Você está na página 1de 9

VÁLVULA CÔNICA CONVERGENTE COM VÓRTICE AXIAL

PAULO FERNANDO SOARESa


PODALYRO AMARAL DE SOUZA b

SOARES, P.F. & SOUZA, P.A. de. Válvula cônica convergente com vórtice axial. Semina, v. 12, n. 4, p.205-213, dez. 1991.

RESUMO

Este artigo trata do estudo de uma válvula que se insere na classe dos dispositivos fluídicos automáticos (pois opera
automaticamente sem requerer a utilização de partes móveis ou energia auxiliar), e foi denominada Válvula Cônica Conver-
gente com Vórtice Axial (VCC). O funcionamento da válvula é baseado na indução de uma circulação forçada, ou seja, é
um amplificador de vórtice que pode controlar vazão, dissipar energia e aerar escoamentos. O estudo da válvula (SOARES,
1990) constituiu-se principalmente na elaboração de um modelo matemático e também de um modelo físico, construído no
Centro Tecnológico de Hidráulica, para verificar a adequabilidade da modelação teórica.

PALAVRAS CHAVE: Automação fluídica, Hidrociclones, Controles automáticos de vazão.

1 - INTRODUÇÃO vertedor que são operadas manualmente ou mediante


motores.
A água sempre foi um elemento de primordial impor- A possibilidade de contar com dispositivos cujo con-
tância para a vida humana, e é útil ao homem se for adequa- trole seja feito pela própria água, sem a necessidade da
damente controlada, conduzida e contida. As obras hidráu- intervenção humana, origina a automação fluídica e nas
licas são construídas pelo homem para conseguir esses obje- obras hidráulicas, os dispositivos fluidicos automáticos
tivos. oferecem muitas vantagens, entre outras, aumentam a efi-
Na prática, as soluções relativas a um projeto de obras ciência de operação das mesmas, reduzem os gastos de
hidráulicas se caracterizam em geral pela seleção de alter- manutenção e vigilância, e no caso de se tomar as medidas
nativas tradicionais, as quais, com base em experiências de segurança necessárias, aumentam a confiabilidade do
anteriores e observações em protótipos, têm demonstrado trabalho do sistema hidráulico que estejam instalados,
sua eficácia e segurança. A adoção desse critério se deve, pois há um aproveitamento racional da energia hidráulica,
em boa parte, à responsabilidade das pessoas que realizam de modo que a água se torna o elemento que executa várias
grandes projetos hidráulicos e por isso preferem atuar com funções específicas (controle, dissipação ou aeração)
cautela. Todavia, isso tem limitado a visão do projetista sem a necessidade de elementos mecânicos que dependam
hidráulico tradicional, pois comumente conta com alter- de energia externa.
nativas de projeto que se encontram num intervalo estrei- A utilização de dispositivos fluidicos automáticos
to de soluções, o que conduz a um aproveitamento insa- permite que a operação de uma obra hidráulica seja quase
tisfatório dos conhecimentos modernos de mecânica dos ou completamente, independente da responsabilidade de
fluídos, uma vez que o projeto de obras hidráulicas tem se vigias, operários e de pessoal de manutenção, assim como
mantido dentro do tradicional. há uma tendência de otimização na obtenção dos objetivos
É de conhecimento geral também, que a eficiência de para os quais a obra foi planejada.
um aproveitamento hidráulico depende em grande parte Neste trabalho é descrito e analisado um novo dis-
da responsabilidade dos operadores, assim como da dispo- positivo (Ver figuras 01 e 02) para o controle de vazão,
nibilidade de energia necessária para o funcionamento dos dissipação de energia e aeração de escoamentos. Esse novo
equipamentos de tal aproveitamento. Isto ocorre porque dispositivo é denominado Válvula Cônica Convergente com
geralmente são necessários mecanismos para o controle Vórtice Axial (VCC) e consiste de dois troncos de cones
da água, como por exemplo as comportas colocadas num justapostos, um interno e outro externo, nos quais o es-

a Departamento de Construção Civil — CTU/Universidade Estadual de Londrina, Caixa Postal 6 0 0 1 , CEP 86051-970, Londrina - Paraná -
Brasil.
Departamento de Hidráulica e Saneamento/Escola Politécnica da USP.

