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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo


Departamento de Arquitetura e Construção

APOSTILA
SISTEMA PREDIAL DE ESGOTO SANITÁRIO

FONTE: APOSTILA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA USP, DE AUTORIA


DE: PROF. DR. DANIEL C.DOS SANTOS,
PROFa. Dra. MARINA S. DE OLIVEIRA ILHA E
PROF. DR. ORESTES M. GONÇALVES

Última atualização: 03/2006

EC-712 - Instalações Prediais Hidráulicas e Sanitárias


1º semestre de 2006

Profa. Dra.: Marina S. de Oliveira Ilha


BIPED: Marcus A. S. Campos
PED: Laís A. Ywashima

Campinas, SP
1. INTRODUÇÃO
A importância do Sistema Predial de Esgoto Sanitário na Construção Civil relaciona-se não
apenas com as primordiais necessidades relativas à higiene e saúde, mas também com as
evolutivas noções de conforto, impostas por um dinâmico comportamento social.
Neste cenário encontra-se o projetista, cuja missão é atender aos anseios sociais, em meio a
emergentes avanços tecnológicos e à necessidade ímpar de racionalização, questões estas
singulares na competitiva estrutura econômica estabelecida.
Isto posto, é oportuno supor que o projetista necessite de informações básicas relativas a
modernas metodologias de dimensionamento, às inovações tecnológicas, assim como dos
princípios teóricos que sustentam tanto o convencional quanto o novo.
Inserido nesse contexto, este Texto Técnico, cujo tema central é o Sistema Predial de Esgoto
Sanitário (SPES), propõe-se a abordar, em nível de informações básicas, diversos temas
pertinentes ao referido sistema. Desta forma, inicialmente é apresentado o SPES no referente
a sua função, seus requisitos de desempenho e sua constituição básica. Os dois itens
seguintes, 3 e 4, apresentam noções teóricas sobre escoamento dos esgotos e os respectivos
fenômenos associados. No item 5, são classificados os SPES. Seguem os itens 6 e 7, os quais
apresentam, respectivamente, o projeto e o dimensionamento, enquanto que o item 8 completa
o texto, abordando componentes e materiais afins. Anexos acompanham o texto, ilustrando e
exemplificando tópicos diversos.

2. APRESENTAÇÃO DOS SISTEMAS PREDIAIS DE ESGOTOS


SANITÁRIOS (SPES)
2.1 Função e Requisitos de Desempenho
O sistema predial de esgoto sanitário (SPES) é um conjunto de tubulações e acessórios, o qual
destina-se a coletar e conduzir o esgoto sanitário a uma rede pública de coleta ou sistema
particular de tratamento. Além desta função básica, o SPES deve atender aos seguintes
requisitos segundo a norma brasileira NBR 8160 “Sistemas prediais de esgotos sanitários –
Projeto e execução” (ABNT, 1999):
a) deve ser garantida a qualidade da água de consumo;
b) permitir o rápido escoamento da água utilizada e dos despejos introduzidos, evitando a
ocorrência de vazamentos e a formação de depósitos no interior das tubulações;
c) impedir que os gases provenientes do interior do SPES atinjam áreas de utilização;
d) deverá haver uma separação absoluta em relação ao sistema predial de águas pluviais.
A contaminação da água de consumo deve ser evitada, protegendo-se tanto o interior dos
sistemas de suprimento, como os ambientes receptores.
A necessidade de viabilizar o rápido e seguro escoamento do esgoto sanitário, assim como
garantir o funcionamento adequado dos fechos hídricos, deve ser considerada desde a
concepção do SPES. A velocidade do escoamento nos trechos horizontais está associada à
eficiência no transporte dos materiais sólidos, evitando que estes venham se depositar no
fundo das tubulações. Nos trechos verticais, a velocidade do escoamento influencia
significativamente nas pressões pneumáticas desenvolvidas no interior das tubulações.

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Já os fechos hídricos funcionarão adequadamente se os mesmos não se romperem, uma vez
que os mesmos impedem que os gases no interior das tubulações penetrem no ambiente,
conforme já comentado. Esta condição de não rompimento será garantida se as variações das
pressões pneumáticas no interior do sistema forem limitadas, conforme o clássico trabalho de
WILY; EATON (1965). Os fenômenos que induzem as variações das pressões pneumáticas
serão discutidos posteriormente.
A separação absoluta do SPES em relação ao sistema predial de águas pluviais deve ser
garantida, assegurando a inexistência de ligação entre tais sistemas.

2.2 Constituição
2.2.1 Subsistemas do Sistema Predial de Esgoto Sanitário
O SPES pode ser dividido nos seguintes subsistemas:
a) Coleta e Transporte de Esgoto e
b) Ventilação.
O subsistema de coleta e transporte é composto pelo conjunto de aparelhos sanitários,
tubulações e acessórios destinados a captar o esgoto sanitário e conduzi-lo a um destino
adequado.
O subsistema de ventilação, por sua vez, consta de um conjunto de tubulações e/ou
dispositivos destinados a assegurar a integridade dos fechos hídricos, de modo a impedir a
passagem de gases para o ambiente utilizado, assim como conduzir tais gases à atmosfera.
Outra classificação que tem sido freqüentemente utilizada considera o sistema de aparelhos
sanitários independente do de esgoto sanitário, já que o mesmo consiste em uma interface
entre aqueles dois sistemas.
Neste documento está sendo considerada a primeira classificação citada, tendo em vista que o
escoamento no interior dos aparelhos sanitário influencia o escoamento no sistema de esgoto
sanitário.
Na Figura 1 é apresentado um esquema do sistema predial de esgoto sanitário.

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Onde:
CGD: caixa de gordura dupla; CI: caixa de inspeção;
RS: ralo seco; R: ralo seco;
CV: coluna de ventilação;
Figura 1: Esquema geral do SPES.
Fonte: Macintyre, 1996.

2.2.2 Componentes
2.2.2.1 Subsistema de Coleta e Transporte de Esgoto Sanitário
a) Aparelhos Sanitários
Com a função básica de coletar os dejetos, os aparelhos sanitários devem propiciar uma
utilização confortável e higiênica por parte do usuário. Entre os aparelhos sanitários usuais
encontram-se a bacia sanitária, o lavatório, a banheira, o bidê, etc.

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b) Desconectores
Um desconector tem por função, através de um fecho hídrico próprio, vedar a passagem de
gases oriundos das tubulações de esgoto para o ambiente utilizado. Tal contenção ocorre
através da manutenção do referido fecho hídrico por meio do controle das ações atuantes
sobre o mesmo. Entre estas ações, vale citar a auto-sifonagem, a sifonagem induzida, a
sobrepressão e a evaporação. Exemplos de desconectores são a caixa sifonada, o ralo sifonado
e os sifões. Observar Figuras 2 e 3.

Figura 2: Bloqueio de gases no desconector.


Fonte: Gonçalves et al., 2000.

Nota: h = altura do fecho hídrico


Figura 3: Tipologias dos desconectores.
Fonte: Gonçalves et al., 2000.
As caixas sifonadas recebem o esgoto de vários ramais de descarga, encaminhando-os para o
tubo de queda, através de um ramal de esgoto (estas definições são apresentadas a seguir)
Anteriormente, dispunha-se apenas de caixas sifonadas onde as entradas (3 para a caixa
100x100x50 e 7 para a caixa 150x150x50) estavam dispostas seguindo um determinado
ângulo (45° ou 90°), conforme lista a Figura 4. Atualmente, existe no mercado uma caixa
sifonada que permite ângulos diferenciados entre as entradas e a saída da mesma, o que evita
uma patologia bastante comum nos SPES no Brasil, o aquecimento das tubulações para a
obtenção de desvios. Na Figura 5 é ilustrada a referida caixa sifonada.

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Figura 4: Caixas Sifonadas com ângulo de 45° ou 90°.

Figura 5: Caixas Sifonadas com ângulos diferenciados.

c) Tubulações
As tubulações do sistema predial de esgoto sanitário compreendem os ramais de descarga e de
esgoto, tubos de queda, subcoletores e coletores. Suas respectivas definições são as seguintes:
- Ramal de Descarga: Tubulação que recebe diretamente os efluentes dos aparelhos
sanitários;
- Ramal de Esgoto: Tubulação, usualmente horizontal, que recebe os efluentes dos
ramais de descarga, diretamente, ou através de um desconector
(caixa sifonada, por exemplo);.
- Tubo de Queda: Tubulação vertical para a qual se dirigem os efluentes dos ramais
de esgoto e de descarga;

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- Subcoletor: Tubulação horizontal que recebe efluentes dos tubos de queda e/ou
dos ramais de esgoto; e
- Coletor: É a tubulação horizontal que se inicia a partir da última inserção do
subcoletor (ou ramal de descarga ou ramal de esgoto) e estende-se
até o coletor público ou sistema particular de tratamento e
disposição de esgoto.

d) Conexões
Elementos cuja função é interligar tubos, tubos e aparelhos sanitários, tubos e equipamentos,
além de viabilizar mudanças de direção e diâmetro da tubulação. São exemplos o Tê, o
cotovelo, a junção simples, curvas, etc., nos mais variados diâmetros, conforme ilustra a
Figura 6.

