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Artigos Cemitérios como Fonte de Contaminação Ambiental


Infraestrutura superada dessas unidades pode afetar recursos hídricos e disseminar microrganismos ameaçadores para a saúde

Pedro Kemerich, Fernando Ernesto Ucker e Willian F. de Borba

Em razão do crescimento da população e contaminação das águas superficiais, o que compromete os ©Bobby Haas/National Geographic Getty Images
padrões de potabilidade a custos razoáveis, o abastecimento de regiões quase sempre de maior
densidade demográfica é um desafio crescente e de alto investimento, limitando a exploração de fontes
hídricas subterrâneas.

O aumento populacional também exige áreas cada vez maiores para sepultamento de corpos humanos.
Assim, áreas destinadas à implantação de cemitérios geralmente são escolhidas entre as de baixa
valorização econômica, quase sempre em regiões de reduzido desenvolvimento socioeconômico. Essas
áreas muitas vezes têm características geológicas e hidrogeológicas não avaliadas devidamente, o que
pode levar a problemas sanitários e ambientais de enorme complexidade. Cemitérios são áreas que
geram alterações no meio físico e por isso devem ser considerados fontes sérias de impacto ambiental.

No Brasil, a maioria dos cemitérios é muito antiga e, exatamente por isso, descompassados em termos
de estudos técnicos e ambientais. Considerando essa situação, o Conselho Nacional do Meio Ambiente
publicou, em 3 de abril de 2003, a Resolução nº 335 estabelecendo que todos os cemitérios horizontais e
Cemitério João Batista, em Fortaleza, Ceará, construído em 1866:
verticais deverão ser submetidos ao processo de licenciamento ambiental. Mas que impactos podem ser
exemplo de unidade sem infraestrutura necessária para impedir
produzidos por cemitérios? contaminação de água subterrânea.

CONTAMINAÇÃO DO SOLO

Os cemitérios, como qualquer outra instalação que afete as condições naturais do solo e das águas subterrâneas, são classificados como atividade com risco
de contaminação ambiental. A razão disso é que o solo em que estão instalados funciona como um filtro das impurezas depositadas sobre ele. O processo de
decomposição de corpos libera diversos metais que formam o organismo humano, sem falar nos diferentes utensílios que acompanham o corpo e o caixão em
que ele é sepultado. O principal contaminante na decomposição dos corpos é um líquido conhecido como necrochorume, de aparência viscosa e coloração
castanho-acinzentada, contendo aproximadamente 60% de água, 30% de sais minerais e 10% de substancias orgânicas degradáveis.

Em solos com alta umidade há um processo conhecido como saponificação pelo qual ocorre a quebra das gorduras corporais e a liberação de ácidos graxos.
Esse composto liberado exibe alta acidez, o que inibe a ação de bactérias putrefativas, retardando assim o mecanismo de decomposição do cadáver e
tornando o mecanismo tanto mais duradouro quanto mais contaminante.

Urnas funerárias confeccionadas em madeira estão fora das fontes signifi cativas de contaminação do solo, ao contrário do que ocorre com as metálicas. A
menos que conservantes da madeira contenham metais pesados, principalmente cromo, ou substâncias do grupo dos organoclorados, como pentaclorofenol
ou tribromofenol. Os caixões construídos com madeiras não tratadas se decompõem em curtos períodos, permitindo uma rápida disseminação de líquidos da
putrefação dos corpos. Caixões de metal, pouco utilizados, no entanto, podem provocar contaminação do solo por metais como ferro, cobre, chumbo e zinco.
Outra fonte significativa de impactos contaminantes por caixões funerários é a prata, com frequência utilizada nas alças. Na decomposição ela é liberada no
ambiente.

Além dos metais convencionais, outro contaminante significativo é a radioatividade. Corpos que, antes da morte, ou mesmo depois dela, passaram por
aparelhos com emissão de radiação podem estar contaminados. Nesse caso essa radioemissão também é liberada no solo.

