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O Primeiro Contato

O balançar da carroça o fez despertar de seu sono. O som dos cascos batendo nas
pedras da estrada era a única coisa que se podia ouvir enquanto a carroça de prisioneiros
avançava. A cabeça latejava, seus braços doíam, enquanto seus punhos estavam amarrados
em cordas firmes atrás de seu corpo. Não conseguia se lembrar do que tinha acontecido,
apesar de claramente estar preso e sendo levado para algum lugar ainda desconhecido. A neve
caía devagar, conforme a carroça passava por baixo de pinheiros altos e cobertos de neve que
tampavam quase que totalmente o céu nublado. Reconhecia o ambiente. Skyrim, estou enfim
aqui. Uma névoa fina cobria o ar, sinal de que deveria ser de manhã.

O silêncio foi quebrado por uma voz masculina chamando-o:

- Hei! Você finalmente acordou. – disse um homem à sua frente, também amarrado
pelos punhos. Suas vestes eram semelhantes á um uniforme militar. Possuía uma capa
azul que cobria os ombros, enquanto uma couraça marrom lhe protegia o peito. Seu
cabelo era loiro, com uma trança curta pendendo do lado esquerdo de seu rosto. Um
nórdico. A barba por fazer demonstrava falta de apelo visual, provavelmente estaria á
um bom tempo longe de casa.

- Você estava tentando atravessar a fronteira, não é? E acabou caindo nessa


emboscada imperial, como nós e esse ladrão. – e apontou com a cabeça para o lado,
indicando um homem franzino e maltrapilho, com os punhos amarrados e manchas
negras em volta dos olhos.

- Malditos sejam os Stormcloacks. Skyrim estava tão bem até vocês aparecerem. O
império era agradável e tranquilo. – disse o ladrão. Sua voz estava trêmula e um pouco
nervosa.

- Hei! Você. – e voltou sua atenção á Roth. – Você e eu não deveríamos estar aqui. São
estes Stormcloacks que o Império quer.

- Somos todos irmãos e irmãs prisioneiros agora, ladrão. – bravejou o homem de azul.

- Silêncio ai atrás! – gritou o soldado imperial que conduzia a carroça.

- O que há de errado com ele, hein? – perguntou o ladrão a um homem á sua frente,
sentado ao lado de Roth. Não tinha visto ele ai antes, e porque a mordaça? Ele parecia
mais nobre do que os outros. Vestia uma pesada capa de peles, junto a uma cota de
malha com panos azuis cobrindo seu peito. Seus cabelos também eram loiros, e
parecia mais velho que o homem da trança no rosto.

- Cuidado com a língua. – disse o soldado da trança. – Você está falando com Ulfric
Stormcloack, o seu verdadeiro Rei Supremo.

Ulfric Stormcloack!?
- Ulfric? O Jarl de Windhelm? Você é o líder da rebelião. – disse o ladrão olhando para
o homem amordaçado, com a voz assustada. – Mas se eles capturaram você... pelos
deuses, onde estão nos levando? – o nervosismo tinha crescido em sua voz.

- Eu não sei aonde vamos, mas Sovngarde nos aguarda. – respondeu o soldado da
trança, com a voz calma e cansada.

- Não, isso não pode estar acontecendo. Isto não está acontecendo! – choramingou o
ladrão.

- Hei! De que vilarejo você é, ladrão? – disse o homem á frente de Roth com um tom
cortante.

- De que isso importa?

- Os últimos pensamentos de um Nórdico devem ser para sua casa.

- Rorikstead. Eu sou... eu sou de Rorikstead. – respondeu o ladrão, com a voz sendo


uma mistura de nervosismo e tristeza ao pensar em sua casa.

O caminho seguiu por uns instantes em silêncio, até um soldado imperial gritar do alto
das ameias cobertas de uma pequena muralha de pedras nuas.

- General Tullius, senhor! O carrasco está esperando!

- Bom. Vamos acabar com isso. – respondeu uma voz grave e com um leve sotaque
imperial. O General liderava o que Roth foi perceber só depois que se tratava de uma
pequena comitiva de carroças de prisioneiros Stormcloacks.

- Shor, Mara, Dibella, Kynareth, Akatosh. Divinos, por favor, me ajudem. – orou o
ladrão enquanto fitava o chão da carroça. Os deuses não nos ajudarão agora, nunca
irão.

Enquanto a carroça atravessava o portão, o General se destacou da formação, indo


juntar-se ao que pareciam ser Thalmors pela direita, já dentro da cidade.

- Olhe para ele, General Tullius, o governador militar. – comentou o soldado da trança.
– E parece que os Thalmors estão com ele. Malditos elfos. Aposto que tiveram algo a
ver com isso.

