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Coordenação do arremesso de jump no basquetebol de crianças e adultos

Article · January 2006

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4 authors, including:

Victor Okazaki Andre Rodacki


Universidade Estadual de Londrina Universidade Federal do Paraná
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Thiago Augusto Sarraf


Simon Fraser University
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Falls and Older adults: Exercises to improve physical and cognitive aspects View project

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Coordenação do arremesso de jump
no basquetebol de crianças e adultos
Victor Hugo Alves Okazaki, André Luiz Félix Rodacki, Valério Henrique Dezan, Thiago Augusto Sarraf
Centro de Estudos do Comportamento Motor - Departamento de Educação Física - Universidade Federal do Paraná,
Curitiba, PR, Brazil

Abstract: Este estudo objetivou analisar e comparar a coordenação do arremesso de jump no


basquetebol de crianças e adultos experientes. A amostra foi constituída por oito crianças
(idade 10,0 ± 0,5 anos; experiência 2,25 ± 0,79 anos) e oito adultos (idade 23,63 ± 5,73 anos;
experiência 10,75 ± 5,18 anos) analisados cinematicamente (2 D, 100Hz, filmados no plano
sagital) realizando arremessos de lance livre. Um modelo biomecânico (6 pontos definindo 4
segmentos do corpo) forneceu os deslocamentos e velocidades angulares da articulação do
ombro, cotovelo e punho. Os adultos posicionaram a bola mais próxima ao corpo e realizaram
um contra-movimento na articulação do cotovelo e do punho para arremessar a bola. As
crianças utilizaram uma maior extensão de cotovelo e maior velocidade ao redor da
articulação do ombro, entretanto, elas não sincronizam os picos de velocidade com o instante
de lançamento da bola. Aconselha-se que professores, técnicos e atletas de basquetebol
enfatizem o posicionamento da bola próxima ao corpo, o desenvolvimento da velocidade
próxima ao lançamento da bola e a utilização de um contra-movimento na articulação do
cotovelo e punho para reduzir a demanda de força, velocidade e amplitude de movimento nas
articulações no lançamento.

Keywords: Arremesso de jump. Basquetebol. Coordenação.

INTRODUÇÃO têm sido atribuídas a aspectos coordenativos (ex.


amplitude de movimento, velocidade angular, padrão de
O arremesso tem sido considerado o fundamento
ativação eletromiográfico e torques articulares) e a
mais importante do basquetebol (OUDEJANS,
diferenças físicas (ex. massa muscular, força e
LANGENBERG, HUTTER, 2002; ELLIOTT, 1992; HAY,
velocidade) entre adultos e crianças (WILLIAMS,
1981). Dentre as técnicas de arremesso, o jump é a
KATENE, FLEMING, 2002; NEWELL &
mais utilizada (ROJAS et al., 2000; COLEMAN & RAY,
VAILLANCOURT, 2001; FLEISIG et al., 1999;
1976) e eficiente (ELLIOT, 1992), independente da
WILLIAMS, HAYWOOD, VANSANT, 1998). Desta
posição dos jogadores (OKAZAKI et al., 2004). O jump
forma, diferenças nos padrões coordenativos do
também é considerado como um movimento complexo
arremesso de jump entre crianças e adultos são
quanto ao processo ensino-aprendizagem, pois pode
esperadas.
ser alterado por diversos fatores (OKAZAKI &
RODACKI, 2005 in press). Por exemplo, o jump é Este estudo objetivou verificar e comparar a
influenciado pela distância do arremesso (MILLER & coordenação do arremesso de Lance Livre jump no
BARTLETT, 1996, 1993; WALTERS et al., 1990), pelo basquetebol de crianças e adultos experientes. O
peso e tamanho da bola (SATERN, 1993), pelo nível de entendimento das diferenças entre de crianças e
experiência (BUTTON et al., 2003; SATERN, 1988; adultos a performance pode auxiliar numa melhor
RIPPOLL et al., 1986) e pelas características físicas organização processo ensino-aprendizagem do
dos jogadores (HUDSON, 1985-b; SATERN, 1993; basquetebol.
ELLIOTT & WHITE, 1989). Apesar da influência destes
fatores, não foram encontrados estudos que
METODOLOGIA
compararem a performance de crianças e adultos Amostra
experientes.
A amostra foi constituída por 8 crianças (10,0 ± 0,5
Diferenças entre adultos e crianças são reportadas anos ; 39,88 ± 4,48 kg; 1,45 ± 0,09 m) e 8 adultos
na coordenação de habilidades motoras esportivas (23,63 ± 5,73 anos; 88,63 ± 14,9 kg; 1,92 ± 0,10 m) do
como o arremesso de beisebol (FLEISIG et al., 1999; sexo masculino destros praticantes de basquetebol. As
WILLIAMS, HAYWOOD, VANSANT, 1998), o chute crianças apresentaram 2,25 ± 0,79 anos de prática
(JENSEN, THELEN, ULRICH, 1989), a rebatida no regular de basquetebol e os adultos 10,75 ± 5,18 anos.
tênis (WILLIAMS, KATENE, FLEMING, 2002) e o salto Todos os participantes participavam de competições e
vertical (CLARK & PHILLIPS, 1989). Tais diferenças treinamentos (pelo menos 2 sessões / semana) no
Arremesso de jump no basquetebol de crianças e adultos

