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O sagrado feminino à luz da comunidade cientifica

Agnes Rocha de Almeida, Renata Bernardes Faria Campos, Maria Celeste Reis
Fernandes de Souza, FERNANDA CRISTINA DE PAULA(Orientador)

UNIVALE - Universidade Vale do Rio Doce

Palavras-chave: sagrado feminino, pesquisa científica, portal da capes

Atualmente, redes de apoio e construção de autoconhecimento feminino têm se


difundido no Brasil e no mundo, tendo como mote uma expressão específica: o
sagrado feminino. Essas redes reverenciam o sagrado feminino através de diversas
práticas: Círculos e rodas de mulheres, danças tradicionais, rituais místicos,
religiosos ou de conexão com a natureza. Este fenômeno tem ganhado notoriedade
no espaço social, sendo assim, há que se considerar como esse tema é abordado
na comunidade científica. O objetivo deste trabalho é analisar os artigos encontrados
no Portal da Capes acerca do Sagrado feminino. Foi realizada uma revisão
sistemática de artigos revisados por pares utilizando a expressão exata “sagrado
feminino” no Portal de Periódicos da Capes. Foram encontrados 10 resultados,
dentre eles, foi excluído um editorial de um periódico e selecionados 9 artigos, as
publicações datam de 2013 a 2020. Os artigos com a referência ao sagrado feminino
abordam os seguintes temas: Círculos de mulheres e práticas da religião Wicca,
relações de gênero e família nas religiões Wicca e Candomblé, o cultivo de ervas
por mulheres assentadas com a indicação e interesse do SUS, espacialidade
feminina na religião Baha´i, natureza e saúde em uma rede social de mães, análise
de poesias, filme e livro. É possível identificar que as pesquisas referenciadas no
Portal da Capes abordam os temas, religião, gênero, família, maternidade e o
sagrado feminino identificado em produções literárias, artísticas. Esse resultado de
pouca expressão em uma fonte científica leva ao questionamento se esse tema não
é relevante junto ao meio acadêmico ou se é um assunto que começará a ganhar
espaço à medida que começar a ganhar maior repercussão no Brasil.

Introdução

Em busca de um estilo de vida de maior conexão com o corpo, mente e natureza,


diversas mulheres tem buscado fazer parte de movimentos que promovem o
conhecimento do “Sagrado Feminino”. A exemplo disso, “Mulheres que Correm com
os Lobos” (Estés, 2018), livro conhecido por auxiliar mulheres a se conectarem com
seus instintos e com a natureza ocupou o 2º em vendas na Amazon em 2021.
Embora este fato demonstre um movimento da sociedade em busca de
conhecimentos do tipo, essa busca está dentro do campo da prática, visto que ainda
é embrionário no espaço acadêmico, isso porque, há uma falsa percepção de que os
Estudos sobre o Sagrado Feminino estão dentro de campos místicos ou religiosos,
não científicos.

Essa abordagem mística/religiosa é justificada de como o Sagrado Feminino é


definido nos livros que o difunde, como no Anuário da Grande Mãe da autora Mirella
Faur:
A Grande Mãe representa a totalidade da criação e a unidade da vida
pois ela é imanente ela existe, e reside em todos os seres e em todo o
universo, ela é intrínseca à força da vida, aos ciclos da natureza e aos
processos de criação. A escritora e militante feminista Starhawk, em seu
livro ''A dança cósmica das feiticeiras", resume esse conceito de forma
magistral: ''A simbologia da Deusa não é uma estrutura paralela ao
simbolismo do Deus Pai. A Deusa não rege o mundo. Ela é o mundo.
Manifestada em cada um de nós, Ela pode ser percebida interiormente
por cada indivíduo, em toda sua magnífica diversidade". (FAUR, 2011, p.
8)

A autora defende que, por milênios, a Deusa nada mais era do que a própria Terra e
estava presente em todos os elementos da natureza, como a Terra, a Lua, as
estrelas e os oceanos. O Sagrado feminino se origina na reverência a um divino
feminino que nutre a existência humana e que tem mulheres como principais figuras
sacerdotais responsáveis pelas cerimônias. A autora afirma que embora a Grande
Mãe e o culto à Deusa tenham sido substituídas por figuras masculinas e o culto à
um Deus ao longo da história da sociedade, a necessidade eminente de uma
reconexão com a natureza promove o ressurgimento do Sagrado feminino.

Motivada pela preocupação com o que chamou de caminho para o aniquilamento


global provocado pela devastação da natureza, Ingrasiotano defendeu uma
dissertação de mestrado (2017) que foi publicada através do livro Ontologia do
Sagrado Feminino: A Outra História Precisa Ser Contada (2018). A autora traz o
sagrado feminino à luz de uma discussão do campo ambiental buscando uma matriz
racional ao tema.
Posto isso, considero que trazer à luz da discussão científica e do campo
ambiental o sagrado feminino é um exercício que pretende ir além da
concepção canônica e(ou) religiosa, mas busca interpretar a ontologia do
sagrado feminino, também, no horizonte da transcendência. Com efeito, “a
situação hermenêutica é limitada pelo que conhecemos e vemos,
consequentemente, pelo horizonte em que nos encontramos”. Nesse caso,
o horizonte compreensivo da racionalidade ambiental. Ingrasiotano (2018, p.
39).