205
coamento ocorre entre etes de f o r m a anular. Perpendicular-
mente ao eixo dos cones e tangencialmente à geratriz do
cone externo é i n t r o d u z i d o um t u b o , e na posição diame-
tralmente oposta e em sentido c o n t r á r i o , é i n t r o d u z i d o ou-
t r o t u b o , paralelo ao primeiro, c o m o b j e t i v o de induzir
uma circulação no escoamento e assim c o n t r o l a r a vazão,
dissipar energia e aerar escoamentos a nível livre.

o n d e : d é o diâmetro do bocal de saída da vazão t o t a l , Q 2 ;


D 3 e A 3 são, respectivamente, o diâmetro e a área
da seção transversal do t u b o de alimentação da vazão
d e controle Q 3 ;
K 3 é a relação entre as vazões Q 3 e Q 2 ;
Q 2 é a vazão no bocal de saída da válvula;
Q 3 é a vazão de c o n t r o l e ;
Cq é a relação entre as vazões real e teórica;
Cc é a relação entre a área efetiva de escoamento e
a área do bocal de saída da válvula.
Segundo G . A b r a m ó v i c h ( N E K R A S O V , 1965), " O
vórtice é estável quando sua dimensão assegura a vazão
FIG. 1 - Representação das grandezas relevantes no es- máxima c o m dada carga", ou em outras palavras; quando
coamento da VCC
se estabelece tal regime, para obter a vazão máxima, a pres-
são é m í n i m a .
Pesquisando-se qual é o valor m á x i m o do coeficiente
de vazão, obtêm-se as equações para o coeficiente de vazão
m á x i m o " C Q m á x " , coeficiente de contração " C c " e vazão
total " Q 2 " , ( S O A R E S , 1990).

FIG. 2 — Esquema de instalação da VCC num canal,


com respectiva curva de descarga

A V C C , pode ser utilizada em reservatórios para o


controle de enchentes, em bacias de retenção, em sistemas
de águas pluviais, de esgotos sanitários, de t r a t a m e n t o de
águas residuárias, na dissipação de energia a jusante de bar-
ragens e no controle de vazão em canais de irrigação.

2 TRATAMENTO TEÓRICO

Aplicando-se as equações da conservação de massa,


conservação de potência e conservação do m o m e n t o da
quantidade de m o v i m e n t o , corri as seguintes hipóteses:
l í q u i d o incompressível; escoamento permanente; tensão
de cizalhamento nula nas paredes da válvula e m o m e n t o
da quantidade de m o v i m e n t o constante; chega-se à equa-
ção ( S O A R E S , 1990) que relaciona o coeficiente de vazão 3 - ESTUDO EXPERIMENTAL
" C q " , c o m o coeficiente de contração " C c " da V C C , onde
" F " é um fator que depende somente da geometria da Realizou-se um estudo experimental, visando verificar
peça. a coerência entre os resultados experimentais e analíticos.

Semina, Ci. Exatas/Tecnol., v.12, n.4,p.205-213, dez, 1991


206
O estudo constituiu-se da duas fases, uma para ava- tais da primeira fase CqxRe e K o - 2 x R e , para sete diferen-
liar as características da VCC sem a introdução da vazão tes aberturas " e " encontram-se nas figuras 03 e 04, onde
de controle, Q3, e outra c o m a vazão de controle. Re é o número de Reynolds e Ko—2 é o coeficiente de per-
As representações gráficas dos resultados experimen- da de carga localizada.

FIGURA 03 - Relação entre "CQ" e "Re"

FIGURA 04 - Relação entre "KO-2" e "Re"

