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ME

C. C. STE ELE
Savannah
Quando se vive com um monstro, o medo te faz aceitar o inaceitável.
Aprendi a chorar sem emitir um som, a gritar sem abrir a boca. Fiz o
que foi necessário para sobreviver.
Mas, já não valia a pena me salvar. Só a minha filha!
Agora, estamos em fuga e não confio em ninguém, principalmente no
estranho bonito, com os olhos cheios de segredos. Sinto que há algo
muito errado com ele, mas depois que roubou meus beijos... Parece
tão certo!

Grayson
Contrataram-me para apagar o fogo nos olhos dela.
Seu ex-marido me avisou para não confiar nela.
Savannah não era uma donzela em apuros... Mas uma causadora de
problema e sua filha estava em perigo.
Sabia de tudo isto e mesmo assim a desejava! Precisava dela!
Era uma loucura permitir que uma mulher como ela penetrasse nas
paredes que passei minha vida toda construindo.
Precisava me concentrar no trabalho.
Mas, antes de apertar o gatilho, tinha que saber… Se ela realmente
merecia morrer!
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Capítulo 1

Savannah Peale agachou, ficando na altura da filha, e abriu o


zíper do casaco fino que a menina usava. Olhou para o corredor da
escola primária. As crianças entravam e saíam das salas de aula,
tirando as galochas, suéteres e casacos, pendurando-os de
qualquer jeito nos ganchos alinhados na parede. Ninguém prestava
atenção nelas.

— Dará tudo certo! — exclamou Savannah, arrumando a


blusa de Olivia.

— Sei que dá medo entrar em uma nova escola, mas fará


amigos rapidamente. Você sempre faz isso!

— E se ninguém gostar de mim?

— Isso não vai acontecer! Só seja você mesma! — Odiava


precisar lembrar sua filha, mas não tinha outra opção. Savannah
abaixou a voz, e sussurrou.

— Não se esqueça de usar seu novo nome enquanto estiver


aqui, certo?

Olivia assentiu.

— Katy. Eu sei.
— Isso mesmo. Você conseguirá! — Savannah beijou o nariz
dela e a ajudou a tirar o casaco.

— Quando poderei dizer meu nome verdadeiro para as


pessoas?

— Não sei! Não é permanente, só por enquanto. Prometo!

— Mas eu não gosto de esconder o meu nome!

Savannah apertou os lábios em uma linha fina.

Explicou todos os detalhes para Olivia, mais de uma vez. E


explicar para ela, de novo, na escola, não era algo que gostaria de
fazer. Muitas pessoas poderiam ouvir. Inclinou-se mantendo a voz
bem baixa, de modo que seus lábios estavam apenas a centímetros
dos de Olivia.

— Já te disse, querida! Temos nomes imaginários, para que


as pessoas não saibam quem somos realmente. Se nos
encontrarem, tentarão te levar para longe de mim e não deixarei
que isso aconteça.

— Ok, não vou deixar que me levem! — exclamou Olivia, com


tanta determinação que Savannah queria acreditar que sua filha
teria alguma chance, se alguém aparecesse e tentasse levá-la.
Porém, uma menina de oito anos, contra um homem adulto,
certamente não teria chance.

— Sei que não! — exclamou Savannah.

— Mas não podemos deixar que chegue a isso, certo?

Olivia assentiu.
— Legal! É como brincar de faz de conta o tempo todo. Eu
gosto dessa brincadeira!

— Sei que gosta! — Savannah ficou de pé e olhou para o seu


relógio. Chegaria atrasada se não se apressasse.

— É por isso que sei que fará um ótimo trabalho.

Segurou a mão de Olivia e a conduziu até a porta. Com a mão


no ombro dela, disse em voz alta.

— Tudo bem, Katy, esta é a sua nova sala de aula!

Elas foram para frente da sala e Savannah atraiu a atenção


da professora.

— Oh, bom dia! — exclamou a mulher com um sorriso


cativante.

— Essa deve ser Katy, a nossa nova aluna!

— Sim, é! — Savannah devolveu o sorriso e deu um rápido


abraço em Olivia. Agachou mais uma vez.

— Tenho que ir. Sabe onde estarei, e voltarei depois da aula


para te levar para casa, ok? Não saia da escola sem mim!

— Não vou! — Olivia caminhou lentamente para o canto da


sala onde estava a estante de livros. Algumas crianças estavam
sentadas em uma pequena parte do tapete, lendo. Outras estavam
em suas carteiras ou na lousa, se distraindo antes do início das
aulas.

— É a nova enfermeira, certo? — perguntou a professora.


— Sim! — exclamou Savannah.

— E chegarei atrasada no meu primeiro dia de trabalho. A


buscarei no final do dia.

— Ok, boa sorte, nos veremos depois!

Com uma última troca de sorrisos, Savannah saiu com pressa


da sala de aula. Caminhou pelo corredor, depois virou à direita,
encontrando o sala da enfermeira.

No consultório, encontrou as coisas que esperava. Um


armário com medicamentos para os alunos de um lado, uma maca
coberta com papel no outro. Uma mesa estava encostada na parede
oposta, junto aos arquivos. Depois de ser contratada, Savannah
sabia o que faria, graças à antiga enfermeira. Onde encontrar as
coisas, as normas da escola, e tudo mais. Ficaria sozinha, mas
depois de anos trabalhando como enfermeira escolar, tinha muita
experiência. Estava mais preocupada com Olivia e a forma como
agiria como "Katy" na nova escola.

A manhã começou lenta e deu a Savannah a oportunidade de


verificar as normas outra vez e de checar alguns documentos.
Durante todo o dia houve um fluxo constante de crianças, que
entraram para tomar remédios. Tentou memorizar nomes e rostos,
já que elas poderiam se tornar pacientes habituais. Várias crianças
apareceram com dor de estômago e uma com febre, que precisou
ir para casa, porque estava gripada e com dor de garganta. À tarde,
enquanto aguardava o responsável pelo aluno febril, outro aluno
entrou. Um menino com camiseta e jeans sujos.
— Minha cabeça está doendo! — exclamou, quando Savannah
perguntou o que estava acontecendo.

— E também o meu braço e o ombro.

— Bem, vamos dar uma olhada para ter certeza que seu braço
está bem. — Savannah arregaçou a manga da blusa para verificar
o braço.

— Onde dói?

Ele mostrou o cotovelo, e depois um ponto no ombro. O


cotovelo estava bom, mas o ombro tinha um grande hematoma.

— Como aconteceu a contusão? — perguntou. Ele olhou para


cima e murmurou.

— Caí durante o recreio.

Algo na forma como disse, chamou sua atenção.

— Caiu fazendo o quê? — Sondou.

— Humm, apenas correndo.

Tinha certeza que estava escondendo algo. Precisaria fazer


uma observação sobre isso no formulário dele. Tinha algumas
suspeitas, mas teria que entrar em contato com algumas pessoas
primeiro.

Recordou, por um momento, de quando estava sentada em


um hospital em Los Angeles, enquanto um médico olhava as
contusões de Olivia e com um olhar rude, perguntou.

— Você fez isso a ela?


Savannah ruborizou e colocou a manga da camisa do menino
de volta no lugar.

— Alguns analgésicos ajudarão com a dor. Tenha mais


cuidado lá fora, está bem?

O menino assentiu, tomou os comprimidos, e saiu do


consultório.

Grayson caminhou pelo corredor do hotel cinco estrelas e


parou na frente do quarto 319. Bateu na porta e esperou.

— Grayson Butler? — Disse uma voz lá dentro.

— Sim! — exclamou Grayson. A porta abriu e ele entrou.


Apertou a mão estendida do homem.

— James Davis?

— Sim.

O homem vestia um belo terno. Devia ter dinheiro, para


escolher este hotel e usar esse terno! Certamente poderia cobrar o
preço que quisesse sem problemas.

— Vamos logo com isso, então! — exclamou Grayson. Sentou-


se na cadeira executiva, girando-a para encarar James, sentado na
outra.

— Algumas coisas que precisa saber de antemão. Meu preço


é cinquenta mil dólares e mereço cada centavo, mas não mato
qualquer um. Sou um tipo de assassino consciente. Só mato
pessoas que merecem morrer!

— Bom, não se preocupe! — exclamou James.

— Minha ex-mulher sem dúvida merece a morte!

— Ex-mulher? — Grayson levantou para sair.

— Não mato mulheres! Sinto muito!

— Espere! Posso explicar? — Disse James, com os olhos


suplicantes.

Não custaria nada escutá-lo, afinal de contas, já estava aqui!


Talvez fosse bom saber por que ele achava que sua ex não merecia
viver.

Grayson sentou novamente.

— Estou ouvindo.

— Tenho uma filha de oito anos, Olivia. Minha ex-mulher


abusa dela. Os últimos anos foram horríveis. Não posso dizer
quantas vezes cheguei em casa, depois de trabalhar o dia todo e
encontrei Olivia chorando. Conversava com ela e me dizia coisas
como: "Mamãe ficou irritada e me bateu". Uma vez, disse que a mãe
jogou o telefone nela. Que gritava constantemente. Você não tem
ideia de como ela era. No início, pensei que Olivia fosse desajeitada,
pois sempre dizia que tinha caído, ou batido em alguma coisa. Mas,
quando percebi que Olivia paralisava, sempre que a minha ex
levantava a mão para pentear o cabelo, comecei a pensar que algo
mais estava acontecendo. E estava certo!
Grayson se recostou na cadeira.

— Com que frequência encontrava contusões nela?

— Aparecia uma nova quase todos os dias. Às vezes


arranhões. Olivia culpava o gato do vizinho, mas acredito que era
das unhas da mãe. Isso não era nem a metade, porém. Minha ex é
simplesmente má. Estava sempre reclamando de Olivia, dizendo
que não fazia nada direito ou que não estava bom. Tentei impedir,
mas ela também me ameaçou. Disse que eu não veria minha
menina de novo. Assim, só fiquei ali, vendo-a maltratar minha filha
até que nos divorciamos.

—Então? —Perguntou Grayson.

—Por que não usa o sistema judicial para ter sua filha de
volta?

—Estou fazendo isso, mas é muito demorado. E, agora minha


ex desapareceu com a minha filha. Receio que vai tirar tudo de
Olivia. Que passará dos limites ou que se envolverá com pessoas
erradas. Ela não vale nada e está acostumada a ter uma vida
confortável. Tenho um bom salário, e proporcionava tudo para elas.
Agora ela não tem nada. Já ameaçou vender Olívia nas ruas antes,
quando não a obedecia. E, se ela mudar de ideia agora e resolver
fazer algo tão odioso para conseguir dinheiro? Seu vício em cocaína
não é barato.

— Ela também usa drogas?

— É claro! Quase sempre estava drogada. Quando extraiu os


dentes do siso, ficou viciada em analgésicos. Quando os
comprimidos e o álcool não fizeram mais efeito, foi atrás de coisas
mais pesadas.

Grayson balançou a cabeça.

— Parece um pesadelo!

— Ela é um monstro total! É por isso que preciso da sua


ajuda. Tenho que salvar minha filha, afastá-la da mãe antes que
aconteça algo terrível! Não posso esperar pelos tribunais e algo me
diz que mesmo que eu consiga a guarda, minha ex simplesmente
a sequestrará. A única maneira de realmente acabar com este
abuso é matando Savannah. Então, Olivia estará segura de uma
vez por todas comigo, o pai que a ama e a valoriza! Sinto tanta
saudade dela! — A voz de James tremia.

Ainda não gostava da ideia de matar uma mulher. Mas, esta


mulher não merecia viver. Quando Grayson era criança, apanhava
do pai bêbado todas as noites, e não havia ninguém para salvá-lo.
Ninguém o afastou de seus pais ou o tirou daquele lugar. Esta era
a oportunidade de proteger esta menina. De fazer o que pedia que
fizessem por ele toda noite, quando era uma criança: parar o
abuso. Poderia fazer a diferença na vida de Olivia. E receberia para
que fizesse isso.

— Acredito que posso fazer uma exceção desta vez. —Disse


Grayson.

— Quero a metade adiantado. A encontrarei, farei o serviço,


então você me paga o resto. Entendido?
James não hesitou. Abriu uma maleta que estava no chão
junto à cama. Contou vinte e cinco mil dólares em notas altas e
entregou a maleta para Grayson.

— Quanto tempo acha que vai levar? — perguntou James.

— Você tem alguma ideia de onde ela está?

James negou.

— Pode levar algum tempo então. Passe-me todas as


informações que tem.

James lhe entregou uma pasta. Dentro somente fotos de


Olivia e Savannah.

— Apenas fotos?

— Isso é tudo o que tenho. Se tivesse alguma ideia de onde


estão, teria ido até lá eu mesmo buscar Olivia.

Grayson assentiu.

— Então começarei a trabalhar. O manterei informado do meu


progresso.
Capítulo 2

Savannah pegou a mão de Olivia. Parou em frente à escola e


olhou ao redor, antes de continuar. Estava sempre verificando,
olhando aterrorizada e procurando por James.

— Mamãe, o que está procurando? — perguntou Olivia.

— Oh, só estou olhando ao redor!

Olivia ficou calada por um momento, depois perguntou.

— Está procurando o papai?

— Às vezes.

— O que vai acontecer se ele nos encontrar?

Savannah apertou a mão dela.

— Vou garantir que isso não aconteça.

— Mas e se acontecer? E se eu me confundir e usar o nome


errado? — O medo enchendo sua pequena voz.

— Então, você pode dizer que estava brincando. Ou que tem


uma amiga imaginária chamada Olivia.

— Quero ver meus velhos amigos. Quando vou poder brincar


com Eva de novo?
— Não sei, querida! Tem crianças legais na sua nova escola?
— Odiava ter tirado Olivia do seu antigo colégio. Mas que escolha
tinha? Não podiam permanecer onde estavam.

Olivia encolheu os ombros.

— Acho que sim. Não os conheço.

— Vai conhecê-los! — Savannah parou na esquina, esperou


que o semáforo mudasse e continuou.

— Fará muitos novos amigos.

— Mas não posso dizer onde vivíamos?

— Não! Lembre-se do que eu disse. Viemos da Geórgia, onde


morávamos com sua avó até que ela morreu.

Olivia assentiu.

— A vovó Hill.

— Isso mesmo. E mudamos para cá porque queríamos


começar em uma nova vida, em um lugar que não tivesse
lembranças tristes.

— Posso dizer que tinha um cachorro?

— Oh... Que tipo de cachorro?

— Hmmm! — Bateu levemente no lábio com o dedo.

— Um labrador amarelo. Chamado Goldie.

— Parece bom. E onde ele está agora?

— Ah, talvez tenha fugido!


— Então um labrador amarelo chamado Goldie.

— Ou, talvez, Sadie. Também gosto do nome Sadie.

— Bem, você tem que escolher um. Quando se inventa coisas


assim, não se deve mudá-las muitas vezes, ou pode se confundir
com a mentira.

Olivia balançou as mãos entre elas.

— Mamãe?

— Sim, meu bem?

— Por que não é errado mentir agora? Você disse que era!

— É verdade! Você nunca deve mentir para mim. Devemos


mentir agora, por segurança. Mas, tem razão, é errado. Por
enquanto temos que nos manter seguras.

— Tudo bem!

Olivia pareceu aceitar a situação, mas o estômago de


Savannah deu um nó. Odiava ter que treinar Olivia
constantemente para que memorizasse a história, em vez de dizer
a verdade. Que tipo de mãe incentivava sua filha a mentir e
inventar histórias? Esta não era a maneira certa de ser mãe!

Também ficava preocupada que a sua ansiedade constante


afetasse Olivia de algum modo, pois estava sempre olhando em
volta, e se sobressaltava ao ouvir sons altos. Será que Olivia
cresceria tão paranoica quanto Savannah estava se tornando?

Abriu a porta do apartamento e ficou escutando, como sempre


fazia. Não esperava que se tivesse alguém ali, fizesse barulho para
que ela escutasse, mas isso se tornou um hábito agora. Olivia
correu até a cozinha e abriu a geladeira. Tomando suco direto da
caixa, Savannah olhou fixamente para a porta da geladeira.

Um folheto amarelo brilhante pendurado ali, anunciando uma


feira local. Num primeiro momento, jogou o folheto no lixo. De
forma nenhuma poderiam ir a um evento destes, aberto ao público
e ao ar livre. Mas talvez Olivia precisasse de um pouco de
normalidade. Algo que costumavam fazer, antes de fugirem.

— Katy! — exclamou Savannah, piscando um olho.

— O que acha de irmos à feira esta noite?

— Sério? — Os olhos de Olivia arregalaram.

— Posso usar meu tutu?

— Claro. Mas você tem que fazer a sua tarefa antes.

Depois do jantar, quando a tarefa estava feita, se arrumaram


para sair. Olivia vestiu seu tutu preferido e uma saia de tule nas
cores do arco-íris, sobre uma legging preta.

— Que sapatos vai usar com essa roupa?

— Galochas!

Olivia correu para o seu quarto e Savannah entrou no dela.


Na mesa de cabeceira, guardava uma pistola carregada. Colocou-a
na bolsa, em seguida agitou o spray de pimenta. Não era demais
ser bastante cuidadosa. Teve aulas de tiro e autodefesa e tinha
spray de pimenta escondido no carro, na bolsa, quarto e cozinha.
Se seu ex aparecesse, precisava estar preparada. Mas mesmo isso
poderia não ser o suficiente. Talvez não fosse capaz de se defender
e proteger Olivia, mas faria o possível!

Colocou o spray de pimenta de volta na bolsa e viu uma foto


amassada. Lembrou-se que era uma foto antiga dela com Olivia e
James, que pareciam uma família feliz! Mas Savannah recordou da
briga que aconteceu pouco antes da foto ser amassada. Sua vida
era uma mentira, pois fingia ser feliz, perfeita, uma boa esposa, e
que tinham uma pequena família perfeita! Mas não era nada disso!

Era infeliz com James desde o início. Ele era horrível com as
duas. Aguentou muito, antes de finalmente fugir. Talvez ele amasse
Olivia, embora não demonstrasse, mas provavelmente nunca amou
Savannah. Ou, talvez, não fosse capaz de amar. E por isso, elas
tiveram que fugir. Uma coisa era ela não se sentir amada, mas não
deixaria que Olivia crescesse assim. Garantiria que James nunca
voltasse a ver Olivia. Mesmo que custasse a sua vida.

Grayson se sentou mais à vontade no carro. Quem sabe


quanto tempo ficaria esperando? Do outro lado da rua um edifício
residencial. Não tinha certeza se estava certo, mas era um começo.
Pegou uma das fotos no assento do carona e a estudou novamente.
Queria memorizar os rostos para reconhecê-las, e não ter dúvida,
quando as visse.

Depois da reunião com James, Grayson foi para casa e


escaneou as fotos. Em seguida, utilizou o Google para procurar
pelas imagens. Era espantoso o que um software fazia hoje em dia,
em relação a reconhecimento facial, pois elas coincidiram com um
site de uma escola primária.

Talvez fizesse sentido. Ela gostaria de ficar perto da filha para


observá-la, certo? O nome que constava na foto era Joanna Hill,
mas, ele sabia que usariam nomes falsos. Não se foge com a filha,
para depois estragar tudo usando os nomes verdadeiros. E,
obviamente, Savannah era bastante inteligente para saber disso.

Então pesquisou o restante da escola e, coincidentemente


uma menina, também, com o sobrenome Hill. E esta Katy se
parecia muitíssimo com Olívia, mas estava com o cabelo cortado
em um estilo diferente, e Savannah estava com o cabelo mais claro,
mas estava bastante seguro de que eram elas.

Usando seus novos nomes, ele conseguiu encontrar um


endereço. E, assim, lá estava. Na frente de onde moravam Joanna
e Katy Hill. Mais cedo ou mais tarde, elas sairiam e saberia com
certeza se eram elas.

Enfiou outra batata na boca e olhou calmamente para o


prédio. Pessoas entravam e saíam. Era um complexo grande, com
muitos apartamentos. Fácil de se misturar. Fácil de evitar que seus
vizinhos soubessem muito sobre o outro. E seria fácil para ele
entrar no edifício quando fosse necessário.

Esperou quase duas horas, antes de um golpe de sorte. A


porta do edifício abriu e uma mulher com uma menina saíram. A
menina usava uma saia brilhante e galochas, e a mulher tinha o
mesmo cabelo loiro dourado liso que chegava nas costas que viu
nas fotos. Era até mais comprido do que pensava. Observou-as
andarem alguns metros, mas estava certo de que eram elas!

Grayson saiu do carro para segui-las. Caminhou


paralelamente, alcançando-as devagar, pois assim, não ficaria
evidente que estava atrás delas. Estava se aproximando, quando
um barulho diferente o fez virar. Parecia um tiro, de tão alto. O
pneu de um carro explodiu, e o veículo vinha pela rua rangendo
fora de controle.

Grayson observou o carro avançando pela rua. Então,


percebeu que ia na direção de Olivia.

Sem pensar, Grayson atravessou a rua. Pegou Olivia e tirou-


a do caminho. Segundos depois, o carro se chocou contra um
poste, onde Olivia estava momentos antes. O poste caiu sobre o
carro que finalmente parou, metade na calçada e metade na rua.

— Katy! — Savannah correu e colocou a mão nas costas de


Olivia.

— Você está bem?

Olivia assentiu, com o rosto surpreso e assustado.

Grayson parou um minuto para realmente olhar para


Savannah. Definitivamente era ela. Não havia dúvida. Os mesmos
olhos cinzentos, lábios cheios, corpo curvilíneo como nas fotos.
Porém, de alguma forma, sua beleza não foi reproduzida nas fotos.
Ela o olhou nos olhos e ficou parada. Nesse momento, tudo em
volta permanecia estático, até mesmo o tempo. Não existia nada
além dos olhos dela. Sua beleza fazia com que seu coração
apertasse e o cérebro congelasse.

Savannah desviou o olhar e tirou Olivia dos seus braços.


Segurou-a contra o peito e saiu correndo. As observou por um
segundo, antes de perceber que se afastavam dele.
Capítulo 3

Grayson ficou ali as observando. Mesmo de costas, Savannah


parecia um anjo. Estava completamente enfeitiçado.

Savannah parou na frente de um sedan preto. Quando ela


virou e abriu a porta para colocar Olivia dentro, ele reagiu. Elas
não podiam sumir agora!

Grayson sacudiu a cabeça, despertando do seu momentâneo


lapso profissional.

Se fosse em direção ao sedan preto e a seguisse, ficaria óbvio


que a perseguia. Em vez disso, ele virou e foi lentamente para o seu
carro. Entrou, ao mesmo tempo em que Savannah saía em
disparada no sedan. Esperou até que estivesse quase fora de vista
e em seguida saiu, as patrulhas policiais voando pela rua, indo
para o local do acidente. Se não saísse naquele momento, ficaria
preso no trânsito e provavelmente teria que prestar depoimento.
Com seu carro ainda a vista, pisou no acelerador para ficar perto
dela sem ser notado.

Fizeram uma curva, depois outra. Grayson tomava cuidado,


mantendo alguns carros entre eles, pois Savannah não poderia
pensar nele como uma ameaça. Tinha que ganhar a confiança de
Olivia, se quisesse ter alguma chance de mantê-la afastada de
Savannah, assim poderia eliminar o seu alvo e devolver a menina
para o pai. Se tudo corresse bem, este seria um dos seus trabalhos
mais rápidos.

Só havia um problema, a atração que sentia por Savannah,


que poderia interferir no seu trabalho. Nunca vira uma mulher tão
linda! Devido às fotos de James, sabia que ela era bonita. Mas,
pessoalmente, era outra coisa. Quando seus olhos se encontraram,
sentiu que não queria olhar para mais nada além dela.

Sua atração por ela era intensa. A desejava! Dirigia com a


mente cheia de pensamentos sujos. A imaginou nua e todas as
coisas que gostaria de fazer com ela. Ajustou a calça, para dar
espaço para a ereção e seguiu Savannah, por outro caminho.

Tinha que superar essa atração, pois se continuasse a desejá-


la assim, poderia interferir no seu trabalho. E isso era inaceitável.
Tinha um histórico perfeito. Nunca arruinou um trabalho, nem
esteve perto de ser descoberto. Não colocaria em perigo sua
reputação por uma mulher desumana que maltratava a filha,
mesmo que ela fosse encantadora.

Precisava manter- se concentrado agora, para ganhar a


confiança da menina, afastá-la de Savannah e matá-la! Simples
assim!

Observou Savannah fazer a curva para entrar no grande


estacionamento do complexo da feira e estacionar. Este seria um
bom lugar para esbarrar nelas e fazer parecer uma coincidência.
Talvez não fosse o melhor lugar para uma abordagem, mas não
ficariam paradas eternamente. E estaria bastante cheio para poder
observá-las, sem que ninguém percebesse. Seria perfeito!

Savannah parou no estacionamento, ainda trêmula. Quem


era aquele sujeito? Apareceu do nada, bem a tempo de salvar sua
filha. E ele era lindo e corajoso, altruísta o bastante para se colocar
em perigo. Não as conhecia. Não sabia nada sobre elas. Mas
interveio e salvou o dia, como um verdadeiro herói.

Queria acreditar que este homem sexy era um herói, e que


eles ainda existiam. Mas era difícil acreditar em algo bom.
Especialmente em coisas boas vindas de um homem em relação à
sua filha. Elas já foram maltratadas muitas vezes.

— E ele simplesmente correu pela rua...e whoosh! — Olivia fez


um movimento com a mão, mostrando como o homem correu para
ela.

— Então só boom! Batida! — Ela bateu com as mãos para dar


efeito.

— Esse carro teria me esmagado!

— Sim! E já disse isso várias vezes, prefiro não pensar nisso.

— Acha que esse homem era... — Baixou a voz sussurrando.

— Um anjo? Como um anjo da guarda? Talvez seja por isso


que apareceu do nada!
— Bem, não sei! Acredito que era somente um homem muito
corajoso que te salvou!

— Sim!

Olivia falava do homem desde que entraram no carro. A


princípio, estava assustada e não conseguia entender o que
aconteceu mas assim que Savannah conseguiu consolá-la e as
lágrimas pararam, ficou fascinada. Então, não parou de falar sobre
o ocorrido, enquanto Savannah só queria esquecer. O homem
sumiu e não o viram novamente. Olivia estava a salvo. Era hora de
seguir em frente e esquecer o ocorrido.

— Pronta para se divertir? — Savannah perguntou, tirando o


cinto de segurança.

— Sim! Quero algodão doce e ir na roda gigante.

— Podemos fazer tudo isso.

Saíram do carro e Savannah segurou a mão da menina no


percurso para a feira. Primeiro iriam na roda gigante. Era melhor
ir nesse tipo de brinquedo antes de comerem, pois não precisaria
se preocupar com enjoos.

Foram duas vezes, depois em um brinquedo que o carrinho


girava em círculos. Em seguida, foram nos balanços, depois em
outro brinquedo que rodava. Quando saíam do último brinquedo,
Savannah, ainda um pouco zonza, olhou para a multidão e, por
um momento, acreditou ter visto o homem que salvou Olivia. Pegou
a mão de Olivia e a retirou do brinquedo seguindo para a direção
que acreditava ter visto o homem.
Não sabia por que queria vê-lo novamente. Talvez para
agradecer? Mas, quando chegaram onde pensou que ele estava,
não havia ninguém nem mesmo parecido. Ou estava vendo coisas
ou ele foi embora.

Enquanto iam para o próximo brinquedo, sua paranoia


começou. Seria o mesmo homem? E se fosse, por que estava aqui?
Será que ele estava a seguindo? E se a razão pela qual ele
supostamente sumiu, fosse por que não queria ser visto? Será que
quando o viu, ele se escondeu para poder continuar a observá-la?

— Quero algodão doce, agora! — exclamou Olivia.

Foram para o espaço na feira, onde ficavam os jogos e a


comida. Procurava por saquinhos azuis e rosa mas, em vez do doce
encontrou um homem, que sorria.

— Oi de novo! — exclamou ele.

Olivia ofegou.

— Mamãe! É o homem anjo!

Savannah desejou que Olívia não o chamasse assim. Não


queria que ela tivesse algum tipo de sentimento de veneração por
esse homem que não conheciam.

— Oi! — exclamou Savannah, sorrindo.

— Que coincidência!

— Já tinha te visto antes! — exclamou ele.

— Trabalho virando a esquina do seu prédio. Estava saindo


quando tudo aquilo aconteceu. Louco, não?
Savannah assentiu.

— Sim!

— Foi assustador! — exclamou Olivia.

— Mas então você veio e swooshh! Pegou-me e me salvou!

Savannah deu-lhe tapinhas no ombro.

— Você tem que agradecê-lo!

— Sou Grayson Butler — disse, agachando e ficando mais


perto de Olivia.

— Qual é o seu nome?

Savannah ficou tensa, mas Olivia respondeu direitinho.

— Katy. Obrigada, senhor Grayson!

— De nada! — Acariciou sua cabeça e levantou, estendendo a


mão para Savannah.

— Prazer em conhecê-la!

Ela apertou a mão dele.

— Sim, especialmente nestas circunstâncias. Ainda bem que


estava lá. Agradeço o que fez. Não imagino...

— Bom, não vamos pensar no que poderia ter acontecido.

— Sim. Estive tentando não pensar. Sou Joanna, a propósito.

A explicação dele de trabalhar próximo de sua casa esclareceu


o motivo de estar perto da casa dela, na ocasião, mas não o motivo
de estar aqui agora. Ele estava sozinho, sem namorada, esposa ou
criança. Que tipo de homem iria sozinho a uma feira? Havia algo
que não se encaixava. Não confiava nesse tal de Grayson!

— Mamãe! Olha aqueles ursos! Quero um!

Olivia pulava, apontando para o teto de uma barraca, onde


estavam pendurados grandes ursos de pelúcia.

— São muito bonitos! — exclamou Savannah.

— E, provavelmente, impossíveis de ganhar.

— É um jogo de tiro ao alvo — disse Grayson.

— Acontece que sou muito bom nesses jogos. — Inclinou-se


para Olivia.

— Que tal se eu tentar ganhar um destes?

Olivia olhou para Savannah, insegura. Talvez sua paranoia


estivesse passando para a filha, pois os olhos de Olivia
perguntavam se poderia aceitar. Certamente seria estranho dizer
não e ir embora. Melhor então deixá-lo tentar. Depois que ele
jogasse, poderiam apenas agradecer e seguir adiante.

Ela assentiu para Olívia, que logo correu para o balcão da


barraca de tiro ao alvo. Grayson se aproximou e pagou, em seguida,
pegou a arma de brinquedo. O jogo começou e Grayson disparou
em vários patinhos em uma sequência rápida. Em questão de
segundos, derrubou todos. O homem atrás do balcão parecia
desagradavelmente surpreso.

— Bem. Qual urso a senhorita vai querer? — perguntou o


homem.
Olivia apontou para o cor de rosa. O homem pegou o que
estava em cima dele e entregou para a menina.

— Agora agradeça ao papai pelo urso! — exclamou o homem.

Olivia apertou o urso que era metade do seu tamanho,


olhando para Savannah, com aquele olhar inseguro. Ela não sabia
o que responder quando o homem da barraca de jogos pensou que
eles eram uma família.

— Obrigada, Grayson! — exclamou ela, se afastando da


barraca.

— Obrigada!

— Bem, depois de salvar a vida dela e ainda ganhar um urso,


acredito que fez a sua boa ação do dia! — exclamou Savannah, com
um sorriso.

— Obrigada e tenha uma boa tarde!

Afastou-se dele, deixando claro que já era hora de se


separarem. Queria ficar longe, porque ele ficava realmente sexy,
dando tiros. Um homem com uma arma, não deveria excitá-la, mas
Grayson a deixou assim. Definitivamente tinha que se afastar o
mais rápido possível.
Capítulo 4

Grayson observou Olivia e Savannah se afastarem, e um


sentimento de desconforto o preencheu. Saiu da feira rapidamente.
Já tinha um quarto reservado em um hotel. Pensou que precisaria
ficar alguns dias para investigar, antes de encontrá-las, mas agora
seu objetivo mudou. Dirigiu para o hotel e se registrou, em seguida
ligou para James Davis.

— Boas notícias! — exclamou Grayson.

— As encontrei!

— Encontrou? Onde estão? — A emoção na voz de James era


nítida.

—Não posso dizer ainda. Com a minha experiência, quando


um homem descobre onde está seu filho desaparecido, nada o
segura. E se vier para cá, atrapalhará e as assustará-las.

— Bem, quanto tempo levará até que minha filha volte para
casa?

—Essa é outra questão — disse Grayson.

— A menina por perto complica o caso, acho que não gostaria


que sua filha estivesse presente quando tudo desabar.
— Não, não!

—Então levará um pouco mais de tempo. Preciso ficar sozinho


com Savannah, e também saber onde Olivia está, para poder levá-
la até você.

—Entendo. Quero a minha filha segura, então leve o tempo


necessário. Quero que seja bem feito!

— Sem dúvida! — exclamou Grayson.

— Essa é minha maneira de trabalhar.

Grayson desligou e encarou a parede por um bom tempo.


Depois pegou as fotos e examinou mais uma vez, principalmente
as que tinham Savannah, James e Olivia. Por que não percebeu
antes como Savannah se posicionava nas fotos? Ela sempre estava
parada entre James e Olivia, o corpo no meio, como se não gostasse
da proximidade dele. Parecia que tentava afastar Olivia dele.

Algo na situação não fazia sentido. A descrição que James fez


de Savannah Peale não parecia com a mulher que conheceu
naquele dia. Olivia não se assustava com a mãe, não hesitava em
pegar sua mão, e nem parecia em pânico ou nervosa, quando
estava perto dela. A menina não apresentava hematomas visíveis,
o que não significava que não existissem, mas, como o clima estava
bom, ela usava mangas curtas e não havia marcas nos braços.

Grayson pensou na própria infância. Não gostava de


relembrar essa parte de sua vida. Mas, por causa desta situação,
precisava fazer. Pensou nas poucas fotos que existiam de sua
família. Pensou no jeito que sempre se mantinha afastado dos pais.
E como não gostava que o tocassem de forma nenhuma. Nas fotos,
ficava um pouco separado deles. Quando iam a algum lugar,
andava alguns passos atrás. Sem toques, pois o menor tapinha no
ombro o faria recuar. Sendo um menino que era abusado pelos
pais, não ser tocado era ótimo e ficar afastado deles, era sempre a
melhor opção.

Porém, quando observou Olivia e Savannah, ou Katy e Joanna


como afirmavam, a menina não estava de maneira alguma
insegura, ou com medo da mãe. Esperava que recuasse ou se
afastasse, mas não viu nada disso. Pelo contrário, havia uma
adorável relação entre mãe e filha. Assim, tinha duas opções.
Savannah era uma excelente atriz e de algum jeito, reconquistou a
filha entre os ciclos de abuso. Não era incomum, mas pouco
provável. Ou, a opção que fazia muito mais sentido, era que não
era ela quem abusava de Olivia.

Entretanto, precisava ter certeza. Não poderia matar


Savannah se ela não fosse o monstro que James pintou. E se não
maltratava Olivia, então James era o candidato mais provável.
Nesse caso, possivelmente mataria James, em vez dela. Mas antes
de fazer qualquer coisa, precisava saber mais.

Poderia espioná-las, observando seus comportamentos. Ou


mesmo colocar câmeras no apartamento. O problema era que
mostrariam somente o que acontecia dentro da casa naquele
momento, e não o que houve no passado, quando Savannah e
James eram casados.

Por outro lado, se usasse uma abordagem mais amistosa,


poderia conhecer não somente o presente, mas também o passado
e o futuro delas. Para conseguir isso, precisaria conhecer
Savannah e ter a total confiança dela e da menina. Assim,
acabariam se abrindo e poderia descobrir a verdade. Enquanto
isso, poderia observá-las em situações de mais intimidade. Até
onde sabia, abusadores não conseguiam se esconder para sempre.
Eventualmente Savannah perderia a compostura e agrediria Olivia.
Embora se controlasse na presença de desconhecidos, essa
fachada só duraria por algum tempo.

Era o melhor plano. Sair com ela e começar um


relacionamento, para conhecê-la em um nível mais profundo. Seria
só trabalho e nada a ver com a atração que sentia por ela. Embora
isso ajudasse a parecer mais real. E se tivesse um pouco de ação,
melhor ainda. Tudo em nome do trabalho! Desde que mantivesse
isso em mente, poderia funcionar e conseguiria o que precisava.

— Vamos, Olívia, está na hora de dormir. — Savannah parou


na frente da cama da filha, esperando que saísse do banheiro.

Ela apareceu saltitando poucos minutos depois.

— Foi um dia tão legal!

— Com certeza, foi! — Embora pudesse viver sem a parte onde


Olivia quase foi atropelada e sem o homem estranho aparecendo.
Grayson, lembrou. Esse era o nome dele.

Olivia se enfiou debaixo das cobertas e abraçou o urso.

— Vai dormir com o urso novo? — perguntou Savannah.


— É claro! Eu a amo!

— Ela já tem um nome?

— Não. Talvez Pinky?

— Parece um bom nome. — Sentou na cama, a beijou e


desejou boa noite.

— Ou talvez Pinkson, como Grayson. Já que ele que a ganhou


para mim.

— Gosto da ideia.

— Acha que foi estranho? — perguntou Olivia.

— Que não o conhecíamos e que ele me salvou e depois


ganhou esse urso para mim?

— Um pouco. Você achou?

Olivia concordou.

— Um pouco. Mas ele parece legal. Acha que ele é legal?

— É claro que sim! — Savannah a abraçou e a beijou na testa.

— Me avise se o vir outra vez, ok? Como na escola ou em outro


lugar.

— Ok!

Savannah apagou a luz e parou na porta.

— Boa noite, Livy. Amo você!

— Te amo! — Murmurou ela.


Savannah sentou na sala, com uma xícara de chá, pensando
sobre o dia. Tanta coisa aconteceu e muitas emoções diferentes
estavam ali. Desconfiava deste homem que salvou a vida da sua
filha, mesmo correndo o risco de se ferir e que depois apareceu na
feira, em um grande evento público. Conseguiu para Olivia um
grande urso, que ela amou e mesmo assim, desconfiava dele?
Talvez ele fosse apenas um bom homem. E estava aqui pensando
o pior dele.

Lágrimas escorreram pelo rosto de Savannah. Odiava se


sentir dessa maneira. Olhar para todo mundo com olhos céticos,
acreditando que machucariam Olivia ou ela. Queria a normalidade
que costumavam ter. Ainda que o resto fosse péssimo, sentia falta
de não ver o mundo como uma ameaça, precisando olhar sobre o
ombro, ver sua filha mentir e usar um nome falso. Isso era
necessário agora, mas será que algum dia teriam uma vida normal
outra vez? Ou sempre estariam fugindo, se escondendo do seu ex?

Desejou conhecer Grayson como uma pessoa normal. Como


se ele fosse apenas um homem gentil, que quisesse ajudar. Como
se não precisasse observá-lo, interrogá-lo e pensar se estava ali
para feri-las. Desconfiava de todos ultimamente e isso não a fazia
se sentir bem.

Mas havia uma coisa mais importante que a normalidade,


precisava que Olivia estivesse segura. Muitas vezes disse a Olivia
que a protegeria, mas acreditava que não conseguiria. Grayson não
apareceu do nada e pegou Olivia? Ok, para salvá-la, mas e se
alguém tentasse levar Olivia, como poderia impedir? Grayson agiu
rapidamente, e ela nem reagiu. Isso, mais que tudo, a preocupava.
Uma coisa era saber que Olivia quase foi atingida por um carro,
outra era perceber que não teria chance se alguém a levasse.

Se tivesse alguém como Grayson por perto, talvez Olivia


ficasse mais segura. Teria outra pessoa para protegê-la e ele
parecia capaz disso, tinha um corpo tonificado e forte. Tomou um
último gole do chá e pensou no cabelo loiro ondulado de Grayson,
os olhos claros, e aqueles lábios… E imaginou como seriam
pressionados nos dela.

Era estranho pensar em um homem desse jeito. Foi casada


por oito anos. Estava começando a universidade quando conheceu
James. Não tinha muita experiência com homens, e a que teve
durante o casamento não foi boa. Esteve tão focada em manter
Olivia em segurança durante todos esses anos, que nunca parou
para pensar em relações amorosas.

Subiu na cama, pensando novamente como seria sua vida se


fosse normal. Poderia sair com Grayson? Como seria sair com
alguém? E se ficasse tão ruim como seu casamento?

Quando Savannah adormeceu, sonhou que estava parada na


sala de jantar de sua antiga casa, a que dividia com James. A cor
da casa era um amarelo vibrante, em vez do atual bronze. Feliz,
arrumou a mesa e chamou Olivia.

— Chame o papai! — exclamou, quando ela chegou saltitando


na sala.

Olivia se afastou e voltou puxando um homem pela mão.

— Estou aqui! — exclamou ele, rindo.


Quando entraram na sala, Savannah abraçou o marido e o
beijou profundamente. Afastou-se para observá-lo, e se viu
olhando para os olhos de Grayson Butler. O sonho mudou e
estavam de pé na praia, sozinhos, ainda envolvidos em um abraço
apertado.

— Estive esperando muito para te fazer minha! — exclamou


ele em sua orelha.

Mesmo no sonho, seu toque a fez arrepiar.

— Agora que estamos sozinhos, nada me impedirá.

Antes que soubesse o que estava acontecendo, Grayson a


deitou na areia. Os grãos macios acariciaram sua pele, mais
parecia uma cama de cetim do que areia. Ele a beijou
demoradamente no pescoço e no peito. Sua mão correu pelo seu
corpo fazendo a pele se arrepiar. Em seguida, estava dentro dela,
fazendo amor na praia. Ela gritou de prazer e sentou-se na cama.

O coração estava acelerado, apertava os lençóis, olhando em


volta para se orientar. A praia desapareceu. A casa estava
silenciosa. Grayson sumiu. Estava sozinha na cama, no
apartamento, como deveria ser. Mas seu corpo ainda vibrava com
a sensação do toque dele. Parecia muito real e quando voltou a
deitar, uma pequena onda de desejo se instalou no peito. Queria a
sensação dos fortes braços em volta dela enquanto dormia, para
protegê-la e mantê-la segura! Queria Grayson!
Capítulo 5

Savannah limpou a louça do café da manhã. Olivia estava à


mesa, colorindo. Todos os sábados fazia panquecas, e hoje não foi
exceção. Enxaguou o xarope pegajoso, colocando na lava-louças.

— Posso brincar lá fora? — perguntou Olivia, largando os lápis


de cor.

Savannah olhou pela janela para o parque infantil no centro


do condomínio. Havia várias crianças lá embaixo e alguns pais.
Estava um dia bonito e as crianças deveriam estar ao ar livre
brincando, em um clima como este. Odiava demais manter Olivia
dentro de casa, porém era mais seguro. Quase disse não, mas,
talvez, sair um pouco fizesse bem para ela. Ficaria de olho e levaria
a pistola.

— Espere eu terminar de guardar estes pratos, depois iremos


lá fora, está bem?

Olivia assentiu e voltou a colorir, esperando.

Alguns minutos depois, Savannah e Olivia foram até o


playground. Savannah sentou em um banco próximo, segurando a
bola de Olivia, que corria para o escorregador. Em sua antiga vida,
teria sentado e lido um livro, enquanto Olivia brincava. Agora não
mais. Não podia desviar os olhos dela nem por um segundo, com
medo que a levassem.

Olivia escorregou várias vezes, depois veio pegar a bola e


começou a batê-la nas coisas. Nas vigas de madeira, nas barras de
escalada, nos tubos dos balanços. Tudo menos no chão. Rebatia a
bola e a pegava, então repetia.

— Ela é muito boa nisso!

Savannah conseguiu se segurar para não gritar de susto


diante do som inesperado. Um homem sentou ao seu lado, em um
dos bancos, olhando Olivia jogar a bola. Era Grayson. De onde
tinha aparecido? O que fazia aqui?

— Sim! — Concordou Savannah, se recusando a olhá-lo e


mantendo os olhos em Olivia.

— Ela já falou alguma vez em jogar basquete?

— Não! — Savannah se perguntou se ele perceberia e iria


embora. Se continuasse ignorando-o e dando respostas curtas,
quanto tempo levaria para ele ir?

Não gostava de como ele continuava aparecendo. E aparecia


nos lugares onde tinha crianças, embora estivesse sozinho. Isso
era bastante assustador. Poderia ser um pedófilo. Um desses
homens que passavam o tempo em parques infantis observando
crianças. Até que decidisse levar uma.

— Está aqui só para ver as crianças brincarem? — perguntou.


Talvez insinuando o que ele aparentava ser, entendesse. Ou então
pudesse lhe dar alguma informação útil. Algo como o motivo de
estar ali.

Ele coçou a cabeça.

— Ah, não! Não exatamente!

— Então, por que está aqui?

— É um parque lindo, um dia agradável! Por que não?

Savannah aproveitou o momento para olhá-lo. Ele era muito


mais bonito do que lembrava.

— Só parece um pouco estranho. Apareceu na feira, agora no


playground, lugares onde há crianças, mas você não tem
nenhuma.

Ele pressionou os lábios e voltou a olhar para Olivia.

— Entendo a sua preocupação, mas não sei se a verdadeira


razão é melhor.

— Tente! — Que desculpa poderia dar que não o fizesse


parecer um pervertido?

— Ontem, depois que vi vocês, a achei muito bonita! Não parei


de pensar em você. A feira foi uma grande coincidência. Já lhe disse
que trabalho perto daqui. Sou gerente de uma loja de suprimentos
para restaurante e um dos feirantes fez um pedido urgente de
xícaras na última hora. Passei para deixar o pedido e fiquei muito
surpreso ao vê-la na multidão. Queria me aproximar e conhecê-la.
Então hoje... Fiquei esperando que saíssem para Olivia brincar,
tenho uma vista desse parque do meu escritório. Enquanto isso,
coloquei o meu trabalho em dia, e como era de se esperar, vocês
saíram e decidi tentar a sorte.

Savannah olhou para ele, dando um meio sorriso em resposta.

— E o que seria? — perguntou ela.

— Bem. Queria convidá-la para sair, por isso vim aqui te


conhecer, em vez de agir como um perseguidor.

— É melhor não agir como um perseguidor. — Ela voltou a


olhar para Olivia. Ele queria convidá-la para sair? Como um
encontro? Seu coração acelerou diante do pensamento de um
encontro, coisa que ela não fazia há muitos anos, e com a ideia de
ficar perto de Grayson. Mas poderia realmente confiar nele?

Será que ele planejava alguma coisa assustadora ou estaria


falando a verdade? Seria uma boa ideia sair com ele?

Ter encontros levava a distrações. Teria que deixar Olivia com


uma babá em algum lugar, por, no mínimo, algumas horas. Era
bastante difícil deixá-la na sala de aula, mesmo estando no final
do corredor! O que mantinha a sanidade de Savannah era que
sempre ia verificá-la durante as aulas. Mas sair com um homem
por algumas horas era outra história.

E sem dúvida, o problema maior era a confiança. Como ficaria


sozinha com ele, quando não o conhecia? Qualquer coisa poderia
acontecer. E todo esse processo de encontros, de repente, parecia
um tanto assustador! Como as mulheres ficavam sozinhas com um
homem desconhecido por horas? Entravam no carro deles e saíam?
Era surpreendente que muitas mulheres não fossem atacadas
numa situação dessas. Para ela, parecia uma receita perfeita para
o desastre.

— O que você acha? Posso levá-la para jantar qualquer noite?


— perguntou ele.

Savannah encontrou os olhos dele, pronta para recusar. Mas


quando encarou seus brilhantes olhos azuis não pôde desviar o
olhar.

— Eu... Não tenho encontros há muito tempo.

— Então agora é o momento para recomeçar.

— Talvez seja!

Grayson não deixou passar o fato de que Savannah não o


dispensou. Tomaria isso como um bom sinal. Ela era visivelmente
reservada a respeito de sair, e ele estava se fazendo de perseguidor.
Esperou que o disfarce fosse convincente e até encantador. Um
solteiro solitário que vigiava sua janela, esperando que a linda
mulher que vivia na rua de baixo aparecesse. Tudo indicava que
ela acreditou, o que não estava muito distante da verdade, de
qualquer maneira.

Decidiu deixar o encontro para depois. Daria um pouco de


tempo, depois agiria como se ela tivesse aceitado e escolheria dia e
hora. No momento, ficou calado a observando. Ela olhava para
Olivia como um falcão. Quando desviava os olhos da menina não
era por mais de um segundo ou dois e, em seguida, voltava a olhar.
Era mais do que uma típica mãe atenta faria. Os outros pais que
estavam no parque conversavam, desviando muitas vezes os olhos
dos seus filhos, embora, definitivamente, continuassem olhando
para trás para ter certeza que estavam bem.

Grayson decidiu levar as coisas para um novo nível, e Olivia


ofereceu a oportunidade perfeita. A bola veio na sua direção e ele a
pegou.

— Quer jogar um pouco? — perguntou, lançando a bola para


ela.

— Pode ser.

Levantou e ficou a alguns metros dela, até que estava a uma


boa distância para lançar a bola para a menina. Fez um sinal para
que ela jogasse a bola de volta. Enquanto jogavam, ele a levou, aos
poucos, para longe de Savannah. Toda vez que se deslocava para
pegar a bola, estrategicamente se distanciava, parecendo que era
parte do jogo. Quando estavam bem afastados, começou a
conversar.

— Então, o que acha da escola? — perguntou.

— Boa.

— É? Qual é sua matéria preferida? — Arremessou a bola.

— Acho que literatura. Gosto de ler. — Lançou a bola de volta.

— Bom arremesso. Você tem muitos amigos?

—Não. Ainda não, mas estou tentando fazer amigos. Minha


mãe diz que os amigos são importantes.
— São mesmo. Você não mora aqui há muito tempo, certo?

— Não! Só há algumas semanas.

— O que acha do seu novo apartamento? É maior do que onde


morava?

— Não! — Ela balançou a cabeça e jogou a bola de volta mais


longe ainda.

— É bem menor. Morava em uma casa bem grande.

— Oh, entendo. — Tinha que fazer as perguntas


cuidadosamente. Se perguntasse de forma errada, poderia alertá-
la de que estava tentando conseguir informações. Mas também
tinha que mantê-la falando.

— Como era o seu quarto?

— Era tudo roxo. É a minha cor preferida. E tinha um tapete


roxo e um grande gatinho desenhado em uma parede, e escrito
"Olivia" na outra e minha cama tinha uma cortina brilhante, e
todos os meus bichos de pelúcia ficavam em uma rede pendurada
no teto. E ainda, tinha minha própria escrivaninha para fazer a
tarefa.

Ele não ignorou o fato dela ter mencionado seu verdadeiro


nome.

— Você não tem nada disso agora?

— Não! — Pareceu triste por um momento, ao pegar a bola.

— Principalmente por que não tem "Olivia" pintado na parede?


Ela olhou-o com os olhos arregalados. A bola escorregou de
suas mãos e olhou para Savannah com uma expressão assustada.

Quando Savannah a viu, levantou.

— Katy, vamos! Precisamos ir.

Olivia correu para ela, e saíram apressadas em direção ao


prédio. Savannah parou para se despedir, acenando com a mão
para Grayson, e desapareceu dentro do prédio. Ele foi até onde
Olivia esteve e pegou a bola.

Ponderou, enquanto retornava para o carro. Olivia ficou


bastante nervosa de repente, quando ele falou o seu verdadeiro
nome. Savannah percebeu o medo na filha e saiu em disparada.
Isto significava que James estava dizendo a verdade, afinal? Olivia
estaria assustada pelo que sua mãe faria, se descobrisse que ela
estragou tudo, ao usar seu verdadeiro nome?