A autora compreende que na Educação Ambiental existe uma preocupação com a


subsistência do planeta e a preservação da sua biodiversidade. A autora argumenta
que a EA ganhou força no final do século XX com a adoção da perspectiva
socioambiental das suas discussões. A autora faz uma narrativa temporal
evidenciando principalmente o fato de que se no começo a EA tinha como objetivo
despertar a sociedade para a responsabilidade com o meio ambiente agora ela
alerta para uma possível perda de sustentabilidade mínima. Mediante esse agravo,
faz-se necessário assumir uma dimensão ontológica da racionalidade ambiental e
para tanto, a autora se utiliza da teoria Ecológica Cosmocena que está baseada em
uma nova relação Natureza-humanidade.

Sobre a origem dessa teoria, o autor Pereira (2019, p. 16) explica:


Reconhecendo o horizonte da era Antropocena, em que se avalia o impacto
das atividades humanas como determinantes na alteração ecológica do
planeta, sugerimos uma Ecologia que denominamos Cosmocena — não
enquanto uma era, mas enquanto uma necessidade hermenêutica de
reposicionarmos a referida relação. Trata-se de um estudo de inspiração em
leituras da Hermenêutica (Gadamer, 2002); Física Quântica e Ecologia
(Capra, 2006; 2011); Pensamento Pós-Metafísico (Habermas, 2002; Leff,
2006); Astrofísica e Filosofia — Inteligência Espiritual (Zohar; Marshall,
2012); Ecologia e Ética (Boff, 2012); Ambientalismo e Medicina (Lovelock,
2010) e Biodiversidade (Wilson, 2008). Esses referenciais nos indicam a
possibilidade de uma ecologia com maior sintonia entre a natureza e a
humanidade, redefinindo olhares, vivências e aprendizagens com o cosmos.

O autor desenvolve uma análise epistemológica e ontológica da Educação


Ambiental até chegar no desenvolvimento da teoria Ecológica Cosmocena e
desenvolve a teoria sobre quatro teses. 1- Da nova relação Natureza-Humanidade/ 2
- Da desaceleração do tempo como garantia da vida/ 3 - Da sintonia com novas
sabedorias/ 4 - Do cuidado como reaprendizagem vs. consumo desenfreado/ 5 - Da
descolonização do mundo da vida/ 6- Por um mundo diverso e sem preconceitos. /
7- Da condição de incompletude. /8 - Do lugar da Educação Ambiental na Ecologia
Cosmocena.

Embora não seja o objetivo deste artigo aprofundar nessa teoria, é importante
salientar que ela ratifica o estudo no Sagrado feminino considerando que ambas
buscam uma “mudança de paradigma” (Pereira, 2019) na relação humana não só
com sua casa, mas principalmente com todos os ecossistemas.

Faur (2011.2) aborda o Sagrado Feminino

Na evolução da história humana, identificam-se três estágios. No primeiro estágio –


da integração e participação –, a sociedade era centrada no culto da Deusa e da
Natureza, baseada na caça, na colheita e na agricultura. A Natureza e a
humanidade não se opunham, mas estavam intrinsecamente ligadas, pois todas as
criaturas eram filhos da Mãe Divina e faziam parte da mesma teia, sem hierarquia. O
segundo estágio – da separatividade – foi iniciado com os mitos de deuses
detentores do poder da palavra e não, do ato da criação. A Natureza não era mais
vista como sagrada e o homem afastou-se dela como consequência da polarização:
o mundo interior, do espírito e a realidade externa, da matéria. Por ser desprovida de
essência espiritual, a Natureza podia ser subjugada e explorada pela humanidade. O
período atual – que começou com o feminismo, os movimentos ecológicos e a
“consciência de Gaia” – está permitindo outra visão, de integração por meio da
imaginação, para transformar a noção contemporânea de separação do homem da
Natureza com atos conscientes e imagens sagradas, que reconectem o indivíduo ao
todo. 202

Pereira (2019) propõe uma maior sintonia com o universo, com o cosmos assim
como aquela difundida pelas comunidades tradicionais, mas assim também como
difundida pelas autoras que difundem o Sagrado feminino no Brasil.

Paradigma civilizatório
Correntes da educação ambiental

Pre-filosofia

Organizações pre-patriacarcais

Principio feminino genetriz

Panteão olímpico

Inquisição

Resgate do feminino: lutas de gênero, ecofeminismo, tealogia feminista

Matriz ontologica

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