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GRAFOS E APLICAÇÕES ENTRE

SUPERFÍCIES

X Bienal de Matemática 2022

Catarina Mendes de Jesus Sánchez

20 a 24 junho de 2022
.

À minha querida família.


Sumário

Prefácio v

1 Grafos e superfícies 1
1.1 Noções básicas de grafos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Superfícies fechadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 Característica de Euler de Superfícies . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.4 Grafos associados às Superfícies com Curvas . . . . . . . . . . . 12

2 Aplicações entre superfícies 17


2.1 Singularidades de aplicações estáveis . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.2 Grau de Aplicação entre Superfícies . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.3 Transições de Codimensão 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

3 Grafos dual de aplicações 29


3.1 Grafos de aplicações estáveis entre superfícies . . . . . . . . . . 29
3.2 Cirurgias de aplicações estáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

4 Aplicações entre superfícies 41


4.1 Aplicações no plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4.2 Aplicações entre superfícies fechadas . . . . . . . . . . . . . . . 43

Referências 47

iii
Prefácio

Um dos principais problemas em Matemática consiste em classificar objetos


de estudo. Dependendo das propriedades de interesse deste objeto se define
uma classe de equivalência. Em geral, uma pergunta clássica é: dois objetos
dados são equivalentes ou não? O nosso objeto de estudo são as aplicações
estáveis entre superfícies, tema que tem interessando vários autores, tais como
([25, 24, 26, 28, 29, 30]).
A palavra estável garante o comportamento de uma aplicação mesmo com
“pequenas perturbações”. Localmente, as aplicações entre superfícies podem
ser vistas como aplicações do plano no plano e as singularidades ocorrem nos
pontos em que a matriz Jacobiana (formada pelas derivadas parciais de pri-
meira ordem) não tem posto máximo. Em (1955), Whitney [29] iniciou o
estudo das aplicações estáveis do plano no plano, quando determinou que um
germe de aplicação em cada ponto (análise local) é equivalente a um ponto re-
gular, ou ponto de dobra ou uma cúspide. Também determinou que o conjunto
das aplicações estáveis formam um subconjunto aberto e denso no espaço de
todas as aplicações suaves. No final dos anos 70, Thom [27] notou que es-
ses resultados poderiam ser incorporados a uma nova teoria: a Teoria das
Singularidades. No caso global de aplicações estáveis entre superfícies, se o
domínio é uma superfície fechada, então o conjunto singular consiste de uma
coleção de curvas fechadas, simples e disjuntas, que separa o conjunto regular
em componentes conexas disjuntas desta superfície.
Em [7, 15] foi introduzido grafos com pesos nos vértices associados às apli-
cações estáveis de superfícies fechadas e orientadas no plano. As componentes
do conjunto regular corresponde aos vértices e as componentes do conjunto sin-

v
vi Catarina Mendes de Jesus Sánchez

gular correspondem às arestas do grafo. O peso em cada vértice corresponde


ao gênero da região regular associada a ele. Estes grafos servem como invari-
antes topológicos globais, que auxilia nas classificações dessas aplicações, pois
carrega as informações topológicas do conjunto regular e a disposição do con-
junto singular. Além disso, o grafo serve como uma ferramenta bastante útil
para a construção de exemplos dessas aplicações. Essa técnica de aplicar gra-
fos no estudo de aplicações estáveis foi extendido para aplicações estáveis entre
superfícies fechadas e orientadas ([8, 9, 14]), para aplicações entre superfícies
fechadas e não orientadas ([19, 20]), para aplicações de Gauss de superfícies
fechadas imersas no 3-espaço ([17, 21]) e aplicações de 3-variedades no 3-espaço
([10, 18]). Para uma imersão de uma superfície no 3-espaço é possível estudar
ao mesmo tempo a função altura, suas projeções e a aplicação de Gauss. Em
recentes trabalhos temos estudado a combinações destes diferentes pontos de
vista da imersão de uma superfície no 3-espaço ([16, 22]).
Nestas notas, escrita para a X Bienal de Matemática em Belém/PA, abor-
damos sobre o estudo de grafos associados às aplicações estáveis de superfí-
cies fechadas e orientadas no plano e também aplicações entre duas superfí-
cies fechadas e orientadas. Apresentamos técnicas para a construção e alguns
exemplos destas aplicações. Para isso, recordamos alguns conceitos básicos de
Topologia Geral e de Singularidades. O principal objetivo é mostrar como os
grafos com pesos nos vértices podem ajudar a construir aplicações entre super-
fícies com o conjunto singular pré-determinado. As descrições feitas aqui sobre
grafos de aplicações estáveis entre superfícies fechadas e orientadas podem ser
vistas com detalhes nas seeguintes referências [8, 9, 14].

Juiz de Fora, junho de 2022

Catarina Mendes de Jesus Sánchez


1
Grafos e superfícies

Introduziremos aqui, de forma bem resumida, alguns conceitos básicos de


topologia sobre grafos e superfícies, baseado em Lima [6], Kinsey [11], Mas-
sey [12] e Munkres [23]. Os conceitos específicos sobre grafos associada às
superfícies com curvas podem ser vistos em [8, 9, 14].

1.1. Noções básicas de grafos


Alguns conceitos básicos sobre grafos conexos que podem ser visto com
mais detalhes em [11] e [13].
Definição 1.1. Um grafo finito G(V, E) é formado por um conjunto de V
pontos chamados de vértices e um conjunto com E traços de curvas chamados
de arestas, onde cada traço conecta um par de vértices de V .
Uma aresta que conecta os dois vértices u e v será denotada por uv.
Definição 1.2. Dado o grafo G(V, E), dizemos que:
• um caminho sobre G(V, E) é uma sequência de vértices {v1 , . . . , vk+1 },
todos distintos e arestas {e1 , . . . , ek }, distintas v1 e1 v2 e2 · · · ek vk+1 , onde
ej é incidente aos vértices vj e vj+1 .

• dois vértices são adjacentes se são conectados por uma mesma aresta.

• duas ou mais arestas são adjacentes se são incidentes num mesmo vértice.

• G(V, E) é um grafo conexo se existe um caminho que liga quaisquer dois


de seus vértices.

1
2 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

Definição 1.3. Dois grafos G(V, E) e G(V 0 , E 0 ) são isomorfos se existem


uma correspondência φ : G(V, E) → G(V 0 , E 0 ) bijetiva entre os V vértices e as
E arestas que conserva a relação de adjacências.
O grafo planar é bastante conhecido, é um grafo isomorfo a um grafo sem
cruzamento de arestas no plano. Caso não haja um isomorfismo desse tipo
o grafo é dito não planar. Quando um grafo é planar ele divide o plano em
regiões que são delimitadas por suas arestas. A essas regiões damos o nome de
faces. A região exterior ao grafo, que não é limitada por suas arestas, também
é contada como uma face do grafo. Segundo Euler, dado um grafo planar e
conexo, com V vértices, F faces (ou regiões) e E arestas, então: V +F −E = 2.
Aqui vamos considerar grafos no caso geral, podendo ser planar ou não planar.
Definição 1.4. Um ciclo no grafo é um caminho fechado v1 e1 v2 e2 · · · ek vk+1 ,
onde v1 = vk+1 .
Um laço no grafo é um ciclo com única aresta.
Definição 1.5. Um grafo bipartido é um grafo em que todos os seus ciclos
têm comprimento par.
Uma árvore é um grafo conexo sem ciclos. Consequentemente, toda árvore
é bipartida.
Definição 1.6. Uma árvore T será dito árvore maximal do grafo G(V, E)
se T é um subgrafo de G(V, E) contendo os seus V vértices.
Definição 1.7. O grau de um vértice v corresponde ao número de arestas
incidentes v, contando duas vezes cada laço em v.
Example 1.8. A Figura 1.1 ilustra três grafos conexos, todos com 7 vértices:
(a) o grafo é uma árvore e seus vértices tem grau 1, 2, e 3; (b) o grafo é
bipartido com dois ciclos de comprimento 4, seus vértices tem grau 1, 2, e 3;
(c) é um grafo não bipartido com um ciclo de comprimento 4 e dois ciclos de
comprimento 3 e seus vértices tem grau 1, 2, 3 e 4.

Definição 1.9. O número de ciclos livres de um dado grafo G com V vértices


é o número mínimo de aresta que podem ser retirada do grafo para obter uma
árvore com os V vértices. Este número será denotado por β1 (G).
GRAFOS E APLICAÇÕES ENTRE SUPERFÍCIES 3

Figura 1.1: Exemplos de grafos com 7 vértices.

Figura 1.2: Decomposição de árvore em grafos L1 , L2 e L3 .

Teorema 1.10. [11] A característica de Euler de um grafo G(V, E) é um


invariante topológico e é dado por X (G) = V − E.
Consequentemente, toda árvore tem característica de Euler igual a 1.
Teorema 1.11. O número de ciclos (livres) do grafo G(V, E) é dado por

β1 (G) = E − (V − 1) = 1 − X (G).

O número β1 (G) é também conhecido como o primeiro número de Betti


do grafo.
As cirurgias de grafos como definidas a seguir podem ser vista com mais
detalhes em [20].
Definição 1.12. Uma cirurgia horizontal no grafo G(V, V − 1) identifica a
duas arestas uv e yz, resultando na aresta rs, ao mesmo tempo que identifica
os vértices u e x, resultando no vértice r, e os vértices v e z, resultando no
vértice s.
Uma Cirurgia Vertical no grafo G(V, V − 1) é a conexão de dois vértices
u e v do grafo por uma aresta uv.

Notação: Dado uma árvore com n vértices (e n − 1 arestas), denotamos por:


4 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

• Ln o grafo que tem n − 1 vértices com grau 2 (tipo linha),

• por Sn quando o grafo tem n − 1 vértices com grau 1 (tipo estrela).

Lema 1.13. Todo grafo G(V, V − 1) (árvore) com m vértices com grau dj > 2
(j = 1, · · · , m) pode ser obtido como soma horizontal de no máximo m
P
j=1 (dj )−
1 grafos do tipo Li (1 < i < V ).