Ou será que Savannah havia dado tanta importância a seus


nomes falsos, para mantê-las a salvo e escondidas de James, que
Olivia estava reagindo a isso? Poderia ser facilmente qualquer uma
das opções.

Grayson chegou ao carro, que sempre estacionava perto da


empresa de fornecimento de suprimentos para restaurantes onde
disse que trabalhava. Jogou a bola no banco de trás e voltou para
o hotel.

Ainda não tinha informação suficiente para ter certeza. Estava


convencido de que Savannah não era o monstro que James o fez
acreditar, embora isso não significasse que ela não maltratava
Olivia. Ela preferiu fugir em vez de chamar as autoridades para que
afastassem James. Isso fazia com que parecesse culpada. Ela
pediu o divórcio, e ele sabia que, em algumas circunstâncias,
quando as mulheres eram maltratadas, elas raramente saíam.
Savannah teve a coragem que a maioria das mulheres não tinha,
ou estava fugindo e exigiu o divórcio, porque James ameaçou
denunciá-la e levar Olivia para longe?

Precisava passar mais tempo com elas, conhecê-las melhor.


Achou que Olivia estava bem. Ela compartilhou um pouco e não
pareceu muito insegura durante a conversa. Savannah, entretanto,
era como um livro fechado, que precisava ser aberto
cuidadosamente. Com sorte, ela tomaria alguns drinks quando
saíssem, e talvez ficasse bêbada e falante. Um truque simples, mas
que sempre funcionava. Ela certamente não parecia ser a drogada
que James afirmou.

Só teria que convencer James que tudo fazia parte do


processo. Porque não podia dar continuidade ao trabalho até que
tivesse certeza. E, se Savannah não fosse o monstro que James
pintou, viraria o jogo em um instante e protegeria a ela e a Olivia
de seu terrível ex, que estava tentando matá-la. Precisava de
Savannah para saber quais os verdadeiros motivos de James para
isso.

Virou na rua onde ficava o hotel, e ao se aproximar, notou


uma caminhonete preta que parecia fora do lugar. A placa estava
em mal estado, as janelas traseiras embaçadas, e estava parada
bem na entrada do hotel. Parecia muito com um veículo de
vigilância e pelo visto não muito bom, já que o notou tão facilmente.
Talvez a desconfiança do seu empregador fosse para ambos
os lados. James parecia estar seguindo-o, devia ter percebido que
Grayson tinha dúvidas. E isso fazia James parecer altamente
culpado.
Capítulo 6

Assim que Olivia entrou, Savannah correu para janela, mas


não o viu. Não sabia o que ele queria, mas parecia que a observava
por algum motivo. Quando teve certeza que ele não estava mais ali,
virou-se para Olivia.

— O que aconteceu? — perguntou.

Olivia levantou um ombro e não olhou para Savannah.

— O que Grayson disse?

— Só perguntou sobre a escola e outras coisas. E nossa antiga


casa.

— Tudo bem! — Savannah sentou, tentando compreender o


que aconteceu para que sua filha demonstrasse tanto medo.

— Que tipo de coisas ele perguntou?

— Qual era minha matéria preferida e se eu gostava do nosso


novo apartamento.

— Perguntou sobre o nosso novo apartamento? Como ele


sabia disso?

— Hum... — Olivia olhou para sua mãe, com medo ainda em


seus olhos.
— Não sei! Perguntou se eu tinha muitos amigos e quando
disse que não, perguntou se estávamos morando aqui há muito
tempo e respondi que não.

— Tudo bem... — Certo, essa era a verdade e não tinha como


negar. Qualquer pessoa na escola sabia que eram novas na região.

— O que mais?

— Acho que disse...— Murmurou algo que Savannah não


compreendeu, e começou a chorar, ficando ainda mais difícil
entender.

— Calma, querida! — A abraçou e acariciou seu cabelo.

— O que você disse?

— Meu nome! — Murmurou finalmente.

— Qual nome?

— Olivia.

Savannah tentou não reagir, mas seu coração apertou.


Grayson era a última pessoa a quem Olivia poderia dizer qualquer
coisa. Alguém na escola não daria a devida atenção e deixaria
passar. Mas Grayson poderia estar tentando conseguir
informações de Olivia. E isso piorava tudo.

— Não faz mal! — exclamou Savannah.

— Não há nada que possamos fazer! Se ele aparecer de novo,


apenas diga o seu nome falso.
— Será que nos acharão agora? — Soluçou apertando mais
forte os braços em volta de Savannah.

— Não, meu bem! Nunca deixarei que isso aconteça.

— Mas você disse que...

— Eu sei, mas vai tudo ficar bem! Prometo! Só temos que a


partir de agora, ter mais cuidado e continuar usando nossos nomes
falsos.

— Terei, prometo! Desculpe-me!

Savannah alisou o cabelo de Olivia e secou seus olhos.

— Tudo ficará bem!

Durante todo o dia, Savannah analisou a situação de


Grayson. Ele continuava surgindo do nada, e isso estava
começando a incomodá-la. Mas também a excitava. Os dois
pensamentos dilaceravam o seu coração, sua necessidade de
manter Olivia escondida e em segurança, e o de se sentir querida
e desejada. Quando via Grayson, era difícil desejar que fosse
embora, mas talvez não fosse uma boa ideia passar muito tempo
com ele, algo não se encaixava.

Quando saíam de casa para irem à escola, no dia seguinte,


Savannah viu um furgão preto na frente do prédio. Não deveria
ficar alarmada, era apenas um furgão como outro qualquer,
estacionado ali. Mas teve um mau pressentimento. Sentia que
alguém a observava, que as seguia. Rapidamente colocou Olivia no
carro, olhando para trás com frequência, para ver se alguém se
aproximava.
Dirigiu para a escola, olhando constantemente pelo retrovisor,
checando se o furgão ou outro carro as seguia. Mesmo chegando
em segurança, a sensação de estar sendo observada se manteve ao
entrar no edifício. Deixou Olivia e, no momento que entrou no
consultório, ficou feliz em fechar a porta. Agora não seria mais
possível alguém observá-la.

Estaria perdendo a cabeça? Primeiro, Grayson e agora este


furgão. Estaria ficando mais paranoica? O que faria se James as
encontrasse? Para onde fugiriam? Como conseguiria tirar Olivia
dali e mantê-la a salvo? Eram muitas perguntas sem respostas.
Durante toda a manhã, esteve muito tensa. Um aluno chegou no
consultório, bateu na porta e ela quase pulou de susto.

Na hora do almoço, sempre fazia alguma coisa. Às vezes, ia


até a sala de Olivia, gostava de vê-la fazendo as atividades. Mas,
dessa vez, quando chegou perto da sala de aula, notou que estava
vazia. Ficou na porta por um momento, tentando lembrar se as
crianças estavam no horário do almoço ou em alguma atividade
especial.

— Oi, Joanna! — exclamou a professora de Olivia, Mallory


Stevens, se aproximando.

— Tudo bem?

— Sim, claro, só estava no meu horário de descanso e pensei


em ver Katy.

Mallory sorriu.
— Estão no recreio, e depois irão almoçar. Este é meu horário
de descanso.

— Ahh, entendi!

Savannah virou para ir embora, mas Mallory colocou uma das


mãos em seu braço.

— Joanna, está tudo bem?

Savannah virou para ela. Queria muito contar para alguém,


qualquer um, o que estava acontecendo. Tinha uma necessidade
desesperadora de confiar em alguém. Mas não conhecia Mallory
muito bem ainda.

— Sim, estou bem! — Forçou um sorriso.

— Katy parecia um pouco... Ansiosa hoje.

— Parecia?

Mallory assentiu.

— Estou indo para a sala de descanso fazer um café. Quer ir?

A necessidade de Savannah de conversar com alguém a fez se


virar de imediato e seguir Mallory. Quando entraram, outros dois
professores estavam ali, terminando o almoço. Enquanto Mallory
servia o café, os professores saíram e ficaram sozinhas.

— Então, o que está acontecendo? — perguntou Mallory.

— Katy está se acostumando bem à nova escola?

— Acredito que sim. Mas você deve saber melhor que eu se ela
está se ajustando aqui!
Mallory tomou um gole de café e assentiu.

— Parece que está sim. É reservada, no entanto. Faço todos


os alunos se envolverem e trabalharem em equipe, mas nem
sempre parece muito interessada em fazer amigos.

Savannah refletiu sobre isso. Será que ela tinha medo de


estragar tudo se dissesse o nome errado? Ou achava que teriam
que se mudar de novo, caso algo acontecesse?

— Acredito que esteja um pouco estressada — disse


Savannah.

— Acha que é só a mudança?

— Bem... — Savannah olhou em volta, para garantir que


estavam sozinhas.

— Para ser honesta, acredito que não seja só isso. Fugimos de


uma situação muito ruim.

Mallory assentiu.

— Imaginei.

— Sério?

Ela assentiu de novo.

— Há sinais e para alguém que já passou por isso fica fácil


notar.

Savannah franziu o cenho.

— Já passou por isso?

Mallory se aproximou mais.


— O pai de Katy, seu ex-marido? Era... Abusivo?

— Sim — Savannah suspirou.

— Como soube?

— Apenas observando Katy. A forma como se afasta de toques,


a demora em confiar em alguém. Esse tipo de coisa.

— Fugimos dele. Tentou raptá-la. Foi horrível não ter ninguém


com quem falar, e nem mesmo podemos usar nossos nomes
verdadeiros. Se ele nos encontrar levará Katy, e não sei o que fará
comigo.

— Tem um lugar seguro para levá-la caso aconteça alguma


coisa?

— Na verdade não. Só temos nosso apartamento. Não conheço


ninguém aqui.

— Conhece agora! — exclamou Mallory.

— Pode levá-la para minha casa sempre que precisar.


Cuidarei dela o tempo que for necessário e a manterei segura. Tive
um pai abusivo e aprendi a me defender quando era adolescente.

Savannah apertou os lábios, insegura. Queria ter um lugar


onde poderia levar Olivia, caso necessário, mas não conhecia bem
essa mulher.

— Sei que é difícil confiar em alguém desconhecido — disse


Mallory.
— Porém, a única maneira de ter alguém para ajudar é
confiando. Katy me conhece, e está começando a se sentir à
vontade comigo. Sei pelo que tem passado.

— Tem razão! — Savannah tomou um longo gole de café.

— Já faz muito tempo desde a última vez que pude confiar em


alguém. E preciso de ajuda. Preciso de alguém.

— Sei como se sente. Minha mãe não teve ninguém que a


ajudasse. Estava completamente sozinha. Não tinha para onde ir.

— Obrigada! Realmente aprecio.

— Sem problemas. Se precisar de um pouco de tempo para


você ou se tiver coisas para resolver, será um prazer tomar conta
dela. A qualquer hora.

— Obrigada! — Savannah pensou em Grayson e no encontro


que não recusou.

— Tenho um... um encontro.

Mallory arqueou as sobrancelhas e sorriu.

— Só me diga quando!

— Posso dizer outra coisa? Acho que alguém deve saber a


verdade, apenas por precaução.

— Por favor.

Savannah chegou mais perto para sussurrar.


— Nossos verdadeiros nomes são Savannah Peale e Katy é
Olivia Peale. Se for cuidar dela, é bom usar seu nome verdadeiro
por um tempo.

— Entendo! — Mallory colocou a mão no braço de Savannah.

— Quando quiser conversar, é só avisar. Tenho uma pausa


todos os dias.

Savannah lhe deu um rápido abraço e retornou para o


consultório apressada.

Grayson estava do lado de fora do edifício esperando, porque


hoje elas estavam atrasadas. Era arriscado esperar ali, mas tinha
uma boa desculpa. "Katy" esqueceu a bola e ele estava lá para
devolver.

O carro estacionou no canto do prédio, Grayson as observava


saírem quando Savannah o viu. Ela deu um sorriso forçado,
definitivamente se sentia desconfortável. Abriu a porta de trás para
deixar Olivia sair, depois se inclinou para pegar uma sacola de
compras. Então foi por isso que chegaram tarde.

— Olá! — Chamou, aproximando-se.

— Só queria devolver isto. — Lançou a bola no ar pegando-a


em seguida.

— Minha bola! — Olivia correu para pegar a bola que ele a


lançava para ela.
— Obrigada! — exclamou Savannah, que sorriu novamente ao
passar rapidamente ao seu lado.

Ele ajoelhou perto de Olivia.

— Como foi na escola hoje?

— Bem! — exclamou ela.

— Que aulas você teve?

— Humm! — Olivia tocou o lábio.

— O de sempre e arte.

— Isso parece divertido! — exclamou Grayson. — O que fez na


aula de arte?

— Desenhei um coelhinho.

— Impressionante! — exclamou, levantou e pegou as duas


sacolas que ficaram no carro.

Quando se virou para levá-las ao apartamento, Savannah


ficou surpresa, mas continuou caminhando, deixando que ele a
acompanhasse.

— De que cor era o seu coelho? — perguntou Grayson


enquanto subiam as escadas até o apartamento de Savannah.

— Azul. Era um coelhinho triste.

Savannah abriu a porta e os deixou entrar.

— Katy, querida, por que não vai brincar um pouco antes do


jantar? Então podemos fazer sua tarefa e tomar um banho antes
de ir para a cama.
— Sim! — Olivia saltou para o quarto.

Grayson seguiu Savannah até a cozinha e começou a retirar


os mantimentos das sacolas.

— Oh, realmente não tem que fazer isso! — exclamou ela.

— Obrigada por trazê-las para mim!

— Foi um prazer! — Continuou ajudando, até que as sacolas


ficaram vazias. Depois as dobrou e colocou em cima da bancada.

Virou para ela, escorado casualmente na bancada.

— Mais uma vez, obrigada! — exclamou, mantendo uma


postura ereta e muito tensa. Estava nervosa perto dele.

— Então — disse, com um sorriso.

— Quanto ao nosso encontro...

— Oh, humm... — Savannah colocou uma mecha atrás da


orelha antes de encontrar os olhos dele.

Quando seus olhos se encontraram, compartilharam um


olhar intenso. Grayson estava atraído por ela. Queria saborear
seus lábios, mas era muito cedo. Desejava puxá-la para seus
braços e sentir seu corpo pressionado no dele.

Depois de um longo minuto, ela desviou o olhar e suas


bochechas coraram.

— Só preciso ter certeza que Katy fique bem com isso. Não
saio com ninguém desde...

— Entendo. Passe-me seu número.


— Ok! — Passou o número, e ele enviou uma mensagem de
texto para que tivesse o seu.

— Bem, quando falar com ela e se estiver tudo bem, me envia


uma mensagem?

— Enviarei.

— Talvez ela não precise saber de imediato.

— É verdade. Mas prefiro ser honesta. Não quero esconder


nada dela. Tivemos muitas mudanças recentemente, quero ter
certeza que isto não a incomode e nem cause mais ansiedade.

Ele deu um meio sorriso.

— Eu tampouco gostaria disso. Só me diga o que funciona


para você. Seria um privilégio poder passar algum tempo juntos e
conhecê-la. Não é fácil conhecer as pessoas.

— Não sei. Já faz algum tempo que não tento fazer isso.

— Melhor para mim. — Piscou um olho e foi para a porta da


frente. Não sabia se enviaria uma mensagem ou quando faria, mas
uma coisa estava cada vez mais clara, não era ela quem abusava
de Olivia. E sim James!
Capítulo 7

Ele não tinha grandes expectativas quanto a um encontro com


Savannah, então quando ela enviou uma mensagem poucos dias
depois pedindo para se encontrarem para uma bebida, Grayson
ficou surpreso. Tentou levá-la para jantar em um lugar um pouco
mais íntimo, porém o único lugar que ela concordou em ir foi a um
pub. Não era exatamente um encontro ideal, mas faria com que
desse certo.

Grayson entrou e a viu imediatamente. Estava linda em uma


saia curta e blusa justa. Ficou duro antes mesmo de chegar à mesa
e, discretamente, se ajustou ao se sentar.

—Você está linda! — exclamou.

— Obrigada! — Ruborizou sob seu olhar.

Parece que não estava acostumada a receber elogios. Ela não


se abriria facilmente.

Uma garçonete se aproximou e pediram as bebidas.

— Então, me fale sobre o seu trabalho — disse.

— Bem, sou uma enfermeira escolar. Não há muito que dizer


sobre isso. As crianças aparecem para tomar algum remédio ou
quando querem fugir da aula e, algumas vezes, quando estão
realmente doentes, mas é raro.

Grayson riu.

— Lembro de fingir algumas vezes.

— Todos nós já fizemos isso. No entanto, é um bom trabalho.


Fácil. E posso ficar perto de Katy o dia todo.

— Você gosta de mantê-la perto.

— Sim! Acredito que a maioria dos pais gostam.

A garçonete trouxe as bebidas e Grayson tomou um gole de


cerveja antes de continuar.

— No entanto, parece ser um pouco mais cuidadosa que a


maioria.

— Não vejo nada de errado em ser cautelosa.

— Provavelmente não. Só parece ser difícil para você confiar


em pessoas novas.

— Todo mundo é novo. — Tomou um gole de vinho.

— E como disse, gosto de ser cautelosa.

— Então, por que se mudou para cá, afinal?

— Por conta do meu trabalho. Normalmente tem somente uma


enfermeira por escola, então é difícil conseguir uma vaga.
— Já pensou em fazer outra coisa? Alguma outra área de
enfermagem?

— Na verdade não. — Distraidamente ela segurava a ponta do


guardanapo.

— Gosto de ficar perto da Katy.

Grayson assentiu.

— Aí está a desconfiança novamente.

Savannah baixou os olhos.

— Desculpe. Acho que às vezes sou um pouco super protetora.

— É isso que te faz usar um nome falso? — Essa pergunta a


fez levantar a cabeça rapidamente.

— O quê?

— No outro dia quando jogávamos bola, sem querer ela disse


que seu verdadeiro nome era Olivia.

— Ela disse isso?

— Bem, não com tantas palavras, mas basicamente, sim.

Os olhos de Savannah arregalaram.

— Bem, ela usa esse nome como um disfarce. Realmente não


é um nome falso. Só um nome com o qual ela gosta de brincar.

— Joanna — disse, estendendo o braço sobre a mesa e


cobrindo a mão dela.
— Não tem problema. Pode me contar a verdade. Você está
fugindo de algo. De alguém. Eu entendo. Só quero saber, para caso
ele apareça, poder ajudar.

— Eu... — ela o encarou com a boca aberta.

— Como...?

— Você é muito mais fácil de ler do que imagina. — Ele deu


um meio sorriso e tomou outro gole da cerveja.

— Sua desconfiança de novas pessoas, o nome falso, sua


reação tensa em sair comigo. Tudo aponta para uma coisa. Uma
mulher em fuga.

Savannah ficou olhando boquiaberta para ele. Não conseguia


acreditar que descobriu tão facilmente. Pensou que estava fazendo
um bom trabalho encobrindo as coisas, mas não estava enganando
ninguém. Quem mais teria notado que estavam fugindo de alguém?
O que deveria fazer agora? Tentar mentir? Dizer a verdade?

Algo nele a fazia querer contar tudo, se abrir. Mas isso


também parecia imprudente. Não o conhecia o suficiente. Então as
palavras de Mallory voltaram. Se quisesse ajuda, teria que confiar
em alguém. Tinha Mallory para ajudá-la, mas ter Grayson ao seu
lado manteria Olivia ainda mais segura. Ter duas pessoas em quem
confiar era uma situação melhor que ter apenas uma, não é?

— Tem razão — Disse. Tomou um bom gole de vinho, antes


de continuar.
— Estamos fugindo do meu ex. Fomos casados por mais de
oito anos, e logo após o nosso primeiro aniversário de casamento,
ele me agrediu pela primeira vez. Era viciado em drogas e cada dia
piorava. Drogava-se e às vezes, para minha sorte, desmaiava, ou,
então, destruía tudo e me agredia. Pensei que fosse melhor para
nossa filha ter os pais juntos. Mesmo não sendo o melhor
casamento, pelo menos estávamos todos juntos. Ele só batia em
mim, nela não. Até que em uma noite bateu nela. Fugimos no dia
seguinte quando ele saiu para comprar drogas. Pedi o divórcio, mas
ele está tentando tirá-la de mim. Você também está certo sobre os
nomes. Tivemos que mudá-los para dificultar que nos encontrasse.
Na verdade, meu nome é Savannah, não Joanna.

— Isso é demais para aguentar! — Pegou a mão dela


novamente. O calor do toque a tranquilizou.

— Agora estou sempre com medo que ele nos encontre e a


leve. Tenho pesadelos com isso quase todas as noites. Sonho que
vou até a sala de aula e ela não está lá. Ou, que acordo de manhã,
e ele esteve no apartamento e a levou, ou que invade meu
apartamento e... — Se calou e desviou o olhar. Esse não era um
sonho que gostava de lembrar.

— Está segura aqui! Está segura comigo! Acontece que sou do


tipo protetor. E me sinto bem tendo alguém para cuidar.

— Bem, agradeço, mas mal nos conhece. Não posso aceitar


que seja nosso guarda-costas.

— Gostaria de ter a honra de protegê-la! — exclamou,


apertando a mão dela.
— Gostaria de simplesmente poder sair com um homem
atraente e ter um bom momento. Mas não posso. Estou muito
ocupada procurando algum sinal do meu ex, ou de alguém que
poderia estar nos seguindo. Só eu posso manter Olivia afastada do
pior pai que você possa imaginar.

— Você não conheceu o meu pai.

Os lábios dela abriram, mas não soube o que dizer.

— E de agora em diante não ficará mais sozinha. Não deixarei


que nada aconteça a Olivia, a Katy ou qualquer nome que ela use
para ficar segura. Farei o meu melhor para proteger vocês. —Disse
ele.

— Obrigada, Grayson! Não me é fácil para voltar a confiar em


um homem, mas sinto que posso com você. É muito gentil.

Ele sorriu e um calor a preencheu. Estava realmente


começando a agradá-la. E sua atração era inegável. Fazia muito
tempo desde que sentiu algum tipo de desejo sexual por um
homem. Esteve tão decepcionada com o sexo e a forma como
geralmente era forçada a fazê-lo, que a ideia de deixar alguém
chegar perto e ser tão vulnerável era impossível antes. Mas agora
com Grayson a fazendo se sentir tão segura, e da forma como ela o
desejava tanto, achou que talvez já fosse hora de tentar.

Respirou fundo e procurou não pensar muito sobre o que


estava a ponto de falar. Fechou e apertou os olhos e falou tão
rápido quanto pôde.

— Gostaria de voltar para minha casa e ficar um pouco?


Quando abriu os olhos novamente, Grasno a olhava com uma
sobrancelha arqueada e um olhar cheio de desejo. Ele levantou e
foi ao bar pagar a conta.
Capítulo 8

Grayson seguiu Savannah de volta para o apartamento, ainda


aturdido pelo fato dela tê-lo convidado. Esperava que se abrisse
com ele, como acabou acontecendo, mas não imaginava isso. Não
conseguia dirigir rápido o bastante.

Dentro do apartamento, sentou-se perto dela no sofá da sala


de estar. Ficou olhando para o outro lado para evitar ceder à
atração que sentia. Acreditava que ela ainda não estava pronta
para isso, mas agia como um ímã para o corpo dele. Queria se
aproximar, mas obrigou-se a ficar quieto, lembrando que ela,
provavelmente, não o convidou para fazer sexo.

Precisava fingir que não a queria tanto e levar as coisas com


calma, porque ainda tinha um trabalho a fazer. James pagou US$
25.000 para ele matar essa mulher. E isso significava que essa
situação só teria dois desfechos. Grayson teria que matar
Savannah, ou James viria recuperar o seu dinheiro. E
provavelmente, não deixaria nenhum deles com vida. Assim, só
havia realmente uma opção no momento. Proteger Olivia e
Savannah a todo custo, sabendo que se James o contratou para
matar Savannah, faria isso de novo. James não era alguém que
deveria ser levianamente ignorado, já foi muito violento com elas
no passado. O furgão também o preocupava. Já devia haver alguém
o seguindo, ou atrás de Savannah e Olivia.

— Posso perguntar uma coisa? — Disse ela, servindo mais


vinho. Ele levantou uma sobrancelha, esperando.

— Bem, você insinuou mais cedo que seu pai não era bom.
Estava me perguntando o que quis dizer com isso.

— Bem... — Pegou a taça e tomou um gole, desejando que


fosse cerveja. — Vamos dizer que sei exatamente como Olivia se
sente.

— Seu pai batia em você?

— Meu pai, minha mãe, às vezes até meus tios, se estavam


por perto e chateados. Um bando de viciados, todos eles! Sempre
chapados ou completamente bêbados. Venho de uma grande
família de bandidos e drogados.

— Lamento que todos fossem assim. — Se aproximou,


colocando a mão no joelho dele, fazendo o calor percorrer seu
corpo.

— Foi tudo o que conheci. Por toda a minha vida disseram que
eu não era ninguém e que nunca seria nada. Chamavam-me de
burro e me deixavam mal. É um milagre ter chegado até aqui. Ou
terminar a escola. Eles queriam que eu falhasse. Ninguém
apareceu para assistir a minha formatura no ensino médio. Ou a
qualquer coisa na escola. Não estavam envolvidos de forma alguma
com a minha vida, a menos que fosse para conseguir mais cigarros
ou para fazer algum serviço.
— Que tipo de serviço?

— Levar ou buscar drogas, o que fosse. Quanto mais arriscada


à situação, maior era a chance que fosse eu a fazer a viagem.
Diziam que era bem pouco provável que roubassem ou atirassem
em um menino, por isso era melhor para todos que eu fizesse.
Assaltaram-me inúmeras vezes, fui espancado até quase a morte,
me esfaquearam várias vezes, até levei um tiro. Tudo isso
trabalhando para eles.

Savannah perdeu o fôlego, levando a mão à boca.

— Isso é tão horrível!

Ele encolheu os ombros.

— Eventualmente saí de lá. Os abandonei. Não resistiram por


muito tempo. Ambos morreram menos de cinco anos depois que
fui embora. Acho que não tinham ninguém que comprasse comida
ou continuasse fazendo o trabalho sujo.

Decidiu deixar de lado a parte de não ter ido ao funeral. Não


porque não quisesse. Não teve opção, pois na época estava na
prisão, cumprindo pena de dez anos. Sempre foi protetor, então,
no momento em que a sua namorada do ensino médio falou que
seu pai abusava dela, ele se encarregou do caso, como nunca fez
com os próprios pais. Foi seu primeiro assassinato. Recordou de
como se sentiu. Poderoso, perigoso, mau! Poderia ter sido seu
único assassinato, se não descobrisse mais tarde que ela mentiu.
O homem nunca a tocou. Então a raiva e a desconfiança
inflamaram e nunca atenuou. Forneceu a casca dura que tinha
agora. Mas o protetor dentro dele não estava morto. Savannah e
Olivia estavam trazendo à tona esse sentimento de novo. E talvez
não fosse a única coisa.

Por um momento, considerou lhe contar tudo. Mas era o


primeiro encontro, e ela tinha dificuldade em confiar. Esse não era
o momento. Talvez algum dia.

Savannah pegou um lenço e secou os olhos.

— O que foi? — perguntou.

— É tão cruel o que fizeram com você!

—Está chorando... por minha causa?

Ela assentiu.

—Sinto muito! Não gosto de pensar em ninguém passando


pelo o que eu passei, e o que fizeram com você foi muito pior. Às
vezes, eu gostaria de ser capaz de matar. Pode ser horrível dizer
isso, mas não posso evitar. Já se imaginou matando seus pais?

Grayson riu. Se ela soubesse.

— Todas as noites!

— Acredito que têm sorte, que você não acabou como eles.

Claro! Era uma sorte que se tornou um assassino em vez de


drogado e não estava por perto para matá-los. Não duvidava que
um dia os matasse, se os bandidos não tivessem feito o trabalho
por ele. Às vezes, o desejo ainda estava lá. Ainda sonhava que os
matava, apontando uma arma para a cabeça de cada um,
espancando-os até a morte, esfaqueando-os e torturando como
fizeram com ele.
Savannah secou os olhos de novo, trazendo-o de volta para o
presente. Ela chorava por ele! Sentia algo pelo que havia passado.
Ninguém nunca se preocupou com ele dessa maneira, ou se
importou com o que aconteceu. Sempre foi negligenciado,
esquecido e deixado para trás. Nunca era ouvido ou perguntavam
por que chorava.

Olhou para o chão. Se tivesse capacidade emocional,


possivelmente choraria também.

— Quer dançar? — perguntou Savannah. Vê-lo calado e triste


a deixou corajosa. Estava confortável com ele. Queria continuar
assim e descobrir quão próximos poderiam ficar.

Levantou e foi até a pequena caixa de som sem fio em cima da


TV. Abriu o aplicativo no seu novo celular pré-pago e a música
começou a tocar. A qualidade do som não era boa. Não tinha um
sistema de som completo como tinha na casa de James, mas era
melhor que nada. Ficou lá, um pouco sem graça, esperando.

Por um momento pareceu considerar, depois levantou e tirou


o celular da mão dela. A puxou para si e a abraçou enquanto
dançavam. Foi a melhor sensação que teve em muito tempo.

Pela primeira vez, não se sentia como uma mãe. Não usava
uma roupa prática, mas uma sexy. Não usava o uniforme de
enfermeira da escola. E não tinha uma só contusão que indicasse
ser uma sobrevivente. Deveria sentir-se feliz por ter sobrevivido,
mas às vezes desejava desesperadamente que, ao invés de ter
conseguido, nunca tivesse passado por nada disso. Estar com
Grayson a fazia se sentir uma mulher, não como alguém que
acabou de sair de uma situação horrível.

Sentia-se livre e, pela primeira vez em muitos anos, perdeu a


cautela, sentindo-se segura. Era um sentimento estranho. Quase
se preocupou com isso. Muita segurança poderia fazer a pessoa
ficar descuidada. Ela não podia correr o risco. Não quando vans
estranhas aparecem. Mas agora, neste momento, podia se permitir
ficar nos braços de Grayson e ser cuidada.

— Qual é o problema? — ele sussurrou ao seu ouvido.

Savannah limpou uma lágrima perdida e sorriu.

— Absolutamente nada. Estava pensando que não consigo


lembrar da última vez que me senti segura.

— Fico feliz. Quero proteger vocês duas.

Ela o olhou e seus olhos estavam repletos de desejo. Sua


própria expressão devia refletir a dele, porque ardia por ele.

Grayson se aproximou lentamente. Seu coração acelerou. Ia


beijá-la! Realmente ia acontecer. Fechou os olhos e esperou. Lábios
quentes e suaves pressionaram os seus. Ele colocou a boca na dela,
a língua gentilmente brincando no canto dos lábios.

Era muito bom beijá-lo. Na verdade, fazia muito tempo que


beijou. Beijar James era como um dever e nada prazeroso. Ele
usava o beijo como um instrumento de poder, como tudo em sua
vida. Mas beijar Grayson era como imaginava que um beijo deveria
ser. Suave e agradável, aumentando o desejo à medida que as
línguas se encontravam.

Ela abriu os olhos para encará-lo, e, por fim, se afastou. Atrás


dele, viu o relógio.

Savannah ficou sem fôlego.

— Oh não! Tenho que ir.

— O quê? Por quê?

— Não sabia que já era tão tarde! Devia ter buscado Olivia há
uma hora. — Correu à procura da bolsa e das chaves.

Grayson ficou onde estava, olhando-a.

— Sinto muito — Disse ela.

— Devia prestar mais atenção. Não queria te beijar e sair


correndo, eu...

— Savannah! — Pegou sua mão e puxou-a, pressionando os


lábios contra os dela outra vez.

— Não tem problema. Entendo. Isso não me assustou. Seria


necessário muito mais do que isso para que eu não voltasse.

— Obrigada. E obrigada pela noite maravilhosa.

— Faremos de novo em outra ocasião. — Não era uma


pergunta. Não lhe daria a chance de dizer não.

— Logo — Disse ela.


Ele seguiu-a para fora do apartamento e a acompanhou até o
carro. Quando Savannah entrou, deu-lhe mais um beijo rápido e
fechou a porta. Sorriu antes de se afastar.

Pelo retrovisor, ela olhou para trás, várias vezes, antes de


fazer a curva e ele sumir de vista. Grayson manteve os olhos nela
o tempo todo. Cuidaria delas agora que sabia a verdade e ela se
sentiria ainda mais segura. Se Grayson ficasse por perto, James
não causaria danos e não levaria Olivia. Então, ele só tinha que se
assegurar de estar sempre muito perto.
Capítulo 9

Savannah bateu à porta de Mallory, já com um pedido de


desculpa estampado no rosto. Mas Mallory abriu a porta com um
enorme sorriso e a puxou para dentro.

— Como foi o encontro?

Savannah não pôde evitar sorrir ao pensar em Grayson.

— Maravilhoso! Desculpe chegar tarde.

Mallory rejeitou com um gesto.

— Ela dormiu há duas horas. Divertiu-se muito e cuidarei


dela sempre que precisar. Acha que haverá outro?

O sorriso retornou.

— Sem dúvida haverá uma próxima vez com Grayson!

— Nossa! Estou tão feliz que encontrou alguém!

— Nunca me senti tão segura na minha vida!

— Então, estou ainda mais feliz! Você merece ter essa paz e
Olivia também. Ela estava muito feliz por poder ser chamada por
seu nome de verdade, mesmo que ainda precise chamá-la de Katy
na escola.
— É tão bom poder dizer às pessoas a verdade! — exclamou
Savannah.

— Também contei a Grayson, e ele quer nos proteger. É


agradável sentir isso, no entanto. Ter um homem que queira nos
manter seguras, em vez de fazer mal.

Mallory sorriu.

— Tudo que sei é que estou feliz por você ser capaz de confiar
agora. Minha falta de confiança acaba com muitas relações.
Provavelmente por isso ainda estou solteira.

— É um milagre, de verdade! Não tenho motivo para confiar


nele. E James foi realmente a única relação séria que tive. Talvez,
não ter muitas más experiências me ajudou, não sei.

— Talvez!

Savannah pegou Olivia do sofá e a acomodou no colo.

— Muito obrigada! Ela é meu mundo!

— De nada!

Savannah chegou em casa e colocou Olivia na cama, o tempo


todo sentindo falta de Grasno. Ele esteve ali, muito perto de onde
estava agora, e desejou que ainda estivesse. Tirou a roupa
lentamente, se perguntando como seria se despir para ele. A ideia
a fez sentir arrepios deliciosos.

Acabava de se deitar nos lençóis frios, quando seu celular


tocou. Um sorriso surgiu e pegou o celular na mesa de cabeceira
ansiosa para escutar a voz de Grayson.
— Oi?

— Ora, se não é a minha menina.

O coração de Savannah parou ao se sentar na cama. O quarto


rodou e sentiu um suor frio.

— James!

— Não levou muito tempo, não é? A encontrei em menos de


dois meses.

A boca de Savannah estava seca e não conseguia raciocinar.


O que isso significava? Onde ele estava? O que sabia?

— Você perdeu nossa pequena reunião, querida! Sabe como


odeio ficar esperando!

— Que reunião? — Sua voz soava fraca, diferente de como


realmente era. A língua estava dormente e dura.

— Nossa reunião no tribunal. Aquela em que o juiz me daria


a custódia total da minha filha. Convenientemente, você perdeu
esse momento tão importante!

— Você nunca a terá!

Ele riu, uma gargalhada cruel e rude. Era a gargalhada que


dava toda vez que ela dizia algo que ele não concordava.

— Sei onde está. E enviarei a polícia se não entregar a minha


filha.

Ela desligou e saiu correndo. Tremia tanto, que quase não


conseguiu fechar o botão do jeans. No armário do quarto tinha uma
mala. Estava arrumada desde o dia em que se mudaram e esperava
realmente não precisar dela. Tinha tudo o que era necessário para
fugir. Roupa, dinheiro, nova identidade.

A mala era a primeira parte. A segunda só foi acrescentada


recentemente e não conseguia acreditar que usaria tão cedo. Se
não fosse aquela conversa com Mallory outro dia, não teria para
onde levar Olivia e mantê-la a salvo. Enviou o código a Mallory e
saiu correndo pela porta.

Correu para o quarto de Olivia e deixou a porta aberta para


que a luz do corredor iluminasse o espaço. Sacudiu o ombro dela.

— Olivia, acorda, querida! Vamos, temos que ir!

— O quê? — Olivia esfregou os olhos e levantou.

Estava a ponto de dizer a verdade. Que seu pai as encontrou


e estava vindo pegá-la. Mas quando viu o olhar assustado da filha,
mudou de tática. Abriu um sorriso, com dificuldade.

— Tenho uma surpresa muito legal para você!

Seus pequenos olhos arregalaram de novo, mas desta vez,


com espanto.

— O que é?

— Terá um passeio noturno com a sua professora!

— Legal! — Olivia saiu da cama.

— Você também vai?


— Te levarei até lá, mas desta vez não posso ficar. Quem sabe
na próxima vez não fazemos uma festa do pijama?

— Posso levar meu urso?

— Claro que pode!

— Isso vai ser tão legal! — Olivia estava completamente


acordada e correndo pelo quarto, enfiando os bichos de pelúcia e
brinquedos na mochila.

— Muito bem, querida, temos que ir! Já tem o suficiente!

Pegou a mão de Olivia, sua mala e a dela e foi saindo do


quarto.

— Oh, espere! Só preciso...

— Olivia, não! Temos que ir AGORA!

Savannah não conseguiu conter o pânico na voz. James


poderia chegar a qualquer momento, e não tinham tempo para
pegar outro estúpido bicho de pelúcia. Não queria gritar assim,
mas em razão da urgência, saiu rapidamente.

O lábio inferior de Olivia tremeu e seus olhos encheram de


lágrimas.

— Desculpe, vamos nos atrasar se não formos agora, e você


não quer que a senhorita Stevens fique esperando, certo?

Ela sacudiu a cabeça e inspirou. Uma lágrima caiu na


bochecha, e Savannah agachou para lhe dar um abraço apressado.
— Desculpe por ter gritado! Chegaremos atrasadas! —
Pendurou a mochila em um dos ombros e colocou Olivia no seu
outro braço.

— Segure firme, querida!

Olivia se segurou com força e aninhou o nariz no pescoço de


Savannah. Sua garganta travou. Se algo acontecesse com sua filha,
mataria o idiota. Sua mente foi para Grayson. Se o chamasse, será
que ele viria? As protegeria?

No momento que chegaram ao carro, Olivia se recuperou.

— Talvez a gente possa jogar Candy Land de novo. A última


vez, eu ganhei!

— Isso parece ótimo! — Savannah empurrou as malas ao lado


de Olivia e pulou para o banco do motorista, ligou o carro e partiu.

Não saíram de sua rua ainda, quando viu um furgão preto sair
atrás dela. Olhou pelo retrovisor, tentando desesperadamente
prestar atenção no que Olivia estava dizendo, assim não a
chatearia.

— Tenho certeza que pode jogar vários jogos — disse. Teria


algum jeito de despistar este furgão? Como sairia dessa? Nos
filmes, as curvas eram feitas em alta velocidade e outras
maluquices. Isso seria muito perigoso com uma criança no banco
de trás. Especialmente se essa criança não sabia que estavam em
uma fuga.

Olhou para baixo quando seu telefone vibrou. Era Mallory


respondendo a mensagem que enviara logo após falar com James.
Apenas respondeu "Tenho um pouco" - que era o código. Essa era
a resposta à primeira mensagem de Savannah "Suco de laranja?",
faria sentido se alguém lesse, mas ninguém saberia o que
significava.

Agora, sabendo que Mallory estava preparada, poderia se


concentrar no problema principal, se é que existia algo mais
urgente que essa situação horrível. Olhou no retrovisor e viu o
furgão logo atrás dela.

Procurou pensar e elaborar um plano. Parou no próximo sinal


vermelho e observou. Estava com a seta esquerda ligada, mas
olhava o tráfego na direção contrária. Esperou o momento certo, e
quando um carro estava bem próximo, pisou no acelerador e virou
à direita, arrancando na frente do carro que se aproximava. O
motorista buzinou, mas ela sorriu.

O furgão não conseguiu acompanhá-la. Entrou rapidamente


na primeira rua livre, depois fez várias curvas até que nem ela
sabia mais onde estava. Digitou o endereço de Mallory no celular e
seguiu as indicações para chegar lá, observando constantemente
se o furgão aparecia.

Quando se aproximou da casa de Millôr, deu ré. Talvez se sua


placa permanecesse escondida, não ficaria tão evidente que aquele
Honda Accord preto fosse o dela e não um dos milhares que
passavam na rua. Abriu a porta do carro e tirou Olivia, em seguida,
correu até a porta da frente.

Mallory esperava com a porta aberta.

— Estão bem?
— Sim até agora! — Savannah olhou para a rua. Nenhum
furgão preto à vista. Entregou a mochila para Mallory e ajoelhou
para abraçar Olivia.

— Obedeça à senhorita Stevens e seja realmente boa, ok?

— Certo, mamãe!

— Nos veremos em breve. — Beijou sua testa e a abraçou com


força, não querendo soltá-la. Levantou e abraçou Mallory.

— Obrigada!

— Vá! E se cuide!

Savannah voltou para o carro e entrou na rodovia em


segundos. Enquanto dirigia, um pensamento a perseguia. James a
encontrou logo depois de contar a Grayson sobre elas. Talvez suas
suspeitas iniciais sobre ele estivessem corretas. Seu sangue gelou
ao pensar que certamente foi ele quem informou James onde
estavam.

Grayson bocejou e alcançou o celular. James estava ligando.


Outra vez. Quantas atualizações poderia dar para esse homem?

— Sim? — Disse, se espreguiçando no sofá. Dormiu vendo


televisão.

—Bem, acredito que posso entender por que estava dormindo.


Também estaria cansado depois de uma noite com Savannah.
Grayson sentou. Então suas suspeitas estavam certas. James
estava vigiando.

— Não foi nada especial. — Queria que parecesse trabalho.


Sem quaisquer outros motivos.

— É assim que lida com seus encontros?

— Não. É como lido com todos os meus trabalhos. Algumas


vezes tenho que usar as relações amorosas para me aproximar do
meu alvo. Você não quer que machuque a menina, certo?

— Chega dessa porcaria! Passou horas com ela sozinho, e


Olivia não estava em casa. Teve tempo mais que suficiente. Estou
por dentro de suas mentiras e manipulações. Você não é o único
assassino que tenho na discagem automática, sabia?

— E acha que seu outro homem é capaz de conseguir a


informação que estou quase conseguindo de Savannah? Acredite
no que quiser, mas quando ela fugir, serei um dos que ela ainda
confiará.

— Por que ela fugiria?

— Suspeita que você a encontrou. Sinceramente acredita que


ela não tem um plano? O que pensa que estive fazendo todo este
tempo me aproximando dela? Não espero que entenda como um
assassino funciona, mas espero que me deixe fazer o meu trabalho.
Agora quer assustá-la e perdê-las outra vez ou vai deixar fazer as
coisas do meu jeito? — Fez com que a voz soasse firme. Isso o faria
parecer mais realista.

Houve uma longa pausa.


— Na verdade, meus homens acabaram de perdê-las.

— Como? O que fez?

—Liguei. Ela precisava saber que acabou. Mas fugiram. Tinha


alguém as seguindo, mas ela conseguiu enganá-los. Agora não sei
onde estão.

— Seu idiota estúpido! Deus, se apenas me deixasse fazer o


meu trabalho, teria evitado tudo isso. Com certeza foi uma coisa
muito boa ter saído com ela, não é? Ninguém está em melhor
posição do que eu para saber onde ela e Olivia estão. Pode se
desculpar, quando quiser.

— Eu, hmmm...

— Idiota! Aumente a minha comissão em dez mil ou as


ajudarei, em vez de você! O que vai ser?

— Ok. Mais dez. Mas tem até manhã. Quero-as. Entendeu?

— Então se mantenha fora do meu caminho para que eu


possa fazer o meu trabalho. — Grayson desligou e socou o sofá.

Não era assim que deveria acontecer. James ligou para


Savannah e a assustou. Quem sabe onde estariam agora? Como
poderia protegê-la e a Olivia se não sabia onde estavam?

Calçou as botas depressa. Por que Savannah não ligou ou


enviou uma mensagem? Não confiava nele o suficiente para pedir
ajuda? Parecia que não estava tão próximo dela como pensou.

Ligou mas ela não atendeu. Então enviou uma mensagem:


“Você está bem?”
Não incluiu qualquer informação específica, mas desejou
poder dizer que James estava a caminho. Que sabia onde estavam,
caso ela não soubesse, e que James mentiu. Não duvidava que
recorresse a qualquer tipo de maldade para conseguir o que queria.
E Grayson garantiria que isso não acontecesse. Mesmo se sua vida
dependesse disso, manteria James longe de Savannah e Olivia.

Saiu de casa, entrou no carro e acelerou para o apartamento


de Savannah. James falou que ela fugiu, mas não acreditava em
nada vindo dele. Tinha uma boa chance de que James estivesse lá
agora, ferindo Olivia ou Savannah. Como não tinha nenhuma
informação sobre onde poderiam estar, o apartamento dela era o
único lugar para onde poderia ir. Talvez ela tivesse deixado uma
pista.

Parou no estacionamento e o carro dela não estava à vista.


Mesmo assim, Savannah poderia estar no apartamento. Correu
para dentro do edifício até a porta dela. Parou para escutar.
Nenhum som. Nenhuma luz sob a porta.

Colocou a mão na maçaneta e virou. Ela mexeu. Abriu a porta


e entrou no apartamento, a fechando silenciosamente atrás dele.

— Savannah? — Sussurrou.

Foi ao quarto dela. Quando parou no corredor, escutou o


clique de uma pistola ao seu lado e sentiu a dura ponta do cano
pressionando em sua cabeça. Congelou e levantou as mãos para
mostrar que não estava armado. Claro, isso não significava que o
seu revólver ou a faca não estivessem com ele, ou que suas mãos
fossem armas.
Estendeu um braço e tirou a arma da parte de trás da calça.
Ficou duro com o toque.

— Vou perguntar uma coisa, e se desconfiar que está


mentindo, vou atirar.

Grayson piscou na escuridão do apartamento. Não devia ter


escutado direito e tentou virar a cabeça, mas a arma foi
pressionada mais forte para mantê-lo olhando para frente.

— Savannah? Por que está fazendo isso?


Capítulo 10

— Preciso de respostas, Grayson! — exclamou Savannah.

— Algumas coisas não fazem sentido.

— Podemos falar sobre isso? Não sei o que está acontecendo,


mas vim aqui para encontrar você, me assegurar que Olivia e você
estavam bem. Para protegê-las!

Ela não afastou a arma. Se suas suspeitas estivessem


corretas, ele era parte do problema, e poderia ter que matá-lo antes
que a noite terminasse. Odiava a ideia de que este homem em quem
confiava, e que deixou entrar em sua vida quando não tinha
permitido mais ninguém, fosse aquele que a entregou para o seu
maior inimigo. Odiava a si mesma por ter se enganado com ele, e
queria mais que tudo estar errada. Ser capaz de confiar nele,
apesar de tudo.

— Onde realmente trabalha? — perguntou.

— Explicarei tudo. Pode, por favor, baixar a arma?

— Não! Responda a minha pergunta, Grayson!

— Não trabalho na empresa de suprimentos para restaurante,


na esquina.
— Então onde? — Pressionou a arma com mais força na
cabeça dele. A raiva e o doloroso sentimento de traição fizeram com
que não sentisse compaixão. Não ligava se o machucava.

— Não tenho um escritório ou um lugar para ir. Sou uma


espécie de autônomo.

— Fazendo o quê? — Resmungou entredentes.

Ele respirou profundamente, várias vezes.

— Savannah, por favor, me deixe explicar! Contarei tudo.

Ela bateu a arma com força na cabeça dele.

— Ok! Mas, pelo menos, prometa escutar tudo antes de atirar


— disse rosnando.

— Não!

Ele abaixou a cabeça.

— Então falarei rápido e espero que escute o que tenho a dizer.


Sou um assassino profissional. Fui contratado por seu ex-marido
para matar você e levar Olivia para ele.

A respiração dela acelerou quando as palavras a atingiam.


Cada palavra era um novo tapa, uma nova dor.

— Ele me garantiu que você maltratava Olivia, que gritava e


constantemente batia nela. Deu a entender que era um monstro,
mas quando te conheci, desconfiei do que ele disse. Precisava
conhecê-la! Não podia te matar ou levar Olivia, se não pudesse ter
certeza da veracidade das alegações dele. Quanto mais conhecia
vocês duas e passava um tempo com você, mais convencido ficava
que jamais machucaria Olivia.

Não queria continuar escutando. Queria descarregar toda a


raiva e a dor nele. Nesse homem que mentiu para ela. Mas ele
falava rápido, como disse que faria. E não conseguiu parar de
escutá-lo.

— Não demorou muito tempo, absolutamente nada, para eu


começar a ter sentimentos por você. Quando soube que não era
você quem maltratava Olivia, ficou claro que era James. Então
parei de procurar uma maneira de te matar e levar Olivia, para
encontrar uma forma de te manter a salvo e afastar vocês duas
dele. Ele me ligou esta noite. Pensou que tinha me exposto, porque
contratou alguém para me seguir. Tinha um furgão preto seguindo
por aí. Ele...

— Eu vi — disse.

— Me seguiu esta noite quando tirei Olivia daqui. Consegui


enganá-los.

— Boa garota! — exclamou.

— Não me chame assim! — O agrediu de novo com a arma.

Ele gemeu.

— Calma! Não disse como um insulto. É difícil perder um


hábito. Estou realmente impressionado. Depois que James ligou
para me dizer que sabia que tivemos um encontro, também
ameaçou me matar. Então, menti. Disse que não passava de uma
jogada para me aproximar de você e conseguir mais informações,
caso fugisse. Consegui convencê-lo de que ainda trabalhava para
ele, que estava do lado dele. Então vim aqui para te encontrar e
garantir que estava bem. Não vi seu carro, mas achei que talvez
pudesse ter deixado uma pista sobre o seu paradeiro. Não tinha
nada mais para seguir. Não sabia onde poderia ter ido, então,
entrei para dar uma olhada. E foi quando apontou a arma para a
minha cabeça.

— Então, o furgão preto não era um reforço para você? Os


outros homens de James não estão trabalhando com você?

— Não! Estão tentando me matar, assim como estão tentando


matar você! Olivia está segura?

— Sim! O furgão está parado aí na frente de novo.

Grayson amaldiçoou em voz baixa.

— Sim, estão aqui. Não sei quem James contratou para vir
atrás de nós, mas vou te dizer uma coisa: ninguém é tão cruel
quanto eu. A protegerei com a minha vida, e garantirei que James
nunca toque em Olivia novamente.

— Por que faria isso? Mal nos conhece. Não nos deve nada! E
estou certa de que James te pagou muito bem para fazer o
trabalho.

— Ele pagou. Mas só mato pessoas que merecem. E não


elimino mulheres. Ele usou muita persuasão para eu pegar este
trabalho, e eu estava desconfiado desde o início. E com razão,
aparentemente. James contou um monte de mentiras. Não sabia,
mas me pagou para te proteger em vez de matar. E vou acabar com
ele!

— Você o... mataria?

— É óbvio!

— Por quê?

Grayson riu.

— Está brincando? Querida, porque ele é um homem terrível


e um grande mentiroso. Maltratou você e Olivia e contratou alguém
para te matar. Ele não vai parar. Nada o deterá até que você esteja
morta, ou até que ele esteja! Simples assim. Quero te proteger,
então vou matá-lo!

A mão dela tremeu, mantendo a arma pressionada contra ele.


