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Livro Completo - Fundações e Obras de Terra
Livro Completo - Fundações e Obras de Terra
Obras de Terra
PROFESSORA
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Coordenador de Conteúdo Flavio Augusto Carraro Designer Educacional Antonio Eduardo Nicacio e Revisão Textual
Ariane Andrade Fabreti Editoração Arthur Cantarelli Silva, Matheus Silva de Souza Ilustração André Azevedo Realidade
Aumentada César Henrique Seidel, Maicon Douglas Curriel, Matheus Alexander de Oliveira Guandalini, Renan Gomes
Beltrami. Fotos Shutterstock.
FICHA CATALOGRÁFICA
376 p.
978-65-5615-594-4
“Graduação - EaD”.
Impresso por:
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar
Diretoria de Design Educacional
Reitor
Wilson de Matos Silva
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos
Olá aluno (a), eu sou a filha mais velha das melhores pessoas
que você pode conhecer no norte do Mato Grosso. Nasci, cresci
e me desenvolvi com a mesma multiplicidade que minha queri-
da cidade, Sinop. Temos quase a mesma idade, acredita? Hoje
possuímos tanta história e conhecimento que não dá nem para
começar a enumerar, mas adoraria poder bater um papo con-
tigo para ensinar o que sei. Esta é minha maior paixão: ensinar.
Comecei bem cedo explicando ao meu irmãozinho tudo sobre
história dos deuses gregos e animes da televisão.
Eu adoro ler, escutar música dançando, ouvir podcast en-
quanto faço faxina, ver arte nas férias e almoçar com minha
mãe toda quarta-feira. Quando terminei o 3º Ano eu só pensava
em duas coisas para meu futuro: ser decoradora de interiores
e terminar de escrever minhas fanfics. Depois de muitos anos
e estudos eu finalmente acabei de decorar minha casa. Está
muito lindo, diga-se de passagem! ;) E quanto às fanfics, eu ter-
minei a maioria delas, outras ficaram sem fim porque é difícil
Aqui você pode conciliar a faculdade e essa carreira de escritora. Mas agora
conhecer um estou de volta ao caminho das palavras com minha pesquisa
pouco mais sobre
em literatura na pós-graduação e escrita de novo capítulo da
mim, além das
informações do minha vida. Estou empolgada!
meu currículo. Essa é minha história resumida, em algum ponto pelo caminho
eu me formei em Engenharia Civil, fiz pós-graduação para ensi-
nar em nível superior, formei centenas de alunos nos cursos de
graduação e técnico da minha região. Mas esta é apenas uma
nota de rodapé no grande livro da minha vida cujo título é meu
nome: Aline Cristina.
REALIDADE AUMENTADA
Sempre que encontrar esse ícone, esteja conectado à internet e inicie o aplicativo
Unicesumar Experience. Aproxime seu dispositivo móvel da página indicada e veja os
recursos em Realidade Aumentada. Explore as ferramentas do App para saber das
possibilidades de interação de cada objeto.
RODA DE CONVERSA
PÍLULA DE APRENDIZAGEM
Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Posicionando seu leitor de QRCode
sobre o código, você terá acesso aos vídeos que complementam o assunto discutido
PENSANDO JUNTOS
EXPLORANDO IDEIAS
EU INDICO
Enquanto estuda, você pode acessar conteúdos online que ampliaram a discussão sobre
os assuntos de maneira interativa usando a tecnologia a seu favor.
Garantir que uma edificação ou obra fique “de pé” ao longo de toda sua vida de uso é parte do
trabalho da Engenharia Civil. Quando se planeja a estrutura de uma obra, seja ela uma casa ou
prédio, uma das questões fundamentais a se determinar na etapa de projeto é a exata resistência
para que fique estável. Porém, a Engenharia se relaciona com a Natureza, um campo enorme
de incertezas que não faz parte das Ciências Exatas de criação humana. A Engenharia é uma
Ciência Exata? Se os cálculos realizados por pessoas engenheiras são detalhados e precisos,
seus resultados serão exatos?
Na maioria das obras, podemos identificar duas partes que compõem a estrutura: a superes-
trutura e a infraestrutura. A primeira, na parte de cima, consiste nos elementos acima do solo,
aqueles que conseguimos ver como as vigas, pilares, lajes e etc. Já a segunda, na parte de baixo,
são os elementos que nós não vemos, as fundações ou alicerces que encontram-se enterrados e
apoiados sobre o solo. Ambos frutos de fabricação humana, com materiais como o concreto ou aço
que possuem matéria-prima extraída da natureza e intensamente modificada para que atenda às
resistências estabelecidas pelos projetos de engenharia.
Podemos chamá-las, as estruturas projetadas, de triunfo das Ciências Exatas, não é? Foi aberto
um espaço na Natureza, extraído os melhores materiais, moldados para que componham as es-
truturas e construído algo inteiramente pelas mãos humanas, utilizando todos os conhecimentos
desenvolvidos nas Ciências Exatas.
Portanto agora você, estudante, pode perguntar com toda a certeza da resposta positiva: A En-
genharia é sim uma Ciência Exata, não é mesmo?
Eu te responderei com toda certeza: Não. Que resposta decepcionante, e também desesperadora!
Você vai tentar perguntar de uma forma mais clara, porque supõe que eu não entendi direito já
que não concordei contigo em algo tão simples e lógico: Engenharia não é uma Ciência Exata?
Vou te responder de uma forma mais clara, porque suponho que você não entendeu direito
quando eu não concordei contigo em algo que não é simples, porém é bastante lógico: Engenharia
não é uma Ciência Exata.
Tem que ser! Está tudo aí, construído e estável e os grandes monumentos da humanidade tem centenas
de anos. Essas coisas não estão de pé por “sorte”, estão de pé porque existem modelos físicos comple-
xos e matemática sofisticada nas Ciências Exatas que permitem projetar com extrema segurança, e a
Engenharia é uma delas! Como pode afirmar que a Engenharia não é uma Ciência Exata diante disso?!
A Engenharia Civil tem uma relação com a Natureza que vai muito além de uma simples
extração de matéria-prima, principalmente na área das estruturas que serão apoiadas (como
todas são) sobre o solo natural. Os modelos empregados nos projetos e os cálculos realizados
são precisos, porém todos os dados utilizados para eles advém das variáveis presentes na
Natureza. A pessoa engenheira será treinada para analisar tais variáveis, estimar os riscos, e,
com a competência dada pela atribuição profissional, utilizar a habilidade de decidir sobre um
projeto com dados inexatos.
Quando os dados não são exatos, mas a modelagem física e os cálculos são, temos uma área
profissional que estima riscos e toma decisões: a pessoa engenheira. O fato de que a Engenharia
está posta dentro da categoria de Ciências Exatas nas listas de cursos das instituições de ensino
superior é decisão puramente organizacional, colocando junto as áreas de conhecimento que são
bastante ligadas a números e cálculos. Nós que estamos dentro da formação acadêmica não po-
demos simplificar a abrangência da Engenharia dessa forma, é muito mais interessante que isso.
Esta disciplina do curso de Engenharia Civil coloca junto duas áreas de conhecimento que tem
como ligação principal a relação com o material solo. Nas Fundações temos o solo como apoio
para as estruturas, já nas Obras de Terra ele também será o material que irá compor as estruturas.
No Ciclo de Aprendizagem 1 iremos conhecer o que são as Fundações em si. Será um capítulo
introdutório para conhecer estas estruturas, suas funções, classificações, projetos e também nor-
mativas técnicas que orientam as escolhas das pessoas engenheiras.
No Ciclo de Aprendizagem 2 o foco está nas Investigações Geotécnicas, ou seja, será o momen-
to de aprofundar nos métodos utilizados pela área de Fundações para levantar os parâmetros e
variáveis do solo no qual as estruturas irão se apoiar. Iremos conhecer a forma de programar as
atividades de investigações geotécnicas para os projetos de Fundações, as metodologias dos prin-
cipais ensaios utilizados nos dimensionamentos, as normas técnicas que regem sua realização e a
interpretação de seus resultados.
No Ciclo de Aprendizagem 3 e 4 daremos foco à classe de Fundações Diretas Rasas, geralmente
referidas como os Blocos de Fundação, as Sapatas e os Radiers. Conheceremos suas características
geométricas, as formas de distribuição dos esforços da estrutura no solo de apoio, os métodos para
estimar sua capacidade de carga, os cálculos necessário para definição dos parâmetros de projeto
e dimensionamento.
No Ciclo de Aprendizagem 5 e 6 daremos foco à classe de Fundações Indiretas Profundas, as
Estacas. Conheceremos seus tipos, classificações, métodos de execução, geometria e distribuição
indireta dos esforços no solo, os métodos para estimar sua resistência interna e capacidade de carga
do conjunto estaca-solo, os parâmetros básicos de dimensionamento de fundações em Estacas e
parâmetros de projeto.
No Ciclo de Aprendizagem 7 será a vez das Fundações Diretas Profunda, os Tubulões. Enten-
deremos qual a função deste tipo de categoria mista de fundação, como realizam a distribuição
dos esforços das grandes estruturas às quais servem de apoio, Conheceremos suas características
geométricas, as formas de distribuição dos esforços da estrutura no solo de apoio, os métodos para
estimar sua capacidade de carga, os cálculos necessário para definição dos parâmetros de projeto
e dimensionamento.
No Ciclo de Aprendizagem 8 e 9 daremos foco às Obras de Terra. Iremos conhecer o que são
estas estruturas por meio das principais estruturas deste tipo: Taludes e Encostas; Contenções;
e Barragens. Serão capítulos voltados para entender quais são as finalidades destas obras, suas
classificações, quais são os elementos que oferecem riscos durante sua vida útil, de que forma
podemos estimar e garantir sua estabilidade, além de explorar os cálculos básicos que definem os
principais parâmetros de projeto para estas obras.
Você, enquanto pessoa Engenheira Civil, responsável por um projeto de estrutura, muitas vezes
vai ter que lidar com escolhas: Qual tipo de Fundação utilizar para minha construção? Eu garanto es-
tabilidade em maciços terrosos utilizando qual tipo de Obra de Terra? Qual material é mais resistente
e econômico para ser utilizado? Como deve ser a construção para ter um bom apoio sobre o solo?
Esta escolha precisa levar em conta o que é mais seguro, o que é mais confiável para garantir
que sua obra fique de pé, estável. Nesta disciplina de Fundações e Obras de Terra você vai conse-
guir identificar quais são os critérios necessários para garantir isso, norteando suas decisões no
momento de projetar novas obras e também lidar com as incertezas da Natureza relacionadas ao
apoio das edificações sobre o solo.
CAMINHOS DE
APRENDIZAGEM
1
11 2
43
INTRODUÇÃO ÀS INVESTIGAÇÕES
FUNDAÇÕES GEOTÉCNICAS
3
83 4
113
FUNDAÇÕES DIRE- FUNDAÇÕES
TAS RASAS I DIRETAS RASAS II
5 147 6
193
FUNDAÇÕES FUNDAÇÕES INDI-
INDIRETAS RETAS PROFUNDAS
PROFUNDAS I II
7
233
8
273
FUNDAÇÕES DIRE- OBRAS DE TERRA I
TAS PROFUNDAS
9
307
OBRAS DE TERRA II
1
Introdução às
Fundações
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos.
Você já parou para pensar em como a estrutura de obras incríveis, que, muitas vezes, desafiam as leis
da natureza, se mantém em pé? Se lhe fosse dado o trabalho de projetar a estrutura de um edifício de
dois pisos, com 2.100 m² cada, suspensos do chão, numa altura de 8 m e cujo único apoio no solo seja
por meio de quatro pilares, por onde você começaria?
O engenheiro José Carlos Figueiredo Ferraz aceitou este desafio e obteve sucesso ao projetar e
dimensionar, de forma adequada, as estruturas de um dos marcos da Engenharia e da Arquitetura
brasileiras, o Museu de Arte de São Paulo (MASP), inaugurado na Avenida Paulista, em 1968. A forma
inovadora proposta pela arquiteta Lina Bo Bardi para o Edifício MASP é, ainda hoje, uma das referên-
cias em design artístico, porque eleva o nível das técnicas construtivas da época, provocando, mesmo
nos dias atuais, a admiração dos visitantes quando se encontram sob o vão livre.
Figura 1 - Vista do Edifício MASP, em São Paulo / Fonte: Cárdenas (2015, p. 76-77).
Descrição da Imagem: a fotografia mostra a vista aérea da Avenida Paulista, com vários veículos transitando nas pistas
e pedestres nas calçadas ao lado, mostrando o local onde se localiza o edifício do Museu de Arte de São Paulo, também
conhecido como MASP, com destaque para as colunas e vigas de sustentação do edifício, na cor vermelha, as quais fazem
o prédio estar suspenso do chão, criando um vão para a passagem e permanência de pessoas.
O Edifício MASP possui um vão livre de 74 m e largura de 30 m, sendo que, na frente e nos fundos, há
um balanço de 5 m em relação aos pilares, o qual mantém os dois pisos da edificação suspensos a 8 m do
nível da rua. Uma configuração assim só foi possível devido à intensa produção por parte da Engenharia,
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UNIDADE 1
que, na época, contava com diversos avanços no âmbito nacional. A solução estrutural para o desenho
proposto por Bo Bardi, desenvolvida por Figueiredo Ferraz, permitiu a exploração da técnica do concreto
armado de alta resistência aliado à técnica de protensão (método de tração dos cabos de aço dentro da
armadura, antes da cura do concreto), consolidando o MASP como uma obra de destaque do Brasil.
A estrutura do museu faz parte da identidade visual do edifício, constituída por dois pórticos
isostáticos com dois pilares e uma viga em cada um deles, sendo as lajes engastadas e suportadas por
esses pórticos. Os seus pilares possuem trechos maciços e vazados de concreto armado, com uma seção
transversal de medidas externas de 4,0 x 2,5 m que terminam abaixo do nível do solo, numa base de
forma achatada, a qual lembra um sapato.
A fundação é a parte da estrutura responsável por transferir o peso da construção para o solo.
Ela se localiza na porção inferior da obra, na maioria das vezes, enterrada, por isso, também recebe o nome
de infraestrutura (a parte da estrutura que fica acima do nível do terreno é a superestrutura). Existem
muitos tipos e formatos diferentes de fundação e cada uma delas tem um jeito distinto de dar estabilidade
à construção. No caso do Edifício MASP, o jeito foi utilizar a sapata: esta transfere o peso da superestrutura
ao solo, por meio de pressão da sua base, que mede 10 x 12,5 m e cuja altura variável é de até 4 m.
A Engenharia de Fundações não é uma das áreas mais simples de lidar, justamente, porque depara-se
com riscos muito elevados ao tentar conciliar o binômio “conhecido x desconhecido”, representado
pelas duas partes dessa área: a infraestrutura e o terreno no qual ela
se apoia. Ou seja, o elemento estrutural fundação (como a sapata
de concreto armado construída na base do MASP), feito de um
material conhecido pelo(a) projetista, estará apoiado ou inserido REALIDADE
dentro do maciço terroso ou rochoso (o solo do terreno), que é AUMENTADA
um material desconhecido. Por isso, mestres da Engenharia, como
Vera Fernandes Hachich e Claudio Michael Wolle (2019) afirmam
que uma boa investigação do terreno onde a obra será construída
é o primeiro passo para a qualidade de um projeto de fundações,
seguido pela boa análise destas informações e, assim, determinar as
soluções (ou tipo de fundações) mais adequadas ao caso.
Na primeira unidade da disciplina de Tecnologias de Construção
(LUCENA; GARCIA, 2020), você conheceu, mais de perto, o caso
dos edifícios inclinados de Santos-SP, onde fundações de várias
construções não estavam funcionando bem devido à má decisão
dos projetistas. Os problemas causados pela má interação da in-
fraestrutura com o solo só se tornaram visíveis alguns anos depois
Edifício MASP com suas
da entrega da obra e, ainda hoje, os edifícios recebem serviços de fundações em sapatas
manutenção para evitar o tombamento.
Mas como não errar na escolha da fundação, na hora de pro-
jetá-la? Existem três fatores principais que influenciam a escolha
da fundação pelo(a) projetista: o tipo de solo, principalmente,
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UNICESUMAR
em relação à resistência que ele possui e como se deforma quando recebe esforços
(como o peso de uma edificação); as cargas provenientes da superestrutura, que
dependem da forma da estrutura definida pelo(a) projetista, durante o dimensio-
namento; os valores máximos de recalques (rebaixamento), deslocamentos e
distorções que a edificação pode sofrer na sua vida útil. Não existem ideias prontas
de fundações para cada tipo de edificação (casa, prédio, galpão, ponte etc.). Cada
caso deve ser analisado, individualmente, por um(a) engenheiro(a), pois o elemento
desconhecido (o solo) é bastante variável e precisa se tornar conhecido.
Para conhecer o solo de um terreno, começamos levantando informações
em fontes de pesquisas confiáveis do ponto de vista técnico. As primeiras
delas são as pesquisas realizadas no local, por instituições, por exemplo, as uni-
versidades com cursos ligados à Engenharia e, também, empresas que lidam
com o solo (sondagens, mineração ou comercialização de terra). Num segundo
momento, conversamos com profissionais de Engenharia Civil e projetistas
que atuam ou atuaram na região, em obras de pequeno e grande porte, reali-
zando uma consultoria, ou, até mesmo, uma entrevista informal sobre quais os
tipos de fundações empregados nessas obras e como foi o processo de execução
(quais dificuldades encontraram na construção).
O trabalho de fazer um levantamento teórico do conhecimento acumulado pela
academia (artigos científicos, trabalhos de conclusão de curso, dissertações de mes-
trado e teses de doutorado na área de Engenharia ou Geotecnia) e, também, pelos
profissionais (de Engenharia, de projetos, comércio ou prestação de serviços ligados
à construção civil) a respeito do solo local, sem realizar nenhum ensaio técnico, pode
ser chamado de Reconhecimento Inicial de Solo.
Vamos lá! Utilizando o seu conhecimento prévio, a leitura de fontes confiáveis de
informações técnicas (artigos, trabalhos e pesquisas locais) e conversas com profis-
sionais da área de construção civil (engenheiros, mestre de obras, professores etc.),
faça um Reconhecimento Inicial do Solo de onde você mora. Levante as informações
pertinentes sobre como é o solo na sua cidade e quais os tipos de fundações que já
foram executadas nas obras locais.
Por exemplo, a cidade de Sinop (Figura 2), localizada no norte do estado de Mato
Grosso, já teve o seu solo investigado por instituições de pesquisa (universidades e
institutos), e os resultados destas análises podem ser encontrados em diversos artigos
científicos e trabalhos de conclusão de curso de Engenharia Civil, publicados online
ou nos sites das instituições, permitindo conhecer algumas características desse solo.
Nas palavras de Wagner Ferreira e Júlio Benatti (2017, p.1), “o perfil de solo no mu-
nicípio de Sinop-MT apresenta características que limitam a utilização de fundações
rasas, como a baixa capacidade de suporte e o lençol freático pouco profundo”.
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UNIDADE 1
Figura 2 - Vista da região central de Sinop-MT / Fonte: Andrade (2017 apud ROMANINI, 2019, p. 43).
Descrição da Imagem: a fotografia mostra uma vista aérea da cidade de Sinop-MT, com a principal avenida ao centro, a
qual apresenta veículos em trânsito e as quadras com as edificações da cidade. Ao fundo, é possível ver a linha do horizonte
arqueada devido ao foco da lente da câmera que fez o registro, separando os limites da cidade e o céu cinza-azulado com
muitas nuvens brancas.
O pesquisador Augusto Romanini (2019) detalha que o perfil de solo típico de Sinop é composto por
uma camada de silte argiloso amarelo ou variegado (de coloração indefinida) com espessura de 10 a
16 m e consistência que varia de muito mole a mole. Dependendo da região da cidade, esta primeira
camada é seguida por uma outra, composta de silte arenoso concrecionado (também chamado de
cascalho laterítico), de consistência compacta a muito compacta e profundidade variando de 12 a
16 m. Abaixo dessa camada de cascalho, ou, quando ela é inexistente, podem ocorrer duas situações,
dependendo do local do terreno analisado: i) camada de silte arenoso de consistência mole à média;
ii) camada de areia siltosa que vai de fofa a, medianamente, compacta. Ambas as situações ocorrem
entre 14 e 30 m de profundidade, e o solo apresenta cor amarela a variegada nos metros iniciais, ter-
minando em amarelo avermelhado, ou, somente, avermelhado. A partir dos 30 m de profundidade,
encontra-se uma camada de resistência superior a qual poucas pesquisas registram a sua composição,
pois a maioria das sondagens realizadas para reconhecimento do solo terminam nessa profundidade.
O lençol freático é bastante próximo da superfície dos terrenos, com valor médio de profundidade
próximo de 4 m, na época de estiagem, e 0,8 m em período chuvosos (ROMANINI, 2019). Pesquisas
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UNICESUMAR
realizadas apontam que este comportamento da água corresponde ao relevo plano do município, o
qual se encontra inserido em bacia sedimentar.
Descrição da Imagem: a imagem, desenhada e colorida, exibe dois retângulos verticais, lado a lado, que exibem faixas co-
loridas na horizontal, demonstrando a sequência de camadas de solo presentes no perfil típico de solo da cidade de Sinop.
No retângulo à esquerda, é apresentada a situação um: a sequência de faixa horizontal branca mostra a superfície do solo;
a faixa horizontal, na cor amarela alaranjada, mostra o silte argiloso, que vai do muito mole ao mole amarelo ou variegado;
a faixa horizontal, na cor cinza-clara, mostra o silte arenoso concrecionado, que vai de compacto a muito compacto. A faixa
horizontal, na cor vermelha alaranjada, apresenta o silte arenoso, que vai de mole a média; de amarela a variegada inicial, a
amarela avermelhada ou avermelhada final. Em seguida, há uma faixa horizontal, na cor cinza-escura, mostrando a camada
desconhecida com resistência superior. No retângulo à direita, é apresentada a situação dois: a sequência de faixa horizontal
branca mostra a superfície do solo; a faixa horizontal, na cor amarela alaranjada, mostra o silte argiloso, que vai de muito
mole a mole amarelo ou variegado; a faixa horizontal, na cor cinza-clara, apresenta o silte arenoso concrecionado, o qual
vai do compacto ao muito compacto; a faixa horizontal, na cor vermelha alaranjada, mostra a areia siltosa, que vai de fofa
a, medianamente, compacta e, também, da cor amarela à variegada inicial, à amarela avermelhada ou avermelhada final.
Em seguida, há uma faixa horizontal, na cor cinza-escura, mostrando a camada desconhecida com resistência superior.
Profissionais de Engenharia Civil relatam que a maioria das construções do município de Sinop utili-
zam fundações do tipo sapata ou radier apoiadas nas camadas superficiais do solo — evitando atingir
o nível do lençol freático da cidade — ou executadas sobre camada de aterro reforçado. A cidade,
também, possui edificações de grande porte que se apoiam, mais profundamente, sendo um exemplo
o Edifício Residencial Ilhas Gregas, de 20 andares, localizado na região central de Sinop, cuja fundação
é do tipo estacas de concreto.
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UNIDADE 1
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UNICESUMAR
como seria a sua proposta de fundação ao Edifício MASP que seria construído em sua cidade, e os mo-
tivos que lhe levaram a esta indicação. Use, como guia para esta investigação, as informações apresentadas,
nos parágrafos anteriores, sobre o município de Sinop. Pense em como informar a um(a) leitor(a) que
não conhece a sua cidade as características do solo, das edificações e das fundações de onde você mora.
Até aqui, você deve ter entendido que projetar a fundação de uma edificação não envolve, apenas,
dimensionar o elemento estrutural abaixo da construção, mas também conhecer a estrutura do solo.
Desse modo, a fundação é “um sistema formado pelo terreno (maciço de solo) e pelo elemento es-
trutural de fundação e que transmite a carga ao terreno pela base ou fuste, ou combinação das duas”
(ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020, p. 3). A Figura 5 ilustra esta associação entre os elementos que
compõem a fundação.
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UNIDADE 1
Descrição da Imagem: a imagem apresenta, no canto superior esquerdo, um retângulo horizontal, estreito, de cores cinza-clara
e escura misturadas, e a palavra “infraestrutura”, em preto, no centro. Embaixo do retângulo, há o sinal de positivo, na cor preta,
indicando soma. Embaixo desse sinal, no canto inferior esquerdo, há um losango na horizontal, alongado, de cor marrom clara e
escura misturadas, com o termo “maciço de solo”, em preto, no centro. No meio da imagem, vê-se uma flecha, na cor preta, direcio-
nando os elementos que foram somados, do lado esquerdo, a um grande elemento único, à direita, o qual apresenta forma hexa-
gonal alongada na horizontal e cor indefinida que mistura tons de cinza e marrom, com a palavra “fundação”, em preto, no centro.
Para compreender com o que a Engenharia de Fundações lida, é preciso entender que a função deste
elemento, na construção, é oferecer estabilidade e segurança, ou seja, não pode causar ruptura ou
deformações inaceitáveis do ponto de vista técnico. Mas vem uma dúvida: existem deformações
aceitáveis? E a resposta é “sim, claro! ”.
Toda estrutura é projetada para que as deformações que acontecerão (sim, elas vão e precisam
acontecer) estejam dentro de certos limites aceitáveis, os quais, na linguagem da Engenharia de Es-
truturas, chamamos de Estados-Limites. Se você chegou, aqui, com a disciplina de Teoria das Estru-
turas — prevista para o curso de Engenharia Civil — realizada, já deve ter ouvido falar dos dois tipos
de limites a serem atendidos num dimensionamento de projeto: Estados-Limites Últimos (ELU) e
Estados-Limites de Serviço (ELS). Eles, também, devem ser verificados no dimensionamento das
fundações e os seus valores e métodos de verificação estão previstos na norma técnica base desta área
da Engenharia, a NBR 6122: Projeto e Execução de Fundações (ABNT, 2019). O capítulo 6 dessa
norma (“Segurança nas Fundações”) trata de todas as situações de projeto que devem ser verificadas
sobre o ELU e o ELS necessárias para garantir a segurança nos principais tipos de fundações.
“Então, é só seguir o passo a passo da norma NBR 6122, não é? Fundações não são difíceis”.
Eu gostaria de dizer que é isso mesmo, porém, na Engenharia de Fundações, o “buraco é bem
mais embaixo”, literalmente! Por que você acha que existe dificuldade em projetar fundações?
Por que elas precisam de uma normativa só delas, a qual não está inclusa dentro das normas
clássicas de estruturas, como a de concreto armado ou de madeira?
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UNICESUMAR
Na Engenharia de Fundações, lidamos com o elemento artificial moldado pelo ser humano (infraes-
trutura) combinado ao elemento natural moldado pelo planeta (maciço de solo). Espero que você
não tenha esquecido do maciço de solo, não é? Porque a Norma Técnica de Fundações não esqueceu
e menciona, logo no começo de seu capítulo sobre segurança: “Deve ser considerada a sensibilidade
da estrutura às deformações das fundações. Estruturas sensíveis a recalques devem ser analisadas
considerando-se a interação solo-estrutura” (ABNT, 2019, p. 15). Ou seja, o solo também se deformará
junto com a infraestrutura, então, é necessário prever a deformação dele.
É aqui que entram os conhecimentos de Geotecnia aprendidos nas disciplinas de Geologia de Engenha-
ria, Mecânica dos Solos e Mecânica das Rochas. Você já teve contato com algumas delas em sua graduação,
não é? Se saiu bem aprendendo os assuntos? Espero que sim, porque precisaremos de alguns conceitos
para projetar as fundações. Então, é melhor incluir, no seu material de estudo, o livro da disciplina de Me-
cânica dos Solos, pois ele será uma constante fonte de consulta para relembrar e esclarecer certos conceitos
relacionados à previsão de comportamento dos solos. Afinal de contas, não se espera que você, estudante,
tenha decorado todo o conteúdo, então, não é ruim fazer consultas. Na verdade, é preciso se acostumar a
realizá-las, pelo fato de estarmos trabalhando com duas áreas diferentes: Cálculo Estrutural e Geotecnia.
Descrição da Imagem: a imagem é uma ilustração que mostra, no canto superior esquerdo, um retângulo horizontal, estreito,
de cor cinza clara e escura misturadas, com o termo “cálculo estrutural” em preto, no centro. Embaixo do retângulo, está o sinal
de positivo, na cor preta, indicando soma. Embaixo, no canto inferior esquerdo, vê-se um losango na horizontal, alongado, de cor
marrom clara e escura misturadas, com a palavra “geotecnia”, em preto, no centro. No meio da imagem, há uma flecha, na cor
preta, direcionando os elementos somados, à esquerda, a um grande elemento único, à direita, de forma hexagonal, na horizontal,
alongada e de cor indefinida, que mistura tons de cinza e marrom, com o termo “Engenharia de Fundações”, em preto, no centro.
Entendido que o projeto de uma fundação lida com os conhecimentos de Cálculo Estrutural
e Geotecnia, o que o(a) projetista precisa ter, em mãos, para começar a elaborar um projeto
de fundações? Você já parou para pensar quais projetos da edificação devem ser desenvol-
vidos, antes de iniciar a elaboração das fundações? E quais só podem ser feitos depois de as
fundações estarem projetadas?
20
UNIDADE 1
21
UNICESUMAR
22
UNIDADE 1
CARACTERIZAÇÃO DO
EMPREENDIMENTO:
Observando o fluxograma de
- LOCALIZAÇÃO (visita) atividades, você pode notar
- ARQUITETURA
dois momentos bem distintos:
o primeiro, composto pelas ca-
AVALIAÇÃO DAS ESTRUTURAS
E DAS CARGAS PARA FINS DE racterizações, investigações e
FUNDAÇÕES análises; e o segundo, que en-
globa a elaboração do projeto,
PROGRAMAÇÃO DAS a execução e avaliação de de-
CONSULTORIA
ESPECIALIZADA
INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS sempenho. O ponto de virada
– IG
entre esses dois momentos é a
escolha da fundação. Esta é
EXECUÇÃO DAS a decisão que revela a capaci-
INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS
dade de julgamento do(a) pro-
jetista de fundações, baseada
em seu conhecimento teórico
ANÁLISE DOS PROGRAMAÇÃO DAS
CONSULTORIA RESULTADOS DAS INVESTIGAÇÕES e na experiência acumulada,
ESPECIALIZADA I.G. SUFICIENTES? COMPLEMENTARES
repercutindo em toda a obra
e na vida útil da edificação
construída. Por isso, é muito
CONSULTORIA ANÁLISE DE ALTERNATIVAS E importante escolher o tipo
ESPECIALIZADA ESCOLHA DA FUNDAÇÃO
mais adequado ao seu projeto.
Figura 7 - Projeto e execução de funda-
ELABORAÇÃO DO ções: fluxograma de atividades
PROJETO Fonte: Hachich e Wolle (2019, p. 755).
ACOMPANHAMENTO
EXECUÇÃO DA OBRA E/OU FISCALIZAÇÃO
AVALIAÇÃO DO
DESEMPENHO
23
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: a figura mostra um fluxograma colorido sobre fundo branco. Nesse fluxograma,
retângulos vermelhos e roxos exibem palavras escritas em cor branca, indicando os tipos de fundações
superficiais. Os retângulos estão interligados por linhas que indicam a relação entre esses tipos.
24
UNIDADE 1
Descrição da Imagem: a figura mostra um fluxograma colorido sobre fundo branco. Nesse fluxograma, retângulos azuis claros e
escuros, verdes, laranjas e roxos exibem palavras escritas em cor branca, indicando os tipos de fundações profundas. Os retângulos
estão interligados por linhas que indicam a relação entre esses tipos.
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UNICESUMAR
Depois de escolhido o tipo de fundação, tendo, em mãos, os dados dos projetos arquitetônico e estru-
tural, além das informações geotécnicas do terreno, você, projetista, elaborará o projeto de fundações
buscando balancear três aspectos:
• Segurança contra as rupturas.
• Recalques limitados aos valores admissíveis.
• Economia.
O projeto deve seguir os limites e orientações estabelecidos pela norma NBR 6122: Projeto e Exe-
cução de Fundações (ABNT, 2019) e métodos de cálculo teóricos, semiempíricos e empíricos que
sejam comprovados no meio da Engenharia de Fundações, inclusive, na região onde a obra ocorrerá,
nos tipos de solos e fundações que a compõem. Você, enquanto projetista de fundações, deve estabe-
lecer os procedimentos para o projeto, embasando e documentando os seus cálculos nos memoriais
circunstanciados, além de manter o registro de todos os passos executados durante a elaboração.
26
UNIDADE 1
Mas, o que, de fato, é esta documentação de projeto? Quais são os elementos que um projeto de funda-
ções deve conter, minimamente? Seguindo as orientações mais básicas e comuns a quase todo tipo de
fundação (algumas mais detalhadas, algumas menos), temos os seguintes elementos que fazem parte
do projeto de fundações:
• Planta de locação dos elementos de fundação: dependendo do porte da obra, é necessário
mais de uma planta. Porém existe preferência por colocá-la toda em uma folha só, para que
seja possível visualizar a estrutura de fundação, como um todo, dentro do terreno, tal qual é
representado na Figura 10. Geralmente, essa planta possui associação com a planta de pila-
res, indicando os mesmos nomes e numeração que o projeto estrutural definiu para eles, a
chamada compatibilidade de projetos. Deve-se indicar as cotas de arrasamento e das bases
previstas dos elementos de infraestrutura, as suas dimensões nominais e as cargas que eles
receberão da superestrutura.
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UNICESUMAR
Descrição da Imagem: a figura mostra uma planta de projeto de fundações com linhas, texto e números escritos em preto sobre
fundo branco. Os elementos quadrados e retangulares que representam as sapatas estão alinhados em eixos horizontais, os quais
estão nomeados por letras de A até E, e alinhados, na vertical, em eixos nomeados por números de 1 a 4. Tais elementos também
são interligados por linhas que formam faixas estreitas para as vigas baldrames.
28
UNIDADE 1
• Desenhos de apoio à execução: estes são bem detalhados, às vezes, exigindo a produção de
cada um em uma folha de projeto diferente, para utilizar uma escala maior (de preferência,
1:50 ou 1:25) e detalhar bem as seções, os cortes e detalhes dos elementos de infraestrutura ou
de suas partes que fazem parte da sequência executiva. A Figura 11 ilustra o detalhamento de
uma fundação de bloco sobre estacas. É comum ter desenhos de elementos de fundação que
indicam, ao lado um pequeno texto, a sequência de trabalhos que deve ser seguida para a sua
execução, a qual foi pensada pelo(a) projetista, facilitando, assim, as instruções aos construtores
no canteiro de obras.
Figura 11 - Desenho de apoio à execução: geometria do bloco sobre duas estacas / Fonte: Cunha e Moura (2018, p. 7).
Descrição da Imagem: a figura mostra o desenho de apoio à execução com duas vistas para o mesmo elemento estrutural de
um bloco de fundação sobre duas estacas. O desenho à esquerda representa a vista, em planta, do bloco, e o desenho à direita
representa a vista lateral do bloco sobre duas estacas. Os elementos são compostos por retângulos na cor cinza, representando
o bloco de fundação. Um retângulo, no centro do bloco, no desenho à esquerda e em cor verde representa o pilar, com todos os
elementos alinhados por eixos e cotas que identificam, em centímetros, as dimensões e distâncias
• Desenhos de armações dos elementos de fundação e, quando couber, desenho das fôrmas
dos elementos de fundação: muitas vezes, estes desenhos são inclusos no meio do projeto es-
trutural, pois o(a) projetista que elaborou a superestrutura elaborou, também, a infraestrutura.
São seguidas as mesmas simbologias para armações metálicas e fôrmas dos projetos estruturais,
29
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: a figura mostra o desenho ilustrativo do projeto estrutural de fundações com duas vistas para o mesmo
elemento — uma sapata isolada conectada a um pilar retangular. O desenho à esquerda representa a vista, em planta, da sapata,
enquanto o desenho à direita representa a vista lateral da sapata, por isso, contém as linhas indicativas do posicionamento das
armaduras dentro da sapata. Os elementos são compostos por linhas na cor preta sobre fundo branco, cotas que identificam, em
centímetros, as dimensões e distâncias bem como linhas representando as armaduras que serão posicionadas na execução das
fundações, inclusive, as suas indicações de nome, tamanho, dimensões e indicações técnicas.
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UNIDADE 1
31
UNICESUMAR
Figura 13 - Esforços característicos de uma fundação rasa / Fonte: Albuquerque e Garcia (2020, p. 15).
Descrição da Imagem: a imagem mostra um desenho ilustrativo com o nome “vista em corte”, mostrando uma sapata isolada
conectada a um pilar retangular, ambos em vista lateral. O elemento é composto por uma forma geométrica piramidal na cor
cinza-clara, inserido em um encaixe retangular no solo, com uma série de flechas, na cor preta, apontando para cima, alinhadas,
lado a lado, em contato com a base da sapata, as quais indicam a reação do solo, nomeada pela indicação rP. Na porção superior,
há uma única flecha, na cor preta, apontada para baixo, alinhada no centro do pilar, mostrando a letra P, esta nomeia essa
força de ação sobre a sapata. O elemento contém eixos alinhados na porção inferior e nas laterais, como cotas que identificam
as letras que nomeiam as dimensões características. No canto superior direito, há a equação que relaciona as forças, ações e
reações representadas na figura.
Nos casos das fundações profundas, podemos ter a situação cujo elemento atravessa diversas camadas
de solo que não são nem resistentes o suficiente para oferecer estabilidade, nem para oferecer resistência
lateral, apoiando-se, então, numa camada resistente mais profunda. É o caso de algumas estacas e de
quase todos os tubulões que apresentam este comportamento de ponta.
32
UNIDADE 1
Figura 14 - Fundação profunda: comportamento de ponta / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
Descrição da Imagem: a imagem mostra o desenho de dois elementos alongados de fundações inseridos numa faixa branca, a
qual é nomeada “camada de baixa resistência”, cuja ponta, na porção inferior, está inserida numa camada cinza-clara chamada
“camada resistente”, ambos em vista lateral, com o nome do elemento da esquerda, “estaca”, e, no elemento da direita, o nome
“tubulão”. O elemento “estaca” é de cor branca com algumas manchas cinzas, ele tem flechas pretas em contato com as suas
laterais esquerda e direita, na sua base, em forma triangular, com a ponta para baixo e, no seu topo, com a indicação da força de
solicitação P em única flecha vertical, alinhada ao centro do elemento. O elemento “tubulão” é de cor marrom clara, com algumas
manchas cinza-clara, tem flechas pretas em contato com as suas laterais esquerda e direita, na sua base, em forma de pirâmide,
e, também, no seu topo, com a indicação da força de solicitação P em única flecha vertical alinhada ao centro do elemento. No
canto inferior direito, há a equação que relaciona as forças, ações e reações representadas, na figura, pelas flechas..
Porém, nas fundações profundas do tipo estaca, o caso mais comum é o de comportamento misto,
em que existe a contribuição da resistência de atrito lateral e, também, de ponta, para o elemento que
se encontra inserido no solo.
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UNICESUMAR
34
UNIDADE 1
“
“Como a natureza é infinitamente variável, os aspectos geológicos de nossa profissão nos
garantem que nunca haverá dois trabalhos exatamente iguais. Portanto, nunca devemos
temer que nossa profissão se torne rotineira ou monótona. Se for o caso, podemos ter
certeza de que não o estaríamos praticando adequadamente”.
De forma prática, podemos dizer que as fundações são o início de toda construção, são a base da obra.
Elas abrangem todos os elementos de infraestrutura da Engenharia, ou seja, aquela parte da edificação
que ficará enterrada no solo. Por isso, a escolha do tipo de fundação não dependerá, apenas, do tipo da
construção (residência, prédio, galpão, ponte etc.), mas, principalmente, das características do solo no
terreno da obra. Quando o(a) engenheiro(a) civil compreende os conhecimentos envolvidos na con-
cepção das fundações, consegue traçar, com mais segurança, o caminho de desenvolvimento do projeto,
sempre atento(a) aos elementos que interferirão na sua obra e durante toda a vida útil da edificação.
Trabalhar com fundações, em Engenharia Civil, requer muito conhecimento técnico, vivência de
obra e criatividade. Na maior parte do tempo, o(a) projetista de fundações mantém contato próximo
com os profissionais responsáveis por arquitetura, cálculo estrutural, topografia, sondagens de solo,
instalações e paisagismo, dependendo das informações fornecidas por estas áreas, ao mesmo tempo em
que as decisões de projeto dele(a) determinam ou influenciam a execução de todos os serviços da obra.
35
No dia a dia profissional da Engenharia Civil, é muito importante realizar a gestão das informações
de uma obra para potencializar o seu trabalho ou de uma equipe. O mesmo deve ser feito com
todo o conhecimento adquirido em sua formação, é preciso que você, enquanto profissional,
saiba em qual momento ele pode ser aplicado num projeto.
Passamos por uma quantidade bem grande de conceitos e definições nesta unidade, agora, rea-
lizaremos uma atividade de “Arquivologia Mental”. A seguir, estão embaralhados vários termos,
conceitos e nomes relacionados ao que vimos nesta unidade e outros que fazem parte da prática
de Engenharia Civil. Encontre as informações que serão úteis para o projeto de fundações e des-
taque-as das demais (utilize um marcador de textos ou circule as palavras). Em seguida, escreva
os nomes delas no fluxograma de atividades, presente na etapa da qual fazem parte. Caso você
perceba que estão faltando documentos ou informações importantes para o desenvolvimento
do projeto, anote-os, com uma breve descrição de sua utilidade, no espaço disponível.
Comprovante Cronograma
Alvará de ART – Assentamento Carga de de dominalidade Contrapiso Deformação
construção Arquitetura de azulejo incêndio físico-financeiro do solo
de terreno
Instalação de Laudo de
Execução de Gestão de armadura de Julgamento Vistoria da Locação de
Gabarito Qualidade Lençol freático
emboço infraestrutura profissional Vizinhança fundações
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1 - CARACTERIZAÇÃO DA 2 - AVALIAÇÃO DAS ESTRUTURAS
CONSTRUÇÃO E CARGAS
7 - AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO
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1. Todo projeto de fundações requer um levantamento preliminar de informações para
o seu planejamento. Estes dados são divididos em quatro grandes grupos, de acordo
com a sua natureza: Topografia, Geotecnia, estrutura a construir e construções vizinhas.
Sobre o estudo da Geotecnia, que é realizado para fundações, assinale a alternativa que
descreve, corretamente, algumas das informações levantadas neste tipo de investigação:
a) Reunião de dados sobre a tensão da rede que será instalada na edificação, máquinas
ou equipamentos de instalação fixa, lista de componentes, layout, diagrama elétrico,
distribuição de cabos e posicionamento das tomadas.
b) Identificação das camadas do solo e a profundidade de cada uma delas, dados referentes
ao valor de compressibilidade e resistência dos solos bem como ao nível do lençol freático.
c) Tipo e uso da nova edificação, o sistema construtivo e estrutural empregado e a inten-
sidade e posicionamento das cargas que serão transmitidas ao solo.
d) Custos envolvidos na construção da nova obra, prazos definidos pelo cronograma de
execução, existência de estruturas ou construções subterrâneas (como porão, fossas
e sumidouros).
e) Dados sobre estabilidade de taludes e encostas no terreno, histórico de erosões da
região e perfil geométrico da área para saber se haverá necessidade de serviços de
movimentação de terra (cortes e aterros).
2. Para melhor entendimento das características dos tipos de fundações, a NBR 6122:
Projeto e Execução de Fundações (ABNT, 2019) estabelece a sua classificação em dois
grandes grupos: fundações superficiais (rasas ou diretas) e fundações profundas. Com
relação às características das fundações superficiais, assinale a alternativa correta:
a) Neste tipo de fundação, a profundidade de assentamento em relação ao terreno ad-
jacente deve ser oito vezes igual ou maior do que a menor dimensão do elemento. A
cota de assentamento mínima de seu elemento é de 3 m.
b) Os seus elementos interagem com o solo, principalmente, pela resistência de ponta, por
isso, apresentam uma base alargada. Incluem-se, neste grupo, os blocos, os tubulões,
as estacas moldadas in loco e os radiers.
c) Estas fundações são empregadas quando as camadas superficiais do solo são capazes
de suportar as cargas da construção. O seu elemento transmite a carga ao terreno
pelas tensões distribuídas sob a base da fundação.
d) Geralmente, é o tipo mais complexo de fundação, principalmente, pela necessidade
de equipamentos sofisticados. Os seus elementos são executados, inteiramente, por
máquinas e ferramentas, sem que haja descida de pessoas.
e) Podem ser constituídas de: madeira, aço, concreto pré-moldado, concreto moldado in
loco ou uma combinação das anteriores. Quando feitas de concreto moldado in loco,
executam-se perfurações prévias no solo.
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3. A utilização do método de Estudo de Caso é muito empolgante sob o ponto de vista
didático, fugindo da “lengalenga” dos textos tradicionais e indo direto ao conhecimento
prático. Nesta atividade, teremos um breve Estudo de Caso envolvendo a escolha de
fundação adequada para as seguintes edificações:
Quadro 1 - Edificações para Estudo de Caso / Fonte: Botelho e Carvalho (2015, p. 17).
O terreno no qual estas edificações serão construídas possui o seguinte perfil do solo:
Descrição da Imagem: a imagem desenhada exibe um retângulo vertical dividido ao meio por uma faixa que inter-
cala coloração branca e preta, cores estas indicativas da profundidade, metro a metro. Também há faixas horizontais
em diferentes tons de cinza e listrados, demonstrando a sequência de camadas de solo presentes no perfil do solo
presente na sondagem do local.
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Neste caso, encontram-se disponíveis para escolha os tipos de fundações mais comuns
executadas no Brasil, são elas: fundação superficial por sapatas; fundação profunda
por estacas de concreto moldadas in loco; fundação profunda por estacas de concreto
pré-moldadas e fundação profunda por tubulões a céu aberto.
40
d) Analisando o galpão industrial, temos cargas sobre as fundações que precisam ser
consideradas: peso permanente da estrutura (carga vertical); ação do vento (carga
horizontal); peso da estrutura metálica de cobertura (sobrecarga); e mais o peso da
fundação. Quando ocorre vento, supõe-se que não haja sobrecarga para a estrutura,
tornando as solicitações transmitidas às fundações muito mais leves. Neste caso, temos
um terreno superficial de características ruins (aterro sobre argila mole), o que indica
que devemos adotar a solução de fundação profunda por estacas de concreto
pré-moldadas apoiadas na cota 6,00 m. Esta alternativa não apresenta a melhor eco-
nomia dentre as opções dadas, porque é executada por meio de serviços complexos
que exigem equipamento e mão de obra qualificada à cravação das estacas. Porém,
como o comprimento será de, no máximo, 6 m de profundidade até atingir a camada
mais resistente do solo, o custo será compensado pelo benefício de garantir segurança
contra recalques e deslocamentos da fundação pelas ações de vento e sobrecarga.
e) O nosso prédio de concreto armado tem um andar subterrâneo, por isso, a pressão
da água poderia preocupar na sua construção. Porém a sondagem mostra que o Nível
da Água (N.A.) é muito baixo, portanto, não haverá preocupante subpressão. Como
o nível da água é baixo e o terreno é muito bom, com camadas resistentes de solo
próximas da superfície (cota 0,00), a melhor solução são as fundações superficiais
por sapatas. Utilizando sapatas centradas para os pilares internos e sapatas excên-
tricas alavancadas para as sapatas de divisa, conseguiremos distribuir a carga baixa
que a superestrutura imprime ao solo, por meio de pressão na base, sem perigo de
haver recalques além dos admissíveis, graças à escolha de uma fundação segura. Esta
alternativa apresenta muita economia na execução da obra, pois é executada por meio
de serviços simples, como: escavação manual, posicionamento de armadura e con-
cretagem, com riscos mínimos para os operários e profissionais de inspeção da base.
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42
2
Investigações
Geotécnicas
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos
Pare um pouco e pense no solo do terreno mais próximo de você. Do que ele é feito? Certamente, você
lembrará das aulas de Mecânica dos Solos e saberá que este material natural é composto por grãos de
rochas formados ao longo de milhares de anos, além de conter certo percentual de umidade (água) e
espaços vazios (ar). Talvez, tenha lembrado, ainda, que, dependendo da proporção destes três compo-
nentes, o solo se comporta de formas diferentes.
O maciço de solo (terreno) faz parte do que chamamos de fundação de uma obra (conceito que
vimos na unidade anterior). Mas o que é preciso saber a respeito do solo para construir sobre ele?
Quais ensaios e experimentos devem ser feitos e como são utilizados os seus resultados na elabo-
ração de um projeto de fundações?
Manuel Henrique Campos Botelho (2015), em seu livro Princípios da Mecânica dos Solos e Funda-
ções para Construção Civil (disponível na Biblioteca Virtual da Unicesumar) conta um caso interessante
envolvendo solos na construção de uma edificação de, apenas, um andar, sem estudo algum de fundações.
CENTRO COMUNITÁRIO
N.T.
Descrição da Imagem:a figura apresenta uma ilustração em tons de cinza, que mostra a vista frontal de uma edificação
com duas portas e três janelas e teto chanfrado, acima das portas está escrito “Centro Comunitário”. À esquerda, há uma
flecha indicativa para baixo, nela está escrito “N. T.”. À direita, ao lado da edificação, está uma mulher em pé com uma das
mãos na cintura.
O autor não cita nomes ou datas na narração do caso, porém quem já se interessou por saber como são
construídas as obras públicas terá certa familiaridade com os eventos. É possível até que você consiga lembrar
de outro caso bem parecido, acontecendo, neste exato momento, em sua própria cidade. Mas vamos ao caso:
A prefeitura contratou o projeto arquitetônico para um centro comunitário que teria as seguintes
características: edificação térrea; área construída de 700m²; paredes de blocos de concreto; telhado com
lajes treliçadas. Neste projeto, não constava nenhuma indicação sobre as fundações da construção e
mostrava a alvenaria (paredes) terminando no Nível do Terreno (N.T.).
