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Conexão
O impacto da conservação
de água nos sistemas
prediais de esgotos
Lucia Helena de Oliveira
é professora do Depto. de
Engenharia de Construção
sanitários
Civil da Epusp – Escola
Politécnica da Universidade
de São Paulo e pesquisadora O artigo a seguir trata das crescentes ações de conservação
da área de sistemas prediais
de água em edifícios e a necessidade de avaliar como
a redução de vazões pode comprometer o transporte de
sólidos e, consequentemente, a autolimpeza das tubulações
horizontais de sistemas de esgoto sanitário.
100 mm TQ
1
~
50 mm
CS (Lv e Ch) to sanitário, considera- esgoto sanitário de um edifício de 12
75 mm 75 mm
12º 100 mm 100 mm BS -se atualmente o regime andares, considerando escoamento
CS (Ch) permanente. No entanto, não permanente e número provável
280
50 mm
75 mm
100 mm
ele se caracteriza pelo de aparelhos sanitários em uso simul-
11º
CS (Ch) movimento de ondas, tâneo por meio da equação 1:
50 mm
280
75 mm
9º 100 mm
como do perfil de descar- · m1 = número de aparelhos sanitá-
CS (Ch)
50 mm ga de cada um, eminen- rios do tipo 1 que devem ser conside-
280
75 mm
8º 100 mm
temente não permanen- rados em uso simultâneo.
CS (Ch)
50 mm te, e à superfície livre. · n1 = número de aparelhos sanitá-
280
75 mm
7º 100 mm De um modo geral, rios do tipo 1.
CS (Lv e Ch) o dimensionamento de · p1 = probabilidade de que um apa-
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50 mm
75 mm 75 mm
6º 100 mm 100 mm BS ramais e coletores com relho sanitário do tipo 1 esteja em
CS (Bd)
o emprego das UHCs e funcionamento.
280
50 mm
75 mm escoamento em regime · fc = fator de confiablidade.
5º 100 mm
permanente conduz a A simulação foi realizada com o
CS (Ch)
50 mm um superdimensiona- programa NB86 e, atualmente, de-
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75 mm
100 mm
4º mento que, em alguns nominado Drainet, desenvolvido na
CS (Ch) casos, prejudica as velo- Universidade de Heriot-Watt, Escócia,
280
50 mm
75 mm
3º 100 mm cidades de autolimpeza por John Swaffield. Os resultados da
CS (Ch)
devido às pequenas va- simulação são vazões e alturas de lâ-
280
50 mm
75 mm zões e alturas de lâmina mina d’água em seis seções.
2º 100 mm
d’água. A consequência O edifício estudado possui dois
CS (Ch e Ch)
50 mm é o aumento do número apartamentos por andar e dois ba-
280
75 mm
1º 100 mm de obstruções no siste- nheiros back to back por apartamen-
ma, causando o desem- to, cujos efluentes escoam para um
280
Térreo 100 mm – 2% penho inadequado do único tubo de queda. Assim, são dois
sistema. tubos de queda por andar, cada um
Fig. 1 – Esquema simplificado para tubos de queda 1 As reduções de volu- recebendo o esgoto de 24 banheiros.
me de descarga provoca- Cada cômodo dispõe de uma ba-
relho, expressando a vazão de descar- das pelo aumento das ações de con- cia sanitária, um lavatório, um chuvei-
ga e a probabilidade de utilização. servação de água nos edifícios con- ro e um bidê. Os diâmetros dos ra-
O método de determinação das duzirão inevitavelmente ao aumento mais de esgoto foram simulados com
vazões de esgoto sanitário é limitado dos custos de manutenção, a menos 100 e 50 mm e, posteriormente, com
no que diz respeito ao padrão de uti- que sejam consideradas as reduções 75 e 50 mm, conforme ilustrado nas
lização e à dependência dos diversos de diâmetros de ramais e coletores figuras 1 e 2. A declividade considera-
modelos de um mesmo tipo de apa- (tubulações horizontais dos sistemas da para os ramais de esgoto e subco-
relho sanitário. Desse modo, a abor- prediais de esgotos sanitários). letores é de 2%.