Estava começando a achar desnecessário, mas não devia se animar
e afastá-la. Ainda não.

— Como posso confiar em você? Como posso acreditar que


não foi você quem contou a James onde eu estava?

— Estive sozinho com você por horas e não te matei.

— Mas talvez o que disse a James seja verdade. Só queria


conseguir mais informações.

— Não! — exclamou.

— Que outra informação precisaria? Sei onde está, como te


contatar. Poderia ter te matado a qualquer momento. Poderia ter
te esperado fora do bar e te atacado. Poderia ter te envenenado no
bar. Poderia ter te jogado para fora na rodovia, quando voltávamos
para cá. Poderia ter te estrangulado, esfaqueado ou atirado em
você, ou feito outras coisas quando estávamos sozinhos no seu
apartamento. Como estamos agora. Mas te segurei e beijei.

— Talvez estivesse me fazendo confiar em você.

— Acredita nisso?

—Não! — Um pouco da sua confiança nele estava voltando,


mas não queria admitir ainda. Ele precisaria ganhá-la novamente.

— Bem, não há mais nada que eu possa dizer, exceto que


precisa acreditar que não a maltratarei, e que só quero proteger
você e Olivia. E então verá que está certa. O que tem a perder?

— Hmm, oi? Minha vida, minha filha? Tudo?

Ele suspirou.

— Olha, estou aqui agora. James sabe onde está. Tem outros
homens atrás de você e de mim. As chances estão seriamente
contra você. Precisa confiar em alguém para te ajudar, seja lá quem
for.

Savannah abaixou a arma. Ele disse quase a mesma coisa que


Mallory. Acreditou em Mallory e deu certo. Ou não? De repente,
seu interior se retorceu. E se Mallory estivesse envolvida nisso de
alguma forma? E se ela estivesse entregando Olivia para James
nesse exato momento?

Levantou a arma de novo, mas apontou para o ombro dele,


em vez da cabeça.
— Não posso confiar em ninguém! — Sussurrou, com voz
trêmula.

— Tudo bem, então. Acho que está por sua conta. Boa sorte!
— Ele levantou as mãos e ficou parado.

As lágrimas escorriam por suas bochechas. Ele se virou


subitamente, ficando cara a cara com ela. Ela nem reagiu. Sua
mente estava dando voltas com a possibilidade de ter enviado
Olivia para o inimigo. Finalmente, baixou a arma e colocou as mãos
no rosto, deixando os soluços saírem.

Os braços fortes de Grayson a envolveram e a aproximaram


mais. Tinha razão. Não tinha muitas opções a não ser confiar nele,
com a esperança de que ele não a enganasse, continuando a
trabalhar para James. Ele beijou o topo da cabeça dela.

— Tudo vai ficar bem — disse ele.

O celular dela vibrou no bolso. Uma, duas vezes. Não queria


saber quem estava ligando. Só podia ser James. Mas só poderia
ignorá-lo por um momento. Tirou o telefone e respirou quando viu
o nome de Mallory.

— Alô?

— Oi, mamãe! — exclamou Olivia.

— Oi, querida! O que você está fazendo?

— A senhorita Stevens me levou para uma aventura. Estamos


em sua casa secreta. É tão legal aqui, mamãe! É uma fazenda, e
ainda tem cavalos lá fora!
— Isso parece legal, amor! A senhorita Stevens está aí?

— Sim!

Houve um som abafado e logo depois Mallory estava na linha.

— Espero não estar atrapalhando. Ela parecia um pouco


insegura quando a trouxe para cá e achei que seria bom vocês
conversarem.

— Sim! — Savannah respirou aliviada.

— Obrigada!

— Não tem problema! Está tudo bem?

— Sim! Grayson está comigo. Ele vai me proteger.

Ele pôs uma das mãos em seu ombro o apertando.

— Ainda lembra o endereço?

— Sim!

— Muito bem então! Tenha uma boa noite!

Mallory finalizou a ligação e, com a mão trêmula e a confiança


renovada em sua amiga, Savannah colocou o celular de volta no
bolso.

Grayson a abraçou de novo.

— Vá para a cama! Não há mais nada que possamos fazer esta


noite, e sabemos que Olivia está segura.

— Não sei se vou conseguir dormir.


—Ficarei acordado para vigiar. Assim que deitar, vai perceber
o quanto está exausta.

Grayson segurou a mão dela a levando para o quarto.

— Preciso de um momento para me trocar — disse ela.

Ele esperou fora do quarto, verificando a arma e vendo se


havia munição suficiente. Não sabia quantos homens James
contratou.

Ela o chamou para entrar e a encontrou já na cama, com os


lençóis na altura dos seios.

— Ficarei bem aqui — disse, dando um beijo de boa noite,


então apagou o abajur da mesa de cabeceira.

Ela fechou os olhos e segundos depois, caiu no sono, como ele


disse. Grayson sabia bem o que era lutar contra a descarga de
adrenalina e situações altamente estressantes, e quando passava,
o cansaço chegava.

Mas agora que ela dormia, não podia tirar os olhos dela. Os
lençóis se movimentaram um pouco e uma parte de seu corpo ficou
exposto. Sua fina camisola não cobria muito. Pôde distinguir as
linhas dos seus seios redondos e as pontas dos mamilos. Sentiu
que ficava duro só de observá-la. Poderia ficar sentado ali por
horas.
Horas depois, Savannah se mexeu. Repentinamente virou e
sentou na cama.

— Olivia? — Murmurou.

Ele foi para o lado dela.

— Está a salvo.

Ela esfregou os olhos.

— Grayson?

— Sou eu. Você está bem. Olivia está segura. Volte a dormir.

— Tive um sonho horrível. — Afundou na cama de novo, mas


os olhos estavam abertos.

— Sonhei que ele estava com ela, e depois vinha me pegar. —


Fechou e apertou os olhos estremecendo.

— Grayson?

— Sim?

— Pode deitar aqui comigo?

— Tem certeza?

— Sim. Não quero me sentir sozinha. Sinto-me segura quando


está perto de mim.

Ele tirou os sapatos e a calça antes de se deitar sob os lençóis


ao lado dela. A olhou puxando-a para mais perto.

Ela se aninhou contra o peito dele suspirando.


— Assim é muito melhor! Não fico tão assustada com você
assim pertinho.

Ele acariciou o cabelo dela esperando que relaxasse,


esquecesse o pesadelo e voltasse a dormir. Amanhã seria muito
mais difícil se estivesse cansada. Quem saberia o que as próximas
vinte e quatro horas trariam.

Savannah levantou o rosto e o beijou. Não queria deixar de


beijá-la. Tê-la tão perto e com tão pouca roupa entre eles era muito
mais do que poderia aguentar. Enquanto a beijava profundamente,
deixou que seus dedos vagassem até os seios.

Quando chegou aos mamilos, intencionalmente passou o


polegar sobre o bico duro. Ela arfou, mas não o afastou.
Pressionou-se mais ainda nele, um convite para mais. Desceu mais
a mão no corpo dela, sentindo quão esbelto era.

Os dedos alcançaram a lateral da calcinha, invadindo e


provocando. Ela soltou um gemido suave. Desceu mais um pouco
e separou com os dedos os lábios da vagina, que já estavam
molhados.

Ela deixou escapar outro gemido trêmulo e pressionou os


quadris contra a mão dele. Ele penetrou, lentamente um dedo
dentro dela e depois tirou. Savannah gemia no seu ouvido, e a
sensação lhe provocava arrepios.

Baixou a calcinha até os tornozelos e utilizou o pé, para


terminar de tirá-las. Em seguida, gentilmente, a deitou de costas,
pois assim, poderia ficar mais próximo dela. uma das mãos
encontrou os mamilos, enquanto a outra fazia círculos lentos no
clitóris.

Ela se movia e gemia de prazer. Ele acelerou, pressionando


mais forte e introduzindo um dedo dentro dela. Ela mexia o quadril
mais rápido, segurando seu ombro. Acelerou o ritmo de seus dedos
até que ela gemeu de prazer, depois ficou quieta e ofegante.

Ele deu beijos ao longo do pescoço.

— Isso vai te ajudar a dormir novamente. —Murmurou, e ela


se aconchegou mais a ele.

— Obrigada.

— Foi um prazer — disse ele, sorrindo.

Ela voltou a dormir depois de um tempo. Enquanto estava ali,


com o corpo pressionado ao dela, sentiu um calor no peito que não
era comum para ele e isto poderia ser ruim. Agora que estava tão
preso aos seus sentimentos por ela, tornaria o seu trabalho mais
difícil. Tinha que estar em condições de se concentrar para mantê-
las seguras.

Poderia se apaixonar por ela depois. Neste momento, tinha


que manter Savannah e Olivia seguras e longe de James.
Capítulo 11

Uma batida na porta fez Grayson sentar rapidamente.


Repreendeu-se por dormir e ser surpreendido dessa forma. Saiu da
cama, o que despertou Savannah. Quando ela percebeu o que
estava acontecendo, sentou e pulou da cama, com um olhar
assustado.

Ele pegou a calça e tirou a arma, a deixando engatilhada.


Apontou para a porta, indicando para Savannah ver quem era.

Ela colocou um roupão e foi até a porta com Grayson em seus


calcanhares, com a pistola pronta. Houve outra batida.

— Savannah Peale? — Ouviram uma voz de homem do outro


lado da porta.

— Reconhece essa voz? — Sussurrou Grayson. Ela negou.

— Quem é?

— Noah Johnson. Sou do Serviço de Proteção ao Menor.


Recebi uma denúncia.

Pôs a mão na boca e olhou para Grayson. Ele abaixou a arma.

— Peça uma identificação — disse ele.


Puxou a trava de segurança da porta, mas não tirou a
corrente. Por um vão, olhou o homem.

— Tem identificação?

Ele mostrou o crachá com sua foto, nome e matrícula. Na


parte de baixo estava escrito Serviço de Proteção ao Menor.

Ela olhou para Grayson novamente, perguntando o que fazer.


Ele assentiu e guardou a arma na calça. Não sabia se este homem
dizia a verdade, mas se estivesse, cumprimentá-lo com uma pistola
não causaria uma boa impressão.

Savannah tirou a corrente para abrir a porta. Quando Noah


entrou, ela fechou e recolocou a trava.

— Do que se trata? — perguntou.

— Desculpe incomodar. Recebemos uma ligação a respeito da


sua filha, Olivia Peale. Designaram-me para a busca e localização
da menina.

Savannah o olhou em silêncio, surpresa.

— E quem fez essa ligação? — perguntou Grayson.

— Desculpe, mas quem é você? — perguntou Noah.

— Alguém preocupado — disse Grayson.

— Me deixe ver essa identificação de novo.

Noah entregou, e Grayson levou um instante para reexaminá-


la. Parecia legítima. Tinha um número no crachá, mas não confiava
nisso.
— Espere aqui só um minuto — Disse Grayson. Foi até o
quarto e pegou o seu telefone, retornando logo. Checou o número
no site do SPM, viu que coincidia com o da identificação, e ligou.
Havia uma opção no menu para verificar um assistente social.
Digitou o número de identificação e leu o nome de Noah. Então, o
maldito James, realmente, ligou para o SPM.

Grayson devolveu a identificação.

— Desculpe por isso. Procure entender que ultimamente


estamos sob muito estresse e em uma situação perigosa. Devemos
tomar toda a precaução necessária.

Era melhor falar abertamente a respeito dos detalhes do


abuso e como James foi atrás deles do que deixar Noah interrogá-
los. Ele precisava entender rapidamente que Savannah não era a
responsável pelos maus tratos causados a Olivia. E tinha que saber
o péssimo pai e marido que James era.

— Então foi o pai, James Peale, quem ligou? — perguntou


Grayson.

— Não posso dar essa informação — disse Noah.

— Só pode ter sido, mas é ele o responsável por machucar


Olivia, e quem persegue Savannah para ter a filha de volta, quando
na verdade, foi ela quem precisou se afastar, para manter Olivia
segura.

— Entendo — disse Noah. Olhou para Savannah.

—Você é Savannah Peale?

— Sim — disse, em um sussurro. O rosto estava pálido.


Grayson se aproximou e pegou a mão dela. Savannah
segurou, e ele pôde sentir como tremia.

— Sente-se, por favor — disse.

Foi até o sofá e sentou.

Noah ficou em pé na frente dela.

— Tenho algumas perguntas.

— Tudo bem — disse.

— Vou gravar a nossa conversa. — Noah retirou o pequeno


gravador, que estava no bolso.

Ela voltou a assentir, e ele pegou um bloco de anotações para


começar.

Savannah olhou para a parte de cima do bloco de anotações


de Noah, tentando não chorar. Deveria ter previsto isso.
Realmente, estava surpresa que James não fez isso antes. Mas
agora que estava acontecendo, estava entorpecida pelo medo. Se
essas pessoas não acreditassem nela, levariam Olivia. E não tinha
nada que pudesse fazer para impedir uma agência do governo.
Podia perder Olivia para sempre se acreditassem em James, e não
nela.

— Primeiro de tudo, Savannah, onde Olivia está? —


perguntou Noah.
— Está longe agora. Em umas pequenas férias com a
professora dela.

— Com a professora? — Fez algumas anotações e fez uma


pausa para olhá-la.

— Que professora é esta?

— Seu nome é Mallory Stevens. É a professora do terceiro ano.

— E onde estão exatamente?

— Na fazenda da família dela.

— Qual o endereço?

— Não posso te dizer. — Não tinha outra escolha a não ser


mentir e esperar que não acabasse muito mal. Não daria esse
endereço a ninguém. Havia muito em jogo. O que aconteceria se
Noah informasse James ou de alguma forma ele conseguisse a
informação?

— Não tem o endereço?

— Não posso te dar o endereço. Desculpe-me. Tem que


entender que meu ex-marido é extremamente violento. Estamos
fugindo dele. Tenho que tomar decisões extremas para proteger
Olivia.

Noah escreveu no bloco de anotações.

— Pode descrever os abusos?

— Durante os oito anos que estive casada, James me agrediu,


gritou, me obrigou a fazer coisas que eu não queria.
— Que coisas?

Savannah sentiu o rosto corar. Através dos dentes cerrados,


disse.

— Coisas sexuais.

— O viu abusar de Olivia?

— Sim.

— Como?

— Bateu nela — disse. — Ela reagiu, então ele bateu com força
no rosto fazendo-a cair, causando um hematoma no ombro e na
bochecha.

— Procurou assistência médica?

— Sim, levei-a ao hospital.

Noah vasculhou alguns papéis.

— Tenho aqui os registros. Segundo o que consta aqui, na


época, o médico suspeitou que foi você quem a espancou.

— Sim.

— Por que acha que ele pensou isso?

— Não sei. Mas eu não bati. Foi James, não eu. Jamais
levantei a mão para ela.

Noah fez mais anotações.

— Tinha consciência que podia voltar a acontecer?

— Sim.
— Mesmo assim não ligou para o Serviço de Proteção ao
Menor?

— Não, não liguei. Como poderia?

Noah parou de escrever e a olhou.

— Pode me explicar isso, por favor?

— O médico pensou que eu fiz aquilo e sabia que James


mentiria. Se eu ligasse, acreditariam que fui eu e não ele e a
afastariam de mim.

—Então, não fez nada? Deixou que a menina ficasse perto do


pai, que você temia que continuasse abusando dela?

— Não, não fiz — disse Savannah. Lágrimas encheram os


olhos dela, fazendo com que sua garganta apertasse. Quem era
esse homem para chegar aqui e acusá-la dessa forma?

— Eu saí. Peguei nossas coisas e fomos embora. Logo depois


pedi o divórcio.

— Sei. Decidiu que era melhor sequestrá-la em vez de


procurar os meios legais para protegê-la.

— Meu ex-marido é muito rico e poderoso, senhor Johnson.


Tem formas de convencer as pessoas a fazer coisas que não são
certas ou mentir se necessário. Tinha medo de ir aos tribunais, ver
as pessoas me acusando, e terminaria perdendo a minha filha, e
ela seria obrigada a viver com um pai abusivo.

— Vejo aqui que James pediu a guarda total, alegando que


você é uma péssima mãe. Você não compareceu à audiência.
— Não, não fui — disse. — Tive medo que ferisse a nós duas
novamente, então fomos embora. Nem sabia a data da audiência.

— Você apresentou documentos.

— Não. Se alguém fez isso não fui eu. Devem ter apresentado
por mim.

— Está acusando as autoridades de ajudarem a pessoa


errada?

— Não! — exclamou respirando profundamente. — Estou


dizendo que nunca os apresentei.

— Hmmm, está bem! — Noah fez mais algumas anotações. —


Retornarei para outra visita. — Noah levantou. — Espero que Olivia
tenha voltado das "férias" até lá. — Foi até a porta, parando para
recolher o gravador, acenando para Savannah. — Obrigado pelo
seu tempo.

Saiu, e quando a porta fechou atrás dele, Savannah ficou em


pé. Suas mãos estavam fechadas quando virou para encarar
Grasno.

— Esse maldito! — exclamou.

— Quando o encontrarmos, vou matá-lo eu mesma! Não


acredito que ele fez isso!

Foi para o quarto e pegou seu celular na mesinha ao lado da


cama. Procurou o número que James tinha ligado e retornou.

— Para quem está ligando? — Disse Grayson, aparecendo na


porta.
— Oi, querida! — exclamou James.

— Não se atreva a me chamar assim, filho de puta! Como


ousou ligar para o SPM? Sabe muito bem que sempre foi o único
violento. Não é nada mais que um viciado sem valor, covarde, que
precisa descontar a raiva em todo mundo porque não suporta o
fracasso que se tornou.

James caiu na gargalhada, e Grayson se aproximou dela.

— Oh, querida — disse James.

— Isso é pouco comparado ao que farei para recuperar Olivia.


E deve saber que, se não comparecer à próxima audiência, a única
desculpa que o juiz aceitará será uma certidão de óbito com seu
nome nela. E vou me assegurar que isso aconteça.

— Me escute, idiota...

Grayson tirou o telefone da mão dela, e finalizou a ligação.

— O que está fazendo!? — Gritou ela.

—Não vai ganhar nada com isso. Ele pode estar gravando a
conversa e usá-la contra você. Pode tentar arrancar informações
usando a sua raiva. Não pode fazer coisas assim, Savannah!

Ela cerrou os dentes.

— Não importa! Ele tem que pagar por isso!

— Ele vai! — Colocou a mão na bochecha dela.

— Vou me encarregar disso. Mas ligar para ele e gritar não


fará isso. Só te incomodará e ele vai saber que está te afetando.
— Dê-me meu celular!

— Não até que se acalme!

Ela rosnou, empurrando seu peito com toda a força. Ele nem
se mexeu. Sequer moveu um pé. Simplesmente colocou a outra
mão na dela.

Parou de tentar afastá-lo e sentou na cama.

— O que farei? Noah não acredita em mim, percebi isso.

— Eu sei. Não importa. Cuidarei de James antes que tenha a


chance de se aproximar de Olivia.

— Então, o que está esperando?

— O momento certo.

Savannah esticou o braço para alcançar o celular. Conseguiu


segurar e tentou tirar os dedos dele do telefone.

— Não. Tenho. Tempo!


Capítulo 12

Grayson falou calmo, mas firme.

— Savannah, pare, vai acabar se machucando.

Ela não se deu por vencida. Afundou os dedos nos dele,


usando as unhas e tudo o que tinha para que ele soltasse o celular.

Grayson recuou alguns passos, ficando fora de alcance.


Quando ela pulou, se jogando nele, segurou-a com o braço livre e
puxou-a para si.

— Pare com isso! Ligar para ele só lhe fará mal.

— Preciso fazer alguma coisa! —Disse soluçando e relaxando


nos braços dele.

Antes que pudesse colocar o outro braço em volta dela,


Savannah caiu de joelhos no chão, o corpo trêmulo com o choro.

— Acabou! — Ela lamentou.

— Ele vai tirá-la de mim e não há nada que eu possa fazer. Já


nos encontrou. Não consegui me esconder dele mais do que alguns
meses. Aonde for, ele me encontrará. Vai me matar ou maltratará,
e machucará Olivia.
— Tudo ficará bem — disse Grayson, ajoelhando e esfregando
as costas dela, fazendo o possível para acalmá-la.

— Não, não ficará! Você não entende. Ele tem muito dinheiro
e conhece muitas pessoas. Nunca me deixará sossegada ou livre.
Fará de tudo para conseguir Olivia. Também te matará se ficar no
caminho. E então, continuará a maltratá-la. E talvez até termine
matando-a. Ele não a quer. Só quer me atormentar, machucá-la,
pois isso é o que mais me dói e James sabe. Vai usá-la para me
pegar.

Grayson sentiu o coração rasgando ao meio. Sabia que


precisava afastar este sujeito rápido, mas só tinha uma maneira.
Caso se precipitasse, poderia se tornar descuidado e alguém
poderia se ferir. Sua primeira regra ao matar alguém era tirar um
tempo e refletir sobre o caso. Foi assim que ficou fora da prisão,
que sempre trabalhou.

Mas não suportava ver Savannah assim, tão angustiada e


chateada. Sentiu a tristeza de sua infância retornar. Todas as
noites que chorava até dormir, desejando ter condições de fugir ou
que seus pais morressem. Era uma maneira horrível de viver.

— Só tem uma coisa que posso fazer — disse ela, sentando e


secando os olhos vermelhos e inchados.

— Nos manter firmes e esperar até que possamos nos livrar


dele — disse Grayson.

— Não. Temos que ir embora. Precisamos fugir de novo.


Esconder-nos melhor e garantir que James não nos encontre.
— Essa é uma péssima ideia. — Ele disse.

— Só vai irritá-lo mais e fazer com que ataque com mais força.
Veja como está se prejudicando. Acredita que fugir de novo é a
melhor opção? O serviço de proteção ao menor já está atrás de
você. Está vivendo o tempo todo sob total estresse, e isso está
afetando Olivia. Tem um trabalho aqui e ela também está se
adaptando. Tem amigos que te ajudam. Se for embora, vai ter que
recomeçar e passará por tudo isso de novo. E estará mais distante
de mim.

Talvez essa fosse a pior parte. Se Savannah partisse, teria que


ir junto ou não poderia protegê-la. Não queria fugir, mas tampouco
seria capaz de vê-la partir.

— Então, acha que devo ficar aqui e esperar que ele venha me
matar? — Sua voz falhou pela incredulidade.

— Precisa recuperar a sua vida, parar de fugir e enfrentar a


situação. É a única maneira de ter paz. James quer que fuja, para
que o serviço de proteção ao menor considere isso como uma ação
ilegal. Se estiverem de olho em você, não fará diferença se James
estiver morto, podem vir depois e levar Olivia. Fugir a fará parecer
culpada. E você não é! Não fez nada errado, exceto se casar com
um cretino. Pense com clareza para tirar o controle dele e corrigir
a situação.

Savannah o fulminou com o olhar, a raiva nascendo do


desespero. Como ele se atrevia a falar assim com ela?

— Você não sabe o que está falando — disse entredentes.


Ficar enfurecida era melhor do que desesperada. Mas, no fim,
o que ele disse fazia sentido e recuperar o controle de sua vida
soava maravilhoso. Embora ficar parada aqui não era a melhor
maneira de fazer isso.

— Posso fazer tudo isso se fugir.

— Não, não pode.

— Grayson! — A raiva diminuiu por um momento e uma nova


onda de lágrimas a tomou novamente.

— Não posso!

Ele a levantou do chão.

—Pare com isso agora! Você pode e vai. Não é uma vítima,
Savannah! Chega de agir como uma.

Ela piscou, o choque das palavras a calando. Então se libertou


dos braços dele.

— Vá para o inferno! Você está doido!

Tentou sair dos braços dele, mas Grayson segurou seu braço
novamente.

— Me solte.

A soltou imediatamente. Pelo menos, entendia que não devia


segurá-la à força senão poderia ficar tentada a procurar sua arma
e atirar.

— Sei o que estou dizendo — disse.


— Já passei por isso, acredite. Fugir só criará novos
problemas em um novo lugar.

— Talvez uma pessoa como você possa simplesmente resistir


e abrir caminho nas situações difíceis. Mas sou uma mãe solteira,
com uma menina pequena que depende de mim. Não posso me dar
ao luxo de ficar parada com um alvo na minha testa. James não
me encontrará e o serviço de proteção ao menor, tampouco.

— Até parece que não a encontraram agora.

Ela o encarou.

— Vou encontrar um lugar bem melhor. Também mudarei


nosso visual. Terei mais cuidado.

— E não tomou cuidado agora? Savannah, pare e ouça. Posso


protegê-la se ficar aqui. Se fugir para algum lugar que nunca estive,
até poderia ir com você, mas não conheceria a área, não teria
contatos. Posso fazer isso melhor aqui. E não me meto com esses
idiotas do serviço de proteção do menor. Eles não brincam quando
um dos pais foge depois de ser denunciado. Está querendo parecer
culpada?

— Não se preocupe com isso. Não preciso de você para me


proteger. — Aprendeu a usar uma arma para isso. Não queria
depender de ninguém, a não ser dela mesma.

— Não preciso da ajuda de ninguém.

Ela se aproximou do armário e escancarou a porta. Pegou a


mala grande que estava no chão. Tinha colocado junto à outra
mala, que mandou com Olivia e Mallory. Estava arrumada para
quando precisasse fugir outra vez. E agora era a hora. Não tinha
outra opção. Não conhecia forma melhor de proteger Olivia.

Savannah jogou a mala na cama e abriu o zíper de cima.


Pegou da cômoda algumas roupas ao acaso e as jogou dentro da
mala, sem prestar atenção no que fazia. Quando a gaveta de roupa
íntima estava vazia, passou para a gaveta de calças.

Grayson ficou ali por um momento olhando, com os braços


cruzados. Então, deu um passo à frente, fechou a mala e a puxou
de cima da cama. Savannah pegou a alça lateral e puxou para trás,
tentando tirar a mão dele da outra alça. A metade do conteúdo caiu
durante a luta, mas ele continuou segurando com mais força
ainda.

Recuou e jogou a mala pelo quarto. Savannah cerrou a


mandíbula e correu para pegá-la. Grayson se adiantou e pegou
Savannah, em vez da mala.

Levantou-a, segurando-a apertado nos braços e jogando-a na


cama. Ela quicou um pouco, o ar saindo dos pulmões enquanto
arfava, tentando recuperar o fôlego.

Grayson subiu em cima dela, segurando suas mãos ao lado


do corpo.

— Você não vai a lugar nenhum!


Capítulo 13

— Saia de cima de mim! — exclamou.

O medo fez sua garganta paralisar. Era muito parecido com o


que James costumava fazer quando queria sexo e ela negava.
Quando se sentia ousada, era isso. Na maioria das vezes, ela cedia
e o deixava fazer o que queria, mas, às vezes, não tinha vontade.
Nessas ocasiões ele corria atrás dela. Muitas vezes, a empurrava,
e rasgava suas roupas. Outras, a forçava a separar as pernas e a
penetrava, e ela chorava e gritava de dor. E James amava bater
nela enquanto a possuía. Geralmente, Savannah acabava
sangrando em vários lugares depois que ele terminava.

Olhou para Grayson, com os olhos selvagens e em pânico. Ele


viu sua expressão e suavizou.

— Prometo que não vou machucá-la. Preciso que me escute.


Por favor.

Ela não fez nada, só olhou para ele. Relaxou um pouco, mas
não completamente. Não conseguiria relaxar totalmente enquanto
estivesse em cima dela.

— Vai me escutar? — perguntou.

Savannah assentiu.
— Ótimo. Você não pode fugir outra vez. Sei que acha que é o
melhor. Vi o SPM em ação, e você está subestimando-os. Se manter
Olivia com você é o seu principal objetivo, você deve ficar até que
isso seja resolvido. Entendeu?

Ela cerrou a mandíbula e o encarou.

— Posso proteger vocês duas se ficarem aqui. Também tem a


ajuda de Mallory. Se ficar, tem pessoas que podem te ajudar. Tenho
lugares que podemos ficar, carros, dinheiro e armas. Não terei
nada disso se fugirmos. Entendeu?

Ela, mais uma vez, se negou a responder. Não queria admitir


que as justificativas dele faziam sentido, que começava a entender.

— Cuidarei de James. Acredita? Confia em mim?

Savannah não queria responder. Queria chutá-lo na virilha,


fugir e resolver isso por contra própria. Ficar aqui parecia fácil.
Deixá-lo ajudar parecia fácil, mas nada na vida dela foi fácil. Se as
coisas não estivessem difíceis, sabia que era só uma questão de
tempo para que algo acontecesse.

Mas e se fosse mais fácil com ele? E se Grayson tivesse razão


quanto a fugir? E se realmente pudesse protegê-las e cuidar de
James?

— Sim — disse ela, finalmente.

— Sim, o quê?

— Sim, confio em você.

— Vai fugir?
— Não.

Grayson arqueou uma sobrancelha, a desafiando.

— Tem certeza?

—Sim! — exclamou, relaxando finalmente na cama. Não


conseguia brigar, nem queria.

— Mais uma pergunta — disse Grayson, inclinando-se para


ela e sussurrando.

— Quanto você me quer agora?

Não queria admitir que estava excitada. Confiar nele


provocava uma pequena emoção que nunca sentiu antes. O medo
foi substituído pela curiosidade. Como seria ficar com ele? Nada
parecido com James, certamente. Se fosse como na noite passada,
quando a tocou...

Seu corpo ardeu e se contraiu com a lembrança do prazer.

Grayson a beijou demoradamente no pescoço, mordiscando


gentilmente o queixo. Arrepios a percorreram. Suas pernas
estavam abertas e envolveram a cintura dele. Ele se deitou sobre
ela, deixando o pênis duro pressionar entre suas coxas.

Savannah passou a mão pelos cabelos loiros, emaranhando


os dedos e os puxando com delicadeza. Ele gemeu em resposta e
pressionou rudemente os lábios nos dela. As bocas se uniram, ele
chupava o lábio, a língua tentava invadir a boca de Savannah,
como se quisesse devorá-la.
A mão dele encontrou o caminho para os seios. Ela usava
apenas um baby-doll sob o roupão. Ele apertou o mamilo rígido,
causando um formigamento pelo corpo dela. Savannah deixou
escapar um gemido e suas unhas afundaram nas costas de
Grayson. Mas a camisa estava no caminho, então segurou a barra
da camisa, puxando até tirá-la.

O peito nu era forte e musculoso na luz da manhã. Passou os


dedos pelo abdômen, adorando sentir a musculatura sólida.
Correu as mãos nos bíceps fortes e nas costas dele, cravando as
unhas na carne, o aproximando mais.

— Tenho que ter você. — Ele rosnou, abrindo o roupão e


descendo a calcinha do baby-doll. Suas pernas foram abertas, e a
boca dele encontrou o clitóris. Grayson sugou forte, usando a mão
livre para apertar os mamilos enquanto trabalhava com a língua
nela. Ela gemia de prazer, retorcendo o quadril contra a boca dele.

Ele empurrou um dedo dentro dela e o movimentou, entrando


e saindo em sua umidade. Savannah não queria outra coisa além
de senti-lo profundamente dentro de si. Puxou os cabelos dele, até
subir novamente, pressionando a boca na dela, e então sentiu a
pressão do pênis na sua entrada.

Com um impulso, ele estava dentro dela, enchendo-a.


Savannah gemeu profundamente. Não se sentia bem fazendo sexo
há um longo tempo.

Ele moveu o pau duro dentro e fora, causando ondas de prazer


em cada centímetro de seu corpo. Grayson colocou uma de suas
pernas até o ombro, se posicionando para que pudesse empurrar
mais forte.

Cada vez que ele ia mais fundo, ela se aproximava mais. De


repente, ele tirou o pênis. Virou Savannah e a levantou, deixando-
a de quatro. Empurrou dentro dela por trás, agarrando um
punhado de cabelo e fazendo sua magia.

Savannah gemeu, empurrando a bunda enquanto Grayson se


movia dentro dela, e com os dedos acariciava o clitóris, em
segundos ela sentiu o orgasmo chegar. Ele a puxou mais perto e
acelerou até gemer, terminando com alguns impulsos fortes.

Eles ficaram quietos, com o pau ainda pulsando dentro dela,


e arfaram juntos por alguns minutos. Savannah não conseguia se
segurar mais e finalmente desabou na cama, fazendo com que ele
saísse de dentro dela. Grayson deitou ao seu lado, afastando o
cabelo da testa suada.

Ela aproveitou alguns minutos para realmente apreciar o


sexo. Esqueceu como era. Como um orgasmo podia ser tão
delicioso e como era bom ser desejada por um homem. E agora que
o teve, queria mais.

Grayson descansava ao lado de Savannah, olhando o corpo


suado sob a luz. Ela parecia tão bem. Estava surpreso que ela
gostasse de sexo pesado, depois de tudo o que passou. Estava
disposto a ser gentil e ir devagar, mas ela não queria nada parecido.
Depois do jeito que o envolveu, não teve outra escolha a não ser
pegar pesado. Seu pau estremeceu ao pensar nisso. Ela era tão
gostosa.

Mas achava que isso poderia ter sido um erro, pois estava se
aproximando muito dela. E não agia assim normalmente. Grayson
não tinha relacionamentos, e certamente não se apaixonava por
mulheres que fora contratado para matar. Várias vezes fingiu
interesse para conseguir informações. Porém, não tinha
sentimentos envolvidos. Era somente trabalho.

Apesar de seus melhores esforços, Savannah se tornou muito


mais que um mero trabalho. Preocupava-se com ela, e não foi
apenas uma transa. Queria cuidar dela e protegê-la, assim como
sua filha. Não importava o dinheiro. Não conseguiria mais nada
agora, de qualquer maneira, mas não ligava. Queria matar James
pelo que fez a ela. E, unicamente, por essa razão. Ele era um
monstro e fez coisas horríveis para ela, então precisava pagar.

Tinha um pensamento assustador no meio de tudo isso. Uma


visão que não conseguia esquecer e que era recorrente. O cenário
era uma casa, onde Savannah estava na cozinha, preparando o
jantar, Olivia sentada à mesa fazendo a tarefa. Ele chegava em casa
vindo do trabalho, e elas o recebiam como se realmente estivessem
com saudade. Então eles jantavam em família e tinham uma bela
noite juntos.

Essa visão não fazia parte da vida de Grayson, pois ele não
era um homem que trabalhava das nove às cinco. Não queria uma
esposa ou família que pudessem ser usadas contra ele, nem
ninguém ligado a ele. Nunca quis uma vida doméstica. Até agora.
Queria isso com Savannah. Tudo isso. E talvez essa fosse a coisa
mais assustadora que já experimentou.
Capítulo 14

Savannah adormeceu depois de fazer amor com Grayson, e


quando acordou, sentou na cama rapidamente.

— Algum problema? — Murmurou Grayson.

— Preciso buscar Olivia. Quem sabe quando o sujeito do SPM


voltará?

— Tenho certeza de que você tem alguns dias.

— Talvez. — Savannah mordeu o lábio, tudo voltando a sua


mente. Seria seguro ali? Se esperassem o SPM voltar, como
poderiam ter certeza que nada aconteceria com Olivia nesse meio
tempo?

— Grayson?

— Sim? — Ele esfregou o rosto e a olhou.

— Você ficará aqui? Conosco, quero dizer? Um pouco? Até que


Olivia esteja segura? Não podemos fugir, pois temos que esperar o
SPM, e James sabe que estamos aqui, então não sei se é seguro
para Olivia e eu...

— Savannah...

Ela fechou a boca e o olhou.


— Sim — disse Grayson.

Ela suspirou aliviada.

—Obrigada. Não acho que conseguiria dormir se ficássemos


sozinhas nesse apartamento.

— Vou proteger vocês duas. Já disse.

— Eu sei, mas você ficar aqui é diferente. Não sei o que direi
para Olivia. — Savannah sentia saudade da filha, como se tivesse
passado muito tempo desde a última vez que falou com ela. Mas
não podia arriscar que uma ligação as rastreasse até a casa da
fazenda. Esse lugar deveria continuar seguro caso precisassem
dele de novo.

— Vou tomar uma ducha para que possamos ir.

Pegou algumas roupas e foi para o banheiro. Com o chuveiro


ligado, não escutou Grayson entrar. Quando ele afastou a cortina,
ela gritou.

Grayson pressionou os lábios para não rir.

— O que está fazendo?! Não pode me assustar dessa maneira


— disse, batendo no peito nu.

O sorriso desapareceu e surgiu um olhar faminto. Ele entrou


na água quente se aproximando do corpo nu de Savannah.

— Detesto você agora.

—Estou bem com isso. — Beijou o pescoço dela, deixando que


a água escorresse pelo rosto e todo o seu corpo.
Apesar da raiva pelo susto, Savannah deixou escapar um
gemido, quando Grayson beliscou seu mamilo.

— Não temos tempo para isto — disse.

— Tenho que buscar Olivia.

— Posso ser muito rápido.

— Grayson... — Se afastou dele. A ideia de uma rapidinha no


chuveiro sem quaisquer preliminares, quando não estava no clima,
parecia muito com o sexo que era obrigada a ter durante o
casamento. Não queria estragar as coisas entre eles.

— Não! — A voz tremia e esperou que ele a agarrasse e fodesse


ali do mesmo jeito.

Mas Grayson se afastou, dizendo.

— Pelo menos posso vê-la terminar o seu banho? — Disse com


o sorriso torto retornando.

Savannah respirou fundo e relaxou.

— Se quer tanto — disse, rindo.

Ela terminou rapidamente, pois cada minuto parecia se


transformar em horas. A preocupação com Olivia aumentava e
corroía seu estômago. E se algo aconteceu com ela e Mallory? E se
James as encontrou e estivesse com Olivia nesse momento?
Quando saiu, Grayson tomou um banho rápido e ela se vestiu.
Quando terminou de secar o cabelo e se arrumar, viu que ele já
estava vestido e em pé no quarto, verificando as armas.

— Pronta? — perguntou.

Assentiu pegando a bolsa e as chaves em cima da cômoda.

— Vou dirigir — disse Grayson, esticando a mão para pegar


as chaves.

— Não, pode deixar. Estou agitada demais para ficar sentada.

Sentou no banco do motorista, e ele no do passageiro. Dirigiu


em silêncio, pensando em tudo o que poderia dar errado. Procurou
pelo furgão preto novamente ou outro veículo que pudesse segui-
los e ficou admirada por não encontrar nada. Parecia que estava
deixando passar algo.

— Viu alguém nos seguindo? — perguntou.

— Não. E você?

— Não é estranho?

Grayson encolheu os ombros.

—Pode significar muitas coisas. Não me preocuparia com isso.


Vamos nos animar por isso.

— Mas não sente como se estivéssemos deixando algo passar?


Parece que estamos levando-os direto para ela. Por que deixariam
de nos seguir?
— Talvez pensem que não é necessário já que sabem onde
você mora. Ou o cara foi comer e será despedido por te deixar
escapar. Como o SPM está te monitorando, você não irá a lugar
nenhum. Quem sabe?

— Ou talvez não precisem nos seguir porque já estão com ela.

— Essa é só uma das muitas possibilidades.

A respiração de Savannah falhou. Não era o que queria ouvir.

— Não vou mentir, Savannah. Mas não quero que se


preocupe, também. Em breve estaremos lá, e então você poderá se
acalmar.

Ela lhe deu um olhar indignado.

— Acha que ter Olivia comigo outra vez vai me tranquilizar?


Estarei preocupada em mantê-la segura. Temendo que James
apareça de repente. Não ficarei em paz até que James desapareça.

Ele se esticou colocando a mão na perna dela.

— Tudo ficará bem. Não tem nada com o que se preocupar.

Ela cerrou os dentes e saiu da estrada principal para uma de


terra que os levaria para a casa da fazenda. Quando olhou
novamente pelo espelho retrovisor, o furgão estava lá. Conteve a
respiração e sentiu um estranho alívio ao vê-los.

— Lá estão eles — disse.

Grayson já os viu, pois estava olhando pelo espelho.


—Volte para a rodovia. Temos que despistá-los, não quero
ficar muito perto de onde Olivia está.

Havia poucas estradas na área onde estavam para que


pudesse entrar. Manteve os olhos bem abertos para encontrar um
lugar para retornar.

Grayson gritou.

— Abaixe-se!

Segundos depois, ouviu vários sons metálicos fortes.

— O que foi isso?

— Estão atirando. Mantenha a cabeça abaixada. — Ela


procurou abaixar a cabeça e ainda ter visão suficiente para dirigir.
Escorregou no assento, mas não conseguiu olhar no espelho
retrovisor. Do espelho lateral, viu alguém do lado do passageiro do
furgão apontar uma arma para eles.

Grayson sacou a pistola e estava abrindo a janela.

— O que eu faço? Paro?

— Não! Dirija! Eu cuido do resto.

Ele colocou a cabeça para fora e atirou várias vezes. Os tiros


foram revidados e um quebrou o vidro traseiro. Ela gritou com o
barulho alto e repentino, e o carro derrapou.

— Continue!
—Estou tentando! — O medo e a adrenalina a tomaram.
Continuou abaixada, seguindo em frente. A cabeça rodava e os
dedos estavam brancos.

Olhou para Grayson de novo. Ele continuava entrando e


saindo pela janela, disparando a arma, e logo voltando a recarregá-
la. Parecia cena de filme, ele armado e atirando no carro de trás.
Grayson parecia realmente o perigoso assassino que era.

Esqueceu, por um momento, que ele foi contratado para


matá-la. Que ganhava dinheiro e matava pessoas para viver.
Jamais se viu matando alguém, apesar de todas as vezes que
pensou em matar James. A ideia de apontar uma arma para ele e
apertar o gatilho, dava um pouco de conforto, mas temia que se
chegasse a isso, não seria capaz de seguir adiante.

E aqui estava Grayson, atirando para todos os lados, para


acertar alguém. Ele era treinado para matar. Como ainda não o
pegaram, não tinha ideia. Talvez ele já passou um tempo na prisão.
De repente, percebeu que não o conhecia, que dormiu com ele e
deixou que esse assassino profissional entrasse na sua casa.
Dormiu ao seu lado mesmo sabendo que foi pago para matá-la.

Será que estava louca? Como podia pensar que estava mais
segura com ele? James podia ter dinheiro e conexões, saber usar
as mãos, mas nunca matou ninguém, que ela soubesse. Quantas
pessoas será que Grayson já matou?

Enquanto apertava o volante, pulando a cada tiro, uma coisa


passava pela sua mente repetidas vezes. Grayson era muito
perigoso para ela. Não podia ter um homem como esse na sua vida
e perto de Olivia.

Grayson mirou novamente e atirou. O homem atrás do volante


caiu para frente. Finalmente! O atirador no assento do passageiro
foi muito mais fácil. Dois tiros quebraram a janela do carro, alguns
foram perdidos, enquanto Savannah desviava pela estrada, e com
mais dois derrubou o maldito.

Ele seria muito mais eficiente se tivesse um motorista mais


habilidoso. Os gritos dela também o distraíram. Estas não eram as
condições que estava acostumado a trabalhar, mas Savannah
dirigiu bem, dadas as circunstâncias. Apesar da grande derrapada,
manteve o carro firme. Não freou ou acelerou muito. Soube
instintivamente que distância manter entre os carros. Com um
pouco de prática, ela poderia se tornar uma boa motorista para
este tipo de trabalho.

O furgão continuou na estrada por alguns instantes, mas


desviou em uma bifurcação. Grayson o manteve na mira,
observando-o bater nas árvores em alta velocidade, capotando uma
vez, depois outra, antes de finalmente parar. Segundos depois,
escutou uma forte explosão e sentiu o carro desviar um pouco
quando Savannah pulou. Virando para trás, viu apenas as
chamas.

— Acho que isso resolve a questão — disse ele.

— O que acabou de acontecer?


— Atirei no motorista, então o furgão capotou e explodiu.

À medida que ela acelerava, os destroços ficavam mais


distantes.

— Dirigiu bem — disse, retornando para o assento e


recarregando a arma por precaução, poderia ter outros veículos na
área ou alguém mais atrás deles. Precisava estar preparado.

Olhou para Savannah que estava com os olhos cheios de


lágrimas. As mãos apertavam o volante, e continuamente encarava
o retrovisor.

— Tudo bem — disse estendendo a mão para acariciar o


cabelo dela. Ela estremeceu com o toque.

— Savannah, acalme-se. Acabou.

Ela apertou o queixo, não olhando para ele.

— O que está acontecendo? Está com medo?

Savannah engoliu a saliva e o encarou.

—Eu...— Observou a estrada novamente, e depois perguntou.

— Quantas pessoas você já matou?

— De onde veio isso? — De todas as coisas que imaginou que


ela perguntaria, esta não era uma delas.

— Responda a minha pergunta.

— Não sei exatamente.

— Uma estimativa.
— Uau, calma — disse.

— O que é isso?

Ela parou o carro, pisando forte no freio e derrapando no


acostamento. Virou para ele, com os olhos arregalados.

— Dez? Vinte? Cem?

— Perto de vinte. Por quê?

Savannah fechou os olhos, finalmente as lágrimas começaram


a descer por suas bochechas.

— Não posso acreditar que dormi com você! — Sussurrou.

— Você é pago para matar pessoas. Nunca deveria ter deixado


você entrar na minha casa. Tenho uma filha, Grayson! E ela
precisa de um pai, não de um assassino profissional no quarto ao
lado. Preciso de alguém em nossas vidas que possamos contar.
Para preparar o jantar, tirar o lixo, cortar a grama e ir ao cinema.
Não alguém que tenha mais armas que calças, e que pague as
contas tirando vidas. Desculpe-me, deixei isso ir longe demais.

— Você é quem está dizendo. — Respondeu ele.

Ele já sabia que estar muito perto dela era um erro. Não
pensou nisso antes? Que ter sentimentos só causaria problemas?
E com certeza, agora ela estava enlouquecendo por ele não ser o
homem de família que ele nunca afirmou ser.

— Se não pode confiar em mim, então não vá à fazenda —


disse.
— Não estou dizendo que não posso confiar em você — disse
Savannah lentamente, visivelmente mais calma agora.

— Já me provou isso me protegendo. Não estou dizendo que


não reconheço tudo o que tem feito por mim, por nós. Reconheço.
Mas não posso... — Mordeu o lábio, fechando os olhos. —
Simplesmente não posso.

—Tudo bem. — Precisava fazer o que prometeu, e seguir


adiante. Não tinha mais tempo a perder. — Tenho um novo plano.
Me leve ao meu hotel.

Voltou para a rodovia dirigindo em uma velocidade normal. O


silêncio era ensurdecedor. Não tinham como manter uma relação.
Não importava quanto a quisesse ou que Savannah o desejasse,
nunca daria certo. Grayson não era um funcionário de escritório
gentil e amoroso, que trabalharia todos os dias e voltaria para casa
sendo um pai e marido. Ele era quem era. Se ela não gostava, ok.
Sabia que ela não era o seu tipo desde o começo, e agora confirmou.
Isso mostrava que não valia a pena se apaixonar por ninguém. Na
sua profissão, se envolver só significava problemas. Não tinha
tempo nem paciência para problemas. Tinha um trabalho a fazer.
Capítulo 15

— Então, qual é o novo plano? — perguntou Savannah


quando entraram no hotel.

Grayson abriu a porta.

— Entre.

Ela o seguiu e sentou na cama, o olhando. Ele recolheu a


roupa que estava espalhada e enfiando na mala.

— Estive avaliando erroneamente a situação. Pensei que


conseguiria proteger você e Olivia. Que se James aparecesse e te
ameaçasse, eu o mataria. Mas isso não vai funcionar. Este é um
movimento defensivo, e precisamos partir para o ataque. — Fechou
a mala e abriu o zíper de outra de onde começou a retirar as armas.

— Irei atrás dele. Vou atraí-lo e eliminá-lo. Não ficarei aqui de


braços cruzados e esperar. Vou matá-lo, e então, você e Olivia
estarão a salvo e todos os seus problemas estarão solucionados.

E o seu maior problema também estaria resolvido. Terminaria


esse trabalho e poderia se afastar de Savannah antes que as coisas
piorassem. Agora sabia com certeza que nada poderia acontecer
entre eles, que queriam coisas muito diferentes. Grayson precisava
se afastar dela. Estar perto apenas faria com que a desejasse mais.
E pior, poderia se apaixonar ainda mais.

— O que fará exatamente? — perguntou Savannah, com a


expressão um tanto insegura. Como se não achasse uma boa ideia.

— Dizer para ele que o trabalho está feito. Enviarei uma foto
sua parecendo que está morta e uma de Olivia comigo. Depois o
encontrarei para receber o pagamento e o matarei.

— Simples assim?

Grayson arqueou uma sobrancelha.

— Se quiser ver dessa forma. Simples assim.

— Como consegue simplesmente matar alguém?

—Está falando sério? Depois de tudo o que ele fez com você e
Olivia?

Ela levantou um ombro e desviou o olhar.

— Eu sei, mas é assassinato!

—Realmente acha que ele merece viver? Feriu você


profundamente e maltratou Olivia. Quem agride uma criança, sua
própria carne e sangue, não merece respirar.

— Acho que não cabe a nós decidir isso.

Grayson pegou uma pistola e começou a recarregar.

—Bem, esse é o meu trabalho. Só não mato qualquer um,


somente pessoas que mereçam. Aqueles que fazem coisas
horríveis, como agredir suas esposas e filhos.
—Então, é um assassino com consciência? — Disse
inclinando a cabeça para ele.

—Exatamente. — Travou a pistola e a jogou na cama, junto


com as outras.

— Estava sendo sarcástica.

—Bem, é a verdade. Não posso pensar em alguém que mereça


mais uma bala na cabeça que James. Você concorda?

— Não sei.

—Se ele sofresse um acidente de carro e morresse, você ficaria


triste?

Savannah pensou por um instante.

— Não, mas seria um acidente.

—Então, apenas finja que James, acidentalmente, receberá a


minha bala.

Ela revirou os olhos.

— Certo.

—Pense na hipótese, Savannah. Ele me contratou para matá-


la. Acha que se eu falhar, isso o impedirá de querê-la morta?
Simplesmente contratará outra pessoa. James não vai parar. E
então terá Olivia. É a sua vida ou a dele. É assim que tem que ver.
Pode não gostar da ideia de assassinato, mas aceitará para
proteger sua filha.
—Acredito que essa seria a única maneira que concordaria.
Qualquer outra, não conseguiria lidar.

—Então faça isso. É o mesmo que legítima defesa, na verdade.


Ele está atrás de você, portanto, vou matá-lo primeiro, antes que
possa matá-la e pegar Olivia.

Savannah virou o rosto para o lado, ainda confusa.

— Que olhar é esse? — perguntou ele.

— Bem, esse é o seu trabalho. As pessoas te pagam para


matar por elas. Então, se está matando por mim...

— Não espero que me pague.

— Por que não? É o que você faz.

—Você não me contratou. Foi James e ele já me pagou a


metade. Dessa forma está quase tudo pago. E o que falta, vamos
dizer que é um desconto porque você é muito bonita.

Savannah deu um meio sorriso.

— A beleza física vem a calhar, às vezes.

Grayson deu uma piscadela e jogou outra arma carregada na


cama.

— A beleza também já me ajudou.

— Notei.

— Não aja como se não tivesse gostado.

— Gostei, mas Grayson... — Colocou o cabelo atrás da orelha


e desviou o olhar.
— Eu sei.

Ela encontrou seus olhos por um minuto e ele desejou poder


ler sua mente.

Savannah olhou intensamente nos olhos de Grayson. Como


poderia lhe dizer que jamais poderiam ter algo, mesmo que
quisesse muito? Estava tão indecisa! Revivia o passado quando
estava com James, também se sentia dividida entre querer fugir,
mas, ainda desejando que Olivia tivesse uma família. Precisou ver
James bater em Olivia para que tomasse uma decisão.