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UNIDADE 2
45
UNICESUMAR
DIÁRIO DE BORDO
O caso do centro comunitário é um exemplo bastante prático de como uma construção inteira entra
em risco porque não foram realizadas investigações do subsolo nem na etapa de projeto, nem antes de
iniciar as obras. Sondagens e reconhecimento de solo, normalmente, têm o seu custo variando entre
0,2% e 0,5% do custo total de uma obra, um preço baixo para reduzir riscos de colapso (SCHNAID;
ODEBRECHT, 2012).
Mas será que todas as obras e projetos precisam de Investigações Geotécnicas? Edificações pe-
quenas também? Veremos o que a nossa norma técnica base para fundações, a NBR 6122: Projeto
e Execução de Fundações, aponta em seu capítulo 4 “Investigações geológicas e geotécnicas”:
“
Para qualquer edificação, deve ser feita uma campanha de investigação geotécnica
preliminar, constituída, no mínimo, por sondagens a percussão (com SPT), visando
a determinação da estratigrafia e classificação dos solos, a posição do nível d’água e a
medida do índice de resistência à penetração NSPT, de acordo com a ABNT NBR 6484.
Na classificação dos solos, deve ser empregada a ABNT NBR 6502 (ABNT, 2019, p. 3).
46
UNIDADE 2
A normativa aponta que qualquer edificação deve ter Investigações Geotécnicas Preliminares,
indicando, inclusive, qual o tipo de sondagem e as normas as quais essas análises devem se basear. Não
há exceções! Qualquer tipo de obra necessita de uma investigação do subsolo para que seja executada,
contando com, no mínimo, sondagens à percussão.
Para escolher o método de investigação (escavação, sondagem, ensaios de campo, ensaios de labo-
ratório etc.), deve-se levar em conta a finalidade e a proporção da obra; as características do terreno;
as experiências práticas locais e o custo dos métodos. Todas estas condições serão analisadas pelo(a)
profissional de Engenharia responsável pelas análises geotécnicas e/ou projeto de fundações, deter-
minando, então, um plano de investigação e as etapas que farão, ou não, parte dele.
De acordo com os critérios estabelecidos pela NBR 6122 (ABNT, 2019), podemos ter um ou dois
tipos de Investigação Geotécnicas, sendo elas:
• Investigação Geotécnica Preliminar: é o conjunto de métodos de investigação básicos cons-
tituído por, no mínimo, sondagens à percussão (com ensaio SPT). A sua realização é indicada
para qualquer edificação, independentemente de seu porte ou forma. Dentre as informações
coletadas estão: estratigrafia e classificação das camadas do solo; posição do nível d’água; índice
de resistência à penetração nspt.
• Investigação Geotécnica Complementar: é o conjunto de métodos de investigação suplementares
constituídos por sondagens adicionais, instalação de indicadores de nível d’água, piezômetros ou ou-
tros ensaios de campo. A sua execução é realizada, sempre, após a Investigação Preliminar e indicada
devido a peculiaridades do subsolo ou do projeto; dúvida quanto à natureza do material impenetrável à
percussão e diferenças entre as condições locais e as indicações fornecidas pela investigação preliminar.
Visam a determinar parâmetros do solo, tais como: resistência; deformabilidade e permeabilidade.
Agora que sabemos a importância de conhecer e caracterizar o subsolo, além das indicações da prin-
cipal normativa brasileira de fundações para essa etapa do projeto, entenderemos, um pouco mais,
como planejar a Investigação Geotécnica.
Vimos, na unidade anterior, quais são os documentos técnicos indispensáveis para iniciar o projeto
de fundações e, neste caso, as sondagens fazem parte do projeto geotécnico, muitas vezes, referido,
apenas, como projeto ou programa de sondagens.
As sondagens são perfurações realizadas num terreno para verificar as características dele, sem
alterar as condições naturais do mesmo, ou seja, as sondagens são a ausência de grandes escavações.
A normativa técnica NBR 8036 – Programação de Sondagens de Simples Reconhecimento
dos Solos para Fundações de Edifícios (ABNT, 1983) especifica o planejamento da quantidade de
furos, da localização e das profundidades das sondagens. O quadro, a seguir, apresenta a quantidade
de sondagens mínimas em função da projeção em planta da obra.
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UNICESUMAR
Projeção Número
em planta mínimo de Observações
(m²) sondagens
400 a 600 3
600 a 800 4
Mínimo de um furo para cada 200 m²
de projeção em planta da edificação.
800 a 1000 5
1000 a 1200 6
1200 a 1600 7
Correspondente a um furo para cada 200 m² de projeção,
1600 a 2000 8 em planta da edificação, para os primeiros 1200 m² de área
total e um furo para cada 400 m² de projeção excedente.
2000 a 2400 9
Quando ainda não há projeção em planta O número de sondagens deve ser fixado de forma
da obra (ex.: estudos de viabilidade ou de que a distância máxima entre elas seja de 100 m,
escolha do local). com o mínimo de três sondagens.
Quadro 1 - Quantidade de sondagens mínimas para projetos, segundo a NBR 8036 / Fonte: adaptado de ABNT (1983).
A localização e, também, a profundidade que as sondagens devem alcançar num mesmo terreno de-
pendem do tipo de estrutura que será construída, as suas características especiais e das condições do
subsolo. A localização das sondagens dependerá da fase do projeto em que elas serão executadas,
obedecendo às seguintes regras gerais:
• Fase de estudos preliminares: as sondagens devem ser, igualmente, distribuídas em toda a área.
• Fase de projeto: podem localizar-se de acordo com um critério específico que leve em conta
pormenores estruturais. Quando o número de sondagens for maior do que três, elas não devem
ser distribuídas ao longo de um mesmo alinhamento.
Já a profundidade das sondagens deve ser determinada de acordo com as características da estru-
tura, de suas dimensões em planta, da forma da área carregada e, também, das condições geotécnicas
e topográficas locais. Como regra geral, as sondagens devem ser realizadas até a profundidade na qual
o solo não receba cargas estruturais significativas das fundações, fixando aquela cujo acréscimo de
pressão seja menor do que 10% da Pressão Geostática Efetiva. A NBR 8036 (ABNT, 1983) indica um
ábaco, em forma de gráfico, como guia para a estimativa da profundidade da sondagem.
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UNIDADE 2
NBR 8036
A norma NBR 8036 (ABNT, 1983) estabelece mais critérios para de-
terminar qual será a profundidade máxima que as sondagens devem
atingir durante a sua perfuração, porém a principal começa com o
uso desse gráfico. Realizamos uma demonstração da determinação
da profundidade de sondagem, por meio de um breve exemplo, em
nossa Pílula de Aprendizagem. Confira o vídeo e entenda como uti-
lizar as informações prévias do seu projeto e o gráfico da norma
técnica para estimar a profundidade mínima da sondagem.
As investigações do subsolo, também chamadas de Prospecção Geotécnica, são executadas com base
em ensaios de campo no terreno de implantação da obra. Nas últimas décadas, foram introduzidos, na
área da Geotecnia, novos e modernos equipamentos de investigação que permitem utilizar novas tecno-
logias para determinar diferentes condições do solo natural. Neste material, aprofundaremos, apenas, as
técnicas que são implantadas no Brasil e disponíveis às contratações em empresas especializadas do ramo.
Dos ensaios de campo que se destacam pela sua ampla utilização em todo o mundo, temos: o Stan-
dard Penetration Test – SPT (mais executado no Brasil) e a sua variação, que é complementada com
medidas de torque: SPT-T; o Ensaio de Penetração do Cone – CPT (para análises detalhadas do
terreno) e a sua variação, que é complementada com medida das pressões neutras: CPTu ou piezocone;
o Ensaio de Palheta (Vane Test); os Ensaios Pressiômetricos – PMT (de Ménard e autoperfuran-
tes); o Dilatômetro de Marchetti – DMT; os ensaios de carregamento de placa – Provas de Carga
(bastante utilizados no passado, mas, hoje, quase em desuso no Brasil); os Ensaios Geofísicos (em
particular, o Ensaio de Crosshole, que fornece um importante parâmetro geotécnico, o Módulo de
Elasticidade Transversal Inicial do solo – Go).
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UNICESUMAR
Descrição da Imagem: a figura apresenta a ilustração de um fluxograma colorido, com formas retangulares que contêm
textos da hierarquia dos processos geotécnicos. Estes são divididos entre as classes. A classe dos indiretos, subdividida entre
geoelétricos e sísmicos, que ramificam nos nomes dos ensaios específicos de cada. A classe dos semidiretos e a classe dos
diretos, contendo a lista dos ensaios específicos de cada.
A escolha dos ensaios pelo(a) profissional de Engenharia, durante a elaboração do projeto de fundações,
dependerá do tipo de solo investigado, das normas e dos códigos específicos do local da obra bem
como das práticas regionais de investigações e construção. Cabe ao profissional responsável definir
qual o procedimento mais apropriado, porém recomenda-se utilizar métodos consagrados, ou seja,
50
UNIDADE 2
utilizar, apenas, os métodos e ensaios que são consenso entre especialistas brasileiros e internacionais.
Para obter resultados confiáveis, a exigência é usar equipamentos e procedimentos normalizados, com
calibrações frequentes e uma equipe treinada e qualificada.
No quadro, a seguir, são apresentados as principais técnicas de ensaios de campo e os parâmetros
obtidos durante a sua realização. Observando as informações contidas no quadro, é possível fazer a
escolha do tipo de ensaio de acordo com as características do subsolo e, também, das propriedades
que necessitam de determinação.
Parâmetros
Grupo Equipamento Tipo de Perfil u f' S D m c K G sh OCR σ − ε
solo u r v v 0 0
Quadro 2 - Aplicabilidade e uso de ensaios in situ / Fonte: adaptado de Schnaid e Odebrecht (2012).
Legenda:
Aplicabilidade: A = alta; B = moderada; C = baixa; - = inexistente
Definição de parâmetros: u = poropressão in situ;f ' = ângulo de atrito efetivo ; Su = resistência ao cisalhamento não
drenada; Dr = densidade relativa; mv = módulo de variação volumétrica; cv = coeficiente de consolidação; K0 =
coeficiente de empuxo no repouso; G0 = módulo cisalhante a pequenas deformações; sh = tensão horizontal; OCR =
razão de pré-adensamento; σ −ε = relação tensão-deformação.
Consistem em processos de Prospecção Geotécnica que não fornecem, diretamente, os tipos de solos,
isto é, estas informações são obtidas por meio de correlações com suas respectivas características de
resistividades elétricas e velocidades de propagação de ondas sonoras. São procedimentos que per-
51
UNICESUMAR
tencem ao ramo da Geofísica, uma área que realiza estudos de partes profundas do terreno a partir
de medições físicas na superfície, algo que não é possível obter por meio dos processos diretos de
prospecção (GANDOLFO, 2012).
A investigação geofísica apresenta, como principal vantagem, o levantamento rápido de uma ampla
amostragem do volume de subsolo em seu estado natural, não perturbado por intervenções diretas,
como perfurações (sondagens, cavas, trincheiras). É importante destacar que os seus resultados apre-
sentam identificação de lençol freático e de estruturas favoráveis à percolação de águas subterrâneas
para a perfuração de poços artesianos; delimitação da extensão no subsolo de jazidas; determinação
correta para vazamentos de contaminantes no solo; elaboração de mapeamento de vazios nas camadas
do solo; dimensionamento de aterros sanitários, entre outros (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020).
Esses métodos de investigação fazem uso de ferramentas bastante sofisticadas para realizar as medições
e, conforme Albuquerque e Garcia (2020), se classificam, de acordo com os parâmetros que medem, em:
• Sísmicos: processos que se apoiam no princípio da propagação de ondas sonoras em função do
Módulo de Elasticidade do material, do Coeficiente de Poisson e da Massa Específica. O apare-
lho do método produz uma emissão sonora no terreno, com pancadas ou explosões, utilizando
geofones. É, então, registrado o tempo gasto das ondas, desde a sua emissão até a chegada aos
geofones. Fazem parte desses processos os Ensaios Geofísicos de Crosshole, a Sísmica de Refle-
xão, o Multichannel Analysis of Surface Waves – MASW (traduzido como Análise Multicanal
de Superfícies de Onda).
52
UNIDADE 2
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em tons de cinza. Nela, há o horizonte de
subsolo contendo três perfurações com dispositivo retangular em seu fundo, e a indicação, em textos
embaixo de cada perfuração. À esquerda, está escrito: “emissor”, no centro, está escrito “geofone”,
à direita, lê-se: “geofone”. Os dispositivos são ligados, por meio de fios, a um dispositivo na parte
superior, o qual traz escrito: “equipamento de leitura e registro”. Linhas pontilhadas equidistantes,
em forma de arco, ilustram a propagação de onda do emissor para os geofones.
53
UNICESUMAR
são ligados a um voltímetro. Esta instalação gera, artificialmente, um campo elétrico a partir de
uma corrente, o que permite a medida da resistividade no subsolo.
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em tons de cinza. Na parte superior, há quatro dispositivos retangulares
localizados acima da linha do horizonte, equidistantes entre si pela distância “a”. Os dois dispositivos centrais são ligados por
uma linha reta superior com a letra indicativa “V”. O dispositivo na ponta esquerda é ligado por uma linha ondulada superior
ao dispositivo na ponta direita, o qual é indicado pelo texto “eletrodo”. Essa linha ondulada traz as indicações “~” e “A”. Abaixo
do horizonte, estão linhas cheias, em arco, que ligam o dispositivo da ponta esquerda ao da ponta direita e são indicadas pelo
texto “Linhas de corrente (A)”. Ainda, abaixo do horizonte, há linhas pontilhadas, em arco, se propagando a partir do dispositivo
da ponta esquerda para o subsolo, essas linhas são indicadas pelo texto “Linhas de potencial (V)”.
Esses processos são vistos como rápidos e de excelente custo/benefício, principalmente, em obras de gran-
de porte. Os resultados apresentados são satisfatórios ao determinar características de camadas extensas
e profundas do subsolo, entretanto a sua aplicação é recomendada, apenas, como ensaio complementar,
porque tais resultados não apresentam informações conclusivas quando empregados, isoladamente.
Nos processos semidiretos, são obtidas características mecânicas das camadas de subsolo, por
meio de correlações com valores obtidos nos ensaios de campo, contudo sem realizar coleta de
54
UNIDADE 2
amostras ou informações sobre a natureza do solo. Foram desenvolvidos para suprir a necessidade
de determinar as características do comportamento de camadas do subsolo em seu estado natural,
quando não é possível obter amostras.
Geralmente, os ensaios desta categoria integram as Investigações Geotécnicas Complemen-
tares, sendo realizados em furos de sondagens ou em pré-furos específicos para este fim. Cada
tipo de ensaio tem o seu equipamento padronizado segundo a normativa técnica própria. Fazem
parte destes tipos de processos os ensaios: Ensaio de Palheta (Vane Test); Ensaio de Penetração
do Cone – CPT; Ensaio de Penetração do Piezocone – CPTu; Ensaio Pressiométrico – PMT;
Ensaio Dilatométrico – DMT.
55
UNICESUMAR
O mecanismo de aplicação do torque tem uma coroa e um pinhão acionado por manivela. Há, também,
equipamentos de Vane Test mais modernos, cuja rotação é aplicada por motor elétrico e a leitura dos dados
é feita por computador com software específico, o qual gera, em tempo real, a curva “torque versus rotação”.
Por meio dos ensaios de palheta (Vane Test), podem-se obter os seguintes resultados: gráfico de
torque em função da rotação (“torque versus rotação”); momento máximo aplicado; resistência não
drenada nas condições naturais (Su); Resistência não drenada nas condições amolgadas (Sur). No caso
desta última, imediatamente à leitura do momento máximo aplicado, são realizadas dez revoluções
completas na palheta, e o ensaio é refeito visando, assim, à medição da resistência amolgada da argila.
O Ensaio de Penetração do Cone é uma das mais importantes ferramentas que a Prospecção Geotécnica
possui, atualmente, e o seu desenvolvimento começou na Holanda, pretendendo simular uma cravação
de estaca no solo. Recebe diversos nomes no meio internacional, dentre eles: Ensaio de Penetração
Contínua (EPC), Deepsounding, Diepsondering, Cone Penetration Test (CPT), piezocone (CPTu), Pie-
zocone Sísmico (SCPTu), cone resistivo, entre outros. Estes ensaios fornecem resultados que permitem
a identificação de vários aspectos dos solos, tais como a estratigrafia dos perfis e a determinação das
propriedades mecânicas, por meio de correlações empíricas e semiempíricas.
No Brasil, era regulamentado pela NBR 12069 até o ano de 2015, porém esta normativa foi cance-
lada por não estar adequada aos equipamentos mais modernos que funcionam com recursos compu-
tacionais de análise. Por isso, atualmente, são utilizados os parâmetros de normativas internacionais,
como a norma norte-americana ASTM D-344: Standard test method for deep quasi-static, cone
and friction-cone penetration test of soils. Ela apresenta, satisfatoriamente, as recomendações para
o ensaio referente a terminologias, procedimentos, dimensões e apresentação de resultados.
O equipamento necessário à execução deste ensaio é composto por um conjunto de hastes que,
na extremidade inferior, possui um cone de ângulo de 60º no vértice e área de seção transversal de 10
cm², podendo chegar a 15 cm² nos equipamentos maiores e com mais capacidade de carga, e 5 cm² ou
menos naqueles empregados em condições especiais. Esse cone, ao ser cravado, permite a medição da
Resistência da Ponta do cone (qc) e da Resistência de Atrito Lateral (fs). Estes valores são, continuamente,
monitorados e digitalizados. Quando a medição é realizada na superfície pela transferência de esforços
nas hastes, chamamos de cone mecânico; quando a medição é feita por meio de células de carga eletrôni-
cas no próprio cone; denominamos cone elétrico; se essas medidas também realizam o monitoramento
das Pressões Neutras (u), chamamos de piezocone. A cravação da ponteira cônica é controlada por um
sistema hidráulico instalado em perfuratriz ou em veículos preparados para esta finalidade.
Podemos resumir o procedimento do Ensaio do Cone Mecânico em três etapas:
1. Uma força F1 é aplicada na haste interna, forçando o cone a penetrar no terreno por 40 mm,
então, é medida a Resistência da Ponta do cone (qc) para aquela profundidade de ensaio.
56
UNIDADE 2
2. Em seguida, uma força F2 é aplicada na haste externa até encostar na base do cone, determi-
nando a Resistência por Atrito Lateral (fs) do terreno naquela profundidade de ensaio.
3. Ao aplicar uma força sobre as duas hastes para que penetrem no terreno, realizamos a medição
da Resistência Total (qt) que contempla as duas medidas anteriores: qt = qc + fs.
Descrição da Imagem: a imagem mostra uma ilustração em tons de cinza, dividida em três partes. À esquerda, está o dispo-
sitivo de ensaio alongado com pino superior e ponta cônica inferior posicionada sobre um eixo de linha horizontal pontilhada.
No centro, o mesmo dispositivo, agora, com uma flecha que aponta para baixo, em direção ao pino, indicada pelo texto “F1”.
Também se vê uma ponta cônica alinhada a 40 mm do eixo anterior e com flechas que apontam para cima, indicadas pelo
texto “qc”. À direita, o mesmo dispositivo, agora, com flecha para baixo na porção de cabeça sem o pino, e indicada pelo texto
“F2”, e, também, uma ponta cônica alinhada a outros 40 mm abaixo do eixo anterior, com as mesmas flechas e indicações da
etapa do centro e flechas para cima, alinhadas ao lado da porção central do dispositivo, indicadas pelo texto “fs”.
A cravação da ponteira deve ser feita com velocidade constante de 20 mm/s ± 5mm/s, e devem ser
recolhidas leituras, no mínimo, de um a cada 20 cm de avanço da ponteira, porém, na prática, são
realizadas leituras entre 20 mm e 50 mm, para compor melhor os resultados dos gráficos. A ponteira
será cravada até que a cota de interesse seja superada.
57
UNICESUMAR
Durante a penetração, as forças medidas pela ponta e pelo atrito lateral variam em função das
propriedades dos materiais atravessados. Os registros de resistência da ponta do cone (qc) e atrito
lateral (fs) para o cone são, continuamente, monitorados e digitalizados. Na medição piezocone, o
procedimento é igual, apenas, com a medição adicional da poropressão (u). Com base nestas me-
didas, calculamos a razão de atrito (Rf):
fs
Rf =
qc
Em que:
R f = razão de atrito (%);
f s = resistência de atrito lateral (kPa);
qc = resistência da ponta do cone (MPa).
A classificação do tipo de solo depende do emprego de ábacos e da análise conjunta dos diagramas de
resistência de ponta, atrito lateral, razão de atrito e medida de poropressão.
A figura, a seguir, mostra o ábaco proposto por Peter K. Robertson, em 1986, e atualizado no ano
de 1990, podendo ser utilizado na identificação de tipos diferentes de solo:
Figura 7 - Ábaco de classificação do solo proposto por Robertson (adaptado) / Fonte: Neto et al. (2006, p. 40).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em tons de cinza e com duas partes. Na parte da direita, há a lista de
tipos de solo com indicação de números, ordenando esses solos de 1 até 12. Na porção direita, vê-se o gráfico em retângulo
com eixo horizontal e identificado pelo texto “razão de atrito Rf (%)”, variando de 0 a 8, e o eixo vertical identificado pelo texto
“resistência da ponta do cone qc (MPa)” variando de 0.1 a 100. Divisões internas do gráfico, pintadas de diferentes tons de
cinza, mostram números indicativos de cada área, variando de 1 a 12.
58
UNIDADE 2
Os resultados das medições são apresentados para mostrar a profundidade, com os valores das resis-
tências se deslocando na horizontal. A figura, a seguir, apresenta um exemplo de resultado de Ensaio
de Piezocone com os respectivos gráficos em profundidade para resistência de ponta (qt), atrito lateral
(fs), razão de atrito (Rf) e medida de poropressão (u2):
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em cinco partes, mostrando os gráficos de resultado do Ensaio de Cone, todos
contendo um eixo vertical identificado pelo texto “profundidade (m)”, variando de 0 a 35. Cada parte representa a curva do gráfico,
conforme o parâmetro indicado no eixo horizontal, no topo, seguindo a ordem da esquerda para a direita: gráfico “Rf (%)” variando
de 0 a 8; gráfico “qt (MPa)” com variação de 0 a 25; gráfico “fs (kPa)” com variação de 0 a 150; gráfico “u2 (kPa)” variando de 0 a 1500;
camadas de subsolo identificada como “CPTU – Perfil Interpretado” com indicação das partes do solo e o seus respectivos nomes.
As medidas obtidas no Ensaio de Penetração do Cone (qc, fs, u) podem ser utilizadas para determinar, por
meio de estimativas importantes, as características e propriedades do solo, tais como: estratigrafia; densidade
relativa/resistência não drenada; ângulo de atrito; histórico de tensões; coeficiente de adensamento, entre
outros. Porém a sua principal aplicação está na previsão da capacidade de carga bem como dos recalques
das fundações, tendo relação direta na previsão do comportamento de fundações profundas do tipo estaca.
Ensaio Dilatométrico
Desenvolvido na Itália, na década de 70, pelo professor Silvano Marchetti, o Ensaio Dilatométrico
também é conhecido como Ensaio do Dilatômetro de Marchetti ou pela sigla DMT, sendo utilizado
em mais de 50 países como ferramenta de Prospecção Geotécnica.
59
UNICESUMAR
“
4.5.7 Ensaio dilatométrico - O ensaio dilatométrico (Dilatômetro de Marchetti)
consiste na cravação de uma lâmina, que possui um diafragma. Este diafragma é em-
purrado contra o solo pela aplicação de uma pressão de gás. O ensaio pode ser usado
para determinação da estratigrafia e pode dar indicação da classificação do solo. Pro-
priedades dos materiais ensaiados podem ser obtidas por correlação, sobretudo em
depósitos de argilas moles e areias sedimentares.
A figura, a seguir, mostra a instalação dos equipamentos necessários para realização do ensaio com
registro, também, de informações sísmicas (DMT Sísmico).
Figura 9 - Vista geral da instalação do equipa-
mento utilizado no Ensaio Dilatométrico (DMT)
Fonte: Oneto e Santos [2021].
60
UNIDADE 2
O método do ensaio inicia com a penetração da lâmina de aço inoxidável no terreno, por meio de
cravação. Quando atingida a profundidade desejada, a membrada metálica (de aço, 6 cm de diâmetro)
se expande contra o solo devido à ação do gás nitrogênio (extrasseco) injetado. São realizadas duas
leituras de pressões: a primeira é referente ao início da expansão da membrada (p0); a segunda se re-
fere à expansão de 1,1 mm no centro da membrana contra o solo (p1). Este procedimento é realizado
em intervalos de 20 cm ao longo da profundidade, o que fornece leituras suficientes para compor um
gráfico, bastante preciso, de cada camada de solo ensaiada.
A partir dos valores medidos de pressão do ensaio (p0 e p1), é possível obter os parâmetros caracte-
rísticos do solo, ao associar a diferença entre ambas (p1 – p0) a cálculos matemáticos específicos. Como
principais parâmetros obtidos dessa forma, temos: Módulo Dilatométrico (ED); Índice de Material (ID)
e Índice de Tensão Horizontal (KD).
O Ensaio DMT Sísmico permite, também, a medição das velocidades de onda que são utilizadas
no cálculo do Módulo de Cisalhamento Inicial do solo (G0).
Ensaio Pressiométrico
Desenvolvido na França, em 1955, pelo engenheiro Louis Ménard, o Ensaio Pressiométrico tem uso
recorrente e rotineiro nas Prospecções Geotécnicas, sendo, extremamente, útil para determinar o
comportamento de tensão-deformação dos solos in situ. O pressiômetro de Ménard foi o primeiro a
ser aperfeiçoado e difundido, e os mais utilizados são os pressiômetros autoperfurantes e os cravados.
Um exemplo famoso de autoperfurante é o CamKoMeter, desenvolvido na Universidade de Cam-
bridge, nos anos 70. O nome atribuído a esse pressiômetro se deve ao local onde ele foi criado, Cambridge,
bem como à sua eficiência em determinar os valores do coeficiente de empuxo em repouso dos solos (K0).
Não existem normas brasileiras que regulamentam a realização desse ensaio, sendo que, na NBR
6122 (ABNT, 2019, p. 4, grifo do autor), há, apenas, uma sucinta explicação sobre ele:
“
4.5.6 Ensaio pressiométrico – Este ensaio consiste na expansão de uma sonda ci-
líndrica no interior do terreno, em profundidades preestabelecidas. Dependendo do
modo de inserção do pressiômetro no solo, pode ser classificado como pressiômetro em
pré-furo (ou de Ménard), autoperfurante. O ensaio permite a obtenção de propriedades
de resistência e tensão-deformação do material.
61
UNICESUMAR
Manômetros
lateralmente, até alcançar as paredes
de um furo pré-perfurado, em se-
guida, medem-se os deslocamentos
produzidos pelo processo de fura-
ção e pela expansão da membrana.
Este deslocamento é relacionado à
Volumímetro
magnitude das tensões principais in
Controle pressão-volume
situ e com os parâmetros de defor-
mabilidade existentes na zona onde
se realiza o ensaio.
Gás comprimido A instalação da sonda do Ensaio
Pressiométrico pode ser realizada
por diferentes procedimentos. Cada
um deles foi desenvolvido buscan-
do reduzir ou eliminar quaisquer
possíveis efeitos de amolgamento
do solo que a inserção da sonda
possa ter gerado, além de, secunda-
riamente, melhor adaptar o método
do ensaio para a realização em dife-
rentes condições do subsolo.
A figura, ao lado, mostra a ins-
talação do Ensaio Pressiométrico
Célula de Guarda
do tipo Ménard (MPM) bem como
Célula de medição
o seu equipamento, composto por
sonda pressiométrica e painel de
Célula de guarda controle de pressão.
Para interpretar, corretamente,
Figura 10 - Instalação do pressiômetro tipo Ménard os resultados dos Ensaios Pressio-
Fonte: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 56).
métricos, é preciso considerar o
tipo de pressiômetro utilizado; o
Descrição da Imagem: a imagem mostra uma ilustração colorida em que a linha
do horizonte separa a superfície do solo, a qual apresenta grama verde e céu método de instalação dele; o tipo
azul, das camadas abaixo do terreno, o qual apresenta terra marrom. No centro
na superfície do terreno, um tripé sustenta um grande dispositivo que contém
de solo e o método de análise esco-
relógios de medição, esse dispositivo é identificado pelo texto “manômetro”. Há, lhido, a fim de definir os parâmetros
ainda, no dispositivo, uma régua vertical identificada pelo texto “volumímetro”,
botões identificados pelo texto “controle pressão-volume”. O dispositivo é ligado, geotécnicos. As medições obtidas
por meio de um cabo, a um cilindro com válvula, a qual está à direita, identificada definem as curvas pressiométricas
pelo texto “gás comprimido”. O dispositivo é ligado a outro, que é alongado e
vertical, inserido nas camadas de subsolo, o qual está dividido em três partes, (tensão-deformação) e de fluência,
indicadas, respectivamente, no início, no meio e no final desse equipamento
alongado, como “célula de guarda”; “célula de medição” e “célula de guarda”.
nas quais os parâmetros geotécni-
cos serão deduzidos.
62
UNIDADE 2
Os processos diretos são aqueles que realizam furos no terreno (sondagens) e permitem re-
conhecer a natureza das camadas, realizando, também, a coleta de amostras para análises. A
quantidade de sondagens a serem realizadas seguirá as instruções do planejamento previsto
pela NBR 8036 (ABNT, 1983) e, também, dependerá da localização e das profundidades a
serem investigadas. As amostras retiradas durante esses processos serão submetidas a exame
táctil-visual e a ensaios de caracterização de solos (em laboratório ou em campo) para que
sejam determinadas todas as principais informações, como: granulometria; plasticidade;
cor; origem (solos residuais, transportados, aterros etc.) e classificação.
A forma de identificar, nomear e armazenar as amostras seguia uma normativa
técnica própria (antiga NBR 7250), porém todas essas informações encontram-se,
atualmente, no capítulo 6.6 “Identificação das amostras e elaboração do perfil geoló-
gico-geotécnico da sondagem” dentro da norma NBR 6484: Solo – Sondagens de
Simples Reconhecimento com SPT – Método de Ensaio (ABNT, 2020). Nestes
procedimentos de exames de amostras, é muito importante, também, seguir as orien-
tações da norma técnica específica que realiza a identificação básica dos solos, a NBR
7181: Solo Análise Granulométrica (ABNT, 2018).
Geralmente, as sondagens que fazem parte dos processos diretos integram as Investi-
gações Geotécnicas Preliminares, sendo as primeiras realizadas nos terrenos que servirão
de base para a elaboração dos projetos, principalmente, o de fundações. Cada tipo de
sondagem possui o seu tipo de equipamento, o seu método e a sua forma de análise,
padronizados segundo normativa técnica própria.
Fazem parte das prospecções geotécnicas diretas: poços; trincheiras; Sondagens a
Trado; Sondagem de Simples Reconhecimento com Ensaio SPT e a sua variante com
aplicação de torque (SPT-T).
No quadro, a seguir, são apresentadas as principais técnicas de ensaios de campo e
exames de laboratório indicados para o estudo dos solos e das fundações bem como a
sua normativa técnica associada.
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UNICESUMAR
EXAMES
OBRA LABORATORIAIS NORMA TÉCNICA ASSOCIADA
OU DE CAMPO
Recalques de Ensaio de
NBR 16853: Solo – Ensaio de adensamento unidimensional
edificações adensamento
Análise
Maciços terrosos granulométrica NBR 7181: Solo – Análise granulométrica
Aterros
NBR 6457: Amostras de solo – Preparação para ensaios de
Barragens de Ensaio de compactação e ensaios de caracterização
terra compactação
NBR 7182: Solo – Ensaio de compactação
Estabilidade de Ensaio de cisalha- ASTM D3080 - 04 - Standard Test Method for Direct Shear Test
taludes mento direto of Soils Under Consolidated Drained Conditions
Muros de
arrimo Ensaio triaxial NBR 11682: Estabilidade de encostas
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UNIDADE 2
EXAMES
OBRA LABORATORIAIS NORMA TÉCNICA ASSOCIADA
OU DE CAMPO
Quadro 3 - Testes de campo e exames laboratoriais mais usados em Obras de Terra e Fundações / Fonte: a autora.
A seguir, detalharemos as formas de prospecções mais utilizadas em território nacional que permitem
a análise dos solos dos terrenos por processo direto.
Prevista como Investigação Preliminar para qualquer tipo de obra de construção, as Sondagens de
Simples Reconhecimento consistem em perfurações do terreno utilizando ferramentas de percussão
(batidas de martelo) que fazem a cravação do instrumento (amostrador-padrão) necessário para ensaios
como o Standard Penetration Test (Teste de Penetração Padrão) de sigla SPT, ou, a sua variante, o
SPT-T, o qual também realiza a medição dos momentos de torção (torque do amostrador-padrão).
Esta é reconhecida como a ferramenta de investigação geotécnica mais popular, rotineira e eco-
nômica, praticamente, no mundo todo, e, no Brasil, é regida pelas normas técnicas NBR 6484: Solo
– Sondagem de Simples Reconhecimento com SPT – Método de ensaio e NBR 16797: Medida
de Torque em Ensaios SPT durante a Execução de Sondagens de Simples Reconhecimento
à Percussão – Procedimento. Com a inclusão de equipamentos mecanizados nessas sondagens,
também é necessário se orientar pela NBR 16796: Solo – Método Padrão para Avaliação de Energia
em SPT, que trata do uso e das considerações para o ensaio quando do uso deste tipo de ferramenta.
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UNICESUMAR
NBR 6484
No ano de 2020, houve uma extensa reformulação das normativas de
investigação geotécnica por parte da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT), principalmente, sobre as normas relacionadas às son-
dagens com SPT. A comunidade formada por empresas e profissionais
de Engenharia e Geotecnia foi bastante impactada por estas alterações
recentes das normas. Mas o que muda, de fato, para o trabalho, de
quem lida, no dia a dia, com projetos de fundações? No podcast desta
unidade, conversaremos com um profissional da área de Engenharia
e Geotecnia e saberemos como está sendo a adaptação de sua prática
profissional às alterações na norma NBR 6484: Solo – Sondagem de
Simples Reconhecimento com SPT – Método de Ensaio. Acesse o link
e dê o play nesta conversa enriquecedora para a prática profissional.
Este tipo de sondagem permite determinar a condição de compacidade de solos granulares (arenosos),
de consistência de solos coesivos (argilosos ou siltosos) e, até mesmo, a ocorrência de camadas de ro-
chas brandas no subsolo. Os seus principais objetivos são: coletar informações sobre os tipos de solo e
as suas respectivas profundidades de ocorrência (estratigrafia do subsolo); determinar a posição do
lençol freático (Nível de Água ou N.A.) e do Índice de Resistência à Penetração NSPT a cada metro
do subsolo que é prospectado.
Os equipamentos necessários para este tipo de prospecção são compostos por seis partes distintas:
amostrador-padrão para ensaio SPT e SPT-T; hastes com encaixe; martelo (massa total de 65 kg); torre
ou tripé de sondagem; cabeça de bater e conjunto de perfuração (com trépano e/ou peça de lavagem).
Existem outros equipamentos auxiliares ao ensaio, porém esses são os de participação mais ampla.
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UNIDADE 2
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UNICESUMAR
A figura, a seguir, ilustra o procedimento de ensaio e a forma de obter o NSPT, a partir dos golpes
da cravação.
Figura 12 - Procedimento para realização do Ensaio SPT e obtenção do índice NSPT / Fonte: Albuquerque e Garcia (2020, p. 57).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração, em tons de cinza, dividida em quatro partes, as quais mostram as etapas
de Ensaio SPT. À esquerda, vê-se a instalação dos equipamentos, em um furo no terreno, com a ponta do amostrador alinhada a
um eixo pontilhado horizontal. Há três outros eixos horizontais, em linhas pontilhadas equidistantes, indicados pelas cotas de 15 cm
cada. No centro, à esquerda, está a ponta do amostrador no segundo eixo, indicado pelos textos “trecho 1” e “NSPT1”. No centro, à
direita, está a ponta do amostrador no terceiro eixo, indicado pelos textos “trecho 2” e “NSPT2”. À direita, está a ponta do amostrador
no segundo eixo, indicado pelos textos “trecho 3” e “NSPT3”. No canto inferior direito, há a expressão “NSPT igual NSPT2 mais NSPT3”.
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UNIDADE 2
É possível que alguns relatórios de Ensaio SPT apresentem o número de golpes para os primeiros 30
cm e, também, o número de golpes para os últimos 30 cm, porém o valor do Índice de Resistência à
Penetração (NSPT) a cada metro do subsolo será sempre o dos últimos 30 cm cravados. Caso o número
de golpes referente aos primeiros e aos últimos 30 cm apresentem diferenças elevadas em seus valores,
indicará condição de amolgamento do solo ou de deficiência na limpeza do fundo do furo da sondagem
(SCHNAID; ODEBRECHT, 2012).
Na imagem, a seguir, é apresentado o relatório de sondagem com Ensaio SPT, feito na ci-
dade de Caxias-MA, representando os valores encontrados para um furo realizado no centro
do município, em local onde, anteriormente, existia um rio (condição que justifica a baixa
resistência encontrada).
LOCAL: AVENIDA OTÁVIO PASSOS, S/N - CENTRO - CAXIAS - MA PESO BATENTE 65 Kg ALTURADE QUEDA 0,75m
PENETRAÇÃO P
R
P
MATERIAL
O
Profundidade RESISTÊNCIA À Gráfico SPT F
U
E
(m) N R
PENETRAÇÃO
D
Golpes p/30 cm finais I F CLASSIFICAÇÃO TÁCTIL VISUAL
D
A I
D L
De Até 15 15 15 10 30 50 70 90 E
0,00 0,45 5 3 4 0,53m 0,53m Piso Cerâmico e contra piso. Areia muito fina, pouco
1,00 1,45 5 5 4 medianamente argilosa, pouco compacta de cor creme
amarelado escuro com presença acentuada de materiais
2,00 2,45 4 5 7 de demolição (pedaços de tijolos, concreto e etc.). De 0,00
3,00 3,45 8 7 8 à 0,53 m. Aterro.
4,00 4,45 7 8 8 4,39m 4,39m Areia, muito fina, argilosa, mediamente compacta de cor
5,00 5,45 8 8 8 5,77m 5,77m creme amarelado escuro com presença acentuada de
pedregulhos de quartzo (seixo) fino. De 0,53 à 4,39m.
5,45 5,77 - - -
5,77 5,77 5/0 - - Areia muito fina, pouco a medianamente argilosa,
medianamente compacta de cor creme amarelado escuro
com presença eventual de materiais de demolição
(pedações de concreto) e fragmento de pedras de arenito
silicificado. De 4,39 à 5,77 m.
Figura 13 - Relatório de sondagem com Ensaio SPT no centro de Caxias-MA / Fonte: Santos et al. (2018, [s. p.]).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma tabela em linhas pretas sobre fundo branco. Essa tabela contém seções verticais que
separam parâmetros e descrições e, também, linhas horizontais que delimitam camadas do subsolo. Na parte da esquerda da seção,
nomeada como “penetração”, temos as subcolunas com os valores indicativos de profundidade e de resistência à penetração, além do
gráfico SPT para os valores de golpes. Na parte central, as divisões das camadas do subsolo têm hachuras do perfil representado. Na
parte da direita, há a coluna identificada por “material” e “classificação táctil visual”, com os textos separados por linhas horizontais,
os quais descrevem a composição das camadas de solo do ensaio.
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UNICESUMAR
70
UNIDADE 2
ÍNDICE DE
RESISTÊNCIA À
SOLO PENETRAÇÃO DESIGNAÇÃO¹
N
≤4 Fofa(o)
19 a 40 Compacta(o)
> 40 Muito compacta(o)
≤2 Muito mole
3a5 Mole
11 a 19 Rija(o)
> 19 Dura(o)
1) As expressões empregadas para a classificação da compacidade das areias (fofa, compacta etc.) referem-se à deforma-
bilidade e à resistência desses solos, sob o ponto de vista de fundações, e não devem ser confundidas com as mesmas
denominações empregadas para a designação da compacidade relativa das areias ou para a situação perante o índice de
vazios críticos, definido na Mecânica dos Solos.
Quadro 4 - Estados de compacidade e de consistência do solo, com base no Índice de Resistência à Penetração N do Ensaio SPT
Fonte: ABNT (2020, p. 6).
Durante a realização do Ensaio SPT, em cada metro de sondagem, é possível realizar, também, outro
procedimento que associa a medida de torque à sondagem: é o chamado Ensaio SPT-T ou Ensaio de
Torque. Quando o amostrador-padrão estiver, completamente, cravado na camada de solo, após ter
realizado os golpes do martelo para os 45 cm de penetração, é aplicado um torque na parte superior da
composição da haste que rotaciona o amostrador-padrão. A medida do torque, que é registrada com
o auxílio de um torquímetro, fornece um dado adicional para a resistência à penetração.
Durante a rotação, é possível obter a leitura do Torque Máximo, o qual é necessário para romper a
aderência entre o solo e o amostrador-padrão, obtendo, assim, uma medida de atrito lateral amostrador-
-solo. Também pode ser conferida a medida do Torque Residual, quando se continua rotacionando
o conjunto até que a leitura no torquímetro se mantenha constante, então, é realizada nova medida.
A medida do torque, num Ensaio SPT-T, não é afetada por fontes de erros, como no caso do Índice
de Resistência N do SPT Padrão (contagem do número de golpes; altura de queda; peso da massa do
martelo; atrito e drapejamento das hastes; estado ruim da sapata cortante; roldana; corda etc.).
O valor do torque medido permite obter, de maneira mais confiável e a baixo custo, a resistência
lateral de determinado solo. O cálculo para o atrito lateral, por meio do torque medido no SPT-T, é:
71
UNICESUMAR
T
fT 100
40, 5366 h 3, 1711
Em que:
f = atrito lateral unitário (kPa);
T = torque máximo medido no SPT- T (kgf× cm);
h = comprimento do amostrador- padrão (cm).
A seguir, apresentamos outro exemplo de relatório de sondagem (da cidade de Ijuí-RS), o qual ilustra
melhor todos os valores que podem estar contidos num laudo de sondagem com SPT-T. Nele, temos
uma coluna que indica o número de golpes para cravar os últimos 30 cm do amostrador (NSPT), o valor
do Torque Máximo (TM), do Torque Residual (TR) e do comprimento cravado do amostrador (H).
GRÁFICO AMOSTRADOR:
PROFUNDIADE DA
(GOLPES SP ENE T.)
TORQUE (Kg -f )
PROFUNDIDADE
RESISTÊNCIA À
NÍVEL D’ÁGUA
CAMADA (M)
PENETRAÇÃO
PENETRAÇÃO
AVANÇO
ENSAIO DE
N.A. N.F.E.
15 15 15
1,00 TH
1,45
4 4 4
8 8 12 9 1,45 SOLO ARGILOSO PLÁSTICO DE COR MARROM E
15 15 15 CONSISTÊNCIA MÉDIA.
2,00 TH
2,45 3 4 6
7 10 11 7 2,45
15 15 15
3,00 SOLO ARGILOSO PLÁSTICO DE COR MARROM E TH
CONSISTÊNCIA RUA.
5 7 8
3,45
15 15 15
12 15 10 6 3,45
4,00 TH
4 4 5
4,45 8 9 11 10 4,45 SOLO ARENOSO GROSSO COM FRAÇÕES DE SILTE NA MATRIZ E
15 15 15 PEDREGULHO NO ARCABOÇO, VARIEGADO COMPACTO.
5,00 TH
5,45 4 5 5 9 10 12 10,5 5,45
15 15 15
NE OSSOLO LITÓLICO ARENOSO GROSSO DE COR PALHA
6,00 POUCO COMPACTO.
TH
4 4 4
6,45 15 15 15 8 8 10 8 6,45
SOLO ARENOSO GROSSO COM FRAÇÕES DE SILTE NA MATRIZ E
7,00 PEDREGULHO NO ARCABOÇO, VARIEGADO COMPACTO TH
4 4 4
7,45 15 15 15 19 29 25 20 7,45
7,70
4 4 4
7,70 TH
15 15 15 33 55 37 30 CONTATO COM A ROCHA.
Figura 14 - Relatório de sondagem de reconhecimento com Ensaio SPT-T / Fonte: adaptada de Coppeti (2016).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma tabela em linhas pretas sobre fundo branco. Essa tabela contém seções verticais que
separam parâmetros e descrições e, também, linhas horizontais que delimitam camadas do subsolo. Na parte da esquerda, na seção
nomeada como “gráfico”, temos a curva vertical vermelha para os valores de SPT e a curva vertical azul para os valores de torque.
No centro, à esquerda, há as colunas e subcolunas com os valores de golpes do Ensaio SPT e das medições máximas e mínimas de
torque. No centro, temos as divisões das camadas do subsolo, com hachura do perfil representado e, também, a coluna ao lado
indicando a profundidade de cada camada. Na parte direita, está a coluna indicada pelo texto “descrição do material”. Nela, os textos,
separados por linhas horizontais, descrevem a composição das camadas de solo do ensaio.
72
UNIDADE 2
73
UNICESUMAR
n
xi
RQD 100 i 1 %
L
Em que:
xi = comprimento indiividual dos fragmentos recuperados
que tenham comprimentos superiores a 10cm;
L = comprimento total do avanço da perffuração .
74
UNIDADE 2
Figura 15 - Exemplo de procedimento para determinação do RQD, a partir de testemunho de Sondagem Rotativa
Fonte: adaptada de Ramírez (2009).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração separada em duas partes. À esquerda, temos um elemento alongado,
fragmentado em vários trechos e ângulos, separado por cotas indicativas e o seu respectivo comprimento. Nele, há uma cota total
identificada pelo texto “comprimento total perfurado”. À direita, temos o cálculo em etapas para o RQD, mostrando como contabilizar
os comprimentos medidos no elemento e aplicá-los na fórmula definida por Deere.
Deere (apud RAMÍREZ, 2009) propôs um sistema de classificação baseada na relação entre o Índice
RQD e a qualidade dos maciços rochosos, seguindo o Quadro 5.
RQD
DESCRIÇÃO DA QUALIDADE DE ROCHA
%
< 25 Muito pobre
25-50 Pobre
50-75 Regular
75-90 Bom
90-100 Excelente
Quadro 5 - Classificação dos maciços de rocha para Índice RQD / Fonte: Ramírez (2009, p. 48).
Empregamos a Sondagem Mista para os casos em que os processos de percussão ou manuais não
conseguem penetrar, completamente, as camadas de matacões, blocos de natureza rochosa ou solos
de altas resistências. Então, associamos a Sondagem Rotativa à Sondagem à Percussão para o avanço
das investigações e a obtenção de amostras aos estudos dessas camadas.
75
UNICESUMAR
A norma técnica NBR 6122 indica que, para essas sondagens, deve-se indicar, em seus resultados,
as características principais da camada, tais como: tipo da rocha; grau de alteração; faturamento; coe-
rência; xistosidade; porcentagem de recuperação; Índice RQD; eventuais descontinuidades e, sempre
que possível, determinação do NSPT.
Toda obra de Engenharia se apoia sobre o elemento natural solo, às vezes, de forma direta (caso
das fundações superficiais e rasas), às vezes, de forma indireta (caso das fundações profundas). Porém
nenhuma delas escapa da interação com o maciço natural. Conhecer o solo que suportará a edificação
é essencial para evitar acidentes e problemas construtivos (patologias), como: aparecimento de fissu-
ras; trincas; desníveis; desmoronamentos e outros. Existem muitos casos famosos de edificações cuja
ausência de Investigação Geotécnica que revelasse as condições do subsolo condenou a construção,
como um todo, para o resto da vida. É o caso da Torre de Pisa, na Itália e, também, dos prédios tortos
na orla de Santos, no Brasil.
A fim de orientar a escolha do tipo do elemento de fundação mais adequado ao subsolo que se
apresenta no terreno e, também, para guiar os cálculos de dimensionamento da infraestrutura, é ne-
cessário realizar Investigações Geotécnicas. Estes trabalhos podem ser feitos por meio de ensaios no
local da obra (in situ) e/ou em laboratório, com amostras coletadas, permitindo conhecer e entender
algumas características do comportamento dos solos e das rochas bem como determinar a sua na-
tureza (classificação e condição natural), a resistência a esforços e outros parâmetros necessários ao
dimensionamento dos elementos de fundação.
Existem diversos métodos e procedimentos de prospecção do subsolo que fazem parte das Inves-
tigações Geotécnicas, e cabe à pessoa encarregada pelo projeto de fundações realizar o planejamento
de quais deles farão parte, ou não, dos estudos do solo. Esta decisão não possui uma recomendação
pronta e tabelada, nem mesmo na norma técnica principal para fundações (NBR 6122). É trabalho
do(a) projetista conhecer as opções de sondagens, ensaios e estudos, com o objetivo de escolher aquelas
que serão úteis aos dimensionamentos de estruturas.
A única regra sobre Investigações Geotécnicas que serve para todos os tipos de construção e terreno
é: não pode deixar de fazer!
76
No dia a dia do(a) profissional da Engenharia de Fundações, é muito importante conhecer as opções
de procedimentos que fazem parte das Investigações Geotécnicas, porém cada procedimento
tem as suas particularidades e informações de base que precisam ser, rapidamente, acessadas
quando se busca definir o plano de estudos do subsolo. Realizar a gestão das informações po-
tencializa, aluno(a), o seu trabalho ou de sua equipe. Passamos por uma quantidade bem grande
de métodos de Investigações Geotécnicas, nesta unidade, agora, realizaremos uma atividade de
“Arquivologia Mental”.
