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Fontes

Matemática Discreta
Gomide, Anamaria; Stolfi, Jorge. Elementos de Matematica Discreta para
Computação.
Pedro Hokama
Rosen, Kenneth H. Discrete mathematics and its applications. McGraw-Hill
Education, 8th Edition, 2019.

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Introdução à Teoria de Grafos


Informalmente, um grafo é um modelo matemático
para representar uma coleção de objetos (chamados
Introdução à Teoria de vértices) que são ligados aos pares por outra
coleção de objetos (chamados arcos ou arestas).
Grafos Vértices são geralmente representados por pontos,
círculos ou caixas, e Arestas por linhas ligando os
vértices. As posições dos vértices e a forma das
linhas são irrelevantes; o grafo representa a
topologia, isto é, quem está ligado a quem.
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Grafos são extremamente úteis para modelar
problemas em muitas áreas de aplicação.
Por exemplo, a malha rodoviária de um estado pode
ser representada por um grafo em que as cidades
são os vértices, e cada trecho de estrada entre
cidades consecutivas é uma aresta.
Um circuito elétrico pode ser visto como um grafo
onde os vértices são condutores metálicos e as
arestas são resistores, capacitores, e outros
componentes.
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Grafos são especialmente importantes em


computação, para modelar conceitos tanto de
Uma molécula pode ser abstraída por um grafo onde hardware (desde circuitos digitais até a internet
os átomos são os vértices e as arestas são as mundial) quanto de software (como registros em
ligações covalentes. bancos de dados, blocos e módulos de programas,
Uma treliça metálica pode ser entendida como um protocolos de transmissão de dados e muito mais).
grafo onde as arestas são as barras e os vértices são Os vértices podem representar usuários de uma rede
as juntas. social e as arestas suas conexões.
Páginas web e links entre elas.
Máquinas (reais ou virtuais) e dependência de
serviços. Etc, etc.
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O conceito abstrato de grafo e o estudo matemático
de suas propriedades foi uma das muitas
contribuições do matemático suíço Leonhard Euler
(1707–1783).
Um quebra-cabeças famoso na época era encontrar
um passeio que visitasse todas as pontes da cidade
de Königsberg passando uma única vez em cada
ponte.

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Euler resumiu as propriedades essenciais do mapa A teoria matemática dos grafos foi desenvolvida
por um diagrama de pontos ligados por linhas. gradualmente no século 19, quando surgiram
Apenas analisando esse diagrama abstrato, ele importantes aplicações em química e engenharia.
provou que o tal passeio era impossível. Sua importância cresceu muito no século 20, com o
Este trabalho (publicado em 1736) é considerado o surgimento das redes de telefonia, dos circuitos
primeiro artigo da teoria de grafos. digitais e, por fim, dos computadores.

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Definição formal Definição alternativa


Há muitas maneiras de definir o conceito de grafo.
Um grafo G é uma tripla da forma (V , E , F ) onde V e
Qual delas é melhor depende da aplicação. De modo
E são conjuntos quaisquer, chamados de vértices e
geral, adotaremos as seguintes definições de grafo.
arestas; e F é uma função, chamada função de
Um grafo G é uma dupla da forma (V , E ) onde V e
incidência, que a cada elemento e de E associa um
E são conjuntos chamados de vértices e arestas;
par F (e ) de vértices, que são chamados de
cada elemento de E é um subconjunto de dois
extremos de e.
vértices {u, v } em que u ∈ V e v ∈ V .

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Orientação Se esse for o caso, o grafo é dito orientado ou
dirigido.

Há também a possibilidade das arestas serem pares


ordenados (u, v ) de vértices. Nesse caso as arestas
tem uma direção, ou sentido. Muitas vezes nesses
casos chamamos de "arcos".

