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Trabalho e musicalidades:

estudo de caso de cinco musicistas em São Luís-MA 1


Paulo Keller (UFMA)

INTRODUÇÃO

Este paper tem por objetivo apresentar resultados parciais de investigação em andamento sobre
o trabalho artístico musical na cidade de São Luís-MA 2, aprofundando algumas questões das
condições sociais de trabalho e da análise da participação de cinco musicistas ludovicenses
(Patativa, Celia Sampaio, Dicy Rocha, Nubia Rodrigues e Lena Machado) na cena musical, seja
participando como compositora, arranjadora ou intérprete, pensando suas origens sociais
comuns e suas musicalidades expressas no samba e no reggae.

Analisando o trabalho destas musicistas dentro do contexto da produção artística e


cultural local, e, atentos às heterogeneidades do trabalho, às desigualdades e dificuldades
específicas das experiencias vividas pelas musicistas no cenário musical contemporâneo, como
a intermitência do trabalho, as múltiplas atividades e as jornadas de trabalho atípicas. Dentro
do contexto atual ressaltamos que o setor artístico cultural foi um dos mais afetados pela
pandemia. Sendo que estes impactos negativos só vieram agravar a situação de precariedade
dos trabalhadores deste setor que já vinha sofrendo uma série de ataques desde a quase extinção
do Ministério da Cultura (Governo Temer).

Nossa questão de pesquisa indaga sobre a forma como estas musicistas vivem a tensão de
ser artista na sociedade contemporânea. Enfrentando os desafios de ser capaz de fazer arte de
forma relativamente autônoma, identitária e crítica, ao mesmo tempo, conseguindo ganhar a
vida ou de se sustentar, produzindo arte dentro de condições sociais e econômicas incertas e
inseguras na sociedade contemporânea, em particular na cidade São Luís – MA.

A investigação parte de uma problematização do trabalho artístico, pensando as relações


entre arte e trabalho, e buscando, conforme Menger (2005), traçar o “retrato do artista enquanto

1
44º Encontro Anual da ANPOCS | GT 27 - Músicas e Processos Sociais: reflexões sobre métodos, conceitos e
fronteiras.

2 Projeto de pesquisa “Música, trabalho e sociedade” (Apoio FAPEMA). As atividades de pesquisa tiveram a
colaboração da bolsista de Iniciação Científica Lorena Elias de Oliveira – PIBIC-UFMA/FAPEMA (2018/2019)

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trabalhador”, e, em nosso caso específico, buscar traçar um retrato do trabalho de músicos e
musicistas em São Luís-MA. Sabemos das dificuldades e complexidades da questão de uma
Sociologia do trabalho artístico. Pensar as questões do trabalho artístico vai além das situações
ligadas ao “brilho das estrelas” e envolve todo o mundo dos trabalhadores das sombras
(LIPOVETSKY & SERROY, 2015).

Apesar de nos concentrarmos nos trabalhadores do chamado núcleo criativo do arranjo


produtivo da música (compositores, arranjadores, intérpretes cantores e instrumentistas), a
produção musical envolve um conjunto de relações dos artistas com produtores e empresários
os mais diversos, ligados à indústria fonográfica e independentes, e demais atores e instituições
que conformam os diversos arranjos de relações de produção da música. Ver Figura abaixo
extraída do documento Plano da Secretaria da Economia Criativa: Políticas, diretrizes e ações
(MINC, 2012).

Arranjo produtivo da música

Fonte: MINC, 2012, p. 25.

Investigar o trabalho artístico musical na contemporaneidade é colocá-lo, primeiro,


dentro contexto social do capitalismo e do mundo das mercadorias onde se estabelece a tensão
- inerente a este trabalho – entre “fazer arte” (ser criativo) e “ganhar a vida” (viver da
arte/música) estando inserido nas relações do mercado de trabalho artístico e do mercado das
artes. O antropólogo Godbout (1999) destacou esta particular relação do artista com a sua obra

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(artística ou musical) e com o seu público. Para Godbout (1999) a primeira característica (típica
ideal no sentido weberiano) que distingue o artista dos demais produtores é o fato de que ele se
dedica inteiramente ao produto sem preocupar-se com a clientela. Para Godbout: “o artista quer
realizar o sonho de todo produtor: fabricar um produto numa total independência em relação ao
cliente” (p.102). Para Godbout, trata-se de uma característica principal e sua condição de
existência: “o verdadeiro artista não atende a uma encomenda de clientes”. Por outro lado, o
cliente (comprador/consumidor) não pode modificar o produto e “deve respeitá-lo” na
integridade da sua obra (p. 102). A segunda característica do tipo ideal de artista, apontada por
Godbout (1999, p. 103), mostra a importância atribuída ao próprio processo de produção
artístico e sobretudo ao vínculo entre o produtor e o produto (obra), onde se dá importância ao
modo como o produto foi feito e ao estado de alma de quem o produziu. Assim, a busca ou luta
pelo reconhecimento profissional é cheia de contradições. O labor artístico musical envolveria
imaginação e criatividade e (de forma ideal) sem uma preocupação com gosto do público
cliente.

