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ARTIGO: RELAÇÃO HOMEM-NATUREZA, DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL


Isabela Minatel Bassi1

1. RELAÇÃO HOMEM-NATUREZA – COMO SE CHEGOU AO PANORAMA


ATUAL

À luz da filosofia, as questões envolvendo a relação homem-natureza são pautas de


discussões e análises desde muito tempo.
Já na Antigüidade o conceito de natureza se apresentou com grande variedade de
significações em sua idéia primitiva, contudo, foram as obras poéticas de Hesíodo que deram
uma nova roupagem aos conceitos pré-existentes. Foi neste contexto que ocorreu uma maior
valorização da "medida humana". O filósofo Protágoras foi quem se responsabilizou por
reafirmar essa idéia de que "o homem é a medida de todas as coisas". (MACHADO
OLIVEIRA, 2006)
Existe ainda um dualismo conceitual envolvendo a natureza cujas raízes históricas
remontam a Kant, que admitia a natureza interior dos seres humanos – aquela que
compreendia paixões cruas – e a natureza exterior – ou seja, o ambiente social e físico no qual
os seres humanos viviam.
Ainda no século XVII, Francis Bacon (in SOAREZ DE OLIVEIRA, 2002) concebe
a natureza como algo exterior a sociedade humana pressupondo, portanto, uma separação
entre natureza e sociedade. O que comprova sua teoria é a concepção mecânica que se dá a
relação de natureza e sociedade na qual o homem exercia seu domínio sobre a natureza
através das artes mecânicas.
Dessa concepção baconiana percebe-se a sociedade atual ainda cheia de vestígios,
iniciando o despertar para a conscientização dos prejuízos vitais que ela traz e iniciando uma
forte campanha para reversão do que foi incutido no modo de vida social.
Há ainda a visão de Gonçalves (in SOAREZ DE OLIVEIRA, 2002), que ousa com o
paradoxo de que o conceito de natureza não é natural, haja vista ser fruto de uma construção
social, ou seja, foi criado pelo homem. Para este autor toda sociedade e toda cultura cria ou

