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Prólogo

Até a eternidade o seu nome brilhará


Donzela da Espada, amada pelo Deus Supremo
Uma santa, um dos seis Ouros
Em suas mãos, a balança da justiça
E a espada do poder

Porque aqueles-que-possuem-palavras de longe e de perto a adoram


As suas orações convocarão
Milagres divinos adiante
E ela deve lutar ao lado dos seis Ouros
Para conter os Deuses Demônios

Esse dever foi cumprido, e ela deve


Se tornar a guardiã da lei
Até a eternidade o seu nome brilhará
Donzela da Espada, amada pelo Deus Supremo…
Capítulo 1: Aventuras e Vida
Cotidiana

— Se você não gosta, pode ir para casa.


Uma voz clara ressoou no meio da floresta, que estava escura mesmo ao meio-
dia.
Árvores, musgo, hera. Esse era um mundo onde as pessoas pisavam sobre os
restos das construções de calcário abandonadas, um lugar governado por plantas
tão profusas que se enredavam. As ruínas de uma grande cidade, provavelmente
construída na Era dos Deuses, ou pelo menos, na primeira era daqueles que
possuem palavras.
Até mesmo os elfos supostamente reconheciam que coisa alguma resiste sob o
peso dos meses e anos, e, no entanto…
Essa cena era particularmente triste. Fissuras percorriam brutalmente sobre os
entalhes bem trabalhados; pisos de pedras uma vez alinhados, agora estavam
despedaçados. Entre os ramos que se estendiam acima como um teto, uma luz
difusa e tênue pouco visível para enxergar se infiltrava. Esse lugar fora uma
cidade uma vez, mas agora era nada, senão ruínas. Atualmente, apenas as árvores
e plantas viviam nesse lugar.
Através desse cenário marchavam cinco figuras em uma fila, carregados com
todos os itens que se pode imaginar. Eles eram, é claro, aventureiros.
A voz pertencia à garota na vanguarda deles, responsável pela exploração. Suas
orelhas longas, a prova que ela era uma alta-elfa, tremeram.
— Isso não significa nada se forçar.
— O que é que não faz? — A resposta foi curta, com uma voz quase mecânica.
Ela veio do segundo na fila, um guerreiro humano com um capacete sujo e
armadura de couro. Em seu quadril estava uma espada que parecia ter um
comprimento estranho; no seu braço estava um pequeno escudo redondo; e em
sua cintura estava pendurado um saco cheio com os mais variados itens.
Ele usava equipamentos um pouco melhores comparado aos que os jovens
sonhadores do país poderiam ter. Mas por pouco. Ele não parecia grande coisa.
Embora seu caminhar, a maneira como se portava, irradiava confiança.
Tal como o guerreiro ia, ele teria dado uma impressão estranha a qualquer pessoa
que o observasse.
— Essa aventura! — Alta-Elfa Arqueira não se virou. Suas orelhas longas se
moveram impacientemente para cima e para baixo.
Muitos elfos se tornavam patrulheiros. Eles eram batedores à altura dos rheas,
mesmo que não fosse sua classe principal.
Ela saltou com tanta facilidade sobre a raiz de uma árvore que se estendia para
fora do chão, que ela parecia pesar absolutamente nada.
— Eu não desgosto disso — disse o guerreiro.
As orelhas de Alta-Elfa Arqueira se ergueram.
— Isso foi o que nós combinamos. Não vou recusar a pagar o que te devo —
acrescentou ele.
Suas orelhas caíram outra vez.
A terceira pessoa na fila suspirou quando ouviu as palavras do homem.
Pequena, jovem, inexperiente e a mais bela do grupo, uma garota humana. Ela
agarrava um cajado de monge com as duas mãos e vestia as vestes clericais sobre
a sua cota de malha. Ela era uma sacerdotisa.
Ela balançou o dedo, reprovando o guerreiro, como se dissesse não há o que
fazer.
— Bem, isso não pode continuar. Você precisa ter um comportamento melhor.
— …Preciso?
— Sim, precisa. Justo agora ela está sendo muito atenciosa com você e com
todos!
— É mesmo…? — murmurou o guerreiro, depois se calou. Não era possível
observar sua expressão que estava escondida atrás do capacete de aço. Com uma
breve deliberação posterior, ele virou sua viseira sinistra em direção à elfa e
perguntou diretamente a ela: — É verdade?
— Você poderia não perguntar isso? — disse Alta-Elfa Arqueira, estufando suas
bochechas.
Na realidade, desde que ela tinha pedido “uma aventura” como sua recompensa
por ajudar o guerreiro a defender uma certa fazenda, a elfa estivera com bastante
disposição.
Se ela admitiria isso em voz alta, entretanto, era outra questão.
— Ahh, desista! — Um anão gorducho alisou sua barba, dando uma risada
sincera.
Ele era o quarto na fila, era um usuário de magia vestido ao estilo oriental; Anão
Xamã. Ele era ainda mais baixo que Sacerdotisa, porém, sua constituição física
era como uma rocha. O senso comum sustentava que os conjuradores eram fracos
fisicamente, mas os anões eram diferentes.
Não que o tamanho pequeno de seus membros nunca fossem um problema.
Seguir ao longo das trilhas de animais era um problema particular para eles.
— Esse é Corta-barba. Ser cabeça dura não é novidade.
— …Suponho que sim. Orcbolg é teimoso. — Com isso, Alta-Elfa Arqueira
suspirou. — Embora me custe admitir que um anão tenha razão sobre qualquer
coisa.
Anão Xamã soltou um “hmph” aborrecido, então sorriu convencidamente. —
Como você espera encontrar um homem com essa forma de falar? Desse jeito,
você vai ser uma solteirona de dois mil anos!
— Tsc! — As orelhas dela balançaram. — Eu não me importo. Por que eu
deveria me importar? Seja como for, ainda sou jovem.
— Oh, é mesmo? — disse Anão Xamã, com seu sorriso se reforçando, como se
tivesse encontrado a brecha que estava procurando. — Eu devia ter percebido…
a julgar por essa tábua que você tem como peito!
— Isso vindo de um barril que anda!
As sobrancelhas encantadoras de Alta-Elfa Arqueira se levantaram. Ela girou e
encarou o anão. Então, abriu a boca para revidar enquanto cobria seu peito
bastante plano com os braços…
…mas foi interrompida por uma respiração estridente.
— Os habitantes dessa terra podem ter partido para o outro lado, mas, alguns
modos ainda seriam bons, não?
Foi um homem-lagarto com um talismã em volta do pescoço quem falou.
Ele era a cauda — literalmente e figurativamente, com o seu movimento traseiro
— da formação. Ele era gigante, sua respiração sibilava pelas suas mandíbulas.
Usando as roupas tradicionais de seu povo e juntando as mãos em gestos
estranhos, ele era um lagarto sacerdote que seguia a vontade de seus ancestrais,
os temíveis nagas.
— As pessoas não têm domínio nessas terras. Fiquem atentos e não se metam
em problemas.
— Hmm. Talvez ela estivesse sendo um pouco barulhenta.
— Bah! O que? Isso é culpa sua por…
— Minha querida patrulheira, por favor — implorou Lagarto Sacerdote.
As palavras começaram a morrer nos seus lábios.
Lagarto Sacerdote não era o líder do grupo propriamente dito, mesmo assim,
Alta-Elfa Arqueira não tinha a coragem de ir contra esse semblante imponente.
— Talvez você possa prosseguir. Escalar essa raiz parece apto a ser um desafio.
— …Sim, senhor.
— E prezado conjurador, não distraia nossa batedora.
— Eu sei, eu sei.
Anão Xamã não pareceu notar o quanto que as orelhas de Alta-Elfa Arqueira
abaixaram sob a repreensão.
Enquanto isso, Lagarto Sacerdote revirou irritado os olhos.
Sacerdotisa riu quase inconscientemente. Ela gostava da forma energética que
Alta-Elfa Arqueira e Anão Xamã ficavam quando discutiam.
É bom que eles sejam amigos o suficiente para discutirem assim.
— Hiup!
Alta-Elfa Arqueira saltou sobre a raiz de uma árvore quase tão alta quanto ela
com um, dois, três passos, em uma exibição acrobática que a maioria das pessoas
não eram capazes de fazer.
— Você é experiente nisso — disse calmamente o guerreiro, que estava a
observando.
— Oh, você notou?
Junto a resposta satisfeita de Alta-Elfa Arqueira, uma corda de escalada caiu
sobre o obstáculo.
O guerreiro deu dois ou três puxões por segurança, então pôs os pés na raiz e
começou a subir.
Ele escalou com uma velocidade e leveza que contradizia toda a armadura que
estava usando. Esse era possivelmente o resultado ao usá-las até mesmo fora das
aventuras.
— Tudo certo. Isso vai funcionar. — Em cima da raiz, seu elmo virou para eles
abaixo. — Próximo.
— Ah… Certo!
Sacerdotisa assentiu várias vezes e seguiu.
Ela colocou seu cajado nas costas e começou a escalar com insegurança, se
apoiando atentamente contra a raiz para se sustentar.
— Mas… Ugh… E pensar que uma cidade grande dessa poderia se transformar
em ruínas… Caramba!
— Tenha cuidado.
Chiiiii. Sacerdotisa escorregou em alguns musgos e quase caiu, mas o guerreiro
agarrou rapidamente seu pulso e a puxou para cima.
Seu braço era tão fino, que parecia que a mão enluvada de couro do guerreiro
poderia a partir.
— O-obrigada… — disse ela com uma voz infimamente baixa, olhando para
baixo na raiz e corando.
Ela esfregou seu pulso ligeiramente dolorido. Não que ela estivesse se
queixando.
— Se não estiver machucada, iremos descer.
— Certo.
Sacerdotisa andou sobre a raiz com o guerreiro segurando sua mão para apoiá-
la.
Uma vez que eles estavam em segurança no chão, Alta-Elfa Arqueira inclinou
um pouco sua cabeça para o lado e perguntou: — Está tudo bem?
— Sim… eu só… preciso aumentar minha força um pouco mais…
— Bem, não fique maluca — disse a elfa, com um movimento de suas orelhas.
Ela estreitou seus olhos e deu Sacerdotisa um olhar atento de cima a baixo. —
Você não iria querer acabar como o corpo de um anão.
— Eu consigo ouvir você orelhuda! E estou cansado de te dizer, eu tenho um
físico normal para um anão! — gritou Anão Xamã do outro lado da raiz. — De
qualquer forma, nada pode ganhar contra o fluxo do tempo. Nem suas árvores,
nem nossas cavernas… nada.
Após receber um impulso prestativo de Lagarto Sacerdote para o topo da raiz, o
anão se firmou determinado e saltou para o chão no outro lado.
Ele aterrissou no chão com seu traseiro com uma pancada seca.
Alta-Elfa Arqueira franziu visivelmente a testa para a exibição deselegante. —
Você não podia ser um pouco mais ridículo?
— Olhe para as minhas pernas! Elas são atarracadas! Vocês elfos, se preocupam
tanto sobre como as pessoas os veem.
— Se isso te incomoda, você pode sempre usar Controle de Queda.
— Pfft! Usar uma magia para isso? Os elfos não têm nenhuma noção de
moderação em magia?
— Certo, certo… — Sacerdotisa atravessou entre eles com um sorriso que ela
não conseguia suprimir totalmente. — Se vocês fizerem mais barulho, tomarão
outra bronca — advertiu ela.
— Oh, quem é que vai me repreender? Do ponto de vista de uma elfa, essa cobra
é apenas uma criança…
— Oh-ho?
As orelhas de Alta-Elfa Arqueira se ergueram com o pequeno som da voz.
— Mesmo os elfos não são eternos. Talvez, a única coisa que seja, é a própria
eternidade…
A voz foi acompanhada pelo sibilo de Lagarto Sacerdote escalando a raiz com a
ajuda de suas garras e cauda.
Ele escalou graciosamente e aterrissou ao chão agilmente. Foi impressionante,
mesmo sendo um pouco barulhento. — Talvez seria divertido descobrir se os
alto-elfos são eternos ou não?
— …Eu dispenso.
Talvez ele tenha tido a intenção da sua expressão parecer divertida ou
provocadora. Mas, para qualquer ser sem escamas, ele parecia apenas como um
lagarto enorme com sua boca cheia de dentes totalmente aberta.
Alta-Elfa Arqueira franziu a testa e balançou a cabeça de um lado para o outro.
— Então — disse o guerreiro. — Onde estão os goblins?
— …Lá vem ele outra vez. — Alta-Elfa Arqueira deu de ombros como se
dissesse não vale nem a pena responder, seguido por um suspiro ainda maior. —
Eu me dei o trabalho de encontrar ruínas que pareciam ter goblins, só para você,
Orcbolg. — Você podia estar um pouco agradecido.
Nisso, o guerreiro prosseguiu com: — Humm. Em outras palavras, você estava
sendo ponderada.
— …Sim, pode chamar disso.
— Entendi.
Ele estava aparentemente esperando que todos se juntassem. Então ele deu
apenas um aceno e partiu na frente da fila. Alta-Elfa Arqueira o seguiu
apressadamente depois, ultrapassando ele para continuar com seu
reconhecimento.
Considerando tudo, o guerreiro era um batedor muito bom. Apesar de seu modo
de andar rápido, indiferente e um pouco espalhafatoso, sua armadura era
estranhamente silenciosa. Ele poderia parecer um simples bandido, mas ele não
pisava sobre um galho ou chutava uma pedra.
— Aham, não precisa se preocupar muito, meu senhor Matador de Goblins. —
Lagarto Sacerdote puxou de sua bolsa algum papel enrolado e o abriu, o
examinando mesmo enquanto caminhava.
Ele estava desbotado, desgastado e aparentemente meio apagado, mas ainda sim
parecia ser um mapa da cidade que eles estavam.
Tomando cuidado para não danificar o papel, Lagarto Sacerdote percorreu
cuidadosamente sua garra ao longo dele. — …Deve haver um santuário mais
adiante. De minha parte, acredito que devemos ir para lá. O que vocês acham?
— Concordo — disse rapidamente o guerreiro. Ele parou a sua caminhada e
estava examinando a estrada — que uma vez foi de ladrilhos — com o dedo,
procurando por pegadas. — Pode haver goblins aqui.
— Isso é tudo que você tem na cabeça?! — disse Alta-Elfa Arqueira, a qual já
estava exausta dele.
— Há mais alguma coisa?
— Olhe à tua volta! — disse ela abrindo bem os braços, mas sem abaixar sua
guarda. — Olha para isso! Maravilha! Segredos! Mistério! Lenda! Você não
sente nada disso?
— Não há tempo para isso.
— …Eu não posso acreditar em você.
— É mesmo?
Alta-Elfa Arqueira contraiu seus lábios após ouvir a resposta curta. Suas orelhas
longas balançaram.
— Então, orelhuda. Se você apressar o polimento de uma pedra, você só vai
quebrá-la. — Anão Xamã riu da elfa petulante, enrolando sua barba. — Dê tempo
ao tempo. Deuses, todos vocês elfos são tão impacientes.
— É por isso que você é tão gordo, anão… só comendo e bebendo,
nunca fazendo nada.
— Ahh, o que você tem contra um pouco de comida e bebida? Você também
podia tentar um pouco! — Ele tomou um longo gole da jarra de vinho de fogo
no seu cinto, aparentemente imperturbado com o comentário dela. — Embora
seja justo, minha garota orelhuda, você não está errada.
Alta-Elfa Arqueira deu um olhar para Anão Xamã quando ele soltou um arroto
indelicadíssimo.
— Corta-barba, você nunca pensou que poderia ser mais fácil se você fosse, digo,
subisse na vida?
— Já — respondeu o guerreiro brevemente, enquanto agachava próximo a uma
parede, e olhava ao redor de um canto.
— Oh-ho. — O anão grunhiu com a resposta inesperada.
O guerreiro olhou para a esquerda, depois para direita, então continuou adiante.
— Desenvolver minha reputação, se tornar um ranque Ouro, e pegar trabalhos
mais variados como um aventureiro é uma possibilidade — disse ele.
— Então, por que não fez isso? — perguntou o anão.
— Porque se fizesse, os goblins estariam atacando as aldeias.
Observando próximo a eles, Alta-Elfa Arqueira balançou a cabeça como que para
afastar uma dor de cabeça.
— Eu tinha ouvido dizer que os humanos podiam ter visão limitada, mas… todos
são assim?
— Eu acho que ele é especial — disse Sacerdotisa, com um sorriso o que
podemos fazer?
Assim ele tinha sido nos meses desde que tinham se encontrado, embora tivesse
sido estranho no início.
— Embora ele converse sobre muito mais temas do que costumava.
— ……
O guerreiro continuou silenciosamente sua investigação, com aquela mesma
caminhada energética. Sacerdotisa o seguia ainda sorrindo. Digo, olhe.
— E ele está fácil de compreender, não é?
— Eu percebi, pelo menos — disse Alta-Elfa Arqueira, com um aceno e uma
risada.
Anão Xamã e Lagarto Sacerdote trocaram um olhar, depois um sorriso
silencioso.
Eles logo chegaram ao fim do que parecia ter sido uma vez uma grande estrada
principal e chegaram ao seu destino: uma grande praça e uma imensa clareira nas
árvores. Eles podiam ver mesmo uma abertura branca isolada, como a entrada de
uma caverna.
— Não vejo nenhum guarda. — O guerreiro deu um suspiro quando ele analisou
o território a partir das gramas altas nas sombras escuras das árvores.
Desde que entraram na floresta, eles não tinham visto nenhum animal selvagem,
para não falar algum monstro.
— Oh, então… isso quer dizer que não há quaisquer goblins lá! — Da parte de
trás da fila, Sacerdotisa tentou encorajar o guerreiro aparentemente desapontado.
— Não necessariamente.
A resposta foi quase mecânica, mas isso não parecia a incomodar. Ela dava a
impressão de ser um pintinho enquanto andava atrás dele.
— Eu não acredito que eles deixariam um ninho pronto assim ser desperdiçado.
— Você não precisa imaginar que eles estão aqui se não estão — disse Alta-Elfa
Arqueira, então murmurou para si mesma: — Goblins, goblins. Francamente.
O guerreiro ignorou ela e disse: — Ou eles podem ter simplesmente cavado
recentemente um túnel do ninho até aqui.
— Ei… Você sente o cheiro de alguma coisa? — Alta-Elfa Arqueira franziu a
testa. Ela não queria dizer isso como resposta ao guerreiro.
Lagarto Sacerdote balançou lentamente sua cabeça. — Infelizmente, meu nariz
é de pouca utilidade nessa floresta. Que tipo de cheiro é?
— É meio que… hum. Como… ovos podres?
— …Então eles estão aqui — murmurou brevemente o guerreiro. Com isso, cada
aventureiro preparou suas armas. Alta-Elfa Arqueira pegou seu arco, um grande
galho de teixo amarrado com seda de aranha, junto com uma flecha que tinha um
broto como ponta.
Com uma oração aos seus antepassados, Lagarto Sacerdote transformou um
dente em uma espada polida.
Anão Xamã alcançou um pequeno saco de catalisadores, enquanto Sacerdotisa
segurava seu cajado de monge com as duas mãos.
Eles partiram rapidamente, se espalhando para cercar a entrada.
— O que devemos fazer? Quer entrar? Ou devo usar o meu milagre Proteção…?
— Não. — O guerreiro balançou a cabeça, cortando a pergunta ansiosa de
Sacerdotisa. — Há outra entrada para essas ruínas… esse santuário? O que o
mapa diz?
— Não pelo que vi — respondeu Lagarto Sacerdote, que conhecia o mapa como
a palma da mão. — Embora sendo essas ruínas muito antigas, nós não podemos
garantir que um colapso não criou uma.
— Então iremos os expulsar com fumaça. — Com o escudo preso na sua mão
esquerda, o guerreiro revirou sua bolsa.
O que ele tirou era amarelado e do tamanho de sua mão; parecia um pedaço de
alguma coisa endurecida. Ele usou uma corda para amarrar a coisa com um
pouco de gravetos secos, até ter apertado eles em uma bola.
Sacerdotisa estava com uma expressão um pouco tensa. Talvez ela se lembrasse
dessa coisa.
— Isso é… hum… isso é resina de pinheiro, não é?
— Sim.
— E… enxofre.
— Isso fará uma bela fumaça densa. — Mesmo enquanto ele falava, o guerreiro
golpeou com facilidade uma pederneira, colocando fogo na bomba de fumaça.
Tendo cuidado para não respirar a fumaça que começou a subir imediatamente
do engenho, ele o arremessou dentro do buraco. — E ele envenenará o ar. É
pouco provável que mate eles, no entanto… — Com isso, o guerreiro tirou uma
espada pequenina da bainha. — Agora, esperamos.
O fumo da bomba de fumaça avançou para as profundezas das ruínas.
Os aventureiros suspiravam entre si com uma mistura de pesar e nervosismo.
— Você conhece os truques mais desprezíveis — disse Anão Xamã.
— Conheço?
— Você não vê?
Mas, não havia como discutir com os resultados imediatos. Pequenas silhuetas
vieram correndo através da parede de fumaça, clamando com vozes estridentes.
Eles eram monstros com faces cruéis do tamanho de crianças; goblins.
— Hmph.
Quando ele viu que os goblins estavam vestindo couraças de couro, ele os cortou
com sua espada como um machado cortava lenha.
Impacto. Grito. Um esguicho de sangue.
Ele pisou casualmente em um goblin que caiu de cara para cima com uma espada
enfiada em seu crânio, e pegou a arma dele para si.
Uma foice pequena. O guerreiro girou um pouco a arma ensanguentada, então
assentiu. Nada mal. A arma tinha sido feita para um goblin manejar em uma
caverna, mas ela parecia natural na sua mão.
— O nosso alvo possui excelente equipamento. Tenham cuidado.
— Isso não é como qualquer aventura que já estive.
— Não é?
— Não! — Alta-Elfa Arqueira disparou uma flecha com uma carranca.
Ela era feita de um galho naturalmente adequado para uma flecha, e ela voou
como se o próprio santuário estivesse a puxando.
Três gritos surgiram.
— Você normalmente não entra nas ruínas para lutar com os goblins?
— Eu suponho que é o método convencional.
Lagarto Sacerdote se movia de um goblin retorcendo para o outro, finalizando
cada um com sua espada.
— Se alguém quiser se juntar ao meu senhor Matador de Goblins em sua caçada,
os preparativos devem ser feitos para o que é menos esperado.
— Se você diz…
Sacerdotisa lançou um olhar duvidoso para o guerreiro.
Ele estava enfiando a foice, segurada inversamente, na garganta de um goblin.
Ele destruiu a traqueia do monstro quando retirou sua arma expropriada; então
ele a arremessou imediatamente através do ar. A lâmina girou através da nuvem
de fumaça, e um grito de goblin pôde ser ouvido. Os seus movimentos eram
brutalmente bem-feitos.
— Suponho que não serão necessárias magias nesse ritmo — disse Anão Xamã,
preparando gemas para a sua funda.
Era apenas precaução no caso da linha de frente se romper; ele estava na verdade
bastante tranquilo.
— Não.
Então o guerreiro pegou a adaga do goblin cuja garganta ele tinha dilacerado,
negando com a cabeça enquanto examinava o seu fio.
Um veneno escuro de algum tipo estava espalhado ao longo da lâmina. O
guerreiro limpou o veneno na túnica do goblin, ignorando o arrepio de
Sacerdotisa.
— Guarde sua magia para quando estivermos lá dentro — disse o guerreiro a
Anão Xamã, colocando a adaga no seu cinto.
Ele analisou a entrada do santuário. Os cadáveres dos goblins se espalhavam no
chão, mas não havia sentido esperar outros virem de dentro.
Eles tinham matado todos? Ou algum tinha escapado?
— Eles são resistentes…
Ele puxou a espada do corpo do primeiro goblin que ele tinha matado, limpando
as entranhas da lâmina para a renovar. Isso resolveria.
Ele enfiou decididamente a espada de volta em sua bainha, então acenou. —
Quando o ar ruim sair, nós entramos.
— Repito, esse não é o tipo de aventura que estou acostumada — resmungou
Alta-Elfa Arqueira.
— Não?
— Porque isso não é uma aventura! Isso não conta, entende?
— Está bem.
Isso foi tudo o que o guerreiro disse enquanto se dirigia para o santuário. O grupo
o seguiu.
Um guerreiro e uma clériga humanos, uma alta-elfa arqueira, um anão xamã e
um lagarto sacerdote.
Os planetas e as estrelas tinham completado quase metade de suas voltas desde
que esse grupo incomum se juntara.
Não tinha passado muito tempo ainda desde que outra luta na batalha sem fim
contra o caos e a desordem tinha terminado. Eles foram para as ruínas e cavernas
ao redor das cidades da fronteira, procurando em cada uma delas. Muitos eram
as fortalezas, santuários, ruínas e cavernas que tinham sido esquecidos na longa
batalha. Aliados do caos podiam encontrar descanso nesses lugares e esperar pelo
seu tempo chegar. Deve-se estar sempre em guarda, mas não apenas por
monstros.
Os governantes da terra, que tinham adquirido tempo suficiente para retomar
suas pequenas rivalidades, deixava esse tipo de assunto para aqueles que viviam
nas regiões selvagens.
Isso não era nada; os aventureiros terminariam suas lutas e retornariam as suas
vidas cotidianas.
As pessoas se tornavam aventureiras pela curiosidade sobre as terras
desconhecidas. Seus sonhos eram fazer seus caminhos no mundo matando
monstros e encontrando tesouros. E se eles pudessem ganhar uma recompensa
em seus caminhos o fazendo, melhor ainda.
O guerreiro aqui, pouco se importava onde os goblins viviam, quer se trate de
uma caverna ou uma ruína antiga.
Orcbolg, Corta-barba, Matador de Goblins… ele era conhecido por muitos
nomes. Mas, mesmo quando ele andava audaciosamente na caverna, ele ainda
não era um aventureiro.
— Encontrem todos os goblins. Matem eles.
Ele era Matador de Goblins.
Fim da tarde. O sol estava bem além de seu zênite e logo começaria a sumir.
O primeiro a notar seu regresso foi o dono da fazenda.
Uma estrada pequena percorria para cidade ao lado dos campos, agora colorido
com o pôr do sol.
Ele caminhava lentamente por ela com seu passo ousado e despreocupado. Como
sempre, ele usava um capacete sujo e uma armadura de couro, com sua espada
de comprimento estranho e seu pequeno escudo redondo.
O dono tinha ido reparar uma cerca quando sentiu um cheiro de ferrugem e parou.
— …Você está de volta — disse ele brevemente.
Ele assentiu, andando até o dono. — Sim. Terminei meu trabalho.
— Estou vendo…
O dono balançou a cabeça para o jeito sincero do outro homem e desviou o olhar
de seu capacete, que escondia seja o que for que a figura misteriosa estivesse
pensando.
O dono não tinha nada a dizer a essa pessoa que ele tinha conhecido — ou achava
que o tinha conhecido — desde a juventude do homem.
Na verdade, o dono tinha dificuldade em lidar com ele. Ele podia o entender, não
queria o dispensar assim, mas também não era alguém que o dono queria por
perto.
— Você sabe quantos anos já se passaram? — murmurou ele sem perceber.
Quando os goblins atacam sua aldeia, é como uma força da natureza, como um
ato dos deuses.
Então, o homem tinha tido apenas uma escolha; correr. Mas ele não tinha só se
salvado; ele agora estava revidando.
Isso não era suficiente?
— Sim. — Ele assentiu como se tivesse entendido.
— Então não exagere… eu tenho pena daquela garota.
— …Eu terei cuidado — respondeu ele, com um pouco de hesitação.
Era isso que deixava tão difícil, o dono pensou.
Se ele fosse um homem que não se importasse com nada, o dono não precisaria
se preocupar com ele.
Talvez ele tenha adivinhado o que estava na mente do dono, pois ele continuou
com sua voz ríspida: — Desculpe. Eu gostaria de alugar seu estábulo.
— …É o de costume. Não se preocupe com os detalhes, faça o que quiser.
Ele pareceu suportar essa curta resposta sem preocupação, e apenas passou pelo
dono.
Agora, na fazenda propriamente dita, ele deu a volta atrás do celeiro de gado.
Após um monte de grama seca, logo depois. Havia um estábulo bem velho que
fora abandonado há muito tempo.
Tábuas tinham sido marteladas nas paredes e no teto para tapar os buracos. Era
uma coisa certamente grosseira, mas isso era o trabalho de suas mãos, que ele
tinha feito sem reclamar.
Vaqueira, a filha adotiva do dono e sua amiga desde a infância, tinha insistido
que faria, mas ele achou que deveria fazer esses serviços, pois era o inquilino.
— Oh! — Assim que ele foi abrir a porta, uma voz soou atrás dele com um
entusiasmo infantil. Ele se virou e viu uma mulher jovem apontando para ele;
Vaqueira. Ela correu na direção dele, com seus peitos saltando, agitando seus
braços.
— Bem-vindo de volta! Deuses, você podia ao menos me falar quando voltar!
— Eu não queria te incomodar.
— Não me incomoda me dizer olá.
— Não? — Ele assentiu calmamente; Vaqueira cutucou ele com o dedo
indicador.
— Não! Então me cumprimente apropriadamente!
Ele não disse nada por um momento, então balançou a cabeça lentamente. —
…Cheguei.
— Assim está melhor. Bem-vindo de volta. — Vaqueira sorriu, e seu rosto estava
radiante como o sol.
— Eu ouvi você a primeira vez.
Ele abriu a porta desajustada com um rangido e entrou no estábulo.
Vaqueira o seguiu, se espremendo através da porta.
Ele parou e virou sua cabeça, olhando para o rosto de sua velha amiga. — Como
está o trabalho…?
— Eu estou meio que em uma pausa.
— Hum?
— É!
Ele não parecia especialmente interessado. Ele jogou sua bolsa no chão; então
pegou uma pederneira e acendeu a luz de um lampião velho pendurado em uma
viga.
O estábulo pairou na visão, parecendo mais como uma caverna em si.
Um tapete estava esticado sobre o chão, e o lugar era a morada de algumas
prateleiras estreitas e uma variedade de itens misteriosos. Frascos, ervas, uma
arma estranha em forma de cruz quebrada, livros antigos escritos em letras
indecifráveis, a cabeça de alguma besta… e muitas outras coisas cuja natureza
Vaqueira não podia começar a adivinhar.
Ela suspeitava que mesmo a maioria dos aventureiros não seria capaz de
compreender o que ele faria com muitos desses itens.
— Tenha cuidado.
— Com certeza…
Ele falou essas palavras para ela enquanto ela cutucava a coleção, então se sentou
com força no meio do chão. Ele tirou a espada de seu quadril e a colocou de lado,
a bainha e tudo mais, depois começou a desmontar sua armadura de forma
barulhenta.
Vaqueira se ajoelhou próxima a ele, olhando as suas mãos sobre seus ombros.
— Ei, o que está fazendo?
— Reparando os golpes em meu capacete, mudando as dobradiças na minha
armadura, consertando minha cota de malha, afiando minha lâmina e polindo a
borda de meu escudo.
— O resto eu consigo entender, mas… a borda de seu escudo? Que diferença
isso faz?
— No momento certo, isso pode ajudar.
— Hum…
Seus movimentos eram diligentes e cuidadoso. Com um martelo, ele retirou e
substituiu os acessórios metálicos, modelou as correntes interligadas de fio
dobrado de metal, e poliu sua espada e escudo com uma pedra de amolar.
Uma arma poderia ser substituída por algo tomado de um goblin, mas a armadura
era uma questão diferente. Era extremamente incomum ver um goblin com um
elmo de metal que realmente pudesse proteger sua vida. E mesmo que ele
encontrasse um, ele não teria tempo para remover o seu capacete e colocar o
outro.
Um golpe azarado na armadura, que estivesse em seus últimos momentos, teria
boas chances de ser fatal. Isso fazia seu mais importante trabalho, o seu salva-
vidas.
Vaqueira observava cada movimento dele com um olhar atento e um sorriso que
sugeria que ela estava se divertindo.
— …Você acha isso interessante?
— Acho. Eu sempre gosto de ver o que você está fazendo. — Ela riu e estendeu
seu peito um pouco teatralmente. — Então? Como foi a sua aventura?
Ela se aproximou dele, com os olhos brilhando. Havia um cheiro doce de leite
nela.
Com um tom extremamente indiferente, ele respondeu:
— Havia goblins lá.
— Ah, é?
— Sim — respondeu rapidamente ele, ainda trabalhando. Então, ele acrescentou:
— Alguns.
Vaqueira olhou atentamente suas costas, então…
— Iaa!
Ele soltou um suspiro quando sentiu de repente alguma coisa pesada e macia em
suas costas.
Vaqueira se pressionou contra ele e bagunçou seu cabelo.
Suas mãos sossegaram; ele se virou para ela com um olhar desconfiado. — O
que foi?
— Nada! Só queria o parabenizar pelo trabalho bem-feito — disse ela, bem-
humorada.
— Eu teria cuidado se eu fosse você.
— Ahh, está tudo bem!
— Não está tudo bem.
— Aconteceu alguma coisa interessante? Que tipo de lugar era?
Ele ficou em silêncio. Talvez ele tenha sentido que nada que ele dissesse seria de
alguma utilidade.
Ele colocou seu escudo recém-polido na parede e, então, foi vasculhar as
prateleiras. Ele pegou vários frascos, um saco e um pilão que deslizava da
prateleira, e depois tirou o lacre de um frasco com as mãos enluvadas. Dentro
dele estavam os restos mortais de uma cobra.
Ignorando Vaqueira que murmurou “ugh” atrás dele, ele colocou a cobra no
pilão.
— Não toque nisso. Você vai ter uma erupção cutânea.
— Certo… Então, hum…
— Eram ruínas em uma floresta.
— Ruínas… Então, você foi matar goblins?
— Não. — Ele balançou a cabeça. — …Eu fui convidado pelos outros.
Ela assentiu com um murmurinho de interesse, quando ele acrescentou o
conteúdo de um frasco após outro no pilão.
A cobra, e depois um pó vermelho; algum tipo de condimento. Ervas secas.
Todos irritantes. Ele nem sequer fez medições exatas; o processo era bem
familiar para ele. Ele esmagou tudo no pilão até que estivesse misturado.
— …Parece que elas foram algum tipo de cidade uma vez.
— Você não sabe o nome dela?
— Sinto muito. Não me importo.
— Bem, eu acho que há muitas delas por aqui. Sendo essa a fronteira e tudo mais.
Uma vez que ele estava convencido de que a cobra estava completamente moída,
ele começou a vasculhar uma prateleira nas proximidades.
Ele veio com um ovo; a casca de um que veio da fazenda. Eles tinham galinhas,
mas elas não colocavam ovos todos os dias.
Ele derramou cuidadosamente o conteúdo moído do pilão dentro do ovo, através
de um buraco em seu topo. Conforme ele fazia isso, ele murmurou: — Pensando
bem, havia uma grande…
— Hu-hum? — disse Vaqueira com um aceno.
— Uma raiz grande de árvore sobressaindo o solo.
— Quão grande é o grande?
— Tão alta quanto você. Foi um trabalho difícil escalar ela.
— Hum. Isso é realmente impressionante.
Isso foi uma avaliação infantil e, em seu modo, um deslumbre infantil. Ela tinha
vivido a maior parte de sua vida na fazenda, nunca fora mais longe do que a
cidade; ela nunca tinha visto uma coisa dessa. Agora era ele quem conhecia mais
do mundo do que ela.
Isso a deixava um pouco triste, mas feliz também.
— E havia goblins — acrescentou ele, quando envolveu o ovo preenchido em
papel-óleo e o selou. Seu tom era desinteressado, mas muito sério. — …Foi
estranho. Eles estavam estranhamente bem equipados.
Vaqueira tocou seu queixo pensativamente antes de dizer: — Hmm… Você acha
que eles fugiram da batalha daqui?
— Se fosse assim, eles teriam pelo menos colocado um guarda.
— Hmm… Bem, se você não sabe, tenho certeza de que não descobrirei.
Ela deu um suspiro de lamento, e então esticou os dois braços com um “ahhh” e
encostou suas costas no chão.
Perto do teto escuro, a lamparina queimava e crepitava.
— Você vai se sujar.
— Eu não me importo — respondeu Vaqueira, com uma risada animada.
Então… — Ei — disse ela, rolando para o outro lado sobre seu ombro para o
encarar. — E se você fizer uma pausa amanhã?
— Não. — Ele balançou a cabeça calmamente conforme colocava o ovo em sua
bolsa. — Garota da Guilda me chamou.
— Ah, é? É uma pena.
Ele assentiu. — Pode ser extermínio de goblins.
— Não, não é extermínio de gobl… Espere, por favor, não vá embora!
Matador de Goblins se virou aborrecido, com a sua mão na porta da sala de
reuniões.
Havia cadeiras luxuosas e um tapete felpudo. Uma parede estava coberta com
cabeças de monstros e bestas mágicas, junto às armas antigas.
Rodeado pelos troféus dos aventureiros através dos tempos, o homem respondeu:
— Mas você já disse que não se trata de goblins.
— Sim, bem, isso é… isso é verdade, mas… — Garota da Guilda, parecendo
pequena em uma das cadeiras, parecia que poderia acabar em lágrimas a qualquer
momento. Se agarrando a uma penca de papéis, ela disse com uma voz baixa: —
Tem… tem que ser realmente goblins para você, não é?
Matador de Goblins ficou calado. Não havia como adivinhar sua expressão sob
o capacete.
Depois de um momento, ele deu um suspiro silencioso.
Então ele se virou, andou rapidamente até uma cadeira e se sentou mais
agressivamente do que o necessário. Ele olhou para ela sentada em frente e disse:
— Seja breve, por favor.
— Certamente!
O rosto de Garota da Guilda brilhou como uma criança.
Ela endireitou rapidamente seus papéis, os organizando mais uma vez sobre a
mesa. Os velinos que ela espalhou na frente dele parecia ser o resumo de alguns
aventureiros. Nome, raça, gênero, habilidades e um histórico de missão estava
incluído.
— Eu gostaria de pedir a você para ser um observador, Sr. Matador de Goblins.
— Um observador. — Ele assentiu como se já estivesse convencido. — Isso é
para um teste de promoção?
Os aventureiros eram divididos em dez ranques, de Porcelana a Platina.
Os ranques eram determinados com base na quantidade de recompensa que ele
tinha ganho, o quão bom fizera ao mundo e a sua personalidade. Alguns referiam
a eles coletivamente como “pontos de experiência”, e isso não era incorreto. Era,
de fato, uma simples medida de quão bom eles tinham feito as pessoas e a
sociedade.
Mas, claro, havia aqueles aventureiros cuja excelência parava em suas
habilidades de luta. A personalidade de um aventureiro era valorizada pelo
menos tão altamente quanto suas habilidades. Assim, os aventureiros de alta
patente poderiam servir como testemunhas em um teste, essencialmente, uma
entrevista.
Dessa forma, por exemplo, um vagabundo com habilidades incríveis de sei lá o
que, poderia se ranquear como Prata ou Ouro imediatamente. Ou melhor, tipo
um sistema de livro de contos era o ideal. Mas, não funcionava assim.
Um aventureiro masculino cujos membros do grupo eram todas mulheres, por
exemplo, poderia encontrar dificuldade para progredir. Independentemente das
circunstâncias, poucos estavam dispostos a confiar missões importantes a alguém
que parecesse um mulherengo. No entanto, por mais fortes que pudessem ser, os
tolos cuja força era a sua única habilidade, permaneceriam ranque Porcelana por
toda vida. Enquanto isso, os melhores aventureiros sabiam que estavam sendo
observados e tentavam atuar de uma maneira confiável.
…Com a exceção de alguns dos Platinas, historicamente extremamente raros.
— Mas… — Matador de Goblins parecia duvidoso. Era uma coisa incomum para
ele. — Você tem certeza de que vou conseguir?
Céus. Garota da Guilda respondeu como se isso não a incomodasse de forma
geral. — O que de fato você quer dizer? Você é um ranque Prata, você sabe
também.
— A associação decidiu isso arbitrariamente — disse Matador de Goblins.
— Isso só mostra o quão grato todos são a você.
Garota da Guilda parecia confiante, tão orgulhosa como se estivesse falando de
si mesma.
Matador de Goblins ficou em silêncio. Por um momento, ele olhou para o teto,
mas, ele logo pegou o papel.
— Quem está sendo testado?
Garota da Guilda deu um aceno contente quando ela percebeu que ele aceitou,
suas tranças saltaram.
— Mu-muito obrigada! São vários membros de um único grupo, cada um deles
está se movendo de Aço para Safira, em outras palavras, do oitavo ranque para
o sétimo.
— Por favor, deixe dessa vez… Por favor, por favor, me deixe avançar dessa
vez…
No corredor fora da sala de entrevista, uma prece soou entre os aventureiros que
estavam esperando.
O interlocutor era um homem de meia idade vestido com trapos.
Provavelmente um monge, bem, não qualquer monge.
Sua pele já estava enrugada devida à idade. Com ele estava um cajado de madeira
surrado, provavelmente uma espécie de arma. Sua testa estava raspada, mas
aparentemente ele não tinha óleo para colocar, e o resto de sua cabeça estava
coberta de cabelos finos.
— Cale a boca, vovô! Você não precisa cantar o tempo todo só porque você é
um monge. Você está me incomodando pra caramba!
O crítico era um jovem com olhos frios muito parecido com um guerreiro.
Suas palavras foram grosseiras, mas ele mesmo se mexia como se incapaz de
manter a calma. Cada vez que ele fazia isso, sua armadura bem usada e seu
machado de guerra colidiam um com o outro, com um barulho de metal raspando.
Eles não estavam enferrujados, mas eles estiveram em dias melhores. Não eram
equipamentos da melhor qualidade.
— Maldição. Eu deveria pelo menos ter limpado eles…
— Tarde demais. O velho é a única pessoa aqui com casa própria. Faz você
querer ter religião — sussurrou tranquilamente uma jovem quase maga ao
homem com o machado. — E um pouco de polimento não teria feito muita
diferença, de qualquer maneira.
Com as orelhas superficialmente pontudas escapando para fora de seu capuz
rasgado, uma meia-elfa. Seu grimório, que ela paginou de uma ponta a outra
agitadamente, também parecia bem usado. A capa estava caindo e tinha sido
reatada com cola.
— Ahh, pega leve. Não faz nada bem ficar aborrecido…
O interlocutor então deu uma gargalhada. Ele era jovem, baixo, de fato, mal
sendo a metade do tamanho de qualquer outra pessoa ali. Ele vestia uma
armadura de couro impecável, uma adaga no quadril e botas revestidas com pele
em seus pés.
Ele era um rhea batedor, ou de qualquer forma, assim se assumia.
— Sim, eu sei — disse o guerreiro com machado. — Mas há um grande salto
entre Aço e Safira, tanto em pagamento quanto em missões.
— Se pudermos avançar hoje, podemos finalmente parar de caçar ratos nos
esgotos — acrescentou a elfa maga.
O guerreiro continuou, rápido como um machado se movendo: — Nós podemos
finalmente fazer mais do que os juros sobre nossas dívidas. O velho aqui será
capaz de se manter. Isso é importante.
— Eu também preciso disso. Os grimórios são caros. Se uma oração é o que é
necessário para conseguir esse ranque, eu vou rezar todos os dias — murmurou
a elfa filosoficamente. Ela encarou o rhea batedor sob seu capuz. — De qualquer
forma, não aja como se isso não te preocupasse.
— Sim, ha-ha-ha… — O rhea coçou a cabeça de constrangimento. — Eu estou,
sabe, eu estou bastante assustado com o perigo. E eu não tenho nenhuma dívida,
então…
— Seu vagabundo.
— Covarde.
O guerreiro e a maga pareciam irritados, mas o batedor apenas deu de ombros.
— Próximo, por favor!
A voz animada de Garota da Guilda flutuou da sala de reunião.
— Oh! Esse sou eu! — O rhea batedor avançou agilmente.
O monge calvo se agarrou a sua armadura, praticamente de joelhos. — Por
favor… Por favooor seja forte…
— Eu sei, eu sei, dá o fora — disse o batedor, afastando a mão do monge. Ele
abriu a porta…
— …Caramba.
…e seus olhos se arregalaram.
Três pessoas sentadas na sala de reuniões. A primeira, era uma funcionária da
guilda, a recepcionista de olhos brilhantes. (Um dia ele espancaria ela até que
chorasse). A segunda era outra mulher magra vestindo o uniforme da guilda.
Quem era essa? O rhea batedor inclinou a cabeça. Ele não conseguia se lembrar
se tinha a visto antes. E então, havia um aventureiro de ranque alto, mas com um
aspecto muito estranho.
Um capacete de aparência barata. Uma armadura de couro suja. Equipamentos
pouco adequados para uma aventura. Ele não tinha uma espada ou escudo, mas
não havia como se enganar.
— M-Matador de Goblins…
— Há algum problema? — perguntou ele.
— N-nenhum, senhor. — O batedor respondeu ao homem brusco com um riso
obsequioso, voltando para trás para fechar a porta.
A verdade era que o rhea não odiava o homem chamado Matador de Goblins, o
homem que tinha chegado ao ranque Prata mediante a simples trabalhos
envolvendo goblins. O rhea precisava de dinheiro. Ele queria fama. Ele queria
ser reconhecido. Mas, ele odiava ter medo, e ele não queria morrer. Ele estava
seguro de que Matador de Goblins devia se sentir de forma semelhante. Se ele
realmente não gostava de alguma coisa sobre o homem, era aquele capacete
inexpressivo…
Matador de Goblins observou o rhea batedor se sentar de frente para ele.
O batedor tremia levemente. Ele não odiava Matador de Goblins, mas ele
também não achava fácil encarar ele.
— Então, hum, é agora, né? O teste de avanço. — O rhea deu uma risada fraca e
esfregou as palmas das mãos. — Vamos atravessar Safira, além de Esmeralda,
Rubi… O que vocês acham de irmos direto a Cobre?
— Eu duvido irmos tão longe — respondeu Garota da Guilda com um sorriso.
Ela folheou alguns papéis em sua mão. — Não posso deixar de notar a sua
armadura e botas novinhas em folha.
— Oh, você notou? — Os cantos dos lábios do batedor se ergueram, e ele colocou
os pés em cima da mesa. Suas botas estavam completamente reluzentes, sem
arranhões, e mesmo a luz negra quase não conseguia escapar de sua superfície.
— Elas são de qualidade bastante elevadas. Eu as tinha atapetado e tudo mais.
Elas são perfeitas para mim.
— Sério!
Ele falhou em perceber o que estava por vir.
— Por que você é o único a ter se dado tão bem quando todos vocês assumiram
as mesmas missões? — Seu tom era terrivelmente simples e sistemático. — Esses
equipamentos são bastante luxuosos mesmo na perspectiva da recompensa
agregada do seu grupo. Espero que não tenha havido um erro de cálculo.
Garota da Guilda disse em seguida, ignorando a forma do rhea batedor que
subitamente ficou rígido.
— Alguns relatórios bastante ambíguos sugerem que, ao contrário de seus
amigos, você está pegando missões por contra própria.
— Oh, isso é, bem, é…
O batedor puxou apressadamente os pés da mesa.
Ele olhou para a direita, para a esquerda. Não havia nenhum lugar para correr.
Ele falou o mais rápido quanto poderia pensar.
— S-sabe, eu tive recentemente uma encomenda em casa…
— Uma mentira.
A palavra afiada veio da funcionária que tinha permanecido em silêncio até
aquele momento.
O sorriso congelou no rosto do batedor, mas ele se amaldiçoou interiormente.
Ela usava a espada e a balança em volta do pescoço, o símbolo do Deus Supremo.
— Eu juro em nome do Deus Supremo. O que ele acabou de dizer foi uma
mentira.
O milagre Discernir Mentira. Malditos sejam esses videntes!
É por isso que ele não tinha a reconhecido. Ela era uma inspetora, uma
funcionária da guilda, mas também uma sacerdotisa do Deus Supremo,
governante da lei e da justiça.
O que era isso? Eles tinham suspeitado dele? Mas, por quê?
Garota da Guilda fez um show através de seus papéis. Nós sabemos tudo, a
atitude dizia.
— Parece que você obteve equipamentos novos depois da invasão nessas ruínas
outro dia… Ah, entendo.
Com um sorriso e uma risadinha, ela bateu as mãos e assentiu.
— Você disse aos outros que você estava indo em frente explorar, encontrou um
baú do tesouro, manteve o conteúdo para si e os vendeu!
— Tsc…
Isso era exatamente o que ele tinha feito.
Adentrar de repente em ruínas, monstros e armadilhas eram muitas e letais. Era
apenas natural que o rhea batedor se voluntariasse a fazer o reconhecimento, e
que seus companheiros concordassem. Ele tinha entrado nas ruínas sutilmente,
explorou vários caminhos, e então…
Ele encontrou um baú do tesouro.
Ele não estava com armadilha, e abrir a fechadura foi fácil. No seu interior havia
dezenas de moedas antigas, mas douradas. Baús do tesouro vazios não eram uma
coisa rara. E ainda havia muito espaço em sua mochila.
— T-tipo assim, is-isso foi… eu…
Ele riu desajeitadamente, coçou a cabeça como uma criança repreendida e
assentiu. Seria muito benéfico para si simplesmente se desculpar, ele decidiu.
— Eu… sinto muito.
— Bem, isso torna as coisas difíceis. — Garota da Guilda riu.
Era muito óbvio que ela folheava as páginas apenas por atuar.
Ela já havia antevisto tudo isso. A guilda tinha uma pousada e um bar, e eles não
eram apenas para benefício dos aventureiros de ranque baixo. O fluxo de dinheiro
não mentia.
— São pessoas como você que dão um nome ruim aos rheas e batedores. — Ela
balançou a cabeça em desgosto. — Bem, esse é o seu primeiro delito… Eu acho
que o rebaixamento para Porcelana e ser impedido de se aventurar nessa cidade
é apropriado.
— E-espere um pouco! Quão justo é isso?! — Por impulso, o rhea se encontrou
inclinado sobre a mesa e gritando. — Eu apanhei um pequeno baú do tesouro e
você vai me expulsar?
— Perdão? — O tom de Garota da Guilda estava frio, e sua exasperação era
óbvia. Certamente, ela estava realmente enfadada dele. — Apenas um baú do
tesouro? Não seja ridículo. Você não pode reparar uma confiança violada com
dinheiro.
E aquele que traísse a confiança dos outros, não tinha o direito de ser um
aventureiro.
É claro, ser um aventureiro significava lutar. Ninguém perguntava sobre sua
história. Havia pessoas malcriadas entre os aventureiros. Não havia fim para os
argumentos, de todos, o mais importante então, que ele fosse o mais sincero
quanto possível. Um aventureiro que não fosse confiável era apenas um patife.
E a guilda negociava com confiança e fiabilidade.
O rhea era suficientemente capaz de ser promovido e tinha apenas sido concedido
clemência porque essa era a sua primeira vez. Ele não entendeu isso?
— Você está rebaixado por motivos de falsificar uma recompensa. Se você quiser
permanecer aqui, entretanto, você pode.
— Tsc…
O rhea batedor estava sem palavras. Ele se esforçou para pensar em alguma
forma para transformar essa situação em sua vantagem.
Todo mundo faz isso. Não. Isso não o tiraria de seu castigo. Talvez se ele dissesse
que alguém o ameaçou, o forçou a fazê-lo…
— Não te ajudará tentar qualquer coisa engraçada.
Ela estava certa. A ministra que rege a justiça estava o observando, com os olhos
brilhando.
Sua única esperança… Ele se virou para a sua única saída, a pessoa na sala que
mais se parecia com ele.
— V-vamos, Matador de Goblins… eu estou pedindo a você, como um
companheiro aventureiro…
Com olhos suplicantes. Sorriso bajulador. Esfregando suas palmas em uma
súplica desesperada.
O aventureiro, que tinha ficado com os braços cruzados silenciosamente ao longo
de toda a cena, respondeu com um toque de aborrecimento: — Companheiro? —
Sua resposta foi direta. — Eu sou um observador. Nada mais, nada menos.
— Mas, você… Você é uma aventureiro também…
— Sim, eu sou. — Matador de Goblins olhou para o rhea que suplicava. —
Assim como os que você enganou.
— …!
O rhea batedor ficou vermelho-vivo e olhou feio para os dois. Por um breve
instante, ele teve uma visão de si mesmo tirando sua adaga e saltando em Garota
da Guilda.
Era mesmo possível.
— ……
Mas ele teria que passar por Matador de Goblins, um guerreiro forte o suficiente
para fazer sozinho missões relativas a goblins, que normalmente exigiam um
grupo inteiro. Quanta chance o rhea realmente teria no combate corpo-a-corpo?
— ……
Sentindo o olhar de Matador de Goblins fixo nele por debaixo daquele capacete,
ele engoliu em seco. Ele era tão inteligente quanto qualquer batedor e certamente
não era tolo.
— …Vocês vão se arrepender disso.
Seus sentimentos fluíram em suas palavras de despedida quando ele recuou a
cadeira e saiu da sala.
Garota da Guilda soltou um suspiro quando a porta se fechou. — Recusado para
promoção. Ufa… Isso foi terrível…
O sorriso perpetuamente colado no rosto de Garota da Guilda finalmente saiu, e
ela se abaixou no assento. No fim, sob a cara feia do batedor, ela começou
inconscientemente a tremer. Ela não sabia o que poderia ter acontecido se
Matador de Goblins não estivesse ali.
— Muito obrigado, Sr. Matador de Goblins.
Ela olhou para o capacete de aço próximo a ela, com suas tranças um pouco
suspensas.
— Não. — Matador de Goblins balançou a cabeça calmamente. — Eu não fiz
nada.
— De maneira alguma! Eu me lembro de quão ruim foi quando eu estava fazendo
o curso de preparação da associação na Capital.
Ainda cabisbaixa, Garota da Guilda deu um sorriso fraco.
— Todos aqueles crápulas que não podiam abrir a boca sem fazer uma
observação indecente. Achei que eles tinham me escolhido só porque eu era
bonita e jovem.
— Há muitos deles, não há? Especialmente na Capital. — A inspetora deu um
suspiro de exasperação e acariciou gentilmente a espada e a balança.
— Então, nós temos que confrontar pessoas assim como esse por nós mesmos…
sabe? — Com um pequeno aceno, ela colocou uma mão na mesa e se
impulsionou para cima. Suas tranças balançaram. — Realmente faz você se
sentir muito melhor ter alguém que você confia como seu observador!
— É mesmo?
— Sim, é.
Ela sempre mostrava muita confiança ao falar sobre Matador de Goblins. Ele
deve ter entendido, porque ele se aquietou um pouco, então se levantou
lentamente de seu assento.
— …Se nós terminamos aqui, eu vou voltar.
— Ah, certo. Se você passar pela recepção, eu tenho certeza de que eles podem
pegar para você sua remuneração…
— Está bem.
Matador de Goblins se dirigiu para a porta com seu casual passo ousado.
Vendo ele, Garota da Guilda se viu falando repentinamente.
— A-ahn!
Ela já tinha feito. Ela havia dito isso. Garota da Guilda sentiu uma pontada de
arrependimento.
Matador de Goblins, com sua mão na maçaneta da porta, se virou lentamente. —
O que foi?
Garota da Guilda hesitou.
A coragem que a inspirou a chamá-lo, tinha desaparecido tão rápido quanto havia
chegado. Ela abriu a boca, parou, depois decidiu dizer apenas o que era
apropriado.
— …Bom trabalho hoje.
— Claro — disse ele enquanto girava a maçaneta. — Você também.
A porta se fechou com um suave clac.
Garota da Guilda, abandonada, se esticou sobre a mesa novamente.
— Ufaaa…
A superfície da mesa dava uma boa sensação contra sua bochecha.
— Bom trabalho. — Sua colega, a inspetora, deu um tapinha nas costas de Garota
da Guilda com um abrandamento de sua expressão implacável.
— Eu estou com medo de que o cara simplesmente faça qualquer outra coisa.
— Bem, aventureiros vivos são um recurso precioso. E ele não fez nada
claramente ilegal… — Seria muito pior se ele jogasse fora toda a conjuntura de
aventuras e se tornasse um encrenqueiro sério. — Certamente, existem todos os
tipos de aventureiros, desde Leal e Bom até Caótico e Mau.
— Enquanto são aventureiros, eles são permitidos fazerem essa escolha… De
qualquer forma, bom trabalho.
— Sem problema. Isso é simplesmente o meu dever como sacerdotisa do Deus
Supremo. — A inspetora sorriu e acenou para Garota da Guilda em gratidão, mas
ela só pôde suspirar de novo.
— E da perspectiva do Deus da Lei, o que eu fiz agora foi… correto?
— Muitas pessoas entendem mal o Deus da Justiça, até mesmo os escritores dos
nossos concursos. — A inspetora limpou a garganta com um “hum-hum”, um
gesto em si bastante teatral. — A justiça não é para punir o mal, mas para
conscientizar as pessoas.
A lei era uma ferramenta e instrução para viver bem. Nada mais e nada menos.
Foi por isso que o Deus Supremo não transmitiu revelações. A intenção não era
que eles seguissem a palavra sagrada de Deus, mas que eles pensassem por si
mesmos e usassem seu próprio julgamento.
Garota da Guilda ainda estava estabelecida deselegantemente sobre a mesa, seu
rosto se virou apaticamente para a sua amiga.
— Esse é um bom raciocínio.
— Se você puder o colocar em prática. Ainda não estou nem pouco perto de
Donzela da Espada.
— Essa não é uma comparação muito justa.
Donzela da Espada.
Dez anos já se passaram desde que esse nome se tornou familiar.
Garota da Guilda tinha doze ou treze naquele ano, quando um dos Senhores
Demônios retornou à vida.
Donzela da Espada era uma lenda desde o momento em que a humanidade estava
lutando por sua sobrevivência, desejando o advento de um herói, um aventureiro
ranque Platina.
Um grupo de ranques Ouro tinha ousado desafiar o Senhor…
— E eles conseguiram. Um deles era uma humilde serva do Deus Supremo,
Donzela da Espada.
A inspetora ruborizou ligeiramente e suspirou como um devaneio de menina. —
Eu a amo — murmurou ela. — De qualquer forma, tudo o que faço é usar
Discernir Mentira. Não é difícil. Há mais trabalho a fazer, não é?
— Muitas entrevistas de promoção à espera. E eu tenho que preencher a papelada
para rebaixar esse cara…
— Você consegue, aguente firme! — A amiga de Garota da Guilda bateu nas
costas dela novamente, mas não foi confortante.
Mesmo assim, ela a trouxe um pouco de volta a realidade. — Certo. Ela assentiu
e olhou para cima.
— Então. — Um sorriso provocante veio ao rosto da inspetora. — Era aquele
rapaz que você gosta?
— Ah, hum…
Discernir Mentira ainda estava em efeito? Garota da Guilda olhou para o teto,
mas o Deus Supremo estava em silêncio. Ela não conseguiu encontrar o olhar de
sua amiga, mas ela assentiu honestamente.
— S-sim, é ele… Então?
— Hmm. Bem, eu não posso dizer que a culpo. Você sempre teve uma coisa por
ajudar ele, desde a Capital.
— Eu sempre estive procurando por mais um, sabe, tipo de aventureiro estoico.
Ela não havia encontrado um. Naquele tempo, ela estivera desapontada, mas
agora parecia uma benção. Eles se conheceram depois que Garota da Guilda
havia terminado seu treinamento e foi designada para essa cidade na fronteira.
Um aventureiro recém-registrado tinha encontrado uma recepcionista recém-
formada, e eles tinham se conhecido desde então.
Ele estivera completamente focado em caçar goblins, ignorando todo o resto.
Para ela, farta dos fanfarrões mal-intencionados na Capital, ele era um alento de
ar fresco.
— Eu admito, talvez esse rapaz seja um bocado estoico…
É ótimo que eu possa falar com ele, mas talvez ele poderia pelo menos me
convidar para uma refeição ou algo assim… Nem.
Garota da Guilda balançou a cabeça.
Ele a convidando para uma boa refeição depois de uma aventura?
Ela não podia imaginar isso. E ela também não tinha coragem de lhe convidar.
Se, pelo menos, pudesse ter um pequeno… impulso.
— Bem, você está feliz, isso que é o importante… Então, quanto tempo você
pode se dar ao luxo de parar com seu trabalho?
— Boa pergunta. Hora de deixar de sonhar acordada e voltar para o trabalho.
Ela se sentou lentamente, se recompondo. Ela arrumou os papéis em cima da
mesa. Havia muito o que fazer; o relatório sobre o rhea batedor e a promoção do
guerreiro com machado, a maga elfa e o monge calvo.
Ela também estivera adiando uma grande quantidade dos muitos trabalhos
diários. Bem, ela começaria com o que estava bem na sua frente. Ela pegou
decididamente uma pena, abriu a tampa de seu tinteiro e começou a escrever com
a pena sobre o velino.
— Ei.
— Ooo que?!
Garota da Guilda se assustou completamente com a voz tão próxima, e a pena
saltou ao longo da página.
Enquanto ela tentava liquidar o golpe em seu coração, ela viu aquele elmo de aço
inexpressivo. Ela se apressou em arrumar seu cabelo, controlar sua respiração e
não derramar a tinta no processo. Ela também jurou obter um pequeno troco da
inspetora sorridente mais tarde.
— O-o que foi, Sr. Matador de Goblins?
— Eu acho que você sabe. — Sua voz soava tão mecânica como de costume,
mas, de alguma forma, animada. Ele mantinha um papel de missão em sua mão.
Ele o pegou do quadro de anúncios depois que saiu? Não, ela não se lembrava
de haver missões disponíveis.
E esse papel… Foi lhe solicitado pelo nome?
De quem era? De onde era? Ela não sabia, mas foi de uma forma especial, de
modo que ele fora entregue por um cavalo correio distante.
Aparentemente ignorando Garota da Guilda enquanto ela olhava com
curiosidade para o papel, ele disse brevemente:
— Extermínio de goblins.
Garota da Guilda lhe deu um sorriso fraco.
— A recompensa é um saco de peças de ouro. Vir ou não, é sua escolha.
Em algum lugar na taverna da guilda, Matador de Goblins estava sintetizando.
Era quase meio-dia, mas alguns tipos sequiosos tinham saído para beber, e o
lugar estava barulhento.
Com exceção de quando eles estavam lutando, os aventureiros prestavam
naturalmente pouca atenção para a hora do dia. Depois de um longo tempo em
algumas ruínas ou labirintos, ao retornarem, poderia já ser noite, poderia já ser o
amanhecer; não importava. Algumas vezes, eles iam fundo em uma masmorra
de manhã com a intenção de retornarem naquela noite, mas acabava por ser a
noite do dia seguinte. A escolta das caravanas podia partir ao meio dia. Por todos
os tipos de razões, as luzes da taverna nunca paravam de queimar.
Hoje, como sempre, a taverna estava barulhenta com os aventureiros almoçando
e se deleitando com vinho.
Em contraste, Sacerdotisa estava massageando suas têmporas por um longo
tempo enquanto escutava.
— Está bem, eu entendi… eu acho.
— Entendeu?
— Sim, a maior parte. Eu entendo que se eu agir surpresa assim cada vez que
você fizer algo que não espero, não resistirei.
Os outros três companheiros também estavam sentados na mesa redonda. Seu
grupo. Amigos dela.
Alta-Elfa Arqueira assentiu junto de Sacerdotisa apesar de seu ar exasperado.
Sacerdote Lagarto mastigava pensativamente um pouco de queijo, balançando
levemente a cauda.
Anão Xamã sorria, ocupado costurando pedras preciosas na parte de trás da sua
roupa.
— Escute — falou Sacerdotisa, como se estivesse lecionando para uma criança
no Templo, balançando seu dedo indicador formoso para ele: — Eu te disse
antes. Se nós não sentimos de fato que não temos uma opção, isso não conta
como nos consultar.
— Mas vocês têm uma alternativa.
— De ir ou não ir. Essa é uma opção muito limitada.
— É?
— Sim, é.
— Hmm.
Matador de Goblins inclinou a cabeça com desconfiança. Talvez ele tenha
entendido, talvez não.
Recordando, Sacerdotisa considerava a possibilidade de que ele na verdade não
tivesse pensamentos em sua cabeça.
— Se nós dissermos que não vamos nos juntar a você, você vai prosseguir
sozinho de qualquer jeito, correto? — disse Alta-Elfa Arqueira.
— Claro.
— Bem, sendo assim, isso realmente não é um debate — disse ela com uma
risada.
— Pelo menos Corta-barba se flexibilizou o suficiente para tentar ter uma
conversa conosco. — Anão Xamã tinha acabado de costurar as gemas e as
examinava criticamente enquanto eles interceptavam a luz.
— Absolutamente delicioso! Doce como néctar! …Er. Sim, isso é uma tendência
promissora. — Lagarto Sacerdote estalou a língua quando falou. A maior parte
do queijo havia sumido.
— Bem, então nós faremos nossa escolha. — Sacerdotisa agarrou seu cajado de
monge com as duas mãos de onde ele fora encostado na parede.
— Ótimo — disse Matador de Goblins.
Sacerdotisa suspirou pela enésima vez, fechou os olhos e disse deliberadamente:
— Eu vou com você.
— ……
Ele ficou calado com o sorriso gracioso de Sacerdotisa, então depois de um
momento murmurou: — Entendi.
— Bem, você veio em minha aventura no outro dia. Embora tenha acabado sendo
extermínio de goblins.
Alta-Elfa Arqueira balançava suas orelhas para cima e para baixo
entusiasmadamente. Sendo do tipo impaciente, ela já estava examinando seu
arco, se certificando de que tinha flechas, deslizando a bolsa sobre seu ombro e
se pondo de pé. — Heh-heh — riu ela, que inflou seu peito com orgulho e piscou.
— Eu vou te ajudar de novo… em troca de outra aventura. Tudo bem, não é,
Orcbolg?
— Sim. — Matador de Goblins assentiu. — Sem problema.
— E sem bombas de gás venenoso dessa vez!
— Hmm…
— Isso é justo — disse ela, com o dedo no peito de Matador de Goblins.
Depois de um tempo, ele murmurou:
— Mas ela é tão eficaz.
— Não importa. Sem fogo e inundações também. Pense em outra coisa!
— Mas…
Alta-Elfa Arqueira não estava mais escutando.
— Esqueça. Quando essas orelhas grandes começam a balançar assim, o que
quer que você disser vai entrar em uma e sair pela outra — murmurou Anão
Xamã aborrecido.
Lagarto Sacerdote estreitou os olhos alegremente e tocou o nariz com a língua.
— Mesmo a astucia de cobra de meu senhor Matador de Goblins é ineficaz diante
dessa bárbara.
— …Não posso fazer nada sobre isso então. — Com quase uma tentativa de
resposta, Matador de Goblins ficou quieto.
Se era isso que Alta-Elfa Arqueira exigia para ir com ele, não há contestação.
Ele é uma pessoa bastante direta, não é?, pensou Sacerdotisa enquanto encontrou
os olhos de Alta-Elfa Arqueira com um sorriso suave. Elas assentiram uma a
outra.
— Muito bem então… — Depois Lagarto Sacerdote abriu sua mandíbula. Ele
meditou cuidadosamente suas palavras, como se para mostrar o quão
cuidadosamente ele tinha as considerado. — Nesse caso, parece que você
precisará de todos os conjuradores que você conseguir.
— Espere, Escamoso — disse Anão Xamã reprovadoramente, acariciando seu
cabelo. — Com essa lógica, eu também não deveria ir?
— Oh-ho, quão indelicado sou. — Lagarto Sacerdote revirou seus olhos grandes.
Anão Xamã lhe deu uma cutucada amistosa com o cotovelo. — Deuses, você
tem me apoiado muito em problemas. Eu não posso recusar agora, posso? —
Repetindo exasperadamente “deuses”, Anão Xamã deixou de lado seu trabalho
de costura e começou a guardar suas ferramentas.
Não era incomum trocar peças volumosas de ouro por pedras preciosas, e depois
as costurar nas roupas para que não fossem roubadas. E os dedos ágeis de um
anão significava que você nunca saberia onde elas poderiam estar escondidas.
Passando os braços entre os buracos de sua veste e penteando sua barba branca
abundante com a mão, ele sorriu para os outros. — E eu acabei de cuidar das
minhas despesas de viagem. Eu acho que vou me juntar a vocês.
— Oh? — disse Alta-Elfa Arqueira, estreitando os olhos como um gato. — Se
você apenas acha, você não precisa vir.
— Fale por si mesma. Não precisa vir se você está tão desesperada para me
evitar.
— Hum…!
As orelhas compridas de Alta-Elfa Arqueira balançaram para trás; ela colocou
ambas as mãos na mesa e se inclinou na direção de Anão Xamã.
— Ah, agora eu estou realmente irritada. Certo, anão, você e eu!
— Ho-ho, lhe surgiu um pouco de coragem, não é? Não espere que eu pegue leve
com você. — Seu sorriso pareceu descabido conforme ele colocou duas garrafas
de vinho e dois copos sobre a mesa. — Vinho de fogo para mim. Vinho tinto
para você. Soa justo?
— Perfeito!
Nesse momento houve um rebuliço. Os concorrentes serviram suas bebidas e se
curvaram para trás.
— Oh, ei, olhe. Alguma coisa está acontecendo!
— Heh-heh… Querem apostar?
É claro, nenhum aventureiro poderia resistir a uma aposta entre amigos.
Lanceiro sorria alegremente; Bruxa tirou o chapéu e se proclamou imediatamente
agente de apostas. Um som de felicidade veio à tona, e um aventureiro depois do
outro, instigado pela bebida, soltavam suas moedas.
As primeiras peças de ouro a cair no chapéu de Bruxa vieram da mão de
Cavaleira. Próximo a ela, um Cavaleiro de Armadura Pesada se levantou,
parecendo perturbado. — Meu dinheiro está na garota. Três peças de ouro!
— Ei, isso é bastante ousado. Você tem certeza disso?
— Heh-heh-heh. Chame isso de apostar em um talento desconhecido. Eu sou
Leal e Bom depois de tudo, então tenho a benção dos deuses…
— Sim, ganhar ou perder, o Deus Supremo não é do tipo que pune jogos de azar,
hein?
— Eu estou a favor do anão então. — Não, a garota! — Bebe! Bebe! Bebe!
Assistindo à competição pegar embalo em meio ao clamor, Sacerdotisa tinha um
olhar ansioso.
— Não devíamos parar eles…?
— Eu duvido que continuem por muito tempo — respondeu brevemente Matador
de Goblins.
Afinal de contas, Anão Xamã era um bebedor experiente, e Alta-Elfa Arqueira
mal conseguia aguentar o álcool. O vencedor parecia óbvio.
— Não, não, nossa bárbara é muito teimosa. A conclusão não é clara.
Lagarto Sacerdote observava com alegria a arqueira, com a face brilhando em
vermelho, indo beber outro copo de vinho tinto.
— Mais! Eu aguento muito mais…!
— É para já!
Ela ainda não tinha começado a enrolar as palavras; seus olhos não tinham
começado a vaguear.
Copos golpeavam a mesa. Glub, glub, glub, em que passou o vinho.
Um som apreciativo surgiu da multidão quando ela agarrou o copo e o drenou
em um único gole.
Conforme os momentos na vida avançam, isso não seria grande coisa; ninguém
iria se lembrar disso. Mesmo assim, eles passariam alegremente.
Próximo a Alta-Elfa Arqueira, que estava bêbada que nem uma gambá estendida
sobre a mesa, Anão Xamã ergueu os punhos e rugiu em vitória. Ele não parecia
questionar quanto prestígio realmente havia em vencer uma elfa em um concurso
de bebida.
— Muito bem então, sou a próxima — disse Cavaleira, mas Guerreiro de
Armadura Pesada a impediu loucamente. (“Você é furiosa quando bêbada”). A
garota e o garoto meio-elfo em seu grupo riram e se burlaram.
Assistindo nas proximidades, Lanceiro arregaçou as mangas, instigado por
Bruxa. Para não ficar para trás, Cavaleira deu um empurrão em Cavaleiro de
Armadura Pesada.
Uma competição de queda de braço começou em seguida. Os participantes talvez
tenham estado indispostos, mas uma vez que tinham começado, eles não
perderiam.
Um cântico emergiu. Anão Xamã se dispôs em ser o árbitro, e Bruxa estendeu o
seu chapéu pontudo de novo. Isso parecia que não haveria fim. Quem ganharia,
quem perderia? De novo houve uma chuva de moedas.
Lanceiro ganhou. Depois, Guerreiro de Armadura Pesada ganhou.
— Muito bem! Sou o próximo! — gritou Guerreiro Novato, mas ele foi recebido
com um “oh, pare” de Sacerdotisa Aprendiz.
Guerreiro de Armadura Pesada assentiu com sua aprovação para a bravura do
rapaz, então o agarrou enquanto ele tentava fugir e bagunçou seu cabelo.
Dois jovens inexperientes eram os próximos para a queda de braço.
Com os aventureiros na expectativa, torcendo alegremente pelo seu favorito,
Anão Xamã deu o sinal para começarem.
— Matador de Goblins, senhor…
Parecia o momento adequado. Quando Sacerdotisa olhou para ele, a palavra
“certo” escapou por dentro do capacete, e ele assentiu.
— Dois! Três!
— Hmm.
Ele ergueu a figura mole, que de alguma forma era tão bonita quanto um ramo.
Matador de Goblins grunhiu com o peso, embora o corpo fosse tão magro que
ele parecia que poderia quebrar no meio.
Ele olhou para Sacerdotisa. Ela estava sorrindo. O que se pode fazer?
— Não fique zangada depois — murmurou ele tão silenciosamente que ninguém
mais poderia ter ouvido, então ele se dobrou ligeiramente e se posicionou
debaixo de Alta-Elfa Arqueira.
Então ele se levantou, com a mão atrás dela, e a levantou nas costas com um
movimento que sugeria um lance violento.
— Vuoo, wah…
— Não tenho ideia do que você está tentando dizer.
— Hmm? Fooo…
Era a linguagem comum que ela estava falhando em dizer? Ou élfica? Ou era
simplesmente a linguagem dos sonhos?
Com as palavras breves de Matador de Goblins, um sorriso se formou no rosto
de Alta-Elfa Arqueira.
— Eu irei a levar de volta ao seu quarto — disse sucintamente Matador de
Goblins, balançando gentilmente a elfa como se fosse uma criança. — Mas você
tem que a ajudar a se trocar.
— Sim, senhor. Deixa comigo.
Sacerdotisa formou um punho, a pessoa mais natural para ajudar.
— Hmm! Hoje descansar, amanhã cavalgar e depois trabalhar… — disse Lagarto
Sacerdote alegremente, esticando o pescoço como se pudesse enxergar tudo isso.
— Que divertido será arrastar a nossa amiga de ressaca.
— Se ela ainda estiver bêbada de manhã, eu vou lhe dar um Antídoto.
— Matador de Goblins, senhor, isso é um pouco demais…
Sacerdotisa parecia surpreendida, mas Matador de Goblins disse suavemente:
— Isso foi uma piada.
Sacerdotisa e Lagarto Sacerdote trocaram um olhar, então caíram na risada.
Não foi a piada que os deixou alegres, mas o fato de ele ter feito.
Era raro que ele estivesse com tão bom humor.
Interlúdio: Da Criação Alegre
dos Deuses