Como referido anteriormente, a análise dos trabalhadores do campo das artes e da cultura
se torna bastante complexo na medida em que envolve os artistas e suas relações com todo uma
rede de produtores, técnicos e fornecedores configurando as teias das cadeias de produção e de
consumo daquela arte ou cultura em particular. Outra questão importante é o reconhecimento
do trabalho no campo das artes e da cultura. Muitas vezes eles não são reconhecidos como
trabalhadores pelo conjunto da sociedade e, em determinadas situações, pelos próprios artistas
que se veem como “artistas estrelas” onde os considerados “trabalhadores” são apenas as
equipes do trabalho técnico e de apoio.

METODOLOGIA

Utilizamos em nossa investigação uma abordagem que valoriza os intercâmbios teóricos entre
as contribuições da sociologia do trabalho e da sociologia da arte e da música, no sentido da
triangulação (combinação) de métodos. Nossa pesquisa tem uma abordagem qualitativa mas
que instrumentaliza dados quantitativos, considerando a situação de informalidade do setor e a
relativa falta de dados estatísticos sistematizados sobre os trabalhadores do campo das artes e
da cultura no Brasil. Inicialmente nossas investigações exploratórias tiveram por base estudos
bibliográficos e documentais, reportagens jornalísticas especializadas em arte e cultura, a
observação direta e selecionada de determinadas cenas musicais locais, e, depois focando a

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realização de uma série de entrevistas semiestruturadas (em uma amostra não probabilística)
com músicos e musicistas, compositores, arranjadores, instrumentistas, cantores e produtores.
Aqui destacamos cinco musicistas selecionadas: Patativa, Celia Sampaio, Dicy Rocha, Nubia
Rodrigues e Lena Machado.

AS CONDIÇÕES SOCIAIS DO TRABALHO ARTISTICO

Para SEGNINI (2007) o trabalho do artista “significa ao mesmo tempo – expressão artística
(criação ou interpretação), e, a realização de um trabalho, o exercício de uma profissão” (p. 2).
A autora ressalta que: “O trabalho do artista é frequentemente analisado privilegiando-se sua
performance ou obra (...). No entanto, as relações de trabalho e profissionais, implícitas nestes
processos, são pouco analisadas e contextualizadas” (SEGNINI, 2006, p.321).

SEGNINI (2006) afirma que se deve estar atento para as múltiplas singularidades nos
processos de produção de arte e que “são vastos e heterogêneos os espaços e as formas de
trabalho do artista músico” (p. 321). Aqui nos interessa destacar determinadas dimensões
apontadas por SEGNINI (2011, p. 177) em sua análise do mercado de trabalho no campo da
música: os aspectos da expansão da música enquanto campo econômico; o reduzido número de
trabalhadores protegidos pela legislação em vigor, considerado formal no Brasil, e as múltiplas
formas de trabalho intermitente; e, o crescimento de músicos cooperados e produtores.

Os resultados das pesquisas de SEGNINI (2011) apontam para “o crescimento da


relevância do trabalho artístico nas economias nacionais e para a diversificação e intensificação
das formas de procura por trabalho, por parte dos artistas, em um mercado cada vez mais
competitivo, no qual vivenciam relações de trabalho predominantemente intermitentes”
(p.178). O crescimento da participação de produtores profissionais na venda do trabalho
artístico (ou dos esforços dos próprios artistas para produzirem seus espetáculos), bem como a
associação em cooperativas, constituem novas formas de trabalho observadas no campo da
música (SEGNINI, 2011, p.178).

As investigações de SEGNINI (2011, 2014) apontam para um processo de precarização


dos trabalhos dos profissionais no campo da música lírica e erudita. Se faz importante aqui
indagar sobre as condições de trabalho de músicos e musicistas populares, principalmente
aqueles que vivem situações de precariedade como a intermitência e a informalidade.

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MENGER (2005) em seu “Retrato do Artista enquanto Trabalhador: Metamorfoses do
capitalismo” fez uma análise sociológica da arte como trabalho e apresenta o trabalho artístico
como uma referência para o estudo das formas contemporâneas de trabalho, destacando a
precarização, a flexibilidade e os múltiplos trabalhos. Para MENGER (2005) os campos das
profissões artísticas constituem verdadeiros laboratórios de flexibilidades com seu mercado de
trabalho incerto, inseguro, informal, desregulamentado e precário.

Para este autor: “O auto-emprego, o free-lancing e as diversas formas atípicas de trabalho


(intermitentes, tempo parcial, vários cachês) constituem as formas dominantes da organização
do trabalho nas artes” (MENGER, 2002, p.68). SEGNINI (2007, p.20) também ressalta que a:
“Heterogeneidade na vivência das formas instáveis de trabalho é a características central do
mercado de trabalho artístico”.