Figura 6: Conexões do sistema predial de esgoto sanitário.

Os desvios na horizontal das tubulações do sistema de esgoto sanitário devem ser efetuados
com peças com ângulo central igual ou inferior a 45°. Em função disso, as conexões
disponíveis no mercado possibilitavam desvios a 45° ou a 90° (vertical ou horizontal).
Atualmente, dispõe-se de algumas conexões que permitem desvios em ângulos variáveis,
sempre inferiores a 45°, tal como a representada na Figura 7. Este tipo de conexão evita o
aquecimento de tubos para a obtenção de desvios.

Figura 7: Curvar.

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e) Caixa de Gordura
Trata-se de um dispositivo complementar, cuja finalidade é a retenção de substâncias
gordurosas contidas no esgoto. Na Figura 8 é apresentado um esquema de uma caixa de
gordura pré-fabricada, em material plástico e na Figura 9 ilustra-se uma caixa de gordura em
argamassa.

Figura 8: Caixa de gordura pré-fabricada em material plástico.

Figura 9: Caixa de gordura em argamassa.

f) Dispositivos de Inspeção

São elementos complementares, através dos quais tem-se acesso ao interior do sistema, de
maneira a possibilitar inspeções e desobstruções eventuais. A caixa de inspeção e as conexões
com uma das derivações com um plug ou com um cap são dispositivos de inspeção bastante
usados. A Figura 10 ilustra uma junção simples com um plug.

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Figura 10: Junção simples com plug.
A Figura 11 mostra uma caixa de inspeção em argamassa e a Figura 12 mostra uma caixa de
inspeção pré-fabricada, em material plástico.

Figura 11: Caixa de inspeção em argamassa.

Figura 12: Caixa de inspeção pré-fabricada em material plástico

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2.2.2.2 Subsistema de Ventilação

O subsistema de ventilação pode ser composto apenas de ventilação primária ou pelo


conjunto de ventilação primária e secundária. A ventilação primária constitui-se no
prolongamento do tubo de queda além da cobertura do prédio, denominado tubo ventilador
primário, enquanto que a ventilação secundária consiste de ramais e colunas de ventilação ou
de apenas colunas de ventilação. Não obstante, a ventilação secundária pode ser configurada
também pela utilização de dispositivos de admissão de ar, os quais podem substituir ramais e
colunas de ventilação, conforme FERNANDES (1993). A eficiência deste subsistema será
satisfatória na medida em que os fechos hídricos sejam preservados. As definições destes
componentes são as seguintes (ver Figura 13):

- Tubo Ventilador É o prolongamento do tubo de queda além da cobertura do


Primário: prédio, cuja extremidade deve ser aberta à atmosfera;
- Ramal de Ventilação: Tubulação que conecta o desconector, ramal de descarga ou
ramal de esgoto à coluna de ventilação;
- Coluna de Ventilação: Tubulação vertical que abrange um ou mais andares, com a
extremidade superior aberta ou conectada a um barrilete de
ventilação;
- Barrilete de Ventilação: Consta de uma tubulação horizontal aberta à atmosfera, na qual
são conectadas as colunas de ventilação, quando necessário;
- Dispositivos de Elementos cuja finalidade é a atenuação das flutuações das
Admissão de Ar: pressões pneumáticas desenvolvidas no interior das tubulações.

Figura 13: Componentes do subsistema de ventilação


Fonte: Fernandes, 1993.

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3. TIPOS DE ESCOAMENTOS NO SPES

Os tipos de escoamentos que se estabelecem em um sistema predial de esgoto sanitário


variam por trechos da configuração. Com relação ao subsistema de coleta e transporte do
esgoto sanitário, nos trechos horizontais (ramais de descarga e de esgoto, subcoletores e
coletores) admite-se que o escoamento seja em canal (ver Figura 14). Nos trechos verticais
(tubo de queda), o escoamento é anular, isto é, uma lâmina de água escoa pelas paredes do
tubo em forma de anel e, no interior deste, há escoamento de ar (ver Figura 15). Quanto ao
subsistema de ventilação, admite-se que o escoamento de ar desenvolva-se sob regime
permanente e forçado.

Figura 14: Trechos horizontais.


Fonte: Fernandes, 1993.

Figura 15: Trechos verticais.


Fonte: Fernandes, 1993.

4. FENÔMENOS OCORRENTES NO SISTEMA PREDIAL DE ESGOTO


SANITARIO

4.1 Estabelecimento da Velocidade Terminal


Conforme já comentado no item anterior, o escoamento de esgoto no tubo de queda é
considerado anular, isto é, o esgoto escoa no formato de um cilindro oco, aderido à parede do
tubo. A velocidade de escoamento deste cilindro é crescente até atingir um valor máximo e
constante, a qual é denominada velocidade terminal.

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A distância ao longo do eixo do tubo de queda, entre o ramal mais a jusante que está
contribuindo (de cima para baixo) e o ponto onde o escoamento atinge a velocidade terminal é
denominado comprimento terminal. Este comprimento é relativamente curto, situando-se
normalmente entre 3,0 e 4,0 m.
A determinação da velocidade e comprimento terminais é importante para a estimativa das
vazões de ar no núcleo do tubo de queda, conforme será abordado posteriormente. A Figura
16 apresenta o perfil de distribuição de velocidades na seção transversal.

Figura 16: Perfil de distribuição de velocidades.


Fonte: Fernandes, 1993.

4.2 Ações sobre os Fechos Hídricos


4.2.1 Ações Decorrentes do Escoamento
O escoamento do esgoto nas tubulações horizontais deve ser a conduto livre e nos trechos
verticais deve ser anular, uma vez que deve ser evitado o desenvolvimento de cargas
hidrostáticas no interior das tubulações, conforme WILY; EATON (1965). Estas restrições
também podem evitar distúrbios excessivos das pressões pneumáticas no interior do sistema,
que podem ter origem nos fenômenos de auto-sifonagem, sifonagem induzida e sobrepressão,
de acordo com a AMERICAN SOCIETY OF PLUMBING ENGINEERS (ASPE, 1991).
A auto-sifonagem atua sobre um fecho hídrico quando através deste ocorre uma descarga.
Nesta situação, desenvolve-se uma depressão a jusante do fecho hídrico, o qual poderá ser
rompido, dependendo da magnitude desta depressão. A figura 17 ilustra o desenvolvimento
deste fenômeno.

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a) cuba cheia de água

b) inicio do escoamento

c) estabelecimento da pressão negativa do


escoamento

d) o fecho hídrico é aspirado e o ar passa a


borbulhar através do sifão. O
borbulhamento arrasta a água do fecho
hídrico

e) restabelecimento do fecho hídrico, com


o equilíbrio de pressões, o fecho hídrico
oscila;

f) estabelecimento do fecho hídrico


residual.

Figura 17: Desenvolvimento da auto – sifonagem

A sifonagem induzida, igualmente, impõe depressões a jusante de um determinado fecho


hídrico, com a diferença que o escoamento não se desenvolve através deste fecho hídrico, mas
sim ao longo de outras tubulações conectadas a ele, conforme se observa na Figura 18. Por
outro lado, quando a jusante do fecho hídrico forem desenvolvidas pressões positivas, ocorre
a sobrepressão. Este fenômeno pode fazer com que os gases borbulhem através do fecho
hídrico e atinjam o ambiente. A Figura 19 apresenta tais fenômenos, onde percebe-se que a
sobrepressão surge em regiões próximas ao encontro do tubo de queda com o subcoletor,
devido à mudança de direção do escoamento.
Em ASPE (1991) é salientado também o problema gerado pela formação de espumas, devido
ao uso de detergentes. A espuma dificulta a ventilação do sistema e tende a propagar-se

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através das tubulações nos primeiros andares, podendo atingir os fechos hídricos e,
conseqüentemente, penetrar nos ambientes.

Figura 18: Sifonagem induzida.


Fonte: Graça, 1985.

Figura 19: Sifonagem induzida e sobrepressão.


Fonte: Graça, 1985.

4.2.2 Ações Independentes do Escoamento


A evaporação, a tiragem térmica e a ação do vento no topo do tubo de queda são fenômenos
que podem atuar nos fechos hídricos independentemente do sistema estar em uso.
A tiragem térmica é função da diferença entre as temperaturas do ar no interior das
tubulações (temperatura interna) e no meio ambiente (temperatura externa). Se a temperatura
interna for superior à externa, se desenvolverão depressões pneumáticas no interior do tubo de
queda, uma vez que neste caso o ar tende a sair do tubo de queda para atingir o meio
ambiente. Sendo a temperatura interna inferior à externa, inverte-se o sentido do fluxo do ar e
sobrepressões se estabelecerão no interior do tubo de queda. (Figura 20).

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Nota: htq= altura do tubo de queda.
ρi = densidade do ar interno.
ρe = densidade do ar externo.
Figura 20: Tiragem térmica no tubo de queda.
Fonte: Graça, 1985.
A ação do vento no topo do tubo de queda pode gerar depressões ou sobrepressões no interior
do sistema, o que depende da posição da ponta do tubo de queda em relação à cobertura da
edificação. A Figura 21 ilustra o fenômeno.