Haveria um momento assim com Grayson também?

Gostava dele e o via como uma boa pessoa. Queria se sentir


segura e protegida, especialmente depois de ficar tanto tempo
insegura com James. Mas a violência e o perigo que envolviam
Grayson eram demais para ela. E isso colocava Olivia em risco.
Talvez a maltratasse, mostrando que não é protetor depois de tudo,
e ela teria que fugir de novo. Será que haveria a possibilidade de
Grayson largar essa vida arriscada se lhe oferecesse um lugar
seguro, um lar de verdade e uma família? Será que assim, deixaria
de ser um assassino?

Levantou e foi para onde ele estava conferindo as armas.

— Por que precisa de tantas armas?

— Algumas são mais fáceis para esconder, outras têm maior


alcance, e algumas mais capacidade de tiros, caso tenha muitos
alvos. Preciso estar preparado para qualquer situação. Assim como
a munição não acabar no meio de um tiroteio.

Savannah esticou o braço e gentilmente pegou a arma da mão


dele. Era mais leve do que esperava, parecendo de brinquedo.

— Essa é a melhor para carregar — disse ele.

— Prática, leve e pequena.

Colocou a arma na cama e deu uma olhada para o pequeno


arsenal.

— Não quero que mate James. Já matou muitas pessoas. Você


é melhor do que isso.

—Não sou. — A boca dele esticou em um meio sorriso.

—Estou fazendo isso por você, para que não se preocupe mais.

— Eu sei! — O encarou colocando a mão no seu peito.

— Sim, você é melhor do que isso. Sei que acredita que é um


homem mau, frio e rude. Mas tem muita compaixão para ser assim.
Os verdadeiros assassinos não têm consciência. Não mudam no
meio de um trabalho, porque percebem que o alvo não é
exatamente a pessoa que pensavam.

— Você pensa bem demais de mim.

—Você mataria por mim! Não por dinheiro, mas para proteger
Olivia e eu, e ainda diz que faria isso só para tornar nossas vidas
melhores.
— Ainda seria para te proteger. — Cobriu a mão dela com a
sua.

—Mas quer ir atrás dele para que não nos encontre primeiro.
E está fazendo isso por mim.

—Verdade.

Ela olhou nos olhos dele e soube que nunca o deixaria fazer
isso. Não poderia viver com a culpa de saber que Grayson cometera
um assassinato por ela. Mas, só de saber que ele faria, que se
preocupava tanto assim com ela e Olivia, a fez se sentir muito bem.

Savannah inclinou e pressionou os lábios nos dele. Embora


não pudessem ter uma relação, e ele não fosse o que precisava no
futuro de Olivia, era o que necessitava agora. Esse homem que
daria fim a uma vida para salvar a dela. Que se preocupava tanto
com ela e sua segurança. Nunca teve alguém que se importasse
assim.

O braço de Grayson envolveu sua cintura e puxou-a mais


perto. Ela colou o corpo no dele, sentindo sua rigidez pressionando
nela. Saber que ele a desejava fazia sua vagina umedecer de desejo.

Savannah interrompeu o beijo repentinamente e se virou.


Com um movimento do braço, jogou todas as armas e a mala no
chão. As armas caíram com um estrondo, e quando olhou para ele
novamente, Grayson levantou uma sobrancelha e um olhar
inexpressivo. Mas quando se jogou de costas na cama e fez um
sinal para ele com o dedo, sua expressão mudou para puro desejo.
Enquanto ele subia na cama, ela arrancava a blusa. Seus
dedos enroscaram-se nos pelos da parte superior do tórax, o
puxando para beijá-lo mais uma vez. Asperamente, as mãos dele
encontraram os seios, afastando o sutiã para amassar e beliscar
os mamilos. Inclinou-se para chupar um, depois o outro. Cada
chupada ou beliscão causava uma nova onda de necessidade nela.

Savannah se contorceu, tirando a calça, a blusa e o sutiã.


Estes caíram no chão perto das armas. Grayson abriu suas pernas
com um empurrão e escorregou para o chão.

Ela agarrou o travesseiro o segurando com força enquanto ele


pressionava a língua dentro dela e em volta da vagina. Grayson
lambeu seu clitóris e escorregou um dedo dentro.

— Não — disse puxando o cabelo dele o afastando.

— O quê? — perguntou ele ofegante.

— Não. O dedo não.

Os olhos dele ficaram escuros de desejo quando puxou o


traseiro dela até a beirada da cama com um movimento rude, em
uma pegada firme que a seduziu.

Grayson ajoelhou na frente dela, penetrando-a


profundamente. Savannah gritou ao ser preenchida, e levou um
tempo para o quarto parar de rodar.

Envolveu as pernas ao redor da cintura dele, e sentou


abraçando seu pescoço para se aproximar dele. Nessa posição,
podia esfregar seu clitóris nele lubrificada na própria umidade.
Grayson pegou um punhado do cabelo dela, puxando-a para
trás. A cabeça de Savannah inclinou, expondo o pescoço. Ele
mordeu gentilmente ao longo do pescoço, depois o lóbulo da orelha.
Ela estremeceu no pênis duro, um prazer intenso a tomando.

Levantou-a da cama, sustentando-a nos braços. Seus


músculos flexionaram enquanto a movia para cima e para baixo no
seu pau.

— Oh Deus, sim! — exclamou ela.

Grayson passou uma das mãos debaixo dela, colocando o


dedo mindinho no seu traseiro, o orgasmo a atingiu. Cravou os
dedos nas costas dele, gritando de prazer. Ele a pegou pela cintura
e bateu duro, estocando bem mais profundo e forte do que antes.

— Vou gozar — disse ele, gemendo no ouvido dela.

Quando terminou, colocou-a de volta na cama, ao mesmo


tempo em que saía dela. Savannah desabou na cama, incapaz de
se mover, exceto respirar com dificuldade. O suor que cobria o seu
corpo esfriou com o ar do quarto.

Grayson subiu na cama e deitou ao lado dela, puxando-a para


perto. Seus corpos colaram com o suor. Savannah estremeceu com
o calor e fechou os olhos.

Quase desejou que ele não fosse um amante tão incrível. Seria
mais fácil dizer adeus.
Capítulo 16

Depois de recolher as armas que Savannah descuidadamente


jogou no chão e organizá-las, tomou banho e se vestiu, então
estavam prontos para sair. Colocou sua mala de munições no
porta-malas, e fechou.

Quando sentou no assento do motorista, Savannah olhou


para ele e colocou a mão na dele, o impedindo de ligar o carro.

— Grayson, espere.

Ele a olhou, esperando, como pediu.

— Acho que deve ter outra forma de fazer isto — disse.

— Fazer o quê?

— Acredito que podemos tirar James do caminho e nos


resguardar sem precisar matá-lo.

— Como?

—Podemos ir à polícia. Dizer que ele te contratou.

Ele a encarou incrédulo.

— Certo. Vamos lhes dizer que mato pessoas para viver.

Ela balançou a cabeça.


—Não precisam saber que você faz isso. Diremos que foi
contratado só desta vez, e não conseguiu fazer o trabalho. É crime
receber dinheiro para assassinar alguém se na verdade não matou?

— Sim.

— Mas deve ser considerado um delito menor, certo?

— Savannah...— ele tirou a mão da ignição.

— Precisaríamos de muitas provas para montar um caso


contra ele. Eles simplesmente não aceitarão a minha palavra.

— Mas é a sua palavra, a minha e a de Olivia.

— Não é o suficiente. E estamos todos do mesmo lado. Muito


fácil para nós mentirmos. Não é prova. Nem o bastante para mantê-
lo longe por muito tempo.

— Como podemos conseguir provas?

— Realmente não sei. Sempre fui melhor em eliminar


qualquer tipo de prova do que juntá-las.

Ela continuou pensando.

— E há provas contra mim. Como o médico e o serviço de


proteção ao menor. Dirão que fui eu quem agrediu Olivia.

— Exatamente. — Ele ligou o carro e saiu do estacionamento.

— É mais fácil eu matá-lo. Do contrário, poderia acabar presa,


e seria muito mais difícil encontrar provas para que James seja
preso.
— Deve ter outra maneira de conseguir que isso dê certo. Não
quero que você tenha que matá-lo.

— Por que não? Fiz isso antes e voltarei a fazer.

— Eu sei, mas não quero ser o motivo. Não quero sentir- me


culpada pelo resto da minha vida sabendo que matou por mim. O
que vai acontecer se o prenderem? O que farei, então?

Olhou para ela com uma expressão nada divertida.


Claramente não tinha fé suficiente nele e na sua habilidade para
fazer bem o seu trabalho.

— Sei como fazer meu trabalho sem que me peguem. Fiz isto
muitas vezes.

— E nunca chegou perto de ser descoberto? — Grayson


esperou um momento para responder. Devia mentir ou apenas ser
honesto?

— Em nenhum momento, recentemente.

Ela estreitou os olhos.

— Recentemente? Quer dizer que já foi preso? Esteve na


prisão?

Ele apertou o maxilar e assentiu.

— Quando? Por quanto tempo?

A última coisa que queria era falar sobre aquela terrível


década e o que o levou lá. Tentou dar informação suficiente para
satisfazer a curiosidade dela sem dizer muito a respeito.
—Faz um tempo, e por cerca de dez anos — disse ele. Um ano
talvez não fosse "faz um tempo", mas teria que servir por enquanto.

Savannah balançou a cabeça.

— De jeito nenhum eu aguentaria te ver em uma cela por dez


anos. E só Deus sabe, pode até ser por mais tempo. E se fosse
condenado à prisão perpétua por minha culpa? Não poderia viver
com isso!

Realmente ela se preocupava mais com a liberdade dele do


que em se livrar do seu ex? Bem, seu plano de ficar longe dela
fracassou, pois, descobrir isso só fazia com que desejasse ficar. Ela
tinha um bom coração, até mesmo com o homem que não fez nada
além de mal a ela e sua filha. Era quase insano que ela não o
quisesse morto. Mas o fato de preferir denunciar James para deixar
Grayson livre acendeu uma pequena chama no seu coração, como
nunca aconteceu antes.

Normalmente as pessoas queriam que ele fizesse o trabalho


sujo e não davam muita importância ao que lhe aconteceria.
Estavam pagando por um serviço, e se ele não conseguisse ficar
longe de problemas, era culpa dele. Quando foi preso no ensino
médio por matar o pai da sua namorada, estava tão apaixonado e
tão bravo por que ela, supostamente, estar passando pela mesma
situação que ele, que nada o faria parar. Exceto talvez saber que o
pai dela, na verdade, não fez nada do que ela disse.

Olhou para Savannah, vendo a determinação nos olhos dela.


Então decidiu mentir. Pelo menos por enquanto.
— Tudo bem! Vamos descobrir como conseguir provas contra
ele.

— Sério?

— Vai exigir algum esforço, e se não conseguirmos, matá-lo


será a segunda opção.

Aquela ainda era a primeira. Mas ela não precisava saber.


Savannah tentaria encontrar provas, e quando não funcionasse,
ele viria e salvaria o dia. Ela nem mesmo precisaria saber até que
estivesse feito. Poderia organizar tudo quando ela estivesse
dormindo. Não que precisasse ir tão longe. Poderia ir agora mesmo,
entrar escondido onde o infeliz estava e matá-lo. Igual aos outros
trabalhos.

— Prefiro que fique como um plano reserva. Não quero que se


complique, mesmo sabendo que tomaria todo o cuidado, não quero
que tire outra vida por mim. Isso deve atingir a sua alma e não
quero ser a responsável por uma parte escura em você.

Pegou a mão dela e a beijou enquanto dirigia.

— Você traz luz à minha vida.

— Vire aqui — disse Savannah, um plano surgindo, de


improviso.

— Por quê?
— Tive uma ideia. Podemos não saber como conseguir provas,
mas conheço alguém que sabe.

Disse a ele o endereço da fazenda da família de Mallory.


Quanto mais próximo ficavam, mais a emoção e a ansiedade
cresciam. Estava a ponto de ver Olivia, era o que esperava. Ainda
havia a possibilidade de que algo tivesse dado errado. Quando
chegaram e viu o carro de Mallory, sentiu-se um pouco mais
aliviada. Depois de bater na porta, escutou os pequenos pés
correndo, e sua preocupação desapareceu dando espaço à alegria.

Olivia abriu a porta e sorriu para ela.

— Mamãe! Nós nos divertimos muito!

Savannah envolveu os braços ao redor da pequena menina.


Mallory a manteve escondida e segura. Como prometeu.

— Oi — disse Mallory, saindo do corredor.

— Como estão as coisas? — Deu a Savannah um olhar


significativo.

— As coisas estão... bem. — Savannah pressionou os lábios e


olhou para Grayson.

Os olhos de Mallory o estudaram, e sem demora voltaram para


Savannah. Um pequeno sorriso apareceu nos lábios dela.

— Olivia, quer assistir àquele filme que começamos mais


cedo? Preciso conversar com sua mãe sobre algumas coisas.

—Está bem! — Olivia foi saltitando para a sala. Mallory levou


Savannah e Grayson à cozinha.
— Vocês querem alguma coisa?

— Água está ótimo — disse Savannah.

Mallory encheu um copo e colocou na mesa em frente a ela,


em seguida, sentou em uma cadeira.

— Então?

— Precisamos da sua ajuda — disse Savannah.

— Mais do que já nos deu.

— É claro — disse Mallory, chegando mais perto.

— O serviço de proteção ao menor apareceu na minha casa


esta manhã. Por causa de uma denúncia de abuso infantil.

Mallory respirou fundo.

— O que aconteceu?

— Bem, Olivia não estava lá, então irão retornar. Entretanto,


esse não é o principal motivo de precisarmos de ajuda. — Olhou
para Grayson de novo, sabendo que isso precisava funcionar se
quisesse impedi-lo de cometer um assassinato em seu nome.

— Precisamos construir um caso contra James, então


poderemos colocá-lo na cadeia. Do contrário, vai me matar. Já
tentou.

O rosto de Mallory ficou triste e preocupado.

— Então, os homens que estão te perseguindo...

— Não, só estão atrás de mim para pegar a Olivia. James


contratou Grayson para me matar. Felizmente, Grayson tem
alguma consciência e decidiu não concluir o serviço. — Logo que
as palavras saíram ficou preocupada por, provavelmente, ter falado
demais. Com certeza, Mallory estava do seu lado ajudando a
mantê-las seguras, mas não sabia se Grayson queria que outras
pessoas soubessem a verdade. Talvez ficasse chateado. Não olhou
para ele.

Mallory olhou para Grayson de novo, demoradamente desta


vez. Colocou a mão onde Grayson não podia ver e levantou o
polegar para Savannah. Apesar do que ele era capaz, Mallory o
aprovou. Quase fez Savannah rir. Passou de vítima de violência
doméstica para aquela que dormia com um assassino. Com certeza
sabia escolher bem os homens da sua vida.

— O problema é que não sei como podemos encontrar provas


para prender James. —Disse Savannah.

—Nesse momento, há mais provas apontando para mim do


que para ele.

— Disse que o serviço de proteção ao menor veio e retornará


— disse Mallory.

— Use isso a seu favor.

— Como? James já me acusou de maltratar Olivia.

— Exatamente. Mude isso. Fale a verdade. Diga o que fez a


você e Olivia, e o que está fazendo agora. O serviço de proteção tem
que escutar e fazer uma investigação completa. Use a
correspondência, mensagens de texto, correio de voz, fotos, algo
que demonstre que James te agrediu e que mostre quem é
realmente.

— Acredita que isso pode funcionar? Não pensarão que


planejei tudo?

— Savannah. Não encontrarão nenhuma prova de que você


maltrata Olivia. E quando falarem com ela...

— Como? Falar com ela? Droga, não posso deixar que alguém
do serviço de proteção ao menor a assuste. O que vai acontecer se
ela não entender direito e disser algo errado?

Mallory pôs a mão na de Savannah.

— Confie nela. Olivia dirá a verdade. E você vai instruí-la para


que diga toda a verdade. Pode ser assustador, mas ajudará que ela
fale com o funcionário do serviço de proteção ao menor. Assim ele
verá como Olivia é e o quanto é feliz, e quando ela disser a verdade,
ele vai entender.

Savannah respirou profundamente e olhou para Grayson.

—Você concorda?

—Acredito que Noah saberá que Olivia não está mentindo. São
treinados para averiguar se um pai treinou a criança de alguma
forma.

— E acredita que ter Noah, o funcionário do serviço de


proteção ao menor do nosso lado ajudará em um caso contra
James? Não ficará estranho, já que foi James quem ligou para ele
e não eu, que era a pessoa que era agredida?
— Não quando se tem uma visão completa — disse Mallory.

— Você vai contar que estava muito aterrorizada e que James


já manipulou os médicos antes e temeu que fizesse isso de novo.
Mostrará também as mensagens de texto que ele usava para
atormentá-la durante o casamento, para que entendam o porquê
do seu medo de procurar as autoridades. Compreenderão que
devido ao dinheiro e conexões que James tem, você tinha medo
dele.

Savannah mordeu o lábio.

— Quais serão as chances de dar totalmente errado e James,


de alguma forma, ter todas essas pessoas no bolso e tudo acabar
contra mim?

Mallory trocou olhares com Grayson.

—Não se preocupe com isso — disse Grayson.

— Antes de qualquer coisa, você também nos tem como


testemunhas. E se ele, de alguma forma, sair impune, então
cuidarei disso.

Certo! O plano reserva que ela não queria usar. Aquele que
concordou, caso tudo desse errado, mas que não achava tão bom
assim. No entanto, se James conseguisse levar Olivia, talvez
mudasse de opinião. Eventualmente se livraria da culpa, se isso
significasse manter Olivia segura e com ela.
Capítulo 17

Com Olivia em casa, Savannah tentava manter a rotina


normal, mas era difícil. Grayson estava hospedado com elas para
deixá-las mais seguras, o que deixava Savannah no limite, porque
estava em uma luta constante, já que eles não poderiam ficar
juntos, mas ainda assim o desejava. Todas as noites ansiava por
ele.

Também estava o tempo todo em constante expectativa,


qualquer barulho já achava que era alguém do Serviço de Proteção
ao Menor batendo na porta, retornando para conversar com Olivia,
James ou um dos assassinos dele, chegando para matá-la, roubar
Olivia, ou as duas coisas. Dormia pouco, embora ter Grayson na
sua cama ajudasse bastante.

Ir para o trabalho na escola era difícil pois queria ficar de olho


em Olivia o dia todo, mesmo que confiasse em Mallory e soubesse
que a manteria segura. Só que Olivia não ficava com Mallory todo
o tempo. Grayson passava o dia vigiando a escola. Mesmo assim,
Savannah ia à sala de aula de Olivia muitas vezes durante o dia,
para se certificar de que ela estava lá e segura.

O mais perturbador era a aparente tranquilidade que viviam.


O furgão preto não retornou, e não tinha qualquer outro carro
vigiando ou seguindo-os . James não ligou novamente. O Serviço
de Proteção ao Menor não voltou. E esta sensação de falsa paz a
deixava inquieta. Esperava que algo acontecesse, e quanto mais
tempo passava sem incidentes, mais preocupada ficava.

Na tarde do quarto dia de tranquilidade, Savannah estava na


cozinha, lavando a louça depois do jantar. Na sala próxima, podia
ouvir Olivia e Grayson.

— Você roubou da última vez que jogamos Candy Land! —


Protestou Olivia.

Grayson riu.

— Não roubei. A carta dizia para pegar o desvio.

Olivia gritou.

— Como nunca consegui o desvio?

— Não sei. Quem sabe desta vez consegue uma.

— Ok. Mas quero ser a peça azul.

— Sem problema — disse Grayson.

— E pode começar dessa vez.

— Sério?

Savannah percebeu pela emoção na voz de Olivia que estava


se divertindo. Ela gostava de tê-lo por perto e esses momentos a
cativavam. Tê-lo ali nos últimos quatro dias, brincando com Olivia
e jantando com elas, fazia com que ele parecesse bem acolhedor,
nada parecido com o assassino que era. Parecia que sempre esteve
presente na vida delas. Era um homem pelo qual tinha
sentimentos, que a fazia se sentir segura, que se dava bem com
Olivia, e de quem Olivia também gostava, aquele que estava
disposto a matar por ela, que a protegia e cuidava dela. O único
que parecia perfeito. Exceto pelo passado sujo, e seu presente e
futuro não estavam muito limpos, tampouco. Infelizmente Grayson
estava fora de alcance. Poderiam ficar juntos agora, mas o tempo
deles terminaria, e ela teria que dizer adeus.

Grayson movimentou a peça pelo tabuleiro. Nunca achou que


realmente gostaria de um jogo como Candy Land nem em um
milhão de anos. Não planejava ter filhos. Mas de algum jeito, Olivia
tornou isso agradável. Ela colocava muita energia e emoção em
cada jogada, ficando muito empolgada quando estava ganhando,
ou fazia beicinho quando estava perdendo. Quase deixou que
ganhasse só para ver o sorriso dela, mas era mais divertido desafiá-
la em uma revanche quando perdia.

Tentava conversar, mas ela não se abria quando o assunto era


a vida em família.

— Então, como é o seu papai? — perguntou.

Olivia encolheu os ombros.

— Faz tempo que não o vejo. Oh, olhe. Tenho duplos! —


Alegremente movimentou a peça pelo tabuleiro.
— Ele te machucou alguma vez? — Grayson podia ver
Savannah limpando a cozinha. Precisavam saber que tipo de coisas
Olivia diria para prepará-la quando Noah retornasse para
conversar com ela.

— Hmm, não sei. — A expressão de Olivia caiu e olhou


atentamente para a peça do jogo.

— Acho que é a sua vez.

Todas as vezes que perguntava alguma coisa sobre a vida


familiar, ela voltava ao jogo. Então decidiu tentar um método
diferente. Talvez Olivia se sentisse mais à vontade com ele, e quem
sabe, falasse mais.

— Como é a sua professora? — perguntou.

Um enorme sorriso apareceu no rosto dela.

— A senhorita Stevens é a melhor! É tão legal e divertida, e


sempre me ajuda a entender matemática quando não faz nenhum
sentido.

— Nunca faz sentido para mim. — Confessou.

— Muitos números se movendo por toda parte.

— Sim! — Ela suspirou.

— Eu gosto mais de ler.

— Sempre gostei de ciências e educação física. Você gosta de


exercícios?
— Às vezes. Os jogos são divertidos, mas os meninos podem
ser maus.

— Sério? — Ele fingiu surpresa. Este era um tema perfeito,


sem dúvida. Isto é o que estava esperando.

— Isso não é bom. Eles são maus como?

— Jogam a bola com força.

— Já te machucaram?

— Algumas vezes. Não gosto de jogar bola com eles. Jogam a


bola discretamente tentando acertar a sua cabeça, e depois,
quando o professor grita com eles, apenas dizem, "Oh, foi um
acidente, não vi direito". Mas estão mentindo!

— Mentir não é bom. Alguém mais tem feito mal a você?

Ela encolheu os ombros novamente.

— Eu acho...

— A sua mãe ou seu pai?

— Não, realmente não sei.

— Na verdade não? — Não queria pressioná-la, mas precisava


saber se seria capaz de falar com o funcionário do Serviço de
Proteção ao Menor e dizer a verdade para ele.

— Pode falar a verdade. Aqui ninguém vai te machucar.

— Eu sei.

— Mas seu pai já te machucou?


Ela ficou calada por um bom tempo, depois disse.

—Nossa, quando ganhou a carta de gumdrop? Você estava


trapaceando?

— Eu? De jeito nenhum. Eu nunca faria isso. — Virou as


cartas para mostrar a ela que tinha o pequeno gumdrop. Talvez um
dia Olivia percebesse que pudesse confiar nele. Mas será que
confiaria em Noah, quando ele retornasse?

Mais tarde, deitado ao lado de Savannah, falou sobre Olivia.

— Só me preocupo que ela faça o mesmo com Noah e não fale.

— Com sorte, quando ele retornar estaremos por perto, e ela


contará a verdade. Se eu disser para ela que está tudo bem, isso
pode fazer a diferença.

— Certo. Espero que funcione. — Se aproximou para beijá-la.

No sábado de manhã, depois que terminaram o café,


escutaram alguém batendo na porta. Savannah olhou para
Grayson com olhos arregalados e assustados. Ele esperou ela sair
com Olivia da sala para que pudesse atender a porta.

Savannah a levou para o quarto enquanto Grayson pegava a


pistola. Ficou em frente à porta e gritou.

— Quem é?

— Noah Johnson, do Serviço de Proteção ao Menor. —


Grayson baixou a arma, guardou no bolso e abriu a porta.
Estendeu a mão para apertar a de Noah.

— Oi.— Disse.
— Vou chamar Savannah e Olivia.

Grayson fechou a porta e chamou Savannah enquanto ia para


o quarto.

— Ele está aqui — disse ao entrar no quarto.

— Ok. — Savannah suspirou.

— Olivia, um senhor está aqui para falar com você, está bem?

Olivia pareceu confusa, mas Savannah pegou a mão dela e a


levou para a sala de estar.

— Você deve ser Olivia — disse Noah, se agachando.

Ela assentiu e colocou as mãos atrás das costas.

— Meu nome é Noah. Tudo bem se sentarmos para conversar


por alguns minutos?

Olivia olhou para Savannah.

— Pode ir, querida. O senhor Johnson só quer conversar com


você um pouco.

Noah sorriu para Savannah.

— Obrigado. — Ele sentou no sofá ao lado de Olivia.

— Não tenha receio de falar a verdade para o senhor Johnson,


está bem? — Disse Savannah.

— Pode dizer tudo.

Olivia assentiu.
Grayson estava afastado de Savannah, do outro lado da sala,
para lhes dar um pouco de privacidade.

— Pode me dizer primeiro o seu nome? — perguntou Noah.

A voz de Olivia foi apenas um sussurro.

— Olivia Peale.

— E com quem você vive?

— Mamãe.

— Onde está o seu papai?

— Não sei. — Olhou para Savannah, que assentiu e sorriu.

— Sente falta do seu papai?

Olivia encolheu os ombros e colocou as mãos entre os joelhos.

— Gostaria de poder ver seu papai?

— Às vezes.

Noah anotava na agenda que segurava todas as vezes que ela


respondia.

— Alguma vez sentiu medo perto de algum de seus pais?

— Às vezes.

— Quando fica mais assustada?

Olivia olhou para Savannah, mas não respondeu.

— Está bem, querida — disse Savannah.

— Apenas diga a verdade sobre o papai.


— Hmm — disse Olivia.

— Com o meu pai.

— Se sente assustada quando está com o seu pai?

Olivia olhou para Savannah, e logo assentiu.

— Por quê?

Olivia engoliu saliva e demorou algum tempo para responder,


depois, olhou para os pés, em vez de olhar para a mãe.

— Ele grita e joga coisas às vezes.

— Ele ou sua mãe te machucou?

Ela assentiu.

— Quem maltratou você?

Olivia olhou para Savannah, esperando permissão para


continuar e dizer a verdade.

— Apenas diga o que aconteceu, quando tivemos que ir ao


hospital — disse Savannah.

Então Olivia disse.

— Papai me machucou.

— O seu pai e a sua mãe?

Ela sacudiu a cabeça.

—Sua mãe alguma vez machucou você?

Ela manteve os olhos para baixo e sacudiu a cabeça de novo.


— Alguma vez se sentiu assustada quando estava com a sua
mãe?

Olivia juntou as sobrancelhas e assentiu.

— Em que situação você fica assustada quando está com sua


mãe?

— Quando acontece coisas ruins.

Grayson apertou a mão de Savannah. Do que Olivia estava


falando? Isto não era bom.

— Que coisas ruins acontecem? — perguntou Noah.

— Às vezes as pessoas se irritam, e mamãe está por perto.

— Que pessoas?

— Hmm. — Olivia parecia estar com medo de responder, mas


falou.

— Papai.

— Então, sua mãe estava por perto quando o seu pai se


enfureceu e foi nessa situação que ficou com medo?

Olivia assentiu, parecendo um pouco aliviada por ele parecer


entendê-la.

— Obrigado, Olivia. — Noah levantou e se aproximou de


Grayson e Savannah.

— Posso brincar agora? — perguntou Olivia.

— É claro. Por que não volta para o seu quarto? — Savannah


sorriu, virando para Noah.
— Obrigada por vir. O que acontecerá agora?

Grayson parecia desconfortável. Savannah estava certa que


tudo correu bem, mas a linguagem corporal de Noah dizia algo
mais.

— Bem, para ser honesto, teremos que investigar mais a


fundo — disse Noah de modo cortante.

— Então, você quer provas de que foi James quem a


maltratou? Tenho como provar que ele me agredia. Isso ajudaria?
— Savannah perguntou.

— Temo que não, senhora Peale. Precisamos investigar porque


parece que tudo foi encenado.

— Encenado? — O rosto de Savannah ficou branco.

— O que você quer dizer?

— Acredito que a instruiu para mentir — disse Noah.

— A forma como ela olhava para você, a agitação. Tudo indica


que ela estava desconfortável.

— Ela estava! — Savannah respondeu cortante. — Como


queria que estivesse? Fugindo para se esconder de um pai abusivo,
e com um homem estranho aparecendo e fazendo perguntas a
respeito dele? Ela tem medo que ele volte e a machuque outra vez
ou a mim. Olivia não sabe em quem confiar, exceto em mim. Estava
me olhando para ter certeza de que não tinha problemas em dizer
a verdade.
— Faço esse trabalho há muito tempo, senhora Peale. E a
forma como ela se comportou parece muito com a forma de agir de
crianças cujo responsável a instrui a mentir. Investigaremos mais
para nos assegurarmos, mas isso, certamente, não ajuda no seu
caso.

—Por que conversou com Olivia na presença da mãe? —


perguntou Grayson.

— Você deveria saber que Olivia teria medo e ficaria nervosa


falando com você e que toda criança olha para os pais buscando
segurança quando estão desconfortáveis.

— Como disse.. — disse Noah, guardando a caneta no bolso e


colocando a prancheta sob o braço.

— Faço esse trabalho há muito tempo. Sei quando instruem


uma criança a mentir.

A boca de Savannah abriu e as lágrimas inundaram seus


olhos.

— Mas ela não está mentindo!

— É por isso que investigaremos mais. — Noah se aproximou


da porta.

— Tenha um bom dia.

Ele saiu e Savannah pulou quando a porta fechou. Olhou para


Grayson e começou a soluçar caindo nos braços dele.
Capítulo 18

Savannah soluçou na camisa de Grayson por um bom tempo.


Não parou até escutar uma pequena voz chamando.

— Mamãe? Você está bem? — Ela parou, limpando os olhos.

— Oh sim, meu amor — disse Savannah, ajoelhando e


beijando Olivia na testa.

— Você fez um trabalho muito bom hoje. Vá lá para dentro e


brinque um pouquinho no seu quarto, está bem?

Olivia correu para dentro e Grayson a abraçou outra vez.

— Não posso acreditar — disse Savannah, com o rosto no


pescoço de Grayson.

— Depois de tudo o que fizemos para que tivéssemos provas


contra James, até mesmo colocando Olivia em perigo para que ela
pudesse conversar com Noah, e foi totalmente inútil. Deveríamos
ter ido embora.

— Não, isso seria ainda pior. Não será apenas a avaliação de


Noah que decidirá. Eles devem ter outras pessoas envolvidas no
caso.
— Mas se Noah não acreditar em Olivia, por que alguém mais
acreditaria? Todos pensarão que ela está mentindo e que eu estou
induzindo-a. Eles a levarão e nunca mais a verei.

— Não. — Grayson alisou o cabelo dela, e falou calmamente.

— Não é dessa forma que o sistema trabalha. Pode não parecer


assim, mas eles acreditam na reconciliação entre pais e filhos.
Primeiramente, averiguarão se ela está segura e, a partir daí, darão
continuidade.

— Isto tudo é minha culpa — disse Savannah, novas lágrimas


caindo.

— Não deveria ter ficado tanto tempo com James. Fiquei


dando desculpas, dizendo que ele estava cansado ou muito
estressado. Se algo acontecia comigo, eu dizia que tinha caído. Fiz
tudo o que podia para preservá-lo, e no final, não consegui salvar
a minha filha. Agora é fácil para ele afastá-la de mim. Devia tê-lo
deixado quando tinha pessoas que podiam me ajudar, ido para
outro lugar, saído quando minha mãe ainda estava viva, ela teria
me ajudado. Ela nos teria dado um lugar seguro e teríamos
dinheiro para isso. Mas, em vez disso, James torrou minha herança
em drogas.

Ela sacudiu a cabeça e olhou para Grayson.

— Nunca confiei em ninguém para me ajudar e olhe onde isso


me levou.

— Não se culpe. Como poderia confiar em alguém quando o


homem que deveria se importar, amar você e Olivia, as tratava tão
mal? Ninguém esperaria que voltasse a confiar nas pessoas depois
disso.

— Mas quando eu finalmente acordei, quando ele piorou e


começou a agredir Olivia também, já era muito tarde. Esperei
muito. Eu falhei com a minha menina.

— Não, não falhou. Você a afastou de um péssimo lugar para


um lugar seguro. Agora ela tem uma professora que adora, e que
ajudará a mantê-la segura, e ambas têm a mim, para protegê-las.
E isso vai funcionar. Ela está longe do pai que a maltratava, e terei
certeza que ele nunca mais chegará perto dela.

Savannah balançou a cabeça e continuou tremendo.

— Não sou boa para Olivia. Talvez, eu só precise confiar no


sistema. Pode ser o melhor para ela se a levarem para um lugar
confiável e a protegerem. James já sabe onde estamos. É só uma
questão de tempo para que venha ou envie alguém para me matar
e levá-la. Não posso mantê-la segura. Eles deveriam levá-la para
qualquer lugar longe de mim.

Grayson a puxou mais perto. Ela estava quase histérica e


começando a falar besteira. Ele pensou cuidadosamente no que
diria, mas já sabia o que faria. Apanharia James e provaria ao SPM
que ele era o monstro, não Savannah.

— Não acredito que você deveria deixar que eles a levassem


assim — disse.
— Isso faria Olivia sofrer e a deixaria ainda mais
traumatizada. Só espere Noah voltar e falaremos com ele. Olivia
falará com ele outra vez e, provavelmente, ele trará mais pessoas
para conversar com ela, e eles entenderão. — Nesse meio tempo,
ele encontraria um tempo para sair e caçar James.

Mas então, a ficha caiu, e ele entendeu que a falha não era de
Savannah. Olivia também olhou para ele e compreendeu o que isso
representou para Noah. Ele não era a pessoa certa para elas.
Precisavam de um homem estável, e ele não podia dar a vida que
elas mereciam.

— Quero protegê-las — disse. — Quero estar aqui para vocês.


Mas acho que está errada sobre esse assunto.

— O que quer dizer? — Sussurrou, secando os olhos.

— Acho que sou o motivo de Noah não acreditar em você ou


Olivia.

— Por quê?

— Pense! Veja pela perspectiva de Noah. Ele recebeu uma


ligação sobre uma mulher que abusa da filha, de um pai
preocupado, equilibrado e bem relacionado. Ele, provavelmente,
considera James o tipo de cidadão honesto, que faz a diferença no
mundo. Noah chega aqui e a menina não está no local, mas há um
homem. Presume que a mãe fugiu com esse homem, que é um tipo
de cara mau, enquanto que o pai é íntegro. Acha que você enviou
Olivia para algum lugar para passar um tempo comigo, só para
afastá-la do pai. Que está querendo se mudar com um novo
homem, e começar uma nova vida. E, já que o novo homem é
claramente perigoso e tem um passado obscuro, então,
possivelmente, a mãe não é a dama inocente que diz ser. Pode até
pensar que você só quer Olivia para extorquir James. Isso acontece
o tempo todo.

Savannah o encarou surpresa.

— Está falando sério?

— Não acredita que pode ser assim?

— Eu... Mas... Não, ele não vê dessa forma.

—Tenho certeza que sim. Intimido as pessoas sem sequer


tentar. Acho que Noah viu isso e pensou que estou intimidando
você e Olivia a fazer o que eu quero.

— Isso é loucura! — Savannah gritou.

—Não importa. É assim que parece. Mas acho que podemos


resolver essa situação facilmente.

— Como?

— Preciso ir embora. Aproveito a situação e torno as coisas


mais fáceis para vocês.

No início pensou que era Savannah que estava gritando, mas


logo percebeu que era Olivia.

— Não!

Ela saiu correndo pela sala e envolveu os pequenos braços em


volta da cintura de Savannah.

— Não!
Savannah e Grayson trocaram olhares. O que exatamente ela
escutou e sobre o que estava protestando?

— Olivia? — perguntou Savannah.

— Qual é o problema?

—Não quero que Grayson vá embora. — Olhou para os dois.

— Ele pode nos ajudar, mamãe. Eu sei que pode.

Ele não soube o que dizer e tampouco Savannah. Ela abriu a


boca, mas nada saiu.

Olivia baixou a voz para um sussurro.

— Vi suas armas — disse olhando para Grayson.


Provavelmente temia que ele fosse gritar, como seu pai fazia.

— Você viu? — perguntou ele, em um tom suave.

Ela assentiu.

— Dá um pouco de medo, mas sei que pode nos manter


seguras. É para isso que elas servem, não é?

— Se usadas da maneira correta, sim — disse Grayson.


Quanto mais conhecia Olivia mais se perguntava como, no mundo,
um homem poderia agredir uma criança, e especialmente essa
menina. Ela era tão doce e inocente. Não conseguia se imaginar
fazendo algo assim. Mas talvez fosse o seu próprio passado falando.
Isso só aumentava a sua fúria para aqueles que a mereciam, os
que faziam coisas horríveis, como agredir os filhos e esposas. Sua
mão involuntariamente se fechou em um punho. Estava se
tornando seu passatempo favorito imaginar maneiras diferentes de
matar James. Agora, estava mais propenso ao estrangulamento.
Queria sentir o pescoço desse homem em suas mãos e ver a luz
sumir de seus olhos.

— Ambos me mantêm a salvo. — Continuou Olivia.

— Bem, certamente faremos o nosso melhor — disse


Savannah.

— Tem que fazer o que ele diz, mamãe.

— Farei, querida.

—Não, você vai deixá-lo sair. Mas ele não pode! Tem que ficar!
Vocês têm que estar aqui para me proteger!

Grayson levantou as sobrancelhas e olhou para Savannah.


Em algum momento durante as partidas de Candy Land e todas as
conversas, as vezes contou à Olivia como foi maltratado quando
era criança, tentando lhe mostrar que estavam na mesma situação.
Talvez, tudo isso surtiu efeito no final das contas, pois ela confiava
nele, e o queria por perto.

Grayson colocou uma das mãos no ombro de Olivia. A


repentina urgência de proteger esta pequena menina frágil cresceu
no seu peito, se transformando em calor. Faria tudo que pudesse
por ela.

— Não vou a lugar nenhum. Ficarei aqui e protegerei você.


Capítulo 19

Grayson abriu a porta lentamente e viu Olivia adormecida.


Era a quarta vez que a olhava. Desta vez, ao contrário das últimas,
ela estava em um sono profundo. O dia a perturbou o suficiente
para causar insônia. Tudo indicava que agora Olivia finalmente se
acalmou o bastante para dormir e conseguir o descanso muito
necessário depois de um dia estressante.

Agora que Olivia dormia, bateu levemente na porta do quarto


de Savannah.

— Pode entrar — disse ela, suavemente.

Entrou e fechou a porta. Ela estava sentada na cama,


segurando um livro. Parecia algo tão normal que o fez arquear uma
sobrancelha. Savannah deixou o livro de lado.

— É inútil tentar ler, já li a mesma página umas cinco vezes.


— Deu um sorriso triste.

— Olivia está dormindo. Finalmente.

— Que bom.

—Então, o que quer fazer...

— Grayson?
Aproximou-se querendo deitar ao lado dela na cama.

— Sim?

— Não acho que consigo falar mais sobre isso. — Sua voz
começou a tremer.

— Pode só... Abraçar-me?

Ele deu um meio sorriso.

— Claro.

Tirou os sapatos e afastou os lençóis para deitar atrás dela.


Savannah o acariciou e ele envolveu os braços em volta dela.
Quando ela se encostou de novo nele, com o traseiro pressionando
sua virilha, Grayson sentiu seu pênis ficar duro. Sempre a desejava
e não conseguia ter o suficiente dela.

Enroscou as pernas nas dela, prendendo-a e mostrando com


o corpo, como queria mantê-la perto e a salvo. Quem dera pudesse
dizer como se sentia. Sabia que não era o que elas precisavam, mas
a queria o tempo todo. Admitir que talvez o motivo de James ainda
estar vivo fosse porque Grayson não queria que isso terminasse.

Ele nunca demorava muito para concluir um trabalho. Nunca.


Normalmente eram alguns dias, uma semana ou duas, se a
situação fosse complicada. Mas continuava prolongando com
Savannah e postergando encontrar James, se convencendo que
não poderia deixá-las, nem mesmo por algumas horas, porque algo
poderia acontecer. Mas, no fundo, sabia a verdade. Quando James
estivesse morto, Grayson já não seria mais necessário. E ele queria
que precisassem dele.
Não poderia fazer parte da vida delas para sempre, mas estava
ali agora, e isso era tudo o que tinha. Precisava aproveitar cada
momento. E neste momento, só idiota uma coisa que queria.

Grayson deixou que as mãos viajassem pelo braço e pelo corpo


de Savannah, encontrando o caminho para os seios, amassando e
apertando-os brandamente sobre o tecido da camisola. Ela gemeu
de leve quando ele beliscou um mamilo, o que fez seu pênis crescer
na calça, agora muito apertada. Afastou os quadris, para conseguir
mais espaço, mas sabia que precisaria tirar a calça logo.

Percorreu a barriga e a tocou entre as pernas. Sua vagina


estava quente contra a mão, e quando a pressionou fazendo
círculos suaves no clitóris, a sentiu molhada. Levantou a camisola
para sentir a pele nua.

— Você é tão sexy. — Sussurrou na orelha dela.

Savannah gemeu em resposta e pressionou os quadris contra


as mãos dele e o pênis, se movendo para trás e para frente.

Grayson esticou a mão, passando os dedos pelo cabelo dela.

— Preciso de você.

Beijou-a ao longo do pescoço e colocou a mão sob a calcinha.


A vagina escorria umidade entre os dedos. Toda vez que ela gemia,
o pau de Grayson pulsava desejando estar dentro dela,
aumentando na calça. Precisava deixá-lo livre. Desabotoou o jeans
e tirou de uma vez. Pressionou o pau nu contra o tecido fino da
calcinha.
Quando Savannah empurrou, ele não pôde suportar mais.
Podia gozar naquele instante caso ela continuasse se esfregando e
gemendo assim. Desceu a calcinha e puxou o quadril dela para
trás. Suas nádegas estavam quentes e se esfregou entre elas por
um momento. Precisava se acalmar primeiro ou não aguentaria.
Queria que durasse.

Grayson usou o pé para acabar de tirar a calcinha e puxou


uma das pernas de Savannah para trás, sobre a dele. Esfregou a
ponta do pau na umidade, e sem demora, empurrou dentro dela.
Ela gritou e arqueou as costas enquanto a enchia.

Com a mão, circulou o clitóris, se movendo lentamente dentro


e fora. Explorou o corpo dela, apreciando cada curva. Os mamilos
duros, os seios macios, os lábios úmidos e o ventre plano. Ela era
um presente para ele brincar.

Os gemidos aumentaram, indicando que ela estava chegando.


Podia acontecer a qualquer momento, mas queria que
enlouquecesse. Levou novamente a mão até o clitóris e o circulou.
Savannah respondeu exatamente como Grayson queria. Gritou e
empurrou o quadril tomando seu pênis mais profundo.

Ele acelerou e circulou o clitóris com mais força. Sentiu seu


aperto enquanto ela gritava outra vez. Deu mais alguns impulsos
fortes e se deixou levar, enchendo-a.

Manteve seu pau dentro dela enquanto relaxava. Algum


tempo depois, saiu de dentro dela , seus corações batendo juntos
e a respiração desacelerando. Savannah se virou acariciando o
peito dele com o rosto. Grayson fechou os olhos e desfrutou da
sensação do corpo quente no dele.

Esperava que, de algum jeito, o que sentia a atingisse.

Se o dia começou difícil, Grayson o tornou muito melhor.


Savannah se sentia segura outra vez, nos braços dele. Parecia que
nada poderia dar errado quando estavam assim tão perto. Toda vez
que faziam amor era impressionante. Ela queria mais e mais, e isso
a fazia tentar achar uma maneira de encaixá-lo na vida delas.

Ele, inclusive, estava começando a se aproximar bastante de


Olivia e, obviamente, ela gostava de tê-lo por perto. Depois que
Noah saiu, o modo como Olivia ficou chateada com Grayson
quando ele disse que ia embora deu a Savannah o que pensar. Para
mantê-la a salvo, não pensou muito no fato de que estava trazendo
alguém para a vida de Olivia. Esta foi a primeira vez. Quando
deixou James, pensou cuidadosamente em como apresentaria
alguém a ela quando começasse a sair de novo. Tinha todo um
plano para fazer o processo lento e fácil para Olivia. Mas tudo deu
errado quando James ligou.

Grayson por perto não parecia como trazer alguém para a vida
de Olivia, pois Savannah não estava saindo com ele. Ela dormia e
tinha sentimentos por ele, mas de alguma forma, sem o termo
namoro envolvido, então não considerara sua presença do mesmo
jeito. Agora, parecia que se ele fosse embora, magoaria Olivia. E
isso era a última coisa que gostaria que acontecesse. Era por isso
que decidiu sair com alguém, por alguns meses, antes de
apresentar a Olivia. Não queria que as pessoas entrassem e
saíssem da vida dela constantemente.

Mas agora que o dano estava feito, tentaria fazer com que ele
se encaixasse. As coisas ficavam bem quando Grayson estava por
perto. O passado e o trabalho dele não pareciam afetá-las no
momento. Imaginou como ficaria sabendo que ele foi trabalhar. Ou
como seria vê-lo chegar com o pagamento. O que ela diria quando
as pessoas perguntassem o que seu namorado fazia para viver?
Será que ele sempre tinha um álibi? E sempre tinha a possibilidade
de ser pego e deixá-las para sempre ou por muito tempo. O que ela
diria para Olivia?
Capítulo 20

— O que diz quando as pessoas te perguntam em que


trabalha? — Pergunta Savannah, cortando o silêncio.

Ótimo Savannah! De onde saiu isso?

— Ummm. Geralmente respondo que trabalho na área de


construção ou vendas. As vendas permitem um horário e ganhos
variados.

— O que diz que vende?

—Equipamento médico, mas já me pediram uma


demonstração, então não funcionou muito bem. — Riu. — Foi um
pesadelo.

— Já pensou em fazer outra coisa?

— Claro! — Pensou em centenas de opções de trabalho.


Esforçou-se para pensar em algo. Especialmente agora que a
conhecia.

Quando ele não conseguiu explicar melhor, ela perguntou.

— Como o quê?

— Não sei. Um monte de coisas. Mas acho que não tenho


habilidade para nenhuma delas. — Odiava falar assim, mas não
queria ser algo que não era. Não queria dar falsas esperanças ou
fazê-la pensar que, de algum jeito, poderia mudá-lo.

Savannah não respondeu, e ele se perguntou o que pensava.

— Desculpe — Disse.

— Tenho certeza que isso não é o que queria ouvir.

— Na verdade, não sei o que queria escutar. Quero dizer, se


tivesse um trabalho diferente, não seria quem é. E eu gosto da
pessoa que é. Talvez muito.

— Não sou quem você e Olivia precisam.

Ela respirou fundo.

— Sei disso. Mas quando está aqui, é muito bom. Você se


encaixa no nosso mundo. Toda a segurança e proteção que
precisamos, você nos proporciona. Não acha que ficou muito claro
hoje na forma como Olivia reagiu?

— Só acho que é uma menina assustada, e me pergunto o que


vai acontecer quando eu matar o pai dela. Vai me odiar ou me
agradecer? Ou simplesmente você vai mentir sobre isso para
sempre?

Savannah acalmou e sua respiração ficou mais pesada.


Grayson percebeu que ela ainda esperava que pudessem enviar
James para prisão em vez de matá-lo.

— Se não chegar a esse ponto, ótimo — disse. — Mas, e se


acontecer? Depois que essa questão toda com James passar e tudo
ficar bem. O que acontecerá quando o próximo trabalho aparecer?
Você vai contar para ela o que faço? Não! Então, terá que mentir.
Sempre. E terei que fazer o mesmo para protegê-la. Ela não merece
isso. Merece um pai que possa estar presente, que seja honesto e
que apoie sua família e não viole a lei.

— Mas...

Ele esperou, mas Savannah não continuou.

— Savannah, você precisa de alguém mais adequado do que


eu.

— Eu já tive isso. Não acabou bem. Aparentemente, era rico,


de boa família e bem relacionado. Foi para uma boa escola e era
certo que teria sucesso e tudo mais. E veja como terminou. Não
acredito que alguém seja totalmente bom ou mau, e mesmo que
você faça coisas que a maioria das pessoas considera errado, no
fundo você é uma boa pessoa. Vejo isso e Olivia também.

— Sou um assassino, Savannah! Como posso ser uma boa


pessoa se tiro vidas e recebo por isso?

— Mas você não mata qualquer um. Só pessoas ruins.


Provavelmente está ajudando alguém ou várias pessoas.

— Você pode tentar justificar minhas ações. Mas no final, a


verdade é a mesma. Cometo crimes com frequência. Posso ser
preso várias vezes ou para sempre. Então, o que você e Olivia
fariam? Me visitariam na prisão?

— Não sei! Ainda não foi preso.

— Mas fui uma vez.


— Isso foi há muito tempo.

Ele riu entredentes.

—No caso de homicídios, não existe prazo de validade. Se


encontrarem provas em trinta anos sobre algo que fiz há dez,
podem me prender. Não fui preso ainda. Mas isso pode mudar. É
parte do risco que corro cada vez que faço um trabalho. É parte do
trabalho que eu gosto. Sabendo que cada dia é emprestado, que,
num piscar de olhos, posso perder tudo. Faz com que eu veja a vida
de outra maneira.

— E se fôssemos para outro país onde não pudessem te


mandar para a prisão se alguma prova aparecer?

— Realmente exilaria Olivia assim? Andaria pelo mundo só


para me ajudar a não enfrentar a justiça pelo que fiz?

— Você nos protege! — Insistiu.

— Daria sua vida por nós, então por que não podemos
renunciar a algo por você?

— Porque nunca te deixaria fazer isso por mim. Não sou digno
desse tipo de sacrifício.

— Eu digo que é.

— Ótimo! E você está louca.

Ficou calada por um bom tempo.

— O que aconteceu quando foi preso?


— Bem, fiz aquilo que faço bem, que é proteger pessoas. Tinha
uma namorada no ensino médio, Julia. Ela me contou chorando,
mais de uma vez, como seu pai era violento. Disse que a tocou e a
agrediu. É claro, perdi a cabeça. Não podia suportar, ela passar por
algo semelhante ao que aconteceu na minha infância. Elaboramos
um plano e então o matei. Fui descuidado porque estava com raiva.
Havia evidências em todos os lugares. Não demoraram muito para
me pegar. Dez anos depois, quando finalmente me liberaram,
descobri a verdade. Ela inventou tudo. Estava com raiva do pai
porque ele não quis comprar um carro ou alguma outra porcaria
estúpida e ela queria o dinheiro do seguro de vida. Depois disso,
nada foi o mesmo. Como poderia confiar em alguém novamente?
Passei dez anos preso por cometer o maior crime da minha vida por
causa de uma mentira. Então, percebi que se já matei uma vez por
dinheiro (ou para que ela conseguisse a grana), então por que não
fazer de novo? Senti que minha vida terminou. Não tinha um
motivo para viver. Logo, a caça se tornou a essência de tudo. Fiz
mais uma vez e não me pegaram. Pensei: quantas vezes poderia
fazer e escapar impune? Toda vez que tiro uma vida, me pergunto
se será a última. Quando meu tempo acabar, serei preso,
condenado à prisão perpétua ou morto.

