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diante de um casamento
infeliz
David Kornfield
Será que o Brasil seguirá esse rumo? Será que as igrejas evangélicas andarão nesse
caminho? Afirmamos categoricamente que Deus ama os divorciados, que a igreja é
um lugar seguro para eles, um lugar agradável que lhes oferece esperança e um
contexto apropriado para restaurarem suas vidas. Ao mesmo tempo, se a igreja
refletir a sociedade de forma geral, quanto ao número de seus membros que
procuram o divórcio, temos que admitir que o evangelho perdeu seu poder. A igreja
precisa ser um lugar seguro, não apenas para os divorciados, mas também para os
que acreditam no casamento e estão dispostos a lutar por um casamento saudável.
Por que o casamento é tão importante para Deus? Por que Ele insiste que: “ o
que Deus uniu, ninguém separe” (Mt 19.6)? Os propósitos de Deus para o casamento
incluem:
• Resolver a solidão que aflige o homem desde antes da queda (Gn 2.18).
• Dar a cada pessoa a oportunidade de formar uma nova família, principalmente para
aquele cuja família de origem era disfuncional (Gn 2.24; Mt 19.5, 6; Ef 5.31).
• Celebrar, no ato sexual, uma intimidade não apenas física, mas emocional e
espiritual. Deus faz questão que esse ato expresse verdadeiro amor, pureza e aliança
(pacto), reservando-o, por essa razão, para o casamento (Gn 2.24).
• Revelar a grandeza do amor de Cristo por nós como sua Noiva, a Igreja (Ef 5.22-
32). A história, de Gênesis a Apocalipse, enfatiza o amor de Jesus por sua Noiva e nós
recebemos o privilégio de ser um espelho desse amor. Sua aliança, Sua fidelidade e
Seus propósitos eternos revelam-se no casamento.
Dessa forma, não devemos ficar surpresos ao saber que Satanás empenha todos os
seus esforços para acabar com casamentos saudáveis, prejudicando a muitos,
tornando essa união numa relação intensamente infeliz para muitas pessoas. Se
Deus, por Sua vez, não fizesse um compromisso de aliança conosco no casamento,
não teríamos chances de nos aproximar dos Seus propósitos eternos. Um casamento
saudável é realmente glorioso! E um infeliz, pode tornar-se num inferno, destruindo
não apenas o casal, mas a família, e espalhando essa herança negativa às gerações
seguintes.
Débora e eu trabalhamos com restauração de vidas. Deus nos permitiu fundar o
ministério REVER (Restaurando Vidas, Equipando Restauradores). Aprendemos que as
dores das pessoas são reais e devem ser levadas à sério para que sejam restauradas.
Empatia, chorar com os que choram e ajudá-los a desabafar, a liberar a dor e a
experimentar Jesus levando essa dor sobre si são partes fundamentais na restauração
de pessoas feridas. Ao mesmo tempo, precisamos entender bem os propósitos de
Deus no sofrimento e não nos enganarmos em pensar que a felicidade das pessoas é
o supremo alvo da vida ou de nosso ministério.
Tenho conversado com muitas pessoas crentes que experimentam diversos graus de
abuso emocional em seus casamentos. Dizem não agüentar mais. Querem, de
qualquer forma, algum escape, alguma saída. Isso é preocupante, pois cada um que
se divorcia acaba influenciando outros e, se continuar assim, haverá uma epidemia de
divórcio na igreja. Mas algo é ainda mais inquietante: perdemos a visão de Deus para
o casamento e não acreditamos quando Ele comunica claramente Seu coração quanto
a como agir em casamentos infelizes. A Bíblia traduz o coração d’Ele nesse sentido em
quatro passagens, com os seguintes temas:
• Mal 2.10, 13-17 – Deus odeia o divórcio e a violência. • Mt 19.3-12 – Não devemos
nos divorciar a não ser no caso de adultério. • 1 Co 7.1-17 – Bases bíblicas para o
divórcio e novo casamento da parte dos crentes. • 1 Pe 3.1-9 – Como tratar um
cônjuge descrente. Quando peço que pessoas infelizes leiam esses textos para ouvir a
Deus sobre sua situação, muitas simplesmente desprezam a perspectiva bíblica e
continuam focalizando a sua dor, seu sofrimento, sua infelicidade.
O mundo, a carne e o diabo juntam-se para nos convencer de que nossa felicidade é
o que deve nortear nossas vidas. Esta crença, e os espíritos atrás dela, enganam o
mundo e querem enganar os santos. A teoria do humanismo exalta o ser humano
como um deus, ele é o mais importante. O espírito do individualismo exalta o
indivíduo e sua realização pessoal. O hedonismo exalta o prazer e o “direito” de
orientar a vida pela busca a qualquer preço da felicidade.