Nota: Vê = velocidade do vento.


Figura 21: Efeito do vento em terminais do tubo de queda.
Fonte: Graça, 1985.

As perdas de fecho hídrico por evaporação dependem do tempo de exposição do mesmo ao


ambiente (maior tempo de exposição causa maior perda), temperatura e umidade relativa do
ar ambiental e do coeficiente de evaporação do sifão. Em locais onde associam-se altas
temperaturas e baixos valores de umidade relativa do ar, maiores são as perdas por
evaporação. Outro fenômeno ainda a ser citado é o congelamento do fecho hídrico que pode
ocorrer em regiões de baixa temperatura, inviabilizando assim o escoamento, não sendo
comum no Brasil.

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5. CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS PREDIAIS DE ESGOTOS
SANITÁRIOS

5.1 Critério de Classificação


O critério básico de classificação do Sistema Predial de Esgoto Sanitário
refere-se ao tipo de ventilação existente no mesmo. Assim, tem-se as seguintes tipologias
básicas:
a) SPES com ventilação primária e secundária;
b) SPES apenas com ventilação primária.
Todavia, existem tipologias alternativas, dentre as quais salientam-se:
a) SPES com dispositivos de admissão de ar;
b) Sistema Sovent;
c) Sistema Gustavsberg.

5.2 Tipologias Básicas


5.2.1 SPES com ventilação primária e secundária
a) Ventilação através do tubo ventilador primário, coluna e ramais de ventilação.
Esta tipologia encontra-se ilustrada na Figura 22. A linha contínua representa o subsistema de
coleta e transporte de esgotos sanitários (aparelhos sanitários, ramais de descarga e de esgoto,
tubo de queda, subcoletores e coletores). Já a linha pontilhada representa o subsistema de
ventilação. O subsistema de ventilação desta tipologia divide-se em primário e secundário.
A ventilação primária é basicamente a extensão do tubo de queda além do ramal conectado
mais elevado; esta extensão é denominada tubo ventilador primário e sua extremidade fica em
contato com a atmosfera. Já a ventilação secundária é composta de colunas e ramais de
ventilação.
b) Ventilação através do tubo ventilador primário e coluna de ventilação.
Esta tipologia, conforme Figura 23, diferencia-se da tipologia anterior apenas pelo fato de não
apresentar ramais de ventilação, isto é, a ventilação secundária consta somente de uma
colunas conectadas ao tubo de queda.
5.2.2 SPES apenas com ventilação primária
Nesta tipologia, há apenas previsão da ventilação primária, através do prolongamento do tubo
de queda, conforme anteriormente comentado (Figura 24).

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Figura 22: SPES com ventilação através do tubo primário, coluna e ramais de ventilação.
Fonte: Fernandes, 1993.

Figura 23: SPES com ventilação através do tubo ventilador primário e coluna de ventilação. Fonte:
Fernandes, 1993.

Figura 24: SPES apenas com ventilação primária.


Fonte: Fernandes, 1993.

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5.3 Tipologias Alternativas
5.3.1 SPES com Dispositivos de Admissão de Ar
Conforme FERNANDES (1993), os dispositivos de admissão de ar são utilizados no intuito
de substituir os ramais e colunas de ventilação, equilibrando as pressões pneumáticas que
normalmente se estabelecem no interior do sistema quando sob solicitação.
Quanto à concepção, há dois tipos básicos de dispositivos de admissão de ar:
• válvulas de admissão de ar
• sifões auto-ventilados
a) Válvulas de Admissão de Ar
As válvulas de admissão de ar, em função de suas dimensões e pontos de instalação, dividem-
se em dois tipos:
- válvulas de topo de tubo de queda;
- válvulas para ramais.
As válvulas de topo de tubo de queda possuem dimensões maiores em relação às para ramais
e são instaladas de forma a evitar a perfuração dos telhados para a passagem de ventilação. a
Figura 25 ilustra uma válvula para topo de tubo de queda.

Figura 25: Válvulas de topo de tubo de queda.


Fonte: Fernandes, 1993.

As válvulas para ramais podem ser instaladas no topo do tubo de queda, porém, para a
instalação no tubo de queda há limitações a serem observadas quanto a somatória das
Unidades de Contribuição de Hunter (UHCs) e do diâmetro do tubo de queda. A Figura 26
apresenta a estrutura da válvula para ramais. A Figura 27 apresenta os posicionamentos
possíveis das válvulas.

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Figura 26: Componentes da válvula para ramais.
Fonte: Fernandes, 1993.

Figura 27: Posicionamento das válvulas.


Fonte: Catálogo da Studor.

Ambos os tipos de válvulas apresentam o mesmo mecanismo de funcionamento, conforme


pode ser observado na Figura 28. Quando ocorrem depressões pneumáticas no interior da
tubulação, o diafragma abre-se, possibilitando, assim, o acesso de ar para o interior da mesma
equilibrando, consequentemente, a pressão pneumática. Atingido tal equilíbrio, o diafragma
fecha-se e obstrui a saída dos gases.

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Figura 28: Princípio de funcionamento das válvulas de admissão de ar.
Fonte: Fernandes, 1993.

b) Sifões Auto-Ventilados
Consta de um sifão ao qual é acoplado um mecanismo que viabiliza sua auto-ventilação
quando surgem depressões pneumáticas no interior dos respectivos ramais, conforme
FERNANDES (1993).
5.3.2 Sistema SOVENT
Este sistema, segundo ASPE (1991), é composto, basicamente, pelos seguintes componentes
(ver Figura 29):
- um ramal de descarga por andar;
- tubo de queda único;
- uma conexão aeradora por andar;
- uma conexão deaeradora nas mudanças de direção.

Figura 29: Componentes do sistema SOVENT.


Fonte: Fernandes, 1993.

Tanto a conexão aeradora, assim como a deaeradora possuem a função de equilibrar as


pressões pneumáticas no interior da tubulação. A conexão aeradora equilibra as pressões

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negativas, enquanto os deaeradores aliviam as sobrepressões. Estas conexões encontram-se
esquematizadas na Figura 30.

Figura 30: Conexões do sistema “Sovent”.


Fonte: Fernandes, 1993.

5.3.3 Sistema Gustavsberg


O objetivo deste sistema é atender os requisitos básicos de um SPES, viabilizando
concomitantemente economia no consumo de água e redução das quantidades e diâmetros das
tubulações. Os componentes deste sistema são os seguintes:
- Bacia sanitária com caixa acoplada de volume reduzido de descarga;
- Diafragma instalado entre a bacia sanitária e o ramal de descarga, cuja função é
aumentar a capacidade de sifonagem da bacia;
- Tubulações em PVC, cujos diâmetros são reduzidos em conformidade aos volumes
reduzidos de descarga;
- Reservatório com sifão, no qual um certo volume de esgoto será acumulado,
viabilizando posterior carregamento dos dejetos, de maneira a garantir a auto-
limpeza das tubulações.
A Figura 31 ilustra o detalhe da bacia sanitária com caixa acoplada, reservatório com sifão e
diafragma. O nível a indica o limite de reservação de águas residuais oriunda de diversos
aparelhos sanitários. A Figura 32 demonstra o funcionamento do referido sistema.

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Figura 31: Componentes do sistema Gustavsberg.
Fonte: Graça, 1985.

Atingido o nível a, na seguinte descarga o sifão b é preenchido de esgoto, a ponto de gerar uma auto-sifonagem no reservatório.

A ação de auto-sifonagem esvazia o reservatório; na seqüência, mais ar é succionado, ventilando desta forma o sistema.
Figura 32: Funcionamento do sistema Gustavsberg.
Fonte: Graça, 1985.

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6. PROJETO DO SISTEMA PREDIAL DE ESGOTO SANITÁRIO
Neste capítulo é apresentada, inicialmente, a estrutura básica de um projeto do sistema predial
de esgoto sanitário. Posteriormente, encontram-se algumas recomendações técnicas
relacionadas ao desenvolvimento do projeto propriamente dito.
6.1 Estrutura Básica
As etapas do projeto do SPES são as seguintes:
1º) concepção;
2º) dimensionamento;
3º) elaboração do projeto de produção;
4º) quantificação e orçamentação;
5º) elaboração do projeto “como construído” (as built).
Inicialmente, concebe-se o SPES estabelecendo-se uma configuração que deverá ter um
desempenho adequado diante das diversas solicitações previstas. Devem ser consideradas,
igualmente nesta fase fatores como a integração deste sistema com os demais sistemas da
edificação, a normalização vigente, materiais e componentes disponíveis no mercado, etc.
Concebido o SPES e definida uma configuração, procede-se o dimensionamento do mesmo,
onde as dimensões obtidas deverão atender às solicitações previstas. Concluído o
dimensionamento do sistema, elabora-se o projeto para a produção, o qual consta de
simbologia utilizada, representações gráficas e um conjunto de documentos. A representação
gráfica deve conter, basicamente, o seguinte:
- planta baixa da cobertura, do pavimento tipo, do térreo e do subsolo, apresentando
os tubos de queda, ramais, desvios, colunas de ventilação e dispositivos diversos;
- planta baixa do pavimento inferior, apresentando os subcoletores, coletores,
dispositivos de inspeção, pontos de emissão dos esgotos sanitários, entre outros
detalhes específicos;
- esquema vertical (fluxograma) sem escala, no qual serão apresentados os
principais componentes do sistema;
- plantas dos ambientes sanitários apresentando o traçado e diâmetros das
tubulações, normalmente em escala 1:20;
- detalhes específicos.
No Anexo B são apresentadas a simbologia e algumas representações gráficas usualmente
empregadas no projeto dos SPES.
A documentação básica, por sua vez, é a seguinte:
a) memorial descritivo;
b) memória de cálculo;
c) especificações técnicas;
d) quantificação; e,
e) orçamentação.

