Você está na página 1de 60

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CAMPUS CURITIBANOS
MEDICINA VETERINÁRIA

Keila Jordana Esser

Produção de abelhas rainhas africanizadas a partir do método de transferência


de larvas e o peso como característica de seleção

Curitibanos
2020.1
Keila Jordana Esser

Produção de abelhas rainhas africanizadas a partir do método de transferência


de larvas e o peso como característica de seleção

Trabalho de Conclusão de Curso de


Graduação em Medicina Veterinária do
Centro de Ciências Rurais da
Universidade Federal de Santa Catarina,
Campus de Curitibanos como requisito
para a obtenção do título de Bacharel em
Medicina Veterinária
Orientador: Prof. Dr. Rogério Manuel
Lemes de Campos

Curitibanos
2020.1
Dedico este trabalho ao meu amor, Leandro,
meus pais e meus irmãos por todo o apoio.
AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me privilegiado com o dom da vida e ter me proporcionado saúde
física e principalmente mental para enfrentar os obstáculos que a todo o momento surgem
no caminho. E me faço sempre lembrar que sem os imprevistos, tanto os bons quanto os
ruins, essa trajetória não teria sido tão especial e que chegar à última etapa não seria tão
valioso.

Ao Universo, por todas as maravilhas que já vi, pela natureza que me inspira e me
fez apaixonar por seres tão iluminados como as abelhas, que “carregam o mundo em suas
costas”.

Aos meus pais, que mesmo sem condições de me oferecem tudo o que queriam,
me deram tudo o que eu precisava para viver bem e feliz. São meus exemplos de vida,
meu pai Hilberto e minha mãe Maria, meus maiores exemplos de vida.

Ao meu amor, Leandro, minha fonte de inspiração, a luz que me guia e que me
deu forças para concluir a graduação. Obrigada por tudo e principalmente por ser meu
companheiro nessa vida e nas muitas outras que virão.

Agradeço aos meus irmãos, Silvana, Roselene e Emerson por me apoiarem em


todas as minhas decisões e por terem ficado ao meu lado nos momentos bons e
principalmente nos difíceis, pois são nestes que vemos o tamanho do amor de uma
família.

Obrigada a Universidade Federal de Santa Catarina por permitir concluir uma


graduação, totalmente gratuita. Eu jamais teria conseguido realizar o meu sonho se não
fosse por essa instituição.

Obrigada aos mestres professores, que com amor me ensinaram. Jamais irei
esquecer nenhum de vocês, desde as disciplinas iniciais como as finais.

Obrigada ao meu orientador Rogério, pela força que me deu para seguir na área
que eu amo, és um exemplo de pessoa e um professor excelente.

Obrigada a Epagri por me acolher tão bem, e obrigada a supervisora Tânia pelos
ensinamentos, pela paciência, pelos cuidados, és uma grande mulher. Agradeço também
ao senhor Olívio pelos dias nos apiários e pela paciência que teve comigo.
Ser simples é ser incrível.
Autor desconhecido.
RESUMO

O melhoramento genético de abelhas Apis mellifera é uma ferramenta crucial para obter
o sucesso de desenvolvimento do setor apícola. Isto inclui práticas de manejo, troca de
rainhas e principalmente colmeias selecionadas quanto ao comportamento higiênico,
baixas taxas de infestação a pragas e alta produção de mel, os quais são pilares para uma
apicultura moderna e de qualidade. Adicionalmente, a padronização de práticas de
manejo, troca constante de rainhas, produção de zangões, avaliação continua da produção
e a inseminação instrumental são práticas constantes nos apiários. A produção de rainhas
selecionadas atualmente é uma alavanca para o crescimento apícola em Santa Catarina,
por isso a seleção deve ser rigorosa para melhores resultados. O peso como característica
morfométrica desejada, é crucial para a seleção de boas rainhas. Uma rainha mais pesada
apresenta maior concentração de postura de ovos e, consequentemente uma colmeia mais
populosa, que terá maior capacidade de produção.
Palavras-chave: Apicultura, melhoramento genético, Apis mellifera, Medicina
Veterinária.
ABSTRACT

The genetic improvement of Apis mellifera bees is a crucial tool for the successful
development of the bee sector. This includes management practices, exchange of queens
and mainly selected hives for hygienic behavior, low rates of pest infestation and high
honey production are the pillars for modern and quality beekeeping. Additionally,
standardization of management practices, constant exchange of queens, production of
drones, continuous evaluation of production and instrumental insemination are constant
practices in apiaries. The production of selected queens today is a lever for bee growth in
Santa Catarina, so the selection must be rigorous for better results. Weight as a desired
morphometric characteristic is crucial for the selection of good queens. A heavier queen,
has a higher concentration of egg laying and, consequently, a more voluminous hive,
which will have greater honey production capacity.

Keywords: Beekeeping, Genetic improvement, Apis mellifera, Veterinary Medicine.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Integrantes da colmeia. ..................................................................................... 8


Figura 2 - Aparelho reprodutor da rainha. ........................................................................ 9
Figura 3 - Mapa da área cultivada com Trigo Mourisco. ............................................... 19
Figura 4 - Colmeia 129, uma das três selecionadas como matriz................................... 20
Figura 5 - Colmeia recria, suplementada com xarope. ................................................... 20
Figura 6 - Rainha retirada da colmeia recria, em gaiola. ................................................ 21
Figura 7 - Umidificador de ar. ........................................................................................ 22
Figura 8- Porta Quadros. ................................................................................................ 23
Figura 9 - Quadro porta cúpulas de acrílico. .................................................................. 23
Figura 10 - Pinça adaptada para a transferência de larvas. ............................................. 24
Figura 11 - Frasco contendo geleia real diluída em água. .............................................. 24
Figura 12 - Introdução do porta cúpulas vazio, para reconhecimento das abelhas. ....... 25
Figura 13 - Tamanho das larvas selecionadas. ............................................................... 26
Figura 14 - Procedimento de transferência de larvas com agulha chinesa ..................... 26
Figura 15 - Larvas depositadas nas cúpulas de acrílico, contendo geleia real diluída. .. 27
Figura 16 - Inclusão das cúpulas na colmeia recria. ....................................................... 28
Figura 17 - Realeiras contidas em pequenos frascos de vidro, no interior da estufa BOD.
........................................................................................................................................ 29
Figura 18 - Nascimento de uma abelha rainha produzida por transferência de larvas. .. 30
Figura 19 - Aplicação de CO2 para inconsciência da rainha. ........................................ 30
Figura 20 - Pesagem da rainha recém nascida, em balança de precisão. ....................... 31
Figura 21 - Medidas morfométricas do comprimento e largura do abdômen ................ 31
Figura 22 - Gaiola de plástico, vedada com cândi .......................................................... 33
Figura 23 - Introdução da princesa no núcleo de fecundação. ....................................... 33
Figura 24 - Área com postura. ........................................................................................ 35
Figura 25 - Gráfico de produção de mel apiário I. ......................................................... 37
Figura 26 - Gráfico de produção de mel apiário II. ........................................................ 38
LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Ciclo evolutivo de Apis mellifera (em dias). .................................................... 6


Tabela 2 - Cores de marcação da rainha conforme o ano de seu nascimento ou
introdução na colônia...................................................................................................... 32
Tabela 3 - Características morfomométricas após o nascimento....................................33
Tabela 4 - Rainhas distribuídas em seus núcleos ........................................................... 34
Tabela 5 -Taxa de fecundação, postura. ......................................................................... 40
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BOD Demanda bioquímica de oxigênio

CO2 Dióxido de carbono

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

EEV Estação Experimental de Videira

EPAGRI Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina

EPASC Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1

2. OBJETIVOS ............................................................................................................ 3
2.1 Objetivo Geral ................................................................................................... 3
2.2 Objetivos específicos ......................................................................................... 3
3 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................. 4

3.1 IMPORTÂNCIA SOCIOECONÔMICA DA APICULTURA ............................. 4


3.2 AS ABELHAS APIS MELLIFERA ........................................................................ 5
3.2.1 Organização das abelhas ............................................................................... 6
3.3 BIOLOGIA DA ABELHA RAINHA..................................................................... 7
3.3.1 Fecundação ................................................................................................... 10
3.3.2 Determinação da casta rainha ..................................................................... 10
3.3.3 Feromônios.................................................................................................... 11
3.4 SUBSTITUIÇÃO DA RAINHA .......................................................................... 12
3.5 MELHORAMENTO GENÉTICO EM ABELHAS AFRICANIZADAS ............ 13
3.6 SELEÇÃO DE RAINHAS ................................................................................... 14
3.6.1 Seleção de matrizes quanto ao comportamento higiênico ........................ 15
3.6.2 Seleção de matrizes quanto a taxa de invasão e infestação por Varroa
destructor. ............................................................................................................... 15
3.7 PESO COMO CARACTERÍSTICA MORFOMÉTRICA Á EMERGENCIA DE
RAINHAS COMO CRÍTÉRIOS DE SELEÇÃO ....................................................... 16
3.8 MÉTODO DOLLITLE PARA PRODUÇÃO DE RAINHAS ............................. 17
4 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 17

4.1 LOCAL DE ESTUDO .......................................................................................... 17


4.2 PRODUÇÃO DAS RAINHAS ............................................................................. 19
4.2.1 Colmeias Matrizes ........................................................................................ 19
4.2.2 Preparação da colmeia recria...................................................................... 20
4.2.3 Materiais necessários para a transferência ................................................ 21
4.2.4 Preparação das cúpulas para a transferência (geleia real) ...................... 24
4.2.5 Transferência de larvas ............................................................................... 25
4.2.6 Nascimento das princesas ............................................................................ 28
4.2.7 Avaliação morfométrica das princesas ....................................................... 29
4.2.8 Introdução das princesas nos núcleos de fecundação ............................... 32
4.2.9 Verificação da taxa de aceitação e fecundação das princesas .................. 34
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 36

5.2 PRODUÇÃO DE MEL ......................................................................................... 37


5.3 PESO COMO CARACTERÍSTICA MORFOMÉTRICA DE SELECAO DAS
ABELHAS RAINHA .................................................................................................... 38

6 CONCLUSÃO............................................................................................................ 43