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Grafo Simples vs. Arestas paralelas e Usaremos o termo grafo simples para significar um
laços grafo sem laços e sem arestas paralelas. (Para
alguns autores, aliás, grafo significa “grafo simples”
Pelas definições acima, pode haver um número exclusivamente, e usam o termo multigrafo quando
arbitrário de arestas com os mesmos extremos. há arestas paralelas.)
Ou seja podemos ter e 0 , e 00 ∈ E com e 0 , e 00 mas
F (e 0 ) = F (e 00 ). Este modelo também permite laços,
ou seja arestas e tais que F (e ) = (u, u) (no caso
orientado) ou F (e ) = {u, u} = {u} para algum u ∈ V .

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Grafos finitos e infinitos Conceitos fundamentais
Incidência: Se um vértice v de um grafo G é um dos
Um grafo pode ter infinitos vértices e/ou infinitas extremos de alguma aresta e de G, dizemos que e
arestas. incide em v, e vice-versa. (Podemos definir uma
Tais grafos infinitos tem aplicações na matemática, relação de incidência)
mas os que ocorrem em computação geralmente são Adjacência: Dois vértices u, v são ditos adjacentes
finitos em ambos os aspectos. ou vizinhos em um grafo G se e somente se existe
Aqui vamos considerar principalmente grafos finitos. uma aresta de G cujos extremos são u e v. Esta
relação (simétrica) entre vértices é a relação de
adjacência (não orientada) do grafo.
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Dominância: Em um grafo orientado, pode-se dizer


Se o grafo G é orientado, podemos também definir o
que um vértice u domina ou atinge outro vértice v
grau de entrada e o grau de saída de um vértice v
se e somente se existe uma aresta de G com origem
como o número de arestas que entram em v ou
u e destino v.
saem de v, respectivamente. Denotaremos esses
Grau do vértice: Em um grafo G, definimos o grau números por d + (v ) e d − (v ), respectivamente. Note
de um vértice v como o número de arestas de G que cada laço é contado uma vez em ambos os
incidentes a v. Nesta definição, cada laço deve ser graus. Nesse caso, temos que d (v ) = d + (v ) + d − (v ).
contado duas vezes. Denotaremos o grau por d (v ).

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Corolário: Em todo grafo G = (V , E ), o número de
Teorema: Em qualquer grafo G = (V , E ), a soma dos vértices de grau ímpar é par.
graus de todos os vértices é igual ao dobro do número Prova: Sejam P o conjunto dos vértices de grau par e
de arestas. Isto é I o conjunto dos vértices de grau ímpar. Então
X X X
X d (v ) = d (v ) + d (v ) = 2 |E |
d (v ) = 2 |E | v ∈V v ∈P v ∈I
v ∈V X X
logo d (v ) = 2 |E | − d (v )
Prova: Cada aresta (laço ou não) contribui duas v ∈I v ∈P
unidades na soma dos graus. O lado direito da equação acima é par. Como a soma
de parcelas ímpares é par somente se o número de
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parcelas for par, concluímos que o |I| é par. 26 / 108

Grafos regulares: Um grafo G é regular se todos os


seus vértices tem o mesmo grau. Em particular se o
grau dos vértices é r então G é chamado r-regular— Grafos completos: Um grafo G é chamado
regular de grau r. Se o grafo G é orientado os graus completo se não tem laços e existe exatamente uma
de entrada e saída devem ser iguais. aresta entre cada par de vértices. Note que um grafo
completo é sempre um grafo simples e
(n − 1) -regular.

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Percursos em grafos
Passeios, trilhas e caminhos
Um passeio em um grafo G é uma sequência
Exercício: Quantas arestas tem um grafo completo com n P = (v0 , e1 , v1 , . . . , ek , vk ), onde cada vi é um vértice
vértices?
de G, cada ei é uma aresta de G, e os extremos de
Exercício: Quantas arestas possui um grafo k -regular ei são vi −1 e vi . O inteiro k é o comprimento do
com n vértices?
passeio, denotado por |P |. Quando o grafo é simples
podemos definir o passeio apenas pela sequência de
seus vértices. Em particular, um passeio pode ter
apenas um vértice e nenhuma aresta, P = (v0 ). Tal
passeio é dito trivial, e seu comprimento é zero.
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Se as arestas e1 , e2 , . . . , ek são todas distintas o Circuitos e ciclos


