método e dependem do tipo de solo considerado.
A tabela, a seguir, organiza estes valores:

K a
SOLO
(kPa)
Areia 1000 0,014
Areia siltosa 800 0,020
Areia siltoargilosa 700 0,024
Areia argilosa 600 0,030
Areia argilossiltosa 500 0,028
Silte 400 0,030
Silte arenoso 550 0,022
Silte arenoargiloso 450 0,028
Silte argiloso 230 0,034
Silte argiloarenoso 250 0,030
Argila 200 0,060
Argila arenosa 350 0,024
Argila arenossiltosa 300 0,028
Argila siltosa 220 0,040
Argila siltoarenosa 330 0,030
Tabela 2 - Valores dos coeficientes K e a propostos por Aoki e Velloso
Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Determinamos a Resistência de Ponta (RP), por meio do Método


de Aoki-Velloso, pelo produto entre a Área da Seção Transversal da
Ponta (AP) da estaca e a Resistência de Ponta Unitária ( rP ) da estaca
na camada de solo em que ela se apoia (CINTRA; AOKI, 2010).
A equação, a seguir, apresenta esta relação de cálculo:

RP  AP  rP

para calcular a Resistência de Ponta Unitária ( rP ) da estaca, são


considerados os resultados presentes nos Ensaios de Cone ou no
Standard Penetration Test (SPT). Também, neste caso, a opção por
um ou outro parâmetro depende da abrangência das Investigações
Geotécnicas na fase de projeto (VELLOSO; LOPES, 2012).

202
UNIDADE 6

A tabela, a seguir, apresenta as fórmulas para o cálculo das duas situações de


projeto (com CPT e com SPT):

FÓRMULA DE RESISTÊNCIA
ENSAIO PARÂMETRO DO ENSAIO
DE PONTA UNITÁRIA

qc qc = Resistência de Ponta
Cone
rP = Média do Cone definida para
(CPT ou CPTu) F1 a camada de solo na qual a
estaca se apoia.

Standard Penetration K  N SPT N SPT = Resistência à


Test rP  Penetração do SPT definida
(SPT ou SPT-T) F1 para a camada de solo na
qual a estaca se apoia.
Em que:
F1 = Fator de carga de ponta em função do tipo de estaca (definido por Aoki e Velloso).
K = Coeficiente da correlação entre a resistência de cone e a resistência à penetração
do SPT.
Tabela 3 - Fórmulas definidas por Aoki e Velloso para cálculo da Resistência de Ponta Unitária / Fonte: a autora.

Os Fatores de Carga (F1 e F2) utilizados no cálculo correlacionam as resistências


da estaca (lateral e de ponta) com a resistência do ensaio de penetração contínua
do cone no Ensaio CPT (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020). Para os autores, estes
Fatores de Carga relacionam o comportamento de resistência do modelo (cone)
definido no ensaio com o do protótipo (estaca) planejado para a fundação e ambos
dependem do tipo de estaca que está sendo calculada.
A tabela, a seguir, organiza estes valores:

TIPO DE ESTACA F1 F2

Franki 2,5  2  F1 
Metálica 1,75  2  F1 
  D 
Pré-moldada 1     2  F1 
  0, 8  

Escavada 3  2  F1 
Raiz 2  2  F1 
Hélice Contínua 2  2  F1 
Hélice de Deslocamento 2  2  F1 
Tabela 4 - Valores dos Fatores de Carga (F1 e F2) propostos por Aoki e Velloso
Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

203
UNICESUMAR

Podemos definir o cálculo da Capacidade de Carga pelo Método Aoki-Vello-


so numa única equação que estima a carga de ruptura do conjunto estaca-solo.
A tabela, a seguir, apresenta as fórmulas para o cálculo das duas situações de
projeto (com CPT e com SPT):

ENSAIO RESISTÊNCIA DO CONJUNTO ESTACA-SOLO

Cone
Rrup


 a  q
 U   
c      

  qc  
L   AP   
(CPT ou CPTu)
 F 2     F 1 
  

Standard
Rrup


 a  K  N
 U   

SPT     

  K  N SPT 
Penetration Test L   AP   
(SPT ou SPT-T)  F2     F1 
  
Tabela 5 - Capacidade de Carga proposta por Aoki e Velloso / Fonte: a autora.

A norma técnica de fundações NBR 6122 (ABNT, 2019), no caso específico das
estacas escavadas com fluido estabilizante ou hélice contínua exige que o
executor destes serviços assegure os requisitos mínimos de contato entre a ponta
dessas estacas e o solo competente ou a rocha. No caso de os executores não
assegurarem esses requisitos mínimos, “deve considerar a resistência de ponta
nula, sendo a carga admissível obtida pela aplicação de um Fator de Segurança
igual a dois, para a carga lateral de ruptura, um” (ALBUQUERQUE; GARCIA,
2020, p. 243).

A aplicação de Método Semiempírico de Aoki e


Velloso para determinar a Capacidade de Carga de
estacas pode ser melhor entendida por meio de
uma aplicação prática que demonstre o cálculo.
Pensando nisso, elaborei uma Pílula de Aprendiza-
gem que mostra um exemplo do cálculo para um
resultado de Ensaio SPT, considerando uma fun-
dação em estaca. Acesse o vídeo explicativo para
ver esta demonstração!

204
UNIDADE 6

O Método Décourt-Quaresma foi apresentado, pela primeira vez, no 6º Con-


gresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações, evento
sediado na cidade do Rio de Janeiro, em 1978. É uma metodologia desenvolvida
por outros importantes especialistas brasileiros: Luciano Décourt e Arthur Ro-
drigues Quaresma (ALONSO, 2019).
Assim como no método anterior, o Método Semiempírico Décourt-Quaresma estima
a Capacidade de Carga de uma estaca considerando que a Resistência do Conjunto Esta-
ca-Solo (R) é composta pela soma das parcelas da Resistência por Atrito Lateral (RL) com
a Resistência de Ponta (RP) da estaca inserida no solo. Porém, antes de compreender como
se determinam os valores dessas parcelas, é preciso entender o cálculo de suas porções
unitárias, a saber: Resistência Lateral Unitária e Tensão Resistente de Ponta.
Para calcular a Resistência Lateral Unitária ( rL ) da estaca, são considerados os
resultados presentes no Standard Penetration Test (SPT), fazendo uso do valor da Re-
sistência à Penetração Média do SPT ( N SPT ) ao longo do fuste da estaca inserido
na camada de solo (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020).
A equação, a seguir, apresenta esta relação definida pelo Método Décourt-Quaresma:

N SPT
rL 10 1
3
Onde:
N SPT = número médio de golppes para cravação do
amostrador-padrão nas camadas de solo ao longo
do fuste da estaca, os valores de N SPT devem estar
compreendidos entre 3 N SPT 50.

Determinamos a Resistência Lateral (RL), no Método de Décourt-Quaresma, pelo pro-


duto entre o Perímetro da Seção Transversal (U), o Comprimento Total (L), a Resistência
Lateral Unitária ( rL ) da estaca (considerando as camadas de solo que ela atravessa) e o
Fator de Atrito ( b ) definido, o qual está relacionado ao tipo de solo e à estaca (CINTRA;
AOKI, 2010).
A equação, a seguir, apresenta esta relação de cálculo:

RL  U  L   rL   b

205
UNICESUMAR

a figura, a seguir, ilustra o cálculo da Resistência Lateral da estaca quando ela atravessa várias camadas de solo:

N SPT
Nível do Terreno

CAMADA 1 3 R L1 L1
RL RL1  RL 2  RL 3  RL 4
4
5 R L2
^ `
CAMADA 2
L2 RL n U ˜ L n ˜ r n ˜ E n
7
CAMADA 3 10 R L3 L3 ­° ª§ N · º ½°
13
RL n U ˜ L n ˜ ®10 ˜ «¨ SPT ¸  1» ¾ ˜ E n
R L4 L4
¯° «¬© 3 ¹ »¼ °¿
CAMADA 4 21
26

Figura 4 - Procedimento para determinação da Resistência Lateral da estaca no Método Décourt-Quaresma / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em duas partes. Do lado esquerdo, é possível ver uma estaca inserida em
quatro camadas de solo diferentes, com indicação dos resultados do NSPT, em perfil, ao lado da estaca, com oito resultados. Ao lado da estaca, a
indicação, em cada respectiva camada da Resistência Unitária, é feita pelas letras “RL” bem como da respectiva espessura, pela letra “L”. Do lado
direito, estão a equação de cálculo da Resistência Lateral para toda a estaca e, também, as Resistências Laterais Unitárias para cada camada.

O Fator de Atrito ( b ) utilizado no cálculo correlaciona o tipo de solo e o tipo de estaca, por meio
de um valor adimensional (CINTRA; AOKI, 2010). Originalmente, a formulação do método foi feita
para estacas cravadas de concreto, porém ampliou-se a sua utilização a outros tipos de estacas, com
valores do Fator de Atrito diferenciados para cada.
A tabela, a seguir, organiza estes valores:

TIPO DE ESTACA
TIPO DE
Hélice contínua/
SOLO Escavada em Escavada Injetadas
Hélice de Raiz
geral (bentonita) sob pressão
deslocamento
Argilas 0,80* 0,90* 1,00* 1,50* 3,00*
Siltes 0,65* 0,75* 1,00* 1,50* 3,00*
Areias 0,50* 0,60* 1,00* 1,50* 3,00*
* Valores, apenas, orientativos, diante do reduzido número de dados disponíveis.

Tabela 6 - Valores do Fator de Atrito (b) propostos por Décourt e Quaresma / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

206
UNIDADE 6

Para calcular a Tensão Resistente de Ponta ( rP ) da estaca, são considerados os


resultados presentes no Standard Penetration Test (SPT), fazendo uso do valor da
Resistência à Penetração Média do SPT ( N SPT ) dos três valores obtidos na ponta
da estaca: valor do NSPT da camada de apoio da ponta; valor do NSPT da camada, ime-
diatamente, acima da camada de apoio da ponta; valor do NSPT da camada, imedia-
tamente, abaixo da camada de apoio da ponta (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020).
A figura, a seguir, ilustra esta consideração de cálculo do valor médio para a ponta
de uma estaca, no Método Décourt-Quaresma:

N SPT 
 N acima  N ponta  N abaixo 
N SPT
3
Nível do Terreno

CAMADA 1
3 N SPT 
10  13  21  14, 67
4 3
CAMADA 2
5
7
CAMADA 3
10
N acima
13
CAMADA 4
N ponta
21
N abaixo
26
Figura 5 - Procedimento para determinação da Resistência à Penetração Média do SPT na ponta da estaca,
pelo Método Décourt-Quaresma / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura mostra uma ilustração dividida em duas partes. Do lado esquerdo, há uma
estaca inserida em quatro camadas de solo diferentes com indicação dos resultados do NSPT, em perfil, ao
lado da estaca, com oito resultados. Ao lado da estaca, está a indicação, na porção da ponta cravada, das três
parcelas do resultado do Ensaio SPT. Do lado direito, está a equação de cálculo da resistência NSPT média para
a ponta da estaca.

A equação, a seguir, apresenta a relação entre a resistência de ponta e os valores do


Ensaio SPT, definida pelo Método Décourt-Quaresma:

rP C N SPT
Em que:
C =c ístico do solo.

207
UNICESUMAR

O coeficiente (C) utilizado no cálculo está relacionado ao tipo de solo considerado.


A tabela, a seguir, organiza estes valores:

C
TIPO DE SOLO
(kPa)
Argilas 120
Siltes argilosos* 200
Siltes arenosos* 250
Areias 400
* Solos residuais
Tabela 7 - Valores do coeficiente C propostos por Décourt-Quaresma / Fonte: adaptada de Albuquerque
e Garcia (2020).

Determinamos a Resistência de Ponta (RP) no Método de Décourt-Quaresma


multiplicando a Área da Seção Transversal da Ponta (AP) da estaca pela Tensão Re-
sistente de Ponta ( rP ) ,e também, pelo Fator de Reação de Ponta ( a ). Este último está
relacionado com o tipo de solo de apoio e de estaca utilizada (CINTRA; AOKI, 2010).
A equação, a seguir, apresenta esta relação de cálculo:

RP  AP  rP a

o Fator de Reação de Ponta ( a ) do cálculo relaciona o tipo de solo ao tipo de


estaca por um valor numérico adimensional.
A tabela, a seguir, organiza estes valores:

TIPO DE ESTACA
TIPO DE
Hélice contínua/ Injetadas
SOLO Escavada Escavada
Hélice de Raiz sob
em geral (bentonita)
deslocamento pressão
Argilas 0,85 0,85 0,30* 0,85* 1,00*
Solos
0,60 0,60 0,30* 0,60* 1,00*
intermediários
Areias 0,50 0,50 0,30* 0,50* 1,00*
* Valores, apenas, orientativos, diante do reduzido número de dados disponíveis.
Tabela 8 - Valores do Fator de Reação de Ponta (a) propostos por Décourt e Quaresma / Fonte: adaptada
de Albuquerque e Garcia (2020).

Podemos definir o cálculo da Capacidade de Carga pelo Método Décourt-Qua-


resma numa única equação que estima a carga de ruptura do conjunto estaca-solo.
A equação, a seguir, apresenta a fórmula completa (resistência lateral e resistência
de ponta) para o cálculo:

208
UNIDADE 6

NL
Rrup U L 10 1 β AP C N P α
3
m que:
Em
N L = Re sistê à penetração média do SPT ao longo
do fuste da estaca;
N P = Resistê à penetração média do SPT dos três
valores na regiª o de ponta da estaca.

Originalmente, o Método Décourt-Quaresma foi previsto para aplicação em


estacas de deslocamento, porém, ao longo dos anos, recebeu algumas extensões e
atualizações, por parte dos autores, conforme o avanço das pesquisas levantaram
mais dados e refinaram o procedimento. Atualmente, esse método conta com
adequações para outros tipos de estacas e também inclui a correlação com o valor
do torque medido no novo Ensaio SPT-T. O valores médios do NSPT indicados (
N L e N P ) podem ser correspondentes aos resultados do Ensaio SPT tradicional
e também podem ser correspondentes ao Neq calculado com base nos resultados
do Ensaio SPT-T (DÉCOURT; ALBIERO; CINTRA, 2019). Definimos o Neq por
meio de uma divisão simples, conforme a equação, a seguir:

T
N eq 
1, 2
Onde:
T = Valor do torque medido no Ensaio SPT-T em  kgf  m 

A aplicação de Método Semiempírico de Décour-


t-Quaresma para determinar a Capacidade de
Carga de estacas pode ser melhor entendida por
meio de uma aplicação prática que demonstre o
cálculo. Pensando nisso, elaborei uma Pílula de
Aprendizagem que mostra um exemplo do cálcu-
lo para um resultado de Ensaio SPT considerando
uma fundação em estaca. Acesse o vídeo explicati-
vo para ver esta demonstração!

209
UNICESUMAR

Os métodos dinâmicos para a determinação da Capacidade de Carga têm a sua aplicação restrita às estacas
cravadas à percussão (esforço dinâmico) e preveem a Capacidade de Carga com base nos resultados do
controle de embutimento no solo (ALONSO, 2019), durante a cravação. Estes métodos fazem uso das cha-
madas fórmulas dinâmicas, formulações teóricas baseadas na nega ou nos repique elásticos e que visam
a assegurar, principalmente, a homogeneidade das estacas cravadas (ABNT, 2019). Define-se nega como:



Penetração permanente de uma estaca, causada pela aplicação de um golpe do mar-
telo. Em geral, é medida por uma série de dez golpes; ao ser fixada ou fornecida, deve
ser sempre acompanhada do peso do martelo e da altura de queda ou da energia de
cravação, no caso de martelos automáticos (ABEF, 2016, p.101).

Já o repique é definido como a “Parcela elástica do deslocamento máximo de uma seção da estaca,
decorrente da aplicação de um golpe do martelo” (ABEF, 2016, p. 101).
Podemos realizar a medição de ambos por meio de uma técnica que consiste na colagem de uma
folha de papel padronizada (Registro de Negas e Repiques) sobre a qual a ponta de um lápis é movi-
mentada, horizontalmente, com a ajuda de um apoio prumado durante o golpe do martelo (ALVES;
LOPES; DANZIGER, 2004).
A figura, a seguir, representa, esquematicamente, essa medição, durante a cravação de uma estaca:

MARTELO GRÁFICO TÍPICO DE CONTROLE DE CRAVAÇÃO


OU PILÃO
10 GOLPES

CEPO
Dmx
COXIM

PAPEL ESTACA K
S
LÁPIS
RÉGUA
SUPORTE Nível do Terreno K = repique ou deformação elástica
s = nega ou deformação permanente

Dmx
s
10
Figura 6 - Medição de nega e repique para estaca cravada à percussão / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em três partes. A porção esquerda mostra a instalação do sistema
de medição de nega, no topo de uma estaca. Esta se encontra inserida no terreno e contém martelo (ou pilão), cepo, coxim, estaca,
régua, suporte, lápis e papel. A porção superior direita da figura mostra o gráfico típico de controle de cravação para dez golpes com
medição dos índices “K”, “s” e “Dmx”. A porção inferior apresenta a designação do “índice K” como “repique ou deformação elástica”, “s”
como “nega ou deformação permanente” e o cálculo da nega a partir do índice “Dmx”.

210
UNIDADE 6

Na figura, a seguir, é mostrado um operário realizando a medição no atrito do martelo e das guias
de nega e repique, durante a cravação de estaca: (ALBUQUERQUE; GARCIA,
2020). A obtenção da Capacida-
de de Carga de estacas cravadas
à percussão, por meio dos valo-
res de nega, utilizando fórmulas
dinâmicas, possui algumas críti-
cas, as quais são levantadas por
Alonso (2019):
• As fórmulas se baseiam
na teoria de choque de
corpos rígidos, formu-
lada por Newton e obe-
decendo à Lei de Hooke,
Figura 7 - Operário realizando medição da nega e repique para estacas cravadas porém estas hipóteses
por percussão.
não traduzem a realidade
do “movimento” da esta-
Descrição da Imagem: a figura mostra uma fotografia de um canteiro de obras com
estacas pré-moldadas de concreto de seção circular cravadas e um equipamento ba- ca sob ação de choque do
te-estaca fazendo a cravação delas. Um trabalhador, paramentado com capacete e
proteção de ouvido, está agachado ao lado da cravação, fazendo a medição da nega martelo ou pilão.
em um papel afixado no topo de uma estaca.
• A resistência mobiliza-
da pelo pilão ou martelo
Durante a realização da cravação da estaca por percussão, o proce- nem sempre é suficiente
dimento pode ser monitorado, por meio de nega e repique, como para alcançar a resistência
estratégia de controle de desempenho das fundações, durante a máxima que o conjunto
sua execução. Por meio do registro gráfico, aplicam-se fórmulas estaca-solo pode oferecer.
baseadas no princípio de conservação de energia, descontando • Efeitos como amolgamen-
eventuais perdas dessa energia, tal qual na equação: to, compactação e quebra
da estrutura do solo não
W h R s X podem ser avaliados por
Em que: um teste único imediato,
W = peso do martelo ou pilão; pois dependem do tempo
de ação de cargas.
h = alturaa de queda;
• Existem fatores pouco
R = resistê à cravação da estaca;
conhecidos (energia real
s = nega, ou penetr ção permanente; aplicada, influência do
X = perda de energia do sistema.. coxim e do cepo instala-
dos no capacete etc.) en-
Temos as principais perdas de energia durante o processo de cravação volvidos no fenômeno da
no repique do martelo, na deformação elástica do cepo e do coxim, cravação.

211
UNICESUMAR

Por isso, as fórmulas dinâmicas têm elevados fatores de correção para determinação da Capacidade de
Carga, visto que a sua aplicação só pode ser utilizada quando a situação de projeto se assemelha à hipótese
que foi desenvolvida por cada autor. O ideal é calibrar o método ou a fórmula dinâmica por meio da rea-
lização de Provas de Carga, na situação do tipo de solo e de estaca da obra, pois a utilização das fórmulas é
insatisfatória em casos generalizados, devido à variedade de incertezas. Portanto, é comum o uso de nega e
repique, pelas empresas e profissionais, como ferramenta de controle de desempenho, durante a execução
de estacas cravadas à percussão, e não como previsão da Capacidade de Carga.

Tradicionalmente, na prática diária de fundações, os métodos dinâmicos


são utilizados para o controle da capacidade de carga em estacas, dei-
xando a sua previsão aos métodos estáticos. Mas por que esta tendên-
cia é seguida pelos profissionais? Por que a nega medida em campo é
utilizada no Controle de Qualidade e Homogeneidade do estaqueamen-
to, e não na avaliação da Capacidade de Carga das estacas? São estas
perguntas que o podcast desta unidade pretende responder, aprofun-
dando, na prática diária, a aplicação da Engenharia de Fundações nestes
métodos, ensaios e medições. Acesse o link e vem ouvir este papo!

Outro método de determinação da Capacidade de Carga para estacas é a Prova de Carga. Este é um ensaio
de campo voltado a fundações profundas e que consiste em aplicar esforços estáticos à estaca (da obra ou
de uma estaca-teste) com execução no terreno já finalizada e, em seguida, registrar os deslocamentos cor-
respondentes do conjunto estaca-solo (ABEF, 2016). Esses esforços podem ser no sentido axial (de tração
ou de compressão) ou no sentido transversal.
O Ensaio de Prova de Carga é regido pela norma técnica NBR 16903: Solo – Prova de Carga Estática
em Fundação Profunda (ABNT, 2020), a qual especifica o procedimento de ensaio para todos os tipos de
estacas, sendo elas verticais ou inclinadas, independentemente do seu método executivo ou de instalação
no terreno. Esta norma técnica descreve todos os aparelhos necessários à realização do ensaio bem como
a preparação, a forma de carregamento (lento, rápido, misto ou cíclico) e a apresentação dos resultados.
A publicação técnica da ABEF, em seu Manual de Execução de Fundações – Práticas Recomendadas
(2016), também estabelece as diretrizes e condições básicas à execução do ensaio para diversos tipos de
fundações profundas bem como os procedimentos de coleta, análise e interpretação dos dados, as especifi-
cações dos dispositivos e equipamentos empregados, além de também disponibilizar exemplos e modelos
de planilhas e gráficos para a apresentação dos resultados.
Os equipamentos necessários ao ensaio foram resumidos pela ABEF (2016):
• Sistema de reação: pode ser feito por meio de tirantes (monobarra ou cordoalha), cargueira (ensaio
à compressão) e fogueira (ensaio à tração).
• Conjunto de macaco e bomba com manômetro: conjunto hidráulico que deve estar calibrado de
acordo com a NBR 8197: Materiais Metálicos – Calibração de Instrumentos de Medição de Força de
Uso Geral (ABNT, 2021), dentro da validade, previamente, testado e, também, verificado o estado de

212
UNIDADE 6

suas mangueiras e conexões. É composto por manômetro (analógico ou digital) cilindro e bomba.
• Deflectômetros ou Defletômetros: instrumentos medidores de deslocamento, podendo ser
analógicos ou digitais, resistivos ou indutivos. Permitem a leitura de deformações no carregamento
transversal e axial, medidos no topo da estaca (ou bloco de reação), por meio de quatro deflectô-
metros instalados em dois eixos ortogonais. Também devem estar calibrados de acordo com a NBR
8197 (ABNT, 2021).
• Célula de carga: transdutor de força que converte a força aplicada em um sinal elétrico, o qual é
registrado em equipamento específico. Pode ser do tipo resistivo, indutivo ou de corda vibrante.

A figura, a seguir, ilustra a montagem do equipamento do Ensaio de Prova de Carga sobre estaca, por
meio do uso de cargueira para esforços de compressão:

1 Plataforma de reação

2 Base de apoio
Carga de reação
(areia, ferro etc.) 3 Solo
1
4 Deflectômetro
5 Estaca teste

2 6 6 Viga de transição
4 7 7 Célula de carga
8 8 Macaco hidráulico

Figura 8 - Sistema de prova de carga à compressão com “cargueira” / Fonte: Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a figura mostra uma ilustração em tons de cinza e dividida em duas partes. À esquerda, é possível ver a insta-
lação de equipamento para Ensaio de Prova de Carga sobre uma estaca, a qual tem números indicativos de 1 a 8, posicionados ao lado
de cada peça. Em cima da plataforma de reação, há uma caixa preenchida por traços em hachura e com o texto indicativo: “Carga de
reação, areia, ferro etc.” A plataforma e a caixa estão sobre um equipamento de eixo cilíndrico e base larga. Esta se encontra apoiada
no fundo de um recorte, o qual está em uma camada de terreno com contornos hachurados. À direita, vê-se, em formato de lista, a
legenda dos equipamentos numerados: (1) Plataforma de reação; (2) Base de apoio; (3) Solo; (4) Deflectômetro; (5) Estaca-teste; (6) Viga
de transição; (7) Célula de carga; (8) Macaco hidráulico.

213
UNICESUMAR

A norma técnica de fundações (ABNT, 2019, p. 19) especifica:



Para que se obtenha a carga admissível (ou carga resistente de pro-
jeto) de estacas, a partir de provas de carga, é necessário que:
a) a(s) prova(s) de carga seja(m) estática(s);
b) a(s) prova(s) de carga seja(m) especificada(s) na fase de
projeto e executadas no início da obra, de modo que o projeto
possa ser adequado para as demais estacas;
c) a(s) prova(s) de carga seja(m) levada(s) até uma carga, no
mínimo, duas vezes a carga admissível prevista em projeto.

Desse modo, é possível ver que o ensaio, quando é realizado na fase de projeto,
pode obter, com alto grau de confiabilidade, os valores da Carga de Ruptura e
da Carga Admissível de uma estaca instalada no terreno da obra, permitindo
que seja utilizado o Fator de Segurança menor durante os cálculos (VELLOSO;
LOPES, 2012).
Para a Carga Admissível, pode ser usado um Fator de Segurança igual a 1,6 e,
para a Carga Resistente de projeto, 1,14 (ABNT, 2019).
A equação, a seguir, é apresentada pela NBR 6122 (ABNT, 2019) para a deter-
minação da Resistência Característica quando um número maior de Provas de
Carga for realizado numa mesma região representativa:

Rc,cal Rc,cal
med min
Rc,k Min ;
ξ3 ξ4

Em que:
Rc,k resistê ística;
Rc,cal resistê ística calculada com base
med
em valores mèdios dos parâ etros;
Rc,cal resistê ística calculada com base
min
em valores mí imos dos p â etros;
ξ3 e ξ4 fatores de m ção da resistência (Tabela 3 da NBR 6122).

214
UNIDADE 6

A tabela, a seguir, mostra os fatores de minoração de resistência presentes na NBR


6122 para a determinação dos valores característicos das resistências obtidas por
Provas de Carga estáticas:

na 1 2 3 4 5

x3 1,14 1,11 1,07 1,04 1,00

x4 1,14 1,10 1,05 1,02 1,00

a n = número de provas de carga em estacas de mesmas características, por


região representativa do terreno.

Tabela 9 - Valores dos fatores de minoração da resistência x3 e x4 / Fonte: adaptada de ABNT (2019).

A norma técnica indica que, para a determinação da Carga Admissível, deve ser
empregado um Fator de Segurança Global de, no mínimo, 1,4, além da aplicação
dos fatores indicados na tabela (ABNT, 2019). Caso a análise seja feita em termos de
Fatores de Segurança Parciais, não deve ser aplicado o fator de minoração de carga.
A figura, a seguir, mostra o momento do registro das condições de ensaio de Prova
de Carga sobre estaca:

Figura 9 - Realização da Prova de Carga com registro das condições do ensaio por membro de equipe técnica

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia de um canteiro de obras. Nele, há o empilhamento de
peças de concreto e aço sobre vigas no chão, durante Ensaio de Prova de Carga. Em primeiro plano, é possível
ver as mãos de uma pessoa fazendo anotações em um papel.

215
UNICESUMAR

O motivo pelo qual os valores obtidos na Prova de Carga fornecem confiabilidade


aos parâmetros adotados em cálculo é fato de o ensaio ser realizado até a ruptura
da fundação, ou seja, até que o conjunto estaca-solo apresente ruptura nítida ou
ocorrência de grandes recalques (deslocamentos para baixo). “A capacidade de
carga de estaca ou tubulão de prova deve ser considerada definida quando ocorrer
ruptura nítida caracterizada por deformações continuadas sem novos acréscimos
de carga” (ABNT, 2019, p. 27).
A figura, a seguir, apresenta um modelo de apresentação dos resultados de uma
Prova de Carga, por meio de um gráfico que mostra a Curva Carga-Recalque:

CURVA CARGA-RECALQUE
Carga (tf)
Recalque (mm)

Construtora
Estaca no.
D = 00 cm
Comprimento = 000 m

Figura 10 - Modelo, no gráfico, de Curva Carga-Recalque / Fonte: adaptada de ABEF (2016).

Descrição da Imagem: a figura mostra a ilustração de um gráfico com dois eixos. No eixo vertical, indicado
para baixo, o recalque, em milímetros, vai de zero até menos 30 e tem espaço equidistante de eixos de -5.
O eixo horizontal, indicado para o lado direito da carga, mostra a tonelada-força indo de zero até 480 com
espaço equidistante de 40.

Na prática, nem sempre a Curva Carga-Recalque apresenta ruptura nítida, ou


seja, uma linha vertical longa num único eixo de carga. Como pode ser visto no
modelo de curva da Figura 10, existe uma linha vertical mais longa, no eixo 440
tf de carga, que abrange o recalque de 23 mm e de 26 mm até a finalização do
ensaio. Podemos definir que 440 tf corresponde à Carga de Ruptura?

216
UNIDADE 6

Alguns métodos empregados na interpretação da Curva Carga-Re-


calque permitem definir e, até mesmo, estimar a Carga de Ruptura
de uma estaca, tendo amplo destaque os Métodos de Van Der Veen,
de Davisson e da NBR 6122 (2019). A norma técnica especifica que:


O comportamento de uma estaca ou tubulão,
quando submetido à prova de carga, pode não
apresentar ruptura nítida. Isto ocorre em duas
circunstâncias:
a) quando a capacidade de carga da estaca ou
tubulão é superior à carga que se pretende aplicar
(por exemplo, por limitação de reação);
b) quando a estaca ou tubulão é carregado
até apresentar recalques elevados, mas que não
configurem uma ruptura nítida, como descrito
(ABNT, 2019, p. 27).

Nestes casos, é convencionado que a Carga de Ruptura da estaca


é aquela que corresponde, na Curva Carga-Recalque, ao recalque
obtido pela equação:

P L D
∆r
A E 30
Em que:
∆r recalque de ruptura convencional;
P carga de ruptura convencional;
L comprimento da estaca;
A área da ção transversal da estaca;
E ódulo de elasticidade do material da estaca;
D diâ etro do írculo circunscri à estaca ou,
â etro do írculo de
área equivalente ao da seção transverssal desta.

217
UNICESUMAR

A figura, a seguir, ilustra um exemplo de Curva Carga-Recalque sem ruptura defi-


nida e, também, a aplicação do método de estimativa para a Carga de Ruptura (Pr):

r  recalque de ruptura
Pr P (carga) Pr = carga de ruptura
L = comprimento da estaca
D/30 A = área da secção transversal da estaca
D = diâmetro do circuito circunscrito à estaca

PL D
r 
A  E 30
  recalque 

Curva P   (ensaio)

Figura 11 - Curva Carga-Recalque com aplicação da estimativa de Carga de Ruptura pelo método da NBR 6122
Fonte: ABEF (2016).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em duas partes. A porção à esquerda mostra
um gráfico com dois eixos; no eixo vertical, apontado para baixo do recalque, há dois pontos marcados, sendo
o primeiro com distância indicada pela fração “D sobre 30”, e o segundo, indicado por “delta r”. O eixo hori-
zontal, apontado para a direita da carga, tem um dos seus pontos marcados, ponto este indicado pelas letras
“Pr”. A curva do gráfico é descendente, com eixos coincidindo em um único ponto. Na parte superior direita,
há a legenda para os parâmetros indicados no gráfico e na equação de eixo inclinado, que corta o gráfico na
diagonal e cuja indicação consta na parte inferior direita.

Os valores obtidos nos ensaios de Prova de Carga são de extrema importância à ela-
boração de um projeto de fundações racionalizado, ou seja, que atende aos critérios
de segurança para a edificação feita com economia. Por isso, a sua realização, ainda
na fase de projeto, auxilia muito nos dimensionamentos das fundações.
Quando as Provas de Carga integram um plano de verificação de desempenho
ou controle de qualidade, a quantidade e a necessidade de Provas de Carga são esta-
belecidas pela NBR 6122 (ABNT, 2019), por meio da tabela, a seguir:

218
UNIDADE 6

A B
Tensão de trabalho abaixo da Número total de
qual as Provas de Carga não serão estacas da obra a
TIPO DE ESTACA
obrigatórias, desde que o número partir do qual serão
de estacas da obra seja inferior à obrigatórias Provas
coluna (B), em MPA b c d de Carga b c d
Pré-moldadaa 7,0 100
Madeira - 100
Aço 0,5 fyk 100
Hélice, hélice de deslocamento,
hélice com trado segmentado 5,0 100
(monitoradas)
Estacas escavadas com ou sem
5,0 75
fluido Φ ≥ 70cm
Raize ≤ Φ 310 mm = 15,0 75
≥ Φ 400 mm = 13,0
Microestaca e
15,0 75
Trado vazado segmentado 5,0 50
Franki 7,0 100
Escavadas sem fluido Φ < 70 cm 4,0 100
Strauss 4,0 100
a) Para o cálculo da tensão de trabalho, são consideradas estacas vazadas como maciças, desde que
a seção vazada não exceda 40% da seção total.
b) Os requisitos anteriores são válidos para as seguintes condições (não, necessariamente, simultâneas):
- Áreas onde haja experiência prévia com o tipo de estaca empregado.
- Onde não houver particularidades geológico-geotécnicas.
- Quando não houver variação do processo executivo padrão.
- Quando não houver dúvida quanto ao desempenho das estacas.
c) Quando as condições desta tabela não ocorrerem, de vem ser feitas Provas de Carga em, no mí-
nimo, 1% das estacas, observando um mínimo de uma Prova de Carga (conforme ABNT NBR 16903),
qualquer que seja o número de estacas.
d) As provas de carga executadas, exclusivamente, para a avaliação de desempenho, devem ser
levadas até que se atinja, pelo menos, duas vezes, a Carga Admissível ou até que se observe um
deslocamento que caracterize ruptura. Caso exista Prova de Carga prévia, as Provas de Carga de
desempenho devem ser levadas até que se atinja, pelo menos, 1,6 vezes a Carga Admissível ou até
ser observado um deslocamento que caracterize ruptura.
e) Diâmetros de perfuração conforme “Anexo K - Estacas raiz” da ABNT NBR 6122.
Tabela 10 - Quantidade de Provas de Carga conforme a NBR 6122 / Fonte: adaptada de ABNT (2019).

A verificação do desempenho de uma fundação possui, como objetivo, demonstrar que o comporta-
mento previsto em projeto se confirma, na prática, após a execução dos elementos (NIYAMA; AOKI;
CHAMECKI, 2019). É empregado um conjunto de procedimentos e técnicas para garantir que aconte-
ceu o previsto, sendo que a variabilidade da resistência, especificada em projeto para estacas, pode ser
comprovada por meio de Provas de Carga estáticas ou Ensaios de Carregamento dinâmico, conforme
prescritos pela NBR 6122 (ABNT, 2019).

219
UNICESUMAR

Título: Previsão e Controle das Fundações


Autor: Urbano Rodriguez Alonso
Editora: Blucher
Sinopse: a verificação de desempenho em estacas pode seguir diversos
caminhos, dependendo das particularidades do projeto. Por isso, é impor-
tante conhecer os vários procedimentos de controle de cargas e desloca-
mentos para as diversas filosofias de projeto e previsão de Capacidade de
Carga. O terceiro livro de Urbano Rodriguez Alonso, Previsão e Controle das
Fundações, de 2019, disponível na Biblioteca Virtual, é repleto de exemplos de cálculo voltados à
previsão de capacidade de carga, aos recalques e ao controle in loco das condições de projeto.
Comentário: acesse este conteúdo, de forma gratuita, como aluno da Unicesumar, e expanda
os seus estudos sobre fundações!