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Conforme BAZZO e PEREIRA (1993), o memorial descritivo deve apresentar, basicamente,
as características da solução proposta. As justificativas dos métodos e técnicas para atingir tal
solução também devem ser apresentadas. A memória de cálculo consta da apresentação de
todo o dimensionamento e as referências normativas. As especificações técnicas devem
conter, basicamente, a especificação comercial dos materiais e os detalhes construtivos, entre
outras informações julgadas importantes.
Na seqüência realiza-se a quantificação e a orçamentação dos componentes do sistema. O
projeto “as built”, por fim, registrará aqueles detalhes executivos que não seguiram o projeto
de produção visando-se, assim, ter o registro fiel do sistema instalado.
6.2 Recomendações Gerais
As seguintes recomendações são de caráter geral e estão em conformidade com a NBR-8160
(ABNT,1999). Recomendações mais específicas devem ser observadas na norma citada.
a) Todos os aparelhos sanitários devem ser protegidos por desconectores, os quais podem
atender apenas um aparelho ou a um conjunto de aparelhos de um mesmo ambiente.
b) As caixas sifonadas podem ser utilizadas para a coleta dos despejos de conjuntos de
aparelhos sanitários (lavatórios, bidês, chuveiros) de um mesmo ambiente, além de águas
provenientes de lavagens de pisos; neste caso as caixas sifonadas devem ser providas de
grelhas. Quanto às bacias sanitárias, as mesmas já são providas internamente de um
desconector, devendo, assim, ser ligadas diretamente ao tubo de queda (Figura 33).

Figura 33: Bacia sanitária ligada diretamente ao tubo de queda


Fonte: Belinazo, 1993.

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c) Devem ser previstos dispositivos de inspeção nos ramais de descarga de pias de cozinha e
máquina de lavar louças (ver Figura 34).

Figura 34: Dispositivos de inspeção nos ramais de descarga das pias de cozinha
e Máquina de Lavar Roupas.

d) Os tubos de queda devem, sempre que possível, ser instalados em um único alinhamento.
Quando necessários, os desvios devem ser feitos com peças com ângulo central igual ou
inferior a 90º, de preferência com curvas de raio longo ou duas curvas de 45º.
e) Para edifícios de dois ou mais andares, quando os tubos de queda recebem efluentes
contendo detergentes geradores de espuma, pelo menos uma das seguintes soluções, a fim de
evitar o retorno de espuma para os ambientes sanitários, deve ser adotada:
- não conectar as tubulações de esgoto e de ventilação nas regiões de ocorrência de
sobrepressão;
- atenuar a sobrepressão através de desvios do tubo de queda para a horizontal,
utilizando uma curva de 90º de raio longo ou duas curvas de 45º;
- instalar de dispositivos que evitem o retorno de espuma.
São consideradas regiões de sobrepressão (ver Figura 35):
- o trecho, de comprimento igual a 40 diâmetros, imediatamente a montante de
desvio para horizontal, o trecho de comprimento igual a 10 diâmetros
imediatamente a jusante do mesmo desvio e o trecho horizontal de comprimento
igual a 40 diâmetros imediatamente a montante do próximo desvio;
- o trecho, de comprimento igual a 40 diâmetros, imediatamente a montante da base
do tubo de queda e o trecho do coletor ou subcoletor imediatamente a jusante da
mesma base;
- os trechos a montante e a jusante o primeiro desvio na horizontal do coletor ou
subcoletor, com comprimento igual a 40 diâmetros e a 10 diâmetros,
respectivamente;

25
- o trecho da coluna de ventilação, para o caso de sistemas com ventilação
secundária, com comprimento igual a 40 diâmetros, a partir da ligação da base da
coluna com o tubo de queda ou ramal de esgoto.

Figura 35: Zonas de sobrepressão.

f) Para pias de cozinha e máquinas de lavar louças, devem ser previstos tubos de queda
especiais com ventilação primária; estes tubos devem descarregar em uma caixa de gordura
coletiva.
g) Recomenda-se o uso de caixas de gordura para efluentes que contenham resíduos
gordurosos.
h) As pias de cozinha e/ou máquinas de lavar louças instaladas superpostas em vários
pavimentos devem descarregar em tubos de queda exclusivos, os quais conduzem os esgotos
para caixas de gordura coletivas; sendo vetado o uso de caixas de gordura individuais nos
andares.
i) O interior das tubulações deve ser sempre acessível através de dispositivos de inspeção.
j) Desvios em tubulações enterradas devem ser feitos empregando-se caixas de inspeção.
l) A extremidade aberta de um tubo ventilador primário ou coluna de ventilação:
- deve elevar-se verticalmente pelo menos 0,30 m acima da cobertura; todavia,
quando esta atender outros fins além de simples cobertura, a elevação vertical
deve ser, no mínimo, de 2,00 m (ver Figura 36); não sendo conveniente o referido
prolongamento, pode ser usado um barrilete de ventilação.
- deve conter um terminal tipo chaminé, tê ou outro dispositivo que impeça a
entrada das águas pluviais diretamente ao tubo de ventilação.

26
Figura 36: Prolongamento do tubo de queda e/ou coluna de ventilação.

m) O projeto do subsistema de ventilação deve ser feito de modo a impedir o acesso de esgoto
sanitário ao interior do mesmo.
n) O tubo ventilador primário e a coluna de ventilação devem ser verticais e, sempre que
possível, instalados em uma única prumada.
o) Todo o desconector deve ser ventilado. A distância máxima de um desconector até o ponto
onde o tubo ventilador que o serve está conectado consta na Tabela 1.
Tabela 1: Distância máxima de um
desconector ao tubo ventilador.
Diâmetro nominal Distância
do ramal de máxima
descarga DN (m)
40 1,00
50 1,20
75 1,80
100 2,40

p) Toda coluna de ventilação deve ter:


- diâmetro uniforme;
- a extremidade inferior ligada a um subcoletor ou a um tubo de queda, em ponto
situado abaixo da ligação do primeiro ramal de esgoto ou de descarga, ou neste
ramal de esgoto ou de descarga;
- a extremidade superior situada acima da cobertura do edifício, ou ligada a um
tubo ventilador primário a 0,15 m, ou mais, acima do nível de transbordamento da
água do mais elevado aparelho sanitário por ele servido.1

1
Entende-se por nível de transbordamento da água do mais alto dos aparelhos sanitários aquele referente aos
aparelhos sanitários com seus desconectores ligados a tubulação de esgoto primário (bacias sanitárias, pias de
cozinha, tanques de lavar, etc) excluindo-se aparelhos sanitários que despejem em ralos sifonados de piso. Não

27
q) Quando não for conveniente o prolongamento de cada tubo ventilador até acima da
cobertura, pode ser usado um barrilete de ventilação.
r) As ligações da coluna de ventilação aos demais componentes do sistema de ventilação ou
do sistema de esgotos sanitários devem ser feitas com conexões apropriadas:
- quando feita em uma tubulação vertical, a ligação deve ser executada por meio de
junção a 45°;
- quando feita em uma tubulação horizontal, deve ser executada acima do eixo da
tubulação, elevando-se o tubo ventilador de uma distância de até 0,15 m, ou mais,
acima do nível de transbordamento da água do mais alto dos aparelhos sanitários
por ele ventilados, antes de ligar-se a outro tubo ventilador, respeitando-se o que
se segue:
• a ligação ao tubo horizontal deve ser feita por meio de tê 90° ou junção 45°,
com a derivação instalada em ângulo, de preferência, entre 45° e 90° em relação
ao tubo de esgoto, conforme a Figura 37;
• quando não houver espaço vertical para a solução apresentada no item acima,
podem ser adotados ângulos menores, com o tubo ventilador ligado somente por
junção 45° ao respectivo ramal de esgoto e com seu trecho inicial instalado em
aclive mínimo de 2%;
• a distância entre o ponto de inserção do ramal de ventilação ao tubo de esgoto e
o cotovelo de mudança do trecho horizontal para a vertical deve ser a mais curta
possível.
s) Quando não for possível ventilar o ramal de descarga da bacia sanitária ligada diretamente
ao tubo de queda, o tubo de queda pode ser ventilado imediatamente abaixo da ligação do
ramal da bacia sanitária (ver Figura 38).
t) É dispensada a ventilação do ramal de descarga de uma bacia sanitária ligada através de
ramal exclusivo a um tubo de queda a uma distância máxima de 2,40m, desde que esse
tubo de queda receba, do mesmo pavimento, imediatamente abaixo, outros ramais de esgoto
ou de descarga devidamente ventilados, conforme Figura 39.
u) Bacias sanitárias instaladas em bateria devem ser ventiladas por um tubo ventilador de
circuito ligando a coluna de ventilação ao ramal de esgoto na região entre a última e a
penúltima bacia sanitária, conforme a Figura 40. Deve ser previsto um tubo ventilador
suplementar a cada grupo de, no máximo, oito bacias sanitárias, contadas a partir da mais
próxima ao tubo de queda.

devem ser considerados como pontos mais altos de transbordamento as grelhas dos ralos sifonados de piso,
quando o ramal a ser ventilado serve também para outros aparelhos não ligados diretamente aos mesmos.