Demonstração. A soma conexa horizontal entre dois grafos Li (i > 1) pode


alterar o grau de um vértice, quando a cirurgia envolve pelo menos uma aresta
extrema, ou pode alterar o grau de dois vértices nenhuma aresta envolvida na
cirurgia é extrema. Podemos escolher as cirurgias que envolvem pelo menos
uma aresta extrema (ver Figura 1.2). Neste caso, para cada vértice com grau
dj (j = 1, · · · , m) vamos precisar de fazer no máximo dj − 1 cirurgias entre
dj grafos Li , para algum i > 1. Logo, o máximo de grafos Li necessário, para
obter o G(V, V −1) por soma conexa horizontal, será necessário de m
P
j=1 (dj )−1
grafos Li , pois como o grafo é conexo, pelo menos um dos grafos Li vai repetir
em duas cirurgias.

1.2. Superfícies fechadas


Os conceitos básicos da Topologia Geral podem ser vistos em [23].

Definição 1.14. Uma topologia sobre um conjunto X é uma coleção τ de


subconjuntos de X que tem as seguintes propriedades:

1- Os subconjuntos ∅ e X estão em τ .

2- A união de elementos de qualquer subcoleção de τ está em τ .

3- A interseção finita de qualquer subcoleção de τ está em τ .

Se X é um conjunto e τ é uma topologia definida sobre X, chama-se espaço


topológico ao par (X, τ ). Os subconjuntos de X que pertencem à coleção τ
são chamados de conjuntos abertos.
GRAFOS E APLICAÇÕES ENTRE SUPERFÍCIES 5

Definição 1.15. Um subconjunto F de um espaço topológico X é chamado


de fechado se o conjunto X \ F é aberto.

Definição 1.16. Um subconjunto F de um espaço topológico X é chamado


de fechado se o conjunto X \ F é aberto.

Definição 1.17. Seja S subconjunto do espaço topológico X. O interior de


S é definido como a união de todos os subconjuntos abertos de X contidos em
S e denotado por int(S). O fecho de S, no espaço topológico X, é definido
como a intersecção de todos os subconjuntos fechados de X que contém S e
denotado por S.

Definição 1.18. O bordo ou fronteira de S é o conjunto S \ int(S).

Definição 1.19. Sejam (X, T ) um espaço topológico e β uma família de sub-


conjuntos de X tal que β ⊂ T . Dizemos que β é uma base para T se para
todo A ∈ T , temos que:
A = ∪Bi ; Bi ∈ β

Definição 1.20. Um espaço X é chamado de espaço de Hausdorff quando,


dados dois pontos diferentes x e y em X, existem abertos A, B ⊂ X tais que
x ∈ A, y ∈ B e A ∩ B = ∅.

Definição 1.21. Uma coleção C de subconjuntos de um espaço X é chamada


de cobertura de X, se a união de elementos de C é igual a X. O conjunto
C é chamada de cobertura aberta (fechada) de X se seus elementos são
subconjuntos abertos (fechados) de X.

Definição 1.22. Um espaço X é chamado de compacto se qualquer cobertura


aberta C de X contém uma subcobertura finita que também cobre X.

Definição 1.23. Sejam (X, τ ) e (Y, δ) espaços topológicos. A aplicação f :


X −→ Y é contínua em x ∈ X se para qualquer aberto V contendo f (x)
existe aberto U contendo x tal que f (U ) ⊂ V .
Ou seja, a aplicação f : X −→ Y é contínua se, e somente se, para todo
aberto U em Y a imagem inversa f −1 (U ) é aberto em X.
6 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

Figura 1.3: O intervalo [0, 1] com a topologia induzida da reta.

Note que a continuidade depende não só de f mas também das topologias


de X e Y .
Definição 1.24. Seja f : X −→ Y uma aplicação de um conjunto arbitrário
X num espaço topológico Y . A coleção τ das imagens inversas f −1 (A) dos
abertos A ⊂ Y pela aplicação f é uma topologia em X chamada topologia
induzida.
A aplicação f da topologia induzida é contínua, pois a imagem inversa de
cada aberto de Y é aberta em X. A Figura 1.3 ilustra o intervalo [0, a) como
aberto de [0, 1], iduzida pela aplicação f (x) = x.
Definição 1.25. Um subespaço de um espaço topológico X é um subconjunto
S de X que é equipado com uma topologia induzida daquela de X chamada
topologia de subespaço (ou topologia relativa , ou topologia induzida).
Um subconjunto de S está aberto na topologia de subespaço se, e somente
se, for a interseção de S com um conjunto aberto em (X, τ ).
Definição 1.26. Sejam X e Y espaços topológicos. A topologia produto
sobre X ×Y é a topologia contendo como base a coleção β de todos os conjuntos
da forma U × V , onde U é subconjunto aberto de X e V é subconjunto aberto
de Y .
Definição 1.27. Seja X um espaço topológico e defina uma relação de equi-
valência ∼ sobre X. Seja q : X → X/ ∼ a função que envia x ∈ X para a
classe de equivalência [X]. A topologia quociente sobre X/ ∼ é definida por
U ⊆ X/ ∼ se, e somente se, q −1 (U ) é aberto em X.

Definição 1.28. Uma aplicação f : X −→ Y é um homeomorfismo se, e


somente se f é uma bijeção contínua com a inversa contínua.
Diremos que f : X −→ Y é um mergulho se f é um homeomorfismo entre
X e o subespaço f (X) de Y .
GRAFOS E APLICAÇÕES ENTRE SUPERFÍCIES 7

Figura 1.4: Construção do Toro pela aplicação quociente do quadrado.

Figura 1.5: Construção do Bitoro e Tritoro por aplicações quociente.

Definição 1.29. O espaço topológico X é dito um espaço localmente eucli-


diano, se é localmente homeomorfo a Rn , para algum n ≥ 1.

Definição 1.30. O conjunto X é dito uma variedade topológica de dimen-


são n ou uma n−variedade topológica se é localmente homeomorfo a Rn .

Definição 1.31. Uma superfície é uma variedade topológica de dimensão 2.


Uma superfície M será dita fechada se é compacta e não tem bordo.

Em outras palavras podemos dizer que uma superfície M sem bordo é um


espaço topológico de Hausdorff, que em cada ponto p ∈ M tem uma vizinhança
homeomorfa ao disco aberto.

Definição 1.32. Uma superfície suave M é orientável se todo caminho fe-


chado preserva orientação. Caso contrário, se existe um caminho que inverte
orientação, M é não-orientável.

Example 1.33. A esfera S2 e o toro T2 são superfícies orientadas sem bordo.


O disco fechado D2 , tem uma componente de bordo e o cilindro limitado é
uma superfície orientada com duas componente de bordos.

Example 1.34. As Figura 1.4, 1.5 e 1.6 ilustram construões de superfícies por
aplicações quociente de polígonos regulares.
8 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

Figura 1.6: Construção do Plano Projetivo pela aplicação quociente do qua-


drado.

• O Cilindro na Figura 1.4 é obtido pela identificação de duas arestas


opostas do bordo no quadrado, respeitando as orientações indicadas pelas
setas sobre o bordo do quadrado.

• O Toro T2 na Figura 1.4 é obtido pela identificação das arestas opostas


do bordo no quadrado, respeitando as orientações indicadas.
O Toro também pode ser obtido pela topologia produto como S1 × S1 .

• Na Figura 1.5, o bitoro e o tritoro podem ser obtidos pela aplicação


quociente que identifica pares de arestas do Octógono e dodecágono,
respectivamente. Os seguimentos de retas aponta os pares de aresta
identificados pela aplicação.

• Na Figura 1.6, o plano projetivo é obtido da identificação de pares das


arestas do bordo do quadrado, respeitando as orientações indicadas pelas
setas no bordo. A viznhanção da curva, imagem do bordo pela identifi-
cação, é uma faixa de Möbius.

Definição 1.35. A soma conexa de duas superfícies M1 e M2 , denotada por


M1 #M2 , é a nova superfície obtida pela remoção de um pequeno disco em M1
e um em M2 e a identificação dos bordos (ver Figura 1.7).

Note que esfera S2 é o elemento neutro da soma conexa de superfícies.


Observação 1.36. A superfície resultantante da soma conexa de duas superfícies
orientadas é uma superfície orientada.
A superfície resultantante da soma conexa de duas superfícies não orienta-
das é uma superfície não orientada.
GRAFOS E APLICAÇÕES ENTRE SUPERFÍCIES 9

Figura 1.7: Exemplo de superfícies fechadas e orientadas.

Figura 1.8: Exemplos de supefícies homeomorfas

A superfície resultantante da soma conexa de uma superfície não orientada


e uma superfície orientada é uma superfície não orientada.

Definição 1.37. Duas superfícies S e M são homeomorfas ou topologi-


camente equivalente se existe um homeomorfismo entre elas. Em outras
palavras, dizemos que duas superfícies são homeomorfas se uma pode ser trans-
formada na outra através das deformações citadas acima, que não alteram as
propriedades topológicas das superfícies (ver Figura 1.8).

Teorema 1.38. (Teorema da Classificação das Superfćies) Toda superfície


M , fechada e orientada é homeomorfa a esfera, a soma conexa de n-toros ou
a soma conexa de m planos projetivos, isto é: M ∼
= S 2 #nT#mP, para algum
n ≥ 0 e m ≥ 0.

1.3. Característica de Euler de Superfícies


Os conceitos desta seção, sobre triangulação, soma conexa, caracterítisca
de Euler e gênero de superfícies, podem ser vistos em [11].

Definição 1.39. Uma triangulação de uma superfície é um simplicial


2-complexo tal que:
i) Cada aresta é identificada com exatamente uma outra aresta;
10 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

ii) Um dado vértice pode pertencer a n triângulos, denotados por T1 , ...Tn ,


de modo que nesta sequência, dois a dois triângulos são adjacentes e
possuem uma aresta em comum e Tn identifica com T1 ao longo de uma
aresta.

Teorema 1.40. Uma superfície é compacta se, e somente se, qualquer trian-
gulação possui um número finito de triângulos.

Teorema 1.41. Uma superfície é conexa se, e somente se, uma triangulação
pode ser arranjada na ordem T1 , ..., Tn , de modo que cada triângulo possui no
mínimo uma aresta identificada com a aresta do triângulo anterior.

A característica de Euler de uma superfície M é dada por:

χ(M ) = v − a + f,

onde f , a e v denotam o número de faces, arestas e vértices, respectivamente,


da triangulação da superfície M .