Semna, Ci. Exatas/Tecnol., v.12, n.4, p.205-213, dez. 1991

207
Para a segunda fase foram ensaiadas as aberturas
" e " , iguais a 0,6; 0,9; 1,2; 1,6; 2,0; 3,0 e 4,0cm.
O coeficiente de contração foi obtido através de me-
dida direta do diâmetro do núcleo de ar, com uma ponta
ligada a um circuito eletrônico e paquímetro. A extemida-
de da ponta que tocava a superfície interna do escoamento, As comparações entre os valores do coeficiente de
no núcleo de ar, correspondeu a um dos terminais do cir- contração " C c , coeficiente de vazão máxima "Cq máx"
cuito eletrônico, destinado a melhorar a precisão do ajuste e coeficiente de contração médio " C c , com suas respec-
da ponta à superfície livre pois esta superfície apresenta- tivas curvas teóricas encontram-se nas figuras 05, 06 e 07.
va-se com ondulações superficiais não estaciona rias, como Comparação entre resultados experimentais e analí-
ocorre em escoamento torrencial. O outro terminal do cir- ticos.
cuito ficava permanentemente mergulhado na água. A res-
a) Primeira Fase
posta do circuito, lida como corrente registrada por um
miliamperímetro,é proporcional à porcentagem de tempo A primeira série de ensaios consistiu-se no estabele-
em que a água esteve em contato com a ponta. Com o cir- cimento das curvas Cq x Re e Ko—2xRe, sem alimentação
cuito eletrônico obtinha-se a indicação de que a ponta es- tangencial.
tava em contato com a água 50% do tempo de contato. Da figura 03 observa-se que o número de Reynolds,
sendo inversamente proporcional à viscosidade, indica que
Considerando que a forma de obtenção do coeficiente quanto maior for o seu valor numérico, menor será a in-
de contração real pode levar a erros de até 12% e que o fluência da viscosidade. A variação de Re no ensaio foi de
coeficiente de vazão máxima real ajustou-se com ótima 30.000 a 150.000.
precisão aos valores teóricos, pode-se a partir da equa- Analisando-se a figura 03 observa-se que o coeficiente
ção teórica que liga estes coeficientes, obter um valor do de vazão, Cq, aumenta com o aumento do número de
coeficiente de contração médio, Cc em função do coefi- Reynolds, o que traduz a diminuição das perdas de carga
ciente de vazão máxima real, Cqmr. Desta forma, além devido à viscosidade, sendo que esta não mais influencia a
das curvas C c x K3 e Cq x K3, há a curva de C c x K3, obti- partir de Re = 55.000 para (e/d) = 0,16 e a partir de Re =
da através da expressão: 95.000 para as demais relações de abertura.

