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2010 pelas Edições Pedago e é uma compilação de textos escritos por diversos autores que são
especialistas no campo da educação em línguas e supervisão pedagógica. As organizadoras desta
publicação são duas autoras que dedicaram grande parte de suas carreiras profissionais e
acadêmicas à pesquisa e formação nesses campos.
A obra está dividida em dez capítulos e começa com um prefácio escrito por Maria Helena Peralta,
que, em três páginas, contextualiza a importância das línguas, sua missão e finalidades. Ela destaca
a mudança de conceitos e ideias que são fortalecidos na frase "Hoje educar em línguas é ensinar o
mundo" (p. 7), antes de apresentar os tópicos abordados ao longo do livro.
O presente trabalho visa a recessão de dois capítulos deste livro, nos quais as autoras destacam a
importância da supervisão na formação e no desenvolvimento profissional dos educadores. Isabel
Alarcão, a autora de A relevância do feedback no processo supervisivo, foca no papel do feedback
como elemento constitutivo da supervisão pedagógica, enquanto Ana Isabel Andrade que redige
Para uma educação plurilingue: Que possibilidades supervisivas no quadro da formação contínua
de professores? discute a possibilidade de supervisão no contexto da educação plurilíngue. Ambas
ressaltam a importância da reflexão, do diálogo e da colaboração entre os profissionais da educação.
Esses comentários globais destacam a necessidade de uma abordagem orientada para o
desenvolvimento profissional dos educadores, com ênfase na prática reflexiva, no trabalho
colaborativo e na valorização da diversidade linguística e cultural.
O artigo começa por referir o fruto legislativo da prática de ensino supervisionada, a qual foi
consagrada como “momento privilegiado, e insubstituível, de aprendizagem da mobilização dos
conhecimentos, capacidades, competências e atitudes, adquiridas nas outras áreas Ide formação
referidas no decreto, entenda-se], na produção, em contexto real, de práticas profissionais
adequadas a situações concretas na sala de aula, na escola e na articulação desta com a realidade”
(Decreto-Lei n° 43/2007 de 2 de Fevereiro). Esta prática ficou incluída na iniciação à prática
profissional e foi concebida "numa perspectiva de desenvolvimento profissional como futuros
docentes e promovendo uma postura crítica e reflexiva em relação aos desafios, processos e
desempenhos do quotidiano profissional” (art.o14, 4 a). De acordo com a autora, a legislação faz
uma referência explícita à condição supervisava e significa o complemento do processo da prática
profissional pela supervisão orientadora e o reconhecimento oficial da sua relevância que lhe pode
vir a conceder um estatuto maior.
A autora considera a supervisão pedagógica como a linha de continuidade entre formação inicial e
formação contínua, a relação entre trabalho em sala de aula e trabalho na escola, a dimensão
colaborativa e transformadora da supervisão e a articulação entre desenvolvimento profissional e
desenvolvimento institucional (p. 18). Portanto, a supervisão é definida como o processo em que
um professor, em princípio mais experiente e mais informado, orienta um outro professor ou
candidato a professor no seu desenvolvimento humano e profissional" (p. 19) para o processo de
"dinamização e acompanhamento do desenvolvimento qualitativo da organização escola e dos que
nela realizam o seu trabalho de estudar, ensinar ou apoiar a função educativa, através de
aprendizagens individuais e coletivas, incluindo as dos novos agentes" (p. 19).
A autora apresenta a outra noção importante que se chama “escola reflexiva” (p. 19) em que está
envolvido o colectivo dos docentes e a supervisão da própria escola como organização. Numa
escola reflexiva, a supervisão enquadra-se numa perspectiva ecológica, assume o carácter integrado
de supervisão pedagógica institucional, dinamiza atitudes de auto e hetero-supervisão colegial e
vive-se no colectivo dos professores.
A autora apresenta a tipologia de feedbacks co-construtivos (p. 24) que se destina à re-alimentação
do processo de pensar, de fazer e de estar na formação de futuros professores, constituída pelos
passos à seguintes: questionamento como pedido de esclarecimento, questionamento crítico ou
estimulador, apoio/encorajamento, recomendação, síntese/balanço, esclarecimento conceptual,
teórico e metodológico. Um quadro foi desenhado para especificar os componentes de cada passo.
