Você está na página 1de 16

Curso de Engenharia Civil

Instalações Hidráulicas Prediais

Modulo II – Esgotos Sanitários

2020

Roberto Levy Gonçalves Vilela


Redes de Esgotos Sanitários

As redes de esgotos sanitários, destinam-se a coletar e conduzir para o exterior das


edificações as águas usadas, dando-lhes como destinação a rede pública de esgotos,
ou, quando não houver rede pública, um sistema de tratamento que é constituído
por fossas sépticas e sumidouros. A NORMA NBR 8160 da ABNT define as
condições a serem atendidas para que sejam garantidas as condições de higiene;
segurança economia e conforto dos usuários.
Estas condições resumem-se nas seguintes:

Evitar contaminação da água potável (água fria);


Permitir o rápido e seguro escoamento da água utilizada, evitando a ocorrência de
vazamentos e a formação de depósitos no interior dos tubos;
Impedir que gases provenientes da tubulação de esgotamento atinjam as áreas de
utilização da água potável, assegurando a retirada destes gases e seu lançamento no
meio exterior.
Impossibilitar o acesso de corpos estranhos ao interior das tubulações;
Permitir a fácil inspeção dos componentes;
Permitir a fácil fixação e remoção dos aparelhos sanitários facilitando, assim, a
manutenção das instalações.

O dimensionamento de fossas sépticas e sumidouros conforme definido no parágrafo


inicial deverá seguir recomendações das Normas NBR 7229 (fossas sépticas) e NBR
– 3969 (sumidouros) da ABNT.
As figuras 15; 16 e 17, a seguir, apresentam esquematicamente as partes
constituintes de uma instalação predial de esgoto sanitário.

Ralo seco

Caixa sifonada

1
Figura 15 – Partes Constituintes de uma instalação predial de esgoto

Figura 16 – Corte esquemático mostrando as partes constituintes de uma


instalação de esgoto sanitário

Figura 17 – Ligações dos ramais de esgoto sanitário

2
● Ramal de Descarga
Ramal de descarga é a tubulação que interliga os efluentes de cada aparelho
sanitário (lavatórios; bidês; banheiras e tanques, exceto bacia sanitária), bem como
de ralos secos (chuveiros), transferindo-os inicialmente à caixa sifonada (ver figura
19). A caixa sifonada por sua vez estará interligada ao ramal de descarga da bacia
sanitária. O ramal de descarga da bacia sanitária, por outro lado deverá ser
conectado diretamente ao tubo de queda sem passar pela caixa sifonada. O tubo de
queda conduzirá verticalmente os efluentes (ver figuras 15 e 17), lançando-os no
coletor predial, previsto no nível mais inferior da edificação.

● Sifão
O sifão, também denominado desconector, é previsto na saída de cada aparelho
sanitário e destina-se a isolar a tubulação de descarga do aparelho de forma a
impedir a passagem de gases contaminados e com odores desagradáveis, do interior
desta tubulação para o meio exterior, o que poderia ocorrer através destes aparelhos
sanitários. Esta característica dos sifões denomina-se vedação hídrica. De acordo
com a norma NBR-8160, à exceção dos ralos secos e das bacias sanitárias(estas
possuem seu próprio sifão) todos os demais aparelhos sanitários devem ser dotados
de desconectores (ver figura 18).

Figura 18 – Sifão instalado em pia(desconector)

● Caixa Sifonada

Conforme descrito anteriormente, as caixas sifonadas (ver figura 19) destinam-se a


receber os efluentes dos aparelhos sanitários e ralos, à exceção dos efluentes das
bacias sanitárias. Funcionam também como desconectores por proporcionarem
vedação hídrica. Sua localização deve facilitar o acesso, possuindo tampa removível
3
para facilitar a limpeza. Podem ser dotadas de grelhas(que funcionam como ralos)
ou não. São caixas cilíndricas, fabricadas em PVC com diâmetros de 100mm;
125mm e 150mm. São previstas com até sete entradas para ramais(D3) e uma única
saída(D2), onde será conectada a tubulação de interligação da caixa com o tubo de
descarga do vaso sanitário ou diretamente com o tubo de queda se não houver vaso
sanitário.

Figura 19 – Caixa sifonada

● Ralos
Os ralos podem ser dotados ou não de vedação hídrica. Não possuindo a vedação são
denominados ralos secos. Possuindo vedação hídrica são denominados ralos
sifonados. Ralos secos(figura 20) são normalmente utilizados para coletar águas de
chuveiros, ficando localizados junto ao mesmo, e também para coletar águas de
lavagem de pisos, de lavanderias, de áreas de serviço e de áreas externas. São
fabricados em PVC e dotados de grelhas.