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 44
1

1 INTRODUÇÃO

A apicultura é uma atividade que promove diversos resultados positivos tanto


econômicos como ecológicos, capazes de gerar renda através da produção de diversos
produtos como o mel, própolis, cera, geleia real, pólen, entre outros. Além disso, as
abelhas exercem função ecológica fundamental para a polinização das plantas, sejam
estas nativas ou exóticas. A apicultura é, portanto, uma fonte para aumentar seus
rendimentos com a venda de produtos apícolas, sem causar danos à natureza
(FAQUINELLO, 2007).
Além de promover os benefícios anteriormente citados, a apicultura é uma fonte
rentável que não compete com as atividades já existentes na área rural. Além disso, o
trabalho com as abelhas e favorece o aumento da produtividade das colheitas através da
polinização (PAXTON, 1995 apud FREITAS, 2003).
O Brasil possui posição de destaque na apicultura, sendo um dos maiores
exportadores mundiais de produtos derivados das abelhas. Isso se deve, principalmente,
à grande variedade climática e à adaptação das abelhas africanizadas às condições do
ecossistema brasileiro. As abelhas africanizadas são responsáveis pelo desenvolvimento
apícola do país, pois possuem tolerância a várias pragas e doenças que prejudicam a
atividade em todo o mundo, garantindo ao Brasil grandes oportunidades no mercado
externo (GONÇALVES, 1992).
Os produtos apícolas têm alcançado espaço no mercado mundial, elevando seu
consumo anualmente, gerando ao setor altos índices de expansão. O desenvolvimento e
índices produtivos das colônias estão relacionados com a qualidade de suas rainhas, pois
a rainha é a genitora de todos os integrantes da colônia e através desta são transmitidas as
características hereditárias que compõe o genótipo de todas as operárias, relacionadas à
produção, tolerância à doença, defensividade, entre outras. (SOUZA et al., 2012;
MANRIQUE & COLMENARES, 2014;).
Como a produção é o principal objetivo do apicultor e, visto que a rainha é
responsável por todas as características expressas pela colônia, para aumentar seus índices
produtivos, o apicultor, além das técnicas adequadas de manejo, deve estar atento à
adoção de ferramentas que visam avaliar o desenvolvimento e desempenho de suas
rainhas. O melhoramento genético de abelhas se torna, assim, uma ferramenta para o
sucesso e desenvolvimento da indústria apícola, possibilitando o aumento de sua
eficiência produtiva (COBEY & SCHLEY, 2002).
2

Diante do contexto apresentado e da escassez de estudos na área de melhoramento


genético de abelhas na literatura pertinente, a produção de rainhas através de métodos
eficazes torna-se cada vez mais necessário. Este trabalho teve como objetivo produzir
rainhas de abelhas africanizadas selecionadas geneticamente e verificar a capacidade de
produção de mel, em uma área cultivada com trigo mourisco na região do Alto Vale do
Itajaí, Santa Catarina.
3

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Produzir rainhas de abelhas africanizadas selecionadas geneticamente e verificar


a capacidade de produção de mel, em uma área cultivada com trigo mourisco na região
do Alto Vale do Itajaí, Santa Catarina.

2.2 Objetivos específicos

Produzir rainhas em laboratório através da transferência de larvas;


Analisar características morfométricas das rainhas produzidas;
Avaliar da produção de mel a partir de núcleos cujas rainhas foram produzidas;
Analisar o peso como característica morfométrica relacionada a produção de mel.
4

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 IMPORTÂNCIA SOCIOECONÔMICA DA APICULTURA

A apicultura é a arte de criar abelhas (Apis mellifera), com o objetivo de


proporcionar ao homem produtos derivados como mel, cera, geleia real, própolis, pólen,
e ainda, prestar serviços de polinização às culturas vegetais (MOREIRA, 1993). As
abelhas são consideradas os principais polinizadores em ambientes naturais e agrícolas,
onde esse serviço ecossistêmico é essencial para a manutenção das populações selvagens
de plantas e para a produção de alimento (IMPERATRIZ-FONSECA; NUNESSILVA,
2010).
Em virtude de seus benefícios, a apicultura não se trata apenas de uma atividade
agrícola ou, mais uma alternativa de renda, pois ela atende aos princípios propostos pela
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMD, 1991), que
considera requisitos para um desenvolvimento sustentável aquelas atividades que possam
suprir as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das futuras gerações
suprirem as suas próprias necessidades (LENGLER, et al., 2007).
A produção mundial de mel alcançou 1,3 milhões de toneladas em 2004 e vem
apresentando um crescimento regular nos últimos dez anos, da ordem de 1,9% ao ano
(USAID/BRASIL, 2006). No Brasil, a atividade apícola forma uma cadeia produtiva
composta por mais de 300 mil apicultores e uma centena de unidades de processamento
de mel, que juntos empregam, temporária ou permanentemente, quase 500 mil pessoas.
(IBGE, 2017).
A produção de mel no Brasil está presente em todas regiões. Segundo o último
levantamento feito pelo IBGE, em 2017, a produção anual é em média de 41.594
toneladas. No estado de Santa Catarina, no ano de 2017 segundo o IBGE, foram
produzidas 3.517 toneladas de mel, distribuídas em 16.838 unidades produtoras, que
somam 297.863 colmeias.
Segundo a Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores de Santa
Catarina (FAASC), o estado é o quarto maior produtor de mel do país e conta com quase
dez mil apicultores. A safra 2017/18 foi de 5,5 mil toneladas em 315 mil colmeias.
Atualmente 42% do mel produzido no Estado é considerado orgânico. Os dados do
Inventário da Apicultura Catarinense da FAASC demonstram que a apicultura está
5

presente em 98% dos municípios catarinenses. O Estado de santa Catarina é o maior


exportador brasileiro de mel em volume (APACAME, 2019).

3.2 AS ABELHAS APIS MELLIFERA

As abelhas pertencem à ordem Hymenoptera e família Apidae. É composta por


mais de 20 mil espécies diferentes (SANTOS, 2002). No gênero Apis estão as abelhas
sociais mais utilizadas comercialmente, sendo classificadas em sete espécies diferentes:
Apis florea, A. andreniformes, A. dorsata, A. cerana, A. mellifera, A. laboriosa e A.
koschevnikov (COUTO; COUTO, 2002). Importantes para polinização, agricultura,
produção de mel, geleia real, cera, própolis e pólen.
Através de provas arqueológicas é sabido que surgiram no mundo há cerca de 42
milhões de anos e coevoluíram junto com o desenvolvimento das flores. Desde então,
esses dois grupos biológicos mantêm forte relação de dependência recíproca (simbiose):
a abelha coleta nas flores o néctar e o pólen vital à sua sobrevivência; por outro lado, uma
parte do pólen adere ao seu corpo e é transportada para longe, onde irá fecundar outras
flores (SANTOS, 2002).
O corpo de um desses indivíduos que raramente ultrapassa 3,75 cm de
comprimento é constituído de três partes: cabeça, tórax e abdômen. No tórax encontram-
se dois pares de asas e três pares de pernas. As fêmeas possuem um ovopositor na
extremidade do abdômen, que é utilizado para depositar os ovos e contém um ferrão
(SOUZA, 2009).
O corpo de uma abelha melífera divide-se em cabeça, tórax e abdômen. As abelhas
possuem na cabeça os órgãos sensoriais que lhe permitem saber o que se passa ao seu
redor (MAGALHÃES, 1999). Através dos grandes olhos compostos, podem orientar-se
em seus voos e distinguir as cores das flores. Nas antenas possuem os sentidos da audição,
do olfato e do tato, imprescindíveis quando se encontram na escuridão da colmeia. Pelo
cheiro podem reconhecer suas companheiras e detectar seus inimigos (SOUZA, 2009).
Em condições favoráveis, de intensa florada, as abelhas coletam e armazenam
alimento, mas, em períodos de escassez de néctar, pode ocorrer a diminuição das suas
atividades, ocasionando na redução da postura da rainha e um desequilíbrio da população
na colmeia. Em tais circunstâncias, é essencial a interferência do apicultor, sob o risco de
perda de enxames ou enfraquecimento geral das colônias. Muitas dietas oferecidas às
abelhas até suprem o valor nutritivo do pólen, mas quando as abelhas têm uma livre
6

escolha entre o pólen e o substituto, elas geralmente têm maior preferência pelo primeiro
do que o segundo (CASTAGNINO, 2006).

3.2.1 Organização das abelhas

As abelhas são insetos sociais, vivendo em colônias organizadas em que os


indivíduos se dividem em castas, possuindo funções bem definidas que são executadas
visando sempre à sobrevivência e manutenção do enxame. Numa colônia, em condições
normais, existe uma rainha, cerca de 5.000 a 100.000 operárias e de no máximo 400
zangões (EMBRAPA, 2003).
As abelhas operárias são responsáveis por todas as tarefas dentro e fora da
colmeia. Suas atividades vão obedecer a uma escala de trabalho que normalmente está
associada com a idade do indivíduo e ao desenvolvimento das suas glândulas
(MAGALHÃES, 2012).
As abelhas apresentam 3 castas de indivíduos: rainha, operárias e zangões. Todas
essas castas passam por fases (ovo/ larva/ pupa/ adulto) para atingir a forma adulta. Esse
período de desenvolvimento é definido como ciclo evolutivo (Tabela 1).

Tabela 1- Ciclo evolutivo de Apis mellifera (em dia).


Fases Rainha Operária Zangão

Ovo 3 3 3

Larva 5 6 6,5

Pré-pupa e pupa 7 12 14,5

Total 15 21 24

Fonte: GALLO, et al., 2002. Adaptado pela autora (2020).

Do 1° ao 3° dia de vida são abelhas faxineiras destinadas à limpeza da colmeia,


depósitos de mel e células para o nascimento de novas abelhas operárias, rainhas e
zangões. Do 4° ao 14° dia de vida desempenham a sua mais importante tarefa: preparar e
cuidar da alimentação da rainha e das larvas, motivo pelo qual são batizadas de abelhas
nutrizes. Do 14° ao 21° dia de vida São batizadas de abelhas engenheiras por ser o período
7

em que se dedicam à produção de cera e à construção dos favos. A partir do 21° dia de
vida dão início a atividade de coleta de alimento no campo (FREE, 1998).
Os Zangões correspondem aos indivíduos machos da comunidade. Não
apresentam estrutura específica para o trabalho e sua função na colmeia é fecundar a
rainha. Atingem a maturidade sexual aos 12 dias de idade adulta e, após fecundar a rainha,
morrem, por perderem partes dos seus órgãos sexuais, os quais ficam presos na genitália
da rainha (MAGALHÃES, 2012).
De maneira geral, os machos são produzidos nas colônias em épocas propicias para
a multiplicação destas, quando há abundância de alimento na natureza. Em tais épocas,
as operárias de Apis mellifera constroem favor com alvéolos mais largos, o que levou a
sugestão de que a falta de compressão do abdômen da rainha durante a postura e a
consequente não liberação de espermatozoides da espermateca seria o fator controlador
(LANDIM, 1935).