passeio é chamado de trilha. Note que uma trilha Dizemos que um passeio P = (v0 , e1 , v1 , . . . , ek , vk )
pode repetir vértices. com k ≥ 1 é fechado se v0 = vk , isto é, se ele
Um caminho em um grafo é um passeio que não começa e termina no mesmo vértice.
repete vértices. É fácil ver que um caminho não pode Um circuito ou ciclo em um grafo G é um passeio
visitar mais de uma vez a mesma aresta, portanto fechado (v0 , e1 , v1 , . . . , ek −1 , vk −1 , ek , vk ) com k ≥ 1
todo caminho também é uma trilha. que não repete vértices nem arestas exceto v0 = vk .
Note que um caminho de comprimento k visita Em grafos orientados, passeios, trilhas, caminho e
exatamente k + 1 vértices distintos e tem circuitos orientados seguem a mesma definição, mas
exatamente k − 1 vértices internos. os arcos devem respeitar a orientação.
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Subgrafos Dado o grafo G, cada subgrafo H é completamente
determinado pelos conjuntos VH e EH . Se VH = VG o
Um grafo H é um subgrafo de outro grafo G se subgrafo H é chamado subgrafo gerador ou
VH ⊆ VG , EH ⊆ EG , e cada aresta de EH tem os subgrafo espalhado.
mesmos extremos em H e em G.
Se G é orientado, H também precisa ser orientado e
as arestas precisam ter também a mesma
orientação. Ou seja, FH é a restrição FG a EH .

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Subgrafos Induzido

Se X é um subconjunto de VG , define-se o subgrafo


de G induzido por X , denotado por G [X ], como
sendo o maior subgrafo de G cujo conjunto de
vértices é X . Isto é, o subgrafo com esses vértices
cujas arestas são todas as arestas de G que Um subgrafo induzido por um conjunto de arestas,
possuem ambos os extremos em X . contêm somente aquelas arestas, e somente os
vértices que são extremos dessas arestas.

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Grafos complementares
Dito de outra forma, dois grafos simples G e H são
Dois grafos simples não orientados G e H são ditos complementares se e somente se VG = VH ,
complementares se eles tem o mesmo conjunto de EH ∩ EG = ∅, e EH ∪ EG são todos os pares de
vértices V , e para qualquer par de vértices distintos vértices distintos. O grafo complementar de um grafo
u, v ∈ V , a aresta {u, v } está em G se e somente se simples G é chamado de complemento de G e
ela não está em H. denotado por G. Observe que G ∪ G é o grafo
No caso de grafos simples orientados, vale a mesma simples completo com vértices VG .
definição, com o par ordenado (u, v ) em vez de {u, v }.

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Representação matricial de grafos


A matriz de adjacência de um grafo finito G é uma
representação matricial da sua relação de
adjacência. Ou seja, escolhida uma ordenação total
v0 , v1 , . . . , vn−1 dos vértices de G, construímos a
matriz booleana M de n linhas e n colunas onde Mij é
Verdade se e somente se E inclui uma naresta o com
extremos (vi , vj ) no caso orientado, ou vi , vj no caso
não orientado. Observe que, neste segundo caso, a
matriz será simétrica (Mij = Mji para quaisquer i e j).
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Se a definição permite arestas múltiplas, a matriz Matriz de incidência
booleana de adjacências não é mais suficiente para A matriz de incidência de um grafo finito não
representar completamente o grafo. Para tal fim, orientado G é simplesmente a representação
podemos entretanto usar uma matriz M onde cada matricial da sua relação de incidência. Ou seja,
elemento Mij é um número natural, especificamente
n o o escolhida uma ordenação total v0 , v1 , . . . , vn−1 dos
número de arestas com extremos (vi , vj ) ou vi , vj , vértices de G e uma ordenação total e0 , e1 , . . . , em−1
conforme o caso. Porém, esta representação ainda das arestas, construímos a matriz booleana M de n
não permite saber quais arestas ligam esses dois linhas e m colunas onde Mik é V se, e somente se o
vértices. vértice vi é um extremo da aresta ek .
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Dadas as listas de vértices e arestas, a matriz de


