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(A ilha aproxima-se do barco. Por trás da ilha aparece o Rei. Tem um aspeto grotesco
de rei do Carnaval.)
PIRATA- Deita cá para fora todo o teu dinheirame, manipanço. Já. Já que tenho pressa.
REI- Como vindes insofrido, estrangeiro! Quem sois? Que pretendeis? Donde vindes ?
Trazeis alguma mensagem de um rei meu amigo, ó ilustre embaixador?
PIRATA- Qual mensagem nem qual carapuça! Quero os teus tesouros, depressa. Toca a
despachar.
REI- Expressai-vos com presteza, mas eu não vos entendo. Sabeis porventura que
estais a falar com um rei?
REI- Rei desta ilha, senhor absoluto de todo o mar que vedes em volta. D. Ordonho I,
rei das Espinhas de Carapau e das Escamas de Bacalhau. Prestai-me homenagem.
PIRATA- Eh! Eh! E o teu palácio, os teus vassalos, os teus súbditos, onde estão eles?
REI- Não tenho palácio, nem vassalos, nem súbditos, ilustres estrangeiros. Vivo
sozinho. Se tivesse vassalos e súbditos não me deixavam ser rei como eu quero.
PIRATA- Eh! Eh! Pois então dá cá o teu mealheiro, o teu tesouro, que nós vamo-nos já
embora e não te incomodamos mais.
REI- O meu tesouro, impaciente estrangeiro, é constituído, como o seu título anuncia,
por espinhas de carapau e escamas de bacalhau. Se assim o quereis, levai-o e enchei
com ele o vosso barco.
PIRATA- O nosso barco… Onde está ele? Socorro! Socorro! O nosso barco é puxado
pela corrente. ( O barco afasta-se e desaparece) Vão busca-lo, vadios. Tragam o meu
barco, malandros.
SERAFIM E MALACUECO- Nós não sabemos nadar…