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“Desembarcamos naquela ilha no último domingo, por volta

das 10:40 da manhã. Karamarraw ainda é como


antigamente, um grande arquipélago florestado e com
enormes elevações, tendo muitos penhascos. Nossos barcos
atracaram na pequena praia que fica ao Norte da ilha maior.
E como o pedido, fomos em busca da entidade maligna que
as lendas contam que lá habita.
E quando já estávamos lá há quase uma hora, a Décima
Tropa de Exploração encontrou, no meio de uma enorme
floresta de árvores grandes e escuras, uma área
completamente devastada. Um círculo de um raio de dez
metros, que aparentemente era impossível ter vida naquele
espaço. A grama que devia ser verde era cinza, e as árvores
com seus troncos e folhas caídas, com coloração escura.
Todo aquele lugar exalava um forte odor, e até mesmo os
animais, como os pássaros que vimos, mantinham distância.
Isso até um dos homens entrar nesse círculo, e de repente
uma luz branca surgir no meio daquela área; o homem
caminhou para essa luz devagar, mas no momento, seus
olhos haviam se tornado inteiramente pretos.
Assim que ficou ao lado da luz, ela sumiu, e ele se virou aos
companheiros, que perceberam os olhos e ficaram confusos,
antes de notarem que o soldado puxou seu revólver do coldre
de seu cinto, e disparar contra todos, não sei se
sobreviveram, pois assim que percebi, me escondi e voltei à
embarcação para escrever esse relatório enquanto ouvia
dezenas de disparos. Mas a missão foi um sucesso, eu
consegui voltar com outros cinco soldados em meu barco, e
assim chegamos à conclusão de que sim, Karamarraw ainda
é amal-.”
— Amaldiçoada com uma estranha energia. — Disse uma
voz feminina, em meio a um grande salão com pouca
iluminação, tendo apenas alguns feixes de luz que entravam
de janelas nas paredes, tampadas por persianas de cor
azulada.
A mulher que dizia estava ajoelhada sobre um tapete da
mesma cor, olhando para um papel, mas em seguida fitou um
homem em sua frente, que estava sentado sobre um reluzente
trono de cor dourada. Com a perna direita sobre a esquerda,
sua face era ofuscada pelas sombras, porém seus longos
cabelos prateados e pele pálida eram visíveis, além de duas
presas em sua boca, com lábios avermelhados e ao seu redor
continha manchas de sangue. Segurava uma taça, apoiada
sobre o braço do trono, em que em seu interior havia algo
viscoso e fortemente avermelhado.
— Hm. — O homem sorriu de canto, logo passando sua
língua sobre seus lábios superiores e levando a taça aos
mesmos, o qual por um instante bebericou daquele líquido.
— Isso significa que essa energia ainda está lá, esperando por
nosso reino.
— Majestade. O senhor quer esse poder para quê? Isso
praticamente dizimou tropas nossas, e...
— Poder bélico, Capitã Trinity. — Ele a interrompeu, a
olhando de canto, enquanto seus olhos vermelhos a fitaram
naquela escuridão. — Com um poder desses nas mãos de
Jord, é questão de tempo para que possamos unificar todo
esse continente de Verden Af Fortaellinger, todos sob o nosso
comando. Sabe o que isso significa, não é? Cada vez menos
conflitos inúteis nesse mundo.
— Sim, Rei Konge. — Trinity disse, baixando o olhar e
dobrando a carta que ela teria lido. Em seguida se levantou,
mas ainda mantendo suas costas curvadas em direção ao rei,
que a olhava com olhar penetrante.
— Você já sabe o próximo passo de nosso plano.
— Contatar o Reino do Leste, Flerim... Entendido.
Ao responde-lo, a capitã olhou para os olhos avermelhados
da majestade, engolindo em seco. Se mantinha firme, embora
seus pensamentos fossem o oposto da coragem que ela
demonstrava. Konge ainda a encarava com olhar intimidador,
e sentia o ambiente pesado em meio àquela escuridão. Assim,
soltando outra breve risada, ele diria:
— Use essa carta como desculpa, ofereça-os a oportunidade
de ter tamanha força junto a nós. Precisamos de números,
ainda mais se essa aura sair do controle.
— Entendido, majestade...
Com seus olhos, o vampiro indicou a saída da sala do trono
atrás da moça, que assim como as janelas, era tampada por
um grande véu de coloração escura e com mandalas azuis
desenhadas, em meio a todo aquele local de paredes feitas de
mármore.
E respirando fundo, ela se curvou mais uma vez, e
murmurando “com licença...”, se virou de costas à majestade.
Com cada passo ecoando pelo silêncio, Trinity saiu da sala do
trono lentamente. Atravessando a cortina escura e passando
por uma grande porta de madeira por trás dela. Ao sair e
caminhar um pouco pelos corredores, ela ainda sentia a
tensão que era estar diante do Rei do Sul. Sabia exatamente
qual era sua missão, e que não deveria decepcioná-lo. Nem
como cidadã, nem como capitã. Porém em meio aos seus
pensamentos, seu olhar mudou de repente, junto de um
sorriso de canto em seu rosto.