A carroça seguia por uma rua de pedras por entre pequenas casas de madeira. O
soldado da trança, com a voz um pouco melancólica comentou:

- Esta é Helgen. Eu costumava me dar muito bem com uma garota daqui. Imagino se
Vilod ainda está fazendo aquele hidromel com Bagas de Junípero.

E continuou:
- Engraçado, quando eu era um garoto, muros e torres Imperiais costumavam fazer eu
me sentir tão seguro...

A carroça rangeu enquanto fazia uma pequena curva contornando uma torre baixa de
pedras. Á esquerda, na varanda de uma casa que ficava ao lado de uma segunda torre,
um menino que estava sentado comentou com seu pai:

- Quem são eles, papai? Aonde eles estão indo?

- Você precisa ir para dentro, filho. – respondeu seu pai com tom sério.

- Por quê? Eu quero ver os soldados.

- Para dentro da casa. Agora.

A carroça, após chegar em uma pequena praça, cercada por um muro baixo de pedras
começou a desacelerar.

- Porque estamos parando? – perguntou o ladrão, olhando para os lados com


nervosismo.

- O que você acha? Fim da linha. – respondeu o soldado de azul. Sua voz estava
estranhamente calma, como se já tivesse aceitado seu destino.

Fitando Roth, ele continuou:

- Vamos. Não devemos deixar os deuses à nossa espera. – e se levantou, para sair da
carroça.

O ladrão, se levantando, choramingou para os guardas imperiais:

- Não! Espere! Não somos rebeldes!

- Encare sua morte com coragem, ladrão. – cortou o soldado de azul com rispidez.

- Tem de dizer para eles! Nós não estávamos com vocês! Isto é um erro! – se
desesperou o maltrapilho.

Ao lado direito, de outra carroça de prisioneiros, soldados de azul com as mãos


amarradas também desciam e formavam uma fila na frente de dois soldaos Imperiais.
Uma pequena quantidade de pessoas vinha ver a cena e se juntavam em volta das
carroças e ao lado de uma torre, que ficava a menos de dez metros, do outro lado da
praça.

À frente da fila em que Roth estava, uma capitã imperial falou em voz alta, para que
todos escutassem:

- Caminhem para o bloco quando falarmos seus nomes. Um a um.


- O Império adora as suas malditas listas. – comentou o homem da trança enquanto
descia da carroça, à esquerda de Roth, que já estava de pé na fila.

- Ulfric Stormcloack. Jarl de Windhelm. – chamou um escriba Imperial que segurava um


pequeno livro e uma pena.

- Tem sido uma honra, Jarl Ulfric. – falou o soldado, enquanto Ulfric caminhava para o
centro da praça, onde um bloco e um homem de vestes negras e um machado de
carrasco aguardavam.

- Ralof, de Riverwood – chamou o escriba.

O homem de azul com a trança no cabelo se virou e caminhou em direção ao centro da


praça, juntando-se a alguns soldados Stormcloacks. À frente na fila, estava o ladrão.

- Lokir, de Rorikstead.

- Não, eu não sou um rebelde! Não pode fazer isso! – gritou, enquanto saia correndo,
pelo caminho que a carroça fez, tentando fugir da morte.

-Alto! – gritou a capitã. – Arqueiros!

O ladrão corria enquanto passava por arqueiros que puxavam seus arcos e apontavam
em sua direção.

- Vocês não vão me... – mas antes de terminar, uma flecha voou em sua direção e o
acertou nas costas, na altura do ombro. Seu corpo tombou nas pedras, imóvel.

- Alguém mais com coragem para discutir? – bravejou a capitã Imperial. Então, o
escriba se virou para Roth.

-Espere. Você ai. Dê um passo a frente. - Ele olhou seu caderno mas algo estava
errado.

- Quem é você? - perguntou.

- Meu nome é Rothfuss, eu sou de Cyrodill.

- Esse foi um péssimo momento para voltar a Skyrim, compatriota. - Sim, um péssimo
momento.

- Capitã. Quais são as ordens? Ele não está na lista. - indagou o escriba.

- Esqueça a lista, ele vai provar o machado. - Vaca desgraçada.

- As suas ordens, Capitã. - e se virou para Roth. - Ao menos você vai morrer aqui, na
sua terra natal.

Sim, terra natal...


- Siga a Capitã, prisioneiro.