OS TRABALHADORES DO SETOR CULTURAL NO BRAIL

Segundo dados recentes divulgados pelo Sistema de Informações e Indicadores Culturais (SIIC-
IBGE, 2019) o setor cultural no Brasil ocupava, em 2018, 5,2 milhões de pessoas, representando
5,7% do total de ocupados no país, incluindo artistas, produtores, gestores, técnicos, equipes de
segurança e apoio, entre muitas outras categorias profissionais. Sendo que mais da metade eram
mulheres (50,5%), pessoas de cor ou raça branca (52,6%) e com menos de 40 anos de idade
(54,9%). Se comparado ao total das ocupações, o percentual daqueles com nível superior era
maior (26,9% no setor cultural ante 19,9% no total de ocupados).

Entre 2014 e 2018, houve redução na proporção de empregados com carteira assinada (de
45,0% para 34,6%) e um aumento dos trabalhadores por conta própria (de 32,5% para 44,0%)
no setor cultural. Em vista disso, a informalidade aumentou no setor cultural, passando de
38,3% em 2014 para 45,2% em 2018. No contexto atual, cabe aqui pontuar o maior impacto da
crise causada pela pandemia sobre os profissionais das artes e da cultura que são autônomos,
informais, microempreendedores individuais (MEI) e temporários.
Os dados do SIIC-IBGE (2019) também tratam da questão do Trabalho secundário no
setor cultural. Uma parcela pequena da população tem mais de um trabalho, eram 3,2% dos
ocupados, em 2014, e 3,8%, em 2018. Dito isso, vale explorar a especificidade do setor cultural,
por ter uma representatividade relativamente maior no trabalho secundário do que no trabalho
principal (IBGE, 2019, p. 139).

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Os dados do IBGE/PNAD (2011) apresentados por Segnini (2014) apontam que no
Brasil apenas 4% dos músicos e 8% dos profissionais das artes e do espetáculo estão ocupados
com contrato formal de trabalho com registro em carteira no mercado de trabalho, e, com 87%
dos profissionais das artes e do espetáculo e 94% dos músicos atuando de forma autônoma.
Assim podemos projetar um universo significativo de profissionais da música em São Luís e
no Estado do Maranhão que atuam de forma autônoma, por conta própria, recebendo cachês ou
atuando como free lancer.

Verificando a Classificação Brasileira de Ocupações – CBO (MTPS, 2010) encontramos


os profissionais da música (com seus códigos e famílias ocupacionais) que aparecem no Grande
Grupo 2: Profissionais da Ciências e da Artes (262 – Profissionais de espetáculos e das artes).

Estes códigos foram utilizados no levantamento estatístico no banco de dados do IBGE (Censo
de 2010) onde encontramos 2.275 músicos, cantores e compositores no Maranhão (0,10 % da
População ocupada total no Estado).

ARTE E TRABALHO DE CINCO MUSICISTAS EM SÃO LUIS – MA.

1 PATATIVA

O primeiro caso é o da cantora e compositora Maria do Socorro Silva3 – conhecida como


Patativa – um ícone da cultura popular maranhense. Nascida em Pedreiras - Maranhão em 05
de outubro de 1937 (83 anos). Patativa estudou até a 5ª. Série primária. Nunca fez curso de
música de espécie alguma. Ela diz que sua inspiração/talento “sempre veio na minha cabeça”.
Para Patativa este “dom’ trata-se de “uma dádiva de Deus” (...) “ah, desde moleca que eu sempre
gostei de cantar (...) eu sempre tive este dom desde criança”.

Indagada se fez algum curso de música, ela foi enfática: “Não, não, não, nunca fiz.
Sempre veio na minha ideia esse negócio de música voluntariamente, uma dádiva de
Deus, porque ninguém nunca me ensinou, ninguém nunca me “botou” na escola pra
aprender. Me “botou” na escola pra aprender ler, escrever e pintar, agora, esse
negócio de cantar, é coisa de Deus.”

3
Dados de Entrevista realizada com Maria do Socorro Silva, a Patativa, no dia16 de dezembro de 2017 - Vila
Embratel, São Luís - Maranhão.

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Perguntamos a Patativa se em algum momento ela viveu “apenas” da música, ela nos
respondeu: “tempo nenhum”. Patativa atualmente é aposentada pela Prefeitura de São Luís.
Aposentou quando tinha 61 anos. Já trabalhou diversas vezes em casa de família (serviços
domésticos) quando jovem, segundo Patativa, “sempre cantando”. Patativa relatou que sempre
costumava cantar até nos serviços que tinha, além dos bares da região de samba popular em
São Luís, bares da Praia grande, conhecido como Reviver, e da Madre Deus, que Patativa chama
de “lugar do movimento”.

Patativa participa de diversas rodas de samba em São Luís-MA, onde canta e compõe,
mas só gravou o primeiro CD Ninguém é Melhor do que Eu (Saravá Discos 2014) já aos 77
anos de idade, tendo o famoso cantor e compositor - também maranhense - Zeca Baleiro como
seu diretor, produtor e incentivador. A cantora e compositora foi apresentada ao compositor por
amigos produtores e admirados locais, segundo ela: “aí me badalaram para o Zeca”. Patativa
nos relatou: “este era “o meu sonho”, gravar ao menos um cdzinho para deixar para meus netos,
bisnetos, amigos, inimigos” diz com sua irreverência e bom humor. O CD (com 13 canções
inéditas de autoria da própria Patativa) teve a direção artística de Zeca Baleiro e duetos com a
cantora Simone em Saudades do Meu Bem-querer e com o sambista Zeca Pagodinho na canção
Santo Guerreiro. Abaixo uma matéria da Revista Rolling Stone (Site UOL) sobre a cantora
Patativa.