E ao perceber, já estava fora do castelo, sentindo o calor do
Sol que cobria toda aquela região árida e quente. Com seu
céu azul e limpo, que mostravam no horizonte as poucas
dunas de areia e o deserto em que o reino estava. Ela nunca
entendeu como um vampiro era rei de um reino em que o Sol
era tão quente, em que nem precisasse de fogo para ferver
água.
Porém em meio aos seus pensamentos, a moça olharia ao seu
redor, notando vários guardas de armaduras metálicas e com
detalhes em azul, a cor usada para identificar o Reino Jord,
do Sul. As roupas de Trinity também não eram diferentes,
sendo uma armadura leves sobre vestes azuis e brancas, mas
calçando apenas uma bota de couro. Em suas costas, havia
uma baínha média com uma espada presa na mesma.
Saindo daquela escuridão, a aparência daquela mulher se
revelou ser de uma jovem, sua pele era clara, enquanto seus
olhos possuíam tom castanho. Seu longo cabelo brilhava em
dourado com a luz do Sol, embora fosse castanho-claro. Seu
físico era esbelto e pouco musculoso, enquanto uma forte
determinação era visível em seu olhar.
Capítulo Um — A Mensagem.

O Deserto Yettus é um local extenso, com temperaturas


extremas, e coberto por dunas e grandes elevações rochosas.
Apesar de ser desértico, é comum ver cavalos ou carruagens
passando por tal lugar, por se situar entre dois reinos: O
Reino do Sul, Jord. E o Reino do Leste, Flerim. Cobrindo
todo o sudeste do continente, a fauna e flora são escassas, e
as únicas coisas que se pode encontrar são: areia, rochas, e o
Sol escaldante.
Era fim de tarde, o Sol estava se pondo ao oeste com
coloração alaranjada, enquanto o céu completamente limpo já
tinha um tom azul escuro, com o crepúsculo alternando as
cores. E próximo a uma enorme muralha que circundava o
Reino do Leste, galopes rápidos e fortes que pisavam sobre a
areia podiam ser escutados por perto.
Em um cavalo appaloosa branco, estava Trinity Reeves, que
cruzava aquela região arenosa velozmente, com o seu olhar
focado naquelas muralhas enormes feitas de pedras. Correndo
em linha reta, aquele cavalo iria sem parar para a grande
entrada daquele reino, uma grande abertura feita entre os
tijolos daquela muralha.
Mas quanto mais perto a capitã chegava, seus olhos focavam
em um único ponto a sua frente. E ao se aproximar, percebeu
que lá havia um jovem sentado no chão, visivelmente ferido e
cansado. Sua camiseta branca rasgada, amassada e
empoeirada, e o sangue em seu peito, braço e rosto deixavam
isso bem aparente. E percebendo aquela situação, ela rangeu
seus dentes enquanto respirou fundo, revirando o olhar.
“Preciso focar na minha missão, não preciso ser babá de
ninguém. Esse mané pode voltar para casa sem mim”. — Foi
o que a mesma pensou, mas ainda assim seu olhar tinha
confusão, receio e incerteza presentes, enquanto ela mordeu
levemente seu lábio inferior.
E a cada galope de seu cavalo, ela olhava para aquele rapaz
no chão, percebendo agora seu cabelo curto de tom grisalho,
que era bagunçado e espetado, tendo uma franja que cobria
brevemente sua testa. Mas seu olhar estava baixo, e mesmo a
garota não podendo ver o rosto dele, lamentou aquela
situação.
“Como eu queria ter coragem”. — Trinity pensou
novamente, com olhar relutante, mas aliviada.
Dessa forma, à poucos metros de passar pelo jovem, seu
cavalo desacelerou devagar com o comando da capitã. Ela
olhou o homem a sua direita por cima, e sem precisar falar
nada, aquele rapaz notou sua presença, pela sombra que o
cavalo e a garota formaram em sua frente.
Ele ergueu seu rosto, revelando seus olhos vermelhos e vários
arranhões sobre sua pele extremamente clara. Seu físico era
forte para alguém que não aparentava ser nem sequer adulto.
O mesmo abriu sua boca e disse algo que os pensamentos de
Trinity a distraíram.
“Eu conheço esse rosto de algum lugar... Onde seria? Mas o
que de fato me deixa chocada é um garoto claro desse jeito
viver nesse clima quente. Não que seja um problema, mas se
no Sol de Jord minha pele sofre, imagina ele aqui, onde o Sol
é pior ainda. Esse cara é um guerreiro”. — Ela pensava,
enquanto seu olhar partia tanto de surpresa, quanto para
admiração. Que, notando isso, assustou o rapaz. Ao perceber,
ele estava respirando ofegantemente, com olhar trêmulo.
—É... Moça, tá tudo bem com a senhorita? — Disse-lhe
gaguejando, tentando se afastar da mesma com seus braços,
mas que estavam visivelmente feridos. O mesmo notou sua
armadura e seu brasão de Jord, que carregava tanto em seu
peito, quanto na sela do cavalo. — Se está procurando
alguém, não sou e-
— Cara, você tá todo quebrado, parece que foi atacado por
um tigre. — O interrompendo, Trinity disse com um olhar
sério, posteriormente olhando fixamente para os olhos do
mesmo. — Eu sou a Capitã Trinity Reeves, de Jord. Precisa
de uma ajudinha?