Teorema 1.42. A carcterística de Euler é um invariante topológico para su-


perfícies compactas e conexas.

O Teorema 1.42 garante que a carcterística de Euler não se altera quando


esticamos, entortamos ou torcemos a superfície.

Definição 1.43. Dada uma superfície compacta orientável M ∼ = S2 #nT2 o nú-


mero n é dito gênero de M , que corresponde o número de alças da superfícies.
.

Definição 1.44. Analogamente, dada uma superfície não orientável M ∼ =


S2 #pP 2 o número p é dito gênero de M , que corresponde o número de faixas
de Möbius contida na superfície, também pode ser denotado por g(M ).

A Figura 1.7 ilustra uma sequência de superfícies orientadas, desde a esfera


até superfície homeomorfa a M ∼ = S2 #nT2 que vamos chamar de n-toro e
denotar simplesmente por nT2 . Obserque que o n-toro pode ser obtido como
GRAFOS E APLICAÇÕES ENTRE SUPERFÍCIES 11

soma conexa de n copias do toro. Então podemos afirmar que toda superfície
fechada e orientada com gênero n > 0 é homeomorfa ao n−toro.
Podemos dizer também que uma superfície M é dita orientável se não
contém uma faixa de Moebius. Caso contrário, M é não-orientável.

Definição 1.45. Seja M uma superfície fechada com característica de Euler


χ(M ), então o gênero de M é dado por o o gênero de S é dado por:

 1
(2 − χ(M )) se M é orientada
g(M ) = 2 .
 2 − χ(M ) se M é não orientada.

A seguir veremos como calcular a característica de Euler para superfícies


com bordos em função do seu gênero.

Teorema 1.46. Seja M uma superfície com com gênero g(M ) e k componentes
de bordo. A característica de Euler de M é dado por

2 − 2g(M ) − k, se M é orientada,
χ(M ) =
2 − g(M ) − k, se M é não orientada.

Corolário 1.47. Se M1 e M2 são superfícies compactas e conexas, então

χ(M1 ∪ M2 ) = χ(M1 ) + χ(M2 ) − χ(M1 ∩ M2 ).

A característica de Euler da soma conexa de duas superfícies, M1 e M2 ,


é dada por χ(M1 #M2 ) = χ(M1 ) + χ(M2 ) − 2.

Observação 1.48. A característica de Euler de superfícies é um invariante


completo, ou seja, se M1 e M2 são duas superfícies conexas e fechadas então
M1 é topologicamente equivalente a M2 se, e somente se, χ(M1 ) = χ(M2 ) e
ambas são orientáveis ou ambas são não-orientáveis.
12 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

1.4. Grafos associados às Superfícies com Curvas


Sejam M uma superfície fechada (sem bordo) e C = ∪E i=1 αi um conjunto
com E curvas fechadas, simples e disjuntas sobre M .
O conjunto C separa M em um conjunto de V regiões conexas, isto é, M \C,
é uma união disjunta de regiões conexas de M .

Definição 1.49. Dois pares (M, C) e (M 0 , C 0 ) são ditos equivalentes quando


existe um difeomorfismo de M em M 0 que leva C em C 0 .

Dado é uma superfície fechada e orientada M e C um conjunto de curvas


simples e disjuntas sobre M , podemos associar a este par um grafo G com
pesos nos vértices ao par (M, C) da seguinte forma:

a) cada região conexa Ui de M \ C fazemos corresponder a um vértice vi em


G, i = 1, · · · , V , e cada curva αj de C fazemos corresponder uma aresta
ej em G, j = 1, · · · , E;

b) uma aresta ej incide no vértice vi se, e somente se, a curva de C corres-


pondente a ej está no bordo da região M \ C correspondente a vi ;

c) um ciclo com única aresta, chamado de laço, ocorre quando a curva


correspondente é bordo (duas vezes) de uma única região;

d) um vértice vi recebe o peso ti se a região regular correspondente a vi tem


gênero ti (soma de ti toros com buracos), onde W = Vi=1 ti .
P

Observação 1.50. Se (M, C) e (M 0 , C 0 ) são equivalentes, então existe um iso-


morfismo entre os seus respectivos grafos associados.
Se grafo associado (M, C) será denotado por G(V, E, W ), onde V, E, e W
denotam, respectivamente, o número de vértices, o número de arestas e o peso
total nos vértices. O complemento de C em M será denotado por M \ C.

Proposição 1.51. Todo grafo G(V, E, W ) está associado a um par (M, C),
onde C é um conjunto de curvas fechadas, com E componentes, mergulhadas
e disjuntas sobre a superfície fechada M .
GRAFOS E APLICAÇÕES ENTRE SUPERFÍCIES 13

Figura 1.9: Superfície com curvas: vizinhança tubular de um grafo com peso.

Demonstração. Dado um grafo G, podemos obter o par (M, C) associado a G


da seguinte forma (veja Figura 1.9):

1. Mergulhe o grafo G em R3 e tome uma região (conveniente), que deno-


taremos por R, vizinhança de G em R3 .

2. Denotamos por Z a superfície fechada bordo de R, que é conhecida como


vizinhança tubular de G.
Observe que o gênero de Z é igual a β1 (G) = 1 − V + E.

3. Faça corresponder a cada aresta ai de G, uma curva fechada αi em Z,


transversal à aresta ai .
Denotamos por C o conjunto destas curvas. O par (Z, C) corresponde ao
grafo G com peso zero.

4. Para realizar o grafo G com os pesos, façamos em cada uma das região
Zi de Z, correspondente ao vértice vi com peso ti > 0, uma soma conexa
de uma superfície fechada Wi com gênero ti com Z.

Esta soma conexa que resulta no par (M, C), onde M é uma superfície fechada
e orientada com o conjunto de curvas, que realiza o grafo G.
14 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

Figura 1.10: Vizinhança de curvas em superfícies não orientada.

Proposição 1.52. Se G(V, E, W ) é um grafo associado ao par (M, C), onde


M é uma superfície orientada. Então a característica de Euler de M é dado
por χ(M ) = 2(V − E − W ) e o gênero é dado por g(M ) = β1 (G) + W.

Demonstração. Pelo Teorema 1.46, a característica de Euler de cada compo-


nente conexa Ui de M \ C é dada por χ(Ui ) = 2 − 2ti − Ei , onde ti e Ei
correspondem, respectivamente, ao gênero e ao número de componentes de
bordos de Ui . Como cada componente de C é bordo de duas componentes de
M \ C então o número total de componentes do bordo da união das compo-
nentes Ui é igual a 2E. A interseção entre duas componentes é sempre uma
curva fechada ou conjunto vazio e tem característica de Euler igual a zero.
Logo χ(M ) = χ(∪Vi=1 Ui ) = Vi=1 χ(Ui ) = Vi=1 (2 − 2ti − Ei ) = 2(V − W − E).
P P
χ(M )
O gênero de uma superfície orientada M é dado por g(M ) = 1 − =
2
1 − (V − W − E). Como β1 (G) = 1 − V + E, então g(M ) = β1 (G) + W.

Dado um conjunto de curvas sobre uma uma superfície fechada e não ori-
entada, pode ocorre o seguinte (ver Figura 1.10):

• a vizinhança da curva ser do tipo cilindro,

• a vizinhança da curva ser do tipo faixa de Möbius.

• As regiões do complemento de C em M podem ser todas orientadas ou


todas não orientadas.

• pode ter regiões do complemento de C em M orientadas e não orientadas.

Em geral, para M uma superfície fechada, podemos associar um grafo com


pares de pesos nos vértices, ao par (M, C), da seguinte forma:
GRAFOS E APLICAÇÕES ENTRE SUPERFÍCIES 15

1. cada região regular de M \ Σf corresponde a um vértice v do grafo;

2. cada curva α de Σf corresponde a uma aresta a do grafo;

3. uma aresta ej conecta o vértice v se, e somente se, a curva singular


correspondente a ej está no bordo da região regular associada a v;

4. um vértice v recebe o peso (t, 0) se a região regular correspondente a v é


orientada e tem gênero t (soma de t toros) e v recebe o peso (0, p) se a
região regular correspondente a v é não orientada e tem gênero p (soma
de p projetivos).

5. uma aresta ej no grafo, será dita ?-laço quando a vizinhança da curva


α correspondente a ej é uma faixa de Möbius. Neste caso, a aresta ej
recebe uma ?.

Denotamos por V, E, T + P e S, respectivamente, o número de vértices,


o número de arestas, o peso total e o número de ?-laços do grafo associado do
grafo, que será denotado por GS (V, E, T, P, S).

Teorema 1.53. Todo grafo G(V, E, T, S) pode ser associado a um par (M, C),
onde C é um conjunto com E componentes de curvas fechadas simples e mer-
gulhadas sobre a superfície fechada M . com gênero dado por

1 − V + E + W, se M é orientada
g(M ) = .
2(1 − V + E + T ) + P − S, se M é não orientada.

Demonstração. Se P = S = 0, pela Proposição 1.51, o G(V, E, T, 0, 0) pode ser


realizado por um par (Y, C), onde C 0 é um conjunto com E − S curvas simples
fechadas e mergulhadas em Y , superfície com gênero g(Y ) = 1−V +(E−S)+T .
Para P > 0 ou S > 0, G(V, E, T, P, S) pode ser realizado como segue:
i) primeiro retira os S ?-laços e todos pesos (0, pi ) do grafo, obtendo um
novo grafo G(V, E − S, T, 0, 0) que pode ser associado a um par (Z, C 0 ), pela
Proposição 1.51, onde Z é uma superfície fechada e orientada, com gênero
g(Z) = 1 − V + (E − S) + T , e C 0 é um conjunto com E − S curvas simples
fechadas e mergulhadas em Z.
16 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

ii) Agora vamos realizar o grafo G(V, E − S, T, P, 0), com os pesos pj nos
vértices. Suponhamos que existem Vp vértices com pesos pj > 0. Para cada
uma das regiões Uj de Z, correspondente ao vértice vj com peso (0, pj ), façamos
uma soma conexa de Z com superfícies fechadas e não orientada Zj , com
gênero pj (i = 1, · · · , Vp ). Assim obtemos uma um par (R, C1 ) associado ao
grafo G(V, E − S, T, P, 0), onde R é uma superfície fechada não orientada com
PVp
gênero g(R) = 2g(Z) + j=1 pj = 2[1 − V + (E − S) + T ] + P.
iv) Finalmente, podemos realizar o grafo G(V, E, T, P, S), com os S laços ?-
laços. Denotamos por P o plano projetivo com uma curva fechada cuja a
vizinhaça é uma faixa de Möbius. Suponha que existe Vs vértices com ?-laços
no grafo. Para cada um dos Si ?-laços retirado no vértice vi (S = Vi=1
P s
Si ),
correspondente a região Uj (j = 1, · · · , Vs ) de R, façamos um soma conexa de
P com R, na região Uj , obtendo a superfície fechada M com gênero g(M ) =
g(R) + S = 2[1 − V + (E − S) + T ] + P + S = 2[1 − V + E + T ] + P − S.
Assim, obtemos o par (M, C) associado a G(V, E, T, P, S), onde o gênero da
superfície não orientada M é dado por g(M ) = 2[1 − V + E + T ] + P − S.

