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PERFIL DO CONSUMIDOR DE CARNE BOVINA NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

Conference Paper · October 2014


DOI: 10.13140/RG.2.2.28758.04165

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2 authors:

Livia Maria Borges Raimundo Mario Batalha


Universidade Federal de São Carlos Universidade Federal de São Carlos
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XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10

Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

PERFIL DO CONSUMIDOR DE CARNE


BOVINA NO MUNICÍPIO DE SÃO
PAULO

LIVIA MARIA BORGES RAIMUNDO (UFSCar )


livia_rbm@yahoo.com.br
Mario Otavio Batalha (UFSCar )
dmob@power.ufscar.br

O atendimento das necessidades dos consumidores é fundamental para


a sobrevivência e o crescimento das empresas que compõe o setor
produtivo de carne bovina. Dessa forma, a realização de estudos que
caracterizem o comportamento do consumidor podem promover
informações que embasem a formulação de estratégias e táticas que
aumentem a competitividade dos agentes de toda a cadeia produtiva.
Nesse contexto, este trabalho busca caracterizar o perfil de
comportamento do consumidor final de carne bovina no município de
São Paulo. A partir de um modelo conceitual de comportamento de
consumo, focado em produtos cárneos, foi conduzido um survey junto a
400 indivíduos no município de São Paulo. A análise descritiva da
amostra revelou que a maior parte dos entrevistados consome carne
bovina uma ou duas vezes na semana. A maioria dos declarantes para
consumo de três ou mais vezes na semana é masculina, e tem renda
mensal familiar entre três e cinco salários mínimos. Constatou-se
também que a carne bovina é a preferida pela população estudada,
seguida pela de frango e pela suína, o que se reflete diretamente nas
relações de substituição entre esses produtos. A maior parte dos
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respondentes vê a carne bovina como boa para a saúde e declara


conhecer parcialmente seu valor nutricional. A preferência pelos
cortes bovinos varia entre os gêneros dos entrevistados, mas, em geral,
os cortes mais comprados são os de segunda, seguidos pelo coxão-
mole, pelo contrafilé e pela alcatra, escolhidos com base em seu preço,
sua embalagem e sua validade, nesta ordem. A nobreza dos cortes
consumidos cresce conforme aumenta a renda dos consumidores. O
local preferido de compra é o supermercado, o qual é escolhido de
acordo com preço médio, a higiene e a qualidade observadas.

Palavras-chaves: Comportamento do consumidor, carne bovina,


pesquisa de mercado

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1. Introdução e justificativa

A importância agronegócio de carnes no Brasil na economia nacional, bem como o potencial


consumidor do país, justificam o desenvolvimento de ações coordenadas na área do estímulo
ao consumo desses produtos (NEVES et al., 2000). Tais ações incluem o atendimento das
necessidades e desejos dos consumidores, condição básica para a sobrevivência e o
crescimento das organizações que fazem parte do setor produtivo de carne bovina (SOUKI et
al., 2003). Nesse contexto, o estudo do comportamento do consumidor assume um papel
central nas decisões estratégicas corporativas das empresas produtoras e processadoras de
carne bovina. Contudo, Mazzuchetti e Batalha (2004) salientam que são raras no país
pesquisas que estudam de forma profunda o comportamento do consumidor desse produto.

O Brasil apresenta um dos maiores rebanhos comercial de bovinos do mundo, contando com
cerca de 209,5 milhões de cabeças em 2010 (FAO). Do montante produzido de carne bovina,
cerca de 80% da carne bovina são absorvidos pelo mercado doméstico, o qual se expandiu em
10 anos a uma taxa média anual de 1% (USDA, 2011). Vale lembrar que os patamares do
consumo de carnes no Brasil se assemelham aos observados nas nações mais ricas. O
consumo anual per capita de carne no Brasil ultrapassa os 85 quilos, dos quais 38
correspondem ao consumo de carne bovina.