Semina, Ci. Exatas/Tecnol., v.12, n.4, p.205-213, dez. 1991


208
Semina, Ci. Exatas/Tecnol.v,12, n.4, p.205-213, dez. 1991
209
Para a abertura (e/d> = 0,16 o coeficiente de c o n t r a - se um erro na avaliação do coeficiente de contração, seu
ção, Ce, é sempre menor que 1 (um) para a variação do ní- efeito é dissipado e obtém-se uma boa aderência para todas
vel d'água ensaiado. as relações de abertura estudadas, notadamente para a aber-
Para as aberturas maiores que (e/d) = 0,33 o coefi- tura e = 1,2cm, abertura esta que é p r ó x i m a do valor do
ciente de contração é menor que 1 (um) até o nível d'água diâmetro interno do t u b o da vazão de c o n t r o l e , d 3 , que é
d e 6,0cm c a . i g u a l a 1,3 cm.
A partir de aberturas, "e ', maiores que 4 . 1 c m é im-
Da figura 04 observa-se que para relações de abertura possível i n t r o d u z i r rotacionalidade no f l u x o , mesmo c o m
(e/d) maiores que 0,55 e para Reynolds maior que 9 5 . 0 0 0 , vazão de alimentação superior nula e vazão de controle
a perda de energia é desprezível na válvula. m á x i m a , este f a t o l i m i t o u superiormente os ensaios.
Segundo R A B I N Ó V I C H ( 1 9 8 7 ) , as equações esta- Observaram-se nos ensaios dois tipos distintos de os-
belecidas para o escoamento em o r i f í c i o s são validas cilação: em ciclos e a i n t e r m i t e n t e .
quando o número de Froude, F r 2 = ( v 2 / g l ) = ( 2 H / d ) , f o r O f u n c i o n a m e n t o em ciclos ocorre quando a vazão
maior que 10 e o n ú m e r o de Weber f o r maior que 2 0 0 , de c o n t r o l e , Q 3 , é repartida igualmente, e se dá da seguinte
We F ( r v 2 L / s ) ou s e j a , quando as forças de g r a v i d a d e e f o r m a : ao iniciar a oscilação o N.A. do canal de alimenta-
de tensão superficial se manifestam n u m grau insignifican- ção sobe, pois há um aumento da perda de carga na câma-
t e , o que em geral acontece na prática. ra da válvula, a oscilação decresce c o m o aumento do N.A.
Nos ensaios obteve-se W e ( m i n . ) ( L =d) = 2 8 4 8 , onde L até um p o n t o em que esta oscilação t e r m i n a e então o N.A.
é o c o m p r i m e n t o característico, e W e ( m i n . ) ( L = e) = 7 9 8 começa a descer. Quando o N.A. chega a um m í n i m o , i n i -
para todas as relações (e/d). Sendo L = d, para todas as rela- cia-se novamente o ciclo, pois o desbalanceamento nas
ções (e/d), F r 2 > 10 para H1 > 0 , 1 8 2 4 m e c o m L = e, vazões devido à geometria da peça é preponderante sobre
F r 2 > 10 para H1 > 0 , 0 3 m . a vazão de alimentação superior.
b) Segunda Fase Este problema ocorre porque para pequenas abertu-
Dos gráficos que relacionam o coeficiente de c o n t r a - ras " e " (e/d < 0 . 3 3 ) , qualquer f a t o que c o m p r o m e t a a
ção, Cc c o m o coeficiente que relaciona a vazão de c o n t r o - simetria entre os cones pode provocar entre eles zonas de
dade de obtenção de Cc para a abertura e = 4 c m os resul- aceleração e desaceleração do escoamento e isso gera as
tados tiveram a m e l h o r aderência à curva teórica, isto se pulsações. T a m b é m acontece, mais freqüentemente, para
deve a que o j a t o sai mais u n i f o r m e e não oscila h o r i z o n t a l - valores de " e " menores que o d i â m e t r o dos jatos de c o n t r o -
mente e p o r t a n t o não c o m p r o m e t e n d o a medida do nú- le, d3, pois nesse caso ocorrem zonas de aceleração p r ó -
cleo de ar e consequemente Cc x i m o aos jatos e zonas de desaceleração entre os tubos de
Para a relação entre o coeficiente de vazão m á x i m a , saida da vazão de c o n t r o l e , Q 3 . Isto origina o gráfico de
C q m a x , e o coeficiente K 3 , observa-se que mesmo tendo- utilização da V C C (Figura 0 8 ) .

Semina, Ci. Exatas/Tecnol., v.12, n.4,p.205-213, dez. 1991


210
4 - APLICAÇÕES POSSÍVEIS

Controle de Vazão
a) Irrigação
A irrigação é o f o r n e c i m e n t o artificial de água para
plantações em quantidade e qualidade adequada e no mo-
mento certo, c o m a finalidade de aumentar ou melhorar
a produção.

A importância do c o n t r o l e adequado da água para a


irrigação pode ser exemplificado pelo fato de que hoje,
no Estado de Sao Paulo, a irrigação utiliza em média 2 5 %
de toda a água consumida no estado. Nos p r ó x i m o s 25 anos
este percentual deve aumentar e poderá chegar a 60%,
segundo o G r u p o Técnico de irrigação do D A E E { D ' A L K -
M I N T E L L E S , 1989).
Deve ser observado que a utilização da VCC na i r r i -
gação superficial t e m a desvantagem da perda de cota, e
isso pode inviabilizar sua aplicação nesse t i p o de irrigação,
mas pode-se colocar o c o n t r o l a d o r em situação à m o n t a n t e
de m o d o que não c o m p r o m e t a a perda de cota.
b) Reservatório de Controle de Cheias
C o m o conseqüência do desmatamento e da ocupação
indiscriminada das várzeas dos rios t e m crescido o número
de casos de inundações. Para reverter este processo, além
da fiscalização e da conscientização da população e das
autoridades, uma das medidas que pode ser t o m a d a é a
construção de reservatórios de c o n t r o l e de cheias.
A capacidade desses reservatórios é sempre limitada
por condições topográficas, geológicas, econômicas e am-
bientais, e em conseqüência o efeito do amortecimento da
onda de cheia é t a m b é m l i m i t a d o . Por isso, quando se aper-
feiçoam dispositivos controladores de vazão, apesar do
l i m i t a d o espaço do reservatório para o armazenamento da
onda de cheia, condições mais favoráveis de controle
podem ser encontradas.
C o m o há uma rápida alteração do n í v e l d´água e
da vazão, c o m a passagem da onda de cheia, se o mecanismo
FOTOGRAFIA 1 - VISTA GERAL DO MODELO de controle funcionar automaticamente, isto oferecerá
EXPERIMENTAL maior confiabilidade e eficiência que a operação de c o n t r o -
le manual, além do que d i m i n u i r á o risco de uma cheia
atingir comunidades à jusante.