Em algum lugar… extremamente longe, mas incrivelmente perto.


Pronto! Dizendo isso, a deusa, Ilusão, limpou o suor de sua testa.
Ela desenrolou uma folha grande de papel na qual estava — gracioso! — uma
masmorra enorme.
Ilusão rodopiou sobre o mapa em um excesso de felicidade, então ela de repente
parou.
Droga! É verdade. Uma masmorra não estaria completa sem monstros!
É sobre isso que as aventuras devem ser, afinal de contas. Masmorras! Dragões!
Túneis! Trolls! Algumas armadilhas não fariam mal também. O que fazer, o que
devo fazer?
Ilusão largou alguns goblins nela, só para começar. Você tinha que ter goblins.
Mas, ela não conseguia descobrir o próximo passo. O que devo fazer?
Aventureiros fortes precisam de inimigos fortes, e os mais fracos precisam de
inimigos à altura. Caso contrário, os aventureiros não seriam capazes de entrarem
em uma missão, e então ninguém se divertiria.
E então, apareceu um deus que disse: Me deixe te mostrar um truque.
Era Verdade. Sério? Ilusão olhou para ele duvidosamente.
Verdade, no fim das contas, tinha uma reputação de fazer coisas bastante
desagradáveis.
Ele sussurrava algumas coisas maléficas no ouvido do registrador de missão, por
exemplo, traindo aventureiros repetidamente e então os silenciando para sempre.
Se um grupo estivesse procurando por armadilhas com uma vara de 10 pés, ele
colocaria uma armadilha a 11 pés de distância.
Apenas observe, disse Verdade para Ilusão que estava duvidosa e tirou um livro
do nada. Abrindo a capa já com orelha e passando através das páginas, ele
exclamou: Saiam, monstros imundos! Saiam, armadilhas!
Verdade tocou as imagens que ficaram vivas, e elas apareceram na palma de sua
mão.
Então, antes que Ilusão pudesse dizer uma palavra, ele soltou os monstros e as
armadilhas em seu labirinto.
Verdade deu um riso estridente para o Oh! distraído de Ilusão.
Agora é só entregar um pequeno oráculo para alguma seita herética e estará
perfeito!
Me pergunto…, murmurou Ilusão, mas era tarde demais.
Os dados já estavam rolando.
…Oh.
Sério?
Então, ele e ela apareceram.
Capítulo 2: Matador de
Goblins na Cidade da Água

A cidade da água era uma cidade antiga a dois dias do leste da fronteira através
da planície, uma grande fortaleza de muros brancos que estava assentado na
confluência de muitos rios, no âmbito de uma cobertura de árvores tão verde a
ponto de ser preto.
Viajantes vinham de muito longe para essa cidade, construída em uma fortaleza
da Era dos Deuses. Ela estava cheia de embarcações indo e vindo, comerciantes
com as suas mercadorias, idiomas de todos os tipos, caótica e bonita. Posicionada
na extremidade oeste do interior e da borda leste da fronteira, a cidade da água
era a maior cidade sob muitos aspectos.
Uma carruagem ribombava e quicava sobre uma ponte, passando pelo portão de
um castelo no meio de um lago.
O portão estava gravado com o brasão do Deus da Lei: a espada e a balança, os
símbolos da lei e da justiça. Mesmo na fronteira, onde monstros e bandidos
corriam à solta, a luz da lei brilhava. Pessoas podiam viver em paz, ainda que
apenas tenuemente.
A carruagem passou ao longo das ranhuras que foram gravadas no ladrilho a mais
de centenas ou mesmo milhares de anos. Algum tempo depois, ela parou em uma
área grande de estacionamento, e aventureiros saíram um após o outro.
— Ahh… Meu traseiro está dolorido!
Alta-Elfa Arqueira fez um belo alongamento para relaxar um corpo que tinha
suportado muitas sacudidas no longo passeio de carruagem.
O sol estava alto no céu e não tardaria atingir o seu zênite. Que era meio-dia.
Em volta deles tinham lojas abastecendo viajantes, e odores de alimentos e
bebidas flutuavam no ar. Os aromas de carne assando e gordura fervendo. O odor
açucarado dos doces cozidos. A cidade tinha tudo, de alimentos que podiam ser
encontrados em qualquer lugar até ofertas estrangeiras surpreendentes.
Os vendedores eram da mesma forma.
Aqui, um anão mercador berrando a plenos pulmões; lá, um elfo fazendo
palhaçadas nas redondezas para atrair os clientes. Um rhea vendedor de frutas
estava correndo por aí, vendendo maçãs tão rápido quanto podia se mover.
Humanos falavam com os outros. Mais longe, um homem-lagarto estava
pregando um sermão. E isso era um elfo negro gerindo uma loja?
— Oh-ho! Se parece com um lugar encantador — disse Anão Xamã, com um
movimento do seu nariz, admirando tudo. Ele bateu em sua barriga saliente. —
Uma tábua para um peito, uma roda velha para um vagabundo… você terá um
equilíbrio. O tempo pode desgastar todas as coisas!
— …Parece que ele desgastou bastante você.
— Ho-ho-ho! Mas eu permaneço alto entre os anões!
Alta-Elfa Arqueira olhou para Anão Xamã quando ele gargalhou com sua grande
voz habitual.
Sacerdotisa, uma vítima acidental do comentário do anão, recuou e tentou cobrir
desajeitadamente seu traseiro pouco desenvolvido com a mão.
— E-enfim, não devíamos ir encontrar nosso registrador de missão?
— Sim.
Ela tinha aprendido bem de seu mentor Matador de Goblins, mestre da mudança
súbita de assunto.
Ele não mostrou sinais de notar isso, no entanto, conforme ele puxava a agora
amassada página de velino de sua bolsa. Ela tinha ficado bastante amassada com
a forma descuidada que ele tinha a enfiado para dentro da bolsa, mas ele não
pareceu perceber isso também.
— Parece que podemos o encontrar no Templo da Lei.
— Nessa direção então!
O argumento de Alta-Elfa Arqueira não deu muito a entender, então ela o cortou
com um elegante movimento de mão na direção do Templo.
— Conhece o caminho?
— Já estive aqui antes.
Então ela deu um grande sorriso e partiu com um passo alegre.
Essa, na verdade, era a cidade onde ela tinha ouvido a canção de Orcbolg,
Matador de Goblins.
Ela fazia uma exibição de remexer os quadris a medida em que ela andava pelas
ruas que ela conhecia e os outros não. Seus quatro companheiros a seguiam por
detrás.
As ruas eram de ladrilhos estreitamente estabelecidos, bem utilizado por
carruagens, e rios se cruzavam por todo lado na cidade, atravessado por barcos.
A cidade era um lugar incrível, também por causa de como ela usava as velhas
ruínas com quase nenhuma alteração.
Havia edifícios, é claro: lojas e estalagens, mesmos pequenos aposentos, todos
decorados com belos entalhes. As ruas pareciam como um desfile de moda ao
vivo, com pessoas usando as modas mais recentes de ambos da fronteira e do
interior. A cidade da água era o epítome de uma cidade cosmopolita.
— Mas, hum, bem… Você realmente acha que há goblins aqui?
Sacerdotisa olhava para baixo conforme andava, como se as suas vestes velhas a
envergonhasse comparada com os vestidos das garotas caminhando por ela.
Essas eram roupas lindas, elegantes e femininas. Não como a dela, usadas com
o trabalho diário.
Ela deveria ter se sentido envergonhada por sentir vergonha, no entanto.
— Eu suspeito que sim.
A resposta de Matador de Goblins não deu nenhum indício de que notou seu
desconforto. De qualquer forma, Sacerdotisa ficou grata por ele. Ele nunca se
distraiu.
— Oh-ho, hmm? — Lagarto Sacerdote pôs a sua língua para fora em uma
demonstração de interesse. — E meu senhor Matador de Goblins, o que o faz
dizer isso?
— Esse lugar tem a atmosfera de uma aldeia que tem sido alvo de goblins.
— Atmosfera…?
Anão Xamã deu uma fungada em dúvida com seu nariz redondo. As únicas
coisas que ele podia distinguir na atmosfera era o cheiro de água, pedra e a de
comida em uma loja próxima. Não tinha nenhuma sugestão do cheiro podre,
único das tocas de goblins.
— Não posso afirmar realmente que percebi.
— Esse é o motivo dos anões serem tão estúpidos.
— Como se você o entendesse melhor.
Alta-Elfa Arqueira riu de Anão Xamã enquanto ele ficava com os braços
cruzados e sua cabeça inclinada.
Ela não pareceu se importar mesmo quando ele fixou ela com seu olhar mais
intenso. Ela apenas acenou com as mãos.
— Vamos lá, os elfos vivem na floresta. Não espero perceber nada sobre odores
de cidades.
Anão Xamã estava prestes a replicar, mas ficou repentinamente quieto.
Por detrás de Alta-Elfa Arqueira, Lagarto Sacerdote soltou um sibilo agudo.
— O centro da cidade não é o lugar certo para suas discussões.
— Eu sei disso. Para alguém que é escamoso, você é muito espinhoso.
— Você está sendo gentil, anão — disse a elfa.
Lagarto Sacerdote estalou a língua, e dessa vez os dois ficaram em silêncio.
Sacerdotisa riu com a cena.
A elfa e o anão não tinham mais argumentos para discutir. Eles caminhavam
lentamente pela cidade radiante da água, desfrutando das vistas. Era comum aqui
ver aqueles que possuíam palavras, mas que não eram humanos, bem como
outros aventureiros.
Apenas Matador de Goblins estava constantemente alerta com os seus arredores.
— Eu não sei quanto aos odores, ou seja lá o que for, mas eu realmente não acho
que goblins saltarão para cima de nós bem aqui na cidade — disse Alta-Elfa
Arqueira, com um suspiro aborrecido.
— Não há como ter certeza disso. — Matador de Goblins respondeu no ponto.
— Me lembro disso acontecer uma vez.
Embora sua arma não foi puxada, ele se movia quase da mesma forma que ele se
movia por uma caverna, com seu passo ousado, mas extraordinariamente
silencioso.
Ele era o único que atraia olhares estranhos dos transeuntes: um aventureiro com
uma armadura de couro suja e um capacete com aparência barata, andando pela
cidade como se estivesse em uma masmorra.
Talvez alguém o tenha trazido para um novo tipo de performance; não há nada
que se possa fazer. E mesmo Alta-Elfa Arqueira escondia a cara de vergonha,
bem, não se podia fazer nada quanto a isso também.
Apesar de tudo, era improvável que ele mude seu comportamento.
— E onde está esse Templo nosso? — A cauda de Lagarto Sacerdote balançava
calmamente atrás dele.
— Olhe, você já consegue o ver. Está bem ali.
Alta-Elfa Arqueira apontou com o seu dedo para um edifício do outro lado do
rio. Era um santuário impressionante feito de mármore branco, apresentando
inúmeros pilares. Mesmo aqueles o vendo pela primeira vez entendiam que era
um templo.
O Templo da Luz e da Ordem, brasonado com a balança e a espada que
representava a lei e a justiça.
— Uau… — suspirou Sacerdotisa com a visão. O Templo da Mãe Terra onde
ela tinha crescido não era um edifício medíocre, mas…
…Esse lugar praticamente gritava que era o lar de um deus.
Seu rosto relaxou de tanta alegria, suas bochechas foram tingidas com um
vermelho de entusiasmo e ela se virou.
— Matador de Goblins, senhor! Isso é incrível!
— É?
Ele não poderia ter oferecido uma resposta mais tosca.
Talvez eles apenas tivessem formas diferentes de ver as coisas. Era claro para
todos que ele estava avaliando o Templo como um possível ninho de goblin.
— Céus…!
Sacerdotisa estufou as bochechas, mesmo sabendo que era criancice.
Pensando bem…
Ela percebeu que tinha esquecido de perguntar a coisa mais importante de todas.
— Hum, Matador de Goblins, senhor?
— O que?
— O registrador de missão é uma sacerdotisa do Deus Supremo?
— Não.
Ele respondeu como se isso não significasse nada para ele, então disse:
— É a arcebispa.
Nisso, o entusiasmo de Sacerdotisa se evaporou.
— O quêêêê?!
Ela nunca teria imaginado que o registrador de missão pudesse ser ela.
Sacerdotisa agarrou o cajado de monge com as duas mãos e deixou sair um
choramingo involuntário. A pessoa responsável pela lei em toda a fronteira oeste.
Não, mais do que isso. Ela era conhecida como…
…Donzela da Espada.
Havia muitos visitantes ao Templo da Lei.
Em parte, não se tratava apenas de crentes no Deus Supremo que vinham para
suplicar.
O edifício também era um tribunal, onde sentenças eram feitas em nome de Deus.
Os casos variavam dos simples conflitos diários até questões de vida ou morte.
Havia um fluxo incessante de pessoas que desejavam ter o seu caso ouvido pela
impiedosa luz de Deus.
Mais fundo no interior do Templo, eles passaram através de uma sala de espera
cheia dessas pessoas.
Além das salas de audiências onde casos eram ouvidos, passado os corredores
estreitos com estantes ao fundo do local, era silencioso e revestido com pilares
de mármore.
Nessa parte mais profunda do Templo havia um salão de oração onde uma
imagem do Deus Supremo na forma do sol era venerado.
Parecia como algo saído de um mito.
A luz do sol passava entre os pilares formando grandes lençóis dourados. Não
havia ruídos externos; o silêncio era absoluto. Isso era um lugar sagrado.
E no altar havia uma mulher ajoelhada, com um cajado longo na mão, rezando.
Ela usava vestes brancas sobre sua figura robusta. Seus cabelos dourados
brilhavam sob a luz do sol. Seu cajado, que retratava uma espada cujo cabo
pendia um conjunto de balanças, mostrava a equidade da justiça e da lei.
Ela era tão deslumbrante que se podia apenas pensar que se o Deus Supremo
fosse encarnado como uma mulher, ela o seria.
Infelizmente, seus olhos estavam ocultados por um lenço preto. Não que isso de
alguma forma manchasse a beleza dela; o tecido pode até ter feito ela ainda mais
impressionante.
— …?
De repente, ela olhou para cima.
O silêncio sagrado tinha sido quebrado pelos casuais passos ousados.
— M-Matador de Goblins, senhor! Por favor, tente ser silencioso…
— Se trata de um trabalho urgente. Se eles não se importam de entrarmos, não
há razão para esperar.
— Eu percebi que você era um tipo impaciente, Orcbolg.
— Todos são impacientes comparados a um elfo!
— Tal falação é inapropriado. Quer se trate de uma divindade estrangeira ou não,
nós estamos na casa de Deus.
Barulhento, animado, bruto, robusto. Para ela era tremendamente nostálgico.
— ……………
As extremidades da boca dela suavizaram muito levemente, e a manga do seu
vestido se moveu como uma onda no oceano.
Ela — Arcebispa do Deus Supremo, Donzela da Espada — se levantou
lentamente.
— Céus. Quem são vocês…?
— Viemos para matar os goblins. — Matador de Goblins respondeu
indiferentemente, com um tom claro e com o que parecia um sorriso sossegado.
A sua atitude flertava com insolência, mas ele não parecia impertinente. Era uma
maneira de falar extremamente parecida com o de aventureiros.
Sacerdotisa ficou ao seu lado, espantada, tentando penosamente descobrir como
fazer sua saudação.
Essa aqui é Donzela da Espada!
A arcebispa amada pelo Deus Supremo.
A aventureira ranque Ouro que, dez anos atrás, tinha causado a queda do Senhor
Demônio.
Não um herói de uma lenda, mas uma presença singular que tinha emergido da
humanidade.
Ela estava muitíssima além de Sacerdotisa, recentemente promovida a
Obsidiana. A diferença entre as duas, era como uma distância entre um goblin e
um dragão.
Quando ela fora uma acólita, Sacerdotisa provavelmente não poderia ter vindo
por si mesma para estar nesse lugar fantástico.
— Eu, hum, isso é, é… é uma honra conhecê-la — disse Sacerdotisa com uma
voz tensa, fazendo uma pequena inclinação. Seus olhos brilhavam e suas
bochechas estavam vermelhas.
— Um guerreiro honorável e… uma sacerdotisa bela e muito honorável.
Por detrás do lenço, um olhar gentil passou pelas bochechas de Sacerdotisa e
então se mudou, ou, pelo menos, é o que ela sentiu.
Ela conseguia ouvir seu próprio coração batendo dentro de seu pequeno peito.
Ela esperava que não fosse audível a mais ninguém.
— E essas pessoas incríveis são…?
— Hmm. Seus compatriotas, membros de seu grupo — disse Lagarto Sacerdote
quando o olhar se estabeleceu nele. — Eu venero o mais temível naga, mas lhe
asseguro que irei lhe dar todo meu apoio. — Seu gesto incomum das palmas
juntas foi solene.
É claro, seu gesto diferia da forma como um clérigo do Deus Supremo mostrava
respeito com os outros. Mas, não foi esse o ponto. O que era mais relevante foi
que ele demonstrou sua intenção de respeitar os outros.
Tudo começou desse ponto. Sem mover o seu sorriso, Donzela da Espada fez
uma cruz no ar com seu dedo.
— Bem-vindos ao Templo da Lei. Me sinto honrada em recebê-lo, Ó sacerdote
escamado.
Alta-Elfa Arqueira e Anão Xamã, por sua vez, mostraram pouco interesse nos
acontecimentos.
Eles deram uma saudação ligeiramente inclinados por trás de Lagarto Sacerdote,
todavia, eles estavam conversando, sussurrando com o outro.
— Hmm. É realmente fascinante para um trabalho humano — disse o anão.
— Sim. Que bela imagem — disse a elfa.
Suas admirações pareciam estar concentradas no teto alto acima de suas cabeças.
Lá, pinceladas suntuosas compunham um mural representando a batalha da Era
dos Deuses.
Eles tinham visto pinturas rupestres anteriormente, desenhados com sangue nas
paredes de ruínas, mas isso era algo totalmente diferente.
Ordem e caos, Ilusão e Verdade, os deuses se encolerizavam reciprocamente de
corpo e alma.
Contra um fundo de estrelas, milagres e magia se torciam, voavam para lá e cá,
brilhavam e queimavam. Finalmente, os deuses esticaram as mãos para um cubo
e começaram a satisfazer a si mesmos em jogá-lo.
O tabuleiro que eles jogavam era esse mundo mesmo, e as peças com que eles
jogavam, eram todos.
É por isso que aqueles com palavras, aqueles que rezavam, tentavam viver
corretamente.
Os dois, que eram familiares aos espíritos que enchiam esse mundo, não eram
parecidos com os deuses. Embora os elfos e anões respeitassem os deuses,
todavia, eles não os cultuavam displicentemente. Os deuses eram muito “com”
eles; eles ouviam conselhos dos deuses, mas não como escravos. Isso era porque
havia poucos sacerdotes elfos, embora os anões continuassem vinculados ao deus
ferreiro por si mesmos.
— Ho-ho. Quão… parecidos com aventureiros vocês são.
Um guerreiro excêntrico. Uma sacerdotisa pura. Um sacerdote estrangeiro. Um
anão usuário de magia. E uma elfa patrulheira.
A arcebispa deu aos cinco um pequeno sorriso estranho.
…?
Sacerdotisa pensou que o sorriso transbordava com solidão e saudade.
— E se assim for, então nós somos como um ao outro. Eu lhes dou as boas-
vindas calorosamente.
Levou apenas um momento.
Donzela da Espada fez um grande movimento com os braços, como se para
abraçar os aventureiros. O gesto evocava uma mãe carinhosa, contudo, sedutora
como uma meretriz exortando alguém para o seu aposento.
Um homem humano comum teria engolido em seco violentamente logo depois
disso.
Matador de Goblins, no entanto, ignorou tudo isso. — Basta de cumprimentar
um ao outro. Nos diga os detalhes da missão. — Ele estava alheio ao olhar
mortificado que vinha do rosto de Sacerdotisa.
— S-só um momento, Matador de Goblin, senhor…
Isso era realmente demais.
Sacerdotisa agarrou sua mão enluvada e o puxou para perto.
— Você não pode falar assim com a arcebispa…
— Não me interessa.
Contudo, Donzela da Espada balançou a cabeça suavemente.
— Eu estou muito satisfeita que tal bravo aventureiro tenha vindo a mim.
— Está?
— Posso lhe perguntar, uma curiosidade pessoal — murmurou ela — caso
parentes de você se juntassem ao caos, você seria capaz de os matar?
— Não — respondeu sem rodeios Matador de Goblins. — Eu não tenho
familiares vivos.
— É mesmo…?
Matador de Goblins viu os lábios vermelho-vivo de dentro de seu capacete
enquanto ela sussurrou.
— Então. Onde estão os goblins?
Atrás dele, os outros aventureiros suspiraram.
— Isso começou a cerca de um mês.
Donzela da Espada assentiu aos outros para se sentarem no chão, então se
sentaram com seus pés juntos, parecendo perdidos.
— Em uma noite, eu enviei uma garota acólita para entregar uma mensagem
desse Templo…
— Ela foi morta? Ou raptada? — perguntou Matador de Goblins.
— Ela não regressou naquela noite. No dia seguinte, seu corpo foi encontrado
em um beco. — Um olhar de tristeza surgiu em seu rosto.
— Hmm. — Matador de Goblins colocou a mão em seu queixo, pensando.
— Segundo a pessoa que a encontrou, ela parecia ter sido cortada enquanto ainda
estava viva.
As palavras de Donzela da Espada eram calmas e sem a mínima hesitação. Mas,
atrás delas havia um ligeiro tremor.
Era terror? Intimidação? Ou talvez uma dor profunda e tristeza. Sacerdotisa não
tinha certeza.
— Isso é… Bem, isso é horrível — disse Sacerdotisa.
— O simples fato do homicídio é suficientemente triste, embora isso aconteça de
vez em quando…
— Enquanto ainda estava viva… — murmurou discretamente Matador de
Goblins. — Naquele local?
— …Sim.
— Havia alguma parte dela comida? Ou ela estava meramente morta? Você tem
mais algum outro detalhe…?
— Vamos, Orcbolg. Você está sendo insensível, até para você — disse Alta-Elfa
Arqueira, contraindo os lábios em uma careta. Ela tinha reparado na expressão
sombria de Donzela da Espada.
Matador de Goblins ficou em silêncio por um longo tempo, então disse: — Por
favor, continue.
— Foi verdadeiramente um incidente terrível.
Sim, terrível.
O Templo da Lei estava aqui, sem dúvida, mas isso ainda era a fronteira. Há não
muito tempo isso tinha sido uma vastidão sem lei, um lar para monstros e
bandidos. Aqui dificilmente poderia deixar de ter crime.
Embora a luz do Deus Supremo brilhasse abundantemente, não era suficiente
para alcançar os corações distorcidos dos humanos.
— Lei e ordem… É dito terem continuamente sido inferiores nas batalhas nesse
mundo. — Donzela da Espada continuou, em um murmúrio: — Embora o mal
tenha triunfado nesse mundo, nenhum dos lados tem sido derrotado — e juntou
suas mãos, oferecendo uma breve oração ao deus que ela servia.
À espera dela terminar, Lagarto Sacerdote esticou o pescoço como se prestando
atenção especial.
— Então, isso quer dizer que a investigação não proporcionou qualquer
resultado?
— …Sim. Eu tenho vergonha de dizer, mas é a verdade…
Talvez um agente do caos estivesse envolvido ou um seguidor dos Deuses das
Trevas? Ou outra coisa?
Em meio a uma série de hipóteses e conjunturas, a vigia noturna deu início
imediatamente a uma investigação. Para uma cidade cujas ruas eram agitadas dia
e noite, havia surpreendentemente poucas evidências. E sem provas, não havia
nada a fazer, não importa o quanto alguém desejava apanhar o criminoso.
Em meio a isso tudo, a cidade da água experimentava um aumento dramático da
criminalidade.
— Pequenos furtos, ataques aleatórios nas ruas. Violência contra as mulheres,
sequestros…
— Hmm. — Matador de Goblins bufou quando Donzela da Espada relatou
pesarosamente o estado das coisas. — Eu não gosto disso.
— Você não gosta de nada, Corta-barba — disse Anão Xamã, bem-acostumado
ao seu companheiro, e deu a Donzela da Espada um aceno como se dissesse não
ligue para ele. Ele descansou o queixo na mão e seu cotovelo nos seus joelhos
dobrados. Ele nem sequer sentia vontade de tomar um gole de vinho. — Eu
admito que é muito estranho. Mas, certamente não foi por isso que você nos
chamou aqui.
— Você está correto. Eles decidiram que se não pudessem apanhar o assassino,
talvez eles possam apanhar ele agindo.
Portanto, não só os vigias noturnos e os guardas, mas aventureiros também foram
enviados.
Eles se separaram em vários grupos, patrulhando diligentemente as ruas na noite
e perseguindo alguém suspeito.
Era uma abordagem direta, um plano marcado pela praticidade.
Mas funcionou.
Um dos grupos de aventureiros viu humanoides pequenos atacando uma mulher
e os abateram.
Em face da luz que os aventureiros empunhavam, os pequenos corpos revelaram
ser…
— …goblins. Sem dúvida.
— Hmm. — Matador de Goblins, que estivera escutando em silêncio, fez um
som de profundo interesse. — Eram goblins?
— Goblins… Não apenas um ou dois, eu suponho — exalou Anão Xamã,
passando suas mãos ao longo da barba na qual ele era tão orgulhoso.
Sacerdotisa tocou o seu dedo indicador fino contra seus lábios e fez um som
pensativo. — A questão é como eles chegaram à cidade — disse ela. — Eles
certamente não entraram simplesmente pelo portão.
— Eles devem ter saído de um caminho subterrâneo ou dos canais de água —
disse Anão Xamã.
Alta-Elfa Arqueira acrescentou: — Todas essas vítimas… esses monstros não
estavam só de passagem.
— O que você acha? — Matador de Goblins virou seu capacete para Lagarto
Sacerdote.
O sacerdote escamado deu um revirar de olhos contemplativo, então abriu suas
mandíbulas e disse — Goblins… humm. Goblins vivem no subterrâneo. Essa
cidade é construída sobre uma cidade mais antiga. Certamente há ruínas de algum
tipo abaixo dela…
— Sem dúvida então — disse Matador de Goblins com firmeza. — Eles são
estúpidos, mas não são tolos. Se eu fosse eles, simplesmente me aninharia nos
esgotos.
— Mais uma vez, você demonstra a sua capacidade de pensar como um goblin…
Era difícil dizer se Alta-Elfa Arqueira estava o elogiando ou sendo sarcástica.
— É claro — respondeu Matador de Goblins, assentindo. — Se você não sabe
como eles pensam, não consegue lutar contra eles.
Donzela da Espada mostrou um pouco de confusão às palavras de Matador de
Goblins, mas, mesmo assim, ela assentiu com firmeza.
— Certamente foi o Deus Supremo que guiou um aventureiro como você para
aceitar minha missão. — Um leve sorriso surgiu repentinamente em sua face, e
a sua voz era clara; seu alívio era evidente. — Eu mesma, depois de um mês de
reflexão, conclui que eles devem estar no subsolo.
— Um mês?
— Sim. E a princípio, eu propus a missão para os aventureiros da cidade…
— O que eles fizeram? — perguntou calmamente Sacerdotisa, mas Donzela da
Espada balançou a cabeça sem falar.
— Entendi… — disse Sacerdotisa.
Essa foi toda a resposta que ela precisava.
Eles não voltaram.
Muitos aventureiros Porcelanas e Obsidianas que foram matar goblins
conheceram o mesmo destino, como dois dos três companheiros de Sacerdotisa
tiveram em sua primeira aventura em uma caverna.
Sempre que a cena perturbadora fosse reanimada em sua memória, não era fácil
de a retirar.
Sacerdotisa pensou que podia apanhar praticamente o cheiro podre e
desagradável da caverna, e esfregou um pouco seu rosto.
— Foi então que ouvi uma canção de Matador de Goblins, herói da fronteira.
— Uma canção? — disse Matador de Goblins, não compreendendo. — O que
quer dizer?
— Você não conhece? Você está em uma balada, Orcbolg. — Alta-Elfa Arqueira
fez um círculo no ar com o dedo indicador. — Acontece que ela não tem muito
a ver com o seu eu verdadeiro, no entanto.
— Eu nunca tinha ouvido falar disso.
— Mas, certamente você sabe — disse Lagarto Sacerdote, estreitando os olhos.
— Onde quer que haja um bardo, eles cantarão sobre atos valorosos.
— Para que?
— Não me diga que você não vê a relação, Corta-barba.
Não que ele estivesse interessado.
Anão Xamã bateu na barriga por causa da expressão perplexa de Matador de
Goblins.
— Quando a notícia de seus feitos se espalha, todo mundo vai querer você para
matar goblins para eles!
— Hmm…
Os olhos de Donzela da Espada, escondidos por trás do pano, encontrou
rapidamente os de Matador de Goblins, escondido atrás do metal.
Ela mordeu o lábio, então, com um olhar de determinação, arqueou a cabeça.
— Por favor. Eu te imploro para salvar a nossa cidade.
— Eu não sei se consigo — disse francamente Matador de Goblins. — Mas eu
matarei os goblins.
Isso simplesmente não era como alguém falava com uma arcebispa, quanto mais
uma antiga heroína.
Sacerdotisa disse “Matador de Goblins, senhor!”, e puxou seu braço, com os
lábios contraídos. — Você tem que encontrar uma melhor, você sabe, maneira
de… falar…
— É a verdade, não é?
— É por isso que é tão importante ser cuidadoso com a forma de falar.
— Hmm.
Matador de Goblins deixou escapar um bufo rude, mas ele só podia ficar em
silêncio.
Lagarto Sacerdote balançou a cauda alegremente com a visão de seu amigo
enervado, mas o seu tom foi sério.
— Se eles estão nos esgotos, as nossas artimanhas habituais não funcionarão.
— Estava mesmo enjoada dos nossos truques habituais, de qualquer forma —
disse Alta-Elfa Arqueira, abatida. — Eles são… estranhos. — Ela deu um soco
gentil no cotovelo dele. — Você sabe o que quero dizer, né?
— Sim. — Matador de Goblins assentiu. — Nós temos que entrar e os destruir,
mas o subsolo é uma área grande. Seria problemático se alguns escapassem.
— Não! Estarmos nos esgotos significa que estaremos bem abaixo de todo
mundo que vive aqui. Entende?
Ela não sabia por que ficou surpreendida. Orcbolg tinha sido assim desde que o
tinha conhecido. Incendiar fortalezas, fazer as pessoas se encharcarem de
vísceras, matar goblins das formas mais terríveis, os afogando, usando táticas de
ondas humanas…
— Sem fogo! Sem água! Sem gás venenoso! Sem entranhas!
— Já te disse, não tenho a intenção de usar nenhum desses — respondeu ele,
com um tom que ele reservava normalmente para repreender Sacerdotisa,
pegando Alta-Elfa Arqueira desprevenida.
Suas longas orelhas se agitaram pelo aborrecimento, mas foi ela quem finalmente
disse “bom”, e desistiu.
Lagarto Sacerdote ignorou seu sussurro de “o que deu nesse cara?” e disse: —
Mas, por que não seus vigias noturnos ou seu exército para lidar com essas
criaturas? — Ele bateu no chão de pedra com sua cauda para enfatizar suas
dúvidas. — Eu não estou familiarizado com a situação dessa cidade, mas
certamente isso não está para além da sua competência.
— Eles…
— …com certeza te disseram que não tinha necessidade de envolver os militares
por algo tão trivial como goblins — disse Matador de Goblins bruscamente
quando Donzela da Espada hesitou.
Donzela da Espada olhou um pouco para baixo, e seus lábios tremeram. Uma
resposta mais elegante.
Não era difícil de entender.
Os aventureiros vieram aqui justamente porque os vigias noturnos e o os
militares não se envolveram.
Os vigias noturnos pegavam dinheiro para treinarem e se equiparem, e as suas
famílias viviam na cidade. Se fossem feridos ou mortos, uma pensão tinha que
ser paga aos seus familiares.
Quão diferente era com os aventureiros, que assumiam a responsabilidade toda
por si mesmos.
Sobretudo, a ressurreição do Senhor Demônio na primavera ainda estava fresca
em suas mentes.
— Não se pode fazer nada, eu suponho — disse Anão Xamã com um suspiro e
um afago em sua barba branca. — Muitos desses demônios ainda perambulam
ao redor da Capital. Acho que é para isso que os aventureiros servem…
— Mrrm. Dois grandes pontos problemáticos são o dinheiro humano e a política
humana — disse Lagarto Sacerdote.
— Estou extremamente envergonhada em admitir a verdade de suas palavras —
disse Donzela da Espada, como se confessasse um pecado.
As tragédias nesse mundo eram muitas e intermináveis.
Como Donzela da Espada tinha dito, desde o começo do mundo, a lei e a ordem
fora a menor luz.
Ninguém tinha o poder de mudar isso, mesmo ligeiramente.
Mesmo a Mãe Terra, que oferecia salvação para aqueles que foram corrompidos,
sua salvação era apenas para aqueles que a desejavam, pediam e rezavam por
ela…
Por isso que os monstros eram conhecidos como os Que-Não-Rezam.
E, no entanto…
— Eu não me importo muito com coisas assim — sussurrou Donzela da Espada,
virando o rosto de lado.
Ela parecia uma mocinha que tinha feito alguma coisa embaraçosa.
— Não me importa. — Matador de Goblins cortou a conversa com palavras
secas. — Como é que entramos no subterrâneo?
—…
Os olhos de Donzela da Espada passaram por todo seu capacete como se
procurando alguma expressão.
— Ei.
— Ah. Sim, desculpe.
A voz que respondeu sua chamada estava de alguma forma distante, quase
desvairada.
Donzela da Espada mexeu no decote do seu vestido fino, retirando um pedaço
de papel de seus seios generosos.
A folha dobrada parecia bastante velha; parecia ser um mapa dos esgotos.
— Acho que seria melhor para vocês entrarem nos esgotos através do poço no
jardim detrás desse Templo.
Seus dedos magros e brancos acariciavam o mapa enquanto ela o estendia no
chão. O velino amassado fez um farfalho quando ela o desdobrou.
— Então, durante as investigações, eu ofereço a vocês esse Templo como
alojamento.
— Hum.
Matador de Goblins fazia um som suave enquanto estudava o mapa. Ele estava
descolorido, já roído por insetos, contudo, mostrava a dimensão dos esgotos.
Talvez tivesse feito algum sentido para arquitetos velhos, mas agora…
— É como um labirinto — disse Sacerdotisa preocupadamente, olhando para o
mapa, sobre o ombro de Matador de Goblins.
Os goblins atravessavam completamente o labirinto subterrâneo para atacar os
humanos? Enfrentar eles seria muito mais difícil do que combater outros
monstros, mesmo poucos.
Talvez eu esteja apenas nervosa. Ele tinha reparado que ela deslocava
discretamente seu olhar para ele?
Matador de Goblins trouxe o mapa mais perto, depois o tocou levemente.
— Quão preciso é esse mapa?
— Esses são projetos antigos de quando o Templo foi construído…
Donzela da Espada balançou a cabeça suavemente. O gesto formou lindas ondas
através dos seus belos cabelos.
— Mas a água da cidade flui lá embaixo. Se nada entrou em colapso, não consigo
o imaginar muito diferente disso.
— Está bem.
Com um aceno, ele enrolou indiferentemente o mapa e o jogou pelo ar.
Lagarto Sacerdote estendeu habilmente o braço e o apanhou com suas garras
afiadas.
— Você é o nosso guia.
— Certamente.
— Então vamos. Não temos tempo a perder.
Não muito tempo depois de ter falado, Matador de Goblins partiu com seu passo
ousado.
Os outros aventureiros olharam uns para os outros, então assentiram impotentes.
— Bem, esse é Matador de Goblins de sempre — disse Alta-Elfa Arqueira
suavemente, se levantando. Ela ajustou seu arco grande em suas costas, contou
as flechas, depois foi atrás dele apressadamente.
Os passos dos elfos eram tão silenciosos que eles deveriam pesar nada; Lagarto
Sacerdote achou tudo praticamente inaudível. Ele abriu delicadamente o mapa
que ele tinha apanhado, confirmou duas vezes, dobrou ele de novo, e o colocou
cuidadosamente na bolsa dele. — Parece haver ruínas mais adentro, mas não
saberemos até vermos por nós mesmos.
— Como você disse. E não podemos contar com a nossa moça orelhuda para
liderar o caminho. Corta-barba é outra história.
Anão Xamã tocou sua barba, incapaz de ver eles entrarem em tal situação
perigosa sozinhos.
Os dois se gabaram, então se levantaram, parecendo satisfeitos.
— Você deve nos dar licença então. Devemos ir andando.
— Não posso deixar a orelhuda e Corta-barba esperando!
E os dois partiram.
Sacerdotisa também não teve tempo para rir.
Correndo para preparar seu equipamento, ela endireitou suas vestes e parou.
— Bem, hum, senhora arcebispa. Eu… Eu também vou indo.
Uhum. Ela agarrou seu cajado com as duas mãos e curvou a cabeça para Donzela
da Espada.
— Se me permite… — anunciou Donzela da Espada para Sacerdotisa, que se
virou para sair. Ela estendeu a mão fina como se a chamando.
— Sim? — perguntou Sacerdotisa, olhando questionadoramente para ela.
— Talvez não caiba a mim perguntar isso, como uma registradora de missão…
Sacerdotisa não podia entender bem a expressão de Donzela da Espada enquanto
ela falava. Todas as emoções pareciam ter deixado seu rosto lindo, como um
recuo da maré. Era difícil escapar da sensação que ela tinha vestido uma máscara.
— Mas, você não está com medo?
Sua pergunta foi calma, mas clara.
Sacerdotisa franziu a testa um pouco; seus olhos vagaram pelo lugar. O que ela
deveria dizer?
— Eu… Sim. Eu tenho medo. Mas…
Então, ela não disse mais nada. Ela nunca tinha deixado de estar com medo, não
desde que ela tinha entrado em um covil de goblins em sua primeira vez naquele
dia, há muito tempo.
E, no entanto…
Seu olhar desviado seguiu aqueles aventureiros, caminhando à frente dela, um
pouco longe…
Um homem-lagarto enorme. Ao lado dele, um anão atarracado. Uma elfa magra.
E…
Um guerreiro. Usando um capacete de aparência inferior, uma armadura de couro
suja com um pequeno escudo redondo e uma espada que parecia ter um tamanho
estranho.
— Hee-hee.
Ali parada, quase sozinha, um sorriso brotou no rosto de Sacerdotisa.
Ela era uma discípula da Mãe Terra, mas se ela fosse rezar para o Deus Supremo
ela ia pedir uma coisa:
Que ela nunca ficasse sem nenhum desses companheiros.
— …Tenho a certeza de que ficaremos bem.
E com isso, ela ofereceu timidamente uma oração baixinho.
Interlúdio: Da Conversa
Entre as Duas