período da realização deste estudo. Nenhum 9500E, 100Hz, Shutter-Speed 1/250) foi posicionada
participante reportou qualquer tipo de lesão ou perpendicularmente ao plano sagital direito dos
incapacidade que pudesse interferir na execução dos sujeitos, a uma distância de 4m e com o centro focal
arremessos. Antes do início da avaliação, todos os direcionado sobre a articulação do ombro para o
participantes foram informados dos procedimentos de registro do movimento.
avaliação necessários para o estudo. Os responsáveis Para a determinação dos movimentos, uma série de
pelas crianças e os adultos participantes do estudo marcas (diâmetro = 30mm) foi colocada à pele sobre os
assinaram um termo de consentimento livre e seguintes pontos anatômicos: (1) quadril – crista ilíaca;
esclarecido de participação. (2) ombro - centro articular ombro (2-5 cm abaixo do
acrômio); (3) cotovelo - epicôndilo lateral do úmero; (4)
Procedimentos Experimentais
punho - processo estilóide da ulna; e (5) eixo articular
Antes dos procedimentos experimentais foi realizado da quinta falange - quinto metacarpo-falangianos. Este
um aquecimento de 10 minutos, composto por vários conjunto de pontos anatômicos foi utilizado para definir
exercícios generalizados. Após o aquecimento os os segmentos do tronco (1-2), braço (2-3), antebraço
participantes tiveram a oportunidade de praticar (3-4) e mão (4-5). A junção formada por dois
arremessos à cesta (10 arremessos na distância do segmentos adjacentes forneceu os ângulos articulares
lance livre). As crianças realizaram os arremessos com do ombro (tronco-braço), cotovelo (braço-antebraço) e
uma bola modelo 4,6 (marca penalty, 550-570 g, 74-76 punho (antebraço-mão). Apenas um avaliador realizou
cm de circunferência) a uma distância de 4,0 m da a demarcação e digitalização dos pontos anatômicos.
cesta, sendo esta colocada a 2,6 m do solo. Os adultos
Como o arremesso de jump é predominantemente
desempenharam os arremessos com uma bola modelo
desempenhado em um único plano (no plano sagital)
6.1 (marca penalty, 600-650 g, 76-78 cm de
(KNUDSON, 1993; SATERN, 1988), uma análise em 2
circunferência) a uma distância de 4,6 m da cesta,
dimensões tem sido considerada adequada (BUTTON
sendo esta colocada a 3,05 m do solo. A distância e
et al., 2003; OKAZAKI, 2004). Apenas o membro de
altura da cesta, assim como os modelos de bola
propulsão (referente ao lado direito) foi analisado
utilizados, foram escolhidos por estarem de acordo com
(OKAZAKI e RODACKI, 2005 in press; OKAZAKI,
as regras utilizadas nas competições oficiais de
2004), pois o membro de apoio (referente ao lado
basquetebol (categoria adulto) e mini-basquete
esquerdo) não influencia o ângulo ou a velocidade de
(categoria pré-mirim).
projeção da bola (SATERN, 1988; HUDSON, 1985-a).
A coordenação dos movimentos de arremesso em O modelo biomecânico encontra-se expresso na figura
função das características da bola foi analisada a partir 1.
dos movimentos relativos das articulações do ombro,
cotovelo e punho. Uma filmadora (modelo JVC GR-DVL