Corolário 1.54. [20] Seja G(V, E, T, P, S) o grafo associado ao par (M, C),
onde M é uma superfície fechada e C um conjunto de curvas fechadas simples
e disjuntas sobre M . Então a característica de Euler de M é dado por

• χ(M ) = 2(V − E − T ) quando M é orientada. Nesse caso, P = S = 0 e


o gênero de M é dado por g(M ) = 1 − V + E + W .

• χ(M ) = 2(V − E − T ) + P − S, quando M é não orientada. Nesse caso,


o gênero de M é dado por g(M ) = 2(1 − V + E + T ) + P − S.
2
Aplicações entre superfícies

Os conceitos específicos sobre grafos associada a superfícies com curvas es-


tão baseados na introdução de grafos associados às aplicações entre superfícies
que podem ser visto nos trabalhos [8, 9, 14].

2.1. Singularidades de aplicações estáveis


Segundo Whitney [29], as aplicações entre duas superfícies, localmente po-
dem ser vistas como aplicações do plano no plano. Ao longo do texto, quando
for estudo local, podemos considerar as superfícies M e N como regiões sim-
plesmente conexa do plano.

Definição 2.1. Seja f : M → N uma aplicação diferenciável entre as duas


superfícies M e N . Um ponto p ∈ M de M é dito ponto regular de f quando
a derivada f 0 (p) : T Mp → T Nf (p) é injetiva. Caso contrário, p diz-se um ponto
singular de f .
A aplicação f uma imersão se todo ponto p ∈ M é um ponto regular de f .

Definição 2.2. Dados X, Y ⊆ R2 , dizemos que uma aplicação f : X → Y


é suave se para cada p ∈ X existir um aberto U ⊆ R2 contendo p e uma
extensão de classe C ∞ de f : Y ∩ U → X a U.
Se f é diferenciável (suave) e f −1 : Y → X é também diferenciável dizemos
que f é um difeomorfismo.
Dois conjuntos X, Y ⊆ R2 são difeomorfos se existe um difeomorfismo
f :X →Y.

17
18 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

Figura 2.1: Exemplos de aplicações estáveis da S2 no R2 .

Definição 2.3. Sejam M uma superfície e Vi um aberto de R2 , com i ∈ I


um conjunto de índices. Dizemos que M é diferenciável de classe C k , 0 <
k ≤ ∞, se é um conjunto junto com uma família de aplicações biunívocas
φi : Ui ⊂ M → Vi , chamadas carta local (ou sistema de coordenadas local),
tal que Ui é um aberto de R2 . Os domínios das cartas recobrem M , isto é,
S
i∈I Ui = M .

Sejam M e N duas superfícies suaves e F(M, N ) o conjunto de todas


as aplicações entre M e N . Denotamos por C ∞ (M, N ) o conjunto de todas
aplicações f ∈ F(M, N ).

Definição 2.4. Quando M e N são de classe C ∞ , a topologia C ∞ de Whit-


ney em C ∞ (M, N ) é definida como a união das topologias induzidas pela
inclusão C ∞ (M, N ) → C r (M, N ), 1 ≤ r < ∞ (ver [4])

Definição 2.5. Duas aplicações f, h ∈ C ∞ (M, N ) são ditas A−equivalentes


quando existem difeomorfismos φ : M → M e ψ : N → N , tais que h =
ψ ◦ f ◦ φ−1 , ou seja, f e g são A−equivalentes se o diagrama abaixo comuta.
f
M −→ N

φ↓ ↓ψ
h
M −→ N
GRAFOS E APLICAÇÕES ENTRE SUPERFÍCIES 19

Figura 2.2: Exemplo de contorno aparante de aplicação do S2 em R2 .

Example 2.6. A Figura 2.1 ilustra três aplicações não equivalentes da esfera
no plano. Note que não existe difeomorfismo entre o contorno aparente da
aplicação do meio e o da aplicação à esquerda, assim como não existe difeo-
morfismo entre o conjunto singular da aplicação do meio e o da aplicação à
direita.

Definição 2.7. Uma aplicação f ∈ C ∞ (M, N ) é dita estável se existe uma


vizinhança aberta Wf de f em C ∞ (M, N ) (com a topologia C ∞ de Whitney)
tal que cada h em Wf é A-equivalente a f.
O conjunto das aplicações estáveis de C ∞ (M, N ), denotado por E(M, N ),
é também chamada de aplicação 1-genérica.

Se M é compacta e f ∈ C ∞ (M, N ) é uma imersão, submersão ou difeo-


morfismo local (esses três conceitos coincidem, pois dim M = dim N ) então f
é estável [4]. Em particular, se f é difeomorfismo então f é estável.

Teorema 2.8. [29] O conjunto E(M, N ) é aberto e denso em C ∞ (M, N ).

Definição 2.9. Duas aplicações f : M −→ N e g : M −→ N são ditas


estavelmente isotópicas se existe uma aplicação suave (estável) F : M ×
[0, 1] → N tal que para cada t ∈ [0, 1], a aplicação em que Ft = F |M ×{t} é
estável, com F0 = f e F1 = h.

Observação 2.10. Dizer que f e h são estavelmente isotópicas é equivalente a


dizer que f e h se encontram na mesma componente conexa conexa de E(M, N ),
pois uma isotopia estável define um caminho entre as aplicações f e h onde
todas as aplicações ao longo deste caminho são estáveis.
20 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

Figura 2.3: Singularidades estáveis do plano no plano.

Example 2.11. A Figura 2.2 ilustra três imagens de aplicações da esfera no


plano. Note que a aplicação do centro não é estável e as outras duas aplicações
não são isotopicamente estáveis, pois qualquer caminho entre as duas passa
por uma aplicação não estável (tangência). Então as duas aplicações estão em
diferentes componentes conexas de E(S2 , R2 ).
Definição 2.12. Seja f ∈ C ∞ (M, N ) uma aplicação estável. Um ponto x ∈ M
é dito ponto regular de f se, numa vizinhança do ponto x, a aplicação f é
um difeomorfismo local, caso contrário, dizemos que x é um ponto singular
de f . Em outras palavras, um ponto singular de f é um ponto p ∈ M tal que
o posto da aplicação linear dfp é menor que 2 (dimensão de N ).
Se f : U ⊂ R2 −→ R2 é uma aplicação estável e p = (x, y) ∈ U, então pode
ocorrer uma das seguintes situações (ver Figura 2.3):
1. p é ponto regular se (df )p é isomorfismo. Nesse caso, localmente, f é
da forma (x, y) 7→ (x, y).

2. p é ponto singular de f do tipo:

a) Dobra, se Tp Σ(f ) ⊕ Ker(df )p = Tp U .


Nesse caso, podemos escolher um sistema de coordenadas (x, y) em
R2 centrada em p tal que (x, y) 7→ (x, y 2 ).
b) Cúspide, se Tp Σ(f ) = Ker(df )p . Nesse caso, podemos encontrar
coordenadas (x, y) centradas em p tais que localmente f é da forma
(x, y) 7→ (x, y 3 + xy).
GRAFOS E APLICAÇÕES ENTRE SUPERFÍCIES 21

Observação 2.13. Se p é ponto de dobra então a aplicação derivada (df )p leva


o plano tangente Tp U na reta tangente ao contorno aparente de f , em f (p).
Por outro lado, se p é um ponto de cúspide então (df )p leva a reta tangente a
Σf , em p, no ponto f (p).
Definição 2.14. O conjunto de todos os pontos singulares de f , denotado por
Σf , é chamado de conjunto singular de f .
A imagem do conjunto singular, denotado por Bf , é chamado de contorno
aparente.
O conjunto de todos os pontos não singulares de f , denotado por M \ Σf,
é chamado de conjunto regular de f .
Se f ∈ C ∞ (R2 , R2 ) é uma aplicação estável:
1. O conjunto singular Σf está formado por um conjunto de curvas sim-
ples disjuntas e mergulhadas (suaves e sem auto intersecção) no domínio
de f (subvariedade de codimensão 1), podendo ter pontos de cúspides
isolados.

2. O conjunto Σf separa o conjunto regular M \Σf em componentes conexas


que são imersas por f sobre a imagem.

3. O contorno aparente Bf = f (Σf ) é formado por um conjunto de curvas


suaves na imagem de f , podendo ter pontos duplos (formados por
interseções transversas de imagens de duas curvas de dobras) e cúspides
isoladas (veja Figura 2.3).
Se duas aplicações f e g são A-equivalentes, os conjuntos singulares Σf e
Σg são A-equivalentes e os contornos aparentes Bf e Bg são A-equivalentes.
Assim, duas aplicações que não têm conjuntos singulares A-equivalentes ou
contornos aparentes A-equivalentes não são A-equivalentes (veja Figura 2.2).

2.2. Grau de Aplicação entre Superfícies


A Teoria do Grau atribui um invariante topológico (numérico) a cada apli-
cação contínuaf : M −→ N entre duas superfícies fechadas. Este invariante
22 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

chamado o grau da aplicação f . Na realidade o grau é um invariante homo-


tópico no sentido em que duas aplicações homotópicas têm sempre o mesmo
grau.

Definição 2.15. Duas aplicações contínuas f, h : M −→ N são chamadas


homotópicas, se existe uma aplicação contínua H : M × I −→ N , onde para
todo x ∈ M , temos 
H(x, 0) = f (x)
.
H(x, 1) = g(x)
Quando isto ocorre, dizemos que H é uma homotopia entre f e g.

