“Desembarcamos naquela ilha no último domingo, por volta
das 10:40 da manhã. Karamarraw ainda é como
antigamente, um grande arquipélago florestado e com enormes elevações, tendo muitos penhascos. Nossos barcos atracaram na pequena praia que fica ao Norte da ilha maior. E como o pedido, fomos em busca da entidade maligna que as lendas contam que lá habita. E quando já estávamos lá há quase uma hora, a Décima Tropa de Exploração encontrou, no meio de uma enorme floresta de árvores grandes e escuras, uma área completamente devastada. Um círculo de um raio de dez metros, que aparentemente era impossível ter vida naquele espaço. A grama que devia ser verde era cinza, e as árvores com seus troncos e folhas caídas, com coloração escura. Todo aquele lugar exalava um forte odor, e até mesmo os animais, como os pássaros que vimos, mantinham distância. Isso até um dos homens entrar nesse círculo, e de repente uma luz branca surgir no meio daquela área; o homem caminhou para essa luz devagar, mas no momento, seus olhos haviam se tornado inteiramente pretos. Assim que ficou ao lado da luz, ela sumiu, e ele se virou aos companheiros, que perceberam os olhos e ficaram confusos, antes de notarem que o soldado puxou seu revólver do coldre de seu cinto, e disparar contra todos, não sei se sobreviveram, pois assim que percebi, me escondi e voltei à embarcação para escrever esse relatório enquanto ouvia dezenas de disparos. Mas a missão foi um sucesso, eu consegui voltar com outros cinco soldados em meu barco, e assim chegamos à conclusão de que sim, Karamarraw ainda é amal-.” — Amaldiçoada com uma estranha energia. — Disse uma voz feminina, em meio a um grande salão com pouca iluminação, tendo apenas alguns feixes de luz que entravam de janelas nas paredes, tampadas por persianas de cor azulada. A mulher que dizia estava ajoelhada sobre um tapete da mesma cor, olhando para um papel, mas em seguida fitou um homem em sua frente, que estava sentado sobre um reluzente trono de cor dourada. Com a perna direita sobre a esquerda, sua face era ofuscada pelas sombras, porém seus longos cabelos prateados e pele pálida eram visíveis, além de duas presas em sua boca, com lábios avermelhados e ao seu redor continha manchas de sangue. Segurava uma taça, apoiada sobre o braço do trono, em que em seu interior havia algo viscoso e fortemente avermelhado. — Hm. — O homem sorriu de canto, logo passando sua língua sobre seus lábios superiores e levando a taça aos mesmos, o qual por um instante bebericou daquele líquido. — Isso significa que essa energia ainda está lá, esperando por nosso reino. — Majestade. O senhor quer esse poder para quê? Isso praticamente dizimou tropas nossas, e... — Poder bélico, Capitã Trinity. — Ele a interrompeu, a olhando de canto, enquanto seus olhos vermelhos a fitaram naquela escuridão. — Com um poder desses nas mãos de Jord, é questão de tempo para que possamos unificar todo esse continente de Verden Af Fortaellinger, todos sob o nosso comando. Sabe o que isso significa, não é? Cada vez menos conflitos inúteis nesse mundo. — Sim, Rei Konge. — Trinity disse, baixando o olhar e dobrando a carta que ela teria lido. Em seguida se levantou, mas ainda mantendo suas costas curvadas em direção ao rei, que a olhava com olhar penetrante. — Você já sabe o próximo passo de nosso plano. — Contatar o Reino do Leste, Flerim... Entendido. Ao responde-lo, a capitã olhou para os olhos avermelhados da majestade, engolindo em seco. Se mantinha firme, embora seus pensamentos fossem o oposto da coragem que ela demonstrava. Konge ainda a encarava com olhar intimidador, e sentia o ambiente pesado em meio àquela escuridão. Assim, soltando outra breve risada, ele diria: — Use essa carta como desculpa, ofereça-os a oportunidade de ter tamanha força junto a nós. Precisamos de números, ainda mais se essa aura sair do controle. — Entendido, majestade... Com seus olhos, o vampiro indicou a saída da sala do trono atrás da moça, que assim como as janelas, era tampada por um grande véu de coloração escura e com mandalas azuis desenhadas, em meio a todo aquele local de paredes feitas de mármore. E respirando fundo, ela se curvou mais uma vez, e murmurando “com licença...”, se virou de costas à majestade. Com cada passo ecoando pelo silêncio, Trinity saiu da sala do trono lentamente. Atravessando a cortina escura e passando por uma grande porta de madeira por trás dela. Ao sair e caminhar um pouco pelos corredores, ela ainda sentia a tensão que era estar diante do Rei do Sul. Sabia exatamente qual era sua missão, e que não deveria decepcioná-lo. Nem como cidadã, nem como capitã. Porém em meio aos seus pensamentos, seu olhar mudou de repente, junto de um sorriso de canto em seu rosto. E ao perceber, já estava fora do castelo, sentindo o calor do Sol que cobria toda aquela região árida e quente. Com seu céu azul e limpo, que mostravam no horizonte as poucas dunas de areia e o deserto em que o reino estava. Ela nunca entendeu como um vampiro era rei de um reino em que o Sol era tão quente, em que nem precisasse de fogo para ferver água. Porém em meio aos seus pensamentos, a moça olharia ao seu redor, notando vários guardas de armaduras metálicas e com detalhes em azul, a cor usada para identificar o Reino Jord, do Sul. As roupas de Trinity também não eram diferentes, sendo uma armadura leves sobre vestes azuis e brancas, mas calçando apenas uma bota de couro. Em suas costas, havia uma baínha média com uma espada presa na mesma. Saindo daquela escuridão, a aparência daquela mulher se revelou ser de uma jovem, sua pele era clara, enquanto seus olhos possuíam tom castanho. Seu longo cabelo brilhava em dourado com a luz do Sol, embora fosse castanho-claro. Seu físico era esbelto e pouco musculoso, enquanto uma forte determinação era visível em seu olhar. Capítulo Um — A Mensagem.