Figura 1. Modelo Biomecânico

As imagens foram armazenadas em vídeo e função do tempo ciclo do arremesso, ou seja, os


posteriormente transferidas para um computador. Os movimentos foram expressos em valores percentuais
pontos anatômicos foram digitalizados através de um (OKAZAKI, 2004). Este procedimento é realizado por
software específico de análise de movimento (Dgeeme, meio de uma função spline, acredita-se que este
versão 0.98b) e um conjunto de coordenadas foi obtido. procedimento não altera as características dos dados
As coordenadas foram filtradas com um filtro recursivo visto que apenas os aspectos temporais absolutos
do tipo Butterworth de 2ª ordem com uma freqüência de foram modificados (RODACKI & FOWLER, 2001)
10Hz (ELLIOTT, 1992). Para reduzir a variabilidade O início do movimento foi determinado pelo instante
intra e inter sujeitos, os dados foram normalizados em em que o sujeito inicia a elevação da bola (início). O
16 Brazilian Journal of Biomechanics, Year 7, n.12, May 2006
V.H.A.Okazaki, A.L.F.Rodacki, V.H.Dezan & T.A.Sarraf

final do movimento foi determinado no instante em que diferenças podem ser visualizadas na figura 2 e
a mão do sujeito perdeu contato com a bola. A média encontram-se expressas na tabela 1. As relações
agrupada de três arremessos foi selecionada de forma angulares do movimento podem ser observadas na
randômica a partir de um conjunto de dez arremessos figura 3.
convertidos em cesta (arremessos em que a bola Apesar dos valores iniciais e finais de deslocamento
passou através do aro sem antes tocar na tabela). angular do ombro serem próximos entre crianças e
Um teste de reprodutibilidade da análise cinemática adultos (p>0,05), foram encontradas diferenças
que envolveu três repetições do processo de significativas nos instantes próximos ao início da
digitalização e tratamento dos dados demonstrou um extensão do cotovelo (entre 59%-83% do movimento),
erro na variação angular de 2,2º na articulação do onde as crianças demonstraram menor flexão de ombro
ombro e cotovelo, e 1,5º na articulação do punho. (p<0,05). A velocidade angular do ombro atingiu seu
valor máximo próximo ao final arremesso no grupo das
Variáveis de Estudo crianças (89% do movimento) e próximo ao início do
arremesso no grupo dos adultos (45% do movimento).
A coordenação do arremesso foi analisada através
Diferenças significativas foram encontradas nos
do comportamento do deslocamento e velocidade
instantes próximos aos picos de velocidade do ombro
angular das articulações em função do tempo de
entre adultos e crianças (entre 37%-57% e 78%-91%
movimento. Uma análise de dados longitudinais foi
do movimento, p<0,05).
utilizada para demonstrar o momento do ciclo do
arremesso onde foram encontradas as diferenças nas As crianças demonstraram maior flexão de cotovelo
variáveis de deslocamento e velocidade angular entre no início do arremesso (p<0,05 entre 0%-10% do
as crianças e os adultos. O grau de relação entre duas movimento) e maior extensão de cotovelo nos instantes
articulações adjacentes (ombro-cotovelo e punho- próximos ao lançamento da bola (p<0,05 entre 67%-
cotovelo) de adultos e crianças, quanto ao 100%). Nos adultos, a extensão do cotovelo foi
deslocamento angular nos instantes finais do precedida por um movimento de flexão, enquanto que