Fonte: Revista Rolling Stone (Site UOL 19/01/2015)

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Para o cronista da cultura maranhense Zema Ribeiro4 (2016): Seu primeiro disco era há
muito aguardado por um séquito de fãs e conhecidos que Patativa acumulou ao longo dos anos
em que inventou e aprimorou o que ela mesmo chama de “samba de cachaceiro”, sambas de
letras propositalmente curtas para evitar o risco do esquecimento numa manhã de ressaca.
Na análise de Zeca Baleiro músico maranhense e produtor do CD de estreia da cantora, em
matéria do Jornal O Estado de S. Paulo5 (Estadão – Caderno Cultura):

Patativa é uma figura incrível, irreverente, espontânea, poética. Um tipo muito


autêntico da velha boemia de São Luís, do bairro da Madre Deus, do samba na rua,
totalmente informal, das noitadas sempre regadas a cachaça. Não bastasse isso, é
uma cronista de alta estirpe, poeta arretada e melodista primorosa. Seus sambas
dialogam com a tradição do samba carioca, mas são profundamente maranhenses,
com aquele molho de festa de rua – cacuriá, lelê, bumba meu boi, etc. Tenho certeza
que, se um bamba como Ismael Silva, por exemplo, voltasse do além e ouvisse os
sambas da Patá, iria ficar encantado. O samba do Maranhão bebeu na tradição do
grande samba brasileiro, naturalmente. Mas têm elementos que são muito genuínos,
‘locais’. No Maranhão, o samba dialoga com a macumba, com a mina e outros ritmos
regionais, o que faz com que ele tenha uma cadência muito peculiar no modo de
cantar, tocar e compor.

Atualmente Patativa trabalha como musicista autônoma onde recebe pequenos cachês e
tem assessoria de dois produtores. Segundo a cantora, ela recebe alguns “chamados” (convites)
e seu pagamento é feito por meio de cachê “quando pinta alguma coisa”.

Sobre a questão da diferença entre valores de pagamento de cachê de músicos de fora e


de músicos da cidade (questão recorrente nas falas dos músicos e musicistas locais), Patativa
comentou estas diferenças, e citou um evento determinado ocorrido na cidade quando uma
sambista de fora, que vive no eixo Rio-SP, recebeu cachê de 50 mil reais, sendo que os músicos
locais receberam cachês em torno de 2 ou 3 mil reais. Patativa afirmou:

“eu tô satisfeita”. Ela não reclama a princípio, demonstrando se sentir recompensada


com seu cachê. Em outra fala, entretanto, defende a união dos músicos locais:
“deveriam se unir, todo mundo”. Sobre as dificuldades enfrentadas no mercado da

4
Blog Homem de vícios antigos. Endereço: https://zemaribeiro.com.br
5
Matéria do Jornalista Jotabê Medeiros - O Estado de S. Paulo- 12 fevereiro 2015.

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música local, Patativa é enfática: “nós devemos nos unir” (...) “unir todos os artistas”
(...) “falta união meu filho, falta união”.

(Paulo) Você tá satisfeita então... (Patativa) Eu tô, eu sou. A minha mãe de criação
dizia que o pouco com Deus é muito e o muito sem Deus é nada. Não adianta a
pessoa querer só muito. Você come demais e adoece a barriga.

Frente as dificuldades do mercado de trabalho artístico musical local, a cantora veterana


afirma que a solução é sair: “você tem que ir lá fora, dar um passeio lá fora”. Se referindo a
necessidade de ir para grandes centros, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo, destino de
grandes músicos e musicistas maranhenses, em busca de reconhecimento profissional.

2 CELIA SAMPAIO

O segundo caso é o da cantora de reggae maranhense Célia Sampaio6, conhecida como a Dama
do Reggae e uma das homenageadas do recém-inaugurado Museu do Reggae em São Luís –
MA. Célia nos relata que nasceu em São Luís-MA no dia 30 de março de 1964:

Nasci no bairro Retiro Natal e com quatro anos, eu fui para o bairro da Liberdade, onde formei
toda a minha história, tanto na fase da adolescência, adulta. Tudo no bairro da Liberdade,
convivendo com o caldeirão cultural que no bairro existe: bumba meu boi, tambor de crioula, a
religião de matriz africana, tambor de mina, divino, entendeu? Dois sotaques de bumba meu
boi e o reggae. As nossas coisas locais e o reggae.