Assim como nas fundações diretas rasas, precisa-se, nas fundações indiretas profundas, determinar o
tipo de filosofia de projeto que será adotada, de acordo com as abordagens propostas pela NBR 6122
(ABNT, 2019) para os casos das estacas. Pelo Método de Valores de Cálculo, temos o princípio de
que o valor da solicitação característica ( S k ), aumentado por um fator de majoração ou fator de se-
gurança parcial da solicitação ( g f ), deve ser inferior ao valor da força resistente característica ou
Capacidade de Carga característica ( R k ) reduzido por um fator de minoração ou fator de segurança
parcial ( g m ) (CINTRA; AOKI, 2010). Sendo estes fatores ( g f e g m ) denominados Fatores de Se-
gurança Parciais, mas, no caso de o material componente da estaca ser o concreto, usamos gc no
lugar de g m . Na simbologia específica para as fundações em estacas, temos:

Rk
Sd Sk γ f ao mesmo tempo que Rd
γm
Em que:
Sd = solicitação
o de cálculo da fundação;
Rd = força resistente de cálculo da fundação
ou capacidade de carga de cálculoo da fundação.

Portanto, na fase de projeto, o critério de segurança estabelece que é necessário dimensionar uma
fundação cujos elementos (estaca + solo) recebam uma carga que não ultrapasse a resistência calculada.
Sd ≤ Rd

220
UNIDADE 6

a determinação da Carga de Resistência de Projeto ( R d ) deve contemplar, ao mesmo tempo, os


Estados-Limites Últimos (ELU) e os Estados Limites de Serviço (ELS) para cada um dos elementos
de fundação e, também, para o conjunto (ABNT, 2019).
Pelo Método dos Valores Admissíveis, temos o princípio de que a solicitação, no elemento de
fundação, não deve ser superior a uma solicitação admissível que é calculada pela minoração/redu-
ção da resistência média por um Fator de Segurança Global, também chamado, somente, de Fator
de Segurança (CINTRA; AOKI, 2010). Quando o projeto é de fundações por estacas, essa solicitação
recebe o nome de Carga Admissível ( Pa ).
Na simbologia específica, temos:

Rk
Pa 
FS g
Em que:
Pa = carga adm ível da fundação;
FS g = fato ça global.

Portanto, na fase de projeto, o critério de segurança estabelece que se deve dimensionar uma funda-
ção cujos elementos apliquem uma tensão sobre o solo que não ultrapasse a admissível (ABNT, 2019).

Sk ≤ Pa

na prática brasileira de projetos de fundações, existe preferência pelo Método dos Valores Admissíveis, o
qual pode ser determinado por três metodologias de projeto distintas (CINTRA; AOKI, 2010). São elas:
Primeira metodologia – Escolhe-se o tipo de estaca e a seção transversal do fuste (diâmetro),
buscando a correspondente Carga de Catálogo da Estaca ( Pe ) para esse elemento de fundação. A Carga
Admissível da Fundação ( Pa ) será a Carga de Catálogo e, multiplicada pelo Fator de Segurança ( Fs
), resulta na Capacidade de Carga da Estaca (R):

Pe  Pa  Pa  Fs  R

e, segundo Cintra e Aoki (2010, p. 43, grifos dos autores):



Alguns confundem a carga admissível da estaca (Pe) com a carga admissível da fundação (Pa),
a qual considera o aspecto geotécnico. Para evitar esse equívoco, preferimos denominar Pe
como carga de catálogo, pelo motivo óbvio de ser o valor de carga indicado no catálogo do
fabricante ou executor da estaca, em função da seção transversal do fuste e do tipo de estaca.

Em seguida, utilizando alguns dos Métodos Semiempíricos para Capacidade de Carga, busca-se o
Comprimento da Estaca (L) compatível com a Capacidade de Carga da Estaca (R) calculada.

221
UNICESUMAR

Esta proposta de primeira metodologia faz uso


de tabelas de catálogo de fabricantes de estaca
e, também, de verificações segundo o Método Se-
miempírico de Capacidade de Carga de Estacas,
por isso, o seu cálculo precisa de exemplo de apli-
cação para demonstrar o seu funcionamento. Pen-
sando nisso, elaborei uma Pílula de Aprendizagem
que mostra um exemplo do cálculo para um resul-
tado de Ensaio de Solo, considerando uma estaca
predeterminada. Acesse o vídeo explicativo para
ver esta demonstração!

Segunda metodologia – O equipamento utilizado à execução da estaca pode apre-


sentar limitação no comprimento máximo que a estaca, quando inserida no solo,
poderá alcançar. Dependendo do método de execução, até mesmo a profundidade
do nível d’água (N.A.) pode ser vista como o comprimento máximo a ser alcançado
pela estaca. Nesta metodologia, adotamos o Comprimento Máximo da Estaca ( Lmax
) como Comprimento da Estaca (L) e, calculamos, então, a Capacidade de Carga da
Estaca (R) por um dos métodos semiempíricos. Chegamos ao valor da Carga Ad-
missível da Estaca ( Pa ) aplicando o Fator de Segurança ( Fs ) à capacidade de carga:

Lmax L Método Semiempírico R


Então calculamos:
R
Pa
Fs

Esta proposta de segunda metodologia faz uso


das limitações ao comprimento da estaca, limita-
ções estas impostas pelo equipamento e/ou pelo
procedimento de execução da estaca, em deter-
minado terreno. A utilização, com este dado de
comprimento máximo, do Método Semiempírico
de Capacidade de Carga de Estacas precisa de
exemplo de aplicação para demonstrar o seu fun-
cionamento. Pensando nisso, elaborei uma Pílula
de Aprendizagem que mostra um exemplo do
cálculo para um resultado de Ensaio de Solo, con-
siderando uma estaca predeterminada. Acesse o
vídeo explicativo para ver esta demonstração!

222
UNIDADE 6

Cintra e Aoki (2010) propõem, para cada tipo de estaca, uma faixa de valores de
NSPT, no qual se costuma determinar a parada do avanço da fundação. Na tabela,
a seguir, são apresentados esses valores como limites máximos à penetrabilidade
(cravação ou escavação) da estaca no terreno, sem considerar o uso de ferramentas
ou procedimentos adicionais.

TIPO DE ESTACA Nlim


Diâmetro 15 < NSPT < 25
Φ < 30 cm ∑NSPT = 80
Pré-moldada de concreto
Diâmetro
25 < NSPT ≤ 35
Φ ≥ 30 cm
Pré-moldada metálica perfil 25 < NSPT ≤ 55
Pré-moldada metálica tubo
20 < NSPT ≤ 40
(oca, ponta fechada)
Strauss 10 < NSPT ≤ 25
em solos
8 < NSPT ≤ 15
arenosos
Franki
em solos
20 < NSPT ≤ 40
argilosos
Estacão e diafragma, ambas
30 < NSPT ≤ 80
com lama bentonítica
Hélice contínua 20 < NSPT ≤ 45
Ômega 20 < NSPT ≤ 40
NSPT ≥ 60
Raiz
(penetra na rocha sã)

Tabela 11 - Valores limites de NSPT para a parada das estacas / Fonte: adaptada de Cintra e Aoki (2010).

Terceira metodologia – Utilizando os valores de NSPT presentes no relatório de


sondagem, são identificados os valores que se encontram dentro dos limites (Nlim) e
são determinadas as prováveis cotas de parada da estaca ou os seus prováveis com-
primentos. Nesta metodologia, adotamos o Comprimento da Estaca (L) e, então,
calculamos a Capacidade de Carga da Estaca (R) por um dos métodos semiempí-
ricos. Chegamos ao valor da Carga Admissível da Estaca ( Pa ) aplicando o Fator de
Segurança ( Fs ) à Capacidade de Carga:

N lim L Método Semiempírico R


Então calculamos:
R
Pa
Fs

223
UNICESUMAR

Esta proposta de terceira metodologia faz uso de limitações ao com-


primento da estaca, limitações estas impostas pelo relatório de son-
dagem em relação ao NSPT limite para cada tipo. A utilização, fazendo
uso deste dado de comprimento máximo, de Método Semiempírico
de Capacidade de Carga de Estacas precisa de um exemplo de aplica-
ção para demonstrar o seu funcionamento. Pensando nisso, elaborei
uma Pílula de Aprendizagem que mostra um exemplo do cálculo para
um resultado de Ensaio de Solo, considerando uma estaca predeter-
minada. Acesse o vídeo explicativo para ver esta demonstração!

Após conhecer o perfil geotécnico do terreno, escolher o tipo de estaca que será utilizada e fazer a pre-
visão das cargas de projeto para cada elemento de fundação (Carga Admissível da Estaca), o dimensio-
namento de uma fundação terá, como objetivo, a determinação do comprimento das estacas e o número
necessário das mesmas para transferir a carga do pilar ao solo (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020).
O número de estacas que fará a distribuição dos esforços sob cada pilar da edificação pode ser
calculado por meio de uma divisão simples:
Carga do Pilar Ppilar
Quantidade de Estacas = 
Carga Admi ível da Estaca Padm

Cada pilar terá um conjunto de estacas (estaqueamento) que fará a sua sustentação, e todas elas são uni-
ficadas pelo bloco de coroamento (não confundir com a fundação rasa bloco de fundação), o qual, por
meio do arranjo em concreto armado, faz a distribuição dos esforços.
A disposição geométrica dessas estacas, em planta, sob o bloco, é definida pelo(a) projetista. Este(a)
busca que o centro de carga do estaqueamento coincida com o centro de carga do pilar.
A figura, a seguir, mostra algumas sugestões de distribuição das estacas nos blocos de coroamento:

224
UNIDADE 6

a) 2 estacas b) 3 estacas
c) 3 estacas
s s/2 s/2
s s
+
1
3 h
s/2 s/2 +
h 2
3 h h
s 3
2

d) 4 estacas
d) 4 estacas

s/2
+ +
s/2
s s/2 s/2 s

s/2 s/2

f ) 5 estacas g) 5 estacas

s 2 h
2

s 2
2
h

s 2 s 2
2 2 s/2 s/2

h) 5 estacas
i) 6 estacas
s/2 s/2

s/2
3
5 h +
+ h s/2
2
5 h
s s
s s

Figura 12 - Disposições mais comuns de estacas sob bloco de coroamento / Fonte: Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração composta por nove quadros onde cada um mostra o arranjo de estacas, num
posicionamento padronizado, indicando a distância mínima entre os eixos das mesmas. As estacas são representadas por círculos com
linhas perpendiculares que se cruzam na horizontal e vertical, formando a centralização do eixo da seção transversal da estaca. Cada
quadro recebe a indicação, na porção superior, da quantidade de estacas contidas na configuração, e os elementos são dispostos com
cotas laterais, as quais indicam as fórmulas e os cálculos para o distanciamento entre eixos, na horizontal e na vertical.

225
UNICESUMAR

Alonso (2019) indica algumas orientações a os esforços que ele distribuirá. Como se trata
serem seguidas no momento de organizar a de um elemento feito de concreto armado, o
distribuição do estaqueamento: seu dimensionamento estrutural segue a nor-
• Cada pilar deve ter, sempre que possível, ma técnica NBR 6118: Projeto e Estruturas de
o seu estaqueamento independente. Concreto – Procedimento (ABNT, 2014) e a
• Não se deve misturar estacas de dife- sua confecção segue todas as orientações tec-
rentes diâmetros num mesmo bloco de nológicas comuns às peças de concreto armado.
coroamento. O livro de Urbano Rodrigues Alonso, inti-
• A disposição deve ser feita, sempre que tulado Exercícios de Fundação (2019), reco-
possível, para conduzir a um bloco de mendado em unidades anteriores, dedica o seu
coroamento de menos volume. capítulo final ao dimensionamento estrutural
• No caso de ocorrer superposição de es- de blocos sobre estacas, com vários exemplos
taqueamento de dois ou mais pilares, resolvidos para algumas metodologias de cál-
recomenda-se unir os mesmos em um culo. Recomenda-se a sua consulta, a fim de
único bloco de coroamento. complementar o entendimento dos cálculos re-
• Blocos de coroamento com mais de um lacionados ao dimensionamento de fundações
pilar devem ter o centro de gravidade em estacas.
do estaqueamento coincidindo com o O constante estudo das teorias e o acúmulo
centro de carga dos dois pilares. de experiência com diversos tipos de obras é
• A distribuição das estacas deve ser feita, um fator muito importante, dentro da Enge-
sempre que possível, em torno do centro nharia de Fundações, para o desenvolvimento
de carga do pilar. profissional. Estacas têm particularidades de
• O espaçamento (d) entre estacas deve ser concepção e dimensionamento que exigem
respeitado entre aquelas que fazem parte de você, futuro(a) profissional da Engenharia,
do mesmo bloco de coroamento e, tam- constante atualização em relação a normativas
bém, das estacas em blocos próximos. vigentes, tecnologias disponíveis e principais
• Sempre que possível, distribuir as estacas publicações científicas da área.
no sentido de maior dimensão do pilar. Edificações de grande porte, com limitações
• Evitar blocos de coroamento contínuos de terreno e resistência de solo desafiadoras
de grande extensão. colocarão você, futuro(a) engenheiro, diante
• No caso de blocos de coroamento de da opção de fundações em estacas. Será preciso
duas estacas para dois pilares, evitar a estar bem embasado(a) nas principais ferra-
posição das estacas embaixo dos pilares. mentas metodológicas de cálculo bem como
nos principais critérios de segurança para este
Após a determinação da quantidade de esta- tipo de fundação. É necessário conhecer os
cas, da configuração geométrica e da posição métodos que estimam e verificam a Capacida-
delas sob o bloco de coroamento (elemento de de de Carga das estacas, pois, na maioria das
transição), é importante o correto dimensiona- vezes, para projetar bem, deve-se empregar
mento estrutural desse bloco, de acordo com mais de uma.

226
Ferramentas digitais, tais como softwares e planilhas de cálculo, podem auxiliar por meio da acelera-
ção das verificações em projeto, porém elas necessitam da análise do(a) profissional de Engenharia.
Deve-se conhecer os métodos por trás da “máquina”, a fim de conseguir combiná-los e realizar as
melhores estimativas de resistência à fundação em estacas.
Não existe uma metodologia de projeto de fundações em estaca que seja comum no mundo todo,
cada país explora as particularidades de seus solos típicos e a disponibilidade de insumos (materiais,
equipamentos e mão de obra), criando, por meio de instituições, diretrizes nacionais, como a Asso-
ciação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a Associação Brasileira de Empresas de Engenharia de
Fundações e Geotecnia (ABEF) e a Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Geotecnia (ABMS).
É fundamental saber que tipo de métodos de cálculo tem a aplicação correta à situação de pro-
jeto que nos encontramos, mas sempre usando o discernimento profissional para estabelecer
correlações entre a teoria e a prática.
No dia a dia profissional da Engenharia de Fundações, é muito importante conhecer mais de um
método de cálculo da Capacidade de Carga dos elementos de fundações para, assim, desenvolver o
projeto de estacas. Porém, cada método de cálculo tem as suas particularidades e informações de
base que precisam ser, rapidamente, acessadas e calculadas, como num roteiro.
Aprendemos dois métodos semiempíricos de utilização mais frequente na Engenharia brasileira:
o Método Aoki-Velloso e o Método Décourt-Quaresma. Agora, organizaremos as principais ideias
de cada método. A seguir, estão embaralhados vários termos, parâmetros e equações de cálculo
que vimos nesta unidade. Você analisará cada uma dessas ideias e anotará no espaço adequado
do fluxograma indicado para cada método. Caso perceba que estão faltando termos ou informa-
ções que fazem parte das seções presentes no fluxograma, pesquise-os no material de estudo e
complete com a informação adequada.

Área da seção Perímetro da seção


Ensaio DMT Nega
transversal transversal

Coeficiente C Prova de Carga rL 


a  qc  RP  AP  rP
F2

Comprimento da
Coeficientes K e a rP =
qc
rL 

a  K  N SPT 
estaca F1 F2

K  N SPT  N  
Ensaio SPT Fator de Atrito ( b ) rP  rL  10   SPT   1
F1  3  
Fator de Reação de
Ponta ( a )
Fatores de Carga F1 e F2 
rP  C  N SPT  RL  U     rL   L  

Ensaio CPT Perfil geotécnico RP  AP  rP a  


RL  U  L  rL  b

Camadas do solo Tipo de estaca Rrup  RL  RP Comprimentos unitários da


estaca nas camadas de solo

227
MÉTODOS MÉTODO
AOKI-VELLOSO DÉCOURT-QUARESMA

DEFINIÇÕES DE PROJETO DEFINIÇÕES DE PROJETO

PARÂMETROS INICIAIS PARÂMETROS INICIAIS

RESISTÊNCIA UNITÁRIA RESISTÊNCIA UNITÁRIA

RESISTÊNCIA RESISTÊNCIA

CARGA DE RUPTURA CARGA DE RUPTURA

228
1. Para o perfil de sondagem apresentado, a seguir, calcule, pelos Métodos Aoki-Velloso
e Décourt-Quaresma, a Resistência Lateral de uma estaca Strauss com 0,30 m de diâ-
metro e 9,0 m de comprimento, arrasada na cota 0 m.

Adote valor de p = 3, 1416 .

Sondagem SPT Nível do terreno: 0,0 m

7
Argila siltonsa, pouco
8 arenosa mole a média,
marrom
8

9 -5,3 m

10

11 Areia siltosa, fofa a


pouco compacta,
12 marrom avermelhada

14
-9,7 m
13
N.A.
22 -11,1 m

18

25
Argila arenosa, rija,
27 vermelha e branca

23

16

17
Fonte: Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: quadro, em preto em branco, do perfil do solo de um terreno avaliado pela sondagem SPT. No
nível mais profundo, temos argila arenosa, rija, vermelha e branca; mais acima, areia siltosa, de fofa a pouco compacta,
marrom avermelhada; próximo ao nível do terreno, temos a argila siltosa, pouco arenosa, de mole a média, marrom.

Em relação aos valores corretos para a Resistência Lateral da estaca, segundo os mé-
todos de cálculo indicados, assinale a alternativa correta:
a) Aoki-Velloso RL=45,32kN; Décourt-Quaresma RL=83,84kN.
b) Aoki-Velloso RL=229kN; Décourt-Quaresma RL=314kN.
c) Aoki-Velloso RL=163,02kN; Décourt-Quaresma RL=223,69kN.
d) Aoki-Velloso RL=314kN; Décourt-Quaresma RL=229kN.
e) Aoki-Velloso RL=223,69kN; Décourt-Quaresma RL=173,94kN.

229
2. Executou-se uma obra de fundações constituídas por estacas pré-moldadas de con-
creto, maciças, com 281 mm de diâmetro e comprimento médio de cravação de 9 m,
em terreno de argila siltosa. Na Estaca 07, foi registrado o gráfico de repique por leitor
digital, conforme a figura, a seguir:

Fonte: Redav ([2021], on-line)2.

Descrição da Imagem: há um gráfico de repique de estaca apresentando o perfil dos repiques por meio das oscilações
gráficas, até atingir um pico máximo de medida. Esta variação corresponde ao número de golpes (eixo x) e à função da
profundidade (eixo y). Na imagem, esses máximos ficam identificados com o valor da profundidade.

Considerando que as medidas apresentadas estão todas em centímetros, assinale a


alternativa que apresenta a nega dessa estaca:
a) 4,159 cm.
b) 4,625 cm.
c) 4,159 mm.
d) 4,625 mm.
e) 4,097 mm.

230
3. Para construção de um edifício de dez andares, projetou-se a estrutura de forma que a
carga média de seus pilares possua valores próximos de 3700 kN. Após investigações
geotécnicas e estimativas da Capacidade de Carga para estacas Franki com compri-
mento de 12 m e diâmetro de 350 mm, estimou-se uma Carga Admissível, para cada
estaca, no valor de 750 kN. Em relação à quantidade mínima de estacas para resistir
ao esforço de cada pilar da construção, assinale a alternativa correta:
a) Três estacas.
b) Quatro estacas.
c) Cinco estacas.
d) Seis estacas.
e) Sete estacas.

231
232
7
Fundações Diretas
Profundas
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos

Olá, estudante! Nesta unidade, você conhecerá, mais a fundo, os


tipos de estruturas que servem como apoio a obras de grande por-
te, como pontes, viadutos, torres de transmissão e outras obras de
arte. Estas estruturas são as fundações diretas profundas. Também
exploraremos as características do tipo mais utilizado delas, os tu-
bulões, entendendo o seu funcionamento estrutural, os métodos de
cálculo para a sua capacidade de carga e os principais parâmetros
de projeto para este tipo de fundação.
UNICESUMAR

Imagine que você está visitando a cidade de Curitiba, a passeio, e na


jornada até o seu hotel, o motorista do táxi que está te transportando,
comenta: “Está vendo esta ponte do Rio Belém que estamos passando,
jovem? As colunas dela foram muito difíceis de construir, os peões
tiveram que trabalhar debaixo d’água 24 horas por dia, sete dias por
semana. Sei disso porque um primo meu trabalhou cavando os poços
das bases lá. Incrível como dá para construir até dentro do rio, né? ”.
Você já sabe que obras de grande porte, como pontes e viadutos, utilizam
fundações profundas como base.
Outros questionamentos, porém, são possíveis neste caso da ponte
de Curitiba: fundações profundas do tipo estacas não precisam que tra-
balhadores escavem, então, que tipo de elementos foram usados nessas
pontes? Como é possível que pessoas façam escavações no leito do rio?
Quando lidamos com construções de grande porte, como pon-
tes, viadutos, torres de transmissão e, até mesmo, edifícios de vários
andares, as camadas de solo próximas da superfície, dificilmente,
apresentam condições adequadas para suporte dessas estruturas,
necessitando, desse modo, que as fundações as quais darão tal su-
porte sejam apoiadas em camadas mais profundas. São os casos de
construções que utilizam, em várias obras, as estacas como solução
de fundação. Porém existem situações cuja execução de estacas é
inviável, do ponto de vista técnico e econômico, como é o caso de
estruturas localizadas no meio de um leito de rio.
Se for preciso executar uma fundação profunda, em área urbana,
no solo abaixo do leito de um rio que não pode ser desviado ou es-
gotado durante os trabalhos, planeja-se um tipo diferente de solução:
o tubulão. Este é um dos poucos tipos de fundações que podem ser
feitos dentro de um córrego d’água, pois podem ser executados num
sistema de trabalho que utiliza o ar comprimido para manter a água
afastada do local das escavações.
Já entendemos que os tubulões são fundações as quais podem ser
executadas dentro de leitos de rios. Agora, entenderemos, por meio de
um experimento simples, o princípio por trás do ar comprimido que
permite o trabalho dentro do tubulão.
Para esse experimento, você precisará de: uma bacia ou um aquário de
tamanho médio (alturas das bordas de, pelo menos, 15 cm); areia; água;
tinta guache na cor azul; uma garrafa plástica transparente pequena e lon-
ga (até 500 ml de volume é suficiente) e uma bomba pneumática manual
(como as utilizadas para encher bolas esportivas ou pneus de bicicleta).

234
UNIDADE 7

No fundo da bacia ou do aquário, você espalhará areia até que se


forme uma camada de, pelo menos, 3 cm de espessura, esta será a
nossa camada de solo no fundo do rio. Depois, preencha a bacia ou
o aquário com água até conseguir uma camada de 10 cm, medido
a partir do fundo. Em seguida, dissolva um pouco da tinta guache
no líquido, para deixá-lo com a cor desejada.
Pronto! Está montado o nosso protótipo para simular a situação
do leito do rio. A figura, a seguir, ilustra a bacia ou o aquário orga-
nizado com areia e água:




Figura 1 - Protótipo de leito do rio com bacia ou aquário, areia e água / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura mostra uma ilustração, em vista lateral, que apresenta
um recipiente retangular onde, em seu interior, na parte inferior, existe uma faixa
horizontal estreita, na cor marrom, indicada pela palavra “areia”. Há, em cima da faixa
composta por areia, outra faixa, também, na horizontal, só que mais larga e pintada
de azul, indicada pela palavra “água”.

Agora, montaremos o sistema de ar comprimido que permite a esca-


vação do fundo do leito do rio. Primeiramente, corte o topo da garrafa
plástica, deixando-a no formato de um “copo plástico” com comprimen-
to de até 12 cm. No fundo da garrafa, faça um pequeno furo que permita
a inserção, com pouca folga, do bico da bomba pneumática manual.
Tomando, apenas, a garrafa com o fundo perfurado voltado para
cima, faça a inserção dele no protótipo dentro da camada de água,
até que a sua boca se apoie na areia do fundo. Nesta colocação, o
interior da garrafa estará repleto da água azul (é o esperado). Em
seguida, instale o bico da bomba pneumática pelo furo no fundo
da garrafa, conforme o esquema da figura, a seguir:

235
UNICESUMAR






Figura 2 - Protótipo de sistema de escavação em leito de rio / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração, em vista lateral, que mostra
um recipiente retangular com uma faixa horizontal estreita, em seu interior, localizada
na parte inferior, pintada de marrom e indicada pela palavra “areia”. Em cima dessa
faixa, há outra, também, horizontal, mais larga e pintada de azul, indicada pela palavra
“água”. No centro das faixas, está um retângulo vertical amarelo apoiado no início da
faixa de areia, indicado pela palavra “garrafa”. No topo do retângulo, está um objeto
vermelho, no formato de uma seringa larga, cuja agulha espeta esse topo. Tal objeto
é identificado pela palavra “bomba”.

Já montamos o nosso protótipo que simula o sistema para a esca-


vação em leito do rio, agora, prosseguiremos com a inserção de ar
comprimido. Acionando a bomba manual, você, aos poucos, inserirá
mais ar dentro da garrafa, por meio da compressão, até que toda a
água dentro dela seja expulsa por baixo, na boca em contato com a
areia. Utilize o acionamento da bomba quantas vezes for necessário
para evitar que a água volte ao interior da garrafa.

236
UNIDADE 7

Ao final do experimento proposto, haverá um espaço seco, sem


água, dentro da garrafa, repleto de ar comprimido vindo da bomba
pneumática. Sabendo que este experimento é um protótipo, em
menor escala e equivalente do sistema para a execução dos tubulões
num leito de rio, faça as seguintes reflexões:
• Quantos acionamentos manuais da bomba pneumática você
precisou para expulsar toda a água de dentro da garrafa?
Foi possível manter a água sem retornar, apenas, com estes
bombeamentos ou necessitou de mais ar comprimido?
• Uma vez que, dentro da garrafa, temos volume de ar com-
primido o qual mantém a água afastada de seu interior, en-
tendemos que a pressão é maior do que a ambiental fora do
rio (pressão atmosférica). Existem riscos para trabalhar em
ambientes com pressão maior do que a atmosférica? Se sim,
quais são eles?

No Diário de Bordo, a seguir, use o espaço para esboçar o protótipo


que você montou no experimento. Anote as medidas de cada ele-
mento (camada de areia, camada de água, altura da bacia ou aquário,
dimensões da garrafa cortada etc.) e, também, as suas considerações
acerca das questões de reflexão levantadas no parágrafo anterior.

DIÁRIO DE BORDO

237
UNICESUMAR

Antes de entender como funcionam as fundações diretas profundas, relembraremos o conceito por
trás dos termos “diretas” e “profundas”. Quando uma fundação é classificada como direta, significa que a
forma com que ela transmite a carga da estrutura para o solo é, majoritariamente, por meio das tensões
(pressões) em sua ponta (base). Já a classificação de uma fundação como profunda indica que a sua ponta
ou base estará “apoiada em uma profundidade superior a oito vezes a sua menor dimensão em planta e
no mínimo 3,0 m” (ABNT, 2019a, p. 5). Os tubulões são os elementos representativos, ao mesmo tempo,
destas duas classes, sendo definidos como:



elementos estruturais de fundação profunda construídos concretando-se um poço (re-
vestido ou não) aberto no terreno, geralmente dotado de uma base alargada [...]. Diferen-
ciam-se das estacas, porque, pelo menos na sua etapa final, há descida de operário para
alargamento da base ou limpeza do fundo quando não há base (MAIA et al., 2019, p. 404).

A figura, a seguir, apresenta uma comparação entre os tipos representativos das classes de fundações que
vimos, até agora, e o tubulão. Podemos ver os três tipos, em vista lateral, inseridos no maciço de solo. Neles,
identificamos a sua menor dimensão de ponta ou base (B) e a cota de assentamento da fundação (Zf).

Figura 3 - Diferença entre tipos de fundações do tipo sapata, estacas e tubulão / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem:a figura apresenta uma ilustração, em vista lateral, dividida em três partes. A parte à esquerda indica uma fun-
dação direta rasa do tipo sapata inserida em camada superficial do terreno, a qual é identificada pela palavra “solo 1” com indicação,
por meio da letra “B”, de suas dimensões de largura da base e indicação, por meio das letras “Zf “, da profundidade de assentamento.
A parte ao centro indica uma fundação indireta profunda do tipo bloco sobre estacas, inserida em duas camadas de terreno identifi-
cadas pela palavra “solo 1” e a ponta das estacas apoiadas na camada, a qual é identificada pela palavra “solo 2”. Estão indicadas, por
meio da letra “B”, as dimensões da base da estaca, e por meio das letras “Zf “, está indicada a profundidade de assentamento. A parte
à direita mostra uma fundação direta profunda do tipo tubulão inserida em duas camadas de terreno, as quais são identificadas pela
palavra “solo 1” e a base do tubulão apoiado na camada é identificada pela palavra “solo 2”. Estão indicadas, por meio da letra “B”, as
dimensões da largura da base, e por meio das letras “Zf”, é indicada a profundidade de assentamento.

238
UNIDADE 7

Tubulões são, em geral, empregados nos casos cujas camadas de solo próximas à superfície do terreno
apresentam baixa capacidade de carga (baixa resistência) e/ou elevada compressibilidade (solos com-
pressíveis), o que torna incompatível o emprego de fundações rasas, como sapatas (ALBUQUERQUE;
GARCIA, 2020). Diferentemente das estacas, que, por meio de um conjunto (estaqueamento), fazem
a distribuição da carga de cada pilar nas camadas profundas do terreno, o tubulão transfere essa carga
por um único elemento.

Quando estamos definindo qual a fundação mais adequada a deter-


minada situação de projeto, é preciso investigar e entender as carac-
terísticas de cada tipo e como elas podem ser soluções mais viáveis
para a nossa obra. Por isso, na conversa de nosso podcast para esta
unidade, abordaremos as características dos tubulões, as suas vanta-
gens ou desvantagens quando escolhidos na fundação de uma obra.
Acesse o QR Code e expanda o seu conhecimento com este papo!

Esse tipo de fundação, o tu- Vista em corte

bulão, tem um fuste cilíndrico Vista em planta

pouco esbelto que atravessa Solo Revestimento d


(quando necessário)
as camadas de solo até vastas
profundidades e, esse fuste, por
Fuste
meio de uma base alargada, se
H d
apoia em camada de elevada
resistência. Neste caso, sempre
Base
haverá a descida de uma pessoa
D
hB
— operário(a) para execução e
engenheiro(a) geotécnico(a) —
para avaliar a tensão de suporte
e a geometria em seu interior D

(BERBERIAN, 2010).
Figura 4 - Geometria esquemática de um tubulão típico
A figura, ao lado, apresenta Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

uma vista, em corte vertical e,


também, em planta, de um tu- Descrição da Imagem:a figura apresenta uma ilustração, em vista lateral, dividida
em duas partes. A parte da esquerda mostra a vista, em corte lateral, de um tubulão
bulão típico. Nele, pode-se ver as inserido em uma camada de solo. A profundidade de assentamento do tubulão é
identificada pela letra “H” e a altura de sua base é identificada pelas letras “hB”. No seu
indicações da profundidade de topo, próximo do nível do terreno, há um revestimento entre o interior do tubulão e o
solo. No fuste, a largura é identificada pela letra “d” e, na base, é a sua largura é identi-
assentamento (H), da altura da ficada pela letra “D”. A parte da direita mostra a vista, em planta, do formato circular,
indicando, dentro do diâmetro “D” da base, o diâmetro “d” do fuste.
base (hB), do diâmetro da base
(D) e do diâmetro do fuste (d):

239
UNICESUMAR

Existe, sobre os tubulões, “um errôneo estigma psicológico de


insegurança por parte dos profissionais pouco experientes e
de pouca prática” (BERBERIAN, 2010, p. 91) porque é um tipo
de fundação que se apoia em camadas profundas do subsolo e,
obrigatoriamente, prevê a descida de uma pessoa até a sua base
para serviços de alargamento, limpeza e/ou inspeção. Porém esses
serviços podem ser executados com segurança, desde que sejam
tomadas todas as medidas preventivas, as quais são previstas
nas seguintes normas regulamentadoras de trabalho: NR-18
– Condições de Segurança e Saúde no Trabalho na Indústria
da Construção; NR-33 – Segurança e Saúde nos Trabalhos em
Espaços Confinados e NR-35 – Trabalho em Altura.
Classificamos os tubulões, de acordo com a condição de esca-
vação, em dois grupos: tubulões a céu aberto e aqueles a ar com-
primido (ou pneumáticos).
Tubulões a céu aberto são aqueles executados em condições
a céu aberto, cujo interior é submetido, apenas, à pressão atmos-
férica, do início ao fim dos trabalhos. Indicados para situações de
posicionamento “acima do lençol freático, ou mesmo abaixo dele,
nos casos em que o solo se mantenha estável sem risco de desmo-
ronamento e seja possível controlar a água no interior do tubulão”
(ABNT, 2019a, p. 44).
Segundo Albuquerque e Garcia (2020), quando os solos são
coesivos e não apresentam risco de desmoronamento durante a
escavação, dispensa-se o escoramento das paredes laterais do poço
(sem revestimento); nos casos cujos solos atravessados apresentam
baixa coesão e risco de desmoronamento, são realizados escoramen-
tos para a contenção lateral da terra (com revestimento). Neste
último, existem dois procedimentos de escavação que se destacam:
os Métodos Gow e Chicago.
No caso dos tubulões com revestimento que utilizam o Método
ou o Sistema Chicago, temos a execução com pá, em etapas, em
profundidades estáveis que variam de 0,5 a 2,0 m. O escoramento
da lateral é realizado com madeiras ajustadas por anéis de aço, a fim
de estabilizar o poço, antes de prosseguir a escavação de nova pro-
fundidade. Esta alternância entre escavar-escorar-escavar é realizada
até a profundidade desejada, na qual são executados o alargamento
da base do tubulão e a posterior concretagem do poço. Os escora-
mentos podem, ou não, ser recuperados durante a concretagem.

240
UNIDADE 7

A figura, a seguir, ilustra essa alternância de etapas do método.

    


    

 
    
   
  
 

    






  
  
Figura 5 - Tubulão a céu aberto pelo Sistema Chicago / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em três partes. A ilustração mostra, em vista de corte, a execução do
tubulão pelo Sistema Chicago, em duas camadas de solo. A primeira camada superficial é nomeada “solo instável” e a segunda camada,
mais profunda, é nomeada “solo resistente”. A parte da esquerda mostra um retângulo vazio inserido no topo da camada de solo super-
ficial. O título dessa parte é “escavação de profundidade até 2,0 m com pás”, e há uma flecha saindo desse retângulo e apontando para
alguns montes de terra, identificados pelo nome “solo retirado”. A parte central da ilustração mostra o retângulo anterior preenchido
por placas verticais de madeira e um novo retângulo, embaixo dele, indicando montes de terra na superfície do terreno, os quais são
identificados pelo nome “solo retirado”. O título dessa parte central indica duas fases de trabalho: o escoramento da profundidade
escavada com madeira e anéis de aço e a escavação da próxima profundidade. A parte da direita da ilustração, cujo título é “tubulão
finalizado e concretado pelo Sistema Chicago” mostra segmentos de retângulos com textura de madeira, alinhados dentro da camada do
solo, a qual é identificada pelo nome “solo instável”, além de mostrar, também, uma base trapezoidal sobre a camada de solo resistente.