arremesso (80%-100% do movimento), também foi as crianças não realizaram nenhum tipo de contra-
comparado. movimento (flexão-extensão). Os movimentos de flexão
do cotovelo observados no grupo dos adultos foram
refletidos na velocidade de deslocamento angular do
Análise Estatística cotovelo, onde os adultos apresentaram maior
Os dados foram analisados a partir de estatística velocidade (p<0,05) quando comparados às crianças
descritiva de médias e desvios-padrão. Os testes de durante a fase inicial do movimento (entre 14%-38% do
Kolgomorov-Smirnov e Bartlett confirmaram a movimento). Não foram encontradas diferenças entre
normalidade e a homocedasticidade dos dados, as velocidades angulares do cotovelo nos instantes
respectivamente. Para comparar o comportamento do finais do arremesso, onde o pico de velocidade angular
deslocamento e velocidade angular entre adultos e das crianças acontece antes do lançamento da bola
crianças, foi utilizada uma análise de dados (entre 95 e 90% do movimento). Em contraste, o pico
longitudinais. Esta foi realizada através da construção da velocidade da articulação do cotovelo ocorre
de intervalos de confiança para 95%, durante todo o próximo ao instante do lançamento da bola nos adultos
ciclo do movimento. Este procedimento é semelhante (entre 95 e 100% do movimento).
ao utilizado por Teixeira et al. (2003). Um teste de
As crianças iniciam o arremesso com a articulação
correlação de Pearson foi utilizado para demonstrar o
do punho mais flexionada que os adultos (entre 3%-5%
grau de relação entre duas articulações adjacentes
do movimento; p<0,05). Todos os sujeitos (adultos e
(ombro-cotovelo e punho-cotovelo) nos valores de
crianças) realizam um movimento de hiper-extensão de
deslocamento angular nos instantes finais do
punho antes do movimento de flexão para o
arremesso (80%-100% do movimento). Um teste de
lançamento da bola. A velocidade angular do punho
diferenças entre médias de t de student para amostras
das crianças foi maior do que aquela apresentada pelos
independentes foi utilizado para comparar os
adultos durante os instantes iniciais do arremesso
coeficientes da correlação de Pearson dos adultos e
(26%-32% do arremesso; p<0,05). As crianças
das crianças. O nível de significância adotado foi de
atingiram o pico de velocidade de flexão na articulação
p<0,05. As análises estatísticas foram realizadas
® do punho bem definido, que ocorre antes do instante do
através do software Statistica (Statsoft Inc., versão
lançamento. Nos adultos, não foi possível identificar um
5.5).
pico de velocidade da articulação do punho, que pode
ter ocorrido após a liberação da bola.
RESULTADOS O teste de correlação demonstrou uma correlação
Os resultados da análise de dados longitudinais positiva entre as articulações do ombro e do cotovelo (r
demonstraram diferenças nos tempos relativos do = 0,42 e r = 0,97 para adultos e crianças,
deslocamento e da velocidade angular das três respectivamente; p<0,05). As articulações do cotovelo e
articulações analisadas em diferentes momentos do punho demonstraram uma correlação negativa para os
arremesso entre adultos e crianças (p<0,05). Tais adultos (r = -0,95; p<0,05) e para as crianças (r = -0,78;
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Arremesso de jump no basquetebol de crianças e adultos