O Deserto Yettus é um local extenso, com temperaturas
extremas, e coberto por dunas e grandes elevações rochosas. Apesar de ser desértico, é comum ver cavalos ou carruagens passando por tal lugar, por se situar entre dois reinos: O Reino do Sul, Jord. E o Reino do Leste, Flerim. Cobrindo todo o sudeste do continente, a fauna e flora são escassas, e as únicas coisas que se pode encontrar são: areia, rochas, e o Sol escaldante. Era fim de tarde, o Sol estava se pondo ao oeste com coloração alaranjada, enquanto o céu completamente limpo já tinha um tom azul escuro, com o crepúsculo alternando as cores. E próximo a uma enorme muralha que circundava o Reino do Leste, galopes rápidos e fortes que pisavam sobre a areia podiam ser escutados por perto. Em um cavalo appaloosa branco, estava Trinity Reeves, que cruzava aquela região arenosa velozmente, com o seu olhar focado naquelas muralhas enormes feitas de pedras. Correndo em linha reta, aquele cavalo iria sem parar para a grande entrada daquele reino, uma grande abertura feita entre os tijolos daquela muralha. Mas quanto mais perto a capitã chegava, seus olhos focavam em um único ponto a sua frente. E ao se aproximar, percebeu que lá havia um jovem sentado no chão, visivelmente ferido e cansado. Sua camiseta branca rasgada, amassada e empoeirada, e o sangue em seu peito, braço e rosto deixavam isso bem aparente. E percebendo aquela situação, ela rangeu seus dentes enquanto respirou fundo, revirando o olhar. “Preciso focar na minha missão, não preciso ser babá de ninguém. Esse mané pode voltar para casa sem mim”. — Foi o que a mesma pensou, mas ainda assim seu olhar tinha confusão, receio e incerteza presentes, enquanto ela mordeu levemente seu lábio inferior. E a cada galope de seu cavalo, ela olhava para aquele rapaz no chão, percebendo agora seu cabelo curto de tom grisalho, que era bagunçado e espetado, tendo uma franja que cobria brevemente sua testa. Mas seu olhar estava baixo, e mesmo a garota não podendo ver o rosto dele, lamentou aquela situação. “Como eu queria ter coragem”. — Trinity pensou novamente, com olhar relutante, mas aliviada. Dessa forma, à poucos metros de passar pelo jovem, seu cavalo desacelerou devagar com o comando da capitã. Ela olhou o homem a sua direita por cima, e sem precisar falar nada, aquele rapaz notou sua presença, pela sombra que o cavalo e a garota formaram em sua frente. Ele ergueu seu rosto, revelando seus olhos vermelhos e vários arranhões sobre sua pele extremamente clara. Seu físico era forte para alguém que não aparentava ser nem sequer adulto. O mesmo abriu sua boca e disse algo que os pensamentos de Trinity a distraíram. “Eu conheço esse rosto de algum lugar... Onde seria? Mas o que de fato me deixa chocada é um garoto claro desse jeito viver nesse clima quente. Não que seja um problema, mas se no Sol de Jord minha pele sofre, imagina ele aqui, onde o Sol é pior ainda. Esse cara é um guerreiro”. — Ela pensava, enquanto seu olhar partia tanto de surpresa, quanto para admiração. Que, notando isso, assustou o rapaz. Ao perceber, ele estava respirando ofegantemente, com olhar trêmulo. —É... Moça, tá tudo bem com a senhorita? — Disse-lhe gaguejando, tentando se afastar da mesma com seus braços, mas que estavam visivelmente feridos. O mesmo notou sua armadura e seu brasão de Jord, que carregava tanto em seu peito, quanto na sela do cavalo. — Se está procurando alguém, não sou e- — Cara, você tá todo quebrado, parece que foi atacado por um tigre. — O interrompendo, Trinity disse com um olhar sério, posteriormente olhando fixamente para os olhos do mesmo. — Eu sou a Capitã Trinity Reeves, de Jord. Precisa de uma ajudinha? — Ah, é, bem... — Ele gaguejou, ainda trêmulo e incerto. Mas apesar da mesma estar o olhando fixamente de um jeito estranho, não sentiu que ela era uma ameaça. Pelo contrário, de alguma forma, sabia que ela era uma boa pessoa. Assim, abriu um sorriso envergonhado em seu rosto. — Se puder me ajudar, eu estaria te devendo uma. — Pode deixar. — Ao notar aquele sorriso, ela o retribuiu sorrindo de canto, tirando aquele estranho olhar que ele estava incomodado. A capitã desceu de seu cavalo enquanto acariciava brevemente suas costas, logo indo para o lado do mesmo, e o jovem a acompanhou com o olhar. Erguendo suas mãos em direção da nuca dele, Trinity pôs uma mão sobre a outra e respirou fundo, fechando seus olhos. — Não sou muito boa com cura, então deve