Célia tem o segundo grau completo (atual ensino médio) e se formou em Técnica de
Enfermagem, atua até hoje nesta profissão, e atua como costureira produzindo peças ligadas a
elementos africanos. Também nunca estudou música formalmente. Diz que fez alguns cursos
de canto depois de já estar cantando. Participou do movimento negro e do movimento de
mulheres negras na década de 1980, quando começou a cantar músicas que tratavam da
autoestima do negro no famoso bloco local Akomabu, primeiro bloco afro de carnaval no
Maranhão. Sempre atuando, paralelamente, como técnica de enfermagem do Hospital Materno
Infantil da UFMA. Abaixo imagem do single de Célia Sampaio – Mulher Negra Black Power.7

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Dados de Entrevista realizada com a cantora Célia Sampaio (Dama do Reggae) no dia 01 de fevereiro de 2018
no Bairro do São Francisco – São Luís-MA.
7
Imagem do site CÉLIA SAMPAIO: A DAMA DO REGGAE.
Disponível em https://celiasampaiobasico.weebly.com/

9
Fonte: Site Célia Sampaio.

Em 1993 foi selecionada em festival local e participou da gravação de um disco com a


música “Black Power”, que segundo Célia, foi a “música que me consagrou, como cantora de
reggae”. Quando chega em 93, eu vou participar do MPM de Cara Nova. Eu só cantava dentro
da minha identidade, coisas ligadas ao movimento negro, músicas falando da história do negro,
autoestima do negro. Então, eu só cantava mais essas coisas né, ligada ao afoxé, ao ijexá, porque
tocava tambores né, e o ritmo do nosso bloco é o ritmo do ijexá, o afoxé, tipo o ritmo do Gandhi.

Depois Célia participou da produção do disco MPM de Cara Nova, junto com demais
músicos e dançarinos. Segundo Célia: “Nós éramos um grupo de nove músicos, baterista,
percussionista, tecladista, tinham vários. Tinha dançarino... Éramos ao todo nove e eu era a
única mulher do grupo”. Em 1998 saiu da Banda Guethos (1993 a 1998) e seguiu carreira solo
interpretando reggae, como ficou conhecida. Em seguida viajou para São Paulo e Europa. Em
São Paulo se apresentou no SESC Pompéia na abertura do Show de Rita Ribeiro (atual Rita
Benedito). Em 2000 gravou seu primeiro CD solo intitulado "Diferente" (imagem abaixo)8,
uma composição de Zé Lopes e que dá nome ao disco. O CD ainda trazia composições de
Paulinho Akomabu, Alê Muniz, Mano Borges e outros compositores maranhenses já
reconhecidos no estado. Este disco deu à Célia Sampaio, o prêmio Universidade FM, principal
prêmio da música maranhense. Seus maiores sucessos são todos do compositor maranhense
Paulinho Akomabu, no Reggae a música Black Power e no afoxé Ayabá Rainha.

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Imagem do site CÉLIA SAMPAIO: A DAMA DO REGGAE.
Disponível em https://celiasampaiobasico.weebly.com/

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Fonte: Site Célia Sampaio.

Sobre o pagamento dos cachês que recebeu como cantora, Célia nos diz que: “Ah, o
cachê! Às vezes, o cachê era só pra pagar a nossa passagem, pagar um táxi pra gente vir
embora...”. A cantora também relata que participou de vários projetos feitos em grupo com
outros músicos que renderam melhores cachês. Mas sempre preferindo manter seu trabalho
como enfermeira. Célia relatou que:

A enfermagem foi assim, eu terminei o meu nível médio com 17 anos, já tinha o
curso de enfermagem, porque antigamente, o nível médio, o segundo grau, o pobre
tinha que fazer o curso técnico. Todo mundo da minha geração, é difícil você ver
uma pessoa que ele não tem curso técnico (...) E minha mãe sempre dizia: Célia,
você gosta de arte, é dança, é música. Minha filha, pelo amor de Deus. Música é pra
rico, você é pobre. Eu não tenho condição de te manter aqui só dançando, saltitando,
lendo livro. Ela dizia isso pra mim: Eu não tenho condição disso, Célia, você vai ter
que trabalhar. Procura fazer um curso de professora. Pobre tem que estudar pra ser
professor ou técnico de enfermagem. Aí eu digo: Professora eu não quero. Eu caí pro
técnico de enfermagem.

Sobre o outro ofício de costureira/estilista, que dialoga com sua militância no


movimento negro, Célia nos conta que:

(..) agora, atual, eu trabalho confeccionando turbante, mas eu antigamente lá pra trás,
nos anos 80, quando eu não tinha emprego no Estado, eu lá no movimento negro, as
pessoas do movimento querendo vestir roupa colorida que não tinha na loja,
querendo usar boina, querendo se identificar com as roupas afro, todo mundo
querendo ficar mais perto daquilo do que se pertence, que tava distante, porque os
negros foram educados pra querer usar a roupa do europeu e, a gente do movimento
já chamando. Então, eu fui costureira de várias pessoas do movimento.