incidência determina completamente o grafo, mesmo
Isomorfismos de grafos
quando este possui laços ou arestas paralelas.
Em algumas aplicações, é conveniente combinar
estas duas matrizes em uma única matriz M cujos
elementos são inteiros no conjunto {+1, 0, −1}; sendo
que Mik é +1 se ek entra em vi , −1 se ek sai de vi , e Observe os grafos G1 , G2 e G3 tem a mesma
0 se ek não incide em vi . Ou seja, Mik = Mik+ − Mik− , estrutura, diferindo apenas nos “nomes” dos vértices
supondo que V = 1 e F = 0. Entretanto, esta e das arestas; enquanto que o grafo G4 tem uma
representação somente pode ser usada se o grafo estrutura diferente. (Por exemplo, G4 é o único que
não tiver laços. tem um circuito de comprimento 4.)
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Isomorfismos de grafos
Dizemos que dois grafos G e H são isomorfos se
Ou seja, as funções f e g preservam as relações de
existem bijeções f : VG → VH e g : EG → EH tais que
incidências entre vértices e arestas. Se os grafos são
um vértice v é extremo de uma aresta e no grafo G
simples, é suficiente que exista uma função bijetora
se e somente se f (v ) é extremo da aresta g (e ) no
f : VG → VH que preserva as adjacências dos
grafo H.
vértices. Se G e H são o mesmo grafo, dizemos que
No caso de grafos orientados, a direção da aresta f é um automorfismo de G.
tem que ser preservada também: a aresta e entra no
(resp. sai do) vértice v em G se e somente se g (e )
entra em (resp. sai de) f (v ).
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Isomorfismos de grafos
Exercício: Os grafos abaixo são isomorfos? Relacione-os
dois a dois. Demonstre que são isomorfos, se o forem;
Escrevemos G  H para indicar que G e H são caso contrário justifique porque não o são.
isomorfos. Quando isto ocorre, qualquer propriedade
de G que pode ser definida apenas em termos de
incidências também será uma propriedade de H. Por
esta razão, isomorfismo é um dos conceitos mais
importantes da teoria dos grafos.

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Dados dois grafos G e H, com VG = VH = n, verificar
se G e H são isomorfos é um problema difícil. O isomorfismo é uma relação de equivalência entre
Uma maneira é na força bruta, ou seja analisar todas grafos. Uma classe de equivalência desta relação é o
as n! bijeções de VG para VH e verificar se alguma conjunto de todos os grafos que tem um determinado
delas satisfaz a condição de isomorfismo. diagrama (isto é, uma determinada estrutura) ,
Há algoritmos mais eficientes, mas todos os métodos independentemente dos “rótulos” dos vértices e das
conhecidos podem demorar demais em certos arestas.
casos, mesmo para grafos relativamente pequenos.

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Conexidade
em grafos não orientados

Pode-se verificar que todos os grafos simples Seja G = (V , E ) um grafo não orientado, Dizemos
completos com n vértices são isomorfos entre si. que um vértice u ∈ V está conectado ou ligado em
Portanto, para cada natural n, existe apenas um G a um vértice v ∈ V se e somente se existe um
grafo não rotulado completo com n vértices, que é passeio em G com início u e término v. Isto equivale
geralmente denotado por Kn . a dizer que existe um caminho em G de u para v.
Dizemos que um grafo é conexo se ele não é vazio e
quaisquer dois de seus vértices são conectados.

