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Custos Empresariais

Análise da Relação Custo-Volume-


Lucro
Sumário
Desenvolvimento do material Análise da Relação Custo-Volume-Lucro
Dayse de Lima Passos
Para início de conversa… ................................................................................. 3
Objetivo .................................................................................................... 3
1ª Edição 1. Custos (e Despesas) Fixos e Variáveis .................................................... 4
Copyright © 2022, Afya.
2. Ponto de Equilíbrio, Margem de Segurança,
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida,
transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, Alavancagem Operacional e Comprar ou Produzir ........................... 6
mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia
autorização, por escrito, da Afya. 3. Pontos de Equilíbrio Contábil, Econômico e Financeiro .................. 19
Referências ..................................................................................................... 23
Para início de conversa… Objetivo
A Contabilidade de Custos fornece diversas informações para a Analisar a relação custo-volume-lucro.
Contabilidade Gerencial, onde serão tomadas as decisões que impactam
fortemente as empresas. Para isso, são necessárias diversas ferramentas
que auxiliam os gestores a desenvolverem tais desafios. A Contabilidade
de Custos e a Contabilidade Gerencial influenciam diretamente os
resultados das empresas, que podem obter lucro ou prejuízo, caso sejam
mal planejados os custos envolvidos nas fabricações dos produtos das
empresas industriais.

Neste capítulo, você compreenderá e aplicará diversas ferramentas que


analisam a relação do custo com o volume produzido e com o lucro
auferido. Para isso, abordaremos o conceito de margem de contribuição,
conjugado com algumas ferramentas, como o conceito de ponto de
equilíbrio, margem de segurança e grau de alavancagem. Veremos que
nem sempre será mais vantajoso para a empresa produzir o produto; em
alguns casos, adquiri-lo de terceiros é menos oneroso.

Por fim, estudaremos o conceito de ponto de equilíbrio, que será


expandido por meio da abordagem do ponto de equilíbrio contábil, do
ponto de equilíbrio econômico e do ponto de equilíbrio financeiro.

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1. Custos (e Despesas) Fixos e Variáveis Nos custos diretos, estão sendo consideradas as matérias-primas e a mão de
obra direta. Temos, também, a seguinte informação sobre os custos indiretos
Sabemos que os custos e despesas podem ser diretos ou indiretos, dessa empresa, considerando que ela possui um único departamento,
variáveis ou fixos, em que a principal preocupação é como alocar (ratear) somente a título de simplificação do exemplo: R$ 3.100.000,00 de custos
os custos indiretos aos produtos, haja vista que eles são de difícil indiretos totais (mão de obra indireta, depreciação etc.).
acompanhamento. Já os custos diretos são de fácil reconhecimento e de A empresa utiliza as horas de mão de obra direta trabalhadas para
fácil alocação direta aos produtos, facilitando a vida dos gestores que calcular o rateio dos custos indiretos, e sabemos que, para o Carro A, são
são responsáveis por tal atividade. utilizadas 20h para produzir uma unidade, 25h para o Carro B e 20h para
o Carro C. Considerando a produção mencionada na Tabela 1, temos o
De acordo com o critério preestabelecido pela empresa para rateio dos
total de 155.000 horas trabalhadas: [(2.000 unid. x 20h) + (2.600 unid. x
custos indiretos aos produtos, a lucratividade de cada produto se altera.
25h) + (2.500 unid. x 20h)].
Vejamos um exemplo que demonstra essa variabilidade:
Se temos R$ 3.100.000,00 de custos indiretos para 155.000 horas
Exemplo: trabalhadas, podemos considerar o custo indireto de R$ 20,00 por hora
A indústria “Tudopelaqualidade” produz 3 tipos de carros diferentes que possuem os (3.100.000,00 / 155.000h).
seguintes custos diretos e quantidades produzidas:
Observe a Tabela 2:

Produto Custos Diretos (R$) Quantidade Produzida Custo direto Custo indireto Custo Total Preço de Venda Lucro (R$) p/
Produto
(R$) p/ unid. (R$) p/ unid. (R$) p/ unid. (R$) p/ unid. unid.
Carro A R$ 700,00/unid. 2.000 unid.
Carro A 700,00,00 20,00 x 20h 1.100,00 1.500,00 400,00
Carro B R$ 1.000,00/unid 2.600 unid.
Carro B 1.000,00 20,00 x 25h 1.500,00 1.820,00 320,00
Carro C R$ 750,00/unid. 2.500 unid.
Carro C 750,00 20,00 x 20h 1.150,00 1.430,00 280,00
Tabela 1: Custos Diretos e Quantidades Produzidas (exemplo). Fonte: Elaborado pela autora.
Tabela 2: Custos totais, preço de venda e lucro por produto (exemplo). Fonte: Elaborado pela autora.

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Podemos verificar, por meio da Tabela 2, que o carro A tem o maior lucro, Custo Preço de
seguido pelo Carro B e, por último, o Carro C. E se mudarmos o critério Custo direto Custo Total Lucro (R$)
Produto indireto (R$) Venda (R$)
(R$) p/ unid. (R$) p/ unid. p/ unid.
de rateio, esse panorama poderá se alterar? p/ unid. p/ unid.

Considerando que a “Tudopelaqualidade” utiliza o critério de rateio pela Carro A 700,00,00 697,50 1.397,50 1.500,00 102,50
depreciação, sabe-se que cada carro produzido utiliza um robô específico Carro B 1.000,00 357,69 1.357,69 1.820,00 462,31
para a montagem dos carros que têm características diferentes. Sabe- Carro C 750,00 310,00 1.060,00 1.430,00 370,00
se, assim, que a depreciação, respectivamente, foi de R$ 810.000,00, R$
540.000,00 e R$ 450.000,00, totalizando R$ 1.800.000,00. Sendo assim, Tabela 3: Custos totais, preço de venda e lucro por produto pelo novo rateio (exemplo). Fonte:

45% pertencem ao Carro A, 30% ao Carro B e 25% ao Carro C. Elaborado pela autora.

