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2006; Bertolini, Moraes & Guedes, 1999; constantes ajustes para se adaptar às variações do
Freudenheim, 1995; Freudenheim, Basso, Xavier, meio aquático. E, hierárquico, devido a cada
Silva, Madureira & Manoel, 2005; Caputo, Lucas, componente apresentar ao mesmo tempo
Greco & Denadai, 2000; Chollet, Charlies & propriedades de todo e partes (Koestler, 1969). Isso
Chatard, 2000; Pasetto, Araújo & Corrêa, 2007; significa que quando se olha para a braçada por si
Silva, 2008; Xavier Filho, 2001). só, por exemplo, ela pode ser vista como um todo
Um aspecto que tem chamado a atenção composto de duas partes (aérea e aquática); mas
nas pesquisas biomecânicas e comportamentais é quando se olha para o crawl propriamente dito, a
que nelas o nado crawl tem sido investigado por braçada é uma de suas partes.
meio da análise de apenas um de seus Weiss (1969) sugere que em um sistema
componentes. Por exemplo, embora com objetivos aberto hierárquico, as características gerais do
distintos, há pesquisas focalizando a braçada do sistema são essencialmente invariantes, porém o
nado crawl (Madureira, 2006; Freudenheim et al., comportamento dos componentes varia de caso a
2005; Caputo, et. al. 2000; Chollet, et al. 2000; caso, de momento a momento. Uma importante
Silva, 2008; ) e também a respiração (Bertolini et predição dessa visão, com implicações diretas para
al.1999). o presente estudo, é aquela de que a variância do
Não há dúvidas que tais estudos todo é significantemente menor do que a variância
apresentem contribuições para o entendimento do das partes (Weiss, 1969). Por exemplo, no nado
fenômeno. Por exemplo, Freudenheim et. al., crawl, o modo de interação entre a braçada, a
(2005), mostrou que crianças em estágios respiração e a pernada é “invariante”, ao passo que
avançados de aprendizagem apresentam a os comportamentos desses componentes difeririam
organização temporal da braçada do nado crawl, em entre si e, portanto, seriam variáveis. De fato,
termos de consistência e variabilidade, diferente de independentemente de abordagem ou modelo,
crianças em estágios iniciais; Madureira (2006) habilidades motoras têm sido focalizadas em
apontou para a capacidade de crianças ajustarem relação a esses aspectos (Kelso, 1997; Lai, et al.,
seu desempenho em virtude da organização 2000; Viviani & Laissard, 1991).
temporal da braçada; e Silva (2008) mostrou que Em suma, as investigações do nado crawl
nadadores de elite (índice nacional) adaptam-se via podem trazer limitações para a compreensão e
modificação de parâmetros temporais da braçada descrição desse fenômeno em virtude de
enquanto que aqueles de índice estadual o fazem envolverem análises de apenas um de seus
via modificação da própria estrutura. componentes. Isso porque o nado crawl caracteriza
Por um lado, isso pode ser visto como uma um sistema aberto hierárquico e, como tal, (a) ele
reconhecida estratégia metodológica de redução de diz respeito aos componentes em interação e (b) os
variáveis para que o fenômeno possa ser mais bem comportamentos dos componentes trazem
entendido. Entretanto, essa estratégia metodológica distinções daquela da interação.
pode, também, implicar em limitações de Diante do exposto, essa pesquisa teve por
procedimentos analíticos da ciência conhecidos objetivo investigar o nado crawl, analisando-se seus
como aquele de simplicidade (Vasconcelos, 2002). componentes (braçada, pernada e respiração) em
O problema de simplicidade refere-se à assunção de interação. Mais especificamente, buscou-se analisar
que se separando o todo em partes verificam-se os comportamentos da braçada, da respiração e da
elementos simples através dos quais se torna pernada do nado crawl separadamente e em
possível compreender o todo. interação. As hipóteses foram que (a) a
Dessa forma, as análises do nado crawl variabilidade do todo (interação) seria menor do
descritas anteriormente suscitam perguntas como: que a variabilidade das partes (componentes), (b)
em que medida a análise de um componente que não haveria diferença entre as variabilidades
permite o entendimento do nado como um todo? dos todos em diferentes condições, mas (c) haveria
Essa pergunta se baseia, também, na possibilidade entre as variabilidades das partes.