— Não posso imaginar viver assim.

— E por isso não sou o homem que precisa, pois você teria
que aceitar e ficar bem com isso.

— Mas, e se eu aceitasse?

Grayson parou um pouco para pensar. Se ela aceitasse, ele


poderia realmente ceder?
— Savannah, se puder conviver com o que faço e com o que
pode acontecer a qualquer momento, então quero ter um
relacionamento com você. E você seria a primeira pessoa a me fazer
sentir assim desde Julia. A primeira pessoa que confiei desde os
dezessete anos.

O silêncio no quarto parecia durar para sempre. Pensou no


que disse, mas não podia prometer nada, se ele estivesse falando
sério, não tinha certeza se conseguiria. O desejava, e sentia que
seria bom para elas. Mas o passado dele era sinistro, e o medo dele
ser preso a qualquer momento fazia o seu estômago encher de
pânico. Poderia viver dessa maneira a vida toda?

— Sempre fiz o certo, Grayson, como devolver os doces que


roubei aos cinco anos, mudar minha vida para fazer meus pais
felizes e me ajustar na visão deles, do que era certo. Cresci católica,
ia à igreja duas vezes por semana e confessava todos os meus
pecados. No meu mundo, não tinha sexo antes do casamento.
Simplesmente não era algo que uma boa moça fazia. Então,
quando cheguei à universidade, fiquei louca. Acho que todos os
anos de repressão me fizeram surtar. Nunca tinha bebido, usado
drogas ou transado. Mas quando cheguei à universidade e vi todos
fazendo e que isso não arruinava a vida deles, também quis
experimentar. Comecei a sair com James, e ele continuava
tentando transar comigo. Disse-lhe que estava esperando, mas
uma noite fiquei bêbada e transamos. Fiquei grávida. Achei que
meus pais fossem me matar ou me deserdar quando contei. Quase
não contei. Quase fiz um aborto, mas não tive coragem. James
tentou me convencer, mas não abortei. Finalmente contei e me
fizeram casar com James. Ele não queria, mas meus pais o
ameaçaram. Ainda não entendi como a ameaça funcionou, ele
poderia ter ficado quieto e resolvido a situação com dinheiro ou
suas conexões. A única coisa que sei é que conseguiram convencer
os pais dele e James fazia tudo o que o pai mandava. Mas o odiava.
E repetia isso todos os dias. A primeira vez que me bateu, disse
que foi um acidente, que estava muito irritado, mas que estava
fazendo terapia para controlar a raiva. Descobri, um ano depois
que, em vez disso, ele se drogava. Minha vida com James foi difícil,
muito dolorosa. Quando me batia, eu me escondia. Não podia
admitir para ninguém a confusão que estava vivendo. Tinha medo
que meus pais dissessem que eu merecia por ser uma garota má.
Sentia-me péssima. Em determinado ponto, cheguei a acreditar
nisso. Depois que meu pai morreu, minha mãe se aproximou de
mim. Ela passou a ficar mais tempo conosco. Olivia adorava tê-la
por perto. Daí começou a suspeitar da situação. Tentou me
convencer a sair. Depois da morte dela, já era muito tarde, perdi a
oportunidade. Então, continuei lutando com isso. Mais tarde,
James se voltou para Olivia. Depois da primeira vez, ele chorou por
dois dias. Sentia-me muito mal com isso. Nem conseguia encará-
lo. No entanto, meses depois, estava drogado e fez de novo. Desta
vez, só chorou um pouco. Depois, encontrou uma maneira de não
se culpar, porque nesta última, mal demonstrou remorso. Quando
tive que levar Olivia ao hospital, não me importei se estava
perdendo minha oportunidade de fugir ou se não tinha lugar para
ir. Precisava fugir. Então uma noite, o seduzi. Depois, quando ele
estava deitado, tomando sua bebida habitual, não percebeu que eu
o amarrava. O droguei apenas o suficiente para roubar o dinheiro
do cofre e fugir. Só tínhamos algumas horas antes que despertasse.
A questão em tudo isto é que posso fazer coisas ruins. Se realmente
tiver que fazer, arriscarei para proteger as pessoas que amo.
Quando era mais nova, fiz coisas estúpidas para provar que podia.
Mas sei que fazer coisas arriscadas sozinho por causa da emoção
não vale a pena. Você precisa desse ônus? Pode fazer isso de outras
maneiras. Poderia ser um policial e ainda prender os bandidos,
mas da maneira certa.

— Um policial?

— Sim. Ou outra coisa. Não sei, Grayson. Também gosto de


você. Quero ficar com você. Mas por mais que eu queira, não posso
sabendo que é um assassino. Ou vive do dinheiro que ganha
fazendo isso. Pare com essa coisa de justiceiro. Deixe que os
mocinhos lidem com os bandidos. Isso é o que eles fazem.

— Os mocinhos nem sempre fazem um bom trabalho.

— Bem, deixe que se preocupem com isso, não você. Não tem
que salvar o mundo.

— Estou fazendo isso — disse.

— Preciso salvar você e Olivia, e neste momento, você é o meu


mundo!
Capítulo 21

Savannah sentou à mesa com Olivia.

— Bem, vamos tentar esta.

Trabalharam juntas na tarefa de matemática. Savannah


olhava continuamente para a porta. A qualquer momento, Grayson
chegaria. Ele foi ao mercado, mas detestava quando ele estava fora
de vista. Entretanto, ir ao mercado não era tão ruim como
trabalhar. Tentar trabalhar o dia todo era quase uma tortura,
exceto que ela podia vê-lo sentado no carro pela janela da
enfermaria, protegendo-a e a Olivia. Mas não era certo saber que
ele precisava ficar ali vigiando.

Era a rotina habitual deles, quando precisavam comprar algo


que não podia ser feito pela internet, Grayson saía e comprava. Era
muito arriscado para Savannah ou Olivia ficarem fora mais do que
o necessário. Ir à escola e trabalhar já era um grande risco.

Passaram algumas semanas desde o último confronto.


Começava a se perguntar se James desistiu, mas era quase
impossível. Sabia que não, mas o longo tempo de paz fazia com que
se sentisse bem e não queria que terminasse. Alguém poderia vir
atrás deles a qualquer momento ou poderiam estar com Grayson
agora. Mordeu o lábio e voltou a olhar para a porta.
— Está nervosa porque Grayson saiu?

Savannah olhou para Olivia e se deu conta que a estava


observando.

—Um pouco. — Tentou minimizar e retornou à tarefa.

— Conseguiu resolver o último?

— Sim. — Assinalou Olivia.

— Realmente gosto de Grayson.

— Sério? Fico feliz. Bem, ainda temos esta página para


terminar.

Olivia baixou o lápis e olhou para a mãe.

— Grayson será meu novo pai?

Savannah abriu a boca. Claramente, deveria ter conversado


antes com Olivia sobre toda situação, mas agora era muito tarde.
Ela perguntou. Savannah deveria responder alguma coisa. Mas o
que? Será que ele conseguiria largar a profissão?

Olivia inclinou a cabeça e sussurrou.

— Se for, acho que eu gostaria disso. — Riu e cobriu a boca


com a mão.

— Mas você nunca vai dizer para papai, certo? Ao antigo


papai?

— Não, nunca diria. Espero que não voltemos a vê-lo nunca


mais.

Olivia apertou os lábios.


— Você concorda com isso? Acha estranho?

Olivia sacudiu a cabeça com força.

— Sei que ele era mau. Machucou muito você e eu não gostava
disso. Ficava assustada. E agora já não sinto medo o tempo todo.
Grayson não lhe faz mal e faz você sorrir. Eu gosto disso. E gosto
de me sentir segura. — Pegou o lápis novamente e recomeçou a
fazer a tarefa.

Savannah a observou com um sorriso e uma luz no coração.


Mais do que nunca esperava que as coisas pudessem funcionar
com Grayson. Poderiam ter uma vida maravilhosa, os três. Olivia
gostava de Grayson, e ele seria um ótimo pai. Ela já estava se
apaixonando, e ele tinha sentimentos por ela. Sentiam-se mais
seguras quando Grayson estava perto, e o queria
desesperadamente. Não precisavam esconder quem eram para ele.
Nunca precisou se preocupar que um perigoso ex o intimidasse. Ao
contrário, estava ocupada tentando convencê-lo de não matá-lo por
ela. Que mais poderia pedir?

Só precisavam resolver este assunto com James. Assim que


ele estivesse na prisão, fora do caminho, e não existisse nenhuma
ameaça para ela e Olivia, nenhuma chance de ela ser levada, então
poderiam seguir em frente e serem felizes todos juntos. Finalmente
teria a família que sempre sonhou. A que desejou com James, mas
sempre soube que não seria possível. Esta era a vida que deveria
ter desde o começo. Um homem que a amasse e protegesse, um
homem que amasse sua filha e arriscasse a própria vida para salvá-
la. Não que as maltratasse.
Só queria Grayson. Parecia que a vida perfeita estava muito
perto. Ali, na esquina, quase ao seu alcance. Tirando James do
caminho, ela seria toda sua.

Abraçou Olivia, beijando sua cabeça, e olhou de volta para a


porta, pensando que Grayson deveria chegar a qualquer momento.

— James, estou trabalhando nisso — disse Grayson.

— Estou perto. Olivia finalmente confia em mim. O problema


é que Savannah nunca a deixa sozinha. E não posso matá-la com
Olivia presente.

— Isto está demorando muito! — Rosnou James no telefone.


— Você disse que levaria uma semana ou duas, no máximo. Já se
passaram sete semanas. Cansei de esperar.

— Essas coisas não podem ser precipitadas. Não é uma coisa


rápida. Tem que ser feito de maneira adequada, se não quiser que
suspeitem de você. E, no momento, há muitas pessoas por perto.

— Ouça. Não me importo! Faça o que for necessário para


concluir o trabalho. Agora!

James encerrou a ligação. Grayson balançou a cabeça e


guardou o celular no bolso. James esperou tempo demais e já
mostrou que tinha outras pessoas no trabalho, que Grayson já
tirou do caminho, mas não significa que não viriam mais. Precisava
fazer alguma coisa antes que James fizesse um novo movimento.
Fechou a porta do carro e abriu o porta-malas para tirar as
compras. Segurou uma sacola em cada braço e seguiu para as
escadas do prédio. Antes que pudesse chegar, ouviu o som de um
disparo com silenciador, seguido por um som sibilante, enquanto
uma bala cortava o ar na frente dele. Grayson se jogou no chão.

Então, estava certo. James se cansou de esperar. Examinou


minuciosamente a área, procurando a origem dos disparos.

Logo depois, alguém gritou. Imediatamente pensou em


Savannah. Mas não parecia a voz dela. Virou a cabeça, procurando
quem era.

Ele viu primeiro o sangue, que pingava na grama. Se estivesse


mais perto, teria salpicado nele. O cheiro de pólvora encheu o ar e
os gritos quebraram o repentino silêncio, em uma mistura
conturbada de agitação barulhenta e muito silêncio.

Viu os pés. Sapatos de homem, calça. Os tiros cessaram.


Levantou a cabeça o suficiente para dar uma olhada em volta, mas
não ouviu mais disparos. Olhou para cima para ver o rosto do
homem.

Grayson o conhecia. E o fato dele estar ali agora e de ter


presenciado, seria algo bom. Ele se arrastou o mais rápido possível
até onde Noah estava ajoelhado.

O sangue saía do ombro que foi atingido pela bala e Noah já


estava empalidecendo. Você não pode morrer, pensou Grayson ,
ouvindo pneus cantando. Grayson levantou o olhar bem na hora
em que um carro vinha a toda na direção deles. Puxou a camisa de
Noah, o tirando da rua bem a tempo de evitar que as pernas fossem
esmagadas. O carro fugiu, com outro rangido de pneus quando fez
uma curva e acelerou na rua.

— Agora acredita na gente? — Gritou Grayson.

— Esse sujeito foi contratado por James, o ex-marido de


Savannah. Provavelmente para me matar. Ele está atrás dela e a
matará, então levará a menina e continuará maltratando-a , como
fez com sua mãe durante anos. É isso que quer? — Grayson
segurava a camisa de Noah em um punho e precisou de toda a sua
força de vontade para não o sacudir.

— Se não nos escutar, será o motivo de James conseguir


matar Savannah. Quer ter a morte dela nas mãos?

Noah olhou para trás, o rosto branco e a boca entreaberta.


Estava muito atordoado para responder ou mesmo registrar o que
Grayson dizia.

— Vamos — disse Grayson.

— Temos que entrar. Eles podem voltar quando perceberem


que não mataram ninguém.

Grayson levantou, olhando em volta cauteloso. O carro em


alta velocidade poderia ser uma distração. Mas nenhum tiro foi na
direção dele. Ajudou Noah a ficar de pé e colocou o braço bom sobre
o ombro, para poder carregá-lo.

Os pés de Noah arrastavam, e achou que ele poderia desmaiar


a qualquer momento. Pelo menos o homem era leve. Grayson
aguentou o peso sem problemas. O que era bom, já que tinha
muitos degraus pela frente.
Capítulo 22

Savannah passou muito tempo olhando para a porta,


esperando que abrisse, e quando finalmente aconteceu, quase caiu
da cadeira, pois foi estrondosamente, sem que ouvisse o barulho
da chave na fechadura antes.

Grayson tropeçou para dentro. Ela gritou quando viu o


sangue e correu para ele.

— Não é meu — disse Grayson.

— É de Noah. Atiraram nele.

— Como? Por quem?

Savannah viu que Noah tentava avaliar o ferimento.

— Se fosse você, levaria Olivia para o quarto — disse Grayson.

Savannah virou e viu que Olivia estava com os olhos


arregalados. O lábio inferior tremia, e parecia que estava a ponto
de explodir em lágrimas.

— Olivia, querida, vamos para o seu quarto, está bem? —


Savannah se aproximou dela e a levou, usando o corpo para
bloquear a visão do homem sangrando. Fechou a porta do quarto
e ajoelhou na frente de Olivia.
— Tenho certeza que ele ficará bem. Só temos que conseguir
ajuda e os médicos farão tudo para que ele melhore, ok?

— Papai fez isso? — Sussurrou.

— Não sei. Acredito que não. Grayson também protegeu Noah,


não é? Ele vai ficar bem.

Olivia piscou para ela, e os segundos passavam na mente de


Savannah.

— Fique aqui e brinque um pouco. Avisarei quando estiver


tudo bem. — Deu um abraço e um beijo nela e, apressadamente,
voltou para a sala.

Grayson apoiava Noah, que estava muito pálido, fazendo um


contraste alarmante com o vermelho profundo no peito dele.

— Leve-o para o banheiro — disse Savannah.

— Temos que estancar o sangramento.

Ela segurou a porta e ajudou Grayson a colocar Noah ao lado


da banheira. Grayson o ajudou a tirar o paletó e quando retiraram
o restante da roupa e a ferida apareceu, Savannah suspirou
aliviada ao ver que não era tão ruim como pensou. Foi de raspão.
Havia muito sangue, mas não era um grande estrago.

Percebeu enquanto procurava uma toalha para limpar o


sangue, que achou que ele morreria, então como explicaria aos
policiais sobre o seu ex e como isso a ajudaria?

— Acredito que você está bem — disse ela.

— Foi de raspão. — Noah virou a cabeça para ver.


— Dói — Sussurrou.

Ela pressionou a ferida com a toalha, tentando estancar o


sangue. Minutos depois, um pouco de cor retornou ao rosto.

— Não acho que está tão ruim, agora que limpei o sangue.
Quer ir para o hospital? — perguntou.

— Pode precisar de pontos.

— Não saberia o que dizer a eles — disse Noah.

— O que aconteceu? — Olhou para Grayson.

— O ex de Savannah e pai de Olivia, James, contratou um


homem para matá-la. E parece que também está tentando me tirar
do caminho, por que as estou protegendo. Você estava no lugar
errado e na hora errada.

Savannah encontrou uma bandagem grande e limpou a ferida


o melhor possível. A conversa de Noah e Grayson, de alguma forma
o distraiu da dor. Fez o melhor que pôde, mas definitivamente
precisava ir ao médico ou à emergência, só para fazer a limpeza
apropriada e talvez levar alguns pontos.

— Como sabe que ele quer matá-la? — perguntou Noah.

— E como tem certeza que ele contratou alguém? Tem alguma


prova?

Grayson olhou para Savannah. Ela respirou fundo. Isto seria


difícil. Como podiam convencer Noah sem dizer muito? Com
certeza não queria que Grayson ficasse em apuros naquele
momento, antes de James ser preso. Ainda precisava que a
ajudasse a montar um caso. Contar muito a Noah agora faria
Grayson ser preso e Savannah e Olivia ficariam indefesas, apenas
esperando James aparecer a qualquer instante. Isso não podia
acontecer.

— Ele me falou — disse Savannah.

— James me ligou e disse que ia me matar e tomar Olivia.


Falou que contratou alguém para o serviço.

Estava bem próximo da verdade e não podia ser desmentida


de toda forma. Importava como sabiam? Noah só tinha que
acreditar que James era o monstro, e não ela. E se pudessem
convencê-lo, talvez mudasse tudo. Talvez Noah se tornasse um
aliado e não um inimigo.

Grayson procurou não demonstrar seu alívio. Não pensou que


Savannah o entregaria, mas depois que deixou escapar as coisas
para Mallory, não tinha certeza. Quando estava angustiada e sua
filha em perigo, fazia coisas impensadas. Mas o que contou estava
ótimo. Os registros telefônicos mostrariam que James ligou.

— Olivia disse que o pai dela a machucou e não Savannah —


disse Grayson.

— Isso é tudo que precisa saber. Agora sabe que ela disse a
verdade e que Savannah não a fez mentir.

— Talvez — disse Noah.


— Ajuda, mas as crianças são facilmente manipuladas. É por
isso que verificamos cuidadosamente os sinais que indicam se uma
criança está mentindo ou se foi treinada. E Olivia deu esses sinais.
— Noah olhou para Savannah como se pedisse desculpas.

— Se o que você está dizendo é verdade, sinto muito se não


acreditei, mas ela agia como se estivesse mentindo e que você a
ensinou. Se outra pessoa a questionar, pode chegar à mesma
conclusão.

— Então, como funciona a Procuradoria? — perguntou


Savannah.

— O que tenho que fazer para demonstrar que foi James quem
a machucou, e não eu?

— Tem alguma prova? — perguntou Noah.

— Acaba de conseguir a sua prova — disse Grayson.

Noah balançou a cabeça.

— Essa é somente uma prova que alguém tentou te ferir. Ou,


que talvez, estão tentando me prejudicar.

— Mas quem estaria atrás de você? — Disse Savannah.

Os olhos de Grayson escureceram. Como ele podia dizer isso?


A raiva borbulhava em suas veias, precisando bem menos do que
uma fagulha, para incendiar. Era melhor que esse homem
respondesse adequadamente. Olhou fixamente para Noah.

— Está dizendo que Savannah ou eu, tivemos algo a ver com


isso? Que queríamos te prejudicar para manter silêncio?
— Isso não foi o que eu disse! — exclamou Noah.

Ao menos teve a decência de parecer envergonhado. No


entanto, ele deve ter pensando isso, para dizer o que disse.
Possivelmente, parte dele suspeitava que Grayson ou Savannah
eram capazes de matá-lo para manter tudo quieto.

— Mas isso não prova nada. — Continuou Noah.

— Um juiz vai exigir provas de que realmente foi James e não


Savannah quem feriu Olivia.

— Não tenho provas que ele a feriu, mas tenho muitas provas
que ele me machucou — Disse Savannah. Quando Grayson
encontrou o olhar dela, estava trêmula e quase a ponto de chorar.

— Posso ver? — perguntou Noah.

Savannah assentiu se levantando para ir em direção ao


banheiro. Não sabia o que ela ia pegar. Nunca viu nada parecido
com uma prova. E agora que pensou nisso, a última coisa que
gostaria de ver era uma prova do que James fez. Não poderia evitar
matar o imbecil, se visse algo que tornasse a situação mais real.

— Venha — disse Grayson.

— Vamos para um lugar mais confortável. Tudo bem?

— Provavelmente eu deveria ir ao médico, mas acredito que


estou bem. E eu gostaria de saber mais algumas coisas, antes de
começar a responder perguntas.

Grayson o guiou até a sala de estar. Agora que o sangramento


estancou, parecia muito melhor. Não estava tão pálido e estava
mais calmo. A dor também estava cedendo. Ou talvez estivesse
entrando em choque. O ajudou a se sentar e ofereceu um pouco de
água.

— Beba. — Entregou o copo e assim que Noah acabou de


beber, voltou a enchê-lo devolvendo para ele.

Savannah voltou do quarto com uma caixa. Procurou pelo


olhar dela, tentando encontrar alguma pista do que viria, mas ela
não olhou para ele. Parecia envergonhada, com as bochechas
vermelhas e não olhou nos olhos de nenhum dos dois.

Sentou perto de Noah e tirou a tampa da caixa. Em seguida,


a entregou. De onde estava, Grayson não podia ver as fotos, mas
viu a reação de Noah enquanto as observava. Seus olhos
arregalaram de repente, e olhou para Savannah com compaixão.

Por mais que não quisesse olhar, Grayson não resistiu. Foi
até a mesa e pegou as fotos.

Eram todas de Savannah. Olhou uma por uma. Um olho preto


em uma. Na outra um extenso hematoma no braço que chegava a
ser verde. A próxima, uma contusão na tíbia. Depois, marcas em
suas coxas, que só podiam levar a uma hipótese. Grayson cerrou
o maxilar e deixou todas as fotos caírem.

Pensou que ia vomitar. Só viu uma parte das coisas horríveis


que estavam nessa caixa, mas era o suficiente

A raiva o consumiu, e teve que respirar profundamente, várias


vezes, para manter o controle. Queria sair do apartamento nesse
instante, encontrar James e matá-lo da forma mais dolorosa
possível.

— Isso deve ser o suficiente, certo? — Disse Grayson, com


raiva.

Noah engoliu ruidosamente e largou as fotos antes de olhá-lo.

— Pode ser que não.

— Por que não? — Gritou ele.

— O que não existe nesta caixa é o relatório policial de tudo


isso — disse Noah.

— Alguma vez o denunciou? — Savannah baixou o olhar e


sussurrou.

— Não.

—Então, provavelmente não servirá no tribunal. Não há como


provar que James foi o responsável por isto. Poderia ter sido um
ex-namorado ou um amante irritado. Qualquer um poderia ter feito
isso com ela. Não há nada específico que associe James a estes
crimes, nem nada que sustente o que ela diz, e o que piora a
situação, foi James ter acionado o SPM, por estar preocupado com
a filha. Se Savannah tivesse acionado primeiro, seria diferente.

— Sou eu — disse Grayson.

Savannah o olhou, de repente, confusa. Noah também o


encarou desconcertado.

— Sou eu o assassino que James contratou!


O rosto de Savannah mostrou preocupação, mas Noah
pareceu surpreso.

— Ele te contratou para matar Savannah?

Grayson assentiu.

— É por isso que sei que a quer morta e não vai parar até que
consiga. Porém, não pude fazer. Quando estava investigando, ficou
muito claro que Savannah não é mais que uma mãe preocupada e
que Olivia a adora. Ela nunca machucaria a filha. Esteve em um
casamento abusivo para dar uma família à filha, e foi embora a
partir do momento que já não era seguro para Olivia. Fugiram
porque estava apavorada com o que ele poderia fazer. Que James
usaria seu dinheiro e influência para mentir e acusá-la de abusar
da filha, e depois a levasse para longe. É dessa maneira que
pessoas abusivas trabalham. Tem que entender. Quando uma
mulher está amedrontada assim, não pode esperar que ela procure
a polícia, pois ela poderia terminar morta por isso.

— Entendo, acredite — disse Noah.

— E mesmo que o juiz acredite e queira prendê-lo, sem provas,


não conseguirá, pois ele é inocente até que se prove o contrário.
Não se pode prender uma pessoa só porque alguém diz que fez algo
errado. Se fosse assim, Savannah estaria presa agora. O sistema é
assim por uma razão, para proteger as pessoas de falsas
acusações. Mas, infelizmente, também dependem de provas.

— Bem, tenho provas que James me contratou para matar


Savannah. Acredito que com isso, as fotos e o testemunho de
Olivia, deve ser o suficiente.
— Espero que sim — disse Noah.

— Posso conseguir mais — disse Grayson.

— James ainda acredita que estou trabalhando para ele.


Posso usar uma escuta ou algum dispositivo que usam com os
traficantes para ajudar os policiais e fazer com que James fale
sobre o esquema. Mas precisamos nos movimentar rápido. Estou
demorando muito, e acredito que James está desconfiando de mim.
O tiro de hoje foi uma prova bastante óbvia disso. Mas ainda
podemos ter uma chance. Ele poderia falar o suficiente para
comprovar que mandou atirar em mim. Estou certo que posso
conseguir que diga algo que o incrimine, porque jamais acreditaria
que posso entregá-lo, ou que trabalho com a polícia, já que estaria
mais encrencado do que ele.

— Então por que faria isso? — perguntou Noah.

— Você pode ser preso.

Lágrimas silenciosas corriam pelo rosto de Savannah, que o


olhava de modo suplicante. Não queria machucá-la, e sabia que ela
não queria que ele se afastasse, mas que escolha tinha?

— Porque faria qualquer coisa para manter Savannah e Olivia


a salvo e longe dele. Mesmo se precisar assumir a culpa.
Capítulo 23

— Acredito que posso convencer James a dizer os detalhes


iniciais do plano para o qual me contratou — disse Grayson. Agora
que Noah estava com eles, estavam tentando elaborar um plano
para obter as provas que precisavam.

— Ele ainda pensa que só estou passando um tempo com


Savannah para me aproximar, matá-la e pegar Olivia. Enquanto
ele acreditar que estou agindo assim, posso conseguir que admita
algo.

Noah assentiu pensativamente.

— Acredito que será melhor se conseguirmos que a polícia


prepare uma operação. Do tipo secreto.

Grayson sacudiu a cabeça.

— De jeito nenhum. Não terei controle suficiente sobre a


situação. Se não puder controlar tudo o que acontece, poderá se
voltar contra mim, e ele saberá que algo está acontecendo. — Sem
mencionar o fato que dificilmente poderia matar James se a polícia
estivesse observando. Se não estivessem ali, ele poderia alterar a
gravação ou forjar qualquer disparo, para parecer que foi contra
ele. Podia preparar tudo de forma que aparentasse autodefesa, na
obtenção de provas, mas também garantiria que James não vivesse
o suficiente para ir a julgamento.

— É muito arriscado — disse Noah.

— Se envolvermos a polícia de antemão, estarão lá para agir


se as coisas derem errado. E os chamando primeiro, garantiremos
o fato de que você é o inocente aqui. Se só lhes dermos as provas,
não será tão bom quanto se eles a conseguissem por conta própria.
Alguém poderia dizer que foi manipulada.

— Não posso confiar na polícia dessa maneira. Se James


achar que estão envolvidos, tudo desabará. Não percebe?

— Grayson — disse Savannah.

— Talvez devêssemos fazer como Noah diz. Não quero correr


o risco de que seja prejudicado ou preso. Conversar com eles
primeiro, significa que não acontecerá.

— Não significa nada — disse Grayson.

— O que poderíamos esperar seria algum tipo de acordo com


a Procuradoria. E isso poderia reduzir minha condenação de prisão
perpétua para vinte anos. Quinze, se tiver sorte.

Savannah desviou o olhar. Grayson sabia que ela não queria


ouvir isso. Entretanto, queria que compreendesse todo o perigo.
Gostaria de poder dizer que preferia morrer para obter as provas
que ela necessitava, ou morrer ao matar James e deixá-la livre, de
uma vez por todas, que ir para a prisão. Na prisão, não poderia
fazer nada para ajudá-la, e ela seguiria em frente. Nunca poderia
pedir que o esperasse, nem que ela o fizesse. Eles não tinham um
compromisso e ir para a prisão só provaria tudo o que disse a
respeito de não poder estar na vida delas, que ele era muito
perigoso, e ela não desejaria um criminoso como padrasto para a
filha.

— Me deixe ligar para James e ver se posso convencê-lo a se


encontrar comigo — disse Grayson.

Noah e Savannah viram Grayson pegar o telefone. Ele parou


um momento para organizar os pensamentos e, em seguida,
digitou. Quando James atendeu à ligação, foi fácil deixar
transparecer a raiva na voz. Tudo o que tinha que fazer era
imaginar uma das fotografias de Savannah cheia de contusões, e
tudo o que via era vermelho.

— Que raios você está fazendo? — Gritou Grayson.

— É idiota ou totalmente incompetente?

— Eu? — Respondeu James.

— Você é que não consegue colocar uma bala na cabeça de


uma mulher estúpida. Isso é tão difícil?

Ignorou o insulto a Savannah e continuou.

—Graças a sua pequena façanha, o assistente social que


estava chegando se feriu. E o que acha que ele está pensando
agora? Vou te dizer o que ele não está pensando. Não pensa que
Savannah é uma mãe terrível que agrediu a filha. Está sentado
neste momento com ela, escutando sua história. É isso o que
queria? Que o SPM preste atenção em você? Porque isso é o que
fez.
— Nunca acreditará nela.

Grayson começou a rir.

—Eu estava bem ali quando Savannah disse que foi você
quem atirou. Ele fez muitas perguntas sobre você. Perguntas que
estou certo que você provavelmente não quer que Savannah
responda sinceramente. Se ele acreditar nela, você está fodido.

—Ele não acreditará — disse James obstinadamente.

— Me assegurarei disso.

—Ok. E é melhor que apague qualquer conversa, anotação ou


relatório que receber. Por isso que passei todo este tempo me
aproximando dela. Talvez você não saiba como funciona, pois é tão
impaciente que arruinará tudo. Mas não serei responsável se a
história de Savannah surgir e as pessoas acreditarem nela, pois ela
diz que você fez todo tipo de merda com ela e essa menina. Mesmo
se provarem que são falsas, o seu nome não valerá nada depois
que este assunto chegar à mídia.

James ficou calado por um longo momento.

— Está bem. O que sugere que façamos?

— Em primeiro lugar, pare de mandar seus malditos


assassinos atrás de mim e Savannah. Vou me encarregar disso
corretamente. Está sendo muito impaciente e me afetando. Vamos
nos encontrar para repassar a próxima fase do meu plano, se
conseguir não mijar na cueca por cinco minutos e esperar. Mas
não discutirei os detalhes por telefone.

— Quando? Onde?
Quando desligou, Savannah e Noah estavam observando-o.

— Caiu direitinho. Encontraremos-nos, farei com que


confirme todos os detalhes, e logo o teremos.

Noah e Savannah trocaram um olhar.

— Nesta reunião seria o momento perfeito para envolver a


polícia — disse Noah.

—Já disse, é muito arriscado. Preciso estar no controle total


da situação.

— Ainda estaria. — Insistiu Savannah.

— Podemos criar um código ou sinal para que não interfiram


até que você precise, então eles apenas ouviriam a conversa.

— Está confiando demais na polícia — disse Grayson.

— Em um sistema que esteve muito perto de tirar a sua filha.


Noah estava convencido que você maltratava a garota e que a
ensinou a mentir. E estava errado. E se estes policiais pensarem
que sabem o que fazer e errarem? Ou decidirem não acreditar em
nós?

Noah abaixou a cabeça. Ótimo! Deveria se envergonhar


mesmo pela forma como reagiu. Grayson não se importava com a
forma que Noah trabalhava. Como poderia pensar que Savannah
era a agressora nesta situação? Que idiota! Bastariam dois
segundos perto delas para saber como era doce e carinhosa.
Qualquer um podia ver.

— Noah, isto nos dará provas suficientes? — perguntou ela.

— Se James admitir na gravação, junto com o seu


testemunho, o de Olivia e o meu, e adicionando a outra prova que
temos, que não é tão forte, acredito que será o suficiente — disse
Noah.

— E farei todo o possível para ajudar.

E será melhor que faça mesmo, ou talvez, Grayson


conseguisse isso, com um soco impiedoso em Noah, pois ele deixou
as coisas muito mais difíceis para eles. Se tivesse reconhecido a
verdade desde o começo, talvez tudo fosse diferente agora.

— Vou verificar esta ferida — disse Noah.

— Não quero deixar passar muito tempo, e está começando a


doer de novo.

— Precisa de uma carona até o hospital? — perguntou


Savannah.

— Acho que consigo resolver sozinho, mas obrigado. — Ele


levantou e ela colocou o paletó nos ombros dele.

— Me avise se eu puder ajudar mais. Ainda tem o meu cartão?

Savannah assentiu e abriu a porta. Quando ele saiu, ela


fechou. Então, virou para Grayson.
— Está cometendo um grande erro, isso é muito arriscado. —
Claramente se conteve enquanto Noah ainda estava ali, mas agora
deixava seus verdadeiros sentimentos aparecerem.

— Simplesmente passaremos por tudo isto.

Ela balançou a cabeça.

— Acredita que estou confiando muito na polícia, mas


precisamos. Eles prenderão James, eu ou você.

— Não me prenderão.

— Não sabe o que James planejou. Você disse que o sistema


quase levou Olivia, mas não levou. E no final, Noah enxergou a
verdade e agora está do nosso lado. Por isso, deu certo.

— Pode ser. Mas não confio totalmente em Noah. Ele pode nos
dar as costas ou fazer um relatório que não diga exatamente o que
precisamos. Se ele decidir que estar perto de um assassino não é o
melhor para Olivia, estou certo que vai relatar, inclusive, que
mesmo que você não a tenha maltratado, não significa que não
recomende que Olivia vá para outro lugar.

Ela não devia ter pensado nessa possibilidade, pois a boca de


Savannah abriu. Depois de uma longa pausa, disse.

— Sério, você acredita...?

— Tudo é possível! É por isso que temos que fazer da única


maneira que funcionará, que será obter as provas por conta
própria. Só podemos confiar um no outro.
— E se for uma armadilha? James já enviou outras pessoas
atrás de nós. E se só concordou em encontrar você para poder
matá-lo? Isso é muito possível. Ele já fez antes. Se já tentou, por
que não tentaria outra vez? Precisamos da presença da polícia. Não
podemos confiar que James apareça e não tente armar alguma
coisa.

— Savannah, ficará tudo bem. Por que James tentaria algo


assim comigo? Ele conhece o meu histórico. Acha que seria tão
estúpido para ficar em um lugar com um assassino renomado e
letal? Não teria chance em uma luta com armas contra mim. E ele
sabe. Assim, não tentará.

Ela balançou a cabeça, o medo crescia no seu estômago.

— Está dando-lhe muito crédito, mas ele é estúpido e


imprudente. James tentaria. Mesmo que não tenha êxito, pode
machucá-lo primeiro.

Grayson se aproximou, pegou as mãos dela e beijou cada


uma.

— Ficarei bem, prometo. Se acabar morto ou na prisão, não


poderei proteger você e Olivia, e isso é o mais importante para mim.
Não farei nada que coloque em perigo a minha vida, a sua ou a de
Olivia.
— Sei disso — disse com doçura. — Mas tenho um mau
pressentimento. Tive apenas uma coisa boa na vida. E sinto que
estou a ponto de perder a segunda melhor que já me aconteceu.

Um brilho de surpresa apareceu no rosto de Grayson.

— Eu?

Ela concordou. Fechou os olhos e se aproximou dele. Se o


olhasse nos olhos, talvez não conseguisse dizer as palavras. A
garganta já estava fechada, mas conseguiu dizer como se sentia.

— Te amo.

— Tem certeza?

— Sim! E é por isso que quero que deixe a polícia se


encarregar disto. Conheço James há muito tempo, e não aceito que
ele destrua a minha vida outra vez. Por favor, querido.

Então olhou para ele. Grayson se inclinou para beijá-la.

— Não temos tempo para esperar a polícia. James está mais


que impaciente. Quer vê-la morta para ontem. Se esperar mais um
dia, vai agir. Tenho que encontrar com ele agora mesmo, e
conseguir o que precisamos. Se não for, ele enviará mais alguém.
E te amo demais para que isso aconteça.

Um sorriso surgiu lentamente no rosto dela.

— Sério?

— Sim.
Ele a abraçou. O calor e a proximidade do corpo dele a
reconfortaram e a encheram com uma nova paz. Isso era tudo o
que necessitava. Em seus braços, nada poderia machucá-la.
Capítulo 24

— Está dormindo — disse Savannah, fechando a porta do


quarto.

Grayson sorriu. Mal podia acreditar.

Conhecia seus próprios sentimentos há algum tempo, mas


não queria reconhecer. Então ela disse que o amava primeiro.
Falava sério. E ele acreditava.

No ensino médio, Julia disse que o amava. E ele disse o


mesmo. Talvez o sentimento estivesse presente naquele momento,
pois ele matou por ela. Mas quando soube que ela mentiu, duvidou
que o amasse de verdade. Quem faria isso a alguém que amava?
Usar e mentir para que cometesse um crime que o faria ser preso
por dez anos, enquanto desaparecia da face da terra. Achava que
Julia poderia ao menos tê-lo visitado, ligado ou escrito uma ou
duas vezes. Uma nota de agradecimento, talvez? "Oi, obrigada por
tirar do caminho meu querido pai, agora posso comprar o novo
carro que estava desejando!".

Mas depois da audiência em que Grayson foi sentenciado, a


mesma em que ela estava presente chorando e prometendo
escrever todos os dias e visitá-lo toda semana, nunca mais soube
dela. Pensou que talvez sua mãe a manteve afastada, mas
certamente, em dez anos, encontraria uma maneira de entrar em
contato se realmente quisesse. Levou mais de um ano para
compreender e ficar com raiva. A única pessoa que ele amou, o
abandonou quando mais precisava.

Mas agora tinha uma segunda chance. Encontrou o amor


mais uma vez quando pensava que era impossível, pois não se
aproximava o suficiente de ninguém. Tinha alguém que realmente
o amava o suficiente para colocar a si mesma e a filha em risco
para salvá-lo. Savannah sabia que era melhor ele encontrar com
James e deixar a polícia de fora e que significaria a verdadeira
liberdade para ela e Olivia se James morresse. Entretanto, a
preocupação dela era que fizesse algo que fosse bom para Grayson
e nada seguro para si mesma.

Era assim que Savannah demonstrava o seu amor, estando


disposta a se sacrificar por ele. Ninguém renuncia a coisas
importantes, a não ser por alguém que amava. E ela o amava!
Quando a olhou há pouco tempo, tudo que conseguiu pensar era
que Savannah deveria ser a primeira pessoa no planeta, que
realmente o amava. Talvez seus pais o amaram quando era bebê,
mas depois não demonstraram, e ele não sentiu esse amor. Já o de
Savannah o iluminava.

Ela atravessou o quarto sorrindo. Quando se aproximou da


cama, começou a tirar a roupa. Grayson já estava nu sob os
lençóis, a esperando com o pênis duro e as mãos coçando para
tocá-la.

Savannah tirou a blusa primeiro, revelando o sutiã de renda


preta que sustentava os seios perfeitos e redondos. Depois,
lentamente, desabotoou o jeans e tirou. A calcinha combinava com
o sutiã. Preta e de renda, que aderia à cada curva. Era tão sexy!

Levou a mão para trás para abrir o sutiã, e quando caiu,


Grayson aproveitou a visão dos mamilos duros e seios cheios. Ela
desceu a calcinha e logo se arrastou para a cama, o traseiro nu
visível acima da linha das costas, enquanto se arrastava para ele.
Ela levantou os lençóis e sorriu quando viu que ele estava nu.

— Perfeito. Está exatamente como eu te queria — disse.

Em seguida, ela se moveu sob os lençóis e um segundo depois,


Grayson sentiu a boca quente no seu pau. Ele gemeu de prazer e
colocou a mão na cabeça dela. Savannah se movimentava para
cima e para baixo no seu eixo, o sugando e acariciando.

— Isso é tão gostoso. — Ele disse.

Podia ficar deitado ali e deixar que ela o masturbasse o dia


todo, e nunca pediria outra coisa na vida. O corpo sexy, pairando
sobre ele, enquanto lhe dava prazer, era a melhor coisa que tinha
experimentado.

Ela subiu, beijando seu abdômen e pescoço antes de chegar


aos seus lábios. Grayson a abraçou e segurou contra ele. Ficou
assim por um longo momento, sentindo o seu calor, sua
proximidade e a nudez.

— Eu te amo — disse.

— Também te amo.
Virou-se, ficando em cima dela. Grayson olhou para
Savannah, passando os dedos pelo seu cabelo, que caía em volta
do rosto.

— Você é tão linda! Não a mereço.

— Mas me tem, então acho que fez algo bom. — Riu.

— Acredito que sim.

Inclinou-se, beijando-a por um bom tempo.

Savannah mal conseguia se segurar. O que ele estava


esperando? Adorava beijá-lo. Os lábios eram suaves, a língua
dançava dentro e fora da sua boca. Era muito bom! Mas seu corpo
sofria por ele. Ela estava tão molhada, que pensou que poderia
estar pingando nos lençóis agora. Mas Grayson mantinha a ereção
pressionada em seu abdômen, muito acima de onde deveria estar.

Ela resolveu se mover, para que ele pudesse entrar nela. Mas
Grayson também se moveu e continuou a beijá-la. Savannah
envolveu uma perna ao redor dele, se inclinou e o segurou.
Colocou-o em sua abertura e desceu, deixando que ele entrasse
suavemente.

Ele gemeu levemente e ficou imóvel quando estava todo dentro


dela. Continuou beijando-a, se movendo lentamente dentro e fora.
Mais lentamente do que jamais fez, como se desfrutasse cada
segundo. A cada centímetro que se movia, ela sentia o prazer
aumentar. Estava perdida nele. Savannah tentou não gozar muito
rápido, mas a forma como provocava e construía seu desejo por ele,
como se movia lentamente, de um jeito que o pau massageava cada
ponto dentro dela, enviou-a ao limite.

— Estou perto. — Sussurrou Savannah gemendo no ouvido


dele.

Ele não aumentou a velocidade como fazia normalmente. Ao


contrário, manteve o ritmo lento e constante, levando-a à um
orgasmo profundo. Totalmente diferente de quando a penetrava
rápido e forte. Tudo parecia diferente esta noite.

Então entendeu o que acontecia. Ele estava fazendo amor com


ela. Não simplesmente fodendo-a ou transando. Estava fazendo
amor, de uma maneira verdadeira e rara, como ninguém fez!

As lágrimas encheram os olhos de Savannah, e ele a beijou


com mais força.

— Obrigada! — exclamou.

Ele riu entredentes.

— Posso lhe dar outro se quiser.

Ela também riu.

— Sim, por favor!

Alterou ligeiramente o ritmo, com impulsos curtos, logo um


mais forte, e depois, outro bem profundo. A alternância de curtos
e profundos, fez com que os músculos vaginais apertassem,
procurando segurá-lo cada vez que ele entrava, tentando mantê-lo
mais profundo. Mas ele sempre se afastava, fazendo-a querer mais.
Então, quando a penetrou profundamente, a cabeça virou de
prazer. Era uma tortura lenta, mas maravilhosa.

Fizeram amor por muito tempo. Savannah pensou que nunca


parariam, que Grayson simplesmente continuaria assim,
enchendo-a e a deixando louca de desejo, fazendo-a se sentir tão
sensual como jamais se sentiu na vida.

— 0—

Mas, depois de algum tempo, ele acelerou.

— Vou gozar — disse ele.

E, conforme empurrava cada vez mais forte e rápido, ela


levantava os quadris para encontrar os dele, envolvendo-o por
completo, ela gozou outra vez, gemendo alto, enquanto ele
esvaziava dentro dela.

— Esse foi o melhor sexo que já tive! — Ela disse.

Ele fez um barulho engraçado e rolou para perto dela.

— Simplesmente não consigo ter suficiente de você.

— Nunca terá — disse ela encostando o nariz no dele. Entre


as pernas, Savannah estava quente e se sentiu molhada e cheia. A
sensação de calor era uma agradável lembrança da intimidade
recente.

— Quero fazer isso pelo resto de nossas vidas.

Grayson se aproximou e colocou uma mecha de cabelo dela


atrás da orelha.
— Sério? Quer-me por perto por tanto tempo assim?

— Sim! Nunca me senti tão segura ou tão querida na vida.

— Nem eu. Acredito que você é a primeira pessoa que


realmente me amou.

Isso não podia ser verdade, certo? Seu coração derreteu diante
a expressão nos olhos dele. Tão sincera, tão vulnerável.

— Lamento que não foi amado. Não sei como alguém não
poderia amar você.

— Não sei como alguém poderia lhe fazer mal. É tão gentil e
doce, tão bela e amável. James é louco.

O sorriso dela desvaneceu um pouco, ante a lembrança da


realidade.

— Ele é, e não podemos esquecer. Não podemos baixar o


guarda nem por um instante, pois será neste momento que nos
atacará. Agiu assim comigo durante anos. O ciclo clássico de
abuso. Batem, depois se desculpam, então...

— Prometem não voltar a fazer, então há paz durante um


tempo até que... — Grayson diz.

— Você queima o jantar ou expressa sua opinião... —


Savannah continua.

— Ou tem uma nota ruim ou deixa sua bicicleta na entrada.


— Ele segue.
— E então começa tudo de novo.

Ele assente.

— Nós dois sabemos muito bem.

— Que tal se a gente começar um novo ciclo?

— Ok...

Ele deu um sorriso torto.

— Podemos começar com um sexo épico, depois dizer o quanto


nos amamos, e então ter um grande dia amanhã desfrutando um
do outro, e à noite, podemos começar tudo de novo.

— Esse é um ciclo muito melhor. — Ele a puxou para um


beijo.

— Sei que a nossa situação é complicada. A maioria dos casais


tem que lidar com seus ex, mas não com eles tentando matar e
raptar uma criança. Não é a melhor forma de começar uma relação,
mas assim que resolvermos, seremos capazes de superar qualquer
coisa. Seremos fortes e imbatíveis — disse Savannah.

— Acredito que você já é imbatível. Olhe por tudo o que


passou. Tudo o que James lhe fez, e ainda é você mesma. Ainda
uma mãe perfeita, amorosa, carinhosa e irresistível.

Ela riu entredentes.

— Não sei se é assim. Está esquecendo que deixei que ele me


batesse durante anos. Que deixei Olivia ver e escutar todas as
brigas.
— Mas foi embora! Minha mãe nunca saiu. Ficamos naquele
lugar horrível. E depois, ela se juntou a ele. Acho que pensou que
era mais fácil ajudá-lo do que impedi-lo.

— Isso é tão fodido! Mas olhe, você também é imbatível. Você


é um herói grande e forte, que veio salvar minha filha e eu, para
nos resgatar das forças malignas do mundo. É o nosso cavaleiro de
armadura brilhante, cavalgando para salvar as donzelas em perigo.

Ele tocou o nariz dela.

— Ótimo, mas só espero que essa donzela já tenha enfrentado


todo o perigo. Quero protegê-la, não continuar salvando-a
repetidas vezes. Precisamos de um bom castelo para manter o
inimigo afastado.

Ela suspirou deitando de costas.

— E a ponte levadiça não está funcionando, também. Não


acredito que os servos ainda não a arrumaram. Precisaremos de
guardas extras esta noite.

— E espadas extras.

Ela riu e esticou o braço para segurar seu pau macio.

— Esta é a única espada que preciso.

— E acredito que só existe uma bainha para a sua medida.

O sorriso dela se desfez e levou a mão até o peito dele, se


perdendo nos pelos encaracolados.

— Sei que podemos fazer dar certo.


— Mesmo se eu matar James?

— Sim!

— E se eu não deixar de ser um assassino depois disso?

— Então, tentará encontrar um bom trabalho ou poderá voltar


para escola.

— E se eu não quiser deixar de ser um assassino depois disto?

Ela envolveu um dos cachos do peito na ponta do dedo.

— Então, vou me acostumar com isso. Rezarei toda noite para


que esteja a salvo e não seja preso e para que Deus te perdoe.

— Acredita mesmo que Ele irá?

— Claro! — exclamou.

— Por acaso acredita que todas as pessoas são boas? Você


sabe quem era aquele homem na Bíblia que matou muitos
cristãos?

— Não sei — disse ele

— Seu nome era Paulo. Ele o perdoou e o converteu em um


apóstolo ou algo assim.

— Não tenho ideia do que isso significa — disse Grayson.

— Significa que Deus não só o perdoou, mas também o usou


para fazer coisas por Ele. Já leu a Bíblia?
— A televisão era o único altar que o meu pai adorava. Bem,
isso e a todo poderosa garrafa de cerveja.

— Não tenho certeza do que é pior. Não frequentar uma igreja


ou ser obrigado a ir toda semana.

— Qualquer coisa é melhor do que sentar e ficar esperando


que seu pai fique bêbado o bastante para lhe bater. Ou fazer algo
pior.

— Pior?

Assentiu.

— Ele não usava só as mãos. Algumas vezes era garrafa de


cerveja, o controle remoto, ou o cigarro. Aquilo que tivesse à mão.
E quando não tinha nada, as escadas funcionavam muito bem.

— James me empurrou da escada algumas vezes. Isso é


apavorante. Cair assim, de repente. Fez isso quando eu estava
grávida. Quando me neguei a fazer um aborto.

— Então, ele começou a abusar de você antes mesmo de Olivia


nascer.

— Sim, parece que sim. Nunca pensei dessa forma. Mas


tentou matá-la antes de nascer. É engraçado que agora esteja
brigando por ela. Eu que lutei por ela desde o começo. Quando
todos me disseram que devia me livrar dela.

— Isso é porque você já a amava — disse. — Porque é uma


pessoa boa e decente, que tinha pais suficientemente bons para
demonstrar amor por você. E quem sabe, também foi toda aquela
coisa de igreja.
— Talvez. — Ela ficou calada por um longo tempo, pensando.
Considerou a resposta dele e perguntou.

— Acredita em Deus?

— Penso que nunca tive um motivo para acreditar. Não tinha


nada de bom na minha vida. Nada que quisesse agradecer. E se
existir um Deus, Ele nunca me ajudou. Acho que poderia ter feito.
Simplesmente, não sei o que fiz, para que Ele me odiasse, eu era
apenas uma criança.

— Não acredito que seja assim. Acho que só não teve sorte.

— Acha que se eu fosse à igreja e rezasse, Deus teria feito com


que meus pais parassem de me bater?

Ela pensou em todas as noites que passou de joelhos


chorando.

— Não. Ele não fez com que James parasse de me bater.

— Então, qual é o objetivo?

Ela levantou um ombro.

— Esperança, eu acho. Nós dois superamos, não é?


Sobrevivemos e encontramos um ao outro. Talvez seja nossa
recompensa. Talvez Ele nos tirou de onde estávamos e nos juntou.

— Bem, o que ou quem quer que seja, estou agradecido. —Se


aproximou mais e a beijou na testa.

— Se foi Deus, então serei grato a Ele todos os dias por você.
E se não, então agradecerei a minha estrela da sorte e espero
nunca ferrar isso.
— Não irá.

— Obrigado.

— Por quê?

— Por ser a primeira pessoa a me conhecer realmente e ainda


continuar me amando — disse Grayson, traçando o contorno do
rosto dela.