No Método ou Sistema Gow, os tubulões com revestimento são


escavados, em etapas alternadas. Ocorre a cravação, por per-
cussão, de um segmento em um cilindro de aço. Então, ocorre a
escavação interna, por meio de pá ou picareta, até a cota final do
cilindro, depois, é cravado um novo segmento, com largura um
pouco menor, por dentro do segmento anterior, e o trabalho de
escavação se repete. Os revestimentos são do tipo “telescópico”,
ou seja, o diâmetro diminui à medida que a profundidade au-
menta, para serem cravados novos anéis metálicos por dentro
dos anteriores. Quando é atingida a cota de apoio planejada ao
tubulão, procede-se ao alargamento da base.

241
UNICESUMAR

A figura, a seguir, ilustra este método de execução:

 
     

    


  

  

 









  


  
Figura 6 - Tubulão a céu aberto pelo Sistema Gow / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em três partes que mostra, em vista de corte, a execução do tubu-
lão, pelo Sistema Gow, em duas camadas de solo. A primeira camada superficial é nomeada “solo instável” e a segunda, abaixo dela,
mais profunda, é nomeada “solo resistente”. A parte da esquerda, com o título “cravação do revestimento por percussão”, mostra o
retângulo, cuja largura é identificada como “D1”, inserido no topo da camada de solo superficial. A parte central da ilustração, mostra
um novo retângulo, embaixo do anterior, cuja largura é identificada como “D2”. Flechas saem desse retângulo e indicam montes de
terra na superfície do terreno, montes esses identificados como “solo retirado”. Ainda, nessa parte central, o título indica duas fases
de trabalho: escavação do interior do revestimento usando pás ou picaretas” e “cravação do próximo revestimento”. A parte da direita,
cujo título é “tubulão finalizado pelo Sistema Gow” mostra segmentos de retângulos com textura de concreto, alinhados dentro da
camada de solo instável. Os diâmetros desses segmentos diminuem conforme a profundidade e, há, também, uma base trapezoidal
sobre a camada de solo resistente.

Tubulões a ar comprimido (ou pneumáticos) são executa-


dos em condições controladas e confinadas com seu interior,
submetido à pressão de ar comprimido, do início ao fim dos
trabalhos, para expulsar (secar) a água no interior da escavação.
São indicados para situações de posicionamento abaixo do nível
d’água em solos que não atendem às condições de estabilidade
e apresentem risco de desmoronamento, por isso, a “escavação
do fuste destes tubulões é sempre realizada com o auxílio de
revestimento, que pode ser de concreto ou de aço (perdido ou
recuperado)” (ABNT, 2019a, p. 48).

242
UNIDADE 7

É importante destacar que, no caso de escavações utilizan-


do ar comprimido, em qualquer etapa da execução deste tipo
de tubulão, deve-se atender, rigorosamente, às orientações de
tempos de compressão e descompressão descritos pela norma
regulamentadora de trabalho NR 15: Atividades e Operações
Insalubres (BRASIL, 2011a).
Mesmo a norma técnica de fundações, a NBR 6122, em seu
Anexo C (ABNT, 2019a, p. 48), alinhada com a NR-15 (BRASIL,
2011a), estabelece condições de segurança para a execução do
tubulão a ar comprimido:


Só se admitem trabalhos sob pressões superio-
res a 0,15 MPa quando as seguintes providên-
cias forem tomadas:
a) equipe permanente de socorro médico à
disposição na obra;
b) câmara de descompressão equipada dispo-
nível na obra;
c) compressores e reservatórios de ar compri-
mido de reserva;
d) renovação de ar garantida, sendo o ar injeta-
do em condições satisfatórias para o trabalho
humano.

A execução deste tipo de tubulão segue o procedimento de esca-


var o terreno até a profundidade onde se detecta a presença de
água, em seguida, é feito o posicionamento de uma campânula
que isola a área da escavação e permite a injeção de ar comprimi-
do no poço, com pressão suficiente para manter o lençol freático
longe da escavação. Os trabalhadores prosseguem nas escavações,
em condições de maior pressão (hiperbárica) e de solo seco, até
a profundidade considerada ideal ao alargamento da base.
Um dos principais desafios deste método de execução está
na coordenação das equipes de escavação. Por motivos de saú-
de, os trabalhadores não podem permanecer, por muito tempo,
escavando dentro do poço. A atenção às normativas da NR-15
(BRASIL, 2011a) é fundamental neste tipo de execução.

243
UNICESUMAR

A figura, a seguir, ilustra a instalação dos equipamentos e revestimentos que promovem a


condição para o trabalho de escavação hiperbárica ou sob ar comprimido.

Cachimbo de ferragem

Porta de entrada

Manômetro Reservatório de ar
comprimido
Entrada de ar “pulmão”
comprimido Compressor
Cachimbo de terra (no mínimo 2)

Manômetro

Entrada
de concreto

Anel d ≥ 70cm

N.A.
20cm Tubulão

Câmara de  água
“Faca” trabalho

Figura 7 - Instalação dos equipamentos empregados em tubulão a ar comprimido ou pneumático


Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração, em vista lateral, mostrando a instalação de uma campânula para a execução
de trabalhos de escavação de tubulão, em solo abaixo do nível de água. A campânula é ligada a um sistema de entrada de ar comprimido
com compressor e reservatório de ar comprimido.

A pressão no interior da câmara de trabalho deve ser suficiente para haver equilíbrio com o peso
da coluna d’água presente no terreno (Nível d’Água = N.A.) e impedir a sua entrada na região de
escavação (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020).

244
UNIDADE 7

A equação, a seguir, estabelece esta relação de equilíbrio:

Par γ água hágua


Em que:
Par = Pressão de Ar Comprimido;
γ água = Peso Específico da água;
hágua = Algura da água medida a partir do Nível d’água (N.A.).

Lembrando que a pressão de ar comprimido no interior da câmara de trabalho não pode exceder os
limites aceitáveis ao trabalho humano previstos na NR-15, em seu Anexo VI: Trabalho sob Condições
Hiperbáricas (BRASIL, 2011b, on-line, grifos do autor), que estabelece:


1.3.3 Durante o transcorrer dos trabalhos sob ar comprimido, nenhuma pessoa poderá
ser exposta à pressão superior a 3,4 kgf/cm2, exceto em caso de emergência ou durante
tratamento em câmara de recompressão, sob supervisão direta do médico responsável.
1.3.4 A duração do período de trabalho sob ar comprimido não poderá ser superior a
8 (oito) horas, em pressões de trabalho de 0 a 1,0 kgf/cm2; a 6 (seis) horas em pressões
de trabalho de 1,1 a 2,5 kgf/cm2; e a 4 (quatro) horas, em pressão de trabalho de 2,6 a
3,4 kgf/cm2.
1.3.5 Após a descompressão, os trabalhadores serão obrigados a permanecer, no mínimo,
por 2 (duas) horas, no canteiro de obra, cumprindo um período de observação médica.

A escolha da profundidade de apoio do tubulão é vital para o bom desempenho deste tipo de fundação,
por isso, alguns autores, como o engenheiro Dickran Berberian (2010), elencam considerações básicas
que podem guiar a adoção da profundidade adequada de assentamento:
• Em terrenos com Índice de Resistência do SPT acima de 20 golpes: para evitar problemas de
recalques a médio prazo, são indicados solos com NSPT > 25 golpes. Em caso de solos arenosos,
desde que seja comprovada, experimentalmente, pode-se apoiar tubulões em camadas com
NSPT ≥ 15 golpes.
• Em solos coesivos: no caso dos solos granulares puros, recomenda-se o revestimento do fuste
(anéis de concreto ou camisas de aço) e/ou utilizar a execução em ar comprimido. Já os solos
granulares com alguma coesão podem apresentar estabilidade e segurança, então, recomenda-se
executar um tubulão experimental (teste) para a comprovação das condições do terreno.

Além dessas indicações dadas por Berberian (2010), o valor da Capacidade de Carga do Solo de Apoio
também desempenha um papel importante na determinação da profundidade do tubulão.

245
UNICESUMAR

Capacidade de Cargados Tubulões

Assim como vimos, na terceira unidade, para o caso das fundações diretas rasas, no caso das fundações
diretas profundas, temos a Capacidade de Carga do Solo (σr), também chamada de Tensão de Ruptura
do Solo (σrup), a qual corresponde ao valor de tensão que o tubulão aplica sobre o solo de apoio, provocando
deslocamentos que comprometem a sua segurança ou o seu desempenho (ABNT, 2019).
A Capacidade de Carga depende das características do maciço de solo, da geometria do tubulão e da
profundidade de assentamento. Pode ser estimada por métodos teóricos e métodos semiempíricos, tais como:
Fórmula Teórica de Meyerhof (1951) para solos arenosos, e de Skempton (1951) para solos argilosos; Fórmula
Semiempírica de Meyerhof (1976), de Alonso (1983), de Décourt (1989; 1991) e de Albiero e Cintra (2016).
Após a estimativa da Capacidade de Carga do Solo, é calculada a Tensão Admissível ( sadm ),
a máxima tensão ou pressão “que, aplicada ao terreno pela fundação rasa ou pela base de tubulão,
atende, com fatores de segurança predeterminados, aos estados limites últimos (ruptura) e de serviço
(recalques, vibrações etc.)” (ABNT, 2019a, p. 8).
Assim como as outras fundações diretas, nos tubulões, a determinação da Tensão Admissível pode ser
feita de três formas:
i. Capacidade de Carga por métodos teóricos combinada ao Fator de Segurança para o projeto:
neste método, a Tensão Admissível ( sadm ) será menor ou igual à razão do valor médio de Tensão
de Ruptura ( srup ) pelo Fator de Segurança Global (FSg) da ordem de 2 a 3. Os métodos teóricos
para estimativa da Capacidade de Carga não funcionam, satisfatoriamente, com os Tubulões, como
no caso das outras fundações, por isso, geralmente, não são empregados no dimensionamento
(CINTRA; AOKI; ALBIERO, 2011).

Título: Fundações: Teoria e Prática


Autores: Frederico Falconi et al. (org.)
Editora: ABMS/ABEF
Sinopse: neste livro, foram reunidos os textos que compõem o estado da
arte de concepção, análise, projeto, execução e monitoramento de funda-
ções no Brasil. Fruto da editoria entre a Associação Brasileira de Mecânica
dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS) e a Associação Brasileira de Em-
presas de Engenharia de Fundações e Geotecnia (ABEF), este livro compila
a contribuição de mais de 50 autores que são referência nacional.
Comentário: se houver interesse no cálculo, por métodos teóricos, para a Capacidade de Carga
de tubulões, recomendo esta que é uma das obras mais importantes na Engenharia de Fundações.
No capítulo 8, são apresentadas as metodologias de análise e projeto de fundações profundas,
incluindo uma seção específica para tubulões.

246
UNIDADE 7

ii. Execução de Provas de Carga em placa na base dos tubu-


lões: a Tensão Admissível é resultado da análise dos relatórios
deste ensaio padronizado, previsto na NBR 6489: Solo – Prova
de Carga Estática em Fundação Direta (ABNT, 2019b). Po-
rém a dificuldade de realizar este ensaio a vários metros de
profundidade (base do tubulão) explica por que este método
é, raramente, utilizado (CINTRA; AOKI; ALBIERO, 2011).
iii. Métodos semiempíricos: adoção de valores ou taxas de re-
sistência dos solos. Tais valores advêm da experiência acumu-
lada por profissionais da área, em suas pesquisas nos diversos
solos brasileiros.“São métodos que relacionam resultados de
ensaios (tais como o SPT, CPT etc.) com tensões admissíveis
ou tensões resistentes de cálculo” (ABNT, 2019a, p. 22).

Os métodos semiempíricos consideram os tubulões estacas es-


cavadas e levam em conta, apenas, a resistência de ponta ou base
da fundação. Os autores José Carlos Â. Cintra, Nelson Aoki e José
Henrique Albiero (2011) indicam que estes métodos determinam
a Tensão Admissível ( sadm ) como o valor menor ou igual à razão
da Tensão de Ruptura ( srup ) pelo Fator de Segurança Global (FSg)
da ordem de 3 a 4, dependendo das recomendações dos autores de
cada método.

σrup
σadm 
FS g
Em que:
σadm = tensã ível da sapata ou tu
ubulão;
σrup = tensão de ruptura da sapata ou tubulão
ou capacidade de carga última da fundação;
FS g = fator de segurança global.

Conceitualmente, a Carga Admissível (Qadm) de um tubulão é


resultado da soma entre a Capacidade de Carga da base (Qbase)
e a parcela de Resistência Lateral do fuste (Qlateral):

Qadm  Qbase  Qlateral

247
UNICESUMAR

a figura, a seguir, ilustra a forma de ação da Carga Recebida (Q) ad-


vinda da estrutura com o Peso Próprio (P) do tubulão e a reação que
surge no fuste (Qlateral) e na base (Qbase), em virtude desses esforços:

Figura 8 - Transferência, pelo tubulão, de carga para solo


Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração, em corte lateral, de um


tubulão inserido em uma camada de solo. Por meio de uma flecha vertical, para baixo,
no topo do tubulão, é possível ver a indicação do esforço de carga que esse tubulão
distribuirá, essa flecha é identificada pela letra “Q”. Há outra flecha igual, indo em
direção ao centro da peça, identificada pela letra “P”. O esforço de resistência do solo
é indicado por uma flecha vertical, para cima, identificada pelo texto “Qbase” e locali-
zada embaixo da base da peça. Os esforços de resistência do solo são indicados por
flechas verticais, para cima, em cada lado do fuste da peça, o qual é identificado pelo
texto “Qlateral”. À esquerda, a cota de comprimento do fuste do tubulão é indicada
pela letra “L”.

248
UNIDADE 7

Na prática dos projetos de fundações diretas


profundas, porém, a contribuição de Resistên-
cia Lateral é desprezada, considerando que esta
parcela oferece suporte ao peso do próprio do
tubulão, carga que, também, é desconsiderada
nos cálculos (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020). Isto
é, durante os cálculos da determinação da Capa-
cidade de Carga e da Tensão Admissível, não são
considerados as resistências do solo no fuste e o
peso próprio do tubulão.

Qadm  Qbase ou σadm  σbase

na tabela, a seguir, são apresentadas algumas


fórmulas de métodos semiempíricos propostos
na literatura especializada, para estimar a Tensão
Admissível do solo na cota de apoio da base de
um tubulão, com base nos resultados de Ensaios
de Campo do tipo SPT e CPT:

249
UNICESUMAR

UNIDADES DE
AUTOR (ANO) FÓRMULA DO MÉTODO SEMIEMPÍRICO
MEDIDAS


sadm  33, 33  N SPT 
Em que: sadm = kPa
Alonso (1983)
N SPT = valor médio do NSPT no bulbo de tensões (2D) medido a N SPT = golpes
partir da cota de apoio.

 
sadm  25  N SPT    s 'vb 
 
sadm = kPa
Décourt (1989) Em que:
N SPT = valor médio do NSPT no bulbo de tensões (2D) medido N SPT = golpes

a partir da cota de apoio.


s 'vb = kPa

sadm = kPa
Décourt (1991) sadm  0, 04   qc     s 'vb 
qc = kPa

s 'vb = kPa

 
sadm  20  N SPT    s 'vb 
 
Em que: N SPT = valor médio do NSPT na profundidade, uma vez o sadm = kPa
diâmetro da base (1D), a partir da cota de apoio. Berberian (2016)
recomenda limitar o valor para que não exceda 40 golpes; N SPT = golpes
s 'vb = tensão geostática. Berberian (2016) recomenda limitar o
valor a 40 kPa; s 'vb = kPa
sadm = Tensão Admissível. Albuquerque e Garcia (2020) recomen-
dam limitar o valor para que não exceda 600 kPa.
Albiero e Cintra
(1996)
 D    H  
 
sadm  qc     1    

 40    D   sadm = kPa
Em que:
qc = kPa
qc = valor médio do qc na profundidade da ordem de 3 m, a H = metros
partir da cota de apoio da base; D = metros
sadm = Tensão Admissível. Albuquerque e Garcia (2020) recomen-
dam limitar o valor para que não exceda 600 kPa.

Observação:
qc = Resistência de Ponta do Ensaio de Cone (CPT);
s 'vb = tensão vertical efetiva na cota de apoio da base do tubulão;
Tabela 1 - Métodos semiempíricos para estimativa da Capacidade de Carga em tubulões com base nos Ensaios SPT e CPT
Fonte: Albuquerque e Garcia (2020, p. 45).

250
UNIDADE 7

Algumas dessas formulações fazem uso da Tensão Vertical Efetiva do solo na cota de apoio da
base do tubulão, o que um ensaio de campo como o SPT e o CPT não fornece como resultado.
Dessa forma, recomenda-se que, na ausência de ensaios de laboratório que determinem o Peso
Específico ( g ) do solo, utilizem-se tabelas que correlacionem o NSPT com este parâmetro (CIN-
TRA; AOKI; ALBIERO, 2011).
A tabela, a seguir, apresenta as correlações propostas por Godoy (1972):

ÍNDICE DE
RESISTÊNCIA À PESO ESPECÍFICO
SOLOS PENETRAÇÃO ESTADOa
(kN/m³)
NSPT
≤2 Muito Mole 13
3a5 Mole 15
ARGILOSOS 6 a 10 Média(o) 17
11 a 19 Rija(o) 19
> 20 Dura(o) 21
SECO ÚMIDO SATURADO
≤5 Fofa(o)
Pouco 16 18 19
5a8
Compacta(o)
Medianamente
ARENOSOS 9 a 18 17 19 20
Compacta(o)
19 a 40 Compacta(o)
Muito 18 20 21
> 40
compacta(o)
a = As expressões empregadas para a designação da compacidade das areias (fofa, compacta etc.)
são referências à deformabilidade e à resistência desses solos, sob o ponto de vista de fundações,
e não podem ser confundidas com as mesmas denominações empregadas para a designação da
compacidade relativa das areias ou para a situação perante o índice de vazios críticos, definidos na
Mecânica dos Solos.

Tabela 2 - Correlação do Peso Específico dos solos com Índice de Resistência à Penetração NSPT / Fonte: adaptada de Godoy (1972).

A aplicação de métodos semiempíricos para determinar, a partir de


ensaios de campo, a Capacidade de Carga de tubulões, pode ser me-
lhor entendida por meio de uma aplicação prática que demonstre o
cálculo. Pensando nisso, elaborei uma Pílula de Aprendizagem que
mostra um exemplo do cálculo a um resultado de Ensaio SPT, consi-
derando uma fundação em tubulão. Acesse o vídeo explicativo pelo
QR Code para ver esta demonstração!

251
UNICESUMAR

Dimensionamento dos Tubulões

Para o dimensionamento de um tubulão isolado, primeiramente, estabelece-se que


o Centro de Gravidade (CG) da área do fuste e, também, da área da base, devem
coincidir com a aplicação da Carga do Pilar (P) (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020).
A figura, a seguir, ilustra tal alinhamento e identifica as principais dimensões do
tubulão: profundidade de apoio (H); diâmetro do fuste (d); diâmetro da base (D);
altura da base (hB) e ângulo de inclinação da base ( a ).

Figura 9 - Desenho esquemático de tubulão isolado / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: : a figura apresenta uma ilustração, em corte lateral, de um tubulão inserido em ca-
mada de solo. No topo do tubulão, há a indicação da parte que é destinada ao bloco de coroamento, quando
necessário. Em cima desse topo, há uma flecha vertical, para baixo, indicando a carga P e alinhada com o centro
geométrico da peça. No canto superior direito, é indicada a fórmula que iguala o “CGpilar” ao “CGfuste” e ao
“CGbase”. As partes do tubulão contêm cotas indicando a sua profundidade de apoio por meio da letra “H”, a
sua altura da base por meio das letras “Hb”, o seu diâmetro da base pela letra “D”, o seu diâmetro do fuste por
meio da letra “d”, o ângulo da base pela letra grega alfa e a espessura de 20 cm do rodapé da base.

252
UNIDADE 7

As etapas para o dimensionamento dos tubulões seguem uma sequência de estudos


cujas dimensões são definidas conforme a situação do terreno é apresentada:
1. Profundidade de apoio (H): estimada por meio da análise do perfil do solo
e pela determinação da camada de maior resistência que seja adequada como
suporte (BERBERIAN, 2010).
2. Diâmetro do fuste (d): calculado a partir da resistência do concreto utili-
zado, de forma que a Área do Fuste (Afuste) seja igual à razão entre a Carga (P)
e a Tensão Admissível do Concreto ( sconc ):

P π d2
A fuste  
σconc 4
podemos, a partir desta equação, simplificar o cálculo do diâmetro do fuste (d) por:

4 γf P
d
π σ conc
Em que:
γ f = Coeficiente de Ponderação de Carga definido
pela NBR 6122 com valores a partir de 1,4..

A norma técnica indica que o diâmetro do fuste do tubulão não deve ser menor
do que 70 cm, pois essa é a dimensão mínima, estabelecida em norma, à entrada
de pessoal para alargamento da base. A Tensão Admissível do Concreto é definida
pela relação entre a Resistência Característica do Concreto na Compressão ( f ck ),
o Coeficiente de Ponderação da Resistência do Concreto ( gc ) e uma consideração
sobre as condições precárias de concretagem, durante a execução do tubulão:

0, 85  f ck
σconc 
γc

3. Diâmetro da base (D): calculado a partir da resistência do solo na cota de


apoio do tubulão, de forma que a Área da Base (Abase) seja igual à razão entre
a Carga (P) e a Tensão Admissível do Solo ( sadm ) ou Capacidade de Carga
do Solo:

P π  D2
Abase  
σadm 4

253
UNICESUMAR

podemos, a partir desta equação, simplificar o cálculo do diâmetro de base (D) por:

4 γf P
D
π σ adm
Em que:
γ f = Coeficiente de Ponderação de Carga definido
pela NBR 6122 com valores a partir de 1,4.

4. Ângulo de inclinação da base ( a ): é calculado considerando que as tensões


de tração na base sejam absorvidas pelo próprio concreto, ou seja, que não
necessite de armação (aço) na execução dessa parte do tubulão (ALBUQUER-
QUE; GARCIA, 2020). Para que isso ocorra, a norma técnica NBR 6122
(ABNT, 2019a) estabelece que esse ângulo deve ter valor maior ou igual a 60º.
Esta relação de segurança pode ser verificada por meio da relação entre a
Tensão Admissível do Solo ( sadm ) e a Tensão Admissível do Concreto na
Tração ( st ):

tan α σ adm
1
α σt
Em que:
α = ângulo de Incll ção da Base em radianos;

A Tensão Admissível do Concreto na Tração é definida pela relação entre a Resis-


tência Característica do Concreto na Tração ( f ctk ) e o Coeficiente de Ponderação
da Resistência do Concreto ( gc ):
f ctk
σt =
γc
Definimos esse Coeficiente de Ponderação conforme a Tabela 4 da NBR 6122 (ABNT,
2019a) para tubulões, de acordo com a classe do concreto utilizado. Esta tabela diz
que, aos concretos de classe C25, temos gc = 2, 2 e, à classe C40, temos gc = 3, 6 .

254
UNIDADE 7

CLASSE DE AGRESSIVIDADE AMBIENTAL

(EXCETO LIGAÇÃO COM O BLOCO)


QUAL NÃO É NECESSÁRIO ARMAR

ENCONTRAM DEFINIDOS CONCRETO/


CARACTERÍSTICA DA ARGAMASSA OU
CLASSE DE CONCRETO/ RESISTÊNCIA

SIMPLES ATUANTE ABAIXO DA


(CAA) CONFORME ABNT NBR 6118

TENSÃO DE COMPRESSÃO

ANEXO DA NBR 6122 ONDE SE


% DE ARMADURA MÍNIMA
E COMPRIMENTO ÚTIL

ARGAMASSA
MÍNIMO (INCLUINDO

CONCRETO
TRECHO DE LIGAÇÃO COM
O BLOCO)

ARMADURA COMPRIMENTO

Yc % m MPa

Tubulões não I, II C25 2,2


0,4 3,0 5,0 B
encamisados III, IV C40 3,6
Tabela 3 - Parâmetros para dimensionamento, segundo a NBR 6122 / Fonte: adaptada de ABNT (2019a).

O cálculo simplificado para a determinação da Resistência Característica do Con-


creto na Tração, a partir da Resistência Característica do Concreto na Compressão
( f ck ), é dado por:

f ctk  0, 3   f ck  3 
2

 

5. Altura da base (hB): em condições cujo tubulão possui uma base circular,
podemos calcular a sua altura a partir de uma fórmula que relaciona os diâ-
metros da base e do fuste ao ângulo de inclinação calculado ou estabelecido:
D  d 
hB     tan  a 
 2 
a norma técnica de fundações estabelece limites à altura da base dos tubulões, de acor-
do com as condições de segurança para a estabilidade da base, durante a sua abertura:

255
UNICESUMAR



Os tubulões devem ser dimensionados de maneira que as ba-
ses não tenham alturas superiores a 1,8 m. Para tubulões a ar
comprimido, as bases podem ter alturas de até 3,0 m, desde que
as condições do maciço permitam ou sejam tomadas medidas
para garantir a estabilidade da base durante a sua abertura
(ABNT, 2019a, p. 29).

Entende-se que o dimensionamento de um tubulão sempre passará pelas etapas


de determinação da profundidade, do diâmetro do fuste e da base. Paladino
(1975) aponta que estas determinações são realizadas por meio de tentativas
que atendam às três situações de solicitações as quais este tipo de elemento está
sujeito: arranchamento, compressão e esforço horizontal. O arrancamento e a
compressão estão ligados à profundidade de apoio e ao diâmetro da base, já o
esforço horizontal e, também, o método executivo estão ligados ao diâmetro do
fuste (DÉCOURT; ALBIERO; CINTRA, 2019).

A utilização de Tensão Admissível do Concreto e,


também, do solo, para determinar as dimensões
de um tubulão, pode ser melhor entendida por
meio de uma aplicação prática que demonstre os
cálculos associados. Pensando nisso, elaborei uma
Pílula de Aprendizagem que mostra o cálculo de di-
mensionamento de um tubulão, a partir de tensões
admissíveis já definidas. Acesse o vídeo explicativo
para ver esta demonstração!

É possível que, dependendo da configuração e do posicionamento de pilares ou


de outros elementos estruturais que transmitirão esforços às fundações do tipo
tubulão, sejam necessárias algumas adequações em sua geometria isolada ou na
configuração do grupo que faz parte da fundação.
Algumas situações-problema são apresentadas por Albuquerque e Garcia
(2020) bem como algumas alternativas e soluções a estes casos:
• Superposição de duas bases de tubulões: situação cuja proximidade
de dois pilares faz com que a área prevista para as bases dos tubulões, se
executados, se sobreponha.

A figura, a seguir, ilustra essa situação-problema:

256
UNIDADE 7

Figura 10 - Superposição de bases de dois tubulões /Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: : a figura apresenta uma ilustração, em planta, de dois tubulões. À esquerda, na parte
inferior, está o Tubulão 1. Ele é menor, a sua carga está centralizada e identificada como “P1”, enquanto a sua
cota do diâmetro da base é identificada como “D1”. À direita, na parte superior, está o Tubulão 2. Ele é maior,
a sua carga está centralizada e identificada como “P2”, enquanto a sua cota do diâmetro da base é identificada
como “D2”. Os círculos das bases dos tubulões se interceptam numa região hachurada identificada como
“superposição”.

Esses casos são solucionados com a modificação da forma da base de um ou


dois os tubulões, desde que as novas áreas das bases continuem as mesmas, pois
a Tensão Aplicada ( sap ) pelos tubulões não pode exceder a Tensão Admissível
do Solo ( sadm ). A modificação da forma pode ser feita por meio da alteração de
um círculo para uma falsa elipse, nas seguintes soluções:
• Solução 1 – Uma falsa elipse: opta-se por manter um dos tubulões com a
sua base circular, enquanto o outro é redimensionado para o formato de uma
falsa elipse, mantendo, entre eles, uma folga com valor maior ou igual a 10 cm.

257
UNICESUMAR

A figura, a seguir, ilustra essa solução:

Figura 11 - Solução com uma falsa elipse para a superposição de tubulões


Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: : a figura apresenta uma ilustração, em planta, que mostra dois tubulões com formas
de área da base diferentes e distanciadas por uma dimensão cotada, indicada por folga. À direita, o Tubulão 1,
com forma da base circular, indica uma carga centralizada P1 e um raio r1. À direita, o Tubulão 2 com formato
de falsa elipse, na vertical, indica a sua carga centralizada P2, o raio dos semicírculos na parte superior e na
parte inferior da base, em planta, indicado por r2, e a largura de prolongamento retangular vertical é cotada
como L2. Uma cota inferior central indica, por meio da letra “S”, a distância entre os eixos de carga dos tubulões.

Adota-se um valor para os raios dos tubulões de acordo com os distanciamentos


mínimos entre o centro de carga dos pilares. É necessário considerar, conforme a
equação, a folga que deve haver entre as bases:

r2 S r1 f
Em que:
r2 = raio da base do tubulão modificado em falsa elipse;
S = distância entre os centros de carga dos tubulões;
r = raio da base do tubulão que permanece em círculo;
f = folga entre bases com valor igual ou superior a 10 cm.

258
UNIDADE 7

Para dimensionar a base de um tubulão no formato de falsa elipse, procede-se da


seguinte maneira:
1. Calcular o valor de L2:

2
Abase2 π. r2
L2
2 r2
Em que:
L2 = comprimento para foormação de falsa elipse
do tubulão que será modificado;
r2 = raio da falsa elipse do tubulão que será modificado;
Abasee2 = área da base calculada para o tubulão que será modificcado
considerando a carga do pilar (P2 ) deste tubulão e a tensão admissível:
P2
Abase2
σ adm
2. Verificar a condição limitadora para o L2 calculado: L2  3  r2
3. Calcular a altura da base:

tan 60º
hbase2 L2 2 r2 d2
2
Em que:
d2 = diâmetrro do fuste do tubulão que será modificado.

• Solução 2 – Duas falsas elipses: opta-se por redimensionar as duas bases dos
tubulões para o formato de uma falsa elipse, quando a condição de L2  3  r2
não pode ser satisfeita. Sempre mantendo, entre eles, uma folga com valor
maior ou igual a 10 cm.

A figura, a seguir, ilustra essa solução:

259
UNICESUMAR

Figura 12 - Solução com duas falsas elipses para a superposição de tubulões


Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: : a figura apresenta uma ilustração, em planta, que mostra dois tubulões com formas
da área da base iguais, em falsa elipse alongada na vertical, distanciadas por uma dimensão cotada, a qual
é indicada pela letra “S”. À direita, o Tubulão 1, com formato de falsa elipse na vertical, mostra a sua carga
centralizada P1, o raio dos semicírculos na parte superior e na parte inferior da base, em planta, indicado por
r1, e a largura de prolongamento retangular vertical cotada como L1. À direita, o Tubulão 2 com formato de
falsa elipse, na vertical, mostra a sua carga centralizada P2, o raio dos semicírculos na parte superior e na parte
inferior da base, em planta, é indicado por r2, e a largura de prolongamento retangular vertical é cotada como
L2. Uma cota inferior central indica, por meio da letra “S”, a distância entre os eixos de carga dos tubulões.

Adota-se um valor para os raios dos tubulões de acordo com os distanciamentos


mínimos entre o centro de carga dos pilares. É necessário considerar, conforme a
equação, a folga que deve haver entre as bases:

r1  r2  S  f
Em que:
f = folga entre bases com valor igual ou supperior a 10 cm.

260
UNIDADE 7

• Pilares muito próximos com superposição das bases dos tubulões: situa-
ção cuja área prevista para as bases dos tubulões, se executados, se sobrepõe,
combinada com a proximidade excessiva dos pilares, de forma que seja im-
possível a solução de modificação das bases dos dois tubulões em falsa elipse,
mantendo a folga que deve haver entre ambas. Recomenda-se afastar o CG dos
tubulões e introduzir uma viga de interligação entre eles, mantendo, sempre, a
proporção de um pilar para um tubulão. Não é permitido que se associem tu-
bulões, ou seja, é proibido que um único tubulão receba a carga de dois pilares.

A solução para essa situação de proximidade dos pilares pode ser vista na figura, a seguir:

Tubulão 1

Tubulão 2

Figura 13 - Solução com duas falsas elipses e afastamento dos centros de gravidades para a sobreposição
da base de dois tubulões / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: : a figura apresenta uma ilustração, em planta, que mostra dois tubulões com forma
da área da base iguais, em falsa elipse alongada, na diagonal, e os pilares de carga próximos entre si, porém
distanciados do centro geométrico dos respectivos tubulões. Na porção superior esquerda, o Tubulão 1, que
é maior, apresenta o seu pilar P1 próximo à faixa de folga entre as bases dos tubulões. Na porção inferior di-
reita, o Tubulão 2, que é menor, apresenta o seu pilar P2 próximo à faixa de folga entre as bases dos tubulões.
Um retângulo alongado e inclinado, perpendicular à inclinação dos tubulões, encontra-se sobre os centros de
gravidade dos mesmos e sob os pilares, sendo, então, a viga de interligação.

261
UNICESUMAR

• Pilares muito próximos de divisas: situação cuja área prevista para a base do
tubulão, se executado, ultrapassa o limite da divisa e invade o terreno adjacente.
Recomenda-se afastar o alargamento da base do tubulão de divisa à forma de
falsa elipse, seguida pela introdução de uma viga alavanca, a qual faça a ligação
com outro tubulão isolado, sendo coincidentes o CG da carga e da base.

A figura, a seguir, ilustra essa solução:

Vista em planta
Divisa
Folga (2,5cm)
Tubulão 1 
 Viga alavanca



Tubulão 2
 


 
Elevação

Viga alavanca

Tubulão 1 Tubulão 2 


Figura 14 - Solução para o tubulão com pilar de divisa / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: : a figura apresenta uma ilustração dividida em duas partes, mostrando um tubulão de divisa
e um tubulão centralizado unidos por uma viga alavanca. Na parte superior, temos a vista, em planta, dos tubulões. À
esquerda, estão a divisa do terreno e o Tubulão 1 com forma de área de base, em falsa elipse, com o pilar P1 posicio-
nado à distância “e” do centro geométrico do fuste. À direita da vista em planta, está o Tubulão 2, com área da base
em círculo e pilar P2 centralizado com o centro geométrico do fuste. Entre ambos, há um prolongamento indicado
por uma viga alavanca, a qual interliga o pilar P1 ao pilar P2. Na parte inferior, temos a vista, em elevação, desses
tubulões, mostrando, à esquerda, a carga P1 no pilar do Tubulão 1, cuja divisa está à distância “e” da reação R1 do
mesmo tubulão. À direita, está a carga P2 no pilar do Tubulão 2, no mesmo alinhamento da reação R2 desse tubulão.

262
UNIDADE 7

A situação de excentricidade de carga gerada por um pilar na divisa é semelhante àquelas


já estudadas para sapatas de divisa. Essa solução considera uma viga sobre dois apoios
(R1 e R2) recebendo duas cargas pontuais (P1 e P2), como ilustra a figura, a seguir:

Figura 15 - Esquema estático de uma viga alavanca para pilar de divisa


Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Descrição da Imagem: : a figura apresenta uma ilustração, em linhas, mostrando o posicionamento das cargas
na viga alavanca em relação a três pontos. Na ponta da esquerda da linha que indica a viga, temos o ponto A
recebendo a carga P1 como seta vertical para baixo. À distância “e” para a esquerda, em relação ao ponto A,
temos o ponto B com a reação R1 como seta vertical para cima. Na ponta da direita da linha que indica a viga,
temos o ponto C recebendo a carga P2 como seta vertical para baixo e a reação R2 como seta vertical para
cima. É indicado, no centro, a distância entre as pontas A e C, pela cota Ls.