3.3 BIOLOGIA DA ABELHA RAINHA

A abelha rainha é a matriarca de toda a colônia. O mecanismo básico de


determinação das castas, é regulado pela quantidade e qualidade do alimento fornecido à
larva, também o tamanho dos alvéolos (CAMPOS, 1979). Toda larva fêmea, com menos
de três dias de idade, se desenvolverá em uma rainha quando alimentada exclusivamente
com geleia real (PENG; JAY, 2000).
As diferenças na anatomia, fisiologia e comportamento de uma operária e de uma
rainha estão associadas a especialização da rainha em botar ovos, levando à exclusão de
muitas outras atividades, e resultam em uma divisão muito nítida de trabalho entre elas
(Figura 1). Em Apis mellifera, as operárias oferecem às larvas dietas diferentes a partir
do 2° ou 3°dia de vida larval, ou seja, quando elas se encontram no 3° ou 4° estágio larval,
dependendo das condições da colônia, com vistas a produção de rainhas. A partir desse
momento, estabelece-se no ovário das larvas de operárias um processo de morte celular,
que, aparentemente, atinge a princípio as células germinativas. Estas morrem por um
processo morfologicamente muito semelhante a apoptose, isto é, a célula se condensa, o
núcleo se fragmenta e a célula é afetada por células vizinhas (FREE, 1980).
A rainha é maior que uma operária, tem um abdome proporcionalmente maior,
contendo 180 a 200 ovaríolos em uma taxa metabólica mais alta (FREE, 1980). Devido
este sistema reprodutor bem desenvolvido, ela possui uma capacidade de postura de cerca
8

de 1500 ovos fecundados por dia, e entre 175.000 e 200.000 ovos anualmente
(WINSTON, 1991). A rainha possui dois ovários altamente desenvolvidos que ocupam a
maior parte da sua cavidade abdominal (LIMA, 2013), dois ovidutos laterais, um oviduto
mediano comum a ambos os ovários, uma espermateca e uma glândula acessória (Figura
2), (LAIDLAW JR, 1998; DA CRUZ LANDIM, 2009).

Figura 1- Integrantes da colmeia.

Fonte: Lourenço (2008).

O sistema reprodutor da abelha rainha é composto por câmara vaginal que é


conectada pelo oviduto a uma bolsa circular, chamada de espermateca. Quando ocorre a
copula com os zangões, o sêmen fica depositado neste canal, até ocorrer integral migração
dos espermatozóides para a espermateca (DE SOUZA, 2019). A espermateca é a estrutura
que tem a função de armazenamento dos espermatozoides após o acasalamento, e ao
longo da vida produtiva de uma rainha (CARANTÓN et al., 2010), quanto maior o
volume de espermatozoides que uma rainha conseguir armazenar em sua espermateca,
maior será o seu potencial produtivo.
Após o acasalamento, aproximadamente 0,78 µl de esperma e mais de um milhão
de espermatozoides são transferidos para a espermateca (HABERL; TAUTZ, 1998);
entretanto, o armazenamento de espermatozoides em abelhas rainhas é uma característica
complexa que ainda não é bem compreendida (WU et al., 2012).
9

Figura 2 - Aparelho reprodutor da rainha.

Fonte: Dade, 1977, editado pela autora, 2020.

O sêmen armazenado se mantém na espermateca por toda a vida fértil da rainha,


sendo usada aos poucos na fecundação dos ovócitos, não ocorrendo reabastecimento em
novas cópulas. Quando o sêmen acaba, ocorre o processo de substituição natural da
rainha, e assim uma nova surgirá (DE SOUZA, 2019).
Existem opiniões que são divergentes em relação a maneira de como o sêmen dos
vários zangões que as rainhas acasalam é estocado na espermateca. Segundo estudos
baseados em abelhas europeias, alguns autores defendem que esse estoque é feito em
“pacotes”, onde o sêmen não se mistura durante a migração (TABER, 1955;
MARTINHO,1979; KERR, ET AL., 1980; ALMEIDA, 1985). Outros autores defendem
que o sêmen dos zangões se mistura homogeneamente, sendo assim estocado (PAGE &
METCALF, 1982; MORITZ, 1983; Page et al., 1984).
Após o amadurecimento dos ovaríolos a rainha inicia sua vida reprodutiva após
sete dias deste amadurecimento. O desenvolvimento completo dos ovários da rainha,
ocorre somente após o acasalamento, quando se inicia a vitelogênese e a maturação dos
oocitos, as células que originarão os ovos (PATRÍCIO; CRUZ- LANDIM, 2000;
TANAKA; HARTFELDER, 2004).
Devido essas características reprodutivas, as rainhas são os membros mais
importantes da colmeia, pois, o desempenho da colônia está associado a fatores
climáticos, vegetação e uma grande quantidade de crias. (KAMEL et al., 2013).
A abelha rainha leva de 15 a 16 dias para nascer e, a partir de então, é
acompanhada por um verdadeiro séquito de operárias, encarregadas de garantir sua
10

alimentação e seu bem-estar. Após o quinto dia de vida, a rainha começa a fazer vôos de
reconhecimento em torno da colmeia. A partir do nono dia, ela está preparada para
realizar o seu vôo nupcial, quando, então, será fecundada pelos zangões. A rainha escolhe
dias quentes e ensolarados, sem ventos fortes, para realizar o vôo nupcial (PEREIRA,
2003). Depois de fecundada, a rainha inicia a postura geralmente após o terceiro dia da
fecundação, depositando um ovo em cada alvéolo. O ovo é cilíndrico, de cor branca e,
quando recém colocado, fica em posição vertical no fundo do alvéolo (GALLO et al,
2002).

3.3.1 Fecundação

A princesa está apta a realizar o voo de fecundação com sete dias de idade,
podendo antes do voo nupcial fazer alguns pequenos voos de treinamento. No voo nupcial
se acasala em média com 12 – 18 zangões. Caso necessário pode repetir o voo para suprir
o volume espermático necessário. Após a fecundação começa a postura em torno de três
a quatro dias. Deste modo, criadores de rainha conseguem retirar uma rainha com postura
comprovada em torno de 15 dias após a recepção da realeira no núcleo (LAIDLAW
JÚNIOR,1978).

3.3.2 Determinação da casta rainha

Os ovos fecundados podem originar a rainha ou operária, com físico, fisiologia e


traços comportamentais diferentes, embora haja base gênica subjacente, a direção que
tomará dependerá da alimentação recebida, sendo de suma importância no sistema
produtivo de rainhas. É importante salientar que nem rainha, nem operária são
consideradas “casta perfeita”, uma em relação a outra, não sendo considerado uma
modificação de subdesenvolvimento. As duas, no desenvolvimento da colmeia e de seus
indivíduos, progridem, a começar de sua morfologia ancestral, podendo executar todas as
funções que são executadas pela rainha e operarias (LAIDLAW JÚNIOR, 1978).
Segundo pesquisa realizada por WOIKE (1971), mostra que rainhas mais perfeitas, são
originárias de larvas muito jovens, quanto mais jovens, aumenta o número de ovaríolos
no ovário, no entanto desconhecem-se quanto os ovaríolos adicionais contribuem para o
desempenho prático, melhor que o de rainhas, resultadas de larvas de 12 a 24 horas de
idade (WOIKE 1971).
11

3.3.3 Feromônios

Além da postura, sua função na colônia é a regulação do comportamento social


(KOENIGER et al., 2014). Essas funções são controladas através de feromônios, que são
substancias químicas que produzem respostas comportamentais ou fisiológicas
específicas em outros indivíduos da mesma espécie. Há 32 ou mais feromônios
produzidos na cabeça da rainha, que geram inúmeras combinações possíveis, em algumas
das quais os feromônios podem agir sinergicamente. A concentração do feromônio
produzido, a duração de sua produção e sua persistência podem variar, e o mesmo
feromônio pode ter efeitos diferentes em contextos diferentes (FREE, 1980).
Segundo Free (1987), os principais feromônios produzidos pelas abelhas rainhas
são:
• Feromônio da glândula mandibular: atrai zangões para o acasalamento,
mantem a umidade da colmeia, inibe o desenvolvimento dos ovários das
operárias e a produção de rainhas.
• Feromônio das glândulas epidermais: atraem as operárias. Age em sinergia
com o feromônio da glândula mandibular.
• Feromônio de trilha: ajuda a evitar a produção de novas rainhas.

Na década de 1950, BUTLER (1957); BUTLER e SIMPSON (1958) efetuaram


os primeiros experimentos com feromônios de rainhas e confirmaram que as substâncias
das glândulas mandibulares das rainhas de A. mellifera impedem a criação de novas
rainhas pelas operárias das colônias. BUTLER e SIMPSON (1958); BUTLER et al.
(1961) isolaram a substância identificada como sendo o ácido-9-oxo-2-decenóico (9-
0DA) e o classificaram como um feromônio de agregação social que impede o
desenvolvimento dos ovários das operárias de A. mellifera, embora seu efeito apresente
sinergismo quando associado a outras substâncias ainda não isoladas.
A rainha pode viver até dois anos ou mais apesar de que, em clima tropical, sua
vida reprodutiva dura, em média, 1 ano (PEREIRA, 2003). Portanto, quando a rainha
envelhece, a produção de feromônios decresce e reduz sua ação. A função das glândulas
mandibulares da rainha de abelhas africanizadas é produzir feromônios, sendo que os dois
componentes principais são o ácido 9-oxo-2- decenóico (9-0DA) e o ácido 9-hidroxi-
decenóico (9-HDA) (LEONARDO, 1982). O 9- 10 ODA atua como atraente sexual de
12

zangões e inibe o desenvolvimento dos ovários das operárias. Este feromônio, em sinergia
com o 9-HDA, controla a renovação das rainhas. Porém, a secreção das glândulas tergais
das operárias não inibe totalmente o desenvolvimento ovariano das operárias (LELOUX
et al., 2001), permitindo que as colônias renovem as rainhas e enxameiem (PAIN, 1973).