levar um tempo, e não deve te curar completamente. Já peço desculpas. — O alertou, assim logo dizendo: — ølkatt. Ela recitou um feitiço em direção dele, que assim que foi dito, uma luz azul-ciano saiu da palma da sua mão. E como um feixe, ela rodou ao redor do corpo daquele homem, indo de cima para baixo lentamente. Essa magia causou uma pequena brisa naquela posição, jogando grãos de areia e balançando o cabelo e as roupas dos dois. — Não precisa pedir desculpas. Eu queria ter essa dádiva da magia. — O rapaz comentou com tom baixo, enquanto olhava com olhar maravilhado para aquele feixe. — O quê? Esse feitiço é o mais básico de cura que eu aprendi quando entrei no exército. Qualquer um pode fazer um mais complexo. — Algumas pessoas nascem com mais azar que as outras, eu sou uma delas. Eu não nasci com essa capacidade. — Ah, eu entendo. — Ao ouvi-lo dizer com tom melancólico, a capitã respirou fundo, ainda de olhos fechados enquanto usava o feitiço. — Desculpa a pergunta, mas o que você fez para ficar tão ferrado assim? — Nem perde tempo, você não acreditaria se eu dissesse. — Qual é, eu já vi muita coisa impossível com meus olhinhos. Você já viu o enterro de um anão? Nem precisa responder, mas eu já. — Tudo bem... — O mesmo riu baixo, sentindo um leve arrepio quando aquela magia passava por um ferimento em seu braço, fechando-o e o cicatrizando só de se aproximar. — Eu estava tentando... Voar. Ao ouvir aquelas palavras, a capitã soltou uma gargalhada que quase a fez interromper o feitiço, que já estava chegando ao seu fim. Mas fez abrir seus olhos. Aquele rapaz virou seu rosto e a olhou, sorrindo de canto com a risada da garota, que o olhou nos olhos. — O que foi? — Ele questionou, rindo brevemente junto dela. — Eu disse que você não acreditaria. — Relaxa, eu... Eu acredito. — Ela respirava fundo, tentando conter os risos. — Mas quer dizer que você subiu numa daquelas rochas e se jogou, tentando voar? Isso não seria uma desculpa para suicídio? — Não, não é bem assim! — O mesmo rebateu, ainda mantendo a risada. — Esquece, não vou conseguir explicar. — Ai ai, tudo bem... — Trinity respirou fundo enquanto retirou suas mãos da direção dele. Ao perceber, ele já estava curado, com somente alguns arranhões. Isso em questão de minutos. — Nossa, você é boa, Senhorita Trinity. — Admirado, a elogiou enquanto olhava para seu corpo e se levantava, com apenas incômodos em onde havia se ferido. — À propósito, eu me chamo Dan, Dan Lock Snevew, não cheguei a me apresentar. — O prazer é todo meu, Dan. Mas não precisa disso de “Senhorita Trinity”, eu só tenho dezenove anos. — Respondeu-lhe, enquanto se virou de costas e foi em direção de seu cavalo, abrindo uma bolsa que estava presa à sela do animal. — E já é capitã com dezenove anos? Não precisa me enganar... — Ao olhá-la, se aproximou da mesma, notando a diferença da altura de ambos. Ela tinha por volta de 1,70. Enquanto Dan tinha 1,85. — Pois é, difícil de acreditar, eu concordo. — Ao notá-lo ao seu lado, tirou um frasco com um líquido avermelhado daquela bolsa, e ergueu na direção dele. — Não confio muito na minha cura, então por precaução, fica com isso. É uma poção de cura. — Ah, obrigado. — Ele apanhou aquele frasco e o deixou em mãos, logo olhando para as muralhas do reino. — Mas o que uma capitã de Jord estaria fazendo aqui em Flerim? Veio à passeio? — Não, eu tenho uma coisa para resolver com a Rainha Nefer-. — Ao olhar para o céu, interrompeu a si mesma, parando abruptamente e assustando Dan, que olhou para aquela direção também, engolindo em seco. — O-o que foi, Capitã Trinity? “Eu... Eu esqueci mais uma vez. Já escureceu, e eu só tinha que entregar aquela carta que está na minha bolsa e ter a resposta da rainha para voltar para minha casa. Como eu sou estúpida”. — Ela pensou, respirando fundo com olhar de decepção, enquanto olhou de canto para o rapaz ao seu lado. — Bem, agora que já está bem não precisa mais de mim. — A capitã disse, e com pressa montou em seu cavalo, fechando a bolsa em sua sela. — Foi bom te conhecer, Dan. Espero te ver novamente. Até mais! E ao dizer isso, o jovem não entendeu absolutamente nada, vendo-a ir embora, em direção de Flerim. Seus olhos a acompanharam durante o percurso, enquanto ele ficava para trás. — O quê? Eu fiz algo de errado para ela ter me olhado daquele jeito e ir embora assim, correndo? Ela podia ter sido a mulher da minha vida, mas eu a deixei ir embora assim. Você