p<0,05). Os coeficientes que demonstram as relações capazes de gerar força suficiente para impulsionar a
intersegmentares (ombro-cotovelo e cotovelo-punho) bola em direção à cesta.
entre adultos e crianças não apresentaram diferenças As crianças utilizaram uma pequena amplitude de
significativas (p>0,05), e revelaram que ambos os movimento antes do início da extensão de cotovelo (até
grupos apresentam uma coordenação similar entre os aproximadamente 70% do movimento). Tal ação pode
segmentos analisados. ser interpretada como uma forma de reduzir os graus
A análise da dispersão dos dados obtidos a partir da liberdade (ZATSIORSKY, 2004; ANDERSON &
análise longitudinal aplicada no presente estudo, SIDAWAY, 1994) a fim de simplificar o controle e a
revelou maior variabilidade de movimento nas crianças, execução do movimento (NEWELL & VAILLANCOURT,
quando comparadas aos adultos durante a performance 2001; VEREIJKEN et al., 1992). Em contra-partida, os
do arremesso. Esta variabilidade foi mais acentuada na adultos realizam uma maior amplitude de movimento,
velocidade angular, sendo mais evidenciada nos onde ocorre uma maior flexão de cotovelo antes do
momentos mais próximos do término no movimento início da extensão. Esta maior flexão na articulação do
(liberação da bola). cotovelo tem sido verificada na performance de
jogadores habilidosos (SATERN, 1988) e pode estar
Velocidade relacionada a (a) necessidade de posicionar a bola
Articulação Deslocamento Angular mais próxima ao corpo e (b) a execução de um contra-
Angular movimento. O posicionamento da bola mais próximo ao
37%-57% e 78%- corpo permite uma maior estabilidade ao movimento
Ombro 59%-83% por reduzir o deslocamento horizontal do centro de
91%
Cotovelo 0%-10% e 67%-100% 14%-38% massa corporal e a força necessária para o lançamento
Punho 3%-5% 26%-32% da bola (KNUDSON, 1993; SATERN, 1988; HUDSON,
1985-b). A execução um movimento na direção oposta
Tabela 1. Tempo Relativo onde Foram Encontradas antes de estender o cotovelo (contra-movimento) pode
Diferenças Significativas no Deslocamento e na ter sido efetuada para potencializar a força muscular
Velocidade Angular entre Crianças e adultos. gerada ao redor da articulação do cotovelo. Esta
estratégia permite a musculatura extensora do cotovelo
DISCUSSÃO utilizar o ciclo excêntrico-concêntrico através de um
pré-estiramento da musculatura para um maior proveito
A maior flexão do ombro dos adultos durante o
da energia potencial elástica (TRIMBLE, KUKULKA,
lançamento da bola (entre 26%-96% do movimento)
THOMAS, 2000; UGRINOWITSCH & BARBANTI, 1998;
pode ser interpretada como uma estratégia realizada
KYÖLÄINEN & KOMI, 1995). A utilização da energia
para maximizar a performance do arremesso. Alguns
potencial elástica tem sido reportada como uma
estudos sugerem que uma maior flexão de ombro
característica relacionada à performance habilidosa
permite aos sujeitos aumentar a altura de lançamento
(BUTTON et al., 2003; HUDSON, 1986).
da bola (ELLIOTT, 1992; MILLER e BARTLETT, 1996)
e assim reduzir a distância a ser percorrida pela bola Alguns autores têm considerado a extensão de
entre o ponto de arremesso e a cesta. Essa estratégia cotovelo como o movimento mais importante no
também permite que o arremesso seja realizado com arremesso, pois esta articulação tem sido considerada
maior precisão, uma vez que a velocidade de a maior responsável por maximizar a velocidade no
deslocamento da bola (e de movimento dos segmentos) instante do lançamento da bola (MILLER & BARTLETT,
também é reduzida (MILLER & BARTLETT, 1993; 1993; BUTTON et al., 2003). No presente estudo, a
KNUDSON, 1993). Tais características têm sido maior extensão de cotovelo observada nas crianças
reportadas em arremessadores habilidosos quando comparada aos adultos, pode ter sido
(KNUDSON, 1993) e confirma a experiência dos executada como uma forma de permitir uma maior
adultos analisados no presente estudo. As crianças geração de impulso na fase de propulsão da bola
parecem ter realizado o arremesso através de uma (HUDSON, 1985-a). Em contra partida, os adultos não
estratégia diferente daquela empregada pelos adultos, necessitam de uma grande extensão de cotovelo para
na qual os segmentos corporais permaneceram mais aumentar a velocidade da bola no instante do
estendidos durante a fase de lançamento. A maior lançamento por aproveitarem melhor a energia elástica
extensão das articulações durante os arremessos das armazenada na musculatura durante o contra-
crianças pode ter sido empregada para permitir um movimento executado antes do início da extensão da
maior impulso durante a fase final de movimento. articulação do cotovelo (HUDSON, 1986).
Provavelmente, ao adotar uma estratégia similar àquela
empregada pelos adultos, as crianças não seriam