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Esse teorema implica que cada componente de um
As componentes (conexas) de um grafo G são os
grafo G é essencialmente um grafo independente,
subgrafos conexos de G que são maximais na
sem interseção ou ligação com as outras
relação “⊆” (“é subgrafo de”). Uma propriedade
componentes.
importante das componentes é a seguinte:
Teorema: Um subgrafo H de um grafo não orientado Observe que um grafo é conexo se e somente se ele
G é uma componente conexa de G se e somente se tem exatamente uma componente conexa. Em
H é conexo, e toda aresta de EG que tem um particular, o grafo vazio não é conexo. Alguns
extremo em VH está em EH (e portanto tem os dois autores usam o termo desconexo para um grafo
extremos em VH ). com duas ou mais componentes. Um grafo sem
arestas é dito totalmente desconexo.
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Seja e uma aresta de um grafo G. O grafo G \ {e } ou Conexidade


tem o mesmo número de componentes conexas que em grafos orientados

G, ou tem uma componente a mais.


No segundo, caso dizemos que a aresta e é uma Um grafo orientado G é fortemente conexo se, para
aresta de corte. quaisquer dois vértices u, v ∈ V , existe um passeio
Observe que, se retirarmos uma aresta de corte de orientado de u para v e de v para u.
um grafo conexo, obtemos um grafo desconexo. Isto equivale a dizer que existe um caminho
Exercício: Prove que, em qualquer grafo não orientado orientado de u para v e de v para u.
G, a relação “está conectado a” é uma relação de
equivalência.
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Ao contrário do que ocorre em grafos não orientados,
Um subgrafo fortemente conexos de um grafo
uma componente fortemente conexa H de um grafo
orientado G que não está contido em nenhum outro
G não é necessariamente “isolada” das outras
subgrafo fortemente conexo de G é, por definição,
componentes.
uma componente fortemente conexa de G.
Pode existir uma (ou mais) aresta e de G que não
Isto é, as componentes fortemente conexas de G
está em EH mas tem origem ou destino em VH .
são os subgrafos fortemente conexos de G que são
(Nesse caso é fácil provar que o outro extremo de e
maximais sob “⊆”.
não está em VH .)

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b d g Árvores
Uma árvore é um grafo conexo acíclico.
Árvores são muito importantes, em computação e
a h
em outras áreas, e tem inúmeras propriedades
interessantes.
c e i Por exemplo, a maneira mais econômica de interligar
um conjunto de computadores e switches por cabos
f k é formando uma árvore.
Observe que uma árvore é necessariamente um
grafo simples.
j 59 / 108 60 / 108
Teorema: Em uma árvore quaisquer dois vértices são
ligados por um único caminho.
Grafos bipartidos
Corolário: Toda aresta de uma árvore é uma aresta
Seja G = (V , E , F ) um grafo.
de corte.
Uma bipartição de V é um par não ordenado de
Teorema: Seja G uma árvore com n vértices e m
subconjuntos A e B de V , tais que A ∪ B = V e
arestas, então m = n − 1.
A ∩ B = ∅ e toda aresta do grafo tem um extremo em
A e o outro em B.
Um grafo G com uma bipartição A , B é chamado um
grafo bipartido.

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Um grafo bipartido completo é um grafo bipartido


no qual todo vértice de A é adjacente a todo vértice Para cada par de números naturais m e n, existe
de B. apenas um grafo não rotulado bipartido completo
Verifica-se que uma condição necessária e suficiente cuja bipartição tem m vértices em um conjunto e n
para que um grafo G = (V , E , F ) tenha uma vértices no outro. Esse grafo não rotulado é
bipartição é que ele não possua ciclos de geralmente denotado por Km,n .
comprimento ímpar.

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Grafos eulerianos Neste modelo, o problema pede um passeio no grafo
G que atravessa exatamente uma vez cada aresta de
E, ou seja, uma trilha que atravessa por todas as
Para mostrar que o problema das
arestas.
pontes de Königsberg não tem
Uma trilha com esta propriedade é chamada de
solução, Euler primeiro modelou o
trilha euleriana ou trilha de Euler do grafo G. Se a
mapa da cidade por um grafo G
trilha é fechada ela é chamada de tour euleriano ou
não orientado.
tour de Euler. Um grafo é dito euleriano se ele
contém um tour de Euler.