— Ah, é, bem... — Ele gaguejou, ainda trêmulo e incerto.
Mas apesar da mesma estar o olhando fixamente de um jeito
estranho, não sentiu que ela era uma ameaça. Pelo contrário,
de alguma forma, sabia que ela era uma boa pessoa. Assim,
abriu um sorriso envergonhado em seu rosto. — Se puder me
ajudar, eu estaria te devendo uma.
— Pode deixar. — Ao notar aquele sorriso, ela o retribuiu
sorrindo de canto, tirando aquele estranho olhar que ele
estava incomodado.
A capitã desceu de seu cavalo enquanto acariciava
brevemente suas costas, logo indo para o lado do mesmo, e o
jovem a acompanhou com o olhar.
Erguendo suas mãos em direção da nuca dele, Trinity pôs
uma mão sobre a outra e respirou fundo, fechando seus olhos.
— Não sou muito boa com cura, então deve levar um tempo,
e não deve te curar completamente. Já peço desculpas. — O
alertou, assim logo dizendo: — ølkatt.
Ela recitou um feitiço em direção dele, que assim que foi
dito, uma luz azul-ciano saiu da palma da sua mão. E como
um feixe, ela rodou ao redor do corpo daquele homem, indo
de cima para baixo lentamente. Essa magia causou uma
pequena brisa naquela posição, jogando grãos de areia e
balançando o cabelo e as roupas dos dois.
— Não precisa pedir desculpas. Eu queria ter essa dádiva da
magia. — O rapaz comentou com tom baixo, enquanto
olhava com olhar maravilhado para aquele feixe.
— O quê? Esse feitiço é o mais básico de cura que eu aprendi
quando entrei no exército. Qualquer um pode fazer um mais
complexo.
— Algumas pessoas nascem com mais azar que as outras, eu
sou uma delas. Eu não nasci com essa capacidade.
— Ah, eu entendo. — Ao ouvi-lo dizer com tom
melancólico, a capitã respirou fundo, ainda de olhos fechados
enquanto usava o feitiço. — Desculpa a pergunta, mas o que
você fez para ficar tão ferrado assim?
— Nem perde tempo, você não acreditaria se eu dissesse.
— Qual é, eu já vi muita coisa impossível com meus
olhinhos. Você já viu o enterro de um anão? Nem precisa
responder, mas eu já.
— Tudo bem... — O mesmo riu baixo, sentindo um leve
arrepio quando aquela magia passava por um ferimento em
seu braço, fechando-o e o cicatrizando só de se aproximar. —
Eu estava tentando... Voar.
Ao ouvir aquelas palavras, a capitã soltou uma gargalhada
que quase a fez interromper o feitiço, que já estava chegando
ao seu fim. Mas fez abrir seus olhos. Aquele rapaz virou seu
rosto e a olhou, sorrindo de canto com a risada da garota, que
o olhou nos olhos.
— O que foi? — Ele questionou, rindo brevemente junto
dela. — Eu disse que você não acreditaria.
— Relaxa, eu... Eu acredito. — Ela respirava fundo, tentando
conter os risos. — Mas quer dizer que você subiu numa
daquelas rochas e se jogou, tentando voar? Isso não seria uma
desculpa para suicídio?
— Não, não é bem assim! — O mesmo rebateu, ainda
mantendo a risada. — Esquece, não vou conseguir explicar.
— Ai ai, tudo bem... — Trinity respirou fundo enquanto
retirou suas mãos da direção dele. Ao perceber, ele já estava
curado, com somente alguns arranhões. Isso em questão de
minutos.
— Nossa, você é boa, Senhorita Trinity. — Admirado, a
elogiou enquanto olhava para seu corpo e se levantava, com
apenas incômodos em onde havia se ferido. — À propósito,
eu me chamo Dan, Dan Lock Snevew, não cheguei a me
apresentar.
— O prazer é todo meu, Dan. Mas não precisa disso de
“Senhorita Trinity”, eu só tenho dezenove anos. —
Respondeu-lhe, enquanto se virou de costas e foi em direção
de seu cavalo, abrindo uma bolsa que estava presa à sela do
animal.
— E já é capitã com dezenove anos? Não precisa me
enganar... — Ao olhá-la, se aproximou da mesma, notando a
diferença da altura de ambos. Ela tinha por volta de 1,70.
Enquanto Dan tinha 1,85.
— Pois é, difícil de acreditar, eu concordo. — Ao notá-lo ao
seu lado, tirou um frasco com um líquido avermelhado
daquela bolsa, e ergueu na direção dele. — Não confio muito
na minha cura, então por precaução, fica com isso. É uma
poção de cura.
— Ah, obrigado. — Ele apanhou aquele frasco e o deixou em
mãos, logo olhando para as muralhas do reino. — Mas o que
uma capitã de Jord estaria fazendo aqui em Flerim? Veio à
passeio?
— Não, eu tenho uma coisa para resolver com a Rainha
Nefer-. — Ao olhar para o céu, interrompeu a si mesma,
parando abruptamente e assustando Dan, que olhou para
aquela direção também, engolindo em seco.
— O-o que foi, Capitã Trinity?