De acordo com Barcellos (2002), mesmo que a carne bovina seja considerada um produto
caro, o aumento do seu consumo está condicionado, nas classes de maior poder aquisitivo, à
presença de diferenciais de qualidade do produto. Nessa linha, Wilkinson e Rocha (2005)
acreditam que o poder aquisitivo limite o consumo de carne bovina de grande parte dos
brasileiros, sendo que os produtos acessíveis do mercado interno muitas vezes carecem de
padrão de qualidade e inspeção sanitária.

O setor produtivo de carnes no Brasil é carente de análises estruturadas e informações


sistemáticas sobre os hábitos e necessidades dos consumidores dos seus produtos. Uma vez
identificados os hábitos de consumo e compra da carne bovina, podem-se formular e
implementar estratégias eficazes de para a produção e o varejo do produto. Salienta-se ainda
que as pesquisas de mercado sejam capazes de responder questões que incluem descobertas
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sobre os anseios e desejos do cliente ou sobre a visão que o consumidor final tem de empresas
ou produtos (RAIMUNDO, 2013).

Acredita-se que o a identificação de hábitos e preferências alimentares do consumidor final da


carne bovina, pode fornecer subsídios para ações de aprimoramento ao longo da cadeia de
carne bovina e, desta forma, contribuir para aumentar a competitividade do setor pecuarista
como um todo.

2. Objetivos

Este trabalho estuda o perfil de comportamento do consumidor final de carne bovina no


município de São Paulo, buscando gerar informações que subsidiem estratégias
mercadológicas para as empresas do setor.

Valeu-se de um modelo conceitual de comportamento de consumidor adaptado às


especificidades dos consumidores de produtos cárneos, gerado a partir de extensa revisão
bibliográfica sobre o comportamento do consumidor de alimentos. Tal modelo estabeleceu as
variáveis explicativas do comportamento do consumidor de carne bovina, fornecendo base
para o estudo.

3. Comportamento do consumidor e modelo conceitual de consumo de alimentos

Estudos sobre o comportamento do consumidor consistem numa forma de obtenção de


informações chave para o desenvolvimento de novos produtos, para a precificação de
produtos, para melhorar processos de escolhas quanto aos canais de distribuição, e ainda para
o estabelecimento de políticas de promoção e publicidade (KOTLER; 2000). Spers (1998)
salienta que, através da compra, o cliente transmite, para toda a cadeia de produção,
informações sobre os atributos de qualidade que deseja. Dessa forma, o entendimento do seu
comportamento passa a ser um elemento estratégico importante para as empresas.

Shepherd e Sparks (1999) afirmam que a escolha alimentar consista numa preocupação
primária para os produtores de alimentos, tendo em vista que para vender produtos
alimentares é preciso conhecer o perfil dos consumidores e os processos pelos quais suas
escolhas são feitas. Os fatores determinantes das escolhas alimentares se inter-relacionam, e

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podem ser representados por modelos de comportamento.

Diversos modelos teóricos de comportamento de consumo de alimentos (GAINS, 1999;


CONNER, 1999; KHAN, 1981; RANDALL E SANJUR, 1981; SHEPHERED, 1985;
CARDELLO, 1999; FURST ET AL., 1996; FISCHLER, 2003; OLIVEIRA E THÉBAUD-
MONY, 1997; AMERINE ET AL., 1965; GRUNERT ET AL., 1996) foram revisados,
fornecendo suporte para elaboração de um modelo que representa fielmente o comportamento
do consumidor de alimentos.

Como mostra a Figura 1, esse modelo leva em consideração fatores elementares do consumo,
relacionados ao indivíduo consumidor, ao ambiente onde o alimento é comprado e consumido
e as características intrínsecas ao alimento.