3.4 SUBSTITUIÇÃO DA RAINHA

A substituição da rainha é uma das técnicas que faz com que os apicultores
consigam ter aumento na sua produção e produtividade, visto que a rainha de uma colônia
transfere às operárias características genéticas de produção, tolerância à doença,
defensividade entre outras. Nesse sentido, a substituição das rainhas nas colmeias reduz
os custos e aumenta a produção, contribuindo para um maior sucesso na atividade
(CHAVES et al., 2012).
Uma das principais causas da substituição das rainhas em colônias de A. mellifera
é a produção insuficiente de feromônio por rainhas velhas, forçando a enxameação
(BUTLER, 1957). Portanto, os efeitos dos feromônios da rainha podem ser demonstrados
quando, ao ser removida a rainha da colônia, as operárias iniciam a construção de
realeiras.
As abelhas substituem a rainha da colônia, quando sua idade está avançada e o
volume de espermatozoides armazenados na espermateca diminui drasticamente, ou
quando ela é vítima de predação, intervenção humana, e após uma enxameação
reprodutiva (TARPY et al., 2004). Em A. mellifera, quanto mais velha uma rainha, menor
a quantidade de espermatozoides armazenados e menor é o número de ovos postos por
dia (REMOLINA e HUGHES, 2008).
Sendo assim, quantidade de feromônios reduzida, assim como a redução de
postura são possivelmente a principal forma de regulação da substituição de rainhas em
uma colônia (WEAVER, 1966; WINSTON, 1991). Larvas destinadas a se tornar rainhas
ou operarias, possuem a mesma genética, porém, a qualidade e a quantidade do alimento
fornecido durante a fase larval causam mudanças fisiológicas que conferem diferenças
significativas entre as castas (REMOLINA e HUGHES, 2008). Além disso, as operárias
constroem alvéolos especiais para a criação das larvas destinadas a se tornar rainhas, as
realeiras (LAIDLAW JR, 1998). As realeiras onde as rainhas se desenvolvem são
alvéolos modificados, estendidos em comprimento com a adição de cera. Estas realeiras
13

são penduradas verticalmente na colmeia e são maiores do que os alvéolos de operárias e


zangões (WOODWARD, 2009).

3.5 MELHORAMENTO GENÉTICO EM ABELHAS AFRICANIZADAS

Segundo Costa-Maia (2009), o profissionalismo entre os apicultores vem


aumentando e, com ele, a necessidade constante da implementação de técnicas que
intensifiquem a melhoria das produções apícolas. Boa parte desta intensificação produtiva
pode ser obtida por meio do melhoramento genético de abelhas africanizadas, sendo este
uma ferramenta essencial e de caráter obrigatório para o sucesso e desenvolvimento da
indústria apícola (MARTINEZ; SOARES, 2012).
O melhoramento genético é um dos grandes aliados na agropecuária,
proporcionando melhores índices de qualidade e produtividade, em virtude do aumento
da frequência de genes desejáveis ou combinações genéticas que resultem em uma alta
população com as características desejadas (MANRIQUE; COLMENARES, 2014;
SOUZA et al., 2012). O progresso genético que se obtém no melhoramento, de forma
generalizada, é dependente do uso correto das informações relativas aos indivíduos
candidatos à seleção, com o auxílio constante dos conhecimentos metodológicos de
avaliações genéticas e avanços no setor de informática (SILVA et al., 2008).
Em abelhas africanizadas, o melhoramento ocorre em decorrência da seleção de
rainhas, devido ao fato de todas as características expressas por determinada colônia,
tanto reprodutivas quanto produtivas, advirem dos genes repassados pela mesma, e pela
associação de práticas adequadas de manejo e implantação de técnicas reprodutivas que
visem o controle genealógico preciso (MARTINEZ; SOARES, 2012; MANRIQUE;
COLMENARES, 2014).
Até o momento, parte do progresso genético obtido na criação de abelhas Apis
mellifera é graças aos estudos de suas particularidades genéticas, definição dos objetivos
do processo de seleção, estruturação técnica necessária ao desenvolvimento do programa,
definições das correlações entre características economicamente importantes, estimação
de parâmetros genéticos e correta utilização das informações coletadas (COSTA-MAIA;
LINO, 2009; LIMA, 2013).
Conforme Souza (2009) e Camargo et al. (2015), o melhoramento das
características das rainhas é a base para o desenvolvimento da apicultura brasileira, tendo
como objetivo principal o aumento da produtividade e melhoria dos produtos apícolas.
14

Porém, de acordo com Martins (2014), estimativas de parâmetros para características


morfométricas e reprodutivas em abelhas Apis mellifera são escassos na literatura
mundial, sendo, portanto, necessária a investigação acerca destas características e suas
possíveis associações com variáveis de interesse econômico por parte dos apicultores.

3.6 SELEÇÃO DE RAINHAS

O conceito do fenótipo expresso por cada indivíduo e a identificação dos fatores


que o influenciam, genéticos e ambientais, além da interação entre estes dois fatores são
os princípios básicos para a compreensão do processo de seleção (MARTÍNEZ, 2012;
CAMARGO et al., 2015). Esses fatores permitem a adoção de diferentes características
da rainha como critérios de seleção, destacando-se o uso de medidas morfométricas como
características principais no programa de seleção em abelhas. Segundo Rodrigues (2015),
o método de seleção massal em populações de abelhas proporciona ganhos iniciais
favoráveis, pois, geralmente, na apicultura brasileira, as colônias são originárias de
enxames capturados na natureza que não sofreram nenhuma ação humana de
melhoramento, possuindo grande variabilidade genética. Assim, determinar quais
caraterísticas devam ser utilizadas como parâmetro de seleção garantem o sucesso no
melhoramento genético em abelhas africanizadas (COSTA- MAIA; LINO, 2009).
Rangel et al. (2013) observaram que uma colônia de abelhas pode ser avaliada
como a extensão do fenótipo de sua rainha e, assim, a seleção para características da
colônia pode ser equivalente ao nível individual. Encontram-se na literatura trabalhos
associando características da rainha com características de qualidade reprodutiva da
mesma e índices produtivos da colônia. Essas correlações são favoráveis, indicando que
a seleção para características da rainha gera ganhos relacionados à reprodução e
produtividade da mesma (FAQUINELLO, 2007; SOUZA, 2009; MARTÍNEZ, 2012;
HALAK, 2012; LIMA, 2013; MARTINS, 2014).
De acordo com Lima (2013), a avaliação de parâmetros relacionados às medidas
morfológicas do inseto adulto: largura da cabeça, comprimento e largura do tórax,
comprimento das asas, comprimento do abdome e peso vivo visam conhecer a qualidade
reprodutiva de rainhas, pois estas medidas podem ser significativamente correlacionadas
com o sucesso reprodutivo ou fecundidade da rainha. Para Martins (2014), o uso dessas
características facilita o processo de seleção para os apicultores, devido à fácil
mensuração das mesmas.
15

Além da determinação das características escolhidas como critérios de seleção,


deve-se verificar o grau de associação entre estas características e os objetivos de seleção
pretendidos. Esse grau de associação pode indicar a potencialidade do melhoramento por
meio de seleção indireta, uma vez que a seleção para uma característica acarreta em
seleção para outra característica que a ela esteja correlacionada (MARTINS, 2014).

3.6.1 Seleção de matrizes quanto ao comportamento higiênico

Em Apis mellifera o comportamento higiênico é caracterizado pela identificação


e remoção de crias doentes, mortas, parasitadas, danificadas ou infestadas, do interior da
colmeia, sendo controlado geneticamente (GONÇALVES; GRAMACHO, 2000;
GRAMACHO; GONÇALVES, 2000; SPIVAK; REUTER, 2001).
A limpeza da colmeia é realizada pelas abelhas que primeiramente detectam as
células que possuem crias doentes ou mortas, efetuam o processo de desoperculação das
células afetadas e na sequência removem a cria para fora da colmeia antes que o vetor
alcance o estágio infeccioso, evitando que a doença seja transmitida para toda a
colônia. Deste modo, as próprias abelhas realizam um controle biológico da colônia
contra agentes infecciosos causadores de doenças de crias e sem a necessidade do uso
de produtos químicos (WILSON-RICHET et al., 2009)
Para essa análise, é utilizado o método adaptado de Rothenbühler (1964), em
que se observa os quadros de cria, as pupas de operárias com olhos rosados (17 a 18 dias)
e com o auxilio de uma chapa em formato de paralelogramo, medindo 5 x 6 cm, se recorta
a porção selecionada do quadro. Posteriormente os alvéolos abertos são contabilizados,
assim como os alvéolos fechados e em seguida são congelados por 24 horas. Depois do
congelamento, as secções são devolvidas as respectivas colônias, e 24 horas depois são
observados e contabilizados os alvéolos fechados. Em seguida serão realizados os
cálculos para determinar a taxa de comportamento higiênico, através de analises
estatísticas.

3.6.2 Seleção de matrizes quanto a taxa de invasão e infestação por Varroa destructor.

A infestação por Varroa destructor em abelhas operárias, é avaliada por uma


adaptação do método descrito por Stort et al (1981), onde aproximadamente 100 abelhas
operárias adultas serão coletadas com um frasco contendo álcool 70%. Posteriormente, é
16

realizado agitamento e filtragem do conteúdo e por fim, separação das abelhas e ácaros
para avaliar a infestação das colônias em porcentagem.
A taxa de invasão é avaliada de acordo com o método proposto por De Jong e
Goncalves (1981), onde se removem 100 pupas de operárias (50 de um lado do quadro e
50 de outro), sendo o momento ideal para a remoção e contagem no início da pigmentação
acastanhada dos olhos. Os ácaros serão contabilizados e classificados em pupa, ovo,
protoninfa, deutoninfa, jovem e adulta. A partir desses dados será calculada a taxa de
invasão, taxa de reprodução total e efetiva, através da seguinte fórmula:
Taxa de invasão (%) = número de pupas invadidas/número de pupas analisadas x 100.
Reprodução total (TR), representada pelo número total descendentes produzidos pelo
ácaro, determinada pela seguinte fórmula:
RT = número total de filhos/ número de filhos originais ácaros fêmeas adultas.
ER = Reprodução efetiva: número de deutonímios + adultos / número de fêmeas originais
de ácaros adultos.

3.7 PESO COMO CARACTERÍSTICA MORFOMÉTRICA Á EMERGENCIA DE


RAINHAS COMO CRÍTÉRIOS DE SELEÇÃO

Martins (2014) atesta que o estudo das correlações entre características


morfométricas corporais e reprodutivas da rainha são relevantes para a determinação de
critérios de seleção, possibilitando a predição dos efeitos da seleção indireta para as
demais características de interesse.
Camargo et al. (2015) relata que as principais funções de reprodução e controle
da colônia se refletem na estrutura do corpo da rainha, portanto, a avaliação de medidas
de fácil mensuração, como as características morfológicas, relacionadas com a eficiência
produtiva da rainha, podem proporcionar aos apicultores uma forma de atingirem seus
objetivos em relação à produção de forma ágil.
Kahya et al. (2008) verificaram uma associação entre qualidade reprodutiva da
rainha com peso à emergência (r = 0,61). Zárate et al. (2008) encontraram alta correlação
entre peso da rainha e a produção de mel em abelhas africanizadas (r = 0,84). Em abelhas
europeias, Akyol et al. (2008) relataram que o peso da rainha é uma das variáveis mais
importantes entre as características morfológicas avaliadas, havendo uma correlação
positiva entre o peso da rainha, a área de larvas da colônia e o número de espermatozoides
(r = 0,97). Faquinello et al. (2011) encontraram potencial de seleção para produção de
17

geleia real devido à correlação positiva com a largura do abdome de rainhas (r = 0,16).
Metorima et al. (2015) alegaram que o peso à emergência deve ser almejado como critério
de seleção das rainhas.
Costa Maia et al. (2011) constataram que rainhas selecionadas para peso à
emergência apresentaram-se superiores quanto à produção de mel. Martins (2014) sugere
que a seleção para peso da rainha à emergência pode propiciar ganhos genéticos
significativos na largura e comprimento do abdome e comprimento corporal total e,
consequentemente maior potencial reprodutivo de rainhas de Apis mellifera.

