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Adversidade e a arrogância

Fim de tarde e com ela parecia que a semana também chegara ao fim – era sexta feira, estava
leve e calma - ao longe se apreciava um belo pôr do sol. Na janela antiga de pintura mal-
acabada avistava o brilho que se esvazia numa serena noite desconhecida.

Era uma longa caminhada até chegar em casa – simples, mas aconchegante. Antes mesmo que
a porta se abrisse, ao lado de fora já se ouvia alguns sussurros, bem baixo, uma intimidade
sem tamanho; estava ali - em oração. Percebia-se o tremor de seus lábios com uma voz frágil
e inquietante prestes a chorar. O medo, não sabia do que era ao certo, tomava conta de tudo
ali; sua respiração estava ofegante e descompassada – tudo muito nervoso – aliás, até o tom
de sua voz estava indeciso envolto de muitos sentimentos.

Talvez estivesse a se preparar para algo importante, mas não inesperado. Sabe aquele
momento que precisamos conversar com os nossos anseios e medos? Assim estava ele - em
oração: palavras no mais profundo silêncio... Sem querer interromper – tive que entrar. Abri a
porta com uma chave de uma cor que mais lembrava ouro velho, mas só era a cor mesmo.
Assim ele finalizava sua oração meio que às pressas – claro que foi por que eu havia adentrado,
eu não queria, mas tive que entrar – estava frio do lado de fora. E assim, mais uma noite
estava chagando se despedia: já era meia noite.

O tempo urgia. Acordava pontualmente às cinco horas – realmente estava muito frio e com o
sol tudo muito confuso entre nuvens. De longe se ouvia passadas fortes, era o atrito de rodas
no chão não tão liso assim - deslizava sobre rodas; sua roupa fina e com estampas sutis de um
azul forte em dégradé - um patinador de velocidade – em uma pista de competição; inclinada
tão côncava que lembrava uma parabólica para facilitar os movimentos - ainda mais
velocidade; tinha um ritmo forte, de longe era possível avistar o pelotão, umas 20 pessoas Era
muito empolgante – ouvia-se gritos estridentes, mas não qualquer grito – era de motivação
mesmo – “Vamos! É preciso ser fortes e confiar na curva!”

Em alguns instantes as provas iriam começar.

Os atletas eram jovens e fortes, de muita gana – eram de alto rendimento. Já estavam
acostumados, e só em pensar que tudo naquele momento era somente um aquecimento.

Havia um atleta que chamara muito a atenção: vestia-se de uma roupa azul; ele não era tão
jovem assim como os demais, mas seguia com o seu ritmo forte, e decidido. Aquecia ainda
mais que outros – não parava de patinar.

Os sinos e alarmes tocavam era hora de começar prova! Era momento decisivo; nem se quer
via o piscar dos olhos. Era dada a largada, alguns acertaram e o outros erraram; e todos
corriam e lutavam por uma posição no pódio.

Entre todos, tinham mais o arrogante; dava para ver nos olhos dele várias dores, a lombar já
não suportava a posição do patinador, as pernas cansaram de suas passadas longas e de seus
cross overs perfeitos e os ombros juntos aos seus cotovelos estavam cansados do balançar
dinâmico da velocidade – olhava para curva e patinava e patinava...
Fazia um sol forte que castigava a pele, o vento secava a garganta, uns mantiveram o ritmo,
outros eram engolidos pela velocidade do pelotão – renderam-se à adversidade, deixou o
adversário perceber o cansaço; preparou o físico incansavelmente, quiçá, não feito com a
mente.

Linha de chegada, e vinha o seguiu firme sem barganhar com a dificuldade das retas e curvas
que cada vez ficavam mais difícil; era uma via dolorosa e árdua! Mas ele conseguiu assim como
diz nas escrituras sagradas: - combateu o bom combate, completou a carreira e guardou a fé. E
é por isso, Rafa, que você possui espirito de poder e equilíbrio. Pelas lamurias e amarguras da
vida, pede poder aos céus, para aquele que é grande e pode tudo; e que assim como o deserto
engana, ele ensina.

Com um pouco de esforço atira uma garrafa transparente ao longe fechada com uma rolha.
Dentro este pergaminho enrolado em fina e pequena corda. Deixo este escrito para os
próximos, na certeza que será encontrado nas próximas estações, pelo Pietro; não será mais
história, apenas lembranças...

04/06/2022 Rafael romano.

- Abimael oliveira

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