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Isabela Minatel Bassi é turismóloga pela Faculdade Internacional de Curitiba e cursa a especialização em
Educação Ambiental pelo Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão – IBPEX. Contato com a autora:
isaminatel@yahoo.it
institui uma idéia específica de natureza. A natureza é definida por algo que vai em oposição à
cultura. A cultura é tida como uma virtude superior capaz de controlar e dominar a natureza.
Justifica-se assim tornar-se a revolução neolítica, da agricultura, um marco histórico. Foi a
passagem que o homem fez entre coletar aquilo que se produz espontaneamente na natureza,
para a coleta do fruto que voluntariamente se planta e se cultiva.
A questão da dominação da natureza a partir de épocas tão remotas pode ser
exemplificada pelo controle da técnica da irrigação cujo resultado foi a domesticação da
natureza pelas práticas da agricultura e a fixação dos povos em territórios propícios,
originando o berço das antigas civilizações. É a partir daí que surge a concepção de domínio
sobre a natureza tendo em vista que a dominação da natureza significaria controlar algo de
características inconstantes, imprevisíveis e instintivas. Considerando a proposta relação de
dominação, a natureza passa a assumir o papel de objeto a ser dominado pelo sujeito que, por
sua vez, é representado pelo homem.
Nesse ponto é válido considerar o que observou Gonçalves (in SOAREZ DE
OLIVEIRA, 2002), sobre essa visão de natureza-objeto versus homem-sujeito: o termo sujeito
– atribuído orgulhosamente ao homem – apresenta, além do significado de ser ativo, dono de
seu destino, a significação de um ser submetido a determinadas circunstâncias. Essa segunda
conotação do termo é esquecida por influência da visão antropocêntrica de mundo, na qual o
homem é o senhor de todas as coisas, fazendo assim com que se esqueça que o termo sujeito,
pode significar tanto o ser que age como aquele que se submete. É lamentável a constatação
que essa visão de natureza separada do homem é característica do pensamento dominante no
mundo ocidental atual.
Um dos responsáveis por essa segmentação na visão entre homem e natureza, foi o
avanço do cristianismo, já que Deus passou a ser o ser supremo e o homem, à sua imagem e
semelhança, também – excluindo-se, assim, todos os outros elementos naturais relegados à
posição de inferioridade em relação ao homem. Platão defendia que exclusivamente a idéia
continha a perfeição, e não a realidade encontrada no mundo. Tal afirmação remete o
indivíduo à crença de que o que se encontra concretamente no mundo natural – o meio
ambiente como um todo – é imperfeito e aquém das nobres características do mundo ideal.
Por ter o cristianismo assimilado a visão aristotélico-platônica, apregoou, durante a Idade
Média – e o faz até os dias atuais – a separação entre espírito e matéria, difundindo com
grande ênfase a perfeição de Deus em oposição à imperfeição do mundo material. É
decorrente dessa filosofia que se deu a divisão entre corpo e alma, objeto e sujeito, a saber, a
alma, o sujeito é que dá vida ao corpo. Quando o corpo morre passa a ser apenas objeto. A
matéria é objeto sem vida se não possui alma, sendo assim minerais, vegetais e outros
elementos naturais não passam de objetos inanimados e inferiorizados em relação ao homem.
Foi com René Descartes e sua visão cartesiana de mundo que essa oposição homem-
natureza, espírito-matéria, sujeito-objeto se completou e ganhou grande força assumindo
importantes pilares do pensamento moderno e contemporâneo. Foi devido à filosofia
cartesiana que se deu a atribuição ao conhecimento de um caráter pragmático e tal
conhecimento vê a natureza como um recurso. (SOAREZ DE OLIVEIRA, 2002) A dimensão
de mundo sob a visão antropocêntrica e cartesiana coloca o homem no centro do universo,
opondo-se à natureza, ou seja, o sujeito em oposição ao objeto.
O desenvolvimento da ciência e da técnica impulsionado assombrosamente durante
o século XIX foi um estopim para o triunfo do cartesianismo. Mais e mais a natureza passou a
ser concebida como um objeto – um recurso – a ser possuído e dominado.
Na visão da ciência, a natureza foi fracionada em disciplinas – física, química,
biologia – e também o estudo do homem – transformado em economia, antropologia, história.
Cada um dentro de seu espaço limitado, analisado separadamente como entes distintos que
são. Sob esse contexto, qualquer tentativa de pensar o homem e a natureza orgânica
integradamente tornou-se falha, visto que a separação não se deu somente no nível do
pensamento, mas atingiu também a realidade objetiva construída pelo homem.
A ciência moderna também foi acometida pela concepção de influência cartesiana
sobre o entendimento de homem e natureza, tendo sempre o indivíduo por referencial. Nas
ciências ditas naturais como a física, o átomo era o indivisível – sabe-se atualmente que este é
um conceito ultrapassado pois já foram constatadas partículas ainda menores na composição
dos elementos; na biologia, o organismo, tendo por unidade a célula e nas ciências sociais, por
sua vez, o indivíduo – o homem – é indivisível, o elemento reinante.
À medida que foram se desenvolvendo os estudos a respeito dos hábitos dos
animais, ficou mais complexa a compreensão sobre a evolução da vida das espécies animais
tendo como referência somente o comportamento de um indivíduo isolado, estudado em
laboratório. Foi a partir daí que se deu o reconhecimento de que a convivência social já se
fazia presente no que era denominado natureza. Gonçalves (in SOAREZ DE OLIVEIRA,
2002) chama atenção para essa questão quando faz referência àqueles que afirmam que "o
homem é um ser social" alegando ser esta uma característica que o diferencia e o eleva em
relação aos demais animais. Segundo ele, os outros animais também vivem socialmente e esta
não é uma característica apenas do homem, portanto não se pode estabelecer separação entre o
homem e a natureza através dessa afirmação.
Segundo SOAREZ DE OLIVEIRA (2002), nos primórdios da humanidade, existia o
que se pode denominar de unicidade orgânica entre o homem e a natureza, sistema no qual o
