O castelo de Zanthar estava em um dia anormal. Pela primeira vez em muitos
anos, todos os Guardas Imperiais de Elite estavam reunidos. A sala do trono tinha sido decorada de forma a que todos ficassem confortáveis. Nenhum soldado ou servo podia estar presente. A única pessoa que não pertencia a este seleto grupo era um comerciante. Todos perguntavam o motivo de um não militar estar entre eles. O Imperador Zárcio não estava presente, mas em tempos de guerra, esta atitude era esperada. Todos falavam em voz baixa. A porta abriu de repente. Passava pelo portal a Guarda Imperial mais importante no momento de guerra. Lady Alysanne foi nomeada pelo imperador a General Suprema. Todos os demais Guardas deveriam obedecer as ordens dela. Enquanto ela caminhava em direção ao trono, todos levantavam e faziam o cumprimento que a hierarquia mandava. Os Guardas não eram apenas exímios magos, também possuíam carreiras militares impressionantes. A única dúvida que eles tinham era se a mulher teria audácia de sentar-se ao trono. Embora tenha caminhado em direção a ele, parou quando estava no centro dos demais guardas. Ela cumprimentou o comerciante. - Seja bem-vindo, Sylas. Os demais entreolharam-se. Ainda não justificava a presença dele. A mulher voltou sua atenção para os seus comparsas. - Sei que os Guardas do Sul possuem problemas graves e batalhas frequentes contra os dragões. Serei breve para que vocês possam voltar e continuar a nossa defesa. Temos dragões invadindo pelo sul, tauranos no norte, piratas na costa e uma guerra civil ao leste. Não temos números suficientes para conter todas as frontes. Estamos passando por uma crise militar. Que ideias vocês trazem? - Senhora. Pediu a palavra Arnaud Qblas. A mulher assentiu com a cabeça. - Discordo que não temos números. Não temos mantimentos para suportar tantas batalhas em sequência. Os dragões atacam as fazendas e sujam as águas. Represam os rios e depois disso fazem cercos. Eles só invadem nossas terras quando o povo está enfraquecido. Precisamos ser abastecidos com água e comida. - Imagino que a região central possui uma ligação com o mar. As rotas comerciais deles devem ser suficientes para abastecê-los. Talvez a gente precise remanejar os recursos. - Uma tentativa inútil. Disse Thomas Morandi. Ele não pediu autorização para falar. Alysanne fez seus olhos gritarem uma reprimenda. Ele deu de ombros e continuou. - Temos piratas atacando a costa. Mande ouro para eles e pague-os para lutar em nosso lugar. Não se paga comida para mortos. Percamos um pouco de ouro e não mantimentos. - Não vou autorizar pagamento de piratas. Não são nossos aliados. Derrotaremos todos eles para limpar a nossa costa. Sua ideia é ruim, Lorde Morandi. Já que me dirigiu a palavra, me explique a razão do Imperador de Celestia ter estado com você e eu não ser comunicada. Os demais Guardas Imperiais ficaram surpresos com as palavras de Lady Alysanne. Menos Thomas Morandi. Ele sorriu antes de responder. - Ele não me visitou na condição de Imperador e sim como um parente distante. - Não me consta que o senhor seja Ravensbluff. - E não sou, por sorte. O garoto corvo sumiu com uma rebelde. O imperador agora é Geremiah Zackary. Filho do irmão de minha mãe. - Isto não explica o motivo de o imperador estar tão longe de casa com uma guerra civil em suas terras. Não é um momento de fazer e nem receber visitas. - Eu não julgo o comportamento de um monarca, e você? - Eu tenho poder para julgar o seu, Lorde Thomas. - Você não é ninguém Alysanne. Deu sorte que o Imperador gostou de você por algum motivo que desconhecemos… mas conseguimos imaginar... lhe deu o comando sobre nós com o argumento que você é especialista em dragões. - Eu sou o mais próximo de uma rainha que existe neste lugar. Na ausência do Imperador, a minha voz é a que deve ser escutada. - Eu fui nomeado pelo Imperador Zárcio e não por você. Nós somos iguais. Não recebo ordens de mulher alguma… pelo menos não quando eu estou em pé e de roupas. Um sorriso malicioso formou-se no rosto dele. Alguns guardas também deixaram escapar esse gesto. Veloz como um relâmpago, a mulher chegou na frente do Guarda Imperial. Um estrondo ecoou em todo o salão. Como se um trovão estivesse caído no meio deles. Esse tinha sido o contato entre o punho de Alysanne e o elmo de Thomas. O golpe pegou ele de surpresa e arremessou-o quase três metros para trás. Antes dele cair no chão, do bracelete da General, um raio púrpura atingiu a roupa do homem. Quando pousou de seu voo forçado, ele estava completamente nú e um punhado