“Eu... Eu esqueci mais uma vez. Já escureceu, e eu só tinha
que entregar aquela carta que está na minha bolsa e ter a
resposta da rainha para voltar para minha casa. Como eu
sou estúpida”. — Ela pensou, respirando fundo com olhar de
decepção, enquanto olhou de canto para o rapaz ao seu lado.
— Bem, agora que já está bem não precisa mais de mim. —
A capitã disse, e com pressa montou em seu cavalo, fechando
a bolsa em sua sela. — Foi bom te conhecer, Dan. Espero te
ver novamente. Até mais!
E ao dizer isso, o jovem não entendeu absolutamente nada,
vendo-a ir embora, em direção de Flerim. Seus olhos a
acompanharam durante o percurso, enquanto ele ficava para
trás.
— O quê? Eu fiz algo de errado para ela ter me olhado
daquele jeito e ir embora assim, correndo? Ela podia ter sido
a mulher da minha vida, mas eu a deixei ir embora assim.
Você não tem sorte, Dan... — Falou consigo mesmo, em tom
baixo, enquanto deu pequenos passos em direção do reino.
E enquanto o cavalo de Trinity se aproximava cada vez mais
daquele reino, ela olhava para a entrada com receio,
respirando fundo. Seu cabelo era jogado para trás contra o
vento, o que o deixou completamente bagunçado. Sua sorte
era de que havia chegado na estrada, que era uma reta para
Flerim, o que era bem mais rápido do que cavalgar sobre a
areia.
“Ah, eu só tinha que ter entregado essa carta e já podia
voltar para casa. Mas eu acho que se eu tivesse passado
direto e não o ajudado, ficaria arrependida. Eu acho que fiz
o certo, só espero que isso não seja motivo para punição”.
E enquanto pensava, ela notou que estaria adentrando as
muralhas, e diminuiu a velocidade do cavalo, percebendo
iluminação e um grande comércio na rua de entrada, com
diversas pessoas daquele reino.
Sempre que Trinity passava por aquele local, sempre ficava
admirada em como um reino daqueles ficava em meio à um
deserto, e ainda tinha sua beleza única. Tendo vegetações,
casas e um grande número de pessoas que iam e vinham de
lá.
— Você viu? Mais uma menina desapareceu, e dizem que ela
é a Princesa Lena. A Majestade deve estar péssima com isso
tudo. — Trinity ouviu um homem comentar, enquanto
passava em frente a uma taverna cheia na hora. E aquilo fez
seus olhos se arregalarem, enquanto ela baixou sua cabeça e
seguiu em frente, não querendo ouvir mais nenhuma conversa
alheia.
“Eu não estou com medo, mas... Com certeza estou
preocupada” — Engoliu em seco, enquanto pensava. — “Se
isso realmente é verdade, eu deveria fazer algo, não é? Não,
meu único serviço aqui é entregar uma mensagem. Só isso,
Trinity, só isso.”
Assim, seu cavalo seguiu em frente, com galopes lentos e
curtos dentro daquela cidade. Passando pelo comércio, ela se
viu em uma praça. Uma pequena área verde urbana com
árvores de tamanho médio e com uma fonte de água em seu
centro. Pelo horário, muitas crianças estavam deixando o
parque, garotos e garotas. Se lembrando do que tinha ouvido,
tirou a atenção daquelas crianças.
E seguindo em frente, ao levantar o olhar, viu de longe o
enorme zigurate de arenito e basalto. O lugar onde a rainha e
família real viviam. Ou simplificando, o destino da capitã.
Mas ao olhar ao redor, percebeu algo estranho. Apesar das
ruas estarem com pelo menos dois guardas, na frente do
zigurate era para ter vários o protegendo. Porém ela só podia
ver dois, na frente das escadas da entrada daquela construção.
Ainda assim, seguiu em frente, passando pelo caminho de
paralelepípedos que faziam as ruas do reino.
Ao parar na frente da entrada, desceu de seu cavalo e logo
abriu a bolsa que havia em sua sela. Dentro dela estava uma
bagunça, enquanto ela revirava tudo o que havia lá dentro, e
jogando certas coisas para fora sem querer, como uma maçã,
moedas e uma caneta-tinteiro. Mas ao achar o que tanto
procurava, colocou novamente seus pertences e fechou
aquela bolsa. Esticando com suas mãos, Trinity encarou o
envelope de papel amarelado. O mesmo que havia recebido e
lido para o seu rei, Konge. O segurando firmemente, ela
respirou fundo e caminhou lentamente em direção da
escadaria, onde haviam os guardas que ela teria visto.
— BOA NOITE! — Ela gritou aos homens de armadura e
capacete, os quais ela nem podia ver os rostos, que logo a
olharam e puseram as mãos sobre suas espadas, guardadas
em bainhas em suas cinturas. Porém quando a capitã se
aproximou, puderam ver sua armadura e o brasão de Jord.
Assim, soltando suas armas. — É, bem, boa noite. Eu preciso
falar com a Rainha Nefertari. Eu sou a Capitã Trinity Reeves,
de Jord. Fico bem agradecida caso deixem eu en-
— Infelizmente a Majestade não está aceitando visitas agora.
— Respondeu o guarda que estava à direita da escada, com
sua voz abafada pela armadura.
— Mas senhor, é urgente. É uma mensagem do próprio Rei
Konge.