Quando indagamos sobre as dificuldades do mercado da música local, Celia nos diz que:

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Paulo, aqui, hoje, bares, casas de show, pra nós, local, não tem. Pra nós, que fazemos
música aqui em São Luís, pros artistas de São Luís, qualquer estilo musical, não
temos, entendeu? Algum barzinho que chama a gente pra fazer aquela voz e violão,
mas desestrutura o teu trabalho. Porque se eu tenho um trabalho com quatro músicos,
aí eu não posso levar quatro músicos, eu tenho que levar só um, porque o cachê que
aquela casa, aquele espaço, aquele barzinho, não tem condição de contratá-los.

Sobre os shows e espetáculos patrocinados pelo poder público, Célia comenta que:

“é onde melhor paga, são as produções do Estado e Prefeitura. Assim, melhor cachê
que paga, mas também que demora a pagar (...). Meu irmão, já teve cachê aí que eu
demorei foi seis meses pra receber. Músico me ligando, me cobrando”.

Célia ressalta que existe um calendário de eventos oficiais (réveillon, carnaval, São João,
aniversário da cidade) e que nos demais períodos do ano existe a incerteza.

Uma das principais dificuldades, destacadas pela cantora Célia Sampaio, foi que o fato
de que o reconhecimento dos produtores musicais ser de caráter interpessoal, ou seja, “você
pode ser convidado ou não”. Célia Sampaio também ressaltou o pouco reconhecimento e
valorização do artista local e a questão da desigualdade dos cachês. Apesar de haver programas
governamentais que buscam incrementar a cadeia produtiva do reggae, a cantora foi enfática ao
dizer que “o mercado da música é zero”. Sobre a cooperação e as parcerias no universo da
música, Célia afirmou que: “o músico não trabalha sozinho”.

03 DICY ROCHA

A cantora Dicy Rocha tem 39 anos e é formada em Comunicação e Marketing, pós-graduada


em Gestão da Cultura, moradora da capital ludovicence há dez anos, natural do sul do estado,
da cidade de Imperatriz. Sem nenhuma formação específica em música, se considera como
autodidata. A artista não sobrevive apenas da música, ela é assessora de comunicação do Centro
de Cultura Negra do Maranhão e da Rede Amiga da Criança e ainda compartilha o seu tempo
diário com os cuidados do seu filho de dois anos de idade. A preocupação com a autonomia do
artista na área da música é latente nas declarações da cantora: “Uma coisa que eu fico sempre
vigilante, é de não permitir que a minha autonomia seja violada” (DICY, 2018). Dicy aponta
que muitas oportunidades surgiram, mas que já descartou muitos trabalhos em prol da sua
independência artística, procurando sempre fazer o seu trabalho de acordo com sua
personalidade e dialogando com seu público-alvo, sem seguir estritamente as demandas do
mercado.

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Capa do disco Rosa Semba. Foto: Marcio Vasconcelos

Com o CD Rosa Semba (2016) que tem uma “variação rítmica infinita” (DICY, 2018), a
artista afirma que o intuito principal foi produzir um show que contemplasse o que desejava
apresentar e criar um formato de CD, o “Rosa Semba”, lançado em 2016, gravado, mixado,
finalizado e masterizado no Maranhão, algo não recorrente na cena local. Ela conta que teve
que recorrer à editais para permanecer resistente às pressões das gravadoras, que desejavam
sempre impor as suas vontades em detrimento da sua. Com o auxílio da política de cultura do
Estado, não foi necessário depender de empresários e então pôde determinar os seus rumos a
partir do que desejava apresentar em seu material de trabalho, em uma “linha da produção
independente, autônoma e fiel” (DICY, 2018).

Para a artista, essa autonomia envolve uma insegurança, já que há a necessidade de se


auto promover, de divulgar o seu trabalho nas redes sociais e nos mais variados locais da cidade
e do estado. Para Dicy este é um desafio que todos os artistas que produzem independentemente
enfrentam no dia a dia, entretanto, é uma possibilidade para que venham a desenvolver as suas
potencialidades.

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Dicy Rocha. Imagem retirada do site Dicy

Quanto à cadeia de produção da música no Maranhão, Dicy destaca que a música


independente tá muito fortalecida por conta de ter toda uma cadeia produtiva já afinada,
equipada e agindo com profissionalidade. Aqui, a gente tem muito profissional, mas a gente
tem pouca formação pra nossa cadeia de produção (DICY ROCHA, 2018). O que falta na cena
musical local para a artista é uma articulação feita por meio de coletivos que trabalhe com a
produção, distribuição e consumo do público-alvo. Enfatiza que é necessário um
aperfeiçoamento técnico dos profissionais da cadeia de produção da música.

04 NÚBIA RODRIGUES

Núbia Rodrigues, de 25 anos, natural de São Luís, cantora de reggae, em formação acadêmica,
é possuidora de uma voz redundante produzindo um reggae intimista marcando presença no
universo masculino do reggae maranhense. A cantora despertou o interesse pela música a partir
das influências do seu pai, amante da música, que lhe presenteou com um violão quando tinha
15 anos de idade, o que a impulsionou a querer tocar e cantar. Começou a se apresentar nas
festas de família. Meses depois, já estava encontrando os amigos para “fazer um som”,
realizando saraus entre os colegas da escola.