de poeira voava no ar. A armadura tinha sido desintegrada. A mulher aproximou-se dele e colocou o pé no peito. Ele não conseguiu reagir, uma vez que seu rosto estava completamente tomado por sangue. Dentes estavam jogados no chão. A mulher considerou isto sorte, o golpe teria estourado a cabeça de qualquer pessoa que não estivesse usando algum tipo de proteção. - Mais alguém tem problemas em receber ordens de uma mim? Alguma outra condição? Os guardas foram tomados por um medo que nenhum deles sabia que tinha. A imponência da mulher somada ao ataque forte e repentino assustou todos. Eles se afastaram dela. Os mais corajosos conseguiram dar apenas um passo para trás. Alysanne tirou o pé de cima de Thomas. - Agora fez sentido o título de Sangrento. Cada passo dela em direção ao trono, os guardas davam um passo para trás. Saindo das sombras, um homem com turbante surgia. Ao lado dele, uma mulher demoníaca também aparecia. Todos os guardas retomaram a sua coragem e imediatamente sacaram armas. - Uma demonstração de poder interessante, Lady Kyvago. Embora, você saiba que o homem tem razão em certo ponto. - Senhora? Quais são as ordens? Questionou Khaos Hyetos. Ela respondeu secamente. - Nenhuma. Vou permitir que ele fale. - Senhora, ele é inimigo. Estamos em guerra e ele invadiu a sala do trono. - Isto mesmo, Kyvago. Responde para ele. Provocou o homem ao ver a réplica do Hyetos.. Ela deu uma nova ordem. - Baixem as armas. Estoracgos está aqui, pois é o responsável por nossa espionagem. É tudo que vocês precisam saber. Que esta informação não saia desta sala. Os guardas fizeram o que ela mandou. O único a caminhar na direção da mulher foi o invasor Estoracgos e sua acompanhante. - Você sabe que pagar para alguém morrer no seu lugar é muito mais barato do que perder seus soldados. Afinal, assim são feitas as guerras, não é? Vocês não vencerão no sul sem algum suporte decente. Os tauranos não são um problema nosso. Estão sendo oportunistas e nada mais. Poderia liberar os Omomirans, que tal? - Nunca! O propósito deles é outro. Eles não serão usados na guerra. - Uma pena. Acho que eles podem servir para mais do que como éguas ou cabras. - Estamos resolvendo um problema nosso. Se você já fez o que queria, pode ir embora. - Na verdade não. Vocês estão reclamando dos piratas. Bem, eu trouxe a solução. Esta é Lorna Braveheart. Talvez vocês a conheçam pelo nome de Succubus do Mar. Ele tinha razão. Os Guardas das regiões litorâneas demonstraram inquietação com o título. A mulher sorriu, mostrando seus dentes afiados para eles. Estoracgos continuou. - A frota dela não será derrotada por qualquer um de vocês. - O que você propõe? - Minha cara, Kyvago. A frota dela está parada em Ambar. Proponho que o seu império faça a aquisição dos serviços dela. Reforce as unidade em Qblas. Um avanço como este é rápido pela planície e vai surpreender as forças dos seus inimigos. - De quantas tropas estamos falando? - Do tamanho do preço que você pagar, rainha. Disse a mulher-demônio. Alynessa não gostou da postura da mercenária, mas entendeu o que ela estava dizendo. - Quero pelo menos mil homens até o final desta semana marchando para Qblas. Você consegue? - Claro. Estarão à sua disposição. Assim que me pagar um generoso adiantamento. Cinco mil moedas agora e o resto quando terminarmos com a sua guerra. Todos ficaram olhando enquanto a General pensava na proposta. Era uma quantidade de ouro imensa. Muitos reinos foram construídos com muito menos do que isso. A reputação de Lorna era muito conhecida. Talvez valesse o real preço. Haveria a vantagem de não se preocuparem com mantimentos ou equipamentos. Fora que não seriam vidas de integrantes do Império a serem perdidas. A estratégia de virem pelo solo e não por mar, poderia ser uma grande diferença. Talvez já ceifar tropas draconianas no caminho. Alynessa olhou fixamente para o comerciante Sylas que apenas balançou a cabeça para baixo e depois voltou o olhar para a mulher. A general deu seu veredicto. - Você terá seu ouro, Capitã Lorna. Arnaud Qblas! Organize suas terras para abrigar estes homens. Os demais sulistas, enviem relatórios sobre as suas condições de tropas. Pode ser que precisemos de mais reforços como este. - Minha senhora, farei como me pede. Ainda assim, se me permite capitã Braveheart, como saberei que são suas tropas e não do inimigo quando chegarem? A Succubus do mar postou-se para falar com orgulho o nome que muitas lendas além-mar contavam. - O senhor saberá quando os Leões de Prata chegarem, meu lorde. O senhor saberá.