A seguir, estão embaralhadas várias normativas bem como equipamentos, procedimentos e resul-
tados que vimos, aqui. Encontre as informações úteis às Investigações Geotécnicas para fundações
e destaque-as das demais. Em seguida, anote os nomes delas no campo do organograma, na
Prospecção Geotécnica da qual esses nomes fazem parte. Caso você perceba que estão faltando
termos ou informações pertencentes aos procedimentos de estudos do subsolo que constam no
organograma, pesquise-os no material de estudo e complete com a informação.
77
CONE CPT e CPTu SPT e SPT-T
Normas Normas
Equipamentos Equipamentos
Método Método
Resultados
78
1. Todo projeto de fundações requer um levantamento preliminar de informações para o seu
planejamento. Estes dados são divididos em quatro grandes grupos, de acordo com sua
natureza, em: Topografia; Geologia-Geotecnia; estrutura a construir; construções vizinhas.
Sobre as Investigações Geotécnicas realizadas para as fundações, assinale a alternativa que
descreve, corretamente, algumas das informações levantadas neste tipo de investigação:
a) Dados sobre estabilidade de taludes e encostas no terreno, histórico de erosões da
região e perfil geométrico da área para saber se haverá necessidade de serviços de
movimentação de terra (cortes e aterros).
b) Identificação das camadas do subsolo e profundidade de cada uma delas; dados referentes
ao valor de compressibilidade e resistência dos solos bem como o nível do lençol freático.
c) Tipo e uso da nova edificação; sistema construtivo e estrutural empregado; intensidade
e posicionamento das cargas que serão transmitidas ao solo.
d) Tipo e sistema construtivo da edificação vizinha; tipo de fundação empregado; exis-
tência de estruturas ou construções subterrâneas (ex.: porão, fossas e sumidouros);
patologias das construções; existência de mina de água, poços e nível de lençol freático.
e) Custos envolvidos na construção da nova obra e prazos definidos pelo cronograma
de execução.
79
IV) O SPT-T foi proposto, primeiro, por Ranzini, em 1988, com o intuito de complementar
as informações obtidas pela Sondagem de Simples Reconhecimento, avaliando a
resistência cisalhante do solo. Após a perfuração e a cravação dinâmica de amostra-
dor-padrão, será realizado, a cada metro, a medição do Torque Máximo e Residual,
ainda com o amostrador-padrão cravado na porção do solo ensaiada.
a) I e II, apenas.
b) II e III, apenas.
c) I, II, III e IV.
d) II, III e IV, apenas.
e) I, apenas.
Descrição da Imagem: a imagem mostra uma tabela em linhas pretas sobre fundo branco. Essa tabela contém
seções verticais que separam parâmetros e descrições e, também, linhas horizontais que delimitam camadas do
subsolo. Na parte central da seção nomeada como “perfil estratigráfico”, temos as subcolunas com os valores indi-
cativos de profundidade, N.A, avanço, índice de penetração e NSPT , além do gráfico SPT para os valores de golpes.
Na parte da direita, há duas colunas apresentando as características da amostra e a discriminação da camada com
os textos separados por linhas horizontais, os quais descrevem a composição das camadas de solo do ensaio.
80
Analisando os resultados para os Índices de Penetração do solo presentes no relatório, qual
é o valor do NSPT a 4 m de profundidade? Assinale a alternativa correta:
a) NSPT = 6.
b) NSPT = 8.
c) NSPT = 9.
d) NSPT = 14.
e) NSPT = 17.
81
82
3
Fundações
Diretas Rasas I
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos
Considere as seguintes informações: na Serra do Caparaó, no estado de Minas Gerais, existe uma
montanha chamada Pico do Cristal, que conta com, aproximadamente, 2.780 m de altitude e
mantém a sua forma sobre terreno rochoso desde antes da Era Cenozoica (há 65,5 milhões de anos).
No Planalto de Gizé, no deserto do Egito, foi construída a Grande Pirâmide de Quéops, que conta
com, aproximadamente, 139 m de altura e mantém a sua forma sobre um terreno arenoso desde a
IV Dinastia Egípcia (2.613-2.494 a.C.).
Figura 1 - Pico do Cristal, estado de Minas Gerais Figura 2 - Grande Pirâmide de Quéops, Egito
Fonte: Turismo... ([2021], on-line)1. Fonte: Shutterstock
Descrição da Imagem: fotografia colorida de uma montanha Descrição da Imagem: fotografia colorida de uma grande
de pedra cinza, com céu azul na parte superior e terreno com pirâmide marrom ao fundo, no centro, e uma pirâmide me-
vegetação verde na parte de baixo. nor, em decomposição, à direita. Ambas estão em um terreno
desértico com pedras e céu azul com nuvens.
São duas construções de enormes proporção e estrutura que se encontram estáveis e resistem ao
tempo há muitos anos, sendo que uma possui formação natural, outra é resultado de projeto e traba-
lho humanos. Ambas têm pontos em comum: são constituídas de rocha, além de um formato muito
semelhante — base maior e topo menor.
Mas você saberia dizer o motivo pelo qual esse formato é encontrado nas maiores e mais antigas
construções humanas? O que os projetistas e construtores da Antiguidade aprenderam para garantir
a estabilidade de suas obras, até os dias de hoje, como é o caso da Grande Pirâmide?
Não é recente ou inovador que o conhecimento humano tenha base na observação de fenômenos
naturais, e o mesmo se aplica às técnicas de construção. Quando imaginamos quais são os elementos
84
UNIDADE 3
naturais que alcançam maiores altitudes, podemos pensar, primeiro, nas montanhas e, depois, nas
árvores, sendo ambos com formações e sistemas de apoio diferentes. O primeiro e mais simples de
reproduzir é o das montanhas, o qual corresponde a uma base larga que sustenta o corpo e, gradual-
mente, se reduz, ou seja, um aspecto muito parecido com as construções antigas. Quanto mais alta a
montanha, maior a sua base. Existe um motivo para isso, claro!
Os construtores antigos perceberam uma relação entre o porte (tamanho) e o peso da construção
e a necessidade de uma base mais alargada para sustentá-la. O primeiro sistema de fundação vem
deste conhecimento, a Fundação Direta, aquela que transmite a carga da edificação ao solo por meio
da pressão distribuída em uma base alargada.
Entenderemos como, naturalmente, a concepção de uma Fundação Direta funciona, por meio da
análise do funcionamento do corpo humano. Imagine que o seu corpo é uma edificação e os seus pés
são a estrutura de fundação desta construção.
Para este experimento, você precisará de régua, fita métrica ou trena (para fazer as medições) e,
também, informações sobre o peso de um corpo (geralmente, por meio da pesagem em balanças,
como as de farmácia).
Primeiro, meça o comprimento de um de seus pés, desde a ponta do dedão (o mais proeminente)
até o final do calcanhar, e anote esta medida, em centímetros. Em seguida, meça a maior largura do
seu pé, aquela que fica próxima aos dedos, também, em centímetros. Imaginaremos que os seus pés
são como retângulos, com um lado maior e, outro, menor. Calcule a área deste retângulo.
No segundo passo, anote a sua massa corporal, para isso, você deve se pesar em uma balança pre-
sente numa farmácia ou num consultório médico, ou, até mesmo, naquelas balanças pequenas que
temos em casa. Anote o valor da massa corporal, em quilogramas, e calcule a carga que essa massa
gera, multiplicando-a pelo valor médio da gravidade (9,8 m/s²).
Com as informações de uma área hipotética da base do seu pé e a carga advinda do peso que o seu
corpo produz, determine o quanto de pressão cada um dos pés imprime, em média, no chão. Lembre-se
que o peso do corpo estará dividido entre dois retângulos de base. A seguir, temos uma organização de
equação para ajudar no cálculo, com a consideração da divisão da massa corporal para, apenas, um pé, e,
também a conversão de unidades entre kg (massa) e cm (comprimento) para MPa (unidade de pressão):
M corpo 2
s pé
0, 098
a pé b pé
Em que:
s pé = pressão que um pé imprime ao chão, em Mpa;
M corpo = massa corporal, em kg;
a pé = maior lado do pé, em cm;
b pé = menor lado do pé, em cm.
85
UNICESUMAR
Agora que você sabe qual a pressão média que cada um de seus pés imprime ao chão, quando anda,
ou, apenas, fica parado(a), anote, numa pequena lista, quais os lugares onde você esteve pisando e o
seu pé afundou (mesmo que alguns milímetros) no solo e quais aqueles que não sentiu afundamento
(solo duro). Por exemplo, em uma quadra de areia, na calçada de pedra, na grama, no asfalto, num
terreno de solo escuro, num terreno de solo colorido (qual cor?), em caminho de pedras ou seixos, no
barro, na beira do rio etc.
Use o espaço do Diário de Bordo, a seguir, para as suas anotações de medidas do pé, cálculo da
área do retângulo, massa corporal, cálculo da pressão de cada pé e registro das considerações sobre os
terrenos nos quais o seu pé afunda e não afunda.
DIÁRIO DE BORDO
Tente pensar: o que há em comum entre os locais onde o seu pé afundou e onde não afundou? E quais
tiveram mais e menos afundamento? Por quê?
Você entende que, naturalmente, o seu corpo foi constituído para permanecer em pé, ou seja, total-
mente, apoiado sobre dois pés. Então, a sua construção (corpo) está proporcional à sua fundação (pé);
se você fosse mais alto(a)/maior, haveria mais carga corporal a ser distribuída por sua base e, conse-
86
UNIDADE 3
quentemente, os seus pés deveriam ser maiores. O contrário também ocorre, se o seu corpo fosse mais
baixo ou menor, haveria menos carga corporal a ser distribuída pela base e, então, os seus pés seriam
menores. Porém, quando você está parado(a) sobre um terreno, a estabilidade de sua fundação (pés)
não depende, somente, do quanto de carga o seu corpo possui ou quão maiores são os seus pés, mas
também do tipo de resistência à pressão que o solo oferece. O projeto de fundações diretas rasas lida
com essa relação entre a carga da edificação, a forma da base e a resistência à pressão do solo.
Antes de começar a entender como funcionam as fundações diretas rasas, é preciso, primeiro, enten-
der o conceito por trás destas duas denominações que constam no nome dessas fundações: Rasas e Diretas.
Chamamos de superficiais ou rasas aqueles tipos de fundações nas quais os seus elementos
apoiam-se sobre o solo a uma profundidade duas vezes menor do que a sua menor dimensão em
planta (ABNT, 2019a). A imagem, a seguir, ilustra esta definição, mostrando o elemento de fundação
e a sua menor dimensão em planta (B), além de como medir a sua profundidade de apoio (H) em
relação ao nível do terreno (N.T.).
Descrição da Imagem: a imagem mostra um desenho, em vista frontal, de um elemento de fundação com um pilar cinza-escuro inserido
em um recorte retangular de solo. Embaixo desse pilar, há uma cota medindo a largura da base, identificada pela letra “B”. À direita,
há uma cota medindo a distância do nível do terreno até a base da fundação, o que é identificado pela equação “H menor igual 2B”.
Nomeamos como diretas aqueles tipos de fundações cujos elementos transmitem a carga recebida da
estrutura da edificação (superestrutura) para o solo, por meio de tensões distribuídas sob a base (ABNT,
2019a). A imagem, a seguir, ilustra esta forma de distribuição de carga recebida (P) por um elemento
de fundação para o terreno, por meio da pressão de sua base ( s Ap ).
87
UNICESUMAR
Se as fundações diretas rasas transmitem as cargas por pressão em suas bases e se apoiam a
pouca profundidade, entendemos que os locais onde essas fundações podem ser empregadas
devem ter as camadas superficiais do solo com resistência suficiente para suportar as tensões
do elemento de fundação. Ou seja, a carga aplicada pela fundação deve ser menor do que a
capacidade de carga do solo.
A Capacidade de Carga do Solo (σr), também chamada de Tensão de Ruptura do Solo (σrup),
corresponde ao valor de tensão que o elemento de fundação (bloco, sapata, radier etc.) aplica sobre o
solo, provocando deslocamentos que comprometem a sua segurança ou o seu desempenho (ABNT,
2019a). Esta ruptura ocorrerá em função da compressibilidade do solo, da geometria da fundação e
do embutimento da mesma no solo, além do carregamento da estrutura.
Os modos de ruptura variam desde uma ruptura frágil, chamada de Ruptura Geral, cujo elemento
de fundação pode girar e levantar uma porção do solo acima da superfície do terreno, até uma ruptura
dúctil, chamada de Ruptura por Puncionamento, em que o elemento de fundação se desloca, signi-
ficativamente, para baixo, sem ocorrer desaprumo (CINTRA; AOKI; ALBIERO, 2011). No intermédio,
também existe uma ruptura híbrida denominada Ruptura Local.
O quadro, a seguir, reúne as principais informações sobre estes três tipos de modos de ruptura para
Fundações Diretas Rasas, de acordo com os estudos de Aleksandar Vésic, em 1975.
88
UNIDADE 3
RUPTURA POR
MÉTODO RUPTURA GERAL RUPTURA LOCAL
PUNCIONAMENTO
Ilustração
Quadro 1 - Métodos de ruptura por Vésic / Fonte: Vésic (1975 apud CINTRA; AOKI; ALBIERO, 2011).
89
UNICESUMAR
A Tensão de Ruptura do Solo (σrup) pode ser calculada segundo métodos e equações diferentes,
cada uma delas variando de acordo com o tipo e o estado do solo (areias e argilas nos vários estados
de compacidade e consistência), dimensão e forma do elemento de fundação (circulares, quadradas,
retangulares ou corridas) e, também, conforme a profundidade do elemento de fundação (TEIXEIRA;
GODOY, 2019).
O quadro, a seguir, lista alguns desses métodos e as condições específicas nas quais eles são aplicados.
COMPACIDADE OU
TIPO DE SOLO MÉTODO DE ANÁLISE
CONSISTÊNCIA
Compacta
Terzaghi – Ruptura Geral, Ruptura
Local e Ruptura Intermediária
Areia Fofa
ou
Meyerhof
Intermediária
Quadro 2 - Método de análises para o cálculo da capacidade de carga de ruptura para fundações rasas
Fonte: adaptado de Albuquerque e Garcia (2020).
Qual o método de cálculo mais eficiente para um projeto de fundações diretas rasas? Esta
resposta pode ser obtida avaliando o desempenho das fundações após a sua conclusão. Na
prática, projetistas utilizam, sempre, mais de um método para confirmar as suas estimativas.
As escolhas de projeto são testadas por metodologias diferentes e agregam confiabilidade
nos resultados.
90
UNIDADE 3
γ B N γ Sγ
σrup c N c Sc
2
q N q Sq
Em que:
c = coeesão do solo;
γ = peso específico do solo onde se apoia a fundação;
B = menor dimensão (em planta) do elemento de fundação;
q = pressão efetiva do solo na cota de apoio da fundação;
Nc
N γ fatores de carga (função do ângulo de atrito do solo f)
N q
Sc
Sγ fatores de forma .
Sq
Os fatores de carga (Nc, Nγ e Nq) podem ser determinados por meio de um ábaco elaborado por Ter-
zaghi, para cada situação de ruptura solo: Ruptura Geral e Ruptura Local. Os valores estão compilados
no quadro, a seguir, a fim de facilitar a consulta e a determinação.
Ângulo de atrito
Ruptura Geral Ruptura Local
f
Nc Nq Nγ N’c N’q N’γ
0º 5,70 1,00 0,00 5,70 1,00 0,00
5º 7,34 1,64 0,49 6,74 1,39 0,18
10º 9,60 2,69 1,25 8,02 1,94 0,47
15º 12,86 4,45 2,54 9,67 2,73 0,92
20º 17,69 7,44 4,97 11,85 3,88 1,74
25º 25,13 12,72 9,70 14,81 5,60 3,17
30º 37,16 22,46 13,73 18,99 8,31 5,66
35º 57,75 41,44 42,43 25,18 12,75 10,14
40º 95,66 81,27 100,39 34,87 20,50 18,82
Tabela 1 - Fatores de carga pela Teoria de Terzaghi / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
Os fatores de carga (N’c, N’γ e N’q) apresentados no quadro fazem referência aos valores para condi-
ções de solos com Ruptura Local, sendo utilizados na Equação de Terzaghi apresentada, anterior-
mente, com redução aos valores da coesão (c) e do ângulo de atrito ( f ) tomados em 2/3 (TEIXEIRA;
91
UNICESUMAR
GODOY, 2019). Calculam-se novos valores de Coesão para Solos com Ruptura Local (c’) e Ângu-
lo de Atrito para Solos com Ruptura Local ( f ’), conforme detalhado nas equações, a seguir:
2c
c '
3
Solos com Ruptura Local
2 tan f
tan f '
3
Dessa forma, nas situações em que os solos apresentam Ruptura Local (areias fofas e argilas moles), a
equação para cálculo da Tensão de Ruptura, pelo Método de Terzaghi (ALONSO, 2019), fica ajustado
à seguinte equação:
γ B N 'γ S γ
σrup c ' N 'c S c
2
q N 'q S q
Em que:
c’ = coesão do solo com ruptura local;
γ = peso específico do solo onde se apoia a fundação;
B = a menor dimensão (em planta) do elemento de fundação
q = a pressão efetiva do solo na cota de apoio da fundação
N 'c
N 'γ fatores de carga (função do Ângulo de Atrito do Solo com Ruptura Lo
ocal f')
N 'q
Sc
S γ fatores de forma
S q
Nos casos dos solos com Ruptura Intermediária, é necessário o uso da Equação de Terzaghi, por
meio da utilização de valores de Fatores de Carga com Ruptura Intermediária (N”c, N”γ e N”q) e
Coesão do Solo com Ruptura Intermediária (c”), que são uma média entre aqueles tomados na
situação de Ruptura Geral e Ruptura local, ou seja, segundo Albuquerque e Garcia (2020):
92
UNIDADE 3
c c' 5 c
c " 2 6
N " N c N 'c
c 2
Solos com Ruptura Intermediária
N g N 'g
N "
g 2
N N 'q
N " q
q
2
Desta forma, as situações em que os solos apresentam Ruptura Intermediária (areias, medianamente,
compactas e argilas médias), a equação para cálculo da Tensão de Ruptura, pelo Método de Terzaghi, fica:
γ B N "γ S γ
σrup c" N "c Sc
2
q N "q S q
Em que :
c" = coesão do solo com ruptura intermediária;
γ = peso específico do solo onde se apoia a fundação;
B = menor dimensão (em planta) do elemento de fundação;
q = pressão efetiva do solo na cota de apoio da fundação;
N "c
N "γ fatores de carga para solo com ruptura intermediária;
N "q
Sc
S γ fatores de forma .
S q
Os fatores de forma (Sc,Sγ e Sq) propostos por Terzaghi, para o seu método, em 1943, podem ser obtidos
em um quadro esquematizado, de acordo com o formato da área da base do elemento de fundação
(TEIXEIRA; GODOY, 2019). Em 1975, Vésic realiza estudos experimentais para testar o Método de
Terzaghi e propõe modificações a esses mesmos fatores de forma, elaborando um novo quadro com
cálculos para cada caso. Ambas as considerações são apresentadas na tabela, a seguir:
93
UNICESUMAR
FATORES DE FORMA
FORMA DA BASE TERZAGHI (1943)
DA FUNDAÇÃO
Sc Sq Sγ
Corrida 1,0 1,0
Quadrada 1,3 0,8
Circular 1,3 1,0 0,6
Retangular
1,1 0,9
(L > B e L < 5B)
FATORES DE FORMA
VÉSIC (1975)
Sc Sq Sγ
Nq
Quadrada 1 1 tan f 0,6
ou Circular
Nc
Retangular B N q B B
1 1 tan f 1 0, 4
(L > B e L < 5B)
L N c L L
Tabela 2 - Fatores de forma segundo Terzaghi (1943) e Vésic (1975) / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
A determinação dos valores de coesão (c), do peso específico (γ) e do ângulo de atrito ( f ) podem
ser feitas por ensaios específicos de laboratório, em amostras do solo abaixo da fundação. Porém,
quando não se dispõe destes tipos de ensaios, os seus valores podem ser aproximados pelos quadros de
correlações da Resistência à Penetração (NSPT) do Ensaio SPT (ALONSO, 2019). O quadro, a seguir,
apresenta estas correlações aproximadas.
RESISTÊNCIA À
ÂNGULO DE ATRITO
PENETRAÇÃO
f
NSPT
94
UNIDADE 3
Método de Terzaghi
A aplicação do Método de Terzaghi para fundações diretas rasas preci-
sa ser um pouco mais explorada, por meio de um exemplo prático que
demonstre o método de cálculo, utilizando, assim, um Relatório de En-
saio SPT conhecido. Nesta Pílula de Aprendizagem, demonstramos um
cálculo simples para uma situação de projeto de uma fundação direta
rasa. Acesse o vídeo explicativo para ver esta demonstração!
95
UNICESUMAR
O cálculo da Tensão de Ruptura (σrup), por mé- estabelecer, com exatidão, a resistência ao cisa-
todos teóricos, é passível de diversas incertezas. lhamento do solo, tão importante para estimar a
Devido à impossibilidade prática de conhecer o capacidade de carga. Por esta razão, não aborda-
estado de tensões naturais do solo, não é possível remos todas as metodologias teóricas presentes na
estimar, precisamente, mesmo com sondagens, as literatura, partindo, então, para outros dois tipos
condições de drenagem que definirão o compor- de estimativas da Tensão de Ruptura.
tamento de cada camada de solo sob as fundações.
As suas formulações encontram dificuldade em
Cálculo da capacidade
de carga pela execução
de provas de carga no
terreno da obra
96
UNIDADE 3
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em tons de cinza, com duas
partes. À esquerda, vê-se a instalação de equipamento para Ensaio de Placa com núme-
ros indicativos de 1 a 8, posicionados ao lado de cada peça. Há uma caixa preenchida
com hachura e um texto que diz: “carga de reação (areia, ferro etc.) ” sobre o equi-
pamento de eixo cilíndrico e da base larga, apoiada no fundo de um recorte de uma
camada de terreno, recorte esse que apresenta contorno hachurado. À direita, há um
texto indicando, em formato de lista, as legendas dos equipamentos numerados: (1)
viga de referência; (2) cavalete de apoio; (3) solo; (4) deflectômetro; (5) placa phi igual
a 80 cm; (6) viga de transição; (7) célula de carga; (8) macaco hidráulico.
97
UNICESUMAR
A seguir, apresentamos as equações gerais da Tensão Admissível pela Prova de Carga (σadm) para
os dois tipos de curva Tensão x Recalque:
• Para solos com Ruptura Geral, temos:
sR
sadm
FS
Em que:
s R tensão de ruptura ;
FS = fator de segurançça que deve ser sempre : FS 2.
s25
FS
sadm
s
10
Em que:
s25 tensão correspondeente a um recalque de 25 mm;
s10 tensão correspondente a um recalque de 10 mm;
FS = fator de segurança que deve ser sempre : FS 2.
98
UNIDADE 3
Tensão Admissível
A utilização do Ensaio de Placa para determinar a Tensão Admissível
pode ser melhor entendida por meio de uma aplicação prática que
demonstre o cálculo. Pensando nisso, elaborei uma Pílula de Apren-
dizagem que mostra o cálculo para um resultado de ensaio que con-
tém uma curva Tensão x Recalque. Acesse o vídeo explicativo para
ver esta demonstração!
III) Cálculo da capacidade de carga pelas equações semiempíricas: a Tensão Admissível é deter-
minada por meio de métodos de cálculo com base em ensaios de campo (SPT e CPT), um procedi-
mento bastante comum na prática de fundações, no Brasil (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020). As
equações utilizam um valor da Resistência à Penetração Média ( N SPT ) e a Resistência de Ponta
Média ( qc ) que se encontram na região do Bulbo de Tensões. O tamanho desse Bulbo de Tensões
varia de acordo com a forma da área da base do elemento de fundação, sendo que a profundidade de
cada um deles é calculada conforme a Menor Dimensão em Planta (B) do elemento.
Na figura, a seguir, é representado como se determina essa profundidade para cada caso.
Figura 8 - Definição do Bulbo de Tensões em função do formato da área da base do elemento de fundação
Fonte: Albuquerque e Garcia (2020).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em tons de cinza com três partes nomeadas. À esquerda, uma figura é
identificada como “quadrada ou circular”, no centro, uma figura é nomeada como “retangular” e, à direita, nomeada como “corrida”.
Todas repetem o mesmo elemento de fundação, que é uma flecha apontada para baixo, no centro do pilar, na porção superior, e um
círculo tracejado abaixo da base desse círculo. Do lado esquerdo da primeira figura, há uma cota horizontal indicando “largura da base
B” e uma cota vertical indicando o alcance do círculo de, aproximadamente, 2B. No centro, há uma cota horizontal que indica a largura
da base B e, também, há uma cota vertical indicando o alcance do círculo de, aproximadamente, 3B. No lado direito, vê-se uma cota
horizontal que indica a largura da base B e, também, uma cota vertical, a qual indica o alcance do círculo de, aproximadamente, 3B.
99
UNICESUMAR
As correlações utilizando os resultados dos Ensaios SPT e CPT advêm dos estudos de diferentes pes-
quisadores para diferentes situações de solo, sendo alguns desses estudos propostos há muitos anos,
mas ainda servem à estimativa de Tensão Admissível em determinada região do país.
A seguir, apresentamos, num quadro, a relação dos principais métodos propostos para os valores
de Tensão Admissível ( sadm ) correlacionando resultados de NSPT médio e qc médio:
sadm 20 N SPT
Mello Argilas do Terciário da
4 a 16
(1975) cidade de São Paulo.
sadm 100 N SPT 1
Teixeira e Areias
Godoy > 1,5
qc
sadm =
(1996) Argilas 10
Para utilizar essas formulações, anteriormente, propostas, é necessário entender a forma de determinar
os valores médios da Resistência à Penetração (NSPT) e, também, da Resistência de Ponta (qc) aos perfis
do solo. O primeiro passo para isso é determinar a qual profundidade o elemento de fundação se
apoiará, então, definir (ou buscar a informação no pré-projeto) qual será a forma da área da base
(quadrada, circular, retangular ou corrida). Com estas informações em mãos, podemos realizar o
cálculo da área de influência do Bulbo de Tensões, de acordo com as orientações na figura anterior,
e conferir quais valores de NSPT e de qc estarão dentro desse bulbo.
100
UNIDADE 3
Para os casos em que estamos calculando a Tensão Admissível e, também, utilizando os relatórios
do Ensaio de Penetração Padrão (Standard Penetration Test – SPT), a figura, a seguir, ilustra como
é feito o cálculo da Resistência à Penetração Média ( N SPT ) para um elemento de fundação de área
da base quadrada ou circular.
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em tons de cinza, dividida em duas partes. À esquerda, estão um perfil de
subsolo separado em três camadas horizontais e um eixo vertical com números verticais de Ensaio SPT, com um elemento de fundação
inserido na primeira camada, o qual mostra uma área circular hachurada, abaixo da base. À direita, o cálculo para o NSPT médio e a
Tensão Admissível.
Agora, pensando no caso da determinação da Tensão Admissível para os resultados do Ensaio de Pe-
netração do Cone (Cone Penetration Test – CPT), a figura, a seguir, ilustra como é feito o cálculo da
Resistência de Ponta Média ( qc ) para um elemento de fundação de área da base quadrada ou circular.
101
UNICESUMAR
Figura 10 - Procedimento para determinação do valor da Resistência de Ponta Média ( qc ) / Fonte: Albuquerque e Garcia (2020).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em tons de cinza, dividida em duas partes. À esquerda, há texto indicativo
superior que diz “circular ou quadrada”, mostrando um perfil de subsolo separado em duas camadas horizontais e um elemento de fun-
dação inserido na primeira camada, o qual tem uma área circular hachurada, abaixo da base. À direita, vê-se o gráfico com eixo horizontal
superior nomeado como “resistência de ponta (qc) (MPa)” e valores que variam de 1 a 8, além de um eixo vertical para baixo, o qual é
nomeado como “profundidade (m)” e valores que variam de 1 a 5. No gráfico, também é possível ver uma curva delimitada, descendente,
em linha preenchida, com um eixo vertical em linha tracejada, reta, indicando “qc médio” e o cálculo da Tensão Admissível descrito.
102
UNIDADE 3
Luciano Décourt (1999; 2017) aponta que, para os cálculos de projetos das fundações diretas, é neces-
sário almejar recalques iguais aos elementos que compõem a infraestrutura, e não tensões iguais. Para
isso, o autor propõe, em seus estudos recentes, a correlação entre a razão da Tensão de Projeto (q) e a
Tensão de Referência (qr) com a razão do Recalque da Fundação Direta (s) e o Lado Equivalente
da Fundação Direta (Beq), como mostra a equação, a seguir:
q s
log C C log
qr Beq
Em que :
C coeficiente de compressibilidade intrínseca do solo .
Para determinar o Lado Equivalente da Fundação Direta (Beq), é preciso conhecer a Área da Base
(Abase) do elemento de fundação, cujo cálculo é:
Beq = Abase
O Método Décourt considera que a curva Carga x Recalque seja normalizada, de forma que a Tensão
de Referência calculada pelo método represente recalque de 10% do lado da fundação direta rasa. Para
determinar a Tensão de Referência (qr), o autor propõe o uso de correlações empíricas apresentadas
no quadro, a seguir. Nestas considerações, utilizamos, como valores de NSPT, o número de golpes do
Ensaio SPT para eficiência de 72%, enquanto o Neq corresponde ao valor do torque medido no
Ensaio SPT-T, que é dividido por um fator no valor de 1,2 proposto por Décourt (1999).
O quadro, a seguir, apresenta as correlações com essas tensões de referência:
TENSÃO DE REFERÊNCIA
SOLO qr
(kPa)
103
UNICESUMAR
Não-lateríticos 0,426
Areias de quartzo
0,40 ± 15%
(sedimentares ou residuais)
Quadro 6 - Valores do Coeficiente de Compressibilidade Intrínseca do Solo (C) previstos no estudo de Décourt (1999)
Fonte: adaptado de Décourt (1999).
104
UNIDADE 3
No dimensionamento das fundações diretas rasas, o primeiro item a ser determinado é a Área da
Base, um valor calculado pela razão entre a Carga de Projeto e a Tensão Admissível do solo onde
o elemento da fundação se apoiará. Já foram abordadas, até aqui, as várias formas de determinação
da Tensão Admissível do solo, ficando a cargo do(a) projetista determinar o método utilizado, então,
resta entender um pouco mais sobre a Carga de Projeto.
A Carga de Projeto é composta pela soma do Esforço da Estrutura (P) e pelo Peso Próprio (pp)
do elemento de fundação. Nas situações em que o Peso Próprio de um elemento de fundação depende
das dimensões dele (base, altura etc.) que ainda serão calculados (caso de blocos e sapatas), recomenda-se
adotar a estimativa inicial de projeto correspondente a 5% do Esforço da Estrutura (ALONSO, 2019).
Descrição da Imagem: a imagem mostra uma fotografia colorida de um canteiro de obras. Neste canteiro, o está solo escavado em
eixos retos, limitados por madeiras que formam caixarias apoiadas sobre esse solo. Tais eixos, que estão interligados, delimitam áreas
retangulares. Também é possível ver barras de aço, posicionadas na vertical, nos pontos de interseção dos eixos.
A
P pp
sadm
A equação, ao lado, apresenta o cálculo
para a Área da Base de um elemento Em que :
de fundação direta: P = esforço da estrutura;
pp = peso próprio do elemento de fundação;
sadm = tensão admissível do solo .
105
UNICESUMAR
Com o valor da Área da Base calculado, o dimensionamento prossegue para a definição da forma dessa
base e o cálculo de suas dimensões. Sabemos que existem algumas formas básicas mais utilizadas, algumas
delas são escolhidas pelo(a) projetista, outras são impostas pelas condições de implantação do projeto.
As principais formas de área de base e os cálculos de suas dimensões são apresentados no quadro,
a seguir.
Circular 4 A
D
p
D = diâmetro
Quadrada a= A
a = lado
Retangular a b A
a = maior lado
b = menor lado
Quadro 7 - Equações para cálculo de dimensões da base de elementos de fundações / Fonte: a autora.
106
UNIDADE 3
As fundações são uma área de estudo, dentro da Engenharia, que depende de muito
estudo e prática para ser, completamente, aprendida. É importante aprender com
materiais e referências dos conhecimentos de quem tem prática na indústria seja
em projetos, seja em execução, como também na fiscalização ou na pesquisa sobre
as variações de condições de solo e projetos. Por isso, cabe a você colher o máximo
de ensinamentos disponíveis nas publicações da área de Fundações, principalmente,
aquelas de autores brasileiros, e adaptá-las às condições de solo, de equipamentos, de
geometria de edificação e de práticas executivas encontradas em nosso país.
É preciso que a pessoa que deseja desenvolver projetos de fundações conheça, a
fundo, este tipo de solução, porque é o primeiro nível de complexidade da área. Sem
entender como as fundações diretas rasas funcionam e são dimensionadas, dificulta-se
muito a compreensão de como as fundações indiretas e profundas são pensadas, para
suprir o que as anteriores não puderam solucionar.
Nas palavras dos consagrados Dirceu de Alencar Velloso e Francisco Lopes (2011,
p. 5), respectivamente, engenheiro de fundações e engenheiro geotécnico:
“
“Gostaríamos de lembrar que Fundações é um casamento, nem
sempre harmonioso, de técnica e arte. Portanto, o profissional que
se decide por essa especialidade, que é, como já foi dito, fascinante,
tem que ser prudente. Somente a experiência lhe permitirá ser
mais ou menos audacioso”.
107
No dia a dia profissional da Engenharia de Fundações, é muito importante conhecer os parâmetros
e elementos envolvidos no desenvolvimento de projeto. Porém cada método de cálculo possui
as suas particularidades e informações base que precisam ser, rapidamente, acessadas, quando
se busca definir o plano de dimensionamento. Passamos por uma quantidade bem grande de
tipos de fundações, parâmetros de projeto, métodos de dimensionamento e classificação dos
elementos, agora, realizaremos uma atividade de “Arquivologia Mental”.
A seguir, estão vários termos e palavras, embaralhados, que vimos, nesta unidade. Você analisa-
rá cada um deles e os anotará no espaço adequado do organograma de fundações superficiais.
Caso perceba que estão faltando termos ou informações que fazem parte das aulas presentes
no organograma, pesquise-os no material de estudo e complete com a informação.
108
109
1. Deseja-se executar uma sapata quadrada (b = 0,95 m) apoiada na cota -1,50 m do solo,
cujo relatório de sondagem é apresentado a, seguir:
Figura 1 - Relatório de sondagem com Ensaio SPT no centro de Caxias-MA / Fonte: adaptada de Santos et al. (2018).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma tabela em linhas pretas sobre fundo branco. Essa tabela contém seções
verticais que separam parâmetros (profundidade, Resistencia à Penetração, gráfico S e perfil), e linhas horizontais de-
limitando os resultados mensurados do ensaio. Embaixo da célula do gráfico SPT, há uma representação gráfica dos
resultados registrados, traçando um perfil decrescente até o ponto 4,45 m.
Sabe-se que esta sapata será confeccionada em concreto armado e que a carga que este ele-
mento de fundação deve distribuir ao solo, pela pressão de sua base, é igual a 75 kN. Não foram
realizadas provas de carga no terreno da obra, de forma que o Fator de Segurança utilizado
deve ser igual ou maior que 3.
Utilizando o Método Semiempírico de Tensão Admissível por SPT, assinale a alternativa que
apresenta a análise correta para a situação apresentada:
a) Tensão Aplicada > Tensão Admissível: a sapata está mal dimensionada para a carga
que precisa ser distribuída, situação de insegurança para a fundação.
b) Tensão Aplicada > Tensão Admissível: a sapata está bem dimensionada para a carga
que precisa ser distribuída, situação de segurança para a fundação.
c) Tensão Aplicada < Tensão Admissível: a sapata está mal dimensionada para a carga
que precisa ser distribuída, situação de insegurança para a fundação.
d) Tensão Aplicada < Tensão Admissível: a sapata está bem dimensionada para a carga
que precisa ser distribuída, situação de segurança para a fundação.
110
e) Tensão Aplicada = Tensão Admissível: a sapata está no limite de segurança de dimensiona-
mento para a carga que precisa ser distribuída, situação de insegurança para a fundação.
2. Luciano Décourt aponta que para os cálculos de projetos das Fundações Diretas, é
necessário almejar recalques iguais para os elementos que compõem a infraestrutura,
e não tensões iguais. Para isso, o autor propõe um método que parte de uma equação
única que leva em conta o deslocamento vertical (recalque) que a fundação irá apre-
sentar em função das tensões que às quais ela está sujeita. Considerando os cálculos
deste método, pede-se que analise a seguinte situação: Deseja-se executar uma Sapata
circular (diâmetro=1,25m) apoiada na cota -1,00m do solo não-laterítico cujo relatório
de sondagem é apresentado abaixo:
Figura 2 - Relatório de sondagem de reconhecimento com ensaio SPT-T / Fonte: adaptada de Coppeti (2016).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma tabela em linhas pretas sobre fundo branco. Essa tabela contém seções
verticais que separam Resistência à Penetração (SPT), torque, perfil geológico e descrição do material e, também, contém
linhas horizontais delimitando camadas do subsolo, com suas respectivas medidas e descrição do perfil do solo.
111
Sabe-se que esta sapata será confeccionada em concreto armado e que a carga que este ele-
mento de fundação deve distribuir ao solo pela pressão de sua base é igual a 55kN. Não foram
realizadas Provas de Carga no terreno da obra, de forma que o Fator de Segurança utilizado
deve ser igual ou maior que 3.
Utilizando o Método Semiempírico de Décourt, assinale a alternativa que apresenta a análise
correta para a situação apresentada:
Descrição da Imagem: perfil geotécnico do solo em que será construído um bloco de fundação. Dois perfis diferentes
do solo estão indicados. Na base, solo do tipo argila e, na superfície, areia silitosa.
Sabendo que esse bloco será confeccionado com concreto estrutural fck = 20 MPa e que a carga
do pilar (25 x 25 cm) para o qual ele serve de fundação é igual a 55 kN, com Fator de Segurança
igual a 3, responda: qual a Tensão Admissível, em kN/m², do solo, na cota de apoio, pela Formu-
lação de Terzaghi? Ela é maior ou menor do que a Tensão Aplicada pelo bloco no solo?
112
4
Fundações
Diretas Rasas II
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos
As fundações diretas rasas possuem tipos que têm formatos, material constitutivo e
forma de ligação com a estrutura da edificação que são diferentes, geralmente, orga-
nizadas em três grupos: blocos de fundação, sapatas e radier. A análise de qual delas
será a mais adequada para a situação de sua obra depende, principalmente, de como
estão dispostos os pontos de transferência de carga para a fundação (quantidade e
localização dos pilares em planta) e da intensidade das cargas em cada um deles.
Para entender as possibilidades de aplicação dos diferentes tipos de fundações
diretas rasas, é importante conhecer modelos e exemplos de aplicação das mesmas
em edificações já finalizadas e que são utilizadas, atualmente. Além de expandir
os conhecimentos profissionais sobre variações de condições de obra e o emprego
de soluções adequadas, também é necessário desmistificar noções equivocadas ou
falácias da área da construção sem embasamento teórico algum.
No Brasil, temos exemplos de diversos tipos de obras de médio e grande porte que
utilizam fundações diretas rasas como solução de apoio sobre o solo, desafiando as
concepções de que este tipo serve, apenas, para obras de pequeno porte. É o caso do
114
UNIDADE 4
Museu de Arte de São Paulo (MASP), visto em nossa primeira unidade, cuja estrutura em dois pisos,
suspensa sobre o grande vão, tem seus quatro pilares vermelhos apoiados, sobre a fundação, em sapatas
que transferem as cargas ao solo.
A figura, a seguir, mostra o esquema de apoio da fundação do MASP:
8.40
Pinacoteca
8.40
Administração
-4.50
Paulista
-4.50
Auditórios
-9.50
Hall Cívico
SAPATAS DE FUNDAÇÃO
Figura 1 - Detalhes e cortes das estruturas e fundações em sapatas do MASP / Fonte: adaptada de Cárdenas (2015).
Descrição da Imagem: a figura apresenta um desenho colorido do Museu de Arte de São Paulo sobre fundo branco, desenho
esse dividido em três partes, por faixa diagonal. Na parte da esquerda, aparece a vista lateral longitudinal da edificação, com
o seu vão livre acima do nível do terreno e, abaixo, há o prolongamento, por linhas pontilhadas, de sua estrutura de pilares
e a fundação em sapata. Na parte do centro, o corte longitudinal da edificação expõe as estruturas de sustentação e funda-
ção dos pavimentos, acima do vão livre e abaixo do nível do solo. Na parte da direita, outro corte longitudinal da edificação
expõe o detalhamento das estruturas presentes e das fundações nos pavimentos nomeados “pinacoteca”, “administração”,
“Paulista”, “auditórios” e “hall cívico”. Os elementos de fundações em sapatas encontram-se circulados com cor amarela e
ligados por uma linha da mesma cor à legenda “sapatas de fundação”, na porção inferior da figura.
Outra obra brasileira com esse tipo de fundação é o Edifício Evidence, em Fortaleza, construído
em agosto de 1999, contando com 14 pavimentos apoiados sobre uma fundação em radier. A laje
da fundação foi executada para ter espessura de 50 cm, com capitéis de 80 cm de espessura sob
os pilares de maior carregamento, combinando armação de barras de aço com cordoalhas de aço
(concreto armado + concreto protendido).
A foto, a seguir, mostra a etapa de montagem da armadura desse radier.
115
UNICESUMAR
Figura 2 - Montagem das cordoalhas na laje, em que é possível ver os capitéis sob os pilares do Edifício Evidence, em Fortaleza-CE
Fonte: Cauduro (2000).
Descrição da Imagem: a imagem mostra uma foto colorida, de vista superior, mostrando o chão de um canteiro de obra
onde encontram-se posicionados barras de aço e cabos azuis, formando uma trama complexa. Um trabalhador usando
capacete encontra-se de pé, no meio da trama, em primeiro plano, trabalhando no posicionamento das barras e dos cabos.
Barras de aço verticais emergem do centro da trama e delimitam a posição futura do pilar, a área ao redor encontra-se
escavada, em formato retangular, sob as barras e os cabos. Ao fundo, um trabalhador que está agachado no meio da trama
de barras e cabos, trabalha no posicionamento deles sobre o terreno.
116
UNIDADE 4
Leia a seção 2.3.3, intitulada “Perfil geotécnico da cidade de Santos”, que explora as características
pesquisadas, ao longo de anos, sobre a situação do solo da cidade em questão. Realize o esboço do
perfil característico desse solo, contendo as suas camadas, espessuras, nomenclaturas e parâmetros de
resistência descritas no texto.
Leia o capítulo 2.4 “Os recalques e as fundações dos edifícios”, que trata da adoção das fundações
rasas para os edifícios na cidade de Santos e como isso se relaciona com o caso dos recalques que pro-
vocaram a inclinação desses edifícios, ao longo dos anos. Liste as prováveis causas de recalques para
os edifícios inclinados próximos da praia e, também, os problemas que moradores e frequentadores
dos prédios inclinados enfrentam ou enfrentaram em seu dia a dia, até que houvessem ações para
reaprumo dessas construções.
Use o espaço do Diário de Bordo, a seguir, para fazer o esboço representativo do perfil do solo da
cidade de Santos, com as suas camadas e informações de resistência. Também faça a anotação das
listas das prováveis causas de recalques dos edifícios bem como dos problemas identificados pelos
moradores e frequentadores desses prédios.
117
UNICESUMAR
Como vimos na unidade anterior, as fundações diretas rasas são aquelas que distribuem a carga vinda
da edificação, por meio da pressão da base do seu elemento, às camadas superficiais do solo.“Em situa-
ções em que o solo da camada superficial apresenta resistência suficiente e características adequadas
para suportar cargas, emprega-se esse tipo de fundação” (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020, p. 62).
A NBR 6122: Projeto e Execução de Fundações (ABNT, 2019) define alguns tipos de elementos
característicos das fundações diretas rasas, são eles:
• Bloco: elemento em concreto simples, de forma cúbica ou piramidal, dimensionado para que
as tensões de tração provocadas nele, pelos esforços da estrutura, sejam resistidas pelo próprio
concreto, dispensando o uso de armadura.
• Sapata: elemento de forma piramidal, em concreto armado, dimensionado para que as ten-
sões de tração provocadas nele, pelos esforços da estrutura, sejam resistidas pela armadura em
aço, disposta em seu interior (ABNT, 2019). A forma de sua base pode ser circular, quadrada,
retangular ou corrida (quando um dos lados é cinco vezes maior do que o outro). Além disso,
se divide em outras categorias, de acordo com a quantidade de pilares que transmitem cargas
a cada elemento (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020):
• Sapata isolada: recebe a carga pontual de, apenas, um pilar.
• Sapata associada: recebe a carga pontual de mais de um pilar.
• Sapata corrida: recebe a carga distribuída de mais de um pilar ou de uma parede
num mesmo alinhamento; assemelha-se a uma viga que distribui a carga por contato
direto com o solo.
• Radier: elemento na forma de uma placa em concreto armado que recebe mais de 70% dos
esforços dos pilares e os distribui no terreno, sobre uma grande área do solo na qual se encontra
em contato (VELLOSO; LOPES, 2011). De acordo com o seu arranjo estrutural interno, pode
se dividir em duas categorias:
• Radier flexível: composto por uma laje simples de concreto armado (sistema flexível).
• Radier rígido: composto por uma associação de vigas e laje de concreto armado
(sistema rígido).
Os elementos que compõem os tipos diferentes de fundações diretas rasas, geralmente, são fabricados
no próprio local da obra, utilizando materiais como pedra; tijolo maciço; concreto ciclópico; concreto
simples ou armado. No caso daqueles feitos de concreto, o método de execução segue uma sequência
semelhante para todos os tipos:
1. Abertura de vala: escavação (mecânica ou manual) da camada superficial do solo até a cota
de apoio da fundação, geralmente, no formato e nas dimensões da área da base do elemento
da fundação (bloco, sapata ou radier).
2. Apiloamento do fundo da vala: após a escavação, emprega-se técnica de compactação (manual
ou mecânica) do solo, na cota de apoio, para uniformizar e regularizar a superfície antes da
confecção do elemento de fundação.
118
UNIDADE 4
3. Lastro em fundo de vala: a NBR 6122 (ABNT, 2019) estabelece que se deve preparar um lastro
de concreto magro sobre a superfície do solo, na cota de apoio da fundação, geralmente, em
espessura igual ou superior a 5 cm, o que evitará possíveis contatos entre o solo e a armadura
da fundação (caso houver). Existem casos em que esse lastro é feito, apenas, com camada de
pedra britada compactada.
4. Montagem de fôrmas/posicionamento de armadura: nesta etapa, caso os solos não apre-
sentem coesão suficiente para se manterem sem desprender partículas, facilmente, e se mis-
turarem ao material (concreto), faz-se o posicionamento de fôrmas, as quais darão o formato
e o alinhamento previsto em projeto, para cada elemento de fundação. Também é o momento
de posicionamento das armaduras tanto dos próprios elementos (caso de sapatas e radiers)
quanto das esperas dos pilares que se ligarão às fundações.
5. Concretagem: quando pode ser produzido concreto no próprio local da obra ou usinado
em concreteiras e lançado na obra, por meio do sistema de bombeamento. Recomenda-se a
aplicação dos procedimentos de controle de preparo, recebimento e aceitação estabelecidos
pela NBR 12655: Concreto de Cimento Portland – Preparo, Controle, Recebimento e
Aceitação – Procedimento (ABNT, 2015).
Para dimensionar uma fundação, é preciso, primeiramente, determinar qual tipo de filosofia de projeto
será seguida, sendo possível duas abordagens distintas: Valores de Cálculo e Solicitação Admissível.
A filosofia dos Valores de Cálculo — Método de Valores de Cálculo, segundo a NBR 6122 (ABNT,
2019) — possui o princípio de que uma solicitação de cálculo em projeto deve ser inferior à tensão ou
à força resistente de cálculo em projeto. Isso é obtido pela minoração/redução da resistência caracte-
rística, simultaneamente, à majoração/aumento da solicitação característica, por meio de fatores de
ponderação, também chamados de fatores de segurança parciais (CINTRA; AOKI; ALBIERO, 2011).
Na simbologia específica às fundações diretas rasas, temos:
119
UNICESUMAR
σ
σ Sd σ Sk γ f e σ Rd Rk
γm
Em que :
σ Sd = tensão de solicitação de projeto da fundação;
σ Sk = tensão de solicitação característica da fundação;
γ f = fator de ponderação para majorar a solicitação
ou fator de segurança parcial para solicitação;
σ Rd = tensão de resistência de projeto da fundação
ou capacidade de carga de projeto da fundação;
σ Rk = tensão de resistência característica da fundação
ou capacidade de carga característica da fundação;
γ m = fator de ponderação para minorar a resistência
ou fator de segurrança parcial para resistência .