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Figura 2. Deslocamento e velocidade angular das articulações do ombro, cotovelo e punho de crianças e adultos
durante o arremesso tipo jump (Média e IC95%).

As discrepâncias que ocorreram no instante dos picos condições de prática das crianças não suporta que
da velocidade de extensão do cotovelo e de flexão do apenas as diferenças na capacidade de gerar força sejam
ombro e punho revelam a existência de diferenças entre o único fator que possa explicar tais discrepâncias. A
adultos e crianças. Fatores associados ao maior capacidade que os adultos podem ter para (re-
desenvolvimento de força não podem ser descartados, )utilizar parte da energia elástica acumulada durante a
porém a utilização da bola e cesta adaptadas às fase excêntrica do movimento também deve ser levado
Arremesso de jump no basquetebol de crianças e adultos

em consideração. Hudson (1986) distingue sujeitos não podem ser excluídos. Ainda que diferenças entre
habilidosos de não habilidosos pela capacidade em fatores neuro-musculares possam auxiliar a compreensão
utilizar a energia elástica do ciclo excêntrico-concêntrico das diferenças na performance de adultos e crianças,
e reforça o conceito de que a força muscular não constitui outros fatores também precisam ser considerados (ex.
o único fator para explicar a performance esportiva coordenação).
(MORRISS et al., 2001). Assim, fatores neuro-musculares

Nota: As setas indicam o sentido de execução do movimento.


Figura 3. Deslocamento angular das articulações de crianças e adultos (ângulo-ângulo).

As diferenças marcantes nos tempos relativos do arremesso (BUTTON et al., 2003; DARLING & COOKE,
movimento (coordenação) evidenciam a existência de 1987-a).
padrões coordenativos distintos entre adultos e crianças, A análise dos padrões intersegmentares pode auxiliar
onde o pico da velocidade angular das articulações das a compreender diferenças entre adultos e crianças (ver
crianças ocorreu de forma antecipada em comparação figura 02). As crianças organizam as relações ombro-
aos adultos. Os achados de Hudson (1986), são similares cotovelo e cotovelo-punho em fase durante a maior parte
aos encontrados no presente estudo e apontam a da fase de propulsão da bola, ou seja, há uma
existência de um pico prematuro das velocidades proporcionalidade entre o deslocamento angular destas
angulares acompanhado de uma queda abrupta das articulações. Por outro lado, a relação ombro-cotovelo
velocidades angulares antes do instante do final do analisada nos adultos demonstra um movimento com
movimento (perda de contato com o solo) em saltos predomínio ao redor da articulação do cotovelo. A ênfase
verticais máximos de sujeitos não habilidosos em relação dada ao movimento na articulação do cotovelo pode ser
a sujeitos habilidosos (vide HUDSON, 1986, Figura 3, p. comprovada pela baixa correlação entre o deslocamento
246). Teixeira (1999), também reporta que jogadores de articular entre as articulações do cotovelo e ombro dos
tênis experientes antecipam pico da velocidade angular adultos (r = 0,42) em comparação com os valores obtidos
das articulações, de forma que o pico de velocidade da pelas crianças (r = 0,97). A menor utilização da
raquete acontece antes do instante de contato com a articulação do ombro dos adultos pode ser explicada pela
bola. Por conseguinte, a velocidade inicial resultante da menor necessidade de geração de velocidade nesta
bola é abaixo daquela que poderia ser produzida. No articulação, que pode ter sido compensada pela energia
presente estudo, a ocorrência prematura do pico de gerada através do ciclo excêntrico-concêntrico realizado
velocidade das crianças pode ser interpretada como uma ao redor da articulação do cotovelo. Quando a relação
tentativa de reduzir a velocidade angular das articulações entre os movimentos do cotovelo e punho é analisada,
nos instantes finais do arremesso a fim de favorecer a observa-se que os adultos apresentam movimentos mais
precisão do movimento. A redução na velocidade de em fase (r = -0,95) do que as crianças (r = -0,78).
execução dos movimentos tem sido descrita como um Quando analisada a dispersão dos dados, em função
importante fator de redução da variabilidade de dos intervalos de confiança construídos (através da
movimento (TANI, 2000; DARLING & COOKE, 1987-b) e média, desvio padrão e do número da amostra, ver figura
tem um importante impacto sobre a precisão do 01), uma maior variabilidade de movimento é verificada
no grupo das crianças para as variáveis de deslocamento
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20
V.H.A.Okazaki, A.L.F.Rodacki, V.H.Dezan & T.A.Sarraf