— …Certo, os documentos estão em ordem. Muito obrigada por sempre fazer


essas entregas de alimentos!
— Claro. Esse é o nosso sustento, afinal de contas!
— Ahh, contudo, todo mundo adora as coisas da sua fazenda. São deliciosas, e
mais importante, elas também são baratas.
— Ha-ha-ha! …Sim, todos têm sido tão bons para nós desde… desde o que
aconteceu na última primavera. Tem sido de imensa ajuda… Ai-ai…
— Por que essa cara? Algum problema? Se é o preço, lamento dizer, mas não
posso negociar.
— Ah, não, hum… Não. É só, ele está longe, e eu estou… entende?
— Heh-heh! Ele ficará bem. Sr. Matador de Goblins está sempre preparado.
— Imagino. Acho que ele não é do tipo de simplesmente se meter em problemas.
— Pessoalmente, eu achava que você ia ficar mais preocupada
com… outras coisas. O que com todo o tempo ele vai ter nas suas mãos.
— Que outras coisas?
— Por favor. Ele está em uma cidade distante com duas mulheres. E, não em
uma cidade pequena. Haverá muitas oportunidades…
— M-mas tem alguns homens com ele também, não? E-enfim, ele não…
— Eu admito, ele nunca me pareceu esse tipo.
— …Ei. Nas histórias de aventuras, eles sempre… Quero dizer, o herói sempre
salva a princesa ou a aldeã, e então eles se casam, não é?
— Claro. Muitos livros e peças são assim.
— Isso realmente acontece?
— O tempo todo. Sinceramente, isso deixa nossas aventureiras femininas
esperando por maridos.
— …Tudo bem. Então, quando ele salva uma garota, como acha que ele se
parece? Para ela?
— Hã? Bem… como o campeão da fronteira, o caçador de goblins… Digo,
falando apenas do seu aspecto…
— ……
— Quer beber um pouco de chá?
— Sim, por favor.
— Tem um festival em breve, não tem? A colheita do outono.
— Não pode perder.
— Vamos participar.
— Vamos participar.
Então elas estavam decididas.
Capítulo 3: Encontro
Fortuito

Um grito estridente ecoou através da pedra do canal construída por aqueles povos
antigos.
Um goblin caiu para trás, com uma machadinha enfiada na testa.
Sem hesitar, Matador de Goblins chutou o cadáver no rio de esgoto que fluía nas
proximidades. Ele caiu espirrando água, então flutuou entre as espumas de
poluição por um momento, antes de sumir de vista.
— Esse parece ser o último deles. — Lagarto Sacerdote limpou o sangue da sua
lâmina, uma espada-presa que fora enfiada recentemente em uma garganta de
goblin.
A chama de uma tocha abandonada no chão tremulava, e a sua luz dançou
durante a carnificina ao redor.
Os corpos eram porventura, quarenta por cento de goblins; o restante eram restos
mortais apodrecendo de aventureiros.
E ali, mais à frente onde a via fluvial se dividia em inúmeras bifurcações, se
aproximava uma sombra misteriosa.
— Não… Há mais alguma coisa.
Alta-Elfa Arqueira não era de perder uma coisa dessas. Enquanto falava, ela
armava outra flecha no seu arco. Suas orelhas se agitavam para cima e para baixo;
então, com um leve silvo, ela puxou a corda de seda de aranha e a soltou.
Com um bóim parecido a uma bela lira, a flecha trespassou o ar.
Ela se curvou, virando a esquina como se tivesse vida própria. Um momento
depois, houve um “aah!” estridente, e depois um barulho suave de algo atingindo
a água.
— Esse é o último deles.
— Ufa… Belo disparo.
Com a exclamação triunfante de Alta-Elfa Arqueira, Sacerdotisa, que estava
agarrando seu cajado de monge, soltou um suspiro.
Ela manteve seu espírito continuamente aguçado, para que pudesse invocar um
milagre a qualquer momento. Ela ficou contente, no entanto, que não tinha
precisado usar um, ela poderia guardar para mais tarde.
— Mas… encontrar tantos goblins bem debaixo da cidade…
— Isso é o que eu esperava.
Matador de Goblins segurou indiferentemente o corpo de um aventureiro. Um
pouco de carne podre tombou no chão.
O cadáver estava tão bem roído por ratos, que não era possível dizer se era
homem ou mulher, mas ele não hesitou.
Cota de malha escurecida com sangue seco. Um capacete avariado. Ele foi
provavelmente um guerreiro outrora. Seu saco de itens já tinha sido feito em
pedaços. Matador de Goblins olhou através de tudo o que os goblins já não
tivessem roubado e pegou uma espada longa, bainha e tudo, da cintura do corpo.
Ele sacou a lâmina e encontrou um fio de corte sem nenhuma ferrugem. Talvez
tivesse sido bem lubrificada?
— Eles deviam ter sido emboscados. — Um golpe na cabeça muito
provavelmente. Nem mesmo uma chance de sacar sua arma.
A espada era pesada demais para um goblin e maior que Matador de Goblins
gostava, mas não era uma arma ruim.
— Tudo bem. — Matador de Goblins assentiu, embainhando a espada de novo.
Sacerdotisa soltou um suspiro.
— Não está “tudo bem”. Posso?
— Vá em frente.
Matador de Goblins empurrou o cadáver do aventureiro para o seu lado.
Sacerdotisa se ajoelhou perto do corpo, com sua expressão sombria. Ela não
prestou atenção na água suja que molhava suas vestes brancas.
— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, por favor, com sua mão venerada,
guie a alma dele que tem deixado este mundo.
Segurando seu cajado, com os olhos fechados, sussurrando em um ritmo quase
musical, ela rezou, entoou e implorou.
Rezou para que as almas dos aventureiros e goblins que tinham morrido aqui,
fossem salvas pelos deuses que residiam no céu.
— Bem que poderíamos deixar ele no solo em vez de abaixo dele…
Lagarto Sacerdote, seguindo o exemplo de Sacerdotisa, colocou suas palmas
juntas em um gesto estranho, rezando pelo renascimento dessas almas.
— Embora nos conforte que, ao alimentar os ratos e insetos, vocês retornarão à
terra com o tempo.
A Mãe Terra e o temível naga. Seus deuses eram diferentes; logo, assim também
eram as suas doutrinas.
Mas no desejo da felicidade das almas dos mortos, eles eram iguais. Eles não
sabiam onde suas orações iam, apenas que havia salvação.
Sacerdotisa e Lagarto Sacerdote olharam um para o outro, sabendo que cada um
deles tinha exercido seus deveres.
— Hmm, aqui.
Olhando sem muita atenção para os dois, Alta-Elfa Arqueira puxou uma flecha
de um cadáver de goblin.
Ela verificou o broto na ponta e, satisfeita que não foi danificada, colocou a
flecha de volta na aljava.
— Só para você saber, não vou fazer como você, Orcbolg. — Ela fixou seus
olhos brevemente sobre o aventureiro armadurado com a expressão
enigmática. Suas orelhas fizeram um vuup, como se para mostrar seu humor. —
Parece que isso pode ser uma longa batalha. E eu não quero usar flechas de
goblin. Elas são tão rudimentares — resmungou ela.
Os olhos de Matador de Goblins viraram para ela. — São?
— Sim, elas são.
— Entendi.
— Deuses — suspirou Anão Xamã, tocando sua barba.
Ele tinha sua mão no saco de catalisadores, preparado com uma magia, mas…
Ele estava olhando para longe, para o preto além da luz da tocha. Como
moradores do subterrâneo, eles podiam ver bem no escuro.
— Faz você pensar quantos são.
Mas, até os seus olhos aguçados não percebia sinal de nenhum goblin.
Havia feito três dias desde que eles tinham começado a exploração dos esgotos,
e essa foi a quinta vez que eles tinham sido atacados só hoje.
Os esgotos da cidade da água foram completamente transformados em um ninho
de goblin. Aventureiros que entraram no local logo se encontraram atacados
pelos pequenos demônios.
A cadeia sinuosa de canais — realmente um labirinto — era a aliada dos goblins.
O grupo era atacado repetidamente em intervalos irregulares, e a busca
continuava sem parar; eles nunca podiam abandonar a guarda.
— Me disseram que isso é normal para aventureiros da cidade labirinto.
As queixas do homem-lagarto estoico normalmente eram a prova do preço da
fadiga que eles tinham.
Apenas batalha não teria feito isso neles, nem apenas caminhar por uma caverna.
Era a vigilância constante que usava os seus nervos.
—…
A ansiedade também era clara no rosto de Sacerdotisa. Mesmo seus passos
pareciam de alguma forma inseguros.
— Fiquem calmos.
Matador de Goblins, examinando cada centímetro do seu caminho atentamente,
foi tão contundente como de costume.
Ele tinha pego uma tocha nova de sua bolsa e acendeu, e agora estava batendo
insistentemente nas paredes.
— Essa é uma parede de pedra. É pouco provável deles virem nos emboscar
através dela.
— Por favor, não traga de volta más recordações. — Sacerdotisa franziu a testa
e tremeu. O horror daquela primeira aventura ainda assombrava ela.
— …Desculpa.
“Está tudo bem” foi tudo o que ela disse em resposta ao murmúrio silencioso de
Matador de Goblins.
Talvez Anão Xamã sentiu o que se passava entre eles, porque ele sorriu
discretamente e disse: — Pelo menos, com tanto lixo ao redor, não precisamos
nos incomodar em esconder nosso odor.
— Por favor, não traga de volta más recordações — disse Alta-Elfa Arqueira,
abanando levemente a mão.
Ela esticou seu braço e deu uma fungada em sua roupa de caçadora.
No passado, em outra passagem de ruínas subterrânea, Matador de Goblins a
tinha forçado se untar com entranhas de goblin, alegando que isso cobriria o seu
odor. Ela tinha sido capaz de lavar suas roupas e limpar seu corpo, mas ela nunca
o tinha perdoado.
— Estou avisando você, Orcbolg, se algum dia me obrigar a fazer aquilo de novo,
você vai ver.
Matador de Goblins ficou calado. Ele mexeu a cabeça de um lado ao outro
ligeiramente.
Talvez estivesse checando o cheiro da região. Depois de um longo momento, ele
respondeu:
— É, não há motivo dessa vez.
— Tsc.
As orelhas de Alta-Elfa Arqueira caíram.
Com o olho entreaberto de um atirador fixado em Matador de Goblins.
— Ei, acabei de me lembrar.
— O que?
— Orcbolg. Você nunca me pediu desculpa.
— Porque foi necessário.
Sua resposta não podia ter sido mais direta. Alta-Elfa Arqueira fez beicinho com
um “grrr” e ficou de mau humor.
— …Hmm?
Repentinamente, suas orelhas se moveram rapidamente para cima e para baixo,
e ela olhou para o teto.
— O que foi, orelhuda? — perguntou Anão Xamã.
— Uma sensação estranha… E ouvi um barulho de água. Acima de nós?
Nesse momento, uma gotícula caiu no canal… plic.
Ondulações atravessaram o esgoto. Um, dois, três.
— Hmm…
Lagarto Sacerdote pôs a língua para fora duvidosamente e lambeu o nariz.
Plim! Plim! Mais gotas caíram.
Em pouco tempo desciam sem parar.
— Isso é… chuva? — Sacerdotisa franziu a testa, olhando para o teto distante.
A superfície ribeirinha do canal estava cheia de ondas pequeninas.
Alta-Elfa Arqueira levantou sua mão livre para se proteger das gotas.
— Como pode estar chovendo no subsolo? — perguntou ela, confusa.
— Está provavelmente chovendo lá em cima. Está descendo aqui por causa das
grades ou o rio — disse Anão Xamã, afagando a barba. Ele olhou para Matador
de Goblins.
— O que me diz, Corta-barba?
— Se perdermos nossa luz, será um problema. — Matador de Goblins estava
segurando seu escudo sobre a tocha recém acesa para a proteger.
Tocha inutilizável, isso poderia acontecer muito facilmente. Nesse sentido,
lampiões eram melhores. Bem, havia prós e contras para tudo. Matador de
Goblins estalou a língua, aborrecido.
— A movimentação será mais perigosa também.
— A chuva vai resfriar nossos corpos — acrescentou Lagarto Sacerdote, com
um aceno sombrio e olhou para o grupo. — Sugiro um breve descanso. Opiniões?
A chuva os impedia tanto de avançar quanto voltar. Não houve objeções.
Uma vez que tinham decidido, os aventureiros agiram de forma rápida. Desde
que a chuva ainda estava começando, a superfície ainda estava relativamente
seca, mas se eles tardassem, acabariam por ficarem em algum lugar úmido, e eles
não queriam ficar mais frios.
Eles não tinham trazido alguma tenda com eles, mas qualquer aventureiro
decente teria roupas de chuva em seus equipamentos. Assim que todos tinham
colocado seus sobretudos de lã, se sentaram juntos em círculo.
Então, Sacerdotisa transferiu o fogo de sua tocha para um lampião e o pôs no
meio do círculo.
Não aquecia muito eles, mas era melhor que nada.
— …Ei, Orcbolg. Por que você não gosta de lampiões? — Alta-Elfa Arqueira
tocou no lampião com perplexidade, depois esfregou ele como se para limpar a
fuligem. — Basta pendurar eles no seu cinto. Você não precisa usar a mão toda
para o segurar.
— Uma tocha pode ser uma arma — disse Matador de Goblins. — Um lampião
é inútil se quebrar.
— Hum.
Alta-Elfa Arqueira pareceu desapontada com a sua resposta. Ela contraiu os
joelhos para seu peito.
Matador de Goblins olhou para o canal, ignorando as gotas que pingava no seu
capacete.
Sacerdotisa o deu um olhar compassivo.
— Você deveria pelo menos tirar o capacete… não acha?
— Nunca se sabe quando ou de onde um inimigo irá atacar.
— Sabe, Corta-barba, sempre achei que você era um pouco descuidado com seu
equipamento. Devia reparar eles.
— Sim.
Anão Xamã, sentado de pernas cruzadas, tirou uma jarra de vinho do seu saco de
catalisadores. Rompendo a rolha, ele serviu copos do inequívoco vinho de fogo,
depois, os entregou rapidamente ao resto do grupo.
O cheiro da umidade do ar se misturou com o aroma do vinho flutuando.
— Bebam. Não podemos fazer nada com um corpo congelado.
— Mas, eu…
— Eu sei. Só tome um gole, uma golada. Eu sei que é tudo que pode aguentar.
Eu não vou usar isso contra você.
Alta-Elfa Arqueira pegou o copo relutantemente, realmente receosa. Ela deu um
gole delicado, estremecendo enquanto ardia a garganta.
— Ahh…
— Continua uma jovenzinha quando se trata de bebida, não é?
— Você está bem? — perguntou Sacerdotisa.
— S-sim… Mas, uma patrulheira bêbada não vai ser nada bom.
Alta-Elfa Arqueira assentiu para Sacerdotisa, que dizia para ela não se forçar.
Por outro lado, a própria Sacerdotisa era bastante desacostumada com o vinho de
fogo. Ela simplesmente fingiu que o vinho era um remédio e tomou um gole
discreto.
O sabor poderoso ardeu na sua língua. Seus olhos percorreram ao redor
desesperadamente.
— Bem, então também quero um copo — disse Lagarto Sacerdote.
— Claro! Beba!
Em contraste dos outros, Lagarto Sacerdote, com a cauda enrolada no pé, pegou
um copo transbordando que Anão Xamã o entregou e derramou tudo
imediatamente nas suas mandíbulas enormes.
— Realmente um sabor incomparável. Eu poderia beber um barril disso.
— Mesmo com minhas artimanhas, não posso trazer um barril comigo. Tome
um pingo, Corta-barba.
—…
Matador de Goblins bebeu o vinho pela abertura em sua viseira, nunca tirando
seu olhar do canal.
A precipitação alterou para um constante aguaceiro, e a água do esgoto se mexia,
borbulhando violentamente.
Depois de um tempo, cada um deles ficou em silêncio.
O bater dos pingos da chuva em seus sobretudos, o glub do vinho sendo bebido,
suas próprias respirações fracas; havia som por toda a parte, mas o lugar parecia
estranhamente silencioso.
— Devíamos colocar algo em nossos estômagos — disse Matador de Goblins
brevemente, com uma voz calma. — Um estômago parcialmente vazio evita o
sangue de se acumular. Mas, muito vazio vamos ficar mais lentos.
— Bem, se algo simples servir…
Sacerdotisa vasculhou sua bolsa e apareceu com algo embrulhado em papel-óleo.
— Oh-ho! — Anão Xamã ficou feliz tendo sentido o alimento chegando e deu a
Alta-Elfa Arqueira um sorriso e uma cutucada com seu cotovelo. — Eu sabia.
Orelhuda, percebe como suas habilidades são inexistentes em determinadas
áreas?
— S-s-seu…!
Mas ela não teve resposta.
— …Acho que vou aprender a cozinhar — murmurou ela, à qual Sacerdotisa
ofereceu para a ensinar e sorriu.
A refeição foi pão cozido e uma garrafa de vinho tinto diluído.
Foi feita para durar um longo tempo, mas era sem sabor e frio. Eram
simplesmente rações de combate, que significava preencher a barriga e umedecer
suas gargantas.
Os aventureiros mastigaram sem prazer o pão, mas também sem reclamar.
— Tinha esperança de poder fazer algo menos simples, mas… — disse
Sacerdotisa se desculpando, se movendo enquanto limpava uma migalha de pão
de sua bochecha e a pôs na boca. — Não acho que alguém apetece comer nada
muito elaborado aqui, de qualquer forma…
— Verdade… — Alta-Elfa Arqueira deu de ombros e fez um espetáculo
segurando o nariz.
Cheio de ondas agitadas pela chuva, o canal sujo se tornou mais como um rio
sujo. O olfato desempenha um papel importante sobre o gosto de algo, e aqui, o
aroma do vinho tinto foi suprimido pelos musgos, mofos e os inúmeros outros
odores.
— Acho que só não entendo por que alguém iria querer comer no subsolo —
disse Alta-Elfa Arqueira.
— Oh-ho. Aguente aí, moça.
Você vai se arrepender quando voltarmos lá em cima, pensava o anão enquanto
ele olhava para ela com os olhos semicerrados, mas Alta-Elfa Arqueira não
mostrou sinais de perceber.
— Quando tivermos suportado esse julgamento, então faremos algo delicioso
para o nosso estômago.
Lagarto Sacerdote, que estivera a beber vinho tinto e vinho de fogo em
quantidades iguais, entrou na conversa.
Sacerdotisa concordou silenciosamente, segurando seu copo cheio de vinho de
fogo com as duas mãos.
— Agora que falou, o que há de bom para comer por aqui?
— Hmm. Realmente. Vamos ver… — Anão Xamã tocou sua barba. — Por
aqui…
— Peixe de rio frito, fígado de boi e vinho tinto — disse Matador de Goblins,
sem tirar os olhos da água.
Todo mundo olhou para ele.
— E eu ouvi que o cereal por aqui não é polido, então a massa é bastante boa.
Anão Xamã, sem nada para acrescentar, deu exageradamente de ombros. —
Vocês ouviram o cara.
— Vejo que é bastante informado, meu senhor Matador de Goblins.
— Um dos meus conhecidos é.
Lagarto Sacerdote se inclinou com bastante interesse, mas a resposta de Matador
de Goblins foi breve.
— Quando eu disse que estava vindo para aqui, me contaram sobre a comida.
Um conhecido?
Sacerdotisa pensou nas possibilidades na sua mente: Garota da Guilda, Vaqueira
ou Bruxa. Quem sabe Lanceiro ou Guerreiro de Armadura Pesada…
Ela se deu conta de quanto mais conhecidos ele tinha agora do que quando ela
tinha se juntado a ele há alguns meses e riu baixinho.
Assim, suas curtas pausas de aventuras passaram tranquilamente.
Mas, cada aventura está repleta de perigo; no campo, nenhum lugar é realmente
seguro.
Sucedia naquela hora do vinho estar fazendo seu trajeto através dos corpos deles,
aquecendo seus membros.
— …Hmm?
Matador de Goblins fez um som repentino. Ele se levantou imediatamente em
um joelho e olhou atentamente para a água.
— Algum problema, Matador de Goblins, senhor…?
— Não — murmurou ele. — …Mas fique alerta.
Sacerdotisa assentiu à sua resposta vaga.
Ele deve ter sentido alguma coisa. Sacerdotisa começou a guardar rapidamente
suas coisas em sua bolsa, mas atenta ao seu arredor. Mesmo que não houvesse
nada ali, já era hora deles continuarem.
— Vou ajudá-lo. Meu senhor conjurador, sua manta.
— Aqui.
Ninguém precisava lhes dizer o que fazer. Os aventureiros veteranos se mexiam
com rapidez e eficiência.
Alta-Elfa Arqueira, inclinada como Matador de Goblins, manteve a mão em cima
da aljava, escutando. As suas orelhas mexiam para cima e para baixo e eram as
mais astutas do grupo.
— …Alguma coisa está vindo.
Cada um deles preparou imediatamente suas armas. Matador de Goblins tirou a
espada longa que ele tinha acabado de recolher, Lagarto Sacerdote uma espada-
presa. Sacerdotisa segurou ansiosamente seu cajado; Anão Xamã tinha sua
funda; e Alta-Elfa Arqueira pegou uma flecha de sua aljava.
— Corta-barba!
— Certo.
Matador de Goblins pegou o lampião de Anão Xamã com sua mão esquerda, a
mesma com o escudo amarrado. Não havia tempo para acender uma tocha.
Deveria ele segurar o lampião em sua mão?
Não. Ele o pendurou em sua cintura em vez disso.
Todos eles olhavam para além da chuva, para o outro lado do canal, na qual a
névoa baixa tinha dispersado em uma neblina fina.
Dessa vez, todos eles podiam ouvir claramente o som de pancadas na água.
Não eram ondas. Algo estava chegando pela água na direção deles.
Sem hesitação, Matador de Goblins alinhou a luz do lampião ao nevoeiro fino.
Eles puderam distinguir uma embarcação rudimentar, como uma jangada,
modelada com troncos.
— Goblins!
No instante seguinte, os monstros na jangada atiraram com seus arcos artesanais.
Seus disparos faltavam precisão, mas no espaço estreito, eles caiam como chuva
sobre eles.
— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, pelo poder da terra conceda
segurança para nós que somos fracos…!
Não só as flechas, mas até as gotas de água pararam milagrosamente de cair sobre
eles.
A barreira intransponível deu um ligeiro lampejo. Em seu centro estava
Sacerdotisa, segurando seu cajado com as duas mãos. A oração tinha custado
parte de seu próprio espírito, mas tinha alcançado o céu, e a toda-misericordiosa
deusa tinha concedido o milagre de Proteção.
— Não consigo o manter por mu…
— É o suficiente.
Sacerdotisa estava começando a suar, mas Matador de Goblins a tranquilizou
brevemente. A espada longa já estava na sua mão direita, e seu escudo estava na
sua esquerda. — Quantos são? — perguntou ele.
— Já perdi a conta! — respondeu Alta-Elfa Arqueira, conforme ela prendia outra
flecha no seu arco, e a corda do arco esticada cantou quando ela a soltou. — O
que você vai fazer?
— O que sempre faço — disse Matador de Goblins, indiferente à chuva de
flechas. Ele girou a espada longa na sua mão em um apoio inverso. — Matar
todos os goblins.
Ele segurou a espada acima da cabeça e então, quase rápido demais para se ver,
ele a lançou.
Já que não havia intenção de prejudicar Sacerdotisa, a lâmina podia passar pela
barreira Proteção, de acordo com as regras.
A espada passou cortando as flechas que vinham e trespassou a cabeça do goblin
que parecia ser o chefe. Ele nem sequer teve tempo para gritar quando caiu no
esgoto, e o cajado que ele estava segurando atingiu a água com um
impressionante splash.
— GROOARRB!!
— GAROOROROROR?!
Os goblins começaram a uivar pela perda de seu xamã, e por um momento, o
ataque titubeou.
— Foi um. Quantas magias ainda tem?
— Muitas. As tenho poupado! — respondeu Anão Xamã a ele, colocando uma
pedra preciosa na sua funda e disparando.
— …Túnel, então. Nos faça um buraco.
Seus olhos arregalaram com a instrução franca.
— Não seja tolo. Quer destruir a cidade ali de cima?!
— Não para cima. Para baixo.
Matador de Goblins levou a mão na sua bolsa.
— Escave sob o canal e o drene — disse ele, como se isso fosse a coisa mais
óbvia do mundo.
— Uma cidade é como uma máquina primorosamente elaborada! — gritou Anão
Xamã. — Perturbe uma coisa só, e os esgotos podem transbordar!
— Não é fogo. Não é água. Não é gás venenoso.
Sua perplexidade teria sido cômica em qualquer outro momento, mas nesse
momento Alta-Elfa Arqueira gritou para ele: — Outra coisa!
— …Hum.
Matador de Goblins ficou calado, então começou a vasculhar sua bolsa.
Os goblins, é claro, não ficaram de braços cruzados. Eles dispararam flechas tão
rapidamente quanto poderiam, com sua jangada cada vez mais próxima da
margem.
Sacerdotisa, com suas mãos ainda no seu cajado, exclamou:
— Não consigo aguentar mais…!
— Você não tem mais um daqueles pergaminhos Portal, tem? — disse Anão
Xamã.
— Se eu tivesse, teria trazido.
A tática que ele tinha utilizado contra o ogro ainda estava bem viva em suas
memórias, porém, um pergaminho Portal era um item muito valioso e difícil de
conseguir. A parte que fazia Matador de Goblins singular, era sua vontade de
usar algo tão precioso sem sequer hesitar. Afinal de contas, ele tinha
provavelmente a intenção de usá-lo contra goblins em algum momento.
Enquanto falava, Matador de Goblins tirou uma coisa da bolsa.
— Você tem uma estratégia? — indagou Lagarto Sacerdote.
— Atacamos no momento que Proteção desaparecer — respondeu Matador de
Goblins.
— Claro.
— Goblins ou a jangada? Qual é o melhor?
— A jangada, eu suponho.
— Está bem.
Com essa breve troca de palavras, Matador de Goblins se virou para Sacerdotisa.
A garota estava agarrada ao seu cajado com toda sua força; ela mal poderia
poupar o esforço para olhar para ele.
Matador de Goblins olhou para cima por um instante. O que dizer a ela?
— …Lance Proteção de novo. Consolide nossa defesa.
— S-sim, senhor!
Sacerdotisa assentiu firmemente. Matador de Goblins soltou um suspiro. Sua
mão direita vazia se abria e fechava.
Ele precisava de uma arma. Se calhar, ele podia ao menos encontrar uma faca
em algum lugar…
— Só um momento, meu senhor Matador de Goblins.
Lagarto Sacerdote pegou uma presa de besta de sua bolsa e a agarrou com um
gesto estranho.
— Ó asas falciformes de Velociraptor, rasgue e dilacere, voe e cace…
Uma oração para seus veneráveis antepassados. Um apelo a seus antepassados.
Suas duas mãos escamadas passaram pela presa, a imbuindo com o poder do
temível naga. Enquanto falava, ela cresceu e se transformou em uma
Espadagarra.
— Creio que esse é o tamanho de lâmina que você prefere. Ah, mas… tente não
a arremessar. Se puder.
— Posso tentar.
Matador de Goblins pegou a lâmina oferecida com mão hábil. Nada mal.
— Apenas… um pouco… mais…!
A barreira invisível estava começando a chiar sob o incessante disparo de flecha.
O ruído se transformou em uma fissura, e depois o escudo se partiu em partículas.
— Fechem os olhos e a boca, e não respirem. Lá vai!
No instante seguinte, Matador de Goblins arremessou o ovo com a mão esquerda
diretamente na jangada.
— GARARAOB?!
— GRORRR?!
Gritos.
Pimenta triturada e pedaços de cobra misturados em uma casca de ovo quebrada
no ar. Os olhos dos goblins enlouqueceram. Eles se sufocaram com a mistura e
esbracejaram com a dor.
Cortando através da névoa vermelha, Matador de Goblins e Lagarto Sacerdote
pularam a bordo do navio. A jangada balançou com seus pesos, mandando um
ou dois goblins para a água suja.
Um grande salpico e um borrifo. Gotículas caíram.
— Hmm.
Matador de Goblins grunhiu quando ele pôs as criaturas se esforçando para
manter seu equilíbrio na embarcação chacoalhante. Nisso, um goblin aproveitou
o momento para o agarrar por trás. Com o escudo, ele lhe deu um golpe ressoante.
Clang. — GAROU!
— …Então você tem armadura, não é? — cuspiu Matador de Goblins aborrecido.
Sem abrandar, ele girou, chutando os goblin uivante claramente da jangada.
— GROOROB?!
A criatura lutou vigorosamente para sair do esgoto, mas sua armadura era muito
pesada.
Finalmente, o rosto horrendo deslizou para debaixo da superfície. Algumas
bolhas surgiram, e então o goblin, como uma peça de tabuleiro, desapareceu.
— Hmm.
Em um único movimento, Matador de Goblins atingiu um monstro próximo com
a parte plana da sua espada. O goblin e as lágrimas imundas que ele estava
chorando foram impotentes na água.
— GAROOARA?!
— É mais fácil simplesmente os empurrar para fora.
— Ó, temível naga! Veja as ações do seu filho em combate!
A única resposta de Lagarto Sacerdote a Matador de Goblins foi gritar essa
oração e saltar aos goblins.
Quando os goblins começaram a recuperar suas visões, eles largaram seus arcos
de lado e brandiram loucamente suas espadas.
Mas eles eram muito lentos.
Eles caíram para as garras, presas e cauda, para espada e escudo, punhos e pés.
Com movimentos ágeis e táticas bem estudadas, os dois guerreiros fizeram o
caminho de uma extremidade da jangada à outra.
Goblins eram fracos, afinal.
Em uma batalha frente a frente com aventureiros experientes, o goblin normal
não tinha nenhuma chance. Algumas das criaturas saltaram para o esgoto em
pânico. Tendo esquecidas de que não podiam nadar, elas afogaram rapidamente.
— Dezesseis.
Ainda assim, os goblins não tinham perdido a sua vantagem principal.
— Mas, nós podemos estar em grande dificuldade. São muitos.
Que era dizer, números.
Quando um era morto, mais dois aparecia; quando dois afogavam, quatro
surgiam. Quatro se tornou oito. Oito se tornou dezesseis. Dezesseis se tornou
trinta e dois.
Quantos goblins cabiam em uma pequena jangada?
— GOOORRB!
— GROB! GOOBR!!
Os dois aventureiros encontraram a multidão de goblins e mataram uma após
outra. Mas não havia fim para elas.
Embora fossem mais do que dois aventureiros.
— GRRB?!
Uma flecha ponta-broto voou através do ar.
Centrado inteiramente na ameaça diante dele, o goblin não percebeu isso até que
a haste fosse enfiada em seu olho e ele estivesse caindo no chão.
— Um elfo nem sequer precisa dos olhos abertos para fazer seu disparo!
Foi, é claro, Alta-Elfa Arqueira, de pé na margem.
Suas orelhas estavam erguidas, e ela disparava flechas mais rápido do que os
olhos podiam ver. Rapidamente, tão rápido que todas as outras coisas pareciam
inferior em comparação.
Entre aqueles que possuíam palavras, não havia ninguém que conseguia atirar
melhor do que um elfo. Mesmo no furor da batalha, suas flechas atingiam apenas
seus alvos. Em uma respiração, ela tinha esvaziado sua aljava, mas isso não
significava que estivesse sem flechas.
Com um estalido desagradável, Alta-Elfa Arqueira apanhou algumas flechas dos
goblins de há pouco.
— Essas coisas são tão rudimentares.
Mas rudimentar ou não — mesmo que a ponta das flechas fosse feita de pedra
— a elfa não erraria.
Um goblin, ficando impaciente, pegou um arco de novo. Agachou-se, usando
seus amigos como escudo (jogando sujo, como os goblins estão acostumados a
fazer), e se preparou para disparar a esmo das sombras.
Na verdade, para um goblin, seu objetivo era bastante cuidadoso.
— ORGGGG…
Seu alvo era aquela pequena elfa impertinente.
A corda bruta do arco fez um chiado quando ele a esticou.
Uma elfa. E sendo assim, uma mulher. Seria divertido pegar ela viva…
entretanto, matar ela também seria agradável.
Ele dispararia no olho dela. Ou talvez na orelha? Com um sorriso medonho, ele
soltou a flecha…
— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, pelo poder da terra conceda
segurança para nós que somos fracos!
Ela nunca chegou perto de Alta-Elfa Arqueira, mas apenas rebateu para longe
com um ruído.
A toda-misericordiosa Mãe Terra dificilmente poderia recusar a súplica da sua
discípula, não é?
No momento seguinte, o pretenso goblin arqueiro foi vítima de uma das flechas
de Alta-Elfa Arqueira.
— Obrigada.
— Sem problema. Tenho que pagar o favor, também…
Alta-Elfa Arqueira piscou para a garota próxima a ela. Sacerdotisa sorriu
calorosamente e manteve sua oração.
— Posso os manter longe da nossa fileira traseira — disse Sacerdotisa. — Conto
com você para lidar com o ataque!
— Parece um bom plano! E tenho a coisa certa aqui!
Foi Anão Xamã que respondeu ela, vasculhando o saco de catalisadores que ele
tinha conservado tão cuidadosamente até então.
Ele tinha um punhado de barro em cada mão.
As bordas dos lábios de Alta-Elfa Arqueira se tornaram um sorriso, mas ela
nunca olhou para longe da jangada dos goblins.
— Já sabemos, apenas vamos logo com isso! Os anões demoram uma eternidade
para fazer qualquer coisa!
— Ponha uma pedra nisso. Você tem seu estilo de luta, e eu tenho o meu.
Anão Xamã começou a enrolar cada punhado de barro em uma bola.
Ele soprou sobre eles, murmurando algo, então deu um grande berro:
— Corta-barba, Escamoso! Para trás!
No mesmo instante, ele lançou as bolas de terra pelo ar. Seus lábios
transbordaram com palavras de poder.
— Saiam, seus gnomos, é hora de trabalhar, não se atrevam a fugir de seu dever,
um pouco de pó pode não causar choque, mas mil fazem uma bela rocha!
Enquanto observavam, as pequenas bolas se transformaram em rochas enormes
e se espatifaram contra o barco.
Impacto Pétreo melhorado com um influxo de poder espiritual para ser ainda
mais imponente que o normal.
— M-meu senhor Matador de Goblins!
— Certo.
Os dois aventureiros na jangada trocaram um olhar rápido, então atravessaram
pelos goblins fugindo, dando um grande salto para à costa.
Atrás deles, houve um rugido, e o esgoto espirrou como um gêiser. Gotas das
coisas sujas caíram sobre Matador de Goblins e Lagarto Sacerdote quando eles
rolaram para a terra firme.
A jangada afundou para o fundo do esgoto, com os goblins, bem como todo o
resto. Alguns monstros tinham escapados por um triz, mas suas armaduras os
arrastaram para o fundo e desapareceram.
Ninguém falou enquanto viram tudo isso acontecer.
A chuva nunca tinha diminuído; sentiram frio à medida que pararam,
avermelhados com o calor do combate. Suas respirações vaporizavam; o cheiro
de sangue e esgoto se ergueu à volta deles.
Alta-Elfa Arqueira perguntou com a voz um tanto tensa:
— Então, o que vamos fazer agora?
— …Me dê um tempo — disse Anão Xamã melancolicamente. Ele pegou sua
jarra de vinho e retirou a rolha. — Aquele truque de agora pouco realmente me
cansou.
Ao lado dele, Sacerdotisa deslizou debilmente de joelhos.
— Vamos… descansar, por um momento. Eu preciso, muito…
— Não. — Matador de Goblins balançou a cabeça.
Apesar de terem acabado de passar por uma batalha campal, ele não parecia estar
ofegante; ele estava olhando categoricamente para a água.
— Temos de se mover imediatamente.
— O que…?
Sacerdotisa levantou os olhos para ele vagamente.
Ele olhava em volta atentamente, ainda mantendo as armas nas duas mãos.
— Concordo. — Lagarto Sacerdote assentiu, fazendo seu gesto estranho com as
palmas juntas. — Essa batalha não foi silenciosa. Mesmo com a chuva para
atenuar o barulho…
Algo mais deve ter nos notado.
Assim que ele disse isso…
Houve outro splash.
Alta-Elfa Arqueira olhou para a água com uma expressão sombria.
— Escapar dos goblins apenas para ser apanhado pelos lobos, não é? — Ela
estremeceu quando invocou o velho proverbio.
A superfície do esgoto se agitou; ondas surgiam e começaram a ondular com
mais intensidade.
No instante seguinte, uma mandíbula enorme surgiu da água obscura.
— AAAAAARRRIGGGGGG!!!!
No momento depois disso, os aventureiros decidiram por uma retirada
estratégica.
Eles correram para se salvar da chuva, se espalhando por toda parte. Eles foram
abrindo caminho sem hesitar, apesar da semiobscuridade dos esgotos. Isso foi só
porque eram liderados por Alta-Elfa Arqueira e Lagarto Sacerdote, cuja
agilidade os ajudou a se movimentar através da escuridão e pelos pequenos
obstáculos à volta. Sacerdotisa e Anão Xamã seguiram seus rastros.
A sacerdotisa esbelta e o anão corpulento não eram corredores naturalmente
rápidos. Matador de Goblins, com o lampião ainda pendurado na cintura, os
protegia conforme corria o mais rápido que seus pés conseguiam.
Atrás deles, a superfície da água se revirou outra vez.
Ele arriscou uma olhadela para trás. A enorme mandíbula branca preencheu sua
visão: transbordando com muitos dentes afiados, longos e estreitos. A boca que
surgiu para fora da escuridão era mais que suficiente para morder metade de uma
pessoa.
A mandíbula fechou no ar e afundou de volta na água, mas estava gradualmente
ganhando terreno.
— Concluí uma coisa do que pude observar — disse Matador de Goblins, com
sua respiração normal. — Isso não é um goblin.
— Eu mesma poderia dizer isso! — gritou Alta-Elfa Arqueira, que não tinha
olhado para trás para ver a besta por si mesma.
Existem monstros chamados aligátores, também conhecidos como “dragões do
pântano”.
Dragão é apenas um nome; eles são mais intimamente relacionados com lagartos.
Eles não eram as criaturas da lenda.
Eles eram, no entanto, medonhos: seus corpos e mandíbulas longas e compactas,
os forçavam a rastejar. Ainda assim, um aligátor atravessando a água com sua
cauda longa não tinha graça nenhuma.
Nesse lugar, o aligátor branco avançando na direção deles era para se temer mais
do que qualquer besta mitológica.
— Ei, Escamoso! Esse não é o seu primo? Faça alguma coisa em relação a ele!
Anão Xamã estava usando suas pernas atarracadas com toda as suas forças.
Saliva voou da boca quando ele gritou.
— Muito lamentavelmente, quando entrei para o clero, tive que abandonar todos
os laços com a minha família.
— O que, você nunca sequer volta para a casa?
— É muito longe.
Com uma respiração profunda, Lagarto Sacerdote tirou os pés de Anão Xamã do
chão com uma rasteira da sua cauda.
— Uouuu?! — exclamou Anão Xamã quando suas pernas deixaram o chão e
flutuou pelo ar.
Aproximadamente quando ele esperava voltar ao chão, ele sentiu um grande
braço escamoso à sua volta, o segurando. Lagarto Sacerdote não desacelerou
nem por um momento quando ele agarrou Anão Xamã e continuou a correr.
Aqueles olhos únicos do homem-lagarto se moveram rapidamente.
— E para ficar claro, conjurador, essa serpe não tem nenhuma relação conosco!
— Oh-ho! Eu gosto disso! Simples e fácil!
Aparentemente inalterado pela observação do seu amigo, Anão Xamã cavalgou
no ombro de Lagarto Sacerdote, rindo o tempo todo.
— De onde vocês acham que ele v-veio? — perguntou Sacerdotisa atrás deles,
lutando para poder respirar.
Rezar aos deuses põe uma pressão terrível na alma e o espírito. Não é mais fácil
do que o combate físico. Consequentemente, ela estava quase sem fôlego, com
os pés cambaleantes; ela achava que poderia cair a qualquer momento.
Matador de Goblins deu um estalo com a língua e a pegou pela cintura fina.
— O qu…?!
— Tenha sua respiração de volta sob controle.
Sacerdotisa deu um berro, assustada, mas depois da breve resposta de Matador
de Goblins, ela se viu envolvida debaixo de seu braço.
Ela chutou e retorceu de vergonha, tanto pela sua proximidade física e de ser um
fardo literal para ele.
— Eu… Eu estou bem! V-você não precisa me carregar…
— Pare de se debater. Vou te deixar cair.
— Ahh…
— Você tem mais um milagre sobrando, certo?
Seria um problema se ela colapsasse aqui e agora, suas palavras a informaram.
— Precisarei que você use outra magia.
Depois de um momento, as bochechas de Sacerdotisa coraram, e ela respondeu
baixo: — Está bem.
— Acho que seria sensato para nós sairmos do canal — disse Lagarto Sacerdote.
Segurando Anão Xamã em seu ombro com uma mão, ele alcançou facilmente
sua bolsa com a outra mão e pegou o mapa.
Ele continuou correndo, lendo o mapa mesmo enquanto as gotas da chuva
começaram a cruzar ele.
A umidade e a chuva, até mesmo o ar abafado, eram amigos de Lagarto
Sacerdote, que tinha crescido no meio da selva.
— Vamos lhe dar o anão! Poderemos escapar enquanto o monstro está jantando!
— Alta-Elfa Arqueira, saltando através da chuva como uma corça, disse com
sinceridade evidente. — Tenho certeza que vai ter uma intoxicação alimentar!
— Como se os elfos fossem tão nutritivos!
Sacerdotisa interrompeu Alta-Elfa Arqueira e Anão Xamã, apontando em frente
com seu cajado.
— A-alguma coisa está vindo pela nossa frente, também!
As orelhas de Alta-Elfa Arqueira agitaram para cima e para baixo, ouvindo
atentamente.
Splash. Algo estava acertando a água. Três coisas, na verdade. Remos? Ela
conhecia o som.
— Mais goblins? — disse ela, exausta. Ela parecia estar sentindo a batalha
anterior.
Outra embarcação cheia de goblins estava se aproximando pelo canal sombrio.
— O-o que devemos…? — Sacerdotisa olhou acima para Matador de Goblins
com olhos assustados.
— ……
Ele não disse nada como resposta, mas, em vez disso, apagou a luz do seu
lampião o molhando.
— Sacerdote — disse ele. — O caminho se ramifica em algum lugar mais à
frente?
— Presumo que sim. Esses esgotos são bastante labirínticos. — Lagarto
Sacerdote passou a garra pelo mapa enquanto respondia.
— Espera aí, não sei o que você está pensando, mas gás venenoso e fogo…
— Não é permitido. Eu sei — disse Matador de Goblins a Alta-Elfa Arqueira.
Ele deu um pequeno suspiro.
— Vamos seguir o teu plano.
— …?
Alta-Elfa Arqueira e Anão Xamã trocaram olhares perplexos.