ritmo de trabalho e de vida dos homens acompanhava e se prostrava ao ritmo da natureza.
Passando ao contexto do modo de produção capitalista, este sistema tem o vínculo rompido, já
que a natureza, tida antes como um meio de subsistência do homem, agora passa a integrar o
conjunto dos meios de produção do qual o capital se beneficia.
Foi Karl Marx (in SOAREZ DE OLIVEIRA, 2002) quem defendeu a prerrogativa
de que através do trabalho o homem passa pelo processo de apropriação e de transformação
dos recursos naturais e, concomitantemente a isso ocorre o processo de socialização da
natureza. Torna-se o trabalho, então, o mediador universal na relação do homem com a
natureza. É partindo desse pressuposto que se pode constatar que a separação do homem de
suas condições naturais de existência não é "natural", mas sim histórica, considerando que a
prática humana encontra-se totalmente vinculada a sua história.
Atualmente vivemos sob o regime do capitalismo que intrinsecamente se caracteriza
pela reprodução ampliada do capital e que tem suas bases na produção de mercadorias como
veículo produtor da mais-valia para viabilizar sua expansão. A relação homem-meio
apresenta-se como contradição capital-trabalho, afinal, pensando sob o ângulo abstrato, os
homens se relacionam com a natureza para transformá-la em produtos e pensando pelo ponto
de vista real, o trabalho nada mais é do que um processo de produção/reprodução de
mercadorias.
Debaixo das leis e normas do capitalismo, o contato com os recursos pertencentes à
natureza passa, necessariamente, pelas relações mercantis, uma vez que sua apropriação pelo
capital implica a eliminação de sua "gratuidade natural". (SOAREZ DE OLIVEIRA, 2002)
Sendo assim fica nítida a observação de que a incorporação da natureza e do próprio homem
ao circuito produtivo pode ser caracterizada pela base responsável para que o capital alcance a
almejada expansão.
O próprio trabalhador – aquele que propriamente coloca sua força para que o
trabalho seja realizado – neste processo de acumulação do capital, encontra-se obrigado a
fazer de sua força de trabalho mais uma mercadoria, sempre a serviço do próprio capital, em
troca de um salário. Assim, o trabalho "que deveria ser a forma humana de realização do
indivíduo reduz-se à única possibilidade de subsistência do despossuído". (ANTUNES in
SOAREZ DE OLIVEIRA, 2002, p. 12)
O capital é responsável pela separação dos homens e da natureza, através de seu
processo de produção/reprodução e, dessa forma, impõe que o ritmo das atividades humanas
não seja mais o ritmo da natureza, mas o ritmo do capital.
A partir do panorama exposto, é fácil constatar que a perda da identidade orgânica
do homem com a natureza encontra sua causa a partir do capital que, gerando a perda da
identificação entre homem e natureza escancara as portas, consequentemente, para a cultura
atual de degradação ambiental desmedida se a essa degradação estiver vinculada a produção e
o acúmulo de capital. O estimulado processo social de produção que domina a sociedade
capitalista, que tem suas bases referenciais na produção de valores de uso, condiciona a força
de trabalho e os meios de produção aos seus objetivos e desígnios, dando incentivo e impulso
à utilização irracional dos recursos naturais, ao desperdício de matérias-primas, de energia e
de trabalho, ocasionando, desta maneira, a degradação da natureza e a conseqüente "crise
ecológica" que tanto perturba os ambientalistas atualmente. (SOAREZ DE OLIVEIRA, 2002)
No modelo de atividade produtiva própria do capitalismo a cultura que prevalece é a
de fragmentação e atomização do trabalhador, reificando ou coisificando o homem bem como
suas relações. Sendo assim, a interação do homem com a natureza não é realizada
adequadamente e fica prejudicada.
Uma outra conseqüência nítida do desenvolvimento das sociedades capitalistas é o
considerável e rápido avanço da tecnologia que não é indiferente aos propósitos de sua
criação, ou seja, outra potência que está a serviço do capital – voltada para a produção de
mais-valia. Dessa maneira, à medida que aumenta a capacidade de extração de sobretrabalho,
aumenta também a quantidade de matéria-prima transformada e, obviamente, de recursos
naturais explorados, mas tudo isso é justificado pois somado a todo este desgaste, vem o que
realmente interessa aos grandes capitalistas: o aumento do lucro.
É este contexto de capitalismo e desenvolvimento acelerado de tecnologia para
aumento desenfreado de produção e consumo visando lucro que trouxe a sociedade
contemporânea ao panorama catastrófico no qual se encontra. Uma mobilização de
ambientalistas e profissionais preocupados com o futuro da humanidade, levando em conta a
característica finita dos recursos naturais não-renováveis, busca novas formas de
desenvolvimento baseadas na sustentabilidade das ações antrópicas em relação à natureza.
O ambiente natureza, para ser admirado, respeitado e preservado é o ambiente
original e puro do qual os seres humanos estão dissociados e com o qual devem reaprender a
se relacionar para resgatar e enriquecer a qualidade de viver e fugir da atual crise ecológica
que traz graves problemas para o futuro da vida na Terra.
Tal crise ecológica requer um repensar sobre a forma como está estruturada e como
funciona a sociedade moderna: o tratamento dispensado à gestão dos recursos da natureza, o
modo de produção e de consumo, os meios de produção, o modo de vida, as técnicas
aplicadas, a tecnologia utilizada e a ciência a seu serviço, tudo deve ser reformulado no
sentido de reaproximar o homem da natureza (BIHR, 1999).
Sendo assim, essa consciência do estágio avançado de crise ecológica e ambiental
evidenciada através dos dois elementos característicos da sociedade atual, a saber, a
tecnologia e o crescimento, coloca em xeque o estilo de desenvolvimento internacionalizado
apregoado até então – um modelo que se revela ambientalmente predatório e socialmente
injusto – manifestado, essencialmente nos processos de modernização da agricultura, de
urbanização e de exploração desmedida dos recursos naturais.