Definição 2.16. Sejam M e N superfícies orientadas e f : M −→ N uma


aplicação estável. Uma região regular U de M \ Σf é dita positiva se tem a
orientação preservada por f e negativa em caso contrário.

Definição 2.17. O fecho de cada componente conexa regular de M \ Σf cuja


orientação é preservada por f será denotado por Ui+ , enquanto o fecho de cada
componente conexa de M \ Σf cuja orientação é invertida por f será denotado
por Uj− . Denotaremos por M + = ∪i Ui+ e M − = ∪j Uj− . Assim, M + e M − são
superfícies compactas e com bordo. Além disso, M = M + ∪ M − e Σf =
M + ∩ M −.

Definição 2.18. Dizemos que um ponto xk ∈ f −1 (y) é positivo se xk ∈ M +


ou negativo se xk ∈ M − .

Definição 2.19. Uma aplicação f : M → N é própria se a imagem inversa


de um compacto é um compacto.

Definição 2.20. Sejam M e N superfícies fechadas e orientadas e f : M → N


uma aplicação própria de classe C 1 . O grau de f no ponto y (grau local),
indicado por degy f é a diferença entre o número de pontos positivos e o número
de pontos negativos em f −1 (y).

Teorema 2.21. [6] Toda aplicação f : M → N , de classe C 2 , corresponde a


um inteiro r, tal que para todo valor regular y de f , tem-se que degy f = d.
GRAFOS E APLICAÇÕES ENTRE SUPERFÍCIES 23

- -

-
-

Figura 2.4: Exemplos de aplicações do toro na esfera.

Figura 2.5: Aplicações do toro e do bitoro no toro.

Definição 2.22. O número d = degy f do Teorema 2.21 é o grau da aplica-


ção f , ou simplesmente, deg f.

Example 2.23. A Figura 2.4 ilustra as aplicações f, g, h : T2 → S2 com os


conjuntos singulares conexos: deg h = deg f = 1 e deg g = 2.

Example 2.24. A Figure 2.5 ilustra: a direita uma aplicação do toro no toro
com grau 2 e sem pontos singulares; a esquerda uma aplicação do bitoro no
toro com grau 2 e uma curva singular com 4 pontos de cúspides.

Example 2.25. A Figure 2.6 ilustra uma aplicação p : 7T2 → 3T2 com grau 3
e Σf = ∅. A esquerda está a decomposição do 7-toro em superfícies A, B, C,
sendo que A tem dois bordos e g(A) = 2, B tem quatro bordos e g(B) = 1, C
tem dois bordos e g(C) = 2.

Teorema 2.26. Sejam M e N superfícies fechadas e orientadas e f : M −→


N uma aplicação com deg f = d e Σf = ∅. Então a característica de Euler
de M e N satisfaz o seguinte χ(M ) = dχ(N ).
24 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

Figura 2.6: Aplicação do 7-toro no 3-toro com grau 3 e conjunto singular vazio.

Demonstração. Seja M uma superfície fechada e orientada f : M −→ N uma


aplicação com grau d e com conjunto singular vazio. Podemos decompor M
em d componentes conexas, C1 , C2 , · · · , Cd−1 , Cd , que cobre N somente uma
vez. Duas destas componentes, suponhamos C1 e Cd , tem duas componentes de
bordo. Então χ(C1 ) = χ(Cd ) = 2−2(n−1)−2 = 2−2n. As outras componentes
C2 , · · · , Cd−1 tem gênero n − 2 e 4 componentes de bordo. Então χ(C2 ) =
χ(Cd−1 ) = 2 − 2(n − 2) − 4 = 2 − 2n. Como a interseção das componentes são
curvas fechadas com característica de Euler nula, então χ(M ) = χ(C1 ∪ · · · ∪
Cd ) = d(2 − 2n) = dχ(N ).

Observação 2.27. Se M e N são superfícies fechadas e orientadas, as transições


ao longo de uma homotopia em C ∞ (M, N ), entre duas aplicações estáveis, não
altera o grau da aplicação. Então duas aplicações com diferentes graus não
podem estar na mesma classe de homotopia e não são A-equivalentes. Assim,
o grau é um invariante global natural das aplicações estáveis entre superfícies
fechadas e orientadas.

2.3. Transições de Codimensão 1

Considere uma homotopia H : M × [0, 1] → N entre duas aplicações está-


veis f, g : M → N no conjunto E(M, N ) ⊂ C ∞ (M, N ). À medida em que t
varia no intervalo [0, 1] o contorno aparente de H0 = f é deformado no con-
torno aparente de H1 = g. Pode acontecer que ao longo do caminho entre
f e g, para algum t0 ∈ (0, 1) a aplicação Ht0 não é estável. Neste caso, os
GRAFOS E APLICAÇÕES ENTRE SUPERFÍCIES 25

contornos aparentes de f e g não são equivalentes e o mesmo pode ocorrer


com os conjuntos singulares (ver Figura 3.1).
Definição 2.28. O conjunto das aplicações não estáveis C ∞ (M, N ) \ E(M, N ),
complementar do conjunto das aplicações estáveis em C ∞ (M, N ), é chamado
de conjunto discriminante e será denotado por D (ver [4]).

Tipo Nome Forma normal


1) L lábios (x, y 3 + y(x2 − a))
2) B bicos (x, y 3 − y(x2 − a)
3) S rabo de andorinha (x, y 4 + xy − ay 2 ))
4) DD0 tangências de dobras (x, −y 2 + a), (x0 , x02 + y 02 )
5) DD1 tangência de dobras (x, y 2 + a), (x0 , x02 + y 02 )
6) DD2 tangências de dobras (x, +y 2 + a), (x0 , x02 − y 02 )
7) P T 0 pontos triplos (x + y 2 , x − y 2 + a), (x0 , y 02 ), (−x002 , y 00 ).
8) P T 1 pontos triplos (x + y 2 , x − y 2 + a), (x0 , y 02 ), (x002 , y 00 ).
9) CD1 cúspides com dobra (x, y 3 + xy), (y 02 − a, x0 )
10) CD2 cúspides com dobra (x, y 3 + xy), (−y 02 − a, x0 )

Tabela 2.1: Estratos de codimensão 1 em C ∞ (R2 , R2 ) \ E(R2 , R2 ).

A Tabela 2.1 apresenta as formas locais a 1-paramêtro (na vizinhança de


zero), de aplicações de 1-germe, 2-germes e 3-germes, ilustradas na Figura 2.7
(ver [24]). Cada transição está representada localmente por uma sequência
de três aplicações em C ∞ (R2 , R2 ). As aplicações do centro tem codimensão
1 em C ∞ (M, N ) e pertencem ao conjunto discriminate D, que formam tipo
“paredes” separando as componentes de E(M, N ). Nas intersecções de “duas
paredes´´ (ou mais) estão as aplicações de codimensões maiores que 1. Note
que as aplicaçñoes são não estáveis para a = 0 e estáveis para a 6= 0. Estas
sequências são chamadas de transições de codimensão 1.
Em outras palavras, uma transição de codimensão 1 em C ∞ (M, N ) é uma
aplicação de codimensão 1 que está na interseção de um caminho que conecta
duas aplicações f e g em diferentes componentes de E(M, N ) com o conjunto
discriminante D.
26 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

Figura 2.7: Transições de codimensão 1 em C ∞ (R2 , R2 ).

Considerando caminhos positivo, como na Figura 2.7, da esquerda para a


direita no sentido que aumenta o número de cúspides ou pontos duplos, as
transições de codimensão 1 tem efeitos sobre as novas aplicações estáveis da
seguinte forma:

1. Transição Lips (ou Lábios) L ocorre dentro de uma região regular U ,


nasce uma nova curva singular com duas novas cúspides.

2. Transição Beaks B da aplicação f , no sentido que aumenta o número de


cúspides, pode unir duas curvas singulares ou decompor uma curva em
duas, podendo ainda alterar o número de componentes regulares ou o
gênero de uma região regular.

3. Transição Rabo de Andorinha S: sobre um arco de curva de dobras nasce


dois pontos de cúspides, com sinais opostos, e um ponto duplo. S altera
somente o número de pontos duplos por +1.

4. Transição Tangência entre duas curvas de dobras T Di , i = 1, 2: altera


somente o número de pontos duplos por +2.
GRAFOS E APLICAÇÕES ENTRE SUPERFÍCIES 27

5. Transição Tangência entre uma cúspide e uma curva de dobra CDi , i =


1, 2: altera somente o número de pontos duplos por +2.

6. Transição Pontos Triplos P T i , i = 1, 2, 3: passagem por um ponto triplo


formado pela interseção de três curvas de dobras. Não altera o conjunto
singular nem o regular.

Baseados nas transições de codimensão 1, em torno de uma aplicação de codi-


mensão 2, Ohmoto e Aicardi apresentaram três invariantes de aplicações está-
veis de superfícies no plano. Dentre estes invariantes está Ic = 2(B+L+S), que
corresponde o número de pontos de cúspides e In , que corresponde o número
de pontos duplos no contorno aparente.

Teorema 2.29. [27] Sejam M e N superfícies fechadas. Se M é orientada e


f : M → N é uma aplicação estável, então o número de cúspides do contorno
aparente Bf é par.

As classes de homotopia de C ∞ (M, N ) são conexas por caminhos, logo


existe um caminho C ∞ (M, N ) que conecta duas aplicações em diferentes com-
ponentes conexas de cada classe de homotopia que atravessa D passando so-
mente por aplicações de codimensão 1. Isto mostra que o Teorema 2.29 é
bastante natural, pois se M é orientada sempre é possível ligar uma aplicação
estável qualquer a uma aplicação dobra (sem cúspide) passando pelo discrimi-
nante somente através das transições de codimensão 1 em C ∞ (M, N ). Todas
as transições de codimensão um alteram o total das cúspides sempre por um
número par (ver Figuras 2.7).
As transições que alteram o número de componentes singulares e regulares
são (L), chamada de transição lábios, (B), a transição bicos (ver Figura 3.1).
As transições que alteram o número de cúspides são (L), (B) e a transição rabo
de andorinha (S). As transições que alteram o número de pontos duplos
são (S), (T i ), i = 1, 2, tangência entre duas dobras, e (T C i ), i = 1, 2,
tangência de uma dobra com uma cúspide.
A Figura 2.8 ilustra as possíveis decomposição da transição beaks B, no
sentido que aumenta o número de cúspides, que pode ser classifica em oito
28 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

Figura 2.8: Decomposição da transição beaks.

diferentes transições. As notações X, X1 , Y, Z, Z1 e Z2 denota (localmente)


as regiões onde ocorre as transições, o número 1 e 2 representa o número de
curvas singulares envolvidas na transição:
1. Bv+,± (Bv−,± ): aumenta por 1 (diminui por 1) o número de vértice em V ∓
e o número de arestas E.