Fazendo o equilíbrio das forças das cargas e dos apoios, temos:

P1  P2  R1  R2

considerando o equilíbrio de momentos em relação ao ponto C do esquema estático


apresentado, temos:
P1 LS R1 LS e
Em que:
e = excentricidade entre o CGcarga do pilar de divisa e o
CGapoio do Tubulão de divisa;
LS = distâ
t ncia entre o CGcarga do pilar de divisa e o CGcarga
do pilar de apoio da viga alavanca.

Para definir a área da base do tubulão de divisa, é preciso conhecer a carga no apoio
deste (R1), a qual, por sua vez, depende da excentricidade (e) relacionada ao raio da
área da base. Este é um problema típico de fundações o qual se recomenda a solução
por tentativas.

263
UNICESUMAR

Título: Engenharia de Fundações


Autores: Paulo José Rocha de Albuquerque e Jean Rodrigo Garcia
Editora: LTC
Sinopse: as soluções empregadas em situações de projeto, como as apre-
sentadas para os tubulões podem seguir diversos caminhos, dependen-
do das particularidades do projeto. Por isso, é importante conhecer, na
literatura técnica atual, as várias propostas de soluções. O primeiro livro
de Paulo José Rocha de Albuquerque e Jean Rodrigo Garcia, Engenharia
de Fundações, apresenta uma série de situações de projeto bem como as possíveis soluções.
Estas são acompanhadas por cálculos voltados às principais fundações conhecidas (superficiais,
profundas, diretas e indiretas).

Cálculo do Volume de Concreto

O controle do volume de concreto


empregado para o preenchimen-
to do poço escavado do tubulão
é um parâmetro importante que
deve constar nos respectivos Fuste do tubulão
(formato cilíndrico)
projetos de fundações. Esta im- Volume 1
portância é devido aos possíveis
problemas de desabamento que
podem acontecer no interior da
Base do tubulão
escavação, de forma que o compa- (formato tronco de cone)
rativo entre o volume de concreto
consumido durante a execução e Volume 2
o volume de concreto estimado Rodapé da base do tubulão
(formato cilíndrico)
nos cálculos de projeto aponte,
no momento da execução, a este Volume 3
problema (ALBUQUERQUE;
Figura 16 - Volumetria de um tubulão típico de base circular
GARCIA, 2020). Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).

Para o caso de um tubulão


Descrição da Imagem: : a figura apresenta uma ilustração que mostra a vista, em
típico de base circular, podemos perspectiva, de um tubulão. Este mostra a diferença, por meio de hachuras e pinturas,
calcular o volume de concreto entre as três partes que o compõem. Na parte superior, um cilindro comprido, indicado
pela expressão “volume 1” é o fuste do tubulão. Embaixo dele, em formato de tronco
dividindo-o em três regiões, de cone, temos a expressão “volume 2” indicando a base do tubulão. Na parte inferior
final, a expressão “volume 3”, em um cilindro achatado, indica o rodapé do tubulão.
conforme a figura, a seguir:

264
UNIDADE 7

A seguir, apresentam-se as formulações fundamentais, baseadas na geometria de um


tubulão, para os volumes considerados:
• Volume 1 – Fuste do tubulão:
 p d2
V1  V f  
     H  h 
B
 4 
 

• Volume 2 – Tronco de cone da base do tubulão:


2 2
π htc D d D d
V2 Vtc
3 2 2 2 2
Em que:
htc = altura do tronco de cone da base do tubulão
calculado por:
htc hB 0, 20metros
• Volume 3 – Rodapé da base do tubulão:
2
D
V3  VrB  p     0, 20
2
o volume total do tubulão é, então, calculado pela soma dos três volumes:

Vtotal  V1  V2  V3  V f  Vtc  VrB

para os casos de tubulões em falsa elipse, o cálculo do volume será o mesmo, dife-
renciando-se, apenas, na definição do Volume 2 e do Volume 3, pois a base será um
pseudotronco de cone, tal qual nas equações, a seguir:

V2 Vtc Vα Vβ
e também
2
V3 VrB π rB 2 rB L 0, 20 metros
Em que:
2
π htc 2 d d
Vα rBB r
3 2 2
L htc d
Vβ rB
2 2

265
UNICESUMAR

Quando lidamos com obras de grande porte, tais como: edifícios altos, pontes, viadutos
e outras obras de arte da construção, as condições de resistência dos solos, nos terrenos
de implantação, impõem limites que nem permitem o uso de fundações superficiais,
nem de trabalhos de execução de fundações em estacas. São nestes casos que mais se
aplicam as soluções por tubulões e, também, são os que mais necessitam da atenção
detalhada do(a) profissional a todos os aspectos que fazem parte do projeto, pois
ele(a) lidará com a distribuição de cargas elevadas em solos de vastas profundidades.
Conhecer os métodos de dimensionamento desse tipo de fundação e, principal-
mente, as exigências, em termos de segurança do trabalho desenvolvido, quando
é necessário, durante as escavações, o uso de ar comprimido, leva profissionais de
Engenharia a se especializarem em obras de grande porte.
Estamos falando, aqui, sobre construções de amplas proporções que não modifi-
cam, apenas, a paisagem natural, como também alteram a vida de milhares de pessoas
que farão uso de pontes e viadutos ou que vivem em grandes edifícios.
Passamos por uma quantidade bem grande de tipos de fundações, parâmetros de
projeto, métodos de dimensionamento e classificação dos elementos. Agora, realiza-
remos uma atividade de Arquivologia Mental.
A seguir, estão embaralhados vários termos, palavras e formulações que vimos
nesta unidade. Você analisará cada um deles e anotará os seus respectivos símbolos/
nomes/palavras no espaço adequado do organograma de fundações em tubulões.
Caso perceba que estão faltando termos ou informações que fazem parte das
seções presentes no organograma, pesquise-os no material de estudo e complete
com a informação.

 H  hB  sadm sconc st

f ck f ctk a 60º

hB Vtc VrB Vf

Qbase Qlateral FALSA ELIPSE CIRCULAR

ALBIERO E CINTRA
ALONSO (1983) DÉCOURT (1989) DÉCOURT (1991)
(1996)
COM REVESTIMENTO SEM REVESTIMENTO NR-15 – ANEXO VI 3,4 kgf/cm² ou 48,36 Psi
d D 20 cm Rodapé
GOW CHICAGO PNEUMÁTICO MANÔMETRO
ABAIXO DO NÍVEL ACIMA DO NÍVEL Par  g água  hágua
TRONCO DE CONE
D’ÁGUA D’ÁGUA

266
TUBULÕES

A CÉU ABERTO A AR COMPRIMIDO

MÉTODOS DEMIEMPÍRICOS

COM ENSAIO SPT COM ENSAIO CPT

DIMENSIONAMENTO

FUSTE BASE

267
1. Para melhor entendimento das características dos tipos de fundações, a NBR 6122:
Projeto e Execução de Fundações (ABNT, 2019a), estabelece a sua classificação em dois
grandes grupos, os quais são as fundações superficiais (rasas ou diretas) e as funda-
ções profundas, porém a fundação do tipo tubulão tem características semelhantes
aos dois grupos.

Em relação às características das fundações em tubulões, assinale a alternativa correta:


a) Neste tipo de fundação, a profundidade de assentamento em relação ao terreno ad-
jacente deve ser oito vezes igual ou menor do que a menor dimensão do elemento. A
cota de assentamento de seu elemento é de 3 m.
b) Os seus elementos interagem com o solo, principalmente, pela resistência de ponta,
por isso, apresentam uma base alargada que pressionam a camada de solo em sua
cota de apoio.
c) Essas fundações são empregadas quando as camadas superficiais do solo são capazes
de suportar as cargas da construção. O seu elemento transmite a carga ao terreno
pelas tensões distribuídas sob a base da fundação.
d) Geralmente, são os tipos mais complexos de fundação, principalmente, pela necessi-
dade de equipamentos sofisticados. Os seus elementos são executados, inteiramente,
por máquinas e ferramentas, sem que haja a descida de pessoas.
e) Podem ser constituídas de madeira, aço, concreto pré-moldado, concreto moldado in
loco ou por uma combinação de todos esses. Quando feitas de concreto moldado in
loco, são executadas perfurações prévias no solo.

2. Um tubulão foi dimensionado com uma base de diâmetro (D) igual a 2,10 m; profun-
didade de assentamento (H) de 12 m; diâmetro do fuste (d) igual a 0,70 m e altura de
base (hB) de 1,15 m. O volume total de concreto necessário para preencher todo o poço
escavado deste tubulão é de, aproximadamente:
a) 16,90 metros cúbicos de concreto.
b) 6,70 metros cúbicos de concreto.
c) 6,45 metros cúbicos de concreto.
d) 14,60 metros cúbicos de concreto.
e) 20,15 metros cúbicos de concreto.

3. Foi pré-dimensionado um tubulão com uma base de diâmetro (D) igual a 1,50 m; fuste
de diâmetro (d) igual a 0,70 m; altura da base (hB) de 90 cm e comprimento total de 13 m.

Com base no perfil apresentado, observe na figura, a seguir, os resultados médios de


Ensaios SPTs:

268
Fonte: adaptada de Albuquerque, Garcia (2020).

Descrição da Imagem: : a figura apresenta a ilustração de um relatório de sondagem SPT de um solo dividido em duas
camadas horizontais. À direita, há uma régua com porções metro a metro, cuja indicação dos valores dos ensaios, ao longo
da profundidade, varia de 2 até 50. Ao lado da régua dos valores de SPT, temos a indicação do Nível de Água por N.A. a
menos 3,6 metros de profundidade, o limite de divisão entre as camadas horizontais de solo está a menos 6,7 metros de
profundidade, e a cota de apoio da base do tubulão encontra-se a menos 13 metros de profundidade. No centro, está o
desenho, em vista lateral, da forma do tubulão com a sua base apoiada na cota indicada. A camada de solo superior que
faz limite com a superfície do terreno é indicada como argila siltosa, muito mole a mole, vermelha, com peso específico
de 14 quilonewtons por metro cúbico acima do nível de água e 18,5 quilonewtons por metro cúbico abaixo do nível de
água. A camada de solo inferior, onde se encontra apoiada a base do tubulão, é indicada como areia, medianamente,
compacta a muito compacta, bege, com peso específico de 19 quilonewtons por metro cúbico.

269
Sabendo que esse tubulão será confeccionado com concreto de classe C25 (fck = 25
MPa) e que a carga centrada para a qual ele serve de fundação é igual a 2000 kN, com
Fator de Segurança igual a 3, responda:
Qual a Tensão Admissível Média, pelos métodos semiempíricos, para o solo na cota
de apoio do tubulão?
Caso a sapata não passe no critério de segurança ( saplicada ≤ sadm ), redimensione-a
para garantir a segurança.

270
271
272
8
Obras de Terra I
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos

Olá, estudante! A nossa jornada, até aqui, tem sido bastante in-
tensa, aprendendo, duplamente, sobre estruturas e como elas se
relacionam com o solo. Agora, estamos chegando ao final de nossa
jornada, desvendando estruturas de grande porte que integram as
mais belas paisagens da criação humana. Nesta unidade do livro,
você iniciará os seus estudos dentro das Obras de Terra. Começa-
remos entendendo os taludes e todos os conceitos relacionados às
suas classificação, geometria e avaliação de estabilidade. Depois,
passaremos a compreender eventos que ocorrem com essas es-
truturas, os movimentos de massa, assim como os seus fatores e
as causas de instabilidade deles nos taludes.
UNICESUMAR

Imagine que você liga a televisão para assistir a um programa qualquer e se depara com um plantão
surpresa e urgente no noticiário: “Catástrofe das chuvas: soterrados pelos deslizamentos de terra,
mais de 90 pessoas seguem desaparecidas”. Enchentes e deslizamentos de terra são recorrentes nas
regiões de serra do Brasil, onde ocorrem deslizamentos em morros e encostas. Isso acontece, principal-
mente, nas estações do ano em que há mais chuva. Com base em seus conhecimentos, qual a principal
causa destes acidentes? É possível prevenir catástrofes como esta relatada na notícia?
A notícia apresentada é bastante chocante, não é? Infelizmente, esse não é o título de uma notícia
fictícia, nem uma chamada exagerada para chamar a atenção. Ele foi repetido em inúmeros noticiários
(televisivos e impressos) que registraram a maior tragédia climática brasileira da última década. O
caso ocorreu na região serrana do estado do Rio de Janeiro em 2011, quando tempestades fortíssimas
atingiram, pelo menos, sete cidades que se localizam próximas ou sobre os morros da costa fluminen-
se. Este é um problema recorrente nesta região, como mostraram diversas imagens na mídia, a quais
registraram os desmoronamentos.
Com a águas das chuvas penetrando no solo, é natural que terrenos se tornem mais instáveis, visto
que uma camada tende a se tornar lama e as outras camadas tendem a “amolecer”. Quando temos um
terreno inclinado, como no caso das serras e dos morros, o maciço de solo se movimenta, em descida,
pela encosta, um fenômeno que ocasiona amplos deslizamentos de terras, a exemplo dos ocorridos na
região serrana do Rio de Janeiro. Quando existem estradas, cidades, bairros ou moradias no caminho
do deslizamento, temos os elementos necessários para um grave desastre em direção à vida humana.
Mas como evitar que isso ocorra?
Sabemos que não existem formas de impedir intempéries climáticas, como chuvas e ventos, elas
fazem parte da manutenção da vida e do ambiente onde vivemos. Não construir cidades ou moradias
próximas de morros numa região cujo relevo é, essencialmente, composto por montanhas e encostas,
não é possível, na maioria das vezes, não temos a opção de escolher um terreno plano e regular. Mas
isso não quer dizer que o desafio está perdido, os conhecimentos que fazem parte da Engenharia Civil
permitem a construção de obras seguras em, praticamente, toda superfície terrestre, basta reunir o
conhecimento a respeito dos solos, aprendido na Mecânica dos Solos, aliado ao conhecimento sobre
as águas na natureza, aprendidos na Hidrologia e nos Fenômenos de Transporte, e aplicar no projeto
de obras que lidem, diretamente, com estes materiais em interação, as chamadas Obras de Terra.
Vamos entender como os deslizamentos de terra da região serrana do Rio de Janeiro ocorreram em 2011?
Para esta experimentação, você deverá fazer uma pesquisa direcionada em publicações a respeito
de deslizamentos de encostas. Tais publicações são de instituições que lidam com este problema nos
territórios de suas cidades, de seus estados ou países. Essa pesquisa direcionada não, necessariamente,
consiste na leitura completa destes textos, porém na busca direta pelos capítulos ou partes do texto
que tratam, especificamente, do nosso tema: causas dos deslizamentos em encostas.
Como são documentos em formato virtual, você pode, até mesmo, usar a ferramenta de busca
direta para procurar as palavras e os termos associados ao foco da pesquisa e, assim, encontrar, mais
rapidamente, os pontos. Porém, caso queira fazer a leitura completa de alguns desses materiais, sinta-se
à vontade, conhecimento nunca é demais!

274
UNIDADE 8

ESTAS SÃO AS PUBLICAÇÕES DA PESQUISA DIRECIONADA:

“Você sabe o que é deslizamento? ” – Instituto Geológico do Estado de São


Paulo. Disponível no QR Code.

“Manual de Ocupação dos Morros da Região Metro-


politana do Recife – Parte B – Por que Caem as Bar-
reiras: Capítulo 3 e Capítulo 4” – Fundação de Desen-
volvimento Municipal (FIDEM). Disponível no QR Code.

“O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Desliza-


mentos” – Serviço Geológico dos Estados Unidos e do Canadá. Disponível
no QR Code.

“Prevenção de Riscos de Deslizamentos em Encostas em Áreas Urbanas”


– Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Disponível no QR Code.

“Como Evitar Deslizamentos” – Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de São


Paulo. Disponível no QR Code.

“Manual para Elaboração de Plano de Intervenções Contra Rupturas em


Encostas” – Ministério das Cidades. Disponível no QR Code.

275
UNICESUMAR

Após realizar a pesquisa direcionada, faça uma lista dos fatores que influenciam a situação de risco
das cidades construídas em regiões de morro e encostas, como da região serrana do Rio de Janeiro.
Para cada um desses fatores, busque, por meio de pesquisas, as soluções de Engenharia que podem
ser aplicadas para mitigar ou evitar as situações catastróficas como as ocorridas, em 2011, nas cidades
fluminenses. Também pesquise como os terrenos próximos a morros e encostas são ocupados nessas
cidades, que tipo de edificações são construídas nestas áreas.
Com as informações de perfil do relevo de regiões de morro ou encostas e das formas de ocu-
pação de terreno que ocorrem nas cidades, faça um esboço representativo, em duas dimensões,
desse sistema, o qual tenha: o morro; a vegetação; as edificações e o fluxo de água da chuva com
representação, por meio de flechas, da sua direção. Acrescente ao seu esboço as soluções ou os
elementos da Engenharia pesquisados que podem ser aplicados para garantir a segurança das
obras próximas ou sobre os morro e encostas.
Use o espaço do Diário de Bordo, a seguir, para fazer o esboço representativo do perfil de morro ou
encosta ocupada por obras e, também, as soluções de Engenharia que você pesquisou. Também faça a
anotação da lista dos fatores que influenciam a situação de risco das cidades construídas em regiões de
morro e encostas, como a região serrana do Rio de Janeiro, e das respectivas soluções de Engenharia
pesquisadas que podem mitigar ou evitar as situações, aqui, já citadas, ocorridas em 2011.

DIÁRIO DE BORDO

276
UNIDADE 8

Quando temos construções ou obras cujos concepção e dimensionamento são, di-


retamente, dependentes do comportamento mecânico e hidráulico dos maciços
rochosos ou do solo do terreno onde estão implantadas, temos o que chamamos de
Obra ou Estrutura Geotécnica, das quais as Fundações e as Obras de Terra fazem
parte (FERNANDES, 2014). Uma vez que as duas primeiras foram abordadas nas
unidades anteriores, aqui, voltaremos o nosso foco às duas últimas.
Ao estudarmos as Obras de Terra, iniciamos com a compreensão de que estamos
lidando com estruturas compostas por solo, ou seja, maciços terrosos que podem ter
origem natural ou artificial. Comecemos entendendo o conceito por trás do tipo de
estrutura terrosa mais simples, conhecida por talude:


Talude é a denominação que se dá a qualquer superfície inclinada
de um maciço de solo ou rocha. Ele pode ser natural, também de-
nominado encosta, ou construído pelo homem, como, por exemplo,
os aterros e cortes (GERSCOVICH, 2016, p. 11).

A figura, a seguir, identifica estas partes em uma representação genérica de um talude:

Figura 1 - Esquemas das partes componentes de um talude genérico / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura apresenta a ilustração de um terreno, em corte lateral, mostrando, à esquerda,
um nível horizontal baixo com uma inclinação para cima que leva a um nível horizontal alto. Uma seta com o
texto “pé” indica o nível baixo da inclinação, e uma seta com o texto “face do talude” indica uma linha de incli-
nação. O nível alto da inclinação é indicado por uma seta com o texto “crista ou topo”. No interior do perfil do
terreno, na porção inferior, há a representação do ângulo com a horizontal da face do talude, representação
a qual é indicada por uma seta com o texto “inclinação”. Uma linha pontilhada, em semicírculo, liga o pé do
talude ao topo, formando um corte circular no interior do perfil do terreno, corte este que é indicado por uma
seta com o texto “superfície de ruptura”.

277
UNICESUMAR

Resumindo, um talude é uma inclinação no solo que promove a estabilidade de um maciço terroso. Sempre
haverá similaridades no formato que fazem esta estrutura ser, facilmente, identificável, independentemente
de seu perfil, composição ou processo de formação.
Segundo Caputo (1988), as partes que compõem um talude podem ser dividas, de forma simplificada,
em: (I) crista ou topo (parte mais alta de um talude); (II) face do talude (superfície inclinada do maciço que
fica exposta ao ambiente, podendo ter, ou não, cobertura vegetal); (III) pé (parte mais baixa de um talude);
(IV) inclinação (ângulo formado pela reta que passa pelo pé do talude com a horizontal); (V) superfície
de ruptura (plano potencial ou estimado para a situação em que o talude perde as suas características
originais, seja pela falta de estabilidade, seja pela ocorrência de deslocamentos exagerados).
Podemos visualizar o talude, de forma simplificada, como um tipo de “degrau” de material granular
com grandes dimensões que compõem uma paisagem ou um terreno. Ele pode ter sido formado por ações
naturais, recebendo o nome de talude natural ou encosta, ou por ações humanas, como atividades de corte
e/ou aterro, recebendo o nome de talude artificial ou barragem (ABNT, 2009).
A figura, a seguir, ilustra a diferença entre as superfícies dos dois tipos de taludes. No caso do talude
natural, temos uma linha (representando o plano de superfície) bastante irregular e acidentado, indicando
o trabalho de deposição ou de fragmentação do solo ao longo de anos, enquanto que, no talude artificial,
temos uma linha regular ou reta que indica o trabalho humano de construção dessa estrutura:

Figura 2 - Diferença esquemática de superfície entre o talude natural e o artificial / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura apresenta a ilustração do perfil de um terreno. Da esquerda para a direita, há um nível mais alto com árvores
sobre uma linha torta e disforme, indicado por uma seta com o texto “talude natural” e, embaixo dessa linha, está escrito “maciço terroso”.
No centro, a linha torta torna-se um trecho inclinado reto, indicado pelo texto “talude de corte”, seguindo para a direita, ele torna-se uma
linha horizontal reta, a qual contém, sobre ela, uma casa, embaixo dessa casa, está o texto “maciço terroso”. À direita, a linha horizontal reta
divide-se em duas: uma linha torta, indicada pelo texto “maciço terroso”, limitando a área e, na parte de cima, essa linha continua reta, em
horizontal, até onde está estacionado um caminhão e, embaixo dele, está escrito “aterro”. A linha horizontal reta torna-se inclinada, indicada
pelo texto “talude de aterro”. No topo, do lado direito, o texto “taludes artificiais” liga os textos “talude de corte” e “talude de aterro”.

278
UNIDADE 8

Alguns exemplos de taludes naturais são bem conhecidos, pois


compõem as paisagens mais marcantes de uma região. É o caso
do Maciço da Tijuca, localizado na cidade do Rio de Janeiro e que
compõe a paisagem característica da região.
A Figura 3 mostra algumas vistas deste sistema de taludes que
compõem o maciço:

Figura 3 - Maciço da Tijuca, no Rio de Janeiro, como exemplo de talude natural / Fonte: Shutterstock.

Descrição da Imagem: a figura apresenta a fotografia de uma paisagem de montanhas formadas por pedra cinzenta e cobertas com
vegetação verde. Em primeiro plano, na parte esquerda, é possível ver uma encosta de pedra com vegetação cobrindo o seu topo. Em
segundo plano, na parte direita, há uma montanha em posição mais distante, com o seu topo e laterais cobertos por vegetação. O
terreno segue ondulado e coberto por vegetação até a linha do horizonte montanhoso. Na parte de cima, vê-se o céu azul, no centro,
a linha do horizonte torta acompanha o formato das montanhas verdes, cobertas com vegetação, localizadas em frente a uma faixa
de nuvens brancas.

Em relação aos taludes artificiais, podemos ter vários exemplos nas


obras que modificam o terreno natural e constroem, artificialmente,
uma inclinação. É o caso da construção de estradas, das atividades
de mineração, plantio, escavação para fundações e outras.
A figura, a seguir, apresenta alguns exemplos deste tipo de talude:

279
UNICESUMAR

(A)

Figura 4 (a) - Encosta com terraços de


arroz, na China; Figura 4 (b) - Encostas
ao redor de uma estrada, em Santa
Catarina; Figura 4 (c) Mina a céu
(B) aberto, em Minas Gerais.
Fonte: Shutterstock.

Descrição da Imagem: a figura


apresenta três fotografias que mos-
tram diferentes paisagens formadas
por taludes artificiais. A Figura 4 (a)
mostra montanhas vistas de cima
cujas encostas têm degraus nive-
lados com lâminas de água. Nelas,
vê-se uma plantação de arroz. A Fi-
gura 4 (b) apresenta a visão de uma
rodovia que segue um caminho em
direção ao horizonte, entre dois pa-
redões de pedra, os quais têm mar-
cas de recorte e, em suas bases, um
pouco de vegetação. A Figura 4 (c)
mostra a vista panorâmica de um
lago com montanhas ao fundo e,
circundando-o, em primeiro plano,
no lado esquerdo, há a inclinação
da encosta. Ela contém caminhos
de terra que levam do topo até a
(C) borda do lago.

280
UNIDADE 8

As estruturas artificiais de terra, conhecidas como barragens, serão abordadas


na unidade, a seguir, deste livro, por isso, não serão vistas, com detalhes, neste
momento. Por enquanto, o nosso foco ficará naqueles taludes que se encontram
em seu estado natural (encostas) ou que sofreram alguma ação humana para
modificação (corte e/ou aterro em encostas) a qual pode promover a instabili-
dade do talude.
Como o material que compõe os taludes é granular (solo, pedras etc.), eles
podem movimentar-se sob algumas condições específicas, ou seja, uma parte
do talude pode deslocar-se em relação ao maciço, ao longo da superfície de
ruptura. Este é o processo de desmoronamento ou escorregamento denominado
movimento de massa, também conhecido como movimento coletivo de solos
e rocha, o qual se origina de algum tipo de ruptura do maciço terroso (GUIDI-
CINI; NIEBLE, 1984).
Esta ruptura de uma massa de solo é apontada, por Caputo (1988), como
relativa à Capacidade de Carga do solo, à estabilidade dos maciços terrosos e
aos empuxos de terra presentes em Fundações e Obras de Terra. É caracterizada
por deslizamento, escorregamento, ruptura, queda, entre outras movimentações,
sob efeito da gravidade, de descida de solos e rochas, geralmente, potencializadas
pela ação da água presente no maciço.
A Figura 5 ilustra, de forma esquemática e genérica, um processo de ruptura
num talude:

Figura 5 - Exemplos de movimentos de massa com superfície de ruptura / Fonte: adaptada de Gerscovich (2016).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em duas partes, a qual mostra dois perfis de terreno inclinados da
direita superior para a esquerda inferior. O perfil da esquerda mostra um terreno em suave linha curva descendente, com árvores
verticais ao longo de seu comprimento e o texto indicativo “solo”. Embaixo e dentro do perfil do terreno, há uma linha pontilhada, em
semicírculo, no formato de cunha, limitando uma área, a qual contém uma flecha inclinada para a parte inferior esquerda. Mais embaixo
e dentro do perfil, vê-se outra linha de curvas mais acentuadas limitando uma porção que contém formas geométricas arredondadas, a
qual é indicada pelo texto “rocha”. No perfil da direita, é possível ver duas porções de solo: uma mais clara, em formato de cunha, com
o topo coberto por árvores inclinadas à esquerda, e outra porção mais escura, com o mesmo formato da linha de curvas acentuadas
da rocha. Essa porção é identificada pelo texto “superfície de ruptura”, o qual está próximo da junção dos solos.

281
UNICESUMAR

Existem alguns fatores ligados à formação dos pois qualquer alteração da curvatura do talude
próprios maciços que podem ser as causas para bem como as solicitações dinâmicas (sismos ou
os movimentos de massa: a predisposição do ter- vibrações) têm papel considerável na sua instabi-
reno em se modificar, ao longo dos anos, como lidade (GUIDICINE; NIEBLE, 1984).
consequência de fraturas, fendas e de outras falhas Para organizar as possíveis causas dos movi-
formadas durante a sua origem. mentos de massa, Terzaghi (1952) propõe a divi-



são, em três grupos, das ações que promovem a
As causas dos escorregamen- instabilidade de encostas:
tos são “naturais”, pois há • Causas internas: fatores que diminuem
uma tendência da natureza a resistência ao cisalhamento do solo, tais
à peneplanização, no senti- como o aumento da pressão de água in-
do amplo da palavra: os solos tersticial e a redução de coesão dos grãos
das encostas tendem a descer desencadeada por tremores (abalos sísmi-
para atingir um nível de base. cos ou explosões nas vizinhanças) ou pela
[...] E a ação do homem é a súbita absorção de água.
outra causa dos escorrega- • Causas externas: ações que alteram o ní-
mentos, na medida em que vel das tensões ou pressões aplicadas sobre
precisa implantar obras, mas o maciço, como o aumento da inclinação
não toma os devidos cuida- dos taludes, a deposição de materiais na
dos com a natureza (MAS- crista do talude, a execução de construções
SAD, 2010, p. 83). irregulares e os efeitos sísmicos.
• Causas intermediárias: aqueles tipos de
A ação de intempéries, como ventos, chuvas, ações ou fatores que não se enquadram
variação de temperatura e, juntamente, a força em nenhuma das causas anteriores, porém
gravitacional, também podem desencadear o pro- atuam na desestabilização do maciço, como
cesso de instabilidade de taludes (KNAPPETT; a mudança da cobertura vegetal sobre o
CRAIG, 2015). Não podemos desprezar as ações terreno, a liquefação espontânea, o rebai-
de origem humana, tais como as ocupações ou as xamento do nível d’água, a erosão interna
obras de modificação da geometria das encostas, e outras atividades das águas subterrâneas.

A resistência dos maciços terrosos, em face aos agentes deflagradores de movimentos, varia
muito, pois a estabilidade depende da gênese e das características intrínsecas do solo, material
de intensa heterogeneidade. Será que os taludes em rocha seguem esta mesma tendência
ou apresentam mais estabilidade, suportando inclinações mais acentuadas em face às ações
desestabilizantes?

282
UNIDADE 8

Existem, na literatura técnica, diversos sistemas que classificam os


movimentos de massa (terrosos ou rochosos). Dentre os que se
destacam, temos o de Varnes (1978 apud MELO NETO, 2005), que
associa, a cada tipo, determinado conjunto de características, como a
profundidade, o raio de alcance e o potencial destrutivo, entre outros.
A tabela, a seguir, indica a relação, proposta pelo autor, entre a
velocidade e a nomenclatura:

NOMENCLATURA VELOCIDADE
Extremamente rápido > 3 m/s
Muito rápido > 0,3 m/min a 3 m/s Um dos fatores de causa dos
movimentos de massa é a pre-
Rápido > 1,5 m/dia a 0,3 m/min.
sença de água no maciço, seja
Moderado > 1,5 m/mês a 1,5 m/dia
ela advinda da chuva, seja das
Lento > 1,5 m/ano a 1,5 m/mês
ações humanas, ou, até mesmo,
Muito lento 0,06 m/ano a 1,5 m/ano
pela própria variação sazonal do
Extremamente lento < 0,06 m/ano
lençol freático. Para saber mais a
Tabela 1 - Classificação dos movimentos de massa quanto à velocidade respeito da influência da água na
Fonte: adaptada de Varnes (1978 apud MELO NETO, 2005).
estabilidade do talude, conversa-
A classificação definida pela GeoRio (1999) para os movimentos remos sobre a forma de atuação
de massa considera a profundidade da massa deslocada, conforme deste bem natural (processos,
a tabela, a seguir: ações ou tensões) e daremos
exemplos das consequências dis-
NOMENCLATURA PROFUNDIDADE so. Acesse o QR-Code do podcast

Superficial < 1,5 m e expanda o seu conhecimento


com este papo!
Raso 1,5 m a 5 m
Profundo 5 m a 20 m
Muito profundo > 20 m
Tabela 2 - Classificação dos movimentos de massa quanto à profundidade
Fonte: adaptada de GeoRio (1999).

Diversas classificações nacionais e internacionais organizam os


movimentos de massa conforme as suas características, origem,
efeitos e outros fatores. Em nosso livro, daremos destaque às duas
já apresentadas e, também, à classificação proposta por Augus-
to Filho (1992 apud GERSCOVICH, 2016.) que agrupa esses
deslocamentos em quatro grandes classes de processos: rastejos;
deslizamentos; quedas e corridas.
O quadro, a seguir, apresenta esta organização:

283
UNICESUMAR

PROCESSOS CARACTERÍSTICAS DO MOVIMENTO DE MASSA TIPOS PRINCIPAIS


• Vários planos de deslocamento (internos).
ESCOAMENTO
• Velocidades muito baixas (cm/ano) a baixas e Rastejos em rochas
decrescentes com a profundidade. Rastejos em solos
• Movimentos constantes, sazonais ou intermitentes. Rastejos em tálus
• Solo, depósitos, rocha alterada/fraturada. Solifluxão (geleiras)
• Geometria indefinida.
• Poucos planos de deslocamento (externos).
• Velocidades médias (km/h) a altas (m/s).
ESCORREGAMENTO

• Pequenos a grandes volumes de material. Translacional


• Geometria e materiais variáveis. Rotacional
• Planares: solos pouco espessos, solos e rochas com um Translacional-
plano de fraqueza. rotacional
• Circulares: solos espessos homogêneos e rochas muito Em cunha
fraturadas.
• Em cunha: solos e rochas com dois planos de fraqueza.
• Sem planos de deslocamento.
• Movimento tipo queda livre ou em plano inclinado.
• Velocidades muito altas (m/s).
Quedas de blocos
QUEDA

• Material rochoso.
Queda de lascas
• Pequenos e médios volumes de material.
Tombamentos
• Geometria variável: lascas, placas, blocos etc.
• Rolamento de matacão.
• Tombamento.
• Muitas superfícies de deslocamento (internas e externas).
• Movimento semelhante ao de um líquido viscoso. Corridas de detritos
CORRIDAS

• Desenvolvimento ao longo das drenagens. secos


• Velocidades médias e altas. Corridas de detritos
• Mobilização de solo, rocha, detritos e água. saturados
• Grandes volumes de material. Corridas de lama
• Extenso raio de alcance, mesmo em áreas planas.
Quadro 1 - Características, por Augusto Filho (1992), dos principais grupos de movimento de massa
Fonte: adaptado de Augusto Filho (1992 apud GERSCOVICH, 2016).

Muitas vezes, as condições naturais de um terreno, ou, até mesmo, a evolução dos trabalhos
de construção modificam a configuração do maciço terroso e o sistema de equilíbrio das forças
que mantêm o talude estável. A NR-18: Condições de Segurança e Saúde no Trabalho na
Indústria da Construção (BRASIL, 2020, on-line) indica que os trabalhos em taludes instáveis
que são resultado de escavação com profundidade superior a 1,25 m devem ter a estabilidade
garantida por estruturas dimensionadas a este fim.

284
UNIDADE 8

As soluções geotécnicas que garantem a estabilidade do talude serão propostas num


projeto cuja base será todas as informações levantadas no estudo de estabilidade, que
visa a obter as condições de segurança do maciço terroso. A norma técnica NBR 11682:
Estabilidade de Encostas (ABNT, 2009) prescreve requisitos para estudo, projeto, exe-
cução, controle da estabilidade de encostas naturais e, também, dos taludes resultantes de
atividades de corte e/ou aterro em encostas. Dentre os procedimentos básicos, previstos
na norma, que devem ser adotados para a análise, podemos destacar:
• Levantamento de informações: obtenção das informações preliminares para
entender, de forma clara, a situação real do local, por meio da reunião de do-
cumentos e laudos que identifiquem o histórico do solo local, incluindo dados
topográficos, geológicos, geotécnicos, ocupacionais, hidrológicos e ambientais.
• Verificação de restrições legais e ambientais: levantamento de normas, leis,
decretos, planos governamentais e outras formas de legislações nas esferas federais,
estaduais e municipais que são aplicadas naquela região.
• Laudo geotécnico: resultado da vistoria realizada por profissional da Engenharia
Civil, Geotécnica e/ou Geologia que realizará inspeção detalhada para levanta-
mento das informações básicas do local, como:
· Condições de vegetação e drenagem superficial do solo.
· Tipo de relevo, natureza e geometria da encosta.
· Condição de saturação do maciço.
· Tipos possíveis de movimentos de massa.
· Outras informações sobre o maciço que tenham influência sobre a estabilidade
da encosta.