não tem sorte, Dan... — Falou consigo mesmo, em tom baixo, enquanto deu pequenos passos em direção do reino. E enquanto o cavalo de Trinity se aproximava cada vez mais daquele reino, ela olhava para a entrada com receio, respirando fundo. Seu cabelo era jogado para trás contra o vento, o que o deixou completamente bagunçado. Sua sorte era de que havia chegado na estrada, que era uma reta para Flerim, o que era bem mais rápido do que cavalgar sobre a areia. “Ah, eu só tinha que ter entregado essa carta e já podia voltar para casa. Mas eu acho que se eu tivesse passado direto e não o ajudado, ficaria arrependida. Eu acho que fiz o certo, só espero que isso não seja motivo para punição”. E enquanto pensava, ela notou que estaria adentrando as muralhas, e diminuiu a velocidade do cavalo, percebendo iluminação e um grande comércio na rua de entrada, com diversas pessoas daquele reino. Sempre que Trinity passava por aquele local, sempre ficava admirada em como um reino daqueles ficava em meio à um deserto, e ainda tinha sua beleza única. Tendo vegetações, casas e um grande número de pessoas que iam e vinham de lá. — Você viu? Mais uma menina desapareceu, e dizem que ela é a Princesa Lena. A Majestade deve estar péssima com isso tudo. — Trinity ouviu um homem comentar, enquanto passava em frente a uma taverna cheia na hora. E aquilo fez seus olhos se arregalarem, enquanto ela baixou sua cabeça e seguiu em frente, não querendo ouvir mais nenhuma conversa alheia. “Eu não estou com medo, mas... Com certeza estou preocupada” — Engoliu em seco, enquanto pensava. — “Se isso realmente é verdade, eu deveria fazer algo, não é? Não, meu único serviço aqui é entregar uma mensagem. Só isso, Trinity, só isso.” Assim, seu cavalo seguiu em frente, com galopes lentos e curtos dentro daquela cidade. Passando pelo comércio, ela se viu em uma praça. Uma pequena área verde urbana com árvores de tamanho médio e com uma fonte de água em seu centro. Pelo horário, muitas crianças estavam deixando o parque, garotos e garotas. Se lembrando do que tinha ouvido, tirou a atenção daquelas crianças. E seguindo em frente, ao levantar o olhar, viu de longe o enorme zigurate de arenito e basalto. O lugar onde a rainha e família real viviam. Ou simplificando, o destino da capitã. Mas ao olhar ao redor, percebeu algo estranho. Apesar das ruas estarem com pelo menos dois guardas, na frente do zigurate era para ter vários o protegendo. Porém ela só podia ver dois, na frente das escadas da entrada daquela construção. Ainda assim, seguiu em frente, passando pelo caminho de paralelepípedos que faziam as ruas do reino. Ao parar na frente da entrada, desceu de seu cavalo e logo abriu a bolsa que havia em sua sela. Dentro dela estava uma bagunça, enquanto ela revirava tudo o que havia lá dentro, e jogando certas coisas para fora sem querer, como uma maçã, moedas e uma caneta-tinteiro. Mas ao achar o que tanto procurava, colocou novamente seus pertences e fechou aquela bolsa. Esticando com suas mãos, Trinity encarou o envelope de papel amarelado. O mesmo que havia recebido e lido para o seu rei, Konge. O segurando firmemente, ela respirou fundo e caminhou lentamente em direção da escadaria, onde haviam os guardas que ela teria visto. — BOA NOITE! — Ela gritou aos homens de armadura e capacete, os quais ela nem podia ver os rostos, que logo a olharam e puseram as mãos sobre suas espadas, guardadas em bainhas em suas cinturas. Porém quando a capitã se aproximou, puderam ver sua armadura e o brasão de Jord. Assim, soltando suas armas. — É, bem, boa noite. Eu preciso falar com a Rainha Nefertari. Eu sou a Capitã Trinity Reeves, de Jord. Fico bem agradecida caso deixem eu en- — Infelizmente a Majestade não está aceitando visitas agora. — Respondeu o guarda que estava à direita da escada, com sua voz abafada pela armadura. — Mas senhor, é urgente. É uma mensagem do próprio Rei Konge. — A Rainha recebeu a notícia que a filha dela está desaparecida, tenho certeza de que Konge, e você, podem esperar. — Respondeu o guarda à esquerda, virando brevemente seu rosto a moça. “Ai ai, eu faço cada besteira por Jord e pelo meu rei...” — Ela pensou, revirando os olhos. — Eu vou entrar por bem ou por mal, a Rainha precisa saber do que se trata. — Trinity rebateu, respirando fundo e os encarando com raiva. — Se retire daqui imediatamente, antes que e- Antes que o guarda da esquerda pudesse completar sua frase, ele foi