Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
H. J. Koellreutter
A sociedade brasileira
– em termos de história, uma sociedade que
está começando a firmar-se – é uma sociedade que, apesar de suas
características peculiares, se integra cada vez mais no desenvolvimento
sócio-cultural que se estende pelo mundo todo e em que o número cada
vez maior de máquinas passa a assumir um papel não mais de trabalho
físico, mas, em vez disso, passa a atuar em funções não-físicas. Refiro-
me às chamadas máquinas cibernéticas de pensamento, computação,
robôs, etc. Não há dúvida de que, também, a sociedade brasileira será
uma sociedade de massa, tecnológica e industrializada.
66
Durante essa fase de desenvolvimento sócio-cultural, a tecnologia
penetra na realidade do mundo psico-espiritual do homem, criando
novas categorias de pensamento lógico e racional, acontecimento cujas
últimas consequências ainda não podem ser previstas.
Por sua vez, o artista torna-se consciente de que a sua função é uma
função social, no mais amplo sentido do termo, porque as realidades
profissionais da sociedade de massa, tecnológica e industrializada, são
incompatíveis com o conceito tradicional do artista, ou seja, o “gênio” que
permanece distante da sociedade.
67
na administração, nas relações inter-humanas, na terapia e reabilitação
social, enfim, nestes e em outros setores da vida moderna, a música
aplicada pode fazer-se presente, de uma forma dinâmica e produtiva.
68
Como instrumento de libertação, a arte torna-se um meio indispensável
de educação, pelo fato de oferecer uma contribuição essencial à formação
do ambiente humano. Assim, através de sua integração na sociedade, a
arte torna-se um traço central da sociedade moderna, desde que, por meio
desta sua integração, ela vença sua alienação social e sobreviva à sua crise.
69
uma relação mais autêntica entre o estudo e as realidades da vida
profissional e que, basicamente, visaria preparar os jovens músicos para
uma carreira de real relevância na sociedade em que vivemos.
70
de um tipo de musicista que vê seu ideal na apresentação de um
repertório inúmeras vezes repetido de valores assim chamados “eternos”,
estabelecidos pela elite.
Com tudo isso, não se deve esquecer que a rapidez com que evoluem as
71
ciências e a tecnologia em nosso tempo, dificilmente permite acompanhar
o desenvolvimento e a transformação da mentalidade e dos hábitos
intelectuais e psíquicos dos nossos jovens, pois, desde cedo, estes chegam
a conhecer e, principalmente, a viver fenômenos sociais e manifestações
culturais que são desconhecidos à uma grande parte dos professores,
por não pertencerem à esfera de experiência destes últimos. Refiro-me
a certas atividades em grupo, a certos modos de procedimento e ação, e
ao comportamento crítico dos jovens face a certas regras e costumes de
conduta, considerados como válidos pela maioria da população adulta e
realizada, profissionalmente falando.
72
lúdica, de caráter popular onde, de um lado, se faz e invente música, sem
limites ou restrições, onde, em última análise, a atividade, o processo, se
torna mais importante do que o resultado, e por outro lado, se ensina
os instrumentos mais populares, apenas com os rudimentos da teoria
musical, onde o jovem pode-se dedicar à própria música popular.
73
Cada um destes seminários consistiria de uma matéria principal e de uma série
de cursos correlatos, como por exemplo, treinamento auditivo (atualizado e
especializado), terminologia, teoria da informação aplicada à música, análise,
estética, sociologia da arte e improvisação individual e coletiva.
Este tipo de didática deve ser gradativamente substituído pelo método pré-
figurativo de ensino, que orienta e guia o aluno, porém não o obrigando
a sujeitar-se à tradição, valendo-se do diálogo e de estudos concernentes
aquilo que há de existir ou pode existir, ou se receia que exista.
74
novos princípios de estruturação e forma, é pré-figurativo.
75
COMENTÁRIO
Irene Tourinho
Faz dela uma ação presente possível e uma ação futura necessária.
Desmistifica também os artistas desdobrando sua possibilidades de
ação e ampliando os sentidos de suas atividades. Segundo, porque ele
nos provoca. Para isto, explicita suas indignações mais profundas: os
problemáticos planejamentos educacionais e estéticos, a megalomania
da sociedade capitalista, a manipulação bitolada das instituições públicas e a
irrelevância com que a escola vê e trata a experiência dos jovens. Terceiro,
porque ele propõe, sonha e nos desafia para pensar e agir.
76
amparados em alguns e impulsionados por muitos). Que a arte será “sempre
um fator necessário e decisivo, uma parte integrante da civilização” é ideia
que parece, às vezes, um sonho. Mas Koellreutter transforma o sonho em
aspiração e nos oferece, ao fazer isto, alguns desafios.
Um primeiro desafio não é novo; nem por isto deixa de ser importante:
“despertar na mente dos jovens a consciência da interdependência de
sentimento e racionalidade”. Um outro, é condição mais recente e não
menos importante: despertar, também, a consciência da interdependência
entre “tecnologia e estética”.
77
Entretanto, este é um lado da situação. Outro lado é parte de uma
observação comum de que esta universidade também não tem recebido,
de uma maneira geral, estes jovens tão críticos e tão interessados pela
improvisação, pela música moderna, ou pelas formas contemporâneas de
composição como imagina Koellreutter. Não que estes jovens não existam.
Talvez muitos deles estejam se profissionalizando independentemente
da escolarização formal e, certamente, muitos outros fogem desta
universidade que já sabem não oferece o que eles procuram.
78
da maioria a chance de dar continuidade à sua formação escolar em
nível de terceiro grau é, até agora, a maior e mais grave questão.
NOTAS
2) Sobre este tema ver, por exemplo: Fernandes, R. C.: Privado porém público - O terceiro setor na
América Latina. Rio de Janeiro, Relume-Dumará, 1994.
3) Ver, por exemplo: Fundação Cesgranrio: Anais do Simpósio Nacional sobre avaliação Educacional:
uma reflexão critica. Rio de Janeiro, 1994; E. Durhanm e S. Schwatzman (org.): Avaliação no ensino
superior, São Paulo: Edusp, 1992; M. Ludke e Z. Mediano (Coords.): Avaliação na escola de 1º grau: uma
análise sociológica, São Paulo, Papirus,1992.
4) KOELLREUTTER, H. J.: A caminho da superação dos opostos. Música Hoje - Revista de Pesquisa
Musical, nº 2, pp.07-25. NAPq e CPMC, Belo Horizonte: UFMG, 1995.
79
Irene Tourinho, Educadora Musical e Professora do Departamento de
Música da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
(ECA/USP).
80