Se temos R$ 3.100.000,00 de custos indiretos totais e iremos utilizar o Vemos, na Tabela 3, que o Carro A passa a ser o menos lucrativo e que
critério mencionado anteriormente como critério de rateio, teremos os quem assume a liderança na lucratividade por unidade é o Carro B; já o
seguintes valores: Carro C melhorou sua posição, indo para segundo lugar no ranking. Com
isso, identificamos que o critério de rateio influencia muito o custo total
Carro A = R$ 3.100.000 x 45% = R$ 1.395.000,00
dos produtos e, consequentemente, a lucratividade de cada produto.
R$ 1.395.000,00 / 2.000 unid. = R$ 697,50 por unidade Esse problema pode ser minimizado por meio do conceito de Margem
Carro B = R$ 3.1003000 x 30% = R$ 930.000,00 de Contribuição por Unidade, a qual veremos adiante.
R$ 930.000,00 / 2.600 unid. = R$ 357,69 por unidade
Carro C = R$ 3.100.000,00 x 25% = R$ 775.000,00
R$ 775.000,00 / 2.500 unid. = R$ 310.000,00 por unidade

Refazendo a Tabela 2 com base no novo critério de rateio, temos os


seguintes números:

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2. Ponto de Equilíbrio, Margem de Segurança, Assim sendo, o cálculo do ponto de equilíbrio nada mais é que uma
análise do custo do produto, do volume que deve ser produzido e do
Alavancagem Operacional e Comprar ou lucro – em caso de equilíbrio, não haverá nem lucro, nem prejuízo. O

Produzir ponto de equilíbrio ocorre exatamente no momento em que as Receitas


Totais alcançam os Custos Totais, como pode ser visto na Figura 1.
Um dos pontos fundamentais quando se fala em custos para decisão é
o cálculo do ponto de equilíbrio. De acordo com Martins (2015, p.242), R$ Receitas
“O Ponto de Equilíbrio (também denominado Ponto de Ruptura – Break-
even Point) nasce da conjugação dos Custos e Despesas Totais com as Custos e despesas variáveis
Receitas Totais”. PE

No estudo do ponto de equilíbrio, relacionamos três variáveis básicas: Y


Custo, Volume e Lucro. Por meio dessa relação, teremos condições de
detectar o mínimo que uma empresa precisa produzir e vender para não Custos e despesas fixos
ter prejuízo.

Crepaldi e Crepaldi (2019, p.200) comentam sobre o custo, volume e


lucro: Custos e despesas totais

0
‘‘ em
Esta análise é um instrumento utilizado para projetar o lucro que seria obtido
diversos níveis possíveis de produção e vendas, bem como para analisar o X Quantidade
impacto sobre o lucro de modificações no preço de venda, nos custos ou em
ambos. Ela é baseada no custeio variável e, por meio dela, podemos estabelecer Figura 1: Representação Gráfica do Ponto de Equilíbrio. Fonte: Adaptado de Tostes; Vieira (2010,
qual a quantidade mínima que a empresa deverá produzir e vender para que não
p.74).
’’
incorra em prejuízo.

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O ponto de encontro representa o ponto de ruptura ou de equilíbrio Então, podemos resumir que as margens de contribuição são obtidas por
a partir do qual a empresa aufere lucro e abaixo do qual incorrem meio da diferença entre o preço de venda e a soma dos gastos variáveis
prejuízos. Nesse ponto, as receitas auferidas cobrem somente os custos e (despesas e custos variáveis) de um ou mais produtos ou serviços.
despesas variáveis e fixos.
A margem de contribuição unitária é dada pela fórmula:
O cálculo do ponto de equilíbrio, ou break-even, procura encontrar o
ponto em que as receitas e despesas são iguais a zero. Como vimos na MC = PV - CV - DV
Figura 1, a partir da quantidade X (seta horizontal) produzida, começará
Em que:
a haver lucro.
MC é a margem de contribuição.
O cálculo do break-even é imprescindível nos seguintes casos:
PV é o preço de venda.
▪ Em lançamento de novos produtos, para determinar o volume de CV é a soma dos custos variáveis.
vendas necessário para o ponto de equilíbrio do projeto. DV é a soma das despesas variáveis.
▪ Para avaliar o potencial de alavancagem dos lucros da empresa.
▪ Para avaliar mudanças, como terceirização, que transformam custos Sabemos que, em relação ao custeio variável, também chamado de
fixos em custos variáveis. custeio direto, encontramos a margem de contribuição após calcularmos
as receitas do período, abatendo os gastos variáveis (custos e despesas
O break-even é uma técnica que estuda a relação entre custos fixos, variáveis) no desenvolvimento da Demonstração do Resultado do
custos variáveis e lucros; logo, a primeira providência é separar o que Exercício - DRE. Vamos ver mais um exemplo de margem de contribuição.
são custos e variáveis. O Ponto de Equilíbrio ocorrerá exatamente onde
as Receitas Totais (RT) forem iguais aos Custos Totais (CT): RT = CT. Exemplo:
Fórmula: Vamos supor que uma empresa industrialize um produto X e pratique o preço
Custos Fixos + Despesas Fixas de venda unitário desse produto em R$ 20,00. Considere, também, que os custos
Ponto de Equilíbrio = variáveis sejam R$ 4,40 de matéria-prima e R$ 6,00 de mão de obra direta. Além
dos custos variáveis, existem os custos e despesas fixos. Sabe-se que, sobre o preço
Margem de Contribuição Unitária