interrompido com passos rápidos e fortes indo em direção dos três. Faziam um som de passos irregulares, como se quem estivesse correndo estaria muito cansado. Assim que a moça se virou, viu atrás dela um homem correndo na direção deles. Com uma calça escura, camiseta branca rasgada, e sapatos de couro, o rapaz de pele clara e cabelos grisalhos corria, com seu rosto e corpo encharcados de suor. — ESPERA! — Ele gritou, com uma voz familiar para a garota. — Príncipe Dan, o que houve? — Gritou o guarda da esquerda, que ao ver os arranhões, a roupa rasgada e o suor em seu corpo, ignorou a presença de Trinity e correu para o segurar, enquanto aquele jovem caía no chão de cansaço. “Príncipe... Dan? Tá de brincadeira! Se bem que ele me lembrava alguém, e... o nome dele era Dan Lock Snevew... Nefertari Lock. Não é possível.” — Ela pensou, o olhando, espantada. — T-Trinity... — Dan disse, com sua voz fraca. E ao ouvir o nome dela, o guarda ameaçou puxar sua espada, pensando que ela poderia ter feito algo contra o príncipe. — Deixem-na entrar, ela tem algo para falar com a minha mãe, não é? — Mas... Majestade, a sua mãe... — Deixe-a entrar, tá surdo? — O príncipe disse ferozmente, logo se levantando e se afastando do subordinado que o teria ajudado. O que ainda estava na escada obedeceu ao rapaz, saindo do caminho e deixando a mulher passar, enquanto o jovem se aproximou. — É, bem... Me desculpe por isso. — Dan... — Ela cerrou seus punhos, dizendo com um tom de voz frio que assustou aquele garoto. Ficando ao seu lado, Trinity abriu sua mão direita e colocou sobre o ombro do mesmo, olhando de canto para seus olhos, mas com um semblante completamente frio e fechado. Assim, completou: — Muito obrigado, eu estou te devendo essa, Majestade. — É... Não precisa me chamar disso, Senhorita Tri- — Ele corou brevemente ao ser chamado de majestade. Porém ao perceber, a capitã já estava subindo os degraus da escada, o deixando falar sozinho. — É, lá vai ela... Guardem o cavalo dela no nosso estábulo, por gentileza. Daqui a pouco deve ficar bastante frio por aqui. Ele disse para seus subordinados, sem se virar para eles. E imediatamente os guardas o obedeceram, saindo de seus postos para seguir seu comando.
A mulher subiu as escadas de arenito em passos rápidos, e ao
adentrar a estrutura se viu diante de um corredor, e uma entrada para a sala do trono. O qual em sua frente haviam outros dois guardas completamente trajados com aquela armadura, mas que não protestaram ao ver Trinity entrando. Na sala do trono, ela olhou ao seu redor e percebeu a diferença entre esta e a qual estava acostumada, em Jord. A sala era bem iluminada e arejada, com uma grande janela com seus vitrais em mosaicos, com desenhos de flores e estrelas. Era bem menor do que a de seu reino, tendo um curto carpete azul no centro, diante do trono. Vasos de plantas estavam suspensas pelas paredes, repletas de pequenas ervas e flores das mais diversas cores. E visivelmente inquieta, sentada sobre o trono, estava a Rainha do Leste, Nefertari Lock. Com seu longo cabelo preto trançado sobre seu peito, seus olhos azuis estavam vagos enquanto ela olhava fixamente para o chão. Sua perna direita tremia inquietamente, sobreposta a perna esquerda. Mas ao notar a companhia, suas bochechas de tom rosado esboçaram um fraco sorriso, enquanto seu olhar ainda estava desanimado. — Eu dispensei todos os guardas por hoje, o que você precisa? — A rainha a questionou com tom de voz doce, mas com certa tristeza. — Ah, bem... — A capitã se ajoelhou diante a majestade, deixando a carta que carregava em mãos. Percebendo o que Nefertari havia dito, notou que estava distraída. — Eu não sou daqui. Sou Trinity Reeves, capitã do Esquadrão de Reconhecimento de Jord. Vim a pedido do Rei Konge. — Ah, sim. — Ao ouvi-la, respirou fundo e olhou nos olhos castanhos de Trinity. — O que Konge deseja? — Um acordo. — Respondeu-a de imediato, fitando os olhos claros que a encaravam. — Um acordo entre Jord e Flerim para conseguirmos uma energia em Karamarraw que poderá ajudar o mundo todo. E com vossa ajuda, será muito mais eficiente. — Karamarraw não é uma ilha considerada amaldiçoada, capitã? Como que algo, em tese, amaldiçoado poderá nos ajudar? Trinity engoliu em seco com a resposta, antes de respirar fundo e prosseguir: — A última missão do nosso Esquadrão de Reconhecimento naquela ilha nos mostrou que o que amaldiçoa aquele local não é um monstro