1. POSSIBILIDADE DE REVERSÃO DO PANORAMA ATUAL – O


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

As interações da humanidade com a natureza, que no início interferiam


minimamente nos ecossistemas, têm hoje culminado numa gigantesca pressão exercida
ininterruptamente sobre os recursos naturais. Atualmente, a contaminação dos cursos de água,
a poluição atmosférica, a devastação das florestas, a caça indiscriminada e a redução ou
mesmo destruição dos habitats faunísticos são comuns, constantes e alarmantes.
E não são os únicos problemas. Deve-se considerar ainda o rápido crescimento
demográfico que potencializa o esbanjamento dos recursos naturais e a degradação do meio
ambiente, a pobreza persistente e permanente de grande parte da humanidade, a opressão, a
injustiça e a violência de que padecem ainda milhões de pessoas criam um quadro que exige
ações corretivas de grande envergadura.
Os impactos da espécie humana sobre o meio ambiente, na concepção de alguns
cientistas, podem ser associados e comparados às grandes catástrofes do passado geológico da
Terra. A humanidade precisa reconhecer que as agressões ao meio ambiente colocam em risco
a sobrevivência de sua própria espécie. O agravante maior é que esse quadro não é parte de
um contexto nacional ou regional, e sim um problema que afeta diretamente a existência da
humanidade como um todo. É a vida que se encontra em perigo. Não se pode conceber um
ecossistema sem o homem e também é impossível pensar na humanidade sem algum
ecossistema. (KRAEMER, 2004)
Todos os desastres que têm acontecido com o meio ambiente são frutos do que o ser
humano tem sido capaz de fazer, ou seja, modificar seu meio ambiente para adaptá-lo às suas
necessidades. O acelerado crescimento populacional criou uma demanda sem precedentes, a
qual o desenvolvimento tecnológico pretende satisfazer submetendo, para tanto, o meio
ambiente a diversos tipos de agressões que são responsáveis por provocar o declínio da
qualidade e da capacidade do meio ambiente para a sustentação da vida.
Segundo KRAEMER (2004), o efeito do aquecimento global, tão em pauta nos
discursos ambientalistas modernos, tem como uma de suas raízes o impacto causado pelo uso
de combustíveis fósseis. Tal queima tem produzido sobre o meio ambiente terrestre o
aumento da concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera que, por sua vez,
ocasiona um aumento da temperatura global da Terra. Além disso, o uso de pesticidas –
arraigado às ações humanas em suas práticas de agricultura – contamina a atmosfera, os solos
e as vegetações de regiões agrícolas e interferem no metabolismo do cálcio das aves; a erosão
do solo é responsável por degradar de 20 a 35% das terras de cultivo de todo o mundo. Deve-
se considerar ainda a perda das terras virgens, o emergente problema de proporção mundial
relacionado ao abastecimento de água – conseqüência do esgotamento e da contaminação dos
aqüíferos subterrâneos, ou seja, a queda na qualidade e disponibilidade da água e a destruição
da camada de ozônio.
Fica nítido, portanto, que uma enorme parte dos problemas vividos atualmente no
mundo é definitivamente potencializada e em inúmeros casos, ocasionada em decorrência da
intervenção humana no planeta e nos ecossistemas. É a partir da análise deste contexto e das
conseqüências, muitas vezes irreversíveis, que os modos de produção, consumo e vida
capitalistas têm provocado na natureza, que se torna evidente e clara a necessidade de mudar
o comportamento do homem em relação aos recursos naturais, buscando dar sentido de
promoção a um modelo de desenvolvimento sustentável.
Apesar de ser o grande protagonista dos cenários de discussão, estudos, pesquisas e
análises deste século, a preocupação com a ação do homem sobre o meio ambiente não pode
ter seu ponto de partida atribuído ao século XXI. Já na década de 50 era objeto de estudo e
preocupação internacional a deterioração ambiental e sua relação com o estilo de crescimento
econômico. Destaca-se o teólogo luterano Albert Shweitzer que, em 1952, recebeu o Prêmio
Nobel da Paz por popularizar a ética ambiental e pelos seus esforços em defesa da Irmandade
das Nações. Durante conferência proferida em 20 de outubro de 1952 sobre o tema O
problema da ética na evolução do pensamento, declarou: “quando o homem aprender a
respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a
amar seu semelhante”. (KRAEMER, 2004)
Outro grande marco no início da preocupação com as relações homem-natureza foi
no começo dos anos 60, nos Estados Unidos. Soou como uma denúncia que foi suscitada pela
obra Silent Spring (Primavera Silenciosa), de Rachel Carson, bióloga marinha norte-
americana que provocou os políticos à ação. A obra foi responsável por uma profunda
mudança na atitude do povo americano com relação à percepção da necessidade de normas
ambientais federais. Publicado em 1962, presidiu o rito de passagem para um momento novo
e único na história humana: o período no qual a preocupação com os rumos do
desenvolvimento da sociedade industrial era o principal ponto de observação, análise e
estudo.
Com caráter ousado e desafiador, Primavera Silenciosa traz relatos sobre os efeitos
da má utilização dos pesticidas e inseticidas químico-sintéticos alertando, assim, sobre
inúmeras conseqüências danosas de incontáveis ações humanas sobre o ambiente. São
levantados e postos em discussão e debate o custo ambiental dessa contaminação para o
homem e os prejuízos e danos causados pelo uso de produtos químicos no controle de pragas
e doenças – ela advertia que se estava interferindo nas defesas naturais do próprio ambiente.
Como era de se esperar, a obra-denúncia teve os direitos comprados por uma multinacional de
agroquímica acontecimento que impede sua republicação. (KRAEMER, 2004)
Na atualidade, a preocupação em defender a natureza passou a ser mundial, devido a
fatos como se pode destacar: o planeta está imensamente poluído, sua temperatura se eleva a
cada dia, as erosões progridem incessantemente, as áreas agrícolas irrigáveis diminuem, a
população aumenta e os ecossistemas sofrem efeitos devastadores. Sendo assim, mudar a
economia mundial, de acordo com o novo modelo de desenvolvimento ambientalmente mais
adequado, ou seja, o desenvolvimento sustentável é a única alternativa para a sobrevivência a
longo prazo da humanidade.
Apresentados os pontos críticos que ameaçam a vida no planeta em decorrência das
inadvertidas ações humanas sobre os recursos naturais, fica fácil chegar à percepção da
importância que se deve dar a questão ambiental em discussões e debates da sociedade,
buscando sempre promover a ênfase à consciência de preservação do meio e a evolução das
ações do homem em relação à natureza visando a promoção das ações da sustentabilidade.
O desenvolvimento sustentável é o processo de gestão ambiental que assegura uma
gestão responsável e inteligente – e evidentemente produtiva – dos recursos naturais do
planeta de forma a preservar a possibilidade de vida também às gerações futuras além, é claro,
de garantir o atendimento das necessidades das gerações atuais, proporcionando a
compatibilização entre as práticas econômicas e as conservacionistas, trazendo reflexos
positivos evidentes destinados à qualidade de vida de todos. No site da instituição WWF
encontra-se a seguinte definição2:

(...) desenvolvimento sustentável é o ‘desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração


atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o
desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro’. Essa definição surgiu na Comissão
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e propor
meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental.

