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Bipedismo

e postura erecta

Trabalho realizado por:

Inês Basto nº35745


João Matos Lopes nº35769
Marta Freire nº35790
O bipedismo é uma forma de locomoção característica dos hominídeos, sendo que
actualmente apenas existe no homem. Por vezes, para além do homem, outros primatas
(os gibões e os chimpanzés) também podem realizar bipedismo como um comportamento
temporário, visto que a sua estrutura não está habilitada (por exemplo, quando
transportam comida).
Os membros anteriores não têm qualquer papel na locomoção, pelo que o bipedismo
assenta exclusivamente nos membros inferiores e o deslocamento
realiza-se colocando alternadamente os pés, com um
balanceamento do corpo.
Para um primata realizar bipedismo é necessário conseguir
transpor o equilíbrio de um membro para o outro e suportar todo o
seu peso apenas num par de membros, no entanto a sua estrutura
física apenas lhe permite este tipo de locomoção durante um
período de tempo limitado.
Existem diversas teorias sobre a origem do bipedismo e é
ainda importante referir as diversas modificações anatómicas na
cabeça, coluna vertebral, pélvis e membros, causadas pela
adaptação do homem ao bipedismo e à postura erecta. É de
salientar ainda que este tipo de locomoção trouxe algumas Fig. 1 Gibão deslocando-se
desvantagens e doenças para o Homem. em posição bípede.

Origem do bipedismo

Várias são as propostas para a sequência de eventos da Evolução


Humana. Certos autores defenderam que o nosso cérebro cresceu e depois veio
o bipedismo, outros o oposto, primeiro o bipedismo e depois o cérebro
aumentou. Ainda houve quem defendesse que o bipedismo se desenvolveu pois
os hominídeos, devido às mudanças climáticas, tiveram que se adaptar a um
ambiente de savana, optando por uma posição vertical, deixando para trás o seu
passado quadrúpede. Todos os primatas conseguem mover-se em duas patas, o
que revela que a capacidade já existia nos nossos ancestrais e chimpanzés. O
problema é saber por que optamos pelo bipedismo, quais as características que
eram tão favoráveis que até nos modificaram anatomicamente, tornando os
outros tipos de locomoção desconfortáveis.
Imensas hipóteses são colocadas, citaremos brevemente algumas
juntamente com críticas que lhes foram feitas.

• A captura de alimentos em arbustos tornar-se-ia possível devido ao


bipedismo (Pilbeam e Jacobs, 1978; Leutnegger, 1987). Mas, no entanto,
existem muitos primatas que também o fazem sem possuírem qualquer
tipo de adaptações bípedes.

• De notar a observação de chimpanzés do Dr. Kevin Hunt em que estes,


quando se alimentam, apresentam uma postura vertical. Salienta ainda
que é uma posição terrestre e
não propriamente para
andarem. Mas é considerável
que estes movimentos se
tenham tornado banais pela sua
conveniência e, portanto, que
Fig. 2 bipedismo na busca de alimento.
possam ser uma pré-adaptação para o Bipedismo do Homo Erectus.

• O manejar de paus na caça e defesa de


predadores foi em tempos considerado como
causa do Bipedismo (Raymond Dart, 1959; Day,
1986). Sendo actualmente encarado como uma
consequência da libertação das mãos, que
promoveu a capacidade de defesa, criação de Fig. 3 O uso das maõs na
utensílios, transporte de comida, reprodução e caça só foi possível ao
desenvolvimento da comunicação escrita. assumir posição bípede.

• Ao habitar locais com espaços abertos, coloca-se a hipótese de haver


necessidade de detectar os predadores e encontrar os companheiros da
mesma espécie (Raymond Dart, 1959; Day, 1986). Os primatas também
têm estas necessidades e colocam-se em posição vertical mas não
apresentam adaptações ao Bipedismo, logo é pouco provável que esta seja
a causa.

• As alterações em dietas alimentares podem ter implicado modificações na


locomoção (Jolly, 1970; Sinclair, 1986; Tuttle, 1981).

• Possibilidade de passagem por um estágio de vida aquática de um símio


ancestral (Hardy, 1960; Verhagen, 1987; Morgan, 1994). No entanto em
zonas de fosseis aquáticos nunca se encontrou vestígios dos primeiros
hominídeos.

• A teoria de Yves Coppens (1983) “East Side Story” propõe que os macacos
antropomorfos provêm dos hominídeos das florestas a Oeste do grande rift
africano, e que da zona da região Leste os hominídeos foram induzidos a
modificar as suas dietas e adoptar o bipedismo devido a estas terras
serem secas e com pouca vegetação.