Figura 1 - Determinantes do comportamento do consumidor de alimentos

Fonte: Elaborado pelos autores

4. Pesquisas nacionais sobre o consumo de carne bovina

Embora ainda pequeno, o número de pesquisas focadas no comportamento do consumidor de


carnes é crescente no país. Estudos sobre o consumo de cárneos no Brasil (MAZZUCHETTI;
BATALHA, 2004; BUSO, 2000; VELHO, 2009; SOUKI, 2003; FRANCISCO et al., 2007;
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BEZERRA et al., 2007; FARIA et al., 2006; MARTINS et al., 2009) são geralmente feitos
através de surveys de caráter probabilístico, acompanhados pelo levantamento do perfil
socioeconômico da população estudada, sendo que a maioria utiliza critérios de
proporcionalidade ao universo como forma de estratificação inicial da amostra.

Sobre a frequência de consumo, o estudo de Mazzuchetti e Batalha (2004) revelam que a


carne bovina é consumida duas vezes por semana pela maioria da população. Já o trabalho de
Porto (2004) aponta que a carne bovina é consumida de três a quatro vezes por semana pela
maioria dos entrevistados, mesmo sendo considerada mais cara que as carnes concorrentes.

Ainda de acordo com os resultados de Porto (2004), o produto é majoritariamente adquirido


em supermercados. Em pesquisa no município de São Paulo, Buso (2000) identificou que a
compra de carne bovina, pela maioria da população, se dá tanto em açougues quanto em
supermercados. Entretanto, estes são preferidos pelas classes A, B e C para aquisição do
produto, enquanto a classe D opta mais por açougues. Isso porque, em geral, estes estão
localizados mais próximos das residências dessa parcela da população, além de, em muitos
casos, oferecerem prazos de pagamento flexíveis.

Sobre os determinantes da escolha do local de compra, Mazzuchetti e Batalha (2004) afirmam


que a qualidade da carne, a higiene do local e a forma de atendimento, nessa ordem, têm
maior importância na hora da compra. Os autores ainda observaram que a importância do
preço diminui conforme maior a classe social. Velho (2009) ressalta que, em geral, a
frequência de compra do produto é de uma vez por semana.

Quanto à escolha do produto, Mazzuchetti e Batalha (2004) observaram que, para as classes A
e B, valem mais suas qualidades organolépticas, seguidas de validade e aparência. No caso da
classe C, a ordem se dá por aparência, validade e preço, enquanto para a classe D, a sequência
se constitui de preço, validade e aparência. Velho (2009) observou que o principal influente
na compra é a cor, seguida da maciez e do preço. Já no estudo de Souki (2003), demonstrou-
se que a ordem de importância inclui primeiramente a higiene, que precede o odor e a
aparência da carne.

Tratando-se dos produtos mais comprados, a carne de primeira é a preferida de todas as


classes sociais no estudo de Mazzuchetti e Batalha (2004). A classe D é a maior
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consumidora de carne de segunda, bem como de recortes e retalhos. Já a carne moída é


majoritariamente consumida pelas classes B e C.

Os estudos de Francisco et al. (2007), Buso (2000), Mazzuchetti e Batalha (2004), Velho
(2009), Porto (2004) e Bezerra et al. (2007) indicam que a carne bovina é a preferida da
população, seguida pela carne de frango. Ao terceiro lugar ficam delegadas as carnes suína
(BEZERRA et al., 2007; MAZZUCHETTI E BATALHA, 2004) e de peixe (BUSO, 2000),
variando conforme as diferentes faixas de renda. Bezerra et al. (2007) indicam que a ordem de
preferência das carnes se dá principalmente pelo preço, seguido do sabor, aparência e valor
nutritivo.

5. Métodos

Este trabalho combinou as técnicas de pesquisa bibliográfica e de survey. A primeira buscou


identificar os principais trabalhos publicados na linha de estudo, enquanto a segunda foi
aplicada a fim de perceber características dos elementos da população, através do uso de
questionários ou entrevistas para levantamento de dados por amostragem, de forma que fosse
possível uma generalização de um estudo para uma população mais ampla (BARBETTA,
2008).