As bases norteadoras do desenvolvimento sustentável encontram-se na busca de


conciliação entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental e, ainda, ao fim da
pobreza no mundo – seu caráter possui o viés econômico, ambiental e também social. Na
filosofia do desenvolvimento sustentável fortalece-se o imperativo de desenvolver
economicamente, sim, mas sempre buscando estar em harmonia com as limitações ecológicas
do planeta, sem destruir o ambiente, possibilitando para as gerações futuras a chance de
existir e viver bem, de acordo com a satisfação de suas necessidades – melhoria da qualidade
de vida e das condições de sobrevivência no planeta.
O ideal almejado por uma satisfatória aplicação das práticas de desenvolvimento
sustentável é a satisfação das necessidades básicas da população, a saber, educação,
alimentação, saúde, lazer, etc.; a solidariedade em se tratando das gerações futuras através da
preservação do ambiente de modo que tenham possibilidade de viver bem; a participação da
população envolvida pela conscientização da necessidade de conservar o ambiente e cada
indivíduo fazer a parte que lhe cabe para que tal objetivo seja alcançado; a conservação dos
recursos naturais como a água, o oxigênio, o solo, etc.; a elaboração de um sistema social
garantindo emprego, segurança social e respeito a outras culturas buscando a erradicação da
miséria e do preconceito; a efetivação dos programas educativos responsáveis por disseminar
e incutir essa cultura sustentável a todos os cidadãos desde a infância até a idade adulta.
(KRAEMER, 2004)
É importante destacar ainda que além de todos esses benefícios, a filosofia do
desenvolvimento sustentável é capaz de introduzir na sociedade uma dimensão ética e política
que considera o desenvolvimento como um processo de mudança social, que tem como
conseqüências a democratização do acesso aos recursos da natureza e a distribuição igualitária
2
Disponível em
http://www.wwf.org.br/informacoes/questoes_ambientais/desenvolvimento_sustentavel/index.cfm acessado em
16/07/2007.
de custos e benefícios do desenvolvimento. A filosofia de desenvolver sustentavelmente vem
para encarar o grande desafio do século XXI: alterar nas mentes dos indivíduos o sistema de
valores que está nos pilares de sustentação da atual economia global, visando torná-lo
condizente com o atender às exigências da dignidade humana e o promover da
sustentabilidade ecológica. Faz-se necessário trazer aos cidadãos um nível de compreensão
elevado de forma que cada indivíduo chegue à convicção de que o progresso econômico e a
proteção ambiental estão indissoluvelmente ligados sendo que um não tem futuro sem
considerar o outro.
Esse processo de levar consciência aos cidadãos para o início da aplicação do
processo de desenvolvimento sustentável tem na educação ambiental uma base vital e
indispensável pois é através dela que se tem a maneira mais direta e funcional de alcançar ao
menos uma de suas metas fundamentais – a participação da população.

2. O PAPEL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PROCESSO DE


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL3

Para que seja possível a compreensão do papel da educação ambiental no processo


de desenvolvimento sustentável é necessário explorar, inicialmente, o significado do que
representa a educação ambiental em si.
A educação ambiental se constitui numa forma abrangente de educação, cujo
principal propósito é o de atingir a todos os cidadãos utilizando-se de um processo
pedagógico participativo permanente que tem intenção de incutir no educando uma
consciência crítica sobre a problemática ambiental – vale o destaque que se deve compreender
como crítica a capacidade de concatenar as idéias entre a gênese e a evolução de problemas
ambientais.
Segundo Brito e Castro (2003, p. 5), a conferência de Tbilisi – referência nos
estudos sobre educação ambiental e desenvolvimento sustentável – concebeu a educação
ambiental como:

3
Os conceitos deste capítulo do artigo que não possuem referência direta foram adaptados daqueles apresentados
pelo site Ambiente Brasil disponível em
http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./educacao/index.php3&conteudo=./educacao/educacao
.html - acessado em 12/07/2007.
Um processo contínuo no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio
ambiente e adquirem o conhecimento, os valores, as habilidades, as experiências e a determinação
que os tornam aptos a agir, individual ou coletivamente, e a resolver os problemas ambientais
presentes e futuros.

Ainda levando em consideração a referida conferência de Tbilisi (in SAUVÉ, 2007),