— A Rainha recebeu a notícia que a filha dela está
desaparecida, tenho certeza de que Konge, e você, podem
esperar. — Respondeu o guarda à esquerda, virando
brevemente seu rosto a moça.
“Ai ai, eu faço cada besteira por Jord e pelo meu rei...” —
Ela pensou, revirando os olhos.
— Eu vou entrar por bem ou por mal, a Rainha precisa saber
do que se trata. — Trinity rebateu, respirando fundo e os
encarando com raiva.
— Se retire daqui imediatamente, antes que e-
Antes que o guarda da esquerda pudesse completar sua frase,
ele foi interrompido com passos rápidos e fortes indo em
direção dos três. Faziam um som de passos irregulares, como
se quem estivesse correndo estaria muito cansado. Assim que
a moça se virou, viu atrás dela um homem correndo na
direção deles. Com uma calça escura, camiseta branca
rasgada, e sapatos de couro, o rapaz de pele clara e cabelos
grisalhos corria, com seu rosto e corpo encharcados de suor.
— ESPERA! — Ele gritou, com uma voz familiar para a
garota.
— Príncipe Dan, o que houve? — Gritou o guarda da
esquerda, que ao ver os arranhões, a roupa rasgada e o suor
em seu corpo, ignorou a presença de Trinity e correu para o
segurar, enquanto aquele jovem caía no chão de cansaço.
“Príncipe... Dan? Tá de brincadeira! Se bem que ele me
lembrava alguém, e... o nome dele era Dan Lock Snevew...
Nefertari Lock. Não é possível.” — Ela pensou, o olhando,
espantada.
— T-Trinity... — Dan disse, com sua voz fraca. E ao ouvir o
nome dela, o guarda ameaçou puxar sua espada, pensando
que ela poderia ter feito algo contra o príncipe. — Deixem-na
entrar, ela tem algo para falar com a minha mãe, não é?
— Mas... Majestade, a sua mãe...
— Deixe-a entrar, tá surdo? — O príncipe disse ferozmente,
logo se levantando e se afastando do subordinado que o teria
ajudado. O que ainda estava na escada obedeceu ao rapaz,
saindo do caminho e deixando a mulher passar, enquanto o
jovem se aproximou. — É, bem... Me desculpe por isso.
— Dan... — Ela cerrou seus punhos, dizendo com um tom de
voz frio que assustou aquele garoto. Ficando ao seu lado,
Trinity abriu sua mão direita e colocou sobre o ombro do
mesmo, olhando de canto para seus olhos, mas com um
semblante completamente frio e fechado. Assim, completou:
— Muito obrigado, eu estou te devendo essa, Majestade.
— É... Não precisa me chamar disso, Senhorita Tri- — Ele
corou brevemente ao ser chamado de majestade. Porém ao
perceber, a capitã já estava subindo os degraus da escada, o
deixando falar sozinho. — É, lá vai ela... Guardem o cavalo
dela no nosso estábulo, por gentileza. Daqui a pouco deve
ficar bastante frio por aqui.
Ele disse para seus subordinados, sem se virar para eles. E
imediatamente os guardas o obedeceram, saindo de seus
postos para seguir seu comando.

A mulher subiu as escadas de arenito em passos rápidos, e ao


adentrar a estrutura se viu diante de um corredor, e uma
entrada para a sala do trono. O qual em sua frente haviam
outros dois guardas completamente trajados com aquela
armadura, mas que não protestaram ao ver Trinity entrando.
Na sala do trono, ela olhou ao seu redor e percebeu a
diferença entre esta e a qual estava acostumada, em Jord. A
sala era bem iluminada e arejada, com uma grande janela
com seus vitrais em mosaicos, com desenhos de flores e
estrelas. Era bem menor do que a de seu reino, tendo um
curto carpete azul no centro, diante do trono. Vasos de
plantas estavam suspensas pelas paredes, repletas de
pequenas ervas e flores das mais diversas cores.
E visivelmente inquieta, sentada sobre o trono, estava a
Rainha do Leste, Nefertari Lock. Com seu longo cabelo preto
trançado sobre seu peito, seus olhos azuis estavam vagos
enquanto ela olhava fixamente para o chão. Sua perna direita
tremia inquietamente, sobreposta a perna esquerda. Mas ao
notar a companhia, suas bochechas de tom rosado esboçaram
um fraco sorriso, enquanto seu olhar ainda estava
desanimado.
— Eu dispensei todos os guardas por hoje, o que você
precisa? — A rainha a questionou com tom de voz doce, mas
com certa tristeza.
— Ah, bem... — A capitã se ajoelhou diante a majestade,
deixando a carta que carregava em mãos. Percebendo o que
Nefertari havia dito, notou que estava distraída. — Eu não
sou daqui. Sou Trinity Reeves, capitã do Esquadrão de
Reconhecimento de Jord. Vim a pedido do Rei Konge.
— Ah, sim. — Ao ouvi-la, respirou fundo e olhou nos olhos
castanhos de Trinity. — O que Konge deseja?
— Um acordo. — Respondeu-a de imediato, fitando os olhos
claros que a encaravam. — Um acordo entre Jord e Flerim
para conseguirmos uma energia em Karamarraw que poderá
ajudar o mundo todo. E com vossa ajuda, será muito mais
eficiente.