de o nado crawl poder ser caracterizado como um
sistema aberto hierárquico (Madureira, 2006;
Freudenheim, et al. 2005). Sistema, porque ele diz Método
respeito a um conjunto de componentes (braçada, Participantes
pernada e respiração) em interação. Na verdade, ele
se refere a um tipo específico de interação dos Os participantes foram onze voluntários,
citados componentes: a braçada, a pernada e a esclarecidos e conhecedores do experimento,
respiração ocorrem simultaneamente e de forma adultos de ambos os sexos, com média de idade de
contínua. Aberto, porque o indivíduo tem que fazer 28 anos (±4,25). Os participantes tinham no
16 Brazilian Journal of Motor Behavior, 2009, Vol.4, No. 1, 15-21
Análise do Crawl
mínimo dez anos de experiência em termos do nado explicava e instruía sobre a tarefa. Esse
crawl e assinaram o termo de consentimento livre e procedimento era realizado com um indivíduo por
esclarecido. vez. Dessa forma, cada participante tomava
conhecimento de que deveria executar o nado
Procedimentos crawl, ao lado da raia (Figura 1, item “c”) numa
distância de 10 metros. Era-lhes explicado,
A tarefa realizada pelos participantes consistiu também, que deveriam ir e voltar o mais lento ou
na execução do nado crawl o mais lentamente rápido possível, conforme ordem determinada pelo
possível (velocidade lenta), em um percurso de 10 experimentador.
metros e o mais rápido possível (velocidade Ao comando do experimentador, os
rápida), em outro percurso de 10 metros, conforme participantes, estando encostados na parede da
ilustra a Figura 1. Dessa forma as velocidades de piscina, deveriam impulsionar-se e iniciar o nado.
nado foram adequadas à capacidade individual de Ao chegar à borda oposta da piscina os
nado. participantes paravam e esperavam o comando do
experimentador para retornarem. A ordem das
velocidades (lenta e rápida) a serem nadadas foi
10m 7,5m
contrabalançada entre os participantes.
b a Todas as execuções foram filmadas com uma
filmadora acima do nível da água e com outra
filmadora abaixo do nível da água, ambas,
colocadas na mesma direção em relação ao
participante. Isso foi possível devido às câmeras
estarem em um carrinho feito de alumínio (Figura
d b 2) que, conduzido por um outro experimentador,
acompanhava o participante em seu percurso.
c
Carrinho Filmadora
Film
aérea
FIGURA 1: Ilustração da situação experimental, sendo:
a) cones colocados ao fundo da piscina para demarcar a
distância a ser analisada (7,5m) e para servir como
referência para a filmagem subaquática; b) marcas de
plástico acopladas à raia, na superfície da piscina, para
Borda
demarcar a distância a ser analisada (7,5m) e para servir
como referência para a filmagem aérea; c) raia; d)
carrinho de filmagem.
Invólucro
demarcações feitas no fundo da piscina, com cones, tempos dos ciclos da braçada (B1 a B4), pernada
e na superfície da água, na raia (Figura 1). (P1 a P11) e respiração (R1 a R4) em ambas as
Dada à natureza contínua do nado crawl e, por velocidades de nado. Calculou-se, em seguida, o
conseguinte, dos seus componentes/partes, os coeficiente de variação (CV) de cada um,
mesmos foram analisados em relação a ciclos: observando-se, portanto, a variabilidade de cada
braçada - a entrada de uma das mãos na água; componente (parte). O cálculo da mediana
pernada – extensão total de uma das pernas/fase envolvendo os três valores refletiu a variabilidades
descendente; respiração – saída da boca da água. das partes. Para análise da variabilidade do todo
Dessa forma, os ciclos foram definidos definiu-se operacionalmente o tempo do ciclo da
operacionalmente de acordo com o ponto acima ou braçada como referência por ser o ciclo de maior
abaixo d’água, pelo fato de ser mais confortável duração (a braçada com menor ciclo foi de 1502 ms
para visualização e análise. e a de maior foi de 3938 ms na velocidade lenta, e,
A análise dos dados envolveu a estimativa da 834 ms do menor ciclo e 2702 ms do maior ciclo na
duração em milissegundos de todos os ciclos de velocidade rápida) e verificou-se como os
cada componente nos 7,5 metros nadados. A componentes (B1, P1, P2, PP1, R1 e RP1)
quantidade de ciclos analisados foi individual, variavam em relação a esse ponto. Isso permitiu a
variando de 2 a 6 para a braçada, 4 a 40 para a obtenção de um “retrato de ciclo ou de interação”.
pernada e 1 a 5 para a respiração. Diante disso, Finalmente, calculou-se a mediana do conjunto de
optou-se pela utilização do coeficiente de variação coeficientes de variação e obteve-se um valor
como medida de variabilidade. representativo da variabilidade do todo ao longo
Tomando a Figura 3 como ilustração, no dos 7,5 metros nadados.
percurso de 7,5m foram registrados todos os
7,5 m
velocidade rápida, apenas três foram analisados. Segundo Weiss (1969) em um sistema, as
Em virtude disso, optou-se pela utilização do teste características gerais (todo) seriam essencialmente
não paramétrico de Wilcoxon (Gren, Saldind, & invariantes e o comportamento dos componentes
Ankey, 2000). Os resultados são graficamente (partes) variaria de caso a caso. Para Koestler
apresentados na Figura 4. (1969), sistemas abertos são hierarquias
multinivelares de subtodos semi-autônomos
1,0 denominados de hólons, que se ramificam em
Mín-Máx
subtodos de uma ordem inferior e assim por diante.