ou espírito, e sim uma aura ou energia maleável. Uma pessoa com esse poder seria incrivelmente forte, e isso nas mãos certas pode ser vantajoso para todos. Por isso tratamos disso com tanto sigilo, se não seria questão de tempo até isso cair em mãos erradas. — Entendi... — Nefertari suspirou, logo olhando a carta em suas mãos com certo interesse. A perguntando em seguida: — E isso em suas mãos? — É o relatório da missão, um pouco perturbador, mas se quiser ler. — Respondeu com certo receio presente em sua voz. — A julgar por sua voz, é melhor não. — Fechando os olhos por um breve momento, a rainha franziu o rosto, antes de abrir seus olhos lentamente. — Eu vou pensar sobre tudo isso. Peço perdão, mas tem muita coisa acontecendo por aqui, espero que entenda. — Não, imagina. Tá tudo bem. — Trinity soltou um breve sorriso, com um olhar empático que fez Nefertari sorrir de volta. — Obrigada por entender, agora... — Erguendo uma sobrancelha, seus olhos voltaram para a porta em sua frente, e para uma pequena sombra que esgueirava a sala do trono. — Dan, já que estava ouvindo tudo, leve a Capitã Reeves para a estalagem. Dan, que estava escondido ao lado da porta há bastante tempo, sorriu ao perceber que foi notado por sua mãe. Assim caminhou para a sala com passos lentos, e um pequeno sorriso de constrangimento. Tentava evitar olhar para a jovem ali ajoelhada. — É, me pegaram. — Deu uma breve risada, com tom envergonhado. Ele caminhou para perto da rainha. — Dan! — Sua mãe exclamou, com um semblante de decepção. Toda aquela confusão familiar deixou Trinity desconfortável. — Quantas vezes já te disse para não ficar ouvindo as pessoas escondido? São coisas confidenciais. — Qual é, você sabe que eu não vou ser o seu sucessor mesmo. Um pouco de curiosidade não mata. — Ele abriu um sorriso grande em seu rosto. — Faça o que eu mandei antes que eu faça pior, Dan. — Respirando fundo, ela ordenou. Olhando friamente para o filho. — Ah, tudo bem. — Gaguejando, ele olhou de canto para Trinity e murmurou: — Me segue. Logo o rapaz se virou de costas e saiu caminhando da sala, enquanto a capitã se levantou e reverenciou a rainha pela última vez, antes de se virar e seguir o príncipe. E diante das estrelas que já estavam iluminando o escuro céu da noite, Dan olhava o seu reino por cima apoiado nas muretas das escadas, com um semblante triste e preocupado. Ao notar, a moça ficou ao seu lado, em silêncio. — Me desculpa por isso. Acho que eu e minha mãe nunca estivemos tão... Mal. Desde que minha irmã sumiu, eu tento animar ela, mas a única coisa que ela faz é ficar sentada naquele trono de pedra esperando alguma notícia da Lena. — Eu fiquei sabendo, mas vocês já têm alguma ideia do que houve? — Ela perguntou, enquanto olhava para Flerim de cima do zigurate. — Não, não temos nada. — Dan respondeu com raiva em sua voz, cerrando os punhos. — Eu não devia te dizer isso, mas nosso reino é tão precário que não temos nenhuma equipe de busca para pessoas desaparecidas. E mesmo que minha mãe tenha mandado todos os guardas procurarem-na, não vai adiantar nada. Enquanto o vento fazia seu cabelo balançar lentamente, Trinity respirou fundo enquanto pôs sua mão sobre o ombro do príncipe novamente. Aquilo o fez voltar seus olhos para a face da mesma, que com um olhar calmo, sorriu de canto, e disse: — Eu estou te devendo uma por antes, e eu vou ter que ficar por aqui até eu ter a resposta da rainha de qualquer forma. Então confia em mim, a gente vai encontrar ela. — Ao ouvir suas palavras, o rapaz corou, revirando o olhar com certa vergonha. Mas antes que pudesse dizer algo, a capitã soltou o seu ombro e saiu de seu lado, começando a descer as escadas. — Quem diria que você era um príncipe em, quando te vi no deserto, achei que era um nômade qualquer. Principalmente por essas roupas completamente estraçalhadas. — Ela riu. — Ei, eu não te dei permissão para zombar de mim! — Ele deu uma pequena gargalhada, antes de sorrir brevemente e ir descer as escadas, atrás da moça. E sob a luz daquele mesmo luar, em algum lugar distante, gritos de terror e agonia eram audíveis por todo o local. Mas, afastado de qualquer civilização, aquele horror permanecia em segredo. — Há anos buscamos alguém capaz de suportar essa Magia Negra. Mas sei que dessa vez não será em vão. Todos reconhecerão nossos esforços quando a Seita Kunori comandar todo esse mundo. — Disse um homem. Capítulo Dois — Uma Nobre Ladra.