• Lovejoy (1981) aborda de maneira diferente a causa do aparecimento do


Bipedismo. Para ele, há uma mudança no comportamento dos hominídeos
que aumenta o sucesso da sua reprodução. Um ser gasta energia em três
áreas (reprodução, alimentação e segurança), de certo modo se o
investimento for menor nas últimas duas a espécie poderá expandir-se e
também sofrer evolução mais depressa.

Para que as fêmeas possam investir mais na


reprodução e criação das crias, é necessário que
os machos as alimentem e protejam. Assim, o
aparecimento de relações a longo termo poderá
ter um significado na evolução dos Hominídeos.
É no aumento da sobrevivência das crias que está Fig. 4 Exemplificação do
a chave desta teoria, visto que o período de modelo social de Lovejoy.
infância e maturação é demorado, e a
oportunidade de criar vários filhos é um grande contributo para a
reprodução da espécie.
Uma postura erecta permite aos hominídeos manterem-se frescos: o
aquecimento do corpo é um problema mais agravante na savana do que numa
floresta cheia de árvores e por consequente, sombras.
Enquanto os macacos modernos estão restritos às áreas florestais, os
hominídeos, aparentemente, moviam-se em áreas mais abertas. Quando um
animal está activo durante o dia, tem de possuir uma forma de prevenir que a
temperatura, especialmente no cérebro, se torne demasiado alta, para tal
adquiriram largas câmaras nasais, que lhe permitem manter a temperatura do
sangue do cérebro muito abaixo da temperatura do sangue do resto do corpo.
Para além disso alguns animais da savana adquiriram adaptações que lhes
permitem diminuir a temperatura corporal à noite. Contudo esta opção não está
disponível para os hominídeos. Em vez disso, os humanos desenvolveram um
sistema de arrefecimento por evaporação – suar.
Segundo investigadores, a postura erecta associada ao bipedismo ajuda a
reduzir o calor corporal e a quantidade de água necessária para o arrefecimento
do corpo em três maneiras diferentes:
- Primeiro, o sol atinge uma fracção muito mais pequena de corpo de um
hominídeo erecto de que um animal quadrúpede do mesmo tamanho. Um
hominídeo erecto absorve a energia do sol apenas no topo da cabeça e
dos ombros, enquanto um quadrúpede absorve energia do sol ao longo
das costas e da cabeça (basta pensar que é muito mais difícil bronzearmo-
nos de pé do que deitados).
- Segundo, o ar é mais quente junto ao solo do que acima deste. O sol
aquece o solo e este irradia e conduz o calor para o ar, aquecendo-o.
- Por último, a velocidade do vento é mais elevada a 1.8 metros do que a 90
cm do solo. Como o vento ajuda a aumentar a eficiência da transpiração,
um hominídeo erecto suporta melhor o calor durante o dia.

Fig. 5 Termoregulação - comparação entre quadrúpedes e bípedes.


A hipótese de “Knuckle walking” (locomoção com os
quatro membros apoiados no chão onde os dedos dos
membros anteriores estão flectidos exercendo pressão
sobre os nós dos dedos) refere que este tipo de
locomoção foi muito importante no reportório da
locomoção do ancestral dos primeiros bípedes. Alguns
investigadores (Corruccini, 1978; Corruccini and
McHenry, 2001; Begun, 1993; Richmond and Strait,
2000) afirmaram que existiam vestígios de “knuckle
walking” nos membros anteriores do Homem e nos
fósseis dos hominídeos. Os dois últimos cientistas
referidos em cima sugerem que os primeiros
Fig. 6 funcionamento do Knuckle
hominídeos bípedes podem ter resultado de um walking.
antepassado knuckle walker já parcialmente terrestre.
A morfologia dos pulsos dos Australopithecus anamensis e afarensis mostra a
retenção de uma morfologia especializada do pulso (nomeadamente da
extremidade distal do rádio) relacionada com o “knuckle walking”.
É verdade que os macacos africanos e os hominídeos partilham algumas
características dos membros anteriores que poderão estar relacionadas com o
“knuckle walking”, no entanto estas características mantêm-se no Homem
porque são compatíveis com o bipedismo e com as funções do membro anterior
de um hominídeo.

Modificações anatómicas relacionadas com o bipedismo e com a


postura erecta:

- Membros inferiores muito maiores que os anteriores;

- O orifício occipital, no crânio do homem, é horizontal e localizado por baixo da cabeça,


permitindo que esta fique bem estável. No que diz respeito aos macacos o orifício occipital
está deslocado para trás e é oblíquo. Esta alteração do foramen magnum está relacionada
sobretudo com a postura vertical;

- A coluna vertebral é um eixo vertical que suporta o


corpo, permitindo-lhe deslocar-se graças às vértebras
articuladas entre si e separadas por discos intervertebrais
maleáveis. Para servir de apoio a cabeça e equilibrar o
peso do corpo sobre as articulações das ancas e dos
membros inferiores, a coluna desenvolveu quatro
curvaturas que se compensam mutuamente: cervical
(côncava), dorsal (convexa), lombar (côncava) e sacra. A
ligação lombar/sacra forma um promontório que sustenta
todo o peso da parte superior do corpo;