Os goblins se esforçavam para fazer seu navio de guerra (ou o que parecia um
navio de guerra dentre os goblins) ir mais rápido. O líder deles, um xamã,
colocou seu cajado à frente e, com um grito, instou seus remadores a remar com
mais força.
Já tinha passado algum tempo desde que sons de combate tinha deixado de ecoar
pelos esgotos. Muito provavelmente, seus camaradas já estavam mortos, mas
isso estava bem. O que interessava era que os aventureiros, seus inimigos e
presas, estavam cansados. Eles não poderiam deixar essa oportunidade passar.
Os goblins estavam nos seus limites. Esses tuneis eram agradavelmente úmidos,
mas essa chuva estava aumentando sem controle. Goblins não se importavam
com sujeira ou esgoto, mas isso não significava que gostavam de se molhar. Eles
queriam um lugar quente para dormir. Eles queriam uma boa comida.
E se tivessem prisioneiros para atormentar, melhor ainda. Parecia ter passado
tanto tempo desde que eles tinham torturado e assassinado alguns aventureiros
que tinham entrado nos esgotos algum tempo atrás.
Era por isso que eles tinham que aproveitar essa oportunidade.
Quem sabe teria um elfo entre esses aventureiros. Ou um humano. Mulher, se
calhar. Tinha que ter!
Eles cantavam uma canção horrível de goblin enquanto seguiam remando,
completamente fora de sincronia entre si. Como muitos dos barcos daqueles que
possuíam palavras, toda a tripulação abordo do navio de guerra goblin era
soldado. Um navio teria sido vulnerável. Mas, essa frota de três embarcações não
daria tempo para um grupo inteiro de aventureiros novatos piscar.
Ou assim os goblins acreditavam, independentemente do que a realidade poderia
ser. E isso os fazia perigosos. O pensamento de que eles ainda seriam fracos
mesmo em um grupo, nunca passou pelas suas mentes. Com seus rostos
perversos de desejos, saliva pingando de suas bocas, eles se dedicaram
energeticamente para remar mais rápido.
Os olhos do xamã, perfeitamente capazes de enxergar na escuridão, se fixaram
em um ponto único de luz, um brilho cintilante que só podia ser um lampião de
aventureiro. Desafortunadamente, humanos precisavam de luz, pois a escuridão
os deixava cegos. Nas profundezas desses buracos escuros, os goblins eram os
mais poderosos.
Com apenas a certeza da vitória, eles foram em direção à luz,
despretensiosamente.
Mas não viram nenhum aventureiro. Na realidade, descobriram que a luz era
apenas um reflexo na água.
— ORAGARA!
— GORRR…
O xamã estava desconfiado; ele deu a um dos seus subordinados uma pancada
com seu cajado e uma repreensão praguejante. O goblin, que teve apenas o azar
de estar perto, deu uma vasculhada na água, com uma cutucada pouca metódica
com o remo.
Então:
— ORAGA?!
O goblin tinha perdido a cabeça.
A mandíbula pálida do monstro surgiu para fora da água.
— GORARARARAB!!
— GORRRB! GROAB!!
Os goblins criaram uma baderna enquanto se apressavam para os postos de
combate. Envoltos no clima de pânico, vários pularam na água tentando fugir.
Outros ficaram e lutaram.
Não importava. Os goblins mais perto da água foram os primeiros a serem
despedaçados.
O xamã balançou seu cajado furiosamente e começou a entoar uma magia…
— Parece que eles têm o número, mas nós temos a vantagem — observou
Lagarto Sacerdote.
— Hmm. Não posso dizer que sinto pena deles — respondeu Anão Xamã.
Os aventureiros viram tudo da escuridão de um lado do caminho.
— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, conceda tua luz sagrada para nós
que estamos perdidos na escuridão.
Sacerdotisa rezou para a Mãe Terra, protegida da chuva pelo escudo de Matador
de Goblins. Em resposta a sua oração, a toda-compassiva deusa enviou o milagre
Luz Sagrada sobre a cauda do aligátor.
— Se não posso usar gás, fogo ou água, isso é o melhor que consigo fazer.
Matador de Goblins soou mais do que um pouco irritado. Observando-o cansada,
Alta-Elfa Arqueira tentou o confortar.
— Tanto faz. Nós sobrevivemos, é isso que importa.
Isso é o que aventuras deviam ser! Ela inalou e estufou seu pequeno tórax. Ela
estava bastante satisfeita, conforme era obvio pelas suas orelhas balançando
muito alegremente.
— Embora eu não possa acreditar que eles caíram em um truque simples com
um pouco de luz.
— Eles aprenderam que aventureiros se movimentam com luz.
— Sério?
— Não sei quando, mas em algum momento, se tornou senso comum entre eles
— disse Matador de Goblins, assistindo a batalha no esgoto se desenrolar. —
Eles não são mais do que saqueadores. Não fazem ideia de como produzir
qualquer coisa.
Ele estava certo. Goblins faziam clavas e ferramentas de pedra ou, talvez,
moldavam outros equipamentos para servirem para si, mas nada mais do que
isso. Itens, alimento, animais… Eles roubavam o que precisavam em vez de
produzirem.
E por que não? Aldeias cheias de humanos estúpidos estavam apenas esperando
por eles para virem e tomarem o que quisessem. Desde que eles pudessem saciar
a si mesmo através do roubo, não havia nenhuma razão para fazer outra coisa.
Contanto que eles pudessem conseguir meninas e aventureiras o suficiente, assim
seria.
— Mesmo assim, fracos como são, eles não são tolos — continuou Matador de
Goblins, embora não tenha deixado sua atenção vagar da batalha. — Eles
aprendem a usar itens com rapidez. Caso você mostre a eles como construir um
barco, eles iriam entender em pouco tempo.
— Você os conhece muito bem — disse Alta-Elfa Arqueira.
— Tenho estudado eles atentamente — respondeu Matador de Goblins sem
demora. — É por isso que tenho cuidado para nunca dar a eles uma nova ideia.
Eu os mato em vez disso.
Encostado na parede, Anão Xamã acariciou a barba.
— Então, está dizendo que alguém ensinou eles como construir aqueles barcos.
— Sim.
Sacerdotisa terminou sua oração e soltou um suspiro. Ela limpou o suor e a chuva
da testa.
— Tem certeza? Quem sabe o xamã inventou com eles…
— É possível. Mas, se seus números aumentaram aqui naturalmente, então
aquele… o que quer que aquela coisa seja…
— Hum… o aligátor? — propôs Sacerdotisa.
— …Certo. Aquela coisa não teria surpreendido eles. Não acho que eles teriam
usado barcos se eles tivessem sabido disso. — Ele murmurou, então acrescentou:
— Covardes até a alma.
— Onde quer chegar, meu senhor Matador de Goblins? — perguntou
calmamente Lagarto Sacerdote.
Matador de Goblins parecia ter alguma coisa específica em mente. Sua resposta
foi bastante mordaz.
— Essa infestação de goblins é causada por alguém.
Matador de Goblins esperou até o barulho da batalha diminuir, então sugeriu uma
suspensão temporária.
Ninguém se opôs. Eles não tinham mais magias ou flechas. Eles não tinham itens
suficientes e a força deles estava acabando. Eles caminharam silenciosamente
nos esgotos sombrios, deixando a batalha entre os goblins e o aligátor para trás.
Algum tempo depois eles chegaram a uma escada. Subiram à superfície só para
serem recebidos por gotas grandes de chuva. Sacerdotisa já estava encharcada,
mas as gotas continuavam a cair. Ela virou seu rosto cansado para o céu. Com
uma voz baixa, murmurou:
— Não parece que a chuva vai parar.
Interlúdio: Do Jovem Rei

Muito bem. Primeiro, o assunto do Senhor Demônio, que já deveria ter sido
tratado.
Os sábios já estão investigando devido aos rumores de alguns elementos
indesejáveis propagando doutrinas malignas. Enquanto aguardamos seus
relatórios, informe os governantes para que possamos estar preparados para
responder a qualquer momento caso ela nos contate.
Próximo… o que é isso? O aumento do preço das poções?
Entendo. A demanda está aumentando e a oferta não consegue acompanhar. Uma
preocupação muito séria. Como os aventureiros, mercadores, moradores e até os
monstros aumentaram mais a atividade, cada vez se vê mais feridos…
Muito bem. Abra o jardim real de ervas a todos os médicos associados ou apoie
clínicas gratuitas.
Dado ao estado que o mundo chegou, acho que não há outra escolha. Mas, não
vou flexibilizar o limite da colheita. Esteja mais alerta do que nunca para quem
tentar colher ilegalmente. Lide com esse tipo de pessoa firmemente, mas com
justiça, com exceção de casos de legitima defesa justificado.
O próximo é… Hmm. Um informe periódico da Associação dos Aventureiros.
Isso pode esperar.
Ministro, elabore um resumo desse relatório, realçando apenas os feitos dos
ranques Prata e superiores. Depois, encontre alguém com o tempo para ler isso e
procurar qualquer coisa relacionada com os Deuses das Trevas ou os Deuses
Demônios.
Próximo… a aliança com os elfos, anões e os homens-lagarto, é isso?
Deuses. Diplomacia com semi-humanos… Me perdoe, isso já não é mais
educado, é? …Com os outros povos é sempre tão trabalhoso. Não é que eles não
sejam dignos de confiança, mas, suas culturas são tão diferentes, e não posso os
ter circulando livremente através de meu território. Vamos os receber de todas
as formas possíveis, mas não baixe sua guarda. Não quero nenhum problema.
Sim… provisões. Nós não podemos esquecer dos materiais para as nossas
próprias tropas. Como está a constituição da unidade de transporte chegando?
Ouvi dizer que muitos dos ranques mais baixos trazem suas próprias refeições.
E o próximo… propostas para lidar com o prejuízo dos goblins, estou vendo.
De Donzela da Espada. Quê, outra vez? Não tenho homens suficiente para enviar
o exército contra todos os monstros selvagens que invade uma aldeia. Temos
outros problemas! Deuses das Trevas! Deuses Demônios! Não podem eles lidar
com os goblins por conta própria?
Sim, tal é a minha vontade sobre essas questões… Hmm? Ministro, eu disse que
o relatório da associação pode esperar…
……O que é isso? Dos sábios? …
…Bem, agora. Parece que um deles não apenas encontrou uma pista dos planos
daqueles diabólicos, mas também estão se movendo para o neutralizar. Ah, é
bom termos ajuda de alguém que podemos confiar! Acho que podemos dizer
com segurança que vimos o último desse pequeno problema.
O quê? Porque um aventureiro Platina — um dos nossos grandes heróis — está
indo lidar com isso!
Capítulo 4: Entre Aventuras

— Ahh…
Sacerdotisa deixou um sorriso espalhar por todo seu rosto quando o vapor quente
envolveu seu corpo nu, gelado pela chuva.
Além da porta aberta, havia uma vasta área de mármore branca, cheia de
esculturas elegantes, mas não ostensivas. A sala estava cheia de bancadas para
relaxar no meio do vapor do banho e o seu aroma levemente doce.
A área mais íntima alojava uma estátua da Deidade da Bacia, a bela deusa do
banho. Água fluía continuamente para o balde de lavar da boca de, entre todas
as coisas, um leão. O lugar era extremamente luxuoso. A água vinha
presumivelmente dos rios que passava por toda a cidade.
Isso nunca teria sucedido no Templo da Mãe Terra, em que seus adeptos
estimavam a pobreza e mal tinha um pano para se lavarem. Esse, no entanto, era
o grande banheiro do Templo da Lei, uma sauna. Era uma instalação única dos
Templos do Deus Supremo, que tinha ordenado que aqueles que administravam
a lei deviam ser puros de corpo.
E esse era o mais elaborado dos Templos da Lei na fronteira, palavras
dificilmente poderiam descrevê-lo.
— …Certo. Só por hoje. — Com uma mão, Sacerdotisa segurava uma toalha
para cobrir o seu adorável peito; com a outra, ela fez o sinal da Mãe Terra.
Sua pele, normalmente coberta pela cota de malha e uma vestimenta de
sacerdotisa, era um branco quase translúcido. Sacerdotisa entrou no banheiro
alegremente, com a pele umedecendo no vapor. Felizmente, nenhum outro
banhista estava por ali, em parte por causa da hora tardia, então ela não hesitou
pegar uma concha transbordando com água de um balde de lavar.
— Oh…!
O perfume que flutuava ao redor do local vinha dos óleos aromáticos derramado
no balde.
Ela nunca tivera o impulso de se vestir com elegância desde que tinha sido
transferida para se juntar ao clero, mas no fundo, ela se lembrou das garotas
elegantes que tinha encontrado dias antes.
— Bem, percorri um longo caminho até aqui, afinal. Está tudo bem.
Ela olhou para a esquerda e para direita, depois se virou para a estátua da Deidade
da Bacia feito de Pedrassauna. A estátua, aquecida a uma temperatura
elevadíssima, ferveu a água em um instante, preenchendo o lugar com vapor
perfumado de rosa. A deusa estava retratada como uma mulher nua; para
balancear, havia uma estátua de um velho no banheiro masculino.
Ou assim ela tinha ouvido, Sacerdotisa mesma, é claro, nunca estivera no
banheiro masculino.
Se dizia que a Deidade da Bacia contava aos banhistas suas fortunas, mas ela não
tinha um templo próprio, nem fiéis. Ou talvez, poderia ser dito que todos os
banheiros era seu templo e todos os banhistas eram seus fiéis.
Sacerdotisa, envolta em vapor, estava muito grata por estar entre os fiéis da
deidade. Ela se sentou em um banco com um som silencioso. Em seguida, ela
pegou um adorno encontrado em toda casa de banho; um ramo de bétula-branca.
Ela o roçou contra seu corpo muito suavemente, quase como se acariciando si
mesma.
— Humm…
Seus músculos, embora rígidos e cansados das longas horas no subsolo,
começaram a relaxar. Alguns minutos depois, quando tinha terminado com a
bétula, sua pele nua brilhava com um leve rosado. Ela soltou um longo suspiro,
se encostando contra o encosto da bancada longa.
— Todos os outros deviam ter vindo comigo…
Ela tinha perguntado se a elfa queria vir, mas tinha recebido um não vigoroso
com a cabeça como resposta.
— Isso é como… se os espíritos do fogo, água e ar estivessem todos misturados.
Eu não gosto muito disso.
O anão e o homem-lagarto tinham expressado uma preferência pelo vinho e
comida sobre os banhos e partiram para a cidade.
E depois havia Matador de Goblins.
Ele tinha dito alguma coisa estranha sobre enviar uma carta e logo depois
desapareceu.
— Oh! Eu vou também! — Alta-Elfa Arqueira tinha dito e foi atrás dele, e
Sacerdotisa não podia dizer que não entendia como a arqueira se sentia.
Senhor Matador de Goblins…
Sim, foi nele em que os pensamentos de Sacerdotisa se estabeleceram.
— Deuses… Já se passaram meio ano…
Meio ano desde que ela tinha quase morrido naquele covil de goblins. Desde que
ele tinha salvado sua vida.
Ainda hoje, sonhava com essa aventura. Algumas vezes ela não se via como ela,
mas como uma das garotas sequestradas pelos goblins. Às vezes ela tinha um
sonho passageiro que ela e os outros três novatos tinham atravessado a aventura
em segurança.
Ambos foram uma possibilidade para ela.
O que ela deveria ter feito, naquele dia, naquela hora? O que ela havia de ter
feito?
Se.
Se ela tivesse acabado sua primeira aventura com sucesso…
Ela certamente não conheceria nenhum dos amigos que tinha atualmente. E
então, o que teria acontecido na sua luta nas ruínas subterrâneas ou com o senhor
goblin?
O que seria da cidade, as pessoas na fazenda, todos os seus amigos, todos os
conhecidos dela, todos os aventureiros? E ele, Matador de Goblins? Teria ele
sobrevivido?
Sacerdotisa não era egoísta o suficiente para acreditar que ela salvou a vida dele,
mas…
— Ele não é tal pessoa ruim.
Ela passou a mão em sua cintura, onde ele tinha envolvido o braço há não muito
tempo. Comparado ao seu braço, ela parecia fina e frágil. Ele parecia como um
herói — e às vezes um demônio vingativo — mas, ele provavelmente não era
uma coisa nem outra.
— ……
A dada altura, Sacerdotisa puxou os pés para cima do banco e se contraiu em
uma bola. Sua cabeça estava flutuando agradavelmente com o vapor, e
pensamento atrás de pensamento vagueavam através dela como bolhas na
superfície da água. Se entregando a eles, ela sentiu uma combinação incomum
de conforto e impaciência.
Era como acordar mais cedo do que o habitual em um dia em que ela não tinha
de trabalhar. Ela podia simplesmente adormecer assim. Mas talvez seria melhor
para ela se mexer e se levantar. Ela tinha de fazer alguma coisa. Sentia que havia
algo que ela tinha que fazer…
— O que devo fazer…?
— Sobre o quê?
— Masoque!
Quando uma voz suave respondeu seu murmuro abatido, Sacerdotisa se levantou
tão rapidamente que as bolhas se espalharam por toda parte. Seus olhos se
lançaram para ver um corpo tão rechonchudo quanto uma fruta madura.
— Hee-hee. O sangue vai subir à cabeça a esse ritmo.
— M-me desculpe, eu estava apenas pensando em voz alta…
Sacerdotisa curvou apressadamente a cabeça para a arcebispa de pé diante dela,
Donzela da Espada.
— Não tem problema — disse ela balançando a cabeça, o que fez ondas pelos
seus lindos cabelos dourados. — Pelo contrário, perdão por assustá-la. Meus
deveres me deixaram lenta…
Sacerdotisa se viu encantada pela mulher. Ela não usava mais do que um fio de
roupa, mas ela não tentou se cobrir, nem mostrou qualquer preocupação com sua
nudez. Ela era tão bem-dotada que nem sequer uma mulher podia se forçar a
desviar o olhar. Sua única cobertura, o pano sobre seus olhos, a fazia de alguma
forma unicamente sedutora. A atmosfera era praticamente reverente: Seu corpo,
que difundia à luz do sol e a sombra, a fazia diferente e puramente linda a cada
momento. Não apenas isso, o vapor em seu corpo ressaltava o resplendor em sua
pele, tanto que mesmo Sacerdotisa se encontrou engolindo em seco
intensamente.
Mas…
— Hum… são essas…?
A voz de Sacerdotisa falhou.
Linhas brancas ténues percorriam o corpo senão perfeito de Donzela da Espada.
Muitas, muitas delas estratificadas mutuamente. Algumas estreitas, outras
grossas, longas e curtas. Algumas fluíam direto como uma flecha, e outras faziam
padrões como se foram forçadas e puxadas. A ligeira coloração rosa de sua pele
fazia elas destacarem ainda mais.
Tatuagens? Não, não podiam ser. Elas eram…
— Ah, essas…
A arcebispa localizou uma linha torta que percorria por todo seu braço com o
dedo branco e fino. Quando a ponta do dedo pressionou contra a pele suave, ela
quase parecia estar se cariciando carinhosamente.
Sacerdotisa só tinha visto isso em livros, mesmo assim ela olhou para baixo
timidamente. Ela não conseguia continuar a olhar para elas.
— As marcas de um erro.
Donzela da Espada sorriu, falando das cicatrizes por todo seu corpo como se não
valessem ser notadas. A expressão pareceu surgir por conta própria.
— Eles me golpearam na cabeça, por trás… Isso foi há mais de dez anos.
— Ah, hum, eu…
Sacerdotisa agora entendeu muito bem o que isso significava. O que ela deveria
dizer? Como deveria dizer? Sua voz estava tensa, e ela não olhou para a outra
mulher.
— Você está… bem… agora?
Donzela da Espada parou de se mexer por um segundo. Se seus olhos não
estivessem escondidos, Sacerdotisa certamente teria visto ela piscar. — Você é
uma pessoa gentil, não é? — disse ela calmamente, e sua expressão desapareceu
até que ela parecesse uma escultura. — A maioria, quando conto, diz que sentem
muito.
— Eu… Eu só…
…não consegui pensar em mais nada para dizer, pensou Sacerdotisa, mas as
palavras pararam em sua garganta.
Ela mal conseguia dizer isso para Donzela da Espada.
— Hee-hee… Não se preocupe.
Donzela da Espada alcançou e pegou um ramo de bétula. Seus movimentos eram
tão elegantes e precisos que alguém nunca poderia imaginar que os seus olhos
estavam cobertos. Então, ela bateu o ramo como um chicote contra si mesma,
um pequeno “hmm!” escapou dos seus lábios. Sacerdotisa afastou seus olhos,
mas não pôde deixar de olhar, olhar e olhar.
Donzela da Espada finalmente parou de bater com o ramo em si mesma, quando
ela percebeu que Sacerdotisa estava olhando.
— Com esses olhos… — murmurou Donzela da Espada, pondo sua face perto
de Sacerdotisa.
Sacerdotisa engoliu em seco, silenciosamente.
— Com esses olhos, eu vejo muitas coisas… Uma grande quantidade de coisas.
Sacerdotisa deixou escapar uma respiração estrangulada pelo seu nariz. Uma
sensação de meia embriaguez tomou conta dela, não muito diferente de quando
ela cheirou o doce aroma floral.
— Coisas que você não pode imaginar…
— Ah…
Então, assim de repente, Donzela da Espada deixou Sacerdotisa cheia de temor
e se retirou para a sauna fumegante do banheiro. Ela se envolveu nas nuvens
como uma garota tímida. As ondas do seu cabelo cor de linho eram meras
sombras agora.
— Aquele homem com você…
— O que…?
Sacerdotisa balançou a cabeça para limpar a bruma quente de sua mente.
— Matador de Goblins, não era assim que se chamava? Ele parece uma pessoa…
muito fiável.
— Ah, uhm, hum-hum… Sim. Ele realmente é.
Sacerdotisa tinha o ar de uma criança inocente revelando um tesouro. As
extremidades dos lábios de Donzela da Espada se tornaram levemente em um
sorriso encantador.
— Estou muito feliz que suas investigações parecerem prosseguir sem
problemas.
— Mas… — acrescentou ela, o que lembrava a franqueza dele. — … Sem
dúvida, ele um dia, também desaparecerá.
Sacerdotisa engoliu em seco, delicadamente.
Ela me vê.
Ela podia sentir aqueles olhos sem visão em si; isso fez sua pele arrepiar. Os
olhos de Donzela da Espada estavam cobertos. E ainda assim, Sacerdotisa sentiu
que Donzela da Espada estava olhando diretamente para ela, para as profundezas
do seu coração…
— A-ahn, eu… eu…!
— Sim. É melhor sair do banho antes que fique tonta.
Sacerdotisa tinha parado sem se dar conta. Donzela da Espada lhe deu um longo
e lento aceno, e Sacerdotisa saiu do banheiro, tropeçando ligeiramente nos pisos
brancos escorregadios, desesperada para fugir daquele olhar.
Ela não sabia bem como tinha conseguido secar a si mesma ou vestir seu pijama
depois que chegou ao vestiário. Ela só sabia que repentinamente, estava de pé no
corredor do Templo da Lei, com a brisa da noite soprando à sua volta.
Às vezes, durante à noite, a chuva mitigava, revelando um céu estrelado, bonito
e gelado. As luas gêmeas pareciam emitir um frio, embora fosse verão. Olhando
para elas, Sacerdotisa se abraçou e tremeu.
Ela sabe.
Isso veio como um lampejo de compreensão, como uma revelação.
Aquela mulher sabe.
Sabe o que?
Sobre os goblins.
Ela sentiu um frio em seu coração muito maior que a da sua pele.
— Opa, aqui está.
Orcbolg — ou seja, Matador de Goblins — disse que deviam se encontrar na
Guilda dos Aventureiros.
Estava, é claro, próximo ao portão da cidade; maior que a guilda na cidade
fronteiriça, mas, menor que o Templo da Lei. Havia um escritório administrativo,
taverna e pousada, juntamente com uma fábrica e várias outras instalações. Tudo
como a guilda da cidade fronteiriça, mas essa aqui era muito diferente na
aparência.
Era construída com pedra branca, que a concedia um ar de tranquilidade. Parecia
que podia ser confundida com um banco. Não que Alta-Elfa Arqueira tinha ido
alguma vez em um banco. O que a surpreendeu em vez disso era o tamanho do
local.
— Uou, olhe para lá. É uma alta-elfa…!
— Nem pensar. Nunca vi uma antes!
— Uau! Que espécime! E não quero dizer apenas como uma elfa!
Ela estivera nessa cidade antes, mas os aventureiros próximos ainda a
observavam com fascinação. Suas bocas diziam tudo que queriam, e seus olhos
a secaram com seus olhares de curiosidade ou luxúria.
— ……
Alta-Elfa Arqueira franziu a testa bem ligeiramente. Nunca tinha a incomodado
antes, mas ela tinha se habituado com sua vida confortável na cidade fronteiriça.
Isso é um pouco… desconfortante.
Talvez porque, ao contrário da pequena cidade fronteiriça, essa era uma cidade
grande e desenvolvida.
Tinha um número grande de aventureiros circulando à volta. Alta-Elfa Arqueira
olhava em volta com suas orelhas balançando.
— Vejamos, onde está Orcbolg…? Ah, ali está ele!
Não havia como confundir aquele capacete de aparência barata e a armadura
encardida. Matador de Goblins estava sentado rigorosamente em um banco no
canto do local, com os braços cruzados. Era assim que ele sempre se sentava, se
não fosse no lugar de sempre, não seria ele. Mas, havia outras coisas que eram
diferentes do costume.
Um grupo sussurrava, gozando claramente dele. Talvez eles pensassem que ele
não ouvia, mas para as orelhas compridas de Alta-Elfa Arqueira, suas vozes eram
tão claras como se estivessem gritando.
— Céus, qual é a dessa imundice aí?
— Sim, qual rio ele lavou isso? Por favor. Temos normas por aqui!
Alta-Elfa Arqueira olhou para eles e deu um “hmph”. Ela não gostava nada disso.
Ela atravessou o salão em direção ao banco, como se vagando pelos olhares dos
aventureiros, e pisou deliberadamente ao longo do caminho de uma forma
bastante contrariante a seus habituais passos silenciosos.
— Desculpe por ter feito você esperar, Orcbolg.
Então, ela se sentou ao lado dele, bem ao lado dele. Ela se aninhou para seu lado.
Como uma gata, ela assistiu um sussurro entusiasmado atravessar a multidão de
aventureiros e sorriu. Isso ia mostrar a eles. Alta-Elfa Arqueira disse baixinho:
— Sinto muito. Eu meio que adormeci. Você foi capaz de enviar a carta?
— Sim — respondeu ele, suavemente.
Bem, não tinha parecido estar zangado com ela. Isso a ajudou a relaxar só um
pouco. Então ela não tinha de se preocupar também.
Sabendo ou não o que ela estava pensando, ele mostrou seu recibo para Alta-Elfa
Arqueira. Ele exibia um lacre indicando que a carta foi aceita.
— Encontrei um aventureiro indo na direção, então eu pedi a ele para fazer isso.
Eu já paguei ele também.
Havia um sistema de correio, para onde a estrada fosse, um cavalo correio
poderia ir. A maioria das correspondências eram assim, mas, com um pouco de
dinheiro, você podia ainda contratar um aventureiro.
Afinal, aventureiros eram apenas valentões com armadura, armas e força. Se
você pagasse eles o suficiente, eles iam levar a sua carta até o seu destino,
especialmente útil em emergências ou se a carta tinha de chegar a algum lugar
remoto e o correio não podia chegar. E se você apresentasse a missão pela guilda,
eles confirmariam quando estivesse concluído. Isso ajudava a impedir que os
mensageiros fugissem com seu item ou apenas jogasse a carta longe e fingisse
que tinham entregado.
Claro, alguém nunca confiaria a um jovem valentão desconhecido uma entrega
importante, por mais forte que ele fosse. Uma das vantagens do sistema de
classificação da guilda era saber quem confiar suas encomendas.
— Agora que penso nisso, nunca escrevi uma carta — disse Alta-Elfa Arqueira,
acrescentando um “hmm” enquanto olhava atentamente o formulário da missão.
— O que foi que escreveu? Relatando que você fez com segurança?
— Sim, de certa forma.
An-ham…
Ela tinha a certeza que entendeu, e isso trouxe um leve rubor a suas bochechas.
Alta-Elfa Arqueira quase jogou o recibo de volta para ele. Ele deve ter escrito
para aquela garota da fazenda. Tenho certeza disso. — Caramba, Orcbolg, então
você tem um lado gentil.
— Tenho?
— Claro.
— Na verdade…
An-ham, an-ham. As orelhas de Alta-Elfa Arqueira se moviam para cima e para
baixo alegremente; ela estava bastante impressionada com a conclusão que ela
tinha precipitado.
— Certo! — Ela se levantou do banco, se sentindo renovada.
Seu cabelo voou para trás quando se estirou, se esticando como uma estrela
cadente.
— Você precisa fazer algumas compras, Orcbolg? Uma arma ou algo assim?
— Sim.
Matador de Goblins assentiu, então se levantou lentamente. Ele tocou o seu
quadril com a mão. Ele indicou a bainha, geralmente ocupada pela sua espada
com um comprimento estranho, ou algum outro armamento rudimentar. Durante
a aventura do dia anterior, sua habitual disposição para lançar inabalavelmente
suas armas acabou o deixando sem.
— Não confio em uma adaga… Você vai comprar roupas?
— Claro. Esse esgoto cheira mal. Eu ia detestar se o fedor se impregnasse em
mim… — Você é o único que não parece se importar. Alta-Elfa Arqueira
entrecerrou os olhos para ele. — Você me banhando com entranhas de goblins
foi muito pior, no entanto.
— Tsc… — grunhiu silenciosamente Matador de Goblins, ainda de pé à frente
dela. — Se isso chateou tanto você, eu deveria pedir desculpas?
— Vá em frente. Não me importa. — Ela deu um simples e leve aceno com a
mão. Calmíssima. — Eu acho que se pedir desculpas, provavelmente poderei
parar de falar nisso.
— …Entendi.
Sua resposta, é claro, era a mesma de sempre.
Assim como o ambiente na Guilda. A multidão de aventureiros, funcionários,
todos estavam olhando para eles com curiosidade. E alguns, porventura, com
inveja. O que uma alta-elfa faz com um vagabundo desse? Todos tinham suas
próprias teorias. Houve algum engano, ou alguém estava tendo. Assim
sucessivamente.
— Eu notei — disse Matador de Goblins, discretamente, e cada ouvido presente
tentou escutar o que viria a seguir — que apesar dos esgotos, não existem missões
de extermínio de ratos gigantes.
— Hum. Agora que falou nisso, acho que tem razão.
Quando ela esticou o pescoço para olhar o quadro de missão, Alta-Elfa Arqueira
notou alguns risos abafados. Mesmo que eles não falassem, suas expressões
diziam tudo. Rapaz do campo. Ela conseguia os ver olhando praticamente de
maneira esnobe. Você acha que haveria ratos em nossos esgotos? Em uma cidade
tão bonita?
Mas, Alta-Elfa Arqueira apenas deu uma pequena gargalhada contente e olhou
em volta.
— Bom, devemos ir?
Quando, com um sorriso, ela pegou a mão de Matador de Goblins, o sussurro se
tornou um rugido. Ela gostou disso mais do que podia dizer. A sensação da luva
de couro áspera dele em sua mão era nova, também, e seu sorriso só se ampliou.
— Ei, eu quero fazer uma pergunta a você.
Em pouco tempo, eles estavam de volta à estrada que ela tinha vindo pouco
tempo antes, voltando para a cidade.
— O que?
— Você precisa de roupa íntima aí em baixo? — Sempre quis saber.
Matador de Goblins deu um grande suspiro incomum para as palavras dela.
— Não me pergunte.
Alto-elfos gostavam de perguntar o que quisessem, é claro, ela deu pouca atenção
à sua reação. Segurando sua mão enluvada com uma espécie de fascinação, ela
olhou para seu rosto.
— Então. Só uma espada que você precisa, Orcbolg?
— Não. Algumas outras coisas também.
— Hmm.
Alta-Elfa Arqueira voltou a pensar em tudo no saco de itens de Matador de
Goblins.
Todos os itens que não conseguiu identificar, todas as coisas que nunca tinha
visto. Todos os equipamentos que ela gostaria de conhecer a sensação. Uma
curiosidade irresistível surgiu em seu pequeno peito, e sem um pingo de
relutância, ela sorriu e perguntou:
— O que vai comprar?
Capítulo 5: Avance Até a
Morte

— Então, qual é a dessa coisa, afinal?