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de venda, há o pagamento de comissões aos vendedores (despesas variáveis) de 3% PE = 1.000
e 20% são para pagamento de impostos (também despesas variáveis) com base no
preço de venda. Assim, vemos que, para a empresa não ter nem lucro nem prejuízo, ela
deverá produzir 1.000 unidades desse produto; dessa forma, ela cobre
Vamos calcular a margem de contribuição desse produto? todos os gastos variáveis e fixos. Com a produção de 1.001 unidades,
Memória de cálculo: essa empresa já começa a ter lucro. Compreenda melhor com o
desenvolvimento da DRE:
MC = 20,00 - (4,40+6,00) - [(20,00 x 3%) + (20,00 x 20%)]
DRE - Demonstração do Resultado do Exercício
MC = 20,00 - 10,40 - [0,60 +4,00]
(=) RECEITAS (1.000 x R$ 20,00) R$ 20.000,00
MC = 9,60 - 4,60
(-) CUSTOS E DESPESAS VARIÁVEIS (R$ 15.000,00)
MC = R$ 5,00
(-) Impostos (R$ 20.000,00 x 3%) (R$ 600,00)
Observação: Isso quer dizer que cada unidade vendida contribui com R$ (-) Custos variáveis (1.000 x R$ 10,40) (R$ 10.400,00)
5,00 para pagamento dos custos fixos e despesas fixas que a empresa (-) Comissões (R$ 20.000,00 x 20%) (R$ 4.000,00)
possui.
(=) MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO R$ 5.000,00
Considere, então, que essa empresa tenha custos e despesas fixas de R$ (-) Custos e Despesas fixas (R$ 5.000,00)
5.000,00. Quantas unidades desse produto a empresa teria que produzir (=) LUCRO/PREJUÍZO DO EXERCÍCIO 0,00
para não ter nem lucro nem prejuízo? Nessa situação, teríamos que
calcular o Ponto de Equilíbrio (PE) visto acima. Sabemos que o custeio direto tem grande aplicação nas tomadas de
decisões das empresas, de forma gerencial. Conforme afirmam Crepaldi
Memória de cálculo: e Crepaldi (2019, p.171):
Custos Fixos + Despesas Fixas
Ponto de Equilíbrio = ‘‘ ligadas
O sistema de custeio direto é útil para a tomada de decisões administrativas
à fixação de preços, decisão de compra ou fabricação, determinação
Margem de Contribuição Unitária do mix de produtos e, ainda, para possibilitar a determinação imediata do
PE = R$ 5.000,00 / 5,00 comportamento dos lucros em face das oscilações de vendas.
’’
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Sendo assim, a Margem de Contribuição é de grande valia em um Você consegue analisar qual dos dois pedidos deveria ser aceito para ser
processo decisório sobre fabricar ou não uma encomenda recebida, ou produzido? Sabe-se que:
mesmo comprar algum produto ou produzi-lo na própria empresa. Veja,
a. O tempo de produção dos armários e das cadeiras é praticamente o
a seguir, um exemplo de decisão de aceitar ou não uma encomenda de
mesmo.
produção.
b. Os custos e despesas fixas totais do mês equivalem a R$ 50.000,00.
Exemplo:
Utilizando a margem de contribuição como parâmetro para avaliar qual
A fábrica de móveis Só Conforto, fabricante de móveis por encomenda, recebeu das duas encomendas deve ser aceita, temos as seguintes memórias de
dois pedidos: um para produzir dois armários de cozinha e, outro, para produzir 300 cálculo:
cadeiras, com o prazo de entrega de um mês. A fábrica poderá trabalhar somente em
uma das encomendas por limitação da capacidade produtiva, já que está com suas Armário de Cozinha:
vendas comprometidas para os próximos seis meses. Os orçamentos de gastos e MC = PV - CV - DV
receitas para os dois casos são os constantes na Tabela 4:
MC = 8.500 - (1.600 + 100) - 850
MC = 5.950 (por unidade)
Pedido (itens) Armários de cozinha Cadeiras
Matéria-prima e mão de obra Quantidade encomendada 2 x R$ 5.950,00 de margem de contribuição
R$ 1.600,00 p/ unid. R$ 30,00 p/ unid.
direta = R$ 11.900,00 (margem de contribuição total do pedido de armários de
Custos indiretos de produção cozinha).
R$ 100,00 p/ unid. R$ 2,00 p/ unid.
variáveis Cadeiras:
Impostos e taxas s/ venda R$ 850,00 p/ unid. R$ 10,00 p/ unid. MC = PV - CV - DV
Preço de venda por unidade R$ 8.500,00 p/ unid. R$ 100,00 p/ unid. MC = 100 - (30 + 2) - 10
Volume de vendas 2 unidades 300 unidades MC = 58 (por unidade)

Tabela 4: Tomada de decisão (exemplo). Fonte: Elaborado pela autora.

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Quantidade encomendada 300 x R$ 58,00 de margem de contribuição = diferença entre os custos de duas alternativas quaisquer é conhecida
R$ 17.400,00 (margem de contribuição total do pedido de cadeiras). como Custo Diferencial. O Custo de Oportunidade também deverá ser
levado em consideração, já que esse custo é a vantagem da qual se abre
Pelas margens de contribuição, podemos identificar que a encomenda
mão quando uma alternativa é escolhida em vez de outra.
das cadeiras é mais vantajosa para a empresa, pois contribui com 35%
dos custos e despesas fixas, que são de R$ 50.000,00, conforme pode ser Temos, também, o Custo Irrecuperável, que é o custo que já ocorreu e
visto na Tabela 5: que não pode ser alterado por qualquer decisão de agora ou do futuro.
Como os custos irrecuperáveis não podem ser modificados, eles não são
Margem de custos diferenciais e, portanto, devem ser ignorados ao se tomar uma
Encomenda % de Contribuição
Contribuição decisão. Ou seja, somente os custos e os benefícios que se comportam
Armários de cozinha R$ 11.900,00 24% = (11.900/50.000) x 100 de modo diferente nas alternativas interessam no momento da decisão.
Cadeiras R$ 17.400,00 35% = (17.400/50.000) x 100 Se o custo permanecer o mesmo, independentemente da alternativa
escolhida, a escolha não tem qualquer efeito sobre o custo e ele pode
Tabela 5: Porcentagem de contribuição (exemplo). Fonte: Elaborado pela autora. ser ignorado. São chamados, também, de Custos Inevitáveis. Já o Custo
O perfeito conhecimento das relações Custo x Volume x Lucro, a Evitável é um custo que pode ser eliminado totalmente ou em parte, em
classificação dos custos e despesas relevantes em fixos e variáveis e a razão da escolha de uma alternativa em detrimento de outra.
aplicação do conceito de custeio variável permitem que a Contabilidade Como Custos Inevitáveis podemos citar a maioria dos Custos Fixos,
de Custos prepare informações úteis à administração para que esta possa mas há casos em que partes desses custos fixos podem ser eliminadas
se desincumbir com mais eficácia de suas funções de planejamento e de quando escolhemos a alternativa de adquirir peças ou componentes no
tomada de decisões. mercado. Os custos variáveis são sempre custos evitáveis (sempre se
As decisões envolvem a escolha entre alternativas. Nas decisões modificam de uma alternativa para outra) e são os mais importantes em
empresariais, cada alternativa tem determinados custos e vantagens que uma tomada de decisão.
precisam ser comparados com as das demais alternativas oferecidas. A A decisão de fazer ou comprar (make or buy) frequentemente desafia