28
Figura 37: Ligação de ramal de ventilação.

Figura 38: Ligação de ramal de ventilação. Impossibilidade de ventilação do ramal de


descarga da bacia sanitária.

Figura 39: Dispensa de ventilação de ramal de descarga de bacia sanitária.

29
Figura 40: Ventilação em circuito.

7. DIMENSIONAMENTO
As tubulações do SPES podem ser dimensionadas pelo Método das Unidades de Hunter de
Contribuição (UHC) ou pelo Método Racional devendo, em qualquer um dos casos, ser
respeitados os diâmetros mínimos dos ramais de descarga apresentados na Tabela 2,
apresentada na seqüência.
7.1 Método das Unidades de Hunter de Contribuição (UHC)
Este método baseia-se na atribuição de Unidades de Hunter de Contribuição (UHC) para cada
aparelho sanitário integrante do SPES em questão. Tais unidades constam na NBR
8160/1999, e encontram-se reproduzidos na Tabela 2. Definidas as UHC dos aparelhos
sanitários integrantes do sistema, inicia-se o dimensionamento dos demais componentes,
conforme será apresentado a seguir. No anexo C encontra-se um exemplo de
dimensionamento.
7.1.1 Subsistema de Coleta e Transporte de Esgoto Sanitário
a) Tubulações
- Ramais de Descarga:
Para os ramais de descarga devem ser adotados, no mínimo, os diâmetros apresentados na
Tabela 2. Para aparelhos não relacionados nesta tabela, devem ser estimadas as UHC
correspondentes e o dimensionamento deve ser feito pela Tabela 3.
- Ramais de esgoto:

30
Neste caso, deve ser utilizada a Tabela 4. Recomenda-se ainda, com relação às declividades
mínimas:
- 2% para tubulações com diâmetro nominal (DN) igual ou inferior a 75, e
- 1% para tubulações com diâmetro nominal (DN) igual ou superior a 100.

- Tubos de Queda
Os tubos de queda devem ser dimensionados pela somatória das UHC conforme a Tabela 5.
Todavia, quando apresentarem desvios da vertical, os tubos de queda devem ser
dimensionados da seguinte forma:
I) quando o desvio formar ângulo inferior a 45º com a vertical, o tubo de queda é
dimensionado pela Tabela 5;
II) quando o desvio formar ângulo superior a 45º com a vertical, deve-se dimensionar:
• a parte do tubo de queda acima do desvio como um tubo de queda independente,
com base no número de unidades Hunter de contribuição dos aparelhos acima do
desvio, de acordo com a Tabela 5; e a parte horizontal do desvio de acordo com a
Tabela 6, uma vez que, neste caso, o trecho é tratado como subcoletor;
• a parte do tubo de queda abaixo do desvio com base no número de unidades
Hunter de contribuição de todos os parelhos que descarregam neste tubo de queda,
de acordo com a Tabela 5, não podendo o diâmetro adotado, neste caso, ser menor
do que o da parte horizontal. Ver a figura 33, a qual ilustra a geometria dos desvios
e opções de ventilação.

Figura 33: Desvios do tubo de queda.


Fonte: ABNT, 1999.

31
- Coletor Predial e Subcoletores
O coletor predial e os subcoletores podem ser dimensionados pela somatória das UHC
conforme a Tabela 6. O coletor predial deve ter, no mínimo, um DN igual a 100.
No dimensionamento do coletor predial e dos subcoletores em prédios residenciais, deve
ser considerado apenas o aparelho de maior descarga de cada banheiro para a somatória do
número de unidades Hunter de contribuição. Nos demais casos, devem ser considerados todos
os aparelhos contribuintes para o cálculo do número de UHC.
Tabela 2: Unidades de Hunter de Contribuição dos aparelhos sanitários e diâmetro
nominal mínimo dos ramais de descarga.

Número de Diâmetro nominal


Aparelho sanitário Unidades de mínimo do ramal de
Hunter de descarga
Contribuição DN
bacia sanitária 6 100(1)
banheira de residência 2 40
bebedouro 0,5 40
bidê 1 40
chuveiro de residência 2 40
coletivo 4 40
lavatório de residência 1 40
de uso geral 2 40
mictório válvula de descarga 6 75
caixa de descarga 5 50
descarga automática 2 40
de calha 2 (2) 50
pia de cozinha residencial 3 50
pia de cozinha industrial preparação 3 50
lavagem de panelas 4 50
tanque de lavar roupas 3 40
máquina de lavar louças 2 50(3)
máquina de lavar roupas 3 50 (3)
(1) O diâmetro nominal DN mínimo para o ramal de descarga de bacia sanitária pode ser reduzido para DN75, caso
justificado pelo cálculo de dimensionamento efetuado pelo método hidráulico apresentado no anexo B e somente
depois da revisão da norma NBR 6452:1985 (aparelhos sanitários de material cerâmico) pela qual os fabricantes
devem confeccionar variantes das bacias sanitárias com saída própria para ponto de esgoto de DN75, sem
necessidade de peça especial de adaptação.
(2) Por metro de calha – considerar como ramal de esgoto (ver Tabela 5)
(3) Devem ser consideradas as recomendações dos fabricantes.

Fonte: ABNT, 1999.

32
Tabela 3: Unidades de Hunter de contribuição para
aparelhos não relacionados na Tabela 2.
Diâmetro nominal mínimo Número de unidades de
do ramal de descarga Hunter de contribuição
(DN) (UHC)
40 2
50 3
75 5
100 6
Fonte: ABNT, 1999.

Tabela 4: Dimensionamento de ramais de esgoto.

Número máximo de
Diâmetro nominal do tubo Unidades de Hunter de
(DN) Contribuição
(UHC)
40 3
50 6
75 20
100 160
Fonte: ABNT, 1999.

Tabela 5: Dimensionamento de tubos de queda.

Número máximo de Unidades de Hunter de Contribuição


Diâmetro
nominal do tubo (UHC)
(DN) Prédio com mais de 03
Prédio de até 03 pavimentos
pavimentos
40 4 8
50 10 24
75 30 70
100 240 500
150 960 1900
200 2200 3600
250 3800 5600
300 6000 8400
Fonte: ABNT, 1999.

33
Tabela 6: Dimensionamento de subcoletores e coletor predial.

Diâmetro nominal Número máximo de Unidades Hunter de Contribuição em


do tubo função das declividades mínimas
(DN) (%)
0,5 1 2 4
100 --- 180 216 250
150 --- 700 840 1000
200 1400 1600 1920 216
250 2500 2900 3500 840
300 3900 4600 5600 1920
400 7000 8300 10000 3500
Fonte: ABNT, 1999.

b) Desconectores
Os desconectores devem atender aos seguintes requisitos:
I) ter fecho hídrico com altura mínima de 0,05 m;
II) apresentar orifício de saída com diâmetro igual ou superior ao do ramal de descarga a ele
conectado.
As caixas sifonadas devem ser dimensionadas conforme a Tabela 7.
Tabela 7: Dimensionamento das caixas sifonadas.

Diâmetro Nominal – DN Valor máximo de


(mm) UHC a montante
da caixa sifonada
100 06
125 10
150 15
Fonte: ABNT, 1999.
No caso das caixas sifonadas especiais, o fecho hídrico deve ter altura mínima de 0,20 m; as
mesmas devem ser fechadas hermeticamente com tampa facilmente removível e o orifício de
saída deve ter o diâmetro nominal, de no mínimo 75.
c) Dispositivos Complementares
c.1) Caixas de Gordura
As caixas de gordura são dimensionadas em função do número de cozinhas por elas
atendidas. Desta forma, assim procede-se:
- para a coleta de apenas uma pia de cozinha pode ser usada a caixa de gordura
pequena;
- para a coleta de uma ou mais cozinhas deve ser usada, pelo menos, a caixa de
gordura simples;

34
- para a coleta de duas a doze cozinhas deve ser usada, pelo menos, a caixa de
gordura dupla;
- para a coleta de mais de doze cozinhas, ou ainda, para cozinhas de restaurantes,
escolas, hospitais, quartéis, etc. devem ser previstas caixas de gordura especiais.
A tipologia das caixas de gordura em função de suas dimensões características é apresentada
na Tabela 8.
Tabela 8: Tipologia das caixas de gordura em função das dimensões características
Características Tipologia
Caixa de Caixa de Caixa de Caixa de
Gordura Gordura Gordura Gordura
Pequena Simples Dupla Especial
(CGP) (CGS) (CGP) (CGE)
diâmetro interno
(m) 0,30 0,40 0,60 ----
parte submersa do septo
(m) 0,20 0,20 0,35 0,40
capacidade de retenção
(l) 18,00 31,00 120,00
diâmetro nominal da
tubulação de saída (mm) 75 75 100 100
Fonte: ABNT, 1999.