No dia seguinte, de volta nos esgotos mais uma vez, a elfa estava olhando para
Matador de Goblins com uma mão na cintura. Ele tinha uma nova espada no
cinto, com um tamanho naturalmente curioso, e uma gaiola pequena pendurada
ao lado de sua bainha.
Dentro dela, um pássaro pequeno com penas verde-claro cantava animadamente.
O som não parecia apropriado nos esgotos poluído.
Matador de Goblins lhe deu um olhar intrigado.
— Não conhece esse pássaro?
— Claro que sim.
— É um canário.
— Eu disse que sei qual é — respondeu Alta-Elfa Arqueira, com as orelhas para
trás.
Ao lado dela, Anão Xamã tentou conter uma risada.
— Você esteve perturbada com isso desde ontem à noite, não é? — disse o anão.
— Não te incomoda? É um passarinho! Um canário pequeno!
Eles prosseguiam devagar e calmamente nos esgotos, através da escuridão, mas
sua raiva não seria legal. Suas orelhas longas, perfeitas para exploração,
balançavam impacientemente para cima e para baixo. Por um segundo, seus
olhos em forma de amêndoa se fixaram rapidamente em Matador de Goblins
atrás dela.
— Bem, isso não irá nos destruir se tocarmos, certo? Como o seu pergaminho?
— Acredita que canários são mortais às pessoas?
As orelhas de Alta-Elfa Arqueira se ergueram com vigor, e Anão Xamã deixou
escapar uma risada baixa.
— M-Matador de Goblins, senhor, não acho que é isso que ela quis dizer… —
interrompeu Sacerdotisa, incapaz de deixar isso passar.
Ela caminhava no meio da fila, segurando seu cajado com as duas mãos.
— O que?
Matador de Goblins olhou para trás, ela se viu olhando para seu capacete de
metal. Ela ficou subitamente sem palavras.
Tinha passado uma noite desde o banho. Ela não tinha dormido nada essa noite,
mas quando teve de acordar de manhã… nada. Talvez todo o seu nervosismo
tivesse simplesmente lhe dado um arranjo estranho de imaginação.
Donzela da Espada tinha aparecido no café da manhã, e disse uma palavra de
agradecimento ao grupo quando ela passou por eles. Todos os indícios da
indecência da noite anterior tinham desaparecido de sua aura, como se nunca
tivesse estado lá.
Sim… não deve ser nada. Nunca foi.
Apenas um erro de sua parte. Claro que era. Tinha de ser…
— Qual é o problema?
— Ah, nada…
Sacerdotisa ficou rígida com a questão breve e silenciosa de Matador de Goblins.
Ela expirou suavemente.
— Digo, o que quero dizer é, por que você trouxe um canário com a gente?
Ela olhou para a gaiola. A criatura cor de grama estava saltando alegremente para
cima e para baixo em um galho.
— Quero dizer, ele é bonitinho, mas…
O homem na frente dela era Matador de Goblins. Ele não era um ser frívolo ou
irracional quando se tratava de matar goblins.
— Canários fazem barulho quando sentem gás tóxico.
— Gás tóxico…?
Matador de Goblins assentiu, explicando com seu típico tom desapaixonado:
— Os goblins nesse ninho são instruídos. Não me surpreenderia se tivessem
colocado armadilhas tais como encontrei em antigas ruínas.
— Agora que falou nisso, os mineiros humanos não usam aves para detectar ar
ruim subterrâneo? — Anão Xamã deu um aceno em conhecimento, segurando
seu saco de catalisadores. — Em geral, os anões são menos preocupados com
gás tóxico do que sobre dragões vindo atrás de nossos tesouros.
— Ah, sério? — Alta-Elfa Arqueira sorriu enquanto espreitava ao redor de uma
esquina, depois fez sinal para os outros a seguir.
Matador de Goblins seguiu atrás dela, dando passos lentos e cuidadosos. Ele
tinha uma mão em sua espada. A outra segurava uma tocha e seu escudo estava
fixado no braço. Como sempre.
— Uma vez ouvi de um reino anão que foi destruído quando eles escavaram
sobre alguns demônios subterrâneos — disse Matador de Goblins.
— …Bem, isso está destinado acontecer uma vez ou outra — disse Anão Xamã
melancolicamente e ficou calado. Parecia que Matador de Goblins tinha atingido
um ponto fraco.
Sempre tem sido o destino dos países ruírem, prosperarem, guerrearem e ruírem
outra vez por todos os tipos de razões. Nesse mundo o que jamais faltara eram
terras ricas e arruinadas.
— Entendo — disse Lagarto Sacerdote, sua cauda balançava por trás dele. — E
se me permite perguntar, meu senhor Matador de Goblins, onde você obteve tais
conhecimentos?
— De um mineiro de carvão — disse ele, como se fosse óbvio. — Há vários
nesse mundo que sabem muito sobre o que eu não sei.
Depois de alguns minutos andando, eles chegaram a um caminho sem saída,
embora não fosse um natural. O caminho estava bloqueado por um canal tão
amplo quanto um riacho, e alguma coisa tinha destruído ou arrancado a ponte de
pedra que tinha uma vez o cruzado.
Alta-Elfa Arqueira levantou o polegar e esticou o braço, olhando a distância.
— Talvez sejamos capazes de saltar, se precisarmos.
— Algum outro caminho? — perguntou Matador de Goblins.
— Vejamos… — Houve um farfalhar quando Lagarto Sacerdote desdobrou o
mapa velho. Os desenhos antigos estavam cobertos de uma série de marcas
novas, refletindo as descobertas dos aventureiros. Ele traçou os trechos e cursos
de água com sua garra, depois balançou lentamente sua cabeça.
— Esse canal largo parece dividir tudo. Apesar de existir a possibilidade de uma
das outras pontes estar intacta.
— Uma pequena esperança. — Com alguma surpresa, Anão Xamã se inclinou
sobre a água e tocou a pedra quebrada.
— Uou, não caia — disse Alta-Elfa Arqueira, agarrando ele pelo cinto.
— Desculpa… Hum. Isso é obra de uma inundação ao longo de muitos anos. Ela
não a levou ontem mesmo. — Murmurando, Anão Xamã voltou para o corredor.
Ele mostrou a todos um pouco dos destroços que ele tinha coletado, então
esmagou eles com a mão.
— Meu palpite é que as outras pontes estão mais ou menos na mesma condição.
— Então, pulemos — disse Matador de Goblins, sem hesitação. — O primeiro a
subir carrega uma corda. Uma corda salva-vidas.
— Eu… Eu tenho uma corda — disse corajosamente Sacerdotisa, e pegou um
rolo de corda completo com gancho de sua bolsa.
Era exatamente como a sua que deveria ser enrolada cuidadosamente. E isso foi
um testemunho da sua verdadeira força que parecia nunca ter sido utilizada.
— Oh, o Conjunto de Ferramentas de Aventureiro — disse Alta-Elfa Arqueira
com entusiasmo enquanto entrecerrava os olhos e espreitava a bolsa de
Sacerdotisa.
Tinha um bocado de equipamentos destinados aos aventureiros novatos,
contendo tudo o que deveriam precisar em seu trabalho. Corda com gancho,
vários pedaços de correntes e um martelo. Caixa de fogo. Mochila e odre.
Utensílios para comer, giz, uma adaga, etc.
— Ficariam surpreendidos com o quão inútil são a maioria dessas coisas. Exceto
o gancho.
— Mas, quando você vai se aventurar, não deveria ir sem eles.
— Hum — suspirou Alta-Elfa Arqueira, depois agarrou no fim da corda que não
tinha o gancho. Ela deu um ou dois passos para trás, então correu mais rápido
que uma corça.
— Então, Orcbolg.
Ela saltou e caiu do outro lado sem fazer barulho, depois amarrou a corda em
uma de suas flechas e a disparou entre os ladrilhos.
— E quanto aquele pergaminho Portal? Aprendeu de alguém também?
— Uma vez ouvi sobre alguém que tentou utilizar Portal para ir a uma ruína
submersa, e a água o matou.
Aquela mulher — ou seja, Bruxa lá da Guilda dos Aventureiros — deve ter lhe
contado a história.
Com um sinal para Alta-Elfa Arqueira, Matador de Goblins agarrou a corda e
saltou para o outro lado. Ele fez um grande som abafado quando aterrissou, como
era de esperar de uma pessoa com armadura completa.
— Impressionante — disse ele quando entregou a corda de volta a Alta-Elfa
Arqueira, que a lançou de volta ao outro lado.
— Você realmente fará qualquer coisa para matar goblins, não é?
“Claro” foi tudo o que ele disse.
Ele deve ter concluído que o interrogatório tinha acabado, pois ele ficou em
silêncio e começou a olhar em volta por todo o lugar.
— Você pode saltar, moça? Eu serei ajudado por Escamoso…
— Ah, certo. Bem, hum, sou a próxima, eu acho.
Com o pedido de Anão Xamã, Sacerdotisa que, de certa forma, estava olhando
vagamente ao redor, pegou apressadamente a corda. Ela recuou para começar a
correr, depois saltou com um pequeno grito, com sua expressão se distorcendo
só um pouco.
Ele colocou armadilhas e matou crianças sem hesitação; ele era preparado e
implacável. Para ela, ele parecia muito como um goblin. Talvez ele soubesse isso
melhor que ninguém.
Sem dúvida, ele um dia, também desaparecerá.
A voz densa e doce veio espontaneamente, atravessando como um rio antes de
desaparecer lentamente.
A investigação dos esgotos foi mais suave que a do dia anterior. Isso foi em parte,
devido terem uma melhor compreensão dos caminhos, mas, mais do que isso,
eles tinham mudado sua filosofia.
Matador de Goblins estava determinado a evitar completamente qualquer
encontro com os goblins. Ele andava com o seu passo despreocupado, segurando
a tocha e se esgueirando como um gato. Alta-Elfa Arqueira parecia estar
seguindo atrás dele; seus passos eram tão leves quanto uma pena. Às vezes
passavam despercebidos por patrulhas de goblins; outras vezes, eles escolhiam
rotas sem goblins.
Sacerdotisa, Anão Xamã e Lagarto Sacerdote seguiam atrás deles através dos
corredores.
— Nunca pensei que alguma vez o veria deixar um goblin ir, Orcbolg —
sussurrou Alta-Elfa Arqueira.
— Não vou deixar eles irem — respondeu ele, se pressionando contra a parede
e espiando uma esquina. — Primeiro, cortemos o cabeça. Abatemos o resto
depois.
— Me pergunto se é outro senhor goblin ou ogro — murmurou Sacerdotisa
ansiosamente, mas Matador de Goblins apenas balançou a cabeça e disse: — Não
sei.
Goblins estavam no fundo da hierarquia dos monstros. Quase todos os tipos de
criaturas poderia estar os liderando. Um elfo escuro, algum tipo de demônio,
mesmo um dragão…
— Suponho que não servirá de nada ficar pensando sobre isso. — Lagarto
Sacerdote pegou o mapa dobrado de sua bolsa e o abriu agilmente com suas
garras. Graças a sua excelente visão noturna, que herdou de seus antepassados,
ele podia ler mesmo na ausência de uma luz.
— Acho que não vislumbramos ainda sequer a sombra da cauda daquele que está
por trás disso.
— O que quer dizer — disse Anão Xamã — é que temos de continuar indo mais
para dentro.
— Mais rio acima, para ser preciso. — Matador de Goblins tinha parado e estava
segurando a tocha sobre o mapa para ler. Ele traçou um caminho com o dedo
enluvado. Seguiu o canal adiante, passando o local do seu combate aleatório do
dia anterior.
— Seus barcos vieram bem mais além do rio de esgoto. É seguro presumir que
eles têm uma base em algum lugar nessa direção.
— Se continuarmos rio adiante… quer dizer que vamos sair desse mapa, certo?
— O dedo branco de Sacerdotisa seguiu ao longo do papel de Matador de
Goblins.
O mapa que Donzela da Espada tinha lhes dado era só do esgoto da cidade, afinal.
Ele mostrava apenas uma fração das ruínas imensas que se espalhavam por
debaixo da cidade da água.
— Vamos ficar bem?
— Não faremos nada estúpido.
Sacerdotisa ajustou seu cajado nas mãos, incapaz de se acalmar, mas Matador de
Goblins estava firme.
Não era claro se isso estava fora da consideração por ela. Mas, na visão do seu
semblante imutável, as bochechas tensas de Sacerdotisa relaxaram e ela sorriu.
— É verdade, está correto. Não vamos fazer nenhuma loucura ou bobagem.
Ela segurou seu cajado firmemente, forçou seus joelhos a não tremer e olhou em
frente.
— Rio acima, né? Vai ser por aqui. — Alta-Elfa Arqueira continuou, com as
orelhas saltitando, sem um momento de relutância, e o resto do grupo a seguiu.
Pouco tempo depois, assim que eles chegaram bem no limite do mapa, a
atmosfera mudou visivelmente. O corredor simples de pedra se mostrou uma
galeria coberta de pinturas na parede. O pavimento coberto de musgo se tornou
de mármore rachado. Até a água passou de poluída para limpa. Isso obviamente
não era mais um esgoto.
— Há vestígios de fuligem aqui.
Matador de Goblins, estudando atentamente as pinturas na parede, segurou a
tocha no alto e apontou para uma mancha perto do teto.
Alta-Elfa Arqueira ficou na ponta dos pés para ver.
— Quer dizer que costumava ter luzes?
— Há muito tempo. — Matador de Goblins assentiu, limpando um pouco da
fuligem de seu dedo. — Goblins têm visão noturna excelente. Eles não usam
luzes.
— Hmm…
Lagarto Sacerdote se inclinou em direção a parede, e deu a uma das pinturas, um
arranhão atencioso com sua garra. Humanos, elfos, anões, rheas, homens-lagarto,
homens-fera; todas as raças que possuíam palavras estavam representadas em
equipamentos completos, velhos e jovens, homens e mulheres.
— Guerreiros ou soldados… não.
Suas roupas não eram homogêneas o suficiente para ser de soldados.
Mercenários, talvez, ou…
— Aventureiros.
— Já tinha ouvido que costumava ser bastante animado por essas bandas — disse
Anão Xamã, de pé ao lado dele e seguindo as pinceladas atentamente com os
olhos. A pintura, que resistiu ao longo de muitos anos, descascava ao menor dos
toques. — Esse estilo de pintura não tem estado presente atualmente há
quatrocentos, quinhentos anos.
— Oh — disse Sacerdotisa, olhando ao redor — isso poderia ser…
A galeria cuidadosamente construída. As figuras pintadas. A água limpa. Se
parecia muito como um lugar que ela conhecia muito bem. Tranquilo, silencioso,
não transgredido. Não um templo…
— …um cemitério, talvez?
Catacumbas.
Era isso; ela estava convencida. Ela esfregou as pinturas — as pessoas — com
sua mão delicada. Eram aqueles que tinham lutado ao lado da ordem na Era dos
Deuses, esse era o lugar de descanso deles. Ela caiu de joelhos em luto por todos
os que tinham vindo antes e se agarrou ao cajado.
Alta-Elfa Arqueira ficou próxima de Sacerdotisa enquanto ela rezava pelo
descanso dessas almas, como se a protegendo. Seus ombros encolheram.
— Isso é um ninho de goblins agora.
Suas palavras evocavam uma pitada de tristeza quando ecoaram por um
momento e depois se dissiparam. Para os elfos, que viviam milhares de anos,
mesmo a Era dos Deuses não parecia ter sido há tanto tempo. Ou talvez, ela
estava comovida por estar de pé entre os túmulos dos guerreiros que sua mãe e
seu pai lhe tinham contado em histórias.
— “Mesmo os bravos são finalmente trazidos abaixo”, hã…?
— Isso não importa agora.
Matador de Goblins interrompeu as ruminações sombrias das meninas. Ele
sondou rapidamente a área, e quando ele estava satisfeito que não havia ameaça
iminente dos goblins, ele começou uma caminhada vigorosa.
A reação foi realmente muito parecida com ele. Alta-Elfa Arqueira e Sacerdotisa
olharam uma para a outra.
— O que acha disso?
— Eu acho… que ele ainda é o nosso Matador de Goblins.
A resposta de Sacerdotisa foi uma mistura de resignação e afeto.
Alta-Elfa Arqueira se pôs de pé graciosamente e caminhou atrás do guerreiro;
Sacerdotisa por trás de ambos.
— Hmm. Nunca ninguém acusou Corta-barba de paciência excessiva. — Anão
Xamã seguiu depois dando um bufo. — Você vai provavelmente assustar aqueles
pequenos demônios só por aparecer.
— Isso seria um problema — disse Matador de Goblins calmamente. — Odeio
quando eles correm.
O grupo deu um sorriso cansado com sua resposta extremamente séria, e então
voltou a caminhar, para as catacumbas.
Tudo acerca da arquitetura era diferente dos esgotos. O caminho retorcia
confusamente, virando de volta a si mesmo, se ramificando, como um labirinto.
De cima, as catacumbas poderiam parecer uma teia de aranha.
— Elas devem ser construídas assim para confundir alguns monstros que vagam,
para evitar que eles perturbem os guerreiros mortos — explicou Anão Xamã,
com um assobio impressionado. Até os melhores pedreiros anões não teriam
achado algo simples criar corredores como esses. — Vagar por esse lugar como
um espírito perdido… isso seria um destino cruel.
— Sim, pois isso remove um dos ciclos de morte e renascimento — disse Lagarto
Sacerdote. — Mas, esse lugar já caiu nas mãos dos goblins.
Não havia dúvidas de que o lugar tinha se tornado um terreno fértil para o caos.
— Acima de tudo… — murmurou Lagarto Sacerdote, adicionando alguns traços
de carvão ao velino — o esquema de um mapa não pode ser feito
desinteressadamente. Cada um de nós deve se manter vigilante.
— Bem, essa sala primeiro, eu acho.
Segurando seu cajado com as duas mãos, Sacerdotisa olhou para a porta grande
e grossa. Era de um ébano do céu noturno, enfeitado com uma borda de ouro e
parecia desafiar a passagem do tempo. Miraculosamente, por estar em tal lugar
úmido, a porta não mostrava sinais de apodrecimento ou desgaste. Era
claramente encantado com alguma magia antiga. Com exceção de um pouco de
ferrugem ao redor da fechadura, não havia nenhum arranhão.
— Não está trancada — disse Alta-Elfa Arqueira. — E não parece ter nenhuma
armadilha, pelo menos não na porta em si. — Ela terminou de inspecionar a
fechadura, assentiu levemente e pisou ao lado. — Isso não é minha especialidade,
no entanto. Então não me culpem se algo correr mal.
— Aqui vou eu — declarou Matador de Goblins, depois chutou a porta da câmara
funerária.
Os aventureiros entraram na sala como uma avalanche.
Uma vez que estavam dentro, Anão Xamã martelou uma cunha debaixo da porta
para a manter aberta. Ele sempre tinha a ferramenta em mãos contra eventuais
situações inesperadas, e a forma fácil que ele a usou, sugeria uma longa
familiaridade.
Lagarto Sacerdote manteve sua arma preparada para proteger Anão Xamã de
qualquer emboscada. Enquanto o anão trabalhava, era a função de Alta-Elfa
Arqueira verificar a sala.
A câmara funerária tinha dez pés quadrados, pavimentado com nove fileiras de
três. Alta-Elfa Arqueira se virou para examinar a sala, com uma flecha preparada
no arco…
— Olhem para aquilo!
— Que horror…!
Alta-Elfa Arqueira e Sacerdotisa engoliram em seco, com expressões claras de
nojo em seus rostos.
A sala estava vazia, salvo vários caixões de pedra. Ao centro, uma forma estava
à vista pela luz fraca da tocha. Alguém estava amarrado, com as pernas e braços
estendidos como que para expor deliberadamente.
A forma parecia ser uma figura humana, com a cabeça baixa de exaustão, uma
mulher de cabelo comprido. Ela usava uma armadura metálica desbotada. Talvez
ela fosse uma dos aventureiros que tinha ido antes deles e não voltaram.
— Matador de Goblins, senhor!
— Não há uma alternativa…
Com a permissão de Matador de Goblins, Sacerdotisa correu para a mulher
cativa.
Ela se ajoelhou e perguntou: — Olá? Olá? Está tudo bem? — Não houve
resposta.
A mulher nem mesmo olhou na direção de Sacerdotisa. Sua cabeça estava
simplesmente lá abaixada.
Ela tinha perdido toda a força? Ou ela estava…?
— …! Eu… Eu vou tentar te curar…!
Sacerdotisa pôs de lado seu medo do pior e começou a rezar à Mãe Terra para a
cura.
— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, coloque tua venerável mão sobre…
Com um leve sibilo, o cabelo da mulher caiu no chão, bem à frente de Sacerdotisa
que levantou as mãos para invocar o milagre.
Olhos vazios olharam para ela.
Isso foi uma pessoa.
Foi.
Um esqueleto velho, disfarçado com a pele de uma mulher que fora
presumivelmente esfolada viva.
— Isso é ruim! Isso… isso é muito ruim!
Sacerdotisa deu um grito falho.
Ao mesmo instante, a entrada selou com um choque.
A cunha ressoou através da sala, gozando deles.
— Hrr…!
Lagarto Sacerdote investiu imediatamente para a porta com o ombro, mas ela
não se moveu.
— Isso é um problema! Acho que a porta foi obstruída!
— Vem cá, Escamoso! Talvez você e eu juntos…!
Lagarto Sacerdote e Anão Xamã se chocaram contra a porta com todas as suas
forças. Ela rangeu, mas não se moveu. Não mostrando sinal algum de abrir.
— GROOROOROROB!!
— GORB!! GORRRRB!!
Vozes estridentes ecoaram do outro lado da parede de pedra, zombando dos
esforços fúteis dos aventureiros.
Alta-Elfa Arqueira mordeu os lábios.
— Goblins…!
— Então eles nos apanharam — disse Matador de Goblins com aborrecimento.
Eles deviam ter esperado isso. Os goblins dificilmente poderiam deixar passar
um grupo de aventureiros invadindo sua casa.
Encurralar uma presa cautelosa era difícil. Era muito mais fácil emboscar elas,
montar uma armadilha. Os goblins sabiam que nenhum aventureiro deixaria uma
mulher em apuros.
De vez em quando, a perspicácia cruel em suas cabecinhas podia ultrapassar
mesmo a de um humano. Isso, juntamente com as suas fertilidades, era o que lhes
permitia sobreviver durante tanto tempo.
— Não…!
Eles foram apanhados. A realidade disso deixou Sacerdotisa sem palavras. Seus
joelhos tremiam, seus dentes rangiam e ela achava que suas pernas podiam ceder.
A tragédia daquela primeira aventura veio à tona em sua mente.
— Se acalme.
A repreensão foi tão calma como sempre. Não era para a apoiar com seu medo,
mas passar por ele. Ela assentiu ferozmente, como se agarrando às suas palavras.
Seu rosto estava pálido, e alguma coisa reluzia nos cantos de seus olhos. Se ele
não estivesse lá ou se ela estivesse sozinha, ela certamente teria desmaiado.
E isso teria significado morte, ou algo muito pior.
Mas, ao lado dela estava Matador de Goblins, com a guarda levantada e arma de
prontidão.
— Ainda estamos vivos.
O canário começou a cantar ruidosamente.
— Gás!
Ninguém tinha certeza de quem disse isso primeiro.
— GROB! GORRB!!
— GROOROB! GORRRB!!
O chilrear do canário se misturava com as risadas estridentes dos goblins do outro
lado da porta.
Uma névoa branca começou a se infiltrar na sala através de vários buracos que
foram perfurados nas paredes. Os aventureiros se comprimiram no centro da
câmara funerária como que circundados. Eles estavam certamente com sérios
problemas.
— Estamos em apuros agora. Eles vão acabar com todos de uma vez só.
— Nem todo gás é mortal… Mas tenho certeza que isso não é nada bom, seja
qual for o caso.
Lagarto Sacerdote estalou sua língua, Anão Xamã grunhiu e limpou o suor de
seu rosto. Seus olhos encontraram o esqueleto horrível na pele de mulher.
Olhando para a sala toda em desespero, esperando encontrar uma rota de fuga,
Alta-Elfa Arqueira deu um grito.
— Isso não é bom! Não há outra saída!
— O que… vamos… fazer, Matador de Goblins, senhor…?
Sacerdotisa ainda não tinha obtido o milagre Cura, que poderia neutralizar
veneno, e mesmo seus efeitos só iriam durar por pouco tempo. Quando ele
passasse, seria o fim. Sem saber quanto tempo o gás continuaria vindo, tudo o
que ela podia fazer era ganhar um pouco de tempo para eles.
Sacerdotisa olhou suplicante para Matador de Goblins, com os olhos brilhando
de lágrimas.
Ele não deu nenhuma resposta.
— Matador de Goblins? Senhor?
— ……
Ele estava revirando silenciosamente sua bolsa.
Enquanto Sacerdotisa observava, ele tirou uma massa preta e lançou para ela.
— Enrole isso com toalha de mão e coloque sobre sua boca e nariz.
— Isso é… carvão?
— Isso vai a proteger um pouco do gás tóxico. Se tiver algumas plantas
medicinais com você, as coloque no pano também. Depressa, se não quiser
morrer.
— Sim, senhor!
Sacerdotisa pegou apressadamente o carvão e se sentou no lugar para vasculhar
seus próprios itens. Quando ela retirou seis toalhas de mão limpas, ela viu um
braço escamado chegando ao lado dela.
— Me deixe te ajudar. Vapores tóxicos não me afetam muito.
— O-obrigada…!
Os dois começaram rapidamente a enrolar carvão e ervas em cada um dos panos,
fazendo máscaras de gás simples. Sacerdotisa continuou a preparar panos para
seus companheiros enquanto Lagarto Sacerdote envolvia um ao redor de seu
rosto.
— Matador de Goblins, senhor!
— Obrigado.
— Aqui, pegue isso também…!
Duas máscaras de gás, uma feita com um pano maior. Ele pareceu adivinhar o
que ela tinha em mente; ele envolveu imediatamente o pano grande ao redor da
gaiola. Depois, ele colocou sua própria máscara através de seu capacete e
começou a remexer sua bolsa outra vez. Ela estava cheia de objetos que nenhum
dos outros conseguiam identificar.
— Deuses. Você tem tudo e mais alguma coisa aí dentro, não tem? — disse Anão
Xamã, enquanto lutava para tentar incluir sua barba dentro do pano que
Sacerdotisa tinha lhe dado.
— Apenas o mínimo — respondeu Matador de Goblins, agarrando dois sacos
daquela confusão de itens. — Eu queria trazer máscaras como as que médicos
usam quando estão tratando a peste negra, mas são muito grandes.
— Então, o que você tem em mente, Corta-barba? — O anão parecia estar
sorrindo galantemente sob sua máscara.
Matador de Goblins jogou um dos sacos para ele. Anão Xamã se apressou para
o apanhar, então deu um olhar interrogativo com seu peso inesperado.
— O que temos aqui?
— Cal e terra vulcânica. — Matador de Goblins estava tão calmo como sempre.
— Misture elas e tampe os buracos.
Anão Xamã bateu repentinamente em seus joelhos. Mesmo com a máscara, seu
sorriso era evidente.
— Concreto!
— Ele não vai secar muito rápido — disse Matador de Goblins, mas ele assentiu,
Anão Xamã bateu em seu próprio peito.
— Com o que está preocupado, Corta-barba? Eu tenho a magia Meteorização!
Com isso, Alta-Elfa Arqueira pegou o saco da mão de Anão Xamã.
— Ei, orelhuda, o que está fazendo?
Por cima de sua máscara de gás, seus olhos semicerraram e suas orelhas
balançaram.
— Eu selo os buracos, anão. Você lança a magia!
— Bem dito! — Sua resposta rápida foi como um maço batendo em um prego.
Ele e Alta-Elfa Arqueira começaram a se mover rapidamente pela sala. Alta-Elfa
Arqueira iria espalhar concreto sempre que encontrasse um buraco e Anão Xamã
iria estender sua mão.
— Tique-taque diz o relógio, suas mãos nunca param. Pêndulo, balança… tempo
é a coisa!
Ele terminou com um grande grito e uma rajada de sopro, e o composto
lamacento endureceu em um piscar de olhos.
Lagarto Sacerdote revirou seus olhos com a visão.
— Hmm. Você tem muitas artimanhas, mestre conjurador.
Ele moveu sua mandíbula para cima e para baixo. Ele estava coberto com um
pano que não era longo o suficiente; ele fora complementado com uma
bandagem. Sua voz foi abafada, mas de resto soava normal; pelo menos, ele
parecia tranquilo. Para um homem-lagarto que tinha crescido nas selvas do sul,
o campo de batalha era como uma segunda casa.
— Você tem um próximo passo em mente, nesse momento, meu senhor Matador
de Goblins?
— Vamos mover um dos caixões em frente à porta como uma barricada — disse
calmamente Matador de Goblins. Ele soou igual ao habitual; ele não parecia nem
um pouco preocupado. — Quando o gás se dissipar, eles vão entrar.
— Ah, eu… eu vou ajudar!
Sacerdotisa se apressou para arrumar seus itens e se pôr de pé.
Matador de Goblins assentiu em resposta, e Lagarto Sacerdote foi até um caixão
aleatório.
Sacerdotisa foi ao seu lado. Poderiam eles realmente o mover? Eles não tinham
escolha.
— Quando estiverem prontos — disse Matador de Goblins.
— Juntos então. — Detrás deles, Lagarto Sacerdote colocou seus braços enormes
contra a pedra.
— Um… Dois…
— Hrr!
— Hnnn!
Juntamente com o guerreiro e o sacerdote, Sacerdotisa se inclinou com toda a
sua força com seu corpo esbelto. Seus braços magros e sua pele macia eram quase
nada comparados aos seus companheiros. Mesmo assim, ela empurrou o caixão
com toda a sua força, com suor formando em seu rosto.
— Hn! Hrrnnn!
A dada altura, ela parou de tremer.
Logo, ela ouviu um som nítido de rachadura, e o caixão começou a se mover
lentamente.
Ele deixava riscos brancos no chão enquanto eles o empurravam pela sala,
finalmente o empurrando contra a porta com um estrondo.
Lagarto Sacerdote deu mais dois ou três empurrões antes de assentir com
satisfação.
— Isso vai servir muito bem.
— Nós também terminamos!
Alta-Elfa Arqueira veio saltitando de volta a Lagarto Sacerdote.
Anão Xamã se mexeu em um cambaleio, limpando o suor de sua testa.
— Bem como as minhas magias, infelizmente.
— Pegue uma arma então. — Matador de Goblins puxou uma adaga de sua
bainha.
Ele pegou a gaiola, onde o canário tinha finalmente se acalmado, e a colocou no
meio da sala. Em seguida, verificou o estado do seu escudo e bolsa, e se preparou
para lutar a qualquer momento.
— Oh-ho. Não vai faltar munição por aqui — disse Anão Xamã, pegando sua
funda. Ele coletou um monte de pedras do chão e as colocou no bolso. Alta-Elfa
Arqueira pegou a dica deles, verificando seu arco e garantindo que a corda estava
apertada.
— Devo convocar um Guerreiro Dragãodente?
— Que acha de Proteção…?
— Por favor.
Para a resposta de Matador de Goblins, os dois membros do clero começaram as
suas orações para seus respectivos patronos.
— Ó chifres e garras do nosso pai, Iguanodon, seus quatro membros se tornam
duas pernas para andar sobre a terra.
— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, pelo poder da terra conceda
segurança para nós que somos fracos.
Pela boa graça do antepassado de Lagarto Sacerdote, o temível naga, a garra que
ele tinha jogado no chão se tornou um soldado enquanto eles observavam.
E a toda-compassiva Mãe Terra concedeu a todos eles, incluindo esse guerreiro
recém-criado, o milagre de Proteção. Ela tinha ouvido o apelo de Sacerdotisa
enquanto se agarrava ao cajado.
Agora atrás de uma barreira invisível, Alta-Elfa Arqueira preparou habilmente
uma flecha em seu arco e apontou para a porta. Suas orelhas longas agitavam
para cima e para baixo, traindo seu nervosismo.
— Está quieto lá fora.
— Eles notaram. — Matador de Goblins, aprofundado em uma postura baixa,
correu em direção à porta. — Com esses buracos bloqueados, o gás venenoso
terá começado a fluir de volta para eles. Nós já podemos ter matado vários…
Isso era um bom palpite. O barulho perturbador dos tambores de batalha ecoava
das profundezas da terra. Então, passos de uma multidão enorme de alguma
coisa vinha na direção deles. Com um som de metal raspando que deveria
significar armadura.
Os goblins já estavam próximos.
A porta, barricada pelo caixão, começou a tremer; depois houve um som abafado
de alguma coisa sendo chocada contra ela. A primeira pancada não produziu
nenhum efeito, mas depois houve uma segunda e uma terceira. A porta começou
a ranger sob os impactos.
Por fim, parte da porta cedeu com um ruído grande dela partindo, e um olho
amarelo e nojento espreitou.
— Cuidado! — Mesmo enquanto gritava, Alta-Elfa Arqueira fez a flecha voar.
— GRRB?!
A flecha ponta-broto se enfiou através da fenda na porta e perfurou o goblin
através do olho. A criatura caiu para trás com um grito estrondoso, mas seus
companheiros preencheram rapidamente o vazio.
— Não posso dizer quantos passos há, mas tem algo estranho lá fora! — gritou
Alta-Elfa Arqueira.
Os goblins, é claro, não ficariam parados para serem atingidos.
Assim que eles perceberam que os aventureiros na sala estavam retaliando,
flechas começaram a voar pela abertura.
— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, pelo poder da terra conceda
segurança para nós que somos fracos!
A Mãe Terra protegeu sua humilde discípula tão ferozmente quanto qualquer
mãe protegeria seu filho. Proteção tinha salvado eles da saraivada de flechas à
frente; disparos a esmo esporádicos não iriam conseguir passar por ela.
Enquanto a garota agarrasse seu cajado e rezasse, as flechas nunca os
alcançariam.
— Eles estão vindo… Eles estão vindo… Um enxame deles! — murmurou Anão
Xamã com uma careta. Suas mãos se moviam com velocidade cegante,
abastecendo sua funda com pedras tão rapidamente quanto elas podiam voar.
Flechas e pedras, lamentos e berros, todos se misturaram no ar. Mas a ida e volta
através da porta não durou muito. A porta ébano podia ter sido antiga para além
da memória, mas mesmo ela não podia suportar eternamente contra as armas
rústicas e força bruta. Apesar da sustentação do caixão de pedra, ela finalmente
deu um belo último suspiro.
— GORORB!!
— GROOROB!!
Goblins inundaram para a sala em meio a uma chuva de lascas de madeira.
Embora os equipamentos fossem brutos, eles carregavam espadas, lanças e arcos.
Até tinham armadura de couro e cota de malha.
— Eles estão bem equipados.
Matador de Goblins reparou que uma criatura excepcionalmente grande os estava
liderando.
— Um hob… Não.
Com um grunhido baixo e um movimento rápido de seu braço direito, ele
arremessou sua adaga contra a criatura.
Ele realmente a acertou, perfurando o ponto vital de um ombro exposto, mas a
ferida claramente não era fatal.
Goblins são referidos frequentemente por “diabinhos”, mas não havia nada
pequeno em relação a esse. Sua pele verde-escura repleta de músculos, muitos
deles pareciam aptos a explodir. Ele segurava uma clava. O sorriso pérfido em
seu rosto era certamente de um goblin, mas…
— GORAORARO!!
— Então. Um campeão goblin.
O campeão tinha cambaleado ligeiramente quando a adaga o atingiu, mas agora
ele puxou a lâmina e deu um sorriso escancarado.
Sem hesitar um momento, Matador de Goblins sacou sua espada estranha.
— Vou avançar.
— Certo! Me permita adicionar uma lâmina ao seu número!
Lagarto Sacerdote — berrando — sacou sua espada-presa e, seguindo seu
Guerreiro Dragãodente, avançou para a luta.
Espadas ressoaram, gritos e berros. A pequena câmara funerária foi encharcada
rapidamente com o fedor de sangue. Os goblins se pressionavam para o campo
de batalha em enxames. Os abatiam, e só viriam mais. Eles tinham que alcançar
o chefe.
Espada e escudo firmemente na mão, Matador de Goblins se preparou
corajosamente para avançar.
— A-ahn!
Uma voz veio de trás dele.
Era Sacerdotisa, ainda segurando seu cajado no peito.
Ela olhou para ele, protegida pelas pedradas e flechadas de Anão Xamã e de Alta-
Elfa Arqueira.
Ela abriu sua boca para dizer alguma coisa, mas nada saiu.
Matador de Goblins não olhou para trás.
Em vez disso, ele mergulhou diretamente para a batalha, e logo ela já não
conseguia mais o ver.
Ele se movia continuamente para que não pudesse ser agarrado por trás, visando
sua espada nas gargantas dos goblins. Ele impulsionou sua espada para trás e
trespassou mais um. Quem ele não podia cortar, ele golpeava com o escudo e o
enviava ao chão.
Ele não estava sozinho. O Guerreiro Dragãodente lutava ao seu lado. Uma
criatura rastejou a ele com uma adaga, mas ele deu ao monstro um chute e o
enviou pelos ares. Suas garras esmagaram o maxilar do goblin.
Matador de Goblins se virou e lançou sua espada em uma criatura armada com
uma lança. Ele pegou uma clava aos seus pés.
— ORARAGA?!
— Cinco.
Caso ele fosse forçado a cruzar espadas com cada monstro na sala, ele
provavelmente terminaria como picadinho em pessoa. Não havia como dizer
quantos goblins havia nessa horda e lidar com todos eles diretamente iriam o
deixar exausto.
Bem, então ele não lidaria com eles diretamente. Matador de Goblins estava
disposto a usar todas e quaisquer táticas.
— Deem a eles tudo o que você tem! — disse ele.
— Com prazer! — berrou Lagarto Sacerdote. — Ahhh! Observe minhas ações,
meu antepassado!
Com sua cauda, ele varreu um inimigo se aproximando por trás, depois agarrou
um à frente e o girou antes de o lançar em uma parede.
— GORARA?!
— GROOROBB?!
Garras, presas e cauda. Todo o corpo de Lagarto Sacerdote era uma arma, sua
forma de combate era tão brutal quanto um turbilhão.
Seus inimigos eram uma legião. Todos os seus quatro membros golpeavam a
esmo incessantemente, procurando algo para acertar. O Guerreiro Dragãodente
ajudou abrir um buraco nas linhas inimigas, e Matador de Goblins avançou
através dele.
— Céus, há tantos!
— É por isso que é chamado de uma horda! Continue disparando!
Alta-Elfa Arqueira e Anão Xamã lançavam seus projéteis em quaisquer
oponentes que os três combatentes corpo-a-corpo tinham deixado passar.
— Como você está se saindo, moça?
— Estou… aguentando…
O milagre que Sacerdotisa tinha convocado da Mãe Terra ainda estava em efeito,
e os aventureiros estavam se saindo muito bem sozinhos contra os goblins que
pressionavam e se apertavam através da porta.
Mas, isso nunca poderia durar para sempre. Matador de Goblins sabia isso
melhor do que ninguém.
Ele atravessou o campo de batalha, esmagando um crânio de goblin com uma
clava em sua mão direita. Ele usou seu escudo para dar um golpe em um monstro
que veio investindo contra ele com uma espada longa, depois quebrou a criatura
com sua clava.
Então ele atirou a clava, terminando com um terceiro monstro, antes de pegar a
espada longa daquele que ele tinha acabado de matar.
— Dezessete…
Finalmente ele se inclinou, se cobrindo com o escudo, e correu ao longo da
parede atrás da proteção do caixão de pedra. Ele estava indo diretamente para o
campeão goblin, que estava protegido por vários dos seus subordinados.
O campeão era um colosso reduzido, usando armadura com uma cor de chumbo
opaca, brandindo uma clava e uivando. Ele tinha de ser pelo menos tão forte
quanto três goblins e podendo até mesmo derrotar duas pessoas.
Um campeão goblin era em muitos aspectos semelhante a um
hobgoblin. Hob era originalmente uma palavra antiga que significava um
andarilho, um gigante, um chefe ou um demônio. Os músculos enormes dessa
criatura justificavam plenamente todos aqueles nomes, uma herança de seus
ancestrais. Ele tinha treinado esse corpo se movendo de ninho para ninho,
encontrando aventureiro após aventureiro em batalha. Era como um aventureiro
com talento natural abundante que tinha ganhado uma grande quantidade de
pontos de experiência, o goblin equivalente a um ranque Platina.
Isso, em suma, era um campeão goblin.
Uma dessas criaturas tinha assumido Cavaleiro de Armadura Pesada e Cavaleira
inexperientes juntos na fazenda. Muito provavelmente, essa criatura era um
guerreiro experiente.
— No fim, no entanto, goblins são goblins…
Isso não queria dizer que Matador de Goblins estava subestimando a criatura.
Ele nunca subestimava um goblin.
— ……
— ORGOORORB!!
O campeão gritou alguma coisa intimidante aos seus capangas trêmulos para os
encorajar a maiores feitos de valor.
Matador de Goblins, que tinha passado com êxito por trás da criatura, ajustou
ligeiramente sua mão na espada.
Uma antiga história afirmava que um certo rhea tinha uma vez arrancado a
cabeça do rei goblin com um único golpe de sua clava. Matador de Goblins não
fazia ideia se a lenda era verdadeira, mas isso não o impedia de tentar algo
semelhante.
Especificamente, matar a criatura com um golpe só.
Ele pretendia o apunhalar por trás, diretamente através do seu cérebro vulnerável.
Ele preparou sua lâmina para atacar.
— OROAGA?!
Ele sentiu a resposta complacente da carne, viu o jato de sangue…
— Hmm!
Mas, Matador de Goblins grunhiu repentinamente.
Ele tinha certamente perfurado alguma coisa. Mas, foi um goblin diferente, um
dos que fora jogado em sua direção.
— GORAGAGA!!
O campeão usou um dos seus aliados como um escudo.
Não que isso fosse surpreendente. Matador de Goblins achou isso perfeitamente
normal. Não há nada nesse mundo tão egoísta quanto um goblin.
Tudo o que eles queriam era ganhar. Se isso significasse sacrificar um dos seus
companheiros ou sua horda, mesmo toda a sua raça, que seja. Esse era um ponto
crucial da diferença entre o pensamento dos goblins e daqueles que possuíam
palavras. Essa tendência, combinada com a raiva completamente injustificada
que sentiam quando seus companheiros eram mortos, os faziam bastante
desagradáveis.
— GOROROROB!
Ele tinha perfurado o goblin no estômago entre as peças da armadura da criatura,
e a besta gritou alguma coisa enquanto sangue eclodiu da ferida.
— Tsc…
Matador de Goblins puxou a espada e se preparou para o próximo ataque. Os
olhos amarelos nojentos do campeão viram o aventureiro que queria o emboscar.
Talvez ele tenha reconhecido o homem que tinha lançado a adaga contra ele há
pouco, pois um sorriso horrível se espalhou pelo seu rosto.
— GROOOOORB!!
Seus braços poderosos levantaram sua clava em um movimento de gancho.
— Uggh?!
Metal, carne e osso retorceram; houve um som dilacerante terrível.
Leveza, impacto, nada. Um calor surgiu de suas entranhas. Dor.
Em um instante, Matador de Goblins se deparou com a situação. O escudo que
ele tinha erguido instintivamente para se proteger tinha sido lançado pelos ares.
E ele mesmo tinha se chocado contra um dos caixões que revestiam a sala. A
pedra quebrou com um grande estalo, poeira voou por todo o lado. O lampião
caiu de seu cinto e quebrou, liberando suas chamas.
— Matador de Goblins! Senhor! — gritou Sacerdotisa para ele, de onde
observava a batalha, da fileira traseira.
— Orcbolg! Você está bem?!
Alta-Elfa Arqueira e Anão Xamã olharam para ele com o grito de Sacerdotisa.
Mas, não houve resposta.
— Não! Matador de Goblins… senhor…?
Suas pernas tremiam debaixo dela, como se estivesse em um navio balançando.
Ele estava bem. Ele tinha que estar. Ele mesmo tinha retornado do golpe daquele
ogro. Ele dizia: Não vamos fazer nenhuma loucura ou bobagem. Assim como ele
sempre fez.
Mas, ele estava apenas ali deitado na nuvem de poeira, como um boneco
descartado. Com um som de líquido, sangue espesso saiu da viseira do capacete
de metal.
Não tinha como se confundir; tinha sido um golpe crítico.
— N…!!
Seu cajado chacoalhou fracamente quando ele escorregou de suas mãos e caiu
no chão. Ela trouxe suas mãos trêmulas ao seu rosto. Suas feições delicadas
distorceram.
— Arrrrgh! Matador de Goblins, senhor! Matador de Goblins!
— GORB! GRROB!
— GROROB!
O choro da garota ecoou por toda a sala. Os goblins riram horrivelmente; esse
era um dos seus sons preferido.
A vanguarda foi prejudicada. O espírito do usuário de magia foi despedaçado. A
odiosa Proteção desapareceria também. O grupo tinha perdido o líder, isso era o
que importava. Os goblins, obviamente, não deixariam esse momento passar. Foi
assim que eles tinham sepultado aventureiros antes.
— O que é essa coisa…?! — gritou Lagarto Sacerdote, mesmo ele que lutava
com o tipo de força que apenas um homem-lagarto possuía.
Embora tivesse matado um número considerável de goblins, o Guerreiro
Dragãodente foi subitamente eliminado.
Lagarto Sacerdote logo seria encurralado. Os três defensores tinham se tornado
um. Mesmo que ele mantivesse sua posição e usasse toda a sua força, ele não
podia deter todo um exército goblin.
— Fiquem calmos! Mantenham a concentra… Quê?!
Desse modo, Alta-Elfa Arqueira se tornou a primeira captura do dia.
Ela estivera disparando suas flechas sem parar, e nenhum goblin fora capaz de
chegar perto dela.
Mas, quando seu ritmo diminuiu por um instante, em apenas um piscar de olhos,
um goblin se aproveitou disso para avançar na direção dela.
Elfos eram criaturas inerentemente elegantes e magras. Sua agilidade era imensa,
mas lhes faltavam força bruta. Ela se esforçou para sacudir o goblin das suas
costas, mas era um gesto fútil face a horda invadindo.
— Me deixe ir! Saia… hã? Ahh! Ahhhh!
Ela foi levada ao chão, e com um grito, ela desapareceu sob uma montanha negra
de goblins.
Por um segundo, uma perna magra saiu para fora debaixo da montanha, chutando
o ar.
— Orelhuda!
Anão Xamã foi o primeiro a notar o que estava acontecendo, e o único capaz de
reagir. Ele pôs de lado sua funda e, com um berro, pegou um machado de mão
do seu cinto.
— Suas bestazinhas! Pelos deuses, saiam de cima dela!
Seu julgamento foi incontestável; não haveria tempo para usar uma magia. Se
Anão Xamã não tivesse avançado imediatamente, Alta-Elfa Arqueira poderia
muito bem ter sido arrastada para quem sabe que destino.
Mas sem qualquer ataque a distância para apoiar o lutador corpo-a-corpo
solitário, não havia nada para conter a investida goblin.
Isso era uma situação crítica.
Agora…
— Oh… ahh…
Já não havia nada entra Sacerdotisa e o campeão goblin.
— Não… Oh… Ah, não…
Seus dentes rangiam e todo seu corpo tremia de medo, ela mal se aguentava de
pé. Houve um barulho baixo quando ela deslizou ao chão; então ela sentiu
alguma coisa quente e molhada se espalhar por suas pernas.
— GROB! GROORB! GORRRB!
O cheiro disso fez o campeão goblin sorrir debochadamente para ela. Seria muito
mais fácil se ela pudesse simplesmente perder a consciência. Ironicamente, foi
toda a experiência que ela tinha adquirido que impediu de acontecer isso.
Os braços carnudos do campeão se estenderam e agarrou sua cintura.
— Hrr…?! Ahh…! — Ela gemeu quando a criatura esmagou seus órgãos
internos.
Ela estava aterrorizada. E se ele simplesmente a espremesse até que seus ossos
partissem?
— Hrr…?! O-o qu…? O quêêêê…?
Mas, não foi o que aconteceu.
O campeão aproximou seu rosto para perto dela. Sua respiração fedia a carne
podre.
— Erryaaaaaaargh!
E então, ele deu uma grande mordida em seu ombro, com vestes, cota de malha
e tudo mais. Sangue jorrou, manchando de vermelho através de sua pele branca.
— Ugggh! Ahhh!!
Ela nunca tinha experimentado tamanha dor. Ela estava no limite da sua
resistência. A cor se esvaia de sua visão. Ela não conseguia falar e apenas chorou
como uma criança. Ela estava em um estado horrível, seus olhos escorriam com
lagrimas, seu nariz com ranho, com saliva pendurada em seus lábios.
— Parem…! …ldição, me… deixem… ir…! Ahh!
Alta-Elfa Arqueira acrescentou seus próprios gritos por debaixo da pilha de
goblins.
Houve o som de roupa rasgando. Pancada. Gritos. Gemidos.
— Isso não vai funcionar! Mestre conjurador, temo que se não reunirmos esses
três e se retirarmos, estaremos todos perdidos!
— Oquevocê acha que estou…? Ei! Caiamfora, seus monstros! Fora!
Lagarto Sacerdote e Anão Xamã continuaram a lutar corajosamente, mas não
conseguiriam continuar para sempre.
— GOROROB!
— GORRB! GORB! GOB!
O campeão e seus goblins apontaram para eles e gargalharam alto o suficiente
para despertar os mortos. Esse era o destino de qualquer coisa assaltada pelos
goblins, seja um aventureiro ou uma aldeia.
Sua sorte, seu destino. Devido ao acaso. Uma jogada de dado.
Baboseira.
— ……………
Tudo isso ressoou com alguma coisa bem dentro dele.
Quando ele pôs uma mão no chão para se levantar, ele descobriu uma escadaria
que ia ainda mais fundo para o subsolo.
Alguém podia ter chamado isso de um golpe de sorte que o caixão de pedra fosse
oco para ocultar uma escadaria secreta. Que não tinha contido um corpo ou
relíquias funerárias como os outros.
Se tivesse, não teria sido capaz de suavizar o choque e ele teria morrido.
Mas, por agora, ele ignorou tudo isso. O que importava era que ele estava vivo.
E se ele estivesse vivo, então ele iria lutar.
Ele alcançou sua bolsa e pegou um frasco de poção rachado. Ele se esforçou para
puxar a rolha com um pulso que dobrou em um ângulo estranho, depois tomou o
seu conteúdo. Os efeitos de cura do medicamento eram sutis. Não era como um
milagre divino que fecharia ferimentos instantaneamente.
Mas, se a dor seria amenizada, ele poderia se mover. E se ele pudesse se mover,
ele poderia lutar.
Não havia nada em seu caminho.
Com a mão direita ele apalpou a área ao redor, procurando qualquer coisa que
pudesse servir como uma arma. Sua mão agarrou o que ele encontrou, e então
ele forçou seu quadril para se levantar.
Vários goblins que tinha reparado que ele ainda estava vivo e se movendo,
vieram na sua direção. Cada um tinha uma arma na mão e uma risada cruel na
garganta; sem dúvida, eles vinham com o pensamento de acabar com ele.
Mas, e daí?
— ………!
Ele moveu seu escudo em sua mão esquerda com toda a sua força e bateu nos
goblins até à morte.
— GORARO?!
A borda polida do escudo redondo era uma arma suficiente.
Ele partiu seus crânios, com sangue e cérebro voando por todo o lado. Avançar.
Avançar. Ele não iria gritar até o último momento. Ele não podia. Tal como antes.
Ele não deve ser notado.
O campeão goblin estava concentrado em atormentar sua nova presa. Ele pareceu
alheio ao fato de que o intruso que ele tinha dado cabo há pouco estava por trás
dele. Sacerdotisa tinha ficado mole nos braços do demônio, apenas se
contorcendo de vez em quando. Seus lábios, se tornaram ainda mais vermelho
pelo sangue que escorria do seu pescoço branco.
Nenhuma voz saia.
Era me salve?
Ou meu Deus?
Ou mãe? Ou pai?
Não, corra. Isso iria o denunciar.
Ele… Ele…
Matador de Goblins…
— Y-yaaaah!
Matador de Goblins saltou sobre o campeão por trás.
No início, o campeão certamente não sabia o que estava acontecendo.
Alguma coisa envolveu o seu pescoço, a coluna vertebral e a pele da mulher, que
tinha caído no chão durante o combate.
A criatura ficou aborrecida ao tentar retirar o que tinha sido, por ele, uma isca…
— …!
Mas, no instante seguinte, a coisa foi apertada contra a sua garganta.
— GO-ORRRRBBBB?!?!?!?!
Ele não conseguia soltar bem o grito de sua garganta.
O campeão arranhava os ossos, incapaz de respirar. Alguns cabelos saíram, mas
isso não mudava coisa alguma. Ele já não podia ver a sacerdotisa que ele estivera
perto de ter seus maus modos. Ela tinha caído no chão como um brinquedo
abandonado.
— Ahh…
Uma voz muito fina. Ela ainda estava viva.
E isso era tudo que Matador de Goblins precisava saber.
— Haa… haaaaa!
Ele tinha os ossos em sua mão direita e os cabelos da mulher enrolados na
esquerda. Ele puxou o mais forte que podia; o cabelo atravessava suas luvas de
couro e entravam em sua carne.
Mas, a mesma coisa estava acontecendo com o campeão goblin.
Era dito que os assassinos faziam fio de cabelo humano e os usava para matar;
esse era o mesmo princípio. Não era nada fácil se desemaranhar dele.
O campeão contorcia seu corpo, lutando. Ele bateu de costas contra a parede.
— Hum…!
Sangue fluiu de novo do capacete de Matador de Goblins. Ele deu um grito
quando seu interior foi esmagado. Ainda assim, suas mãos não soltaram.
— GOROROB?! GROORB?!
O campeão tinha ficado aterrorizado.
Naturalmente, os outros goblins não ficaram só esperando e assistindo seu líder
ser estrangulado. Vários deles levantaram suas armas e começaram a avançar
para matar esse inimigo ressuscitado.
Até que, de repente, suas cabeças saíram voando, substituídas por jorros de
sangue.
Eles foram mortos pela clava do campeão enquanto ele a brandia em sua luta
desesperada. Os corpos dos goblins decapitados caíram no chão.
Isso foi demais, mesmo para eles.
Goblins não mostravam medo da morte quando eles acreditavam que
conseguiriam ganhar. Se o saque e a devassidão os esperavam do outro lado da
vitória, melhor ainda.
Mas aqui, eles poderiam ganhar?
— Yaaaaaaahhhhh!
Um grande rugido.
Um momento de indecisão, um instante de hesitação, significou a derrota dos
goblins.
Com um urro para honrar seus ancestrais, Lagarto Sacerdote, agora livre mais
uma vez, atacou os monstros. Sua espada-presa, encharcada com sangue de
goblins, girava como uma tempestade em suas mãos escamosa.
— GRRB?!
— GORORB?!
Com cada movimento rápido da lâmina, uma mão, um pé ou uma cabeça saia
voando. Com sua cauda, ele derrubava os que tentavam fugir, e com sua presa,
finalizava eles.
Lançados em confusão, os goblins correram para cercar Lagarto Sacerdote, só
para verem uma chuva de flechas de madeira.
— Vá!
Uma voz familiar ressoou.
Ela estava cobrindo seu peito exposto e encharcado com sangue de goblin, mas
ela estava ali. Enquanto ela atirava ajoelhada com seu arco, Alta-Elfa Arqueira
gritou: — Eu vou lidar com esses caras!
— Meus agradecimentos! — gritou Lagarto Sacerdote e começou a abrir
caminho através dos agressores.
Ele estava tentando chegar a Sacerdotisa deitada no chão. Ele ainda tinha
algumas magias sobrando.
Isso significava que a garota ia ficar bem, Alta-Elfa Arqueira pensou com um
suspiro aliviado.
— …Obrigada.
— Por que isso tão de repente?
Foi Anão Xamã ao lado dela que respondeu seu murmúrio.
Coberto com marcas de sangue, respirando ofegante, e ainda segurando seu
machado, ele despachava facilmente quaisquer goblins que vinham esperando
matar a arqueira inimiga.
— Não consigo acreditar que devo a minha vida a um anão. Não vou ser capaz
de esquecer isso. — Ela se virou, se esforçando para esconder seu peito pequeno.
Suas orelhas estremeceram. — Para um elfo, a única coisa mais vergonhosa que
isso seria não dizer obrigado.
— Deixe isso para um elfo chorando por ajuda com sua superioridade moral —
disse Anão Xamã, com uma risada mal reprimida.
Ela piscou para ele. — Melhor que a sua baixa moral, certo?
Enquanto ela tentava infligir indiferença, ela soltou uma flecha no campeão
goblin e deu um grito.
— Pegue ele, Orcbolg!
— Hrrr!
Matador de Goblins segurava o monte de cabelo como as rédeas de um cavalo.
Ele se agarrou na parte de trás do campeão, que o balançava para esquerda e
direita como um garanhão dando pinotes. No início, cada sacudida tinha o ferido
tanto que ele achava que seu corpo talvez voasse em pedaços. Mas agora, ele não
sentia nenhuma dor, nada. Tudo o que restava era uma leveza estranha, como
flutuando na água.
Alguma parte objetiva de sua mente estava soando um aviso. Dor era a prova de
que estava vivo. E agora ele não sentia nenhuma dor. Talvez os seus nervos
tivessem sido sobrecarregados.
Ele tinha feito a escolha errada?
Ele quase pensou ter ouvido um sussurro:
Avance até a morte. Martele o prego no seu próprio caixão.
Mas, a falta de dor também acaso era conveniente para ele.
Qualquer que seja a coisa louca ou boba que for preciso para vencer, eu o farei.
— Ei…!
Sua voz saiu espremida por entre seus lábios.
Poderia as palavras que ecoaram em sua mente ter alcançado a mente do campeão
goblin?
A criatura se forçou em virar sua cabeça e ver o inimigo que se agarrava em suas
costas. Um elmo de metal sujo com sangue já seco refletiu seus olhos amarelos
e imundos.
— Dê uma boa olhada, goblin.
Matador de Goblins ergueu seu braço direito quebrado e o enfiou em seu olho.
Ele agarrou alguma coisa bem macia, arranhou e arrancou para ele.
— GRORARARAB?! GROOROROROB?!?!
O campeão uivou incoerentemente de agonia, se curvando para trás.
Matador de Goblins foi com ele, rolando no chão de pedra. Ele evitou por pouco
ser esmagado pelo corpo gigante quando ele desabou no chão com uma pancada
ressonante.
Respirando irregularmente, Matador de Goblins usou os ossos próximos para se
levantar. O guerreiro estava coberto de sangue e ferimentos, à beira da morte,
mas os goblins só o viam de longe.
Não havia uma boa razão para eles o fazerem. Teria sido fácil acabar com ele
naquele momento.
E ainda assim, eles estavam indubitavelmente com medo dele.
— Quem é o próximo…? — A voz era calma, inexpressiva e fria, como o vento
soprando através de um vale. — É você…?
Matador de Goblins jogou o pedaço de carne de sua mão direita. O globo ocular
do campeão acertou o chão e estourou com um som molhado.
— GORB…! GARARARAB!!
O campeão debateu os pés e começou a balbuciar. Sangue e pus escorriam como
uma cascata em sua face, do seu olho esquerdo perdido.
— GOB…
Os goblins ficaram congelados. Um deles deixou cair sua lança. Seus olhos se
moviam de um lado para outro, entre o campeão goblin e Matador de Goblins,
ambos envoltos em sangue.
Esse foi o gatilho.
— GORROROROB!!
O campeão goblin deu um rugido que só poderia ser uma ordem para retirada.
— GORARAB! GORAB!
— GROOB! GROB!
Gritando, os goblins se esqueceram de todo o resto e fugiram.
Nisso, como em todos as coisas, o campeão goblin os liderou. Um campeão ele
era, mas ainda assim um goblin.
Cada goblin estava muito interessado na sua própria sobrevivência; tudo o que
queriam era escapar desse lugar. Desse modo, a ideia de manter suas posições
contra todas as probabilidades nem sequer lhes passou pela cabeça, e a derrota
ganhou ímpeto rapidamente. Primeiro dois, depois quatro, então oito fugiram…
Um após outro, os goblins mergulharam para a saída, chorando e gritando. Por
fim, apenas as pilhas de corpos de goblins e os aventureiros arfando restaram.
Nenhum deles sugeriu que deveriam perseguir o inimigo. Todos eles estavam
feridos e exaustos; eles mal podiam pensar em se mover.
— ……
Só Matador de Goblins era diferente.
Ele revirou cambaleante através dos ossos e usou a lança que encontrou como
uma bengala improvisada para se arrastar pela sala. Arrastando seus pés
lamentavelmente enquanto se movia, ele começou a verificar cada um dos
corpos.
Enquanto ele andava, deixava um rastro de sangue, como se fosse um pincel
passando ao longo de uma tela.
— ………hrr…
Um passo. Dois. Um tremor violento, então o corpo de Matador de Goblins se
virou em um ângulo estranho.
— Orcbolg…!
Alta-Elfa Arqueira foi até ele e o apoiou de lado. Ela não se irritou com seu
sangue que escorria por cima de suas roupas rasgadas e sua pele exposta.
Com uma voz extremamente fraca, Matador de Goblins perguntou: — Você
está… bem…?
— De alguma forma… Mas… — A voz de Alta-Elfa Arqueira estava tensa
também. — Não tenho tanta certeza quanto a você…
Para ela, ele parecia como um saco cheio de peças soltas.
Mesmo assim, ele conseguiu sussurrar “talvez”, e acenou. — E quanto a
menina…?
— …Por aqui. Você consegue andar?
— Posso tentar.
Alta-Elfa Arqueira se esforçou para apoiar Matador de Goblins, que parecia
poder colapsar a qualquer momento. Ela sentiu um calor em suas bochechas e de
repente percebeu que lágrimas estavam se formando em seus olhos.
Ela mordeu os lábios.
— Tentem ter alguma… dignidade, vocês dois.
Enquanto eles andavam juntos, eles encontraram os braços de Anão Xamã
apoiando eles.
Ele não estava em um estado melhor que eles. Sangue encharcava ele desde o
topo de sua cabeça até a ponta de sua barba querida, e sua bolsa de catalisadores,
assim como seu cinto, foram bem rasgados.
Ainda assim, o anão conseguiu manter Matador de Goblins erguido com suas
mãos grandes.
— Afinal de contas, ainda… temos de ir para casa…
— …Certo.
Então, juntos, eles caminharam pela distância aparentemente grande, mas
terrivelmente curta. Logo eles estavam no centro da sala, ao lado do caixão
destruído. Uma espada-presa quebrada repousava ali, com Lagarto Sacerdote
sentado ao lado.
— Bem, agora. Foi por um triz, mas acho que ela vai ficar bem.
Sacerdotisa estava deitada a seus pés, envolvida em sua cauda.
As chamas do lampião quebrado era a única iluminação, com a luz brincando
sobre sua forma.
Suas vestimentas e cota de malha ensanguentadas foram retiradas; ataduras
envolviam seus ombros e peito pálidos. Seu cabelo estava grudado em suas
bochechas suadas, e seus olhos ainda estavam fechados. A subida e descida
pouco perceptível do seu peito era o único sinal que ela estava viva.
— Como ela está?
Lagarto Sacerdote semicerrou seus olhos e levantou gentilmente a cabeça de
Sacerdotisa com sua cauda.
— Hmm. Sua vida não está em perigo. Entretanto, se a ferida tivesse sido um
pouco mais profunda, poderia ter sido para além das minhas habilidades.
— Entendi.
— Aqui, espere. Eu vou te ajudar a sentar. Isso vai ser mais fácil, certo? — disse
Alta-Elfa Arqueira, quase sussurrando, enquanto Matador de Goblins lutava para
respirar. — Anão, fique com esse lado.
— Claro.
Juntos, eles abaixaram ele para perto do caixão de pedra, ao lado de Sacerdotisa.
Parecia como se ele pudesse tombar no momento que eles tiraram suas mãos.
Até a forma como ele se sentou parecia mais como se ele tivesse caído de costas.
— M… Me… d-de… scul…
— Não se preocupe com isso.
Matador de Goblins estendeu sua mão, enluvada com couro que estava
esfarrapado, suja, em um estado completamente lamentável. Ele descansou ela
no chão ao lado dela. Sacerdotisa a tocou debilmente com a sua própria mão
pequena.
— Mat… G…blins… senhor…
Por fim, ele murmurou:
— Essas coisas acontecem.
— Vamos voltar para cima — disse Alta-Elfa Arqueira. — Não queremos estar
aqui quando eles voltarem. Orcbolg, consegue se levantar?
— Ahh, vá encontrar um casaco ou algo assim, moça. Eu posso ajudar Corta-
barba.
— Parece que terei de o suportar em meus ombros — disse Lagarto Sacerdote.
— Se preparem. Estaremos em segurança em breve…
Alguém estava dizendo algo.
Mas, Matador de Goblins sentiu a consciência desaparecer, e então tudo ficou
escuro.
Capítulo 6: Adivinhas

— Por quanto tempo mais planeja dormir, idiota?


A voz que trovejou em sua cabeça, conspirou com a dor penetrante para o
despertar.
Ele se ergueu, tomou uma posição e olhou em volta. Um frio de rachar penetrava
a sua pele.
Branco.
Tudo estava branco.
Era a escuridão branca, a mesma de sempre. Ele estava mais familiarizado com
esse mundo do que com a luz do sol.
Ele estava em uma caverna — provavelmente no fundo — rodeado por água e
gelo.
Não muito depois que ele percebeu onde estava, outro golpe retumbante atingiu
a lateral de sua cabeça. O golpe foi quente e doloroso, como se tivesse sido
atingido por tenazes, e o seu contraste com o frio o confundiu completamente.
— O que você está procurando? Se se sentir capaz, então me cumprimente!
A voz nasalada ecoou através da caverna, mas ele não podia ver sua origem.
Ele não se atreveu a tentar descobrir de onde a voz vinha. Se ele espiasse ao redor
da caverna, ele só iria convocar outro golpe.
E não era possível ver através da invisibilidade de Assaltante, para começar.
Nesses meses — ou anos? — de treinamento, ele tinha compreendido muito bem.
Nessa semiobscuridade, sua noção do tempo era no mínimo confusa. Era como
flocos de neve que voavam e se recusavam ser pegos.
O velhote era conhecido por muito nomes, incluindo o Viajante, mas ele preferia
ser chamado de Assaltante ou Mestre.
— Claro, mestre. Obrigado por estar aqui.
Ele curvou a cabeça, embora ele não soubesse para onde devia se curvar.
Ele ouviu um bufo silencioso e sentiu uma emoção momentânea de nervosismo.
Se ele tivesse enfurecido o mestre, ele não escaparia com uma simples
repreensão. O mestre poderia mesmo parar de o treinar.
E isso era uma questão de vida ou morte.
— Hmm. Bom, o suficiente.
Seu mestre parecia satisfeito por enquanto.
Ele permaneceu prostrado, cuidadoso para não suspirar de alívio. Ele permitiu
um pouco de neve se assentar em sua boca, depois fechou seus lábios. O sopro
que ele tinha deixado escapar tão descuidadamente era quente, e o vapor que
criou no ar podia o denunciar. Não seria a primeira vez que ele fora repreendido
por essa falha.
— Mestre, o que devo fazer hoje?
— O que você deve fazer? — Assaltante deu um pequeno bufo zombador. —
Essa é a pergunta mais estúpida que já ouvi! Que tipo de idiota você é?
De repente, algo voou até ele da escuridão.
Ele foi pego completamente desprevenido, e a bola de neve o atingiu em cheio
no rosto. A sensação úmida rapidamente se tornou em um desconforto pleno.
Assaltante comprimiu deliberadamente o projétil ligeiramente, de modo que
espalhasse a neve fria sobre ele. Quão maldosamente inteligente.
— Te peguei! Então, agora vá pegar eles! Os goblins!
— Sim, senhor.
Ele olhou para frente, sem sequer se incomodar em limpar o gelo de seu rosto. O
pensamento de que talvez lhe desse congelamento nem sequer passou pela sua
mente. A dor, a amargura, os goblins. Eram todos apenas parte da sua vida
cotidiana. Quase nem valia a pena mencionar.
Mas ele ouviu o murmúrio de Assaltante: — Que tal? Eles são espertos, são
cruéis e são muitos. Eles são vis. Consegue matar os goblins?
— Eu os matarei.
— Mesmo quando eles estavam se divertindo com a sua irmã e você só assistiu?
Assaltante lhe deu uma risada estranha e irritante.
Ele sentiu o calor desaparecer de sua barriga, juntamente com o sentimento
acalorado que pesava em sua mente como uma pedra.
— Eu sei o que você vai dizer. Que você não tinha a força naquele momento,
não é?
Ele mordeu os lábios.
— Sim, senhor.
— Errado! Está errado!
Dessa vez, a sensação úmida se misturou com uma dor fraca. Assaltante era
inteligente e cruel. Ele tinha adicionado pedras na neve vagamente comprimida.
Sua testa doeu; ele sentia que estava inchando com cada batida do seu coração.
Ele sentiu sangue escorrer da ferida, se fundindo a neve grudada em seu rosto
enquanto escorria.
Não era grave.
O crânio era um dos ossos mais duros do corpo, não era quebrado tão facilmente.
Mais uma lição que ele tinha aprendido bem. Ele não fez nenhum movimento
para limpar o sangue, apenas olhou para a direção que ele pensou que Assaltante
estaria.
— Foi porque você escolheu não fazer nada!
Isso o afligiu.
Seus punhos já pareciam mais como uma pedra do que uma mão, mas ele
apertava ainda mais.
— O que é isso? Por que você não lutou contra os goblins? Por que você não
fugiu com a sua irmã?
O ar se moveu ligeiramente. Assaltante provavelmente chegou perto o suficiente
para encarar seu rosto, só para salientar. Ele conseguia sentir o cheiro de vinho
na respiração de Assaltante, mas ainda não conseguia o ver.
— Foi porque você se recusou a lhe salvar. Questões de êxito ou fracasso, vida
ou morte, vem mais tarde!
— Eu não teeenho poder! Eu não tenho naaaada!
— Oh! Os deuses me concederam força! Agora eu consigo matar os goblins!
— Oh! Um herói lendário foi meu mentor! Agora eu consigo matar os goblins!
— Oh! Olhe para essa espada sagrada que encontrei! Cuidado, goblins!
— Agora eu tenho o poder para fazer alguma cooooisa!
A cantoria zombadora de Assaltante ecoou por toda a câmara gelada.
— Acha que um garoto que não fez nada quando não tinha poder fará alguma
coisa uma vez que o ganhe?
—…
— Mesmo que o fizesse, seria apenas um espetáculo! E todos os espetáculos
acabam, mais cedo ou mais tarde.
Vuum. O ar ondulou outra vez. Ele não moveu os olhos, mas tentou seguir a
sensação dele.
— Ouça — disse Assaltante. — Você não tem genialidade. Você não tem talento.
Você é mais um vagabundo sem nome com nada para se distinguir.
Pat. Alguma coisa acertou suavemente seu peito.
Ele olhou apressadamente para cima para ver um olho olhando para ele abaixo.
O pequeno orbe brilhante era de uma cor amarela e estranha, como uma tocha
queimando.
— Mas, você é o único que cabe escolher.
Ele engoliu em seco.
— Quando você decidir agir, essa será a sua vitória. Não que você não será alvo
de chacota se tentar e falhar.
A voz de Assaltante de repente ficou calma. Ele estalou os dedos e uma fogueira
que ele deve ter preparado em algum momento ganhou vida.
As paredes brancas da caverna assumiram a cor das chamas.
Isso era sem dúvida uma fissura nevada, em sua volta com gelo, neve e ar frio.
Mas, no momento que esse pensamento o distraiu, Assaltante desapareceu,
deixando nem mesmo uma sombra.
— Você precisa de sorte, perspicácia… e culhões! — berrou Assaltante com uma
voz que ecoou perturbadoramente.
Ele tentou acalmar a respiração e a manteve aos poucos.
Ele tomou uma postura: braços elevados, pés ligeiramente afastados, quadris
flexionados.
— Primeiro, decida se você vai fazer isso… então o faça!
— Sim, senhor.
Quando ele assentiu, algumas gotas de sangue voaram, respingando vermelho
em todo o seu pé. Ele ignorou. Se concentre em não escorregar na neve.
— Se conseguir entender isso, você poderá transformar gigantes em pedra,
esmagar aranhas maiores do que você, matar dragões, até mesmo derrotar o rei
do inferno!
— Sim, mestre.
— Você tem azar e não é muito esperto. Mas, você tem força de vontade? Eu
vou treinar tudo isso ao mesmo tempo… olhe para cima!
Ele olhou obedientemente para cima. Uma luz deslumbrante e perigosamente
brilhante encontrou seus olhos.
Era o campo de estalactites que cresceu no teto da caverna de neve. Com suas
pontas perfurantes miradas diretamente para ele, elas pareciam como um exército
de cavaleiros.
O calor do fogo tinha começado a surtir efeito: Uma gota respingou em cima
dele.
— Hora de um jogo de adivinhas. Tenho uma adivinha para ti! Se quiser viver,
é melhor responder rapidamente!
— Sim, mestre.
— Ótimo, ótimo!
Ele ouviu um som de estalo de Assaltante lambendo seus lábios. Adivinhas eram
uma forma de batalha tão antiga quanto os deuses; sagrado, inviolável, absoluto.
Era dito que elas remontavam mesmo antes dos deuses começarem a jogar dados.
É claro, nada disso importava para ele. Ele iria responder. Isso era tudo.
— Eu cruzo o céu.
— Com um bico feroz rasgo carne.
— Seu pesadelo! Seu inimigo mortal!
— Mas me mate, e é o seu sangue que irá fluir.
— O que eu sou?
A primeira coisa que ele pensou foi um goblin.
Mas, goblins não voavam e não tinham bicos.
Assim que ele estava prestes a cruzar os braços para pensar, outra bola de neve
veio voando contra ele.
Ele deslizou de lado através do gelo para a evitar. Algumas gotas de sangue
voaram de seu rosto e caíram no gelo, se misturando com a água derretida e se
tornando rosado.
A resposta veio a ele em um lampejo.
— Um mosquito.
— Certo! — Assaltante bufou sugerindo que ele não estava satisfeito. — Mas
isso foi apenas um aquecimento. Próximo!
— Os mares estão secos.
— Os rios não correm.
— As árvores estão nuas.
— As cidades não têm edifícios.
— Os castelos sem homens!
— Onde estamos?
Ele não tinha a menor ideia.
Os nomes dos reinos devastados tanto históricos quanto míticos flutuaram pela
sua mente, depois se afastaram. Todos eram lugares que ele tinha ouvido falar
nas histórias que sua irmã lhe contou. Nenhuma delas conheceu um destino tão
terrível quanto o enigma descrevia?
— Blááá, qual é o problema? — demandou Assaltante. — Não sonhe acordado
assim! Vamos! Ou vai ser o seu fim!
Antes que pudesse sequer pensar nisso, ele rolou reflexivamente para o lado.
Uma estalactite atingiu o chão e se despedaçou.
Ele não tinha seu capacete. Ele tinha se concentrado em proteger sua cabeça.
Então, de repente, ele se recordou da resposta de um jogo de adivinhas que ele e
sua irmã tinha jogado há muito tempo. Embora na época, ele não fora capaz de
levar a melhor.
— Devemos estar em um mapa.
— Ha-ha! Exatamente! Mas por que demorou tanto tempo?
Ele ouviu aplausos gozador. Eles ecoaram pelas paredes até que ele não pudesse
descobrir de onde é que estavam vindo.
Ele bloqueou o som em seus ouvidos, em vez de olhar para perto e longe, de um
lado ao outro, depois para o teto. Ele não podia baixar a guarda. Seu pensamento
tinha que ser claro. Controle sua respiração.
O lugar estava muito frio, mas a certa altura ele tinha começado a suar. Ele tentou
limpar o sangue e o suor com o braço para os impedir de chegar aos seus olhos,
mas fazer isso trouxe uma ardência desagradável aos seus ferimentos.
— Vamos lá, continuemos!
— Mais justo que os deuses.
— Mais maligno que os Deuses das Trevas.
— Os ricos precisam de mim.
— Mas para mim, os pobres não encontram utilidade.
— O que eu sou?
Para ele, essa foi particularmente difícil. E Assaltante não estava disposto a
deixar ele pensar calmamente. As bolas de neve vieram voando de todas as
direções; ele rolou pelo gelo para as evitar.
Ele estava perdendo a sensibilidade dos membros; eles tinham ultrapassado o
azul e estava se tornando roxo.
Mas, não havia tempo para se preocupar com isso. Um chiado soou acima dele.
— Cuidado! Aí vem outro!
Outra estalactite se desprendeu do teto e caiu na direção dele.
— …!
Assaltante nem mesmo o deixou desviar com segurança. Mais uma bola de neve
veio e o atingiu no ombro; neve se espalhou por todo o lado e as pedras
perfuraram sua pele. Ele se esforçou para suprimir um gemido de dor.
Não havia tempo. Ele não conseguia pensar. Ele não tinha uma resposta. Ele não
tinha nada. Isso o deixou irritado, e então ele teve uma ideia.
Ele olhou para cima e gritou:
— Nada! — Ele pisou na terra com ambos os pés, retornando sua postura e
acrescentando: — A resposta é nada!
— Sim! Mas há algo mais malvado que os Deuses das Trevas e que possui uma
perspicácia mais feroz!
Assaltante não tinha intenção de deixar ele descansar, mas sim arremessar
adivinhas para ele tão rapidamente quanto ele podia responder.
Na escuridão branca, sangue fluía do seu ombro e da sua testa, ele se posicionou
e enfrentou as questões.
— Escuro
— No interior escuro
— No interior escuro
— No interior escuro.
Ele gritou de volta imediatamente.
— Um goblin… no útero da mulher capturada em uma jaula goblin em uma
caverna goblin!
Ele nunca se esqueceu dos goblins, nem por um segundo. A resposta não exigiu
nenhum pensamento. Ele sorriu para o seu professor invisível e disse: —
Simples.
— Ah, é? Então, tente essa!
— A qualquer momento, a qualquer instante,
— Você pode se encontrar com ele,
— Dele não há como escapar!
— Você não pode falar com ele!
— Ali, ele está ao seu lado!
— Azar o seu! Fim do jogo!
A última adivinha deveria ter sido apenas uma forma de comprar tempo
suficiente para pensar em outra. Assaltante era cheio de truques baratos. Elas lhe
ensinaram muita coisa.
Mas, a resposta a essa adivinha escapou completamente dele.
Respirando andrajosamente, ele passava pelas bolas de neve e esquivava das
estalactites. A neve rasgou sua pele e o gelo a triturou, até que todo o seu corpo
inteiro estivesse esfolado e sangrando. O sangue e o suor pingavam de suas
sobrancelhas aos seus olhos, ofuscando sua visão, enquanto a ferida em seu
ombro latejava.
Apesar de tudo isso, ele pensava afincadamente. As engrenagens de sua cabeça
giravam; ele piscou várias vezes, trabalhando toda sua inteligência, procurando
por uma resposta.
Não levou muito tempo para descobrir o que estava bem perto dele.
Ele lambeu os lábios ligeiramente e disse a resposta tão claramente quanto podia.
— Ele é a morte.
— Ha-haaa! Uma bela resposta!
As gargalhadas de Assaltante repicaram ao longo de toda a caverna. Um borrifo
de gotículas de água caiu, sacudidos pelo eco.
— Você não tem sorte. Você não tem perspicácia. A única coisa que você tem é
coragem. Então, pense! Pense com toda a coragem que você tem!
— Sim, mestre.
Ele assentiu obedientemente. Ele não fazia ideia porque Assaltante cuidava dele,
mas ele estava sozinho, sua aldeia se foi, e ele tinha apenas um objetivo que lhe
restava. O velho estava lhe dando os ensinamentos e estratégias que ele precisaria
para o alcançar. Ele jamais considerou questionar as palavras do seu mestre.
— E sendo franco… sim, você se tornou bom nisso. Bom para um garoto como
você, enfim. A última!
Assaltante apareceu diante dele como se surgido do nada. Ele era um homem
pequeno, menos da metade de sua altura, e negro como uma sombra.
O velho rhea segurava uma espada curta reluzente e usava uma malha de platina.
O velho olhou para ele com seus dois olhos brilhantes e sorriu, revelando seus
dentes irregulares.
— O que eu tenho no meu bolso?
Era um truque cruel, tecnicamente contra as regras do jogo de adivinhas.
Ele se esforçava para responder, mas não conseguia pensar em nada.
Ele abriu a boca para implorar por pelo menos três chances, mas no próximo
instante, uma dor maçante percorreu sua cabeça mais uma vez, e ele sentiu sua
consciência desaparecer.
Até os dias de hoje, ele não sabe a resposta para essa adivinha.
Capítulo 7: Sussurros,
Orações e Cânticos

Quando acordou, ele estava novamente perante um mundo de branco.