Assim como a dama do reggae do Maranhão Célia Sampaio, Núbia foi estimulada a
seguir a carreira de musicista também pelos colegas da banda Guethos, mais especificamente
por Cândido, que lhe deu aulas de violão e a capacitou para que continuasse a sua caminhada
no universo musical. O músico a indicou tocar e cantar em outros lugares para que ganhasse

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uma maior visibilidade. A primeira apresentação foi em um bar na região metropolitana da
capital ludovicence.

A artista afirma que nunca participou de cursos relacionados à música, porém afirma a
importância de uma capacitação voltada aos músicos, por isso, tentará ainda esse ano, entrar na
Escola Municipal de Música Lilah Lisboa, em São Luís, para se integrar à turma de canto e
violão. Paralelo ao trabalho na música, Núbia também leciona aulas de inglês e matemática em
um cursinho popular na periferia da capital.

Em relação à instabilidade financeira comum no mundo do trabalho artístico, Núbia


afirma que por mais que seja difícil sobreviver da música, é esse o caminho que quer seguir. O
incentivo do pai - que anteriormente, desconfiava que sua filha não pudesse conciliar os estudos
universitários com a música - hoje, é primordial para continuar a sua carreira, porém ele
constantemente dialoga sobre o quanto é difícil permanecer no universo musical na incerteza
do retorno financeiro.

Os cachês, insuficientes para remunerar toda a banda, são sempre divididos em igualdade.
Com exceção dos festivais que pagam um cache com um valor “mais próximo do justo”. Quanto
aos contratos, a banda era representada por uma produtora, devido às questões burocráticas,
mas compreendeu que era mais vantajoso para a banda possuir um cadastro do MEI (Micro
Empreendedor Individual), e a partir daí, utilizam o seu próprio CNPJ para oficializar as
negociações com os empresários e com o Estado.

Fonte: GloboPlay (2019)

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Núbia ainda não possui carteira de musicista, mas já ouviu falar a respeito. O que anda
buscando atualmente é se filiar na AMAR9 , para poder distribuir a sua música legalmente.
Acredita ser filiar à associação pelo fato de facilitar a distribuição e o acesso aos seus registros
fonográficos. Cita que há, inclusive, plataformas digitais como o Spotify que exigem a filiação
à AMAR para que suas canções estejam nas playlists da rede e para que possa receber royalities
pelas músicas que estão sendo distribuídas pelo mundo e ganhe maior visibilidade entre os
consumidores de sua arte.

Para ela, o mercado da música em São Luís possui muitas dificuldades, entre elas, a falta
de reconhecimento entre os seus pares, entre os empresários e o público de modo geral. A
desvalorização do artista ainda é latente na realidade da cena musical na capital. A cantora sente
o preconceito por parte dos donos dos bares por serem músicos, por não serem vistos como
trabalhadores.

05 LENA MACHADO

Lena Machado tem 45 anos, residente no bairro da Cohama, na capital, teve o seu primeiro
envolvimento com a música ainda na sua cidade natal, Zé Doca, interior do Maranhão. Em
1999, foi veio para São Luís a convite de uma amiga que já trabalhava na capital para
desenvolver um projeto social na Cáritas Brasileira, uma instituição religiosa a nível mundial
com fins em promover ações civis e atuar em prol dos direitos humanos. Em 2006, ela
participou de um show organizado pela Sociedade Maranhense de Direitos Humanos com
renomes do cenário musical ludovicence, o que foi o grande pontapé para ela se reconhecer
como uma musicista profissional. Vinda da igreja católica, ela não possuía essa pretensão, já
que suas apresentações eram feitas somente pelo coral da comunidade eclesial desde os dez
anos, o que muito lhe ensinou sobre lidar com o público, já que não passou por nenhuma escola
de música.

Ainda no início da carreira, Lena Machado entra em contato com grandes nomes do
samba maranhense e adquire a certeza de que a vida em barzinhos, não era, de fato, o trabalho
que gostaria de desenvolver. Antes do samba chegar a sua vida, Lena Machado possuía um

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Fundada em 1980 a AMAR/SOMBRÁS – Associação de Músicos Arranjadores e Regentes / Sociedade Musical
Brasileira é uma entidade de gestão coletiva de direitos autorais musicais, ou seja, uma associação sem fins
lucrativos que, consoante padrões internacionais, administra, cobra e distribui esses direitos em favor de seus
associados.

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apreço pela MPB – Música Popular Brasileira. Entretanto, quando chega a São Luís, começa a
expandir as relações e o conhecimento musical. Nomes como César Teixeira e Josias Sobrinho
compõem esse vasto hall de inspirações artísticas que estimularam a cantora a seguir nesse
universo musical, assim como a cultura popular do Maranhão, com os seus diversos ritmos que
forma um verdadeiro caldeirão cultural, de bumba meu boi, cacuriá, festa do Divino Espírito
Santo e tambor de crioula.

Lena Machado – álbum Batalhão de Rosas. Imagem: Ruy Castro.