— Karamarraw não é uma ilha considerada amaldiçoada,
capitã? Como que algo, em tese, amaldiçoado poderá nos
ajudar?
Trinity engoliu em seco com a resposta, antes de respirar
fundo e prosseguir:
— A última missão do nosso Esquadrão de Reconhecimento
naquela ilha nos mostrou que o que amaldiçoa aquele local
não é um monstro ou espírito, e sim uma aura ou energia
maleável. Uma pessoa com esse poder seria incrivelmente
forte, e isso nas mãos certas pode ser vantajoso para todos.
Por isso tratamos disso com tanto sigilo, se não seria questão
de tempo até isso cair em mãos erradas.
— Entendi... — Nefertari suspirou, logo olhando a carta em
suas mãos com certo interesse. A perguntando em seguida:
— E isso em suas mãos?
— É o relatório da missão, um pouco perturbador, mas se
quiser ler. — Respondeu com certo receio presente em sua
voz.
— A julgar por sua voz, é melhor não. — Fechando os olhos
por um breve momento, a rainha franziu o rosto, antes de
abrir seus olhos lentamente. — Eu vou pensar sobre tudo
isso. Peço perdão, mas tem muita coisa acontecendo por aqui,
espero que entenda.
— Não, imagina. Tá tudo bem. — Trinity soltou um breve
sorriso, com um olhar empático que fez Nefertari sorrir de
volta.
— Obrigada por entender, agora... — Erguendo uma
sobrancelha, seus olhos voltaram para a porta em sua frente, e
para uma pequena sombra que esgueirava a sala do trono. —
Dan, já que estava ouvindo tudo, leve a Capitã Reeves para a
estalagem.
Dan, que estava escondido ao lado da porta há bastante
tempo, sorriu ao perceber que foi notado por sua mãe. Assim
caminhou para a sala com passos lentos, e um pequeno
sorriso de constrangimento. Tentava evitar olhar para a jovem
ali ajoelhada.
— É, me pegaram. — Deu uma breve risada, com tom
envergonhado. Ele caminhou para perto da rainha.
— Dan! — Sua mãe exclamou, com um semblante de
decepção. Toda aquela confusão familiar deixou Trinity
desconfortável. — Quantas vezes já te disse para não ficar
ouvindo as pessoas escondido? São coisas confidenciais.
— Qual é, você sabe que eu não vou ser o seu sucessor
mesmo. Um pouco de curiosidade não mata. — Ele abriu um
sorriso grande em seu rosto.
— Faça o que eu mandei antes que eu faça pior, Dan. —
Respirando fundo, ela ordenou. Olhando friamente para o
filho.
— Ah, tudo bem. — Gaguejando, ele olhou de canto para
Trinity e murmurou: — Me segue.
Logo o rapaz se virou de costas e saiu caminhando da sala,
enquanto a capitã se levantou e reverenciou a rainha pela
última vez, antes de se virar e seguir o príncipe.
E diante das estrelas que já estavam iluminando o escuro céu
da noite, Dan olhava o seu reino por cima apoiado nas
muretas das escadas, com um semblante triste e preocupado.
Ao notar, a moça ficou ao seu lado, em silêncio.
— Me desculpa por isso. Acho que eu e minha mãe nunca
estivemos tão... Mal. Desde que minha irmã sumiu, eu tento
animar ela, mas a única coisa que ela faz é ficar sentada
naquele trono de pedra esperando alguma notícia da Lena.
— Eu fiquei sabendo, mas vocês já têm alguma ideia do que
houve? — Ela perguntou, enquanto olhava para Flerim de
cima do zigurate.
— Não, não temos nada. — Dan respondeu com raiva em sua
voz, cerrando os punhos. — Eu não devia te dizer isso, mas
nosso reino é tão precário que não temos nenhuma equipe de
busca para pessoas desaparecidas. E mesmo que minha mãe
tenha mandado todos os guardas procurarem-na, não vai
adiantar nada.
Enquanto o vento fazia seu cabelo balançar lentamente,
Trinity respirou fundo enquanto pôs sua mão sobre o ombro
do príncipe novamente. Aquilo o fez voltar seus olhos para a
face da mesma, que com um olhar calmo, sorriu de canto, e
disse:
— Eu estou te devendo uma por antes, e eu vou ter que ficar
por aqui até eu ter a resposta da rainha de qualquer forma.
Então confia em mim, a gente vai encontrar ela. — Ao ouvir
suas palavras, o rapaz corou, revirando o olhar com certa
vergonha. Mas antes que pudesse dizer algo, a capitã soltou o
seu ombro e saiu de seu lado, começando a descer as escadas.
— Quem diria que você era um príncipe em, quando te vi no
deserto, achei que era um nômade qualquer. Principalmente
por essas roupas completamente estraçalhadas. — Ela riu.
— Ei, eu não te dei permissão para zombar de mim! — Ele
deu uma pequena gargalhada, antes de sorrir brevemente e ir
descer as escadas, atrás da moça.
E sob a luz daquele mesmo luar, em algum lugar distante,
gritos de terror e agonia eram audíveis por todo o local. Mas,
afastado de qualquer civilização, aquele horror permanecia
em segredo.