Título: Estabilidade de Taludes


Autora: Denise M. S. Gerscovich
Editora: Oficina de Textos
Sinopse: este livro apresenta uma discussão sobre os
fatores a serem considerados na estabilidade de taludes
para explicar o estudo da Engenharia Geotécnica. A auto-
ra aborda os movimentos de massa em taludes naturais
ou artificiais; conceitos fundamentais no estudo de esta-
bilidade, como tensão-deformação e resistência ao cisalhamento; concepção
de projeto e os diversos métodos de estabilidade para diferentes superfícies
de ruptura, inclusive, com exercícios resolvidos.
Comentário: a obra está disponível na Biblioteca Virtual.

285
UNICESUMAR

Segundo Guidicini e Nieble (1984), a avaliação da estabilidade


de um talude utiliza métodos que representam um conjun-
to de procedimentos para determinar um índice que permite
quantificar o quão próximo da ruptura ele se encontra. Esses
métodos podem ser divididos em três grupos: métodos analí-
ticos (utilizam modelos matemáticos que relacionam tensão e
deformação e se baseiam no Equilíbrio-Limite); métodos ex-
perimentais (modelos físicos construídos em diferentes escalas
para simulações); métodos observacionais (baseiam-se em
rupturas anteriores, por meio de retroanálise com o acúmulo
de experiências).
Os Métodos de Equilíbrio-Limite partem dos seguintes
pressupostos:



a) o solo se comporta como material rígido-
-plástico, isto é, rompe-se bruscamente sem se
deformar;
b) as equações de equilíbrio estático são vá-
lidas até a iminência da ruptura, quando, na
realidade, o processo é dinâmico;
c) o coeficiente de segurança (F) é constante
ao longo da linha de ruptura, isto é, ignoram-
-se eventuais fenômenos de ruptura progres-
siva (MASSAD, 2010, p. 64).

A análise do Equilíbrio-Limite proposta para a situação de es-


corregamentos em taludes considera que as forças as quais indu-
zem à ruptura são balanceadas pelas forças resistentes (FIORI,
2015). Pressuporemos, então, uma massa de solo num talude
sobre uma superfície de deslizamento inclinada, semelhante a
um bloco localizado sobre um plano inclinado, onde atua uma
força P. Podemos visualizar esta situação, de forma simplificada,
considerando um bloco apoiado sobre um plano inclinado.
A figura, a seguir, ilustra esta simplificação, para o talude,
com as forças atuantes decompostas:

286
UNIDADE 8

P R
a 0

P.
cos
0

(0
)
P 0)
(
P sen
0 P.
0

Figura 6 - Decomposição da força P para bloco genérico apoiado sobre plano inclinado / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em três partes, as quais mostram o mesmo perfil
de terreno inclinado, na parte superior direita, descendendo para a parte inferior esquerda. No perfil superior
esquerdo, vê-se um talude limitado por linha pontilhada e dois ângulos representando, por meio da letra alfa,
a inclinação do talude e, por meio da letra teta, a inclinação da linha pontilhada, com uma flecha indicando
força P, para baixo, no centro da área recortada do talude. No perfil inferior esquerdo, a linha pontilhada limita
o terreno e o seu ângulo de inclinação, indicado pela letra teta, acima da linha pontilhada. No centro, vê-se
um quadrado alinhado com a inclinação, o qual mostra uma flecha indicando, para baixo, a força P. O perfil
da direita mostra o quadrado alinhado à inclinação de ângulo teta, em tamanho maior, com a flecha de força
P para baixo, a flecha de força R inclinada para a superior direita, a flecha da componente P cosseno de teta
inclinada para a inferior direita, com a sua ponta conectada à flecha da componente P seno de teta, flecha esta
inclinada para a inferior esquerda, a qual está conectada à ponta da flecha da força P, limitando um triângulo.

O problema de movimentos de massa em talude foi avaliado por Culmann (1875


apud FERNANDES, 2014), o qual propôs uma solução nomeada como Método
Culmann. Este “baseia-se na hipótese de que a ruptura ocorre ao longo de um plano
que passa pelo pé do talude” (MASSAD, 2010, p. 96). O bloco ilustrado na figura
anterior é solicitado por seu Peso Próprio (P), quando apoiado sobre um plano
inclinado, cuja componente tangencial ( P ⋅ sen(q ) ) tende a causar o movimento
dele, compondo o que chamamos de Esforço Instabilizador (EI).
Supondo que não haja coesão entre o bloco e a superfície de apoio (c = 0), o Es-
forço Resistente (ER) à movimentação será igual à Força de Atrito ( FAtrito ) que se
desenvolve entre o conjunto bloco-superfície. Essa força é determinada pelo produto
entre a Força Normal (N) e a tangente do Ângulo de Atrito Interno do Solo ( f ),
como mostrado na equação, a seguir:

ER  FAtrito  N  tg  φ    P  cos(θ )   tg  φ 

287
UNICESUMAR

já para o caso em que existe, entre o bloco e a superfície de apoio (c ≠ 0), o Esforço
Resistente (ER) à movimentação será igual à soma entre a Força de Atrito ( FAtrito
) e a Força de Coesão ( FCoesão ). A determinação da resistência pelo atrito é feita
como no caso anterior, já a resistência pela coesão é calculada multiplicando a
Coesão (c) pela Área (A) de contato do sistema bloco-superfície. A equação, a
seguir, mostra o cálculo para este caso:

ER  FAtrito  FCoesão   P  cos(θ )  tg  φ     c  A 

verificamos a possibilidade de uma massa ou volume de solo romper do talude,


ou não, utilizando o Fator de Segurança (FS) que representa a razão entre os
Esforços Resistentes (ER) pelos Esforços Instabilizadores (EI).
A equação, a seguir, apresenta as considerações à situação proposta:

ER
FS =
EI
esta equação indica que, para atingir a condição de Equilíbrio-Limite, com zero
coesão e solo seco, o ângulo de inclinação do plano deverá ser igual ao ângulo
do atrito interno do solo (GUIDICINI; NIEBLE, 1984).
O quadro, a seguir, apresenta as indicações de análise da situação, de acordo
com o valor do Fator de Segurança:

FATOR DE CONDIÇÃO DO TALUDE


SEGURANÇA
FS < 1 Talude instável. Nestas condições, ocorrerá a ruptura do talude.
Equilíbrio-Limite. Condição limite de estabilidade associada à imi-
FS = 1
nência de ruptura.
Condição estável. Quanto mais próximo de 1 for o FS, mais frágil será
a condição de estabilidade do talude. Quanto maior o FS, menores
FS > 1 serão as possibilidades de o talude sofrer ruptura. Em casos de
áreas muito povoadas, a GeoRio recomenda a adoção de FS =1,5
para projetos de taludes.
Quadro 2 - Condições do Fator de Segurança / Fonte: adaptado de Fiori (2015).

Podemos entender, porém, que nem sempre teremos uma situação cujo talude
ou massa de solo a ser analisada encontra-se em situação seca. Nestes casos, a
analogia com o bloco sobre plano inclinado, ainda, vale, acrescentando-se, então,
as considerações referentes à água presente no solo.
Em teoria, quando a massa de solo se desloca, gera uma fenda no maciço provocada
pelo esforço de tração. Dentro dessa fenda, pode acumular água, o que acrescenta
uma força adicional (v) nos Esforços Instabilizadores. Como o maciço contém água,

288
UNIDADE 8

a supressão ou poropressão reduzirá a intensidade da Força de Atrito. Dessa forma,


para o cálculo dos esforços, deverão ser inclusas as contribuições da pressão da água
na fenda e, também, da subpressão natural (poropressão) (MASSAD, 2010).
A figura, a seguir, ilustra essa situação:

Figura 7 - Decomposição da força P para bloco genérico apoiado sobre plano inclinado, considerando a
presença de água no maciço de solo / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração que mostra uma linha inclinada, em ângulo teta, com
a horizontal; um quadrilátero de cor marrom no centro, alinhado com a inclinação, seguido de um quadrilátero
de cor azul indicado pela expressão “fenda de tração preenchida por água”, também, alinhado e seguido de
outro quadrilátero marrom, na porção superior direita. O quadrilátero marrom do centro contém a flecha
de força P, para baixo, assim como contém a flecha de força R inclinada para a superior direita, a flecha da
componente P cosseno de teta inclinada para a inferior direita, com a sua ponta conectada à flecha da com-
ponente P seno de teta, flecha essa inclinada para a inferior esquerda e conectada à ponta da flecha da força
P, assim, todas essas flechas limitam um triângulo. O quadrilátero azul contém uma flecha apontando para a
inferior esquerda, na posição acima da linha inclinada da força V, perpendicular a uma flecha apontando para
a superior esquerda, na posição abaixo da linha inclinada.

O bloco ilustrado, na figura anterior, é solicitado por seu Peso Próprio (P), quando
na sua componente tangencial ( P ⋅ sen(q ) ), somada à pressão exercida pela água
que preenche a fenda (v), compondo os Esforços Instabilizadores (EI), conforme a
equação:

289
UNICESUMAR

EI   P  sen(q )   v

Com água no maciço, considerando uma situação na qual não haja coesão entre
a massa de solo e a superfície de apoio (c = 0), o Esforço Resistente (ER) à mo-
vimentação será dado pela resistência de atrito, considerando o alívio de tensão
provocado pela água. Essa resistência é determinada pelo produto da tangente do
Ângulo de Atrito do Solo ( f ) e o resultado da diferença entre a Força de Atrito (
FAtrito ) e a Poropressão (u), como na equação, a seguir:

ER   FAtrito  u   tg  φ    P  cos(θ )   u  tg  φ 

na presença de água, se existir coesão entre o bloco e a superfície de apoio (c ≠ 0), o


Esforço Resistente (ER) à movimentação será a combinação da resistência por atri-
to (como no caso anterior) e a resistência por coesão ( FCoesão ), sendo esta última
o produto entre a Coesão (c) pela Área (A) de contato do sistema bloco-superfície.
A equação, a seguir, mostra o cálculo para este caso:

ER   FAtrito  u   tg  φ    FCoesão

 
ER   P  cos(θ )   u   tg  φ    c  A 

o cálculo do Fator de Segurança segue a mesma razão entre os esforços de resistên-


cia e instabilidade. Podemos simplificar esse cálculo numa única equação genérica,
conforme segue:

FS 
ER

 
 P  cos(θ )   u   tg  φ    c  A 
EI  P  sen(θ )  v

A aplicação do Método de Culmann na determi-


nação do Fator de Segurança de um maciço pode
ser melhor entendida por meio de uma aplicação
prática que demonstre o cálculo. Pensando nisso,
elaborei uma Pílula de Aprendizagem que mostra
um exemplo do cálculo destinado à avaliação de
uma encosta cuja geometria foi alterada para a
construção de estradas. Acesse o vídeo explicativo
para ver esta demonstração!

290
UNIDADE 8

Em situações práticas, taludes naturais, como os de encostas, terão grande extensão, reduzida espes-
sura da camada de solo e perfis do solo quase homogêneos. Estes casos são considerados, para fins de
cálculo, Taludes de Extensão Ilimitada (DUNN; ANDERSON; KIEFER, 1980). Para tais cenários,
faz-se uso do Método do Talude Infinito, o qual pode ser visto para a situação drenada (solo seco)
e não drenada (solo saturado ou com fluxo de água).
No caso dessa situação do Talude De Extensão Ilimitada não conter nenhum fluxo de água, ou seja,
os grãos de solo apresentarem-se secos, para o cálculo dos esforços atuando nas massas de solo,
consideremos um prisma de terra de largura b, altura z e comprimento unitário que estará submetido a
quatro forças: Peso Próprio da coluna de terra (P); Forças E1 e E2 que atuam nas faces laterais do prisma
considerado, sendo iguais e contrárias, paralelas ao talude; reação ao Peso Próprio da coluna de terra (RP).
A figura, a seguir, ilustra este sistema de esforços num talude de terra:

Figura 8 - Forças atuantes em um talude com uma camada de solo de profundidade z / Fonte: Fiori (2015, p. 65).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração, em preto e branco, a qual contém uma linha horizontal com ângulo indicado
pela letra “i”, na porção inferior esquerda, onde uma linha inclinada, ascendente à porção superior direita, é indicada pelo termo “plano
potencial de deslizamento”. Paralela e acima da linha inclinada, outra linha, cuja distância vertical é indicada pela letra “z”, limita uma
faixa que contém, no centro, um quadrilátero limitado, pelas duas linhas, na porção superior e inferior. O quadrilátero contém quatro
flechas, as quais representam as forças de E1 ascendente para a direita, E2 descendente para a esquerda, RP vertical para cima e P
vertical para baixo. A força P é decomposta em esforço sigma N, em ângulo i com a força, esforço sigma S fechando o triângulo de
decomposição e esforço sigma V no lado inferior do quadrilátero. O esforço tau é indicado por flecha ascendente, para a direita, em
posição abaixo da linha do plano potencial de deslizamento. A largura do quadrilátero medida na horizontal é indicada pela letra “b” e
a sua largura na inclinação superior é indicada por “b dividido por cosseno de i”.

291
UNICESUMAR

O quadro, a seguir, apresenta as fórmulas para todos os parâmetros de cálculo apresentados na figura.

DESCRIÇÃO/
PARÂMETRO FÓRMULA
CONDIÇÃO

P
σV γ nat z cos θ Pressão vertical devido
Tensão A ao peso próprio (P)
Vertical Em que: atuando na base do
talude.
γ nat = peso específico natural do solo.
Pressão componente
Tensão
σn  σV  cos  θ   γ nat  z  cos  θ  
`2
normal da Tensão
Normal
Vertical.
Pressão componente
Tensão σ s  σV  sen  θ   γ nat  z  cos  θ   sen  θ  tangencial da Tensão
Tangencial
Vertical.
Tensão de resistência ao cisalhamento do solo que resulta da força de atrito e atua
em sentido contrário à Tensão Tangencial.
2
τ c σ n tg φ γ nat z cos θ tg φ

Resistência ao Em que: Para a condição de c = 0.


Cisalhamento φ= ângulo de atrito interno do solo;
c = coesão do solo.

 2

τ  c  σn  tg  φ    c  γ nat  z  cos  θ    tg  φ  Para a condição de c ≠ 0.

Quadro 3 - Formulações para parâmetros das forças atuantes em um talude com uma camada de solo de profundidade z.
Fonte: a autora.

Utilizando o Fator de Segurança (FS) que representa a razão entre a tensão de Resistência ao Cisalha-
mento ( t ) pela Tensão Tangencial ( s s ), verificamos a possibilidade de uma massa ou um volume de
solo romper do talude ilimitado.
A equação, a seguir, apresenta as considerações à situação proposta:

 tg  φ 
Para c  0 temos: FS 
τ  tg  θ 
FS  
σs   2c  tg  φ 
 Para c  0 temos: FS   
  γ nat  z  sen  2θ   tg  θ 

292
UNIDADE 8

agora, consideramos um Talude de Extensão Ilimitada, onde existe uma rede de


filtração de água no solo, cujas linhas de fluxo formam um ângulo com a horizontal
e são paralelas à superfície do próprio talude. Temos, aqui, uma situação na qual
consideramos o solo saturado e, em teoria, imaginamos as ações no maciço, con-
forme a figura, a seguir:

Figura 9 - Forças atuantes em um talude com fluxo de água com Força de Percolação (Fp).
Fonte: Fiori (2015, p. 67).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração, em preto, branco e cinza, dividida em três partes. A
parte indicada pela letra “A”, à esquerda, apresenta uma superfície inclinada com indicação do ângulo “i”, com a
horizontal na porção inferior, acima da superfície, é apresentada uma faixa paralela à superfície cuja espessura
é indicada pela letra “Z”, inclinada, contendo, em seu interior, linhas de fluxo representadas por flechas descen-
dentes para a esquerda e um quadrilátero cinza. O quadrilátero e, também, as linhas que limitam a faixa sobre a
superfície inclinada contêm diversas forças e esforços indicados por flechas em variadas direções bem como as co-
tas de largura e altura relativas ao ângulo com a horizontal. A parte indicada pela letra “B” contém a decomposição
de uma força N em força FA com ângulo fi. A parte indicada pela letra “C” mostra, em menor escala e simplificado,
o quadrilátero cinza sujeito a dois esforços descendentes para a esquerda: sigma P, sigma S e ascendente tau.

Para entender o cálculo e a determinação dos parâmetros apresentados na figura,


temos o quadro, a seguir, apresentando as fórmulas:

293
UNICESUMAR

DESCRIÇÃO/
PARÂMETRO FÓRMULA
CONDIÇÃO

2
u γ a AC γ a z cos θ
Em que: Pressão da
água que atua,
Tensão Neutra γ a = peso específico da águaa; perpendicularmente, à
base do prisma do solo
AC = altura atôa qual subiria a água e a uma profundidade z.
em ômetro instalado no ponto A.

Pe Psat U γ sat b z γa b z
Pe γ sub b z Peso Efetivo do solo
Em que: saturado que atua
na base do prisma,
Peso Efetivo do Psat = peso próprio do solo saturado. considerado de
solo U = empuxo identificado pelo peso. largura b, e com
a profundidade z,
próprio da coluna de água no prisma. equivalente ao Empuxo
γ sat = peso específico do solo saturado. de Arquimedes.
γ sub = peso específico do solo submerso.

Pe  γ sub  b  z  Pressão efetiva vertical


Tensão Efetiva
σev    γ sub  z  cos  θ  exercida pela Força
A  b 
Vertical   Peso (Pe) do solo, na
 cos  θ   base do talude.

Pressão componente
Tensão Efetiva 2
Normal σen  σev  cos  θ   γ sub  z  cos  θ   normal da Tensão
Efetiva Vertical.

Pressão componente
Tensão Efetiva σes  σev  sen  θ   γ sub  z  cos  θ   sen  θ  tangencial da Tensão
Tangencial
Efetiva Vertical.

Fp γ a b z sen θ
σp
A b
cos θ
Pressão componente
Tensão de
tangencial da Tensão
Percolação σp γ a z cos θ sen θ Efetiva Vertical.
Em que:
Fp = força de pe ção distribuída no
volume de solo que será percolado pela água;

294
UNIDADE 8

DESCRIÇÃO/
PARÂMETRO FÓRMULA
CONDIÇÃO
Tensão de Resistência ao Cisalhamento do solo que resulta da força de atrito e
atua em sentido contrário à Tensão Efetiva Normal.
2
τ c σ en tg φ γ sub z cos θ tg φ

Resistência ao Em que: Para a condição de c = 0.


Cisalhamento φ= ângullo de atrito interno do solo;
c = coesão do solo.

 2

τ  c  σen  tg  φ    c  γ sub  z  cos  θ    tg  φ  Para a condição de c ≠ 0.

Quadro 4 - Formulações para parâmetros das forças atuantes em um talude ilimitado com água infiltrada no solo / Fonte: a autora.

Nesta situação, o Fator de Segurança (FS) é dado pela razão entre a Tensão de Resistência ao Cisalha-
mento ( t ) e a soma da Tensão de Percolação ( s p ) com a Tensão Efetiva Tangencial ( ses ), sendo estas
últimas favoráveis ao movimento.
A equação, a seguir, apresenta as considerações à situação proposta:

 γ a  tg  φ 

Para c  0 temos: FS   1  
τ
 γ sat  tg  θ 
FS  
σ p  σes
 2c   γ sub  tg  φ  

Para c  0 temos: FS   γ  z  sen  2θ    γ  tg  θ 
 sat   sat 

O Método de Talude Infinito para determinar o Fator de Segurança


de um maciço, considerando um Talude de Extensão Ilimitada, pode
ser melhor entendido por meio de uma aplicação prática que de-
monstre o cálculo. Pensando nisso, a elaborei uma Pílula de Apren-
dizagem que mostra um exemplo do cálculo à avaliação de uma en-
costa, sob duas condições: em um bloco composto por rocha/solo
que se encontra instável, ou seja, sem água, e com uma trinca sa-
turada entre o maciço e o bloco. Acesse o vídeo explicativo para ver
esta demonstração!

É preciso ter em mente que, dentre os tipos de movimentos de massa vistos, apenas aqueles denomi-
nados Escorregamentos Verdadeiros podem ser submetidos a análises estáticas do tipo Métodos de
Equilíbrio-Limite (MASSAD, 2010). Isso ocorre porque, neste tipo de movimento, os deslizamentos
do solo ocorrem ao longo de superfícies de ruptura bem definidas (cilíndricas ou planares). As causas
deste fenômeno são várias, porém podemos citar as principais:

295
UNICESUMAR

• Alteração da geometria: cortes, escavações, retaludamentos, aumento da inclinação do talude.


• Sobrecarga no topo: construção de obras ou aterros sobre o plano mais alto do talude.
• Infiltração de água: a penetração da água da chuva ou de algum fluxo artificial eleva as pressões
neutras no solo e diminui os parâmetros de resistência, como a coesão.
• Desmatamento: a destruição da vegetação também destrói um sistema natural de estabilização
das encostas que auxilia na absorção de parte da água da chuva, o seu escoamento e, também,
o reforço da resistência ao cisalhamento (reforço que é promovido pelas raízes das plantas).

É preciso ter em mente que a ruptura de uma massa de solo em talude nem sempre apresenta uma super-
fície planar. Como no caso dos Escorregamentos Verdadeiros, há casos cuja geometria de cisalhamento
do maciço apresenta uma Superfície Circular. Para esses casos, a expressão a qual permite o cálculo do
Fator de Segurança associado ao arco de circunferência que limitará a nossa Superfície de Ruptura é
analisado por meio de outros métodos, como o Método de Fellenius e o Método de Bishop Simplificado.

Título: Fundamentos de Mecânica dos Solos e das Rochas: Aplicação na


Estabilidade de Taludes
Autor: Alberto Pio Fiori
Editora: Oficina de Textos
Sinopse: a obra apresenta seções sobre a análise da estabilidade de talu-
des finitos e infinitos, o papel da intensidade das chuvas e os recorrentes
escorregamentos. Ilustrando, por meio de diversos exercícios e casos de
estudo de taludes, este livro oferece resoluções, passo a passo, de como
aplicar os principais conceitos da Mecânica dos Solos e das Rochas e, também, das técnicas de
análise teóricas e empíricas.
Comentário: para conhecer, em detalhes, os cálculos e as situações de aplicação do Método de
Fellenius e do Método de Bishop, recomendo este livro, disponível na Biblioteca Virtual.

A garantia de estabilidade de um talude ou de uma encosta só pode ser verificada por meio de estudo
de estabilidade junto a proposições (quando necessário) de soluções geotécnicas. É trabalho do(a)
profissional de Engenharia realizar a análise de estabilidade de um talude para correlacionar a Super-
fície de Ruptura e o sistema de forças existentes, determinando os prováveis movimentos de massa e
propondo uma solução que faça a estabilização do maciço.
Gerscovich (2016, p. 35) define que o estudo de estabilidade do talude siga uma metodologia
básica, listada, nos seguintes tópicos, pela autora:

296
UNIDADE 8


• definição da topografia do talude;
• definição das sobrecargas a serem aplicadas sobre o talude, caso existam;
• execução das investigações de campo para definir a estratigrafia e identificar os
elementos estruturais eventualmente enterrados na massa e os níveis freáticos;
• definição das condições críticas do talude; considerando diversos momentos da
vida útil da obra;
• definição dos locais de extração de amostra indeformada;
• realização de ensaios de caracterização, resistência ao cisalhamento e
deformabilidade (para estudos de análise de tensões);
• análise dos resultados dos ensaios para definir os parâmetros de projeto;
• adoção de métodos de dimensionamento para a obtenção do fator de segurança
ou das tensões e deformações.

Sabemos que a qualidade de um projeto ou estudo, qualquer que seja, quando lida com o
material solo (caso dos taludes) depende da confiabilidade das Investigações Geotécnicas de
campo e laboratório realizadas e aliadas à capacidade de interpretação dos resultados expe-
rimentais do(a) projetista. Aprendemos isso nas unidades iniciais deste livro, para o caso das
Fundações, e segue como verdade para as Obras de Terra.

Uma obra, seja no pé, seja no topo, colocará em risco a estabilidade de uma encosta e, por isso, é neces-
sário pensar em soluções de estabilização do talude (MASSAD, 2010). Porém, para que essas soluções
possibilitem condições de estabilidade verdadeiras, a obra de estabilização adotada deve tratar o talude
como um todo, muitas vezes, combinando, em sua encosta, mais de um tipo de técnica.


Obras pontuais, mesmo aquelas que utilizam muros de arrimo, podem perder sua efi-
cácia em pouco tempo, chegando até a serem destruídas, pela falta de harmonia com o
restante da área. Focos de erosão ou infiltração na descontinuidade de obra/solo surgem
rapidamente após a sua conclusão (FIDEM, 2004, p. 147).

Dentro das Obras de Terra, temos diversas técnicas, agrupadas em categorias, que promovem a esta-
bilidade de taludes, conforme podemos ver no quadro, a seguir:

297
UNICESUMAR

GRUPOS SUBGRUPOS OBRAS DE ESTABILIZAÇÃO


Cortes Taludes contínuo e escalonado
Retaludamento Aterro Carga de fase de talude (muro de
compactado terra)
Gramíneas
Grama armada com geosintético
Materiais naturais
Vegetação arbórea (mata)
Selagem de fendas com solo argiloso
Canaleta de borda, de pé e de descida

OBRAS SEM Cimentado


ESTRUTURA DE Proteção Geomanta e gramíneas
CONTENÇÃO superficial Geocélula e solo compactado
Tela argamassada
Materiais artificiais
Pano de pedra ou lajota
Alvenaria armada
Asfalto ou polietileno
Lonas sintéticas (PVC e outros
materiais)
Estabilização de Retenção Tela metálica e tirante
blocos Remoção Desmonte
Solo cimento ensacado (sacos de fibra
Solo cimento
têxtil ou geosintética)
Pedra seca (sem rejunte)
Pedra rachão
Alvenaria de pedra (com rejunte)
Concreto armado
Muro de arrimo Concreto
Concreto ciclópico
Gabião Gabião-caixa
OBRAS COM
ESTRUTURA DE Bloco de concreto Bloco de concreto articulado (pré-
CONTENÇÃO articulado moldado, encaixado sem rejunte)
Solo-Pneu Solo-pneu
Placa pré-moldada de concreto,
Terra armada
ancoragem metálica ou geosintética
Outras soluções Placa e montante de concreto,
Micro-ancoragem
de contenção ancoragem metálica ou geosintética
Solo compactado Geosintético
e reforçado Paramento de pré-moldado

OBRAS DE Materiais naturais Barreira vegetal


Contenção
PROTEÇÃO
de massas
PARA MASSAS
movimentadas Materiais artificiais Muro de espera
MOVIMENTADAS

Quadro 5 - Tipos de obras de estabilização de encostas / Fonte: adaptado de FIDEM (2004).

298
UNIDADE 8

Dentre os tipos de obras para estabilização de encostas, estão aqueles que possuem e,
também, os que não possuem estrutura de contenção. “Contenção é todo elemento ou
estrutura destinado a contrapor-se a empuxos ou tensões geradas em maciço cuja con-
dição de equilíbrio foi alterada por algum tipo de escavação ou aterro” (MILITITSKY
et al., 2019, p. 499).
Quando utilizamos, para a estabilização das encostas, técnicas ou procedimentos sem
estruturas de contenção, realizamos procedimentos ligados à proteção dos taludes após
cortes e escavações, como:
• Drenagem: obras que visam a diminuir a infiltração das águas pluviais, por meio
da captação e escoamento delas, para que a sua penetração no maciço não reduza
a resistência do talude. Temos tipos de drenagem que fazem a captação e o escoa-
mento das águas de forma superficial, como a combinação de canaletas e bermas,
a qual tem baixo custo e não exige mão de obra especializada (MASSAD, 2010).
Outro exemplo é a drenagem profunda que promove o rebaixamento do nível
freático, aumentando a pressão neutra e a estabilidade do talude, por meio de dre-
nos profundos, porém requer execução de sondagens e mão de obra especializada.
• Proteção superficial: com a função de reduzir o volume de água infiltrada e,
assim, aumentar o escoamento superficial, esta obra, utilizando materiais naturais
ou artificiais, promove a cobertura da face do talude que protegerá a superfície
(FIDEM, 2004). Fazem parte desta obra de estabilização o plantio de gramíneas
e de vegetação arbórea (arbustos e árvores), a geomanta, a geocélula, a tela arga-
massada, a cobertura de concreto projetado ou betume (asfalto), entre muitos
outros. Porém este tipo de obra necessita de um sistema de drenagem para que a
infiltração e o escoamento de água não degradem a proteção e, consequentemente,
inicie processos erosivos no talude.
• Retaludamento: são intervenções na encosta que modificam a geometria do
talude, por meio de cortes nas partes mais elevadas, regularizando a superfície em
um formato mais estável do talude (MASSAD, 2010). Quando realizamos este tipo
de obra, a face do talude fica fragilizada porque estará exposta devido aos novos
cortes, por isso, é indispensável a proteção superficial (revestimento natural ou
artificial) associada a um sistema de drenagem.

Durante as pesquisas para a escrita de Região Metropolitana do Recife. Morros – Manual


de Ocupação, pela Fundação de Desenvolvimento Municipal (FIDEM), foi entrevistada
a população residente em regiões de morros, sobre “o que acham que segura as encostas”
(FIDEM, 2004, p.162), e a resposta é quase unânime: muros de arrimo. Isso representa o
quanto a noção de estabilidade e segurança para usuários é muito mais reforçada quan-
do são utilizadas obras de estabilização com estruturas de contenção, contudo elas não
precisam ser a primeira opção nas situações de redução e prevenção de riscos em taludes.

299
UNICESUMAR

A seguir, apresentaremos definições iniciais de alguns dos tipos de estruturas de es-


tabilização para encostas com os elementos de contenção mais utilizados:
• Muros de arrimo: paredes verticais ou quase verticais apoiadas sobre uma
fundação (rasa ou profunda) que compõem uma barreira encostada no talude
e podem ser construídas de diversos materiais (solo-cimento, pedras, gabião,
concreto, solo-pneu) (MILITITSKY et al., 2019). Dividem-se em subgrupos,
de acordo com o seu sistema estrutural de resistência, em: muros de gravidade,
muros mistos e muros de contrafortes.
• Cortinas: contenções que se ancoram ou se apoiam em outras estruturas e, temos,
como exemplo, as cortinas atirantadas. Aquelas que fazem uso de ancoragem por
tirantes têm as cargas necessárias determinadas por equilíbrio estático, por meio
de métodos como o de Culmann e o de Bishop Simplificado (MASSAD, 2010).
• Reforço do terreno: são obras que introduzem, no solo, elementos com a fina-
lidade de aumentar a sua resistência e suportar as tensões geradas por desnível
abrupto do talude. Como exemplos, temos: o solo reforçado, a terra armada e o
solo grampeado (MILITITSKY et al., 2019).

Título: Região Metropolitana do Recife. Morros –


Manual de Ocupação.
Autor: Fundação de Desenvolvimento Municipal
(FIDEM)
Editora: Ensol
Sinopse: a obra apresenta uma nova forma de
abordagem para os morros urbanos, tanto no que
se refere às soluções técnicas para a estabilidade das encostas ocupadas
quanto na perspectiva da ocupação segura de novas áreas, por iniciativa do
setor privado e do poder público, desmistificando os morros como espaços
problemáticos e inviáveis para o crescimento das cidades e realçando as
suas potencialidades paisagísticas e de conforto ambiental.
Comentário: uma obra de referência para o aprofundamento das infor-
mações a respeito de vários tipos de obras de estabilização de encostas foi
produzida pela Fundação de Desenvolvimento Municipal (FIDEM), está dis-
ponível para download na biblioteca virtual da FIDEM, por meio do QR-Code.

300
UNIDADE 8

Os problemas relacionados à ruptura de solos en-


volvem o equilíbrio de forças que atuam sobre um
terreno, considerando as seguintes forças: peso
próprio, inércia, vibrações, tensões intrínsecas e
extrínsecas ao maciço terroso. Como professio-
nal de Engenharia Civil, é preciso entender não,
apenas, de que modo apoiar estruturas sobre o
solo ou a rocha, caso dos projetos de fundações,
mas também intervir, de forma segura, na paisa-
gem natural. É neste ponto que os conhecimentos
relacionados às Obras de Terra, as quais, por sua
vez, tratam de taludes (encostas ou artificiais),
fazem-se necessários.
Os problemas relacionados à instabilidade de
taludes têm afetado muito a população brasileira,
uma vez que o território nacional possui um rele-
vo heterogêneo, com cidades instaladas próximas,
ou, até mesmo, sobre encostas naturais. Basta lem-
brarmos das notícias a respeito de deslizamentos,
desmoronamentos, quedas de barreiras e outras
formas de catástrofes nas maiores cidades, ocasio-
nadas por chuva intensa ou por ausência de um
projeto seguro de ocupação de áreas inclinadas.
Durante a prática profissional, você receberá
o chamado para atuar, como projetista, em obras
que, de alguma forma, realizarão ou influenciarão
uma alteração sobre maciços terrosos ou rocho-
sos, criando riscos durante a fase da obra e, tam-
bém, posteriormente, durante a utilização dela.
É papel do(a) profissional de Engenharia prever
a estabilidade de taludes bem como propor so-
luções geotécnicas que promovam a segurança
durante e após a obra, realizando um raciocínio
crítico e técnico, nestas situações, acerca dos pro-
blemas reais. Somente, assim, garantiremos um
dos objetivos principais da prática profissional
da Engenharia: a segurança.

301
Nesta unidade, conhecemos e exploramos um dos elementos mais importantes das Obras de
Terra: as estruturas conhecidas como taludes. Entendemos as suas principais classificações, os
exemplos, como eles se relacionam com os fenômenos conhecidos por movimentos de massa
e o que está envolvido na previsão de sua estabilidade. Para relembrar os principais conceitos
envolvidos nestes tópicos, realizaremos uma atividade de Arquivologia Mental.
A seguir, estão embaralhadas definições, termos técnicos, nomes, procedimentos, fenômenos,
exemplos e, até mesmo, conceitos relacionados aos tópicos desta unidade. Nesta atividade, você
analisará cada uma delas e as anotará no espaço adequado do organograma de taludes. Caso
perceba que estão faltando termos ou informações que fazem parte das seções presentes no
organograma, pesquise-os no material de estudo e complete com a informação.

Avaliação que utiliza métodos que


Processo de desmoronamento ou
representam um conjunto de procedimentos
escorregamento de parte do talude que se
para determinar um índice que permite
desloca em relação ao maciço, ao longo de uma
quantificar o quão próximo da ruptura ele se
superfície de ruptura.
encontra.
Formado, artificialmente, pela ação humana, Formado, naturalmente, pela natureza, pela
a qual modifica o terreno natural e constrói, ação geológica ou das intempéries (chuva, sol,
artificialmente, uma inclinação, por meio de corte vento etc.) Ao longo de muitos anos e pelo
ou aterro em solo ou rocha. desenvolvimento do formato de relevo.
SUPERFÍCIE DE TERRAÇOS DE
LATERAL DE COLINA CORRIDAS
RUPTURA PLANTAÇÃO DE ARROZ
PÉ FACE DE ESCARPA LATERAIS DE ESTRADAS QUEDAS
ESTABILIZAÇÃO DE
NBR 11682 TALUDE FINITO RASTEJOS
BLOCOS
PROTEÇÃO
LAUDO GEOTÉNICO RETALUDAMENTO SOLIFLUXÃO
SUPERFICIAL
INCLINAÇÃO INCLINAÇÃO DE SERRA ESCAVAÇÃO DE VALA TOMBAMENTOS
ESFORÇOS
FATOR DE SEGURANÇA TERRA ARMADA MURO DE ARRIMO
INSTABILIZADORES
LATERAL DE
FACE MINAS A CÉU ABERTO ESCORREGAMENTO
MONTANHA
ESFORÇOS
EQUILÍBRIO-LIMITE SOLO REFORÇADO TALUDE INFINITO
RESISTENTES
BARRAGENS DE TERRA
CRISTA ENCOSTA NATURAL ESCOAMENTO
OU ROCHAS

302
303
1. Os Métodos de Equilíbrio-Limite consideram uma massa do solo, tomada como corpo
rígido-plástico, na iminência de entrar em processo de escorregamento e admitindo,
como válidas, as equações de equilíbrio da Estática. Daí a denominação geral “Méto-
dos de Equilíbrio-Limite”. Sobre as hipóteses básicas para esses métodos, assinale a
alternativa correta que corresponde a elas:
a) O solo se comporta como material rígido-plástico, isto é, deforma-se, longamente, até
o seu rompimento.
b) As equações de equilíbrio da Estática não são válidas até a iminência da ruptura, pois
o processo é dinâmico.
c) O fator ou coeficiente de segurança (FS) é variável ao longo da linha de ruptura.
d) As equações de equilíbrio da Dinâmica são válidas até a iminência da ruptura, pois o
processo é dinâmico.
e) O solo se comporta como material rígido-plástico, isto é, rompe-se, bruscamente, sem
se deformar.