Ele estava deitado em uma cama macia com lençóis limpos. O quarto estava
agradavelmente quente e o teto distante. Entre os pilares de pedra branca que
revestiam o quarto, estava um céu azul revigorante. A luz do sol se infiltrava
através dos ramos das árvores no jardim e se estabelecia em seus olhos.
— …Hmm.
Matador de Goblins se sentou lentamente. Sua cabeça parecia leve, sua visão
ampla. Ele virou sua cabeça duas, três vezes. Ele não estava usando seu capacete.
Deveria ter sido retirado em algum momento. Seus outros equipamentos e suas
roupas tinham desaparecido.
Onde ele estava? Deveria estar em um quarto no Templo da cidade da água.
Pelo menos não era aquele ninho de goblins nojentos. Isso significava que ele
poderia, provavelmente, presumir que os outros também tinham escapados em
segurança.
—…
Após confirmar isso a si mesmo, ele deu um pequeno aceno com a cabeça. Foi
completamente diferente d’ele perder a consciência dos seus ferimentos.
Mas, ele estava vivo e isso significava que haveria uma próxima vez. Se ele
ganhasse no fim, seria o suficiente. Não haveria qualquer problema.
Ainda… tal sonho familiar…
Seu mestre o tinha pego com dez anos de idade, e eles tinham se separado quando
tinha quinze. Tudo isso tinha acontecido há mais de cinco anos. Ele não
conseguia imaginar que o velho rhea tinha morrido. O que ele estava fazendo
agora?
Em uma manhã o mestre tinha simplesmente dito “vou fazer uma viagem” e
sumiu das vistas, isso fora o fim da história.
— …Agora.
Tendo pego uma vista ao que o rodeava, ele esticou cautelosamente seu braço
direito.
Os ossos que ele tinha pensado que estavam quebrados, tinham se unido
novamente; parecia novinho em folha. Começando com o dedão, ele dobrou seus
dedos na palma, um de cada vez, verificando as articulações. Ele formou um
punho, depois abriu.
Ele repetiu o processo com seu braço esquerdo. Nenhum deles doía; nenhum
deles falhou em se mexer como esperado. Mesmo para um milagre de cura, isso
era impressionante.
— ……Hmm.
Então as costelas. Mas, quando ele estendeu a mão para verificar, ele sentiu algo
estranho em sua cintura.
Ele olhou para baixo para ver uma garota, não vestindo nada.
— Er… hmm.
O rosto de Sacerdotisa era inocente enquanto dormia. Aqueles braços elegantes,
tão finos que pareciam que eles poderiam quebrar a qualquer momento, estavam
envoltos em sua cintura, agarrados nele.
— ……
Matador de Goblins soltou um suspiro.
Ela era magra, tão delicada quanto se fosse feita de vidro. Ainda assim, ele
poderia, supostamente, imaginar como ela tinha se tornado uma aventureira.
Com muito cuidado, ele retirou os lençóis, só o suficiente para verificar seu
pescoço e ombro. A pele parecia ainda mais branca do que o costume para ela,
mas não havia sinais de um ferimento.
— Nn… oh.
Ela se mexeu ligeiramente. Seu rosto era calmo.
Matador de Goblins trouxe os lençóis de novo.
— ………
Ele devia ter sido um péssimo aluno. Tinha feito cinco anos desde que ele e seu
mestre tinham seguido seus caminhos, e ele ainda não tinha conseguido matar
todos os goblins.
E agora olhe para ele.
Seu fracasso pessoal já não afetava só ele. Havia cinco pessoas em seu grupo,
incluindo ele próprio. Um lamento baixo escapou dele.
— Ele nunca me ensinou sobre isso…
— Oh-ho, você está acordado. — Uma voz nítida veio inesperadamente.
Há quanto tempo ela estivera ali, a mulher pálida de pé ao lado da cama? Ela
estava vestida apenas com alguns panos através do qual ela era claramente
visível; vendo sua beleza, alguém podia a ter confundido com a estátua viva de
uma deusa.
— Então? Como foi? — sussurrou Donzela da Espada com os lábios carnudos,
pondo a mão na cama e se inclinando para ele. Ela usava um vestido cortado a
partir de um único pano; na sua mão estava o cajado espada-e-balança. Ela era a
santa que governava a lei. — Partilhar um travesseiro comigo… e ela?
— Não foi ruim. — Ele acenou para ela. Ela pôs a mão em sua bochecha. Seus
dedos estavam frios.
A voz de Matador de Goblins foi tão desapaixonada como sempre.
— Então esse é o milagre Ressurreição… conseguido por partilhar a cama com
uma virgem.
— Céus, já tinha ouvido falar disso?
— Por terceiros.
Donzela da Espada deu um olhar amuado e recuou desapontada.
Ressurreição: um milagre de cura que superava Cura Menor e Revigorar. Poderia
dar calor a um campeão velho, atormentado pelo frio, ou poderia acalmar o
temperamento de um herói furioso. Quando o rei bárbaro tinha sido gravemente
ferido, o protegeu dos espíritos da morte.
E ele veio partilhar a cama com uma das donzelas imaculadas que servia aos
deuses. Ou assim dizia vários contos antigos.
Mas, não eram só contos. Eles eram verdadeiros. Se uma donzela que servisse
aos deuses rezasse com todo o seu ser, então os deuses iriam ouvir sua súplica.
Naturalmente, sem dúvida, isso não queria dizer que alguém pudesse ser trazido
de volta do mundo dos mortos. Não estava bem no alcance dos humanos violar
as leis da natureza. Se alguém não fizesse parte dos poucos valentes escolhidos
pelos deuses, eles poderiam simplesmente se reduzir a pó ou suas almas
poderiam desaparecer. Mesmo os necromantes, com todos os seus
conhecimentos, não podiam trazer alguém verdadeiramente de volta dos mortos.
Ressurreição, melhor dizendo, era um milagre para aqueles que estavam na
fronteira entre a vida e a morte, os puxando de volta para esse lado do véu.
Poucos aventureiros tiveram a oportunidade de se beneficiar dela, por três razões
simples e óbvias.
Em primeiro lugar, como o milagre tinha que ser realizado dentro dos limites de
um templo, era praticamente impossível de o usar quando em uma aventura. Em
segundo, a reputação dos aventureiros como desordeiros levava muitas das que
poderiam realizar o milagre os evitar, para não serem consideradas meretrizes.
E, por último, uma compensação grande era esperada normalmente para esse
milagre.
Ele era a verdadeira intervenção divina, um milagre impossível para uma
sacerdotisa ranque Obsidiana realizar sozinha. Tudo isso em conta, poucas além
de Donzela da Espada tinham provavelmente alguma vez oferecido essa súplica
aos deuses.
Talvez ela tenha notado o olhar de Matador de Goblins, porque uma risada baixa
escapou dela.
— Eu compreendo que tomar minha compensação da sua remuneração seria
típico para um aventureiro.
— Eu tive a impressão de que essa não era uma aventura típica.
— Você nunca para de me surpreender. Você não é um Prata? O terceiro ranque?
— …Hum.
De momento, Matador de Goblins não teve nada a dizer como resposta. Já
haviam dito para ele “agir como seu ranque” mais vezes do que se importava em
recordar.
Donzela da Espada assentiu satisfeita ao vê-lo mudo, então ela deu uma pequena
risada.
— Não acho que posso ser considerada imaculada mais…
A arcebispa com seu olhar sorridente soou quase como se ela estivesse falando
sobre outra pessoa.
A faixa de pano preto habitual cobrindo seus olhos não estava lá, e Matador de
Goblins conseguia os ver pela primeira vez. Eles pareciam de alguma forma
distantes, como se não estivessem bem focados. Era a única imperfeição nessa,
senão, criatura perfeita que servia seu deus tão devotamente.
Sua beleza fora desfigurada de uma forma especialmente cruel.
— Goblins?
— Sim. — Donzela da Espada assentiu, sem parecer terrivelmente incomodada
pela resposta. — Deve fazer dez anos agora. Eu era uma aventureira também…
Finalmente seus olhos se moveram, lançando um olhar de canto para Matador de
Goblins.
— Quer ouvir o que eles me fizeram, na sua caverna, quando me apanharam?
— Eu já sei — disse Matador de Goblins brevemente.
Ela deixou um riso escapar como resposta. — Eu gritei que doía. Chorei como
uma garotinha.
Ela pôs o braço fino e pálido com suas cicatrizes em seu quadril generoso,
percorrendo seus dedos finos como se marcando um ponto.
— Mas — disse ela. Seus lábios carnudos deram lugar para um sussurro de uma
garota inocente. — Eu consigo ver. Apenas vagamente, mas posso ver você,
como uma sombra.
Sua mão saiu de sua cintura e se moveu lentamente, examinando
cuidadosamente. Os seus dedos porcelânicos traçaram seu esboço no ar.
— Eu os vejo em todos os lugares. Mas, sempre tenho a sensação de que se eu
desviar o olhar mesmo por um momento, eles irão simplesmente desaparecer…
—…
— …como se as pessoas não fossem mais que sombras.
Matador de Goblins permaneceu em silêncio.
Ele olhou por perto pelo seu equipamento. Ele viu seu capacete e armadura,
juntamente com sua espada, escudo e bolsa de itens, empilhados no final da
cama. Eles estavam encardidos com sangue e sujeira, como sempre foram, mas
ele reparou que sua armadura foi seriamente danificada. Ele tinha arrumado tudo
pouco antes de vir nessa aventura, mas agora parecia que precisaria a substituir
inteiramente.
— Eu quero reparar meu equipamento. Há alguma oficina ou loja de
equipamento nas proximidades?
Donzela da Espada não respondeu. Com seus olhos cegos, ela encarou uma
pessoa que parecia uma sombra para ela.
— Pessoas… mulheres… são tão fracas.
A cama macia rangeu ligeiramente. Donzela da Espada se deslizou para se deitar
ao lado de Matador de Goblins. Seus peitos amplos balançaram.
— Quando penso nisso, e depois penso na imensidão do mal nesse mundo, eu
começo a temer sermos dominados… — Ele sentiu sua pele macia e robusta. Seu
calor. — …Estou preocupada. Eu tenho medo. Deve parecer estranho.
Era rosas que ela cheirava? Uma fragrância ligeiramente doce.
— Eu posso ser Donzela da Espada, mas todas, todas as noites eu tenho receio.
Estou assustada. Não posso suportar!
Com isso, ela arranhou seus ombros, seu peito. O pano rasgou, expondo seu
corpo cicatrizado. Seria pouco de se estranhar se um homem em tal posição
tivesse perdido toda a razão.
Essa era Donzela da Espada.
A mulher que tinha lutado contra os Deuses Demônios e salvado o mundo há dez
anos.
E pensar que ela era tão bonita assim, mesmo depois de os goblins terem
queimado seus olhos. Se ela tivesse olhado para qualquer homem com lágrimas
nos olhos, quem poderia ter resistido?
— Esse é o mundo em que vivemos. Não importa quanta ajuda você tiver…
—…
— Não acho que posso esperar que mais ninguém entenda, posso?
— É mesmo?
Tal foi a breve resposta de Matador de Goblins, tão indiferente como sempre.
— “É mesmo?” ele disse. Hee-hee.
A arcebispa deu uma risada desapontada, ligeiramente incrédula.
— Isso é algo… estranho?
— Não acha? Eu sou a mulher que derrotou os Deuses Demônios. E aqui estou,
com medo de alguns goblins. — Com isso, ela se levantou, ajustando sua
vestimenta.
Ela pegou seu cajado e cobriu os olhos com um pano preto. Quando ela se ajeitou
mais uma vez, certa e firme, todos os indícios sedutores de antes tinham partido.
— Você. — Seus olhos escondidos se viraram suplicantes para Matador de
Goblins. — Vai me ajudar?
Ele não disse nada. Ou melhor, não podia dizer nada.
Pois quando ele abriu a boca para responder, ela desapareceu na sombra de um
pilar. Ele ouvia seus passos lentos ficarem cada vez mais distantes. Um momento
depois veio o som da porta grande abrindo e fechando.
Matador de Goblins deu um suspiro.
Ele se retirou delicadamente dos braços finos de Sacerdotisa e saiu da cama.
Quando ele se estirou para relaxar seus músculos rígidos, seus olhos se abriram.
— Hmm… Oh… Huh?
Ela se sentou languidamente, esfregando os olhos. Ela olhou à volta vagamente,
mas, quando seus olhos se focaram, seu rosto se tornou instantaneamente em
vermelho-vivo.
— Oh! Uh! Oh… Uhh… — Em um alvoroço, ela puxou os lençóis para esconder
seu peito nu.
Matador de Goblins pegou suas próprias roupas, não lhe dando sequer um olhar.
— Você viu alguma coisa?
— Sim.
O rosto de Sacerdotisa se amuou penosamente.
Confrontado com uma garota que parecia prestes a desatar a chorar, Matador de
Goblins pensou por um momento antes de abrir a boca.
— Se acalme.
Seus ombros deram uma pequena sacudida.
— Suas feridas desapareceram.
Então Sacerdotisa olhou para baixo, confusa.
Inseguro sobre o que dizer, Matador de Goblins se vestiu silenciosamente.
Primeiro sua cueca, então sua armadura interior, depois sua cota de malha.
Felizmente, não tinham sido danificadas
A armadura de couro, todavia, não havia nada a se fazer. Não que ele fosse
apegado a ela. Mas levaria um tempo para estrear um novo conjunto, e isso era
um problema.
— Seus… seus ferimentos também estão melhores…?
Sacerdotisa parecia ter recuperado finalmente a compostura. Ela se levantou da
cama também, ainda agarrada aos lençóis na sua frente.
— Sim. — Ele assentiu.
De pé e de costas com Matador de Goblins, Sacerdotisa começou a se vestir.
Roupas íntimas simples cobriram seu traseiro e seu peito pequeno, e uma
camiseta por cima. Ela deu um olhar lamentável para sua cota de malha, que
estava faltando um pedaço grande no ombro, depois pôs suas vestes. Elas eram
simples, refletindo a devoção à pobreza que os adeptos da Mãe Terra arcavam
voluntariamente, mas cada rasgão tinha sido consertado cuidadosamente.
Ela também não usava maquiagem de qualquer tipo. Em comparação com
Matador de Goblins, com seus equipamentos pesados, ela levou apenas alguns
momentos para se vestir.
— Matador de Goblins, senhor…
— O que?
Ele se virou para a voz hesitante. Enquanto suas roupas farfalhavam, ele tinha
colocado suas calças e grevas. Goblins eram pequenos, e a proteção para as
pernas não podiam ser ignoradas.
— Você não fez nada… precipitado… nem… nem nada, fez?
— O que te faz pensar que eu fiz?
— Você parece… diferente de alguma forma.
Nisso, sua mão parou de se mover, só por um segundo.
— ……Não — disse ele firmemente, após um momento de silêncio.
Ele pegou o capacete, que tinha alguns amassados novos, e o deslizou sobre sua
cabeça. Ele inspirou e expirou.
— Nada de diferente.
Ele podia sentir os olhos de Sacerdotisa cravados nas suas costas, como se prestes
a dizer algo, mas Matador de Goblins continuou.
Ele tinha de ir obter armas novas, equipamentos novos, provisões, medicamentos
e muito mais. A coisa mais importante no extermínio de goblins era a preparação.
— Hum, Matador de Goblins, senhor…?
— O quê?
Foi justo quando ele se virava lentamente em direção a voz baixa.
— Aí estão vocês!
A porta grande foi aberta com muita força, correspondendo as poderosas
emoções da pessoa entrando no quarto.
— Ouvi que vocês dois acordaram! Como estão? Estão bem?
O dono da voz calma e animadora veio saltitante. Era, é claro, Alta-Elfa
Arqueira.
Com seu cabelo voando por trás dela e suas orelhas longas balançando, ela era a
imagem viva da alegria. Sorrindo como uma criança, ela foi seguida por Anão
Xamã e Lagarto Sacerdote, nenhum dos quais mostravam bem seu entusiasmo.
— Parece que vocês estão sem nenhum arranhão, Corta-barba e jovenzinha.
— Ahh, isso é o mais importante. Parece que a magia foi realizada a tempo.
Todos sorriram, com suas vozes animadas.
Com um grunhido baixo, Matador de Goblins olhou para o rosto de cada um
deles e assentiu. — Todos vocês estão bem?
— Você está nos perguntando, Orcbolg?
— E o canário?
— Bem, também! Orcbolg, acho que você estava em maior perigo do que todos
nós. — Alta-Elfa Arqueira contraiu seus lábios e saltou levemente na cama, se
afundando nela. — Que cama! Você sabia que ela estava como “Matador de
Goblins, senhor?!” assim que chegou? Chorosa e tudo mais!
— O-o-o qu…?! Você me prometeu que não ia…!
Sacerdotisa ficou vermelha com a provocação de Alta-Elfa Arqueira, balançando
os braços vigorosamente em protesto.
Alta-Elfa Arqueira mal notou. — Se eu não lhe dissesse, como é que saberia?
Lagarto Sacerdote lambeu felizmente a ponta do seu nariz com sua língua.
— Bem, seja como for, agora não há nada que nos impeça de retomarmos nossa
exploração.
Havia, entre outros assuntos, os goblins que tinham escapado da última vez.
Matador de Goblins assentiu, e o seu capacete danificado rangeu ligeiramente.
— Hmm — suspirou Lagarto Sacerdote e revirou os olhos. — Ou talvez
devêssemos cuidar primeiro de nosso equipamento…
— O que há com você, Escamoso? Primeiro, tenhamos uma refeição! Meu
estômago está se comendo!
— Ah, o que eu estava pensando? — Lagarto Sacerdote esbofeteou sua testa com
uma falsa consternação da provocação de Anão Xamã.
Sacerdotisa riu do gesto cômico, fazendo Alta-Elfa Arqueira estreitar os olhos
como um gato.
— Você pode estar com fome, anão, mas se não perder um pouco de peso, acho
que o seu cinto vai explodir!
— Diga o que quiser, minha amiga peito-plano, mas sou conhecido como um
bon vivant!
— Do que você me chamou? — As orelhas de Alta-Elfa Arqueira se eriçaram, e
os dois procederam em uma das suas argumentações barulhentas.
Matador de Goblins observou atentamente a cena familiar. Ele parecia um
viajante que tinha visto um fantasma e estava tentando saber se o que ele viu
agora era real.
— …Ninguém comeu ainda?
Tinha levado um momento para vir com a questão, e não foi dirigida a ninguém
em particular.
— Ainda não — respondeu Sacerdotisa. — Em parte, porque eu tive que ajudar
com a Ressurreição.
— Por quê?
— Tivemos uma promessa, não tivemos?
Ele não parecia compreender seu significado.
Como se fosse a coisa mais natural do mundo, ela continuou: — Quando
atravessássemos isso, iríamos todos ter uma refeição juntos.
— Hmm…
— E você tem de manter suas promessas, certo?
Então ela sorriu, como uma flor desabrochando sob à luz do sol.
Interlúdio: De Um Aventureiro
Bem Intrometido Com Outros
Aventureiros

Ahh, droga! Meu traseiro dói! Eu sabia que não podia confiar em carruagens.
Eu e meu amigo aqui tem se venturado por todos os lados, e me deixe lhe dizer,
se os deuses quisessem que os aventureiros rolassem por aí, eles teriam nos dado
rodas.
Nós? Estamos… bem, estamos fazendo uma entrega. Nós fazemos isso às vezes.
Às vezes… alguém nos pede.
E quanto a vocês, garotas? Quero dizer, um grupo feminino pode ter os seus
próprios desafios.
O que você quer dizer com “tipo o quê”? Digo, vocês não podem montar, e uma
vez por mês, vocês… vocês sabem. Vocês precisam descansar o tempo to…
Ouch!
Pfft! O que está fazendo? Quem simplesmente lança Teia de Aranha em um cara
de repente?
— Eu, peço desculpas pela minha, companheira, indelicada…
…É, é. Desculpe por isso… você sabe…
Mas, sinceramente. Um grupo de três garotas? Vocês devem ter cuidado. Não
apenas com monstros e bandidos também. Existem também alguns aventureiros
bem despudorados à solta. Iniciantes, não são? dizem eles. Precisam de ajuda?
Bem, parece que a aventura de vocês foi muito bem! Só precisamos de um pouco
de grana por lhes mostrar como se faz! E se vocês não puderem pagar… bem, se
tiverem sorte, eles só irão pegar seus equipamentos. Mas, caso contrário, vocês
podem acabar manietado de dívidas.
Sempre existiram pessoas mais experientes que vão se aproveitar daqueles
menos experientes. Não está pior do que costumava ser, no entanto. Antigamente
eles davam porrada nos novatos no bar e depois os despia.
— Isso foi, vinte, ou trinta anos, atrás, não foi?
O quê? Não quer que eu as assuste com histórias dos velhos tempos? Está tudo
bem. Um pouco de medo faz você prestar atenção. Não somos todas pessoas tão
más, mas também não somos todos tão bons.
Digo… somos todos aqueles-que-possuem-palavras. Todos rezamos da mesma
forma, não é?
Algumas vezes nós discutimos, nós lutamos, nós não nos damos muito bem. É
assim que as coisas são.
Ah, é. Por vezes se vê grupos que são, tipo, cheios de garotas exceto por um cara.
Muito bom. Mesmo meio sórdido.
Pessoalmente, não me interessa, no entanto. Sou a favor do amor, sabe? O amor
tem que ser livre!
— ……
Ei, o que eu disse para merecer um olhar assim?
Enfim, garotas, o ponto é; tenham cuidado.
Ouvi dizer que há coisas estranhas acontecendo ao redor dessa “cidade da água”
recentemente. E se ele está lá, significa que tem algo a ver com goblins.
Leve a melhor espada que goste, mas se eles atacarem você antes de poder puxá-
la, não servirá de nada.
Capítulo 8: Um Momento de
Descanso

A luz quente do sol irradiava do céu, e uma brisa fresca soprava sobre a água.
Pessoas conversavam em um mercado animado, se divertindo.
Em um lugar onde tantas pessoas de raças e credos diferentes se reuniam, os
aventureiros praticamente não eram uma visão incomum. Mas, a maioria dos
aventureiros não eram uma sacerdotisa jovem, e um homem usando um elmo de
aço em sua cabeça no meio da cidade, em plena luz do dia.
— Estou tão feliz por termos um tempo bom!
— Sim.
Sacerdotisa seguia atrás de Matador de Goblins, com seus lábios ligeiramente
erguidos. Ela caminhava escrupulosamente, segurando algo cuidadosamente em
seus braços.
— …Quer que eu segure?
— Não, estou bem — respondeu ela com um sorriso.
— Percebo — disse Matador de Goblins, assentindo enquanto ele diminuía o
ritmo.
Logo, seus ombros estavam nivelados com a cabeça de Sacerdotisa, e ela olhou
para o seu capacete. O seu gesto lembrava um cachorrinho curtindo sua primeira
caminhada.
Os pedestres olhavam para eles enquanto passavam; os comerciantes
espreitavam para fora de suas barracas. Sacerdotisa abriu a boca para lhe
perguntar sobre isso, mas, acabou por fechá-la outra vez sem dizer nada. Esse
era Matador de Goblins. Sem dúvida, ele não estava dando nenhuma
importância.
O que seus amigos achariam se eles vissem isso? Ela não conseguia imaginar.
Ela sabia, contudo, que Alta-Elfa Arqueira, Lagarto Sacerdote e Anão Xamã
estavam os acompanhando naquele momento.
— Certo, Orcbolg! Vai com calma!
— Será menos um lutador na linha de frente e um conjurador. Não vamos tomar
nenhum risco indevido.
— Mas, eu vou te dizer o que é arriscado: um guerreiro sem armadura!
Os três aventureiros tinham mencionado essa ideia durante a refeição.
Sacerdotisa, que ainda estava se sentindo diferente, só podia curvar a cabeça e
pedir desculpa.
O que os surpreendeu, no entanto, foi mesmo a resposta bastante sincera de
Matador de Goblins.
— Obrigado. Vou deixar vocês cuidarem disso.
Sacerdotisa ainda não conseguia compreender o que estava no fundo do seu
coração, mas, agora ela tinha uma ideia bastante boa de como ele pensava.
Os goblins usaram aquela câmara funerária como o local para uma emboscada,
significando que era claramente parte do território deles. Isso queria dizer que os
aventureiros tinham de revistar a escadaria escondida que eles tinham encontrado
atrás do caixão de pedra, se por qualquer outra razão o campeão ainda estivesse
vivo.
Essa batalha tinha, presumivelmente, enfraquecido significativamente os
goblins, mas também tinha impactado o seu grupo.
E o tempo estava no lado dos goblins.
O grupo tinha uma patrulheira, um monge e um conjurador, perfeitamente
capazes, e não podiam se darem o luxo de perderem tempo. Nesse meio tempo,
o guerreiro e a sacerdotisa ficariam para trás para descansar suas mentes, corpos
e reparar seus equipamentos para estarem preparados para a próxima excursão.
Contudo, houve um problema.
Talvez, devido ao volume de clientes, a oficina na Guilda dos Aventureiros daqui
não prestavam ordens especiais. Quando Matador de Goblins tinha solicitado por
uma armadura de couro, um escudo e uma espada, lhe fora recusado com um não
lento de cabeça.
Por fim, ele tinha determinado sair para comprar o que precisava, e Sacerdotisa
disse que iria com ele. Ela o questionava insistentemente, mesmo ele dando
respostas claras…
— Sei que todos estão preocupados com você. Tem certeza de que está bem?
— Sim.
— Seus ferimentos estão curados?
— Sim.
— Suas feridas foram muito piores que as minha.
— Sim.
— Você sabe que não deve fazer nada tolo, certo?
— Sim.
— Hmm. — Sacerdotisa estufou as bochechas e parou de andar.
Matador de Goblins deu vários passos a mais antes de notar. Ele parou e olhou
para trás; ela estava o encarando. Ele inclinou a cabeça, claramente alheio a
qualquer problema.
— Qual é o problema?
— …Céus! Como assim “qual é o problema”? — Sacerdotisa apontou o seu dedo
diretamente para ele. — Estou zangada! — Ela franziu as sobrancelhas o máximo
que pôde, mas não conseguiu o intimidar.
Em parte, era o olhar das pessoas à volta. Eles deveriam ter pensado que os dois
aventureiros estavam tendo uma discussão de namorados ou talvez que estavam
tendo uma briga de irmãos. Quem poderia dizer? Os transeuntes olharam
desconfiados no início, mas, alguns sorrisos logo surgiram entre eles.
— Matador de Goblins… senhor! Sim foi a única coisa que você disse nessa
conversa toda!
— É?
— É!
— É…?
— E você disse muitos “é” também.
— …Hum.
Matador de Goblins cruzou os braços e grunhiu.
A dupla ficou em silêncio, cercados pelos balbuciar da rua. Os pássaros voavam
vagarosamente no céu azul acima deles enquanto ele refletia sobre algo ao longo
do tempo. Por fim, ele deu um aceno devagar.
— …Eu irei mudar.
— Por favor! — disse Sacerdotisa e riu.
Quando um aventureiro sério desse dizia que iria mudar, ele provavelmente iria.
Eles tinham se conhecido apenas há alguns meses, mas ela sabia bem sobre ele.
Ela partiu de novo com um ritmo alegre, e Matador de Goblins logo a igualou.
Em pouco tempo, eles estavam andando lado a lado de novo, com Sacerdotisa
mais uma vez nivelada aos seus ombros. De certa forma, isso, por si só, a fez
muito feliz.
— Você disse algo sobre compras…?
— Sim — respondeu ele, então levantou a mão com se dissesse espere.
Aparentemente, ele tinha algo mais para dizer.
Outra pequena gargalhada escapou de Sacerdotisa com sua demonstração
inexperiente de consideração.
— Irei ver algumas armas e armadura. As minhas estão danificadas.
O capacete de Matador de Goblins estava virado na direção dela. Ele escondia
seu rosto e qualquer expressão, mas seus olhos vermelhos brilhavam
ligeiramente dentro dele.
— O que você vai fazer?
— Hmm… — Sacerdotisa pôs o dedo magro em seus lábios e inclinou a cabeça.
A brisa levantou seu cabelo, o lançando atrás de sua cabeça.
Ela achava que a resposta ao que estava prestes a dizer era óbvia, mas…
— Você está realmente tentando perguntar a minha opinião?
— Acho que sim.
— Caramba…
Matador de Goblins parecia achar que sua resposta foi bastante natural.
Sacerdotisa suspirou. Por ora, ela deixaria estar. — Minha cota de malha também
foi arruinada — respondeu ela, obedientemente, ajustando sua expressão. —
Pensei que talvez houvesse algum lugar que conseguisse consertar.
— Provavelmente seria mais rápido comprar uma nova.
A resposta de Matador de Goblins foi completamente inexpressiva.
Ele realmente não entendeu. Sacerdotisa olhou para ele com os olhos
entreabertos.
— Eu não quero.
— Por que não?
Dessa vez, foi a vez de Matador de Goblins parecer perplexo.
Sacerdotisa apertou o embrulho contendo sua cota de malha e murmurou: —
Porque… essa é a primeira coisa que fiz no qual você me elogiou.
Matador de Goblins parou e olhou para ela.
Sacerdotisa ajustou o pacote em seus braços como se para lhe mostrar um
tesouro. Envergonhada, ela desviou seus olhos.
— Você não se lembra? Você tinha dito que era um pouco largo, mas pararia
uma lâmina.
— Disse? — Sua voz parecia de alguma forma tensa, e então ele sussurrou: —
Suponho que sim.
Eles entraram em uma loja de equipamentos com aspecto bastante próspero.
Os tinidos de um martelo batendo em metal vinha do fundo da loja. Armas e
armaduras estavam espalhadas pelo interior escuro. Ela tinha uma vitalidade que
estava faltando na oficina da guilda.
— Uau… — Sacerdotisa piscou várias vezes, compreensivelmente
impressionada.
Estava cheio de armas que ela nunca tinha visto, armaduras que ela não podia
imaginar como usar e uma raridade após outra. Ela notou uma arma que tinha
reconhecido no meio de tudo isso e a pegou gentilmente com um suspiro suave.
— Eles têm até manguais. — Esses consistiam em dois bastões com um metal
pesado fixado, conectado por uma corrente; se dizia que tinham evoluídos de
uma ferramenta de debulha. Clero da Mãe Terra tinha sido conhecido por os
usarem, e Sacerdotisa estufou seu pequeno peito orgulhosamente com o seu
conhecimento humilde.
— Vai comprar?
— Não… — Ela observou a sala com a pergunta direta de Matador de Goblins.
Ela não tinha a coragem para ficar na linha de frente do grupo, e para a proteção
pessoal, ela tinha o cajado de monge. — …Acho que não.
Sacerdotisa devolveu cuidadosamente o mangual à sua prateleira, então começou
a falar quando ela notou um homem que parecia ser o lojista.
— Hm, com licença…
— Hmm? — O homem olhou para ela, e Sacerdotisa olhou para o chão.
Ele era jovem, talvez cerca de vinte, mas tinha o ar de um adolescente que tinha
acabado de se tornar adulto.
Não era que ele parecia rude. Suas roupas estavam arrumadas, e seu cabelo e
barba bem cortados. Mas, a sua resposta desinteressada o fez parecer
estranhamente frio.
— Hmm. Seja bem-vinda. O que posso fazer por você?
— Ah, uhum… Você poderia… consertar essa cota de malha?
Sacerdotisa estendeu sua armadura hesitantemente, e o comerciante lhe deu uma
olhada rápida. Depois, ele chegou ao buraco no ombro, esticou a armadura, e
expirou.
— Esse é um belo buraco. Não acha que seria melhor comprar um novo
conjunto?
— Eu preferiria… que fosse reparada…
— Reparar, claro. O cliente sempre tem razão…
O olhar do homem percorreu ao longo dos braços finos de Sacerdotisa. Sem
reserva, lascivo, ele olhou para ela dos pés à cabeça como se a tragando.
— Precisa de um novo visual, senhorita?
— Não, obrigada…! — Sacerdotisa balançou a cabeça, sentindo uma onda de
calor em suas bochechas.
Era assim que os lojistas da cidade tratavam normalmente os seus clientes? Teria
sido inconcebível na fronteira.
Ou ele estava simplesmente provocando porque ela era claramente uma novata?
Esse pensamento a incomodava.
— Eu também preciso de alguns reparos.
Era Matador de Goblins. Quando Sacerdotisa levantou os olhos novamente, eles
se encontraram com uma costas vestida de malha.
Perante o capacete de aço sujo, o comerciante deu um murmúrio estranho.
— Um ranque P-Prata… — estremeceu a voz do lojista. Aparentemente, ele
tinha reparado a insígnia de prata pendurada envolta do pescoço de Matador de
Goblins. — Oh, s-sim, senhor. Reparos. Com certeza, senhor.
— Minha armadura de couro e meu escudo redondo. Rápido, se não se importa.
Juntamente com essa cota de malha.
— G-gostaria que fossem limpos? E seu escudo parece estar perdendo seu
cabo…
— Não os limpe. E eu mesmo removi a empunhadura.
— Hum-hum, quanto ao pagamento, senhor, incluindo a taxa de urgência…
— Não se preocupe.
Sem hesitar, Matador de Goblins revirou sua bolsa e soltou um saco de couro em
cima do balcão. Ele fez um barulho grande quando caiu e se esparramou. Peças
de ouro caíram da abertura.
— Obr-obrigado, senhor…!
— Eu também preciso dar uma olhada nas suas espadas.
— Ah, hum, eu tenho uma lâmina de mithril nesse momento!
— Eu não preciso disso.
O seu passo ousado e despreocupado o levou para onde uma variedade de
espadas estavam penduradas na parede. Ele pegou uma com uma lâmina de dois
gumes completamente normal. Tinha uma empunhadura longa: uma espada de
“uma-mão-e-meia”.
— Ahh, se esse é o tipo de lâmina que você prefere, senhor, eu tenho uma forjada
por anão…
— Muito longa.
Ele pendurou a espada de volta no suporte, depois começou a olhar pelas
mercadorias até que ele chegou a uma espada pequena de um gume.
— As espadas curtas são mais do seu agrado, senhor? Eu tenho uma encantada
encontrada em alguma ruína…
— Encantada?
— Sim, senhor! — A voz do lojista aumentou à uma oitava. — Ela evita que a
lâmina cegue, claro, mas também soa um alarme quando inimigos estão perto.
— Eu não preciso disso. — Seu tom foi franco o suficiente para ser uma arma
por si mesmo. — Vou levar essa. É um pouco longa, mas posso raspá-la eu
mesmo. Eu vou usar a sua pedra de amolar enquanto esperamos por seus reparos.
— M-mas, senhor… Com uma lâmina dessa, o melhor que poderia esperar caçar
é… goblins…
— Isso é o que pretendo fazer.
O comerciante não teve nada para dizer com isso.
Mas, Matador de Goblins, como sempre, pareceu não perceber. Talvez ele
quisesse dizer para ela: Não deixe isso te afetar.
Ele era uma pessoa difícil de se compreender.
Sacerdotisa ficou ligeiramente vermelha e deu um suave e silencioso suspiro.
— Hee-hee… Ah-ha-ha-ha-ha-ha!
— O quê?
— P-porque você… Ele…
Quando eles deixaram a loja depois de terem feito os reparos, uma brisa da tarde
se agitava em torno deles. O céu azul brilhava com o sol nos princípios do verão,
e o som do fluxo de um riacho próximo era agradável aos ouvidos.
— Eu… eu sei que não deveria rir, mas…
Sacerdotisa limpou as lágrimas nos cantos dos seus olhos, com sua risada tão
clara quanto um sino.
O comerciante desconcertado tinha tentado dizer algo quando Matador de
Goblins desbastou a espada mais e mais, mas…
— “Eu só vou a lançar; não faz diferença”!
— É verdade, não é?
— Mas a cara que ele fez! Foi inacreditável!
— Foi?
— Sim, foi! — Sacerdotisa finalmente falou entre a torrente de riso.
Ela supôs que esse comportamento não era agradável para uma discípula da Mãe
Terra, mas certamente parecia bom. Sua consciência a repreendeu, então ela
também fez uma pequena oração: Apenas um pouco não fará nenhum mal, fará?
Nessa hora…
— Se aproximem! Um delicioso “ice crème” que derrete-na-boca! É um sabor
sensacional!
Uma voz ressoou sobre o ruído, juntamente como um sino de mão tilintando.
— Ice crème…?
A curiosidade fez Sacerdotisa parar em frente a uma barraca apertada. As
crianças comemoraram e se apressaram pela rua pavimentada para dar ao dono
seus trocados.
— Me pergunto o que aquele lugar está vendendo.
A essa distância, era difícil dizer, mas a julgar pelas expressões das crianças, era
algum tipo de doce.
Sacerdotisa deu uma olhadela para Matador de Goblins, que assentiu e disse: —
Pode ir.
— Sim, senhor! Obrigada!
Sacerdotisa balançou a cabeça assentindo rapidamente toda sorridente, depois
correu, com seus cabelos voando por trás dela.
Ela ficou um pouco envergonhada por fazer fila com as crianças, mas…
Ainda estou com quinze.
Era só uma diferença de dois ou três anos, ela disse a si mesma. E, finalmente,
ela teve um dos doces para si.
O ice crème acabou por se parecer com um gelo branco derretendo. Havia uma
cereja vermelho-viva no topo, possivelmente para lhe dar uma coloração.
Sacerdotisa pegou uma parte boa do recipiente crocante e frito, e levou a sua
boca.
— U-uau!
Instantaneamente, suas bochechas se avermelharam, e um sorriso desabrochou
em seu rosto. Ela se virou para Matador de Goblins com uma mistura de surpresa
e empolgação.
— Isso é incrível! É gelado e doce…!
— Você gosta disso?
— Sim, muito! No Templo, nós não conseguíamos comer muitas coisas doces…
— Ela sorriu desconfortavelmente com um pequeno riso. — Me sinto como se
estivesse quebrando as regras… só um pouco.
— Entendi. Hmm. Uma sobremesa gelada.
Matador de Goblins observou a barraca com uma certa quantidade de fascínio.
O ice crème estava armazenado em um recipiente de metal bem arrefecido. Ele
seria tirado e empilhado nos potes. Tanto quanto ele poderia dizer, não tinha
sinais de magia envolvido.
Ou seja, o comerciante moreno não parecia ser nenhum mago.
— …Isso não é magia. Como é que você faz isso?
— Beeeem, tenho de admitir que é um mistério para mim como funciona. — O
comerciante não pareceu incomodado com a questão; ele continuou a sorrir
enquanto deslizava uma tampa sobre o recipiente. — Algum professor descobriu
que a água esfria mais rápida se colocar um pouco de impurezas nela.
— Hmm?
— E se você adicionar mais disso no gelo, ele fica ainda mais gelado!
— Entendo.
— Quer um pouco de vinho gelado? É fácil com isso, acredite em mim, funciona
com frutas também.
— Hmm.
— Então ele pensou, e se você tentar com leite de vaca? E aqui estamos nós!
— Entendi. Muito interessante. — Ele parecia tão intrigado quanto uma criança
que tinha aprendido o segredo de um truque de mágica. Era um tom pouco
familiar para ele, que provocou Sacerdotisa piscar várias vezes.
Matador de Goblins pegou uma peça grande de ouro da sua bolsa e deu ao
comerciante.
— Um, por favor. Fique com o troco.
— Certamente, senhor!
O comerciante extasiado pegou o ice crème com um movimento hábil. Matador
de Goblins o observou, hipnotizado.
— …Hee-hee.
Matador de Goblins olhou para trás, mistificado pela risada que escapou de
Sacerdotisa.
— O quê?
— Nada. Eu só entendi finalmente como você conseguiu saber tanta coisa,
senhor.
— …Entendi.
Talvez fosse bom se sentar calmamente em vez de ficarem em pé enquanto
comiam. Com a sugestão de Sacerdotisa, os dois se sentaram em um banco ao
longo da beira da estrada.
Eles se sentaram lado a lado, levando a sobremesa até suas bocas e saboreando
o frio e a doçura em suas línguas, vendo a multidão passar.
Quando Sacerdotisa roubou um olhar de soslaio, ela o viu comendo através da
sua viseira como de costume.
A luz quente do sol se infiltrava através das árvores. Uma brisa fresca soprava
através da água. As pessoas conversavam alegremente. Homens e mulheres bem
vestidos passavam, enquanto as crianças corriam pelas redondezas com sorrisos
enormes em seus rostos. As carruagens puxadas por cavalos ribombavam pelos
ladrilhos cuidadosamente colocados.
— É estranho, não é? — sussurrou Sacerdotisa, franzindo sua testa com a cena.
— Nenhuma dessas pessoas têm ideia de que existem goblins bem debaixo
delas…
— …Sim.
— Algumas pessoas foram feridas, e tenho certeza… que eles têm medo disso,
mas…
Mas, ninguém parecia realmente se importar. O empregado da loja de
equipamentos não. O vendedor de ice crème não. Ninguém perdia o tempo aqui.
E quanto a cidade fronteiriça? Ela sentia que a ameaça dos monstros era real e
próxima, mas…
— …Quando eu era pequeno… — murmurou ele.
— O quê…?
— Houve uma época em que pensei que se eu desse um único passo, a terra
poderia se abrir debaixo de mim e eu morreria.
— Hã…?
A colher ainda estava na mão de Sacerdotisa quando Matador de Goblins falou.
— Eu estava com medo de andar.
A cereja tombou do topo do seu ice crème derretido e rolou para o fundo. Ela
ignorou isso e se focou no rosto de Matador de Goblins, embora ela não pudesse
ver a expressão dele por detrás do seu capacete.
— Tal coisa não é impossível. Mas, ninguém se preocupa com isso. Eu acho isso
estranho.
Mas, ele parecia rir silenciosamente.
— Minha irmã riu de mim, e dela também, mas foi necessário muito tempo antes
de perceber que, com medo ou não, eu tinha de caminhar.
— Isso é…? Isso é verdade?
— É verdade.
O vento passava por eles, trazendo consigo o farfalhar das folhas.
— Mas ainda hoje, estou com muito medo.
Do que e porque, ele não disse. Nem Sacerdotisa considerou perguntar.
Faziam apenas alguns meses desde que eles tinham se conhecido, mas ela
estivera com ele constantemente todo esse tempo. Não tinha como ela não
compreender.
— Eu agradeço sua ajuda — disse Matador de Goblins, se esforçando para soar
desapegado e legal, como sempre. — Mas, sua ajuda não é estritamente
necessária.
Sacerdotisa não respondeu.
Ela olhou para baixo e rodou atoa sua colher no seu ice crème derretido. Por fim,
ela pegou a cereja e a estourou em sua boca. Em meio ao gosto agridoce estava
o caroço duro.
Ela estufou suas bochechas, ficando emburrada.
— Você disse para fazer o que eu gostasse, não foi?
— Disse?
— Sim, você disse.
—…
— …Você realmente não tem jeito.
Matador de Goblins olhou para o céu azul, como se estivesse incerto se deveria
responder a isso.
Sacerdotisa brincou com o caule da cereja entre seus lábios, ignorando as boas
maneiras.
Finalmente, ela disse só uma palavra curta.
— Desculpa.
— Não quero ouvir isso.
— …Desculpa.
— …Não que eu me importe.
— Quero dizer, têm coisas que me assustam também — sussurrou ela.
Se as palavras alcançaram seus ouvidos ou não, ela não tinha certeza.
— …Que frio!
Um pouco do ice crème derretido pingou em sua mão, provocando sua
exclamação surpresa. Ela olhou desajeitadamente para Matador de Goblins e
limpou a gota com um lenço.
A sobremesa crocante que servia como um recipiente estava completamente
encharcada.
— …Tsc.
Ela enfiou o resto da sobremesa em sua boca, e o frio lhe deu dor de cabeça. Ela
limpou discretamente as lágrimas que brotaram de seus olhos, fingindo que elas
não estavam lá; então se levantou.
— Muito bem! Vamos agora, Matador de Goblins, sen…
— Matador de Goblins! Aí está você!
Sacerdotisa parou. Ela tinha certeza que reconhecia essa voz espirituosa, mas ela
certamente não esperava em ouvi-la.
Ela olhou para cima para ver um aventureiro de aparência durona em uma
armadura azul, carregando uma lança; era Lanceiro.
— Que ideia foi essa, chamar um cara por carta…? Vou contar sobre você para
Garota da Guilda!
— Contar a ela o quê?
— Que você e essa garota estavam tendo um encontrozinho!
— Estávamos fazendo compras.
Matador de Goblins esbarrou em Lanceiro, que tinha vindo com pleno vigor, tal
como o fez na terra natal.
Próxima, Sacerdotisa ficou ligeiramente vermelha e rapidamente se recompôs,
embora não houvesse razão.
— Heh, heh, heh-heh.
Bruxa, que tinha os membros bem formados, seguia Lanceiro tão fielmente
quanto uma sombra. Seus olhos caíram sobre Sacerdotisa, depois se fecharam
um pouco, sedutoramente. Sacerdotisa se viu engolindo em seco.
— Ah, hum…
— Você me parece, bem. Isso é, bom.
— Ah, sim, senhora.
Sacerdotisa se levantou apressadamente do banco e curvou a cabeça, depois a
ergueu para endireitar sua mitra.
Ela achava Bruxa uma mulher impressionante e era relutante em se envergonhar
na frente da conjuradora. Ela limpou a garganta discretamente.
— Hum-hum… E… O que traz vocês aqui? Vocês têm trabalho aqui também?
— Sim, trabalho. Isso está, bastante, correto.
Um risinho. Sua resposta, como a sua risada, parecia envolta de fumaça.
Sacerdotisa não estava certa se a conjuradora estava brincando com ela.
Bruxa tirou um cachimbo longo de algum lugar ou outro com um abanar de mão,
e o acendeu com um murmúrio de “Inflammarae”.
Um aroma doce flutuou dele. Envolta pelo aroma, Bruxa disse “anda”, e deu a
Lanceiro um tapinha no ombro.
— …Tsc.
Lanceiro continuou a olhar para Matador de Goblins, e depois de um tempo, ele
deu um estalo forte com a língua.
— Escute.
— Hmm.
— Céus. Eu não sou o teu rapaz de entregas, entendeu? Você me fez vir até aqui
para te trazer isso…
Ele deu a Matador de Goblins um saco de linho com alguma coisa dentro o
estufando. Parecia pesado.
Matador de Goblins o colocou cuidadosamente em sua bolsa. Seu capacete se
virou para Lanceiro, e ele disse indiferentemente: — Desculpe. Obrigado pela
ajuda.
— …Hrg.
— Eu te pedi porque você é o aventureiro mais tranquilo e confiável que
conheço.
— …Hrrrrgg…!!
— Heh, heh, heh-heh.
Bruxa pareceu incapaz de conter sua risada, e Lanceiro olhou furiosamente para
ela.
Naturalmente, Bruxa não se preocupou, e o olhar a ela não surtiu efeito.
— …Precisa de mais algumas pessoas? Talvez sejamos capazes de ajudar… por
uma recompensa, obviamente.
— Não. Daremos um jeito.
Sacerdotisa olhou para Bruxa e corou um pouco.
Desde sua batalha contra os goblins, as duas conjuradoras pareciam ter
conseguido se entender de certa forma.
— Enfim, eles não têm coisa assim por aqui? Compre localmente!
— Não posso usar a variedade local. — Isso era vergonha, arrependimento, ou
os dois? Matador de Goblins balançou a cabeça com a queixa de Lanceiro. —
Não é bom o suficiente.
— Que seja. — Lanceiro deu de ombros, se esforçando em expressar
aborrecimento e desinteresse simultaneamente. — Para que vai usar isso, afinal?
— Eu acho que você sabe.
O sorriso de Sacerdotisa aumentou. Sim, é claro. Ele sempre tinha apenas uma
coisa em mente. Na verdade, era isso que a preocupava às vezes, o que a fazia
incapaz de o deixar sozinho……
— Extermínio de goblins.
Ele era um caso perdido.
Assim, Sacerdotisa e Matador de Goblins se separaram de Lanceiro e Bruxa,
terminando suas compras e seguindo de volta. O longo dia de verão estava
lentamente avançando ao crepúsculo, com o pôr-do-sol vermelho projetando
sombras longas. Mesmo na silhueta exagerada, Sacerdotisa só alcançava até seus
ombros.
— ……
Ela olhou distraidamente para ele; ou o capacete que escondia sua expressão.
Será que algum dia vou o alcançar?
A insígnia que balançava ao redor do seu próprio pescoço era Obsidiana. O nono
ranque. Muito distante do seu Prata.
Ele era chamado de Matador de Goblins por causa dos goblins que ele sempre
lutava. Tinha passado meses desde que ela tinha o conhecido. Havia algumas
coisas que ela entendia agora, mas havia outras que não. E havia algumas coisas
que ele lhe tinha ensinado, e outras não.
— …Ah.
Saindo do seu devaneio, ela percebeu que eles já tinham chegado ao seu destino.
O borbulhar da água era bastante alto agora, e quando ela olhou para cima, lá
estava o Templo da Lei.
E três aventureiros totalmente equipados.
Um sorriso se espalhou pelo rosto de Sacerdotisa. No pôr-do-sol, parecia uma
rosa desabrochando.
— Pessoal! Conseguiram voltar!
— Pode acreditar que sim! Céus, isso foi difícil! — Alta-Elfa Arqueira acenou,
parecendo cansada, mas despreocupada. — Quando voltamos à superfície, vocês
não tinham retornado ainda. Então…
— Obviamente, estávamos conversando sobre à possibilidade de ir encontrá-los.
— Ao lado dela, Anão Xamã afagava sua barba branca e esbofeteou sua barriga
saliente. — Bem, tivemos alguns problemas. Nos deixem contar durante o jantar.
— Espere ai, anão! Falar sobre trabalho na hora das refeições não é permitido!
Não pode!
— Ah, tudo é “não permitido” com você! Como pretende arranjar um homem
desse jeito?
— Tsc…!
Alta-Elfa Arqueira entendeu o que ele quis dizer com isso, e suas orelhas se
esticaram.
Anão Xamã, é claro, tinha uma resposta pronta, e em pouco tempo eles estavam
lá como sempre.
— Céus. É sempre bom ver vocês dois se dando tão bem.
Quando eles tinham se conhecidos, Sacerdotisa tinha tentado parar essas
discussões, mas agora ela estava acostumada com elas.
Matador de Goblins deu uma olhada para suas brincadeiras animadas, mas logo
desviou o olhar.
— Me diga. Sobre esses problemas? …Eles envolveram goblins?
— Receio que não seja uma história boa para ser contada enquanto estamos aqui
parados. — Lagarto Sacerdote fez um barulho com a garganta e bateu a cauda
no chão. — Realizemos um conselho dentro do Templo.
— Bem, nesse caso… — veio Sacerdotisa com uma ideia. Ela passou o pacote
que estava segurando para Lagarto Sacerdote, que estendeu a mão para o pegar.
Ele incluía seu equipamento pessoal, juntamente com provisões para todo o
grupo. Todos eles iriam dar uma olhada nele juntos. — Eu faço o jantar dessa
noite. Conversamos depois disso.
— Não tenho nenhuma objeção. Meu senhor Matador de Goblins?
— Também não me importo — veio a resposta desapaixonada.
Sacerdotisa contraiu os lábios. Esse era o momento da verdade.
— Está bem, Matador de Goblins, senhor. Durante o jantar, você tem de falar
sobre algo além de goblins.
— Hr…
— Ha! Ha! Ha! Ha! — Lagarto Sacerdote revirou os olhos alegremente, e tocou
o seu nariz com a língua. — Devemos respeitar os pedidos dos seus
companheiros de viagem. Venham, vocês dois, vamos entrar.
Alta-Elfa Arqueira e Anão Xamã ficaram em silêncio quando ele sibilou para
eles… como sempre.
Lagarto Sacerdote os liderou bem de perto para entrar. Sacerdotisa foi em
seguida, mas:
— …?
— ……………
Ela percebeu repentinamente que Matador de Goblins, próximo a ela, parou onde
estava.
Nas sombras longas feitas pelo sol carmesim, ele ficou sozinho. Ele parecia uma
criança cujos amigos tinham ido para casa enquanto ele estava preso em seus
jogos.
Sacerdotisa não sabia o que trouxe a imagem a sua mente.
— Matador de Goblins, senhor? Vamos?
— …Sim… — murmurou ele quando ela o chamou. — Hmm.
— Companheiros. — Ele revirou a palavra estranha em sua boca. — …Suponho
que sim.
Então, Matador de Goblins e Sacerdotisa seguiram lentamente atrás deles, os
seus companheiros.
Interlúdio: Da Matança da
Seita do Mal

Não! Droga! Malditomalditomalditomaldito, gygax tudo!