Muitas pessoas que sofrem em seus casamentos estão desnorteadas; focalizam mais
sua dor que Cristo; preocupam-se mais com seu sofrimento do que em serem fiéis a
Ele. Em parte é compreensível, porque quem sofre muito tende a perder a perspectiva
sã e equilibrada. O problema aprofunda-se quando os pastores destas pessoas se
perdem na dor delas também, apoiando-as na procura de sua felicidade através do
divórcio. Essa procura da felicidade perde totalmente de vista as palavras de Jesus,
quando disse: “Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim.
Quem acha a sua vida a perderá, e quem perde a sua vida por minha causa a
encontrará” (Mt 10.38, 39).
Isso significa que Deus não se importa com nosso sofrimento, que Ele não dá ouvidos
ao nosso clamor? De maneira alguma! As Escrituras nos falam constantemente do
amor, da misericórdia e da compaixão de Deus. É exatamente por causa do Seu
imenso amor que Ele não permite que adotemos práticas que irão nos prejudicar
ainda mais. A pergunta mais pertinente é se nós confiamos o suficiente n’Ele para
acreditar que os Seus mandamentos existem para nosso maior bem-estar, e que o
caminho da obediência é o caminho de bênção para nós e para nossos filhos.
Vejamos, rapidamente, o intuito das passagens que falam da visão divina sobre como
agirmos em casamentos infelizes. Iniciemos por 1 Coríntios 7, que fala
especificamente a pessoas crentes casadas com descrentes. Aqui, Deus chama o
cônjuge cristão a olhar para o casamento à luz da eternidade. O alvo não é ser
realizado, alegre ou sentir-se bem. O alvo é a salvação do cônjuge e a santificação
dos filhos. Se o cristão procura o divórcio quando o cônjuge não quer isso, o não-
crente terá bastante razão para sentir-se ferido, magoado e amargurado não apenas
com o cônjuge, mas também com o Deus dele (e com a igreja que apóia o divórcio,
se for o caso).
Quanto aos filhos, alguém pode até achar que eles viverão muito melhor longe do
cônjuge não-crente. Com certeza, se houver violência no lar, uma separação
temporária seria indicada. Mas os efeitos negativos do divórcio nos filhos são bem
documentados. Também existe um impacto sério no mundo espiritual. Quando Paulo
fala que o cristão deve ficar casado para que os filhos sejam santificados (1 Co 7.14),
eu entendo que quando um cristão honra a aliança de casamento, obedece a Deus e
se comporta com fidelidade e amor num contexto difícil, os filhos ganham uma
herança espiritual abençoada que de outra forma não poderiam adquirir. Se houver a
quebra da aliança, o afastamento dos planos de Deus, a procura de sua própria
felicidade acima de qualquer coisa, também será transmitida uma herança no mundo
espiritual para as crianças, porém, amaldiçoada.
Meus pais e sogros tiveram casamentos bem difíceis. Sofreram muito. Mas a herança
que eu tenho e a visão que tenho do casamento, de que ele permanece “até que a
morte os separe”, fortalece-me tremendamente nos momentos que eu também lido
com dificuldades. Passar esse legado para meus filhos é muito maior do que qualquer
dinheiro ou posses que poderíamos deixar. Não apenas meus filhos, mas a igreja
inteira e o mundo, com todo seu desespero, ganham confiança e esperança de que
um casamento saudável é possível. Essa herança alcançará pessoas e gerações muito
além da minha família.
Por incrível que pareça, nas passagens indicadas neste artigo, Jesus, Paulo e Pedro
não mencionam sobre a felicidade da pessoa num casamento difícil. Também não
mencionam o amor ou a falta do mesmo. Ao falar de razões justificáveis para o
divórcio, estes textos tratam de comportamentos objetivos e visíveis: o adultério (Mt
19) e o abandono (1 Co 7). Ainda que, em outro contexto, Jesus fale do adultério que
acontece no coração (Mt 5.27-30), em Mateus 19 e 1 Coríntios 7, Jesus e Paulo não
estão falando de adultério ou de abandono emocional. Falam de comportamentos
objetivos e visíveis que um tribunal de justiça reconheceria.
Jesus, Paulo e Pedro não fazem alusão de como uma pessoa não-crente trata seu
cônjuge. Não se referem ao abuso físico ou emocional. O profeta Malaquias sim,
indica que Deus odeia o divórcio e a violência (2.16). Uma pessoa casada com um
cônjuge violento deve tomar as medidas necessárias para se proteger, colocando
limites saudáveis e afastando-se dele quando agir de forma violenta. Tanto o livro
Limites, de Cloud e Townsend (Editora Vida), como O Amor Tem Que Ser Firme, de
James Dobson (Mundo Cristão), dão boas dicas nesse sentido.