2. Dentre as catástrofes que ocorrem em taludes instáveis, podemos citar: escorrega-


mentos; tombamentos; solifluxão; rastejos e fluxo de detritos. Comparando o escor-
regamento com o tombamento, em relação às diferenças entre estes dois tipos de
movimentos de massa, assinale a alternativa correta:
a) A velocidade dos escorregamentos é muito baixa, da ordem de centímetros por ano
(cm/ano), enquanto a velocidade dos tombamentos é muito alta, da ordem de metros
por segundo (m/s).
b) O movimento dos escorregamentos é semelhante ao de um líquido viscoso escoando
sobre uma superfície, enquanto o movimento do tombamento é do tipo queda livre
ou em plano inclinado.
c) A geometria dos escorregamentos é variável, podendo ser planar, circular ou em
cunha. No caso do tombamento, temos uma geometria indefinida, com vários planos
internos de deslocamento desenvolvidos ao longo de seus movimentos constantes,
sazonais ou intermitentes.
d) O material que compõe a massa que se movimenta nos escorregamentos é variável,
podendo conter solos, rochas, detritos e outros. Já no caso dos tombamentos, temos
a movimentação de material rochoso na forma de lascas, placas, blocos etc.
e) O movimento dos escorregamentos é do tipo queda livre ou em plano inclinado, en-
quanto o movimento do tombamento é semelhante ao de um líquido viscoso escoando
sobre uma superfície.

304
3. Durante as fases de preparação de terreno para a construção de casas, foi realizado
um corte para alinhamento do talude próximo. Durante a inspeção de Engenharia, a
fim de verificar as condições do solo após este serviço, foi identificada uma porção de
descontinuidades paralelas à face do talude de corte. A equipe de inspeção solicitou
a análise de estabilidade com o objetivo de saber se haverá a ruptura da camada do
solo residual do talude, representado na figura, a seguir:

B
A=10m²
V=30m³
Solo

Rocha N

T P
50°

A
AB=5 m
Figura 1 - Talude em solo para situação-problema / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração representando um talude de linhas retas com crista na porção
superior esquerda e pé na porção inferior direita. Uma linha inclinada em ângulo de 50 graus com a horizontal represen-
tada por uma linha pontilhada. A linha inclinada corta o talude do pé, indicado por ponto A, até o meio da crista, indicado
por ponto B, destacando uma área triangular marrom indicada pela palavra “solo”, contendo as informações de área igual
a 10 metros quadrados e volume igual a 13 metros cúbicos. Abaixo da linha inclinada de corte do talude, está a palavra
“rocha” e tem representada a força P do triângulo marrom por flecha vertical, para baixo, a força N é representada por
flecha inclinada, para cima, perpendicular à inclinação do corte e força T fechando o triângulo de decomposição das duas
forças e perpendicular à N. Na parte inferior esquerda da imagem, há a informação adicional indicando que o segmento
de reta AB é igual a 5 metros.

Considere que o peso específico do solo é de 18 kN/m³; a coesão é de 1,3 kN/m² e o


ângulo de atrito do solo é de 35º. De posse das informações a respeito da situação-
-problema e sabendo que não existe fluxo de água no talude, assinale a alternativa que
apresenta a condição do talude:
a) Talude em condição estável com FS > 1.
b) Talude em condição de Equilíbrio-Limite com FS = 1.
c) Talude em condição instável com FS < 1.
d) Talude em condição instável com FS ≅ 0,89.
e) Talude em condição instável com FS ≅ 0,72.

305
306
9
Obras de Terra II
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos

Olá, estudante! Vimos, anteriormente, os efeitos de movimentações


de terra em taludes e fizemos uma breve exploração nas possíveis
soluções de proteção para os maciços. Nesta unidade, você conti-
nuará os seus estudos dentro do campo Obras de Terra, entenden-
do, um pouco mais a fundo, as obras de contenção para taludes,
como: muros de arrimo, escoramentos, cortinas, solos reforçados,
barragens de terra e enrocamento.
UNICESUMAR

Estamos avançando em nosso curso e, cada vez mais, nos colocaremos no papel
de profissional de Engenharia Civil para futuras obras e, assim, entendermos
os mecanismos de tomadas de decisão. Imagine que você seja responsável pela
construção de uma edificação de médio porte, como um pequeno prédio ou
uma residência de alguns andares. Quando começa a fazer as análises para o
projeto, visita o terreno da futura obra, a fim de entender em quais condições
ele se encontra.
Neste momento, você depara-se com a seguinte situação: o terreno da obra
encontra-se em nível mais baixo em relação aos terrenos dos vizinhos ao redor,
os quais não possuem, ainda, edificação construída; os trabalhos de limpeza su-
perficial removeram parte da camada de solo nas divisas, evidenciando o desnível
de 1,20 m entre as áreas; alguns trabalhadores e maquinários estão no terreno, ao
fundo, iniciando os trabalhos de construção de outra obra.
Abrimos, aqui, os questionamentos básicos: de quem é a responsabilidade
por fazer a estrutura de contenções dos taludes nas divisas do terreno? A pessoa
proprietária do terreno mais baixo, que, futuramente, construirá, a sua cliente
ou as pessoas proprietárias dos terrenos vizinhos mais altos, os quais já estão em
processo de construção? Quem correrá mais risco, caso não sejam construídas
contenções para talude?
A maioria das construções são regidas pelo Código de Obras Municipal e,
normalmente, estão estabelecidos os limites e as condições para obras que fazem
uso ou se aproximam de divisas. Como se trata de uma legislação que varia de
município para município, alguns locais preveem, em seus artigos, situações de
compartilhamento de estruturas, como muros de divisa ou obras de contenções,
porém, na maioria das legislações, não há item algum que oriente sobre as respon-
sabilidades e os direitos dos proprietários. É neste momento que entra o trabalho
do(a) projetista, prevendo qual tipo de situação poderá, futuramente, interferir
na obra e quais medidas direcionarão a relação proprietário/vizinhança.
No caso apresentado, em que temos um desnível de terreno, será preciso cons-
truir uma obra de contenção para fazer a estabilização do maciço de terra e, assim,
esse não desmorone, ao longo do tempo. Isto é um fato! Independentemente de
quem assume a responsabilidade, para que as obras construídas tenham esta-
bilidade, essa estrutura deverá ser bem projetada e construída. Caso contrário,
corre-se o risco de prejudicar todas edificações adjacentes ao talude e ter a chance
real de desmoronamento e colapso das construções.
A ausência de contenção para o maciço coloca em risco todas as construções, tan-
to as localizadas no pé do talude quanto aquelas construídas na crista dele. A figura,
a seguir, mostra o caso de terrenos em desnível entre si, após o desmoronamento
do talude na divisa, devido à obra de contenção ser inexistente ou mal projetada.

308
UNIDADE 9

Figura 1 - Desmoronamento de construções na divisa de terrenos com desnível entre si

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia mostrando, do lado esquerdo, uma fileira de casas
e construções sobre uma elevação de terra. No centro, há um grande bloco retangular de um muro caído, em
meio a pedras e solo revolvido, ao pé da elevação de terra.

Se o custo da obra de contenção será de responsabilidade do proprietário do terreno


abaixo ou das áreas vizinhas acima, este é um fator decidido entre eles, em comum
acordo. O seu papel, enquanto responsável pelo projeto, é assegurar a existência des-
sa contenção para o maciço do desnível e a escolha daquela que garanta segurança
tanto durante as fases de construção quanto após momentos de fortes chuvas ou de
uso das edificações.
Outro fator importante, além da segurança, é a viabilidade econômica. É o caso
de escolher tipos de estruturas de contenção que necessitem de materiais disponíveis
na região a um preço razoável, de acordo com o porte da obra. Por exemplo, não se
opta por contenções de tirantes metálicos e placas pré-moldadas importadas quando
um simples muro de concreto robusto é suficiente à estabilização do talude. O bom
senso do(a) projetista deve ser bem empregado.
A Engenharia Civil também desenvolve evoluções em seus materiais, técnicas
e cálculos, a partir de experiências negativas com determinadas obras. Neste caso,
estamos aprendendo novos conhecimentos, do jeito mais difícil, após desastres e
acidentes com obras que falharam e causaram inúmeras perdas (humanas, sociais,
ambientais, econômicas etc.). Entretanto estas duras lições têm um propósito: evitar
que não voltem a ocorrer.

309
UNICESUMAR

Acidentes envolvendo a ruptura de obras de terra como contenções ou barragens são registradas,
anualmente, nos mais diversos locais do planeta. A maioria está relacionada a problemas de ordem geoló-
gica-geotécnica, falhas de projeto e de execução das obras. É importante para nós, do ramo da Engenharia
Civil, buscarmos todas as informações técnicas possíveis a respeito das causas destas catástrofes.
Você realizará pesquisas nos meios disponíveis (artigos em sites, vídeos, bibliografia etc.) sobre as
informações técnicas dos seguintes acidentes envolvendo obras de terra:
• Rompimento da barragem de Val di Stava (Itália, 1985).
• Desastre de Doñana (Espanha, 1998).
• Desmoronamento do terreno da Anglo American, em Santana (Amapá, 2013).
• Rompimento de barragem em Itabirito (Minas Gerais, 2014).
• Deslizamento de barreira de Dois Unidos, em Recife (Pernambuco, 2019).

Você deve descobrir, em cada um dos casos, de acordo com as informações divulgadas, oficialmente,
sobre esses desastres: quais foram os processos de desenvolvimento da tragédia? Ela poderia ter
sido evitada? Quem foi responsabilizado por essas catástrofes?
Ao fazer o levantamento das informações dos desastres e acidentes elencados, os quais ocorreram com
obras de terra, você pode fazer um breve resumo, em texto, do que se tratou cada um deles (um parágrafo
é o suficiente). Para tornar este conteúdo mais marcante, você pode acrescentar um esboço representativo
dos elementos (taludes, barragens, muros etc.) e das movimentações ocorridas. Acrescente ao seu esboço
os dados técnicos que a sua pesquisa realizou, como: valores (em números) das dimensões, volume, pe-
ríodo de tempo, prejuízos e, até mesmo, comparativos com outros eventos semelhantes.
Use o espaço do Diário de Bordo, a seguir, para fazer as anotações das informações que você levantou
na pesquisa a respeito dos desastres envolvendo obras de terra bem como o registro das fontes consultadas
(livro, artigo, site, documentário etc.).

DIÁRIO DE BORDO

310
UNIDADE 9

Em nossa unidade anterior, vimos os efeitos dos movimentos de massa em taludes artificiais e encostas
naturais, aprendemos como avaliar a sua segurança e, também, conhecemos um pouco das soluções
de estabilização. Agora, focaremos em um tipo destas soluções, ou seja, as obras de contenção, cuja
definição mais precisa é:



Estruturas de contenção ou de arrimo são obras civis construídas com a finalidade de
prover estabilidade contra a ruptura de maciços de terra ou rocha. São estruturas que
fornecem suporte a estes maciços e evitam o escorregamento causado pelo seu peso
próprio ou por carregamentos externos (BARROS, 2017, p. 6).

Encontramos a sua nomenclatura como “estru-


turas de contenção”, “estruturas de arrimo”, “para-
mentos”, “obras de contenção”, ou, simplesmente,
recebem o nome de sua solução geotécnica/estru-
tural. Da mesma forma que os tipos de ações que
provocam a ruptura dos maciços de terra ou rocha
são diversas, essas soluções também são, diferindo
entre si tanto pelos formato geométrico e processo
construtivo quanto por materiais constituintes e
dimensionamento. Milititsky et al. (2019) identifi-
cam e organizam as obras de contenção em alguns
tipos básicos: muros, escoramentos, cortinas e re-
forço de terreno. Veremos, ainda, nesta unidade,
cada um deles, com mais detalhes.
Independentemente do tipo de obra de con-
tenção escolhido, o principal conhecimento que
devemos ter ao planejá-lo é o efeito do empuxo
em maciços de solo e a sua determinação. Enten-
demos o empuxo de terra como a ação horizontal
que um maciço de solo produz sobre as estruturas
que se encontram em contato com ele, ou seja,“é a
resultante da distribuição de tensões horizontais
atuantes em uma estrutura de contenção” (GERS-
COVICH; DANZIGER; SARAMAGO, 2016, p. 8)
Nos tópicos vistos em Mecânica dos Solos e
Geologia, são aprendidas as teorias que nos permi-
tem calcular esta resultante, baseada nos parâme-
tros geotécnicos do solo que compõem o maciço.

311
UNICESUMAR

Título: Contenções: Teoria e Aplicações em Obras


Autores: Denise M. S. Gerscovich, Bernadete Ragoni Danziger e Robson
Saramago
Editora: Oficina de Textos
Sinopse: em uma primeira parte, a qual é teórica, a obra aborda a estima-
tiva de empuxos de terra, em diferentes condições de solicitação impostas:
estrutura de contenção e sequência construtiva. Este é um material que
discute métodos clássicos e avanços mais recentes, com diversos exemplos
de cálculo e inúmeras ilustrações didáticas para as estruturas apresentadas. É uma importante
fonte de informações teóricas e práticas a estudantes e profissionais de Engenharia.
Comentário: sabendo que este conteúdo relacionado ao cálculo do empuxo pode ter sido visto
há muito tempo e, agora, você precisa de uma fonte de consulta aplicada às obras de contenção,
recomendo conferir este livro, disponível na Biblioteca Virtual da Unicesumar.

A aplicação da Engenharia Moderna para obras de contenção, se iniciou, de fato, no século XVIII,
motivada pelo cenário geopolítico de expansão colonizadora europeia que requereu a construção de
estruturas de defesa e fortificações militares em locais e terrenos variados pelo mundo (MILITITSKY
et al., 2019). Porém a avaliação das forças de empuxo nos maciços de solo, como conhecemos, hoje,
baseiam-se, principalmente, nos trabalhos de Coulomb em 1773 e de Rankine em 1857, anteriores à
teoria de Terzaghi. Esta fundamenta, em 1925, a Mecânica dos Solos.



As teorias de Rankine e Coulomb satisfazem o equilíbrio de esforços vertical e horizon-
tal. Por outro lado, não atendem ao equilíbrio de momentos. Adicionalmente, ambas as
teorias pressupõem superfície de ruptura plana e, na prática, a superfície é curva. Em
outras palavras, os métodos apresentam simplificações. [...]
O método de cálculo dos empuxos fica a cargo do projetista e as diferenças são exem-
plificadas (GERSCOVICH; DANZIGER; SARAMAGO, 2016, p. 117-118).

Muitos problemas práticos da realidade exigem que esses métodos sejam adaptados antes de serem
aplicados, é o caso de taludes que apresentam sobrecarga no topo do talude; água no maciço de
solo; solos estratificados e solos coesivos. Para situações como essas, recomenda-se a consulta à
bibliografia técnica que apresenta exemplos de cálculo para tais variações.

312
UNIDADE 9

Título: Mecânica dos Solos: Introdução à Engenharia Geotécnica (Volume 2)


Autor: Manuel de Matos Fernandes
Editora: Oficina de Textos
Sinopse: o autor, expert em grandes escavações em meio urbano e com
larga experiência profissional e em pesquisas relacionadas à área, simplifica,
em seu livro, a compreensão da Geotecnia Aplicada. Apesar de ser publi-
cado como segundo volume, este livro é uma obra autônoma que atende,
plenamente, os alunos iniciantes e, também, os praticantes experientes de
Engenharia Geotécnica.
Comentário: recomenda-se, principalmente, as variações de cálculo para empuxo contidas no
capítulo 4, intitulado “Empuxos de Terras e Muros Gravidade”, onde são abordados os principais
métodos de cálculo que atendem às diversas situações de obras de contenção brasileiras. O livro
está disponível na Biblioteca Virtual da Unicesumar.

Como foi falado em unidades anteriores, os efeitos desencadeados pela presença de água nos
taludes podem ser bastante catastróficos. O acúmulo de água no maciço terroso põe em risco a
estabilidade da obra de contenção, levando ao aumento do empuxo sobre o paramento e reduzindo
a resistência ao cisalhamento do solo. Junto do projeto de estabilização do talude, deve-se instalar
um sistema de drenagem eficaz para dar vazão às precipitações de água bem como ao fluxo de
água natural, dentro do maciço terroso.

Milititsky et al. (2019) indicam que os sistemas de drenagem devem se ater a alguns princípios
básicos: i) impedir o acúmulo de água junto ao tardoz da contenção; ii) a rede de percolação
precisa ter, na região da cunha potencial, linhas de fluxo verticais; iii) o sistema também deve
ser filtrante, para evitar a colmatação ou o entupimento; iv) fazer a separação entre o sistema
que coleta e desvia as águas da superfície e as águas que se infiltram e chegam ao sistema de
drenagem, a fim de evitar as vazões elevadas bem como o carregamento de detritos.

313
UNICESUMAR

Muro de Arrimo

Muros de arrimo correspondem a contenções corridas, hori-


zontalmente, que têm a forma de uma parede vertical ou quase
vertical, apoiada numa fundação rasa ou profunda, a qual con-
tém, de forma definitiva, o maciço terroso (MILITITSKY et al.,
2019). Como exemplos, temos os muros de pedras, de gabiões,
de concreto, de blocos de concreto articulados, de solo-cimento,
de solo-pneu, entre outros.

Figura 2 - Contenção do tipo muro de arrimo de gabiões, fazendo o paramento de


talude íngreme, ao lado de uma rodovia / Fonte: Shutterstock.

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia mostrando um muro de


pedras com uma cerca de grade em seu topo. O muro circunda a área de um parque
com árvores em seu patamar superior; no centro, há uma rodovia limitada, ao lado do
muro, a qual se divide ao fundo e circunda outra área, este com árvores e arbustos.

O paramento promovido no maciço de solo, pelos muros de arrimo,


ocorre pelo peso próprio dessa estrutura, podendo ser construído
em seção plena ou esbelta.
Para entender as formas e características dos principais tipos
de muros de arrimo executados, o quadro, a seguir, apresenta a
organização deles em seus formatos mais conhecidos, segundo as
definições de Marchetti (2007):

314
UNIDADE 9

DESCRIÇÃO IMAGEM ESQUEMÁTICA

Estruturas corridas que se opõem aos Muro gravidade


empuxos horizontais pelo peso próprio.
Geralmente, são utilizadas para conter
desníveis pequenos ou médios, inferio-
res a cerca de 5 m.
Podem ser construídos em pedra (arga-
massada ou não), concreto (simples, ar-
mado ou ciclópico), gabiões ou mistura
de materiais, como os sacos de solo-ci-
mento, pneus preenchidos (solo-pneu),
muros em fogueira (Crib Wall de concre-
to, madeira ou aço).

Estruturas mais esbeltas, com seção Muro flexão


transversal em forma de “L” ou “T” in-
vertido, que resistem aos empuxos por
flexão, utilizando parte do peso próprio
do maciço, o qual se apoia sobre a base
horizontal para se manter em equilíbrio.
São viáveis até 7 m, para alturas maiores
do que 4 m, pode-se utilizar contrafortes.
Em geral, executado em concreto ar-
mado, dimensionado como uma laje na
vertical sobre uma fundação.

Variação do muro flexão, ou seja, em Muro com contrafortes


seção esbelta, formando um “L” ou “T”
invertido, confeccionado em concreto
armado que contém os contrafortes,
elementos perpendiculares ao para-
mento os quais aumentam a rigidez
estrutural da contenção. Esses contra-
fortes podem estar na face externa do
muro (visível) ou na interna, inserida
dentro do maciço.

Estas estruturas apresentam uma pa- Muro atirantado


rede que realiza o paramento do ma-
ciço de solo com o auxílio de barras
quase horizontais. Estas funcionam
como tirantes, amarrando o muro a
elementos embutidos no maciço (blo-
cos, vigas longitudinais, estacas etc.).
São construções de baixo custo, utili-
zadas para alturas até 3 m.
Geralmente, são estruturas mistas em
concreto armado ou em alvenaria, de
blocos de concreto ou tijolos, com ti-
rantes de aço perpendiculares ao pa-
ramento do muro.

Quadro 1 - Tipos de muros de arrimo / Fonte: a autora.

315
UNICESUMAR

O projeto de um muro de arrimo começa com o pré-dimensionamento da


estrutura, levando em conta as características do material escolhido e as geometrias
necessárias para a contenção do talude (NEGRO JÚNIOR et al., 2019).
A figura, a seguir, mostra exemplos de pré-dimensionamentos que podem ser
utilizados, porém diversos livros especializados em muros de arrimo apresentam
outras variedades que podem ser assumidas.

A 0,4 m a H/12 B > 0,3 m

H H
0,5 D a D
B/3 D

D = H/6 a H/8 D = H/12 a H/10

0,5 a 0,7 H B = 0,4 a 0,7 H

C
> 0,3 m
0,3 m a 0,6 m

D = H/14 a H/12
0 ,6H
B= ma
0,4 0,3
a0
,7 H

Figura 3 (a) - Pré-dimensionamento de muro de arrimo em muro gravidade; Figura 3 (b) - Em muro flexão;
Figura 3 (c) - Em muro com contrafortes / Fonte: adaptada de Gerscovich, Danziger e Saramago (2016).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em três partes e exibindo vistas diferentes para for-
matos de estruturas de muro com as suas respectivas medidas de arestas, em função da altura total, nomeada
com a letra “H”. Na parte superior esquerda, na Figura 3 (a), temos a vista, em corte, de um muro em formato
trapezoidal, com base alargada. Na parte superior direita, na Figura 3 (b), temos a vista, em corte, de um muro
em formato de “T” invertido. Na parte inferior central, na Figura 3 (c), temos a vista, em perspectiva isométrica,
de cima para baixo, de um muro com seção transversal, em formato de “T” invertido e face vertical escorada
por peças triangulares que representam os contrafortes.

316
UNIDADE 9

Depois do pré-dimensionamento, prosseguimos para a análise de estabilida-


de desse muro de arrimo, seja qual for a sua seção/tipo, avaliando as condições
de deslizamento, tombamento, Capacidade de Carga da Fundação e ruptura global.
A figura, a seguir, ilustra os esforços aos quais um muro de arrimo genérico está
submetido:

LEGENDA

EA = Empuxo ativo inclinado


D
EP = Empuxo passivo horizontal
A PS1 = Peso do solo ABCD
PS2 = Peso do solo KLMN
PC1 = Peso do paramento da
contenção/muro
PC2 = Peso da sapata da
contenção/muro
EA Fa = Força de atrito na base da sapata
H
da contenção/muro
PS1 PC1 PS2
N K
C B M L
EP h

O
FA PC2

Figura 4 - Esforços atuantes em estrutura de contenção/muro de arrimo / Fonte: adaptada de Marchetti (2007).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração mostrando a vista, em corte, de um terreno com dois
níveis, o superior inclinado à esquerda e o inferior horizontal à direita, com um muro limitador no encontro
dos dois, em formato de “T” invertido. As cotas de altura do muro, de largura de sua base e de inclinação estão
representadas por letras, assim como flechas em variadas direções apontam para partes do muro onde esforços
nomeados por letras e números indicam as forças atuantes. No canto superior direito, o quadro nomeado como
“legenda” apresenta o nome das forças bem como as suas respectivas letras e os seus respectivos números
indicativos, a saber: “EA igual empuxo ativo inclinado”; “EP igual empuxo passivo horizontal”; “PS1 igual peso do
solo ABCD”; PS2 igual peso do solo KLMN”; “PC1 PC2 igual peso do paramento da contenção/muro”; “PC2 igual peso
da sapata da contenção/muro”; “FA igual força de atrito na base da sapata da contenção/muro”.

Na verificação da estabilidade dos muros quanto ao deslizamento, devem ser


considerados todos os esforços que provoquem deslocamentos horizontais do muro,
sendo que a condição de equilíbrio será alcançada quando o Somatório das Forças
Resistentes (∑FRES) ser superior ao Somatório das Forças Solicitantes (∑FSOL).

317
UNICESUMAR

Marchetti (2007) indica que a razão entre estas duas somatórias deve ser maior
ou igual a valores fixos para as situações de solo coesivo e não coesivo, conforme a
equação, a seguir:

FRES
FSdesliz 1,2 a 1,5
FSOL

Em que:
FSdesliz = Fator de Segurança contra o deslizamento da contenção.

Para determinação dos esforços num muro de arrimo, deve-se considerar


os parâmetros do solo, como: Ângulo de Atrito Interno ( f ’); Coesão Inter-
na (c’); Peso Específico Natural do Solo ( g nat ); Coesão Solo-Muro ( c 'W );
Atrito Solo-Muro ( d ). Os três primeiros são determinados por meio de
ensaios específicos de laboratório ou correlações semiempíricas com ensaios
de campo (por exemplo, o SPT). Já os últimos dois podem ser obtidos pelas
seguintes correlações:

c' 2
c 'W atØ c'
2 3
2
δ tg φ' atØ tg φ '
3
2
c 'W Su
3
Em que:
Su = Resistência do cisalhamento não drenada do solo.

Como é possível que o solo presente na frente do muro seja retirado ou erodido,
recomenda-se considerar o esforço de empuxo passivo igual a zero como critério de
cálculo a favor da segurança (MARCHETTI, 2007). Existe a mesma consideração a
respeito da força-peso do solo sobre a sapata da contenção/muro de arrimo na parte
externa (KLMN), em que se desconsidera o acréscimo dessa força, no somatório.

318
UNIDADE 9

A figura, a seguir, ilustra o posicionamento geométrico destes esforços em um


muro genérico:

es
PS

ev Ev H’
H
Eh
ec

b c
Hp

Ep 1 0 2
B

B/2 B/2

Figura 5 - Posicionamento dos elementos de cálculo do Fator de Segurança quanto aos deslizamento e
tombamento para muro de arrimo / Fonte: adaptada de Marchetti (2007).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração que mostra a vista, em corte, de um terreno com dois
níveis, o nível superior inclinado à direita e o inferior horizontal inclinado à esquerda, com um muro limitador
no encontro dos dois, em formato de “T” invertido. As cotas de altura do muro, de largura de sua base e de
inclinação estão representadas por letras, assim como flechas em variadas direções apontam para partes do
muro onde esforços nomeados por letras e números indicam as forças atuantes. Na porção interna da direita
do terreno, estão representados os alinhamentos referentes ao esforço de empuxo ativo e à sua respectiva
equação de cálculo.

Temos representados, na figura, os seguintes esforços:


• Empuxo ativo (Ea):

2
γ H' Ka
Ea
2
Em que:
K a = Coeficiente de empuxo ativo do solo.

319
UNICESUMAR

• Componente horizontal do empuxo ativo (Eh): Eh  Ea  cos  b  ;


• Componente vertical do empuxo ativo (Ev): Ev  Ea  sen  b  ;
• Empuxo passivo (Ep):

2
γ H' Kp
Ep
2
Em que:
K p = Coeficiente de empuxo passivo do solo.

• Peso da contenção/muro (Pc);


• Peso do solo em ABCD (Ps).

Retomando, então, a relação entre o somatório das forças atuantes na contenção/


muro de arrimo, temos:

FRES FA Ps Pc Ev δ c' B
FSOL Eh Eh

Em que:
FA = Força de atrito entre muro e solo na base.

No caso da verificação de estabilidade dos muros quanto ao tombamento, o


Somatório de Momentos Resistentes (∑MRES) deve ser superior ao Somatório de Mo-
mentos Solicitantes (∑MSOL), tendo, como referência, para estes momentos, o ponto
inferior externo da base do muro (Ponto 1).
Marchetti (2007) indica que a razão entre estas duas somatórias deve ser maior ou
igual a valores fixos às situações de solo coesivo e não coesivo, conforme a equação,
a seguir:

M RES
FStomb = 1,2 a 1,5
M SOL

Em que:
FStomb = Fator de Segurança contra o tombamento da contenção.

320
UNIDADE 9

Para a determinação dessas forças, primeiramente, deve-se conhecer as forças que


atuam sobre a contenção/muro de arrimo e as respectivas distâncias de aplicação
dessas forças em relação ao Ponto 1, como referência à situação de tombamento. Re-
tomando, então, o somatório dos momentos em relação aos esforços atuantes, temos:

 M RES  M Ps  M Pc  M Ev   Ps  es    Pc  ec    Ev  ev 
 M SOL M Eh   H ' 
 Eh   
  3 

A verificação da estabilidade para determinado


muro de arrimo, em relação ao deslizamento e
ao tombamento, pode ser melhor entendida por
meio de uma aplicação prática que demonstre o
cálculo. Pensando nisso, elaborei uma Pílula de
Aprendizagem que mostra um exemplo do cálculo
voltado à avaliação de um muro de arrimo flexão
e geometria em “T” invertido. Acesse o vídeo expli-
cativo para ver esta demonstração!

Outra verificação muito importante é a Capacidade de Carga da Fundação das


obras de contenção que realizam a transferência do esforço ao solo natural por meio
de sua base. Nesta verificação, é realizado o cálculo para estimar as possibilidades
de ruptura do sistema contenção-solo ou as deformações (recalques) excessivos. É
determinado um valor representativo chamado Fator de Segurança da Fundação
(FSFUND), o qual considera o muro uma estrutura rígida e, de forma linear, a distri-
buição de tensões sob a sua base (NEGRO JÚNIOR et al., 2019).
O cálculo necessita da determinação: da Carga Vertical (V) resultante das forças
atuantes no muro em relação à sua base; das Excentricidades (e) que são as distâncias
entre as forças e o eixo de referência (Ponto 1); dos Momentos das forças que atuam
no muro em relação ao centro de gravidade da fundação do muro (Ponto 0). Para o
cálculo da Carga Vertical, procedemos à equação:

V  Pc  Ps  Ev

321
UNICESUMAR

a figura, a seguir, ilustra o posicionamento geométrico destes elementos em um muro


genérico:

es Ps

ev

Pc
ec
Ev
Eh
h’/3

1 0 2
B/2 B/2

 

Figura 6 - Posicionamento dos elementos de cálculo do Fator de Segurança da Fundação para muro de
arrimo / Fonte: adaptada de Marchetti (2007).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração que mostra a vista, em corte, de um terreno com dois
níveis, o superior inclinado à direita e o inferior horizontal inclinado à esquerda, com um muro limitador no en-
contro dos dois, em formato de “T” invertido. As cotas de altura do muro, de largura de sua base e de inclinação
estão representadas por letras, assim como flechas em variadas direções apontam para partes do muro onde
esforços nomeados por letras e números indicam as forças atuantes. Na porção interna abaixo da base do muro,
é mostrado um diagrama de esforços, em formato trapezoidal, com as flechas apontadas para cima. O esforço
maior, à esquerda, é representado por “sigma 1” e o esforço menor, à direita, é representado por “sigma 2”.

Calculando o Momento em relação ao Ponto 0, temos:

  B   B   B   H
M 0    PS   eS      PC    eC     EV    eV     EH  
  2   2   2   3

322
UNIDADE 9

a distribuição da carga V será sobre um comprimento da base equivalente a 1 metro


de largura do muro (S), que é igual à distância B identificada na Figura 6. Já o mo-
mento M0 será distribuído sobre um comprimento equivalente (w), calculado por:

B2
w=
6
desse modo, são determinadas a Tensão Maior ( s1 ) e a Tensão Menor ( s2 ) na base
da fundação do muro:

V   M  V   M 
s1      0  ; s2      0 
S  w  S  w 
para a análise da Capacidade de Carga da Fundação a favor da segurança num muro,
temos duas condições: i) a Tensão Máxima que está sendo aplicada na base do muro
( smáx ) não pode ser superior à Tensão Admissível do solo abaixo dela ( sadm ); ii) a
menor das tensões aplicada na base do muro ( s2 ) não pode ser de tração ( s2 > 0 ).
Definimos o Fator de Segurança da Fundação pela seguinte razão:

σrup
FS FUND 2, 5
σ1
Em que:
σrup = Capacidade de Carga do Solo sem coeficiente de segurança, calculada por método
escolhido pelo(a) projetista, considerando a base do muro como uma sapata.

No caso de determinar a Capacidade de Carga do Solo por métodos que já tenham


um Coeficiente ou Fator de Segurança embutido ( srup = sadm ), não existe neces-
sidade de proceder ao cálculo do FSFUND e, apenas, fazer a comparação com a maior
tensão abaixo da base ( sadm ≥ s1 ). Caso estas condições não sejam atendidas, deve-se
projetar nova dimensão para a base do muro e recalcular as tensões, a fim de verificar
se atendem aos critérios de segurança.

A verificação da estabilidade em relação à Capa-


cidade de Carga da Fundação do muro pode ser
melhor entendida por meio de uma aplicação prá-
tica que demonstre o cálculo. Pensando nisso, ela-
borei uma Pílula de Aprendizagem que mostra um
exemplo do cálculo para a avaliação de um muro
de arrimo. Acesse o vídeo explicativo para ver esta
demonstração!

323
UNICESUMAR

Escoramento

Contenção provisória que permite a construção de outras obras inseridas em maci-


ços terrosos ou vizinhas deles. Esta contenção não possui um formato definido, pois
varia de acordo com a geometria do espaço de trabalho que ela possibilita. Alguns
exemplos são os escoramentos mistos, em madeira e em perfis de aço.

Figura 7 - Contenção do tipo escoramento, em perfis de aço, fazendo o paramento de área escavada
de obra de fundação.

Descrição da Imagem: a figura apresenta a fotografia de um canteiro de obras em dois níveis. O nível superior,
na linha do horizonte, tem duas estruturas em fase de construção com escoramentos de madeira, barras de aço
e máquinas ao redor. O nível inferior está em primeiro plano, abaixo da linha do horizonte, exibindo um poço
no chão com as paredes escoradas por chapas metálicas, enquanto a estrutura de aço faz o escoramento e
alinhamento das chapas, com uma trama na altura da superfície do nível superior.

Geralmente, escoramentos são classificados de acordo com os materiais empregados


em sua construção, por exemplo: madeira; metálico-madeira; metálicos; de concreto;
especiais (Jet Grouting). Porém, independentemente do material utilizado, alguns
elementos são comuns aos diferentes tipos de sistemas de escoramentos, segundo
Milititsky et al. (2019):
• Parede: também referido como paramento, é o elemento que fica em contato
direto com o solo que está sendo contido. A parede é, comumente, vertical e
pode ser contínua ou descontínua, dependendo do material e das dimensões
do escoramento.

324
UNIDADE 9

• Longarina: elemento no qual a parede se apoia. É linear e longitudinal, dis-


posta, horizontalmente, como viga.
• Estroncas: também chamadas de escoras, são os elementos de apoio das lon-
garinas, por isso, são perpendiculares a elas, em forma de barras.
• Tirantes: são elementos lineares que estão inseridos e ancorados dentro do
maciço de solo que está sendo contido. São elementos ativos de resistência,
ou seja, recebem a aplicação de um esforço de pré-tensão durante sua execu-
ção e cujo esforço será transmitido ao terreno por meio da extremidade de
ancoragem no interior do maciço (bulbo de ancoragem) e da extremidade
de ancoragem no exterior do paramento (cabeça de protensão). Trabalham
com esforços de tração e podem substituir as estroncas/escoras na tarefa de
sustentar as longarinas.