e velocidade angular. Isto sugere uma maior dificuldade DARLING, W.G. & COOKE, J.D. Changes in the
das crianças em organizar os parâmetros de controle do Variability of Movement Trajectories With Practice.
movimento para a performance do arremesso de jump. A vol. 19, nº 03, p. 291-309, 1987-a.
menor variabilidade do movimento pode ser relacionada à DARLING, W.G. & COOKE, J.D. Movement Related
maior experiência por parte dos adultos, que EMGs Become More Variable During Learning of
apresentaram uma maior consistência de na execução do Fast Accurate Movements. vol. 19, nº 03, p. 311-331,
movimento. Achados semelhantes são reportados por 1987-b.
Button et al. (2003) que verificaram uma diminuição na
variabilidade de movimento em função do aumento da ELLIOTT, B.C. A Kinematic Comparison of the Male and
experiência dos jogadores de basquetebol no arremesso Female Two-Point and Three-Point Jump Shots in
de lance livre. Desta forma, a performance habilidosa do Basketball. The Australian Journal of Science and
arremesso no basquetebol pode ser associada a uma Medicine. vol. 24, no 04, p. 111-118, 1992.
menor variabilidade de movimento para a manutenção da ELLIOTT, B.C.; WHITE, E. A Kinematic and Kinetic
consistência e precisão do arremesso. Analysis of the Female Two Point and Three Point
CONCLUSÃO Jump Shots in Basketball. The Australiam Journal of
Science and Medicine in Sport. vol. 21, no 02, p. 7-11,
Este estudo analisou a coordenação do arremesso de 1989.
jump de crianças e adultos com experiência na prática FLEISIG, G.S.; BARRENTINE, S.W.; ZHENG, N.;
sistemática do basquetebol. Distintos padrões ESCAMILLA, R.F.; ANDREWS, J.R. Kinematic and
coordenativos foram encontrados na execução do Kinetic Comparison of Baseball Pitching Among
arremesso de jump comparando-se os movimentos de Various Levels of Development. Journal of
crianças e adultos. Biomechanics. vol. 32, p. 1371-1375, 1999.
Aconselha-se que professores, técnicos e atletas de HAY, J.G. Biomecânica das Técnicas Desportivas.
basquetebol enfatizem a prática do arremesso de jump Editora Interamericana, 1981.
com a bola posicionada mais próxima ao corpo para
reduzir a demanda de força e velocidade durante o HUDSON, J.L.. Prediction of Basketball Skill Using
movimento de arremesso. Deve-se recomendar a Biomechanical Variables. Research Quarterly For
realização de movimento que incluam contra-movimentos Exercise and Sport. vol. 56, no 02, p. 115-121, 1985-
nas articulações do cotovelo e punho que podem reduzir a.
a demanda de geração de força muscular. Uma melhor HUDSON, J.L. Shooting Techniques for Small Players.
sincronização entre os picos de velocidade com o Athletic Journal. november, p. 22-24, 1985-b.
instante de lançamento da bola e a uma organização em
fase das articulações cotovelo-punho também são HUDSON, J.L. Co-Ordination of Segments in Vertical
sugeridas. Alterações na sincronização dos picos de Jump. Medicine in Science in Sport and Exercise. vol.
velocidade e na organização da execução do movimento 18, p. 242-251, 1986.
podem ser alcançadas pelas repetições que são JENSEN, J.L.; THELEN, E.; ULRICH, B.D. Constraints on
induzidas ao longo do processo de treinamento. Multi-Joint Movements: From the Spontaneity of
Sugere-se a realização de futuros estudos Infancy to the Skill of Adults. Human Movement
longitudinais que determinem o tempo necessário para Science. vol. 08, p. 393-402, 1989.
que a coordenação do movimento seja implementada. KNUDSON, D. Biomechanics of the Basketball Jump Shot
– Six Key Points. Journal of Physical Education,
REFERENCES Recreation, and Dance. vol. 64, p. 67-73, 1993.
ANDERSON, D.I. & SIDAWAY, B. Coordination Changes KYRÖLÄINEN, H. & KOMI, P. The Function of
Associated With Practice of a Soccer Kick. Research Neuromuscular System in Maximal Stretch-
Quarterly for Exercise and Sport. vol. 65, no 02, p. 93- Shortening Cycle Exercises: Comparison Between
99, 1994. Power- and Endurance-Trained Athletes. Journal of
Electromyography and Kinesiology. vol. 05, nº 01, p.
BUTTON, C.; MACLEOD, M.; SANDERS, R.; COLEMAN,
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