Existem casos onde uma separação temporária ou até prolongada é indicada. Mas já
que Paulo deixa claro que não deve haver separação, eu entendo que a mesma
precisa ser feita sob a perspectiva de reconciliação. O alvo da separação temporária é
a restauração do casamento. O motivo da separação é a proteção emocional e física
da pessoa abusada, visto que, na separação temporária, haverá maiores chances de
cura e crescimento da parte de ambos os cônjuges, para que o casamento possa ser
restaurado.
1. Amá-lo. Este amor não é um sentimento romântico, mas uma atitude de desejar o
melhor para o outro, agindo segundo esse desejo. Muitas pessoas em casamentos
delicados queixam-se de que perderam seu amor pelo cônjuge. O amor ágape
indicado aqui vem de Deus; não é natural a nós. Esse amor se perde apenas se
perdermos o vínculo com Deus. Se perdermos esse amor, nosso problema é maior e
diferente do que a falta de um sentimento especial pelo nosso cônjuge.
2. Orar pela pessoa que nos maltrata, intercedendo por seu arrependimento, para que
ela caia em si, encontre a Jesus e O veja em nós.
3. Fazer o bem para quem nos odeia. Uma expressão desse “bem” pode ser insistir
para que o cônjuge procure aconselhamento ou passe por algum tratamento de
restauração como uma condição de continuarem juntos, ou de voltarem a morar
juntos, se já estiverem separados.
Eu não tenho dúvida de que essas atitudes são impossíveis para qualquer ser humano
que dependa apenas de si mesmo. Precisamos rogar que o Espírito Santo nos encha
para amar como apenas Ele pode. Ora, se até as dicas que Paulo dá para casamentos
bons e saudáveis, em Efésios (5.21-31), são baseadas na condição de sermos cheios
do Espírito (Ef 5.18), quanto mais num casamento disfuncional ou abusador!
Paulo fala de submissão da esposa ao marido (Ef 5.22-24). Não é uma submissão
cega. Existem dois níveis de autoridade acima da autoridade humana em nossas
vidas: as Sagradas Escrituras e a nossa consciência. Se, por exemplo, o marido quer
forçar sua mulher a fazer algo que ela entende ser contrário ao ensino bíblico ou
contra sua consciência, ela deve desobedecê-lo, ao mesmo tempo que demonstra
respeito e até aceita possíveis punições. (Veja o exemplo de Pedro e João que,
respeitosamente, desobedeceram os líderes religiosos, em Atos 5.27-42, aceitando as
conseqüências. Essa atitude se tornou famosa através da “desobediência civil”, da
parte de grandes líderes, como Gandhi e Martin Luther King.)
Ser maltratado não é algo que necessariamente vai contra nossa consciência. Pedro
dá instruções claras e profundas a escravos cristãos para se submeterem não apenas
aos bons e amáveis chefes, mas também aos maus. Ele elogia o suportar aflições
injustas por causa do nome de Cristo ou por fazer o bem. Chama-os a andar nos
passos de Jesus que “quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia
ameaças” (1 Pe 2.18-23a). Após descrever todo o contexto do escravo e de como
Jesus agüentou ser maltratado, Pedro inicia tanto as instruções para a esposa, como
para o marido no capítulo seguinte, com as palavras “Do mesmo modo” (1 Pe 3.1, 7).
Ele orienta como agir quando somos maltratados pelo governo (1 Pe 2.13-17) ou no
trabalho (1 Pe 2.18-21); essas orientações se aplicam aos maus-tratos ou abuso no
casamento. Ao mesmo tempo, como já mencionado, isso tem seus limites. Se a saúde
física, a vida da pessoa ou a saúde emocional estiverem ameaçadas, uma separação
temporária seria indicada.
Retomando o ensino bíblico para casamentos em crise, Jesus enfatiza que o que Deus
uniu, ninguém deve separar (Mt 19.6). A aliança do casamento se dá entre três
pessoas: Deus, um homem e uma mulher. Em primeiro lugar, divórcio vai contra a
natureza de Deus, contra o caráter d’Ele, contra demonstrar que somos parte de um
povo fiel que cumpre Sua palavra e mantém Sua aliança. Não deve nos surpreender
que Deus odeie o divórcio.
Quando o crente toma a iniciativa para se divorciar, age como um não-crente, não
acredita que Deus sabe melhor do que ele, não se submete a obedecer Sua Palavra,
escolhe fazer o que Deus odeia e, provavelmente, afasta seu cônjuge ainda mais da
presença do Deus Eterno. Paulo ensina que, sendo paciente e perseverando no
casamento, poderemos ver uma de duas coisas: o cônjuge arrepender-se ou
arrebentar-se. No primeiro caso, salvamos nosso cônjuge e o casamento e
resgatamos algo imensuravelmente precioso para nossos filhos. No segundo caso, se
o não-crente optar por sair do casamento ou adulterar, ele nos libera dessa aliança,
dando-nos até a opção de casar novamente (1 Co 7 e Mt 19).