Portanto, na fase de projeto, o critério de segurança estabelece que se deve dimensionar uma fundação
cujos elementos apliquem uma tensão sobre o solo a qual, por sua vez, não ultrapasse a resistência.
s Sd ≤ s Rd
Em que :
sadm = tensão admissível da fundação;
s Rk = tensão de ruptura característica da fundação
ou capacida
ade de carga última da fundação;
FS g = fator de segurança global;
120
UNIDADE 4
Portanto, na fase de projeto, o critério de segurança estabelece que seja obrigatório dimensionar uma
fundação cujos elementos aplicam uma tensão sobre o solo que, por sua vez, não ultrapasse a admis-
sível (ABNT, 2019).
s Sk ≤ sadm
COEFICIENTE DE
FATOR DE SEGURANÇA
MÉTODOS PARA DETERMINAÇÃO PONDERAÇÃO DA
GLOBAL
DA RESISTÊNCIA ÚLTIMA RESISTÊNCIA ÚLTIMA
gm C FS g
121
UNICESUMAR
Como visto, anteriormente, nos tipos de fundações diretas rasas, os blocos são elementos executados
em concreto simples (sem armadura interna). São dimensionados para que todas as tensões de
tração produzidas neles, pelos esforços vindos da estrutura e as reações do maciço de solo, ao seu
redor, sejam absorvidas pelo próprio concreto. Eles podem ter uma forma cúbica ou escalonada (em
degraus), como na figura, a seguir:
122
UNIDADE 4
a0 a0
a a
Pilar
h=a-a0 tgα
2
a a
5 cm (concreto magro)
(a) (b)
Figura 4 - Dimensionamento de bloco de fundação do seguintes tipos: (a) escalonado; (b) cúbico / Fonte: Alonso (2019, p. 34).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em linhas pretas sobre fundo branco. Ela está dividida em quatro partes,
representando as formas de dois tipos de blocos de fundação. Na porção superior, duas representações de vista em planta, na
porção inferior, duas representações de vista em corte. À esquerda, nomeada como “a”, está a geometria de um bloco que tem
degraus entre a sua base até o início do pilar. À direita, nomeada como “b”, vê-se a geometria de um bloco quadrado em planta
e corte. São apresentadas cotas indicativas da medida do lado, do ângulo de inclinação e do cálculo de altura para os blocos.
Como mostrado na figura, o cálculo da Altura do Bloco (h) é realizado por uma equação que relaciona
a diferença entre o Maior Lado do Pilar (a0) e o Maior Lado da Base do Bloco (a), além da tangente
do Ângulo de Inclinação do Bloco (α). A definição do lado do pilar é um dado que já vem da estru-
tura da edificação acima da fundação; já o maior lado da área da base pode ser calculado, como visto
no item anterior, sobre base de fundações diretas rasas. O único elemento que precisa ser definido
é o Ângulo de Inclinação do Bloco, um valor determinado por meio de uma relação gráfica entre a
Tensão Aplicada ( s Ap ) pelo bloco no solo e a Tensão de Resistência à Tração do Concreto ( st ).
123
UNICESUMAR
(min.)
70°
60°
50°
40°
30°
Figura 5 - Gráfico para determinação do Ângulo de Inclinação do Bloco / Fonte: Alonso (2019, p. 34).
Descrição da Imagem: a figura apresenta a ilustração de um gráfico quadriculado em linhas pretas sobre fundo branco. No
eixo horizontal do gráfico, indicado pela equação da Tensão Aplicada sobre a Tensão Total, são apresentados valores variando
de 0 a 2,5. No eixo vertical, indicado pela letra “alfa” mín.; são apresentados valores variando de 30 graus a 70 graus. Há uma
curva crescente, arqueada para a direita, cortando a área do gráfico, também há uma equação relacionando o ângulo às tensões
do eixo horizontal.
Considerando que a Tensão Aplicada pelo bloco no solo não deve ser maior do que a resistência do
maciço, adota-se, nos cálculos de projeto, que a Tensão Aplicada ( s Ap ) pelo bloco é igual à Tensão
Admissível do Solo ( sadm ).
Para a determinação da Tensão de Resistência à Tração do Concreto ( st ) utiliza-se o menor
valor fornecido pelas equações, a seguir:
f ck
25
st
1 MPa
Em que :
f ck = resistência à comppressão do concreto em MPa .
124
UNIDADE 4
Dimensionamento de sapatas
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia colorida de solo escavado em aberturas quadradas, contendo ele-
mentos de fundação de concreto em seu interior e formato achatado, como placa e prolongamento vertical de pilar acoplado.
Na esquerda e no canto superior direito, a escavação permite apresentar, apenas, o eixo do pilar. No centro, vê-se a visão su-
perior do elemento completo de fundação, inserido no fundo do buraco, em concreto endurecido. Barras de aço posicionadas
na vertical se prolongam acima dos eixos dos pilares.
125
UNICESUMAR
Diferentemente dos blocos, as sapatas são tipos de fundações diretas rasas executadas em concreto
armado, em formato piramidal, e que possuem altura bem reduzida em relação às dimensões de sua
base, ou seja, é um elemento projetado para trabalhar a flexão (TEIXEIRA; GODOY, 2019). A sua
base pode ter, praticamente, qualquer forma em planta, sendo mais, frequentemente, dimensionadas
as sapatas quadradas (a = b), as sapatas retangulares (a ≤ 5b) e as sapatas corridas (a >> b). Para a
execução facilitada das sapatas nas obras, recomenda-se que todas as dimensões definidas em projeto
sejam múltiplas de 5 cm, sempre arredondando o valor para cima (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020).
a0
d b0 b
Planta (b)
h2
h1
5 cm (magro)
(a) Perspectiva (c) Corte
Figura 7 - Dimensões de uma sapata isolada de base retangular e altura variável, vistas em: (a) perspectiva; (b) em planta; (c) em corte
Fonte: adaptada de Alonso (2019).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em linhas pretas e vermelhas sobre fundo branco e dividida em três
partes, representando a forma de uma sapata piramidal. À esquerda, nomeada como “perspectiva”, temos a vista isométrica da
sapata de base retangular ligada, em seu topo, a um pilar. No lado superior direito, temos nomeada como “planta”, a vista, em
planta, da sapata de base retangular e o pilar, ao centro. No lado direito inferior, temos nomeada como “corte”, a vista, em corte,
da sapata de formato piramidal, contendo as linhas vermelhas de posicionamento da armadura, em seu interior. Há também
as cotas indicativas da medida dos lados da sapata, do pilar, das distâncias entre as faces e das alturas variadas da pirâmide.
Como pode ser visto na Figura 7, a sapata tem alturas variáveis, desde a sua base até o encontro com o
pilar, conferindo-lhe esse formato piramidal. Existem sapatas com, apenas, uma altura (h = constante)
e outras com mais de uma altura (h = variável), como pode ser visto na figura, a seguir:
126
UNIDADE 4
Vista Vista
em em
corte corte
h=CONSTANTE h
h0
Figura 8 - Sapatas isoladas com altura constante (h) e altura variável (h e h0) / Fonte: a autora.
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em linhas pretas sobre fundo branco, dividida em quatro partes,
representando as formas de dois tipos de sapatas de fundação, com um pilar cinza, no centro. Na porção superior, são apre-
sentados dois desenhos com a vista em planta, e, na porção inferior, com a vista em corte. À esquerda, é nomeada a geometria
de uma sapata de formato retangular na base e no corte, com cota indicando “h igual constante” entre a base do elemento e o
início do pilar. À direita, está indicada a geometria de uma sapata de formato piramidal na base e no corte, com cota indicando
“h0” entre a base do elemento e o degrau e cota indicando “h” entre a base do elemento e o início do pilar.
A altura da sapata é de extrema importância, pois ela determina sua classificação relativa à rigidez. Essa
classificação direciona a forma como as tensões, na base da sapata, se distribuirão pelo solo bem como o
procedimento de dimensionamento estrutural, em concreto armado, que deve ser utilizado. A norma técnica
de estruturas de concreto armado, NBR 6118: Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento
(ABNT, 2014), faz a classificação das sapatas em rígidas ou flexíveis, de acordo com o seguinte critério :
127
UNICESUMAR
• Sapatas flexíveis: “Embora de uso mais raro, essas sapatas são utilizadas para fun-
dação de cargas pequenas e solos relativamente fracos” (ABNT, 2014, p.189). Todas
as sapatas cujas alturas não seguem o critério estabelecido para sapatas rígidas são
consideradas do tipo flexível.
Para o cálculo da Altura da Sapata (h), iniciamos determinando a Altura Útil (d), segundo três
situações: balanço para o maior lado, balanço para o menor lado e resistência característica do
concreto (ALONSO, 2019). Após proceder o cálculo das três situações, toma-se, como Altura
Útil (d), o maior valor calculado (sempre múltiplo de 5 cm arredondado para cima).
a a0 Balanço do maior lado
4
b b0
d Balanço do menor lado
4
1,96 Pk Resistência característica
1, 44
0,85 fck
Em que :
a = maior lado da sapata;
a0 = maior lado do pilar;
b = menor lado da sapata;
b0 = menor lado do pilar;
Pk = carga total da sapata em kN onde : Pk P pp ;
f ck = resistência à compressão do concreto em kN/ m².
Em seguida, calcula-se a Altura da Sapata (h), somando ao valor da Altura Útil (d) o valor
do cobrimento da armadura inferior da sapata (próxima da base), que, geralmente, tem
dimensão de 5 cm.
h d 5cm
Quando a sapata projetada tem altura variável, é preciso, também, calcular a altura da face
vertical da extremidade da sapata (h0). Neste caso, adota-se o maior valor, considerando
1/3 de h ou 15 cm.
128
UNIDADE 4
h
3
h0
15cm
O dimensionamento efetivo das outras dimensões da sapata obedece a alguns requisitos, definidos
por Albuquerque e Garcia (2020) como:
a) Distribuição uniforme de tensões: o centro de gravidade da área da base da sapata deve
coincidir com o centro da Carga do Pilar (P). Isso faz com que o esforço proveniente do pilar
tenha distribuição uniforme pela Tensão Aplicada ( s Ap ) da sapata no solo. A figura, a seguir,
ilustra essa distribuição quando os centros são coincidentes.
a
P
Mesa
a0
2,5 cm
b b0 d
Figura 9 - Distribuição de tensões sob sapata, vista em planta e em corte / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma lustração em linhas pretas sobre fundo branco, dividida em duas partes. À
esquerda, tem-se a vista, em planta, de uma sapata piramidal de base retangular e com pilar retangular em seu centro bem
como cotas indicativas dos lados da sapata, do pilar e da distância entre as faces de ambos. À direita, tem-se a vista, em corte,
da sapata piramidal, com uma flecha grande no centro do pilar, mostrando a letra indicativa “P”. Também há flechas curtas
apontadas para baixo, alinhadas sob a base do elemento, com indicação de pressão aplicada.
129
UNICESUMAR
a b a0 b0
Em que :
a = maior lado da base da sapata;
b = menor lado da base da sapata;
a0 = maior lado da seção do pilar;
b0 = menor lado da seção do pilar .
Recomenda-se, sempre que possível, que a razão entre os lados da sapata seja menor, ou, no máximo,
igual a 2,5, como apresentado na relação, a seguir:
a
2, 5
b
Em que:
a = maior lado da base da sapata;
b = men
nor lado da base da sapata.
c) Largura mínima: a norma técnica de fundações NBR 6122 (ABNT, 2019), estabelece que,
para um projeto utilizando sapatas isoladas e corridas, a largura mínima em planta (menor
lado da base) seja de 60 cm. Ou seja, mesmo que, em cálculo, seja possível adotar dimensão
menor para um dos lados da sapata, deve-se fixar esse valor ao menor lado da base (b) dela.
d) Momento fletor: quando a sapata recebe cargas excêntricas aplicadas à sua base ou acidentais
(ex.: vento, cargas transitórias etc.), ela estará submetida a esforços de flexo-compressão. Nestes
casos, é necessário determinar as tensões atuantes na base da sapata e realizar a verificação
normativa aplicável, sempre garantindo que a região comprimida seja de, no mínimo, 2/3 da
área total da base (ABNT, 2019).
A figura, a seguir, ilustra o caso de uma sapata submetida a esforço de flexo-compressão proveniente
da estrutura.
130
UNIDADE 4
F
Vista Vista em planta
em My My
corte
Figura 10 - Aplicação de esforços de flexo-compressão sobre sapata / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em tons de cinza e preto sobre fundo branco, dividida em duas partes.
À esquerda, tem-se a vista, em corte, da sapata piramidal com flecha vertical para baixo, no centro do pilar, mostrando a letra
indicativa “F” e uma flecha em arco, para a direita, com letra indicativa “My”. Também pode-se ver flechas curtas apontadas para
cima, alinhadas, formando um trapézio com a indicação, no lado menor, à esquerda, de pressão mínima e indicação, no lado
maior, à direita, de pressão máxima. Embaixo, cota indicativa, por meio da letra “a”, do lado maior sob a base do elemento,
com indicação de pressão aplicada. À direita, tem-se a vista, em planta, de uma sapata piramidal, de base retangular, com pilar
retangular em seu centro e cotas indicativas dos lados da sapata e do pilar.
O dimensionamento de uma sapata submetida à carga excêntrica ou ao momento fletor deve ser
projetada de forma que a Tensão Máxima na Borda ( smáx ) gerada na base seja menor ou igual à
Tensão Admissível ( sadm ). A norma técnica de fundações NBR 6122 (ABNT, 2019) estabelece os
limites de cálculo a estas situações.
e) Sapatas apoiadas em cotas diferentes: geralmente, busca-se apoiar todas as sapatas na mes-
ma profundidade, em todo terreno, para uma mesma fundação, porém existem casos em que
sapatas vizinhas estão apoiadas em cotas diferentes. Nestes casos, a recomendação é que elas
sejam posicionadas segundo um ângulo específico que não provoque superposição dos bulbos
de pressão das mesmas (ABNT, 2019). Os valores a serem adotados para o ângulo específico (α)
são: i) solos pouco resistentes (α ≥ 60º); ii) solos resistentes (α = 45º); rochas (α = 30º). Durante
a execução, a sapata posicionada na cota inferior deve ser construída primeiro.
f) Superposição de sapatas: no dimensionamento de projetos de fundações, é possível que
ocorram casos de duas ou mais sapatas ocupando a mesma posição no terreno.
131
UNICESUMAR
P1
Superposição
P2
P1 P2
Superposição
Figura 11 - Ocorrência de superposição de duas sapatas, vistas em planta e em corte / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em linhas pretas e em tons de cinza sobre fundo branco, dividida
em duas partes. À esquerda, temos a vista, em planta, de duas sapatas, de forma e pilar central retangulares com bases so-
brepostas e a área de intersecção hachurada tem um texto onde se lê “superposição”. À direita, temos a vista, em corte, das
sapatas piramidais com flecha para baixo, no centro do pilar, mostrando as letras indicativas “P1” e “P2” e, também, uma área
de intersecção hachurada cujo texto diz “superposição”.
132
UNIDADE 4
Nesses casos, podem ser propostas duas soluções: a alteração da geometria das sapatas, para evitar a coinci-
dência e a associação numa única sapata associada; a necessidade de uma viga de rigidez para transferir as
cargas de cada pilar por uma única resultante.
A figura, a seguir, ilustra o caso de um problema de superposição de sapatas solucionado pela alteração
da geometria das mesmas. Lembrando que, mesmo alterando a geometria das bases das sapatas, para so-
lucionar o problema de superposição, é preciso garantir que as áreas das bases permaneçam com mesmo
valor, pois as tensões aplicadas no terreno não podem se modificar em relação ao que já foi definido nos
cálculos de dimensionamento.
Solução
Superposição
Sapata 1 s
Sapata 1
P1 Sapata 2 s
P1
Sapata 2
P2
P2
Sd
Sd
Figura 12 - Problema de superposição de sapatas cuja solução é alterar a geometria das bases
Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em linhas pretas e em tons de cinza sobre fundo branco, dividida
em duas partes. À esquerda, nomeada como “superposição”, está a vista, em planta, de duas sapatas de forma e pilar central
retangulares com bases sobrepostas bem como a área de intersecção hachurada e uma cota medindo a distância horizontal
“Sd” entre os pilares das sapatas. À direita, nomeada como “solução”, está a vista, em planta, das duas sapatas de forma e pilar
central retangulares com bases realinhadas, evitando a intersecção. Também se vê a cota medindo a distância horizontal “Sd”
entre os pilares das sapatas.
A figura, a seguir, ilustra o caso de um problema de superposição de sapatas que é solucionado pela
associação delas, por meio da adição de uma viga de rigidez entre a sapata associada e os pilares. Lem-
brando que as cargas dos dois pilares, as quais estão aplicadas, serão consideradas uma única Carga
Resultante (R = P1 + P2) aplicada num centro de gravidade posicionado entre ambos.
133
UNICESUMAR
Vista Superior
Superposição
P2 P2
P1 P1
CG CG
XCG
XCG
Sd
Sd
P2 P1 P2
P1+P2
Viga
Viga
Vista frontal
Vista lateral
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em tons de cinza sobre fundo branco, dividida em quatro partes. Na
parte superior esquerda, está a vista, em planta, de duas sapatas retangulares, com área de intersecção de suas bases hachurada,
nomeada como “superposição”, e uma cota indicando a distância entre os eixos dos pilares “Sd”, inclusive, o meio dessa distância,
representada pelas letras “XCG”. Na parte inferior esquerda, nomeada como “vista frontal”, está uma única sapata piramidal com
uma flecha vertical para baixo, no centro do pilar, flecha essa indicada por “P2”. Na parte superior direita, nomeada como “vista
superior”, está a vista, em planta, de uma grande sapata retangular contendo dois pilares alinhados em um eixo horizontal bem
como uma cota que indica a distância entre os eixos dos pilares “Sd” e o meio dessa distância, representada pelas letras XCG.
Na parte inferior direita, nomeada como “vista lateral”, há uma única sapata piramidal com uma flecha vertical para baixo, no
centro de cada pilar, e, entre eles, uma terceira flecha indicando “P1 + P2”.
Os centros de gravidade da sapata associada e da Carga Resultante dos pilares deverão ser coinciden-
tes. Para saber a Posição, no Eixo X, para o Centro de Gravidade (XCG) da Carga Resultante (R),
procedemos com o seguinte cálculo:
P
X CG 2 Sd
R
Em que :
XCG = coordenada, no eixo X, para a carga resultante;
P2 = carga de maior intensidade dos pilares associados;
R = carga resultante dos pilares associados, onde : R P1 P2 ;
Sd = distância, no eixo X, entre os centros de carga dos pilares associados .
134
UNIDADE 4
Divisa
Folga
b
Folga
b0
CGp CGsapata
a0 a
e
b
e
b
Divisa
Figura 14 - Sapata de divisa, em vista em planta e em elevação, com excentricidade de carga (e)
Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em linhas pretas e tons de cinza sobre fundo branco em duas
partes. Na parte esquerda, está a vista, em planta, de uma sapata piramidal com o pilar posicionado na borda esquerda,
alinhado com um eixo vertical hachurado, nomeado como “divisa”, também há cotas indicando os lados da sapata, do
pilar e a distância “e” entre o CGP, no centro do pilar, e o CGsapata, no centro do retângulo da sapata. Na parte direita, está
a vista, em corte, de uma sapata piramidal, com o pilar posicionado na borda esquerda, alinhado com um eixo vertical
hachurado, nomeado como “divisa”. Também há cotas que indicam o lado “b” da sapata, do pilar e a distância “e” entre
o eixo central do pilar e o meio da base da sapata.
Por causa da diferença entre o centro de aplicação de carga do pilar (CGp) e do centro de gravidade
da base da sapata (CGsapata), ocorre uma excentricidade (e) na aplicação de carga da fundação, o que
resulta na distribuição de tensões, no terreno, de forma triangular ou trapezoidal.
135
UNICESUMAR
<0
=0
>0
Figura 15 - Possíveis efeitos da excentricidade para as distribuições de tensões na base da sapata de divisa
Fonte: Albuquerque e Garcia (2020, p. 66).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em linhas pretas e em tons de cinza sobre fundo branco, dividida em três
partes. Todas as imagens ilustram a situação de uma vista em corte de uma sapata piramidal com o pilar posicionado na borda
esquerda, alinhado com um eixo vertical hachurado nomeado “divisa”. Abaixo da base, flechas pequenas estão localizadas para
cima, alinhadas sob a sapata. À esquerda, as flechas formam um trapézio e têm indicações de tensão máxima e de tensão mínima
maiores do que zero. No centro, as flechas formam um triângulo com indicação de tensão máxima e de tensão mínima iguais a
zero. À direita, as flechas formam dois triângulos com indicação de tensão máxima e de tensão mínima menores do que zero.
Para compensar os momentos que a excentricidade de carga (e) produz na distribuição das tensões
na base da sapata de divisa, é necessário projetar uma viga de equilíbrio, também chamada de Viga
Alavanca, a qual se liga a um pilar de carga cen-
Divisão
tral mais próximo. Vista em planta
A figura, a seguir, ilustra esta configuração para b
uma sapata de divisa e uma sapata isolada de carga
central ligadas pela Viga Alavanca (V.A.) Folga
P1 a V.A. P2
CGP CGsapata Linha de
eixo
b0
136
UNIDADE 4
Assim como no caso do momento fletor, que também produz variação na distribuição de tensões, nos
casos de sapata de divisa, é necessário determinar as tensões atuantes na base da sapata e realizar a
verificação normativa aplicável, sempre garantindo que a região comprimida seja de, no mínimo, 2/3
da área total da base. O dimensionamento dela deve ser calculado de forma que a Tensão Máxima
na Borda ( smáx ), que é gerada na base, seja menor ou igual à Tensão Admissível ( sadm ).
Dimensionamento
de radier
137
UNICESUMAR
138
UNIDADE 4
a)
b)
c) d)
e)
Figura 18 - Tipos de radier segundo a sua forma e o seu sistema estrutural: (a) lisos; (b) pedestais ou cogumelos; (c) nervurados;
(d) caixão; (e) estaqueados / Fonte: adaptada de Velloso e Lopes (2011).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em linhas pretas e em tons de cinza sobre fundo branco, dividida em
cinco partes. No canto superior esquerdo, indicados por (a), estão os pilares sobre o radier do tipo liso. No canto superior direito,
indicados por (b), estão os pilares sobre radier com ligação em pedestal à esquerda, e cogumelo, à direita. No centro esquerdo,
indicados por (c), estão os pilares sobre radier nervurado. No centro direito, indicado por (d), estão os pilares sobre radier caixão.
No centro inferior, indicados por (e), estão os pilares sobre radier estaqueado.
Os radiers podem, ainda, ser classificados de acordo com a rigidez à flexão de seu elemento, como
podemos ver, a seguir:
• Radier rígido: quando o seu comportamento é o mesmo de um corpo rígido, ou seja, despre-
zam-se os deslocamentos relativos por serem muito pequenos e considera-se um radier rígido.
Neste tipo de elemento, a variação das cargas nos pilares ou faixas e no espaçamento entre colunas
não ultrapassa 20%. Tal espaçamento atende à seguinte condição (ACI, 1997):
139
UNICESUMAR
Kv b
1,75 4
4 Ec I
Em que :
l = espaçamento entre colunas do Radier;
K v = coeficiente de reação vertical do solo
b = largura da faixa de influência da linha das colunas;
Ec = módulo de elasticidade longitudinal do concreto;
I = momento de inércia à flexão da peça de concreto (rigid
dez da faixa).
• Radier elástico: quando, ao menos, uma das condições de rigidez anterior não é atendida,
classificamos o radier como elástico ou flexível. Este tipo possui menos rigidez e os desloca-
mentos relativos da peça não podem ser desprezados, pois são eles que determinam como será
o desenvolvimento dos esforços solicitantes na placa.
Para o dimensionamento do radier, deve-se realizar uma análise da interação solo-estrutura, obtendo
os deslocamentos reais da fundação e os seus esforços internos. Segundo Dória (2007), esses esforços
podem ser obtidos por meio da análise da interação (método direto) ou pelas pressões de contato (mé-
todo indireto). O dimensionamento estrutural do radier é feito a partir do cálculo dos esforços internos.
“
Segundo a VSL International LTD (1990), no primeiro passo, a estrutura é analisada
assumindo fundação rígida. No segundo passo, as reações determinadas na base da
estrutura são aplicadas na fundação e a resultante das forças e momentos são obtidos
na base para o dimensionamento da fundação (DÓRIA, 2007, p. 22).
Vários métodos podem ser adotados para esta análise, dependendo de como é determinada a distri-
buição de pressão no solo. Geralmente, o trabalho de analisar a interação solo-estrutura de radier é
realizada por um programa de cálculo estrutural cuja ferramenta computacional, por meio de molas
nos pontos que correspondem à fundação, representa o solo (SCARLAT, 1993).
Os métodos de cálculo estrutural para fundação em radier abrangem procedimentos que avaliam
estabilidade, capacidade de suporte e distribuição de tensões e/ou esforços internos solicitantes. A
norma técnica de fundações NBR 6122 (ABNT, 2019) indica que esses são parâmetros necessários para
realizar a verificação nos Estados-Limites Últimos (ELU) e Estados-Limites de Serviço (ELS). Simpli-
ficadamente, o dimensionamento de um radier consiste na busca de uma solução da equação
diferencial de equilíbrio que representa uma placa sobre uma base elástica.
140
UNIDADE 4
As fundações diretas rasas são o tipo de solução para fundações mais utilizado para edificações de pequeno
e médio porte, devido à simplicidade de sua execução e ao sistema de transmissão de cargas ao terreno.
Elas devem, sempre, ser dimensionadas após a análise criteriosa das condições do terreno (maciço de
solo) e particularidades da obra (estrutura); porém podem assumir diversas formas, posicionamentos,
métodos de cálculo e, até mesmo, execução. Ao desenvolver o projeto de uma fundação direta rasa, o(a)
profissional toma uma série de decisões próprias — desde o pedido de investigação geotécnica para co-
nhecer o solo, passando pelos métodos de cálculo, até a filosofia de segurança que será adotada no projeto.
Conhecer, a fundo, as principais características dos tipos diferentes de fundações diretas rasas dá
ao(à) profissional a segurança de tomar a melhor decisão ao avaliar as soluções de projeto disponíveis.
Mas é, extremamente, importante ter esse conhecimento para não cair em falácias ou mitos presentes no
meio da construção civil que possam limitar as opções de projeto favoráveis à segurança e à economia.
141
Passamos por uma quantidade bem ampla de tipos de fundações, parâmetros de projeto, mé-
todos de dimensionamento e classificação dos elementos, agora, realizaremos uma atividade de
“Arquivologia Mental”.
A seguir, estão embaralhados vários termos e palavras que vimos nesta unidade. Você analisará
cada um deles e anotará no espaço adequado do organograma de fundações diretas rasas. Caso
perceba que estão faltando termos ou informações que fazem parte das seções presentes no
organograma, pesquise-os no material de estudo e complete com a informação.
142
BLACO DE FUNDAÇÃO
SAPATA
RADIER
143
1. Fundações são elementos estruturais cuja função é transmitir as cargas da estrutura
ao terreno onde ela se apoia. Assim, as fundações devem ter resistência adequada
para suportar as tensões causadas pelos esforços solicitantes. Sabendo que os blocos
de fundação e as sapatas isoladas são tipos de elementos de fundação que recebem
os esforços de um único pilar, assinale a alternativa que apresenta a característica
exclusiva do bloco de fundação.
a) Essa fundação é empregada onde as camadas do subsolo, imediatamente, abaixo
das estruturas, são capazes de suportar as cargas dessas. Neste tipo de fundação, a
profundidade de assentamento em relação ao terreno adjacente é oito vezes inferior
à menor dimensão do elemento.
b) É empregado em locais de solo pouco resistentes ou que apresentam abundância de
água, demandando uma fundação que se apoie em camadas mais profundas, ou, até
mesmo, sobre a própria rocha. Por ser capaz de resistir a grandes cargas, constitui
uma obra segura tanto para a estrutura que suportará quanto para os operários.
c) É uma fundação rasa constituída de uma laje de concreto armado, onde as cargas de
pilares e outros carregamentos são transmitidos ao solo por meio de uma superfície
igual ou superior à da projeção da edificação em planta. Geralmente, é o tipo mais
oneroso e complexo de fundação, principalmente, devido à necessidade de equipa-
mentos sofisticados para a locação e execução.
d) A área da base é dimensionada de forma que os esforços gerados pela carga vertical
do pilar e pelo peso próprio do elemento não ultrapassem a Tensão Admissível do
solo. Uma vez que este tipo de fundação inclui material resistente à tração (armadura),
os seus elementos trabalham à compressão simples e à flexão.
e) O dimensionamento estrutural é feito de tal maneira que as tensões de tração, que
são máximas na base, sejam inferiores à resistência à tração do concreto, dispensando
o uso de armadura. Possui altura constante (reta vertical) ou variável (escalonado em
degraus), a forma de sua base, em planta, pode ser quadrada, trapezoidal ou retangular.
2. As fundações diretas rasas são aquelas onde as cargas provenientes da estrutura são
transmitidas ao maciço de solo pela pressão da base do elemento. Geralmente, são
executadas nas primeiras camadas do subsolo, a uma profundidade duas vezes infe-
rior à menor dimensão em planta do elemento de fundação. Com relação aos tipos de
fundações diretas rasas, leia as afirmativas, a seguir:
I) Dentre os tipos de fundações superficiais, temos os blocos e sapatas, elementos
cúbicos ou piramidais que recebem a carga de um ou mais pilares de uma edifica-
ção. Os blocos possuem espessura constante ou variável, a forma de sua base, em
planta, pode ser quadrada, trapezoidal ou retangular, o seu dimensionamento é
feito para que as tensões de tração produzidas não sejam resistidas pelo concreto
e, sim, pela armadura.
144
II) O radier é uma fundação rasa constituída de uma laje de concreto armado, onde as
cargas de pilares e outros carregamentos são transmitidos ao solo por meio de uma
superfície igual ou superior à da projeção da edificação em planta. Recomenda-se
o uso de radier quando a solução em sapatas para dada obra apresenta ocupação
de 70% do terreno.
III) Dentre os tipos de fundações superficiais, temos os blocos e sapatas, elementos
cúbicos ou piramidais que recebem a carga de um ou mais pilares de uma edifica-
ção. Os blocos são construídos para suportar os esforços de compressão simples
advindos das cargas dos pilares, podendo ser executados em concreto simples (não
armado), alvenarias de tijolos ou pedra de mão (argamassada ou não).
IV) O radier é uma fundação rasa constituída de uma laje de concreto armado, onde
as cargas de pilares e outros carregamentos são transmitidos ao solo por meio de
uma superfície igual ou superior à da projeção da edificação em planta. Constitui
numa solução de fundação onerosa, uma vez que necessita de grande volume de
concreto. Não é recomendada para a construção de residências, principalmente, se
houver repetição de estrutura, como é o caso de conjuntos habitacionais.
a) Apenas, I e II.
b) Apenas, II e III.
c) Apenas, I, II e IV.
d) I, II, III e IV. s Ap ≤ sadm
e) Nenhuma das alternativas está correta.
3. Deseja-se executar uma sapata quadrada (B = 1,80 m) apoiada na cota -2,00 m de solo
não-laterítico do perfil geotécnico, conforme a configuração, a seguir:
145
Sabendo que essa sapata será confeccionada com concreto armado fck=25MPa e que a carga
do pilar (25 x 25cm) centrada, para o qual ele serve de fundação, é igual a 1550 kN, com Fator
de Segurança igual a 3, responda:
146
5
Fundações
Indiretas
Profundas I
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos
148
UNIDADE 5
Figura 2 - Torre inclinada Capital Gate, em Abu Dhabi / Fonte: Marquez ([2021], on-line).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia da paisagem de uma cidade com o céu azul ao fundo e os prédios
alinhados na porção inferior horizontal. A foto apresenta, na parte esquerda da imagem, em primeiro plano, a torre inclinada
Capital Gate, o edifício mais alto da paisagem.
A árvore amazônica e a torre árabe são duas estruturas, extremamente, altas que se encontram estáveis
sobre a sua base e resistem ao tempo e às forças externas, há muitos anos, sendo que uma possui for-
mação natural, enquanto outra é resultado de projeto e trabalho humanos. Ambas possuem caracte-
rísticas estruturais em comum que possibilitam o alcance de altas altitudes: a estabilidade de sua base
é limitada a uma área pouco maior do que a sua largura e mantida por um conjunto de elementos
esbeltos inseridos no solo, sendo as raízes, na árvore, e as estacas, na torre.
Mas você sabe o motivo pelo qual as raízes conseguem manter árvores altas, como o Angelim Ver-
melho amazônico ou a Sequoia Hyperion californiana? O que os projetistas e construtores aprenderam
sobre as raízes inseridas no solo que garantissem estabilidade às obras de grandes proporções e de
enormes alturas em limitado espaço, como é o caso dos edifícios no meio de cidades?
Vimos, na unidade anterior, que muitas das inovações em técnicas de construção têm base na ob-
servação de fenômenos e estruturas naturais. As árvores são elementos naturais que alcançam elevadas
alturas e resistem a forças horizontais impostas pelo vento (as quais tentam derrubá-las). Quanto mais
alta é a árvore, mais profundas e numerosas são as suas raízes. Existe um motivo para isso!
149
UNICESUMAR
150
UNIDADE 5
Com as informações de posicionamento e função das estacas da Capital Gate, faça um esboço repre-
sentativo, no espaço do Diário de Bordo, em duas dimensões, da torre inclinada, da laje de distribuição
das cargas da edificação e das estacas que se inserem no solo, indicando, por meio de flechas, qual a
direção dos esforços que elas estão distribuindo (para baixo ou para cima), em relação aos esforços,
utilize setas ou flechas indicativas. Também use este espaço para escrever um parágrafo explicando por
que as forças a serem distribuídas são diferentes aos grupos de estacas que estão embaixo da mesma
laje de distribuição.
151
UNICESUMAR
Antes de começar a entender como funcionam as fundações indiretas profundas, é preciso compreen-
der, primeiro, o conceito por trás destas duas denominações: indiretas e profundas. Relembraremos o
conceito de fundação profunda, segundo a NBR 6122 (ABNT, 2019, p. 3):
“
Elemento de fundação que transmite a carga ao terreno ou pela base (resistência de pon-
ta) ou por sua superfície lateral (resistência de fuste) ou por uma combinação das duas,
devendo sua ponta ou base estar assente em profundidade superior a 8 vezes a sua menor
dimensão em planta e no mínimo 3,0 m; quando não for atingido o limite de 8 vezes, a de-
nominação deve ser justificada. Neste tipo de fundação, incluem-se as estacas e os tubulões.
A Figura 3 ilustra um elemento de fundação profunda, em vista lateral, inserida no maciço de solo,
comparado a um elemento de fundação superficial ou rasa. Identificamos a sua Menor Dimensão
em Planta (B) e a Cota de Assentamento da Fundação (zf).
Figura 3 - Diferença entre fundação superficial e fundação profunda, segundo critério da NBR 6122 / Fonte: adaptada de ABNT (2019).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em duas partes, mostrando elemento de fundação superficial ou
rasa e de fundação profunda inseridas em camadas de solo diferentes. Na parte da direita, a fundação superficial é composta por
uma sapata inserida na camada intitulada “solo 1” com indicação de profundidade por meio das letras “Zf” e largura de sua base
denominada “B”. Na parte da esquerda, a fundação profunda é composta por uma estaca inserida na camada intitulada “solo 1” e,
também, na camada chamada “solo 2”, com indicação da profundidade por meio das letras “Zf” e largura da ponta denominada “B”.
152
UNIDADE 5
Seguindo o critério da norma técnica de fundações, vamos a um exemplo: se uma estaca possui a menor
dimensão da ponta diâmetro = B = 20 cm, para ser considerada “fundação profunda”, a profundidade
de assentamento da ponta deverá ser oito vezes maior do que a menor dimensão da ponta (Zf ≥ 160
cm), ou, no mínimo, 3 m.
A figura, a seguir, ilustra uma estaca que entra nesse critério da norma técnica.
Zf = 18 m (8 B ) (8 0, 20) 1, 60m
Z f 18m 1, 60m
Fundação Profunda OK!
B = 0,20 m
Figura 4 - Exemplo de classificação pela NBR 6122 / Fonte: adaptada de ABNT (2019).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração mostrando uma estaca inserida em camadas de solo diferentes, sendo
a camada superficial indicada, à esquerda, como “solo 1” e a camada profunda, embaixo dela, indicada como “solo 2”. Na ponta
da estaca inserida na camada “solo 2”, a cota horizontal indica a largura da estaca como “B igual 0,20 metros”. À direita, a profun-
didade de assentamento da estaca, que é indicada pela cota, desde o nível do terreno até a ponta, indica “Zf igual 18 metros”. Na
parte superior direita da ilustração, está o critério de identificação da norma técnica NBR 6122. Na parte central direita, está o
cálculo “oito vezes B igual a 1,60 metros”, em que a profundidade “Zf de 18 metros” é muito maior do que este valor. Portanto, a
classificação de fundação profunda está ok.
153
UNICESUMAR
A estaca é um tipo específico de fundação definido pela NBR 6122 (ABNT, 2019, p. 3) como:
“
Elemento de fundação profunda executado inteiramente por equipamentos ou fer-
ramentas, sem que, em qualquer fase de sua execução, haja trabalho manual em pro-
fundidade. Os materiais empregados podem ser: madeira, aço, concreto pré-moldado,
concreto moldado in loco, argamassa, calda de cimento ou qualquer combinação dos
anteriores.
A sua forma é alongada e tem seção transversal circular ou prismática (quadrada, hexagonal, entre
outras), podendo ser de perfil maciço ou vazado.
O quadro, a seguir, mostra algumas das formas de seção transversal, comumente, fabricadas para
estacas.
FORMATO DA
SEÇÃO MACIÇA SEÇÃO VAZADA PERFIL METÁLICO
SEÇÃO
CIRCULAR
QUADRADA
HEXAGONAL -
OCTOGONAL -
“I” -
“H” -
154
UNIDADE 5
FORMATO DA
SEÇÃO MACIÇA SEÇÃO VAZADA PERFIL METÁLICO
SEÇÃO
TRILHO -
ESTRELA -
Nomeamos como indiretas aqueles tipos de fundações cujos elementos transmitem a carga recebida
da estrutura da edificação (superestrutura) para o solo, seja pela resistência sob sua extremidade in-
ferior (resistência de ponta), seja pela resistência ao longo do fuste (atrito lateral) ou pela combinação
dos dois (ALONSO, 2019).
A Figura 5 ilustra esta forma de distribuição de carga recebida (P) por uma estaca para o terreno,
por meio de seu corpo, usando o atrito lateral com o solo e a resistência na sua ponta.
155
UNICESUMAR
Dessa forma, conseguimos entender que as fundações indiretas profundas, as estacas, reúnem estas
duas características: profundidade de assentamento oito vezes maior do que a menor dimensão do ele-
mento (ou 3 m); transmissão de cargas pelo atrito de seu corpo com o solo e/ou a resistência em sua ponta.
Velloso e Lopes (2011) reconhecem que não existem regras fixas na escolha do tipo de estaca para
determinada fundação, pois vale muito a experiência de construção local, indicando ampla variação
de situações. Porém os autores listam alguns fatores que devem ser considerados no projeto:
• Esforços nas fundações: para determinar o nível (intensidade) das cargas dos pilares bem como
a ocorrência de esforços além da compressão (tração e flexão).
• Características do subsolo: averigua-se se existe ocorrência de condições que interfiram no
processo de execução, como:
• Argilas muito moles: dificulta a execução de estacas de concreto moldadas in loco.
• Solos muito resistentes: caso de solos compactos, com pedregulhos ou matacões que
dificultam ou impedem o atravessamento das camadas por estacas cravadas de qualquer
tipo (madeira, concreto ou metálicas).
• Nível do lençol freático elevado: com ocorrência do nível d’água próximo da superfície,
dificulta ou impede a execução de estacas de concreto moldadas in loco sem revesti-
mento ou com uso de fluido estabilizante.
• Aterros recentes: solos que ainda estão em processo de adensamento sobre camadas
moles, indicando possibilidade de ocorrência de atrito negativo.
• Características do local da obra: a construção se localiza em terrenos acidentados com caracte-
rísticas que dificultam o acesso de equipamentos pesados (bate-estaca, perfuratriz etc.); limitação
de altura no caso de obras com telhados e lajes acima do espaço de cravação da estaca, impedindo
156
UNIDADE 5
A escolha do tipo de estaca será realizada por profissional projetista em função de vários fatores, prin-
cipalmente, relacionados ao tipo de carregamento a que estará submetida, à sua posição, ao material
constituinte e ao processo de fabricação (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020). Estes fatores também
indicam as principais categorias de classificação de uma estaca, conforme destacados, a seguir:
• Carregamento: compressão, tração ou horizontal.
• Posição: vertical ou inclinada.
• Material: madeira, concreto, de aço e mistas.
• Fabricação: moldadas in loco ou pré-fabricadas.
Também podemos classificar as estacas de acordo com a forma de trabalho de sustentação que elas
promoverão após a sua execução. Este tipo de classificação é, diretamente, ligado à concepção de projeto
adotada pelo(a) profissional, durante os seus cálculos, e diferencia os efeitos de reação do solo sobre a
estaca. Albuquerque e Garcia (2020) organizam essas categorias de classificação das estacas em:
• Sustentação flutuante: será considerado resistência do solo, somente, o atrito lateral ao redor
da estaca, desprezando a resistência de ponta. Geralmente, esta consideração é utilizada, em
projeto, quando temos solo de baixa resistência ao redor e abaixo da ponta da estaca. A próxima
figura ilustra um exemplo de duas estacas sob bloco, em situação de sustentação flutuante, em
comparação aos outros dois tipos.
• Sustentação de ponta: será considerada resistência do solo, somente, a resistência de ponta da
estaca, desprezando o atrito lateral. Geralmente, esta consideração é utilizada, em projeto, quando
temos o fuste (comprimento) da estaca inserido em solo de baixo atrito lateral e cuja ponta está
apoiada em solo resistente. A próxima figura ilustra um exemplo de duas estacas sob bloco, em
situação de sustentação de ponta, em comparação aos outros dois tipos.
• Sustentação mista: serão consideradas resistência do solo tanto o atrito lateral ao redor da estaca
quanto a resistência de ponta. Geralmente, essa consideração é utilizada na maioria dos projetos
de estacas onde há solos de baixa resistência ao longo do fuste da estaca e alta resistência na
profundidade de apoio da ponta. A seguir, temos uma figura que ilustra um exemplo de duas
estacas, sob bloco em situação de sustentação mista, em comparação aos outros dois tipos.
A Figura 6 ilustra as três categorias de classificação pela forma de trabalho de sustentação das estacas.
157
UNICESUMAR
P P P
Solo de baixa
resistência
RP Solo resistente Solo resistente
RP
Figura 6 - Forma de trabalho de estacas de sustentação / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em três partes, mostrando, em cada uma delas, duas estacas
sob um bloco retangular, inseridas em camadas de solo com flechas representando a direção dos esforços que atuam sobre elas,
nas seguintes situações: sustentação flutuante, à esquerda, sustentação de ponta, ao centro, sustentação mista, à direita.
Outra forma de classificar as estacas é de acordo com o seu efeito no solo (tipo de deslocamento)
durante a execução, seguindo a terminologia estabelecida pela norma inglesa de fundações. Velloso e
Lopes (2011) organizam as categorias de classificação das estacas em:
• Estacas de deslocamento: são introduzidas no terreno utilizando um processo que não pro-
move a retirada do solo, categoria das estacas cravadas, em geral. O solo que, originalmente, se
encontrava no espaço que a estaca ocupará, é deslocado, horizontalmente, durante a execução,
aumentando as tensões horizontais geostáticas.
• Estacas de substituição: são introduzidas no terreno após a perfuração do mesmo, categoria das
estacas escavadas. O solo é removido por ferramentas de escavação, podendo, ou não, utilizar
revestimento ou fluido estabilizante para manter a integridade do furo, e o espaço perfurado é
preenchido pela estaca (substituição). Com a remoção do solo, durante a escavação, as tensões
horizontais geostáticas se reduzem.
158
UNIDADE 5
• Estacas sem deslocamento: estacas cujo processo de execução quase não varia as tensões geostá-
ticas do solo. É uma categoria intermediária, em que podemos ter estacas cravadas que deslocam,
minimamente, o solo, e escavadas, onde, durante o procedimento de escavação, já é realizada a
introdução do material componente da estaca (por exemplo, concreto), provocando mínima
variação das tensões geostáticas naturais.
A Figura 7 ilustra essas três categorias de classificação pelo efeito provocado no solo, durante o pro-
cesso de execução das estacas.
SOLO
RETIRADO
Figura 7 - Classificação de estacas pelo efeito provocado no solo, durante a execução das mesmas / Fonte: a autora.
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em três partes e que mostra cada situação de estaca inserida
em solo e as movimentações promovidas na camada de solo com flechas representando a direção de movimentação do mate-
rial. Na parte da esquerda, a estaca de deslocamento apresenta flechas indicando a compactação do solo nas laterais. Na parte
central, a estaca de substituição tem uma flecha curva no topo, a qual indica dois montes de solo retirado. Na parte da direita,
duas estacas sem deslocamento contêm flechas pequenas que indicam compactação lateral bem como outra flecha indicando
um pequeno monte de solo retirado.
O quadro, a seguir, apresenta o nome das principais estacas executadas no Brasil e as suas classificações,
de acordo com o efeito no solo produzido pelo processo de execução.
159
UNICESUMAR
EFEITO NO SOLO DA
TIPO DE ESTACA
EXECUÇÃO
Estacas Franki
Estacas de madeira
Armado
Estacas de concreto
Protendido
GRANDE DESLOCAMENTO
Estacas prensadas (Mega)
Madeira-concreto
Estacas mistas Franki-pré-moldada
Metálica-concreto
Estacas metálicas – Tubos de ponta fechada
Perfis
Estacas metálicas Tubos de ponta aberta
Trilhos
PEQUENO DESLOCAMENTO
estaca hélice de deslocamento (ômega)
160
UNIDADE 5
O quadro, a seguir, organiza, de forma esquemática, as estacas agrupadas pela sua classificação de
fabricação (pré-moldadas e moldadas in loco).
ESTACAS PRÉ-MOLDADAS
Nome da Técnica de
Material Componente
Estaca Implantação no Solo
Troncos de árvores: eucalipto para obras provisó-
Cravação: por percussão, normalmen- rias; madeiras de Lei para obras definitivas (peroba,
Madeira te, executada com martelo de queda aroeira, maçaranduba, ipê etc.). A ponta e o topo
livre. devem ter diâmetros maiores do que 15 cm e 25
cm, respectivamente.
161
UNICESUMAR
Nome da Técnica de
Material Componente
Estaca Implantação no Solo
162
UNIDADE 5
Quadro 3 - Técnicas de implantação no solo e materiais componentes das estacas empregadas, comumente, no Brasil / Fonte: a autora.
A seguir, faremos o detalhamento específico dos processos executivos de cada um dos tipos de estacas citadas.
Estaca de madeira
Estas estacas são utilizadas como fundações em edificações desde os primórdios da história. Um exem-
plo clássico, registrado em bibliografia técnica, é a reconstrução, em 1902, do campanário da Igreja
de São Marcos, em Veneza, que revelou estacas de madeira em ótimo estado e capazes de continuar a
suportar as cargas atuantes após, aproximadamente, 1000 anos de serviço (MAIA et al., 2019). Porém,
com a dificuldade de obtenção de madeiras de qualidade para a sua fabricação e do incremento das
cargas das estruturas usuais, a sua utilização é bem reduzida (MAIA et al., 2019).
A norma técnica de fundações indica o seu uso “para obras provisórias. Se forem usadas para
obras permanentes, terão que ser protegidas de ataques de fungos, bactérias aeróbicas, térmitas etc.”
(ABNT, 2019, p. 6). Isso porque a durabilidade pode ser comprometida quando existem variações
das condições do ambiente (submerso em água, úmido e seco) e exposição a agentes agressivos
(substâncias reagentes e organismos).
Quando mantidas, completamente, submersas, as estacas de madeira têm duração, praticamente,
ilimitada, caso contrário, elas são muito inseguras. Em São Paulo, temos o exemplo dos reforços
de casarões no bairro Jardim Europa, realizados com estacas de madeira que vieram a apodrecer
quando a calha do Rio Pinheiros foi retificada e aprofundada, alterando o nível do lençol freático
da região (MAIA et al., 2019). Para garantir a durabilidade da estaca, quando ocorre variação do
nível d’água, são utilizados tratamentos químicos da madeira, tais como: creosoto ou sais de zinco,
cobre, mercúrio etc. (VELLOSO; LOPES, 2011).
163
UNICESUMAR
SEÇÃO CARGA DE
TIPO DE ESTACA TRANSVERSAL CATÁLOGO
Diâmetro (cm) Pe (kN)*
Φ 20 150 PONTEIRA
Φ 25 200
MADEIRA
Φ 30 300
BASE
σe = 4,0 MPa
Φ 35 400 Figura 8 - Estaca de madeira com anel
Φ 40 500 e ponteira metálica de proteção / Fon-
te: adaptada de Albuquerque e Garcia
(*) Estes valores representam, apenas, uma ordem de grandeza, (2020).
pois dependem do tipo e da qualidade da madeira. A norma NBR
6122 recomenda, para a definição da carga estrutural admissível,
que seja considerada, sempre, a seção transversal mínima e Descrição da Imagem: a figura
apresenta uma ilustração que mos-
adotada uma Tensão Admissível compatível com o tipo e a tra uma estaca vertical. Esta tem,
qualidade da madeira, conforme a NBR 7190. no topo, uma peça indicada como
σe = Tensão Admissível do material da estaca. “anel” e, na base, uma peça trian-
gular de ponta para baixo, indicada
Tabela 1 - Valores orientativos de Carga de Catálogo para estacas de madeira como “ponteira”.
Fonte: adaptada de Maia et al. (2019).
164
UNIDADE 5
Estaca metálica
“
A cravação de estacas pode ser feita por percus-
são, prensagem ou vibração. A escolha do equi-
pamento deve ser feita de acordo com o tipo,
dimensão da estaca, características do solo, con-
dições de vizinhança, características do projeto
e peculiaridades do local. O sistema de cravação
deve estar sempre bem ajustado [...] o uso de
martelos mais pesados e com menor altura de
queda é mais eficiente do que o uso de martelos
mais leves e com grande altura de queda (ABNT,
2019, p. 58).