Nagdaar, subúrbios.
Nagdaar era uma das quatro capitais do mundo místico de
Verden Af Fortaellinger. Localizada ao leste, é uma cidade completamente diferente de outras. Embora tenha um rei, a região vive em constante estado de calamidade. A escuridão que é causada pela falta de iluminação da cidade ocasiona em diversos crimes que ocorrem pela noite. Embora pelo dia, a cidade é pacífica como qualquer outra, a não ser pela presença de um enorme nevoeiro, que sempre está presente junto à baixa temperatura. Em uma das ruas em que a iluminação era ausente, uma movimentação podia chamar a atenção de quem passava por perto. Sons de disparos e passos que corriam rapidamente eram audíveis à distância. — SUA LADRA, VOLTE AQUI! — Um homem gritou, ofegante e com suor escorrendo por seu rosto, enquanto segurava uma simples espingarda em suas mãos e corria naquela direção. Seus olhos escuros fitavam uma moça encapuzada em sua frente, a qual ele estaria seguindo. A mesma parecia carregar uma bolsa de couro em suas mãos. Ainda correndo, o homem ergueu a arma de fogo na direção da mulher, e sem nem mesmo mirar, disparou mais um tiro. Com um grande clarão da queima da pólvora presente na arma, ele ouviu o tinido da munição ao cair no chão, percebendo que havia atingido a parede de um estabelecimento ao lado, não a ladra. Mas ao mesmo tempo, a encapuzada parou de correr e virou seu rosto para trás. Ela revelou sua pele pálida e um cabelo liso, médio e escuro, com uma mecha que passava na frente de seus olhos avermelhados. Abaixo de seu olhar ameaçador, havia um corte em sua bochecha, que começara a sangrar brevemente. Seria efeito do disparo anterior, que teria a atingido de raspão. — Você não sabe usar uma dessas, né? — A moça perguntou, tirando o seu capuz avermelhado. Logo, virou-se costas para o rapaz. — Se você der mais um passo, eu atiro! — Respondeu-a sem pestanejar, enquanto apoiou a espingarda em seu ombro e tentava mirar contra a mesma, porém suas mãos estavam trêmulas. — Primeiramente, eu não conheço muito sobre armas de fogo, mas acho que essa daí não funciona para atingir alvos em longa distância. — Comentou, enquanto seus lábios de tom carmesim esboçaram um sorriso forçado. Ela caminhou em direção do homem, e ao se aproximar da arma, a puxou da mão do mesmo. — Se bem que pelo menos acertou um disparo..., além disso, eu preciso muito dessa grana. Não vai te fazer falta, mas irá para uma boa causa. A mulher dizia quase sussurrando no ouvido do rapaz, que desviava o trêmulo olhar. A mesma, ao terminar a fala, largou a espingarda do jovem no chão, e respirando fundo, caminhou naquela direção com a bolsa de couro em mãos, com passos firmes e calmos. Com a respiração ofegante, ele olhava para a espingarda no chão, e notou algo estranho. Todo o chão ao seu redor estava coberto por uma fina camada de uma fumaça avermelhada, que escorria pela região como um líquido. Empunhando a arma, a engatilhou. E respirando fundo, a apoiou em seu ombro, com a mira mirada certeiramente para o corpo da ladra. O disparo saiu fortemente, com outro clarão, e com uma impulsão que empurrou o homem levemente para trás. A bala viajou cortando o ar em direção das costas da moça. E junto daquele barulho, ela não teria como se defender tão rapidamente. Pelo menos era o que o mesmo pensou. Ao fechar os olhos por conta do brilho do disparo, assim que os abriu se deparou com uma enorme parede vermelha translucida atrás da mulher. Como se fosse feito por aquela camada de fumaça que estava no chão, porém muito mais densa. Ao olhar mais cuidadosamente, a bala que deveria tê- la a atingido, estava dentro daquela parede. Estática, pairando no ar. — Eu imaginava que você fosse fazer isso... — Ela estalou os dedos, fazendo toda aquela fumaça desaparecer, e assim a munição caiu no chão, com o tinido metálico. — Eu sou da Família Chilgster. Ou seja, tenho no meu sangue uma das magias mais raras desse mundo. Posso controlar qualquer tipo de névoa, e se eu quiser, posso fazer a minha própria, que é essa avermelhada. Eu a chamo de Vermelho-Vibrante. Respirou fundo, enquanto imediatamente voltou a caminhar, mas dessa vez com passos rápidos e apressados. O homem, incrédulo, tentou a seguir. Mas em seus pés, ele se deparou com mãos avermelhadas feitas pelo tal “Vermelho-Vibrante”, que o seguravam e não o deixavam caminhar. — EEI, NÃO ME DEIXA AQUI, EI! — Ela pôde o ouvir clamando, mas não deu atenção. Não planejava o prender lá por muito tempo. Bem, eu me chamo Marie