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a gerência. A necessidade de se tomar uma decisão entre as duas Observação: Levando em consideração que a MOD (mão de obra direta)
alternativas pode surgir em vários pontos do processo operacional. Mais liberada permanecerá ociosa, apenas serão computados os custos
frequentemente, todavia, refere-se às alternativas de fabricar ou adquirir relevantes, ou seja, aqueles que serão afetados pela decisão. Dessa
partes ou componentes do produto principal que a empresa produz. É forma, não consideramos os Custos Fixos Alocados, pois eles não se
nesse sentido que será tratado o problema neste tópico. alteram com a decisão tomada.

Algumas das variáveis envolvidas na decisão são: CV: R$ 4,00


CF do produto: R$ 2,00
▪ comparação entre custos;
Custos relevantes: R$ 6,00
▪ grau de ocupação da capacidade da fábrica antes de se tomar a
Custo de se adquirir: R$ 7,00
decisão;
▪ problemas de mercado, tempos de espera e qualidade das partes; Diferença: R$ 1,00 p/unidade; logo, seria vantajoso continuar produzindo
▪ segurança no longo prazo. o componente.

Exemplo: Uma outra hipótese seria a Cia “XYZ” empregar a MOD na fabricação
de motores (já que os trabalhadores estariam ociosos), aumentando sua
A Cia “XYZ”, especializada na fabricação de carros, fabrica alguns de seus componentes produção em mais 4 carros mensais e gerando um aumento de receitas
e adquire outros do comércio. Uma empresa se ofereceu para suprir a outra parte dos
em torno de R$ 10.000,00. Estimando uma produção de 5.000 peças,
componentes fabricados pela Cia “XYZ” a um preço de R$ 7,00 a unidade. Os custos para
vamos ver como ficaria agora:
a fabricação desse componente são: CV: R$ 4,00; CF do produto: R$ 2,00; CF alocados:
R$ 3,00; assim sendo, o CT é R$ 9,00. Custo de Produzir: R$ 6,00 x 5.000 unid. = $ 30.000,00
Em que: Custo de Oportunidade: ........................... $ 10.000,00
Custos relevantes: ................................................ $ 40.000,00
CV - Custo Variável
Custo de se adquirir................................ $ 35.000,00 (5.000 u x $ 7,00)
CF - Custo Fixo
Diferença Positiva.................................... $ 5.000,00
CT - Custo Total

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Além da decisão de custos, devemos olhar para outras variáveis, como por apenas R$ 19,00 cada. À primeira vista, pode-se acreditar que seja
o comportamento desse preço no futuro, problemas de suprimentos, vantagem a compra dos câmbios do fornecedor. Será que a companhia
qualidade das peças, confiabilidade no fornecedor etc. deve interromper a linha de produção dos câmbios e começar a comprá-
los? Para chegar à decisão a partir do ponto de vista financeiro, o
Veja, agora, outro exemplo de Comprar ou Fabricar:
administrador deve, mais uma vez, concentrar-se nos custos diferenciais.
Exemplo: Esses custos podem ser obtidos pela eliminação dos custos que não
podem ser evitados (aqueles que ocorrem independentemente de a
A Caloi, uma indústria de bicicletas, atualmente produz o câmbio de marchas de força
linha de produção existir ou não). Nessa decisão, deverão ser eliminados,
empregado na sua linha mais popular de Mountain Bikes. O Departamento Contábil
para fins de cálculo da melhor alternativa, os custos:
da empresa apresenta os seguintes custos de produção interna desse câmbio:
a. irrecuperáveis;
Custos e Despesas Por Unidade 8.000 Unidades
b. futuros, que permanecerão se os câmbios forem produzidos ou
Materiais Diretos R$ 6,00 R$ 48.000,00 comprados.
MOD R$ 4,00 R$ 32.000,00 Os custos que restarem após essa eliminação serão os custos evitáveis
Custo Indireto Variável R$ 1,00 R$ 8.000,00 em razão da compra. Se esses custos forem menores do que o preço de
Salário do Supervisor R$ 3,00 R$ 24.000,00 compra, a companhia deve continuar a fabricar os câmbios e recusar a
proposta do fornecedor. Ou seja, a Caloi deve comprar os câmbios se o
Depreciação do Equipamento R$ 2,00 R$ 16.000,00
preço de compra for menor do que o custo interno, que pode ser evitado
Alocação de Custo Indireto R$ 5,00 R$ 40.000,00 em razão da interrupção da produção.
Custo Total R$ 21,00 R$ 168.000,00
Analisando os dados verificamos que:
Tabela 6: Custos da fabricação de 8.000 unidades de câmbio. Fonte: Elaborado pela autora.
▪ Os custos variáveis são custos evitáveis e, portanto, importantes para
Um fornecedor externo propôs vender a Caloi 8.000 câmbios por ano a tomada de decisão.