165
UNICESUMAR
Não existe, no meio técnico, questionamento sobre a corrosão de estacas metálicas quando elas se en-
contram, completamente, enterradas em solo natural, pois a quantidade de oxigênio ao seu redor é tão
pequena que a reação química se encerra, rapidamente (MAIA et al., 2019). A norma técnica de fundações
considera que deve haver uma espessura de sacrifício definida em projeto para as seções transversais das
estacas metálicas, sempre que essas forem “executadas em solos sujeitos a erosão ou ainda que vierem a
ficar expostas ou tenham sua cota de arrasamento acima do nível do terreno” (ABNT, 2019, p. 59).
Como indicado, anteriormente, na Tabela 2, este tipo de estaca pode ser fabricado em concreto armado
ou protendido, desde que apresente resistências compatíveis com os esforços de correntes de manu-
seio, transportes, cravação e utilização. Comumente, são empregadas estacas com seções transversais
166
UNIDADE 5
Figura 9 - Estaca pré-moldada de concreto sendo cravada por bate-estaca / Fonte: Shutterstock.
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia que mostra um canteiro de obras com várias estacas
pré-moldadas de concreto de seção quadrada cravadas e um equipamento bate-estaca fazendo a cravação
de uma estaca igual às demais. Um trabalhador, de costas, está à esquerda e, ao fundo, há um conjunto de
prédios em fase de construção.
167
UNICESUMAR
Tabela 3 - Valores orientativos de Carga de Catálogo para estacas pré-moldadas de concreto / Fonte: adaptada de Velloso e Lopes (2011).
168
UNIDADE 5
São estacas pré-moldadas constituídas de curtos segmentos de concreto, armado ou metálicos, que
se encaixam e são inseridos no solo, por meio de uma cravação estática (prensagem), a qual utiliza
um macaco hidráulico que reage contra uma cargueira ou estrutura existente (ABNT, 2019). Por esta
característica de necessitar de pouco espaço para a sua execução, este tipo de estaca é recomendado
às situações cujas fundações existentes necessitam de substituição ou reforço, sem interromper o uso
da edificação.
A Figura 10 ilustra o processo de execução desse tipo de estaca.
Bomba Bomba
de óleo de óleo
“Berço” de “Macado”
concreto hidráulico Núcleo vazado
para posterior
solidarização Núcleo armado
e concretado
Figura 10 - Processo de execução da estaca prensada ou mega reagindo contra estrutura existente
Fonte: Albuquerque e Garcia (2020, p. 78).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em quatro partes, mostrando uma parede de tijolos apoiada sobre
o solo, numa sequência de evolução do processo, da esquerda para a direita. Na primeira parte, é mostrado o berço de concreto sob a
parede, em uma cavidade no solo. Na segunda parte, abaixo do berço, está um macaco hidráulico com uma pequena peça em estaca
sendo inserida no solo e, na superfície do solo, em frente à parede, aparece uma bomba de óleo conectada, por meio de um fio, ao
sistema. Na terceira parte, há duas peças acopladas e inseridas no solo, entre elas, uma peça indicada como “núcleo vazado”, para
posterior solidarização. Na última parte, à direita, estão cinco peças acopladas inseridas no solo, com a indicação “núcleo armado e
concretado” nesta composição.
Dentre as vantagens desse tipo de estaca, podem ser citadas a ausência de vibrações, barulho ou incon-
venientes decorrentes da geração e manejo de resíduos de escavação, além de toda estaca cravada por
prensagem realizar uma prova de carga durante a sua execução, ajudando no controle de qualidade do
estaqueamento (ALONSO, 2019). Como desvantagens, podem ser citadas o alto custo de realização e
o longo período necessário para a execução (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020).
169
UNICESUMAR
Como o nome já diz, este tipo de estaca é executado por meio de escavação do terreno, utilizando um
equipamento mecanizado que perfura o solo “com trado curto acoplado a uma haste até a profundi-
dade especificada em projeto, devendo-se confirmar as características do solo através da comparação
com a sondagem mais próxima” (ABNT, 2019, p. 69). Após o furo ser feito, procede-se à concretagem
dele, as paredes do furo atuando como fôrmas para a estaca que está sendo confeccionada no local
da obra, por isso, a classificação desse tipo como estaca moldada in loco ou estaca moldada in situ.
Porém este tipo de estaca possui limitações bem definidas pela norma técnica de fundações
(ABNT, 2019):
• A sua profundidade é limitada ao nível do lençol freático (N.A.).
• Só pode ser empregada onde o perfil do subsolo apresenta características de forma que o
furo se mantenha estável, sem necessidade de revestimento ou uso de fluido estabilizante
(lama bentonítica ou polímero).
• A concretagem deve ser feita no mesmo dia da perfuração.
• Não se deve executar, em intervalo inferior a 12h, estacas com espaçamento três vezes in-
ferior ao maior diâmetro.
Na tabela, a seguir, são apresentadas algumas cargas admissíveis, normalmente, usadas para seções
transversais comuns de estacas escavadas, mecanicamente, sem fluido estabilizante.
170
UNIDADE 5
Essas estacas podem conter armadura em seu interior ou serem apenas de concreto,
dependendo se o projeto prevê que estarão sujeitas a esforços de tração ou de flexão.
“No caso de estacas submetidas a esforços de tração, horizontais ou momentos, a
armadura projetada deve ser colocada no furo antes da concretagem” (ABNT, 2019,
p. 69). Já nos casos em que as estacas não estarão sujeitas a tração ou a flexão, a única
armadura presente é aquela de arranque, sem função estrutural e prevista na Tabela 4
da NBR 6122. Estas serão barras de aço sem estribos posicionadas após a concretagem
no topo da estaca com parte para fora (arranque) que será o elemento de união com
o Bloco de Coroamento.
Estaca Strauss
A estaca Strauss é do tipo moldada in loco que é, também, executada sem fluido es-
tabilizante, mas utiliza tubos metálicos de revestimentos que auxiliam na escavação
mecânica. O Manual de Execução de Fundações e Geotecnia (ABEF, 2016, p. 135)
define as estacas Strauss como:
“
Elementos de fundação profunda, escavados com o emprego de uma
sonda ou piteira, cujo diâmetro é definido por uma camisa metálica
recuperada, a qual, crava em toda a sua profundidade, garante a
estabilidade da perfuração e as condições de concretagem, sem que
ocorra mistura com o solo.
171
UNICESUMAR
Não se recomenda o uso desse tipo de estaca nas situações em que, segundo Albuquerque
e Garcia (2020), haja:
• Impossibilidade de fazer o esgotamento da água do furo.
• Solos que apresentem presença de argilas muito moles ou areias submersas.
• Locais que apresentem dificuldades para manejar os resíduos em forma de lama
da escavação.
172
UNIDADE 5
Estaca Franki
173
UNICESUMAR
1. Perfuração
3. Concretagem
Marcação
no cabo Orelha de Cabo de
arrancamento arrancamento
Tubo de
revestimento 2. Instalação da
grade de fixação
4. Estaca pronta
Fuste
Figura 11 - Processo executivo da estaca Franki / Fonte: Albuquerque e Garcia (2020, p. 87).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração que mostra a sequência de desenhos, da esquerda
para a direita, de quatro etapas de execução da estaca do tipo Franki. Na etapa 1, há três desenhos mostran-
do a inserção do tubo no solo e a formação do bulbo de brita e areia, na ponta do tubo. Na etapa 2, temos
um desenho que apresenta a instalação da armadura ou grade. Na etapa 3, temos um desenho mostrando a
concretagem do fuste da estaca e a retirada do tubo. Na etapa 4, está o desenho da estaca pronta com a sua
base em forma de bulbo e a cota de arrasamento no nível do terreno.
174
UNIDADE 5
Podem ocorrer alguns acidentes durante a execução das estacas Franki, como: estrangulamento do
fuste na concretagem através de solos muito moles; ruptura do fuste durante apiloamento do concreto
(indicado pelo encurtamento da armação); ruptura por tração do concreto; perda de contato da base
com o solo de apoio devido ao levantamento de estaca já executada (MAIA et al., 2019).
Estaca raiz
Fazendo parte do grupo de estacas injetadas, as estacas raiz são caracterizadas por seu uso frequente em
obras nos centros urbanos onde existem diversas restrições, como: locais de difícil acesso, baixa tole-
rância à vibração e ruídos (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020). Diferentemente da maioria das estacas
moldadas in loco (com concreto), a raiz é composta por argamassa ou calda de cimento e armadura.
Além desta característica, este tipo de estaca diferencia-se das demais por outras três razões impor-
tantes, segundo Décourt, Albiero e Cintra (2019):
• Possibilidade de serem executadas em posição inclinada, formando ângulos de 0 a 90 graus.
• Possuem maior densidade de armadura do que as estacas de concreto armado, pois o seu pro-
cesso de perfuração pode atingir extensas profundidades até a rocha ou solos de alta resistência
e, por isso, em comparação com os demais tipos, o seu nível de carga transmitida ao solo por
atrito lateral é maior.
• A mesma carga de trabalho usada para o esforço de tração pode ser utilizada ao esforço de
compressão ao qual a estaca raiz está sujeita, desde que esteja, adequadamente, armado, pois a
sua carga admissível advém, principalmente, da parcela de atrito lateral.
175
UNICESUMAR
Cabeçote de ar
comprimido
Extração
do tubo
Macaco 3 – Estaca pronta
Macaco
hidráulico
hidráulico
Argamassa
de cimento
e areia
Sapata de
perfuração
Figura 12 - Processo executivo da estaca raiz / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em quatro partes. Elas mostram a inserção dos elementos de perfura-
ção da estaca no solo, numa sequência de evolução de processo, da esquerda para a direita, em três etapas. As duas primeiras imagens
mostram a etapa 1 de perfuração, com o equipamento mecânico de perfuração, a instalação dos macacos hidráulicos e as peças de per-
furação inseridas no solo, em que a ponta delas indica a sapata de perfuração. A terceira imagem mostra a etapa 2, com a colocação da
armadura e o enchimento, por meio de argamassa, em quase todo o fuste e, também, próximo ao topo do nível do terreno, vemos os tubos
sendo retirados. A última imagem mostra a etapa 3, com a estaca pronta inserida no solo, à direita, e a armação, em trama, no seu meio.
A aplicação desse tipo de estaca em obras geotécnicas é diversa: reforço de fundações; fundação de estruturas
offshore e de máquinas; estabilização de encostas; paredes de contenção para proteção de escavações etc. (AL-
BUQUERQUE; GARCIA, 2020). Pois estes tipos de obras apresentam características limitadoras, como espaço
restrito para execução, ou necessidades diferenciadas, por exemplo, a confecção da estaca inclinada no solo.
Na tabela, a seguir, são apresentadas algumas cargas admissíveis, normalmente, usadas para seções
transversais comuns de estacas raiz.
4 f 16 5 f 16 5 f 20 8 f 20
16 300 - - -
20 400 500 700 1100
Raiz 25 600 650 800 1300 Variável
31 800 850 1000 1700
41 1200 1300 1450 1950
45 1400 1500 1650
(*) Estes valores representam, apenas, uma ordem de grandeza, recomenda-se consultar os catálogos
técnicos das empresas executoras das estacas.
Tabela 7 - Valores orientativos de Carga de Catálogo para estaca raiz / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
176
UNIDADE 5
O procedimento de execução dessa estaca é simples e contém, apenas, três fases (ABEF, 2016):
Fase 1 – Perfuração do terreno com a broca oca: operação contínua de perfuração por rotação, sem
retirada da broca do solo, até alcançar a profundidade prevista em projeto.
Fase 2 – Injeção de argamassa simultânea à extração da broca oca do terreno: bombeamento de
argamassa pelo tubo central da broca, fazendo o preenchimento do furo deixado pela ferramenta que
é extraída do solo por rotação. Esta retirada da broca não leva consigo o material do terreno, pois o
formato da ferramenta promove o deslocamento do solo durante a sua perfuração, não necessitando
de limpeza ou manejo dos resíduos de escavação.
Fase 3 – Colocação de armadura: depois da completa injeção de argamassa do furo realizado pela
broca oca, é inserida a armadura da estaca enquanto o material ainda está fresco. A armação é intro-
duzida utilizando a própria força da gravidade ou com auxílio de pilão pequeno, que “aperta” a gaiola
de aço no furo preenchido com argamassa.
A Figura 14 ilustra as etapas de execução dessa estaca:
177
UNICESUMAR
INJEÇÃO DE COLOCAÇÃO DA
PERFURAÇÃO ARGAMASSA ARMADURA
Nível do Terreno
Descrição da Imagem: a imagem apresenta uma ilustração dividida em três partes, cada uma mostrando a
evolução do processo, da esquerda para a direita. A primeira parte, indicada como “perfuração”, mostra a in-
serção da broca larga e comprida perfurando duas camadas diferentes do solo com flechas que indicam o solo
deslocado. A segunda parte, identificada como “injeção de argamassa”, mostra a broca sendo retirada e metade
do espaço deixado por ela, preenchido. A terceira parte, identificada como “colocação da armadura”, mostra todo
o espaço no solo deixado pela broca, agora, preenchido por argamassa, e uma trama comprida sendo inserida
neste mesmo espaço.
178
UNIDADE 5
25 600
Hollow 31 900
Variável
auger 41 1100
50 1500
(*) Estes valores representam, apenas, uma ordem de grandeza, recomenda-se
consultar os catálogos técnicos das empresas executoras das estacas.
Tabela 8 - Valores orientativos de Carga de Catálogo para estaca hollow auger.
Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
Esse tipo de estaca é moldado in loco e realiza escavação do terreno por meio de um
fluido que promove estabilidade para as paredes do furo. Ela pode apresentar seção
transversal circular com diâmetro variando de 0,6 m a 2,0 m, recebendo o nome de
estacão (BERBERIAN, 2010). Quando as suas seções são retangulares ou alongadas,
é chamada barrete, e a sua escavação utiliza ferramentas denominadas clamshells.
A sua execução passa por fases bem definidas:
Fase 1 – Escavação e preenchimento com fluido estabilizante: inicia com a cra-
vação de uma camisa metálica ou execução de uma mureta-guia para direcionar a
ferramenta que fará a escavação da estaca. “A escavação da estaca é feita simultanea-
mente ao lançamento do fluido” (ABNT, 2019, p. 72), promovendo a estabilização das
paredes do furo por meio do preenchimento do mesmo no lugar do solo retirado.
Fase 2 – Colocação da armadura: após a escavação atingir a profundidade prevista
em projeto, estando o furo, completamente, preenchido com o fluido estabilizante, “é
feita a colocação da armadura de projeto” (ABNT, 2019, p. 73).
179
UNICESUMAR
Caso seja utilizado um polímero, este deve ser preparado segundo as características
indicadas na tabela, a seguir.
180
UNIDADE 5
Na tabela, a seguir, são apresentadas algumas cargas admissíveis, normalmente, usadas para seções
transversais comuns de estacas escavadas com fluido estabilizante.
se (MPa)
3,5 4,0 4,5 5,0
60 1000 1100 1250 1400
70 1350 1500 1700 1900
80 1750 2000 2250 2500
Equipamentos
Escavada com 90 2200 2550 2850 3150 especiais com
fluido estabilizante 100 2750 3100 3500 3900 profundidades de
60 a 100 m
110 3300 3800 4300 4750
120 3950 4500 5050 5650
130 4600 5300 6000 6600
140 5400 6150 6900 7700
150 6200 7100 8000 8850
160 7000 8000 9000 10.000
(*) Estes valores representam, apenas, uma ordem de grandeza, recomenda-se consultar os catálogos
técnicos das empresas executoras das estacas.
se = Tensão Admissível do material da estaca.
Tabela 11 - Valores orientativos de Carga de Catálogo para estaca escavada com fluido estabilizante.
Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
Esse tipo de estaca possui fatores que podem afetar a sua escavação, segundo Maia et al. (2019):
• Condições do subsolo: com ocorrência de matacões, solos muito permeáveis, camadas duras
e outros.
• Lençol freático: quando próximo da superfície, dificulta a escavação.
• Opção por lama bentonítica ou polímero.
• Equipamentos de escavação e plataforma de trabalho: o estado de conservação interfere na
produtividade da escavação.
• Uso de armaduras autoportantes.
181
UNICESUMAR
182
UNIDADE 5
Nível do Terreno
Descrição da Imagem: a imagem apresenta uma ilustração dividida em três partes, mostrando a evolução do
processo, da esquerda para a direita. A primeira parte, indicada como “perfuração”, mostra a inserção da broca
helicoidal comprida perfurando duas camadas diferentes do solo, enquanto flechas indicam o sentido da perfu-
ração para baixo. A segunda parte, identificada como “concretagem”, mostra a broca sendo retirada e metade
do espaço deixado por ela preenchido, pequenos montes são indicados como “solo retirado”, ao lado da broca,
acima do nível do terreno. A terceira parte, identificada como “colocação” da armadura, mostra todo o espaço
no solo deixado pela broca, agora, preenchido por concreto e, também, uma trama comprida sendo inserida
nesse mesmo espaço.
183
UNICESUMAR
184
UNIDADE 5
30 150-300
40 350-600
50 700-1100
60 1200-1400
Hélice contínua 70 1500-1900 Máximo 38m
80 2000-2500
90 2600-3200
100 3300-3900
120 4800-5600
(*) Estes valores representam, apenas, uma ordem de grandeza, recomenda-se consultar os
catálogos técnicos das empresas executoras das estacas.
Tabela 12 - Valores orientativos de Carga de Catálogo para estaca hélice contínua / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
menclaturas diferentes. Entretanto é preciso se atentar Descrição da Imagem: a imagem apresenta uma ilustração
para as diferenças entre elas, por exemplo, o material mostrando a inserção de um trado largo e de formato de pi-
teira perfurando duas camadas diferentes do solo. Nas laterais
que compõe cada uma (argamassa ou concreto) e, tam- do espaço perfurado pelo trado e, também, na base, flechas
indicam a direção de deslocamento do solo.
bém, o tipo de ferramenta utilizado (broca ou trado).
185
UNICESUMAR
Nível do Terreno
Figura 17 - Etapas de execução da estaca hélice de deslocamento monitorada (estaca ômega) / Fonte: a autora.
Descrição da Imagem: a imagem apresenta uma ilustração dividida em três partes, mostrando a evolução do processo, da esquerda
para a direita. A primeira parte, identificada como “perfuração”, mostra a inserção do trado ômega perfurando duas camadas diferentes
do solo e flechas indicando o sentido da perfuração para baixo e, também, o deslocamento do solo nas laterais e no chamado “solo 2”. A
segunda parte, identificada como “concretagem”, mostra o trado sendo retirado e metade do espaço preenchido. A terceira parte, identi-
ficada como “colocação da armadura”, mostra todo o espaço no solo deixado pelo trado, agora, preenchido por concreto e, também, uma
trama comprida sendo inserida nesse mesmo espaço.
186
UNIDADE 5
Na tabela, a seguir, são apresentadas algumas cargas admissíveis, normalmente, usadas para seções
transversais comuns de estacas hélice de deslocamento ou ômega.
Hélice de 32 480
deslocamento 37 650 28 m
(ômega) 42 830
47 1040
(*) Estes valores representam, apenas, uma ordem de grandeza, recomenda-se consultar os catálogos
técnicos das empresas executoras das estacas.
Tabela 13 - Valores orientativos de Carga de Catálogo para estaca hélice de deslocamento (ômega)
Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
Podem ser apontadas como vantagens no procedimento de execução da estaca hélice de deslocamento:
• Pode ser executada abaixo do nível do lençol freático (N.A.).
• Elevada produtividade: com, apenas, uma equipe de trabalho, podem ser realizadas perfura-
ções diárias na ordem de centenas de metros por dia, dependendo das condições do projeto.
• Adaptabilidade para a maioria dos terrenos: exceto aqueles com presença de matacões e
rochas.
• Ausência de vibrações ou ruídos: diferentemente da maioria dos equipamentos típicos de
percussão.
• Não produz detritos poluentes de escavação: como no caso da lama bentonítica, que ne-
cessita de disposição final adequada.
• Não necessita de manejo de solo: pelo fato de o trado ômega realizar a compressão das pa-
redes do furo durante a escavação, nenhum material é extraído da perfuração, dessa forma,
não precisa de remoção e limpeza de terra, em obra.
Essa estaca possui algumas desvantagens em seu procedimento, assim como no caso da hélice
contínua:
• Terreno adequado para o equipamento: devido ao porte, necessita de área plana e de fácil
movimentação em obra.
• Central de concreto nas proximidades: a sua intensa produtividade exige que o fornecimento
seja constante e sem interrupção durante os trabalhos.
• Custo-benefício específico: para ser uma alternativa viável de fundação, é necessário um
número mínimo de estacas, a fim de que os custos de mobilização de equipamentos sejam
compatíveis.
• Profundidade limitada ao alcance do trado da perfuratriz: geralmente, com comprimento
até 28 m.
187
UNICESUMAR
188
Passamos, nesta unidade, por uma quantidade considerável de informações sobre tipos de esta-
cas, as suas classificações, os seus materiais e processos de execução, agora, realizaremos uma
atividade de “Arquivologia Mental” sobre o que aprendemos.
A seguir, estão listados os nomes dos tipos de estacas que abordamos, em detalhes, nesta unidade.
A sua tarefa será escrever o nome delas dentro das caixas de classificação existentes para esses
tipos de estaca. É possível que você anote o mesmo nome em diferentes categorias de classifi-
cação, tenha atenção, somente, para não colocar a mesma estaca em classificações conflitantes.
CLASSE DA
NOME DAS ESTACAS
ESTACA
Moldadas in
loco
Pré-moldadas
Cravadas
Escavadas
Prensadas
De
deslocamento
De substituição
Sem
deslocamento
189
1. Um dos fatores fundamentais que devem ser considerados na determinação do tipo de
estaca a ser adotado para uma estrutura é a durabilidade em longo prazo. Dentre as
opções de estacas pré-moldadas, disponíveis no mercado, existe um tipo com duração,
praticamente, ilimitada, quando mantido, permanentemente, submerso, mas, ao ser
submetido à variação de nível d’água, se desintegra pela ação de fungos aeróbios que
se desenvolvem no ambiente água-ar. Em relação ao nome da estaca cujo enunciado
faz referência, assinale a alternativa correta:
a) Pré-moldadas de concreto (armado ou protendido).
b) Pré-moldadas de argamassa armada.
c) Cravadas à reação.
d) De madeira.
e) Metálicas.
2. Estacas cravadas com grande deslocamento são aquelas introduzidas no solo sem
a retirada desse, provocando muito deslocamento do solo adjacente à estaca. Esta
possui grande área da base, superfície lateral muito rugosa e terreno, fortemente,
comprimido ao redor da fundação, pois, durante a cravação, sob os golpes do pilão, o
tubo metálico penetra no solo e gera muitas vibrações, podendo causar danos a edifi-
cações vizinhas. Em relação ao nome da estaca cujo enunciado faz referência, assinale
a alternativa correta:
a) Pré-moldadas de concreto (armado ou protendido).
b) Prensadas ou mega.
c) Metálicas (tubo de ponta fechada).
d) De madeira.
e) Franki.
3. A aplicação inicial destas estacas foi para o reforço de fundações antigas, as quais o
acesso era restrito a equipamentos de grande porte. A execução compreende, funda-
mentalmente, quatro fases: perfuração auxiliada por circulação de água; instalação da
armadura; preenchimento com argamassa; remoção do revestimento e aplicação de
golpes de ar comprimido. Em relação ao nome da estaca cujo enunciado faz referência,
assinale a alternativa correta:
a) Hollow auger.
b) Hélice contínua.
c) Raiz.
d) Strauss.
e) Ômega.
190
191
192
6
Fundações Indiretas
Profundas II
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos
194
UNIDADE 6
195
UNICESUMAR
Agora, repita o experimento, utilizando, no lugar dos canudos, lápis com ponta e do mesmo tipo
(todos redondos ou todos de seção poligonal). Anote quantos centímetros de lápis foram necessários
penetrar no solo até a sustentação da calculadora. Com a ajuda de uma balança simples, determine o
peso total da calculadora, em gramas, e calcule o quanto de carga cada estaca teve que suportar.
Lembrando que você deve trabalhar com o solo nas condições em que ele se encontra (solto e natural),
não utilize nenhum tipo de técnica para compactar o material que está ao redor dos elementos inseridos.
Caso uma tentativa tenha desagregado ou remexido, demais, o solo para teste, busque uma região do
terreno a qual não tenha sido, ainda, utilizada no experimento e que atenda às condições iniciais.
Esse experimento simula a situação de uma fundação em estacas para um pilar da construção, no
qual os canudos ou lápis inseridos, no solo, desempenham a função das estacas, e a calculadora, a fun-
ção do bloco de coroamento distribuindo a carga do pilar. Dentro do que você observou, realizando
o experimento, faça uma reflexão comparando a Capacidade de Carga do conjunto de canudos com
o conjunto de lápis:
Qual deles precisou de mais centímetros de inserção no solo até apresentar firmeza para apoiar a
calculadora?
Sabendo que ambos os materiais terão de suportar o mesmo peso, qual tipo de “estaca” é mais resis-
tente: canudo ou lápis? Como você determina isso, por meio dos números do experimento?
Se tivesse que escolher um destes “tipos de estacas” para a sua obra, qual delas seria? Por quê?
No Diário de Bordo, a seguir, use o espaço para registrar o seu esquema de apoio do experimento e
anote: as medidas de inserção para cada tipo de “estaqueamento” (canudos e lápis) do experimento; a
carga total do “bloco de coroamento” (calculadora); a carga que cada “estaca” teve de suportar; as suas
considerações às questões de reflexão levantadas no parágrafo anterior.
DIÁRIO DE BORDO
196
UNIDADE 6
Uma estaca inserida em solo apresenta duas resistências à ruptura: a Resistência Estrutural, que é
função da sua geometria e das propriedades do material de composição (madeira, aço, concreto arma-
do, protendido etc.) e consiste no valor de resistência à compressão da própria estaca ou o valor que
representa a carga de ruptura desse elemento (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020); e a Capacidade
de Carga do elemento de fundação por estaca, o qual é o valor da força máxima de resistência que o
sistema estaca-solo pode oferecer, em termos geotécnicos, ou o valor que representa a carga de ruptura
desse sistema (VELLOSO; LOPES, 2012).
As diferenças entre essas duas resistências são apresentadas no quadro, a seguir:
ESTACA ISOLADA
RESISTÊNCIA DA
SÍMBOLOS
ORIGEM FORMA DE RUPTURA DETERMINAÇÃO
Deformação do material
Estrutural: a normas específicas de acordo
componente da estaca por R
estaca em si. É com o material componente
esmagamento, flambagem, e
função da seção P (Madeira=NBR7190; Aço=NBR8800;
cisalhamento, rompimento, e
transversal e do Concreto=NBR6118) ou as
quebra ou outros.
tipo de estaca. informações de catálogo do
fabricante ou executor da estaca.
Sem qualquer relação
Elemento
CAPACIDADE DE
com despedaçar ou PR
Geotécnico: o
quebrar a estaca. O PR Métodos de cálculo de Carga
sistema estaca-
CARGA
A Capacidade de Carga de fundações profundas por estacas “deve ser determinada a partir da utilização
e interpretação de um ou mais procedimentos” (ABNT, 2019, p. 4), que são:
• Métodos estáticos: quando se baseiam nas teorias desenvolvidas dentro da Mecânica dos
Solos, são chamados de Métodos Teóricos, quando se baseiam em correlações com Ensaios de
Campo, são chamados de Métodos Semiempíricos.
• Métodos dinâmicos: estimativa da carga de fundações profundas que se baseiam na previsão
e/ou verificação do comportamento das estacas sob ação de carregamento dinâmico, de acordo
com a NBR13208: Estacas – Ensaios de carregamento dinâmico (ABNT, 2007).
• Provas de carga: determinação da carga de ruptura, por meio de ensaio de prova de carga
estática em fundações profundas, de acordo com a NBR16903: Solo – Prova de Carga Estática
em Fundação Profunda (ABNT, 2020).
197
UNICESUMAR
“
1. Impossibilidade prática de conhecer, com certeza, o estado de
tensões do terreno em repouso e estabelecer com precisão as con-
dições de drenagem que definem o comportamento de cada uma
das camadas que compõem o perfil atravessado pela estaca e aquela
do solo onde se apoia sua ponta.
2. A dificuldade que existe para determinar com exatidão a re-
sistência ao cisalhamento dos solos que interessam a fundação.
3. A influência que o método executivo da estaca exerce sobre o
estado de solicitação e sobre as propriedades do solo, em particular,
sobre sua resistência nas vizinhanças imediatas da estaca.
4. A falta de simultaneidade no desenvolvimento proporcional
da resistência de atrito e de ponta. Em geral, a resistência por
atrito se esgota muito antes de a resistência de ponta chegar ao
valor máximo.
5. Heterogeneidade do subsolo onde se cravam as estacas.
6. Presença de fatores externos ou internos que modificam o mo-
vimento relativo entre o solo e estaca (ALONSO, 2019, p. 104).
As formulações puramente teóricas não são muito utilizadas como método prin-
cipal na estimativa de cargas. O motivo é porque existem muitas incertezas quanto
à adequação das previsões (CINTRA; AOKI, 2010). A tradição da Engenharia de
Fundações brasileira prefere aliar às formulações teóricas as considerações de ordem
empírica, com os resultados de ensaios de campo, para se adequar melhor às situações
de projeto que, geralmente, são encontradas no país.
198
UNIDADE 6
“
São métodos que relacionam resultados de ensaios (tais como o SPT,
CPT etc.) com tensões admissíveis ou tensões resistentes de cálculo.
Devem ser observados os domínios de validade de suas aplicações,
bem como as dispersões dos dados e as limitações regionais asso-
ciadas a cada um dos métodos (ABNT, 2019, p. 22).
199
UNICESUMAR
SOLO 1
Buenos Aires, em 1975.
É uma metodologia desen-
volvida por dois importantes L RL = Resistência por
especialistas brasileiros: Nel- Atrito Lateral
son Aoki e Dirceu de Alencar
Velloso (ALONSO, 2019).
Este método estima, de forma
SOLO 2
aproximada, a Capacidade de
Carga de uma estaca, consi-
derando que a Resistência do
RP = Resistência de Ponta
Conjunto Estaca-Solo (R) é
composta pela soma das par- Figura 2 - Resistência do conjunto estaca-solo / Fonte: a autora.
celas da Resistência por Atrito
Lateral (RL) com a Resistência Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração que mostra uma estaca
inserida em duas camadas de solo. É possível ver flechas representando a direção dos
de Ponta (RP) da estaca inseri- esforços que atuam sobre ela e as medições de comprimento da estaca, indicadas pela
letra L e da largura, indicadas pela letra D. No topo da estaca, acima do nível do ter-
da no solo. reno, uma flecha vertical, apontada para baixo, indica: “R igual R mais R ” como carga
L P
Originalmente, este méto- sobre a estaca. Nas laterais da estaca, dentro da camada “Solo 1”, há várias pequenas
flechas verticais, apontadas para cima e indicando as letras “R ” como Resistência por
L
do foi concebido a partir de Atrito Lateral. Na parte de baixo da estaca, dentro da camada “Solo 2”, há uma única
flecha vertical, apontada para cima, indicando as letras “R ” como Resistência de Ponta.
correlações entre os resultados P
RL U rL L
Em que:
L = comprimento da estaca na
respecctiva camada de solo.
200
UNIDADE 6
A figura, a seguir, ilustra o cálculo da Resistência Lateral da estaca quando ela atravessa várias
camadas de solo:
N SPT
Nível do Terreno
CAMADA 1 3 r1 L1
4
CAMADA 2 5 r2 RL U rL L
L2
7
CAMADA 3 10 r3 L3
RL U r1 L1 r2 L2 r3 L3 r4 L4
13
CAMADA 4 21 r4 L4
26
Figura 3 - Procedimento para determinação da Resistência Lateral da estaca, no Método Aoki-Velloso / Fonte: a autora.
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em duas partes. Do lado esquerdo, há uma estaca inserida em quatro
camadas de solo diferentes, com a indicação dos resultados, em perfil, do NSPT, ao lado da estaca, com oito resultados. Ainda, ao lado
da estaca, é possível ver a indicação, em cada respectiva camada da Resistência Unitária, feita pela letra “r”, bem como a indicação,
em cada espessura respectiva, feita pela letra “L”. Do lado direito, está a equação de cálculo da Resistência Lateral para toda a estaca.
A fim de calcular a Resistência Lateral Unitária ( rL ) da estaca, são considerados os resultados presen-
tes nos Ensaios de Cone ou no Standard Penetration Test (SPT). A opção entre um ou outro parâmetro
depende da abrangência das Investigações Geotécnicas na fase de projeto (CINTRA; AOKI, 2010).
A tabela, a seguir, apresenta as fórmulas para o cálculo das duas situações de projeto (com CPT
e com SPT):
201
UNICESUMAR
K a
SOLO
(kPa)
Areia 1000 0,014
Areia siltosa 800 0,020
Areia siltoargilosa 700 0,024
Areia argilosa 600 0,030
Areia argilossiltosa 500 0,028
Silte 400 0,030
Silte arenoso 550 0,022
Silte arenoargiloso 450 0,028
Silte argiloso 230 0,034
Silte argiloarenoso 250 0,030
Argila 200 0,060
Argila arenosa 350 0,024
Argila arenossiltosa 300 0,028
Argila siltosa 220 0,040
Argila siltoarenosa 330 0,030
Tabela 2 - Valores dos coeficientes K e a propostos por Aoki e Velloso
Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
RP AP rP
202
UNIDADE 6
FÓRMULA DE RESISTÊNCIA
ENSAIO PARÂMETRO DO ENSAIO
DE PONTA UNITÁRIA
qc qc = Resistência de Ponta
Cone
rP = Média do Cone definida para
(CPT ou CPTu) F1 a camada de solo na qual a
estaca se apoia.
TIPO DE ESTACA F1 F2
Franki 2,5 2 F1
Metálica 1,75 2 F1
D
Pré-moldada 1 2 F1
0, 8
Escavada 3 2 F1
Raiz 2 2 F1
Hélice Contínua 2 2 F1
Hélice de Deslocamento 2 2 F1
Tabela 4 - Valores dos Fatores de Carga (F1 e F2) propostos por Aoki e Velloso
Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
203
UNICESUMAR
Cone
Rrup
a q
U
c
qc
L AP
(CPT ou CPTu)
F 2 F 1
Standard
Rrup
a K N
U
SPT
K N SPT
Penetration Test L AP
(SPT ou SPT-T) F2 F1
Tabela 5 - Capacidade de Carga proposta por Aoki e Velloso / Fonte: a autora.
A norma técnica de fundações NBR 6122 (ABNT, 2019), no caso específico das
estacas escavadas com fluido estabilizante ou hélice contínua exige que o
executor destes serviços assegure os requisitos mínimos de contato entre a ponta
dessas estacas e o solo competente ou a rocha. No caso de os executores não
assegurarem esses requisitos mínimos, “deve considerar a resistência de ponta
nula, sendo a carga admissível obtida pela aplicação de um Fator de Segurança
igual a dois, para a carga lateral de ruptura, um” (ALBUQUERQUE; GARCIA,
2020, p. 243).
204
UNIDADE 6
N SPT
rL 10 1
3
Onde:
N SPT = número médio de golppes para cravação do
amostrador-padrão nas camadas de solo ao longo
do fuste da estaca, os valores de N SPT devem estar
compreendidos entre 3 N SPT 50.
RL U L rL b
205
UNICESUMAR
a figura, a seguir, ilustra o cálculo da Resistência Lateral da estaca quando ela atravessa várias camadas de solo:
N SPT
Nível do Terreno
CAMADA 1 3 R L1 L1
RL RL1 RL 2 RL 3 RL 4
4
5 R L2
^ `
CAMADA 2
L2 RL n U L n r n E n
7
CAMADA 3 10 R L3 L3 ° ª§ N · º ½°
13
RL n U L n ®10 «¨ SPT ¸ 1» ¾ E n
R L4 L4
¯° «¬© 3 ¹ »¼ °¿
CAMADA 4 21
26
Figura 4 - Procedimento para determinação da Resistência Lateral da estaca no Método Décourt-Quaresma / Fonte: a autora.
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em duas partes. Do lado esquerdo, é possível ver uma estaca inserida em
quatro camadas de solo diferentes, com indicação dos resultados do NSPT, em perfil, ao lado da estaca, com oito resultados. Ao lado da estaca, a
indicação, em cada respectiva camada da Resistência Unitária, é feita pelas letras “RL” bem como da respectiva espessura, pela letra “L”. Do lado
direito, estão a equação de cálculo da Resistência Lateral para toda a estaca e, também, as Resistências Laterais Unitárias para cada camada.
O Fator de Atrito ( b ) utilizado no cálculo correlaciona o tipo de solo e o tipo de estaca, por meio
de um valor adimensional (CINTRA; AOKI, 2010). Originalmente, a formulação do método foi feita
para estacas cravadas de concreto, porém ampliou-se a sua utilização a outros tipos de estacas, com
valores do Fator de Atrito diferenciados para cada.
A tabela, a seguir, organiza estes valores:
TIPO DE ESTACA
TIPO DE
Hélice contínua/
SOLO Escavada em Escavada Injetadas
Hélice de Raiz
geral (bentonita) sob pressão
deslocamento
Argilas 0,80* 0,90* 1,00* 1,50* 3,00*
Siltes 0,65* 0,75* 1,00* 1,50* 3,00*
Areias 0,50* 0,60* 1,00* 1,50* 3,00*
* Valores, apenas, orientativos, diante do reduzido número de dados disponíveis.
Tabela 6 - Valores do Fator de Atrito (b) propostos por Décourt e Quaresma / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
206
UNIDADE 6
N SPT
N acima N ponta N abaixo
N SPT
3
Nível do Terreno
CAMADA 1
3 N SPT
10 13 21 14, 67
4 3
CAMADA 2
5
7
CAMADA 3
10
N acima
13
CAMADA 4
N ponta
21
N abaixo
26
Figura 5 - Procedimento para determinação da Resistência à Penetração Média do SPT na ponta da estaca,
pelo Método Décourt-Quaresma / Fonte: a autora.
Descrição da Imagem: a figura mostra uma ilustração dividida em duas partes. Do lado esquerdo, há uma
estaca inserida em quatro camadas de solo diferentes com indicação dos resultados do NSPT, em perfil, ao
lado da estaca, com oito resultados. Ao lado da estaca, está a indicação, na porção da ponta cravada, das três
parcelas do resultado do Ensaio SPT. Do lado direito, está a equação de cálculo da resistência NSPT média para
a ponta da estaca.
rP C N SPT
Em que:
C =c ístico do solo.
207
UNICESUMAR
C
TIPO DE SOLO
(kPa)
Argilas 120
Siltes argilosos* 200
Siltes arenosos* 250
Areias 400
* Solos residuais
Tabela 7 - Valores do coeficiente C propostos por Décourt-Quaresma / Fonte: adaptada de Albuquerque
e Garcia (2020).
RP AP rP a
TIPO DE ESTACA
TIPO DE
Hélice contínua/ Injetadas
SOLO Escavada Escavada
Hélice de Raiz sob
em geral (bentonita)
deslocamento pressão
Argilas 0,85 0,85 0,30* 0,85* 1,00*
Solos
0,60 0,60 0,30* 0,60* 1,00*
intermediários
Areias 0,50 0,50 0,30* 0,50* 1,00*
* Valores, apenas, orientativos, diante do reduzido número de dados disponíveis.
Tabela 8 - Valores do Fator de Reação de Ponta (a) propostos por Décourt e Quaresma / Fonte: adaptada
de Albuquerque e Garcia (2020).
208
UNIDADE 6
NL
Rrup U L 10 1 β AP C N P α
3
m que:
Em
N L = Re sistê à penetração média do SPT ao longo
do fuste da estaca;
N P = Resistê à penetração média do SPT dos três
valores na regiª o de ponta da estaca.
T
N eq
1, 2
Onde:
T = Valor do torque medido no Ensaio SPT-T em kgf m
209
UNICESUMAR
Os métodos dinâmicos para a determinação da Capacidade de Carga têm a sua aplicação restrita às estacas
cravadas à percussão (esforço dinâmico) e preveem a Capacidade de Carga com base nos resultados do
controle de embutimento no solo (ALONSO, 2019), durante a cravação. Estes métodos fazem uso das cha-
madas fórmulas dinâmicas, formulações teóricas baseadas na nega ou nos repique elásticos e que visam
a assegurar, principalmente, a homogeneidade das estacas cravadas (ABNT, 2019). Define-se nega como:
“
Penetração permanente de uma estaca, causada pela aplicação de um golpe do mar-
telo. Em geral, é medida por uma série de dez golpes; ao ser fixada ou fornecida, deve
ser sempre acompanhada do peso do martelo e da altura de queda ou da energia de
cravação, no caso de martelos automáticos (ABEF, 2016, p.101).
Já o repique é definido como a “Parcela elástica do deslocamento máximo de uma seção da estaca,
decorrente da aplicação de um golpe do martelo” (ABEF, 2016, p. 101).
Podemos realizar a medição de ambos por meio de uma técnica que consiste na colagem de uma
folha de papel padronizada (Registro de Negas e Repiques) sobre a qual a ponta de um lápis é movi-
mentada, horizontalmente, com a ajuda de um apoio prumado durante o golpe do martelo (ALVES;
LOPES; DANZIGER, 2004).
A figura, a seguir, representa, esquematicamente, essa medição, durante a cravação de uma estaca:
CEPO
Dmx
COXIM
PAPEL ESTACA K
S
LÁPIS
RÉGUA
SUPORTE Nível do Terreno K = repique ou deformação elástica
s = nega ou deformação permanente
Dmx
s
10
Figura 6 - Medição de nega e repique para estaca cravada à percussão / Fonte: a autora.
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em três partes. A porção esquerda mostra a instalação do sistema
de medição de nega, no topo de uma estaca. Esta se encontra inserida no terreno e contém martelo (ou pilão), cepo, coxim, estaca,
régua, suporte, lápis e papel. A porção superior direita da figura mostra o gráfico típico de controle de cravação para dez golpes com
medição dos índices “K”, “s” e “Dmx”. A porção inferior apresenta a designação do “índice K” como “repique ou deformação elástica”, “s”
como “nega ou deformação permanente” e o cálculo da nega a partir do índice “Dmx”.
210
UNIDADE 6
Na figura, a seguir, é mostrado um operário realizando a medição no atrito do martelo e das guias
de nega e repique, durante a cravação de estaca: (ALBUQUERQUE; GARCIA,
2020). A obtenção da Capacida-
de de Carga de estacas cravadas
à percussão, por meio dos valo-
res de nega, utilizando fórmulas
dinâmicas, possui algumas críti-
cas, as quais são levantadas por
Alonso (2019):
• As fórmulas se baseiam
na teoria de choque de
corpos rígidos, formu-
lada por Newton e obe-
decendo à Lei de Hooke,
Figura 7 - Operário realizando medição da nega e repique para estacas cravadas porém estas hipóteses
por percussão.
não traduzem a realidade
do “movimento” da esta-
Descrição da Imagem: a figura mostra uma fotografia de um canteiro de obras com
estacas pré-moldadas de concreto de seção circular cravadas e um equipamento ba- ca sob ação de choque do
te-estaca fazendo a cravação delas. Um trabalhador, paramentado com capacete e
proteção de ouvido, está agachado ao lado da cravação, fazendo a medição da nega martelo ou pilão.
em um papel afixado no topo de uma estaca.
• A resistência mobiliza-
da pelo pilão ou martelo
Durante a realização da cravação da estaca por percussão, o proce- nem sempre é suficiente
dimento pode ser monitorado, por meio de nega e repique, como para alcançar a resistência
estratégia de controle de desempenho das fundações, durante a máxima que o conjunto
sua execução. Por meio do registro gráfico, aplicam-se fórmulas estaca-solo pode oferecer.
baseadas no princípio de conservação de energia, descontando • Efeitos como amolgamen-
eventuais perdas dessa energia, tal qual na equação: to, compactação e quebra
da estrutura do solo não
W h R s X podem ser avaliados por
Em que: um teste único imediato,
W = peso do martelo ou pilão; pois dependem do tempo
de ação de cargas.
h = alturaa de queda;
• Existem fatores pouco
R = resistê à cravação da estaca;
conhecidos (energia real
s = nega, ou penetr ção permanente; aplicada, influência do
X = perda de energia do sistema.. coxim e do cepo instala-
dos no capacete etc.) en-
Temos as principais perdas de energia durante o processo de cravação volvidos no fenômeno da
no repique do martelo, na deformação elástica do cepo e do coxim, cravação.
211
UNICESUMAR
Por isso, as fórmulas dinâmicas têm elevados fatores de correção para determinação da Capacidade de
Carga, visto que a sua aplicação só pode ser utilizada quando a situação de projeto se assemelha à hipótese
que foi desenvolvida por cada autor. O ideal é calibrar o método ou a fórmula dinâmica por meio da rea-
lização de Provas de Carga, na situação do tipo de solo e de estaca da obra, pois a utilização das fórmulas é
insatisfatória em casos generalizados, devido à variedade de incertezas. Portanto, é comum o uso de nega e
repique, pelas empresas e profissionais, como ferramenta de controle de desempenho, durante a execução
de estacas cravadas à percussão, e não como previsão da Capacidade de Carga.
Outro método de determinação da Capacidade de Carga para estacas é a Prova de Carga. Este é um ensaio
de campo voltado a fundações profundas e que consiste em aplicar esforços estáticos à estaca (da obra ou
de uma estaca-teste) com execução no terreno já finalizada e, em seguida, registrar os deslocamentos cor-
respondentes do conjunto estaca-solo (ABEF, 2016). Esses esforços podem ser no sentido axial (de tração
ou de compressão) ou no sentido transversal.
O Ensaio de Prova de Carga é regido pela norma técnica NBR 16903: Solo – Prova de Carga Estática
em Fundação Profunda (ABNT, 2020), a qual especifica o procedimento de ensaio para todos os tipos de
estacas, sendo elas verticais ou inclinadas, independentemente do seu método executivo ou de instalação
no terreno. Esta norma técnica descreve todos os aparelhos necessários à realização do ensaio bem como
a preparação, a forma de carregamento (lento, rápido, misto ou cíclico) e a apresentação dos resultados.
A publicação técnica da ABEF, em seu Manual de Execução de Fundações – Práticas Recomendadas
(2016), também estabelece as diretrizes e condições básicas à execução do ensaio para diversos tipos de
fundações profundas bem como os procedimentos de coleta, análise e interpretação dos dados, as especifi-
cações dos dispositivos e equipamentos empregados, além de também disponibilizar exemplos e modelos
de planilhas e gráficos para a apresentação dos resultados.
Os equipamentos necessários ao ensaio foram resumidos pela ABEF (2016):
• Sistema de reação: pode ser feito por meio de tirantes (monobarra ou cordoalha), cargueira (ensaio
à compressão) e fogueira (ensaio à tração).
• Conjunto de macaco e bomba com manômetro: conjunto hidráulico que deve estar calibrado de
acordo com a NBR 8197: Materiais Metálicos – Calibração de Instrumentos de Medição de Força de
Uso Geral (ABNT, 2021), dentro da validade, previamente, testado e, também, verificado o estado de
212
UNIDADE 6
suas mangueiras e conexões. É composto por manômetro (analógico ou digital) cilindro e bomba.
• Deflectômetros ou Defletômetros: instrumentos medidores de deslocamento, podendo ser
analógicos ou digitais, resistivos ou indutivos. Permitem a leitura de deformações no carregamento
transversal e axial, medidos no topo da estaca (ou bloco de reação), por meio de quatro deflectô-
metros instalados em dois eixos ortogonais. Também devem estar calibrados de acordo com a NBR
8197 (ABNT, 2021).
• Célula de carga: transdutor de força que converte a força aplicada em um sinal elétrico, o qual é
registrado em equipamento específico. Pode ser do tipo resistivo, indutivo ou de corda vibrante.
A figura, a seguir, ilustra a montagem do equipamento do Ensaio de Prova de Carga sobre estaca, por
meio do uso de cargueira para esforços de compressão:
1 Plataforma de reação
2 Base de apoio
Carga de reação
(areia, ferro etc.) 3 Solo
1
4 Deflectômetro
5 Estaca teste
2 6 6 Viga de transição
4 7 7 Célula de carga
8 8 Macaco hidráulico
Figura 8 - Sistema de prova de carga à compressão com “cargueira” / Fonte: Albuquerque e Garcia (2020).
Descrição da Imagem: a figura mostra uma ilustração em tons de cinza e dividida em duas partes. À esquerda, é possível ver a insta-
lação de equipamento para Ensaio de Prova de Carga sobre uma estaca, a qual tem números indicativos de 1 a 8, posicionados ao lado
de cada peça. Em cima da plataforma de reação, há uma caixa preenchida por traços em hachura e com o texto indicativo: “Carga de
reação, areia, ferro etc.” A plataforma e a caixa estão sobre um equipamento de eixo cilíndrico e base larga. Esta se encontra apoiada
no fundo de um recorte, o qual está em uma camada de terreno com contornos hachurados. À direita, vê-se, em formato de lista, a
legenda dos equipamentos numerados: (1) Plataforma de reação; (2) Base de apoio; (3) Solo; (4) Deflectômetro; (5) Estaca-teste; (6) Viga
de transição; (7) Célula de carga; (8) Macaco hidráulico.