A figura esquemática, a seguir, apresenta um exemplo de escoramento das paredes


de uma vala profunda aberta no terreno:




 

  






 






Figura 8 - Elementos que compõem escoramentos, de modo geral / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração que mostra a vista, em corte, em primeiro plano de
uma vala aberta em um terreno e, em segundo plano, a vala, em perspectiva, com visão superior. A superfície do
terreno alinhada com a porção superior da imagem está interrompida, no centro, por um recorte retangular que
contém, nos limites verticais com o terreno, pranchas indicadas pela palavra “paredes”, as quais estão alinhadas
e escoradas por barras conectadas, formando uma estrutura indicada pelas palavras “estroncas” e “longarinas”.
Nas barras chamadas longarinas, há pequenas caixas distanciadas equidistantes, posicionadas na porção inferior
das paredes. Na vista em perfil, as caixas revelam ser a ponta externa de um elemento linear prolongado inserido
no terreno, nomeado “tirante”.

Por se tratarem de contenções provisórias que fazem parte das técnicas de construção
de obras específicas, como escavações, fundações e outras, não aprofundaremos os
nossos estudos sobre este tipo de contenção.

325
UNICESUMAR

Cortinas

São contenções ancoradas ou apoiadas em outras estruturas e fazem, de forma definitiva, o paramento
do maciço. Por causa do acoplamento a outras estruturas mais rígidas, as cortinas apresentam pequena
deslocabilidade. Isto pode levar os solos contidos a originarem solicitações ou esforços maiores do que
as calculadas no Equilíbrio-Limite (ABRAMENTO; ERLICH; ZIRLIS, 2019). São estruturas esbeltas
posicionadas ao longo de uma linha de paramento, daí o nome “cortina”. Elas asseguram a estabilidade do
maciço contido com base no empuxo passivo que atua sobre o trecho inferior inserido no solo (ficha).
As cortinas, segundo Abramento, Erlich e Zirlis (2019), podem ser distinguidas ou classificadas pelos:
• Elementos de estabilidade: forma de apoio das cortinas. São denominadas:
* Cortinas autoportantes: enterradas no solo, dispensam outros elementos de apoio devido ao
empuxo passivo mobilizado na frente da cortina em sua ficha.
* Cortinas monoapoiadas: possuem um nível de apoio junto do topo, podendo ser ancoragens
(tirantes) ou escoras.
* Cortinas multiapoiadas: aquelas que têm múltiplos níveis de apoio, também por ancoragens ou
escoras, ao longo de sua altura.

Cortina
Cortina Multiapoiada
Monoapoiada
Paramento
Ancoragem
Cortina no Topo Tirante
Linhas de Ancoragem

Autoportante

Paramento Paramento EA

EA

EP EP EP
Ficha Ficha Ficha

Figura 9 - Tipos de contenções do tipo cortinas, de acordo com o elemento de estabilidade / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em três partes, mostrando situações diferentes de escoramento
por cortinas com a vista, em corte, de um terreno com dois níveis. O nível superior inclinado à direita e o nível inferior horizontal à
esquerda, com um muro vertical limitador, no centro, com a parte inferior inserida no terreno da porção, o qual está indicado pela
palavra “paramento”. A parte da esquerda, acompanhada pelo título “cortina autoportante”, mostra o paramento com uma metade,
indicada pelo nome “ficha”, inserida no solo da porção inferior e flechas indicativas dos esforços de empuxo passivo e ativo. A parte
do centro, cujo título é “cortina monoapoiada”, mostra a mesma configuração da esquerda, com a diferença de um elemento, em
linha, que atravessa o paramento em seu topo e se prolonga dentro do maciço de solo, indicado como “ancoragem no topo” e,
também, tem uma flecha indicativa de esforço para a direita. A parte da direita, cujo título é “cortina multiapoiada”, mostra a mesma
configuração das demais, com a diferença de haver três elementos, em linha, inclinados, que atravessam o paramento e se inserem
no maciço de solo, o qual contém uma flecha indicativa de esforço para a direita e o nome “tirante”.

326
UNIDADE 9

• Materiais empregados: relacionado ao paramento ou à barreira que fica em contato com o


solo, fazendo a contenção, podendo ser, segundo Abramento, Erlich e Zirlis (2019):
* Cortinas metálicas: compostas por perfis de aço com encaixes longitudinais que permitem cons-
truir paredes pela justaposição das peças, as quais são, sucessivamente, encaixadas e cravadas. Estas
cortinas têm menos rigidez e resistência quando comparadas aos outros materiais.
* Cortinas de concreto armado: compostas por estacas (cravadas ou moldadas) ou placas (pré-
-moldadas ou trincheiras escavadas, paredes-diafragma).
* Cortinas de madeira: pouco utilizada para contenções definitivas devido à vida finita do mate-
rial, são elementos em prancha com as vantagens de fácil aplicação e de adaptação às condições de
instalação.
• Processo construtivo: relacionado ao momento em que a cortina é executada em relação à
escavação, podendo ser antes da escavação/corte do terreno ou à medida que este serviço avança.
• Deslocamentos por flexão: relacionada à interação entre a cortina e o maciço de solo, po-
dendo ser:
* Cortinas flexíveis: quando os deslocamentos por flexão influenciam a distribuição das tensões
aplicadas pelo maciço na contenção.
* Cortinas rígidas: aquelas cujas deformações podem ser desprezadas, o que pode ser estabelecido,
somente, por um cálculo de verificação.

Cortinas são soluções bastante


utilizadas nas escavações para
fundações complexas e, tam-
bém, para obras subterrâneas,
principalmente, em centros
urbanos onde falta espaço e
as edificações vizinhas são
muito próximas. Um exemplo
bastante conhecido são as cor-
tinas de estacas (de variados
tipos e métodos executivos)
que fazem o isolamento da
área destinada a pavimentar
o subsolo de uma edificação. Figura 10 - Contenção do tipo cortina mista (estacas e tirantes) isolando canteiro
de obras de subsolo / Fonte: Shutterstock.

Descrição da Imagem: a figura apresenta a fotografia de um canteiro de obras,


em vista superior, mostrando uma barreira de contenção com estacas circulares
alinhadas, lado a lado, unidas por uma barra horizontal. Sobre essa barra, há caixas
de ancoragem de tirantes espaçadas. No terreno próximo à base do muro de estacas,
três homens trabalham em um material que se assemelha a uma barra fina e longa.

327
UNICESUMAR

No caso das cortinas que se apoiam por meio de tirantes ancorados no maciço de
solo, elas recebem o nome de cortinas atirantadas. Este tipo de contenção é, ge-
ralmente, composto por uma parede de concreto armado vertical e por tirantes, os
quais são ancorados, no terreno, numa profundidade estabelecida em projeto para
garantir estabilidade, sem possibilidade de ruptura ou de movimentações indesejadas
(EHRLICH; BECKER, 2020).

Aterro Selo de
compactado argila
Cortina
atirantada
Filtro de
Areia
Drenos
vre
Tirantes ho Li curtos
Trec

rado Reaterro
nco
ho a compactado
Trec o Li
vre
h
Trec

rado Filtro de
o anco Areia Concreto
h
Trec magro

Figura 11 - Seção transversal da contenção do tipo cortina atirantada


Fonte: Gerscovich, Danziger e Saramago (2016, p. 53).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração de escoramento por cortina vertical atirantada
e a vista, em corte, de um terreno com dois níveis. O nível superior horizontal à esquerda e o nível inferior
horizontal à direita, um muro vertical limitador, no centro, com elementos lineares inclinados inseridos no
maciço da esquerda e indicados por tirantes.

Para as contenções por cortinas, recomenda-se que os sistemas de drenagem sigam


os mesmos princípios e técnicas pensados para os muros de arrimo. Se o corte da
contenção intercepta o Nível de Água (N.A.) do maciço, é comum utilizar a drenagem
profunda, por meio de Drenos Horizontais Perfurados (DHP), os quais realizam o
rebaixamento do lençol freático (ABRAMENTO; ERLICH; ZIRLIS, 2019).

328
UNIDADE 9

Solo Reforçado

Contenção cujos elementos (fitas metálicas, mantas, chumbador/grampos, malhas


de aço etc.) são introduzidos no maciço de solo, a fim de aumentar, de forma per-
manente, a sua resistência, suportando as tensões resultantes geradas do desnível do
talude. Esta associação “solo + elementos de reforço” é o que chamamos de materiais
compósitos, ou seja, materiais diferentes que trabalham, de forma complementar,
para apresentar melhor comportamento mecânico (EHRLICH; BECKER, 2020).


O termo solo reforçado se refere à aplicação de reforços resistentes
à tração em maciços terrosos, de forma a se obter um compósito
com melhores características mecânicas. O sistema é formado por
três elementos: solo, elementos de reforço (inclusões) e elementos
de face (paramento). Esta técnica considera a inclusão de elementos
de reforço metálicos ou geossintéticos (ABNT, 2021a, p. 5).

Essas obras de contenção, muitas vezes, são referidas como reforço de terreno e
possuem vantagens em sua utilização, quando comparadas às outras técnicas: econo-
mia; tolerância a recalques de fundação; facilidade construtiva; redução de tempo na
execução; não exigência de mão de obra especializada; construção de taludes estáveis
em posição vertical; bom acabamento estético quando são empregados sistemas de
faceamento, como blocos segmentais ou revegetação do talude (PALMEIRA, 2018).
A existência dessas técnicas é antiga, com registros feitos pelos mesopotâmicos,
datados de 5 mil anos, na construção de zigurates (templos) por meio de camadas de
barro reforçadas com juncos e galhos, assim como nas técnicas chinesas de construção
de barragens de terra, utilizando galhos de árvores para reforço. Porém as obras de
contenção que fazem uso de reforço do solo, como conhecemos hoje, foram desen-
volvidas, somente, durante a década de 60, quando Henri Vidal difundiu a técnica
de inclusões metálicas chamada terra armada (MASSAD, 2010).
Na terra armada, dois materiais com comportamentos mecânicos diferentes (solo
e fitas metálicas) são associados de forma que os esforços aplicados ao maciço são
transferidos, por atrito, entre eles (ABRAMENTO; ERLICH; ZIRLIS, 2019). Os prin-
cipais componentes deste sistema são: solo de aterro, geralmente, do tipo arenoso,
com menos de 15% em peso, passando na peneira #200; elementos de reforço, fitas
metálicas conectadas aos elementos de face e estendendo-se no interior do maciço
aterrado; elementos de face, paramentos sem função estrutural e empregados para
o melhoramento estético e a prevenção de erosões na face do muro.

329
UNICESUMAR

(A)

Figura 12 (a) - Contenção tipo terra armada


em suas fases de instalação dos elementos
(B) de face; Figura 12 (b) - Aterros sobre as tiras
metálicas; Figura 12 (c) - Obra finalizada

Descrição da Imagem: as figuras apresentam


a sequência de três fotografias mostrando
obra de construção. Da esquerda para a direi-
ta, vemos: na Figura 12 (a), dois trabalhadores
uniformizados e com capacete manuseando
uma placa de concreto suspensa por cordas
presas no braço de uma escavadeira, o qual
está suspenso acima do chão. Na Figura 12
(b), um terreno nivelado contém fitas metáli-
cas sobre o solo com uma das pontas presas
em placas de concreto alinhadas ao fundo, en-
quanto que, à esquerda, uma pá-carregadeira
de esteiras faz o espalhamento de volume de
terra sobre as fitas. Na Figura 12 (c), dois níveis
de terreno estão em vista lateral, ao centro,
há uma contenção vertical de maciço em pla-
cas de concreto. Nelas, arbustos de vegetação
crescem nas linhas divisórias. Também existe,
no nível inferior, uma rodovia vazia, limitada
pela parede. A rodovia mostra, no nível supe-
rior, um fluxo de veículos limitada por uma
(C) cerca no topo da parede.

330
UNIDADE 9

Durante muitos anos, a técnica de reforço de terreno com uso de terra armada permaneceu sob a
proteção de patentes registradas por Henri Vidal. Desde a década de 90, essas patentes não estão mais
em vigor no Brasil, e a técnica encontra-se regulamentada junto com as demais soluções de reforço de
terreno, em duas normativas técnicas, recentemente, atualizadas: NBR 16920-1: Muros e Taludes em
Solos Reforçados. Parte 1 – Solos Reforçados em Aterros (ABNT, 2021a) e NBR 16920-2: Muros
e Taludes em Solos Reforçados. Parte 2 – Solos Grampeados (ABNT, 2021b).
Solo grampeado ou solo pregado é outra técnica de contenção de solo reforçado que realiza a
inclusão, no maciço, em seu interior, de elementos resistentes à tração (chumbadores, grampos ou
pregos) associados a um revestimento na face externa do talude. Basicamente, é um sistema composto
por três elementos: solo, grampos e paramento (ABNT, 2021b). Grampos são constituídos por barras
de aço inseridas dentro de furos, previamente, executados no maciço e, que, posteriormente, serão
preenchidos por calda de cimento ou resina para garantir a ancoragem deste elemento no solo. Dife-
rentemente dos tirantes, os grampos são elementos passivos, ou seja, acrescentam, após a deformação
do solo, resistência ao conjunto, como um reforço à estrutura de contenção. Vem desta característica
a nomenclatura da técnica como solo reforçado.

 
Talude Original Talude Original
Aterro Aterro

Paramento Paramento

Bulbo de ancoragem

Figura 13 - Diferença da transferência de carga em relação aos elementos inseridos no maciço pelo solo grampeado e pela
cortina atirantada / Fonte: adaptada de Abramento, Erlich e Zirlis (2019).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em duas partes, mostrando situações diferentes de contenção de
talude com a vista, em corte, de um terreno com dois níveis. O nível superior inclinado à direita, enquanto o nível inferior horizontal está
inclinado à esquerda, ambos com uma parede limitadora, no centro, identificada como “paramento”. Também é possível ver elementos
lineares que a atravessam e se inserem no terreno. A parte da esquerda, cujo título é “solo grampeado”, mostra o paramento inclinado
em direção ao talude da direita, com uma região estreita de aterro atrás do paramento e os seus elementos lineares inseridos no solo
como linhas que atravessam até o maciço, este identificado como “talude original”. A parte da direita, cujo título é “cortina atirantada”,
mostra o paramento vertical em direção ao talude da direita, com uma região trapezoidal de aterro atrás do paramento e os seus ele-
mentos lineares inseridos no solo como linhas que atravessam até o maciço, este identificado como “talude original”. As pontas estão
inseridas em áreas elípticas, estas são identificadas como “bulbo de ancoragem”.

331
UNICESUMAR

Já os paramentos podem ser em concreto projetado armado com tela ou fibras de aço,
mas também podem ter aplicação de geomanta ou associação entre tela metálica e
biomanta, o que permite o crescimento de vegetação na face do talude, produzindo
o solo grampeado verde.
A execução do solo grampeado inicia com o corte do maciço na geometria (in-
clinação) prevista no projeto. Esta etapa é dispensada no caso de ser um reforço de
talude a exemplo das encostas naturais (MASSAD, 2010). Procede-se, então, à in-
clusão da primeira linha de grampos e à aplicação do paramento (revestimento) na
face externa, sempre, simultaneamente, à inclusão dos drenos profundos, canaletas
ou descidas d’água e outros elementos que fazem parte do sistema de drenagem,
conforme o projeto. O avanço do trabalho para a próxima linha pode ser ascendente
ou descendente, dependendo da conveniência.
Na figura, a seguir, podemos ver uma obra acabada de solo grampeado a qual
permite identificar as linhas de grampo horizontais executadas.

Figura 14 - Contenção tipo solo grampeado com revestimento em concreto projetado armado, ao lado de rodovia

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia que mostra a lateral de uma montanha dividida em
patamares, como degraus, e revestida de concreto. Essa lateral contém peças quadradas pequenas alinhadas,
em fileiras, ao longo do revestimento. No pé da montanha, há uma rodovia que vai em direção ao horizonte,
onde pode ser avistada outra montanha, ao fundo, coberta de vegetação.

Aproveitando os avanços da indústria petroquímica, começaram a ser desenvolvidos


materiais sintéticos de elevada resistência à tração e capazes de reforçar os solos. No-
meados geossintéticos ou reforço polimérico, estes produtos constituem um dos
mais novos grupos de materiais de construção empregados em obras geotécnicas,
sendo o geotêxtil o seu primeiro representante utilizado no Brasil, a partir dos anos
70 (EHRLICH; BECKER, 2020).

332
UNIDADE 9


geossintético
termo genérico para designar um produto no qual, no mínimo, um de seus
componentes é produzido a partir de um polímero sintético ou natural.
NOTA O geossintético se apresenta na forma de manta, tira ou
estrutura tridimensional, utilizado em contato com o solo ou outros
materiais, em aplicações da engenharia geotécnica e civil (ABNT,
2021a, p. 4, grifo do autor).

Reforçar o terreno utilizando geossintéticos consiste, resumidamente, em construir uma


(ou uma série) de camadas alternadas com solo ou material granular, podendo esse mate-
rial ser: geotêxtil; geogrelha; geocélula; geomembrana; geomanta; georrede; geocomposto;
geoexpandido; geotubo etc. Podem ser empregados em obras de recomposição, contenção
ou reforço de maciço para obter taludes mais íngremes, encontros de pontes, muros de
arrimo e em aterros sobre solos moles (AVESANI NETO; PORTELINHA, 2016).

Título: Geossintéticos em Geotecnia e Meio Ambiente


Autor: Ennio Marques Palmeira
Editora: Oficina de Textos
Sinopse: o livro reúne 40 anos de experiência do autor
na pesquisa e aplicação de geossintéticos no Brasil e
apresenta, de forma abrangente, assuntos importantes
sobre geossintéticos bem como as suas aplicações em
Engenharia Geotécnica e em obras de proteção ambien-
tal. É mostrada não só a fundamentação teórica, mas também considerações
práticas e exemplos de cálculos.
Comentário: recomendo, principalmente, a leitura do capítulo 9, “Contenções
e taludes íngremes reforçados com geossintéticos”, que descreve os diferen-
tes tipos de obras de contenções os quais utilizam geossintéticos em maciço
terroso e rochoso, os seus processos construtivos, os métodos de dimensio-
namento e exemplos de cálculos.

Para determinar a quantidade e, também o comprimento dos reforços de ter-


reno necessários, são realizadas análises de estabilidade externa e interna que
determinarão estas dimensões. No caso do uso de geossintéticos, geralmente, o
comprimento dos mesmos varia entre 60% e 80% da altura da contenção que será
realizada (EHRLICH; BECKER, 2020).

333
UNICESUMAR

A figura, a seguir, ilustra uma organização típica de contenção de solo reforçado


com geossintético:

Faceamento
1
4a6 Solo de
Enchimento
Geossintético

Dreno

Figura 15 - Elementos que constituem um Muro de Solo Reforçado (MSR) com geossintéticos
Fonte: adaptada de Ehrlich e Azambuja (2003).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração de contenção de talude com a vista, em corte, de um
terreno que contém dois níveis. O nível superior horizontal está à direita, enquanto o nível inferior horizontal
está à esquerda. Há uma parede limitadora, no centro, identificada como “faceamento” e elementos lineares que
a atravessam e se inserem no terreno, formando camadas, os quais são identificados pelo termo “geossintético”.
Abaixo e na porção da direita, é possível ver uma região destacada, identificada como “dreno” e que faz a limi-
tação das camadas que têm o material em seu interior, material que é identificado como “solo de enchimento”.

Barragem de Terra e Enrocamento

Quando pensamos na definição de “barragem”, imediatamente, imaginamos um


elemento estrutural que bloqueia um curso d’água (rio) e cria um reservatório a
céu aberto. É um uso bastante difundido deste tipo de obra, o que, praticamente,
cria a noção de que esta é a única função. Este é um tópico introdutório sobre este
tipo de estrutura, pois os seus detalhes de projeto serão vistos, com profundidade,
na disciplina específica, porém, neste momento, é importante termos os conceitos
principais envolvendo as barragens, incluindo a sua relação com o solo e a rocha
como materiais de construção.
Uma barragem pode ser construída para diversos objetivos, e Chiossi (2013)
apresenta, de forma resumida, os principais: aproveitamento hidrelétrico; regulari-
zação das vazões de curso d’água para fins de navegação; abastecimento doméstico
e industrial; controle de inundações; irrigação.
A legislação brasileira define este tipo de estrutura como:

334
UNIDADE 9


I - barragem: qualquer estrutura construída dentro ou fora de um curso permanente
ou temporário de água, em talvegue ou em cava exaurida com dique, para fins de con-
tenção ou acumulação de substâncias líquidas ou de misturas de líquidos e sólidos,
compreendendo o barramento e as estruturas associadas (BRASIL, 2010, on-line).

Recentemente, no cenário bra-


sileiro, se conhece, também,
outra utilização da barragem,
por causa de duas grandes ca-
tástrofes recentes, envolvendo
a construção: o rompimento
das barragens de rejeitos na ci-
dade de Mariana, em 2015, e
no município de Brumadinho,
em 2018 (ambas as localidades
no estado de Minas Gerais).
A atividade minerária pode
(A)
gerar, a partir da exploração e
do beneficiamento do miné-
rio, quantidades variáveis de
rejeitos, que, geralmente, são
dispostos em barragens (ANA,
2006). Esses rejeitos são cons-
tituídos por água e partículas
sólidas (solo e minerais), tais
materiais, juntos, possuem um
aspecto de lama. Nas catástro-
fes com as barragens de rejei-
tos em Minas Gerais, houve
o rompimento da barreira e (B)
todo esse rejeito de mineração
Figura 16 (a) - Rastros deixados pelo fluxo de lama após o rompimento da barra-
escoou pela região, cobrindo gem de rejeitos de Mariana-MG; Figura 16 (b) - Cenário, praticamente, idêntico em
Brumadinho-MG
cidades e enchendo rios, inclu-
sive, chegou ao mar. Descrição da Imagem: as figuras apresentam duas fotografias de dois locais dife-
rentes. Na Figura 16 (a), vemos um terreno com destroços de casas, móveis e outras
construções de madeira e concreto. Há uma extensa camada de lama sobre todas as
superfícies, deixando-as com coloração marrom, o céu acinzentado com nuvens, é
limitado, ao fundo, por um horizonte de montanhas verdes. Na Figura 16 (b), vemos um
terreno coberto por um grande volume de lama e objetos não identificados que atra-
vessam o limite de postes de cerca e de uma rodovia, ambos vistos na porção inferior.

335
UNICESUMAR

Os rompimentos das barragens de rejeitos da mi-


neração em Mariana e Brumadinho são dois dos
maiores desastres ambientais da história do país.
Para saber mais sobre eles, conversaremos a res-
peito dos processos que levaram ao rompimento
dessas barragens e, também, as consequências
dessas catástrofes. Acesse o link do podcast e ex-
panda o seu conhecimento com este papo!

No Brasil, existem legislações específicas para barragens, é o caso da Lei nº 12.334


(BRASIL, 2010, on-line), a qual estabelece a Política Nacional de Segurança de
Barragens (PNSB) e, também, as características para essas estruturas:



I - altura do maciço, medida do encontro do pé do talude de jusante
com o nível do solo até a crista de coroamento do barramento, maior
ou igual a 15 (quinze) metros;
II - capacidade total do reservatório maior ou igual a 3.000.000m³
(três milhões de metros cúbicos);
III - reservatório que contenha resíduos perigosos conforme normas
técnicas aplicáveis;
IV - categoria de dano potencial associado médio ou alto, em termos
econômicos, sociais, ambientais ou de perda de vidas humanas,
conforme definido no art. 7º desta Lei;
V - categoria de risco alto, a critério do órgão fiscalizador, conforme
definido no art. 7º desta Lei (BRASIL, 2010, on-line).

Nos casos das atividades minerárias, também contamos com a norma técnica NBR
13028: Mineração – Elaboração e Apresentação de Projeto de Barragens para
Disposição de Rejeitos (ABNT, 2017), que especifica os requisitos mínimos para
elaboração e apresentação de projeto de barragens de mineração, visando a atender
às condições de segurança e a minimizar os impactos ao meio ambiente, entre outros.
As barragens podem ser classificadas em diferentes tipos, de acordo com os
materiais empregados na construção, o seu projeto hidráulico e o seu objetivo.
Neste tópico relacionado a obras de terra, concentraremos os nossos olhares
naquelas barragens construídas com terra e rochas, são elas: barragem de terra e
barragem de enrocamento.

336
UNIDADE 9

O uso de barragens de terra está presente nas construções humanas desde a


Antiguidade, sendo que um dos registros mais antigos está localizado no Egito,
tem estrutura de 12 metros de altura e data de 6,8 mil anos. Nesta época, essas
obras eram construídas, todas, com o mesmo material, o qual era transportado,
manualmente e, em seguida, compactado por pisoteamento (animal ou humano).
A técnica de compactação mecânica só foi introduzida em meados da passagem
do século XIX para o século XX (MASSAD, 2010).
No Brasil, existem registros das primeiras barragens de terra construídas no
Nordeste, no início do século XX, como parte dos planos de combate à seca da
região, todas projetadas segundo bases empíricas. A engenharia brasileira de
barragens de terra e rochas entrou na Era Moderna das técnicas de projeto e
construção, a partir de 1948, quando Karl Terzaghi, reconhecido como o “pai”
da Mecânica dos Solos e da Engenharia Geotécnica, foi chamado para fornecer
consultoria em relação ao problema de rastejo em talude da Usina de Cubatão-SP
(MELLO, 1975).
Podemos classificar as barragens de terra em dois tipos, de acordo com a sua
composição:
• Barragens de terra homogêneas: aquelas compostas por uma única
espécie de material (solo), excluindo a proteção superficial dos taludes.
Necessariamente, elas possuem taludes de inclinação mais suave para es-
tabilidade e o material de composição é o mais impermeável possível (solo
argiloso), oferecendo uma barreira adequada contra o fluxo d’água.
• Barragens de terra zoneadas: são variantes da homogênea, construí-
das, também, com um único solo de empréstimo, porém compactado em
condições diferentes de umidade, para mais aproveitamento das variações
geotécnicas. O solo seco é empregado nos espaldares, área que necessita de
mais resistência (estabilidade), e o solo úmido é utilizado no núcleo, região
onde deseja-se baixa permeabilidade (estanqueidade) (MASSAD, 2010).

Já as barragens de terra-enrocamento são aquelas cujos maciços são construídos


com solo e “blocos de rocha com dimensões selecionadas, lançados e compacta-
dos com rolos especiais” (QUEIROZ, 2016, p. 329). É considerada a mais estável
dentre as barragens construídas com materiais de origem natural, pois não há
registro de acidentes ocasionados pela ruptura de seus taludes. Massad (2010)
indica que essa estabilidade se deve, principalmente, ao elevado ângulo de atrito
do seu principal material (pedras) e do núcleo argiloso que garante estanqueidade
ao represamento de água.

337
UNICESUMAR

O quadro, a seguir, apresenta os tipos mais comuns de variação para estas barragens:

DESCRIÇÃO IMAGEM ESQUEMÁTICA


Barragem de terra-enrocamento com núcleo central
Contendo um núcleo central imper-
meável de argila que é mais largo em
sua base, realiza mais controle de
perdas d’água e exerce mais pres-
são nas fundações. Quando a argila
central for mais compressível do que o
enrocamento, ela pode recalcar (efeito
silo), tendo o seu peso suportado, por
atrito, pelos espaldares de material ro-
choso, ocasionando trincas no núcleo.

Barragem de terra-enrocamento com núcleo inclinado


Variação que impede o “efeito silo”.
O seu núcleo é inclinado de forma a
não transferir o peso do mesmo para
os espaldares. Possui a vantagem de
execução mais rápida, pois, pode-se
levantar o enrocamento de jusante
enquanto procede ao tratamento das
fundações na base do núcleo.

Neste tipo, não existe um núcleo im- Barragem de enrocamento com membrana de concreto
permeável, mas sim, uma membrana
de concreto no talude de montante
que garante a estanqueidade do ma-
ciço. Essa membrana é composta por
placas de concreto ligadas por juntas
especiais que se apoiam sobre o enro-
camento, permitindo eventuais movi-
mentações devido a recalques deste
meio deformável, durante o primeiro
enchimento do reservatório.
Quadro 2 - Tipos de barragem de terra-enrocamento / Fonte: a autora.

Barragens de enrocamento exigem grandes quantidades de rochas em sua construção, o que pode se tornar
inviável do ponto de vista econômico, se existe escassez de material rochoso próximo. Este tipo de barragem
torna-se viável e econômico, somente, nas regiões onde o custo do concreto é elevado e há escassez de
material terroso, tendo disponibilidade de rocha dura e resistente para a sua construção (CHIOSSI, 2013).
A resistência exigida ao tipo de rocha empregada na construção é aquela que seja inalterada por intem-
perismo físico e químico, sendo os melhores tipos o basalto maciço, o granito, o gnaisse, o diabásico etc.
Os principais fatores que afetam a escolha do tipo de barragem são: geológico-geotécnico; constru-
tivo; hidrológico-hidráulico; topográfico; materiais de empréstimo; custo; prazo e clima (MASSAD,
2010). Existe, também, um fator subjetivo que se relaciona com a preferência pessoal e a experiência
profissional do(a) responsável pelo projeto, porém, geralmente,“o maior fator individual que determina
a escolha final é o custo da construção” (CHIOSSI, 2013, p. 254).

338
UNIDADE 9

Um país tem os seus desenvolvimento e É importante ter em mente como estas


bem-estar, intimamente, ligados às obras de construções oferecem soluções para tantas
infraestruturas, como transporte, saneamen- necessidades humanas, mas também é neces-
to, energia, habitação, escolas, hospitais e in- sário saber que a avaliação de segurança das
dústrias. Todas elas, de alguma forma, estão obras de terra é o principal fator controlador
relacionadas a operações que utilizam terra e dos projetos de Engenharia Civil. Nas palavras
rochas como material de construção ou que do construtor de alguns dos mais importan-
se estabelecem em contato com grandes ma- tes projetos e portador do conhecimento-base
ciços destes elementos. E, para isso, é preciso de Engenharia brasileira, Victor Froilano Ba-
que profissionais de Engenharia Civil detenham chmann de Mello (1975, p. 285):



conhecimento das variadas soluções em obras
de terra para lidar com estes volumes. Mas sou obrigado a afir-
Os riscos envolvidos em implantar obras adja- mar, desde o início, que
centes a taludes podem ser muito elevados quando em minha experiência é
não há ideia dos aspectos de segurança envolvidos. principalmente na conexão
Nem sempre uma solução de proteção superfi- entre a Mecânica dos Solos
cial, como vista na unidade anterior deste livro, e o campo geral da Enge-
é suficiente para impedir que um maciço terro- nharia Civil, e em nossas
so entre em ruína e cause uma catástrofe. É neste obrigações como membros
momento que as estruturas de obras de contenção de uma sociedade, que o
são empregadas. Conhecer os tipos de contenções maior desafio e oportuni-
mais usuais permite ter ideia de quais soluções se dades para a visão criativa
adequarão melhor ao caso que temos em mãos. nos atrai e nos conduz para
As obras relacionadas aos maciços terrosos a frente.
nem sempre têm a ver com instalações próximas
a eles, pois, muitas vezes, precisamos construir os Não é certeza de que projetos serão infalíveis
nossos próprios taludes. É o caso das barragens ou que as análises detalhadas não são passíveis
de terra e enrocamento que proporcionam barra- de erros que escapem do olhar técnico. Conhe-
mento a grandes volumes de água ou rejeitos. São cer os acidentes com obras de terra do passado
obras de imenso impacto no modo de vida hu- e entender os seus desdobramentos permitem
mano, sendo utilizadas desde as atividades mais a construção de melhores projetos bem como
básicas, como a agropecuária, passando pelas a atenção aos detalhes que só a experiência e
mais exploratórias, como a mineração, chegando a ligação com o conhecimento retido destes
às mais complexas, como as usinas de energia. eventos possuem.

339
Nesta última unidade, conhecemos variados tipos de obras de terra, tanto das contenções quanto
das barragens. A seguir, estão embaralhados vários termos técnicos, nomes, procedimentos e,
até mesmo, conceitos vistos na unidade. Você analisará cada um deles e os anotará no espaço
adequado do organograma de contenções e barragens. Caso perceba que estão faltando termos
ou informações que fazem parte das seções presentes no organograma, pesquise-os no material
de estudo e complete com a informação.

APROVEITAMENTO REGULARIZAÇÃO DAS ABASTECIMENTO DE


NAVEGAÇÃO
HIDRELÉTRICO VAZÕES ÁGUA
ELEMENTOS DE
AUTOPORTANTE MONOAPOIADA MULTIAPOIADA
ESTABILIDADE
BLOCOS DE
TIJOLOS FUNDAÇÕES TOMBAMENTO
CONCRETO
CAPACIDADE DE
MOMENTO PAREDE PARAMENTO
CARGA
CHUMBADORES PREGOS MALHAS DE AÇO MANTAS
DEFINITIVAS MADEIRA METAL JET GROUTING
PLACAS DE REATERRO
DRENOS FILTRO DE AREIA
CONCRETO COMPACTADO
ELEMENTOS DE MATERIAIS
TERRA ARMADA NBR 16920-1
REFORÇO COMPÓSITOS
MEMBRANA DE
EMPUXO ATIVO EMPUXO PASSIVO DESLIZAMENTO
CONCRETO
ISOLAMENTO DA PAVIMENTO DE
FALTA DE ESPAÇO FITAS METÁLICAS
OBRA SUBSOLO
OBRAS DE
FLEXÍVEIS RÍGIDAS CENTROS URBANOS
ESCAVAÇÃO
GABIÕES SOLO-CIMENTO SOLO-PNEU CRIB WALL
GRAVIDADE FLEXÃO CONTRAFORTES TIRANTES
IRRIGAÇÃO MINERAÇÃO MARIANA (2015) BRUMADINHO (2018)
KARL TERZAGHI HOMOGÊNEA ZONEADAS SOLO ARGILOSO
LEI N.12.334 NBR 13028 CRISTA TALUDE
LONGARINA ESTRONCAS ESCORAS PROVISÓRIAS
SISTEMA DE
TRINCHEIRA DE
MONTANTE JUSANTE DRENAGEM DE ÁGUAS
VEDAÇÃO
PLUVIAIS
SOLO GRAMPEADO
NBR 16920-2 SOLO PREGADO GEOSSINTÉTICO
VERDE
CONCRETO
PEDRA CONCRETO SIMPLES CONCRETO ARMADO
CICLÓPICO
PIPING TETON (1976) NÚCLEO CENTRAL NÚCLEO INCLINADO

340
MUROS DE ARRIMO ESCORAMENTO

CORTINAS SOLO REFORÇADO

BARRAGEM DE TERRA BARRAGEM DE TERRA-


ENROCAMENTO

341
1. Estes muros são estruturas de contenção formadas por elementos pré-moldados de
concreto armado, madeira ou aço, que são montados no local, em forma de “fogueiras”
justapostas e interligadas, longitudinalmente, cujo espaço interno é preenchido com
material granular graúdo. Também chamados de Crib Walls, são estruturas capazes de
se acomodar a recalques das fundações.

Esta descrição refere-se a que tipo de obra de contenção? Assinale a alternativa correta:
a) Muro com contraforte.
b) Muro gravidade.
c) Muro flexão.
d) Muro de escoramentos.
e) Muro multiapoiado.

2. Para o comportamento satisfatório de uma estrutura de contenção ou barragem, é


fundamental a utilização de sistemas eficientes de drenagem às águas pluviais. Em ge-
ral, os projetos de drenagem são combinados com dispositivos de proteção superficial
dos taludes dessas obras. Em relação ao dispositivo que pode integrar um sistema de
drenagem de talude ou barragem, assinale a alternativa incorreta:
a) Canaletas transversais e longitudinais.
b) Dissipadores de energia.
c) Dreno de areia.
d) Barbacã.
e) Tapete impermeável.