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▪ A depreciação do equipamento vai continuar ocorrendo, R$
MOD R$ 4,00 R$ 4,00 R$ - R$ -
independentemente da linha de produção ser descontinuada ou 32.000,00
não. Só poderia ser eliminada dessa análise se a máquina pudesse Custo Indireto Variável R$ 1,00 R$ 1,00 R$ - R$ 8.000,00 R$ -
ser utilizada para outro fim ou mesmo ser alienada (transferida ou
R$
vendida) e, com isso, a depreciação seria eliminada. Nesse caso, a Salário do Supervisor R$ 3,00 R$ 3,00 R$ - R$ -
24.000,00
máquina não tem valor comercial e não pode ser utilizada para outro
Depreciação do
fim. A depreciação não é relevante na tomada de decisão. R$ 2,00 R$ - R$ - R$ - R$ -
equipamento
▪ A alocação do custo indireto acontecerá independentemente da
Alocação de Custo
linha de produção. Refere-se a custos indiretos rateados entre os R$ 5,00 R$ - R$ - R$ - R$ -
Indireto
Departamentos/Centro de Custos. Não é relevante na tomada de
R$ R$
decisão e deve ser eliminado no momento da análise da melhor Preço para Adquirir R$ - R$ - R$ -
19,00 152.000,00
alternativa.
R$ R$ R$
▪ O salário do supervisor, que é um Custo Fixo, quando ocorre a Custo Total R$ 21,00 R$ 14,00
19,00 112.000,00 152.000,00
eliminação dessa linha de produção, pode ser evitado. Com isso, um
Diferença R$ - R$ 5,00 R$ 40.000,00
custo fixo identificado é relevante na tomada de decisão.
Tabela 7: Comparação em fazer ou comprar, com base nos custos diferenciais. Fonte: Elaborado
Comparando os resultados:
pela autora.

Custo Custo Diferencial Custo Diferencial Total Analisando a Tabela 7, chegamos à conclusão de que é mais viável
Unitário por Unidade continuar produzindo os câmbios do que os adquirir do mercado. Mas e se
Itens 8.000 unidades
de a Caloi resolver utilizar as instalações da fabricação do Câmbio para outra
Produção Fazer Comprar Fazer Comprar atividade? Assim, haverá um Custo de Oportunidade a ser considerado
R$ na tomada de decisão. E qual seria esse custo de oportunidade? Seria a
Materiais Diretos R$ 6,00 R$ 6,00 R$ - R$ -
48.000,00 margem do segmento decorrente da melhor opção de uso da área.

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Vamos supor que o espaço atual empregado na fabricação dos Câmbios benefícios econômicos dispensados em decorrência da adoção de um
pudesse ser utilizado na produção de uma nova bicicleta, a CROSS- determinado curso de ação. Os custos de oportunidades da Caloi são
COUNTRY, que geraria uma margem por segmento, anual, de R$ suficientemente grandes para, do ponto de vista econômico, tornar muito
60.000,00. Como ficaria a decisão agora? Observe a Tabela 8. cara a continuação da fabricação dos câmbios frente à oportunidade de
a empresa poder usar as instalações ociosas para iniciar uma nova linha
Itens Fazer Comprar de produção e obter uma margem de contribuição adicional.
Custo Diferencial por unidade R$ 14,00 R$ 19,00 Vimos que, com a utilização da margem de contribuição, podemos
Demanda anual (unidades) 8.000 unid. 8.000 unid. estudar e aferir os produtos que contribuem mais para o “pagamento” dos
Custo anual total R$ 112.000,00 R$ 152.000,00 custos e despesas fixas. Por meio da margem de contribuição, podemos,
também, comparar as alternativas de utilização da capacidade instalada
Custo de Oportunidade – margem diferida da indústria, pois os recursos da empresa são, geralmente, limitados a
para uma linha de produção (produto em R$ 60.000,00 -
quantidades específicas, que podem ser produzidas por máquina e horas
potencial – nova bicicleta)
de trabalho dos funcionários da produção. Assim sendo, a utilização
Custo Total R$ 172.000,00 R$ 152.000,00 desses recursos deve priorizar a fabricação de produtos que tenham
Diferença R$ 20.000,00 maior lucratividade.

Tabela 8: Comparação em fazer ou comprar com base nos custos diferenciais e no custo de
Sob essa perspectiva, a margem de contribuição auxilia na identificação
oportunidade de nova linha de produção. Fonte: Elaborado pela autora. do mix de produção, o qual proporcionará o melhor resultado econômico
possível para a empresa. Mas o que é um mix de produção? Para Sobreiro
Logo, como vimos na Tabela 8, é melhor adquirir os câmbios do que e Nagano (2013, p.52):
os fabricar. Entretanto, devem ser analisadas outras variáveis, como
suprimentos, qualidade, prazo da proposta, confiabilidade no fornecedor etc. ‘‘ Anodefinição do mix de produção proporciona a alocação dos recursos produtivos
processo de manufatura, visando à otimização da utilização dos recursos e do
Os Custos de Oportunidades não estão registrados nos livros contábeis desempenho do sistema produtivo o que, por sua vez, a um nível gerencial, norteia
da organização e não representam desembolsos reais, mas, sim, o desempenho da organização.
’’
Custos Empresariais 14
Conforme Guerra (2014, p.112), será necessário seguir os seguintes Vestido Branca de R$
R$ 45,00 R$ 87,00 R$ 7,00 R$ 94,00
passos para obtenção do mix de produção: Neve 42,00

1. Identificar os recursos necessários para atender à demanda de todos os itens, em Tabela 9: Custos Variáveis da empresa Doces Encantos. Fonte: Elaborado pela autora.
comparação à capacidade produtiva.
Sabe-se, também, que a empresa possui os seguintes custos indiretos
2. Se a produção demandada exceder a capacidade produtiva, priorizar o produto
com maior margem de contribuição por unidade do fator de restrição.
fixos:
3. Para o(s) produto(s) priorizado(s), definir os recursos necessários para atender à ▪ Mão de obra indireta: R$ 56.000,00
demanda total.
▪ Depreciação de máquinas: R$ 8.000,00
4. Calcular quantas unidades do produto menos prioritário poderão ser produzidas
▪ Aluguel da fábrica: R$ 6.000,00
com os recursos restantes.
▪ Seguro da fábrica: R$ 5.000,00
O mix de produção nada mais é que a venda de maneira mais equilibrada ▪ Despesas fixas administrativas e comerciais: R$ 32.000,00
e que gere mais lucro para sua empresa. Observe o seguinte exemplo:
Além disso, a empresa pratica o preço de venda do Vestido Cinderela a
Exemplo: R$ 112,00 e do Vestido Branca de Neve a 145,00. Dessa forma, temos
A empresa Doces Encantos tem custos e despesas conforme Tabela 9. uma margem de contribuição do Vestido Cinderela no valor de R$ 30,00
(R$ 112,00 - R$ 82,00), e o valor de margem de contribuição de R$ 51,00
Custo (R$ 145,00 - R$ 94,00) para o Vestido Branca de Neve.
Matéria- MOD Custo Custo Indireto
Variável
Produto prima (p/ (p/ Direto Variável (p/ A previsão de demanda mensal é de 3.600 unidades de Vestidos
Total (p/
unid.) unid.) (p/ unid.) unid.)
unid.) Cinderela e 4.100 unidades de Vestidos Branca de Neve. Adicionalmente,
sabemos que o tempo de produção do Vestido Cinderela é de 1,5 hora/
R$
Vestido Cinderela R$ 46,00 R$ 79,00 R$ 3,00 R$ 82,00 por unidade e, para o Vestido Branca de Neve, utilizam-se 5 horas/por
33,00
unidade. Assim, sabemos que, para a demanda acima, teremos:

Custos Empresariais 15
Vestido Cinderela = 3.600 unids. x 1,5h = 5.400 horas Com essa configuração de produção e venda, a empresa obtém um
Vestido Branca de Neve = 4.100 unids. x 5h = 20.500 horas lucro de R$ 150.100,00, mas deixa de atender a uma demanda de 2.000
Total de horas = 25.900 unidades (3.600 unidades de demanda, menos 1.600 unidade que foram
efetivamente produzidas). Mas e se, ao invés de reduzir a produção de
Porém, há um problema! A capacidade máxima de produção mensal da vestidos cinderelas, reduzíssemos a produção de vestidos Branca de
empresa é de 22.900 horas. Considerando as margens de contribuição Neve? Como ficariam os lucros?
dos vestidos, o que menos contribui para o pagamento das despesas fixas
é o Cinderela; porém, seria correto diminuir a produção desse vestido? Inicialmente, os vestidos Branca de Neve necessitavam de 20.500 horas
Sabe-se que há a necessidade de eliminar 3.000 horas de trabalho que de produção. Havendo uma redução de 3.000 horas, ficaríamos com
não cabem na capacidade produtiva da empresa (25.900 - 22.900). Se 17.500 horas para produzir esses vestidos e, dessa forma, a produção
assim fosse, sobrariam 2.400 horas somente para produzir os vestidos cairia para 3.500 unidades (600 unidades apenas abaixo da demanda).
cinderelas (5.400 - 3.000), e a produção cairia para 1.600 unidades Vamos desenvolver a DRE com essa configuração:
(2.400h / 1,5h/por unidade). Vamos ver uma DRE com essa configuração
(+) Receitas de Vendas (Vestidos Cinderela = 3.600 x 112,00) R$ 403.200,00
de produção e venda:
(+) Receitas de Vendas (Vestidos B. Neve = 3.500 x 145,00) R$ 507.500,00
(+) Receitas de Vendas (Vestidos Cinderela = 1.600 x 112,00) R$ 179.200,00
(-) Gastos Variáveis (Vestidos Cinderela = 3.600 x R$ 82,00) (295.200,00)
(+) Receitas de Vendas (Vestidos B. Neve = 4.100 x 145,00) R$ 594.500,00
(-) Gastos Variáveis (Vestidos B. Neve = 3.500 x R$ 94,00) (329.000,00)
(-) Gastos Variáveis (Vestidos Cinderela = 1.600 x R$ 82,00) (131.200,00)
(=) Margem de Contribuição (Vestido Cinderela) 108.000,00
(-) Gastos Variáveis (Vestidos B. Neve = 4.100 x R$ 94,00) (385.400,00)
(=) Margem de Contribuição (Vestido B. Neve) 178.500,00
(=) Margem de Contribuição (Vestido Cinderela) 48.000,00
(-) Custos e Despesas Fixos (107.000,00)
(=) Margem de Contribuição (Vestido B. Neve) 209.100,00
(=) Resultado ou Lucro Líquido 179.500,00
(-) Custos e Despesas Fixos (107.000,00)
(=) Resultado ou Lucro Líquido 150.100,00 Surpreendendo-nos, a redução de produção do produto que tinha maior
margem de contribuição unitária (Vestido Branca de Neve) resultou

Custos Empresariais 16
na maximização do lucro da empresa. Nessa situação, a margem de Sendo assim, a alavancagem operacional representa o efeito no lucro
contribuição foi importante, mas também houve uma limitação da decorrente de uma alteração no volume de vendas. Nas palavras de
capacidade de produção, impactando na quantidade de produtos Silva e Lins (2017, p.157), “O Grau de Alavancagem Operacional – GAO
que poderiam ser produzidos pela empresa. Se não houvesse essa é medido pela variação percentual do lucro sobre a variação percentual
limitação, ficaríamos sempre com o produto que gera maior margem de das vendas em determinado nível de atividade”.
contribuição.
Conseguimos apurar o GAO por meio da seguinte fórmula:
Lembre-se de que a tomada de decisão não envolve somente o maior Δ% do Lucro
GAO =
ou menor lucro da empresa. Precisamos, também, analisar as relações Δ% do Volume
estratégicas que temos com nossos clientes, mesmo que isso reduza um
Em que:
pouco o lucro obtido nas operações. Fique atento, pois pode haver mais
de um fator limitante à capacidade de produção. Δ% do Lucro: Variação em porcentagem do Lucro (crescimento
obtido).
Sabemos que, no mundo dos negócios, há muita oscilação nas demandas
Δ% do Volume: Variação em porcentagem do volume de vendas
e vendas de produtos. Então, se houver 10% de aumento nas vendas,
(aumento das vendas).
o lucro aumentará proporcionalmente? Isso se considerarmos que a
empresa tem capacidade de produção ociosa, permitindo o crescimento No entanto, antes de utilizarmos a fórmula acima em um exemplo,
da produção – estamos falando de alavancagem operacional. devemos falar sobre Margem de Segurança (MS). Margem de segurança é o
intervalo existente entre o volume de unidades vendidas e aquele relativo
‘‘ termos
Dependendo da existência de capacidade ociosa, o aumento nos lucros em
relativos pode ser maior ou menor que o aumento das vendas. Da
ao ponto de equilíbrio. Sendo assim, considerando um exemplo em que a
mesma forma, se as vendas se reduzirem só um pouco, os lucros podem
empresa vende 200 unidades e seu ponto de equilíbrio se encontra em
ou não cair bastante. Depende do grau de alavancagem operacional que a 180 unidades, sua margem de segurança em unidade é de 20.