A intérprete, que lançou e produziu os seus três discos, afirma nunca ter vivido
exclusivamente da música e o que a possibilita realizar os trabalhos nesse campo e seguir nessa
“missão” (LENA, 2019) é justamente ter o seu emprego na Cáritas. Uma providência tomada
pela intérprete foi se filiar a AMAR, associação responsável por arrecadar tributos dos direitos
autorais dos músicos. Ela contou com orientações da instituição para aprofundar seus
conhecimentos sobre o assunto e direcionar os seus esforços nessa área da prática musical.

O primeiro disco, eu fiz, isso aqui em São Luís. No segundo, que foi o Samba da Minha Aldeia,
que eu lancei em 2010, eu já fiz em Fortaleza, porque me disseram que as técnicas de Fortaleza,
os aparelhos, a questão do resultado da mixagem, seria bem melhor e realmente, foi (LENA,
2019).

A musicista identifica o seu trabalho como música popular brasileira feita no Maranhão,
a partir das raízes do estado com o intuito de somar a outros ritmos do nordeste, como o
maracatu. Entretanto, ressalta as poucas oportunidades para realizar eventos e angariar fundos.
Destaca que os editais lançados pela prefeitura de São Luís e pelo estado do Maranhão é voltada
para eventos específicos. Para a musicista deveriam se dedicar aos processos culturais que
consolidem uma agenda cultural que impulsione a economia criativa local. A necessidade

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premente do músico de “se meter em mil e quinhentas coisas pra viver no mês, tocar não sei
quantas vezes pra não sei quantas pessoas” se torna mais latente no universo musical e esse
fator, muito preocupa a artista que, apesar de possuir outra renda (segundo oficio) observa que
os amigos e amigas tentam viver somente da música enfrentam muitos obstáculos para
conseguir sobreviver da arte musical.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em nossa investigação encontramos indícios de pesquisa que apontam para determinadas


condições do trabalho das musicistas na cena musical local, tais como: a falta de infraestrutura,
a instabilidade no trabalho das musicistas; pouco reconhecimento profissional, e a insuficiência
de apoio do setor público e privado local. Condições estas que levam a situações de trabalho
incertos e ao desenvolvimento de ofícios paralelos (segundo ofício) a fim de garantir a
sustentação econômica de seus projetos no universo musical. Nossos resultados parciais de
pesquisa pretendem contribuir com o debate das questões dos intercâmbios teóricos ( entre as
disciplinas Sociologia do trabalho artístico musical e Sociologia da música e da arte) e os
intercâmbios metodológicos (estudo de caso, estudos bibliográficos e documentais, observação
direta e realização de entrevistas semiestruturadas) e conceituais aprofundando questões do
trabalho artístico musical na sociedade contemporânea.

Os casos das musicistas ludovicenses apresentados brevemente revelam as


heterogeneidades e diversidades dos mundos artísticos musicais. Um dos nossos insights de
pesquisa aponta que os trabalhos duplos e paralelos das musicistas podem tanto garantir uma
relativa segurança financeira quanto podem também proporcionar oportunidades de realização
de uma produção artística mais autônoma, identitária e crítica. Nesse sentido trazemos esta
reflexão sobre a questão da autonomia artística frente as imposições e restrições da economia e
do mercado de trabalho artístico musical.

REFERÊNCIAS

MINISTÉRIO DA CULTURA. Plano da Secretaria da Economia Criativa: Políticas, diretrizes


e ações, 2011-14. Brasília, MinC, 2012.

ELIAS, Norbert. Mozart, sociologia de um gênio. Rio de janeiro: Zahar, 1995.

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IBGE. Sistema de Informações e Indicadores Culturais – SIIC- 2007/2018. Brasília: IBGE –
CPIS, 2019.

GODBOUT, Jacques. O espírito da dádiva. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 1999.

LIPOVETSKY, Gilles & SERROY, Jean. A estetização do mundo: Viver na era do capitalismo
artista. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

MENGER, Pierre. O retrato do artista enquanto trabalhador: metamorfoses do capitalismo.


Lisboa: Roma, 2005.
SEGNINI, Liliana R.P. Acordes dissonantes: assalariamento e relações de gênero em
orquestras. In: ANTUNES, Ricardo (org.) Riqueza e Miséria do Trabalho do Brasil. São Paulo:
Boitempo, 2006.

_______ Criação rima com precarização: Análise do Mercado de Trabalho artístico no Brasil.
Paper apresentado ao GT 29 – Congresso Brasileiro de Sociologia, 2007.

SEGNINI, L. & BULLONI, Maria Noel (orgs). Trabalho artístico e técnico na Indústria.
Cultural. São Paulo: Itaú Cultural, 2016.
SEGNINI, L. Relatório para discussão. Rumos Itaú Cultural Música – Edição 2007/2009. São
Paulo: Observatório Itaú Cultural, Julho de 2009.
_________ Os músicos e seu trabalho. Tempo Social – Revista de Sociologia da USP, V.25,
N.1, Junho de 2014.

________ Os músicos e seu trabalho. Tempo Social – Revista de Sociologia da USP, V.25, N.1,
Junho de 2014.

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