— Obrigada por me deixar amá-lo. E por me amar de volta.

— É a coisa mais fácil que já fiz.


Capítulo 25

Savannah verificou se o cinto de segurança de Olivia estava


fechado. Mallory já estava no assento do passageiro. Virou para
olhar Grayson.

— Gostaria que viesse conosco.

— Eu também. Porém, temos que deixar as coisas prontas.

— Eu sei, é só que odeio a ideia de ficar longe de você o dia


todo.

— Acha que é só você? — Sacudiu a cabeça.

— Está levando a arma com você?

Ela assentiu e tocou a bolsa, onde a arma estava guardada.

— Você vai ficar perto do seu telefone?

— Claro. Ligarei com frequência, para checar.

— Ok. — Respirou profundamente.

— Acho que o verei à noite.

Ele a beijou forte e longamente, então a soltou. Ela entrou no


carro, deu partida, e abaixou o vidro.
— Ei — disse.

— Não deixe que o matem ou algo parecido — disse-lhe, em


um tom suave, mas cada palavra dita com seriedade.

— Você também. — Inclinou- se para beijá-la.

— Te amo.

— Também te amo.

Ele se afastou e elas se foram.

— Quando isso aconteceu? — perguntou Mallory, com um


sorriso feliz no rosto.

Savannah bateu nela brincando.

— Cala a boca.

— O que aconteceu? — perguntou Olivia no banco de trás.

— Nada, meu bem — disse Savannah.

— Oh, sua mãe está apaixonada, só isso.

Olivia sorriu.

— Por Grayson!

— Você gosta dele? — perguntou Mallory.

Olivia assentiu com entusiasmo.

— 0—

— Quero que ele seja meu novo pai.


Savannah sorriu contente. Se saíssem dessa vivos, poderia
ser.

Foram para a casa de campo dos pais de Mallory, pouco tempo


depois. O plano era passar o dia lá, aproveitar juntos, antes da
grande reunião no dia seguinte. "Quem sabe o que poderá dar
errado"? Mallory tinha falado. "Aproveitemos o dia".

Assim, agora estavam aqui. Savannah e Olivia conheceriam


os pais de Mallory, com os quais Olivia ficaria nessa noite e no dia
seguinte. Savannah não queria que Olivia estivesse perto, de forma
alguma, do local onde as coisas aconteceriam. E muitas coisas
poderiam acontecer no dia seguinte. Era melhor que estivesse aqui,
a salvo.

— O que vamos fazer primeiro, mamãe? — perguntou Olivia


animada, enquanto saíam do carro.

— Posso te mostrar o balanço, podemos passear, ou jogar


algo.

— Vamos entrar e conhecer o senhor e a senhora Steven


antes, está bem? — Disse Savannah abaixando a mão para que
Olivia a pegasse.

— Ok.

Entraram e conheceram a mãe de Mallory e seu padrasto. Elas


o abraçaram, e eles pareciam as pessoas mais acolhedoras e gentis
que Savannah já conheceu. Não era de surpreender que Mallory
fosse dessa maneira. Ela era igual a eles.
Depois de um sanduíche no meio da manhã, com muffins e
chá, Savannah e Olivia se aventuraram fora de casa e Mallory ficou
com os pais. Olivia correu para o balanço pendurado na árvore
gigante e Savannah ficou atrás dela, empurrando-a.

— É tão bonito aqui — disse Savannah.

— Sim. Eu gosto. Talvez pudéssemos ter uma casa assim


algum dia.

— Espero que sim. — Conseguia imaginar Olivia brincando


nos fundos, Grayson trabalhando no carro ou arrumando algo, e
ela assando bolos para a sobremesa. Parecia o retrato perfeito de
uma família.

— Você gosta mesmo de Grayson? — perguntou Savannah.

Olivia assentiu.

— Pode me falar a verdade se não gostar dele.

— Mas eu gosto!

— Tudo bem! — Savannah riu pelo entusiasmo dela.

— Ainda sente falta da nossa antiga casa?

— Sim. Mas não quero voltar para lá.

— Eu também não. Mas por que não quer?

— Não quero voltar a morar com papai. Tenho muito medo.

— 0—

— Eu sei, e é por isso que saímos. Para que seu pai não
pudesse voltar a machucá-la.
— Eu sei. Mas, mamãe?

Depois de uma pausa, ela perguntou:

— Sim?

— Por que esperamos tanto? Por que não fomos embora logo,
para que ele não nos fizesse mal?

— Bem, porque queria que você ficasse com o seu pai e tivesse
uma família. Tentei evitar que visse que ele me machucava.

— Mas eu via. O vi segurando-a no chão e lhe batendo.

Savannah engoliu com força. O quanto, exatamente, sua filha


tinha visto, e como isso afetaria a vida dela?

— Bem, tudo acabou agora e nunca voltaremos para ele!


Grayson vai nos proteger e nunca nos fará mal.

— É por isso que quero que ele seja o meu novo pai.

— Fico feliz! Sei que ele também gosta de você de verdade.

— Podemos passear agora? Quero te mostrar a casinha dos


pássaros.

Olivia pulou fora do balanço, antes que parasse. Savannah


pegou a mão dela, e deixou que a guiasse pelo campo. Caminharam
entre o pasto alto e as flores, e sob a sombra de muitas árvores
altas e antigas. Pararam na frente de uma casinha de pássaros,
pintada de vermelho, mas desgastada pelos anos. Dentro, via-se
um ninho de passarinhos.
— São tão fofos! — Olivia esticou a mão, como se quisesse
pegar um.

— Não! — exclamou Savannah pegando a mão dela.

— Se os tocar, a mãe vai pensar que há algo errado e vai parar


de cuidar deles.

Olivia a olhou confusa.

— Por que ela faria isso?

— Porque as aves são assim. Não são como as pessoas. Nós


cuidamos uns dos outros para sempre.

Olharam pelo buraco por um tempo, e depois caminharam de


volta para casa. Savannah tentou memorizar como era sentir a
pequena mão de Olivia na dela. Não sabia quando voltaria a senti-
la ou quando a encontraria novamente. Ou se voltaria a fazer isso.
Rapidamente limpou as lágrimas dos olhos e pegou o telefone para
mandar uma mensagem para Grayson.

Ainda era muito cedo para ir embora e deixar Olivia.


Savannah não queria chorar ao se despedir, porque ela não sabia
que o perigo estava próximo. Disseram à Olivia que tinham algo
muito importante para fazer juntos para garantir que todos
estivessem a salvo, e que ela e Grayson viriam buscá-la, depois que
ela tivesse um dia divertido na casa de campo.

Logo depois que ela e Mallory entraram no carro, entretanto,


Savannah não conteve as lágrimas. Mallory esfregava a perna dela,
tentando consolá-la.
— Independente do que aconteça, tudo terminará amanhã.
Aguente mais um dia, e tudo vai melhorar.

Savannah assentiu e saiu da entrada da casa.

— Como consegui convencê-la a ser minha amiga? — Disse


Savannah soltando uma gargalhada.

— Porque nós duas já passamos por situações ruins algumas


vezes.

— Quando planejamos pela primeira vez nosso esquema para


manter Olivia a salvo, nunca imaginei que o usaríamos. — Admitiu
Savannah.

— Achei que seria possível, mas não que fosse tão rápido.
Estou feliz por poder ajudar. Queria ser a pessoa a ajudá-la a se
libertar, como a mulher que ajudou a minha mãe depois de anos
de abuso.

— E agora ela está com seu padrasto e é feliz.

— É sim. Muito feliz — disse Mallory.

— Estou tão feliz que somos amigas! Obrigada por toda a sua
ajuda — disse dando um sorriso caloroso.

— Sei que tudo dará certo. Tem um homem forte que somente
quer protegê-la. Deveria escutar a maneira como Olivia fala dele.
Como se fosse seu grande herói.

— Sério?

Mallory assentiu.
— Você passou por muito para que isto não funcione. Tudo
ficará no seu devido lugar.

— Obrigada por ser tão otimista. Mas, Mallory, se algo


acontecer...

— Eu vou cuidar de Olivia.

— Mesmo se Grayson e eu acabarmos na prisão? Cuidaria


dela durante nossa ausência?

— É claro! — Mallory se aproximou e apertou a mão de


Savannah.

— Como se fosse a minha filha.

— Temos que ter certeza de registrar tudo — disse Noah.

Grayson revirou os olhos.

— Isso é o que vamos fazer.

Noah tirou o gravador do bolso.

— Preciso que grave a confissão de James, que ele te


contratou para matar a esposa.

Grayson olhou fixamente para o gravador. Tudo isso fazia com


que se sentisse mal, pois seria incriminado por tentativa de
homicídio ou por planejar cometer um?

— Já temos a gravação da minha conversa com Olivia — disse


Noah.
— Temos as fotos de Savannah. Se conseguirmos que ele
admita que contratou você para matar Savannah, então será fácil.
James vai embora para sempre e Olivia e Savannah viverão felizes.

O punho de Grayson fechou com a lembrança das fotografias.


Manter isso longe da sua mente, era tudo o que podia fazer para
não socar a parede. Nos seus sonhos na noite anterior, viu
Savannah coberta de hematomas e sangrando, incapaz de andar
sozinha, e ele corria, tentando encontrar a pessoa que fez aquilo.
Mas sempre falhava, e ela aparecia com um novo hematoma.
Acordou em pânico e com um sentimento renovado de
determinação para encontrar James e matá-lo.

— Ok. — Grayson queria o felizes para sempre com Savannah


e Olivia. E, embora quisesse fazer parte dele com desespero, faria
o que fosse necessário para torná-lo possível para elas, mesmo que
ele não pudesse estar lá.

Respondeu a todas as perguntas de Noah, com o gravador


ligado. Em sua grande maioria, eram as mesmas que discutiram
logo depois que atiraram em Noah. O que James tinha dito, o
quanto pagou e quando, esse tipo de coisa.

Quando acabaram, Noah desligou o gravador, em seguida


revisou se assegurando que estava tudo certo.

— Tenha cuidado amanhã — disse Noah.

— Pode ser que você tenha consciência, mas homens como


James não têm.
— Oh, acredite, eu sei — disse Grayson. Pensou em como
James estava com raiva, porque Savannah continuava viva, e que
ele nunca se incomodou em perguntar sobre Olivia. Como se não
se importasse e só quisesse ferir Savannah. Mais do que já tinha
feito.

— Certo. — Noah levantou e foi para a porta.

— Vou colocar microfones no quarto do hotel, e logo


estaremos preparados.

— Agradeço a sua ajuda — disse Grayson e acenou com uma


mão, enquanto Noah saía.

Voltou a sentar, enviando uma mensagem para Savannah,


dizendo que estavam prontos. Logo depois, saiu para completar a
última missão.
Capítulo 26

Savannah andava pela sala. Grayson tinha enviado uma


mensagem há vinte minutos dizendo que voltaria há dez. Um
atraso assim, poderia significar muitas coisas. E se ele foi seguido,
atacado, baleado ou pego pelos policiais? Nem era o dia ainda e já
estava enlouquecendo. Se conseguisse sobreviver até amanhã,
seria um milagre.

Escutou um clique na fechadura, mas antes que a porta


abrisse, Grayson gritou.

— Sou eu!

Seu coração deu um salto, diante do som e correu para a


porta. Queria abri-la e pular nos braços dele, mas sabia que devia
ser mais cautelosa. Pegou a arma e apontou para porta. A porta
abriu lentamente e quando viu o rosto de Grayson, e que estava
sozinho, abaixou a arma.

Ele fechou a porta e se uniram em um forte abraço.

— Onde estava? — perguntou ela.

— Pegando isso. — Tirou a mão de trás das costas e entregou


um buquê de lindas flores.
— Sei que não é muito, mas esperava que alegrasse um pouco
o seu dia.

— Obrigada. — Cheirou as flores virando para ver todas.

— São lindas!

— Não se comparadas a você.

— Mas elas são lindas! — Savannah o beijou e levou as rosas


à cozinha, para procurar um vaso.

— Então foi tudo bem?

— Tudo pronto. — Grayson estava na soleira da cozinha,


observando.

— Ficamos em um quarto e gravei minha confissão. Agora só


preciso que James confesse que me contratou para te matar e está
feito.

— Claro. Fácil assim. — Savannah disse sarcasticamente.

— Será. Não se preocupe. Fazer James falar será fácil. Como


disse antes, ele pensa que tenho mais a perder do que ele, então
não suspeitará de mim. Não tem motivo para não discutir comigo
todos os detalhes.

Savannah envolveu os braços no pescoço de Grayson.

— É melhor que seja fácil, e que fique completamente a salvo.


Não sei o que farei se acontecer algo com você.

— Tudo o que acontecerá é James confessar, para que fique


preso pelo resto da vida.
Disse, pressionando os lábios nos dela em um beijo forte. Não
queria perder mais tempo falando. Esta poderia ser a última noite
deles juntos. Apesar de sentir-se mal por pensar dessa maneira,
queria aproveitar ao máximo.

— Olivia está bem? — perguntou, parando o beijo, para


sussurrar no ouvido dela.

— Sim. Não queria ficar longe da gente, mas está bem.

— Ótimo!

Ela pressionou os lábios nos dele e ele pareceu entender o que


Savannah falou. Esta noite, tinha fogo entre eles. Nada de fazer
amor lento e suave como na noite passada. Hoje seria selvagem e
apaixonado.

O desejo de Savannah era muito forte, e o seu amor e


necessidade por ele ameaçavam fazer com que seu coração
explodisse. Agarrou-se a ele com força, não querendo deixar que se
afastasse nem um centímetro.

Os beijos se tornaram mais ásperos e se deu conta que eles


provavelmente não chegariam ao quarto. As mãos de Grayson
estavam em toda parte, possuindo-a. Como se estivessem tocando
cada centímetro dela, no caso de não poder voltar a tocá-la por
muito tempo.

A ergueu e colocou na bancada. Ela envolveu as pernas na


cintura dele. Grayson estava usando muita roupa. Tirou a camisa
e abriu o zíper do jeans dele, e depois, abaixou a calça. Grayson
tirou a blusa dela e desabotoou o jeans de Savannah. Em um único
movimento, a levantou e desceu o jeans com a calcinha que caíram
no chão, em um baque suave.

Ele a puxou para a beirada, o traseiro escorregando na


bancada, com o suor. Estava profundamente dentro dela com um
movimento forte. Savannah gemeu alto, mas ainda não estava
fundo o suficiente. Ela o aproximou mais, cravando as unhas nas
costas dele, e dobrando as pernas, para segurá-lo.

Estocou com força e, nesta posição, pôde se mover mais


rápido que de costume. Parecia uma dança rápida, com ele em pé
ali, empurrando os quadris para frente. Toda vez que se movia, ela
se aproximava dele, então se juntavam em um estalo de pele úmida
e gemidos.

Savannah se ergueu, afastando o cabelo dele, mordendo-o no


pescoço. Ele, então, pegou um punhado do cabelo dela e a mordeu
no lóbulo da orelha. Ela gozou forte e um segundo depois, ele
também.

Grayson estocou mais algumas vezes, e, em seguida, parou.


Mas, quando encontrou os olhos dela, ele ainda tinha muita fome.

— Não é o suficiente ainda — disse ele.

Se afastou dela, a levantando. Seus pés descalços bateram no


chão e ele a virou. Dobrou-a até que sua bochecha descansou no
mesmo lugar onde o traseiro esteve um pouco antes. Grayson lhe
deu uma palmada e a vibração causou um arrepio nela. Ela o
desejava de novo, como ele.
Grayson beijou as costas suadas, depois soprou a pele,
causando mais arrepios. Sua boceta estava quente e ainda
escorregadia com os sucos. Grayson se esfregou nela, e o pênis
estava cada vez mais duro, à medida que esfregava entre as
nádegas. Ele deu outro tapa no traseiro.

Inclinou para beijá-la, deixando a língua percorrer suas


costas.

— Quero cada centímetro seu. — Ele disse.

Ela gemeu quando ele pôs os dedos no clitóris e esfregou.

— Oh, sim. — Gemeu Savannah.

— Podemos experimentar algo diferente? — perguntou ele,


sem fôlego. A crua fome na voz dele, fez com que seu coração
acelerasse.

— Quero você e sou sua. — Respirou ela.

— Me tome!

Ele gemeu no ouvido dela, e esfregou o pênis, agora duro, pelo


seu traseiro até a umidade da vagina, espalhando-a. Logo depois,
empurrou lentamente em seu traseiro, escorregando para dentro.

Ela ofegou surpresa. Não esperava esse tipo de coisas novas.


Quase o fez parar. James gostava de fazer isso, de vez em quando
e ele sempre era rude, era doloroso e horrível. Mas confiava em
Grayson, pois ele sempre a fazia se sentir bem.

— Relaxe. — Sussurrou ele.


Sua mão voltou a circular o clitóris, o que fez com que os
músculos liberassem a tensão. Quando relaxou, percebeu que o
movimento lento, dentro e fora do seu traseiro, causava um prazer
tão intenso que quase não podia suportar.

Enquanto ele se movia lentamente, dentro e fora, a mão


movia-se mais rápido. Sentiu que se contraía em torno da ereção,
ele a deixando mais perto do clímax. Savannah sentiu que ia gozar
e avisou. Ele acelerou um pouco mais, mas não o suficiente para
ser doloroso, apenas o necessário para tornar tudo mais intenso.

Quando ela gozou, o orgasmo foi o mais forte que qualquer


um na sua vida. Ela pôs as mãos na bancada, desejando ter algo
para agarrar. Durou muito tempo e quando terminou, não podia
se mexer.

Ele se afastou lentamente, depois se inclinou sobre ela.

— Você está bem?

— Uhum. — Ela conseguiu dizer.

— Doeu?

— Não! — exclamou enfaticamente.

— Não sabia que podia ser tão bom.

Ele suspirou com satisfação.


Grayson estava cansado, mas agora que descansavam na
cama, abraçados, não achava que conseguiria dormir muito esta
noite. Sua mente dava voltas com os detalhes do dia seguinte.
Continuava pensando se algo poderia dar errado. E isso não era
normal para ele.

Geralmente, quando planejava um trabalho, era metódico e


estratégico. Já o fazia há tanto tempo, que sabia como as coisas
aconteceriam. Mas, desta vez, parecia diferente em muitos
aspectos, pois o quarto teria microfones escondidos, e pessoas
saberiam o que estava acontecendo, o que dificultava a sua ação.
Os papéis foram invertidos. Tinha recusado trabalhos antes, mas
nunca passou por uma reviravolta de ir atrás da pessoa que o
contratou, em vez do alvo esperado. E, também havia o pequeno
detalhe que, tecnicamente, não deveria matar James, somente
fazê-lo confessar.

Não achava que conseguir a confissão dele seria difícil. Como


disse para Noah e Savannah, até onde James sabia, Grayson tinha
muito mais a perder do que ele. Ele nunca suspeitaria que Grayson
gravaria a conversa para prendê-lo, pois estavam do mesmo lado,
trabalhando na mesma equipe. Todas estas coisas o preocupavam
um pouco, mas a mais importante era que antes ele não tinha nada
a perder além da sua liberdade e sua vida. Sempre tinha a
possibilidade de levar um tiro, ser preso e ter que cumprir pena.
Não teria entrado nesse negócio se não aceitasse as consequências.
Ou, pelo menos, compreendesse a realidade do que poderia
acontecer. Mas não foi a prisão ou a morte que o fez revirar na
cama. Foi a única coisa que machucaria perder mais que qualquer
coisa: Savannah.

Estava arrasado. Fez o que jurou para si mesmo que nunca


faria. Se apaixonou. Como pôde ser tão estúpido e se meter nessa
confusão? Agora, aqui estava toda essa confusão na sua cabeça
por causa desta mulher e sua filha. Se perguntava o que Olivia
estava pensando e fazendo, se estava bem. Se Savannah o
esperaria, caso o prendessem. Esperaria se fosse só um ano? E se
fossem cinco ou dez? Se passasse de um ano ou dois, ele insistiria
para ela seguir em frente. Seria ele quem terminaria tudo. Por mais
que o matasse, não podia deixar que desperdiçasse a vida
esperando que ele voltasse para casa e para ela.

Mas, se o prendessem, não seria por um ano. A sentença seria


de pelo menos cinco a dez anos por conspiração ou tentativa de
homicídio. Mais tempo, se tivesse outros agravantes. E se ele
realmente conseguisse matar James? Se descobrissem que ele
premeditou e tudo mais? Ficaria preso pelo resto da vida ou, talvez,
algum dia saísse em liberdade condicional. Talvez. Mas, isso seria
pelo menos, daqui 25-35 anos. Toda a vida de Savannah, a infância
de Olivia e o início da sua vida adulta. Se existisse a pequena
chance de ela tentar esperá-lo, ele não deixaria. Seria simples
assim.

Mas, se fosse para ficar em uma cela durante trinta anos,


sozinho, sabendo que Savannah estava no mundo, casada e feliz,
seria melhor morrer. Então, seria o herói dela, o salvador e não
teria que escutar rumores de como ela seguiu em frente, nem sentir
a dor de perdê-la, e não ansiaria todos os dias que ela escrevesse
ou visitasse. Ele sumiria, e ela ficaria longe do seu sofrimento.
Savannah poderia seguir em frente, sem se sentir culpada por tê-
lo deixado. Se matasse James, ela se sentiria obrigada a ficar com
ele, levar dinheiro à prisão, enviar coisas, visitá-lo, ligar e escrever.
Ela faria tudo, e então, ele se sentiria culpado. Que desfecho cruel.

Então, era isso. Seria melhor que atirassem nele e o


matassem, do que apodrecer atrás das grades. O problema era
como faria alguém atirar nele. Não seria possível a menos que ele
mesmo apertasse o gatilho. E se existisse uma chance de ser um
homem livre, com Savannah ao seu lado, não seria capaz de tal
ato.

Ela era agora a pessoa mais importante na sua vida, e Olivia


estava em segundo lugar. Faria qualquer coisa por elas. Mas o
medo o atingiu feito água gelada. Não queria perdê-la. Queria
sentir o corpo quente em seus braços, como nesse momento.
Queria que ela ficasse por perto para sempre. Droga, talvez até se
casassem.

Isso quase o fez rir. Nunca se imaginou como marido. Um


desses caras domados, usando camisa xadrez, comprando
absorventes para sua esposa, ou passando os sábados inteiros
cortando grama e fazendo trabalho de jardinagem. Sempre pareceu
tedioso. E, ainda parecia. Mas, não pensou que seria assim com
Savannah. Ela não tentaria controlá-lo, nem tomaria conta da vida
dele. Só desejaria que estivesse seguro e feliz. E isso era o que ele
também desejava para ela.

Apertou o nariz contra a cabeça dela sentindo o cheiro. Como


poderia deixá-la? Era um milagre que estivesse aqui com ele. Não
podia estragar isso. Tinha que conseguir voltar para ela. E isso
significava que teria que fazer um sacrifício ainda maior do que
tinha imaginado. Talvez tivesse que parar e não matar James,
mesmo se a oportunidade aparecesse. Não colocar uma bala nesse
imbecil agora que sabia o que ele fez com o amor da sua vida seria
muito mais difícil. Matá-lo seria fácil, já que o desejo era muito
forte. Realmente, não seria um sacrifício, agora que pensava nisso.
O maior sacrifício que podia fazer por ela, era deixar que esse
cretino vivesse.
Capítulo 27

Quando Grayson acordou, apreensão surgiu, conforme a luz


da manhã entrava pela janela, fazendo a cortina brilhar. Poderia
perder tudo hoje. Ou, se a sorte estivesse do seu lado, ganharia.

Saiu da cama, tentando não incomodar Savannah. Ela virou


e reclamou, quando sentiu a ausência dele.

— Aonde você vai? — perguntou, com voz rouca.

— Tenho que ir. Estou atrasado. Preciso estar no hotel antes


que James chegue.

Ela sentou e esfregou as mãos no rosto, depois olhou para o


relógio.

— Oh, já é tarde!

Pulou da cama enquanto ele vestia a calça.

— Posso fazer algo para você comer? — perguntou.

— Realmente não tenho tempo. Só vou tomar um banho


rápido. — Deu um beijinho na bochecha dela antes de desaparecer.
Foi um banho rápido, embora parte dele dissesse que era melhor
aproveitar, porque poderia ser o último banho quente, por um
longo tempo.
Quando saiu, sentiu o cheiro de café e ovos sendo preparados.
Balançou a cabeça. Ela realmente era algo, certo? Era o tipo de
mulher que cuidaria dele todos os dias. Queria isso
desesperadamente. E, agora, era hora de lutar por isso.

Depois que terminou de se vestir, foi à cozinha para encontrá-


la. Savannah estava de pé, perto da bancada, de shorts e camiseta
de algodão, ainda amassados da cama. Amava a forma como o
cabelo loiro ainda estava um pouco confuso, por causa da noite
passada, quando ele a pegou ali. Seu pênis endureceu e envolveu
os braços em volta dela por trás, desejando ter tempo para tomá-
la de novo antes de sair.

— Fiz um sanduíche para você — disse ela, virando e


entregando um embrulho de papel alumínio.

— Leve para comer no carro.

— Obrigado. — Ele guardou o sanduíche, se inclinando para


beijá-la longamente.

Ela o acompanhou até a porta e o beijou uma última vez.

— Ah, e leve isto. — Entregou um copo térmico com uma


tampa de plástico.

— Digo boa sorte? Nem sei, mas tome cuidado. Te amo!

— Te amo. — Com mais um beijo, fechou a porta atrás dele e


caminhou até o carro.

Abriu o papel alumínio e deu uma mordida no sanduíche.


Ovos quentes e queijo derreteram na língua. Como alguém poderia
maltratar essa mulher como James fez? Que monstro ele devia ser
para fazer coisas assim.

Terminou o sanduíche e o café no momento em que chegou


no quarto do hotel. Então, escondeu as armas. Uma no coldre do
tornozelo e outra nas costas. Noah já tinha colocado uma câmera
e microfones escondidos para gravar o encontro. E isso significava
que devia fingir legítima defesa ou teria uma gravação dele
matando James.

Parou no meio do quarto, de frente para a porta. Tudo o que


tinha que fazer agora era esperar. James geralmente era pontual,
e ele ainda tinha uns bons vinte minutos antes do horário marcado
para a reunião.

Seu pensamento voltou para cada momento com Savannah.


O primeiro encontro, primeiro beijo, a primeira vez deles dormindo
juntos. Seu coração doeu por ela e Olivia. Precisava que ficassem
seguras e que saíssem dessa vivas e bem. Depois pensou na
conversa que teve com Savannah não fazia muito tempo. Talvez
pudesse fazer mais uma coisa.

Ficou de joelhos e juntou as mãos. Não tinha rezado desde


criança e se sentia estranho por estar nessa posição. Não sabia se
alguém estava escutando ou não, mas falou baixo, consciente que
o vídeo registraria tudo.

— Deus, se estiver aí, eu sei que não fui bom, mas isto não é
a meu respeito. Mantenha Savannah e Olivia a salvo hoje. Me ajude
a fazer aquilo que for necessário para que tudo fique melhor para
elas, mesmo que isso signifique ficar longe delas; que eu faça o que
tiver que ser feito. —Levantou e depois ajoelhou novamente.

— Amém. — Levantou de novo dando alguns poucos passos.

Nesse momento, sentiu como se todos aqueles anos de abuso


que tinha sofrido, de alguma forma valessem a pena. Tinha sido
extremamente cruel o que seus pais fizeram, assim como a sua
namorada do ensino médio, que mentiu para fazê-lo matar o pai.
Se nada disso acontecesse, não estaria aqui, para encontrar
Savannah. Riu sozinho. O que diria quando perguntassem sobre
sua vida amorosa e como se conheceram? Bem, fui contratado para
matá-la, mas ela era muito bonita e maravilhosa, então mudei de
ideia e matei o ex, no lugar dela. Ninguém jamais saberia a
verdadeira história, além daqueles que já conheciam. Agora que
tinha o amor de uma boa mulher e o coração de uma menina, lhe
daria a força necessária para fazer o que fosse necessário. Para
sacrificar-se pelo bem-estar delas. Sentiu, pela primeira vez na
vida, que tinha um propósito. Tinha uma razão para existir, para
acordar e continuar todos os dias. Precisava fazer a vida delas
segura e feliz. Sem importar como a sua ficaria para que esse
desejo se concretizasse. E esse pensamento encheu o seu peito de
calor. Deu a ele a certeza de que tudo ficaria bem porque ela o
amava. Savannah o salvou de uma vida de solidão e falta de amor,
e agora era sua vez de salvá-la.
Savannah andava na frente da porta, pois estava com Noah,
já que Grayson tinha que ficar sozinho. James não acreditaria que
ele ainda estava do seu lado , se ela estivesse presente. Mas ela não
gostava de ficar sem notícias. E quando James chegasse, o que
aconteceria? Será que todos sobreviveriam? As perguntas a
incomodavam.

Com o estômago revirando, olhou para Noah, que estava


sentado com as mãos nos joelhos, as palmas juntas, sacudindo a
perna. Ele parecia até mais nervoso que ela. Embora o porquê, não
estivesse muito certa. Não era a filha dele que estava em perigo. O
amor da vida dele não estava em uma situação em que poderia
morrer ou ir para a prisão. Por que Noah estava nervoso? Seria pelo
trabalho? Ou será que sabia de algo mais?

Alguém bateu na porta e Savannah pulou. Quase gritou, mas


se conteve no último instante. Olhou para Noah, que a olhava com
os olhos arregalados e o rosto mais pálido do que nunca.

— Quem é? — Sussurrou ele.

— Não tenho ideia. — Sussurrou de volta.

— Pizza Warehouse — Gritou alguém do outro lado da porta.

Ela e Noah trocaram olhares de novo.

— Eu não pedi pizza. — Sussurrou ela.

— Nem eu.

— Ninguém pediu pizza — Gritou.


Isto poderia facilmente ser uma armadilha, mas não abririam
a porta para descobrir.

— O quê? — Disse o entregador.

Ela chegou mais perto, mas parou ao lado da porta.

— Desculpe. Ninguém pediu pizza. Deve ser engano.

— Está brincando?

Perguntou-se qual seria a idade deste rapaz. Parecia ser um


adolescente.

— Perdão.

Ouviu enquanto ele resmungava e finalmente se afastava.


Correu para a janela e cautelosamente olhou para fora. Depois de
um minuto, viu um rapaz com uma pizza voltar para o carro,
falando ao telefone. Não viu outro carro que parecesse suspeito
estacionado lá embaixo.

— O que você achou disso? — perguntou para Noah.

— Não sei, e tenho medo de saber.


Capítulo 28

Chegou a hora, pensou ao ouvir as três batidinhas rápidas,


soltando um suspiro. É agora.

Abriu a porta e fez um show ao ver James na entrada, antes


de deixá-lo passar.

— Foi seguido? — perguntou ele.

James olhou para trás.

— Está brincando? Eu sou aquele que segue, não o que é


seguido.

— Certo, e o seu pessoal te seguiu até aqui? — Idiota! O que


ele achou que estava perguntando, se a polícia estava seguindo-o?

— Minha equipe está em toda parte.

Tinha certeza que sim. Imbecil. Mal conseguia se manter de


pé na frente dele, sem dar um murro naquela cara. Sempre que
falava, Grayson imaginava as mãos em volta daquela garganta.

— Queria que eu viesse aqui para explicar, então vamos lá.


Isto está demorando demais — disse James.

— Eu sei, só que nunca fiz um trabalho que tivesse uma


criança envolvida.
— Não pedi que matasse a criança! Só não a atinja quando
atirar na mãe. Não é tão difícil, mas, claramente, não consegue
lidar com isso.

— Não vou atirar em Savannah com Olivia em casa. — Pensar


nisso fazia seu peito apertar em angústia.

— Acredito que ela ficaria traumatizada.

— Traumatizada? O que isso me importa? Sabe de uma coisa?


Esqueça! O acordo termina agora. Sei onde Olivia está, e já tenho
alguém para pegá-la. Cuidarei de Savannah enquanto isso, e tudo
estará resolvido até o final do dia. Já levou muito tempo, e você me
irritou. Espero que me devolva o dinheiro que dei como
adiantamento. — James cruzou os braços e o fulminou com o
olhar.

Grayson engoliu a saliva e se esforçou para não sair correndo.

— Diga-me como quer, então farei. Só precisa explicar direito


o que quer.

— Tarde demais. Provavelmente ela já estará morta quando


você retornar ao apartamento — disse James sério.

— Ah, mas você não vai voltar.

Grayson observou, com descrença, quando James abriu o


casaco e tirou uma pistola do bolso interno. A mão de Grayson
contraiu. Esta era a solução perfeita. Isto seria legítima defesa, sem
dúvida. Nunca esperou que James fizesse algo assim.

Levou a mão até as costas, mas James engatilhou a pistola.


Seus anos de treinamento surgiram, e antes de agir, viu
rapidamente o rosto de Savannah em sua mente. Não havia tempo
hábil para pegar a arma.

Grayson avançou e colidiu forte em James, jogando-o no chão


com um estrondo. James ainda estava com a arma, e a virou
apontando para o ombro de Grayson. Grayson desviou da mira, se
lançando sobre James e socando o braço que segurava a arma.
James gemeu de dor, mas não a soltou. Grayson considerou mais
uma vez pegar a própria arma, mas demoraria muito, e o risco era
muito alto.

James tentou se livrar de Grayson se revirando embaixo dele,


mas o adversário era muito pesado. Quando James se virou,
Grayson agarrou a mão que segurava a arma. Lutaram por alguns
minutos, Grayson tentando pegar a arma e James desesperado
tentando mantê-la.

Grayson conseguiu segurar a arma, e James perdeu o


controle dela. Grayson rapidamente ficou de pé, mas James saiu
da mira da arma e, também se levantou, correndo em direção a
Grayson, batendo a cabeça no peito nele, que deixou cair a arma.
Ela escorregou no chão e os dois mergulharam para ela. James a
alcançou primeiro, fechando os dedos na coronha.

Apontou a arma de novo para Grayson. Antes que pudesse


apertar o gatilho, Grayson golpeou a mão dele. A arma disparou.

Por um instante, Grayson não tinha certeza do que tinha


acontecido. Quem atirou? Alguém morreu? Esta era uma forma
desastrosa de acabar, pois todos os seus trabalhos foram limpos e
fáceis. Nada parecido com esta briga.
Não sentia nenhuma dor, e James não estava se movendo.
Grayson levantou com cuidado. Tinha um buraco no peito de
James e o sangue jorrava.

Grayson saiu correndo pela porta sem olhar para trás, com
apenas uma coisa em mente: encontrar Savannah. Agora!

Ela quase enviou uma mensagem de texto ou ligou para ele,


mas sabia que só pioraria as coisas, pois ele estava
desempenhando um papel, e não podia aparentar que se
preocupava com ela de jeito nenhum. Mas a espera a estava
matando. Precisava escutar a voz de Grayson, saber que estava
bem. Tinha um mau pressentimento e estava apavorada com a
possibilidade de que algo desse errado e alguém saísse ferido.

Olhou de novo para o telefone. Ela sabia que ele ligaria assim
que pudesse. Assim que estivesse sozinho, mas até agora nada.

Quando guardava o telefone novamente no bolso, virou-se


para a porta, ainda caminhando. A porta abriu, com um barulho
abafado. Ela gritou, quando três homens com máscaras de esqui
pretas entraram no local.

Sua mente rodou. O que devia fazer? Resistir? Eles a


machucariam e levaria ambos? Só podia ser os homens de James,
ou ele estaria no meio?

Olhou para Noah. Estava no chão da sala, enrolado em uma


bola, aterrorizado. Que frouxo! Queria que Grayson estivesse aqui.
Ele usaria uma pistola ou o punho para defendê-la. Noah era um
inútil. Um garotinho chorão. Cabia a ela se defender. Pelo menos
Olivia não estava aqui para presenciar esta situação. Seria muito
mais difícil tentar fugir deles, se Olivia estivesse aqui.

Enquanto se posicionava para lutar, lembrou da arma


escondida na primeira gaveta da mesinha perto da porta, que
estava bem ao seu lado.

Savannah abriu rapidamente a gaveta e pegou a arma. Tirou


do coldre e apontou, apertando o gatilho.

De fato, disparar uma arma era assustador e emocionante. Já


tinha disparado muitas vezes no campo de tiro, mas isto era muito
diferente. Havia uma pessoa real, viva, na sua mira, desta vez. Mas
uma pessoa que a machucaria ou sequestraria. Não tinha escolha.

O primeiro disparo passou longe, à direita, e atingiu a parede.


O gesso caiu no chão em pedaços.

Apontou de novo, mas devido ao pânico e ao seu forte estado


emocional, estava tremendo. Um dos homens estava perto e se
virou para ela. Ela saiu do caminho, disparou de novo, e voltou a
errar.

Outro homem segurou seu braço e tirou a arma da sua mão


em segundos. Se sentiu imediatamente derrotada. Tinha falhado
miseravelmente.

Ela ficou de pé e se retorceu, tentando se liberar.

— Noah, me ajude.
Mas não esperava realmente que ele fizesse algo. Não podia
vê-lo, mas suspeitava que estivesse chorando agora, escondido
debaixo da cama.

Sua resistência só fez com que a segurassem com mais força.


Gritou tão alto quanto pôde. Talvez um dos vizinhos visse ou
escutasse. Certamente se alguém visse os três homens
mascarados, arrastando-a, enquanto chutava e gritava,
chamariam socorro, não é?

Continuou gritando, esperando chamar a atenção de alguém,


até que um dos homens tapou sua boca. Engasgou, e os olhos
lacrimejaram. Lutou com mais força ainda, puxando os braços e
pernas na tentativa de se soltar para socar um, ficar livre, obter
qualquer tipo de vantagem. Mas contra três ela não tinha como
ganhar.

Se Noah atacasse um deles, ou usasse a arma, talvez as coisas


fossem diferentes. A raiva ardia dentro do peito, toda vez que
pensava nele enrolado no canto. Acreditou realmente que esse
homem poderia ajudar a prender James, deixar Grayson fora da
prisão, e manter Olivia a salvo?

Sentia que tudo desmoronava. Onde Grayson estava? Olivia


estaria segura? O que aconteceria com ela agora?

Um dos homens colocou um pano em seu rosto. A princípio


pensou que era estúpido, pois já estava amordaçada. Mas, logo a
sala começou a rodar, e percebeu que se tratava de algo mais.
Sentiu que era levada do apartamento, e escutou sirenes à
distância.
O corredor rodava à sua volta, e os braços e pernas já não lhe
obedeciam, eram um peso morto.

Nenhuma das portas dos vizinhos abriu. Aparentemente,


alguém se preocupou o suficiente para chamar a polícia ou uma
ambulância, mas ninguém saiu para ajudá-la.

Sentiu o sol da manhã no rosto e percebeu que as sirenes


estavam muito longe. A ajuda não chegaria a tempo. A escuridão a
engolfou quando ouviu a porta de uma caminhonete ser aberta.
Vagamente sentiu que a jogavam dentro do veículo, antes de
desmaiar.
Capítulo 29

Savannah achou que a cabeça explodiria quando se lembrou


que foi sequestrada, agredida e desmaiou. Isso significava que
estava em um lugar desconhecido agora. Abriu os olhos
completamente para ver o que estava à sua volta.

A luz era tênue e brilhava através das frestas nas tábuas de


madeira. O chão estava coberto de pedaços de palha e terra.
Também cheirava a feno, e o aroma persistente de algum tipo de
bicho. Será que tinha animais aqui?

Não escutou nenhuma voz, somente o vento lá fora, mas não


tinha certeza se estava escutando direito ou se era coisa da sua
cabeça. Estava amarrada a uma cadeira. As cordas entravam na
pele dos seus pulsos, que estavam presos atrás dela. Os tornozelos
estavam amarrados nas pernas da cadeira.

Tinha que se soltar ou estaria morta. Puxou as cordas, para


ver se podia se soltar. Nem uma se moveu. Pensou em se jogar no
chão e quebrar a cadeira, mas era de metal e não quebraria tão
fácil.

Examinou as paredes e o espaço em volta. Definitivamente era


um celeiro, com baias forradas em ambos os lados e uma parte
aberta no centro, onde estava sentada. Teria algo afiado que
ajudasse a cortar as cordas? Procurou se aproximar mais da
parede para conseguir uma visão melhor. Mesmo um prego solto
poderia ajudar, se tivesse algum tempo para lidar com as cordas.

Mexeu com a cadeira uma, duas vezes. O metal raspou o chão


de madeira. Mas então, outro barulho a fez parar.

Ficou imóvel para ter certeza, mas reconheceria esse som em


qualquer lugar. Olivia estava chorando!

Se ela estava aqui, significava que a trouxeram do esconderijo.


Eles a encontraram e descobriram seus planos para mantê-la
escondida e a salvo. Será que Grayson também estava sendo
maltratado e James descobriu que ele não planejava matá-la?

As coisas eram muito piores do que imaginava. Foi muito fácil


para James encontrá-la, pois Savannah ficou em casa, esperando
Grayson voltar. E, com certeza, James sabia onde ela morava,
então não foi uma grande surpresa. Mas achou que a casa da
fazenda dos pais de Mallory era segura. Se encontraram Olivia,
ninguém estava a salvo.

A porta abriu de uma vez. Os mesmos três homens que vieram


atrás dela entraram no celeiro trazendo Olivia.

— Mamãe! — Gritou ela se contorcendo.

Eles a jogaram no chão, com um grande baque. Esfregou o


braço, ainda chorando e correu para Savannah.

— Ah, olhe quem está acordada — disse um dos homens.

Savannah não reconheceu a voz. Ainda não teve tempo para


elaborar um plano de fuga ou manter Olivia a salvo e o homem já
espetava seu braço com algo pontiagudo. Uma agulha. Enquanto
empurrava o êmbolo, tudo voltou a escurecer.

O sangue pulsava forte nos ouvidos de Savannah. Eles fariam


mal a Olivia enquanto estava inconsciente. Tentou lutar contra o
líquido, tentou manter os olhos abertos e ficar acordada, mas as
drogas eram muito fortes. Estava indefesa. Não podia fazer nada
pela sua filha.

A voz de Olivia chamando seu nome em um sussurro


aterrorizado foi a última coisa que ouviu.

Grayson parou no edifício e viu um bando de policiais


entrando e saindo do prédio. Saiu do carro, sem se incomodar em
fechar a porta . A fita amarela de isolamento não significava nada
para ele. Passou por ela e subiu as escadas de dois em dois
degraus.

A porta estava completamente aberta e não era somente


porque a polícia estava por toda parte. Ela estava pendurada pelas
dobradiças e algumas partes da madeira estavam estilhaçadas.
Alguém a chutou. Suas entranhas contorceram. Tantos horrores
poderiam estar além dessa porta.

Passou ao lado dos policiais, ignorando os protestos e entrou


no apartamento. Havia sinais claros de luta. Um abajur caído, um
buraco de bala na parede. Quem teria feito isso? Não viu corpos.
Foi de quarto em quarto, procurando freneticamente. Nada no
quarto de Savannah, nem no de Olivia, na cozinha ou no banheiro.

— Ei, não pode ficar aqui! — Gritou um policial.

— Onde eles estão? — perguntou Grayson, finalmente


parando diante do policial.

— Quem?

— Savannah, a mulher que mora aqui. Também tinha um


homem, Noah. Onde estão? Vocês os encontraram?

— Qual é o seu nome?

— Grayson. Sou o namorado de Savannah. — Não tinha


certeza se isso era verdade. Não tinham discutido nem tornado
oficial, mas se estavam apaixonados, eram alguma coisa, não?

O policial assentiu.

— Não a encontramos, mas Noah estava aqui quando


chegamos. Está bastante abalado, mas pelo que pudemos saber do
depoimento dele, ela foi sequestrada.

— Por quem? Onde? Como? — Seu coração continuava


batendo rápido. Não sabia se era bom porque ela estava viva, ou
ruim porque agora Savannah estava sob o controle de alguém,
sendo mantida como refém.

— Não tenho essa informação. Noah não reconheceu os


homens que a levaram. Disse que usavam máscaras.

— Ela foi ferida? E aquele buraco de bala? — Apontou para a


parede destruída.
— Segundo Noah, houve uma luta, ela tentou atirar nos
agressores mas errou. Pelo que ele nos disse, ela foi drogada.

— Obrigado. — Grayson virou e saiu correndo do apartamento


rapidamente como entrou. Queria encontrá-la, mas não tinha
nenhuma pista.

Lá fora, viu Noah sentado em uma ambulância, bebendo


água, entre a polícia e a imprensa que estava aguardando, assim
como os vizinhos observando. Ele estava pálido, tinha um cobertor
e parecia péssimo. O maldito covarde, provavelmente, nunca
participou de uma briga na vida.

Grayson se aproximou dele.

— Você está bem?

Noah balançou a cabeça, dando-lhe um olhar apavorado.

— Foi horrível!

— O que aconteceu exatamente? A polícia não me disse muito


e preciso de todos os detalhes para poder salvá-la.

— Ela foi sequestrada. Três homens derrubaram a porta a


pontapés. Savannah tentou atirar neles. Colocaram algo no rosto
dela, e depois a levaram.

— E onde esteve enquanto isso? — Noah poderia ter ajudado


se portasse uma arma, poderia ter atirado em um deles. Poderia
ter ao menos ligado para o 911.

— Eu... Eu...
— Estava no apartamento quando derrubaram a porta?

Noah assentiu.

— O que você fez?

— Eu... Eu estava tão assustado!

— Você se escondeu? — A raiva esquentou o sangue de


Grayson. Esse frouxo não fez absolutamente nada para salvar o
amor da sua vida.

— Não! Eu... Estava no canto...

— O que, encolhido como um bebê?

Os lábios de Noah tremeram e desviou o olhar.

— Isto não faz parte das funções do meu cargo no SPM. Não
lido com a violência. Não gosto! Sou pacifista. Também não acredito
em guerra.

Grayson revirou os olhos e cerrou a mandíbula.

— Então, não tentou ajudá-la? Ficou ali vendo-a lutar com


três homens e não fez nada?

— Tinha um entregador de pizza.

— O quê?

— Antes dos homens aparecerem, veio um entregador de


pizza. Não o deixamos entrar, e dissemos que não pedimos pizza e
ele foi embora.

— Ok. E?
— Pensei que devia saber.

— Isso não importa. Eles estavam verificando se ela estava em


casa. O que fez enquanto minha namorada se defendia dos três
agressores, lutando pela vida dela?

— Eu sozinho... Não podia. Era como um cervo diante dos


faróis. Não sabia o que fazer. Pensei que se reagisse seria pior.

— Então, ficou ali vendo uma mulher inocente ser atacada e


não fez nada? Pelo menos ligou para a emergência?

Ele sacudiu a cabeça lentamente, dizendo.

— Algum vizinho deve ter ligado. Escutei as sirenes. Meu


telefone estava no bolso e não queria me mexer para tirá-lo. Não
queria que me vissem e nem soubessem que liguei para a polícia.

— Claro, é óbvio que não. Para se salvar. Entendi. Pelo menos


olhou pela janela depois que a drogaram para ver em que direção
eles foram?

Os olhos de Noah voltaram a se abrir por completo. Estava


claro, pela expressão dele, que nem tinha pensado em fazer algo
assim. Sua boca abriu, mas não disse nada.

— E nosso governo confia em você para proteger as crianças


em situações perigosas e garantir que fiquem seguras? Se tivessem
levado uma criança também teria se borrado de medo e só teria
assistido?

Noah estava a ponto de chorar. Grayson podia ver que os


olhos dele estavam cheios de lágrimas. Estava tão irritado que
podia arrancar a cabeça dele ali mesmo. Mas não queria forçar a
barra, pois ele ainda podia dizer algo em relação a Olivia. Ele
parecia estar lidando com muito e não estava administrando isso
muito bem.

— Quer saber? — Grayson lhe deu um tapa no ombro.

— Estou certo que fez tudo o que pôde. Agradeço a sua ajuda.
Me avise se lembrar de algo mais ou descobrir algo. Tenho que
procurar Savannah e Olivia. Espero que ambas estejam vivas.

Grayson correu para o carro, procurando decidir o próximo


plano de ação. Não tinha nem ideia de onde poderiam estar. Não
sabia de nenhum centro de operações que James pudesse ter, e se
estivesse mesmo morto, então não estaria comandando o
espetáculo. Quem sabia o que fariam com Savannah? Eles já
estariam com Olivia ou será que fazia parte do plano torturarem
Savannah para que dissesse onde a menina estava? Achava que
era uma possibilidade. Ela já tinha sido torturada durante anos,
nas mãos de James, pelo bem da filha.

Mas, então, teve uma breve lembrança de James, no quarto


do hotel dizendo: "Sei onde Olivia está, e já tenho alguém a
caminho para pegá-la". Essa era a única pista de Grayson. Se
ainda não tivessem pegado Olivia, poderia salvá-la. Se James já
tivesse chegado a ela, talvez existissem pistas que o ajudassem a
encontrar Savannah. Só tinha uma decisão a tomar, e poderia ser
a mais difícil da sua vida: abandonar a busca por Savannah para
resgatar a filha dela. Seria capaz de rastrear Savannah através do
telefone, mas isso levaria tempo, e já havia desperdiçado muito,
tentando obter respostas e ela poderia nem estar com o telefone.
Seu coração queria descartar qualquer plano de ação que não o
levasse a Savannah agora, neste segundo. Mas, afinal de contas,
isto é o que Savannah gostaria. Ela diria para ele salvar sua filha.
E, se tivesse sorte, também a encontraria.

Entrou no carro com o estômago revirando e foi em direção à


casa da fazenda, sem saber onde Savannah estava. Se estava
segura ou viva, e sem poder fazer nada, no momento, para
encontrá-la.
Capítulo 30

Savannah abriu os olhos, que queimaram com a luz. Estava


com uma dor de cabeça insuportável. As cordas permaneciam
apertadas nos pulsos, pressionando dolorosamente. A cadeira era
muito dura, e estava sentada nela por muito tempo. Seu traseiro
doía, assim como as costas, os pés e as pernas. Nenhuma parte
dela estava livre da dor ou do desconforto.

Quando tentava focar os olhos, tudo piorava. Nem nos seus


pesadelos mais sombrios, teria imaginado a situação em que se
encontrava agora. No início, pensou que ainda estava sonhando,
porque se recusava a acreditar que o que via era verdade.

James estava sentado na sua frente, segurando Olivia no colo,


abraçando-a. Dos olhos da sua filha escorriam linhas finas de
lágrimas e ela parecia aterrorizada e preocupada. Mas parecia
ilesa. Pelo menos não tinha sangue, mas a dor emocional não se
mostrava tão facilmente como os hematomas e cortes. Savannah
tentou dar a filha um olhar que transmitisse segurança para que
ela não se preocupasse. Mas duvidava que parecesse assim.
Savannah estava cheia de preocupação, dúvidas e não acreditava
nem por um segundo que as coisas ficariam bem.

— Oh, olha só quem finalmente acordou — disse James.


Um homem ao seu lado pressionou uma arma na cabeça de
Savannah. Qualquer pensamento de tentar consolar Olivia saiu de
sua cabeça. Não tinha nenhum olhar que fizesse a menina pensar
que estava bem.

Savannah engoliu a saliva e procurou não chorar. Isso não


ajudaria em nada.

— Não me mate na frente de minha filha. — James começou


a rir.

— Sempre a mãe preocupada, não? Que doce!

— James, por favor. Não faça na frente de Olivia. Leve-a para


outro lugar. Faça pelo menos uma coisa para o bem da sua filha!
Não deixe que ela testemunhe isto.