Durante o processo de decomposição orgânica, além dos líquidos liberados há emissão também de alguns tipos de gases, entre eles principalmente os
característicos da decomposição anaeróbica, como o gás sulfídrico (H2S), identifi cados popularmente como cheiro de “ovo podre”, incluindo dióxido de
carbono, gás carbônico (CO2), metano (CH4), amônia (NH3) e hidrato de fósforo, a fosfina (PH3). Além desses elementos característicos, outros gases são
emitidos, caso dos óxidos metálicos (titânio, cromo, cádmio, chumbo, ferro, manganês, mercúrio e níquel entre outros) lixiviados dos adereços das urnas
mortuárias, incluindo formaldeído e metanol utilizados na prática do embalsamento.

CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS Divulgação

Como se não bastasse, a poluição atmosférica, pela liberação desses gases, e do solo, pelo desprendimento de resíduos já
considerados, os cemitérios podem ainda trazer sérios problemas ambientais à qualidade da água, principalmente os
estoques subterrâneas. A infiltração das águas de chuva nos túmulos promove o transporte de muitos compostos químicos
(orgânicos e inorgânicos) para o solo, que, dependendo das características geológicas do terreno, podem alcançar o
aquífero, contaminando-o. Para a minimização desse risco potencial é indispensável o monitoramento da qualidade da
água nessas áreas.

Túmulos em ruínas, com rachaduras que permitem infiltração em especial das águas de chuva, problemas provocados pela
compactação do solo por raízes de árvores de maior porte, além de negligência de proprietários de jazigos em cemitérios
também favorecem de maneira específica a contaminação do lençol freático com impactos ambientais capazes de afetar a
saúde pública.

O necrochorume, produzido no processo de decomposição orgânica, por exemplo, é liberado de forma constante por

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cadáveres em decomposição e apresenta um grau variado de patogenicidade. Grande parte dos organismos patogênicos
não tolera a presença de oxigênio disponível na zona insaturada do solo e acaba eliminada. Mas a uma maior
profundidade, nos aqüíferos por exemplo, a escassez de oxigênio permite abundante desenvolvimento de microrganismos.
No caso de a captação de água para consumo humano ou animal ser feita a partir de poços com pequena profundidade,
pessoas e animais que se servirem dela estão sob risco de doenças provocadas pela presença desses organismos.

Outra ameaça produzida por cemitérios é a ineficiente gestão de resíduos como as vestimentas que envolvem os corpos,
incluindo restos de caixões. Esses resíduos geralmente são depositados nas proximidades das áreas de sepultamento e, em
contato com a água da chuva, podem fazer com que diversas substâncias indesejáveis se infiltrem no solo e também
atinjam as fontes hídricas.

DOENÇAS LIGADAS A CEMITÉRIOS

Diversos estudos de natureza ambiental associam áreas que abrigam cemitérios a aterros sanitários, considerando que em
ambos estão disponíveis materiais orgânicos e inorgânicos com potencial contaminante. Mas, no caso de cemitérios, esses
resíduos podem estar associados a um número ainda maior de patógenos, com potencial de levar à morte pessoas
eventualmente contaminadas por eles. Memorial Necrópole Ecumênica de Santos:
instalação vertical economiza espaço físico
e concepção moderna impede
Entre os riscos de degradação de fontes por cemitérios destacam-se os provocados por compostos nitrogenados. Com a contaminação ambiental típica de unidades
decomposição dos corpos, substâncias nitrogenadas são liberadas pelo necrochorume. Esses compostos são responsáveis tradicionais.
por doenças como a meta-hemoglobinemia, popularmente conhecida como “síndrome do bebê azul”. Essa doença está
intimamente associada ao consumo de água com elevados teores de nitrato.

A polêmica em torno do potencial contaminante de cemitérios levou órgãos de vigilância e proteção ambiental a fiscalizar e multar cemitérios tanto públicos
como privados que não se adequarem às novas normas da legislação. Áreas ocupadas por cemitérios exigem a necessidade de monitoramento contínuo do
solo, águas, superficiais e subsuperfíciais, levando em conta que essas unidades são sempre fontes potenciais significativas de contaminação. Esses padrões
estão contidos na Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama nº 335 de abril de 2003), onde constam informações necessárias para o
licenciamento ambiental das áreas destinadas ao sepultamento de corpos humanos.

