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Programa de Pós- Graduação em Artes da Universidade Estadual de Minas Gerais – Belo Horizonte, 2022

Importância das Universidades públicas no fomento das artes em suas


cidades
ARTIGO ENTREGUE PARA A DISCIPLINA ARTE E CIDADE

Talles Carvalho de Matos

Resumo. O objetivo deste artigo é abordar sobre a importância das universidades públicas na
formação dos artistas, mais especificamente na área de música. Dentro do sistema educativo atual
distinguimos três áreas relacionadas com a educação musical que nem sempre foram
diferenciadas: a formação profissional da música, a formação de professores e a música como
parte da formação geral. É importante manter essas distinções para o desenvolvimento do currículo
e para a identidade das competências de formação de professores e alunos. Para formar critérios,
abordaremos essas questões em três seções, a primeira dedicada à educação “pela” música, onde
são desenvolvidas as possibilidades da música como instrumento educacional e como forma de
educação artística. A seção seguinte considera a educação “para” a música, voltada para o
desenvolvimento profissional e vocacional

Palavras-chave. Universidades Públicas, Artistas, Música.

Importance of public universities in promoting the arts in their cities

Abstract. The purpose of this article is to address the importance of public universities in the
training of artists, more specifically in the area of music. Within the current educational system,
we distinguish three areas related to music education that have not always been differentiated:
professional music training, teacher training and music as part of general training. It is important to
maintain these distinctions for curriculum development and for the identity of teacher and student
training competencies. To form criteria, we will address these issues in three sections, the first
dedicated to education “through” music, where the possibilities of music as an educational
instrument and as a form of artistic education are developed. The following section considers
education “for” music, focused on professional and vocational development.

Keywords. Public Universities, Artists, Music.

1. Introdução

Adenot (2010) sublinha como, desde o século XVIII, a figura do artista está ligada
aos conceitos de “dom” e “vocação”, também a associa ao conceito de “liberdade”. Essa
liberdade associada aos músicos também se reflete na figura do artista “boêmio” que, segundo
Bourdieu (1998) , nasceu no século XIX. É uma concepção do criador da arte que mostra
certa indiferença em relação a horários e obrigações materiais, e que se alimenta de uma
ideologia de vocação e dom, características que, em suma, constituem o estereótipo da “vida
boêmia”.
Um estereótipo que, no entanto, foi questionado ao longo do tempo. Nos tempos
em que vivemos, o músico precisa desenvolver tanto a técnica de seu pensamento, quanto a de
sua especialidade na arte. O tipo de músico boêmio, sonhador mas sem aspirações, que, como
um ressonador irresponsável de sua arte, canta como o eco de uma voz que não sabe de onde
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vem nem para onde quer ir, está hoje tão desacreditado que a sociedade o rejeita por falta de
conhecimento específico.
Em alguns casos, porém, a imagem do “artista” é reivindicada abertamente, a fim
de marcar uma diferença entre a profissão do músico e as profissões “não artísticas”. Com
isso, como Tajfel observou em sua teoria da identidade social, é feita uma distinção entre um
endogrupo e um exogrupo . Segundo esta teoria, o endogrupo tende a estabelecer diferenças
com o exogrupo, ao se comparar com ele, reforçando aquelas características que considera
positivas para si.
Observa-se então que ambas as imagens atualmente coexistem e se misturam, a do
músico “artista” e a do músico “profissional”. No entanto, dentro desse fenômeno de
redefinição do trabalho artístico, surge outra nova figura, o “artista de negócios”. Nos últimos
anos do século XX e o início do século XXI dão um vislumbre da chegada de uma nova
figura social que é frequentemente descrita como o “artista empreendedor”. A “representação
do artista como trabalhador” incorpora o facto de a atividade empresarial, manifestada
sobretudo na organização de projetos e em colaborações pontuais em redes de associados,
constituir uma parte legítima do conjunto de tarefas que compõem os ofícios artísticos
(Machillot, 2018).