— Há anos buscamos alguém capaz de suportar essa Magia
Negra. Mas sei que dessa vez não será em vão. Todos
reconhecerão nossos esforços quando a Seita Kunori
comandar todo esse mundo. — Disse um homem.
Capítulo Dois — Uma Nobre Ladra.

Nagdaar, subúrbios.

Nagdaar era uma das quatro capitais do mundo místico de


Verden Af Fortaellinger. Localizada ao leste, é uma cidade
completamente diferente de outras. Embora tenha um rei, a
região vive em constante estado de calamidade. A escuridão
que é causada pela falta de iluminação da cidade ocasiona em
diversos crimes que ocorrem pela noite. Embora pelo dia, a
cidade é pacífica como qualquer outra, a não ser pela
presença de um enorme nevoeiro, que sempre está presente
junto à baixa temperatura.
Em uma das ruas em que a iluminação era ausente, uma
movimentação podia chamar a atenção de quem passava por
perto. Sons de disparos e passos que corriam rapidamente
eram audíveis à distância.
— SUA LADRA, VOLTE AQUI! — Um homem gritou,
ofegante e com suor escorrendo por seu rosto, enquanto
segurava uma simples espingarda em suas mãos e corria
naquela direção.
Seus olhos escuros fitavam uma moça encapuzada em sua
frente, a qual ele estaria seguindo. A mesma parecia carregar
uma bolsa de couro em suas mãos.
Ainda correndo, o homem ergueu a arma de fogo na direção
da mulher, e sem nem mesmo mirar, disparou mais um tiro.
Com um grande clarão da queima da pólvora presente na
arma, ele ouviu o tinido da munição ao cair no chão,
percebendo que havia atingido a parede de um
estabelecimento ao lado, não a ladra. Mas ao mesmo tempo, a
encapuzada parou de correr e virou seu rosto para trás.
Ela revelou sua pele pálida e um cabelo liso, médio e escuro,
com uma mecha que passava na frente de seus olhos
avermelhados. Abaixo de seu olhar ameaçador, havia um
corte em sua bochecha, que começara a sangrar brevemente.
Seria efeito do disparo anterior, que teria a atingido de
raspão.
— Você não sabe usar uma dessas, né? — A moça
perguntou, tirando o seu capuz avermelhado. Logo, virou-se
costas para o rapaz.
— Se você der mais um passo, eu atiro! — Respondeu-a sem
pestanejar, enquanto apoiou a espingarda em seu ombro e
tentava mirar contra a mesma, porém suas mãos estavam
trêmulas.
— Primeiramente, eu não conheço muito sobre armas de
fogo, mas acho que essa daí não funciona para atingir alvos
em longa distância. — Comentou, enquanto seus lábios de
tom carmesim esboçaram um sorriso forçado. Ela caminhou
em direção do homem, e ao se aproximar da arma, a puxou
da mão do mesmo. — Se bem que pelo menos acertou um
disparo..., além disso, eu preciso muito dessa grana. Não vai
te fazer falta, mas irá para uma boa causa.
A mulher dizia quase sussurrando no ouvido do rapaz, que
desviava o trêmulo olhar. A mesma, ao terminar a fala, largou
a espingarda do jovem no chão, e respirando fundo,
caminhou naquela direção com a bolsa de couro em mãos,
com passos firmes e calmos.
Com a respiração ofegante, ele olhava para a espingarda no
chão, e notou algo estranho. Todo o chão ao seu redor estava
coberto por uma fina camada de uma fumaça avermelhada,
que escorria pela região como um líquido.
Empunhando a arma, a engatilhou. E respirando fundo, a
apoiou em seu ombro, com a mira mirada certeiramente para
o corpo da ladra.
O disparo saiu fortemente, com outro clarão, e com uma
impulsão que empurrou o homem levemente para trás. A bala
viajou cortando o ar em direção das costas da moça. E junto
daquele barulho, ela não teria como se defender tão
rapidamente. Pelo menos era o que o mesmo pensou.
Ao fechar os olhos por conta do brilho do disparo, assim que
os abriu se deparou com uma enorme parede vermelha
translucida atrás da mulher. Como se fosse feito por aquela
camada de fumaça que estava no chão, porém muito mais
densa. Ao olhar mais cuidadosamente, a bala que deveria tê-
la a atingido, estava dentro daquela parede. Estática, pairando
no ar.
— Eu imaginava que você fosse fazer isso... — Ela estalou os
dedos, fazendo toda aquela fumaça desaparecer, e assim a
munição caiu no chão, com o tinido metálico. — Eu sou da
Família Chilgster. Ou seja, tenho no meu sangue uma das
magias mais raras desse mundo. Posso controlar qualquer
tipo de névoa, e se eu quiser, posso fazer a minha própria,
que é essa avermelhada. Eu a chamo de Vermelho-Vibrante.
Respirou fundo, enquanto imediatamente voltou a caminhar,
mas dessa vez com passos rápidos e apressados. O homem,
incrédulo, tentou a seguir. Mas em seus pés, ele se deparou
com mãos avermelhadas feitas pelo tal “Vermelho-Vibrante”,
que o seguravam e não o deixavam caminhar.
— EEI, NÃO ME DEIXA AQUI, EI! — Ela pôde o ouvir
clamando, mas não deu atenção. Não planejava o prender lá
por muito tempo.