Eu enxergo que alguns se fazem eunucos (celibato) por causa do Reino, optando por
não entrar na felicidade de um novo casamento porque seus olhos estão fixos em
Jesus e Seus propósitos eternos. Aguardando a salvação do cônjuge, entregam suas
vidas para Jesus (incluindo suas vidas sexuais), agindo, assim, como verdadeiros
discípulos ou filhos de Deus. Isso implica evitar intimidade e qualquer situação que
possa levá-los a se envolver emocional ou fisicamente com o sexo oposto. Se, por
motivos da violência do cônjuge, um cristão precisa ficar separado fisicamente dele,
deve assumir a atitude que Paulo relata no final de 1 Coríntios 7, sobre dedicar-se a
Jesus com toda sua energia e tempo, como se fosse solteiro. Ao mesmo tempo, ele
precisa ter o cuidado de não deixar o ministério ser um motivo para se afastar das
quatro atitudes já indicadas, sobre como se relacionar com seus inimigos.
Seria um pecado a igreja ou um líder pastoral apenas apontar tudo isso e dizer que
vai orar pela pessoa que sofre num casamento complicado. Fé sem obras é morta
(veja Tg 2.14-17). A igreja precisa oferecer diversas formas de ajuda para essa
pessoa. As três principais são:
3. Casais apoiadores. Estudos feitos nos Estados Unidos (que são citados no site,
indicado no relatório ao final deste artigo) demonstram que a porcentagem de
divórcios caiu de forma marcante e visível não apenas em uma igreja, mas em
cidades inteiras, onde casais saudáveis e capacitados adotaram e acompanharam
casais com dificuldades.
Se a igreja oferecer tudo isso e o crente ainda decidir divorciar-se, resta ainda um
passo difícil do “amor que tem que ser firme”, um passo que muitas igrejas hoje em
dia não têm coragem ou integridade para tomar. Quando uma pessoa decide violar
consciente e abertamente o ensino bíblico, os passos de confronto e disciplina em
Mateus 18.15-17 devem ser seguidos. Como podemos dizer que levamos o
casamento a sério se passamos a mão na cabeça de pessoas que optam em,
explicitamente, desobedecer o ensino bíblico nesta área? Em nome de enxergá-las
como vítimas, coitadas, doloridas, feridas e não sei quantas outras coisas, apoiaremos
a desobediência explícita à Palavra de Deus? Se fizermos isso, abandonamos tanto o
amor verdadeiro, como a autoridade das Escrituras. Desafio a igreja a erguer-se,
tanto no consolo, aconselhamento e apoio verdadeiro, como em defender o ensino e a
prática da visão bíblica do casamento.
Deus tem uma visão gloriosa da aliança do casamento que demonstra Seu caráter e
propósitos divinos. O cristão casado com uma pessoa difícil ou abusadora precisa
manter essa visão. Seu alvo deve ser glorificar a Deus e amar seu cônjuge com a
esperança de ver a sua salvação e a salvação de seus filhos. A igreja deve apoiar de
forma palpável na procura de restauração de seu casamento, incluindo ensino bíblico
e disciplina, se for necessário. Se alguém precisa separar-se para proteger-se da
violência, isso deve ser um passo temporário com vistas à restauração do casamento.
Dentro ou fora da mesma casa, devemos amar nosso cônjuge, orar por ele, fazer o
bem a ele e abençoá-lo. Nosso supremo alvo não é a nossa realização ou felicidade,
mas glorificar a Deus e desfrutar d’Ele para sempre.
Os Efeitos do Divórcio sobre América (The Effects of Divorce on America), por Patrick
F. Fagan and Robert Rector, encontrado na internet em
http://www.lovegevity.com/marriage/whatsnew/hfedone1.html
• Estas famílias que antes do divórcio não eram consideradas pobres vêem sua renda
cair até 50%. Quase 50% passam para a pobreza após o divórcio.
• A sua vida religiosa, que tem sido ligada à saúde melhor, casamentos mais
duradouros e melhor qualidade de vida de família, tende a cair depois do divórcio dos
pais. Para maiores informações, veja o livro de Archibald Hart, Ajudando os filhos a
Sobreviverem ao Divórcio, Mundo Cristão, 1996/1998.
Fonte: http://www.mapi-sepal.org.br/defferartCasamento.htm
Visite: www.sermao.com.br
1/12/2006 15:48:32ejesus.com.br