2. Bw+,± (Bw−,± ): aumenta por 1 (diminui por 1) o peso em W ± e diminue


por 1 (aumenta por 1) o número de arestas E.
Example 2.30. A Figura 3.1 ilustra uma sequência de aplicações da esfera no
plano, onde a transição beaks altera o número de curvas singulares e o número
de componentes regulares. A Figura 3.2 ilustra uma sequência de aplicações
do toro no plano, onde a transição beaks altera o número de curvas singulares
sem alterar o número de componentes regulares.
Como exercício, o leitor pode verificar quais transições ()Bv±,± e Bw±,± ) atua
nas Figuras Figura 3.1 e 3.2.
3
Grafos dual de aplicações

Os conceitos sobre grafos de aplicações estáveis entre superfícies foram in-


troduzidos em [7, 15] para o caso de aplicações no plano. Em [8] foi introduzido
o conceito de cirurgia de aplicações e os efeitos nos grafos, estendendo os resul-
tados para aplicações entre outras superfícies em [9, 14, 20]. A representação
planar nas figuras indica uma região da superfície fechada contendo o contorno
aparente. Aqui trataremos somente de grafos assocido às aplicações entre su-
perfícies orientadas.O caso de grafos associados às aplicações entre superfícies
não orientadas, pode ser vista em [20].

3.1. Grafos de aplicações estáveis entre superfícies

Seja M uma superfície fechada e orientada e f : M −→ N uma aplicação


estável. O conjunto singular Σf está formado por um conjunto de curvas fecha-
das, simples e disjuntas em M que separam as componentes conexas regulares
do complemento M \ Σf . Se Σf tem E componentes de curvas e M \ Σf
tem V regiões conexas, análogo ao feito na Seção 1.4, podemos associar ao par
(M, Σf ) um grafo G(V, E, W ), onde W corresponde a soma total dos pesos nos
V vértices, da seguinte forma:

1. cada curva α de Σf faz corresponder a uma aresta a do grafo;

2. cada região U de M \ Σf faz corresponder a um vértice v no grafo;

3. o vértice v recebe um peso t se U tem gênero t (soma de t toro).

29
30 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

Figura 3.1: Sequência de aplicações da esfera no plano.

Está claro que a incide no vértice v se, e somente se, a curva singular corres-
pondente a a está no bordo da região regular correspondente a v.

Definição 3.1. O grafo G(V, E, W ), ou simplesmente G, associado ao par


(M, Σf ) é chamado de grafo dual de f.

Example 3.2. A Figura 3.1 ilustra uma sequência com três diferentes apli-
cações estáveis da esfera no plano, ao longo de um caminho no espaço das
aplicações suaves C ∞ (S2 , R2 ), que realizam as árvores L1 , L2 e L3 com peso
total zero: (a) a projeção trivial da esfera no plano, com única curva singular
realiza L1 ; (b) o grafo tem duas arestas, com a transição lips (ou lábios) L
que criou uma nova curva singular com duas cúspides; (c) o grafo aumentou
mais uma aresta, com a trasição beaks (ou bicos) B, que identifificou as duas
cúspides decompondo a curva singular em duas.

Figura 3.2: Transição S e B altera número de cúspides e peso no grafo.


GRAFOS E APLICAÇÕES ENTRE SUPERFÍCIES 31

Figura 3.3: Construção de aplicação do toro no plano com única curva singular.

Example 3.3. A Figura 3.2 ilustra o contorno aparente de três diferentes


aplicações do toro no plano. A aplicação do centro pode ser obtida da aplicação
da esquerda por duas transições rabo de andorinha S e a aplicação da direita
pode ser obtida da aplicação do centro passando por uma transição bicos −B,
no sentido que diminui o número de cúspides e aumenta o peso.

Observação 3.4. As transições beaks e lips sempre auteram o número de com-


ponentes do conjunto singular. As transições lipes, no sentido que aumenta
o número de cúspides, aumenta ao mesmo tempo, o número de vértice e de
aresta no grafo. A transição beaks pode aumentar ao mesmo tempo um vér-
tice e uma aresta ou também pode diminuir um peso por 1 quando aumenta
uma aresta e neste caso aumenta também o número de cíclo, pois o gênero da
superfície é constante igual a 1 − V + E + W , como vimos na Proposição 1.52.

Example 3.5. A Figura 3.3 ilustra duas aplicações da esfera no plano com 5
curvas singulares e sem pontos de cúspides. As duas aplicações tem o mesmo
contorno aparente mas os grafos não são isomorfos, pois o grafo à esquerda
tem um vértice com grau 3, diferente do grafo à direita.
A Figura 3.4 ilustra duas aplicações do toro no toro com grafu e 4 curvas
singulares e sem pontos de cúspides. As duas aplicações também tem o mesmo
contorno aparente mas os grafos não são isomorfos, pois o grafo à esquerda tem
o vértice do meio com peso 1, diferente do grafo à direita que o peso está no
vértice extremo.

As Figuras 3.3 e 3.4 mostra que o grafo dual é um invariante global das
32 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

Figura 3.4: Exemplos de aplicações do toro no toro sem pontos com grau 1.

aplicaçãoes estáveis entre superfícies. Além do grafo codificar as informações


do conjunto regular nos vértices, ele também carrega as informações topológica
do conjunto singular.
Dado uma aplicação estável f : M −→ N tal que Σf = C sempre existe um
grafo associado a ela, pela construção do grafo. A pergunta agora: Quais grafos
G(V, E, W ) podem ser associados a alguma aplicação estável f : M −→ N ?
Isto equia a perguntar se um dado conjunto de curvas simples e fechada C em
M é o conjunto singular de alguma aplicação estável f : M −→ N .
O próximo resultado no dá uma condição necessária para que um grafo
dado possa estar associado a alguma aplicação estável entre duas superfícies
orientadas.

Proposição 3.6. O grafo dual de qualquer aplicação estável f : M −→ N


entre duas superfícies fechadas e orientadas é bipartido.
Se N é uma superfície orientada e f : M −→ N uma aplicação estável as-
socido ao grafo G(V, E, W ). Então M é uma superfície orientada se, e somente
se, G(V, E, W ) é bipartido.

Demonstração. Se f é uma aplicação estável entre duas superfícies orientadas


M e N , então cada curva singular de Σf é bordo de uma componente de
M + e de uma componente de M − . Consequentemente cada aresta do grafo
G(V, E, W ) associado a f conecta um vértice de V + (G) com um vértice de
V − (G), criando uma bipartição no conjunto dos vértices.
GRAFOS E APLICAÇÕES ENTRE SUPERFÍCIES 33

Corolário 3.7. Seja N uma superfície fechada e não orientada e f : M −→ N


uma aplicação estável associada ao grafo G(V, E, W ). Então M é orientada
se, e somente se, G(V, E, W ) é bipartido e f tem grau zero.

3.2. Cirurgias de aplicações estáveis

O objetivo deste seção é apresentar técnicas de cirurgias de aplicações está-


veis e o efeito destas sobre os grafos com objetivo de mostrar quais grafos com
pesos nos vértices podem ser associados às aplicações estáveis entre superfícies
fechadas.
Para obter uma aplicação com um grau desejado, uma forma de construir
estas aplicações é através de cirurgias de aplicações estáveis. Em particular,
uma cirurgia sobre uma aplicação h ∈ E ∞ (Z, N ) é removido um par de discos
disjuntos, D1 e D2 , da superfície M que é substituído por um tubo conectando
os dois bordos M \ D1 ∪ D2 menos os disco, onde estendemos a aplicação sobre
o interior do tubo, resultando numa aplicação e hβ ∈ E ∞ (M, N ), onde M é
uma superfície fechada obtida pela cirurgia sobre Z. É claro que a cirurgia
realizada nas aplicações induz naturalmente a cirurgia sobre os grafos asso-
ciados. Veremos dois tipos de cirurgias (horizontal e vertical) de aplicações,
relacionada com a cirurgia de grafos no primeiro capítulo, introduzida em [8].
Sejam Z = Z1 ∪ Z2 e N duas superfícies orientadas e h : Z −→ N uma
aplicação estável. Denotamos por h1 a restrição de h a Z1 e h2 a restrição de
h a Z2 . Veremos agora dois tipos de irurgias sobre a aplicação h.

a) Cirurgia Horizontal SH Uma cirurgia horizontal sobre a aplicação estável


h : Z −→ N pode ser feita da seguinte forma (ver a) Figura 3.6):

1. Escolha dois arcos l = h(l0 ) e j = h(j 0 ) em Bh (imagem do conjunto


singular de h), onde l0 e j 0 são arcos de dobras em Σh e exista um
caminho η entre l e j com η ∩ Bh = ∅.

2. Mergulhe um retângulo β em N \ Bh, na vizinhança de η, onde dois


lados opostos de β, complementares dos arcos opostos k e m em β, são
34 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

identificados com os arcos l e j, respeitando a orientação de Bh, conec-


tando os arcos l e j, como ilustra a Figura 3.5, chamado de ponte entre
as curvas.

Figura 3.5: Retângulo β entre duas curvas do cotorno aparente.

3. Escolha dois pequenos discos Dl e Dj em Z contendo os arcos de curva


singular l e j e repasse a seus interiores por um tubo T , respeitando a
orientação de Z, obtendo assim uma nova superfície fechada e orientada
M (ver Figura 3.6).

4. Estenda a aplicação estável h sobre o tubo T , obtendo a aplicação hβ ,


de forma que hβ sobre T tenha dois arcos de curvas singulares k 0 e m0 ,
com hβ (k 0 ) = k e hβ (m0 ) = m.
b) Cirurgias Vertical SV Uma cirurgia vertical (ver b) Figura 3.6) sobre a
aplicação estável h : Z −→ N pode ser feita da seguinte forma:
1. Escolha dois pontos p, q ∈ Z \ Σh, tais que p ∈ Z + e q ∈ Z − e h(p) =
h(q) ∈ N \ Bh.