- O Homem apresenta uma bacia (pélvis) em forma de


cesto, enquanto nos macacos é alongada e estreita, o que
permite sustentar as vísceras e proporciona uma maior
superfície de contacto aos músculos das pernas, e durante
Fig. 7 Comparação entre a pélvis o parto permite a passagem da cabeça volumosa do bebé.
humana e dos macacos.
Os humanos possuem cérebros maiores relativamente
ao tamanho do corpo do que a maioria dos primatas. Esta
característica especial e o bipedismo afectaram o tamanho
e a forma da nossa pélvis e o mecanismo de dar à luz. A
pélvis dos primatas é um osso completo circular, apoiado
por dois ossos do quadril que se articulam à frente e várias
vértebras fundidas (o sacro) na parte de trás. O poder
propulsor das pernas para as diversas acções, tais como
subir, andar ou correr, actua directamente nas junções dos
quadris, que são reforçadas. Outra função da pélvis, além
de dar suporte aos órgãos abdominais, é permitir a
gestação completa de fetos. Na evolução humana, existe
um compromisso entre postura erecta, a locomoção bípede
e o tamanho do canal de nascimento em relação à sua
capacidade de deixar passar o feto.
Os macacos quadrúpedes, que estão livres das
restrições em relação ao tamanho e forma do anel pélvico,
impostas pelas necessidades anatómicas do bipedismo,
conseguem fazer passar um macaco bebé pelo canal de
nascimento sem qualquer problema. A cabeça do bebé
passa pela pélvis da mãe já virada para esta. Pelo
contrário, um bebé humano sofre uma rotação de 90º na
cavidade intermédia de modo a sair de frente para a mãe,
manobra que requer muito esforço por parte da mãe e por
vezes ajuda de parteiras e médicos.
Fig. 8 Mecanismos de nascimento vs.
- O tórax tem a forma de barril, ao contrário dos símios, Bipedismo para moldar a forma da pélvis.
nos quais tem uma forma de funil invertido, uma vez que o
homem já não utiliza os membros anteriores para a locomoção;

- O fémur é alongado, delgado e oblíquo


orientado para dentro, de tal modo que as
articulações da pélvis e do joelho se encontram
na mesma linha vertical, o que torna possível a
junção dos pés. Nos chimpanzés as articulações
da bacia e do joelho não estão alinhadas, o que
leva à orientação perpendicular do fémur, não
facilitando o bipedismo;

- O centro de gravidade nos humanos é baixo,


visto que o peso do corpo esta deslocado para os
membros inferiores, ao contrário dos macacos
que têm um tronco bastante pesado, o que
permite uma maior estabilidade à marcha.

- O pé é o suporte da totalidade do peso do corpo


(modificação mais verificada no Homem), o dedo

Fig. 9 Comparação de caracteres anatómicos entre grande é longo, robusto e está alinhado com os
chimpanzé e Homem. restantes. Através do seu primeiro metatarso o
peso é deslocado do calcanhar para a
extremidade do pé, sem que exista apoio na zona exterior do pé, como nos macacos. O pé
funciona como uma plataforma extremamente flexível e estável.
Referências

Livros

BOAZ, N. T. & A. J. ALMQUIST (2002). Biological Anthropology: A Synthetic Approach to Human


Evolution, 2ª.ed.Prentice Hall, Upper Saddle River, New Jersey.
(Fig. 1 Gibão deslocando-se em posição bípede.)
BOYD, R. & SILK, J. (2003) How Humans Evolved, 3ª Ed. W. W. Norton., N.Y.

JOHANSON, D. & B. EDGAR (1996). From Lucy to Language. Nevraumont Publishing Company,
N.Y.

JONES, S., MARTIN, R. & PILBEAM, D. (1992). The Cambridge encyclopedia of Human Evolution ,
Cambridge university press
(Fig. 2,Fig. 3,Fig. 4,Fig. 7,Fig. 8)

Sites

http://www.as.ua.edu/ant/bindon/ant475/Readings/r5.pdf
http://www.fl.ul.pt/pessoais/joao_zilhao/genese/aula3.pdf (Fig. 6)
http://www.becominghuman.org/ (Fig. 9)
http://www.wwnorton.com/college/anthro/bioanth/ch11/thermoregulation.gif (Fig. 5)

Comentários dos colegas


Quanto a este trabalho posso dizer que a informação foi
bem escolhida e organizada. Está bem estruturado e adequa-se
perfeitamente ao tema abordado.
Apresenta uma boa organização das várias partes do
trabalho, ou seja, aborda as várias partes do tema, desde uma
introduçção, diferentes teorias, etc... Também gosto da
abordagem comparativa entre humanos e macacos
quadrupedes.
O único factor menos positivo é talvez o posicionamento
das imagens e sua integração no meio do texto, umas não se
destacam muito, outras estão muito pequenas. (5/6)
Guilherme Pereira Correia