os princípios da educação ambiental já incluem os elementos fundamentais para o
desenvolvimento sustentável, a saber, a necessidade de considerar os aspectos sociais do
ambiente e as suas relações entre a economia, o ambiente e o desenvolvimento; a adoção das
perspectivas locais e globais; a promoção da solidariedade internacional, etc. E as
características da educação ambiental para o desenvolvimento sustentável são aquelas
também já identificadas pela UNESCO (UNESCO-PNUMA, 1986): holismo,
interdisciplinaridade, clarificação de valores e integração, pensamento crítico, debate,
aprendizado ativo, etc. É importante identificar que o conceito de desenvolvimento
sustentável tem sido associado com a educação ambiental na busca de promover modelos
embasados na sabedoria da utilização dos recursos naturais, considerando a equidade e a
durabilidade.
É por se tratar de um sistema dinâmico no qual os elementos agentes são as pessoas,
ou seja, os seres humanos habitantes do planeta Terra, é que a chave para o desenvolvimento
das práticas sustentáveis é a participação, a organização, a educação e o fortalecimento dos
indivíduos. O desenvolvimento sustentado não tem seu centro na produção, e sim nas pessoas
e, por esta razão, deve ser apropriado e adequado não só aos recursos e ao meio ambiente,
mas também à cultura, história e sistemas sociais do local onde ele ocorre, sendo assim
pertinente ao contexto vivido pelas pessoas de cada localidade.
Ao longo das últimas décadas, tornaram-se nítidas e gritantes as pressões sobre o
ambiente global, fazendo erguer uma voz comum pelo desenvolvimento sustentável. Essa
estratégia – para lidar com os agentes-pessoas do processo – requer um novo enquadramento
mental e novos conjuntos de valores. (KRAEMER, 2004)
A educação ambiental deve ser considerada como o instrumento de vital importância
para a implantação do desenvolvimento sustentável, que combina crescimento econômico e
tecnológico, com a exploração racional dos recursos naturais e com a sua conservação para
gerações futuras. Na visão da educação ambiental tais elementos estão inseridos na vida do
indivíduo que se torna um pólo de interação do seu crescimento cognitivo, efetivo, social e
moral. (BRITO e CASTRO, 2003)
Para apresentar um caráter efetivo, os programas de educação ambiental devem
promover concomitantemente, o desenvolvimento de conhecimento, de ações e de habilidades
essenciais à preservação e resgate da qualidade ambiental. A proposta é a utilização do
metabolismo urbano e de seus recursos naturais e físicos, começando pela escola e
expandindo-se pela circunvizinhança e, sucessivamente, até a cidade, a região, o país, o
continente e o planeta.
A educação é a chave do desenvolvimento sustentável, auto-suficiente – uma
educação fornecida a todos os membros da sociedade, seguindo modalidades novas e com a
implementação de novas tecnologias, de modo que cada um se beneficie de possibilidades
reais de se instruir ao longo da vida. (MAYOR in KRAEMER, 2004) Um novo modelo de
ensino deve ser difundido em todos os países visando promover atitudes, posturas e
comportamentos que sejam pertinentes a uma cultura de sustentabilidade. Faz-se necessário
que as instituições de ensino assumam essa responsabilidade que é essencial na preparação
das novas gerações para um futuro viável.
Atualmente a educação vem sendo repensada como uma preparação para a vida –
trata-se de considerar a necessidade de garantir a certeza do emprego e a aptidão para o
trabalho, de possibilitar a cada indivíduo satisfazer às demandas provenientes de uma
sociedade em dinâmica evolutiva, assim como os avanços tecnológicos que condicionam
explícita ou implicitamente cada aspecto da existência e, por fim, de alcançar as respostas à
incessante busca da felicidade, do bem-estar e da qualidade de vida. (KRAEMER, 2004)
Tal proposta se materializa com a promoção de programas de ensino novos ou
reformulados, de caráter mais envolvente e continuado, no desenvolvimento de peritos que
auxiliam os governos através de aconselhamento e ainda realizam um efetivo e crítico
acompanhamento da atuação dos governantes e de outros agentes da sociedade.
E não se pode cair no engano de incentivar somente programas voltados à educação
infantil, pois sabe-se que os trabalhos desenvolvidos nas instituições de ensino superior são
dotadas de um efeito multiplicador no qual cada estudante, imbuído dos conceitos e ideais da
sustentabilidade, influencia seu meio, seu conjunto social nas mais diversificadas áreas de
atuação. Além disso, é necessário preparar o educador que irá trabalhar com as crianças e
adolescentes para que ele possa estar apto a transmitir os conceitos de sustentabilidade aos
educandos.
O desafio do desenvolvimento sustentável tem a universidade como um de seus
principais agentes, especialmente preparado e equipado para assumir a liderança na condução
do caminho a ser percorrido uma vez que sua missão é ensinar e formar os decisores do
futuro, ou seja, os cidadãos mais capacitados a tomarem decisões.
A educação para a vida sustentável envolve a aplicação de uma pedagogia que tem a
compreensão da vida como seu ponto central. A proposta é que o educando experiencie um
aprendizado no mundo real que supere a alienação da natureza tão presente na vida dos
indivíduos encharcados pela dominante cultura capitalista atual.
Para a efetiva realização do que propõe essa nova pedagogia, é necessária a
confecção de um planejamento de currículo integrado, no qual a ênfase é voltada ao
conhecimento contextual, ou seja, os vários assuntos aprendidos são recursos a serviço de um
foco central. A exemplo do que acontece na técnica chamada de aprendizagem por projetos,
que busca a facilitação das experiências de aprendizagem proporcionando o envolvimento dos
alunos em projetos complexos e contemporâneos, possibilitando-os desenvolverem e
aplicarem as habilidades e conhecimentos apreendidos. (KRAEMER, 2004)
A ação direta do educador em sala de aula é uma das formas de levar a educação
ambiental à comunidade e pode ser enriquecida ainda por atividades extracurriculares.
Leituras, trabalhos escolares, pesquisas e debates são atividades que proporcionam aos alunos
a compreensão e o entendimento das inadequações e dos problemas que assolam sua
comunidade, e os levam ao processo de reflexão e análise crítica das ações que desrespeitam e
destroem um patrimônio que é de todos. Vale destacar neste ponto a necessidade de incutir no
educando a consciência que o que é público é de posse de todos pois não raro percebe-se que
o público é tido como se não pertencesse a ninguém e por isso é depredado, estragado e
desrespeitado.
O professor é peça fundamental no processo de conscientização da sociedade sobre
os problemas ambientais e deve buscar desenvolver nos educandos hábitos e atitudes sadios
de conservação ambiental e respeito à natureza, fazendo deles cidadãos conscientes e
comprometidos com o futuro do país. (KRAEMER, 2004)
Para Kornhauser (in KRAEMER, 2004), a educação é o cimento da construção do
desenvolvimento humano sustentável. É necessário elaborar estratégias e programas de
educação voltados às preocupações com o ambiente, destinados tanto ao ensino escolar como
à educação informal, com a perspectiva da educação permanente a ser empregada pelos
poderes públicos, pelo setor produtivo, pelo comércio e pelas comunidades locais.
A educação é ferramenta essencial à promoção de novos valores e para fomentar o
aumento da capacidade das pessoas em enfrentar as questões ambientais e de