213
UNICESUMAR
“
Para que se obtenha a carga admissível (ou carga resistente de pro-
jeto) de estacas, a partir de provas de carga, é necessário que:
a) a(s) prova(s) de carga seja(m) estática(s);
b) a(s) prova(s) de carga seja(m) especificada(s) na fase de
projeto e executadas no início da obra, de modo que o projeto
possa ser adequado para as demais estacas;
c) a(s) prova(s) de carga seja(m) levada(s) até uma carga, no
mínimo, duas vezes a carga admissível prevista em projeto.
Desse modo, é possível ver que o ensaio, quando é realizado na fase de projeto,
pode obter, com alto grau de confiabilidade, os valores da Carga de Ruptura e
da Carga Admissível de uma estaca instalada no terreno da obra, permitindo
que seja utilizado o Fator de Segurança menor durante os cálculos (VELLOSO;
LOPES, 2012).
Para a Carga Admissível, pode ser usado um Fator de Segurança igual a 1,6 e,
para a Carga Resistente de projeto, 1,14 (ABNT, 2019).
A equação, a seguir, é apresentada pela NBR 6122 (ABNT, 2019) para a deter-
minação da Resistência Característica quando um número maior de Provas de
Carga for realizado numa mesma região representativa:
Rc,cal Rc,cal
med min
Rc,k Min ;
ξ3 ξ4
Em que:
Rc,k resistê ística;
Rc,cal resistê ística calculada com base
med
em valores mèdios dos parâ etros;
Rc,cal resistê ística calculada com base
min
em valores mí imos dos p â etros;
ξ3 e ξ4 fatores de m ção da resistência (Tabela 3 da NBR 6122).
214
UNIDADE 6
na 1 2 3 4 5
Tabela 9 - Valores dos fatores de minoração da resistência x3 e x4 / Fonte: adaptada de ABNT (2019).
A norma técnica indica que, para a determinação da Carga Admissível, deve ser
empregado um Fator de Segurança Global de, no mínimo, 1,4, além da aplicação
dos fatores indicados na tabela (ABNT, 2019). Caso a análise seja feita em termos de
Fatores de Segurança Parciais, não deve ser aplicado o fator de minoração de carga.
A figura, a seguir, mostra o momento do registro das condições de ensaio de Prova
de Carga sobre estaca:
Figura 9 - Realização da Prova de Carga com registro das condições do ensaio por membro de equipe técnica
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia de um canteiro de obras. Nele, há o empilhamento de
peças de concreto e aço sobre vigas no chão, durante Ensaio de Prova de Carga. Em primeiro plano, é possível
ver as mãos de uma pessoa fazendo anotações em um papel.
215
UNICESUMAR
CURVA CARGA-RECALQUE
Carga (tf)
Recalque (mm)
Construtora
Estaca no.
D = 00 cm
Comprimento = 000 m
Descrição da Imagem: a figura mostra a ilustração de um gráfico com dois eixos. No eixo vertical, indicado
para baixo, o recalque, em milímetros, vai de zero até menos 30 e tem espaço equidistante de eixos de -5.
O eixo horizontal, indicado para o lado direito da carga, mostra a tonelada-força indo de zero até 480 com
espaço equidistante de 40.
216
UNIDADE 6
“
O comportamento de uma estaca ou tubulão,
quando submetido à prova de carga, pode não
apresentar ruptura nítida. Isto ocorre em duas
circunstâncias:
a) quando a capacidade de carga da estaca ou
tubulão é superior à carga que se pretende aplicar
(por exemplo, por limitação de reação);
b) quando a estaca ou tubulão é carregado
até apresentar recalques elevados, mas que não
configurem uma ruptura nítida, como descrito
(ABNT, 2019, p. 27).
P L D
∆r
A E 30
Em que:
∆r recalque de ruptura convencional;
P carga de ruptura convencional;
L comprimento da estaca;
A área da ção transversal da estaca;
E ódulo de elasticidade do material da estaca;
D diâ etro do írculo circunscri à estaca ou,
â etro do írculo de
área equivalente ao da seção transverssal desta.
217
UNICESUMAR
r recalque de ruptura
Pr P (carga) Pr = carga de ruptura
L = comprimento da estaca
D/30 A = área da secção transversal da estaca
D = diâmetro do circuito circunscrito à estaca
PL D
r
A E 30
recalque
Curva P (ensaio)
Figura 11 - Curva Carga-Recalque com aplicação da estimativa de Carga de Ruptura pelo método da NBR 6122
Fonte: ABEF (2016).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em duas partes. A porção à esquerda mostra
um gráfico com dois eixos; no eixo vertical, apontado para baixo do recalque, há dois pontos marcados, sendo
o primeiro com distância indicada pela fração “D sobre 30”, e o segundo, indicado por “delta r”. O eixo hori-
zontal, apontado para a direita da carga, tem um dos seus pontos marcados, ponto este indicado pelas letras
“Pr”. A curva do gráfico é descendente, com eixos coincidindo em um único ponto. Na parte superior direita,
há a legenda para os parâmetros indicados no gráfico e na equação de eixo inclinado, que corta o gráfico na
diagonal e cuja indicação consta na parte inferior direita.
Os valores obtidos nos ensaios de Prova de Carga são de extrema importância à ela-
boração de um projeto de fundações racionalizado, ou seja, que atende aos critérios
de segurança para a edificação feita com economia. Por isso, a sua realização, ainda
na fase de projeto, auxilia muito nos dimensionamentos das fundações.
Quando as Provas de Carga integram um plano de verificação de desempenho
ou controle de qualidade, a quantidade e a necessidade de Provas de Carga são esta-
belecidas pela NBR 6122 (ABNT, 2019), por meio da tabela, a seguir:
218
UNIDADE 6
A B
Tensão de trabalho abaixo da Número total de
qual as Provas de Carga não serão estacas da obra a
TIPO DE ESTACA
obrigatórias, desde que o número partir do qual serão
de estacas da obra seja inferior à obrigatórias Provas
coluna (B), em MPA b c d de Carga b c d
Pré-moldadaa 7,0 100
Madeira - 100
Aço 0,5 fyk 100
Hélice, hélice de deslocamento,
hélice com trado segmentado 5,0 100
(monitoradas)
Estacas escavadas com ou sem
5,0 75
fluido Φ ≥ 70cm
Raize ≤ Φ 310 mm = 15,0 75
≥ Φ 400 mm = 13,0
Microestaca e
15,0 75
Trado vazado segmentado 5,0 50
Franki 7,0 100
Escavadas sem fluido Φ < 70 cm 4,0 100
Strauss 4,0 100
a) Para o cálculo da tensão de trabalho, são consideradas estacas vazadas como maciças, desde que
a seção vazada não exceda 40% da seção total.
b) Os requisitos anteriores são válidos para as seguintes condições (não, necessariamente, simultâneas):
- Áreas onde haja experiência prévia com o tipo de estaca empregado.
- Onde não houver particularidades geológico-geotécnicas.
- Quando não houver variação do processo executivo padrão.
- Quando não houver dúvida quanto ao desempenho das estacas.
c) Quando as condições desta tabela não ocorrerem, de vem ser feitas Provas de Carga em, no mí-
nimo, 1% das estacas, observando um mínimo de uma Prova de Carga (conforme ABNT NBR 16903),
qualquer que seja o número de estacas.
d) As provas de carga executadas, exclusivamente, para a avaliação de desempenho, devem ser
levadas até que se atinja, pelo menos, duas vezes, a Carga Admissível ou até que se observe um
deslocamento que caracterize ruptura. Caso exista Prova de Carga prévia, as Provas de Carga de
desempenho devem ser levadas até que se atinja, pelo menos, 1,6 vezes a Carga Admissível ou até
ser observado um deslocamento que caracterize ruptura.
e) Diâmetros de perfuração conforme “Anexo K - Estacas raiz” da ABNT NBR 6122.
Tabela 10 - Quantidade de Provas de Carga conforme a NBR 6122 / Fonte: adaptada de ABNT (2019).
A verificação do desempenho de uma fundação possui, como objetivo, demonstrar que o comporta-
mento previsto em projeto se confirma, na prática, após a execução dos elementos (NIYAMA; AOKI;
CHAMECKI, 2019). É empregado um conjunto de procedimentos e técnicas para garantir que aconte-
ceu o previsto, sendo que a variabilidade da resistência, especificada em projeto para estacas, pode ser
comprovada por meio de Provas de Carga estáticas ou Ensaios de Carregamento dinâmico, conforme
prescritos pela NBR 6122 (ABNT, 2019).
219
UNICESUMAR
Assim como nas fundações diretas rasas, precisa-se, nas fundações indiretas profundas, determinar o
tipo de filosofia de projeto que será adotada, de acordo com as abordagens propostas pela NBR 6122
(ABNT, 2019) para os casos das estacas. Pelo Método de Valores de Cálculo, temos o princípio de
que o valor da solicitação característica ( S k ), aumentado por um fator de majoração ou fator de se-
gurança parcial da solicitação ( g f ), deve ser inferior ao valor da força resistente característica ou
Capacidade de Carga característica ( R k ) reduzido por um fator de minoração ou fator de segurança
parcial ( g m ) (CINTRA; AOKI, 2010). Sendo estes fatores ( g f e g m ) denominados Fatores de Se-
gurança Parciais, mas, no caso de o material componente da estaca ser o concreto, usamos gc no
lugar de g m . Na simbologia específica para as fundações em estacas, temos:
Rk
Sd Sk γ f ao mesmo tempo que Rd
γm
Em que:
Sd = solicitação
o de cálculo da fundação;
Rd = força resistente de cálculo da fundação
ou capacidade de carga de cálculoo da fundação.
Portanto, na fase de projeto, o critério de segurança estabelece que é necessário dimensionar uma
fundação cujos elementos (estaca + solo) recebam uma carga que não ultrapasse a resistência calculada.
Sd ≤ Rd
220
UNIDADE 6
Rk
Pa
FS g
Em que:
Pa = carga adm ível da fundação;
FS g = fato ça global.
Portanto, na fase de projeto, o critério de segurança estabelece que se deve dimensionar uma funda-
ção cujos elementos apliquem uma tensão sobre o solo que não ultrapasse a admissível (ABNT, 2019).
Sk ≤ Pa
na prática brasileira de projetos de fundações, existe preferência pelo Método dos Valores Admissíveis, o
qual pode ser determinado por três metodologias de projeto distintas (CINTRA; AOKI, 2010). São elas:
Primeira metodologia – Escolhe-se o tipo de estaca e a seção transversal do fuste (diâmetro),
buscando a correspondente Carga de Catálogo da Estaca ( Pe ) para esse elemento de fundação. A Carga
Admissível da Fundação ( Pa ) será a Carga de Catálogo e, multiplicada pelo Fator de Segurança ( Fs
), resulta na Capacidade de Carga da Estaca (R):
Pe Pa Pa Fs R
“
Alguns confundem a carga admissível da estaca (Pe) com a carga admissível da fundação (Pa),
a qual considera o aspecto geotécnico. Para evitar esse equívoco, preferimos denominar Pe
como carga de catálogo, pelo motivo óbvio de ser o valor de carga indicado no catálogo do
fabricante ou executor da estaca, em função da seção transversal do fuste e do tipo de estaca.
Em seguida, utilizando alguns dos Métodos Semiempíricos para Capacidade de Carga, busca-se o
Comprimento da Estaca (L) compatível com a Capacidade de Carga da Estaca (R) calculada.
221
UNICESUMAR
222
UNIDADE 6
Cintra e Aoki (2010) propõem, para cada tipo de estaca, uma faixa de valores de
NSPT, no qual se costuma determinar a parada do avanço da fundação. Na tabela,
a seguir, são apresentados esses valores como limites máximos à penetrabilidade
(cravação ou escavação) da estaca no terreno, sem considerar o uso de ferramentas
ou procedimentos adicionais.
Tabela 11 - Valores limites de NSPT para a parada das estacas / Fonte: adaptada de Cintra e Aoki (2010).
223
UNICESUMAR
Após conhecer o perfil geotécnico do terreno, escolher o tipo de estaca que será utilizada e fazer a pre-
visão das cargas de projeto para cada elemento de fundação (Carga Admissível da Estaca), o dimensio-
namento de uma fundação terá, como objetivo, a determinação do comprimento das estacas e o número
necessário das mesmas para transferir a carga do pilar ao solo (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020).
O número de estacas que fará a distribuição dos esforços sob cada pilar da edificação pode ser
calculado por meio de uma divisão simples:
Carga do Pilar Ppilar
Quantidade de Estacas =
Carga Admi ível da Estaca Padm
Cada pilar terá um conjunto de estacas (estaqueamento) que fará a sua sustentação, e todas elas são uni-
ficadas pelo bloco de coroamento (não confundir com a fundação rasa bloco de fundação), o qual, por
meio do arranjo em concreto armado, faz a distribuição dos esforços.
A disposição geométrica dessas estacas, em planta, sob o bloco, é definida pelo(a) projetista. Este(a)
busca que o centro de carga do estaqueamento coincida com o centro de carga do pilar.
A figura, a seguir, mostra algumas sugestões de distribuição das estacas nos blocos de coroamento:
224
UNIDADE 6
a) 2 estacas b) 3 estacas
c) 3 estacas
s s/2 s/2
s s
+
1
3 h
s/2 s/2 +
h 2
3 h h
s 3
2
d) 4 estacas
d) 4 estacas
s/2
+ +
s/2
s s/2 s/2 s
s/2 s/2
f ) 5 estacas g) 5 estacas
s 2 h
2
s 2
2
h
s 2 s 2
2 2 s/2 s/2
h) 5 estacas
i) 6 estacas
s/2 s/2
s/2
3
5 h +
+ h s/2
2
5 h
s s
s s
Figura 12 - Disposições mais comuns de estacas sob bloco de coroamento / Fonte: Albuquerque e Garcia (2020).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração composta por nove quadros onde cada um mostra o arranjo de estacas, num
posicionamento padronizado, indicando a distância mínima entre os eixos das mesmas. As estacas são representadas por círculos com
linhas perpendiculares que se cruzam na horizontal e vertical, formando a centralização do eixo da seção transversal da estaca. Cada
quadro recebe a indicação, na porção superior, da quantidade de estacas contidas na configuração, e os elementos são dispostos com
cotas laterais, as quais indicam as fórmulas e os cálculos para o distanciamento entre eixos, na horizontal e na vertical.
225
UNICESUMAR
Alonso (2019) indica algumas orientações a os esforços que ele distribuirá. Como se trata
serem seguidas no momento de organizar a de um elemento feito de concreto armado, o
distribuição do estaqueamento: seu dimensionamento estrutural segue a nor-
• Cada pilar deve ter, sempre que possível, ma técnica NBR 6118: Projeto e Estruturas de
o seu estaqueamento independente. Concreto – Procedimento (ABNT, 2014) e a
• Não se deve misturar estacas de dife- sua confecção segue todas as orientações tec-
rentes diâmetros num mesmo bloco de nológicas comuns às peças de concreto armado.
coroamento. O livro de Urbano Rodrigues Alonso, inti-
• A disposição deve ser feita, sempre que tulado Exercícios de Fundação (2019), reco-
possível, para conduzir a um bloco de mendado em unidades anteriores, dedica o seu
coroamento de menos volume. capítulo final ao dimensionamento estrutural
• No caso de ocorrer superposição de es- de blocos sobre estacas, com vários exemplos
taqueamento de dois ou mais pilares, resolvidos para algumas metodologias de cál-
recomenda-se unir os mesmos em um culo. Recomenda-se a sua consulta, a fim de
único bloco de coroamento. complementar o entendimento dos cálculos re-
• Blocos de coroamento com mais de um lacionados ao dimensionamento de fundações
pilar devem ter o centro de gravidade em estacas.
do estaqueamento coincidindo com o O constante estudo das teorias e o acúmulo
centro de carga dos dois pilares. de experiência com diversos tipos de obras é
• A distribuição das estacas deve ser feita, um fator muito importante, dentro da Enge-
sempre que possível, em torno do centro nharia de Fundações, para o desenvolvimento
de carga do pilar. profissional. Estacas têm particularidades de
• O espaçamento (d) entre estacas deve ser concepção e dimensionamento que exigem
respeitado entre aquelas que fazem parte de você, futuro(a) profissional da Engenharia,
do mesmo bloco de coroamento e, tam- constante atualização em relação a normativas
bém, das estacas em blocos próximos. vigentes, tecnologias disponíveis e principais
• Sempre que possível, distribuir as estacas publicações científicas da área.
no sentido de maior dimensão do pilar. Edificações de grande porte, com limitações
• Evitar blocos de coroamento contínuos de terreno e resistência de solo desafiadoras
de grande extensão. colocarão você, futuro(a) engenheiro, diante
• No caso de blocos de coroamento de da opção de fundações em estacas. Será preciso
duas estacas para dois pilares, evitar a estar bem embasado(a) nas principais ferra-
posição das estacas embaixo dos pilares. mentas metodológicas de cálculo bem como
nos principais critérios de segurança para este
Após a determinação da quantidade de esta- tipo de fundação. É necessário conhecer os
cas, da configuração geométrica e da posição métodos que estimam e verificam a Capacida-
delas sob o bloco de coroamento (elemento de de de Carga das estacas, pois, na maioria das
transição), é importante o correto dimensiona- vezes, para projetar bem, deve-se empregar
mento estrutural desse bloco, de acordo com mais de uma.
226
Ferramentas digitais, tais como softwares e planilhas de cálculo, podem auxiliar por meio da acelera-
ção das verificações em projeto, porém elas necessitam da análise do(a) profissional de Engenharia.
Deve-se conhecer os métodos por trás da “máquina”, a fim de conseguir combiná-los e realizar as
melhores estimativas de resistência à fundação em estacas.
Não existe uma metodologia de projeto de fundações em estaca que seja comum no mundo todo,
cada país explora as particularidades de seus solos típicos e a disponibilidade de insumos (materiais,
equipamentos e mão de obra), criando, por meio de instituições, diretrizes nacionais, como a Asso-
ciação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a Associação Brasileira de Empresas de Engenharia de
Fundações e Geotecnia (ABEF) e a Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Geotecnia (ABMS).
É fundamental saber que tipo de métodos de cálculo tem a aplicação correta à situação de pro-
jeto que nos encontramos, mas sempre usando o discernimento profissional para estabelecer
correlações entre a teoria e a prática.
No dia a dia profissional da Engenharia de Fundações, é muito importante conhecer mais de um
método de cálculo da Capacidade de Carga dos elementos de fundações para, assim, desenvolver o
projeto de estacas. Porém, cada método de cálculo tem as suas particularidades e informações de
base que precisam ser, rapidamente, acessadas e calculadas, como num roteiro.
Aprendemos dois métodos semiempíricos de utilização mais frequente na Engenharia brasileira:
o Método Aoki-Velloso e o Método Décourt-Quaresma. Agora, organizaremos as principais ideias
de cada método. A seguir, estão embaralhados vários termos, parâmetros e equações de cálculo
que vimos nesta unidade. Você analisará cada uma dessas ideias e anotará no espaço adequado
do fluxograma indicado para cada método. Caso perceba que estão faltando termos ou informa-
ções que fazem parte das seções presentes no fluxograma, pesquise-os no material de estudo e
complete com a informação adequada.
Comprimento da
Coeficientes K e a rP =
qc
rL
a K N SPT
estaca F1 F2
K N SPT N
Ensaio SPT Fator de Atrito ( b ) rP rL 10 SPT 1
F1 3
Fator de Reação de
Ponta ( a )
Fatores de Carga F1 e F2
rP C N SPT RL U rL L
227
MÉTODOS MÉTODO
AOKI-VELLOSO DÉCOURT-QUARESMA
RESISTÊNCIA RESISTÊNCIA
228
1. Para o perfil de sondagem apresentado, a seguir, calcule, pelos Métodos Aoki-Velloso
e Décourt-Quaresma, a Resistência Lateral de uma estaca Strauss com 0,30 m de diâ-
metro e 9,0 m de comprimento, arrasada na cota 0 m.
7
Argila siltonsa, pouco
8 arenosa mole a média,
marrom
8
9 -5,3 m
10
14
-9,7 m
13
N.A.
22 -11,1 m
18
25
Argila arenosa, rija,
27 vermelha e branca
23
16
17
Fonte: Albuquerque e Garcia (2020).
Descrição da Imagem: quadro, em preto em branco, do perfil do solo de um terreno avaliado pela sondagem SPT. No
nível mais profundo, temos argila arenosa, rija, vermelha e branca; mais acima, areia siltosa, de fofa a pouco compacta,
marrom avermelhada; próximo ao nível do terreno, temos a argila siltosa, pouco arenosa, de mole a média, marrom.
Em relação aos valores corretos para a Resistência Lateral da estaca, segundo os mé-
todos de cálculo indicados, assinale a alternativa correta:
a) Aoki-Velloso RL=45,32kN; Décourt-Quaresma RL=83,84kN.
b) Aoki-Velloso RL=229kN; Décourt-Quaresma RL=314kN.
c) Aoki-Velloso RL=163,02kN; Décourt-Quaresma RL=223,69kN.
d) Aoki-Velloso RL=314kN; Décourt-Quaresma RL=229kN.
e) Aoki-Velloso RL=223,69kN; Décourt-Quaresma RL=173,94kN.
229
2. Executou-se uma obra de fundações constituídas por estacas pré-moldadas de con-
creto, maciças, com 281 mm de diâmetro e comprimento médio de cravação de 9 m,
em terreno de argila siltosa. Na Estaca 07, foi registrado o gráfico de repique por leitor
digital, conforme a figura, a seguir:
Descrição da Imagem: há um gráfico de repique de estaca apresentando o perfil dos repiques por meio das oscilações
gráficas, até atingir um pico máximo de medida. Esta variação corresponde ao número de golpes (eixo x) e à função da
profundidade (eixo y). Na imagem, esses máximos ficam identificados com o valor da profundidade.
230
3. Para construção de um edifício de dez andares, projetou-se a estrutura de forma que a
carga média de seus pilares possua valores próximos de 3700 kN. Após investigações
geotécnicas e estimativas da Capacidade de Carga para estacas Franki com compri-
mento de 12 m e diâmetro de 350 mm, estimou-se uma Carga Admissível, para cada
estaca, no valor de 750 kN. Em relação à quantidade mínima de estacas para resistir
ao esforço de cada pilar da construção, assinale a alternativa correta:
a) Três estacas.
b) Quatro estacas.
c) Cinco estacas.
d) Seis estacas.
e) Sete estacas.
231
232
7
Fundações Diretas
Profundas
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos
234
UNIDADE 7
Figura 1 - Protótipo de leito do rio com bacia ou aquário, areia e água / Fonte: a autora.
Descrição da Imagem: a figura mostra uma ilustração, em vista lateral, que apresenta
um recipiente retangular onde, em seu interior, na parte inferior, existe uma faixa
horizontal estreita, na cor marrom, indicada pela palavra “areia”. Há, em cima da faixa
composta por areia, outra faixa, também, na horizontal, só que mais larga e pintada
de azul, indicada pela palavra “água”.
235
UNICESUMAR
Figura 2 - Protótipo de sistema de escavação em leito de rio / Fonte: a autora.
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração, em vista lateral, que mostra
um recipiente retangular com uma faixa horizontal estreita, em seu interior, localizada
na parte inferior, pintada de marrom e indicada pela palavra “areia”. Em cima dessa
faixa, há outra, também, horizontal, mais larga e pintada de azul, indicada pela palavra
“água”. No centro das faixas, está um retângulo vertical amarelo apoiado no início da
faixa de areia, indicado pela palavra “garrafa”. No topo do retângulo, está um objeto
vermelho, no formato de uma seringa larga, cuja agulha espeta esse topo. Tal objeto
é identificado pela palavra “bomba”.
236
UNIDADE 7
DIÁRIO DE BORDO
237
UNICESUMAR
Antes de entender como funcionam as fundações diretas profundas, relembraremos o conceito por
trás dos termos “diretas” e “profundas”. Quando uma fundação é classificada como direta, significa que a
forma com que ela transmite a carga da estrutura para o solo é, majoritariamente, por meio das tensões
(pressões) em sua ponta (base). Já a classificação de uma fundação como profunda indica que a sua ponta
ou base estará “apoiada em uma profundidade superior a oito vezes a sua menor dimensão em planta e
no mínimo 3,0 m” (ABNT, 2019a, p. 5). Os tubulões são os elementos representativos, ao mesmo tempo,
destas duas classes, sendo definidos como:
“
elementos estruturais de fundação profunda construídos concretando-se um poço (re-
vestido ou não) aberto no terreno, geralmente dotado de uma base alargada [...]. Diferen-
ciam-se das estacas, porque, pelo menos na sua etapa final, há descida de operário para
alargamento da base ou limpeza do fundo quando não há base (MAIA et al., 2019, p. 404).
A figura, a seguir, apresenta uma comparação entre os tipos representativos das classes de fundações que
vimos, até agora, e o tubulão. Podemos ver os três tipos, em vista lateral, inseridos no maciço de solo. Neles,
identificamos a sua menor dimensão de ponta ou base (B) e a cota de assentamento da fundação (Zf).
Figura 3 - Diferença entre tipos de fundações do tipo sapata, estacas e tubulão / Fonte: a autora.
Descrição da Imagem:a figura apresenta uma ilustração, em vista lateral, dividida em três partes. A parte à esquerda indica uma fun-
dação direta rasa do tipo sapata inserida em camada superficial do terreno, a qual é identificada pela palavra “solo 1” com indicação,
por meio da letra “B”, de suas dimensões de largura da base e indicação, por meio das letras “Zf “, da profundidade de assentamento.
A parte ao centro indica uma fundação indireta profunda do tipo bloco sobre estacas, inserida em duas camadas de terreno identifi-
cadas pela palavra “solo 1” e a ponta das estacas apoiadas na camada, a qual é identificada pela palavra “solo 2”. Estão indicadas, por
meio da letra “B”, as dimensões da base da estaca, e por meio das letras “Zf “, está indicada a profundidade de assentamento. A parte
à direita mostra uma fundação direta profunda do tipo tubulão inserida em duas camadas de terreno, as quais são identificadas pela
palavra “solo 1” e a base do tubulão apoiado na camada é identificada pela palavra “solo 2”. Estão indicadas, por meio da letra “B”, as
dimensões da largura da base, e por meio das letras “Zf”, é indicada a profundidade de assentamento.
238
UNIDADE 7
Tubulões são, em geral, empregados nos casos cujas camadas de solo próximas à superfície do terreno
apresentam baixa capacidade de carga (baixa resistência) e/ou elevada compressibilidade (solos com-
pressíveis), o que torna incompatível o emprego de fundações rasas, como sapatas (ALBUQUERQUE;
GARCIA, 2020). Diferentemente das estacas, que, por meio de um conjunto (estaqueamento), fazem
a distribuição da carga de cada pilar nas camadas profundas do terreno, o tubulão transfere essa carga
por um único elemento.
(BERBERIAN, 2010).
Figura 4 - Geometria esquemática de um tubulão típico
A figura, ao lado, apresenta Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
239
UNICESUMAR
240
UNIDADE 7
Figura 5 - Tubulão a céu aberto pelo Sistema Chicago / Fonte: a autora.
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em três partes. A ilustração mostra, em vista de corte, a execução do
tubulão pelo Sistema Chicago, em duas camadas de solo. A primeira camada superficial é nomeada “solo instável” e a segunda camada,
mais profunda, é nomeada “solo resistente”. A parte da esquerda mostra um retângulo vazio inserido no topo da camada de solo super-
ficial. O título dessa parte é “escavação de profundidade até 2,0 m com pás”, e há uma flecha saindo desse retângulo e apontando para
alguns montes de terra, identificados pelo nome “solo retirado”. A parte central da ilustração mostra o retângulo anterior preenchido
por placas verticais de madeira e um novo retângulo, embaixo dele, indicando montes de terra na superfície do terreno, os quais são
identificados pelo nome “solo retirado”. O título dessa parte central indica duas fases de trabalho: o escoramento da profundidade
escavada com madeira e anéis de aço e a escavação da próxima profundidade. A parte da direita da ilustração, cujo título é “tubulão
finalizado e concretado pelo Sistema Chicago” mostra segmentos de retângulos com textura de madeira, alinhados dentro da camada do
solo, a qual é identificada pelo nome “solo instável”, além de mostrar, também, uma base trapezoidal sobre a camada de solo resistente.
241
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em três partes que mostra, em vista de corte, a execução do tubu-
lão, pelo Sistema Gow, em duas camadas de solo. A primeira camada superficial é nomeada “solo instável” e a segunda, abaixo dela,
mais profunda, é nomeada “solo resistente”. A parte da esquerda, com o título “cravação do revestimento por percussão”, mostra o
retângulo, cuja largura é identificada como “D1”, inserido no topo da camada de solo superficial. A parte central da ilustração, mostra
um novo retângulo, embaixo do anterior, cuja largura é identificada como “D2”. Flechas saem desse retângulo e indicam montes de
terra na superfície do terreno, montes esses identificados como “solo retirado”. Ainda, nessa parte central, o título indica duas fases
de trabalho: escavação do interior do revestimento usando pás ou picaretas” e “cravação do próximo revestimento”. A parte da direita,
cujo título é “tubulão finalizado pelo Sistema Gow” mostra segmentos de retângulos com textura de concreto, alinhados dentro da
camada de solo instável. Os diâmetros desses segmentos diminuem conforme a profundidade e, há, também, uma base trapezoidal
sobre a camada de solo resistente.
242
UNIDADE 7
“
Só se admitem trabalhos sob pressões superio-
res a 0,15 MPa quando as seguintes providên-
cias forem tomadas:
a) equipe permanente de socorro médico à
disposição na obra;
b) câmara de descompressão equipada dispo-
nível na obra;
c) compressores e reservatórios de ar compri-
mido de reserva;
d) renovação de ar garantida, sendo o ar injeta-
do em condições satisfatórias para o trabalho
humano.
243
UNICESUMAR
Cachimbo de ferragem
Porta de entrada
Manômetro Reservatório de ar
comprimido
Entrada de ar “pulmão”
comprimido Compressor
Cachimbo de terra (no mínimo 2)
Manômetro
Entrada
de concreto
Anel d ≥ 70cm
N.A.
20cm Tubulão
Câmara de água
“Faca” trabalho
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração, em vista lateral, mostrando a instalação de uma campânula para a execução
de trabalhos de escavação de tubulão, em solo abaixo do nível de água. A campânula é ligada a um sistema de entrada de ar comprimido
com compressor e reservatório de ar comprimido.
A pressão no interior da câmara de trabalho deve ser suficiente para haver equilíbrio com o peso
da coluna d’água presente no terreno (Nível d’Água = N.A.) e impedir a sua entrada na região de
escavação (ALBUQUERQUE; GARCIA, 2020).
244
UNIDADE 7
Lembrando que a pressão de ar comprimido no interior da câmara de trabalho não pode exceder os
limites aceitáveis ao trabalho humano previstos na NR-15, em seu Anexo VI: Trabalho sob Condições
Hiperbáricas (BRASIL, 2011b, on-line, grifos do autor), que estabelece:
“
1.3.3 Durante o transcorrer dos trabalhos sob ar comprimido, nenhuma pessoa poderá
ser exposta à pressão superior a 3,4 kgf/cm2, exceto em caso de emergência ou durante
tratamento em câmara de recompressão, sob supervisão direta do médico responsável.
1.3.4 A duração do período de trabalho sob ar comprimido não poderá ser superior a
8 (oito) horas, em pressões de trabalho de 0 a 1,0 kgf/cm2; a 6 (seis) horas em pressões
de trabalho de 1,1 a 2,5 kgf/cm2; e a 4 (quatro) horas, em pressão de trabalho de 2,6 a
3,4 kgf/cm2.
1.3.5 Após a descompressão, os trabalhadores serão obrigados a permanecer, no mínimo,
por 2 (duas) horas, no canteiro de obra, cumprindo um período de observação médica.
A escolha da profundidade de apoio do tubulão é vital para o bom desempenho deste tipo de fundação,
por isso, alguns autores, como o engenheiro Dickran Berberian (2010), elencam considerações básicas
que podem guiar a adoção da profundidade adequada de assentamento:
• Em terrenos com Índice de Resistência do SPT acima de 20 golpes: para evitar problemas de
recalques a médio prazo, são indicados solos com NSPT > 25 golpes. Em caso de solos arenosos,
desde que seja comprovada, experimentalmente, pode-se apoiar tubulões em camadas com
NSPT ≥ 15 golpes.
• Em solos coesivos: no caso dos solos granulares puros, recomenda-se o revestimento do fuste
(anéis de concreto ou camisas de aço) e/ou utilizar a execução em ar comprimido. Já os solos
granulares com alguma coesão podem apresentar estabilidade e segurança, então, recomenda-se
executar um tubulão experimental (teste) para a comprovação das condições do terreno.
Além dessas indicações dadas por Berberian (2010), o valor da Capacidade de Carga do Solo de Apoio
também desempenha um papel importante na determinação da profundidade do tubulão.
245
UNICESUMAR
Assim como vimos, na terceira unidade, para o caso das fundações diretas rasas, no caso das fundações
diretas profundas, temos a Capacidade de Carga do Solo (σr), também chamada de Tensão de Ruptura
do Solo (σrup), a qual corresponde ao valor de tensão que o tubulão aplica sobre o solo de apoio, provocando
deslocamentos que comprometem a sua segurança ou o seu desempenho (ABNT, 2019).
A Capacidade de Carga depende das características do maciço de solo, da geometria do tubulão e da
profundidade de assentamento. Pode ser estimada por métodos teóricos e métodos semiempíricos, tais como:
Fórmula Teórica de Meyerhof (1951) para solos arenosos, e de Skempton (1951) para solos argilosos; Fórmula
Semiempírica de Meyerhof (1976), de Alonso (1983), de Décourt (1989; 1991) e de Albiero e Cintra (2016).
Após a estimativa da Capacidade de Carga do Solo, é calculada a Tensão Admissível ( sadm ),
a máxima tensão ou pressão “que, aplicada ao terreno pela fundação rasa ou pela base de tubulão,
atende, com fatores de segurança predeterminados, aos estados limites últimos (ruptura) e de serviço
(recalques, vibrações etc.)” (ABNT, 2019a, p. 8).
Assim como as outras fundações diretas, nos tubulões, a determinação da Tensão Admissível pode ser
feita de três formas:
i. Capacidade de Carga por métodos teóricos combinada ao Fator de Segurança para o projeto:
neste método, a Tensão Admissível ( sadm ) será menor ou igual à razão do valor médio de Tensão
de Ruptura ( srup ) pelo Fator de Segurança Global (FSg) da ordem de 2 a 3. Os métodos teóricos
para estimativa da Capacidade de Carga não funcionam, satisfatoriamente, com os Tubulões, como
no caso das outras fundações, por isso, geralmente, não são empregados no dimensionamento
(CINTRA; AOKI; ALBIERO, 2011).
246
UNIDADE 7
σrup
σadm
FS g
Em que:
σadm = tensã ível da sapata ou tu
ubulão;
σrup = tensão de ruptura da sapata ou tubulão
ou capacidade de carga última da fundação;
FS g = fator de segurança global.
247
UNICESUMAR
248
UNIDADE 7
249
UNICESUMAR
UNIDADES DE
AUTOR (ANO) FÓRMULA DO MÉTODO SEMIEMPÍRICO
MEDIDAS
sadm 33, 33 N SPT
Em que: sadm = kPa
Alonso (1983)
N SPT = valor médio do NSPT no bulbo de tensões (2D) medido a N SPT = golpes
partir da cota de apoio.
sadm 25 N SPT s 'vb
sadm = kPa
Décourt (1989) Em que:
N SPT = valor médio do NSPT no bulbo de tensões (2D) medido N SPT = golpes
sadm = kPa
Décourt (1991) sadm 0, 04 qc s 'vb
qc = kPa
s 'vb = kPa
sadm 20 N SPT s 'vb
Em que: N SPT = valor médio do NSPT na profundidade, uma vez o sadm = kPa
diâmetro da base (1D), a partir da cota de apoio. Berberian (2016)
recomenda limitar o valor para que não exceda 40 golpes; N SPT = golpes
s 'vb = tensão geostática. Berberian (2016) recomenda limitar o
valor a 40 kPa; s 'vb = kPa
sadm = Tensão Admissível. Albuquerque e Garcia (2020) recomen-
dam limitar o valor para que não exceda 600 kPa.
Albiero e Cintra
(1996)
D H
sadm qc
1
40 D sadm = kPa
Em que:
qc = kPa
qc = valor médio do qc na profundidade da ordem de 3 m, a H = metros
partir da cota de apoio da base; D = metros
sadm = Tensão Admissível. Albuquerque e Garcia (2020) recomen-
dam limitar o valor para que não exceda 600 kPa.
Observação:
qc = Resistência de Ponta do Ensaio de Cone (CPT);
s 'vb = tensão vertical efetiva na cota de apoio da base do tubulão;
Tabela 1 - Métodos semiempíricos para estimativa da Capacidade de Carga em tubulões com base nos Ensaios SPT e CPT
Fonte: Albuquerque e Garcia (2020, p. 45).
250
UNIDADE 7
Algumas dessas formulações fazem uso da Tensão Vertical Efetiva do solo na cota de apoio da
base do tubulão, o que um ensaio de campo como o SPT e o CPT não fornece como resultado.
Dessa forma, recomenda-se que, na ausência de ensaios de laboratório que determinem o Peso
Específico ( g ) do solo, utilizem-se tabelas que correlacionem o NSPT com este parâmetro (CIN-
TRA; AOKI; ALBIERO, 2011).
A tabela, a seguir, apresenta as correlações propostas por Godoy (1972):
ÍNDICE DE
RESISTÊNCIA À PESO ESPECÍFICO
SOLOS PENETRAÇÃO ESTADOa
(kN/m³)
NSPT
≤2 Muito Mole 13
3a5 Mole 15
ARGILOSOS 6 a 10 Média(o) 17
11 a 19 Rija(o) 19
> 20 Dura(o) 21
SECO ÚMIDO SATURADO
≤5 Fofa(o)
Pouco 16 18 19
5a8
Compacta(o)
Medianamente
ARENOSOS 9 a 18 17 19 20
Compacta(o)
19 a 40 Compacta(o)
Muito 18 20 21
> 40
compacta(o)
a = As expressões empregadas para a designação da compacidade das areias (fofa, compacta etc.)
são referências à deformabilidade e à resistência desses solos, sob o ponto de vista de fundações,
e não podem ser confundidas com as mesmas denominações empregadas para a designação da
compacidade relativa das areias ou para a situação perante o índice de vazios críticos, definidos na
Mecânica dos Solos.
Tabela 2 - Correlação do Peso Específico dos solos com Índice de Resistência à Penetração NSPT / Fonte: adaptada de Godoy (1972).
251
UNICESUMAR
Figura 9 - Desenho esquemático de tubulão isolado / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
Descrição da Imagem: : a figura apresenta uma ilustração, em corte lateral, de um tubulão inserido em ca-
mada de solo. No topo do tubulão, há a indicação da parte que é destinada ao bloco de coroamento, quando
necessário. Em cima desse topo, há uma flecha vertical, para baixo, indicando a carga P e alinhada com o centro
geométrico da peça. No canto superior direito, é indicada a fórmula que iguala o “CGpilar” ao “CGfuste” e ao
“CGbase”. As partes do tubulão contêm cotas indicando a sua profundidade de apoio por meio da letra “H”, a
sua altura da base por meio das letras “Hb”, o seu diâmetro da base pela letra “D”, o seu diâmetro do fuste por
meio da letra “d”, o ângulo da base pela letra grega alfa e a espessura de 20 cm do rodapé da base.
252
UNIDADE 7
P π d2
A fuste
σconc 4
podemos, a partir desta equação, simplificar o cálculo do diâmetro do fuste (d) por:
4 γf P
d
π σ conc
Em que:
γ f = Coeficiente de Ponderação de Carga definido
pela NBR 6122 com valores a partir de 1,4..
A norma técnica indica que o diâmetro do fuste do tubulão não deve ser menor
do que 70 cm, pois essa é a dimensão mínima, estabelecida em norma, à entrada
de pessoal para alargamento da base. A Tensão Admissível do Concreto é definida
pela relação entre a Resistência Característica do Concreto na Compressão ( f ck ),
o Coeficiente de Ponderação da Resistência do Concreto ( gc ) e uma consideração
sobre as condições precárias de concretagem, durante a execução do tubulão:
0, 85 f ck
σconc
γc
P π D2
Abase
σadm 4
253
UNICESUMAR
podemos, a partir desta equação, simplificar o cálculo do diâmetro de base (D) por:
4 γf P
D
π σ adm
Em que:
γ f = Coeficiente de Ponderação de Carga definido
pela NBR 6122 com valores a partir de 1,4.
tan α σ adm
1
α σt
Em que:
α = ângulo de Incll ção da Base em radianos;
254
UNIDADE 7
TENSÃO DE COMPRESSÃO
ARGAMASSA
MÍNIMO (INCLUINDO
CONCRETO
TRECHO DE LIGAÇÃO COM
O BLOCO)
ARMADURA COMPRIMENTO
Yc % m MPa
f ctk 0, 3 f ck 3
2
5. Altura da base (hB): em condições cujo tubulão possui uma base circular,
podemos calcular a sua altura a partir de uma fórmula que relaciona os diâ-
metros da base e do fuste ao ângulo de inclinação calculado ou estabelecido:
D d
hB tan a
2
a norma técnica de fundações estabelece limites à altura da base dos tubulões, de acor-
do com as condições de segurança para a estabilidade da base, durante a sua abertura:
255
UNICESUMAR
“
Os tubulões devem ser dimensionados de maneira que as ba-
ses não tenham alturas superiores a 1,8 m. Para tubulões a ar
comprimido, as bases podem ter alturas de até 3,0 m, desde que
as condições do maciço permitam ou sejam tomadas medidas
para garantir a estabilidade da base durante a sua abertura
(ABNT, 2019a, p. 29).
256
UNIDADE 7
Figura 10 - Superposição de bases de dois tubulões /Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
Descrição da Imagem: : a figura apresenta uma ilustração, em planta, de dois tubulões. À esquerda, na parte
inferior, está o Tubulão 1. Ele é menor, a sua carga está centralizada e identificada como “P1”, enquanto a sua
cota do diâmetro da base é identificada como “D1”. À direita, na parte superior, está o Tubulão 2. Ele é maior,
a sua carga está centralizada e identificada como “P2”, enquanto a sua cota do diâmetro da base é identificada
como “D2”. Os círculos das bases dos tubulões se interceptam numa região hachurada identificada como
“superposição”.
257
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: : a figura apresenta uma ilustração, em planta, que mostra dois tubulões com formas
de área da base diferentes e distanciadas por uma dimensão cotada, indicada por folga. À direita, o Tubulão 1,
com forma da base circular, indica uma carga centralizada P1 e um raio r1. À direita, o Tubulão 2 com formato
de falsa elipse, na vertical, indica a sua carga centralizada P2, o raio dos semicírculos na parte superior e na
parte inferior da base, em planta, indicado por r2, e a largura de prolongamento retangular vertical é cotada
como L2. Uma cota inferior central indica, por meio da letra “S”, a distância entre os eixos de carga dos tubulões.
r2 S r1 f
Em que:
r2 = raio da base do tubulão modificado em falsa elipse;
S = distância entre os centros de carga dos tubulões;
r = raio da base do tubulão que permanece em círculo;
f = folga entre bases com valor igual ou superior a 10 cm.
258
UNIDADE 7
2
Abase2 π. r2
L2
2 r2
Em que:
L2 = comprimento para foormação de falsa elipse
do tubulão que será modificado;
r2 = raio da falsa elipse do tubulão que será modificado;
Abasee2 = área da base calculada para o tubulão que será modificcado
considerando a carga do pilar (P2 ) deste tubulão e a tensão admissível:
P2
Abase2
σ adm
2. Verificar a condição limitadora para o L2 calculado: L2 3 r2
3. Calcular a altura da base:
tan 60º
hbase2 L2 2 r2 d2
2
Em que:
d2 = diâmetrro do fuste do tubulão que será modificado.
• Solução 2 – Duas falsas elipses: opta-se por redimensionar as duas bases dos
tubulões para o formato de uma falsa elipse, quando a condição de L2 3 r2
não pode ser satisfeita. Sempre mantendo, entre eles, uma folga com valor
maior ou igual a 10 cm.
259
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: : a figura apresenta uma ilustração, em planta, que mostra dois tubulões com formas
da área da base iguais, em falsa elipse alongada na vertical, distanciadas por uma dimensão cotada, a qual
é indicada pela letra “S”. À direita, o Tubulão 1, com formato de falsa elipse na vertical, mostra a sua carga
centralizada P1, o raio dos semicírculos na parte superior e na parte inferior da base, em planta, indicado por
r1, e a largura de prolongamento retangular vertical cotada como L1. À direita, o Tubulão 2 com formato de
falsa elipse, na vertical, mostra a sua carga centralizada P2, o raio dos semicírculos na parte superior e na parte
inferior da base, em planta, é indicado por r2, e a largura de prolongamento retangular vertical é cotada como
L2. Uma cota inferior central indica, por meio da letra “S”, a distância entre os eixos de carga dos tubulões.
r1 r2 S f
Em que:
f = folga entre bases com valor igual ou supperior a 10 cm.
260
UNIDADE 7
• Pilares muito próximos com superposição das bases dos tubulões: situa-
ção cuja área prevista para as bases dos tubulões, se executados, se sobrepõe,
combinada com a proximidade excessiva dos pilares, de forma que seja im-
possível a solução de modificação das bases dos dois tubulões em falsa elipse,
mantendo a folga que deve haver entre ambas. Recomenda-se afastar o CG dos
tubulões e introduzir uma viga de interligação entre eles, mantendo, sempre, a
proporção de um pilar para um tubulão. Não é permitido que se associem tu-
bulões, ou seja, é proibido que um único tubulão receba a carga de dois pilares.
A solução para essa situação de proximidade dos pilares pode ser vista na figura, a seguir:
Tubulão 1
Tubulão 2
Figura 13 - Solução com duas falsas elipses e afastamento dos centros de gravidades para a sobreposição
da base de dois tubulões / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
Descrição da Imagem: : a figura apresenta uma ilustração, em planta, que mostra dois tubulões com forma
da área da base iguais, em falsa elipse alongada, na diagonal, e os pilares de carga próximos entre si, porém
distanciados do centro geométrico dos respectivos tubulões. Na porção superior esquerda, o Tubulão 1, que
é maior, apresenta o seu pilar P1 próximo à faixa de folga entre as bases dos tubulões. Na porção inferior di-
reita, o Tubulão 2, que é menor, apresenta o seu pilar P2 próximo à faixa de folga entre as bases dos tubulões.
Um retângulo alongado e inclinado, perpendicular à inclinação dos tubulões, encontra-se sobre os centros de
gravidade dos mesmos e sob os pilares, sendo, então, a viga de interligação.
261
UNICESUMAR
• Pilares muito próximos de divisas: situação cuja área prevista para a base do
tubulão, se executado, ultrapassa o limite da divisa e invade o terreno adjacente.
Recomenda-se afastar o alargamento da base do tubulão de divisa à forma de
falsa elipse, seguida pela introdução de uma viga alavanca, a qual faça a ligação
com outro tubulão isolado, sendo coincidentes o CG da carga e da base.
Vista em planta
Divisa
Folga (2,5cm)
Tubulão 1
Viga alavanca
Tubulão 2
Elevação
Viga alavanca
Tubulão 1 Tubulão 2
Figura 14 - Solução para o tubulão com pilar de divisa / Fonte: adaptada de Albuquerque e Garcia (2020).
Descrição da Imagem: : a figura apresenta uma ilustração dividida em duas partes, mostrando um tubulão de divisa
e um tubulão centralizado unidos por uma viga alavanca. Na parte superior, temos a vista, em planta, dos tubulões. À
esquerda, estão a divisa do terreno e o Tubulão 1 com forma de área de base, em falsa elipse, com o pilar P1 posicio-
nado à distância “e” do centro geométrico do fuste. À direita da vista em planta, está o Tubulão 2, com área da base
em círculo e pilar P2 centralizado com o centro geométrico do fuste. Entre ambos, há um prolongamento indicado
por uma viga alavanca, a qual interliga o pilar P1 ao pilar P2. Na parte inferior, temos a vista, em elevação, desses
tubulões, mostrando, à esquerda, a carga P1 no pilar do Tubulão 1, cuja divisa está à distância “e” da reação R1 do
mesmo tubulão. À direita, está a carga P2 no pilar do Tubulão 2, no mesmo alinhamento da reação R2 desse tubulão.
262
UNIDADE 7
Descrição da Imagem: : a figura apresenta uma ilustração, em linhas, mostrando o posicionamento das cargas
na viga alavanca em relação a três pontos. Na ponta da esquerda da linha que indica a viga, temos o ponto A
recebendo a carga P1 como seta vertical para baixo. À distância “e” para a esquerda, em relação ao ponto A,
temos o ponto B com a reação R1 como seta vertical para cima. Na ponta da direita da linha que indica a viga,
temos o ponto C recebendo a carga P2 como seta vertical para baixo e a reação R2 como seta vertical para
cima. É indicado, no centro, a distância entre as pontas A e C, pela cota Ls.
P1 P2 R1 R2
Para definir a área da base do tubulão de divisa, é preciso conhecer a carga no apoio
deste (R1), a qual, por sua vez, depende da excentricidade (e) relacionada ao raio da
área da base. Este é um problema típico de fundações o qual se recomenda a solução
por tentativas.