Figura 20 – Ralo Seco

4
● Coletor Predial
O coletor predial (ver figura 22) é constituído por uma tubulação que estará
conectada a todos os tubos de queda e recolherá todos os efluentes da edificação.
Destina-se à descarga de todos os efluentes no coletor público. No coletor predial
estarão instaladas caixas de inspeção. A distância entre a última caixa de inspeção e
o coletor público não deverá exceder 15 metros. O coletor predial deve ter diâmetro
nominal mínimo de 100 mm e dimensionamento conforme tabela do quadro 13,
extraído da NBR 8160 da ABNT. Deverá ser prevista uma declividade mínima de
2% para o coletor predial.

● Sub Coletor Predial


Sub coletores são os trechos de tubulações que interligam cada tubo de queda ao
coletor predial (ver figura 23). No seu dimensionamento deve ser mantido o mesmo
diâmetro do tubo de queda.

● Caixa de Inspeção
As caixas de inspeção (ver figura 21) destinam-se a permitir a inspeção, limpeza e
desobstrução das tubulações de esgotos. Deverão ser instalada em mudanças de
direção das tubulações (90o ou 45o); mudanças de declividade e sempre que o
comprimento da tubulação atingir 12 metros. A profundidade de instalação das
caixas de inspeção não deve ultrapassar 1,0 metro, devendo a tampa, removível,
estar nivelada com o piso. Suas dimensões deverão ser, no mínimo, 60 x 60 cm
internamente, quando quadrada ou 60 cm de diâmetro interno quando cilíndricas.

● Caixa de Gordura
As caixas de gordura (ver figura 22) destinam-se a receber ramais de esgotos
provenientes de pias de cozinha e copas. Sua função é permitir a separação de
gorduras, óleos e graxas que, no interior da caixa se deslocam para a parte superior
(separação por densidade) e demais resíduos sólidos que se depositam na no fundo.
Ficam assim facilitadas as retiradas destes resíduos por limpezas periódicas da
caixa, evitando que os mesmos venham a ser depositados em outras partes do
interior das tubulações, causando entupimentos. As caixas de gordura devem ser
instaladas nos ramais de esgotos, a montante (antes) da descarga no coletor predial
(ver figura 22) e em local de fácil acesso. Podem ser fabricadas de PVC ou moldadas
em concreto, prevendo-se neste segundo caso boa estanqueidade. Para edificações
unifamiliares, podem-se adotar caixas de PVC simples, embutidas no piso. Para
edificações de vários pavimentos, será necessário adotar um tubo de queda
exclusivo, que dirigirá os efluentes de cozinha e copa diretamente para uma caixa
de gordura central. A previsão de caixas de gordura é obrigatória por Norma em
edificações residenciais unifamiliares ou multifamiliares, bem como em edificações
corporativas (assim denominadas edificações destinadas a hospitais, restaurantes,
indústrias, etc).

5
Figura 21 – Caixa de inspeção

Figura 22 –Caixa de gordura

6
Figura 23 – Planta pavimento térreo – coletor predial
7
Figura 24 – Detalhe tubulação esgoto banheiro (ver figura 22)

Figura 25 – Interligações do coletor predial com o coletor público

● Ramal de Ventilação
É a tubulação que interliga as caixas sifonadas ou os ramais de descarga à coluna de
ventilação (ver figura 17). Deverá possuir declividade mínima de 1% em direção à
caixa sifonada ou ramal de descarga, de forma a permitir o escoamento de volta, por
gravidade, a qualquer parte líquida que venha a penetrar no ramal de ventilação.
Afim de evitar perdas de carga elevadas, as distâncias máximas entre a caixa

8
sifonada e a coluna de ventilação devem ser as constantes do quadro 1, a seguir. Para
dimensionamento do ramal de ventilação, consultar a tabela do quadro 14.

● Coluna de Ventilação
A coluna de ventilação é destinada a manter a pressão atmosférica no interior da
tubulação, bem como permitir a saída de gases malcheirosos e contaminados. Sua
extremidade superior deverá ser conectada ao prolongamento da tubo de queda cujo
terminal estará aberto à atmosfera, sendo prolongado, no mínimo, 30 cm acima do
telhado ou laje de cobertura (ver figura 15, 16, 17 e 25). Afim de evitar a entrada de
elementos sólidos que possam obstruir a tubulação, bem como entrada de água de
chuva devem ser previstos na parte terminal da coluna componentes terminais (ver
figura 25). Para o dimensionamento da tubulação da coluna de ventilação, consultar
a tabela 15.