desenvolvimento sustentável. É chegada a hora em que a educação em todos os níveis, e
principalmente a educação universitária – voltada à formação de gestores e professores – deve
ser orientada para a disseminação do desenvolvimento sustentável e para apregoar atitudes e
comportamentos ambientalmente conscientes, e também um sentido de responsabilidade ética.
Segundo Kraemer (2004) os estabelecimentos de ensino superior estão já
conscientes do papel que devem cumprir na preparação das novas gerações para um futuro
sustentável. As universidades partilham a convicção de que o progresso econômico e a
proteção ambiental estão indissoluvelmente ligados. Sendo assim, as universidades são
chamadas ao exercício de liderar a proposta de uma forma de educação interdisciplinar que
seja embasada em uma dimensão ética e que tenha por objetivo principal a concepção de
soluções para os problemas ligados ao desenvolvimento sustentável.
Fouto (in KRAEMER, 2004) diz que o ensino é o cerne da atividade da universidade
e a educação a sua missão primeira.
A este ponto faz-se necessário compreender que existem diversificadas concepções
tipológicas sobre o ambiente. Segundo Sauvé (2007), o estudo fenomenológico do discurso e
da prática em educação ambiental identifica seis diferentes concepções paradigmáticas sobre
o ambiente.
 Ambiente como a natureza, para ser apreciado, respeitado e preservado. Esse
é o ambiente original e puro do qual os seres humanos estão dissociados e no qual devem
aprender a se relacionar para enriquecer a qualidade de ser. Para muitos indivíduos a natureza
é como uma catedral, que deve ser admirada e respeitada. Para outros, a natureza é como o
útero, onde todos devem redimir-se para renascer. Com esse propósito, surgem as estratégias
pedagógicas de imersão na natureza.
 Ambiente como um recurso, para ser gerenciado. Essa é a coletiva herança
biofísica, que sustenta a qualidade de vida de todos no planeta. Esse limitado e finito recurso
vem sendo deteriorado e degradado. Ele deve ser gerenciado de acordo com os princípios de
desenvolvimento sustentável e de divisão eqüitativa. Deve-se tomar as decisões corretas para
assegurar os recursos para a geração atual e para as futuras gerações. Entre as estratégias de
ensino aprendizado adotadas nessa visão, estão aquelas interpretações relacionadas com os
patrimônios históricos, parques e museus e as campanhas para a utilização dos recursos como
a reciclagem, por exemplo. A auditoria ambiental também é proposta como uma interessante
estratégia, podendo ser aplicada para o controle do consumo de energia ou para o
gerenciamento do lixo.
 Ambiente como um problema, para ser resolvido. Esse é o ambiente
biofísico, o sistema de suporte da vida que está sendo ameaçado pela poluição e pela
degradação. Importa aprender a preservar e a manter a sua qualidade. As estratégias
educativas que auxiliam a resolução de problemas incluem identificar, analisar e diagnosticar
os problemas, através de pesquisas e avaliações das diferentes soluções; conceituar e executar
um plano de ação; avaliar os processos e assegurar a constante retroalimentação, etc.
 Ambiente como um lugar para se viver, para conhecer e aprender sobre, para
planejar, para cuidar. Esse é o ambiente do cotidiano de todos os indivíduos presente na
escola, nas casas, na vizinhança, no trabalho e no lazer. Esse ambiente é caracterizado pelos
seres humanos, nos seus aspectos sócio-culturais, tecnológicos e componentes históricos.
Destaca-se nessa proposta o ideal de desenvolver em cada indivíduo o senso de pertencer ao
ambiente. ‘Devemos cuidar do nosso espaço de vivência’. Nessa perspectiva, a educação
ambiental é associada ao desenvolvimento de uma teoria cotidiana. O processo pedagógico
auxilia a transformar cada indivíduo e, assim, cada um pode transformar sua realidade. A
proposta é uma educação para a reabilitação, que favoreça o desenvolvimento da arte de
conviver harmonicamente com o próprio lugar.
 Ambiente como a biosfera, onde todos devem viver juntos no futuro. Esse é o
objeto da consciência planetária. Esse é o mundo de interdependência entre os seres vivos e
inanimados, que clama pela solidariedade humana. A concepção do ambiente como a biosfera
objetiva a compreensão das múltiplas dimensões do mundo, estimulando a efetiva
participação para lidar com as questões importantes. Entre as estratégias de ensino-
aprendizagem, nós encontramos estudos de caso aplicados em problemas globais, ou uma
auditoria para regular o consumo em diferentes partes do mundo. A íntima ligação do ser
humano com a Terra é revelada pelas diferentes cosmologias.
 Ambiente como projeto comunitário, no qual os indivíduos são envolvidos.
Esse é o ambiente da coletividade humana, o lugar dividido, o lugar político, o centro da
análise crítica. Ele clama pela solidariedade, pela democracia e pelo envolvimento individual
e coletivo para a participação e a evolução da comunidade. Aqui são encontradas muitas
preocupações da educação ambiental socialmente crítica. O modelo pedagógico tem enfoque
sobre como propor o processo da pesquisa para a resolução dos problemas comunitários.
Também muito pertinentes, destacam-se as estratégias do Fórum das Questões Ambientais
(NAAEE, 1993), que convidam os cidadãos, os membros da comunidade a estudarem e
discutirem um problema especial para identificar elementos de consenso que possam conduzir
à elaboração e à implementação de soluções adequadas.
De acordo com Sauvé (2007, p. 5) “Essas concepções sobre o ambiente podem ser
consideradas numa perspectiva sincrônica: elas coexistem e podem ser identificadas nos
diferentes discursos e práticas atuais.” E são resultados da evolução da história. Sabe-se que
alguns paradigmas da educação ambiental podem ser explicados no movimento da educação-
natureza da década de 20 – refere-se à concepção do ambiente como natureza –, e também nos
movimentos de educação-conservação que surgiram neste século – refere-se à concepção do
ambiente como recurso. No início da década de 70, o ambiente foi percebido como um
problema. Nessa época, a noção do ‘ambiente como lugar para se viver’ tornou-se muito
popular. Nos últimos anos surgiu uma preocupação exagerada com a dimensão biosférica. A
concepção do ambiente como a biosfera foi provocada pela globalização do mercado e da
informação e também pela percepção sobre as interrelações dos fenômenos ambientais locais
e globais. O Primeiro Mundo transferiu a responsabilidade aos países em desenvolvimento e
um grande medo de que a miséria humana sofresse o efeito bumerangue deu impulso à
solidariedade mundial. Enquanto isso, a concepção do ambiente como projeto comunitário
acabou prevalecendo, respondendo à preocupação pela educação mesológica – educando para,
sobre e no ambiente global para resolver os problemas da comunidade.
É inevitável o questionamento sobre qual é a concepção correta ou mais adequada a
ser trabalhada com os educandos, após tomar consciência da coexistência de tantas
concepções diferentes de meio ambiente. O interessante é que sejam ‘costuradas’ duas ou
mais concepções durante o trabalho de educação ambiental para o desenvolvimento
sustentável, haja vista a complementaridade relacionada a estas visões sobre o meio ambiente.
Vale o destaque ainda para a valorização do caráter global da educação ambiental, ou seja, o
de relacionar todos os elementos envolvidos no processo de educação ambiental e
desenvolvimento sustentável, a saber, pessoas, sociedade, natureza e desenvolvimento.