3.8 MÉTODO DOLLITLE PARA PRODUÇÃO DE RAINHAS

A produção de rainhas pelo método de transferência de larvas foi descrita em 1889


por Gilbert M. Doolittle (DOOLITTLE, 1889). Com o avanço das técnicas de
melhoramento genético em abelhas, os métodos de multiplicação do material genético
selecionado foram aprimorados pela indústria apícola, porém, tendo sempre como base o
descrito por Doolittle.
Em termos técnicos, a produção de rainhas pelo método de transferência de larvas
consiste na retirada de larvas de um dia de idade de colônias selecionadas e a sua
acomodação cuidadosa, com o auxílio de pinças especiais, em cúpulas comerciais de
acrílico ou plástico ou ainda, artesanais confeccionadas com cera. Este é o método mais
adequado para quem quer dedicar-se a produção em larga escala ou comercial de rainhas
(SCHAFASCHEK, 2020).

4 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 LOCAL DE ESTUDO

A produção das rainhas, os testes de comportamento higiênico e taxa de infestação


por Varroa destructor foram realizados na Estação Experimental de Videira, município
brasileiro do estado de Santa Catarina, situado no Vale do Rio do Peixe. Localiza-se a
18

uma latitude 27º00'30" sul e a uma longitude 51º09'06" oeste, estando a uma altitude de
750 metros em uma área de 384,127 quilômetros quadrados (IBGE,2017).
A parte a campo do estudo foi realizada em uma propriedade particular, na
localidade de Rio da Prata, no município de Rio do Campo (SC), situado a uma
latitude 26º56'56" sul e a uma longitude 50º08'29" oeste, estando a uma altitude de 570
metros. O município pertence a região do Alto vale do Itajaí (IBGE,2017).
O clima predominante do Alto Vale Itajaí é o mesotérmico úmido com verão
quente, segundo a classificação do clima de Köppen (DARREL, 2000). 17.0 °C é a
temperatura média, e a pluviosidade média anual de 1759 mm (IBGE, 2017). O clima e
o relevo contribuem para a formação de uma vegetação específica, influenciando assim
no tipo de florada disponível para as abelhas. As principais formações vegetais de Santa
Catarina são: Mata Atlântica, Mata de Araucárias, Floresta Decidual, Estepes e Vegetação
Litorânea.
A região de Rio do Campo é abrangida principalmente pela floresta ombrófila
densa ou mata atlântica e pela floresta ombrófila mista ou mata de araucárias
(FERNANDEZ, 2015).
Foi utilizada uma área plana de 5 hectares para o cultivo trigo mourisco
(Fagopyrum esculentum) (Figura 3). O trigo mourisco, também conhecido como trigo
sarraceno, trigo mouro ou trigo preto é uma planta dicotiledônea pertencente à família
Polygonaceae. Apesar do nome, não possui parentesco com o trigo comum (Triticum
aestivum L.), que é uma monocotiledônea pertencente à família Poaceae (PACE, 1964).
O trigo mourisco é uma planta rústica, de ciclo curto e de múltiplos usos (MYERS;
MEINKE, 1994), e ainda é uma excelente fonte de néctar e pólen para as abelhas.

Foram semeados 100 kg de sementes no dia 19 de fevereiro de 2020 (cerca de 20


kg por hectare). Foram utilizadas 8 colmeias e 8 núcleos de fecundação padrão
Langstroth, contendo colônias de abelhas africanizadas (Apis mellifera L.).
19

Figura 3 - Mapa da área cultivada com Trigo Mourisco.

Fonte: Google Maps, editado pela autora (2020).

4.2 PRODUÇÃO DAS RAINHAS

Durante o período deste estudo, 53 rainhas de abelhas africanizadas foram


produzidas no Laboratório de Apicultura da Epagri, pelo método descrito por Doolittle
(1889), que consiste na transferência de larvas jovens para cúpulas artificiais contendo
geleia real.

4.2.1 Colmeias Matrizes

Para a extração das larvas foram utilizadas três colmeias matrizes, selecionadas
aleatoriamente (colmeias 102, 127 e 129), compostas por enxames de abelhas que
apresentam índices de Comportamento Higiênico superior a 80% e baixas taxas de
infestação a pragas (Figura 4).
20

Figura 4 - Colmeia 129, uma das três selecionadas como matriz.

Fonte: A autora (2020).

4.2.2 Preparação da colmeia recria

A preparação da colmeia seguiu a metodologia descrita por Schafaschek (2020).


Foi utilizado uma colmeia recria iniciadora, pois a fase final de maturação das cúpulas foi
realizada em laboratório. A colmeia recria recebeu os quadros com as cúpulas contendo
as larvas transferidas, para alimentá-las até a formação das rainhas.
Utilizou-se uma colônia órfã, ou seja, sem rainha, retirada uma semana antes, com
grande população de abelhas, contendo favos com cria operculada (abelhas para nascer),
favos com cria aberta (larvas com mais de 3 dias de idade) e favos com alimento (mel e
pólen). Essa colmeia não continha larvas jovens, para evitar que se alimentassem com a
geleia real destinada exclusivamente para as cúpulas que foram introduzidas na colmeia.
Antes de introduzir o quadro com as cúpulas, revisou-se todos os outros quadros para
retirar as realeiras que estivessem sendo construídas (Figura 5). No processo de
transferência das larvas, a rainha foi retirada da colmeia e presa em uma gaiola e
adicionada a outra colmeia, com o propósito das operárias produzirem novas rainhas
(Figura 6).
21

Figura 5 - Colmeia recria, suplementada com xarope.

Fonte: A autora (2020).

Figura 6 - Rainha retirada da colmeia recria, em gaiola.

Fonte: A autora (2020).

4.2.3 Materiais necessários para a transferência

O procedimento de transferência foi realizado em uma sala com climatização,


utilizando os seguintes equipamentos:
22

- umidificador de ar, para manter a umidade relativa alta, para não ressecar as larvas
(Figura 7). Para a transferência é preconizada uma temperatura de 28°C e umidade
relativa do ar em torno de 50% (LAIDLAW, 1978);
- estufa de demanda bioquímica de oxigênio (BOD), para o processo do nascimento das
rainhas;
- balança de precisão, paquímetro, cilindro de CO2, geladeira, suportes para apoio dos
favos contendo as larvas para transferência, estufas de transporte;
- cúpulas de acrílico e quadro porta cúpulas (Figura 8), porta quadros (Figura 9), pinças
para transferência de larvas (Figura 10), marcadores de rainha, gaiolas para transporte e
para introdução de rainhas.

Figura 7 - Umidificador de ar.

Fonte: A autora (2020)


23

Figura 8 - Quadro porta cúpulas de acrílico.

Fonte: A autora (2020).

Figura 9 - Porta Quadros.

Fonte: A autora (2020).


24

Figura 8 - Pinça adaptada para a transferência de larvas.

Fonte: A autora (2020).

4.2.4 Preparação das cúpulas para a transferência (geleia real)

Nas cúpulas, antes da transferência, com a ajuda de um conta gotas, colocou-se


uma gota de geleia real diluída em duas partes de água, com a finalidade de umidificar
para que a larva se fixe melhor e tenha um ambiente úmido, mais favorável para o seu
desenvolvimento (Figura 11).

Figura 9 - Frasco contendo geleia real diluída em água.

Fonte: A autora (2020).


25

4.2.5 Transferência de larvas

Depois da preparação de todos os materiais, foi realizada a transferência de larvas.


Vinte e quatro horas antes de iniciar o processo de transferência, o quadro porta cúpulas
foi introduzido na região central da colmeia recria (Figura 10). A finalidade dessa etapa
é deixar as cúpulas absorvendo os odores do feromônio da colônia, facilitando a aceitação
das larvas posteriormente, e permitir que as abelhas limpem qualquer impureza das
cúpulas, evitando contaminação das larvas (EMPRAPA, 2003).

Figura 10 - Introdução do porta cúpulas vazio, para reconhecimento das abelhas.

Fonte: A autora (2020).

Depois de 24 horas, o porta cúpulas foi retirado para dar início a transferência,
transportado em caixa térmica para manter a temperatura. Na colmeia a temperatura
interna é de aproximadamente 35 °C (KERR,1984).
No momento que o porta cúpulas foi retirado da colmeia recria, foram retiradas
também os quadros de larvas das colmeias selecionadas para a transferência.

4.2.5.1 Tamanho das larvas para enxertia


26

Foram selecionadas larvas transparentes, de aproximadamente 12 horas de idade


(Figura 13), visando a obtenção de rainhas maiores e mais produtivas, de acordo com
Chaves et al. (2011).

Figura 11 - Tamanho das larvas selecionadas

Fonte: A autora (2020).

4.2.5.2 Técnica de retirada de larvas

As larvas foram retiradas de acordo com o método Dollittle. Esse método consiste
em escolher na colmeia matriz larvas bem nutridas e de tamanho adequado,
preferencialmente de favos onde contenham ovos e larvas recém-nascidos. O método que
exige cuidado do manipulador, para escolher larvas no estágio e tamanho adequado, com
boa alimentação, na Figura 14 é possível ver o momento da retirada de larva jovem
(LAIDLAW, 1978).

Figura 12 - Procedimento de transferência de larvas com agulha chinesa

Fonte: Laidlaw H. & Eckert J. (2011), editado pela autora (2020).


27

A transferência foi realizada com pinça, coletando as menores larvas, com um


movimento de “escavagem” e pressionando a pinça cuidadosamente, depositando a larva
na cúpula de acrílico em seguida (Figura). Após, foram cobertas com um pano úmido
para evitar ressecamento. No momento do transporte das larvas também foi utilizado um
pano úmido com a mesma finalidade.
Tomou-se o cuidado de manter a larva na mesma posição em que foi retirada, pois
a mesma respira pela pele e a parte que estava em contato com o favo está com seus
espiráculos (poros respiratórios) tampados. Se a larva for virada de lado irá morrer
sufocada na geleia real (EMBRAPA, 2002).