Com relação a caixa de gordura especial (CGE), prismática de base retangular, as seguintes
características devem ainda ser apresentadas:
- o volume da câmara de retenção de gordura obtido pela fórmula:
V = 2N + 20
Onde:
N - número de pessoas servidas pelas cozinhas que contribuem para a caixa de gordura
V - volume em litros
- a altura molhada deve ser de 0,60 m;
- a distância mínima entre o septo e a saída deve ser de 0,20 m.
b) Dispositivos de Inspeção
b.1) Caixas de Inspeção:
A caixa de inspeção é um dispositivo destinado a permitir a inspeção, limpeza, desobstrução
das canalizações, a junção de coletores e a mudança de declividade.
b.2) Caixas de Passagem:
Caixas de passagem são dispositivos que permitem a inspeção, limpeza e desobstrução das
canalizações de esgoto. São caixas de inspeção com apenas uma entrada e uma saída para o
esgoto. Quando cilíndricas, devem ter diâmetro mínimo de 0,15 m e, quando prismáticas de
base poligonal, permitir na base a inscrição de um círculo de diâmetro mínimo de 0,15 m; as
mesmas devem possuir grelha ou tampa cega, e uma altura mínima de 0,10 m.

35
c) Instalação de Recalque
Esta instalação é utilizada para recalcar os esgotos acumulados em caixas coletoras situadas
abaixo do nível da rede pública de esgoto, provenientes de aparelhos sanitários e de
dispositivos instalados nesse nível. A caixa coletora, é disposta de modo a receber todo o
esgoto por gravidade, sendo que, a partir dela, recalca-se o esgoto para o coletor predial ou
dispositivo de tratamento de esgotos por meio de bombas.
O dimensionamento da instalação de recalque deverá considerar aspectos como a capacidade
da bomba, que deverá atender à vazão máxima provável de contribuição dos aparelhos e
dispositivos instalados que possam estar em funcionamento simultâneo, o tempo de detenção
do esgoto na caixa e o intervalo de tempo entre duas partidas consecutivas do motor.
Quanto ao dimensionamento da caixa coletora, a mesma deve ter a sua capacidade calculada
de modo a evitar a freqüência exagerada de partidas e paradas das bombas por um volume
insuficiente, bem como a ocorrência de estado séptico por um volume exagerado.
O volume útil da caixa coletora (Vu), ou seja, o volume compreendido entre o nível máximo e
o nível mínimo de operação da caixa (faixa de operação da bomba), pode ser determinado
através da seguinte expressão:
Qxt
Vu = ---------------
4

Onde:
Q = capacidade da bomba, em m3 / min, determinada em função da vazão afluente de esgotos
à caixa coletora;
t = intervalo de tempo entre duas partidas consecutivas do motor, em min.

O tempo de detenção do esgoto na caixa coletora (d) pode ser determinado a partir da
seguinte equação:
Vt
d = ----------
q

Onde:
d = tempo de detenção, em min.
Vt = volume total da caixa coletora, em m3.
q = vazão média de esgoto afluente, em m3 / min.

O tempo de detenção do esgoto na caixa não deve ultrapassar 30 minutos. Quando receber
efluentes de bacias sanitárias, a caixa coletora, deve possuir uma profundidade mínima de
0,90 m, a contar do nível da geratriz inferior da tubulação afluente mais baixa. O fundo deve
ser suficientemente inclinado para impedir a deposição de materiais sólidos quando a caixa
for esvaziada completamente. A caixa coletora também deve ser ventilada por um tubo
ventilador primário, independente de qualquer outra ventilação utilizada no edifício. Por outro
lado, caso a caixa coletora não receba efluentes de bacias sanitárias, a profundidade mínima a
ser considerada é de 0,60 m.
As tubulações de sucção devem ser uma para cada bomba e possuir diâmetro uniforme e
nunca inferior aos das tubulações de recalque. Já as tubulações de recalque devem atingir um

36
nível superior ao da rede de maneira que impossibilite o refluxo dos esgotos, devendo ser
providas de dispositivos para este fim.
É recomendável que a capacidade da bomba seja considerada como sendo igual a duas vezes
a vazão afluente de esgotos sanitários e que o intervalo entre duas partidas consecutivas do
motor não seja inferior a 10 minutos, no sentido de se preservar os equipamentos
eletromecânicos de freqüentes esforços de partida.
7.1.2) Componentes do Subsistema de Ventilação
São apresentados a seguir os critérios a serem coletados para o dimensionamento do sistema
de ventilação secundária.
a) Ramal de Ventilação: os diâmetros mínimos a serem utilizados constam na Tabela 9;
b) Coluna de Ventilação: Os diâmetros nominais mínimos são apresentados na Tabela 10, em
função das UHC e do comprimento. Este comprimento é medido desde a extremidade
superior da coluna, que se encontra em contato a com atmosfera até sua base, no encontro
com o tubo de queda;
c) Barrilete de Ventilação: Os diâmetros nominais mínimos são apresentados na Tabela 10. O
número de UHC de cada trecho é a soma das unidades de todos os tubos de queda servidos
pelo trecho e o comprimento a considerar é o mais extenso, da base da coluna de ventilação
mais distante da extremidade aberta do barrilete até essa extremidade;

Tabela 9: Dimensionamento de ramais de ventilação

Grupo de aparelhos sem bacias Grupo de aparelhos com bacias sanitárias


sanitárias
Número de Diâmetro nominal Número de Unidades Diâmetro nominal
Unidades Hunter do ramal de Hunter de do ramal de
de Contribuição ventilação Contribuição ventilação
até 12 40 até 17 50
13 a 18 40 18 a 60 75
19 a 36 50 --- ---
Fonte: ABNT, 1999.

37
Tabela 10: Dimensionamento de colunas e barriletes de ventilação
Diâmetro Número de
nominal do Unidades Diâmetro nominal mínimo do tubo de ventilação
tubo de queda Hunter de
ou do ramal de Contribuição 40 50 75 100 150 200 250 300
esgoto
(UHC) Comprimento permitido (m)
(DN)
40 8 46 -- -- -- -- -- -- --
40 10 30 -- -- -- -- -- -- --
50 12 23 61 -- -- -- -- -- --
50 20 15 46 -- -- -- -- -- --
75 10 13 46 317 -- -- -- -- --
75 21 10 33 247 -- -- -- -- --
75 53 8 29 207 -- -- -- -- --
75 102 8 26 189 -- -- -- -- --
100 43 -- 11 76 299 -- -- -- --
100 140 -- 8 61 229 -- -- -- --
100 320 -- 7 52 195 -- -- -- --
100 530 -- 6 46 177 -- -- -- --
150 500 -- -- 10 40 305 -- -- --
150 1100 -- -- 8 31 238 -- -- --
150 2000 -- -- 7 26 201 -- -- --
150 2900 -- -- 6 23 183 -- -- --
200 1800 -- -- -- 10 73 286 -- --
200 3400 -- -- -- 7 57 219 -- --
200 5600 -- -- -- 6 49 186 -- --
200 7600 -- -- -- 5 43 171 -- --
250 4000 -- -- -- -- 24 94 293 --
250 7200 -- -- -- -- 18 73 225 --
250 11000 -- -- -- -- 16 60 192 --
250 15000 -- -- -- -- 14 55 174 --
300 7300 -- -- -- -- 9 37 116 287
300 13000 -- -- -- -- 7 29 90 219
300 20000 -- -- -- -- 6 24 76 186
300 26000 -- -- -- -- 5 22 70 152
Fonte: ABNT, 1999.

38
7.2 Dimensionamento Racional
(Texto elaborado a partir de ILHA; SANTOS (1994))