Bem, eu me chamo Marie Chilgster, tenho 19 anos e como
meu nome diz, sou da Família Chilgster, uma das famílias
mais nobres desse continente. Tanto por conta dessa nossa
rara magia, quanto por termos ligação direto com a extinta
linhagem Le Fay. Se quer saber como que eu saí da nobreza
e vim parar no crime... é uma longa história.
A jovem pensava, enquanto passava por becos e vielas da
capital, até chegar em um dos únicos pontos iluminados e
movimentados da cidade. Era uma grande estrutura feita de
tijolos e pedras, com um grande letreiro nas paredes do
segundo andar, que dizia: TAVERNA ALDIVA. Respirando
fundo, nem era preciso adentrar o local para saber que ele
estava cheio, pois de fora do estabelecimento, o som dos
debates e das conversas alheias já eram bem perceptíveis.
Marie olhou pela fresta da porta dupla de madeira da entrada
da taverna, notando a movimentação no interior. Dessa forma
subiu os poucos degraus que haviam diante da entrada para
adentrar o local.
Abrindo as portas, se deparou com um salão cheio, iluminado
por um enorme lustre de chamas azuis, o que indicava a
presença da magia para iluminar melhor todo aquele local.
Em meio às mesas, cadeiras, e bêbados que gritavam ou
cantarolavam cantigas, Marie se dirigiu ao balcão, onde um
rapaz bem trajado servia bebidas às pessoas que ali estavam.
Se sentando em uma cadeira diante do jovem, ela pôs a bolsa
roubada sobre o balcão, apoiando seu rosto encima.
— Tirou dinheiro de quantos pobres hoje, Marie? — Ele
perguntou, dando um breve sorriso, enquanto servia uma
bebida viscosa e esverdeada em um copo de vidro
transparente.
— Haha, muito engraçado, Gabe. — Respondeu com
sarcasmo, enquanto se ergueu e abriu a bolsa roubada. De
repente, sua feição mudou drasticamente, tornando-se uma
face de decepção. — Isso é sério?
— O que foi dessa vez?
Olhando no interior, sua mão direita pegou dez círculos de
bronze que continham um símbolo de “M” gravados em cada
face, sendo Monters, o dinheiro aceito pelos quatro reinos de
Verden Af Fortaellinger. Fora isso, não havia nada de útil
para a mesma, o peso que ela pensou que fosse algo de valor,
eram apenas livros e mais livros.
— Dez Monters dá para comprar o quê? — Perguntou-lhe,
fechando a bolsa e apoiando seu rosto novamente sobre a
mesma, com as dez moedas em mãos.
— Acho que uma garrafa de Turuifu ou...
— Pode ser, toma... — A mesma respondeu sem ouvir outras
opções, soltando as moedas no balcão e se erguendo com
desânimo.
— É pra já, senhorita. — Gabe deu uma pequena risada,
enquanto apanhou as moedas e se virou de costas, ficando
diante de uma grande adega de bebidas. — Sabe, eu acharia
melhor que você começasse a trabalhar com recrutamento de
pessoas para nossa organização. Você não sabe roubar, mas
tem lábia.
— Recrutamento? É sempre assim, se alguém quer ajudar os
Aldivas, ou tem que trabalhar aqui, na fachada da nossa
organização; tem que roubar, ou recrutar. Eu já disse mil
vezes que...
— Quer um copo, ou só a garrafa mesmo? — O taverneiro a
questionou sem querer interrompe-la, enquanto pegou a
garrafa da bebida avermelhada e gaseificada, virando-se e a
pondo na frente da moça.
— Pode ser só a garrafa mesmo. — Assim que respondeu, o
homem apenas abriu a garrafa de vidro da bebida com um
abridor de metal que estava em seu bolso. Marie ergueu a
bebida e deu um gole, sentindo o forte gosto de frutas
vermelhas e xarope de groselha. — Enfim, sempre que eu
tento dizer que o que precisamos é de poder, sempre sou
ignorada.
— Não precisa falar isso em voz alta, Marie. — Ele afirmou,
com um certo receio no olhar e na voz. Assim, se aproximou
dela e murmurou: — Onde quer que arranjemos poder para
acabar com os quatro reinos?
— É nisso que temos que pensar. Além do mais, eu, como
uma Chilgster, sou mais forte que cinco homens como você,
juntos. Mesmo que tenhamos um exército de cem ou mil
pessoas, não vai adiantar. Sem ofensa.
— Relaxa, eu me sinto bem por não ser uma Chilgster que foi
despejada por já ter cometido inúmeros crimes, sem nem ter
chegado na vida adulta. — Respondeu-a de imediato, em tom
de indireta.
— É, você gosta de pegar no meu ponto fraco... — Marie
fechou os olhos, bocejando. — Só tô um pouco cansada,
desde que minha mãe me expulsou de casa, a única cama que
eu tenho para dormir é o sofá do segundo andar. E pelo visto
essa barulheira aqui não vai acabar nem tão cedo hoje.
— Pois é.
Foi o que Gabe respondeu, antes de voltar a encher copos
com os mais diversos tipos de bebidas e entregar para os
bêbados do local. A moça passou a olhar cada

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