Enquanto ela caminhava na direção do bloco de execução, podia-se ver a pequena


torre que se erguia no centro da praça. Estandartes Imperiais balançavam ao vento da
manhã. Braseiros ardiam ao lado da entrada da torre, enquanto a esperança dos
rebeldes e a de Roth queimava. Ele caminhou junto à Capitã até se juntar com os
outros prisioneiros em volta do bloco, à frente da torre. Ao seu lado, Ulfric
Stormcloack estava de pé, e em sua frente o General Tullius falava:

- Ulfrick Stormcloack. Alguns aqui em Helgen o consideram um herói. Mas um heróis


não usa um poder como a Voz para assassinar seu Rei e usurpar-lho o trono.

A Voz!?

- Você começou essa guerra, mergulhando Skyrim no caos e agora o Império vai acabar
com você e restaurar a paz.

De repente, um som alto ecoou por entre as montanhas. Algo parecido como um
rugido, mas não de qualquer animal, mas algo grande, muito grande.

- O que foi isso? - perguntou o escriba.

- Não é nada. Continue - ordenou o General.

- Sim, General Tullius. Dê a eles os seus últimos ritos. - disse a Capitã à uma sacerdotisa
de Arkay que estava ao lado do carrasco. Que irônico.

- Encomendamos vossas almas a Aetherius, que as bênção dos Oito Divinos estejam
convosco, pois que são o sal e a terra de Nirn, nossos amados... - mas antes que
pudesse terminar, um soldado Stromcloack de cabelos vermelhos avançou dizendo:

- Pelo amor de Talos, cale-se e acabemos de uma vez com isso.

- Como você quiser. - disse a sacerdotisa.

O soldado caminhou até o bloco, ajoelhando-se nas pedras frias e continuou:

- Vamos lá, eu não tenho toda a manhã. - enquanto se ajoelhava, a Capitã Imperial
colocou o pé em suas costas, empurrando-o para que ficasse com a cabeça em
posição. Mas o soldado não se calou:

- Meus ancestrais sorriem para mim, Imperiais. Vocês podem dizer o mesmo?

O carrasco levantou seu machado, e com um movimento rápido, a cabeça do soldado


caiu de seu corpo. Sangue jorrou pelo chão enquanto seu corpo inerte tombou para o
lado. ‘’Imperiais bastardos!’’ gritavam algumas pessoas. ‘’Morte aos Stormcloacks’’
gritavam outras.
- Tão valente na morte quanto foi em vida – disse Ralof, de Riverwood.

- Próximo, o Nórdico esfarrapado! – gritou a Capitã. E outro rugido se fez ouvir,


ecoando pelas montanhas e fazendo as muralhas tremerem.

- Ai está de novo, você ouviu? – indagou o escriba olhando para os céus.

- Eu disse próximo prisioneiro! – bravejou a Capitã novamente.

- Para o bloco prisioneiro, com calma. – falou o escriba para Roth.

É o fim, não pude fazer nada de bom em minha vida, e vou morrer de forma patética
junto a rebeldes e ladrões. Com dificuldade, Roth se ajoelhou de fronte ao bloco. O
sangue ali fazia seus olhos arderem. O corpo do soldado morto ainda estava ali e o
bloco estava sujo. Tudo que Roth podia ver era a torre se erguendo á sua esquerda e o
carrasco levantando o machado, pronto para dar o golpe final. Tomando impulso para
decapita-lo, algo o impediu momentaneamente. Um som alto de asas batendo se fez
ouvir. Um estrondo fez o chão tremer e desequilibrar o carrasco, que caiu no chão com
o peso. Soldados Imperiais gritavam e puxavam seus arcos, apontando para os céus.
Tudo que Roth podia ver era uma imensa sombra se projetando no chão enquanto
estava ajoelhado no bloco. De trás da torre, algo apareceu. Era enorme, e negro como
a noite. Pousando no topo da torre com duas patas enormes e poderosas fez pedras
desabarem enquanto esticava duas asas negras, que cobria a luz do sol. Sentinelas
gritavam e atiravam flechas que rebatiam nas escamas da criatura sem efeito.

- Dragão! – gritou a Capitã.

Enquanto seus olhos se acostumavam com a falta repentina de luz, Roth pode ver.
Enormes olhos vermelhos como sangue se erguendo a cinco metros no topo da torre.
Um dragão se levantava e rugia seu poder, criando uma onda de choque que fez o céu
escurecer. Tombando para o lado em cima do cadáver decapitado do soldado, Roth
pode ver que o céu queimava, milhares de rochas em chamas caíam do que parecia ser
um buraco ardente. O dragão bateu suas poderosas asas e se ergueu, rugindo
enquanto centenas de rochas caíam dos céus.

- Por Oblivion o que é isso? – gritou o General Tullius. Isso é a morte, as lendas
estavam certas. Muitos temiam por esse dia, e ele finalmente chegou. Alduin, o
primogênito retornou, e não há nada que podemos fazer.

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