Como pudemos nos atrapalhar tanto?! Como isso pôde acontecer?!
Pensar que o nosso local de ritual foi encontrado…!
Íamos nos estabelecer debaixo da cidade, invadir silenciosamente, atrair
sacrifícios para os goblins até que o rito de ressurreição estivesse pronto. Tudo o
que precisávamos era deixar os goblins à solta, os deixar raptar algumas
mulheres.
Se ao menos tivéssemos aquele amuleto, aquele item mágico, poderíamos
invocar nosso senhor, o Deus das Trevas…
Eu sabia que deveríamos ter se livrado daquela arcebispa astuta, um estorvo à
nossa parte.
A primeira a sentir a nossa ira será aquela Donzela da Espada maldita, quem
impediu o nosso milagre dez anos atrás. Como ela pode ainda se
chamar Donzela, depois que conspurcamos ela em seus lugares mais secretos? É
por isso que… Argh!
Por que todos os goblins morreram?! Onde foi que errei?! Nossos planos eram
perfeitos! Decisivo!
Não. Seus planos não eram não.
Es-es-es-essa voz! Meu senhor mais alardeado! Tenha piedade desse seu humilde
servo! Abençoe a mim com o mero resíduo do teu poder!
Não. Mas, olhe e veja.
Hrr…?!
— Pare aí mesmo, vilão! Hah! Sempre quis dizer isso!
— Por que você jogou fora propositadamente o elemento surpresa?
— Ah, você tem que avisar. Se puder provocar o outro cara, você pode o fazer
concentrar os ataques em ti.
Mulher com cabelo preto, duas delas… Aventureiras?!
Por quê?! Como?! Como descobriram o esconderijo da nossa seita?!
— Boa sorte, com crítico!
O qu…?!
— Nós sabemos tudo sobre seu plano!
— Saiba disso: Não tens para onde fugir!
Não… impossível! Uma feiticeira e uma mestra-espadachim? Decerto,
decerto…!
Agora entendo. Foram vocês! Foram vocês, agora entendi! Te amaldiçoo,
inimigo mortal do meu senhor, o Deus das Trevas! Receba o que está vindo à
vocês, aqui e agora!
— Heróis em ação!!
Capítulo 9: O Monstro Que
Não Deve Ser Nomeado

— Quando digo situação, quero dizer… essa coisa — disse Anão Xamã, quando
os exploradores se reuniram no dia seguinte.
Nas regiões mais profundas das catacumbas, eles tinham encontrado uma sala
com uma capela. Bancadas de pedra esculpida preenchiam a pequena sala, até o
fim do que era um altar. Um espelho de corpo inteiro estava fixado na parede,
com sua superfície estranhamente molhada. Era enorme, quase do tamanho de
um escudo grande de batalha. Provavelmente um objeto de culto.
Se assim o for, então essa sala era um templo ou, pelo menos, algum lugar
sagrado.
Eles haviam ido pela escada escondida, que descia e descia até, por fim, começar
a subir de novo. E na sua extremidade mais distante estava esse corredor.
E o problema — a situação — estava descansando lá.
— O-o que… é isso…? — perguntou Sacerdotisa com uma voz baixa,
espreitando nas sombras da entrada.
Alta-Elfa Arqueira, com suas orelhas caídas, balançou a cabeça.
— Não sabemos. Mas… acho que é um olho.
À primeira vista, alguém poderia o descrever como um olho voador.
O olho enorme era quase do tamanho de uma pessoa. Ele flutuava ligeiramente
acima do chão, à espera dos aventureiros no meio da sala.
O monstro geometricamente em forma de pupila avermelhada se virava para ali
e para lá. Da sua pálpebra — se assim se pode chamar — saíam tentáculos que
balançavam. Na ponta de cada um havia um olho, um vasto número deles. Cada
um parecia ser uma versão miniatura do olho principal de um jeito difícil de
descrever, e cada um deles tinha um brilho cintilante. Sua boca estava cheia de
dentes afiados que parecia de um gato grande. Parecia muito improvável ser
amigável.
A criatura deve ter notado eles observando do corredor, mas ele não demonstrou
reação. Parecia impossível que não os tivesse visto. Ele só não os tinha
reconhecido ainda como uma ameaça.
Era uma coisa de outro mundo verdadeiramente profana, uma praga nesse lugar
sagrado.
— Apenas por sua aparência, estou disposto a achar que é um agente do caos —
disse Lagarto Sacerdote, com seus olhos se estreitando, descontente. — Ao
menos, ele não foi criado por nenhum deus da ordem.
— Poderia contribuir para nosso crédito se livrar dele, mas, não sabemos bem o
que é — resmungou Anão Xamã, dando de ombros.
— É um daqueles monstros cujo… cujo nome não deve ser falado — respondeu
Sacerdotisa, tremendo.
Em uma aventura, poucas coisas são mais perigosas do que desafiar um inimigo
que você não sabe nada. Se você não consegue estabelecer as suas linhas de
frente e da retaguarda, pior ainda.
Três dos exploradores tinham ficado cara-a-cara com essa criatura estranha
enquanto investigavam as ruínas no dia anterior. Foi Lagarto Sacerdote, seu
melhor lutador, que os tinha ordenado a evitar o combate e determinou fazer uma
retirada tática no dia anterior.
Não era isso um pouco além de extermínio de goblins? E não deveriam perguntar
à sua registradora de missão, Donzela da Espada, por suas instruções?
— Isso não importa — disse sem hesitação Matador de Goblins. — Ainda é
extermínio de goblins.
Depois disso, eles não tinham discutido com ele. O grupo não queria vir aqui,
em primeiro lugar.
Mas, quais eram os aventureiros que não iam ocasionalmente em perigos
desconhecidos? Em segurança, é claro.
Agora, vendo a criatura na capela, Matador de Goblins disse: — Olho Gigante
será um nome bom.
— Nunca consegue um muito enfeitado, não é? — disse Anão Xamã com um
pouco de sarcasmo.
— Se referindo ao Monstro Olho-Esbugalhado como um Olho Gigante — disse
Lagarto Sacerdote, com seus olhos revirando de diversão.
— Nada mal. Eu concordo. — Alta-Elfa Arqueira assentiu, com suas orelhas
balançando. Ela preparou uma flecha no arco e puxou sua corda suavemente.
— E — disse Sacerdotisa, trazendo seu cajado de monge para mais perto — o
que vocês pretendem fazer sobre esse… Olho Gigante? Acha que devíamos
começar com Proteção?
Ninguém contestou a ideia.
— Então, de acordo com nosso hábito, me permitam ir na frente. Quanto mais
tanque termos, melhor.
— Vou ficar aqui atrás e atirar como sempre, tudo bem?
— Agora, e quanto a mim…? — Anão Xamã acariciou sua barba e olhou para o
teto. Algumas raízes de árvores tinham se espalhado através da pedra antiga. O
grupo estava provavelmente bem para fora da cidade agora, já não estavam
debaixo das ruas da cidade da água. A vida vegetal que esteve crescendo nos
campos por quem sabe quantos anos, tinha penetrado até aqui embaixo. Antes
que tivesse passado mais séculos, essas ruínas pertenceriam provavelmente às
árvores.
Era simplesmente um lembrete: Ninguém pode melhor que o tempo.
— Não importa como se analise, isso é um Olho Gigante.
— Tentando ser engraçado, anão?
— Deixe disso, orelhuda. Estou falando sério.
Anão Xamã ignorou soturnamente a provocação da elfa.
Dragões cuspiam fogo, harpias cantavam e cobras tinham seus venenos… Olhos
Gigantes eram capazes de ver.
Alguém não sobreviveria subestimando todos aqueles tentáculos se balançando,
nem o olho sinistro que se escondia abaixo deles.
— Tiremos sua visão — murmurou Matador de Goblins. — Não me importa
como. Consegue o fazer?
— Tão certo quanto céu aberto. — Assentindo, Anão Xamã remexeu na sua bolsa
de catalisadores, depois começou a percorrer sua mão sobre o chão aos seus pés.
— Gnomos são muito bons. Mas, que tal eu levantar uma Parede Espiritual?
— Está bem.
Anão Xamã assentiu firmemente e deu um tapa na barriga.
A conversa acabou, Matador de Goblins começou a verificar suas armas e
equipamentos.
Tudo parecia que funcionaria tão bem quanto um novinho em folha, mas sua
armadura de couro bem usada estava quebrada, e isso o agradava. Ele fixou seu
escudo pequeno firmemente no braço esquerdo; a espada que ele tinha limado
estava boa para se usar em um espaço apertado. Tudo na sua bolsa de item estava
em ordem. O último era, como de costume, seu capacete sujo.
Eram coisas terrivelmente ruins para um aventureiro. Até um principiante teria
equipamento com melhor aparência.
Mas, aqueles que conheciam quem esse homem era, jamais o menosprezaria por
isso. Matador de Goblins tinha exatamente o que ele precisava.
— Você podia tentar parecer um pouco mais legal — disse Alta-Elfa Arqueira
com uma risada.
— Sim… — disse Sacerdotisa, franzindo seu rosto pensando nisso, antes de bater
a palma ligeiramente. — Já sei! Que tal uma pena no seu capacete, Matador de
Goblins, senhor?
— Não estou interessado.
Ele dispensou sumariamente a opinião das garotas, depois se levantou.
Alta-Elfa Arqueira olhou com surpresa para o lampião balançando em seu
quadril.
— Ei, Orcbolg. Sem tocha hoje?
— Tem uma coisa que quero testar. O fogo só iria atrapalhar — disse ele,
fechando cuidadosamente o anteparo do lampião. — Vamos.
Ao seu sinal, os aventureiros avançaram para dentro da sala e entraram na sua
formação de batalha habitual. O anão e a sacerdotisa ficaram por detrás, se
concentrando para que pudessem oferecer as suas magias e orações.
À princípio, o Olho Gigante só se arregalou com a intrusão rude.
Foi Sacerdotisa quem percebeu primeiro que isso era na verdade a forma de
atacar da criatura.
— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, pelo poder da terra conceda
segurança para nós que somos fra… Ahh!
— BEBBEBEBEBEHOOOO!!
Seus olhos abriram amplamente enquanto ela foi jogada pelo ar por uma onda de
choque invisível.
Alta-Elfa Arqueira deu um grito quando Sacerdotisa foi açoitada, depois
contorceu e caiu.
— Você está bem?! — gritou ela ruidosamente, tentando correr mesmo enquanto
mantinha uma linha de visão para disparar. Sacerdotisa se sentou, arfando.
— Si… sim… — Pálida e se ajoelhando, ela assentiu.
Esse olhar brutal tinha cortado violentamente o fio do espírito que a ligava aos
deuses acima. Parecia como se a sua própria alma tivesse sofrido o impacto, e
seu espírito doía amargamente.
Mas, isso não foi o que chamou sua atenção quando se levantou, ainda agarrada
ao seu cajado.
— Eu não posso… eu não posso usar magia…!
O grito percorreu através do grupo antes que alguém pudesse lançar alguma
coisa. Eles tinham dois sacerdotes e um xamã. Mais da metade do grupo era de
conjuradores. A capacidade de utilizar magia era nada menos que uma questão
de vida ou morte para eles.
— É aquele olho! — exclamou Anão Xamã, rangendo os dentes. — Corta-barba,
dê cabo dele!
— Certamente.
Enquanto falava, Matador de Goblins pegou um ovo da sua bolsa e lançou na
criatura. Voou direto para o alvo, se estilhaçando em uma nuvem de fumo
vermelho-enegrecido; gás lacrimogêneo.
— OOOOODEEARARARA?!?!
A coisa urticante voou por todos os seus muitos olhos, invocando um berro de
consternação do monstro. É claro, o Olho Gigante estava em um nível totalmente
diferente de qualquer goblin, e esse truque não era suficiente para o fazer
qualquer dano.
No entanto…
— Muuuito bem, aqui vou eu!
…foi mais do que suficiente para eles obterem o turno de agir.
Anão Xamã entendeu, pegando um punhado de terra da sua bolsa e jogando no
ar com um movimento suave.
— Saiam, seus gnomos, é hora de construir! Deixem todo esse espaço com terra
ser preenchido! Não temas vento e não temas ondas, uma parede sólida os
mantém à distância!
Ele dispersou a poeira enquanto entoava.
Depois, Anão Xamã largou no chão o que parecia ser uma parede de pedra versão
brinquedo de criança.
Ela cresceu enquanto observavam, até que uma muralha de terra completa ficou
perante eles.
Parede Espiritual era como Proteção, mas tomava uma forma física em vez de
imaterial. E diferente de uma barreira de Proteção, era impossível ver através de
uma Parede Espiritual.
— O que acha disso?
Mas, ele parecia ter conseguido a atenção do Olho Gigante, que tinha dissipado
atualmente o gás lacrimogêneo.
Seus tentáculos se remexendo se viraram para a Parede Espiritual e cintilaram
maliciosamente.
— BEEEHOOOOLLLL!!
No instante seguinte, uma luz deslumbrante preencheu o espaço sagrado.
— Hrrg…!
— Isso não vai adiantar!
— He… O qu…?!
Matador de Goblins e Lagarto Sacerdote gritaram e voltaram para trás. Anão
Xamã grunhiu.
Uma linha vermelha percorreu pela frente da Parede Espiritual, borbulhando
enquanto viam, derretendo ela.
— Isso é quente…!
— Ahh, não!
Sacerdotisa gritou quando a parede explodindo a apanhou. Anão Xamã a apoiou
o melhor que pôde enquanto ajudava ambos a correr dos destroços. Tão rápido
quanto tinha rompido através da sua barreira, a luz desapareceu, deixando marcas
de queimaduras no chão da capela.
Visão de calor? Não…
Foi uma forma intensa de Desintegrar lançada por um dos tentáculos com olhos
do Olho Gigante.
— Esses olhos malignos são capazes de Dissipar e Desintegrar! — Mesmo seu
grande lutador corpo-a-corpo, Lagarto Sacerdote, só poderia manter distância.
Por mais duro que suas escamas fossem, elas não conseguiriam defletir
Desintegrar. Ele queria invocar um Guerreiro Dragãodente como uma espécie de
parede própria, mas era claro demais que o Olho Gigante iria simplesmente dar
um olhar e dissipar ele.
Mas, por outro lado, atacar com suas garras, presas e cauda, se fazendo uma arma
em pessoa, o colocaria no risco do raio de calor.
— O que e-exatamente devemos fazer em relação a essa coisa?!
— Por ora, recuemos!
Enquanto Alta-Elfa Arqueira tentava armar um ataque, a resposta de Matador de
Goblins foi afiada e certa. Ele sacou sua espada com a mão direita e segurou seu
escudo com a esquerda, pondo Anão Xamã e Sacerdotisa atrás dele.
— Entendi…!
A elfa procurou um lugar seguro lá também, tomando os poucos passos que
faltavam para um salto.
— BEBEBEBEBEEEEHOO!!
— Quê?!
Ela pulou para evitar o impacto sob seus pés. O raio de calor chamuscou uns fios
de cabelo, e ela amaldiçoou uma ou duas vezes em élfico. Ela rolou
atabalhoadamente, mas se viu perto de Matador de Goblins.
— Você está bem?
— Hã?! — Alta-Elfa Arqueira se levantou, com suas orelhas longas tremendo de
surpresa. — Estou bem… Obrigada.
— Entendi.
— Bem, isso é um problema de fato… — Lagarto Sacerdote, que tinha se
rastejado de volta a fim de evitar o raio de calor, deu um suspiro penoso.
— BEEHOHOHO…
O Olho Gigante não mostrou um novo sinal de atacar, aparentemente satisfeito
em ter levado os aventureiros para fora da capela. Ele flutuou de volta para onde
esteve no começo, observando a entrada novamente.
— Parece que… enquanto nós não… entrarmos na sala… ele não nos atacará —
disse Sacerdotisa, respirando irregularmente e escorregando contra a parede. —
Ele deve estar… protegendo esse lugar.
— Não importa por enquanto. Descanse… Aqui, água.
— Ah, ob-obrigada…
Alta-Elfa Arqueira umedeceu seus lábios com um ou dois goles do seu cantil,
depois entregou para Sacerdotisa. A jovem o pegou com as duas mãos, então
bebeu delicadamente, engolindo quase que inaudivelmente.
— Acho que… se ele não pudesse me ver, eu poderia realizar o milagre…
— Mas, chegue a uma distância curta, e ele vai te ver com certeza. — Anão
Xamã não tentou esconder a sua frustração enquanto se sentava com força. —
Não podemos usar magias, e ele tem um raio de calor e mais extremidades que
todos nós juntos. Não temos como ganhar!
— Não — disse Matador de Goblins, fuçando no seu saco de itens. — Tem uma
coisa que quero testar.
— Só quero te lembrar, fogo, água e gás venenoso estão fora de questão.
— Eu me lembro — disse Matador de Goblins calmamente a Alta-Elfa Arqueira,
que tinha entrecerrado os olhos para ele. — Eu não trouxe nenhum implemento
de fogo ou água comigo. E duvido que veneno funcione.
Alta-Elfa Arqueira deu uma pequena fungada e murmurou “bom”, dando as suas
orelhas uma sacudida deliberada.
— Só para ter certeza, estamos fora da cidade, certo?
— Acho que sim — disse Anão Xamã, ficando intrigado e inclinando a cabeça.
— Andamos por um longo tempo, e a sensação aqui é definitivamente diferente.
— Então não há problema.
— Então está decidido — disse Lagarto Sacerdote, batendo as mãos. — Como
não temos nenhuma outra ideia engenhosa e temos de eliminar esse demônio
amaldiçoado, devemos confiar na tática do meu senhor Matador de Goblins.
— Obrigado — disse Matador de Goblins com um aceno. Seu capacete se virou
para Alta-Elfa Arqueira. — Preciso que a criatura se distraia, só por um
momento. Preciso que alguém entre e comece a correr. Consegue fazer isso?
— Deixa comigo! — assentiu Alta-Elfa Arqueira entusiasticamente, com suas
orelhas se balançando para cima e para baixo.
— Você pode lançar Estupor? Não quero que ele possa usar seu raio de calor.
— Daqui? — Anão Xamã acariciou sua barba, depois levantou o polegar e
fechou um olho.
Ele estendeu o braço para o Olho Gigante na capela como se estivesse mirando,
avaliando a distância.
— Pelo número de ladrilhos, eu diria… Certo. Acho que vai funcionar! — Ele
deu um sorriso incongruente e bateu na barriga como que para enfatizar seu
orgulho.
Bom. Matador de Goblins assentiu e se virou próximo a Lagarto Sacerdote.
— Precisamos de um Guerreiro Dragãodente. Um é o suficiente. Consegue
fazer?
— Estou um tanto quanto preocupado com esse Dissipar…
— Vou me certificar de que ele não consiga ver.
— Sem esse olho maligno, acho que pode ser feito. Pode contar comigo. — Ele
revirou os olhos com satisfação.
— Por fim — disse Matador de Goblins, olhando para Sacerdotisa — quando eu
der o sinal, quero que você lance Proteção na entrada.
Ela engoliu em seco profundamente e encarou ele o quanto pôde.
— Será capaz de fazer isso?
— …Sim, senhor! Vai dar tudo certo! — Ela segurou seu cajado de monge
firmemente com as duas mãos e deu um aceno forte com a cabeça. — Vamos lá!
E então, a batalha começou.
— Bom, se tudo o que tenho de fazer é não ser frita…
O Olho Gigante rolou para olhar Alta-Elfa Arqueira quando ela veio correndo
para a sala, saltitando tanto quanto uma lebre. Ela movia suas pernas esbeltas,
correndo sobre os bancos pelo salão.
O Olho Gigante flutuava no ar, com seu olhar a seguindo no sentido mais literal.
Seus tentáculos cheios de olhos começaram a obter aquele lampejo perigoso.
— BEBEBEBEBEHOHOOOOOL!!
— Caraaamba, aí vem ele, aí vem ele…
Gritando com uma voz alta demais para ser coquete e suave demais para ser um
grito, Alta-Elfa Arqueira saltou fora da frente. Obviamente, nem mesmo um elfo
é mais rápido que a velocidade da luz. Desviar de um olho quando ele tentava
mirar, sério? Isso é outra história.
O feixe brilhou silenciosamente, queimando a silhueta de Alta-Elfa Arqueira até
as paredes antigas e o chão.
Há um pouco de satisfação nisso, pensou ela, sorrindo enquanto dançava
agilmente para longe.
Sua irmã mais velha ou sua prima, ambas muito mais experiente que ela, poderia
fazer ainda melhor. Deveria ter sido fácil para disparar no Olho Gigante enquanto
fazia acrobacias para longe do seu Desintegrar.
Ela ainda tinha muito que aprender. Mas, ela não foi a primeira dos seus irmãos
a seguir esse caminho.
Ela sabia que tinha tempo de sobra. Tempo sempre estava do lado de um elfo.
Ao menos, desde que ela não se matasse.
Isso significava que o futuro era menos importante que concentrar tudo que ela
tinha no presente momento. Alta-Elfa Arqueira saltava corajosamente pela sala
sem preocupações, sem medo.
Nada poderia ter sido mais enfurecedor ao Olho Gigante.
— OOOOOLLDER!!
O olho grande principal girou mais rápido, tentando lançar mais ataques e mais
precisamente.
— Oh-ho! Essa é a minha orelhuda! Ela aparenta estar indo bem por si mesma.
Tal fato fez a criatura tirar seus olhos — todos eles — de Anão Xamã, que estava
rindo alegremente perto da entrada da capela.
Ele enfiou a mão na bolsa e tirou um jarro vermelho cheio de vinho. Uma
fragrância extraordinária flutuou para fora quando ele o destampou e tragou tão
rapidamente que algumas gotas pingaram em sua barba comprida.
Ele agitou o vinho em sua boca, depois espirrou alegremente no ar.
— Beba fundo, cante alto, deixe os espíritos te guiar! Cante alto, pise rápido, e
quando dormir eles te vejam, que uma jarra de vinho de fogo esteja em seus
sonhos para te cumprimentar!
E de fato, o jato dos espíritos voaram pela sala e envolveram o Olho Gigante.
— BE… DERRRR…?
Ele começou a balançar no ar, parecendo que cairia no chão.
Ninguém sabia o que o agente do caos sonharia quando finalmente adormecesse.
— Ahh — disse Anão Xamã alegremente — apenas olhem o que um homem
pode fazer quando não está sendo menosprezado por um olho flutuante da morte.
— Ele limpou a boca com a luva.
— …Bom. — Para o aceno de Anão Xamã, Matador de Goblins veio
rapidamente para a capela. Ele não se movia nada parecido com a leveza de Alta-
Elfa Arqueira, mas, mesmo assim, mostrava uma agilidade impressionante para
alguém em uma armadura completa.
Enquanto corria, ele espalhava alguma coisa de um saco que ele tinha retirado
da sua bolsa de itens. Pouco tempo depois, um rastro denso de pó branco estava
flutuando atrás dele.
— O que é isso, Orcbolg? — perguntou Alta-Elfa Arqueira.
— Farinha de trigo. Não respirem ela.
— Tenho certeza que não sei o que você tem em mente, mas poderia ter dito isso
mais cedo.
Ela franziu a testa e cobriu a boca, mas ele a ignorou enquanto lançava a farinha
de trigo por todo o lugar.
Não demorou muito para que a capela apertada estivesse cheia dessa coisa.
Agora, o Olho Gigante estupefato — juntamente com tudo ao redor a uma
polegada em frente dos seus rostos — foi escondido da vista.
— Ah, Corta-barba, orelhuda! A magia não vai durar muito mais tempo!
Antes que Matador de Goblins pudesse responder o anão, Alta-Elfa Arqueira
estava se movendo.
— Por aqui, Orcbolg!
Os sentidos apurados da elfa a deixava ficar bem sem sua visão. Matador de
Goblins seguiu a voz clara pela capela.
— Hrrah!
Quando Matador de Goblins saiu, Lagarto Sacerdote deu um passo à frente,
jogando várias presas para dentro da entrada. Os ossos cresceram rapidamente e
se juntaram, se erguendo na forma de um guerreiro portando uma espada e
escudo. Os aventureiros estavam muito acostumados com esses temíveis
esqueletos à essa altura, e esse aqui avançou para o salão.
Assistindo ele desaparecer na fumaça branquinha, Lagarto Sacerdote abriu a
boca.
— Meu senhor Matador de Goblins, eu confio no meu Guerreiro Dragãodente,
mas ainda assim não pode fazer face a Desintegrar.
— Sem problemas — disse Matador de Goblins, e se virou para Alta-Elfa
Arqueira e Sacerdotisa. — Dispare uma flecha. Se você puder acertar o monstro,
isso será o suficiente.
— Entretanto, isso irá interromper os efeitos de Estupor.
— Não importa. Depois você lança imediatamente Proteção na entrada. — Ele
continuou calmamente: — Seu papel é crucial. Se falhar, todos morreremos.
— S-sim, senhor! — Ela assentiu tão confiantemente quanto pôde, apertando seu
cajado com ambas as mãos.
— Você realmente não podia pensar em uma maneira melhor de dizer isso? —
resmungou Alta-Elfa Arqueira, mas ela colocou uma flecha em seu arco. A corda
sedosa sibilou quando ela a puxou tensionando, fixando o alvo da haste de galho
de árvore.
Elfos arqueiros miram não com seus olhos, mas com a mente.
— …!
A flecha voou; eles nem sequer puderam ouvir o ar sendo cortado, apenas viram
a silhueta tecendo quando ela penetrou a nuvem de pó.
Mas, ela não precisou ver nada para saber o que tinha acontecido.
— Consegui!
— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, pelo poder da terra conceda
segurança para nós que somos fracos…!
Dessa vez, a Mãe Terra conseguiu conceder o milagre rezado da sua humilde
seguidora.
Uma parede invisível selou a entrada da capela. Anão Xamã piscou várias vezes.
— O pó, a sala selada, espera, você não pode…
Matador de Goblins gritou:
— Tampem os ouvidos, abram a boca… e se abaixem!
— BE… HOOLLLOOHOHOHO!!
O Olho Gigante foi despertado do seu estupor por uma dor súbita e penetrante.
Ele viu seu olho transpassado por uma flecha ponta-broto. Havia pó por todo o
lado; ele mal conseguia enxergar.
Mas, ele podia distinguir uma silhueta humanoide vindo em sua direção com
arma na mão. Esses intrusos nunca iriam aprender? Se a criatura tivesse alguma
coisa que pudéssemos reconhecer como sentimentos, ele estava provavelmente
bastante irritado naquele momento.
Ele se virou, abrindo amplamente seus olhos e apontando seus tentáculos com
olhos. Seu terrível Desintegrar acumulou calor suficiente para infligir dano
crítico, e sua luz começou a brilhar…
— LDEEERRRRRRRR!!!
Inicialmente, Sacerdotisa não sabia o que aconteceu.
Ela pensou que talvez o lugar tivesse sido atingido por um raio.
Houve uma explosão.
Ela tinha ouvido uma série de sons de estouros; então a sala fora envolvida em
uma bola de fogo. Quando se expandiu, ela dizimou tudo na capela, esmagando
tudo com seu rugido e a fúria do seu calor.
— Hu… ah!
Sacerdotisa cobriu seu rosto; mesmo no outro lado da barreira de Proteção, estava
suficientemente quente para se queimar.
Na extremidade da sua visão contraída, ela viu Alta-Elfa Arqueira curvada como
uma bola e cobrindo desesperadamente suas orelhas. Pó caiu do teto, e as ruínas
se abalaram tão violentamente que ela se perguntou se toda a estrutura não
poderia vir abaixo.
Por fim, a fumaça ondulante começou a sumir.
— …Olhem — disse Matador de Goblins brevemente. Ele tinha se abaixado,
mas fora isso, parecia imperturbado.
Alta-Elfa Arqueira deu uma espreitadela obediente para a capela e viu que o Olho
Gigante ainda estava lá.
Lá em cima.
Ele deveria ter sido lançado para cima e batido no teto pela explosão. Os
tentáculos enegrecidos do monstro se contorciam pateticamente. Um após o
outro, eles caíram irresistivelmente, como se eles estivessem sendo arrancados…
Splaft.
Eles fizeram um nojento som de carne quando atingiram o chão no meio da sala.
A criatura era apenas um pedaço de carne tostada agora. Ela convulsionou várias
vezes, vomitando algum tipo de líquido, depois parou finalmente de se mexer.
Assim, o Observador, o monstro do caos invocado de outro reino, conheceu seu
fim.
— …Parece que o truque funcionou — disse categoricamente Anão Xamã. Ele
começou a se levantar lentamente.
Lagarto Sacerdote ofereceu a mão, balançando a língua. — Farinha de trigo, meu
senhor Matador de Goblins? O que você fez exatamente?
— Uma coisa que ouvi de um mineiro de carvão. — Matador de Goblins entrou
na capela com seu habitual passo ousado e despreocupado. — Ele disse que se
uma faísca fosse acesa em uma sala cheia de pó, ela se espalharia rapidamente e
depois explodiria.
Ele sacou a espada e a levou à criatura no chão, se certificando de que não
reagiria. — Mas isso foi mais problemático elaborar do que eu esperava. E há
muito risco de o fogo se propagar incontrolavelmente. Absolutamente muito
perigoso. — Matador de Goblins balançou a cabeça e murmurou: — Isso não
servirá de nada contra os goblins.
— E isso foi uma explosão! — Alta-Elfa Arqueira pôs suas orelhas para trás e
criticou Matador de Goblins.
Ela deveria mesmo. Ele não tinha prometido? Mas, ele estava indiferente pela
sua acusação.
— Não foi um ataque com fogo, água ou gás venenoso.
— Você está fugindo do ponto! Você… ahhh, esqueça.
Suspirando, Alta-Elfa Arqueira entrou questionando no salão de culto.
Eu sei que ele é uma boa pessoa, mas ele não é muito bom em manter o espírito
das suas promessas.
Afortunadamente para eles, com o Olho Gigante despachado, parecia que não
havia mais sinais de vida ali na sala. Esse agente do caos parecia ter sido o chefe
dessa masmorra.
Talvez aquele aligátor, nadando nos esgotos como o dono do lugar, fora o mestre
das ruínas anterior. Seja como for, ocorreu uma transferência de proprietário.
— Hmm… O que planejava fazer se não tivesse explodido? — perguntou
Sacerdotisa, mantendo o ritmo com Matador de Goblins com passos pequenos.
— Como você disse, essa coisa só parecia interessada em defender esse lugar —
respondeu ele, empurrando a criatura com o pé. — Poderíamos ter disparado
flechas nele do corredor, depois correr antes dele se recompor. Faríamos isso até
que morresse.
Matador de Goblins assentiu como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.
— Leva tempo, mas é confiável.
— Argh. Isso não faz de mim a única que teria de fazer o trabalho todo? Me dá
um tempo! — Alta-Elfa Arqueira tinha completado a inspeção da área, satisfeita
que estavam seguros.
Por perto, Anão Xamã acariciou a barba, tentando não rir do tom resignado dela.
— Seria um problema para você, não é? Com todo esse exercício, você nunca
vai engordar, e será uma tábua para sempre!
— Olha quem fala. Como se você pudesse aguentar perder uns quilos.
— Não seja tonta. Anões são a imagem viva de um físico excelente!
Lagarto Sacerdote deu de ombros, feliz, e revirou os olhos; Sacerdotisa pôs a
mão na boca e riu.
Mesmo Alta-Elfa Arqueira se viu atraída a rir, e Anão Xamã riu calmamente
seguindo ela.
Matador de Goblins não riu, mas…
—…
— Uff… — Com um suspiro, ele embainhou a espada que ele estava segurando
com a mão direita até aquele momento.
O clima tenso que havia dominado suas explorações se dissipou, abrindo
caminho para um sentimento surpreendente de conforto.
Eles tinham vencido.
— Muito bem… Isso é muito intrigante.
A última risada tinha ecoado pela capela escura.
Lagarto Sacerdote apontou silenciosamente para a coisa que ainda pairava sobre
o altar: um espelho de corpo inteiro gigantesco. A superfície dele tremulava
como se fosse água, com ondulações estranhas se propagando.
O espelho e o trabalho em metal complexo e cativante em torno dele, não tinha
sido muito danificado pela explosão. Não poderia ser mais que óbvio que isso
não parecia um espelho normal.
— Poderia ser… um objeto de adoração? — Sacerdotisa se inclinou um pouco
para frente, se aproximando do altar.
— Seria melhor você se abster de tocá-lo descuidadamente.
— Sim, mas… Não podemos o deixar de investigar, podemos?
— Nos falta um batedor ou um ladrão no grupo — disse Anão Xamã.
Sacerdotisa estendeu a mão com o dedo pálido e tocou suavemente a superfície
do espelho.
Plim! Seu dedo afundou nele.
— …?!
Ela puxou instintivamente sua mão de volta, e a superfície do espelho ondulou
como um lago. Ondas pequenas surgiram de onde ela tinha o tocado, percorrendo
por toda a superfície.
— Oh! Uh, isso…
— Entrem em formação — ordenou Matador de Goblins, substituindo
Sacerdotisa perto do espelho enquanto ela recuava apressadamente.
Cada um dos membros do grupo sacara suas armas e se prepararam para a batalha
enquanto o espelho continuava oscilando. As ondulações na superfície se
distorciam e giravam loucamente e, depois de um tempo, começou a brilhar com
uma luz estranha.
Eles viram um deserto, eles não sabiam onde; estava coberto por uma areia verde
peculiar. Um sol brilhava no céu crepuscular perturbadoramente morto.
Porém, o que atraiu a atenção deles, sobretudo, foi um dispositivo mecânico
bizarro enorme. Pequenas silhuetas humanas se esforçavam em o empurrar;
enquanto se movia, ele balançava lentamente, como uma munição de morteiro
em um trilho.
Não… eles não eram humanos. Matador de Goblins sabia o que eles eram.
— …Goblins.
Era uma gangue de diabinhos cruéis. Outro goblin, com um chicote na mão e a
boca bem aberta — gritando com raiva, sem dúvida — tentava os apressar ao
trabalho. O que estavam fazendo e qual o propósito? Era temível até de imaginar.
Relativo à máquina e suas engrenagens enormes, eram feitas de ossos humanos.
— Mas que coisa é essa…?
— O lar dos goblins, eu acho.
Ao lado de uma Sacerdotisa tremendo, Lagarto Sacerdote assentiu lentamente.
Ele foi em frente com um ritmo calmo e tocou o espelho de novo com a garra de
uma mão escamada…
Subitamente, a imagem no espelho se distorceu.
Ela se comprimiu, percorreu para um lado, girou, e começou a se dissipar como
se tivesse sido apanhado por uma tempestade de areia.
— Oh…!
Alta-Elfa Arqueira exclamou com a cena pouco visível no panorama agitado.
Suas orelhas compridas balançaram, e ela apontou com sua mão maravilhosa e
gritou: — Olhem para isso! — Todo mundo olhou. — Agora mesmo eu vi… eu
vi as ruínas daquela selva! Onde fomos outro dia!
— Na selva? — murmurou Matador de Goblins. — Aquela com os goblins
anormalmente bem equipados?
— Isso é tudo o que lembra sobre ela? Mas, sim. É essa mesma. — Alta-Elfa
Arqueira assentiu para Matador de Goblins, com suas orelhas balançando de
entusiasmo. — Quais são as chances de que eles foram enviados daqui?
— Você acha que isso é uma relíquia antiga que pode produzir um Portal? —
sussurrou Anão Xamã, como se ele não pudesse acreditar.
Ele tinha uma boa razão para não acreditar. Portal, uma magia que poderia
conectar dois lugares, se perdera há muito tempo.
Pergaminhos como aquele que Matador de Goblins tinha usado eram
praticamente os únicos lugares onde se poderia encontrar a magia agora. E
mesmo esses eram itens caros que foram obtidos de ruínas antigas primeiro.
A ideia de um item mágico que pudesse invocar essa magia elusiva a qualquer
momento era incompreensível. Os aventureiros, é claro, não sabiam exatamente
como o usar, mas se eles pudessem descobrir como…
Imaginem só o preço que isso valeria. Mais do que eles podiam imaginar.
— Então alguém estava invocando goblins com essa coisa…
Alta-Elfa Arqueira recuou lentamente do espelho como se pudesse a atacar.
— …lhes deu armas e os fez viver aqui embaixo…
Anão Xamã captou o raciocínio, fechando um dos olhos e fazendo uma careta
para o espelho.
— …e então aquela besta imunda estava o vigiando.
Lagarto Sacerdote terminou com uma pancada com sua cauda.
— O que faremos, Matador de Goblins, senhor…?
Sacerdotisa olhou aflita para ele.
Matador de Goblins não respondeu.
— Não… — Ele balançou a cabeça lentamente de um lado para o outro, depois
se afastou com um passo ousado e decidido.
Ele rolou o cadáver do Olho Gigante com seu pé, pegando um pano encharcado
que só poderia ser visto por baixo.
Ele provavelmente fora levado para lá pela explosão. Estava chamuscado,
coberto de fuligem e imundo, mas, quando ele o desamarrotou, um estandarte de
guerra horrível foi revelado. Havia um desenho bruto no pigmento vermelho-
enegrecido de sangue seco.
Um simples olho.
A imagem era infantil, mas o que ela significava era assustadoramente clara.
O brasão significava que eles teriam retribuição pelo olho roubado. Era o símbolo
dos goblins, a prova de que os aventureiros tinham encontrado a sua cidadela.
— Eu sabia que era goblins — murmurou Matador de Goblins.
Como se estivessem respondendo, vozes uivantes vieram das profundezas da
terra.
Vozes de ódio imenso. Vozes de ciúmes e luxúria. Vozes que procuravam roubar,
violar, matar. Gritos cruéis cheios de ganância.
Dos confins desse buraco sujo, os barulhos vieram da escuridão que parecia a
província dos pesadelos.
— …Ee…
Sacerdotisa apertou seu cajado com as duas mãos e tremeu. Ela conhecia esses
sons, os conhecia de uma forma que a enojava. Essas vozes… esses goblins…!
— Ah-ha… Nossa explosão deve ter repercutido até eles. — Lagarto Sacerdote
exalou uma grande quantidade de oxigênio, esticando o pescoço.
As vozes pareciam vir de todos os lugares, de cada um dos inúmeros corredores
que levavam para fora da capela. Passos e ecos das armas e equipamentos
retinindo uns sobre os outros, se aproximando.
Eles não tinham muito tempo.
— Se é daqui que esses diabinhos estão vindo, então não podemos o ignorar.
— Então, você está dizendo…
Anão Xamã pegou sua garrafa de vinho de fogo e deu uma boa golada.
Seu rosto se enrijeceu e se tornou um pouco vermelho, depois mostrou
subitamente um sorriso estranho, como se para afastar a sua consternação.
— …eles estão vindo para tomar esse lugar de volta?
— Ei… Ah, cara… Não podemos ter um descanso? — Alta-Elfa Arqueira se
sentou debilmente. Suas orelhas caíram penosamente, toda a sua energia de
momentos atrás se foi. Seu rosto delicado abaixou, e parecia que ela iria chorar.
Sacerdotisa se aproximou dela, com uma expressão muito semelhante. Com
medo, tremendo, mãos rígidas, ela agarrou tão forte seu cajado de monge que sua
pele começou a ficar branca, e seus olhos estavam tremendo.
Mas, ela olhou para Matador de Goblins, embora não de modo suplicante nem
em desespero. Ela olhou diretamente para ele.
— Matador de Goblins, senhor.
Seu sussurro baixo fez com que todo mundo se focasse nele. Assim como eles
tinha feito com o ogro, assim como eles tinham feito com o senhor goblin, então
eles fizeram agora. Nos seus momentos mais terríveis, esse era o homem que
poderia fazer algo. Pode ser que tenha parecido que eles estavam desistindo, mas
não estavam, não exatamente.
Se o fizessem, quem iria recorrer a Matador de Goblins como um líder?
Nos termos mais amplos, era uma espécie de confiança.
— ……
Matador de Goblins analisou silenciosamente toda a sala.
A capela desmoronando. O espelho contendo o poder incrível de Portal. Os
goblins se aproximando por todas as direções. Os quatro aventureiros exaustos.
Eles tinham sido completamente encurralados em um beco sem saída, ou tinham
eles?
— O que eu tenho no meu bolso…?
Ele não estava à procura de uma resposta, estava apenas falando consigo mesmo.
Era uma adivinha que ele nunca tinha compreendido. Mesmo agora, ele não sabia
se entendia.
Não havia nada ali… exceto a sua mão.
Uma mão que podia segurar nada. Ou tudo.
Não foi sempre assim?
E se foi, então…
—…
Ele olhou para Alta-Elfa Arqueira, que não fez nenhum movimento para fugir
apesar do seu medo óbvio.
Para Anão Xamã, fortalecendo sua coragem com vinho.
Para Lagarto Sacerdote, que estava se preparando para a batalha se aproximando.
Para Sacerdotisa, que estava olhando diretamente para ele.
Então ele assentiu e disse tranquilamente:
— Não se preocupem.
Era impossível decifrar sua expressão por trás daquele elmo de aço.
Mas, para Sacerdotisa, não, para todos eles, seus únicos companheiros no
mundo…
— Isso não será um problema.
…parecia que, mesmo tão baixinho, ele estava rindo.
Capítulo 10: Ruínas da
Cidade e Armadilhas Mágicas

Se Morte tivesse passos, esse deveria ser o som.