dagem falha nos limites admitidos Na primeira etapa, foram simula-
no desenvolvimento do método, pois dos escoamentos nos subcoletores
Redução do diâmetro de cada tubo de queda e, portanto,
os aparelhos sanitários e os edifícios
do sistema predial recebendo os efluentes de 24 ba-
utilizados para o estabelecimento do
de esgoto sanitário nheiros. As figuras 1 e 2 ilustram os
método foram os mesmos durante as
observações. Para avaliar a possibilidade de redu- aparelhos sanitários de cada andar,
Quanto ao regime de escoamento ção dos diâmetros em subcoletores cujas descargas foram acionadas em
no interior de um sistema de esgo- e coletores foi simulado o sistema de cada tubo de queda.
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Conexão 100 mm TQ
2
~
Em uma segunda etapa, foi simu- suas posições relaciona- CS (Lv e Ch)
50 mm
75 mm
lado o escoamento em todo o siste- das a seguir: 12º 100 mm
ma, ou seja, o coletor recebendo os · seção 1 – a 1,0 m do CS (Ch)
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50 mm
efluentes de dois subcoletores e, por- nó A. 75 mm
100 mm
11º
tanto dos 48 banheiros. · seção 2 – a 0,2 m do CS (Ch)
50 mm
280
Inicialmente, foi determinado o nó C. 75 mm 75 mm
100 mm BS
10º 100 mm
número provável de aparelhos em · seção 3 – a 1,0 m do CS (Ch)
utilização simultânea para um fator nó B. 50 mm
280
75 mm
9º 100 mm
de falha de 1% e com a utilização da · seção 4 – a 1,0 m do
equação 1. Ressalta-se que, em esgo- nó C.
280
Nenhum aparelho sanitário acionado
to sanitário, a seção crítica no subco- · seção 5 – a 1,0 m do 8º
CS (Ch)
letor é aquela em que as vazões de nó C. 50 mm
280
75 mm
pico se sobrepõem e, para isso, há · seção 6 – a 1,0 m do 7º 100 mm
280
50 mm
75 mm
descargas dos aparelhos sanitários Foram considerados 6º 100 mm
nos diferentes andares. Assim, após para a análise do conjun- CS (Ch)
280
50 mm
várias simulações, estabeleceu-se que to o coletor (trecho CD) e 75 mm
5º 100 mm
as descargas seriam iniciadas no tem- os subcoletores (trechos
CS (Ch)
po 0,0 segundo, do 12º andar ao 6º AC e BC), ilustrados na 50 mm
280
75 mm
andar; e no tempo 5 segundos, do 5º figura 3. Foram simula- 4º 100 mm
50 mm
75 mm
Para as simulações foram utiliza- para os subcoletores os 3º 100 mm
das curvas de descarga com 12 L, comprimentos (3, 5, 10 CS (Ch)
280
50 mm
situação mais desfavorável; de uma e 15 m) e declividades 75 mm
2º 100 mm
caixa sifonada, recebendo o efluente (1, 2, 4 e 6%); e para os
CS (Ch)
de um lavatório com capacidade de coletores, diâmetro (100 50 mm
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75 mm
5,8 L e cuba cheia; e vazão de pico e 150mm), comprimento 1º 100 mm
severa, tendo em vista que a maio- de (2, 4 e 6%). A simula- Térreo 100 mm – 2%
TQ
2
B
3
D2 - i
L2 relação ao subcoletor os ramais de esgoto são reduzidos de
com diâmetro de 100 100 para 75 mm. Isso é observado
4
mm. pela redução das vazões máximas de
TQ
1
1
2 5 6
Outro resultado im- descarga e pela diminuição dos inter-
D1 - i D3 - i
A L1 C L3 D portante nas curvas de valos de tempo para a profundidade
Fig. 3 – Esquema dos subcoletores e coletor com a indição vazão de descarga é a máxima. Além disso, a profundidade
das seções analisadas presença de remanso máxima sempre ocorre em uma se-
(proximidades de uma ção nas proximidades de uma junção.