2. Ensino na universidade pública

As instituições de Ensino Superior Públicas são as primeiras a aderir a esses


novos processos que otimizam a cultura de seus membros, incluindo a responsabilidade
social, abordagem que adquire hoje de vital importância diante dos desafios colocados pelas
instituições Educação superior. Toda organização, sendo parte de um sistema social, têm
obrigações inevitáveis a cumprir, responsabilidades que serão de ação ou omissão, materiais e
imateriais. Muito especificamente, é evidenciado em esses momentos a realização do caráter
obrigação da responsabilidade social dessas instituições com suas comunidades. Estas
implicações trarão, não só a obrigatoriedade para os estudantes, na obtenção do seu diploma
universitário, mas também uma reorganização de seu regimento interno para o funcionamento
do serviço comunitário, a formação de professores para consultorias, adaptar o tempo de
serviço da comunidade ao seu sistema acadêmico.
O estabelecimento de convênios com os Conselhos, Locais de Planejamento
Público, Conselhos Planejamento Estadual, bem como Coordenação de Políticas Públicas,
instituições, organizações públicas ou privadas e comunidade organizada entre outros. Esta
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situação torna necessário reforçar a cultura de todos os atores da esfera universitária frente a
este novo desafio, preparando-os para enfrentar o cenário competitivo, desde sua realidade
interna e em relação ao seu ambiente, sob a premissa de considerá-lo como uma instituição
socioeconômica com responsabilidade social, ética, corporativa e comunitária. A partir das
abordagens e com base na variável cultura organizacional como fonte de responsabilidade
social, surge o objetivo da pesquisa: Determinar a relação entre cultura e da responsabilidade
organizacional e social em universidades públicas.
A pluriatividade como meio de perpetuar a carreira do músico muitas vezes o leva
ao ensino, mantendo ‒ mas não sistematicamente ‒ uma atividade como intérprete ou
compositor que, no entanto, corre o risco de ser limitado. Nesse sentido, as aulas limitam as
possibilidades de deslocamento do músico e, consequentemente, de sair em turnê. Ensinar, no
entanto, também envolve uma dimensão artística - geralmente o professor de música não
apenas ensina, mas para isso também brinca com seus alunos - e isso leva a outro ponto que
considera que às vezes se torna difícil distinguir o trabalho principal do secundário quando
este implica uma dimensão artística (Burke, 2003).

3. Formação do Músico
Os músicos às vezes reivindicam a versatilidade e a multiatividade como parte da
profissão, outros os criticam e rejeitam, considerando que os impedem de dedicar tempo
suficiente às suas atividades e projetos musicais. No entanto, pode-se notar que as próprias
instituições tendem a favorecer a polivalência e a pluriatividade como mostra, por exemplo, o
caso da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) em Cuiabá, onde, além de oferecer as
disciplinas do núcleo comum, é permitido escolher uma das cinco orientações seguintes:
intérprete, canto, pedagogia musical, composição e direção coral. Essa possibilidade de
diversificação também está presente em outras universidades.
O corpo docente e administrativo e contrastava com a opinião dos membros das
associações dos vizinhos das comunidades onde estão inseridas as universidades, a
inexistência de planejamento de atividades de apoio à comunidade, nem são consultados para
realizar ações em prol dos mesmos, separando as funções das universidades com as
necessidades das comunidades para lhes prestar mais assistência. Observando a associação
entre cultura organizacional e responsabilidade social em universidades públicas as diferenças
significativas são evidentes em relação à correlação das variáveis, que embora a cultura seja
um fator diretamente relacionado à responsabilidade social, é determinante para o alcance ou
conquista da responsabilidade social.
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A pluriatividade é, portanto, uma construção nominal, fruto do processo de