2. Escolha dois pequenos discos Dp e Dq em Z vizinhança dos pontos p e q,


respectivamente, e repasse a seus interiores por um tubo T , respeitando
a orientação de Z, obtendo uma nova superfície fechada e orientada M
e a nova aplicação estável f : M −→ N .

3. Estenda a aplicação estável h sobre tubo T , de forma que sobre T tenha


somente uma curva singular γ que é mergulhada por hγ na vizinhança
de Q em N \ Bh.

4. Estenda a aplicação estável h sobre o tubo T , obtendo a aplicação hβ ,


de forma que sobre T tenha dois arcos de curvas singulares k 0 e m0 , com
hβ (k 0 ) = k e hβ (m0 ) = m.
GRAFOS E APLICAÇÕES ENTRE SUPERFÍCIES 35

Figura 3.6: Efeitos no grafo das cirurgias horizontal e vertical.

Observação 3.8. A superfície resultante será orientada se na cirurgia horizontal


o tubo T conecta regiões positivas com regiões positivas e regiões negativas com
negativas e na cirurgia vertical o tubo T conecta uma região positiva com uma
região negativa.
Em particular, se Z é a união disjunta das superfícies Z1 e Z2 , denotamos
por Z = Z1 t Z2 . Se as aplicações h1 e h2 denotam, respectivamente, as
restrições de h às superfícies Z1 e Z2 , então podemos denotar h = h1 ∪ h2 e a
aplicação resultante da cirurgia horizontal por f = hβ = h1 ⊕H h2 e da cirurgia
vertical por f = hβ = h1 ⊕V h2 .

Definição 3.9. Se Z1 e Z2 são superfícies conexas disjuntas, então a cirurgia


horizontal hβ = h1 ⊕H h2 é chamada de soma conexa horizontal das apli-
cações estáveis h1 e h2 e a cirurgia vertical hγ = h1 ⊕V h2 é chamada de soma
conexa vertical das aplicações estáveis h1 e h2 (ver Figura 3.6).

As cirurgias horizontal e vertical podem ocorrer também sober uma mesma


superfície Z, neste caso Z1 e Z2 estão contidas em Z. Neste caso, estamos
acrescentado uma nova alça em Z. Neste caso, vamos denotar a aplicação
resultante da cirurgia horizntal por hH : ZH −→ N e a aplicação resultante da
36 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

cirurgia vertical por hV : ZV −→ N , onde ZH (e ZV ) é superfície obtida de Z


pelo acrescimo de uma alça com a cirurgia horizontal (cirurgia vertical).
Example 3.10. A projeção trivial do Toro no plano, pode ser obtida por uma
cirurgia vertica sobre a projeção trivial da esfera no plano. Da mesma forma,
podemos fazer n cirurgias verticas sobre a esfera para obter o n-toro.
A aplicação do toro no plano, com duas curvas simples no contorno apa-
rente, pode ser obtido pela cirurgia horizontal sobre a projeção no plano, com
única curva singular, da esfera deformada no espaço, como na ver Figura 2.2
a esquerda.
Pela Definição 3.9 e pelas contruções por cirurgias, das aplicações estáveis
entre superfícies, podemos afirmar o seguinte:
Proposição 3.11. Se G1 e G2 são grafos associados, respectivamente, às apli-
cações estáveis h1 : Z1 −→ N e h2 : Z2 −→ N então o grafo G1 ⊕H G2
(resultante da soma conexa horizontal) e o grafo G1 ⊕V G2 (resultante da soma
conexa vertical) são grafos associados, respectivamente, às aplicações estáveis
h1 ⊕H h2 e h1 ⊕H h2 .
Neste caso, para o gênero vale: g(Z1 ⊕H Z2 ) = g(Z1 ⊕V Z2 ) = g(Z1 )+g(Z2 ).

Figura 3.7: Exemplo de cirurgia horizontal entre o bitoro e o toro.

Proposição 3.12. Se G é um grafo associado à aplicação estáveil h : Z −→ N ,


então o grafo GH , resultante da cirurgia horizontal sobre h, e o grafo GV , resul-
tante da cirurgia vertical sobre h, são grafos associado às aplicações estáveis
hH : ZH −→ N e hV : ZV −→ N , obtidos das respectivas cirurgias.
Neste caso, para o gênero vale: g(ZH ) = g(ZV ) = g(Z) + 1.
GRAFOS E APLICAÇÕES ENTRE SUPERFÍCIES 37

Figura 3.8: Exemplo de cirurgia vertical sobre o bitoro.

Example 3.13. A Figura 3.7 ilustra um exemplo de cirurgia horizontal entre


uma aplicação do bitoro, com uma curva singular que separa de cada lado
um toro com buraco, e uma aplicação do toro, com duas curvas singular que
divide o toro em dois cilindro. Noque que poderia fazer a cirurgia sobre a curva
singular do bitoro e quaisquer das curvas singulares do toro. Foi necessário
fazer uma interseção entre as duas superfícies imersas para permitir fazer a
cirurgia sobre a curva escolhida no toro. O resultante foi uma aplicação do
3-toros no plano com grafo resultante em E = 2, V = 2 e W = 2.

...

... ...

Figura 3.9: Exemplo de aplicações da esfera na esfera com grau d.

Example 3.14. A Figura 3.8 a direita ilustra uma aplicação do bitoro no plano
com única curva singular com 6 pontodos duplos. A direita ilustra uma uma
aplicação do 3-toros no plano, com duas curvas singulares, que pode ser obtida
por uma cirurgia vertical sobre a aplicação da esquerda, conectando as duas
diferentes regiões regulares. Obserque que a imersão pode ser “estirada´´ de
38 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

forma que altera o contorno aparente mas não alterar o número de componentes
singulares.

Example 3.15. A Figura 3.9 à direita pode ser vista como uma aplicação da
esfera na esfera com grau 1 e o contorno aparente com duas cúspides. Esta
aplicação pode ser obtida por uma transição lips sobre a aplicação identidade
do esfera.
A aplicação à direita pode ser obtidas por d − 1 cirurgias horizontais entre
d copias da aplicação à esquerda da esfera com grau um, obtendo assim uma
aplicação da esfera na esfera com única curva singular, grau d e com 2d cúspi-
des. Pode verficar que 2d é o menor número de cúspides para uma aplicação
para uma aplicação da esfera na esfera com grau d, conjunto singular conexo
e contorno aparente sem pontos duplos (ver [1]).

...
... ...

...
...

...
... ...
...

Figura 3.10: Exemplos de aplicações no n-toro.

Example 3.16. A Figura 3.10 ilustra à esquerda superior uma aplicação do


toro no plano com única curva singular, dois pontos duplos e duas cúspides. A
aplicação superior direita, do w-toro no plano (tem única curva singular com
2w pontos duplos e 2w cúspides) pode ser obtida por w−1 cirurgias horizontais
entre w copias da aplicação do toro (a esquerda).
GRAFOS E APLICAÇÕES ENTRE SUPERFÍCIES 39

A figura a esquerda e abaixo, ilustra uma aplicação do n-toro no n−toro


com grau 1 e uma curva singular com duas cúspides. Esta aplicação pode
ser obtida por uma transição lips sobre a aplicação identidade do n-toro. A
aplicação à direita dessa pode ser obtidas por d − 1 cirurgias horizontais entre
d copias da aplicação à esquerda com grau um.

Figura 3.11: Construção de uma plicação do 6-toros na esfera.

Example 3.17. A Figura 3.11 apresenta uma sequência (da esquerda para a
direita) de aplicações com d = 1. A primeira corresponde a aplicação identidade
da esfera na esfera com E = 0, V = 1, W = 0 (única componente regular que
é a esfera). A segunda, também da esfera na esfera, tem E = 5, V = 6 e
W = 0. Cada uma das curvas singulares pode ser obtida pela transição lábios.
A terceira com E = 1, V = 2 e W = 4, pode ser obtida fazendo 4 cirurgias
horizontais sobre a segunda aplicação. A última com E = 3, V = 2 e W = 4
pode ser obtida fazendo duas cirurgias vérticais sobre a terceira (“olhos do
morcego”).

... ... ... ...


... ... ... ...
... ... ... ... ... ...
... ...

Figura 3.12: Contornos aparentes de aplicações na esfera.


40 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

Example 3.18. A Figura 3.12 ilustra contornos aparente irredutíveis (con-


junto singular conexo) de aplicações estáveis f : M → S 2 com grau d, C
pontos de cúspides e D pontos duplos no contorno aparente. O gênero de M
é denotado por g. O número k é um inteiro positivo. Aplicações com estes
contornos aparentes irredutíveis podem ser visto em Pignoni em [1, 3, 25].

Figura 3.13: Aplicações dobra da esfera na esfera com grau 1 e 2.

Example 3.19. A Figura 3.13 ilustra duas aplicações sem cúspides: à es-
querda a aplicação dobra tem grau 1 e grafo L2 tem peso zero. A direita uma
aplicação com grau 2, que pode ser obtida por cirurgia horizontal entre duas
copias da primeira, tem o grafo tipo estrela com 3 arestas e peso zero.

As cirurgias não alteram o número de cúspides das aplicações (aplicações


dobra). Então podemos construir aplicações sem cúspides a partir de outras
aplicações sem cúspides, como pode observar nas Figuras 3.7 e 3.8.
Denotamos por V + e V − o número de vértices associados às regiões regu-
lares postivas e negativas, respectivamente, e por W + (W − ) a soma total dos
pesos nos V + (V − ) vértices:

1. V + = V − é uma condição necessária e suficiente para que um grafo


G(V, V − 1, 0) (árvore de peso zero) possa ser associado a uma aplicação
sem cúspides da esfera no plano. Para mais detalhes, veja [7].

2. V + − V − = W + − V − é uma condição necessária e suficiente para que o


grafo G(V, E, W ) possa ser a associado a alguma aplicação dobra de uma
superfície fechada e orientada no plano. Para mais detalhes, veja [9].
4
Aplicações entre superfícies

Toda aplicação estável entre duas superfícies orientadas está associada a


um grafo bipartido com pesos inteiros nos vértices (Proposição 3.6. Agora
veremos os grafos que podem ser realizados por uma aplicação estável entre
duas superfícies orientadas baseados em [8, 9, 14].