Figura 26 – Detalhe coluna de ventilação e componente terminal da mesma

Dimensionamentos

O dimensionamento (definição dos diâmetros) das tubulações de esgoto sanitário


baseia-se em uma unidade denominada “Unidade Hunter de Contribuição (UHC)”.
A UHC é um número que representa a liberação de águas de esgotos de cada
aparelho sanitário, em função de sua habitual utilização. Os valores de UHC
encontram-se tabelados nas tabelas 01 e 02.

9
Uma vez conhecidos os valores acumulados das UHCs, determinam – se os valores
dos diâmetro dos ramais de descarga dos aparelhos (tabelas 01, 02 e 04); dos ramais
de descarga das caixas sifonadas(tabela do quadro 03); dos tubos de queda (tabela
05) e dos coletores prediais (tabela 06).
As declividades das tubulações devem ser de 2% para tubulações com diâmetro
nominal igual ou inferior a 75mm e de 1% para tubulações com diâmetro nominal
igual ou superior a 100 mm.
Quanto aos diâmetros dos ramais de ventilação e das colunas de ventilação, estes
encontram-se definidas nas tabelas 07 e 08, respectivamente.

Figura 26 – Sequência de passos para o traçado em planta de uma tubulação de


esgoto

10
Exemplo de dimensionamento:

Dimensionar as tubulações da rede de esgotos do banheiro cuja planta consta da


figura abaixo.

CS – Caixa sifonada
TQ – Tubo de queda
CV – coluna de ventilação

1 - Determinação dos valores de UHC ( tabela 01):


- Bacia Sanitária: 6
- Chuveiro: 2
- Lavabo: 1

2 - Determinação dos diâmetros dos ramais de descarga de cada


aparelho(interligações entre cada aparelho e caixa sifonada) (tabela 01):
bacia Sanitária → Tubo de Queda (UHC = 6): diâmetro 100 mm
chuveiro → Caixa Sifonada (UHC = 2): diâmetro 40 mm
lavabo (Pia) → Caixa Sifonada (UHC = 1): diâmetro 40 mm

3 - Determinação do diâmetro da tubulação de descarga da caixa sifonada (tabela


03): diâmetro 75 mm

4 - Determinação do diâmetro do tubo de queda:


O diâmetro do tubo de queda será neste caso igual a 100 mm, pois, a área molhada
inclui uma bacia sanitária. O diâmetro mínimo neste caso será 100 mm, conforme
recomenda a Norma. Entretanto, para áreas molhadas que não incluem bacias
sanitárias (áreas de cozinhas e lavanderias, por exemplo), o diâmetro do tubo de
descarga será obtido da tabela 05.

5 - Determinação do diâmetro do coletor predial


O diâmetro do coletor predial que receberá as descargas de todas as áreas
molhadas da edificação e que se conecta com a rede pública, será obtido da tabela
06. Este diâmetro, porém, será definido considerando-se as redes de esgotos das
demais áreas molhadas da edificação(outros banheiros; cozinha; área de serviço;
etc).

11
6 - Determinação do diâmetro do ramal de ventilação
O diâmetro do ramal de ventilação será definido pela tabela 07, em função do
número de UHC. Neste caso então: Número de UHC = 9, então diâmetro igual a
40 mm (válido para até 12 UHC).

7 - O diâmetro da coluna de ventilação será determinado em função da extenção


vertical da mesma e do número de UHC, sendo dado pela tabela 08.
Neste caso,sendo o número de UHC= 9 e comprimento inferior a 40m, o diâmetro
será de 40 mm.

12
TABELAS PARA DIMENSIONAMENTO DE TUBULAÇÕES DE ESGOTO
REPRODUZIDAS DA NORMA NBR 8160 - ABNT

Tabela 01 – Valores individuais de UHC e respectivos diâmetros nominais.


(tubulações entre aparelhos sanitários e caixas sifonadas)

Tabela 02 – Valores individuais de UHC e respectivos diâmetros nominais para


aparelhos não relacionados no quadro 8

Tabela 03 – Diâmetros de ramais de descarga de caixas sifonadas

13
Tabela 04 – Diâmetros mínimos de ramais de descarga, com mais de um aparelho
descarregando no mesmo ramal

Tabela 05 – Diâmetros de tubos de queda

Observação: Em toda área molhada com bacia sanitária, o diâmetro mínimo do tubo
de queda deverá 100mm.

Tabela 06 – Diâmetros de sub-coletores e de coletores prediais

Observação: Sub-coletores, são coletores que recebem efluentes de mais de um tubo


de queda para descarregar no coletor predial.

14
Quadro 07 – Diâmetros de ramais de ventilação

Quadro 08 – Diâmetros de colunas de ventilação

15

Você também pode gostar