0,8 25%-75%
Mediana
Os hólons são governados por conjuntos fixos de
regras e apresentam estratégias flexíveis. Isso
0,6 implica que as regras determinam as propriedades
Coef. Variação
variabilidade do todo foi igual àquela das partes, crawl e sua relação com o tipo de respiração
suscita indagações e, por conseguinte, novas Arquivos de Ciências e Saúde, 3(1), 35-37.
investigações. Nesse sentido, é importante destacar Capelli, C., Pendergast, D.R. (1998). Energetics of
dois aspectos: 1) a dificuldade em analisar uma swimming at maximal speeds in humans.
habilidade motora de natureza contínua e cíclica, European Journal of Applied Physiology and
cujos componentes atuam simultaneamente. Por Occupational Physiology, 78, 385-393.
não existir início e fim claros nesse tipo de Caputo, F., Lucas, R.D., Greco, C.C., Denadai, B.S.
habilidade, a identificação das relações entre as (2000). Características da braçada em diferentes
partes é dificultada. Por isso, procedeu-se à distâncias no estilo crawl e correlações com a
determinação de um dos componentes como performance. Revista Brasileira Ciência e
referência; 2) o aparato de coleta de dados necessita Movimento, 8, 07-13.
ser aperfeiçoado no sentido de eliminar o fluxo Chollet, D., Charlies, S., Chatard, J.C. (2000). A
turbulento (Maglischo, 1999) da água no invólucro new index of coordination for the crawl:
em virtude do descolamento em velocidade. description and usefulness. International
Em conclusão, considerando o exposto, embora Journal of Sports Medicine, 21, 54-59.
os resultados tenham confirmado parcialmente as Chollet, D., Pelayo, P., Delaplace. C., Tourny. C.
hipóteses, eles permitiram visualizar o nado crawl (1997). Sidney M. Stroking characteristic
sob um ponto de vista sistêmico, concebendo-se variations in the 100-m freestyle for males of
suas partes em interação, mostrando que, quando o differing skill. Perceptual Motor Skills, 85, 167-
nado crawl foi executado em velocidade lenta, a 177.
variabilidade das partes foi significantemente Corrêa UC, Tani G. (2006). Esportes coletivos:
superior à variabilidade de suas interações (todo). alguns desafios quando abordados sob uma
Isso significa que o modo de interação dos visão sistêmica. In: D. de Rose Júnior (Org),
componentes variou significantemente menos do Modalidades esportivas coletivas. Rio de
que os componentes propriamente ditos. Em outras Janeiro: Guanabara Koogan.
palavras, conjuntamente o comportamento da Craig, A.B. (1986). Breathing holding during the
braçada, pernada e respiração variou menos do que turn in competitive swimming. Medicine
em separado. Os resultados do presente estudo Science Sports Exercise, 18, 402-07.
contribuem para uma melhor descrição e, por Fagard, J., Wolff, P.H. (1991). The development of
conseguinte, entendimento do fenômeno timing control and temporal organization in
investigado (nado crawl). Com isso, eles podem, coordinated action: invariant relative timing,
também, ter sérias implicações para o rhythms and coordination. Amsterdam: North-
ensino/treinamento do nado crawl. Uma pergunta Holland.
que se faz, por exemplo, é: como deveria ser a Freudenheim, A.M. (1995). O nadar: uma
prática de uma habilidade cuja relação entre as habilidade motora revisitada. São Paulo;
partes varia menos do que as partes CEPEUSP.
individualmente? A ênfase no ensino/treinamento Freudenheim, A.M., Basso, L., Xavier Filho, E.,
deveria ser dada em qual aspecto? Mas, Silva, C.G., Madureira, F., Manoel, E.J. (2005).
entendemos que anteriormente a isso, há ainda a Organização temporal da braçada do nado
necessidade de que os resultados sejam replicados crawl: iniciantes “versus” avançados. Revista
para conferir-lhes consistência. Essa necessidade é Brasileira Ciência e Movimento, 13, 75-84.
fortalecida, também, pelo fato de ter sido observado Gren, S.B., Saldind, N.J., Ankey, T.M. (2000).
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