Figura 13 - Larvas depositadas nas cúpulas de acrílico, contendo geleia real diluída.

Fonte: A autora (2020).

4.2.5.3 Introdução na colmeia recria

Após realizadas todas as transferências, as cúpulas foram acopladas ao porta


cúpulas e transportadas até o apiário, para serem introduzidas na colmeia recria, já
preparada para receber as larvas (Figura 16).
28

Figura 14 - Inclusão das cúpulas na colmeia recria.

Fonte: A autora (2020).

4.2.6 Nascimento das princesas

Três dias após a transferência, foi realizada uma revisão nas recrias para verificar
a porcentagem de larvas aceitas. Neste período, as realeiras ainda estão abertas e é
possível identificar a larva em cima de uma grande quantidade de geleia real. Dez dias
após a transferência das larvas, quando as realeiras já estavam operculadas, as mesmas
foram retiradas das colmeias recria e levadas ao laboratório e o processo concluído em
estufa BOD. As realeiras foram alocadas em pequenos frascos com as devidas anotações,
como o número da matriz que originou as larvas e em qual sarrafo do caixilho se encontra
(inferior, superior ou meio) (Figura 17). A estufa que acomodou as realeiras foi ajustada
para temperaturas entre 32 e 35°C e umidade entre 65 e 70% (LAIDLAW, 1978). Depois
de incubadas na estufa BOD, as princesas levaram mais três ou quatro dias para o
nascimento.
29

Figura 15 - Realeiras contidas em pequenos frascos de vidro, no interior da estufa BOD.

Fonte: A autora (2020).

4.2.7 Avaliação morfométrica das princesas

Após o nascimento as princesas passaram por uma nova seleção, incluindo uma
análise visual de suas características morfológicas a fim de se detectar possíveis defeitos
nas asas e pernas (Figura 18). Foi necessário anestesiar as princesas recém-nascidas, e
para isso foi utilizado um cilindro de dióxido de carbono (CO2), com uma cânula acoplada
ao frasco de vidro onde a rainha se encontrava. O CO2 foi liberado durante cinco segundos
até a rainha ficar inconsciente e poder ser pesada (Figura 19). Após, foi registrado o peso
corporal de cada rainha em gramas (g), com o auxílio de uma balança digital de precisão
com escala 0,01 g (Figura 20). Para a mensuração das variáveis morfológicas largura
abdominal, comprimento abdominal e comprimento corporal das rainhas, utilizou-se um
paquímetro digital, sendo as medidas registradas em milímetros (mm) (Figura 21).
30

Figura 16 - Nascimento de uma abelha princesa produzida por transferência de larvas.

Fonte: A autora (2020)

Figura 17 - Aplicação de CO2 para inconsciência da rainha.

Fonte: A autora (2020).


31

Figura 18 - Pesagem da rainha recém emergida em balança de precisão.

Fonte: A autora (2020).

Figura 19 - Medidas morfométricas do comprimento e largura do abdômen

Fonte: A autora (2020).

Depois das análises morfométricas, as rainhas foram marcadas com caneta


marcador multiuso com ponta de 2,2 a 2,8 mm de espessura, utilizando-se a cor do
32

referido ano de nascimento, segundo convenção internacional da Associação


Internacional de Pesquisa sobre Abelhas (IBRA, 2004).
Schafaschek (2020) utiliza a seguinte metodologia: para rainhas nascidas em anos
terminados em 1 e 6 utilizou-se cor branca; para rainhas nascidas em anos terminados em
2 e 7, cor amarela; para rainhas nascidas em anos terminados em 3 e 8, cor vermelha; para
rainhas nascidas em anos terminados em 4 e 9, cor verde e para rainhas nascidas em anos
terminados 5 e 0, cor azul (Tabela 2). Para o ano de 2020, portanto, a cor utilizada foi a
azul.

Tabela 2 - Cores de marcação da rainha conforme o ano de seu nascimento ou


introdução na colônia.

Cores Terminação do ano Exemplo

Branco 1e6 2011 e 2016

Amarela 2e7 2012 e 2017

Vermelha 3e8 2012 e 2018

Verde 4e9 2014 e 2019

Azul 5e0 2015 e 2020


Fonte: SCHAFASCHEK (2020), adaptada pela autora (2020).

4.2.9 Introdução das princesas nos núcleos de fecundação

As princesas foram transportadas em gaiolas específicas para esta finalidade e


fixadas em favos centrais e com presença de crias. O orifício de entrada da gaiola foi
fechado com “cândi” (Figura 22). O cândi é uma pasta cremosa, feita de uma mistura de
mel com açúcar na proporção de 2:1 usada como alimento energético (TOLEDO,2010).
Depois de fechado o orifício, as abelhas da colônia tiveram tempo para se acostumar à
nova rainha, enquanto consumiam o cândi para libertá-la. Este processo levou
aproximadamente 3 dias, dependendo do tipo da gaiola e da quantidade de cândi que
fechou o orifício.
33

Figura 20 - Gaiola de plástico, vedada com cândi.

Fonte: A autora (2020).

As princesas selecionadas foram introduzidas nas colmeias ou núcleos de


fecundação (Figura 23). Os núcleos de fecundação são pequenas estruturas que permitem
sediar pequenas colônias de abelhas, fundamentais pelo ambiente criado em termos de
temperatura e umidade relativa e pela alimentação proporcionada pelas campeiras para
que uma rainha virgem seja fecundada com sucesso (NOGUEIRA, 2002).

Figura 21 - Introdução da princesa no núcleo de fecundação.

Fonte: A autora (2020).


34

Após finalizado o procedimento, foram feitas as devidas anotações com todos os


detalhes da produção de rainhas (Tabela 4).

Tabela 3 - Rainhas distribuídas em seus núcleos


N° rainha Núcleo

713 1

754 2

744 3

755 4

757 5

758 6

759 7

760 8

761 9

762 10

763 11

4.2.10 Verificação da taxa de aceitação e fecundação das princesas

Após a introdução nos núcleos as princesas não foram perturbadas durante


aproximadamente 15 dias, tempo necessário para realizarem o voo nupcial para sua
fecundação e o início da postura. Após esse tempo, foi verificada a presença da postura
de ovos pela rainha de cada núcleo. A postura serve como comprovação que as princesas
se tornaram rainhas e, portanto, estão aptas para a multiplicação da colmeia e com isso
maior produção de mel (PEREIRA, 2002).
A taxa de fecundação ou retorno das princesas também foi avaliada por meio da
visualização da rainha e comprovação de sua postura. Para cada núcleo foi realizada uma
rigorosa revisão, com objetivo de observar a presença da rainha, bem como a postura
(Figura 24).
35

Figura 22 - Área com postura.

Fonte: A autora (2020).

4.2.11. Revisões periódicas dos enxames

Foi acompanhado, durante 70 dias, o desenvolvimento das rainhas frente a sua


colmeia. No dia 06 de abril de 2020 foi realizada a pesagem dos 8 núcleos e 6 colmeias
antes da introdução nos apiários I e II. No momento do desembarque das caixas em seus
respectivos apiários, uma a uma foram pesadas e anotados os pesos. Depois foram
dispostas lado a lado no apiário. Depois do nascimento das primeiras abelhas filhas das
novas rainhas produzidas na EPAGRI, foram feitas revisões semanais para
acompanhamento das colmeias e o seu desenvolvimento.

A partir do início da postura das rainhas e floração do trigo mourisco, foram


realizadas revisões semanais e alimentação proteica e energética para o estimulo de
postura evidenciados no relatório do estágio. Também foram realizados testes de
comportamento higiênico e taxa de infestação da Varroa.
36

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 PRODUÇÃO DE RAINHAS

Das 42 larvas transferidas com até 48 horas de idade foram selecionadas 11


rainhas e introduzidas nas colmeias mini recria no local do experimento.
Pereira (2010), afirma que o método Doolittle para produção de rainhas é
amplamente utilizado em fazendas de produção comercial de abelhas rainhas no estado
do Hawaii, nos Estados Unidos da América. No Sul Brasileiro o método Doolittle é
também muito utilizado na produção de rainhas com abelhas africanizadas,
principalmente em atividades de pesquisa (MEDEIROS, 2007; MEDEIROS et al., 2011)
Durante o experimento observou-se que houve um decréscimo na produção de
abelhas rainhas no decorrer do período experimental se comparado com as rainhas
produzidas anteriormente, ou seja, as larvas transferidas para cúpulas artificiais
apresentaram uma taxa de natalidade de rainhas que decaiu com passar dos meses. A
redução das floradas, que coincide com o período de queda na natalidade e peso médio
das rainhas, parece ter influência uma vez que o pólen e o néctar são o alimento natural
das abelhas. Pereira et al., (2011) afirma que a partir de fevereiro a produção de rainhas
apresenta menores taxas de produtividade.
A baixa oferta de alimento no ambiente, o final do verão e início do outono
parecem estimular as abelhas para entrar em um comportamento de manutenção da
colônia, já que o alimento artificial oferecido aos enxames era consumido completamente
e mesmo assim as abelhas continuaram a apresentar baixas taxas de aceitação das larvas
transferidas (PEREIRA, 2011).
As abelhas operárias precisam direcionar suas energias na termoregulação da
colônia para que a temperatura do ninho fique equilibrada e estimule o desenvolvimento
e nascimento de suas irmãs, em detrimento a aceitação das larvas para produção de
rainhas (PAIVA,2011).
Paiva (2011) relatou que a taxa de aceitação das larvas para produção de rainhas
pode cair em função de fatores climáticos como: temperatura, umidade, e radiação solar.
Albarracín et al., (2006), afirmam que, fatores meteorológicos tem influência na
porcentagem de aceitação das larvas e no peso da geleia real, ou seja, a alta incidência de
radiação faz com que ocorra um aumento na temperatura interna da colmeia, e isso afeta
37

diretamente a aceitação, pois as abelhas operarias se preocuparão em controlar a


temperatura da colmeia disponibilizando uma menor quantidade de abelhas para
alimentar as larvas acarretando em uma menor aceitação. Mitev (1967: Apud TOLEDO,
1997) afirma que a porcentagem de aceitação depende das condições climáticas, fluxo de
néctar e número de larvas transferidas, e Toledo, et al., (2010), afirmam que fatores
alimentares influenciam na aceitação de larvas e produção de rainhas de abelhas
africanizadas.