263
UNICESUMAR
264
UNIDADE 7
para os casos de tubulões em falsa elipse, o cálculo do volume será o mesmo, dife-
renciando-se, apenas, na definição do Volume 2 e do Volume 3, pois a base será um
pseudotronco de cone, tal qual nas equações, a seguir:
V2 Vtc Vα Vβ
e também
2
V3 VrB π rB 2 rB L 0, 20 metros
Em que:
2
π htc 2 d d
Vα rBB r
3 2 2
L htc d
Vβ rB
2 2
265
UNICESUMAR
Quando lidamos com obras de grande porte, tais como: edifícios altos, pontes, viadutos
e outras obras de arte da construção, as condições de resistência dos solos, nos terrenos
de implantação, impõem limites que nem permitem o uso de fundações superficiais,
nem de trabalhos de execução de fundações em estacas. São nestes casos que mais se
aplicam as soluções por tubulões e, também, são os que mais necessitam da atenção
detalhada do(a) profissional a todos os aspectos que fazem parte do projeto, pois
ele(a) lidará com a distribuição de cargas elevadas em solos de vastas profundidades.
Conhecer os métodos de dimensionamento desse tipo de fundação e, principal-
mente, as exigências, em termos de segurança do trabalho desenvolvido, quando
é necessário, durante as escavações, o uso de ar comprimido, leva profissionais de
Engenharia a se especializarem em obras de grande porte.
Estamos falando, aqui, sobre construções de amplas proporções que não modifi-
cam, apenas, a paisagem natural, como também alteram a vida de milhares de pessoas
que farão uso de pontes e viadutos ou que vivem em grandes edifícios.
Passamos por uma quantidade bem grande de tipos de fundações, parâmetros de
projeto, métodos de dimensionamento e classificação dos elementos. Agora, realiza-
remos uma atividade de Arquivologia Mental.
A seguir, estão embaralhados vários termos, palavras e formulações que vimos
nesta unidade. Você analisará cada um deles e anotará os seus respectivos símbolos/
nomes/palavras no espaço adequado do organograma de fundações em tubulões.
Caso perceba que estão faltando termos ou informações que fazem parte das
seções presentes no organograma, pesquise-os no material de estudo e complete
com a informação.
H hB sadm sconc st
f ck f ctk a 60º
hB Vtc VrB Vf
ALBIERO E CINTRA
ALONSO (1983) DÉCOURT (1989) DÉCOURT (1991)
(1996)
COM REVESTIMENTO SEM REVESTIMENTO NR-15 – ANEXO VI 3,4 kgf/cm² ou 48,36 Psi
d D 20 cm Rodapé
GOW CHICAGO PNEUMÁTICO MANÔMETRO
ABAIXO DO NÍVEL ACIMA DO NÍVEL Par g água hágua
TRONCO DE CONE
D’ÁGUA D’ÁGUA
266
TUBULÕES
MÉTODOS DEMIEMPÍRICOS
DIMENSIONAMENTO
FUSTE BASE
267
1. Para melhor entendimento das características dos tipos de fundações, a NBR 6122:
Projeto e Execução de Fundações (ABNT, 2019a), estabelece a sua classificação em dois
grandes grupos, os quais são as fundações superficiais (rasas ou diretas) e as funda-
ções profundas, porém a fundação do tipo tubulão tem características semelhantes
aos dois grupos.
2. Um tubulão foi dimensionado com uma base de diâmetro (D) igual a 2,10 m; profun-
didade de assentamento (H) de 12 m; diâmetro do fuste (d) igual a 0,70 m e altura de
base (hB) de 1,15 m. O volume total de concreto necessário para preencher todo o poço
escavado deste tubulão é de, aproximadamente:
a) 16,90 metros cúbicos de concreto.
b) 6,70 metros cúbicos de concreto.
c) 6,45 metros cúbicos de concreto.
d) 14,60 metros cúbicos de concreto.
e) 20,15 metros cúbicos de concreto.
3. Foi pré-dimensionado um tubulão com uma base de diâmetro (D) igual a 1,50 m; fuste
de diâmetro (d) igual a 0,70 m; altura da base (hB) de 90 cm e comprimento total de 13 m.
268
Fonte: adaptada de Albuquerque, Garcia (2020).
Descrição da Imagem: : a figura apresenta a ilustração de um relatório de sondagem SPT de um solo dividido em duas
camadas horizontais. À direita, há uma régua com porções metro a metro, cuja indicação dos valores dos ensaios, ao longo
da profundidade, varia de 2 até 50. Ao lado da régua dos valores de SPT, temos a indicação do Nível de Água por N.A. a
menos 3,6 metros de profundidade, o limite de divisão entre as camadas horizontais de solo está a menos 6,7 metros de
profundidade, e a cota de apoio da base do tubulão encontra-se a menos 13 metros de profundidade. No centro, está o
desenho, em vista lateral, da forma do tubulão com a sua base apoiada na cota indicada. A camada de solo superior que
faz limite com a superfície do terreno é indicada como argila siltosa, muito mole a mole, vermelha, com peso específico
de 14 quilonewtons por metro cúbico acima do nível de água e 18,5 quilonewtons por metro cúbico abaixo do nível de
água. A camada de solo inferior, onde se encontra apoiada a base do tubulão, é indicada como areia, medianamente,
compacta a muito compacta, bege, com peso específico de 19 quilonewtons por metro cúbico.
269
Sabendo que esse tubulão será confeccionado com concreto de classe C25 (fck = 25
MPa) e que a carga centrada para a qual ele serve de fundação é igual a 2000 kN, com
Fator de Segurança igual a 3, responda:
Qual a Tensão Admissível Média, pelos métodos semiempíricos, para o solo na cota
de apoio do tubulão?
Caso a sapata não passe no critério de segurança ( saplicada ≤ sadm ), redimensione-a
para garantir a segurança.
270
271
272
8
Obras de Terra I
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos
Olá, estudante! A nossa jornada, até aqui, tem sido bastante in-
tensa, aprendendo, duplamente, sobre estruturas e como elas se
relacionam com o solo. Agora, estamos chegando ao final de nossa
jornada, desvendando estruturas de grande porte que integram as
mais belas paisagens da criação humana. Nesta unidade do livro,
você iniciará os seus estudos dentro das Obras de Terra. Começa-
remos entendendo os taludes e todos os conceitos relacionados às
suas classificação, geometria e avaliação de estabilidade. Depois,
passaremos a compreender eventos que ocorrem com essas es-
truturas, os movimentos de massa, assim como os seus fatores e
as causas de instabilidade deles nos taludes.
UNICESUMAR
Imagine que você liga a televisão para assistir a um programa qualquer e se depara com um plantão
surpresa e urgente no noticiário: “Catástrofe das chuvas: soterrados pelos deslizamentos de terra,
mais de 90 pessoas seguem desaparecidas”. Enchentes e deslizamentos de terra são recorrentes nas
regiões de serra do Brasil, onde ocorrem deslizamentos em morros e encostas. Isso acontece, principal-
mente, nas estações do ano em que há mais chuva. Com base em seus conhecimentos, qual a principal
causa destes acidentes? É possível prevenir catástrofes como esta relatada na notícia?
A notícia apresentada é bastante chocante, não é? Infelizmente, esse não é o título de uma notícia
fictícia, nem uma chamada exagerada para chamar a atenção. Ele foi repetido em inúmeros noticiários
(televisivos e impressos) que registraram a maior tragédia climática brasileira da última década. O
caso ocorreu na região serrana do estado do Rio de Janeiro em 2011, quando tempestades fortíssimas
atingiram, pelo menos, sete cidades que se localizam próximas ou sobre os morros da costa fluminen-
se. Este é um problema recorrente nesta região, como mostraram diversas imagens na mídia, a quais
registraram os desmoronamentos.
Com a águas das chuvas penetrando no solo, é natural que terrenos se tornem mais instáveis, visto
que uma camada tende a se tornar lama e as outras camadas tendem a “amolecer”. Quando temos um
terreno inclinado, como no caso das serras e dos morros, o maciço de solo se movimenta, em descida,
pela encosta, um fenômeno que ocasiona amplos deslizamentos de terras, a exemplo dos ocorridos na
região serrana do Rio de Janeiro. Quando existem estradas, cidades, bairros ou moradias no caminho
do deslizamento, temos os elementos necessários para um grave desastre em direção à vida humana.
Mas como evitar que isso ocorra?
Sabemos que não existem formas de impedir intempéries climáticas, como chuvas e ventos, elas
fazem parte da manutenção da vida e do ambiente onde vivemos. Não construir cidades ou moradias
próximas de morros numa região cujo relevo é, essencialmente, composto por montanhas e encostas,
não é possível, na maioria das vezes, não temos a opção de escolher um terreno plano e regular. Mas
isso não quer dizer que o desafio está perdido, os conhecimentos que fazem parte da Engenharia Civil
permitem a construção de obras seguras em, praticamente, toda superfície terrestre, basta reunir o
conhecimento a respeito dos solos, aprendido na Mecânica dos Solos, aliado ao conhecimento sobre
as águas na natureza, aprendidos na Hidrologia e nos Fenômenos de Transporte, e aplicar no projeto
de obras que lidem, diretamente, com estes materiais em interação, as chamadas Obras de Terra.
Vamos entender como os deslizamentos de terra da região serrana do Rio de Janeiro ocorreram em 2011?
Para esta experimentação, você deverá fazer uma pesquisa direcionada em publicações a respeito
de deslizamentos de encostas. Tais publicações são de instituições que lidam com este problema nos
territórios de suas cidades, de seus estados ou países. Essa pesquisa direcionada não, necessariamente,
consiste na leitura completa destes textos, porém na busca direta pelos capítulos ou partes do texto
que tratam, especificamente, do nosso tema: causas dos deslizamentos em encostas.
Como são documentos em formato virtual, você pode, até mesmo, usar a ferramenta de busca
direta para procurar as palavras e os termos associados ao foco da pesquisa e, assim, encontrar, mais
rapidamente, os pontos. Porém, caso queira fazer a leitura completa de alguns desses materiais, sinta-se
à vontade, conhecimento nunca é demais!
274
UNIDADE 8
275
UNICESUMAR
Após realizar a pesquisa direcionada, faça uma lista dos fatores que influenciam a situação de risco
das cidades construídas em regiões de morro e encostas, como da região serrana do Rio de Janeiro.
Para cada um desses fatores, busque, por meio de pesquisas, as soluções de Engenharia que podem
ser aplicadas para mitigar ou evitar as situações catastróficas como as ocorridas, em 2011, nas cidades
fluminenses. Também pesquise como os terrenos próximos a morros e encostas são ocupados nessas
cidades, que tipo de edificações são construídas nestas áreas.
Com as informações de perfil do relevo de regiões de morro ou encostas e das formas de ocu-
pação de terreno que ocorrem nas cidades, faça um esboço representativo, em duas dimensões,
desse sistema, o qual tenha: o morro; a vegetação; as edificações e o fluxo de água da chuva com
representação, por meio de flechas, da sua direção. Acrescente ao seu esboço as soluções ou os
elementos da Engenharia pesquisados que podem ser aplicados para garantir a segurança das
obras próximas ou sobre os morro e encostas.
Use o espaço do Diário de Bordo, a seguir, para fazer o esboço representativo do perfil de morro ou
encosta ocupada por obras e, também, as soluções de Engenharia que você pesquisou. Também faça a
anotação da lista dos fatores que influenciam a situação de risco das cidades construídas em regiões de
morro e encostas, como a região serrana do Rio de Janeiro, e das respectivas soluções de Engenharia
pesquisadas que podem mitigar ou evitar as situações, aqui, já citadas, ocorridas em 2011.
DIÁRIO DE BORDO
276
UNIDADE 8
“
Talude é a denominação que se dá a qualquer superfície inclinada
de um maciço de solo ou rocha. Ele pode ser natural, também de-
nominado encosta, ou construído pelo homem, como, por exemplo,
os aterros e cortes (GERSCOVICH, 2016, p. 11).
Descrição da Imagem: a figura apresenta a ilustração de um terreno, em corte lateral, mostrando, à esquerda,
um nível horizontal baixo com uma inclinação para cima que leva a um nível horizontal alto. Uma seta com o
texto “pé” indica o nível baixo da inclinação, e uma seta com o texto “face do talude” indica uma linha de incli-
nação. O nível alto da inclinação é indicado por uma seta com o texto “crista ou topo”. No interior do perfil do
terreno, na porção inferior, há a representação do ângulo com a horizontal da face do talude, representação
a qual é indicada por uma seta com o texto “inclinação”. Uma linha pontilhada, em semicírculo, liga o pé do
talude ao topo, formando um corte circular no interior do perfil do terreno, corte este que é indicado por uma
seta com o texto “superfície de ruptura”.
277
UNICESUMAR
Resumindo, um talude é uma inclinação no solo que promove a estabilidade de um maciço terroso. Sempre
haverá similaridades no formato que fazem esta estrutura ser, facilmente, identificável, independentemente
de seu perfil, composição ou processo de formação.
Segundo Caputo (1988), as partes que compõem um talude podem ser dividas, de forma simplificada,
em: (I) crista ou topo (parte mais alta de um talude); (II) face do talude (superfície inclinada do maciço que
fica exposta ao ambiente, podendo ter, ou não, cobertura vegetal); (III) pé (parte mais baixa de um talude);
(IV) inclinação (ângulo formado pela reta que passa pelo pé do talude com a horizontal); (V) superfície
de ruptura (plano potencial ou estimado para a situação em que o talude perde as suas características
originais, seja pela falta de estabilidade, seja pela ocorrência de deslocamentos exagerados).
Podemos visualizar o talude, de forma simplificada, como um tipo de “degrau” de material granular
com grandes dimensões que compõem uma paisagem ou um terreno. Ele pode ter sido formado por ações
naturais, recebendo o nome de talude natural ou encosta, ou por ações humanas, como atividades de corte
e/ou aterro, recebendo o nome de talude artificial ou barragem (ABNT, 2009).
A figura, a seguir, ilustra a diferença entre as superfícies dos dois tipos de taludes. No caso do talude
natural, temos uma linha (representando o plano de superfície) bastante irregular e acidentado, indicando
o trabalho de deposição ou de fragmentação do solo ao longo de anos, enquanto que, no talude artificial,
temos uma linha regular ou reta que indica o trabalho humano de construção dessa estrutura:
Figura 2 - Diferença esquemática de superfície entre o talude natural e o artificial / Fonte: a autora.
Descrição da Imagem: a figura apresenta a ilustração do perfil de um terreno. Da esquerda para a direita, há um nível mais alto com árvores
sobre uma linha torta e disforme, indicado por uma seta com o texto “talude natural” e, embaixo dessa linha, está escrito “maciço terroso”.
No centro, a linha torta torna-se um trecho inclinado reto, indicado pelo texto “talude de corte”, seguindo para a direita, ele torna-se uma
linha horizontal reta, a qual contém, sobre ela, uma casa, embaixo dessa casa, está o texto “maciço terroso”. À direita, a linha horizontal reta
divide-se em duas: uma linha torta, indicada pelo texto “maciço terroso”, limitando a área e, na parte de cima, essa linha continua reta, em
horizontal, até onde está estacionado um caminhão e, embaixo dele, está escrito “aterro”. A linha horizontal reta torna-se inclinada, indicada
pelo texto “talude de aterro”. No topo, do lado direito, o texto “taludes artificiais” liga os textos “talude de corte” e “talude de aterro”.
278
UNIDADE 8
Figura 3 - Maciço da Tijuca, no Rio de Janeiro, como exemplo de talude natural / Fonte: Shutterstock.
Descrição da Imagem: a figura apresenta a fotografia de uma paisagem de montanhas formadas por pedra cinzenta e cobertas com
vegetação verde. Em primeiro plano, na parte esquerda, é possível ver uma encosta de pedra com vegetação cobrindo o seu topo. Em
segundo plano, na parte direita, há uma montanha em posição mais distante, com o seu topo e laterais cobertos por vegetação. O
terreno segue ondulado e coberto por vegetação até a linha do horizonte montanhoso. Na parte de cima, vê-se o céu azul, no centro,
a linha do horizonte torta acompanha o formato das montanhas verdes, cobertas com vegetação, localizadas em frente a uma faixa
de nuvens brancas.
279
UNICESUMAR
(A)
280
UNIDADE 8
Figura 5 - Exemplos de movimentos de massa com superfície de ruptura / Fonte: adaptada de Gerscovich (2016).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em duas partes, a qual mostra dois perfis de terreno inclinados da
direita superior para a esquerda inferior. O perfil da esquerda mostra um terreno em suave linha curva descendente, com árvores
verticais ao longo de seu comprimento e o texto indicativo “solo”. Embaixo e dentro do perfil do terreno, há uma linha pontilhada, em
semicírculo, no formato de cunha, limitando uma área, a qual contém uma flecha inclinada para a parte inferior esquerda. Mais embaixo
e dentro do perfil, vê-se outra linha de curvas mais acentuadas limitando uma porção que contém formas geométricas arredondadas, a
qual é indicada pelo texto “rocha”. No perfil da direita, é possível ver duas porções de solo: uma mais clara, em formato de cunha, com
o topo coberto por árvores inclinadas à esquerda, e outra porção mais escura, com o mesmo formato da linha de curvas acentuadas
da rocha. Essa porção é identificada pelo texto “superfície de ruptura”, o qual está próximo da junção dos solos.
281
UNICESUMAR
Existem alguns fatores ligados à formação dos pois qualquer alteração da curvatura do talude
próprios maciços que podem ser as causas para bem como as solicitações dinâmicas (sismos ou
os movimentos de massa: a predisposição do ter- vibrações) têm papel considerável na sua instabi-
reno em se modificar, ao longo dos anos, como lidade (GUIDICINE; NIEBLE, 1984).
consequência de fraturas, fendas e de outras falhas Para organizar as possíveis causas dos movi-
formadas durante a sua origem. mentos de massa, Terzaghi (1952) propõe a divi-
“
são, em três grupos, das ações que promovem a
As causas dos escorregamen- instabilidade de encostas:
tos são “naturais”, pois há • Causas internas: fatores que diminuem
uma tendência da natureza a resistência ao cisalhamento do solo, tais
à peneplanização, no senti- como o aumento da pressão de água in-
do amplo da palavra: os solos tersticial e a redução de coesão dos grãos
das encostas tendem a descer desencadeada por tremores (abalos sísmi-
para atingir um nível de base. cos ou explosões nas vizinhanças) ou pela
[...] E a ação do homem é a súbita absorção de água.
outra causa dos escorrega- • Causas externas: ações que alteram o ní-
mentos, na medida em que vel das tensões ou pressões aplicadas sobre
precisa implantar obras, mas o maciço, como o aumento da inclinação
não toma os devidos cuida- dos taludes, a deposição de materiais na
dos com a natureza (MAS- crista do talude, a execução de construções
SAD, 2010, p. 83). irregulares e os efeitos sísmicos.
• Causas intermediárias: aqueles tipos de
A ação de intempéries, como ventos, chuvas, ações ou fatores que não se enquadram
variação de temperatura e, juntamente, a força em nenhuma das causas anteriores, porém
gravitacional, também podem desencadear o pro- atuam na desestabilização do maciço, como
cesso de instabilidade de taludes (KNAPPETT; a mudança da cobertura vegetal sobre o
CRAIG, 2015). Não podemos desprezar as ações terreno, a liquefação espontânea, o rebai-
de origem humana, tais como as ocupações ou as xamento do nível d’água, a erosão interna
obras de modificação da geometria das encostas, e outras atividades das águas subterrâneas.
A resistência dos maciços terrosos, em face aos agentes deflagradores de movimentos, varia
muito, pois a estabilidade depende da gênese e das características intrínsecas do solo, material
de intensa heterogeneidade. Será que os taludes em rocha seguem esta mesma tendência
ou apresentam mais estabilidade, suportando inclinações mais acentuadas em face às ações
desestabilizantes?
282
UNIDADE 8
NOMENCLATURA VELOCIDADE
Extremamente rápido > 3 m/s
Muito rápido > 0,3 m/min a 3 m/s Um dos fatores de causa dos
movimentos de massa é a pre-
Rápido > 1,5 m/dia a 0,3 m/min.
sença de água no maciço, seja
Moderado > 1,5 m/mês a 1,5 m/dia
ela advinda da chuva, seja das
Lento > 1,5 m/ano a 1,5 m/mês
ações humanas, ou, até mesmo,
Muito lento 0,06 m/ano a 1,5 m/ano
pela própria variação sazonal do
Extremamente lento < 0,06 m/ano
lençol freático. Para saber mais a
Tabela 1 - Classificação dos movimentos de massa quanto à velocidade respeito da influência da água na
Fonte: adaptada de Varnes (1978 apud MELO NETO, 2005).
estabilidade do talude, conversa-
A classificação definida pela GeoRio (1999) para os movimentos remos sobre a forma de atuação
de massa considera a profundidade da massa deslocada, conforme deste bem natural (processos,
a tabela, a seguir: ações ou tensões) e daremos
exemplos das consequências dis-
NOMENCLATURA PROFUNDIDADE so. Acesse o QR-Code do podcast
283
UNICESUMAR
• Material rochoso.
Queda de lascas
• Pequenos e médios volumes de material.
Tombamentos
• Geometria variável: lascas, placas, blocos etc.
• Rolamento de matacão.
• Tombamento.
• Muitas superfícies de deslocamento (internas e externas).
• Movimento semelhante ao de um líquido viscoso. Corridas de detritos
CORRIDAS
Muitas vezes, as condições naturais de um terreno, ou, até mesmo, a evolução dos trabalhos
de construção modificam a configuração do maciço terroso e o sistema de equilíbrio das forças
que mantêm o talude estável. A NR-18: Condições de Segurança e Saúde no Trabalho na
Indústria da Construção (BRASIL, 2020, on-line) indica que os trabalhos em taludes instáveis
que são resultado de escavação com profundidade superior a 1,25 m devem ter a estabilidade
garantida por estruturas dimensionadas a este fim.
284
UNIDADE 8
285
UNICESUMAR
“
a) o solo se comporta como material rígido-
-plástico, isto é, rompe-se bruscamente sem se
deformar;
b) as equações de equilíbrio estático são vá-
lidas até a iminência da ruptura, quando, na
realidade, o processo é dinâmico;
c) o coeficiente de segurança (F) é constante
ao longo da linha de ruptura, isto é, ignoram-
-se eventuais fenômenos de ruptura progres-
siva (MASSAD, 2010, p. 64).
286
UNIDADE 8
P R
a 0
P.
cos
0
(0
)
P 0)
(
P sen
0 P.
0
Figura 6 - Decomposição da força P para bloco genérico apoiado sobre plano inclinado / Fonte: a autora.
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em três partes, as quais mostram o mesmo perfil
de terreno inclinado, na parte superior direita, descendendo para a parte inferior esquerda. No perfil superior
esquerdo, vê-se um talude limitado por linha pontilhada e dois ângulos representando, por meio da letra alfa,
a inclinação do talude e, por meio da letra teta, a inclinação da linha pontilhada, com uma flecha indicando
força P, para baixo, no centro da área recortada do talude. No perfil inferior esquerdo, a linha pontilhada limita
o terreno e o seu ângulo de inclinação, indicado pela letra teta, acima da linha pontilhada. No centro, vê-se
um quadrado alinhado com a inclinação, o qual mostra uma flecha indicando, para baixo, a força P. O perfil
da direita mostra o quadrado alinhado à inclinação de ângulo teta, em tamanho maior, com a flecha de força
P para baixo, a flecha de força R inclinada para a superior direita, a flecha da componente P cosseno de teta
inclinada para a inferior direita, com a sua ponta conectada à flecha da componente P seno de teta, flecha esta
inclinada para a inferior esquerda, a qual está conectada à ponta da flecha da força P, limitando um triângulo.
ER FAtrito N tg φ P cos(θ ) tg φ
287
UNICESUMAR
já para o caso em que existe, entre o bloco e a superfície de apoio (c ≠ 0), o Esforço
Resistente (ER) à movimentação será igual à soma entre a Força de Atrito ( FAtrito
) e a Força de Coesão ( FCoesão ). A determinação da resistência pelo atrito é feita
como no caso anterior, já a resistência pela coesão é calculada multiplicando a
Coesão (c) pela Área (A) de contato do sistema bloco-superfície. A equação, a
seguir, mostra o cálculo para este caso:
ER
FS =
EI
esta equação indica que, para atingir a condição de Equilíbrio-Limite, com zero
coesão e solo seco, o ângulo de inclinação do plano deverá ser igual ao ângulo
do atrito interno do solo (GUIDICINI; NIEBLE, 1984).
O quadro, a seguir, apresenta as indicações de análise da situação, de acordo
com o valor do Fator de Segurança:
Podemos entender, porém, que nem sempre teremos uma situação cujo talude
ou massa de solo a ser analisada encontra-se em situação seca. Nestes casos, a
analogia com o bloco sobre plano inclinado, ainda, vale, acrescentando-se, então,
as considerações referentes à água presente no solo.
Em teoria, quando a massa de solo se desloca, gera uma fenda no maciço provocada
pelo esforço de tração. Dentro dessa fenda, pode acumular água, o que acrescenta
uma força adicional (v) nos Esforços Instabilizadores. Como o maciço contém água,
288
UNIDADE 8
Figura 7 - Decomposição da força P para bloco genérico apoiado sobre plano inclinado, considerando a
presença de água no maciço de solo / Fonte: a autora.
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração que mostra uma linha inclinada, em ângulo teta, com
a horizontal; um quadrilátero de cor marrom no centro, alinhado com a inclinação, seguido de um quadrilátero
de cor azul indicado pela expressão “fenda de tração preenchida por água”, também, alinhado e seguido de
outro quadrilátero marrom, na porção superior direita. O quadrilátero marrom do centro contém a flecha
de força P, para baixo, assim como contém a flecha de força R inclinada para a superior direita, a flecha da
componente P cosseno de teta inclinada para a inferior direita, com a sua ponta conectada à flecha da com-
ponente P seno de teta, flecha essa inclinada para a inferior esquerda e conectada à ponta da flecha da força
P, assim, todas essas flechas limitam um triângulo. O quadrilátero azul contém uma flecha apontando para a
inferior esquerda, na posição acima da linha inclinada da força V, perpendicular a uma flecha apontando para
a superior esquerda, na posição abaixo da linha inclinada.
O bloco ilustrado, na figura anterior, é solicitado por seu Peso Próprio (P), quando
na sua componente tangencial ( P ⋅ sen(q ) ), somada à pressão exercida pela água
que preenche a fenda (v), compondo os Esforços Instabilizadores (EI), conforme a
equação:
289
UNICESUMAR
EI P sen(q ) v
Com água no maciço, considerando uma situação na qual não haja coesão entre
a massa de solo e a superfície de apoio (c = 0), o Esforço Resistente (ER) à mo-
vimentação será dado pela resistência de atrito, considerando o alívio de tensão
provocado pela água. Essa resistência é determinada pelo produto da tangente do
Ângulo de Atrito do Solo ( f ) e o resultado da diferença entre a Força de Atrito (
FAtrito ) e a Poropressão (u), como na equação, a seguir:
ER FAtrito u tg φ P cos(θ ) u tg φ
ER P cos(θ ) u tg φ c A
FS
ER
P cos(θ ) u tg φ c A
EI P sen(θ ) v
290
UNIDADE 8
Em situações práticas, taludes naturais, como os de encostas, terão grande extensão, reduzida espes-
sura da camada de solo e perfis do solo quase homogêneos. Estes casos são considerados, para fins de
cálculo, Taludes de Extensão Ilimitada (DUNN; ANDERSON; KIEFER, 1980). Para tais cenários,
faz-se uso do Método do Talude Infinito, o qual pode ser visto para a situação drenada (solo seco)
e não drenada (solo saturado ou com fluxo de água).
No caso dessa situação do Talude De Extensão Ilimitada não conter nenhum fluxo de água, ou seja,
os grãos de solo apresentarem-se secos, para o cálculo dos esforços atuando nas massas de solo,
consideremos um prisma de terra de largura b, altura z e comprimento unitário que estará submetido a
quatro forças: Peso Próprio da coluna de terra (P); Forças E1 e E2 que atuam nas faces laterais do prisma
considerado, sendo iguais e contrárias, paralelas ao talude; reação ao Peso Próprio da coluna de terra (RP).
A figura, a seguir, ilustra este sistema de esforços num talude de terra:
Figura 8 - Forças atuantes em um talude com uma camada de solo de profundidade z / Fonte: Fiori (2015, p. 65).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração, em preto e branco, a qual contém uma linha horizontal com ângulo indicado
pela letra “i”, na porção inferior esquerda, onde uma linha inclinada, ascendente à porção superior direita, é indicada pelo termo “plano
potencial de deslizamento”. Paralela e acima da linha inclinada, outra linha, cuja distância vertical é indicada pela letra “z”, limita uma
faixa que contém, no centro, um quadrilátero limitado, pelas duas linhas, na porção superior e inferior. O quadrilátero contém quatro
flechas, as quais representam as forças de E1 ascendente para a direita, E2 descendente para a esquerda, RP vertical para cima e P
vertical para baixo. A força P é decomposta em esforço sigma N, em ângulo i com a força, esforço sigma S fechando o triângulo de
decomposição e esforço sigma V no lado inferior do quadrilátero. O esforço tau é indicado por flecha ascendente, para a direita, em
posição abaixo da linha do plano potencial de deslizamento. A largura do quadrilátero medida na horizontal é indicada pela letra “b” e
a sua largura na inclinação superior é indicada por “b dividido por cosseno de i”.
291
UNICESUMAR
O quadro, a seguir, apresenta as fórmulas para todos os parâmetros de cálculo apresentados na figura.
DESCRIÇÃO/
PARÂMETRO FÓRMULA
CONDIÇÃO
P
σV γ nat z cos θ Pressão vertical devido
Tensão A ao peso próprio (P)
Vertical Em que: atuando na base do
talude.
γ nat = peso específico natural do solo.
Pressão componente
Tensão
σn σV cos θ γ nat z cos θ
`2
normal da Tensão
Normal
Vertical.
Pressão componente
Tensão σ s σV sen θ γ nat z cos θ sen θ tangencial da Tensão
Tangencial
Vertical.
Tensão de resistência ao cisalhamento do solo que resulta da força de atrito e atua
em sentido contrário à Tensão Tangencial.
2
τ c σ n tg φ γ nat z cos θ tg φ
2
τ c σn tg φ c γ nat z cos θ tg φ Para a condição de c ≠ 0.
Quadro 3 - Formulações para parâmetros das forças atuantes em um talude com uma camada de solo de profundidade z.
Fonte: a autora.
Utilizando o Fator de Segurança (FS) que representa a razão entre a tensão de Resistência ao Cisalha-
mento ( t ) pela Tensão Tangencial ( s s ), verificamos a possibilidade de uma massa ou um volume de
solo romper do talude ilimitado.
A equação, a seguir, apresenta as considerações à situação proposta:
tg φ
Para c 0 temos: FS
τ tg θ
FS
σs 2c tg φ
Para c 0 temos: FS
γ nat z sen 2θ tg θ
292
UNIDADE 8
Figura 9 - Forças atuantes em um talude com fluxo de água com Força de Percolação (Fp).
Fonte: Fiori (2015, p. 67).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração, em preto, branco e cinza, dividida em três partes. A
parte indicada pela letra “A”, à esquerda, apresenta uma superfície inclinada com indicação do ângulo “i”, com a
horizontal na porção inferior, acima da superfície, é apresentada uma faixa paralela à superfície cuja espessura
é indicada pela letra “Z”, inclinada, contendo, em seu interior, linhas de fluxo representadas por flechas descen-
dentes para a esquerda e um quadrilátero cinza. O quadrilátero e, também, as linhas que limitam a faixa sobre a
superfície inclinada contêm diversas forças e esforços indicados por flechas em variadas direções bem como as co-
tas de largura e altura relativas ao ângulo com a horizontal. A parte indicada pela letra “B” contém a decomposição
de uma força N em força FA com ângulo fi. A parte indicada pela letra “C” mostra, em menor escala e simplificado,
o quadrilátero cinza sujeito a dois esforços descendentes para a esquerda: sigma P, sigma S e ascendente tau.
293
UNICESUMAR
DESCRIÇÃO/
PARÂMETRO FÓRMULA
CONDIÇÃO
2
u γ a AC γ a z cos θ
Em que: Pressão da
água que atua,
Tensão Neutra γ a = peso específico da águaa; perpendicularmente, à
base do prisma do solo
AC = altura atôa qual subiria a água e a uma profundidade z.
em ômetro instalado no ponto A.
Pe Psat U γ sat b z γa b z
Pe γ sub b z Peso Efetivo do solo
Em que: saturado que atua
na base do prisma,
Peso Efetivo do Psat = peso próprio do solo saturado. considerado de
solo U = empuxo identificado pelo peso. largura b, e com
a profundidade z,
próprio da coluna de água no prisma. equivalente ao Empuxo
γ sat = peso específico do solo saturado. de Arquimedes.
γ sub = peso específico do solo submerso.
Pressão componente
Tensão Efetiva 2
Normal σen σev cos θ γ sub z cos θ normal da Tensão
Efetiva Vertical.
Pressão componente
Tensão Efetiva σes σev sen θ γ sub z cos θ sen θ tangencial da Tensão
Tangencial
Efetiva Vertical.
Fp γ a b z sen θ
σp
A b
cos θ
Pressão componente
Tensão de
tangencial da Tensão
Percolação σp γ a z cos θ sen θ Efetiva Vertical.
Em que:
Fp = força de pe ção distribuída no
volume de solo que será percolado pela água;
294
UNIDADE 8
DESCRIÇÃO/
PARÂMETRO FÓRMULA
CONDIÇÃO
Tensão de Resistência ao Cisalhamento do solo que resulta da força de atrito e
atua em sentido contrário à Tensão Efetiva Normal.
2
τ c σ en tg φ γ sub z cos θ tg φ
2
τ c σen tg φ c γ sub z cos θ tg φ Para a condição de c ≠ 0.
Quadro 4 - Formulações para parâmetros das forças atuantes em um talude ilimitado com água infiltrada no solo / Fonte: a autora.
Nesta situação, o Fator de Segurança (FS) é dado pela razão entre a Tensão de Resistência ao Cisalha-
mento ( t ) e a soma da Tensão de Percolação ( s p ) com a Tensão Efetiva Tangencial ( ses ), sendo estas
últimas favoráveis ao movimento.
A equação, a seguir, apresenta as considerações à situação proposta:
γ a tg φ
Para c 0 temos: FS 1
τ
γ sat tg θ
FS
σ p σes
2c γ sub tg φ
Para c 0 temos: FS γ z sen 2θ
γ tg θ
sat sat
É preciso ter em mente que, dentre os tipos de movimentos de massa vistos, apenas aqueles denomi-
nados Escorregamentos Verdadeiros podem ser submetidos a análises estáticas do tipo Métodos de
Equilíbrio-Limite (MASSAD, 2010). Isso ocorre porque, neste tipo de movimento, os deslizamentos
do solo ocorrem ao longo de superfícies de ruptura bem definidas (cilíndricas ou planares). As causas
deste fenômeno são várias, porém podemos citar as principais:
295
UNICESUMAR
É preciso ter em mente que a ruptura de uma massa de solo em talude nem sempre apresenta uma super-
fície planar. Como no caso dos Escorregamentos Verdadeiros, há casos cuja geometria de cisalhamento
do maciço apresenta uma Superfície Circular. Para esses casos, a expressão a qual permite o cálculo do
Fator de Segurança associado ao arco de circunferência que limitará a nossa Superfície de Ruptura é
analisado por meio de outros métodos, como o Método de Fellenius e o Método de Bishop Simplificado.
A garantia de estabilidade de um talude ou de uma encosta só pode ser verificada por meio de estudo
de estabilidade junto a proposições (quando necessário) de soluções geotécnicas. É trabalho do(a)
profissional de Engenharia realizar a análise de estabilidade de um talude para correlacionar a Super-
fície de Ruptura e o sistema de forças existentes, determinando os prováveis movimentos de massa e
propondo uma solução que faça a estabilização do maciço.
Gerscovich (2016, p. 35) define que o estudo de estabilidade do talude siga uma metodologia
básica, listada, nos seguintes tópicos, pela autora:
296
UNIDADE 8
“
• definição da topografia do talude;
• definição das sobrecargas a serem aplicadas sobre o talude, caso existam;
• execução das investigações de campo para definir a estratigrafia e identificar os
elementos estruturais eventualmente enterrados na massa e os níveis freáticos;
• definição das condições críticas do talude; considerando diversos momentos da
vida útil da obra;
• definição dos locais de extração de amostra indeformada;
• realização de ensaios de caracterização, resistência ao cisalhamento e
deformabilidade (para estudos de análise de tensões);
• análise dos resultados dos ensaios para definir os parâmetros de projeto;
• adoção de métodos de dimensionamento para a obtenção do fator de segurança
ou das tensões e deformações.
Sabemos que a qualidade de um projeto ou estudo, qualquer que seja, quando lida com o
material solo (caso dos taludes) depende da confiabilidade das Investigações Geotécnicas de
campo e laboratório realizadas e aliadas à capacidade de interpretação dos resultados expe-
rimentais do(a) projetista. Aprendemos isso nas unidades iniciais deste livro, para o caso das
Fundações, e segue como verdade para as Obras de Terra.
Uma obra, seja no pé, seja no topo, colocará em risco a estabilidade de uma encosta e, por isso, é neces-
sário pensar em soluções de estabilização do talude (MASSAD, 2010). Porém, para que essas soluções
possibilitem condições de estabilidade verdadeiras, a obra de estabilização adotada deve tratar o talude
como um todo, muitas vezes, combinando, em sua encosta, mais de um tipo de técnica.
“
Obras pontuais, mesmo aquelas que utilizam muros de arrimo, podem perder sua efi-
cácia em pouco tempo, chegando até a serem destruídas, pela falta de harmonia com o
restante da área. Focos de erosão ou infiltração na descontinuidade de obra/solo surgem
rapidamente após a sua conclusão (FIDEM, 2004, p. 147).
Dentro das Obras de Terra, temos diversas técnicas, agrupadas em categorias, que promovem a esta-
bilidade de taludes, conforme podemos ver no quadro, a seguir:
297
UNICESUMAR
298
UNIDADE 8
Dentre os tipos de obras para estabilização de encostas, estão aqueles que possuem e,
também, os que não possuem estrutura de contenção. “Contenção é todo elemento ou
estrutura destinado a contrapor-se a empuxos ou tensões geradas em maciço cuja con-
dição de equilíbrio foi alterada por algum tipo de escavação ou aterro” (MILITITSKY
et al., 2019, p. 499).
Quando utilizamos, para a estabilização das encostas, técnicas ou procedimentos sem
estruturas de contenção, realizamos procedimentos ligados à proteção dos taludes após
cortes e escavações, como:
• Drenagem: obras que visam a diminuir a infiltração das águas pluviais, por meio
da captação e escoamento delas, para que a sua penetração no maciço não reduza
a resistência do talude. Temos tipos de drenagem que fazem a captação e o escoa-
mento das águas de forma superficial, como a combinação de canaletas e bermas,
a qual tem baixo custo e não exige mão de obra especializada (MASSAD, 2010).
Outro exemplo é a drenagem profunda que promove o rebaixamento do nível
freático, aumentando a pressão neutra e a estabilidade do talude, por meio de dre-
nos profundos, porém requer execução de sondagens e mão de obra especializada.
• Proteção superficial: com a função de reduzir o volume de água infiltrada e,
assim, aumentar o escoamento superficial, esta obra, utilizando materiais naturais
ou artificiais, promove a cobertura da face do talude que protegerá a superfície
(FIDEM, 2004). Fazem parte desta obra de estabilização o plantio de gramíneas
e de vegetação arbórea (arbustos e árvores), a geomanta, a geocélula, a tela arga-
massada, a cobertura de concreto projetado ou betume (asfalto), entre muitos
outros. Porém este tipo de obra necessita de um sistema de drenagem para que a
infiltração e o escoamento de água não degradem a proteção e, consequentemente,
inicie processos erosivos no talude.
• Retaludamento: são intervenções na encosta que modificam a geometria do
talude, por meio de cortes nas partes mais elevadas, regularizando a superfície em
um formato mais estável do talude (MASSAD, 2010). Quando realizamos este tipo
de obra, a face do talude fica fragilizada porque estará exposta devido aos novos
cortes, por isso, é indispensável a proteção superficial (revestimento natural ou
artificial) associada a um sistema de drenagem.
299
UNICESUMAR
300
UNIDADE 8
301
Nesta unidade, conhecemos e exploramos um dos elementos mais importantes das Obras de
Terra: as estruturas conhecidas como taludes. Entendemos as suas principais classificações, os
exemplos, como eles se relacionam com os fenômenos conhecidos por movimentos de massa
e o que está envolvido na previsão de sua estabilidade. Para relembrar os principais conceitos
envolvidos nestes tópicos, realizaremos uma atividade de Arquivologia Mental.
A seguir, estão embaralhadas definições, termos técnicos, nomes, procedimentos, fenômenos,
exemplos e, até mesmo, conceitos relacionados aos tópicos desta unidade. Nesta atividade, você
analisará cada uma delas e as anotará no espaço adequado do organograma de taludes. Caso
perceba que estão faltando termos ou informações que fazem parte das seções presentes no
organograma, pesquise-os no material de estudo e complete com a informação.
302
303
1. Os Métodos de Equilíbrio-Limite consideram uma massa do solo, tomada como corpo
rígido-plástico, na iminência de entrar em processo de escorregamento e admitindo,
como válidas, as equações de equilíbrio da Estática. Daí a denominação geral “Méto-
dos de Equilíbrio-Limite”. Sobre as hipóteses básicas para esses métodos, assinale a
alternativa correta que corresponde a elas:
a) O solo se comporta como material rígido-plástico, isto é, deforma-se, longamente, até
o seu rompimento.
b) As equações de equilíbrio da Estática não são válidas até a iminência da ruptura, pois
o processo é dinâmico.
c) O fator ou coeficiente de segurança (FS) é variável ao longo da linha de ruptura.
d) As equações de equilíbrio da Dinâmica são válidas até a iminência da ruptura, pois o
processo é dinâmico.
e) O solo se comporta como material rígido-plástico, isto é, rompe-se, bruscamente, sem
se deformar.
304
3. Durante as fases de preparação de terreno para a construção de casas, foi realizado
um corte para alinhamento do talude próximo. Durante a inspeção de Engenharia, a
fim de verificar as condições do solo após este serviço, foi identificada uma porção de
descontinuidades paralelas à face do talude de corte. A equipe de inspeção solicitou
a análise de estabilidade com o objetivo de saber se haverá a ruptura da camada do
solo residual do talude, representado na figura, a seguir:
B
A=10m²
V=30m³
Solo
Rocha N
T P
50°
A
AB=5 m
Figura 1 - Talude em solo para situação-problema / Fonte: a autora.
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração representando um talude de linhas retas com crista na porção
superior esquerda e pé na porção inferior direita. Uma linha inclinada em ângulo de 50 graus com a horizontal represen-
tada por uma linha pontilhada. A linha inclinada corta o talude do pé, indicado por ponto A, até o meio da crista, indicado
por ponto B, destacando uma área triangular marrom indicada pela palavra “solo”, contendo as informações de área igual
a 10 metros quadrados e volume igual a 13 metros cúbicos. Abaixo da linha inclinada de corte do talude, está a palavra
“rocha” e tem representada a força P do triângulo marrom por flecha vertical, para baixo, a força N é representada por
flecha inclinada, para cima, perpendicular à inclinação do corte e força T fechando o triângulo de decomposição das duas
forças e perpendicular à N. Na parte inferior esquerda da imagem, há a informação adicional indicando que o segmento
de reta AB é igual a 5 metros.
305
306
9
Obras de Terra II
Esp. Aline Cristina Souza dos Santos
Estamos avançando em nosso curso e, cada vez mais, nos colocaremos no papel
de profissional de Engenharia Civil para futuras obras e, assim, entendermos
os mecanismos de tomadas de decisão. Imagine que você seja responsável pela
construção de uma edificação de médio porte, como um pequeno prédio ou
uma residência de alguns andares. Quando começa a fazer as análises para o
projeto, visita o terreno da futura obra, a fim de entender em quais condições
ele se encontra.
Neste momento, você depara-se com a seguinte situação: o terreno da obra
encontra-se em nível mais baixo em relação aos terrenos dos vizinhos ao redor,
os quais não possuem, ainda, edificação construída; os trabalhos de limpeza su-
perficial removeram parte da camada de solo nas divisas, evidenciando o desnível
de 1,20 m entre as áreas; alguns trabalhadores e maquinários estão no terreno, ao
fundo, iniciando os trabalhos de construção de outra obra.
Abrimos, aqui, os questionamentos básicos: de quem é a responsabilidade
por fazer a estrutura de contenções dos taludes nas divisas do terreno? A pessoa
proprietária do terreno mais baixo, que, futuramente, construirá, a sua cliente
ou as pessoas proprietárias dos terrenos vizinhos mais altos, os quais já estão em
processo de construção? Quem correrá mais risco, caso não sejam construídas
contenções para talude?
A maioria das construções são regidas pelo Código de Obras Municipal e,
normalmente, estão estabelecidos os limites e as condições para obras que fazem
uso ou se aproximam de divisas. Como se trata de uma legislação que varia de
município para município, alguns locais preveem, em seus artigos, situações de
compartilhamento de estruturas, como muros de divisa ou obras de contenções,
porém, na maioria das legislações, não há item algum que oriente sobre as respon-
sabilidades e os direitos dos proprietários. É neste momento que entra o trabalho
do(a) projetista, prevendo qual tipo de situação poderá, futuramente, interferir
na obra e quais medidas direcionarão a relação proprietário/vizinhança.
No caso apresentado, em que temos um desnível de terreno, será preciso cons-
truir uma obra de contenção para fazer a estabilização do maciço de terra e, assim,
esse não desmorone, ao longo do tempo. Isto é um fato! Independentemente de
quem assume a responsabilidade, para que as obras construídas tenham esta-
bilidade, essa estrutura deverá ser bem projetada e construída. Caso contrário,
corre-se o risco de prejudicar todas edificações adjacentes ao talude e ter a chance
real de desmoronamento e colapso das construções.
A ausência de contenção para o maciço coloca em risco todas as construções, tan-
to as localizadas no pé do talude quanto aquelas construídas na crista dele. A figura,
a seguir, mostra o caso de terrenos em desnível entre si, após o desmoronamento
do talude na divisa, devido à obra de contenção ser inexistente ou mal projetada.
308
UNIDADE 9
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia mostrando, do lado esquerdo, uma fileira de casas
e construções sobre uma elevação de terra. No centro, há um grande bloco retangular de um muro caído, em
meio a pedras e solo revolvido, ao pé da elevação de terra.
309
UNICESUMAR
Acidentes envolvendo a ruptura de obras de terra como contenções ou barragens são registradas,
anualmente, nos mais diversos locais do planeta. A maioria está relacionada a problemas de ordem geoló-
gica-geotécnica, falhas de projeto e de execução das obras. É importante para nós, do ramo da Engenharia
Civil, buscarmos todas as informações técnicas possíveis a respeito das causas destas catástrofes.
Você realizará pesquisas nos meios disponíveis (artigos em sites, vídeos, bibliografia etc.) sobre as
informações técnicas dos seguintes acidentes envolvendo obras de terra:
• Rompimento da barragem de Val di Stava (Itália, 1985).
• Desastre de Doñana (Espanha, 1998).
• Desmoronamento do terreno da Anglo American, em Santana (Amapá, 2013).
• Rompimento de barragem em Itabirito (Minas Gerais, 2014).
• Deslizamento de barreira de Dois Unidos, em Recife (Pernambuco, 2019).
Você deve descobrir, em cada um dos casos, de acordo com as informações divulgadas, oficialmente,
sobre esses desastres: quais foram os processos de desenvolvimento da tragédia? Ela poderia ter
sido evitada? Quem foi responsabilizado por essas catástrofes?
Ao fazer o levantamento das informações dos desastres e acidentes elencados, os quais ocorreram com
obras de terra, você pode fazer um breve resumo, em texto, do que se tratou cada um deles (um parágrafo
é o suficiente). Para tornar este conteúdo mais marcante, você pode acrescentar um esboço representativo
dos elementos (taludes, barragens, muros etc.) e das movimentações ocorridas. Acrescente ao seu esboço
os dados técnicos que a sua pesquisa realizou, como: valores (em números) das dimensões, volume, pe-
ríodo de tempo, prejuízos e, até mesmo, comparativos com outros eventos semelhantes.
Use o espaço do Diário de Bordo, a seguir, para fazer as anotações das informações que você levantou
na pesquisa a respeito dos desastres envolvendo obras de terra bem como o registro das fontes consultadas
(livro, artigo, site, documentário etc.).
DIÁRIO DE BORDO
310
UNIDADE 9
Em nossa unidade anterior, vimos os efeitos dos movimentos de massa em taludes artificiais e encostas
naturais, aprendemos como avaliar a sua segurança e, também, conhecemos um pouco das soluções
de estabilização. Agora, focaremos em um tipo destas soluções, ou seja, as obras de contenção, cuja
definição mais precisa é:
“
Estruturas de contenção ou de arrimo são obras civis construídas com a finalidade de
prover estabilidade contra a ruptura de maciços de terra ou rocha. São estruturas que
fornecem suporte a estes maciços e evitam o escorregamento causado pelo seu peso
próprio ou por carregamentos externos (BARROS, 2017, p. 6).
311
UNICESUMAR
A aplicação da Engenharia Moderna para obras de contenção, se iniciou, de fato, no século XVIII,
motivada pelo cenário geopolítico de expansão colonizadora europeia que requereu a construção de
estruturas de defesa e fortificações militares em locais e terrenos variados pelo mundo (MILITITSKY
et al., 2019). Porém a avaliação das forças de empuxo nos maciços de solo, como conhecemos, hoje,
baseiam-se, principalmente, nos trabalhos de Coulomb em 1773 e de Rankine em 1857, anteriores à
teoria de Terzaghi. Esta fundamenta, em 1925, a Mecânica dos Solos.
“
As teorias de Rankine e Coulomb satisfazem o equilíbrio de esforços vertical e horizon-
tal. Por outro lado, não atendem ao equilíbrio de momentos. Adicionalmente, ambas as
teorias pressupõem superfície de ruptura plana e, na prática, a superfície é curva. Em
outras palavras, os métodos apresentam simplificações. [...]