Tambores de batalha retumbavam das profundezas do inferno. Armas e
armaduras se agitavam com os monstros avançando, e seus hálitos fedorentos
profanavam o ar das ruínas; suas babas empapavam os pisos de pedra.
Eles estavam murmurando e grunhindo desordenadamente, muito. Cada som
estava repleto de ganância e muita raiva. Eles debatiam a melhor forma de
destruir os aventureiros impertinentes, como dançar em seus corpos feridos, os
humilhar.
Humpf. À frente do grupo deles vinha os passos desse goblin gigantesco, o
campeão.
Primeiro, ele queria ter um olho por olho… de cada um deles. Isso era como iria
começar, antes de qualquer assassinato, qualquer devorar, qualquer
humilhação…
— Ahh…
As orelhas sensíveis de Alta-Elfa Arqueira apanhavam tudo isso facilmente. Sua
voz escapou enquanto tremia, e o sangue sumiu do seu rosto.
Ela esticou a corda sedosa do seu arco com um bóim, checou seu suprimento de
flechas e respirou fundo.
— Consegue fazer isso?
— …É claro!
Para a pergunta de Matador de Goblins, objetiva como sempre, ela respondeu
resolutamente.
Ela iria fingir agradabilidade tanto quanto pudesse. Quanto mais terrível as coisas
ficavam, mais ela falava. Se ela não pudesse brincar, ela iria certamente morrer.
— Só tente evitar de quase nos explodir dessa vez.
— Essa é minha intenção.
Ela estreitou os olhos, mas ele apenas assentiu, taciturno como sempre.
Ele tinha acendido quatro tochas e posto cada uma em um ponto da bússola; e
agora ele estava examinando o santuário por sua luz. Tirando o caminho que eles
tinham vindo à sala, vários outros corredores conduziam para sabe-se lá para
onde.
— Pode-me dizer de onde eles estão vindo?
— De todos os lugares — disse Alta-Elfa Arqueira, deixando cair os ombros. —
Não me pergunte quantos.
— Meu senhor Matador de Goblins, eu preparei uma barreira.
Os outros aventureiros, obviamente, não tinham ficado parados.
Lagarto Sacerdote tinha empilhado pedaços dos destroços da explosão em volta
do altar. Um entrincheiramento, mesmo um simples, poderia fazer muitas vezes
a diferença entre a vitória e a derrota em uma batalha defensiva. O inimigo ficaria
vulnerável enquanto tentasse o passar, e iria os atrasar.
Anão Xamã, que fora orientado a esse esforço, limpou a poeira das suas mãos e
disse: — É o melhor que podemos fazer a curto prazo, então não espere muito
disso.
— Vai servir. E quanto a você?
— Sim, senhor, estou pronta! — respondeu bravamente Sacerdotisa.
Ela havia subido no topo do altar com seu corpo pequeno. Era a função dela
recolher pedras lançáveis, flechas e espadas curta utilizáveis do chão nas
proximidades. Era importante que uma nova arma estivesse perto para ser
entregue sempre que eles pudessem precisar de uma.
— Muito bem. — Matador de Goblins assentiu.
Ele, também, podia ouvir agora claramente o exército goblin.
Não havia mais como esperar. Não havia tempo para explicações demoradas.
Matador de Goblins não hesitou.
— Quantas magias ainda tem?
— Eu tenho, hum… — Sacerdotisa colocou o dedo em seus lábios e pensou.
Quantas vezes mais sua alma aguentaria suplicar aos deuses acima?
A experiência sugeriu a ela…
— Eu falhei uma vez e consegui outra, então… mais uma.
— A poupe — disse Matador de Goblins brevemente. — Vamos precisar dela
mais tarde.
— Sim, senhor!
Essas foram as suas instruções, e Sacerdotisa assentiu sem hesitação. Ela agarrou
seu cajado firmemente com as duas mãos, e de cima do altar, ela forçou os olhos
na direção da escuridão. Se ela não iria utilizar seu milagre, ela seria responsável
por tomar conta da situação.
Era um grande fardo aguentar sozinha, mas, ela não estava sozinha. Eles estavam
todos juntos.
— Eu farei o meu melhor…!
— Ha-ha-ha-ha! Meu, nossa donzela do templo tem ficado bastante corajosa.
Ao lado do altar, Lagarto Sacerdote balançou sua cauda e tocou sua língua no
nariz.
— Qu-quem, eu?
Ele se virou para Sacerdotisa que parecia um pouco envergonhada, segurando
um catalisador, uma presa.
— Dois me restam. Embora se eu me abstiver de invocar um Guerreiro
Dragãodente agora, serão três. Suponho que não devo esperar, certo? — Lagarto
Sacerdote deu seu sorriso particularmente intenso, arreganhando os dentes.
— Faça — respondeu imediatamente Matador de Goblins. — Portando escudo.
— Ele moveu seu queixo em direção a Sacerdotisa. — Eu o quero a protegendo.
— Muito bem, muito bem. E devo prestar atenção no espelho?
— Sim.
Lagarto Sacerdote respondeu balançando levemente a cabeça e juntou suas mãos
em um gesto estranho. Ele subiu no altar, então lançou a presa rapidamente no
chão e focou sua concentração.
Dizia-se que não havia tribo nesse mundo mais talentosa em batalha do que os
homens-lagarto. Atento como ele era, o sacerdote provavelmente já tinha uma
ideia do que Matador de Goblins tinha em mente.
— Ó chifres e garras do nosso pai, Iguanodon, seus quatro membros se tornam
duas pernas para andar sobre a terra.
Anão Xamã olhou para Lagarto Sacerdote orando e o guerreiro que ele criou,
passando o dedo pela barba.
— Eu preparei Parede Espiritual antes e usei Estupor… eu diria mais duas.
— Guarde. Elas serão os nossos trunfos.
— Oh-ho! Tenho um papel bastante importante. Então, até precisarmos delas,
quer que eu lhe ajude, Corta-barba?
Anão Xamã deu um tapa na barriga, já no seu ânimo habitual. Sem ele, teria sido
muito mais difícil para o grupo melhorar o humor. A risada de Alta-Elfa Arqueira
foi como um sino.
— Estamos realmente abençoados, não é? Por ter três conjuradores.
— O que foi? Não tinha reparado que você sabia ser educada, orelhuda.
— Ah, por favor! Eu sempre sou educada.
Alguém riu. Depois todos eles. Eles assentiram uns aos outros. Isso foi o
suficiente.
Eles podiam ver agora os olhos brilhantes dos goblins e ouvir a voz uivante do
campeão.
Alta-Elfa Arqueira fechou um dos olhos, com suas orelhas balançando enquanto
ela julgava a distância do inimigo.
— …E? O que quer que eu faça?
— Distraia eles, depois mate-os. Reduza seus números, remova o maior número
possível.
— Por que sinto que isso é uma loucura completa?
— Sente?
Matador de Goblins pegou uma funda com sua mão direita livre e preparou uma
pedra nela. Ao mesmo tempo, ele passou outra funda da sua bolsa para Anão
Xamã, com intenção de preparar a próxima barragem.
Alta-Elfa Arqueira deu um “hmph”, colocou uma flecha contra a corda do arco
e a puxou.
— Prontos? Aqui vou eu.
Ela deu uma risada tensa, mas de alguma forma encantadora. Mas, no mesmo
instante…
— GOROORORRRRRB!!
Foi o grito de guerra do campeão goblin.
O monstro zarolho balançou seu cajado e rugiu, tentando inspirar o ódio nos
goblins sob o seu comando.
Suas tropas carregavam lanças, clavas, machados e adagas enferrujadas.
Mesmo enquanto a multidão se embaralhava em frente, uma das criaturas na
frente…
— Um.
— GROB?!
…foi vítima de uma pedra infalível da funda de Matador de Goblins.
Ao longo de toda a história desse mundo, os humanos sempre foram mais
adequados para lançar coisas. Nem mesmo um dragão poderia arremessar um
objeto mais longe que um humano.
Os goblins careciam de força, os elfos amavam demais seus arcos, os anões e os
rheas achavam o lançamento um simples passatempo. Os humanos em si
poderiam lançar uma pedra mais rápido que um cavalo correndo diretamente para
seu alvo.
— GOROB?!
— GROOORRB?!
E desde que houvesse pedras no chão, uma funda nunca ficaria sem munição.
— Ho! Você quase não precisa apontar daqui! Gosto disso!
Os dedos gordos de Anão Xamã se moviam como mágica, carregando uma pedra
após outra na sua funda e as lançando nos goblins.
— Manda ver, Corta-barba! Sem nenhum disparo errado aqui!
— Esse é o meu plano… Já são três.
Uma pedra silvou através do ar, abrindo outro crânio de goblin. Dois seguidos,
três. Matador de Goblins estava acertando os goblins tranquilamente.
Os monstrinhos pisavam sobre os corpos de seus irmãos caídos apedrejados.
— GROB! GOOOROBB!!
Os goblins nunca pensaram por um momento que eles estavam atacando os
aventureiros.
Eram eles que estavam sob ataque. Os goblins se viam como as vítimas em tudo,
e assim, era culpa de todo mundo se os goblins revidavam. A morte dos seus
camaradas apenas atiçava a fúria vingativa neles. O que era uma parede de
destroços?
Seus olhos redondos se fixaram em um dos aventureiros que estava defendendo,
a garota em cima do altar…
— Vindo, do lado direito!
— Entendi!
O grito das garotas passara um sobre o outro, e em um instante depois, os goblins
invasores estavam cheios de flechas.
Sacerdotisa olhava ao redor, com suor lustrando sua testa, e onde quer que ela
indicasse, Alta-Elfa Arqueira disparava naquela direção.
Flup, flup. Cada movimento de suas orelhas era acompanhado por uma haste
mortal que corria junto da resistência do vento.
Nenhum goblin poderia escapar dela.
— Certamente há muitos deles, mas…!
— Três à esquerda! Quatro na frente!
— Sim, estou neles.
Alta-Elfa Arqueira dançava de um lado para o outro em cima do altar, soltando
suas flechas tão rápido quanto podia recarregar.
Não foi a fadiga que levou a ela suar; foi o nervosismo e a tensão. Ela já estava
cansada de disparar uma flecha de cada vez; agora ela pegou alguma coisa
próxima, três flechas ao mesmo tempo. É claro, sua aljava estava vazia; ela
estava se abastecendo com qualquer coisa que poderia encontrar no chão.
E desde que esse abastecimento permanecesse, os goblins não conseguiriam se
aproximar dela, só podendo aumentar a pilha crescente de cadáveres.
— GOROROROB! GROB! GOORB!
Então esse não era o momento para resmungar sobre a situação.
O campeão goblin deu uma ordem e retirou a tampa de uma jarra cuidadosamente
aconchegada nos braços de um dos seus lacaios.
Os goblins, com suas pequenas mentes malvadas, haviam inventado um veneno
líquido e pegajoso.
Os arqueiros das fileiras goblins carregavam arcos rudimentares e mergulharam
a ponta de pedra das suas flechas no veneno antes de as disparar.
— GOORB?!
Eles tinham, no entanto, o hábito de disparar inteiramente da cintura, resultando
em vários goblins mantendo flechas envenenadas nas costas.
Mesmo que os ferimentos não fossem críticos, as vítimas despencavam,
espumavam pela boca e finalmente morriam.
O que importou, contudo, foi que algumas avançaram na elfa na fila de trás que
estava disparando neles e a garota humana dando as coordenadas.
Se eles pudessem acertar aqueles dois alvos, o veneno faria o resto. Se ele só as
paralisasse, seria ótimo. Ou elas poderiam morrer. Os goblins iriam gostar, seja
como for.
— ……………
Mas, não se poderia esquecer do leal Guerreiro Dragãodente. O soldado
esqueleto ergueu o escudo que havia recebido, defletindo silenciosamente as
flechas que voaram na jovem. Uma vez ou outra uma flecha o atingia, mas sem
carne e sangue, o veneno não era uma ameaça.
— Hum. — Alta-Elfa Arqueira limpou o suor da sua testa e agarrou uma flecha
aos seus pés, depois deu um tapinha nas costas do guerreiro. — Essa coisa é
muito bonita.
— V-você acha? — Sacerdotisa franziu a testa e se abaixou para evitar uma
flecha. Ela segurava desesperadamente a sua mitra, tentando controlar sua
respiração. Ela limpou um pouco do suor antes que alcançasse seus olhos, depois
espiou a escuridão.
Perto dela, Lagarto Sacerdote tinha posicionado seu corpo grande em frente ao
espelho.
— Ha! Ha! Ha! Estou encantado em receber o seu muito bem-vindo louvor…
O espelho sagrado tinha sido fixado na parede de pedra com alguma técnica
antiga. Lagarto Sacerdote riscou com sua garra afiada pela moldura trabalhada
que cercava a superfície ondulante.
— …Devo dizer que estou mais perplexo sobre como esse espelho está preso
aqui!
Ele deu um suspiro sibilante, e as escamas em seus braços começaram a inchar,
enquanto seus músculos se tensionaram.
— Ó brontossauro orgulhoso e estranho, me conceda a força de dez mil!
Era o milagre de Dragão Parcial, que invocava a bênção do seu grande espírito
ancestral, o temível naga.
Seus músculos ampliados agora ostentava a força do terrível lagarto que havia
caminhado sobre a terra há muito tempo. Agora a sua garra quebrou a pedra, a
fenda se estendeu sem prejudicar o espelho.
Mas, isso exigiria mais do que um arranhão. Não havia tempo.
— GOROOOOBB! GOOROOROB!!
A barreira distante foi rompida com um único golpe, com os destroços
retornando ao pó. Com um passo pesado em frente, o campeão goblin zarolho
ergueu alto sua clava e começou seu ataque.
— GORRB!
— GORB! GOORB!!
Os gritos dos goblins tornavam claro a satisfação deles.
Eles tinham um herói com eles, um campeão, e isso lhes dava a fé de que podiam
prevalecer. Nesse sentido, eles não eram diferentes das pessoas.
Sacerdotisa tremia enquanto as suas vozes horríveis soavam em seus ouvidos.
Ela mordeu o lábio, agarrando seu cajado, e disse tão alto quanto pôde.
— O grandão, ele está vindo…!
— Eu lido com ele. — Matador de Goblins não hesitou. No instante seguinte, ele
pegou uma adaga do chão e abaixou uma das mãos, saltando sobre a barreira.
— Fiquem no altar!
— Sim, claro! — disse Anão Xamã, apanhando a funda que Matador de Goblins
jogou para ele e arremessou uma pedra.
Com o apoio de Anão Xamã, Matador de Goblins correu como uma flecha nos
— e depois através dos — seus inimigos.
Três goblins estavam diante dele, com armas em mãos. Mas e quanto a eles?
— Dezoito, dezenove… vinte!
— GROOB?!
Com a espada na mão direita, ele acertou um golpe crítico, rasgando a garganta
do goblin que estava bem na frente dele.
A criatura gorgolejou sangue; Matador de Goblins o chutou para longe,
libertando sua espada, que ele usou então para quebrar o crânio da criatura que
estava se aproximando do seu lado direito.
O monstro que estava à sua esquerda ele não poderia lidar pessoalmente, então
ele usou seu escudo para empurrá-lo para trás dele. Mal tinha ele sido empurrado
e uma das pedras de Anão Xamã veio voando.
— GOR?!
O goblin cambaleou quando a pedra o atingiu em cheio no peito, e Matador de
Goblins o matou trespassando sem pensar duas vezes. Ele apanhou o monstro
pela garganta; e o goblin caiu no chão sem sequer se contrair. Matador de Goblins
soltou sua espada e a permitiu cair com o corpo.
— GOROOB!!
— Vinte e um…!
Ele arremessou a adaga da sua cintura para proteger suas costas. Ela atingiu em
cheio a garganta de um goblin que estava se preparando para investir contra ele.
Enquanto a criatura tentava agarrar o ar, Matador de Goblins saltou por cima dele
e pegou sua arma.
Uma clava. Provavelmente a primeira arma que os humanos alguma vez
empunharam. Nada mal.
— Vinte e dois… três.
Um golpe com o objeto contundente pulverizou outro crânio de goblin, depois
Matador de Goblins se fixou em um arqueiro na retaguarda e lançou a clava
voando na direção dele.
— GORARA?!
Não foi o suficiente para um acerto crítico, é claro. Foi o disparo de Alta-Elfa
Arqueira quem finalizou o goblin arqueiro.
— Peguei! — exclamou Alta-Elfa Arqueira. Matador de Goblins nem teve de
olhar para ela para saber que suas orelhas estavam balançando para cima e para
baixo. — Orcbolg, flechas!
— Hmm…!
Mesmo que o grupo não tivesse uma ligação psíquica, eles nunca estavam fora
de sincronia.
Matador de Goblins expulsava os goblins para fora do seu caminho enquanto
atravessava o campo de batalha para pegar uma aljava de um arqueiro inimigo.
Depois ele girou, confiando na força centrífuga para lançar a aljava até Alta-Elfa
Arqueira.
Mas, o fardo era muito pesado e ele só tinha um segundo para girar, então
dificilmente chegaria até ela.
— Aqui!
Anão Xamã saltou embaixo para pegar a aljava, a jogando para trás.
— Pronto! — gritou ele.
— …Feito!
Sacerdotisa pegou a aljava em seus braços e passou para Alta-Elfa Arqueira,
devolvendo à elfa o seu elemento.
Uma saraivada de flechas se seguiu. O poder de fogo de um elfo com um bom
arco e flecha não perdia em nada comparado a um conjurador. Como ela
costumava dizer, uma tecnologia suficientemente desenvolvida (auxiliada por
habilidade) era indistinguível de magia.
Havia certos tolos, no entanto, que — como Anão Xamã poderia ter dito —
achava que “conjuradores disparavam apenas raios”.
— GROORB!!
Vários goblins procuraram fazer de Anão Xamã seu saco de pancada, já que ele
tinha saído de trás da barreira.
— Como está indo, Escamoso? Ainda não acabou?
Eles estavam perto demais para ataques à distância. Anão Xamã pôs de lado sua
funda e sacou seu machado.
Os anões tinham uma constituição tão rígida quanto as rochas, afinal. Movendo
suas pernas e brandindo seus braços loucamente, Anão Xamã praticamente se
jogou na formação inimiga, acertando e expulsando eles de um lado ao outro.
— Só… um pouco… ma… is!
Lagarto Sacerdote tinha se apoiado contra o altar quando começou a rachar sob
as garras dos seus pés, com alguns destroços soltando para longe.
Os homens-lagarto não suam, mas um humano na sua posição teria ficado
encharcado.
O espelho estava sendo puxado lentamente para longe da parede com um som
audível, mas Lagarto Sacerdote precisava claramente de mais tempo.
— …! Eu te ajudo…!
— Meus… agradecimentos!
Sacerdotisa deu uma olhada rápida ao redor, depois veio e se ajoelhou perto de
Lagarto Sacerdote.
Eles estavam completamente em desvantagem.
Os números são a maior força dos goblins e a maior fraqueza dos aventureiros.
Os monstros se pressionavam lentamente para mais perto do altar, e o tamanho
da horda estava só aumentando. Sacerdotisa tinha decidido que o tempo era mais
precioso que um olho de águia informante na batalha. Mas, existia alguma coisa
que seus braços esbeltos poderiam fazer? Tinha de haver.
Com um movimento rápido, ela emperrou seu cajado de monge entre o espelho
e a parede, e começou a usar ele como uma alavanca.
— Hr… aahh…
— …Ainda precisa de mais tempo, não é? — murmurou Matador de Goblins,
tendo confiado a situação aos seus camaradas.
Ele e apenas ele estava na linha de frente da defesa agora.
Quando um bando de goblins desabou ao redor dele, Matador de Goblins pegou
a espada de um deles. Ela tinha um pedaço de madeira com uma lâmina de pedra;
ele dificilmente poderia chamar isso de espada.
Mas Matador de Goblins nunca fora exigente sobre suas armas.
— GORARAB…!
— Hmph.
Então, uma forma gigante se ergueu perante ele; o campeão goblin zarolho.
A cavidade ocular horrível e vazia. O mesmo olho ameaçador que ardia como
um fogo-fátuo. Seu sorriso terrível. Sua raiva.
— GORARARABOOBOBORIIIIN!!
No momento seguinte, Matador de Goblins saltou para trás quase como se
estivesse caindo.
— GORAB?!
Ele ignorou o berro do goblin que ele havia se agarrado, se ajustando e rolando
até ficar de joelho.
De lá, ele observou como o goblin se debatendo levou o golpe devastador da
clava do campeão.
— GORARARAB!!
O campeão goblin barulhento estava focado completamente em Matador de
Goblins. Sua clava quebrou o chão de pedra, levantando uma nuvem de poeira e
fazendo um barulho enorme.
— Mais forte do que devia — disse Matador de Goblins, e foi poucos instantes
do próximo golpe vir.
A força do campeão não era muito menor que a do ogro (não que Matador de
Goblins se lembrasse dessa palavra) que eles haviam enfrentado antes.
Matador de Goblins queria evitar tanto acertos críticos quanto erros críticos. Ele
manteve seu escudo erguido, se empurrando por entre a multidão de goblins.
— GORAB?!
Gritos e berros se misturavam com os sons de carne esmagando e ossos
quebrando; jatos nojentos de sangue voavam por todo o lado.
Tudo causado pelo campeão goblin e sua clava.
Ele brandia a arma de um lado ao outro, determinado a esmagar Matador de
Goblins, mas só pegou os seus próprios aliados. Os monstros azarados se
tornaram o escudo de Matador de Goblins, dando lamentavelmente suas vidas no
processo.
— Idiota.
— GORAB?!
Matador de Goblins enfiou a espada no crânio de uma criatura encolhida,
deixando de lado a empunhadura para trocar sua arma pela do monstro.
Era uma lâmina enferrujada que fora provavelmente roubada de um aventureiro;
agora, muitos dias depois, tinha regressado a outro.
Matador de Goblins cortou a garganta de um goblin próximo, como que para
testar a lâmina, provocando um jato de sangue. A criatura se engasgou como se
estivesse afogando. Com a sua vítima ainda trespassada com sua própria arma,
Matador de Goblins girou e a chutou para trás.
— GOORORORB!!
O campeão goblin pôs fim ao seu subordinado com um pow. Foi provavelmente
uma morte melhor que se engasgar com o próprio sangue.
— Um goblin deve ser muito sortudo por ter tal fim.
— GORARARAB!! GORARARA!!
Acerta; um goblin é esmagado. Poeira caiu do teto.
Acerta; um goblin é lançado ao ar. Poeira do teto.
Acerta. Acerta. Acerta. Cada vez, Matador de Goblins desviava.
Autorreflexão não fazia parte do dicionário goblin.
Sim, o campeão continuou a matar suas próprias tropas, mas isso era a sua
própria culpa, ou pelo menos, também, um humano os usando como escudo.
Que humano horrível. Não seria suficiente arrancar seu olho, nem quebrar seus
membros, nem mesmo matar seus amigos enquanto observava.
O campeão furioso, esqueceu convenientemente que ele fora conhecido por usar
seus aliados como escudos em pessoa. Ele estava frustrado pelo aventureiro não
parar e lutar, lembrando dos próprios goblins usando gás venenoso.
Goblins são estúpidos, repetiu para si mesmo Matador de Goblins, mas não são
tolos.
Em outras palavras, eles não eram tolos, mas não eram prudentes. E uma pessoa
imprudente balançando sua espada é fácil de se tirar vantagem.
Afinal, eles iriam falhar usando sua melhor arma.
Então, Matador de Goblins correu diretamente pelo campo de batalha, com o
campeão o seguindo por detrás.
— Se Orcbolg estiver atraindo ele para longe…!
Alta-Elfa Arqueira não estava apenas esperando e observando.
Ela subiu no altar, chutando os goblins pelo caminho com suas pernas longas e
belas. Ela deu um estalo com a língua.
Como ela odiava usar flechas dos goblins.
— Caramba, não acredito nisso! — disse ela, meio com raiva. Suas orelhas se
contorciam enquanto lia o vento e mandava suas flechas voando.
Ela não estava, é claro, visando o campeão, mas sim a multidão de goblins.
— GROB?! GOORB?!
Mesmo uma flecha rústica pode perfurar um corpo, tirar uma vida. Os goblins
caiam como a chuva em uma tempestade, mas seus números eram imensos.
Anão Xamã enfiou seu machado na cabeça de mais um, sua barba querida estava
coberta de respingos de sangue.
— Ho, orelhuda! Não consegue disparar mais que isso?
— Calado, anão! Se quer ver resultados, me traga flechas melhores!
— Posso lhe oferecer algumas pedras boas?
— Esqueça!
E eles discutiram. Essa era suas brincadeiras habituais, ou eles estavam fazendo
de propósito? Quando eles não pudessem mais lançar farpas verbais um ao outro,
então isso seria verdadeiramente o fim. Assim era com a maioria dos
aventureiros.
Mesmo Sacerdotisa estava com o rosto vermelho-vivo enquanto forçava seu
cajado.
— Hn… Hnnnn…!
Seus braços tremiam e ela mordia os lábios enquanto forçava todo seu peso
corporal na batalha contra o espelho. Era tudo o que a pequena garota humana
com seu corpo delicado poderia fazer.
O homem-lagarto destemido, por sua vez, não poupava nenhum pouco da sua
força no seu esforço corajoso.
— Vamos… lá… só mais um… empurrão…!
Ainda imbuído com a bênção do seu antepassado, o temível naga, seus esforços
estavam no ponto máximo. Com a respiração chiando entre suas presas, cada
parte dele desde suas garras até sua cauda tinha se tornado o próprio poder.
Craaaaaaaaacccccc!
Com um ruído tremendo, o espelho sagrado finalmente sucumbiu à força bruta.
A coisa grande repousou nas mãos de Lagarto Sacerdote, juntamente com um
pedaço da parede.
— Matador… de Goblins… senhor!
Sacerdotisa o chamou. Seu fôlego veio em suspiros irregulares; sua voz estava
fraca e cansada.
Matador de Goblins olhou para trás, deu um chute no campeão desenfreado e
saiu correndo.
— Coloque o espelho voltado para cima! Depois fiquem debaixo dele!
— Entendido!
Com um grunhido, Lagarto Sacerdote deslizou o espelho por cima do altar, como
um teto. Ele sabia que tudo dependia desse momento.
Ele ficou de joelhos e apoiou o espelho em seus ombros, sem sequer tremer.
— Ele está vindo!
Apoiando do outro lado estava o leal Guerreiro Dragãodente.
— ORARARAG!!
O campeão goblin deu um golpe poderoso.
Embora os goblins não percebessem o que estava acontecendo exatamente,
estava claro que alguma coisa estava acontecendo.
A clava do campeão se conectou com vários goblins, que não tiveram nenhum
segundo para desviar, espirrando seus cérebros pela sala.
Saltando para trás, Matador de Goblins atacou com uma lança que ele tinha pego
de um inimigo. A lâmina fez vários dedos do campeão girar no ar, induzindo um
rugido retumbante.
— GARAOR?!
— Impacto Pétreo! Um grandão, subindo!
— Subindo?! …Estou nele!
Houve um instante de surpresa por parte de Anão Xamã, mas ele sabia que não
podia hesitar.
Ele pegou um punhado de barro da sua bolsa. Soprando enquanto a enrolava, ele
gritou.
— Saiam, seus gnomos, é hora de trabalhar, não se atrevam a fugir de seu dever,
um pouco de pó pode não causar choque, mas mil fazem uma bela rocha!
Ele lançou a bola de terra no ar tão forte quanto pôde, e ela se tornou um
pedregulho enorme perante seus olhos…
— Luz!
— Certo!
Não se distraindo nem por um instante com a visão, Sacerdotisa respondeu
imediatamente, às suas palavras, à sua confiança.
Ela sabia que era por essa razão pela qual estava aqui, e isso a deixava tão
orgulhosa que ela achava que seu pequeno peito poderia explodir.
Ela deu tudo de si na oração que conectava sua alma aos deuses no céu.
— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, conceda tua luz sagrada para nós
que estamos perdidos na escuridão…!
Foi uma oração humilde, oferecida por uma donzela frágil ao custo da energia
da sua própria alma.
Como poderia a toda-compassiva Mãe Terra proceder de outra forma senão
conceder Luz Sagrada?
— GORORB?!
Uma explosão de sol!
Do cajado de Sacerdotisa (recém-saído do trabalho de uma alavanca), uma luz
calcinante preencheu o lugar. Deve ter havido provavelmente mais luz no interior
dessas ruínas do que ela tinha visto alguma vez em todas as suas eras de
existência.
Os goblins gritaram como se tivessem sido queimados, agarrando seus rostos e
tropeçando para trás. Suas retinas tinham sido queimadas. E Matador de Goblins,
embora tivesse coberto seu rosto imediatamente, tinha sofrido o mesmo.
— …Hr…
— Orcbolg, por aqui!
Mas, mesmo assim, ele podia ouvir uma voz clara apesar da escuridão branca.
Alta-Elfa Arqueira — ela que possuía habilidades para além de qualquer
patrulheira — estendeu a mão para ele.
— Desculpa.
— Não importa! Não que eu tenha ideia do que está pensando.
Com sua orientação, ele deu um, dois, três passos.
Ela saltou graciosamente, e Matador de Goblins se impulsionou para subir no
altar.
A cauda de Lagarto Sacerdote se estendeu, puxando Matador de Goblins em
segurança sob o espelho.
Matador de Goblins gritou: — Controle de Queda, leve o para baixo!
— Hrrf, é claro! Saiam, seus gnomos, e o deixe ir! Aí vem ele, cuidado aí em
baixo! Vire esses baldes de cabeça para baixo… esvazie todos eles sobre o chão!
— …Vai servir… — murmurou Matador de Goblins. Ele se virou, apoiado pela
cauda de Lagarto Sacerdote.
Com sua mão direita, ele segurou firmemente a de Sacerdotisa. Sua mão estava
tremendo suavemente.
Alta-Elfa Arqueira continuou agarrada a sua mão esquerda, com força o
suficiente para machucar mesmo pela sua luva de couro.
Anão Xamã lhe deu uma palmadinha cordial nas costas. Mesmo agora, com seu
espírito esgotado, ele estava tão alegre como sempre.
Matador de Goblins tomou um vislumbre dos goblins com seus olhos queimados
pela luz. Eles gritavam de confusão, medo, dor, ganância e ódio; eles se debatiam
inutilmente.
— GO?! GROB?!
— GRAROORORORORB?!
Mal tinha Anão Xamã terminado suas invocações complicadas e o pedregulho
bateu no teto.
O teto que fora sacudido pela explosão, atingido pelo monstro olho e abalado
pelo rugido do campeão goblin.
O teto cujas pedras tinham se mantido por inúmeros anos pelas raízes das
árvores.
Mas, ninguém poderia melhor que o tempo.
E aqui, o tempo teve uma pequena ajuda da massa, peso e o poder dos espíritos.
Os gnomos, governantes da terra, direcionaram todo seu poder diretamente para
baixo.
Primeiro, uma pequena fratura percorreu pelo teto. Então, ele rachou, e pouco
depois disso, pesado demais para as raízes suportarem, cedeu.
E então…
— …Cinquenta, e… três.
Um instante depois, o rosto uivante do campeão goblin foi soterrado por uma
avalanche de terra e desapareceu.
Era o fim.

Não demorou muito para tudo parecer acabado, como se todos tivessem morrido.
Esse lugar, onde um pó marrom e belo subia ao ar, fora realmente uma capela
poucos momentos antes?
Agora, qualquer sinal do que isso havia sido estava coberto de terra, escombros,
rochas e destroços. Onde o teto deveria estar, só havia um antro de raízes
torcidas. A luz fraca do sol — ou, agora, a luz da lua e das estrelas — se infiltrava
através delas.
Era noite, início do verão. As estrelas que tremeluziam acima se dizia ser os olhos
dos deuses observando do firmamento. Eles observavam esse lugar, mas agora
não havia nada que testemunhasse os seus antigos habitantes.
À exceção talvez — apenas talvez — dos corpos terríveis de goblins que
poderiam ser vislumbrados em meio aos escombros.
…Não.
Havia um espelho ali.
No meio do santuário devastado estava uma montanha de escombros onde um
altar outrora esteve. No seu pico estava um espelho enorme, refletindo a luz das
estrelas em direção ao céu.
Daí, houve um barulho.
— Pfft!
Uma voz doce soou, e a montanha de escombros se desmoronou bem
ligeiramente.
Uma rocha foi empurrada de lado, e fazendo um túnel estreito pela terra veio…
uma garota elfa.
Era Alta-Elfa Arqueira, com seu rosto sujo de poeira.
— B-bons deuses, Orc… Orcbolg! O que estava pensando?!
Ela se contorceu como um gato que havia caído na água, com suas orelhas caídas.
Uma camada fina de poeira parecia ser o pior que ela havia tirado. Sacerdotisa,
que rastejava atrás dela, deu um suspiro. Ela tossiu várias vezes, cuspindo terra
da sua boca.
— Is-isso foi surpreendente…
— Surpreendente? É assim que você chama isso?
— Acho que estou meio que… acostumada com isso agora.
— Ah, pelo…!
Alta-Elfa Arqueira estendeu a mão para ajudar Sacerdotisa subir, ainda furiosa.
Os olhos de Lagarto Sacerdote se reviraram em seu rosto com a cena quando ele
saiu; então, ele se sentou com força. — Deuses… Tal é a nossa sorte por ter um
espelho Portal no momento certo.
Enquanto ele dava um suspiro, o Guerreiro Dragãodente próximo dele balançou
a cabeça também, em um toque inteligente de artista.
O altar continuava de pé. Era por isso que todos eles continuavam vivos… Mas,
havia uma coisa estranha.
Terra e poeira estavam amontoadas ao redor deles, mas o altar no centro de tudo
estava limpo.
O motivo era o espelho, o qual o Guerreiro Dragãodente estava agora apoiando
sozinho. Segurado pelo guerreiro e Lagarto Sacerdote, ele tinha transportado os
destroços que caíam através de Portal. Se não tivesse, os aventureiros estariam
tão mortos quanto todos os goblins ao redor deles.
— Ele absorveu todos os escombros. Só é uma pena ele ser tão pesado — disse
Lagarto Sacerdote.
— Bem, você fez quase todo o trabalho, Escamoso. — Anão Xamã escalou para
fora e tombou próximo a Lagarto Sacerdote com uma gargalhada. — Acho que
é um pouco grande para um escudo, não é?
Ele poderia finalmente beber sem interrupção. Ele não perdeu tempo em pegar o
odre de vinho e dar uma golada. Suas bochechas estavam pálidas pelo
esgotamento que as suas magias tinham feito ao seu espírito, mas beber um
pouco de bebida espirituosa rapidamente restaurou o rubor saudável.
— Mas, tenho de dizer, me sinto um pouco mal por aqueles do outro lado.
Apenas os antigos sabiam como usar exatamente esse artefato antigo da mesma
forma. Era impossível dizer quem trouxera essa coisa aqui, mas certamente foi
para uma utilização indevida do Portal.
O espelho conectava um ninho de goblin com o subterrâneo da cidade da água;
por que levava à essas ruínas?
— Talvez fosse dessa forma que as pessoas vieram aqui naquela época. Hein,
Corta-barba?
— Não estou interessado.
Era Matador de Goblins.
O último a sair da montanha de escombros, ele não mostrava sinais de fadiga,
falando calmamente e desapaixonadamente. Ele estava coberto de poeira e
respingos de sangue, mas seu capacete de aço com aparência barata e a armadura
de couro suja eram os mesmos de sempre.
Sacerdotisa, que tinha finalmente ficado de pé com a ajuda do seu cajado,
contraiu seus lábios com essa visão dele.
— Somos muito afortunados por não estarmos embaixo da cidade.
— Se tivéssemos, eu teria pensado em outra coisa.
Ela estufou suas bochechas com um grunhido. Ele estava, é claro, indiferente.
O capacete de aço de Matador de Goblins se virou ao redor, inspecionando a
área.
Ele viu a aparência exasperada de Sacerdotisa, a aparência jovial de Lagarto
Sacerdote, e Anão Xamã que ficava mais e mais vermelho enquanto bebia.
E por fim, ele viu Alta-Elfa Arqueira, que estava o olhando feio — ou talvez de
escabreio — para ele, com os olhos entrecerrados.
— Ei — disse ele.
— …O quê?
— Sem fogo, sem água, sem veneno, sem explosão.
Ele parecia um pouco impressionado consigo mesmo.
À luz da lua, um sorriso veio ao rosto de Alta-Elfa Arqueira. Um sorriso
translúcido e belo como se fosse feito de vidro.
— Orcbolg?
— O quê?
— Você é um idiota. — E ela deu um pontapé que enviou Matador de Goblins
cambaleando para trás nos escombros.
Capítulo 11: Lá e de Volta
Outra Vez

Para ela, esse mundo parecia um branco puro, um espaço em branco totalmente
impregnado pela luz.
O ar quente, a brisa refrescante, o farfalhar das folhas, a grama contra a sua pele
nua. Tudo isso.
Tudo isso era revigorante, cheio de luz, não dando lugar ao caos. Ela caminhou
por isso bem regiamente, sentindo uma sensação gentil em seu coração.
Sim, ela estava à vontade. Isso a surpreendia.
Nos últimos dias, ela tinha sentido um calor incomum em seu coração. Ela não
conseguia compreender o que era, mas ela tinha uma ideia de onde vinha.
Havia começado quando tinha dormido com o homem ferido, ou assim ela
pensava.
Ele era um guerreiro comum sem nenhum talento especial, cujo corpo falava de
uma devoção singular ao treino. Mais um motivo por ela estimar isso mais do
que a de qualquer herói. Ela mesma viu o valor de cada uma das cicatrizes na
pele dele e as dela, enquanto se pressionava contra o corpo dele.
De repente, ela parou.
Passos suaves ecoavam pela grama do jardim do Templo.
Algo preto em meio ao branco. Uma silhueta vaga e escura.
Seus lábios se separaram ligeiramente, e um sorriso pequenino se espalhou pelo
seu rosto.
Como ela poderia se esquecer dessa forma?
— Que bom vê-lo bem.
A silhueta — ele — assentiu brevemente.
Ele estava usando uma armadura de couro e um capacete de aço; no seu quadril
estava uma espada que parecia ter um comprimento estranho. Ela tinha sonhado
com ele muitas vezes, uma escuridão sacolejante escondia sua forma de
guerreiro.
— Eu vim com uma pergunta — disse ele, caminhando ousadamente até o lado
dela.
Ela ficou brevemente perdida quanto à forma de agir. Ela deveria permanecer
indiferente, ou um sorriso honesto seria melhor? Parecer encantada demais seria
infantil e vergonhoso.
— Sim, o que é? Se estiver em meu alcance para responder…
No fim, ela escolheu seu habitual sorriso calmo. Para ela, isso parecia mais
consigo mesma. Ela esperava que ele pensasse assim também.
Ela se perguntava com que expressão ele estava. A forma enevoada que ela via
não revelava nada. Embora mesmo que pudesse ver, seu capacete ainda assim a
esconderia dela.
E isso era só um pouquinho de se lamentar.
Com uma voz suave, ele disse:
— Você sabia de tudo, não é?
Ela sentiu seu coração acelerar, suas bochechas ficaram quentes. Ela trouxe seu
cajado espada-e-balança para mais perto de si, depois esticou as costas
revigorantemente.
Assim, ela esperava que sua voz não tremulasse.
— …Sim. Sabia.
Ela pôde ouvir ele dizer baixinho “entendi”.
Foi o mesmo tom desapaixonado que ele havia usado quando eles tinham se
encontrado e quando conversaram na cama.
Ela achava isso curiosamente e inacreditavelmente triste.
Só agora que ela percebeu que tinha esperado alguma coisa mudar. Ela nunca
tivera tal sensação perturbadora antes.
— Mas… como é que você descobriu?
— Não descobri.
Ela inclinou curiosamente a cabeça para ele.
— Eu tinha a intenção de perguntar isso a todo mundo que tivesse condições de
saber.
— Todo mundo… — murmurou Donzela da Espada. — Heh. Então é assim…?
Ela se viu inflando as bochechas com um toque de decepção.
Isso é vergonhoso. Não seja tão infantil, se repreendeu ela.
— Talvez eu deveria ter sido menos próxima então… — Ela suspirou
ligeiramente e olhou para ele, para sua sombra. — Mesmo assim… não estou
triste por ser a primeira a quem você perguntou.
Seus lábios se ergueram um pouco, formando um meio círculo. Ela fez isso? Ou
isso só aconteceu? Ela mesma não tinha certeza.
— Posso lhe perguntar por que suspeitava?
— Diversas razões.
A sombra negra se moveu ligeiramente na sua visão. Ela tinha um modo de andar
ousado e despreocupado. Mas não fazia nenhum som.
Ela amava o jeito que ele andava.
— Aquele branco… Como se chamava?
— Aligátor?
— Sim. — Ele assentiu. — Algo assim. Não acho que foi um encontro aleatório.
— Você acha que foi um encontro planejado então?
— Pelo menos na medida em que ele tentou nos espantar e atacar unilateralmente
os goblins.
— Sabia que você soa só um pouquinho paranoico?
Ele balançou a cabeça em resposta. — Você tem ruínas assim e ainda não tem
mapas e nenhuma missão de matar ratos. Aventureiros evitam o lugar. Não há
sequer patrulhas. É impossível.
— Você é inteligente.
— …Sim — disse Matador de Goblins. — Quando se trata de aventureiros, eu
sou.
— Hee-hee. — Uma gargalhada surgiu da parte de trás de sua garganta com a
resposta franca dele.
— Em outras palavras, tinha de haver alguma coisa montando guarda lá
embaixo… Um familiar.
—…
Ela não disse nada, apenas ficou olhando para ele com um sorriso colado em seu
rosto.
Ela odiava admitir isso, mas seria vergonhoso negar isso também. Ele estava
certo. O aligátor era um guardião da ordem ao serviço do Deus Supremo, o
protetor do subsolo da cidade.
O frio da chuva, o calor da batalha, o fedor de goblins, as lâminas enferrujadas
perfurando escamas e pele.
Ela tinha entrado no banheiro para aliviar as sensações que ela partilhava com o
aligátor.
O pensamento do modo como ela tinha se exposto para a sacerdotisa, fez suas
bochechas queimarem tão intensamente que mesmo ela os pôde sentir.
— Irônico, não é? — sussurrou ela. — Que a mensageira do Deus Supremo deve
proteger a cidade e só.
— Então você sabe. — Que os que mataram a mulher, abriram suas entranhas e
largaram seu corpo… — Eles não eram goblins.
Ele estava certo de novo.
Goblins eram covardes, cruéis, brutais e muito pouco inteligentes.
Provavelmente jamais ocorreria de eles permanecerem no território humano para
viver e devorar suas presas.
Suas cativas infelizes sempre eram levadas para o ninho, para ser diligentemente
despojadas da virtude lá. Ou, se as prisioneiras fossem numerosas o suficiente,
os goblins poderiam simplesmente brincar com elas até morrerem.
Em todo caso, suas mortes não seriam fáceis.
Ela sabia de tudo isso.
— …Não, eles não eram.
A cena estava gravada em sua memória, literalmente.
Ela tinha sido confinada numa câmara de pedra escura, cheia com a própria
sujeira e a dos seus captores, chorando lastimavelmente…
Eles tinham queimado ambos os seus olhos com uma tocha. Isso foi há mais de
dez anos agora.
— Eles estavam planejando alguma coisa com esse espelho… Os apoiadores
desse Deus Demônio infame. O mentor já…
Não está mais nesse mundo.
Em algum lugar completamente separado deles, tudo estava acabando.
Ela se curvou contra um pilar, virando seus olhos cegos para a paisagem além.
— Afinal…
O mundo branco vibrava diante dela. Ela olhou para aquele branco interminável
e suspirou. Era o tipo de coisa que uma aldeã jovem cansada de falar poderia ter
feito.
— Afinal, se os goblins atacassem, tenho certeza que eu teria simplesmente…
entrado em colapso e chorado.
Donzela da Espada estava muito ciente dos movimentos da Seita do Mal, contra
a qual ela mesmo tinha se oposto. Quando ela soube dos rituais de sacrifício
medonhos que eles estavam realizando, ela teve uma boa ideia do que eles
queriam conseguir.
Se vingar dela. A maioria de tais retaliações, ela poderia ter suportado.
Mas, goblins.
Seus pés tremeram. Agarrando a espada e balança, ela se levantou. Ela estava
contente por seus olhos estarem escondidos pela faixa.
Para quem ela poderia dizer?
Para quem ela poderia dizer que a heroína chamada Donzela da Espada precisava
ser salva de simples goblins?
— Quem acreditaria em mim?
Enquanto falava, ela puxou graciosamente o pano de suas vestimentas e começou
a massagear seus próprios ombros. Seus lábios se curvaram provocantemente, e
ela disse com um tom malicioso:
— O que você pretende fazer comigo?
— Nada. — Ele soou o mesmo de sempre: ordeiro, ainda mecânico e frio. —
Porque você não é um goblin.
Ela contraiu seus lábios como se estivesse amuando; não, de fato,
ela estava amuando.
— Por isso que você não pergunta por que, não é?
— Se quiser falar, vou ouvir.
— Oh-ho. — Um suspiro lânguido escapou dela. — Eu queria alguém que
entendesse.
Uma rajada longa de vento farfalhou galhos e folhas.
Medo, tristeza, dor, terror, impotência; tais coisas estão nesse mundo, e nesse
mundo são as pessoas que inspiram essas coisas.
— …Só queria alguém que entendesse.
Os goblins viviam debaixo da cidade.
Eles surgiam do esgoto à noite para atacar as pessoas nas ruas. Os aventureiros
que foram enviados atrás deles não voltaram; não havia como e quando saber
quem iria se tornar suas vítimas. Os goblins podiam estar se escondendo debaixo
da cama, à sombra da porta. Se você adormecesse, eles atacariam você. Ela tinha
certeza que todos sentiriam esse medo, assim como ela.
— Mas no fim… ninguém sentiu…
No fim, ninguém vivia com medo que os goblins os matariam. Era sempre outra
pessoa que morreria. Nunca eles.
— …Eu posso te dar esse espelho Portal.
Ela pôs um grande sorriso adulador em seu rosto. Mesmo ela sabia que tudo era
muito obviamente falso e frágil.
— Você certamente entende… Você acima de todos deve…
Ele a interrompeu bruscamente:
— Eu me desfiz dele.
— O quê…? — Pela primeira vez, algo mais do que um sorriso atravessou seu
rosto. Surpresa e uma pitada de confusão. — Isso era uma relíquia antiga. Um
tesouro que vale milhares de peças de ouro.
— Outros goblins podem ter aprendido como o usar. — Ele falou friamente,
franco, como se para salientar seu desinteresse. — Nós envolvemos o espelho
em concreto e o mandamos para o fundo do canal. Isso será um bom leito para o
seu branco… seja lá como se chama.
Sua silhueta não vacilou nem um centímetro. Ele soou como se isso fosse a coisa
mais natural do mundo.
— Heh-heh. Você é muito… muito interessante, de fato.
A normalidade esmagadora da sua voz a fez sentir muito estranha. Ela se sentia
como se estivesse flutuando; havia uma tranquilidade incomum no coração.
— Não deve haver muitos como você.
— Talvez.
— Diga. Posso te perguntar uma coisa?
— Não posso prometer que saberei a resposta — murmurou ele.
— Agora que você já matou os goblins… alguma coisa mudou? — Ela abriu os
braços quando perguntou, como uma garota inocente partilhando um segredo.
Heróis, heróis eram diferentes.
Quando um herói põe fim a Seita do Mal, a justiça, o mundo, a paz e assim por
diante estavam todos salvos. Mas, o que dizer sobre alguém que ajudou uma
pobre garota que tinha medo de goblins? As pessoas continuariam vivendo
tranquilamente; o rio se manteria fluindo. Nada mudaria. Nada.
Essa foi a razão por ninguém a ter ajudado.
Mesmo quando uma sacerdotisa sem nome acabasse descuidadamente por ser
capturada por goblins e era aviltada. Mesmo quando a garota de quinze anos
dentro da mulher aclamada como Donzela da Espada chorava por salvação.
Quem iria se condescender para reparar em tais coisas?
Do contrário, como ela poderia emitir uma missão de goblincídio?
— Certamente nada… nada mudará.
— Não me importa — respondeu ele sem sequer hesitar. — Você disse que já
passou por coisas terríveis, certo?
Ela acenou que sim.
— Eu já os vi. Do início ao fim. Então, eu não entendo seus sentimentos. —
Matador de Goblins foi inequívoco.
— ………………………………………
Donzela da Espada vagou.
Ela estendeu a mão suavemente, suplicante, para a sombra vaga que flutuava no
seu mundo branco.
— …Então, você não vai me ajudar?
— Não.
Ele não pegou a mão dela, mas sim lhe virou as costas.
Sua cabeça se abaixou como se ela tivesse sido lançada nas profundezas do
inferno, e ela riu sem graça. Havia um elemento de resignação nele. Um
sentimento que para ela era familiar demais.
É assim que sempre foi.
Sua alma, uma vez de uma donzela, fora ferida em todos os lugares possíveis.
Mesmo agora, aquela cena terrível, sua última visão nesse mundo, foi gravada
em seus olhos. À noite, ela viria para atormentá-la. A horda de goblins a
conspurcando, a estuprando, a violando, tomando tudo dela.
E ninguém podia a salvar disso. Isso iria continuar e continuar, para sempre…
Ninguém iria a ajudar.
Nunca. Jamais.
— Mas.
Ela olhou para cima, surpresa com a única palavra soando.
— Se os goblins aparecerem de novo, me chame.
A sombra escura, suas costas, já estava distante. Mas a sua voz impassível e
mecânica a fez ouvir facilmente.
— Eu os matarei para você.
— Ah…
Ela deslizou de joelhos como se estivesse entrando em colapso. Suas
características requintadas se distorceram e um soluço escapou de sua boca; ela
não pôde conter as lágrimas que saíram dos seus olhos.
Quando foi a última vez que ela tinha chorado tanto quanto depois de um dos
seus sonhos?
— Mesmo… Mesmo em meus… meus sonhos?
— Sim.
— Você… vai… Você vai vir…?
— Sim.
— Por quê? — A voz dela estava tremendo tanto que ela não podia dizer a
palavra; ela se embaralhou com uma incompleta em sua boca.
Mas ele a respondeu claramente.
— Porque eu sou Matador de Goblins.
O único que mata os diabinhos.
A sombra escura chamada Matador de Goblins se foi.
Foi-se para destruir goblins.
— Ah…
Donzela da Espada se viu agarrando seu peito generoso.
Não era puro ou decoroso.
Mas, ela nunca havia imaginado que um dia como esse iria chegar. Ela nunca
tinha imaginado que iria mais uma vez ser capaz de sentir esses sentimentos. Ela
havia pensando que eles estariam para sempre além do seu alcance, mas agora
ela se agarrou a eles.
Não era nada.
Uma mulher arrasada tinha conversado com um homem arrasado. Nada mais do
que isso.
Mas, agora ela sabia a verdade sobre o calor que floresceu no seu peito. Era uma
longa centelha ardente, atiçada inesperadamente em uma chama furiosa. Talvez
pudesse ser comparada a uma lareira partilhada com outra pessoa: tudo indo bem,
sem preocupações, um sono pacífico.
Sem ansiedade, sem medo.
Sem tremer e chorar no escuro, sem acordar gritando de um pesadelo.
Como ela tinha ansiado por uma noite de sono sem perturbação.
— Eu… Eu… Eu…
Ela ergueu a voz, fungando e soluçando.
Com as mãos, ela limpou desesperadamente as lágrimas que saíram dos seus
olhos.
Quando uma alegria penetrante surgiu em seu coração, ela gritou:
— Eu gosto de você…!
Se as palavras alcançaram ele ou não, só os deuses sabiam.
A chuva tinha parado, mas o céu permanecia carregado de nuvens.
A carruagem ribombava por uma estrada que seguia retamente como uma flecha
pela planície no interior da fronteira, do leste ao oeste.
Alguns iam para comércio. Outros, para ver seus familiares. Outros ainda, para
fugir deles.
Alguns como pioneiros. Alguns eram do tipo tristonhos que deviam estar indo
para o exílio.
Como era tão frequente em carruagens compartilhadas, expressões de alegria e
tristeza se misturavam livremente.
Entre essas expressões, alguns poderiam ter notado alguns companheiros de
viagem cuja aparência falava de um trabalho recente e finalmente terminado.
Nenhum, no entanto, teria sido capaz, provavelmente, de adivinhar de que
aventura provinha esses poucos.
Não fazia diferença para ninguém mesmo.
Extermínio de dragão poderia ter sido interessante, mas isso era apenas coisas de
lendas, e ninguém iria supor que eles tivessem sido atacados por um dragão.
Eis como o trabalho de se aventurar era muitas vezes.
— Mm… Ahh! Isso foi divertido…!
Alta-Elfa Arqueira se estirava para longe da bagagem que ela estivera encostada,
tentando aliviar seus ombros rígidos. Suas orelhas longas se levantaram
felizmente, e ela tinha uma expressão relaxada.
Anão Xamã, que estava sentado de pernas cruzadas e descansando o queixo na
mão, disse irritado:
— Mesmo na parte em que você estava sendo assediada por goblins e chorando
como um bebê?
— Bem, nós ganhamos a luta, não? E aqui estamos nós. E temos uma recompensa
para aproveitar! — Ela ergueu um saco de couro na palma de sua mão. O peso
dele vinha das peças de ouro lotada dentro.
Não que a recompensa importasse muito para ela. Era apenas um bônus.
— Devo confessar que sinto uma pontada de arrependimento sobre aquele
espelho Portal — disse Lagarto Sacerdote, com sua cauda enrolada no chão. Ele
lambeu o nariz com a língua enquanto folheava algum tipo de caderno. Antes de
terem afundado o espelho, ele havia tomado tantas notas sobre suas propriedades
únicas quanto pôde. — Mas nós recolhemos informações valiosas, acabamos
com uma heresia e fizemos ações valorosas. Estou bem mais que satisfeito.
— Não ouvirá nenhuma queixa de mim enquanto esse ouro me der uma boa
refeição!
— Vocês anões… sempre pensando com o estômago.
— Bem, ele é a maior parte de nós, afinal!
A réplica entre a arqueira e o xamã foi animada como sempre.
Nas proximidades, Sacerdotisa estava sentada e os observava alegremente.
Já acabou? Eu acho…
Ela se perguntava quem tinha usado o Portal para invocar a ameaça goblin…
Mas essa era outra história, uma que não tinha nada a ver com a aventura que ela
e os outros tinham acabado de terminar.
— ……
Ela olhou para o lado.
Ele estava lá, espremido entre a bagagem e a cortina, ainda com sua espada e sua
cabeça com o capacete virado para o chão.
Pouco depois da carruagem ter deixado a cidade da água, ele havia começado a
adormecer.
— …Ah, bem.
Sacerdotisa riu e pegou um cobertor fino da sua bolsa.
Ele realmente se machucaria por tirar a armadura e capacete, pelo menos quando
estivesse descansando?
Ela envolveu gentilmente o cobertor em volta dos seus ombros, depois se sentou
ao lado dele silenciosamente. Ela cruzou a mão e as colocou nos joelhos,
esticando suas costas, e colocou seu cajado de monge ao lado.
Verdade: Ele era Matador de Goblins. Então, não havia nada a se fazer.
Enquanto os goblins fossem seus inimigos, ele não abaixaria a guarda nem por
um momento.
Foi por isso que ela não tinha tentado lhe perguntar nada. Quando ele havia
voltado de fazer o seu relatório a Donzela da Espada, ele só tinha dito “está feito”.
E isso foi o suficiente. Agora que tudo havia acabado, ela tinha de deixá-lo
descansar.
— Oh?
Ela reparou que ele estava segurando outra coisa além da sua espada.
Uma gaiola pequena; o canário.
O pássaro, como seu dono, estava dormindo, com os olhos fechados e
empoleirado em um galho.
Parecia que ele estava alimentando e cuidando devidamente do animal. Tanta
atenção para fazer o que era certo, parecia muito ele.
— Me pergunto se ele já o deu um nome.
Ela o conhecia. Ele iria cuidar diligentemente do pássaro e provavelmente nunca
parou para pensar que ele precisaria de um nome.
Quando eles voltassem para a cidade fronteiriça, quando ele acordasse, ela teria
que ter certeza de perguntar.
Ela poderia quase escutar: Canário é bom o suficiente.
— Hee-hee.
Ela estendeu a mão, com cuidado para não acordar ele ou o pássaro. Com seus
dedos finos, ela pegou uma pena que o pássaro havia deixado cair. Ela a pegou
silenciosamente entre as barras da gaiola, a examinando na luz que se infiltrava
através da cortina.
Ela brilhava com um verde-claro pálido. Bem gentilmente, ela a colocou em uma
fresta em seu capacete.
A pena verde-pálida parecia combinar estranhamente com o elmo sujo, mas ela
não se importou.
Ele não iria se preocupar com esse pequeno toque de ostentação.
— Você trabalhou duro, Matador de Goblins, senhor.
— Quando chegarmos em casa…
De repente, uma voz escapou do capacete.
Sacerdotisa piscou várias vezes, depois contraiu os lábios e disse: — Vamos. Se
você está acordado, então diga.
— Acabei de acordar. — A sua voz, quando ele se sentou lentamente, tinha um
toque mais suave que o habitual.
Sacerdotisa acreditou que ele estava dormindo, mas ela resmungou: — Não
posso perceber sob esse capacete.
— Entendi.
Matador de Goblins pegou um cantil da sua bolsa e bebeu uma golada, depois
duas.
Como de costume, ele bebeu pela viseira do seu capacete, sugerindo que ele
estava a ignorando.
Ou talvez ele não entenderia se eu na verdade não o dissesse para tirar essa coisa.
Ele olhou para Sacerdotisa, que tinha colocado o dedo na boca pensando, e disse:
— Quando chegarmos em casa… — As mesmas palavras de antes. — Tem uma
coisa que quero testar.
— O que é?
— Uma sobremesa gelada.
— Ah… — disse Sacerdotisa, com um sorriso. Lagarto Sacerdote respondeu
imediatamente:
— Uma sobremesa gelada! Eu poderia porventura o acompanhar na degustação
dessa coisa?
— Se você quiser um pouco, não me importo — disse Matador de Goblins e,
depois de um tempo pensando, acrescentou: — É feito com leite.
— Oh-ho! Doce néctar!
Sua cauda se desenrolou e bateu em êxtase contra o chão da carruagem,
provocando um olhar de interesse do cocheiro pela cortina.
— D-desculpa, nada de mais aqui. Sinto muito por isso! — Sacerdotisa curvou
rapidamente a cabeça para ele e exortou seus companheiros a se acalmarem.
Ela pôs as mãos em seu peito e deu um suspiro. Graças aos céus eles não foram
avisados para sair da carruagem.
Ignorando-a totalmente, Anão Xamã deu uma risada ressonante e bateu na
barriga.
— Ho, Corta-barba! Planejando ter uma refeição e não convidar o anão?
— Eu deveria?
— Certamente acho que sim!
Matador de Goblins virou seu capacete para o nada e fez um som silencioso,
depois assentiu.
— Nesse caso, por favor, se junte a nós.
Anão Xamã perguntou como ele planeava fazer essa sobremesa gelada, no qual
Matador de Goblins explicou, gesticulando com as mãos. Lagarto Sacerdote
levantou a garra para oferecer sua ideia, ao qual Matador de Goblins respondeu:
— Então, devíamos…
Matador de Goblins normalmente era reticente e fazer com que ele se abrisse era
difícil. Mas…
— Caramba…
…aqui agora, ele era claramente o centro das atenções.
O pensamento espalhou um calor agradável pelo pequeno peito de Sacerdotisa.
— Certo! — decidiu ela, levantando a mão facilmente. — Matador de Goblins,
senhor, eu também posso comer um pouco, não posso?
— Não me importo.
Ele não se importa. Ela deu um risinho e olhou para Alta-Elfa Arqueira.
Alta-Elfa Arqueira se sentava à frente dele, encarando sugestivamente o outro
lado, com suas orelhas tremulando.
Embora não fosse necessariamente um sinal de que ele havia notado, Matador de
Goblins disse:
— E você?
— … — Suas orelhas se ergueram de novo. — Sim. Me dê um pouco também.
— Entendi — disse Matador de Goblins, então ele adicionou incisivamente: —
Se isso não dar muito certo, não me odeie.
— Tsc…
Ele está guardando rancor?
Não, não pode ser. Alta-Elfa Arqueira bufou levemente.
Sim. É claro. Ele não era o tipo que ficaria chateado, mesmo que uma elfa
estourada o maltratasse. Mesmo se uma pessoa normal pudesse ficar aborrecida.
Depois de um tempo, Alta-Elfa Arqueira deu um longo suspiro e se virou para o
encarar.
— Sim, tudo bem. Nada de odiar. Então… por favor?
— Sim.
O capacete de aço balançou para cima e para baixo depois.
Sacerdotisa pensava em quando ele perceberia a pena verde-clara em seu
capacete.
Quem sabe enquanto eles ainda estivessem na carruagem, talvez depois deles
voltarem para a cidade, se calhar não até à próxima vez que ele o tirasse.
O que ele faria quando notasse? Ele ficaria com raiva, ou iria rir, ou talvez não
ligaria para isso?
Alta-Elfa Arqueira, ignorante às imaginações de Sacerdotisa, entrecerrou os
olhos como um gato.
— Eu não sei se estou gostando muito de extermínio de goblins.
Ela fez um círculo no ar com o dedo, com suas orelhas se movendo para cima e
para baixo.
Eles haviam ido em uma ruína subterrânea para explorar, foram apanhados em
uma armadilha e saíram de novo. Eles tinham lutado, derrotaram um monstro
bizarro e descobriram um artefato inestimável. Todos eles estavam viajando
nessa carruagem juntos.
Do interior à fronteira. Do leste ao oeste.
Tudo isso para retornarem para a casa agora que a aventura havia terminado.
— …Mas não foi assim tão ruim, eu acho.
Talvez ela não conseguisse muito bem dizer como se sentia. Os olhos do canário
se abriram vibrando, e ele chilreou vividamente.
Posfácio

Olá, Kumo Kagyu aqui.


Muito obrigado por obter uma cópia do Matador de Goblins, volume 2.
Sou muito grato a todos os que leram e desfrutaram do primeiro volume. Eu
nunca imaginei que o meu aventureirinho esquisito, nascido de um momento de
conversação levianas se sairia tão bem por si mesmo. É graças a todos vocês, que
responderam a ele e aos seus companheiros além do que eu esperava. Espero que
continue acompanhando ele em suas aventuras de goblincídio.
Então. O que você achou do volume 2?
Nessa história, o Matador de Goblins matou todos os goblins que apareceram.
Goblins. Mas, enquanto o volume 1 teve várias aventuras independentes, esse foi
a história de uma masmorra maior. O condimento de cada campanha é a sua
masmorra; pelo menos, nos RPGT. Você e seus amigos avançando lentamente
pelos labirintos, pensando em planos, lutando contra monstros e encontrando
tesouro… há algo melhor que isso?
Era isso que estava na minha mente quando eu me esforçava nesse livro; pensei
que valia mais escrever algo que eu gostasse muito. Se você sentiu qualquer
pitada de prazer ou interesse enquanto lia, então estarei contente.
Agora vem a parte onde eu me desculpo e agradeço as pessoas.
Em primeiro lugar, aos leitores da versão de internet dos volumes 1 e 2, obrigado
pelo seu encorajamento. Continuarei a me esforçar ao máximo, então espero que
continuem comigo.
Ao Sr. Noboru Kannatuki, que forneceu tais ilustrações adoráveis do volume
anterior e agora nesse, obrigado! Sou um daqueles autores que dança de alegria
na frente do computador sempre que suas imagens aparecem no meu monitor.
Ao Sr. Kosuke Kurose, o qual está lidando com a versão em quadrinhos da série,
mal posso esperar para trabalhar com você. A versão em revista lança na Big
Gangan no mesmo mês que esse volume está sendo publicado. Incrível! Não
posso esperar! Uhuul!
Obrigado a todos os meus amigos criativos e a todos os meus amigos de jogos;
vocês me mantêm seguindo em frente.
Ao meu coordenador, editor e a todos os envolvidos em levar esse livro para as
prateleiras: muito obrigado!
E especialmente a yaruok, o administrador do site em que eu postei essa história
inicialmente: Você esteve me encorajando desde então. Você era absolutamente
o elo entre esse período e quando eu tinha finalmente publicado, e você tem a
minha eterna gratidão.
A todos que eu não tive espaço para citar, quem está me apoiando desde os
bastidores, obrigado a todos.
Para o volume 3, eu planejo detalhar o festival da colheita na cidade fronteiriça.
Nessa história, Matador de Goblins matará todos os goblins que aparecer.
Eu me esforçarei o máximo para fazer algo que todos apreciarão. Nos vemos lá!

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