5.2 PRODUÇÃO DE MEL

Quarenta dias após a primeira postura e com duas gerações de filhas das rainhas,
foi possível contabilizar a produção de mel através da diferença de peso dos núcleos que
foram pesados inicialmente (Figura 25 e 26).

Figura 23 - Gráfico de produção de mel apiário I.

Produção de mel apiário I


45

40

35

30
Produção (kg)

25

20

15

10

0
1 2 3 6 C1 C2 C3

Apiário I Peso Inicial Apiário I Peso Final

No gráfico sobre a produção de mel no apiário I é possível perceber que a


produtividade aumentou em todos os núcleos (1, 2, 3, e 6) assim como em todas as
colmeias locais analisadas. E importante ressaltar que foi considerado o peso bruto das
colmeias, ou seja, o peso da caixa de madeira, dos quadros e da cera alveolada.
38

Além disso, e possível que o mel depositado nos alvéolos não seja exclusivamente
oriundo do trigo mourisco, pois existiam outras floradas no momento, como de plantas
silvestres. Porém deve ser considerada a predominância do mel, que neste caso foi do
trigo mourisco.

Figura 24 – Gráfico de produção de mel apiário II.

Produção de mel apiário II


70

60

50
Produção (kg)

40

30

20

10

0
7 8 9 10 C4 C5 C6

Apiário II Peso Inicial Apiário II Peso Final

Fonte: A autora (2020).

Nas colmeias avaliadas do apiário II, foi possível observar que ambas as colônias
representadas pelos núcleos 7, 8, 9 e 10 apresentaram um aumento significativo,
ressaltando a alta qualidade do material genético das rainhas produzidas na Epagri.

5.3 PESO COMO CARACTERÍSTICA MORFOMÉTRICA DE SELECAO DAS


ABELHAS RAINHA

Das onze rainhas produzidas em laboratório, foi possível observar as seguintes


características morfométricas após o nascimento (Tabela 3).
39

Tabela 4 - características morfométricas após o nascimento.


Ordem Caixilho Posição S. Matriz Peso Largura Comprimento
Abdômen Abdômen
713 2 SC 108 0,154 4,17 10,11
754 1 SB 129 0,227 4,9 11,64
744 1 SC 141 0,187 4,9 10,02
755 2 SM 102 0,236 5.08 11,39
756 2 SM 102 0,197 4,86 11,02
757 1 SC 129 0,197 5,2 10,01
758 1 SC 129 0,201 4,9 10,1
759 2 SB 102 0,202 4,8 11,02
760 1 SM 129 0,198 5,2 9,8
761 2 SC 102 0,205 5,9 10,5
762 2 SC 102 0,199 4,9 9,99
763 1 SB 129 0,196 4,8 10,4
SC: Sarrafo Cima, SB: Sarrafo Baixo, SM: Sarrafo Meio.

O início da atividade de voos de acasalamentos das rainhas está relacionado com


o amadurecimento da sua estrutura reprodutiva. Após três ou quatro dias após a
emergência, a rainha realiza voos (um ou dois) de orientação, curtos (1-2 minutos), ao
redor da colmeia, antes dos verdadeiros voos nupciais para as áreas de congregação de
zangões (WOYKE, 1960; WOODWARD, 2009) e visualmente pelo seu movimento
(WOODWARD, 2009).
Vários zangões se agrupam em formato de cometa, sem nenhum contato físico,
ajustando suas melhores posições em relação aos seus vizinhos para alcançar a rainha
(KOENIGER; KOENIGER, 2005). Estabelecido o contato com a rainha, o acasalamento
dura frequentemente 2 segundos e, consecutivamente, com vários zangões (WINSTON,
1991). Esse grande número de acasalamentos pode ser devido à variância genética que
contribui para o desempenho da colônia ou também para garantir que a espermateca fique
completamente cheia, uma vez que a produção de esperma por zangão é limitada (COLE,
1983).
Foi possível observar a aceitação de 10 princesas, a morte de uma ainda na gaiola,
e a rejeição de outra princesa. A taxa de aceitação foi de 83,33% (Tabela 5).
40

Tabela 5 -Taxa de fecundação, postura.

Núcleo Aceitação Observações


%
1 100 Rainha fecundada com postura (adicionado um sobre
ninho)
2 100 Fecundada, adicionado redutor de alvado
3 100 Rainha fecundada
4 0 Morta na gaiola
5 100 Rainha fecundada
6 100 Fecundada, adicionado redutor de alvado
7 100 Fecundada, adicionado redutor de alvado
8 100 Não fecundada ainda
9 100 Fecundada, adicionado redutor de alvado
10 100 Fecundada, adicionado redutor de alvado
11 0 Rejeitada
12 100 Fecundada
Total 83,33

Depois da florada do trigo mourisco as colmeias foram novamente pesadas e


comparadas ao peso inicial, como mencionado no tópico anterior. E a partir dos resultados
analisados, foi possível concluir que os núcleos cujas rainhas eram as mais pesadas,
apresentaram uma maior produção de mel, isso comprova a importância do peso como
uma das principais características morfométricas (figura 27). Isso é comprovado segundo
outras pesquisas, onde Akyol et al. (2008) afirma que a permormance e a produtividade
das colônias de abelhas pode ser aumentada pois abelhas rainhas com maior peso vivo a
emergência, pelo fato destas conseguirem armazenar mais espermatozóides e desta forma
adquirem maior potencial de postura para ovos fertilizados e, consecutivamente
sobreviverem mais tempo na colônia.
Delaney et al. (2010) constataram que o peso vivo de rainhas, estava
positivamente correlacionado com níveis maiores de vitelogenina, e com fundamento em
Kocher et al. (2008), afirmam que esta tem um importante papel no desenvolvimento de
oocitos e que seu aumento seja estimulado pelo acasalamento. Além disso, Seehuset al.
(2006), afirmam que a vitelogenina, possui uma função anti oxidante que se presume ter
um papel no aumento da longevidade das abelhas.
41

No entanto, o peso vivo e a qualidade das abelhas rainhas a emergência, depende


do genótipo e dos fatores ambientais envolvente, e o seu potencial reprodutivo que é
influenciado pela diversidade genética resultante dos zangões que a fecundam. Assim,
outros autores como Jakcsonet al. (2011), afirmam que o tamanho dos ovários e o número
de ovaríolos podem não estar correlacionados com o peso vivo das rainhas ao nascimento
e que esse aumento pode ocorrer numa face mais tardia ao longo da vida da reprodutora,
todavia através dos resultados obtidos no presente trabalho foi possível perceber que
rainhas com mais peso ao nascer pode conduzir mais recursos energéticos para a sua
descendência ao contrário de rainhas mais leves ao nascer, com menos ovaríolos por
ovário.
Com base nisso, as características reprodutivas e os parâmetros qualitativos são o
ponto de partida a analisar num programa de melhoramento genético .A análise de
informações relativas às abelhas rainhas mediante conhecimentos metodológicos de
avaliações genéticas e de avanços na área da tecnologia possibilitam estabelecer o
progresso genético e avaliar a produção, contudo ao se selecionar certas características de
interesse como o comprimento e largura abdominal e o peso vivo à emergência em
abelhas rainhas (AKYOL et al, 2008).
Figura 25- Produção das três rainhas mais pesadas.

Produção das rainhas mais pesadas

3
Rainhas

0 5 10 15 20 25 30 35 40
Peso (kg)

Produção inicial Produção final

Fonte: A autora (2020).


A criação de rainhas pode ser feita de variadas maneiras, desde a simples
orfanação de uma colônia até a produção de rainhas acasaladas em grande escala devendo
o apicultor ter bem definido os objetivos a atingir com esta atividade, de forma a evitar
42

custos desnecessários com materiais específicos que se destinam a produções já com


algum grau de sistematização (HARBO,2003).
A utilização dos alvéolos reais / rainhas virgens / rainhas fecundadas, pode ir
desde a “simples” reposição de rainha em colônias que a perderam ou que a querem
substituir, a multiplicações de colônias mais rápidas e eficazes e até à substituição anual
de todas as rainhas do efetivo para obtenção de melhores performances (HELGE, et al.,
2005).
A continuidade da seleção anos após ano é fundamental, não sendo de esperar
grandes resultados logo no início, pois a distribuição e concentração dos genes que
representam as características desejáveis para a apicultura demoram tempo a serem
confinadas, tanto mais quanto menos elaborado for o plano de seleção, incluindo
naturalmente o fator da produção de zangões.
A alimentação contínua de todas as colônias intervenientes no processo é
fundamental, para que exista estímulo para a produção de favos, fecundação das rainhas
e início de posturas (TARPY et al., 2004). No caso dos alvéolos, é sempre preferível que
sejam alimentados na fase inicial por colônias que tenham rainha (separada deles, claro
está), pela sua melhor organização, equilíbrio e capacidade de produção (CAMARGO et
al., 2015).
É muito importante o apoio da investigação científica para a correta delineação de
procedimentos que asseguram a produção de rainhas de qualidade, a sua disponibilização
aos apicultores interessados e muito particularmente aos criadores de rainhas que se
dedicam à sua produção em quantidade (MANRIQUE, et al., 2014).
O apicultor que produz as próprias rainhas e utiliza o manejo de substituição de
rainhas, além de proporcionar aumento de produtividade de mel em cerca de 30%,
representa economia de aproximadamente R$ 30,00 por colmeia caso essas rainhas
fossem compradas (EPAGRI, 2019). Por exemplo, se considerarmos o exemplo de um
apicultor que possui em sua propriedade 1000 colmeias, com produtividade média de
35kg de mel/colmeia e que realiza a troca de rainhas em 10% de suas colmeias a cada
safra. A produção das próprias rainhas representa uma economia de R$ 3.000,00 e um
aumento de produção de mais de 1 tonelada de mel. Portanto, nessa propriedade a
produtividade passaria para 45 kg de mel/colmeia. Considerando a venda para algum
entreposto a R$10,00/Kg, seria um lucro extra de aproximadamente R$ 10.000,00, ou
seja, em torno de R$ 100,00 a mais por colmeia (EPAGRI, 2019).
43

A aceitação de novas técnicas, e recomendações pelos produtores, enfrentando


problemas que poderiam ser evitados, pode-se citar a época correta de suplementar
alimentação, capacidade de suporte de enxames conforme pasto apícola disponível na
região (SILVA, 2000). A alimentação para manter os enxames em épocas de escassez de
alimento, ou até para incentivar a rainha a pôr mais ovos em épocas pré florada, é um
assunto polêmico de difícil aceitação por alguns, ou pelo emprego inadequado da técnica
(MARTINEZ et al., 2012). Uma colmeia com alimentação e manejo adequados contribui
para que o enxame esteja forte e populoso na época de início de florada, contribuindo
substancialmente para maiores produtividades (WILKINSON, 2002).
Muitas vezes a apicultura é tratada de forma amadora, não sendo dado o real valor
aos enxames, que além de receberem pouca atenção em relação aos manejos, também não
recebem a devida atenção econômica pelo apicultor, sendo que na maioria dos casos não
possuem fichas de controle de campo, dados do apiário, planilhas de controle econômico
e de levantamento florístico da região do apiário.