O método de cálculo dos empuxos fica a cargo do projetista e as diferenças são exem-
plificadas (GERSCOVICH; DANZIGER; SARAMAGO, 2016, p. 117-118).
Muitos problemas práticos da realidade exigem que esses métodos sejam adaptados antes de serem
aplicados, é o caso de taludes que apresentam sobrecarga no topo do talude; água no maciço de
solo; solos estratificados e solos coesivos. Para situações como essas, recomenda-se a consulta à
bibliografia técnica que apresenta exemplos de cálculo para tais variações.
312
UNIDADE 9
Como foi falado em unidades anteriores, os efeitos desencadeados pela presença de água nos
taludes podem ser bastante catastróficos. O acúmulo de água no maciço terroso põe em risco a
estabilidade da obra de contenção, levando ao aumento do empuxo sobre o paramento e reduzindo
a resistência ao cisalhamento do solo. Junto do projeto de estabilização do talude, deve-se instalar
um sistema de drenagem eficaz para dar vazão às precipitações de água bem como ao fluxo de
água natural, dentro do maciço terroso.
Milititsky et al. (2019) indicam que os sistemas de drenagem devem se ater a alguns princípios
básicos: i) impedir o acúmulo de água junto ao tardoz da contenção; ii) a rede de percolação
precisa ter, na região da cunha potencial, linhas de fluxo verticais; iii) o sistema também deve
ser filtrante, para evitar a colmatação ou o entupimento; iv) fazer a separação entre o sistema
que coleta e desvia as águas da superfície e as águas que se infiltram e chegam ao sistema de
drenagem, a fim de evitar as vazões elevadas bem como o carregamento de detritos.
313
UNICESUMAR
Muro de Arrimo
314
UNIDADE 9
315
UNICESUMAR
H H
0,5 D a D
B/3 D
C
> 0,3 m
0,3 m a 0,6 m
D = H/14 a H/12
0 ,6H
B= ma
0,4 0,3
a0
,7 H
Figura 3 (a) - Pré-dimensionamento de muro de arrimo em muro gravidade; Figura 3 (b) - Em muro flexão;
Figura 3 (c) - Em muro com contrafortes / Fonte: adaptada de Gerscovich, Danziger e Saramago (2016).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração em três partes e exibindo vistas diferentes para for-
matos de estruturas de muro com as suas respectivas medidas de arestas, em função da altura total, nomeada
com a letra “H”. Na parte superior esquerda, na Figura 3 (a), temos a vista, em corte, de um muro em formato
trapezoidal, com base alargada. Na parte superior direita, na Figura 3 (b), temos a vista, em corte, de um muro
em formato de “T” invertido. Na parte inferior central, na Figura 3 (c), temos a vista, em perspectiva isométrica,
de cima para baixo, de um muro com seção transversal, em formato de “T” invertido e face vertical escorada
por peças triangulares que representam os contrafortes.
316
UNIDADE 9
LEGENDA
O
FA PC2
Figura 4 - Esforços atuantes em estrutura de contenção/muro de arrimo / Fonte: adaptada de Marchetti (2007).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração mostrando a vista, em corte, de um terreno com dois
níveis, o superior inclinado à esquerda e o inferior horizontal à direita, com um muro limitador no encontro
dos dois, em formato de “T” invertido. As cotas de altura do muro, de largura de sua base e de inclinação estão
representadas por letras, assim como flechas em variadas direções apontam para partes do muro onde esforços
nomeados por letras e números indicam as forças atuantes. No canto superior direito, o quadro nomeado como
“legenda” apresenta o nome das forças bem como as suas respectivas letras e os seus respectivos números
indicativos, a saber: “EA igual empuxo ativo inclinado”; “EP igual empuxo passivo horizontal”; “PS1 igual peso do
solo ABCD”; PS2 igual peso do solo KLMN”; “PC1 PC2 igual peso do paramento da contenção/muro”; “PC2 igual peso
da sapata da contenção/muro”; “FA igual força de atrito na base da sapata da contenção/muro”.
317
UNICESUMAR
Marchetti (2007) indica que a razão entre estas duas somatórias deve ser maior
ou igual a valores fixos para as situações de solo coesivo e não coesivo, conforme a
equação, a seguir:
FRES
FSdesliz 1,2 a 1,5
FSOL
Em que:
FSdesliz = Fator de Segurança contra o deslizamento da contenção.
c' 2
c 'W atØ c'
2 3
2
δ tg φ' atØ tg φ '
3
2
c 'W Su
3
Em que:
Su = Resistência do cisalhamento não drenada do solo.
Como é possível que o solo presente na frente do muro seja retirado ou erodido,
recomenda-se considerar o esforço de empuxo passivo igual a zero como critério de
cálculo a favor da segurança (MARCHETTI, 2007). Existe a mesma consideração a
respeito da força-peso do solo sobre a sapata da contenção/muro de arrimo na parte
externa (KLMN), em que se desconsidera o acréscimo dessa força, no somatório.
318
UNIDADE 9
es
PS
ev Ev H’
H
Eh
ec
b c
Hp
Ep 1 0 2
B
B/2 B/2
Figura 5 - Posicionamento dos elementos de cálculo do Fator de Segurança quanto aos deslizamento e
tombamento para muro de arrimo / Fonte: adaptada de Marchetti (2007).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração que mostra a vista, em corte, de um terreno com dois
níveis, o nível superior inclinado à direita e o inferior horizontal inclinado à esquerda, com um muro limitador
no encontro dos dois, em formato de “T” invertido. As cotas de altura do muro, de largura de sua base e de
inclinação estão representadas por letras, assim como flechas em variadas direções apontam para partes do
muro onde esforços nomeados por letras e números indicam as forças atuantes. Na porção interna da direita
do terreno, estão representados os alinhamentos referentes ao esforço de empuxo ativo e à sua respectiva
equação de cálculo.
2
γ H' Ka
Ea
2
Em que:
K a = Coeficiente de empuxo ativo do solo.
319
UNICESUMAR
2
γ H' Kp
Ep
2
Em que:
K p = Coeficiente de empuxo passivo do solo.
FRES FA Ps Pc Ev δ c' B
FSOL Eh Eh
Em que:
FA = Força de atrito entre muro e solo na base.
M RES
FStomb = 1,2 a 1,5
M SOL
Em que:
FStomb = Fator de Segurança contra o tombamento da contenção.
320
UNIDADE 9
M RES M Ps M Pc M Ev Ps es Pc ec Ev ev
M SOL M Eh H '
Eh
3
V Pc Ps Ev
321
UNICESUMAR
es Ps
ev
Pc
ec
Ev
Eh
h’/3
1 0 2
B/2 B/2
Figura 6 - Posicionamento dos elementos de cálculo do Fator de Segurança da Fundação para muro de
arrimo / Fonte: adaptada de Marchetti (2007).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração que mostra a vista, em corte, de um terreno com dois
níveis, o superior inclinado à direita e o inferior horizontal inclinado à esquerda, com um muro limitador no en-
contro dos dois, em formato de “T” invertido. As cotas de altura do muro, de largura de sua base e de inclinação
estão representadas por letras, assim como flechas em variadas direções apontam para partes do muro onde
esforços nomeados por letras e números indicam as forças atuantes. Na porção interna abaixo da base do muro,
é mostrado um diagrama de esforços, em formato trapezoidal, com as flechas apontadas para cima. O esforço
maior, à esquerda, é representado por “sigma 1” e o esforço menor, à direita, é representado por “sigma 2”.
B B B H
M 0 PS eS PC eC EV eV EH
2 2 2 3
322
UNIDADE 9
B2
w=
6
desse modo, são determinadas a Tensão Maior ( s1 ) e a Tensão Menor ( s2 ) na base
da fundação do muro:
V M V M
s1 0 ; s2 0
S w S w
para a análise da Capacidade de Carga da Fundação a favor da segurança num muro,
temos duas condições: i) a Tensão Máxima que está sendo aplicada na base do muro
( smáx ) não pode ser superior à Tensão Admissível do solo abaixo dela ( sadm ); ii) a
menor das tensões aplicada na base do muro ( s2 ) não pode ser de tração ( s2 > 0 ).
Definimos o Fator de Segurança da Fundação pela seguinte razão:
σrup
FS FUND 2, 5
σ1
Em que:
σrup = Capacidade de Carga do Solo sem coeficiente de segurança, calculada por método
escolhido pelo(a) projetista, considerando a base do muro como uma sapata.
323
UNICESUMAR
Escoramento
Figura 7 - Contenção do tipo escoramento, em perfis de aço, fazendo o paramento de área escavada
de obra de fundação.
Descrição da Imagem: a figura apresenta a fotografia de um canteiro de obras em dois níveis. O nível superior,
na linha do horizonte, tem duas estruturas em fase de construção com escoramentos de madeira, barras de aço
e máquinas ao redor. O nível inferior está em primeiro plano, abaixo da linha do horizonte, exibindo um poço
no chão com as paredes escoradas por chapas metálicas, enquanto a estrutura de aço faz o escoramento e
alinhamento das chapas, com uma trama na altura da superfície do nível superior.
324
UNIDADE 9
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração que mostra a vista, em corte, em primeiro plano de
uma vala aberta em um terreno e, em segundo plano, a vala, em perspectiva, com visão superior. A superfície do
terreno alinhada com a porção superior da imagem está interrompida, no centro, por um recorte retangular que
contém, nos limites verticais com o terreno, pranchas indicadas pela palavra “paredes”, as quais estão alinhadas
e escoradas por barras conectadas, formando uma estrutura indicada pelas palavras “estroncas” e “longarinas”.
Nas barras chamadas longarinas, há pequenas caixas distanciadas equidistantes, posicionadas na porção inferior
das paredes. Na vista em perfil, as caixas revelam ser a ponta externa de um elemento linear prolongado inserido
no terreno, nomeado “tirante”.
Por se tratarem de contenções provisórias que fazem parte das técnicas de construção
de obras específicas, como escavações, fundações e outras, não aprofundaremos os
nossos estudos sobre este tipo de contenção.
325
UNICESUMAR
Cortinas
São contenções ancoradas ou apoiadas em outras estruturas e fazem, de forma definitiva, o paramento
do maciço. Por causa do acoplamento a outras estruturas mais rígidas, as cortinas apresentam pequena
deslocabilidade. Isto pode levar os solos contidos a originarem solicitações ou esforços maiores do que
as calculadas no Equilíbrio-Limite (ABRAMENTO; ERLICH; ZIRLIS, 2019). São estruturas esbeltas
posicionadas ao longo de uma linha de paramento, daí o nome “cortina”. Elas asseguram a estabilidade do
maciço contido com base no empuxo passivo que atua sobre o trecho inferior inserido no solo (ficha).
As cortinas, segundo Abramento, Erlich e Zirlis (2019), podem ser distinguidas ou classificadas pelos:
• Elementos de estabilidade: forma de apoio das cortinas. São denominadas:
* Cortinas autoportantes: enterradas no solo, dispensam outros elementos de apoio devido ao
empuxo passivo mobilizado na frente da cortina em sua ficha.
* Cortinas monoapoiadas: possuem um nível de apoio junto do topo, podendo ser ancoragens
(tirantes) ou escoras.
* Cortinas multiapoiadas: aquelas que têm múltiplos níveis de apoio, também por ancoragens ou
escoras, ao longo de sua altura.
Cortina
Cortina Multiapoiada
Monoapoiada
Paramento
Ancoragem
Cortina no Topo Tirante
Linhas de Ancoragem
Autoportante
Paramento Paramento EA
EA
EP EP EP
Ficha Ficha Ficha
Figura 9 - Tipos de contenções do tipo cortinas, de acordo com o elemento de estabilidade / Fonte: a autora.
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em três partes, mostrando situações diferentes de escoramento
por cortinas com a vista, em corte, de um terreno com dois níveis. O nível superior inclinado à direita e o nível inferior horizontal à
esquerda, com um muro vertical limitador, no centro, com a parte inferior inserida no terreno da porção, o qual está indicado pela
palavra “paramento”. A parte da esquerda, acompanhada pelo título “cortina autoportante”, mostra o paramento com uma metade,
indicada pelo nome “ficha”, inserida no solo da porção inferior e flechas indicativas dos esforços de empuxo passivo e ativo. A parte
do centro, cujo título é “cortina monoapoiada”, mostra a mesma configuração da esquerda, com a diferença de um elemento, em
linha, que atravessa o paramento em seu topo e se prolonga dentro do maciço de solo, indicado como “ancoragem no topo” e,
também, tem uma flecha indicativa de esforço para a direita. A parte da direita, cujo título é “cortina multiapoiada”, mostra a mesma
configuração das demais, com a diferença de haver três elementos, em linha, inclinados, que atravessam o paramento e se inserem
no maciço de solo, o qual contém uma flecha indicativa de esforço para a direita e o nome “tirante”.
326
UNIDADE 9
327
UNICESUMAR
No caso das cortinas que se apoiam por meio de tirantes ancorados no maciço de
solo, elas recebem o nome de cortinas atirantadas. Este tipo de contenção é, ge-
ralmente, composto por uma parede de concreto armado vertical e por tirantes, os
quais são ancorados, no terreno, numa profundidade estabelecida em projeto para
garantir estabilidade, sem possibilidade de ruptura ou de movimentações indesejadas
(EHRLICH; BECKER, 2020).
Aterro Selo de
compactado argila
Cortina
atirantada
Filtro de
Areia
Drenos
vre
Tirantes ho Li curtos
Trec
rado Reaterro
nco
ho a compactado
Trec o Li
vre
h
Trec
rado Filtro de
o anco Areia Concreto
h
Trec magro
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração de escoramento por cortina vertical atirantada
e a vista, em corte, de um terreno com dois níveis. O nível superior horizontal à esquerda e o nível inferior
horizontal à direita, um muro vertical limitador, no centro, com elementos lineares inclinados inseridos no
maciço da esquerda e indicados por tirantes.
328
UNIDADE 9
Solo Reforçado
“
O termo solo reforçado se refere à aplicação de reforços resistentes
à tração em maciços terrosos, de forma a se obter um compósito
com melhores características mecânicas. O sistema é formado por
três elementos: solo, elementos de reforço (inclusões) e elementos
de face (paramento). Esta técnica considera a inclusão de elementos
de reforço metálicos ou geossintéticos (ABNT, 2021a, p. 5).
Essas obras de contenção, muitas vezes, são referidas como reforço de terreno e
possuem vantagens em sua utilização, quando comparadas às outras técnicas: econo-
mia; tolerância a recalques de fundação; facilidade construtiva; redução de tempo na
execução; não exigência de mão de obra especializada; construção de taludes estáveis
em posição vertical; bom acabamento estético quando são empregados sistemas de
faceamento, como blocos segmentais ou revegetação do talude (PALMEIRA, 2018).
A existência dessas técnicas é antiga, com registros feitos pelos mesopotâmicos,
datados de 5 mil anos, na construção de zigurates (templos) por meio de camadas de
barro reforçadas com juncos e galhos, assim como nas técnicas chinesas de construção
de barragens de terra, utilizando galhos de árvores para reforço. Porém as obras de
contenção que fazem uso de reforço do solo, como conhecemos hoje, foram desen-
volvidas, somente, durante a década de 60, quando Henri Vidal difundiu a técnica
de inclusões metálicas chamada terra armada (MASSAD, 2010).
Na terra armada, dois materiais com comportamentos mecânicos diferentes (solo
e fitas metálicas) são associados de forma que os esforços aplicados ao maciço são
transferidos, por atrito, entre eles (ABRAMENTO; ERLICH; ZIRLIS, 2019). Os prin-
cipais componentes deste sistema são: solo de aterro, geralmente, do tipo arenoso,
com menos de 15% em peso, passando na peneira #200; elementos de reforço, fitas
metálicas conectadas aos elementos de face e estendendo-se no interior do maciço
aterrado; elementos de face, paramentos sem função estrutural e empregados para
o melhoramento estético e a prevenção de erosões na face do muro.
329
UNICESUMAR
(A)
330
UNIDADE 9
Durante muitos anos, a técnica de reforço de terreno com uso de terra armada permaneceu sob a
proteção de patentes registradas por Henri Vidal. Desde a década de 90, essas patentes não estão mais
em vigor no Brasil, e a técnica encontra-se regulamentada junto com as demais soluções de reforço de
terreno, em duas normativas técnicas, recentemente, atualizadas: NBR 16920-1: Muros e Taludes em
Solos Reforçados. Parte 1 – Solos Reforçados em Aterros (ABNT, 2021a) e NBR 16920-2: Muros
e Taludes em Solos Reforçados. Parte 2 – Solos Grampeados (ABNT, 2021b).
Solo grampeado ou solo pregado é outra técnica de contenção de solo reforçado que realiza a
inclusão, no maciço, em seu interior, de elementos resistentes à tração (chumbadores, grampos ou
pregos) associados a um revestimento na face externa do talude. Basicamente, é um sistema composto
por três elementos: solo, grampos e paramento (ABNT, 2021b). Grampos são constituídos por barras
de aço inseridas dentro de furos, previamente, executados no maciço e, que, posteriormente, serão
preenchidos por calda de cimento ou resina para garantir a ancoragem deste elemento no solo. Dife-
rentemente dos tirantes, os grampos são elementos passivos, ou seja, acrescentam, após a deformação
do solo, resistência ao conjunto, como um reforço à estrutura de contenção. Vem desta característica
a nomenclatura da técnica como solo reforçado.
Talude Original Talude Original
Aterro Aterro
Paramento Paramento
Bulbo de ancoragem
Figura 13 - Diferença da transferência de carga em relação aos elementos inseridos no maciço pelo solo grampeado e pela
cortina atirantada / Fonte: adaptada de Abramento, Erlich e Zirlis (2019).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração dividida em duas partes, mostrando situações diferentes de contenção de
talude com a vista, em corte, de um terreno com dois níveis. O nível superior inclinado à direita, enquanto o nível inferior horizontal está
inclinado à esquerda, ambos com uma parede limitadora, no centro, identificada como “paramento”. Também é possível ver elementos
lineares que a atravessam e se inserem no terreno. A parte da esquerda, cujo título é “solo grampeado”, mostra o paramento inclinado
em direção ao talude da direita, com uma região estreita de aterro atrás do paramento e os seus elementos lineares inseridos no solo
como linhas que atravessam até o maciço, este identificado como “talude original”. A parte da direita, cujo título é “cortina atirantada”,
mostra o paramento vertical em direção ao talude da direita, com uma região trapezoidal de aterro atrás do paramento e os seus ele-
mentos lineares inseridos no solo como linhas que atravessam até o maciço, este identificado como “talude original”. As pontas estão
inseridas em áreas elípticas, estas são identificadas como “bulbo de ancoragem”.
331
UNICESUMAR
Já os paramentos podem ser em concreto projetado armado com tela ou fibras de aço,
mas também podem ter aplicação de geomanta ou associação entre tela metálica e
biomanta, o que permite o crescimento de vegetação na face do talude, produzindo
o solo grampeado verde.
A execução do solo grampeado inicia com o corte do maciço na geometria (in-
clinação) prevista no projeto. Esta etapa é dispensada no caso de ser um reforço de
talude a exemplo das encostas naturais (MASSAD, 2010). Procede-se, então, à in-
clusão da primeira linha de grampos e à aplicação do paramento (revestimento) na
face externa, sempre, simultaneamente, à inclusão dos drenos profundos, canaletas
ou descidas d’água e outros elementos que fazem parte do sistema de drenagem,
conforme o projeto. O avanço do trabalho para a próxima linha pode ser ascendente
ou descendente, dependendo da conveniência.
Na figura, a seguir, podemos ver uma obra acabada de solo grampeado a qual
permite identificar as linhas de grampo horizontais executadas.
Figura 14 - Contenção tipo solo grampeado com revestimento em concreto projetado armado, ao lado de rodovia
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia que mostra a lateral de uma montanha dividida em
patamares, como degraus, e revestida de concreto. Essa lateral contém peças quadradas pequenas alinhadas,
em fileiras, ao longo do revestimento. No pé da montanha, há uma rodovia que vai em direção ao horizonte,
onde pode ser avistada outra montanha, ao fundo, coberta de vegetação.
332
UNIDADE 9
“
geossintético
termo genérico para designar um produto no qual, no mínimo, um de seus
componentes é produzido a partir de um polímero sintético ou natural.
NOTA O geossintético se apresenta na forma de manta, tira ou
estrutura tridimensional, utilizado em contato com o solo ou outros
materiais, em aplicações da engenharia geotécnica e civil (ABNT,
2021a, p. 4, grifo do autor).
333
UNICESUMAR
Faceamento
1
4a6 Solo de
Enchimento
Geossintético
Dreno
Figura 15 - Elementos que constituem um Muro de Solo Reforçado (MSR) com geossintéticos
Fonte: adaptada de Ehrlich e Azambuja (2003).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração de contenção de talude com a vista, em corte, de um
terreno que contém dois níveis. O nível superior horizontal está à direita, enquanto o nível inferior horizontal
está à esquerda. Há uma parede limitadora, no centro, identificada como “faceamento” e elementos lineares que
a atravessam e se inserem no terreno, formando camadas, os quais são identificados pelo termo “geossintético”.
Abaixo e na porção da direita, é possível ver uma região destacada, identificada como “dreno” e que faz a limi-
tação das camadas que têm o material em seu interior, material que é identificado como “solo de enchimento”.
334
UNIDADE 9
“
I - barragem: qualquer estrutura construída dentro ou fora de um curso permanente
ou temporário de água, em talvegue ou em cava exaurida com dique, para fins de con-
tenção ou acumulação de substâncias líquidas ou de misturas de líquidos e sólidos,
compreendendo o barramento e as estruturas associadas (BRASIL, 2010, on-line).
335
UNICESUMAR
“
I - altura do maciço, medida do encontro do pé do talude de jusante
com o nível do solo até a crista de coroamento do barramento, maior
ou igual a 15 (quinze) metros;
II - capacidade total do reservatório maior ou igual a 3.000.000m³
(três milhões de metros cúbicos);
III - reservatório que contenha resíduos perigosos conforme normas
técnicas aplicáveis;
IV - categoria de dano potencial associado médio ou alto, em termos
econômicos, sociais, ambientais ou de perda de vidas humanas,
conforme definido no art. 7º desta Lei;
V - categoria de risco alto, a critério do órgão fiscalizador, conforme
definido no art. 7º desta Lei (BRASIL, 2010, on-line).
Nos casos das atividades minerárias, também contamos com a norma técnica NBR
13028: Mineração – Elaboração e Apresentação de Projeto de Barragens para
Disposição de Rejeitos (ABNT, 2017), que especifica os requisitos mínimos para
elaboração e apresentação de projeto de barragens de mineração, visando a atender
às condições de segurança e a minimizar os impactos ao meio ambiente, entre outros.
As barragens podem ser classificadas em diferentes tipos, de acordo com os
materiais empregados na construção, o seu projeto hidráulico e o seu objetivo.
Neste tópico relacionado a obras de terra, concentraremos os nossos olhares
naquelas barragens construídas com terra e rochas, são elas: barragem de terra e
barragem de enrocamento.
336
UNIDADE 9
337
UNICESUMAR
O quadro, a seguir, apresenta os tipos mais comuns de variação para estas barragens:
Neste tipo, não existe um núcleo im- Barragem de enrocamento com membrana de concreto
permeável, mas sim, uma membrana
de concreto no talude de montante
que garante a estanqueidade do ma-
ciço. Essa membrana é composta por
placas de concreto ligadas por juntas
especiais que se apoiam sobre o enro-
camento, permitindo eventuais movi-
mentações devido a recalques deste
meio deformável, durante o primeiro
enchimento do reservatório.
Quadro 2 - Tipos de barragem de terra-enrocamento / Fonte: a autora.
Barragens de enrocamento exigem grandes quantidades de rochas em sua construção, o que pode se tornar
inviável do ponto de vista econômico, se existe escassez de material rochoso próximo. Este tipo de barragem
torna-se viável e econômico, somente, nas regiões onde o custo do concreto é elevado e há escassez de
material terroso, tendo disponibilidade de rocha dura e resistente para a sua construção (CHIOSSI, 2013).
A resistência exigida ao tipo de rocha empregada na construção é aquela que seja inalterada por intem-
perismo físico e químico, sendo os melhores tipos o basalto maciço, o granito, o gnaisse, o diabásico etc.
Os principais fatores que afetam a escolha do tipo de barragem são: geológico-geotécnico; constru-
tivo; hidrológico-hidráulico; topográfico; materiais de empréstimo; custo; prazo e clima (MASSAD,
2010). Existe, também, um fator subjetivo que se relaciona com a preferência pessoal e a experiência
profissional do(a) responsável pelo projeto, porém, geralmente,“o maior fator individual que determina
a escolha final é o custo da construção” (CHIOSSI, 2013, p. 254).
338
UNIDADE 9
“
conhecimento das variadas soluções em obras
de terra para lidar com estes volumes. Mas sou obrigado a afir-
Os riscos envolvidos em implantar obras adja- mar, desde o início, que
centes a taludes podem ser muito elevados quando em minha experiência é
não há ideia dos aspectos de segurança envolvidos. principalmente na conexão
Nem sempre uma solução de proteção superfi- entre a Mecânica dos Solos
cial, como vista na unidade anterior deste livro, e o campo geral da Enge-
é suficiente para impedir que um maciço terro- nharia Civil, e em nossas
so entre em ruína e cause uma catástrofe. É neste obrigações como membros
momento que as estruturas de obras de contenção de uma sociedade, que o
são empregadas. Conhecer os tipos de contenções maior desafio e oportuni-
mais usuais permite ter ideia de quais soluções se dades para a visão criativa
adequarão melhor ao caso que temos em mãos. nos atrai e nos conduz para
As obras relacionadas aos maciços terrosos a frente.
nem sempre têm a ver com instalações próximas
a eles, pois, muitas vezes, precisamos construir os Não é certeza de que projetos serão infalíveis
nossos próprios taludes. É o caso das barragens ou que as análises detalhadas não são passíveis
de terra e enrocamento que proporcionam barra- de erros que escapem do olhar técnico. Conhe-
mento a grandes volumes de água ou rejeitos. São cer os acidentes com obras de terra do passado
obras de imenso impacto no modo de vida hu- e entender os seus desdobramentos permitem
mano, sendo utilizadas desde as atividades mais a construção de melhores projetos bem como
básicas, como a agropecuária, passando pelas a atenção aos detalhes que só a experiência e
mais exploratórias, como a mineração, chegando a ligação com o conhecimento retido destes
às mais complexas, como as usinas de energia. eventos possuem.
339
Nesta última unidade, conhecemos variados tipos de obras de terra, tanto das contenções quanto
das barragens. A seguir, estão embaralhados vários termos técnicos, nomes, procedimentos e,
até mesmo, conceitos vistos na unidade. Você analisará cada um deles e os anotará no espaço
adequado do organograma de contenções e barragens. Caso perceba que estão faltando termos
ou informações que fazem parte das seções presentes no organograma, pesquise-os no material
de estudo e complete com a informação.
340
MUROS DE ARRIMO ESCORAMENTO
341
1. Estes muros são estruturas de contenção formadas por elementos pré-moldados de
concreto armado, madeira ou aço, que são montados no local, em forma de “fogueiras”
justapostas e interligadas, longitudinalmente, cujo espaço interno é preenchido com
material granular graúdo. Também chamados de Crib Walls, são estruturas capazes de
se acomodar a recalques das fundações.
Esta descrição refere-se a que tipo de obra de contenção? Assinale a alternativa correta:
a) Muro com contraforte.
b) Muro gravidade.
c) Muro flexão.
d) Muro de escoramentos.
e) Muro multiapoiado.
342
Figura 1 - Cortina atirantada utilizada como muro-cais ancorado, caso em que se desenvolvem pressões ativas
e passivas / Fonte: Gerscovich, Danziger e Saramago (2016, p. 55).
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração de escoramento por parede vertical atirantada com a vista,
em corte, de um terreno com dois níveis. O nível superior horizontal está à direita, enquanto o nível inferior horizontal
está à esquerda identificado pela expressão “linha de dragagem”, abaixo das linhas indicativas de nível d’água, enquanto
o paramento vertical limitador, no centro, é identificado pelo nome “muro-cais”. Em ambos os lados do paramento, são
indicados, por flechas, diagramas triangulares de esforços. No topo do paramento, há uma linha identificada como “tirante”
com flechas dos esforços Ft em direção ao elemento inserido no maciço na porção superior direita, identificado como
“placa de ancoragem”, que contém diagramas triangulares de esforços, em ambos os lados.
FStomb =
M RES 1,2 a 1,5
M SOL
343
Figura 2 - Muro do tipo gravidade em contenção de terreno com superfície horizontal / Fonte: a autora.
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração esquemática de um terreno em dois níveis, com um muro
trapezoidal como contenção. Dentro do muro e do maciço, são indicados os esforços de peso e empuxo com as suas
respectivas angulações e, também, o posicionamento em relação ao ponto inferior esquerdo, nomeado como “A”, e a
linha horizontal do terreno inferior.
344
UNIDADE 1
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352
UNIDADE 1
1. B. A área da Geotecnia reúne as informações referentes aos maciços de solo que são incor-
porados às infraestruturas de edificações, como é o caso das fundações. Esta área engloba os
conhecimentos de Geologia, Mecânica dos Solos e Mecânica das Rochas que são adquiridos por
meio de sondagens do solo, ensaios no terreno da construção e análises de solo em laboratório
com material coletado no local da construção. O objetivo é explorar e determinar as principais
características de resistência, composição, comportamento sob solicitações, disposição de ca-
madas e nível de lençol freático do solo no terreno em que a obra será construída.
2. C. As fundações superficiais são definidas pela NBR 6122 como aquelas compostas por ele-
mentos cuja carga é transmitida ao maciço do solo pelas tensões distribuídas sob a base e cuja
profundidade de assentamento em relação ao terreno adjacente seja duas vezes inferior à
menor dimensão do mesmo. Incluem-se, neste tipo de fundação, os blocos simples, as sapatas
e os radiers. São empregadas quando o terreno no qual a fundação se assenta apresenta resis-
tência suficiente para receber a aplicação das cargas da construção e atende aos coeficientes
de segurança e aos Estados-Limites (ELU e ELS).
3. C. Cada uma das outras alternativas possui problemas em sua elaboração ou na interpretação das
informações contidas no perfil apresentado. A alternativa A está incorreta porque considera as
camadas do solo próximas à superfície do terreno como resistentes, uma análise que vai contra
o perfil apresentado, o qual mostra camadas de aterro sobre argila mole até a profundidade
de pouco mais de 7 m. A alternativa B está incorreta porque indica que a solução por tubulão
a céu aberto é econômica e se apoia em camadas superficiais do terreno, este é um tipo de
fundação profunda e, por isso, a sua execução é onerosa. A alternativa D está incorreta porque
prevê que as estacas pré-moldadas devem ser cravadas até a profundidade de 6 m, nesta cota
ainda não está presente a camada de solo mais resistente, conforme planejado pela solução.
A alternativa E está incorreta porque considera as camadas do solo próximas à superfície do
terreno como resistentes (o perfil do solo apresenta o contrário), além de considerar que os
esforços nas fundações promovidos pelo prédio têm carga baixa (o quadro das edificações
aponta que tem carga média).
UNIDADE 2
1. B. Esta alternativa é a correta, pois é a única que faz referência aos parâmetros levantados duran-
te os ensaios geotécnicos de campo. Buscando os dados que são levantados nas Investigações
Preliminares, entendemos que as demais alternativas tratam de: A. Topografia; C. Estrutura a
construir; D. Construções vizinhas; E. Orçamento e cronograma.
2. D. A afirmativa I é a única falsa porque indica que a medição do torque (Tmax) ocorre “antes da
cravação do amostrador”, quando, na verdade, esta medida é realizada após a cravação do
amostrador-padrão.
353
valor calculado NSPT = 17 golpes.
UNIDADE 3
Sapata quadrada
B = 0,95 m
Carga do pilar = 75 kN
FS = 3
2
área B2 0, 95 0, 9025 m2
Carga = P pp 75 5% 78, 75 kN
Carga 78, 75
saplicada = = = 87, 2576 kN/m†
` rea 0, 9025
• Bulbo de Tensão da sapata
354
2 B 2 0, 95 1, 90 m
• NSPT médio
A profundidade abrangida pelo Bulbo de Tensões inclui três camadas de SPT representativas,
cujo Índice de Resistência à Penetração é determinado pela soma dos golpes nas últimas duas
porções de 15 cm de penetração, sendo eles:
N SPT 1 5 4 9
N SPT 2 5 7 12
N SPT 3 7 8 15
N SPT
N SPT 1 N SPT 2 N SPT 3
3
N SPT
9 12 15 12
3
sadm 20 N SPT
sadm 20 12 240 kPa
sadm 240 kN/m†
• Verificação de segurança
saplicada sadm
246, 41 kN/m†
87, 26 kN/m† sadm
240 kN/m†
355
a Tensão Aplicada pela sapata no solo é menor do que a Tensão Admissível estimada para as
condições de solo apresentado, por mais de um Método Semiempírico. Dessa forma, a sapata
está bem dimensionada e a favor da segurança.
Sapata circular
B = 1,25 m
Solo intermediário
FS = 3
2
` rea B2 1, 25 1, 5625 m†
Carga 577, 50
q = = = 369, 60 kN/m†
` rea 1, 5625
Bulbo de Tensão da sapata
356
Cota inicial = -1,00 m
2 B 2 1, 25 2, 50 m
Torque Médio:
A profundidade abrangida pelo bulbo de tensões inclui três camadas de SPT representativas,
cujo Torque Máximo medido é:
Tmax1 12 kgf
Tmax 2 11 kgf
Tmax 3 10 kgf
Tmax
T max 1 Tmax 2 Tmax 3
3
Tmax
12 11 10 11 kgf
3
para calcular a Tensão de Referência, é preciso determinar o fator Neq, a partir do Torque Médio
para o Método Décourt:
Tmax 11
N eq 9, 1667 kPa
1, 2 1, 2
C = 0,426
Lado equivalente
357
Aplicação da fórmula do Método Décourt para calcular o recalque
q s
log C C log
qr Beq
log q log qr C C log s log Beq
log 369, 60 log 916, 67 0, 426 0, 426 log s log 1, 25
2, 5677 2, 9622 0, 426 0, 426 log s 0,, 09691
0, 3945 0, 426 0, 426 log s 0, 09691
0, 8205
log s 0, 09691
0, 426
1, 9261 0, 09691 log s
1, 9261 0, 09691 log s
1, 82919 log s
s 10
1,82919
0, 01481 m 15 mm
dessa forma, prevê-se que o recalque para a fundação projetada será de, aproximadamente,
15 mm.
3. Informações do problema:
Bloco quadrado
b = 0,80 m
h = 0,40 m
Carga do pilar = P = 55 kN
Fator de Segurança = FS = 3
Bulbo de Tensão
358
2B = 2 x 0,80 m = 1,60 m
Solo de apoio
Método de ruptura
Coesão = 0
359
utilizar cálculos com Ruptura Local.
Como estamos trabalhando com Ruptura Local, os valores para coesão e ângulo de atrito são
tomados em 2/3:
2 0, 00 0
c '
3
2 tan 31º
tan j ' 3
0, 400573746
Como o ângulo de atrito é 22º, os Fatores de Carga para Ruptura Local devem ser calculados
utilizando interpolação linear entre os valores correspondentes de 20º e 25º, sendo:
Considerando que o elemento tem forma de base quadrada, os fatores de forma podem ser os
considerados por Terzaghi (1943) ou Vésic (1975). Nesta resolução, adotaremos a formulação
mais recente, a de Vésic:
Nq 4, 568
Sc 1 1 1, 35
N c 13, 034
Sq 1 tan φ 1 tan 22º 1, 40
Sγ 0, 6
360
Tensão Efetiva do solo na cota de apoio
Com todos os parâmetros calculados, agora, resta, apenas, aplicar dentro da Equação de Ter-
zaghi e calcular a Tensão de Ruptura:
γ B N 'γ Sγ
σrup c ' N 'c Sc
2
q N 'q Sq
20 0, 80 2, 312 0, 6
σrup 0 13,, 034 1, 35 17, 5 4, 568 1, 40
2
22, 1952
σrup 0 111, 916
2
σrup 0 11, 0976 111, 916
σrup 123, 0136 kN/m†
Tensão Admissível
Dessa forma, o cálculo da prossegue relacionando a Tensão de Ruptura com o Fator de Segurança:
Carga do pilar = P = 55 Kn
361
Tensª o Aplicada s Ap
P pp 61,144 = 95,5375kN
A 0, 64
Entendemos, então que a Tensão Aplicada pelo bloco é superior à Tensão Admissível do solo.
Por isso, é necessário redimensioná-lo para garantir a segurança do elemento de fundação.
UNIDADE 4
2. B. Esta alternativa aponta que as afirmativas II e III estão corretas, porque as demais apresen-
tam um trecho que não condiz com o conteúdo estudado. As correções feitas nas afirmativas
incorretas são: I. Na fundação superficial de bloco, as tensões de tração são resistidas, apenas,
pelo concreto, pois é um elemento que não possui armadura. IV. A fundação rasa do tipo raider
é uma das mais recomendadas para o caso de construção de residências. É utilizada, principal-
mente, em conjuntos habitacionais onde existe repetição de um mesmo formato de fundação,
pois a sua execução total, numa única sequência de trabalhos, permite um cronograma eficiente
para obras desse tipo.
3. Informações do problema:
Sapata quadrada
b = 1,80 m
Fator de Segurança = FS = 3
2
` rea B2 1, 80 3, 24 m†
362
Carga que deve ser aplicada pela fundação ao solo
Carga 1627, 50
saplicada == = 502, 3148 kN/m†
` rea 3, 24
Bulbo de Tensão da sapata
2 B 2 1, 80 3, 60 m
NSPT médio
A profundidade abrangida pelo Bulbo de Tensões inclui quatro camadas de SPT representativas,
cujo Índice de Resistência à Penetração é determinado pela soma dos golpes nas últimas duas
porções de 15 cm de penetração, sendo eles:
N SPT 1 15
N SPT 2 14
N SPT 3 16
N SPT 4 17
363
N SPT
N SPT 1 N SPT 2 N SPT 3 N SPT 4
4
N SPT
15 14 16 17 15, 5
4
Tensão Admissível pela fórmula de Mello (1975)
sadm 20 N SPT
sadm 20 15, 50 310 kPa
sadm 310 kN/m†
Verificação de segurança
Como a Tensão Aplicada pela sapata no solo é maior do que a Tensão Admissível estimada
para as condições do solo apresentado, por mais de um método semiempírico, precisamos
redimensionar a sapata.
Primeiro, estabelecemos um valor para a Tensão Admissível, com base nos valores calculados
por dois métodos semiempíricos, calculando um valor médio.
364
sadm
s adm De Mello sadmTeixeira
2
sadm
293, 7003 310 301, 8501 kN/m†
2
Adotamos, então, um valor mínimo aproximado para a Tensão Admissível de 302 kN/m² e pro-
cedemos com os cálculos do redimensionamento.
Carga
saplicada =
` rea
1627,50
302 =
` rea
1627,50
` rea = ≅ 5, 3890 m†
302
Novo Lado da Base para a sapata quadrada
UNIDADE 5
2. E. Estacas Franki se caracterizam pela sua base alargada, são executadas com o auxílio de um
bate-estacas que realiza a cravação de tubo metálico no solo, por meio de golpes de um pilão.
3. C. Estacas raiz tiveram as primeiras patentes requeridas na Itália, em 1952, pelo professor Fer-
365
nando Lizzi e, originalmente, foram desenvolvidas para reforço de fundações. A sua execução
utiliza equipamentos de pequeno porte movidos à eletricidade, o que favorece o funcionamento
em locais fechados, evitando barulho e fumaça de motores à explosão.
UNIDADE 6
1. C.
Método Aoki-Velloso
Perímetro da estaca:
U p D 3, 1416 0, 30m 0, 94 m
F2 2 F1 2 3 6
L1 5, 30m
a1 0, 04
K1 220kPa
N SPT
5 7 8 8 9 7, 4
5
r1
a1 K1 N SPT 0, 04 220 7, 4 10, 85kPa
F2 6
L2 3, 70m
a2 0, 02
K2 800kPa
N SPT
10 11 12 14 11, 75
4
r2
a2 K2 N SPT 0, 02 800 11, 75 31, 33kPa
F2 6
366
RL U rL L
RL U r1 L1 r2 L2
RL 0, 94 10, 85 5, 30 31, 33 3, 70 163, 02kN
Método Décourt-Quaresma
RL U L rL b
Perímetro da estaca:
U p D 3, 1416 0, 30m 0, 94 m
L1 5, 30m
b1 0, 80
N SPT
5 7 8 8 9 7, 4
5
N 7, 4
r1 10 SPT 1 10 1 34, 67 kPa
3 3
R1 U L1 r1 b1 0, 94 5, 30 34, 67 0, 80 138, 18kN
Camada de areia siltosa:
L2 3, 70m
b2 0, 50
N SPT
10 11 12 14 11, 75
4
N 11, 75
r2 10 SPT 1 10 1 49, 17 kPa
3 3
R2 U L2 r2 b2 0, 94 3, 70 49, 17 0, 50 85, 51kN
RL RL1 RL2
RL 138, 18 85, 51 223, 69kN
367
2. E. Para o cálculo da nega (s), utiliza-se a distância máxima (Dmx) entre o primeiro patamar do
ensaio e o último, dividida por 10.
Ppilar 3700kN
Estacas 4, 93
Padm 750kN
Como a quantidade de estacas é, sempre, em valores de unidades inteiras, admite-se o valor
aproximado unitário superior, neste caso, cinco estacas, como o mínimo para oferecer resis-
tência à carga do pilar.
UNIDADE 7
1. B. Cada uma das outras alternativas possui problemas em sua elaboração ou na interpretação das
informações contidas no perfil apresentado. A alternativa A está incorreta porque tubulões são
fundações profundas, ou seja, que se apoiam em camadas do solo oito vezes igual ou maior do
que a menor dimensão do elemento e com cota de assentamento mínima de 3 m. A alternativa C
está incorreta porque tubulões são empregados quando as camadas superficiais do terreno não
são capazes de suportar as cargas da construção. A alternativa D está incorreta porque tubulões
são fundações executadas por escavação manual e/ou contando, mecanicamente, pelo menos,
na sua etapa final, com a descida de pessoal para serviços ou inspeção na base. A alternativa E
está incorreta porque os tubulões são constituídos, somente, por concreto simples ou armado.
2. C. Informações do problema:
Profundidade de assentamento = H = 12 m
Volume 1 – Fuste
π d2
V1 V f H hB
4
1, 5393
V1 10, 85 0, 3848 10, 85 4, 1750 m3
4
368
Volume 2 – Tronco de cone da base
2 2
π htc D d D d
V2 Vtc
3 2 2 2 2
2 2
3,1416 1, 15 0, 20 2, 10 0, 70 2, 10 0, 70
V2
3 2 2 2 2
3, 1416 0, 95 2 2
V2 1, 05 0, 35 1, 05 0, 35
3
2, 9845
V2 1, 1025 0, 1225 0, 3675
3
V2 0, 9948 1, 5925 1, 5842m3
2 2
D 2, 10
V3 VrB π 0, 20 3, 1416 0, 20
2 2
2
V3 3, 1416 1, 05 0, 20 3, 1416 1, 1025 0, 20 0, 6927m3
Volume total
Vtotal V1 V2 V3
Vtotal 4, 1750 1, 5842 0, 6927 6, 4519m3
3.
a) Qual a Tensão Admissível Média, pelos métodos semiempíricos, para o solo, na cota de
apoio do tubulão?
Informações do problema:
369
Carga = P = 2000 kN
Profundidade de assentamento = H = 13 m
N SPT 1 21
21 38 50
N SPT 2 38 N SPT 36, 33
3
N SPT 3 50
sadm 33, 33 N SPT
sadm 33, 33 36, 33 1210, 8789 kPa
370
Tensão Admissível na cota de apoio do tubulão:
sadm 25 N SPT s 'vb 25 36, 33 227, 45
sadm 908,225 227, 45 1135, 70 kPa
N SPT 1 21 21 38
N SPT 29, 5
N SPT 2 38 2
A Tensão Efetiva na cota de apoio do tubulão
sadm 20 N SPT s 'vb 20 29, 5 227, 45
sadm 590 227, 45 817, 45 kPa
sadm
1210, 8789 1135, 70 817, 45
3
sadm
3164, 0289 1054, 68 kPa
3
A Tensão Admissível Média, considerando os métodos semiempíricos que utilizam os resultados
do Ensaio SPT, tem o valor aproximado de 1054,68 kPa.
371
2 2
D 1, 50
Abase p 3, 1416
2 2
2
Abase 3,1416 0, 75 3, 1416 0, 5625
Abase 1, 7671 m†
P 2000
saplicada 1131, 80 kPa
Abase 1, 7671
Verificação de segurança:
saplicada sadm
1131, 80 1054, 68
A tensão aplicada pelo tubulão na cota de apoio (1131,80 kPa) é maior do que a Tensão Ad-
missível (1054,68 kPa) nesta mesma cota. Dessa forma, é necessário redimensionar o tubulão.
D
4 γ f P 4 1, 4 2000
π σadm 3,1416 1054, 68
D
11200 3, 3802 1, 8385 m
3313, 3826
Como no dimensionamento de fundações é recomendada a adoção de dimensões que são
múltiplas de 5 cm, adotaremos, para o diâmetro da base, a medida de 1,85 m.
=
Uma vez que se prevê o uso de concreto de Classe C25 cujo f ck =
25 MPa 25000 kPa e
0, 85 f ck 0, 85 25000 21250
σconc
γc 2, 2 2, 2
σconc 9659, 0909 kPa
372
Procedemos, então, ao cálculo do diâmetro do fuste:
d
4 γ f P 4 1, 4 2000
π σconc 3,1416 9659, 0909
d
11200 0, 3691 0, 6075 m 60 cm
30345
Como no dimensionamento de tubulões, a norma indica que o fuste deve ter diâmetro igual
ou maior do que 70 cm, para permitir a entrada de uma pessoa a fim de realizar o trabalho de
escavação, limpeza ou inspeção da base, manteremos o diâmetro do fuste inicial de 0,70 m.
A norma técnica NBR 6122 estabelece que este ângulo deve ter valor maior ou igual a 60º e,
como esse valor satisfaz a maioria dos casos de tubulões isolados como este, será o valor de
ângulo que adotaremos.
Com as dimensões dos diâmetros de base e fuste, além da inclinação do ângulo da base, pro-
cedemos ao cálculo da Altura da Base:
D d 1, 85 0, 70
hB tan a tan 60º
2 2
1, 15
hB 1, 7320 0, 575 1, 7320 0, 9959 m
2
A norma técnica NBR 6122 estabelece que esta altura da base deve ter valor menor ou igual a
1,80 m. A altura calculada passa no critério da normativa. Pelo fato de que, no dimensionamento
de fundações, ser recomendada a adoção de dimensões múltiplas de 5 cm, adotaremos, para
a altura da base, a medida de 1,00 m.
Este tubulão redimensionado, agora, possui as seguintes dimensões: diâmetro da base = 1,85
m; diâmetro do fuste = 0,70 m; altura da base = 1,00 m.
UNIDADE 8
373
2. D. Esta é a única alternativa correta porque as demais apresentam os seguintes problemas de
conceito: na alternativa A, os escorregamentos apresentam velocidades médias (km/h) a altas
(m/s); na alternativa B, os escorregamentos apresentam movimentos translacional, rotacional
ou em cunha de pequenos a grandes volumes de materiais. Mover-se como um líquido viscoso
é característica dos movimentos de massa do tipo corridas. Na alternativa C, os tombamentos
podem apresentar geometria variável, como: lascas, placas, blocos etc. Os movimentos cons-
tantes, sazonais ou intermitentes fazem parte dos movimentos de massa do tipo escoamento;
na alternativa E, o movimento do tipo queda livre ou em plano inclinado é característico dos
tombamentos, enquanto o movimento semelhante ao de um líquido viscoso escoando sobre
uma superfície é representativo dos movimentos de massa do tipo corridas.
3. A.
Dados do problema
Para o cálculo da força peso, basta multiplicar o peso específico pelo volume da massa do solo
destacada no talude:
P g nat V 18 13 234 kN
O esforço instabilizador será a componente tangencial da força peso. Para o cálculo, basta multi-
plicar a força peso pelo seno do ângulo de inclinação da superfície de ruptura indicada no talude:
O esforço resistente será composto pela parcela da coesão da massa de solo no talude somada
à sua Força de Atrito. O seu cálculo é:
374
ER c A P cos θ tg φ
ER 1, 3 10 234 cos 50º tg 35º
ER 13 234 0, 6428 0, 7002
ER 13 105, 3207 1369, 1691 kN
Fator de segurança considerando que não existe fluxo de água no talude
O cálculo do Fator de Segurança para a situação-problema procede pela razão entre os Esforços
Resistentes e os Esforços Instabilizadores:
ER 1369, 1691
FS 7, 6385 8
EI 179, 244
com o valor do FS > 1, o talude encontra-se numa situação estável.
UNIDADE 9
1. B. Os muros em fogueiras, também chamados Crib Walls, são tipos de muros que estabelecem
uma barreira a um maciço terroso, por meio do peso próprio de sua estrutura estabilizada,
razão pela qual são classificados como muro gravidade.
4. E.
375
FStomb
M RES M Pc Pc ec
M SOL M Eh Eh H '
3
FStomb
477, 5 1 47, 5 1, 70
18, 607 1, 5 27, 9105
como o Fator de Segurança contra o tombamento é de 1,70 (maior do que o limite de 1,2), a
estrutura de contenção passa na verificação e está bem dimensionada.
376