Bacias de Retenção em Sistemas de Águas Pluviais


Com a finalidade de obter um dimensionamento eco-
n ô m i c o para a rede coletora de águas pluviais e onde per-
m i t i r a topografia, bacias de retenção, c o m dispositivos
controladores de vazão, podem ser utilizados a f i m de se
reduzir o pico de vazão no sistema coletor. Tais bacias são
altamente viáveis onde uma parte substancial da bacia de
drenagem esteja a m o n t a n t e da área urbanizada a ser servi-
da peio sistema coletor de águas pluviais, e onde a t o p o -
grafia e o uso t e r r i t o r i a l p e r m i t e m a retenção relativamente
barata de águas em represamento antes de sua coleta pela
rede.

FOTOGRAFIA 2 - DETALHE DA VCC EM FUN- Bacias de Retenção em Sistemas de Esgotos Sanitá-


CIONAMENTO rios e Tratamento de Águas Residuárias

Semina, Ci. Exatas, v.12, n.4, p.205-213, dez. 1991


211
Considerando-se um Sistema de Esgoto U n i t á r i o , em alguma f o r m a de dissipação de energia para se evitar c o n d i -
que o esgoto doméstico e as águas pluviais são coletados na ções excessivamente turbulentas na entrada do coletor que
mesma rede, há a necessidade, por questões de dimensiona- recebe a f l u x o deste poço. C o m este objetivo, pode-se uti-
m e n t o , de limitar a vazão m á x i m a aceitável n u m período lizar um regulador de vazão do t i p o que produz escoamen-
chuvoso, ou t a m b é m a necessidade de l i m i t a r a vazão de to em vórtice.
uma rede de esgotos secundária para evitar a sobrecarga
n u m determinado interceptor. Nesses casos o uso da bacia Aeração
de retenção combinada com um dispositivo c o n t r o l a d o r da Em sistemas de t r a t a m e n t o de água potável, na mis-
vazão é indispensável. tura de floculantes; em sistemas de t r a t a m e n t o de águas
As bacias de retenção podem ser utilizadas t a m b é m residuárias, para aumentar a eficiência das bactérias aeró-
c o m o recurso para eliminar areia ou qualquer o u t r o bicas, e na autodepuração dos rios, podem ser utilizados
material abrasivo que poderia de outra f o r m a , penetrar e dispositivos que possuem escoamento em vórtice, para
depositar-se nos coletores, se bem que possuem aspectos aerar o escoamento.
objetáveis que incluem a necessidade de limpeza freqüente
e a presença de odores desagradáveis. Paisagismo
Considerando o t r a t a m e n t o de águas residuárias, a Com fins ornamentais, em praças públicas ou em
bacia de retenção associada a um dispositivo c o n t r o l a d o r de edifícios públicos, industriais ou residenciais, pode ser
vazão que produza escoamento em vórtice pode ser ú t i l instalado dispositivos de controle de vazão c o m escoamento
porque a estação de t r a t a m e n t o c o m a vazão de chegada em vórtice para obtenção de um escoamento em f o r m a de
constante, possibilitará o dimensionamento mais econômi- parábola de revolução. Combinando-se dois ou mais dispo-
co de suas partes pois evitará, por e x e m p l o , alturas livres sitivos, efeitos mais interessantes podem ser obtidos.
e seus equipamentos funcionarão em uma determinada Para o caso de e d i f í c i o residencial ou p ú b l i c o , pode
faixa especificada e t a m b é m , a aeração proveniente do vór- ser sugerido o desvio da água pluvial para uma única cána-
tice, aumentará o poder de autodepuração dessas águas. leta que possua em sua extremidade um destes dispositi-
vos; assim a precipitação pluviométrica trará consigo, para
Dissipação de Energia a fachada do e d i f í c i o , um belo espetáculo visual.
a) A Jusante de Barragens
Com a utilização de dispositivos controladores a u t o - 5 -CONCLUSÕES
máticos de vazão c o m escoamento e m v ó r t i c e , fica soluciona-
do o problema da construção de bacias de dissipação a C o m base na análise teórica e no estudo experimen-
jusante de reservatórios de c o n t r o l e de cheias e de bacias tal desenvolvido sobre a Válvula Cônica Convergente c o m
de retenção, pois o processo de d i s s i p a ç ã o de energia, que V ó r t i c e A x i a l , destacam-se as seguintes conclusões:
está concentrado no vórtice f o r ç a d o , se dá no p r ó p r i o a) A melhor relação de abertura (e/d) o b t i d a f o i
dispositivo. Esse f a t o , t o r n a as estruturas acima citadas, 0,33 (e = 1,2cm), p o r t a n t o é recomendável que se projete
mais econômicas e compactas. a VCC c o m esta relação de abertura.
Pode-se q u a n t i f i c a r o desempenho da VCC na dissipa- b) A boa aderência verificada entre os resultados
ção de energia do seguinte m o d o : experimentais e analíticos permite considerar confiáveis
as equações desenvolvidas para o dimensionamento da
V C C , bem c o m o da previsão do seu c o m p o r t a m e n t o em
operação.
c) O p r o j e t o , construção e a utilização da V C C para
diferentes valores de F deve ficar restrito aos critérios ob-
tidos no trabalho experimenta! e à semelhança dinâmica do
escoamento.
d) O erro relativo médio do coeficiente de vazão má-
x i m a para o ensaio da abertura e = 1,2cm f i c o u em t o m o de
7,15%.
e) O investimento inicial para construção e instala-
ção da V C C são insignificantes quando comparados c o m
o custo de construção, instalação e manutenção de qualquer
b) em Sistemas de Esgotos dispositivo de c o n t r o l e mecânico c o m peças móveis,
Freqüentemente, é necessário verter as águas residuá- f) O canal de alimentação deve possuir uma tela para
rias de redes de esgotos que escoam a pequena p r o f u n d i d a - a obstrução do material f l u t u a n t e e isso gera uma manuten-
de, para coletores maiores ou interceptores que se encon- ção m í n i m a , porém simples. Não há problemas de sedimen-
t r a m em cotas mais baixas. A vazão se transfere, geralmen- tação de material em suspensão d e n t r o da válvula, porque
t e , através de algum t i p o de poço de queda vertical. C o m o as velocidades são elevadas.
o f l u i d o no poço de queda possui uma quantidade apre- g) A hipótese de que o m o m e n t o da quantidade de
ciável de energia cinética, deve-se incluir no projeto destes, m o v i m e n t o mantém-se, ao longo da válvula, é bastante f o r t e .