Chilgster, tenho 19 anos e como meu nome diz, sou da Família Chilgster, uma das famílias mais nobres desse continente. Tanto por conta dessa nossa rara magia, quanto por termos ligação direto com a extinta linhagem Le Fay. Se quer saber como que eu saí da nobreza e vim parar no crime... é uma longa história. A jovem pensava, enquanto passava por becos e vielas da capital, até chegar em um dos únicos pontos iluminados e movimentados da cidade. Era uma grande estrutura feita de tijolos e pedras, com um grande letreiro nas paredes do segundo andar, que dizia: TAVERNA ALDIVA. Respirando fundo, nem era preciso adentrar o local para saber que ele estava cheio, pois de fora do estabelecimento, o som dos debates e das conversas alheias já eram bem perceptíveis. Marie olhou pela fresta da porta dupla de madeira da entrada da taverna, notando a movimentação no interior. Dessa forma subiu os poucos degraus que haviam diante da entrada para adentrar o local. Abrindo as portas, se deparou com um salão cheio, iluminado por um enorme lustre de chamas azuis, o que indicava a presença da magia para iluminar melhor todo aquele local. Em meio às mesas, cadeiras, e bêbados que gritavam ou cantarolavam cantigas, Marie se dirigiu ao balcão, onde um rapaz bem trajado servia bebidas às pessoas que ali estavam. Se sentando em uma cadeira diante do jovem, ela pôs a bolsa roubada sobre o balcão, apoiando seu rosto encima. — Tirou dinheiro de quantos pobres hoje, Marie? — Ele perguntou, dando um breve sorriso, enquanto servia uma bebida viscosa e esverdeada em um copo de vidro transparente. — Haha, muito engraçado, Gabe. — Respondeu com sarcasmo, enquanto se ergueu e abriu a bolsa roubada. De repente, sua feição mudou drasticamente, tornando-se uma face de decepção. — Isso é sério? — O que foi dessa vez? Olhando no interior, sua mão direita pegou dez círculos de bronze que continham um símbolo de “M” gravados em cada face, sendo Monters, o dinheiro aceito pelos quatro reinos de Verden Af Fortaellinger. Fora isso, não havia nada de útil para a mesma, o peso que ela pensou que fosse algo de valor, eram apenas livros e mais livros. — Dez Monters dá para comprar o quê? — Perguntou-lhe, fechando a bolsa e apoiando seu rosto novamente sobre a mesma, com as dez moedas em mãos. — Acho que uma garrafa de Turuifu ou... — Pode ser, toma... — A mesma respondeu sem ouvir outras opções, soltando as moedas no balcão e se erguendo com desânimo. — É pra já, senhorita. — Gabe deu uma pequena risada, enquanto apanhou as moedas e se virou de costas, ficando diante de uma grande adega de bebidas. — Sabe, eu acharia melhor que você começasse a trabalhar com recrutamento de pessoas para nossa organização. Você não sabe roubar, mas tem lábia. — Recrutamento? É sempre assim, se alguém quer ajudar os Aldivas, ou tem que trabalhar aqui, na fachada da nossa organização; tem que roubar, ou recrutar. Eu já disse mil vezes que... — Quer um copo, ou só a garrafa mesmo? — O taverneiro a questionou sem querer interrompe-la, enquanto pegou a garrafa da bebida avermelhada e gaseificada, virando-se e a pondo na frente da moça. — Pode ser só a garrafa mesmo. — Assim que respondeu, o homem apenas abriu a garrafa de vidro da bebida com um abridor de metal que estava em seu bolso. Marie ergueu a bebida e deu um gole, sentindo o forte gosto de frutas vermelhas e xarope de groselha. — Enfim, sempre que eu tento dizer que o que precisamos é de poder, sempre sou ignorada. — Não precisa falar isso em voz alta, Marie. — Ele afirmou, com um certo receio no olhar e na voz. Assim, se aproximou dela e murmurou: — Onde quer que arranjemos poder para acabar com os quatro reinos? — É nisso que temos que pensar. Além do mais, eu, como uma Chilgster, sou mais forte que cinco homens como você, juntos. Mesmo que tenhamos um exército de cem ou mil pessoas, não vai adiantar. Sem ofensa. — Relaxa, eu me sinto bem por não ser uma Chilgster que foi despejada por já ter cometido inúmeros crimes, sem nem ter chegado na vida adulta. — Respondeu-a de imediato, em tom de indireta. — É, você gosta de pegar no meu ponto fraco... — Marie fechou os olhos, bocejando. — Só tô um pouco cansada, desde que minha mãe me expulsou de casa, a única cama que eu tenho para dormir é o sofá do segundo andar. E pelo visto essa barulheira aqui não vai acabar nem tão cedo hoje. — Pois é. Foi o que Gabe respondeu, antes de voltar a encher copos com os mais diversos tipos de bebidas e entregar para os bêbados do local. A moça passou a olhar cada