4.1. Aplicações no plano

Dizemos que um grafo realiza quando existe alguma aplicaçã̃o estável que
pode ser associada a ele.

Lema 4.1. Toda grafo Ln (n > 0) pode ser realizdo por alguma aplicação
p : S2 −→ R2 .

Demonstração. Os grafos L1 , L2 e L3 podem ser realizados por aplicações f1 ,


f2 e f3 , como na Figura 3.1. Se n > 3, então Ln pode obtido como soma conexa
vertical de no máximo k (k ≥ n/2) grafos tipo Li , com i = 1, 2, 3. Então Ln
pode ser realizado pela aplicação estável p : S2 −→ R2 , obtida por no máximo
(k − 1) cirurgias verticais entre aplicações do tipo f1 , f2 e f3 .

Teorema 4.2. Toda grafo G(V, V −1, 0) (árvore) pode ser realizado por alguma
aplicação estável f : S2 −→ R2 .

Demonstração. Se G(V, V − 1, 0) é um Ln , então realiza como no Lema 4.1.


Se G(V, V − 1, 0) tem m vértices com grau di > 2 (j = 1, · · · , m), então ele
admite uma decomposição em no máximo r = m
P
j=1 (dj ) − 1 grafos tipo Li ,

41
42 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

de forma que G(V, V − 1, 0) pode ser obtido por cirurgias horizontais destes r
grafos, como no Lema 1.13. Uma vez decomposto G(V, V − 1, 0) nos r grafos
tipo Li , pode realizar os grafos Li , como no Lema 4.1, por aplicações fi . Por
cirurgias horizontais entre as aplicações, respeitando a decomposição do grafo,
obtemos a aplicação f : S2 −→ R2 que realiza G(V, V − 1, 0).

Teorema 4.3. Todo grafo bipartido G(V, E, 0) pode ser realizado por uma apli-
cação estável g : m T2 −→ R2 , onde m = β1 (G).

Demonstração. Se G(V, E, 0) é um grafo com m ciclos, então E = V + m − 1.


Retirando uma aresta de cada um dos G(V, V − 1, 0) que pode ser realizado
por uma aplicação estável f : S2 −→ R2 , pelo Teorema 4.2.
Para obter uma aplicação g : M −→ R2 que realiza o grafo G(V, E, 0),
podemos fazer uma cirurgia vertical sobre f , para cada uma das m arestas
retirada do grafo, criando uma nova curva singular que realiza a aresta retirada.
Como a esfera é conexa, cada cirurgia vertical sobre h altera por +1 o
gênero da superfície M resultante. Então o gênero de M é m.

Lema 4.4. Toda árvore L1 com peso w pode ser realizada por alguma aplicação
estável h : wT2 −→ R2 .

Demonstração. Para w = 1, a árvore L1 , pode ser realizada por uma aplicação


f : T2 −→ R2 , com única curva singular, como na Figura 3.2. Uma aplicação
h : M −→ R2 que realiza L1 com peso w pode ser obtida por w − 1 cirurgias
horizontais sobre w aplicações do tipo f : T2 −→ R2 .

Teorema 4.5. Toda árvore G(V, V − 1, W ) pode ser realizada por alguma
aplicação estável r : W T2 −→ R2

Demonstração. O peso do grafo satisfaz W = Vi=1 wi , onde wi é o peso do


P

vértice vi . Para W = 0, a árvore G(V, V − 1, 0), pode ser realizada por uma
aplicação f : S2 −→ R2 , como no Teorema 4.2.
Fazendo, para cada vértice com peso wi > 0, uma cirurgia horizontal entre
a aplicação f e uma aplicação tipo h : wi T2 −→ R2 , no Lema 4.4, obtemos a
aplicação estável r : W T2 −→ R2 .
GRAFOS E APLICAÇÕES ENTRE SUPERFÍCIES 43

Teorema 4.6. Todo grafo bipartido G(V, E, W ) pode ser realizado por uma
aplicação estável s : M −→ R2 , onde M é uma superfície fehada e orientada
com gênero g(M ) = 1 − V + E + W .

Demonstração. Se G(V, E, W ) é um grafo com m ciclos, então E = V + m − 1.


Retirando uma aresta de cada um dos G(V, V − 1, W ) que pode ser realizado
por uma aplicação estável r : W T2 −→ R2 , como no Teorema 4.5.
Para obter a aplicação estável s : M −→ R2 que realiza o grafo G(V, E, W ),
podemos fazer uma cirurgia vertical sobre a aplicação r, para cada uma das m
arestas retirada do grafo, como no Teorema 4.3, acrescendando mais m alças
no W -toro. Logo o gênero de M é dado por g(M ) = m + W = 1 − V + E + W ,
pela Proposição 1.52.

4.2. Aplicações entre superfícies fechadas


Os resultados sobre aplicações entre superfícies fechdas e orientadas podem
ser vistos com mais detalhes em [9, 14]. Como na seção anterior, para o caso
de aplicações no plano, vamos fazendo as construções por partes, começando
com aplicações na esfera.
Diferente do plano,podemos ter aplicação identidade id : N −→ N (sem
pontos singulares) que realiza o grafo G(1, 0, W ). O grafo L1 pode ser realizado
por uma aplicação f : S2 −→ S2 , com grau d, como no Exemplo 3.15.

Lema 4.7. Todo grafo G(V, E, W ) que é realizável por uma aplicação estável
f : M −→ R2 pode ser realizado por uma aplicação h : M −→ N com grau
zero, onde M e N são superfícies fechadas.

Demonstração. Seja G(V, E, W ) um grafo associado a uma aplicação estável


f : M −→ R2 . Como M é fechada, então existe um disco D no plano com
f (M ) ⊂ D. Seja j : D −→ N um mergulho. Então g = j ◦ f : M −→ N é
uma aplicação com grau zero que realiza o grafo G(V, E, W ).

Teorema 4.8. Todo grafo G(V, E, W ) que é realizável por uma aplicação está-
vel f : M −→ R2 pode ser também realizável por uma aplicação h : M −→ S2
44 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

com grau d, onde M é uma superfície fechada e orientada com gênero g(M ) =
1 − V + E + W.

Demonstração. Pelo Lema 4.7 o grafo G(V, E, W ) que é realizável no plano,


também pode ser realizável na esfera com grau zero. Uma aplicação h : M −→
R2 , com grau d, que realiza G(V, E, W ) pode ser obtida por uma cirurgia entre
a aplicação g e uma aplicação com única curva singular e grau d, como ilustrada
na Figura 3.9.

Teorema 4.9. [14] Todo grafo bipartido G(V, E, W ) pode ser realizado por
alguma aplicação estável f : M −→ N entre duas superfícies fechadas e ori-
entadas com grau | d |≤ (W − 1)/(n − 1).

Algoritmo de Realização: Todo grafo pode ser realizado por uma aplicação
com grau zero entre duas superfícies fechadas e orientadas, pelo Lema 4.7.
Agora vamos ver como construir aplicações com grau d > 0.
Dado um grafo bipartido G(V, E, W ), para construir uma aplicação f com
grau d, entre duas superfícies fechadas e orientadas, que realiza G, primeiro
devemos supor que a bipartição de G, com sinais “ + ” e “ − ” nos vértices,
satisfaz:

(a) W + − W − ≥ dn,

(b) existem vértices vi+ , i = 1, . . . , V + , com pesos ti ≥ di n, onde di ≥ 0 e


Ps
i=1 di = d.

Se G(V, E, W ) tem as propriedades acima, um algorítimo bem resumido


para a sua realização (por uma aplicação estável entre duas superfícies fechadas
e orientadas) é como segeu (ver Figuras 4.1 e 4.2):

1. A(V, E − β1 , W ): retira uma aresta de cada um dos β1 ciclos do grafo


G(V, E, W ).

2. A(V, E − β1 , W − dn): subtrai pesos di n em cada vértice, nos vértices


com pesos wi > di n (d = Vi=1 di ), para a região que deseja colocar grau
P

di .
GRAFOS E APLICAÇÕES ENTRE SUPERFÍCIES 45

Figura 4.1: Exemplo de esquema para realização de um grafo.

3. A(V, E − β1 , 0): retira os pesos todos os vértices.

4. decompõe a árvore A(V, E − β1 , 0) em um conjunto de subgrafos Ai ,


i = 1, · · · , k, de peso zero associadas às aplicações fi , com grau zero já
conhecidas.
Por cirurgias (horizontais e/ou verticais) entre as aplicações fi pode re-
alizar A(V, E − β1 , 0) por uma aplicação h : S2 → N de grau zero.

5. realiza os pesos na árvore A(V, E − β1 , W − dn) por cirurgias horizontais


entre h e aplicações de grau zero hi : Zi → N com grafos A(2, 1, wi −di n).

6. realiza a árvore A(V, E − β1 , W ) por uma aplicação f0 : M0 → N obtida


por cirurgias horizontais entre h e aplicações gi : Zi → N , com grau di e
grafos A(2, 1, di n).

7. a aplicação f : M → N que realiza G(V, E, W ), pode ser obtida, realiza


os ciclos do grafo do grafo por β1 cirurgias verticais sobre f0 .

O esquema na Figura 4.1 e o algoritmo indica uma forma de realizar o


grafo dado, com objetivo de ajudar o leitor a construir um exemplo. Mas
pode construir de outras formas, por exemplo: primeiro realiza o grafo com
peso zero, por uma aplicação de grau zero. Para acrescentar os pesos, aplica
cirurgia horizontal entre esta aplicação e aplicações com única curva singular,
de acordo com peso de cada vértice, respeitando grau que cada vértice deve
contribuir.
46 Catarina Mendes de Jesus Sánchez

Figura 4.2: Aplicação de grau 1 e grafo com peso n.

A Figura 4.2 ilustra um exemplo de decomposição e realização do grafo,


seguindo o algoritmo dado. No exemplo, o grafo tem único vértice com peso
n que permitiu construir uma aplicação com grau 1. A representação planar
corresponde uma região do n-toro contendo todo o contorno aparente.

Qualquer sugestão ou correção,


favor enviar para cmendesjesus@ufjf.br
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