6 CONCLUSÃO

O experimento mostrou-se promissor e possibilitou comprovar na prática como a


produção artificial de rainhas pode melhorar a produtividade apícola. As rainhas oriundas
da EEV foram muito produtivas, acrescentando um aumento de 89% na produção de mel.
44

Da mesma forma, os núcleos foram muitos produtivos e, consequentemente, tendem a


tornar-se colmeias de excelente qualidade. Além disso, foi observado que as rainhas mais
pesadas, tiveram desempenho mais eficaz na colônia, apresentando um bom
comportamento higiênico, baixa taxa de infestação de ácaros e uma boa produção de mel,
comprovando assim sua importância em uma colônia.
A criação de rainhas tem grande importância pois a mesma é base genética de toda a
população de uma colônia, e a qualidade da rainha é um dos fatores mais importantes para
a rentabilidade de uma colmeia em termos apícolas e o domínio da sua reprodução,
utilização e melhoramento, são fatores fundamentais para uma apicultura moderna.
A pesquisa evidenciou que é possível o apicultor criar as suas próprias rainhas e
promover a melhoria das características das suas colônias para a prática da apicultura
através de métodos simples de seleção, que aportarão resultados com a continuidade e
consciência de intervenções realizadas.
Uma rainha jovem e selecionada geneticamente fornece a colônia alta capacidade de
crescimento bem como a resistência às pragas e doenças e pouca enxameação, resultando
em alta produtividade e resistência das colônias em situações de adversidades que podem
levar à mortalidade, especialmente no inverno.

REFERÊNCIAS

AKYOL, E., YENINAR, H., KAFTANOGLU, O. Live Weight of Queen Honey Bees
(Apis mellifera L.) Predicts Reproductive Characteristics; Journal of Kansas
Entomological Society v. 81 n.2, p. 92-100, 2008.

DOOLITTLE, G.M. Scientific queen-rearing. Chicago: Newman, 1889.


CAMARGO, S.C.; LIMA, E.G.; TOLEDO, V.A.A.; GARCIA, R.G. Abelha rainha
Apismellifera e a produtividade da colônia.Scientia Agraria Paranaensis, v. 14, n. 4,
p. 213- 220, 2015.
45

COBEY, S., SCHLEY, P. Innovations in instrumental insemination. The compact,


versatile right and left handed Schley model II instrument. American Bee Journal,
v.142, n.6, p.433-435, 2002.
CUNHA, J.G.C. Produção de Rainhas.In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
APICULTURA, Campo Grande, MS. Anais. n.2, p,185-187. 2002.
FAQUINELLO, P. Avaliação genética em abelhas Apis mellifera africanizadas para
producão de geléia real. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – UEM, Universidade
Estadual de Maringá, Maringá, p.54,2007.
FREITAS, Débora Gaspar Feitosa. Nível tecnológico e competitividade da produção
de mel de abelhas (Apis mellifera) no Ceará. (Dissertação de Mestrado em Economia
Rural) - UFC/CCA/DEA, 101 f. Fortaleza, 2003.
GONÇALVES, L.S. Africanização das abelhas nas Américas, impactos e perspectivas
de aproveitamento do material genético .In: ENCONTRO BRASILEIRO DE
ABELHAS E OUTROS INSETOS SOCIAIS. HOMENAGEM AOS 70 ANOS DE
KERR, W.E. 1992, São Paulo. Anais... São Paulo: Unesp, p.126-134. 1992.
EPAGRI – EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUARIA E EXTENSAO RURAL
DE SANTA CATARINA. Florianopolis. 2019.
HARBO, J. R., HARRIS, J. An evaluation of commercially produced queen sheath
avethe SMR trait; American Bee Journal nº 143: 213-216.2003.
HELGE SCHLU N.S., ROBIN F. A. Moritz, NEUMAN Peter, KRYEGER Per,
KOENIGER Gudrun Multiple nuptial flights, sperm transfer and the evolution of
extreme polyandry in honey bee queens; Animal Behaviour. (2005)
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA ESTATISTICA. Censo
demográfico: resultados preliminaries- Santa Catarina, 2017.
JACKSON J.T., Tarpy D.R., Fahrbach S.E.Histologic al estimates of ovario lenumber in
honey bee queens, Apis mellifera, reveal lackof correlation with other queen quality
measures. Journal of Insect Science 11:82 available online: insectscience.org/11.82.
v.12, n.5, p.4-7, 2011.
KAHYA, Y., GENCER, H. V., WOYKE, J. Weight at emergence of honey bee (A. m.
Caucasia) queens and its effect on live weight satthe preand post mating periods.
Journal of Apicultural Research, n. 47, p. 118-125, 2008.

KOCHER S.D., Richard F.J., Tarpy D.R., Grozinger C.M. Genomicanalysisof post-
mating changes in the honey bee queen (Apis mellifera); BMC Genomics n9, p.32, 2008.

LIMA, E.G. Características reprodutivas de rainhas africanizadas (Apis mellifera)


silvestres no litoral de Alagoas. Dissertação (Mestrado em Zootecnia), Universidade
Federal de Alagoas. Rio Largo, v.142, p70 .433-435, 2013..
MANRIQUE, A.J.; COLMENARES. O. Selección de abejas propolizadoras en el
municipio Guaicaipuro. Zootecnia Tropical, v. 32, n.3, p.195-205, 2014.
46

MARTINEZ, O.A.; SOARES, A.E.E. Melhoramento genético na apicultura comercial


para produção da própolis. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.13, n.4,
p.982-990, 2012.
MYERS, Robert L.; MEINKE, Louis J. Buckwheat: A Multi-Purpose, Short-Season
Alternative. Missouri: University of Missouri Extension, v.11, n.2, p.4- 3, 1994.
MEDEDEIROS, P.V.Q. de.; PEREIRA, D.S.; MARACAJÁ, P.B.; SAKAMOTO, S.M.
PRODUÇÃO DE ABELHAS RAINHA Apis mellifera spp. (Africanizadas) NO SEMI-
ÁRIDO CEARENSE, BRASIL. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento
Sustentável. v. 6., n. 5. p 46-50, 2011.
MEDEIROS, P.V.Q. de. Substratos Alternativos à Geléia Real em Cúpulas para
Produção de Abelhas Rainha de Apis mellifera. Monografia (Graduação em
Agronomia) – UFERSA. p.45, 2007.
NOGUEIRA-COUTO, R.H.; COUTO, L.A. Apicultura: manejo e produtos.
Jaboticabal: FUNEP, São Paulo, v.1, 2002.
PACE, T. Cultura do trigo sarraceno: história, botânica e economia. Rio de Janeiro:
Ministério da Agricultura, Serviço de Informação Agrícola, p. 71, 1964.
PAIVA, C. S. Produção de Abelhas Rainha Africanizadas (Apis mellifera L.) sob o
efeito do Sol e de Área Sombreada. Mossoró-RN. Monografia (Bacharelado em
Zootecnia). UFERSA. v.4, p. 40, 2011.
PEREIRA, D.S. Intercambio Agrícola no Hawaii/EUA: Produção de Abelhas Rainha.
Informativo Técnico do Semiárido. Vol. 3. N° 1. p 11-18. 2010.
PEREIRA, D.S.; BARBOSA, G.R.; PAIVA, C. da S.; GRAMACHO, K.P.;
GONÇALVES, L.S..Produção de Geléia Real em Colméias de Abelhas
Africanizadas em Mossoró-RN. In: II SEMINÁRIO CEARENSE DE APICULTURA.
Anais... CD-ROM.CEARÁ/BRASIL. dezembro, 2010.
QUEIROZ, M.L.; BARBOSA, S.B.P.; AZEVEDO, M. Produção de geléia real e
desenvolvimento de abelhas Apis mellifera, na região semi-árida de Pernambuco.
Revista Brasileira de Zootecnia, v. 30, n. 2, p. 449-453, 2001.
RANGEL. J.; KELLER, J.J.; TARPY, D.R. The effects of honey bee (Apis mellifera
L.) queen reproductive potential on colony growth. Insect. Soc.60:65–73. 2013.
SCHAFASCHEK, T. P. Seleção e produção de rainhas de abelhas Apis mellifera.
Florianópolis, 2020. 69p. (Epagri. Boletim Técnico, 190).

SEEHUUS S.C., Norberg K., Gimsa U., Krekling T., Amdam G.V. Reproductive
protein protects functionally sterile honey bee workers from oxidative stress; Proc.
Natl. Acad. Sci. USA v. 103, p. 962–967, 2006.

SILVA, E.C. A..Avaliação da eficiência de técnicas de remessa postal e das condições da


colmeia na aceitação e fecundação natural de rainhas de abelhas africanizadas (Apis
47

mellifera L.). Rio Claro. SP. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas) - Instituto de
Biociências. UNESP. 92p. 2000
SILVEIRA NETO, A. A. Avaliação de Quatro Métodos de Produção de Geléia Real
e Rainhas de Apis mellifera no estado do Ceará. Dissertação (Mestrado em
Zootecnia) – Centro de Ciências Agrárias / Universidade Federal do Ceará (UFC). 77p.
2011.
TARPY, D. R.; GILLEY D. C.Group decision making during queen production in
highly eusocial bees; Apidologie, v.35: p.207-216, 2004.
TARPY, D. R.; HATCH, S.; FLETCHER, D. J. C. The influence of queen age and
quality during queen replacement in honey bee colonies. Animal Behaviour, v. 59, p.
97-101, 2000.

TARPY, D. R.; PAGE JR, R. E. No behavior al control over mating frequency in


queen honey bees (Apis mellifera L.): implications for the evolution of extreme
polyandry. The American Naturalist, v. 155, n. 6, p. 820-827, 2000.

TOLEDO, V. DE A. & MOURO G.F..Produção de Geléia Real com Abelhas


Africanizadas Selecionadas e Cárnicas Híbridas 2085 R. Bras. Zootec., v.34, n.6,
p.2085-2092, 2005.
WILKINSON, D. & BROWN, M.A..Rearing Queens Honey Bees in a Queen Right
Colony. Apicultural Research, American Bee Journal. p. 270-274. April, 2002.

Você também pode gostar