O universo amostral da pesquisa abrangeu os consumidores de carne responsáveis pela


decisão da compra do produto residentes no município de São Paulo. O tamanho da amostra
foi determinado com base na tabela proposta por Mattar (2008, p. 162), e contou com 400
elementos, a um erro amostral de 0,05 e uma confiança de 95%. Os elementos foram
divididos em estratos em função de renda e gênero, de acordo com a distribuição da
população prevista pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE para
a região metropolitana de São Paulo, como consta na Tabela 1.

Tabela 1 - Distribuição amostral da pesquisa

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Fonte: IBGE 2009 - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Elaborada pelos autores

O questionário utilizado para o levantamento dos dados primários, estruturado do tipo


fechado, com perguntas de múltiplas respostas, foi elaborado a partir da revisão do referencial
teórico sobre consumo de carnes (ver Figura 1). Tal instrumento foi dividido em cinco partes:
pergunta filtro, caracterização do perfil socioeconômico, fatores pessoais, fatores do alimento
e caracterização do ambiente.

Os dados foram coletados durante os meses de meses de setembro, outubro e novembro de


2012 em locais de fluxo abundante de pessoas, por meio de entrevistas pessoais. Os dados
obtidos foram tratados com o pacote estatístico SPSS 19, por aplicação de Análise
Univariada.

6. Resultados

Seguindo a ordem do questionário utilizado na coleta dos dados, apresentam-se


primeiramente os resultados referentes ao perfil socioeconômico dos entrevistados, seguido
pelos referentes aos fatores pessoais, fatores referentes ao alimento e uma breve
caracterização do ambiente.

Ao todo, foram abordadas 413 pessoas no município de São Paulo, das quais 13 se declararam
não consumidoras de produtos cárneos, o que corresponde a 3,15% dos entrevistados. Os
demais respondentes compuseram a amostra efetivamente analisada, totalizando 400
consumidores efetivos.

A amostra foi estratificada em termos do gênero e da renda mensal familiar dos entrevistados.

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Em acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE,
a distribuição amostral se deu conforme apresentado na Erro! Fonte de referência não
encontrada.. Foram abordadas 209 mulheres e 191 homens, distribuídos em diferentes níveis
de renda.

6.1. Perfil socioeconômico

Sobre a idade dos respondentes, 80% dos respondentes declararam ter entre 21 e 50 anos em
termos gerais.

Observou-se que a concentração de entrevistados com maior poder aquisitivo cresce de


acordo com o nível de formação, como mostra a Tabela 2. Dos respondentes que declaram
renda mensal familiar de até um salário mínimo, a maior parte declarou não ter completado o
ensino fundamental. Para as faixas de renda que vão de um a dois e de dois a três salários
mínimos, a maior parte dos respondentes completou o ensino médio. Dos que declararam
ganhar de três a cinco salários mínimos por mês, a maioria não completou o ensino superior.
Já na faixa de 5 a 10 salários mínimos, a maior parte o concluiu. Dos entrevistados que
declararam rendimento superior a 10 salários mínimos, aproximadamente 80% possuem
ensino superior completo e/ou pós-graduação.

Tabela 2 - Distribuição amostral por faixa de renda mensal e formação

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Fonte: Dados da pesquisa, 2012

Sobre a composição familiar, a maioria das famílias é composta por três ou quatro pessoas,
como mostra a Figura 2.

Figura 2 - Número de residentes por domicílio

Fonte: Dados da pesquisa, 2012

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6.2. Fatores pessoais

Sobre a frequência de consumo, notou-se que a carne bovina é consumida uma ou duas vezes
na semana pela maior parte dos entrevistados (44%), em contraste com o obtido por Porto
(2004), cujo estudo revelou um consumo do produto de três a quatro vezes semanais pela
maioria dos consumidores.

Dentre os que consomem a carne bovina três ou mais vezes na semana, 58% são homens.
Observou-se ainda que a maior parte dos declarantes dessa frequência de consumo tem renda
mensal de três a cinco salários mínimos. Tais resultados se apresentam em consoante com os
obtidos por Mazzuchetti e Batalha (2004), que apontam que o produto é majoritariamente
consumido ao menos duas vezes por semana pelos estratos A, B, C e D da população. A
Tabela 3 apresenta as frequências observadas para o consumo de carne bovina por renda
mensal familiar dos entrevistados.