O dimensionamento racional visa flexibilizar a atuação do projetista do SPES, outorgando ao


mesmo um poder de decisão maior do que aquele proporcionado pela metodologia
convencional. Acredita-se que tal flexibilização auxilie substancialmente as emergentes
necessidades de racionalização e otimização na Construção Civil.
Este dimensionamento racional consta basicamente em estabelecer, em princípio, uma
configuração inicial para o SPES apenas com ventilação primária; na seqüência, segue-se com
a determinação probabilística das vazões de projeto, caracterização das vazões de descarga
dos aparelhos sanitários, dimensionamento das tubulações e a verificação da suficiência da
ventilação primária. Caso esta não seja suficiente, altera-se a geometria da configuração
inicial proposta ou concebe-se para a mesma a ventilação secundária. Caberá ao projetista a
definição da melhor solução. A idéia é que esta metodologia racional seja suficientemente
abrangente, oferecendo ao projetista condições de trabalhar as diversas variáveis de projeto,
isto é, flexibilidade. A escolha do tipo de bacia sanitária, por exemplo, poderá estar definindo
o nível de ventilação necessária.
7.2.1) Apresentação do Dimensionamento Racional
A seguir será abordada a determinação probabilística da vazão de projeto e o equacionamento
racional propriamente dito, onde equações básicas da hidráulica e algumas de suas variantes
são utilizadas. Diversas formulações específicas desenvolvidas por pesquisadores do assunto
são consideradas como, por exemplo, a determinação da velocidade e comprimento terminais,
a capacidade do tubo de queda , entre outras. Por último será apresentada a idéia básica do
modelo matemático para verificar a necessidade da ventilação secundária, este desenvolvido
por GRAÇA (1985).
a) Vazão de Projeto
Uma postura adequada para determinar a vazão de projeto é considerá-la como função da
simultaneidade de uso e da tipologia dos aparelhos sanitários. Há diversos métodos
probabilísticos desenvolvidos para determinar a simultaneidade de uso, muitos deles baseados
nas distribuições normal, binomial e multionomial. Entre estes métodos, pode-se citar os
trabalhos de Hunter, Webster, Courtney, Konen e Murakawa, conforme GONÇALVES
(1986). Este autor também desenvolveu um modelo probabilístico o qual é aberto para a
entrada de diversos dados específicos da realidade de cada projeto. É importante também
salientar que tais métodos estatísticos permitem ao projetista estabelecer qual o nível de
confiança que o mesmo deseja trabalhar. Quanto ao levantamento da tipologia dos aparelhos
sanitários, mais especificamente as bacias sanitárias, cresce em importância a escolhas de
bacias eficientes mas de reduzido consumo de água, conforme ROCHA (1992).
b) Equacionamento
b.1) Dimensionamento o Subsistema de Coleta e Transporte de Esgoto Sanitário.
O escoamento no tubo de queda é considerado anular, isto é, o esgoto escoando pelas paredes
do tubo de queda na forma de um cilindro ôco onde circula ar. Em qualquer seção transversal
deste escoamento, a razão entre a seção de água e a seção de ar deve situar-se entre 1/4 e 1/3,
de maneira a evitar que o escoamento preencha totalmente a seção transversal, condição esta
que perturbaria sensivelmente as pressões de ar no interior do sistema.

39
O diâmetro do tubo de queda pode ser determinado a partir da seguinte equação:
0,116 n3/8 Qtq3/8
dtq = --------------------------- (01)
to5/8

Onde:
dtq = diâmetro interno do tubo de queda, em m;
Qtq = vazão de projeto no tubo de queda, em l/s;
1/3
n = coeficiente de Manning, em s/m ;
to = taxa de ocupação de água durante o escoamento no tubo de queda.

Esta equação é uma variante da equação de Manning para escoamento anular e permanente,
onde o valor de Qtq é aquele onde ocorre a velocidade terminal. Sendo o escoamento no tubo
de queda anular, o valor do to pode ser expresso da seguinte forma:

to = Se / Stq (02)

Onde:
Se = área da seção transversal da coroa circular por onde escoa a água no tubo de queda;
Stq = área da seção transversal do tubo de queda

A fim de se garantir a manutenção do escoamento anular no tubo de queda, recomenda-se


utilizar to entre 1/4 e 1/3 conforme, comentado anteriormente. A velocidade terminal tem a
seguinte formulação, conforme SWAFFIELD; CAMPBELL (1995):

Vt = 13 (Qtq / dtq) 2/5 (03)

Onde:
Vt = velocidade terminal, em m/s;
dtq = diâmetro interno do tubo de queda, em mm.

Com relação à vazão de projeto, a mesma pode ser obtida através das diversas metodologias
citadas no item 3.4. Utilizando-se, por exemplo, a distribuição binomial, a qual foi
incorporada no texto da NBR-8160 conforme ILHA; SANTOS (1994), tem-se a seguinte
formulação básica:
N
Qtq = ∑ (mi ∗ qi ) (04)
1
Onde:
Qtq = a vazão de projeto no trecho considerado (l/s);
i = índice representativo do tipo de aparelho sanitário;
N = número de tipos de aparelhos sanitários no trecho considerado;
mi = número de aparelhos sanitários do tipo i a serem considerados em uso simultâneo,
entre J aparelhos instalados, para um dado fator de falha;
J = número de aparelhos sanitários do tipo i instalados no trecho considerado;
qi = vazão unitária do aparelho sanitário do tipo i (l/s).

40
A distribuição binomial estabelece, para um dado nível de confiança a ser estipulado pelo
projetista, o número de aparelhos sanitários do tipo i em uso simultâneo (mi) entre o total
instalado ao trecho considerado (J). O tipo de aparelho sanitário em questão determinará as
respectivas vazões a serem fornecidas pelos fabricantes, assim como as freqüências de uso e
durações das descargas, as quais são dados de campo.
O diâmetro dos ramais de descarga, ramais de esgoto, sub-coletores e coletor predial pode ser
calculado a partir da seguinte equação, considerando-se escoamento à meia seção:
n3/8 Qe3/8 I-3/16
de = ---------------------- (05)
6,644
Onde:
de = diâmetro do trecho considerado, em m;
n = coeficiente de Manning, em s/m1/3 ;
Qe = vazão no trecho considerado, em l/s;
I = declividade do trecho considerado em m/m.
A vazão em cada trecho, no caso do ramal de descarga, será dada por:

Qe = qi (06)

A vazão em cada trecho, no caso do ramal de esgoto, será dada por:


N
Qe = ∑ (mi ∗ qi ) (07)
1
Onde:
N = número de tipos de aparelhos sanitários no trecho considerado;
mi = número de aparelhos sanitários do tipo i a serem considerados em uso, simultâneo, para
um dado fator de falha;
qi = vazão de contribuição do aparelho sanitário do tipo i.

A vazão em cada trecho, no caso dos sub-coletores, será dada por:

Qe = Qtq (08)

A vazão em cada trecho, no caso do coletor predial, será dada por:

N
Qe = ∑ (mi ∗ qi ) (09)
1

A declividade I adotada na equação 05 para o dimensionamento dos sub-coletores e coletores


deve ser testada quanto as condições de arraste do material sólido através do princípio da
tensão trativa:
Tr = γ Rh I ≥ 1,0 Pa (10)
Onde:
Rh = raio hidráulico, em m;
Tr = tensão trativa, em Pa;
γ = peso específico, em N/m2 .

41
b.2) Dimensionamento do Subsistema de Ventilação
O subsistema de ventilação pode ser composto por tubulações ou dispositivos de ventilação
ou, ainda, uma combinação de ambos. O equacionamento da ventilação primária, isto é, o
valor do diâmetro do tubo de queda que propicie uma vazão de ar que equilibre as pressões
pneumáticas, no interior do sistema, em torno da pressão atmosférica, é dado pela seguinte
equação, conforme GRAÇA (1985):
Qar = c Qtq2/5 - 1,5 Qtq (11)
Onde:
Qar = vazão de ar que escoa pelo núcleo de ar no tubo de queda, em l/s;
c = coeficiente adimensional;
Qtq = vazão de projeto no tubo de queda, em l/s.

Já para o dimensionamento das tubulações da ventilação secundária, a seguinte equação é


utilizada considerando-se uma perda de carga máxima de 25mmca e desconsiderando-se a
perda de carga nas singularidades de acordo ASPE (1991):

Dv = 4,06 [f Lv (Qar')2)]1/5 (12)


Onde:
Dv = diâmetro da tubulação de ventilação, em mm;
Lv = comprimento da tubulação de ventilação, em mm;
f = coeficiente de perda de carga distribuída, adimensional;
Qar’ = vazão de ar na tubulação de ventilação, em l/s.

A vazão de ar na coluna de ventilação é estimada como sendo igual a 2/3 da vazão de


ar no interior do tubo de queda, chegando-se, então, a seguinte relação:

Qar' = 40 Qar (13)

Onde
Qar = neste caso é a vazão de ar na coluna de ventilação, sendo obtida em l / min.

Caso a ventilação secundária seja composta por dispositivos de ventilação, serão necessárias
as especificações dos fabricantes, de acordo com FERNANDES (1993).

c) Modelo para Verificação da Necessidade da Ventilação Secundária


A verificação da necessidade da ventilação secundária em um SPES com tubo de queda único
(sistema sem ramais e colunas de ventilação) é possível através da utilização de um
equacionamento desenvolvido por GRAÇA (1985), onde são determinadas, a partir do
conhecimento das características geométricas do sistema e das condições climáticas do
ambiente , as magnitudes estimadas e admissíveis das variáveis referentes às perdas de altura
do fecho hídrico assim como as pressões desenvolvidas no interior do sistema. O conjunto de
inequações a seguir, se obedecido, indica não ser necessária a ventilação secundária:

42
a) Ha,i ≥ Hr,i b) Da,s ≥ Dr c) Sa,s ≥ Sr

Onde :
Ha,i = perda de altura do fecho hídrico admissível para o desconector i (mm);
Hr,i = perda de altura do fecho hídrico provocada por auto-sifonagem (mm);
Da,s = depressão admissível no sistema (N/m2);
Dr = depressão máxima provocada pelos efeitos de sifonagem induzida, tiragem térmica e
ação do vento e das variações da pressão ambiental (N/m2);
Sa,s = sobrepressão admissível no sistema (N/m2);
Sr = sobrepressão máxima no sistema ( N/m2).