O ideal seria que a compreensão dos processos educativos considerasse uma dessas visões
complementares do ambiente, de uma forma cumulativa, através de uma cuidadosa orquestra de
intervenção, ou preferencialmente, utilizando um enfoque pedagógico integrado. Infelizmente, as
propostas da educação ambiental são restritas em uma dessas concepções, limitando o principal
objetivo da educação: o ambiente não é percebido de uma forma global e consequentemente, a rede
de interrelação pessoa-sociedade-natureza (que é o centro da educação ambiental) é percebida
somente parcialmente. Por exemplo, certas teorias e práticas relativas à educação para o
desenvolvimento sustentável adotam uma visão limitada do ambiente, essencialmente como um
recurso, assim como a visão de que o ambiente é um grande armazém genético que precisa ser
gerenciado ou que precisa ser assegurado para os benefícios a longo prazo. Nesse contexto, as
intervenções focalizando a atenção para a campanha dos 3 Rs, prescrevendo o comportamento cívico
individual para a reciclagem, podem ser pertinentes num determinado contexto, mas são limitadas se
forem consideradas na perspectiva de um processo holístico. Por outro lado, o fórum democrático
sobre o gerenciamento dos resíduos sólidos numa comunidade cria uma interrelação entre o conceito
do "ambiente como recurso" e o "ambiente como projeto comunitário", enriquecendo o propósito da
educação em sua prática de intervenção. (SAUVÉ, 2007, p. 5)
Diante do grave cenário no qual está envolvido hoje o planeta Terra em
consideração às questões ambientais, os objetivos de desenvolvimento sustentável têm de ser
dissipados em caráter de urgência e a educação para o desenvolvimento sustentável – com
suas diversificadas concepções a serem analisadas e entrelaçadas – será, portanto, o principal
papel da universidade no século XXI.

REFERÊNCIAS:

BIHR, A . Da grande noite à alternativa: O Movimento Operário Europeu em


crise. São Paulo: Boitempo, 1999.

BRITO, Hélida Oliveira de. E CASTRO, Carla. Educação ambiental e


desenvolvimento sustentável. Natal: Davinci UFRN, 2003.

KRAEMER, Maria Elizabeth Pereira. A Universidade do Século XXI Rumo ao


Desenvolvimento Sustentável. Itajaí: Ambiente Brasil, 2004.

SOAREZ DE OLIVEIRA, A.M. Relação homem/natureza no modo de produção


capitalista Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad
de Barcelona, Vol. VI, nº 119 (18), 2002.

SITES:

MACHADO OLIVEIRA, Cristina G. A relação homem-natureza. Disponível em


http://www.filosofiavirtual.pro.br/naturezamarx.htm acessado em 11/07/2007.

SAUVÉ, Lucie. Educação ambiental e desenvolvimento sustentável: uma análise


complexa. Revista UFMT. Disponível em www.cecae.usp.br/recicla/Lucie_Sauve.pdf
acessado em 15/07/2007.

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