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Outro quebra-cabeças clássico que recai no mesmo


problema de grafos é desenhar cada um dos
No seu artigo de 1736, Euler fez mais do que
diagramas abaixo sem levantar o lápis do papel e
resolver o problema da cidade de Königsberg.
sem traçar duas vezes a mesma linha.
Ele encontrou uma condição necessária e suficiente
para que um grafo qualquer G tenha um tour
euleriano:
Teorema: Um grafo conexo tem um tour de Euler se
e somente se ele não tem vértices de grau ímpar.

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Cada desenho pode ser modelado por um grafo G,
onde os vértices são os extremos isolados de linhas
Grafos hamiltonianos
ou pontos onde três ou mais linhas se encontram, e Considere o seguinte quebra-cabeças: o Rei Artur
as arestas são as linhas ligando esses pontos. precisa designar os assentos para seus 24
Nesse caso, o que se pede é uma trilha euleriana, Cavaleiros em volta da Távola Redonda.
uma trilha (não necessariamente fechada) que passa Nem todos eles são amigos; e é importante que cada
por todas as arestas de G. O seguinte teorema é um cavaleiro seja colocado entre dois de seus amigos.
corolário do teorema de Euler: Podemos descrever as relações de amizade como
Corolário: Um grafo conexo tem uma trilha de Euler um grafo simples G onde os vértices são os
se, e somente se, ele tem no máximo dois vértices Cavaleiros e uma aresta entre dois Cavaleiros se
de grau ímpar. eles são amigos (e podem sentar lado a lado).
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Um circuito com essas propriedades é chamado de
circuito hamiltoniano do grafo G.
Este nome homenageia o matemático irlandês
William Rowland Hamilton (1805–1861).
Em 1856 ele descreveu, em uma carta a um colega,
um jogo para duas pessoas derivado do dodecaedro.

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Nesse jogo, uma pessoa escolhe um caminho P


qualquer de cinco vértices no grafo G, e a outra deve
encontrar um circuito em G que começa com P e
passa por todos os vértices.

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Um grafo que possui pelo menos um circuito
hamiltoniano é chamado de grafo hamiltoniano.
Há vários argumentos que podem ser usados para
demonstrar que um grafo não é hamiltoniano.

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Por exemplo, se G tem um vértice de grau 1, então G


não é hamiltoniano. No exemplo da figura (c),
pode-se ver que qualquer passeio que visite os
vértices u e v deve repetir a aresta a, e portanto não
pode ser um circuito.
No exemplo da figura (d), pode-se observar que os
cinco vértices brancos e os seis vértices pretos
formam uma bipartição A , B de G. Como os dois
conjuntos tem cardinalidades diferentes, podemos
concluir que não há circuito que passe por todos os
vértices.
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Grafos planares O problema pede para desenhar um grafo G (neste
Um quebra-cabeças clássico pede para ligar três caso, o grafo completo bipartido K3,3 ) no plano, de
casas a três centrais de serviço — água, esgoto e modo que nenhuma aresta cruze outra aresta ou
internet banda-larga — sem que nenhuma dessas passe por um vértice que não é seu extremo.
ligações cruze qualquer outra. Um desenho deste tipo é chamado de
representação planar do grafo G.
Se G pode ser desenhado desta forma, dizemos que
ele é um grafo planar.
Nem todo grafo é planar.

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Uma representação planar de um grafo divide o


plano em uma ou mais regiões, separadas pelos
desenhos dos vértices e arestas.
Essas regiões são chamadas de faces da
representação. Na figura (b) há cinco faces
(A ,B,C,D,E). Note que uma dessas regiões — a
face externa E — tem tamanho infinito, as demais
tem tamanho finito.