’’
empresa tem. (GUERRA, 2014, p.134)
As fórmulas para encontrar a margem de segurança em unidades e em
percentual, respectivamente, são:

Custos Empresariais 17
Em unidade: unidades) e, dessa forma, a margem de segurança, que era de 20, mudou
para 60 unidades (240 - 180 = 60).
MS = Va - Ve
Em percentual: Se considerarmos uma margem de contribuição de R$ 100,00 por
Va - Ve unidade, o lucro que era de R$ 2.000,00 (MS = 20 x MC = 100,00 =
MS = x 100 R$ 2.000,00) passou para R$ 6.000,00 (MS = 60 x MC = 100,00 = R$
Va
6.000,00). Veja:
Em que:
Va = Volume atual de vendas. Variação do lucro = De R$ 2.000,00 para R$ 6.000,00 = Variação de:
200% (R$ 2.000,00 x 200% = R$ 4.000,00)
Ve = Volume no ponto de equilíbrio.
Logo:
Utilizando o exemplo anterior para encontrar a margem de segurança
GAO = Δ% do Lucro / Δ% do Volume
em percentual, chegamos ao seguinte cálculo:
GAO = 200 / 20
MS = [(200 - 180) / 200] x 100
GAO = 10
MS = [20 / 200] x 100
Assim, podemos afirmar que a alavancagem operacional da empresa é
MS = 0,10 x 100
de 10 vezes.
MS = 10%

Significa que a empresa está operando em 10% acima do seu ponto de


equilíbrio (200 unidades vendidas x 10% = 20 unidades), voltando ao
grau de alavancagem operacional e considerando o mesmo exemplo
informado. Adicionalmente, considere que a empresa almeja 20% de
crescimento nas suas vendas atuais, que são de 200 unidades. Assim,
ficaríamos com uma venda de 240 unidades (200 unidades x 20% = 40

Custos Empresariais 18
Aumento na Aumento
quantidade nos lucros
Aumento na Aumento
quantidade nos lucros
Aumento na Aumento
quantidade nos lucros 3. Pontos de Equilíbrio Contábil, Econômico e
vendida (%) (%) vendida (%) (%) vendida (%) (%)
Financeiro
1 10 11 110 21 210
Vimos o que é o ponto de equilíbrio, mas você sabia que existem o ponto
2 20 12 120 22 220 de equilíbrio contábil, o econômico e o financeiro?
3 30 13 130 23 230
O Ponto de Equilíbrio Contábil (PEC) é obtido quando o montante
4 40 14 140 24 240 vendido é o suficiente para cobrir todos os custos e despesas fixos, como
5 50 15 150 25 250 visto anteriormente. Atingindo esse ponto, a empresa não obteria nem
6 60 16 160 26 260 lucro nem prejuízo, isto é, há um equilíbrio entre as receitas e custos
totais, havendo um resultado nulo.
17 170 27 270
7 70
18 180 28 280 Você já conhecia esse ponto de equilíbrio, mas agora você só está
8 80 descobrindo que o nome completo dele é Ponto de Equilíbrio Contábil.
19 190 29 290
Então, a fórmula – que você já conhece – para obter o ponto de equilíbrio
9 90
20 200 30 300 contábil é a seguinte:
10 100 Custos Fixos + Despesas Fixas
Ponto de Equilíbrio Contábil =
Margem de Contribuição Unitária
Tabela 10: Evolução das vendas e do lucro em percentual. Fonte: Elaborado pela autora.
A obtenção do ponto de equilíbrio é de grande relevância para todos
Em outras palavras, significa que a cada 1% de aumento nas vendas o os níveis de gerência e tem sido responsável pelo bom aproveitamento
lucro cresce 10 vezes, conforme pode ser visto na Tabela 10, o equivalente de noções de custo: para analisar a anatomia de estrutura de custos
às células destacadas em amarelo. Como houve um crescimento de 20% da empresa e acompanhar os relacionamentos entre as variações de
nas vendas, gerou-se um crescimento de 200% do lucro (20% x 10 (GAO) volume e variações de custos (e, portanto, de lucro).
= 200%).

Custos Empresariais 19
Vamos ver mais um exemplo de como encontrar o ponto de equilíbrio (+) Receitas de Vendas (637.635 x R$ 25,00) 15.940.875,00
contábil? (-) Custos e despesas variáveis (637.635 x R$ 15,00) (9.564.525,00)
(=) Margem de Contribuição 6.376.350,00
Exemplo: (-) Custos e despesas fixos (6.376.350,00)
Considere que a Margem de Contribuição de um produto seja R$ 10,00, pois seu
Resultado líquido 0,00
preço de venda é R$ 25,00, e o gastos variáveis sejam de R$ 15,00 (custos e despesas
Agora, vamos falar sobre outro tipo de ponto de equilíbrio, o Ponto
variáveis). Dessa forma, esse produto contribui com R$ 10,00 por unidade vendida,
de Equilíbrio Econômico (PEE), que se refere à quantidade que iguala
para o pagamento dos custos e despesas fixos.
a receita total com a soma dos custos e despesas acrescida de uma
Considere a seguinte informação adicional: custos e despesas fixos, remuneração mínima sobre o capital investido pela empresa – essa
previstos em R$ 6.376.350,00 remuneração mínima é conhecida como Custo de Oportunidade.
PEC = (custos fixos + despesas fixas) / Margem de Contribuição O Custo de Oportunidade é denominado pelos economistas como a taxa
Unitária de juros de mercado multiplicada pelo capital aplicado. Sendo assim, o
PEC = 6.376.350 / 10 Custo de Oportunidade corresponde à remuneração (rentabilidade) que a
PEC = 637.635 unidades empresa alcançaria se aplicasse seu capital em algum tipo de aplicação no
mercado financeiro, ao invés de aplicar no seu próprio negócio (na empresa).
O Ponto de Equilíbrio ocorre quando a soma das Margens de Contribuição
É o mínimo que os sócios ou acionistas esperam lucrar com o investimento
dos produtos industrializados pela empresa totalizar o montante
feito na empresa, pois um lucro menor do que esse seria facilmente obtido
necessário para cobrir todos os Custos e Despesas Fixos (gastos fixos),
no mercado financeiro. Em outras palavras, esse valor que será acrescido no
atingindo, assim, o ponto de equilíbrio contábil. Contabilmente, não
cálculo é referente ao lucro que a empresa deseja obter.
haveria nem lucro nem prejuízo para essa empresa.
A fórmula que será utilizada nesse cálculo é a seguinte:
Para esse exemplo, o ponto de equilíbrio contábil é atingido quando a
empresa vende 637.635 unidades de seu produto, o que é evidenciado Custos Fixos + Despesas Fixas + Lucro Desejado
Ponto de Equilíbrio Econômico =
por meio da DRE: Margem de Contribuição Unitária