James colocou a mão sobre a cabeça de Olivia, acariciando o


cabelo dela. A visão dele tocando Olivia de uma forma tão terna a
deixava doente. Os dentes doíam porque estavam travados com
toda força. Nesse momento, tudo que disse a Grayson sobre manter
James vivo pareceu absurdo. Como achou que fosse a melhor
escolha? Talvez se tivesse concordado com ele, James já estivesse
morto e elas não estariam aqui. Falhou novamente com a filha. Não
a escondeu bem nesta cidade, e James a encontrou. Tampouco a
escondeu bem com Mallory. E não foi capaz de afastá-la do maior
perigo: James. Merecia morrer. Não pôde manter Olivia a salvo e
nem afastada desse louco.

— Não me preocuparia muito — disse James, ainda


acariciando a cabeça de Olivia.
— Minha filha confia em mim, não é verdade, Olivia? — Fez
uma pausa para sorrir para ela, depois para Savannah.

— Ela sabe que nunca faria mal a mamãe, certo, Olivia?

Olivia encarou a mãe, em seguida olhou de esguelha para o


pai, sem saber o que responder. É claro que James não esperava
que respondesse. Olivia o viu machucar a mãe mais vezes do que
podia contar. Provavelmente, mais vezes do que sua mãe pensava.
As crianças tinham um meio de ver as coisas, que seus pais não
queriam que vissem. Elas descobriam e viam muito, e isso sempre
os machucava mais profundamente do que alguém poderia saber.
E agora, ela estava a ponto de presenciar a coisa mais violenta da
sua vida.

James assentiu para o mercenário ao lado de Savannah. Ela


fechou os olhos, pensando que era o fim, que estava a ponto de
morrer. No seu momento final, não podia suportar ver o rosto
aterrorizado de Olivia e o sorriso de James.

A arma foi afastada da sua cabeça. Ele atiraria em algum


outro lugar? Abriu os olhos e soltou o ar. O homem afastou a arma
da cabeça de Savannah, e agora a pressionava na de Olivia.

Olivia soltou um gemido e novas lágrimas caíam em seu rosto.

— Não, não, não! — exclamou Savannah.

— Por favor, me mate! Não faça mal a ela. Não pode lhe fazer
mal.

Sua mente estava rodando. O mundo pareceu ficar quieto e o


tempo em câmera lenta. Seus ouvidos estavam em silêncio e o
maior barulho era um zumbido no seu cérebro. Savannah queria
desmaiar e não ver nada do que aconteceria. Não conseguia
acreditar que James faria isso. Não podia engolir. Mal conseguia
pronunciar as palavras para suplicar pela vida da filha.

— Imaginei que seria assim — disse James, checando as


unhas.

— Poderia matá-la na frente da menina mas realmente não


quero que ela sofra. Afinal de contas, não foi ela a cadela que me
deixou e levou tudo. Essa foi você, querida. — Deu-lhe um sorriso
maligno.

— E como é você que eu quero realmente fazer sofrer, pensei


muito em como poderia fazer isso. O que mais causaria dano a
Savannah e a arruinaria pelo resto da vida?

James tirou Olivia do colo e a sentou na cadeira. O bandido


não se mexeu. Pressionou a arma com tanta força na cabeça de
Olivia que fez a cabeça dela se inclinar para o lado. James ficou em
pé e encarou Savannah, ficando fora da linha da bala, que estava
direcionada para o cérebro de Olivia.

— Quando você e meu assassino se tornaram amantes, pensei


a princípio, que talvez viesse a calhar. Poderia matá-lo e isso te
faria sofrer. Vocês dois pareciam estar tão próximos e tal. Também
pensei em desfigurar você. Cortar um membro, jogar ácido no seu
rosto. Então Grayson não iria te querer e nem ninguém mais.

Deu alguns passos e se virou para ela.


— Mas então, tive um surto de inspiração. Não há mais nada
neste mundo que você ame além da sua filha. Obviamente o meu
plano original sempre foi tirá-la de você e te fazer sofrer muito. Mas
existem as inconveniências legais e sempre haveria uma chance
que, de alguma maneira, você a encontrasse e a tivesse de volta.
Não, assim é melhor. Mato Olivia e nada fará você sofrer mais. Ah,
só que tem mais.

Parou de rir.

— Aqui vem o melhor, querida. Verá sua filha morrer e saberá


que foi por sua culpa. Será a única pessoa encontrada aqui perto
do corpo. Quando fizerem exames e constatarem todas as drogas
no seu sistema, não haverá dúvida. Pensarão que se tornou uma
drogada, fugindo do seu horrível ex-marido. Obviamente, vou
garantir que conheçam seu histórico de abuso de drogas. Porque
eu deveria ter previsto isso, deveria ter tomado medidas para te
ajudar quando ainda tinha a oportunidade e poderia ter salvado a
minha querida filha.

— Acreditarão que você enlouqueceu e a matou. Então, será


presa, acusada de matar a própria filha. Não acredito que suas
companheiras do presídio aceitarão isso com muita simpatia,
também. Farão da sua vida um inferno maior ainda. E direi, no
noticiário, como foi horrível conviver com você, o quanto gritava e
batia na nossa filha, como desesperadamente precisava de ajuda,
mas se recusava, sem se importar como implorei para você.
Contarei a história mais triste que qualquer um possa imaginar.
Ficará presa para sempre, e as drogas garantirão que ninguém
acredite na sua palavra.
Parou para dar um sorriso. Era um sorriso que Savannah
reconhecia. Era o que dava logo depois de espancá-la. O que dizia:
“Ah, machuquei você? Bem, agora te peguei! Está sob o meu
controle e não pode fazer nada a respeito!” O sorriso que dizia: Te
farei sofrer e vou me deleitar!

Bom, ele tinha razão em algumas coisas. Ver Olivia morrer


seria a maior tortura que poderia suportar. Seria incomparável e
nada mais importaria. Não importava se estivesse viva, na prisão
ou o que acontecesse. Não teria nenhuma razão para viver,
nenhuma razão para seguir em frente.

Por um breve momento, lembrou de Grayson. E pensou que


talvez ficar com ele deixasse as coisas suportáveis um dia. Mas
não. Ela nunca seria a mesma, e ele não gostaria dela assim. Se
Savannah fosse presa, ele não precisaria esperar. E se não fosse,
provavelmente acabaria em um hospital psiquiátrico e também
teria que lidar com isso. Savannah o libertaria e enfrentaria uma
vida de dor esperando o tempo passar para descansar em paz.

Grayson pressionou com força os freios, quando o carro


chegou na frente da casa da fazenda. Saltou e correu para a porta,
que também parecia ter sido derrubada a pontapés. Tinha marcas
de pé na madeira e não estava totalmente fechada. Pelo menos
aqui, não tinha policiais, pois praticamente ninguém sabia sobre
este lugar.
Correu para o cômodo principal, a sala de estar. Esperava
encontrar sinais de luta, e ali estavam. Fotografias caídas, móveis
virados. Poderiam ter levado todos, ou apenas Olivia e os pais de
Mallory estariam ali, como Noah tinha ficado.

O que não esperava era encontrar sangue. Quando viu a


primeira poça, a respiração ficou presa na garganta. De quem
seria? Era tudo em que conseguia pensar. Aproximou-se
cautelosamente do quarto. O sangue ia da sala até o quarto. Talvez
alguém tivesse sido arrastado ou tentado se esconder, a julgar pelo
rastro de sangue.

Conteve a respiração e entrou no quarto. Dois corpos estavam


na cama, um de frente para o outro. Não parecia que foram mortos
nesta posição. Parecia mais um abraço final.

Grayson examinou a cena por alguns segundos, seus


pensamentos e emoções correndo selvagens. Os pais de Mallory
permitiram que Olivia ficasse aqui, para se esconder. Prometeram
protegê-la e parecia que o fizeram com suas vidas.

Não havia razão para matá-los. Eram inocentes! Não tiveram


participação, a não ser em tentar manter Olivia a salvo. E agora
estavam mortos. Seu palpite era que foram baleados. Talvez um
deles na cama. O outro, tinha sido baleado e rastejou até ali, para
que pudessem estar juntos ao morrer.

Cobriu a boca e piscou através das lágrimas.

Não pôde evitar se sentir aliviado. Não era Savannah. Não era
Olivia. Mesmo a morte de Mallory o atingiria com mais força. E se
sentiu terrível porque ficou aliviado. Essas pessoas gentis não
mereciam isto, e ali estava ele, presenciando sua comovente cena
final, e tudo em que pensava era dar graças a Deus.

Saiu do quarto. Se os policiais não estavam aqui ainda,


poderiam aparecer logo e o que não precisava era deixar para trás
qualquer evidência. Saiu da casa e fez uma varredura da área em
volta.

No fundo da casa, a alguns metros de distância, tinha um


grande celeiro. E diante do celeiro, dois homens de preto vinham
em sua direção.

Uma raiva fria e brutal explodiu no peito. A morte dos pais de


Mallory, o desaparecimento de Savannah, o desaparecimento de
Olivia, a incapacidade de Noah para reagir, tudo veio em um
instante e entrou em ação.

Correu e tirou a pistola do coldre. Disparou e o primeiro


homem caiu. O barulho alertou o segundo, que se virou e ficou
cara a cara com a arma de Grayson, que voltou a disparar. Feriu o
sujeito no ombro. Grayson parou de correr, apontou melhor e
acertou na cabeça dele, que caiu do lado do amigo. Dois bandidos
vestidos de pretos e igualmente mortos.

Voltou a correr para o celeiro. Tinham que estar ali. Se os


mercenários de James estavam lá fora e espreitando em volta do
celeiro, eles deviam estar ali. O coração acelerava, pensando no que
poderia encontrar. Olivia estaria ali? E se as duas já estivessem
mortas? Será que estavam feridas? E será que Savannah estava lá
dentro, ainda viva?
A adrenalina correu pelas veias, fazendo com que corresse
mais rápido e segurasse a arma com mais força. Chegou à porta e
a abriu. Bateu na parede. Parou e olhou em volta. O celeiro estava
escuro. Não tinha luzes acesas e só a luz do sol brilhava através da
porta aberta iluminando a construção, mas era suficiente. Havia
sinais de luta no chão de terra. Alguém esteve aqui. Mas estava
vazio.
Capítulo 31

O celeiro tinha várias baias. Grayson olhou tentando


encontrar alguma pista que levasse a elas. No primeiro estábulo
não encontrou nada, somente o feno do animal que esteve lá. No
segundo, o mesmo. No terceiro, além do feno, tinha um balde de
metal e uma pequena poça de água marrom.

No último estábulo, entretanto, encontrou algo muito mais


valioso. Um colete Kevlar. No peito, no mesmo lugar onde tinha
atirado em James, tinha uma laceração na malha e um buraco com
uma bala dentro.

Isto só podia significar uma coisa. Não podia negar o que


estava diante dele. James estava vivo! Não tinha ideia de onde ele
estava ou o que fazia neste momento. Será que estava com
Savannah e Olivia?

Grayson virou, pronto para sair e continuar com a busca.


Então ouviu passos.

— Ei! — Alguém falou.

Grayson virou e viu outro homem vestido de preto sair da


última baia. Não parou para pensar ou fazer alguma pergunta.
Levantou a arma e apontou. No último minuto, mudou de opinião.
Em vez de matar o sujeito, mudou o alvo e atirou no ombro.

A bala acertou o alvo, respingando sangue na madeira atrás


dele. O homem caiu no chão, gemendo de dor. Grayson se
aproximou e o chutou no estômago.

— Onde está Savannah?

O homem resmungou e não respondeu.

Grayson o chutou com mais força nas costelas.

— É assim que vai funcionar. Eu faço as perguntas e você me


dá as respostas. Se cooperar, pode ser que eu não atire na sua
cabeça. Entendido?

O homem tentou assentir.

— Vou perguntar outra vez. Onde está Savannah?

— Não... Sei.

Grayson pressionou lentamente a bota na mão do homem,


deixando todo o seu peso nela. Podia sentir os pequenos ossos se
movendo e esmigalhando, enquanto o homem gemia.

— Mentir também não vai funcionar. Devo começar com uma


pergunta mais fácil? James Davis está vivo?

O homem movimentou a cabeça para cima e para baixo.

Grayson olhou para o homem estarrecido. Não tinha matado


James. Tinha a confirmação do que temia, quando encontrou o
colete Kevlar. O sangue que tinha visto não era de James, que
continuava vivo e livre por aí. E era bem provável que ele estivesse
com Savannah e Olivia.

— Agora estamos chegando a algum lugar — disse Grayson.

— Savannah estava aqui, neste celeiro?

Ele concordou.

— Estão todos juntos agora?

Assentiu.

Se estão juntas, só precisava descobrir onde e entrar


escondido para resgatá-las. Mas isso também significava que
James estava com as duas. Não acreditava que Olivia tivesse
corrido sozinha para o bosque e fugido.

— É hora de algumas respostas reais agora — disse Grayson.

— Está preparado?

O homem não respondeu. Grayson o agarrou pelo colarinho


da camisa, fazendo-o sentar.

— Pronto. Agora está preparado para me dar algumas


respostas, certo?

— Sim. — Sussurrou.

— Contrataram você para fazer o que?

— O que fosse necessário.

Grayson assentiu.

— Até matar Savannah?


— E Oliv...ia.

— Ele te contratou para matar Olivia? — Isso não podia ser


verdade.

— Ou sequestrá-la?

— Ambos.

James era um doente mais que anormal. Quem sequestraria


e depois mataria o próprio filho? Certamente depois de tanto
agredir a esposa e a filha, já não tinha mais o que fazer contra elas.

— Onde estão agora?

— Hotel. — Sussurrou o homem.

— Que hotel?

— Oak... Side.

— Os três estão no Oakside?

Ele assentiu.

— Grandes... Planos.

— Grandes planos? Que tipo de planos?

— Matar Oliv...ia. Incriminar Sav... ann... ah.

— Incriminar Savannah pela morte de Olivia? — Que porra?


Era muito mais perverso do que Grayson poderia imaginar. Tudo
que Savannah contou sobre James tinha sido muito gentil. James
parecia o demônio na forma humana.

— Qual é o número do quarto?


— Último... andar.

O homem ficou pálido e mal respirava. Cada palavra que dizia


custava um enorme esforço. Não viveria mais que uma hora.
Grayson o observou por um momento. O homem, provavelmente,
sentia muita dor. Agarrava-se à vida por pouco, porque o tiro de
Grayson foi muito próximo às principais veias que chegavam ao
coração. Chamar uma ambulância não ajudaria em nada.
Realmente, só tinha uma coisa a fazer.

— Obrigado por sua ajuda. — Grayson tirou a arma de novo


e disparou na cabeça do homem.

O homem desabou, morto. Grayson não perdeu tempo. Tinha


as respostas que precisava. Agora teria que encontrar Savannah e
Olivia antes que James matasse uma delas ou as ferisse de um
modo pior do que fez no passado.

Correu para o carro, pisou fundo no acelerador, e o carro


arrancou rapidamente.

Savannah observava, enquanto James apertava o torniquete


em volta do seu braço.

— O que está fazendo? — perguntou. As outras vezes que


aplicaram a droga, tinha sido diferente.

— Você vai ver, querida. Só quero que se sinta bem. Darei a


você uma pequena amostra do que experimentei todo este tempo.
— Misturou um líquido em uma pequena xícara e, em seguida, o
colocou numa seringa.

— Minha heroína preferida, com a quantidade necessária de


tranquilizante para fazer você pensar que está em um sonho.

— Grayson vai me encontrar. — Insistiu ela.

— Vai me salvar. — De algum jeito as encontraria. Ele,


provavelmente, iria até a fazenda, onde Olivia estava, e veria que
não estava lá. Talvez os pais de Mallory tivessem alguma
informação que pudesse ajudar. Estava contando que Noah
pudesse fazer o mesmo por ela. Grayson jogaria a porta abaixo, a
qualquer momento, para salvar o dia.

James riu.

— Grayson? Espera que o seu pequeno cavaleiro de armadura


brilhante a carregue para longe ao entardecer?

— Ele virá. — Savannah cerrou a mandíbula.

— Oh, estou contando com isso. De fato, isso faz parte do meu
plano. Uma coisa é incriminar você pela morte de Olivia. Mas por
que não incriminar os dois? Se deixar um vivo, ficará uma brecha
para que a verdade venha à tona. Deste modo, ambos serão
criminosos, e ninguém os ouvirá. Ficarão na prisão por anos e
anos, pagando pelo que me fizeram.

— Eu? — Savannah estava tão imersa em suas emoções que


não pôde conter suas palavras. Tinha passado por tanta dor que já
não se importava com o que falava. Esperava que alguém a ouvisse.
Um dos homens que estavam com ele. Assim, saberiam quem era
realmente o homem para quem trabalhavam.

— Foi você quem me agrediu durante anos, jogando objetos


em mim, me maltratando como quis. Me estuprou e obrigou a fazer
outras coisas que eu não queria. Como se não fosse suficiente,
ainda agrediu nossa filha. Você é um drogado patético que perdeu
tudo por ser um total idiota! E como tem dinheiro, convenceu as
pessoas a acreditarem que é especial, e fazerem o que diz. Mas você
sempre será um ser solitário e miserável, tendo que conviver com
tudo o que fez. Espero que sofra todos os dias, vendo os nossos
rostos e que fique doente! — Cuspiu as palavras para ele, mesmo
sabendo que teriam pouco efeito.

Ele segurou as bochechas dela e apertou com força.

— É tão linda quando está indignada. — Então soltou e bateu


com força no rosto dela.

— Você não entende nada! É uma mulher estúpida! Não tive


outra opção senão te colocar no seu lugar. Uma esposa deve
escutar o marido e fazer o que ele deseja. Se tivesse tentado ser
uma boa esposa e mãe, talvez não precisasse disciplinar você. Mas
não foi. E agora vai pagar.

— Por favor, não machuque a mamãe. — Choramingou Olivia


ao seu lado.

Savannah olhou para ela. Olivia agora estava acordada.


Ambas foram drogadas e trazidas até aqui. Pensou que parecia um
quarto de hotel, possivelmente um apartamento. Era bem
espaçoso. Com vários cômodos e uma pequena cozinha. Elas
estavam em um quarto. O que a levou a pensar que era um hotel e
não um apartamento, foram as placas indicativas nas portas.
Havia uma onde se lia Saída de Emergência. Se fosse assim tão
simples.

Só não sabia qual seria o tipo de hotel que não notaria uma
mulher e uma menina sendo carregadas inconscientes. Será que
James tinha algum tipo de sociedade no hotel? Conhecia as
pessoas e as tinha no bolso?

Olivia estava chorando, e cada barulho que fazia quebrava o


coração de Savannah. Ela queria se aproximar e consolar a filha.
Queria dizer que tudo ficaria bem e de algum jeito tornar isso
verdade. Talvez Grayson não conseguisse chegar a tempo ou Olivia
fosse assassinada bem diante dos seus olhos. Isso parecia o mais
provável de acontecer.

Afinal, James sempre ganhava e ela perdia. Quando


Savannah engravidou, a família dele e a dela os forçaram a casar,
mesmo não sendo o que ele queria. E foi a última vez que James
perdeu qualquer coisa que Savannah saiba. Não importava o fato
que ela também não queria casar. Ficaria perfeitamente bem como
mãe solteira, deixando-o de fora. Mas James usou isso contra ela,
pois a culpa era dela de ficar grávida, em primeiro lugar. Sua culpa
por não se desfazer disso em segredo. Sua culpa que estivesse
"preso neste casamento", como frequentemente dizia.

Todos os dias, desde que voltaram da curta lua de mel, James


ganhou. Decidiu como seriam as coisas na casa, a decoração,
quando as roupas seriam lavadas e como seria feita a limpeza e
quem faria, Savannah, é claro. Decidiu o que assistiriam na
televisão e o que comeriam no jantar. Quando Savannah cansou
de agradar o marido e se manteve firme ao expressar suas próprias
opiniões, ficou atordoada na primeira vez que ele a esbofeteou,
quase saindo correndo para a casa da sua mãe. Mas James a
deteve, chorando e disse que sentia muito e que isso nunca voltaria
a acontecer. O perdoou e nessa noite assistiram a um filme que ela
escolheu. Ficaram abraçados e, provavelmente, essa foi a noite
mais agradável do seu casamento. Até a semana seguinte, quando
ela tentou surpreendê-lo com algo diferente para o jantar.

As agressões ficaram mais frequentes depois disso. Cada vez


que ela fazia algo que ele não gostava, a esbofeteava ou espancava.
Uma noite, depois de uma briga particularmente terrível, James a
espancou o suficiente para que ela provasse o próprio sangue e
tentasse se trancar no banheiro. Ele abriu a porta e ela se negou a
deixar que ele a tocasse. Essa foi a primeira vez que ele extrapolou
os limites, e pareceu gostar. Fazer sexo depois de cada surra
tornou-se uma regra depois desse dia.

A primeira vez que Olivia testemunhou uma briga, já tinha


idade suficiente para entender o que significava, e foi quando,
finalmente, contou à sua mãe. Olivia chorou porque a mãe tinha
sido ferida, e Savannah não sabia mais o que fazer. Sua mãe
sugeriu que fugisse, mas Savannah estava muito assustada.
Quando teve coragem suficiente, sua mãe falecera. Então, já não
tinha lugar seguro para ir, a menos que fosse sozinha o que era
mais difícil do que fugir.
Ainda assim, tentou. Umas cinco ou seis vezes, fez planos,
conseguiu dinheiro, encontrou um lugar. Mas desistia ou ele
sempre descobria, e seus planos eram destruídos. Até o dia em que
James bateu em Olivia com tanta força que Savannah precisou
levá-la ao hospital. Isso fez com que ela finalmente reagisse. Pegou
o dinheiro que escondeu da última vez que tentou fugir e colocou
o plano em ação. Mesmo dessa vez, James ganhou no final.
Embora tivesse aceitado o divórcio, as encontrou rapidamente.
Agora, todos estavam pagando o preço final. Ele já tinha parado de
jogar. Essa seria a última rodada. A última briga. Aquela que
terminaria tudo. Ele mataria Olivia e enviaria Savannah para a
prisão. E então, se livraria delas para sempre, como sempre quis.

Não tinha nada que Savannah pudesse fazer para parar isso.
Essa era a verdade. Talvez Grayson viesse, talvez não. Talvez ele as
salvasse ou não. Os momentos felizes que viveu com ele e Olivia
terminaram. Foi um sonho e agora estava vivendo um pesadelo.
Tinha falhado mais uma vez, permitindo que James ganhasse
novamente. Nunca foi capaz de proteger Olivia, e agora nem mesmo
era capaz de mantê-la viva. A vida de Olivia terminaria junto com
a de Savannah também. E não tinha nada que pudesse fazer para
impedi-lo.

Fechou os olhos, ainda se recusando a deixar que James a


visse chorar. Pensou em Grayson e no último beijo deles.

Um barulho repentino e forte fez com que seus olhos abrissem


e saísse do seu devaneio. Alguém estava atirando. Em outro
cômodo. No principal, talvez, onde ficava a entrada.
Vários tiros soaram perto da porta. James levantou e abriu a
porta. Havia fumaça. Dos tiros? Então, ele entrou no seu campo de
visão. Alto, forte, coberto por uma fina camada de suor e sujeira.
Grayson!

Savannah soltou a respiração, sentindo um alívio tão grande


como nunca na vida.
Capítulo 32

Quando Grayson abriu a porta, viu Savannah amarrada à


cadeira, com os homens mortos e sangrando à volta dela, então se
sentiu como o assassino que era. Ele tinha vindo para salvar e
proteger àqueles que amava, e ninguém o impediria.

Não estavam sozinhos no cômodo, no entanto. Savannah e


James estavam ali, também como Olivia e outro dos capangas de
James. O bandido sacou a arma enquanto James pegava uma
seringa. Não sabia ao certo o que aconteceria, até que James virou
para Savannah com um olhar agitado e injetou nela a mistura que
já estava preparada.

Grayson poderia resolver esta situação, mas havia riscos.


Poderia atirar em James, mas ele estava muito perto de Savannah
e se errasse, a acertaria. Atirar no bandido era mais fácil, mas ele
estava perto de Olivia. A pior parte, era que Olivia o observava como
um falcão. E não queria que ela visse nada disso.

Então pulou em cima da cama. A ameaça de James e do


mercenário eram principalmente contra Olivia. Ele se chocou
contra a cadeira em que ela estava amarrada e a pegou, enquanto
a cadeira batia no chão e quebrava.

— Fique debaixo da cama. — Sussurrou.


— Se esconda e não olhe.

Assim, ela não veria o que ele estava prestes a fazer, ou o que
qualquer outra pessoa fizesse. Olivia já tinha visto muito. Essa
pobre menina precisaria de anos de terapia para superar tudo o
que passou. Grayson sabia muito bem disso.

Estava em posição no chão, mas o elemento surpresa já


estava desaparecendo e precisava fazer o próximo movimento
rapidamente. Os homens dos outros cômodos estavam mortos ou
gravemente feridos. A chance de que um deles levantasse, ou que
alguém chegasse era mínima, então não importava muito se ficasse
de costas para a porta. Era uma posição vulnerável e, sem demora
deveria fechá-la para não correr riscos.

O mercenário estava mais próximo dele e apesar de estar


preocupado com James tentando matar Savannah, enquanto
lutava com o outro homem, só podia se concentrar em uma coisa
de cada vez. Se direcionasse sua atenção para James, deixaria o
assassino à vontade para fazer o que quisesse. Achava que James
não era muito bom com uma arma, ou não teria contratado tantos
criminosos para fazer o trabalho por ele. Isso deixava as coisas
claras.

Grayson avançou, segurando a perna do bandido e o jogando


rapidamente no chão. O homem não deixou a arma cair como
Grayson esperava. Grayson se arrastou sobre ele, lutando e
tentando pegar a arma. Mas o mercenário era mais treinado que a
maioria com quem já tinha lutado.
Grayson o acertou na virilha com o joelho, mas ele virou,
tirando Grayson de cima e dando-lhe um soco no queixo. Grayson
tentou esquecer a dor e foi em busca da arma.

Pôs todo o peso no ombro, usando os ossos duros dali para


pressionar o pulso do homem, fazendo-o ceder. O homem soltou a
arma, mas ficou em cima de Grayson.

Com as mãos livres, começou a socar Grayson no queixo nas


laterais do rosto, no estômago. Entretanto, não levou muito tempo
para que Grayson se afastasse. Levantou a punho e deu um murro
na garganta. O homem procurou por ar e no segundo em que
colocou a mão na garganta, Grayson o derrubou.

A pistola que estava no chão agora estava na mão de Grayson,


que a pressionou na cabeça do mercenário apertando o gatilho. O
corpo sacudiu quando a bala o atravessou, e logo depois, ficou
imóvel. Grayson levantou com a arma ainda na mão, e virou para
James.

James olhou para trás, abismado. Grayson esperava que ele


percebesse a situação em que se encontrava. Que o homem que
contratou para matar a esposa estava contra ele, e que todos os
outros mercenários que contratou para protegê-lo e irem atrás de
Olivia e Savannah, também estavam mortos. Grayson olhou para
a cama. Não podia ver Olivia, então ainda devia estar debaixo da
cama. Savannah estava na cadeira, desmaiada, mas ainda
respirava e se mexia. Agora era a sua oportunidade de direcionar
toda a raiva que sentia para James, fazendo-o pagar pelo que fez.
Passou perto dele e fechou a porta. James estava congelado
enquanto Grayson tirava a arma e disparava no pé dele. James
gritou de dor e caiu no chão.

Grayson pairou sobre ele, olhando para baixo com um sorriso


diabólico.

— Você maltratou Savannah durante muito tempo, e de


muitas formas. Agora é hora de acertar as contas.

James olhou para Grayson com medo verdadeiro, que causou


uma excitação em Grayson por saber que o faria sofrer, como ele
fez com a mulher que amava. Queria usufruir ao máximo e fazer o
maior estrago que pudesse.

Grayson tirou a faca. James não ia a lugar algum com o


ferimento no pé. Dificilmente poderia se defender. Ele fez vários
cortes grandes no peito, braços e rosto. A cada um, James gritava
de dor e tentava bloquear a faca de Grayson, só para receber outro
corte.

— O que foi? Não gosta quando alguém te maltrata? —


Grayson chutou várias vezes as costelas dele, garantindo de bater
com força suficiente para quebrá-las.

Cortar começou a entediá-lo, então Grayson apontou a arma


para o joelho de James. Pressionou a arma diretamente na rótula
e disparou. James gritou de novo e Grayson imediatamente
disparou na outra rótula.

— Pare, por favor! — Suplicou James, gemendo e chorando,


segurando os joelhos.
— Você parou quando Savannah te implorou? — Grayson o
chutou no rosto. O sangue pingava da boca dele quando James
virou a cabeça para cuspir um dente.

Quando Grayson estava decidindo como continuaria ferindo


James, ouviu Savannah murmurar. Olhou para ela e congelou.
Estava desacordada, e não estava bem. Saliva escorria da boca
dela, e seus olhos estavam brancos.

Ela precisava mais dele, do que ele necessitava torturar


James. Grayson colocou a arma contra a cabeça de James e
apertou o gatilho. O sangue explodiu no chão. Virou para
Savannah no momento em que ela caía de lado, a cadeira batendo
no chão.

As drogas atingiram Savannah como cera quente espalhada


no corpo. A cabeça imediatamente caiu para frente e não conseguiu
mantê-la levantada ou reta. Sua boca estava aberta. Nunca usou
drogas, a não ser um analgésico esporádico receitado pelo dentista.
Isto fazia com que se sentisse muito mal e era assustador. Ela
estava quente, sem dor e sentia que tudo ficaria bem.

Pensou nos momentos felizes que tinha vivido. De quando


conheceu Grayson e como se sentiu insegura. Isso a fez sorrir.
Pensar que quase se afastou da melhor coisa que tinha lhe
acontecido. Boba! Lembrou do jeito dele com Olivia no começo,
ganhando o urso na feira para ela. Ele era um homem bom.
Sorriu abertamente e pensou no primeiro encontro deles,
como foi um tanto estúpida, mas estava tão atraída por ele. E ,
lógico, isso a fez pensar no primeiro beijo e na primeira vez deles.
Pensou um pouco mais, sentindo-se excitada e animada. O
desejava. Onde ele estava?

Tentou levantar a cabeça para vê-lo, mas era difícil. Sua


cabeça pesava cem quilos. Mas escutou tiros. Ele devia estar
matando alguém. Oh Deus! Um lado dele estava à vista e o escutou
perguntar algo a James. Algo sobre como ele a tinha maltratado.
Ah, Grayson a estava defendendo. Ele era tão bom!

Não era de se admirar que tenha se apaixonado por ele.


Pensou nas conversas, onde ele disse que mataria James por ela e
que faria qualquer coisa para protegê-la e a sua filha. Oh. Onde
Olivia estava? Ah, com certeza, ela deveria estar bem. Grayson se
certificaria disso, porque isso era exatamente o que fazia. Cuidava
delas. Ele estava ali e as protegeria. Não era de admirar que o
amasse. Tinha sorte que ele a amava também. Mas ele poderia ser
como James e decidir que ela não era boa suficiente. E isso não
seria bom, porque ela realmente gostava, não, amava, Grayson.
Talvez, quando tudo terminasse, casasse com ele.

Enquanto imaginava seu casamento, viu-se banhada por uma


luz branca brilhante, vinda do alto, como se o céu a chamasse.
Começou a se deixar levar pela luz, e compreendeu o que estava
acontecendo. Se estava indo em sua direção, significava que estava
morrendo. Mas não podia morrer. Não agora. Ainda não.

De repente, entrou em pânico. Onde Olivia estava e o que


estava acontecendo com ela? James esteve a ponto de matá-la.
Será que conseguiu? James tinha Olivia! James estava com ela.
James tinha injetado algo nela. Algo que poderia estar matando-a.
E se ela não morresse, poderia ter que enfrentar uma situação pior,
que seria estar viva enquanto sua filha estaria morta. Não, não
podia ir para o céu. Precisava enfrentar o inferno que estava
acontecendo aqui na terra. Tinha que ficar ali por Olivia.

Onde estava Olivia? Tentou abrir os olhos, através da luz que


a cegava, procurando manter as pálpebras abertas. Chamou-a,
mas pareceu um fraco murmúrio, não uma palavra inteligível, de
modo algum. Precisava despertar.

Savannah tentou despertar, levantar a cabeça e abrir os olhos


completamente. Tenho que salvar minha filha! - gritava, na sua
mente. Não importava o que fizesse, nada parecia ajudá-la. Sua
cabeça estava ainda mais pesada, as pálpebras não abriam e agora
não conseguia nem engolir.

Sua saliva borbulhou, espalhando pelos lábios. A língua não


funcionava. A luz começou a desaparecer na escuridão. Sentiu que
caía, mas não sabia para onde.

Antes que caísse no chão e ficasse em paz, ouviu a voz de


Grayson, alta e tensa, gritando seu nome.
Capítulo 33

Não demorou muito para as sirenes serem ouvidas. Quando


Grayson chamou o 911 e disse que achava que Savannah tinha
sido drogada e estava tendo uma overdose, prometeram chegar
imediatamente, e parecia que estavam cumprindo a promessa.

— Grayson? — A pequena voz de Olivia veio debaixo da cama.


Ela o olhava com os olhos cheios de lágrimas.

— Minha mãe está morta?

— Não, querida. — Grayson gentilmente tirou Olivia debaixo


da cama, cobrindo os olhos dela.

A embalou contra o peito saindo do quarto. Será que ela


espiou e viu algo que não devia? Esperava que não. Essa menina
tinha passado por mais do que o suficiente.

O cheiro incomodava. Não conseguia segurar o nariz e cobrir


os olhos dela ao mesmo tempo. O lugar fedia. Tinha sangue por
toda parte e também o cheiro característico de corpos deteriorando,
assim como o de fezes, urina e vômito. Ele já o sentira uma ou duas
vezes depois de um trabalho, mas nunca nesta quantidade.
Desviou dos corpos no chão e caminhou rápido para tirar Olivia
daquele lugar.
Usou as escadas, descendo-as o mais rápido possível. Quando
os pés bateram no chão, correu para as portas de saída de
emergência, e viu os policiais e a ambulância.

Alguém devia tê-los chamado, alertados pelo barulho dos


tiros. Alguém do hotel, pois era provável que tivessem vigilância.
Ao vê-lo correndo com Olivia, a atenção dos policiais foi para eles,
e vários deles vieram em sua direção.

— Parado! — Gritaram. Grayson acatou.

— Não tenho armas. — Tinha deixado todas no quarto. Se


aproximou, para que assim pudessem ouvi-lo.

— Escutem, por favor. Eu chamei o 911. Há muitos corpos lá,


mas uma mulher no quarto dos fundos precisa de ajuda. Minha
namorada. Ela está sofrendo uma overdose e precisa de ajuda
imediatamente.

Um dos oficiais aquiesceu para o outro e se dirigiu aos


paramédicos, que estavam parados perto da ambulância.

— Agi em legítima defesa.— Continuou Grayson.

— Havia muitos homens lá em cima, que atiraram em mim,


nesta menina e na mãe dela. Os matei para protegê-las.

Aproximou-se mais do policial.

— Levem-na, por favor, e a ajudem. Tenho que ver como


Savannah está.
O oficial o encarou. Grayson imaginava o que ele via ali.
Pânico, terror. Agora não tinha tempo para pensar a respeito. Se
não o prendessem voltaria imediatamente para Savannah.

— Vou voltar para ver como Savannah está — disse Grayson


correndo para a porta de Saída de Emergência, abrindo e subindo
as escadas, dois degraus de cada vez.

No momento em que chegou ao quarto, onde ela estava, os


paramédicos já estavam ali, trabalhando. Não podia se aproximar
dela. Por mais que quisesse segurá-la, não queria ficar no caminho
e dificultar salvarem sua vida. Rezou para que conseguissem salvá-
la.

Ficou atrás, olhando-os sem poder fazer nada, ouvindo-os


gritar entre eles coisas que não entendia. Palavras que pareciam
muito técnicas e que pareciam indicar o uso de medicamentos e de
um determinado procedimento. Para ele pareciam palavras sem
sentido em um borrão acelerado de ações.

Injetaram algo no braço dela e, aparentemente, não ficaram


satisfeitos. Grayson os ouviu dizer que não foi o suficiente e que
ela precisava de mais. O que James deu a ela, e em qual
quantidade? Será que pretendia matá-la?

— Sabe o que ela usou? — perguntou um deles.

— Ela não usou nada. Injetaram à força. — Grayson apontou


para a seringa, que estava no chão, junto à cama.

O paramédico pegou a agulha com cuidado, e a segurou no


alto, contra a luz, depois a cheirou.
— Kit de testes — disse.

— Mais Naloxon.— Disse o outro.

— Estamos perdendo-a!

A boca de Grayson secou. Tudo em que pensava era não, não,


não, não! Ela não podia morrer! Não agora, não depois de tudo.
Não agora que James estava morto, e que ela e Olivia estavam
finalmente livres.

O paramédico injetou outra seringa cheia de medicamento e


Grayson segurou a respiração. Savannah tossiu. Uma explosão de
gritos veio dos paramédicos que, em segundos, a colocaram em
uma maca.

— Savannah! — Chamou, enquanto a levavam do quarto. Mas


duvidou, que pudesse escutá-lo, por causa da confusão.

Seguiu a maca até o corredor. Alguém já tinha pressionado o


botão do elevador e a levaram, continuando com os procedimentos.
A última coisa que viu quando as portas do elevador se fecharam
e ela desapareceu com os paramédicos, foi uma bolsa de oxigênio
sendo pressionada contra a boca dela, forçando-a a respirar.

Não esperaria pelo outro elevador. Grayson correu de volta


para as escadas, desta vez, voando para baixo, segurando o
corrimão para não cair. Agora ia muito mais rápido, pois não
carregava Olivia. Saiu pela porta em segundos.

Quando chegou à ambulância, já era muito tarde. As portas


estavam fechadas e ela se afastava, enquanto ele ficava parado,
olhando-a se distanciar, e se perguntando se a veria com vida
novamente.

— Com licença, você é Grayson Butler?

Grayson virou para o oficial que fez a pergunta e assentiu.

— Temos que falar com você. Precisamos de uma declaração,


e para isso, faremos algumas perguntas.

— Onde está Olivia? — perguntou Grayson.

— Está com outro paramédico, sendo atendida.

O oficial apontou, e quando Grayson a viu, voltou a atenção


para o homem de uniforme.

— Pode me dizer exatamente o que aconteceu aqui?

O policial fez anotações enquanto Grayson falava. Explicou


que tinha foi contratado por James, que descobriu a verdade sobre
Savannah, e como o serviço de proteção ao menor interveio. Contou
sobre a armadilha que prepararam, que tudo deu errado e todos os
detalhes possíveis sobre esse dia, como encontrou os pais de
Mallory, o colete Kevlar, como matou os mercenários, que puxaram
as armas para matá-lo, exagerando um pouquinho nesse ponto,
porque foi ele quem atirou primeiro.
Descreveu com todos os detalhes a cena que presenciou no
hotel, já que estava mais fresca. Não omitiu que matou James, pois
ele tentou matá-lo, e a Savannah, e ainda, tinha contratado
pessoas para que fossem atrás deles. Tentou deixar bem claro que
tinha agido em legítima defesa.

— E a melhor parte é que tem câmeras escondidas em todo


lugar, que filmaram a maior parte do ocorrido.

— Você colocou as câmeras?

— Noah, o homem do serviço de proteção ao menor, e eu, as


colocamos no quarto do hotel, onde eu estava hospedado. James
confessou ter me contratado e atirei nele, mas ele estava usando o
colete e não morreu.

O oficial revisou suas anotações.

— Parece que coincide com o que Noah Johnson disse na


declaração dele.

— Sim, coincide porque é a verdade. — Grayson estava


tentando ser amável, porque agora estava do mesmo lado dos
policiais. Era apenas um bom cidadão, fazendo seu dever e agindo
como um protetor. Pelo menos, era assim que deveriam vê-lo. Não
podia ser grosseiro ou perder a calma.

O oficial lhe deu um olhar de advertência, parecendo saber o


que estava pensando. Grayson mudou o tom.

— Quero que saiba toda a verdade para que a justiça


prevaleça. Um homem muito ruim foi morto hoje, junto com vários
dos seus mercenários. Mas ainda pode ter mais por aí. Não sei com
certeza, mas acho que é possível.

— Se apenas tivesse deixado um deles vivo para falar


conosco...

Grayson achou que ele estava sendo sarcástico, mas não


estava muito claro.

— Bem, não podia arriscar que nos matassem. E o vídeo do


quarto poderá ajudar.

— O vídeo daqui também nos dará uma ideia clara.

Então, realmente, tinha vigilância nesse hotel. Grayson


assentiu.

— Ótimo. — Mas, na verdade nada estava bem, pois no vídeo


apareceria ele matando os mercenários, com certeza. Pelo menos,
nesse caso, eles tinham sacado as armas, primeiro. Isso era
legítima defesa, fácil. Mas quando o assunto era James, não estava
assim tão evidente. Era hora de fazer um movimento calculado.

— Acho que posso ter levado as coisas além do limite com


James. Certamente foi legítima defesa quando o matei, mas
prolonguei o ato mais do que deveria. Admito. Só quero que saiba
isso antecipadamente, antes de verificar as imagens.

O oficial o estudou por um momento. Grayson tentou parecer


inocente. Esperava que esse fosse o movimento correto. Veriam no
vídeo o que ele fez. Não tinha como escapar. Atirou em James
várias vezes, em lugares que não o matariam e, em seguida, o
esfaqueou e agrediu. Poderia ser mais difícil provar legítima defesa.
Mas admitir deveria fazer com que ele parecesse mais digno de
confiança e honrado. Ao menos, era isso que esperava.

— Está livre, pode ir — disse o oficial.

— Peço que fique na cidade pelos próximos dias. Haverá uma


grande investigação, e talvez precisemos de mais detalhes da sua
parte.

Grayson concordou. Não sairia da cidade com Savannah no


hospital. Precisava cuidar de Olivia agora. Ele intercederia e faria
tudo o que fosse preciso.

— Não vou lugar nenhum. Me certificarei de que Olivia está


bem e a levarei para ver a mãe, antes de ir para casa e tentar
descansar um pouco.

— Hmmm, espere um minuto aqui. — O oficial verificou


alguns papéis.

— Não é o pai ou tutor de Olivia. Não posso deixar que a leve


daqui.

— O que quer dizer? Sou o namorado da mãe dela. Fiquei com


elas durante dias. Vou levá-la até a mãe.

— Sinto muito. Não posso permitir isso.

— O pai dela está morto e a mãe, no hospital. Sou o mais


próximo de um guardião ou pai que ela tem nesse momento.

— Sinto muito. Sei que é difícil, mas, especialmente com uma


investigação em curso, não posso deixá-la ir com alguém que não
tem nenhum direito legal. Terá que passar a noite sob a custódia
do SPM.

— Não, não, ela passou por muito para que isso aconteça.
Espere! — Grayson pegou o telefone. Havia uma pessoa que
poderia ajudá-lo.

Ela respondeu e o alívio o inundou.

— Mallory! Preciso da sua ajuda. Não querem que eu leve


Olivia, porque não sou o tutor dela. Ainda tem aqueles documentos
que Savannah te deu?

— Sim. — A voz dela soava fraca.

Então compreendeu que ela, provavelmente, tinha acabado de


descobrir que seus pais foram assassinados.

— Sei que é um momento difícil, mas querem deixar Olivia


sob a custódia do SPM esta noite. Depois de tudo o que ela viu, não
posso deixar que isso aconteça.

— Espere aí. Estou indo.

Grayson passou para ela o endereço. Desligou e explicou ao


oficial que Mallory era a casa segura de Olivia e que Savannah a
tinha designado legalmente como responsável pela criança, caso
algo assim acontecesse.

Grayson esperou com Olivia. Noah também estava ali,


provavelmente, porque o SPM foi chamado, mas Grayson não tinha
disposição para falar com ele. Ainda estava enfurecido porque
estava lá quando Savannah foi sequestrada e não fez nada para
ajudá-la. Grayson não deixaria que ele fosse responsável pela
proteção de Olivia de jeito nenhum. De. Maneira. Nenhuma.

Mallory chegou meia hora depois. Tinha as bochechas


vermelhas e os olhos inchados, mas correu para eles e abraçou
Olivia com força, comprovando que ela estava bem. Depois mostrou
ao oficial os documentos.

Finalmente deixaram que fossem embora. Grayson as levou


ao hospital.

— Acho que ela devia ser examinada — disse Grayson,


examinando Olivia , que olhava pela janela como se estivesse em
transe.

— Os paramédicos não a examinaram? — perguntou Mallory,


olhando para Olivia e para frente novamente.

— Me refiro a uma avaliação psicológica para nos assegurar


que ela está bem — disse, dando tapinhas na cabeça dela. Não
queria dizer em voz alta que estava preocupado que ela se tornasse
louca ou afundasse em alguma espécie de desequilíbrio psicológico
devido a tudo o que passou. O choque era uma coisa poderosa e
afetava profundamente as crianças.

Mallory assentiu.

— Boa ideia.

Quando chegaram, Grayson explicou o que aconteceu. A


enfermeira já sabia da situação e já tinham examinado Savannah.
Chamaram alguém do setor de psicologia, para que viesse à sala
de emergência. Em seguida, eles ficaram esperando para serem
atendidos.

Disseram a Grayson quando chegaram, que Savannah estava


em estado crítico e que não poderiam vê-la por um tempo. Ele
sentou em uma cadeira junto com Mallory, enquanto Olivia estava
em outra sala com o médico. Pelo menos, não o impediram de estar
com Savannah, mas isso não fazia com que doesse menos, pois
precisava vê-la para saber que estava bem.

Tinham sobrevivido. Por enquanto, estavam vivos e bem.


Savannah deveria sair dessa, disseram, pois quando os pacientes
reagem à uma overdose, quase sempre se recuperam. E ela não
tinha antecedente de uso contínuo de remédios por causa de
doenças crônicas. Era jovem e saudável, e isso facilitaria a
recuperação.

Ele acreditava, do fundo do coração, que ela sobreviveria. A


alegria e o alívio eram impressionantes, depois de tudo que
passaram. Tanto sangue e tantas mortes. Ele matava para ganhar
a vida, mas isso não significava que isso não o afetasse. Por que
afetava. E saber que isso tinha atingido Olivia e ter que olhar para
Mallory que chorava em silêncio, era muito ruim. Só queria ir para
casa, aninhar-se com Savannah e dormir por horas. Mas isso não
era algo que aconteceria em curto prazo.

Agora focaria no fato que ela estava viva, Olivia e ele estavam.
E isso era o mais importante.
Capítulo 34

Savannah acordou em um quarto de hospital, com fios ligados


ao corpo, aparelhos em volta dela, além de enfermeiros e médicos.

— O que está acontecendo? — perguntou.

— O que aconteceu? Onde está minha filha?

Ninguém parecia querer lhe dar respostas.

Finalmente, um enfermeiro se aproximou dela e pendurou


uma bolsa de soro em um suporte junto à cama.

Olhou-o, implorando.

— O que aconteceu comigo? Por favor. Ninguém me fala nada!

Ele olhou em volta e virou para ela com um sorriso triste.

— Você teve uma overdose, mas chegamos a tempo. Vai ficar


bem.

Ela juntou as sobrancelhas. Então, lembrou que James


injetou algo nela, e os nebulosos sonhos que se seguiram.

— Meu ex-marido... Me injetou alguma coisa...

O enfermeiro levantou uma sobrancelha e chegou mais perto.


— Terá que convencê-los. — Apontou o polegar para trás,
onde havia duas mulheres de terninho marinho.

— Elas são do serviço social.

— Onde está a minha filha? Elas irão levá-la?

— Desculpe, mas não sei. O seu caso foi registrado como uma
overdose e elas apareceram. Normalmente isso acontece quando
um dos pais tem problemas com drogas. Já os vi em ação.

— Eles levarão a minha filha? — perguntou de novo.

Ele deu outro sorriso triste.

— Eles não são o seu único problema. Os policiais que estão


lá fora podem tentar te prender por uso de drogas.

Ela balançou a cabeça. Depois de tudo o que passou, ainda


não tinha terminado. Esse pesadelo só se arrastava.

— Obrigada — agradeceu.

Ele tocou levemente seu braço e saiu do quarto. Quando saiu,


as mulheres se aproximaram e dois policiais se juntaram a elas.

— Savannah Peale, temos algumas perguntas para você —


disse o oficial.

— Você está lúcida o bastante para falar conosco?

— Precisam me escutar! — exclamou.

— Meu ex-marido me drogou à força. Não uso drogas. Será


que existe algum tipo de exame que comprove que nunca usei nada
desse tipo?
— Tudo bem, tudo bem — disse o outro oficial, levantando
uma mão.

— Comecemos pelo início. Como te drogaram?

Savannah repassou todo o assunto, desde o casamento com


James e como foi horrível, até onde lembrava do que aconteceu no
quarto de hotel. Embora fosse nebuloso e difícil, já que foi sedada
algumas vezes.

Pareceu demorar horas para explicar e responder as


perguntas. O enfermeiro que conversou com ela antes voltou para
checá-la.

— Ela deveria descansar agora — disse para os policiais e


assistentes sociais.

Ela estava tão grata que poderia abraçá-lo. Mas bem na hora
que o enfermeiro estava terminando, Noah entrou no quarto. Se
apresentou e apertou a mão das pessoas do grupo que a
interrogava.

— Acredito que posso dar uma visão desta complicada


situação.

Tudo que Noah disse respaldou o que Savannah contou. E


eles sabiam que ela não teve tempo para falar com ele em
particular. Tinham que acreditar nela agora, não é? Ouviu Noah
recontar a história do ponto de vista dele, começando com o
telefonema que o enviou ao apartamento de Savannah. Depois a
encenação com Grayson e a invasão. Ela notou que não entrou em
detalhes de como se escondeu, enquanto ela tentava atirar nos
agressores lutando pela vida.

As perguntas e explicações pareciam estar diminuindo e ela


se sentia cansada. Mas também queria ver Olivia e Grayson,
especialmente depois de recordar e reviver tudo o que tinham
passado. Onde eles estavam? Será que estavam bem?

A assistente social virou para ela.

— Sua filha está com a guardiã de emergência, Mallory


Stevens. Autorizamos que você a veja, e estaremos em contato com
o SPM para fornecer informações sobre o caso.

Noah assentiu, dando a Savannah um sorriso tranquilizador.


Então, isso era bom?

O policial que estava perto dela foi o próximo.

— Não vamos deter ou te prender. Quando seus sinais vitais


se estabilizarem e tiver alta, está livre para sair.

— Obrigada — agradeceu, enquanto o grupo saía do quarto.


Virou para Noah.

— Você chegou na hora certa.

Ele puxou uma cadeira e sentou.

— Bem, é o mínimo que posso fazer. Lamento muito meu


comportamento durante a invasão. Nunca passei por uma situação
semelhante e não sabia o que fazer.

— Nem todos podemos ser heróis como Grayson, eu acho.


— Ele certamente é.

Viu que o enfermeiro que a ajudou continuava ali. O chamou.

— Ei!

Ele se aproximou, verificando a intravenosa.

— Quando poderei sair? — perguntou.

— Você ficará aqui pelo menos durante esta noite em


observação.

— Observação? Por que, não estou bem?

— Está estável até o momento, mas a única maneira de ter


certeza será aguardando as próximas vinte e quatro horas.

— Os sinais vitais continuam estáveis, não é? — perguntou.

Ele cruzou os braços.

— Estão. Por acaso pretende fugir?

Ela encolheu os ombros.

— Bem, acredito que não seja uma boa ideia, pois seu corpo
passou por muita coisa.

