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UM CONVITE PARA GUERRA

PARTE 2

A lua governava imponente. Estava radiante, orgulhosa de si mesmo dançando sobre o


mar. Do alto de uma torre, na costa, estava um taurano. Ele estava completamente suado, sem
roupas, observando o lindo quadro natural pintado pela rainha da noite. O calor era tanto, que
nem mesmo a brisa do mar conseguia conter. O taurano tinha feito exercícios para manter seu
físico avantajado de guerreiro. Ele considerava que era o melhor a fazer já que o sono não lhe
sequestrava. De dentro do quarto surgiu um brilho repentino.
Era noite, a iluminação era mínima. Feita por pequenas tochas que estavam com suas
chamas baixas. A luz vinha do centro de um santuário. Runas de um feitiço de portal entre dois
lugares brilhavam intensamente. Ele sabia que alguém estava tentando acionar o feitiço pelo
outro lado. Vestiu panos suficientes para esconder um pouco de sua intimidade, afinal não
queria ofender quem estava chegando. Uma forma formou-se e em seguida um outro taurano
estava saindo. Ele terminou de se materializar. Não era quem estava sendo esperado. A
pessoa chegou e imediatamente fez uma reverência.
- Saudações, rei Dabokia.
- Adalícia!
- Fico contente em lembrar.
- Devo pensar que Owatanka está morto?
- De jeito algum. Ele só não entende as coisas que precisamos fazer da mesma forma
que você. Omomirans estiveram em nossas terras. Eles são escravos do Império de
Zárcio. Estão escavando minas de ​eisenkern. ​Como o império está em crise, por causa
da guerra contra dragões, os Omomirans viram uma oportunidade de juntarmos forças e
derrotá-los de uma vez.
- Parece uma ideia boa, embora seja Omomiran.
- Owatanka não quis.
- Se Owatanka não quis, sua presença aqui se torna uma visita normal. Da próxima vez
use a diplomacia e não este mecanismo de emergências. Não criamos o portal para
bobagens. Somente caso precisarmos de ajuda para defender nosso povo.
- Precisamos defender a honra de nosso povo! Rei Dabokia, eu suplico que me escute.
- Honra do nosso povo? São Omomirans, Adalícia. Não existe acordo com eles. Eles
comeram muitos dos nossos, nos caçaram como animais, riram de nós por sermos
escravos… Qual o motivo que me fará ofender a memória dos antepassados para
aceitar tal união, se nem seu líder o fez?
- Owatanka pensa em paz. Defende uma paz que não é possível neste mundo. Ele
precisa entender isto. De alguma forma. Você é a única voz que já o fez abandonar a
postura de paz e ir para a guerra. Peço que mais uma vez faça isso.
- Owatanka nunca quis guerra. Ele quer o melhor para seu povo. Da mesma forma do
que eu. Pensávamos diferente quando a como fazer, mas nunca sobre o motivo. Somos
diferentes, mas isto não quer dizer…
- Que precisamos ser inimigos. Eu lembro de quando ele disse isto para você. Você
preferiu dividir o nosso povo do que enfrentar Owatanka em um duelo pela liderança.
Ele sabia que você era melhor guerreiro, mais jovem e com muito mais vigor para fazer
a revolução. Ele não demonstrava para ninguém, mas todas as noites mal conseguia
dormir pensando em como seu povo ficaria na ausência dele. Você também sabia que
era inegável a sua vitória. Ainda assim, quando todos esperavam que o desafiasse,
você foi embora e levou consigo todos aqueles que pensavam igual. Mesmo na hora em
que deveriam ser inimigos, você foi leal a ele.
- Owatanka tinha o coração dos anciãos e o dom da palavra. Eu tinha músculos, vontade
e desejo de vingança. Nunca deixei minha honra de lado. Matar o velho em um duelo só
traria desunião ao nosso povo. Fiz o que considerei a melhor solução para todos nós.
- O que você considera a melhor solução para nós, agora? Poderemos marchar dentro do
Império de Zárcio como os reis e rainhas que sempre fomos. O território todo apenas
para nós. Poderíamos unir novamente nossas forças em uma única grande nação. Este
sempre foi o seu sonho. O império de celestia está indo ainda pior, pelo que soube. Se
conquistarmos os dois territórios, em breve teremos todo o continente para nós.
A oferta pareceu tentadora pela primeira vez. Rei Dabokia, quando jovem, deu um
discurso aos seus irmãos usando muitas das palavras que ouvia agora. O seu coração tinha
sido tocado pela flecha do orgulho e ele sabia que era um efeito poderoso. Potentia foi
conquistada com a mesma arma, mas a razão insistia em permanecer na conversa.
- Você disse isso ao seu Chefe, Adalícia?
- Ele não tem ouvidos para mim… já tem algum tempo. Desde que… Wematin se foi.
- Lamento ouvir isto.
- Ele partiu em uma missão dada pelo Chefe. Tinha que levar um livro para uma tal de
Laurana Brightwood, mas foi emboscado dentro do Império de Zárcio e morreu.
- Que os ancestrais o tenham nos seios da Mãe Terra.
- Não será possível. O corpo dele permanece lá. Apodrecendo em algum lugar junto de
outros irmãos. Tudo o que eu pedi foi justiça, mas meu marido me nega até isso.
- Mesmo que eu mandasse emissários até seu reino, não é garantido que ele me escute.
Sinto ter que deixar você sozinha neste caso.
- Você pode me ajudar. Mande uma força junto dos Omomirans até a cidade de Solis. Foi
lá que meu irmão foi visto da última vez. Ataque o lugar que tenho certeza que
Owatanka o ajudará.
- Quer que eu coloque a vida de tauranos em risco, para que você possa arrumar seu
casamento?
- Quero apenas um grupo que possa ir até lá buscar meu irmão e o grupo dele. Mande
alguns mestre ferreiros de ​Eisenkern.​ Em troca de liberdade, a líder dos Omomirans nos
prometeu entregar todo o metal que eles guardam. Atacamos Solis e quando Owatanka
souber que são as suas forças, vai mandar ajuda.
- Como você garante isto?
- Você conhece meu marido tão bem quanto eu. Ele não permitirá que suas forças
morram tão perto de nossa casa.
- Eu aceito a sua proposta, se o Owatanka também aceitar. Não farei nada sem o
consentimento dele. Vou considerar que está desesperada como irmã e ignorar o fato
de tramar pelas costas dele. Volte aqui somente quando ele aprovar o plano.
Adalícia sentiu-se derrotada novamente. Voltou até o portal e falou as palavras para o
feitiço de retorno funcionar. Desapareceu logo em seguida. Dabokia caminhou
novamente até sua sacada para refletir sobre a visita. Pediu para a lua ajudar a não
deixá-lo incomodado com os argumentos da taurana. Havia razão na estratégia militar,
mas faltava muita honra ao planejar tudo de forma escondida de seu líder. A aliança
com os Omomirans seria o diferencial bélico mais impressionante do mundo. A lua
pareceu sorrir para ele quando a cabeça encontrou uma resposta. O rei já tinha definido
o que fazer, só não tinha a certeza se seria a melhor decisão.

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