Custos Empresariais 20
Vamos a um exemplo: quando a quantidade da receita total se iguala à soma dos custos e
despesas, mas considerando somente os custos e despesas fixos que
Exemplo:
representam desembolso financeiro para a empresa, em que realmente
Utilizando o mesmo exemplo anterior, mas considerando que a empresa deseja houve saídas de caixas ou equivalentes de caixa (banco e aplicações de
que seu lucro no período seja de R$ 1.000.000,00, calcule: Quantas unidades desse resgate imediato). Assim, os encargos de depreciação são exemplos de
produto a empresa tem que vender para conseguir o lucro desejado? custos que são excluídos no cálculo do ponto de equilíbrio financeiro
PEE = (custos fixos + despesas fixas + lucro desejado) / Margem de por não representarem desembolso para a empresa.
Contribuição Unitária Temos a seguinte fórmula do Ponto de Equilíbrio Financeiro:
PEE = 6.376.350 + 1.000.000 / 10
Custos Fixos + Despesas Fixas - Itens que não são desembolsos de caixa
PEE = 737.635 unidades Ponto de Equilíbrio Financeiro =
Margem de Contribuição Unitária
Para alcançar o lucro que a empresa deseja para o período, ela terá que
vender 737.635 unidades do produto. Vamos a um exemplo sobre o ponto de equilíbrio financeiro:

Agora, veja por meio da DRE abaixo: Exemplo:


(+) Receitas de Vendas (737.635 x R$ 25,00) 18.440.875,00 Levando em conta o mesmo exemplo anterior, considere que nos custos fixos está
(-) Custos e despesas variáveis (737.635 x R$ 15,00) (11.064.525,00) sendo considerado o valor de R$ 100.000,00 de depreciação, mas sabemos que
essa contabilização é um ajuste feito para evidenciar corretamente o patrimônio da
(=) Margem de Contribuição 7.376.350,00
empresa. Então, o cálculo ficará da seguinte maneira:
(-) Custos e despesas fixos (6.376.350,00)
PEF = (custos fixos + despesas fixas - Itens que não são desembolsos
Resultado líquido (Lucro) 1.000.000,00
de caixa) / Margem de Contribuição Unitária
Fácil, não é? PEF = 6.376.350 - 100.000 / 10
Por último, veremos o Ponto de Equilíbrio Financeiro (PEF), que é obtido PEF = 6.276.350 / 10

Custos Empresariais 21
PEF = 627.635 unidades são inevitáveis e devem ser considerados em quaisquer análises de
redução ou aumento de produtividade. Por meio do ponto de equilíbrio,
Considerando a nova informação de que R$ 100.000,00 dos custos fixos
conseguimos vislumbrar o quanto a empresa necessita vender para que,
não saíram efetivamente do caixa da empresa, sabemos que, mesmo que
assim, não venha a amargar um prejuízo.
ela venda 627.635 unidades, não terá nem lucro nem prejuízo.
(+) Receitas de Vendas (627.635 x R$ 25,00) 15.690.875,00 Além disso, podemos contar com o ponto de equilíbrio econômico para
evidenciar quantas unidades a empresa precisa vender para conquistar
(-) Custos e despesas variáveis (627.635 x R$ 15,00) (9.414.525,00)
um determinado patamar de lucro. Contamos, também, com o ponto de
(=) Margem de Contribuição 6.276.350,00
equilíbrio financeiro, que exclui os custos e despesas que efetivamente
(-) Custos e despesas fixos (6.376.350,00) não foram desembolsados (não saíram do caixa da empresa).
Resultado líquido (Prejuízo) (100.000,00)

Considerando a DRE acima, parece que a empresa ficou com prejuízo,


mas nós sabemos que não, pois o valor de R$ 100.000,00 não saiu
do caixa, já que foi um registro referente à depreciação. Não se paga
depreciação para alguém; é somente um ajuste patrimonial pela perda
do bem no tempo.

Neste capítulo, vimos o quão importante é haver análises constantes nos


custos dos produtos que estão sendo fabricados por quaisquer empresas,
correlacionando com as quantidades que estão sendo produzidas para a
verificação do resultado positivo ou negativo das organizações.

Calcular a margem de contribuição é um dos passos essenciais para


qualquer empresa que deseja saber o quanto cada produto está
contribuindo para pagar os custos e despesas fixos. Esses gastos

Custos Empresariais 22
Referências
CREPALDI, S. A.; CREPALDI, G. S. Contabilidade gerencial: teoria e prática.
8 ed. São Paulo: Atlas, 2019.

GUERRA, L. Manual de custos para o exame de suficiência. São Paulo:


Atlas, 2014.

MARTINS, E. Contabilidade de custos. 11 ed. São Paulo: Atlas, 2015.

SILVA, R. N. S.; LINS, L. S. Gestão de custos: contabilidade, controle e


análise. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2017.

SOBREIRO, V. A.; NAGANO, M. S. Um novo método heurístico para a


otimização de mix de produção baseado na teoria das restrições e no
problema da mochila. Revista Produção Online, Florianópolis, SC, v.13, n.
2, p. 520-543, abr./jun. 2013.

TOSTES, F. P.; VIEIRA, S. S. C. Contabilidade gerencial. Rio de Janeiro:


Fundação CECIERJ, 2010.

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