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A fórmula de Euler para grafos planares
Teorema: Seja Ĝ uma representação planar de um
grafo G. Uma aresta e de G pertence a um circuito
se, e somente se, ela separa duas faces distintas de
Ĝ. Um mesmo grafo planar G pode ter várias
Corolário: Um grafo é uma árvore se e somente se representações planares bem diferentes.
ele tem uma representação planar com uma única
face.

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Na figura por exemplo, no primeiro desenho as faces


A , B , C , D tem 3, 3, 5 e 5 lados, respectivamente, No entanto, Euler descobriu que toda representação
enquanto que no segundo as faces A 0 , B 0 , C 0 , D 0 tem planar de um mesmo grafo G tem o mesmo número
3, 3, 4 e 6 lados, respectivamente. de faces.
Teorema: [Fórmula de Euler] Seja Ĝ uma
representação planar de um grafo simples e conexo
G. Seja f o número de faces de Ĝ. Então
f = e − v + 2, onde v = |V | e e = |E |.

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Prova: Vamos provar usando indução no número de Passo de Indução: Seja Ĝ uma representação de
faces de Ĝ. um grafo conexo e planar G com f faces. Escolha
Base: Se f = 1 então, pelo corolário visto uma aresta a de G que não seja uma aresta de corte.
anteriormente, G é uma árvore. Nesse caso, pelo Logo a pertence a algum circuito de G e portanto ela
temos e = v − 1. Portanto o enunciado vale para separa duas faces distintas de Ĝ. Então retirando a
f = 1. aresta a de Ĝ obtemos uma representação Ĝ 0 do
subgrafo G − a. Observe que G − a é conexo e que
Hipótese de Indução: Suponhamos agora que f é
Ĝ 0 tem f 0 = f − 1 faces, pois as duas faces de Ĝ
um inteiro maior ou igual a 2 e que a afirmação é
separadas por a tornam-se uma face em Ĝ 0 . Sejam
verdadeira para todas as representações planares de
v 0 = v e e 0 = e − 1 o número de vértices e arestas
grafos simples com o número de faces menor que f .
do grafo G − a.
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Por hipótese de indução temos que

f 0 = e0 − v 0 + 2 Uma consequência da fórmula de Euler é que um


ou seja grafo planar não pode ter muitas arestas. Mais
(f − 1) = (e − 1) − v + 2 precisamente:

e portanto
f =e−v +2

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Corolário: Seja G um grafo planar, simples e conexo,
com pelo menos três vértices. Então |E | ≤ 3 |V | − 6.
Prova:
Seja S a soma dos lados. 3f ≤ S ≤ 2e. Logo Esse corolário permite concluir que o grafo completo
f ≤ 2/3e K é planar, pois para ele temos VK5 = 5,
5 não

f =e−v +2 EK5 = 10, e 10 > 3 · 5 − 6 = 9.


2/3e ≥ e − v + 2
v − 2 ≥ 1/3e
3v − 6 ≥ e

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Fim.

Esse corolário permite concluir que o grafo completo


K é planar, pois para ele temos VK5 = 5,
5 não

EK5 = 10, e 10 > 3 · 5 − 6 = 9.
Corolário: Seja G um grafo planar, simples e conexo, O teorema de Kuratowski
com pelo menos três vértices. Se G não possui ciclos
de comprimento 3, então |E | ≤ 2 |V | − 4. Em 1930, o matemático polonês Kasimierz
Kuratowski (1896–1980) descobriu que é possível
Este corolário permite concluir que K3,3 não é planar, caracterizar os grafos planares apenas em termos
pois
ele
não tem ciclos de comprimento 3, tem discretos.
VK3,3 = 6, EK3,3 = 9, e 9 > 2 · 6 − 4 = 8. Observe que Para apresentar esse resultado precisamos do
este resultado mostra que o problema das três casas conceito de subdivisão de um grafo.
e três serviços não tem solução.