Estes feedbacks co-construtivos são perspectivados como orientadores da ação e do pensamento,
ajudando, na sua modalidade dialógica e interativa, a compreender o que se faz e se observa através
do questionamento e da reflexão conjuntas. Por outro lado, esta tipologia tem implicações a nível da
formação dos formandos e dos supervisores. Por exemplo, pode conceder transparência aos estilos
supervisivos, às abordagens que os suportam e às intencionalidade comunicativas, quer face aos
formandos quer para os próprios supervisores, enriquecendo o conhecimento pessoal sobre a
atividade (p. 25).
Este projeto é guiado pelos princípios que são resumidos em três aspetos: o envolvimento dos
sujeitos em dinâmicas de interação com os outros - diálogos; a tomada em consideração dos
contextos de prática; a (re)construção do objecto de ensino, a(s) língua(s), em novos modos de
observação, análise e de tratamento didático. Para os atores da educação em línguas, o seu
desenvolvimento é realizado pela participação em espaços colaborativos, encarando esse espaço
como possibilitador de construção de conhecimento sobre modos de investigação, de formação e de
educação (p. 75). Para além de servir de elemento possibilitador, o trabalho colaborativo também é
mobilizador para a capacidade de reflexão (p. 74).
Nesse sentido, a autora considera que é importante o plurilinguismo ser colocado numa atividade
profissional de reflexão sobre os contextos e os sujeitos com quem os agentes de educação
trabalham, bem como sobre os objectos que lhes preocupam, neste caso, o domínio de diferentes
línguas (p. 77). A autora acrescenta que é necessário preparar os formadores e os professores para
prestarem uma atenção especial à linguagem verbal e às línguas, bem como ao poder que elas
exercem. Isso inclui examinar como as práticas linguísticas convocam ou excluem determinadas
línguas. Também é importante considerar o poder que as línguas têm na criação de caminhos para a
intercompreensão, ou seja, para a compreensão mútua entre diferentes idiomas. Isso implica refletir
sobre a importância da diversidade linguística na construção de sociedades mais justas e
equilibradas.
A autora elaborou um projeto que tem por objetivo principal compreender melhor como se trabalha
colaborativamente na educação em línguas. Os objetivos específicos são os seguintes: caracterizar
profissionais da área da educação em línguas, como professores de línguas, professores do 1° Ciclo
do Ensino Básico (CEB) e investigadores/formadores, em relação às suas percepções e motivações
em relação à formação, pesquisa e educação em línguas. Além disso, pretende-se construir
conhecimento sobre as comunidades de desenvolvimento profissional na área da educação em
línguas, estudando as dinâmicas de trabalho colaborativo, incluindo sua organização, gestão e
papéis desempenhados pelos participantes (p. 77-78).
Quanto à análise dos resultados, são utilizados quatro tipos de reflexão: a rotineira, em que o eu se
descompromete das mudanças que são necessárias para ultrapassar determinados problemas,
remetendo as causas desses mesmos problemas para os outros; a técnica, quando os autores das
reflexões solicitam respostas específicas ou soluções concretas para determinadas situações sem que
a aplicação dessas soluções implique mudança de perspectivas; a dialógica, quando o
questionamento é parte de um processo que envolve ciclos de questões situadas e acções concretas,
numa consideração da perspectiva dos outros; e a transformadora quando o sujeito coloca questões
(p. 82- 83).
Através desta análise, a autora demonstra que a formação contínua exige tempo para chegarmos a
níveis de aprendizagem/reflexão verdadeiramente capazes de transformar as práticas e as culturas
de escola (p. 86). Os formadores, assim como os programas de formação, precisam aprender a lidar
com a diversidade dos formandos em termos de seus percursos, perspectivas e níveis de reflexão.
Isso envolve uma clara articulação entre o trabalho individual e o trabalho em grupo, levando em
consideração os objetivos e os contextos específicos da educação em línguas. Em fim, a autora
conclui que a formação contínua de professores dificilmente pode dispensar modalidades de
supervisão mais horizontais e colaborativas onde formandos e formadores negoceiem papéis e
modos de supervisão do seu desenvolvimento profissional e, consequentemente, dos seus
repertórios (p. 87).
Bibliografia
Alarcão, I., & CANHA, B. (2010). A relevância do feedback no processo supervisivo. Supervisão
pedagógica e educação em línguas, 17-27.
Andrade, A. I. (2010). Para uma educação plurilingue: que possibilidades supervisivas no quadro da
formação contínua de professores. Supervisão pedagógica e educação em línguas, 73-90.
Starkey, H. (2002). Democratic Citizenship, Languages, Diversity andHuman Rights [em linhal.
Strasbourg: Council of Europe.