A partir da data de vigência dessa resolução órgãos ambientais estaduais e municipais passaram a ter obrigação de licenciar e fiscalizar a implantação de
novos cemitérios. Já no caso de unidades mais antigas, foi homologada uma nova resolução do Conama (no 402/2008) que estabeleceu prazo máximo até
dezembro de 2010 para definição de critérios de adequação das unidades disponíveis antes de 2003.

CREMAÇÃO ©cia de foto - editorial Latinstock

Da complexidade ambiental envolvendo os cemitérios, no entanto, emergem alternativas que acenam


com menores impactos, como a prática de cremação. O costume de cremar os mortos tem origens tanto
religiosas quanto de higiene ou até mesmo carência de espaços físicos. Nesse contexto entende-se por
cremar o ato de reduzir o corpo a cinzas. Relatos históricos evidenciam que o ato de cremar os mortos
era comum, por exemplo, na Grécia antiga, em especial como resultado de guerras, quando a maioria
das vítimas fatais em batalhas passava por esse processo. Já os escandinavos adotaram essa prática por
motivos religiosos. Para esses povos, apenas com a cremação a alma do morto estaria em liberdade.

A cremação não libera fumaça em seu processo. De modo geral, o procedimento ocorre a temperaturas
de 900°C, com duração de duas horas e captura de gases liberados pela queima. Dessa forma, a
cremação é a solução póstuma de menor impacto ambiental, pois não gera resíduos convencionais com
potencial de contaminar o ambiente, tanto no solo quanto na atmosfera.

Cemitério público da cidade de Gravatá, em Pernambuco: sujo,


A prática de cremação tem vantagens também quanto à eliminação de microrganismos patogênicos que
parcialmente coberto pelo mato, com lixo e sepulturas violadas é um
o sepultamento convencional apresenta. As elevadas temperaturas da cremação eliminam por completo exemplo de necrópole que ameaça ambiente e saúde pública.
essas fontes naturais de poluição. Assim, a cremação, acompanhada de rituais que também se
manifestam em sepultamentos convencionais, é uma forma de garantia e segurança ambiental aos que
continuam vivos.

Cemitérios verticais são uma alternativa a instalações convencionais sujeitas a todos os impactos ambientais considerados. Nessas unidades os corpos são
depositados em instalações com finalidades específicas e geralmente se assemelham a edifícios comuns, como é o caso do Memorial de Santos, no litoral de
São Paulo, que chega a 14 andares. Esse tipo de instalação tem diversas vantagens em relação ao cemitério horizontal, entre elas um número
comparativamente reduzido de exigências legais.

Cemitérios verticais também oferecem a facilidade de menor espaço físico, ausência de interferência do necrochorume e resíduos nas águas subterrâneas,
baixa exigência quanto ao tipo de solo, facilidade de sepultamento e visitas em dias chuvosos. Aqui, no entanto, há exigência de cuidados em relação à
liberação de gás sem tratamento e atenção especial na construção para evitar vazamento de necrochorume e eventual emissão de odor. Quanto aos impactos
provocados ao meio ambiente, destaca-se que nos cemitérios verticais também não há contato direto do corpo com o solo, diminuindo os riscos produzidos
pela contaminação tanto do solo quanto dos recursos hídricos.

Os problemas relativos ao sepultamento convencional e portanto às áreas ocupadas por cemitérios se iniciaram com a comunidade cristã, na Idade Média,
quando os corpos eram enterrados próximos às igrejas. Mas relatos e estudos mais avançados dessas áreas são recentes. É possível identifi car, na maioria
dos cemitérios, desafios relacionados a planejamento, gestão, depósito inadequado de resíduos, entre outros desafi os técnicos que afetam tanto as unidades
de propriedade pública quanto privadas.

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