— Eu sei, mas tem a minha filha.

— Entendo. Tenho uma menina de seis anos e faria qualquer


coisa pela minha pequena. Mas ainda não posso recomendar a sua
alta.

— Mas me entregará se eu sair?

Ele deu um meio sorriso e se afastou subitamente dela.


— Não posso informar o que não vi.

Saiu do quarto e Noah levantou.

— Não tentará sair, certo? — perguntou Noah.

Ela sentou e avaliou a intravenosa no braço. Era a única coisa


que a mantinha presa ao hospital. Além da roupa.

— Pode ver se minhas coisas estão no armário?

Noah foi até o armário e abriu a porta. Tirou uma bolsa e a


roupa dela. Ela se vestiu como pôde com a intravenosa no lugar.
Depois, retirou o esparadrapo e, cuidadosamente, a agulha. Doeu
bastante, mais do que se uma enfermeira fizesse, mesmo assim
tirou.

Apertou esparadrapo de novo para cobrir o pequeno furo que


sangrava e passou a camiseta por cima da cabeça.

— Savannah, ainda não pode sair! — exclamou Noah. — Pode


passar mal!

— Ele disse que estou bem. Que só ficaria em observação.


Tenho que ver Grayson e Olivia. Preciso ir. Obrigada, Noah. Nos
veremos logo, tenho certeza. — Saiu apressadamente do quarto,
tentando não levantar muito suspeita.

Apertou o botão do elevador, entrando assim que as portas


abriram. Quando chegou no térreo, não sabia para onde ir. Não
tinha carro e nem um modo de chegar em casa. Precisava chamar
alguém. Precisava de um telefone?
Seguiu por um corredor cheio de portas, que não levavam à
saída. Virou em outro corredor, e o que viu a fez parar. No final do
corredor, saindo de uma sala, estavam Olivia, Grayson e Mallory.

Olivia a viu um instante depois e saiu correndo. Savannah


correu ao seu encontro, e se encontraram em um abraço apertado.
Savannah levantou a filha.

Ficou ligeiramente tonta e teve que baixá-la, mas não se


importou. Tinha-os encontrado e estavam todos juntos.

— Mamãe! Você está bem! — Olivia tinha lágrimas nos olhos


quando olhou para Savannah.

Os olhos de Savannah também se encheram de lágrimas.


Apertou Olivia uma vez mais antes de levantar e cair nos braços de
Grayson. Compartilharam um beijo que não durou muito, mas
demonstrava toda a paixão e o desejo que sentiam. Quando
estivessem sozinhos, retomariam o que começaram.

Deu a Mallory um longo abraço, e depois virou-se para Olivia.


Ajoelhou para falar com ela e abraçá-la de novo.

— Agora seremos uma família. Você, eu e Grayson. Todos


juntos e seguros. Papai já não pode nos fazer mal.
Saíram para o estacionamento, com Savannah segurando a
mão de Olivia e o outro braço em volta da cintura de Grayson, ele
a segurando. Quando chegaram ao carro de Mallory, pararam para
se despedir. Mallory começou a chorar.

— Tudo bem. Agora estamos todos bem — disse Savannah.

Mallory sacudiu a cabeça.

— Acho que ninguém te disse...

Savannah olhou para Grayson, cuja expressão era triste.

— Disse-me o quê?

— Meus, meus... — Mallory não pôde continuar.

— Os mercenários de James mataram os pais dela — disse


Grayson.

Savannah arfou, levando a mão à boca.

— Não, não, não! Oh, Mallory. Oh, oh...

As lágrimas encheram de novo os olhos dela, a emoção do


ocorrido tomando conta. Como ele pôde fazer uma coisa dessas?
Eles eram inocentes. Não faziam parte de nada. Ele os matou a
sangue frio. Era culpa dela. Tinha levado Olivia para lá, e por isso
estavam mortos.

— Sinto muito, Mallory! É tudo minha culpa! — Exclamou


enquanto abraçava a amiga.

— Não, não! — exclamou Mallory, tentando falar através das


lágrimas.
— Sabiam que era perigoso e conheciam o risco. Foi culpa de
James!

Depois de chorarem juntas por um bom tempo, Grayson


colocou o braço em volta de Savannah.

— Por que não vamos todos para casa descansar? Talvez


Mallory possa ficar conosco por um tempo, então não estará
sozinha.

— Sim, por favor — disse Savannah, enxugando os olhos.

Mallory assentiu e entraram no carro de Grayson. Logo que


chegaram à casa de Savannah, ela fez chá e sentaram na sala de
estar. Olivia jogava em silêncio. Ninguém falou muito. Eles se
sentaram e beberam, tentando transformar a tristeza da
experiência em algo mais preciso e encontrarem uma maneira de
se recuperarem e seguirem em frente, agora que chegado ao fim.

Nessa noite, Mallory dormiu na cama com Olivia. Era o melhor


arranjo, porque fazia Savannah sentir que Olivia estava mais
segura, pois tinha alguém para consolá-la e Mallory também seria
reconfortada pela presença dela. E isso significava que Savannah
e Grayson poderiam ficar sozinhos. Precisava dele
desesperadamente.

Assim que se despediram de Olivia e Mallory, Grayson a levou


para o quarto. A abraçou durante um longo tempo.

— Te amo! — exclamou ele. — Estou feliz que resistimos a


tudo e sobrevivemos.
— Te amo! — Ela apoiou o rosto no ombro dele enquanto
algumas lágrimas escorriam. Estava feliz porque estavam vivos,
claro, mas destroçada pelos pais de Mallory e desgastada por tudo
o que passou.

Grayson a pegou nos braços e a colocou suavemente na cama.


Então a despiu sem pressa, tomando cuidado para não puxar a
roupa com muita força. Quando estava nua na cama, a cobriu com
a manta e tirou a própria roupa, deitando ao lado dela.

— Está ferido em algum lugar? — perguntou ela.

— Foi atingido?

Ele balançou a cabeça.

— Nada que um pouco de analgésico não resolva. E você?

— Não tenho certeza. Estou um pouco dolorida e me sinto


esquisita.

— Provavelmente por causa das drogas e da luta. A adrenalina


faz coisas estranhas ao corpo.

Ele acariciou as bochechas dela, secando os rastros de


lágrimas. Cada toque era suave e calmante. Acariciou os seios,
beijando lentamente seu corpo. Passou a língua pelo clitóris, mas
não empurrou o dedo dentro dela.

Beijaram-se durante muito tempo, ele em cima dela, como um


escudo protetor. Quando estava pronta, Savannah o segurou pela
ereção, enquanto Grayson gemia, e o guiou para dentro dela.
Ele empurrou lentamente até que a encheu por completo.
Moveu-se devagar, causando ondas de prazer, em um ritmo firme
e calmante. Quando estava atingindo o orgasmo, Savannah
empurrou os quadris para cima, na direção dele, levando-o mais
profundo. Os impulsos aceleraram um pouco mais, e ambos
gemeram, gozando ao mesmo tempo.

Depois ficaram abraçados e adormeceram.


Capítulo 35

Na manhã seguinte, Grayson acordou com o cheiro de bacon,


ovos e café. A cama estava vazia do outro lado. Devia ter dormido
profundamente e não percebeu que Savannah saiu cama.
Levantou, se espreguiçando antes de se vestir. Não contou toda a
verdade à Savannah na noite passada. Estava dolorido devido a
luta, a correria e a adrenalina e precisaria de uma dose dupla de
analgésicos hoje.

Foi até a cozinha e Savannah virou sorrindo para ele. Olivia


seguiu o olhar de Mallory e sorriu.

— Bom dia! — exclamou Olivia.

— Bom dia! — Sentou esfregando o rosto. Savannah colocou


uma xícara de café diante dele.

— Obrigado.

Ela encheu os pratos com comida e sentaram juntos para


comer, falando sobre como dormiram e o que fariam hoje. Parecia
que principalmente, descansariam e veriam filmes. Olivia
perguntou se podiam jantar pizza, pois estava querendo um dia
tranquilo em casa.
Quando colocava a última garfada de ovos na boca, bateram
forte na porta. Ele trocou um olhar sobressaltado com Savannah e
levantou. Sacou a arma, quando ouviram.

— Polícia! Abram!

Pôs a arma na bancada e respirou profundamente. Depois


abriu a porta para averiguar o que estava acontecendo.

Abriu a porta e, imediatamente, pôs as mãos para o alto. Os


policiais invadiram o apartamento, com armas em punho. Vários
miravam em Grayson. Ouviu Savannah gritar, mas permaneceu
quieto e não afastou os olhos do oficial mais próximo dele.

— Grayson Butler?

Assentiu, ainda mantendo o contato visual.

— Está preso por assassinato.

Grayson respirou fundo. Deveria ter previsto. Devia saber que


não podia confiar em Noah ou em qualquer organização do
governo. E a forma como matou James? Perdeu uma grande
oportunidade ali. Se soubesse a respeito da vigilância no hotel, e
se estivesse pensando direito, poderia ter feito as coisas de maneira
diferente. Sentiu-se muitíssimo bem em machucá-lo, sem dúvida.
E, embora não soubesse o que aconteceria agora, não se
arrependia da pouca dor que infligiu a James Davis. De fato,
gostaria de ter tido mais tempo para machucar o filho da puta.
Nenhuma quantidade de sofrimento seria suficiente para pagar o
que fez à Savannah.
Agora tinha que se concentrar. Pensar no que aconteceria
depois e o que tinha que fazer agora. Precisava de um advogado.
Ainda acreditava que talvez a legítima defesa funcionasse. Era o
único argumento que tinha para se apoiar. Se conseguisse
construir um caso consideravelmente forte, talvez saísse em alguns
anos, em vez de perder a vida preso.

Suas mãos estavam presas nas costas e as algemas


apertavam os pulsos. Gostaria que não fosse tão familiar, mas tudo
em que pensava foi na última vez que foi preso por assassinato e
como foi difícil.

No momento em que o tiravam do apartamento, Olivia gritou.

— Grayson, não vá!

Era difícil ouvi-la chamando por ele. Olhou para trás, vendo
que Savannah a abraçava. Olivia estendeu a mão para ele,
desviando o olhar.

— Espere! — exclamou Savannah.

Virou -se, ela e Olivia corriam para ele.

— Não podem simplesmente levá-lo. Há provas em vídeo —


disse ela.

— Está tudo bem — disse ele.

— Fiquem com Mallory e permaneçam juntas. Ligarei assim


que puder.

— Não!
Levou a mão até ele, junto com a de Olivia e Grayson saiu do
apartamento, engasgando com as lágrimas. Não choraria na frente
desses policiais. De maneira nenhuma! Respirou fundo pensando
em James.

Apesar de morto, ainda conseguia causar problemas do além.


Agora era um fantasma, perseguindo-o e a Savannah. Até que tudo
se resolvesse, não se livraria realmente dele.

Grayson tinha que encontrar uma maneira de mostrar às


pessoas quem James realmente era. Expor a rede de decepção que
ele teceu em vida. E ainda existia uma pequena possibilidade de
que Savannah estivesse em perigo. James poderia ter deixado
instruções para que a matassem, caso morresse. Quem poderia
saber até onde iria para torturá-la? Talvez, não parasse até que
Savannah estivesse morta, mesmo ele já não estando mais vivo.

Bem, tudo que Grayson podia fazer agora era pensar nos
desafios que teria pela frente, montar seu caso, e esperar que, se
alguém foi enviado para matar Savannah, já a teria matado.

Savannah levantou o telefone com a mão tremendo.

— Noah? Preciso de sua ajuda.

— O que aconteceu? — perguntou.

Savannah colocou Olivia no chão , mantendo-a por perto.

— Grayson foi preso por assassinato.


Noah respirou fundo.

— Oh!

— Oh? É tudo o que tem a dizer?

— Não! É só que... acho que não trabalhei rápido o bastante.

— É, acho que não. — Não pôde evitar a amargura na voz. Ele


ajudou algumas vezes, mas também se manteve à margem e não
fez nada quando a sequestraram. Será que realmente poderia
confiar nele?

— Sinto muito! Estou fazendo tudo o que posso.

— E o que está fazendo? Tem como tirar Grayson da prisão?

— Não, não exatamente.

— Então o que você está fazendo?! — Savannah respirou


profundamente algumas vezes, tentando manter as lágrimas sob
controle. Depois do que passou, precisava descansar e relaxar hoje,
não ter outra crise de estresse. Não conseguiria suportar.

— Bem, ainda tenho que juntar mais provas, mas acredito que
tenho algo sobre James.

Ela cerrou os dentes, obrigando-se a permanecer calma.

— Por que está juntando provas contra James? Ele está


morto! Não pode ser preso agora.

Então um pensamento terrível passou por sua mente. Será


que ainda estava vivo? Que o pesadelo não terminou?
— Eu sei! Deixe-me explicar. — O escutou respirar
profundamente enquanto revirava alguns papéis.

— Ok! Antes de James morrer, quando estávamos tentando


levá-lo a julgamento e prendê-lo, fiz algumas investigações,
procurando algo que nos ajudasse a mostrar que era ele quem
colocava Olivia em perigo. Esse é o meu trabalho, você sabe, mas
podia me meter em problemas por procurar coisas que...

— Tudo bem. Entendi. O que encontrou?

— Bem, parece que James não era somente o herdeiro de uma


grande fortuna, como você já sabe, mas também era membro de
uma família criminosa, que está envolvida com uma grande
organização na cidade.

— Como a máfia?

— Sim

Ela assimilou essa informação. Seria verdade? James era um


membro da máfia?

— Tem certeza? — perguntou.

— Sim! Como disse, preciso de mais provas para mostrar os


diversos crimes que ele participou. Mas quando conseguir o que
preciso, isto poderá ajudar Grayson. Pode ser que não o tire da
prisão imediatamente, mas quando for a julgamento, ajudará no
caso dele.

— Como?
— Bem, ajudará a caracterizar ainda mais a legítima defesa.
Podemos provar que todos os homens que Grayson matou,
trabalhavam para James. Pode contar com os princípios da
legítima defesa para liberá-lo.

— Como?

— É basicamente o direito de agir para defender a si próprio


ou outros, de uma possível agressão.

— O que ele fez não foi legítima defesa?

— Foi próximo, mas com essas provas, Grayson ficaria livre


de qualquer acusação de homicídio. Poderemos mostrar que James
e seus mercenários tinham a intenção de causar muitos danos. E
a polícia também poderia ficar muito agradecida por Grayson
acabar com tantos criminosos, o que poderia ajudar neste caso.

— Então, o que fazemos agora?

— Agora que sei que ele está preso, irei à polícia com as provas
que tenho. Informarei sobre a prova que está faltando e que estou
esperando, que é uma evidência fotográfica de um posto de
gasolina próximo que mostra James e seus homens armados. Com
sorte, será o suficiente para que eles liberem uma fiança, em vez
de mantê-lo preso até o julgamento, porque ele cometeu um crime
violento.

— Ok, gostei disso. — E, então, ele poderia sair logo que fosse
decidida a fiança. Do contrário, passariam meses até o julgamento
e, quem sabe, com que frequência conseguiria visitá-lo, nesse caso.

— Direi o que descobri quando voltar de lá.


— Obrigada, Noah. — Estava começando a abrandar e confiar
um pouco nele. Na verdade, não tinha escolha. Não tinha como
libertar Grayson, mas Noah poderia. Ela precisava dele. E Noah
sabia.

— De nada. Estou fazendo tudo o que posso por vocês dois.

— Sei que está.


Capítulo 36

— Vamos, Grayson.

Grayson olhou do fundo da cela, para o oficial que abria a


porta de metal, sentado na cama dura, confuso.

— Você foi liberado sob fiança.

— Fiança? Pensei que isso não aconteceria — disseram,


quando o trouxeram, que por ser acusado de um crime tão
violento... e por outros, que não o liberariam sob fiança. Mesmo o
seu advogado não deu nenhuma esperança de que veria a luz do
dia em um futuro próximo.

— Surgiram novas provas.

Grayson saiu da cela.

— Novas provas?

— Fale com o seu advogado. Não posso falar muito sobre isso.

— Farei isso. Obrigado.

— Só assine o formulário para reaver seus pertences e estará


livre.
Grayson se dirigiu à mesa surpreso, e assinou o papel. Tinha
se preparado mentalmente para passar meses na cadeia, e não
algumas horas. O que teria ocorrido nesse meio tempo para torná-
lo um homem livre novamente? E quem pagou a fiança?

O agente lhe entregou a sacola onde estavam suas coisas e


seguiram para a porta de metal, que foi aberta para ele. Na sala de
espera, Noah levantou de uma das cadeiras de plástico verde
luminoso.

— Grayson — disse.

— Oi! — Que ele fazia aqui? Entre todas as pessoas, Noah era
a última que esperaria encontrar aqui.

— Vou te levar para casa.

Grayson cerrou os olhos.

— Explicarei tudo no carro.

Grayson entrou no carro com Noah, e fechando a porta,


perguntou.

— Que diabos está fazendo aqui?

— Paguei a sua fiança.

— Você...

— Também entreguei à polícia a prova que precisavam para


que a alegação de legítima defesa se tornasse razoável.

— Como...
— Chegarei lá. — Noah explicou o que tinha descoberto, à
respeito da família de James, e a conexão dele com a máfia, o que
justificava o uso da violência excessiva de Grayson.

— Uau! — exclamou Grayson.

— Embora isso tenha nos causado problemas, acabou sendo


de grande ajuda. Obrigado. Realmente, nem sei como pagar. Me
proporcionou mais tempo com aqueles que mais amo. Nem sei
como agradecer.

Noah assentiu.

— Olhe, não tenho desculpas para o meu comportamento.


Desde o começo não acreditei em Savannah. Não tem ideia de
quanta papelada juntei para afastar Olivia dela — disse,
balançando a cabeça.

— Para depois concluir que estava errado e que quase a enviei


de volta para o pai abusivo. Isso é indesculpável! E quando vieram
e sequestraram Savannah, não fiz nada! Não quero mais ser esse
homem. Nunca pensei que era assim, mas aprendi coisas sobre
mim nos últimos dias que não gostei!

— Estar em uma situação dessas não é fácil. Especialmente


se nunca participou.

— Com certeza! Porém, me sinto horrível! É o meu dever, o


meu trabalho me assegurar que Olivia esteja no melhor ambiente
possível. E isso significa estar com a mãe e a salvo, e ter você por
perto para mantê-la em segurança.

Grayson se aproximou, e deu um tapinha no ombro de Noah.


— Obrigado, homem! E se algum dia quiser um treinamento
para saber como agir neste tipo de situação, sabe a quem chamar.

— Espero nunca estar em uma situação parecida novamente,


mas obrigado.

Pararam no condomínio de Savannah. Grayson correu para a


porta. Bateu e esperou. Quando Savannah abriu, exclamou,
surpresa, pulando nos braços dele.

— Como chegou aqui? — perguntou.

Ele a beijou, apertando-a com força.

— Noah.— Disse, virando para o homem.

Savannah deu em Noah um rápido abraço.

— Funcionou? Obrigada!

Noah saiu pouco depois, para dar-lhes um tempo a sós. Mas


ambos concordaram que deviam a ele, por pagar a fiança,
depositando o dinheiro. Eles poderiam perdoá-lo por toda a
conduta anterior.

Quando sentaram para jantar naquela noite, estavam apenas


Savannah, Olivia e ele. E cada segundo parecia precioso, pois
poderia estar sentado em um refeitório com centenas de
criminosos, brigando por comida ruim, mas ao contrário, se
encontrava aqui, comendo a deliciosa comida que Savannah
preparou.

Grayson teve um sono agitado nessa noite, mesmo com


Savannah ao lado dele. Sua mente continuava retornando à prisão
e ao assassinato de James, mas seus sonhos estavam todos
alterados. Havia vários tipos de desfecho, como James matando
Savannah e Olivia; James o matando primeiro, ele sendo preso
para sempre e Savannah seguindo em frente. Em um dos sonhos
particularmente cruel, Savannah tinha ido visitá-lo na prisão para
dizer que estava grávida, mas que ia se casar com Noah, e que diria
para todo mundo que a criança era filho de Noah em vez de
Grayson. Acordava depois de cada sonho procurando se
tranquilizar, e distinguir a realidade, para logo em seguida, se
aproximar de Savannah e voltar a dormir.

Pela manhã, tomou uma decisão. Ainda tinha dinheiro


guardado dos seus trabalhos anteriores. Levantou cedo, devido ao
seu último pesadelo, e usou o computador na sala de estar de
Savannah. Procurou em vários sites, antes de encontrar a coisa
certa. Fez uma ligação e esperou que ela acordasse.

— Quero te levar à um lugar hoje — disse à Savannah,


enquanto preparava o café.

— Ótimo!

Assim que tomaram banho, comeram e se vestiram, entraram


no carro e ele dirigiu até o lugar. Pararam em frente a uma adorável
casa... pintada de branco, com uma cerca de madeira, e um lindo
jardim, com bastante espaço no quintal.

Savannah olhou para a placa "Vende-se" e depois para ele.

— De quem é essa casa?

— Nossa, se você quiser.


A boca dela abriu.

— Mas como...

— Vamos dar uma olhada.

Ele segurou a mão dela e a de Olivia, enquanto subiam os


degraus da entrada, para encontrar o corretor de imóveis. Olharam
cômodo por cômodo, e ele adorou os olhos excitados de Savannah.

— É linda! — Sussurrou.

— E tão grande.

Quando ela já tinha visto todo o imóvel, perguntou em


particular.

— Gostou?

— Não posso pagar por esse lugar com o meu salário.

— Eu sei. É por isso que estou pagando, em dinheiro, por ela.


Não terá hipoteca, e o seu salário será para cobrir as outras contas,
se eu não... não estiver aqui para pagar.

Ela apertou a mão dele.

— Não diga isso. Você estará aqui.

— Isso é um sim, então?

Ela fechou os olhos e soltou um pequeno grito.

— Sim!

— Te amo!
Explicou ao corretor que pagariam o preço anunciado em
dinheiro, e que queriam mudar o mais rápido possível. O corretor
retornaria à ligação depois de falar com os donos, mas Grayson
não estava preocupado. Quem não aceitaria uma oferta, pelo preço
anunciado, e em dinheiro, sem ter que tratar com bancos?

Olivia falou entusiasmada sobre como decoraria seu novo


quarto, em cor rosa e com gatinhos, enquanto retornavam para o
apartamento.

— Oh, podemos ter um gatinho de verdade? — perguntou, o


rosto dela, transformando-se em uma grande súplica.

— Acredito que sim! — exclamou Savannah, olhando para


Grayson.

— Só um? Pensei que poderíamos ter um casal. E talvez, um


cachorro.

— Sério? — Olivia gritou de alegria e continuou falando da


nova casa e do futuro cachorro, escolhendo vários nomes durante
o curto percurso. Ele esperava, sinceramente, que "Lollipop" não
fosse um nome.

Essa noite não teve problemas para dormir, sabendo que


Savannah e Olivia, seus dois grandes amores, teriam um novo
lugar para morar sem as terríveis lembranças de tudo o que tinha
acontecido no apartamento e poderiam se curar, o que lhe deu um
grande alívio.

Passaram os próximos dias se organizando. Quando a oferta


foi aceita, foi a hora de embalar e comprar móveis novos. Em pouco
tempo os dias ficaram cheios de detalhes sobre a casa, e a
mudança tomou conta de tudo. Grayson sentia-se como um
homem de família, em todos os sentidos. Caminhando pela loja de
material de construção e escolhendo eletrodomésticos e cortinas
com sua mulher e filha, quase começou a rir. Nunca pensou que
isso o faria feliz, ser parte de uma família e fazer coisas simples
como guardar na geladeira os mantimentos que acabavam de
comprar. Era um sonho que se tornava realidade, um que nunca
sonhou.

De noite, quando deitava na cama com Savannah, eles faziam


amor ou simplesmente conversavam. Tentava consolá-la como
podia, mas ambos sabiam que logo poderia voltar para a prisão.
Nessa noite, passava os dedos pela face dela, secando as lágrimas
silenciosas que escorriam.

— Tudo ficará bem — disse.

— Serei absolvido por legítima defesa e o pesadelo finalmente


acabará. James já não pode machucar você. Depois deste
julgamento, nunca mais teremos que pensar nele de novo.
Podemos fingir que ele nunca existiu.

— Eu gosto dessa ideia. — Ela fechou os olhos.

Savannah desfrutava da sensação das pontas dos dedos de


Grayson na pele. Sua presença e palavras a tranquilizavam até
certo ponto. A preocupação crescia dentro dela todos os dias.
Enquanto estavam no processo de mudança, conseguiu deixar as
coisas de lado. Mas agora que se estabeleceram na nova casa, os
temores retornaram.

Conversaram com os advogados como seria o julgamento.


Ainda faltavam semanas, mas o tempo passava muito rápido.
Queria que terminasse, mas estava apavorada que Grayson fosse
preso, quando isso acabasse. Entretanto, não era só isso que a
mantinha acordada à noite.

O advogado disse que deveria testemunhar, e a preocupava


que a família de James pudesse fazer represálias. Tinha medo deles
o suficiente antes de saber que faziam parte da máfia. Se os
policiais sabiam que James estava envolvido nesse nível de crime,
como poderiam impedir que a família dele viesse atrás dela se ainda
estavam vivos e livres pelas ruas, praticando seus crimes?
Poderiam matá-la ou sequestrar Olivia e o pesadelo recomeçaria.

Mas se não testemunhasse, poderia arruinar as chances de


Grayson. E faria o possível para que o caso fosse sólido. Precisava
dele aqui, com ela e Olivia. Queria-o como parte da sua nova
família. Como podia não testemunhar sabendo que poderia
prejudicá-lo, e por consequência, a ela e Olivia? Não podia!

Finalmente resolveu, depois do advogado levantar essa


hipótese. Agora compreendia que não tinha outra escolha.
Precisava deixar de se preocupar tanto, suspeitar de cada pessoa
e de cada mínimo barulho que escutava. Deixar de viver no limite.
De dar a James o poder de torná-la medrosa e suspeitar de todos
que encontrava.
Tinha encontrado o amor em Grayson. Tinha sua filha e uma
nova casa. Mesmo se não estivesse completamente segura, pelo
menos James estava morto. A verdadeira ameaça foi enterrada.
Tinha chegado a hora de deixar de se preocupar, deixar de ver
todos como uma ameaça e confiar no advogado, que disse que não
estaria em perigo se testemunhasse. Se Grayson estava tão seguro
e esperançoso, então ela também poderia ficar. Ele não via nenhum
problema que ela testemunhasse e, se havia alguém que se
esforçava para mantê-la a salvo era ele. Portanto, também tinha
que confiar nele.

— Acredito que consigo fazer — disse.

— Fazer o quê?

— Posso testemunhar ao seu favor.

— Achei que estivesse com medo — disse.

— Bem, entendi que preciso começar a confiar e ter


esperança. Se você faz isso e acha que não tem problema, então
não tenho nenhuma razão para não testemunhar.

— Tem certeza? — perguntou.

— Terá que ir ao tribunal e dizer para todos o que James fez


com você e Olivia.

Ela assentiu.

— E direi também, como ele machucou você.

— E você realmente estará bem fazendo isso?

Ela bateu levemente no braço dele.


— Nem tente me convencer do contrário — disse, dando uma
gargalhada.

— Só preciso ter certeza. Não quero que faça isso só porque


pensa que é o que eu quero. Quero que fique bem.

— Estou bem. De verdade!


Capítulo 37

As semanas passaram rapidamente e o julgamento chegou.


Savannah estava sentada na tribuna, com muito calor e nervosa.
O lugar parecia estar cheio de pessoas dissimuladas, preparadas
para atingi-la.

— Não! — Lembrou-se. — Não conseguirão!

Então, voltou o olhar e viu Mallory, que sorriu levantando os


polegares. Noah estava sentado perto dela, e ele também deu a ela
um sorriso encorajador. Tudo correria bem. Tudo era por Grayson.
Pensava neles indo para casa, depois do julgamento, quando suas
vidas começariam de verdade. Era nessa imagem que se mantinha
focada, para prosseguir, e não sair correndo do tribunal.

Até agora, o julgamento foi horrível. Esteve sentada com


Mallory e Noah, nos lugares de onde agora eles a observavam.
Foram expostas muitas fotos dos corpos, e escutou os promotores
falarem de Grayson como se ele fosse um assassino sem
escrúpulos. Então o advogado de Grayson tentou defendê-lo,
mostrando o verdadeiro James. Toda vez que o advogado de James
replicava, retratava-o como uma vítima inocente. Estava enojada.
Agora, era a oportunidade para ela mostrar o monstro que ele foi
durante anos. O pesadelo que fez da vida dela e de Olivia e do qual
não sairiam se não fosse por Grayson.

O advogado de Grayson a orientou durante horas, sobre o que


dizer, e como responder as perguntas do promotor. Até treinaram
esta parte, repassando as perguntas que ele faria e o que os
promotores poderiam perguntar. Agora era a hora de colocar o
treino em prática. Ela fez o juramento e estava pronta para
prosseguir.

— Senhora Peale, poderia nos dizer como conheceu Grayson


Butler? — perguntou o promotor.

— Claro! — Sorriu respirando profundamente.

— Ele foi contratado pelo meu ex-marido para me matar. Se


aproximou de mim para me conhecer melhor e, então concluir o
trabalho.

— Então admite que Grayson Butler é um assassino


profissional?

— Sim, é. Acho que isso ficou bem claro, devido às filmagens


— disse, com um sorriso tenso.

— Certo. O senhor Butler alguma vez disse que já cometeu


algum assassinato?

— Sim. Ele foi condenado por assassinato e passou dez anos


na prisão. E ele também disse que fez outros trabalhos no passado.
Mas, esse julgamento não se refere a eles.

— Certo, Senhora Peale, só estou estabelecendo um juízo de


caráter.
— Posso falar bastante sobre o caráter dele, se permitir —
disse, esperando que o promotor respondesse.

— Ok — disse ele, cruzando os braços.

— Vá em frente.

— Grayson foi um pistoleiro e assassino, mas mesmo assim


tinha consciência. Nunca matou alguém que não merecesse. Isso
talvez não justifique tirar uma vida, mas se contasse sobre as
pessoas que matou, veriam que fez mais bem do que mal à
sociedade. Sei que ele não parece nada mais que um criminoso,
mas é muito mais que isso. É um herói, um libertador, e um amigo
incondicional.

— Me advertiu, quando eu estava em perigo, mesmo tendo


sido contratado para me matar. Salvou a mim e a minha filha,
colocando a própria vida e liberdade em risco, pelo nosso bem.
Quando descobriu a verdade sobre James e eu, em relação a Olivia,
disse que jamais me mataria. Mas ele também percebeu que James
era um abusador, que estava tentando tirar minha filha de uma
mãe amorosa e deixá-la em uma situação que poderia prejudicá-
la. E ele se sacrificou para garantir que ela estivesse a salvo.

— Cada um dos homens que foram mortos, esses cujas fotos


foram exibidas, eram homens que vieram atrás de mim sem
compaixão, atrás da minha filha, da minha amiga e de Grayson,
que atiraram e assassinaram duas pessoas inocentes... os pais de
Mallory. Eles me drogaram, agrediram, me sequestraram, e
também a minha filha, e ameaçaram matá-la na minha frente
enquanto pressionavam uma arma na cabeça dela. Foi Grayson
quem nos protegeu e defendeu. Ele arriscou tudo pelo nosso bem.
Tudo o que fez, cada vida que tirou, foi em legítima defesa e em
nossa defesa. E é esta pessoa quem Grayson Butler é. Um protetor
e defensor.

O promotor olhou para ela e depois para o juiz.

— Sem mais perguntas.

Ela não sabia o que significava. Se ela tinha respondido


corretamente ou se disse algo errado.

O advogado de Grayson levantou logo em seguida e veio em


sua direção.

— Obrigado, senhora Peale, pela sua avaliação honesta sobre


o senhor Butler.

Ela assentiu.

— Poderia nos dizer agora como era James Davis, seu ex-
marido? Nos explicar por que acha que Grayson agiu em legítima
defesa?

Savannah contou, com riqueza de detalhes, como foi a vida


dela com James. Foi doloroso falar como ele a tratou e como estava
envergonhada por ter ficado com ele durante tanto tempo. Mas não
tinha opção. Sabia de antemão que deveria fazer com que todos
vissem James como o monstro que era.

— Grayson viu as fotos. — Continuou.


— Contei para ele tudo o que disse a vocês. James contratou
Grayson para me matar, assim como todos os homens que nos
seguiram, atiraram em nós, nos sequestraram, e enfim me
drogaram. Acredito que, se pensarem sobre isso, verão que James
não pararia até me matar, ou Grayson, ou Olivia, ou nós três.

— Obrigado, senhora Peale! — Sorriu para ela e disseram que


ela podia descer da tribuna.

Grayson sentia a presença de Savannah atrás dele. O coração


pulsava com tanta força que se esforçou para acalmá-lo e
conseguir escutar o que estava prestes a ser dito. Não conseguia
engolir e respirava com muita dificuldade. Não sabia quem
ganharia. O advogado garantiu que estava tudo bem para ele, mas
será que ele podia realmente acreditar?

Talvez fosse melhor ter ficado na prisão e não ter saído em


liberdade condicional. Assim, não teria tido aquelas seis semanas
com Savannah e Olivia, que foram as melhores da sua vida.
Comprar uma casa e começar uma família, estarem juntos de
verdade, sem nada entre eles, nada que os deixasse cheios de
medo.

Não podia retornar para a prisão agora. Perderia tudo. De


novo, decidiu que preferia a morte a ter Savannah deixando-o e
seguindo a vida ou precisar terminar o relacionamento, caso ela se
negasse. Não conseguiria. Queria a ela e a vida que começaram.
Queria casar com ela e ser seu para sempre. E queria amar e cuidar
de Olivia como se fosse sua. Queria o quadro completo, mais do
que desejou qualquer outra coisa na vida.

Mas, com o seu passado e tudo o que fez, não teria como
ganhar essa. Tinha que enfrentar a realidade. O advogado disse a
Grayson que ele precisava ouvir o veredicto, e ficar calmo. Quem
queria um cliente apavorado nas mãos? Matou James e outros
homens, e tinha um histórico de homicídio. Estariam loucos se não
o declarassem culpado. Se declararia culpado se estivesse entre os
jurados.

Na verdade, sentia-se como se merecesse ir para prisão. Por


que deveria ser feliz? Não merecia. Não tinha feito nada para
merecer essa linda família e o amor dessa mulher incrível. Durante
toda a sua vida, nunca se importaram com ele. Desde que era
pequeno isso estava gravado na sua cabeça. Era burro e não
conseguia nada. Não era bom o suficiente nos esportes, não
limpava rápido o suficiente, não falava baixo. Sempre fazia algo
errado e para tudo o que fazia, tinha um punho, uma bofetada,
uma lambada com cinturão.

Tentou se redimir com o seu primeiro homicídio. Pensou que


estava salvando alguém que o amava, alguém que sofreu como ele
e que via além do lixo que ele era, o eu real dentro dele. Estava
disposto a fazer tudo por ela, o que fosse preciso, para ser visto
como era de verdade. No entanto, isso também acabou.

Seus dez anos na prisão só serviram para enfurecê-lo. Tinha


aprendido a matar com mais agilidade. Decidiu, lá dentro, que se
tornaria um assassino profissional e com prazer encararia a prisão
se isso significava exterminar aqueles que fizeram coisas ruins no
mundo. Pensou em matar a sua namorada e fazer com que pagasse
por mentir para ele, mas quando a encontrou, estava tão acabada
pelas drogas que nem se deu ao trabalho. Ela já tinha pagado por
conta própria.

E então apareceu Savannah. Aquela que realmente o


enxergou. Que o amava de verdade por quem ele era. Aquela que
estaria ao seu lado para sempre. Ela não o via somente como um
criminoso. O via como um herói de verdade, para ela e Olivia. O
amor e a admiração dela o encorajavam a ser melhor. Despertavam
a vontade de renunciar a sua vida como criminoso e ser aquele
homem de família que nunca imaginou que seria. Criava o desejo
de viver uma vida de verdade, não aquela de ir de um trabalho para
outro, matando pessoas para sobreviver.

O presidente do júri levantou, colocando um fim brusco às


questões na sua cabeça. Achou que vomitaria. Olhou com o suor
fazendo cócegas na testa, para o homem que abria o pedaço de
papel, lendo em voz alta.

— Nós, do júri, declaramos o acusado, Grayson Butler, pelo


crime de homicídio em primeiro grau, inocente!

Seu advogado bateu no seu ombro, e sentiu Savannah beijar


seu pescoço. A sua volta, as pessoas aplaudiram animadamente,
celebrando. Não! Não tinha ouvido direito. Estavam celebrando o
fato de que um assassino estava livre? Eles não podiam estar felizes
por ele estar livre. Felizes por alguém que fez o que tinha feito.

Ficou olhando para frente, piscando para o presidente do júri.


Será que era isso mesmo que ele acabou de ouvir?
— Você está bem? — Sussurrou Savannah.

Ele sacudiu a cabeça.

— Tudo bem, querido. Ganhamos! — Ela pulou a cerca que


os separava e o abraçou.

Seu advogado apertou sua mão e o felicitou. Deixou que


Savannah o guiasse para fora do tribunal, enquanto outras
pessoas o felicitavam. Caminharam até lá fora e ficou parado, na
brilhante luz do dia por um momento, antes de se virar e olhar para
o tribunal. O tribunal de onde não saiu algemado.

Um sorriso lento se formou.

— Estou livre! Realmente estou livre!

Savannah riu e se jogou nele, beijando-o profundamente.


Capítulo 38

— Estou realmente livre! — exclamou Grayson de novo.

— Quantas vezes vai repetir isso?

Ele já tinha dito isso pelo menos uma dúzia de vezes, desde
que saíram do tribunal.

— Acho que até assimilar.

— Tudo bem — Ela se aproximou, passando a mão pela coxa


dele.

— Será que eu faria isso se você não estivesse livre?

A ereção cresceu sob o toque dela. Savannah o apertou


suavemente e ele gemeu.

— Poderia em uma visita conjugal — disse ele, delicadamente.

— Só se estivéssemos casados.

— Oh! — Gemeu ele, de novo, pressionando contra a mão


dela.

Ele se esticou, esfregando o dedo entre as coxas dela.

— Vê? Não poderia fazer isso, se não estivesse livre — disse


ela.
Savannah não o culpava, pois também tinha levado alguns
minutos para realmente aceitar a verdade. Ele estava realmente
livre e não passaria anos atrás das grades. Poderiam ficar juntos e
agora que James estava morto, ela e Olivia eram verdadeiramente
livres pela primeira vez em suas vidas e tudo graças a Grayson.

A gratidão se apoderou dela e teve um desejo súbito e


selvagem por ele. Savannah gemeu quando ele a tocou, e então,
desviou o carro para o acostamento.

Quando o carro parou, desligou o motor e passou a perna por


cima do console central para sentar com as pernas abertas no colo
dele. Grayson a segurou pelos quadris e suas mãos foram para ela,
acariciando, esfregando, beliscando.

Ela usava uma saia e ele se aproveitou disso, passando as


mãos pela coxa e subindo por debaixo da saia. Afundou os dedos
dentro da calcinha, onde ela já estava molhada.

— Isso é um problema — disse ele puxando a calcinha.

Ela se contorceu, mas não tinha muito espaço no assento do


carro. Ele segurou a calcinha em ambos os lados, puxando até
rasgar. Ela se inclinou para beijá-lo, mordendo-o ao longo do
pescoço e orelha, impiedosamente. Mal suportava o desejo que
sentia por ele.

A única coisa que sabia nesse momento, era que o queria


dentro dela.
Abaixou-se e começou a desabotoar apressadamente a calça
dele. Mas era uma manobra difícil nessa posição. Grayson levantou
os quadris o suficiente para desabotoá-la e abaixá-la.

Savannah reclinou um pouco o assento e ficou sobre ele. Ele


a agarrou pelos quadris, puxando-a para baixo, e investindo
profundamente dentro dela em um rápido movimento. Ela deixou
escapar um grito de prazer e quase gozou.

Cavalgou-o tão forte, que o automóvel balançou. As janelas


embaçaram com o ar quente de suas respirações e ela quase riu,
pois pareciam adolescentes.

Não duraram muito. As coisas estavam muito quentes e


estavam muito sobrecarregados. Com mais alguns golpes ela gozou
e ele foi um pouco depois. Ficou sentada em cima dele, sentindo-o
pulsar dentro dela.

Grayson a olhou, com o coração cheio de alegria.

— Case comigo.

Ela riu.

— Grayson! Você está dentro de mim. Não pode fazer as coisas


ao contrário.

— Acabo de fazer. Case comigo. Seja minha esposa para


sempre!

— Está falando sério? — O rosto dela perdeu todo o humor.

— Está realmente falando sério? — Um grande sorriso surgiu


no rosto dele.
— É claro que estou falando sério.

— Sim! Sim! — Ela cobriu o rosto dele com beijos e ele pensou
que, nesse momento, a vida não poderia ser melhor.

Enquanto ela continuava beijando-o, Grayson começou a


endurecer de novo. A queria tanto que podia ficar encostado ali a
noite toda, a tomando uma e outra vez.

Ela circulou os quadris, sentindo-o enrijecer outra vez.

— Hmm... segunda rodada?

— Pelo menos cinco ou seis. — Ele pegou os quadris dela,


esfregando-a no seu pau.

— Perfeito!

Ela fez alguns movimentos circulares, acelerando, à medida


que ele ficava completamente duro mais uma vez. Toda vez que
Savannah gemia, ele pensava que ia explodir.

Então, ela parou e lhe deu um olhar travesso.

— E se... fizermos algo diferente? — perguntou levantando


uma sobrancelha.

— O que tem em mente?

Ela saiu lentamente de cima dele, virou com cuidado, e ficou


de costas. Então, enquanto abaixava, o guiou para o traseiro
apertado que dava a ele uma sensação muito boa, pois o apertava
com tanta força que teve que segurá-la por um momento, para que
não se mexesse, para que ele não gozasse muito rápido.
— Deus, sim! — exclamou ele.

Ele se esticou para circular o clitóris e os gemidos de prazer


dela aumentaram. Ela começou a se movimentar de novo e ele não
conseguiu evitar. Ao ouvi-la e senti-la, Grayson gozou.

Mas Savannah não precisou de muito tempo. Ele circulou o


clitóris mais rápido, até que ela gritou mais alto que nunca e
cravou os dedos nas coxas dele com força suficiente para deixar
marcas.

— Oh, Deus! — Gemeu ela.

— Agora sim, esse foi o melhor sexo da minha vida. — Ele


envolveu os braços em volta dela e a beijou.

— E agora, podemos fazer isso pelo resto das nossas vidas!


Epílogo

Savannah olhou pela janela. Olivia corria pelo quintal com


suas novas amigas. Elas estavam com pistolas de água, lançando
jatos entre elas.

Depois que Olivia retornou à escola e Savannah ao seu


trabalho, as coisas finalmente acalmaram um pouco. Olivia disse
a todos que resolveu usar o seu outro nome, Olivia, ao invés de
Katy. Ambas estavam contentes por deixar os nomes falsos para
trás. E então, outras coisas começaram a acontecer. Olivia se
tornou uma menina normal. Começou a falar sobre amigos e
perguntar se poderiam vir visitá-la. Começou a ser convidada para
a ir à casa deles e para festas. Tudo que James nunca permitiu que
ela tivesse.

Agora, Olivia tinha uma vida social bem sucedida e Savannah


tinha uma agenda para se manter em dia com os compromissos
dela. Hoje, três das melhores amigas de Olivia estavam aqui. Ela e
suas melhores amigas, como se chamavam, estavam brincando de
polícia com as pistolas de água. Olivia era sempre a corajosa
heroína, correndo para salvar o dia e prendendo os meninos maus.
Hoje, o "menino mau" era o cachorro da família, Archer. Pobre
Archer, o bondoso terrier era submetido frequentemente a estas
brincadeiras. Felizmente, ele não se importava de ficar com a cara
encharcada de água enquanto perseguia as meninas.

Enquanto observava, o grupo virou-se e correu para dentro da


casa. Elas invadiram a cozinha.

— Mamãe! — exclamou Olivia sem fôlego.

— Podemos pegar picolé?

Suas bochechas vermelhas estavam redondas e brilhantes


contra o cabelo suado, que estava grudado na testa. Amava ver sua
filha brincando tanto.

Savannah pegou a caixa no refrigerador.

— Parece que estão se divertindo muito lá fora.

— Sim! — Concordaram suas amigas.

— Archer adora ser o menino mau — disse Olivia, sentando


em um banquinho da mesa e dando uns tapinhas na cabeça do
cachorro.

Archer sentou ao lado dela, olhando-a atentamente, e


lambendo o focinho, na esperança de que pingos ou pedaços
saborosos do picolé escorregassem do palito na mão de Olivia.
Olivia chupou o picolé, deixando a boca toda vermelha.

— Então, quem ganhou? — perguntou Savannah, colocando


a caixa de volta no refrigerador.

— Eu peguei o criminoso! — Anunciou Olivia.

— E eu ajudei! — exclamou Samantha.


As outras gritaram.

— Eu também! — E depois.

— Eu era uma espiã. Estava ajudando, mesmo que não


soubessem.

Todas queriam ser os meninos bons, mantendo os criminosos


longe. Tudo isso era influência de Grayson. Olivia disse para todo
mundo que seu padrasto trabalhava salvando vidas e que queria
fazer o mesmo quando crescesse.

As pessoas pensavam que ele era um policial, um médico ou


mesmo um bombeiro. Mas ela sempre os corrigia, e dizia
orgulhosamente com um brilho nos olhos:

— Ele é um guarda-costas.

Era a carreira perfeita para ele. Assim que o julgamento


terminou e concluiu o acordo das petições pelos outros crimes que
cometeu, Grayson precisava encontrar um novo trabalho. A polícia
estava observando-o muito de perto. Noah quem sugeriu, dizendo
que já que ele era tão bom protegendo pessoas e não tinha
problemas em atirar, se necessário, ou se arriscar para salvar
alguém, então, tinha nascido para esse trabalho.

E ainda, dava a Grayson a oportunidade de se livrar dos maus


elementos e proteger os bons, mas de uma forma lícita. Agora ele
conhecia todos os policiais dos arredores da cidade, tinha uma boa
reputação com eles, e com frequência eles o ajudavam.

E o mais importante, era um trabalho mais seguro, apesar de


ainda ser perigoso, significando que ele poderia voltar para casa no
final do dia. Não precisava se preocupar muito com ele. Foi um
desfecho perfeito, como todo o resto.

Ela o olhou. Grayson já estava olhando para ela. Atrás dele,


na parede, estava uma das fotos do casamento deles. Ele sempre
fez com que Savannah se sentisse segura, em cada dia desde essa
data e sabia que, com ele, sempre seria assim. E que,
principalmente, o seu coração estava seguro com ele.

Grayson não conseguia parar de olhar para a sua esposa. Sua


esposa! Amava pensar nisso, chamá-la assim e dizer para as outras
pessoas. Deixou de usar o nome dela nas conversas e dizia somente
"minha esposa" tanto quanto fosse possível.

As meninas correram, passando por ele e saindo de novo. A


porta fechou e Savannah tremeu por causa do barulho.

— Oh! — exclamou ela.

— O quê?

— Queria que também comessem isso. Algo mais saudável


pelo menos. — Levantou um saco de cenouras baby.

— Levarei para elas.

Grayson a beijou antes de pegar o saco da mão dela. Foi até


as meninas, prestando atenção na brincadeira delas.

— Agora venham aqui um minuto — disse.


— Vou ensinar uns truques a vocês.

Acentuou o seu ridículo sotaque sulista, colocando um palito


de cenoura na boca, como se fosse um palito de dentes. Apontou
outra cenoura para Archer, que parou diante dele, com a coleira
folgada pendurada no pescoço.

— Olhem aqui, agora — disse.

— Se tentarem prender a coleira muito rápido, pode se soltar.


Têm que tentar minimizar primeiro a situação.

Ficou de joelhos e virou para Archer.

— Então, Archer, o que estava fazendo a esta hora do dia,


latindo perto destas meninas?

As meninas estavam em pé, observando, com os olhos


pregados na cena.

Archer lambeu o focinho e olhou para a cenoura. Esse


cachorro comia qualquer coisa.

— Não tem nada para dizer a seu favor? — perguntou


Grayson.

— Pode me dizer como conheceu estas meninas?

Grayson apontou para elas e Archer olhou para cada menina


em seguida. Começaram a rir.

— Já entendi. Então, você não vai me dizer nada? — Archer


piscou como resposta.
— Entende que isto te faz parecer culpado? — Archer olhou
de novo para a cenoura e choramingou. O momento foi perfeito.

As meninas caíram na gargalhada.

— Ok, não há mais nada a fazer, já que se recusa a falar —


disse Grayson.

— Teremos que levá-lo à delegacia.

As meninas se amontoaram em volta do cachorro, tentando


empurrá-lo para a árvore que era a "delegacia".

Grayson visualizou na sua mente, a casinha de plástico, que


parecia muito mais com uma delegacia de verdade, que estava na
fazenda de Mallory, esperando pelo aniversário de Olivia na
próxima semana. Ela e suas amigas amariam e iriam aproveitar
muito.

Quando recomeçaram a brincadeira e prestaram menos


atenção ao cachorro, Grayson deslizou a cenoura para ele, que a
mastigou com gratidão.

— Sua mãe também quer que vocês comam estas cenouras,


ok? — Grayson deu o saco para Olivia, e cada uma esticou a mão
para pegar um palito de cenoura.

Grayson retornou para dentro e colocou os braços em volta da


sua esposa, que ainda estava olhando para as meninas.

— Elas adoram você! — exclamou.

— E eu também.

Virou nos braços dele para beijá-lo.


— E eu também as adoro. E a você também.

Ela descansou a cabeça no ombro dele, e ele se sentiu


completamente satisfeito e feliz. Seu coração estava tão cheio, não
imaginava como a vida poderia ser melhor.

Seu novo trabalho permitia que protegesse as pessoas, algo


com o que era claramente bom. Não se preocupava mais com a
polícia vindo atrás dele, pois trabalhava com eles boa parte do
tempo. Gostava do seu atual cliente, um homem de negócios, com
clientes de alto nível, mas seu alvo predileto de proteção, sempre
seria Savannah.

Correu as mãos para cima e para baixo nas costas dela.


Mantê-la em segurança era a coisa mais importante para ele, e
continuava levando o seu trabalho muito à sério. E Olivia também
estava no topo da sua lista. E logo haveria mais um para cuidar,
amar, e proteger.

Correu as mãos para baixo, sobre a barriga redonda de


Savannah. Seu bebê crescendo mais forte a cada dia, mexeu sob o
toque.

— Oh! — exclamou Savannah.

— Está ficando tão grande!

— Já tem força.

— Nem me diga! Acha que tem que chutar para sair.

Grayson manteve a mão no lugar, esperando senti-lo mexer


de novo. Amava a sensação do seu pequeno filho dentro da sua
esposa.
Olivia ficou muito feliz quando soube que teria um irmão, mas
não acreditava que superasse a sua própria felicidade. Esta
inesperada vida, tinha tornado tudo tão perfeito! Saber que quase
a perdeu, fazia cada dia mais precioso para ele. Nunca acreditou
que um dia pudesse sair quando quisesse para brincar com a sua
filha e suas amigas, que pudesse abraçar e beijar sua esposa sem
restrições ou que fosse livre para fazer o que quisesse e quando
quisesse.

A vida era doce! E, em um mês, seria ainda mais. Não fez nada
para merecer essa vida, mas passaria cada dia, pelo resto de seu
tempo, se assegurando que fosse digno dela.

Fim!
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