Tabela 3 - Frequência de consumo de carne bovina por faixa de renda mensal

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Fonte: Dados da pesquisa, 2012

Quase 60% dos que consomem carne bovina uma vez ou menos por mês declararam renda de
até um salário mínimo, o que inicialmente sugere uma relação direta entre renda e consumo.
Contudo, ao observar-se o montante de indivíduos que declarou consumir a carne três ou mais
vezes na semana, os mais abastados não compõe a maior parte, a qual se concentra nos
indivíduos que recebem de três a cinco salários mínimos mensais. Dessa forma, salienta-se
que o crescimento da renda aumenta o consumo de carne bovina ate certo ponto, a partir do
qual fatores extra-preço (como a preocupação com a saúde, a segurança alimentar e a
propaganda) são mais influentes no consumo, podendo freá-lo.

Corroborando os estudos de Francisco et al. (2007), Buso (2000), Mazzuchetti e Batalha


(2004), Velho (2009), Porto (2004) e Bezerra et al. (2007), a carne bovina é a preferida da
maior parte dos entrevistados, seguida pela de frango e pela suína, como ilustra a Figura 3.

Figura 3 - Carne preferida

Fonte: Dados da pesquisa, 2012

Estudaram-se ainda as relações de substituição entre carne preferida pelos entrevistados e as


demais opções disponíveis. Dentre os apreciadores de carne bovina, 66% compra carne de
frango quando aquela não está disponível ou não está de seu agrado. A carne suína é a
segunda opção nesse caso, contando com 22% dos respondentes. Pescado (6%), embutidos
(4%) e outros (1%) constam como demais alternativas.

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Sobre a imagem da carne bovina para a saúde, observou-se a maior parte dos respondentes
(29%) a vê como boa para a saúde e, dentre esses, a maioria conhece parcialmente seu valor
nutricional. Já dentre os que consideram a carne ótima para a saúde, a maior parte dos
entrevistados (31%) desconhece totalmente sua composição nutricional, o que reforça o valor
subjetivo do consumo do produto.

6.3. Fatores do alimento

Acerca dos cortes bovinos mais consumidos, observou-se que a carne de segunda ou de
terceira são as mais compradas pela maioria dos entrevistados, seguidas pelo coxão-mole,
pelo contrafilé e pela alcatra. Em relação ao gênero, afirma-se que cortes como a picanha e a
maminha, tradicionais de churrasco, são majoritariamente adquiridos por homens, enquanto
mulheres são maioria na compra de filé mignon e contrafilé. Dessa forma, reforça-se a
diferença existente na finalidade da compra de carne para homens e mulheres, fato que pode
direcionar apelos publicitários. A compra de embutidos é levemente maior no caso dos
homens, o que traduz a maior procura por praticidade nas refeições, e corrobora os resultados
obtidos por Velho (2009), como mostra a Tabela 3.

Tabela 3 - Compra de cortes bovinos por gênero

Fonte: Dados da pesquisa, 2012

Afirma-se ainda que os responsáveis pela aquisição de quase 80% das carnes de segunda ou
terceira têm renda mensal de até um, ou de um ou dois salários mínimos. Essas duas faixas de
renda juntas também detém 69% do consumo de embutidos, graças ao menor preço destes
produtos em relação à carne em si. O consumo de picanha se concentra na faixa de renda
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mensal de acima de dez salários mínimos, que detém 45% do consumo total. Já cortes como a
maminha e o coxão-mole são os mais consumidos pelas famílias com faixa salarial de três a
cinco salários mensais, com frequência de 50% e 31%, respectivamente. A alcatra é mais
consumida por aqueles que recebem entre cinco e dez salários (40%). Dessa forma, salienta-se
que famílias de renda mediana consumam cortes menos nobres, entretanto com maior
frequência que as mais abastadas.