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Dizemos que um grafo simples H é uma subdivisão
de outro grafo G se VG ⊆ VH , e para cada aresta
e ∈ EG existe um caminho Ce em H ligando os
extremos e; sendo que toda aresta de EH e todo Teorema: [Teorema de Kuratowski] Um grafo G é
vértice de VH \ VG ocorre em exatamente um destes planar se e somente se ele não contém um subgrafo
caminhos. que seja isomorfo a uma subdivisão do K5 ou do K3,3 .

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Exemplo: A figura (a) mostra o chamado grafo de Coloração de grafos


Petersen (estudado pelo matemático dinamarquês Coloração de mapas
Julius Petersen, 1839–1910) que denotaremos por P.
H é isomorfo a uma subdivisão do grafo completo K3,3 . É costume em mapas pintar os países (estados,
Note, por exemplo, que o caminho (e , a , f ) de H municípios, etc) com cores variadas, de tal forma que
corresponde à aresta (1, 4) de K3,3 . estados que tem fronteira comum tenham cores
diferentes — a fim de tornar as fronteiras mais
visíveis. Uma questão antiga é quantas cores
diferentes são necessárias para esse fim.

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Em 1852 esta questão foi colocada como um
problema matemático pelo aluno inglês Francis
A experiência sugere que três cores são Guthrie (1831–1899), e foi amplamente divulgada
insuficientes, mas quatro cores bastam (desde que pelo seu professor Augustus De Morgan.
cada país seja um único território contínuo). Em 1879, o matemático inglês Alfred Kempe
(1849–1922) publicou uma demonstração de que
Será que existe algum mapa que precisa de cinco
quatro cores eram suficientes.
(ou mais) cores?
Porém, em 1890 foi observado que havia uma falha
na demonstração de Kempe.
Uma demonstração correta foi obtida apenas em
1976, por Kenneth Appel e Wolfgang Haken.
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Em 1996 Robertson, Sanders, Seymour e Thomas


Essa demonstração causou bastante controvérsia, conseguiram simplificar a demonstração reduzindo a
pois os autores reduziram o problema a 2000 casos lista para “apenas” 633 casos. (Hoje demonstrações
separados, e utilizaram um programa de computador usando computador tornaram-se ferramentas
para enumerar e verificar todos esses casos. importantes em matemática.)
Por esse motivo muitos matemáticos se recusaram a Um mapa de países pode ser visto como uma
considerar a demonstração válida, e ela foi publicada representação planar Ĝ de um grafo G: cada vértice
somente em 1989. de G é um ponto do mapa onde três ou mais países
tem fronteira comum, e cada aresta é um trecho de
fronteira entre dois países ligando dois desse pontos.
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Na representação dual Ĥ de Ĝ, cada vértice é um
país e existe uma aresta ligando dois países se, e
Coloração de grafos em geral
O problema das quatro cores é um caso particular de
somente se, eles tem um trecho de fronteira em
uma questão mais geral sobre grafos arbitrários (não
comum.
necessariamente planares).
Portanto, o resultado de Appel e Haken pode ser
reformulado como segue Definimos uma k-coloração de um grafo simples G
como uma atribuição de k cores aos vértices de tal
Teorema: [Teorema das quatro cores] Se H é um forma que vértices adjacentes não tem a mesma cor.
grafo planar é sempre possível colorir seus vértices O número cromático de G é o menor número k de
com quatro cores, de modo que quaisquer dois cores tal que G tem uma k -coloração. Denotaremos
vértices adjcentes tenham cores distintas. por χ(G ) o número cromático de um grafo G.
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Ainda não se conhece um algoritmo eficiente para


É fácil ver que o número cromático de G é 2 se e determinar o número cromático de um grafo simples
somente se G é bipartido, e que o número cromático G arbitrário. Entretanto, existe um teorema que limita
do grafo completo Kn é n. esse número:
O teorema das quatro cores diz que o número
cromático de um grafo planar é no máximo 4. Teorema: Seja G um grafo simples e ∆ o maior dos
graus de seus vértices. O número cromático de G é
no máximo ∆ + 1.

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