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Curso Pombagira na Umbanda | Por Alan Barbieri

Dona Rosa Caveira, uma pomba-gira nos Himalaia

Dona Rosa Caveira é um mistério só. Pomba-gira pouco conhecida, tem reputação de
maravilhosa curandeira e aspecto inquietante. Nas imagens populares, ironicamente
difíceis
de encontrar no Brasil, ela exibe um corpo meio esquelético e meio humano coberto com
capa e capucho.

Nos meios tradicionais é dito que ela é a “esposa” de Seu João Caveira, exu da “Velha
Guarda” do cemitério e Chefe da Linha dos Caveiras, um grupo de servidores fiéis e muito
prestativos. Em conversa ao pé do Congá, com alguns irmãos de fé que também circulam
pelos caminhos de algumas religiões de origem bantu (Kimbanda, Cangerê, Cabula), ouvi
que Dona Rosa Caveira é protagonista de inúmeras lendas.

Uma delas conta que Rosa nasceu no Oriente. Sétima filha de uma simples família do
campo, desde cedo aprendeu com seus pais as artes da cura, pois eles eram afamados
xamãs. Sua falecida avó foi sua primeira guia espiritual. Em sonhos, a querida alma da
ancestral instruía e aconselhava a neta. Rosa era uma menina privilegiada.
Aos dezenove anos ela conheceu um xamã muito mais velho. Eles se apaixonaram e
casaram. Ela então começou um período muito intenso de atendimento espiritual aos
cidadãos de sua vila e arredores. Sua vida transcorreu cheia de méritos e bênçãos. Rosa
morreria depois de seu marido, saboreando o prazer de uma exis-tência dedicada os mais
necessitados.

Outra lenda nos conta o segredo de seu nome... Ao redor da casinha onde sua família
morava existia um roseiral selvagem. No final da gravidez, sua mãe não teve tempo de
pedir ajuda à parteira local e a menina nasceu ali mesmo. Daí o nome: Rosa.
Por que caveira?

Em certas regiões do Oriente, sobretudo na Índia, Tibete e Butão, alguns xamãs e yogues
utilizam a caveira humana como um cálice ritual. A caveira, assim utilizada, não está
relacionada com magia negra ou qualquer arte malévola.
No Budismo Tibetano os Lamas utilizam uma caveira como cálice. Também fazem um
pequeno tambor com duas metades de caveira... Na Índia ele é chamado de Damaru e a
caveira de Kapala.
Quando conheci a lenda tenha se ocidentalizado e a planta original, que poderia ser o lótus,
tenha se trans-formado em rosa. Neste caso seu nome seria Pema em tibetano. Em
sânscrito, seu nome espiritual seria Kapa-lapadma (Lótus Caveira).

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Curso Pombagira na Umbanda | Por Alan Barbieri

DonaeRosa
Na tradição budista mágicaCaveira, uma pomba-gira
do Tibet, Mongólia nos Himalaia
e arredores, existem muitas histórias e
lendas com as mesmas características das aqui mencionadas.
O fato é que como Pomba-Gira brasileira, na gira do dia-a-dia dos terreiros, Rosa Caveira é
um pouco diferente de suas irmãs. Ela não se firmou como “mulher da vida” ou errante
marginal. Mas se perpetuou como curandeira poderosa e ponte entre os diversos reinos do
astral.

Uma outra curiosidade circunda esta Pomba-Gira. Rosa Caveira trabalha e vibra no
cemitério... Em algu-mas tradições orientais, as mesmas mencionadas acima, certo grupo
de adeptos utiliza o cemitério para tra-balhos espirituais de cura e transformação. Eles são
chamados de Kapalikas ou portadores da caveira!
As mulheres do grupo, além da caveira, transportam um tridente.
Certa vez eu estava caminhando com um amigo indiano pelas ruas do centro de São
Paulo.
De repente, diante de uma loja de artigos religiosos, ele literalmente ficou paralisado!
Uma grande e vermelha estátua de Pomba-Gira estava diante de nós. Nua, majestosa,
segurando um tridente e com uma caveira nos pés.
Shivaji, meu amigo indiano, se curvou aos pés da imagem e disse: “Trishula Kapala Ma! O
que você faz aqui?”

Trishula Kapala Ma é a Mãe do Tridente e da Caveira, uma representação do feminino
sagrado que pode rondar os lugares de cremação. Ela destrói os fantasmas malignos e os
demônios, come as ilusões humanas e resgata as almas das mãos dos seres das trevas.
Seu aspecto pode ser “terrível”, mas a luz e a bondade emanam de seu coração.
Atrás do aspecto funesto de Rosa Caveira com certeza brilha a mesma luz. Nela se
encontram o Oriente e o Ocidente, o vermelho e o branco, a vida e a morte.
Espero ter a humildade de Shivaji e também sempre me curvar diante do sagrado feminino.
Terrível ou bondoso, que importa?

Por Edmundo Pellizari

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