Semina, Ci.Exatas/Tecnol., v.12, n.4, p.205-213, dez. 1991


212
h) o p r i n c í p i o nunciado por Abrámovich (NEKRA- j) Como este trabalho trata de uma pesquisa básica,
SOV, 1965), de que o coeficiente de vazão é máximo, não foi realizado um estudo de aplicabilidade dos casos
mostrou-se consistente. abordados anteriormente, mas sugere-se que um estudo
i) A VCC mostrou-se como um eficiente mecanismo posterior aborde a questão econômica da aplicabilidade
de díssipação de energia. Para K3 = 0,304, Cq = 0,229, da VCC, considerando-se os custos de construção e de
a eficiência de díssipação é 95%. manutenção.

SOARES, P.F. & SOUZA, P.A. de. Conical convergent valve with axial vortex. Semina, v. 12, n. 4, p.205-213, Dec. 1991.

ABSTRACT

This paper is about the study of the valve belonging to the fluidic device category (because it works automatically
without moving parts or additional energy), denominated Convergent Conical Valve with Axial Vortex. Functionally the
valve is based on the induction of a forced circlation employing a vortex amplifier that can control the flow, energy
dissipation and aerates the flow. The study of the valve (SOARES, 1990) consists mainly of the elaboration of mathematical
model and also a scale model that was built at the "Centro Tecnológico de Hidráulica", to check if the theoretical model
predicts the observed behavior correctly.

KEY-WORDS: Fluidics, Hydrocyclones, Automatic controls.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Semina, CL Exatas/Tecnol., v.12, n.4, p.205-213, dez. 1991


213

Você também pode gostar