Tab. I – Casos simulados para o dimensionamento do coletor que recebe
efluentes de dois subcoletores em um edifício residencial de 12 andares junção simples) na se- Isso mostra como o traçado geomé-
D1 D2 D3 ção 2, representado trico reflete no desempenho do sis-
Ramais Caso L1 (m) L2 (m) L3 (m) i (%)
(mm) (mm) (mm) pelas vazões negativas, tema.
100 e 2-E 15 15 15 100 100 100 2 revelando uma seção
50 mm 2-F 5 5 10 100 100 150 2
crítica.
75 e 2-G 3 3 10 100 100 100 6
Com base em to-
Considerações finais
50 mm 2-O 10 10 10 100 100 100 2
das as configurações É importante ressaltar que os re-
É importante ressaltar que se o co- estudadas, apesar de a profundidade sultados das configurações simuladas
letor fosse dimensionado pelo méto- do escoamento atingir 95 mm, esse são específicos para os casos estuda-
do UHC, com o escoamento em regi- evento ocorre em um curto intervalo dos e não devem ser generalizados.
me permanente, o diâmetro seria de de tempo, exceto no caso 2-G, não É necessário verificar cada caso com
150 mm. Mesmo em regime não per- afetando o desempenho do sistema. relação aos fenômenos inerentes ao
manente, as condições de escoamen- Verifica-se que as condições de esco- sistema de ventilação, tais como a au-
to praticamente não são alteradas em amento são ainda melhores quando tossifonagem e sifonagem induzida.
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As simulações realizadas em dife- no subcoletor é bem mais favorável aparelhos em uso simultâneo. Essa
rentes configurações com a variação que a verificada quando se utiliza ra- ferramenta permitirá aos projetistas
de diâmetros, declividades e compri- mais de esgoto de 100 mm. Assim, ajustar as declividades e diâmetros
mentos de ramais de esgoto, subcole- observou-se a influência do dimensio- assegurando velocidades de autolim-
tores e coletor, permitem afirmar que: namento dos ramais de esgoto dos peza do sistema e, assim, a melhora
· Conhecer o fenômeno da atenua- andares-tipo no dimensionamento do desempenho e redução dos cus-
ção de ondas é fundamental quando dos subcoletores e coletores. tos de sistemas prediais de esgotos
se trata do superdimensionamento de · Para garantir o desempenho do sis- sanitários.
coletores ou da readaptação de siste- tema de esgoto sanitário é necessá-
mas, como a substituição de bacias rio compreender os mecanismos de Referências
sanitárias convencionais por outras transporte de sólidos e o design da
[1] Hunter, R. B.: Methods of estimating loads in
com volume de descarga reduzido, bacia sanitária para evitar a deposição plumbing systems. National Bureau of Stan-
mantendo o método de dimensiona- de sólidos e a consequente obstrução dards, Buildinng Materials and Structures.
mento atual e, portanto, os mesmos da tubulação. Report BMS 65, 1940.
[2] Oliveira, L.H.: Estudo do escoamento em
diâmetros desses componentes. Um modelo de simulação está
condutores horizontais de coleta de esgotos
· Os resultados obtidos utilizando sendo desenvolvido para avaliar di- sanitários de edifícios residenciais. Disserta-
ramais de esgoto de 75 mm foram ferentes situações do sistema de es- ção (Mestrado em Engenharia Civil) - Escola
bastante satisfatórios, pois, apesar de goto, ponderando as especificidades Politécnica, Universidade de São Paulo, São
retardar o escoamento, o desempe- dos aparelhos sanitários brasileiros e Paulo, 1991.
[3] Swaffield, J.A.: Computer aided analysis of
nho do sistema não foi afetado, tendo o escoamento não permanente, além
unsteady partially filled pipe flow in multis-
em vista o curto intervalo de tempo. da consideração de modelo probabi- tory building drainage networks. Final report
Nesse caso, a altura da lâmina d’água lístico para determinar o número de under NBS. Sept., 1986.