Este trabalho está, na generalidade, bem conseguido,


explorando bem os pontos essenciais, não abordando temas
alheios. As imagens auxiliam na compreensão do texto e
encontram-se todas legendadas. As referências bibliográficas
são, em geral, cientificamente aceites e são, de facto, detentoras
de informação na esfera do Bipedismo.
Como aspectos positivos destaca-se o facto do trabalho
conseguir abordar e expor de uma forma clara o tema tratado e
o de possuir uma coerência temática ao longo do mesmo.
Algumas imagens são cruciais para uma melhor visualização e
compreensão das ideias transmitidas no texto.
Como aspectos negativos destaca-se o facto do trabalho
se encontrar, em certas partes, textualmente bastante denso,
não possuir uma divisão em subtítulos, como por exemplo,
dentro do título “Origem do Bipedismo” são exploradas ideias
diferentes, sem uma divisão clara. A ausência de uma conclusão
no final do trabalho, fazendo uma pequena apreciação/reflexão
sobre o que foi tratado pesa, também, negativamente. (4/6)
23- Ivo Santos, Luís Feliciano e Pedro Fernandes

Este trabalho também se desenvolve bastante de acordo


com o seu tema. Está muito bem explicado e esquematizado, e
contém muitos exemplos. Porém, tem um nível de rigor um
pouco baixo. Começa por afirmar que os hominídeos são os
únicos bípedes, mas ignora muitos outros animais, como os
cangurus, e sobretudo, as aves. Isto poderia ser explicado
simplesmente salientando que se trata de um trabalho sobre
primatas. As figuras 6, 7 e 8 estão mal explicadas, e é necessário
uma imagem para explicar as curvaturas da coluna. Não se
referiu as desvantagens nem as doenças causadas pelo
bipedismo. Os textos longos podem ser aborrecidos, e nas
referências bibliográficas as páginas não estão referidas. (4/6)
Filipe Colwell, Nuno Jesus e Pedro Lucena

Numa forma geral, este trabalho está bem estruturado, no


entanto, a apresentação poderia ser mais apelativa, ou seja, as
gravuras poderiam ter mais côr, o que é algo importante
quando se quer cativar alguém para ler um trabalho nosso. As
referências estão todas correctas e as legendas das imagens são
elucidativas embora talvez fosse aconselhável colocar o link
directo das imagens.
O tema escolhido foi bem explicado e são apresentadas
diversas teorias interessantes sobre a origem do bipedismo. È de
referir que a introdução está bem estruturada e é pertinente.
No entanto, certas partes do trabalho são menos
interessantes do que o desejado, nomeadamente a parte que
explicita as modificações anatómicas relacionadas com a
postura erecta. A falta de uma conclusão também é um ponto
negativo que deve ser apontado. (3/6)
João M. Carvalho, João V. Braga e Pedro M. Henriques

No geral, consideramos que o trabalho está confuso e o


texto, por vezes, mal conseguido. É também de referir que um
link da bibliografia não conduzia à respectiva imagem e que a
imagem da capa não consta na bibliografia.
No que se refere aos pontos que consideramos
importantes, sublinhamos o facto de terem realizado uma boa
pesquisa, captando vários aspectos importantes, sendo o mais
apelativo, do nosso ponto de vista, o referente a teoria da
dissipação da temperatura. Consideramos ainda que as
imagens escolhidas pelo grupo são muito apelativas e ilustram
eficazmente o texto.
Os pontos menos positivos, a inexistência de uma
conclusão e o facto de que deveriam ter investido mais em
qualidade e menos em quantidade. (2/6)
Diana Lázaro, Rita Drago, Soraia Rosa e Susana Comba
Em geral este trabalho parece-nos um pouco extenso e
com pouca clareza relativamente ás ideias desenvolvidas. As
ilustrações são adequadas e bem legendadas, à excepção da
imagem da capa que não possui legenda. As referências são
rigorosas e relacionadas com o tema do trabalho desenvolvido.
Os links remetem para páginas relevantes.
Como aspecto negativo achámos importante salientar o
facto do trabalho ter 7 páginas quando devia ter no máximo 5.
Achamos também que o grupo deveria rever a organização
estrutural do trabalho. Como aspecto positivo, destacou-se o
facto de as imagens expressarem bem o tema e o conteúdo do
texto ser bastante informativo.
Em comparação com os restantes trabalhos achámos que
este não estava tão bem desenvolvido como os restantes. (2/6)
Ana Raquel Costa, Carla Pinheiro e Filipa Santos

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