3. Em determinadas obras de contenção, como as cortinas atirantadas, a interação so-


lo-estrutura pode englobar, simultaneamente, os empuxos ativo e passivo. É o que
ocorre na figura, a seguir, em que, além disso, existe, imediatamente, atrás da cortina,
a força Ft de um tirante de aço amarrado em um ponto perto do topo da cortina, que
complementa os esforços de resistência ao empuxo ativo.

342
Figura 1 - Cortina atirantada utilizada como muro-cais ancorado, caso em que se desenvolvem pressões ativas
e passivas / Fonte: Gerscovich, Danziger e Saramago (2016, p. 55).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração de escoramento por parede vertical atirantada com a vista,
em corte, de um terreno com dois níveis. O nível superior horizontal está à direita, enquanto o nível inferior horizontal
está à esquerda identificado pela expressão “linha de dragagem”, abaixo das linhas indicativas de nível d’água, enquanto
o paramento vertical limitador, no centro, é identificado pelo nome “muro-cais”. Em ambos os lados do paramento, são
indicados, por flechas, diagramas triangulares de esforços. No topo do paramento, há uma linha identificada como “tirante”
com flechas dos esforços Ft em direção ao elemento inserido no maciço na porção superior direita, identificado como
“placa de ancoragem”, que contém diagramas triangulares de esforços, em ambos os lados.

Esta forma de apoio da cortina atirantada, representada na Figura 1, classifica a cortina


em qual categoria de elementos de estabilidade? Assinale a alternativa correta:
a) Cortina autoportante.
b) Cortina monoapoiada.
c) Cortina multiapoiada.
d) Cortina flexível.
e) Cortina rígida.

4. Um muro de arrimo do tipo gravidade, como o representado na Figura 2, deve ter


dimensões e ser composto por materiais de forma que, a partir de sua extremidade
externa contrária ao maciço terroso (Ponto A), os Momentos Resistentes da Conten-
ção (∑MRES) devem ser superiores aos Momentos Solicitantes (∑MSOL) atuando sobre a
estrutura em, pelo menos, 1,2 a 1,5, conforme a equação:

FStomb =
 M RES  1,2 a 1,5
 M SOL

343
Figura 2 - Muro do tipo gravidade em contenção de terreno com superfície horizontal / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração esquemática de um terreno em dois níveis, com um muro
trapezoidal como contenção. Dentro do muro e do maciço, são indicados os esforços de peso e empuxo com as suas
respectivas angulações e, também, o posicionamento em relação ao ponto inferior esquerdo, nomeado como “A”, e a
linha horizontal do terreno inferior.

Sabendo que o esforço de peso próprio é de 47,5 kN e o esforço de empuxo ativo é de


23 kN, assinale a alternativa correta:
a) O muro não passa na verificação de segurança contra tombamento de FStomb < 1,2
. A estrutura deve ser redimensionada.
b) O muro não passa na verificação de segurança contra tombamento de FStomb > 1,2
. A estrutura deve ser redimensionada.
c) O muro passa na verificação de segurança contra tombamento de FStomb = 1,2 . A
estrutura está bem dimensionada.
d) O muro passa na verificação de segurança contra tombamento de FStomb < 1,2 . A
estrutura está bem dimensionada.
e) O muro passa na verificação de segurança contra tombamento de FStomb > 1,2 . A
estrutura está bem dimensionada.

344
UNIDADE 1

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352
UNIDADE 1

1. B. A área da Geotecnia reúne as informações referentes aos maciços de solo que são incor-
porados às infraestruturas de edificações, como é o caso das fundações. Esta área engloba os
conhecimentos de Geologia, Mecânica dos Solos e Mecânica das Rochas que são adquiridos por
meio de sondagens do solo, ensaios no terreno da construção e análises de solo em laboratório
com material coletado no local da construção. O objetivo é explorar e determinar as principais
características de resistência, composição, comportamento sob solicitações, disposição de ca-
madas e nível de lençol freático do solo no terreno em que a obra será construída.

2. C. As fundações superficiais são definidas pela NBR 6122 como aquelas compostas por ele-
mentos cuja carga é transmitida ao maciço do solo pelas tensões distribuídas sob a base e cuja
profundidade de assentamento em relação ao terreno adjacente seja duas vezes inferior à
menor dimensão do mesmo. Incluem-se, neste tipo de fundação, os blocos simples, as sapatas
e os radiers. São empregadas quando o terreno no qual a fundação se assenta apresenta resis-
tência suficiente para receber a aplicação das cargas da construção e atende aos coeficientes
de segurança e aos Estados-Limites (ELU e ELS).

3. C. Cada uma das outras alternativas possui problemas em sua elaboração ou na interpretação das
informações contidas no perfil apresentado. A alternativa A está incorreta porque considera as
camadas do solo próximas à superfície do terreno como resistentes, uma análise que vai contra
o perfil apresentado, o qual mostra camadas de aterro sobre argila mole até a profundidade
de pouco mais de 7 m. A alternativa B está incorreta porque indica que a solução por tubulão
a céu aberto é econômica e se apoia em camadas superficiais do terreno, este é um tipo de
fundação profunda e, por isso, a sua execução é onerosa. A alternativa D está incorreta porque
prevê que as estacas pré-moldadas devem ser cravadas até a profundidade de 6 m, nesta cota
ainda não está presente a camada de solo mais resistente, conforme planejado pela solução.
A alternativa E está incorreta porque considera as camadas do solo próximas à superfície do
terreno como resistentes (o perfil do solo apresenta o contrário), além de considerar que os
esforços nas fundações promovidos pelo prédio têm carga baixa (o quadro das edificações
aponta que tem carga média).

UNIDADE 2

1. B. Esta alternativa é a correta, pois é a única que faz referência aos parâmetros levantados duran-
te os ensaios geotécnicos de campo. Buscando os dados que são levantados nas Investigações
Preliminares, entendemos que as demais alternativas tratam de: A. Topografia; C. Estrutura a
construir; D. Construções vizinhas; E. Orçamento e cronograma.

2. D. A afirmativa I é a única falsa porque indica que a medição do torque (Tmax) ocorre “antes da
cravação do amostrador”, quando, na verdade, esta medida é realizada após a cravação do
amostrador-padrão.

3. E. A alternativa é a correta, pois, no Ensaio SPT, é realizada a contagem de golpes do martelo


para penetração do amostrador em 3 porções de 15 cm, as quais, neste relatório, estão discri-
minadas na coluna “Índices de Penetração” e subcolunas “Nº de golpes”. No caso da camada
de profundidade de 4 m, estes índices são 6-8-9, respectivamente. Para a determinação do
Índice de Resistência do Ensaio NSPT são considerados o somatório das últimas duas porções,
que correspondem, nesta camada, aos valores 8 e 9. Dessa forma, o cálculo básico é NSPT = 8
+ 9 = 17 golpes. Outra forma de verificar esse índice, no relatório, é analisar a coluna “NSPT“ e a
subcoluna “2º+3º”, na linha correspondente à camada de 4 m de profundidade, onde já está o

353
valor calculado NSPT = 17 golpes.

UNIDADE 3

1. D. Para verificar os parâmetros, começamos listando as informações do problema:

Sapata quadrada

B = 0,95 m

Cota de apoio = -1,50 m

Carga do pilar = 75 kN

FS = 3

• Área da base da sapata

2
área B2 0, 95 0, 9025 m2

• Carga que deve ser aplicada pela fundação ao solo

Carga = P  pp   75   5%  78, 75 kN

• Tensão aplicada pela sapata ao solo

Carga 78, 75
saplicada = = = 87, 2576 kN/m†
` rea 0, 9025
• Bulbo de Tensão da sapata

Cota inicial = -1,50 m

354
2  B  2   0, 95   1, 90 m

Cota final = -3,40 m

• NSPT médio

A profundidade abrangida pelo Bulbo de Tensões inclui três camadas de SPT representativas,
cujo Índice de Resistência à Penetração é determinado pela soma dos golpes nas últimas duas
porções de 15 cm de penetração, sendo eles:

N SPT 1  5  4  9
N SPT  2   5  7  12
N SPT  3  7  8  15

calculando o Índice de Resistência Médio, temos:

N SPT 
N SPT 1  N SPT  2   N SPT  3 
3

N SPT 
 9  12  15   12
3

• Tensão Admissível pela fórmula de Mello (1975)

sadm  100   N SPT  1 


sadm  100   
12  1  246, 41 kPa
sadm  246, 41 kN/m
m†

• Tensão Admissível pela fórmula de Teixeira (1999)

sadm  20  N SPT
sadm  20  12   240 kPa
sadm  240 kN/m†

• Verificação de segurança

saplicada  sadm
246, 41 kN/m†
87, 26 kN/m†  sadm 
240 kN/m†

355
a Tensão Aplicada pela sapata no solo é menor do que a Tensão Admissível estimada para as
condições de solo apresentado, por mais de um Método Semiempírico. Dessa forma, a sapata
está bem dimensionada e a favor da segurança.

2. E. Para verificar os parâmetros, começamos listando as informações do problema:

Sapata circular

B = 1,25 m

Cota de apoio = -1,00 m

Solo intermediário

Carga do pilar = 550 kN

FS = 3

Área da base da sapata

2
` rea  B2  1, 25   1, 5625 m†

Carga que deve ser aplicada pela fundação ao solo

Carga = P  pp   550   5%  577, 50 kN

Tensão que será aplicada pela sapata ao solo

Carga 577, 50
q = = = 369, 60 kN/m†
` rea 1, 5625
Bulbo de Tensão da sapata

356
Cota inicial = -1,00 m

2  B  2  1, 25   2, 50 m

Cota final = -3,50 m

Torque Médio:

A profundidade abrangida pelo bulbo de tensões inclui três camadas de SPT representativas,
cujo Torque Máximo medido é:

Tmax1  12 kgf
Tmax 2   11 kgf
Tmax 3  10 kgf

calculando o Torque Médio, temos:

Tmax 
T max 1  Tmax 2   Tmax 3 
3

Tmax 
12  11  10   11 kgf
3
para calcular a Tensão de Referência, é preciso determinar o fator Neq, a partir do Torque Médio
para o Método Décourt:

Tmax 11
N eq    9, 1667 kPa
1, 2 1, 2

Tensão de Referência para o solo do tipo intermediário

qr  100  N eq  100   9, 1667   916, 67 kPa


qr  916, 67 kN/m†
Coeficiente de Compressibilidade Intrínseca do Solo para o tipo não-laterítico

C = 0,426

Lado equivalente

Beq  área  1, 5625  1, 25 m

357
Aplicação da fórmula do Método Décourt para calcular o recalque

 q    s 
log    C  C  log  
 qr    Beq 
 

 
log  q   log  qr   C  C  log  s   log Beq 
 

log  369, 60   log  916, 67   0, 426  0, 426  log  s   log 1, 25  


2, 5677  2, 9622  0, 426  0, 426  log  s   0,, 09691

0, 3945  0, 426  0, 426  log  s   0, 09691
0, 8205
 log  s   0, 09691
0, 426
1, 9261  0, 09691  log  s 
1, 9261  0, 09691  log  s 
1, 82919  log  s 
s  10
1,82919 
 0, 01481 m 15 mm
dessa forma, prevê-se que o recalque para a fundação projetada será de, aproximadamente,
15 mm.

3. Informações do problema:

Bloco quadrado

b = 0,80 m

h = 0,40 m

Cota de apoio = -1,00 m

Concreto fck = 20 MPa

Carga do pilar = P = 55 kN

Fator de Segurança = FS = 3

a) Cálculo da Tensão Admissível pelo Método de Terzaghi

Bulbo de Tensão

Abrangência para Bulbo de Tensão em forma quadrada = 2B

358
2B = 2 x 0,80 m = 1,60 m

até a cota -2,60 m de profundidade.

Solo de apoio

Da cota -1,00 m até -2,60 m, temos:

Areia siltosa acima do Nível de Água (N.A.)

Peso específico do solo = γ = 20 kN/m³

Ângulo de atrito do solo = φ = 31º

Coesão do solo = c = 0,00 Mpa

Método de ruptura

Coesão = 0

Ângulo de atrito = 31º

359
utilizar cálculos com Ruptura Local.

Coesão e ângulo de atrito

Como estamos trabalhando com Ruptura Local, os valores para coesão e ângulo de atrito são
tomados em 2/3:

  2  0, 00   0
c ' 
 3

 2  tan  31º  
 tan j '  3
 0, 400573746

j '  arctan(0, 400573746)  22º


Fatores de carga

Como o ângulo de atrito é 22º, os Fatores de Carga para Ruptura Local devem ser calculados
utilizando interpolação linear entre os valores correspondentes de 20º e 25º, sendo:

 '  14, 81  11, 85    13, 034


 N c  11, 85   22º 20º   
   25º 20º  

 '   5, 6  3, 88    4, 568
 N q  3, 88   22º 20º   
   25º 20º  

 N '  1, 74   22º 20º    3, 17  1, 74    2, 312
 
 g
   25º 20º  
Fatores de forma

Considerando que o elemento tem forma de base quadrada, os fatores de forma podem ser os
considerados por Terzaghi (1943) ou Vésic (1975). Nesta resolução, adotaremos a formulação
mais recente, a de Vésic:

  Nq   4, 568 
 Sc  1     1    1, 35
  N c   13, 034 

 Sq  1  tan  φ   1  tan  22º   1, 40

 Sγ  0, 6


360
Tensão Efetiva do solo na cota de apoio

A Tensão Efetiva ou pressão intergranular corresponde à pressão que se desenvolve no esque-


leto estrutural dos solos pelo “contato grão a grão”. Como estamos numa cota em que o solo
se encontra acima do lençol freático, temos ausência de poropressão, então, a Tensão Efetiva
é igual à Tensão Vertical do solo na cota de apoio. Acima da cota, temos, apenas, a primeira
camada de aterro com espessura de 1,0 m. Dessa forma, o cálculo da Tensão Efetiva (q) fica:

q   gi  hi   17, 5  1, 00   17, 50 kN/m†

Tensão de Ruptura por Terzaghi

Com todos os parâmetros calculados, agora, resta, apenas, aplicar dentro da Equação de Ter-
zaghi e calcular a Tensão de Ruptura:


 γ  B  N 'γ  Sγ  
σrup   c ' N 'c  Sc   
 2

  q  N 'q  Sq


  20  0, 80  2, 312  0, 6  
σrup   0  13,, 034  1, 35      17, 5  4, 568 1, 40 
 2 
  22, 1952  
σrup   0      111, 916 
 2 
σrup   0   11, 0976  111, 916 
σrup  123, 0136 kN/m†

Tensão Admissível

Dessa forma, o cálculo da prossegue relacionando a Tensão de Ruptura com o Fator de Segurança:

srup 123, 0136


sadm    41 kN/m†
FS 3
O critério de segurança prevê que a Tensão Aplicada deve ser menor do que a Tensão Admissível.
No caso do bloco projetado, temos a Tensão Aplicada pelo Bloco, considerando:

Área da base do bloco = A = 0,80² = 0,64 m²

Volume do bloco = base x altura = 0,64 x 0,40 = 0,256 m³

Peso específico do concreto simples = 24 kN/m³

Peso próprio do bloco = pp = 0,256 x 24 = 6,144 kN

Carga do pilar = P = 55 Kn

361
Tensª o Aplicada  s Ap 
 P  pp   61,144 = 95,5375kN
A 0, 64
Entendemos, então que a Tensão Aplicada pelo bloco é superior à Tensão Admissível do solo.
Por isso, é necessário redimensioná-lo para garantir a segurança do elemento de fundação.

UNIDADE 4

1. E. Esta é a única alternativa correta porque as demais apresentam características de outras


fundações que não são o bloco de fundação. As correções que são feitas nas alternativas incor-
retas são: A. Profundidade de assentamento indicada corresponde a uma fundação profunda
e não a uma fundação rasa, como o caso do bloco de fundação. B. Solos pouco resistentes ou
com abundância de água não fazem parte das condições propícias para um bloco de fundação
bem como ele não se apoia em camadas profundas, por ser uma fundação superficial/rasa. C.
Relativa às características de fundação do tipo radier, como indicado por sua forma de laje e
constituição de concreto armado. D. Relativa às características da fundação do tipo sapata, como
indicado sobre a constituição que inclui a armadura, diferentemente do bloco de fundação que
não a possui.

2. B. Esta alternativa aponta que as afirmativas II e III estão corretas, porque as demais apresen-
tam um trecho que não condiz com o conteúdo estudado. As correções feitas nas afirmativas
incorretas são: I. Na fundação superficial de bloco, as tensões de tração são resistidas, apenas,
pelo concreto, pois é um elemento que não possui armadura. IV. A fundação rasa do tipo raider
é uma das mais recomendadas para o caso de construção de residências. É utilizada, principal-
mente, em conjuntos habitacionais onde existe repetição de um mesmo formato de fundação,
pois a sua execução total, numa única sequência de trabalhos, permite um cronograma eficiente
para obras desse tipo.

3. Informações do problema:

Sapata quadrada

b = 1,80 m

Cota de apoio = -2,00 m

Concreto fck = 25 MPa

Carga do pilar = P = 1550 kN

Fator de Segurança = FS = 3

a) Cálculo da Tensão Admissível pelos métodos semiempíricos, usando resultados do SPT

Área da base da sapata

2
` rea  B2  1, 80   3, 24 m†

362
Carga que deve ser aplicada pela fundação ao solo

Carga = P  pp  1550   5%  1627, 50 kN

Tensão Aplicada pela sapata ao solo

Carga 1627, 50
saplicada == = 502, 3148 kN/m†
` rea 3, 24
Bulbo de Tensão da sapata

Cota Inicial = -2,00 m

2  B  2  1, 80   3, 60 m

Cota final = -5,60 m

NSPT médio

A profundidade abrangida pelo Bulbo de Tensões inclui quatro camadas de SPT representativas,
cujo Índice de Resistência à Penetração é determinado pela soma dos golpes nas últimas duas
porções de 15 cm de penetração, sendo eles:

N SPT 1  15
N SPT  2   14
N SPT  3  16
N SPT  4   17

calculando o Índice de Resistência Médio, temos:

363
N SPT 
N SPT 1  N SPT  2   N SPT  3  N SPT  4  
4

N SPT 
15  14  16  17   15, 5
4
Tensão Admissível pela fórmula de Mello (1975)

sadm  100   N SPT  1 


sadm  100   15, 5   1  293, 7003 kPa
sadm  293, 7003 kN/m†
Tensão Admissível pela fórmula de Teixeira (1999)

sadm  20  N SPT
sadm  20  15, 50   310 kPa
sadm  310 kN/m†

Verificação de segurança

σaplicada σadm Critério de segurança


293, 70 kN/m†
502, 31 kN/m† σadm
310 kN/m†
A Tensão Aplicada pela sapata no solo é maior do que a Tensão Admissível estimada para as
condições de solo apresentado, por mais de um método semiempírico. Dessa forma, a sapata
está mal dimensionada e em situação de insegurança, necessitando redimensionamento.

b) Critério de segurança e redimensionamento

Como a Tensão Aplicada pela sapata no solo é maior do que a Tensão Admissível estimada
para as condições do solo apresentado, por mais de um método semiempírico, precisamos
redimensionar a sapata.

Tensão Admissível Média dos métodos semiempíricos

Primeiro, estabelecemos um valor para a Tensão Admissível, com base nos valores calculados
por dois métodos semiempíricos, calculando um valor médio.

364
sadm 
s adm De Mello   sadmTeixeira  
2

sadm 
 293, 7003  310   301, 8501 kN/m†
2
Adotamos, então, um valor mínimo aproximado para a Tensão Admissível de 302 kN/m² e pro-
cedemos com os cálculos do redimensionamento.

Tensão Aplicada segura para a fundação

Adotando a filosofia de projeto da Solicitação Admissível (Método de Valores Admissíveis,


segundo a NBR 6122), estimamos que a Tensão Aplicada pelo elemento de fundação não deve
ser superior a uma Tensão Admissível.
saplicada < sadm
saplicada < 302 kN/m†
a favor da segurança, adotamos, como Tensão Aplicada pela sapata, o valor de 302 kN/m².

Nova Área da Base para a sapata

Carga
saplicada =
` rea
1627,50
302 =
` rea
1627,50
` rea = ≅ 5, 3890 m†
302
Novo Lado da Base para a sapata quadrada

a  b  B  Area  5, 3890  2, 3214 m

Como é recomendado que, no dimensionamento de fundações, se trabalhe com medidas múl-


tiplas de 5 cm, adotamos, como novo lado redimensionado para esta sapata, de 2,35m. Fica,
então, a fundação redimensionada a favor da segurança.

UNIDADE 5

1. D. Estacas de madeiras estão sujeitas às decomposições e ao ataque por organismos e, geral-


mente, são usadas, somente, abaixo do nível freático.

2. E. Estacas Franki se caracterizam pela sua base alargada, são executadas com o auxílio de um
bate-estacas que realiza a cravação de tubo metálico no solo, por meio de golpes de um pilão.

3. C. Estacas raiz tiveram as primeiras patentes requeridas na Itália, em 1952, pelo professor Fer-

365
nando Lizzi e, originalmente, foram desenvolvidas para reforço de fundações. A sua execução
utiliza equipamentos de pequeno porte movidos à eletricidade, o que favorece o funcionamento
em locais fechados, evitando barulho e fumaça de motores à explosão.

UNIDADE 6

1. C.

Método Aoki-Velloso

Perímetro da estaca:

U  p  D  3, 1416   0, 30m   0, 94 m

Fator de Carga da estaca:

F2  2  F1  2   3   6

Camada de argila siltosa:

L1  5, 30m
a1  0, 04
K1  220kPa

N SPT 
 5  7  8  8  9   7, 4
5

r1 

a1  K1  N SPT   0, 04  220  7, 4   10, 85kPa
F2 6

Camada de areia siltosa:

L2  3, 70m
a2  0, 02
K2  800kPa

N SPT 
10  11  12  14   11, 75
4

r2 

a2  K2  N SPT   0, 02  800  11, 75  31, 33kPa
F2 6

Resistência Lateral total da estaca:

366
RL  U     rL   L  
RL  U   r1  L1    r2  L2  
RL  0, 94  10, 85  5, 30    31, 33  3, 70    163, 02kN

Método Décourt-Quaresma

Fórmula da Resistência Lateral:

 
RL  U  L  rL  b

Perímetro da estaca:

U  p  D  3, 1416   0, 30m   0, 94 m

Camada de argila siltosa:

L1  5, 30m
b1  0, 80

N SPT 
 5  7  8  8  9   7, 4
5
 N     7, 4  
r1  10   SPT   1  10     1  34, 67 kPa
 3    3  
R1  U  L1   r1   b1  0, 94  5, 30   34, 67   0, 80  138, 18kN
Camada de areia siltosa:

L2  3, 70m
b2  0, 50

N SPT 
10  11  12  14   11, 75
4
 N    11, 75  
r2  10   SPT   1  10     1  49, 17 kPa
 3    3  
R2  U  L2   r2   b2  0, 94  3, 70   49, 17   0, 50  85, 51kN

Resistência Lateral total da estaca:

RL  RL1  RL2
RL  138, 18  85, 51  223, 69kN

367
2. E. Para o cálculo da nega (s), utiliza-se a distância máxima (Dmx) entre o primeiro patamar do
ensaio e o último, dividida por 10.

Dmx  41, 59mm  0, 62mm 


s   4, 097 mm
10 10
3. E. Ao estimar a quantidade mínima de estacas para resistir ao esforço de cada pilar, procede-se
ao cálculo dividindo a Carga do Pilar pela Carga Admissível de uma única estaca.

Ppilar 3700kN
Estacas    4, 93
Padm 750kN
Como a quantidade de estacas é, sempre, em valores de unidades inteiras, admite-se o valor
aproximado unitário superior, neste caso, cinco estacas, como o mínimo para oferecer resis-
tência à carga do pilar.

UNIDADE 7

1. B. Cada uma das outras alternativas possui problemas em sua elaboração ou na interpretação das
informações contidas no perfil apresentado. A alternativa A está incorreta porque tubulões são
fundações profundas, ou seja, que se apoiam em camadas do solo oito vezes igual ou maior do
que a menor dimensão do elemento e com cota de assentamento mínima de 3 m. A alternativa C
está incorreta porque tubulões são empregados quando as camadas superficiais do terreno não
são capazes de suportar as cargas da construção. A alternativa D está incorreta porque tubulões
são fundações executadas por escavação manual e/ou contando, mecanicamente, pelo menos,
na sua etapa final, com a descida de pessoal para serviços ou inspeção na base. A alternativa E
está incorreta porque os tubulões são constituídos, somente, por concreto simples ou armado.

2. C. Informações do problema:

Tubulão isolado circular

Diâmetro da base = D = 2,10 m

Profundidade de assentamento = H = 12 m

Diâmetro do fuste = d = 0,70 m

Altura de base hB = 1,15 m

Volume 1 – Fuste

π d2
V1 V f H hB
4

3, 1416 0, 702 3, 1416 0, 49


V1 12 1, 15 10, 85
4 4

1, 5393
V1 10, 85 0, 3848 10, 85 4, 1750 m3
4

368
Volume 2 – Tronco de cone da base

2 2
π htc D d D d
V2 Vtc
3 2 2 2 2
2 2
3,1416 1, 15 0, 20 2, 10 0, 70 2, 10 0, 70
V2
3 2 2 2 2

3, 1416 0, 95 2 2
V2 1, 05 0, 35 1, 05 0, 35
3
2, 9845
V2 1, 1025 0, 1225 0, 3675
3
V2 0, 9948 1, 5925 1, 5842m3

Volume 3 – Rodapé da base

2 2
D 2, 10
V3 VrB π 0, 20 3, 1416 0, 20
2 2
2
V3 3, 1416 1, 05 0, 20 3, 1416 1, 1025 0, 20 0, 6927m3
Volume total

Vtotal V1 V2 V3
Vtotal 4, 1750 1, 5842 0, 6927 6, 4519m3

3.

a) Qual a Tensão Admissível Média, pelos métodos semiempíricos, para o solo, na cota de
apoio do tubulão?

Informações do problema:

Tubulão isolado circular

Diâmetro da base = D = 1,50 m

Diâmetro do fuste = d = 0,70 m

Altura da base = hB = 0,90 m

369
Carga = P = 2000 kN

Profundidade de assentamento = H = 13 m

Argila siltosa acima do N.A. = 3,60 m

gargila seca = 14 kN/m‡

Argila siltosa abaixo do N.A. = 3,10 m

gargila submersa = 18, 5 kN/m‡

Areia abaixo do N.A. = 6,30 m

gareia submersa = 19 kN/m‡

Método de Alonso (1983)

Bulbo = 2D = 2 x 1,50 = 3,00 m

Valor médio do NSPT dentro do bulbo:

N SPT 1  21 
 21  38  50
N SPT 2  38  N SPT   36, 33
 3
N SPT 3  50 

Tensão Admissível na cota de apoio do tubulão:


sadm  33, 33  N SPT 
sadm  33, 33   36, 33   1210, 8789 kPa

Método Décourt (1989)

Bulbo = 2D = 2 x 1,50 = 3,00 m

Valor médio do NSPT dentro do bulbo = 36,33

A tensão efetiva na cota de apoio do tubulão:

σ 'vb argila seca argila submersa areia submersa


σ 'vb 3, 60 14 3, 10 18, 5 6, 30 19
σ 'vb 50, 4 57, 35 119, 7 227, 45 kN/m2

370
Tensão Admissível na cota de apoio do tubulão:

 
sadm  25  N SPT    s 'vb   25   36, 33     227, 45 
 
sadm  908,225   227, 45   1135, 70 kPa

Método Albiero e Cintra (1996)

Bulbo = 1D = 1 x 1,50 = 1,50 m

Valor médio do NSPT dentro do bulbo:

N SPT 1  21  21  38
 N SPT   29, 5
N SPT 2  38  2
A Tensão Efetiva na cota de apoio do tubulão

σ 'vb  227, 45 kN/m2

Tensão Admissível na cota de apoio do tubulão:

 
sadm  20  N SPT    s 'vb   20   29, 5     227, 45 
 
sadm  590   227, 45   817, 45 kPa

Tensão Admissível Média

sadm 
1210, 8789  1135, 70  817, 45 
3

sadm 
 3164, 0289   1054, 68 kPa
3
A Tensão Admissível Média, considerando os métodos semiempíricos que utilizam os resultados
do Ensaio SPT, tem o valor aproximado de 1054,68 kPa.

b) Caso a sapata não passe no critério de segurança ( saplicada ≤ sadm ), redimensione-a

para garantir a segurança.

Área da base do tubulão:

371
2 2
D  1, 50 
Abase  p     3, 1416   
2  2 
2
Abase  3,1416   0, 75   3, 1416  0, 5625
Abase  1, 7671 m†

Tensão aplicada pelo tubulão na cota de apoio:

 P   2000 
saplicada      1131, 80 kPa
 Abase   1, 7671 
Verificação de segurança:

saplicada  sadm
1131, 80  1054, 68
A tensão aplicada pelo tubulão na cota de apoio (1131,80 kPa) é maior do que a Tensão Ad-
missível (1054,68 kPa) nesta mesma cota. Dessa forma, é necessário redimensionar o tubulão.

Diâmetro da base (D)

Adotando a Tensão Admissível já calculada igual a 1054,68 kPa, procedemos ao cálculo do


diâmetro:

D
4  γ f  P   4 1, 4  2000 
 π  σadm   3,1416 1054, 68 

D
11200   3, 3802  1, 8385 m
 3313, 3826 
Como no dimensionamento de fundações é recomendada a adoção de dimensões que são
múltiplas de 5 cm, adotaremos, para o diâmetro da base, a medida de 1,85 m.

Diâmetro do fuste (d)

=
Uma vez que se prevê o uso de concreto de Classe C25 cujo f ck =
25 MPa 25000 kPa e

o Coeficiente de Ponderação da Resistência do Concreto da classe C25 sendo gc = 2, 2 , de-

terminamos a Tensão Admissível do Concreto à Compressão:

0, 85  f ck 0, 85  25000 21250
σconc   
γc 2, 2 2, 2
σconc  9659, 0909 kPa

372
Procedemos, então, ao cálculo do diâmetro do fuste:

d
4  γ f  P   4 1, 4  2000 
 π  σconc   3,1416  9659, 0909 

d
11200   0, 3691  0, 6075 m  60 cm
 30345 
Como no dimensionamento de tubulões, a norma indica que o fuste deve ter diâmetro igual
ou maior do que 70 cm, para permitir a entrada de uma pessoa a fim de realizar o trabalho de
escavação, limpeza ou inspeção da base, manteremos o diâmetro do fuste inicial de 0,70 m.

Ângulo de inclinação da base ( a )

A norma técnica NBR 6122 estabelece que este ângulo deve ter valor maior ou igual a 60º e,
como esse valor satisfaz a maioria dos casos de tubulões isolados como este, será o valor de
ângulo que adotaremos.

Altura da base (hB)

Com as dimensões dos diâmetros de base e fuste, além da inclinação do ângulo da base, pro-
cedemos ao cálculo da Altura da Base:

D  d   1, 85  0, 70  
hB     tan  a      tan  60º 
 2   2 
 1, 15  
hB     1, 7320  0, 575  1, 7320  0, 9959 m
 2 

A norma técnica NBR 6122 estabelece que esta altura da base deve ter valor menor ou igual a
1,80 m. A altura calculada passa no critério da normativa. Pelo fato de que, no dimensionamento
de fundações, ser recomendada a adoção de dimensões múltiplas de 5 cm, adotaremos, para
a altura da base, a medida de 1,00 m.

Este tubulão redimensionado, agora, possui as seguintes dimensões: diâmetro da base = 1,85
m; diâmetro do fuste = 0,70 m; altura da base = 1,00 m.

UNIDADE 8

1. E. A alternativa A está incorreta porque os Métodos de Equilíbrio-Limite consideram que o solo


se comporta como material rígido-plástico, isto é, rompe-se, bruscamente, sem se deformar.
As alternativas B e D estão incorretas porque, para elas, os Método de Equilíbrio-Limite das
equações de equilíbrio estático são válidos até a iminência da ruptura, quando, na realidade,
o processo é dinâmico. A alternativa C está incorreta porque os Métodos do Equilíbrio-Limite
baseiam-se em formulações que levam ao cálculo de um coeficiente de segurança (F) constante,
ao longo da linha de ruptura.

373
2. D. Esta é a única alternativa correta porque as demais apresentam os seguintes problemas de
conceito: na alternativa A, os escorregamentos apresentam velocidades médias (km/h) a altas
(m/s); na alternativa B, os escorregamentos apresentam movimentos translacional, rotacional
ou em cunha de pequenos a grandes volumes de materiais. Mover-se como um líquido viscoso
é característica dos movimentos de massa do tipo corridas. Na alternativa C, os tombamentos
podem apresentar geometria variável, como: lascas, placas, blocos etc. Os movimentos cons-
tantes, sazonais ou intermitentes fazem parte dos movimentos de massa do tipo escoamento;
na alternativa E, o movimento do tipo queda livre ou em plano inclinado é característico dos
tombamentos, enquanto o movimento semelhante ao de um líquido viscoso escoando sobre
uma superfície é representativo dos movimentos de massa do tipo corridas.

3. A.

Dados do problema

Peso específico do solo = γ nat  18 kN/m3


Coesão do solo = c  1, 3 kN/m2
Ângulo de atrito interno do solo = φ  35”
Ângulo do talude = θ  50”
Área abaixo do volume de solo = A  10 m2
Volume da massa solo = V  13 m3
Comprimento da provável linha de ruptura = AB  5 m

Força peso atuante

Para o cálculo da força peso, basta multiplicar o peso específico pelo volume da massa do solo
destacada no talude:

P  g nat  V  18  13  234 kN

Esforço instabilizador atuante

O esforço instabilizador será a componente tangencial da força peso. Para o cálculo, basta multi-
plicar a força peso pelo seno do ângulo de inclinação da superfície de ruptura indicada no talude:

EI  P  sen  q   234  sen  50º 


EI  234  0, 7660  179, 244 kN
Esforço resistente atuante

O esforço resistente será composto pela parcela da coesão da massa de solo no talude somada
à sua Força de Atrito. O seu cálculo é:

374
ER   c  A   P  cos  θ   tg  φ  
ER  1, 3  10  234  cos  50º   tg  35º  
ER  13  234  0, 6428  0, 7002
ER  13  105, 3207   1369, 1691 kN
Fator de segurança considerando que não existe fluxo de água no talude

O cálculo do Fator de Segurança para a situação-problema procede pela razão entre os Esforços
Resistentes e os Esforços Instabilizadores:

ER 1369, 1691
FS    7, 6385  8
EI 179, 244
com o valor do FS > 1, o talude encontra-se numa situação estável.

UNIDADE 9

1. B. Os muros em fogueiras, também chamados Crib Walls, são tipos de muros que estabelecem
uma barreira a um maciço terroso, por meio do peso próprio de sua estrutura estabilizada,
razão pela qual são classificados como muro gravidade.

2. E. O tapete impermeável é um elemento que compõe a estrutura interna das barragens de


terra e enrocamento, geralmente, ligado ao núcleo impermeável que impede o fluxo de água
do reservatório de montante para jusante.

3. B. As cortinas monoapoiadas caracterizam-se pela presença de um único ponto de apoio, seja


por escoras, seja por ancoragens como tirantes, acima do nível de escavação.

4. E.

Empuxo ativo: Ea = 23 kN.

Ângulo de Inclinação do Empuxo Ativo: b = 36º

Peso Próprio da Contenção: Pc = 47, 5 kN

Componente Horizontal do Empuxo Ativo:

Eh  Ea  cos  b   23  cos  36º   23  0, 8090  18, 607 kN

Fator de Segurança contra o tombamento da contenção:

375
FStomb 
 M RES  M Pc   Pc  ec 
 M SOL M Eh  Eh   H ' 
  3 

FStomb 
 477, 5 1   47, 5  1, 70
18, 607  1, 5   27, 9105

como o Fator de Segurança contra o tombamento é de 1,70 (maior do que o limite de 1,2), a
estrutura de contenção passa na verificação e está bem dimensionada.

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