Dentre os fatores relevantes para a compra da carne bovina, os considerados “muito


importantes” pelos respondentes foram o preço, a embalagem e a validade, nesta ordem. Os
mais indicados como “pouco importantes”, ressaltam-se o certificado de qualidade e a marca.
Salienta-se assim que a maior parcela dos entrevistados considera esses atributos indiferentes,
reforçando a imagem do produto como commodity.

6.4. Fatores do ambiente

Constatou-se que o supermercado é o local de compra preferido por 82% da população em


questão, que realiza a compra de carne bovina no ambiente muitas vezes ou sempre. O
segundo local preferido para compras é açougue. Tal resultado se mostra em sintonia com os
dados revelados pela Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE (2008 – 2009), e também
com os resultados obtidos nos estudos de Buso (2000) e de Porto (2004), que indicaram a
preferência dos consumidores pelo supermercado.

Sobre a escolha do local de compra, corroborando os estudos de Mazzuchetti e Batalha


(2004), de Bezerra et al. (2007) e de Martins et al. (2009), a qualidade dos produtos e a
higiene do local surgem como fatores muito importantes para grande parte dos entrevistados.
A confiança e a variedade dos produtos são consideradas importantes, seguindo o observado
por Faria et al. (2006), como mostram as frequências dispostas na Tabela 4.

Tabela 4 - Importância dos atributos do local de compra

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Fonte: Dados da pesquisa, 2012

7. Discussão e considerações finais

Este trabalho buscou identificar o perfil do consumidor final de carne bovina no município de
São Paulo, o maior centro consumidor do país, visando obtenção de informações úteis para
subsidiar estratégias mercadológicas nas empresas do setor.

A análise descritiva da amostra estudada aponta a carne bovina como preferida pela maior
parte dos entrevistados na capital paulista, seguida pela de frango, cabendo à carne suína o
terceiro lugar na ordem de preferência dos consumidores.

Constatou-se que o produto em questão é majoritariamente consumido duas vezes na semana,


sendo que o consumo mais frequente é predominantemente exercido por homens com renda
de três a cinco salários mínimos mensais. No caso dos consumidores que declararam renda de
até um salário mínimo, estes registraram consumo inferior ou igual a uma vez por mês.
Entretanto, foi possível observar ainda que o crescimento da renda implica no aumento do
consumo de carne bovina até certo ponto, a partir do qual fatores extra-preço passam a
influenciar mais a quantidade consumida. Para consumidores mais abastados, o aumento do
consumo estaria condicionado à presença de diferenciais tais como maior qualidade,
certificados de produção orgânica, de bem estar animal e rastreabilidade.

Afirma-se que a nobreza dos cortes bovinos consumidos cresce conforme aumenta a renda
dos consumidores. Este fato indica que a renda é fator determinante de muitas das escolhas
alimentares atuais, influenciando diretamente o aporte nutritivo obtido pelos consumidores.

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Foi constatado que o supermercado é o local de compra preferido e mais frequentado pela
maioria da população estudada, seguido pelo açougue. Isso confirma o crescimento
vertiginoso dos supermercados nas ultimas décadas, o qual acarreta uma tendência de
centralização das compras dos consumidores.

Empresas do setor produtivo e do setor varejista do município de São Paulo podem dispor das
informações resultantes deste trabalho para a construção de conhecimento estratégico, uma
vez que conhecer o perfil do consumidor, saber o que é prioridade em suas escolhas e o que
ele reconhece como valor agregado, pode ser vital para a sobrevivência de uma empresa.

Para trabalhos futuros, sugerem-se pesquisas que busquem aprofundar o conhecimento sobre
o consumidor de carne bovina, os quais investiguem a preferência sobre os atributos do
produto, a relação entre consumo e status social, as percepções sobre local de compra e
também sobre as novas tendências produtivas.

REFERÊNCIAS

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