designação. Se meu trabalho, pelo qual sou pago, inclui o fato de pintar quadros e, portanto,
ensinar pintura, ou tocar piano em público e, portanto, ensinar piano, então não sou
multiativo, estou simplesmente fazendo meu trabalho. Agora, se o meu trabalho, tal como
definido por quem me paga, consiste apenas em ensinar, mas pinto quadros e vendo-os nas
horas vagas, isso torna-se multi-atividade: alguns teriam algo a dizer sobre isso e até tentariam
me impedir. Se sou contratado para dar concertos e ensinar, a associação destas duas tarefas é
perfeitamente aceitável; se me contratam para dar aulas e eu dou shows que geram renda
separada, trata-se de pluriatividade e pode exigir uma explicação. Uma das razões pelas quais
os espaços profissionais de arte sempre parecem irregulares deve-se ao fato de que os artistas
obtêm sua renda de diferentes atividades pagas por diferentes empregadores, em vez de uma
única atividade para vários empregadores ou múltiplas atividades para um único empregador
(Becker, 2010).
Uma das razões, e não menos importantes, para essa falta de reconhecimento
estaria relacionada, talvez, ao fato de que, a obra do músico se inscreve, na maioria das vezes,
na precariedade é que há cada vez menos músicos que têm um lugar estável nas orquestras, e
mesmo estes, devido à natureza temporária de seus empregos ou à falta de contratos,
trabalham simultaneamente como figurantes em várias orquestras, como professores em
instituições públicas de ensino. Também o fazem por conta própria em seus próprios projetos,
em trabalhos ocasionais ‒ ou como empregados em atividades não relacionadas à música
(Hennion, 2011).
Diante desse fenômeno, o "multiemprego", e conforme constatado em nossas
próprias observações-, é uma constante na profissão do músico, pois é comum como
estratégia para garantir uma renda digna (Becker, 2010). Por outro lado, nas entrevistas
realizadas pudemos perceber que, além da precariedade, também estaríamos diante de uma
transformação, certamente parcial, mas importante, do que significa ser músico. De fato, nas
diferentes respostas dos entrevistados, observam-se dois conceitos que parecem definir o
mundo da música: o do “artista músico”, que deve saber libertar-se das dificuldades que o
distraem para se concentrar plenamente no exercício da sua arte, e a do “músico profissional”,
que para viver e praticar deve, pelo contrário, ser multi-ativo.

4. Conclusões ou Considerações finais


Apontamos anteriormente que, em geral, a multiatividade é favorecida pela
precarização do emprego e, no caso dos músicos, tornou-se uma das estratégias utilizadas por
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eles para tentar sobreviver. De fato, essa precariedade vivida por muitos músicos parece fazer
parte de uma transformação mais geral das condições de trabalho no México e mesmo no
resto do mundo. Nesse sentido, em nosso estudo pudemos constatar que, de fato, existe uma
relação direta entre precariedade e multiatividade. Além disso, os conceitos de poliatividade,
pluriatividade e polivalência nos permitiram revelar as profundas transformações pelas quais a
profissão do músico está passando atualmente.
Com efeito, seja pela perspectiva da sociedade ou pelas mudanças no mercado de
trabalho, a multiatividade dos músicos revela uma profissão que tenta (re)definir-se num
mundo em mudança. Nesse sentido, a nosso ver, os conceitos de polivalência, pluriatividade e
poliatividade nos permitem compreender esse fenômeno de forma mais sutil, pois revelam a
grande complexidade da profissão musical, sua constante evolução, e até que ponto essas
experiências se tornaram atualmente em práticas comuns, constitutivas do comércio.
Por um lado, a pluriatividade e versatilidade dos músicos são tão confirmadas que
se pode argumentar que, com poucas exceções, são uma constante no México. Ao contrário, o
caso da poliatividade merece um estudo mais detalhado, pois, como já dito, além de mostrar a
precarização sofrida na profissão, também traz à tona questões de distinção identitária entre
músicos profissionais e músicos profissionais, não profissionais. Resumindo, a
multiatividade, analisada a partir dos conceitos de poliatividade, pluriatividade e polivalência,
apontaria, por um lado, para uma resposta à precariedade da profissão de músico que, como
mencionado, hoje se caracteriza por suas deploráveis condições de trabalho. Por outro lado,
essa multiatividade também revelaria uma redefinição da profissão.
A este respeito, pela relevância social desta profissão, consideramos que é urgente
a necessidade de promover a concepção e o apoio na implementação de políticas públicas que
visem a melhoria das condições de trabalho dos músicos, sobretudo torna-se urgente
estabelecer uma maior regulação das condições de contratação, o que permitiria, entre outras
coisas, que o profissional da música pudesse obter melhor remuneração e acesso à previdência
social, a que, como qualquer profissional, deveria ter direito. Por isso, é importante continuar
a trabalhar este fenómeno, uma vez que nos permitiria conhecer melhor as condições de
trabalho dos músicos, bem como examinar e definir o seu estatuto na nossa sociedade e, com
isso, compreender melhor, ou ainda mais reconhecimento pelo seu trabalho.
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Referências

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