As variáveis Ha,i , Da,s e Sa,s dependem das características geométricas do sistema, enquanto
as variáveis Hr,i , Dr e Sr dependem das condições ambientais dos fenômenos associados ao
escoamento. Todas as equações envolvendo estas variáveis, as quais formam um
equacionamento bastante extenso e complexo, estão detalhadamente apresentadas em
GRAÇA (1985).

8. MATERIAIS E COMPONENTES DO SISTEMA PREDIAL DE


ESGOTO SANITÁRIO
Neste capítulo são apresentados alguns materiais e componentes normalmente utilizados no
SPES.
8.1 Tubos e Conexões
Os tubos e conexões comerciais encontram-se em vários tipos de materiais, entre eles o PVC
rígido, a cerâmica vidrada, o fibrocimento e o ferro fundido os quais serão apresentados na
seqüência. Em função da grande diversidade de recomendações existentes relativas à
execução, as mesmas não serão apresentadas neste item. Todavia, tais recomendações devem
ser observadas nos catálogos dos respectivos fabricantes.
8.1.1 PVC Rígido
Existem duas séries de tubos de PVC: Série normal (tubos com parede de menor espessura) e
série reforçada (tubos com parede de espessura maior).
A produção de tubos e conexões em PVC rígido deve atender às especificações contidas na
NBR-5688 e NBR-7362. Para utilização deste material, a NBR 8160 prescreve os seguintes
requisitos básicos a serem atendidos:
a) os tubos e conexões devem ser protegidos contra choques e esforços de compressão;
b) o referido material não deve ser exposto a temperaturas recomendadas pelos fabricantes.
8.1.2 Cerâmica Vidrada
Os tubos e conexões de cerâmica vidrada devem atender os requisitos da NBR-5645. Quanto
à sua utilização, a NBR-8160 não permite o uso deste material em instalações aparentes ou
embutidas. É importante também salientar que as tubulações deste material não devem ser
expostas à choques e perfurações, tampouco serem utilizados em terrenos onde desenvolvam-
se recalques.

43
8.1.3 Fibrocimento
Segundo a NBR-8160/1999, a utilização de tubos e conexões de fibrocimento em instalações
aparentes ou embutidas são possíveis apenas quando forem utilizadas juntas elásticas. Além
disso, faz-se também necessário o uso de proteção adequada contra choques.
8.1.4 Ferro Fundido
Os tubos e conexões desse material devem atender os requisitos da NBR-8161. Com relação à
sua utilização entretanto, os requisitos a serem atendidos constam na NBR-8160, a qual
basicamente expressa que o ferro fundido deve apresentar revestimento adequado.
Neste sentido, os fabricantes oferecem revestimentos betuminosos, tintas asfálticas, tintas à
base de borracha clorada, tintas à base de resinas epóxicas, entre outros, segundo
MACINTYRE (1996). Convém também salientar que este material pode ser enterrado, desde
que adequadamente protegido, conforme já comentado. Os tubos de ferro fundido devem
apresentar as seguintes características (Empacotando Sistemas Prediais,1999):
• alta resistência contra choques;
• alta resistência a produtos químicos;
• baixo nível de ruído na condução dos esgotos;
• serem incombustíveis; e
• alta durabilidae.
8.2 Aparelhos Sanitários
Exemplos de aparelhos sanitários, cuja função básica é a coleta das águas servidas são: bacia
sanitária, lavatório, banheira, mictório, etc. Há também equipamentos como a máquina de
lavar roupas, a máquina de lavar pratos, entre outros.
As bacias sanitárias podem ser utilizadas com à caixas de descarga (suspensas ou acopladas)
ou à válvulas de descarga.
Devido a grande variedade de modelos dentro de cada tipo de aparelhos/equipamentos
sanitários, as cotas dos pontos de alimentação de água fria e quente e também de esgoto
sanitário podem diferir de forma significativa . É recomendável consultar a especificação
técnica de cada aparelho para que a locação destes pontos seja precisa e não ocasione
retrabalho na obra. No anexo D encontram-se as distâncias dos pontos de esgoto dos
aparelhos sanitários.

9. BIBLIOGRAFIA
ABNT. Sistema Predial de Esgoto Sanitário – Projeto e execução - NBR 8160,
Brasil,1999.
AMERICAN SOCIETY OF PLUMBING ENGINEERS (ASPE-1991)
ASPE. Vents & Venting. ASPE DATA BOOK. Chapter 1, USA, 1988.
BAZZO, W.A.; PEREIRA, L.T.V. Introdução à Engenharia. Editora da UFSC,
Florianópolis, 1993.
BELINAZO, H. J. Manual de Instalações Hidráulicas e Sanitárias. Santa Maria, 1993.
Empacotando Sistemas Prediais – CD-ROM da Serie Empacotando Edifícios.
São Paulo, 1999.

44
FERNANDES, V. M. C. Influência do Uso de Dispositivos de Admissão de Ar no
Comportamento Hidráulico-Pneumático dos Sistemas Prediais de Coleta de Esgotos
Sanitários de Edifícios Residenciais. PCC -EPEUSP, São Paulo, 1993.
GRAÇA, M. E. A. Formulação de modelo para a avaliação das condições determinantes
da necessidade de ventilação secundária em sistemas prediais de coleta de esgotos
sanitários. PCC -EPUSP, São Paulo, 1985.
GONÇALVES, O. M. Formulação de modelo para o estabelecimento de vazões de
projeto em sistemas prediais de distribuição de água fria, São Paulo, 1986.
GOLNÇALVES, O. M. Execução e manutenção de sistemas hidráulicos prediais. Editora
PINI, São Paulo, 2000.
ILHA, M. S. O. ; SANTOS, D. C. Normalização de sistemas prediais de esgoto sanitário.
In: VIII Simpósio nacional de instalações prediais. São Paulo, 1994. Anais do VIII
Simpósio nacional de instalações prediais. p31-37.
MACINTYRE, A.J. Instalações Hidráulicas Prediais e Industriais. Livros Técnicos e
Científicos Editora, Rio de Janeiro, 1996.
MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO (MPO). Metas mobilizadoras
nacionais. PROGRAMA BRASILEIRO DA QUALIDADE E PRODUTIVIDADE
(PBQP).SECRETARIA DE POLÍTICA URBANA (SEPURB). Brasília. Julho, 1998.
WILLY, R. S; EATON, H. N. Capacities of stacks in sanitary drainage systems for
buildings. Washington, D.C., National Bureau of standards, 1961 (Monograph 31 –
Reprinted with correction in 1965).

45
ANEXO A
DETALHES DE PROJETO DO SISTEMA HIDRÁULICO PREDIAL DE
ESGOTO SANITÁRIO

Figura A1 – Solução para Lavanderia e Cozinha.

Figura A2 – Adaptador para máquina de lavar roupa.

46
58
ANEXO C
EXEMPLO NUMÉRICO

Figura C1 – Solução Banheiro Social – Planta

Corte CC

Figura C2 – Solução Banheiro Social - Corte

59
Dimensionamento pelo Método das Unidades de Hunter de Contribuição

DADOS:
Pé Direito: 2,85m
N° pavimentos: 8 + térreo+ casa de máquinas + subsolo
Cobertura: Laje imperbeabilizada
1- Ramais de descarga (Tabela. 2 – página 39 ):

Aparelho Sanitário U Ramal de Descarga (DN)


HC
Bacia Sanitária 6 100
Lavatório 1 40
Chuveiro 2 40

2- Ramais de esgoto (Tabela 4 – página 40):


DN ≤ 75 ⇒ i min = 2%
DN ≥ 100 ⇒ i min = 1%

Ramal de Esgoto S UHC DN


B-D (1 + 2) =3 50
D – TQ 04 (1 + 2) + 6 = 9 100

3- Tubo de queda (Tabela 5 – página 40):

Tubo de queda S UHC DN


TQ 04 9 x 8 = 72 100

4- Ramal de Ventilação (Tabela 9 – página 45):

Ramal de Ventilação S UHC DN


tê – CV03 (1 + 2) + 6 = 9 < 50

5- Coluna de Ventilação (Tabela 10 – página 46):

Coluna de ventilação S UHC Lcoluna ( metros) DN


o
soma UHC x n 2,85 x (8 + 1 + 1) +
CV 03 pav. 0,3 = 28,8 75
9 x 8 = 72
Medidas em metros

60
ANEXO D
DISTÂNCIAS DOS PONTOS DE ESGOTO DOS APARELHOS
SANITÁRIOS

• Bacia sanitária
• Com caixa suspensa/embutida
b 26 30 17

• Bacia sanitária
• Com caixa acoplada
a 20 11,4 20 20
b 15 14 15 14
c 30,5 30,5 30 30

61
• Bacia sanitária
• Com válvula de descarga
a 33 33 33
b 26 30 17

• Linha infantil

• Mictório
• Suspenso

62
• Mictório
• até o piso

• Lavatório
• Cuba em tampo

• Lavatório
• Com pedestal

63
• Lavatório
• suspenso

• Chuveiro

• Tanque
a 12 12,5 18
b 45 45 45
c 110 110 110

64
• Máquina de Lavar roupas

• Máquina de Lavar pratos

• Torneira de jardim

65
• Pia de cozinha
• Cuba simples

• Pia de cozinha
• Cuba dupla

66

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